Prólogo
As mãos tremiam e um leve suor acumulava-se em seu rosto. Aparecer daquele jeito, em rede nacional para milhares de pessoas, estava deixando-a paranoica. Não que a maquiagem fosse seu maior problema naquela noite, longe disso. A maior questão que ocupava um enorme espaço em sua cabeça era o conteúdo da entrevista que daria para Jimmy Fallon.
Mesmo que Jimmy fosse um apresentador exemplar, o conteúdo das perguntas a deixavam um tanto quanto apreensiva quando, pelo menos nos últimos três anos, o conteúdo delas era sempre o mesmo: processos de composições, o sucesso gigantesco que a cantora havia alcançado nos últimos anos após uma participação na criação do álbum da Rowdy e a pior delas: sua relação conturbada com , o vocalista da Rowdy.
odiava aquela pergunta, não importava a forma como esta era meticulosamente arranjada. Odiava a forma como os apresentadores realizavam a conhecida introdução "E agora, falaremos de um assunto polêmico: como está o coração de ?". Deus, como odiava aquele amontoado de palavras. Parecia que tudo o que a cantora fizesse era sempre voltado a quem ela havia escrito suas letras ou como se sentia com o fato de ela estar seguindo carreira no mesmo ramo que ele.
— Dona de três singles que ocuparam o topo das paradas em vinte e dois países, incluindo Estados Unidos, Inglaterra e Brasil, vamos receber uma artista que vai estar em replay por todos os lugares que vocês forem e também aguentou muito por nós, ! - Jimmy a chamou, tirando-a de seu transe para adentrar o estúdio do Saturday Night Live.
foi recebida com uma salva de palmas extremamente calorosa enquanto andava através do palco até a conhecida poltrona do programa de Jimmy, acenando para alguns fãs a medida em que se aproximava dele. Quando se aproximou, sorriu em direção à Jimmy que a envolveu em um abraço cuidadoso antes de voltar para seu lado da mesa.
— Como é bom te receber novamente! - Jimmy sorriu. - Como você está, ? Faz um tempo desde a última vez que te recebi nessa poltrona. Ouvi dizer que a senhorita estava ocupada demais para mim.
— Quem te disse isso? - riu. -Nunca estarei ocupada demais para você, Fallon, deixe de drama. - rolou os olhos, sorrindo para o apresentador. - Mas estou ótima e você, como está?
— Estou ótimo, mas vamos ao que interessa, sim? - ele se virou para trás, puxando algo que conseguiu identificar como sendo uma revista. - Pouco menos de três anos de carreira e a senhorita conseguiu uma capa na Vogue, como se sente com esse feito?
— Posso pegar? Eu ainda não vi pessoalmente. - Jimmy estendeu o exemplar em direção a , que observou com atenção os detalhes da capa com uma citação de um trecho da entrevista prestada algumas semanas atrás. - Deus, ficou ainda melhor do que eu pensei que ficaria.
— Não é? Digo, essa entrevista deu muito o que falar devido ao seu conteúdo. - o apresentador voltou a pegar o exemplar, colocando em cima da mesa. - Uma capa na Vogue e um papel principal em uma série sucesso da HBO, podemos dizer que você está aqui para ficar?
— Eu não sei. - estava sem graça. - Quero dizer, há alguns anos eu estava trabalhando como roadie para a banda do meu primo, agora eu estou produzindo meu segundo álbum de estúdio e com um contrato renovado para a segunda temporada de uma série. - ela cruzou os braços em cima de suas pernas. - Frequentemente eu penso que estou vivendo um sonho e, honestamente, se for um sonho eu prefiro continuar dormindo.
— E falando sobre seu passado antes de tudo isso... - oh, oh... escolha de palavras erradas, , pensou a cantora. - Recentemente você e Griffin postaram um vídeo cover em seu canal no Youtube, huh? - ele disse. - Para aqueles que estão perdidos: e Griffin Graham, baterista da banda Rowdy, são primos e recentemente postaram um vídeo fazendo um cover de Take Me Down da The Pretty Reckless, vamos ver um trecho.
E ambos se viraram para o telão onde um trecho do cover estava passando. e Griffin estavam sentados no sofá da cantora, dois microfones estavam dispostos em frente a cada um deles e Griff fazia os solos de guitarra e os backing vocals enquanto ela tocava seu violão e cantava as letras com uma afinação perfeita em harmonia com o rapaz, sorrindo e brincando vez ou outra com ele.
— E o cover foi um sucesso, notado pela vocalista da The Pretty Reckless, Taylor Momsen, em seu perfil do Twitter. - Jimmy voltou a encará-la. - Como vocês decidiram postar esse cover? As pessoas estão especulando bastante sobre como isso poderia ser uma indireta.
— Indireta? - a cantora riu, já imaginando onde aquele assunto iria acabar chegando.
— Para aqueles perdidos: fez uma grande participação no terceiro álbum de estúdio da banda Rowdy, o Bloom. O dueto dela com , "Bad Things”, ficou no topo da paradas por mais de vinte e seis semanas consecutivas. - Jimmy se virou para a cantora. - Fãs estão especulando que talvez isso tenha sido uma indireta para uma nova participação no próximo álbum da Rowdy.
— As pessoas têm uma imaginação muito fértil. - sorriu. - Eu e Griff estávamos compondo alguns arranjos para o meu próximo álbum e tivemos a ideia de fazer um cover juntos, achamos que seria uma boa ideia visto que nossas agendas costumam ser bem preenchidas e quase nunca nos vemos. - deu de ombros.
— Então é um "não" para qualquer participação entre você e a Rowdy?
— Não digo que não é possível que aconteça... - sentou-se mais ereta. - Eu ficaria honrada de fazer uma colaboração com a Rowdy novamente. Eu os admiro muito e foram eles quem me deram a oportunidade de ser o que sou hoje em primeiro lugar. - ela estava sendo sincera, afinal. - O processo de composição do Bloom foi uma das experiências mais ricas que já tive, musicalmente falando. Além disso, eu tenho um carinho enorme por eles e boa parte do tempo eu me sinto como se fosse uma mãe orgulhosa de seus filhos.
— Isso foi a coisa mais pessoal que você já disse sobre seu relacionamento com os garotos. - Jimmy se recostou na cadeira. - Então eu tenho que perguntar: como está o seu relacionamento com os outros membros da Rowdy atualmente? Sabemos que até quatro anos atrás eles eram uma constante em sua vida e vice-versa, surgiram até mesmo rumores que você e poderiam estar em um relacionamento.
— Você não deixa nada passar, né? - ela balançou a cabeça negativamente. - Eu tenho estado um tanto quanto distante dos meninos, principalmente por conta da distância, visto que eu passo a maior parte do meu tempo em San Francisco ou Nova Iorque enquanto todos eles moram em Los Angeles. Mas eu estou sempre conversando com eles por Facetime.
— Isso significa que você tem acompanhado os trabalhos deles, então?
— Definitivamente, "Bloody Valentine" e "Why Are You Here" estão na minha playlist pessoal desde o lançamento e eu estou bastante ansiosa pelo próximo álbum.
— E quanto aos projetos pessoais deles, você acompanhou?
— Só alguns, acompanhei os de Dom e Tommy e apesar de ter dado os parabéns eu tenho que fazer um adendo: "Parents" e "Scumbag" são obras de arte e se você ainda não escutou, deveria!
— Você tem certeza que não criou um fã-clube para eles? - Jimmy riu.
— Não posso confirmar ou desmentir nada. - levantou as mãos em rendição. - De verdade, os meninos são extremamente talentosos, é minha obrigação moral dar ênfase nisso.
— É ótimo saber que vocês continuaram a amizade mesmo seguindo caminhos diferentes, musicalmente falando. - o homem sorriu. - Todavia, podemos ver algo com mais influência do rock em seus próximos trabalhos? Algo mais parecido com Linkin Park, talvez? - Jimmy alfinetou, em uma referência clara aos citados anteriormente.
— Não é uma coisa que eu posso dar certeza ainda, mas é uma possibilidade. - puxou os cachos para suas costas. - Digo, muitas das minhas influências líricas vieram de Oasis e Blink-182, então tudo é um grande campo à ser explorado. Eu estou sempre tentando mesclar meus estilos preferidos, "All For Us" e "Replay" são os maiores exemplos, eles destoam muito entre um e outro.
— É ótimo ouvir isso , ficamos ansiosos para seus próximos lançamentos. - ele sorriu. - E agora, daremos um break para os comerciais e no segundo bloco teremos Billie Eilish!
Jimmy sorriu em direção às câmeras aguardando o sinal de que os comerciais já haviam começado. Quando a confirmação chegou, o apresentador virou em direção a com um sorriso tão sincero em seu rosto que a cantora não pode deixar de agradecer mentalmente pelas perguntas mais descontraídas que ele havia feito.
— Trate de me avisar com antecedência em relação ao novo álbum, sim? Faço questão de ser o primeiro a saber.
— Aye, sir! - bateu em continência, se levantando da poltrona para dar um abraço rápido de despedida no apresentador. - Você será o primeiro a saber.
A morena sorriu, se despedindo do homem e fazendo seu caminho até o backstage do estúdio para encontrar sua empresária com uma cara não muito agradável em seu rosto. Isso era algo que amava em Sabrina: tudo naquela mulher conseguia ser tão transparente feito uma taça de cristal polido.
A empresária e a cantora mantinham uma relação de amizade e profissionalismo desde que se conhecia por gente, ambas saíram de Toledo, Ohio e se mudaram para Nova Iorque para cursar Música e Produção Musical em Julliard, moraram juntas por todos os anos da graduação e quando assinou seu contrato como roadie da Rowdy, fez questão de a arrastar junto com ela poucos meses depois.
— Eu amei a entrevista, você serviu muito bem. - Brina sorria nervosa. - Mas o twitter está uma loucura e eu recebi uma ligação de Ashleigh que eu duvido que você vai querer saber do que se trata.
Brina pegou a mão de e a arrastou pelo backstage até o camarim que haviam designado para a breve estádia de no estúdio do programa. Quando entraram no pequeno cômodo, Sabrina fez questão de fechar a porta e passar a chave para que ninguém pudesse interromper a conversa que elas teriam naquele momento.
— Brina, você está me deixando um tanto assustada.
— Eu sei! - a empresária disse, sentando-se em frente à logo após a própria se sentar. - Não é proposital, ok?
— Ok! - riu fraco. - Poderia desembuchar?
— Ashleigh me ligou dizendo que estava acompanhando o programa e disse que os meninos querem que você participe na produção do próximo álbum de estúdio.
E foi naquele momento que entendeu: ela estava ferrada.
Capítulo 1: As Provações e Tribulações de Ter Uma Overdose
"Life's about making mistakes.
It's also about trying to be great."
(A vida é sobre cometer erros
Também é sobre tentar ser incrível.)
- At My Best, Machine Gun Kelly
Los Angeles, CA
Quatro anos antes
Sabe, existem uma infinidade de coisas que os filmes e seriados não mostram em relações a overdoses por drogas. A primeira delas, é o inferno que você passa quando é obrigado a ser internado em uma clínica de reabilitação. A internação nunca é a pior parte, as crises de abstinência são. Elas te fazem repensar as suas escolhas na vida enquanto você treme, grita e quase se autodestrói. Na maior parte do tempo você é como uma bomba relógio a ponto de explodir. E eu odiava essa sensação.
Odiava a forma como meus colegas de banda me olhavam, odiava a forma que minha própria filha me olhava e por isso eu não julguei Ashleigh quando ela me disse as seguintes palavras:
— Você vai para a reabilitação e quando sair, vai ser vigiado vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. É a consequência por seus erros, . Você não pode continuar se destruindo e destruindo tudo ao seu redor.
Eu estava ferrado e havia aceitado de bom grado as consequências pela minha falta de responsabilidade, mesmo que pela maior parte do tempo eu me sentisse como uma criança que havia matado aula. A questão aqui era que eu tinha vinte e seis anos nas costas, uma filha de oito anos e uma banda que estava quase colapsando graças aos meus vícios autodestrutivos. Eu estava na merda. Ferrado em todos os aspectos da minha vida, principalmente porque a minha mais nova babá era ninguém menos que .
era um pé no saco, para dizer o mínimo. Linda, porém um pé no saco. tinha pouco mais de um metro e setenta de altura, seus cabelos negros eram cacheados e sua pele era de um tom marrom-claro. Ela poderia facilmente se passar por uma modelo se, em noventa por cento do tempo, ela não ficasse com a cara fechada em uma expressão que gritava "eu não quero ser sua amiga, não tente". Em um breve resumo: ela era amada por todos ao seu redor, até mesmo por minha filha e eu não era a pessoa preferida dela.
— ? - chamou minha atenção, me fazendo encará-la pela primeira vez naquele dia. - Eu quero te fazer uma pergunta bem simples e eu gostaria que você me respondesse com sinceridade, sim?
— Diga.
— Onde você estava com a cabeça?
— Perdão? - franzi o cenho, claramente confuso com suas palavras.
— Eu estou perguntando onde você estava com a cabeça quando resolveu injetar. - a voz dela estava calma enquanto ela dirigia pela Sunset Strip.
— As coisas estavam complicadas. - encarei a rua à minha frente, o céu pintado de laranja denunciava o pôr do sol. - É tudo o que você precisa saber.
— Vou respeitar o seu tempo, apesar de querer te agredir fisicamente.
— Vá em frente. - ri fraco
— Estou tentando ser compreensiva. - E então, da mesma forma que havia puxado assunto, voltou sua atenção para a rua.
O sol já havia se posto por completo quando parou seu carro diante da minha mansão em Hidden Hills. As luzes acesas denunciavam que a casa não estava completamente vazia e por um breve momento, me permiti sentir algo além da culpa que havia tomado conta de meu corpo nos últimos três meses em que havia estado longe. Deus, como eu havia sentido falta da minha casa.
— Você está entregue, fique á vontade para sair quando quiser, sem pressa. - me chamou e só então pude perceber que estava divagando em meus pensamentos novamente.
— Você não pode ser uma pessoa educada pelo menos uma vez? - a encarei.
— Esse é meu charme, você poderia achar que somos amigos se eu fosse uma pessoa agradável.
— Não seria uma má ideia. - abri a porta do Camaro 76, saindo para fora do veículo com certa dificultado devido à altura. - Já pensou em atualizar essa lata-velha? Quero dizer, é um bom carro, mas algumas melhorias não fariam mal.
— Não ouse ofender Luci dessa forma, você esteve bem confortável dentro dela. - me encarou como se eu tivesse acabado se direcionar os piores dos insultos ao seu carro. - Além do mais, posso cogitar a ideia se você começar a me pagar de acordo com tudo o que faço. Ou me comprar um Pontiac.
— Está afiada, huh? - a encarei.
— Tive tempo pra praticar. - deu de ombros. - Bom, acho que você não precisa mais de mim então esse é meu momento de ir. - ela me deu as costas, começando a ir em direção ao carro.
— ?
— Sim?
— Você poderia... - respirei fundo, me sentindo um completo idiota por deixar as palavras saírem por meus lábios. - Você poderia... hum... você sabe... - apontei para a porta de entrada. - Acho que Cassie gostaria de te ver.
— Você está com medo, não está?
— Aterrorizado.
— O que eu não faço para ajudar o próximo. - ela sorriu pela primeira vez desde que havia me buscado no estúdio, mas não sem rolar os olhos. - Vamos lá, medroso.
E como se ela fosse imbatível, passou por mim e abriu a porta, abrindo espaço para que eu pudesse entrar na mansão. Quando o fiz, apenas fechou a porta e me seguiu através do corredor até a sala de estar onde uma grande faixa escrito "BEM-VINDO DE VOLTA, " estava pendurada de um lado à outro.
— BEM-VINDO, !
Uma orquestra de vozes berrou, me deixando desconcertado por alguns bons segundos. estava encostada em um dos pilares do portal de entrada com um sorriso orgulhoso no rosto, apenas fazendo um gesto para que eu andasse em direção ao centro da sala onde meus colegas de banda e amigos estavam.
— É bom te ter de volta, cara. - Griffin abriu seus braços quando eu cheguei próximo dele, me envolvendo em seus braços em um abraço com direito á tapinha nas costas. - Tivemos um trabalhão pra conseguir juntar todo mundo.
— É bom te ver também, Griff. - sorri de canto. - Onde está Cassie?
— Foi pegar algo pra você, disse que era uma surpresa. - Dominic deu de ombros, levando o copo de algo que parecia limonada até os lábios. - Você quer? É sem álcool.
— Estou bem, valeu.
— PAI!
Escutei Cassandra gritar, chamando minha atenção de imediato. Joguei minha mochila no chão e me abaixei, envolvendo minha filha em um abraço quando ela pulou em meu colo. Seus cabelos estavam cuidadosamente arrumados no topo de sua cabeça com alguns cachos caindo em seu rosto.
— Hey, princesa. - a encarei. - Você está linda, quem te arrumou assim?
— . Ela me ajudou a fazer isso, também. - ela estendeu um embrulho amarelo. - Amarelo é sua cor favorita.
— Obrigado, princesa.
Sorri, sentando-me no chão e pegando o embrulho amarelo de suas mãos. Procurei pela melhor forma de abrir o pacote, desamarrando o laço vermelho que o envolvia antes de rasgar a fina camada de papel. Dentro da embalagem havia um porta-retratos com uma foto que havia sido tirada no mês anterior à minha overdose, no dia do meu aniversário. Na foto, Cassandra estava entre e eu, nos abraçando ao mesmo tempo. estava gargalhando de algo com um dedo do meio apontando para Griffin e todos os meus colegas de banda estavam com o rosto sujo de chantilly. E, em cima da foto, uma pulseira de prata repousava cuidadosamente.
— É pra você. - Cassie sorria. Peguei a pulseira, lendo o entalhe que havia sido escrito em seu interior: "Você é amado e importante". Senti meus olhos começarem a lacrimejar.
— Merda. - limpei as lágrimas antes que elas escapassem por meus olhos. - Isso é lindo, obrigado. - a abracei com força. - É a coisa mais legal que já fizeram pra mim, vocês são uns fodidos. - encarei meus amigos, balançando a cabeça. - Podemos começar essa festa ou...?
— Achei que isso não aconteceria. - Thomas bufou, estendendo uma garrafa de cerveja em minha direção. Balancei a cabeça em agradecimento e a peguei, me levantando do chão para colocar o porta-retratos em cima da lareira.
Griffin ligou a música em alguma playlist de rock clássico á medida em que todos se dispersavam no meio da sala, incluindo Cassie que agora estava nas costas de Dominic enquanto ele corria pela sala imitando um avião. Crianças, pensei.
Procurei por ao redor da sala, encontrando-a quando ela se esgueirava em direção aos fundos da casa com uma garrafa de cerveja em sua mão. Balancei a cabeça negativamente e comecei a desenhar meu caminho em direção à porta que ela havia saído, parando eventualmente para abraçar alguns outros amigos que chamavam minha atenção para dizer que estavam felizes por eu estar finalmente bem. Mal sabiam eles o inferno que eu estava passando naquele momento.
— Você tem que ser sempre tão antissocial, ? - chamei sua atenção quando finalmente passei pela porta, encontrando-a sentada em uma das cadeiras ao redor da piscina.
— A festa é sua, quem tem que estar ao redor das pessoas é você. - ela riu fraco, acendendo um cigarro entre seus lábios. - Como está se sentindo?
— E você se preocupa? - me sentei na cadeira á sua frente. - Posso ter um?
— Claro. - me empurrou o maço de cigarros, peguei um e coloquei entre meus lábios, sendo surpreendido por ela estendendo o braço para acendê-lo. - É meu trabalho me preocupar com vocês, shittyheads.
— Estou me sentindo ótimo. - murmurei, tragando o cigarro. - Obrigado por ter organizado isso.
— Achei que fosse legal ter pessoas que se importam com você agora. - me encarou. - Eu sei que posso ser um pé no saco às vezes, mas é meu trabalho e eu me importo contigo, tá? - ela deu um gole em sua cerveja. - Rowdy não seria a mesma sem você como vocalista.
— E guitarrista base, não esquece. - Soltei um riso fraco. - Ashleigh me disse que você cuidou da Cassie quando tudo aconteceu. - encarei a piscina á minha frente. - Eu não tenho como te agradecer por isso. Na realidade, acho que nunca vou conseguir te retribuir.
— Você não precisa. - ela deu de ombros. - Cass é uma criança maravilhosa, não me deu trabalho algum.
— Mesmo assim. - suspirei – Eu vou dar um jeito de te recompensar por isso, tá?
— Só não cometer os mesmos erros e eu já vou me sentir recompensada, ok? – o olhar que carregava me fez sentir como se eu fosse um filhote de golden retriever. – Você não está sozinho, tá? Existem pessoas que se importam com você, principalmente Cassie.
E era por esse motivo que eu não era um fã número um de . Ela tinha uma mania extremamente irritante de tentar tirar informações de mim com aquele joguinho de “oh meu deus, eu me importo com você" e te olhar como se você fosse um projeto de caridade.
— Você não cansa? – a encarei, recebendo como resposta o seu olhar confuso. – Você deveria parar com essa merda. Pelo amor de deus, , você está me olhando como se eu fosse a merda do seu projeto da escola.
— Você é inacreditável. – ela me encarou com um sorriso no rosto enquanto balançava a cabeça negativamente. – É incrível como você consegue ser um grande cuzão com pessoas que não fizeram absolutamente nada pra você. – ela se levantou. – Olha, , nós vamos ter que ficar juntos todos os dias por sabe-se lá quanto tempo, então eu sugiro que você comece a pagar uma terapia pra tratar seus problemas de confiança porque, honestamente, eu não sou paga pra aguentar suas mudanças de humor.
E simplesmente puxou a garrafa de cerveja de cima da mesa e me deu as costas, voltando para o interior da mansão sem ao menos olhar para trás. Ótimo. Passei as mãos por meu rosto e bufei, encarando o céu escuro tomado por estrelas com Oasis tocando como trilha sonora.
Escutei passos se aproximarem e voltei minha atenção para a porta, identificando Griffin com um copo de algo que provavelmente deveria ser whisky em sua mão.
Griffin Graham era meu melhor amigo desde os meus dezenove anos. O cara era um baterista monstruoso com um metro e sessenta de altura e um dos primeiros membros da Rowdy. E algo me dizia que ele nutria sentimentos por , já que ele era o membro número um de seu extenso fã-clube.
— Por favor, não venha me dar sermões sobre a sua namoradinha. – revirei meus olhos quando ele se sentou ao meu lado.
— Você acabou de se entregar, cara. – Griff me encarou. – Que merda aconteceu agora?
— O de sempre, metendo o nariz onde não foi chamada.
— , você precisa parar com isso. – ele deu um gole no copo. – Se você tivesse ideia do quanto ela se ralou nos últimos três meses, não estaria assim agora.
— Me ilumine. – o encarei.
— Bom – ele levantou a mão, contando os acontecimentos nos dedos. – Ela dirigiu por quarenta minutos por Los Angeles pra ficar com a Cassie no dia da sua overdose, se ofereceu para ficar de babá dela quando eu não podia, levou e buscou a Cassie na escola todos os dias, organizou uma festa de boas vindas com todos os seus amigos mais próximos. – ele parou. – Ela até comprou o presente da Cassie pra que ela pudesse te dar algo, então o mínimo que você deveria fazer é tratá-la com um pouco mais de respeito, pra variar.
— Ela faz as coisas serem complicadas.
— Ela faz? – ele riu fraco. – Eu diria que isso se chama tensão sexual. – Griffin sorriu. O típico sorriso de leprechaun.
— Vai se foder, Griffin.
— Quanto mais cedo você aceitar que se comporta como uma criança de doze anos tentando chamar a atenção da quedinha, melhor. – levantou as mãos em rendição. – Você pode fingir que eu sou a sua consciência e nesse momento ela está dizendo pra você parar de se comportar como uma criança birrenta.
—Por que eu ainda sou seu amigo?
— Porque eu sou um baterista do caralho e tenho os melhores conselhos para a sua cabeça zoada. – ele sorriu. – Mas, vem cá, como estão as coisas? Digo, verdadeiramente.
— Um inferno. – suspirei. – Eu me sinto como se fosse a pior pessoa do mundo todo e os olhares que vivem me lançando não ajudam muito.
— Os olhares?
— Sim. Tá todo mundo me olhando com pena, entende? Todo mundo tá me olhando como se eu tivesse perdido a merda da minha família. Foi só uma overdose.
— Eu acho que você tá projetando nos outros a forma como você se vê, .
— Não ouse vir com essa baboseira de psicologia pra cima de mim, você largou no terceiro semestre.
— Mas é verdade. – deu de ombros. – Você está vendo as pessoas pelo seu achismo e isso é perigoso, . Pode ter sido só uma overdose pra você, mas nos quase te perdemos, cara. Eu sei que você odeia escutar isso, mas você é importante pra gente. Pra todos nós, sem exceção. Apenas pense como nós ficamos quando recebemos a notícia que você estava entre a vida e a morte. Imagina o quanto a Cassie ficou aterrorizada por ter te encontrado do jeito que você estava. – engoli em seco. – Nós não estamos te olhando com piedade, estamos te olhando com preocupação. Você quase matou a gente do coração, .
Eu ao menos conseguia encontrar palavras para tentar contrariar Griffin. Eu estava enjoado e pela primeira vez em um longo tempo eu me vi apenas acatando tudo o que ele havia dito. Ele estava certo, estava certa e eu estava agindo como um enorme babaca ao tratá-la mal por simplesmente dizer o que todos queriam me dizer. Por isso eu não pensei duas vezes antes de me levantar.
— Ela saiu como um furacão daqui, não faço ideia de onde ela está. – Griffin sorriu. – Boa sorte.
Apenas respondi com um aceno de cabeça antes de deixar minha garrafa de cerveja pela metade em cima da mesa de vidro e me lançar para dentro da mansão novamente. Parei em frente à porta e observei a sala, procurando por todos os cantos antes de me sentir extremamente frustrado por não a encontrar.
— Procurando alguém? – Thomas parou ao meu lado.
— .
— Da última vez que eu a vi, ela estava falando com a Cassie. Algo sobre piano, não faço ideia do que se tratava.
— Valeu.
Uma pequena luz se acendeu em minha cabeça. Claro que Cassie iria arrastar até o estúdio para obrigá-la a vê-la tocar algum dos instrumentos que estavam parados nos meses em que estive fora.
Fiz meu caminho em direção à mesa de bebidas, pegando dois copos vermelhos e os enchendo com refrigerante, pegando cada um deles em minhas mãos antes de voltar a fazer meu caminho em direção ao estúdio. Andei pelos corredores até chegar na porta que levava em direção ao estúdio, abrindo-a com um pouco de dificuldade devido aos copos em minhas mãos. Adentrei o estúdio e agradeci mentalmente as paredes isoladas do lugar, que me fizeram escutar sem ruído algum uma voz angelical de acompanhada do piano.
— Você realmente sabe como me fazer chorar quando me olha com esses olhos de oceano, eu estou assustada, eu nunca cai tão alto caindo em seus olhos de oceano...
tocava o piano como de ele fosse um antigo amigo. Cassie estava sentada ao seu lado, encarando-a com plena admiração à medida que a roadie tocava as notas. Não pude deixar de sentir certa inveja por presenciar a cena. carregava um talento admirável, para se dizer o mínimo e eu me encontrava hipnotizado por sua habilidade. Não que fosse uma novidade, claro. era responsável pela checagem de som e teste de instrumentos em todos os shows, não era impressionante que ela fosse tão boa no piano. O que era uma surpresa, no entanto, era a sua voz e a técnica vocal que ela nunca havia sequer mencionado anteriormente.
— Você poderia tocar mais uma, ? – Cassie pediu e eu me encontrei torcendo internamente para que ela o fizesse.
— Seu pai não vai ficar bravo de estarmos aqui?
— Papai não se importa, ele está ocupado com tio Griffin. – Cass sorriu. – Por favorzinho, papai quase nunca toca piano. – e foi naquele momento que eu me senti a pior pessoa de todo o mundo. Uma pessoa sem laços sanguíneos se preocupava mais com minha filha do que eu mesmo. Apenas respirei fundo e puxei a cadeira da mesa de mixagem silenciosamente, sentando-me ali para observá-las.
— Tudo bem. – riu. – Mas você tem que prometer que não vai contar pra ninguém, tá?
— Prometo. – Cassie envolveu o mindinho de com o seu próprio, sorrindo. – Você poderia tocar uma das suas?
— Minhas músicas não são feitas pra sua idade, baixinha. – nota mental: também era compositora, aparentemente. – Mas posso tocar outra coisa, sim?
— Tudo bem. – e no momento seguinte, começou a tocar algumas notas antes de começar a cantar.
— Eu tenho visto anjos na minha sala de estar, que andaram no sol e dormiram na lua, cobertos na fragrância de seus próprios perfumes...
Consegui identificar a música como sendo alguma do Khalid e não pude deixar de cantá-la mentalmente, seguindo o tempo do piano com meus dedos à medida em que o fazia. Pouco tempo depois dela finalizou a música e eu enxerguei a minha deixa para finalmente conversar com ela. Levantei-me da cadeira e apertei o botão da mesa de mixagem para que as caixas do interior da cabine de gravação fossem ativadas.
— ? Posso falar com você por um momento? – ela deu um pulo ao escutar minha voz e se virou em direção ao vidro, visivelmente assustada.
— Claro. – se levantou, levando Cassie consigo para fora da cabine.
— Princesa, você poderia ir com o tio Griffin? Ele disse que ia fazer chocolate.
— Claro. – minha filha sorriu. – Não briga com a , tá? – e me deu um abraço antes de correr para fora da sala.
— Me desculpa por estar aqui, não deveria ter entrado sem ter pedido antes. – me encarou.
— Tá tudo bem. – suspirei, pegando um dos copos e estendendo para ela. – Oferta de paz? É Coca, sei que você tá dirigindo hoje.
— Valeu. – ela pegou o copo, encostando-se na mesa de mixagem com os braços cruzados. – Então...
— Vocêestavacerta, eunãoseiaceitaras verdadesquandoelassãojogadasnaminha caraeeusintomuitoportersidoumbabaca. – me atropelei em minhas próprias palavras e apenas me encarou.
— Respira, fala de novo e com calma.
— Eu não sei aceitar as verdades quando elas são jogadas na minha cara. Você estava certa, me desculpe por ter sido um babaca.
— Griffin te mandou aqui, né? – uma de suas sobrancelhas estavam arqueadas, um sorriso se formava em seus lábios.
— Não realmente. – ri fraco. – Vamos apenas dizer que ele me deu uma sessão de terapia e eu acabei percebendo as coisas.
— Ok, aceito suas desculpas. – ela deu um gole da Coca-Cola no copo. – E aceito sua oferta de paz.
— Estamos bem?
— Claro. – ela deu de ombros. – Isso é tudo?
— Não exatamente. – tomei um gole do meu copo. – Por que você nunca comentou que sabia cantar? Você poderia estar nos ajudando com o álbum, uma participação até.
— Você escutou?
— Eu estou aqui tem um tempinho.
— Ah... – estava visivelmente desconfortável.
— Então...
— Eu tenho medo de palco. – agora ela estava encarando o sofá em sua frente.
— Você trabalha com palco todos os dias, .
— Eu trabalho no backstage. – corrigiu. – Eu nunca estou no meio de multidões e sou o centro das atenções.
— Você tá brincando, né?
— Não, eu nunca investi na carreira de musicista justamente por isso.
— , você tem que mostrar isso para os outros. De verdade, imagine ter você no nosso próximo álbum? Seria estrondoso.
— Não, .
— Você poderia fazer turnês em conjunto com a gente, até mesmo abrir nossos shows. – virou o resto da Coca que estava em seu copo, jogando no lixo ao lado da mesa ao se levantar.
— Isso não está aberto a discussões.
— Pare de ser medrosa, qual é!
— Tchau, .
E simplesmente me deu as costas pela segunda vez em menos de uma hora, saindo pela porta do estúdio e me deixando sozinho em um silêncio absoluto.
Por sorte, eu não era do tipo que desistia fácil.
Capítulo 2: As Provações e Tribulações de Estar em Turnê
“How many special people change?
How many lives are living strange?
Where were you while we were getting high?”
(Quantas pessoas especiais mudam?
Quantas vidas estão vivendo estranhamente?
Onde você estava quando estávamos nos drogando?)
- Champagne Supernova, Oasis
San Diego, CA
Três anos e sete meses antes
— Onde caralhos o está? Nós entramos em dez minutos, . – Rob me encarou como se milagrosamente eu pudesse materializar se me esforçasse o suficiente.
— Eu vou procurar ele, segura essa merda. – Entreguei o iPad que conectava com o teleprompter.
Respirei fundo e comecei a desenhar meu caminho pelo backstage, trombando em diversas outras pessoas enquanto corria. Veja bem, se você conhece minimamente algum roadie, você deve saber que nós somos a classe mais baixa de todo o universo. Quero dizer, somos os primeiros a chegar nos estádios, sempre os últimos a sair e nossa alimentação deveria ser considerada um crime contra os direitos humanos. Um fato bônus? Muitos de nós temos vícios. Cafeína ou nicotina, sua escolha. O meu? São ambos. Por isso eu nunca sou a pessoa mais indicada a correr por um backstage lotado. Entretanto, aqui estou eu, correndo feito uma idiota enquanto grito escandalosamente:
— ALGUÉM VIU O ?
Eu já deveria imaginar que a resposta seria negativa. Se eu não tinha ideia de onde ele estava, nenhum dos outros provavelmente saberiam também. Na realidade, minhas apostas seriam as seguintes: todos sabem onde ele está, nenhum deles tem coragem o suficiente para o que vai acontecer quando o encontrarem, então tudo é empurrado para a pessoa que vos fala neste exato momento.
Parei diante no meio do corredor dos camarins, apoiando me em meus joelhos enquanto tentava recuperar o ritmo da minha respiração ofegante. Eu nunca mais vou me prestar a esse papel. Ofeguei mais uma vez, apoiando minhas mãos em minha cintura uma última vez antes de andar rapidamente até o camarim de e pegar no trinco, girando-o apenas para perceber que ele estava trancado.
— Eu já estou saindo, mete o pé daqui. – gritou, me fazendo grunhir. Por favor, não esteja usando. Por favor, não esteja usando.
— , sou eu.
Escutei um grunhido dentro da sala e o clique da fechadura, voltei a girar a maçaneta e quando a porta se abriu, eu me lancei para dentro e voltei a trancar a porta. A cena que encontrei lá dentro, em contrapartida, fez meu coração quebrar em tantos pedaços que eu ao menos consegui brigar com pelo estresse de me fazer correr atrás dele.
— Hey, o que está acontecendo? – estava sentado no chão, a camisa rosa cavada deixava suas tatuagens à mostra como se elas fossem uma camiseta de manga. Suas costas estavam encostadas no sofá e as pernas estavam esticadas, seu cabelo estava bagunçado e ele estava tão pálido quanto um fantasma. – Fala comigo, .
— Eu não consigo fazer isso, . – Ele murmurou, pegando o balde que estava ao seu lado e enfiando a cabeça dentro dele para vomitar. Merda.
— Okay, fica calmo. – Respirei fundo, tirando o walkie talkie do meu cinto. – Pessoal, achei o . Vamos precisar atrasar um pouco a entrada, o ponto dele está com defeito e eu vou precisar trocar, prolonguem o show de abertura por mais dez minutos.
— Ok, . – Rob respondeu, me fazendo agradecer mentalmente a todos os deuses possíveis.
— Ok, vamos lá. – Me abaixei, sentando-me ao lado de para encará-lo. – O que está rolando? Você está usando de novo?
— For Christ’s sake, . – me encarou. – Você está comigo todo o tempo, não é como se eu tivesse tempo para isso. – Ele fechou os olhos. – Crise de ansiedade, talvez? Sei lá, , eu só sei que não estou conseguindo segurar caralho de comida nenhuma no meu estômago desde que cheguei.
— Menos ruim. – Murmurei, me arrastando em direção ao frigobar. – Uma garrafa de água? Sério? – peguei a garrafa lacrada, abrindo-a e estendendo para ele.
— Melhor uma do que nenhuma, certo? – ele riu fraco, pegando a garrafa e dando um gole. – Valeu.
— Vamos lá, eu tenho que te deixar inteiro em quinze minutos. – Voltei a me sentar ao lado de . Ele estava terrível, para dizer o mínimo. – Você precisa comer alguma coisa, não vai conseguir aguentar duas horas de palco sem ter comido nada.
— Ousado você pensar que não. – Ele sorriu, voltando a abraçar o balde para vomitar mais uma vez. – Ok, talvez você tenha razão.
— Claro que tenho. – Rolei os olhos, tirando uma barra de cereal do cinto para estender para ele. – Você está com medo de subir no palco.
— Vai se foder. – Ele puxou a barrinha da minha mão, abrindo o pacote e dando uma mordida. – Isso é normal para mim. Não pode ser isso.
— É isso ou você está grávido.
— Acredite ou não, eu não tenho os instrumentos para a segunda opção, então... – deu um gole na água. – Além disso, eu tenho apresentado em plateias maiores por anos.
— Você não tinha sofrido uma overdose quando tocou para essas plateias, . - estava olhando o teto. – É sua primeira apresentação desde a overdose.
— Eu definitivamente vou te demitir, estou cansado das suas suposições. – Rolou os olhos, rindo fraco. – O que eu posso fazer?
— Feche os olhos e imagine todo mundo pelado.
— Você quer me fazer parar de vomitar para ficar com o pau duro?
— Você é nojento, . – Fiz uma careta, empurrando-o e respondeu com uma risada.
— Faz parte. – Deu de ombros, a cor aos poucos voltando ao seu rosto.
— Se sentindo melhor?
— É, dá para aguentar duas horas de palco. – Deu de ombros, apenas balancei a cabeça e me levantei, estendendo minha mão em sua direção.
— Temos um show para começar. – Ele pegou minha mão, se levantando. – Pronto?
— Bastante. – Ele sorriu, se virando de costas para que eu pudesse passar o ponto e entregar para que ele os repousasse nos ombros. – Ainda acho que você deveria subir no palco junto com a gente.
— Nos seus sonhos, talvez. – Liguei o ponto, esperando que ele se virasse para mim. – Vai lá e faz o que você sabe fazer de melhor, tudo bem? Você é ótimo, seus fãs te amam e a prova disso é que o estádio está lotado. – Passei minha mão por seus cabelos bagunçados, tentando arrumá-los da melhor forma possível. – E, pelo amor de deus, lava esse cabelo depois do show.
— Vai se foder. – deu com ambos os dedos do meio. – Obrigado.
— É meu trabalho. – Olhei para o relógio em meu pulso, cinco minutos para a entrada. – Vamos, você tem cinco minutos.
Deu de costas para , destrancando a porta e a abrindo para que ele saísse, quando ele o fez, apenas fechei atrás de mim e fiz meu caminho ao seu lado silenciosamente pelos corredores, recebendo os olhares dos outros como se eu fosse um alien. Típica atitude de babaca. Tirei duas balas de menta e abri uma, colocando em minha boca e estendendo a outra para .
— Você está com bafo. – Ele rolou os olhos, aceitando a bala e abrindo o pacote com os dentes antes de enfiá-la na boca.
— Babaca.
— Covarde.
Ele me encarou por alguns segundos antes de apenas balançar a cabeça negativamente. Paramos na entrada ao lado do palco. Dom, Thomas e Griffin já estavam prontos para entrar enquanto o vídeo de introdução já passava no telão.
— Graças a deus. – Rob encarou . – trocou seu ponto?
— Sim, eu estou pronto. – Ele encarou Rob enquanto eu pegava a guitarra e colocava a correia nos pinos da guitarra. Ao terminar, apenas estendi a fender em direção ao vocalista que me agradeceu com um maneio de cabeça e passou a correia através do pescoço, prendendo-a em seu ombro. – Valeu.
— De nada. – Encarei os meninos. – Tá todo mundo pronto?
— Falta meu beijinho de boa sorte. – Dominic fez biquinho.
— Vai se foder, Dom. – rolei os olhos, parando diante dele. – O batom está borrado. – Segurei sua bochecha, passando o polegar pelo canto borrado do batom. – Agora sim. Vocês entram em 30 segundos, destruam esse palco e não ousem dar um show menos que perfeito, ok?
— Aye, sir. – eles bateram em continência, andei até Griffin e segurei seus ombros.
– Boa sorte, cuzão.
— Valeu, gatinha. – Sorri, depositando um beijo em sua bochecha. – Vamos lá, temos um show para fazer.
Encarei os garotos, fazendo um gesto com as mãos para que eles fizessem seu caminho até o palco quando as luzes se apagaram. Peguei o IPad do teleprompter com Rob e o segurei contra meu peito, sendo surpreendida com beijinhos de Dom, Tom e Griffin em minha bochecha antes que eles finalmente corressem em direção ao palco para tomar seus devidos lugares. foi o último deles, apenas dando um aperto fraco em meu ombro antes de ir para o palco e parar diante de seu microfone.
As luzes acenderam e os membros da Rowdy foram ovacionados por uma multidão de fãs enlouquecidos que gritavam e erguiam cartazes. Encostei em uma das barras do backstage e confirmei com a mesa de mixagem se tudo estava pronto, quando a confirmação me chegou apenas balancei com a cabeça positivamente em direção à .
— Boa noite, San Diego! – sorria. – Puta merda, é muito bom estar de volta. Eu senti falta de vocês. Mas, sem mais delongas, acho que deveríamos começar com uma das músicas do novo álbum, não? – encarou Griffin, que confirmou com a cabeça. – Eu escrevi essa música algumas semanas depois de sair da reabilitação, se chama No meu melhor, espero que gostem tanto quanto eu.
começou a tocar um conjunto de acordes enquanto Dom realizava alguns solos ao seu lado. Griffin tinha um sorriso no rosto que denunciava o quão orgulhoso ele estava de . Até eu, de certa forma, me sentia assim. Não era por menos, afinal, ele havia passado por poucas e boas durante seu tempo na reabilitação e aos poucos estava voltando aos trilhos. Havia voltado a compor e pelos últimos cinco meses havia se tornado um pouco mais aturável pelo nosso próprio bem. Ele estava evoluindo.
— Eu escrevi essa música como um pedido de ajuda, pelo bem de qualquer que se identificar com ela. – A voz dele estava um pouco vacilante, ainda que afinada. – Eu escrevi essa carta para amenizar sua dor, porque todos os dias eu acordo me sentindo do mesmo jeito. – Ele fechou os olhos.
Eu estava encarando o que seria a apresentação mais pessoal de em anos de carreira, conseguia sentir a dor de seu peito em cada uma das palavras que saiam por seus lábios à medida em que ele cantava. Era tudo extremamente transparente, quase tanto quanto a lágrima solitária que caiu por sua bochecha quando ele finalmente finalizou a música.
— Ele está chorando? – Sabrina encostou seu queixo em meu ombro.
Sabrina Davis era um pesadelo em minha vida desde que eu me conhecia por gente. Nos conhecemos quando eu me mudei para Toledo aos nove anos de idade e nos tornamos inseparáveis desde então. Passamos por todas as piores fases, incluindo a fase de adaptação em Nova Iorque durante a faculdade, dividimos um apartamento fora do campus por cinco anos antes de Griffin me arrumar um emprego com a staff e eu finalmente arrastá-la junto comigo.
Em um resumo: ela era um pesadelo, mas era um pesadelo da qual eu nunca, em momento algum, cogitaria viver sem.
— Acho que sim. – Suspirei. – Não é por menos, a letra é bem pesada.
— Você vai chorar quando chegar a sua vez?
— Do que você está falando?
— Ah, você sabe... quando você tomar coragem para subir no palco junto com eles.
— Ainda nesse assunto? Está parecendo o .
— Então você anda confabulando com o inimigo e não teve a decência de me dizer? Estou desapontada.
— Eu não estou confabulando com ninguém. – Encarei a tela do tablet para verificar as luzes. – Eu estive com o todos os dias pelos últimos cinco meses e eu te disse que ele me viu com a Cassie no dia da festa de boas-vindas.
— Então ele vem tentando te convencer a cantar com eles desde então?
— Yep. – Liguei a luz avermelhada para o começo do cover de uma das músicas do Mötley Crüe. – E eu já disse não. Centenas de vezes, para ser honesta. – A encarei. – E ele mudou a abordagem.
— Você acendeu a chama que ele precisava quando não aceitou o pedido dele, algo me diz que ele não desiste fácil. – Ergui uma de minhas sobrancelhas. – O quê?
— Você está agindo em conjunto com ele. – Eu estava incrédula. – Minha melhor amiga está agindo pelas minhas costas.
— Eu não estou agindo pelas suas costas, eu estou tentando fazer com que você se dê a oportunidade de explorar algo que sabemos que vai te fazer feliz. – Ela me encarou. – Qual é, ! Vai te matar ao menos dar uma chance?
— Sim, eu vou entrar em combustão instantânea no minuto em que eu pisar dentro do estúdio. – Peguei o celular em meu bolso, desbloqueando a tela para entrar na câmera para gravar alguns segundos do show e enviar para Cassie.
— Você deveria se envergonhar.
— Perdão?
— Você estudou anos na Julliard, cansou de fazer aulas de composição e coral, vai mesmo jogar tudo isso fora?
— Eu tenho medo de palco, Brina.
— E é por isso que existe algo mágico chamado terapia, serve para te fazer superar traumas. – Sabrina parou em minha frente. – Você merece isso e só vai superar seu medo quando realmente tentar. – Ela sorria de canto. – Você ajuda todo mundo o tempo todo, mas sempre se esquece de fazer algo por você.
— Eu já faço, todos os dias. – Aumentei as luzes azuis e diminui as vermelhas. – Eu amo o meu trabalho e estou satisfeita em trabalhar no backstage, é meu emprego dos sonhos. Eu estou feliz assim.
— Vamos combinar algo, então.
— Eu não vou gostar disso, né?
— Seguinte. – Sabrina sorriu, os cabelos castanhos caindo em cascatas por suas costas quando ela passou suas mãos por eles. – Você tenta uma vez tentar compor algo com eles. Uma vez, sem compromisso.
— Você vai me colocar em problemas.
— Claro que não. – Ela gesticulou com a mão. – Você ainda está como babá do em tempo integral, todos da banda te amam então não existe nenhum contra.
— Você ainda vai causar a minha demissão.
— Isso foi um “sim"?
— Isso foi um “vou pensar sobre”. – Sorri de canto. – Agora, vai lá cuidar do que você tem que fazer, preciso manter o foco.
As pessoas são assim mesmo, a gente tenta ajudar e aí elas simplesmente nos expulsam. – Ela dramatizou, jogando os cabelos antes de sair andando em direção ao backstage.
Continuei ao lado do palco durante toda a hora restante que se passou depois disso, me certificando de que tudo estava em perfeito estado até o final do show.
Algumas músicas depois, o show estava chegando ao seu fim e a música que iria finalizar o show era a música solo de Dom e ele precisaria de um violão para começá-la. O maior problema era que a única pessoa no backstage lateral era eu. Absolutamente todas as almas presentes naquele espaço milagrosamente sumiram.
Engoli em seco, deixando o IPad em cima de uma das caixas de som e andando em direção ao violão de Dominic, que descansava cuidadosamente em seu apoio. Retirei-o dali e comecei a ajustar a correia nas tarraxas, parando para afinar o violão um tom acima que a afinação padrão para a música. Ao terminar, retirei o violão dos meus ombros e o segurei pelo braço, esperando a finalização da música para que Dom pegasse o violão.
Mordi meu lábio e aguardei até que Dominic fizesse menção de andar até o canto do palco para pegar seus instrumentos como ele sempre fazia. Mas, dessa vez, ele não o fez. Dom apenas ficou parado no mesmo lugar por alguns segundos antes de começar a gesticular para que eu andasse até ele para entregar o violão. Deus, como eu odeio essa banda. Respirei fundo, sentindo o pânico começando a se arrastar por dentro de mim. Engoli em seco e tomei coragem, andando em direção ao guitarrista antes que pudesse pensar duas vezes no que estava fazendo. É só não olhar para a multidão, vai ficar tudo bem, é só não olhar para a multidão.
— Valeu, ! – Dom sorriu, tirando a guitarra de seus ombros e estendendo-a para mim enquanto segurava o braço do violão com a mão livre. – Poderia me ajudar com o cabo? – ele sorriu e eu conseguia facilmente visualizar trinta e duas formas diferentes de assassiná-lo sem deixar provas.
— C-claro.
Sorri nervosa, buscando pelo cabo P10 e notando que ele havia caído no chão após ele ter tirado da guitarra. Merda, merda, merda. Eu estava tremendo. Respirei fundo mais uma vez, tentando manter o foco. Me abaixei para pegar o cabo e me arrependi instantaneamente ao ver a multidão de pessoas que ocupavam cada pequeno espaço livre do Mattress Firm Anphitheatre. Engoli em seco mais uma vez, sentindo uma gota de suor escorrer por minha bochecha.
— Tá tudo bem, ? Você está pálida pra caralho.
— E-eu estou bem, sim.
Murmurei, pegando o fio e passando ao redor da correia para conectar na entrada do violão, para sair correndo em direção ao backstage sem ao menos escutar o agradecimento de Dom.
Tudo estava girando e eu estava ofegante. Procurei pelo balde mais próximo ao lado do palco e o agarrei, enfiando minha cabeça quando todo o meu almoço resolveu sair por todos os buracos possíveis, menos o correto. Puta merda, eu odeio a minha vida.
Me sentei contra uma das diversas caixas empilhadas ao lado do palco, puxei o balde cuidadosamente e o coloquei entre minhas pernas. Me estiquei apenas o suficiente para pegar o Ipad para fazer o controle das luzes à medida e que Dominic cantava. Encostei minha cabeça contra a caixa e tentei normalizar minha respiração, curvando-me contra o balde mais uma vez.
Pelo tempo em que finalmente parei de vomitar, o show já tinha acabado e quatro homens estavam parados na minha frente com olhares preocupados.
— E aí, como foi o show? – tombei minha cabeça para trás, encarando os membros da Rowdy. – O meu foi legal pra caralho.
— Porra, . – Griffin murmurou, abaixando-se ao meu lado. – Isso tudo foi porque você subiu no palco?
— O que você acha, Griff? – o encarei. – Que merda, eu sempre deixei claro o porquê de não subir. – Passei a mão por meu rosto, limpando o suor frio que se acumulou ali antes de prender meu cabelo em um rabo de cavalo. – Qual de vocês, babacas, teve a brilhante ideia de fazer essa brincadeira?
— Eu sinto muito, , eu não imaginava que você tivesse tanto medo assim. – Dom me encarou. – Eu realmente sinto muito.
— Mas eu tenho, Dom. – suspirei, me apoiando em uma das caixas para me levantar. – Eu fico apavorada, cacete. – Empurrei o balde cuidadosamente com o pé. – Só não faz isso de novo. – Ele assentiu. – Isso vale para todos vocês.
— Não vamos fazer. – me encarou. – Preciso de um banho. - E então ele me deu as costas.
— Vocês três estão fedendo, façam o mesmo que o .
Os homens apenas confirmaram com a cabeça, seguindo pelo corredor lateral até seus respectivos camarins. Aguardei por alguns minutos e desliguei o teleprompter, apagando as luzes do palco. Peguei o balde no chão e o coloquei entre as toalhas sujas, fazendo meu caminho até os camarins o mais lentamente possível para que o meu estômago não resolvesse reclamar novamente. Coloquei o teleprompter em cima da mesa de equipamentos e parei diante da porta de , batendo três vezes antes de ouvir algo de dentro dela.
— Entra, estou no banho.
Girei a maçaneta, entrando no ambiente para encontrá-lo com papéis por todos os lados. Balancei a cabeça negativamente, me aproximando da penteadeira que haviam colocado ali.
— E você é minha droga, te respirando até meu rosto adormecer. – Li um pedaço do trecho da letra garranchada em uma das folhas. – Nada além dos saltos altos, perdendo a minha religião.
Gosta do que está lendo? – escutei , só então voltando minha atenção em direção a porta do pequeno banheiro do camarim. Os cabelos dele estavam molhados e caiam por seu rosto enquanto ele passava a toalha pelos fios, deixando-a pendurada em seus ombros. – Nós temos um tempo antes de ir para o hotel, resolvi tirá-las para ver se consigo algo bom.
— Me desculpe. – Sai de perto da penteadeira, sentando-me no sofá. – Você já tem alguma ideia de título?
— Ainda não. – Pendurou a toalha em uma das araras ao seu lado, andando até a penteadeira e pegando as letras antes de se sentar ao meu lado. – Eu estava pensando em fazer um dueto com isso.
— Acho que vai fazer sucesso se você o fizer, é uma boa letra. – Sorri de canto. – Colocar um trecho dela para começar a música, talvez?
— Eu estou escutando. – Pegou a caneta na mesinha de centro. – Me ajuda com essa.
— Foi apenas uma ideia, não quero me meter no seu processo de criação. – Ri fraco.
— Eu estou pedindo para você me ajudar. – Ele me encarou. – Você tem medo de palco, eu entendo. Isso não significa que você não pode me ajudar a compor.
— Você é um pé no saco. – Bufei. – O que você está pensando para essa?
— Não sei. – Ele colocou os pés na mesa de centro. – Eles poderiam ser como Bonnie e Clyde.
— Ladrões de banco suicidas?
— Não, babaca. – bufou. – Uma dupla que aceita tudo pelo outro. Que está lá independentemente do quão ruim as coisas estão.
— E posteriormente roubam bancos.
— Talvez uma invasão de propriedade privada, também. Quem sabe. – Ele riu fraco quando eu o encarei incrédula. – É liberdade poética, conhece?
— Vai se foder. – Balancei a cabeça. – Ok, uma dupla dinâmica que topa tudo. – Peguei a letra das mãos de . – Nada é tão ruim se te faz sentir bem?
— Eles são extremo opostos, mas se encontram nos gostos bizarros.
— Oh, eles também gostam de BDSM. Safados.
— Se te faz se sentir melhor, eles podem curtir uma depravação. – Deu de ombros.
— Eu estou enojada. – Ri fraco. – Okay, e se colocarmos algo antes dessa tentativa de convencimento?
— Tipo...
— Se você soubesse das coisas ruins que eu gosto, não pense que eu consigo explicar. – Escrevi ao lado. - O que posso dizer? É complicado.
— Ok, ela se sente envergonhada dos gostos sexuais exóticos dela.
Você poderia parar de relacionar tudo à sexo? – ergui uma sobrancelha. – Deus, você parece um garoto de fundamental.
— Você quem começou com essa merda de BDSM, eu só estou mergulhando no seu processo.
— Vai se foder.
— É a segunda vez em menos de dez minutos. – Ele sorriu. – Eu estou contando.
— Vai se foder. – Balancei a cabeça. – E se colocarmos algo como “Não importa o que você faz, nem o que você diz. Eu apenas quero fazer coisas ruins com você”?
— Muda essa ordem. – Ele se virou para mostrar no papel. – Coloca “Não importa o que você diz, nem o que você faz", acho que fica mais harmônico e rimado.
— Tudo bem. – Apoiei meu queixo em minha mão. – Podemos voltar com o começo e isso poderia ser o refrão, quando as músicas são dueto o ideal é ter um refrão para não ficar confuso.
— Então já temos um refrão. – Ele encostou no sofá. – Estou ficando louco? Estou perdendo a cabeça? Se você soubesse das coisas ruins que eu gosto. – Me olhou. – O que acha?
— Boa, essa pode ser a introdução. – Anotei no papel, assoprando o cacho que caiu em meu rosto quando me inclinei. – Tão bom que você não consegue explicar, o que posso dizer? É complicado. Podemos colocar isso para finalizar o refrão.
— Eu gosto disso, pode colocar.
— Ok. – Escrevi o trecho na folha. – Prontinho. – Estendi a folha. – Sua música está pronta.
— Não está, ainda precisamos fazer a ponte. – Ele pegou a folha.
— Precisamos? – arqueei uma sobrancelha.
— Sim, precisamos. – Ele se levantou, andando até uma das araras para pegar uma camiseta de manga rosa. – Você está presa a mim noventa por cento do seu tempo, poderia me ajudar com outras composições.
— , você está com as suas capacidades mentais em perfeito estado? – colocou a camiseta, cobrindo as tatuagens com o tecido rosa.
— Sim? – me encarou. – Qual é, nós dois sabemos que você sabe compor e faz isso muito bem, o que te impede? – e, novamente, estava enchendo o meu saco. – Responde.
— Eu te disse milhares de vezes que não, para de insistir.
— , eu estou realmente tentando ser uma pessoa legal aqui e você não está me ajudando.
— Você está tentando me fazer ultrapassar limites que eu não posso ultrapassar. – O encarei. – Olha, eu vou ver Griffin. – Me levantei.
— Você não pode me deixar sozinho.
— Eu estou no camarim ao lado.
— Ainda não pode me deixar sozinho, Ashleigh foi bastante clara quando disse que eu seria vigiado vinte e quatro horas por dia.
— Você realmente está usando essa carta?
— Eu não desisto fácil e eu estou tentando te compensar aqui, tá?
— Você poderia me dar um carro novo, me sentiria plenamente compensada.
— Estamos no Natal e eu me tornei o Papai Noel?
— Não, você está mais para o Grinch. – Me virei, pegando a maçaneta e a girando. – Vamos lá, não posso te deixar sozinho.
sorriu, saindo para fora do camarim e parando ao meu lado quando fechei a porta atrás de mim. Andei em direção ao camarim de Griffin e abri a porta, encontrando-o jogado no sofá completamente pelado com seu celular em mãos. Visão do inferno, para dizer o mínimo.
— Pelo amor de Deus, Griffin! – berrei, fechando os olhos. – Bota uma roupa, agora.
— E é por isso que você bate antes de entrar, . – O escutei levantar-se, pegando alguma roupa e pulando, ria ao meu lado. – Pode abrir.
— Você é nojento. - Abri os olhos, encarando-o. – Sério, quem fica pelado jogado no sofá?
— Eu. – deu de ombros, me fazendo encará-lo. – O quê?
— Eu estou enojada. – Me sentei no sofá. – Como foi o show, Griff?
— Ótimo. – Encarou . – Ela te arrastou até aqui?
— Eu não arrastei ninguém, ele veio porque aparentemente não sabe ficar sozinho por cinco minutos.
— Você – ele apontou para mim. – Vai se foder. – Depois encarou Griffin. – Convence a sua namorada a me escutar.
— Namorada? – encarei . – Nojento.
— Ele colocou na cabeça dele que a gente se pega. – Griffin explicou. – O que está tentando fazer?
— Estou tentando convencê-la a me ajudar a compor algumas músicas. – me olhou. – Você já viu essa mulher compondo?
— Já. – Griffin me encarou. – Mas eu tenho tentado fazer isso que você está fazendo por bastante tempo. – Ele encarou a tela do telefone. – Nunca funcionou, ela tem um bloqueio...
— Vai se foder. – Apontei, interrompendo-o. – Deus, vocês não me dão um dia de paz. - Me levantei, passando a mão por meu rosto. – Eu estou saindo, não ouse vir atrás de mim. – Eu disse, encarando .
Sai do camarim de Griffin e andei rapidamente pelo backstage até a entrada lateral do palco. A maior parte dos roadies estavam começando a desmontar os instrumentos musicais para colocá-los de volta nos ônibus da turnê.
Respirei fundo e fiz meu caminho até o palco pela segunda vez naquele dia. O estádio agora estava vazio, sendo iluminado pelas luzes nos postes. Andei até o final do palco, sentando-me ali com as pernas suspensas no ar. Eu me sentia totalmente esmagada pela sensação de ser tão pequena perto do espaço enorme, uma vez lotado de pessoas. Me deitei no palco, encarando o céu estrelado antes de fechar meus olhos.
— Isso vai ser uma longa turnê.
Capítulo 3: As Provações e Tribulações de Confiar
“Your money is getting wasted
But you’re always getting wasted all the time.”
(Seu dinheiro está sendo perdido
Mas você está perdido o tempo todo)
— Dying In a Hot Tub, Palaye Royale
Três anos e cinco meses antes
Desbloqueei minha tela de celular e passei para o aplicativo de mensagens, respirando fundo antes de deixar o celular descansando em meu peito enquanto eu repassava em minha mente a imagem de Alyssa pegando suas coisas em meu armário e simplesmente me dando as costas no dia dos namorados.
— Eu não posso estar com alguém que tem medo de me assumir, , relacionamentos não funcionam assim.
Suas palavras se repetiam em minha mente como um looping e eu não conseguia ter uma reação diferente de inercia. Eu estava flutuando dentro de meus próprios pensamentos quando senti o celular vibrar em meu peito, rolei meus olhos e encarei a tela, avaliando se minha paciência estava grande o suficiente para lidar com os surtos de . Após alguns segundos, me dei por vencido e deslizei o botão para atender a chamada.
— Pelo amor de deus, , você está fora de si? – chiou.
— Bom dia para você também, estrelinha. – Murmurei. – O que foi?
— Não ouse vir com seu sarcasmo e apelidos para cima de mim, . – Eu conseguia enxergá-la massageando suas têmporas. – Você fez um tweet suspeito e sumiu durante um dia todo, você entende a gravidade ou eu preciso desenhar?
— Foi um tweet autoexplicativo, não existe nada mais por trás dele. – fechei os olhos. – Agora que você já sabe que estou vivo, já pode desligar.
— Alyssa realmente terminou com você no dia dos namorados?
— É.
— Eu estou indo até aí.
— Que porra?
— Você teve sua festa de autopiedade e eu Ashleigh está preocupada, você precisa espairecer.
— Eu posso fazer isso sozinho, passo.
— Tarde demais.
— Eu te odeio.
— Posso viver com isso.
— Ashleigh deveria te demitir, você é extremamente irritante. – Provoquei, fechando meus olhos com força antes de me sentar na cama. - Se vai vir até aqui ao menos tenha a decência de bater antes de entrar.
— E você é extremamente desagradável. FILHO DA PUTA! – ela gritou, me fazendo afastar o aparelho celular de perto do meu ouvido. – Desculpa, , um babaca me fechou em uma curva. De qualquer forma, eu estou com o Griffin, os meninos devem estar indo até aí também.
— Merda, , eu só queria um dia tranquilo sem a presença de vocês.
— Eu sei, é por isso mesmo que isso é algo que não vamos fazer. Levanta da cama e se arruma, chego em quinze minutos.
E, sem nenhum aviso prévio, desligou o celular na minha cara. Suspirei pelo o que parecia ser a centésima vez naquele dia, coçando meus olhos antes de me levantar da cama e desenhar meu caminho em direção ao banheiro de meu quarto. Não me preocupei em me olhar no espelho, apenas foquei no banho que deveria levar menos que dez minutos se eu quisesse estar pronto antes de invadir a minha residência. Ao menos a água do chuveiro serviria para me fazer esquecer, mesmo que por alguns segundos, as dores musculares de ter corrido uma maratona por Hidden Hills apenas para me permitir esquecer os últimos dois dias.
Após longos minutos embaixo da água gelada, finalmente me senti bem o suficiente para sair do banheiro. Enrolei a toalha em minha cintura e andei em longas passadas em direção ao closet, pegando qualquer peça de roupa que fosse menos quente para aturar a primavera da California. Por fim, me permiti pegar o celular em minha cama, enfiando-o no bolso de minha bermuda antes sair de dentro do cômodo iluminado.
Desci as escadas pacientemente, encontrando meus adoráveis colegas de banda carregando coolers em direção à piscina na parte de trás de minha mansão. Balancei a cabeça negativamente, encarando Griffin com o meu melhor semblante irritado, mesmo que internamente eu estivesse agradecendo a companhia dos meus melhores amigos naquele momento.
— Bom dia, Raio-de-Sol. – Griff sorriu, dando leves tapinhas em minhas costas quando me puxou para um abraço. – Como está se sentindo?
— Eu consigo lidar. – dei de ombros, sabendo muito bem que aquilo era a última coisa que conseguiria lidar no momento.
— acabou de estacionar, ela trouxe bastante coisa então estamos ajudando. Dom está com Cassie terminando de colocar as bebidas para fora.
— Ótimo. – balancei a cabeça, voltando a desenhar meu caminho até a porta de entrada onde os carros de meus amigos haviam sido estacionados. – Deus. Você está se mudando para a minha casa?
— Você bem que gostaria.
— Você comprou tudo isso?
— Não, o Griffin. – ela fez uma careta. – Estávamos juntos, não foi difícil juntar o resto do pessoal depois disso.
— Vocês estão fodendo? – perguntei, casualmente, enquanto puxava o último cooler que faltava no porta-malas e abaixava a porta.
— Ew, não. – ela balançou a cabeça como se estivesse visivelmente ofendida pela pergunta. – De onde você tirou essa maluquice, ?
— Vocês vivem juntos, é quase como se fossem uma pessoa só, você fica de agarração com ele quando estamos só nós, é suspeito para dizer o mínimo. – Enumerei os fatores, voltando a encará-la. – Vai dizer que eu estou errado em perguntar?
— Quando estamos com outras pessoas eu estou trabalhando. – explicou. – Eu preciso manter o máximo de profissionalismo, além do mais, eu e Griffin nos conhecemos por um bom tempo, ele é o mais próximo de família que eu tenho. – deu de ombros. – Além do mais, é contra as minhas regras ter relações românticas com as bandas que eu trabalho.
— Sério? – arqueei uma de minhas sobrancelhas. – Nunca? Nenhuma?
— Eu já passei da minha fase starstruck. – Colocou o cooler em no chão ao lado da churrasqueira. – Depois de ver de perto como a indústria funciona, eu deixei de ficar realmente impressionada por ela, entende? E eu sinto que não conseguiria manter uma relação com alguém que estivesse cercado por holofotes e toda essa merda. Eu gosto do anonimato e da minha privacidade.
— Você diz isso porque molha as calças sempre que está próxima do palco. – provoquei.
— Pode ser que seja isso mesmo. – se abaixou, tirando a tampa de um dos coolers para pegar duas cervejas. – Mas, se um dia isso acontecer, eu vou pedir uma mudança de banda pra Capitol, eu prefiro isso do que ser pega no meio de um conflito de interesses.
— Você tem bolas, isso eu tenho que admitir. – peguei uma das garrafas de cerveja que ela estendeu em minha direção. – Valeu.
— Por nada. – ela sorriu de canto, arrancando a tapa lacrada da cerveja com ajuda do anel prateado que sempre ficava em seu dedo do meio. – Eu vou tratar ver como o Tommy está com as bebidas do bar.
— Vai lá.
E com um aceno de cabeça ela foi saltitando em direção à cozinha feito uma criança alegre. Balancei minha cabeça negativamente enquanto andava em direção à cadeira na beira da piscina onde Dom e Cass brincavam entre si.
— Ei, vocês. – chamei a atenção de ambos – O que estão fazendo?
— Estava falando para a Cassie o quanto você e fariam um casal fofinho.
— Vocês deveriam namorar. – Cassie soltou, casualmente, como se não significasse nada. – Ele é mais legal que a Alyssa.
— Olha as ideias que você está alimentando na minha filha, Dominic. – fiz uma careta. – Vocês dois, deixem a minha vida amorosa como está, já é complicado o suficiente. – dei um gole em minha cerveja e a deixei repousar na mesa ao meu lado.
— Papai, você poderia me dar seu celular para eu tirar uma foto?
— Claro, princesa. – sorri, tirando o aparelho de meu bolso e para entregar nas pequenas mãos de Cassie.
E me virei para a piscina, o que foi uma péssima decisão visto que menos de trinta segundos depois meus melhores amigos me fizeram o grande favor de me empurrar na água que se encontrava quente graças ao sol que se encontrava no topo do céu no momento. Deus, como eu odiava os meus amigos.
— Que porra foi essa, caras? – passei a mão em meu rosto em uma tentativa falha de tirar um pouco da água que havia se acumulado ali, somente para encontrar dois marmanjos velhos gargalhando com Cassandra.
— Cara... – a risada de Griffin era tão histérica que ele ao menos conseguia terminar a frase sem se apoiar em seus próprios joelhos. – Você caiu que nem um pedaço de bosta na água.
— Caralho, como eu amo trabalhar do lado de vocês puta merda. – Dominic limpou uma lágrima de seu olho. – Você é um gênio, Cass.
— Obrigada. – Minha filha riu e eu estava embasbacado com a traição da pequena garotinha.
— Cassie, você realmente me traiu dessa forma?
— Você estava triste... – ela disse, me encarando com um rosto que transbordava inocência.
— Eu realmente odeio vocês. – fiz um careta, andando em direção à beira da piscina para me impulsionar para fora dela. – Eu estou encharcado. – tirei a camisa e a regata, jogando-as em uma das cadeiras livres.
— Estranho seria se você não estivesse. – retornou com alguns potes de vidro com carne em seus braços e agora tinha um óculos de sol em seu rosto. – Esse é meio que o ponto de jogar alguém na piscina.
— Continue falando e eu faço questão de te jogar dentro dela também.
— Eu adoraria ver você tentar. – provocou, abaixando levemente os óculos para me encarar.
— Eu tomaria isso como um desafio. – Dom sorriu diabolicamente.
— Eu não deixaria, papai.
— Deixem-na pelo menos colocar as carnes na mesa antes. – Tommy berrou, colocando as bandejas que ele carregava na mesa para auxiliar com as que ela carregava.
— Que seja. – ela murmurou, ajustando o óculos de sol em seu rosto antes de pegar o celular e deslizar a tela, colocando em sua orelha enquanto falava com alguém que eu não fiz questão de saber quem eram-.
— Ashleigh está bastante carrasca nas últimas semanas, não? – Tommy mudou de assunto, tomando minha atenção. Apenas franzi o cenho visivelmente confuso com o que ele estava se referindo. – As gravações do próximo álbum, cara. Ela está maluca.
— Faz dois anos desde o último lançamento, ela está sofrendo com a pressão da Capitol, você poderia culpá-la? Dois anos sem um álbum, a minha overdose, o fato de que eu agora preciso de uma babá. – apontei em direção a , que falava com atenção no telefone. – É bastante coisa para lidar ao mesmo tempo.
— Ela quer que comecemos as gravações no próximo mês, cara. – Griffin me encarou rapidamente enquanto brincava de adoleta com Cassandra. – Você tem algo em mente?
— Na real... – peguei uma garrafa de cerveja, usando o avental de Tommy para abrir. – Eu tenho uma ideia, mas eu preciso de ajuda para convencer a pessoa em questão.
— Você realmente está cogitando isso? Cara, isso é praticamente impossível. – Griff parou de brincar com Cass.
— Eu perdi algo aqui? – Dom franziu o cenho. – Porque eu realmente estou tentando entender o que está rolando.
— Ele quer que a esteja no próximo álbum. – meu melhor amigo massageou as têmporas, balançando a cabeça negativamente.
— A nossa ? A garota que vomitou as tripas só de trocar uma guitarra em um palco? Nós realmente estamos falando da mesma pessoa? – Tommy levou a cerveja até os próprios lábios.
— Sim, a nossa . – Graham suspirou, voltando a brincar com Cassie. – Ela é formada em produção musical e tem especialização em composição pela Juilliard.
— Ela o QUÊ? – Dom cuspiu a cerveja. – Por que caralhos ela ainda está trabalhando para a gente? Quero dizer, não que nós não sejamos muito legais, mas com um currículo desses ela poderia estar, você sabe, mais famosa que a gente.
— Você acabou de responder sua pergunta alguns segundos atrás. – Griff riu fraco, pegando as bochechas de Cassie. – Ela tem medo de palco, têm sido assim desde sempre.
— Isso pode ser resolvido. – dei de ombros. – Ela me ajudou com a composição de uma música e, por mais que na maior parte do tempo ela seja irritante...
— Muito cuidado com as palavras que você vai dizer agora. – Griff censurou.
— Continuando. – o ignorei, - Por mais irritante que seja, ela tem o talento e uma voz que eu nunca ouvi em lugar nenhum, a música é simplesmente genial e a forma que ela compõe é fluída, nós precisamos dela.
— Você vai me render belas dores de cabeça. – o baterista me encarou.
— canta muito bem. – Cassie me encarou. – Vocês podem cantar agora?
— Cassie, ela não vai fazer isso agora. – a encarei.
— Eu posso pedir.
— E vocês podem mostrar a nova composição que tanto disseram.
— Do que vocês estão falando? – finalmente apareceu, dessa vez com Sabrina ao seu lado. –
— Oi, pessoal. – Brina acenou e eu apenas meneei com a cabeça. – Como está, ?
— Ótimo. – dei de ombros. – Estávamos falando da sua participação no próximo álbum.
— E você estava pensando em me contar isso quando, ? – a empresária a encarou, com uma expressão não muito amigável.
— Isso nunca foi uma hipótese a ser considerada. – deu de ombros. – E eu achei que você já tivesse entendido o que eu te disse um mês atrás.
— Eu não esqueço fácil.
— Nem me diga. – balançou a cabeça.
— Qual é! – Dom a encarou. – Canta algo para a gente, parece que todo mundo aqui já te escutou cantando menos eu.
— E eu. – Tommy adicionou e a expressão de beirava o pânico. – Você tem pânico de palco, eu entendo, mas estamos entre pessoas que você conhece tem bastante tempo.
— Por favorzinho, . – Cassandra correu em direção a ela, encarando-a com a mesma expressão pidona, digna do Gato-de-Botas e eu apenas conseguia pensar no quanto eu mimaria aquela pequena garotinha por usar a sua influência sobre da maneira certa.
— Não.
— Você realmente vai negar isso pra Cassie? – joguei a última carta que me faltava na manga, rezando para que aquilo fosse suficiente para convencê-la.
— Olha para cara dela, . – Brina apontou para o rostinho pidão da minha filha. – Você realmente vai ser sem coração a esse ponto?
— Eu odeio todos vocês. – bufou. – Menos você, você é um anjinho. – se abaixou, depositando um beijo terno na testa de Cass. – Eu faço, mas é só porque Cassie realmente jogou baixo ao pedir isso, ok? – rolou os olhos. – Eu vou pegar o violão.
— Está no estúdio, você pode trazer as partituras que estão em cima do piano, quero ajuda nelas.
— Não abusa da minha boa vontade, . – murmurou, antes de me dar as costas e sumir dentro do interior da mansão.
— Você me deve um bolo de chocolate. – Cassandra me olhou e eu apenas abri meus braços, esperando que ela corresse me abraçar. – Você está molhado.
— Você vai ganhar todos os bolos do mundo depois disso. – Griffin a encarou, me cortando antes que eu pudesse ao menos respondê-la.
— Vocês realmente querem a no álbum ou é apenas um jeito de implicar com ela? – Brina cruzou os braços, me encarando. Sabrina era tão transparente quanto uma taça de cristal polido e era bem fácil de perceber que ela se encontrava em um misto de felicidade e receio.
— Cara, eu a quero no álbum mais do que qualquer coisa. – levantei as mãos em defensiva. – Eu tenho um plano novo para esse álbum e eu quero que ela esteja nele, tanto na composição quanto na faixa. Eu devo isso a ela depois de tudo.
— Eu apoio. – Brina sorriu. – Ela é uma musicista incrível e pelos últimos quinze anos eu tenho tentado incessantemente fazer com que ela siga na carreira, se vocês querem mesmo fazer isso, vão ter meu apoio.
— Vocês vão me colocar em uma encrenca fodida. – Griff balançou a cabeça. – Mas eu topo, ela é realmente talentosa.
— Não posso tirar conclusões antes de escutá-la. – Dom murmurou, mas o sorriso em seu rosto denunciava que ele apenas estava sendo do contra.
— Por mim o que vocês decidirem, está decidido. – Tommy deu de ombros.
— Eu ajudo. – Cassie riu, sentando-se ao lado de Griffin.
— Você fez o arranjo para a letra? – finalmente passou pela porta com o violão em mãos, se sentando na cadeira em uma distância segura, me estiquei para pegar o violão de suas mãos e ela apenas se afastou, me deixando confuso por alguns segundos. – Você está ensopado, eu posso tocar.
— Por mim tudo bem. – dei de ombros, pegando as partituras ao lado. – Você pode fazer as partes em vermelho e eu faço as em azul.
— Juntos nas grifadas em roxo? – franziu o cenho, eu apenas assenti. – Ok, o arranjo é Dó, Sol, Lá Menor, Dó com Sétima, Fá e Ré Menor? – eu assenti. – Beleza. – murmurou, prendendo os cabelos cacheados em um coque bagunçado no topo de sua cabeça, deixando alguns cachos caindo por seu rosto. – Vamos lá.
— Um, dois, três...
Fiz a contagem em voz alta, esperando que começasse a tocar os acordes um por um. Contei o tempo da música e notei que a roadie tremia levemente e encarava o papel com afinco antes de finalmente começar a cantar o refrão.
— Estou fora da minha cabeça? Estou fora da minha mente? Se você ao menos soubesse das coisas ruins que eu gosto... – ela usou uma nota de cabeça, me fazendo encará-la. – Não ache que posso explicar, o que posso dizer? É complicado. – respirou fundo, o balançar de sua perna denunciava o quão nervosa ela estava. – Não importa o que você diz, não importa o que você diz, eu apenas quero fazer coisas ruins com você, tão bom que você ao menos pode explicar, o que posso dizer? É complicado.
Encarei meus amigos rapidamente e eles se encontravam tão embasbacados como eu quando havia escutado a roadie cantando pela primeira vez. A técnica era incomparável, mesmo nervosa ela apenas seguia como se nada pudesse tirá-la do estado em que ela havia se posto. Era quase como se se trancasse dentro de uma pequena bolha longe de tudo e todos. Era talento em sua forma mais pura.
— Nada é tão ruim se te faz sentir bem, então você volta como eu sabia que voltaria. – comecei minha parte, encarando que agora já estava com os olhos abertos e mudava o ritmo para a estrofe. – Nós dois somos selvagens e a noite ainda é uma criança, você é minha droga, respiro você até ficar chapado. – ela me encarou com um olhar reprovador, claramente fazendo referência a Cassie que escutava tudo atentamente. Continuei no verso. – Então você diz.
— Eu te quero para sempre, mesmo quando não estamos juntos. ¬– começamos o dueto, agora ela balançava a cabeça levemente. – Cicatrizes no meu corpo para que eu possa te olhar a qualquer momento.
— CA-RA-LHO. – Dominic nos encarava como se tivesse acabado de tomar um soco. – Que porra, ? Você tem que ajudar a gente no próximo álbum.
— Sou uma roadie, não uma cantora. – abraçou o violão. – Vocês podem encontrar outra pessoa.
— Nem fodendo. – Tommy se pronunciou. – Não vai ser metade do que acabamos de ver agora e se nós não queremos uma segunda opção, queremos você.
— Por favor, respeitem a minha decisão de não fazer isso.
— ... – Griffin a encarou e eu pude enxergá-la engolindo em seco.
— Você não, Griffin. – ela soava um tanto quanto desapontada.
— Você precisa deixar ir, . – ele a encarou. – Você não pode continuar deixando de fazer as coisas por isso.
— Você não entende.
— Você tem razão, eu não entendo. Mas eu sei que nada vai ser um motivo plausível para você ter deixado isso de lado, principalmente quando isso foi algo que você passou boa parte da sua vida fazendo. – todos nós estávamos em silencio, apenas observando o desenrolar da cena a nossa frente. -Você precisa deixar ir e não fingir que essa parte da sua vida não existiu.
— Porra, Griff, não torne as coisas mais difíceis do que já são, tá legal? Eu já tenho muita coisa para lidar e eu não posso pegar um compromisso que sei que não vou conseguir terminar. – se levantou, tirando a correia do violão de seu corpo e o segurando pelo braço. – A resposta é não. – e nos deu as costas, voltando para o interior da mansão.
— O que acabou de rolar aqui? – Dom alternou seu olhar entre mim e Griffin. – Tipo, real, o que caralhos acabou de acontecer?
— Não é meu segredo para contar. – Griffin se levantou. – Brie, poderia me ajudar com a comida?
— Claro. – a empresária sorriu terna em minha direção antes de seguir Griff em direção à churrasqueira.
— Ele sabe de algo. – Dom se sentou ao meu lado, constatando o obvio.
— Não me diga, Sherlock. – rolei os olhos, olhando para Cassie. – Ei, Cass, você quer ir comigo procurar a ? Acho que ela gostaria da sua companhia.
— A está brava, papai? – ela franziu o cenho, andando em minha direção.
— Acho que ela só está um pouco sem graça.
— Por quê?
— O quê? – a encarei.
— Por que ela está sem graça?
— Bom, isso acontece quando você tem vergonha de algo e as pessoas te perguntam sobre. – fiz o meu melhor para tentar contextualizar. – Nós enchemos o saco dela e agora ela está sem graça por isso.
— Você quem começou com essa ideia, nós só compramos. – Tommy apontou. – Além disso, eu ainda não acredito que vamos desistir tão fácil assim.
— Quem disse que vamos?
— Vocês estão agindo contra as costas da minha melhor amiga? – Sabrina encostou no balcão da área da churrasqueira.
— Depende. – a encarei. – Você vai contar se estivermos?
— Claro que não. – ela deu um longo gole em sua cerveja. – Serei a apoiadora número um da ideia, tenho tentado convencê-la desde sempre.
— Eu te adoro, sabe disso né?
— Espera um segundo, preciso gravar isso.
— Vai a merda. – rolei os olhos.
— Vai você.
— Linguajar, crianças no cômodo. – Griffin apontou.
— Eu vou procurar a sua namorada. – me levantei. – Cass? Papai precisa conversar com a tia , você poderia ficar com seus tios por um momento? – ela assentiu, correndo em direção a Tommy e Dom.
— Fiquem de olho, sim? Eu já volto.
Esperei pela confirmação de Brina e Dominic. Quando esta chegou, eu apenas desenhei meu caminho em direção ao interior da mansão buscando pela silhueta da roadie. Não tardou que eu a encontrasse sentada em uma das baquetas do meu bar particular, encarando o gargalo da garrafa de cerveja que, a este ponto, provavelmente se encontrava quente.
— Ei, estranha. – a chamei, me encostando no balcão de mármore. – Você veio até aqui para ficar se autoflagelando?
— De início, não. – ela me encarou. – Agora, todavia, eu posso estar considerando a ideia.
— Não fode. – puxei a banqueta a sua frente, me sentando em seguida. – O que te impede?
— , não quero continuar com isso, por favor.
— Qual é! Acho que mereço o mínimo de honestidade considerando que eu fui sincero com relação à Alyssa.
— Eu só não consigo, tá? É algo bem mais profundo do que medo e eu não consigo deixar isso de lado.
— Você gosta disso?
— Sim, mas...
— Então não tem “mas”. – a interrompi. – , você é uma musicista completa, eu teria que ser muito maluco para deixar você desperdiçar seu talento assim.
— Eu gosto de onde estou agora.
— Eu vejo a forma como você fica quando toca pra Cassie ou quando compõe. A paixão no seu rosto é clara. – me levantei, dando a volta através do bar para pegar uma garrafa de whisky e dois copos. – Eu sou um arrombado, mas não sou cego.
— Eu estou dirigindo.
— Você pode passar a noite, eles também vão. – apontei em direção ao grupo que brincava de algo próximo da piscina. – A questão aqui é: do que você tem tanto medo? – servi a bebida em ambos os copos, estendendo o copo de vidro em sua direção.
— Para alguém que odeia falar sobre si, você está bastante interessado na minha vida. – ela pegou o próprio copo, dando um gole na bebida.
— Posso voltar a ser o babaca de sempre, é só você pedir com jeitinho, gatinha. – pisquei em sua direção, tirando um sorriso de seu rosto. – Eu estou falando sério.
— São muitas coisas que me impedem e eu não me sinto confortável o suficiente para falar sobre com você, sem ofensas.
— Não ofendeu. – suspirei. – Escuta, eu tenho uma proposta.
— Essa questão não está aberta a discussões, se é esse o seu plano.
— Agora você está me ofendendo. – apontei, franzindo o cenho. – De qualquer forma, é de conhecimento geral o seu pânico por palcos.
— De fato.
— Mas, segundo minhas fontes, você compõe.
— Ah, não. – balançou sua cabeça negativamente, massageando as têmporas. – Onde você está querendo chegar?
— Você compôs comigo, quero que me ajude a compor o resto do álbum. – me encarou, deixando o copo repousar em cima do balcão antes de começar a gargalhar. – O que foi?
— Você se escutou agora? Tipo, realmente escutou o que acabou de sair da sua boca?
— Eu acabei de te fazer uma proposta que não envolve cantar em um palco.
— Eu sou uma roadie, não uma compositora.
— Seu diploma da Juilliard me diz o contrário.
— Você está me stalkeando ou algo assim?
— Não é importante. – balancei minha mão. – Eu quero que você me ajude nas composições, você não precisa cantar se não quiser, apenas me ajudar nas letras e arranjos. – tomei um gole do líquido em meu copo. – E, se você em algum momento se sentir preparada e tiver vontade, podemos gravar algo. – suspirei. – Todos eles concordam e Cassie ficaria brava comigo pelo resto do ano se eu não propusesse isso a você. – joguei a última carta que me faltava, sabendo que o apego de por minha filha provavelmente faria com que ela ao menos pensasse com mais carinho na proposta.
— Eu te odeio.
— Funcionou?
— Não vou te dar esse gostinho. – ela me encarou, rolando os olhos. – Tá.
— Isso é um sim?
— Isso é um talvez. – pontuou, levantando o dedo em riste. – Mas a minha prioridade continua sendo a minha profissão de roadie e isso inclui ser sua babá. – assenti. – E eu não quero que outras pessoas saibam.
— Defina “outras pessoas”.
— O resto da equipe, com exceção da Ashleigh por motivos óbvios. – justificou. – Não quero dar margem para que as pessoas assumam coisas sobre mim.
— Como o que? Você estar dormindo com a banda toda?
— É.
— Por mim tudo bem. – levantei meu copo. – Então nós temos um acordo?
— Temos um “talvez”. – ela bateu seu copo contra o meu, virando o resto da bebida que restara dentro dele.
E foi naquele exato momento com o olhar vacilante de em minha direção que eu me permiti sentir algo além do misto de antipatia e gratidão que tomavam meu peito sempre que estava envolvida no assunto. Ela havia se permitido fazer algo que iria contra uma parte que ela negava com afinco.
E eu estava louco para descobrir o porquê.
Capítulo 04: Pequenos Passos Também São Avanços
“I don’t even know myself
I wish I could be someone else.”
(Eu não me reconheço
Eu gostaria de poder ser outra pessoa)
— Something’s Gotta Give, All Time Low
Miami, Florida
Três anos e quatro meses antes.
— Como estão os ensaios?
Minha terapeuta sorriu, arrumando-se em sua cadeira estofada.
Liana era uma mulher na casa de seus quarenta anos e era minha terapeuta desde que eu me conhecia por gente. Nossas sessões começaram graças aos acontecimentos que haviam me levado a morar com os Graham no auge dos meus nove anos de idade. Uma criança que havia perdido sua mãe para a leucemia, com um pai alcoólatra que havia torrado cada centavo do seguro de vida em apostas e garrafas de bebida. As crises de pânico, os traumas e os mecanismos de defesa que foram criados a partir desses singelos momentos me transformaram na pessoa que havia sido uma paciente VIP de Liana pelos últimos quinze anos. E contando.
— Regulares.
— E como foi o processo?
— Caótico...? – me permiti soltar um riso nervoso. - Eu tive bastante coisa para fazer nos últimos dias devido a turnê, então eu estou a ponto de ter um ataque de nervos devido a quantidade de café que eu tenho ingerido por dia. – ri fraco, observando que Liana anotava algo em seu conhecido bloquinho de notas.
— E como está sendo com a banda? Os processos de gravação já começaram?
— Eu estava com até duas horas atrás, ficamos trabalhando em uma música desde as oito da manhã sem uma pausa, ainda estamos na fase de composição. Está funcionando bem, mas ele ainda insiste na outra parte do acordo.
— A parte de cantar junto, correto?
— Sim. – bufei. – Ele é realmente insistente e isso me incomoda em maneiras que nunca achei realmente serem possíveis.
— De que forma isso te incomoda?
— Eu não sei... – fiz uma breve pausa, tentando formular uma frase que fizesse sentido. – Eu acho que a parte que mais me incomoda é o fato de que ele está exigindo de mim algo que eu não sou capaz de entregar.
— Você não é capaz ou está relutante em fazê-lo? – Liana se arrumou contra a cadeira.
— Eu não sou capaz.
— E por que você pensa dessa forma?
— Porque todas as vezes em que eu me dei o direito de tentar fazê-lo, eu simplesmente travei.
— , o que eu vou dizer agora, precisa ser dito, ok? E pode doer um pouco. – assenti. – Você e sua mãe eram próximas e você a perdeu muito cedo, o luto é um sentimento válido e você tem que se permitir sentir para que você possa se curar, afinal, o que é a felicidade sem a tristeza, não? – ela sorriu. – Mas você também deve se permitir seguir com os seus sonhos, você precisa externalizar esses sentimentos de alguma forma. E fazê-lo através da música pode ser uma boa forma de começar. Você precisa se dar a chance de experimentar, entende?
— Eu entendo e acho que a tentativa é válida, mas mesmo que eu queira, eu sempre travo quando penso sobre. – respirei fundo, deixando o ar sair por meus lábios enquanto encarava minhas mãos. – Eu me dei a chance de experimentar o processo de composição e está sendo uma nova experiência.
— E como isso te faz sentir?
— De primeira me pareceu assustador e eu não conseguia parar de pensar que havia sido uma péssima escolha e que eu deveria apenas pedir para que os meninos reconsiderassem a minha participação. - Cocei minha nuca, me sentindo desconfortável em estar falando aquilo em voz alta. – Mas agora... É como se fosse algo simples que eu venho fazendo a vida toda. Consigo fazer isso com as mãos amarradas em minhas costas.
— Isso é algo bom de se escutar, . – Liana sorriu. – Mas voltando a questão de cantar. – ela gesticulou com as mãos. – Eu tenho um exercício que podemos realizar em relação a este impasse, podemos tentar se isso fizer sentido para você, sim? – balancei positivamente, como um incentivo para que ela continuasse. – Podemos começar a trabalhar com esse desconforto aos poucos, da mesma forma que trabalhamos a questão das composições. – ela cruzou os braços. – Você me disse que havia começado aos poucos, certo? Compondo com e aos poucos se juntando com os outros membros da banda, correto?
— Correto. – me arrumei contra a minha própria cadeira.
— Por que não fazer o mesmo com a ideia de cantar? – franzi o cenho. – Pelo o que você tem me dito nas últimas vezes, você se sentiu confortável para fazê-lo ao redor de algumas pessoas pontuais. Poderia ser uma boa forma de trabalhar isso sem a pressão de uma plateia grande. – ela apoiou seus braços na mesa. – Começar o processo aos poucos.
— Em pequenos passos?
— Exatamente. – Liana se recostou em sua cadeira. – Não necessariamente agora, mas você manter a ideia em aberto já é um grande passo, dessa forma podemos entender juntas a causa raiz dessa questão.
— Eu vou tentar. – murmurei, levando minha atenção a porta quando a cabeça flutuante de Sabrina invadiu o cômodo. – Liana, eu vou precisar ir. Podemos finalizar por hoje?
— Claro. – ela sorriu e pequenas marcas de expressão se formaram ao redor de seus olhos. – Caso precise, pode voltar a me chamar.
— Tudo bem. – assenti. – Tenha uma boa semana, Liana.
Aguardei que ela respondesse e finalizei a chamada de vídeo, abaixando a tela do notebook e me levantando para deixá-lo repousando em cima da mesa de centro do camarim improvisado que eu dividia com Sabrina.
— Atrapalhei vocês? – ela sorriu, entrando no cômodo com dois copos térmicos em mãos. – Eu trouxe café! Descafeinado, porque você deve ter tomado uns cinco só hoje.
— Obrigada, você é definitivamente um anjo. – peguei o copo de sua mão.
— De nada. – ela sorriu, balançando seus longos cabelos. – Como foi com Liana?
— O usual, nada fora do comum. – dei de ombros. – Como foi com Ashleigh?
— Nós temos... – encarou o relógio dourado que repousava em seu pulso. – Cerca de dez minutos para começar o teste de som. Nossa vida de apenas guarda-costas acabou desde que Miles e Jonah saíram, eles exigiram que você voltasse a testar os instrumentos porque, aparentemente, os dois não acertavam o tom do mesmo jeito.
— E eu que trabalhe cinco vezes mais porque eles não conseguem dar conta do mínimo, né? – franzi o cenho, rolando os olhos antes de pegar as chaves do camarim e guardá-las no bolso frontal de minha calça. – Quando eu assinei o contrato, ninguém me contou essa parte. – brinquei.
— Bom, do jeito que as coisas estão indo, logo você sai dessa vida para lotar estádios como esse. – Sabrina apoiou suas mãos em meus ombros, me empurrando para fora do pequeno quartinho aos fundos do palco. Parei para passar as chaves rapidamente e voltei a andar pelos corredores.
— Com toda a certeza. – ironizei. – Você vai ser a minha empresária também?
— Mas é claro? – ela riu e a frase soou mais como uma pergunta do que qualquer outra possível variação. – Eu tenho esperado por esse momento por mais tempo do que eu gostaria.
— Você é uma pessoa tão sonhadora, Brina. – balancei a cabeça, secretamente imaginando em minha cabeça uma realidade paralela onde meu medo não existia e eu pudesse realmente me apresentar em um palco para milhares de pessoas.
— Imagina os looks, amiga. – ela se apoiou em meu ombro, apontando para a frente como se pudesse tocar o cenário. – se apresentando no Hard Rock Stadium, para milhares de pessoas. – suspirou. – Eu consigo imaginar os instrumentos, os gritos, as placas. É tudo tão lindo.
— Em um universo alternativo, quem sabe. – soltei um riso divertido, me desvencilhando dos meus braços para subir as escadas que davam para o palco. – Ben, todos os instrumentos já estão no palco?
— Eu e Rony acabamos de colocar os pratos que faltavam para a bateria, as guitarras já estão nos suportes, tudo pronto para a passagem de som. – ele escreveu algo em sua prancheta. – Aliás, a banda já está aqui, Ashleigh pediu para que eles viessem mais cedo, você já sabe do resto.
— É, sei sim. – encarei Sabrina, procurando por alguma pista em seu rosto sobre o que estava acontecendo. – De qualquer forma, eu vou começar a testar os instrumentos de corda, ainda temos um tempo até eles virem para o teste vocal.
— Claro, acho que eles vão subir a qualquer momento.
Apenas assenti, arrumando o walkie-talkie grudado em meu cinto antes de fazer meu caminho em direção à primeira guitarra das duas espalhadas em cada lado do palco. A retirei cuidadosamente do suporte, passando a correia por meu pescoço antes de conectar o cabo P10 na entrada e me aproximar do microfone.
— Lizzie, você poderia aumentar o volume do amplificador quatro, por favor? Vou começar os testes. – minha voz ecoou pelo estádio quando fiz o pedido no microfone e um certo nervosismo começou a se formar em meu estômago.
Quando a mão de Lizzie me deu permissão, girei o potenciômetro de volume do instrumento e toquei as cordas, avaliando se elas estavam em uma altura razoável. Quando obtive plena certeza, comecei a trabalhar na afinação do instrumento a partir do afinador no headstock. Testei algumas harmonias e liguei os pedais com o auxílio da ponta do meu tênis, distraidamente tocando os acordes que estava testando com dias antes.
— Desde que você partiu eu tenho me apegado à memória, desde que você saiu por aquela porta. – escutei a voz grave de acompanhar a música após as pequenas notas da minha imersão pessoal e minha cara não poderia ser definida como algo além do mais puro e verdadeiro choque. – E você disse que eu mudei e que você está cansada pra caralho de mim, você já não é mais minha. Dois, três, quatro.
Eu estava tão chocada que ao menos consegui ter uma reação diferente do que apenas continuar tocando as notas do começo da música. Encarei o resto do palco e notei que ele não era o único a ter se esgueirado pelos seus cantos enquanto eu realizava os testes de som. Dom, Thomas e Griffin estavam parados, apenas esperando que eu continuasse a música que daria início aos testes. Deixei o sentimento de nervosismo descansar em meu estômago, começando os acordes da próxima estrofe.
— Oh, oh, ela disse: você tem que me deixar ir, oh, oh. – toquei o conjunto de acordes, sendo acompanhada pelo resto dos homens que apenas lançavam caretas em minha direção, tirando um riso nervoso de meus lábios enquanto eu apenas me concentrava para não acabar com toda imersão que eles haviam criado. – Ela disse: eu morreria por você, você é como a minha droga, mas eu não consigo mais ficar chapado com você, você já não é mais meu.
O leve nervosismo que tomava conta de meu estômago estava começando a ser substituído por uma sensação leve, que se comparava a forma em como eu costumava me sentir quando estava brincando com Cassie ou até mesmo nas noites de filmes com os Graham, quando Griffin e eu éramos crianças. Eu não conseguia segurar o sorriso em meu rosto quando Dominic ria em minha direção, como se ele estivesse se divertindo quase tanto quanto eu. E ele provavelmente estava.
— Eu ainda me lembro o que você vestiu no nosso primeiro encontro e de como aquele vestido preto valorizou as suas curvas. – ele começou a cantar a estrofe do rap, que havíamos trabalhado meticulosamente alguns dias antes. – Ainda me lembro de fumar para acalmar os meus nervos e para que você não precisasse levar sua bolsa, eu a peguei primeiro.
Eu encarava , tentando fazer com que ele entendesse o orgulho que eu estava sentindo dele e da forma como seus sentimentos foram colocados na música, o ajudando a superar o término conturbado com Alyssa meses antes. Ainda me lembrava das noites em claro que havíamos passado tentando decidir se a música deveria ou não estar no setlist da turnê e das dúvidas que ele apresentava quanto a forma em que colocaria detalhes de seu relacionamento, uma vez que conseguia ser extremamente privado quando o assunto se virava em direção à sua vida amorosa. E o fato de toda a mídia só descobrir de suas relações após os términos diziam muito sobre a pessoa que ele era fora dos holofotes.
— E eu não posso ser eu mesmo sem você. ¬– ele retirou o microfone do tripé, começando a andar em minha direção. – Eu não estou bem. – me distanciei do lugar onde eu estava, dando passos hesitantes em sua direção. – Eu sei que já disse isso antes, mas preciso de você agora. – eu sorri em sua direção, balançando minha cabeça enquanto me deixava levar pelo ritmo da música e me permitia dançar ao seu lado, virando-me de costas para ele, sentindo suas costas contra as minhas. – Ela disse: eu morreria por você, você é como minha droga mas eu não consigo mais ficar chapado sem você, você não é mais minha.
Ele cantou a última estrofe e eu parei de tocar, assim como os outros garotos. Me virei em sua direção, sentindo a adrenalina correndo por minhas veias enquanto eu encarava o sorriso travesso que tomava conta de seus lábios. Retirei o cabo da guitarra e a coloquei novamente no suporte, tentando processar os mais recentes acontecimentos.
— Puta merda, , isso foi incrível! – ele sorria, totalmente embasbacado, e eu arriscava dizer que minha cara deveria ser a mesma. Senti meus olhos começarem a queimar e aos poucos, lágrimas quentes começaram a cair por minhas bochechas. O sentimento de choque havia sido rapidamente substituído por felicidade e eu não conseguia segurar as lágrimas. – ? Está tudo bem?
— Eu consegui, . – passei a mão por meus olhos, agradecendo a falta de maquiagem. – , eu consegui tocar na frente de pessoas! – agora eu estava rindo, totalmente descontrolada enquanto minhas lágrimas caiam.
— Sim, você conseguiu. – Griffin apareceu atrás de . – Vem cá, sua babaca. – ele me puxou para seus braços, fechando os braços ao redor do meu corpo enquanto eu me acabava em lágrimas. Senti um amontoado de pessoas se juntarem ao abraço em grupo, o que fez como se eu me sentisse uma peça de porcelana prestes a quebrar.
— Estamos orgulhosos de você, . – finalmente se pronunciou, dando tapinhas em meu ombro.
— Você não vai me substituir nessa banda, , eu trabalhei muito para chegar até aqui. – Dom brincou, me fazendo soltar uma risada.
— Eu voto que devemos substituir o Dom, você é mais estilosa e mais comprometida com a gente. – Tommy provocou.
— Você está falando isso porque eu sou gay? – ele encarou Tommy, apoiando sua mão na cintura.
— Claro que não idiota, vem cá, me dá um beijo. – o baixista estendeu a mão para o guitarrista.
— Regra número um: você não namora o seu colega de banda. – brincou.
— Por isso eu estou sugerindo que ele saia. – Tommy sorriu travesso. – Brincadeiras à parte, foi um grande passo se considerarmos que você não conseguia nem tocar para gente. Parabéns, cara.
— Vocês são horríveis. – finalmente me desvencilhei deles, limpando meus olhos. – Vocês precisam continuar com a passagem de som, eu vou tomar uma água.
— Achamos que você iria terminar a passagem com a gente. – Griff me encarou. – Sabe, você poderia. É uma boa forma de praticar.
— No próximo show, quem sabe. – sorri fraco. – Carga emocional grande demais, eu preciso tirar uma pausa para conseguir processar tudo. Obrigada por isso, pessoal. Agora eu vou sumir no backstage.
Bati continência, me distanciando o mais rápido dos rapazes apenas para encontrar Sabrina me encarando, orgulhosa. Ela carregava uma garrafa de água em uma mão e um pacotinho de chocolate na outra, que haviam sido nossas comidas conforto pelos últimos anos.
— Você conseguiu! – Brina gritou, pulando em meu pescoço em um abraço apertado que soava como casa, assim como o de Griff. – Eu sempre soube que você conseguiria, meu Deus, eu estou tão orgulhosa de você! Como se sente? – ela me entregou os objetos. – Vamos até as arquibancadas para que você me conte tudo, já falei com Ashleigh e ela liberou a gente.
E com isso, saiu me arrastando pelos corredores em direção as arquibancadas da área do camarote. Nos sentamos com os pés apoiados nas grades de segurança, observando os meninos brincarem entre si à distância.
— Então, me conta tudo!
Eu comecei a explicar tudo, da parte das afinações até as partes do misto de sentimentos que senti durante todo o processo que havíamos passado até estarmos ali. Do nervosismo, do pequeno espasmo de felicidade me permitir experimentar algo novo depois anos me proibindo de sentir as lembranças sobre minha mãe. Deus, eu estava me sentindo extremamente leve.
— Meu Deus, eu fico tão feliz em escutar isso. – Brina limpou uma pequena lágrima que caiu por suas bochechas. – Parece até que fui eu quem passou por isso, eu estou toda chorosa.
— Nem comece, eu provavelmente vou voltar a chorar se você começar. – ri fraco, abrindo o pacote de Sneakers e dando uma generosa mordida.
— Você pretende ir um pouco mais além? Tipo, realmente fazer parte do álbum de forma mais direta? Cantando, por exemplo?
— Eu não sei, Brinnie. – cocei minha nuca, sentindo a incerteza tomar conta de mim. – Digo, eu quero me permitir fazer isso, mas ainda não sei se esse é o momento, sabe? Eu quero ter certeza de que cada pequeno passo vai ser respeitado e que eu não vou me puxar mais do que eu consigo ir por agora.
— Mas é uma possibilidade, né?
— É definitivamente algo que eu cogito fazer, mas ainda me parece um pouco cedo. – encarei meu tênis. – Mas acho que o fato de eu não ter vomitado hoje já é bom o suficiente, né?
— O fato de ninguém ter que limpar vomito no backstage é perfeito, as pessoas não acham mais que é o tendo uma crise de abstinência. – deu de ombros, mordendo um pedaço de seu próprio chocolate.
— Falando dele... – a encarei. – Você e Griff me parecem bem próximos nos últimos meses. – ergui uma sobrancelha, notando um rubor tomar conta das bochechas de Brina. – E você não me disse nadinha.
— Ele é seu primo.
— E você tem um precipício nele. – arqueei uma sobrancelha.
— Era platônico.
— Amor platônico não dura dez anos.
— Ok, você tem um ponto válido. – ela pontuou. – Mas, em minha defesa, eu estava ocupada demais traçando o meu futuro.
— E eu não te julgo nem um pouquinho. – dei outra mordida em meu chocolate. – Mas fico feliz que está dando certo, vocês meio que merecem um ao outro. Toda a sensatez fica concentrada.
— Você é uma palhaça, sabia? – ela rolou os olhos.
— Parte do meu trabalho é impedir que as pessoas se matem, preciso ser uma piadista. – dei de ombros.
— E seu relacionamento com o ? Como está sendo?
— Você sabe, é uma pessoa difícil de lidar na maior parte do tempo, mas quando estamos compondo tudo é bastante pacífico. É quase como se ele mudasse da água para o vinho, sabe?
— Eu nunca, em todos os anos de carreira, achei que fosse escutar alguém descrevendo como pacífico. – ela bebericou sua água. – É um acontecimento imperdível que somente seria capaz de realizar.
— Nós só conversamos sobre processos de composição e Cassie, não é como se conversássemos sobre o sentido da vida e a forma como nos sentimos, acho que isso torna tudo menos complicado.
— Você tem um ponto. – Brina sorriu, encostando contra as barras de metal. – Ashleigh está tentando trazer a Cass para o próximo show, ela ainda não comentou com para que ele não criasse muita expectativa.
— Eu vou ser responsável por ela, né? – a encarei, já sabendo a resposta antes mesmo que ela me confirmasse.
— É muito ousado você achar que não seria. – confirmou. – Mas não é como se nós fossemos deixar todas as responsabilidades só para você, Rob já está trabalhando na divisão de tarefas para que você não fique sobrecarregada.
— E a stalker?
— Todos estão espertos e temos fotos espalhadas por todos os cantos para que ninguém cometa o erro de deixá-la invadir o camarim.
— Ótimo, isso torna um problema a menos.
— , sua presença está sendo solicitada no palco neste exato momento. ¬– falou no microfone, chamando minha atenção. – A banda precisa de água e comida, então você pode arrastar essa sua bunda para cá antes que nós tenhamos que morrer de fome.
— O que você está fazendo com esse homem?
— Fazendo ele pensar que sou a empregada dele, ao que parece. – me levantei, estendendo minha mão para ajudar Sabrina a se levantar do chão. Bati a mão em minhas roupas para tirar o resquício de poeira que havia restado nas peças, descendo pelos degraus de metal.
— Bom, você tecnicamente é a empregada deles, todos somos na verdade. – a empresária brincou.
— Mas não sou a garçonete particular.
— É, realmente.
— De qualquer forma, eu vou pedir comida. – puxei o celular de meu bolso. – Ou será que eles querem comer fora?
— Se vocês forem no Denny’s, eu aceito acompanhar vocês, o de Pasadena não é a mesma coisa que o de Miami.
— Okay. – me aproximei do palco. – O que vocês preferem: delivery ou ir até o Denny’s?
— Isso é uma pergunta real? – me encarou, antes de colocar sua guitarra no suporte.
— Visto que vocês são insuportáveis, sim. – falei, como a resposta fosse óbvia.
— Dois anos e você ainda não conhece a gente? Simplesmente lamentável. – ele balançou a cabeça negativamente.
— Se fode, . – rolei os olhos, andando em direção a escada lateral.
— Atenção, acaba de receber uma advertência por mandar a banda se foder. Alguém notifica o Rob? – falou no microfone, me fazendo encará-lo.
— Retificando: eu mandei você ir se foder, o resto da banda não me dá metade do trabalho. – pontuei, digitando uma mensagem em conjunto avisando para Rob e Ashleigh que levaria os garotos até o Denny’s. – Vocês reclamaram que estavam com fome, vamos logo antes que eu desista de alimentar vocês.
Os chamei, desenhando meu caminho até a sala de Rob para pegar as chaves de uma das vans. Quando cheguei próximo da porta, apenas dei leves batidas para me certificar de que ninguém estava seminu antes de adentrar o cômodo
— Eu vou pegar as chaves de uma das vans de transporte, ok?
— Claro, Matt vai acompanhar vocês para que não haja problemas.
— Ok, valeu. – peguei a chave que Rob me estendeu.
— ?
— Sim? – franzi o cenho, encarando-o
— Ótimo trabalho hoje mais cedo na passagem de som. – ele sorriu. – Poderíamos tentar mais vezes.
— É... – confirmei, incerta. – Quem sabe, né?
Ele apenas riu fraco, me dando permissão para que eu saísse pela porta e finalmente encontrasse uma quantidade razoável de pessoas me olhando como se eu fosse a portadora de uma fortuna milionária com apenas quinze anos de idade. O que, obviamente, não era verdade.
— Matt vai vir com a gente. – balancei o molho de chaves, abaixando minha mão quando se estendeu para pegá-las. – Eu dirijo.
— Já te disseram o quanto você é chata hoje?
— Não, me ilumine.
— Ninguém me perguntou, mas eu prefiro quando os dois estão sendo educados, tocando em cima de um palco e parecendo que são amigos de longa data. – Griffin alfinetou.
— Nunca vai acontecer. – respondemos em uníssono, o que me fez segurar um sorrisinho enquanto andávamos em direção ao estacionamento onde a van estava.
— Quando eu estava no colégio, eu estudei uma coisa muito interessante em física: eletroestática. Existe algo muito legal chamado Lei de Coulomb. – Dominic murmurou. – Essa lei é aquela lei que se aplica quando partículas diferentes se atraem.
— Partículas, não pessoas. – pontou.
— Seguindo do pressuposto que todos nós somos formados por partículas de algo... – Thomas murmurou, o que me fez rolar os olhos com tanta força que eu quase fui capaz de enxergar minha massa cinzenta.
— É melhor vocês permanecerem calados ou eu juro que cometerei um crime de ódio contra vocês.
Sorri irônica em direção aos rapazes, que responderam com um maneio de cabeça antes de mudarem completamente o assunto para algo que eu não me esforcei em acompanhar. Atravessamos a porta em direção ao estacionamento onde as vans se encontravam e, por um período, me permiti ficar atrás de todos eles. O que não durou muito, visto que se virou em minha direção e desacelerou seus passos para me acompanhar. Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos antes de limpar a garganta e finalmente falar.
— Olha... Eu não te disse isso antes, mas você fez um ótimo trabalho lá. – ele me encarou, seus olhos, apesar de cansados, demonstrando sinceridade em suas palavras. – Obrigado por não nos deixar na mão.
— Eu só estava seguindo com a passagem de som, não foi nada demais.
— Eu estou tentando, poderia me deixar terminar? – eu ri fraco, balançando minha cabeça positivamente. – Sério, os caras estão felizes por você ter tocado com a gente, eles querem que seja mais frequente. Donnie até sugeriu um gig em casa quando passarmos por Los Angeles de novo.
— É, não sei sobre isso. – girei as chaves em meu dedo indicador.
— Considere, ok? – balancei a cabeça positivamente ao vê-lo acelerar os próprios passos. – Aliás, ?
— Sim? – arqueei uma de minhas sobrancelhas.
— Eu estou orgulhoso de você.
E, com um aceno de cabeça, correu em direção aos outros membros da banda antes que eu pudesse sequer processar o que ele havia dito.
Capítulo 05: Permitir
“I promise you will learn from my mistakes.”
(Eu prometo que você vai aprender com meus erros)
— Fix You, Coldplay
— Marselha, Provença-Alpes-Costa Azul
— Três anos e dois meses
definitivamente era um pesadelo.
Essa foi a conclusão que eu havia tirado depois de quatro horas trancado em um quarto de hotel tentando finalizar uma música. E você quer um spoiler? A música não foi finalizada.
— Pelo amor de Deus, , que merda você está tentando fazer com isso? – grunhi, frustrado, vendo-a riscar o mesmo verso pela décima vez com um marcador preto.
— Você realmente quer começar essa droga de música com “tudo começou com um dólar e um sonho”? – Ela me encarou, deixando o marcador cair em cima do caderno. – Se sim, você fique à vontade para pegar essa droga e me deixar ir comer algo.
— Onde eu estava com a cabeça quando decidi que seria uma boa ideia simplesmente te chamar para esse álbum, mesmo? – perguntei de forma retórica, rolando os olhos.
— Vá até o fim ou volte pra casa, meu anjo. – ela sorriu irônica em minha direção. balançou sua cabeça negativamente, rindo consigo mesma. Não pude deixar de ficar um pouco assustado com o ato.
— Pensou em algo? – arqueei uma de minhas sobrancelhas, tentando descobrir o que ela escrevia no papel.
— Você pode ir até o fim ou voltar para casa, você pode viver ou apenas desistir, deixe rolar, porque eu vou arriscar tudo. – leu as palavras com o dedo indicador em riste. – Como você adora essa coisa de duplo sentido, pensei que podíamos colocar aquela coisa que falei mais cedo.
— Qual delas? Você literalmente apagou e escreveu trezentas coisas nas últimas três horas.
— Essa coisa de estar alto e estar chapado, entende?
— Você pode ir até o alto ou ficar para baixo?
— Combina o suficiente para mim, o que acha? – me estendeu a folha de papel com as letras escritas cuidadosamente e eu a peguei.
— Colocar o que você disse no começo, pode ser? – franzi o cenho, pensando em algo para combinar com o que havíamos conversado. – Você pode ir até o topo ou ficar para baixo, você pode permanecer jovem ou apenas envelhecer.
— Deixe rolar, porque eu vou arriscar tudo. ¬ – ela cantou, andando em direção a guitarra que descansava em cima da cama. – Tenho uma ideia para o arranjo nesse começo, me acompanha?
— Claro. – dei de ombros, a observando ligar a pequena caixa amplificadora que descansava ao lado da cama e deixar a guitarra apoiada em sua perna, conectando o cabo.
— Estava pensando em algo assim, olha. – ela colocou a correia ao redor de seu corpo, aumentando o volume do instrumento antes de começar uma sequência de acordes formadas por si bemol menor, sol bemol e ré bemol. – Você pode ir até o topo ou ficar para baixo, você pode permanecer jovem ou apenas envelhecer, deixe ir, porque eu vou arriscar tudo. ¬– ela adicionou o acorde de lá bemol menor, substituindo a variação do si no primeiro verso. – Você pode ir até o fim ou ir para casa, você pode viver a vida ou apenas desistir, deixe rolar, porque eu vou arriscar tudo. – cantou as palavras de forma confiante, me encarando enquanto brincava com os acordes no braço da minha fender.
— Continua com isso. – pontuei, me virando para a mesa de centro e pegando as letras já escritas. – Olha, tudo começou com um dólar e um sonho, certo? Para que eu pudesse mostrar para essas pessoas como sonhar certo. Eu poderia ensiná-las e olhar para as estrelas e leva-las das luzes da rua para as arenas.
— Merda, é assim que o topo parece? ¬— sorriu, cantando o verso antes que eu pudesse fazê-lo, se levantando da cama para dançar levemente enquanto tocava.
— Ainda me lembro das noites comendo cup noodles, ainda me lembro olhar a minha conta bancária e ter apenas 26 dólares na noite em que assinei o meu contrato com a gravadora. – eu sorria em sua direção, sentindo minhas bochechas doerem pela falta de costume em realizar o ato. Parei de cantar, observando se envolver em um momento próprio enquanto ela tocava.
— O que achou? – ela me encarou, o sorriso em seu rosto sendo capaz de iluminar Las Vegas inteira após um apagão. – ?
— Honestamente? Acho que você poderia trabalhar um pouco mais a sua afinação, você desafina muito. – brinquei e a mulher rolou os olhos, me respondendo com um dedo do meio em riste.
— Vai se foder, eu canto melhor do que você e sem metade do esforço. – abaixou o volume da guitarra, tirando o cabo e colocando o instrumento em cima da cama novamente, desligando a pequena caixa amplificadora.
— Grava a música com a gente e eu me convenço disso. – coloquei o papel em cima da mesa, cruzando os braços.
— Se eu fizer isso, vou tomar seu lugar como vocalista, é melhor manter as coisas assim por enquanto. – ela tirou o celular de seu bolso, desbloqueando a tela e digitando algo que eu não pude ao certo identificar. – Ashleigh me pediu para te levar até a suíte, algo sobre uma surpresa para você.
— Meu aniversário já passou. – franzi meu cenho, encarando a roadie.
— E? Nós estamos na França, cara, só aproveita as oportunidades que a vida te dá e para de ser desconfiado com tudo. – rolou os olhos, colocando o celular dentro de seu bolso novamente antes de sair andando em direção à porta. – Vai ficar parado aí?
— Babaca. – murmurei, puxando meu celular de cima da mesa de cabeceira para guardá-lo no bolso de minha bermuda amarela, antes de finalmente seguir pelos corredores do hotel.
Escondi minhas mãos nos bolsos, serpenteando pelos corredores de parede creme do hotel, apenas escutando o baque surdo dos passos firmes da roadie no corredor. Como estávamos todos hospedados no mesmo andar, não levou muito tempo para que nós finalmente chegássemos no quarto de minha empresária. deu duas batidas na porta, entrando quando a voz de Ashleigh saiu abafada do cômodo, solicitando que entrássemos. A banda toda estava no quarto, sorrindo, alegres, quando eu finalmente apareci.
— Cristo, vocês finalmente apareceram. – Dom nos encarou. – Muito ocupados no quarto?
— Não do jeito que você insiste em achar que estávamos. – o respondeu antes mesmo que eu pudesse. – Obrigada por trazer comida. – agradeceu a Ashleigh, correndo em direção da bandeja com sanduiches que descansava na pequena bancada que separava a cozinha improvisada do quarto.
— Esfomeada. – gritei em sua direção, recebendo uma cara não muito boa como resposta.
— , que bom que vocês se sentiram prontos para se juntarem a nós. – a loira sorriu, apoiando os braços na mesa. – Como eu estava dizendo para os meninos mais cedo, sabemos seu aniversário foi dois meses atrás, mas resolvemos ser mais maleáveis. Nós ficamos em Marselha até segunda à noite e o show no Festival Marsatac é no domingo, então achamos que seria uma boa ideia permitir que vocês comemorassem o seu aniversário em alguma boate de Marselha, já que nós não pudemos comemorar devido à agenda apertada. – ela sorriu em minha direção, me deixando desconcertado. Depois de meses liberado da reabilitação, aquela era a primeira vez que Ashleigh me deixava fazer algo do tipo. – Fizemos as reservas na Baby Club para hoje à noite.
— Você está brincando, não é? – eu a encarei, buscando algum sinal de que ela estava brincando. – Sério?
— Sim, mas as equipe vai junto para certificar de que nada aconteça, mas acredito que isso não seja um problema para você, já que você e têm trabalhado juntos no último mês.
Eu estava tão estático que ao menos conseguia me importar com o fato de ter que me acompanhar com a sua carranca de quem odiava qualquer tipo de diversão. Eu estava livre para me divertir pela primeira vez em meses e nem aquela condição tiraria isso de mim.
— Porra. – eu deixei um sorriso escapar por meus lábios, andando em direção a Ashleigh para abraçá-la. – Obrigado por isso, Ash, você não vai se arrepender eu juro.
— É bom que eu não me arrependa mesmo. – ela sorriu. – Vá se arrumar, vocês vão sair às nove.
— Ok. – me levantei, encarando meus colegas de banda. – Francesas, caras.
— Franceses, de forma geral.
Dom corrigiu, levantando o indicador em riste enquanto se levantava para me acompanhar em direção à porta de saída. e Sabrina não se preocuparam em se levantar, apenas conversando entre si ao mesmo tempo em que a roadie dava mais uma mordida de seu sanduíche.
— E, ? – Ashleigh me chamou mais uma vez, me fazendo virar para encará-la. – Sem drogas, ok?
— Aprendi minha lição, não vou te desapontar de novo. – sorri de canto em sua direção, finalmente saindo de dentro do quarto.
— Caralho, eu me recuso a não ficar fora de mim hoje, eu preciso disso. Ultimamente nós trabalhamos sem parar. – Dom andou ao meu lado, chamando minha atenção. – Você e , huh?
— O que tem? – franzi o cenho.
— Vocês ficaram presos por horas naquele quarto, é impossível que não tenha saído uma bitoquinha.
— Vocês realmente vão falar dela dessa forma quando eu estou perto? – Griffin fez uma careta. – Me poupem disso, por favor.
— Não tem nada para dizer, nós estávamos trabalhando como sempre estivemos desde que começamos o processo de composição. – dei de ombros. – Pare de falar da namorada de Griffin, é desrespeitoso.
— Ela não é a minha namorada, pelo amor de Deus. – o baterista reclamou, rolando os olhos. – Mas é, como vocês estão se saindo? Ela já quis te assassinar ou ainda estão nessa coisa de relação passivo-agressiva?
— Estamos nos saindo bem, até. – abri a porta do meu quarto, não me importando em fechar, sabendo que eles me acompanhariam. – Finalizamos mais uma hoje. – peguei os papéis na mesa, entregando-os para Griffin. – O que acham?
— Gostei disso. – Thomas encarou as letras rabiscadas. – Isso está realmente bom, tem mais alguma aí?
— Acho que são as únicas que eu tenho, as outras estão com ela.
— Vocês acham que, se eu pedir com jeitinho, ela me ajuda com as minhas também? – Dom sorriu como uma criança. – Quero dizer, ela é muito boa.
— Você tem noção do quão difícil foi para que ela me ajudasse a compor? Eu demorei meses.
— Você não tem o mínimo de moral com ela, eu tenho. – deu de ombros, pegando o próprio celular e digitando algo rapidamente.
— Eu vou rir da sua cara quando ela negar.
— Não contaria com isso. – Tommy murmurou. – Ela disse sim.
— Nem fodendo. – me aproximei, lendo a mensagem de .
Nos vemos mais tarde. Xx
Encarei a tela do celular, embasbacado. Tirei o aparelho das mãos de Dom em meio a protestos dele e apertei na opção de câmera, fazendo questão de tirar uma foto mostrando o dedo do meio antes de colocar a legenda “você é uma traidora de merda”, que foi respondida com alguns emojis revirando os olhos.
— Deus, vocês realmente não poderiam ser mais casal que isso? – Dom tirou o celular de minhas mãos, bloqueando a tela e guardando-o no bolso de seu moletom. – Eu estou saindo, preciso ir estar levemente apresentável. Vou nessa. - E, com um aceno de mão, saiu do meu quarto.
— , nós precisamos conversar.
Griffin franziu o cenho, andando em direção à porta e fechando-a atrás de si. Ele respirou fundo e puxou uma cadeira, sentando-se no lugar em que estava antes. Ele massageou as têmporas, apontando para a cadeira à sua frente para que eu fizesse o mesmo. Balancei a cabeça e me sentei, esperando pelo próximo discurso de Griffin.
— O quê?
— Quais são as suas intenções com a ? – indagou, me fazendo soltar uma risada incrédula antes de perceber a seriedade da conversa.
— Atualmente? Só terminar o álbum com pelo menos uma música na voz dela.
— Ok. – Griff suspirou. – Olha, cara, eu te conheço como eu mesmo, nós nos conhecemos desde a adolescência então não me leve a mal, sim? – ele suspirou, se ajeitando na cadeira. – é importante para mim, muito.
— É? Eu nunca fui capaz de perceber. – ironizei.
— Vai se foder. – apontou o dedo em minha direção, voltando para a sua postura séria. – Eu a amo, não do jeito que vocês insistem em apontar, mas eu amo.
— Não tenho o dia todo, Griffin. – o apressei.
— O ponto é: ela é importante para mim e eu não quero vê-la sair machucada disso, tá? – a expressão que tomou conta do meu rosto não deveria ser uma das melhores, já que ele se apressou para corrigir. – Vocês vivem se matando, algum momento essa merda pode ficar seria o suficiente para alguém sair machucado. E pode parecer toda durona, mas ela é só casca.
— E você tá vindo com essa merda para cima de mim por...? – franzi o cenho. – Olha, cara, eu realmente não pretendo ter nenhuma relação que não seja profissional. Além disso, nós passamos da fase de gato e rato, nós estamos bem agora.
— Eu não estou dizendo que você quer algo com ela, só estou dizendo para não deixar que outras coisas fiquem entre vocês a ponto de ela vir chorar para mim, tá? – ele suspirou. – Você é meu melhor amigo, eu sei que ela pode ser algo bom para você, então baixa essa guarda e dê a ela uma chance. – ele se levantou.
— Vai se foder.
— Eu te amo também, cara.
Griffin soltou uma risadinha, me fazendo rolar os olhos antes de acompanhá-lo com o olhar até a saída. Ele fechou a porta, me fazendo respirar fundo antes de finalmente me levantar e ir até o banheiro. Eu estava determinado a aproveitar a minha noite sem que os comentários espertinhos do meu melhor amigo me deixassem em uma espiral de pensamentos.
Pelo horário em que todos ficamos prontos, minha ansiedade estava em picos altos o suficiente para que minha perna não parasse de se mexer. Ainda faltavam Dom, Thomas e as babás. E eu já estava a ponto de implorar para que fossemos na frente e nos encontrássemos na balada. Entretanto, não tardou para que meu celular vibrasse com uma mensagem de Dom:
Franzi o cenho, dando uma cotovelada em Griffin para que ele lesse a mensagem. Eu sabia que Dom havia pedido para que se arrumasse com ele, só não contava que ela realmente tivesse aceitado o pedido. Por um breve momento me permiti sentir a confusão, balançando minha cabeça negativamente antes de pegar o celular da mão de Griff.
— Realmente, ele não estava exagerando.
Encarei a porta do quarto quando ela se abriu, mostrando os responsáveis pelo atraso colossal que havíamos tido. E, puta merda, o atraso havia valido cada mínimo minuto. Eu estava pouco me fodendo para os meus adoráveis colegas de bandas, minha atenção tinha sido capturada especificamente pelas duas mulheres que estavam ao lado deles. Principalmente que estava à direita de Dom. A mulher usava um vestido preto de algum tecido fino que eu não tinha ideia do que era feito, seu decote era em forma de “v” com alças finas. Ele caia por seu corpo até o meio das coxas com uma fenda lateral. Ela carregava uma jaqueta jeans em seus braços e botas de combate com saltos plataforma nos pés.
Eu engoli em seco, olhando de cima à baixo cada detalhe de seu corpo cheio de curvas, finalmente encarando seu rosto, que me encarava como se ela pudesse me incinerar com a força do pensamento. Flagrado.
— Gosta do que vê, ? – arqueou uma sobrancelha, vestindo a jaqueta jeans e tirando toda a minha diversão.
— Sendo bem honesto? – a encarei dos pés à cabeça mais uma vez. – Bastante.
— Babaca.
— Não finja que você não gosta. – pisquei em sua direção, o que a fez rolar os olhos em resposta.
— Vai se foder. – ela apontou em minha direção. – Ashleigh disse que os carros estão esperando a gente no térreo. Ela disse também que tem uma quantidade considerável de paparazzis na saída.
— Vamos em carros diferentes, então? – Griff indagou.
— Sim, muita gente para um carro só. – ela encarou o celular. - Ralf, , Griff, Sabrina e eu vamos em um, Thomas, Dom e Johnny vão em outro.
guardou o aparelho dentro de um dos bolsos de sua jaqueta, sendo a primeira a sair do quarto. O resto de nós apenas a seguiu, entrando no elevador assim que ele chegou ao nosso andar. Minhas mãos suavam e eu sorria como um otário na direção dos meus amigos, que conversavam animadamente entre si. Olhei do canto do olho e notei que ela digitava algo em seu celular.
— Ei. – chamei sua atenção e ela me encarou com uma de suas sobrancelhas arqueadas.
— Sim?
— Eu quis dizer o que falei mais cedo, você está bonita. – uma confusão tomou conta de seu rosto. – Para alguém que vive à base de café, não dorme e se alimenta mal. – ela rolou os olhos, dando uma risadinha divertida.
— Você é inacreditável, incapaz até de um simples elogio.
— Você poderia se acostumar.
— Uhum. – sorriu de canto. – Você está bonito também... – ela me encarou, finalizando a frase após uma pausa. - Para alguém que passa a metade do dia fumando como uma chaminé e bebendo como um opala.
Ela sorriu, convencida, saindo de dentro do elevador antes que eu pudesse ao menos rebater seu comentário. Balancei a cabeça negativamente, rindo do comentário de . Sai do elevador e os acompanhei até os carros onde e Brina estavam paradas. Ralph sorriu em minha direção e eu entrei no banco do carona. Tirei os óculos de sol do bolso de minha camisa e os coloquei em meu rosto, sabendo que o turbilhão de flashes cegantes chegariam logo em seguida. , Brinnie e Griff entraram no banco traseiro, tagarelando.
— Ugh, eu odeio essa parte. – reclamou, colocando os próprios óculos.
— Espere até ver os tabloides amanhã.
— “ e Griffin Graham são flagrados deixando hotel com mulheres misteriosas.” – Griffin imitou.
— “ e Griffin Graham são flagrados deixando balada francesa acompanhado de mulheres.” – repeti, rolando os olhos.
— A vida de vocês realmente é muito difícil. – ironizou. – Vocês não vão ser xingados por todas as redes sociais amanhã.
Eu a encarei pelo retrovisor, pouco tempo antes do turbilhão de flashes invadirem a minha visão. tentava sorrir, mesmo escondendo seu rosto entre suas mãos enquanto Ralph tentava pacientemente não passar por cima dos pés de nenhum dos fotógrafos e, após longos minutos que mais pareceram uma eternidade, nós finalmente chegamos na entrada pintada em preto e branco do Baby Club. Retirei meus óculos e os guardei em meu bolso novamente.
A fila estava imensa e eu agradeci mentalmente por ter os privilégios da fama, que me impediam de ficar parado por horas em uma fila. Ralph parou o carro no meio-fio, desligando-o antes de descer do carro. Eu estava ansioso. Deixei um sorriso brincar em meus lábios antes de fazer o mesmo que o segurança, andando em direção a porta de entrada junto dos meus colegas de banda em meio aos gritos de algumas fãs histéricas que estavam na fila.
— Eu falo com ele, sim?
me encarou, se referindo ao segurança da boate. Dei de ombros, encarando sua pose baixinha enquanto ela mantinha um diálogo com o segurança em um francês que me deixou impressionado. A mulher a minha frente era cheia de surpresas e eu estava começando a ficar chateado de não saber sobre elas de antemão.
— Merci beaucop. – ela sorriu para o homem, virando-se em nossa direção. – Vamos lá.
O segurança abriu a porta de entrada e eu agradeci com um maneio de cabeça. Não tardou para que o som alto de alguma música eletrônica invadisse meus ouvidos. O interior da boate estava lotado, para dizer o mínimo. Luzes coloridas eram as únicas coisas que iluminavam o ambiente. Tentei buscar pelo bar, finalmente o encontrando-o em um canto mais afastado, diferenciado apenas por luzes azuis no balcão de bebidas. Me abaixei até que minha boca ficasse próxima o suficiente do ouvido de para que ela me escutasse. O que foi uma má ideia, considerando o quão cheirosa ela estava.
— Preciso de uma bebida, você vem? – ela tampou um dos ouvidos para que pudesse me escutar melhor.
— Claro, estava pensando em pegar uma também. Eu não consigo ver merda nenhuma, você achou o bar? – ela virou a cabeça, falando próximo do meu rosto como eu havia feito momentos antes.
— Sim, vem cá.
Tomei a frente, estendendo minha mão para que ela a pegasse. me encarou por um tempo considerável e eu conseguia enxergar a expressão confusa dela quando alguns flashes das luzes do palco batiam em seu rosto. Após alguns segundos, ela suspirou, finalmente pegando minha mão e me seguindo até o bar, desviando dos corpos dançantes no meio do caminho. Paramos em frente ao balcão pouco tempo depois, sentando-se contra as banquetas com os outros membros da banda próximos de nós.
— Vai querer o quê? – me aproximei.
— Whisky. – ergui uma sobrancelha. – O quê?
— Nós acabamos de chegar.
— Olha, ... – ela suspirou. – A pessoa que eu sou quando estamos trabalhando é diferente da pessoa que eu sou me divertindo, tá legal? Eu posso estar como sua babá, mas Ashleigh disse para eu me divertir então é isso que vou fazer.
— Ok.
Levantei minhas mãos em rendição, sorrindo em sua direção. Eu estava gostando de ver aquele lado de mais do que eu admitiria em voz alta. Me virei em direção a um dos barmans, chamando-o antes de explicar para os pedidos e ela fazer a tradução para o homem. Ele sorriu em nossa direção, balançando a cabeça antes de começar a preparar os drinks.
— Shots de tequila? – arqueou a sobrancelha.
— Sim. – a encarei. – Você vira comigo? Qual é! Estamos comemorando hoje.
— E o que estamos celebrando?
— Minha sobriedade. – comecei a contar nos dedos. – Nosso álbum e o fato de você ser realmente alguém agradável. – ela soltou uma gargalhada, balançando a cabeça negativamente. O sorriso em seu rosto era bonito o suficiente para que eu ficasse hipnotizado.
— Okay, você me convenceu. – ela se deu por vencida. – Dez meses, não é?
— E contando. – encarei o barman, que colocava as bebidas em minha frente e a bandeja com sal e limão. – Merci. – disse, com um meneio de cabeça. – Eu acertei isso? – confirmei com a roadie.
— Sim, você acertou. – ela sorriu, espalhando um pouco do sal no espaço entre seu indicador e polegar, e pegou a fatia de limão entre ambos os dedos. Eu peguei um dos copinhos e ela fez o mesmo. – Por dez meses e três dias de sobriedade.
estendeu seu copo em direção ao meu e por alguns segundos eu fiquei estático. Eu havia completado dez meses há três dias e ela havia contado. Peguei meu copo, batendo-o contra o dela antes de lamber o sal em minha mão e virar o shot, mordendo a fatia de limão. Colocamos os copos ao mesmo tempo contra o balcão e eu sorri em sua direção.
— Você contou. – afirmei, ainda incrédulo com o fato.
— Sim, senhor. – ela pegou o copo com whisky, bebericando o líquido.
— Por quê? – franzi o cenho, pegando o meu copo com vodca e seguindo os movimentos da mulher à minha frente.
— Nós estamos realmente tendo essa conversa em uma boate?
— A música não está dançante o suficiente para mim. - dei de ombros, passando meu olhar rapidamente pelo local. – Meus melhores amigos aparentemente estão se pegando com outras pessoas. – constatei, após identificar Dom beijando algum cara loiro próximo ao canto do bar e Griffin acariciando a bochecha de Brina. – E Thomas deve estar na área para fumantes. Eu estou entediado.
me encarou por algum tempo, tentando procurar algo em meu rosto em que eu não pude ao certo identificar. Ela respirou fundo, tirando a jaqueta e a amarrando em sua cintura, me dando uma visão perfeita do decote com as finas alças antes de voltar a me encarar.
— Bom, eu sou apegada a datas. Eu gosto de marcar eventos que tiveram impacto o suficiente para mudar algo na minha vida. Minha terapeuta me diz que eu sou apegada ao passado, eu digo que eu só gosto de marcar coisas. – deu de ombros.
— Sua terapeuta?
— Você não é o único com problemas e, PUTA MERDA, EU AMO ESSA MÚSICA! – ela começou a dançar no banco.
— Vai lá, eu me comporto.
sorriu, se levantando em um pulo e correndo em direção à pista de dança. Alguma música do David Guetta tomava conta das caixas de som e eu me permiti ficar de costas para observá-la. Ela sorria, balançando seu corpo no ritmo da música, alternando entre passar a mão por seus cabelos e tomar goles do conteúdo em seu copo. Pouco tempo depois, Sabrina se juntou a ela, ambas dançando animadamente, carregadas de sensualidade. Respirei fundo, tomando um gole de minha própria vodca antes de sentir um braço envolver meu pescoço.
— Cara, você está comendo a com os olhos. – Dom gritou próximo de minha cabeça, me fazendo encará-lo. Ele sorria de orelha a orelha, denunciando que ele havia pelo menos usado alguma coisa para estar tão alegre. – Me diga uma razão para vocês não estarem fodendo. Uma. Razão. – ele pontuou.
— Ela não faz o meu tipo. – dei de ombros, voltando a encará-la. Agora um cara havia envolvido sua cintura com as mãos, passeando as mãos por seu corpo enquanto ela rebolava. Trinquei o maxilar, voltando a encarar o meu guitarrista.
— Sim, ela faz.
— Ilustre.
— Acompanhe o meu raciocínio. – pontuou, pegando o copo que o barman o havia entregado. – Ela não é fácil de se impressionar e não está tornando as coisas fáceis para você. De todo o seu histórico imenso de namoradas, todas elas tinham essas característica em comum.
— Não é porque uma mulher não dá a foda para mim que isso quer dizer que eu misteriosamente vou querer foder com ela, não sou uma porra de um animal, Donnie. – o encarei, entediado, rolando os olhos.
— Eu ainda não terminei. – pontou com o dedo em riste. – Vocês têm química. Eu consigo tocar a tensão sexual das encaradas quando estamos no mesmo cômodo. E ela está te tornando alguém melhor. Você finalmente se rendeu aos encantos de como o resto de nós. Dito isso, eu estou indo resolver minha libido. Nos vemos por aí.
Dom depositou um beijo estalado em meu rosto, me fazendo rolar os olhos, antes de sair saltitando para o canto onde ele estava momentos antes. Suspirei, tirando meu celular do bolso e desbloqueando a tela. Entrei em meu perfil do Instagram, tirando uma foto e postando no stories em seguida, voltando a guardar o aparelho em meu bolso antes de me levantar e me juntar à roadie na pista de dança.
Capítulo 06: Conversas Noturnas e Interações no Twitter
“And the way that you bringin' me down
It's a turn on, get it away from me.”
(E a maneira que você me fere
É algo que me atrai, tire isso de perto de mim)
— All The Stars, Kendrick Lamar feat. SZA
Marselha, Provença Alpes Costa Azul
Três anos e dois meses antes
Algumas horas haviam se passado desde que havíamos chegado na boate e meus pés já se encontravam doloridos. A vida noturna francesa era diferente do que eu estava acostumada. Não que meu costume fosse parâmetro para algo. Pelos últimos dois anos eu havia me enfiado em um sistema sem diversão alguma e vivido pelo trabalho. Era a primeira vez que eu me permitia me divertir em algum tempo e era isso que eu estava fazendo. Por isso corri em direção ao sofá do camarote, sentando-me ao lado de .
— Você está bêbada? – ele me encarou com uma das sobrancelhas arqueadas antes de dar um gole em sua cerveja.
— Não, eu vim pegar uma cerveja e me sentar um pouco, meus pés doem.
Fiz uma careta, pegando meus cabelos e os arrumando em um coque no topo de minha cabeça, tomando o cuidado de deixar alguns cachos caindo por meu rosto. Eu estava quente e um pouco de suor já se acumulava em minha nuca e testa. Os amarrei com o auxílio do elástico que sempre trazia em meu pulso. Voltei a minha atenção a , que me encarava sem piscar. A garrafa de cerveja parada no ar como se ele tivesse sido pego de surpresa e não pudesse ao menos abaixá-la. Rolei meus olhos.
— Você poderia parar?
— Com? – ele indagou, se virando em minha direção antes de colocar a garrafa de cerveja na mesa.
— Os olhares, não sou cega. – ri, nervosa, pegando uma das cervejas no balde de gelo em cima da mesa.
engoliu em seco antes de voltar a me encarar mais uma vez. Os cabelos caiam levemente de lado em sua testa, seguindo o movimento do topete que ele havia modelado. Um de seus cotovelos estavam apoiados em seu joelho, segurando a garrafa entre seu os dedos enquanto ele lambia os lábios e respirava fundo. Me arrumei no estofado, sentindo-me um pouco mais quente do que momentos antes. Ele se aproximou um pouco mais, me permitindo sentir o cheiro de seu perfume por tempo suficiente para que eu lutasse contra o impulso de esconder o meu rosto na curva de seu pescoço.
— Foi mal, não consigo manter meu foco com os seus peitos me encarando. – ele brincou, me fazendo empurrá-lo enquanto ele gargalhava.
— Seu escroto. – rolei os olhos, abrindo a garrafa com o anel de prata em meu dedo.
— Não, agora é sério, foi mal. – ele levantou as mãos em rendição. - Eu só estou desacostumado com a legal.
— Certo. – eu o encarei, dando um gole generoso de minha cerveja.
Senti meu pescoço sendo envolvido por um braço pulante. Me virei na direção da pessoa, encarando Griffin com um sorriso brilhante. Seus lábios estavam sujos de batom vermelho e ele pulava animadamente ao meu lado como se tivesse acabado de receber a melhor notícia do mundo.
— Quem foi? – gritei, levando uma de minhas mãos até seu ombro, tentando fazer com que ele parasse de pular em cima de mim.
— Quem você acha? – ele soltou uma risada. – Porra, eu estou fodido.
— Sim, você está. – brinquei, dando mais um gole em minha bebida.
— Posso saber o que vocês dois estão fofocando? – reclamou e Griffin parou entre nós.
— Eu, meu querido amigo, acabei de beijar a mulher mais bonita que já colocou os pés nessa terra e nada, nem mesmo esse seu humor de bosta, vai estragar isso. – pontuou, se levantando e virando-se em direção ao bar do camarote. – Lohan, ME TRAZ TRÊS SHOTS PORQUE EU ESTOU EM MODO DE COMEMORAÇÃO! – Griffin gritou em um francês arrastado, o que me fez gargalhar.
— Eu sou o único cara que não fala uma palavra de francês aqui? – o vocalista franziu o cenho. – As únicas três palavras que sei falar em francês são ménage, croissant e cabernet.
— me ensinou. – Griffin justificou, sentando-se ao meu lado e apoiando os pés na mesa. – Vocês vão ficar parados aí ou realmente vão aproveitar algo dessa festa? Honestamente, , você já foi melhor.
— Estou aderindo ao celibato após Alyssa, muita dor de cabeça e eu preciso focar em me manter sóbrio. – pegou outra garrafa de cerveja e a estendeu em minha direção em um pedido silencioso para que eu a abrisse. Assim que o fiz, entreguei-a e ele a pegou, se jogando contra o estofado de couro em seguida.
— Seu babaca pretensioso.
Griffin se apoiou em sua própria perna, encarando como se ele tivesse acabado de cometer a pior das traições. apenas o respondeu com um arquear de sobrancelha, voltando sua atenção para a própria garrafa de cerveja quando Dom, Thomas e Sabrina se juntaram a nós com duas garrafas de champanhe.
— Caras, vocês não sabem da novidade. – Griffin chamou a atenção dos outros. – está aderindo ao celibato.
— Alguém colocou algo na sua bebida? – Dom indagou, acendendo o cigarro de maconha entre seus lábios e dando uma tragada. – Alguém quer?
Griffin e Thomas confirmaram, correndo em direção ao outro banco enquanto Sabrina rolava os olhos e se sentava no lugar que antes Griffin estava. Levei minha atenção para , que encarava os amigos, dividindo um baseado com uma expressão indecifrável. Hesitei por alguns segundos antes de levar minha mão até seu ombro para chamar sua atenção. Ele se virou em minha direção, a pupila dilatada devido à baixa iluminação.
— Vou fumar um cigarro, quer vir?
— Claro. – ele se levantou.
— Vou fumar, quer vir? – falei com Sabrina, que apenas negou.
— Alguém precisa ficar de olho nesses três, vai lá. – ela apertou meu ombro, me encorajando.
Sorri em agradecimento, desviando dos rapazes antes de pegar o pulso de e guiá-lo para fora do camarote. O senti movendo sua mão, escorregando-a o suficiente para que andássemos de mãos dadas durante o percurso até a área de fumantes. Senti meu rosto esquentar com o ato, apenas aceitando-o antes de finalmente passar pela porta que levava até nosso destino. Permanecemos de mãos dadas até chegarmos no canto mais afastado da área. Peguei meu maço de cigarros e tirei um dos tubinhos, colocando-o entre meus lábios antes de acendê-lo com meu isqueiro. fez o mesmo, fechando os olhos e tombando sua cabeça para trás enquanto a fumaça saia por seus lábios em direção ao céu escuro. O que eu consideraria uma visão sexy se não fosse por toda a situação.
— Ansioso para o show? – tentei puxar assunto, apoiando-me na grade do fumódromo.
— Já me acostumei. – ele ao menos se preocupou em me olhar. – ?
— Eu? – traguei a fumaça do meu cigarro, encarando a vista silenciosa da madrugada francesa.
— Por que você parou de cantar? – deixei a fumaça sair por meus lábios, encarando o cigarro entre meus dedos. Eu imaginava que depois de tantos meses trabalhando juntos a pergunta apareceria, só não esperava que ela fosse aparecer agora.
— É uma pergunta complicada.
— Entendi. – ele apoiou-se na grade ao meu lado.
— Minha mãe, ela foi a razão. – suspirei, tragando o cigarro mais uma vez.
— Eu acho que entendi, mas não tenho certeza. – ele riu fraco.
— Minha mãe costumava tocar piano, ela me ensinou. – soltei a fumaça, encarando um ponto qualquer à minha frente. – Ela era uma oncologista, nascida e criada em Nova Orleans, francês era a sua segunda língua e posteriormente se tornou a minha. – sorri, me lembrando de quando conversávamos no idioma para que ninguém nos entendesse. – Nós tínhamos esse costume de cantarmos juntas. Ela desenvolveu leucemia, irônico, não?
— ... – murmurou e eu apenas gesticulei para que ele me deixasse terminar. Senti meus olhos queimarem e os fechei, evitando que aquilo me afetasse a ponto de chorar na frente de um dos meus chefes.
— Ela fez todo o tratamento, incluindo a quimioterapia, seus cabelos caíram e eu lembro de pegar uma tesoura e cortar os meus para que ela não se sentisse sozinha. Eu tinha oito anos. – ri fraco. – Ela fez o transplante de medula e ele foi um sucesso, nós achamos que ela iria melhorar. Um mês depois ela pegou uma pneumonia, seu sistema imunológico estava fragilizado demais e ela não aguentou. Ela morreu na semana seguinte. Meu pai não conseguiu lidar com isso, então ele torrou boa parte do seguro de vida com bebidas e apostas.
— Porra, ...
— Está tudo bem. – traguei mais uma vez. – Então os pais de Griffin, meus tios, entraram com um processo para ter a minha guarda legal, me mudei para a casa dos Graham com nove anos e fiquei até os dezoito, quando me mudei para Nova York para fazer faculdade.
— Espera aí... – ele me interrompeu, me olhando embasbacado. – Então você é a irmã? A irmã do Griff que eu nunca conheci? – assenti. – Que nós usávamos os instrumentos para os ensaios?
— Vocês usavam as minhas coisas? – arqueei a sobrancelha.
— Não é importante, foca no fato de que você é a prima do meu melhor amigo, que ele considera uma irmã e ele não teve a decência de me contar em todo esse tempo. – reclamou. – Porra, eu me sinto traído para um santo caralho.
— Não culpe ele, eu pedi para que ele não contasse para ninguém. Não queria que achassem que eu estava ali por ser privilegiada e toda essa merda, eu só queria ser tratada como uma empregada comum e é isso que eu fiz nos últimos dois anos.
— E eu achei que vocês estavam fodendo. – riu, balançando a cabeça. – Inacreditável, tudo está explicado agora.
— Isso significa que você vai parar de me encher quanto a isso?
— Definitivamente, . – ele sorriu.
Um sorriso sincero. Um maldito sorriso que me deixou o encarando por um longo tempo antes de finalmente recuperar meus sentidos e voltar minha atenção para a vista a minha frente. O que não durou muito, até ele chamar minha atenção novamente.
— Sinto muito por sua perda e por forçar você a ultrapassar seus limites. Eu sei a merda que é ter que lidar com perdas, não deveria ter te forçado.
— Está tudo bem, eu estou tentando superar esse bloqueio aos poucos.
— E isso significa?
— Que eu posso estar considerando entrar em um estúdio e gravar o nosso dueto. – o encarei ao dizê-lo, sendo pega pela expressão embasbacada de me encarando. Seus olhos estavam brilhando e um sorriso aos poucos se formava em seus lábios.
— Você está zoando? , eu juro por Deus que se você estiver zoando com a minha cara, eu vou te demitir.
— Eu não estou.
— Porra.
Ele passou as mãos pelo cabelo, o sorriso bobo em seus lábios denunciava um alegre que eu nunca tinha realmente visto. Principalmente quando era uma referência a algo que eu havia dito. O humor de quando eu estava no assunto normalmente oscilava entre implicância extrema ou rolar de olhos. Nunca a alegria e o alívio que eu estava vendo em seu rosto. Ele balançou a cabeça, deixando uma risada sair de seus lábios.
— , anote essas palavras, porque elas podem nunca mais sair da minha boca novamente, beleza? – ele segurou meus ombros, me fazendo levantar a cabeça para encará-lo. – Eu juro por Deus e por qualquer merda que você acredite, eu não me importo, que eu vou fazer o possível para não ser um pau no cu.
— Obrigada, eu acho?
— Por nada. – ele soltou meus ombros. – Eu preciso mijar, me espera ou a gente se encontra lá dentro?
— Eu espero.
— Certo.
apagou o cigarro, jogando a bituca no lixo antes de sair de perto de mim e fazer seu caminho até a porta. Sai de perto da grade, me sentando em uma das cadeiras enquanto tirava o celular do bolso de minha jaqueta e desbloqueava a tela, entrando no twitter apenas para encontrar a Rowdy e o nome dos membros nos trending topics. Respirei fundo, entrando no assunto e me preparando para ler comentários não tão agradáveis sobre mim e Sabrina.
@domlgbt
NEM SEIS DA TARDE E EU JÁ FUI TOMBADA POR SENDO UM GOSTOSO
02:49 AM · 24 de jun de 2017·Twitter for iPhone
Eu ri fraco, lendo o comentário da garota antes de entrar em seu perfil. Uma foto de sorrindo com os cabelos pintados de castanho estava como ícone, combinando com a capa escura que trazia uma citação de Percy Jackson. Eu saí do perfil, voltando para o nome dos garotos para ver os tweets. O próximo, no entanto, não foi tão agradável quanto eu gostaria.
@petwrsbitch
ok mas quem são as ratas com o e o griffin? certeza que deve ser duas interesseiras
02:55 AM · 24 de jun de 2017·Twitter for Web
Engoli em seco, entrando no tweet e lendo os comentários. Alguns eram realmente maldosos, falando sobre o quão ridícula eu estava, me comparando com Alyssa e dizendo que ela era bem mais bonita. Encontrei alguns comentários positivos, agradecendo o mínimo de bom senso das pessoas em questão.
@tommyslane em resposta a @petwrsbitch
a de blazer é a Sabrina uma das empresárias e a de vestido é a , ela é a roadie
supera a inveja amg eles n vao te comer
03:02 AM · 24 de jun de 2017·Twitter for Android
julie is a bad mf
@goodgriffin em resposta a @petwrsbitch
a amargura de n poder quicar no ídolo e precisar mandar hate para as meninas
03:10 AM · 24 de jun de 2017·Twitter for Android
Passei por mais alguns tweets, chegando em uma parte onde as pessoas estavam divididas entre surtos e teorias sobre quem eu e Sabrina éramos. Eu ri com alguns dos tweets, não me permitindo deixar que os maldosos tomassem conta de meus pensamentos.
@thecruehoe
na boa eu não sei quem eu queria ser mais: a pra beijar o ou o pra beijar a
o surto da bissexualidade, meu pai
03:12 AM · 24 de jun de 2017·Twitter for iPhone
Me permiti gargalhar lendo, lutando contra a vontade de permanecer quieta em relação aos tweets. Finalmente me dei por vencida, clicando na opção de citar o tweet e digitando as palavras como se elas não fossem nada demais. E não seriam, uma vez que eu era apenas mais uma pessoa normal ao redor dos garotos. Cliquei em enviar, encarando o tweet por algum tempo.
Eu e só trabalhamos juntos, mas eu estou solteira caso você tenha interesse (;
03:13 AM · 24 de jun de 2017·Twitter for iPhone
E voltei para a minha linha do tempo, sendo bombardeada com notificações poucos segundos depois. Franzi o cenho, entrando na parte de notificações apenas para ver diversas menções que se dividiam entre risadas, alguns surtos e pessoas me seguindo. Entrei na menção de Griffin ao meu tweet.
PARA DE DAR EM CIMA DAS MINHAS FÃS eu vou te demitir
03:15 AM · 24 de jun de 2017·Twitter for iPhone
Eu gargalhei sozinha com o tweet de Griffin. O twitter havia explodido e notificações não paravam de chegar, me obrigando a ativar o modo silencioso do celular antes de correr o dedo por minhas menções. Finalmente encontrei o tweet da garota que havia respondido mais cedo. Eram três tweets.
O QUE TÁ ACONTECENDO AQUIIIII ABDFDJKSNCÇKJDNVÇDAJVFOSNIÇCLVLNFOBVNVOÇIDSINVDS
3 minutes ago· 24 de jun de 2017·Twitter for iPhone
@thecruehoe em citação ao tweet de @itsme:
MEU DEUS É A MESMO SOCORRO
2 minutes ago· 24 de jun de 2017·Twitter for iPhone
@thecruehoe em citação ao tweet de @itsme:
eu tenho quando a gente pode se ver?
desculpa tô nervosa
3 minutes ago· 24 de jun de 2017·Twitter for iPhone
— Podemos ir embora? – escutei se sentar ao meu lado e bloqueei meu celular, encarando-o.
— Aconteceu algo? Você está bem?
— Eu estou bem para um caralho. – ele ironizou, passando a mão pelos cabelos. – Podemos ir?
— Podemos, claro. – peguei meu celular, desbloqueando a tela e ignorando as notificações do twitter para digitar uma mensagem para Sabrina.
— Eles podem ir embora com Johnny. – se levantou.
— Como quiser. - procurei pelo nome de Ralph entre os contatos frequentes, digitando a mensagem para que ele nos esperasse na entrada da boate. – Ele disse que já está lá.
— Ótimo.
Me levantei e pegou minha mão, segurando-a antes de sair me guiando até o interior da boate mais uma vez. Ele andava em passadas rápidas, empurrando algumas pessoas durante o caminho quando elas demoravam muito para saírem. Escutei alguns xingamentos em francês, pedindo desculpas em seguida. Pelo tempo em que chegamos na porta de saída da boate, estava tão apressado que ao menos se preocupou em soltar minha mão e ele só foi notar a merda que havia feito quando um turbilhão de flashes e câmeras nos cegaram. Coloquei a mão em meu rosto, focando no chão abaixo dos meus pés enquanto andávamos.
— ! QUEM É ELA?
— , VOCÊ PODERIA NOS FALAR MAIS SOBRE SUA OVERDOSE?
— , COMO A SUA FILHA LIDOU COM O FATO DE TE VER TENDO UMA OVERDOSE?
— , COMO FOI A REABILITAÇÃO?
Consegui ver o corpo de tensionar e ele parou de andar, se preparando para se virar em direção ao fotógrafo que havia citado Cassie. Seu rosto carregava uma expressão furiosa e uma de suas mãos estavam fechadas em punho, prontas para irem de encontro com o rosto ou com a câmera. O que aparecesse primeiro. Eu engoli em seco, apertando sua mão com força o suficiente para que ele desviasse sua atenção em minha direção. E assim ele o fez, a expressão irredutível quando eu balancei minha cabeça negativamente e disse:
— Não vale a pena, vamos, por favor.
Ele hesitou por alguns segundos, voltando a andar em direção ao carro e me arrastando junto com ele mais uma vez. Sua mão apertando a minha quase que na mesma intensidade que eu havia feito anteriormente. Ele abriu a porta, parando ao lado dela para que eu entrasse. Agradeci com a cabeça, entrando no veículo e me arrumando. se sentou ao meu lado, mantendo sua atenção na rua enquanto Ralph dirigia até o hotel.
O resto do caminho até o hotel foi silencioso. não se preocupou em mudar seu foco de atenção até estarmos dentro do elevador que nos levaria até o corredor de seu quarto. Seus punhos estavam cerrados e seu maxilar estava trincado. Saímos do elevador e eu o acompanhei até seu quarto. Suas mãos estavam trêmulas quando ele pegou as chaves do quarto para abri-lo. Quando ele finalmente o fez, se virou em minha direção e acenou com a cabeça em um agradecimento silencioso, fechando a porta com violência em seguida.
Voltei a fazer o meu caminho em direção ao meu quarto, entrando no cômodo e trancando a porta em seguida. Peguei meu celular e avisei Sabrina que eles deveriam voltar sem mim e ela apenas me respondeu com um emoji de dedo do meio. Rolei os olhos, deixando o aparelho na mesinha de cabeceira antes de me sentar na cama e retirar meus coturnos. Puxei minha maleta, buscando pela necessaire onde meus lenços para remoção de maquiagem estavam. Peguei o pacote e fui até o banheiro, parando diante do espelho enquanto retirava os cílios postiços, as lentes de contato e toda a maquiagem que havia passado em meu rosto. Tirei as peças de roupa restantes e peguei a camiseta que ia até o meio de minhas coxas, vestindo-a junto do short de tecido que costumava ser meu pijama.
Escovei meus dentes e refiz meu caminho até o meu quarto, me jogando na cama e desligando o meu abajur. O silêncio acompanhado da escuridão aos poucos me abraçando em uma atmosfera de cansaço devido às horas dançantes na boate. Eu estava quase caindo no sono quando um barulho na porta chamou minha atenção. Duas batidas. Franzi o cenho, ligando o abajur e pegando as chaves na mesa, andando em direção à porta para abri-la.
— , oi. – eu estava surpresa. – O que você está fazendo aqui?
— Eu tenho essa música na minha cabeça e eu não consigo tirar. – ele pontuou antes de invadir meu quarto como um furacão. – Me ajuda?
— É quase quatro da manhã, . – expliquei, encostando a porta atrás de mim.
— Eu sei, mas eu preciso disso, tá? – ele me encarou, as diversas folhas de papel em uma de suas mãos.
— Ok. – eu cocei minha cabeça, andando até minha cama e me sentando com as costas contra a cabeceira. – Vamos ver o que você tem aí.
Bati no colchão da cama para que ele se sentasse. Ele balançou a cabeça, andando em minha direção e se sentando com as pernas cruzadas em cima do colchão. Peguei os óculos de grau na mesa de cabeceira os colocando no rosto quando me entregou as folhas de papel. Eu as analisei, engolindo em seco o conteúdo da letra. Era tão pessoal como todas as outras que havíamos trabalhado nos últimos meses.
— Obrigado por hoje mais cedo, eu provavelmente estaria na capa dos tabloides por ter socado a cara daquele paparazzi se você não estivesse lá. – ele puxou o assunto e eu o olhei através da armação dos meus óculos.
— Eles foram baixos demais, só não valia a pena. – sorri de canto, voltando minha atenção para as folhas em minhas mãos, me esticando e pegando a caneta que estava ao seu lado para colocar algumas anotações.
— Não fode, só aceita o agradecimento.
— Tudo bem. – ainda me concentrando nas letras em minhas mãos. – Podemos fazer uma alteração aqui, olha. – apontei para a frase. – Podemos colocar “Eu não posso agora, eu sou um viajante” ao invés de “Eu não posso agora, eu estou apenas me segurando”, o que acha? – ele se aproximou, esticando-se ao meu lado para encarar a letra.
— Eu gosto. – me encarou. Os olhos cansados próximos demais e a boca entreaberta. – Está tudo bem?
— Sim. – deixei a caneta repousar em meu colo. – Estamos na fase da honestidade ou...?
— O que quer dizer? – ele franziu o cenho.
— Você vai me responder se eu te perguntar algo ou vai se fechar como das outras vezes?
— Depende do que você vai perguntar, se não for alguma merda artificial como das outras vezes, eu posso considerar responder. – se apoiou em um dos braços, me olhando dos pés à cabeça antes de lamber os lábios e voltar a me encarar. – Vá em frente.
— Por que você quis sair de lá? – apertei a caneta em minha mão, com medo da resposta.
— Drogas. – ele não se afastou, ainda segurando o contato visual de momentos antes. – Eu estou lutando para um caralho para me manter sóbrio, ver pessoas usando ainda me deixa incomodado. Cedo demais. Mas acho que você já notou isso, certo, ? – meu nome saiu de seus lábios lentamente e ele se aproximou um pouco mais.
— Eu imaginei.
Ele sorriu de canto. O sorriso sapeca em seus lábios denunciando segundas e terceiras intenções. Eu engoli em seco, sentindo meu corpo se esquentar com a proximidade. Eu conseguia sentir sua respiração quente batendo contra meu rosto, causando um leve arrepio em minha pele. encarou meus olhos de novo, se aproximando um pouco mais. O suficiente para quase tocar seus lábios nos meus. Meu coração batia com a velocidade de tambores contra meu peito devido a antecipação. Fechei os olhos, me preparando para sentir seus lábios nos meus quando uma batida na porta o fez se afastar rapidamente. Eu voltei minha atenção para a folha de papel poucos segundos antes da porta de abrir.
— Eu sabia que iria pegar vocês dois aqui! – Dominic chamou nossa atenção, me fazendo virar em sua direção. – Você foi muito babaca de abandonar a gente, .
— Não estava no clima, achei melhor voltar do que estragar a experiência de vocês. – ele bufou, encarando Dom.
— Eu estou atrapalhando algo?
— Está. – estava com uma expressão desgostosa encarando o melhor amigo. – Eu e estamos no meio de algo, poderia vazar daqui?
— No meio de algo, certo... – Dom sorriu sapeca.
— Processo de composição, babaca. – levantou as letras no ar e eu agradeci por ele manter os segundos que se passaram esquecidos.
— Preciso de um quarto para dormir, não estou em condições de voltar para o meu e o Griffin está sumido.
— E o Tommy?
— Desmaiou de bêbado no caminho, Ralph precisou carregar ele no colo.
— Porra.
bufou, visivelmente irritado com a situação. Ele se levantou, pegando as letras e colocando em cima da mesa de centro do quarto. Eu fiz o mesmo, seguindo-os em direção à porta e me encostando no batente com os braços cruzados enquanto os dois músicos andavam pelo corredor.
— Ei, ! – chamou minha atenção, me fazendo olhar em sua direção antes de parar em frente ao próprio quarto. – Nós terminamos isso amanhã.
E adentrou o ambiente, mas não sem antes me lançar uma piscadela. Engoli em seco, apenas fechando a porta e passando a chave por ela. Suspirei, refazendo meu caminho até a cama e me deitando contra o estofado em que eu e estávamos minutos antes. Desliguei o abajur, fechando meus olhos e me permitindo tentar voltar a dormir, mesmo com a incômoda sensação que havia deixado em meu corpo.
Capítulo 07: Sentir Saudades Quando Acabar
“Why are we just not as good in the day?”
(Por que nós não somos tão bons na luz do dia?)
— October, Alessia Cara
Marselha, Provença Alpes Costa Azul
Três anos e dois meses antes
Eu estava sentado em meu quarto. Minha perna mexia incessantemente devido à ansiedade que aos poucos tomava conta de meu corpo. Engoli em seco, andando em direção da janela do quarto e me sentando no pequeno banquinho ao lado dela. Retirei o maço de cigarros amassado do bolso de minha calça para colocar um dos tubinhos entre meus lábios. O acendi, dando uma tragada longa antes de voltar minha atenção para a vista francesa no lado de fora da janela. Fechei meus olhos, repassando os acontecimentos de dois dias atrás. próxima o suficiente para que eu sentisse sua respiração em meu rosto. Os olhos fechados em expectativa. Um beijo que por pouco não aconteceu.
Meus pensamentos giravam em looping ao redor de suas ações na noite de sexta, me fazendo ficar repassando o rosto de em diferentes momentos da noite. me encarando com uma cara de choque quando estendi minha mão em sua direção. sorrindo em minha direção antes de virarmos shots de tequila. A felicidade em seu rosto por comemorar meus dez meses de sobriedade. O fato dela perceber meu desconforto com meus adoráveis colegas de banda fumando maconha. As conversas pessoais. O aperto em minha mão para que eu não socasse um fotografo. Pequenas ações que ela havia tomado durante a noite somente para que eu aproveitasse tudo da melhor forma.
Eu ri com meus próprios pensamentos em relação à roadie. Meses antes eu não conseguiria ser capaz de ter um diálogo de quatro frases sem direcionar um insulto em sua direção e, agora, eu estava em um ponto onde as únicas coisas que se passavam em minha cabeça eram relacionadas a . e sua personalidade cheia de preocupação com todos ao seu redor.
Rolei os olhos, puxando o celular de meu bolso e desbloqueando a tela, buscando pelo número da roadie. Não havíamos trocado nenhuma palavra desde a madrugada de sábado e eu estava começando a estranhar o seu silêncio repentino. Entrei na conversa de , digitando uma mensagem antes de enviar.
[25/06 18:45]: Eu preciso de café, poderia trazer?
Encarei a tela do celular, esperando por uma resposta. Os minutos se passaram lentamente sem a roadie enviar qualquer novo sinal de vida e eu bufei, bloqueando a tela e voltando o aparelho em meu bolso antes de tragar novamente o cigarro, antes de apagá-lo contra a parede do hotel e jogá-lo no lixo ao meu lado. Três batidas na porta chamaram minha atenção e eu me levantei, andando em direção a ela. Forcei minha melhor cara de entediado, já imaginando que a pessoa que estava no lado oposto não seria a mesma que não saia de minha cabeça pelas últimas duas noites. Puxei a porta, encarando os cachos de presos no coque no topo de sua cabeça como o habitual. O rosto livre de maquiagens, roupas largas e os jordans em seus pés. Ela me encarou, sorrindo com todos os dentes em minha direção antes de levantar um copo térmico.
— Você não checa o café da sua cafeteira antes de vir me encher? Eu tenho outras coisas para fazer além de te servir o tempo todo.
— Da última vez que chequei, você ainda estava encarregada de ser minha babá. – peguei o copo em sua mão. – Valeu. – me afastei da porta o suficiente para convidá-la silenciosamente para entrar e assim ela o fez. – O que você tem aí?
— Ideias. – ela pontuou, passando por mim e puxando a cadeira da mesa de centro, jogando um conjunto de folhas de papel na mesa. – Eu estive trabalhando em algumas coisas e eu quero sua opinião nelas. – me encarou, a perna mexendo ansiosamente e as mãos tremiam levemente sempre que ela pegava algum dos papeis.
— ?
— Sim? – ela separou um conjunto de folhas. – Eu terminei de colocar os últimos detalhes em 27, espero que goste. – ela me estendeu e eu agradeci com a cabeça, lendo os trechos que ela havia adicionado com caneta roxa.
— Há quanto tempo você não dorme? – alternei minha atenção entre a folha e a mulher à minha frente.
— Umas vinte horas, talvez? Eu não sei, estava focada nas composições e não vi a hora passando. – balançou a mão. – De qualquer forma, eu compus algo para o Dom. Na realidade, para a Rowdy. – ela falou, rápido demais.
— Quanto de café você tomou? Você está acelerada demais para quem está há vinte horas sem um cochilo. – franzi o cenho, me sentando à sua frente para encará-la. As olheiras estavam fundas, mas ela sorria divertidamente, me encarando.
— Eu não contei, mas o suficiente. – deu de ombros – Bom, e aí?
— Eu gostei, na real. – olhei as letras de novo. – Piano?
— É, eu pensei em fazer o arranjo de piano para o começo, mas só se você se sentir confortável com a ideia. – ela sorriu de canto, pegando o celular e o desbloqueando. – Eu fiz um rascunho no celular, olha.
colocou o áudio para tocar, sua voz no conjunto de notas do piano. Eu coloquei minha mão em minha boca, olhando com atenção a tela do celular e me focando em esconder o sorriso enquanto eu escutava sua voz cantando as minhas letras.
— E aí?
— Podemos colocar uma linha de guitarra para acompanhar a partir do segundo para sempre. – me estiquei, pegando a caneta que descansava na mesa para adicionar a informação no trecho.
— Isso e um violão, talvez.
— Boa. – anotei a sugestão. – Você disse que fez algo para o Dom?
— Sim, ele me pediu para ajudar ele no processo de composição. – explicou. – Eu estava com ele ontem. – senti um leve desconforto com a informação, mantendo minha expressão neutra. – Nós trabalhamos em uma música e eu tive uma ideia nas últimas horas, queria sua opinião antes de mostrar para ele.
— Vai lá. – encarei, esperando que ela me mostrasse. sorriu, colocando um cachinho atrás da orelha distraidamente enquanto espalhava a letra com o arranjo pronto, inclinando-se. – Céus caindo?
— É, não me pergunte, eu apenas aceitei a ideia e fui.
Eu avaliei a letra, lendo cada uma das estrofes com atenção. Eu nunca tinha visto uma composição inteira feita por , por isso não me surpreendi com a organização metódica na folha. havia colocado observações em diferentes cores, incluindo a forma como as estrofes seriam cantadas. Avaliei alguns trechos, surpreso com os rimados. Ela havia criado uma música com trechos falados para Donnie, dando a liberdade para que ele rimasse ao invés de apenas cantar, como normalmente fazia. Eu balancei a cabeça negativamente, incrédulo com a versatilidade criativa da roadie à minha frente.
— Você fez um rap para ele. – terminei de ler as letras. – Você deu uma letra de rap para o Donnie. – eu estava realmente surpreso e estava lutando para manter meu rosto neutro, escondendo meu choque. Aquela mulher era fodidamente talentosa. – Porra, , você sabe rimar.
— Eu não consigo dizer se isso é uma reação boa ou ruim. – ela riu sem graça e eu a encarei. – Você gostou?
— Se eu gostei? – franzi o cenho, passando a mão por meus cabelos antes de soltar uma risada. – Isso é bom para caralho, porra. – sorriu. Aquele sorriso capaz de iluminar uma cidade inteira por meses.
— Eu espero que vocês consigam achar uma utilidade para ela. – ela se levantou. – Considerem um presente, uma compensação pelo apoio e pela paciência que vocês estão tendo comigo. – ela sorriu de canto. – Bom, vou indo. Daqui a pouco eu volto para te buscar. Nós vamos sair às sete e meia. – começou a fazer seu caminho em direção à porta.
— Ei, . – a chamei, dando um gole de meu café antes dela se virar em minha direção. Assim que ela o fez, deixei o copo na mesa e me joguei contra o encosto da cadeira. – Ainda temos um assunto pendente da madrugada de sábado. – passei a língua por meus lábios.
— Temos? – ela arqueou uma sobrancelha e eu não pude evitar sorrir. Ela havia voltado com a postura defensiva de sempre.
— Temos. – me levantei, andando até ela e parando em sua frente. – Você sabe... Um beijo normalmente significa alguma coisa. – encarei seus olhos, o sorriso brincalhão em seus lábios estava impassível.
— Pode significar... – sustentou seu olhar contra o meu. – Se ele chega a acontecer. O que não foi o caso, então...
Ela deu de ombros. Deixei um riso divertido escapar por meu nariz e estiquei meu braço contra sua cabeça, deixando-a com um espaço considerável entre meu corpo e a superfície de madeira. não vacilou por um segundo. Eu tombei minha cabeça para o lado, encarando seus lábios antes de voltar a falar.
— O fato de você estar pronta para um antes de Dom bater na porta diz o contrário. – deu uma risadinha antes de acompanhar meus movimentos.
— O fato de você ter tentado e ainda ter voltado com isso para o assunto diz mais sobre o que você estava sentindo do que sobre mim, . – ela pegou a gola de minha camisa, dobrando-a com atenção antes de segurar meu rosto com uma das mãos. – Como eu já te disse há meses: não fico com os membros das minhas bandas. Pessoas famosas não me impressionam e com você não seria diferente. Então, se você me permite, eu ainda preciso checar os outros garotos.
Eu fiquei sem reação. me empurrou levemente com ambas as mãos, pegando a maçaneta da porta e abrindo-a, saindo por ela calmamente sem ao menos se dar ao trabalho de olhar para trás. Passei a mão por meu rosto, balançando a cabeça negativamente com sua reação. Voltei a fazer meu caminho em direção à mesa, pegando uma folha de papel para rascunhar algumas letras que passavam por minha cabeça enquanto a hora de ir até o festival não chegava,
Backstages de festival eram um saco.
É isso. O backstage das minhas turnês era sempre melhor. Tínhamos um conjunto de roadies contratados somente para a nossa banda. Roadies que já trabalhavam há tanto tempo com a gente que já conheciam cada um dos nossos costumes, o que incluía camarins separados e não um cubículo onde eu ficava preso com mais três caras. Não que eu não gostasse de Donnie, Griff e Tommy. Eu os amava, afinal, era o mais próximo de uma família que eu tive por muitos anos. Mas eu apenas gostava de aproveitar o pequeno tempo sozinho antes de subir em um palco lotado de pessoas. Por isso, pouco tempo após ajustar minhas coisas no camarim, eu saí pela porta e me sentei ao fundo do palco que iriamos apresentar com meu celular em mãos. Desbloqueei a tela do aparelho e busquei pelo contato de Cassie, clicando na opção de facetime assim que seu contato apareceu. O aparelho chamou por algum tempo e então caiu, indicando que ela provavelmente estaria dormindo. Rolei os olhos, apoiando meu corpo contra a estrutura que mantinha o palco em pé enquanto Borgore tocava alguns de seus sucessos de anos antes. Alguma merda eletrônica que eu não fazia a mínima questão de saber o nome.
— Ei, .
Escutei a voz de e levantei minha cabeça em sua direção quase que de imediato. Ela estava com um sorriso no rosto ao me encarar e eu me permiti baixar o olhar até a pequena garotinha que a acompanhava. Me levantei em um pulo, me abaixando para pegá-la no colo quando ela correu em minha direção. A abracei com força, sentindo seus braços apertarem meu pescoço com cuidado enquanto eu escondia meu rosto em seus cabelos cuidadosamente arrumados. Deus, como eu havia sentido falta daquele pequeno pedacinho de gente. A coloquei, no chão, abaixando-me o suficiente para encará-la.
— Você nem ao menos teve a decência de me dizer que estava vindo. – empurrei seu ombro cuidadosamente, sendo retribuído com um sorriso
— Tia Ash disse que tínhamos que manter segredo, eu queria fazer uma surpresa. – balancei minha cabeça negativamente, alternando minha atenção até , que mexia em seu celular distraidamente
— Você sabia disso?
— Claro que eu sabia. – ela disse, como se eu tivesse acabado de dizer a coisa mais horrenda do mundo. – Que tipo de roadie eu seria se não soubesse? – sorriu.
— O tipo que facilitaria minha missão pessoal de não te suportar. – soltou uma risadinha.
— De nada, . – a roadie se desencostou do palco, guardando o celular no bolso traseiro da calça. – Eu vou com os outros meninos, ainda temos mais vinte minutos de música ruim antes de vocês entrarem...
— Preciso estar lá pelo menos dez minutos antes para que você acerte o retorno, entendido. – a cortei. – Não vou fazer nada estúpido, pode ir.
sorriu, encarando Cassandra uma vez mais antes de dar as costas e sumir entre o backstage do Festival Marsatac. Voltei minha atenção para a pequena garotinha, que carregava uma pequena mochila rosa nas costas. Me sentei no chão mais uma vez, sendo acompanhado por ela.
— E então, como foi que você veio parar aqui, princesa?
— Tia Ash comprou as passagens para mim e June. – se referiu à governanta que cuidava dela quando eu estava em turnê. – Chegamos tem dois dias.
— Você poderia ter ficado junto comigo. – encarei seu rosto sorridente, me perguntando como alguém como eu havia tirado tamanha sorte em ter alguém como ela na vida.
— Eu não queria atrapalhar, titia disse que você ia sair com os tios. – franzi o cenho, pensando em que momento eu havia feito com que ela se sentisse como algo incômodo. Talvez por culpa das vezes em que você a deixou em casa para sair se drogar com outras pessoas, seu babaca.
— Não, nunca. – eu sorri em sua direção, tentando ao máximo impedir que meus pensamentos afetassem aquele momento singelo. – Você nunca me incomodaria, eu estava com saudades, teria desistido de ir se fosse o caso. Você é a coisa mais importante para mim, nunca seria um incômodo.
— Eu queria que você fosse se divertir, eu me diverti com June. – ela sorriu inocentemente, tirando a mochila das costas. – E com , ela passou algum tempo comigo hoje.
— Ela passou? – a encarei, me perguntando se o tempo em que permaneceu em silêncio tinha algo a ver com o fato de estar com Cassandra. – Quando?
— Durante o sábado e um pouco da manhã. – Bingo. – Ela passou a maior parte do tempo escrevendo com o tio Dom, mas me ensinou algumas coisas legais durante as pausas, olha.
Cass abriu a mochila, tirando um pequeno caderno de capa preta de dentro dela antes de me entregar. O nome de Cassie estava escrito na capa com uma caligrafia meticulosamente decorada. A caligrafia de . Um sentimento desconhecido tomou conta de meu peito e eu me permiti abrir o caderno. A curiosidade se arrastando por minhas entranhas de uma forma em que eu não podia evitar não olhar o que elas haviam trabalhado. O que encontrei no caderno, todavia, era melhor do que todas as expectativas que eu havia colocado nele.
— me ajudou com o sombreado de alguns, ela também me deu isso. – Cass tirou um pequeno kit de aquarelas e eu sorri, voltando minha atenção aos desenhos.
Boa parte deles eram referências a algum anime. Porém, a pintura foi o que me deixou verdadeiramente impressionado. As cores combinavam perfeitamente e a técnica havia me deixado embasbacado.
— Você fez isso? – eu estava tão orgulhoso dela que ao menos conseguia expressar o suficiente. O que não era difícil, considerando que eu conseguia ser excepcionalmente péssimo nesse aspecto.
— Sim, me mandou alguns tutoriais quando disse que estava aprendendo a desenhar e eu estive praticando desde então. – ela me encarou, seus olhos brilhando de ansiedade. – Você gostou?
— Eu amei. – sorri, folheando o caderno. – Porra, minha filha é uma artista do caralho. – eu ri, embasbacado. – Não repita o que eu disse, é feio. – a censurei.
— Tudo bem. – a garotinha sorriu, voltando a guardar as coisas na mochila.
— Vamos? – me abaixei, esperando que ela subisse em minhas costas.
— Cavalinho. - Cassie enlaçou seus braços em meu pescoço e eu segurei suas pernas.
— Pronta?
Perguntei, virando meu rosto em sua direção apenas para enxergá-la confirmar com a cabeça. Saímos correndo pelo backstage do festival em meio aos meus gritos para que as pessoas não nos trombassem no meio do caminho. As risadas de minha filha preencheram meus ouvidos, enchendo o meu peito de um sentimento reconfortante que somente ela era capaz de fornecer. Paramos diante do camarim pouco tempo depois. Eu abri a porta, encarando meus colegas de banda, o que naquele momento incluía a própria roadie, que conversava animadamente com Dom sobre algo escrito em bloco de notas que eu identifiquei como sendo o caderno de composições dele.
— Bem na hora, adoro quando você é pontual. – Griff sorriu, tombando a cabeça para o lado. – Vem cá, pivete, me dá um abraço.
Griffin levantou os braços e eu me abaixei, colocando Cassie no chão poucos segundos antes dela sair correndo da porta até os braços do meu melhor amigo, que a apertou em um abraço carinhoso antes de começar a fazer cócegas em sua barriga. Encostei a porta atrás de mim, sentando-me no espaço livre ao lado do baterista. Minha filha veio em minha direção pouco tempo depois, sentando-se em meu colo para que eu a abraçasse.
— Então, quem de vocês já sabia disso? – apontei para Cass.
— Todo mundo, só você que não. – Tom me encarou entediado enquanto tragava o próprio cigarro. – Tal qual como o corno, você também foi o último a saber.
— Se fode. – dei com o dedo do meio em sua direção.
— Linguajar, crianças no cômodo. – censurou, ao menos tirando sua atenção do papel que escrevia algo.
— Você é uma traidora. – provoquei, esperando que ela rebatesse. E então ela se virou em minha direção, revelando os óculos de grau com as grossas armações transparentes quando ela os abaixou para me encarar.
— Cassie, tampa os ouvidos, por favor? – e assim minha filha o fez. – Caralho, , eu não tenho um dia de paz, porra.
Eu pisquei algumas vezes, processando o conjunto de palavras que ela havia acabado de dizer. Encarei meus colegas de banda, revezando a atenção entre eles e a roadie. Foram segundos do mais profundo silêncio antes do ambiente ser invadido por um coral de gargalhadas, incluindo a dela. Cassie finalmente tirou as mãos do ouvido, parecendo perdida enquanto eu limpava as lágrimas de diversão de meus olhos. Em quase três anos, eu nunca havia escutado colocar tantos palavrões em uma frase tão curta. E considerando a reação dos outros, acredito que eles também não.
— , você desperta o pior lado da . – Tommy tossiu algumas vezes, balançando a cabeça negativamente. – Aí, porra.
— Vocês são muito bons em encher meu saco. – ela rolou os olhos, voltando a atenção para o papel.
— É que o caralho do não te dá um minuto de paz, né? Entendi. – Dom completou.
— Isso foi tão errado, em tantas formas. – Griff pontou, ainda em meio às risadas.
— Beleza, quarta série. – riu, finalmente olhando para o relógio. – , você é o último que falta pôr o retorno, vem para cá.
Cassandra escorregou do meu colo, sentando-se no sofá enquanto eu me diria até a roadie e parava de costas para ela. se levantou, colocando o aparelho em meu bolso para conectar o fone de retorno logo em seguida. Ela testou algumas vezes, se certificando que tudo estava certo antes de passar o fio por baixo de minha camisa e deixá-lo pendurado em meus ombros. Ela deu três batidinhas no local, uma mania que ela sempre havia apresentado com os outros meninos.
— Prontinho, livre para ir.
— Valeu.
Não pude ao menos tomar dois passos antes de um dos roadies do festival baterem na porta, avisando que entraríamos em um minuto. Assentimos e saímos do camarim, com conversando animadamente com minha filha enquanto ela segurava sua mão. Segurei um sorriso, só então notando o quanto elas eram parecidas. Quase como mãe e filha, se a roadie não parecesse uma adolescente noventa por cento do tempo. Ri de meus próprios pensamentos, parando ao lado da entrada do palco e me abaixando ao lado de Cass.
— Você vai assistir?
— Vou, papai. – ela me abraçou, depositando um beijo em minha bochecha. – Boa sorte.
Eu sorri em agradecimento, me levantando em seguida. desejava boa sorte para os garotos, abraçando-os calorosamente antes de depositar um beijinho na testa que soava quase maternal. Ela parou diante de Dom, ralhando sobre o batom estar borrado antes de limpar com o polegar e o empurrar em minha direção. Ela se virou para mim, dando passos hesitantes antes de respirar fundo e se impulsionar contra meu corpo, envolvendo-me em seus braços em um abraço tão caloroso quanto o dos outros. Fiquei parado por severos segundos, surpreso demais para reagir ao ato. Ela apertou um dos meus ombros, batendo três vezes antes de soltar um melódico:
— Boa sorte.
Não houve um beijo na testa como o dos outros. Apenas um abraço caloroso e batidinhas no ombro. Eu assenti com a cabeça, sentindo uma euforia estranha tomar conta de meu corpo antes de subir no palco e parar diante do microfone decorado com a multidão vibrando em coro o nome de nossa banda.
— BOA NOITE, MARSELHA! – gritei, sendo recebido por mais berros do público. – Nós somos a Rowdy e essa música se chama Beijar o Céu.
Capítulo 08: Aniversários e Comemorações
“We even got a secret handshake
And she loves the music that my band makes
I know I'm young, but if I had to choose her or the Sun
I'd be one nocturnal son of a gun”
(Nós temos até um aperto de mão secreto
E ela adora a música que minha banda faz
Eu sei que sou novo, mas se eu tivesse que escolher entre ela e o Sol
Eu viraria um filho da mãe noturno)
— Cupid’s Chokehold, Gym Class Heroes
Los Angeles, CA
Três anos e um mês antes
Eu nunca fui uma criança problema.
Apesar de ter motivos consideráveis para acabar me tornando uma, eu sempre fui a criança nerd do fundo da classe. Mesmo nas aulas de música ou na banda marcial, eu sempre fui a pessoa que não faria diferença se estivesse lá ou não. Em contrapartida, eu também me tornei a criança com tantos pensamentos que queria agarrar o mundo todo com as mãos.
Procurando por formas de me expressar que não fosse a música, algo que na época eu estava deixando de lado, eu acabei me tornando uma pessoa viciada em hobbies. Artesanato, esculturas de argila, aulas de pintura em tela, aulas de maquiagem e até mesmo tricô. E então ele veio. Com quatorze anos, eu conheci a magia dos videogames e minha vida mudou drasticamente. Eu havia encontrado uma nova forma de me expressar: jogando toda a minha raiva e frustração gritando com jogadores ruins em jogos online. E, naquele momento, aquilo era exatamente o que eu estava fazendo.
— COMO VOCÊ CONSEGUIU ERRAR ESSA ULT, INFERNO? Você não sabe jogar, porra? Puta merda, que time ruim do caralho.
Grunhi, me jogando contra o estofado da cadeira enquanto a tela vermelha na tela indicava a derrota na partida. Esfreguei meu rosto, saindo do replay para verificar a pontuação. Vinte e seis abates e duas mortes, totalizando o jogador com maior número de abates da partida. Rolei os olhos, fechando o jogo antes mesmo de me dar a chance de passar mais raiva.
Senti meu celular vibrar em cima da mesa e franzi o cenho. Eu estava em meu período de recesso e não estava nem um pouco a fim de trabalhar, considerando o amontoado de serviço que havia sido colocado em minhas costas. Por isso, ignorei a chamada e voltei minha atenção para a área de trabalho do computador, ponderando se continuaria a campanha de The Witcher ou começaria Heavy Rain. Optei pela segunda opção, abrindo o jogo e aguardando enquanto ele carregava.
— , bora mais uma partida de LOL? – Johnn chamou em um dos chats de voz, me fazendo revirar os olhos com a possibilidade de cair em um time ruim novamente.
— Nem, eu passei raiva demais na última, não quero continuar me estressando. Vou começar Heavy Rain. – murmurei, apertando o play.
— Beleza, se mudar de ideia avisa.
— Ok. – respondi, alheia, voltando minha atenção para o jogo antes de chamarem minha atenção de novo.
— Oh, , você não tem celular não? – escutei a voz de Griff ralhar.
— Estou em recesso, favor não me chamar para trabalhar porque eu não irei.
— Griff, você tá sumido. – Johnn voltou. – Cola para uma partida qualquer dia.
— Claro, só a agenda diminuir que eu apareço. – meu primo riu. – Vem para o .
— Eu estou de boa, vou ficar no meu joguinho e aproveitar para desintoxicar da companhia de vocês.
— Você não tem a opção de negar, eu estou na porta da sua casa e não vou sair até você vir junto. – ele buzinou, me fazendo rolar os olhos.
— Eu te odeio.
— Traga o presente da Cassie também.
Eu respirei fundo, fechando todas as aplicações do computador antes de finalmente desligá-lo. O aniversário de Cassie havia sido na quarta-feira daquela mesma semana e devido ao fim da turnê e foco na produção do novo álbum, estávamos todos em período de recesso por quinze dias até retornar as funções normais. Não que eu estivesse obedecendo, uma vez que havia Dom havia vindo até a minha casa pelo menos três vezes durante esse período para trabalharmos em algumas de suas composições. E ele não era o único, Griffin e eu também tivemos nossos momentos.
O fato era que eu havia planejado meu fim de semana como uma desintoxicação. Mas quando um dos membros é alguém da sua família, o processo fica ainda mais difícil. Como nossos pais haviam continuado em Toledo, isso fazia de mim a única família de Griffin em Los Angeles, por isso eu era quase que diariamente atazanada por ele. Peguei meu celular do carregador, procurando o contato de Griffin para enviar uma mensagem.
Deixei o celular em cima da mesa, escutando o barulho da porta no andar debaixo abrir e fechar, em uma confirmação de que ele realmente estava com a chave. Fiz meu caminho até o banheiro de meu quarto, trancando a porta atrás de mim. Me despi, jogando meus pijamas dentro do cesto de roupas antes de entrar embaixo do chuveiro e ligar a água, deixando-a percorrer por todo o meu corpo.
Meu banho foi rápido. A finalização do meu cabelo, todavia, foi o que me fez ficar um tempo severo contra o espelho do banheiro. O trabalho de fazer a fitagem mecha por mecha e posteriormente seguir com o difusor me fazia seriamente cogitar voltar com as tranças, apenas para economizar as dores no braço por segurar o secador. Quando meus cachos ficaram finalmente modelados, resolvi me concentrar na maquiagem. Algo leve, considerando o calor californiano. Ao finalizar, apenas coloquei uma camisa larga, um shorts e um par de tênis, puxando minha bolsa e jogando o celular dentro dela. Desci as escadas, encontrando Griffin jogado no sofá, jogando em meu DS.
— Vamos? – o encarei.
— Aleluia, achei que não iria mais sair daqui. – ele se levantou, desligando o DS e deixando na mesa de centro.
— Meu cabelo dá trabalho, você deveria saber disso antes de chegar em cima da hora. – rolei os olhos, andando em direção da porta e saindo em seguida.
— Mas ele ficou bonito. – ele saiu, me esperando no hall de entrada enquanto eu trancava a porta. – Olha só, molinha. – Griff pegou um dos cachos, esticando e soltando.
— Tira a pata. – bati em sua mão. – Vai estragar o formato e demorou para deixar definido assim. – guardei a chave em minha bolsa, descendo os degraus do hall de entrada para entrar no carro de Griff.
— Não pode mais fazer carinho no cabelo da prima que ela reclama, enfia no cu também. – ele ralhou, sentando-se ao meu lado antes de dar partida e dirigir em direção à casa de . – Eu queria entender o porquê de você não ir morar comigo, a casa é enorme. Você não precisaria pagar nada.
— Eu gosto de ter o meu espaço e a minha privacidade. – coloquei meus óculos de sol. – E eu não quero passar raiva com a sua desorganização. A primeira camiseta que eu encontrasse em cima do sofá me faria ter uma síncope.
— É só que a casa fica vazia o tempo todo. – ele batia no volante conforme os compassos da música no rádio. – E nossos pais disseram que não se sentem à vontade de sair de Toledo sabendo que não vou ficar em casa quando as turnês começarem. Você sabe, aquele papo de sempre.
— Por que eu iria ficar mais perto dos meus filhos se eles não ficam em casa? – imitei Leo. – Se for para continuar sem vê-los com frequência, posso pelo menos permanecer em uma cidade em que conheço.
— Velho ranzinza. – ele balançou a cabeça, rindo. – Mas eu estou falando sério sobre você vir morar comigo, prometo manter as coisas organizadas se você vier. Nós não moramos juntos desde que você foi para Nova York, eu gostava de não precisar sair de casa para produzirmos algo.
— Só você? – ergui uma sobrancelha, rindo fraco. – Eu posso considerar a ideia, mas não posso garantir nada.
— Eu vou acabar te convencendo qualquer hora. – ele riu. – Cara, terminamos o arranjo final de 27 ontem, você devia ver como ficou o resultado. Simplesmente do caralho.
— Sério? Vocês já estão com planos de gravação?
— Estamos só finalizando alguns retoques nas músicas para ver quais vão ser colocadas no álbum. O chegou com algumas bem pessoais, pedimos para que ele as colocasse também.
— Legal, eu fico feliz que vocês estejam conseguindo usar as coisas. – sorri, encarando o letreiro de Hollywood a distância. – Griff?
— Sim?
— Eu... Estava pensando. – respirei fundo. – Como foi que você lidou com toda a exposição quando vocês começaram a ser vistos? Tipo, a sensação.
— Eu vomitei por algum tempo antes de subirmos no palco do nosso primeiro show grande. – ele riu. – Você está considerando aceitar?
— Seria muito doido se eu dissesse que sim?
— Se você estiver com a motivação certa, isso não seria nem um pouco doido. – Griffin sorriu. O mesmo sorriso maternal de Becky. – Você está fazendo isso por você ou por ?
— Quando pensei pela primeira vez sobre, achei que seria por ele e por toda a insistência. – suspirei. – Mas... Depois de todos os últimos meses compondo com vocês, eu tomei a consciência de que estava fazendo isso por mim. Ele me empurrou, claro, mas eu aceitei porque queria saber como era. E agora eu quero saber como é isso.
— Então a resposta é simples: não é uma loucura. – Griffin parou em frente à mansão de , estacionando o carro e se virando em minha direção. – Você merece isso tanto quanto eu, então eu vou te apoiar em cada passo do processo. – ele sorriu. – Estou feliz que esteja reunindo coragem para aceitar.
— Obrigada, Griff. – eu sorri, abraçando-o com força.
— Por nada, .
Griffin retribuiu o abraço, se soltando quando o fiz. Saímos de dentro do carro, entrando pela porta da frente da mansão e escutando o som alto de guitarras e bateria. Franzi o cenho, apenas seguindo normalmente até a sala para encontrar o set completo no meio dela com tocando alegremente com os outros rapazes. O que eu não contava, todavia, era com as crianças correndo de um lado para o outro como se estivessem em um mosh pit.
— Porra. – ele parou no meio da música, sendo pego com diversos xingamentos infantis das crianças. – chegou, finalmente. – riu, tirando a guitarra do pescoço antes de colocá-la em cima do suporte e andar em minha direção. – Ei, como está? Achamos que você não viria.
— Não foi por falta de tentativa. – Griffin completou. – Se não fosse por mim, aparecendo na porta da casa dela, ela provavelmente teria ficado jogando pelo resto do dia.
— Realmente, meus planos para hoje envolviam uma desintoxicação da presença de vocês. – passei o olhar pela sala, procurando por Cassie entre a pequena sala de fundamental no meio da sala.
— Ela está no quarto dela, foi pegar algo. – segurou o braço da guitarra. – E nós precisamos de ajuda para lidar com essas trintas crianças, não é como se eu tivesse ideia de como agradá-las.
— Sério, ? – eu ergui uma sobrancelha, o encarando incrédula. – Vocês só me chamaram porque não tem ideia de como lidar com crianças?
— Não, não foi isso. – ele se apressou em corrigir suas próprias palavras. – Cassie disse que queria que você viesse e eu sou expert em festas de gente grande. Não é como se eu pudesse dar shots de tequila e cigarros de maconha para crianças de nove anos. – se defendeu, tentando arrumar uma desculpa que fizesse a minha cara melhorar de uma hora para outra. – Nós pedimos algumas pizzas, temos doces na cozinha e Ashleigh disse que chegaria com o bolo daqui algum tempo.
— Certo, certo. – passei a mão em meu rosto, respirando fundo antes de passar por e parar diante da pequena plateia. – Quem está com fome? – fui recebida por um conjunto de gritos animados das crianças à minha frente. – Ok, sigam a tia ,
O conjunto da pré-escola me acompanhou até a cozinha e eles se sentaram entre os bancos livres do local. Me aproximei do amontoado de caixas de e logo fui acompanhada por ele, que começou a me ajudar com a distribuição das caixas em cima do balcão. Não tardou para que Griffin e Dom se juntassem a nós, espalhando os cupcakes e docinhos nos espaços livres.
Não foi tão trabalhoso como imaginei que seria, considerando os balões de hélio e as decorações espalhadas pelo cômodo. A creche logo começou a se movimentar, pegando doces e colocando nos pratinhos antes de engatarem em conversas animadas sobre como os Avengers fariam para derrotar Thanos.
— Você vai ficar parada aí? Come. – chamou minha atenção, estendendo um prato com pizza de brócolis e queijo em minha direção. – Sei que você gosta desse crime que nem deveria ser chamado de pizza.
— Vai à merda, . – rolei os olhos, aceitando o prato de bom grado antes de pegar uma das fatias e dar uma mordida generosa. – Você gosta de pizza de puro óleo, o que você está falando?
— Você meça suas palavras para falar da pizza de quatro queijos ou eu juro que te expulso dessa residência. – apontou, dando uma mordida na fatia em suas mãos.
— Tudo bem, continue vivendo no seu mundo de fantasias. – levantei minhas mãos em rendição, encarando a porta traseira se abrir com Ashleigh e Tommy carregando um bolo enorme.
— Acho que a gente deveria ajudar eles, né? – comentou.
— Definitivamente. – dei outra mordida em minha pizza, deixando o pedaço inacabado na bancada da pia. – Vou distrair a Cass, preciso entregar o presente dela de qualquer forma.
Me apressei em sair da cozinha, ao menos esperando pelo aval do antes de começar a fazer o meu caminho em direção às escadarias. Eu estava nervosa e não tinha ideia se a pequena garotinha iria gostar do presente que eu havia escolhido. Ela era uma criança milionária, consequentemente a gama de presentes que eu poderia dar não eram coisas que o pai dela não podia comprar. Parei diante da porta azul e bati três vezes, esperando que a voz da garotinha me pedisse para entrar. Assim que ela o fez, entrei no ambiente onde algumas músicas da Billie Eilish tocavam animadamente.
— Tia ! – Cassie sorriu e eu me abaixei, envolvendo-a em um abraço quando ela parou diante de mim. – Achei que não viria, você disse que não ia sair hoje. – a garotinha me encarou, saindo de perto de mim.
— Você vai ficar brava se eu disser que os meus planos eram ter ficados em casa jogando pelo resto do dia? – eu sorri, deixando minha bolsa em sua cama antes de me sentar. – Mas eu comprei um presente para você. – eu sorri, puxando a bolsa com e a abrindo, retirando a caixa com o embrulho roxo. – Feliz aniversário, baixinha.
— Obrigada, . - os olhos de Cassandra brilharam enquanto ela encarava embrulho em minhas mãos. Os dedos percorreram o embrulho assim que ela o pegou.
— Abre.
Eu sorri, incentivando-a a abrir o presente. Os olhos da garotinha se viraram famintos para a embalagem e escorregaram pela fita preta cuidadosamente amarrada. O resto do processo não foi de longe tão delicado. Cassandra rasgou o papel de presente de forma ávida, jogando o restante do pacote no chão para encarar por longos segundos o presente. Ela olhava incrédula para a caixa da mesa digitalizadora como se aquilo fosse a coisa mais legal que ela havia ganhado em anos. Ela deixou o presente em cima da cama, me envolvendo em um abraço apertado.
— Obrigada, . – ela sorriu. – É o melhor presente do mundo. – ela riu, abrindo a caixa.
— Você tinha comentado que queria começar a fazer uma série de quadrinhos, imaginei que uma mesa iria facilitar o processo. – eu sorri, vendo-a pegar os fios e a mesa e correr até o setup que estava no canto do quarto. Me levantei, acompanhando-a. – Se você quiser, posso te ajudar a configurar, você vai precisar instalar o driver para conseguir usar nos outros programas.
— Vai mesmo. – a garotinha se sentou na cadeira, ligando o computador e esperando que ele iniciasse. – Papai me deu um Ipad também. Agora eu posso desenhar quando for na turnê com vocês e em casa, com uma tela maior, eu só preciso praticar mais.
— É como aprender a desenhar tudo de novo, mas acho que você consegue se acostumar mais rápido que eu. – eu ri fraco, vendo-a conectar os fios. – Okay, vou te ensinar como fazer a instalação caso você precise fazer de novo e eu não estiver, tá?
— Ok. – Cassie andou com a cadeira para o lado, me dando espaço para olhar o monitor.
— Pesquisa pelo site da Huion na barra de pesquisa. – assim ela o fez, abrindo o site. – Agora pesquisa pelo modelo da mesa, é a H420. – selecionou o modelo e eu me apoiei no encosto de sua cadeira. – Seleciona o sistema, agora faz o download.
Os próximos passos foram rápidos e bastante padronizados. Cassandra fez a instalação dos drivers e começou a procurar por softwares que facilitassem sua empreitada de começar seus projetos de desenho. Quando finalmente encontrou um que lhe agradasse, não pensou duas vezes antes de instalá-lo e começar a testar os diferentes comandos. Permanecemos por um bom tempo ali. Cass sorrindo animadamente com os controles e eu a auxiliando com o pouco que eu sabia de arte digital até ela finalmente largar a caneta.
— Eu vou conseguir fazer tanta coisa com isso. - ela sorriu, se levantando da cadeira e me envolvendo entre seus braços pequenos com força. Eu sorri, acariciando o topo de sua cabeça com carinho antes dela me soltar. – Eu amei.
— Imagina. – eu sorri de canto. – Vamos descer, seus amigos estão te esperando.
— Claro.
Segurei os ombros da garotinha, empurrando-a levemente para fora do quarto e a acompanhando até a cozinha. O cômodo estava silencioso, apesar de bem iluminado, e assim que passamos pelo portal da sala, um coro desafinado de crianças de adultos berrou uma música qualquer de aniversário, fazendo Cassie correr em direção ao pai e abraçá-lo com força enquanto a girava no ar. Sorri de canto, voltando para o meu cantinho ao lado da pia onde minha pizza ainda descansava intocada, porém, coberta com papel toalha, observando tudo à distância.
Cassandra estava em pé em um banquinho em frente ao bolo de aniversário enquanto os outros permaneciam cantando alegremente. Ela assoprou as velinhas, fechando os olhos para fazer seu pedido de aniversário.
— E para quem vai o primeiro pedaço? – Ashleigh sorriu, pegando a espátula e parando em frente ao bolo.
— Bom... – Cass pensou por alguns segundos, sussurrando no ouvido da loira a resposta, que assentiu e cortou um pedaço grande, dividindo-o posteriormente em dois pedaços. – Eu não sabia para quem entregar primeiro, então o primeiro pedaço é do papai e da .
Eu deixei o pedaço da pizza no ar em direção à minha boca com a mudança repentina do foco da atenção do cômodo. Eu tossi, deixando meu prato de lado e lavando minha mão antes de fazer meu caminho em direção à Cassie e . Sorri em sua direção, pegando o prato na mão de Ashleigh.
— Vamos tirar uma foto!
Dom gritou, me fazendo fuzilá-lo com a minha melhor imitação de olhar irritado. O que deve ter sido péssimo, visto que ele começou a rir logo em seguida. Parei ao lado de Cassie, sentindo seu braço enrolar em minha cintura. Encarei a câmera, rindo com a gracinha de Griffin no outro lado do ambiente.
— Ei, . – me chamou e eu me virei em sua direção e quase no mesmo momento um cupcake com o topo lotado de chantilly veio voando em direção à minha cara. O que não foi o suficiente, porque ainda o esfregou em meu rosto. – Para não perder o costume.
— Seu... – eu ri, incrédula demais para qualquer reação que fosse diferente à essa enquanto tirava o chantilly do meu olho. – Babaca! Isso vai ter volta. – apontei em sua direção, sendo bombardeada pela risada sincera de Cass e .
— Ficarei ansioso. – passou seu mindinho em minha bochecha, lambendo o dedo em seguida.
As risadas acabaram logo quando os outros pedaços de bolo foram distribuídos entre os amiguinhos de Cassie e os meninos da banda. Aproveitei o momento de distração dos demais e me permiti sair de perto para ir até o banheiro, encostando a porta o suficiente para que eu conseguisse lavar meu rosto sem que alguma das crianças acabassem invadindo o cômodo. Abri a torneira e comecei a passar a água em meu rosto com a ajuda do sabonete líquido. Escutei um conjunto de batidas na porta e me levantei, secando o rosto com uma das toalhas delicadamente dobradas dentro do armário abaixo da enorme pia de granito.
— Já estou saindo. – levantei minha voz o suficiente para que eu conseguisse ser escutada dentro daquele banheiro imenso e não tardou para que a cabeça flutuante de Niki se pendurasse na fresta aberta da porta com a mão cobrindo os olhos.
— Você está sem roupas?
— Não, eu só vim limpar a bagunça que o seu melhor amigo fez. – disse, jogando a toalha no cesto de roupas antes de deixar o banheiro com Dom ao meu lado. – O que quer?
— Um gig, gatinha. – Dominique pegou uma de minhas mãos, girando-me no corredor. – Quero que continue com as músicas com a gente, eu tenho um repertório grande.
— Você vai me pagar?
— Com todo o café que você puder tomar sem começar a tremer que nem da última vez, oh, rainha. – ele prestou uma reverência, me fazendo rolar os olhos.
— Me convenceu. – dei de ombros.
— Ótimo, adoro quando você se vende por pouco.
O respondi com o dedo do meio em riste antes de me dirigir até o set improvisado em frente ao sofá, parando em frente ao tripé extra com microfone onde Dom estava momentos antes. Me virei em direção para Griffin, que se arrumava no banco da bateria.
— O que vamos tocar?
— Não sei, achei que você soubesse do que a Cassie gosta.
— Ela gosta daquela garota, Billie alguma coisa. – pontuou. – estava cantando para ela no dia que eu descobri que ela era mais que um rostinho bonito.
— Ela também gosta de One Direction.
— Eu não vou tocar One Direction, . – ralhou, como se eu tivesse acabado de invocar o próprio satanás na sua sala.
— Eu sei tocar Rock Me, What Makes You Beautiful e algumas outras. – Griffin soltou casualmente, sendo o bombardeado com um olhar fuzilante de . – O que foi, cara? Vai dizer que você nunca se pegou cantando um “você ilumina meu mundo como ninguém mais consegue”?
— Tenho orgulho de dizer que eu nunca escutei isso na minha vida. – sorriu orgulhosamente.
— Mentiroso. – Thomas se pronunciou. – Você estava escutando Night Changes semana passada, eu te sigo no Spotify.
— Prefiro quando você assume o papel de caladão do grupo, você fica bem mais legal. – murmurou, arrumando a guitarra na correia. – Ok, mas a Cassie gosta de Happily.
— E de Perfect. – pontuei. – Mas acho que não dá para fazer muita coisa com elas.
— E se a gente fosse com Happily e Drag me Down? – Griffin sugeriu. – Acho que dá para fazer.
— Eu sei as duas. – dei de ombros. – E por vocês?
— Pelo amor de Deus, eu sou o maior fã de Larry que já pisou nessa casa, acima de mim, somente freddieismyqueen. – Dom sorriu, plugando o cabo na guitarra. – Estamos decididos então?
— Yep. – Thomas assentiu, esperando os outros.
— Cassandra Alicia , se dirija até a sala de estar, seus tios e tem uma surpresa para o seu aniversário. – eu disse na minha melhor imitação da voz da mulher do Google. – Repito, Cassandra Alicia , você está sendo convocada.
As vozes das crianças junto de Cassie invadiram a sala, gritando, enquanto se sentavam na frente do set improvisado no centro dela. Seus olhos brilhavam e o canto de sua boca ainda estava sujo devido ao chocolate do bolo, mas o sorriso em seu rosto era tão fofo que me fazia querer protegê-la de qualquer mal que pudesse vir a acontecer com ela.
Griffin começou sua contagem e não demorou para que o pocket show começasse e uma plateia de crianças tirassem risadas de mim e , que, por sinal, parecia estar se divertindo mais do que qualquer um naquela sala. O mesmo cara que havia dito que não escutava One Direction.
— Eu não me importo com o que as pessoas dizem quando estamos juntos. ¬– sorriu em minha direção, cantando em dueto comigo. – Você sabe que eu quero ser a pessoa que te abraça enquanto você dorme.
— Eu só quero que seja você e eu para sempre, eu sei que você quer partir então fique comigo, eu e você totalmente felizes.
Terminamos a música e se dirigiu até Cassie, tirando uma flor de origami de seu bolso traseiro antes de se ajoelhar e entregar para a garotinha, que pegou a flor e pulou nos braços do pai em um abraço apertado. Eu ri fraco, deixando o espaço ao lado do microfone e escapulir para a cozinha mais uma vez.
Parei diante das caixas de pizza, agradecendo mentalmente ao ver que ainda haviam sobrado pedaços o suficiente da minha favorita. A coloquei em um dos pratinhos descartáveis, levando-a junto comigo para o lado de fora da casa. Me sentei em uma das cadeiras de sol, colocando o pratinho em meu colo para saborear a pizza.
— Você se importa se eu me juntar? – escutei a voz de Tommy vindo de algum ponto próximo a mim. Ele trazia um cigarro de maconha entre os dedos.
— Senta aí.
— Valeu. - assim ele o fez, acendendo o baseado antes de dar uma longa tragada. – Vai ser muito babaca da minha parte admitir que eu não coloquei nenhuma fé em você nos ajudando?
— Vai, mas eu concordo. – soltei uma risadinha. – Eu também não esperava muito de mim nesse aspecto, fico feliz de não ter sido a única.
— Mas é doido que você me surpreendeu nisso. – ele apontou, soltando a fumaça para cima, tomando o cuidado para que ela não fosse diretamente em meu rosto. – É legal ter a sua companhia ajudando a gente, fico feliz que o finalmente tenha parado de ser um cuzão.
— Você não deveria falar assim do seu colega de banda. – dei mais uma mordida na fatia. – Ele te ajuda a pagar as contas.
— Oh, xingar ele de cuzão? – Thomas riu. – Não, eu já disse isso para ele algumas vezes, deixou de ser novidade. Não tem falsos nessa mesa. – ele levantou ambas as mãos em rendição.
— Eu fico grata, odiaria ficar no meio de um conflito. – brinquei. – Mas e quanto às suas composições? Você nunca me falou sobre elas. E eu normalmente ajudo na dos outros rapazes também.
— Nunca pensei em pedir ajuda. – ele riu. – Convenhamos, depois do , eu acho que sou o que você tem menos intimidade.
— Você tem um ponto nessa. – dei de ombros. – Mas não significa que você não pode pedir, eu sou só uma ajudante.
— Por enquanto, em alguns meses você vai fazer um sucesso estrondoso e vai deixar de ser nossa roadie. E aí eu nunca mais vou poder sorrir de novo. – dramatizou.
— Vai se foder. – eu mandei o dedo do meio em sua direção, rolando os olhos. – Se isso acontecer, eu faço questão de ter um grupo nas DM’s só para encher o saco de vocês.
— É melhor que sim. – ele sorriu, balançando a cabeça. – Mas eu tenho uma ideia para você, é algo mais meu do que da Rowdy, mas se você quiser me ajudar nessa, está convidada.
— Me manda os detalhes?
— Eu estou invadido suas DM’s agorinha mesmo. – Tommy sorriu, mexendo em algo em seu celular e logo em seguida meu celular vibrou com a notificação de uma solicitação de mensagens no meu Instagram. – E eu acho um absurdo você não me seguir no Instagram.
— Não sigo nenhum de vocês, se isso te faz sentir melhor. – abri o aplicativo, retribuindo o follow do homem ao meu lado.
— Sua cretina. – ele pegou uma bolinha de papel do bolso de sua calça, jogando-a em minha cabeça tão rápido que eu ao menos tive tempo de desviar.
— Maior do que eu, só cinco de você. – eu rebati, dando uma risadinha quando ele ameaçou jogar uma outra bolinha de procedência duvidosa em minha direção. Tommy era uma pessoa divertida, apesar de quieto na maior parte do tempo.
— Eu vou começar a achar que isso é pessoal.
— Sonhou bastante. – eu ri, tirando a carteira de cigarros de meu bolso. – Me empresta o isqueiro?
— Claro. – ele jogou o quadradinho de metal em meu colo enquanto eu colocava o prato descartável vazio ao lado do meu pé. Agradeci com o maneio de cabeça, acendendo o cigarro em meus lábios para devolver o isqueiro em seguida.
— Valeu.
— Sem problemas. – ele sorriu de canto, deixando guardado o objeto no bolso de sua calça. – Vou voltar para dentro, estou nessa de não fumar perto do depois de tudo o que rolou na balada.
— Eu agradeço. – sorri de canto. – Acho que, por dentro, ele agradece também.
— Espero a sua resposta.
E assim ele retornou para dentro, me permitindo entrar no aplicativo de mensagens e ler a foto da letra que ele havia enviado. Era algo muito longe do que a Rowdy fazia. Longe até mesmo do que eu esperava de Tommy, se eu fosse ser sincera. Fiquei ali por longos minutos, somente pensando na letra enquanto meu cigarro se esvaía aos poucos. Me levantei da cadeira, pegando o pratinho descartável para jogá-lo no lixo durante o caminho para o lado de dentro da mansão de antes de voltar para o interior dela.
Foram longas horas rindo e brincando com uma sala de fundamental antes dos pais de cada um dos colegas de classe de Cass finalmente virem buscá-los, sobrando somente um grupo de adultos potencialmente exaustos. Minhas pernas descansavam em cima das pernas de Griffin enquanto ele improvisava uma bateria com canetas esferográficas.
— Quer ir para casa? – ele me chamou.
— Você me deixa em casa ou eu vou para a sua?
— Não faz muita diferença, não é como se você não tivesse roupas sobrando lá.
— E vocês tem coragem de reclamar quando eu achava que vocês estavam se pegando. – se pronunciou, nos fazendo virar em sua direção.
— Eu estou com a Sabrina, cara. – Griff disse, como se não fosse óbvio. – Na conjuntura atual, é mais fácil você e estarem se pegando que qualquer outra coisa.
— Ela amaria que isso acontecesse. – alfinetou, olhando em minha direção. – Certo, ?
— Eu gostaria que fosse a namorada do papai. – Cassie comentou, me fazendo relembrar o acontecimento na noite de comemoração à sobriedade de .
— Sim. – concordei, me esforçando para manter a neutralidade. – Quase tanto quanto colocar um ombro deslocado no lugar e fazer um transplante de órgãos sem anestesia. – rolei os olhos. – Vou pegar mais um pedaço de pizza e nós podemos ir, tá?
— Claro.
Meu irmão deu de ombros, apenas se jogando no sofá novamente quando eu me levantei. Puxei a bolsa ao meu lado, desenhando meu caminho em direção à cozinha e parando próxima a alguns cupcakes que haviam sobrado. Peguei um deles, puxando uma quantidade extra de chantilly de alguns outros antes de colocá-lo escondido entre as caixas de pizza quando escutei passos vindo em direção à cozinha. Me virei no exato momento em que parou em minha frente.
— Pegou pesado no transplante de órgãos sem anestesia, estrelinha.
— Algum dia você vai superar esse apelido ridículo?
— Talvez. – ele deu de ombros, dando dois passos em minha direção. – Você não está brava por hoje mais cedo, está?
— Brava pelo chantilly na minha cara?
— É.
— Não, está tudo bem. – eu dei de ombros. – Não é como se eu tivesse passado horas me arrumando, de qualquer forma.
— Claro. – ele me encarou, levando sua mão em direção a um cacho solitário que estava em meu rosto.
o pegou entre seus dedos, delicadamente colocando-o entre alguns outros e impedindo que ele voltasse a cair próximo de meus olhos. Ele me encarava com curiosidade, arqueando uma das sobrancelhas antes de abaixar sua mão e repousá-la em minha bochecha, acariciando o local antes de colocar seu braço livre ao lado de meu corpo. Eu engoli em seco, incapaz de sequer mudar a minha atenção de .
— Você realmente não tem ideia do quanto a ideia de te beijar vem passando na minha cabeça desde aquele dia. – ele ao menos precisava dar detalhes, eu sabia perfeitamente de qual ocasião ele se referia. Principalmente quando eu também me pegava pensando vez ou outra no que não havia acontecido.
— Eu já te disse... – mexi minha mão o suficiente para pegar o cupcake em minhas costas.
— Isso não me impede de continuar pensando. – passou a língua nos próprios lábios. – Não me importo com o seu mantra, no momento eu só estou pensando no que nós não resolvemos.
— ...
— Não diga que você não esteve pensando nisso também.
— E faria diferença? – eu ri. – Sou uma roadie e você um astro do rock, estamos em mundos diferentes.
— Não por muito tempo. – ele murmurou. – Um beijo, , é só isso.
— Apenas isso?
— E nada mais.
— Tudo bem.
Eu o encarei, esperando que ele se pronunciasse sobre isso. Ele parou por algum tempo, procurando algum sinal de hesitação e, quando não encontrou, apenas levou a mão livre em direção à minha cintura e me puxou contra seu corpo. Eu engoli em seco, esperando que ele se aproximasse. Os segundos seguintes se passaram rápido demais para que conseguisse processar. Em um momento ele estava próximo e no seguinte, eu estava esfregando o cupcake cheio de chantilly em seu rosto.
— Você tinha que estragar o clima, não é? – ele fechou os olhos, sorrindo com frustração enquanto limpava a cobertura azul dos olhos. – , eu te odeio. – ele soltou uma risadinha.
— Te disse que teria volta.
— Você é má. – ele balançou a cabeça negativamente. – Eu gosto.
— Está bem óbvio. – eu joguei meus cabelos para trás, deixando o cupcake sem cobertura no balcão. – Tchau, . – murmurei, ficando na ponta dos pés para depositar um beijo cuidadoso em sua bochecha, sujando a ponta de meu nariz. – Nos vemos qualquer dia. – passei ao lado de e senti seus dedos encostarem nos meus, impedindo-me de continuar meu caminho.
— Obrigado. – ele me encarou, acariciando o topo de minha mão com o polegar. – Até mesmo por essa merda na minha cara.
— Sempre que precisar.
Balancei minha cabeça, batendo continência antes de me desvencilhar de duas mãos e voltar a fazer o meu caminho em direção à sala, onde Griffin já me esperava com as chaves em mãos. Me despedi dos outros meninos e de Cassie, a abraçando com força antes de finalmente entrarmos no carro voltarmos para casa.
Capítulo 09 - A Resposta
“gajang nadaun sige daeibeul hago
jeonbuin neoreul wihae
naega naerin haedabeul jwo”
(Eu me insiro na equação que é mais parecida comigo
Para você que é o meu tudo
Eu dou a resposta que criei)
— Outro: Her, BTS
Três anos antes
Los Angeles, CA
— Mais agressivo, !
A voz de George invadiu meus ouvidos pelo que parecia ser a décima vez somente naquele maldito dia. Estávamos no processo de gravação das músicas do álbum há pouco menos de um mês e quase todas as linhas de instrumental já haviam sido gravadas, com exceção de uma linha ou outra de piano e violão. Entretanto, os vocais se mostravam ser um problema gigantesco para George, nosso preparador vocal. Era a trigésima tentativa de acertar o tom para O Término e, naquele ponto, eu considerava jogar a cadeira próxima de mim contra o vidro da cabine de gravação.
— Vai se foder, George, eu perdi a conta da quantidade de vezes que passamos esse mesmo maldito trecho. Até os outros caras estão cansados – apontei para Tommy, que cochilava contra o ombro de Griffin. – Olha essa porra atrás de você.
— Se você se esforçasse para acertar a linha da mesma forma que você acabou de me xingar, já teríamos saído daqui três horas atrás. – ele se curvou contra o microfone mais uma vez. – É só você se esforçar e fingir que gostaria dessa música no álbum e nós terminaremos.
— Minhas opiniões sobre isso foram claras desde o começo, não é como se essa música fizesse o mínimo de sentido dentro da história do álbum. É trap, cara, vocês deveriam ter vendido essa merda para algum dos outros diversos cantores do gênero. – bufei, massageando minhas têmporas. – Quer saber? Foda-se, vamos terminar essa merda de uma vez antes que eu destrua tudo.
Eu bufei, sentindo meus dedos tremerem com o excesso de cafeína. A este ponto eu já estava me sentindo quase como quando estávamos em turnê. Respirei fundo, colocando os fones em uma das orelhas e escutando o instrumental novamente, realizando a contagem antes de entrar com a linha.
— Mas você se foi então foda-se, eu sou um jogador. Eu sou tudo o que você queria, mas você estava com medo.
Continuei a letra sendo motivado pelo puro e genuíno ódio do homem ao outro lado da cabine, finalmente retirando os fones de ouvido quando recebi a aprovação dos caras na mixagem. Suspirei novamente, verificando o relógio em meu pulso. Eram pouco mais de duas da tarde e dali algumas horas teríamos que ir até o estúdio de gravação da Buzzfeed para uma entrevista. Joguei os fones em cima da mesa ao lado do microfone, saindo da cabine de gravação.
— Se virem, eu estou indo embora. – avisei, chutando os pés de Griffin na mesa de centro para acordá-lo. – Vamos lá, cara, eu estou fodido de fome e preciso comer algo antes de irmos para o estúdio.
— Finalmente, porra. - Griffin bocejou, dando uma cotovelada em Tommy para acordá-lo. Ambos se levantaram e Donnie os acompanhou, seguindo para o corredor do prédio.
— Puta merda, eu achei que não sairíamos daqui hoje. – Donnie riu, passando a mão em seu rosto. – Cara, George está insuportável.
— Claro, ele ganha dinheiro sempre que a gente produz álbum. Nós demoramos dois anos desde o último ano, sabe? O cara quer comer nosso fígado, a gente quem garante a alimentação dele. – Tommy riu. – Ele está se vingando de você, .
— Vai se foder. – dei com o dedo, procurando pelos óculos no bolso de minha camisa antes de colocá-lo em meu rosto. – Ele é sortudo o suficiente de não ter ganhado uma demissão depois dessa merda.
— Ui, perigoso. – Donnie debochou.
— Não fode. – rolei os olhos. – Você falou com sua prima hoje?
— Eu tenho cara de quem fica rastreando o que a faz? – Griffin abaixou seus óculos, apertando o botão e chamando o elevador. – Ela provavelmente deve estar passando o dia na frente de um computador, é isso que ela faz nas férias.
— Poderíamos almoçar na casa dela. – sugeri.
— Oh, ... – Donnie murmurou. – Você realmente está apelando neste nível?
— Elabora, Dominic. – adentrei o elevador e os homens fizeram o mesmo.
— Ela nunca te convidou para ir até a casa dela e agora você está morrendo de vontade de conhecer a sua humilde residência.
— E você por acaso sabe? – franzi o cenho.
— Sim, o Griffin também.
— Ele não conta. – rolei os olhos. – Espera, você sabe?
— Eu também sei. – Thomas disse, como se a informação não fosse nada demais. Eu virei meu rosto em sua direção, um sentimento estranho subindo por meu corpo sem que eu pudesse ao menos me controlar.
— Você o quê? – indaguei, encarando-o. – Eu sou o único que nunca pisou os pés na casa da ?
— Vocês honestamente acharam que eram os únicos a pedir ajuda dela para composições? Qual é! – Tommy se defendeu. – Eu perguntei se ela poderia me ajudar no aniversário da Cassie e ela aceitou, trabalhamos em alguns projetos meus durante esse período. – ele deu de ombros. – Mas eu fui umas duas vezes, só.
— Seu mentiroso, desgraçado.
— Não menti, vocês que nunca perguntaram. – ele deu de ombros.
— Olha, não acho que seria uma boa ideia. – Griff finalmente se pronunciou. – consegue ser bem arisca quando se trata de sua casa e eu não quero ser assassinado.
— Tá me zoando, né? – o encarei. – Você realmente está com medo da ?
— Você diz isso porque não viu como ela ficou da última vez que eu fui até a casa dela sem avisar. – ele ergueu a sobrancelha e nós saímos para fora do prédio. Avistei alguns paparazzis do outro lado da rua tentando conseguir uma foto nossa. Rolei os olhos e mostrei o dedo do meio.
— Pare de ser covarde, ‘tô ligando para ela.
Entrei no banco do carona, tirando o celular do bolso e desbloqueando a tela. Procurei pelo contato de e cliquei nele, esperando, levando o aparelho até a orelha enquanto ele tocava. Foram necessários pouco mais de quatro toques antes dela finalmente responder a chamada.
— Oi, . – eu conseguia escutar os barulhos de cliques de teclado e mouse no outro lado da linha. – O que aconteceu?
— Nada, Estrelinha. – impliquei, encarando Griffin enquanto ele dirigia pela avenida. – Está em casa?
— Depende, para vocês não. – Ouch.
— Uau, coração, assim você machuca meus sentimentos.
— Não fode. – reclamou. – Fala logo o que você quer.
— Estamos com fome e sem nada para fazer, temos três horas para matar antes de irmos gravar, podemos ir até sua casa? – ficou em silêncio por um longo período antes de soltar um suspiro.
— Certifiquem-se de que não tem nenhum paparazzi seguindo vocês, eu realmente não quero ter que lidar com uma multidão de pessoas na porta da minha casa quando vocês saírem.
— Obrigado, coração, mas precisamos levar algo?
— Não, tchau, . - E, sem nenhum aviso prévio, desligou a chamada.
— Ela disse sim, podemos ir até lá. – confirmei com Griffin. – Passa em alguma loja, preciso compensar de alguma forma por ter estragado o dia dela.
— É melhor mesmo.
A casa de era maior do que eu esperava que seria e, de certa forma, combinava estranhamente com a sua personalidade. Ela morava em um condomínio fechado em Lakewood, em uma casa de dois andares com sacada e janelas de vidro azul. Griffin parou o carro no meio fio, desligando-o. Descemos do automóvel e paramos em frente sua residência, esperando pelo baterista. Ele suspirou, tirando seu molho de chaves e parando diante da porta de entrada para abri-la e adentrar o ambiente.
O lado de dentro da casa de era tão surpreendente quanto o lado de fora. Extremamente organizado, com paredes pintadas em cinza escuro e branco, as únicas cores da casa eram a mesa de centro e a estante amarela amarrotada de livros. Um cheiro agradável de comida invadiu minhas narinas, o que fez com que meu estomago reclamasse consideravelmente.
— ! – Griffin gritou. – CHEGAMOS.
— Por Deus, garoto, você poderia não gritar? A casa não é tão grande. – reclamou, finalmente saindo de uma das portas e dando o ar da graça. – Oi, gente.
Ela sorriu, visivelmente desconfortável. O que me fez pensar se ela era acostumada a levar visitas em sua casa. Seus cabelos estavam presos no topo de sua cabeça e cachos caiam por seu rosto, ela usava uma camiseta de banda que era o dobro de seu tamanho e shorts de academia, o que me fez lutar contra a vontade de encarar suas belíssimas pernas.
— Ei, . – Griffin andou até ela, depositando um beijo em sua bochecha.
— Oi, Griff. – ela sorriu novamente, dessa vez menos forçadamente. – Então, fiquem à vontade, eu estou terminando a lasanha e volto em um segundo.
— A casa dela é maneira, né? – Donnie sussurrou.
— É a cara dela, na real.
Andei em direção à estante de livros no canto da sala, lendo alguns títulos. A maioria deles tratavam sobre teoria musical ou produção e mixagem, alguns raros eram de literatura, predominantemente clássicos. Vasculhei mais alguns títulos, encarando o amontoado de cadernos pautados para partitura que era divididos por anos. E então eu cheguei no ponto em que havia comentado meses antes. Havia dois porta-retratos na segunda divisão da estante: um de uma família de três membros e uma com quatro.
A segunda eu reconheci como sendo Leo, Scarlett, Griffin e ainda crianças. Os cabelos dela estavam presos em dois coques no topo de sua cabeça e ela fazia uma careta para a câmera junto com Griffin. A primeira levou um tempo para que eu reconhecesse. Era com seus pais. A mulher tinha as mesmas características da roadie, principalmente o sorriso carinhoso que eu havia visto nela diversas vezes. estava sentada no colo de sua mãe e, em seu lado oposto, estava um homem na casa dos quarenta anos que seria o típico estereótipo de um homem da fazenda com sua camisa xadrez.
— O almoço já está pronto, pessoal. – escutei sua voz próxima de mim e os passos apressados dos outros rapazes indo em direção à cozinha. – Você não vai comer?
— São seus pais? – apontei, finalmente levando minha atenção até seu rosto.
— Uhum. – murmurou. – Essa foto foi tirada pouco antes das sessões de quimio da minha mãe, estávamos bem positivos quanto à recuperação. Eu tinha outras, mas essa era a que mais mostrava como ela era. – cruzou os braços, sorrindo de canto.
— Você é a cara dela. – eu observei. – Vocês têm o mesmo sorriso também.
— Eu sou uma cópia da minha mãe, a única coisa que peguei do meu pai foi o potencial de vicio em bebida e café. – ela riu, pegando o porta-retratos e acariciando o rosto de sua mãe. – Acho que você gostaria dela, ela tinha esse poder de iluminar o ambiente em que estivesse.
— Eu gosto da filha dela, acho que não gostar dela seria muito vacilo da minha parte. – voltou o porta-retrato no lugar.
— Você poderia dizer isso novamente? Eu esqueci de gravar. – ela brincou, procurando pelo celular no bolso do short.
— Babaca.
— Cuzão.
— Estrelinha. – provoquei, o que a fez rolar o olhos.
— Ei, pombinhos, será que vocês poderiam parar com as juras de amor e vir logo? Temos uma entrevista daqui algumas horas. – Donnie gritou da cozinha.
— Vamos lá.
balançou a cabeça, desenhando o caminho em direção à cozinha. O cheiro de comida caseira tomava conta do ambiente e a mesa estava meticulosamente arrumada com panelas e tigelas por todos os lados. A roadie havia feito comida o suficiente para um esquadrão de soldados e eu não estava surpreso, considerando os trogloditas que eu chamava de amigos.
Fiz meu caminho em direção à pia, lavando minhas mãos e as secando antes de pegar um prato e distribuir a comida nele, me sentando na mesa ao lado dos rapazes. havia feito mac n’ cheese, lasanha e salada. Todos bonitos o suficiente para que eu conseguisse enxergar que ela havia se esforçado para fazer a comida ao invés de somente escolher produtos semiprontos e jogar em uma panela.
— Por Deus, , isso tá muito bom. – Donnie comentou, fechando os olhos.
— Obrigada. – ela sorriu, colocando uma quantidade considerável de salada em seu prato. – Foi feito com todo o carinho do mundo para os amores da minha vida. – ela sorriu, sentando-se ao meu lado. – Fico feliz que tenham gostado, tentei meu melhor considerando que vocês avisaram em cima da hora. – alfinetou.
— Culpe o , ele quem estava desesperado para conhecer a sua casa. – Griffin comentou, dando uma garfada no prato. Chutei seu tornozelo, fazendo-o me encarar. – Ouch!
— estava obcecado... – se pronunciou. – Passava noventa por cento do seu dia pensando na minha casa e os outros dez por cento ele torcia para que alguém viesse até a minha casa para que ele viesse também.
— Você não fez... – deixei o garfo encostado em meu prato, encarando-a
— Ah, eu fiz. – ela riu, sendo acompanhada por Donnie.
— Eu odeio vocês. – balancei minha cabeça, incapaz de segurar o sorriso se formando em meu rosto.
— Odeia nada, você ama nossa companhia. – Dom finalizou o prato, colocando os talheres acima deles. – Obrigado pela ótima refeição, princesa. – ele se levantou com o prato em mãos, depositando um beijo carinhoso na bochecha de antes de fazer o caminho em direção à pia.
— De nada.
— Você recebe visitas com muita frequência? – Griffin deu uma leve engasgada com seu prato, chamando minha atenção. – O que foi?
— é extremamente desagradável quando o assunto é visitas em sua casa.
— Quem vê pensa que eu coloco armadilhas na porta para que ninguém me visite. – rolou os olhos. – Eu só... Gosto de ter o meu espaço.
— Ela se recusa a morar comigo mesmo a minha casa sendo o triplo do tamanho.
— Porque eu gosto de ter o meu espaço. – se defendeu.
— Porque você odeia pessoas entrando e saindo de casa. – corrigiu Griffin.
— Briga de família, me sinto assistindo um episódio de Dr. Phill. – Thomas se jogou contra a cadeira.
— Você vai mesmo usar essa carta? – ela franziu o cenho. – Griffin, eu não quero.
— Por quê?
— Não vamos ter essa conversa agora. – deu de ombros, simplesmente cortando o assunto. – De qualquer forma, eu não tenho uma quantidade grande de amigos e quem mais vem aqui é a Sabrina, então eu não recebo visitas com frequência.
— Saquei. – balancei a cabeça. – E seu namorado? – amaldiçoei mentalmente a pergunta, recebendo os olhares dos outros em minha direção.
— Você está interessado em saber se tem competição? – engoli em seco, deixando o garfo repousar em meu prato. – Eu não namoro. – explicou. – Nunca fico em um lugar por muito tempo e eu não gosto da ideia de namoros à distância, então não namoro.
— Você deveria aprender com ela, . – Thomas alfinetou. – Vai dizer que seus namoros não terminaram pelo mesmo motivo?
— Terminaram porque eu... – uma voz me interrompeu antes que eu pudesse finalizar.
— Ele precisa de uma terapia. – Griff sorriu em minha direção. – E ele precisa se manter sóbrio, você não pode ter os dois.
— Podemos mudar de assunto? – murmurei.
— Como vão as gravações? – voltou a se pronunciar, finalmente finalizando seu prato.
— George quer nos assassinar. – comentei
— Eu imagino. – ela se levantou, pegando os pratos vazios de Thomas e Griffin. – Ele não costuma ser uma pessoa muito maleável.
— Você o conhece? – Thomas franziu o cenho.
— Conheço pelo que as pessoas dizem dele, nunca o vi pessoalmente. – deu de ombros, colocando os pratos na pia. – Enfim, se vocês quiserem jogar algo até irem embora podem usar o PS.
— Eu te amo. – Donnie riu, levantando-se e indo em direção à sala. Thomas e Griffin fizeram o mesmo.
— Valeu pelo almoço. – agradeci, levantando-me para colocar o prato na pia e começar a lavar a organizar os pratos na lavadora de louças.
— Por nada, obrigado por ajudar a organizar. – ela começou a desfazer a mesa. – ?
— Sim?
— Eu aceito.
— , você poderia elaborar as suas frases? É difícil entender sem um contexto.
— Eu aceito gravar o álbum com vocês.
Eu aceito gravar o álbum com vocês.
As sete palavras que eu mais havia esperado para ouvir desde que havia implorado para que ela me ajudasse em minhas composições. Uma resposta para uma simples pergunta. Uma confirmação de que havia deixado qualquer hesitação e finalmente aceitado que ela era mais que “só uma roadie”. Não consegui segurar o sorriso de meu rosto ao finalmente respondê-la.
— Porra, finalmente.
Eu estava incapaz de sequer esconder o sorriso satisfeito em meus lábios. A felicidade em meu peito me deixava com vontade de agarrar a mulher à minha frente e girá-la em um abraço forte o suficiente para livrá-la de todas as inseguranças. Mas eu me contive, me satisfazendo apenas com minha mão em seu ombro, apertando-o carinhosamente enquanto me encarava com o sorriso mais tímido que eu já havia a visto carregar em seu rosto.
— Nós vamos fazer história com esse álbum, .
Capítulo 10 - O Álbum
“Want to hold you in my arms
But you want nothing to do with me, Ma Cherie.”
(Eu quero te segurar em meus braços
Mas você não quer nada comigo, minha querida)
— Ma Chérie, Palaye Royale
Los Angeles, CA
Três anos antes
O primeiro dia do resto da minha vida.
Essas foram as exatas palavras de Griffin quando, em meio a um rompante comemorativo, ele invadiu minha sala segurando balões de gás hélio e um bolo na mão livre. Bolo esse que por pouco não se espatifou no chão da minha sala quando ele passou com dificuldade por ela. O ponto era que Griff estava tentando o seu melhor no papel de familiar de suporte e eu – por mais que tivesse achado a cena ridícula – apreciava cada pedacinho do seu esforço. Por isso, quando sentamos, ele, Sabrina e eu em minha cozinha, eu o encarei como se ele pudesse me salvar da forca.
— Nem vem, você não vai desistir. – ele levantou o dedo em riste. – Foi um parto para conseguirmos, não ouse deixar tudo isso em vão, beleza?
— Eu concordo com Griffin. – Sabrina me encarou com sua melhor imitação de um sorriso psicótico, o que só a deixou fofa graças às bochechas rechonchudas. – sou sua fã desde quando você tocou piano pela primeira vez, não vou deixar você desperdiçar essa chance por nada. Nem que para isso eu tenha que te prender com silver-tape no banco do carro do Griff.
— As ameaças aqui estão... Sérias, né? – eu ri, nervosa, encarando o meu pedaço de bolo. – E se eu não conseguir?
— Ah, você vai. – Brina segurou minha mão, acariciando-a. – Ou eu vou te zoar pelo resto da sua vida. – ela sorriu amavelmente.
— Deus.
— De qualquer forma, só fica tranquila. – meu primo sorriu, segurando minha mão livre. – O ponto é: você vai basicamente estar em casa, todos nós vamos estar lá para te dar suporte moral, você não precisa se apavorar.
— Fácil para você falar, rockstar. – eu me levantei, pegando a sobra do bolo para guardá-la na geladeira. – Você não precisou se livrar de pânico de palco.
— Não mesmo. – ele sorriu. – Mas olha para mim, , eu tenho um e sessenta de altura, Deus castigou o suficiente me transformando em pintor de rodapé, ele não castiga duas vezes.
— Vou estar lá para te dar suporte também, pedi para Ashleigh. – minha melhor amiga sorriu. – Quero estar lá quando você fizer seus primeiros agudos gravados.
— Se eles serão bons, aí já é outra história. – eu sorri, encarando meu relógio. – As gravações começam em quarenta minutos, podemos ir? Quero evitar o trânsito.
— Sim, senhora. – Griffin se levantou, colocando as mãos nos próprios bolsos. – Vamos lá, estrelinha, é hora de brilhar. – e, com um aceno de cabeça, desenhamos o caminho em direção ao lado de fora de minha casa.
Griffin estava errado.
Estar em um estúdio de gravação com a Rowdy conseguia ser a pior experiência que eu já havia adquirido nos últimos três anos em que estive ao lado deles. A energia era caótica, os meninos ficavam gritando de um lado para o outro enquanto jogavam bolinhas de papel. Cassie ria divertidamente com as tentativas de me distrair de e , que basicamente consistiam em gracinhas e piadinhas de pior qualidade, forçando a tensão para fora de meu corpo conforme eu me concentrava em acertar afinação do meu dueto com .
Estávamos na sétima tentativa de achar uma nota que fosse aguda o suficiente para contrastar com o grave de . E eu já estava começando a ficar frustrada com toda a situação. Respirei fundo mais uma vez, tomando um gole da garrafa de água próxima da mesa ao meu lado antes de parar diante do microfone.
— Podemos tentar de novo? – franzi o cenho, encarando as pessoas que estavam do outro lado do vidro.
— Temos o dia todo, não tenha pressa de acertar. – George sorriu amavelmente. – aqui levou uma manhã inteira para acertar uma linha, não se preocupe.
Consegui enxergar a expressão de mudar radicalmente para o que seria análogo à tentativa de matar alguém com a força do pensamento. Eu sorri de canto, fechando meus olhos e segurando uma das orelhas do headphone, escutando o metrônomo contar o tempo antes de começar a estrofe novamente.
— Eu estou fora da minha cabeça? Eu estou fora da minha mente? – me esforcei para subir a nota o suficiente para que ela não fosse considerada uma nota de cabeça. – Se você soubesse das coisas ruins que eu gosto, não pense consigo explicá-las. O que posso dizer? É complicado.
Terminei as estrofes, abrindo meus olhos para encarar as pessoas ao outro lado do vidro. George carregava um sorriso satisfeito em seus lábios enquanto me encarava. Ele se apoio na mesa de mixagem, apertando o botão que liberava o microfone e então sua voz invadiu a cabine de gravação.
— É isso, . – ele sorriu. – Agora o entra, vamos começar a acertar os backing vocals antes de ir para o resto das músicas, já que ele deixou claro que pretende fazer um single dessa belezinha.
A voz de George estava animada e era quase como se o produtor estivesse pronto para sair saltitando a qualquer momento pelo estúdio de gravação. Eu sorri, deixando o fone repousar em cima do suporte antes de andar em direção ao banco do piano com minha garrafinha de água.
adentrou a cabine, carregando a própria garrafa de água nas mãos ao andar até mim. O sorriso estampado em seu rosto demonstrando algum tipo de emoção, longe do que eu já estava acostumada quando se tratava de . Ele passou as pernas uma de cada lado do banco, sentando-se de frente para mim com a garrafa entre nós.
— George disse que vai te dar dez minutos para descansar antes de seguirmos. – disse. – Sabrina e Griffin pediram comida, acabaram de descer pegar.
— Ótimo, eu só comi uma fatia de bolo antes de vir, estava com medo de vomitar de nervoso. – eu ri fraco, encarando o tapete no chão. – Imagine esse tapete caríssimo todo manchado de ácido estomacal.
— Ew. – fez uma careta e eu desatei a rir. – , você é nojenta.
— Você quem me deu abertura para fazer piadas e agora está reclamando? Qual é, você é quem vivia fazendo piadinhas sexuais.
— Piada com vômito é demais até para mim. – ele ainda carregava a careta no rosto. – Merda, não consigo deixar de imaginar a cena. Porra, porra, porra.
— Fresco. – dei de ombros, dando mais um gole da minha água. – Ei, queria te mostrar algo que compus um tempo atrás.
— Vai lá, estrelinha, temos uma sala com diversos instrumentos.
Eu sorri, assentindo, e deixei minha garrafa repousando na mesa ao lado do microfone, pegando o violão no suporte no lado oposto da sala. Puxei a cadeira parada ao lado dele, repousando-a ao lado de antes de me sentar nela e trabalhar na afinação do violão até me sentir satisfeita.
— Ainda não está pronta.
— Ok, vai lá. – ele se sentou de frente para mim, encarando-me enquanto eu tocava os acordes no violão.
— Você é o café que eu preciso durante a manhã, você é o meu raio de sol na chuva quando ela está caindo. – brinquei com os acordes, encarando-o. estava concentrado em mim. – Você não vai se entregar para mim? Eu só quero ver o quão bonito você é. – fechei os olhos, finalizando os acordes. – E aí?
— Uau. – ele pigarreou. – Não está terminada?
— Ainda não. – eu ri. – Estou esperando por momentos de inspiração para terminar, essa música é um pouco mais romântica do que eu estou acostumada, é difícil. – eu ri fraco, abraçando o violão.
— Você parece estar tirando isso de letra. – ele sorriu.
— Porque você não viu o processo criativo por trás disso. – eu parei. – Oh, verdade, você viu sim.
— Cabelos bagunçados, muita cafeína e noites sem dormir. – ele pontuou. – Me lembro como se fossem memórias de guerra, horrendo.
— Eu te entreguei um álbum assim, não entreguei? – arqueei uma de minhas sobrancelhas, o que fez com que ele assentisse positivamente antes de se pronunciar novamente.
— Você tem um ponto.
se esticou para pegar o violão de meus braços e eu entreguei. Ele se levantou, andando em direção ao suporte para colocar o instrumento ali, permitindo-me observá-lo silenciosamente durante o processo. Seus cabelos bagunçados lhe davam um ar descolado. O cheiro do seu perfume dançando pelo ambiente como se ele lhe pertencesse. O vocalista havia mudado. Havia se tornado um pouco mais divertido e, por mais que eu odiasse admitir, sentia que o carinho que eu sentia pela banda agora se estendia ao homem que andava em minha direção.
havia me dado todo o suporte necessário para que eu estivesse sentada em um estúdio de gravação como um artista desejada ao invés de uma estagiária de produção. Mesmo que a princípio a insistência tivesse sido irritante, naquele momento eu conseguia enxergar algo mais que apenas o vocalista problemático que tabloides insistiam em vender. Eu enxergava um pai que se esforçava para ser presente, um amigo que tentava ao máximo ajudar as pessoas que ele se importava e, principalmente, uma pessoa que lidava com tantas inseguranças que isso o impedia de enxergar novas aproximações como algo diferente que o interesse e a conveniência.
— E aí, como está sendo o processo? Nervosa?
— No começo, sim. – estiquei minhas pernas. – Mas agora eu estou um pouco mais calma, acho que faz parte, né?
— Você se acostuma com a loucura. – deu de ombros. – O que você nunca se acostuma são as turnês. Você vai ver quando começarmos, é uma loucura.
— Quando começarmos? – comecei a sentir o nervosismo se esforçando para sair por minhas entranhas. – Como em “nós vamos ter uma turnê juntos”?
— Exatamente o que você escutou. – engoli em seco. – Você vai ser nossa participação na próxima turnê, sei que você ainda tem dificuldades com públicos grandes, mas achei que poderíamos achar um jeito de te deixar mais confortável com a ideia até lá. Tentar ensaios mais cheios, sabe?
— Você quer me matar? – indaguei. – Tipo, literalmente, você está tentando me fazer ter um ataque cardíaco? Eu não vou conseguir.
— A turnê vai demorar. Estamos finalizando o álbum, adicionando os seus vocais e os instrumentais restantes, a média é quinze dias para a mixagem e detalhes finais, então podemos chutar um pouco mais de tempo para o lançamento. E então festa de lançamento, organização de turnê, deixe para se preocupar com isso quando estiver na porta. – ele me encarou com seriedade. – Eu ‘tô falando sério, , deixa para surtar quando o contrato de turnê estiver em suas mãos.
— Mais fácil falar do que fazer, rockstar. – rolei os olhos. – Tá vendo isso? – apontei para o meu olho. – Ele está tremendo de nervoso.
— A comida chegou, pombinhos. – a voz de Dom invadiu nossos ouvidos. – Se não vierem, Cassie vai comer tudo. A garota é um monstrinho com muita energia e fome.
— MENTIROSO, VOCÊ DISSE QUE IA COMER TUDO. – a voz de Cassie gritou no fundo, me fazendo soltar uma risadinha divertida. Meu Deus, como eu amava essa criança.
— Vamos lá, estrelinha, você precisa comer para aguentar o tranco dos próximos meses. – se levantou, me chamando com a cabeça antes de eu ir me levantar e segui-lo para fora da cabine de gravação.
O processo de gravação havia sido mais tranquilo do que eu havia imaginado que fosse. Terminamos o meu dueto com em pouco menos de duas horas e os rapazes se juntaram para terminar os retoques instrumentais e vocais de algumas músicas, e, antes mesmo do pôr do sol, estávamos todos sentados em uma mesa enorme no Domino’s para uma pizza de comemoração. Pela primeira vez em dias eu estava tranquila, ao menos me importando com o importuno dos paparazzi que insistiram em nos seguir.
— Enfim, temos uma nova artista no grupo. – Thomas sorriu, levantando o copo com coca-cola. – Por , uma pequena estrelinha que se provou ser um maldito meteoro.
— Por ! – eles sorriram em uníssono, batendo os copos em um brinde desajeitado que quase terminou em refrigerante sendo esparramado por todos os lados.
— Eu estou tão feliz por você. – Brina me abraçou, depositando um beijinho em minha bochecha. – Amiga, você está traçando seu caminho ao estrelato, o quão doido é isso?
— O suficiente para me fazer ficar tonta. – eu ri. – As coisas mudaram rápido demais.
— Logo você vai estar acostumada, é a euforia do primeiro álbum. – Donnie sorriu. – Depois disso serão estádios lotados e, OUCH! – ele encarou . – Que porra?
— Estou tentando fazer com que ela não surte com a possibilidade, poderia não citar? – lançou um olhar irritado para o homem à sua frente.
— Obrigada, isso me deixa muito mais tranquila em relação a isso. – eu sorri, irônica. – Mas, falando sério, obrigada por me permitirem fazer parte do álbum. Sério, nunca vou conseguir colocar em palavras o quanto sou grata pela oportunidade. Vocês tornaram um sonho que eu nem sabia que tinha em realidade, vou ficar devendo.
— Poderia falar isso novamente, por favor? – puxou o celular, apontando a câmera em minha direção. – Preciso deixar a prova caso um dia eu precise usar isso ao nosso favor.
— Eu te odeio. – rolei os olhos, olhando para a câmera. – Eu, Graham , fico devendo uma para os membros da Rowdy. Esse vídeo pode ser usado somente como justificativa para pedidos relacionados à banda e nada mais que isso pelos próximos vinte anos, contando a partir de hoje. – parou de gravar. – Feliz?
— Oh, você não tem ideia do quanto. – ele guardou o celular. – Vou usar isso por meios legais.
— É melhor que seja. – adverti, sentindo meu celular vibrar em meu bolso. Peguei o aparelho, lendo o nome que tomava conta da tela. – Pessoal, preciso atender essa ligação. Com licença.
Sai da mesa calmamente, desenhando meu caminho em direção ao banheiro enquanto deslizava o dedo na tela para atender a chamada. O nome de Ashleigh tomando conta dela, me trazendo arrepios por todo o meu corpo. Memórias de guerra assombravam minha mente. Da última vez que o nome dela ou Cassie haviam aparecido em minha tela de notificação, normalmente era referente à .
— Oi, Ashleigh. – me mantive calma, já pensando na possibilidade de uma demissão iminente por boatos de um caso com .
— Oi, . – sua voz era aveludada e calma, o que só me deixava mais alerta. – Espero não estar interrompendo nada.
— Não, de maneira alguma. – engoli em seco. – Eu estou com os meninos na Domino’s, terminamos as gravações por hoje.
— Ah, perfeito! Era sobre isso mesmo que eu gostaria de falar. – escutei o farfalhar de folhas de papel ao fundo. – Preciso que você venha ao meu escritório amanhã às onze da manhã, pelo que eu chequei, a gravação é somente dos meninos nesse horário. Espero que não tenha estragado planos.
— De maneira alguma. – me encostei contra a pia de granito, fechando meus olhos. Era isso, ela havia descoberto os flertes de e agora eu estava ferrada. Minha demissão havia chegado. – Poderia adiantar o assunto, se não for pedir muito?
— Oh, querida... – ela soltou uma risadinha. – Precisamos tratar seu contrato como a mais nova artista da Capitol Records. Não podemos deixar uma artista como você dando sopa para que outra gravadora se aproprie, não é?
Capítulo 11 - Entrevistas
“Hard times
Gonna make you wonder why you even try.”
(Tempos difíceis
Vão te fazer pensar porque você ainda tenta)
— Hard Times, Paramore
New York City, NY
Dois anos e dez meses antes
O álbum havia sido finalizado.
O primeiro álbum desde a minha overdose, e a indústria musical estava circulando nossa banda e pessoas relacionadas a nós como abutres, tentando a todo o custo retirar uma informação valiosa de alguém. Uma dica, uma música vazada, um nome. Qualquer coisa que pudesse responder as dúvidas de milhares de fãs desesperados por notícias.
Por isso, quando finalmente tivemos uma data de lançamento, Ashleigh fez questão que nossa primeira entrevista fosse para o BreakFast Club Power da 105.1 fm. E lá estávamos nós, sentados no estúdio com DJ Envy, Charmalagne Tha God e Angela Yee.
— Bom dia, pessoal, aqui é o DJ Envy, Angela Yee e Charmalagne Tha God. Nós somos o Breakfast Club e hoje nós temos convidados especiais no prédio! – o homem sorriu, nos encarando. – Senhoras e senhores, Rowdy!
— Eles vão causar nos trending topics. – Charmalagne murmurou.
— E aí. – sorri, aproximando-me do microfone. – Eu sou o , vocalista da Rowdy.
— Eu sou Dominic, guitarrista solo.
— Griffin, baterista.
— E eu sou Thomas, o baixista.
— E como vocês estão?
— Estamos bem e vocês? – Griffin tomou o partido.
— Estamos bem! – Angela respondeu. – Mas vamos direto ao assunto, não? Depois de três anos sem um novo lançamento, surgiram boatos que o álbum está cada dia mais próximo. Inclusive temos um single chamado Bad Things, com uma artista iniciante, que vem tomando conta de todas as paradas desde seu lançamento há duas semanas atrás. O que vocês podem comentar sobre isso?
— Eu posso tomar a frente ou vocês querem comentar? – me virei para os meus amigos, esperando alguma objeção.
— Vai lá, cara. – Thomas sorriu.
— Bom, três anos é um tempo bastante tenebroso para uma banda ficar sem nenhum novo lançamento. – fiz uma pausa, tentando organizar os pensamentos. – Mas nós queríamos algo que fizesse com que a gente se sentisse plenamente satisfeito. Desde o começo, a Rowdy nunca foi sobre lançamentos, turnês, lançamentos e todo o ciclo novamente. E, honestamente, eu acho que fazer um álbum naquele momento não era o que nós queríamos, entende? Depois de toda a merda que aconteceu, só não era o momento para isso. – dei de ombros. – Mas nós já temos uma data: 16 de fevereiro, pessoal.
— Mais próximo do que nós imaginávamos que seria. – Envy sorriu. – Vocês podem dar uma prévia do que esse álbum vai tratar?
— Bom... – deixei Griff assumir. – Nós tentamos algo um pouco diferente do que normalmente produzimos, isso é algo que eu posso afirmar com toda a certeza. Nós encontramos uma artista que tem influências diversas e basicamente imploramos para que ela fizesse uma participação.
— E com imploramos ele está dizendo no sentido mais verdadeiro possível. – Donnie interrompeu. – Sério, precisamos de muita insistência.
— Uau. – Tha God riu. – Seria ? Acredito que ela foi a artista menos conhecida que entrou no hall das participações da Rowdy.
— Sim, . – Thomas concordou. – Ela foi um achado engraçado. era nossa roadie e nós descobrimos um pouco tarde que ela também tinha experiência com composição. E quando aconteceu, foi meio que impossível não tentar de tudo para que ela tivesse uma participação significativa.
— Então nós temos uma nova artista para o ramo, interessante. – Angela sorriu. – Mas, nos conte mais sobre o hiato de três anos, acredito que uma boa parte dos ouvintes gostaria de saber como foi o processo. – senti um arrepio subir por minha espinha. Havia sido a primeira vez que alguém havia me perguntado sobre a overdose e, naquele momento, eu tinha apenas duas opções: fugir ou continuar.
— Bom... – engoli em seco, sentindo os olhares dos meus colegas de banda em cima de mim, prontos para intervir a qualquer momento. – Acho que não há muito o que dizer. Eu tive uma overdose e precisei ir para a reabilitação por algum tempo. Eu er...- me corrigi. – Sou viciado em cocaína e heroína, não é como se eu pudesse acordar um dia e decidir “porra, vou parar”. É um buraco que você normalmente não sai vivo, se vocês entendem o que quero dizer. – respirei fundo, segurando a ponte do nariz e tomando uma longa pausa antes de seguir.
“Então eu vi pessoas ao meu redor sendo levadas por isso e eu quase fui levado também, isso foi mais que o suficiente para que eu acordasse e percebesse que estava em uma vala. E a merda estava sendo jogada em cima de mim, atingindo as pessoas ao meu redor como consequência. E aí veio a reabilitação e eu tenho estado limpo desde então. Treze meses de sobriedade. E, cara, é difícil para caralho. Eu tenho sorte de ter pessoas ao meu lado que me apoiaram e se importaram o suficiente para me apoiar nesse processo.”
— Uau. – Envy murmurou. – É a primeira vez que você fala tão abertamente em entrevistas sobre a reabilitação e a overdose, certo?
— Sim. – assenti.
— Então acredito que deveríamos fazer a pergunta que a maioria de nós vem morrendo para saber: como começou a sua jornada com as drogas? – a pergunta veio como um soco no estômago. Respirei fundo, encarando o copo de água que repousava próximo da minha mão.
— Eu...
Pausei, tentando procurar uma força que eu não sabia se tinha para continuar o assunto. Eu nunca havia me sentido tão exposto em toda a minha vida. Estava em uma encruzilhada que consistia entre ser bombardeado por diversos entrevistadores ou simplesmente ser honesto e fechar o ciclo infernal que havia sido o último ano com todas as perguntas rodando sobre o mesmo assunto.
— Honestamente? Existem infinitas razões para que eu fosse para esse caminho. – fiz uma pausa, bebendo um pouco da água antes de continuar.
“Nenhuma delas é realmente justificável, mas eu acredito que a principal razão foi para que eu pudesse aguentar o tranco das turnês. Quero dizer, turnês mundiais são os momentos que você meio que vai do céu ao inferno em questão de horas.
Em um momento você está em um estádio com mais de trinta mil pessoas e então você está em um avião indo para um país com um fuso horário totalmente diferente do seu para um show na mesma noite, entende? A rotina é aeroporto, turnê, aeroporto, turnê. Você mal consegue dormir. É uma loucura. É ótimo, eu amo turnês, mas tudo pode desandar muito fácil.
E foi aí que a merda começou a acontecer. De primeira eu comecei porque eu precisava permanecer acordado para tocar um show de uma hora e meia, tendo viajado por mais de dez horas de um fuso para outro. E então eu comecei com heroína porque eu precisava relaxar. Depois disso, nós sabemos o que aconteceu.”
— E como você vem lidando com as recaídas? – Charmalagne chamou minha atenção.
— Eu não tive nenhuma desde que sai da reabilitação, mas é um processo assim como qualquer outra coisa. E é uma merda, para ser bem honesto. Todo o dia é um dia novo e alguns deles são mais difíceis que outros, mas eu estou tentando.
— É ótimo saber disso, , ficamos felizes por você. – Angela sorriu terna em minha direção e eu assenti com a cabeça em agradecimento. – Mas, voltando ao álbum, vocês recentemente disponibilizaram a capa do álbum novo junto com o título. Bloom, certo?
— Isso. – Thomas assumiu a liderança e eu apenas permaneci observando e concordando. – Nós escolhemos esse nome porque é justamente a forma como nos sentimos depois de tudo o que aconteceu. O álbum é sobre poder nascer em um lugar e momento que não é realmente propício para crescimento.
— E isso faz uma referência à capa do álbum também. – Donnie continuou. – Nós temos o com todo o conceito da rosa com espinhos porque a ideia é justamente essa coisa de você ter que passar por momentos ruins para que você saiba valorizar os momentos bons. Aquela coisa de toda a rosa tem seus espinhos. É um álbum honesto, arrisco dizer que um dos mais pessoais que produzimos.
— Não que nós não falemos isso de todos os álbuns. – Griffin brincou, tirando uma risadinha dos apresentadores.
— Merda, agora ninguém vai dar o mínimo de credibilidade para a gente. – indaguei
— Não é como se nós fossemos levados à sério pela indústria de qualquer forma. – Griffin riu, dando de ombros. – Mas enfim, isso é tudo o que podemos dizer, então aguardem por fevereiro e nos digam suas opiniões. – meu melhor amigo sussurrou contra o microfone em sua pior imitação de um locutor de rádio.
— Jesus Cristo. – Thomas rolou os olhos. – Vê, é por isso que ninguém leva a gente à sério. Crianças.
— Ah, fica quieto. – Donnie o cortou.
E assim continuamos a entrevista, implicando um com o outro como se não fizéssemos isso o tempo todo. Eu odiava entrevistas e mais ainda o sensacionalismo midiático, mas os outros três membros da banda me faziam ficar um pouco mais confortável. Por isso, quando entramos no carro para irmos até o hotel, eu senti os olhares dos três patetas em cima de mim e me limitei a rolar os olhos e finalmente dizer algo que os faria ficar levemente alegres.
— Vamos lá, derrubem a merda em mim. – olhei para o retrovisor, esperando que os dois homens no banco de trás se pronunciassem.
— Estamos orgulhosos de você, cara. – Dominic murmurou, sorrindo de canto.
— É preciso coragem para fazer o que você fez, . – Griffin sorriu ao meu lado. – Parabéns, cara.
— Valeu. – murmurei, escutando o celular tocando no suporte. – Quem é?
— . – Griffin sorriu de canto, arrastando o dedo na tela para atendê-la. – Você está no viva-voz, .
— Oi, Griffin. – a voz dela soava meio distante e um pouco fanha. – Oi, meninos.
— Oi, . – Donnie e Thomas falaram ao fundo.
— Eu acompanhei a entrevista. – ela fez uma pausa antes de continuar. – Sei que você odeia isso, mas queria te parabenizar pelas palavras. Você tirou lágrimas de mim, não estou exagerando.
— Não é difícil, você faz isso o tempo todo. – provoquei, sentindo meu peito pesar com suas palavras. Merda, estava ficando boa em dizer coisas que me deixavam sem palavras.
— Suas provocações não vão diminuir meus elogios. – ela riu fraco. – Vocês também Griffin, Tommy e Dom. Foram incríveis, amo vocês.
— Você está dizendo isso porque nos abandonou. – Griffin implicou.
havia oficialmente deixado de ser a nossa roadie. Com a participação no álbum, Ashleigh sentiu que era hora de atualizar o contrato dela como a mais nova artista da Capitol Records.
Há um mês, se encontrava com uma agenda quase tão cheia quanto à nossa, visto que ela havia finalmente começado com os processos de composição de um EP de estreia antes de entregar o debut álbum. Havíamos comemorado a notícia com uma noite regada a pizzas e cervejas na sua casa, com direito a um campeonato de Counter Strike que acabou em ganhando de lavada de todos nós.
Entretanto, as coisas não estavam realmente agradáveis para mim. Durante o processo de gravação do álbum, minha vida se tornou um inferno ainda maior. Eu e havíamos nos aproximado e a tensão sexual conseguiu ficar ainda maior desde o ocorrido da balada. Qualquer mínimo ato que ela fizesse, era o suficiente para que eu quisesse encostá-la contra uma parede e beijá-la até que ficasse sem ar.
Em um resumo, meu voto de castidade estava sendo algo mais difícil de manter a cada dia, quase tanto quanto minha sobriedade. E eu estava me esforçando para não ser o cara que insistia depois do não. Apesar de saber que provavelmente se sentia da mesma forma graças à todas as vezes em que eu a flagrei me olhando como se pudesse me destruir com o poder de uma sentada. E, nesse exato momento, eu não me importaria se ela me colocasse em uma maldita coleira e fizesse comigo tudo o que fosse possível.
— Enfim, preciso ir. – ela soava triste. – A festa de lançamento vai ser no ?
— Sim, no dia quinze. – Griffin confirmou. – Começa às dez, já que vamos fazer a contagem até meia-noite.
— Beleza, nos vemos lá então.
— Tchau, . – os três homens ao meu redor disseram em uníssono.
— Até o lançamento. – murmurei, rezando para que ela me escutasse.
— Até, . - E então ela desligou a chamada.
O resto do caminho até o hotel foi tão barulhento como todas as outras vezes que estávamos juntos em um carro. Com os três marmanjos cantando músicas da minha playlist pessoal como se fossem adolescentes em uma roadtrip enquanto eu me afundava nos pensamentos que giravam ao redor de em minha casa, dividindo comigo um álbum todo. Deixei um sorriso orgulhoso tomar conta dos meus lábios, rezando para que Griffin estivesse distraído demais para perceber.
Merda.
me levaria à loucura.
Capítulo 12: O Lançamento
“I lose my voice when I look at you
Can’t make a noise though I’m trying to
Tell you all the right words
Waiting on the right words.”
(Eu perco minha voz quando eu olho para você
Não consigo fazer um barulho embora eu esteja tentando
Dizer-lhe todas as palavras certas
Esperando as palavras certas)
— Black Butterflies and Déjà-vu, The Maine
Los Angeles, CA
Dois anos e oito meses antes
Eu estava estática.
E eu tinha uma pequena ideia do porquê. Estávamos oficialmente no dia do lançamento do Bloom e nada me deixava mais apreensiva do que as reações dos diversos famosos ao nosso redor. Minha síndrome de impostor estava aos picos e nem mesmo o aperto orgulhoso de Sabrina em minhas mãos era capaz de me deixar melhor.
Respirei fundo, relembrando as palavras de minha psicóloga como se elas fossem algum tipo de mantra. Era só respirar fundo e soltar o ar. Era só o lançamento de um álbum. Se eu não fosse capaz, eles não teriam feito tudo o que fizeram somente para que eu participasse dele. Ou teriam?
Balancei minha cabeça, tentando ao máximo me livrar dos pensamentos negativos que tomavam conta de minha mente. Era um dia importante e eu não deixaria que tais pensamentos tirassem o sentimento de orgulho de mim. De maneira alguma. Por isso, quando finalmente entramos na sala enorme da mansão de , eu desenhei meu caminho diretamente para o bar, pedindo para o barman a coisa mais forte que ele tinha, em uma tentativa desesperada de me deixar menos insegura.
Sorri em agradecimento assim que o copo de whisky com duas pedras de gelo parou diante de mim, sentando-me no banquinho e dando um gole na bebida adocicada que desceu quente por minha garganta. Não muito tempo depois, senti uma mão em meu ombro, me obrigando a virar na direção da mesma e acompanhar sua dona enquanto ela se sentava no espaço vazio na minha frente. Os cabelos curtos e descoloridos em um tom de loiro faziam com que ela quase fosse confundida com uma versão de baixa estatura de . A mulher sorriu gentilmente em minha direção.
— Então você é a famosa ? – Ashley perguntou e eu senti que quase me engasguei com a bebida. – me mandou um pedaço da música que vocês fizeram em dueto, você é incrível para caralho.
Eu costumava dizer que não era facilmente impressionada por pessoas famosas e que já havia passado dessa fase, mas, neste cenário, eu deveria estar parecendo a maior fã histérica que a cantora à minha frente já deveria ter presenciado. Eu estava acostumada a trabalhar para pessoas como ela e ter uma delas elogiando algo que eu fiz era o suficiente para me deixar sem reação alguma.
— Eu... – engoli em seco, rindo fraco. – Obrigada? Significa muito para mim alguém como você elogiar o meu trabalho. – eu sorri e Halsey deu uma risadinha.
— Você travou e eu achei por um momento que tivesse te quebrado. – a loira riu. – Me passa seu telefone? Acho que podemos trabalhar em algo juntas qualquer dia desses. – ela me estendeu seu celular e eu apenas assenti, digitando os números na tela antes de devolver o aparelho. – Legal, eu te envio uma mensagem para vermos a sua disponibilidade, sim?
Eu assenti positivamente, vendo-a pular da banqueta antes de voltar a se perder entre os amigos de . Eu respirei fundo, virando o resto da bebida em meu copo antes de me esticar na cadeira o suficiente para procurar um rosto conhecido, sorri ao finalmente encontrar Griffin no outro lado do ambiente. Me enfiei por entre as pessoas, abrindo o espaço educadamente a medida em que eu me aproximava.
— E vocês não tem ideia do quão fácil foi para que ela topasse. – Griffin terminou a frase, olhando em minha direção. – Falando nela. Achei que você iria desistir. – ele abriu os braços, depositando um beijo no topo de minha cabeça enquanto me dava um abraço.
— Eu só precisava de um tempo sozinha para não surtar com a ideia da exposição, muito recente. – ri nervosa, encarando Leo. – Oi, pai.
— Vem aqui, nos deixe ao menos te abraçar. – Leonidas abriu um espaço entre ele e Scarlett e eu assenti, sentando-me entre o casal somente para ser bombardeada por abraços e beijinhos carinhosos em minha bochecha. – Nós estamos tão orgulhosos de você. Louise também estaria orgulhosa se estivesse aqui.
Leonidas sorriu e eu senti meu coração apertar com a possibilidade de ver minha mãe ocupando um lugar naquele sofá enorme, comemorando cada pequena conquista de um trauma que nunca haveria existido. Eu me permiti sorrir em resposta ao casal, passando meu braço por seus ombros como se aquilo fosse o suficiente para agradecer por tudo o que eles haviam feito por mim.
— Ela estaria. – concordei, segurando as mãos dos idosos ao meu lado.
— Estou ficando com ciúmes, Leo. – Griffin reclamou, sentando-se ao lado de Leonidas para abraçá-lo.
— Você estaria recebendo carinho se tomasse juízo e parasse de fumar maconha. – papai murmurou, olhando em seu rosto. – Mas você já está velho na coisa, começou agora.
— Depois de muito tempo. – Scarlett acrescentou. – Ela merece um pouco de atenção.
— Eu concordo. – Griff sorriu, orgulhoso. – Agora vocês têm dois músicos fodões em casa, o que acham disso?
— Acho que você poderia cortar esse cabelo. – Scarlett se esticou para passar a mão no cabelo dele. – Você fica tão bonito com o cabelo cortado.
— Mãe, é o estilo. – se defendeu, me fazendo soltar uma risada divertida.
— Porra, Griffin, eu estava te procurando que nem um otário. Você viu a maluca da sua prima por aí?
Escutei a voz de invadir meus ouvidos, o que fez com que meu peito pulasse pelo menos duas batidas. O vocalista estava com o celular em mãos e estava distraído com algo na tela antes de finalmente voltar sua atenção para as pessoas no sofá. estava excepcionalmente bonito naquela noite. Vestido de preto dos pés à cabeça com exceção da corrente prateada na gola da camisa, a visão era tão agradável quanto uma manhã chuvosa. Caótico e bonito. A definição perfeita para .
— Oh, você está aqui. – ele me encarou por longos segundos, só então prestando atenção nas pessoas ao meu redor. – Sr. e sra. Graham, eu fico feliz que vocês tenham conseguido vir. – ele sorriu, se abaixando para depositar um beijo carinhoso na bochecha de Scar.
— Não poderíamos perder nossos filhos trabalhando juntos.
— Com toda a certeza. – assentiu o vocalista. – Pretendem ficar de vez?
— Para quê? – Leonidas reclamou e eu passei seu discurso em minha mente. – Meus filhos não ficam em casa, prefiro ficar em uma cidade que conheço.
— Compreendo. – sorriu. – Vocês se importam se eu roubar por um momento? Preciso tratar com ela algumas coisas sobre álbum.
— Claro. – Leo sorriu, me dando espaço para que eu saísse do espaço entre eles. – E, ?
— Sr. Graham.
— Obrigado por trazer nossa menina de volta.
— Ela fez isso sozinha, eu só dei um pequeno empurrão.
encarou meu pai com um sorriso de canto e me encarou em seguida. Sua expressão longe de qualquer coisa que eu pudesse sequer decifrar em meio às diversas camadas que ele havia me permitido explorar nos últimos meses. Ele balançou sua cabeça para o lado em um chamado silencioso para que eu o seguisse. E assim eu o fiz, acompanhando-o até o andar superior de sua casa.
— O que aconteceu? – franzi o cenho, cruzando os braços.
— Você aconteceu. – agora ele estava irritado, não era difícil perceber. Eu havia me tornado bastante familiar com as mudanças sutis de humor no rosto do homem à minha frente.
— Elabore, por favor.
— Você está fodendo a minha cabeça desde o dia da balada. – arqueei uma sobrancelha. – E desde então eu não consigo ter um momento de paz sem que você acabe aparecendo de novo, de novo e de novo. – ele apoiou seu braço ao lado de minha cabeça, me fazendo sentir o peso da antecipação em meu corpo. – Eu ‘tô cansado pra caralho disso.
— É um momento de pura honestidade?
— É um momento em que eu ‘tô cansado demais de fingir que isso... – ele apontou entre nós dois. – Não está acontecendo, chame do que preferir.
— Olha, ...
— Não ouse vir com seu discurso de não se envolver com trabalho, nós dois já sabemos que a coisa já extrapolou todos os limites. Tanto os seus quanto os meus. – bufou. – Nós dois sabemos que sua carreira já não está em jogo quanto antes, então qual é a sua desculpa?
— Você é o melhor amigo do meu primo. – eu cruzei meus braços, respirando fundo antes de continuar. – Quando você ainda estava na fossa pela Alyssa, eu te disse que preferiria pedir para trocar a banda se um conflito de interesses acontecesse. O que você acha que aconteceria se Griffin descobrisse que eu estou pegando o melhor amigo e colega de banda dele? Para mim, isso é um conflito de interesses grande o suficiente.
— Griffin está tranquilo com isso. – ele rebateu.
— Você realmente não tem ideia do quão protetor Griffin é quando se trata de mim. – balancei a cabeça. – É melhor não deixarmos as coisas se misturarem, eu não quero ser a Yoko Ono da Rowdy.
— Eu tenho ideia do quanto ele pode ficar protetor, na França ele deixou bem claro. – suspirou. – Meu ponto é: eu estou disposto a lidar com o Griffin. Deus, eu estou disposto a lidar com Ashleigh e assumir a culpa por qualquer consequência se isso significar que o inferno que eu estou vivendo vai acabar.
— , eu... – minha frase foi interrompida antes que eu sequer conseguisse finalizá-la devido à uma voz nas escadarias.
— Ei, pombinhos. – Dom gritou, fazendo dar uma bufada irritada antes de recuar dois passos e encará-lo. – Já vamos começar a contagem, precisamos dos nossos vocalistas.
— Ótimo timing, Donnie. – rolou os olhos. – Vamos lá, estrelinha, é sua hora de brilhar. Podemos continuar isso mais tarde.
O vocalista sorriu, me oferecendo o seu braço para me acompanhar em direção às escadarias. Agradeci com o maneio de cabeça, entrelaçando meu braço e o acompanhando pelos degraus. E, como esperado, era o centro das atenções da festa de lançamento assim como os outros membros da banda. Eu me sentia como se estivesse em algum filme de comédia romântica onde eu havia tirado a sorte de poder me sentar com o grupinho de populares. A cada três passos, parava para cumprimentar pelo menos duas pessoas e o caminho que deveria levar alguns segundos acabou levando alguns minutos.
— Deus, é sempre assim? – eu abracei Griffin assim que parei ao seu lado no palco ao centro da sala.
— Sim, se acostume porque essa vai ser a sua realidade daqui em diante. – Griffin sorriu, apertando meus ombros carinhosamente. – vai começar o discurso, espero que você tenha preparado algo.
— Ninguém me disse que eu teria que falar para esse monte de gente famosa, Griff. – censurei, dando uma cotovelada em sua costela.
—Você teria aceitado se eu tivesse falado? – ele arqueou uma sobrancelha.
— Definitivamente não.
— Você já tem a sua resposta. – ele sorriu, me fazendo rolar os olhos.
— Boa noite, pessoal. – começou seu discurso, soltando uma risadinha. – Estamos oficialmente dois minutos atrasados, mas vamos fingir que isso não aconteceu e apenas seguir com isso, huh? – alguns gritos de concordância encheram o salão. – Bom, o Bloom está oficialmente lançado em todas as plataformas e eu preciso agradecer a esses caras aqui. – encarou cada um dos meninos com um sorriso no rosto. Uma das poucas vezes que ele sorriu sem ser de forma forçada. – Porque eles não desistiram de entregar um puta trabalho mesmo com as coisas que eu fiz no último ano.
“E agora, estamos comemorando um dos nossos melhores álbuns. Sei que eu digo isso em todas as festas de lançamento, mas nesse caso eu não poderia estar mais orgulhoso. Além disso, eu gostaria de agradecer publicamente à Graham . Sim, eu decorei seu nome completo para isso.”
Eu soltei uma risadinha divertida com as palavras de , rolando os olhos quando ele se apressou em se defender em relação ao meu nome completo. As pessoas da festa o olhavam atentamente e eu não estava diferente.
— Essa mulher foi uma reviravolta em minha vida, porque eu nunca esperei que ela tivesse um talento escondido. é uma pessoa muito antissocial. E ela odeia festas. E foi graças ao seu ódio por festas que um belo dia eu a vi cantando para Cassie no meu estúdio. – eu ri, balançando minha cabeça negativamente.
— Nunca fui antissocial, só não te suportava. – me defendi, tirando risadas das pessoas mais próximas.
— , não me interrompa, eu estou tentando ser grato aqui. ¬– ele ralhou. – Meu ponto é: essa mulher foi difícil de ser convencida e, graças à Cassie, nós finalmente conseguimos convencê-la. E esse foi o resultado: um puta álbum. Obrigado, , por nos deixar explorar seu talento e mostrá-lo para o mundo. Você é uma artista incrível, . Obrigado. E AGORA, VAMOS COMEÇAR ESSA FESTA!
Senti meus olhos queimarem com as lágrimas se formando e apenas coloquei minhas mãos em meu rosto, impedindo que a plateia enxergasse o quão abalada eu havia ficado pelas palavras de . Senti alguns braços me envolverem, trazendo o estranho sentimento nostálgico da primeira vez em que eu havia sido capaz de subir em um palco e tocar uma música sem perder meu almoço em seguida. Os gritos dos convidados rapidamente foram substituídos pelos acordes das músicas do Bloom, deixando somente o grupo de homens ao meu redor.
— Eu odeio você, . – deixei as lágrimas caírem por meus olhos deliberadamente. – Odeio todos vocês.
— Você sabe que me ama, . – sorriu, tomando a distância junto com os rapazes e me entregando um lencinho de seda que estava dentro de seu blazer. O peguei, usando-o para limpar as lágrimas
— Nós te amamos também, . – Thomas riu.
— Vamos lá, princesa, temos uma festa para aproveitar. – Griffin sorriu, depositando um beijo em minha bochecha antes de se dispersar com Tommy.
— Se precisar de algo, não hesite em me procurar. – Dom sorriu, apertando meu ombro antes de seguir Thomas e Griffin.
— Parabéns, estrelinha. – o vocalista sorriu de canto, se aproximando levemente. – Estou orgulhoso de você.
— Meu Deus, eu não te suporto. – rolei os olhos antes de dar dois passos em sua direção e acabar com o pouco espaço que havia sobrado entre nós, envolvendo seu pescoço com meus braços. congelou por alguns segundos antes de retribuir, envolvendo minha cintura. – Obrigada por isso, .
— É o mínimo que eu poderia fazer. – ele murmurou, se afastando o suficiente para que nossos rostos ficassem frente a frente. – Não acho que cheguei a dizer isso, mas você está linda hoje, . – ele sorriu. – Para alguém que vive à base de café, não dorme e se alimenta mal. – eu soltei uma risada, me lembrando das suas palavras na festa francesa.
— Você também está bem bonito para alguém que fuma feito uma chaminé e bebe como um opala. – soltou uma risadinha, rolando os olhos.
— Vamos lá, estrelinha, quero te apresentar alguns amigos. Você precisa começar a ter contatos na indústria além de nós.
E, com ambas as mãos em meus ombros, começou a me guiar entre as diversas celebridades que haviam marcado presença na festa de lançamento. Estar cercada por pessoas famosas nunca foi tão assustador. Ainda mais quando ele fez questão de me apresentar aos membros da Fall Out Boy, me fazendo segurar todos os impulsos de pular em direção de Patrick Stump e abraçá-lo por toda a eternidade. O sentimento reconfortante de finalmente ser o suficiente aos poucos tomando o lugar da insegurança que há muito eu havia demonstrado.
Shots de tequila nunca eram uma boa ideia.
Após algumas rodadas de shots propostas por Dom, boa parte dos convidados havia finalizado a noite. Alguns deles com o auxílio de outras pessoas, uma vez que apresentavam dificuldades de andarem sozinhos. Griffin foi um dos poucos que não havia participado, uma vez que havia tomado para si a responsabilidade de levar nossos pais de volta para casa. E agora, após boa parte dos convidados terem se retirado, eu me encontrava, depois de muita insistência para que me deixasse fazê-lo, colocando Cassandra para dormir.
— Dorme bem, sim? – eu depositei um beijo em sua testa, puxando o cobertor até a altura dos ombros da garotinha. – Vou pedir para que eles abaixem o som também.
— Obrigado, tia. – eu assenti, me levantando. – ?
— Sim?
— Você e meu pai estão namorando? – eu a encarei, engolindo em seco antes de sorrir em sua direção.
— Não, princesa. – eu voltei a me sentar ao seu lado na lateral da cama. – Eu e seu pai temos... Uma relação complicada. – eu sorri de canto. – Mas eu me importo com ele da mesma forma que me importo com você.
— Ah... – ela parecia desapontada. – Eu gostaria que você fosse minha madrasta. Papai gosta de você.
— Oh... – eu estava consideravelmente surpresa. – Ele gosta?
— Uhum, mas não diz para ele que eu te contei. – Cassie fechou os olhos. – Ele diz que você é legal e enxerga ele como algo mais que um problema. Ouvi ele dizendo isso em uma conversa com a tia Ash.
— Vai ser um segredo. – eu sorri, fazendo o carinho em sua bochecha. – Boa noite, baixinha.
Cassie ao menos me respondeu, os olhos fechados denunciando que ela já havia caído no sono. Me levantei novamente, tomando o cuidado de não fazer barulho algum ao sair para não a acordar. Voltei a olhá-la mais uma vez, sorrindo de canto ao sair do quarto e fechar a porta atrás de mim. A música já não estava tão alta quanto quando eu havia entrado no quarto.
(O que você diria)
If you could say
(Se você pudesse dizer)
Everything you needed to
(Tudo o que você precisava)
To the one you needed to?
(Para quem você precisava?)
Desci as escadas cuidadosamente, desviando de alguns copos vermelhos que haviam parado pelos degraus. Franzi o cenho, encontrando em uma missão falha de retirar Dom do sofá. Rolei meus olhos, me apressando nos degraus e indo até ele, encostando em seu ombro para chamar sua atenção.
— Esse inútil não quer sair do meu sofá, ele vai vomitar nele. – ele reclamou.
— Não ouse me chamar de inútil, seu babaca. OI... – Donnie gritou e eu me apressei em tampar sua boca.
— Cassie está dormindo, não faz barulho. – censurei. – Vamos lá, Dom, já passamos por isso antes. – eu tirei a mão de sua boca. – Precisamos ir até o quarto, seu melhor amigo é muito ciumento com o sofá.
— Shhhhh. – ele colocou o indicador na frente dos lábios. – Não pode fazer barulhooo. – sua voz estava arrastada. – O vai comer meu cu.
— Se você vomitar no meu sofá de vinte mil dólares, eu faço questão. – ralhou.
— Vem, vamos lá. – eu ignorei . – Você consegue se levantar?
— Sim, senhora. – ele se sentou no sofá, tombando levemente para o lado antes de segurá-lo. – Braços fortes.
— O que eu fiz para merecer isso? – riu, passando os braços de Dom em seus ombros antes de levantá-lo. – Você poderia...
Eu assenti e me coloquei ao lado livre de Dom, segurando seus braços antes de fazermos o caminho em direção ao quarto de hóspedes no primeiro andar. Foram passos vagarosos e vacilantes até chegarmos no cômodo, colocando o bêbado em cima da cama. Andei até no lado oposto do corredor, pegando um balde e colocando ele cuidadosamente ao lado de Donnie antes de finalmente sair do quarto com ao meu lado.
(Você brilha como um pôr do sol)
You come around
(Você chega)
I come undone
(Eu me desfaço)
Can’t find a sound under my tongue
(Não consigo achar som algum sob minha língua)
When I look at you
(Quando olho para você)
— Isso me traz lembranças não muito agradáveis.
— Como quando eu tive que te dar um banho frio em San Diego? – indaguei, o fazendo balançar a cabeça.
— Você deve ter aproveitado absurdos, eu era um babaca com você até então.
— Sim, você era. – concordei, notando que os passos de haviam parado de me acompanhar. – Está tudo bem?
(Eu perco minha voz quando olho para você)
Can’t make a noise though I’m trying to
(Não consigo fazer um som embora esteja tentando)
Tell you all the right words
(Te dizer as palavras certas)
Waiting on the right words
(Esperando pelas palavras certas)
— Por que você ficou? – franzi o cenho, esperando que fosse o suficiente para que ele explicasse. – Quando eu era um babaca, você poderia ter pedido a transferência de banda. Por que você ficou? – eu engoli em seco.
— Eu não sei. – respondi, sinceramente. – Eu acho que me apeguei à Cassie e aos meninos.
— E quando você teve que ficar comigo o tempo todo? – ele se aproximou um pouco mais.
— Você não é o bad boy que pensa ser. – respirei fundo, esperando pela reação de . – Você tem problemas e eu compreendo. Essa muralha que você cria para desconhecidos é só um jeito de você lidar com eles. Babaca? Às vezes, mas é só isso.
— Eu sinto muito pelas coisas que te disse. – murmurou, levando sua mão em direção ao meu rosto.
— Está tudo bem.
ficou em silêncio por alguns segundos, encarando-me por longos segundos antes de se aproximar o suficiente para que nossos corpos ficassem colados um no outro. Sua mão livre desceu até a curva de minha cintura, repousando ali. A que estava em meu rosto se moveu até minha nuca, entrelaçando seus dedos em meus cabelos enquanto seu polegar acariciava com leveza minha mandíbula.
— Se você disser não, eu não continuarei. – ele sussurrou, o cheiro leve de menta e álcool batendo contra meu rosto.
— Vá em frente.
Ele assentiu positivamente, me empurrando levemente contra a parede do corredor. encarou meus olhos atentamente, levantando meu rosto. Passou a língua por seus lábios, parando à centímetros do meu rosto antes de finalmente colocar seus lábios contra os meus. Suas mãos apertando minha cintura e puxando meus cabelos com delicadeza. Seus lábios se entreabriram e eu o acompanhei, ignorando as bandeiras vermelhas e todos os meus princípios ao mesmo tempo em que meu coração retumbava contra o meu peito. Subi minhas mãos em direção aos seus cabelos, repousando-as em sua nuca e arranhando-a com minhas unhas.
seria minha ruína.
E eu havia aceitado de bom grado as consequências que isso me traria.
Capítulo 13: Contratos e Segredos
“Your kiss could put me in a coma
You'll be the death of me.”
(Seu beijo pode me colocar em coma
Você será a minha morte)
— Grape Swicher, Goody Grace
seria a minha morte.
Com seus lábios cheios contra os meus, sua língua se movimentando em um ritmo que era bom o suficiente para me levar à loucura, a única coisa que eu conseguia pensar no momento era que o tempo e minha insistência haviam valido a pena. Cada segundo. A mulher grudada entre meu corpo e a parede estava sendo responsável pela ereção mais dolorida de toda a minha vida e eu xingava mentalmente o meu maldito voto de castidade. Porra, eu estava parecendo um moleque de treze anos ao ver uma revista pornô pela primeira vez.
Uma de suas mãos estava em minha nuca, me trazendo mais para perto enquanto eu descia minhas mãos em direção à sua bunda. grunhiu, levando as mãos até meus ombros e me empurrando levemente. Eu tomei distância, tentando normalizar minha respiração junto da mulher à minha frente. jogou sua cabeça para trás, fechando os olhos, totalmente ofegante.
— Isso foi... – ela deixou a frase morrer no meio do caminho, engolindo em seco.
— Um erro? Uma loucura? – arqueei a sobrancelha, encarando-a. – Eu te conheço o suficiente para saber que essa é a hora em que você faz o discurso sobre separar trabalho de vida pessoal.
— Talvez a segunda opção. – ela finalmente me encarou. – , eu não fiz isso porque queria me aproveitar das coisas que você tem ou...
— Eu sei. – a cortei, passando meu polegar por seus lábios inchados. – Merda, acho que eu retiro o que disse sobre te deixar em paz depois disso.
— É, eu estava... Sentindo que você diria isso. – murmurou, dando ênfase sobre sentir antes de levar seu olhar até a marcação na calça social. – Acho que podemos resolver isso, não?
me encarou, os olhos brilhando com um biquinho inocente. Senti meu pau pulsar contra a costura da calça. Ela mordeu o próprio lábio inferior, escorregando uma de suas mãos até minha pélvis, parando bem em cima do incomodo lugar antes de começar a esfregá-lo contra o tecido. Fechei meus olhos, deixando minha respiração sair por meus lábios enquanto me apoiava com a mão contra a parede. Merda, eu realmente havia me tornado um adolescente aos vinte e poucos anos.
— ... – murmurei, esperando que aquilo fosse o suficiente para desviar sua atenção do fato de que eu estava quase implorando para que ela me tocasse.
— Huh? – ela parou com os movimentos, esperando uma reação.
— Estúdio. – murmurei. – Agora.
deixou um sorriso satisfeito brincar em seus lábios ao escutar minha ordem. Em outras ocasiões, eu definitivamente deixaria que me fizesse de cachorrinho, mas não ali. Eu estava duro feito pedra, meus adoráveis amigos estavam a alguns metros de distância e eu não queria uma plateia caso as coisas com a ex-roadie resolvessem ir um pouco mais longe do que só mãos bobas.
Ao entrarmos no estúdio, tomei o cuidado de fechar a porta de isolamento acústico. O cômodo era pequeno fora da cabine de gravação. As paredes pintadas de preto e vermelho o deixavam ainda mais escuro sob as pequenas luzes amareladas. Uma mesa de mixagem se espalhava contra a parede oposta à porta, com cadeiras giratórias repousando em sua frente. Um sofá de couro se estendia próximo da porta de entrada para a cabine.
passou a língua por seus lábios, me encarando como se pudesse me devorar a qualquer momento. E Deus sabia o quanto eu queria que ela realmente o fizesse. Eu sentia o clima do estúdio subir em graus exagerados somente com a intensidade do olhar da roadie. sorriu, se aproximando de mim e espalmando suas mãos contra meu peito, prendendo-me contra o espaço livre na mesa de mixagem enquanto eu a admirava com desejo o suficiente para despi-la com a força do pensamento. levou suas mãos em direção ao cós de minha calça, desabotoando-os com seus dedos finos e ágeis. Maldita pianista. Me apressei em tirar o blazer, parando no meio do processo quando ela repreendeu.
— Não. – sussurrou próxima ao meu ouvido, mordendo meu lóbulo antes de voltar a me encarar. – Quero você assim.
— Mandona, huh? – sorri.
— Você realmente não tem ideia do quanto.
Seu tom era carregado de segundas e terceiras intenções. Seus lábios foram de encontro aos meus novamente, causando palpitações em meu peito. O silêncio no estúdio ampliando cada pequeno movimento. Eu conseguia escutar meus batimentos descompassados em meu peito enquanto a língua suave e habilidosa de invadia minha boca, inebriando meus sentidos e deixando-me ainda mais molhado e desesperado por seu toque.
tomou uma distância mínima, aproximando seus lábios de minha orelha para depositar uma mordida mínima no lóbulo. Sua respiração ofegante contra meu pescoço, enviando arrepios por todo o meu corpo antes de sua boca quente encostar contra a pele exposta de meu pescoço e chupá-la violentamente, enviando um novo estímulo para o meu corpo e tirando um gemido sôfrego de minha garganta. Eu ficaria marcado e nem mesmo a explicação para os meus colegas de banda no dia seguinte era uma das minhas preocupações.
voltou a se movimentar, puxando minhas calças com cuidado e certa dificuldade devido ao quão apertadas elas eram. Eu soltei um risinho rouco, auxiliando-a com a tarefa e abaixando minhas calças até o meio de minhas coxas, vendo-as deslizarem por minhas pernas finas em um amontoado de tecido em meus tornozelos. Ela sorriu, encarando a cueca boxer por alguns segundos antes de abaixá-la também, o que fez com que meu pau pulasse para fora como um maldito brinquedo-surpresa. Lamentável.
Mas isso não pareceu afetá-la tanto quanto a mim. envolveu meu pau com uma de suas mãos quentes, movimentando-o lentamente enquanto passava a mão pela cabeça e aproveitava o pré-gozo para lubrificar toda a extensão.
— Porra...
Fechei os olhos, sentindo o prazer começar a inundar meu corpo enquanto ela continuava a alternar o ritmo entre acelerá-lo e deixá-lo mais lento. Senti a temperatura começar a aumentar gradativamente e eu já sentia as gotas de suor se formarem em minha testa. Segurei a quina da mesa com ambas as mãos, tombando a cabeça para trás e me concentrando em pensar em duendes correndo pelados de palhaços para que eu não gozasse rápido demais.
A sensação de prazer invadindo meu corpo a cada novo estímulo da ex-roadie, fazendo-me engolir em seco enquanto ofegava. Quando senti que suas mãos perderam um pouco do ritmo, abri meus olhos. agiu rápido, me guiando rapidamente para que eu me sentasse na cadeira giratória. Ela se ajoelhou em minha frente, voltando a movimentar meu pau.
— Não toque no meu cabelo. – avisou.
— Ok.
não deixou que eu me preparasse mentalmente para o seu boquete. Ela lambeu a cabeça, sugando por um tempo e brincando com minhas bolas com a mão livre enquanto movimentava meu pau. Eu espalmei minhas mãos contra o descanso de braço, segurando com força.
A onda de prazer em conjunto com a sensação quente subindo por meu corpo me deixando sem controle algum, me fazendo mexer meu quadril o suficiente para que eu conseguisse ter um pouco mais daquela sensação. continuou seus movimentos, chupando e brincando com minhas bolas antes de voltar a me devorar.
O cômodo estava ficando quente demais e eu já não conseguia mais controlar os grunhidos, gemidos e movimentos contra sua boca. Deus, eu queria foder em todas as posições possíveis naquele exato momento.
— Vou gozar.
Ela não pareceu se importar. Muito pelo contrário, assumiu a postura de um demônio enquanto acelerava seu ritmo e me devorava completamente e com vontade. O orgasmo me atingiu violentamente, me fazendo fechar os olhos e jogar a cabeça para traz com força, sendo completamente dominado pela atmosfera erótica, com direito aos dedos se curvando e um gemido rouco saindo por meus lábios. Eu estava completamente ofegante e suado, a força do ápice me atingindo feito uma paulada quando a boca de se encheu com minha porra para que ela engolisse ou cuspisse. Ela foi com a primeira opção, limpando a boca antes de se levantar e ajeitar a própria roupa.
— Porra. – foi tudo o que eu fui capaz de dizer, encarando um ponto distante enquanto tentava não repassar toda a cena em minha cabeça mais uma vez.
— Bastante. – ela fez uma piadinha infame, o que me fez soltar um riso contido. – Acho que é minha hora de ir.
— Fica, tenho quartos reservas. – a encarei, como se isso fosse o suficiente para que ela ficasse. – Assim nós podemos conversar sobre amanhã.
— Eu sei. – murmurou. - Tem certeza?
— Eu tenho pelo menos, a decência de oferecer um café da manhã depois que alguém me chupa, sabia? – indaguei, pegando a caixinha de lenços de papel na mesa de centro para me limpar.
— Não é como se eu prestasse muita atenção na sua vida sexual. – ela riu.
— Uhum. – joguei os papéis no lixo, me levantando da cadeira para arrumar meu pau dentro das minhas calças outra vez. – Você ainda não gozou, . – me aproximei, encarando seu rosto.
— Você precisava disso mais que eu, bonitinho. – ela me encarou. – Podemos resolver isso outro dia. – bateu em meu ombro, tomando distância.
— Você me chupa e não tem a decência de me dar um beijo de boa noite? – franzi o cenho, vendo-a congelar no meio do caminho antes de vir até mim e selar nossos lábios uma vez mais. Longe de horas antes, aquele soava como apenas um beijo de despedida. Ainda conseguia sentir o amargo do meu gozo. Deus, eu precisava arrumar minha alimentação. – Segundo quarto à direita, tem pijamas, banheiro e toalhas reservas se você precisar.
— Obrigada, .
E me deu as costas, deixando-me sozinho enquanto eu divagava nos meus próprios pensamentos. havia acabado com minha sanidade mental em poucos minutos e eu já me encontrava pensando em nosso próximo encontro. A realidade era que a ex-roadie era uma maldita tentação e eu já não sabia mais quanto tempo eu poderia resistir a ela.
era um demônio que havia saído diretamente das profundezas do inferno para me enlouquecer e tornar a minha vida o significado de caos, como se ela já não fosse caótica o suficiente. Respirei fundo, encarando o quarto vazio onde deveria ter passado a noite. Era quase como se ele não tivesse sido usado, com exceção de uma toalha que repousava no cesto de roupas no canto do banheiro, o quarto estava intocado.
Passei a mão por meu rosto, fechando a porta atrás de mim ao sair pelo corredor. Minha casa estava uma bagunça e meu humor não estava muito diferente. Algo me dizia que era meu karma, um pagamento do destino por todas as vezes que sai antes que o sol amanhecesse. Eu deveria ter entendido a indireta quando ela havia dito que não namorava, porque a roadie era boa até demais com fodas de uma noite.
Desci as escadas para o andar inferior como uma caminhada da vergonha. Longe do esperado, eu havia tido a decência de tomar um banho e trocar de roupas, diferentemente dos meus colegas de banda que se encontravam sentados no sofá, com seus óculos escuros e roupas da noite passada ainda em seus corpos. A ressaca moral e física berrando.
— Bom dia, raio-de-sol. – Griffin levantou a voz, causando uma careta em Donnie.
— Griffin, vou precisar que você diminua o tom. – ele murmurou, gesticulando com as mãos em dois níveis diferentes. – Você está em um onze, preciso que diminua para um três, pode ser?
— É, tanto faz. – Griff gesticulou. – Precisamos conversar. – me encarou, apontando em direção à cozinha.
— Oh, merda. – Thomas levantou levemente os óculos. – Você fodeu a namorada dele, ? Por favor, me diga que você não fodeu a namorada dele.
— Cala a boca, Thomas. – dissemos em uníssono e eu rolei meus olhos, desenhando meu caminho em direção à cozinha com o baterista me acompanhando.
— ... – Griffin respirou fundo. – Você fodeu minha irmã?
— Não. – respondi, engolindo em seco. Teoricamente estava mais para me fodendo do que qualquer coisa, mas eu me recusava veemente a lidar com ambos os me fodendo em um dia.
— Então você poderia me dizer o porquê de eu ter visto ela saindo da sua casa como o diabo foge da cruz, tomando todo o cuidado do mundo para que ninguém a escutasse às sete da manhã? – Oh, merda.
— Você quer honestidade ou quer que eu minta para que você se sinta melhor? – arrisquei, vendo um sorriso se formar aos poucos em seus lábios. Oh, a fúria do homem de um metro e meio.
— Ela fodeu você. – ele constatou, seu corpo começando a tremer levemente com uma risadinha contida. Franzi o cenho, tentando compreender o que estava acontecendo ali. – Ela te fodeu e saiu antes de você acordar. Ela definitivamente é o seu karma.
— E você não tem problema nenhum com isso? – indaguei.
— é grandinha o suficiente para se cuidar sozinha. – ele deu de ombros. – Além disso, eu já deixei claro o que pensava disso na França, não deixei?
— É, bastante. – murmurei, encarando-o. – Olha, eu sei que isso meio que vai contra as nossas regras, mas...
— Eu estava falando sério quando disse que ela poderia te fazer bem. – ele suspirou – Minha única ressalva é que você não pode colocar nas costas dela o peso da sua sobriedade.
— Não foi nada demais, Griffin.
— Mesmo assim. – ele estava sério. – Se você for seguir com isso, vai ter que entender que ela tem os limites dela da mesma forma que você tem os seus e que ela não pode ser responsável por uma coisa que depende somente de você.
Griffin estava certo. Apesar de ver uma certa superproteção do meu melhor amigo com , eu não poderia deixar de entender seu lado. estava lidando com uma reviravolta em sua vida, que envolvia deixar um casulo que há muito havia sido confortável para ela e se envolver com uma pessoa com tão problemática quanto eu já era mais um ponto que poderia tornar tudo ainda pior para ela. Por isso, eu respirei fundo antes de finalmente respondê-lo.
— Eu entendo a sua preocupação. – pausei por um momento. – Nós só estamos... Nos conhecendo.
— Ela colocou a língua dentro da sua boca, vocês já passaram da fase de se conhecer tem um tempo, convenhamos. – ele riu fraco, balançando a cabeça. – Você precisa contar para o resto deles, sabe disso, não é?
— É, eu tenho certa noção que sim. – murmurei.
— Você precisa de um álibi se pretende continuar com esse... – ele pausou. – Conhecimento durante as turnês. Vai ser difícil fazer o que vocês fizeram hoje sem causar suspeitas. Não no ônibus, mas no hotel.
— É. – franzi o cenho. – Mas isso não depende só de mim, não é um segredo só meu. – cruzei os braços.
— Não que você ache ruim.
— Não que eu ache ruim.
Concordei, sentindo meu celular vibrar no bolso da calça de moletom. Franzi o cenho, tirando o aparelho do bolso e verificando a tela. Senti a ansiedade começar a se arrastar por meu corpo assim que o nome de brilhou na tela como a pessoa que estava me ligando no momento. Griffin olhou a tela, me encarando com um sorriso enviesado antes de assentir para que eu atendesse. Assenti, deslizando meu dedo pela superfície antes de levar o aparelho até minha orelha e encostar no balcão.
— Ei.
— , oi. – ela ficou em silêncio por alguns segundos. – Te acordei?
— Não. – encarei Griffin. – Estou acordado tem um tempo, estava falando com os caras.
— Oh, os rapazes. – eu consegui sentir o nervosismo dela através do vacilo em suas palavras. – Griffin já fez a parte da inquisição hoje?
— É, ele deu alguns avisos amigáveis. – o homem em questão rolou os olhos, balançando a cabeça negativamente antes de voltar para a sala de estar. – Então, no que posso ajudar?
— Só queria ligar para não ser a babaca que dá sumiço no dia seguinte. – fechei os olhos, esperando por qualquer discurso de negação que ela estava prestes a começar. – Fui embora mais cedo porque nossos pais combinaram de vir até minha casa para almoçarmos juntos e irmos até Santa Monica. – suspirei, aliviado.
— Tudo bem, não é como se eu tivesse pensado nisso a manhã toda, de qualquer jeito. – ela soltou um riso divertido.
— Enfim, foi divertido. – murmurou. – Nos vemos, .
— Espera aí. – indaguei, falando rápido demais para o meu habitual.
— Pode falar.
— Quer vir para cá mais tarde? Nós podemos fazer algo. – me apressei em corrigir. - Não necessariamente sexual, a Cassie também vai estar aqui e tal.
— Você está me chamando para um encontro, James ? É isso mesmo? – ela estava rindo agora.
— Você pesquisou meu nome no Google? – rolei os olhos. – Se você considerar uma noite de filmes na minha casa um encontro, pode ser.
— Pode apostar que eu pesquisei, James. – ela provocou, me fazendo rir. – Que horas eu posso ir?
— Vai passar a noite? - ficou em silêncio por um longo tempo e, pela primeira vez em algum tempo, eu me encontrava torcendo para que a resposta fosse um sonoro “sim”.
— Se não tiver problema, eu posso passar sim. ¬– confirmou.
— Ok, pode vir às oito ou às nove.
— Beleza. Bom, eu vou nessa. Preciso terminar o almoço antes deles chegarem, até mais tarde.
— Até, .
E então desligou, me deixando encarando o piso da cozinha enquanto um turbilhão de pensamentos se entrelaçavam em minha cabeça. A ex-roadie estava me causando sensações que eu não estava acostumado e virando minha cabeça de cabeça para baixo em todos os sentidos possíveis. Balancei minha cabeça negativamente, saindo da cozinha e voltando para a sala somente para encontrar Cassie descendo as escadas.
— Ei, princesa. – ela me encarou. – O que acha de irmos ao Universal Studios hoje?
Capítulo 14: Jantar e Maratonas
“Your friends are a fate that befell me
Head is a talking tide
I’d suffer Hell if you’d tell me
What you’d do to me tonight”.
(Seus amigos são um destino que me aconteceu
A cabeça é uma maré de falação
Eu sofreria o inferno se você me dissesse
O que faria comigo essa noite)
— Diabetes & Diatribes, Hozier
Los Angeles, CA
Dois anos e oito meses antes
O relógio marcava três minutos para às oito quando encostei meu carro ao lado do maserati conversível de . Eu engoli em seco, sentindo o nervosismo habitual tomar conta de meu corpo assim que parei diante da porta de entrada da mansão do vocalista. A realidade era que eu não tinha ideia de como as coisas seriam agora. Havíamos passado por tantas fases nos últimos anos que a ideia de finalmente estar em um ponto análogo à paz me assustava mais do que qualquer coisa.
Meu relacionamento com era combativo desde o dia um. Implicávamos um com o outro em absolutamente qualquer pequena oportunidade, vivíamos na base de indiretas passivo-agressivas, comentários ácidos e rolar de olhos. Pela primeira vez em quase quatro anos, eu me encontrava sem saber o que esperar quando entrasse na casa de e olhasse em seu rosto depois do nosso pequeno entendimento mútuo.
Respirei fundo, finalmente parando de procrastinar a minha entrada e, sendo impulsionada pela voz da minha cabeça, me permiti entrar na pouco humilde residência de , apenas para ser recepcionada com o cheiro maravilhoso de pipoca amanteigada. Franzi o cenho, tomando passos leves enquanto tentava me acostumar com o acontecimento. Chacoalhei o estranhamento de meu corpo e apenas continuei adentrado a casa, seguindo o barulho de panelas batendo em direção à cozinha de .
— Você poderia pegar a calda de chocolate, por favor, princesa?
A voz de invadiu meus ouvidos assim que adentrei o ambiente. Ele usava uma touca de cozinha em seus cabelos e um avental cor de rosa enquanto preparava algo no balcão. Me limitei apenas a encostar na parede da cozinha, cruzando os braços ao observar com atenção Cassandra andar até a despensa para pegar a calda de chocolate.
— gosta de calda de café, papai. – Cassie gritou em resposta.
— Sério? – ele soou incrédulo
— Sim. – Cassie voltou para a cozinha com ambas as garrafas de calda em mãos, finalmente notando minha presença, apenas levei meu indicador até os próprios lábios em um pedido silencioso para que ela não contasse de minha chegada. – Ela sempre pede como acompanhamento quando vamos na sorveteria.
— Ela poderia gostar de algo de gente uma vez ou outra, né?
— Disse o homem que gosta de sorvete de flocos. – finalmente me pronunciei, fazendo-o se virar em minha direção. – Oi, .
— Não desrespeite o sorvete de flocos na minha residência, é uma supremacia aqui. – ele soou ultrajado, deixando os copos de milkshake em cima da bancada antes de vir em minha direção. – Você está um minuto atrasada, estrelinha. – apontou com o indicador para o relógio em seu pulso.
— Eu cheguei pontualmente às oito, você quem demorou para notar a minha presença, raio-de-sol. – arqueei uma sobrancelha em sua direção, sorrindo quando ele rolou os olhos e se abaixou para depositar um selinho em meus lábios.
— É, eu meio que fui pego de surpresa nessa. – ele sorriu, voltando para o balcão – Eu estou fazendo milkshakes para assistirmos algo, a pipoca também já está pronta.
— Ok, achei que íamos pedir pizza ou algo assim. – me abaixei, abrindo meus braços para que Cassie viesse em meu colo. E, após deixar as garrafas de calda de sorvete com , foi o que ela fez. – Oi, princesa, como estamos hoje?
— Bem, fomos até o Universal Studios hoje, andamos algumas vezes na parte de Jurassic Park, foi divertido. – ela sorriu, segurando meus ombros assim que a peguei no colo. – E você?
— Fiquei um tempo com meus pais, eles disseram que você cresceu bastante desde a última vez que eles te viram. – sorri, encarando-a. – Scar disse que você precisa visitá-los em Toledo de novo para ela fazer a torta de pêssego.
— Nós podemos, papai? – Cassie se virou em direção a , que balançou a cabeça positivamente.
— Só temos que ver quando Griffin e vão e se eles não vão se importar se formos.
— Estou pensando em passar o fim do ano, já que vamos estar em turnê durante o Dia da Independência e Ação de Graças, muito provavelmente. – me abaixei o suficiente para que Cassie conseguisse descer de meu colo sem se machucar. – Se estiver tudo bem para vocês, podemos ir.
— Isso se não te chamarem para a descida da bola na Times Square desse ano, não é? – me encarou.
— Está sabendo de algo que não sei? – fui em sua direção, roubando pipoca de um dos diversos baldes espalhados pela bancada.
— Talvez, quem sabe. – deu de ombros – Eu sei que Ash está bem feliz com o quanto você vem produzindo as coisas no estúdio, então acho bem possível que logo você tenha uma tour sua ou um evento grande para comparecer nos próximos meses.
— Desembucha, .
— Eu juro que isso é tudo que eu sei, de verdade. – ele riu, levantando ambas as mãos em rendição. – Não mate o mensageiro, eu só estou fazendo um trabalho.
— Está mais para fofoqueiro que qualquer outra coisa. – corrigi. – Ainda nem sabemos se eu vou conseguir subir no palco sem ter um ataque cardíaco, Ashleigh não deveria estar fazendo planos tão ambiciosos considerando a última experiência.
— Vamos estar lá para te dar apoio moral, tia. – Cassie murmurou. – Podemos ir tomar um sorvete depois, se te deixar melhor.
— Você paga?
— Papai paga.
— Vocês são uma dupla horrorosa. – ele rolou os olhos. – Peguem as pipocas, eu levo os milkshakes.
— Sim, senhor.
Balancei a cabeça, pegando dois potes de pipoca e acompanhando Cassie até a sala de cinema onde costumava fazer suas sessões de filmes. Colocamos as pipocas nos apoios das poltronas, marchando em direção ao notebook para configurar o filme no telão. Havia uma quantidade consideráveis de filmes comprados por e eu ri fraco. Deus, ele era exagerado até demais, pensei.
— Alguma ideia? – encarei Cassie, abrindo o catálogo de filmes.
— Crepúsculo?
— Nós assistimos a série toda na última maratona e eu acho que seu pai vai querer me esganar se eu fizer ele assistir duas horas de um filme com vampiros bonitos e brilhantes.
— Barbie, então?
— Qual tem as melhores músicas?
— Princesa e a Plebeia, Moda e Magia, Doze Princesas Bailarinas e Vida de Sereia.
— Definitivamente Princesa e a Plebeia, então. – procurei pelo filme no catálogo, ajustando na tela assim que chegou carregando uma bandeja com milkshakes.
— Aqui, deixa que eu te ajudo. – ri, andando em sua direção para pegar os copos da bandeja e colocá-los ao lado dos potes de pipoca.
— O que vamos ver? – ele se sentou em uma das poltronas, pegando o controle e colocando play no filme assim que Cassie se sentou ao seu lado.
— A princesa e a plebeia, aquele filme da Barbie, sabe? – me sentei ao seu lado, pegando meu copo para tomar um pouco do milkshake.
— Você está brincando, né? – ele me encarou seriamente por vários segundos antes de finalmente responder. – Eu amo esse filme, ele tem músicas muito boas. – ele sorriu, ajustando a poltrona para assistir ao filme com mais conforto.
não estava brincando quando disse que ele amava A Princesa e a Plebeia. Não ironicamente, cantou absolutamente todas as músicas do filme e gritou “Eu sou assim como você” com Cassie como se fosse a melhor produção musical feita em anos de filmes do gênero. Ele até dançou em sua própria cadeira e, por um bom tempo, eu não conseguia achar aquilo como algo diferente de adorável. era um homem totalmente diferente quando não levantava suas enormes muralhas.
O encarei enquanto ele colocava o corpo sonolento de Cassie na cama, tomando cuidado para não a acordar durante o processo. a cobriu com os cobertores até o pescoço, depositando um beijo terno em sua testa antes de apagar a luz do abajur e marchar em minha direção.
— Você é um fofo quando se trata dela. – eu sorri, apontando com o queixo para Cassie.
— Não só ela. – ele sorriu, encostando a porta atrás de si enquanto saiamos pelo corredor. – Com o seu primo também.
— Se xingar um ao outro é o que você considera fofura, então eu acredito. – soltei um riso divertido. – Mas, de verdade, é quase um clichê de filme. O bad boy bravo que se mete em brigas e tem uma única pessoa com quem ele faz questão de ser o mais agradável do mundo.
— Não que não seja clichê a garota certinha se render aos encantos do bad boy, não?
— Acho que os papéis estão meio invertidos aqui, Raio-de-Sol. Eu tenho plena certeza de me lembrar de uma certa declaração sobre como você não conseguia parar de pensar em mim.
— É, pode ser. – levou suas mãos até minha cintura, puxando-me delicadamente em direção ao seu peito. – Não me importo. Ordem dos fatores não altera o valor do produto e toda essa merda. – murmurou, levando seus lábios até minha bochecha para depositar beijos carinhosos. – Você está linda hoje.
— Sem pequenas provocações?
— Apenas um elogio sincero para compensar. – ele levou uma de suas mãos até meu rosto, tirando um cacho de minha bochecha cuidadosamente antes de colocá-lo atrás de minha orelha. se aproximou, depositando um beijo casto em meus lábios antes de me encarar. - Eu acho que estou te devendo.
— Está? - franzi o cenho, tentando me lembrar de qualquer ocasião no qual eu pudesse ter feito algo. Não precisou de muito para que eu me lembrasse da última noite. - Ah, o estúdio. Não precisa, não é como se eu estivesse contando, de qualquer forma.
— Ótimo, porque eu acho que teríamos bastante trabalho para igualar os lados.
me guiou pela cintura gentilmente até a parede mais próxima, longe o suficiente do quarto de Cassie. Senti a temperatura fria contra minhas costas, causando arrepios por minha pele. O vocalista me encarava com atenção, como se pudesse sentir meu corpo reagindo às suas ações de imediato, Um sorriso malicioso tomou conta de seus lábios e ele se aproximou novamente. Eu conseguia sentir sua respiração quente contra meu pescoço conforme ele se inclinou para beijar meu pescoço. Fechei meus olhos, deixando um suspiro escapar por meus lábios quando senti a superfície quente da língua de entrar em contato com a minha pele arrepiada.
— Me deixa cuidar disso dessa vez, pode ser? - sussurrou, mordendo levemente o lóbulo de minha orelha logo em seguida. Mordi meu lábio com certa força, apenas balançando a cabeça positivamente. - Sim?
— Sim. - o sorriso que tomou seu rosto era quase tão excitado quanto os brilhos de seus olhos.
— Hold tight, spider-monkey.
Ele citou a cena de crepúsculo e eu não pude evitar soltar uma pequena risadinha. colocou meus braços em torno de seus ombros e se abaixou o suficiente para pegar minhas pernas, impulsionando o suficiente para que elas ficassem entrelaçadas ao redor de sua cintura. deu um pequeno impulso, somente para que ele conseguisse me colocar em uma posição mais alta e confortável.
Ele começou a fazer seu caminho até o quarto. Eu conseguia sentir meu coração batendo em um ritmo descompassado conforme a porta de Cassie ficava cada vez mais longe e passava pela porta se seu quarto. Eu estive no cômodo o suficiente para notar cada pequeno detalhe. Incluso cada pequena nova adição de Funkos de quadrinhos de sua coleção pessoal. Ainda me lembrava de , completamente embriagado, implorando para que eu não contasse a ninguém do seu pequeno vício em quadrinhos de super heróis.
fechou a porta com um dos pés, se virando o suficiente somente para passar a tranca e certificar-se de que não haveria possibilidade de alguém entrar enquanto nós estivéssemos fazendo algo inapropriado. Ele voltou a andar, levando-me em direção à sua cama grande o suficiente para quatro pessoas além dele. me colocou gentilmente na cama. Eu conseguia sentir a maciez dos lençóis como um carinho terno contra minha pele.
se inclinou em minha direção, repousando suas mãos ao redor de meu corpo enquanto ele me observava com atenção, quase como se eu fosse uma obra de arte que quebraria com qualquer toque exagerado.
— O quê?
— Você é linda. - me olhou nos olhos e eu conseguia sentir minhas bochechas queimarem com o elogio conforme ele depositou um selinho carinhoso em meus lábios. - E inteligente. - ele baixou os beijos, passando por minha bochecha e então descendo até meu pescoço, depositando um beijo lânguido que enviou arrepios por todo o meu corpo. O ato me fez sentir como se eu estivesse a ponto de explodir em milhares de pedacinhos e minha calcinha ficar ainda mais ensopada. - E talentosa para caralho.
— Isso é você flertando? - fechei meus olhos quando ele depositou um leve chupão em meu pescoço e eu não consegui segurar o pequeno gemido que escapou por meus lábios.
— Isso sou eu aumentando o seu ego e compensando pelo tempo perdido. - ele não se preocupou em me encarar, levando suas mãos até a bainha da minha camiseta e levantando-a até que meus seios estivessem cobertos por apenas o top preto. - Belos peitos, aliás.
— Babaca. - murmurei, levantando-me o suficiente para que ele pudesse tirar a camiseta por completo. - Não estava planejando foder, então…
— Não é um problema. - ele murmurou, jogando a camiseta longe. - Você fica extremamente gostosa com roupas de academia. E sem elas. Na real, você fica gostosa de qualquer jeito.
levou suas mãos até meus shorts, levando-os até meus tornozelos e tirando-os junto com meus tênis. Ele tomou algum tempo para me observar. O top preto combinando com a calcinha de renda da mesma cor. mordeu o lábio e a expressão em seu rosto estava quase tão sedenta quanto a minha. Repentinamente, o quarto havia ficado ainda mais quente. O verão da Califórnia ao menos se comparava à sensação quente que tomava cada molécula de meu corpo. Eu me levantei, puxando pela camisa até que ele estivesse em cima de mim. Ele soltou uma risada divertida, voltando a beijar-me com tanta avidez quanto a noite anterior.
Mordi levemente seu lábio, puxando-o suavemente enquanto olhava em seus olhos. Eu conseguia sentir sua ereção contra minha coxa e apenas levei uma de minhas mãos até o local, acariciando levemente enquanto ele fechava seus olhos. Ele soltou um suspiro, relutantemente tirando minha mão de seu pau e juntando ambas no topo de minha cabeça, segurando meus pulsos contra os lençóis macios.
— Antes de qualquer coisa, existe algo que você não quer que eu faça? - estava sério e prestava atenção em cada pequena expressão em meu rosto. - Eu não sei se isso acaba com todo o clima, eu deveria ter perguntado antes. - soou quase envergonhado.
— Anal. - o encarei com seriedade. - E tapa na cara. Eu provavelmente vou voltar na mesma moeda, com o dobro de força. Você?
— Certo. - ele soltou um riso divertido. - Eu tô aberto a qualquer coisa. Não mede a força com o tapa na cara, okay? Eu curto apanhar de gente bonita.
A bissexualidade de não era um segredo. Havia boatos que corriam por uma quantidade generosa de sites, mas nunca realmente o admitiu em plenos pulmões. A postura de fuckboy adicionados a quantidade de mulheres que ele costumava ser fotografado ofuscava as saídas casuais com homens. Para a mídia, era somente uma amizade que acabaria em uma noitada regada à strippers e uma quantidade considerável de drogas.
— E me avise se for enfiar algo no meu rabo, okay? - ele murmurou. - Vamos precisar de lubrificante pra isso. Saliva não é um deles. Não acho que vamos chegar nesse ponto hoje, eu gosto de uma provocação.
— Okay.
sorriu, depositando um beijo casto em meus lábios. Eu nunca achei que poderia ser algo além de caos. Mas seus toques cuidadosos, os beijos carinhosos - apesar de sedentos - provavam que era, além das coisas que a mídia tentava vender, apaixonado. Apaixonado por cada pequena coisa que ele se propunha fazer. E meu peito enchia-se das malditas borboletas a cada pequena ação feita por ele.
voltou a se concentrar em me excitar. Não que levasse muito. Os beijos e mordidas em meu pescoço e orelha destruíram qualquer possibilidade de eu conseguir pensar em algo além do quanto eu gostaria que ele se cansasse de jogos e me fodesse até que eu perdesse a cabeça.
Como se estivesse ouvindo minhas preces, se apressou em seguir a trilha de beijos até o meio de minhas coxas. Ele me puxou até a borda da cama pelas pernas e se abaixou, depositando beijos e chupões no interior de minhas coxas, tornando-me ainda mais quente do que achava possível. Eu conseguia sentir sua respiração quente contra minha boceta, me fazendo ficar sedenta por seu toque. Ou por qualquer coisa que aliviasse a tensão sexual que se formava dentro de mim.
puxou as bordas de minha calcinha, livrando-me do incômodo do tecido contra minha boceta encharcada. Ele sorriu, feroz, masturbando-me com seus longos dedos e enviando ondas de prazer por todo o meu corpo. Me contorci, fechando os olhos e deixando que o prazer me inundasse feito um tsunami. Seus dedos habilidosos massageando meu clítoris e lábios com pressão o suficiente para que eu me sentisse como se estivesse sendo lançada em um foguete.
Logo senti a língua de passando pelas extremidades de minha boceta. O contato molhado com o quente de sua respiração me fazendo perder a cabeça. Soltei os lençóis que nem havia notado que segurava, levando minhas mãos até os cabelos desalinhados de e puxando-os com uma força considerável enquanto buscava por mais um pouco do prazer que ele me dava com sua língua.
— Puta merda! Isso!
Murmurei com dificuldade entre os gemidos quando ele introduziu um dedo em minha boceta, mas sem ao menos parar seus movimentos com a língua. estava fodendo todos os meus pensamentos. O quarto estava ficando cada vez mais quente, o tecido do lençol se dobrando com meus movimentos em fricção com meu corpo me deixando cada vez mais excitada e próxima do meu êxtase.
Tirei uma das mãos de seu cabelo, levando meu braço até meu rosto enquanto eu sentia o familiar embrulho do orgasmo na base de meu ventre.
— Vamos lá, , quero que você me olhe enquanto eu te fodo.
Ele continuou movimentando os dedos, dobrando os conforme o vai e vem, atingindo meu ponto g ao mesmo tempo em que voltava a se concentrar em estimular meu clítoris com sua língua. Eu rebolava inconscientemente, tentando olhá-lo enquanto ele me encarava. Seus olhos brilhavam e eu quase conseguia enxergar o sorriso convencido se formando em seus lábios quando meu corpo começou a tremer, denunciando que meu orgasmo estava mais próximo do que eu pensava. Eu já não conseguia mais segurar os gemidos em meus lábios, muito menos quando o orgasmo me atingiu com tanta força que minha visão embaçou por severos segundos e minha cabeça era um amontoado de pensamentos desconexos e minhas falas eram apenas um balbuciar inaudível. Minha respiração estava falha e o meu foco voltou ao normal em tempo de ver se levantando e levando seus dedos até os próprios lábios, lambendo-os sem cortar o contato dos seus olhos com os meus em uma maldita provocação.
— Porra. - ofeguei, passando a mão pelo meu rosto, ainda desnorteada. Senti a cama afundar com o peso de ao meu lado e me virei em sua direção. Ele carregava um sorriso de canto em seu rosto quando inclinou-se para depositar um selinho em meus lábios.
— Foi bom pra você? Fiz algo que você não gostou? - ele soava visivelmente preocupado enquanto acariciava minha bochecha.
— , as minhas pernas estão trêmulas e eu acho que não vou conseguir ficar em pé por alguns minutos. - eu soltei uma risadinha. - É uma resposta boa o suficiente?
— É satisfatória. - riu, se levantou e passou seus braços por minhas pernas e costas, pegando-me no colo e me colocando gentilmente em uma posição confortável com minha cabeça em um de seus trezentos travesseiros. Ele se deitou ao meu lado logo em seguida.
— E você?
— Considere que estamos quites com relação ao estúdio. Eu estou satisfeito com a minha mão para resolver esse problema depois, okay? - depositou um beijo em minha testa. - Agora vem cá, vamos deixar você inteira e depois te dar um belo banho. Eu tenho muitas toalhas extras e roupas para você.
— Eu trouxe as minhas.
— Eu não vou perder a chance de te ver vestindo minhas roupas, . É um acontecimento que eu fantasio desde o dia um. - ele passou seus braços por meus ombros, me acomodando contra seu corpo. Passei meu braço por sua cintura, apoiando meu queixo em seu peito para encará-lo enquanto ele acariciava meus cabelos.
— Temos reunião com a Ashleigh amanhã para acertar as coisas da turnê. Não posso chegar lá com suas roupas, os paparazzi vão enlouquecer. Não posso nem ir junto com você, se formos honestos.
— Isso seria mesmo tão ruim? - ele murmurou. - Eu sei que você ainda não está acostumada a ser o centro das atenções, mas… - hesitou por severos segundos antes de continuar.
— Mas?
— Eu gosto da sua presença. - ele justificou, mas parou por alguns segundos como se estivesse escolhendo as palavras certas. - E eu não me importaria se as pessoas falassem sobre nós, porque eu gosto de você. E eu sei que você sempre diz que não faz o tipo que namora e eu não estou pedindo isso, mas…
— Você quer estar comigo. - pontuei, mordendo meu lábio em hesitação.
— Eu não sei o que isso é, eu normalmente sou bem direto quanto às coisas que eu quero quando me envolvo com alguém. Não gosto de falsas expectativas ou joguinhos psicológicos. É a primeira vez que eu ‘tô nesse limbo. - soltou um riso nervoso.
— As pessoas vão falar de qualquer forma, qualquer garota que aparece ao seu lado é uma suposta namorada. - dei de ombros. - Eu não namoro e você não está em um lugar onde relacionamentos amorosos cabem, você precisa se recuperar primeiro, Raio-de-Sol. - eu sorri de canto, tentando ser o mais honesta possível. - Vamos fazer um acordo, pode ser?
— Qual é sua proposta?
— Vamos continuar com isso e ver até onde vai. Eu não estou disposta a sacrificar o pouco de paz que eu ainda tenho e eu não quero exigir de você algo que você não tem condições de manter ainda.
— Eu vou ser seu pau amigo? - ele franziu o cenho.
— Se você quiser colocar nessas palavras.
— É melhor do que estar num vazio interminável de incerteza. - ele sorriu - Funciona para mim.
— Então temos um acordo.
— E se perguntarem sobre nós? Entrevistadores podem ser um pé no saco.
— Negar até a morte.
— Eu vou seguir com o “próxima pergunta” e “estou vendo alguém”. - deu de ombros. - Pelo menos assim as pessoas não vão ligar um mais um com tanta facilidade.
— Vamos ter pessoas fazendo fanfics com a gente.
— Eu li uma que falava que eu era um CEO com problemas com o pai alcoólatra e a garota era minha secretária. Foi específico demais. Também tiveram algumas onde eu e Donnie éramos namorados. Teve com o Griff também.
— Não que você e o Donnie já não tivessem se pegado em algum momento.
— Você tem uma câmera escondida em minha casa?
— Não, eu só joguei o palpite e você acabou de confirmar. - eu sorri.
— Maldito o dia que o Griffin disse que contratar você seria uma boa ideia. - ele riu, rolando os olhos. - Vamos lá, estrelinha, é hora de fazer você ficar inteira e limpa.
se levantou, andando até o banheiro em seu quarto e parando na porta com um menear de cabeça silencioso para que eu o acompanhasse. Eu fiz o mesmo. apontou onde ficavam as toalhas e encostou a porta ao sair, me dando privacidade para fazer o que tinha que fazer. Balancei minha cabeça negativamente, tentando tirar o sorriso bobo que se formava em meu rosto. havia me fodido em dois aspectos polarizados e eu, definitivamente, estava alegre demais para me importar com isso.
Capítulo 15: O Sentimento de Pertencer
“I won’t let you down
So please don’t give me up
‘Cause I would really, really love to stick around”
(Eu não vou te desapontar
Então não desista de mim
Porque eu realmente gostaria de ficar por perto)
— Freedom 90’s, George Michael
San Diego, CA
Dois anos e seis meses antes
Olhar para o teto em busca de alguma resposta do infinito nunca havia realmente me dado resultados, e a frustração ainda me atingia como um tsunami todas as vezes. Massageei minhas têmporas mais uma vez, sentindo a sensação trêmula invadir meu corpo novamente. Deus, eu precisava urgentemente de um cigarro.
Um barulho próximo à porta do camarim chamou minha atenção, tirando-me momentaneamente da minha espiral de pensamentos enquanto eu levava minha atenção até a cabeça flutuante e orgulhosa de Sabrina. O sorriso em seu rosto capaz de iluminar cada coração amargurado em um raio de duzentas milhas.
— Posso entrar? – o sorriso em seu rosto logo deu lugar à uma expressão preocupada quando eu balancei minha cabeça para que ela adentrasse o cômodo. – Oh, ...
— Eu estou tão ruim assim? – fiz um biquinho, recebendo como resposta o rolar de olhos de Sabrina.
— Parece que um caminhão passou por cima de você, amiga. – ela acariciou minha bochecha, estendendo uma garrafa de água. – Toma água, meu bem, você precisa estar hidratada para aguentar o show.
— Então é assim que é o glamour do sucesso? – me sentei no estofado, pegando a garrafa de água e abrindo-a para dar um longo gole.
— Só o primeiro, eu acho. – Brina sorriu. – Mas você pode pensar naquilo como um personagem, você pode assumir sua própria Mrs. em cima do palco e ser a introvertida de sempre fora dele.
— É muita gentileza sua me comparar com a Beyoncé, obrigada. – consegui sorrir de canto, encarando a mesa de centro. – E se eu não conseguir, amiga? E se eu vomitar para milhares de pessoas? E se eu esquecer a letra? – Comecei a sentir o tremor da ansiedade se esgueirar por meu estômago de novo, me fazendo fechar os olhos com força e voltar para os meus exercícios de respiração.
— Já passamos por isso antes, lembra? – Davis segurou meu ombro, apertando carinhosamente. – Você consegue, . Qual é, você enfrentou um auditório na graduação.
— A maioria eram meus colegas de classe. – corrigi.
— E? , não existe absolutamente nada nesse mundo que você não consiga fazer. Você é uma artista incrível, o palco é sua casa e você nasceu para isso, amiga. – ela me encarou nos olhos, a sinceridade escorrendo por eles. – Eu acredito em você, mesmo se você vomitar no meio de uma música.
— Aí Sabrina, que ódio. – eu soltei uma risada divertida, abraçando minha melhor amiga com força. Eu poderia estar uma pilha de nervos, mas pelo menos ter Sabrina ao meu lado fazia com que tudo aquilo fosse um pouco mais fácil. – Se eu vomitar, eu vou ficar reclusa pelos próximos vinte anos.
— Vai ficar tudo bem, que negativa. – Sabrina me empurrou com o cotovelo.
Assenti, tomando mais um gole de água antes de me jogar no colo de Sabrina e aproveitar o tempo livre antes de subir no palco. Coloquei um dos meus fones e entrei em um dos diversos jogos de FPS que havia baixado em meu celular. Não levou muito tempo para que minha atenção fosse capturada por uma batida na porta.
— Entra. – berrei, escutando a porta ranger com a abertura.
— Oi, Brina. – a voz grave de invadiu meus ouvidos, me obrigando a fechar o jogo quase que de imediato.
— Oi, Barbie da Reabilitação. – ela sorriu e eu me levantei de seu colo.
— Se esse apelido pegar, você tá demitida. – ele apontou em direção à Sabrina, que gargalhou antes de se levantar. – Ei, estrelinha.
— Oi, Barbie. – me levantei, andando em sua direção e depositando um beijo estalado em sua bochecha.
— Há, o apelido pegou. – Sabrina provocou, fazendo seu caminho em direção à porta. – Por favor, se comportem. Volto daqui 5 minutos para acertar os pontos da . – e saiu pela porta antes mesmo que eu pudesse retrucar.
— Eu vou sentir falta dela. – murmurou, voltando a me encarar. – Como você está?
— Ainda não vomitei, acho que é um bom começo. – dei de ombros. – Você?
— Orgulhoso. – ele levou sua mão até minha bochecha, acariciando-a com o polegar. – Sei o quanto está sendo difícil para você, mas estou orgulhoso que você não esteja pensando em desistir.
— E quem disse que eu não estou? – eu ri, nervosa, passando meus braços por sua cintura e apoiando meu queixo em seu peito. – Eu estou aterrorizada.
— Vamos estar lá para você. – ele depositou um selinho estalado em meus lábios. – E depois nós podemos jantar e assistir algo juntos, eu faço o sacrifício de assistir crepúsculo se isso te fizer sentir melhor.
— Griffin estaria orgulhoso do seu romantismo, . – dei um sorrisinho quando ele rolou os olhos. – Nem parece que passou horas cantando as músicas da Barbie depois da maratona com a Cassie.
— Eu tenho uma reputação a zelar, gatinha. – ele piscou – Além do mais, Vida de Sereia tem músicas que grudam na cabeça.
— Eu acredito. – ironizei. – Mas podemos ver Um Lugar Silencioso, o que acha?
— O que fizer você se sentir melhor, estrelinha. – depositou um beijo em minha testa
— Okay. – assenti, tomando distância quando escutei as duas batidas de Sabrina.
— Ótimo, vocês estão inteiros. – ela riu, parando em minhas costas para acertar o ponto em minha roupa. – O seu já está certo, né?
— Sim, senhora. – apontou para o fone pendurado em seu ombro. – Pronta?
— Nem um pouco.
— Vai estar. – Sabrina apertou os meus ombros. – Vamos lá, mocinha, é hora de mostrar o motivo de você estar naquele palco.
Sabrina deu duas batidas em meu ombro antes de começar a me empurrar para fora do camarim até os corredores do backstage. Os roadies correndo de um lado para o outro, me causando um sentimento nostálgico de quando eu fazia parte da equipe.
Não levou muito tempo para que chegássemos na entrada lateral do palco junto dos outros membros. Eu engoli em seco, escutando os gritos dos espectadores lotando todas as arquibancadas do estádio.
— Os pontos estão acertados, Rob. – Sabrina avisou o manager.
— Ótimo, todos prontos, vocês entram em trinta segundos. – apontou em direção aos rapazes antes de parar em minha frente. – Estamos orgulhosos, você consegue.
— Obrigada.
Assenti positivamente, pegando a guitarra que me foi entregue pelas mãos de Sabrina e acertando os últimos detalhes dos fios das caixas amplificadoras enquanto os rapazes pulavam e brincavam entre si. Respirei fundo pelo que parecia ser a centésima vez, sentindo o arrepio do nervosismo abrir um buraco em meu estômago ao me convencer de que tudo o que eu deveria fazer era assumir a persona que seria capaz de seguir com a energia dos homens ao meu lado.
— Vocês entram agora.
me encarou com um sorriso de canto antes de sair saltitando pelo palco com os outros rapazes. Os gritos tomaram conta de meus ouvidos e eu apenas deixei a excitação fazer o seu trabalho e me levar para o centro do palco junto com os rapazes com a sensação esmagadora de ser o centro da atenção de tanta gente ao mesmo tempo, nada perto dos ensaios com a staff e antigos colegas de trabalho.
Comecei as notas de At My Best, forçando-me a continuar enquanto começava a introdução da música. Fechei meus olhos, limitando-me a sentir a energia do palco que eles tanto falavam amar. A voz de diversas pessoas cantando em coro com o vocalista, tão alto quanto as caixas amplificadoras reverberando por todos os cantos do estádio.
— Eu grito, eu xingo, eu fico com raiva e com medo – comecei minha parte na música, sendo acompanhada pela plateia gigantesca, o centro das atenções enquanto as luzes focaram em mim. – Eu caio, eu quebro, eu falho e cometo erros, mas se você não pode me ter no meu pior, você não me merece no meu melhor.
continuou seu verso e eu me limitei a encará-lo. O sorriso orgulhoso em seus lábios era capaz de iluminar um país inteiro por meses. Dom atravessou o palco, parando ao meu lado e fazendo gracinhas. Eu o acompanhei, ficando de costas para ele enquanto tocava animadamente a melodia.
O nervosismo havia se esvaído, deixando apenas a sensação de satisfação e diversão ao cantarmos e dançarmos desajeitadamente para milhares de pessoas. Em um determinado momento, ousei tirar um dos pontos de minha orelha, deixando-o descansar em meu ombro para que eu pudesse escutar melhor o que estava acontecendo. O amontoado de vozes cantando em conjunto cada uma das palavras compostas por mim, enviando uma energia indescritível para cada membro de meu corpo, causando-me arrepios dos pés à cabeça. Eu já não mantinha meus olhos fechados, olhando cada uma das pessoas nas grades da plateia.
Eu deixei um sorriso escapar por meus lábios, puxando o microfone do pedestal e desenhando meu caminho em direção à plataforma mais próxima dos fãs e me sentando ali no momento em que as primeiras notas de meu dueto com começaram.
— Estou ficando louca? Estou perdendo a cabeça? Se você soubesse das coisas ruins que eu gosto, não pense que posso explicar, o que posso dizer? - me estendi em direção aos fãs, colocando o microfone em sua direção enquanto levava uma de minhas mãos até minha orelha em um incentivo para que eles cantassem as palavras. E assim eles fizeram, sorrindo em minha direção. - Isso é para mim? - gritei, encarando uma garotinha que não parecia ter mais de treze anos. Seus cabelos estavam arrumados em tranças até a altura dos ombros. A garotinha assentiu e eu me curvei em sua direção para pegar o ursinho do lanterna-verde que ela estendia. - Obrigada! - eu sorri, tendo minha atenção levada a quando ele parou ao meu lado, cantando seus versos. - Ela pode subir?
apenas assentiu positivamente e eu sorri em sua direção. Chamei a atenção de um dos seguranças, falando com o homem para que ele ajudasse a pequena garotinha a subir no palco. Eu conseguia enxergar seus olhos brilharem quando o homem parou em sua frente e falou algo com seu acompanhante, que assentiu positivamente antes de pegá-la no colo e passá-la através da grade, acompanhando-a até a entrada lateral do palco. Eu me levantei, seguindo-os até o caminho enquanto cantava minha parte.
A garotinha parou ao meu lado, abraçando minha cintura com força. Eu sorri, abraçando-a de volta e me abaixando ao seu lado em seguida, apoiando meu braço em meu joelho
— Como é seu nome?
— Louise, mas meus amigos me chamam de Lou. - seus olhos brilhavam com lágrimas.
— É um lindo nome, minha mãe também se chamava Louise. Você quer cantar essa parte comigo?
— Eu não canto bem. - ela passou a mão por um dos olhos. - As pessoas vão rir.
— Eles não vão, eu também não canto bem. - fiz uma careta e ela riu, assentindo positivamente quando eu encarei o microfone. - Vamos lá?
— Sim!
— Perfeito. - eu continuei - A forma como amamos é única e quando nós tocamos, eu me arrepio. E ninguém tem que entender, apenas você e eu. Porque estamos vivendo entre os lençóis. Agora, baixinha. - ela assentiu quando eu estendi o microfone para que ela o dividisse comigo.
— Eu quero você para sempre mesmo quando não estivermos juntos, cicatrizes em meu corpo para que eu o leve para sempre. - ela cantou de forma tão afinada que eu conseguia sentir os pelos de meu braço se arrepiando. A pequena garotinha era talentosa e ao menos se dava conta disso.
— Eu quero você para sempre mesmo quando não estivermos juntos, cicatrizes em meu corpo para que eu o leve para sempre - cantamos em uníssono enquanto eu harmonizava com seu tom de voz.
— O que posso dizer? É complicado. - parou ao nosso lado, finalizando a música abaixado ao lado de Louise junto comigo enquanto a abraçávamos.
— Você foi incrível! - eu sorri para a garotinha, que pulou em minha direção e escondeu seu rosto na curva de meu pescoço. Eu conseguia sentir a sensação molhada das lágrimas contra minha camiseta ao abraçá-la. - Se você chorar, eu vou chorar junto. - me afastei o suficiente para encará-la e ela sorriu.
— Oi, baixinha, como é seu nome? - se abaixou também, estendendo o microfone perto o suficiente para que ela conseguisse falar.
— Eu sou a Lou. - a voz dela estava trêmula e eu mal conseguia imaginar a sensação dela estar conhecendo a Rowdy e ainda cantando com eles.
— É um prazer conhecê-la, Lou. - ele sorriu - Você tem uma bela voz, sabia? Acho que vou substituir a por você. Quantos anos você tem, mesmo?
— Eu tenho doze.
— Você vai pegar meu emprego. - eu fiz uma expressão chocada e ela gargalhou. - Mas tudo bem, eu aceito, você é incrível para a sua idade, tenho certeza de que quando crescer vai estar ainda melhor.
— Obrigada. - ela disse, timidamente. - Meu pai diz que eu deveria tentar seguir na carreira, mas eu tenho medo.
— Posso te contar um segredo? Mas você tem que me prometer que não vai contar para ninguém, okay? - levantei meu mindinho e ela assentiu, entrelaçando o seu próprio com o meu em uma promessa de dedinho. - Nós todos temos medo, eu tenho medo de palco. Tá vendo o Donnie ali? - apontei em direção ao guitarrista, que acenou. - Ele tem medo de borboletas. - eu sussurrei. - E o ? Ele tem medo de golfinhos.
— Mas borboletas e golfinhos são fofinhos! - ela defendeu os animais, me fazendo gargalhar quando me encarou com uma expressão ultrajada.
— Golfinhos são aterrorizantes. - ele pontuou - Eles são caóticos para caralho! Golfinhos brincam de vôlei com baiacus, porra. - arregalou os olhos, cobrindo seus lábios. - Opa, escapou, palavra feia, crianças, não repitam. - Lou gargalhou.
— Quer conhecer os outros garotos? - eu sorri.
— Sim! - ela assentiu e eu me levantei, guiando-a pelo palco para apresentá-la aos demais membros da banda.
O restante do show passou feito um flash diante de meus olhos e logo estávamos na última música do setlist, um cover de uma das minhas músicas preferidas do The Script. O riff de The Man Who Can’t Be Moved invadiu meus ouvidos, me fazendo pegar o microfone do pedestal e andar até enquanto ele cantava os versos.
— Eu sei que isso não faz sentido, mas o que eu posso fazer? Como posso seguir em frente se ainda estou apaixonada por você?
Puxei o verso, acompanhando no dueto do refrão enquanto sorríamos um para o outro. A ideia de manter o nosso “relacionamento” em segredo indo para o buraco quando nossos olhos se encontraram naquele palco, me levando para um universo onde nada mais importava senão aquele momento.
— Porque você sabe que é só para você, eu sou o homem que não pode ser movido. – ele parou diante de mim, estendendo seu microfone em minha direção.
— Eu sou a garota que não pode ser movida.
Completei em oposição ao seu verso antes de nos separarmos e terminarmos a música, finalmente parando para agradecer a presença de todos. Eu deixei um sorriso satisfeito tomar conta dos meus lábios assim que parei ao lado dos rapazes, abaixando-me ao lado deles em agradecimento. A adrenalina ainda me corroendo quando eu corri pela saída lateral e abaixei contra o primeiro balde que vi, vomitando todo o meu suco gástrico em seguida.
— Jesus, achei que a gente ia escapar dessa vez. – Griffin riu, abaixando-se ao meu lado. – Tá tudo bem?
— Se não for no começo, vai ser no fim. - respondi, sentindo minha garganta raspar graças ao sabor ácido tomando conta do meu paladar. - Eu estou bem. - balancei minha mão como se isso fosse capaz de tirar os olhares preocupados de cima de mim. - É sério, eu ‘tô bem.
Eu sorri, vendo os olhares dos membros da banda alternarem de um lado para outro em uma comunicação mútua antes de Griffin invadir meu espaço pessoal, passando um de seus braços por baixo de minhas pernas e o outro por trás de minhas costas, me levantando no ar ao mesmo tempo em que os outros três brutamontes corriam em minha direção para dividirem o peso de meu corpo.
— Você conseguiu, !
Tommy sorriu, depositando um beijo estalado em minha bochecha enquanto os outros membros da banda me jogavam para cima como uma cheerleader. Eu não pude evitar rir, sentindo todo o carinho dos rapazes que estavam lá para me apoiar em cada pequeno passo da superação do meu medo de palco.
— Nós estamos extremamente orgulhosos de você. - sorriu, me pegando no colo desajeitadamente quando eles se juntaram para me passar para seus braços. - Você foi incrível.
— As pessoas foram à loucura com o cover de vocês, deveríamos fazer novamente. - Brina sorriu, parando ao meu lado quando me colocou de volta no chão cuidadosamente, mas sem sair do meu lado. - Parabéns, , eu estou extremamente feliz por você - a empresária passou seus braços por meu corpo em um abraço apertado, acariciando meus cabelos com uma de suas mãos. - Sua mãe deve estar orgulhosa, eu sei que nós estamos.
— Eu deveria proibir vocês de fazerem isso. - eu brinquei, sentindo meus olhos queimarem com as lágrimas de emoção. Toda a minha postura segura descendo pelo ralo no momento em que Sabrina sorriu em minha direção.
— Oh, Deus, eu acho que vou chorar. - Griffin murmurou, passando a mão em seu rosto para limpar as lágrimas que começavam a rolar por suas bochechas. - Vem cá, babaca, você merece um abraço em grupo.
Eles se juntaram ao meu redor, me envolvendo em um abraço em grupo enquanto eu desistia de segurar as lágrimas e me deixava ser inundada pela sensação avassaladora de finalmente ser capaz de fazer algo que nunca achei ser possível. Eu me sentia como se meu peito fosse explodir em milhares de borboletas estúpidas enquanto me debulhava em lágrimas nos braços das pessoas que haviam sido a minha família pelos últimos quatro anos. Eu estava grata por cada um deles e não conseguia ao menos pensar em uma forma de compensá-los pela paciência e carinho em cada pequena parte até chegarmos em um palco lotado.
— Sabe, na próxima semana, é o aniversário dela. - eu murmurei, ciente de que eles conseguiriam me escutar. - Eu não achei que poderia me sentir verdadeiramente feliz estando tão próximo dessa data, mas vocês acabaram de mudar minha opinião sobre isso. - eu levantei minha cabeça, finalmente encontrando os olhares de todos eles em cima de mim. - Obrigada por isso, pessoal, eu acho que nunca serei capaz de compensar tudo o que vocês fizeram por mim nos últimos meses.
— Você fez muita coisa para a gente nesses últimos anos, , coisas que nenhum roadie jamais deveria ter sido encarregado de fazer, isso é o mínimo que poderíamos fazer, estrelinha. - sorriu, segurando meu rosto entre suas mãos enquanto falava. - Você é parte da família.
— Sweet home Alabama. - Donnie cantarolou, tirando uma gargalhada gostosa de meus lábios.
— Você acabou de estragar todo o clima fofo que construímos aqui, Dominique, parabéns. - ralhou, encarando Donnie.
— Você quem disse para a garota que você está namorando que ela é parte da família, até onde sei todos os membros dessa banda são como irmãos. - ele se defendeu, mantendo o tom baixo para que ninguém escutasse.
— Vai se foder, não é minha namorada.
— O papel de parede na sua tela de bloqueio diz o contrário. - Tommy pontuou.
— Você colocou nossa foto de papel de parede? - indaguei, encarando o vocalista ao mesmo tempo em que sentia as malditas borboletas irem à loucura em meu estômago.
— Prefiro dizer que ele colocou a sua foto como tela de bloqueio. - Griffin sorriu despretensiosamente, andando em direção à Sabrina e passando seu braço ao redor de seus ombros.
— Eu vou castrar cada um de vocês, não durma perto de mim se não quiser acordar sem suas bolas na banheira cheia de gelo do hotel. - assumiu uma expressão irritada, mas eu conseguia enxergar a pequena curva que seus lábios faziam.
— É tempo de sairmos de fininho para a discussão de relacionamento. - Donnie riu, nervoso, puxando Tommy pelo pulso através do backstage, mas não sem antes se virar em nossa direção. - Nos encontramos no hotel para pizza e comemoração.
— E eis aqui a minha deixa. - Griffin sorriu, batendo dois dedos em sua têmpora delicadamente em despedida antes de sair com Sabrina pelo mesmo caminho que Donnie e Tommy.
— Você vai me dar um discurso sobre isso? - sorriu, voltando sua atenção para meu rosto quando teve certeza de que estávamos sozinhos.
— Eu deveria? - arqueei uma das sobrancelhas.
— Não estabelecemos limites antes, se te incomodar, eu posso mudar.
— Posso ver? - eu apontei para o aparelho no bolso da calça de .
— Oh, claro.
assentiu, tirando o celular do bolso e entregando em minhas mãos. Eu apertei o botão para que a tela se iluminasse e encarei a foto. Ela havia sido tirada em uma das pausas dos ensaios quando saímos para comer em um dos restaurantes de Los Angeles. Na foto eu usava uma camisa laranja, jeans largos e óculos de sol. Meu braço estava apoiado na mesa de mármore e meu rosto estava apoiado em minha mão enquanto o sol iluminava minha pele. Sabrina havia tirado a foto e eu me lembrava de ter postado logo após ela me enviar.
— Você tirou do Instagram? - eu entreguei o aparelho novamente para .
— Não! - ele ficou na defensiva e eu podia ver seu rosto assumindo uma coloração rosada à medida em que ele se confundia nas próprias palavras. - Que tipo de doido você acha que eu sou? Eu pedi para Sabrina me enviar.
— E você está com ela desde quando?
— Desde que você a postou. - fez uma careta, seu rosto ficando cada vez mais vermelho.
— Oh. - eu sorri - Não precisa se preocupar em mudar, tá tudo bem. - eu dei de ombros, puxando o celular do meu bolso antes de desbloquear a tela e virar em sua direção. Seus olhos brilharam antes dele se apressar para pegar o aparelho em suas mãos e encarar o papel de parede da tela de início. Era uma foto tirada por Donnie onde eu estava sentada no topo do piano e tocava animadamente, sorrindo em minha direção, ato que eu nem ao menos havia notado por estar de olhos fechados.
— Quem tirou? - ele me entregou o aparelho - Eu quero essa foto.
— Donnie, ele enviou no chat em grupo que tínhamos quando eu era roadie.
— Por que eu não estou nesse grupo? - assumiu uma expressão confusa.
— Porque na época que eu criei você era insuportável. - dei de ombros e ele deu uma risada, jogando a cabeça para trás.
— Certo, certo. - ele balançou a cabeça negativamente. - Se importa se eu postar essa? - ele apontou em direção à tela do meu celular quando notou que eu havia enviado a foto.
— Não, nem um pouco.
— Vou colocar algumas fotos dos ensaios com os rapazes também. - ele sorriu, se curvando em minha direção e depositando um beijo no topo de minha cabeça. - Você foi incrível lá, principalmente com a Lou. Uma verdadeira estrelinha, se quer saber.
— Eu tive ótimos professores de presença de palco, Barbie da Reabilitação.
— Ah, não fode. - ele riu - Vou tomar um banho, nos vemos depois?
— Claro.
Ele deu um beijo em minha bochecha, andando em direção ao backstage. Poucos minutos depois, senti meu celular vibrando em meu bolso loucamente. Eu franzi o cenho, iluminando a tela apenas para enxergar a barra de notificações se encher de notificações do instagram. Eu desbloqueei a tela, entrando no aplicativo e abrindo a aba de notificação para ver o motivo de tanto alvoroço. Entre as diversas notificações de novos seguidores, perdurava a causa das notificações.
RowdyPete: Ensaio com os garotos e uma Estrelinha. 🤘🏻 #tb
Eu sorri, fazendo meu caminho através do backstage enquanto compartilhava a foto em meus stories. Entrei em meu camarim, fechando a porta atrás de mim antes de me jogar contra o estofado do sofá e digitar um comentário de resposta para a publicação de .