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Welcome Back, Jonas

Finalizada em: 28/09/2019

Parte I

2009

andava de um lado para o outro em seu pequeno quarto, o cômodo era simples, a parede branca praticamente escondida por alguns pôsteres de bandas e cantores colados, ao centro, uma cama de solteiro que a acompanhava desde que tinha cinco anos, logo ao lado, um móvel com seis prateleiras ostentava pilhas de livros, discos de vinil e CDs, no lado oposto, um pequeno armário de apenas duas portas e a sua frente, um móvel pequeno com algumas gavetas abarrotadas de papéis e um notebook que havia ganhado da escola por se destacar no ano anterior.
Aproximou-se novamente do computador e apertou a tecla F5 atualizando a página da revista Capricho. Demorou incontáveis segundos para que carregasse todo o conteúdo, sua mãe – com muito custo – conseguia pagar apenas a menor velocidade de internet disponível, por isso, era muito difícil obter o mínimo de celeridade naquele processo.
Fechou os olhos com força quando viu que o resultado da promoção havia sido postado naquele momento, demorou um tempo para criar coragem e clicar nas letras cor de rosa garrafais.

“[RESULTADO - PROMOÇÃO] SAIBA QUEM SÃO AS SORTUDAS QUE VIVERÃO UMA NOITE INESQUECÍVEL COM OS JONAS BROTHERS”

se sentou diante do notebook e, com as mãos trêmulas, segurou o mouse clicando sobre a matéria, rolou a página lendo rapidamente um resumo do que precisava ser feito para conseguir vencer a promoção e a explicação de que seria escolhida uma participante com direito a acompanhante para cada cidade em que a turnê passaria.
Arregalou os olhos quando enxergou seu nome:

Rio de Janeiro – .

Seu coração batia em sua boca e ela leu e releu aquele resultado por incontáveis vezes a fim de ter absoluta certeza de que ela era realmente a escolhida, viu – logo abaixo do seu nome – o vídeo que precisava enviar para conseguir vencer e certificou-se de que se tratava mesmo dela.
Olhou para o pôster da Demi Lovato em sua parede e sorriu, dizendo:
- Olá, Dems, nos veremos em breve!

********

encarava a porta da sala de sua casa praticamente sem piscar, sua respiração ofegante denunciava toda sua ansiedade e ela só não conseguia aguentar a emoção de esperar sua mãe chegar do trabalho para contar a novidade para ela.
Sabia que seria uma missão um tanto quanto difícil convencer dona Adelaide a deixa-la ir para o Rio de Janeiro atrás de uma boyband americana que possivelmente sua mãe nunca sequer tinha ouvido falar, mas não podia perder aquela oportunidade, não podia deixar passar.
Ouviu o barulho da chave na porta e se ajeitou no sofá fingindo normalidade mas sabendo que, se fizesse um absoluto silêncio, as batidas de seu coração poderiam ser ouvidas. A primeira coisa que viu foi o semblante de exaustão no rosto de sua mãe, a mulher entrou em casa e trancou a porta antes de se virar e estranhar ver a filha ali, perguntou:
- O que você está fazendo acordada a essa hora?
- A gente precisa conversar, mãe – a garota alertou.
- Ok – Adelaide ergueu uma sobrancelha e caminhou até o sofá sentando-se ao lado da filha –, pode falar. A garota umedeceu os lábios tentando organizar suas ideias e escolher as melhores palavras, sua mãe a criava sozinha e sabia que era superprotetora, por isso, surtava com qualquer coisa, por menor que fosse, precisaria tomar cuidado ao falar.
- Sabe aquela cantora que eu amo? A Demi Lovato...
- Claro que sei, tu não para de falar nela – a mulher sorriu. – Não é essa que você veio para mim com um papo de que teria um show no Rio?
- ISSO! – a garota bateu palma, animada. – Essa mesma.
- , você sabe que faço o possível e o impossível pra você, mas infelizmente, pagar um ingresso de show, sua ida para o Rio, hotel...é muito para mim.
- Mãe, eu sei, eu sei, já conversamos sobre isso – ela explicou. – Teve uma promoção, valendo o ingresso do show, com acesso aos bastidores, hotel e passagem, tudo pago com um acompanhante, eu participei e... ganhei.
A mulher ficou um tempo em silêncio tentando entender o que acabara de ouvir, perguntou:
- Como assim? Isso aí está muito bom para ser verdade, , tem certeza que não é um jeito de te sequestrar? Eu não tenho estudo não mas vejo televisão, toda hora eles falam aí que tão roubando criança...
- Mãe, não, eu juro que é confiável! É de uma revista conhecida e que vende no Brasil todo, eu posso te mostrar, explicar tudo, é tão confiável que eu tenho que ir com um acompanhante maior de idade para responder por mim.
- Filha eu não sei não, essas coisas...
- Mãe, por favor, eu já ajeitei tudo! – explicou. – Eu sei que somos pobres, não há outra forma de realizar esse meu sonho se não for aproveitando essa promoção, poxa vida, você não quer me ver feliz? Isso vai me fazer muito feliz! Mãe, sério, por favor, eu te imploro! Minhas notas são as melhores da sala, eu não saio nos finais de semana, eu fico em casa de domingo a domingo, eu nunca sequer levantei a voz para você e sempre me comportei, eu só quero ir a esse show, por favorzinho.
A mulher suspirou, perguntando:
- E quem é o adulto que vai te acompanhar? Eu trabalho até tarde, não tem como deixar minha filha de quatorze anos sem um responsável.
- Quinze – a menina corrigiu. – Eu tenho quase quinze. – deu de ombros. – E eu falei com a Nany.
- Com a Nany? – a mulher soltou uma gargalhada. – Você deve estar achando que eu sou maluca de te deixar sozinha no Rio de Janeiro com a sua prima irresponsável de apenas dezoito anos.
- Dezenove – corrigiu novamente –, ela já tem dezenove, portanto, idade necessária para me acompanhar, sem contar que ela já foi para o Rio várias vezes e conhece um pouco a cidade, ela terminou a escola e não está fazendo nada, ou seja, tem tempo para ir, e o melhor, não vamos gastar nada.
- Quanto tempo eu tenho pra pensar? – a mulher perguntou.
- Na verdade, eu já entrei em contato com a produção da revista confirmando meu prêmio, já está aceito – deu de ombros.
- !
- Mãe! – protestou no mesmo tom. – Eu sei que você queria me colocar num potinho de vidro e me proteger de toda a crueldade do mundo e tal, mas eu preciso viver, eu to sempre escondida aqui em casa atrás daqueles CDs e livros ou daquele computador, eu não tenho amigos, eu não consigo me relacionar com ninguém sem me sentir um peixinho fora d’água isso porque você me guardou de todas as experiências da vida até hoje, mas poxa, me deixa viver isso, só isso!
A mulher sentiu um nó na garganta, sabia que exagerava demais na criação da filha e por isso ela era diferente das adolescentes da idade dela, sentiu-se um pouco culpada e decidiu que não deveria priva-la de viver aquilo, respirou fundo e disse:
- Eu vou ligar para a Nany e passar todas as recomendações.
- YES – a menina levantou do sofá num pulo e ergueu os braços para cima –, obrigada, mamãe, muito obrigada!
- Que fique claro que eu confio mais em você do que na sua prima maluca – respondeu –, por favor, não me decepcione.
- Não vou.

********

observava encantada cada detalhe da cidade do Rio de Janeiro, depois de pouco mais de duas horas de viagem de sua cidade natal para a capital, sentia-se animada demais para se entregar ao cansaço físico. Nunca havia estado ali, conhecia as paisagens apenas pela TV, não imaginava que realmente era tão lindo aquele lugar.
- Fecha a boca, pirralha, está deixando na cara que é da roça – ouviu sua prima rir.
- Cala a boca, Nany – respondeu –, e aí, já decidiu o que vai fazer?
- Ah, por favor, não me faça assistir à esse show insuportável, é demais pra mim – reclamou. – Eu só estou aqui porque nunca jogaria fora a oportunidade de vir para o Rio sem gastar nada, mas assim que você for para o show eu vou fazer coisas mais importantes – piscou.
deu de ombros achando melhor não ter a companhia de Nany de qualquer forma, chegaram no hotel e fizeram o check-in, seguindo para o quarto em que ficariam, a garota se obrigou a dormir mesmo estando uma pilha de nervos, deixou sua roupa separada e quando acordou, um pouco mais de duas horas depois, sua prima já não estava no quarto.
Tomou um banho demorado achando o máximo aquele banheiro do hotel, nunca tinha usado um chuveiro que saísse tanta água, pensou, e logo em seguida riu de si mesma, Nany tinha razão, estava na cara que ela vinha da roça.
No horário combinado com a produção ela estava na recepção do hotel, usava um vestido florido de verão que sua mãe havia comprado em uma promoção e uma sandália baixinha e simples, ajeitou os cabelos para o lado, jogando-os de qualquer forma, nunca sabia exatamente como arruma-los, abriu um sorriso quando viu uma mulher com o crachá da Capricho se aproximar.
- , certo?
- Sim – respondeu animada.
- Onde está sua acompanhante?
- Ela não vai ao show – lamentou –, pegou um resfriado, coitada, está com uma febre altíssima – mentiu.
A mulher arregalou os olhos sem acreditar e respondeu:
- Então sinto muito, mas não poderei te levar, você é menor de idade e eu não posso me responsabilizar, fica bem claro nos termos de responsabilidade da promoção que você tem que...
- Moça, por favor, é o meu sonho, eu vou com o carro de vocês e volto com o carro de vocês, vou estar dentro da arena o tempo todo e prometo não ir a lugar nenhum!
A mulher viu a carinha de cachorro abandonado que a garota fez e negou a cabeça sussurrando:
- Espero que isso não me cause problemas.
- Não vai, eu prometo.
As duas saíram animadas e entraram no carro da produção que esperava em frente ao hotel, seguiram por quase trinta minutos até o local do show com atenta às explicações. Ela assistiria à passagem de som dos Jonas Brothers – ficou chateada pois não conseguiria pegar o ensaio da Demi, mas ainda tinha esperanças de ao menos conseguir uma foto – após a passagem de som tinha um momento em que abriam para perguntas das fãs, como ela era ganhadora da promoção, teria a garantia de fazer uma pergunta, ficou animada.
Depois, seguiria para os bastidores e participaria do Meet&Greet, o momento em que os fãs têm para tirar fotos com os artistas e trocar duas palavras, literalmente, visto que poderia ficar menos que dois minutos na presença deles.
Após, ela seguiria para o espaço entre a pista premium e o palco, onde assistiria ao show num local privilegiado, enquanto as outras fãs voltariam para a pista. Decorou todos os passos que daria, mesmo sabendo que teria a companhia daquela mulher pelo resto da noite para orienta-la, desceu do carro e a acompanhou até um portão nos fundos da arena, podia ouvir as fãs que já estavam na fila cantando ao longe.
Em silêncio, caminhou até a pista premium onde assistiria à passagem de som, vendo os músicos da Demi desmontar o palco dando espaço para os músicos dos Jonas, observou toda a movimentação completamente fascinada pelos instrumentos.
Não se lembrava muita coisa do seu pai, apenas que ele tocava violão e tocava para ela todas as noites, mas sua mãe dizia que ela havia herdado aquele talento dele, quando teve idade suficiente, começou a aprender o instrumento sozinha, tinha um excelente ouvido musical e foi se aprimorando aos poucos. Quando ganhou o notebook e, consequentemente, teve acesso a internet dentro de sua casa, seus estudos alavancaram e ela já era capaz de tocar qualquer instrumento.
Era a primeira vez que estava em um show com todo aquele equipamento, que tinha a oportunidade de ver aquela grandeza de perto, sentiu-se privilegiada.
Não perdia uma só movimentação da equipe de montagem, olhava os cabos, as guitarras, a bateria, enfim, tudo. Ouvia os testes de microfone, tentava fazer nota mental de tudo que ela não entendia para pesquisar depois.
- , fique aqui – a mulher da produção apontou para um local bem próximo à grade. – Geralmente uma tradutora fica no palco na hora das perguntas com um microfone na mão para traduzir para os meninos.
- Tudo bem – sorriu.
sabia inglês o suficiente para se virar em uma conversa, apesar de nunca ter feito curso de idioma, era esforçada demais e conseguia aprender o que quisesse, e sabia que inglês era importante para qualquer carreira profissional, por isso sempre fez o possível para se virar bem, principalmente para entender as entrevistas da Demi.
As outras meninas que estavam ali – não eram muitas, no máximo quinze – começaram a gritar animadas demais com o que viam, desviou o olhar para o palco e viu os três garotos caminharem com sorrisos no rosto até o centro, eles pareciam cansados mas não menos animados, acenavam para o público e Joe foi o primeiro a se pronunciar:
- Boa noite, senhoritas!
As meninas gritaram de novo e só encolheu os ombros achando aquilo engraçado – e muito barulhento. Ela amava música e era super fã da Demi, mas ao mesmo tempo, tinha consciência de que artistas são pessoas normais antes de qualquer coisa e não imaginava que encontraria aquela reação, negou com a cabeça mantendo o sorriso nos lábios.
Os garotos cantaram três músicas – as mais conhecidas da carreira – e cantarolou um pouco contida, era extremamente tímida e acabava destoando das outras garotas presentes ali que gritavam a plenos pulmões a cada remexida mais ousada dos meninos.
Uma mulher – que imaginou ser a tradutora – caminhou até os rapazes no palco anunciando que seria dada oportunidade para quatro meninas perguntarem algo à eles.
- Você tem uma pergunta garantida – a produtora lembrou à .
Ela concordou com a cabeça e viu quando uma menina começou a pular, nervosa, vendo que havia sido escolhida para fazer a primeira pergunta, ela quase gritou enquanto uma mulher se aproximava dela com um microfone, se apresentou, disse de onde era – como se eles conhecessem o Brasil – e perguntou:
- Joe, casa comigo?
estreitou as sobrancelhas sem entender o motivo de alguém fazer aquele tipo de pergunta, observou o garoto sorrir sem jeito e dar uma resposta qualquer e ir para a próxima pergunta.
Joe, Kevin e Nick ficavam cada vez mais desmotivados a cada “vocês estão solteiros?”, “ficariam com uma fã?”, “já ouviram falar sobre o que as mulheres brasileiras são capazes?” e coisas do tipo, nem podia acreditar que estava ouvindo aquele tipo de coisa, e pior, que o constrangimento dos garotos ficava evidente a cada resposta superficial e risada anasalada que soltavam.
- Última pergunta – a tradutora disse e viu quando a mulher passou o microfone para ela.
Respirou fundo quando os três rapazes olharam diretamente em seus olhos, não estavam tão distantes assim, pelo contrário, ela podia vê-los bem de perto, colocou toda a timidez de lado se convencendo de que aquela era uma oportunidade única, umedeceu os lábios antes de dizer:
- Olá, me chamo – sorriu simpática e esperou que a tradutora repassasse seu nome para eles e eles acenaram com a cabeça mantendo um sorriso educado no rosto. – Gostaria de saber como a música entrou na vida de vocês e como é o processo de composição de letra e melodia – esperou a tradutora terminar e viu um sorriso de verdade abrir no rosto dos três.
Nick foi o primeiro a começar a responder, surpreendendo à todos, considerando que ele era o mais calado dos irmãos e quase nunca se manifestava nas entrevistas, mas, quando o assunto era música, ele era sempre o mais empolgado, e sentia-se verdadeiramente feliz por, pelo menos, uma pergunta valer a pena ser respondida.
Ele tagarelou por um tempo e ficou encantada com o quanto ele parecia se dedicar àquilo, música significava tudo para ela também, e sentia-se feliz por ver que eles ainda mantinham a essência de viver aquilo pelo prazer de tocar e não pela fama.
Kevin completou a resposta do irmão com mais alguns fatos da infância deles onde a música sempre foi presente e os três se despediram da plateia, indo para os fundos do palco sob protesto de algumas meninas que não participariam do Meet&Greet e a alegria das que teriam a oportunidade de encontrar com eles.
A produtora guiou gentilmente até os bastidores, comentando como eles tinham gostado da pergunta dela, a menina sorriu sem graça e manteve uma conversa superficial com a mulher, vendo que, após um tempo razoável, as meninas começaram a ser chamadas para entrar no camarim e não demorou muito até que a vez dela chegasse, considerando que não era permitido ficar tanto tempo na presença deles.
- – uma mulher com um headphone e uma prancheta na mão a chamou e ela caminhou lentamente até o camarim onde as fãs eram recebidas.
A primeira pessoa que viu foi Joe que sorriu animado para ela, abriu os braços e quase gritou:
- A garota da música, olá!
A menina encolheu os ombros lutando com todas as suas forças contra aquela timidez que a tomava, já havia perdido oportunidades demais na vida por ser tão insegura em relação à tudo, não queria perder mais aquele momento, respirou fundo e respondeu:
- Prazer, – disse olhando-o nos olhos.
Joe achou engraçado o fato dela não pular no colo dele ou gritar escandalosamente pelo camarim ou fazer qualquer outra coisa que todas as outras meninas que passaram por ali antes fizeram, por isso ele esticou a mão em direção a ela vendo-a segura-la, levou a mão da garota até seus lábios depositando um beijo casto e a encarando logo em seguida, dizendo:
- Prazer, Joseph.
- Eu sei – ela sorriu e varreu o local vendo Kevin e Nick observando a cena. – Olá – deu um tchauzinho de longe e os meninos sorriram.
Viu quando os dois se aproximaram e trocaram um abraço tímido, Kevin foi o primeiro a comentar:
- Você é a garota da promoção, certo? Você consegue me entender?
não conseguiu segurar a risada, ele falava de forma pausada e praticamente gritava, como se ela fosse uma senhora de mais de oitenta anos com sérios problemas de audição, isso soou muito engraçado para ela que respondeu, entre risos:
- Sim, sou a garota da promoção e sim, consigo te entender – mordeu o lábio inferior, incerta. – Só não sei se vocês conseguem me entender.
Os três sorriram e Nick respondeu:
- Sim, perfeitamente.
Apesar de ser fã da Demi e estar naquele show por ela, conhecia a carreira dos Jonas Brothers e as músicas deles faziam parte de suas playlists, e, desde o início, Nick sempre fora seu Jonas favorito, tê-lo falando com ela parecia coisa de filme, negou com a cabeça a fim de espantar aqueles pensamentos, não queria agir como as outras fãs, havia percebido o desconforto deles com certos comportamentos exagerados. Joe perguntou:
- E o que você teve que fazer para ganhar essa promoção?
Ela arregalou os olhos, não esperava que teria um diálogo com eles, e agora se via desesperada por ter que responder aquilo, umedeceu os lábios e respirou fundo, respondendo:
- Fazer algo relacionado à música de vocês, podia ser um cover, reproduzir um clipe, dublar, qualquer coisa, desde que tivesse ligação com pelo menos uma música.
Eles se surpreenderam com aquela resposta, não esperavam nada tão musical assim, Kevin clareou a garganta e perguntou:
- E o que você fez?
- Eu poderia te contar mas teria que te matar depois – ela soltou e eles riram.
- Não subestime o poder do Google, – Nick comentou deixando a entender que pesquisaria pelo vídeo dela e a menina corou achando adorável o sotaque dele ao pronunciar o nome dela.
- Meninos, temos pouco tempo – a mesma mulher que chamou no corredor alertou –, tirem a foto pois tenho que leva-la de volta.
Eles concordaram com a cabeça e os quatro seguiram até a parede com o fundo personalizado dos Jonas Brothers e sorriram animados com uma duplamente mais animada que eles entre Nick e Kevin – seus favoritos na escala dos Jonas favoritos – resultando em uma foto bem fofa, na verdade.
- Muito obrigada, mesmo, vocês são ótimos – ela disse assim que o flash clareou o ambiente em que estavam denunciando que a foto tinha sido tirada –, e, ah, se não for abusar muito, vocês podem dizer para a Demi que, mesmo gostando muito de vocês, ela é a razão por eu estar aqui? – riu sem jeito.
- Assim você me magoa – Joe levou a mão direita ao lado esquerdo do peito fingindo-se ofendido.
- Eu direi a ela – Nick respondeu olhando-a intensamente. – Até logo, .
- Até!
A menina foi conduzida calmamente pelos corredores até o local onde ficaria, levou um susto ao ver que agora o estádio estava abarrotado de pessoas, os portões haviam sido abertos e o show começaria em breve, ela mal podia acreditar que veria Demi Lovato ao vivo e tão perto dela, considerando que assistiria ao espetáculo do espaço VIP entre o palco e a pista premium.
Enquanto isso Nick bufava descontente com seu aparelho celular em mãos e a internet que simplesmente se recusava a funcionar no Brasil, ele não podia esquecer o nome da garota que havia acabado de sair dali e sequer pretendia sossegar enquanto não encontrasse o vídeo que ela havia feito para garantir aquela promoção.
- Posso entrar? – ele ouviu uma voz rouca invadir seu camarim e olhou para a porta.
Demi estava vestida para o show que aconteceria dali a alguns instantes, toda de preto como de costume, com uma camiseta de banda, jaqueta de couro e calça escura, pelo sorriso de lado nos lábios de Nick ela tomou a liberdade de entrar no camarim e se jogou no sofá ao lado do rapaz.
- Está nervosa?
- Muito! – sorriu. – Eles são bem barulhentos e eu ainda estou me acostumando com essa multidão toda, mesmo sabendo que não sou a atração principal.
- Para algumas pessoas você é sim – ele riu.
- Como assim?
- Essa garota, que ganhou uma promoção de um dos patrocinadores do show, ela teve acesso ao soundcheck e ao camarim, e enfim, ela não foi uma fã dessas loucas, sabe? Ela conversou com a gente e no final disse com todas as letras que estava aqui por sua causa.
Demi soltou uma gargalhada vendo a cara nada contente que Nicholas fazia, ele ajeitou os cachos sentindo-se envergonhado de ter deixado transparecer que havia ficado incomodado com aquela situação.
- Você está com ciúme de uma fã, Jerry?
- Não me chama de Jerry, Demetria – ele reclamou jogando uma almofada nela. – As vezes eu penso que a fama me proíbe de viver algumas coisas, você se sente assim?
- A fama me possibilita viver muitas coisas, e eu prefiro pensar dessa forma – ela deu de ombros. – Mas do que você está falando exatamente?
Nick encarou uma pequena mesinha posta a sua frente e suspirou, tentando explicar:
- Se eu fosse um cara normal eu estaria com o telefone dessa garota – disse e Demi arregalou os olhos.
- Nick, Nick, você usa um anel de castidade, não me diga que está pensando em leva-la para o hotel e...
- Eu não estou pensando em nada, Demi, eu nem a conheço, é só uma garota que me pareceu interessante e eu gostaria de conhecer apenas pelo fato de vê-la se empolgar quando o assunto é música, isso é algo que me chama atenção.
- Uhum, sei – ela rolou os olhos –, até que seria bom sairmos do ciclo Gomez-Cyrus-Cyrus-Gomez – implicou.
- Sai daqui, Demetria, vai para o seu show.
Ela se levantou sorrindo e pegando uma maçã da mesa repleta de frutas frescas que ali estava, deu uma mordida antes de responde-lo:
- Estou indo, meu amor, e farei um ótimo show para a sua amada.
Ele rolou os olhos vendo-a sair dali quase que correndo com medo dele jogar outra almofada sobre ela, coisa que ele já estava ameaçando a fazer enquanto ria do jeito desastrado que ela se afastava fechando rapidamente a porta atrás de si.
Nick ficou alguns minutos por ali curtindo um momento a sós antes de encarar a loucura que certamente seria aquele show, resolveu que assistiria parte da apresentação de sua amiga Demi visto que aquele era um dos maiores públicos que ela pegava desde que começou a divulgar sua carreira após Camp Rock, ele não pode deixar de sorrir quando o público a recebeu com uma barulhenta animação, cruzou os braços vendo que não era só que estava animada para vê-la.
Lembrando-se da fã que conhecera mais cedo, esticou o pescoço tentando não chamar a atenção de ninguém enquanto procurava pela garota, seu sorriso aumentou ao vê-la cantar animadamente as músicas de Demi e sorrir com cada pulinho de animação que ela dava.
Definitivamente, era diferente, ela não gritava histericamente como a maioria do público presente, ela cantava cada letra das canções e olhava cada movimento que Demi fazia pelo palco como se morresse de orgulho da garota, ela observava os instrumentos e abria um sorriso mais largo ainda sempre que identificava uma nota difícil de ser alcançada ou um acorde complicado demais para ser tocado.
Ela parecia contemplar o todo, ouvir com o coração, e Nick soube que algo de especial havia naquela garota, e ele gostaria de poder conhece-la melhor.

********

Quatro meses haviam se passado desde que vivera a experiência mais incrível de sua vida, apesar de ser quase humanamente impossível reviver em detalhes daquela noite e aos pouquinhos ela ir se esquecendo de uma coisa aqui outra ali, o sentimento de ter se encontrado permanecia vivo dentro dela.
Até então, como toda adolescente, ela não sabia o que seria de sua vida no futuro, mesmo sendo aluna destaque em sua turma desde sempre e conquistando uma bolsa de estudos integral num dos melhores colégios de sua cidade para cursar o ensino médio, ela tinha noção de que era pobre e não seria fácil chegar onde queria.
Mas aquele show e aquele ambiente acenderam nela a certeza de que ser produtora musical era sua vocação, todo aquele equipamento, aqueles instrumentos, a produção por trás daquele espetáculo, a prenderam tanto quanto – ou até mais – que os artistas pulando de um lado para o outro naquele palco.
Naquela sexta feira chegou em casa bem animada, correu para ligar seu notebook a fim de continuar umas mixagens que havia começado no dia anterior, apesar de lento, ela teria que aprender a lidar com seu computador e sua internet pois era o que tinha naquele momento, deixou o computador ligando enquanto trocava a roupa do uniforme escolar para algo mais confortável para ficar em casa.
- Férias – ela sorriu e colocou um CD do seu pai para tocar no pequeno aparelho de som vermelho que havia ganhado no natal passado –, eu te amo.
Correu para cozinha preparando um lanche qualquer e quando voltou viu a página inicial de seu notebook aberta, uma foto da Demi preenchia o papel de parede e ela sorriu lembrando do show, antes de abrir o programa para terminar o trabalho que havia iniciado no dia anterior, resolveu dar uma olhada em suas redes sociais.
Como sempre, nada chamou sua atenção, ela era, definitivamente, a base da pirâmide social, não tinha amigos, apenas alguns colegas que ela fingia não perceber que só falavam com ela em troca de favores escolares, como produção de trabalhos, pesquisas ou respostas das provas, fora isso, não mantinha amizade com ninguém de seu convívio. Os poucos amigos – por assim dizer – que tinha, era os que havia conhecido em fóruns de produção musical na internet, e a única coisa que lhe chamou a atenção foi a mensagem de um deles dizendo que havia mandado um material para ela no e-mail.
Correu para abrir sua caixa, e-mail era uma coisa que não usava com frequência, apenas usava o endereço eletrônico para fazer cadastros em redes sociais e nada além disso, a única vez que o atualizou foi quando recebeu as informações da promoção que havia levado ela até os Jonas Brothers, fora isso, apenas ignorava toda mensagem que aparecia por lá por serem todas elas notificações das atividades de suas redes sociais.
Esperou a página carregar enquanto mastigava seu pão com uma quantidade considerável de requeijão quando viu o e-mail que o rapaz havia mandado perdido por ali, resolveu que seria melhor, antes de qualquer coisa, fazer uma limpa em sua caixa e, no meio de todas as notificações, algo lhe chamou a atenção:
Em inglês, o assunto dizia:

“Não subestime o poder do Google,

Ela sentiu seu coração palpitar, abriu a mensagem rapidamente quase engasgando com seu lanche, sendo obrigada a quase nadar em seu suco de caju para voltar a respirar novamente, quando viu as palavras escritas em inglês sussurrou:
- Não pode ser.
O e-mail dizia:

“Olá, garota da música! Sei que deve estar se perguntando como eu consegui seu endereço de e-mail, mas, assim que voltei para casa não foi difícil encontrar você, joguei no Google tradutor a palavra “promoção” e depois foi simples: promoção, Capricho, Jonas Brothers.
Encontrei seu vídeo e na descrição tinha seu e-mail. Pensei mil vezes antes de te enviar essa mensagem e já é a sexta vez que escrevo isso, só queria dizer que estava certo, você realmente entende de música, eu gostei tanto do seu vídeo que baixei o áudio e agora você está na minha playlist.
Eu possivelmente não devia dizer isso porque agora você vai me achar um psicopata, mas, você tem talento e uma linda voz, continue assim!
É isso, espero poder te conhecer melhor, quem sabe não podemos nos encontrar novamente algum dia?
Enfim, desculpe-me por falar tanto.
Até mais.
Nick J.
(P.S.: por tudo que é mais sagrado, não espalhe meu e-mail para ninguém)”


umedeceu os lábios antes de percorrer os olhos por todo corpo do e-mail lendo novamente, fez isso por mais umas quatro vezes, olhou o endereço de e-mail e não parecia nem um pouco com algo que Nicholas criaria, era uma junção de letras e números que não fazia o menor sentido para ela, viu a data e seu coração gelou, aquela mensagem havia sido enviada para ela há quase três meses.
Se realmente fosse Nick, o que será que ele estava pensando por ter ficado todo esse tempo sem resposta? Ela mordeu os lábios e, sem saber o que fazer, leu o e-mail mais uma vez, estava quase decorando aquelas palavras.
Respirou fundo e apertou em responder.

“Olá, suposto Nicholas Jonas, eu não sei se consigo acreditar nisso, primeiro porque jovens não se comunicam por e-mail, segundo porque Nick Jonas nunca me mandaria um e-mail e terceiro porque esse endereço eletrônico parece um código sem o mínimo de sentido pra mim, então, Nany, se for você, não tem graça!”

Bufou sabendo que sua prima era a única que sabia d os detalhes do encontro dela com os Jonas, não que de fato ela tivesse algum interesse, mas estava animada demais com tudo que havia acabado de viver, e considerando que ela não tinha amigos próximos o suficiente para falar sobre e que sua prima estava presa com ela num carro por quase duas horas no caminho de volta para casa, ela tagarelou por todo caminho sobre a noite que teve.
Rolou os olhos achando-se patética demais por ter acreditado naquilo, nem que fosse por um segundo, voltou para sua caixa de entrada e abriu o e-mail que o rapaz do fórum de produção havia mandado, baixou o material e ouviu, decidindo que daria os retoques necessários mais tarde.
Abriu seu programa de edição e deu continuidade ao seu trabalho, a todo momento tentando explorar novas ferramentas a fim de aprender bem a mexer naquele programa, passou incontáveis horas ali, até que sua mãe chegou do trabalho e ela se viu obrigada a ajuda-la no jantar, as duas dividiram a refeição com uma conversa animada e logo a garota seguiu para o banheiro a fim de tomar um banho relaxante.
Quando voltou para o quarto, ouviu mais uma vez a trilha que havia feito, mesclando três músicas que ela gostava bastante, colocando uma batida eletrônica e mantendo a melodia de uma delas predominante, principalmente o som do baixo que marcava a canção de forma impecável, aprovou o resultado e o salvou, fechando o programa logo em seguida.
Assim que a interface escura se desfez, a página inicial do e-mail voltou a aparecer e ela arregalou os olhos quando viu que uma resposta ao e-mail enviado ao “Nick Jonas” brilhava em sua tela, ele havia respondido há duas horas atrás e ela sequer tinha percebido.
Clicou rapidamente voltando a se sentir a pessoa mais idiota do mundo e a mensagem recheou a tela:

“LOL realmente sou eu, fico feliz que tenha visto minha mensagem, foram três longos meses afinal. Abra o anexo.”

Ela reconsiderou incontáveis vezes, abriu seu antivírus para ter certeza se estaria preparada caso aquele anexo infectasse o único dispositivo minimamente tecnológico que tinha e voltou ao e-mail, clicando no anexo.
Seu coração parou.
Uma foto de Nick preencheu a tela, os cachos dele caiam desalinhados sobre seu rosto, ele mantinha os olhos fechados e um sorriso sem mostrar os dentes – como de costume – as sobrancelhas arqueadas davam a ele uma feição de criança, daquelas que são pegas quando estão aprontando, ele segurava o notebook na altura do rosto com o vídeo de aberto na tela.
Era ele.
E ele havia mesmo visto aquele vídeo.
Ela respirou fundo e se levantou da cadeira andando de um lado para o outro no quarto tentando manter o foco, Nick Jonas era um cara como outro qualquer, afinal, mesmo nunca tendo mantido uma conversa duradoura com uma pessoa do sexo oposto, sendo ele famoso ou não. Já havia ignorado ele por três meses, depois por duas horas, então achou que poderia fazer isso por mais uma noite.
Não sabia o que responder de qualquer forma, achou melhor fazer aquilo no dia seguinte.
Desligou o computador e pulou na cama.
Naquela noite, dormiu com um enorme sorriso no rosto.


2010

- Joe está perguntando se você irá nos ver.
Nick sorria abertamente pela webcam e ainda não havia se acostumado com o fato de que ele podia sorrir mostrando os dentes quando estava realmente feliz, mesmo que ele não gostasse disso, saía de forma natural e ela achava adorável.
Não sabia exatamente o que estava acontecendo ali, mas de alguma forma, os e-mails viraram mensagens via MSN quase que diárias e as mensagens aos poucos deram lugar às ligações de vídeo via Skype e de repente, todo horário livre dos dois era gasto entre conversas quilométricas, mesmo que um deles tivesse que se sacrificar pela madrugada graças ao fuso horário.
A princípio, tudo se resumia a música, mas depois de um ano de contato quase que diário, Nick podia, mesmo a distância, descobrir até o que estava pensando, e vice-versa, os dois criaram um elo que para ele era novidade, só se sentia assim, tão aberto a ser ele mesmo, com Demi, e agora a vida lhe presenteara com uma nova amiga.
- Avisa ao Joseph que eu não sou obrigada a olhar para a cara dele depois de tudo isso – respondeu, séria. – E já que a Demi não vem então vocês não me interessam – falou, mantendo o sorriso leve no rosto demonstrando se tratar de uma piada.
- Ai, essa doeu – Nick se fingiu ofendido.
suspirou, sentindo o peso da conversa mudar completamente, umedeceu os lábios antes de perguntar:
- Agora falando sério, como estão as coisas aí?
- Difíceis – confessou. – O pior é saber que não estão ligando muito para a Demi e sim para o escândalo, sabe? Em como isso pode manchar a nossa imagem, quando na verdade a Demi está destruída e precisando de ajuda.
- Ter que parecer perfeito para o mundo todo o tempo todo deve ser um peso quase impossível de carregar – lamentou e o viu concordar meio tristonho.
- É, mas enfim, ela está na reabilitação e eu sinto muito por ela não poder ir com a gente, mas por favor, pensa com carinho em ir mesmo assim – ele voltou a sorrir. – Só falar que sim que eu garanto suas credenciais e estadia.
mordeu o lábio inferior, incerta, ele a observou por um tempo, mesmo com a imagem em uma péssima qualidade, achava a menina encantadora. Ela deu de ombros e concluiu:
- Vou conversar com a minha mãe, ok? Ela é a única pessoa que sabe sobre a nossa amizade e até hoje acha que estou sendo enganada por algum hacker que quer roubar meus órgãos – confessou e ele gargalhou. – Te dou a resposta até a próxima semana, tudo bem?
- Certo! – ele concordou e alguém bateu na porta, reconheceu a voz de Kevin.
- Ensaio, Nick, agora! – ele ergueu uma sobrancelha e completou. – Hey, !
- Hey, Kev! – ouviu a voz animada da garota pelo auto falante do computador. – Eu também tenho que ir, tenho que estudar para as provas, não sou privilegiada com a divindade da homeschool.
Nick rolou os olhos antes de concluir:
- É bem mais difícil do que você imagina!
- Não é como se você dependesse de um diploma para ganhar dinheiro porque, ah, você já tem muito! – riu.
Ele negou com a cabeça e acenou, tímido.
- Tchau, , nos vemos no Brasil em breve.
- Tchau, Jerry.
Ela provocou e a última coisa que viu foi ele rolando os olhos mas deixando escapar um sorriso no canto dos lábios.
Encarou a tela escura da chamada recém terminada e ficou pensando por um tempo onde havia se metido, Nick era seu primeiro amigo e com ele criou vínculo com Kevin e Joe – mesmo Joseph estando na sua lista de pessoas que ela mais odiava no momento devido ao que havia feito com Demi – ela gostava dos irmãos e sentia que eles eram pessoas comuns, como ela.
Mas com Nick era diferente, ele era seu Jonas favorito desde sempre, fato, e com a amizade dos dois ficou comprovado o motivo de ter eleito justo ele àquele posto, Nicholas era extremamente charmoso, fofo e atencioso com ela, mesmo sabendo que para ele era só amizade e que, possivelmente, haviam outras mil meninas na mesma posição que ela, afinal, era inexperiente sim mas não era idiota, eles viajavam o mundo todo e da mesma forma que ele se aproximou dela, podia se aproximar de qualquer outra em qualquer lugar desse planeta.
Mesmo nessa posição, mesmo se esforçando para acalmar seu coração todas as vezes que ele se rebelava em seu peito a cada chamada de vídeo ou a cada mensagem inesperada, ela não podia deixar de pensar como seria maravilhoso se o primeiro cara de sua vida fosse ele, não por ele ser o Nick Jonas da banda Jonas Brothers, mas por ele ser o único que ela confiava para dividir suas mixagens e produções, o único que ela desabafava sobre se sentir sozinha, o único que a aconselhava e demonstrava que se importava com ela.
Nick era único para ela.
E ela era uma menina de quase dezesseis anos que nunca tinha sequer dado um beijo na boca.
Não havia como esperar menos que uma paixonite por ele.
E era por isso e apenas por isso que se sentia relutante em relação a encontra-lo quando viesse ao Brasil para a turnê de divulgação de Camp Rock 2, seria arriscado demais olhar dentro dos olhos dele, encarar aquele maldito sorriso de lado e a forma adorável com que ele estreitava os olhos todas as vezes que queria impressionar alguém e não se sentir no mínimo atraída.
Era o Nick, afinal.
E como ela, havia milhares e milhares de garotas igualmente apaixonadas.
Não sabia exatamente onde estava com a cabeça quando, depois de muita insistência, aceitou o convite para ir com eles ao show que aconteceria no Rio, a verdade era que, quando caminhou pelos bastidores com um crachá imenso pendurado no pescoço e encarou a porta do camarim escrito “Nick Jonas” em letras garrafais, sentiu que não devia ter ido até lá, mas era tarde demais.
Bateu levemente na porta, meio incerta do que deveria fazer quando o visse, ensaiou possíveis diálogos mesmo sabendo que Nick nunca seguia seus scripts mentais, rolou os olhos sentindo-se patética e ajeitou a postura decidida a encarar aquilo com naturalidade, era seu amigo, afinal de contas, conversavam quase que diariamente há mais de um ano, não é possível que seria diferente.
Quando a porta se abriu e um Nicholas com sorriso amarelo e visivelmente desconfortável apareceu, ela viu que seria diferente sim.
Trocaram um abraço desajeitado e sorrisos forçados quando ele abriu o braço e disse:
- Entra aí, fique a vontade.
“Ficar a vontade como?” pensou, mas apenas concordou com a cabeça e estalou os dedos enquanto caminhava lentamente para dentro do cômodo improvisado.
Nicholas a observou sentindo-se estranhamente nervoso com a situação, estava ansioso por aquele momento, é claro, mas era diferente de todas as garotas que ele havia conhecido até então, e só se deu conta de como não fazia ideia da forma que se comportaria com ela quando já era tarde demais.
Para qualquer outra era só ele ser o Nick Jonas da banda Jonas Brothers.
Para ela não, e ele sabia disso.
- Então...animado? – ela mordeu o lábio, a mania que ele mais gostava de ver.
- Bastante – ele sorriu sem mostrar os dentes. – E você?
- Estaria mais se você não agisse como se eu fosse te atacar – confessou.
Ele levantou as sobrancelhas, surpreso com aquela declaração, caminhou até ela se sentando no sofá, vendo-a acompanha-lo, os dois encaravam um ponto fixo na parede branca a sua frente.
- Toda essa história com a Demi, eu só estou surtando com esse clima – disse e a olhou pela primeira vez –, e você não facilita as coisas pra mim.
Ela uniu as sobrancelhas mostrando-se confusa, examinou o rosto dele, mesmo sabendo que Nicholas não era um homem de muitas expressões faciais, por isso perguntou:
- Como assim?
- Eu tenho que me esforçar com você porque você só não liga para o fato de que eu sou...eu – apontou para si mesmo. – Você me trata como um cara qualquer, e por mais que eu ame isso, me faz lembrar que estou perdendo a minha identidade com toda essa loucura, porque tem se tornado mais natural eu ser o que eles querem que eu seja do que ser o que eu deveria ser, ser quem eu sou quando estou com você.
desviou o olhar voltando a encarar a parede, pensou naquelas palavras brevemente antes de responder:
- “O Nick tem que ver isso” – ela sussurrou e ele e olhou sem entender, continuou. – É o que eu penso sempre que algo legal acontece na minha vida, “o Nick tem que ver isso” – voltou a olhar para ele. – É assim quando eu termino de mixar uma faixa nova, é assim quando eu aprendo um instrumento diferente, é assim quando eu tiro dez num teste bobo na escola, ou quando eu assisto à Sociedade dos Poetas Mortos e é como se você estivesse do meu lado dizendo o quando adora esse filme – ambos sorriram. – Pra mim esse é você, o cara apaixonado por guitarras e carros, que assiste o mesmo filme um milhão de vezes e que me apoia em tudo que eu fizer, você não é o cara que vende milhões de discos pelo mundo e arrasta multidões por onde passa, você é só o meu amigo e isso basta pra mim, enquanto pra todo o resto você tem que se esforçar para ser algo mais, lembre-se sempre que pra mim você não precisa se esforçar nem um pouco pra ser o cara mais incrível que eu conheço.
Nicholas abriu a boca sem ter certeza de como reagir àquelas palavras, o olhava intensamente, com um brilho no olhar que até então ele não conhecia, sentiu quando, mesmo contra sua vontade, seu olhar desceu até a boca da garota prendendo-se ali por um tempo, forçando-o a reunir todas as suas energias para voltar a olha-la nos olhos, sussurrando:
- Obrigado por me manter com os pés no chão.
Ela sentiu a respiração dele bater em seu rosto e seu coração batia em sua garganta, sentiu-se ofegante de uma hora para outra, não podia acreditar que seu primeiro beijo seria com Nicholas Jerry Jonas, o momento levava os dois para aquilo, era como se um campo magnético tivesse se estabelecido entre ambos e eles se aproximavam mesmo sem perceber.
Até que o barulho da porta se abrindo assustou os dois que se afastaram tão bruscamente que Joe – que gargalhava ao lado de Kevin – nem percebeu o clima quando entrou no camarim, ele jogava uma garrafa de água para cima e pegava novamente, como se aquilo fosse a coisa mais empolgante do mundo.
- ! – Kevin exclamou, abrindo os braços.
A garota quase correu até ele e o abraçou com vontade, sentindo o rapaz fazer o mesmo, como sempre fora, Kevin era seu segundo Jonas favorito e ela acabou fazendo amizade com ele também, e com Danielle, sua esposa.
- Hey, Kev! Como você está? E a Dani?
- Estamos muito bem! – respondeu. – E você?
- Estou ótima – ela sorriu.
Joe encarou a garota sentindo-se um pouco inseguro para se aproximar, coçou a nuca visivelmente desconfortável e disse:
- Oi, .
O olhar que a garota o lançou parecia sufoca-lo de forma violenta, ela o olhou dos pés até a cabeça e soltou:
- Olha só quem consegue viajar sem a vampira guarda-costas do lado, que surpresa, Joseph, que bela surpresa.
Ele rolou os olhos como se aquela cena fosse além do necessário, sabia que iria surtar quando soubesse do término dele com Demi, enquanto estava com a garota, pediu ajuda para a fim de tirar informações valiosas, considerando que a menina acompanhava todas as novidades quando se tratava de Demi Lovato, nem reparou que ele mesmo se tornou amigo de por aquele tempo, e ela sempre dizia que o mataria com as próprias mãos de ele fizesse mal à Demi.
E ele havia feito, sabia disso.
- Eu não tenho culpa de estar apaixonado, .
- Mas tem culpa de levar a garota na porra da turnê, Joseph – exclamou e todos na sala perceberam que era a primeira vez que a viam soltar um palavrão.
E mesmo assim ela não ficava nada além de fofa.
Nick segurou o riso, todo mundo queria dar um esporro em Joe afinal, deixaram que fizesse o trabalho sujo.
- O que você quer que eu faça? – ele ergueu os ombros.
- Nada, Joseph, eu não quero que você faça nada, tu é um imprestável mesmo – rosnou –, eu espero que Taylor Swift faça um milhão de músicas ridículas sobre você!
- Uau, que grande castigo – ironizou ele achando graça.
- Ela era sua amiga, você sabia que estariam em turnê juntos, você sabia que ela era louca por você, tudo isso foi baixo demais – ela respondeu. – Eu estou indo para a área VIP, não quero ter que olhar pra essa sua cara de deboche enquanto eu sei que você foi o responsável por desencadear essa crise dela quando deveria ser o cara a ajuda-la a se reerguer.
E com isso a menina marchou para fora do camarim, sendo a primeira pessoa a jogar na cara de Joseph pela primeira vez o quão errado ele estava naquele momento, só então ele sentiu a carga pesada da culpa o invadir, olhou para Nicholas antes de cuspir as palavras:
- Da um jeito na tua namoradinha.
- Foi você que resolveu se tornar amigo dela também, eu não tenho nada a ver com isso – ergueu as mãos.
- E ela está certa – Kevin completou recebendo um olhar perplexo do irmão. – Você foi um babaca, Joseph, aceite.
O garoto apenas rolou os olhos e saiu dali a passos largos, achando um absurdo uma garota como , relativamente mais nova que ele e sem ser ninguém relevante em sua vida, falar com ele daquela maneira.
- Você arrumou uma bem esquentadinha, hein – Kevin sorriu.
- Ela é só minha amiga – Nicholas respondeu –, nem começa.
- E você acha que eu não reparei o climinha aqui quando cheguei?
Kevin sorria abertamente para um Nick que não esboçava nenhuma reação, ele manteve os olhos entreabertos e respondeu:
- Vai continuar falando? Porque eu realmente não estou ouvindo.
Kevin rolou os olhos e negou com a cabeça saindo dali, torcendo para que o irmão não demorasse a perceber que conexões como aquela não podem ser desperdiçadas, ele havia vivido aquilo com Danielle e esperava que Nick percebesse que era alguém especial.

********

Nick encarava o mar a sua frente enquanto ouvia falar em português com a pessoa que havia levado a pizza que eles pediram, ela estava em seu quarto de hotel, e, depois de garantir que todos já estavam dormindo, Nick apareceu por lá com sua habitual carinha de criança levada e um sorriso traquinas no rosto.
Ela voltou para dentro do quarto carregando a pizza e foi para a sacada, nem o vento frio era capaz de espantar o calor do Rio de Janeiro, mas deixava o clima muito mais aceitável, o céu estrelado compunha um cenário maravilhoso com o mar em frente ao hotel. A garota se sentou no sofazinho de dois lugares que Nick estrategicamente posicionou de frente para a paisagem e comentou:
- Tem fãs dormindo lá na calçada, que doideira!
Ele riu de lado pegando um pedaço da pizza e mordendo com vontade antes de comentar:
- Nada em relação aos fãs brasileiros me surpreende mais.
- Nem estar dividindo essa deliciosa pizza com uma delas?
Ele ergueu uma sobrancelha refletindo sobre aquilo, concluindo logo em seguida:
- Realmente, nunca pensei que teria essa relação com uma fã, mas, teoricamente, você é fã da Demi e não dos Jonas Brothers.
- Meio verdade – ela ergueu o dedo indicador. – Eu também sou quase fã de vocês, mesmo achando que o Joe deveria ser expulso da banda.
Nick soltou um riso fraco antes de dizer:
- As vezes até eu acho isso – deu de ombros. – Eu briguei sério com ele quando tudo aconteceu, sei lá, tenho medo dessas pequenas coisas afetarem nosso relacionamento.
- Vocês são irmãos, Nick, antes de tudo tem um laço de sangue, isso é forte, não se pode separar uma banda de irmãos.
- Na teoria não – encarou o mar que se movia calmamente com o balanço das ondas. – Mas na prática nem sempre é assim, as vezes queremos coisas diferentes e isso gera brigas e tudo fica confuso, sabe? Eu tenho várias composições e projetos meus que eu só não consigo encaixar meus irmãos nesse contexto.
ergueu as sobrancelhas meio perdida com aquela declaração, engoliu o pedaço de pizza que estava em sua boca perguntando logo em seguida:
- Você pensa em carreira solo?
- Não – se apressou em responder –, não penso em carreira solo, mas penso em dar uma diminuída no ritmo para investir em algum projeto paralelo.
- Você me parece bem seguro disso, o que me faz pensar que já tem algo em mente.
- E você me conhece bem – ele deu de ombros. – A recepção do meu trabalho paralelo com o The Administration foi maior do que eu poderia esperar, e estamos considerando uma turnê, o que atrasaria as questões dos Jonas Brothers, e, bom, os meus Brothers não estão curtindo muito a ideia.
Ele riu sem humor e apoiou os cotovelos na perna, descansando o rosto em suas mãos e sentindo-se cansado com todas aquelas questões, tudo que queria era expressar suas emoções através da música, e não era questão de se sentir mal em dividir o palco com seus irmãos, era só que, junto com eles, não tinha espaço suficiente para demonstrar seus sentimentos.
Sempre se sentia desconfortável ao cantar A Little Bit Longer, por exemplo, porque era um momento que chamava a atenção apenas para ele e sentia-se culpado com isso, mas ao mesmo tempo, aqueles momentos eram únicos para ele que podia, nem que fosse por alguns minutos, expressar toda sua dor através da música, e, por Deus, aquele era o único motivo que o tinha levado a escolher aquela carreira em primeiro lugar.
Já com o The Administration era diferente, era ele se abrindo para o que sempre quis pela primeira vez, e sabia que sua intenção não era se destacar dos seus irmãos – mesmo que a mídia constantemente o apontasse como o melhor deles – sua vontade era única e exclusivamente se expressar através de sua música.
Sentiu quando passou a mão de leve pelas suas costas fazendo um carinho aconchegante, todo seu corpo foi relaxando aos poucos e ele não pode deixar de achar aquele gesto bom demais, como se fosse um remédio para toda sua tensão.
- Na vida, há tempo para se arriscar e tempo para ser cauteloso, e o homem sábio sabe o momento de cada um deles – a garota sussurrou e ele sorriu.
- Sociedade dos poetas mortos.
Ela concordou, mesmo sabendo que ele não poderia ver aquele gesto, e respirou fundo encarando o mar, a brisa gelada cortou o rosto feminino que fechou os olhos sentindo aquele frescor, esperava que ele entendesse, com aquela frase, que, se ele escolhesse ser ousado e arriscar, ela estaria ali apoiando-o de qualquer forma, mesmo que amasse os outros dois irmãos que completavam aquela banda, sabia que por várias vezes eles eram obrigados a cortar as sugestões de Nicholas por não serem “comerciáveis” o suficiente, e aquela necessidade de vender estava deixando o garoto extremamente irritado, ela sabia, já haviam conversado sobre incontáveis vezes.
Manteve o carinho nas costas dele e quando o sentiu voltar a posição ereta, abriu os olhos encontrando os dele sobre ela, era um olhar diferente do que estava acostumada até então, por reflexo, retirou a mão das costas dele e cruzou os dedos encarando o próprio pé logo em seguida, ouviu-o sussurrar:
- Se eu não viesse com toda essa bagagem eu te beijaria agora.
Ela voltou a encara-lo com os olhos arregalados, seu coração começou a bater tão forte que podia jurar que ele ouviria, umedeceu os lábios ouvindo-o continuar:
- Mas seria injusto te empurrar pra dentro desse mundo, você é boa demais pra isso.
estreitou as sobrancelhas e disse:
- Não é sobre o mundo em que você vive, Nicholas, é sobre quem você é.
Ele concordou com a cabeça e soltou um largo sorriso, odiando a forma com que ela arrancava aquele gesto dele de um jeito tão natural, afastou uma mecha dos cabelos dela que balançavam com o vento daquela madrugada e desceu seus dedos pela bochecha até chegar na nuca da menina, ele sabia que seria o primeiro mas não ousou em comentar sobre isso, conhecia bem demais para saber que qualquer passo errado a assustaria e ela sairia correndo dali, por isso se aproximou bem lentamente, sem desviar o olhar dos olhos dela.
Quando ela finalmente fechou os olhos num claro sinal de aceitação para que aquilo acontecesse, ele encostou seus lábios aos dela pela primeira vez, se dando conta de que era apenas com aquele beijo que ele estava sonhando há alguns meses, e nem podia suportar a felicidade de finalmente tê-la entregue a ele daquela forma.
Passaram incontáveis minutos trocando beijos e carinhos, e a cada troca de olhares ele podia vê-la abrindo mão de sua timidez aos poucos e seguindo seus instintos, depois de um bom período de silêncio, onde ela mantinha o rosto apoiado no ombro dele que a abraçava pela cintura, ele soltou uma risada e disse:
- Tem certeza que você nunca tinha beijado antes?
ergueu as mãos escondendo seu rosto com elas, sentindo sua bochecha queimar e Nicholas gargalhar ao seu lado.
- Por favor, não começa!
- Eu só estou dizendo que você é uma ótima aluna, é um elogio.
- Eu leio muita fanfic soltou e ele riu de verdade.
- Mentira!
- Verdade!
- E quem você namora nas fanfics?
- Zac Efron – ela respondeu sem pensar.
- Estou pessoalmente ofendido com essa informação, você podia ter mentido.
Dessa vez que riu do tom que ele usou, levantou seu rosto a fim de encara-lo, vendo um sorriso de lado sambar em seus lábios como de costume.
- Já é difícil demais não se apaixonar por você, Nicholas, e até então eu nunca cogitei a hipótese de ter algo além de sua amizade, já que o fato de ser sua amiga já é além do que a sorte me permite – umedeceu os lábios. – Se eu deixasse me iludir pelas fanfics eu estaria perdida!
Ele curvou a boca para baixo achando a explicação justa o suficiente e deu de ombros concordando.
- Eu queria que você se visse como eu te vejo – sussurrou –, mas um dia você vai perceber que está se tornando uma mulher incrível.
Ela sorriu em resposta e pela primeira vez a iniciativa de beija-lo partiu dela, o que fez com que um misto de surpresa surgisse no rosto masculino a sua frente e que aquele costumeiro sorriso de lado com os lábios fechados brilhassem novamente no rosto de Nicholas.


2011

Nick: Finalmente!!!!!!
: Você é maluco.


Essas foram as primeiras mensagens trocadas pelo aplicativo WhatsApp no smartphone que havia chegado no endereço de na manhã daquela cinzenta quarta feira.

Nick: Feliz aniversário, .
: Quando você disse que queria meu endereço eu estava esperando receber, sei lá, flores, não um celular desse! As pessoas vão me olhar como se eu tivesse roubado uma loja.


Nick riu da mensagem da garota, há tempos desejava que ela tivesse um smartphone para facilitar a comunicação entre os dois, morria de saudade e sabia que um celular como aquele ajudaria demais a manter contato com frequência, não pensou duas vezes quando comprou o aparelho e enviou para o Brasil como um presente de aniversário pelos dezessete anos dela.
Denise passou pelo filho jogado no sofá com um sorriso no rosto e se aproximou, perguntando:
- É a , né? – sentou-se ao lado dele colocando as pernas do filho em seu colo vendo-o concordar com a cabeça. – Ela gostou do presente?
- Surtou um pouco, disse que eu exagerei – ele riu. – Mas tenho certeza que ela vai amar descobrir a praticidade disso aqui – levantou seu iPhone e a mãe sorriu.
- Vocês estão namorando?
Nicholas desviou o olhar e pensou por um momento naquela pergunta, claro que ele tinha amado passar aquele momento com quando estivera no Brasil há meses atrás, mas os dois não assumiram um relacionamento sabendo que namoro a distância tinha tudo para dar errado e a última coisa que queriam era magoar o outro.
- Nós achamos melhor não assumir um compromisso – explicou. – Ela está lá e eu aqui, não tem como convivermos agora e ficamos com medo de nos machucarmos se assumíssemos um relacionamento.
Denise concordou com a cabeça e perguntou:
- Mas você está vendo mais alguém?
- Não – prontamente respondeu –, mas não é como se estivesse me privando disso também, só não conheci ninguém que valha a pena ainda.
- Ninguém como a , certo? – ela soltou um sorriso para o filho que sentiu o rosto corar. – Eu nunca te vi desse jeito, nem com a Miley, essa menina traz a sua essência, a essência do meu filho doce e meigo, que é um garoto normal como qualquer outro e único ao mesmo tempo, você vive dizendo por aí que ela não liga para fama e todas essas coisas, tem certeza que não vale a pena arriscar?
- Queria entender como ela garantiu esse fã clube todo de repente – riu.
- A gente vê o bem que ela te faz, mesmo à distância – Denise comentou.
- As coisas não estão boas com a banda, tem muita coisa acontecendo, eu tenho me sentido melhor dividindo o palco com o The Administration do que com meus próprios irmãos, e isso está tomando uma parte grande demais da minha mente para ter um relacionamento para administrar no momento – explicou. – Mas de qualquer forma, a recepção da minha tour com o The Administration está ótima e estamos estudando a possibilidade de leva-la para o resto do mundo, e óbvio que isso inclui o Brasil.
- E o que seus irmãos acham disso?
Denise ajeitou sua postura sentindo que aquele era um assunto delicado, mesmo que Paul, seu marido, participasse mais ativamente das questões da banda e ela se reservasse ao direito de permanecer sendo apenas mãe, sabia que algumas diferenças estavam surgindo entre os meninos e temia que aquilo abalasse as relações da família.
- Eles estão felizes por mim, mas fica aquele clima chato, né? As vezes, repetem tantas mentiras na mídia, que elas se tornam verdades para gente, eu sinto que eles se sentem ameaçados em alguns momentos, mesmo não sendo essa minha intenção.
- Eu sei que não é, querido – ela sorriu. – Mas vocês darão um jeito, para a banda e para o seu coração.
Nicholas passou alguns longos dias pensando no que sua mãe havia falado, e os dias se tornaram meses, seu coração palpitava em seu peito ao entrar no voo que o levaria de São Paulo para o Rio de Janeiro em sua turnê com o The Administration, sorria feito um bobo encarando a foto que havia mandado horas antes, na sacada do hotel onde ele ficaria hospedado.
O vento balançava os cabelos dela que sorria abertamente deixando seus olhos apertadinhos, trazendo a ela uma feição infantil, ele podia ver o céu azul e parte do mar ao fundo e tudo era tão lindo que seu coração errou uma batida tamanha era a saudade de tê-la em seus braços. Não conseguia entender como podia passar quase um ano sem vê-la e ainda sentir aquele misto de ansiedade e nervosismo por estar tão próximo de encontrá-la de novo.
A saudade era tanta que, ao contrário de toda sua equipe e colegas de banda, ele resolveu pegar o voo para o Rio assim que saiu do show em São Paulo, na companhia de apenas um segurança, era início da madrugada e sabia que os aeroportos estariam mais vazios, as ruas menos movimentadas e as fãs não estariam tão atentas já que esperavam que ele viajasse na manhã seguinte.
Deixou bem claro que não assumiria compromissos extras no Rio de Janeiro, que sairia do hotel apenas para o Vivo Rio, local do show, e voltaria para o hotel logo em seguida. Era próximo das duas e meia da manhã quando ele destrancou a porta do quarto com um cartão e entrou meio desajeitado com uma mala e uma mochila, deixou seus pertences naquele pequeno corredor na entrada e caminhou pelo cômodo procurando .
Mesmo com a mala dela ali, a cama estava intacta e ele sentiu seu coração disparar temendo que algo tivesse acontecido, chamou-a mas não obteve resposta, foi até o banheiro que estava vazio, acelerou o passo até a sacada respirando aliviado, ela dormia profundamente em um sofá aconchegante, o livro sobre seu peito e os óculos em seu rosto denunciavam que o sono a pegou de surpresa enquanto ela esperava por ele.
Sorriu com a cena e não perdeu a chance de fotografa-la, queria guardar aquela imagem para sempre e não podia confiar em sua memória para tal, após tirar a fotografia, foi lentamente até ela e retirou os óculos de grau de forma leve, tentando não acorda-la, pegou o livro de sua mão e a garota se mexeu um pouco, mas não acordou.
Após, ele se abaixou e a pegou no colo, nesse momento ela despertou um pouco, mas apenas se ajeitou no peito dele e respirou fundo, sussurrando:
- Senti saudade do seu cheiro.
Ele sorriu com aquelas palavras e da forma com que elas saíram emboladas devido ao sono da menina, apenas ajeitou o corpo dela na cama seguindo em direção ao banheiro logo em seguida, tomou um banho rápido pois sentia os sinais do cansaço em seu corpo, deitou-se na cama ao lado dela abraçando-a e depositando um beijo em sua cabeça antes de dizer:
- E eu senti saudade de você.
Ele sabia que a garota estava dormindo e não o ouviria, e logo ele sentiu o sono chegar e fechou os olhos entregando-se ao sono mais sereno de sua vida. Acordou na manhã seguinte com a claridade em seu rosto e xingou internamente por não ter fechado a cortina da sacada na noite anterior, levantou-se vagarosamente e só então se lembrou de que não estava sozinho.
Olhou para o lado vendo ainda dormindo com uma expressão leve no rosto, seu coração se aqueceu com a cena e ele foi cuidadosamente até a cortina fechando-a e trazendo o ambiente escuro para o quarto. Voltou a se deitar ao lado dela que, com o movimento dele, se aninhou em seu corpo e deitou a cabeça sobre seu peito, estava acordada e morrendo de vergonha de estar ali, na mesma cama que ele, e ter passado a noite toda ao lado do rapaz, mesmo sabendo que não tinha acontecido nada, preferiu fingir que ainda dormia.
Nicholas deu um beijo no topo da cabeça da garota e sussurrou um “ei” que saiu rouco e arrastado devido ao sono, apesar de achar um pecado acorda-la, ele estava com saudade de ouvir tagarelar em sua cabeça como sempre fazia quando os dois estavam juntos – virtualmente ou não.
- Hum, to com sono – ela resmungou se agarrando mais a ele que riu.
- Eu vou pedir nosso café da manhã, o que você vai querer.
- Nada, quero ficar aqui pra sempre.
Ele achou graça do tom que a menina usava e começou a fazer um carinho nas costas dela, perguntando:
- Você tá com vergonha de mim?
- Talvez – foi a resposta que ouviu.
Ele estendeu a mão para ela colocando-a no campo de visão da garota antes de dizer:
- Aqui, ó, meu anel continua no meu dedo.
achou graça daquilo e esticou as pernas e os braços bocejando preguiçosamente antes de levantar o rosto olhando para Nicholas pela primeira vez, o cabelo bagunçado e os olhos ainda mais apertados devido ao sono deixavam o rapaz ainda mais encantador.
- Bom dia.
- Bom dia – ele sorriu e se inclinou dando um selinho na menina –, e então, café?
- Uhum, quer que eu peça?
Ele deu de ombros achando melhor que ela fizesse aquilo em português e a viu se levantar enquanto dizia o que ia querer, ela se espreguiçou mais uma vez, estando em pé agora e deixando visível o pijama pequeno que usava, o que, claro, chamou a atenção de Nicholas que percorreu o olhar por todo o corpo da garota, ela, que estava de costas, não percebeu o gesto e ele achou melhor assim.
Observou-a pegar o telefone e discar o ramal da recepção e começar a uma conversa animada com a recepcionista, ele riu da forma com que ela parecia se expressar com muito mais naturalidade quando falava em sua língua natal. passou tudo que queriam para o café da manhã e se virou para ele dizendo:
- Daqui a pouco está chegando aí – caminhou até sua mala pegando sua nécessaire a fim de seguir para o banheiro e fazer sua higiene matinal. – Como foi o show ontem?
- Ótimo, eu realmente estou amando estar em turnê com esses caras, eu preciso de coisas novas para me motivar – se empolgou vendo-a sumir para dentro do banheiro, sem no entanto fechar a porta.
- Eu acompanhei alguma coisa pelo twitter, algumas contas estavam fazendo cobertura – explicou.
- E o que você achou?
Ele esperou que o barulho que indicava que ela estava escovando os dentes cessasse e logo ela apareceu novamente no quarto com uma feição mais disposta que antes, apontou para ele com a nécessaire em mãos respondendo:
- Que você supera todos os limites quando veste terno e gravata e anda por um palco com uma guitarra na mão, eu não aguento.
Ouviu-o gargalhar gostosamente enquanto guardava suas coisas na mala e prendia o cabelo em um coque alto, Nick seguiu para o banheiro a fim de fazer o mesmo que a garota fizera anteriormente, perguntou:
- E qual é a sua música favorita?
Ela umedeceu os lábios e se jogou na cama digitando um SMS para sua mãe apenas para certifica-la de que estava viva e bem, aos poucos a mulher ia se acostumando com o fato de que sua filha estava se tornando mais independente a cada dia, bloqueou o aparelho e respondeu:
- Apesar de toda a polêmica, a minha favorita é Stay. Nicholas definitivamente não esperava por aquela resposta, ouviu quando a campainha soou pelo quarto e se levantou rapidamente recebendo o café da manhã deles, agradeceu educadamente e fechou a porta atrás de si, empurrando com cuidado o carrinho que comportava todas as coisas que pediram, tomou a liberdade de seguir até a sacada, afinal, um dia lindo estava apenas começando e tomar café encarando aquele espetáculo de vista era a coisa certa a se fazer.
Roubou dois morangos e saboreou enquanto aguardava por Nicholas que logo apareceu na varanda ampla puxando uma cadeira e se sentando ao lado da garota, ele disse:
- Você se importa? Com o que dizem...
- Não – ela olhou para ele com dificuldade devido a claridade e ele observou que os olhos dela ficavam ainda mais bonitos no sol. – Eu sei que você tem um passado, e se você sente que precisa dividir isso no palco, é algo que eu não tenho motivos e nem poder para impedir.
Ele sorriu de lado.
- Eu escrevi essa música há alguns anos, logo depois que a Miley lançou a dela e me ligou bêbada dizendo que era para mim – explicou. – Ela tinha sido a minha relação mais duradoura e constante até então, e eu senti algumas...coisas depois daquela ligação e então escrevi a minha versão de Stay – fez referência à música dela que tinha o mesmo nome. – É engraçado que, hoje, eu canto essa música apenas porque ela me permite explorar a minha voz de forma diferente e isso me motiva a ser um artista melhor e um cantor mais tecnicamente preparado, mas eu juro que é só esse significado que ela tem hoje.
- Nick – ela colocou a mão sobre a mão dele –, está tudo bem, de verdade, eu também acho que sua voz fica ótima nessa música, justamente por isso é a minha favorita, agora deixa isso pra lá, ok? – ele sorriu sem mostrar os dentes e voltou a preparar sua salada de frutas. – Eu gostei do seu cabelo desse jeito.
A garota comentou sentindo seu rosto corar, a última vez que o vira pessoalmente ele estava com os cachos caindo pelo rosto como um menino e agora o cabelo penteado e alinhado moldava o rosto um pouco mais másculo do que ela se lembrava.
- Sou quase um homem agora – se gabou.
- Quase? Ué! – ela mostrou não ter entendido.
Ele abaixou a cabeça sentindo-se envergonhado por ter insinuado aquilo com uma garota tão inocente quanto que apenas deixou o assunto para lá e engatou uma conversa qualquer sobre o fato de estar migrando do Reaper para o Pro Tools, que para ela era um software de mixagem mais completo e dinâmico, permitindo que ela tivesse acesso à mais ferramentas para produzir suas faixas.
- E sobre a faculdade? – ele perguntou e a viu suspirar.
- Eu te falei desse curso de produção fonográfica que seria o meu sonho, né?! – disse. – Mas eu teria que me mudar aqui pro Rio e por mais que eu pegue esses bicos como produtora as vezes, eu não tenho como me manter aqui, é tudo muito caro – lamentou.
- Bom, sobre isso, eu tenho uma ideia – ele sorriu. – Mas primeiro eu preciso que você me prometa que não vai surtar, ok? Eu sei o quanto você quer ser independente e reconhecida no seu trabalho, mas não tem nada de errado em aceitar ajuda de alguém.
- Ih, eu não to gostando dessa história – reclamou.
Nick negou com a cabeça e pensou antes de dizer o que estava prestes a dizer, umedeceu os lábios e ergueu as sobrancelhas olhando a menina intensamente, prosseguiu:
- Eu ia falar sobre isso depois, realmente não acho o momento certo, mas antes de tudo eu quero que você saiba que não estou esperando por uma resposta agora, ok? Pode pensar, será tudo no seu tempo – explicou e ela concordou com a cabeça. – Eu conversei com a minha mãe antes de saber se viria para o Brasil novamente com essa turnê, e ela me perguntou se estávamos namorando e isso me deixou pensativo – ele explicou e ela não queria ter que conversar sobre aquilo naquele momento, mas optou por ficar quieta e ouvi-lo. – Você é diferente, , e é louco pra mim pensar que eu passo um intervalo de quase trezentos e sessenta e cinco dias para te ver pessoalmente em um dia apenas e mesmo assim me sentir completamente feliz com isso, quero dizer, isso deve significar algo, certo?
- Eu acho – ela deu de ombros, sentindo-se confusa.
- Eu tenho certeza, e eu tenho muita coisa acontecendo agora, com a banda e com meus projetos paralelos, mas não acho que seja justo com a gente deixar a nossa história de lado por conta disso, mas eu também não acho que tenhamos como construir algo nessa de se ver apenas uma vez por ano – argumentou e ela concordou com a cabeça. – Por isso minha proposta é, você me acompanha por mais esses quatro shows que eu tenho aqui no Brasil, depois eu volto para os EUA com a missão de me ajeitar com meus irmãos, resolvendo isso eu pretendo vir para cá mais vezes, não só quando eu estiver em turnê mas sempre que tiver um tempo livre, nem que seja uma semana, e para isso eu teria que ter um lugar aqui e meus advogados já estão vendo nas imobiliárias e seria um lugar em que você poderia morar e fazer sua faculdade...
estreitou as sobrancelhas sem entender exatamente o que ele queria dizer, umedeceu os lábios e perguntou:
- Isso é um pedido de namoro com morar junto esporadicamente? Eu não entendi muito bem o conceito.
- Isso é um pedido para que você dê uma chance real ao que a gente pode viver junto – ele deu de ombros. – Eu vou adquirir um imóvel aqui pra conseguir vir te ver mais vezes e termos mais privacidade, de qualquer jeito, mesmo que você não queira morar nesse lugar, eu só achei que poderíamos unir o útil ao agradável, eu já vou estar pagando de qualquer modo e você pode cuidar das coisas enquanto eu não estiver aqui.
- Ok – ela considerou –, podemos discutir sobre isso.
- Certo, dona – ele respondeu sentindo-se um pouco frustrado por ela não ter aceitado de imediato, mas sabia que era um passo grande demais para cobrar uma resposta rápida.
Mas quando ela sorriu para ele, no final daqueles quatro dias que passaram juntos, dizendo que não queria ter que vê-lo partir e que queria dar uma chance para os dois, ele soube que ela ficaria sim no apartamento que seria deles, e que ela o receberia de coração aberto sempre que ele chegasse no Brasil.
Porque, mesmo com intervalo de anos, era o ponto que Nick sempre voltava para se manter são, e ela amava ser o porto seguro dele.


2012

Era reta final do segundo período da faculdade e se esforçava para estudar física do som, sem entender exatamente o motivo de ter aquela matéria tão chata em sua grade curricular, a noite estava apenas começando e ela não tinha a pretensão de ir dormir sem terminar aqueles exercícios de fixação.
Seu celular começou a vibrar sobre a mesa repleta de folhas espalhadas, ela encarou o visor vendo que se tratava de uma mensagem de vídeo de Denise Jonas, estranhou, pois, dado o adiantar da hora, era no mínimo preocupante que recebesse aquela ligação, não pensou duas vezes antes de atender, vendo o rosto preocupado da mulher do outro lado da tela.
- , graças a Deus você ainda está acordada! – exclamou.
- Estou estudando – a mais nova respondeu. – Aconteceu algo? Estão todos bens? O Nick está bem?
- Ai meu Deus, então ele não está aí? – a mulher se desesperou.
- Não – a mais nova também demonstrou preocupação, seu coração começou a bater forte no peito. – Nós mal nos falamos hoje, eu passei o dia na faculdade e ele disse que tinha uma reunião importante...o que está havendo, Denise?
- Minha querida, não queria te assustar, me desculpe ligar assim – se retratou vendo que agora havia mais uma pessoa preocupada. – Ele e os irmãos discutiram e, não sei, acho que a banda não resistirá à isso, por um lado eu até prefiro, considerando que os problemas profissionais estão interferindo no nosso convívio familiar – pontuou –, mas por outro, o Nick saiu sem rumo e, segundo o Kevin, isso aconteceu logo após o horário do almoço, eu tenho medo, não sei, eu penso na diabetes e em todos esses problemas, ele tinha acabado de almoçar, estava nervoso, eu fico com meu coração na mão.
ouvia cada palavra e sentia como se levasse um soco em cada uma delas, Nicholas estava desaparecido sem dar um sinal de vida desde o horário de almoço e só por volta das onze da noite ela era avisada? Sentiu o fôlego lhe faltar e não conseguiu responder nada além de:
- Vou tentar contato com ele, e, se por acaso ele aparecer por aqui, eu aviso, tudo bem?
- Obrigada, querida, te avisarei também se tivermos qualquer novidade aqui.
Com uma troca de sorrisos quase imperceptíveis elas desligaram a ligação e começou sua busca pelo paradeiro de Nicholas, ligou incontáveis vezes, mandou inúmeras mensagens, falou com os amigos mais próximos e até procurou em páginas de fãs nas redes sociais na esperança de ter saído algum click de paparazzi, mas nada lhe dava o mínimo de informação de onde ele poderia estar.
Passou quase três horas naquela aflição, mandando mensagem para a família Jonas de cinco em cinco segundos em busca de atualização quando ouviu o barulho da chave em sua porta principal, ficou em alerta e correu para a sala de estar vendo Nick abrir a porta com o rosto cansado e carregando apenas uma pasta.
- Nicholas, você quer me matar?
Foi o que conseguiu dizer, mas sequer esperou por uma resposta – mesmo não havendo uma para aquele tipo de pergunta – correu até ele e pulou em seu colo, sendo segurada com força pela cintura, ele começou a chorar e ela também, ambos por motivos diferentes.
Enquanto ela estava aliviada de tê-lo ali, seguro em seus braços, ele sentia suas forças indo embora com toda a confusão que havia se metido com seus irmãos. Ficaram abraçados por um tempo longo até que ele decidiu que tomaria um banho antes de conversar com ela e contar o que havia acontecido. Foi o momento que teve para mandar uma mensagem para a família do rapaz tranquilizando-os e pedindo para que eles não tentassem entrar em contato naquele momento, que ela faria o possível e o impossível para ajuda-lo.
E foi o que ela fez, emprestando seus ouvidos por horas enquanto ele explicava o quão sufocado se sentia na banda, e como a situação estava insustentável para ele, que queria tentar coisas novas, experimentar novos seguimentos, amadurecer seu estilo musical sem ter que precisar da aprovação de seus irmãos para tal. Sentia-se exausto por ser sempre tratado como o mais novo e inexperiente, e se via perdido por não ver mais um motivo para subir no palco, segundo ele, nem as fãs eram mais suficientes para faze-lo curtir aqueles momentos ao lado de Kevin e Joe.
- Isso está afetando a nossa família, – fungou –, eu não suporto mais olhar para a cara dos meus próprios irmãos e me sinto horrível por isso, eles se sentem horríveis por isso, nossos pais se sentem horríveis por isso...é demais para mim.
- E o que vocês decidiram?
Ela perguntou, os dois deitados na espaçosa cama de casal da suíte principal daquele apartamento, Nick mantinha sua cabeça no colo da garota que lhe oferecia um carinho confortável nos cabelos.
- Que vamos cumprir os compromissos que já temos marcados, inclusive o show aqui no início do ano que vem e depois vamos encerrar as atividades como banda – explicou –, nossa assessoria já está com tudo preparado, vamos alegar divergências musicais o que não é de todo uma mentira, e então daremos um tempo para reerguer nossas relações como irmãos e eu só estou pedindo a Deus para que tudo volte ao normal.
- Vocês darão um jeito, são irmãos antes de tudo, família...é um laço forte demais – ela disse. – Sua mãe estava louca atrás de você, e o Kevin e o Joe também, estavam preocupados de verdade, eles se importam...e quanto à banda, as coisas se acertam com o tempo, você vai se encontrar, tenho certeza disso, assim como eles também irão, nunca se esqueça que, mesmo quando tudo estiver caindo ao seu redor, eu nunca vou deixar de acreditar em você, ok?
Ele ergueu o rosto encontrando o olhar feminino cheio de sinceridade e paixão, era ali que ele se sentia completo, mesmo com toda confusão, estar com lhe trazia uma calmaria indescritível, sempre havia sido daquela forma e esperava que continuasse desse jeito.
Não respondeu, apenas se apoiou em seus cotovelos e ergueu seu corpo a fim de ficar na altura dela e a tomou em um beijo carregado de gratidão e de sentimentos que ambos amavam compartilhar. cravou os dedos na nuca do rapaz enquanto ele a puxava pela cintura, o beijo foi, aos poucos, se tornando mais urgente e o fôlego parecia não existir mais a cada momento que passava.
Nicholas se separou dela relutante e sussurrou:
- Eu não aguento mais esperar por isso.
, sabendo do que ele estava falando, respondeu:
- Eu não tenho nenhuma religião mas respeito a sua, a decisão deve partir de você, eu espero o tempo que for.
Ele pareceu pensar um pouco naquilo, umedeceu os lábios e se sentou sobre os joelhos retirando o anel de castidade de seu dedo, dizendo:
- Eu decido que não é sobre esperar pelo casamento, é sobre esperar pela pessoa certa, e eu não tenho dúvida em meu coração que essa pessoa é você e que valeu a pena esperar.
Ela abriu um sorriso imenso enquanto ele colocou o anel sobre a mesinha de cabeceira e retirou sua própria blusa com uma certa urgência voltando a beija-la de forma apaixonada, naquela noite, eles se entregaram um ao outro com todo sentimento que construíram aos poucos por todos aqueles anos.

********

se remexeu na cama esperando trombar com o corpo de Nick ao seu lado, mas isso não aconteceu, ela abriu os olhos vendo que estava sozinha ali, encarou o teto, lembranças da noite que tiveram inundaram sua mente e ela sorriu, era estranho se sentir tão diferente mesmo que tudo ao seu redor parecesse exatamente igual.
- Bom dia – ela ouviu a voz arrastada de sono de Nick e se apoiou nos cotovelos vendo-o sair do banheiro com apenas uma toalha enrolada na cintura –, dormiu bem?
Ela esperou que sentiria vergonha de olha-lo depois que os dois tivessem sua primeira vez, mas, pelo contrário, vergonha não era, nem de longe, o sentimento que ela carregava agora, as coisas entre os dois eram naturais demais para que ela colocasse sua timidez como barreira para aquilo, apenas sorriu e respondeu:
- Bom dia! Definitivamente tive a melhor noite da minha vida!
Ele sorriu e caminhou até ela dando-lhe um selinho antes de ir em direção ao closet e escolher uma roupa qualquer para vestir.
- Vou preparar um café para gente, queria ter feito isso antes de você acordar, mas você pode me esperar aí na cama – voltou para o quarto agora devidamente vestido e com a toalha pendurada em seu pescoço. – Já volto, ok?
- Tem certeza que não quer ajuda?
- Absoluta – ele piscou para ela e saiu dali.
não conseguia tirar o sorriso do rosto, ele fazia questão de trata-la como uma princesa, fazia todas as suas vontades, se mantinha sempre carinhoso e atencioso, os dois riam com facilidade e se sentiam verdadeiramente completos na presença um do outro. Curtiram aquele clima por quase cinco dias, quando Nick se viu obrigado a voltar para os Estados Unidos e terminar o que havia começado, ou seja, a separação dos Jonas Brothers, estava certo de que precisava fazer aquilo, mesmo que fosse difícil, e aquele tempo com havia o ajudado a colocar a cabeça em ordem.


2013

Nick sentia suas mãos suando tamanho era o nervosismo e o esforço que fazia para terminar aquela última turnê, sabia que o final seria difícil mas ele simplesmente não aguentava mais, já tinha praticamente todas as músicas e conceito do seu primeiro álbum solo preparado, seus produtores estavam animados e, por mais que no fundo ele soubesse que estava andando sobre a corda bamba, deixava se envaidecer pelo que sua equipe falava.
Não podia impedir de se achar relativamente melhor e mais talentoso que seus irmãos, e que, ter que dividir o palco com eles estava se tornando algo pesado demais.
Muitas coisas haviam mudado dentro dele naqueles últimos meses, e por mais que uma vozinha tentasse alerta-lo de que estava se enfiando no torto e errado caminho da fama que sobe à cabeça, ele não conseguia impedir de fantasiar como seria maravilhoso estar longe das obrigações dos Jonas Brothers e livre para fazer o que bem entendesse de sua carreira.
E foi por tanto querer essa liberdade que ele passou a questionar inclusive seu relacionamento com , não que não gostasse dela, Deus, tinha certeza de que a amava, mas pensava diversas vezes se não estava vivendo algo sério demais considerando a tão pouca idade que tinha, sua vida deveria estar começando agora, não teria mais as regras da Disney para seguir, ou as do seu pai, ou a do molde de bom moço dos Jonas Brothers, estava quase chegando ao patamar que tanto quis, o que lhe possibilitava ser o que quisesse, e no meio disso tudo tinha um relacionamento que carregava desde dois mil e dez, isso não lhe parecia certo, mas ao mesmo tempo, era covarde demais para terminar o que havia começado.
chegou da faculdade e deu de cara com Nick despojado no sofá da sala de estar mexendo em seu celular, ele bloqueou o aparelho rapidamente quando a viu, não podia negar, aquela menina se transformou em uma linda mulher bem na frente dos seus olhos, ela também havia mudado, a diferença era que ela, em nenhum momento, cogitava deixa-lo de lado para viver suas mudanças, e ele sabia disso.
- Que surpresa maravilhosa! – ela disse correndo até ele e se jogando em seu colo.
Nick a abraçou e tirou os pés dela do chão, segurando-a firmemente pela cintura e afastando os pensamentos que flutuavam pela sua mente, era instantâneo, a presença dela acalmava seu coração de uma forma inexplicável.
- Resolvi vir mais cedo para termos um tempo juntos – ele explicou. – Como você está?
- Muito melhor agora – sorriu – como foi de viagem?
- Tudo tranquilo.
Ela se jogou no sofá vendo-o se sentar ao seu lado, cruzou as pernas perguntando:
- Seus irmãos ficarão hospedados aqui?
- Não – Nick suspirou e ela percebeu que algo não estava certo. – Não estamos nos falando muito bem.
deixou os olhos caírem e encarou seus próprios pés, desabafando:
- Eu tenho te sentido distante, eu sei, eu sei que as coisas não estão fáceis na sua vida profissional e que eu não tenho direito de te encher o saco com qualquer outra coisa ou te cobrar algo – explicou e o encarou –, mas Nick, seja sincero comigo, eu preciso me preocupar com algo em relação a gente?
- Não – mentiu e ela logo percebeu, conhecia aquele olhar –, nós estamos bem.
- Nick – alertou –, por mais que eu te ame eu não posso te obrigar a ficar onde você não quer estar, você tem certeza disso?
Ele desejou ter a coragem dela, a maturidade para encarar as coisas, a clareza de expor seus sentimentos, mas como poderia dizer a ela que, por mais que a amasse de volta, queria curtir a vida e descobrir sensações que até então não conhecia? Como diria que, por ter se privado de tudo desde novo devido aos contratos e mais contratos, agora queria andar de festa em festa, de bar em bar, de mulher em mulher, achando que estava na idade para viver aquilo?
era única, ele sabia, uma em um milhão, sempre o apoiou, mesmo de longe, sempre se fez presente em sua vida, sempre acreditou nele e o incentivou ser alguém melhor, sua família gostava dela, todos ao seu redor acreditavam no relacionamento deles, simplesmente não conseguia terminar tudo com ela, mesmo que parte de seu coração desejasse isso.
Engoliu seco e repetiu:
- Nós estamos bem.
Ela não quis discutir, preferiu acreditar nele, então sorriu e disse:
- Eu tenho uma novidade.
Ele se ajeitou no sofá achando graça da forma empolgada dela, cruzou os braços e disse, entre sorrisos:
- Conte-me.
- A empresária de uma cantora entrou em contato comigo ontem, disse que tinha visto meu trabalho no MySpace e no SoundCloud – explicou –, disse que havia descoberto essa cantora recentemente e estava atrás de produtores que aceitassem fazer o single dela, e mesmo não tendo garantia de que dará certo, pois a garota está no início da carreira ainda, é uma experiência, né? Pegar um single pra produzir sozinha – mordeu o lábio inferior e ele apreciou aquela cena que tanto amava. – Enfim, elas fecharam um super estúdio aqui perto, em Ipanema, e eu vou ter essa experiência incrível.
Nick abriu um sorriso verdadeiro, amava a forma com que ela corria atrás de suas realizações e sabia que ainda se orgulharia muito dela.
- Isso é ótimo, amor – respondeu –, eu tenho muito orgulho de você, de verdade, e se precisar de ajuda você sabe, né?
- Sei – sorriu –, mas isso é algo que quero fazer totalmente sozinha, vou estar em todo processo de criação, considerando que elas só têm a letra e eu farei inclusive a melodia, vou estar no comando do início ao fim, é um desafio imenso mas estou confiante.
- Você vai se dar bem, tenho certeza disso.
Ela quis acreditar naquilo também, já que, ultimamente, tudo que fazia era se esforçar para acreditar no que Nicholas lhe falava, e ele tornava aquela missão muito mais difícil.

********

O crachá que lhe garantia livre acesso aos bastidores balançava no peito da mulher que caminhava pelos corredores, viu o camarim com o nome de Nicholas e imaginou que pela hora ele já estaria ali se preparando para o show, mas não quis entrar. havia acabado de chegar do estúdio onde tinha passado o dia com Anitta, a tal cantora que estava produzindo, e sentia-se exausta.
Para piorar, Nick havia discutido com ela pois, segundo ele, tinha viajado para o Brasil um dia antes para ter mais tempo com ela e achou um absurdo ela simplesmente ter que ir trabalhar. sabia que, se fosse antes, ele seria compreensível e lhe daria todo suporte do mundo, mas, naquele dia, eles tiveram a primeira briga séria e ela só queria evita-lo.
Foi até o camarim de Kevin e deu duas batidas na porta ouvindo-o gritar um “pode entrar” lá de dentro, girou a maçaneta colocando metade de seu corpo para dentro do cômodo e disse:
- Será que eu posso dar um abraço no Jonas mais legal dessa banda?
- Você claramente tem um péssimo gosto para escolher o Jonas certo.
Ela ouviu Joe comentar e só então reparou que ele estava por ali roubando toda comida do camarim do irmão, ela terminou de entrar naquele cômodo improvisado e sorriu, negando com a cabeça, caminhou primeiro até Kevin que a recebeu com um abraço apertado e um beijo no topo da cabeça, depois foi até Joe, incerta de como agir.
- Sei que já se passaram quase três anos desde que nos vimos pela última vez e que eu fui uma ogra com você, me desculpa, Joseph, eu não tinha o direito de me meter na sua vida.
Ele sorriu negando com a cabeça, respondendo:
- Você tinha sim, e você estava certa, eu fui um dos responsáveis pelas feridas da Demi e só Deus sabe o quanto é pesada a culpa que eu carrego – deu de ombros. – Mas não vamos falar disso – abriu os braços e ela correu até ele, abraçando-o –, senti sua falta, pirralha.
- Eu sei que sentiu – riu.
- E o que a senhorita está fazendo aqui com a gente e não está lá com seu namorado?
Ele se afastou dela voltando a encarar a mesa cheia de comida decidindo o que iria atacar enquanto a ouviu responder:
- Nós brigamos – suspirou –, as coisas estão...estranhas.
- O Nick está estranho – Kevin comentou –, eu espero, de verdade, que ele não estrague as coisas com você também.
- Eu também espero – ela disse e seu celular apitou em seu bolso anunciando uma nova mensagem, pegou o aparelho e viu que se tratava de seu namorado. – É ele, está perguntando se eu já cheguei, vou até lá resolver isso, não consigo deixar para depois.
- Qualquer coisa só gritar a gente que eu te salvo – Joe disse, sorrindo.
- Eu sei que sim – ela piscou. – Bom show, meninos, se não por vocês, façam pelas fãs.
Eles concordaram com a cabeça e deram um abraço em trio antes da garota sair dali caminhando apressadamente até o camarim de Nicholas, não queria brigar, e foi exatamente isso que ouviu da boca dele assim que colocou os pés lá, suspirou aliviada por ver que ainda estavam na mesma página afinal.
Passaram aqueles poucos momentos conversando do dia que tivera no estúdio e ele viu os olhos dela brilhando, esforçou-se para decorar cada detalhes daquele rosto, cada trejeito, a forma adorável que ela mordia o lábio inferior quando estava pensando em algo, ou quando juntava as sobrancelhas mostrando-se confusa, ou quando estalava os dedos quando estava entediada, manteve tudo aquilo no fundo de sua memória e num cantinho muito especial em seu coração, sabia que não a veria de novo.
Durante todo o show ela se sentiu sufocada, os três demonstravam claramente que não queriam estar ali e viram as fãs reclamarem desapontadas, e ela própria estava mal com a situação. Ela e Nicholas voltaram em silêncio para o apartamento, ele a segurava pela mão de forma firme a todo instante, o peso da despedida estava ali mas nenhum dos dois ousava a dizer nada.
Assim que fecharam a porta, Nick empurrou pela cintura a imprensando de qualquer jeito na parede e buscando os lábios dela com urgência, ele a beijava de uma forma diferente, como geralmente a beijava antes de ir para o aeroporto em suas incontáveis despedidas, ela o afastou e segurou o rosto dele com as duas mãos obrigando-o a olha-la nos olhos.
- Nick, não – suplicou.
A voz abafada por conta do nó que apertava sua garganta.
- Por favor, .
- Eu não posso fazer isso sabendo que será a última vez – o rosto dele se iluminou com uma expressão melancólica e surpresa –, eu conheço você e sei o que está tentando fazer aqui, se você quer ir, eu não posso te impedir, mas preciso que você diga, eu preciso que seja sincero comigo.
- Eu não consigo – sussurrou.
Ela suspirou sentindo as lágrimas escorrerem pelo seu rosto de forma a deixar sua visão embaçada.
- Eu também não – foi o que conseguiu dizer com muito custo.
Ficaram um tempo em silêncio, exceto pelas respirações entrecortadas por soluços dolorosos. Nick tentou mais uma vez:
- É a nossa última noite, eu não quero esquecer a gente.
- Então não destrua a gente – alertou.
- Eu estou uma completa bagunça agora, , e eu sei que posso te magoar muito se insistir nisso – explicou. – Por favor.
Ela entendeu que seria melhor deixar que então a última lembrança que tivessem fossem de uma noite boa juntos, permitiu que ele voltasse a beija-la da forma que fazia antes, e mesmo o sabor salgado das lágrimas de ambos não tirava a magia daquele momento, cambalearam até o quarto se livrando de suas roupas com urgência, ele estava ainda mais ansioso, precisava tê-la pela última vez.
Ambos lutaram contra o sono para tornar aquela noite ainda mais longa, ela mantinha a cabeça confortavelmente recostada sobre o peito dele, sabendo que, se dormisse, ele não estaria mais ali quando acordasse.
- Eu te amo – foi o que ela sussurrou quando sentiu que não conseguiria mais manter os olhos abertos.
- Eu também amo você, – ele fez um carinho na cabeça dela. – Me desculpa por isso.
- Eu espero que você se encontre – desejou e ele não percebeu nada além de sinceridade naquelas palavras. Como ela ainda conseguia coloca-lo em primeiro lugar? Sentiu-se péssimo.
- Eu também.
Essa foi a última coisa que ela ouviu antes de dormir, e como imaginou, quando acordou, ele não estava mais lá.

********

terminava de fechar a última caixa da mudança, a música All Too Well da Taylor Swift soava pelo apartamento através do notebook que ela mantinha no chão ao lado da mesinha de centro que agora estava desmontada, mesmo sabendo que aquele tipo de música só piorava sua situação, deixou que tocasse e se permitiu sentir toda aquela dor que sentia naquele momento.
Levantou-se a fim de pegar um copo de água, respirar fundo e recobrar o controle de suas emoções, apoiou-se na bancada observando as caixas colocadas de qualquer forma pelo chão da sala de estar, até onde sabia, Nicholas daria um jeito de pegar suas coisas, mas ela não quis detalhes de como ele faria aquilo, apenas separou o que era seu, ficaria um tempo de favor na casa de uma amiga da faculdade enquanto procurava um lugar que conseguisse pagar, naquela época do ano era difícil achar vagas em república.
O som da campainha ecoou pelo apartamento assustando-a, encarou o relógio em seu pulso vendo que faltava um pouco mais de três horas para o horário que havia combinado com o caminhão de mudança, torceu o nariz estranhando a visita inesperada e caminhou incerta até a porta olhando pelo olho mágico.
Seu coração palpitou ao ver a imagem de Denise Jonas do outro lado, não entendia o que estava acontecendo, respirou fundo e abriu a porta, encarando a mulher.
- Denise? – uniu as sobrancelhas num claro sinal de confusão.
- Oi – disse, sem jeito. – Posso entrar?
pareceu acordar de um transe, abriu mais a porta e estendeu a mão para dentro do imóvel soltando um sorriso sem graça.
- Claro, desculpa – observou a mulher dar alguns passos e fechou a porta, virando-se para ela. – Eu não esperava te ver, a portaria não anunciou...
- Cheguei ontem, na verdade, me hospedei em um hotel aqui perto. Nick ligou para a portaria avisando que eu viria, eu tenho a chave mas achei melhor tocar a campainha, não queria entrar de qualquer jeito – explicou e então reparou no rosto inchado da garota. – Posso te dar um abraço?
Era a primeira vez que a via pessoalmente, durante aqueles anos, mantinham contato por mensagens e chamadas de vídeo, a mulher gostava muito daquela garota, porque realmente acreditava que ela poderia manter Nicholas longe dos perigos da fama, assim como Danielle fazia com Kevin e assim como ela esperava que Joe conhecesse alguém especial, mas estava enganada, Nicholas havia perdido sua essência e sabia que era tão vítima daquilo como todos os outros em sua família.
quase correu para os braços da mais velha, claro que já havia sido consolada pela sua própria mãe, havia passado quase uma semana em sua cidade natal colocando as coisas em ordem, mas como estava trabalhando no single de Anitta, não podia perder mais tempo e por isso havia voltado para o Rio e se deu conta de que continuar naquele lugar era impossível.
O fato é que, mesmo que já tivesse ganhado o colo de sua mãe, estar com Denise era diferente pois as duas sentiam o perigo daquela mudança de Nick, ambas temiam que ele fosse por um caminho que não teria volta e se envolvesse com questões perigosas demais, se manter são na indústria musical era uma missão difícil e elas assistiam enquanto ele se perdia mais e mais, e pior, por total escolha dele.
- Eu sinto muito – a mais velha sussurrou.
- Eu também – respondeu.
- Ele pediu para que você ficasse aqui – ela afastou a garota delicadamente a fim de olha-la nos olhos –, você não precisa ir embora correndo desse jeito.
- Agora ele manda recados? – rolou os olhos e cruzou os braços. – Eu não tenho condições de ficar aqui, não depois de tudo que vivemos nesse lugar, sem contar que não faz sentido eu continuar num local que é dele, de qualquer forma – umedeceu os lábios.
- Mas você tem para onde ir? Ele disse que não queria que você trancasse a faculdade e...
- Ok, já que vamos nos comunicar por recados você pode dizer para ele que sei exatamente o que estou fazendo, e que se ele escolheu sair da minha vida que ele pode sumir e deixar que eu cuide das minhas próprias coisas – esbravejou.
se deu conta do tom que havia usado com Denise, que, por Deus, não tinha culpa de nada, arregalou os olhos e clareou a garganta antes de dizer:
- Desculpa, Denise, eu não queria...
- Tudo bem, eu entendo você – ela respondeu mostrando-se realmente compreensível –, agora é uma preocupação minha, você realmente tem onde ficar sem precisar largar os estudos?
- Tenho – respondeu –, eu vou ficar um tempo na casa de uma amiga até achar alguém pra dividir um apartamento ou uma vaga em república – suspirou e concluiu. – Eu vou sobreviver, não se preocupe.
Denise sorriu vendo a certeza pairar no olhar da garota a sua frente, disse:
- Nós podemos continuar nos falando, ok? E você pode ficar tranquila que não vou passar relatórios para o Nick, ele é meu filho mas eu estou do seu lado – piscou e riu.
- Joe e Kevin falaram o mesmo para mim, a Dani também.
- Nós não podemos interferir nas escolhas do Nick, ele já é adulto o suficiente para faze-las da forma que bem quiser, mas podemos fazer as nossas próprias escolhas e todos nós criamos um carinho mais que especial por você, você sempre terá uma segunda família.
- Obrigada – respondeu –, por tudo.
As duas passaram a tarde juntas, Denise ajudou com a mudança e, à tarde, pediram comida japonesa, ficando sentadas no chão do apartamento dividindo aquela refeição e boas histórias, foi um dos primeiros momentos que sentiu que podia ser feliz de novo sem que todo aquele drama ocupasse a sua mente, ela iria ficar bem, sabia disso.
- É isso – ela deu de ombros quando um rapaz saiu com a última caixa que faltava –, aqui estão as chaves – estendeu o objeto para Denise que o colocou sobre a bancada da cozinha –, aquelas caixas ali são pertences pessoais do Nick – mordeu o lábio inferior apontando para um amontoado de caixas no canto da sala –, e aquelas ali – apontou para o outro lado –, são os móveis, o advogado dele me disse que ele iria reaproveitar para o apartamento que comprou em Nova York – explicou. – Enfim, está tudo aí, se ele sentir falta de algo pode me falar.
- Tudo bem, querida, o advogado dele veio comigo, está no hotel, daqui para frente nós assumimos – a mulher não conseguiu impedir as lágrimas de se formarem em seus olhos novamente, abriu os braços sentindo entre eles. – Vai com Deus e seja muito feliz, espero te ver de novo.
- Farei o possível para que isso aconteça – ela respondeu. – Obrigada, por tudo.
A mais velha apenas sorriu e deu um beijo na cabeça da mais nova, que, antes que começasse a chorar de novo, pegou sua bolsa e deu uma última olhada no local, mesmo que não parecesse em nada com o que estava acostumada até então considerando os móveis desmontados e as caixas amontoadas, ainda era o cenário que presenciou sua alegria, sentia-se triste em deixa-lo e pretendia marcar aquilo em sua memória.
Mas agora, como o cenário que faria com que ela renascesse.

********

Nicholas observou a ampla sala de estar de seu novo apartamento, mesmo que não tivesse conseguido reaproveitar tudo, alguns móveis de seu antigo apartamento no Rio de Janeiro lembravam ele de de alguma forma, e sentiu-se feliz com aquilo, foi justamente esse o motivo de não ter vendido seu antigo imóvel com todos os móveis dentro, precisava manter aquela história viva em seu coração.
Decidiu que não daria mais para adiar, precisava desembalar seus pertences pessoais que estavam em caixas onde a letra impecável de desenhava o nome dele, demonstrando que ela havia feito a identificação para não levar com ela nada que fosse dele.
Começou a abrir as primeiras caixas, ela havia organizado tudo com as etiquetas, o que facilitou muito o trabalho dele, a primeira que abriu tinha a identificação “Nicholas – camisetas e blusas sociais”, a primeira peça era a blusa xadrez que ela usava na primeira vez deles, sentiu seu estômago revirar lembrando da forma que desabotoou lentamente cada botão daquele, vendo o corpo dela se apresentar a ele de uma forma que nunca esqueceria. Decidiu então que seria melhor entregar todas aquelas roupas para doação, não queria usa-las, não se encaixavam no novo Nicholas, por isso, fechou a caixa partindo para outra.
“Nicholas – objetos pessoais”
Ali tinha de tudo um pouco, carregador de celular, relógio, um caderninho com composições que Nick sempre mantinha em mãos já que era uma inspiração e tanto, um iPad cuidadosamente embrulhado em incontáveis camadas de plástico bolha, fones de ouvido, enfim, coisas que nem ele sabia que ficavam lá com ela, e que , cuidadosamente, guardou de forma com que nada fosse danificado no transporte daqueles itens.
Ele retirou todas as coisas da caixa decidindo que aquelas seriam importante para guarda-las quando, ao fundo, um objeto lhe chamou a atenção. Era uma espécie de caderno, um journal diary, lembrou-se de ver com aquilo em mãos algumas vezes, mas nunca teve a curiosidade de saber o que ela tanto escrevia ali, imaginou ser composições como ele próprio fazia, e, como artista, entendia que era um material pessoal demais para simplesmente querer ler, esperava que ela tomasse a iniciativa de mostra-lo, coisa que nunca havia feito.
Desamarrou com cuidado as pequenas cordinhas de couro que mantinham o caderno fechado e um papel dobrado estava colado entre a capa e a primeira página – em branco – do diário. Desdobrou o papel e viu que, em sua caligrafia impecável, escreveu:

“Você deve estar se perguntando o que é isso, né? Escrevendo para você agora, sentada no chão do nosso quarto enquanto separo suas coisas eu posso imaginar a sua feição, sobrancelhas arqueadas e olhos pequenininhos sentindo-se confuso com esse caderno.
Nunca mostrei isso para você, espero que entenda o motivo, eu pensei em joga-lo fora mas não consegui, eu pensei em guarda-lo comigo mas sei que ficaria olhando para isso todos os dias e não conseguiria te esquecer, e então me veio à luz, eu precisava deixa-lo com você, já que foi você que decidiu ir embora.
Aqui eu dividi todos os meus pensamentos em relação ao nosso relacionamento, desde o dia que nos conhecemos até o último momento, eu costumava imaginar que a primeira pessoa que veria isso seria nosso futuro filho (ou filha) quando ele fosse um adolescente confuso demais para entender sobre o amor. Eu fantasiei diálogos como “olha como eu e seu pai nos encontramos e somos felizes até hoje”, eu registrava aqui tudo do nosso passado tendo a certeza que você estaria no meu futuro.
Mas você não estará e eu não estou pronta para me desfazer disso.
Não sei se você vai ler o que eu escrevi aqui, não sei se você vai guardar ou jogar fora, eu realmente não sei, não sei nem ao menos se quero saber a decisão que vai tomar, eu só queria mandar isso para longe para que eu pudesse me reconstruir.
Te desejo um mundo de coisas boas, Nicholas.
Com carinho.
Sem mágoas.
.”

As lágrimas escorriam com facilidade pelo rosto do rapaz, ajeitou-se no sofá aconchegante e deixou a carta de lado, encarando as letras enfeitadas da página seguinte:

“Nossa História”

Virou a página mais uma vez dando de cara com uma versão impressa da foto que ele e seus irmãos haviam tirado com ela no Meet&Greet, nem ele se lembrava do quanto ela era diferente naquela época, uma menina tímida, sem muito brilho no olhar, sentindo-se deslocada por estar com eles, sem saber exatamente como agir ou o que falar, havia se transformado em uma mulher linda, determinada e cheia de planos, ele se orgulhava dela e sentia-se mal por não conseguir ser para ela nem metade do que ela era para ele.
Na página seguinte havia a foto em que ele mandou para ela no e-mail, onde segurava seu notebook com o vídeo da promoção aberto, riu daquilo, lembrou que se sentiu a pessoa mais idiota do mundo por mandar aquela foto, não era exatamente o maior fã de selfies, e havia feito uma sem que aquilo fosse moda, riu negando com a cabeça.
Naquele caderno tinha de tudo, os crachás dos shows que ela assistiu na área VIP que o fizeram lembrar da forma empolgada que ela sabia a letra de todas as canções e que o recebia com um sorriso no rosto ao final de cada show dizendo o quanto ele era um artista incrível, o ingresso do show da Demi que ele deu de presente para ela em dois mil e doze, bem como a foto que as duas tiraram juntas, ela o agradeceu por meses por aquilo e ele poucas vezes tinha visto a garota tão feliz.
Uma foto dos dois sentados no chão vazio do apartamento que dividiram fez com que as lágrimas aumentassem, ele insistiu para que aquela fosse tirada a fim de garantir que se lembrariam para sempre do primeiro passo que deram juntos para a construção daquela relação. Na página seguinte, um pequeno pedaço de papelão com a palavra “pizza” escrito chamou sua atenção, não conseguiu entender até ler a frase logo abaixo:

“Nosso primeiro beijo”

“Não é sobre o mundo que você vive, Nicholas, é sobre quem você é”, as palavras ditas por ela naquela noite enfeitavam o rodapé da página e ele soluçou, ao lado um pequeno texto dizia:

“Naquela época eu não sabia exatamente o que aquilo significava mas agora eu sei. Eu sei quem você é, Nicholas, você é o amor da minha vida”

Achou que já tinha visto o suficiente mas, mesmo com a dor que sentia, resolveu continuar. Passou página por página, soltando alguns sorrisos bobos as vezes, ela tinha conseguido colocar ali tudo que fazia a história deles ser tão especial. Quando virou mais uma página, a surpresa, seu anel de pureza estava pendurado ali com uma fitinha vermelha grampeada na folha, seu coração disparou naquele momento e ler as palavras dela expressando o quanto tinha se sentido amada naquela noite o fez sentir nada além de ódio por ele mesmo.
Virou a página rapidamente sem, no entanto, encontrar mais alguma coisa escrita.
A história dos dois acabou ali, e ele também não teve coragem de se desfazer daquilo.


Parte II

2019 – Love Song For No One

estalou o pescoço, desconfortável, havia passado a noite naquela cadeira que, mesmo sendo muito aconchegante, não era exatamente o lugar certo para descansar.
- Você passou a noite trabalhando de novo?
Ouviu a voz masculina e se virou, encontrando John vestindo apenas uma calça de moletom, com o rosto amassado da noite de sono e uma caneca nas mãos.
Mordeu o lábio inferior antes de dizer:
- Você é o John Mayer, não devia andar assim, é covardia.
Ele negou com a cabeça caminhando até ela dando um selinho rápido antes de dizer:
- É assim que eu ando quando estou em casa, você devia agradecer, porque geralmente eu estou como vim ao mundo – se gabou e ela riu. – O que você está fazendo aí?
- Estou terminando de mixar algumas faixas da Anitta, e antes que você brigue comigo, não é exatamente minha culpa se essa mulher não para de produzir coisa nova.
Ele riu negando com a cabeça.
- Como vou brigar com a pessoa que me apresentou você?
quis rir, mas manteve seu olhar concentrado na tela do computador a sua frente, agradecia um bilhão de vezes por John ter um estúdio sensacional todo equipado dentro de sua própria casa, isso facilitava demais as coisas para ela.
- Já disse para não perder o seu tempo gastando seu romantismo comigo – olhou para ele. – Eu curto muito Taylor Swift, ela já me alertou, estou vacinada contra você, querido John.
- Eu não sou o monstro que ela cantou naquela música – ele reclamou e ergueu a sobrancelha, demonstrando zero credibilidade. – É sério! Eu sou um cara muito romântico, olha só para as músicas que eu canto.
- “Eu sou um cara mau porque sequer sinto falta dela, eu sou um cara mau por partir seu coração” – recitou a letra de Free Fallin’ e ele gargalhou. – Sério?
Ela riu sabendo que a música não era dele, ouvindo-o dar voz aos seus pensamentos:
- Essa não é minha.
- Eu sei, mas todas as suas que eu conheço realmente são românticas e eu queria sair com a vitória desse debate – confessou. – E se você fez um cover dela é porque se identifica.
- O cover de XO ninguém vê, mas tudo bem – reclamou.
Ela mordeu o lábio inferior e estendeu o fone de ouvido para ele, dizendo:
- Sua queridinha está terminada, quer ouvir?
Os olhos dele brilharam e logo posicionou o headphone prendendo o olhar num ponto fixo na parede, concentrado, selecionou a faixa com título “I Guess I Just Feel Like” e apertou a barra de espaço dando play na música. O som do violão soou nos ouvidos de John e ele reconheceu a faixa que gravaram na semana passada, fechou os olhos a fim de prestar a devida atenção naquilo.
Absorveu todas as informações que havia ali, mesmo a segunda batida no violão que imaginou ter sido invenção de e sorriu, ela era realmente muito talentosa, quando terminou, pediu para que ela colocasse para tocar de novo, e assim ela fez, deixando-o sozinho no estúdio.
Foi até a cozinha e colocou café em uma xícara, adoçou um pouco e furtou algumas torradas que John havia deixado sobre a mesa, trocou mensagens com a sua mãe que estava empolgada com o cruzeiro que a filha havia dado de presente para ela, a mulher simplesmente não conseguia se conter de felicidade, e sentia-se igualmente realizada por ter conseguido se estabilizar como produtora e ter condições de presentear a mãe com aquele tipo de mordomia.
Desde que lançara o single “Show das Poderosas” e viu a música estourar, Anitta decidiu que não abriria mão de trabalhar com , já que, de todos os produtores que procurou na época, foi a única que aceitou o risco e trabalhou para que aquela música ficasse perfeita, e ficou, alavancou a carreira da cantora que até hoje fazia questão de ter em seu time.
Através de Anitta ela passou a trabalhar para outros artistas brasileiros, até que conheceu John em uma festa em Ipanema, como Anitta sempre dizia, ele manteve o interesse nela até conhecer , os dois conversaram a noite toda – considerando que eram os únicos que não ingeriam nenhuma bebida alcoólica – e ele, vendo todo o talento dela, a convidou para produzir um single para ele.
A mulher passou um tempo razoável nos Estados Unidos se dedicando à música New Light, não soube dizer se era a afinidade profissional de ambos ou a paixonite e admiração que sempre teve pelo artista incrível que ele era, em uma noite, depois de horas finalizando juntos o single no estúdio que ele tinha em casa – já que ele era o tipo de artista que participava de todo processo de criação e fez questão de acompanhar tudo de perto –, eles terminaram o trabalho e comemoraram de uma forma que nenhum dos dois podia imaginar que aconteceria.
E haviam gostado.
E havia nascido uma amizade com muitos benefícios.
Ela estava de pé com seu celular sobre a mesa rindo das mensagens que sua mãe mandava, a blusa grande com uma estampa do Jimi Hendrix tinha o perfume de John e moldava seu corpo servindo-lhe de pijama, o cabelo preso de qualquer jeito com alguns fios caídos pela nuca, local onde ardia e doía demais devido a noite sem dormir.
Esticou os braços e movimentou o pescoço, jogando a cabeça para o lado direito e depois para o esquerdo, levando uma mão até a nuca e massageando o local, logo sentiu o corpo de John atrás do seu e as mãos masculinas passando a fazer aquele trabalho, massageando-a de forma prazerosa.
- E então? – ela perguntou.
- Você mudou meu solo – reclamou e ela riu.
- Eu sei que você é apegado com as suas músicas, mas pode admitir que ficou melhor – fechou os olhos sentindo as mãos dele descerem para seus ombros, apertando-os de forma firme. – E eu anotei a tablatura em algum lugar, mesmo sabendo que você já deve ter aprendido o novo solo só de ouvi-lo.
era intensa demais em tudo, como ele, principalmente na música, característica que o deixava extremamente encantado por ela, principalmente porque ela era a primeira produtora que ousava mudar algo que ele havia criado, sempre reclamava quando ele não lhe dava autonomia para trabalhar e sabia que, desde que a convidara, deveria ser mais aberto e receptivo à mudanças, por isso umedeceu os lábios e meio atravessado com a ideia confessou:
- Ficou melhor sim – ela riu com as palavras.
- Eu sei – se gabou e se virou para ele, passando os braços ao redor de seu corpo e roubando um beijo intenso, como era característico de ambos. – Eu vou tomar um banho e descansar um pouco, é hoje que você tem aquela entrevista, não é?
- Uhum – resmungou –, mas a noite eu estou aqui.
- Eu vou estar te esperando – ela piscou para ele e lhe deu mais um beijo antes de se afastar.
A garota acordou horas mais tarde, a casa escura denunciava que a noite estava começando e que John não havia chegado ainda, esticou o corpo sobre a cama e ficou um tempo enrolando antes de levantar e tomar um banho longo e relaxante, sentindo-se descansada pela primeira vez em um bom tempo.
Saiu do banho e optou por colocar um short com um casaco de moletom de John que estava ali pelo banheiro, o aquecedor fazia um ótimo trabalho mantendo o frio típico daquele início de ano para longe dali. Ela ligou a TV apenas pela necessidade de ter um barulho para fazer companhia e se sentou no sofá olhando suas mensagens, de todas, a única que lhe importou foi a que John enviou avisando que passaria no restaurante japonês que ela amava para comprar algo para eles jantarem.
Depois, como havia deletado todas as suas redes sociais desde o término de seu namoro com Nicholas, ela foi ler algumas notícias do mercado musical a fim de se manter atualizada, afinal, era uma produtora e precisava estar por dentro de todas as novidades e lançamentos. Mordeu o lábio inferior, concentrada nas manchetes até que uma lhe chamou a atenção:

“AGORA É OFICIAL! OUÇA SUCKER, O SINGLE QUE MARCA A VOLTA DOS JONAS BROTHERS”

Ela arregalou os olhos com a notícia, não esperava que aquilo fosse acontecer, nem em um milhão de anos, ainda mantinha contato com Denise e, as vezes, trocava palavras com Kevin e Joe, mas nenhum deles comentou nada e aquilo era grande demais para não ser falado.
Leu a matéria atentamente, que falava bem superficialmente sobre o fim da banda no ano de dois mil e treze e como agora, seis anos depois, eles estavam de volta aos palcos, decididos a dar continuidade na carreira que haviam começado ainda na infância, deu play no vídeo e, mesmo sabendo que ficaria desconfortável em rever Nick depois de todos aqueles anos, ainda mais estando casado, deu dois cliques a fim de ver o conteúdo em tela cheia e esperou que a música preenchesse o ambiente.
E para contribuir com sua ruína mental, Nicholas que começava cantando.
E as esposas estavam no clipe.
Suspirou, esforçando-se para que seu lado produtora falasse mais alto e ela analisasse apenas o áudio.
Foram longos três minutos e dezenove segundos, parecia que para onde olhava só via Priyanka se movimentando graciosamente perto de Nick, esperava que não fosse sentir nada, mas só ela sabia a seriedade daquele momento, havia colocado toda sua história com Nicholas enterrada bem no fundo de seu coração, não comentava, não falava sobre com ninguém, as vezes até mesmo ela chegava a esquecer, para só então, ao revê-lo naquele clipe, se dar conta de que era um sentimento forte demais para que ela simplesmente tivesse negligenciado na esperança de que superasse.
As coisas só não funcionavam daquele jeito, ela sabia, mas preferiu acreditar que o superaria se desativasse redes sociais, evitasse se manter online, isso tudo porque havia descoberto o relacionamento dele com Olivia Culpo da pior forma possível, com uma foto dos dois super felizes em seu feed no Instagram, poucos meses depois do término trágico que passou, achou melhor simplesmente desaparecer do mapa, trocou inclusive seu número de telefone.
Mas agora ela estava ali encarando um Nicholas feliz ao lado de seus irmãos, expressivo e comunicativo diante das câmeras – coisas que nunca fora muito – e casado, muito bem casado diga-se de passagem.
- Cheguei – a voz de John preencheu o cômodo e ela bloqueou o telefone rapidamente jogando-o sobre a mesa de centro.
- Na sala – comentou, torcendo para que seu rosto não denunciasse seus sentimentos.
- Trouxe seu japa – ele sorriu levantando as sacolas para ela, caminhou até o sofá dando um selinho na mulher antes de caminhar até a cozinha e depositar as sacolas sobre a ilha.
Ela passou a manga do moletom que usava nos olhos a fim de secar qualquer vestígio das lágrimas que se acumularam por ali mas não foram suficientes para rolar pelo seu rosto, fungou e negou com a cabeça numa tentativa de organizar seus pensamentos, alongou seu pescoço como fizera incontáveis vezes naquele dia e se levantou, seguindo para a cozinha.
- Estão no armário de cima – explicou, vendo John procurar algo que ela sabia que eram os jogos de hashi que ele havia trazido do Japão.
- Obrigado – respondeu, finalmente encontrando o que procurava.
Se virou para ela e seus olhos se cruzaram pela primeira vez, quando ela reparou a preocupação no rosto dele, desviou o olhar, encarando as sacolas a sua frente, John suspirou e foi até ela, largando os objetos que segurava sobre a bancada.
- Ei – ele passou as mãos pela bochecha dela segurando seu rosto e a obrigando a olha-lo –, o que houve? Você estava chorando?
Queria mentir, mesmo sendo péssima nisso, afinal, nunca conseguiu enganar ninguém, desde pequena nunca soube falar mentiras, respirou fundo, precisava desabafar, mas como faria isso justo com John Mayer? Justo com o cara que era péssimo em relacionamentos e ainda mantinha com ela uma amizade colorida e nada mais?
- Não é nada, John, é só uma coisa que me incomoda um pouco.
- Não parece ser um pouco – observou ele voltando-se para a bancada e tirando as coisas da sacola, ambos se ajeitaram por ali mesmo, sentando-se nas grandes cadeiras que ficavam debaixo do balcão. – Qual é a sua história?
- Como assim? – ela ergueu uma sobrancelha.
- A sua história, ué, para você ter esse pavor do romantismo, para você ficar visivelmente desconfortável quando sou carinhoso ou falo algo mais fofo para você, pra você me afastar da sua vida com tanto desespero, morrendo de medo disso aqui evoluir para um relacionamento, só pode ter uma história, e é essa história que está te deixando assim agora.
- Eu já disse que só não tenho interesse em levar isso aqui a sério porque sei que você não é o tipo de homem que leva algum relacionamento a sério – explicou e o viu rolar os olhos.
- Eu não sou mais o mesmo cara que quebrou o coração da Swift, ok? Você quer que eu desenhe isso pra você entender?
- Ela só tinha dezenove anos – comentou, mais para si mesma, mas mesmo assim John ouviu.
Ele ia rebater, se defender, dizer que, mesmo com dezenove anos Taylor não era de todo um anjinho na época, e se ficou com ele, mesmo sendo relativamente mais velho, ela deveria estar preparada para lidar com problemas de adulto, mas se deu conta de que aquele sussurro não tinha sido exatamente para ele, se deu conta de que, na época em que se decepcionou com o amor, ela tinha dezenove anos, era sobre ela e não sobre ele. Perguntou:
- Você? Você tinha dezenove anos quando tudo aconteceu?
Ela arregalou os olhos se dando conta do que havia falado, respirou fundo.
- É uma ferida, John, e eu não quero tirar a casquinha que está por cima dela e observa-la sangrar novamente.
Ele umedeceu os lábios e respirou fundo, dizendo:
- Sabe quantos anos têm entre a gente? – ela uniu as sobrancelhas sem entender e ele continuou. – Dezesseis, nós temos dezesseis anos de diferença, e sabe o que isso faz de mim?
- Um velho – riram juntos.
- Além disso – umedeceu os lábios. – Faz com que eu tenha uma experiência que você ainda não tem, ainda mais em se tratando de relacionamento. Tá, eu sei que não sou o maior exemplo, tenho quarenta e um anos e estou solteiro, mas você quer saber o que mudou do John que fez a Taylor sofrer para o John que está aqui hoje? Eu aprendi a falar, guardar as coisas nunca é o melhor caminho, porque elas não se vão, elas só se acumulam dentro da gente e quando elas estouram, destroem tudo que veem pela frente – suspirou. – Eu era assim, não conversava, ou eu me expressava com a música ou eu bebia para esquecer tudo, e isso me empurrou para um quadro de alcoolismo que eu sofri para reverter, perdi anos da minha vida vendo tudo passar com as lentes borradas do álcool, não vivi de verdade, não experimentei de verdade, e talvez esse seja o grande motivo por estar até hoje aqui sem esposa ou filhos – deu de ombros. – Você está no auge dos seus vinte e cinco anos, ainda tem a chance de ter tudo, de construir mais do que uma carreira sólida, de ter um lar com alguém que te ame, de criar lindos filhos teimosos como a mãe – os dois riram. – Não espere chegar aos quarenta para se dar conta de que podia ter vivido mais, você é incrível, , só abra seu coração.
Ela estalou os dedos, nervosa com aquele assunto. Respirou fundo e comeu dois pedaços de sashimi, sendo acompanhada por ele, os dois ficaram em silêncio por um tempo até que finalmente ela falou:
- Eu mantive um relacionamento com o Nick Jonas por quase três anos.
- Espera – ele torceu o nariz. – Dos Jonas Brothers?
- Uhum.
- Não precisa dizer mais nada, agora eu entendo o motivo do seu trauma.
Ela gargalhou sabendo que John era o primeiro a criticar artistas pop adolescentes e que, considerando a idade dele, sempre acharia os irmãos crianças inexperientes.
- Cala a boca – deu um tapa no braço dele. – Não me faça levantar a polêmica de Walt Grace’s versus Lovebug.
- Lovebug? – ele fingiu não saber do que ela estava falando. – O desenho infantil?
- O desenho é Ladybug, idiota, mas não tinha como você saber, senhor “tenho quarenta e não tenho filhos” – ela riu e ele se fez de ofendido.
- Assim você magoa os meus sentimentos – pegou um sushi e mastigou, dizendo mesmo com a boca cheia. – Continua sua história triste, ou prefere que eu grave e mande para a Taylor Swift colocar uma melodia nela?
- Continuando – disse, ignorando a piada dele. – Eu cresci numa cidade do interior, rodeada pelos instrumentos musicais, CDs e discos que eram as únicas heranças do meu pai para mim, minha mãe lutou muito pra me criar sozinha e a primeira experiência que eu tive que me tirou daquela bolha foi um show dos Jonas Brothers, que eu fui graças a uma promoção que ganhei, acabei conhecendo o Nicholas e mantivemos contato pela internet por um ano até que ele voltou no ano seguinte com a turnê de divulgação do segundo filme dele que você provavelmente nem nunca ouviu falar.
- Camp Rock – John observou e ela o olhou surpreso. – Eu não vivo numa caverna, ok? E tive que fazer minhas pesquisas quando ouvi a ladainha da Swift sobre o Joe Jonas, eu sei quem eles são.
riu da forma com que ele falou, como se dividir a profissão dele com os Jonas Brothers fosse o cúmulo da vergonha.
- Isso, nessa época a gente ficou pela primeira vez, e basicamente ele foi o primeiro em tudo na minha vida – confessou.
- Que tragédia.
- Será que dá pra você parar? – ela riu. – Enfim, ele comprou um apartamento no Rio para ir me ver com mais frequência, me levou a conhecer o amor, me mostrou que eu podia ser mais do que uma garotinha do interior perdida e conformada com meu status quo, Nicholas foi a peça principal da minha vida por quase três anos, ele foi tão importante para mim que eu sequer considerava uma vida sem ele, eu realmente acreditava que daríamos certo, que chegaria um tempo que não esconderíamos nada da mídia, que viveríamos nosso amor de forma plena, sabe? Ele me levou às alturas e me deixou lá, sem saber como voltar e encarar uma realidade sem ele, e hoje esse é meu único medo, me tornar tão dependente de alguém para depois recomeçar esse trabalho difícil de saber quem eu sou sem essa pessoa.
- E você já parou para pensar que hoje você sabe quem você é sem precisar de mais alguém para descobrir isso? – ele ergueu uma sobrancelha. – Digo, você tem a sua carreira consolidada, e eu sei que isso não acontece muito no mundo colorido dos irmãos Jonas ou sei lá, mas eu estou acostumado a ganhar prêmios, e entre eles, o Grammy, e o seu trabalho em New Light... sério, , você não é mais quem o Nicholas Jonas diz quem você é, e ele é pequeno demais para te privar de viver.
- Eu sei, é injusto vê-lo casado e eu estou aqui, dando voltas e voltas sem sair muito do lugar, exceto pela minha carreira – suspirou.
- Talvez, se você me permitisse te fazer feliz... cruzou os braços tombando a cabeça para o lado direito, com um sorriso de lado nos lábios.
- Te enxerga, homem, tu sabe bem que vai enjoar de mim daqui a pouco – reclamou rindo e ele fingiu achar graça. – Eu sei que você não quer relacionamentos sérios e eu realmente estou confortável com isso aqui – apontou entre os dois. – E obrigada por ter me ouvido agora, mas eu realmente prefiro a sua melhor versão, sabe? – sorriu maliciosa e ele não conseguiu evitar de sorrir de volta.
- Te encontro no quarto.
Foi o que ele disse se levantando e dando um selinho nela antes de começar a recolher as louças, se afastou, deixando para trás um John frustrado por não conseguir demonstrar que ele estava cansado daquela vida de solteiro, que, pela primeira vez, queria dar certo com alguém, e gostaria muito que esse alguém fosse pois, mesmo com a considerável diferença de idade entre ambos, ele não se sentia tão confortável assim com alguém há muito tempo.
Começou a cantarolar sua própria música Love Song For No One enquanto colocava as louças na lava louça, e mesmo que estivesse fazendo aquilo subconscientemente, ouviu um pouco da cantoria do quarto, e sentiu-se mal por não conseguir corresponder ao John o que ele realmente queria.
A voz dele ecoou em seus ouvidos no refrão, e ela achou melhor fingir que não ouvia.

So tired of being alone
(tão cansado de ficar sozinho)
So hurry up and get here
(então corra e venha aqui)
You’ll be so good for me
(você será tão boa para mim)

********

2019 – New Light

- Onde você está?
John andava de um lado para o outro pela sua casa a procura de , quando acordou – com seu celular berrando ao seu lado devido a uma ligação – a mulher não estava mais em seu lado, esperou pois sabia que ela fazia exercícios pela manhã e que provavelmente tinha saído para uma corrida, mas estava ansioso demais para esperar mais tempo por ela, por isso resolveu ligar.
- Bom dia pra você também – ela disse –, estou no parque, vim correr, quem morreu?
- Vem pra casa.
Foi o que ele disse antes de encerrar a ligação, rolou os olhos, John era o rei desses momentos dramáticos, aquele homem, apesar da idade, era feito de sentimentos da cabeça aos pés, intenso em tudo, e ela amava aquilo, não podia negar.
Completou sua corrida e pegou o caminho mais longo até a casa dele, Scary Pockets tocava no último volume em seu fone e a energia de começar o dia animada percorria todo seu corpo, estava em um excelente humor naquele dia e tinha que dar o braço a torcer, desde que falou sobre Nick pela primeira vez depois de todos aqueles anos, sentiu-se muito mais leve e tornava-se mais natural saber que ele e seus irmãos estavam de volta, principalmente porque aquele era o comentário geral e ela não conseguia fugir disso.
Abriu a porta dos fundos pois sentia-se suja demais para atravessar a casa toda, apoiou-se no batente tirando seu tênis e deixando ali no canto, virando-se e dando de cara com John sentado sobre a bancada, com celular em mãos e um pacote de amendoim ao seu lado sendo devorado por ele.
- Que susto, Mayer!
Ele cravou os olhos no top que ela usava, realçando os seios que ele tanto amava, o short grudado no corpo marcava as curvas da garota e ele ficou um pouco paralisado, sem conseguir falar, apenas mastigava os amendoins e admirava a mulher, ela pigarreou chamando a atenção dele.
- Tu já viu tudo que tá aqui, meu amor, tá surpreso com o que?
Ele riu do comentário dela.
- Your body is a wonderland – cantarolou.
- Ih, nem vem reciclar música que tu fez pra outra comigo – alertou abrindo a geladeira e pegando uma garrafinha de água, bebendo o líquido quase todo de uma vez.
- Considerando que fiz essa para a Jennifer...
- Aniston ou Love Hewitt?
- Vem cá, você sabe o nome de todas as minhas ex namoradas?
- Não, porque você não facilita meu trabalho e namora gente demais para eu decorar – comentou.
- Enfim, eu fiz pra Jennifer Love Hewitt, e como hoje ela está com seus quarenta anos eu posso reciclar a música para uma mulher de vinte e cinco.
- Você devia ter vergonha de falar assim daquele monumento de mulher – disparou. – O que tu tinha de tão urgente pra falar comigo?
O rosto dele se iluminou num sorriso.
- Eu recebi uma ligação da minha assessoria hoje cedo.
- Eu nem sabia que você tinha uma.
- Infelizmente eu não posso só ser um cara que toca guitarra e canta sem que toda essa chatice da indústria venha junto – ele comentou e ela riu, se aproximando e roubando alguns amendoins. – Vai ter uma premiação importante e nós fomos indicados à algumas categorias.
- Como assim nós?
- Eu e você – ele explicou como se aquilo fosse óbvio. – New Light é um sucesso, meu amor, e antes da premiação artística que rola com transmissão ao vivo, tem a premiação técnica, e, bem, isso te faz uma indicada também.
arregalou os olhos e quase se engasgou com os amendoins em sua boca, correu para beber mais água sentindo seu coração disparar, não sabia o que fazer ou como agir, era sua primeira indicação à um prêmio, estava um tanto quanto desesperada.
- Eu não acredito nisso – ela sussurrou. – Qual categoria?
- Gravação do ano, melhor performance pop solo, melhor composição instrumental e melhor mixagem – listou –, de todas essas apenas uma pode ser atribuída exclusivamente a mim, que é a melhor performance, de resto, é graças a você, .
Ela negou com a cabeça com um sorriso no rosto, disse:
- Esse papo de que só a indicação já é uma vitória é a maior verdade do mundo, eu estou nas nuvens.
John pulou da bancada e foi até ela, puxando-a pela cintura em um abraço apertado.
- Eu te disse que você é incrível, e te disse que você se tornou algo muito maior que seu trauma do passado, e talvez você já se sinta feliz por ter sido indicada mas eu estou confiante que você leve pelo menos um – confessou. – E eu disse que, dentre todas as coisas que eu posso fazer e que um Jonas não pode, ganhar prêmios é a maior delas.
Ela deu um tapa no braço dele enquanto os dois riam do comentário debochado.
- Obrigada, obrigada por me dar essa música de presente e ser esse presentão na minha vida.
- Oh, isso é uma frase fofa? Deixa eu ouvir de novo, repete aí.
- Cala a boca, Mayer – rolou os olhos diante do sorriso dele. – Eu vou tomar um banho.
- Eu vou junto.
Ele seguiu a garota pelo corredor até o banheiro, gargalhando juntos sobre algo que ela havia dito sobre o relacionamento dele com Jessica Simpson, que havia acontecido aproximadamente em dois mil e seis, e ele rebateu sobre estar fazendo sexo enquanto ela ainda aprendia tabuada na escola, o que levou os dois para uma crise de riso que logo se desenvolveu para uma maratona de beijos e mais uma vez ele teve aquela pontinha de certeza em seu coração que era uma mulher boa demais para deixar escapar como havia feito com todas as outras.

2019 – I’m a Sucker For You

Nick ajeitou a gola de sua camisa com o dedo indicador, sentia-se nervoso por estar se dirigindo à um evento grande em que apareceria com seus irmãos pela primeira vez depois de todos aqueles anos, mesmo estando grato pelo sucesso de Sucker, não sabia se sentia-se pronto para cantar ao vivo em uma premiação, dividindo o palco com Kevin e Joe.
Viu quando o espaçoso carro preto que o levava se posicionou na fila de carros no quarteirão ao lado do local do evento e ouviu quando o motorista pediu permissão para acessar a rua, comunicando que estava com ele e com sua esposa, enquanto Joe e Sophie ocupavam o veículo da frente e Kevin e Danielle eram levados pelo carro de trás.
Seu celular apitou em sua mão indicando uma mensagem de Joe.
Joe: está aqui.
E uma imagem anexa.
Era um print de um story no Instagram do John Mayer, nele, uma mulher ostentava dois prêmios, um em cada mão, um espetacular vestido vermelho com alças grossas indo de um ombro a outro, deixando o colo visível e valorizando os seios, a costura marcava o corpo até a cintura, ficando o tecido solto daquele ponto para baixo, cobrindo toda extensão das pernas, sem, no entanto, disfarçar a fenda na perna direita até a altura da coxa.
Nick piscou, apesar de parecer uma pessoa completamente diferente, o olhar era o mesmo, os cabelos estavam bem maiores do que se lembrava, com os fios posicionados todos para o lado direito, mantendo seu rosto parcialmente escondido, mas mesmo assim, era mesmo ela.
Seu coração acelerou e sentiu o suor começar a escorrer em sua nuca, ela estava absurdamente maravilhosa vestida daquele jeito dando aquele sorriso que ele tanto adorava.
Leu o que John havia escrito: orgulhoso dessa garota!
Curvou a boca para baixo num claro sinal de que não havia entendido. Ela estava com os dois braços erguidos e ele deu um zoom tentando ler os nomes no troféu, a fim de garantir se tratar mesmo dela, mas não conseguiu enxergar, bufou descontente.
- Eu devo perguntar o motivo de você estar dando um zoom nos peitos de uma mulher, marido?
A voz de Priyanka preencheu o veículo e ele se culpou por ter esquecido totalmente da presença dela ali, umedeceu os lábios.
- Não estou vendo peito de ninguém, amor, estou tentando enxergar o que está escrito nesses troféus.
Ergueu a tela do celular para a mulher que arqueou a sobrancelha sem entender, perguntou:
- E pra que isso te interessa?
- O Joe me enviou – explicou. – Disse que era uma antiga amiga nossa, mas ela está muito diferente nessa foto então queria ter certeza.
Priyanka não engoliu aquela história mas achou que não era motivo suficiente para começar uma discussão, apenas olhou para a foto mais uma vez dizendo:
- Foi tirada no evento que estamos indo – apontou para o banner atrás da garota –, considerando que a premiação técnica acabou há pouco tempo, você já deve achar na internet o nome dos vencedores e as categorias – deu de ombros.
Ele concordou sentindo-se burro por não ter pensado naquilo, poderia ter evitado aquele constrangimento, fechou o WhatsApp e abriu o Google, e lá estava ele fazendo o que há anos não fazia, pesquisando sobre a vida de . Ele geralmente pesquisava por Anitta para ter alguma informação de sua ex namorada, considerando que ela apagou suas redes sociais e ficou desaparecida por um tempo, nunca havia conseguido uma informação relevante sobre a garota, sequer uma fotografia, mas agora estava ali, e no Instagram do John Mayer, não fazia sentido para ele.
Digitou “ ” e os primeiros resultados estavam em português, viu o nome de Anitta aparecer algumas vezes, quando estava prestes a desistir, um link lhe chamou a atenção, naquele artigo – em inglês – trazia uma resenha sobre o novo single de John Mayer que havia sido lançado dias antes, tendo a assinatura de como produtora, e o texto não poupava elogios a ela, informando inclusive que Mayer e haviam trabalhado juntos na produção de New Light – single lançado pelo cantor no ano anterior – e que ambos concorriam à alguns prêmios naquela noite pelo trabalho naquela canção, canção esta que o próprio Nick havia escutado e aprovado. Como podia ter deixado passar que estava dominando tanto espaço como produtora?
Seu orgulho do trabalho dela se misturou com a aflição de encontra-la ali depois de todos aqueles anos.
Definitivamente não estava preparado.
- Somos os próximos – ouviu Priyanka alertar e só então se deu conta de que estava em frente ao tapete vermelho. – E então, é mesmo sua amiga?
- Sim – respondeu bloqueando o aparelho e guardando no bolso do terno.
Ela percebeu que ele havia mudado de uma hora para outra, achou melhor perguntar:
- Devo me preocupar?
- Claro que não, ele comentou comigo porque nós não temos notícias dela desde a separação da banda – explicou –, então estamos meio em choque por ela estar aqui, ter sido indicada e ter recebido dois prêmios.
- Hum – foi o que a mulher respondeu.
A porta foi aberta por um dos organizadores do evento e Nick saiu primeiro estendendo a mão para Priyanka que aceitou de bom grado, saindo do veículo com a ajuda dele, os dois caminharam debaixo da gritaria dos fotógrafos e dos curiosos ali até se encontrarem com Joe e Sophie, as meninas se abraçaram animadas e os quatro esperaram até que Kevin e Danielle se juntassem a eles.
- E então? – Joe perguntou.
- Melhor composição instrumental e melhor mixagem, a premiação técnica acabou agora a pouco – ele respondeu olhando ao redor certificando-se que as meninas ainda conversavam animadas entre elas.
- Como? Eu nem sabia que ela estava trabalhando como produtora aqui, pra mim ela ficava só com a Anitta.
- Aparentemente não mais – ele bufou.
Kevin caminhou até eles sorrindo animado mas fechou a cara vendo-os sérios, puxou Dani – que estava caminhando animada até as meninas – e foi até os irmãos.
- Tá tudo bem?
- A premiação técnica acabou agora – Joe explicou –, e a levou dois prêmios.
- tá aqui? – Dani arregalou os olhos.
- Sim – Nick disse –, ela garantiu os prêmios num trabalho que fez no single que o John Mayer lançou ano passado.
Kevin ergueu as sobrancelhas totalmente surpreso e Joe tentou alertar:
- Sophie não pode encontrar a , senão...
Não conseguiu concluir, sua noiva o interrompeu dizendo:
- Nós temos que entrar, não podemos ficar parados aqui.
Eles concordaram e cada irmão deu a mão para sua respectiva companheira caminhando juntos até o local onde as fotos eram tiradas, após uma maratona de flashes e diferentes poses, eles entraram em um extenso corredor, indo até o salão onde seria a premiação.
Uma mulher com um headphone e uma prancheta nas mãos os guiava até o local em que ficariam sentados, era a terceira fileira de frente para o palco nos seis primeiros lugares da ponta, sendo Nicholas o ocupante da poltrona do corredor, ao seu lado, Priyanka, seguida de Sophie, Joe, Danielle e Kevin.
Nick olhou ao redor tentando disfarçar que procurava por , suspirou derrotado vendo que ela não parecia estar por ali, ao menos não sentada por perto, pensou que ela já tinha ido embora depois da premiação técnica mas achou que a mulher não perderia a oportunidade de fazer contatos naquele lugar, principalmente depois de garantir dois prêmios importantes.
Apoiou o braço esquerdo no encosto da poltrona e encarou o palco vendo algumas pessoas se movimentando por ali dando os últimos reparos antes do início da premiação, sentiu alguém esbarrar em seu braço e instintivamente olhou para o lado, encontrando John Mayer no corredor.
- Me desculpe, cara, foi sem querer – se apressou em dizer.
- Tudo bem – Nicholas respondeu dando um sorriso sem mostrar os dentes.
- Bom evento para vocês – o mais velho respondeu vendo que atraiu os olhares de todos os irmãos e de suas esposas.
Eles acenaram como acharam melhor e John seguiu seu caminho, apenas algumas fileiras a frente deles, ele se sentou ao lado de , até então Nick não tinha reparado que era ela ali, pois estava de costas para eles, mas quando seguiu o homem com seu olhar, foi levado até ela e seu coração parou por um instante.
Observou quando a mulher ergueu o olhar para John, como seu cabelo estava todo jogado para um lado do rosto, aquele movimento fez com que Nicholas pudesse observar com perfeição a cena e a feição da mulher, quando John se aproximou, ela o recebeu com um sorriso verdadeiro e com os olhos brilhando, Nick sentiu seu coração se revirar em seu peito, sabia que poderia chamar a atenção de Priyanka se continuasse encarando aquela cena, mas era mais forte que ele acompanhar aquilo tudo.
- Viu, está vivinho da silva – comentou quando John sentou ao seu lado.
- Desnecessário eu ter que fingir que estou chegando agora só para tirar fotos, mais desnecessário ainda você se recusar a ir comigo – rolou os olhos e fez sinal para um garçom que se aproximava deles com uma bandeja cheia de copos com água, pegou um e acenou para o rapaz, dizendo depois de bebericar um pouco. – Acabei de esbarrar no seu ex.
ergueu as sobrancelhas.
- Propositalmente?
- Talvez – riu presunçoso. – Eu parei ali atrás para trocar uma ideia com o Ed.
- Que Ed?
- Sheeran – respondeu como se fosse óbvio e ela sabia que não se acostumaria com aquilo nunca, mesmo que não demonstrasse. – Esqueço que você é da roça, desculpa.
- Engraçadinho – ela forçou uma risada.
- Continuando – ele disse. – De longe eu vi que ele procurava por algo e eu soube que era você, então só quis guia-lo até o alvo dele e fazer isso.
não pode responder nada pois no instante seguinte os lábios de John estavam colados ao seus de uma forma leve, rápida, porém eficaz, considerando que Nick visualizou aquilo, mesmo a uma certa distância, com cara de nojo.
abriu um sorriso e manteve-se de olhos fechados, sussurrando:
- Como eu queria ver a cara dele agora.
- Se você virar e acabar com toda essa cena eu te mato – ele disse mas mantendo o sorriso nos lábios.
Ela se reaproximou dele e lhe deu mais um selinho antes de se afastar e engatar uma conversa animada sobre a primeira performance que ele faria ao vivo de I Guess I Just Feel Like.
Kevin, Joe e Danielle estavam abismados com a cena que – assim como Nick – presenciaram, Joe não aguentou e soltou uma gargalhada alta, vendo Kevin se segurar para não fazer o mesmo.
- Isso que eu chamo de upgrade, meus amigos – Danielle sussurrou para o marido e o cunhado, considerando que estava sentada entre os dois e que Sophie e Priyanka viviam numa bolha que ela sentia que nunca entraria.
- Eu acho que vou lá – Joe comentou vendo John se levantar e sair de perto de novamente.
- Você não devia – Kevin alertou. – Mesmo que ele mereça isso, ele está tentando, nos procurou para voltar com a banda, pediu desculpas, viu que fez merda, está se esforçando...
- Engraçado que quando eu fazia merda eu devia ouvir verdades de todo mundo, agora ele não – Joe fez pirraça. – Nós somos irmãos dele e voltamos com a banda pois somos família e perdoar é o que fazemos, agora o que ele fez com a não foi legal, Kev, e, de verdade, ele merece sofrer um pouquinho.
- Eu concordo com o Joe – Dani comentou. – Vamos ou não?
Joseph abriu um largo sorriso e, quando ia avisar Sophie aonde iria, já que sabia que se sua noiva visse antes dele, a reação poderia ser exagerada demais e ele pretendia evitar isso, ouviu a mesma perguntar:
- É a ali?
Todos arregalaram os olhos, principalmente Priyanka que não podia acreditar que a amiga também sabia da existência de e nunca tinha comentado nada.
A verdade era que, no ano de dois mil e dezessete, quando a banda DNCE passava pelo Brasil abrindo os shows do cantor Bruno Mars, Joe comentou com sua noiva que gostaria de rever uma amiga de velha data, a princípio não entrou em detalhes mas convidou para passar o dia com eles, as duas se deram bem de imediato e por isso Sophie quis saber como eles se conheceram, Joseph havia contato toda história, omitiu apenas o relacionamento que de e Nicholas, deixando claro que aquela garota era importante para ele e sua família.
Como Sophie sempre ficava feliz em conhecer pessoas que fazem parte da vida de Joe, abriu seu coração de bom grado para conhecer também, e tiveram um ótimo tempo juntas, especialmente na festa em que foram e tocou a música que ela estava trabalhando com Anitta que só seria lançada dali a alguns dias, queria saber como seria a recepção do público, e, considerando que naquela festa só tinham pessoas de confiança, fez um teste colocando a faixa inédita para tocar, todo mundo adorou, o que fez com que o DJ tocasse a mesma canção repetidas vezes durante a festa, e foi com aquele grande hit que Sophie chamou a atenção de , levantando e cantando alto:
- VAI MALANDRA, HÃ HÃ – a garota ergueu os braços dançando chamando a atenção de alguns dos outros convidados.
Joe abaixou a cabeça rindo e olhou para trás vendo Sophie dançar desajeitada, gargalhou com a cena e se levantou cantando de volta:
- Ê TÁ LOUCA TU BRINCANDO COM O BUMBUM.
- HÃ HÃ – Sophie completou e negou com a cabeça indo até eles.
Ninguém entendeu muita coisa daquela cena, só os três, que quase correram para se encontrarem no corredor, pararam bem ao lado de Nicholas, com o corpo de Sophie bloqueando a visão deles, Kevin e Danielle se aproximaram rindo da cena, mesmo que não fizessem ideia do que se tratava aquilo.
- Eu já disse e repito, Joseph Adam Jonas, você não merece essa mulher!
As duas trocaram um abraço apertado, depois cumprimentou os outros, deixando Joe por último.
- Eu não devia ter apresentado vocês duas, ela só quer cantar funk agora.
- E tu acha que eu queria produzir funk? – ela riu. – Eu tinha o maior preconceito de todos os tempos, meu amor, mas agora eu só não consigo ficar parada quando escuto o batidão.
- E você tem a mágica de fazer música chiclete – Sophie observou.
- É com isso que faço meu dinheiro, baby – comentou rindo.
- Eu vi que você já garantiu dois prêmios hoje – observou Kevin. – Estou orgulhoso.
Ela mordeu o lábio inferior e Nick observou aquele movimento na frestinha entre o corpo de Joe e Sophie, seu coração deu um salto, como ele amava aquela mania que ela tinha.
- Obrigada, Kev!
- Então você está trabalhando com o John? Vai ficar por aqui de vez? – Joe fez a pergunta que Nick queria ter feito, por isso ficou prestando a atenção na conversa ao seu lado, mas esforçando-se para não ficar encarando o grupo de pé no corredor.
- Não exclusivamente, eu não assino contrato de exclusividade – explicou. – Conheci o John através da Anitta no ano retrasado, numa festa bem capenga em Ipanema – riu lembrando daquela noite. – Mas pelo menos serviu para ele me mostrar o esboço de New Light, conversamos sobre a música e tã-dã, cá estou e pretendo ficar enquanto houver trabalho, com os prêmios que ganhei hoje alguns artistas já vieram falar comigo.
- Onde está ficando? Podemos marcar algo! Denise não para de comentar sobre você – Danielle comentou.
- Nos falamos sempre por mensagens, as vezes ela até me liga – riu. – Eu estou hospedada na casa do John, mas como minha estadia deve se prolongar devido aos contatos que tenho feito aqui, devo alugar um espaço pra mim.
- Falando em contatos, eu soube que tem uma banda de irmãos se juntando novamente e precisando produzir um álbum – Kevin quase sussurrou e sorriu.
- Eu infelizmente não estou disponível para esse trabalho específico, mas tenho certeza que eles estão bem, eu ouvi o single e gostei bastante! – ela comentou e, para amenizar o clima, resolveu mudar de assunto. – Então, Sophie, e esse casamento? Ele está te enrolando, né? Joseph você só me decepciona mesmo.
- Já temos uma data, ok? – Joe deu língua.
- E seu convite está garantido – Sophie piscou.
- Eu acho bom – brincou.
Dani ia falar algo, mas foi interrompida por uma mulher com a identificação de organizadora do evento, ela sorriu educada para eles e disse:
- Desculpe-me interromper, mas precisamos que vocês voltem para os seus lugares, vamos começar a cerimônia.
- Tudo bem – Joe disse e se virou para –, te vejo na after party?
- E eu sou mulher de deixar passar comida de graça?
- Sei que não, a mesa do meu camarim não sobrevivia a você – comentou e ela riu. – Até mais então, – abraçou-a novamente. – Estou orgulhoso de você!
Ela sorriu e trocou abraços com Kevin, Dani e Sophie também, acompanhando-os com o olhar, encontrando os olhos de Nick naquele momento, foi apenas por milésimos de segundo, mas sentiu coisas que nunca pensou que sentiria se um dia o visse novamente.
Virou as costas e saiu quase que correndo dali, voltando para seu lugar e encontrando John com uma feição preocupada.
- Tudo bem? – ele perguntou.
- Ele não falou comigo – sussurrou em resposta.
- Eu reparei, pensei em ir lá mas você parecia bem, não quis atrapalhar – deu de ombros. – Que belo filho de uma puta, né.
- Sim – riu desanimada. – Eu não esperava isso dele, afinal, ele está casado e eu estou com você, achei que seríamos adultos aqui, mas estava enganada – suspirou –, enfim, não vou deixar com que isso estrague minha noite.
- É assim que se fala – ele ergueu as mãos recebendo um toque desajeitado dela.
Nicholas se sentiu péssimo por não ter se levantado para falar com , principalmente quando percebeu que aquilo criou uma certa desconfiança em sua esposa, afinal, se aquela garota era só uma amiga, por qual motivo ele não a tratou como seus irmãos a trataram? Ele sabia que Priyanka estava pensando sobre aquilo e era totalmente compreensível que ela se sentisse daquela forma, principalmente porque, por mais que se esforçasse, Nick não conseguia participar do mundo real, ele ficou toda cerimônia aéreo e desatento, vez ou outra observando de longe o carinho entre John e , achando impossível que ela seria tão besta de cair no papo daquele homem.
- Eu preciso que você se concentre, Nick – Kevin chamou a atenção do irmão enquanto ajeitava sua camisa no corpo.
Estavam prestes a entrar no palco para apresentar Sucker pela primeira vez em um evento daquele tipo, podia ouvir a apresentadora fazer um pequeno resumo da separação da banda e de como eles voltaram, e umedeceu os lábios.
- Ela está linda – foi o que ele disse e recebeu o olhar confuso dos irmãos. – A , ela tá...diferente.
- E você está casado – Joe deu dois tapinhas no ombro do irmão como se aquilo fosse o suficiente para consola-lo.
Ouviram o “por favor recebam, Jonas Brothers” da apresentadora e a cortina se abriu revelando Nick no centro com sua guitarra, sua voz foi a primeira coisa que a plateia ouviu seguido do acorde de sua guitarra, só Deus sabia o esforço dele para lembrar da letra da canção, seu olhar passeava a procura de , mas como a apresentação começava com apenas um holofote sobre ele e todo o resto no escuro, ainda não conseguia vê-la.
Quando Joe começou a cantar o pré-refrão, todas as luzes se acenderam mas ele manteve o olhar concentrado em sua guitarra, Joe começou a se movimentar pelo palco mas, como estava tocando, Nick se manteve parado próximo ao pedestal.
Apenas na ponte que levava ao último refrão, ele colocou a guitarra para trás, tirou o microfone do pedestal e caminhou – junto com Kevin – até Joe que estava próximo à beirada do palco, por um momento esqueceu da presença de , por um momento era ele e seus irmãos curtindo uma apresentação juntos, fazendo com que se sentisse quase completo novamente.
Quase porque, quando chegou até Joe, levantou o olhar vendo cantarolando a música deles, mas dedicando a letra para John que parecia se divertir muito com a garota, enquanto contava várias piadas sobre ela ter aprendido a canção nova do seu ex namorado, mas ao mesmo tempo gostando de ouvi-la dizer a frase “I’m a sucker for you” para ele, com o punho fechado imitando um microfone com as suas mãos.
Nicholas quase errou a letra com aquela cena toda, agradeceu aos céus quando finalmente acabou aquela tortura e as luzes se apagaram, seguiu para os bastidores com seus irmãos empolgados ao seu lado, mas ele não parecia estar a vontade com toda aquela situação, não aguentava mais, precisava falar com .
Terminou de se trocar e foi guiado por uma pessoa da organização de volta ao seu lugar ao lado de sua esposa, que o recebeu com um sorriso, dizendo:
- Você estava ótimo! Todos gostaram, a música é um sucesso.
- Eu me diverti também – ele respondeu se esticando para dar um selinho nela que sorriu com o gesto.
Assistiram ao resto da cerimônia, inclusive a apresentação de John Mayer e o momento em que ele recebeu o prêmio de “Gravação do Ano”, visto que o de “Melhor Performance” ele havia perdido para o Shawn Mendes. John bem que tentou carregar para o palco, já que aquela conquista era tão dela quanto dele, pois a gravação de uma música envolve muito mais do que o artista que a interpreta, mas a mulher se recusou a ir, o que não impediu que ele dedicasse o troféu a ela e não poupasse elogios a mulher que, segundo suas próprias palavras, era a sua maior inspiração.
E Nick bem sabia disso, considerando que o esboço de Sucker nasceu após sua primeira noite com e que aquela canção ficou guardada por todos aqueles anos até ser remodelada com a ajuda dos irmãos para marcar a volta da banda.
Mas ele nunca contaria aquilo, para todos os efeitos, sua musa inspiradora agora era Priyanka, e ele se esforçava para não deixar transparecer que, pela primeira vez, sentia-se arrependido de seu casamento.

********

A música alta embalava aquele início de madrugada, onde, um grupo seleto de celebridades e pessoas importantes, desfilavam pelo salão onde era realizada a after party, havia convencido John de ir com ela, mesmo que ele não fizesse questão alguma daquele tipo de evento, era a primeira vez que ela estaria em uma festa daquela e queria aproveitar.
Nenhum dos dois bebia qualquer tipo de bebida alcoólica, John porque enfrentava a reabilitação após estar cara a cara com o alcoolismo e se ver na luta por se manter sóbrio, e porque nunca concordou com a ideia de viver debaixo do efeito de qualquer coisa, gostava de sentir as emoções reais da vida, sem filtro, sendo isso bom ou não, e principalmente, prezava demais sua saúde, seu bem-estar, sua memória e a certeza de estar no controle de suas ações.
Os dois entraram de mãos dadas e sentiram olhares sobre eles, ele falou:
- Não vamos demorar, ok?
- Ok, vovô – debochou –, eu só preciso dançar um pouco.
- Por que você não falou que era essa a sua intenção desde o início? Eu não teria sequer pensado em não vir para cá!
Deu um tapa nele rolando os olhos.
- Quantas das suas ex estão aqui?
- Deus, você é obcecada por elas!
- Eu só quero estar preparada, e na mesma posição que você já que você sabe quem é o meu ex.
- E tem como não saber? Ele fica te olhando o tempo todo – reclamou. – Taylor e Katy, ambas acompanhadas e cagando três quilos e meio para minha presença, o único que não sabe disfarçar é teu amorzinho de infância.
- John, essa tua versão ciumento não é legal, viu.
Ele rolou os olhos, sentindo-se patético por sentir ciúmes de um Jonas, umedeceu os lábios e avisou que iria até o bar pegar uma bebida, ela concordou e pediu algo para ela também, e continuou caminhando por ali, conhecendo o ambiente, um grande salão ornado em tons vermelhos com um enorme balcão servindo todo tipo de bebida contava com algumas mesas e cadeiras, com garçons andando de um lado para o outro servindo diferentes pratos.
A música ainda era ambiente, ninguém ocupava a pista de dança, era como um restaurante daqueles que parecem ser tão caros que nunca tinha coragem de entrar, primeiro porque, mesmo sendo comilona assumida, havia um limite que ela se permitia pagar em comida – achava o cúmulo do absurdo dar rios de dinheiro em algo que muita gente no mundo sequer tinha à mesa – segundo porque nunca sabia ao certo como se comportar naquele tipo de ambiente.
se sentiu atraída pelo espaço onde as mesas e cadeiras estavam dispostas – ao lado oposto do bar onde John havia ido – e caminhou até lá, varrendo o local com seu olhar a procura de uma mesa vazia para eles. Recebeu alguns olhares mas não se intimidou, mesmo não se sentindo totalmente segura de estar perto de tanta gente bonita e famosa e sentindo como se ela não fosse ninguém, manteve a postura, o queixo erguido e a sobrancelha levemente arqueada, olhou ao redor ouvindo uma voz feminina chama-la:
- ! – viu Sophie acenar para ela.
Caminhou graciosamente até o local em que a amiga estava sentada com Joe, Kevin, Nick e suas esposas, parecia que ela caminhava em câmera lenta até eles, e que cada movimento era ensaiado, mas a verdade era que ela era naturalmente sexy, Nicholas sempre enxergou isso em , mas devido a pouca idade ela mesma se achava estranha demais, um patinho feio, não se sentia a vontade com seu próprio corpo e fazia o possível e o impossível para se esconder e não ser notada por ninguém, completamente diferente daquela mulher que atraía um número considerável de olhares enquanto andava até eles, agora era como se ela tivesse finalmente descoberto o poder que tem, e sua confiança era notória.
- Olá de novo – disse, mordendo o lábio inferior, ato que não passou desapercebido por Nicholas.
- Tá perdida? – Joe perguntou.
- Apenas explorando o ambiente – olhou em volta. – Eu realmente achei que isso aqui seria mais animado.
- Daqui a pouco ficará, acredite – Kevin bebericou algo que imaginou ser whisky.
- E nós vamos dançar muito mais tarde, eu não aceito “não” como resposta – Sophie disse apontando para . – Priy, você precisa ver essa garota dançando, é surreal!
Todos na mesa prenderam a respiração, pode sentir a tensão pairar no ar, mas era muito boa em disfarçar as coisas, então apenas sorriu para uma Priyanka que a encarava desconfiada, dizendo:
- Ela está exagerando – negou com a cabeça abanando o ar. – E, desculpe-me a indelicadeza, sequer me apresentei – estendeu a mão. – Prazer, .
Priyanka segurou a mão da garota mesmo não se sentindo confortável, era uma pessoa educada afinal, e, além disso, não identificou resquício algum de deboche ou falsidade no tom que usara, porém, para garantir que tudo ficasse bem claro, respondeu:
- Prazer, – sorriu. – Priyanka Jonas.
manteve o exato mesmo sorriso no rosto, claro que observou o tom que a mulher usou ao pronunciar seu sobrenome, mas não demonstrou se abalar nem por um segundo com aquela desnecessária provocação. Ao contrário, respondeu:
- Claro, parabéns pelo casamento, inclusive, eu ouvi muitos comentários positivos sobre. Particularmente, adoro a cultura indiana, imagino que tenha ficado, de fato, impecável.
- Sim, fomos féis às duas culturas, a minha e a dele – olhou apaixonada para Nick que parecia estar em um outro planeta. – Foi mesmo lindo.
sorriu, surpreendendo-se consigo mesma por nem sentir vontade de chorar ou algo parecido, mesmo que se sentisse incomodada com a situação, mesmo que seu coração estivesse batendo um pouco fora do que era considerado normal, ela estava lidando bem com aquilo tudo, pelo menos achava que sim.
- E você, hein? – Sophie ergueu a sobrancelha. – John Mayer, quem diria!
Nicholas quase se engasgou com a sua bebida, olhou para Joe pedindo socorro, sobre sua cabeça era como se um letreiro neon piscasse em letras garrafais “DA UM JEITO NA LÍNGUA DA TUA NOIVA”, mas Joe não se importou, estava adorando aquele momento em que o rosto de seu irmão se tornava ainda mais vermelho com cada palavra dita ali.
- Não é nada demais – deu de ombros rindo. – Mas depois conversamos sobre e eu prometo te contar tudo – tentou fugir do assunto.
- Uhum, não é nada demais, sei – estreitou os olhos. – E todo aquele love lá fora foi o que?
- A gente só funciona bem no estúdio, Sophie, é isso.
- E na cama – ela deu de ombros, constatando o óbvio.
Nick deu uma cotovelada em Joe que gargalhou com o ato, Danielle piorou a situação:
- Realmente, está bem na cara, .
- O que está na cara? – a voz de John se fez presente e ele entregou um copo para – Jonas, Jonas e Jonas – acenou com a cabeça para os rapazes que responderam com um sorrisinho educado. – Ladies – ergueu o copo cumprimentando todos os presentes.
- São cinco Jonas, na verdade.
Priyanka comentou e não conseguiu deixar de rir, assim como John que achou inacreditável aquele comentário, mas resolveu dizer, em um tom carregado de sarcasmo:
- Oh, me perdoa – ele falou –, lindo casamento, inclusive, parabéns – comentou bebericando sua água com duas rodelas de limão mostrando que sequer se importava de fato com o casamento deles. – Enfim, do que estavam falando?
- De como vocês parecem sincronizados – Sophie respondeu tentando não deixar claro exatamente o ponto da conversa.
- Você não faz ideia do quanto – John soltou, cheio de segundas intenções, e todos, exceto Nick e Priyanka, gargalharam da cara que fez.
- Eu realmente não sei o que eu fiz pra te merecer, John Mayer!
- Quer que eu comece a fazer uma lista?
- Quero que você cale a boca – reclamou e ele riu.
- Agora conte-me uma novidade – ele rolou os olhos e o ato fez com que ele percebesse um rapaz que o encarava na mesa próxima à eles, tomou mais um gole de sua água. – Um minuto, já volto.
Ele deu um selinho em e deixou seu copo sobre a mesa, saindo dali, ela o acompanhou com o olhar, abrindo um sorriso quando percebeu a surpresa de Shawn Mendes ao ver John se aproximar dele.
- Vocês totalmente funcionam bem na cama – Sophie voltou ao assunto inicial, atraindo o olhar da garota novamente para eles.
- Sophie Turner, quando foi que minha vida sexual virou tão importante pra você? – riu. – Joseph, da um jeito aí nessa garota, por favor.
- Eu tento, mas ela é meio ninfomaníaca.
Sophie abriu a boca fingindo-se ofendida.
- É só que é o John Mayer, todo mundo já teve um crush no John Mayer.
- Concordo – Danielle ergueu a mão e Kevin estreitou as sobrancelhas.
- E é a , eu não quero saber disso, é como se fosse a minha irmã – ele reclamou.
riu da cara de Kevin, cruzando seu olhar com Nick logo após, ele parecia alheio àquela conversa, mas não conseguia mover os olhos dela, estava ficando um pouco incomodada.
Ia se retirar quando viu John se aproximar novamente, dessa vez, acompanhado por Shawn Mendes, ela sabia que John era uma das influências do rapaz e era por esse motivo que ele estava radiante e não conseguia esconder o sorriso no rosto.
- Trouxe esse cara para te apresentar – John umedeceu os lábios. – Eu conheci a sua música através dela, garoto.
- Boa noite, gente – ele disse, para os que estavam sentados à mesa e se virou para . – Boa noite, , e parabéns pelos prêmios de hoje, espero que consigamos trabalhar juntos um dia.
- Por favor, para de sorrir, minha garota sempre elogia seu sorriso e eu não pretendo perde-la – John comentou, voltando a bebericar sua água que havia ficado por ali.
Shawn negou com a cabeça visivelmente tímido e estendeu a mão em direção a garota sem saber exatamente como agir.
- Prazer – disse sorridente e puxou o menino para um abraço, era Shawn Mendes afinal. – Fecha os olhos pra eu tirar uma casquinha.
Ela disse encarando John, já que, com o abraço, Shawn ficou totalmente de costas para o homem e ela ficou de frente para ele, todos riram e ela se afastou, completando:
- Estou às ordens, Shawn, eu adoraria trabalhar com você – ela piscou e o viu corar.
- Bom, devo perguntar que música você mostrou para ele? – o garoto perguntou apontando para John.
soltou uma gargalhada alta sendo acompanhada por Mayer que apenas negou com a cabeça, respondendo:
- Eu não me lembro o nome – ele uniu as sobrancelhas observando a cara de reprovação de , mas achou que deveria implicar com Nick então sorriu –, mas lembro-me da letra – antes que a garota pudesse impedi-lo, a voz de Mayer se fez presente. – I wanna love you with the lights on, keep you up all night long...
- John – ela arregalou os olhos vendo um sorriso brincar nos lábios dos dois rapazes na sua frente. – Eu realmente não mereço você.
- Não era exatamente minha culpa se você estava usando uma lingerie maravilhosa, andando pela cozinha da minha casa e cantarolando essa música, .
- Eu estava apenas lavando louça! – se defendeu.
- E você fica sexy até fazendo isso – rebateu.
E só então pareceram se lembrar que eram atentamente observados por um número considerável de pessoas, mordeu o lábio inferior sentindo-se extremamente desconfortável, respirou fundo numa tentativa de amenizar a situação, virou-se para os outros que estavam sentados à mesa, primeiro viu a expressão irada de Nicholas, mas prendeu-se ao sorriso debochado de Sophie e disse:
- Pronto, amiga, está aí seu update sobre a minha vida sexual.
A loira gargalhou junto com todos os outros presentes – exceto Nick, claro – e umedeceu os lábios negando com a cabeça.
- Essa é a minha garota!
- Enfim – rolou os olhos –, vamos procurar um lugar para sentar e comer alguma coisa? – ela perguntou à John. – Estou faminta.
- O que não é exatamente uma novidade – ele acrescentou.
- Vocês podem ficar ali comigo, seria ótimo trocarmos algumas ideias sobre algumas músicas, aproveitar que agora temos uma produtora para nos ajudar – Shawn comentou brincando e ambos concordaram com a cabeça.
- Até logo, gente – disse para os demais e seguiu John até algumas mesas de distância, sem antes ouvir Sophie lembra-la da maratona de dança que teriam mais tarde.
E era exatamente assim que se encontrava algum tempo depois do jantar, com o cabelo preso de qualquer jeito num coque totalmente desajeitado, com vários fios soltos pelo rosto e com o suor começando a escorrer por sua nuca, a pista de dança estava cheia e ela sabia que atraía o olhar de quase todos, era brasileira afinal.
Sophie não ficava atrás, a adrenalina percorria por todo seu corpo e ela ria junto com a amiga enquanto se mexiam no ritmo da música que tocava, umedeceu os lábios e quase gritou para que Sophie a ouvisse, dizendo:
- Preciso de água, vou lá buscar, você quer?
Apenas viu a loira concordar com a cabeça e falou:
- Enquanto isso vou lá tentar convencer a Priy de vir dançar com a gente.
sentiu que precisava abrir o jogo com a amiga para que ela não criasse mais aquele tipo de situação desconfortável, mesmo sabendo que não era exatamente culpa de Sophie e que Priyanka não estava com raiva nem nada, apenas desconfiada, pois Nick não parava de encarar e todos – exceto Sophie – pareciam perceber isso.
Ela abriu um sorriso quando viu John apoiado com um braço na bancada do bar segurando mais um copo de água com limão enquanto a observava desfilar até ele, quase toda maquiagem dela havia saído e ele preferia assim, o mais natural possível, era linda do seu próprio jeito.
- Está se divertindo?
- Estaria se aqui tocasse funk – ela piscou e pediu sua água ao barman antes de se sentar na cadeira alta ao lado de John. – E você, está se divertindo?
- Estaria se te visse dançando funk – respondeu e ela riu. – Mas eu acho que posso dar um jeito nisso.
Arqueou uma sobrancelha vendo John bebericar sua água antes de sair dali, deixando-a sozinha e confusa, ela terminou de beber toda sua água em um só fôlego, retirando-se dali e indo atrás de Sophie, com um copo para entregar à amiga, varreu a pista de dança sem encontra-la e mordeu o lábio inferior vendo-a próxima aos Jonas, respirou fundo e marchou até lá, sorrindo para eles.
- Vamos, Priy, eu sei que você ama dançar – reclamou a loira.
- Sua água – falou, estendendo a mão para a garota que pegou o copo.
- Não estou muito no clima hoje, Sophie, inclusive já teria ido embora há muito tempo se o Nicholas não insistisse tanto em ficar.
Priyanka pousou o olhar sobre , como se só as duas soubessem o que aquilo significava, mas logo desviou o foco, voltando a encarar Sophie que bebia sua água como se estivesse há quarenta dias no deserto.
- Vamos então, Dani – pediu.
- Se tocasse funk eu ia para você me ensinar a dançar – ela confessou.
Antes que pudesse responder, a introdução de “Vai Malandra” ecoou em alto e bom som por todo o salão, Sophie soltou um gritinho agudo de empolgação e Joe arregalou os olhos perguntando:
- Meu Deus, de onde tiraram essa música?
- John Mayer, senhoras e senhores – ela sorriu e todos entenderam que tinha dedo dele naquela história.
- Priy, sério, você tem que vir! – Sophie insistiu.
- E você, Danielle, está totalmente sem desculpas agora – ergueu a mão e Dani negou com a cabeça.
- Pra que eu fui abrir a minha boca?
- Eu não perco isso por nada nesse mundo – Kevin riu. – Vai lá, amor, eu vou também para te dar um apoio moral.
O grupo todo seguiu para a pista de dança, Priyanka, mesmo relutante, resolveu ir para ver como seria aquele tipo de dança antes de decidir se realmente não tinha interesse em aprender, já sentia as batidas da música causar um reboliço em seu corpo, quando pisou na pista de dança viu John se aproximar com um sorriso no rosto e os braços abertos, ela foi até ele.
- Você é o melhor.
- Eu sei – ele sorriu convencido.
- Se prepara, vou dançar, presta atenção – ela sussurrou nos lábios dele as palavras da música em português, antes de iniciar um beijo meio urgente.
John a segurou pela cintura, mesmo que não tivesse entendido nada do que ela tinha falado, achou sexy demais a forma com que ela o olhou com um sorriso de lado.
- Que cena – Joe comentou para um Nicholas irritado ao seu lado.
Priyanka estava na pista de dança com Sophie e ele fingia que olhava para ela, desviando o olhar de e John que se beijavam intensamente a poucos passos de distância deles.
- Não enche o meu saco, Joseph.
- Olha quem tem língua para falar, meus amigos – ironizou. – Eu realmente acho que você merece presenciar essa cena, mas se me permite dizer, você está deixando muito na cara tudo isso, a Priy não merece passar a noite ao lado de um cara que não tira os olhos de outra, eu nem sei como ela não foi embora ainda.
- Porque ela está certa de que finalmente vai ter a atenção dele – Kevin comentou erguendo o copo e apontando para uma Priyanka que dançava animadamente ao lado de Sophie.
Precisava admitir, aquele ritmo era realmente maravilhoso, e, mesmo sem ter certeza de que fazia a coisa certa, ela se permitiu se movimentar ao lado de sua amiga sentindo-se animada pela primeira vez na noite.
se aproximou dos irmãos e de Danielle sorrindo para a garota abertamente e perguntando:
- E então, vamos?
- Como dança isso? – Danielle ergueu uma sobrancelha. – Eu vou ver você dançando primeiro e na próxima eu vou.
rolou os olhos e deu de ombros indo para perto de Sophie, porém, mantendo uma distância segura, a última coisa que queria era que Priyanka pensasse que ela estava ali para roubar a amiga dela ou algo assim.
A voz do Mc Zaac ecoou e começou a dançar no ritmo que o homem cantava, fazendo o famoso quadradinho – que ela havia aprendido com Anitta depois de horas de aula – a cada vez que ele falava a palavra “taca”.
- Meu Deus, como ela faz isso? – Danielle perguntou, abismada.
Nick não conseguia olhar para nada além da garota rebolando a sua frente, e ele não era o único, algumas pessoas até pararam de dançar para assistirem ao espetáculo que dava, Sophie sorriu de lado negando com a cabeça, gritando no momento em que o refrão voltou a tocar:
- VAI MALANDRA!
sorriu e rebolou até o chão apontando pra garota vendo-a rir de volta pra ela.
- Como o joelho dela aguenta isso? – Kevin perguntou e Joe riu.
- Desde quando ela dança assim? – Joe levantou as sobrancelhas. – Eu realmente estou impressionado com a , em todos os aspectos.
- Dani – a garota se aproximou dela correndo, já que a música estava no final. – Vem, vai acabar a música.
Ela estava ofegante, os seios subiam e desciam no decote do vestido fazendo com que Nicholas virasse o rosto se obrigando a não olhar o que já tinha olhado algumas vezes, ele estava se sentindo muito culpado com aquela situação, mas não conseguia deixar de concordar com seu irmão, ele também estava impressionado em todos os aspectos.
- Eu definitivamente não sei dançar isso – a mulher ergueu as mãos.
- Todo mundo sabe dançar funk, é só se mexer.
- Garota tua bunda mexe no ritmo que o cantor canta – Danielle observou e todos riram, até Nick –, isso é impossível para qualquer ser humano que não seja brasileiro, a Shakira ou a Beyoncé, eu não me enquadro em nenhum desses requisitos.
rolou os olhos para o comentário, a música estava quase acabando e John se aproximou dela.
- Todo mundo adorou o funk – ele observou –, até eu estou virando fã desse ritmo agora.
- Me diz que tem mais – ela olhou para ele com os olhinhos brilhando –, só mais uma e eu prometo que a gente vai.
Ele negou com a cabeça, rindo dela, deu de ombros e respondeu:
- Quem sabe.
Vai Malandra chegou ao final e a introdução de outra música começou, arregalou os olhos com um sorriso no rosto.
- OBRIGADA – ela literalmente gritou e passou os braços pela nuca do homem cantando a letra daquela música junto com Ludmilla.
Ela era a única que sabia a letra, claro, pois era a única que sabia português, enquanto cantava “Favela Chegou” animadamente, dançava com o corpo grudado ao de John com as mãos dele em sua cintura.
- Eu sou um péssimo dançarino – ele alertou.
- Então assiste.
Ela arqueou uma sobrancelha no mesmo momento que a contagem para o refrão da música começou e se afastou dele dançando sem quebrar o contato visual, ele negou com a cabeça falando consigo mesmo.
- Essa garota é impossível.
Não esperava que ninguém tivesse ouvido, muito menos que teria alguma resposta, mas uma voz masculina o chamou de volta a realidade.
- Ela não merece ser mais uma da sua listinha, Mayer, se você magoá-la será um homem morto – Nicholas respondeu.
John olhou para o lado e Danielle – que estava entre os dois – quis cavar um buraco e sair dali, ela olhou assustada para Nick enquanto Kevin e Joe pareciam não ter ouvido nada, apenas riam da cara que Sophie fazia, impressionada com dançando.
- Não sei se reparou, Jonas, mas ela não é mais a garotinha que você costumava brincar – ele olhou para antes de voltar seu olhar para o rapaz. – Na verdade, eu sei que reparou, reparar é só o que você fez a noite toda.
Nicholas sentiu seu sangue ferver e seu rosto esquentar, queria proteger de John, sabia bem a fama que o homem tinha, mas sabia também que ele estava certo, ela não era uma criança mais, não era mais aquela menina indefesa e insegura, por Deus, aquela mulher definitivamente tinha mudado.
Priyanka – sentindo-se de lado na dança, principalmente porque outras mulheres se aproximaram pedindo aulas para – decidiu que já tinha ficado tempo suficiente ali e foi em direção ao seu marido a fim de chama-lo para irem embora. Encarou a troca de olhares de John e Nick e uma Danielle visivelmente assustada entre eles, clareou a garganta antes de perguntar:
- Está tudo bem?
Nicholas pareceu acordar de um transe, piscou algumas vezes e negou com a cabeça, respondendo:
- Sim, amor.
- Eu estou indo embora – ela respondeu, mostrando que não era idiota e que havia percebido o que estava acontecendo ali. – E se eu fosse você, viria atrás de mim.
Com isso ela se virou e saiu dali, com um Nicholas visivelmente irritado caminhando atrás dela, pensando o quão estúpido havia sido por toda noite, mas ainda assim sentindo-se um lixo por não ter sequer direcionado a palavra à , havia conseguido magoar as duas de formas diferentes e sentia-se muito culpado por aquilo.

********

se remexeu naquela cama imensa do quarto de hotel em que estava, definitivamente sentia falta da cama de John, era muito mais confortável, o som do toque de seu aparelho celular ecoou por todo cômodo e ela soltou um palavrão em português encarando o relógio na parede.
Rolou os olhos e atendeu sem nem ver quem era.
- Alô.
- Você está em Nova York – ouviu a voz de Joe.
- E você não tem mais o que fazer me ligando a essa hora da manhã – reclamou sentando-se na cama. – Como você sabe que estou aqui?
- Vi no seu Instagram – respondeu em tom óbvio.
- Eu não devia ter reativado a minha conta, já estou bem arrependida.
- Minha mãe quer que você venha tomar um café com a gente mais tarde.
arqueou as sobrancelhas e no mesmo instante seu corpo assumiu uma postura na defensiva, os músculos ficaram tensos e a espinha ereta, respirou fundo passando os dedos pelos cabelos a fim de arrumar os fios de qualquer forma, sussurrando:
- Péssima ideia, Joseph.
- O Nick não vai estar aqui, ok? Ele parte hoje para a Índia, algo sobre aprovar o casamento do cunhado ou sei lá, eu não entendo nada do que aquele povo faz – disse e fez uma careta entendendo menos ainda. – Minha mãe está com saudade, disse que era pra eu te convencer, e por isso vou usar uma carta poderosa.
- Por favor, não use suas sobrinhas.
- Elas são muito fofas, , você precisa conhece-las – ele disse.
- Joe – suspirou –, você tem absoluta certeza de que não há a menor chance do Nicholas aparecer lá?
- Bom, a Priyanka é a filha mais velha, e, por isso, ela é responsável por, literalmente, aprovar o casamento do irmão dela, e, considerando que o Nick é marido dela, tem tanta responsabilidade quanto ela, basicamente, sem eles, não tem casamento, então acho que não é um evento que ele possa faltar.
estreitou os olhos confessando:
- Que povo estranho – ouviu Joe rir. – Eu estou aqui a trabalho, fico no estúdio até as sete na melhor das hipóteses, pode ser um jantar?
- Sim – Joe respondeu animado. – Te mando a localização pelo WhatsApp.
- Ok – suspirou. – Beijo.
Ela desligou o aparelho ainda incerta do que estava fazendo, mas, não podia negar, gostava da família Jonas e sentia falta de Denise também, achava que era uma péssima ideia, mas abriu o perfil de Nick no Instagram apenas para se certificar de que não corria o risco de encontra-lo, ele tinha milhões de visualizações, não era como se ele fosse descobrir que ela o stalkeou. Viu os stories que ele e Priyanka estavam no aeroporto e respirou fundo agradecendo aos céus por aquilo, considerando que a postagem era de duas horas atrás, eles já estavam voando em direção à Índia àquela altura.
Levantou-se preguiçosamente e rumou para o banheiro desesperada por um longo e relaxante banho, ativou o modo profissional e começou a pensar em excelentes ideias para aquele trabalho novo que estava fazendo com Alicia Keys, sem no entanto acreditar que estava bem ali trabalhando com aquela mulher que tanto admirava.
Olhando para trás ela percebia o quanto tinha crescido, amadurecido e mudado, sentia falta de casa, e da comidinha de sua mãe, e até do abraço e do colo que sempre esteve ao seu alcance, mas simplesmente não pertencia mais à sua antiga cidade, ou àquela mesma rotina de sempre, seu trabalho a permitia conhecer novos países, explorar novas culturas, abrir seus horizontes e adotar novos hábitos conforme ia aprendendo com os que a cercavam, ela amava sua vida agora.
E quanto mais pensava nisso, menos imaginava Nicholas naquele cenário, mesmo que não tivesse de fato amado alguém de verdade depois dele, pelo menos não o suficiente para se meter em um casamento em questão de meses como ele havia feito, deixou sua vida pessoal em segundo plano e pela primeira vez parecia incomodada com aquilo, não sabia se era pela aliança reluzente que seu ex carregava na mão esquerda ou se pela sua idade que rapidamente se avançava deixando-a com a sensação de que morreria sozinha, apenas sabia que estava pensando em sua vida pessoal por mais tempo do que costumava fazer antes.
E no meio de toda confusão de uma mulher que teve apenas um homem por toda sua vida, havia John Mayer, um cara perfeito em muitos sentidos mas igualmente imperfeito em tantos outros, um cara com uma vasta experiência em tantas coisas que a fazia admira-lo ainda mais, porém, com um sério problema em ser fiel à uma só mulher e se dedicar à um único relacionamento por toda sua vida.
E não era exatamente culpa dele, ela sabia, John era intenso em todos os seus relacionamentos, mas nenhum deles havia de fato significado algo a ponto de fazê-lo abrir mão de sua vida boêmia, que o impedia de manter laços permanentes, e apesar de adorar esse jeito leve dele, não se sentia animada para ser mais uma das incontáveis experiências de John Mayer e se tornar, quem sabe, uma inspiração para render a ele boas músicas e só.
Arrastou-se para fora do banheiro enrolada em sua toalha, separou uma roupa confortável, o tempo frio a obrigava a se encher de roupa então ela só redobrou as camadas de blusa de manga e por cima jogou um grande casaco de moletom, vestindo uma calça fina com outra jeans sobre a primeira, calçou seu coturno e colocou uma touca sobre a cabeça, separando todos seus pertences mais importantes antes de sair do hotel, se Joe havia acordado a garota mais cedo, achou por bem chegar antes de todos no estúdio, tinha muito trabalho a fazer afinal.
A faixa totalmente crua da música “Raise A Man” ecoou pelo grande headphone que usava, ela estava totalmente sozinha naquele estúdio imenso, pelo horário, os músicos só chegariam dali a duas horas, ela ouviu a mesma faixa algumas vezes antes de umedecer os lábios e estalar o pescoço, pensando o que poderia fazer com o que haviam gravado até então.
Ela brincou com alguns samples que havia criado com a ajuda do seu amigo inseparável AKAI-MPK mini, um pequeno teclado controlador que a permitia criar diferentes tipos de sons – iguais ou não aos instrumentos convencionais – e que ela carregava com facilidade para lá e para cá.
Estava tão envolvida com seu trabalho que sequer percebeu a chegada de alguns músicos da banda, pessoas que já trabalhavam com Alicia há anos e que eram da confiança dela, inclusive Jeff, o chefe da equipe e um dos produtores mais bem sucedidos de Nova York, que já trabalhava com a cantora desde o álbum “Girl On Fire”.
- O que você pensa que está fazendo? – o homem perguntou, colocando as mãos no encosto da cadeira e girando-a a fim de posicionar em sua frente.
A mulher – que até então não ouvia nada pois a música em seu fone estava alta – apenas abaixou o headphone deixando-o pendurado em seu pescoço e juntou as sobrancelhas umedecendo os lábios e perguntando:
- O que? - Que porra você está fazendo com a minha música?
- Desculpa, mas quando Alicia me contratou ela fez questão de falar comigo pessoalmente e me explicou que essa canção era extremamente pessoal para ela e que abordava sua relação com seu marido e seus filhos de forma poética e profunda, quase como se fosse uma carta, essas foram as exatas palavras usadas por ela, o que faz dessa música uma propriedade da Alicia e não sua – explicou.
O homem estreitou os olhos sem nem acreditar no que ouvia, aquela garota nem sequer tinha saído das fraldas ainda quando ele já dominava aquele mercado, e então, de uma hora para a outra, ela achou que poderia falar com ele daquela forma por ter garantido dois prêmios que não significavam nada para ele, respirou fundo antes de dizer:
- Quem manda nessa equipe aqui sou eu, garota, você nem deveria estar aqui, porque não vai procurar uma louça para lavar, hã?
abriu a boca sem acreditar no que tinha acabado de ouvir, sabia que conquistar espaço naquele mercado seria uma tarefa difícil, mas queria acreditar que não precisaria ouvir aquele tipo de absurdo da boca de um profissional como Jeff era, ou como ela acreditava até então que ele seria.
- Inacreditável, Jeff – ela retirou o fone do pescoço e se levantou.
- Você não vai a lugar algum – uma voz feminina disse de forma firme.
Os músicos que assistiam àquela cena paralisados mostraram-se ainda mais amedrontados com a presenta de Alicia ali, seu rosto impecável não carregava qualquer resquício de maquiagem e todas as vezes se perguntava como ela podia ser tão bonita daquele jeito. Observou a mulher caminhar até eles e dizer para Jeff:
- Você realmente acha aceitável subjugar uma pessoa à um lugar apenas pelo sexo dela? – antes que o homem pudesse responder ela o interrompeu. – Eu deveria estar lavando louça também, Jeff, cuidando da casa, do meu marido, dos meus filhos, mas ah, se eu fosse obrigada a permanecer em casa, eu não estaria garantindo a porra do teu salário.
O homem negou com a cabeça, dizendo:
- Não foi o que eu quis dizer, Alicia, eu só...
- Poupe-me da sua ladainha, já ouvi o suficiente – interrompeu-o novamente e se virou para . – Eu quero ouvir o que você fez.
A garota apenas concordou com a cabeça e explicou:
- Eu peguei a faixa crua e mesclei os instrumentos de cordas friccionadas que gravamos ontem, depois incluí alguns samples que eu criei com o controlador e estava prestes a jogar segunda voz em alguns pontos que eu acho que ficariam legais.
- Ok, faz o seguinte, coloca para tocar num volume médio e você canta a segunda voz nos momentos que achar que deve, ok?
concordou e deu play no material que havia produzido até então, vendo Alicia fixar os olhos num ponto específico da parede a sua frente, concentrando-se no que ouvia, mesmo quando a voz da garota ecoava pelo estúdio fazendo a harmonia com a própria voz dela, Alicia não desviava o foco.
Foram seis longos minutos para que simplesmente não consegui a identificar quaisquer mudanças de feição no rosto da mulher a sua frente, estava nervosa por aquilo, mas precisava confiar em seu trabalho.
- Por que você manteve constante? – foi a primeira pergunta de Alicia.
- Bem, você disse que queria passar a sensação de ser uma carta para o seu marido, e ninguém lê uma carta com a ajuda de um bilhão de instrumentos no final, sei que é essa a construção da música pop, introdução, parte um, pré refrão, refrão, parte dois, ponte, refrão... – explicou. – Mas mantendo uma constante parece que você está apenas lendo uma carta, como gostaria.
- Hm – arqueou as sobrancelhas. – E você criou esses samples?
- Sim – mordeu o lábio inferior.
- Por que?
- Não queria que você fosse acusada de plágio novamente – deu de ombros. – Girl On Fire é sensacional, uma música com uma força absurda, mas uma presença excessiva de samples de The Big Beat.
Ela riu concordando.
- Jeff realmente gosta do Billy Squier – ela olhou para o homem de pé ao seu lado. – Vamos regravar todos os instrumentos e a voz, , você está no comando agora, nos ajude a reajustar tudo para ficar do jeito que você está pensando, é exatamente essa a linha que quero seguir.
arregalou os olhos e abriu um largo sorriso, principalmente quando ouviu a voz de Jeff:
- Levanta daí, garota, você ouviu a chefe, está no controle agora.

********

Aproximava-se das oito da noite quando observou a grande porta da mansão dos Jonas, sentia que não devia estar ali, mas sabia também que não adiantava fugir, aparentemente todos os membros daquela família decidiram enche-la de mensagens para que ela não cancelasse os planos para aquela noite.
Segurou firme a garrafa de vinho que carregava, não queria chegar de mãos vazias e, dado ao pouco tempo que tinha, aquilo foi a única coisa que pensou em levar, considerando o tempo frio, imaginou que não seria uma escolha ruim, principalmente por ser a única coisa alcoólica que consumia.
Umedeceu os lábios antes de tocar a campainha, o falatório que podia ser ouvido de onde ela estava cessou e passos apressados foram até a porta para atende-la, sorriu ao ver o sorriso da matriarca assim que aquela porta foi aberta, ambas se entregaram em um abraço apertado que demorou tempo suficiente para que uma das filhas de Kevin reclamasse do frio.
- Ah meu Deus, olha só para você – Denise sorriu enquanto fechava a porta e se afastava minimamente da garota a fim de olha-la melhor. – Uma mulher, uma mulher linda!
- Obrigada – ela corou minimamente. – É bom ver você novamente, e desculpa não ter preparado nada, eu não tive muito tempo, fiquei o dia todo no estúdio hoje – explicou.
- Não precisa se preocupar com isso – Denise pegou a garrafa de vinho que a mais nova estendia para ela –, vou guardar, fique a vontade.
Ela caminhou incerta para a sala onde os outros estavam, sentia-se um pouco deslocada, e mesmo sem a presença de Nick ela não conseguia se sentir confortável, mesmo com todos sendo tão educados com ela.
Esforçou-se para se enturmar e, graças a filha caçula de Kevin que havia se apaixonado por ela, tudo ficou bem mais fácil, onde ia, a pequena a acompanhava com um sorriso sapeca no rosto e os bracinhos estendidos.
- Parece que você ganhou uma fã – Sophie observou enquanto via as duas menininhas brincando há alguns passos de distância delas.
- Ela é uma fofa – sorriu bebericando seu vinho, o jantar havia acabado e todos estavam despojados pela sala de estar conversando.
- Você fala isso porque nunca a viu com a Priyanka – comentou e ergueu uma sobrancelha sem entender. – Ela é muito apegada ao Nick, quando ele casou ela ficou surtada, até hoje ela sequer fala com a Priy, e ela se esforça tanto para fazer parte da família, coitada, mas parece que tem sempre algo no caminho.
- Como assim? – franziu as sobrancelhas.
- Ah, eu adoro a Priy e todos aqui gostam dela também, mas não parece natural, sabe? Ela é uma mulher incrível, de verdade, mas comigo não foi assim, eu só me encaixei bem com eles, agora com a Priy, parece que ela tem que se esforçar demais para ser “querida” – fez aspas com os dedos. – E a filha mais nova do Kevin não gostar dela não ajuda muito – riu. – Mas é coisa de criança, ciúme bobo do tio, depois ela supera.
concordou com a cabeça achando que não devia estender aquele assunto, umedeceu os lábios decidindo que já havia passado da hora de ir embora, quando abriu a boca para se despedir de Sophie ouviu o som da campainha ecoar pelo cômodo e pela reação dos presentes, ninguém esperava por uma visita.
Denise caminhou até a grande porta e abriu um sorriso quando viu Nicholas parado na varanda, ele sorriu sem jeito e tomou a liberdade de entrar, dando um beijo rápido na bochecha da mãe.
- Tio! – a filhinha mais nova de Kevin gritou e correu em direção ao homem que se abaixou pegando-a no colo.
mantinha a boca aberta, surpresa, encarou Joe com faíscas nos olhos, a vontade era de soca-lo por tê-la convencido de estar ali. Ele curvou os lábios para baixo e negou com a cabeça mostrando que não fazia ideia de como o irmão estava ali àquela hora.
O coração dela batia descompassado em seu peito e ela cravou as unhas em sua taça quase quebrando-a em suas mãos, respirou fundo algumas vezes na tentativa desesperada de manter sua sanidade, ouviu Sophie ao seu lado sussurrar:
- Tá tudo bem, ?
- O que ele está fazendo aqui? – sussurrou de volta e Sophie deu de ombros.
- Eu não faço ideia.
Nicholas colocou a sobrinha no chão e ergueu as mãos dando um aceno aos demais, nesse momento seu olhar cruzou o cômodo encontrando os olhos de , ela o encarava com um misto de surpresa e desespero, e ele também se surpreendeu, não esperava encontra-la ali, mesmo seu coração e todos os seus sentidos julgando aquele encontro como algo bom, mesmo que a sua vontade fosse ir até ela e abraça-la, pedir desculpas pelo que tinha feito no dia da premiação e matar a saudade de passar horas jogando conversa fora, ele não teve reação, apenas ficou encarando-a que, ao contrário do que havia feito no último encontro deles, não desviou o olhar.
- O que você está fazendo aqui? – Joe perguntou, tentando minimizar o clima.
Nick acordou de seu transe e desviou o olhar de , encarando o irmão.
- Eu não posso vir visitar os meus pais?
- Não quando você deveria estar aprovando um casamento na Índia – Joe deu de ombros e Nick rolou os olhos.
- Eu esqueci o meu glicosímetro aqui, meu voo fez escala, a Priy foi e eu voltei – deu de ombros. – Tenho que encontra-lo, mãe.
- Está guardado no meu quarto, filho – Denise sorriu. – Vou buscar.
- E eu aproveito a deixa para me despedir, vocês são jovens mas eu já passei dessa fase, preciso descansar – Paul sorriu levantando-se.
Ele se despediu dos filhos e das netas, acompanhando a esposa para o andar superior. Um silêncio esmagador se fez presente no ambiente e Sophie soltou:
- O que há de errado com vocês dois, hein?
arregalou os olhos para a amiga ao seu lado, amava a espontaneidade dela mas as vezes podia odiar aquela característica na mesma medida.
- Sophie – sussurrou em tom de alerta.
- Nós namoramos – Nicholas soltou como se aquilo não significasse muita coisa e voltou a encara-lo.
- É, foi isso – ela disse, sem desviar o olhar.
Nenhum dos dois parecia acreditar que aquelas palavras carregadas de indiferença seriam as primeiras trocadas entre eles depois de longos seis anos, sentiu o nó preso em sua garganta, ainda sentia coisa demais em relação à Nicholas e aquilo a incomodava, mesmo tendo mudado e amadurecido, tinha seus momentos de uma menina do interior ingênua e perdida em sua vida, e ainda não havia descoberto outro porto seguro desde que seu ex namorado a deixou.
- Aqui está – Denise retornou à sala entregando o aparelho para o filho.
- Obrigado, mãe, eu não confio em outra marca – ele ergueu o estojo.
A mulher engatou uma bronca sobre o fato dele não ter nenhum aparelho reserva e ele rolou os olhos sabendo que ouviria aquele discurso novamente.
- Eu preciso ir – sussurrou para a amiga caminhando apressadamente até a cozinha a fim de deixar sua taça por lá.
- Espera – Sophie foi atrás dela. – Você podia ter me contado sobre isso, né, poxa vida, fiquei uma noite toda tentando enturmar você e a Priy mesmo vendo o Nick te comer com os olhos.
apoiou as mãos na pia respirando fundo, as palavras que ouvia pareciam distantes, ela só queria sumir dali.
- Não tinha como eu te contar isso lá, não era como se eu estivesse preparada para reencontra-lo – respondeu. – Mas é isso, Sophie, e como você mesma ouviu, foi só um namoro de criança, ele está casado, eu estou com o John e é só isso.
- Desculpa, , mas eu não vejo a Olivia Culpo desfilando nessa casa sendo convidada para um jantar em família – rebateu. – Não foi só um namoro de criança, vocês dois têm todo esse peso ao redor – abanou as mãos no ar –, é sério, o que está acontecendo aqui?
- Se eu soubesse eu juro para você que eu te contaria, mas nem eu entendo – ergueu os ombros. – Ele só foi embora, Sophie, e não tivemos contato por seis anos, e agora eu to aqui na casa dos pais dele, com a família dele enquanto ele está casado, isso é confuso.
- Eu amo você e você sabe disso – Sophie segurou as duas mãos da garota, olhando-a nos olhos –, mas eu também amo a Priy e acho que ela não merece sofrer, mesmo que claramente você e Nick tenham assuntos pendentes – deu de ombros. – Eu vou me manter neutra nessa história, mas se precisar de algo, estou aqui, ok?
apenas sorriu em resposta e deixou que a amiga a puxasse para um abraço, ficaram um tempo juntas e ela pode sentir seu coração voltar a bater em um ritmo considerado normal, porém, sua paz não durou muito pois logo uma voz masculina se fez presente na cozinha.
Nick respirou fundo e – chamando a atenção das duas – disse:
- , será que podemos conversar?


Parte III - Before The Storm

manteve seu olhar fixo aos olhos de Nicholas, nem a saída nada discreta de Sophie a impediu de encará-lo, e para o desespero dele, toda a tristeza que ela carregava estava ali, nítida na forma com que ela o olhava claramente desapontada com todo o comportamento ridículo que ele havia apresentado até então.
- Nós não temos nada para conversar, Nicholas.
Foi o que ela respondeu, depois de longos minutos tentando acalmar seus sentimentos e organizar seus pensamentos.
Precisava conversar? Definitivamente sim, havia guardado todo o turbilhão de emoções que sentia em relação àquele homem que estava ali em sua frente, havia lidado com tudo sozinha, havia afogado todo e qualquer resquício do amor que sentia por ele, e então, de uma hora para a outra, a vida a colocava novamente de frente para o único homem que amou e para piorar, ela tinha que se lembrar a todo instante que ele estava casado agora.
Muita coisa havia mudado.
- Eu sei que tenho sido um completo idiota com você – ele ignorou o protesto dela e se aproximou mais um pouco. – Eu preciso te pedir desculpas por isso.
Observou a garota rolar os olhos e rir sem vontade alguma ao ouvir aquele ridículo pedido de desculpas.
- Ok – limitou-se a dizer. – Desculpas aceitas.
Preparou-se para sair dali quando ele a segurou pelo braço, impedindo-a de se mover, aquele simples toque fez com que o coração de ambos se rebelasse em seu peito, estavam andando sobre a corda bamba, ambos sabiam. Nicholas reencontrou os olhos de tão próximos aos seus pela primeira vez em seis anos, e tudo que sua mente conseguia pensar era como havia sido estúpido o suficiente para deixar aquela mulher escapar da forma que havia deixado. Ler na feição feminina a sua frente toda a dor e angústia que carregava em relação à ele fazia com que seu próprio coração se esmagasse em seu peito até ficar tão pequeno a ponto de quase sumir.
- Eu não devia ter ido embora daquele jeito, eu não devia ter colocado tanta coisa a frente do nosso relacionamento, eu não devia...
- Você não devia muitas coisas, Nicholas – interrompeu-o, cuspindo as palavras. – Você não devia mesmo, não devia ter sido um covarde, não devia ter virado as costas para mim, não devia ter falado que não estava no momento de ter um relacionamento e meses após se enfiar em um – sentiu que iria chorar e não tentou impedir as lágrimas de rolarem pelo seu rosto. – Você só faz o que não deve, e olha onde isso te levou! Você está casado, por Deus, o que quer conversar agora? Não tem mais nada que reverta essa situação, acabou!
Ele afrouxou a mão que ainda segurava o braço de mas ela desistiu de se mover, apenas o observou abaixar o olhar por alguns instantes enquanto digeria as palavras.
- Eu espero que entenda que eu amo você, .
- Nick, não – ela o alertou.
- Me escuta – pediu. – Eu nunca deixei de te amar, e o fato de ter me enfiado de um relacionamento para o outro foi porque eu tentei a todo custo preencher o espaço que sempre foi seu.
- E por qual razão você simplesmente não me procurou de novo, Nick? Pelo amor de Deus, eu estava lá esperando por você por todos esses anos! Eu te pedi para ser honesto comigo, caramba, eu só queria te entender!
- Eu sempre soube que não seria justo com você, eu só me dei conta da besteira que estava fazendo quando eu li o seu diário.
Ela fechou os olhos instintivamente quando se lembrou daquele objeto, as lágrimas rolaram com mais intensidade e começava a se sentir sufocada.
Nick continuou:
- Eu ainda o tenho guardado, inclusive, eu ainda leio aquelas palavras por várias vezes, eu ainda guardo cada segundo de nós dois, e eu precisava te dizer que eu não esqueci a nossa história, eu precisava esclarecer que você ainda ocupa uma grande parte dos meus pensamentos e sentimentos, e eu só percebi isso agora que a vida te trouxe pra perto de mim de novo.
- E a sua esposa se encaixa aonde nesse contexto? – carregou suas palavras com ironia. – Ela não merece isso, Nicholas, se você não soube ser inteiro para mim, aprenda a lição e seja inteiro para ela!
Ele a encarou sem entender exatamente o motivo dela ter usado aquele tom, apesar de merecer ser destratado por ela ou até mesmo por Priyanka se soubesse daquela conversa, não achava que merecia ser crucificado daquela forma, estava sofrendo também, afinal.
- Você fala como se não tivesse se metido em um relacionamento também.
- Seis longos anos depois de você, sim, não três meses após como você fez, e não me casando sem ter certeza dos meus sentimentos – ela pontuou as diferenças pertinentes entre ambos antes de concluir. – Até porque, Nicholas, eu sei quem eu sou e sei o que eu quero, enquanto eu estive com você, eu quis você com todo meu coração, agora, vendo que mesmo com o passar dos anos você continua perdido sem saber o que quer, eu não tenho interesse em me meter novamente na bagunça que é você.
Ela estava quase saindo da cozinha quando ouviu a voz dele dizer em um tom carregado de indiferença:
- Vá em frente e seja mais uma vadia na lista do Mayer, depois não venha dizer que não tentei te avisar.
parou, não podia acreditar que tinha ouvido o que ele havia acabado de dizer, seu corpo tremia de raiva, ele não tinha o direito de tratá-la daquela forma.
- Você não tem o direito de me chamar de vadia, Nicholas, você não tem o direito de me ofender de qualquer forma – virou-se para ele aproximando-se apressada, parando com seu rosto bem próximo ao dele. – Quando eu te conheci eu achei que tinha encontrado a pessoa com quem passaria o resto da minha vida, mas você escolheu ir embora, você escolheu – empurrou-o com o dedo indicador –, eu não vou pedir desculpas por estar em um relacionamento, eu demorei tempo demais para me reerguer e eu não devo desculpas pela forma que escolhi consertar aquilo que você quebrou. Foram seis longos anos, Nicholas, para chegar aqui e descobrir que você é exatamente o que eu pensei que seria, um moleque egoísta e que acha que todo mundo tem que girar ao seu redor, você está casado agora, e eu tenho a minha vida, não espere que eu vá passar o resto dos meus dias esperando o momento em que você vai finalmente perceber que mereço muito mais que tuas migalhas, pois eu descobri da pior forma que esperar por você é inútil e decepcionante.
Voltou a se afastar e dessa vez não foi impedida por Nicholas, as lágrimas escorriam pelo seu rosto de forma involuntária e ela tentava a todo custo manter suas emoções sob controle. passou como uma flecha pela sala e, sem se despedir de ninguém, abriu a porta de forma rude e caminhou pelo grande e verde gramado da mansão da família Jonas, precisava de ar fresco, parecia que estava por todo aquele tempo debaixo d’água, sentia-se sufocada e não conseguia ficar nem mais um segundo dentro daquela casa.
Sophie – que estava apreensiva ao lado de Joseph no sofá – levantou-se num pulo indo atrás da amiga, enquanto seu noivo barrava o irmão que estava prestes a caminhar a passos largos atrás de também. - Nem tente ir atrás dela – Joe alertou e Nick riu irônico.
- E você vai me impedir por que...
- Porque foi o que você fez quando viu que eu estava fazendo mais mal do que bem à Demi – respondeu. – Porque você estava do lado de fora da situação e entendeu que seria muito pior se eu forçasse uma aproximação, porque você via que eu estava destruindo ela aos poucos e agora eu entendo, pois eu estou de fora e eu estou vendo que o que você faz com a é nada além de destruí-la aos poucos, você precisa se resolver, cara, antes de querer ser suficiente para alguém precisa ser para você mesmo.
Nicholas engoliu seco, olhou para Kevin que apenas estreitou os lábios demonstrando que concordava com Joseph, então o mais novo apenas se virou para o lado oposto e caminhou de volta para a cozinha, começava a se sentir mal fisicamente com toda a carga emocional daquele momento.
Joe umedeceu os lábios e apenas saiu pela porta da frente da casa encontrando Sophie e em um abraço silencioso na calçada. O barulho de seus passos apressados despertou as duas que se separaram e ele pode ver o rosto inchado de sua amiga ainda com lágrimas escorrendo pelas suas bochechas.
- Me desculpa, , eu realmente não sabia... - Tudo bem, Joe, não foi sua culpa – fungou.
- Eu posso te deixar no hotel.
Ela apenas concordou com a cabeça e foi de braços dados com Sophie até o carro de Joe, ninguém ousou trocar uma palavra durante todo caminho e achou melhor assim.
Quando fechou a porta de seu quarto e se jogou em sua cama, esperava que fosse chorar mais, estava sozinha afinal, consigo mesma, perdida em sua guerra interna de esquecer Nicholas de uma vez por todas ou colocar para fora tudo que sempre quis falar para ele. Estava quase pegando no sono quando seu celular apitou ao seu lado indicando uma nova mensagem.

John: eu vou ser pai.

encarou aquelas palavras iluminando a tela de seu celular sem saber exatamente o que pensar, se sentou na cama cruzando as pernas e passando a língua pelos lábios antes de sussurrar para si mesma:
- Mas que porra, Mayer.
Tentava a todo custo desbloquear seu aparelho que por alguma razão não estava reconhecendo suas digitais quando outra mensagem apareceu, era John novamente, desta vez enviando uma foto, seu nervosismo era notório, não era como se ela e John tivessem qualquer exclusividade e ela sabia que ele não era um cara que valia a pena cobrar qualquer grau de fidelidade, sabia também que ele, no fundo, sonhava em ser pai, mas não esperava por aquilo, não naquele momento de fragilidade dela.
Finalmente o aparelho foi desbloqueado e quando deu de cara com a foto de uma cachorrinha toda preta, com a língua de fora e olhinhos caídos ela abriu um sorriso de orelha a orelha e negou com a cabeça, digitando:

: eu não posso sair por um segundo que tu já enfia outra na minha cama!

John riu quando leu aquela mensagem e olhou para a cachorrinha agora deitada no sofá ao seu lado e negou com a cabeça.
- Teremos problema com a sua mãe quando ela voltar.
A cadela apenas bufou preguiçosa e apoiou a cabeça na perna do homem a sua frente, bocejando logo em seguida.

John: ela não é linda? Fui ao mercado hoje cedo e ela me seguiu até aqui, não tive outra escolha, ela me adotou.

gargalhou com aquela mensagem, pensando na facilidade que aquele homem tinha em fazê-la se sentir muito melhor em poucos segundos.

: já escolheu o nome dela?
John: II. Resmungona, bagunceira e preguiçosa.
: John Mayer, você é um pé no meu saco!


Ele riu novamente, já não prestava atenção no jogo que passava na TV, aquela mulher cativava sua atenção sem nem ao menos se esforçar.
John: eu realmente queria fazer uma homenagem, mas ficaria confuso colocar seu nome nela, infelizmente.

: é uma pena que tu não seja brasileiro, no Brasil temos um nome perfeito e super original para um cachorro como ela.
John: qual?


abriu um sorriso torto e digitou:

: Pretinha.
John: o que significa isso? Me manda um áudio pra eu saber como se pronuncia.
: se eu traduzir vai perder a graça! Pode deixar que amanhã eu te ensino como fala.
John: achei que você só viria na próxima semana.
: mudança de planos.
John: o nome disso é saudade.

Ele usou a palavra em português, considerando que “saudade” era uma palavra que não tinha em seu idioma e que ele amava usar desde que o explicou o significado.

: é exatamente isso, John. Eu realmente estou com saudade de você.

Ele encarou a tela do celular por um tempo, não esperava por aquela resposta, um sorriso sambou em seus lábios e ele tentou esconder como se alguém estivesse presenciando a cena, mesmo sabendo que estava sozinho, negou com a cabeça dizendo:
- Se você contar para ela que fiquei rindo feito um idiota eu te mando embora daqui, hein.
Pretinha olhou para ele como se de fato entendesse o que ele estava falando e, preguiçosamente, se ajeitou melhor na cama preparando-se para voltar a sua soneca, ele se levantou e se ajeitou perto da cachorrinha, preparando-se para tirar uma selfie com ela, e foi aquela imagem que clareou a tela do aparelho de que sorriu com o que via.

John: nós também estamos com saudade de você!

*********

John ouvia uma voz ao longe mas se recusava a abrir os olhos, havia demorado demais para dormir na noite anterior, parte porque sua mente transbordava de letras de música que ele apenas não conseguia deixar de escrever, parte porque ainda não estava acostumado a ter uma cachorra dormindo em sua casa e ficou um pouco preocupado com o animal.
Ao lembrar de Pretinha ele resolveu despertar totalmente, arregalou os olhos quando viu que ela não estava mais no tapete de seu quarto e se levantou correndo, esfregando os olhos e tropeçando desajeitado até a cozinha, deparando-se com uma cena que fez seu coração se aquecer.
preparava o café da manhã enquanto Pretinha estava sentada próximo a ela esperando algum petisco, ela abanava o rabo animada e mantinha a língua para fora da boca, numa expressão meio abobalhada.
- Você tem um buraco na barriga, é? Eu já te dei metade dos ovos que fiz!
A cadela virou a cabeça para o lado tentando entender, se animou ainda mais quando viu a mulher separar um pedaço de bacon e jogar para ela, que claro, nem esperou o alimento chegar ao chão, mastigou animadamente e engoliu, voltando a olhar para a fim de conseguir mais petiscos.
- Eu não posso acreditar que em menos de vinte e quatro horas na presença de John Mayer você já aprendeu a fazer essa carinha de pedinte que eu não resisto – bufou com um sorriso torto nos lábios separando mais um pedaço de bacon. – É o último, ouviu?
- Você está tentando deixar a minha filha com colesterol alto?
A voz masculina ecoou pela cozinha e levou a mão até o lado esquerdo do peito, bufando:
- Que susto, Mayer, você quer me matar?
- Você quer matar a Pretinha, claramente.
Ela riu do sotaque dele e observou a animação da cadela aumentar com a aproximação do homem que tinha o rosto inchado e o cabelo desalinhado após uma – nem tão boa assim – noite de sono.
- Pretinha – ela disse como se fosse a coisa mais simples do mundo e ele enrugou o nariz. – Mas achei fofo o jeito que você falou.
- Pretinha – tentou repetir mas saiu tão embolado quanto da primeira vez. Não teve tempo de tentar falar novamente, pois se aproximou dele beijando-o de forma tão intensa que ele pareceu demorar alguns segundos para corresponder, ela não era de fazer aquilo sem motivos aparentes, claro que estranhou a atitude da mulher, mas a puxou pela cintura com a mesma intensidade em que ela apertava sua nuca, seu coração se rebelou em seu peito e ele precisou se afastar para manter qualquer sentimento longe daquilo, mesmo sabendo que era tarde demais.
- Você realmente estava morrendo de saudade de mim.
Ela riu do tom convencido que o homem usou e mordeu o lábio inferior prendendo um sorriso sacana que ameaçava escapar.
- Tu nem tem ideia, viu.
- Ok, que bichinho te mordeu pra você estar romântica? – ele perguntou e a viu contorcer o rosto num quase sorriso. – Não se atreva a cantar Lovebug pra mim!
Se afastou rapidamente de uma que quase gargalhava da cara que ele fazia e caminhou até Pretinha, fazendo um carinho rápido na cabeça do animal antes de roubar uns pedaços de bacon sobre o balcão.
- Eu não vou – ela negou com a cabeça afastando a letra da música de sua mente –, eu só estou com saudades mesmo.
Ela pegou impulso se sentando sobre a bancada vendo-o fazer o mesmo, Pretinha caminhou até próximo aos pés suspensos no ar e se deitou logo abaixo dos dois, de alguma forma, John se sentiu totalmente em casa com aquela cena, e pediu aos céus que ela se tornasse rotineira.
- Eu também estava – confessou olhando para . – E como foi com a Alicia? Ela me mandou algumas mensagens dizendo que você é uma das melhores pessoas com quem ela já trabalhou.
Ele assistiu àquele sorriso que tanto amava tomar conta do rosto feminino a sua frente e não conseguiu deixar de sorrir junto.
- Aquela mulher é a pessoa mais maravilhosa de toda a Terra! – exclamou. – Sério, trabalhar com ela foi o auge da minha carreira!
- Eu amo a forma com que você me ofende – ele confessou e ela riu.
- Não se preocupe, meu amor, você ainda tem a melhor forma de pagamento –mordeu o lábio inferior.
Ele negou com a cabeça sabendo que aquele simples gesto era capaz de aquecer seu coração e deixar todo seu corpo em chamas, saltou da bancada até o chão ao lado de Pretinha que se levantou assustada, mas ele não teve tempo de sequer confortar o animal de qualquer forma, no segundo seguinte já estava com em seu colo enquanto caminhava desajeitado pelo corredor com a mulher fazendo um estrago em seu pescoço.
Tê-la ali o fazia se sentir em casa, e então percebeu que o seu lar era onde estava com ela.

**********

John se remexeu em sua cama sentindo-se confuso, lembrava-se de que em um dado momento após o almoço ele e decidiram assistir a um filme e ambos caíram no sono, mas detestava dormir durante a tarde pois sempre acordava com a sensação de que tinha perdido todo seu dia. Respirou fundo e buscou o corpo feminino ao seu lado, encontrando a cama vazia, obrigou-se a abrir os olhos e viu que já havia anoitecido e que o quarto estava em um completo escuro.
Tateou o colchão ao seu lado procurando por seu celular, tinha a vaga lembrança de tê-lo deixado entre os travesseiros antes de dormir, encontrou o objeto e apertou o botão principal a fim de ver que horas eram, a claridade o obrigou a estreitar os olhos e sentiu uma pequena pontada na cabeça, esperou que sua vista se acostumasse com a luz e viu que se aproximava das oito horas da noite.
Umedeceu os lábios e esticou os braços preguiçosamente, quando sentiu o aparelho vibrar em sua mão, voltou a atenção para o mesmo só então se dando conta de que segurava o celular de , seu coração disparou ao ver que a mensagem que brilhava na tela era de Nick, mesmo sendo de um número que ela não tinha salvo em sua agenda.

, é o Nick, você ainda está por aqui? Por favor, me dá só mais uma chance, me deixa explicar, me desculpa por ter agido daquela forma.”

- Acordou a margarida!
quase cantarolou, invadindo o quarto enrolada em uma toalha e com outra em suas mãos secando os cabelos, ela caminhou até o interruptor e acendeu a luz, se dando conta de que John mantinha os olhos vidrados em seu celular. Perguntou:
- Algum problema? É minha mãe?
Ele soltou uma risada anasalada e esticou os braços para ela, entregando o aparelho e dizendo, em um tom carregado de ironia:
- Não, é o Nick, ele quer te encontrar de novo.
Aquelas palavras foram como um soco no estômago para , ela encarou a mensagem em seu celular e negou com a cabeça sentindo-se completamente perdida, não sabia como Nicholas havia conseguido seu número, e muito menos imaginava por qual razão ele se sentia no direito de mandar uma mensagem como aquela.
- John – sussurrou, ainda encarando a tela de seu celular. – Eu juro que não aconteceu nada, eu só...
- , eu não to interessado – foi o que ele falou, interrompendo-a. – A gente não tem nada, você não precisa me dar satisfação do que anda fazendo por aí.
- Aja como um adulto, Mayer – ela finalmente deixou o aparelho de lado e o encarou, sentado na cama com uma expressão de indiferença. – Eu o encontrei sem querer e houve uma discussão, normal, são seis anos de coisa demais guardada aqui, mas foi só isso, ele está casado.
- Ele está casado mas ele ama você, ! – ele se levantou da cama, sentindo-se ligeiramente tonto. – Eu vi a forma com que ele te olha, como se você fosse propriedade dele, como se bastasse ele estalar os dedos que você voltaria correndo, eu achei que você seria esperta o suficiente para fugir disso, mas aparentemente eu estava enganado.
Ela abriu a boca, incrédula.
- John, não aconteceu absolutamente nada, foi uma discussão ridícula e rápida, só isso, eu fui jantar na casa da Denise e ele apareceu e então...
- Sério? Você foi jantar na casa da sua ex sogra? – soltou uma risada desanimada. – Inacreditável.
- Ela não é só minha ex sogra, eu gosto dela, somos amigas.
Ele negou com a cabeça andando de um lado para o outro, coçou levemente a barba e voltou a encará-la, perguntando: - Foi por isso que você voltou mais cedo, não foi? Porque você encontrou seu ex e ficou balançada e então precisava fugir e passar um tempo comigo para se lembrar que não devia se deixar levar por ele.
- John...
- Me diz que não foi isso, , olha nos meus olhos e me diz que eu estou errado – ele se aproximou dela que se encolheu minimamente.
Sabia, não podia mentir sobre aquilo, havia corrido para John para esquecer Nick, para esquecer a discussão, para se sentir melhor, e ninguém mais além daquele homem poderia ajudá-la a superar aquela noite horrível que havia passado na casa dos Jonas.
- É tão ruim assim eu ter você como alguém que me faz bem a ponto de ser um refúgio?
Ele negou com a cabeça.
- É sim, , porque enquanto você me vê como um refúgio, eu me vejo como o cara que nunca vai sair do segundo lugar.
- Por favor, John, você...
- Eu o que? Eu tenho várias mulheres? Eu sou o pegador? Eu não ligo para romances e relacionamentos? É isso? – ele ergueu os braços. – O que mais eu preciso fazer para te provar que eu tô apaixonado por você?
sentiu o chão sumir e o ar lhe faltar, mordeu o lábio inferior numa tentativa de reprimir o espanto que sentiu com aquela frase, não pode falar nada, John começou a andar de um lado para o outro falando apressadamente:
- Eu sei que você não vai acreditar, que você acha que só porque acompanhou toda a minha carreira, sabe tudo sobre mim, que tem certeza de que sou incapaz de amar uma mulher e tratá-la como se deve, eu sei que todos os meus esforços para te mostrar que eu posso ser o homem certo para você são completamente ignorados pois você já tem a sua ideia sobre mim e não muda não importa o que eu faça, mas, eu sou completamente apaixonado por você, e se você acha que isso não me assusta, está enganada, eu não queria estar nessa posição, eu não nasci para estar nessa posição, mas eu estou, eu estou apaixonado por uma pessoa que me coloca em segundo lugar sempre que tem a oportunidade enquanto eu estou recusando qualquer outra que aparece na minha vida porque sei que nenhuma delas é você, eu estou fazendo o possível e o impossível para te convencer de que eu sou o cara certo para você, – ele ergueu os ombros, dando-se por vencido. – Mas eu estou cansado de ser o seu refúgio ou sei lá como você queira chamar isso, eu estou cansado da sensação de não ser suficiente, eu estou cansado de te ver vivendo num passado que não te cabe mais, eu estou cansado!
- John, me dá ao menos uma chance de tentar te explicar o que aconteceu, por favor.
A voz dela estava falha devido ao nó em sua garganta, ele parou de andar de um lado para o outro e a encarou novamente, perguntando:
- Você pretendia me contar sobre esse encontro? Você ao menos considerou se abrir comigo sobre isso? E se nós conversarmos agora, se eu te ouvir, no final de tudo eu vou escutar você dizendo que aceita dar uma chance real para a gente? Se a resposta para essas perguntas for positiva então, sim, , eu fico, e te escuto, e a gente esquece tudo isso e seguimos juntos daqui para frente, mas se sua resposta for negativa então eu não tenho interesse em me manter nessa história com você, eu te disse que guardei coisa demais durante toda minha vida, mas eu mudei e não pretendo voltar a ser desse jeito, menos ainda tenho a intenção de dividir a vida com alguém que não sabe se comunicar.
queria dizer que sim, que daria uma chance a eles, que queria conversar, que queria se abrir, mas simplesmente não conseguia, era como se as palavras sumissem todas as vezes que Nicholas era o ponto principal de qualquer conversa. Tinha se obrigado a esquecê-lo afinal, a colocá-lo em uma parte de seu coração que às vezes nem ela tinha alcance, e então, de uma hora para a outra, tinha que lidar com a volta dele, precisava de um tempo, não conseguia administrar dois dramas em sua vida.
- É complicado, você sabe.
Ela sussurrou sentindo uma lágrima escorrer pelo seu rosto, dobrou os braços na altura dos seios e encolheu os ombros, parecia uma criança indefesa e por um segundo John vacilou, não queria ser duro com ela, mas ao mesmo tempo, não podia ser injusto consigo mesmo.
- Eu não tenho mais idade para isso, , me perdoa mas eu não posso esperar.
Ele se enfiou no closet pegando uma mala de tamanho médio e colocando algumas mudas de roupa e outros pertences pessoais, demorou um pouco para acordar do transe mas logo o fez, seguindo-o pelo pequeno corredor.
- O que você está fazendo? - Eu vou para meu apartamento em Los Angeles, eu tenho alguns compromissos por lá, devo ficar lá por um tempo – explicou. – Eu não quero que pareça que estou te expulsando daqui, você não está no seu país, eu entendo isso, fique o tempo que precisar e cuide da Pretinha, quando você tiver para onde ir me avise que eu volto.
- John, não faz isso – ela suplicou, entre soluços.
Ele a encarou, seus olhos cheios de lágrimas, mas se recusava a derramar uma sequer por ela, apenas disse:
- Eu realmente falo sério quando digo que estou apaixonado por você, então se você quer que eu fique na sua vida de verdade, sabe onde me achar, mas se for para te ver insegura todas as vezes que se trata de nós dois, por favor, não me peça para ficar, porque eu não vou suportar mais essa situação – ele terminou de arrumar sua mala e a encarou novamente. – Eu vou esperar por você, , eu só não sei até quando.
Ela fechou os olhos com força quando ele, ao passar por ela carregando sua mala, parou e lhe deu um beijo na testa, mostrando todo cuidado que tinha em relação aos dois. Não tentou impedi-lo de continuar andando em direção a saída, entendia o lado dele e precisava ser cautelosa para não quebrá-lo ainda mais, respirou fundo e se desfez da toalha que estava em seu corpo, colocando uma roupa confortável, caminhou até a cama vendo Pretinha voltar triste para perto dela.
- Quer dormir aqui hoje? – deu dois tapinhas sobre o colchão. – Eu prometo não contar ao John quando ele voltar.
Pretinha bocejou e apenas virou as costas caminhando lentamente até seu cantinho no quarto, deitando lá, como se culpasse pela saída repentina de John.
- Nem a cachorra quer minha presença, parabéns, – reclamou consigo mesma.
As lágrimas começavam a dar sinais de que voltariam a rolar pelo seu rosto, por isso resolveu apagar as luzes e dormir, acreditava que no dia seguinte, com o descanso de uma boa noite de sono e com o tempo passado, poderia pensar melhor no que fazer.
Por hora, a única certeza que tinha era que não podia mais deixar que Nicholas fizesse todo aquele estrago em sua vida, estando ele casado ou não, precisavam conversar de forma civilizada, e ela daria um jeito de fazer aquilo o mais rápido possível.

**********

corria com Pretinha ao seu lado pelo parque que toda manhã a recebia para uma maratona de exercícios, como de costume, seus fones de ouvido faziam um excelente trabalho tocando suas músicas favoritas no último volume, ela estava ofegante e sentia o suor escorrer pelas suas costas, amava se manter em movimento e era, sem dúvida, a melhor forma de iniciar o dia.
Tentava não pensar na saudade que crescia em seu peito sempre que John Mayer invadia seus pensamentos sem sequer pedir licença, mesmo estando insegura ainda sobre a decisão que tomaria, doía em seu íntimo a forma indiferente que ele vinha tratando-a desde que saiu de sua casa, há duas semanas atrás.
As mensagens trocadas se resumiam em Pretinha e cuidados com a casa que costumavam dividir, Nicholas não havia enviado mais nada e ela ainda não conseguia decidir o que faria de sua vida amorosa que, de uma hora para outra, se tornou na maior confusão que poderia suportar.
Chegou em casa indo direto para a geladeira e pegando uma garrafinha com água bem gelada do jeitinho que amava, viu Pretinha correr para seu potinho com água também, igualmente sedenta depois da corrida que tiveram.
Umedeceu os lábios e apertou o botão de seu fone atendendo uma chamada que sequer sabia de quem era visto que seu aparelho celular estava no bolso da calça que usava e ela estava ocupada demais com sua água para olhar no visor primeiro.
- Oi, raio de sol!
A voz de Sophie soou em seus ouvidos e ela abriu um sorriso antes de responder:
- Oi meu bebê, a que devo a honra de sua ligação?
- Queria saber se a senhorita vai ao Billboard Music Awards, mas principalmente, queria saber como você está depois daquela confusão toda. Você não tá respondendo mensagem nenhuma!
mordeu o lábio inferior bebericando mais um pouco de sua água antes de dizer:
- Ok, uma coisa de cada vez – suspirou. – Eu não estou bem, tudo está meio confuso por aqui, eu e o John discutimos e ele saiu de casa, estou procurando um local para eu alugar e enfim.
- Eu sinto muito – Sophie sussurrou em resposta.
- Eu vou ajeitar as coisas com ele, mas antes eu preciso ajeitar as coisas com o Nicholas, só estou pensando em como fazer isso já que ele está casado, mas enfim, no momento certo eu vou saber o que fazer, eu espero – deu de ombros. – E eu não devo ir ao Billboard Music Awards não, o John é um dos convidados e eu até tenho convite, mas não tem clima, sabe?
- Eu entendo, amiga, e eu sinto muito que as coisas tenham chegado a esse nível de confusão, mas eu tenho certeza que no momento certo você vai saber o que fazer – Sophie sentenciou. – E mesmo que você não vá à premiação, eu gostaria muito que você fosse para Vegas nesse dia.
uniu as sobrancelhas estranhando aquele pedido, por isso perguntou:
- Pra que?
- Eu preciso que você me prometa que não vai surtar e que não vai repassar essa informação nem para a sua sombra.
- Eu tô ficando realmente assustada – recostou na bancada no centro da cozinha encarando um ponto fixo a sua frente.
- Eu e Joe vamos nos casar na capela L’Amour e eu quero que você seja uma das madrinhas.
arregalou os olhos e se colocou em posição ereta, torcendo o pescoço levemente antes de perguntar:
- O que? Aquela do Elvis?
- Sim – Sophie riu, nervosa. – Por favor, não me julgue!
- Te julgar? Meu Deus, nada é mais a cara de vocês que um casamento desse!
Eu estarei lá, com toda certeza, e eu aceito ser sua madrinha mesmo não tendo ideia do que vestir nessa ocasião tão peculiar.
As duas riram juntas e Sophie respondeu:
- Não se preocupe, só me manda as suas medidas depois, eu vou ajeitar tudo, vamos fechar um hotel para termos privacidade – pausou rapidamente sua fala antes de completar. – E a Priy estará lá, o Nick também.
- É o seu casamento, Sophie, eu não esperaria outra coisa – riu desanimada. – Eu vou resolver essa situação antes, eu prometo, não quero nenhum clima ruim no seu dia, saiba que se depender de mim você não terá com o que se preocupar.
- Eu sei! Obrigada, amiga, agora eu tenho que desligar, tenho alguns compromissos ainda hoje.
- Ninguém mandou estar envolvida em grandes eventos cinematográficos, televisivos e musicais – as duas riram. – Beijo, meu amor.
- Beijo – a loira respondeu e antes de desligar, falou. – E responde as porras das minhas mensagens!
negou com a cabeça sorrindo quando ouviu o som da chamada sendo desligada, mordeu o lábio inferior e resolveu abrir seu aplicativo de mensagens vendo que não passava por ali desde que recebera a mensagem de Nicholas semanas atrás. Achou melhor responder sua mãe primeiro, que estava ficando aflita com o sumiço da filha, enviou algumas mensagens de voz – mesmo odiando aquela ferramenta, sabia que sua mãe gostava e de certa forma diminuía um pouquinho a saudade – respondeu Sophie mesmo tendo falado com ela pelo telefone segundos antes e então rolou a tela até a mensagem de Nicholas.
Salvou o número dele sabendo que precisava resolver aquela situação, sem pensar duas vezes, apertou no ícone para fazer a chamada, nessas horas não gostava de trocar mensagens porque podia gerar interpretações erradas, preferia falar e dar a conotação correta às suas palavras.
Nick estava sentado no quintal de sua casa, poucas vezes tinha tempo de aproveitar aquela propriedade com tranquilidade, considerando sua vida agitada com muitos compromissos, ouvia Priyanka cantarolar uma música indiana em algum cômodo, os pássaros pareciam acompanhá-la, era uma tarde agradável e ele estava relaxado lendo um bom livro quando o toque de seu celular o tirou de sua bolha. Ele encarou o visor vendo pelo código do número que só podia ser – não queria admitir para si mesmo que, mesmo que não tivesse salvo o contato na agenda por medo de ter algum problema com sua esposa, havia decorado o número dela. Seu coração se rebelou em seu peito, a cantoria de sua esposa se tornou algo distante de sua realidade, ele olhou pela porta vendo-a longe o suficiente para não desconfiar de nada, mas mesmo assim, achou melhor se levantar e andar pelo jardim, afastando-se ainda mais da casa, antes de atender o telefone. A voz de inundou seu ouvido e ele respirou fundo tentando se manter calmo.
- Alô – ela disse. – Nicholas? Tá me ouvindo?
Ele umedeceu os lábios e sussurrou:
- Oi, eu...tô.
- Eu não to te ouvindo, fala mais alto – ela respondeu.
- Eu não posso.
- Se é pra me tratar como sua amante então por que me mandou mensagem? Fala direito comigo, não to aqui pra me prestar a esse papel ridículo.
Nicholas rolou os olhos achando-se patético por estar naquela situação, mais uma vez, tinha razão, mesmo sabendo que apenas ela não estava fazendo nada de errado, ele, sem dúvida, estava errando em tudo do início ao fim daquela história.
- Desculpa – sussurrou em resposta.
- Tanto faz, precisamos conversar, se você vai contar para sua esposa ou não, isso diz respeito a vocês, eu particularmente acho que ela deveria saber, mas a escolha é sua, só sei que não quero ficar num clima chato no casamento do Joe e da Sophie, sem contar que preciso resolver tudo isso por mim também, para o bem da minha própria saúde mental. Vou esperar uma mensagem sua, só me diga a hora e o local, estarei disponível. Se cuida.
E com isso ela desligou, deixando-o sem tempo para responder.
Respirou fundo algumas vezes tentando controlar seus pensamentos conturbados e seu coração acelerado, odiava o fato de ter o poder de deixá-lo daquela forma mesmo depois de todos aqueles anos. Aqueles sintomas de paixão adolescente o deixavam completamente desnorteado quando o assunto era sua primeira namorada, e ele sabia, precisava resolver isso.
Seu coração se encheu de esperança, talvez pudessem se resolver afinal, voltar ao que eram há seis anos atrás, aquela felicidade que parecia não ter fim, aquele sentimento avassalador que os invadia todas as vezes que se viam pessoalmente, o beijo dela, o cheiro, a textura da pele, tudo isso estava vivo demais em sua memória e seu corpo parecia sentir falta de cada centímetro da assim como seu coração.
Passou alguns segundos maquiando toda aquela história em sua mente, como seria bom se pudesse voltar, como seria bom se pudesse reviver, como seria bom! Mas, como um elástico que se estica demais e volta brutalmente para seu lugar, a voz de sua esposa o trouxe novamente para a realidade, chamando-o:
- Hubby.
- Oi – ele respondeu, tentando disfarçar o susto. – Aconteceu algo?
- Talvez – respondeu em tom de lamento. – Meu assessor acabou de ligar, disse que terei um compromisso na semana do casamento da Sophie e do Joe, não conseguirei ir junto com você mas te encontrarei lá.
Nicholas quase sorriu, finalmente a sorte parecia jogar ao seu favor e de , umedeceu os lábios e mesmo sentindo-se a pior das criaturas com aquela mentira que estava prestes a dizer, lamentou:
- Que pena, amor.
- Eu até poderia desmarcar, mas ele conseguiu uma reunião com o diretor daquele filme que te falei que gostaria muito de fazer, lembra?
- Sim, lembro – mentiu novamente. – Não dá para perder essa oportunidade, não é? Melhor garantir essa reunião, tenho certeza de que quando esse diretor colocar os olhos em você, vai saber que não tem ninguém melhor para protagonizar esse filme!
Ela abriu um sorriso sincero e se inclinou dando-lhe um selinho rápido antes de engatar uma conversa animada sobre o quanto estava apaixonada pelo jardim de sua casa, caminhando por entre as flores fingindo não perceber o esforço que seu marido fazia para parecer minimamente interessado naquele assunto. Ela sabia que algo andava diferente naqueles últimos dias desde que havia reaparecido, mas no fim do dia era com ela que Nick estava e preferia acreditar que aquilo significava alguma coisa.

*********

sentiu seu coração falhar por um segundo antes de voltar a bater descompassado em seu peito com o som da campainha ecoando pelo seu quarto de hotel, umedeceu os lábios e respirou fundo antes de abrir a porta encontrando Nicholas com uma caixa de pizza nas mãos e uma garrafa de vinho na outra, tentando equilibrar as duas taças entre os dedos, era como voltar no tempo, era como estar novamente em um hotel no Rio de Janeiro.
Abriu espaço para que ele entrasse e o homem deu mais uma olhada pelo corredor, mesmo tendo certeza que os três últimos andares estavam fechados para os hóspedes de Sophie que só chegariam ali no dia seguinte e que ninguém o veria entrar em um quarto que não era dele, a sensação de estar fazendo algo errado o consumia e ele não conseguiu evitar dar aquela última checada no ambiente antes de caminhar para dentro do quarto ouvindo a porta fechar atrás de si.
- Não sei se ainda é seu sabor favorito, mas, trouxe pizza de lombo canadense – ele ergueu a caixa e sorriu sem mostrar os dentes.
- Ainda é a minha favorita sim, obrigada.
Os dois se sentaram na grande cama de casal, um de frente para o outro, sem trocar uma palavra ele abriu a garrafa de vinho e os serviu, antes de sussurrar depois de longos segundos:
- Tá parecendo aquela vez que nos vimos pessoalmente pela primeira vez depois que começamos a nos falar – riu sem jeito –, simplesmente não sabíamos como agir um com o outro.
- É – ela concordou aceitando a taça e bebericando seu vinho –, você achou que eu iria te atacar, pode admitir.
- Na verdade eu que estava me controlando para não te atacar – ele a encarou. – Não muito diferente de agora.
bebeu mais um gole de seu vinho sem, no entanto, desviar os olhos de Nicholas que a encarava de fato encantado demais com a presença dela ali, pela primeira vez desde que dividira sua vida com ele, sentiu-se no controle de suas emoções e da situação que estava, os papéis haviam se invertido e ela havia deixado a posição de garotinha inexperiente e com medo de perder o homem da sua vida, ela não tinha mais toda a insegurança que carregava consigo enquanto estava com ele, ela não aceitaria tão pouco, não novamente.
- O que você fez com a gente, Nicholas? O que você fez com você? – ela sussurrou.
Pela primeira vez ele quebrou o contato visual e abaixou a cabeça coçando a barba, sentindo-se repentinamente acuado.
- Eu não sei – confessou. – Eu ainda estou tentando me encontrar, eu achei que voltar com a banda seria o suficiente e então, de uma hora para a outra, eu tenho a banda e você de novo na minha vida – ergueu a cabeça novamente voltando a olha- la –, e tudo ainda parece distante demais, por mais que estejamos fazendo sucesso, não é completo, não é como antes, não tem você.
- Eu não me encaixo mais nesse contexto – ela lamentou. – E eu não to aqui para falar do nosso passado, nós não temos o poder de mudá-lo.
- Mas temos o poder de mudar o agora, ! O que nós vivemos foi lindo e eu não tiro a minha responsabilidade por ter acabado, só Deus sabe a culpa que eu carrego todos os dias quando penso em você, quando penso no que fiz, se eu pudesse voltar no tempo, eu voltaria, se eu pudesse ter você de novo – ele negou com a cabeça –, mas você está aqui agora, eu pedi tanto por uma nova chance e você voltou, isso tem que significar algo.
o encarou, as lágrimas que se formavam em seus olhos não eram o suficiente para rolar pelo seu rosto mas eram o suficiente para causar um aperto em seu coração. Apesar de tudo tinha muito carinho pelo que viveu com aquele homem, e sentia-se de certa forma incomodada com aquela situação, mas não podia mais permitir que sua felicidade ficasse em segundo lugar por uma pessoa tão inconstante como Nicholas.
- Eu detesto ser a pessoa a te lembrar isso todas as vezes mas eu preciso – ela o assistiu fechar os olhos como se não quisesse ouvir as palavras que viriam a seguir, mas continuou –, você está casado, Nicholas, e mulher nenhuma merece isso. Eu quero que você seja feliz, de coração, apesar de tudo, e eu preciso deixar nossa história no passado para que eu consiga ser feliz também.
Eles ficaram um tempo em silêncio, nenhum dos dois parecia saber como deixar tudo aquilo no passado, Nicholas sentia seu coração diminuir a cada batida por ver escapar outra vez, ele achou que poderia consertar tudo que havia feito antes, mas estava enganado, aquela parte de sua vida não voltaria, de alguma forma ele sabia.
- É normal isso? É normal você chegar em casa de um longo e cansativo dia e desejar encontrar outra mulher como sua esposa? Eu tento fazer com a Priyanka o que eu fazia com você, os mesmos programas, os mesmos filmes, as mesmas músicas, o mesmo bendito sabor de pizza, até o seu perfume eu dei para ela de presente – confessou sentindo-se um pouco envergonhado. – Mas ela não é você, ela não ri das mesmas piadas idiotas, ela não fala sozinha quando está irritada, o perfume fica com um cheiro diferente na pele dela e ela odeia lombo canadense – riu sem humor. – Ela não é você e eu não sou...eu – uniu as sobrancelhas, desanimado. – Eu deixei de ser eu quando deixei você.
respirou fundo, pela primeira vez fazendo um esboço do que ele poderia estar passando, sentia-se mal por ele, mas não era algo que tinha o poder para mudar.
Respondeu:
- Por muito tempo eu procurei por você em outras pessoas, eu entendo, apesar de não ter feito a burrada de casar com nenhuma delas – deu de ombros. – Mas eu me descobri primeiro para depois pensar em ter alguém, no começo não foi fácil, tudo se resumia a você, o primeiro em tudo na minha vida, eu sabia que nenhum toque, nenhum beijo, nenhum sorriso seria o seu, a ideia de me arriscar em alguém diferente era assustadora, então, eu entendo, Nick – aquele apelido saiu como se estivesse preso em sua garganta e, mesmo com o tom de voz incerto, ele gostou de ouvir. – Descubra o que você quer, descubra quem você é, se apaixone por você primeiro, o dia que você perceber o cara incrível que você é e se apaixonar por si mesmo, você será suficiente para outra pessoa.
Finalmente a primeira trilha de lágrimas se fez no rosto do homem que tratou de seca-las rapidamente, ele fungou antes de sussurrar:
- Eu realmente te perdi e isso dói demais, . - Não se culpe por isso, Nick, algumas coisas apenas fogem do nosso controle.
Ela deu de ombros e mordeu o lábio inferior, ato que chamou a atenção dele instantaneamente.
- Deus, eu amo você.
Ele sussurrou, com uma verdade que poucas vezes ela sentiu de alguém, com um arrependimento que parecia corroê-lo por dentro, a dor era nítida em suas palavras e tudo que ela mais queria era ouvir aquilo, mas ele estava seis anos atrasado e ambos sabiam.
Quando o olhar dele se desprendeu de sua boca até seus olhos novamente, ela soube, seu coração saltou em seu peito com a certeza que até aquele momento ela não tinha, com a convicção que estava esperando por todo aquele tempo, e que, de uma hora para a outra, sem saber explicar como, ela apenas soube, e então, como se as palavras tivessem vida própria, respondeu quase que automaticamente:
- Eu amo o John.
Nicholas sentiu o chão se abrir debaixo de seus pés, a verdade que ela carregava era como uma avalanche que destruía toda e qualquer mínima esperança que ele ainda mantinha em seu peito, a viu arregalar os olhos e tapar a boca com as mãos, mostrando que nem ela esperava responder aquilo, mas havia sido um desabafo, não só para ele mas para ela mesma.
- Uau, eu nem sei o que dizer – ele sussurrou.
- Me desculpa – ela sussurrou, visivelmente sem graça. – Eu não queria, eu... - Você só se deu conta disso agora, né? – fez uma pergunta retórica mas ela sacudiu a cabeça em afirmação. – Eu quero que você seja feliz, , apesar de não achar que John Mayer seja a pessoa mais indicada para isso...
- E cá entre nós, você muito menos – ela arriscou a piada sem graça e ele riu, negando com a cabeça.
- É, nem eu – deu de ombros. – Que dedo podre, hein!
riu concordando.
- Pelo menos eu não tenho incontáveis dívidas de inúmeros casamentos milionários que eu insisti em fazer!
- E você acha que eu voltei com a banda por quê?
Os dois gargalharam juntos, até as risadas terminarem suspiros e então confessou:
- Se for para ter isso de volta eu sempre estarei disponível, Nicholas.
- Bom saber, , eu sempre gostei de quem eu sou quando estou com você, obrigado – agradeceu sincero e ela sorriu sem mostrar os dentes.
- Disponha.
Ele se levantou da cama ajeitando sua roupa no corpo antes de dizer:
- Eu estou indo para o meu quarto, preciso pensar no que será de mim daqui para frente, obrigado, , por tudo, e boa sorte com o Mayer.
- Obrigada, Nick, de coração.
Ela se levantou e ambos pareceram confusos de qual seria a forma mais apropriada de se despedir, Nick apenas negou com a cabeça com um sorriso de lado antes de abrir os braços recebendo entre eles com animação.
Ele a segurou forte pela cintura e sentiu o cheiro dela novamente tão próximo, tão intenso, tão seu, e desejou que seu cérebro fosse confiável o suficiente para guardar aquela sensação de tê-la ali para sempre. Conteve as lágrimas que queriam voltar a rolar, conteve a tristeza que insistia crescer em seu peito, era hora de começar a amadurecer e arcar com as consequências de seus atos fazia parte daquele processo, seria querer demais ter aquela mulher a sua disposição quando quisesse, ele poderia aprender a tê-la como amiga, pelo menos era o que pretendia fazer, já que expulsá-la de sua vida novamente parecia impossível para ele.
se afastou, segurando o rosto masculino a sua frente e o encarando com atenção, sussurrando:
- Você merece ser feliz, Nicholas, e tem uma mulher incrível do seu lado que também merece ser feliz, não jogue fora mais essa chance.
Ele concordou com a cabeça e se inclinou depositando um beijo demorado na testa de antes de se virar e sair quase correndo dali, deixando para trás aquela página de sua história.

********

Sophie: John está aqui.

Foi a mensagem que iluminou o celular de naquele monótono início de noite.

: eu ainda estou tentando entender o que você está fazendo aí sendo que seu casamento é daqui a pouco!
Sophie: um cover do Elvis vai fazer meu casamento, tu acha mesmo que eu ligo para o dia da noiva?

riu com aquela resposta, ela mesma – que seria madrinha – estava de pijama jogada na cama do hotel vendo a transmissão ao vivo da premiação que aconteceria em alguns instantes.
Ia digitar uma resposta quando John apareceu no tapete vermelho acompanhado da cantora Halsey, seus olhos se prenderam na tela da TV a sua frente e ela sentiu o celular vibrar em suas mãos mas nada tirava sua atenção da transmissão ao vivo.
“John Mayer aparece hoje muito bem acompanhado” foi o que a comentarista falou, sendo respondida logo em seguida pelo seu companheiro responsável pelos comentários da noite:
“Desmentindo os boatos de que ele estaria envolvido com sua produtora , responsável pelos dois últimos hits da carreira dele, e confirmando os rumores que já pipocavam na mídia sobre o possível relacionamento dele com Halsey, aí está, Halsey e John Mayer juntos, comente sobre esse novo casal usando a nossa hashtag” sentiu o estômago embrulhar com a cena de John conduzindo Halsey pela cintura, seu celular vibrou novamente em sua mão e ela encarou o visor vendo as mensagens de Sophie:

Sophie: amiga, ele tá com a Halsey!
Sophie: eu posso socar ele agora ou mais tarde?
Sophie: numa hora dessas eu queria ser a Jean Grey de verdade.
Sophie: eu odeio macho.
Sophie: ME RESPONDE, VADIA.

olhou o vestido de madrinha que usaria no casamento mais tarde, estava pendurado em um cabide na porta do armário do hotel, encarou novamente a tela de seu celular, desbloqueando o aparelho e digitando:

: você ficaria muito chateada se eu aparecesse aí com meu vestido de madrinha? Não tenho nada mais apropriado pra usar.

Sophie leu a mensagem em seu celular e negou com a cabeça rindo.
- O que foi? – Joe perguntou, estava sentado ao seu lado.
- está vindo aqui atrás do que é dela! Joe ergueu o olhar esbarrando com os olhos de John do outro lado do salão, respirou fundo e negou com a cabeça antes de dizer:
- Por que eu estou com um péssimo pressentimento em relação à isso?
Sophie não respondeu nada, estava ali para ver o circo pegar fogo e queria mesmo que aparecesse por ali e acabasse com aquela história de uma vez por todas, porém, conforme o tempo passava e a premiação acontecia sem a presença de sua amiga, mais nervosa ela ficava.
- E aí? – Joe perguntou encarando sua noiva.
- Ela não responde minhas mensagens e não atende minhas ligações, eu estou preocupada.
Joseph olhou ao seu redor vendo as pessoas se movimentarem em direção ao salão que seria a afterparty antes de dizer:
- Realmente ela não está por aqui, e eu sei que você está preocupada mas hoje é nosso casamento e nós temos que ir, a é uma das madrinhas, ela vai estar lá com certeza, poderemos tirar isso a limpo e ajudá-la se for o caso, mas não se preocupa, ok? Eles são todos adultos e sabem o que estão fazendo, essa briga não é sua.
Sophie concordou com a cabeça e umedeceu os lábios antes de entrelaçar seus dedos aos de Joe e seguir com ele para fora dali, vendo John seguir para a festa acompanhado de Halsey, rolou os olhos com a cena, sabendo que Joe tinha razão, aquela briga não era sua.
- Quer beber alguma coisa? – a voz feminina despertou Mayer do transe e ele encarou Halsey ao seu lado.
- Uma água, por favor – sorriu sem mostrar os dentes vendo a mulher estreitar as sobrancelhas.
- Sério? Uma água? - Eu não bebo – limitou-se a dizer.
Halsey deu de ombros e sussurrou que logo estaria de volta, virando-se e saindo dali, John permaneceu parado num canto do salão observando aquelas pessoas fingindo que amavam aquele ambiente. Desde o início de sua carreira ele percebia a falta de verdade nas relações entre os artistas, a briga de ego, o desejo pelo destaque e pelo poder, era a paz que o fazia respirar aliviado no meio de tanta sujeira, e agora ele se via ali, perdido e sozinho.
- Está tudo bem?
Mais uma vez foi arrancado de seu mundo particular por uma voz conhecida, virou-se meio assustado e esboçou um sorriso antes de responder:
- Tudo certo, garoto!
Shawn Mendes sorriu em resposta e bebericou sua cerveja antes de perguntar:
- Cadê a ?
John olhou para o rapaz ao seu lado negando com a cabeça antes de responder:
- Não tenho ideia.
- Vocês terminaram?
- Você está me saindo pior que um repórter do E! – comentou e ambos riram juntos. – Posso te dar um conselho? – fez uma pergunta retórica. – Não se apaixone por uma brasileira.
Shawn gargalhou e negou com a cabeça bebendo mais um pouco de sua cerveja, respondendo:
- Tarde demais, Mayer, eu estou namorando uma brasileira – deu de ombros vendo o olhar surpreso de John Mayer. – E, de verdade, eu não concordo nem um pouco com esse seu conselho, Maria Eduarda foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida e eu nunca estive tão feliz assim em um relacionamento.
- Você fala isso porque ela sente o mesmo por você também.
- Pode até ser – Shawn deu de ombros. – Mas se eu tivesse que conquistá-la novamente, se eu tivesse que começar de novo, do zero, se eu tivesse que lutar por ela todos os dias, eu faria, porque eu não tenho dúvida de que ela é a pessoa certa para mim. Você fez algo para reconquistar a ou desistiu na primeira oportunidade?
- Sua água – Halsey cantarolou aproximando-se dos dois. – Hey, Mendes!
Shawn sorriu educadamente para a mulher a sua frente e ergueu sua cerveja despedindo-se dos dois, recebendo de John dois amigáveis tapinhas nas costas e afastando-se deles.
- E então, quando a gente vai sumir daqui?
A mulher perguntou deixando claro suas intenções, John olhou para ela dando- se conta da besteira que estava fazendo. Shawn tinha razão, ele nem sequer tentou, nunca havia se declarado para antes e quando o fez simplesmente virou as costas e foi embora sem tentar ao menos conquistá-la. Perguntou-se se era uma mulher que valia a pena todo seu esforço e a resposta foi imediata, sim, ela era, e sim, queria tê-la novamente, e para sempre. Toda aquela história de amar alguém e pensar em um futuro era nova demais para ele, mas queria arriscar viver aquilo e queria que fosse ao lado de .
- Halsey, me desculpa, eu acho que confundi as coisas – ele umedeceu os lábios vendo a mulher erguer uma sobrancelha. – Nós podemos sim trabalhar juntos e eu admiro muito a artista que você é, mas nada além do profissional vai rolar entre a gente.
Ela abriu um sorriso de lado bebericando sua cerveja antes de responder:
- Confesso que isso me deixa um pouco desapontada, Mayer, mas, não precisa de um discurso para dizer não para um sexo casual – riu. – Vai atrás de quem você quer ir atrás porque claramente você não queria estar aqui.
Ele riu e terminou de beber sua água em um só fôlego, perguntando logo em seguida:
- Nos vemos no estúdio?
- Com certeza!
Trocaram um abraço apertado antes de se despedirem e John saiu correndo dali, não sabia por onde começar a procurar por , sabia que ela não estava em casa pois avisou que deixaria Pretinha em uma colônia para cachorros que havia perto de onde moravam, mas não tinha detalhes de onde ela poderia estar. Seu celular vibrou em seu bolso e ele pegou o aparelho lendo a mensagem na tela:

Shawn: Se essa sua saída repentina foi para ir atrás da saiba que ela está na capela L’Amour sendo madrinha da Sophie e do Joe. O Diplo está transmitindo o casamento ao vivo no instagram dele, então seja discreto...ou não.

John praticamente se jogou em frente ao primeiro táxi que apareceu assim que ele finalmente saiu da arena em que acontecera a premiação, pegou seu celular e abriu a transmissão ao vivo do casamento sem no entanto ver , seu coração estava acelerado e ele não podia acreditar que estava agindo daquela forma, nunca havia feito qualquer esforço para ter alguém antes, mas não podia negar, era diferente.
Desceu do táxi dando de cara com um forte esquema de segurança, respirou fundo esperando que o fato de ser John Mayer fosse suficiente para conseguir entrar, umedeceu os lábios e antes que pudesse falar qualquer coisa um dos seguranças pegou o rádio e falou:
- John Mayer.
Ele olhou ao redor meio perdido, estava prestes a explicar que seu nome não estaria na lista e que ele não tinha convite quando uma voz feminina respondeu pelo rádio:
- Está na lista, pode entrar.
Ele arregalou os olhos, surpreso com aquela resposta. O segurança abriu espaço para ele passar e John, meio incerto, caminhou lentamente para dentro da capela em que acontecia o casamento. Só então, quando, depois de tomar todo cuidado para não chamar a atenção e escolher um lugar para se sentar bem no fundo, ele varreu o local com seu olhar procurando por , encontrando-a no altar, com um sorriso leve nos lábios encarando os noivos com toda felicidade.
Ela estava deslumbrante, como sempre, e seu coração reclamou em seu peito com a saudade que sentia, não fazia ideia do que precisava fazer para tê-la, mas sabia que precisava tentar, sabia que a amava, sabia que era ela a dona daquele sentimento que o surpreendia todas as vezes.
Conforme a cerimônia acontecia, se sentia abençoada por estar ali presenciando a união das duas pessoas que mais amava na vida, não podia evitar de se sentir mais romântica que o normal e imaginar-se naquela situação. Depois do que passou com Nick, nunca tinha parado para fantasiar a ideia de ser feliz a vida toda ao lado de alguém, e então John Mayer invadiu novamente os seus pensamentos, ela negou com a cabeça tentando afastar aquilo e desviou o olhar.
Foi quando o viu, sentado na última fileira da pequena capela, os olhos castanhos dele vidrados acompanhando cada movimento que fazia, John sentiu o rosto arder por ser pego no flagra encarando-a com tanto amor e sentiu o coração acelerar de uma forma que achou que teria um ataque bem ali no altar.
- , o buquê – Sophie sussurrou para a amiga. A cerimônia havia acabado e os noivos se preparavam para deixar o altar e , tão perdida em sua bolha particular com Mayer, nem sequer percebeu.
Acordou de seu transe e quebrou o contato visual com John, mas sem antes despertar a curiosidade da amiga que direcionou seus olhos para os fundos do local, sorrindo para John antes de dizer:
- Eu sabia que precisava colocar o nome dele na lista – pegou o buquê das mãos da amiga e sorriu dizendo –, boa sorte.
seguiu a passos largos para o fundo da capela vendo John se levantar apressadamente e caminhar em sua direção, para ambos foi como se não houvesse mais ninguém ali, e não era como se os outros estivessem preocupados com eles afinal, todos queriam desejar felicidades à Sophie e Joe.
Os dois praticamente correram na direção um do outro e quando estavam perto o suficiente se renderam a um abraço apertado e cheio de um sentimento que estavam adorando conhecer melhor, era diferente, era especial e verdadeiro.
- Me desculpa – Mayer soluçou, atrapalhado para dizer logo tudo que precisava –, eu não lutei por você como deveria, me desculpa, eu...
- John – o interrompeu, se afastando do abraço apenas o suficiente para olha-lo nos olhos –, você não tem motivos para se desculpar, eu lutei anos pelo amor de outro homem, depois lutei anos para esquecê-lo e com você eu aprendi que o amor não tem que ser uma luta, foi você que me mostrou que pode ser leve, despreocupado, foi com você, Mayer, e é com você que eu quero viver esse amor, sem lutas, por favor, sem esforço, só viver.
Ele sorriu de verdade e a puxou pela cintura beijando-a com todo o amor leve que os cercava desde que se conheceram, com toda a facilidade de serem eles mesmos sem máscaras, sem esforço, sem lutas.
Nick observou a cena de longe e sentiu seu coração se diminuir a cada batida, umedeceu os lábios e tentou esconder o quão afetado estava com a demonstração pública de afeto entre e John, mas não podia negar, queria vê-la feliz e ela parecia radiante, agora era a vez dele de resolver a bagunça de sua vida.
Caminhou entre os convidados encontrando Kevin e Dani parados próximos a saída da capela, eles sorriam para Joe e Sophie com todo orgulho de vê-los casados, os dois encararam o rosto preocupado de Nicholas e Dani foi a primeira a perguntar:
- O que aconteceu?
- Vocês viram a Priy?
Kevin estreitou as sobrancelhas olhando ao redor antes de dizer:
- Ela estava aqui agora mesmo.
- Sim, ela falou que ia ao banheiro tem um tempinho, mas não voltou – Dani estranhou, só então dando-se conta do tempo que havia passado desde que vira Priyanka pela última vez.
Nicholas sentiu seu coração apertar e fechou os olhos respirando fundo antes de dizer:
- Ela deve ter voltado para o hotel, vou até lá, caso precisem de algo, sabem onde me encontrar.
Kevin concordou com a cabeça achando bem estranho o comportamento do irmão.
- O que você acha? – Dani perguntou.
- Eu ficaria preocupado se fosse antes, claramente ele está com problemas, mas acho que agora ele sabe se resolver – deu de ombros.
- Eu espero que ele não se perca de novo.
- Eu espero que ele finalmente se encontre – Kevin lamentou.
Nicholas caminhou a passos largos para o lado de fora da capela, tinha certeza da decisão que tomaria naquele momento, mesmo que de longe fosse uma das coisas mais difíceis que faria na vida. Demorou um pouco até conseguir despistar os paparazzi mas finalmente viu a porta do elevador se abrir e pode caminhar pelo corredor do hotel onde estava hospedado, por alguma razão ele tinha certeza de que poderia encontrar sua esposa ali, e não aguentava mais manter aquela situação, não era justo com ele e muito menos com ela.
Nunca havia sido a melhor pessoa para terminar um relacionamento, e terminar um casamento parecia ainda mais difícil para ele, se antes seus términos haviam sido por puro egocentrismo seu, pela primeira vez aquela atitude era tomada pelo bem de outra pessoa, ele queria que Priyanka tivesse a chance de encontrar alguém e ser plenamente feliz.
Abriu a porta de seu quarto depois de alguns segundos parado no corredor tomando coragem para finalmente ter aquela conversa, caminhou lentamente pelo pequeno corredor de entrada, fechando a porta atrás de si.
- Priy – chamou –, está aqui?
O silêncio esmagou o ambiente e ele continuou caminhando em direção ao quarto, a luz acesa indicava que ela havia estado ali, ele olhou ao redor e não encontrou a mala cor de rosa de sua esposa, muito menos as poucas peças de roupa que ela havia colocado no armário.
Ele umedeceu os lábios agora fazendo uma ideia do que havia acontecido, caminhou até a cama vendo uma folha de papel sobre o edredom, prendeu a respiração por um segundo antes de ter coragem de ler aquelas palavras.

“Nick,

Eu tentei de todas as formas ser a boa esposa que imaginei que você merecesse, eu tentei ir além, tentei ser cunhada, nora, tia, enfim, fazer parte da sua família e da sua história como se tivesse dividido muitos anos ao seu lado. Por um bom tempo eu acreditei que fazia bem esse papel, de verdade, eu acreditei que éramos felizes e que eu era a peça que faltava. Sua mãe me amava, a Sophie e a Dani se tornaram como minhas irmãs, suas sobrinhas demoraram mas finalmente começaram a gostar de mim e seus irmãos foram um presente na minha vida.
Mas isso foi até eu perceber como eu tive que me esforçar para ter tudo que a conquistou, não que isso seja um problema para mim porque ela esteve na sua vida por muito mais tempo do que eu estive, mas é surreal para mim pensar que ela também esteve ausente por muitos anos e quando voltou, o lugar dela estava lá, sem esforço, sem tentar a todo custo se encaixar, sem forçar nada, ela só estava lá e todos estavam felizes com a presença dela, inclusive você.
Sim, eu senti ciúmes no começo, muito ciúmes, mas eu percebi que mesmo que eu faça um escândalo e te proíba de vê-la, ela ainda será a convidada do Joe e da Sophie para um jantar na casa deles, ou a tia legal que convida as suas sobrinhas para tomar sorvete e elas vão sem nem pensar duas vezes, ou a nora dos sonhos que acompanha a sua mãe num dia de beleza no spa e a cunhada legal que ensina produção musical para o seu irmão mais novo. Você vai continuar lendo aquele maldito diário quase todas as noites, eu vou ter que continuar fingindo que não sei o que está acontecendo, e isso é algo que eu não posso suportar.
Ela sempre vai estar lá, ela sempre vai ocupar esse espaço todo, e eu não estou disposta a dividir você com esse fantasma do seu passado, eu poderia ficar e esperar o momento em que você vai finalmente superar esse amor, mas você passou a cerimônia inteira olhando para ela e eu soube, Nick, naquele momento eu soube que esperar por você seria em vão.
Eu amei você e não tenho dúvida alguma disso, mas eu amo saber que posso sair disso antes que seja tarde demais para eu me refazer.
Desculpa não esperar e olhar nos seus olhos para te dizer tudo isso, não podia correr o risco de te deixar me convencer do contrário. Estou indo para a Índia ficar um tempo lá mas meu advogado aí está cuidando dos papéis do divórcio, pode tratar diretamente com ele.
Seja feliz, com a ou não.
Até algum dia.”


Nicholas sentiu sua garganta fechar, mesmo que estivesse ali para por um fim naquela história, não tinha como se sentir aliviado ou feliz com a situação, dobrou o papel novamente e começou a arrumar sua mala, precisava ir embora dali, precisava pensar no que faria da sua vida.
Enquanto isso, os convidados do casamento comemoravam na festa intimista que Joe e Sophie haviam preparado, estava sentada em um sofá quase dormindo no ombro de John Mayer depois de uma longa maratona de dança com a noiva, ela segurava uns bolinhos de chocolate na mão e havia perdido a conta de quantos daquele já havia comido, mas aparentemente John contou cada um deles.
- Já é o décimo bolinho que você come, isso vai te dar uma dor de barriga que eu não quero estar perto pra ver.
Ela riu mordiscando seu bolinho.
- Na saúde ou na doença, Mayer.
- Quem casou foi o Joseph, eu não fiz voto nenhum – disse e recebeu um tapa em resposta.
- ! – Danielle se aproximou acompanhada de Sophie.
- Gente, foi mal, eu não recuso uma boa dança, mas eu estou exausta!
- A gente não veio te chamar para dançar não – Sophie alternou o olhar entre e John antes de, mostrando-se muito sem graça, perguntar. – Tem como você vir com a gente?
ergueu uma sobrancelha, desconfiada, olhou para John que deu de ombros, os dois entenderam o assunto na hora.
- É sobre o Nicholas, né? Eu não vou esconder mais nada do John, vocês podem falar na frente dele.
- – John alertou. – Tá tudo bem, pode ir com elas.
- Não – sentenciou. – Fala gente, o que houve?
- A Priy largou ele, foi embora para a Índia e me mandou uma mensagem avisando isso, o Nicholas tá sumido e a gente está preocupado, você faz alguma ideia de onde ele possa estar?
Aquela informação pegou completamente de surpresa, John se ajeitou desconfortável no sofá sentindo-se levemente ameaçado pelo fato de Nick estar solteiro novamente, observou a reação de incredulidade tomar conta do rosto de que apenas umedeceu os lábios antes de dizer:
- Nós conversamos ontem, nos resolvemos, “terminamos” tudo – fez aspas com os dedos. – Tivemos uma conversa bem franca e ficamos bem, eu achei que ele ia se resolver com a Priyanka, pelo menos foi o que pareceu que ele ia fazer, desde então não tivemos o menor contato, eu não faço ideia do que pode ter acontecido ou de onde ele possa estar, desculpa.
Todos viram a sinceridade no tom de voz que ela usou, Sophie suspirou derrotada.
- Joe e Kevin estão bem preocupados.
- Não precisa ficar – deu de ombros. – Se tem uma pessoa que eu conheço bem nessa vida é o Nicholas, ele não vai se perder de novo, fazer todo aquele escândalo, terminar com a banda e toda merda que ele fez da outra vez, ele está diferente e pela primeira vez percebendo que precisa amadurecer e mudar, com certeza ele precisa de um tempo, mas ele vai voltar, eu tenho certeza.
Joseph e Kevin se aproximaram do grupo e antes que pudessem falar qualquer coisa, Danielle disse:
- Ela não sabe onde ele está.
- “Eu preciso de um tempo” – Joe começou, lendo em seu celular a mensagem que recebera do irmão. – “Desculpa ter saído assim do seu casamento, sei que terá outra cerimônia e eu prometo estar lá até o fim, mas eu precisava sair daí. Estou pegando um voo para o Brasil agora...” – se ajeitou no sofá, surpresa. Joe continuou –, “indo atrás do que eu costumava a ser, procurar onde eu deixei de ser eu mesmo e lembrar o quanto fui feliz antes. Não se preocupem, toda minha parte para o nosso álbum está gravada e eu estarei de volta para a turnê, nós estamos juntos e somos irmãos, lembre-se, não se pode separar uma banda de irmãos. Amo vocês, nos vemos em breve”.
Fez-se um silêncio entre o grupo, ninguém parecia ao certo o que dizer. Sophie manifestou-se:
- Qual é o problema que seu irmão tem de ir superar a no país da ?
Danielle prendeu o riso assim como Joe, Kevin negou com a cabeça enquanto se remexeu desconfortável no sofá, dizendo:
- Ele foi compor.
- Ah não – Sophie reclamou. – Ele vai aparecer aqui com as músicas que não encaixam no contexto da banda, precisando de carreira solo e toda a história que já conhecemos.
- Não – Kevin negou. – Tenho certeza que isso não vai acontecer de novo.
- Até porque estamos muito mais abertos às ideias um do outro agora – Joe alertou. – Não vamos cometer o mesmo erro novamente.
- Eu espero – respondeu olhando para John que estava visivelmente desconfortável com a conversa. – Bom, eu acho que já está na hora da gente ir, o vovô aqui precisa ir para cama cedo.
Todos esboçaram um sorriso debochado e John soltou uma gargalhada forçada fingindo achar graça do comentário.
- A gente tem que ir para cama mesmo, muito tempo que a gente não faz isso e eu tô com saudade – ele respondeu e rolou os olhos.
- Vai caçar o que fazer, Mayer – reclamou enquanto se levantava com um sorriso nos lábios e segurava as mãos de Sophie. – Foi lindo, amiga, eu sei que já disse mil vezes mas eu desejo toda felicidade do mundo pra você – olhou para Joe e continuou –, para você eu digo o de sempre, você não merece essa mulher!
Ele riu e abriu os braços, não demorando para sentir entre eles num abraço apertado.
- Eu sempre pedi a Deus uma irmã e ele me deu a melhor de todas – sussurrou para ela que sentiu seu coração aquecer com aquelas palavras.
- Eu te amo, bro. E não deixa essa mulher escapar, pelo amor de Deus.
- Nunca!
Eles se afastaram e ela pode se despedir de todos os outros antes de seguir para fora dali acompanhada de John Mayer, avisando-o que precisava passar no hotel onde estava hospedada para pegar suas coisas antes de seguirem juntos para o hotel que John havia reservado para ele.
Quando abriram a porta da luxuosa cobertura em um dos hotéis mais caros de Las Vegas, arregalou os olhos e não conseguiu soltar nada além de um:
- Uau!
John coçou a nuca, desconfortável, enquanto fechava a porta atrás de si. Ele umedeceu os lábios e serviu-se de um copo de água enquanto a mulher colocava sua mala no canto do cômodo que estavam.
- A gente precisa conversar – foi o que ele respondeu.
parou de contemplar o ambiente e fixou seu olhar no homem a sua frente, mordendo os lábios em seguida. A última coisa que queria era ter mais uma conversa interminável, não aguentava mais ter que ficar resolvendo todos aqueles problemas, por mais necessário que fosse.
- Não pode ser amanhã?
John negou com a cabeça e esticou o braço oferecendo guiá-la pelas mãos, os dois caminharam juntos até a sacada da cobertura, tendo a cidade de Las Vegas aos seus pés e o céu estrelado sobre suas cabeças, a vista era, sem dúvida alguma, uma das mais bonitas que já tinha presenciado em toda sua vida.
Sentaram-se lado a lado em um confortável sofá, a brisa calma da madrugada balançava os cabelos da mulher que, ao se sentir incomodada, fez um nó nos fios de qualquer jeito, esperando que ele iniciasse a conversa.
- Você é linda demais! – foi o que John disse, fazendo com que toda aquela verdade deixasse levemente sem graça. – Eu não vou mentir para você, eu reservei isso aqui porque achei que terminaria a noite com a Halsey – sentiu seu estômago revirar –, eu queria impressioná-la, enfim – John rolou os olhos. – Até que Shawn Mendes me lembrou de que eu não estava fazendo a coisa certa.
tentou afastar o leve mal estar que sentira com aquela confissão e respondeu:
- Óbvio, meu amor, ele sabe o poder da mulher brasileira.
John ergueu as sobrancelhas mostrando-se surpreso.
- Você sabia?
- Como você não sabia? Todo mundo está falando sobre esse namoro dele com a fotógrafa brasileira – respondeu em um tom óbvio.
- Eu tenho cara de que lê fofoca de celebridade teen na internet?
rolou os olhos e respondeu:
- Ok, continue, você ia trazer a Halsey para cá...
John abaixou a cabeça sussurrando:
- Eu achei que poderia esquecer você, até me dar conta de que nem sequer tentei fazer dar certo. Eu fiquei chateado e com ciúmes, e agora o Nicholas está solteiro, então eu continuo com essa sensação de que posso te perder a qualquer momento, mas eu quero tentar, , e eu quero que dê certo.
Ele levantou o olhar encontrando os olhos dela bem fixos nele, parecia em paz, bem e confortável na presença dele como nunca antes, pela primeira vez ele teve a certeza de que a tinha por inteiro, sem todas as barreiras que ela se obrigou a criar por conta do coração partido que tivera no passado.
- Eu amo você.
Aquelas palavras soaram como música aos ouvidos de John, a melhor música que já havia escutado em toda sua vida, ele abriu um sorriso sincero e não impediu uma lágrima que teimou em escorrer pelo seu rosto, nunca pensou que um dia choraria na frente de uma mulher, e estava ali, totalmente emocionado com aquela declaração. Ela continuou:
- Eu demorei muito para perceber isso, eu demorei muito para entender que poderia ser feliz de novo, eu demorei para perceber que o amor faz bem sim, e se der errado, ele reaparece depois de um tempo e faz bem de novo. A gente aprende, John, a gente conhece outras pessoas, vive uma história diferente, e torce para ter a sorte de viver um pra sempre, mas às vezes a gente foca tanto nesse pra sempre que esquece do presente, deixa de viver o agora, eu me dei conta do amor que tenho por você quando percebi que, apesar de querer ter você na minha vida para sempre, eu preciso de você agora, e amanhã, e depois, e deixar o controle do futuro distante com o destino. Minha escolha agora é você! Eu quero o que você me oferece, com o Nick solteiro ou não, isso não importa, eu vou te provar que eu estou aqui por inteiro e por você.
John sorriu da forma mais sincera que podia, sentia seu coração acelerar em seu peito com cada palavra dita por , estava apaixonado, como um adolescente, como há anos não se sentia, queria viver aquilo intensamente, queria fazê-la feliz, queria mostrá-la que o amor é a melhor coisa que acontece na vida de alguém, se daria certo, se seria para sempre, isso só o tempo diria.
Mas naquele momento, naquele agora, era o homem mais feliz do mundo, e sabia que a responsável por isso era e no que dependesse dele, aquela história daria certo.
- Eu te amo demais.
Foi o que ele sussurrou antes de puxá-la pela nuca e se entregar em um beijo apaixonado, o coração de ambos se rebelou em seu peito fazendo daquela sensação de estarem tão entregues um ao outro o sentimento favorito dos dois.
Era como estar em casa, era como pertencer de verdade à alguém, era ser inteiro, intenso e verdadeiro como poucas vezes experimentaram.
O destino dava voltas e voltas mas insistia em trazer exatamente o que precisavam, e John souberam, sem qualquer dúvida, que precisavam um do outro.

******

Pretinha correu animada pelo quintal verde e bem cuidado de enquanto John reclamava insistentemente para ambas:
- Eu não acredito que você está feliz por sua mãe estar deixando a gente, Pretinha!
rolou os olhos sem tirar um sorriso dos lábios, parou em frente à grande porta de madeira escura e chacoalhou as chaves penduradas de forma desordenada em um chaveiro em forma de clave de sol, perguntando:
- Você vai ficar aí reclamando ou vai vir comigo?
Cinco meses haviam se passado desde o casamento de Joe e Sophie e muita coisa havia mudado, nas poucas semanas em que esteve na casa de John enquanto ele vivia em seu apartamento em Los Angeles, decidiu que não dava mais para viver de favor em uma casa que não era sua, queria ter um espaço seu, que fosse sua cara, que pudesse decorar, receber as pessoas, principalmente sua mãe. Nunca havia sonhado em ter uma casa propriamente dita, mas ter um estúdio só seu para criar seu próprio selo musical era seu maior objetivo de vida, economizou muito por vários anos para realizar aquele sonho e quando seu corretor ligou dizendo que havia encontrado um galpão velho, bem abaixo do preço e que talvez teria o potencial para se transformar no local que queria, ela não pensou duas vezes.
- Eu só não entendo o motivo de você ter que sair lá de casa – o homem bufou, repetindo a mesma coisa pela milésima vez.
- Porque é a sua casa, talvez – ergueu as sobrancelhas em um tom óbvio. – Por Deus, homem, eu estarei há trinta minutos de distância de você e nós dois sabemos que você não vai sair daqui e nem eu vou sair da sua casa, então na prática nem fará tanta diferença, no mais, eu tenho certeza que você vai amar eu ter minha própria caverna para me esconder quando minha TPM atacar.
John esboçou um sorriso e disse:
- Com isso eu tenho que concordar – deu de ombros e se aproximou dela, segurando-a pela cintura. – Agora falando sério, eu nem preciso entrar aí para saber que ficou tudo lindo e de extremo bom gosto, uma coisa meio estúdio e meio lar é exatamente o que me vem à cabeça quando eu penso em você e eu estou muito, muito, muito orgulhoso dessa sua conquista!
sorriu abertamente e enroscou seus braços ao redor do pescoço de John puxando-o para um beijo que não durou muito pois Pretinha latiu impaciente ao lado dos dois que se afastaram assustados.
- Alguém está muito empolgada para conhecer a nova casa da mamãe – forçou uma voz como se falasse com um bebê e John adorava aquilo nela.
A mulher virou-se novamente para a porta e demorou alguns segundos para encontrar a chave certa para abri-la, fazendo isso com toda a empolgação que transbordava em seu peito, era a maior realização de sua vida, era seu sonho de infância, era a presença física do legado de seu pai, daquilo que ele lhe ensinou desde pequena, o poder que a música tem na vida das pessoas, e ela usaria aquele espaço para fazer de lar e para criar música, não tinha combinação mais perfeita.
- O que achou?
Ela perguntou quando os dois estavam sentados no largo sofá da sala de estar, depois de uma tour por todo o espaço. O trabalho da equipe responsável por transformar o galpão podia ser comparado à um milagre e estava mais do que satisfeita, mas a opinião do seu namorado era importante para ela.
- Esse lugar está a sua cara, tem você em cada detalhe, é surreal – ele sorriu –, o que quer dizer que está lindo – explicou-se e ela riu junto. – E a forma que o estúdio ficou bem separado da casa, te dando a privacidade necessária foi ótimo!
- E os equipamentos? Você viu quantos canais tem naquela mesa de som? – comentou, empolgada. – John, é sério, eu nunca mais vou...
- Nunca mais vai dormir, eu sei – ele a interrompeu completando a frase dela, sabia exatamente que ela falaria aquilo. – Por isso eu acho que deveríamos aproveitar esse momento aqui, agora, e inaugurar essa casa da melhor forma.
Ele engatinhou lentamente para cima dela no sofá que se deitou com um sorriso de lado, comentando:
- Na frente da nossa filha, John Mayer, isso é um absurdo!
Ele riu, negando com a cabeça.
- Ela pode superar esse trauma, tenho certeza disso. – comentou e Pretinha, como se entendesse, simplesmente saiu de perto deles e foi para outro cômodo. – Boa garota! – ele se gabou e gargalhou.
- Obrigada por dividir essa conquista comigo, amor.
Ele sentiu seu coração vibrar e comentou:
- Graças a Deus finalmente chegamos ao nível dos apelidos carinhosos – recebeu um tapa no braço de uma irritada com os comentários inapropriados que ele insistia em soltar, John só pode rir. – Eu quero estar do seu lado e dividir todas as conquistas com você, amor.
Ela sorriu e o puxou para um beijo demorado, tendo a certeza que ele era um dos motivos que fazia aquele lugar ali ser sua casa.



Epílogo - Begin Again

6 anos depois.

tocou a campainha da casa de John, mexendo preguiçosamente no celular enquanto aguardava ser atendida, ouviu alguém gritar um “já vai” e sabia exatamente quem viria atendê-la, abriu um sorriso quando viu a mulher a sua frente.
- Azul! – exclamou e abriu os braços recebendo-a num abraço apertado.
- ! – a empolgação foi a mesma. – Vem, entra, chegou agora?
- Ontem a noite.
respondeu e viu quando Pretinha correu em sua direção, pulando em cima dela e querendo lamber seu rosto a todo custo.
- Alguém sentiu falta de você – a mulher comentou.
- Eu só passei rapidinho para vê-la, ainda tenho que desfazer minhas malas – explicou-se.
- Me ver ninguém quer, né?
John comentou com um sorriso de lado, abrindo os braços para em questão de segundos sentir entre eles.
- Senti sua falta – ele sussurrou.
- Eu também senti sua falta, por incrível que pareça.
Ele riu do comentário adicional e se afastou dela, dizendo:
- Precisamos trabalhar naquela música que te mandei semana passada.
- John, ela acabou de chegar de viagem – Azul comentou, sentando-se no sofá.
- É a – ele disse como se fosse a coisa mais óbvia. – Você prefere descansar ou produzir uma música foda comigo?
Ela pareceu pensar por uns segundos e respondeu:
- Já trabalhei tanto com você que acho que vou escolher descansar.
Azul gargalhou e John revirou os olhos.
- Eu odeio a amizade de vocês duas.
As mulheres trocaram um olhar cúmplice e ele odiou mais um pouquinho.
umedeceu os lábios e se levantou, dizendo:
- Eu só vim dar um oi, dizer que cheguei e tudo mais – fez sinal para a porta. – Vamos, Mayer, você tem razão, minha cabeça não parou nem por um segundo desde que você me mandou essa música, eu tenho um milhão de ideias e precisamos trabalhar nisso.
- Vocês dois são malucos – Azul comentou levantando-se e trocando mais um abraço com . – Foi bom te ver, , é bom te ter de volta.
sorriu e se despediu da mulher, saindo dali com John Mayer e Pretinha atrás dela. Os dois conversaram animadamente dentro do carro durante todo caminho até o estúdio de , que compartilhava algumas ideias que tinham surgido em relação à música que John havia composto e enviado o esboço para ela semanas atrás, enquanto ela estava em Londres.
- Isso vai ficar absurdo – ele comentou animado, saindo do carro assim que estacionaram em frente ao galpão. – Você não recebeu o título de melhor produtora da sua geração por nada.
Ela riu e mordeu o lábio inferior, respondendo:
- Eu sei que eu sou foda!
Os dois caminharam lado a lado pelo espaçoso gramado até que perceberam que não estavam sozinhos ali. arregalou os olhos e John soltou uma risada irônica quando ambos reconheceram Nicholas Jonas parado feito uma estátua em frente à porta do estúdio.
Ele primeiro olhou para , prendeu seu olhar nela por longos segundos, aquela bolha que sempre se formava entre os dois não se formou dessa vez e seu coração falhou quando ele finalmente olhou para John.
- Desculpa aparecer assim – ele disse, sem graça.
- Você continua aparecendo de seis em seis anos – John ironizou.
- Mayer – reclamou ao seu lado. – Oi, Nick, desculpa mas o que você está fazendo aqui?
Ele umedeceu os lábios sentindo-se o cara mais idiota da face da Terra por ter ido atrás dela daquela forma, a verdade era que desde que os rumores de que John Mayer estaria namorando uma modelo argentina surgiram na mídia, Nick sentiu que podia tentar algo com novamente.
Foram mais seis longos e intermináveis anos de sofrimento por tê-la perdido, mas sentia-se diferente, não havia se enfiado em nenhum relacionamento e entendia que esperar por ela era a melhor escolha que poderia fazer. Mas definitivamente não estava pronto para rever a mulher da sua vida sendo só sorrisos com John Mayer como sempre.
Ele havia se deixado levar por seu irmão, Joe, que garantiu a ele que estava solteira, mas aparentemente ela não estava e ele teria que arrumar uma boa desculpa por ter voado de Nova Iorque para San Diego, literalmente do outro lado do país, apenas para vê-la.
- Eu tenho um projeto – explicou, umedecendo os lábios. – E eu queria muito que você trabalhasse nele.
estreitou as sobrancelhas achando aquela desculpa a mais ridícula de todos os tempos, mas estava realmente curiosa com o fato de Nicholas estar ali, principalmente porque, ao contrário de todas as vezes que se encontraram antes, ela não se sentiu como uma adolescente apaixonada de novo, era só um cara – que claramente estava sem graça de estar ali – mas para ela era só uma pessoa que não fazia tanto estrago como claramente ela fazia nele.
- Desde quando você vai pessoalmente conversar com os possíveis produtores dos seus projetos? – ela perguntou de forma leve, tentando a todo custo não parecer rude.
Nick olhou para baixo tentando esconder uma lágrima que surgiu em seu olho, não tinha problema em demonstrar seus sentimentos, estava ali para isso afinal, mas a presença de John, principalmente, o sorriso debochado no rosto dele, o deixava totalmente desconfortável.
Não tinha espaço para ele na vida de , ele sabia disso.
- Você tem razão – sussurrou, ainda sem olhar para eles. – Foi uma coisa estúpida.
Estava prestes a marchar para longe dali e decidido a deixá-la em seu passado de uma vez por todas quando a voz de soou em seus ouvidos:
- Espera! – exclamou ela, deixando sua curiosidade falar mais alto. – Mayer, nós terminamos sua música outro dia.
John arregalou os olhos, sem conseguir acreditar no que ouvia, estendeu os braços e quase gritou:
- Qual é?!
rolou os olhos com o tom de voz que ele usou, como se ela fosse uma criança cometendo o mesmo erro pela milésima vez, mas só ela sabia o quanto se sentia segura em estar na presença de Nicholas mais uma vez sem deixar que aquilo afetasse seu coração, principalmente, amava a sensação de estar no controle quando se tratava do seu primeiro amor, amava ver o quanto o jogo havia mudado.
- Para de fazer pirraça, você pode vir aqui mais tarde, eu te ligo – ela disse. – Pode ir no meu carro, a noite a gente se vê.
Nick olhou para os dois tentando entender que tipo de relação eles tinham, achou estranho quando eles se despediram com um abraço e John caminhou – acompanhado de Pretinha – para o carro de saindo dali e voltando para casa sem sequer insistir em ficar.
Ela fez um sinal com a cabeça indicando a entrada e ele a seguiu, seu coração agitado em seu peito e uma necessidade absurda de abraçá-la, sentir seu cheiro, sentir sua pele novamente, como sentia saudade de estar com ela, de conversar por horas, das risadas e piadas internas, mas ela agia como se a presença dele ali não fizesse a menor diferença.
- Bem vindo ao meu estúdio – ergueu as mãos mostrando a sala de estar para Nicholas, que, pela parede de vidro, pode ver um pouco da mesa de som.
- Essa decoração é a sua cara – ele comentou. – Joe me falou que você tinha construído um espaço bem legal, parabéns, , eu sempre achei que você iria longe.
Ela olhou para ele, desconfiada, mas apenas sorriu e respondeu:
- Obrigada! Vem comigo por aqui – indicou uma porta que os levavam para uma espécie de sala de reuniões. – Ok, você disse que tem um projeto.
Nicholas umedeceu os lábios sentando-se de frente para em uma mesa de madeira escura, vendo-a pegar um bloco de notas e uma caneta e o encarar como se realmente acreditasse que o único motivo dele estar ali era para produzir algo com ela. Antes que pudesse respondê-la, continuou:
- Minha agenda está realmente cheia pelos próximos meses, mas eu posso tentar encaixar vocês pela amizade que temos, ou indicar alguém de confiança – ela explicou. – Quer dizer, a banda ainda existe, né? Não me diga que você terminou tudo de novo e está me procurando para produzir um álbum solo.
- Não! – ele se apressou em responder. – A banda ainda existe, esse é um projeto meio solo sim, mas Joe e Kevin irão participar.
estudou o rosto do homem a sua frente, estreitando os olhos, fechando o bloco de notas e dizendo:
- Não tem projeto nenhum, né? O que te trouxe aqui, Nicholas?
Ele apoiou os cotovelos sobre a mesa e descansou o rosto entre suas duas mãos, respirou fundo uma, duas, três vezes, até que finalmente sussurrou:
- Sim, tem um projeto sim que eu adoraria que você trabalhasse nele, mas o Joe iria ver essa parte com você, eu não vim aqui para tratar sobre isso – confessou e levantou o rosto, encarando-a. – Eu vim aqui porque achei que você estaria solteira e que eu finalmente teria espaço para te mostrar que eu mudei e mereço outra chance.
tombou a cabeça para o lado e mordeu a ponta da caneta que segurava, mostrando-se pela primeira vez nervosa com a situação. Seis anos, outros longos seis anos separaram os dois dessa vez, e ele ainda estava ali.
Durante aquele tempo não ouviu uma notícia sequer sobre Nick, sabia que a banda estava indo bem e que eles haviam lançado alguns álbuns, mas não sabia nada sobre a vida pessoal dele, nunca acompanhou veículos de comunicação que se dedicavam à fofocas e achava realmente que não devia.
Havia ficado curiosa em alguns momentos? Sim! Não podia negar isso. As vezes pensava, e relembrava, e dava uma olhada no Instagram dele para saber se estava ao menos vivo, mas não tinha detalhes e realmente não esperava vê-lo novamente.
- Nick, passaram-se mais de dez anos desde que terminamos – disse.
- E você vai dizer isso pra mim? – riu irônico. – Eu conto cada dia desde então, mas tudo bem, eu vi que você e o John estão juntos e eu não quero te causar mais problemas. Eu realmente fico feliz que vocês tenham dado certo, você é o relacionamento mais duradouro da vida do Mayer afinal – alfinetou.
- Isso é verdade – concordou, com um sorriso no rosto –, e olha que terminamos há dois anos atrás.
Nick arregalou os olhos para ela, as palavras dela foram como uma bomba para ele, engoliu seco e continuou olhando para ela sem fazer ideia do que falar.
- Eu acabei de ver vocês...como? Eu não estou entendendo nada.
- Um casal não precisa virar inimigos um do outro quando o relacionamento acaba – explicou, levantando-se e servindo um copo de água para ambos. – Isso se chama maturidade – forçou um sorriso, alfinetando-o também e entregando-lhe o copo.
Nick bebeu quase todo líquido de uma vez tamanho era seu nervosismo, acompanhou com o olhar enquanto ela se sentava novamente de frente para ele, dizendo:
- O Joe me falou, todas as revistas e sites comentaram sobre o John estar com uma modelo argentina, mas eu chego aqui e dou de cara com vocês juntos e claramente felizes.
- Azul – respondeu e Nick estreitou as sobrancelhas. – O nome da modelo argentina que ele está namorando. É verdade, ele está com ela, e ela é uma mulher incrível, somos muito amigas, não tem qualquer tipo de rivalidade. Eu fui chamada para dar aulas de produção em uma escola de artes em Londres, morei lá por dois anos, eu e John não estávamos interessados em um relacionamento a distância, principalmente depois da minha péssima experiência com você – riu sem vontade, dando de ombros e bebericando sua água. – Decidimos terminar nosso namoro mas não nossa amizade, sabíamos que ambos corríamos o risco de conhecer alguém nesse meio tempo, e foi o que aconteceu, ele se apaixonou pela Azul e eles estão juntos e felizes. Isso não significa que ele tem que me excluir da vida dele ou eu excluí-lo da minha, somos amigos, principalmente, parceiros na música, eu amo o John e sempre soube que quando voltasse para os Estados Unidos ele estaria aqui, ele é minha família aqui.
Nick engoliu seco, não sabia se ficava feliz ou não com aquela informação, John Mayer estaria presente na vida dela para sempre, isso ele não podia – e nem queria – mudar, mas mesmo que ela estivesse solteira, não parecia de fato interessada em dar uma chance para ele.
Resolveu mudar o foco da conversa, umedeceu os lábios enquanto remexia o bolso de seu moletom, encontrando um caderno que na hora reconheceu. Era o diário que ela havia escrito sobre o relacionamento dos dois. As páginas um pouco amarelas, mas todas as colagens estavam lá, só então, naquele momento, ela começou a se sentir mexida com aquela conversa.
- O projeto – ele começou, passando página por página daquele caderno até encontrar o que queria. – Eu continuei nossa história aqui – explicou. – Eu escrevi várias músicas sobre você, algumas sobre o que vivemos, outras sobre coisas que eu fantasiei que viveríamos algum dia, enfim, eu me recusei a deixar que esse caderno tivesse um final – sua garganta apertou em um nó e ele não tentou impedir que as lágrimas rolassem, estava cansado de esconder seus sentimentos. – Eu conversei com meus irmãos e eles aceitaram, nós vamos lançar um álbum inteiro com as músicas que eu fiz sobre você, sobre nós dois.
Ele esticou o braço sobre a mesa entregando o caderno para que relutou por alguns segundos a encostar naquele diário novamente, mas não conseguiu resistir à curiosidade, começou a ler as músicas que estavam ali, sentindo a verdade que saltava de cada palavra.
Nick a observou por longos minutos enquanto ela lia atentamente o conteúdo ali escrito, até que finalmente, com a voz falha, ela confessou:
- São lindas, Nick.
- São de verdade, e alguém me ensinou que música não tem que ser para vender e sim para expressar verdades – sorriu de lado. – Nós queremos você nesse projeto porque não tem outra maneira de ser de verdade se não for com você.
- Nick, eu não sei – ela se mostrou insegura pela primeira vez. – Seus irmãos estão mesmo de acordo com isso? Lançar um álbum só de composições suas?
- Toda renda desse trabalho será convertida para algumas organizações que eu tenho ajudado nesses últimos anos – ele explicou e ergueu as sobrancelhas, surpresa. – Não será um trabalho dos Jonas Brothers, quer dizer, vamos cantar sim, e tocar, e produzir todo conteúdo, mas não ficaremos com nem um centavo do que esse trabalho gerar, a ideia é converter todo esse valor para caridade. Eu tenho ajudado várias instituições ultimamente, a gente pode fazer muito mais com a música que vendemos quando paramos de pensar em só vender, entende? Era isso que eu queria quando comecei a cantar pela primeira vez, e com o tempo eu me deixei levar pela indústria, mas agora eu entendo o quanto eu posso fazer pelo próximo e foi você que me ajudou a enxergar isso, lá atrás, quando eu ainda era um menino.
- Nick, eu não sei o que dizer – ela negou com a cabeça, empurrando o caderno na direção dele novamente. – Minha agenda está...
- Cheia, eu sei – ele a interrompeu. – Mas eu também sei que você tem uma equipe trabalhando com você e que pode segurar as pontas. Vai para Nova Iorque comigo, , vamos trabalhar nisso juntos, se não por um futuro que eu espero ter com você, que seja por um passado que foi feliz um dia. Ninguém mais se encaixa nesse projeto, ninguém conseguirá dar a honestidade que eu estou querendo demonstrar nessas músicas, a vulnerabilidade, a paixão.
- Eu realmente não acho que isso seja uma boa ideia – confessou.
- Você não precisa me dar uma resposta definitiva agora – observou ele. – O aniversário da nossa afilhada é daqui a três meses e eu sei que a Sophie te mataria se você não aparecesse – ele se levantou e fez o mesmo. – Eu vou esperar até lá por uma resposta sobre o álbum.
Nicholas deu a volta pela mesa parando em frente a , os dois respiravam de forma pesada e ela parecia petrificada, não movia um músculo, seus olhos não se desgrudavam dos olhos dele, que assim que estava perto o suficiente, passou o dedo indicador levemente pela testa dela, afastando uma mecha de seu cabelo, antes de continuar o caminho com seus dedos até a nuca da mulher.
sentiu todo seu corpo arrepiar, não sabia se era pelo carinho que recebia ou pelas palavras doces que saíram da boca de Nicholas:
- E vou esperar a vida toda por você.

*****

- Você vai voltar.
Foi o que ouviu de John Mayer depois de contar toda a história para ele e Azul. Suas passagens estavam compradas para ir para Nova Iorque e ela ainda não havia decidido se aceitaria o pedido de Nicholas para produzir seu álbum, e muito menos havia decidido sobre o que sentia em relação a ele, só sabia que não havia parado de pensar em tudo aquilo desde que ele foi embora de seu estúdio três meses atrás.
- Eu voltaria – a argentina falou recebendo uma cara nada amigável de seu namorado. – Pelo amor de Deus, ele está esperando por doze anos!
- E? – o homem ergueu as sobrancelhas. – Eu vou me sentir diretamente ofendido se você descer o nível tanto assim.
rolou os olhos com o comentário idiota, vendo Azul fazer o mesmo.
Bebericou um pouco de seu vinho e fez carinho em uma Pretinha totalmente sonolenta ao seu lado antes de umedecer os lábios e se levantar, dizendo:
- Bom, de qualquer forma, essa é uma decisão que ninguém pode tomar por mim, e realmente, eu não tenho como faltar o primeiro aniversário da minha afilhada, a Sophie me mataria com a ajuda do Joe – reclamou. – Mas foi bom desabafar sobre com vocês, obrigada!
Ela recebeu um sorriso sincero do casal a sua frente, Azul a puxou para um abraço antes de começar a recolher as louças que eles haviam sujado naquela noite de vinho e sushi enquanto John a acompanhou até o portão.
- Você sabe que eu estava brincando, não é? – ele disse e recebeu um olhar confuso de . – Sobre me sentir ofendido, foi realmente uma brincadeira, eu acho que você merece ser feliz, e ninguém tem o direito de dizer que sua escolha não foi correta porque só quem sabe dos seus sentimentos é você mesma – deu de ombros. – Eu amo você tanto que nem tenho palavras para expressar, de verdade, e independente do que sair disso, seja só um álbum ou uma recaída com o Jonas, eu sei que você vai saber se cuidar, vai saber lidar com seu sentimento e não vai permitir que ele seja um completo idiota novamente, eu vi você crescer e descobrir quem você é bem na minha frente e eu tenho muito orgulho de quem você se tornou, eu fico tranquilo sabendo que você saberá se cuidar.
abriu um sorriso com os olhos cheio de lágrimas tamanha era sua emoção, pulou no pescoço de John puxando-o para um abraço demorado e muito apertado. Sentia-se bem demais em tê-lo em sua vida e não queria ficar sem ele nunca mais.
- Ele vai ter que lidar comigo na sua vida, já estou avisando – John deu voz aos pensamentos dela, ouvindo-a rir.
- Você não vai viver sem mim nunca mais, Mayer.
- Que sorte a minha então.

*******

Após dois longos anos morando em Londres, não estava acostumada com aquele calor, e muito menos esperava ter que lidar com ele em Nova Iorque, mas lá estava ela, com um vestido curto florido bem verão, um chapéu e um sorriso no rosto, vendo a afilhada tentar andar no enorme gramado da casa de Sophie e Joe.
- Ela é linda, não é?
riu do comentário de Joseph e concordou:
- Graças a Deus não puxou suas sobrancelhas!
Joe gargalhou do comentário, não conseguiu sequer fingir que havia se sentido ofendido com aquela provocação. Bebericou sua cerveja e arriscou entrar no assunto que sabia que seria delicado:
- Nick te falou sobre o projeto dele?
desviou o olhar da afilhada que sorria com algumas bolinhas de sabão que Kevin fazia para a sobrinha e suas filhas e encarou os olhos esverdeados de Joseph, umedeceu os lábios e respirou fundo, respondendo:
- Sim, há três meses atrás, e você sabe bem disso visto que foi você que mandou ele me procurar.
O rapaz negou com a cabeça, dizendo:
- Ele mudou de verdade, , e ele ficou tão mal por perder você. Por um lado foi a melhor coisa porque ele finalmente amadureceu e aprendeu a ser menos egoísta, mas, eu acho pouco provável que ele consiga te deixar no passado.
- E isso me obriga a colocá-lo na minha vida por quê...
- Não obriga – ele deu de ombros. – A escolha é sua.
suspirou sentindo seu coração aquecer ao ver Nicholas brincar com Nina, sua afilhada, jogando-a para o alto mesmo sob protestos de Sophie, que, cansada de ver aquela cena, decidiu marchar até seu marido, bufando:
- Seu irmão vai descolar o cérebro da nossa filha, faz alguma coisa.
- Que? – foi o que Joe conseguiu responder vendo rir alto do seu lado.
- Ela está amando – a mulher respondeu. – E eu tenho certeza de que um cérebro não se descola – fez careta do verbo utilizado –, tão facilmente.
- Em bebês sim – protestou. – Anda, Joseph, manda o Nicholas parar!
Joe rolou os olhos e caminhou em direção ao irmão sem conseguir segurar o sorriso em seu rosto ao ouvir as gargalhadas de sua filha.
- Nina não parece ser a única que está amando – Sophie comentou quando Joe estava longe o suficiente delas.
- Ah, não, por favor!
- , você não parou de olhar para o Nicholas desde que chegou – observou. – E eu não fui a única que percebeu isso.
- Ele foi na minha casa falar que vai esperar por mim para sempre, você quer que eu finja que não estou nem aí para isso?
- E espera mesmo, por seis anos eu não o vi com ninguém – Sophie comentou.
– Olha, você sabe que nós merecemos um prêmio por gostar de homem, né? Se eu pudesse escolher, ia fugir de macho porque só dá dor de cabeça mesmo, eu entendo seu pavor – elas riram. – Não acredito que estou prestes a defender a espécie, mas ele realmente está diferente.
- Isso soa tão estranho vindo de você – enrugou o nariz em uma careta e Sophie concordou.
- Eu sei. E espero que você saiba que eu seria a primeira a criticar o Nicholas se fosse necessário, mas eu sei reconhecer o esforço das pessoas e é por isso que estou te falando isso – deu de ombros. – Você realmente não sente mais nadinha por ele? Nada de nada?
voltou a olhar para Nicholas que ria da sobrinha querendo voltar para os braços dele enquanto Joe tentava convencer a filha de que aquela brincadeira não era segura (brincadeira que ele mesmo como pai fazia quando Sophie não estava por perto).
- É estranho – começou , como se abrisse uma parte de seu coração que estava fechada há anos, por muito tempo não falava sobre Nicholas. – Não é como antes, sabe? Não me causa aquele tremor nas pernas, o coração acelerado, a boca seca, todo o estrago que ele costumava fazer em mim não existe mais – voltou seu olhar para Sophie. – Mas ao mesmo tempo eu simplesmente não consigo parar de pensar no que ele me disse há três meses, não consigo imaginar viver sem ele, quer dizer, eu vivi esse tempo todo sem ele e sem sofrer por ele, mas vez ou outra alguma coisa me fazia lembrar, uma música, um perfume, uma cidade, uma gargalhada de algém, alguns detalhes sempre faziam com que ele estivesse presente de alguma forma.
- Você sente isso com o John?
A produtora ergueu as sobrancelhas, nunca havia parado para pensar naquilo antes, comparar suas duas histórias parecia muito injusto com Mayer para ela, ele havia sido um homem completamente diferente – e muito melhor, diga-se de passagem – que Nicholas em sua vida, nunca pensou na possibilidade de analisar se sentia-se da mesma forma em relação a John, e mesmo em alguns segundos ela pode responder com toda certeza:
- Não – negou com a cabeça. – Eu vejo o John com a Azul e entendo claramente que eles são perfeitos um para o outro, é como se meu relacionamento amoroso com ele não existisse mais, todo companheirismo e amizade continua o mesmo mas é só isso, eu não sinto vontade, sabe? Atração. Não quero estar com ele dessa forma, não sinto a menor falta disso e definitivamente não ando pelos cantos me lembrando de detalhes que a gente viveu quando estávamos namorando, na minha mente a história do John pertence totalmente à Azul, e sinto como se a minha... – arregalou os olhos calando-se rapidamente quando se deu conta de como terminaria aquela frase.
Sophie soltou um pequeno sorriso de lado e abaixou o olhar negando com a cabeça.
- Ah meu Deus – reclamou, sorrindo também. – Vá em frente, doutora, qual é meu diagnóstico?
- Amor – Sophie respondeu. – A paixão acabou, o fogo, o tremor nas pernas, o coração acelerado, a boca seca...tudo isso passou há anos, e mesmo assim ele ainda está aí dentro – apontou com o queixo para a amiga que sentiu o coração apertar com as palavras que ouvia. – Isso, sem dúvida alguma, é amor, o único sentimento que pode sobreviver por esse tempo todo.
não quis negar, apenas umedeceu os lábios e perguntou:
- E se meu medo for maior que o amor?
- Você terá que conviver para sempre com a dúvida do que teria acontecido se tivesse tentado.
desviou o olhar para Nicholas mais uma vez, surpreendendo-se ao constatar que ele caminhava na direção dela com um sorriso torto nos lábios, a sensação que tinha era que nunca se acostumaria com o Nicholas sorridente que ele havia se tornado e amava aquela versão dele.
Sophie se afastou discretamente quando viu a troca de olhares entre os dois e Nick achou graça da situação, soube naquele momento que ele era o assunto entre as duas.
- Minha orelha estava pegando fogo – ele comentou, rindo.
soltou uma risada abafada, dizendo:
- Eu não vou nem negar, realmente estávamos falando sobre você.
- E então, já tem uma resposta? – Nick perguntou e, ao vê-la arregalar os olhos ele se corrigiu. – Sobre o projeto, , eu não vou te pressionar sobre nós dois, falei que iria esperar e vou – deu de ombros.
mordeu o lábio inferior e antes que pudesse responder ele a interrompeu:
- Só não faz isso perto de mim – apontou para a própria boca indicando a mania que ela tinha de morder os lábios e os dois riram.
- Eu vou ajudar no seu projeto, Nicholas – respondeu e o viu abrir outro sorriso.
- Sério?
- Sério!
Ele abriu os braços e puxou para um abraço apertado, praticamente tirando-a do chão. Ela soltou um gritinho de surpresa mas correspondeu ao abraço julgando ser o certo a se fazer naquele momento.
- Que perfume é esse?
Ela soltou sem pensar e no mesmo instante se arrependeu de todas as formas possíveis por ter dito aquilo, sentiu Nick ficar tenso também, não esperava que ela fosse falar algo estando tão perto de seu ouvido, aquilo fez com que todo seu corpo se arrepiasse.
- Então quer dizer que você lembra do meu perfume – ele provocou e escondeu o rosto no pescoço dele.
- Cala a boca – resmungou e ele gargalhou.
Nick afrouxou o abraço e se afastou o suficiente para olhar nos olhos, manteve seus braços ao redor da cintura dela enquanto a mulher gentilmente descansou suas mãos no ombro dele, o encaixe era o mesmo, era como estar em casa.
- Eu sei que você vai abrir mão de alguns trabalhos para fazer esse álbum com a gente, então nós vamos te pagar por isso.
- Nem pensar – protestou. – Se é para ajudar as ONGs então vocês precisam ter o mínimo de gasto possível com esse projeto! Eu pesquisei bastante sobre as instituições que você vai ajudar, o trabalho que você tem feito com eles é lindo, Nick, de verdade!
- Stalker! – acusou e ela deu um tapinha no ombro dele. – Eu deixei que a indústria me mudasse, mas aos poucos eu estou reencontrando aquele garoto que queria mudar o mundo com a música.
- Eu gosto demais daquele garoto – confessou.
- Ele ama você – Nick respondeu, olhando-a nos olhos.
- Para de flertar comigo – ela reclamou dando outro tapinha nele antes de se afastar.
- Ei, casal, hora do parabéns! – Joe gritou para os dois que riram sem jeito.
se afastou um pouco caminhando em direção à mesa com o bolo ouvindo Nick dizer:
- Só paro se você disser que não está dando certo.
Ela se virou para ele caminhando de costas, com um sorriso no rosto confessou:
- Você sabe que eu não falo mentiras!
Ele abriu um sorriso sentindo uma faísca de esperança começar a crescer em seu coração, ele faria o impossível para tê-la de volta, e sabia que se tivesse uma nova chance, não perderia novamente.
era seu porto seguro, sua certeza de que as coisas podem ser boas mesmo em meio ao caos, era quem mantinha seus pés no chão e despertava seu melhor. Por ela tinha se tornado outra pessoa, por ela tinha amadurecido, crescido e mudado, e por ela, só por ela, seu coração batia forte.
E foi por esse motivo que, quase um ano depois, ele decidiu bater na porta da casa dela, no meio da noite, pois precisava dividir aquela conquista com ela e com mais ninguém.
deu um pulo ao ouvir as batidas na porta, estava terminando uma música e pretendia ir para cama dormir, o relógio marcava quase três horas da manhã e ela não estava esperando ninguém, ainda mais no meio da noite.
Caminhou lentamente até a sala pegando um taco de baseball por precaução, foi silenciosamente até o olho mágico torcendo o nariz ao ver um Nicholas encharcado em sua porta, colocou o taco encostado na parede e girou as chaves destrancando a grande porta.
- Você quer me matar?
Ele não respondeu nada, apenas entrou como um furacão e a abraçou forte, tirando-a do chão e rodopiando pela sala de estar com a mulher em seu colo.
- A gente conseguiu, , nosso primeiro single está em primeiro lugar em todas as rádios, serviços de stream, em tudo! – quase gritou. – Está rendendo muito dinheiro, a gente vai conseguir ajudar muita gente, acho que vai rolar até aqueles projetos que eu deixei de lado achando que o dinheiro não seria o suficiente.
abriu um sorriso com a notícia e apertou os braços ao redor do pescoço dele, sentindo-se igualmente feliz pelo sucesso daquele projeto tão especial.
- Eu sabia que daria certo, o lucro vai ser ainda maior, você vai poder fazer a vida de muita gente um pouco melhor com esse dinheiro, Nick, eu estou morrendo de orgulho!
- Obrigado, obrigado por fazer parte disso – ele sussurrou colocando-a no chão e afastando-se o suficiente apenas para olhá-la. – E me desculpa aparecer desse jeito, eu vim direto do show, foi em um espaço aberto em Seattle.
- De quem foi a ideia de construir um espaço de show aberto em Seattle? – enrugou o nariz e eles riram juntos. – Espera, você cruzou um estado inteiro só para me dar essa notícia?
- Eu cruzaria o mundo todo se fosse necessário só para comemorar com você, , o álbum é sobre você, quem produziu foi você, foi você que não cobrou um centavo para fazer isso o que só aumentou nosso lucro...enfim, eu precisava vir te agradecer pessoalmente.
- Você não precisa me agradecer, Nick, foi ideia sua, e como eu disse, a vida de muita gente vai melhorar com isso – sorriu. – Você quer trocar de roupa, tomar um banho, alguma coisa?
- Um banho seria ótimo – ele confessou e ela sorriu. – Eu nem olhei hospedagem ainda, eu vim assim que recebi a notícia.
- Pelo amor de Deus, você pode ficar aqui – respondeu. – Eu vou só terminar uma música que estou trabalhando com o Mayer e já vou subir, pode ficar a vontade, o banheiro fica na segunda porta a esquerda no corredor principal.
Nicholas pegou sua mochila e deu um beijo casto na testa de antes de subir as escadas seguindo em direção ao banheiro. correu de volta para o estúdio e se jogou de qualquer jeito em sua poltrona mandando uma mensagem para Sophie:

: me diz que você está acordada.
Sophie: por que você tá acordada? São três horas da manhã aí!
: o Nick tá aqui e eu tô a tempo demais sem sexo pra confiar em mim mesma.

Sophie gargalhou sozinha com a mensagem que recebeu.

Sophie: e como eu posso te ajudar exatamente?
: me diz para não fazer besteira.
Sophie: ok, não faça besteira, faça apenas aquilo que tem vontade.

rolou os olhos com a mensagem.

: obrigada, Sophie (leia com muito sarcasmo).
Sophie: de nada, fofa, divirta-se!

colocou seu celular sobre a mesa a sua frente e bufou, revirando os olhos e massageando a testa como se aquilo fosse garantir que ela pensasse com mais clareza. Trabalhar todos aqueles meses diretamente com Nicholas fazia com que ela sentisse cada vez mais vontade de estar junto com ele, foram longos meses afinal, de convivência quase diária.
Ele nunca havia forçado a barra, ou dito algo que a fizesse se sentir pressionada, eles trocavam piadinhas de duplo sentido às vezes mas ele nunca havia tentado qualquer outra coisa, Nick havia deixado claro que não queria fazê-la sentir obrigada a corresponder a qualquer sentimento dele, então sentia que era papel dela dar abertura para ele, coisa que não havia feito até então.
Mas toda aquela convivência com um Nicholas exatamente igual ao que ela costumava amar no passado estava deixando-a confusa demais, nunca haviam ficado completamente sozinhos por tempo demais antes para que houvesse possibilidade de algo acontecer, mas agora ele estava ali, na casa dela, no meio da noite, pronto para dormir no mesmo espaço que ela depois de doze longos e conturbados anos.
Perdeu a noção de quanto tempo ficou pensando naquilo até que deu um pulinho de susto ao ouvir a voz dele no estúdio.
- Desculpa, não queria te assustar – ele riu da cara que ela fez. – No que você está trabalhando?
Puxou uma cadeira e se sentou ao lado dela encarando a tela do computador a sua frente, olhou para ele sentindo aquele cheirinho de sabonete que parecia querer matá-la aos pouquinhos. Engoliu seco e voltou seu olhar para o monitor, explicando:
- É uma música do Mayer, se chama Blue – negou com a cabeça. – Nome da namorada dele, a música está linda, só não coloco para você escutar porque eu sei que você não vai com a cara dele.
Nick soltou uma risada fraca pelo nariz e negou com a cabeça, respondendo: - Ele te fez bem, , e foi uma pessoa muito boa para você, vocês não deram certo por outros motivos mas ele não foi o babaca que eu fui.
- Isso é verdade – concordou e mordeu os lábios, incerta. – Mas qual é o seu ponto?
- Primeiro ponto é: para de morder a boca desse jeito!
- É involuntário! – defendeu-se e ele riu.
Nick negou com a cabeça e coçou a nuca.
- Meu ponto é que ele ter sido um babaca com outras mulheres no passado não muda o fato de que ele é um artista sensacional e sempre foi uma inspiração para mim – deu de ombros. – Eu posso ouvir a música e te ajudar se quiser.
deu um sorriso de lado e disse:
- Obrigada, mas já está tarde e eu acho melhor a gente dormir.
- Você que sabe – Nick deu de ombros e se levantou. – Eu realmente posso procurar um hotel, não quero te dar trabalho nenhum.
- E quem disse que você está me dando trabalho? – ela ergueu uma sobrancelha. – Eu só não tenho um quarto de hóspedes, quis usar a maior parte do espaço para o estúdio.
- Tudo bem, eu aceito dormir com você – Nick soltou em tom de deboche e parou no meio do caminho se virando para ele.
- Eu tenho um sofá grande o suficiente para te acomodar muito bem, meu querido.
Ele fez uma carinha triste e falou:
- Assim você quebra meu pequeno e frágil coração.
Ela rolou os olhos com um sorriso nos lábios respondendo:
- Anda, me espera lá na sala que eu já chego com a sua roupa de cama.
Ele riu do claro desespero na voz dela e caminhou para a direção oposta, tirou sua camisa ficando só com a calça de moletom e se sentou no sofá aguardando a volta de que não demorou.
- Pronto, acho que você vai ficar bem com isso – ela parou repentinamente de falar encarando ele, respirou fundo e soltou – aqui.
Ele precisou se esforçar bastante para não soltar uma risada com o tom de voz afetado que ela usou para completar sua frase, esticou os braços pegando a roupa de cama e respondendo:
- Valeu, !
Ela mordeu o lábio inferior enquanto o via arrumar o sofá e se acomodar nele com um sorriso leve nos lábios, sentiu que estava petrificada e passando um pouco de vergonha por se sentir abalada com um cara que seu corpo costumava conhecer bem demais para ser motivo de fazê-la agir daquela forma estúpida. Clareou a garganta e disse:
- Desculpa não ter uma cama para te acomodar melhor.
- Está ótimo aqui, obrigado!
Ela suspirou e respondeu:
- Então boa noite, se precisar de alguma coisa meu quarto fica na última porta do corredor.
Torceu para que ele percebesse a mensagem nas entrelinhas, sentindo-se estúpida e infantil de não conseguir ir direto ao ponto, mas não conseguia evitar de deixar seu medo falar mais alto.
Nicholas quis fazer uma piada com o quanto aquilo lhe pareceu um convite, mas sentia que a atmosfera entre os dois estava ficando um pouco pesada e ele havia prometido a si mesmo que não forçaria a barra nem um pouco com , por isso apenas se ajeitou no sofá e respondeu:
- Boa noite, ! E muito obrigado por me deixar dormir aqui.
Ela esboçou um sorriso no canto dos lábios e se virou marchando para o seu quarto, fechou a porta e correu para o banheiro, cumprindo toda sua rotina de cuidado com a pele e higiene antes de se deitar, mesmo sabendo que não pegaria no sono tão facilmente com todo aquele conflito que sentia, sem fazer ideia do Nicholas tão inquieto quanto ela se revirando no sofá tentando decidir até quando ir atrás dela era forçar a barra ou terminar de uma vez por todas com aquela situação.
Havia deixado claro que se algo tivesse que acontecer, a atitude partiria de , não queria e nem podia errar com ela de novo, sabia disso, mas todo aquele tempo flertando com ela havia o deixado ainda mais confuso, não conseguia lê-la mais, não conseguia entender se para ela era só uma brincadeira ou se ela também queria aquilo tanto quanto ele.
Bufou irritado dando-se conta dos primeiros raios de sol invadindo a cortina da sala denunciando que ele não havia dormido nem por um segundo desde que chegara ali e que o dia estava prestes a começar.
Ficou por mais uns trinta minutos lutando contra sua própria ansiedade até que se levantou decidido a tentar novamente, não queria nada além de pelo menos um fio de esperança de que poderia continuar insistindo naquilo ou não, em seu coração ele não esperava nada além de apenas conversar com .
Mas quando ergueu a mão para bater na porta do quarto dela, seu coração deu um salto quando ela abriu a porta e arregalou os olhos vendo-o ali.
Os dois ficaram se encarando em silêncio por um bom tempo, até que Nick umedeceu os lábios dizendo:
- Desculpa, eu não consegui dormir e pensei que poderíamos conversar...
pensou em dar uma desculpa, dizer que ia apenas buscar uma água, qualquer coisa, mas adolescência já havia ido embora e com ela a vontade de fazer joguinhos e cenas, ela sussurrou:
- Entra, eu estava indo mesmo atrás de você.
Nick arregalou os olhos com a confissão dela e marchou para dentro do quarto vendo-a fechar a porta atrás de si. Ele olhou ao redor abrindo um sorriso ao ver uma foto dela com ele e seus irmãos há anos atrás.
- Ok, pode começar – ele se virou para ela.
sussurrou:
- Eu estou morrendo de medo.
Nicholas sentiu seu coração falhar com aquelas palavras, havia sido tão ruim para ela que nunca se perdoaria por aquilo, caminhou apressadamente até ela e a envolveu em um abraço tão forte, mas tão forte, que ela sentiu o arrependimento dele.
- Você não merecia o que eu fiz, a pessoa que eu fui, eu passaria o resto da minha vida me desculpando por isso e eu sei que não seria o suficiente.
- Eu quero você – ela falou, a voz abafada pelo abraço, seu rosto escondido na nuca dele, Nick sentiu todo seu corpo se arrepiar. – Mas eu não consigo ignorar o medo que eu estou sentindo, Nicholas.
- – sussurrou afastando-se apenas o suficiente para olhá-la nos olhos. – Deus sabe o quanto eu queria ter mais do que a minha palavra para te oferecer como garantia de que isso não vai acontecer novamente, mas tudo que eu posso fazer é te jurar que eu estou sendo cem por cento sincero nisso aqui, e que eu não sou mais um garoto imaturo e irresponsável, que eu amo você e cuido desse sentimento com todo carinho que há em mim, e que eu espero o tempo que for até que isso seja maior que seu medo. A gente não precisa ficar junto hoje, ou amanhã, ou depois, eu espero você.
analisou o rosto do homem a sua frente, conhecia ele o suficiente para saber quando ele falava a verdade e ali, naquele momento, ele era verdade da cabeça aos pés e negar que queria senti-lo de novo, beijá-lo de novo e se entregar a ele era algo que precisaria de um esforço muito grande dela.
E então, como se houvesse um ímã entre eles, ela o puxou pela nuca e o beijou, Nicholas não estava esperando por aquilo então demorou alguns segundos para corresponder, mas quando seu corpo todo se arrepiou com aprofundando o beijo deles, ele apertou os braços ao redor da cintura dela e correspondeu àquele beijo com toda saudade que carregava em seu peito.
Queria chorar, queria gritar, queria soltar fogos e correr por todo quarteirão pelo menos umas cinquenta vezes, era uma emoção que ele não fazia ideia de como controlar, era como se seu corpo todo quisesse comemorar aquele momento da forma mais intensa que podia.
Se separaram ofegantes quando o ar lhes faltou e Nick encostou a testa na testa da mulher a sua frente, podia tentar, mas tirar o sorriso do rosto era nada menos do que impossível.
- É como estar em casa.
Ela sorriu também.
- Eu só me dei conta do quanto queria isso agora – confessou. – Eu me sinto a Bella e o Edward na lua de mel.
Nick jogou a cabeça para trás em uma gargalhada, dizendo:
- Pelo menos as referências ainda são de uma adolescente – recebeu um tapa em troca.
- Eu quero você, Nick – ela repetiu a confissão que havia feito minutos antes, mas não era no tom que ele esperava, ela parecia triste com aquilo. – Mas a última vez que eu fui sua você não acordou do meu lado, você foi embora e eu não quero isso de novo.
Ele ergueu as mãos segurando o rosto de fazendo-a olhar bem em seus olhos.
- Eu não posso te oferecer mais do que a minha palavra, mas confia em mim, , só mais essa vez, e eu juro acordar do teu lado todos os dias.
Ela relutou por alguns instantes, quis dizer não, na verdade, a resposta negativa foi a primeira coisa que cruzou a sua mente naquele momento, mas lembrou- se de Sophie, ela passaria o resto da vida se perguntando como seria se tivesse tentado, e outra, havia amadurecido o suficiente para saber que homem nenhum vale tanto sofrimento. Se desse errado, sabia que não seria por ela, mas naquele momento ali, ela queria se sentir dele novamente, por inteiro, e não iria conviver com aquela dúvida, não depois daquele beijo que só confirmou o diagnóstico que sua amiga havia lhe dado.
Era amor.
E ele estava ali, esperando aquele momento para tomar conta do peito dela por completo.
- Só Deus sabe como mas eu confio em você.
Nicholas sorriu novamente e a puxou para mais um beijo, dessa vez entrecortado pelas peças de roupa que deixavam cair pelo chão do quarto e pelos passos atrapalhados em direção a cama.
Eles se entregaram um ao outro novamente, e mesmo depois de anos sabiam que aquele era o lugar a que pertenciam. Haviam entendido que o perdão é um sentimento bonito demais para resultar em algo de que poderiam se arrepender.
E Nicholas estava lá quando acordou.
E esteve lá por todos os dias em que viveram o seu infinito particular.


Fim



Nota da autora: Primeiramente eu queria agradecer a paciência de todo mundo que esperou por essa atualização, essa fic foi muito importante para mim, eu não estava esperando esse feedback mas trazer essa nostalgia pra vocês foi muito bom!
Durante a produção dessa história minha vida mudou totalmente, eu me mudei do Brasil e fui atrás de um sonho muito antigo meu, assim como a nossa personagem Karina. Eu nunca pensei que isso aconteceria mas eu fui muito inspirada pela própria personagem que eu criei, e espero que ela tenha inspirado vocês de alguma forma.
Muito obrigada a todos que leram, compartilharam e indicaram essa história.
Espero vê-los todos em breve em alguma outra fic, quem sabe!
Espero também que todos consigam realizar seus sonhos, ir atrás daquilo que desejam e, principalmente, que conheçam o amor de verdade, ou que se abram para que esse amor floresça em vocês.
Um obrigada especial para as meninas que seguiram o instagram da pp e sempre falavam comigo lá! Pra Kari, essa scripter muito querida que fez com que a publicação dessa fic fosse possível. E para a Katryn e Carol que me ajudaram durante todo o processo de criação.
See you guys soon!




Outras fanfics:
Lado a Lado
02. This Town
My Best Four Years


Nota da scripter: AAAAAAAAAAH! Fui pega de surpresa por essa finalização, na boa. Não tava esperando. Eu a-mei. Parabéns, Lari, pela maneira com que desenvolveu essa história. Muito bem escrita, bastante intensa e muito, muito linda! amei acompanhar e amei scripts! <3

Essa fanfic é de total responsabilidade da autora. Eu não a escrevo e não a corrijo, apenas faço o script. Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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