Última atualização: 18/03/2022

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Capitolo diciasei

Stagione 2007/2008
Lei
Sete de agosto de 2007

Puxei a corda do ônibus quando vi os muros de Vinovo e me levantei, apressada, esperando o ônibus parar antes de eu saltar. Olhei pelos dois lados e corri pelas avenidas duplas, correndo em direção à portaria do CT, vendo o porteiro abrir para mim assim que eu me aproximei.
- Buorgiorno! – Falei, apressada.
- ‘Giorno! – Eles responderam e eu sorri, passando pela fresta do portão e corri em direção ao prédio principal, sentindo os saltos fazerem barulho quando bateram contra o chão.
Apertei o botão do elevador diversas vezes, esperando-o abrir e entrei, apressada, apertando para o quarto andar. Bati o pé, impaciente, no chão e me olhei rapidamente no espelho do elevador, vendo meus cabelos arrepiados e desfiz o rabo de cavalo baixo e o refiz. O elevador se abriu e segui, apressada, para a sala da contabilidade, entrando nela.
- Me desculpa pelo... – Me assustei com os confetes e apitos quando entrei. – Meu Deus! – Falei, assustada, vendo todos meus colegas de trabalho e Giorgio rirem comigo. – O que aconteceu? Eu só me atrasei um pouco, o pneu do meu carro furou.
- Ah, que isso, garota, relaxa! – Marco falou, gargalhando.
- Está tudo bem, . – Giorgio falou e eu franzi os olhos.
- O que aconteceu? – Perguntei, apoiando minha bolsa na mesa e ajeitei minha blusa que já estava molhada de suor.
- Eu conversei com seus colegas, com o presidente, com o vice e com o RH e todos concordamos que você merece uma promoção. – Arregalei os olhos.
- Mesmo? – Perguntei, surpresa.
- Sim, você é a única analista daqui do setor, mas trabalhou como coordenadora como todos os outros...
- Até mais... – Claudio falou.
- Até mais que todos eles, durante a época do Calciopoli e para enfrentar todas as coisas da Série B. Entrou mais cedo, saiu mais tarde, não reclamou e, em muitas vezes, até animava todo mundo para continuarmos trabalhando. – Sorri. – Além de que acabou fazendo alguns trabalhos bem de estagiário pela falta de alguns por bloqueio do RH.
- Uau! Eu não sei o que dizer! – Rimos juntos.
- Bom, espero que diga que aceite. – Giorgio sorriu. – Somos muito gratos pelo seu trabalho e seria idiotice não te valorizar. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- O que muda? – Perguntei, ouvindo meus colegas rirem.
- Só o salário. – Ele falou, sorrindo. – Que se torna o mesmo do pessoal aqui...
- Uns oito... – Angelo sussurrou para mim e eu arregalei os olhos.
- Você está brincando! – Virei para ele.
- Não! – Ele sorriu e eu abri a boca.
- Sim! – Falei rapidamente, ouvindo-os rirem. – Eu aceito, com certeza! – Eles sorriram.
- Parabéns, então! – Giorgio me esticou a mão e eu fui até ele, apertando a dele e sorrindo. – Agora você é coordenadora.
- Isso é demais! – Ri fracamente. – Grazie, Giorgio, ragazzi... Isso é demais. – Eles sorriram.
- Uhul! – Claudio gritou, estourando mais confete na minha frente, me assustando.
- Meu Deus! – Rimos juntos.
- Vai acertar o olho de alguém! – Lorenzo falou, bravo, pegando o canhão de Claudio.
- Scusa! – Claudio falou e eu neguei com a cabeça.
- Vou pedir para o RH mandar os papéis para mudança e depois você precisa ir lá assinar e tudo mais... – Giorgio falou.
- Combinado. – Sorri e ele desviou o olhar de mim rapidamente.
- Você pode começar sua nova função, resolvendo nossa primeira renovação de contrato. – Ele apontou para trás e virei o rosto, vendo Gigi na porta e dei um pequeno sorriso.
- Cheguei cedo? – Ele perguntou.
- Não, que isso! Só comemorando um pouco! – Giorgio falou, seguindo em direção a Gigi e seu agente, cumprimentando-os.
Aproveitei a deixa e segui em direção até a mesa, puxando minha blusa e passando a mão nos cabelos, tirando alguns papéis picados que estavam acumulados. Passei a mão em minha mesa, tirando alguns confetes.
- Você pode vir aqui com a , nossa nova coordenadora. – Giorgio falou e eu revirei os olhos, rindo fracamente, mas senti que minhas bochechas esquentaram.
- Ciao, . – Gigi falou, com um sorriso discreto no rosto.
- Ciao, Gigi. – Sorri.
- Foi promovida?
- Sim. – Ri fracamente, vendo-o alargar seu sorriso.
- Parabéns! – Ele falou.
- Grazie. – Sorrimos juntos e ouvimos um pigarro.
- Ah, esse é Silvano, meu agente.
- Oi, tudo bem? – Estiquei minha mão para ele, apertando-a. – Podem se sentar.
- Os documentos já estão no arquivo dele. – Giorgio falou e eu confirmei com a cabeça. – Estarei na minha sala.
- Grazie, Giorgio.
- Sempre que precisar. – Ele sorriu e saiu, dando dois toques na porta.
- Me deem um minuto, por favor. – Falei, apertando o botão da CPU e ligando o computador.
- Claro. – Gigi falou, sorrindo e olhei as planilhas em cima da minha mesa do dia anterior e juntei todas, colocando no pequeno arquivo que ficava ali na minha mesa.
Vi o computador se acender e apertei para abrir os arquivos. Vi os últimos arquivos dele e abri a observação que tinha ali “informar de oferta do Milan, caso seja cogitado, fazer aumento proporcional de seis por cento. Caso seja negado, replicar contrato da Série A com a porcentagem da valorização de mercado. *Campeão do mundo”.
Franzi a testa, tentando entender um pouco e eu fui pega totalmente desprevenida mesmo. Abri os arquivos das valorizações de mercado e encontrei o asterisco, vendo a tabela com todos os campeões do mundo de 2006 e vendo que Gigi havia sido valorizado muito após a Copa do Mundo e isso não foi replicado por causa da Série B. Hora de replicar.
- Ok, Gigi... – Falei, virando para ele que tinha um sorriso no rosto e me senti levemente acuada. – Você vai ser gentil comigo, não?! – Ele riu fracamente.
- Manda, .
- Bom, é a minha primeira vez, então pega leve. – Ele riu, negando com a cabeça.
- Relaxa, sou eu. – Sorrimos juntos.
- Eu estava na reunião que você confirmou que ficaria conosco, mas eu sou obrigada a te avisar de outras ofertas, certo? – Ele confirmou com a cabeça, aposto que saberia sobre isso melhor do que eu. – Temos uma oferta para você vinda do Milan e...
- Pode ignorar. – Gigi falou.
- Você não quer ouvir?
- Eu já ouvi. – Ele falou. – Vocês precisam nos avisar, mas não é como se os diretores esportivos já não tivessem vindo atrás de mim. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Bom, temos que cumprir o protocolo, né?! – Ele sorriu, assentindo com a cabeça. – Com isso, Gigi, sua valorização de mercado vai contar com a da Copa do Mundo, que não conseguimos repassar na última temporada, o que dá um aumento de 10 por cento na sua valorização... – Peguei minha calculadora, fazendo as contas do valor antigo e do novo, tentando não me surpreender demais com os diversos zeros que mal cabiam na minha calculadora. – Então, sua valorização de mercado hoje é de 33 milhões. – Falei e ele pressionou os lábios, assentindo com a cabeça. – E, com isso, seu salário é equivalente a 23 por cento da sua valorização de mercado, o que fica 7,6 milhões. – Falei e olhei para ambos. – Tudo certo?
- Tudo ótimo. – Gigi sorriu. – Pensando na desvalorização de 40 por cento no ano passado. – Ri fracamente.
- Alguma dúvida? Se opõe a alguma parte?
- Nenhuma. – Seu agente falou e eu assenti com a cabeça.
- Eu vou fazer as alterações no contrato e já passo para vocês assinarem.
- Grazie. – Seu agente falou e Gigi confirmou com a cabeça.
Fiz o que informei, fazendo as atualizações em seu contrato tanto de valorização de mercado quanto salarial e reli o contrato inteiro antes de mandar para impressão. Eu estava feliz com meu salário novo que seria o equivalente a 0,1 por cento do que ele ganhava, imagina o que eu faria com tudo isso? Era loucura!
Me levantei da cadeira, vendo Gigi me acompanhar com o olhar e fui até a impressora, sentindo o pé deslizar nos confetes, fazendo Claudio rir e neguei com a cabeça. Peguei as três cópias, conferindo se imprimiu tudo e voltei para minha mesa, dividindo os três contratos, grampeando cada um e peguei algumas canetas no meu porta-lápis, abri na página e virei o contrato para eles.
- Por favor. – Falei, vendo cada um pegar um contrato e eles assinaram, repassando entre si e peguei os que já foram assinados e assinei na parte do responsável. – Vou pegar a assinatura do Giorgio e já volto.
- Claro! – Gigi falou, sorrindo e me levantei novamente, seguindo até a sala do Giorgio e bati duas vezes na porta, abrindo-a devagar.
- Viene! – Ele disse e eu assenti com a cabeça, indo em sua direção e entreguei os contratos. – Tudo certo aqui?
- Valorização de 10 por cento, salário equivalente a 23 por cento disso. – Falei e ele confirmou com a cabeça.
- Certinho. – Ele sorriu, assinando os três contratos e me entregando.
- Obrigada. – Falei. – E obrigada pela promoção de novo. – Ele negou com a cabeça.
- Você merece, . Sério! Você cresceu muito aqui e consigo te ver crescendo muito mais. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Obrigada. – Sorri.
- Vamos comemorar hoje, hein?! – Rimos juntos.
- Combinado.
- Só temos contrato de 24 jogadores para rescindir, 12 que foram emprestados, 12 novos, além das renovações. – Fiz uma careta.
- Talvez amanhã.
- Não, não, hoje! – Ele disse, me fazendo sorrir.
- Combinado! – Sorri.
- , deixa eu te perguntar... Você e Gigi não estão mais juntos, né?!
- Não, senhor, desde o ano passado.
- Aconteceu alguma coisa ou... – Ele perguntou.
- A manipulação de resultados aconteceu. – Ele franziu os lábios.
- Sinto muito. – Assenti com a cabeça. – Mas parece que vocês se dão bem ainda.
- Eu estava pronta para perdoar, mas ele apareceu com outra pessoa e está seguindo com a sua vida. Preciso fazer também. – Ele confirmou com a cabeça.
- Está certo. Você é nova, bonita, inteligente, merece. – Assenti com a cabeça.
- Bom, deixa eu voltar lá. – Falei.
- Beleza, mas a gente vai sair para comemorar, avisa os meninos.
- Pode deixar! – Sorri, seguindo para fora de sua sala e voltei para atrás de minha mesa. – Aqui está. – Entreguei uma cópia do contrato para Gigi e outra para seu agente. – Acho que é isso.
- Sim, é! – Gigi sorriu e ambos se levantaram. – Obrigado, .
- Sempre que precisar. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Parabéns pela promoção, você merece!
- Grazie, Gigi. – Falei e ele sorriu, saindo da sala e eu suspirei, sentando na minha cadeira novamente, vendo os dois saírem dali.
- Ok, agora podemos comemorar! – Angelo falou e eu ri fracamente, assustando quando Claudio estourou mais um canhão de confete.
- CLAUDIO! – Todos reclamamos.
- O quê? – Ele se fez de desentendido e eu revirei os olhos.
- Segundo o Giorgio temos 24 jogadores saindo, 12 emprestados, 12 novos e vários da temporada passada em renovação. – Falei.
- É, o dia vai ser cheio. – Marco falou.
- Mas ele disse para sairmos para comemorar a promoção depois. – Falei.
- Aí sim! – Lorenzo falou, nos fazendo rir.
- Já decidiram o novo técnico? – Perguntei.
- Claudio Ranieri. – Marco falou.
- Eu deveria conhecer?
- Ele treina equipes desde 87, teve uns 10 anos como jogador só. O último time que ele treinou foi o Parma. – Ponderei com a cabeça.
- Legal, eu acho. – Eles riram. – E algum jogador relevante?
- Vincenzo Iaquinta, campeão do mundo. – Marco falou. – Mohamed Sissoko. – Assenti com a cabeça. – E o Legrottalie vai voltar de empréstimo.
- Legal! – Dei de ombros. – Bom, vamos trabalhar, né?!
- Vamos! – Eles falaram e eu sorri, pegando as planilhas que eu tinha deixado separadas da sexta-feira e abri minha agenda, vendo o que eu precisava finalizar antes que algum outro jogador de renovação ou rescisão aparecesse. Era uma nova temporada e tinha muita coisa para fazer.

Lui
29 de agosto de 2007

O ônibus parou em frente ao Delle Alpi e uma sensação de saudades passou por mim. Esperei que os jogadores da frente saíssem do ônibus e segui atrás. Olhei para o estádio do lado de fora, assentindo com a cabeça como se conversasse com ele de alguma forma e suspirei, voltando a seguir meus companheiros de time.
Não tivemos que fazer o mesmo caminho que fazíamos normalmente, pois todas as partes que não pertenciam à estrutura física do estádio já haviam sido tiradas. Então, ao invés de demorar bastante para chegar no campo, passando por todos os corredores, chegamos com muita facilidade, fazendo que o campo se abrisse para gente. Bom, em partes.
O estádio estava completamente pelado, onde eram as arquibancadas, agora só tinha a estrutura de concreto, pois os assentos foram retirados. O campo não era mais o verde bonito, existiam partes marrons e outras brancas, como se o mato tivesse morrido. Além de toda estrutura de iluminação e som que já não estava lá.
- Isso é loucura! – Alex falou e eu confirmei com a cabeça.
- É quase triste. – Trezeguet falou.
- De pensar que passei grandes momentos aqui. – Suspirei.
- É, e agora vai abaixo. – Alex disse e confirmei com a cabeça.
- Para algo melhor. – Nós três viramos para o lado da voz e sorria para nós, enquanto outros funcionários passavam atrás dela. Ainda estranhava em vê-la de maquiagem, os cabelos soltos e saltos nos pés, mesmo que isso só realçasse sua beleza.
- Mesmo assim, não tem como não ficar triste. – David falou.
- Sim, mas eu garanto para vocês que teremos uma casa à altura que a Juve merece. – Ela sorriu.
- Você viu o projeto? – Perguntei.
- Vi. – Ela riu fracamente. – Vai ficar sensacional, mas precisamos limpar o terreno antes. – Ela falou.
- Quanto tempo de construção? – Alex perguntou.
- Acho que dois anos, mas só demolir demora uns dois também. – Rimos juntos.
- Espero ainda estar aqui para ver. – Del Piero falou.
- Espero também, honestamente. – Ela pressionou os olhos em direção a Alex e todos rimos.
- Como você está? – Trezeguet perguntou. – Não te vejo desde o começo do ano.
- Ah, tudo certo, cheio de trabalho... O de sempre. – Ela deu de ombros, me fazendo sorrir. – E vocês?
- Tudo certo. – Falamos juntos.
- Que bom! – Ela sorriu. – Vocês começaram bem a temporada, hein? 5x1 em cima do Livorno, foi bonito de ver. – Rimos juntos. – Tripletta de Trezegol. – Ele sorriu.
- Voltamos com gás da Série B, né?! Precisamos compensar. – Alex falou.
- Espero mesmo. Voltar a ganhar scudetti, trazer dinheiro para o time...
- Fazer você trabalhar... – Cantarolei como ela.
- Por favor! – Ela sorriu para mim. – Vocês vão para Vinovo depois daqui?
- Sim, não vimos como ficou o CT ainda...
- Ficou sensacional! – Ela falou, animada.
- Você já viu?! – Nós três perguntamos juntos.
- Já sim, primeira coisa que eu fiz hoje foi dar uma voltinha lá pelo CT. Ficou bonito, vocês vão gostar. – Sorrimos. – Quem sabe não dê mais um estímulo para vocês? Assim, o salário já é um estímulo muito bom, mas vai que vocês precisam de outro? – Rimos juntos.
- Vai dar sim, vai ser muito bom. – Alex falou e ela sorriu.
- O que estamos fazendo aqui, afinal? – Virei para o lado, vendo que Camoranesi se juntou a nós. – Cada um vai poder dar uma marretada no prédio? – Franzi a testa e vi olhar confusa para ele.
- Você não tem sentimentos, Mauro? – Ela perguntou, empurrando sua cabeça e rimos fracamente. – Se despedir do estádio, aproveitar os últimos momentos... As máquinas estão lá fora, não tem mais volta depois de hoje.
- Ah, desculpa. – Ele falou, abaixando a cabeça.
- Eu vou sentir muitas saudades daqui. – Ela suspirou. – Foi o primeiro estádio que eu vim na vida, passei momentos bons de felicidade pelo time, de nervoso, momentos com vocês... – Ela se virou para mim e eu assenti com a cabeça, me lembrando do beijo que eu roubei dela aqui e a vi abaixar a cabeça, provavelmente com o mesmo pensamento. – Mais respeito, então! – Ela bateu a mão na barriga de Camoranesi.
- Ai! – Ele reclamou, nos fazendo rir. – Paz e amor.
- Pode deixar! – Ela sorriu, desviando o olhar. – Eu tenho que ir, top cinco chegando. – Ela disse, indicando com a cabeça e me virei, vendo o presidente, vice, gerente de contabilidade, esportivo e geral chegando e, quando virei o rosto de novo, já andava para o centro do campo, se juntando aos seus colegas de setor.
- Vem! Eles devem falar alguma coisa. – Alex falou e eu o segui até o campo, achando estranho até para pisar no mesmo.
Me aproximei dos outros jogadores, vendo os dirigentes mais importantes do time se organizarem em nossa frente e dei mais uma olhada em volta do estádio. Parecia que tudo estava morto ali dentro. Talvez seja exagero falar assim, mas um filme se passava em minha cabeça com as lembranças de todos os cinco anos aqui dentro, todos os jogos, todas as brincadeiras no vestiário, todos os scudetti erguidos aqui, meus momentos pessoais com meus colegas, minha família e até com . Eu tive um grande momento de felicidade aqui, seria difícil esquecer. Talvez com um novo estádio, mas talvez daqui uns quatro ou cinco anos. Tinha muito tempo ainda. Seria no fim do meu contrato, se nada mudasse.
- Vamos juntar aqui, gente! – O assessor de imprensa gritou e nos aproximamos dele. – Não temos microfone, então vai ter que ser no gogó. – Rimos juntos e Gigli, nosso presidente, se colocou na frente de todos.
- Ciao, ragazzi! – Ele falou. – Grazzie e complimenti por estarem aqui hoje. – Ele pigarreou. – Hoje, oficialmente, vai começar a demolição do nosso querido Delle Alpi e achamos importante que toda a equipe administrativa e os jogadores viessem aqui para dar um último adeus ao estádio. Como vocês sabem, nosso plano é construir uma casa para a Juventus nesse espaço, mas isso leva tempo. – Ele falou, nos fazendo assentir com a cabeça.
“Nosso plano é que o estádio esteja pronto para a temporada 2011/2012, mas, vocês sabem como obras são, então ele pode ser inaugurado antes ou depois, tudo dependendo do caixa do time, andamento das obras, nosso desempenho como time e tudo mais. Então, além de nos despedir, quero pedir para todos que trabalhem bastante para que nossa casa cresça o mais rápido possível e seja um estímulo para todos vocês”.
Ele finalizou e o aplaudimos, apesar de não ter muito o que aplaudir, eu queria ver o dia que o presidente do time não daria aquela leve cutucada em todos nós em qualquer oportunidade. Parece que eles não sabiam que a gente tinha um grande trabalho a fazer, ganhando o que a gente ganhava. Era até piada.
As pessoas se dispersaram e eu dei uma andada rápida pelo lado de fora do estádio, seguindo Pavel e Trezeguet. Não tinha mais muitas coisas para guardar na memória, já não estava nada perto do que costumava ser. A falta das faixas e bandeiras da torcida também mudavam totalmente a perspectiva que eu tinha daqui.
Segui pela parte de dentro, indo até o vestiário, mas só encontrei um cômodo vazio. Já não tinha mais armários, mesas, macas, por um momento senti como se tudo tivesse sido um sonho e nada realmente tivesse acontecido aqui. Quase como uma histeria coletiva. Deixei um suspiro alto, negando com a cabeça.
- Parece mentira, né?! – Virei para o lado, vendo olhar da porta e eu assenti com a cabeça.
- É quase como se não tivesse acontecido. – Falei e ela assentiu com a cabeça, suspirando.
- Eu vou sentir falta daqui. – Ela falou e eu confirmei com a cabeça.
- Eu também. – Relaxei os ombros. – Pelo menos vocês vão fazer um mais bonito para gente. – Rimos juntos e ela se afastou da porta quando eu saí.
- Vai ficar bonito, isso eu garanto, Gigi. – Rimos juntos.
- Como vai ser? – Perguntei.
- Mais bonito que o Delle Alpi. – Ri fracamente e ela sorriu. – Ah, tons do time, da Itália e da cidade de Turim, 40 mil lugares, não terá mais a parte de atletismo... – Assenti com a cabeça. – Eu não sei explicar como ficará um estádio, mas posso te garantir que vai ficar bonito. – Ela sorriu. – Eles devem liberar a planta em breve. – Ela abanou com a cabeça.
- Sim, com certeza. – Disse, seguindo ao seu lado de volta para o campo. – E você? Como está? Coordenadora de contabilidade. – Ela riu fracamente, colocando as mãos no bolso.
- Você tem ideia de que eu tenho 25 anos e cheguei no maior cargo que eu poderia chegar no time? – Ela virou para o lado.
- Mesmo? – Perguntei, seguindo o mesmo caminho das outras pessoas.
- Sim. – Ela deu de ombros. – O único cargo acima do meu é o do Giorgio. – Ela falou, apontando para seu chefe ao longe. – Ou do top cinco, mas isso é meio impossível de acontecer. – Rimos juntos.
- Quem sabe um dia você não toma o lugar dele? – Perguntei. – Ele não me parece tão novo.
- Tem uns 60, acho. – Ela disse, rindo. – Mas acho difícil, tem quatro outros funcionários mais velhos que eu em idade e em tempo do time na minha frente se ele sair.
- Um dia eles vão envelhecer e você pode tomar o lugar deles. – Falei e ela franziu a testa.
- Nesse esquema, eu talvez precise trabalhar até os cem anos. – Rimos juntos. – Eu já trabalho desde os 14 e, da última vez que eu chequei, o tempo mínimo de contribuição para se aposentar aqui na Itália é de 38 anos, dessa forma, se a gente ver, já foram 11. – Sorri.
- Bom, daqui mais 27, você terá 52 anos, quem sabe?
- Ah, Deus! – Ela gemeu, me empurrando para o lado. – Você sempre faz eu me imaginar velha. – Rimos juntos.
- Só estou dizendo que há esperança. – Ela negou com a cabeça.
- Quando eu estiver com 52, você terá 56. – Ela disse. – Já vai estar há muito tempo aposentado. – Fiz uma careta.
- Ok, você venceu! – Rimos juntos e abaixei os óculos de sol na cabeça quando saímos do estádio.
- Dói demais pensar nisso. – Ela suspirou.
- Sim... – Neguei com a cabeça. – E o tempo passa muito rápido. – Ela confirmou com a cabeça.
- Sim. – Ela suspirou. – Bom, chega desse papo, né?! – Rimos juntos.
- Sim, Delle Alpi hoje, estádio lar da Juventus só daqui quatro ou cinco anos. – Ela assentiu com a cabeça.
- E esquecer disso até lá. – Ela riu fracamente. – Quem sabe ao menos o estádio a gente não vê? – Ela sorriu e eu assenti com a cabeça.
- É, quem sabe... – Sorrimos e percebi as diversas máquinas se aproximando. – Hora do show.
- Não quero nem ver. – Ela suspirou. – Bom falar contigo, Gigi.
- Você também. – Sorri e ela assentiu com a cabeça. – Depois me fala o que achou de Vinovo.
- Pode deixar! – Sorri e ela se afastou de mim e sendo parada por Trezeguet metros à frente.
Assim que todas as pessoas saíram do estádio, as máquinas entraram e eu não fazia a mínima ideia como demoliriam aquilo, mas com certeza não implodiriam o estádio e nem começariam de fora, mas aproveitei esse tempo do lado de fora para pensar em como tudo ficaria. Existia um toque doce-amargo na boca. Era o fim de um para o começo de outro. Só podia agradecer por tudo, pelo velho e pelo novo. Tudo valeria à pena no final.
Eu tinha esperança que sim, pelo menos.

Lei
25 de setembro de 2007

- ? – Virei para o lado.
- Diga, Miguel. – Falei com o estagiário.
- Como eu faço essa questão de jogadores da base que vão subir?
- Como eles ficarão disponíveis tanto para base, quanto para o time principal, você pode usar como base o contrato do Marchisio ou do DeCeglie, é o valor base do principal. – Falei.
- Grazie. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, checando pela última vez os arquivos impressos e peguei a caneta, assinando todas as folhas e me levantei.
- Quem tem algo para o Giorgio? – Perguntei um pouco alto.
- Aqui! – Angelo falou e segui até a mesa, pegando o calhamaço de papéis e Lorenzo também acenou com a mão e peguei os papéis na beirada de sua mesa. Claudio negou com a cabeça e Marco tinha saído há um tempinho. Segui até a sala do lado e dei dois toques na porta.
- Viene. – Giorgio falou.
- Scusa? – Perguntei, vendo Marco em frente à sua mesa. – Atrapalho?
- Não, pode entrar. – Marco falou, se levantando. – Já acabamos.
- Só assinar alguns documentos. O Miguel está finalizando o do Bottone.
- Ótimo, ótimo! – Ele disse, esticando a mão para mim e eu entrei na sala, encostando a porta e entreguei os papéis para ele. – Posso falar? – Ele perguntou para Marco.
- Claro! Claro! Não quero que seja segredo. – Marco falou.
- O quê? – Perguntei, franzindo a testa.
- Eu não estarei aqui no próximo mês, vou sair do time. – Marco falou.
- Ah. – Um bico se formou em meus lábios. – Mentira!
- Sim, minha mãe está doente, então a família toda vai se juntar para cuidar dela.
- Ah, sinto muito, Marco. Você vai fazer falta. – Ele se levantou e eu o abracei. – Para onde você vai?
- Florença. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Falei que vou escrever uma ótima carta de recomendação para ele e mandar para a Fiorentina. – Giorgio falou e eu assenti com a cabeça.
- É muito bom, você foi um grande mentor para mim. – Marco sorriu.
- E eu fico feliz que pegou várias das minhas dicas. – Rimos juntos.
- Quando você vai? – Perguntei.
- Logo no começo do outubro. Minha irmã vai abrir uma loja de roupas, vou ajudar enquanto isso, talvez até ficar lá se não der nada em outro time. – Suspirei.
- Vai dar certo. Com você, com a sua mãe... – Ele assentiu com a cabeça. – Só sinto por você nos deixar mesmo.
- Vocês ainda têm duas semanas comigo, aproveitem! – Rimos juntos.
- Pode deixar! – Suspirei. – Precisamos organizar uma festa de despedida.
- O dia está mais calmo hoje, os jogadores estão de folga depois do jogo de domingo em Roma, podemos estender hoje um pouco. – Giorgio falou. – Se vocês toparem.
- Eu topo! – Falei.
- A tem os telefones, pede alguma coisa. – Marco disse e Giorgio entregou os papéis para mim.
- Vamos lá! – Giorgio empurrou a cadeira e se levantou.
Assenti com a cabeça, seguindo de volta para a outra sala e entreguei os papéis de Lorenzo e Angelo antes de voltar para minha mesa com os meus e Marco e Giorgio vieram logo atrás rindo de alguma coisa.
- Ciao, ragazzi! – Giorgio falou.
- Ciao! – O pessoal falou.
- Vocês conseguem me dar atenção um pouquinho? – Giorgio falou e Marco seguiu até sua mesa. O pessoal se distraiu de seus computadores e papéis e olhamos para Giorgio. – No próximo mês, nós vamos perder uma pessoa do grupo. – Ele virou para Marco.
- Você vai sair? – Claudio perguntou rapidamente e vi Lorenzo pressionar os lábios, eles eram mais amigos, com certeza já sabia.
- Vou... – Marco riu fracamente.
- Ah, cara! – Angelo falou. – Vai fazer falta.
De todos da sala, tirando o Giorgio, Marco era o mais velho de idade e no time, ele estava lá desde 92, era o único que havia visto a vitória do time na Champions. Ele era muito inteligente, centrado demais e realmente havia sido um grande mentor para algumas coisas, já que nem sempre Giorgio estava presente para nos ajudar.
Entendia a saída dele, eu não tinha preocupações com a família, mas sabia como era difícil você virar as costas para a família, via muito isso na casa da Giulia, mas isso não deixava de tornar as coisas mais fáceis, imagino que nem para ele. 17 anos de time, era muito tempo! Não sabia nem o que era isso!
Mas entendia, quem sabe eu não pudesse ficar 17 anos ou mais aqui? A Juventus era muito boa em várias situações, seja no clima família do time, no salário, benefícios e folgas, eu realmente não me preocupava mais com dinheiro desde que eu vim para o time e para mim era muito importante por causa de todo meu passado.
Eu estava aqui há seis anos e meio, estava estabilizada, então realmente não pensava em sair daqui, além de que não tinha ninguém que pudesse ser algum motivo de eu sair daqui ou querer me mudar para outro lugar. Como eu havia dito para Giulia diversas vezes, Turim se tornou minha cidade, muito mais do que Palermo ou, eca, Nápoles. Era quase como se eu fosse uma piemontesa nata! Tudo bem, acho que eu poderia me considerar siciliana e piemontesa. Acho que ninguém se oporia.
- Então, se vocês concordarem, podemos estender um pouco e fazer uma pequena festinha para o Marco. – Giorgio falou.
- Topo! – Angelo falou.
- Falou em festa, eu estou dentro! – Claudio falou, nos fazendo rir.
- Acho que eu vou ter que perder a primeira aula. – Miguel falou, nos fazendo rir.
- Não julgo, fazia igual! – Angelo falou, nos fazendo rir.
- , você que tem o número dos deliveries, pode pedir alguma coisa, alguns refrigerantes, um bolo... – Giorgio falou.
- Você escolhe, Marco. – Falei e ele ponderou com a cabeça.
- Hum... – Ele pensou. – Uns embutidos do Gabe parecem uma boa ideia.
- Hum, tábua de frios... – Falei, passando a língua pelo lábio.
- Eu vou ser obrigado e pedir alguns vinhos, . – Giorgio falou.
- Se a gente beber após o expediente, não conta como horário de trabalho. – Claudio cantarolou, nos fazendo rir.
- Ok, Coca-Cola até as seis, depois libero para um vinho. Tinto e suave! – Giorgio falou alto. – E vocês levam a garrafa para casa para não jogarem no lixo daqui. – Gargalhamos.
- Ah, vai ser ótimo! – Revirei os olhos.
- Mas pode pedir, eu libero! É fim de ano! – Rimos juntos. – Começamos as cinco, pode ser?
- Fechado! – Falamos juntos.
- Logo volto! – Ele falou.
- Giorgio! – Claudio o chamou. – Relatório de ações do time. – Ele esticou um papel para ele.
- Obrigado! – Giorgio pegou o papel e deu uma rápida olhada nele. – Muito bom, não?!
- Sim! – Claudio confirmou.
- , vem cá, por favor? – Ele falou e eu assenti com a cabeça, me levantando novamente e o segui até sua sala, entrando em sua frente e ele encostou a porta quando entrou. – O que você sabe sobre ações, ?
- Só o que eu vi na faculdade, senhor. – Falei e ele indicou uma poltrona e segui até ele, me sentando em uma e ele na da lateral. – Como funciona a aquisição, como os valores variam se elas estão em alta ou em baixa, a porcentagem também altera conforme a valorização dela, o básico...
- Você investe em ações ou em alguma outra coisa? – Ele perguntou.
- Não, eu sou a pessoa que guarda dinheiro no banco mesmo. – Ele riu fracamente.
- Uma contadora que não faz investimento? – Rimos juntos.
- Eu sei, é piada! – Franzi os lábios em uma careta. – Mas é a forma mais rápida e garantida de todas... Se não contarmos as alterações de mercado.
- Isso não dá para negar. – Rimos juntos. – Você sabe que pode comprar ações do time?
- Não sabia, senhor. – Franzi os lábios.
- Sim, todos os meninos têm, diferentes porcentagens, claro, e eu acabei de receber os relatórios e o time está voltando a ter credibilidade no mercado. – Assenti com a cabeça. – Então, se você estiver procurando um investimento que você não precisa ficar colocando e tirando dinheiro, que precise ficar analisando sempre, indico uma ação do time. Tem reuniões mensais com os acionistas, a partir de quatro por cento você já pode participar das votações mais importantes do time... É interessante. – Assenti com a cabeça.
- E como funciona? – Perguntei.
- Uma ação hoje está custando 40 euros...
- Só? – Perguntei.
- Sim! – Ele falou. – E estamos com crescimento de 23 por cento, o que é algo muito bom.
- Então, 40 euros está valendo quase 50 euros...
- Exato. – Ele falou.
- E quanto é uma ação na porcentagem total do time?
- Por volta de 0,001 por cento. – Fiz uma careta.
- Nossa! – Ele assentiu com a cabeça.
- É, para você ter um parâmetro, os Elkann que são donos do time, possuem por volta de 63 por cento, eu tenho pouco mais de cinco e o Lorenzo, que é quem tem mais da contabilidade, tem 2,4. – Confirmei com a cabeça.
- E como funciona?
- É algo inconstante, então se você compra uma ação, isso vai dividindo mais entre os investidores, mas é bom para o time, pois são mais pessoas investindo dentro do time... – Assenti com a cabeça. – Em compensação, mais investidores junto de um bom desempenho do time, maior lucro para todos.
- Certo. – Assenti com a cabeça. – E a questão de recebimento?
- É algo fixo. Todo trimestre tem uma reunião com todos os acionistas, sejam eles grandes ou pequenos para fazer o repasse, que é feito aqui por nós mesmo. – Assenti com a cabeça. – É uma reunião chata, eles passam todas as informações e o recibo completo de como foi investido o dinheiro, se cresceu, se abaixou e depois o pagamento vem em uma conta cadastrada em nosso sistema.
- Me parece uma boa... – Ponderei com a cabeça. – Eu só mexo se eu quiser comprar mais ou sair?
- Isso.
- E como eu compro uma ação? – Perguntei.
- O Claudio cuida disso, vou chamar ele aqui, pois tem algumas informações mais específicas, um contrato para assinar... – Ele ponderou com a cabeça enquanto se levantava.
- Beleza. – Falei, assentindo com a cabeça.
Vamos entrar no mundo dos investimentos.

Lui
Quatro de novembro de 2007

Quando o juiz apitou, o fim do jogo, a adrenalina abaixou rapidamente e só consegui me sentir aliviado pelo fim. Jogar contra a Internazionale nunca era fácil, mas esse jogo havia conseguido bater todos os níveis e acabamos em um empate de 1x1. Esse Júlio César, goleiro brasileiro, era muito bom! Acho que estava de goleiro titular da Seleção Brasileira e eu entendia por quê.
Eu não consegui segurar o Inter no primeiro tempo, fazendo-os abrirem o placar. Depois disso, fiquei mais alerta e fiz várias defesas importantes, segurando Zlatan em um pênalti, depois em um rebote, defesas consecutivas e outras defesas que apareceram durante o jogo. Mais para o final, Camoranesi conseguiu igualar o placar e me vi satisfeito com o empate.
Talvez ter deixado a festa de aniversário do time para hoje não tenha sido uma grande ideia, na quarta-feira ganhamos do Empoli por 3x0, com certeza era uma vitória mais bonita e deixava um clima mais feliz para uma festa. Mas não, Internazionale é um time mais forte, seria melhor, mais bonito, fazia mais sentido... Beh, pelo menos ficamos no empate, podia ser pior.
Saí da baliza norte, cumprimentando meus colegas de time, mas também meus antigos colegas do outro lado, Zlatan e Vieira, Crespo da época do Parma, além de Materazzi que era colega da Nazionale. Júlio César veio em minha direção e trocamos algumas palavras rápidas, nos cumprimentamos e trocamos nossas camisas.
Cumprimentamos nossa torcida, aplaudindo-os e logo entramos de volta no vestiário do Olimpico. Nosso treinador e assistentes nos cumprimentavam, mas todo mundo sabia que aquilo era uma sensação meio amarga. A Juventus estava completando 110 anos de existência, era para ser uma vitória, mas ninguém parecia estar completamente triste por isso, apesar de todos entenderem o peso do jogo.
De volta ao meu canto no vestiário, ao invés do tradicional moletom, a blusa pólo branca do time estava pendurada junto de uma calça jeans. É claro que não seria uma festa comum igual a festa de Natal, seria uma festa de resultados. Aposto que o top cinco, os acionistas e outras pessoas de alto nível estariam lá com o único propósito: pressão e puxa-saquismo.
Talvez não tenhamos começado a temporada muito bem, foram 11 jogos, seis vitórias, três empates e duas derrotas, mas acho que isso se devia a Série B, ainda não tínhamos entrado totalmente no clima da Série A de novo, só esperava que o time entrasse em equilíbrio de novo e rápido.
Peguei minhas coisas e fui direto para o banho, assim como os outros jogadores. Saí do chuveiro minutos depois, me secando e passando a toalha nos cabelos. Enrolei a toalha na cintura e voltei para o vestiário, já encontrando alguns colegas se arrumando e fiz o mesmo, vestindo a roupa, colocando meus acessórios e me sentei para calçar os tênis.
Passei a toalha nos cabelos mais uma vez e passei o pente neles, jogando-os para trás e joguei a toalha para trás. Puxei o celular da bolsa e encontrei uma mensagem não lida, suspirando antes mesmo de ler.
“Não vou mesmo, Gigi. Não estou a fim. Divirta-se”. – Suspirei, negando com a cabeça.
Alena estava entrando no penúltimo mês de gestação e não estava se sentindo confortável em sair para nenhum lugar. Falava que estava feia e que ninguém deveria vê-la assim. Eu acho que ela está linda, mas não iria discutir. Essa gestação estava sendo bem complicada para nós dois. Deveria fazer uns seis meses que não transávamos e isso afetou a parte emocional dela, que havia chegado em situações extremas de não estar bonita e que havia perdido o corpo de modelo dela.
Eu tentava fazê-la se sentir melhor com carinhos e palavras de apoio, tentando dar meu melhor, mas eu sabia que não adiantava de nada e, pior, só a deixava mais irritada, o que causava brigas. É, o ambiente em casa não estava tão bom, então ela decidir não ir na festa, nem era muito ruim assim. Esperava que tudo melhorasse com a chegada do bebê.
Depois do susto, eu estava feliz com a situação. Enquanto passávamos por aquele susto inicial da gravidez, nos aproximamos e acho que isso fez com que nossa relação andasse melhor do que só sexo. Quando eu descobri que era um menino, não poderia ficar mais feliz. Ela deixou que eu escolhesse o nome do bebê e optei por Louis Thomas, em homenagem ao meu goleiro favorito Thomas N’Kono.
Havíamos nos tornado uma família bem improvável, mas nos ajeitamos. Claro que eu nem pensava em ser pai com 29 anos, nem gostava de Alena a ponto de manter um relacionamento e constituir família, mas pelas situações erradas da vida, acabou dando certo, mas os hormônios da gravidez apareceram e pareciam tentar forçar tudo mais ainda.
“Eu vou tentar não demorar, o que precisar, só me ligar”. – Respondi, suspirando.
Já passava das oito da noite, até chegarmos na festa, fazer aquela apresentação de sempre e tudo mais... É, acho que não chegaria tão cedo assim em casa. Guardei a chuteira, as caneleiras e as luvas de volta na mochila e me levantei para me livrar no local correto da toalha e do uniforme. Aproveitei o tempo de folga para deitar nas macas da fisioterapia para uma massagem na lombar.
Quase meia hora depois conseguimos sair do Olimpico e fomos em direção ao centro de eventos em Vinovo que costumava receber todos os nossos eventos. O ônibus parou na porta e subimos os degraus que dava para a porta e um holofote me cegou assim que passamos da porta, ouvindo várias pessoas nos aplaudirem.
Acho que chegar de fininho não estava nos planos. Alex, como o bom capitão que era, nos guiou pelo centro do salão até que estivéssemos em cima do palco. Se a gente soubesse, acho que todos optariam por outras roupas. Só esperava que ele não falasse muito, eu estava precisando de um uísque o mais rápido possível.
- Dia primeiro comemoramos o aniversário de 110 anos do nosso clube. Apesar dos altos e baixos desses últimos anos, nosso time continua forte e crescendo, trazendo sempre novas conquistas, novos jogadores importantes no cenário nacional e internacional, além de se erguer quando as situações não saem ao nosso favor...
Acabei me desligando das palavras de Gigli, realmente desinteressado no clássico discurso de sempre e tentei procurar alguém conhecido nas mesas, mas com o holofote forte no rosto, não tornava nada daquilo fácil. Me distraí do discurso quando as pessoas começaram a aplaudir e o pessoal puxou a fila para sair do palco o mais rápido possível.
- Eu preciso de uma bebida. – Trezeguet falou.
- Vou contigo! – Falei, seguindo a passos rápidos até o bar.
O jantar já havia sido servido, mas precisava de uma bebida antes. Logo os acionistas se aproximariam e eu teria que fingir que estava bem animado em falar do jogo de hoje ou dos outros resultados do time. Por que não podia ser uma festa realmente divertida? Com os amigos, relaxante e boa música.
- Uísque puro, por favor. – Falei para o barman e percebi que o grupo de sempre se aproximou do bar, pedindo suas bebidas. – Grazie. – Falei quando ele deixou o copo no balcão e me afastei, me colocando ao lado de Trezeguet.
- Festa antecipada de Natal? – Ele brincou e eu ri fracamente, dando um gole.
- Nem sei se vou estar na desse ano. – Falei.
- Por quê? – Ele perguntou.
- Alena completa os nove meses no dia nove de janeiro, esperamos que nasça antes, então vou ficar em alerta. – Falei.
- Nossa! O tempo passa rápido, né?! – Ele comentou e eu assenti com a cabeça.
- Nem fala! – Rimos juntos.
- Vamos torcer para nascer antes, vamos ter uns 20 dias de folga entre um jogo e outro, dá para você aproveitar mais no começo.
- Sim, são os planos. Vamos ver. – Suspirei.
- O que estão falando? – Alex perguntou.
- Sobre a gestação da Alena. – Falei e ele olhou em volta.
- Está perto, não é?!
- Sim, mais dois meses ou menos. – Ele assentiu com a cabeça.
- Nervoso? – Ele perguntou, desviando o olhar para os lados novamente.
- Ah, é claro! – Ele e Trezeguet riram. – Apavorado, na verdade.
- As crianças gostam de você, você vai se dar bem. – Alex falou.
- Uma coisa é a criança dos amigos, outra coisa é a sua. – Eles riram.
- Isso é! – Ele riu. – O Tobias tem só alguns dias de vida, mas estou feliz. Claro que eu e a Sonia já estávamos com uma vida mais firme quando ela descobriu a gravidez, mas vai dar certo.
- Falando nela, ela não vem?
- Não, ela não quer soltá-lo nunca mais e achava que teria barulho mais alto. – Rimos juntos. – Eu vou ficar um pouco só.
- A Alena não quis vir também, não está se sentindo bonita e...
- Com a Beatrice foi assim. – Trezeguet falou. – Acho que é algo do ego, não sei... – Ele negou com a cabeça.
- Falando nisso, cadê ela? – Perguntei.
- Ela me avisou que já estava aqui, mas não a encontrei ainda. – Ele falou, olhando em volta. – Deve estar com a .
- Espero que elas apareçam logo, estou procurando a mesmo.
- Por quê? – Eu e David perguntamos juntos.
- Ela faz aniversário com o time, se esqueceram? – Ele perguntou.
- Ah, verdade! – Franzi os olhos.
- Você é o único que não deveria se esquecer disso. – Ele me cutucou.
- Em minha defesa, ela não comemorou o aniversário enquanto estávamos... – Ponderei com a cabeça. – Juntos.
- Mesmo assim, é no dia do aniversário do time... – Rimos juntos. – É difícil esquecer.
- É, eu sei.
- Ali elas! – Trezeguet falou e virei o lado, vendo Beatrice, Ivana e vindo juntas. – Tanti auguri da te... – Trezeguet começou.
- Não! Não! Não! – falou rapidamente, correndo em direção a David e colocando a mão na boca dele. – Não!
- Por que não? – Sua voz saiu abafada e ela abaixou a mão.
- O pessoal já cantou parabéns umas três vezes para mim e sempre começa com essa brincadeirinha. – Ela disse.
- É verdade! Eu ouvi duas. – Beatrice falou e ela assentiu com a cabeça.
- Agora eu conheço mais gente do time, e todos estão “uau” por eu fazer aniversário com o time, só falta um bolo aparecer para mim e...
- A ideia não é má! – Trezeguet falou e arregalou os olhos.
- Não começa. – Rimos juntos.
- Posso te dar parabéns, pelo menos? – Ele perguntou e ela sorriu. – Tanti auguri di un buon cumpleanno, ! – Ele a abraçou, fazendo-a sorrir. – Muitas felicidades, muita saúde, muito amor, muito sucesso.
- Grazie, Treze. – Ela falou, sorrindo.
- Tudo de bom sempre, ok?! – Ela sorriu.
- Para você também.
- Parabéns, garota! – Alex falou, animado e ela riu, abraçando-o. – Tudo de bom para você sempre, obrigado pela sua amizade, seu trabalho no time, seu carisma...
- Ah, eu vou ficar me achando assim. – Ela falou, irônica, nos fazendo rir.
- Eu deixo! Você merece! – Alex falou, fazendo-a sorrir e eles se soltaram.
- ... – Falei e ela deu um sorriso antes de eu passar os braços pelo seu corpo. – Auguri sempre! Tudo de bom na sua vida, principalmente muito sucesso para você no que você quiser realizar. Você merece! – Sussurrei em seu ouvido, apertando meus braços em seus ombros e ela me apertava pela cintura.
- Grazie, Gigi. Por tudo. – Ela sorriu ao se afastar e eu retribuí.
- Então, quantas velinhas está apagando? – Trezeguet perguntou.
- 26. – Ela sorriu.
- Ih, ‘tá nova! – Trezeguet falou.
- Mais nova do que vocês! – Ela deu de ombros.
- Ah, safada! – Rimos juntos.
- Beh, é a única coisa que nunca vai mudar, gente! – Rimos juntos.
- É, tem que dar razão para ela. – Falei e ele franziu os lábios.
- Seu aniversário está chegando também, não está, Alex? – Ela perguntou.
- Dia nove! – Ele falou.
- Acho que não te vejo até lá, então já fica os cumprimentos.
- Dá azar cumprimentar antes. – Trezeguet falou.
- Não acredito nisso, não. Acho que nada que venha com palavras sinceras de carinho pode dar em azar. – Ela deu de ombros.
- Eu concordo com a . – Ivana falou. – Alguém viu meu marido? – Ela perguntou.
- Boa pergunta... – Falamos juntos.
- Ah, ali! – apontou para atrás de nós e viramos o rosto, vendo Pavel com Camoranesi.
- Tanti auguri da te... – Mauro começou.
- Não! – falou alto novamente, nos fazendo rir.
- O que é isso? Não gosta que cantem parabéns, não?! – Ele falou.
- Não pela quarta vez. – Ela disse, fazendo-os rirem.
- Ah, quantos anos? – Ele perguntou.
- 26.
- Então eu vou cantar até dar 26 vezes. – Ele falou. – Tanti auguri da te... – Ele começou a bater palmas altas, nos fazendo rir e segurou suas mãos.
- Por favor, não. – Ela disse, rindo. – Além de que meu aniversário foi há três dias. Desse jeito já estou com uns 30 anos. – Rimos juntos.
- Auguri, ! – Mauro a abraçou. – Felicidades sempre.
- Grazie. – Ela sorriu, seguindo para Pavel.
- Buon cumpleanno, . – O loiro falou. – Tudo de bom na sua vida, as melhores conquistas sempre. – Pavel falou.
- Obrigada, gente. Fico feliz que vocês se lembraram.
- Ah, assim, algumas pessoas se esqueceram... – Alex falou e eu e Trezeguet demos cotoveladas nele. – Ai!
- Imagina se fosse em outro dia, não?! – Ela brincou, olhando para mim. – Vocês já comeram ou chegaram agora mesmo? – Ela perguntou.
- Chegamos agora. – Mauro falou, entediado.
- Forrando o estômago para aguentar os acionistas. – Estiquei o copo para ela.
- Bom, só avisando que agora eu sou uma, então... – Ela disse, rindo em seguida e ficou um silêncio estranho no ambiente. – Relaxem! Pelo amor de Deus! Eu tenho zero vírgula zero, zero, zero um por cento. Não é comigo que vocês precisam se preocupar. – Ela deu de ombros e coçou as têmporas. – Talvez menos, enfim... – Rimos juntos.
- A diferença é que você é legal e sabe o que acontece com o time. – Alex falou.
- Sabe o que acontece com o dinheiro do time. – Falei e ela ponderou com a cabeça.
- Também... – Ela deu de ombros. – Mas não se preocupem, teve só 11 jogos, eles estão calminhos. – Ela disse.
- Menos chatos? – Perguntei e ela fez uma careta.
- Nunca. – Rimos juntos.
- Por que vocês não vêm comer comigo e eu ajudo vocês a matarem uma hora? – Ela perguntou.
- Nós pegamos uma mesa lá fora, tinha umas livres em volta. – Beatrice falou e nos entreolhamos.
- Não é uma má ideia. - Alex falou.
- Vamos lá! - Pavel falou, sendo o primeiro a seguir em frente.
As mulheres seguirem em frente e foi inevitável não reparar nas pernas e na bunda de dentro daquela calça colada, principalmente quando as mãos foram para o bolso da calça. Os cabelos caíam como ondas pelas costas e era inevitável não pensar besteiras com seus lábios vermelhos. Até hoje eu me surpreendia como ela tinha mudado e muito já tinha acontecido.
É, muito já tinha acontecido. Esquece, Gianluigi. Esquece!
Olhar não tirava pedaço, não é mesmo? Que mal faria? Já tínhamos nos esquecido mesmo.



Capitolo diciasette

Lei
21 de dezembro de 2007 • Trilha SonoraOuça
Faltava poucos minutos para as oito quando entrei em Vinovo. Saí atrasada do trabalho e tive que correr para casa para me arrumar para a reunião anual dos acionistas. Era minha primeira vez, então eu realmente não sabia o que esperar, muito menos o que vestir, acabei optando por uma calça jeans, camiseta preta básica, saltos da mesma cor e um colar que dava a impressão de fazer parte da blusa. Não que isso importasse, pois devido ao frio do fim do ano, o sobretudo preto escondia tudo. Pelo menos não tínhamos neve... Ainda.
O estacionamento de Vinovo estava lotado, em sua maioria carros de grandes marcas, Giorgio e Lorenzo tentaram me explicar um pouco mais cedo o que esperar dessa reunião, principalmente a de hoje que era prestação de contas pelos últimos seis meses, mas o principal foi: grandes investidores muito metidos e com muito dinheiro que queriam saber onde estava cada centavo do time.
Eu estava vindo mais por curiosidade mesmo e um direito que eu tinha, mas eu havia comprado três ações nos últimos três meses, talvez até um pouco na empolgação, mas eu estava aproveitando enquanto a grana estava vindo, além de que era um dinheiro mais fácil do que outros investimentos e um controle muito mais próximo por eu fazer parte da contabilidade, então Claudio, responsável por essa parte, nos informava quando tinha qualquer alteração. Além de que eu realmente poderia falar “nossa, você viu a queda das ações?” quando alguém me perguntasse sobre o assunto.
Saí do carro, apertando o sobretudo sobre o corpo e puxei minha bolsa, cruzando-a no corpo e tranquei o carro, jogando a chave de volta na bolsa. Segui em direção ao prédio principal, o único aceso àquele horário e segui pelo corredor, desviando dos caminhos que eu estava acostumada e seguindo para os fundos do prédio. Assim que me aproximei do anfiteatro, vi várias pessoas do lado de fora e suspirei, sabendo que estava no lado certo somente pelos trajes. Para a minha felicidade, eu não era a única mulher ali, mas com certeza era uma das mais novas, senão a mais nova ali.
Distribuí alguns sorrisos ao pedir licença ao passar e entrei no anfiteatro, engolindo em seco. O local estava cheio, com vários rostos desconhecidos para mim. Reconheci o top cinco no palco junto de outras oito pessoas, imaginei serem os sócios majoritários, todos com mais de quatro por cento das ações. Dei uma rápida olhada em volta e respirei aliviada quando encontrei Lorenzo e Angelo. Atravessei o anfiteatro por trás e segui em sua direção, vendo-o conversar com outro homem.
- Scusa?
- ! – Lorenzo falou, se levantando e me deu um rápido abraço. – Chegou na hora.
- Tive pouco tempo, saí mais tarde. – Ele assentiu com a cabeça. – Oi, Angelo, tudo bem? – O cumprimentei também.
- Senta aí! – Lorenzo apontou para a outra cadeira.
- Sobre o que estão falando? – Perguntei, tirando meu casaco antes de me sentar ao lado de Lorenzo.
- Vai no jogo no domingo? – Angelo perguntou.
- Não sei ainda. – Falei. – Estou bem tentada a ficar em casa e já começar as férias. – Eles riram juntos.
- É contra o Siena, não é para termos muitos problemas. – Lorenzo falou e eu ponderei com a cabeça.
- Quem sabe ano que vem? – Rimos juntos. – Essa temporada está meio parada...
- Sim. – Angelo falou. – Mas temos que ganhar do Empoli no jogo de volta das oitavas da Coppa Italia ou vai ficar mais parado ainda. – Rimos juntos.
- Beh, 2x1 do Empoli é meio complicado... – Fiz uma careta, ouvindo-os rirem.
- Buona notte, ragazzi. – Virei o rosto para o palco, vendo Gigli. – Vamos começar?
As pessoas começaram a ocupar os outros lugares e o pessoal no palco ocupou a mesa que havia ali, com exceção dos diretores esportivo e geral que desceram. Reconheci John e Lapo Elkann, os donos do time, além do presidente e vice, é claro.
A reunião foi extensa e chata, como eu já imaginava mesmo, não tinha maturidade nenhuma para lidar com essas coisas, era quase como as aulas de economia na faculdade, quatro horas sem parar, o disco riscava dentro da cabeça. Pelo que eu entendi de imediato, a pessoa que tinha mais ações do time, não era o chefe dos acionistas, o presidente do time tinha essa função. Então ele passou o relatório de todo esse bimestre do time. Falou dos investimentos, dos momentos de alta, de baixa, onde foi usado cada valor, os repasses, retornos e, por um momento, a planilha da contabilidade apareceu lá também. A minha planilha.
Eu tentei me manter concentrada durante toda a reunião, mas com certeza entrei em modo de espera em um momento, talvez até tenha cochilado, pois eu me perdi em vários momentos, mas a reunião só acabou quando marcava 23 horas no meu relógio. Não era surpresa o meu cansaço e nem meu tédio. Era sexta-feira, eu trabalhei o dia inteiro, fiz hora extra e ainda encarei essa reunião bem chata que só serviu para me explicar que fechamos o ano com um positivo de 28 por cento. Era ótimo para os meus recebimentos, mas eu deveria ter ficado em casa comendo pizza e bebendo vinho com a Giulia. Nunca mais reclamaria dos nossos programas zoados.
- Agora, para os que gostarem, teremos um coquetel na outra sala. – Giorgio finalizou a reunião e pisquei diversas vezes. Quando ele havia tomado conta das informações?
- Aguentou bem? – Virei para Lorenzo.
- Talvez não. – Eles riram fracamente.
- É normal assim mesmo. – Angelo falou. – Para os acionistas menores é quase irrelevante, só importa a porcentagem de crescimento ou caída dos valores.
- É... Percebi. – Falei, pressionando os lábios.
- Vem! Vamos comer alguma coisa. – Lorenzo falou, se levantando.
- Por favor, eu não comi nada antes de vir.
- Já fica a dica para a próxima vez. – Angelo falou, rindo e eu me levantei, seguindo-os.
Eles cumprimentaram algumas pessoas e eu acenava com a cabeça somente por educação, pois eu realmente conhecia os dois e Giorgio, Claudio já estava de férias e tinha viajado, Marco já havia ido embora há um mês, vendendo suas ações e os dois estagiários eram relativamente novos.
Seguidos até o local do coquetel, que era na sala do lado do anfiteatro, era basicamente outro anfiteatro, mas sem as poltronas e o piso reto, era o local das festas menores do time. Já tinha ido lá em outras situações para pequenas confraternizações, coisas assim, nunca a festa de Natal do time, é claro.
Alguns garçons passavam com taças de vinho branco, mas eu acabei optando por água mesmo, não sabia quanto tempo demoraria para ir embora e, mesmo morando perto dali, não queria causar nenhum acidente ao beber e dirigir. Outros garçons também passavam canapés e esse eu fiz questão de pegar em toda a oportunidade, a barriga roncava sem dó.
Era perceptivo que as pessoas te observavam e te julgavam, tentando entender o que você estava fazendo ali, eu entendia, pois estava igual. Tinha algumas pessoas da minha faixa etária, mas estavam acompanhadas de pessoas mais velhas.
- ! – Sorri para Giorgio.
- Ciao, come stai? – Perguntei, sorrindo e ele me segurou pelos braços para dar um beijo em cada bochecha minha.
- Tutto bene e tu? – Ele perguntou.
- Anche bene! – Sorrimos juntos.
- O que achou da reunião? – Ele perguntou e eu franzi os olhos, vendo-o rir fracamente. – É realmente entediante mesmo, mas precisamos fazer.
- Sem problemas, sabemos bem a necessidade de prestar contas. – Sorri e ele assentiu com a cabeça.
- Se quiser ir embora também, fique à vontade.
- Pode deixar, estou tentando reconhecer o ambiente. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Giorgio... – Viramos para o lado e um senhor o chamava.
- Scusa. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
Eu acabei ficando sozinha bem rápido, Lorenzo, Angelo e Giorgio haviam encontrado pessoas para conversar e eu fazia questão de manter minha boca cheia de canapés e só distribuía sorrisos, não era a melhor coisa do mundo mesmo. Aproveitei a deixa e peguei o celular na bolsa, encontrando uma mensagem de Giulia.
“Como está aí?” – Suspirei, digitando.
“Be-e-e-em chata. Pizza, vinho e Um Sonho Popstar era mais legal”. – Respondi, rindo sozinha com a resposta.
Aguardei alguns minutos por uma resposta, mas talvez ela já tivesse ido dormir, ela havia engrenado no trabalho do pai e as sextas-feiras eram dia de entrega na loja, então ela ficava louca fazendo a contabilidade do estoque. Guardei o telefone de volta na bolsa e virei o restante de água do meu copo, pronta para ir.
- Ciao? – Virei o rosto para o lado e foi inevitável não franzir os olhos com o loiro de olhos castanhos que parou ao meu lado.
- Ciao. – Respondi com um pequeno sorriso nos lábios. Ele era um dos que deveria ter a minha faixa etária. Talvez uns 30, 32, não muito menos do que isso.
- Você é nova por aqui, não? Com certeza me lembraria de você. – Assenti com a cabeça.
- Sim, sou, primeira reunião.
- Eu sou Domenico. – Ele disse sorrindo. – Dom, mais fácil.
- Eu sou . – Sorri também.
- Você parece um pouco nova para fazer investimentos em um time. – Ri fracamente.
- Eu trabalho aqui, setor de contabilidade, acabei gostando da brincadeira.
- ? – Ele perguntou e eu franzi os lábios.
- É... Como sabe? – Ri fracamente.
- Beh, precisamos conhecer as pessoas que cuidam do nosso dinheiro, certo? – Ponderei com a cabeça. – Você para nós é como o Del Piero para o time. – Rimos juntos. – Você e o Claudio, Lorenzo, Angelo... – Assenti com a cabeça.
- Vou levar isso como um reconhecimento pelo meu trabalho, então. – Ele sorriu.
- Pode levar com toda certeza. – Sorrimos juntos.
- E você? Também me parece novo para estar aqui. – Ele riu fracamente, passando a mão nos cabelos curtos.
- Meu pai faz parte do conselho. – Assenti com a cabeça. – Faço alguns investimentos menores aqui, mas nada tão substancial.
- O que faz? – Perguntei.
- Eu sou advogado na FIAT.
- Hum, trabalha com os Elkan... – Falei.
- Diretamente. – Assenti com a cabeça.
- Legal! – Falei, assentindo com a cabeça. – Talvez já tenhamos nos encontrado em algum evento ou jogo.
- Hum, dificilmente. – Ele falou.
- Não gosta do futebol? – Ele ponderou com a cabeça.
- Gosto dos resultados que vêm com ele. – Ele disse e assenti com a cabeça. – E você?
- Hoje eu posso falar que gosto muito, quando entrei aqui há sete anos e meio, sabia pouquíssimo, mas acabei gostando. – Ele sorriu.
- Algum jogador preferido? – Ele perguntou.
- Injusto perguntar para mim quando sabe que eu tenho contato com todos. – Rimos juntos.
- Ah, tem sempre um especial. – Ele disse. – Eu gosto do Pavel, acho-o incrível. – Assenti com a cabeça.
- O conheço muito bem. – Ele riu fracamente. – Acho que se eu tiver que escolher um... – Parei para pensar e Gigi foi o primeiro a vir em minha mente. – O Trezeguet, com certeza. Ele é um cara muito legal. – Sorri.
- Um ótimo goleador também...
- Trezegol! – Dei de ombros e ele riu fracamente. – Você não costuma vir nas festas de Natal, não é mesmo? - Perguntei.
- Ah não, elas não são abertas para pequenos investidores, só os grandes e funcionários. – Assenti com a cabeça.
- Vero. – Falei, pegando mais um canapé quando o garçom nos ofereceu e o coloquei inteiro na boca.
- Então, não quero ser invasivo, mas a senhorita é solteira? – Ele perguntou e eu ri fracamente, abaixando meu rosto por alguns segundos.
- Sim, sou. – Mordisquei meu lábio inferior.
- Você gostaria de sair algum dia desses? – Ele perguntou e meu cérebro começou a pensar rápido.
Por mais que eu soubesse que uma pequena parte minha, talvez uns 25 por cento ainda gostasse do Gigi, eu tinha a consciência de que já havia passado um ano e meio desde que tudo acabou, ele estava namorando a Alena durante todo esse tempo – talvez mais – e ele estava para ser pai, isso se já não tivesse nascido nessa altura do campeonato. Era o fim! Eu sabia disso e lutava sempre que o via para colocar um fim real nessa porcentagem que ainda acelerava meu coração quando o via.
Talvez um novo relacionamento, com um cara bonito – apesar de eu não ser muito fã de loiros – e bem-sucedido fosse o que eu precisava para finalmente zerar esse sentimento e colocasse minha vida de volta nos eixos novamente. Não que eu fosse casar com Domenico, mas sentia falta de dar uns beijos e uma mulher tem suas necessidades, não? Brincar sozinha enjoava um pouco.
- Claro. Por que não? – Sorrimos juntos.
- Poderia me passar seu telefone para gente trocar mensagens e combinar?
- Claro! – Sorri, vendo-o puxar o celular do bolso e me entregar. Anotei meu número rapidamente para ele e devolvi o aparelho para ele.
- Pronto. – Sorri.
- Grazie. – Ele disse e assenti com a cabeça.
- Prego! – Sorrimos juntos.
- Você quer dar uma volta? – Ele perguntou, estendendo a mão para a porta.
- Claro! – Sorri e ele estendeu a mão e eu a segurei, seguindo-o pelo salão.

Lui

28 de dezembro de 2007 • Trilha SonoraOuça

Passei as mãos umas nas outras e chequei o horário no relógio novamente, já passava três horas que ela estava lá dentro e sem novidades ainda. Ouvi a porta de correr mais uma vez e vi uma enfermeira passando pelo local e neguei com a cabeça, suspirando.
Ergui o rosto para a televisão, não conseguindo focar nem por dois minutos na programação que passava e olhei para a sala de espera vazia do hospital. Passei as mãos nos cabelos, jogando-os para trás pela enésima vez e ouvi o barulho da porta novamente e vi minha família entrando.
- Ah, finalmente! – Falei, vendo minha mãe andar apressada em minha direção.
- Ah, querido! – Ela me apertou em um forte abraço. – Como ela está?
- Ele estava em uma posição ruim, levaram-na para a cesárea, mas já se passaram quatro horas e eu não tenho notícia. – Suspirei, engolindo em seco.
- Você bebeu algo? Comeu?
- Só batatinhas e coisas da máquina. – Abanei a mão e Guendy veio me abraçar e depois Veronica.
- Você precisa se alimentar direito. – Minha mãe falou.
- Eu preciso de notícias da Alena e do meu filho. – Falei firme, me sentando novamente e meu pai, Stefano e Marco, namorados de minhas irmãs, se sentaram à minha volta.
- Se acalma, garoto. – Meu pai falou. – Está tudo bem.
- Eu espero. – Engoli em seco, passando as mãos no rosto, sentindo-o suado, apesar do frio do fim do ano.
- E os pais da Alena? – Minha mãe perguntou.
- Eles iam tentar pegar o voo de Praga o mais rápido possível, mas não tive notícias ainda. – Puxei o celular do bolso da calça novamente e vi que tinha algumas mensagens, as abri e vi que era da Del Piero e Trezeguet, que eu havia conversado mais cedo, contando que ia nascer.
- Como foi? – Guendy perguntou.
- Eu acordei umas oito da manhã com ela me cutucando, a bolsa tinha estourado, a trouxe direto para cá. Eles fizeram alguns exames, não tinha dilatação, esperamos umas três horas, começaram a fazer, mas o bebê estava virado, ela já estava cansada, foram direto para sala de cirurgia. – Neguei com a cabeça, respirando fundo. – Aí eu consegui ligar para vocês.
- Ela está lá todo esse tempo? – Veronica perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Eles não me deixaram entrar e eu estou aqui esperando. – Suspirei.
- Está tudo bem, meu irmão. Está tudo...
- Senhor Buffon? – Ergui o olhar, vendo o médico de Alena todo paramentado.
- Sim! Como ela está?
- Ela está bem! – Ele falou sorrindo. – Seu filho também. – Aliviei os ombros, suspirando. – Ele nasceu com quase quatro quilos, 53 centímetros, está tudo bem. – Suspirei.
- E a Alena? Como está?
- Está bem. Ela demorou um pouco mais para acordar da anestesia, mas ela está bem. Em breve ambos estarão no quarto e você poderá vê-los. – Ele esticou a mão e eu a apertei, confirmando com a cabeça.
- Obrigado, doutor. – Falei.
- Parabéns, papai! – Ele falou e vi um sorriso se formar em meus lábios antes dele sair.
- Quatro quilos! – Minha mãe riu, me sacudindo.
- Igual a mim. – Sorrimos juntos.
- Pelo menos não nasceu com o cordão preso no pescoço igual você... – Minha mãe falou.
- É, mas me deu um susto também. – Suspirei.
- Filhos... – Guendy deu de ombros e eu ri fracamente, confirmando com a cabeça.
- É... Filhos. – Suspirei.
Peguei o celular novamente, enviando mensagens para os pais e a irmã de Alena que deveriam estar a caminho da Itália e avisei Alex e Trezeguet que tudo estava bem, tínhamos nos vistos anteriormente no dia 23, no último jogo antes da folga, e eu tinha dito que ainda estávamos sem novidades nesse departamento. Mas a data final era no dia nove de janeiro e ele chegou no dia 28 de dezembro, 12 dias antes.
Vi o tempo passar por quase mais uma hora, tentando focar no programa que passava na televisão, comendo algumas batatinhas da máquina de industrializados e até ouvindo a conversa de Marco e Stefano sobre algumas coisas que eu não tinha capacidade de focar, até que vi o médico se aproximando novamente.
- Vamos lá? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça, respirando fundo.
- Vai lá ver meu neto! – Minha mãe falou, animada e eu dei um beijo em sua bochecha antes de seguir com o médico pelos corredores do hospital.
- Fique à vontade. – O médico abriu uma porta com o nome de Alena e Louis e suspirei, antes de entrar nela.
Abri um sorriso ao ver Alena com nosso filho no colo e uma enfermeira ao seu lado a auxiliava com a primeira amamentação. Soltei um suspiro, sentindo uma lágrima escapar de meus olhos e me aproximei pelo outro lado da cama.
- Viu? Ele já pegou. – A enfermeira falou e ergueu o rosto para mim.
- Ciao. – Falei, vendo Alena sorrir para mim e inclinei meu corpo sobre o dela, colando nossos lábios por alguns segundos.
- Ah, Gigi! – Ela falou, sorrindo.
- Fiquei preocupado com vocês.
- Olha! – Ela falou e olhei para o embrulho em seu colo, a pele clara, os cabelos claros e os olhos fechados.
- Ele é lindo, Lena. – Falei, dando outro beijo em seus lábios.
- Eu vou deixá-los a sós. – A enfermeira falou e logo ela saiu pela porta.
- Ele é grandão! – Falei, ouvindo-a rir, ajudando-o com a amamentação.
- Demais. – Alena riu. – Três quilos e 800 gramas. Agora entendi a dificuldade.
- Como você está se sentindo? – Perguntei, passando a mão em seus cabelos.
- Cansada. – Ela falou e soltou um suspiro forte. – Foi difícil trazê-lo ao mundo. – Ela passou a mão nos cabelos de nosso filho.
- Louis Thomas... – Suspirei, passando a mão no embrulho. – Não consigo acreditar que eu tenho um filho.
- Nós temos um filho, meu amor. – Ela disse, sorrindo e eu assenti com a cabeça, me sentando na beirada na maca.
- Isso ainda é surreal para mim. – Suspirei.
- Para nós dois. – Ela se virou para mim. – Eu sei que quando eu engravidei as coisas não estavam da forma que deveriam, mas...
- Tudo passou. – Segurei sua mão, apertando-a. – Somos uma família, Lena. Independentemente do que aconteceu lá atrás. – Ela assentiu com a cabeça e inclinei meu corpo para beijá-la mais uma vez. Um resmungo nos distraiu e olhamos para o embrulho em seu colo.
- Ah, meu amor, já está satisfeito? – Alena perguntou com uma voz afinada, ajeitando o peito de volta no sutiã e Louis resmungava em seu colo.
- Posso segurá-lo? – Perguntei.
- Claro! Você é o pai! – Alena falou, rindo e eu sorri.
Ela mudou a posição de Louis em seu colo e eu ajeitei os braços para recebê-los entre eles. Senti meu corpo arrepiar quando ela o colocou e eu o trouxe para perto de mim, tentando protegê-lo contra meu corpo. Ele resmungou com a mudança de colo e levei as costas do indicador até seu rosto, acariciando as bochechas fofas dele.
- Oi, meu amor. – Falei baixo. – Eu sou seu pai. – Falei baixo, vendo-o resmungar e senti emoção indescritível passar pelo meu corpo.
Aqui, no meu colo, estava meu filho. Meu primeiro filho. Louis Thomas Buffon. Era loucura pensar nesse tipo de coisa. Há um ano, eu e Alena estávamos em uma situação toda diferente, eu tinha muitas dúvidas sobre nosso relacionamento, se deveríamos seguir, se não deveríamos, se eu não deveria ter ido atrás de quando tive a chance, se eu não deveria ter esquecido a raiva e ter ido atrás dela.
Tudo passou como um turbilhão na minha cabeça quando Alena descobriu a gravidez. Isso aconteceu por um descuido nosso, mas eu não podia terminar com ela naquele momento, eu não era o tipo de cara que fazia isso, então sabia que era hora de me esquecer que eu tive qualquer outra mulher e focar em Alena, em nós.
Apesar disso, apesar de todas as decisões, sejam elas certas ou erradas, o Louis veio para mostrar que as coisas eram do jeito que eram e nem sempre estávamos completamente satisfeitos com tudo, mas conseguimos nos encontrar novamente, aprender a realmente nos amar – mais eu do que ela, é claro – e agora Louis estava aqui. Lindo, grande, saudável, pronto para mudar minha vida.
- Ah, eu estou cansada. – Alena falou e eu levei uma mão até seu rosto.
- Descansa, eu estou aqui. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
Me sentei na cadeira ao lado, observando Louis cair no sono rapidamente e Alena fez o mesmo, me fazendo suspirar. Fiquei analisando os detalhes de Louis, vendo-o dormir e perdi a noção do tempo quando vi a porta se abrir e minha mãe e duas irmãs entraram no quarto.
- Podemos entrar? – Veronica perguntou baixo.
- Vem, eles estão dormindo. – Falei e as três entraram devagar, evitando fazer muitos barulhos e minha mãe veio em minha direção.
- Ah, meu neto! – Ela pressionou os lábios em um sorriso e eu ri fracamente. – Ele é lindo, Gigi. – Sorri, sentindo-a dar um beijo em minha cabeça.
- Quer segurá-lo? – Perguntei.
- Quero, mas depois, ele está dormindo tão gostoso. – Ela disse e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Parabéns, meu irmão. – Veronica falou e ela deu um beijo em minha testa.
- Fez bem, hein?! – Guendy brincou, nos fazendo rir fracamente. – Ele é lindo.
- Esperamos que puxe a Alena. – Veronica falou e eu neguei com a cabeça.
- Ei! – Falei e ela sorriu.
- Parem de gracinhas. – Minha mãe falou, se sentando ao meu lado. – Parabéns, meu filho. Você tem uma família agora, sem fazer besteiras, ok?! Isso é para sempre. – Ela tocou em Louis e eu assenti com a cabeça. – Isso é sério, ok?!
- Eu sei, mãe. – Assenti com a cabeça. – Não se preocupe sobre isso. O passado ficou para trás, agora é sério. – Ela confirmou com a cabeça.
- Você vai ser um bom pai. – Ela disse.
- Já é um bom tio. – Guendy falou.
- Nada de devolver para os outros quando chorar, viu?! – Veronica falou, me fazendo rir.
- Droga! – Brinquei, vendo-a sorrir.
- Fiquem quietas, deixem meu neto dormir. – Minha mãe falou.
- Agora o Louis é o novo neto favorito. – Guendy sussurrou.
- O Ascanio já teve o espaço dele. – Falei, ouvindo-as rirem.
- Não, não, meu coração tem espaço para todos. – Minha mãe falou e eu sorri, olhando para Louis calmo em meu colo. – Todos mesmo. – Dei um sorriso, vendo-a olhar para Guendy.
- É, mas agora é hora do meu filho. – Falei, vendo-as sorrirem.
- A família está crescendo, gente. – Veronica falou.
- Sim... – Sorri, suspirando e olhei para Louis, acariciando seu rosto. – Meu menino...

Lei

27 de abril de 2008

- Nossa! Que banho de sangue! – Falei, rindo fracamente ao ver o jogo encerrar 5x2 para a Juventus em cima da Lazio aqui em casa.
- Ei, bella. – Virei o rosto para o lado, vendo Dom acordando.
- Ei, eu achei que não acordaria antes de eu sair. – Virei o corpo para trás, vendo-o se espreguiçar.
- Eu estava cansado. – Ele falou e eu me debrucei sobre ele na cama e colei meus lábios nos dele rapidamente.
- É, eu percebi, você mal aguentou ontem. – Passei a mão em sua barriga e ele deu um beijo em minha bochecha.
- Você já está de saída? – Ele perguntou.
- Já sim. – Falei, me sentando novamente. – A gente se vê depois?
- Eu vou para Roma amanhã, volto na quinta. – Assenti com a cabeça.
- Você sabe onde me encontrar. – Deslizei meu corpo para a beirada da cama para calçar o outro tênis.
- Fala para Giulia que eu desejei boa sorte, ok?!
- Pode deixar. – Me levantei, ajeitando minha blusa enrugada e dei a volta na cama.
- Boa viagem. – Falei e inclinei sobre ele, dando um rápido beijo em seus lábios e ele acariciou meu rosto.
- Grazie. – Ele sorriu. – Divirta-se.
- Pode deixar! – Falei, passando a mão na minha bolsa. – Ciao, ciao.
- Ciao! – Ele disse ainda se espreguiçando e eu neguei com a cabeça antes de seguir para fora de seu quarto.
Andei pelo apartamento dele, descendo as escadas para o primeiro andar e joguei os cabelos para o lado antes de sair do apartamento. Desci pelo elevador e saí na rua, andando até meu carro e entrei, puxando o cinto de segurança. Eu estava no centro, então foi rápido chegar até Colle della Maddalena, bairro que Giulia morava.
Parei no recuo da garagem, vendo alguns carros já parados na frente e eu estava atrasada, para variar. Puxei minha bolsa, cruzando-a no corpo e tranquei o carro, jogando a chave dentro da bolsa e fui até o portão, o empurrando e segui pelo lado de fora, já vendo algumas crianças correndo e encontrando alguns conhecidos. O local estava decorado com azul e branco e tinha uma faixa escrito “Adio, Giulia” no centro.
- Ciao, ciao! – Falei, vendo Antonia e Monica, da faculdade, os parentes de Giulia, além de seus irmãos que corriam de um lado para outro.
- Ah, chegou! – Giovanna, mãe de Giulia, falou e eu sorri.
- Desculpe o atraso, estava ocupada. – A abracei.
- Sei bem. Cadê ele, falando nisso? – Ela perguntou, me fazendo rir.
- Muito cedo para apresentá-lo para minha família. – Ela riu fracamente e deu um beijo em minha bochecha.
- Tudo bem, mas não confio muito no seu julgamento depois do último. – Fiz uma careta.
- Deixa quieto. – Rimos juntas.
- Amiga! – Giulia veio em minha direção.
- Não acredito que vai realmente nos deixar. – Fiz um bico e ela riu fracamente.
- Vou! – Ela falou firme, me apertando. – Por inspiração sua, então nem vem! – Rimos juntas.
- Eu fico muito feliz por você, amiga! – A apertei fortemente. – Você merece tudo e muito mais. – Ela sorriu.
- Você vai me assistir, não vai?
- Claro que vou! Todo dia! – Rimos juntos. – Só, por favor, pelo amor de Deus, pelo amor de meus pais, não fale nada que eu te falo, não fale da minha vida pessoal... – Rimos juntas.
- Sua vida pessoal não me interessa, agora a dos seus namorados... – Ela deu de ombros. – Ou dos pais do seu namorado. – Neguei com a cabeça.
- Por favor, Giulia. – Falei firme.
- Ok, mas só porque você pediu pelo amor dos seus pais. – Sorrimos e a apertei mais uma vez.
- Eles estão orgulhosos de você, posso garantir isso.
- Eu sei, eles sabiam em quem confiar. – Ela piscou e eu estalei um beijo em sua bochecha.
- Vou cumprimentar o pessoal. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Não demora, as garotas querem jogar. – Ela disse.
- Fechado! – Falei, seguindo até as mesas na parte coberta e deixei a bolsa em cima da mesa, me aproximando dos avôs de Giulia.
- Nonno! – Fui até seu avô que sorriu.
- !
- Pode ficar sentado. – Falei, abraçando-o fortemente.
- Como você está, querida? – Sua avó perguntou.
- Tudo bem, nonna! – A abracei, sorrindo.
- E esse menina que vai embora, hein?! – Sua outra avó falou.
- Talvez eu seja culpada nessa questão. – Rimos juntas. – Mas ela precisa sair daqui, nonna! Eu precisei sair de Palermo para crescer.
- Você é diferente, meu amor. – Ri fracamente.
- Ela vai ser também. – Sorrimos. – A diferença é que vai ter a família dela aqui quando ela voltar. – Eles sorriram.
- E aí, ? – Seu Fabrizio se levantou para me dar um de seus abraços de urso. – Muito ocupada?
- Ah, sabe como é... – Ponderei com a cabeça.
- A Giulia me falou que está com um namoradinho novo.
- Beh... – Dei de ombros.
- Ele é melhor do que o antigo?
- Vocês precisam parar de falar isso, o antigo não era tão ruim assim, ele não me magoou de propósito, ok?!
- É, mas magoou. – Ele falou. – Se fosse um jogador do Torino...
- Ah, tio! – O empurrei fracamente, ouvindo-o rir.
- Você vai apresentá-lo para nós.
- Quando ficar sério. Da última vez desandou antes de ficar sério! – Falei e ele ponderou com a cabeça.
- Confio no seu julgamento. – Ele falou e eu sorri.
- Quero falar contigo depois, se possível. – Falei firme e ele franziu os olhos.
- Claro, o que aconteceu? – Ele perguntou e eu estendi meu corpo para minha bolsa, pegando-a e apoiando-a na mesa ao lado de Fabrizio.
- Lembra que eu disse que eu queria ir atrás dos amigos dos meus pais?
- Sim. – Ele falou firme e apontou a cadeira em sua frente e eu sentei.
- Eu não lembro muitas coisas daquela época, mas eu acho que talvez minha avó tenha algumas informações, mas eu não queria encontrá-la. – Pressionei meus lábios e ele assentiu com a cabeça.
- Eu posso ver isso para você, devo ter algum fornecedor em Nápoles, pelo menos para dar uma sondada, algo assim. – Ele ponderou com a cabeça.
- Eu não quero atrapalhar, mas vocês são o mais próximo que eu tenho de uma família e... – Ele segurou minha mão.
- Somos sua família. – Ouvi uma voz feminina e virei o rosto, vendo Giovanna atrás de mim e ela apoiou a mão em meu ombro antes de se sentar ao meu lado. – Vamos te ajudar com o que for necessário, meu amor. – Senti meus olhos se encherem de lágrimas.
- Eu vou precisar de tudo o que você tiver de informações, querida. Nome, coisas que você se lembra... – Suspirei.
- Eu saí do orfanato com 14 anos, lembro que os nomes dos amigos de meus pais eram Olga e Ricky, mas não sei dizer se eles eram casados ou só amigos... – Neguei com a cabeça. – E em Nápoles eu não tinha nada, minha avó deve ter os arquivos, mas eu fui embora assim que possível.
- Você não se lembra do nome do orfanato? – Fabrizio perguntou.
- Santa Emilia. – Falei. – Mas já faz quase 14 anos que eu saí de lá, não sei nem se existe ainda.
- Bom, essas coisas são do governo, eles podem mudar o nome, mas é difícil acabar. – Giovanna falou.
- Eu vou me informar, . – Fabrizio falou e eu assenti com a cabeça. – Nem que eu tenha que colocar um detetive para...
- Não quero que vocês gastem seu dinheiro comigo e isso nunca foi prioridade para mim, é só mais uma curiosidade. – Dei de ombros. – Saber de onde eu vim. – Giovanna assentiu com a cabeça.
- Você é nossa filha, . – Giovanna falou firme. – Não é uma filha que quisemos ter ou uma filha que planejamos, mas você virou uma amiga para Giulia e acabou entrando em nossa vida assim no susto. – Rimos juntos. – Não sei se foi pela sua história ou o que foi, mas você virou a nossa filha. – Ela apertou meu ombro. – Por mais que você negue nossa ajuda, negue querer morar com a gente e tudo mais, você é nossa filha e nada vai mudar isso, ok?! – Ela sorriu. – Aposto que Maurizio e Stella estariam satisfeitos com isso. – Senti uma lágrima deslizar pela minha bochecha.
- Aposto que sim. – Sorri e ela me apertou.
- Não os conhecemos, mas te conhecemos e te amamos, é o que importa. – Assenti com a cabeça, sentindo Fabrizio apertar minha mão.
- Grazie. – Eles sorriram.
- Por que estão fazendo minha amiga chorar? – Giulia apareceu ao nosso lado e rimos juntos.
- Só conversando. – Giovanna falou e Giulia sentou ao nosso lado.
- Eu quero encontrar os amigos dos meus pais. – Falei para ela.
- Aí sim! – Ela me apertou de lado.
- Agora que você vai me abandonar, eu preciso fazer companhia para eles. – Rimos juntos.
- Todo domingo você vai vir almoçar com a gente e vai me manter informada dos seus passos. – Sua mãe falou e eu ri fracamente.
- Vocês têm o Gianni e o Pietro ainda. – Giulia falou.
- Eu preciso de uma amiga, dá licença? – Giovanna falou e eu sorri.
- Eu apareço aqui, vou precisar de alguém para matar umas baratas, desentupir uns ralos e...
- Vimos que somos úteis ainda. – Fabrizio falou, nos fazendo rir.
- E vocês sabem onde eu moro, podem me visitar. – Falei.
- Não fala isso para os gêmeos, eles não saem mais de lá. – Giulia sussurrou.
- Ah, eu não ia me importar. – Sorri.
- Agora chega de papinho depressivo. – Giulia falou.
- Mas eu te ajudo sim, . – Fabrizio falou e eu assenti com a cabeça.
- Grazie. – Sorrimos.
- Agora vem, vamos jogar um pouco! – Giulia me puxou e eu me levantei, seguindo com ela.
- O que vamos jogar? – Perguntei um tanto alto, tirando meu relógio, deixando na mesa e segui para perto das meninas, abraçando Antonia e Monica.
- Vamos ter uma amiga famosa? – Monica sussurrou e gargalhei.
- Alguém precisa ser, né?! – Brincamos.
- Se você e o goleiro tivessem dado certo, você estaria famosa hoje.
- É, mas não deu, né?! – Brincamos. – Vou continuar minha vida invisível, já que não deu certo como jogadora de vôlei, vamos voltar ao anonimato. – Elas riram.
- Pega! – Giulia falou, jogando a bola para mim e eu dei um toque, devolvendo-a.
- Alguém mais vem? – Perguntei.
- Não sei, chamei o time inteiro... – Giulia falou, dando de ombros.
- Não são seis horas ainda, elas podem vir mais tarde. – Monica falou.
- Vamos fazer tipo vôlei de praia? – Perguntei.
- Claro! – Giulia falou.
- Vamos lá! – Falei, me afastando alguns passos e Antonia veio comigo.
- Quem perder... – Giulia começou.
- Sem apostas! – Falei, ouvindo-a rir. – Você vai nos deixar, para de graça!
- Ok, mas só hoje! – Rimos juntas.
- Não só hoje, amiga, para sempre. – Ela falou e eu sorri, piscando para ela.

Lui

26 de maio de 2008 • Trilha SonoraOuça

- Vamos lá, garotão! – Falei para Louis, vendo-o morder o brinquedo e destaquei os adesivos da fralda e finalizei de trocá-lo. – Pronto! Limpinho e cheirosinho! – Falei, dando um beijo em sua barriga, ouvindo-o gritar e o peguei no colo, apoiando a cabeça dele em meu ombro.
Saí do quarto, descendo as escadas novamente e fui em direção ao nosso bar novamente, aonde toda minha família estava. Minha mãe esticou as mãos para Louis assim que eu me aproximei e meu filho de seis meses nem pensou ao ir com a vó.
- Vem aqui, meu menino! – Minha mãe falou e eu ri fracamente, seguindo até a mesa onde todos estavam, com exceção de Guendy, que auxiliava na cozinha.
- Alguém quer alguma coisa? – Perguntei, parando na mesa.
- Não, tudo bem. – Lena falou e eu olhei para o resto da mesa, vendo o pessoal negar com a cabeça e segui até o bar, vendo Guendy colocar algumas porções na bancada e o garçom pegar.
- O que quer, maninho? – Ela perguntou e eu apoiei os braços na bancada.
- Me vê um refrigerante. – Falei.
- Você no refrigerante? – Ela perguntou.
- Estamos em família. – Falei e ela riu fracamente, colocando uma lata em minha frente.
- Quando você vai? – Ela perguntou.
- Depois de amanhã vou para Coverciano e depois vamos ficar em uma cidade chamada Maria Enzersdorf, na Áustria. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- A Alena vai contigo? – Ela perguntou.
- Ela disse que vai tentar ir em alguns jogos, o Louis é pequeno demais para ir aos jogos, seus pais vão ficar com ele. – Assenti com a cabeça.
- Boa sorte, tomara que role outra vitória. – Ela piscou para mim e rimos juntos.
- Tomara. Vencer uma Copa do Mundo e logo depois a Eurocopa seria um grande feito. – Ela sorriu.
- A seleção está meio igual, não? – Ela perguntou e eu ponderei com a cabeça.
- Metade do pessoal é o mesmo da Copa. – Falei e ela confirmou com a cabeça.
- Vai dar tudo certo. – Sorrimos juntos.
- E você? Como está? – Perguntei, apoiando a mão em cima da sua. – Veronica disse que você está se afundando em trabalho.
- Um dia de cada vez, meu irmão. – Ela suspirou. – Perder dois filhos não é fácil, ainda mais bebês. – Assenti com a cabeça e me aproximei, dando um beijo em sua testa.
- Estou aqui para o que precisar, você sabe disso, não?!
- Eu sei! – Ela suspirou. – Eu tenho o Ascanio, você tem o Louis, logo mais nasce a Matilde, está tudo bem. – Assenti com a cabeça e ela sorriu. – Melhor falarmos de coisas boas.
- Claro, claro! – Rimos juntos.
- E a , hein?! – Ela perguntou e eu franzi os olhos.
- Você quer falar disso agora? – Sussurrei para ela.
- Não queria, mas eu acho que é ela conversando com a Veronica! – Ela apontou para atrás de mim e virei o corpo no banco rapidamente.
Me assustei ao ver que era realmente conversando animadamente com Veronica enquanto passava a mão na barriga de oito meses da minha irmã do meio. Engoli em seco ao descer meus olhos para o corpo de . Ela estava com um biquini roxo, uma toalha enrolada na cintura e os cabelos soltos que voavam com o vento, além dos olhos escondidos por trás dos óculos de sol. Mais magra de quando eu tinha visto aquele corpo próximo do meu pela última vez.
Franzi o olhar ao reparar no homem ao lado dela. Corpo alético, cabelos loiros, olhos escuros e mantinha sua mão na cintura enquanto ela conversava com a minha irmã. Aquele cara não me era estranho, acho que ele era do time, não do setor de , mas tinha alguma relação com o time.
- Você vai falar com ela? – Guendy sussurrou.
- Como eu vou explicar para Alena a amizade dela com vocês? – Perguntei, virando o rosto para Alena que observava a cena.
- Não é bem uma amizade... – Olhei para ela. – Nos conhecemos em campeonatos de vôlei? – Guendy falou e eu suspirei. – Melhor você ir logo antes que alguém fale algo que não deva. – Ela sussurrou e eu me levantei rapidamente, seguindo em direção a eles.
- Uma menina? - falou, sorrindo. – Qual o nome?
- Matilde. – acariciou a barriga de minha irmã.
- Ah, é lindo. Parabéns. – Veronica sorriu.
- E você? O que está fazendo aqui? – Veronica perguntou.
- Ah, tirando umas folgas acumuladas. – falou, suspirando. – Volto só no começo da temporada agora.
- Ah, dá para aproveitar bastante. – Me aproximei delas e desviou o olhar de Veronica para mim.
- Ei, Gigi. – Ela sorriu.
- Ei, . – Me aproximei, dando um rápido beijo em sua bochecha e ela sorriu. – Que surpresa!
- É! – Ela riu fracamente. – Viemos para Forte dei Marmi e o pessoal estava falando do bar da família Buffon, vim só dar um oi. – Ela sorriu. – Ah, esse é o Dom, meu namorado. – Ela apresentou o cara do lado e foi inevitável não pressionar os lábios.
- Ciao, tutto bene? – O tal Dom sorriu e eu apertei sua mão forte, vendo-o pressionar os olhos um pouco, me fazendo sorrir.
- Você está servida de alguma coisa, ? – Veronica perguntou.
- Não, só vim dar um oi mesmo. Não quero atrapalhar. – sorriu. – Deixa eu só... – Ela desviou de Veronica e seguiu em direção a minha mãe e Alena e eu engoli em seco. – Ciao, ciao!
- , querida! – Minha mãe falou.
- , você por aqui. – Alena comentou.
- Tudo bom, gente? – Ela sorriu, dando um rápido beijo em Alena e depois em minha mãe.
- Que surpresa te ver aqui! – Alena falou e não consegui definir se era surpresa ou falsidade. Alena não tinha o costume de ser falsa.
- Só passando as férias com meu namorado. – Ela falou, apontando para Dom que parecia um dois de paus ao meu lado.
- Ah, que bom! Se divertindo? – Minha mãe perguntou, sorrindo.
- Sim, muito! Adoro aqui! – sorriu.
- Você já conhece meu neto? – Minha mãe falou, abraçando Louis.
- Ah, ele é lindo! – sorriu, fazendo caretas para meu filho que a acompanhava com o olhar. – Nem tive a oportunidade de parabenizá-los. – sorriu para Alena.
- Acho que foi falta de oportunidade. – Alena falou e elas sorriram.
- Ele é lindo demais. Louis, certo? – perguntou.
- Sim. – Alena sorriu.
- Ciao, Lou, Lou. – fez caras e bocas e meu filho gargalhou com ela. – Lindão! – Ela disse e ele continuava rir e mexer as pernas, me fazendo negar com a cabeça. Como ela conseguia fazer isso? Todas as crianças a amavam. Agora meu filho a amava também? Isso só podia ser piada.
- Vou te colocar de babá dele. – Alena falou e riu fracamente.
- Ah, eu gosto de crianças. – sorriu e Louis esticou as mãozinhas para ela. – Ah, não, lindo! – Ela disse.
- Segura ele. – Alena falou e ergueu o olhar para mim e eu assenti com a cabeça.
- Vem! – Ela disse para Louis e ele rapidamente foi para seu colo. – Que grandão! – Ela disse, apoiando-o em seu peito. – Quem é o menino lindo? – Ela falava com aquela voz de criança e eu só conseguia sorrir. – É você! – Louis ria.
- Ela é boa com crianças. – Virei para o lado, vendo que era Dom.
- Sim, é. – Comentei.
- Vai ser uma boa mãe. – Ele falou e eu franzi os lábios, olhando para ele.
- É, vai... – Me contive a dizer.
- Ciao... – Guendy falou, se aproximando.
- Ah, Guendalina, você está aí! – sorriu.
- Como você está, menina? – Guendy perguntou.
- Tudo bem e contigo? – esticou uma mão livre e Guendy dei um beijo em sua bochecha.
- Não tão bem quanto o Louis. – Guendy brincou, fazendo observá-lo.
- Ele vai dormir aqui, gente! – riu fracamente.
- Você se importa? – Alena perguntou.
- Não, mas melhor vocês tomarem cuidado ou eu o levo para casa. – Ri fracamente e ela passou a mão na bochecha de Louis.
- Olha como ele está em paz. – Guendy falou e ergueu o olhar para mim, sorrindo.
- E como você está? – se virou para Guendy. – Eu soube sobre os gêmeos, sinto muito, Guendy... – Ela ponderou com a cabeça e Guendy suspirou.
- Um dia de cada vez. – Ela falou.
- O pior foi ler isso em uma revista... – negou com a cabeça.
- Eu estou bem, eu prometo.
- Você não precisa prometer nada para mim e nem se forçar a ficar bem. – falou.
- Obrigada, . – Guendy falou e assentiu com a cabeça.
- Você vai para Euro, não é, Gigi? – perguntou um pouco mais alto, andando em minha direção.
- Sim, vou. – Sorri.
- Manda um oi para o Fabio. – Ela disse e eu confirmei com a cabeça.
- Pode deixar.
- E tentem ganhar, saudades de comemorar. – Rimos juntos.
- Essa temporada não foi das melhores. – Falei.
- Beh, eu tinha um pouco de esperança de ganhar o scudetto, mas ficar em terceiro depois da temporada passada não me parece algo tão ruim assim. – Ela deu de ombros.
- Quem sabe no ano que vem? – Ela assentiu com a cabeça.
- Com certeza. Você e os meninos falaram que só sairiam depois de ajudar o time a voltar a vencer, pois bem, estou no aguardo. – Rimos juntos.
- Promessa é dívida. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Bella, quer algo? – Dom falou e negou com a cabeça.
- Não, obrigada. – Ela falou e ele seguiu em direção ao balcão.
- Eu conheço esse cara. – Falei para .
- Filho de acionista, trabalha na FIAT. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Hum, deve ser das festas dos Elkan...
- Talvez... – Ela ponderou com a cabeça.
- E vocês estão juntos?
- Sim, faz uns seis meses. – Ela falou, assentindo com a cabeça.
- E você gosta dele? – Perguntei em voz baixa, vendo-a virar o rosto para mim.
- E isso te interessa? – Ela perguntou.
- Ainda somos amigos, não? – Perguntei e ela suspirou, abaixando o olhar para Louis.
- Eu não sei. Somos? – Ela perguntou.
- Eu achei que sim. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Eu estou bem, Gigi. – Ela falou.
- Você não respondeu minha pergunta. – Perguntei.
- Sim, ele me faz bem. – Ela sorriu e eu assenti com a cabeça. – E você? Está bem? – Ela perguntou e contive engolir em seco.
- Sim... – Minha voz saiu fraca e fiquei feliz por ela não ter reparado.
- Que bom! – Ela sorriu, assentindo com a cabeça.
- E sua amiga? Ela não veio? – Perguntei, tentando mudar de assunto.
- Ela se mudou para Roma, entrou na equipe do Le Iene. – Ela falou, rindo sozinha.
- Mentira! – Falei e ela negou com a cabeça.
- Não! Ela mandou uns vídeos para eles faz um ano, um ano e pouco, e eles gostaram e a chamaram. – Ri, negando com a cabeça.
- Ela vai fazer pegadinha com a gente, não é? – Perguntei e ela deu de ombros.
- Falei para ela fingir que não me conhece! – Ela disse e eu ri fracamente.
- Espero que ela também finja que não me conhece. – Sorrimos juntos.
- Você eu acho mais difícil. – Ela disse, rindo. – Por precaução, mantenha os dois olhos bem abertos fora das imediações do time.
- Me avisa quando ela estiver em Turim. – Falei e ela riu.
- O problema é quando vocês estiveram fora de Turim. – Ela falou e eu franzi os olhos.
- Se ela me zoar, eu vou te culpar. – Ela riu fracamente.
- O problema não é ela te zoar, é ela zoar o time inteiro...
- Ah, meu Deus! – Rimos juntos.
- Vai dar tudo certo. – Ela disse.
- Esperamos... – Ouvi um gemido e virei para meu filho que se mexia no colo de .
- Ah, estamos atrapalhando seu soninho? – cochichou, dando um beijo em sua cabeça e eu sorri. – Quer ir com a mamãe? – Ela perguntou, se virando para Alena.
- Cansou os braços? – Ela perguntou.
- Não, por enquanto está tudo bem. – falou.
- Pode ficar com ele. – Alena falou.
- Já que eu vou ficar com vocês um pouco, deixa eu sentar um pouco. – Ela disse, seguindo em direção à mesa que Alena, Veronica e minha mãe dividiam, se sentando em uma cadeira.
- Difícil, não? – Virei para o lado, vendo Guendy.
- Faz parte, não? – Dei de ombros. – Não posso me esquecer do passado sendo que minha família continua a adorando.
- Scusi. – Guendy fez uma careta e eu neguei com a cabeça.
- Tudo bem, sabemos separar. – Suspirei.
- E o grude? – Ela indicou o namorado de com a cabeça.
- Eu não posso fazer nada por isso. – Dei de ombros.
- E você se incomoda com isso? – Ela perguntou e virei para , vendo Dom passar as mãos nos ombros de enquanto ela olhava para Louis. Engoli em seco, suspirando.
- Deixa para lá. – Abanei a mão e ela riu fracamente.
- Ah, irmão. Toma jeito! – Ela falou, passando a mão na minha cabeça.
- A vida me obrigou a tomar, Guendy. – Dei de ombros. – Não tive muita escolha. – Ela assentiu com a cabeça, dando dois tapinhas em meu braço.
- Isso se chama crescer. – Ela falou e eu suspirei.



Capitolo diciotto

Stagione 2008/2009
Lei
22 de junho de 2008

- Até parece que vocês vão conseguir fazer surpresa para ela. – Gianni falou, roubando um salgadinho da mesa.
- É verdade, tia Gio, ela me mataria se eu não a recebesse aqui. – Falei, pegando os pratos na bancada e segui até a longa mesa.
- Ah, mesmo assim. Juntei a família inteira para receber a nova famosa da família. – Rimos juntos.
- Ela vai gostar, mas ela vai chegar xingando, pode esperar. – Falei, distribuindo os pratos.
- Quando não? – Giovanna falou e rimos juntos.
- CAZZO! CHUTA ESSA BOLA DIREITO! – Ouvi seu Fabrizio gritar e corri para a sala junto de tia Gio, encontrando os homens da família de Giulia vidrados na TV e vi o replay da tentativa de gol da Itália.
- Nada ainda? – Perguntei.
- Nada e está acabando o tempo, vai para prorrogação. – Ele falou e eu suspirei.
- Que não vá para pênaltis, por favor. – Mordi o lábio inferior, pensando em... É, nele mesmo.
Observei os espanhóis irem em direção ao gol da Itália e o camisa 17 até fez um chute rasteiro, fazendo com que Gigi defendesse a bola e toda sala respirou aliviado. Virei o rosto para Domenico que estava mais interessado no jogo de argolas de Gianni e Pietro e eu suspirei, negando com a cabeça. Vi mais algumas tentativas de gol da Itália e algumas defesas de Gigi e acabou o tempo regulamentar.
- Eu vou ajudar a nonna, gritem qualquer coisa. – Tia Gio falou e eu olhei para a televisão mais uma vez, vendo Gigi com a braçadeira de capitão e sorri.
Ele tinha sido escolhido como capitão da Seleção Italiana na Eurocopa 2008 pelo treinador Donadoni depois que Fabio foi cortado por uma lesão no joelho, apesar de ainda estar com o grupo, pois tinha visto-o durante o hino. Mas isso não fazia muita diferença, a Itália não estava indo muito bem nessa competição, não. Haviam perdido de 3x0 contra a Holanda no primeiro jogo, empataram com a Romênia no 1x1 e ganharam da França por 2x0, passando com a Holanda para as quartas, mas só porque os outros dois foram piores ainda. Agora estavam conseguindo aguentar o 0x0 contra a Espanha, mas se não saísse desse placar até o fim da prorrogação, seria pênalti e aí era Gigi contra Casillas, o que os especialistas diziam ser os maiores goleiros da atualidade. Pelo menos na Europa.
Eu só conseguia pensar na final da última Copa. Ignorando tudo o que aconteceu entre a gente, só consigo imaginar a pressão que é ter que aguentar uma decisão nas suas costas. Claro que se os jogadores acertarem seus gols, já ajuda 50 por cento da situação, mas fica nas mãos do goleiro. É isso! Se ganhar, ele é deus, se perder, ele é o culpado. Vida de goleiro não era fácil mesmo.
Voltei para a cozinha, roubando um pouco de massa fresca da mesa e a nonna de Giulia bateu na minha mão, me fazendo rir e eu a abracei, dando um beijo em sua cabeça. Vendo-a negar com a cabeça.
- Ah, está bem, eu deixo! – Ela falou e eu sorri, pegando mais um pedaço e deslizando pela cozinha para a bancada.
- Você monta, ? – Giovanna perguntou, desligando a panela fumegante de molho vermelho.
- Claro! – Falei, seguindo para a bancada onde tinha quatro travessas grandes vazias.
Comecei a montar minha lasanha de prosciutto, mozzarella e manjericão com a massa fresca que a nonna havia feito e o molho a marinara que Giovanna havia feito só ouvindo os gritos vindo do pai e avô de Giulia. Parecia que a Espanha estava atacando mais, mas Gigi estava conseguindo segurá-los por mais tempo.
Boa parte da Nazionale era a mesma da Copa de 2006, mas parecia que eles não estavam com a mesma motivação que no Mondiale, o que era realmente preocupante, pensando que estávamos somente nas quartas ainda. Se conseguisse passar, tinha ainda dois jogos, imagina outros dois jogos assim? Ah, eu teria um ataque cardíaco antes de tudo.
Ok, eu aguentei bem uma final de Mondiale dentro do estádio com a minha Nazionale em campo e com meu... Namorado em campo? Não chegamos a oficializar nossa relação, mas ele era algo muito mais do que meu paquera ou meu peguete. Meu amor? Hum, não sei, mas vocês entenderam. Mas acho que se isso acontecesse com frequência, talvez eu tivesse um ataque cardíaco. E nem poderia falar se tem ou não o histórico na família, pois eu realmente não sei.
- Giulia chegou! – Fabrizio gritou.
- AH! – Eu e sua mãe gritamos, animadas e passei as mãos no short jeans e corri em direção a sala, vendo Giulia entrar com suas diversas bagagens.
- Meus fãs, eu cheguei! – Ela falou e eu neguei com a cabeça.
- Ah, é muito palhaça! – Seu pai falou, nos fazendo rir e Gianni e Pietro foram os primeiros a ir em sua direção.
- Ah, meus baixinhos, senti saudades. – Ela apertou os dois até eles fugirem de seu abraço e sua mãe foi em seguida.
- Ah, meu amor! Você está ótima! – Giulia sorriu e sua mãe segurou seu rosto. – Senti saudades.
- Eu também! – Giulia sorriu.
- Foram só três meses, que drama! – Falei e Giulia fez careta.
- Ah, eu senti sua falta, sua chata! – Ela veio em minha direção, me abraçando fortemente.
- Também senti! – A apertei, sacudindo-a de um lado para o outro e gargalhamos juntas. – Agora você é uma mulher superfamosa com mechas coloridas. – Passei as mãos em seus cabelos com as pontas azuis e amarelas.
- Em Roma as crianças já estão todas usando os cabelos assim, é loucura, amiga. Você não tem noção! – Ela falou, seguindo para abraçar seu pai.
- Você está no Le Iene, Giu. – Falei, colocando as mãos na cintura. – Está indo muito bem, por sinal. Eu vejo algumas coisas no jornal e você está se saindo muito bem.
- Eles estão gostando também, graças a Deus. – Ela falou, seguindo para seus avós. – Nonno! – Ela o abraçou sorrindo. – Vocês precisam ver, não é só fazer piadinhas e tal, é uma lo-o-onga pesquisa de pautas, para ver o que está acontecendo na Itália, talvez no mundo...
- Eu vi que vocês fizeram algumas coisas sobre a Euro. – Falei.
- Está um desastre, fala sério! – Ela falou, terminando a roda e olhou para a TV. – Como está, falando nisso? Saí da estação e estava começando a prorrogação.
- Na mesma. – Fabrizio falou. – Vai para pênalti agora.
- Ah, que raiva! – Falei alto.
- Relaxa. – Giulia falou mais baixo. – Meu cunhadinho está ali. – Ela falou e eu revirei os olhos. – Fala aí, Dom! – Ela esticou o polegar e ele a copiou, nos fazendo rir.
- Não é por causa disso... – Falei baixo para ela e ela ergueu os olhos. – Para! Eu já o esqueci, ok?!
- Uhum, sei! – Ela disse e eu a belisquei no braço. – AH! – Ela gritou e o pessoal nos olhou. – Saudades de vocês, família linda! – Ela disse e eu ri fracamente.
- Eu não tenho culpa se ele é o goleiro da nossa Nazionale! – Falei e ela ponderou com a cabeça.
- Que ele faça algo que preste ou eu tenho a piadinha pronta para amanhã! – Ela disse, cruzando os braços.
- Quanto tempo vai ficar aqui? – Perguntei.
- Uma semana. Eles deram uma semana para todo apresentador, por causa dos jogos que estão passando no nosso horário, aí acabaram dando uma para mim também, mas eu fiquei para agora. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Pelo menos podemos aproveitar. – A abracei de lado. – Eu só volto em duas semanas.
- Ah, ótimo! – Ela passou o braço pelo meu pescoço. – Vamos aproveitar! Eu vou roubar sua namorada por essa semana, Dom. Ok?! Ok! – Ela falou e ele riu fracamente.
- Você vai matá-lo do coração. – Falei, fazendo-a rir.
- Ele sobrevive. – Ela sussurrou.
- Chega de papo, vai começar! – Fabrizio falou.
Giulia correu até o sofá e se jogou nele, eu sentei no braço dele ao seu lado, sentindo-a me puxar pela cintura até eu encaixar no pequeno espaço vazio, fazendo seu pai ir um pouco para o lado.
Gigi começou defendendo e a Espanha chutando. Villa chutou e acertou, Grosso foi lá e deixou tudo igual. Cazorla acertou e Casillas defendeu a bomba de De Rossi da Roma. 1x2. Senna acertou e Camoranesi aproximou de novo. 2x3. Gigi defendeu de Güiza, deixando tudo igual, mas Casillas também defendeu de Di Natale, me fazendo apertar as mãos nos cabelos.
Era isso, se Fàbregas fizesse, era da Espanha.
Estava nos pés de Fàbregas ou nas mãos de Gigi. Não sabia o que era pior. Meu coração batia igual uma bomba em meu peito enquanto ambos se colocavam em seus lugares. Droga! No Mondiale tinha sido menos pior. Trezegeuet foi o único que havia errado o que já deu uma aliviada para nós italianos, mas aqui era competição de gigantes.
Todo mundo estava tenso na sala, segurando as mãos e rezando ou só com os olhos vidrados na televisão, com exceção de Dom, mas ele não era muito chegado a futebol, o que eu ainda não entendia com o seu pai fazendo parte dos acionistas majoritários do time.
O juiz apitou e o tempo parou. Fàbregas veio quase do meio campo para chutar essa bola e eu queria muito que ele conseguisse isolá-la, mas não, ele chutou do lado direito e Gigi caiu para o lado esquerdo, fazendo com que a mesma cena que eu vi na final do Mondiale se repetisse, mas ao invés de jogadores de azuis correndo, eram os de vermelho. E não eram nossos vermelhos, eram espanhóis.
- CAZZO! – Fabrizio gritou, jogando a almofada longe e eu soltei um longo suspiro.
- Bom, é isso. – Giulia falou, se levantando e eu suspirei.
- Vamos terminar de fazer a janta, já está tarde. – Giovanna falou e vi seu avô levantar e eu fiz o mesmo, vendo Dom vir em minha direção.
- Agora você pode dar atenção para mim de novo. – Ele falou, passando os braços pela minha cintura e eu fiz uma careta.
- Você é muito dramático! – Falei, sentindo-o dar um beijo em meu pescoço e ele riu fracamente.
- Ah, eu gosto de ficar pertinho de você. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Para me namorar, precisa gostar de futebol, Dom.
- Ah, prefiro outros esportes. Ciclismo, escalada... – Fiz uma careta.
- Não! – Falei, ouvindo-o rir.
- , vem cá! – Giulia gritou.
- Fica comigo! – Ele falou.
- Minha melhor amiga está aqui, amor. Eu preciso aproveitar. – Falei, me afastando dele e o vi soltar um suspiro antes de eu atravessar a porta para cozinha. – Vai, agora conta tudo! – Falei, vendo sua mãe finalizando as lasanhas.
- Ah, é muito legal! – Giulia falou, rindo. – Faz só três meses e o pessoal me reconhece nos lugares, o pessoal está usando meu cabelo. É muito louco! – Ela falou, gargalhando.
- Aqui a gente ouve muito o seu bordão! – Giovanna falou.
- “Calma, mas não é bem assim”. – Eu e sua avó falamos juntas, imitando seu tom de voz.
- Pior que acabou sendo muito automático. – Giulia gargalhou. – Começou numa pegadinha de política, é hilário ver as caras desses políticos corruptos. – Rimos juntos.
- É muito bom! – Sua nonna falou, gargalhando.
- Eu falei que ia dar certo. – Dei um soco no balcão, ouvindo-a gargalhar.
- Não sei nem como te agradecer por isso. – Ela disse e eu neguei com a cabeça.
- Só fico feliz por você, minha amiga! – Sorrimos juntas e ela esticou a mão para mim e eu segurei.
- Quando você for alguém superimportante no time, me deixa entrevistar você? – Ela perguntou e rimos juntas.
- Você não está com pressa, né?! – Falei, ouvindo-a rir.
- Não, mas preciso me antecipar, você é a pessoa mais próxima da área de jogadores importantes. – Neguei com a cabeça.
- Pede para o seu pai. – Falei.
- Eu disse importantes. – Ela falou, me fazendo gargalhar.
- EI! – Seu pai reclamou, nos fazendo rir.
- Não posso nem negar, tio. – Falei, fazendo uma careta e Giulia riu fracamente com a careta de seu pai.
- E então? – Giulia perguntou, animada.
- Bom, vai demorar muito tempo, não é mesmo? – Rimos juntos.
- Sim! – Ela falou e eu ponderei com a cabeça.
- Não mesmo! – Falei, ouvindo-a gargalhar. – Você vai querer me zoar demais, pelo amor de Deus!
- Eu me comporto.
- Não! – Falei firme.
- Tudo bem, até lá você pensa! Posso ir atrás do Gigli ou do seu chefe! – Ela falou.
- Fique à vontade, só não conte comigo para ter o telefone deles. – Rimos juntos.
- Espere você dormir. – Ela falou e eu franzi os olhos.
- Vocês jogam sujo, eu sei, mas não para cima da sua amiga, né? – Ela me olhou, dando um sorriso sarcástico.
- Quem sabe? – Ela falou e eu neguei com a cabeça.
- Se cuida, , essa daí vai fazer da sua vida um inferno. – Seu nonno falou.
- Já faz, não?! – Falei e senti algo bater em meu rosto. – Ai! – Reclamei, vendo que era um pedaço de massa fresca.
- Eu dormiria com um olho aberto se fosse você. – Giulia falou e eu franzi os olhos.
- Não é só você que sabe aprontar, viu? – Falei e ela gargalhou.
- Sei bem! – Ela disse, esticando a mão para mim e eu bati, sorrindo.

Lui
11 de julho de 2008

- Temos muitos fãs aqui hoje, vamos fazer algo legal para eles! – Claudio falou e assentimos com a cabeça, pegando minhas luvas no meu espaço no vestiário. – Começaremos com um treino leve só para dar uma aquecida, depois faremos 90 minutos de jogo contra o time da região. É um amistoso, para começar a temporada bem calmos, bem relaxados. Alguns voltaram de compromissos internacionais, então não vamos exagerar logo no primeiro dia. – Ele falou, nos fazendo rir.
- Giusto! – Falamos juntos.
- Podem ir lá! – Ele disse.
- Andiamo, ragazzi! – Del Piero liderou o grupo e o pessoal saiu.
Assim que seguimos para o campo, os torcedores começaram a gritar. Estávamos em Pinzolo, na região de Trentino, há umas quatro horas de Turim, com menos de quatro mil habitantes. Foi aqui que eles decidiram fazer o primeiro jogo da pré-temporada. O local era muito bonito, rodeado de montanhas com os picos cheios de neve, mesmo estando em julho.
O local não era muito apropriado para receber um time de futebol, quiçá um jogo. Estávamos em um resort e o campo havia sido improvisado no parque da cidade, em frente a esse resort. As arquibancadas, talvez improvisadas, estavam apinhadas de gente, inclusive as laterais que nos separavam com grades.
- Por que pararam? – Perguntei, parando entre Pavel e Trezeguet, calçando as luvas.
- O top cinco veio! – Del Piero falou ao lado de Pavel e ergui o olhar para onde ele indicou e vi um grupinho de pessoas engravatadas andando na lateral do campo enquanto conversava com Ranieri, nosso técnico.
- Como começar a temporada bem. – Chiellini falou ironicamente e neguei com a cabeça.
- Sonho de todo jogador. – Camoranesi falou.
- Já não ganhamos ano passado, agora vai ser na guia curta. – Suspirei.
- Mas a temporada nem começou e vocês já estão reclamando? – Ouvimos uma voz feminina e viramos o rosto para trás.
- ! – Falamos, surpresos.
- Ciao, ragazzi! – Ela falou, passando um por um de nós seis, dando um rápido beijo na bochecha e sorri com o feito.
- O que está fazendo aqui? – Del Piero perguntou rapidamente.
- Não é óbvio? – Ela indicou a cabeça para o lado direito e vi os engravatados. – Mas a pressão não é só em cima de vocês, ele está levando a contabilidade para tudo quanto é lugar. Perdemos o Lorenzo essa temporada e estamos com três coordenadores e quatro estagiários, está uma bagunça. Eu acabo viajando sempre por não ter filhos. – Ela deu de ombros.
- Pelo menos você está com a gente. – Camoranesi a abraçou de lado.
- Tem sempre uma vantagem. – Ela deu de ombros. – Sei que se precisar de algo, eles vão pedir para mim. Isso é muito bom na minha carreira. – Rimos juntos.
- Então, quais as novidades? – Trezeguet perguntou.
- Em que sentido? – Ela perguntou.
- Elenco. – Ele falou e ela arregalou os olhos alguns segundos antes de relaxar o rosto.
- Beh... – Ela ponderou com a cabeça. – Ranieri pediu a volta do meio-campista Marchisio... – Ela indicou a mão para um loiro. – Se lembram dele da Série B?
- Sim... – Falamos juntos.
- Pediu a volta do Giovinco também. – Ela apontou para o baixinho. – Atacante. Acho que não tiveram experiência com ele.
- Acho que não. – Comentei.
- Teve um ótimo desempenho no Empoli. – Ela deu de ombros. – Aí eles estão de olho no Immobile e no Pinsoglio do Primavera... – Ela ficou em silêncio por um momento. – Na verdade, eles estão de olho nos 26 jogadores do Primavera, mas eles falaram mais desses dois. – Rimos juntos.
- Posições? – Del Piero perguntou.
- Atacante e goleiro. – Ela falou e eu e Del Piero confirmamos com a cabeça. – Mas tem mais gente, são 31 jogadores entre entradas e saídas, sem contar os do Primavera. – Ela suspirou.
- Sim, mudou bastante, vocês trouxeram o Amauri... – Pavel falou.
- Confesso que não conheço muito ele, mas veio do Palermo. Preciso dizer que o Palermo está fazendo um ótimo trabalho com jogadores, o nome de quase todos estão nas pesquisas. – Rimos juntos.
- Sabe quem você poderia ver do Palermo? – Del Piero virou para ela. – Bom, ele não está no Palermo mais, mas estava até a última temporada.
- Quem? – Ela perguntou.
- Barzagli. – Ele falou e ela pareceu pensar rapidamente.
- O nome não me é estranho. – Ela suspirou.
- Campeão da Copa do Mundo com a gente, defesa. – Ela arregalou os olhos rapidamente, abanando a cabeça em seguida.
- Não sei. Acho que não me lembro. – Franzi os olhos, desconfiado.
- Certeza? – Perguntei.
- Deve ser da Copa, vai saber... – Ela deu de ombros, se virando para Alex. – Eu posso jogar o nome dele para Giorgio, mas eu não tenho autonomia nenhuma para isso. – Falei.
- Ainda! – Del Piero falou.
- Ainda! – Ela sorriu. – Estou fazendo uma pós-graduação focada no mercado esportivo, espero que isso me ajuda um pouco a ter esse tipo de visão, é tudo um pouco nebuloso para mim ainda. Achar a pessoa boa e visualizar o futuro não é muito comigo. Também não acho que se o jogador está mal, é algo geral, são coisas que dá para consertar. – Ela deu de ombros. – Ambiente pessoal, motivação interna, a lista é enorme.
- É, mas o pessoal só vê o dinheiro. – Trezeguet falou e ela suspirou.
- É, pior que como contadora e investidora, nem posso discordar. Tudo é sobre o dinheiro, meu amigo francês. – Ela mordeu o lábio inferior bem pintado de rosa.
- Falando em amigo francês, você soube das novidades? – Virei para ela.
- O quê? – Ela virou o rosto para mim, erguendo um pouco o pescoço, já que ela não estava de salto.
- O Lilian se aposentou. – Falei.
- O QUÊ? – Ela gritou, colocando as mãos na boca em seguida. – Como assim? – Ela se aproximou de mim. – Qual a idade dele?
- 36. – Falei e ela ponderou com a cabeça.
- Não tão novo, mas, mesmo assim, ele foi tão bem no Barcelona. – Ela falou.
- É, e ele estava para fechar um contrato com o Paris Saint-German, mas ele foi diagnosticado com um problema no coração. – Trezeguet falou.
- O mesmo que matou sua mãe e seu irmão. – Finalizei.
- Ah, mentira! – Ela fez um bico, soltando um longo suspiro. – Ah, que pena. Bom, que bom que descobriram logo, mas que chato. Fiquei triste. – Ela relaxou os ombros. – Gostava tanto dele, não falo com ele desde que ele saiu do time.
- Posso passar o telefone dele se você quiser. – Falei.
- Nossa, por favor. Saudade dele, da Karine, dos meninos... – Ela deu um pequeno sorriso. – Vocês o encontraram na Eurocopa, não?! – Ela falou.
- Sim, mas ele não jogou contra a gente. – Falei e ela confirmou com a cabeça.
- Ah, parabéns pela braçadeira de capitão. – Ela sorriu para mim. – Eu sei que você já foi capitão da Juve em algumas ausências do Del Piero, mas nunca em um jogo que eu vi. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- É, o Fabio se lesionou, aí eu fui. – Ela assentiu com a cabeça.
- Bem legal! – Rimos juntos.
- Ah, e você ficou na equipe da Euro da FIFA, né?! – Ela falou e eu assenti com a cabeça. – Sua prateleira já deve estar cheia de prêmios. – Sorri, assentindo com a cabeça. – E Del Piero também, nem te parabenizei sobre o Golden Foot.
- Grazie! – Ele sorriu, rindo fracamente. – Esse foi bem legal ganhar. – Ela sorriu.
- Vocês vão acumulando prêmios individuais ou em grupo, eu vou acumulando especializações, promoções, idiomas e vamos tentar reerguer esse time. – Ela deu de ombros e rimos juntos.
- Assim que é bom! – Pavel falou esticando a mão e ela bateu na dele.
- Eu não quero ser enxerida, mas vocês não precisam treinar? – Ela apontou para o campo.
- Ah! – Del Piero falou, nos fazendo rir.
- A gente se fala depois. – Trezeguet falou.
- Eu não tenho como ir embora, então eu estarei aqui! – Ela fez sinal giratório com o dedo e sorrimos.
- Até mais! – Eles falaram e eu sorri, seguindo atrás deles.
- Ah, ! – Virei para ela, vendo que ela não tinha saído do seu lugar.
- O quê? – Ela perguntou, olhando para mim. – É sobre as férias, né?! – Ela franziu os lábios. – Espero que não tenha ficado muito chato para você comigo aparecendo lá, super íntima da sua mãe e suas irmãs e...
- Hum? – Franzi a testa.
- Não é sobre isso?
- Não, mas nem se preocupa com isso. A Alena não é exatamente o tipo de pessoa desconfiada e você fez o Louis ficar quieto por quase quatro horas, ela aproveitou o descanso. – Rimos juntos. – Você tem jeito com crianças.
- Ele é lindo, Gigi. – Ela suspirou. – Nem parece que é seu filho. – Ela me empurrou pelos ombros e eu ri fracamente.
- Seu namorado não parece que gostou muito. – Ela deu de ombros.
- E eu lá sou mulher de me preocupar com o que meu namorado gosta ou não gosta que eu faça? – Ela pressionou os lábios e arqueou uma sobrancelha.
- Que eu saiba não. – Ela abriu um largo sorriso.
- Você não teve todo o sermão, mas eu tive. Não contei a parte que ficamos juntos, mas falei que conheci sua família em uma festa de Natal do time.
- Não mentiu. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Omitir não é mentir, certo? – Rimos juntos. – Agora, me diga, o que você queria falar comigo? – Ela cruzou os braços.
- Somos obrigados a notificar o time de toda oferta nova, certo?
- Você teve uma? – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Da Inglaterra.
- Manchester City? – Ela perguntou.
- Como sabe? – Perguntei.
- Eles estão sondando a gente faz um tempo, não especificamente sobre você, mas no geral. Imaginei que acabaria chegando em você, no Del Piero ou do Trezeguet. – Ela suspirou. – Quanto? – Ela perguntou.
- 75 milhões. – Ela arregalou os olhos.
- Cazzo! – Ela falou, levando a mão até a testa. – Isso é mais do que a gente te comprou e sua valorização de mercado não subiu tanto essa temporada. – Ela suspirou.
- Eu queria saber o que eu faço. – Ela engoliu em seco.
- Bom, eu tenho duas coisas para te falar, a primeira é: parabéns! – Rimos juntos.
- Grazie.
- Sério, Gigi, se isso realmente for para valer, isso é muito bom! – Ela apoiou uma mão no meu ombro. – Real! É algo sensacional, fora da realidade. Só prova como você é incrível. – Ela franziu as bochechas e sabia que ela estava envergonhada. – Mas isso eu já sabia. – Ela deu de ombros, me fazendo rir. – Agora você tem que decidir se você quer ir. Se existe essa chance. Claro que só na janela de inverno, porque agora já fechou, mas é algo a se cogitar.
- Honestamente, eu não sei. – Suspirei.
- Beh, eu posso te adiantar que se você realmente decidir ir, a Juve vai te fazer somente uma pergunta. – Ela falou.
- Qual? – Perguntei.
- O que podemos fazer para te segurar? – Ela disse, dando um pequeno sorriso e eu assenti com a cabeça. – E estou falando sério, seu nome passa muito longe das potenciais vendas. – Ela franziu os lábios, mordendo o lábio inferior. – Giorgio não vai te liberar fácil, ainda mais com um contrato até 2012, se eu não me engano.
- É sim. – Ela assentiu com a cabeça. – Eu não sei, honestamente, estamos bem em casa, sabe? O Louis tem só sete meses, se mudar agora seria loucura, mas não é uma oferta para ignorar.
- Beh, Gigi, é uma decisão que você vai precisar tomar, aí com isso a gente consegue jogar uma contraoferta para você. Salários melhores, bônus por conquistas... – Ela deu de ombros. – Só te indico a ir bem, pois isso vai diferenciar no: vamos lutar por você ou vamos te vender. A Euro não foi exatamente muito boa, então vamos levar em conta que estamos começando em baixa. – Rimos juntos.
- Valeu, . – Ela assentiu com a cabeça.
- Ah, acho que você está na lista dos que não tem preço para venda, então vai ser difícil se eles realmente quiserem te tirar de nós. E não é sendo malvada, não, mas a gente ainda sabe valorizar nossas lendas. – Sorri.
- Bom saber disso. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Agora vai lá antes que o Ranieri te puxe a força. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Até mais.
- Até! – Ela sorriu, acenando com a mão e segui em direção ao treinador de goleiros.
Segui para começar a fazer meus alongamentos e alguns poucos aquecimentos com posse de bola para o primeiro amistoso da temporada contra o AC Mezzocorona, um jogo que surpreendentemente acabaria em 7x1, com cinco gols do Amauri, o novato brasileiro.

Lei
Sete de novembro de 2008

Dom abriu a porta e eu saí do carro, dando um sorriso e ele esticou a mão. Caminhamos junto de mãos dadas em direção ao prédio administrativo do time e apertei o casaco contra meu corpo. Acenei para outras pessoas e ouvi os saltos da bota baterem contra a mudança de piso e caminhamos até o salão que costumava ser o coquetel após as reuniões dos acionistas.
Entramos e vi que hoje diversas cadeiras estavam dispostas, viradas para o palco. Vi alguns rostos conhecidos, mas também reconheci alguns jogadores. Era óbvio que eles não deixariam os jogadores de fora, pelo menos não desse anúncio tão importante. Acenei para Chiellini e Amauri e segui com Dom até uma das cadeiras mais à frente.
- . – Meu chefe falou, sorrindo.
- Oi, Giorgio, tudo bem? – O cumprimentei rapidamente e depois Angelo e Claudio que estavam perto dele.
- Dom! Como está? – Ele cumprimentou meu namorado e sorrimos. – Empolgada?
- Muito, senhor. – Sorri e ele assentiu com a cabeça.
- Aqui começa nosso novo lar. – Ele sorriu.
- Vai ser ótimo. – Ele assentiu com a cabeça.
- Nos encontramos depois? – Ele falou.
- Claro! – Disse e ele seguiu para cumprimentar outras pessoas.
- Eu vou cumprimentar meu pai. – Dom falou.
- Eu estarei aqui com os meninos. – Falei, vendo Dom sair e segui com Angelo e Claudio até as cadeiras vazias e nos sentamos lado a lado.
Chequei o relógio, vendo que estava cada vez mais próximo das oito e vi as cadeiras sendo rapidamente preenchidas. Olhei para trás, vendo alguns repórteres esportivos e reconheci também o quinteto especial: Gigi, Alex, Pavel, Trezeguet e Camoranesi. Todos sozinhos. É, imaginei que ninguém chegaria com suas esposas ou não caberia ali.
- Buona notte, ragazzi! – Vi Gigli subir no palco. – Vamos tomar seus lugares, pois já vamos começar. – Ele falou e Dom apareceu ao meu lado.
- Ei, bella! – Ele falou e eu sorri, segurando sua mão e apoiando em meu colo.
Observei o top cinco subir ao palco e olhei rapidamente para trás, vendo que poucas pessoas estavam em pé. Suspirei, empolgada com esse momento que eu estava esperando desde que Giorgio me chamou para acompanhar a reunião de compra do Delle Alpi. Agora ele estava quase inteiro no chão e podíamos começar a falar do futuro Juventus Stadium.
- Vamos começar, pessoal! – Gigli falou. – Hoje estamos aqui para anunciar algo que é esperado desde 2002. O nosso estádio, o nosso lar! – Ele falou e aplaudimos. – Para apresentar esse projeto incrível, quero chamar aqui Giorgio Bianchi, nosso diretor de contabilidade. – Giorgio sorriu, pegando o microfone de Gigli.
- Eu sou Giorgio, diretor de contabilidade da Juventus há quase 30 anos. E desde os meus primeiros dias aqui no time, sempre foi um sonho um lar para nós. Foi falado, conversado, discutido... Um estádio com nosso nome, nossa marca, nossas cores e é isso que eu venho apresentar para vocês hoje... – A tela atrás dele mudou e mostrou o projeto do estádio feito pelo arquiteto, me fazendo sorrir. – O futuro da Juventus.
“Começamos falando do passado. Em 2002, nós compramos da prefeitura de Turim o Stadio Delle Alpi, estádio que usamos desde 1990, por 25 milhões de euros. Pensando que já faz quase sete anos daquela compra, vemos o quanto nós conseguimos evoluir. Tivemos pontos altos do nosso time, pontos em baixa, mas estamos conseguindo manter nosso plano de 20 anos de expansão da nostra squadra bianconera”.
“Depois da compra do Delle Alpi, nossos jogos passaram para o Stadio Olimpico e, em 2006, começamos o trabalho de demolição, com um estádio daquele tamanho, sabíamos que não seria algo rápido ou fácil, todos os funcionários e jogadores participaram desse momento tão importante. Conquistamos muitos prêmios lá, foram 16 temporadas jogadas lá, vitórias, perdas, scudetti, Coppa Italia, Europa League, Champions League, Super Copas, é difícil colocar nos dedos cada gol, cada grande defesa, cada grande momento naquele estádio. Só que, infelizmente, como toda boa história, essa precisou acabar. Finalizamos de uma forma doce amarga, com um scudetto que foi tirado de nós, mas foi lutado e suado até ser conquistado”.
Todos os convidados e jogadores começaram a gritar com essa fala dele, me fazendo arregalar os olhos, surpresa. Ele não estava mentindo, mas adorei a afrontada que ele havia dado, principalmente com a presença em peso presente. Giorgio estaria na capa de todos os jornais esportivos amanhã. Era certeza.
“Ano que vem finalizaremos a demolição do Delle Alpi e nossa nova casa começará a ser construída. O Juventus Stadium não será só nosso novo lar, ele será um grande orgulho para todos nós. Um projeto avaliado em 155 milhões de euros. Um complexo com 41 mil assentos incluindo três mil e 600 assentos modernos, 64 camarotes exclusivos, clubes para torcedores e jogadores com televisores de LCD, restaurantes, bares, lounges, estacionamentos e acesso exclusivos. Tudo isso estará aberto fora do horário de jogo, 24 horas por dia, com profissionais capacitados para atender qualquer convidado perfeitamente.”
“Nosso complexo também contará com visita guiada pelo estádio e por outras facilidades do complexo. Irão conhecer como os jogadores chegarão ao estádio, conhecerão todos os caminhos escondidos, irão ao vestiário, poderão tirar foto no campo e conhecer nossa história no futuro museu. Além disso, eles também poderão passear pelo shopping, com planejamento para 60 lojas, dois bares, três restaurantes, um hipermercado, além da maior Juventus Store que vocês já viram, com 550 metros quadrados, será a maior loja de materiais esportivos do país. O shopping também contará com duas mil vagas de estacionamento, sendo 800 delas cobertas”.
“Já que citei o museu, vamos falar dele! Pela primeira vez na história desse país, seremos o primeiro time a ter um estádio com o seu nome, e já que estamos falando em fazer as coisas pela primeira vez, teremos um museu dedicado a todos esses 111 anos, todos os 111 anos que conquistamos e fizemos coisas magníficas e de todos os anos que virão a seguir. Lá estarão todos os nossos prêmios, rosto de todos os nossos notáveis jogadores e suas conquistas pessoais.”
“Nesse complexo, também teremos o nosso centro médico. Não um centro médico somente para o atendimento de nossos jogadores, exames de rotinas e possíveis lesões. Será um centro médico aberto para o público. Em parceria com o Grupo Santa Clara, qualquer cidadão de Turim poderá fazer seus exames de rotinas, como seus tratamentos de fisioterapia, psicologia e outras diversas especialidades em nosso estádio. Com o planejamento de 3500 metros quadrados, queremos que todos tenham o maior conforto e um melhor acesso a saúde”.
“Vocês querem mais? Eu dou mais para você. A área em volta do estádio, em breve será adquirida pela nossa equipe, os 148.700 metros quadrados em volta do estádio. Temos como planejamento transferir toda área administrativa nossa para lá perto, será um espaço totalmente renovado para nossos mais de 200 funcionários de todas as áreas. Além disso, temos parceria para a construção do primeiro hotel totalmente com a nossa cara, que será aberto ao público, mas também será o lar de nossos jogadores antes de jogos importantes ou após viagens cansativas”.
“Além disso, também teremos o novo CT da Juventus. O CT da squadra principal masculina. Será um espaço com quatro campos de treinamento com gramados naturais, vestiários, salas para equipe técnica, staff e equipe de comunicação, sala de fisioterapia, academia nova e remodelada, piscinas de treino e tratamento, um centro de mídia com espaço para 400 convidados assistirem aos jogos, salas de reuniões técnicas e de vídeo, estúdios de televisão e transmissão, sala para a imprensa com 30 assentos para jornalistas, 30 espaços para cinegrafistas e uma área especial para os patrocinadores. Deixando Vinovo exclusivo para nossas escolinhas de futebol e sub.”.
Meus olhos se enchiam de lágrimas conforme ele mostrava as maquetes e vídeos com os planejamentos, eu ficava cada vez mais emocionada. Era sensacional. Nós falávamos desse projeto desde 2002, mas ver a apresentação, as maquetes e tudo mais, me deixava cada vez mais feliz. Eu queria ver tudo isso. Queria ser igual Giorgio e ficar 30 anos aqui no time para ver tudo isso pronto. Eu estava feliz demais, emotiva demais, se fosse possível ficar mais.
- Não estou falando somente de um estádio, estou falando de um projeto que começou em 2002 e tem como planejamento finalizar somente em 2022. Serão diversas datas com diferentes planos de inaugurações, estádio, museu, CT, hotel, entre outros, mas voltando ao que importa inicialmente, nossos planos iniciais são que nossa nova casa esteja pronta para a temporada de 2011.
Giorgio seguiu com a apresentação, compartilhando mais detalhes sobre a construção e seguiu com uma coletiva de imprensa para responder dúvidas sobre a apresentação e o projeto, alongando cerca de 30 minutos e depois liberou todos para um coquetel. Levantei junto de Domenico, abraçando empolgada Angelo e Claudio e nos separamos para falar com as outras pessoas mais curiosas do que nós.
- Eu vou falar com o presidente. – Dom falou.
- Eu vou pegar alguma coisa para beber. – Falei e ele assentiu com a cabeça, dando um curto beijo em meus lábios e sorri, seguindo para o fundo do salão.
Após as cadeiras, uma parte do salão estava vazia com algumas mesas altas para apoio e dois bares, um de cada lado. Atravessei as pessoas e peguei uma garrafa de água, já era quase dez horas e eu não sabia se Dom ia beber e eu nunca pagava para ver.
- Na água hoje? – Vi Gigi apoiado em uma mesa e assenti com a cabeça.
- Volante e bebida não combina para mim. – Falei, dando um gole na garrafa e ele assentiu com a cabeça.
- Imagino o porquê. – Ele falou e assenti com a cabeça.
- É por causa disso mesmo. – Apoiei a garrafa na mesa dele.
- Que apresentação, hein?! – Ri fracamente.
- Gostou?
- É fascinante pensar nisso tudo. – Ele disse. – Só o estádio já me deixou de boca aberta, com o restante das coisas eu não tinha mais boca para abrir. – Sorri.
- Pois é. O projeto é sensacional, espero estar aqui para ver tudo. – Suspirei.
- Eu também. – Ele disse e eu assenti com a cabeça, vendo-o um pouco travado com a perna.
- Soube da sua lesão, como está? – Ele suspirou.
- Ah... – Ele ponderou com a cabeça. – Lesão na coxa direita, três meses fora, devo voltar só em janeiro. – Assenti com a cabeça.
- Você parece um pinguim. – Brinquei, ouvindo-o rir.
- Tipo isso, não é um lugar muito fácil. – Sorriu.
- E como você está com tudo? Psicologicamente? – Perguntei. – Lembro como ficou na última vez.
- Eu estou bem. – Ele assentiu com a cabeça, dando um gole em sua bebida. – Minha mente está mais preparada para isso. Daquela vez foi uma sequência de coisas e...
- Que bom! – Sorri. – Você não precisa me dar detalhes. – Ele pressionou os lábios, confirmando com a cabeça e voltei meu olhar para a imagem do estádio no telão.
- Feliz aniversário atrasado. – Ele disse e desviei o olhar para ele rapidamente. – Não esqueço mais. – Ri fracamente.
- Grazie. – Sorri. – Parabéns também... – Ele franziu a testa. – Soube do seu livro.
- Ah, isso... – Ele riu fracamente. – Um autor ligou querendo escrever minha história e o pessoal achou que seria uma boa.
- Eu posso ler? – Perguntei e ele soltou um longo suspiro. – Acho que isso é um não.
- Eu não cito você. – Ele falou e eu assenti com a cabeça. – Achei que deveria guardar algumas coisas para mim.
- É bom mesmo... – Engoli em seco. – Você é famoso, eu trabalho no time, faço parte dos acionistas... – Pressionei o lábio inferior, tentando esconder minha felicidade. – É complicado.
- É... – Ele falou, bebendo mais um gole e eu fiz o mesmo com a minha água. – É mais sobre futebol, desde que eu era pequeno, um pouco sobre Alena e...
- Sem problemas, Gigi. – Dei um pequeno sorriso. – Falou sobre sua depressão?
- Não com essas palavras. – Ele falou. – Só mencionei alguns momentos difíceis durante as minhas lesões de 2005. – Confirmei com a cabeça.
- Beh, acho que não preciso ler, então. – Virei o rosto para ele. – Sei mais do que está no livro. – Ele deu um pequeno sorriso.
- Com certeza. – Ele falou e eu engoli em seco, virando para o lado, vendo os jogadores e acionistas conversando em pequenas rodinhas.
- Eu tenho que ir, quero parabenizar Giorgio pela apresentação. – Falei, pegando a garrafa na mesa.
- Tudo bem. – Ele assentiu com a cabeça. – Foi bom te ver.
- Você também. – Assenti com a cabeça.
- Parabéns pelo projeto, está incrível. – Pressionei os lábios.
- É, está! – Sorri, acenando rapidamente com a mão e segui a passos rápidos para perto de Domenico, ouvindo os saltos baterem contra o piso. Passei o braço pela cintura de Domenico quando me aproximei.
- Ei, bella. – Ele falou, sorrindo, dando um beijo em minha bochecha.
- Ei. – Sorri.
- Você estava chorando? – Ele levou o dedo até a lateral de meus olhos, secando-os e eu abanei a cabeça, passando as mãos mais firmes nela.
- É o sono, comecei a lacrimejar na reunião já. – Suspirei. – Trabalhei o dia inteiro, né?!
- Logo vamos. – Ele falou, me dando um beijo na bochecha e eu assenti com a cabeça, tentando engolir as lágrimas para dentro.

Lui
14 de dezembro de 2008

Desci do carro, sentindo o vento forte bater em meu rosto e joguei os cabelos para atrás da orelha. Ergui a gola, tentando cobrir mais o pescoço e fechei o carro, colocando a chave dentro do bolso do casaco. Caminhei pelo estacionamento privativo, vendo diversas pessoas andando em direção à entrada VIP do estádio e fiz o mesmo, parando atrás da pequena fila para retirada do ingresso.
- Gianluigi Buffon. – O atendente falou e eu assenti com a cabeça.
- Buona notte. – Sorri, me apoiando na cabine.
- Aqui está! – Ele me entregou uma pulseira amarela e eu assenti com a cabeça.
- Grazie. – Sorri, me afastando, esbarrando na pessoa de trás. – Scusa! – Falei.
- Você não. – Ergui o rosto, vendo atrás de mim.
- Ei, ! – Ela sorriu e me afastei da fila, vendo-a apoiar na cabine.
- Ciao, Rony. – Ela falou.
- Ciao, ! Já esperava você aqui. – Ele falou, animado e ela pegou sua pulseira.
- Grazie. Bom jogo. – Ela saiu da fila.
- Para você também. – Ela disse, vindo em minha direção.
- Veio sozinha hoje? – Perguntei, vendo-a parar em minha frente.
- Ah, Giulia não vai ter férias esse ano, Dom não é muito chegado em futebol e não achei que seria uma boa trazer os gêmeos para o jogo. – Ela falou, rindo fracamente e colocou a pulseira em seu punho, ajudando com o corpo a colar as duas pontas.
- Seu namorado é estranho. – Falei e ela ergueu o rosto.
- Não vejo Alena contigo também. – Ela deu de ombros.
- A Alena não é acionista do time. – Falei.
- As pessoas são diferentes. – Ela falou. – Quer ajuda? – Ela apontou para a pulseira.
- Ah, por favor. – Falei, esticando para ela e fiz o mesmo com o braço, ela afastou as pulseiras que eu tenho no braço e colou a pulseira rapidamente. – Você está vendo frequentemente aos jogos? – Perguntei.
- Só os principais. – Ela ajeitou a bolsa no ombro e seguimos lado a lado até a entrada para o Olimpico. – Eu vim contra a Roma no dia do meu aniversário, a Giulia fugiu dois dias para passar comigo... – Sorri. – E vim contra o Torino com o pai da Giulia.
- Ele torce para o Torino, não é?! – Perguntei.
- Sim, ficou no 1x0, mas eu adoro provocá-lo. – Rimos juntos. – Mas não podia perder Juve e Milan, né?!
- Nem eu! – Falei e mostramos nossas pulseiras para entrar. – Eu estou vindo em todos os jogos aqui em casa para dar um apoio ao time, é legal ter outra expectativa do jogo.
- O Manninger tem ido bem, mas ele não é você. – Ela falou e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Logo eu volto. – Falei, pressionando os lábios e ela assentiu com a cabeça.
- A gente vê depois. – Ela disse, seguindo para outra direção.
- Ei, aonde você vai? – Perguntei rapidamente.
- Eu não fico nos camarotes, eu vou lá para as arquibancadas. – Ela falou, apontando para o outro lado.
- Ah, eu não posso ir lá. – Falei.
- É, não seria uma coisa muito boa. Tiraria o foco do jogo. – Rimos juntos.
- Você pode ficar aqui em cima? – Perguntei.
- Posso, mas lá embaixo é bem mais legal. – Ela deu de ombros. – Os torcedores enlouquecem. – Ela riu.
- Estaria disposta a fazer uma exceção hoje? – Perguntei.
- Ver o jogo com você? – Assenti com a cabeça. – Eu surto um pouco vendo o jogo, não é uma imagem bonita para um camarote.
- Estamos em um jogo, não em um jantar. – Falei e ela ponderou com a cabeça.
- Ok, mas se me expulsarem, a culpa é sua! – Ela falou e ri fracamente, seguindo em direção para o outro corredor.
- Confesso que estou curioso para ver você em um jogo. – Comentei.
- Por quê? – Ela riu.
- Quando nos conhecemos você não sabia nada de futebol, . – Ela sorriu.
- Bom, mas isso já faz sete anos e meio, Gigi. As coisas mudam. – Assenti com a cabeça. – Consigo fazer até apostas se eu quiser.
- E não faz? – Perguntei.
- Eu tenho trauma de apostas, Gigi, caso não se lembre. – Pressionei os lábios. – Eu sou um pouco importante na minha área, não quero me queimar. – Ela falou.
- Você não tem ideia como eu fico feliz em ouvir isso. – Falei, apontando para a entrada e deixei-a entrar na frente.
- A equipe mudou muito no último semestre, estamos em três coordenadores, mais sete estagiários, então estamos equilibrando bem. – Sorri.
- Isso é muito bom. Alguma mulher para te fazer companhia? – Perguntei.
- Uma. – Ela revirou os olhos. – É um começo.
- Você começou isso. – Falei e ela ponderou com a cabeça.
- Se eles soubessem quantas mulheres gostam de futebol... E não só pelos jogadores. – Ela revirou os olhos.
- Se você quiser beber ou comer algo. – Apontei para o bar. – Tem algumas coisas a mais do que lá embaixo.
- Já sou feliz com pipoca e amendoim, imagina com uma pizza a essa hora. – Ela disse, me fazendo rir.
- Quer? – Perguntei.
- Depois eu pego, comi antes de vir. – Ela disse.
- Vem cá, então. – Chamei-a com a mão e segui para fora do estádio, sentindo o vento sacudir meus cabelos de novo.
- Gigi! – Vi alguns acionistas me cumprimentarem e passei por eles, tentando não dar muita importância.
- Ciao, ciao! – Falei, sorrindo e indiquei para dois lugares vagos e ela se sentou na poltrona da esquerda e me coloquei ao seu lado.
Observei-a abrir o casaco, deixando aparecer sua blusa da Juventus e prender os cabelos soltos com uma presilha para trás, pois eles também sacudiam devido ao vento. Ela observou rapidamente tudo em volta e colocou as mãos dentro do casaco.
- Então, como vai passar o fim do ano? – Perguntei e ela virou para mim.
- Vou passar o Natal com a família da Giulia, depois vou para Portugal com o Dom. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- E ele... – Arranhei a garganta. – Ele te faz feliz?
- Estamos juntos há um ano, se não fizesse, posso te garantir que não estaria mais com ele. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Que bom. – Pressionei os lábios em um sorriso e engoli em seco.
- E você? – Ela retribuiu.
- Vou para Riccione, ficar com a minha família. – Ela assentiu com a cabeça. – Minhas irmãs estão com algumas ideias de expansão do clube, então vamos discutir.
- Isso é legal. – Ela sorriu. – Você precisa voltar cem por cento para a próxima temporada. – Assenti com a cabeça.
- É, vamos começar 2009 com o pé direito. – Ela confirmou com a cabeça. – E Giulia? Como ela está? Eu a vi no Le Iene esses dias. – Rimos juntos.
- Ah, ela está adorando, ela caiu muito bem lá. – negou com a cabeça. – Ah, é engraçado. – Ela suspirou.
- Eu fui no shopping esses dias e tem muita gente usando o cabelo colorido dela.
- Sim! – Ela riu fracamente. – Quem diria que a Giulia ia ditar moda.
- A dona da pegadinha. – Falei. – Não vou deixar meu filho assisti-la, ela é uma péssima influência. – gargalhou.
- O Louis não tem nem um ano, Gigi, aposto que terá outras crianças para tentar imitar as pegadinhas dela antes dele.
- Ela é um perigo. – Falei.
- Isso eu não posso negar. – Rimos juntos. – Eles estão entrando! – Ela falou, endireitando o corpo na poltrona.
Entramos com Manninger, Grygera, Chiellini, Molinaro, Marchionni, Sissoko, Marchisio, Pavel, Alex e Amauri, mas o outro time estava minado também. Nosso antigo goleiro Abbiatti, Zambrotta, Maldini, meu parceiro de Nazionale Pirlo, os brasileiros Emerson que também jogou com a gente, Ronaldinho e Pato, além de Seedorf e outros. Seria um grande jogo.
- ACABA COM ELES! gritou e virei para ela, vendo-a fazer o mesmo. – O quê? – Ela perguntou. – Não espere que eu me contenha, ainda mais com o Zambrotta no outro time.
- Não gosta dele?
- Ainda tenho raiva dele depois do Calciopoli. – Ela deu de ombros.
- Você não tem raiva de mim, tem? – Perguntei.
- Você ficou e aguentou tudo, ele fugiu. – Ela suspirou. – Agora está no Milan. – Ela deu de ombros, rindo sozinha.
- Você é vingativa. – Falei e ela se virou para mim.
- Não sou vingativa e você sabe muito bem disso, só não sou muito boa em perdoar... – Olhei fixo em seus olhos. – Eu te perdoei, Gigi, mas você sabe como não foi fácil.
- Isso eu tenho que concordar. – Suspirei e ela se virou para o jogo novamente. - Hum, está chovendo. – Comentei.
- Frio, derby, tudo para deixar o jogo mais pesado. – Ela falou e rimos juntos.
A torcida no Olimpico estava animada, seja nos cantos como na decoração com as diversas faixas e bandeiras sacudindo por todos os cantos. Alex e Maldini fizeram as honras e os time se separaram, soando o apito logo em seguida.
- Acho que essa é a primeira blusa de goleiro que eu gosto. – falou e virei para ela.
- Mesmo? – Perguntei e ela deu de ombros.
- Talvez eu compre uma preta. – Ela falou e eu sorri.
- Com o número um? – Perguntei e ela riu fracamente.
- Posso pensar nisso. – Ela disse e eu sorri, vendo-a virar para o jogo novamente.
Aos 16 minutos, Alex sofreu uma falta dentro da grande área e tivemos um pênalti ao nosso favor, nos fazendo abrir o placar. gritou bastante ao meu lado e foi inevitável não achar hilário. Aos 31, Milan igualou com um gol de Pato. Defendendo Manninger, era um gol muito difícil de pegar. Chiellini aumentou a vantagem aos 34 minutos, nos dando um pouco de alívio. se levantou, animada e eu gostava muito de ver isso. Ela havia se transformado em uma verdadeira juventina, com certeza mais do que eu.
Aos 35 Emerson levou um amarelo por uma entrada forte em Mellberg, logo depois Zambrotta ganhou um por uma entrada forte em De Ceglie, o que fez a mulher ao meu lado gritar de forma bem pejorativa, além das vaias do estádio. Ela realmente tinha ódio do Zambrotta, precisava me lembrar disso se eles ficassem no mesmo ambiente um dia. Depois foi a vez de Mellberg levar um amarelo por entrada em Pato.
Para acabar o primeiro tempo e irmos confortáveis para o segundo tempo, Amauri fez um gol aos 41 minutos. Era 3x1, então o jogo estava indo incrivelmente bem. Não fácil, mas bem confortável.
No intervalo, pegou uma pizza lá dentro e, enquanto ela comia, puxando o queijo derretido, foi inevitável não pensar em nossos momentos juntos. Foi uma rápida lembrança, mas que deu muitas saudades, fazendo com que o coração doesse um pouco até, mas abanei a cabeça rapidamente, parando de pensar besteiras. Estávamos tendo um bom momento juntos, apesar de tudo.
Na volta para o segundo tempo, Ambrosini fez um gol aos 56 minutos, o que deixou 3x2 e eles começaram a se aproximar de novo. Aos 65, Zambrotta, ao fazer uma entrada mais violenta em De Ceglie de novo, levou o segundo amarelo da partida, o que resultou em uma expulsão e o estádio inteiro vibrou animado, inclusive...
- BEM-FEITO! – se levantou, animada. – AQUI NÃO! – Ela gargalhou antes de se sentar novamente.
- Me lembre de nunca sair do time. – Falei e ela riu fracamente.
- Ei! O Emerson saiu da Juve e eu não estou xingando-o. – Ela deu de ombros.
- Seu problema é o Zambrotta. – Falei.
- Exatamente. – Ela sorriu, me fazendo rir.
Minutos depois, Amauri fez outro gol e nos deu uma vantagem que foi segurada até o fim. De mais interessante tivermos um amarelo de cada lado, um de Ambrosini e outro de Sissoko, ambos por entradas violentas. Com isso, o jogo acabou com três minutos de acréscimo e pudemos comemorar animados.
- Então, o que achou? – Perguntei e ela sorriu.
- Muito bom. – Ela suspirou. – Não esperava diferente desse time, mas nem sempre se pode ganhar, não é?!
- Beh... – Ela riu fracamente.
- É melhor eu ir. – Ela disse, dando um pequeno sorriso.
- Já? – Falei rapidamente.
- São 22:30 já, eu trabalho normal amanhã. – Ela se levantou e eu fiz o mesmo.
- Verdade! – Pressionei os lábios. – Poderia te acompanhar, mas capaz de me segurarem aqui.
- Eu vou sair de fininho para não acontecer exatamente isso, principalmente que eu não vejo Giorgio aqui. – Ela disse.
- Foi bom te ver, . – Falei e ela sorriu.
- Você também, Gigi! Você é mais contido assistindo daqui ou eu que sou surtada? – Ela perguntou.
- Um pouco dos dois. – Falei e ela se aproximou, dando um curto beijo em minha bochecha e levei minha mão até sua cintura por alguns segundos.
- A gente se vê. – Ela disse.
- Vai na festa de Natal? – Perguntei.
- Sim, estarei lá na sexta. – Assenti com a cabeça.
- Até lá, então. – Ela confirmou com a cabeça e trocamos de lugar.
- Até! – Ela acenou e seguiu para dentro do estádio, me fazendo suspirar. Tinha sido bom.
- Gigione! – Virei para o lado, vendo Gigli.
- Olá, tudo bem? – Apertei sua mão, sentindo-o dar dois tapinhas em minhas costas.
- Nem te vi aí! – Rimos juntos.
- Ah, o jogo estava empolgante. – Comentei, olhando rapidamente para o local onde antes estava e pressionei os lábios em um sorriso.



Capitolo dicianove

Lei
Primeiro de fevereiro de 2009 • Trilha SonoraOuça

Estiquei meu corpo na cama, me espreguiçando o máximo que dava e virei o rosto, checando o horário e já passava das quatro da tarde, que tédio! Puxei meu celular, abrindo-o e vi que não tinha mensagens novas. É, eu precisava de novos amigos, depender de Giulia e de Dom não era algo muito bom. Angelo e Claudio eram bons amigos, mas eles tinham quase 40 anos, não acho que as esposas veriam com bons olhos, os estagiários eram novos demais e o pessoal do time acabava sendo amigo só nos ambientes do time.
Levantei da cama, suspirando e segui para o banheiro, liguei a torneira e joguei um pouco de água gelada no rosto. Estávamos entrando em fevereiro, não estava calor ainda, mas o frio pesado já tinha passado, um pouco de água gelada não ia me matar. Passei a toalha no rosto e segui para fora do quarto.
Apertei o botão de ligar do notebook e deslizei os pés descalços até a cozinha, dando uma rápida olhada na fruteira e fiz uma careta para a banana que já estava escurecendo na fruteira. Fui até o armário, pegando um pacote de salgadinhos e abri a geladeira, pegando a garrafa aberta de Coca-Cola e peguei um copo alto e o enchi, devolvendo a garrafa na geladeira.
Levei tudo de volta para o quarto, vendo o notebook terminando de ligar e me sentei na poltrona, abrindo o saco de Doritos e sujei as mãos de queijo suíço e enchi a boca, sentindo os lados pontudos cutucarem minhas bochechas internamente e logo os engoli.
Levei a mão esquerda até o mouse, tendo dificuldade para abrir o navegador e digitei com os dedos mínimos meu e-mail e, enquanto carregava, digitei o site da Corriere dello Sport. Inclinei meu corpo na cadeira, colocando mais um pouco de Doritos e usei a outra mão para segurar o copo e dar um gole.
Engoli tudo o que estava na boca e olhei rapidamente o site esportivo, vendo a notícia da perda da Juventus contra o Cagliari ontem antes de casa. Ainda bem que eu não tinha ido. Com Dom em Roma, eu poderia ter ido, me ocupar no meu sábado à noite, mas pensei “ah, é o Cagliari, não vai ser tão interessante”, é, foi, mas do jeito contrário. Eles abriram o placar, Sissoko e Del Piero nos colocaram em vantagem, mas depois eles igualaram e passaram no segundo tempo. Talvez eu devesse ter ido no cinema, seria menos pior.
Abri a outra página com meu e-mail aberto e vi algumas mensagens não lidas, a maioria de retorno do trabalho, mas eu só veria isso no dia seguinte. Franzi os olhos ao ver um e-mail novo enviado há umas quatro horas de Giorgio. O assunto dizia “Alla Fine Delle Alpi”. Lambi a ponta dos dedos, tentando reduzir um pouco o alaranjado dos dedos e cliquei no mouse, vendo-o abrir.
Ciao, ragazzi, como estão? Enviando esse e-mail para avisar que o Delle Alpi oficialmente terminou sua demolição. Estive mais cedo com o presidente, vice e diretores gerais e esportivo e vimos a retirada dos últimos materiais e a última limpeza do terreno. A partir de amanhã começaremos a falar do nosso novo lar. Um bom restinho de domingo e até amanhã”.
- Cazzo... – Sussurrei, deixando meu corpo escorregar na poltrona e amassei a abertura do saco em meu colo e coloquei-o na escrivaninha.
Estava acompanhando isso há tantos anos, mas agora tinha acabado. Não tinha mais Delle Alpi. O estádio que marcou tantos momentos meus, que foi responsável por 99 por cento do meu gosto por futebol, onde tive momentos de grande felicidade, emoção, até algumas lágrimas nos maus momentos, não existia mais.
Mordi meu lábio inferior, sentindo uma lágrima deslizar pela minha bochecha e levei as costas da mão até ela, passando-a até a lateral do olho e suspirei. Era só um estádio e eu estava sentimental assim, era loucura como eu havia me introduzido tanto ao mundo da Juventus e do futebol.
Virei para o horário na tela do notebook e tinha bastante tempo para o sol se pôr ainda. Abaixei a tela do notebook e segui o banheiro, lavando as mãos e voltei para o quarto. Puxei a camisola que eu olhava e vesti uma calça jeans e abri o armário com minhas blusas da Juventus e peguei a nova de goleiro, coloquei o sutiã e joguei-a por cima de tudo. Fui até o canto do quarto, enfiando meus pés nos tênis sem meias e só os ajeitei no calcanhar com a ponta dos dedos.
Peguei minha bolsa na beirada da escrivaninha e fechei o Doritos com um clipe e coloquei dentro da bolsa. Virei o resto do refrigerante na boca e segui para a cozinha novamente. Deixei o copo na pia e peguei outra latinha dentro da geladeira, colocando dentro da bolsa também. Apoiei-a no ombro, passei a mão nas chaves do carro e saí de casa, trancando a porta.
Desci as escadas a passos rápidos e abri o portão, puxando-o logo em seguida e andei pelo corredor, abrindo meu carro e entrei, colocando a bolsa no local do passageiro. Liguei o carro e comecei a dirigir até onde costumava ficar o Delle Alpi.
Fazia uns seis meses que eu não ia lá, tinha ido um dia com Giorgio para acompanhar o top cinco para aquela checagem básica, tirar algumas fotos, etc, mas depois não fui mais. Confesso que tinha medo do que encontrar lá. Ou melhor, do que não encontrar. A seção de baixo ainda estava quase toda em pé, mas agora sabia que só teria um terreno vazio lá.
Demorei cerca de 20 minutos para chegar ao local do antigo/futuro estádio, a Juve tinha jogado fora de casa ontem e o Torino também estava fora, então as ruas estavam vazias. Assim que cheguei ao entorno de Continassa, bairro do estádio, eu precisei frear o carro e respirar fundo.
Eu estava acostumada com a grande estrutura prata metálica do Delle Alpi se abrir em nosso campo de visão, as ruas que davam entrada para os estacionamentos, agora só tinha diversos montes de areia e umas três máquinas paradas. Me senti em um deserto, uma formiga naquele espaço gigantesco. Gigantesco que cabia quase 70 mil pessoas.
Guiei o carro um pouco mais à frente, colocando-o em cima da grama, já que não tinha mais estacionamento para eu parar e saí. Puxei minha bolsa e suspirei, procurando um lugar com um pouco de grama e sentei, dobrando as pernas. Peguei o saco de Doritos novamente e o abri, colocando um na boca.
Tombei o corpo para trás, apoiando as mãos na grama e suspirei, sentindo o vento esfriar meu rosto e me arrependi de não ter trazido meus óculos escuros. Estava acostumada com um estádio cobrindo o sol. Ouvi meu celular apitar e peguei-o da bolsa, vendo uma mensagem de Dom.
“Ei, bella, vou ter que ficar aqui por mais alguns dias, tudo bem para você?”
“Claro, sem problemas para mim, bom trabalho.”
– Digitei rapidamente.
“Consegui me livrar agora, o que está fazendo?” – Ele me mandou em seguida e eu olhei rapidamente em volta, suspirando.
“Estou em casa com preguiça.” – Respondi rapidamente.
Soltei um suspiro, encarando o telefone por algum tempo e abri a câmera do celular, tirando uma foto do espaço que eu estava e ouvi um barulho de carro, me fazendo virar o rosto. Uma BMW se aproximava e eu franzi os olhos, eu conhecia esse carro. Esperei o carro parar e neguei a cabeça quando Alex saiu do mesmo.
- Parece que alguém teve a mesma ideia que a gente. – Vi as outras portas se abrirem e saiu também Pavel, Trezeguet, Gigi e Camoranesi.
- O que estão fazendo aqui? – Perguntei, tirando a bolsa de meu colo e me levantei, passando as mãos no bumbum.
- Uma viagem para o passado? – Pavel perguntou e eu assenti com a cabeça.
- É, tipo isso. – Alex me abraçou e deu um beijo em minha bochecha. – Meu chefe me falou que tinha terminado tudo essa manhã, então eu vim... – Dei de ombros, abraçando Trezeguet em seguida.
- Se despedir? – O mesmo falou.
- É, acho que sim. – Dei de ombros, abraçando Pavel. – Acho que já me despedi umas três vezes dele e...
- Parece que não é o suficiente? – Gigi falou e eu assenti com a cabeça, sentindo-o passar os braços pelos meus ombros e dar um beijo em minha bochecha.
- É, não sei. Eu estou aqui e ainda acho que é mentira, acho que eu estou no lugar errado. – Falei e Camoranesi foi o último a me abraçar.
- Eu sei que vem algo sensacional aqui, mas eu estou aqui há mais tempo que todos vocês... – Alex falou. – Se está sendo difícil para vocês, imagina para mim.
- Desde quando você está aqui, Alex? – Perguntei.
- 93, meu debut foi aqui, eu criei meu nome aqui, eu... – Sorri.
- Isso parece conversa para isso... – Trezeguet esticou um fardo de cerveja e nós rimos.
- Beh... – Peguei a lata de refrigerante em minha bolsa.
- Aí sim! – Eles falaram, me fazendo rir.
- Grandes mentes pensam igual. – Alex falou.
- Arranjem um espaço e sentem. – Falei, apontando em volta e voltei ao meu canto, vendo-os se dividirem ao meu lado em um semicírculo. – Como ficaram sabendo?
- O Gigli foi com a gente no jogo ontem, ele comentou que estaria aqui hoje. – Gigi falou e eu assenti com a cabeça, esticando o Doritos para ele ao meu lado, vendo-o pegar e passar para o lado.
- Você? – Mauro perguntou.
- Meu chefe me mandou um e-mail, acho que ele sabe a importância disso aqui para mim. – Suspirei, abrindo minha latinha e dando um gole.
- Acho que para todos nós. – Alex suspirou. – Eu jogava no Padova, eles nem tinham um estádio na minha época, a cidade fez um só em 94. – Rimos juntos.
- Sabe o que é mais louco? A Juventus vai ser o primeiro time da Itália a ter um estádio com o seu nome. – Suspirei, vendo o Doritos voltar para mim e peguei mais um. – Isso nunca aconteceu antes.
- Pela apresentação, vai ficar lindo demais! – Mauro falou.
- Quando começa a construção? – Gigi perguntou.
- Daqui um mês. – Falei.
- Mas já? – Eles falaram juntos e alto.
- Eles pretendem inaugurar para a temporada de 2011, ou seja, temos mais ou menos dois anos e meio para construir. – Eles riram.
- Se demorou para demolir, imagina para construir. – Trezeguet falou.
- Agora me digam, ragazzi, suas melhores lembranças aqui. – Falei.
- está toda sentimental. – Mauro falou.
- Só eu vim aqui ficar observando um terreno vazio, não é?! – Perguntei, ouvindo-os rirem.
- Estamos sem moral também. – Gigi falou, sorrindo. – Eu me lembro do meu primeiro jogo contra a Juventus, no Parma ainda. – Ele falou. – Acho que foi em 96, perdemos de 1x0 em um gol contra.
- Ah, fala sério. – Trezeguet desviou de mim e deu um tapa em sua cabeça, nos fazendo gargalhar.
- Ei, eu não joguei, eu estava no banco! – Gargalhamos mais alto.
- Opa, scusi! – Trezeguet falou.
- Eu tinha 18 anos ainda, o pessoal era louco, mas nem tanto. – Ele deu de ombros.
- E qual sua melhor lembrança? – Mauro perguntou.
- É difícil. – Ele abraçou as pernas. – Meu primeiro jogo com a Juventus, os scudetti que erguemos aqui, até com a ... – Ele virou o rosto para mim e eu assenti com a cabeça.
- É, eu me lembro de alguns também. – Suspirei.
- Compartilha! – Mauro falou.
- O Delle Alpi foi o primeiro estádio que eu entrei na vida, então estava muito surpresa com tudo, mas acho que a melhor de todos foi na final do campeonato 2004/2005. – Suspirei. – O Ciro estava se aposentando, todo mundo estava aqui ainda, o Lilian, o Fabio, a Giulia ainda morava aqui... – Mordi meu lábio inferior. – Seus filhos me atacaram!
- Ah! – Trezeguet falou, rindo alto. – Os filhos do Lilian conseguiram fugir dele para te encontrar, não foi?
- De todo mundo, até os meus. – Pavel falou.
- Eu sou boa com crianças, gente, sinto muito. – Dei de ombros, vendo-os rirem.
- Isso ninguém pode negar! – Gigi falou. – Eles devem gostar mais dela do que da gente.
- Eu sou a tia legal, qual é! – Dei de ombros. – Eles sempre vão me preferir... – Estiquei o indicador. – E eu os vejo pouco.
- A gente já te vê pouco. – Mauro me abraçou pelos ombros.
- Parece que estamos nos encontrando mais sem planejar. – Gigi falou.
- A temporada não está exatamente muito boa, não é?! – Comentei. – Vocês ganharam vários Oscar Del Calcio, melhor goleiro, melhor jogador, o Chiellini como melhor defensor, mas esse ano o Inter está vindo com sangue nos olhos. – Suspirei.
- E ainda perdemos dois jogos seguidos... – Pavel falou.
- É, isso não ajuda. – Suspirei.
- Ainda temos uns 16 jogos, mas vai ser difícil bater a Inter. – Gigi falou.
- Quem sabe não dá certo na Champions? – Trezeguet perguntou.
- Já saiu contra quem vamos jogar? – Perguntei.
- Chelsea. – Eles falaram e eu assenti com a cabeça.
- Não conheço muito, mas in bocca al lupo, ragazzi. – Virei para Gigi que assentiu com a cabeça.
- Eles estão em segundo na liga inglesa. – Alex falou.
- Nós também, vai ser acirrado. – Suspirei.
- Vai dar certo. Agora vai, Pavel, suas memórias...
- Eu joguei na Lazio antes de jogar na Juve, deve ser tipo o Gigi, algum jogo em 96 também que foi meu primeiro ano. – Assenti com a cabeça.
- E o seu melhor? – Perguntei.
- Talvez seja no fim da temporada. – Franzi a testa, virando para ele.
- Ainda não perdeu as esperanças de um novo scudetto? – Perguntei e vi os outros rapazes pressionarem os lábios.
- Eu vou me aposentar, . – Arregalei os olhos.
- Ah não. Fala sério! – Suspirei. – Vamos perder nossa Fúria Checa? – Perguntei, usando seu apelido com a torcida.
- Eu me decidi. – Ele suspirou. – Eu já estou com 37, faço 38 em agosto, estou mais no banco do que jogando, então vou sair antes de não quiserem renovar mais comigo.
- Eu não sei de nada. – Falei, ouvindo-o rir. – Mas é, vai ser sim, Pavel. E eu vou sentir sua falta. – Estiquei minha mão para ele que a apertou.
- Falei para ele voltar como assistente técnico no ano que vem. – Trezeguet falou.
- Ah, seria legal! – Sorri.
- Não sei se quero ser técnico. – Ele falou. – Preciso pensar ainda.
- Estaremos aqui! – Alex falou e eu confirmei.
- Se esse papo for continuar sentimental assim, vamos precisar de mais Doritos. – Trezeguet falou, lambendo os dedos.
- Só trouxe isso, não esperava encontrar ninguém. – Rimos juntos.
- Por que não saímos desse momento depressão e vamos comer alguma coisa? – Mauro perguntou.
- Bom, são cinco e meia ainda. – Gigi falou.
- Eu topo. – Falei. – Não é como se eu tivesse muito o que fazer... – Dei de ombros.
- Onde vamos encontrar um lugar que venda Doritos e cerveja? – Mauro perguntou.
- Só se for um bar. – Falei. – Mas vai ser interessante, cinco jogadores e eu. – Ponderei com a cabeça.
- Você é parceira já! – Trezeguet me sacudiu pelos ombros.
- Mesmo assim, precisa ser um lugar discreto, vocês são os famosos aqui, aonde vocês vão? – Perguntei.
- Bar 1897. – Eles falaram.
- Em Vinovo? – Perguntei.
- É! – Gigi confirmou.
- Mas é de torcedores, não vai ficar ruim para vocês? – Franzi a testa.
- A gente vive lá. – Alex deu de ombros.
- Vamos lá, então! – Falei e eles se levantaram. – Vocês são rápidos.
- Vem! – Gigi esticou as mãos e eu segurei, sentindo-o me puxar para cima e passei as mãos no bumbum.
- Grazie. – Ele sorriu.
- Parece que comprou a blusa. – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Beh, precisei, né?! O goleiro do time não me deu uma. – Rimos juntos.
- Vou providenciar.
- Só se for a da próxima temporada. – Falei, dando de ombros.
- Fechado. – Ele falou, sorrindo.
- Nos encontramos lá? – Me virei para os outros.
- Eu vou contigo! – Trezeguet falou. – É confiável, né?!
- Ei! – O empurrei, ouvindo-o gargalhar.
- É confiável! – Gigi falou e eu sorri para o francês.
- Eu vou também! – Mauro falou.
- Fechado, nos encontramos lá. – Alex falou e acenei para os outros três, seguindo para meu carro. Parece que eu finalmente tinha encontrado uma forma da noite ficar mais legal.

Lui
Três de março de 2009

Saí do banho, passando a toalha nos cabelos e me sequei rapidamente, só para parar de pingar. Prendi a toalha na cintura e voltei para o vestiário, desviando de alguns jogadores que entravam no banheiro. Parei em meu espaço, pegando minha roupa dobrada em uma das prateleiras e tirei a toalha. Passei o desodorante e borrifei um pouco de perfume e guardei tudo no armário.
Peguei a cueca na mochila e a vesti. Coloquei a camiseta por cima e peguei a calça jeans, vestindo-a também. Me sentei no espaço e passei a toalha nos pés e calcei a meia e depois o tênis. Passei as mãos nos cabelos, bagunçando-os um pouco e peguei minha mochila. Ajeitei os itens nela e peguei meu celular, vendo que tinha mensagem de Alena.
“Ei, amor, você pode trazer uma barra de chocolate? Deu uma vontade louca agora”. – Ri fracamente e abri minha carteira, pegando a longa lista que ela já tinha me passado e cacei uma caneta em meu armário e anotei embaixo de tudo, dobrando-a e guardando no bolso.
“Pode deixar, vou demorar um pouco para chegar”. – Falei, vendo a longa lista de compras, me fazendo suspirar.
Andei pelo vestiário novamente, jogando a toalha no local de descarte e parei rapidamente na frente do espelho, passando as mãos pelos cabelos e o joguei para trás. Voltei para o vestiário e peguei a mochila, colocando-a nas costas.
- Ciao, ragazzi. Até amanhã! – Falei, cumprimentando Trezeguet e Camoranesi que estavam mais perto.
- Ciao, Gigi! – Mais vozes responderam e acenei, saindo do vestiário.
Cumprimentei Ranieri e Ciro e segui para fora do vestiário, passando pelos corredores internos do novo centro de treinamento e peguei os óculos escuros, colocando-os. O sol estava começando a baixar ainda. Segui até meu carro, entrando e joguei minha mochila do lado do carona.
Liguei o carro, saí da vaga e fui em direção a entrada, acenei para o porteiro e o portão já estava aberto devido ao horário, todo mundo estava saindo praticamente junto. Segui em direção aos bairros residenciais de Vinovo e, em menos de 10 minutos, eu estava estacionando no mercado. Abri a mochila, pegando a carteira e chequei a lista no bolso novamente antes de sair do carro.
Segui até a entrada do mercado, vendo que ele não estava tão cheio, mas todo mundo sempre aproveitava a saída do trabalho para passar no mercado, então isso logo estaria cheio. Peguei um carrinho e segui para dentro do mercado. Puxei a lista do bolso e segui para a parte de bebidas.
Comecei a pegar os itens um pouco no automático, vendo que o carrinho começava a encher aos poucos. Frutas, verduras, legumes e carne eram a maioria, para a dieta minha e de Alena, além das papinhas de Louis, leite, vinho, pães e massa, então não foi difícil encher o carro.
Passei pelo corredor dos gelados e congelados e vi uma pessoa com a blusa da Juventus e ri fracamente, eu sempre encontrava um funcionário aqui depois do trabalho. Franzi a testa ao ver os cabelos presos em um rabo de cavalo, as pernas perfeitas dentro da calça jeans e os saltos nos pés, desviei o rosto ao vê-la olhar atenta às opções de manteiga e sorri.
- Ei, . – Falei, vendo-a virar o rosto rapidamente para mim.
- Ei, Gigi! – Ela falou, sorrindo.
- Tudo bem? – Me afastei do carrinho e abracei-a, vendo-a me apertar com um braço já que o outro segurava uma cestinha.
- Tudo bem! – Ela deu um beijo em minha bochecha, me fazendo sorrir. – O que está fazendo aqui?
- O mesmo que você? – Apontei para o carrinho.
- Eu digo aqui, nesse mercado. – Ela riu fracamente, apoiando a cestinha no freezer.
- Me mudei para Vinovo no começo do ano. – Ela assentiu com a cabeça. – Perto do Alex.
- Ah, nas mansões de Vinovo! – Ela riu fracamente.
- É, pois é! Apesar de tudo, aqui é bem mais calmo e muito mais perto do time. – Ela confirmou com a cabeça.
- Sim, é muito bom, a gente usa carro por preguiça, porque é muito perto. – Ela sorriu.
- Você ainda está naqueles prédios? – Perguntei.
- Sim, estou. – Ela sorriu. – Eu gosto de lá, é quieto, aconchegante, não preciso de algo maior agora. – Assenti com a cabeça.
- Ainda morando sozinha?
- Sim, ainda! – Ela sorriu.
- Ainda não está lá com o Domenico? – Perguntei, afastando o carrinho para o canto.
- É cedo para gente ainda. – Ela deu um pequeno sorriso. – Ainda gosto da minha privacidade. – Ri fracamente.
- Sim, sim, entendo. – Assenti com a cabeça.
- E Louis? Alena? Como estão todos? – Ela perguntou, escolhendo sua manteiga.
- Estão todos bem. – Assenti com a cabeça.
- Seus pais? Suas irmãs? – Confirmei novamente.
- Todos bem também. – Sorri.
- Que bom! – Ela disse.
- Você aceita companhia? – Perguntei, apontando para o caminho.
- Claro! – Ela falou, virando o corpo, seguindo beirando os freezers. – Quais as novidades do time? – Ela perguntou.
- O que você quer dizer? – Perguntei.
- A última vez que nos encontramos, vocês tinham perdido dois jogos seguidos, agora parecem que voltaram a ganhar. – Ela falou, pegando algumas coisas na prateleira.
- Ah, ganhamos contra Catania, Palermo e Napoli...
- Sempre muito bom. – Rimos juntos.
- E empatamos com a Sampdoria, é algo bom. – Ela deu de ombros.
- Sim, há chances de alcançar a Inter? – Ela virou o rosto para mim.
- Temos 12 jogos até o fim da temporada, eles ainda lideram, mas se eles tropeçarem e a gente conseguir manter essas vitórias, talvez seja possível. – Ela confirmou com a cabeça.
- Eu vou torcer por vocês. – Ela sorriu.
- Por nós, né?! Você não joga, mas você é parte do time. – Ela riu fracamente.
- Eu sei, mas não gosto de falar “vamos conseguir” e tudo mais, sinto que fosse entrar em campo. – Rimos juntos e peguei algumas massas congeladas.
- Lilian deve ter boas lembranças de você jogando. – Ela gargalhou, negando com a cabeça.
- Coitado, não sei como ele não quebrou um dente, fez um barulho muito alto. – Rimos juntos.
- Dente não quebrou, mas ele mordeu a língua. – Ela fez uma careta.
- Ah, meu Deus! – Ela passou a língua nos lábios como se sentisse a dor. – Eu falei com ele tem um tempo.
- Mesmo? – Perguntei.
- É, depois que vocês falaram que ele se aposentou, o Alex me passou o número dele, trocamos algumas mensagens, ele está com saudades. – Ela sorriu.
- Ele faz uma falta... – Ela assentiu com a cabeça.
- Faz sim, acho que essa é uma das coisas que eu menos gosto no mundo do futebol... – Ela citou, virando para outro lado.
- Qual? – Perguntei, me colocando ao seu lado.
- A rotatividade de jogadores. – Ela suspirou. – Sei que ele saiu pela relegação, mas eu sofro muito por antecipação pensando que um dia você pode sair, o Alex, o Trezeguet... – Ela suspirou. – Olha o Pavel, por exemplo, vai se aposentar. – Ela negou com a cabeça.
- Mexeu contigo, não mexeu? – Perguntei.
- Ah, Gigi, são oito anos. – Ela riu fracamente, pegando alguns iogurtes. – Não somos exatamente melhores amigos, mas eu sei que sempre vou encontrá-lo nos corredores, nos treinos, nos jogos, agora não mais. – Ela deu de ombros. – É igual quando o Marcos e o Lorenzo do meu setor saíram, deixa um buraquinho aqui dentro.
- Eu ainda estarei aqui. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Fiquei sabendo que você não está muito satisfeito com os resultados do time. – Ela disse, erguendo o rosto para mim. – Eu vi suas entrevistas na TV. – Ela disse. – Da mesma forma que eu vi suas propagandas ridículas da PUMA. – Franzi os olhos.
- Ah, Dio! Nem lembra daquilo. – Falei e ela sorriu. – Mas é, eu estou conversando bastante com os assistentes, mas acho que o problema no geral é o Ranieri.
- Não está dando certo? – Ela perguntou.
- Parece que não mais, as coisas estão bastante estremecidas. – Suspirei.
- É para isso que temos um diretor geral e outro esportivo...
- Eu sei, mas não nos metemos nisso... – Ele riu fracamente. – Mas vamos ver, talvez eu fique, para você não se despedir de dois ao mesmo tempo.
- Há, há, há, buffone. – Ela disse e eu revirei os olhos, ouvindo-a rir. – Mas você não vai sair tão cedo desse time que eu sei. – Ela virou o rosto para mim. – Acho que você vai acabar sendo um Alex da vida.
- Como assim?
- Vai se tornar um capitão quando ele se aposentar e vai continuar o legado dele. – Ela deu de ombros.
- Você sabe que o Alex é só três anos mais velho do que eu, não sabe? – Perguntei.
- Sei sim, mas também sei que o desgaste físico do goleiro é menor, pois corre menos, então vamos colocar que quando o Alex se aposentar, você ainda tem uns cinco ou seis anos... – Ponderei com a cabeça. – Sem contar lesões e possíveis infortúnios, é claro.
- É claro! – Repeti, vendo-a sorrir. – Pensando nisso, estamos falando de uns 38 a 40 anos. – Ela deu de ombros.
- Quem sabe? – Rimos juntos. – É meio improvável, eu sei, mas não é um assunto para agora.
- É, vamos ver, precisamos voltar a vencer.
- Isso é com vocês, se precisarem de alguém que possa ajudá-los nisso, passa para o diretor esportivo que ele vai passar para o meu diretor. – Rimos juntos.
- E como está lá no seu setor? Tudo certo? – Perguntei.
- Ah, tudo certo, tivemos só o Kirev de novo na janela do começo do ano, agora começo de março, começo de abril começam as especulações de mercado, mas não sei dizer ninguém que possa vir para a próxima temporada ainda.
- Traga alguém bom. – Ela sorriu.
- Eu tenho a liberdade de colocar na roda, mas eu não faço a decisão de contratação, isso é entre esporte e contabilidade.
- É burocracia demais, não é?! – Perguntei.
- Ah, mais ou menos. – Ela ponderou com a cabeça. – Não estamos comprando uma lata de refrigerante, Gigi. – Ela a ergueu, me fazendo rir. – Não dá para comprar, não gostei e jogar fora ou devolver, estamos falando de milhões de euros. – Ela suspirou. – Ainda mais que a prioridade é sempre pegar pessoas novas, então você precisa ter aquela visão que essa criança de 20, 22 anos vai ser produtivo para valer tudo isso.
- Retiro o que disse. – Falei e ela sorriu.
- Ainda estou aprendendo a definir isso, mas estou assistindo bastante coisa dos times subs. – Ela disse.
- Já terminou aquela pós que você disse?
- Ainda não, tem uns meses ainda, mas quero fazer meu mestrado nisso também, acho que nem vale à pena eu procurar outra área.
- Vai sobrar nós dois aqui no time. – Rimos juntos.
- Não sei para você, mas para mim é bem confortável. – Ela deu de ombros. – O trabalho é legal, animado, ganho bem, estou no maior cargo do meu setor com menos de 30 anos... – Ela suspirou. – Não tenho mais o que fazer, então se não for na Juve, vai ser em outro time.
- Eu gosto também, gosto mais ainda pela cidade ser calma, são seis e meia da tarde de uma terça-feira e eu estou fazendo compras no mercado sem um monte de torcedores em cima de mim. – Ela assentiu com a cabeça.
- Sim, se você pensar nos outros times grandes, são todos em cidades grandes. – Confirmei com a cabeça.
- Você pode morar no centro aqui em Turim que não é incomodado. – Falei, apoiando os cotovelos no carrinho.
- Exato. – Ela sorriu e eu retribuí, seguindo pelos corredores ao seu lado e chequei a lista algumas vezes. – Acho que para mim é só. – Ela falou.
- Vamos para o caixa, então, aqui deu também. – Ela assentiu com a cabeça, seguindo um pouco a frente até a fila de caixas.
- Então, o que você vai fazer agora? – Perguntei. – Você já fala francês, está finalizando uma pós-graduação...
- Eu estou fazendo curso de português também. – Arregalei os olhos.
- Você é meio nerd, não é?! – Ela riu fracamente.
- Eu sou contadora, Gigi, qual é! – Sorri, vendo suas bochechas franzirem. – Eu gosto de números, achei que ser nerd fosse uma classificação automática.
- É que você não... Parece nerd... – Falei devagar e ela riu fracamente.
- Por que eu sou bonita!? – Ela se virou para mim e eu dei de ombros, vendo-a rir fracamente. – Você tem a mente muito fechada, Gigi. – Ela sorriu.
- Talvez, mas você mudou totalmente a minha imagem de nerds, não se preocupe. – Ela sorriu. – Mas português? Caramba! Deve ser difícil.
- Um pouco, mas porque é muito parecido com o italiano, mas também é muito diferente. – Ela deu de ombros. – Eu consigo entender fácil, mas para falar complica um pouco.
- Você é incrível, vai tirar de letra. – Ela sorriu.
- Grazie, Gigi. – Ela falou, andando apoiando sua cestinha no caixa. – Buona sera!
- Ciao. – A atendente falou e começou a colocar seus itens na esteira.
- Você vai poder falar com o Amauri e com o Tiago. – Falei, ouvindo-a rir.
- A ideia do português foi por causa deles, cada vez mais o time está de olho em jogadores de outros países, já temos um brasileiro e um português, logo mais teremos outras nacionalidades. – Ela disse. – Depois que eu acabar, vou para o espanhol também, o pessoal está bastante de olho na América do Sul, podem aparecer algumas surpresas.
- Me surpreendo como você gosta de estudar. – Rimos juntos.
- Ah, nem é gostar de estudar, é mais poder usar isso na prática. – Ela deu de ombros. – Ajudar o time, o Giorgio, conseguir me comunicar com os jogadores que ainda não falam italiano... É legal ver o resultado.
- Isso é demais. Depois vai faltar o quê? O alemão? – Rimos juntos.
- Acho que depois do espanhol eu vou dar um tempo, até lá já devo estar fazendo meu doutorado, não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. – Ela riu fracamente, esvaziando a cestinha e colocando-a no chão.
- Eu já acho incrível tudo o que você está fazendo. – Ela riu fracamente, tirando a carteira da bolsa. – Meus pais querem que eu termine a escola e eu já acho que passei da fase de estudar. – Dei de ombros.
- Quem sabe no futuro? – Ela falou e eu ri fracamente.
- Acho difícil, mas nunca diga nunca. – Falei, ouvindo-a rir e comecei a colocar os itens na esteira enquanto ela embalava as dela.
- É, acho que eu sou a prova disso. – Ela disse e vi um sorriso dançando em seus lábios.
A atendente começou a passar meus itens pelo caixa e me ajudou a embalá-los e a colocar de volta no carrinho pela grande quantidade de itens. Após passar, entreguei meu cartão para a moça e logo nós dois saímos do mercado, o sol já havia baixado, mas o dia ainda estava claro.
- Eu fico aqui. – Ela falou, apontando para seu carro e abriu o carro, colocando suas poucas sacolas no banco de trás e fechou a porta novamente.
- Obrigado pela companhia. – Falei e ela assentiu com a cabeça, se aproximando de mim.
- Quem sabe a gente não se esbarra outras vezes? – Ela falou e eu assenti com a cabeça, me aproximando dela e dei um beijo em sua bochecha.
- É claro! – Sorri e ela assentiu com a cabeça.
- Tenta ganhar um scudetto para gente, ok?! – Ela falou, seguindo de costas para o carro.
- Vamos tentar. – Falei, acenando e ela assentiu com a cabeça.
- Ciao, Gigi. – Ela falou, apoiando na porta do carro.
- Ciao, . – Falei e ela sorriu.
Suspirei, vendo-a entrar no carro e empurrei o carrinho em direção ao meu. Abri o porta-malas, começando a colocar as compras e vi seu carro sair e ela deu uma buzinada quando passou por mim e eu ergui a mão para acenar, me fazendo sorrir. Finalizei de guardar as compras, levei o carrinho para o local correto e entrei no carro, seguindo de volta para casa.

Lei
21 de março de 2009 • Trilha SonoraOuça

- Lembrai-vos, ó Pai, da vossa Igreja que se faz presente pelo mundo inteiro: que ela cresça na caridade, com o Papa Bento XVI, com o nosso Bispo Severino Poletto e todos os ministros do vosso povo.
- Lembrai-vos, ó Pai, da vossa Igreja! – Respondi, puxando a respiração forte.
- Lembrai-vos também dos nossos irmãos e irmãs que morreram na esperança da ressurreição e de todos os que partiram desta vida, como Stella e Maurizio , vigésimo ano de falecimento... – Engoli em seco, pressionando os lábios. - Acolhei-os junto a vós na luz da vossa face.
- Lembrai-vos, ó Pai, dos vossos filhos!
- Enfim, nós vos pedimos, tende piedade de todos nós e dai-nos participar da vida eterna, com a Virgem Maria, Mãe de Deus, com São José, seu esposo, com os santos Apóstolos e todos os que neste mundo vos serviram, a fim de vos louvarmos e glorificarmos por Jesus Cristo, vosso Filho. – Ouvi o padre falar e passei a mão embaixo do olho.
- Concedei-nos o convívio dos eleitos!
- Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a vós, Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória, agora e para sempre.
- Amém. – Respondemos e o coral começou a cantar novamente.
Fiquei em pé, já esperando a hora da comunhão e, quando as filas começaram a se formar, eu segui para fora do meu banco, pedindo licença com o olhar para a senhora que estava perto sentada ao meu lado e me coloquei na fila. Coloquei as mãos em frente ao corpo e segui na fila devagar.
- O corpo e o sangue de cristo. – O padre falou e eu peguei a hóstia, colocando-a na boca e saí da fila, fazendo um sinal da cruz.
Segui pelo corredor da lateral, acenando com a cabeça para alguns conhecidos da igreja e fui para meu banco. Franzi a testa ao ver uma mão acenando para mim e prendi a respiração por alguns segundos ao ver que Gigi estava em um dos últimos bancos com Alena e Louis. Fiz um movimento com a cabeça, cumprimentando-os e segui para meu banco.
Me ajoelhei, apoiando meu rosto nas mãos. Oi, mãe, oi, pai. Hoje são 20 anos. Como eu queria que vocês estivessem aqui para ver tudo o que eu conquistei, conhecer meus amigos, meu namorado, meu trabalho. Aposto que o papai amaria futebol, lembro dele com a blusa rosa do Palermo. Bom, pelo menos eu acho que lembro. Sei que faz tanto tempo e que tem vezes que parece que eu não lembre de vocês, mas não tem um dia que eu não sinta saudades. Eu estou bem, eu prometo, eu acabei encontrando uma família com a Giulia. Tia Gio e tio Fabrizio são legais, vocês gostariam deles, aposto. Acabei ganhando três irmãos, a Giulia e os gêmeos são incríveis e me acolhem como um deles, por mais que eu tente evitar entrar para família. A mamãe gostaria do Dom, papai não, com toda certeza. Somos um pouco diferentes, mas me sinto protegida com ele. Sinto saudades de vocês sempre. Nos guarde e nos proteja.
Fiz um sinal da cruz, me sentando novamente e passei as mãos embaixo dos olhos, limpando as lágrimas que deslizaram pela bochecha. Suspirei, piscando algumas vezes e peguei o folheto no banco da frente e dobrei-o corretamente, passando meus olhos pelas observações que tinha atrás dele e observei o padre voltar para o altar e nos levantamos novamente.
- Oremos: Possamos, ó Deus onipotente, saciar-nos do pão celeste e inebriar-nos do vinho sagrado, para que sejamos transformados naquele que agora recebemos. Por Cristo, nosso Senhor.
- Amém. – Respondemos.
- O Senhor esteja convosco.
- Ele está no meio de nós. – Respondemos.
- Abençoe-vos Deus todo-poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo. – Fiz o sinal da cruz.
- Amém.
- Em nome do Senhor, ide em paz e o Senhor vos acompanhe.
- Graças a Deus. – Respondi e peguei minha bolsa no banco, cruzando-a pelo meu corpo e peguei meus óculos de sol, colocando-os.
Esperei a senhora que estava no meu banco sair e segui atrás das diversas pessoas, saindo para o sol das 11 horas de Turim. Assim que as pessoas livraram o caminho, desci as escadas laterais, seguindo em direção ao estacionamento na lateral da igreja.
- ! – Virei o rosto, vendo Gigi se aproximando.
- Ei, Gigi! – Falei, engolindo em seco.
- Você sai rápido. – Ele riu fracamente.
- Eu vou almoçar na Giulia, preciso pegar umas coisas. – Inventei qualquer coisa, a intenção era evitar esse papo, pelo menos hoje.
- Ah sim! – Ele falou e vi que Alena havia parado um pouco mais atrás com uma mulher. – Eu ouvi o que o padre disse. – Engoli em seco. – É aniversário de falecimento dos seus pais hoje? – Assenti com a cabeça.
- É sim. – Puxei a respiração fortemente, sentindo meus olhos encherem de lágrimas novamente.
- Eu sinto muito. – Ele falou, passando os braços pelo meu corpo e eu suspirei, apoiando a cabeça em seu ombro.
- Obrigada. – Falei, suspirando, apertando-o também.
- Stella e Maurizio? – Ele perguntou e me afastei devagar. – Acho que eu nunca soube.
- Acho que não. – Falei, abaixando minhas mãos. – Eu não gosto de falar muito disso, ainda fico chateada. – Passei as costas da mão no nariz e ele confirmou com a cabeça.
- Sua mãe chamava Stella? – Assenti com a cabeça. – Como a minha.
- Sim... – Ri fracamente. – Ainda temos algumas coisas em comum. – Confirmei com a cabeça.
- Mais do que algumas. – Ele disse. – Eu ainda sou seu amigo, . Pode contar comigo para o que precisar. Estou aqui para qualquer coisa mesmo. – Ele falou e eu confirmei com a cabeça.
- Grazie, Gigi. – Suspirei. – O que está fazendo aqui, afinal? Não é porque mudou para Vinovo, é a primeira vez que te vejo aqui.
- Ah, então... – Ele arranhou a garganta. – Viemos para uma bênção... – Ele ponderou com a cabeça. – A Alena está grávida. – Arregalei os olhos.
- O quê? Isso é sério? – O abracei fortemente para evitar que ele olhasse para minha feição de surpresa e agradeci muito pelos óculos escuros.
- É sim, descobrimos ontem à noite, você é a primeira a saber. – Ri, nervosa.
- Que sorte! – Abri um sorriso, sentindo um buraco no meu peito. – Parabéns para vocês. Louis vai ser promovido a irmão mais velho.
- É, pois é! Foi um pouco rápido demais, mas... – Ele ponderou com a cabeça.
- É incrível, Gigi, parabéns mesmo. – Dei um meio sorriso, mordendo meu lábio inferior em seguida.
- Obrigado, significa muito vindo de você. – Assenti com a cabeça.
- Eu realmente tenho que ir, a gente se vê por aí? – Perguntei.
- Não quer ver o Louis? Sei que ele te adora. – Ri fracamente.
- Eu realmente tenho que ir. – Falei.
- Você precisa aparecer nos jogos. – Ele falou e eu afastei alguns passos para trás.
- Quando é o próximo? – Perguntei, vendo-o colocar os cabelos atrás da orelha.
- Roma amanhã, mas fora de casa. – Ele falou e eu franzi o rosto.
- E semana que vem?
- Chievo em casa. – Assenti com a cabeça.
- Quem sabe? – Dei de ombros, procurando a chave do carro na bolsa. – Ciao, Gigi. – Acenei.
- Ciao, , fica bem, ok?! – Assenti com a cabeça.
- Pode deixar. Parabéns para vocês novamente. Quem sabe não vem uma menina agora? – Ele riu fracamente e acenei com a cabeça, seguindo até meu carro, o abri e entrei rapidamente.
Apertei o volante com força, tentando segurar as lágrimas de deslizarem de meus olhos mais uma vez e eu estava confusa do porquê eu estava chorando, por causa de meus pais ou porque Gigi seria pai novamente.
- Cazzo! – Reclamei baixo e peguei um lenço no porta-luvas e passei embaixo dos olhos.
Saí com o carro e dirigi em direção a casa de Giulia com calma. Era sábado de manhã, as lojas ainda estavam abertas e eu não estava com muita pressa para chegar lá. Tentei me distrair com as músicas que tocavam na rádio, mas eu sabia que esse dia nunca era bom, mas agora havia conseguido ficar muito pior.
Estacionei o carro na frente da casa de Giulia e puxei minha mochila no banco de trás e minha bolsa e saí. Tranquei o carro e apertei a campainha, ouvindo o portão ser destrancado antes de eu precisar me anunciar e entrei, batendo o portão e logo empurrei a porta, entrando na grande casa de Giulia.
- Cheguei! – Falei um tanto alto.
- Oi, querida! – Vi tia Gio aparecer na cozinha e fechei a porta, seguindo até lá.
- Oi, gente! – Vi Fabrizio com ela também.
- Tudo bem, meu anjo? – Tia Giovanna veio em abraçar e apertei-a em meus braços, sentindo-a passar as mãos apressadamente em minhas costas. – Como foi lá?
- Ah, o de sempre, pedi para rezar por eles e chorei um pouquinho. – Me aproximei de Fabrizio, recebendo um rápido beijo na bochecha, já que suas mãos estavam sujas de massa.
- Você deveria deixar a gente te acompanhar, meu amor. – Ela falou.
- Eu sei, mas eu prefiro fazer essas coisas sozinhas. – Suspirei, deixando a mochila e a bolsa na mesa e me sentei em uma bancada. – Não é como se fizesse diferença.
- Faz, meu amor. – Fabrizio falou. – Estaríamos lá por você. Eu te conheço há 12 anos e vou repetir: você não precisa passar por isso sozinha.
- Eu sei. – Tirei os óculos escuros e coloquei os cabelos atrás da orelha. – Eu só não gosto de chorar em público e sei que ia chorar com vocês lá.
- Não tem nada errado em chorar em público, meu amor. – Tia Gio falou.
- Talvez em outra oportunidade. – Falei e eles assentiram com a cabeça.
- Nós vamos à missa à noite, não vou deixar de rezar pelos seus pais, já até acendi uma vela. – Ela falou, seguindo para o fogão.
- Obrigada. – Sorri, suspirando. – Talvez até tivesse sido bom se vocês fossem hoje. – Suspirei, coçando o braço.
- Por quê? Aconteceu alguma coisa de diferente? – Ela perguntou.
- Eu encontrei o Gigi lá. – Falei, revirando os olhos para mim.
- O que ele estava fazendo lá?
- Ele se mudou para Vinovo no começo do ano, mas essa foi a primeira vez que o vi na missa. – Suspirei, sentindo os ombros tensionados. – Ele vai ser pai de novo.
- O quê? – Giovanna virou rapidamente e eu suspirei.
- Eu vou deixar vocês conversarem. – Fabrizio falou e assenti com a cabeça quando ele se retirou da cozinha, batendo as mãos no avental.
- Que merda, . – Tia Gio se aproximou.
- Pois é! – Engoli em seco. – Ele disse que eles foram pedir uma bênção. – Neguei com a cabeça. – Outro bebê em menos de dois anos, isso é loucura!
- Um pouco, mas tem pessoas que não se importam... – Ela suspirou. – Ou são ricas o suficiente para não precisar cuidar delas. – Engoli em seco.
- Quer dizer... – Soltei a respiração fortemente. – Ele só pode ter um esperma poderoso, né?! – Ela riu fracamente.
- Você que me diga, você transou com ele. – Suspirei.
- Eu sempre usei camisinha, tia, só tinha 24 anos quando estávamos juntos. – Rimos juntas. – Mas como ele pode fazer isso? – Bufei, suspirando. – Tipo, ambos devem ter muita facilidade, porque não é possível.
- Você está tentando me dizer que você e o Dom estão tentando engravidar, ? – Ela perguntou.
- Não! – Falei rapidamente. – Mas não consigo evitar de pensar que podia ser a gente, sabe? – Suspirei. – Se estivéssemos juntos ainda, já seria três anos de relacionamento, pouco, mas provavelmente seria e eu estaria realizando um grande sonho. – Engoli em seco e ela me abraçou de lado.
- Ah, meu amor! – Ela deu um beijo em meu ombro. – Vai acontecer um dia, não se preocupe! Você e Dom estão juntos há quase um ano e meio, ele te ama, te trata bem, se a vida seguir o curso normal, vocês vão chegar lá. – Suspirei.
- Acho difícil, já que o Gianluigi está querendo ser o pai de todos os bebês do mundo. – Engoli em seco, sentindo uma lágrima deslizar pelos meus olhos.
- Por que sinto que isso está te incomodando, amor? – Ela acariciou meus cabelos.
- Às vezes eu ainda penso no que poderia ter sido, sabe? – Engoli em seco. – Nós terminamos de um jeito tão estranho e ele correu ficar com ela. – Suspirei. – Ele não me deu tempo para a raiva passar ou não se esforçou para tentar me entender... – Balancei a cabeça. – Ele só aceitou.
- É difícil quando a gente coloca nossas expectativas nas costas de outras pessoas, querida, mas o erro disso é só nosso. – Ela suspirou, se sentando no banco ao meu lado. – Não podemos esperar algo delas e esperar que elas façam isso. – Suspirei.
- E agora isso, dois filhos em menos de dois anos. – Balancei a cabeça.
- Você sabe que eu acredito em carma, não sabe? – Assenti com a cabeça. – O universo dá um jeito do que for certo acontecer, meu amor. Se for certo, ele vai dar esse jeito. – Dei um pequeno sorriso.
- Não era para ser, Gio! – Pressionei os lábios. – Eu o perdi e eu gosto do Dom.
- Não do mesmo modo. – Suspirei.
- Talvez não, trabalhar com o Gigi e encontrá-lo em qualquer oportunidade não ajuda, mas eu sei que o perdi e só preciso seguir com a minha vida. Posso acabar ficando com o Dom, talvez não, não sei. Só que o Gigi já fez um grande estrago. – Ela sorriu.
- Eu amei outro homem antes de conhecer o Fabrizio, sabia? – Ela falou e virei para ela. – Era nova igual você, achei que seria para sempre, demorei para esquecer, tentei com outros e não deu, até que precisava pegar uns materiais que meu pai estava fazendo uma reforma em casa e conheci o Fabrizio, foi à primeira vista. – Sorri.
- Vocês dois são um casal incrível, quero ter essa cumplicidade de vocês um dia. – Ela beijou minha têmpora.
- Um dia você vai ter, amor. Quando é certo, você sabe.
- O Gigi parecia certo. – Suspirei.
- Bom, a vida trabalha de formas diferentes, vocês dois estão vivos ainda, não?!
- Ah, que horror, tia! – Ela riu fracamente.
- Só estou dizendo que o amor da sua vida não precisa ficar contigo aos 28 anos, durante seus anos dourados. – Ela falou. – Tem muitos casais que se ajeitam depois de velhos. Aquelas histórias de casais que se separaram na guerra e se reencontraram 50 anos depois. – Gargalhei.
- Ah, tia Gio, não! Quero um momento que eu ainda posso aproveitar. – Ela riu.
- Sinto dizer que isso você não escolhe. – Ela falou e eu suspirei. – Cada um tem seu tempo, amor, a vida de ninguém acontece igual do outro. – Ela sorriu. – As coisas vão acontecer. – Assenti com a cabeça. – Vai ficar tudo bem.
- Espero que sim. – Suspirei. – Vamos parar com esse papo, hoje já é um dia depressivo. – Levantei do banco e ela riu. – Cadê os gêmeos?
- Na piscina. – Ela falou.
- Ah, eu vou me trocar e vou lá com eles. – Falei, pegando a mochila na mesa. – Ou você quer ajuda aqui?
- Não se preocupe, eu já coloquei uma carne no forno, vou fazer um risoto e Fabrizio está fazendo uns pães para noite. – Assenti com a cabeça.
- Eu vou lá, então! – Falei, colocando a mochila nas costas.
- Ligue para Giulia, . Fale o que você me falou para ela, ela talvez possa te ajudar mais. – Assenti com a cabeça.
- Pode deixar. – Sorri, seguindo para a porta que dava para o quintal.
- E ah! – Virei para ela novamente. – Quero fazer uma festa surpresa para os meninos, tente descobrir o que eles querem de presente, por favor.
- 10 anos? – Perguntei e ela assentiu com a cabeça. – Para eles, eu não sei. Para vocês, paciência, pois eles logo entrarão na aborrecência! – Brinquei, ouvindo-a rir.
- É uma boa! – Ela disse.
- Pode deixar, eu tento descobrir algo.
- Eu chamo na hora de comer! – Ela falou e eu assenti com a cabeça, saindo para fora, vendo os gêmeos na piscina e Fabrizio parado em volta da mesa.
- Pode entrar lá. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- ! – Os meninos gritaram animados.
- Oi, meninos! – Sorri.
- Vai nadar com a gente? – Gianni perguntou.
- Vou sim! Só vou me arrumar. – Falei.
- Volta logo! – Pietro falou e eu acenei, seguindo para o banheiro dos fundos.

Lui
31 de maio de 2009
- Para lá! – Fiz indicação para Chiellini, movimentando as mãos e vendo ele e os outros jogadores montando a barreira. – Isso! Para! – Falei, vendo-o confirmar com a cabeça e se virar de frente ao batedor da Lazio.
Me coloquei mais para frente do gol, me preparando para a defesa e estralei os dedos. O árbitro apitou e ele fez o chute. A barreira pulou e uma cabeceada de Zebina fez a bola subir, Chiellini correu para recebê-la no peito e mandou para o meio de campo. Os jogadores voltaram para o centro e o árbitro apitou uma falta de Lichtsteiner da Lazio em cima de Marchisio. Ele deu um cartão amarelo e Marchisio colocou a bola, recebendo uma sinalização do árbitro.
O árbitro indicou a lateral do campo, onde o auxiliar ergueu os números 11 e 30 e eu ri fracamente. Era isso, era hora de o Pavel sair de campo para sempre. Os jogadores correram em direção a Pavel e eu segui na direção deles, vendo Chiellini, Zebina, Legrottaglie, Marchisio se aproximarem e darem tapas em seus cabelos. Abracei-os e Del Piero segurou seu rosto, falando algumas palavras inaudíveis, já que o estádio inteiro estava em pé para aplaudi-lo. Camoranesi e Amauri se aproximaram também e, logo, os 10 os abraçava.
Pavel entregou a braçadeira de capitão para Del Piero e consegui abraçá-lo propriamente, dando um beijo em sua testa, vendo que ele tentava segurar as lágrimas, mas em vão. Ele se afastou, seguindo para fora do campo e agradeceu a torcida. Voltei correndo para meu posto e vi Tiago trocar de lugar com ele de campo.
Pavel fez um sinal da cruz e seguiu para o banco de reservas para cumprimentar o técnico, que agora era Ciro Ferrara devido ao pedido de demissão de Ranieri há dois jogos do final do campeonato, assistentes técnicos e jogadores no banco, incluindo Trezeguet.
O jogo retornou sem muitos grandes acontecimentos, somente uma falta de Zebina em Lichtsteiner novamente, montei a barreira mais uma vez e eles conseguiram evitar que a bola chegasse em mim, mas dessa vez eu peguei a mesma ainda no ar.
O jogo finalizou e nós comemoramos como se tivéssemos ganhado algo, mas não, não conseguimos alcançar a Inter e ficamos em segundo lugar. Tivemos seis empates e uma derrota antes de Ranieri ser sacado e Ciro, nosso antigo companheiro, segurar as pontas por esses últimos dois jogos de vitória. Nos contentamos com o segundo lugar e com uma classificação para Champions League. Tentar novamente, já que fomos eliminados nas oitavas esse ano.
Mas hoje não era dia para falar o que houve ou não, era dia de falar de Pavel. Cumprimentá-lo pelo seu último jogo e pela sua carreira.
Segui em direção ao vestiário, tirando as luvas e cumprimentando os jogadores que eu encontrava no meio do caminho, sejam nossos ou da Lazio e dei dois tapinhas nas costas de Ciro quando me aproximei dele. Tínhamos esperança de que ele ficasse para a próxima temporada, o time recriou uma coragem perdida nessas últimas rodadas e era o que me empolgava para a próxima temporada.
Segui para dentro do vestiário junto dos outros jogadores e já vi em meu lugar a camiseta em comemoração ao Pavel. O kit tradicional com seu nome e número atrás. Deixei as luvas no assento e puxei a camiseta que eu usava e coloquei a blusa comemorativa. Olhei em volta rapidamente, vendo os outros jogadores fazendo o mesmo e já saindo, e vi que haviam segurado Pavel lá fora. Troquei as chuteiras pelos tênis e segui para fora do vestiário, atravessando os corredores e encontrei Pavel na entrada do túnel junto de sua esposa e seus dois filhos.
- Pavel! – O abracei apertado e ele apoiou o queixo em meu ombro. – Parabéns, cara! Toda sorte do mundo para você. Você teve uma carreira incrível, foi um prazer enorme jogar contigo.
- Obrigado, Gigi! – Ele me deu dois tapinhas nas costas. – Foi um prazer jogar contigo e contra você também. – Rimos juntos.
- Já sabe o que vai fazer? – Perguntei.
- Vou fazer alguns cursos, mas pretendo voltar. Os diretores estão me oferecendo algumas coisas, vamos ver o que vai dar certo.
- Dentro ou fora de campo?
- Fora! – Rimos juntos. – Não acho que sirvo para treinador. – Dei um tapinha em suas costas e cumprimentei sua esposa, sentindo-a me abraçar fortemente e passei a mão na cabeça de seus filhos.
Voltei para o campo, aplaudindo a torcida que gritava e cantava animada. Me coloquei ao lado de Trezeguet no corredor de jogadores e percebi que as laterais do campo estavam mais lotadas do que antes, além de fotógrafos e repórteres, muitos familiares e conhecidos estavam lá. Os jogadores saíam do vestiário, cumprimentavam Pavel e seguiam para o corredor, ocupando os dois lados.
- Todos nós estamos com a camisa que foi muito importante para nós durante esses oito anos. Foram anos importantes, emocionantes e prazerosos com você na nossa família. Foi uma honra para nós te ter em nosso time, um prazer conquistar tudo o que conquistamos juntos, os bons e maus momentos, as felicidades e tristezas, as vitórias e as derrotas. – O narrador do estádio falava. – Com uma Bola de Ouro, quatro vezes Melhor Jogador do Ano, três scudetti, ou cinco, - Rimos com a lembrança dos relegados. – duas Coppa Italia, quatro Supercopas italianas, um campeonato Serie B, duas vezes campeão da República Tcheca, uma vez campeão da Europa League, uma Supercopa da UEFA, uma vez campeão da Taça da República Tcheca, nosso número 11, Pavel Nedved!
A torcida gritou junto com o narrador e todos aplaudimos, vendo Pavel entrar em campo, fazendo seu tradicional sinal da cruz mais uma vez e o cumprimentamos, esticando as mãos para ele. Pavel ergueu as mãos para o céu, aplaudindo a torcida e eles começaram a cantar a sua música.
Ele começou a fazer a tradicional volta olímpica, a mesma que Conte e Ciro haviam feito em seu último jogo e fomos atrás dele, acompanhando-o pelo meio do campo. Que jogador, cara! Pavel não fazia parte de escândalos, não discutia, não arranjava encrenca, era sempre na dele e merecia tudo o que havia conquistado nessa carreira, seja na Itália conosco e com a Lazio, o que torna esse último jogo mais irônico, como também na República Tcheca. Só foi uma pena não conseguirmos vencer o scudetto para ele finalizar da melhor forma possível.
Ele finalizou a volta olímpica, voltando a ficar perto de nós e baguncei seus cabelos e ele seguiu para o dentro da roda novamente, passando as mãos no rosto visivelmente emocionado e era fácil compreender, eu estava emocionado e não era nem comigo isso, só começava a pensar como seria quando fosse a minha vez.
- O capitano da Juventus concede a Pavel uma camiseta com o número de presenças como biaconero. – Del Piero entregou o quadro para Pavel com uma camisa com o número 327 que todos nós assinamos e os aplaudimos.
Os fotógrafos e repórteres começaram a se aproximar de Pavel para tirar algumas fotos e os jogadores começaram a se dispersar para perto de suas esposas e filhos. Alena não estava ali, muito menos Louis, então acompanhei os jogadores para as laterais do campo e vi Trezeguet passando as mãos nos olhos.
- Chorou um pouco? – Perguntei, batendo em suas costas.
- Mais do que ele! – Ele falou, me fazendo rir. – É difícil pensar quando for a nossa vez.
- Pensei a mesma coisa. – Suspirei, virando o rosto em direção à família de Pavel e me surpreendi com abraçando a filha de Pavel, os olhos visivelmente úmidos.
Ela deu um beijo na testa de Ivana e seguiu para o pequeno Pavel, bagunçando os cabelos do menor e se abaixando para ficar da altura do mesmo. Ele a abraçou apertado e ela o ergueu no ar por alguns segundos com um largo sorriso no rosto. Logo ela se levantou e nosso Pavel se aproximou deles.
o abraçou fortemente, apoiando a cabeça no ombro dele e ele deu alguma risada de algo que ela falou. Ela deu um beijo em sua bochecha, assentindo com a cabeça e ambos sorriram. Ela se afastou dele, deixando-o com a sua família e eu vi que ela usava a mesma blusa que a gente com seu nome e número. Fiz um aceno com a mão em sua direção e ela sorriu, desviando em algumas pessoas para chegar em nós.
- Ciao, ragazzi! – Ela abraçou Trezeguet pelos ombros.
- Ei, olha quem está aqui! – Ele falou rindo.
- Ainda se surpreendem? – Ela se aproximou de mim, dando um rápido abraço e um beijo em minha bochecha e seguiu para Trezeguet.
- Imaginei que não fosse perder a festa. – Falei.
- Ah, é meio triste, né?! – Ela suspirou. – Estou chorando desde a hora que ele saiu do campo. – Rimos juntos.
- Não está fácil! – Trezeguet também passou a mão nos olhos e ela sorriu.
- Ah, manteiga derretida! – Ela falou, abraçando-o de lado e ele fez o mesmo. – Perdemos um guerreiro, então?
- Nem fala! Quem você vai trazer para gente? – Perguntei e ela fez uma careta.
- Não é fácil substituir a camisa 11. – Ela falou.
- Alguma ideia? – Trezeguet perguntou.
- Capaz de ter mudança de número internamente, Amauri é o mais provável, né?! – Ela deu de ombros. – Mas talvez tenhamos grandes nomes para vocês. – Ela sorriu.
- Consegue adiantar para gente? – Perguntei.
- Não sei o andamento, mas ouvi meu chefe falando com um tal de Fabio.
- Cannavaro? – Perguntei e ela deu de ombros.
- Ou Grosso, ou os dois... – Ela riu fracamente. – Eu sondei alguns brasileiros e uruguaios, ninguém está falando de sair... Ainda. – Ela olhou para mim.
- David! – Viramos para o lado, vendo a esposa de Trezeguet.
- Já volto. – Ele falou, dando um beijo na testa de e seguindo em direção a Beatrice. acenou para ela que abriu um largo sorriso animada.
- Eu não estou saindo do time, se é isso que você quer saber. – Falei e ela ergueu o rosto para mim.
- Só estou dizendo que você estava desanimado, Giorgio recebeu várias visitas do Ciro falando que você não estava contente.
- Não estava. – Falei. – Eu fiquei lesionado por metade da temporada, achei que pudesse ser a minha falta, mas o Manninger aguentou bem. Quando eu voltei, o time estava em baixa ainda e foi ficando cada vez pior. Não dá para empatar com o Lecce e Reggina, não é?! – Ela deu de ombros.
- Penso que isso não seja necessariamente algo ruim. – Ela falou. – Talvez os outros times estejam melhorando. – Ela deu de ombros. – É a prova que precisamos jogar todo jogo como se estivéssemos jogando contra Milan, Roma ou Internazionale. – Ponderei com a cabeça. – Sem achar que porque os times são pequenos, a gente vai vencer fácil.
- É uma boa perspectiva. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Então, o que vai fazer nas férias? – Ela perguntou. – Forte dei Marmi?
- Não, tem a Copa das Confederações, vou para África do Sul.
- Nossa! Verdade! – Ela riu fracamente. – Meu Deus, mais uma competição para eu morrer de ataque cardíaco. – Sorri. – A última foi difícil, não aguento pênalti.
- Nem fala! – Falei, coçando a cabeça. – O Casillas é um dos goleiros que eu mais admiro, é pesado jogar contra ele.
- Foi competição direta, Gigi. Você e ele. – Ela deu um pequeno sorriso e eu assenti com a cabeça.
- Valeu! – Falei.
- Desejo uma boa sorte para vocês. Só vai ter gigante! – Rimos juntos.
- Estamos no mesmo grupo do Brasil, vamos ver o que vai rolar.
- Pênaltis entre você e o Júlio César? Vou preparar o calmante. – Rimos juntos.
- Esperamos que não precise chegar a isso.
- Também espero.
- E você? Quais os planos das férias? – Perguntei.
- Sem planos ainda, talvez vá visitar a Giulia em Roma, talvez eu fique por aqui, realmente não sei. – Ela suspirou. – Ficar realmente sem fazer nada me parece uma ótima ideia. – Rimos juntos.
- Eu também curtiria, aproveite por nós dois. – Ela assentiu com a cabeça.
- Ganhe para gente! – Ela falou.
- Pode deixar. – Ri fracamente.
- Vou cumprimentar o pessoal e depois já vou. Então, nos vemos na próxima temporada?
- Com certeza. – Sorri e ela acenou com a mão antes de se colocar no meio das pessoas. Dei um rápido aceno e a última coisa que eu vi foi seu sorriso.



Capitolo venti

Stagione 2009/2010
Lei
Nove de julho de 2009

- Vorrei donare il tuo sorriso alla luna perché di notte chi la guarda possa pensare a te. Per ricordarti che il mio amore è importante che non importa ciò che dice la gente perché... Ah! De novo não! – Balancei a cabeça, rindo comigo mesma.
Fazia poucos dias que essa música havia lançado, estava passando em todos os canais de música e eu não parava de cantar. Era muito bonita e eu gostava muito de Tiziano, mas eu não fazia outra coisa além de cantar.
Fechei a porta do carro, percebendo que eu não cantarolava mais, mas eu ainda repassava a melodia em minha cabeça, desistindo de tentar ignorar e tranquei o carro, pendurando minha bolsa diagonalmente e segui a passos rápidos para a calçada, fugindo dos diversos carros que chegavam no mesmo horário do que eu. Assenti para algumas pessoas que encontrei no meio do caminho, inclusive para alguns jogadores que eu tinha menos intimidade e corri rapidamente para pegar o elevador aberto.
- Buongiorno! – Falei para as pessoas e vi todos os botões dos andares abertos.
Após diversas paradas, encontrei Sara, estagiária da parte da manhã, no fundo do elevador e ela deu um sorriso tímido, me fazendo sorrir. Assim que o elevador parou no quarto andar, saímos e ouvi algumas conversas passando pelo mesmo e ri fracamente ao encontrar Gigi e Fabio conversando, animados.
- Olha quem resolveu aparecer! – Falei e ambos viraram em minha direção.
- ! – Eles falaram, animados e vi que Sara praticamente saiu correndo para a sala, ela era muito tímida.
- Ah, ! – Fabio se aproximou de mim.
- Ah, agora você vem com todo amor? – Perguntei, cruzando os braços e ele me abraçou da mesma forma, apesar de ele não ser tão mais baixo do que eu, ele apoiou a cabeça em meu ombro, fazendo com que os braços doessem com o aperto e eu os soltasse ao redor do corpo e levei as mãos para a lateral de seu corpo.
- Ah, vai dizer que não sentiu saudades? – Ele deu um sorriso e eu revirei os olhos.
- Senti, mas você nos abandonou. – Falei firme e ele deu um beijo em minha bochecha.
- Bom te ver, fiquei sabendo que foi promovida depois de tudo...
- Alguém precisava se dar bem com isso tudo, não?! – Gigi falou e rimos juntos. Me aproximei dele, passando um braço pelos seus ombros e sorri quando ele estalou um beijo em minha bochecha.
- E o que você veio fazer aqui? Real Madrid te abandonou? – Levei a língua até a bochecha e ele riu.
- Eu fiz um contrato só de três anos. – Ele falou. – Estou no fim da minha carreira, lindinha, faço 37 anos em setembro, as coisas ficam mais difíceis...
- A idade chega. – Gigi falou e percebi que ele segurava minha cintura e abaixei minha mão, me afastando devagar.
- O que te ofereceram? – Perguntei, cruzando os braços novamente.
- Um ano com oportunidade de renovação. – Ele deu de ombros. – Eu fui feliz aqui... – Ele esticou o indicador antes que eu falasse algo. – Sei que deveria ter ficado, mas achei que encerraria minha carreira internacional e não estava pronto para isso.
- Vemos pelo Gigi que isso não aconteceu. – Falei, dando de ombros.
- Me desculpe. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, abraçando-o direito e ele me tirou do chão, me fazendo rir.
- Bom te ter de volta, Fabio. Como está Daniela? Martina? Andrea? – Perguntei.
- Todos bem. – Ele sorriu. – Martina está com oito, Andrea com quase cinco...
- Nossa! – Balancei a cabeça. – Eles nem devem se lembrar de mim.
- A Martina se lembra. Ela perguntou se eu ia encontrar a “menina legal”.
- Viu?! Crianças me amam! – Rimos juntos.
- Se você vê-la com o Louis, você não acredita. – Gigi falou. – É mais calmo do que comigo ou com a Alena.
- Que ironia, não?! – Fabio falou e pressionei meus lábios.
- Então, você veio falar com Giorgio, e você? – Virei para Gigi.
- Vou estender meu contrato. – Ele falou.
- Ah, mesmo? – Perguntei, surpresa.
- É, estive conversando com seu chefe, com o antigo presidente e ainda estou comprometido com o projeto do time, para mostrar isso, vou fazer essa extensão para 2013. – Ele falou.
- Isso é bom, Gigi! Te teremos aqui por mais tempo. – Sorri e ele assentiu com a cabeça.
- É interessante para os dois lados, então... – Ele deu de ombros.
- Claro, com toda certeza. – Sorri.
- Até os 35? – Fabio perguntou.
- É, cara! – Rimos juntos.
- Ah, adoro vocês falando que estarão velhos com 35 anos ou pensando em se aposentar aos 36... É desesperador para meros mortais como nós. – Eles riram.
- Não se preocupe, estaremos aqui contigo! – Ri fracamente.
- Espero que sim, foi bem sem graça a campanha da Copa das Confederações, né?! – Virei para eles.
- Ah, cara! – Gigi fez uma careta.
- Fase de grupos, gente? Não! – Falei e eles riram fracamente.
- Tem o Mondiale ano que vem, quem sabe? – Fabio falou.
- Como atuais campeões do mundo, vocês chegarão como favoritos, se preparem. – Falei e eles riram, coçando a nuca.
- Bom, temos que nos classificar antes, não é mesmo? – Fabio falou.
- Nem brinca com isso. – Gigi falou e eu ri fracamente.
- Bom, gente, eu tenho que ir, temos vários jogadores chegando, o Ciro vai ser nosso técnico, temos mudança de presidente, é começo de temporada, tem milhares de amistosos para preparar...
- Relaxa, . É só o primeiro dia. – Gigi falou e rimos juntos.
- Estou ligada no 220, gente! Preciso gastar. – Eles sorriram. – Vocês estão aguardando?
- Sim. – Ambos falaram.
- Os vejo daqui a pouco, então. – Sorri, me afastando alguns passos de costas.
- Ei, ... – Virei para o lado, apoiando a mão na parede.
- Oi. – Falei para Gigi.
- Gostei do cabelo. – Ele falou e eu levei a mão aos cabelos curtos acima dos ombros e assenti com a cabeça.
- Grazie. – Virei de volta e segui pelo corredor, passando a ponta dos dedos no cabelo recém-cortado e com a tintura em dia.
Meus cabelos eram mais escuros normalmente, mas eu gostava de jogar um platinado mais claro nele, acabei me acostumando e sabia que Gigi tinha gostado. Não que eu fizesse pensando nele, eu tenho meu namorado, mas me lembro da primeira vez que eu fiz isso e realmente tinha sido com a intenção de fazê-lo ver o que ele perdeu e adiantou, mas já conhecemos essa história e sabíamos que tinha sido inútil, mas ainda continuava chamando sua atenção e eu havia conseguido um look diferente.
- Buongiorno! – Falei, entrando na sala e vi Angelo, Claudio, Sara e mais dois estagiários da manhã, além de Giorgio apoiado em minha mesa.
- Ei, ! Estávamos te esperando. – Ele falou.
- Scusa, parei para conversar com o Fabio e o Gigi. – Falei, dando a volta e sentei em minha mesa.
- Viu que conseguimos? – Ele riu fracamente.
- O Fabio eu já imaginava que ia voltar, agora a extensão do Gigi realmente me surpreende. – Rimos juntos.
- As coincidências da vida. – Ele disse, nos fazendo rir. – Ok, agora que estão todos aqui, quero fazer rapidamente um repasse do nosso começo de temporada. – Ele falou, se levantando e se colocando no meio da sala, entre as mesas.
- Vamos trabalhar, galera! – Angelo falou, nos fazendo rir.
- , Angelo e Claudio, quero que vocês cuidem do recebimento e contratos novos. Teremos de novidade, além do Cannavaro, a volta do Chimenti, goleiro... – Assenti com a cabeça. – Dois brasileiros, Felipe Melo e Diego Ribas, , como está o português?
- Eu tive duas aulas. – Ele fez uma careta.
- Bom, o Felipe vem da Fiorentina, está aqui há um ano, caso não seja dos melhores, ele já jogou em países espanhóis...
- Fica mais fácil. – Falei e ele confirmou com a cabeça.
- Agora o Diego, vem de time alemão ou brasileiro, vamos ter que nos virar...
- Vai dar certo. – Falei e eles assentiram com a cabeça.
- Ok, depois temos o Fabio Grosso, campeão do mundo, não teremos dificuldades... – Assenti com a cabeça. – Também teremos Martín Cáceres, uruguaio, que vai vir de empréstimo do Barcelona. Esses são os nomes mais relevantes e que o Ciro já falou que quer na equipe. – Confirmei com a cabeça, apoiando os cotovelos na mesa. – Mas também teremos vários empréstimos que voltarão, empréstimos que sairão e os que voltarão, mas já sairão de novo, além dos fins de contrato e tudo mais. – Suspiramos.
- Nada diferente do que estamos acostumados. – Falei, tentando dar uma força para os estagiários, alguns eram a primeira vez que enfrentavam no começo da temporada.
- Ah, é tudo na calma e na paz! – Giorgio falou. – Vamos deixar os empréstimos para os estagiários e contratos novos para vocês três. – Ele disse e assentimos com a cabeça. – Eu fico com o recebimento dos jogadores, a imprensa vai subir também, enfim, é algo mais chato.
- Mais glamoroso, não é, Giorgio? – Angelo falou, nos fazendo rir.
- Vocês façam tudo e eu recebo os créditos. – Ele falou e rimos.
- É claro! – Rimos juntos.
- Eu vou precisar que um de vocês organize as informações para os amistosos e pré-temporada. – Ele falou. – O Ciro queria o primeiro já segunda-feira, então precisamos correr.
- Eu posso fazer. – Falei. – Vamos deixar os estagiários com os empréstimos, assim eles já aprendem e eu faço isso rapidinho, já estou acostumada.
- Beleza, você tem o contato do Ciro, liga para ele e veja as opções que ele deu para o primeiro, eles comentaram em fazer em Pinzolo, como ano passado, eles gostaram bastante... – Assenti com a cabeça.
- Pode deixar. – Falei.
- Depois, teremos outros cinco amistosos, todos já confirmados. Um na França, dois em Trento, um em Salerno e nosso tradicional jogo em Villar Perosa, Juventus A contra Juventus B. A família Agnelli liberou convite para todos os funcionários esse ano. – Ele assentiu com a cabeça.
- Nossa! Que milagre! – Claudio falou, nos fazendo rir.
- Vai rolar transporte para funcionários? – Perguntei.
- Podemos fazer isso funcionar, hein? – Angelo falou.
- Aposto que terão mais interessados. – Giorgio falou. – Fiquem à vontade em organizar, a gente paga.
- Eba! – Comemoramos juntos, rindo fracamente. Até parece que ganhávamos uma merreca para precisar fazer isso, mas era engraçado.
- Depois teremos diversas outras pequenas competições, tem a Copa da Paz que será na Espanha, o Trofeo Tim que será em Pescara e o tradicional Trofeo Luigi Berlusconi.
- Ah lá, perder mais um ano. – Angelo falou e rimos.
- Incrível, não é?! Ganhamos sempre do Milan, mas se é o Trofeo Berlusconi, a gente sempre perde. – Comentei, ouvindo até os estagiários rirem dessa vez.
- É, acontece. – Giorgio riu fracamente. – Temos o sorteio do campeonato no começo de agosto, planejamento que comece no dia 23 de agosto, logo vai parar para as classificatórias da Copa, as quais teremos jogo em Turim e a Nazionale treinando aqui conosco.
- Ah, bacana, hein?! – Angelo falou e eu sorri. Era legal poder ver a Nazionale, apesar de que acabei de encontrar dois membros importantes na sala de espera lá fora.
- O técnico foi demitido depois do fiasco da Copa das Confederações e eles contrataram o Lippi de novo, então acho que poderemos aproveitar um pouco.
- Ah, mentira! – Sorri. – Que saudade dele.
- Estará conosco em breve. – Sorrimos juntos. – Teremos também a divulgação da Coppa Italia em breve, mas por chegarmos em segundo no campeonato ano passado, vamos direto para as oitavas, ou seja, jogamos só em janeiro, e temos o sorteio da Champions no começo de setembro.
- É muita coisa ao mesmo tempo. – Manuel, um dos estagiários novos, comentou.
- Você se acostuma, parece loucura, mas não é. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Bom, acho que é só. – Ele disse.
- Bom, vamos trabalhar, então, tem muita coisa para resolver. – Falei e eles riram.
- Vamos lá! – Giorgio falou, batendo as mãos e me inclinei para ligar meu computador.

Lui
Oito de setembro de 2009

Passei as mãos nos cabelos, jogando-os para trás e prendi a parte da frente com alguns grampos para evitar de cair no olho durante o treino. Peguei a blusa de mangas compridas de treino dos goleiros e joguei por cima da cabeça, ajeitando-a no corpo e me sentei no mesmo lugar que eu estava acostumado a sentar todos os dias para amarrar minhas chuteiras.
Me levantei novamente, pegando as luvas e segui para fora do vestiário, esbarrando em outros companheiros de Nazionale. O local do CT estava um pouco cheio, cerca de 50 pessoas, além do top cinco da Juventus estavam em volta do campo para acompanhar o nosso treinamento. Lippi estava parado à alguns passos do gramado, com as mãos para trás, só observando.
- Ei, mister! – Falei e ele se virou.
- Ei, Gigi! – Passei o braço pelos seus ombros.
- Com saudades? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Para caramba! – Ele sorriu, suspirando. – Não me lembro de muita coisa.
- Eles reformaram aqui tem algum tempo, estão com um projeto enorme.
- De estádio, né?! Ouvi falar.
- É. É de cair o queixo o projeto completo. – Ele assentiu com a cabeça.
- E a ? – Ele perguntou e eu suspirei. – Fiquei surpreso por te ver com outra mulher, pai de um filho, esperando outro.
- As coisas desandaram depois do Calciopoli. – Falei, suspirando. – Ela ficou muito brava comigo e seguimos para lado diferentes, quando eu percebi que eu ainda gostava dela e tentaria lutar por ela, a Alena engravidou e eu não podia fugir da responsabilidade.
- E como vocês estão agora? – Ele perguntou.
- Somos amigos, se é possível dizer assim. – Dei de ombros. – À medida do possível.
- Só amigos? Mesmo? – Rimos juntos.
- Só amigos, Lippi, por difícil que pareça. Ela está muito mais bonita do que você deve se lembrar. – Suspirei. – É difícil. – Rimos juntos.
- Beh, você não seguiu meus conselhos, agora é aguentar as consequências. – Ri fracamente.
- É, eu sei, mas ela seguiu em frente também, está com um namorado faz uns dois anos, nossos caminhos se separaram. – Ele ponderou com a cabeça.
- Quem sabe eles não se encontram no futuro? – Ele perguntou, dando dois tapinhas nas minhas costas e eu neguei com a cabeça.
- Sempre muito romântico, não é?! – Fabio apareceu ao lado de Lippi.
- Sempre! – Lippi falou, sorrindo, seguindo alguns passos em direção ao campo.
- Falando de ? – Ele perguntou.
- De quem mais você acha que falariam comigo? – Ele riu fracamente.
- A é bem quista em todo lugar que ela vai, Gigi, é incrivelmente bem-sucedida aqui no time, seus caminhos podem não se cruzar no futuro, mas capaz de andar lado a lado pelo resto da vida, mesmo se você sair daqui um dia, o que você está evitando cada vez mais. – Suspirei.
- Eu não sei, às vezes eu penso que não saio daqui por ela. – Falei, engolindo em seco.
- Por que você diz isso? – Ele perguntou.
- Toda vez que o time está em baixa ou acontece algo e eu decido sair, por algum motivo, eu encontro com ela e ela me dá palavras de esperança, me motiva, enfim, faz com que eu mude de opinião. – Ele ponderou com a cabeça.
- A te acalma, Gigi. Até hoje. – Ele falou. – Você a irrita, isso eu tenho certeza, mas ela consegue te acalmar de uma forma que eu nem sei se é possível. – Suspirei. – O que a Alena disse sobre você sair do time? – Ele perguntou.
- Eu não compartilho muito essas frustrações com ela, só algum jogo que fomos mal ou algo assim...
- Mais um motivo. – Ele deu de ombros.
- Sei lá, cara, já faz três anos.
- Algumas coisas nunca mudam. – Ele disse, indicando com a cabeça o outro lado e eu me virei, vendo-a se aproximar do campo com os dois colegas da contabilidade que estavam sempre com ela.
Seus cabelos brilhavam com o sol forte e, pela sua postura, era possível perceber que ela se equilibrava na ponta dos pés para que os saltos mais finos não afundassem na grama, o que ajudava para que ela olhasse acima das pessoas à procura de alguém.
- É, você ainda baba por ela. – Fabio deu um soquinho em meu peito e eu franzi o rosto com a pequena dor. – Vem, vamos treinar!
O mais baixo me puxou pelo braço e acompanhei com o olhar até a mudança de nível e as chuteiras fincassem na grama. Me aproximei dos jogadores, a maioria era de velhos conhecidos como Iaquinta, Pirlo, Camoranesi, De Rossi, Grosso, Zambrotta, Chiellini, Marchisio, Legrottaglie, mas sempre tinha um novato de vez em quando. Bom, Marchisio era novato, mas jogávamos juntos há algum tempo já.
- Lippi. – O chamei.
- Oi? – Ele se virou.
- Ela está aqui! – Apontei para do lado de fora do campo.
- Ah, me dá uns minutos, rapazes. – Ele falou, com um sorriso e seguiu em direção.
- Aonde ele vai? – De Rossi perguntou.
- Ver uma velha amiga. – Falei, acompanhando Lippi e deu um gritinho, que foi possível ouvir de onde eu estava, antes de abraçar Lippi fortemente, me fazendo rir.
- Quem é ela? – Zambrotta perguntou.
- É a da contabilidade. – Fabio falou.
- Aquela é a ? Impossível! Ela está tão diferente. Tão gata! – Virei o rosto para Zambrotta.
- Respeito, cara! – Eu e Fabio falamos juntos, mas não podia deixar de concordar.
- Que diferença faz três anos, hein?! – Ele falou.
- Eu não me aproximava se eu fosse você. – Fabio falou e eu ri fracamente.
- Por quê? – Ele perguntou.
- Ela te odeia. – Eu e o zagueiro falamos juntos.
- Pelo Calciopoli ainda? – Ele perguntou e confirmamos com a cabeça e observei e Lippi conversarem, animados, de alguma coisa. – Achei que ela não estivesse mais aqui depois de tudo, vocês terminaram e...
- Hum, namorada do Gigione? – De Rossi me apertou pelos ombros e eu revirei os olhos.
- Fala mais alto, ela não ouviu. – Ele riu fracamente. – É ex... – Balancei a cabeça. – Bom, nunca oficializamos nada, mas é mais prático de explicar.
- Incrível como fica cada vez mais complicado, não é?! – Camoranesi falou, me fazendo rir.
- Engraçadinho! – Falei.
- Vai apresentar para gente? – De Rossi falou.
- Essa daí ele guarda a sete chaves. – Iaquinta falou e eu suspirei.
- Cara, não, eu...
- Não dá para te defender dessa, Gigi! – Marchisio falou.
- Até o novato, hein?! – Chiellini falou para mim e eu suspirei.
- Eu odeio vocês. – Eles riram.
- Agora, falando sério, quem é ela? – De Rossi perguntou.
- , coordenadora de contabilidade do time. – Falei. – A gente se envolveu no fim de 2005, mas ela terminou tudo quando descobriu do Calciopoli.
- Uh, pesado, hein?! – Ele falou e eu suspirei.
- Eles se envolveram em 2005, mas se gostam desde que ele entrou no time. – Camoranesi falou.
- Mesmo? – De Rossi riu fracamente.
- É, difícil desapegar, sabe? – Ele negou com a cabeça.
- Ela é muito bonita, Gigi.
- Eu sei. – Suspirei. – E ela é incrível.
- Já até sei onde isso vai dar. – Ele deu dois tapinhas em minhas costas e eu suspirei.
- Vocês poderiam não focar na minha vida pessoal? Temos um jogo contra a Bulgária amanhã. – Falei.
- A gente até poderia não focar, cara, mas é incrível o que uma mulher pode fazer com o maior goleiro do mundo. – De Rossi disse.
- Há, há, há! – Revirei os olhos.
- E, da última vez que eu chequei, você tinha uma namorada, tem um filho com essa namorada e estava esperando um segundo. – De Rossi disse.
- Isso se chama ironia cruel. – Fabio falou e eu empurrei-o pelo ombro.
- Bulgária, se lembrem? – Falei e eles riram, seguindo para dentro do campo.
Virei o rosto para o lado, vendo Lippi e ainda conversando e neguei com a cabeça. Era incrível mesmo a forma que ela afetava todos ao seu redor. Como ela sempre agregava mais gente e como todos pareciam gostar dela. Ela era incrível mesmo e estava montando a família que ela sempre quis.
Eu só conseguia sentir pena por tudo o que aconteceu conosco, não dos momentos bons, mas de como tudo acabou. E era também inevitável pensar em como seriam as coisas se ainda estivéssemos juntos, será que ainda estaríamos juntos ou isso era quase uma paixonite reprimida por ter a perdido? Era difícil saber. Eu não era uma pessoa fácil de lidar, ela também não, mas, de alguma forma, tínhamos feito dar certo.
Lippi se virou para olhar em nossa direção e ele apontou em minha direção e olhei rapidamente para ver se era eu mesmo ou se tinha ainda alguma pessoa em volta, mas soube que era eu quando ela ergueu a mão e eu acenei de volta, dando um pequeno sorriso. O sorriso que abriu em seu rosto foi muito mais bonito e com certeza bagunçou alguma coisa aqui dentro.
Não, Gigi, ignora isso e finja que nunca aconteceu! É melhor. É sempre melhor.

Lei
Quatro de outubro de 2009 (originalmente seis de dezembro de 2009)

- Ah! Não acredito! – Falei, animada, vendo Giulia de braços abertos para mim.
- Eu falei que viria, não disse? – Ela me apertou fortemente e eu soltei um suspiro.
- Ah, como eu senti falta de você! – Sussurrei contra seu ouvido.
- Também senti demais! – Ela segurou meus ombros e eu suspirei. – Cadê o Dom?
- Ficou preso no trabalho, mas ele também não se importa muito com jogo, você sabe!
- Começo a achar que esse cara não é para você! – Ela suspirou.
- Ah, para! Ele me faz bem! – Empurrei-a de leve pelos ombros.
- Se você está feliz, é o que importa para mim. – Ela deu um beijo em minha bochecha.
- E quem é seu amigo? – Indiquei o cara ao seu lado.
- Esse é o Antonio, ele é o meu cinegrafista!
- Ciao, come stai? – Perguntei e nos aproximamos, trocando rápidos beijos nas bochechas.
- Tudo bem, prazer em te conhecer! – Ele disse. – Giulia falou muito de você!
- Tenho até medo do que ela falou. – Giulia abriu um sorriso irônico e eu revirei os olhos.
- Nada que te comprometesse.
- Ainda! – Giulia disse e eu revirei os olhos.
- Vocês vão acompanhar comigo ou vão para área da imprensa? – Perguntei.
- Eu vou para área da imprensa, mas você pode ir comigo! – Ela falou, puxando algo de sua mochila e me entregou uma credencial.
- Ah, fala sério! – Peguei, animada.
- Se alguém perguntar, você é minha produtora.
- Está bem, mas qual a sua pauta? Eu não vou zoar ninguém, ainda mais meus amigos! – Falei rapidamente.
- Relaxa, amiga! A gente só vai fazer algumas entrevistas depois do jogo. – Ela deu de ombros. – Mas assim, é Juve e Inter, alguma coisa vai ter para gente falar! – Ela deu de ombros.
- Ah, eu te odeio. – Falei rapidamente e ela riu, me puxando pelos ombros.
- Ei, nem vem, vocês foram eliminados da Champions na fase de grupos. – Fiz uma careta.
- Ah, nem fala nisso, o pessoal é meio obcecado na Champions, não cheguei a falar com ninguém, mas aposto que não estão muito felizes.
- Gigi continua viciado? – Ela perguntou mais baixo, com a boca próxima ao meu ouvido.
- Nos falamos bem menos agora, mas acho que sim, talvez só passe quando eles ganharem. – Falei, suspirando. – Ah, se falar com ele, por favor, não mencione isso.
- Relaxa, amiga, eu brinco que vou te zoar, mas não uso nada do que você fala para mim. Eu só uso o que cai na imprensa. – Assenti com a cabeça.
- Valeu. – Ela sorriu.
- Mas agora vocês vão para a Europa League e...
- Ah, vamos ser honestas, Giulia, ninguém realmente se importa muito com a Europa League. – Rimos juntas. – É prêmio de consolação.
- Ela não está completamente errada! - Antonio falou e mostrei o indicador para ele, ouvindo-o rir.
- Vamos lá, o jogo logo vai começar, quero pegar um lugar bom. – Ela disse e seguimos para dentro do estádio.
- Onde você fica? - Perguntei.
- No campo! - Ela falou, animada.
- Vai ser uma primeira vez para mim - Dei de ombros.
- Você é importante, amiga, você só não fica no camarote porque não quer. – Ponderei com a cabeça.
- É bem alto, qual é! Em casa eu vejo melhor. – Ela gargalhou.
- Vem, pela primeira vez eu vou poder te apresentar algo, ao invés do contrário. – Sorri e entrelacei o braço com o dela, caminhando lado a lado.
Seguimos em direção à entrada da imprensa e facilmente conseguimos entrar. Observei rapidamente o local, pois nunca tinha entrado na área interna do Olimpico. Na verdade, parei de ir nos bastidores dos jogos desde que eu e Gigi nos afastamos, agora somente alguns jogos mais importantes.
Passamos por alguns corredores e acabamos saindo em um dos laterais, não o principal. Era do lado contrário de onde ficavam os fotógrafos, mas era em uma das esquinas do campo. Do lado direito, de quem assiste ao jogo da televisão. Giulia e Antonio se ajeitaram ali e eu fiquei um pouco atrás, em pé mesmo, já começando a me arrepender de ter topado ficar com ela, mas não demoraria muito para eu me sentar no chão.
Os jogadores logo entraram em campo, fizeram a apresentação e se separaram, a Juventus ficando do lado esquerdo dessa vez. Não que fosse ruim, era Derby d’Italia, então podia não ter Gigi tão perto da minha visão no primeiro tempo, mas teria Julio César, o lindo goleiro brasileiro da Internazionale. Tinha algumas vantagens, não é?!
Era Juve e Inter, então era esperando alguns dramas, só não achava que muitos. Chiellini abriu o placar para nós aos 20 minutos após a cobrança de uma falta vinda de Diego. Ele cobrou, Felipe Melo cabeceou e Julio César deu uma bobeada, não pegando uma bola fácil como aquela. Não sei o que houve entre os treinadores, mas Mourinho, técnico da Inter, foi convidado a sair do campo.
Aos 23, Muntari, da Inter, deu uma entrada em Cáceres, fazendo o nosso jogador empurrá-lo. Foi do lado contrário do campo, mas Gigi, que era o capitão do jogo, veio correndo em cima de ambos para apartar e acabou saindo abraçado com Muntari. Era por isso que todo mundo gostava dele, qual é!
Dois minutos depois, Melo, autor do nosso gol, deu uma entrada de responsa em Stankovic e levou um amarelo, dois minutos depois, Samuel Eto’o igualou tudo com um gol de cabeça também. 1x1 em casa. Foi nesse momento que o Olimpico começou a esquentar mais do que antes, um minuto depois e Eto’o fez uma falta, ganhou um amarelo, mas foi ok, o primeiro tempo acabou calmo assim.
Giulia aproveitou o intervalo para fazer alguns de seus comentários sarcásticos sobre o jogo, ela citou até Gigi estar jogando de calças coladas, eu tinha que confessar que não assistia ao Le Iene todos os dias, passava muito tarde, mas era a melhor coisa que havia acontecido com Giulia. Além de ela estar dando valor muito mais à sua imagem, ela havia finalmente desapegado de seus pais em todos os sentidos. Ela era uma figura pública, então, principalmente os jovens, a reconheciam na rua e isso era legal demais. Estava muito feliz por ela, ainda mais vendo-a em prática.
O segundo tempo voltou calmo, a vantagem era que Gigi estava na minha linha de visão e eu poderia observá-lo melhor. Não confundam as coisas, ele ainda é bonito e olhar não tira pedaço e nem conta como traição. Ele não nos viu lá e eu também preferi me manter escondida ali, estava dando certo.
Nós só conseguimos nos colocar em vantagem aos 58, quando o novato Marchisio, de somente 23 anos, recebeu um rebote, driblou a defesa inteira, inclusive o goleiro, e fez um gol que me deixou de boca aberta. Giulia parecia ter acabado de ganhar um Mondiale.
- IL PRINCIPINO! IL PRINCIPINO! È GOL DELLA JUVENTUS! – Ela gritava, pulando em frente à câmera e eu gargalhei, feliz por não ter microfone para mim também.
Ele foi comemorar direto com os torcedores, correndo por toda pista de atletismo, até chegar neles. O estádio estava alvoroçado, mas Giulia claramente estava mostrando seu favoritismo. Esse foi o último gol da partida, mas depois começou a chover cartões amarelos. Fabio Grosso ganhou um aos 60 minutos por pisar no pé de Eto’o. Aos 80, Amauri ficou com inveja e deu o troco após perder uma bola ao fazer firula. Stankovic havia levado de novo.
Quanto tudo estava calmo e faltava somente três minutos mais acréscimos para o jogo acabar, veio o ponto alto do jogo. Tudo começou aos 84 minutos quando Júlio César fez um tiro de meta, após a bola recuar para ele. Milito e Melo subiram na bola, mas por algum motivo o árbitro parou o lance por uma falta que eu devo não ter prestado atenção. Cannavaro cobrou a falta e Amauri tentou receber a bola, mas a Inter mandou de volta para o nosso campo.
Com a bola alta, Melo e Baloteli, da Inter, foram juntos na bola, o segundo deu um empurrão em Melo e esse deu uma cotovelada nele, que no meu ângulo não atingiu nada e ele se jogou no chão com a mão no rosto. Cannavaro e Chiellini se aproximaram, enquanto Zanetti, da Inter, já veio em cima de Melo. Gigi apareceu igual um tornado.
Gigi e Thiago Motta, se aproximaram do árbitro e do nada, repito, do nada, os dois, que não tinham nada a ver com a situação, estavam tentando se socar! Gigi claramente queria pegá-lo pelo pescoço. Cáceres e Amauri tentaram separá-los e Chivu, da Inter, deu uma cabeçada em Sissoko.
Camoranesi e Fabio tentavam tirar Gigi de perto junto de Stakovic e Eto’o da Inter e Thiago Motta insistia em vir por cima. Aí Fabio, que é mais baixo do que eu, também tento encarar os jogadores da Inter, fazendo que os assistentes técnicos da Juventus estraram no campo.
- É briga generalizada, pessoal! – Giulia falava gargalhando no microfone. – É hoje que a Juventus vai cumprir a revanche do título de 2005.
Eu só ouvia, pois eu ainda estava travada. Eu acho que eu nunca tinha visto Gigi com tanta raiva do que naquele momento. Na verdade, acho que eu nunca tinha visto-o bravo de verdade. Aquilo era um surto de raiva incrível. Incrível mesmo, pois se ele apertasse o pescoço do cara da mesma forma que ele apertava minha bunda, ia deixar uma marca bonita. Eu sei, já passei por isso, mas de um jeito bom.
O árbitro acabou dando um amarelo tanto para Melo quanto para Balotelli e, como era o segundo amarelo de Melo, ele foi expulso do campo. Não que tivesse feito tanta diferença, pois a única coisa de interessante que aconteceu depois daquilo foi um amarelo em Cáceres por demorar para devolver a bola em jogo, mas quem pode julgá-lo, não é mesmo?
O jogo acabou estendendo até os 95 minutos, pois Materazzi meteu a cara na cabeça de Chiellini e os médicos precisaram entrar, só para acabar o jogo na volta do lance. Ciro estava literalmente surtando no banco, assim como outros jogadores e confesso que era legal ver esses acontecimentos mais de perto. Assim que o árbitro apitou, a Juventus entrou em campo quase como se fosse final de Mondiale mesmo e a Internazionale foi para o vestiário sem dar nenhuma satisfação a mais.
- Vem! – Giulia gritou, não sei se para mim ou para Antonio, mas fui atrás dela.
- Olha o que você vai falar, hein?! – Falei e ela gargalhou.
- Veja se aprende algo. – Ela disse, se colocando ao lado de alguns repórteres e me mantive um pouco afastada.
Os jogadores se cumprimentaram em meio de campo, acompanhei Gigi seguir até do outro lado do campo para cumprimentar Júlio César e eles cumprimentaram a torcida da mesma forma de sempre, corriam em direção aos quatro lados do estádio, aplaudindo-os. Giulia deixou alguns torcedores passarem, mas era óbvio que ela pegaria Melo e Gigi para Cristo. Não posso nem culpá-la, dessa vez eles deram motivo.
Gigi veio primeiro, Giulia esperou calmamente com que ele falasse com os outros repórteres esportivos para tê-lo somente para si quando ele se aproximou dela. Ela deu um largo sorriso e ele claramente revirou os olhos.
- Gigi, Giulia do Le Iene.
- Fala sério! – Ele falou, fazendo-a gargalhar. – Você não!
- Ei, o que eu fiz? Não perguntei nada ainda. – Ela falou e eu podia ver os olhos brilhando com aquela falsa cara de santa.
- O que você quer? – Ele cruzou os braços.
- Seu amigo não é simpático. – Ela virou para mim e os olhos de Gigi focaram rapidamente em mim e eu senti pelo gorro na cabeça não ser mais comprido.
- Ah, dona , está envolvida nessa também? – Gigi cruzou os braços.
- Eu nem estou aqui. – Me coloquei ao lado de Antonio. – Eu só vi o jogo de um lugar bem privilegiado.
- Ela é malvada. – Gigi falou, apontando para Giulia e eu gargalhei.
- Ela não faz por mal. – Falei, fazendo uma careta em seguida.
- Faço sim! – Giulia disse e eu belisquei-a. – Ai!
- Mas você poderia dizer o porquê daquele faccia a faccia ali! – Comentei, dando de ombros.
- Viemos ver futebol, boxe é mais tarde. – Giulia falou.
- Para você eu falo, para ela não. – Sorri, dando uma piscadela para Giulia.
- Se você enrolar menos, eu vou embora mais rápido. – Giulia falou, dando de ombros.
- Às vezes o sangue sobe e dá umas brigas, acontece. – Ele deu de ombros.
- Informações nos dizem que você e o Thiago não se dão muito bem, isso vem desde a Nazionale, acho que é algo muito maior do que só sangue subir, hein?! – Adorava que Giulia ficava de braços cruzados, uma mão embaixo da axila e parecia super desleixada ao esticar o microfone para Gigi, além de perecer um boneco.
- Eu não tenho comentários sobre isso. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Tem algo a ver sobre a retirada do scudetto de 2005 e passado para a Inter? É alguma rixa que ficou?
- Não, o que está no passado já foi, nós ganhamos aquele scudetto, independente do que a Federazione fale, para gente ainda temos, agora se a Inter comemora um scudetto não vencido, o problema não é com a gente. – Ele deu uma risadinha nervosa e eu sorri, mordendo meu lábio inferior.
- E a luta? Você quase pegou o cara pelo pescoço, ia ser gancho de direita, erguer pelo pescoço, um na barriga? – Gigi gargalhou.
- Não foi dessa vez. – Eles riram juntos.
- Pode encerrar, Antonio. – Ela disse e o cinegrafista abaixou a câmera. – Bom te ver, Gigi.
- Eu não posso falar a mesma coisa. – Gigi disse, rindo e ambos se abraçaram rapidamente. – Se cuida!
- Você também. – Ele disse, passando por ela e, enquanto ela focou em Melo, eu dei alguns passos para trás com Gigi. – Bom te ver aqui. – Ele comentou, puxando as luvas para fora.
- Poderia falar o mesmo, mas você está no seu habitat. – Falei.
- E você não?! – Ele brincou.
- Mais ou menos. – Ri fracamente.
- Bom te ver com a Giulia. – Ele disse. – Achei que você ficou mais para baixo quando ela se foi.
- Ah, as coisas mudam, gosto muito dela perto de mim, mas ela está fazendo muito sucesso, ela estava precisando disso. – Suspirei, vendo Giulia rir de algo que Melo falava. – O que importa é que nossa amizade não mudou nada. – Ele concordou com a cabeça.
- E como estão as coisas? Alguma novidade? – Ponderou com a cabeça.
- O de sempre. Você?
- Ah, nada de novo também. – Ri fracamente.
- Bom te ver. – Falei.
- Você também. – Ele me abraçou, colando os lábios em minha bochecha por alguns segundos, rindo em seguida. – Você está muito gelada. – Ele me apertou mais um pouco e eu fechei os olhos por alguns segundos.
- Você me conhece. – Rimos juntos. – Não custa muito para me deixar gelada.
- Lembro bem de seus pés gelados. – Pisquei, abrindo um sorriso. – A gente se vê em Vinovo ou aqui?
- Claro! Manda um beijo para os meninos, por favor.
- Pode deixar! – Ele falou, sorrindo e o vi dar alguns passos de lado, antes de sumir para dentro do estádio novamente. Pressionei meu lábio, rindo fracamente e voltei para perto de Giulia que finalizava com Melo e esperava os jogadores da Internazionale.
- Você vai ficar aqui hoje? – Perguntei.
- Vou sim.
- Noite das meninas?
- Não tem que trabalhar amanhã? – Ela perguntou.
- Tenho, mas não é todo dia que tenho minha amiga aqui. – Ela sorriu, me abraçando de lado.
- Combinado! – Ela disse.

Lui
31 de outubro de 2009

- Acho que chega de chocolate para você, não é?! – Passei o pano na boca de Louis, que ainda tinha um pedaço em sua boca.
- Ah, pai! – Ele reclamou.
- Não adianta reclamar. Você vai direto para cama! – Ajeitei-o em meu colo.
- Não ‘tô com sono. – Ele falou, agitado.
- Depois do tanto de chocolate que você comeu, é claro que não. – Falei, empurrando o portão de casa e o coloquei no chão para fechar, enquanto isso ele correu para a porta.
Segui em sua direção, esticando a mão para ele e ele pegou, só esperava que da mesma forma que o açúcar deu pique para o garoto, ele também o fizesse dormir muito mais rápido. Abri a porta, vendo que o primeiro andar estava vazio e Alena já deveria ter ido deitar. Prometi chegar até as nove da noite, mas Louis gostou tanto de ganhar doces no Dia das Bruxas e acabamos seguindo para outras casas do bairro.
Isso porque ele não tinha nem dois anos, imaginava no futuro quando ele saísse sozinho com seu irmãozinho e com uma fantasia um pouco mais planejada do que só a capa improvisada do Superman nas costas.
- Mãe! Mãe! – Louis gritou, animado.
- Não grita! Sua mãe já deve estar dormindo. – O peguei no colo, colocando-o em meus ombros e ele continuou querendo escalar.
- Eu quero mostrar pa’ ela. – Ergui o saco cheio em minha mão e suspirei.
- Amanhã você mostra, vamos nos trocar e ir para cama. – Empurrei a porta de seu quarto, colocando-o na cama.
Eu estava muito cansado, tivemos um jogo pesado mais cedo, perdemos de 2x3 contra o Napoli em casa, uma perda totalmente inaceitável e que nos mantinha em segundo lugar na tabela. Ainda cheguei em casa e Louis estava curioso do porquê várias pessoas estavam batendo na porta de casa para pedir doces e queria fazer isso também. Então, improvisamos uma fantasia para ele e andamos por várias ruas do bairro. Eu só queria tomar um banho e dormir.
- Gigi? – Ouvi a voz de Alena.
- Fica deitado um pouco, eu já volto.
- Não... – Ele reclamou e eu suspirei.
Sabia que eu não deveria ter deixado ele exagerar no doce, e ainda tinha um saco cheio. Eu comia super pouco e Alena menos ainda, teria mais cenas como essa. Saí do quarto dele, vendo-o largado na cama e esperava que a adrenalina baixasse logo mais. Voltei para meu quarto e vi Alena sentada na beirada da cama.
- Ei, Lena, ainda acordada? – Me aproximei dela.
- Eu... – Ela fez uma careta, apertando a barriga. – Ai!
- Você está bem? – Andei em sua direção.
- A bolsa estourou. – Ela reclamou e eu arregalei os olhos.
- Faz quanto tempo? – Me aproximei dela, vendo-a apertar a barriga.
- Faz uns 30 minutos. – Ela suspirou. – Eu tentei te ligar, mas...
- Eu esqueci o celular aqui. – Suspirei. – Vem, vamos para a clínica agora! – Segurei-a pelos braços e a ajudei a se levantar.
- Ah! – Ela reclamou. – Devagar! Devagar! – Ela disse.
- Como você conseguiu subir?
- Eu já estava aqui em cima quando estourou. – Ela falou e passei a mão pelas suas costas e suas pernas e a peguei no colo. – Ah! – Ela apertou a mão livre na barriga. – E o Louis?
- Eu volto para pegá-lo e pegar suas coisas, vem! – Saí do quarto, andando pelo corredor e desci as escadas devagar, sentindo-a puxar meus cabelos quando ela pressionava as mãos em meu pescoço. – Pega a chave. – Falei quando passamos pela cozinha e ela a pegou na bancada.
Ela destravou o carro e puxou a porta, a apoiei com as minhas costas e a sentei no banco da frente. Enquanto ela se arrumava, voltei para dentro e subi as escadas correndo. Peguei minha mochila no canto do quarto, sem tempo para pegar as coisas nela, a bolsa de Alena e a do bebê. Fui para meu armário e passei a mão no fundo, encontrando uma caixinha de veludo e a observei por alguns segundos, jogando-a na bolsa, ainda tinha tempo. Segui para o quarto de Louis, onde ele estava da mesma forma de antes, largado na cama.
- Vamos levantar, meu anjo!
- Ah, pai! – Ele reclamou.
- Vamos, filho, seu irmãozinho vai nascer! – Falei rapidamente.
- Agora? – Ele despertou por alguns segundos.
- Vamos, vamos! – O apressei e ele se levantou devagar.
- Eu ‘tô cansado! – Ele reclamou.
- Vamos, você pode dormir no carro. – Falei, pegando-o com o braço livre e segui escadas abaixo com ele.
Fui em direção a garagem, colocando Louis no chão antes de colocar as bolsas no porta-malas, e o peguei no colo de novo, colocando-o no banco de trás, vendo-o tombar para o lado quase imediatamente.
- O que ele tem? – Alena perguntou e eu o ajeitei na cadeirinha, colocando-o no cinto e sua cabeça tombou da mesma forma.
- Pico de glicemia. – Falei, entrando no banco da frente.
- Você o deixou comer muito doce, Gigi? – Alena reclamou.
- Podemos não falar disso agora, Lena? Temos outras prioridades.
- Só porque eu não... Ah! – Ela reclamou novamente.
- Respira, Lena. – Falei, esperando o portão abrir.
- Vai logo! – Ela disse com a voz mais fina.
Saí de casa, fechando o portão e acelerei o máximo que dava pelas ruas de Vinovo até cair na estrada. A desvantagem de morar fora da cidade era essa, estávamos longe de tudo, a privacidade compensava, mas não estava muito preocupado quando Alena soltava gritinhos finos a cada 15 segundos.
Mesmo com o horário e comigo pisando forte no acelerador, demoramos cerca de 15 minutos para chegar no hospital e os gritos de Alena mantinham uma constância cada vez maior e eu me preocupava se meu filho não fosse nascer ali. Parei o carro em frente a área emergencial e saí correndo dele.
- POR FAVOR, ELA ESTÁ TENDO O BEBÊ! – Gritei da rua, abrindo a porta e vendo Alena descer devagar do carro. Os enfermeiros logo trouxeram uma cadeira de rodas para ela e ela pareceu relaxar o olhar.
- Faz quanto tempo que a bolsa estourou? – O enfermeiro perguntou.
- Uns 45 minutos. – Ela falou, apertando a mão na barriga.
- Vou chamar o médico. – Ele falou.
- Cuore, você vai entrar comigo? – Ela perguntou, segurando minha mão.
- Eu tenho que ficar com Louis. – Falei, dando um beijo em sua mão. – Fica bem.
- Eu vou! – Ela falou baixo, suspirando. – Cuida dele. – Assenti com a cabeça.
- Eu te amo. – Falei.
- Eu também te amo. – Ela falou e fez um sinal para o enfermeiro e ele seguiu empurrando a Alena para dentro.
Suspirei, observando-a sumir pelos corredores e balancei a cabeça. Eu não queria entrar, eu não me sentia preparado para isso, da mesma forma que não me sentia quando foi a vez de Louis. Era estranho dizer isso, mas eu me sentia uma fraude de vez em quando. Eu amo minha família, amo Louis, amo David que chegaria ao mundo em alguns minutos ou horas, mas não me sentia pronto para encarar o parto e nem achava que eu seria uma grande ajuda para manter Alena calma.
Entrei no carro novamente, levando-o até o estacionamento da clínica e saí dele, seguindo para o banco de trás, encontrando Louis adormecido na sua cadeirinha e dei um sorriso. Passei a mão em seus cabelos castanhos, jogando-os para trás e soltei-o do cinto, pegando-o no colo, sentindo-o passar os braços em meus ombros.
Fui para o porta-malas, pegando minha carteira e celular na mochila e coloquei nos bolsos do casaco. Passei a mão na mochila e senti a caixinha em minha mão, puxei-a, a olhando e suspirei. Eu não me sentia pronto para pedir para casar com Alena, não podia confirmar nem que era algo que eu sonhava, mas estávamos juntos há três anos, tínhamos dois filhos, era algo que eu sentia que não conseguia fugir mais.
Minha mãe e minhas irmãs falavam muito sobre isso em minha cabeça, eu sabia que seria como as coisas deveriam finalizar, mas não me sentia como meus colegas que sentiram a necessidade de fazer o pedido ou que se sentiam completamente preparados, isso não aconteceu comigo, mas tínhamos um relacionamento sólido e dois filhos, era nosso futuro, eu não tinha como fugir disso, se não fosse agora, seria em alguns meses ou anos, era bom que não acontecesse por pressão.
Coloquei a caixinha em meu casaco, peguei a bolsa de Alena e do bebê, apoiando ambas nos ombros e fechei tudo, seguindo em direção até a entrada novamente. Me aproximei da porta e sentei Louis no balcão.
- Ciao. Sou o acompanhante de Alena Seredova. – Falei, apoiando a bolsa no balcão e puxei sua carteira, tirando o documento dela.
- Ela já entrou no centro cirúrgico, você pode aguardar na sala de espera à direita. – Ele falou e eu assenti com a cabeça. – Logo levo para você assinar.
- Poderia entregar para ela? – Estiquei a bolsa do bebê. – Eles vão precisar.
- Claro! – Ele falou, pegando a bolsa.
- Grazie. – Falei, pegando Louis novamente e andei com ele até a sala de espera que estava vazia.
Me sentei em um dos sofás e o deitei lá, usando a capa de sua fantasia como cobertor e suspirei, acariciando suas pernas. Relaxei a cabeça para trás, apoiando-a na parede e dei uma olhada em meu relógio, 23:14. A noite seria longa.
Eu precisava avisar os familiares, mas eu estava muito cansado, o dia foi pesado demais. Fechei os olhos, relaxando o corpo e apoiei a mão em Louis, esperando que ele não rolasse no sofá durante seu sono ou durante o meu.
- Senhor Buffon? – Abri os olhos, apressado, olhando para Louis ainda dormindo ao meu lado e o médico em minha frente.
- Oi. – Cocei os olhos.
- Nasceu! – Arregalei os olhos.
- Já? Que horas são? Por quanto tempo eu dormi? – Perguntei.
- São 23:52.
- Dio mio! Foi muito rápido dessa vez. – Falei.
- Sim, ela já tinha a dilatação necessária, não foi preciso ir para cesariana.
- E como eles tão? – Perguntei. – Eles estão bem?
- Sim, muito bem. – Ele sorriu, esticando a mão. – Parabéns, papai, é um meninão! – Ele falou, me cumprimentando e eu apertei-a firme, ainda um pouco atordoado.
- Grazie. – Falei, com um sorriso nos lábios. – Eu posso vê-los?
- Eles estão limpando o bebê, vão transferi-la para o quarto e logo te chamamos.
- Grazie, doutor. – O cumprimentei novamente e ele se retirou.
Suspirei, relaxando meu corpo no sofá novamente e percebi um pequeno sorriso nos lábios. Olhei para Louis dormindo calmamente e não tive coragem de acordá-lo. Puxei o celular de meu bolso e disquei o telefone da minha mãe, ouvindo-o tocar diversas vezes antes de atender.
- Alô? – Ouvi uma voz fraca.
- Pai? – Perguntei.
- Gigi? – Ele falou.
- Sim, pai, sou eu. – Falei, suspirando.
- Aconteceu alguma coisa, filho? Que horas são?
- É quase meia-noite, pai. – Falei. – Só liguei para avisar que seu neto nasceu.
- Nasceu? – Ele falou um pouco mais alto e isso pareceu despertá-lo. – Amore, amore, acorda, o David nasceu.
- Nasceu? – Ouvi a voz da minha mãe do outro lado.
- Nós estamos indo para Turim agora.
- Não, pai, por favor, não peguem estrada a essa hora. Durmam e venham amanhã. Vou avisar as meninas.
- Como eles estão? – Ela perguntou.
- Estão bem. – Falei. – Não os vi ainda, mas foi muito rápido, pai, não deu nem uma hora de parto.
- Ah, que bênção. – Ele falou. – Te ligamos pela manhã para saber onde vocês estão.
- Devo ficar aqui, tudo depende da recuperação de Alena.
- Um beijo para vocês dois. – Ele falou.
- Pode deixar, pai. Um beijo para vocês. – Falei.
- Para você também, filho. – Ele falou e eu suspirei, desligando a ligação. Olhei para o aparelho e abri a mensagem de Veronica.
“Boa noite, mana! O David nasceu. Ele e Alena estão bem.” – Enviei e abri a mensagem com Guendy.
“Ei, mana, surpresa! David nasceu. Agora você não pode mais falar que não tem um afilhado. Ambos estão bem”.
Enviei as duas mensagens e suspirei, vendo que já passava da meia-noite, agora mesmo que eu não ia dormir. Passei as mensagens para baixo e vi alguns de meus amigos e saí mandando a mesma mensagem para todos “Ei, fulano, David nasceu” e fui descendo, até que vi o nome de . Não conversávamos muito por mensagem tanto que a última era de um mês, mais ou menos, quando foi no ar a matéria que Giulia fez comigo para o Le Iene.
Subi as mensagens aos poucos, vendo as nossas conversas e tive um estalo. Já passava da meia-noite, era aniversário dela. Desci as mensagens para baixo e comecei a escrever uma nova para ela.
“Ei, , tanti auguri di un buon cumpleanno. Muita paz, saúde, am...” – Apaguei a palavra amor. – “...Saúde, felicidades e sucesso na sua vida”. – E enviei, respirando fundo. Não deu dois minutos e o celular apitou de novo, uma resposta dela.
“Nossa, pouco depois da meia-noite? Isso é culpa por ter se esquecido uma vez? Grazie, Gigi, mas acho que você deveria estar dormindo a essa hora”. – Abri um pequeno sorriso.
Não estou conseguindo dormir, mas lembrei de você. Aproveite seu dia”. – Não entrei em detalhes, sabia como as coisas entre nós ainda se bagunçavam um pouco.
“Estou um pouco agitada, o dia foi complicado, há, há, há! Grazie”. – Ela respondeu.
“Nem fala! Dorme bem”.
“Você também”.
– Ela respondeu e eu suspirei, deixando um sorriso formar em meus lábios.
Suspirei, deixando o celular de lado e mexi no bolso do meu casaco, tirando a caixinha de veludo e movimentei-a entre minhas mãos. Eu tinha que admitir que sentia muita falta de , em diversas situações, sei que já faz três anos, mas era diferente com ela, não sabia se era o time ou o gosto pelo futebol, mas parecia que estávamos na mesma sintonia.
Infelizmente, eu não podia mais pensar em , ela fez a escolha dela e nós dois seguimos em frente. Eu com Alena e ela com aquele idiota do Domenico. Até o nome dele me trazia asco. Na verdade, acho que qualquer um que namorasse ela me traria essa sensação, independente do nome, mas eu precisava esquecê-la, na verdade, acho que já tinha esquecido, não tinha esperança de que ficaríamos juntos um dia, mas era impossível esquecer nossos momentos.
Agora Alena, construímos tantas coisas juntos que era impossível eu não querer dar esse passo. Eu não tinha como fugir da responsabilidade de ficar com ela para sempre, apesar do “para sempre” parecer muito para nós dois agora. Eu só não conseguia deixar para lá, a pressão em cima de mim para fazer isso era maior do que a minha vontade de fazer isso agora, mas eu sentia que estava na hora. Logo mais eu acabaria virando chacota com ela.
- Senhor Buffon? – Ergui a cabeça, vendo uma enfermeira vir em minha direção. – Sua esposa e filho já foram para o quarto, você pode vê-los. – Assenti com a cabeça.
- Grazie, já estou indo. – Falei, me levantando e mexi a caixinha em minha mão novamente.
Peguei Louis e a bolsa de Alena e segui a enfermeira pelos corredores do hospital. Ela empurrou a porta do quarto que Alena estava e respirei fundo antes de entrar. Alena estava com um pacote em seu colo e abri um sorriso, vendo-a retribuir quando seu olhar encontrou com o meu.
É, estava na hora.

Lei
17 de dezembro de 2009

- , pode vir aqui, por favor? – Sara me chamou e eu empurrei minha cadeira, sentindo minhas costas doerem com o movimento e eu me estiquei antes de seguir até a mesa de Sara.
- Diga! – Falei, apoiando uma mão em sua mesa.
- É normal ficar esse valor em excesso aqui? – Ela perguntou.
- Sim, é sim. Esse é o valor máximo que o time pode investir agora no fim do ano. – Falei, apontando o número para ela.
- Ah, entendi! E se eles não investirem?
- Aí conta como lucro e passa para a outra tabela. – Falei.
- Ah, legal, legal! – Ela sorriu. – Eu acabei aqui, então. Tem algo que eu possa fazer?
- Você pode dar uma checada nas questões para o jogo contra o Catania no domingo. – Falei. – Vai ser o último jogo antes das férias.
- Pode deixar! – Ela falou e eu dei um sorriso, voltando para minha sala.
Sara era a única estagiária e eu tinha muita esperança de que pudéssemos contratá-la quando ela se formasse em um ano. Via muito dela em mim, tirando que ela era muito tímida, mas isso daria para gente ajeitar aos poucos.
- Ciao, ragazzi! – Giorgio entrou na sala.
- Ciao, Giorgio. – Falei junto dos outros funcionários.
- , você está muito ocupada agora? – Ele se apoiou em minha mesa.
- O suficiente para fazer uma pausa se o senhor precisar. – Rimos juntos.
- Preciso! – Ele falou. – Eu preciso encontrar o presidente agora, mas o Fabio vem aqui para resolver aquela questão... – Assenti com a cabeça, sabendo o que ele estava falando. – E o Gigi vem para resolver a questão da lesão dele.
- Vamos precisar emprestar alguém de última hora agora? – Perguntei.
- Não foi tão grave, mas talvez fique fora por dois meses. – Ele suspirou. – Pegou no menisco. – Fiz uma careta.
- Já sofri na região do joelho, então sei um pouco do que ele está passando. – Ele assentiu com a cabeça.
- Teria como você falar com eles por mim? Não é nada complicado. Com o Fabio é falar da multa da Federazione e com o Gigi é só pedir para ele assinar e liberar a questão do seguro médico.
- Claro. – Falei, assentindo com a cabeça. – Que horas eles chegam? – Perguntei.
- As quatro e eu preciso estar as quatro lá no andar de cima. – Ele falou e eu virei o olhar para o relógio no computador.
- Você tem quatro minutos. – Falei.
- As coisas estão na minha sala, levem eles lá, você resolve rapidinho.
- Pode deixar, Giorgio. Vai logo! – Falei, vendo-o rir e ele saiu apressado pela sala.
- Entra lá, gente, a vai cuidar para vocês. – Me assustei ao ouvir sua voz e sabia que eles tinham chegado.
Me levantei novamente, sentindo minhas costas doerem mais uma vez e estiquei o corpo, suspirando. Desviei da minha sala, checando se os estagiários estavam bem, já que Angelo e Claudio haviam adiantado suas férias e coloquei a cabeça para fora, vendo Gigi e Fabio se aproximando da porta.
- Se não é a dupla novamente. – Falei e eles riram.
- Ciao, . – Gigi sorriu e eu retribuí.
- Tudo bom, gente? – Dei um rápido abraço em cada um deles, ficando na ponta dos pés para abraçar Gigi, já que minhas botas eram baixas.
- Bom te ver, garota! – Fabio falou.
- Vocês também. – Falei. – Vamos lá na outra sala. – Falei, me colocando na frente deles e dei alguns passos, empurrando a porta de Giorgio e dei espaço para que eles entrassem, Gigi vinha acompanhando de muletas.
- Como você está, Gigi? – Perguntei, fechando a porta.
- Ah, imobilizado, para variar. – Ele falou. – Pelo menos eu dou sorte de me lesionar no frio, não aparece.
- Acho que as muletas já falam o suficiente. – Rimos juntos. – Podem sentar aí no sofá, já volto – Falei e segui até a mesa de Giorgio. – E você foi pego no antidoping por uma picada de abelha, Fabio? Qual é! – Ele jogou a cabeça para trás dramaticamente.
- Eu tenho uma carreira quase perfeita, no fim, acontece isso. – Ele suspirou.
- A dica para não ter problemas é não tentar. – Falei, pegando os papéis e uma caneta.
- Ele tenta demais ser o bom moço! – Gigi falou e rimos juntos.
- Mais ou menos, não é?! – Falei, ponderando com a cabeça.
- Algum dia você vai se esquecer do Calciopoli? – Fabio falou um pouco alto demais e eu arregalei os olhos.
- Meu Deus, relaxa! – Abanei a mão e me sentei em uma poltrona. – Se eu não tivesse esquecido, posso garantir que nem falando com vocês eu estaria. – Disse. – Mas usarei essa carta na manga em qualquer oportunidade que seja necessária. – Dei de ombros e ele revirou os olhos.
- Não é uma boa memória para mim, caso não se lembre. – Gigi falou e eu pressionei os lábios.
- Nem para mim. – Suspirei, virando o olhar para ele.
- Deixa para lá. – Ele disse, fechando os olhos e eu suspirei.
- Enfim, vamos ao que interessa. Algum de vocês se importa que eu fale na frente do outro? – Perguntei.
- Sem problemas. – Eles disseram juntos.
- Ok, vamos lá! Gigi, no seu caso é só assinar mesmo, não é a sua primeira lesão, então você já sabe como funciona.
- Sei sim! – Ele falou e eu peguei a documentação dele e coloquei em sua frente.
- Espero te ver em campo em breve. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Eu também. – Ele suspirou.
- Pelo menos pode aproveitar com seu novo filho. – Engoli em seco ao falar isso.
- Você soube? – Dei de ombros.
- Sabemos de todos os dependentes de vocês. – Falei. – E agora faz sentido você me mandar mensagem de feliz aniversário pouco depois da meia-noite.
- É, eu estava no hospital. – Assenti com a cabeça.
- Você poderia me dizer, sabe? Eu ia gostar de saber.
- Não sabia se devia. – Assenti com a cabeça.
- Apesar de tudo, Gigi, eu me preocupo contigo e realmente gosto da sua família. – Dei um meio sorriso.
- Valeu, . – Pressionei meus lábios em um sorriso fracassado.
- David Lee, hum? – Perguntei. – Diferente.
- Inspirado no nome do vocalista do Van Halen. – Ri fracamente.
- É, me lembro que você gostava deles. – Falei e ele sorriu.
- Achei que fosse uma boa.
- É bonito. – Sorri e virei para Fabio que tinha um largo sorriso no rosto. – O que foi?
- Nada! – Ele foi irônico, rindo sozinho e eu revirei os olhos.
- Enfim, Fabio, a Federazione tirou o processo de antidoping por perceber necessidade do remédio, mas mantiveram a multa por não ter avisado da utilização antes do teste. – Falei.
- Ah, fala sério. – Ele disse e eu estiquei a documentação para ele.
- Sobre isso não tem o que fazer.
- Federazione só quer tirar dinheiro da gente. – Ele reclamou baixo.
- Antes de vocês do que de mim. – Falei, dando um largo sorriso e ele riu fracamente, assinando o papel. – Bom, é só isso, crianças. – Falei, juntando os papéis.
- Podemos ficar aqui? Eu gostei do sofá. – Gigi falou.
- Você pode, Fabio precisa treinar, perder do Bari foi vergonhoso, não vão perder do Catania, por favor. – Suspirei.
- Nem fala. – Eles falaram juntos.
- Além da eliminação da Champions. – Gigi disse.
- Como vocês estão com isso? – Perguntei.
- Ah... – Eles deram de ombros.
- Foi feio, mas o time está em má situação. – Gigi falou. – Nem milagre.
- Uma temporada na Europa League vai fazer vocês aprenderem. – Falei, me levantando e eles riram. – Ai! – Reclamei, me apoiando rapidamente no sofá ao meu lado quando senti tudo escurecer.
- Você está bem? – Fabio se levantou mais rápido do que Gigi.
- Deu tontura. – Suspirei, sentindo Fabio me segurar pela cintura. – E não é a primeira vez hoje. – Suspirei.
- Não é melhor você ir embora e descansar? – Gigi perguntou e eu suspirei, passando a mão nos olhos com cuidado devido a maquiagem.
- Deve ter sido algo que eu comi, estou me sentindo inchada também e minha barriga não para de borbulhar. – Suspirei.
- Devem ser gases. – Fabio falou.
- Provavelmente. – Suspirei.
- É, mas fica de olho nessa tontura, não é normal. – Gigi disse e eu suspirei.
- É, mas já melhorei, grazie, ragazzi. – Falei.
- Se cuida, hein?! – Gigi falou.
- Vocês também. – Sorri. – Eu tenho umas coisas para fazer, mas não vejo problema vocês ficarem aqui. – Falei e eles riram.
- É melhor irmos também. – Fabio falou.
- A gente se vê por aí, então. – Falei, abrindo a porta.
- Com certeza. – Fabio falou. – Já sabe onde vai passar as férias?
- Estou de plantão esse ano. – Dei de ombros. – Ficarei em Turim mesmo.
- Hum, que bacana! – Gigi foi irônico e rimos juntos.
- Acontece, está frio demais, então acaba sendo uma coisa boa. – Eles riram juntos e Fabio me deu um rápido beijo na bochecha.
- Nos vemos na festa? – Gigi perguntou.
- Sim, estarei lá. – Sorri. – Nos vemos lá. – Ele me deu um rápido beijo em minha bochecha.
- Até lá, então. – Ele disse e eu acenei para os dois, vendo-os saírem pelo corredor.
Assim que eles saíram da minha visão, eu levei a mão até minha barriga, sentindo-a dura e respirei fundo. Minha menstruação estava atrasada, minha barriga estava inchada e dura, eu percebi tontura há uns três dias, além de dor nas costas e no abdome.
Cazzo!
Eu não poderia estar grávida. Não agora! Eu tomei tanto cuidado! Meu maior sonho da vida era ser mãe, mas agora não seria um bom momento. Eu só tinha 28 anos, amava Dom, mas estava decolando na minha carreira, agora seria um péssimo momento.
Juntei os documentos novamente na mesa de centro e deixei-os na mesa de Giorgio. Saí da sala de Giorgio, desligando as luzes e fechando a porta e voltei para a sala. Era pouco mais de quatro horas, eu tinha quase duas horas para sair daqui. Precisava passar na farmácia e comprar um teste de gravidez. Por favor que não seja gravidez, que não seja gravidez.

Lui
29 de janeiro de 2010 • Trilha SonoraOuça

Observei as placas brilhando devido ao início do pôr do sol e neguei com a cabeça, rindo fracamente. Tinha que admitir que a ideia era genial, mas não sabia se Louis tinha muita idade para isso. Saí do carro, batendo a porta e fui para o banco de trás, encontrando-o em sua cadeirinha e um caminhão em cada mão, fazendo com que ambos batessem, o que explicava o barulho durante o caminho. Tirei-o da cadeirinha e ajeitei o gorro em sua cabeça.
- Vem, meninão! – Falei, deixando um caminhão em cima de sua cadeirinha e peguei a bolsa com suas coisas, apoiando no ombro.
- Eu quero, papai! – Ele falou, tentando se esticar para o caminhão que havia ficado no carro.
- Você vai ter muito com o que brincar. – Apontei para o letreiro neon e seus olhos brilharam.
- Brinquedo? – Ele sacudiu em meu colo, tentando escalar minha cabeça e eu ri.
- É, meu filho, muitos brinquedos para você! – Disse, ajeitando-o novamente e empurrei a porta, seguindo pelo estacionamento do local até a entrada dele.
- Buona notte. – A atendente me falou.
- Buona notte! – Falei.
- Qual a idade dele? – Ela perguntou.
- Dois anos. – Disse.
- Nome, por favor? – Ela perguntou.
- Eu sou Gianluigi e ele é Louis. Sobrenome Buffon. – Falei e ela anotou algo em um papel e me entregou duas pulseiras.
- Uma para você e outra para ele, ele vai ter acompanhamento de monitores enquanto estiver dentro do playground e, caso tenha algum problema, você será chamado pelo autofalante com o número da pulseira. – Chequei e percebi que ambas tinham o mesmo número anotado a mão. – O valor começa a contar a partir da sua entrada e todo tipo de consumo lá dentro também é colocado no mesmo número, na sua saída, eles fecham o valor completo.
- Grazie. – Falei e ela sorriu, abrindo a porta para gente.
Não sei se Louis também arregalou os olhos como eu, mas que lugar sensacional! Era uma lanchonete com playground, fliperama e sei lá mais o quê, era quase como entrar no Pizza Planet do filme dos Toy Story. Na entrada tinha diversas mesas e, ao fundo, vários tipos de playground dividido por idades e, independentemente da idade, eles também eram fechados, fazendo com que as crianças não saíssem.
Encontrei Alex, Fabio Cannavaro, Fabio Grosso, Trezeguet, Giorgio e Mauro sentados em uma mesa no canto, alguns até com o boné ridículo da lagarta que era mascote do local, e me aproximei deles, vendo Louis se mexer rapidamente com tanta informação ao mesmo tempo.
- Sério? – Falei ao parar na mesa deles e apoiar a bolsa de Louis lá. – “Il Regno della Fantasia”? – Perguntei, ouvindo-os gargalharem.
- É a desculpa perfeita, vai! – Alex falou, se levantando. – Podemos usar a desculpa que estamos cuidando dos nossos filhos para ter uma noite só de homens e ter um tempo das nossas esposas. – Ele me cumprimentou, me fazendo rir.
- E ainda tem hambúrguer e milkshake. – Mauro falou, me fazendo rir.
- Tenho que admitir que a ideia foi genial. – Falei, ouvindo-o rir.
- Ciao, Louis! – Alex falou.
- Ciao! – Louis falou e ele foi para o colo de Del Piero.
- E aí, gente? – Passei um por um dos companheiros de time e cumprimentei-os. – Até vocês? -Perguntei para Chiellini.
- Eu vim pela comida. – Ele falou e rimos juntos.
Todos ali tinham filhos, menos ele que era uns bons seis anos mais novos do que eu. Alex tinha Tobias que era um pouco mais velho que Louis e Dorotea que regulava com David, imaginava que não estivesse ali, Cannavaro tinha Christian de 11, Martina de oito e Andrea de cinco, Grosso tinha dois que regulavam com os meus dois, imaginava que só o mais velho estivesse perdido por aí e Trezeguet tinha Aarón de nove e Noraan de um e pouco, imaginava que também não estivesse ali e Camoranesi tinha Leandro de 10, Augustin de sete, Matteo quatro e sua esposa, Karina, esperava o quarto menino, Diego.
- Pai, brinquedo! – Louis apontou no colo de David e eu ri fracamente.
- Deixa eu colocar a pulseira em você. – Falei, pegando uma e coloquei em seu bracinho, fazendo com que ela desse quase três voltas completas. – Me ajuda aqui. – Falei para Alex e ele pegou a pulseira de papel e colocou em meu braço contrário, empurrando as pulseiras mais para o meio. – Eu vou levá-lo e já volto.
- Para o pessoal menor de três anos é ali! – Grosso apontou para o canto esquerdo.
- Valeu! – Falei. – Vamos, filho! – Tirei Louis do colo de David e andei em direção ao local indicado e me aproximei da fila, tomando cuidado para não atropelar as crianças que corriam pelo local. – Ciao, como faço? Só deixá-lo? – Perguntei.
- Aqui está cheio de Juventus hoje, hein?! – O atendente falou e ri fracamente.
- As crianças precisam se divertir também. – Rimos juntos.
- Qual a idade dele? – O atendente perguntou.
- Dois anos. – Falei e ele virou a pulseira no braço de Louis e passou o leitor.
- Estica a sua também, por favor. – Ele falou e eu fiz o pedido, vendo-o também passar o leitor. – Grazie. – Ele falou. – Só deixá-lo aqui sim, na hora de ir embora, fazemos a contabilização do tempo e, se ele precisar de alguma coisa, chamamos pelo autofalante.
- Ok, beleza. – Falei e virei para Louis. – Você quer ficar aqui brincando?
- Quelo! – Ele falou, animado.
- Papai vai estar ali com os amigos dele, o que precisar, pede para me chamar, ok?!
- Ok! – Ele falou, animado.
- Vem comigo! – O atendente falou e Louis foi para o colo dele rapidamente.
- Ciao! – Louis acenou e eu sorri, acenando de volta.
Observei-o colocar Louis no chão no tatame e meu filho foi direto para a piscina de bolinhas, sem nem olhar para trás, suspirei, reconhecendo o filho de Grosso brincando no escorregador e, um tanto receoso, voltei para a mesa com meus amigos.
- Ok, estou com fome, peço no balcão ou...
- Pede no balcão. – Eles falaram quase juntos.
- Pega um milkshake de chocolate para mim? – David perguntou, me esticando uma nota de 10 euros.
- Pode deixar. – Falei, pegando o dinheiro e segui para a fila da lanchonete, vendo algumas opções nas telas acima do balcão. Não seria difícil.
- Buona notte, benvenuto al Regno della Fantasia, em que posso te ajudar? – O atendente perguntou.
- Eu quero um combo número sete e um milkshake de chocolate extra. – Falei.
- O milkshake do combo é de chocolate também?
- Sim, por favor. – Falei.
- Vai dar 17 euros. – Ele falou e eu chequei se tinha notas menores e guardei o dinheiro de Trezeguet no bolso e paguei com o meu, entregando para ele. Ele me devolveu o troco e a nota. – Pode aguardar na fila ao lado.
- Grazie. – Falei e segui para a fila do lado, aguardando alguns segundos até que a fila diminuísse e meu pedido fosse entregue. Agradeci mais uma vez e segui para a mesa novamente, me sentando no local vazio, ao lado de Trezeguet. – Eles não tinham troco. – Inventei qualquer desculpa e devolvi a nota para ele.
- Me lembra de te pagar depois, então. – Ele falou.
- É claro que não. – Tirei um milkshake da minha bandeja e coloquei na dele. – Então, sobre o que estão falando?
- Primeiro: você demorou, hein?! – Cannavaro falou.
- Foi difícil convencer a Alena que era seguro trazer o Louis. – Falei. – Mas aí David chorou e eu saí rapidinho de perto. – Eles riram.
- Enfim, estávamos falando do time. – Del Piero falou, suspirando. – Estamos cada vez mais nos afastando na tabela.
- Estamos em quê? Quarto? – Perguntei.
- Sexto! – Ele falou e eu fiz uma careta. – 17 jogos para o final.
- E muito jogo importante pela frente. – Chiellini falou. – Lazio, Napoli, Fiorentina, Inter, Milan, Parma...
- Beh, o Ciro já foi demitido após o último jogo... – Falei.
- É, mas ninguém garante que com meia temporada o Zaccheroni consiga nos fazer ganhar. – Camoranesi falou.
- O Palermo está encostado na gente, cara. – Chiellini falou.
- Não dá para assumir a derrota ainda, mas sabemos que as chances de vencer são poucas, precisamos ganhar todas e contar com a perda dos outros, Inter, Roma, Milan... – Falei, colocando uma batata na boca.
- É realmente muito difícil. – Cannavaro falou.
- O Zaccheroni assume a partir de quando? – Grosso perguntou.
- A partir do próximo jogo já. – Alex falou.
- Vamos ver o que vai rolar, mas acho... – Mauro falou e desviou o olhar, travando no meio da frase.
- Mas...? – Perguntamos para ele.
- Mauro! – Grosso bateu a mão na mesa e ele virou o rosto.
- Eu hein, cara! – Trezeguet falou. – Travou aí?
- De todos os lugares de Turim. – Ele falou e Alex gargalhou.
- O quê? – Perguntei.
- Vira o rosto para a esquerda, lá para entrada. – Alex falou e eu fiz o que ele pediu.
Procurei onde ele indicou e prendi a respiração por alguns segundos ao ver de quem eles estavam falando. estava ali. Com uma calça colada, um moletom canguru azul e seus cabelos presos em um rabo de cavalo. Virei o olhar para onde ela olhava e revirei os olhos ao ver o idiota do seu namorado segurando-a pela cintura. Ela ria de alguma coisa e virou o olhar para baixo e foi onde eu vi dois garotos idênticos falando com ela. Idênticos à sua amiga Giulia.
- Ah, cara! – Reclamei. – Até aqui? – Bufei, sugando o milkshake com força.
- Não sabia que ela tinha irmãos. – Trezeguet falou.
- Não tem, são daquela amiga dela. – Falei, suspirando.
- Aquele é o namorado dela? – Chiellini perguntou.
- É. – Reclamei, bufando em seguida.
- Isso é ciúmes ou... – Cortei Cannavaro.
- Eu não vou com a cara dele, ok?! – Dei de ombros. – Ele é engomadinho demais.
- Ela parece feliz. – Mauro falou e virei o rosto, vendo-a conversar com ele na fila da lanchonete.
- Argh. – Reclamei.
- É, isso é ciúmes, cara. – Cannavaro falou.
- Te garanto que não, já a superei, ok?! Mas eles não combinam, cara. Eu sempre a encontro sozinha, é um milagre eles estarem juntos aqui. – Falei.
- Ele está perseguindo a menina. – Trezeguet falou e eles gargalharam.
- Há, há, há, engraçadinho.
- Ela está vindo para cá. – Alex falou e virei o rosto para o lado, vendo-a realmente andando em nossa direção com a mão apoiada em cada criança e rindo sozinha.
- De todos os lugares da cidade. – Ela falou.
- E aí, ! – Alex foi o primeiro a se levantar.
- Ciao, ragazzi. – Ela falou. – Assumiram a vida de pais agora? – Ela perguntou e rimos juntos.
- Para você ver. – Cannavaro falou.
- ... – Um dos meninos falou, puxando as cordinhas de seu casaco.
- Ah, claro. Gente, esses são Gianni e Pietro, meus irmãos, e esses vocês já conhecem. – Ela falou, fingindo surpresa e nós rimos.
- E aí, meninos, tudo bem? – Alex falou, animado.
- Tudo bem! Nós somos seus fãs. – Um deles falou, animado.
- Se o pai deles escuta isso... – cochichou, rindo sozinha e seu olhar encontrou com o meu, me fazendo sorrir.
- Vocês jogam? – Cannavaro perguntou.
- Sim, adoramos! – Outro falou feliz.
- Posso tirar uma foto deles com vocês? – perguntou, desanimada.
- Claro. – Grosso falou e ela puxou uma câmera digital do bolso.
- Fiquem aqui na frente. – Ela falou para os gêmeos e eu e Chiellini nos levantamos mais ao fundo e deu alguns passos para trás, ela apontou a câmera e o flash estourou duas vezes. – Grazie, agora vamos brincar? – Ela perguntou para os meninos.
- Vamos. – Um falou.
- Eu já volto. – Ela falou e assentimos com a cabeça, vendo-a puxá-lo pelos ombros.
- Adoro que ela os apresentou como irmãos. – Falei, suspirando.
- Por que você diz isso? – Trezeguet perguntou.
- Ela costumava dizer que queria uma família dela, entendo que não é a mesma coisa, mas ela tem a família dela. – Falei. – Não só a Giulia, mas a gente também.
- E eu adoro que você sente isso dela. – Trezeguet falou.
- Qual é, cara. – Apontei para o playground. – O Aarón está quase escalando a grade para falar com ela. – Todos viraram o rosto. – Todo mundo gosta dela, todas as crianças gostam dela.
- O Christian e a Martina a viram também. – Cannavaro falou quando seu mais velho, que estava no mesmo local dos gêmeos dela, a abraçou.
- A para os nossos filhos é tipo a gente para os torcedores. – Cannavaro falou.
- Lembra como os filhos do Lilian gostavam dela? – Alex falou.
- Nossa! Nem fala. – Comentei. – O Louis não sei se vai se lembrar dela, mas lembro uma vez que eu a encontrei com ele, ele não largava dela e tinha uns seis meses só.
- Até seu filho gosta dela, Gigi. – Mauro falou, gargalhando.
- É, eu sei, é uma ironia cruel. – Suspirei.
- Me pergunto se um dia você realmente vai conseguir esquecê-la. – Alex falou baixo e eu suspirei. – E nem adianta fingir que já esqueceu que seu comportamento diz o contrário.
- Eu não sei. – Dei de ombros. – Eu fico bem, sei que tudo acabou e nossas vidas se separaram, mas quando a encontro, é difícil não pensar no que aconteceu.
- Você já pensou em tentar de novo? – Chiellini perguntou.
- Pensei lá atrás, pouco depois de terminarmos, mas aí a Alena engravidou e a vida seguiu seu curso, para mim e para ela. – Eles assentiram com a cabeça.
- Complicado, cara. – Mauro falou.
- Chega desse papo, não ajuda em nada. Nunca ajudou, na verdade. – Dei de ombros, vendo-a finalmente se livrar da área dos brinquedos. – Ela está voltando. – Peguei meu copo, dando mais um gole.
- Então, é a nova dieta do Zaccheroni? – Ela perguntou, roubando uma batatinha de Cannavaro.
- Ah, sabe como é. – Trezeguet falou e ela riu fracamente.
- Vocês precisam recuperar o tempo perdido, gente. – Ela falou. – Não colocando pressão, mas sexto é feio demais para Juventus. – Ela disse.
- É, sabemos. – Alex suspirou. – Vamos tentar.
- Não culpe o goleiro, eu voltei agora de lesão. – Falei.
- E levou um cartão vermelho, fala sério. – Ela apoiou uma mão na mesa, me fazendo rir.
- Acontece. – Dei de ombros e ela me encarou.
- Você atropelou o cara, Gigi, foi merecido! – Rimos juntos e ela virou o rosto para o playground novamente.
- Não tem como te defender, cara. – Alex falou e franzi os lábios.
- Estou surpresa como seus filhos estão grandes. O do Gigi, então, lembro dele de colo ainda. – Ela comentou e eu ri fracamente.
- Será que ele se lembra de você ainda? – Comentei.
- Ah, difícil. – Ela falou, sorrindo. – Mas ele está lindo demais, olha aquelas bochechas. – Sorri.
- Depois eu o levo para você apertar. – Ela sorriu, assentindo com a cabeça.
- Coitado, não solto mais. – Sorri e ela enrugou suas bochechas. – Bom, gente, eu vou voltar para o meu namorado, bom ver vocês. – Ela sorriu.
- Você também. – Falamos juntos e ela ameaçou se virar.
- Ah, depois eu vou ter que arranjar uma blusa para vocês assinarem. Duas, na verdade. – Ela fez uma careta. – Os meninos não vão parar de me encher o saco.
- Falando nisso, de babá hoje? – Trezeguet perguntou.
- Ah, com a Giulia fora, eu tento dar uma força para os pais dela, uma vez por mês ou a cada duas semanas eu pego os gêmeos para dar uma volta e eles amam aqui, trago o Dom para me fazer companhia e fico aqui. Adoro os lanches, então não é sufoco nenhum. – Rimos juntos.
- Qual a idade deles? Lembro deles pequenos também.
- Quase 11. – Ela fez uma careta. – Às vezes eles se acham os adultos e, em outras, grandes crianças. – Rimos fracamente. – Eu os ganho com “eu pago”. – Rimos juntos. – Então posso levá-los onde eu quiser. – Ela deu de ombros.
- É, estamos usando quase isso também. – Cannavaro falou. – Deixamos eles brincarem e ficamos conversando e comendo.
- É o combo perfeito. – Ela deu de ombros.
- Exatamente. – Mauro falou.
- Bom, gente, divirtam-se, a gente se vê. – Ela sorriu, acenando.
- Ciao, ! – Falamos e ela sorriu.
- E tentem ganhar! – Ela apontou para nós e fizemos careta. – Melhor eu do que a presidência.
- Já não basta na festa de Natal. – Alex falou e ela saiu gargalhando, acenando para nós.
Observei seu caminho e ela seguiu para uma mesa mais perto da entrada, se aproximando de seu namorado. Eles trocaram um rápido beijo e me obriguei a virar o rosto, pegando algumas batatas e enfiando na boca rapidamente.
- Dio mio, que fome! – Trezeguet falou e eu revirei os olhos.
- Lascia, lascia! – Falei, erguendo a mão e eles gargalharam.
- Ah, eu pago para ver o dia que vocês vão se esquecer ou que vão ficar juntos. – Trezeguet falou.
- Dá para fazer uma aposta com isso. – Chiellini falou e eu revirei os olhos.
- Quem acha que eles vão se esquecer um dia? – Trezeguet perguntou e ninguém se manifestou. – E quem acha que eles vão ficar juntos um dia? – Todos ergueram as mãos, inclusive ele e eu revirei os olhos.
- Talvez quando eles tiverem uns 70 anos, estiverem velhinhos e tiverem um daqueles estalos milagrosos. – Camoranesi falou e eu revirei os olhos.
- Se ficarmos juntos um dia, espero que seja antes. Com 70 não sei se vou ter mais pique para sexo, cara. – Eles gargalharam alto.
- Era bom? – Trezeguet perguntou.
- Era. – Falei, negando com a cabeça e eles riram. – O melhor até hoje.
- Ok, então te indico até uns 50 anos. – Camoranesi falou.
- Chega desse papo, cara. Eu sou noivo. – Falei, abanando a mão.
- E pelo visto isso não quer dizer nada, cara. – Trezeguet bateu nos meus ombros e eu suspirei.
E, ironicamente, eu sabia que ele tinha razão.



Capitolo veintuno

Lei
16 de fevereiro de 2010

- Cara, estamos muito mal. – Giulia falou, correndo atrás da bola e eu ri fracamente.
- Faz quantos anos que não jogamos? – Antonia perguntou, passando as mãos nos braços avermelhados.
- Desde aquelas férias em Forte dei Marmi. – Falei, vendo Giulia subir a bola e dei um toque nela, passando para Martina.
- Nem parece que queríamos fazer carreira no vôlei. – Giorgia disse e gargalhamos.
- Beh... – Dei uma manchete na bola. – A vida acabou nos levando para lados diferentes. – Mexi nos braços, sentindo-os queimarem.
- É o frio também. – Chiara disse. – É sempre pior.
- Nem fala! – Giulia cortou forte e a bola bateu com tudo na parede da casa.
- Giulia! – A voz de tia Giovanna saiu abafada lá de dentro.
- Scusa, mamá! – Ela gritou, nos fazendo rir.
- Éramos boas, meninas, qual é. – Ela bateu a bola no chão algumas vezes.
- Vai, sério agora! – Falei, me afastando alguns passos e Chiara e Antonia, que estavam na minha direção, fizeram o mesmo.
- Vamos tentar ao menos três toques. – Chiara falou.
- Rola uma aposta? – Giulia perguntou e eu revirei os olhos.
- Ah, cala a boca, Giulia! – Falei, rindo fracamente. – Não estamos conseguindo nem manter uma constância, imagina apostar...
- Ah, seria legal! – Ela riu.
- Não! – Eu e a outras meninas falamos.
- Ok, lá vai! – Ela disse, se colocando um pouco mais atrás que Giorgia e Martina e fez um saque.
Antonia recebeu em uma manchete e devolveu, Giorgia deu um toque, Martina deu outro e Giulia mandou, eu dei um toque e passei para Chiara que mandou para Giulia. Conseguimos fazer uma pequena constância, mesmo se a bola caísse, a gente a levantava e seguia dando risada. Conforme o jogo criava constância, a gente aumentava a velocidade da bola e começávamos a correr mais pelo quintal da casa da Giulia. Quando Giulia mandou uma bola forte para mim e eu não consegui mergulhar a tempo o suficiente de receber, então dei um chute na bola, vendo-a subir e bater com tudo na janela do segundo andar, sorte que não era vidro.
- GIULIA! – Foi a vez de seu pai gritar.
- AGORA FOI A ! – Ela respondeu e eu fiz uma careta. – Não chuta a bola de vôlei, cazzo! – Ela falou e eu ri fracamente.
- Scusi, agora estou acostumada a chutar mais. – Falei, correndo até a bola e dei um chutinho na mesma, vendo-a rolar de volta para a roda.
- Aposto que está melhor que no vôlei. – Giulia falou, nos fazendo rir.
- Não chuto tanto assim, só de vez em quando. – Dei de ombros, rolando a bola, erguendo-a e pegando na mão.
- Ah, gostei! – Giulia disse.
- A gente aprende alguns truques. – Dei de ombros e elas riram.
- GIULIA! – Sua mãe gritou novamente.
- EU NÃO FIZ NADA! – Ela gritou, nos fazendo gargalhar.
- Vem almoçar! – Ela disse e eu soltei a bola, chutando para longe quando ela caiu no chão.
- Andiamo! – Falei, animada e elas riram.
- Ê, esfomeada. – Ela falou, passando o braço pelos seus ombros.
- Tomei seu lugar! – Falei.
- Vamos lá, depois a gente sobe lá para o meu quarto e descansa um pouco. – Giulia falou e todas seguimos até a porta que dava para a cozinha, passando com força os tênis no capacho.
- Tirem o sapato para entrar. – Tia Giovanna falou, apontando com a colher do macarrão para nós e apoiamos nas paredes para tirar os sapatos e entramos de meia na cozinha, deslizando os pés.
- Meninos, vêm almoçar! – Giovanna gritou novamente e as meninas começaram a sentar na mesa e eu fui até a pilha de pratos com Giulia e comecei a distribuir um a um, enquanto ela pegava os talheres e entregava para as meninas.
- Chegamos! – Gianni e Pietro falaram entrando correndo na cozinha.
- Pega um prato aqui. – Falei para eles que interceptaram a fila.
- Podem se servir, meninas. – Giovanna falou. – Fabrizio, dá para vir logo?! – Ela falou um pouco mais alto novamente e seu Vitale apareceu na cozinha com vários papéis.
- Estava pegando as coisas do correio. – Ele falou, colocando vários embrulhos na bancada.
- Hum, a Vanity Fair chegou. – Giulia falou, animada, me abandonando no posto e eu revirei os olhos, fazendo o caminho até a mesa com as meninas.
- O que tem de interessante? – Perguntei, quando ela parou no meio da cozinha para ler o conteúdo.
- Nada demais. – Ela falou, dando de ombros e eu franzi a testa.
- Quem é a capa, filha? – Giovanna perguntou.
- Não faço a mínima ideia. – Ela disse, se afastando da mesa.
- Que cara é essa? – Giovanna perguntou e Giulia desviou o olhar para nós.
- Que cara? – Ela arregalou os olhos, pressionando os lábios em seguida.
- O que você está escondendo? – Me aproximei dela e ela desviou a mão. – Giulia!
- Não é nada! Para! – Ela falou.
- Me mostra, então. – Falei.
- Por que você acha que tem relação com você? – Ela perguntou.
- Porque só eu e você temos relação com pessoas famosas. – Falei, colocando a mão na cintura.
- Não é na... – Gianni puxou a revista de sua mão. – GIANNI! – Ela reclamou.
- É o Buffon! – Ele falou, desanimado, entregando a revista para Giovana.
- Ele está noivo. – Giulia falou, soltando um suspiro e eu pressionei os lábios, engolindo em seco.
Tia Giovanna me estendeu a revista e eu a peguei, vendo uma foto de Gigi e Alena em algum mirante da cidade que mostrava Turim ao fundo. Ele estava similar da última vez que o vi, os cabelos jogados para trás, o rosto sem barba, deixando a linha do seu queixo mais demarcada, e estava com uma blusa branca semiaberta, deixando os pelos no seu peito à mostra, e uma calça social marrom. Alena, só para variar, estava linda com um vestido creme. Suspirei, lendo o título “Ouçam os sinos de casamento – Gianluigi Buffon e Alena Seredova prontos para o sim”.
- Não é a primeira vez que ambos estão em uma revista. – Suspirei, devolvendo a resposta para tia Gio.
- Você sabia? – Ela perguntou.
- Não, mas isso explica a algema no dedo dele. – Suspirei.
- Vocês se encontraram recentemente? – Giulia perguntou.
- Aquele dia que levei os gêmeos no Regno della Fantasia, ele estava lá com alguns jogadores.
- Que programão! – Giulia foi irônica.
- Como você está com isso? – Tia Giovanna perguntou.
- Ah, sei lá, gente, passou, eu acho. – Dei de ombros, pegando meu prato na bancada e fui sentar em um dos lugares vazios.
- Eu nunca acredito quando você fala assim. – Giulia disse e eu ergui o olhar para ela.
- O que você quer que eu fale? Eu fiz uma escolha quando o vi com a Alena no Mondiale e ele não veio atrás de mim. – Suspirei. – Aprendi da pior forma que não se deve ter expectativa sobre os outros, mas pelo menos mostrou que não era para acontecer. – Percebi os olhares em volta e suspirei, me debruçando sobre a travessa para tirar um pouco de macarrão para mim.
- É que não tem como não comparar, sabe? – Giulia falou.
- O quê? – Falei, brava, batendo meu prato na mesa.
- Você e ele e você e o Dom. – Ela disse e eu engoli em seco.
- Talvez porque com o Dom foi fácil, saudável, não virou platônico igual com o Gigi. – Suspirei.
- Com o Gigi teria sido também, mas você... – A interrompi.
- Já faz três anos que acabamos, Giulia, não vamos voltar nisso agora.
- Ah, ...
- Não, Giulia! Eu sei que eu errei, eu sei que deveria ter falado com ele muito antes, mas não aconteceu, não tem como voltar no tempo e, também, não era garantia nenhuma de que estaríamos juntos ainda. – Falei, brava, sentindo meu tom de voz aumentar e eu suspirei, me sentando na cadeira. – E eu gosto do Dom, ok? Por mais que você insista diversas vezes que ele não é o cara para mim.
- Mas você quer passar sua vida inteira com ele? – Ela aumentou seu tom de voz também. – Eu nunca te ouvi falar que o ama, ok? – Suspirei alto, apoiando as mãos nas têmporas. – Viu?! Você briga comigo, mas nem você sabe.
- Eu não sei mesmo, Giulia, porque, por algum motivo, eu sempre estou ligada no Gigi depois de três anos, cazzo. – Suspirei. – Talvez eu sempre fique, não sei, é difícil se encontrando sempre, trabalhamos juntos, moramos perto, Turim é uma cidade pequena... – Bufei. – Não é como se eu tivesse escolha, ok?! – Engoli em seco.
- Como assim? – Ela perguntou.
- Ele seguiu em frente, ele está noivo e tem dois filhos lindíssimos, o que eu posso fazer? Nada! Eu preciso seguir também. – Suspirei.
- Não existe só ele e o Dom no mundo, . Por favor. – Ela falou.
- Você fala como se fosse fácil, mas ainda ligada nele, parece que ninguém é similar, inclusive no sex... – Parei a frase no meio do caminho, recebendo um olhar de Fabrizio. – Com o Dom é gostoso, ele cuida de mim, me trata bem, eu consigo ver um futuro nisso e...
- Ele nunca está contigo... – Ela disse.
- Isso é mentira, ok?
- Eu não estou vendo-o por aqui. – Ela disse, arqueando os braços.
- Hoje é diferente, viemos encontrar com as meninas e...
- Não teria problema nenhum ele vir, , somos sua família, se você vê um futuro dele, ele também vai ser sua família. – Bufei, sentindo meus olhos arderem com as lágrimas e pisquei algumas vezes, vendo-as finalmente descerem pela bochecha.
- Lascia, per favore. – Suspirei.
- Estou te deixando desde 2001, mas não acho que você esteja fazendo as escolhas certas. – Ela disse e eu engoli em seco, pressionando os lábios.
- Você nunca acha. – Suspirei.
- Só quero te ver feliz, ok? Ainda mais estando longe daqui. – Ela apoiou os braços na mesa.
- Eu estou bem. Se for para acontecer ou mudar, eu vou saber. – Falei, suspirando.
- Só espero que não seja tarde. – Ela disse.
- Por que sempre falamos da minha vida amorosa? Por que não falamos da sua?
- Porque não existe! – Ela disse, gargalhando em seguida. – Acredite, amiga, eu ia adorar ter lindos jogadores da Roma em cima de mim, mas eu sou a comediante zoada, não a coordenadora de contabilidade gata. – Revirei os olhos, rindo fracamente e nossas risadas ecoaram pela cozinha.
- Ah, vocês duas... – Seu Fabrizio falou, irritado e rimos juntos.
- Ok, meninas... – Antonia falou. – O que aconteceu no Mondiale? – Ela perguntou e eu suspirei.
- Podemos não falar dessa história mais uma vez? – Fabrizio falou. – Ele é o goleiro da nossa seleção, é para nos representar no meio do ano, e eu não gostaria de pegar raiva dele mais uma vez. – Ele falou e eu dei um sorriso.
- Conto depois. – Falei para Antonia.
- Ótimo! – Ela riu fracamente.
- Prepara que é bafo! – Giulia falou e eu revirei os olhos.
- Buon appetito, ragazze. – Giovanna falou e começamos a passar a travessa de macarrão, de bife à milanesa e os refrigerantes e sucos.
- Coca, ? – Pietro perguntou para mim.
- Hoje não, meu amor, quero evitar até o exame. – Falei, suspirando.
- O que deu nisso, afinal? – Giovanna perguntou.
- Não era gravidez, isso eu sei. – Giulia falou, me fazendo rir.
- Sonho ser mãe, mas graças a Deus não... Agora não era gravidez. – O pessoal riu. – Como dói no estômago, eu fui no gastroenterologista, ele disse que não era nada no estômago e me encaminhou para um ginecologista, aí minha ginecologista pediu uma penca de exames, eu vou fazer e levar para ela. – Dei de ombros.
- Ela disse o que pode ser? – Fabrizio perguntou.
- Ela disse que pode ser ovário micro policístico, aí talvez tenha que mudar de anticoncepcional, fazer alguns tratamentos para menstruação descer e tudo mais, ela só quer checar antes mesmo. – Falei.
- Ah, não vai ser nada, não. – Giulia falou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, sim. – Falei, colocando uma garfada na boca.
- Se quiser companhia para consulta, eu vou contigo, ok?! – Giovanna falou e eu assenti com a cabeça.
- Grazie.

Lui
14 de março de 2010

- Obrigado por vir comigo. – Falei, pegando Louis no colo.
- Ah, eu estava precisando sair de casa. – Alena falou, pegando sua bolsa no banco de trás. – Já estava na hora de Louis vir a um jogo também. – Ela sorriu e eu assenti com a cabeça.
- Vamos ver se ele vai criar gosto pelo esporte. – Falei, subindo o zíper dele, estávamos no meio de março e ainda fazia bastante frio.
- Ah, ele já chuta algumas bolas lá em casa, cuore. – Ela falou, fechando o carro e apertei o alarme na chave.
- Enquanto ele não quebrar nada, está tudo bem, não é, meu amor?! – Ajeitei os cabelos de Louis, dando um beijo em sua testa.
- Vamos entrar, falta 20 minutos para o começo. – Alena falou, colocando a bolsa no ombro e segui ao seu lado em direção a bilheteria para retirada de ingressos.
- Buon pomeriggio. – Falei, apoiando a mão livre no balcão.
- Ciao, Gigione! – O atendente falou e eu sorri. – Quantos ingressos?
- Dois adultos e uma criança menor de três anos, por favor. – Falei e ele tirou os ingressos, me entregando.
- Bom jogo! – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Grazie. – Disse, ajeitando Louis em meu colo e me aproximei de Alena que já estava na porta. – Aqui. – Entreguei os três para a mulher na porta que me cumprimentou com um aceno de cabeça, repeti o gesto e entramos na área de convidados no Olimpico.
Alena andou um pouco à frente, seguindo as placas e entramos no elevador, apertando o botão para o último andar. Saímos no lounge VIP reservado para a Juventus, decorado com as cores do time, e passamos pelas portas de diversos camarotes. Andamos durante um tempo e indiquei para Alena a próxima porta e ela a apontou antes de entrar. O bar que antecedia os assentos estava vazio, só duas pessoas estavam apoiadas.
- Quer comer ou beber alguma coisa? – Perguntei para Alena.
- Não, estou bem. Podemos sair para jantar depois daqui. – Ela falou e eu assenti com a cabeça, tínhamos almoçado há pouco tempo, jogo que começa as três horas da tarde era bom, mas também tinha suas desvantagens.
- Combinado! – Falei, vendo-a colocar os óculos escuros quando saiu para fora do estádio e segui com ela.
Os torcedores já gritavam o começo iminente, algumas pessoas no camarote ainda estavam em pé e foi possível ver o top cinco do time conversando com os conhecidos engravatados, os acionistas do time. Engoli em seco ao perceber que estava ali, ao lado do gerente de contabilidade e respirei fundo.
- Olha, amor! Não é a ali? – Alena apontou e ela virou o olhar para nós, fazendo um rápido aceno com a cabeça e deixei um sorriso escapar.
- É ela sim. – Falei.
- Vou falar com ela. – Ela disse.
- Ela está com o chefe dela, Lena, depois você vai. – Falei, puxando-a de volta.
- Melhor não atrapalhar. – Alena deu um sorriso e assenti com a cabeça.
- Olha, papá! – Louis falou, apontando para a imensidão e seus olhos arregalados explicavam aquela clássica primeira sensação ao entrar em um estádio.
- Você gosta? – Perguntei, sacudindo-o levemente.
- É legal! – Ele falou, sorrindo. – Olha! – Ele apontou para o telão e olhei junto dele, onde os jogadores começavam a entrar.
- Vem aqui. – Alena falou.
- Acho que ele não vai enxergar. – Falei. – Vou ficar aqui com ele. – Falei e ela assentiu com a cabeça, se sentando um andar abaixo de nós e me apoiei na divisão, vendo Louis tentar ficar em pé. – Ei, sapeca! – Ajeitei-o em meus braços, ouvindo-o rir.
- Eu quero ver! – Ele falou.
- Você vai ver, não se preocupe. – Passei a mão em seus cabelos, vendo-os voltarem ao lugar rapidamente, mas ele não pareceu se importar.
- Gigione! – Virei para o lado, vendo Giorgio e o presidente Jean-Claude ao meu lado, enquanto estava uns degraus para baixo.
- Buon pomeriggio. – Falei, sorrindo e estiquei a mão, cumprimentando ambos.
- Esse é o famoso Louis, certo? – Giorgio falou.
- É sim. – Falei, mas Louis não me parecia muito interessado nas apresentações. – Fala ciao, Louis.
- Ciao! – Ele falou sem se virar e ri fracamente.
- Você tem mais um, não tem? – Jean perguntou.
- Sim, David, mas ele só tem quatro meses, novo demais. – Falei.
- Ah, com certeza. – Giorgio falou. – Mas logo ele já vai poder vir. – Ele disse.
- E como você está da lesão? – Jean perguntou.
- Estou indo bem. – Falei. – Já voltei a fazer fisioterapia com o time, logo mais volto para o campo.
- Precisamos. – Giorgio falou, dando dois tapinhas em meus ombros. – Divirta-se.
- Você também! – Falei, sorrindo e virei para que falava com ele.
- Eu vou descer. – Ela disse baixo.
- Não, fique aqui, você precisa se acostumar com o espaço. – Ele disse, fazendo-a rir e ele deu dois tapinhas em seus ombros, antes de descer alguns degraus.
- Ciao, ragazzi. – Ela disse, subindo um degrau.
- Ciao, ! – Alena se levantou para abraçá-la e engoli em seco, bufando levemente.
- Tudo bem? – deu um sorriso de lado, se virando para mim.
- Sim, tudo bem e contigo?
- Tudo ótimo! – sorriu e ela subiu um degrau e veio em minha direção. – Ciao, Gigi. – Ela disse.
- Oi, , tudo bem? – Inclinei para dar um rápido beijo em sua bochecha.
- Oi, lindinho! – Ela falou para Louis, segurando sua mãozinha. – Ele, não você. – Ela ergueu o olhar e eu ri fracamente.
- Obviamente. – Falei e ela sorriu.
- Ciao! – Ele falou, animado e sorriu.
- Como ele está grande. – Ela disse com a voz mais fina, passando uma mão nos cabelos lisos de Louis.
- Demais, . – Alena falou.
- Você se lembra de mim? – falou para Louis, esticando as mãozinhas em sua direção.
- Você quer ir com a tia? – Perguntei.
- Ah, Gigi! “Tia” não, pelo amor. – Ela disse, gargalhando.
- Ah, me desculpe, você acha que ele vai te chamar de alguma outra coisa? – Perguntei, irônico e ela riu quando Louis foi para seu colo.
- Ah, seu lindinho! – o segurou perfeitamente, aninhando em seu colo e ele apoiou as mãos nos ombros dela, mantendo os olhos focados no campo.
- Será possível que ele se lembra de você? – Alena perguntou.
- Ah, ele era muito novo. – falou, apoiando a cabeça na de Louis, um sorriso dançava pelos seus lábios.
- Ele gosta de você. – Falei, percebendo Louis incrivelmente confortável em seu colo.
- Quais as chances? – Ela sussurrou para mim e ri fracamente.
- Você não se importa em ficar com ele? – Perguntei.
- E te dar uma merecida folga? Não se preocupe! – Ela disse para mim. – Só que eu vou ter que ir no banheiro logo mais, aí vou ter que passar a tocha por uns minutos. – Ela sorriu.
- É, o frio dá mais vontade de fazer xixi. – Falei. – Ele que o diga. – Ela riu fracamente e nos assustamos com o grito da torcida. Virei o rosto rapidamente para o campo, vendo Del Piero correndo para comemorar o gol.
- DAI, ALEX! – gritou, animada.
- Dai, Alexi! – Louis gritou, animado, imitando-a e se confundindo com as palavras, nos fazendo rir.
- Ah, mio amore. – fez um bico, apertando-o mais em seus braços e foi inevitável não sorrir. – Mas continuando, nem é pelo frio, estou com algum problema na área do abdome, aí afeta a bexiga, estômago, útero talvez... – Ela deu de ombros.
- Algum problema? – Perguntei, desviando o olhar do jogo.
- Eu fiz os exames, vou na médica semana que vem, mas ela disse que provavelmente não é nada. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Não vai ser nada, se Deus quiser. – Ela sorriu.
- Esperamos que não. – Ela suspirou.
- Se você precisar de alguma coisa... – Falei baixo e ela virou o rosto para mim, assentindo com a cabeça.
- Grazie, Gigi. – Ela disse, ajeitando Louis em seu colo. – E você? Como está? Coxas de novo?
- Para você ver. – Suspirei. – Mas já estou melhor, grau dois.
- Médio, então. – Ela ponderou com a cabeça.
- Sempre pode ser pior. – Brinquei e ela negou com a cabeça.
- Nem brinca com isso. Adoro o Manninger, mas não tenho a mesma confiança do que contigo. – Ela disse.
- Gostei de saber disso. – Ela riu fracamente e suas bochechas enrugaram de vergonha.
- Nós temos o melhor goleiro do mundo, como eu te disse um tempo atrás, o time vai fazer de tudo para te manter aqui.
- Até 2013. – Falei.
- Pelo menos... – Ela disse, dando de ombros.
- Temos três anos até lá, . Começo a entrar em desespero falando assim. – Ela gargalhou.
- Nem fala, de pensar que faz quase 10 anos que estou no time. – Falei.
- Que estamos. – Ela disse. – Estou aqui há tanto tempo quanto você. – Ela virou o rosto para mim.
- Olha! Olha! – Louis falou e viramos para onde ele estava apontando.
- Dai, Alex! Dai, Alex! – Ela falou, animada. – GOL! – Ela gritou, sacudindo Louis.
- Go-o-ol! – Louis gritou, feliz e gargalhei junto de .
- Ah, eu estou apaixonada, Gigi! – Ela disse, estalando um beijo na cabeça de Louis. – Ele é um amor.
- Um pestinha, isso sim. – Falei, fazendo cócegas na barriga dele e o garoto gargalhou, inclinando o corpo para trás e correu segurá-lo.
- Aí ele bate a cabeça e a culpa é minha. – Ela disse e rimos juntos enquanto ela ajeitava Louis. – Ai, ai, ai! – Ela falou com a voz fina.
- Ai, ai, ai! – Ele a imitou e ela negou com a cabeça, sorrindo.
- Então, o que faz aqui no camarote? Achei que preferisse lá embaixo. – Perguntei. – Dá para ver melhor e...
- Ei, não me copia. – Ela me empurrou com o ombro. – E eu não falo assim.
- Incrível, por que todo mundo te copia assim, então? – Falei.
- Giulia! – Ela disse, revirando os olhos. – O Giorgio pediu para eu vir com ele.
- Gol! – Louis gritou e viramos juntos para o campo, Candreva saía correndo e, da sua posição em campo, ele só podia ter feito um direto do meio de campo.
- Outro? Em 10 minutos de jogo? – falou, surpresa. – Contra quem estamos jogando mesmo?
- Siena! – Falei. – Lanterna do campeonato.
- Oh! – Ela falou. – Vai ser um jogo gostoso, então! – Ela sorriu.
- É para ser! – Disse.
- Pensamento positivo, Gigi. – Ela disse, ajeitando Louis no braço.
- Ele está pesando? – Perguntei.
- Ah, ele está gordinho já, não é, Louis? – Ela falou para ele, dando um beijo em sua testa de novo.
- Se cansar, só me falar. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Pode deixar. – Ela sorriu.
- Então, o que faz aqui em cima? – Perguntei, voltando ao assunto.
- Meu chefe pediu para eu acompanhá-lo. – Ela falou, suspirando. – E eu não podia dizer não. – Ela deu de ombros. – Apesar de não estar no meu melhor.
- Ah, ele entenderia que você não está bem. – Falei.
- É que tem oportunidades que eu não posso negar. – Ela suspirou. – Ele está falando em se aposentar. – Ela disse mais baixo.
- Certo... – Franzi a testa.
- Quer dizer que o posto dele vai ficar vago. – Arregalei os olhos.
- Oh, quer dizer que você pode...
- Não sei ainda. – Ela deu de ombros. – Dificilmente trocam esses altos cargos por pessoas daqui de dentro, normalmente procuram por outros times ou entre os acionistas majoritários, mas imagina se ele troca por um funcionário? – Ela mordeu o lábio inferior.
- como top três, já imaginou? – Ela riu fracamente.
- Eu só tenho 28 anos, não acho possível, tem também o Angelo e o Claudio que são mais velhos do que eu e estão a mais tempo no time, mas...
- Ele os chamou para vir também? – Perguntei.
- Se os chamou, não vieram. – Ela deu de ombros.
- Seria incrível, eu sei como você merece isso. – Ela deu um sorriso.
- Vamos ver, o Claudio disse que já era a segunda vez que ele falava de aposentadoria, que ele costuma fazer isso a cada 10 anos...
- Mas agora ele está velho também, não?! – Perguntei.
- Beirando os 70. – Ela ponderou com a cabeça.
- Quem sabe?
- Ah, Gigi, não me dê esperanças, por favor. – Ela riu sozinha. – E eu sou uma mulher, caso tenha esquecido, nada é fácil para nós, muito menos nesse ambiente.
- Sei muito bem que é uma mulher. – Sorri e ela revirou os olhos. – Mas você merece que eu sei. – Ela sorriu, assentindo com a cabeça.
- Gol! – Louis gritou novamente e viramos para o jogo, onde um jogador do Siena comemorava o gol e Manninger estava no chão frustrado.
- 3x1? – Perguntei.
- Não, amor, esse gol você não pode comemorar. – falou.
- Mau? – Ele perguntou.
- Isso, muito mau. – falou, fazendo uma careta e ele fez igual, mostrando a língua para o campo, fazendo gargalhar.
- Ah, obrigado, , agora você ensinou meu filho a fazer coisa feia.
- Aposto que não tanto quanto você. – Ela riu e eu neguei com a cabeça. – Quais as chances de ganharmos esse campeonato? – Ela perguntou baixo.
- Sendo bem honesto? – Perguntei.
- Zero?
- Zero! – Falei firme. – Precisamos ganhar para melhorar na posição, mas Inter e Milan estão lutando de igual para igual.
- Argh! – Ela fez uma careta.
- Argh. – Louis a imitou e ela gargalhou.
- É melhor eu devolver ele para você. – Ela disse, esticando Louis para mim.
- Não! – Ele disse, apertando o pescoço dela. – Quero ficar aqui! – Ele disse.
- Acho que você ganhou uma companhia, . – Alena falou e riu.
- Eu não me importo, vou levá-lo para casa. – disse, sorrindo e rimos juntos.
- Passar umas férias lá contigo. – Falei e ela sorriu.
- Ele não volta mais. – Ela falou, com um sorriso no rosto.
Ficamos em silêncio durante o fim do primeiro tempo, onde não teve grandes novidades, tirando alguns cartões amarelos, o placar não mudou. se sentou no canto com Louis e segurou-o enquanto ele sacudia para ver o jogo. Incrível como ele pegava as coisas rápido demais e fazia gargalhar e eu sorrir.
- Eu vou pegar algo para beber, vocês querem algo? – perguntou quando o apito foi soado.
- Eu vou contigo. – Falei. – Lena, quer algo? – Perguntei.
- Uma água, por favor. – Ela disse.
- Suco para mim, água para Alena e um uísque para o pequeno? – Ela virou para Louis que só riu para ela.
- Leitinho batizado. – Falei e ela se levantou, colocando Louis no chão e ele segurou sua mão dentro do bar. – O que você quer?
- Um suco de uva, por favor. – Ela disse para mim ou para o barista.
- Uma água também e uma Coca-Cola. – Falei.
- Vai ficar no refrigerante? – Ela perguntou.
- Não gosto de beber quando estou com meus filhos. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- É uma tática legal. – Ela disse, sorrindo. – Então, como está o time depois da eliminação da Europa League? – Ela perguntou, dando um gole no copo que o barista colocou para ela.
- Ah, um tanto frustrados. – Falei, suspirando. – Ganhar de 3x1 no jogo em casa e perder de 4x1 foi realmente feio.
- O agregado ficou perto demais, não?! – Ela perguntou.
- Sim, 5x4, tornou tudo pior. Podia estar feliz por não ter participado, mas qualquer fracasso ou vitória precisamos aproveitar juntos.
- Não só você, todos nós. – Ela suspirou, mexendo na bolsa.
- Eu pago. – Falei e ela assentiu com a cabeça, sorrindo.
- Grazie. – Ela virou para o campo, enquanto Louis a abraçava pelas pernas. – Como vocês dois estão? – Ela perguntou.
- Por que a pergunta? – Ela virou para mim.
- Beh, eu estou falando mais contigo do que ela. – Ela disse, rindo fracamente.
- Ah, brigamos tem uns dias. – Suspirei.
- Não vai dizer que foi pelos rumores de traição? – Ela virou para mim.
- Beh...
- Ah, Gigi, por favor. – Ela gargalhou.
- Você acha que é mentira? – Perguntei.
- Primeiro de tudo: não sou eu quem tem que te dizer isso, é ela, vocês são um casal, precisa ter confiança. – Ela deu de ombros. – Segundo: ela é uma pessoa legal, não acho que ela te trairia com seus colegas de time. Na verdade, não acho que ela te trairia com ninguém. – Ela riu fracamente. – Terceiro: Chiellini e Amauri? – Ela fez uma careta e eu gargalhei. – Temos melhores espécimes masculinos no time. – Ela sorriu.
- Eu sou um deles? – Virei para ela e ela revirou os olhos.
- Cala a boca. – Ela disse, me empurrando pelo ombro. – Só estou dizendo. – Sorri, vendo-a retribuir. – Eu vou ao banheiro, logo volto. – Ela disse e se abaixou para ficar na altura de Louis. – Amor, eu já volto.
- Vai aonde? – Louis perguntou.
- Vou ao banheiro. – disse. – E você não pode ir lá.
- Ah. – Ele fez um bico e ela riu.
- Cinco minutinhos. – Ela disse, se levantando. – Ah, os joelhos doem. – Ela riu sozinha.
- Ainda aquilo do vôlei? – Perguntei.
- Pois é! Para sempre. – Ela riu. – Já volto. – Ela disse, bebendo mais um gole do suco e saiu pela porta, me deixando com Louis e um sorriso no rosto.
Ela voltou pouco depois do segundo tempo começar e o jogo seguiu com surpresas, o Siena acabou fazendo outros dois gols, inclusive um de pênalti e acabou igualando tudo no Olimpico, fazendo o jogo acabar em 3x3, deixando todo mundo surpreso e extasiado.
- Ok, por essa eu não esperava. – Falei, suspirando.
- É por essas e outras que eu odeio quando abrem o placar cedo demais. – suspirou. – Quantos jogos até o final?
- 10. – Falei.
- Vocês precisam ganhar. – Ela suspirou.
- ... – Giorgio a chamou.
- Eu tenho que ir, bom ver vocês. – Ela disse. – Eu tenho que ir, meu garoto. – Ela disse para Louis que agora estava em meu colo.
- Fala ciao, Louis.
- Ciao! – Ele falou com um bico nos lábios e deu um beijo em seus cabelos.
- Ciao, lindinho. – Ela sorriu para ele. – Ciao, Gigi. Se cuida! – Ela deu um rápido beijo em minha bochecha.
- Você também. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Ciao, Alena, seu filho é uma graça.
- Grazie, . – Ela falou e logo seguiu alguns degraus abaixo, indo em direção a seu chefe que logo a indicou para alguém que ela cumprimentou rapidamente.
- Então, podemos ir jantar em algum lugar, o que acha? – Alena perguntou, seguindo em minha direção.
- Claro, vamos sim! – Falei, puxando Louis e vi que seu olhar estava em ainda, me fazendo rir.
- Ele está apaixonado. – Alena falou, rindo fracamente e mal ela sabia que já tinha afetado outro Buffon na vida.

Lei
Nove de abril de 2010 • Trilha SonoraOuça

Passei as mãos uma na outra, sentindo-as suarem e ergui o rosto quando a recepcionista saiu da área dos consultórios. Ela sentou na mesa de novo e eu suspirei. Peguei meu copo plástico apoiado na mesa ao lado do sofá e virei o restante, sentindo poucas gotas chegarem em minha língua. Apoiei-a do lado, suspirando e engoli em seco.
Não vai ser nada, não vai ser nada. Por favor, Senhor, mãe e pai, que não seja nada.
Suspirei, tentando realmente acreditar que não seria nada e puxei a respiração fortemente. Ouvi um barulho e a recepcionista mexeu em algumas gavetas e balancei a cabeça, prendendo a respiração por alguns segundos.
Eu sabia que algo não estava bem. Fiz todos os meus exames no último mês e a médica não quis passar as informações por telefone, pediu que eu viesse aqui. Alguma coisa tinha, se não tivesse, ela simplesmente falaria por telefone e indicaria outro médico, como foi o caso do gastroenterologista.
Isso fazia com que minhas mãos suassem, além de outras partes também, e estávamos no começo de abril, o frio finalmente decidiu ir embora, então tudo ficava pior. Minha blusa colava na barriga e a calça jeans skinny faziam as coxas ferverem, fazendo com que eu me sentisse em uma sauna.
Ouvi uma campainha e vi a recepcionista falar rapidamente no interfone, antes de abrir a porta. Virei o rosto para a entrada e respirei, aliviada, quando Dom entrou no consultório. Ele seguiu até a porta de vidro, cumprimentando a recepcionista com o olhar e veio em minha direção.
- Desculpe o atraso, bella. – Ele falou e eu me levantei, dando um rápido beijo em seus lábios. – Fiquei preso lá no trabalho.
- Tudo bem. – Falei, me sentando novamente e ele se sentou ao meu lado.
- Como você está? – Ele perguntou, apertando minhas mãos. – Você está nervosa. – Ele disse e eu ri fracamente, puxando as mãos de volta e passei-as nas coxas, tentando secá-las nas pernas.
- Eu não sei o que esperar. – Suspirei, respirando fundo.
- Não vai ser nada, bella, você vai ver. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Não estou convencida disso. – Balancei a cabeça.
- Confie em mi, bella. – Ele deu um beijo em minha têmpora e suspirei. – Estou aqui para você.
- Grazie. – Falei e virei o rosto para o lado, vendo a recepcionista entrar novamente com alguns papéis. Era agora!
Dom apertou minha mão e observei a recepcionista seguir para o corredor dos consultórios e a porta de vidro jateado impediu minha visão. Respirei fundo, soltando o ar devagar. Virei o rosto para o lado, vendo que passava alguns minutos da uma da tarde.
- ? – Virei o rosto, vendo a recepcionista parada. – Pode entrar.
- Vamos lá. – Dom falou, se levantando primeiro e eu engoli em seco, seguindo com ele.
Caminhei devagar em direção a recepcionista e foi como se as coisas ficassem embaçadas a cada minuto. Talvez eu esteja começando a precisar de óculos, talvez meus olhos já estivessem cheios de lágrimas ou talvez a expectativa estava me matando aos poucos. A recepcionista seguiu pelo corredor quando entramos no corredor privativo para funcionários e pacientes e engoli em seco quando ela parou ao lado de uma porta.
- Pode entrar. – Ela disse e eu fiz um movimento involuntário com a cabeça, quase em um cumprimento e entrei na sala, vendo minha ginecologista já próxima da porta, doutora Federica.
- Buon pomeriggio, . – Ela falou, estendendo a mão.
- Oi, doutora, tudo bem? – A cumprimentei, apertando sua mão. – Esse é Dom, meu namorado.
- Tudo bem? Prazer. – Ela cumprimentou Dom e seguiu para a porta, fechando-a. – Podem se sentar. – Ela disse.
- Espero que você tenha boas notícias para mim, doutora. – Falei e ela seguiu até sua mesa, sentando em nossa frente e eu e Dom fizemos o mesmo.
- Mais ou menos. – Ela falou, pegando uma pasta grande e abriu, mostrando meus exames.
- O que isso quer dizer?
- Eu tenho uma boa e uma má notícia para te dar. – Ela engoliu em seco, ajeitando os óculos. – Apesar de ter uma boa notícia no meio, a má vai te atingir com mais força.
- Eu não estou gostando disso. – Engoli em seco e ela suspirou, apoiando os cotovelos na mesa.
- Não tem uma forma de eu te preparar para isso, ...
- Quando você pediu para eu voltar aqui, já pensei que seria algo ruim, só fala, doutora, não enrole, por favor. – Falei, tentando parecer confiante, mas minhas mãos apertavam as de Dom fortemente.
- Ok... – Ela engoliu em seco, focando em mim. – Você tem câncer, .
- O quê? – Minha voz saiu falha, quase inaudível e foi como se um soco me atingisse no estômago, mais forte do que as dores estomacais que eu estava tendo há um tempo. – Co-como? – Falei baixo, engolindo novamente quando a voz falhou. – Onde?
- No ovário.
- O quê? – Senti a respiração falhar e eu comecei a puxar o ar fortemente, soltando a respiração fortemente.
- Bella, respira. – Dom falava, mas minha cabeça já tinha ido longe dali.
Eu nunca fui uma pessoa de ter grandes sonhos, mas o maior sonho da minha vida, o único que eu fazia questão de realizar, independentemente de como minha vida estaria, era ser mãe. E agora, por uma péssima pegadinha, eu não poderia mais. Como? Como isso era possível? Por que eu não poderia realizar esse sonho que é tão fácil para todas as outras mulheres?
- , olha para mim. – Federica me chamou e tentei focá-la, mas as lágrimas já escorriam de minhas bochechas. – Isso é a má notícia, mas temos uma boa.
- Qual? – Perguntei, sentindo a respiração falhar.
- Descobrimos no começo. – Ela suspirou. – Eu já conversei com um colega oncologista que vai fazer seu acompanhamento, mas antes de tudo, precisaremos fazer uma biópsia para identificar que tipo de tumor estamos trabalhando, germinativos ou estromais, mas, assim que descobrimos, marcaremos a cirurgia o mais rápido possível e já fazemos a retirada. – Ela falou.
- Eu vou perder meu ovário, não vou?! – Perguntei baixo, respirando fundo. – Meu útero, tudo?
- Provavelmente, mas não posso te dar certeza. – Ela disse e eu pressionei meus lábios fortemente. – A maioria dos cânceres de ovário são germinativos e eles costumam se espalhar rápido, se isso aconteceu, a melhor forma de te curar é removendo tudo. – Soltei o ar fortemente, sentindo a respiração falhar.
- Eu não vou poder ser mãe e... – Engoli em seco e ela me deu um sorriso de lado.
- Eu sinto muito. – Ela disse baixo e ergui os olhos para a luz clara de seu consultório e deixei que as lágrimas deslizassem sem dó.
- Eu não posso acreditar nisso. – Suspirei.
- Por que você não vai para casa, tira um tempo para si e digere as informações? – Ela falou, me encarando. – Eu vou falar com meu colega e você volta na semana que vem para tirar todas as dúvidas e fazermos a biópsia, que tal?
- Eu vou morrer, doutora? – Perguntei, respirando fundo.
- Descobrimos no começo, , você tem um ótimo prognóstico. – Ela disse, apoiando as mãos na mesa. – Não se apegue a isso e não fique procurando informações online. – Ela empurrou um cartão de visita para mim. – Caso você queira tirar alguma dúvida antes, você pode ligar no meu celular. Você tem grandes chances de sair ilesa disso.
- Em partes. – Engoli em seco. – Meu maior sonho sempre foi ser mãe, doutora. – Ela suspirou.
- Eu sei. – Ela disse. – Te conheço há 10 anos, não se esqueça disso. – Assenti com a cabeça.
- Como eu lido com isso? – Perguntei.
- Com coragem. – Ela disse, apertando minha mão. – A mesma coragem que eu vejo em você desde o primeiro dia que te conheci. – Suspirei. – Estamos aqui para você.
- Eu não sei se tenho mais coragem, doutora. – Puxei a respiração. – Parece que eu perdi a vontade de viver, que tudo perdeu a cor e...
- Eu sei. – Ela disse. – Um diagnóstico de câncer não é fácil de aguentar, ainda mais na sua idade, mas não é o fim do mundo. – Ela pressionou os lábios. – Vá para casa, descanse, digere essa bomba e volta para conversarmos, ok?! – Assenti com a cabeça.
- Eu preciso tomar algo? Fazer algo?
- Por enquanto não, eu vou pedir para Carina remarcar um retorno para você e você volte. – Assenti com a cabeça.
- Essa cirurgia, em quanto tempo eu vou ter que fazer? – Perguntei.
- Assim que descobrirmos o tipo do câncer, quanto antes tratar, melhor. Se for necessário, você vai ter que passar por algumas sessões de radioterapia, então a rapidez é a nossa amiga nessa situação. – Assenti com a cabeça.
- Ok, eu vou... – Pigarreei. – Eu volto na semana que vem. – Suspirei e ela assentiu com a cabeça.
- Eu te espero. – Ela disse firme, se levantando e eu respirei fundo. – Você tem grandes chances, , não se apavore.
- Eu vou tentar. – Mordi meu lábio inferior e senti as pernas tremerem quando eu me levantei.
- Eu vou lá contigo marcar a consulta de retorno. – Ela abriu a porta e segurou em meu braço para que eu fosse com ela, era quase como se ela andasse por mim, eu não sabia mais onde eu estava e não conseguia focar em minhas coisas. – Carina, checa a disponibilidade do doutor Alessio e marque um retorno para conversarmos com a e, também, peça para ele já marcar a biópsia. Tem alguma preferência de horário? – Ela perguntou para mim.
- Não, nenhum. - Falei, respirando fundo.
- Se tiver qualquer dúvida, me liga. – Ela frisou e eu assenti com a cabeça, sentindo-a me abraçar. – Andrà tutto bene. – Ela disse eu engoli em seco.
- Speriamo presto. – Suspirei e ela assentiu com a cabeça.
Assim que ela voltou para o consultório, eu fiquei travada um pouco na sala de espera do hospital com a recepcionista me encarando e o cartão de visita na mão. Fechei os olhos, sentindo uma dor de cabeça me atingir e levei as mãos até o local, respirando fundo.
- Senhorita? – Virei para o lado, vendo a recepcionista e suspeitei pelo olhar que ela já tinha me chamado outras vezes. – Tem algo que eu possa fazer por você? – Ela perguntou e eu olhei em volta, vendo Dom do lado de fora do consultório, na parte do jardim, olhando para as plantas.
- Acho que não. – Falei, suspirando. – Você me liga para falar o horário? – Perguntei.
- Claro! – Ela disse. – Vou resolver isso agora e te ligo entre amanhã e sexta.
- Grazie. – Falei, respirando fundo e segui até a porta. – Ciao.
- Ciao. – Ela falou e eu pressionei os lábios, me aproximando de Dom.
- Como você está? – Ele perguntou.
- O que você acha? – Suspirei.
- Desculpe, pergunta idiota. – Ele falou com o olhar baixo.
- Você não disse nada. – Disse, virando para ele.
- Eu não sei o que dizer. – Ele suspirou. – Não estava preparado para essa situação.
- E você acha que eu estava? Meu maior sonho de vida acabou de se tornar impossível. – Notei que meu tom de voz se elevou.
- Seu sonho? Eu precisava disso, ok?! Para minha vida. – Franzi a testa.
- O quê?
- Eu quero ser presidente da empresa um dia, ok?! – Ele falou firme. – E eu não posso ser um presidente sem herdeiros, isso é...
- Espera um segundo. – Falei, puxando-o pelo ombro. – Eu sou a pessoa que tenho câncer e você está preocupado consigo mesmo?
- Não é só você que tem sonhos e vontades. – Revirei os olhos.
- Isso não está acontecendo. – Levei as mãos à cabeça. – Você tem noção como você está sendo egoísta agora?
- Eu não estou sendo egoísta, estou pensando no meu futuro... No nosso futuro. – Gargalhei sarcasticamente.
- Seu futuro? Affanculo seu futuro. – Neguei com a cabeça. – Não posso acreditar como você pode ser tão egoísta, onde eu estava que não vi isso nesses anos todos?
- Não sei, mais interessado em outras pessoas do que em mim, nos jogadores e...
- Posso te garantir que todos eles estariam me dando mais apoio do que você agora. – Falei firme.
- Isso não vai dar certo. Não tem como e...
- Eu não acredito que meu namorado está terminando comigo no dia que eu descubro uma doença séria. – Levei as mãos na cabeça.
- O que você quer que eu faça? Finja que tudo vai ficar bem? Que você vai poder ter filhos ainda? Que não tem chances de você morr... – Ergui minha mão com uma velocidade incrível e atingi em cheio sua bochecha. – VOCÊ ESTÁ LOUCA?
- Sim, porque eu não consigo acreditar em como passei esses dois anos e meio contigo. – Engoli em seco.
- Você é louca! – Ele falou com a mão no local que eu havia atingido.
- Talvez tenha uma coisa boa em você terminar comigo hoje, vou lembrar que eu tive câncer, mas me livrei de um babaca como você. – Falei alto, sentindo os pulmões cansados pelo tom de voz.
- Você é louca... Você é louca. – Ele falou, rindo sarcasticamente.
- Some daqui antes que eu deixe a outra bochecha igual. – Falei, apontando para a saída.
- Nos veremos de novo ainda, eu quero minhas coisas.
- Considere todas elas queimadas, doadas para a caridade ou leiloadas. – Falei. – Eu não quero te ver nunca mais na minha vida e, nas reuniões de acionistas, faça um favor a si mesmo e não dirija a palavra a mim ou eu vou fazer questão de deixar meus dedos marcados no seu rosto na frente de todo mundo. – Falei firme. – E, caso não saiba, as pessoas gostam de mim, seu pai gosta de mim, os Elkann gostam de mim. – Neguei com a cabeça.
- Affanculo. – Ele falou.
- Va affanculo, coglione! – Falei firme e ele seguiu pelo portão ainda com a mão na bochecha e o bateu com força.
Senti meus ombros relaxarem devido a tensão e apoiei a mão na porta de vidro da sala de espera para aguentar o peso do corpo. Levei a mão livre até meus olhos, sentindo-os molhados e sequei-os, vendo a tinta do lápis preto na ponta dos dedos e suspirei, negando com a cabeça. Virei para o lado, vendo Federica e a recepcionista me encarando e dei meia volta, entrando novamente na sala.
- O que acabou de acontecer aqui? – Minha médica perguntou.
- Talvez eu tenha acabado de me livrar de um peso na minha vida que eu nem sabia que tinha. – Suspirei.
- E você está bem? – A recepcionista perguntou.
- Acho que sim. – Respirei fundo. – Você poderia chamar um táxi para mim? Não acho que consigo dirigir para casa.
- Claro! – A recepcionista disse e a médica me esticou uma caixa de lenços e eu agradeci, pegando um e passei embaixo de meus olhos, tentando tirar o excesso de lápis.
- As voltas que a vida dá, não é mesmo? – Federica falou.
- Você não tem nem ideia. – Suspirei e ela acariciou minha cabeça, sorrindo.
- Tem algo que eu possa fazer por você?
- Não, eu só quero ir para casa. – Neguei com a cabeça.
- Eu tenho que ir. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Grazie. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Ele já está vindo. – A recepcionista falou.
- Grazie. – Suspirei. – Nos falamos na semana que vem. – Disse e ambas assentiram com a cabeça.
Acenei com a mão, seguindo para fora da sala de espera e depois para fora do jardim, sentindo meus olhos cegarem um pouco devido a claridade e alguns segundos depois tudo voltou ao normal. Segui até a calçada, vendo meu carro estacionado do outro lado da rua, mas minhas pernas ainda tremiam um pouco, talvez pela doença, talvez pelo término, eu não sabia, mas tudo estava uma bagunça.
- Ciao, a senhorita é ? – Vi o taxista parando em frente ao consultório.
- Sim. – Falei, me aproximando e puxei a porta, entrando no carro.
- Para onde, senhorita? – Ele perguntou.
- Primeiro para um mercado, por favor. Depois para Vinovo.
- É para já. – Ele falou e eu suspirei, pegando meu celular da bolsa e passei rapidamente pelos contatos, vendo o número de Giovanna, Giulia, de algumas meninas do time, mas optei por discar o ramal direto da área de contabilidade do time e coloquei o telefone na orelha.
- Contabilidade?
- Angelo? – Perguntei.
- Ei, . – Ele falou.
- Você pode avisar ao Giorgio que eu não vou voltar hoje, por favor? – Perguntei baixo, respirando fundo.
- Claro, mas está tudo bem? – Engoli em seco.
- Eu não posso falar agora, Angelo. De-depois nos falamos. – Respirei fundo.
- Ok, estamos aqui por... – Desliguei o telefone antes de ouvir o final e suspirei.
Tombei a cabeça para trás no carro e respirei fundo, pressionando meus lábios um no outro e senti mais uma lágrima deslizar pela minha bochecha. Poderia ser tudo, menos isso, tudo, menos câncer. O que eu faria agora? A pergunta era óbvia, mas a resposta também, eu enfrentaria. Já tinha enfrentado tantas coisas na vida, enfrentaria isso também, mas mesmo sem ovários ou útero, ninguém nunca tiraria meu sonho de ser mãe.
Isso eles não conseguiriam fazer.
Só precisava enfrentar tudo isso.

Lui
Nove de abril de 2010 • Trilha SonoraOuça
- Faltam seis jogos para o final, qual é. – Alex falou, irritado. – Já era, é impossível, mas podemos ganhar posições. – Ele suspirou alto. – Eu sei que não entramos em acordo com o Zaccheroni, mas não fazemos isso por ele, fazemos por nós. – Ele disse, apoiando a mão na parede.
- Ele provavelmente vai ser demitido assim que a temporada acabar. – Amauri falou.
- Sim, mas nós vamos ficar aqui. – Alex falou. – Boa parte de nós. Então, eu peço isso como colega de vocês, vamos lutar para melhorar nossa posição da tabela. Nós somos a Juventus, nós precisamos dar nosso melhor. – Ele falou firme e eu suspirei, passando a mão nos cabelos. – Não somos time que fica em sexto ou sétimo na tabela.
- Todos precisam se manter em sincronia. – Chiellini falou. – Não dá para cada um seguir para um canto e fazer o que estiver afim.
- O que você quer dizer com isso? – Felipe Melo falou.
- Ei, não vamos começar a brigar agora. – Cáceres entrou no meio do caminho.
- É, por favor, gente! – Trezeguet falou. – Somos um time ainda.
- É melhor deixar para lá, Alex. – Falei, suspirando. – Hoje o treino foi uma bagunça, já não basta a pressão do top cinco agora no fim, nós precisamos acordar, é isso. – Falei, suspirando. – Mas precisamos descansar antes também. Está todo mundo com a cabeça cheia.
- O Gigi está certo, cara. – Camoranesi falou. – Vamos para casa, respirar fundo, relaxar, amanhã voltamos mais cedo e continuamos a dar nosso melhor.
- O Zaccheroni vai falar algo, não vai? – Marchisio perguntou.
- Não sei. – Alex suspirou. – Parece que ele largou tudo. Acho melhor garantir que estamos sozinhos nessa.
- Ao menos só temos mais seis jogos. – Cannavaro falou.
- Só mais seis jogos. – O novato Giovinco falou.
- Vão descansar, se puderem vir mais cedo amanhã, agradeço. – Alex falou e não esperou ninguém responder, seguiu em direção ao banheiro.
Outros seguiram com ele e suspirei, me sentando no espaço. A pressão no final da temporada estava ficando cada vez pior. Depois de cair de quinto para sexto lugar, depois ficar por um mês penando entre sexto e sétimo, o top cinco do time veio dar uma pequena grande pressão em cima de nós e Zaccheroni, nosso técnico, parecia ter jogado a toalha. Estava mais alheio da situação do que nós.
Alex era nosso capitano e ele não desistia, então ele tentava a todo custo a nos manter motivados e não nos fazer desistir, apesar de sabermos que nem todos eram fiéis ao time, o que causava algumas rixas internas e isso não melhorava em nada o clima no time. Eu entendia que era difícil, eu, Alex, Trezeguet, Camoranesi, Cannavaro, Chiellini, Iaquinta, Zebina, DeCeglie, Marchisio, até Grosso que era mais novo, sabíamos da importância de manter o time no topo, alguns novatos nos acompanhavam como Cáceres e Giovinco, mas agora tinha outros que não ajudavam e faziam com que o time fosse passado para trás.
Abanei a cabeça, tirando as chuteiras e as meias e puxei a blusa para cima. Peguei a mochila no armário e apoiei-a no assento puxando minha necessaire e a roupa que eu havia vindo. Puxei o celular junto e cliquei nele, vendo-o iluminar e vi que tinha uma mensagem não lida. Cliquei na mesma e vi o nome de , e somente três letras.
“SOS”.
Franzi a testa, vendo que havia sido enviada há uns 20 minutos e respondi:
, está tudo bem? O que aconteceu?” – Enviei, deixando o celular no assento e corri colocar minha blusa e trocar a bermuda de treino pela calça jeans que eu usava.
Mexi no celular novamente, evitando que ele apagasse e me sentei novamente para calçar os tênis. Me levantei na mesma pressa, começando a colocar as coisas de volta na mochila, sem me preocupar muito em arrumar.
- Ei, cara, não vai tomar banho? – Me assustei quando Trezeguet passou o braço pelo meu ombro. – Ei! O que foi?
- Você viu a hoje? – Perguntei, rapidamente, vendo que os minutos passavam devagar, mas nada de ela responder.
- Não, cara. Faz um tempo que não a vejo, na verdade. – Suspirei.
- Será que ela está aí ainda? – Perguntei rapidamente, colocando a mochila nas costas.
- São cinco e meia ainda, é para estar. Ela sai as seis, não?! – Ele perguntou.
- Eu vou lá e...
- Ei, Gigi, você está agitado, o que está acontecendo? – Ele perguntou, me segurando pelos ombros.
- Ela me mandou essa mensagem... – Mostrei o celular para ele. – Estou com medo de que possa ter acontecido alguma coisa.
- Vai, cara! Eu aviso o pessoal aqui. – Ele falou, dando um tapa em minhas costas e assenti com a cabeça, seguindo apressado para fora do vestiário.
Agilizei os pés para fora do prédio do CT e acabei esbarrando em algumas pessoas, grato por ninguém parar para falar comigo. Passei pelo estacionamento, prestando atenção nos carros e procurando pelo dela, mas não conseguia encontrar. Seu carro vermelho era facilmente destacado no meio dos pretos, brancos e pratas e eu não conseguia encontrar em nenhum lugar.
- Cazzo! – Xinguei baixo e corri em direção ao prédio administrativo.
Entrei, encontrando-o vazio como sempre e apertei o botão do elevador diversas vezes, batendo o pé no mesmo e bufei. Desviei do elevador, empurrando a porta que dava para as escadas e subi correndo os quatro andares, pulando dois ou três de uma vez só. Empurrei a porta quando cheguei no quarto andar e me encontrei meio perdido, procurando onde eu tinha saído.
Andei um pouco, encontrando a sala de espera onde saía o elevador e segui pelo corredor mais devagar, evitando que meus tênis fizessem o barulho guinchado no piso claro. Me aproximei da sala da contabilidade e logo vi a mesa de aparecer em meu canto de visão e franzi os lábios ao ver que ela não estava lá. Coloquei a cabeça para dentro da sala, conferindo que ela não estava lá e suspirei.
- Ciao? – Virei o rosto para o lado, vendo um dos colegas dela me olhando.
- Ciao, a não veio trabalhar hoje? – Perguntou.
- Ela veio só na parte da manhã. – Ele falou.
- Ela está bem? – Perguntei.
- Não sabemos, ela teve uma consulta médica mais cedo, logo depois ligou e avisou que não ia voltar. – Franzi os lábios. – Você falou com ela?
- Não, estou procurando por ela também. – Suspirei.
- Ela estava sentindo umas dores no abdome, fez alguns testes, hoje ia receber os resultados. – Cazzo! Levei a mão até a testa. Que não seja notícia ruim, que não seja notícia ruim.
- Eu vou atrás dela. – Falei. – Grazie.
- Se puder avisar se tiver alguma notícia, estamos preocupados. – A outra menina falou antes que eu saísse apressado e eu assenti com a cabeça.
- Pode deixar. – Falei e segui para fora da sala, fazendo o caminho contrário até o estacionamento novamente.
Segui até meu carro, entrando apressado e joguei a mochila no banco do carona. Chequei mais uma vez o celular para ver se ela havia respondido, mas nada, minha mensagem era a última em nossa conversa. Guiei o carro para fora dos portões de Vinovo e logo me coloquei na longe avenida.
Dirigi apressado até seu prédio, chegando rapidamente em cinco minutos. Estacionei em uma das vagas de visitantes e olhei rapidamente em volta, não encontrando também o carro dela ali e bufei baixo. Puxei somente o celular e saí do carro, apertando o botão do alarme. Segui até o portão e procurei pelo seu sobrenome entre os botões e o apertei apressadamente.
- Vamos, . Atende. – Apertei diversas vezes, respirando fundo. – Cazzo. – Suspirei, pegando o celular e disquei seu número, colocando na orelha. – Atende, . Atende.
Passei a mão na testa, me afastando um pouco do prédio, olhando-o para cima e tentando ver se a janela de seu apartamento estava aberta, mas eu nunca sabia quais eram as suas janelas. Suspirei, ouvindo a ligação cair e levei a mão na minha cabeça.
- Cazzo, ! – Reclamei, suspirando.
- Scusa. – Virei para o lado, vendo uma senhora de uns 70 anos.
- Buona sera. – Falei.
- Você está tentando entrar? – Ela perguntou.
- Sim, minha amiga não atende e eu estou preocupado com ela. – Falei, tentando desviar o olhar entre ela e as janelas novamente, mas o sol me cegava um pouco.
- Venha, eu abro para você. – Ela disse e eu respirei, aliviado, vendo-a ir em direção até o portão. Não podia reclamar da lentidão da senhora, já que ela já estava fazendo um grande favor para mim, mas ela podia ir um pouco mais rápido.
- Grazie, signora. – Falei rapidamente.
- Prego. – Ela disse e segui apressado para dentro do prédio.
Subi até seu andar a passos rápidos, ouvindo o barulho das pisadas ecoarem pelo local vazio e deslizei um pouco quando parei em frente à sua porta, apertando a campainha diversas vezes, ouvindo-a ecoar do lado de fora.
- ? Você está aí? – Bati fortemente na porta, batendo a lateral da mão, ouvindo o eco lá fora. – ! – A chamei mais uma vez.
Tentei a maçaneta e me surpreendi quando percebi que a porta estava destrancada e prendi a respiração por alguns segundos antes de abrir a porta devagar. Sua cozinha foi a primeira coisa a aparecer para mim e parecia que nada havia mudado. Continuei abrindo a porta devagar e engoli em seco ao encontrar largada no sofá e diversas coisas espalhadas pelo chão da sala, inclusive alguns vidros.
- Cazzo. ! – Corri apressado para dentro, batendo a porta e senti os pés pressionarem alguns cacos de vidro.
Observei-a deitada na cama com uma garrafa de uísque em seu colo e a tirei dela, percebendo que estava com somente dois dedos de líquido e a coloquei no chão devagar. Encontrei outra garrafa igual ao lado do sofá, mas essa já estava estilhaçada.
- , por favor, acorda. – Levei minhas mãos ao seu rosto, passando as mãos em seus olhos, erguendo levemente suas pálpebras, encontrando seus olhos avermelhados. – O que você fez, ?
Levei minha mão até seu pescoço, procurando pela sua pulsação e senti meus olhos me cegarem aos poucos e as lágrimas deslizarem pela minha bochecha. Respirei fundo quando encontrei sua pulsação e ela estava baixa, cerca de 60 batimentos por minuto. Passei a manga da camiseta em meus olhos e levei minha mão até seu rosto novamente, checando se ela estava respirando.
- Por favor, , acorda. – Sacudi de leve seus ombros. – O que você fez? – Dei alguns tapas de leves em seu rosto. – ! – Gritei, sacudindo. – Você não vai morrer aqui, você não vai morrer, você não pode morrer. – Peguei meu celular, discando 118 para ambulância. – Por favor, Senhor, por favor.
- Ah! – Ela puxou a respiração forte e eu relaxei meu corpo, sentindo as lágrimas deslizarem com mais força de meus olhos e larguei o celular do lado.
- Obrigado, Senhor. – Suspirei forte, relaxando meu corpo no chão, sentindo os joelhos doerem devido aos cacos. – , olha para mim. – Virei seu rosto para mim, vendo seus olhos lutando para ficarem entreabertos.
- Gigi? – Ela falou baixo, tentando se movimentar.
- O que você fez, ? – Perguntei baixo, acariciando seu rosto.
- Você veio! – Ela abriu um pequeno sorriso e eu suspirei.
- Você quase me matou de susto. – Relaxei meu corpo e ela inclinou o corpo para a beirada. – Não se levanta, estou pensando se ainda preciso te levar para o hospital. Quanto você bebeu?
- Pouco. – Ela se aproximou e senti o cheiro da bebida em sua boca.
- É, deu para perceber. – Fui sarcástico. – Consegue levantar?
- Por que eu preciso me levantar? – Ela sorriu para mim, aproximando seu rosto do meu. – Deita aqui comigo.
- O que você está fazendo, ? – Perguntei baixo, sentindo-a levar uma mão até meu rosto.
- Eu quero ficar com você. – Ela falou na lata e eu pressionei os lábios fortemente. – Vem cá. – Ela me puxou, colando seus lábios rapidamente nos meus e eu afastei-a pelo ombro.
- Cazzo, ! – Me levantei, apressado. – Você está bêbada.
- Não estou. – Ela falou, quase caindo novamente no sofá ao tentar se levantar e riu sozinha. – Viu?! Estou bem. – Ela disse ao se colocar em pé e notei que ela estava sem calça, somente com uma camiseta comprida. – Opa! – Ela falou, tropeçando nos próprios pés.
- Cuidado com o vidro! – Me aproximei dela novamente, segurando-a pela cintura.
- Assim eu gosto. – Ela passou os braços pelos meus ombros, tentando me beijar novamente.
- Pelo amor de Deus, . Para! – Falei, sentindo-a acariciar meu rosto.
- Você não quer ficar comigo? – Ela perguntou baixo.
- Eu adoraria ficar contigo, mas não assim. – Falei, suspirando, colocando-a de novo no sofá. – Fica aí! Você pisou no vidro.
- Ai! – Ela fez uma careta igual criança e eu revirei os olhos.
- Dio mio, me ajuda! – Falei para os céus.
- Não é Deus, amore, sou eu. – Ela falou, se ajeitando no sofá e abaixei sua blusa que estava quase acima de seu umbigo, evitando ao máximo não olhar.
- Eu achei que você estivesse brava comigo ainda. – Falei, seguindo até seu banheiro, mexendo nos armários e nas gavetas e achei algumas gazes, antisséptico e alguns band-aid.
- Bom... – Ela falou, se mexendo no sofá quase como um bebê, que a cabeça era pesada demais para o corpo, fazendo sua blusa subir de novo. – Eu estou brava contigo. – Ela falou baixo. – Eu estou sempre brava contigo pelo que fez com a gente.
- Eu não fiz... – Parei no meio da frase. – Não vou brigar com você bêbada. Não vale à pena.
- Eu não estou bêbada, para. – Ela repuxou o pé quando eu o peguei.
- , por favor. Eu vou te levar para o hospital se você não me deixar ver.
- Não! – Ela reclamou da mesma forma de Louis.
- ! – Falei firme.
- Gianluigi! – Ela me copiou.
- Ah, é pior do que o Louis. – Bufei, me sentando na beirada do sofá. Ela se ajeitou no sofá e passou os braços pelos meus ombros, fazendo algumas lembranças virem à tona. – ...
- Gigi... – Ela me chamou igual e me abraçou pela cintura, passando os lábios pelo meu pescoço.
- Eu colei chiclete na cruz, não é possível. – Suspirei, sentindo-a puxar minha camiseta. – Para de tentar me despir, .
- Você não colabora, preciso fazer o trabalho todo sozinha. – Ela bufou, passando a mão em minha barriga e eu a contraí.
- Nós não podemos fazer isso, .
- Por que não? – Ela perguntou baixo, mordiscando minha orelha e eu inclinei o pescoço.
- Por muitos motivos, mas o principal é que você está bêbada. – Levei minhas mãos para minha virilha. – E para, logo eu vou ficar excitado.
- Viu?! Seu corpo quer também, então mais ação e menos falação. – Ela falou, animada, se colocando ao meu lado no sofá de novo. – E menos roupa também.
- A gente não vai transar, . – Falei firme e ela formou um pequeno bico nos lábios.
- Mas eu quero! – Ela se colocou no canto do sofá, colocando os pés em meu colo e consegui segurá-los, olhando devagar se tinha algum caco de vidro preso neles.
- Mas não podemos. – Falei firme, passando a mão levemente pela sola, sentindo alguns pedaços pequenos, mas nada que tivesse afundado em seus pés.
- Por que não?
- Por que você não fala isso sóbria? – Falei firme, olhando para ela que tinha levado uma mão à boca, mordiscando a ponta do polegar. – Eu adoraria transar contigo, mas não assim. – Observei sua calcinha e abaixei sua blusa rapidamente. – Não bêbada.
- Eu não estou bêbada. – Ela se levantou, animada. – Vamos fazer sexo. – Ela pisou no chão novamente.
- Cuidado com... – Revirei os olhos.
- Eu estou boazinha, olha só! – Ela tentou se colocar em pé e seu corpo tombou para o lado. – Opa! – Ela se apoiou em meu ombro. – De novo. – Ela falou, soltando devagar e a puxei pela cintura, obrigando-a a se sentar de novo.
- Senta aqui! Você precisa de um banho gelado e café. – Falei e ela se ajoelhou no sofá novamente.
- Eu estou bem! – Notei que ela começou a falar mais brava e empurrou meu ombro para trás, se colocando entre minhas pernas.
- ... – Falei firme e ela levou os lábios para meu pescoço. – Não me tenta, . Eu não posso, nós não podemos. – Falei firme, segurando seu rosto com as mãos.
- Me beija, Gigi. Como você fazia uns anos atrás. – Respirei fundo, encarando seus olhos e a tentação era grande, mas não. Eu sabia que sentia algo por essa mulher ainda, mas não podia fazer isso com ela e nem conosco.
- Eu gosto muito de você, , mas não posso. – Disse, segurando-a pelas pernas e me levantei. – Você precisa de um banho e café. – Ela prendeu as pernas em minha cintura e meu pescoço, me apertando fortemente.
- Eu não quero. – Ela disse baixo.
- Quer sim! – Falei firme, andando com ela até seu banheiro e a apoiei na bancada. – Consegue ficar em pé? – Perguntei, soltando-a devagar e ela me olhou com aqueles olhos de cachorro pidão e os coçou, me fazendo suspirar.
- Consigo. – Ela falou baixo, colocando os pés no chão novamente e se apoiou em mim quando bambeou.
- Eu vou fazer um café para você. – Falei, jogando seus cabelos para trás.
- Gigi? – Ela me chamou.
- Oi? – Ela inclinou o corpo para trás e fechei os olhos quando a ouvi vomitando. – Já entendi. – Suspirei e levantei a tampa do vaso sanitário. – Vomita aqui!
A endireitei no vaso sanitário e juntei seus cabelos para trás, ouvindo-a vomitar novamente e suspirei. As vantagens de ser pai é que eu já estava acostumado com isso, não que eu não tivesse nojo, mas a necessidade da outra pessoa era mais importante do que a minha.
- Pronto? – Perguntei, vendo-a se levantar devagar.
- Eu estou com dor de cabeça. – Ela reclamou e fui até o box, abrindo as torneiras.
- Vamos tomar banho, você vai melhorar. – Falei. – Me dá licença. – Falei baixo e puxei sua blusa para cima, feliz por ela parar de tentar me agarrar e cobrir os seios.
Ergui os olhos, tentando desviar meu olhar de seu corpo e levei as mãos para a água, tentando-a deixar gelada, mas não o suficiente para matá-la de frio. Ela apoiou o corpo na parede e suspirei.
- Vem. – Estiquei a mão para ela e guiei-a até o box.
- Está gelada. – Ela reclamou ao colocar a mão na água.
- Eu sei, amore, mas precisa ser assim. – Falei e ela suspirou, fechando os olhos e colocando a mão no nariz, quase como se fosse mergulhar e deu um gritinho quando entrou embaixo da água fria. – Eu vou limpar aqui enquanto isso. Consegue ficar sozinha? – Perguntei.
- Consigo. – Ela falou baixo, assoprando um pouco da água e se abraçando devido a temperatura da água.
Me afastei dela devagar, checando se ela não cairia e saí do banheiro, seguindo até a lavandeira. Mexi nos armários e peguei um pano, molhei-o, torci e voltei para o banheiro. estava sentada no chão do box, abraçada as pernas e a cabeça apoiada nos joelhos e suspirei, sentindo meu coração apertar.
O que tinha acontecido para deixar essa mulher tão incrível, poderosa e bem-resolvida nessa situação? Só podia imaginar que algo de muito ruim tinha dado nesse exame e nada em sua casa me dava uma pista do que era. nunca foi de beber, raramente acabávamos com uma garrafa de vinho quando estávamos juntos. Ela não tinha criado o hábito de beber nesses três anos, ainda mais nessa quantidade. Ela tinha conseguido acabar sozinha com duas garrafas de Jack Daniels de um litro. Era surpreendente ela não vomitar mais.
Fiz algumas voltas enquanto limpava o vômito no chão e cada vez eu encontrava de um jeito, na primeira volta ela passava sabonete no corpo, na outra ela se enxaguava e na terceira ela estava sentada no chão do banheiro, somente deixando a água cair em seu corpo.
- Vamos sair daqui, . – Falei para ela, abrindo o box de novo e desligando a água.
- Não olha para mim assim. – Ela falou baixo, deixando os cabelos caírem no rosto e eu suspirei, puxando sua toalha.
- Você está linda. – Falei, puxando sua toalha e coloquei em suas costas, vendo-a fechar ao redor do corpo. – Vamos, deixa eu te ajudar. – Falei, esticando as mãos para ela.
- Não olha! – Ela disse e eu ergui o olhar para o teto, sentindo-a se apoiar em mim para levantar. – Pronto. – Ela falou e eu virei o olhar para ela, vendo-a se enrolar na toalha e levei minha mão até seu rosto, acariciando-o devagar.
- Vamos, você precisa descansar. – Falei, vendo-a andar um pouco e cambalear com o movimento. Passei meus braços ao redor de seu corpo, segurando-a pela cintura e ela passou o braço em meus ombros.
- Você não precisa fazer isso. – Ela falou.
- Preciso sim. – Falei, saindo do banheiro e entrei em seu quarto, deitando-a na cama e fechei mais sua toalha que deixava seu seio à mostra. – Você ainda guarda as coisas nos mesmos lugares? – Perguntei, seguindo até seu armário e abri a primeira gaveta, encontrando suas calcinhas e peguei uma preta. – Essa está boa? – Perguntei, sabendo quanto ela implicava das calcinhas mais novas.
- Está sim. – Ela disse, pegando-a e fui até sua porta, fechando-a devagar e encontrei uma camiseta larga atrás dela.
- Aqui. – Entreguei para ela.
- Você pode se virar? – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça, encarando a porta, batucando os dedos na porta do armário enquanto ela se trocava. – Pronto. – Ela falou e eu virei o corpo, vendo-a sentada na cama, passando a toalha nos cabelos úmidos.
- Eu levo para você. – Falei, pegando a toalha de sua mão. – Descansa um pouco, ok?! – Falei, passando a mão em sua testa e ela assentiu com a cabeça. – Vem! – Puxei um pouco sua coberta, vendo-a se levantar e se sentar assim que tirei a coberta de cima da cama de solteiro.
Ela se deitou na cama, ajeitando a cabeça no travesseiro e passei a coberta para cima dela novamente, vendo-a subir até o pescoço e me sentei na beirada, acariciando sua cabeça. Ela inclinou o corpo para o lado, abraçando uma zebra de pelúcia que estava no canto da cama e virou para a parede, me fazendo suspirar.
- Gigi? – Ela perguntou.
- Diga.
- Você fica aqui comigo? – Ela perguntou com a voz baixa e isso fez meus olhos e encherem de lágrimas novamente.
- Fico, . Eu fico. – Falei, suspirando e relaxei os olhos, passando a mão levemente em seu corpo, me fazendo relaxar.
Não foi preciso mais do que 10 minutos para que ela apagasse, relaxando seu corpo na cama. Chequei sua respiração e seus batimentos mais uma vez, vendo que eles tinham normalizados e voltei para a sala, dando uma olhada na bagunça e percebi que não eram só as garrafas que estavam quebradas no chão. Tinha dois porta-retratos no chão, um dela com Domenico e outro de seus pais. O vaso de flores que ela mantinha no centro da mesa também estava no chão, além de alguns papéis de propagandas de restaurantes.
Voltei para lavanderia, pegando a vassoura e uma pazinha e juntei todo o vidro, me certificando de não deixar nada pelo chão e juntei tudo em um saco, colocando dentro de outros dois também. Peguei um pano úmido, passando mais uma vez no chão, vendo se pegava pedaços pequenos e ergui os porta-retratos mesmo sem vidro e suspirei, satisfeito com a limpeza.
Me sentei no sofá novamente e peguei o celular, eu precisava avisar alguém de que ela estava assim. Não era possível que ninguém sabia o que estava acontecendo ali. Comecei enviando uma mensagem para Trezeguet.
“Ei, Treze. Eu não sei o que aconteceu, mas cheguei na casa da e ela estava bêbada com duas garrafas de uísque e tudo quebrado, achei que não estava respirando. Já cuidei dela e ela está descansando agora, estou com medo, cara”. – Suspirei, enviando e depois fui para Alex.
“Fala, capitano, não sei se o David te falou, mas a não está bem, não consigo deixá-la sozinha aqui, talvez não consiga ir amanhã cedo, me desculpa”. – Enviei mais uma vez e era hora de avisar minha namorada. Engoli em seco antes de começar uma mensagem.
“Oi, Lena, tive uma emergência no time hoje, vou ter que ficar por aqui hoje. Te amo”. – Pressionei os olhos.
Eu não sei se ela sabia de mim e de , mas eu não tinha como lidar com isso agora. Rolei meus contatos, vendo se eu tinha de algum conhecido de , mas não, somente o pessoal do time. Fui para o quarto de , encontrando sua bolsa em cima da escrivaninha e mexi nela, encontrando seu celular.
Giulia estava em Roma, mas qual era o nome de seus pais? Os gêmeos era Gianni e Pietro, mas não tinha o telefone deles ali. Ou eu deveria mandar mensagem para seu namorado? Ah, não mesmo. Era mais um para evitar um ciúme desnecessário, ela que lidasse com ele depois. Seria Giulia mesmo. Copiei o telefone para meu celular e chequei o telefone, era quase sete e meia, talvez ela não estivesse trabalhando, então disquei-o. Esperando-o tocar diversas vezes.
- Ciao? – Ela atendeu.
- Giulia? – Perguntei.
- Sim, é ela, quem é? – Ela perguntou.
- É o Gigi, Giulia. Gianluigi Buffon. – Falei.
- Nossa, Gianluigi Buffon me ligando? – Ela gargalhou. – É algum furo, por acaso?
- Não, Giulia, eu estou aqui na . Ela não está bem.
- O QUÊ? – Ela falou alto. – O que aconteceu com ela?
- Eu não sei, ela me mandou uma mensagem que dizia socorro, eu cheguei aqui e ela estava desmaiada, com duas garrafas vazias de uísque e achei que estivesse morta.
- Ah, meu Deus, o exame. – Ela falou alto.
- Você sabe algo sobre isso?
- Ela estava mal faz uns três, quatro meses, a ginecologista dela pediu alguns exames e ela ia checar hoje o resultado. – Engoli em seco. – Ela te falou algo sobre isso? – Perguntei.
- Ela estava desmaiada quando eu cheguei, ela vomitou, eu dei um banho nela e ela dormiu. Eu estou preocupado, Giulia, eu nunca a vi assim. – Suspirei, passando a mão nos cabelos.
- Eu não falei com ela, fiquei de ligar para ela mais tarde, mas eu trabalho até as nove hoje. – Ela disse.
- Desculpa te atrapalhar. – Falei.
- Não! – Ela falou alto. – Estamos falando da minha irmã.
- Tem alguém que eu possa ligar, Giulia? Seus pais e...
- Eu te passo o número da minha mãe, Giovanna, mas, cara... – Ela falou baixo, quase em um gemido. – Ela não pode sofrer mais, Gigi. – Percebi que ela estava chorando e senti meus olhos encherem de lágrimas também.
- Eu sei. – Suspirei, passando a mão na cabeça.
- Depois dos pais dela e até de você, desculpa falar isso, mas ela sofreu muito quando vocês terminaram, ela não pode sofrer, Gigi. Ela... – Ela pigarreou. – Ela é a pessoa mais importante para mim. – Ela suspirou.
- Ela é importante para mim também, Giulia. – Suspirei, levando a mão ao peito.
- Por favor, Deus, que ela esteja bem. – Ela choramingou e passei a mão no olho, limpando uma lágrima solitária. – Você está na casa dela?
- Sim, estou. – Falei.
- Eu vou falar para minha mãe ir aí, posso?
- Por favor, eu não sei como ela vai estar quando acordar, talvez ela se assuste comigo aqui, mas eu não vou até garantir que ela está bem. – Falei baixo, passando a mão na bochecha.
- Por favor, Gigi, não saia daí. – Ela suspirou. – Eu confio em você para cuidar dela.
- Não se preocupe, eu estarei aqui. – Falei baixo.
- Eu vou ligar para eles, eles logo estarão aí, vou te mandar o número deles por SMS também. – Ela disse.
- Ok, Giulia, obrigado.
- Cuida dela, ok?! – Ela falou firme.
- Pode deixar. – Respirei fundo e ela desligou a ligação.
Respirei fundo, apertando o celular na mão e vi uma mensagem não lida, abri e vi que era de Trezeguet.
“Cuida da nossa menina, cara. Ela é preciosa demais para se machucar. Me avisa qualquer coisa, apareço aí em dois minutos”. – Ele falou e eu suspirei.
“Pode deixar”. – Respondi e deixei a cabeça tombar para trás, fazendo mais lágrimas deslizarem pela minha bochecha.



Capitolo veintidue

Lei
10 de abril de 2010 • Trilha SonoraOuça

Me mexi na cama e franzi os olhos ao sentir minha cabeça doer. Levei a mão até ela e suspirei. Passei a mão, bagunçando os cabelos para trás e senti parte molhada atrás e pressionei os lábios. Eu não costumava dormir de cabelo molhado. Vai ver eu tinha tirado uma soneca.
Abri os olhos devagar, vendo a luz externa entrando no quarto e ergui o corpo devagar, sentindo minha cabeça pesando mais do que uma bigorna. Passei a mão nos cabelos de novo, sentindo boa parte ainda úmida e levei a mão até o travesseiro, sentindo-o igualmente úmido. Inclinei meu corpo até a janela, sem sair da cama e vi que a iluminação que entrava era do poste da rua e não mais do sol.
Virei o rosto para a minha mesa de cabeceira e o relógio marcava uma e meia, pela cor do céu, com certeza era da madrugada. O que tinha acontecido? Suspirei, me levantando devagar e senti minhas pernas tremerem um pouco e apoiei a mão na parede, franzindo os lábios, forçando-os a abrir quando bocejei e senti um cheiro estranho na boca, era álcool, mas também era algo ruim. Levei a mão para frente da boca, soltando o ar fortemente e senti o cheiro. Eu tinha vomitado, certeza. Fiz uma careta com o cheiro e precisava escovar os dentes urgente.
Puxei minha bolsa da escrivaninha e me sentei na cama novamente. Mexi nela, procurando pelo meu celular, mas não o encontrei, somente o papel de retorno da doutora Federica. Ah, não. A realidade bateu em minhas costas e os olhos se encheram de lágrimas novamente, me fazendo pressionar os lábios. Eu tenho câncer.
Levei as mãos aos olhos, limpando-os e suspirei, as imagens da consulta vieram em minha cabeça. O câncer, Domenico, o mercado e eu começando a beber. Será que eu bebi aquelas duas garrafas mesmo? Não, eu não era fraca para bebida, mas com certeza aquilo teria me matado. Eu não sou tão louca assim. Em compensação, não me lembrava de mais nada além dos dois primeiros goles. Lembro de barulho de coisas quebrando, mas só. Agora eu estava claramente de banho tomado e deitada na cama. Eu não bebi aqui, principalmente porque não tinha garrafa nenhuma ali.
Alguém tinha entrado aqui, mas como? Só Giulia tinha a chave daqui, ela não viria de Roma só para cuidar de mim, inclusive porque eu fiquei de falar com ela no fim de seu expediente, mas agora meu celular tinha sumido e eu não sabia o que tinha acontecido. Suspirei, sentindo a cabeça pesando mais ainda conforme eu tentava me lembrar tudo o que tinha acontecido e quantos dias eu estava dormindo e me assustei com um barulho no chão, claramente de uma panela ou tampa no chão. Me levantei rapidamente e segui em direção à porta, abrindo-a levemente e vendo que a luz estava acesa.
Andei devagar para fora do quarto, seguindo pelo corredor até a sala, apoiando a mão na parede e encontrei uma cena muito estranha. Tia Giovanna dormia em um canto do sofá e Gigi estava na outra ponta mais dormindo do que acordado enquanto olhava para a TV. Do lado esquerdo, na cozinha, tio Fabrizio fazia algo que cheirava muito bem.
- Ciao? – Falei baixo, sentindo minha voz falhar um pouco.
- Dio mio, ! – Gigi veio rapidamente em minha direção, me abraçando fortemente.
- Gio! Gio! Ela acordou. – Tio Fabrizio falou e eu senti Gigi me apertar fortemente e minhas mãos ficaram para baixo.
- Ah, querida! – Tia Giovanna veio em minha direção e Gigi deixou que ela me abraçasse fortemente.
- O que está acontecendo? – Perguntei, igualmente sem reação.
- Eu estava tão preocupada com você. – Tia Gio falou, passando as mãos em meu rosto e percebi que ela tinha os olhos inchados e molhados.
- Deixe-a respirar, Gio. – Tio Fabrizio falou e ela se afastou de mim, passando as mãos nos olhos e tio Fabrizio veio me abraçar. – Como você está?
- Bem, eu acho. – Falei, respirando fundo e puxei a camiseta para baixo, tentando esconder mais minhas pernas.
- Não se preocupe com isso. – Fabrizio falou, dando um beijo em minha testa.
- O que aconteceu? – Falei baixo, passando as mãos em meus cabelos, jogando-os para trás.
- Eu que te pergunto. – Gigi falou e eu franzi os olhos. – Não me assusta mais assim, , por favor. – Ele falou, passando as mãos no rosto e seus olhos também estavam inchados.
- Eu não estou acompanhando... – Falei, virando para os três, desviando os olhares surpresos.
- Você não se lembra de nada, querida? – Tia Gio perguntou.
- Vem cá! – Gigi segurou minha mão e me indicou o sofá e eu me sentei, puxando uma almofada para meu colo.
- Minha cabeça está pesada demais, então imagino que eu bebi demais. – Falei, suspirando.
- Eu achei que você tinha morrido, . – Gigi falou baixo com a voz de choro e eu olhei confusa com ele. – Eu cheguei aqui e... – Ele puxou a respiração fundo. – Você estava desmaiada, a casa estava uma bagunça com muitas coisas quebradas, duas garrafas de uísque vazias.
- Eu bebi tudo aquilo? – Perguntei um tanto alto e coloquei as mãos na cabeça imediatamente. – Ai.
- Não sei se você bebeu tudo, mas elas estavam vazias, algumas quebradas. – Engoli em seco.
- Ele cuidou de você e depois ligou para gente. – Fabrizio falou, dando um curto sorriso.
- Como você...
- Eu peguei o número da Giulia no seu celular. – Ele falou e eu assenti com a cabeça. – Eu estava com tanto medo de que você poderia... – Ele balançou a cabeça.
- Ela está bem agora. – Tia Gio falou rapidamente, acariciando a cabeça dele e eu pressionei os lábios.
- Mas como você sabia que eu estava precisando de ajuda? – Perguntei, franzindo os olhos.
- Como assim? Você me chamou. – Ele falou firme.
- Eu não te chamei. – Falei.
- Você me chamou, . – Ele puxou o celular do bolso e procurou algo antes de me mostrar. – Você me mandou uma mensagem. – A observei e claramente eu tinha enviado uma mensagem com as letras “SOS” para ele.
- Eu não mandei isso. – Falei, olhando para os três. – Eu não estou mentindo, eu não lembro de fazer isso. – Suspirei.
- Você bebeu demais, querida. – Tia Gio falou e eu suspirei. – Estava um cheiro bem forte de álcool aqui quando chegamos.
- Eu limpei aqui, abrimos tudo, mas ainda não saiu. – Gigi falou.
- Falando nisso, eu preciso escovar os dentes, eu vomitei, não?! – Perguntei, colocando as mãos em frente à boca.
- Sim. – Gigi falou e tio Fabrizio puxou um chiclete do bolso e me entregou.
- Aqui. – Ele disse e eu abri a embalagem, colocando-o na boca.
- Agora eu preciso perguntar, querida. – Tia Gio falou, se sentando ao meu lado. – O que aconteceu?
- Nada! – Falei firme. – Eu não lembro.
- Não da sua bebedeira, querida, mas o que aconteceu antes dela, que te fez beber desse jeito. – Tio Fabrizio falou e eu suspirei.
- Eu não quero falar sobre isso. – Falei baixo, pressionando os lábios um no outro.
- Por favor, , somos sua família. – Fabrizio falou. – Todos nós. – Ele suspirou.
- Se você está sofrendo, podemos te ajudar. – Gigi falou e eu suspirei.
- Ninguém pode me ajudar dessa vez. – Falei baixo, sentindo uma lágrima deslizar pela minha bochecha e levei a mão rapidamente até o local, limpando-o.
- Por favor, querida. Você não está bem. – Tia Gio falou.
- Não quero te forçar a nada, , mas acho que eu tenho o direito de saber depois de quase te encontrar morta aqui. – Gigi falou firme, segurando minhas mãos e eu suspirei.
- Eu fui receber o resultado dos exames hoje... – Falei baixo, apertando as mãos de Gigi involuntariamente e eles olhavam curiosos para mim.
- O que ela disse? – Ela perguntou e eu respirei fundo, mordendo meu lábio inferior.
As lágrimas voltaram a escorrer de meus olhos e meu soluço ecoou em meu apartamento. Gigi apertou minhas mãos fortemente, me encarando e tia Giovanna me abraçou de lado, me apertando pelos ombros.
- Estamos aqui para você, meu amor. – Tia Gio falou.
- Coraggio. – Fabrizio falou e eu suspirei, pressionando os lábios.
- Eu tenho câncer. – Falei baixo, sentindo as lágrimas me cegarem e engoli diversas vezes, tentando reduzir a quantidade de saliva na boca.
- O quê? – Gigi falou baixo e eu assenti com a cabeça, apertando suas mãos.
- É... – Suspirei.
- É por isso que você...
- Eu perdi meu maior sonho, tia Gio. – Engoli em seco, suspirando. – É câncer de ovário. – As lágrimas continuaram a cair, mas não queria soltar as mãos de Gigi para secá-las.
- Ah, querida! – Gio me abraçou apertado, me fazendo suspirar forte.
- E o que a médica disse? – Fabrizio perguntou firme.
- Ela pediu uma biópsia para saber que tipo de câncer é ainda, mas tem grandes chances de eu tirar todos meus órgãos reprodutores, ovário, trompas, útero... – Puxei a respiração fortemente, pressionando os lábios um no outro.
- Você sempre... – Gigi falou, se sentando no chão e soltando nossas mãos. – Você sempre quis ser mãe... – Assenti com a cabeça.
- Se isso acontecer, não serão pelos meios normais. – Aproveitei que ele soltou e levei-as até meus olhos, secando-as e esfregando as que secavam.
- Mas e você? Sua saúde? – Tio Fabrizio perguntou.
- Ela disse que o prognóstico é muito bom. – Suspirei. – Mas não entramos muito em detalhes, eu travei quando ela falou e...
- Eu deveria ter ido contigo. – Tia Gio falou.
- Ela vai me explicar na semana que vem. – Ela disse. – Vai me encaminhar para um oncologista e disse que quanto mais rápido fizermos a cirurgia, mais chances de eu não precisar fazer outros tratamentos. – Tia Gio respirou fundo.
- Ah, minha querida. – Ela me abraçou fortemente e eu suspirei, apoiando minha cabeça em seu ombro. – Estamos aqui com você, meu amor. – Ela falou. – Sempre estaremos aqui contigo.
- É... – Gigi falou e dei um pequeno sorriso. – E quando chegar a hora de você ser mãe, tem alternativas. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei, é só que... – Suspirei. – Ter um bebê, engravidar... – Suspirei. – Sempre quis ter o pacote completo.
- Não é tão incrível assim, ainda mais se forem dois. – Tia Gio falou, me fazendo rir fracamente. – Não fique assim, ok?! Vamos cuidar de uma coisa de cada vez.
- Eu só surtei. – Falei baixo, mordendo meu lábio inferior. – Eu... – Neguei com a cabeça, sentindo as lágrimas voltarem a deslizar. – Eu sinto que já lutei tanto na minha vida e... – Puxei a respiração. – Eu estou cansada. – Senti meus lábios tremerem. – Eu só quero ter uma vida normal sem grandes surpresas.
- Ah, querida... – Fabrizio falou.
- Você é especial, . – Gigi falou e eu engoli em seco, erguendo o olhar para ele. – Pessoas especiais acabam tendo que carregar um peso extra das coisas. – Suspirei.
- Eu não quero ser especial, então. – Neguei com a cabeça e ele me deu um curto sorriso.
- Tarde demais. Você já é especial para tanta gente. – Ele suspirou. – Você não tem noção de quantas pessoas estão esperando notícias suas. – Dei um pequeno sorriso.
- O time? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça.
- Seus colegas de trabalho também. – Ele falou. – Todos te amam, . E posso te garantir que todos nós estaremos contigo para o que você precisar. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Grazie. – Falei, segurando a mão de tia Gio e tio Fabrizio. – Por tudo.
- Você deveria ter nos ligado assim que saiu da consulta. – Ela falou.
- Eu sei, é que aconteceu tanta coisa e...
- Falando nisso, o Dom não ia contigo? – Fiz uma careta. – Eu liguei para ele mais de 200 vezes e ele não respondeu. – Fabrizio falou, irritado.
- Ah sim, sobre isso... – Suspirei.
- Ele não foi? – Gigi perguntou rapidamente.
- Ah não, ele foi. – Falei. – E aí ele terminou comigo logo depois que eu saí do consultório.
- O QUÊ? – Os três falaram juntos e se levantaram.
- É... – Neguei com a cabeça, jogando os cabelos para trás.
- O que aquele coglione fez? – Gigi perguntou.
- Ele começou a dizer algo sobre herdeiros, a pensar no futuro dele e...
- Espera! Espera! – Gigi falou. – Futuro dele?
- É, achei estranho também, afinal quem tinha recebido o diagnóstico de câncer era eu, vai saber... – Suspirei.
- Aquele engomadinho terminou comigo depois que você recebeu o diagnóstico mais importante da sua vida? – Gigi falou e eu assenti com a cabeça. – Ah, eu vou encher aquele cara de porrada e...
- Gigi, se acalma! – Falei, respirando fundo. – Não estou com capacidade de te segurar agora se você quiser ir, mas por favor, não vale à pena. – Suspirei.
- Aquele cara não tem semancol nenhum? – Ele perguntou.
- Gigi, por favor...
- Eu tenho que dar razão para ele. – Fabrizio falou. – E de pensar que eu gostava mais dele do que de você. – Ele falou para Gigi e eu e Giovanna rimos.
- Podemos não falar sobre isso? Eu estou com dor de cabeça e, não se preocupem, eu já me certifiquei de nunca encontrá-lo novamente. Se ele aparecer na minha frente, quem vai “enchê-lo de porrada” serei eu. – Falei firme.
- Eu gostaria de ver isso. – Gigi falou e eu dei um pequeno sorriso.
- Você está com fome, ? – Tio Fabrizio perguntou. – Eu estava fazendo um macarrão.
- Estou sim. Eu comi antes da consulta e depois só bebi. – Falei, levando a mão até a barriga.
- Pelo menos você vomitou, já colocou para fora. – Tia Gio falou.
- Eu vou terminar lá de fazer para você. – Fabrizio falou. – Para gente, na verdade, ninguém comeu nada preocupado contigo.
- Grazie. – Sorri e ele assentiu com a cabeça.
- Cadê os gêmeos? – Perguntei rapidamente.
- Dormido no outro quarto. – Tia Giovanna falou.
- Eu vou vê-los e colocar um short. – Falei, me levantando e tio Fabrizio apareceu com uma cestinha.
- Aqui, come um pão enquanto isso. – Peguei um e ele estendeu para Gigi que pegou um também.
- Grazie. – Falei, me levantando devagar e segui pelo corredor devagar e parei no banheiro para jogar o chiclete no lixo e dei uma mordida no pão, percebendo que estava com fome. – Hum... – Suspirei.
Coloquei a cabeça para dentro do quarto do fundo do corredor, encontrando Gianni e Pietro deitados nas duas camas que tinha ali, sendo iluminados somente pela luz que entrava pela janela e suspirei, dando um pequeno sorriso.
- Tem algo que você deve saber... – Virei para o lado, vendo Gigi.
- Mais? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça.
- Preferi guardar deles, achei que você não gostaria que ficasse aberto para todo mundo.
- O que eu aprontei? – Entrei em meu quarto, ligando a luz e prendi o pão entre os dentes enquanto pegava um short e o vestia.
- Eu... Eu não sei como falar isso. – Ele disse, fechando a porta atrás de si e eu franzi os olhos.
- Foi tão feio assim? – Ele mordiscou o pão em sua mão, suspirando.
- Você... – Ele riu fracamente. – Você queria transar... Comigo. – Ele falou baixo e eu arregalei os olhos.
- O quê? – Perguntei, vendo-o colocar pedaços pequenos do pão na boca.
- É... – Ele falou, erguendo o olhar para mim.
- Você está brincando. – Falei, rindo fracamente.
- Eu queria estar, pois assim eu não teria te encontrado aqui quase morta. – Ele falou, se apoiando na parede.
- Eu não lembro disso. – Falei, negando com a cabeça.
- É... Eu fui forte, . Eu resisti e só cuidei de você, mas achei que devesse saber. – Engoli em seco.
- O que eu falei? – Perguntei.
- Você não falou muito. – Ele disse. – Só tentou me beijar, tentava tirar minha roupa e... – Gargalhei.
- Beh, se eu não lembro, eu não fiz. – Falei e ele riu fracamente.
- Vai usar essa carta agora? – Ele perguntou.
- Eu realmente não sei do que você está falando, Gianluigi. – Suspirei, franzindo os lábios.
- Bom, só queria que soubesse. – Ele disse. – Também queria que soubesse que foi difícil resistir. – Suspirei.
- Me desculpe. – Falei.
- Não se preocupe. – Ele deu um sorriso para mim. – Eu deveria pedir desculpas também, mas posso te garantir que eu vou lembrar disso pelo resto da vida.
- Há, há, há, engraçadinho. – Mostrei a língua para ele que sorriu.
- Mandar uns vídeos para Giulia.
- VOCÊ TEM VÍDEOS? – Me levantei rapidamente e ele gargalhou.
- Não, eu estava mais desesperado em saber como você estava, não pensei em registrar algo para te chantagear algum dia no futuro. – Sorri.
- Grazie, Gigi. – Falei e ele assentiu com a cabeça. – Por tudo, na verdade. Por vir até aqui, por cuidar de mim, por...
- Limpar seu vômito. – Fiz uma careta.
- Você... – Ele assentiu com a cabeça. – Desculpe. – Fechei os olhos, pressionando-os fortemente. – Que mico! – Suspirei.
- O que importa é que você está bem. – Ele disse.
- Bem, mais ou menos...
- Você vai sair dessa, . – Ele disse. – Nunca conheci alguém tão forte quanto você.
- Irônico, não?! – Falei e ele franziu o rosto. – Parece que o jogo virou. Eu falava isso de você. – Ele deu um meio sorriso.
- Para você ver. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Vou ver se eles precisam de ajuda. – Gigi falou, se levantando e eu assenti com a cabeça. – ... – Ele se virou para trás. – Eu só não entendo uma coisa...
- O quê? – Perguntei.
- Por que você me mandou mensagem? – Ele perguntou. – Não para Giulia ou para os dois, ou para alguém do time, você mandou para mim. – Suspirei, coçando os olhos.
- Eu tenho uma ideia do porquê. – Falei.
- O quê?
- Por que você não se senta? – Indiquei meu lado na cama e ele andou até ali, se sentando. – Tem algo que me atrapalha desde que a Alena engravidou do Louis.
- O quê? – Ele perguntou.
- Isso. – Suspirei. – Eu sei que já faz quase quatro anos, mas eu não consigo deixar de pensar se por acaso eu seria a mãe dos seus filhos se tivéssemos ficado juntos. – Suspirei. – É ridículo, eu sei, mas... – Neguei com a cabeça. – Eu pensei que pudesse ser você, sabe? Algo com seu esperma e... – Ri fracamente. – Que mico.
- Você pensou que se transasse comigo poderia engravidar antes de...
- Vemos que eu não pensei muito, Gigi. – Virei o rosto para ele. – Só que isso me incomodou quando foi o Louis e depois o David. – Suspirei. – Você ter o esperma poderoso, algo assim. – Mordi meu lábio inferior – Ou o problema ter sido eu desde o começo e nunca ter acontecido.
- Não fala isso. – Ele disse acariciando meu rosto. – Também não é nada ridículo, eu sei o quanto você quer realizar esse sonho... – Ele suspirou. – Eu não sei o que te dizer, não lembro de termos transado sem camisinha e...
- Não precisa dizer nada...
- Éramos mais novos, . A vida simplesmente seguiu outro curso e... – Suspirei.
- Me desculpe, Gigi. – Falei firme, fazendo furos no pão em minha mão. – Eu deveria ter evitado isso.
- Você não tem que pedir desculpas, tem que agradecer por ter me mandado mensagem com as intenções erradas, não gosto nem de pensar o que teria acontecido se eu não tivesse chegado aqui.
- Obrigada por isso também. – Virei para ele. – Por cuidar de mim.
- Sempre que precisar. – Ele disse, colando a boca em minha cabeça e deixando um beijo.
- Você pode ir embora, se quiser, a Alena deve estar preocupada contigo. – Falei, coçando os olhos.
- Deixa que eu resolvo isso depois, você precisa mais de mim agora. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, dando um curto beijo em sua bochecha.
- Grazie. – Falei, vendo um pequeno sorriso se formar em seus lábios.
- Vamos comer agora, também estou com fome e parece que Fabrizio cozinha bem, o cheiro está me matando.
- Cozinha sim. – Ri fracamente, me levantando junto dele e ele chegou na porta antes, abrindo-a.
- ! – Pietro correu em minha direção, me abraçando fortemente e abracei-o.
- Ah, meu amor. – Falei baixo.
- Você está bem? – Ele perguntou e eu sorri, acariciando seus cabelos.
- Eu estou bem, meu amor. Está tudo bem agora. – Falei e vi Gigi sorrindo para nós dois, antes de sair pela porta. Mordi meu lábio inferior, vendo um sorriso dançar em meus lábios.

Lui
19 de abril de 2010

- Você está zoando! – Alex falou firme.
- Queria estar. – Suspirei, dando uma tragada no cigarro.
- Assim, sem julgar a Vossa Superioridade, mas Você podia ter pegado mais leve, hein, cara? – Camoranesi falou, olhando para cima e ri fracamente.
- Câncer de ovário, cara? – Trezeguet perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim! Aí ela surtou total...
- Não a julgo. – Chiellini falou. – O maior sonho da vida dela é ser mãe e esse sonho é retirado dela? – Ele perguntou.
- É pesado demais, cara. – Cannavaro falou e eu respirei fundo.
- E quais as chances dela? – Alex perguntou.
- A médica diz que muito boas, ela precisa fazer alguns exames mais específicos para saber que tipo de câncer é, mas como descobriram no começo, ela tem boas chances. – Falei. – Só o aparelho reprodutor que ela vá perder...
- Ela deve estar um caco, cara. – Mauro falou.
- Quando a encontrei na casa dela largada, com um monte de vidro quebrado no chão, duas garrafas de bebidas vazias, eu achei que ela estava morta. – Suspirei, negando com a cabeça. – Eu senti uma dor tão forte no meio que... – Neguei com a cabeça. – Não achei que fosse aguentar.
- Você ainda gosta dela, Gigi. – Fabio falou. – E não digo isso para te zoar, não agora, mas vocês se atraem de uma forma que eu não consigo explicar, sendo um casal ou não. Vocês são amigos, confidentes, família, sei lá. É maior do que você e a gente ou você e a Alena. – Ele deu de ombros.
- É forte, cara. – Trezeguet falou e eu suspirei.
- Quando eu a vi vulnerável ali, eu só consegui lembrar da minha depressão. – Suspirei. – O quanto que ela me ajudou. Eu quero estar lá para ela para o que ela precisar também, mesmo que não sejamos mais um casal. – Dei mais uma tragada no cigarro. – Ela é tudo para mim.
- E nós estaremos lá por vocês dois. – Alex falou e eu assenti com a cabeça.
- Pedi para ela me avisar quando for a cirurgia, se ela precisar de companhia nas consultas... – Apoiei as costas na parede. – Por um momento eu só queria voltar no tempo e estar com ela de novo para poder realmente ficar próximo dela durante todo o processo. – Suspirei.
- Você vai estar, Gigi. – Fabio falou. – As coisas são diferentes agora, mas você vai estar lá. – Assenti com a cabeça. – E ela sabe disso ou ela não teria mandado mensagem para você. – Confirmei com a cabeça.
- Ela não falou nada quando você chegou?
- Não. – Falei, mentindo. – Ela pareceu bem surpresa quando eu cheguei, aí eu ajudei-a a levantar, querendo colocá-la debaixo da água fria, mas ela logo vomitou e começou a melhorar.
- Nada cura melhor uma bebedeira do que vomitar. – Mauro falou, nos fazendo rir.
- Aí ela dormiu e eu mandei mensagem para o Alex avisando que não poderia ir cedo, avisei o Trezeguet que sabia da mensagem e liguei para amiga dela para avisar aos pais dela que são praticamente os pais da . Pelo menos eles se preocupam igual.
- Aí eles foram para lá? – Trezeguet perguntou.
- Sim, foram, eles moram no Colle Della Maddalena, mas chegaram em menos de 20 minutos lá. Eles estavam realmente desesperados. – Suspirei. – A mãe ficou deitada com a umas duas horas, o pai não parava de me agradecer. – Ri fracamente. – Agora que não estamos mais juntos, ele gosta de mim. – Revirei os olhos.
- A ironia do destino. – Fabio falou e rimos juntos.
- E para ajudar a situação toda, o filho da puta do Domenico terminou com ela. – Alex falou.
- Nossa! Quando ela falou, o sangue ferveu de um jeito que eu acho que o matava se ele estivesse na minha frente. – Bufei, soltando a fumaça para cima.
- Dessa vez eu preciso defender o Gigi, onde já se viu? – Alex falou, bravo. – Ele pode ser um filho da puta o quanto ele quiser, mas esperava alguns dias.
- Esperava sair do consultório pelo menos. – Falei, bravo. – Ela disse que eles estavam lá dentro ainda. – Suspirei.
- Nunca fui com a cara dele, agora, então... – Trezeguet falou.
- Se o Pavel estivesse aqui, ele o matava também, tenho certeza. – Alex falou.
- Ah, com toda certeza. – Falei, rindo fracamente e olhei para a entrada do prédio. – Ele está saindo.
- Só um soco? – Mauro perguntou. – Não posso deixar mutilar ou algo assim?
- Vai ser lindo a notícia no dia seguinte. – Alex falou.
- Não queremos ser presos, ele só precisa saber com quem mexeu. – Trezeguet falou.
- Vamos lá. – Falei, jogando a bituca de cigarro no chão e pisei nela.
Desencostei da parede, vendo Dom vir em nossa direção, checando alguma coisa em sua maleta e respirei fundo, sentindo os dentes rangerem um no outro e me coloquei na direção de seu caminho e esbarrei meu ombro nele propositalmente, fazendo-o derrubar sua maleta e ele ergueu o rosto para mim.
- Gigi? O que faz aqui? – Não ouvi o fim da sua frase e fechei a mão, dando um soco em sua barriga. – Oh! – Segurei-o pelo ombro.
- Isso é pela , coglione. – Falei próximo a seu ouvido e dei outro soco no mesmo lugar, me afastando dele.
- Opa! – Mauro deu uma cotovelada em suas costas. – Scusa.
- Passando. – Chiellini falou, pisando em seu pé e dando um tapa em seu rosto.
- Você não presta. – Cannavaro deu outro soco em seu estômago.
- Puttano. – Alex falou, dando um soco em seu rosto e Trezeguet veio por último.
- Você brincou com a mulher errada, coglione. – Ele deu um chute em sua virilha, fazendo-o cair de joelhos no chão, gemendo de dor.
- Ah. – Ele reclamou, com a mão no saco. – Por quê?
- Você sabe o porquê. – Falei, me aproximando dele. – Seu puttano. – Falei com os dentes travados. – Se você contar isso para qualquer um, eles vão saber o que você fez. – Falei firme.
- Isso não vai ficar assim. – Ele falou.
- Vai só piorar se você tentar. – Falei firme. – Eu não quero te ver mais nas dependências do time, quero que venda as ações que você tiver e nunca mais apareça na vida da ou na nossa. – Pressionei os lábios. – Para nada.
- Você não pode fazer isso, cara. – Ele reclamou.
- Não, mas você pode. – Falei firme. – Só vai ter um aviso.
- Vamos, Gigi. – Alex falou, me puxando e passei por Dom, puxando seu braço com a mão, vendo-o se desequilibrar e cair novamente. Seguimos até a van e entramos rapidamente, fechando a porta lateral e nos jogamos pelos assentos
- Ah, eu amo vocês! – Giulia falou, animada, batendo as mãos no volante e cantando pneu para tirar o carro o mais rápido possível dali, fazendo os pneus cantarem.
- Nunca achei que eu seria tão adepto a vingança na vida. – Cannavaro falou, nos fazendo rir.
- Ah, como eu queria filmar isso e divulgar no Le Iene. – Giulia falou, animada.
- Essa vai ter que ficar só entre a gente. – Falei, apoiando o rosto na poltrona na frente.
- Esperamos, pelo menos. – Alex disse.
- Ele não vai falar nada. – Giulia falou. – Seis jogadores da Juventus socarem um cara na rua é uma pauta e tanto, mas ele terminar o namoro com sua namorada minutos depois de ela descobrir um câncer é muito pior. – Ela falou, brava. – Infelizmente isso exporia , mas ele ainda quer ser presidente da FIAT, então ele não vai falar nada.
- Se depender de mim, ele nunca vai ser o presidente da FIAT. – Falei, rindo fracamente.
- Podemos falar com os Elkann e... – Giulia interrompeu Fabio.
- Guarda a vingança para uma próxima oportunidade. – Ela disse. – Deixa ele esquecer, depois vocês atacam de novo. – Rimos juntos.
- Não quero ver esse cara nunca mais na minha vida. – Falei, suspirando.
- Esperamos que ele entenda o recado. – Giulia disse.
- Você poderia achar um caso de corrupção que o envolvesse ou algo assim, que tal? – Trezeguet apoiou o rosto no assento da frente também.
- Posso procurar, mas se eu achar, posso te garantir que afundo muito mais do que só ele. – Ela disse, nos fazendo rir.
- É, chega de vinganças por agora. – Alex falou e rimos juntos.
- Para o time? – Ela perguntou, olhando pelo espelho retrovisor.
- Para o estádio, vai ser mais fácil despistar.
- E a não tem chance de nos ver. – Falei.
- Ela com certeza faria perguntas. – Giulia disse. – Mas adoraria contar para ela.
- Quem sabe? – Falei, vendo-a rir pelo espelho. – Um dia ela vai saber.
- Ah, vai! – Ela disse, sorrindo. - Valeu, Gigi! – Ela me olhou pelo espelho retrovisor.
- Eu que agradeço, Giulia. – Falei e ela sorriu.
- Você sabe que está me devendo, não sabe? – Ela falou.
- Quando quiser, só cobrar sua exclusiva. – Falei.
- Ok, mas vocês precisam voltar a ser relevantes de novo, sétimo lugar dói.
- Ai! – Falamos juntos, ouvindo-a rir.
- Fechado? – Ela perguntou.
- Fechado! – Falei, rindo e relaxei meu corpo no assento da van, com um sorriso de trabalho feito nos lábios.

Lei
23 de abril de 2010

Suspirei, sentindo meu pé bater contra o piso em um ritmo constante e senti minhas mãos apertarem. Virei para o lado e tia Gio sorria para mim. Suspirei, sentindo-a passar o braço pelos meus ombros e inclinei o corpo para o lado, apoiando o rosto em seu ombro. Virei o rosto para o lado, vendo tio Fabrizio virar a revista de ginecologia para todos os lados e fazer uma careta com as imagens, me fazendo rir fracamente.
- Difícil aí? – Perguntei e ele ergueu o olhar para mim.
- Não precisa ser tão... – Ele balançou a cabeça. – Visual. – Ele disse, fechando a revista logo em seguida e eu ri fracamente.
- Se você tiver alguma dúvida...
- Não mesmo. – Ele disse e eu sorri.
- ? – Ergui o rosto para a recepcionista. – Eles vão te receber agora. – Suspirei, assentindo com a cabeça.
- Vai dar tudo certo. – Tia Gio falou e eu assenti com a cabeça, me levantando do sofá junto dos dois.
Tio Fabrizio segurou minha mão do outro lado e andei com os dois pelo consultório de doutora Federica e foi preciso que eu colocasse os braços para trás quando o corredor afunilou, mas não quis soltar a mão deles. Por incrível que pareça, eu estava mais calma hoje, acho que já tinha recebido a pior notícia que uma pessoa podia receber, então qualquer outra novidade, não me assustaria tanto quanto essa.
Sei que o câncer podia se espalhar e tornar meu prognóstico pior ou dificultar meu tratamento, mas eu tentava me manter firme. Acho que perder todo meu aparelho reprodutor já era um grande castigo para alguém que sonhava em ser mãe. Não sei o que tinha feito para merecer tal castigo, mas estava tentando não duvidar de Deus, minha mãe sempre foi muito religiosa e seria uma afronta se duvidar agora, principalmente por eu ter que me apegar muito a Ele quando eles morreram. Acreditava que tudo o que acontecia tinha um motivo, então esperava que Ele me mostrasse isso, junto de meus pais.
- Ciao, . – Federica me recebeu na porta e soltei as mãos de Fabrizio e Giovanna para abraçá-la.
- Oi, doutora. – Falei e ela me apertou fortemente. – Doutor Alessio. – O cumprimentei com um aperto de mão.
- Oi, . – Ele falou, me dando um sorriso.
- Quem são esses? – Federica cumprimentou Giovanna e eu suspirei.
- Vamos dizer que são meus pais. – Falei e tio Fabrizio abriu um largo sorriso.
- Podem se sentar, gente, por favor! – Federica falou, indicando as cadeiras e sentei em uma, vendo tia Giovanna se sentar na do lado.
- Não se preocupe. – Fabrizio falou, se colocando atrás de mim e apertou meus ombros.
- Primeiro de tudo, como você está, querida? – Federica perguntou e eu suspirei.
- Eu estou bem agora. – Falei. – Eu passei por um autodescobrimento dessas últimas duas semanas. – Tia Gio riu fracamente ao meu lado. – Eu estou bem agora.
- É verdade que álcool reduz tumores? – Fabrizio perguntou e eu revirei os olhos.
- Sim, dependendo do tipo de tumor, reduz sim. – Alessio falou.
- Talvez tenha reduzido aqui. – Ri fracamente, negando com a cabeça.
- Já entendi. – Federica falou e eu dei um sorriso, pressionando meus lábios. – Quanto?
- Você não vai querer saber. – Falei e ela negou com a cabeça, sorrindo.
- Bom, vamos ao que interessa? – Ela falou, se virando para Alessio. – Você gostaria de passar as informações?
- Você pode passar, a conhece melhor. – Ele falou e Federica assentiu com a cabeça.
- Eu tenho o resultado da sua biópsia aqui... – Assenti com a cabeça. – E você é uma sortuda do caramba.
- O quê? – Franzi os olhos.
- Se lembra quando você veio aqui que eu falei que temos dois tipos de câncer de ovários? – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, lembro. – Falei.
- Os tumores germinativos afetam 99 por cento dos casos, dependendo do grau que ele é descoberto, seu tratamento consiste na retirada do órgão reprodutivo. – Assenti com a cabeça. – E temos os estromais que atingem somente um por cento dos casos e costuma aparecer em mulheres acima de 50 anos e só cinco por cento dos casos em mulheres jovens.
- Certo. – Falei, tentando acompanhar.
- Você tem o câncer estromal, .
- O mais difícil de ser diagnosticado? – Tia Giovanna perguntou.
- Exatamente. – Federica falou.
- E vocês chamam isso de sorte? – Perguntei, franzindo o rosto.
- Ele é mais difícil de ser diagnosticado, mas ele é mais fácil de tratar. – Alessio falou e eu arregalei os olhos.
- Mentira! – Pulei na cadeira e Federica sorria para mim.
- Não, querida. – Ela riu fracamente. – E esse tipo de tumor fica confinado, na maioria dos casos e no seu, em somente um ovário. – Franzi os olhos. – Então, a cirurgia será para a retirada de somente um ovário. – Ela falou.
- Um ovário? – Franzi o rosto.
- Talvez seja preciso tirar um pouco de tecido também, dependendo de como ele se espalhou, mas, pelos seus exames, só tiraremos um ovário. – Alessio falou e entreabri os lábios.
- Um ovário? – Repeti.
- É, só um. – Federica disse e eu levei a mão à boca.
- Nós temos dois ovários, não?! – Falei, surpresa e ouvi o pessoal rir. – Dio mio, eu perdi umas aulas de biologia na escola, com certeza. – Ela abriu um largo sorriso.
- Sim, , vai ficar um ovário aí. Você está em um estágio inicial, então dificilmente precisaremos tirar os dois, ou as trompas ou o útero. – Federica falou.
- Isso quer dizer... – Senti meus olhos se encherem de lágrimas
- Você vai poder ser mãe um dia, querida. – Giovanna falou e senti as lágrimas deslizarem pela minha bochecha quando ela me apertou pelos ombros.
- Depois da cirurgia, você talvez precise passar por sessões de radio ou quimioterapia para finalização e isso acaba bagunçando um pouco seus hormônios, menstruação e tudo mais, mas com o tratamento certo, podemos colocar um pãozinho nesse forno. – Federica falou e eu soltei uma gargalhada alta no consultório.
- Me desculpe, mas... – Ri sozinha, negando com a cabeça. – Eu passei por tanto nesses últimos dias, eu enlouqueci tanto como se minha vida tivesse acabado e agora você me dá notícias incríveis. – Suspirei. – Eu sei que não é fácil, mas é melhor do que antes. – Sorri.
- É sim, . É muito melhor. – Federico falou, rindo fracamente.
- E como funciona o tratamento, doutora? – Giovanna perguntou.
- Essa parte é com você, Alessio. – Ela indicou.
- Primeiro de tudo você passará por mais uma bateria de exames, sanguíneos, de coagulação, marcadores tumorais, ultrassom e uma ressonância com contraste para termos informações mais atualizadas de tudo o que está passando dentro de você. – Alessio falou. – Depois você passará por uma cirurgia que chamamos de ooforectomia que é a retirada do ovário. – Ele disse. – A preparação da cirurgia é um tanto chata, você vai ter jejum de oito horas antes, inclusive líquidos... – Fiz uma careta. – Uma dieta totalmente líquida 24 horas antes e precisará usar laxante para limpar seu organismo. – Assenti com a cabeça. – Você usa algum medicamento contínuo? – Ele perguntou.
- No momento não, tinha parado com o anticoncepcional desde que comecei a sentir os primeiros sintomas.
- Ótimo. – Ele falou, assentindo com a cabeça. – A anestesia para essa cirurgia é geral e usamos também a raquidiana para uma melhor analgesia para o pós-operatório.
- Não é perigoso, doutor? Ela é tão nova. – Giovanna falou.
- Eu tenho um colega anestesista que fará o acompanhamento e ele é muito confiável. Trabalha comigo há 15 anos. – Ele assegurou e eu assenti com a cabeça. – Ele sempre faz os exames junto do paciente por questões de alergia. – Ele falou. – Você já fez alguma cirurgia antes?
- Não que eu me lembre. – Falei e ele confirmou com a cabeça.
- Bom, para a cirurgia em si, é preciso os resultados sobre o tamanho do tumor, temos dois jeitos, a lapaotomia, que abrimos a parede do seu abdome e fazemos a retirada do ovário, também temos a videolaparoscopia que é a retirada através de pequenos orifícios, de cinco a 10 milímetros, que permite que façamos o recolhimento do órgão dentro de uma bolsa. – Assenti com a cabeça.
- E isso dá para saber antes de cirurgia?
- Sim, com os novos exames já dá para saber. – Ele falou e eu confirmei com a cabeça.
- E a cicatriz, doutor? – Fabrizio perguntou.
- Se for a laparotomia, fazendo uma incisão de 10 a 12 centímetros logo acima do púbis. Caso o tumor seja grande, esse corte poderá subir até o umbigo. – Suspirei, sentindo minha barriga contrair quase automaticamente. – Os pontos serão retirados após uma semana ou 10 dias. – Confirmei com a cabeça. – Se for por vídeo, as incisões são feitas na linha da calcinha, três microincisões, que ficará pouco perceptivo.
- Certo. – Suspirei.
- O tempo de cirurgia é de uma a três horas, dependendo do tamanho do tumor e o tempo de internação varia de três a sete dias. – Ele falou.
- E depois? – Perguntou.
- Você pode retomar suas atividades de quatro a seis semanas.
- E sobre radio ou quimioterapia, quando saberemos se será necessário? – Fabrizio perguntou.
- Durante a cirurgia já é possível dizer se terá a necessidade, isso varia se tudo foi retirado, se ficou alguma parte, se espalhou para o útero, trompas ou falópio. – Assenti com a cabeça. – Mas o processo não é tão demorado. É sempre importante informar que qualquer um dos dois tratamentos dá náuseas, vômitos, diarreia, inflamações, perda de apetite, irritações na pele e queda de cabelo.
- Certo. – Suspirei. – Já vi que não vai ser algo fácil, mas eu preciso encarar. – Falei e os dois médicos sorriram.
- Ela é forte, doutor. – Tia Giovanna falou e eu pressionei os lábios. – E corajosa.
- Gostamos de pessoas assim. – Federica falou e eu assenti com a cabeça, suspirando.
- Algum de vocês têm mais alguma dúvida? – Alessio perguntou.
- Sim, só mais uma. – Falei.
- Fique à vontade, tire todas as dúvidas que você tiver. – Assenti com a cabeça.
- Quando podemos marcar? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça, sorrindo.
- Eu vou pedir os exames nossos e te colocar em contato com o anestesista para ele pedir os dele, assim que estiver tudo certo, já marcamos. – Confirmei com a cabeça. – Você tem alguma data que prefira?
- Estamos quase em maio já. – Falei. – A temporada está acabando, não vou ter problema nenhum, só preciso avisar no trabalho.
- Você vai tirar férias agora, não vai? – Giovanna pediu.
- Sim, vou, e uma licença também pelo visto. – Ela assentiu com a cabeça.
- Perfeito, vamos lá, então. – Federica falou e eu senti tia Gio apertar minha mão e eu retribuí, suspirando.

Lui
17 de maio de 2010 2010 • Trilha SonoraOuça

Chequei o relógio mais uma vez, vendo que passava das quatro da tarde e virei o rosto para a janela, vendo os portões de Vinovo e aliviei o corpo quando finalmente chegamos. Peguei o celular, checando se tinha alguma notificação, mas nada. Abri novamente a última de Giulia e reli a mensagem que ela tinha mandado por volta das 11 da manhã.
“A cirurgia acabou, foi um sucesso, agora precisa esperar ela acordar”. – Suspirei, guardando o celular no bolso da calça.
O ônibus entrou em Vinovo, estacionou próximo ao CT e os jogadores começaram a se levantar. Fiz o mesmo, pegando minha mochila no bagageiro e coloquei nas costas, seguindo pelo corredor do ônibus até sair pelo sol de Turim. Abaixei meus óculos escuros e me coloquei próximo a Fabio onde os jogadores formavam um meio círculo. Os jogadores e equipe técnica saíram dos ônibus e se juntavam à nossa volta e Zaccheroni se colocou em nossa frente.
- Eu quero agradecer a vocês pela oportunidade de treiná-los, infelizmente não tivemos o resultado esperado e não continuarei com vocês na próxima temporada. – Ele falou. – Quero agradecer a oportunidade de todos vocês, eu aprendi muito nesse time e espero nos encontrarmos outra vez no futuro. – Ele falou e os aplaudimos.
Não atingimos o resultado esperado, mas também não atingimos nenhum resultado, sétimo lugar era triste demais. Era péssimo para nós, para o time, para os superiores, ninguém parecia feliz com esse resultado. Era óbvio que ele seria demitido, com Ciro no começo da temporada estava mal, mas nossos resultados foram melhores do que com Zaccheroni. Não que fosse culpa só do técnico, sei bem disso, mas ele não entrou em sintonia com o time.
- Bom, é isso. – Alex falou, se aproximando de mim e Fabio, e Trezeguet e Mauro vieram do outro lado.
- Tentaremos de novo no próximo ano. – Trezeguet falou e assenti com a cabeça.
- O que vocês vão fazer agora? – Fabio falou. – Podemos tomar um vinho ou...
- Eu vou passar no hospital para ver a . – Falei, suspirando.
- Alguma novidade dela? – Alex perguntou.
- Não, a mesma ainda, mas quero estar lá quando ela acordar.
- Podemos ir contigo? – Trezeguet perguntou.
- Claro! Ela vai gostar de ver vocês. – Falei e Alex e Fabio assentiram com a cabeça.
- A gente segue você. – Fabio falou e eu confirmei com a cabeça, seguindo em direção ao meu carro.
Deixei minha mochila no banco do carona e entrei no do motorista, puxando o cinto de segurança. Guiei o carro para fora do CT e peguei a estrada que dava para a cidade. Era segunda-feira, mas as ruas estavam até que calmas. Em cerca de 20 minutos, eu estava na corso Bramante, rua do hospital universitário de Turim.
Bufei ao me lembrar como era difícil parar ali e foi preciso algumas voltas no quarteirão até que eu encontrasse uma vaga para estacionar. Fucei em minha mochila, pegando um boné e recoloquei os óculos que estava na gola da blusa da Juventus e bufei ao notá-la. Esperava que não tivessem fãs ali. Peguei também a camisa do jogo de ontem e enfiei no bolso do moletom. Empurrei a porta do carro e saí. Puxei o bolso da calça e notei uma nova mensagem de Giulia.
“Ela acordou! \O/” – Abri um sorriso inevitável e suspirei.
“Acabei de chegar no hospital”. – Enviei e olhei para Alex atravessando a rua.
- Cara, que merda estacionar aqui! – Ele falou.
- A gente deveria ter vindo em um carro só, nem me lembrei disso. – Suspirei. – Cadê os outros? – Perguntei.
- Eu vi que o David achou uma vaga lá atrás. – Ele falou e vi uma nova mensagem.
“Bloco C, terceiro andar”. – Dizia Giulia e eu assenti com a cabeça, ajudaria muito.
- Ali o Fabio! – Alex falou e vi Fabio tirando foto com um fã.
- Precisamos sair daqui logo ou vai complicar. – Falei.
- Nem fala. – Alex falou.
- Ali o Treze. – Apontei para a esquina e ele veio a passos rápidos até nós.
- Fala aí, gente. – Ele disse. – Da próxima vez viremos em um carro só.
- Combinado. – Falei, rindo fracamente e Fabio veio a passos rápidos em minha direção.
- Alguma notícia do Mauro? – Perguntei.
- Estava estacionado perto de mim. – Fabio falou.
- Ali! – Alex falou e Mauro veio rápido igual um jato em nossa direção.
- Ciao, ragazzi. – Ele falou.
- Ok, vamos entrar logo. – Falei e eles assentiram com a cabeça.
Seguimos em direção ao hospital, passando pelos portais da Azienda Ospedaliero-Universitaria Città della Salute e della Scienza di Torino e segui as placas em direção ao bloco C. Foi impossível não ser parado por algum torcedor, alguns nos paravam, pediam fotos, autógrafos, com isso outros se amontoavam e ficamos uns 30 minutos presos lá, mas as coisas aliviaram quando entramos no bloco.
Seguimos até o elevador e nós cinco entramos, aliviados por não ter mais ninguém conosco e apertei o terceiro andar. A porta se abriu sem demoras no terceiro andar e aliviei pelo caminho estar mais vazio. Olhei rapidamente as placas e encontrei a placa que direcionava aos quartos.
- Buona sera, posso ajudar? – A recepcionista falou e me aproximei dela.
- Sera, estamos procurando uma amiga. . – Alex falou mais rápido. – Ela fez uma cirurgia mais cedo. – Ele falou.
- Certo. – Ela olhou rapidamente para o computador. – Ela já foi para o quarto, pode seguir pelo corredor lateral... – Ela apontou. – Virar à esquerda, quarto número 43. – Ela disse.
- Grazie. – Falamos quase juntos, mas eu já estava seguindo pelo corredor indicado.
- Vai devagar, oh! – Trezeguet falou, mas passou despercebido por mim, eu só queria vê-la. Só queria vê-la de olhos abertos para saber que ela estava bem.
Sei que a história do câncer, de perder seus órgãos reprodutores era importante para ela, mas eu me preocupava com ela antes de tudo, sabia que ela teria outros meios de realizar seu sonho, ela era uma mãe por natureza, uma mãe sem filho, eu vejo isso quando ela está com meus filhos ou com qualquer criança. Na verdade, com qualquer pessoa, ela tem um amor e carinho difícil de descrever, mas sua saúde era muito mais importante para mim.
Ela não merecia passar por nada disso, ela já tinha sofrido tanto quanto mais nova que eu realmente não entendia como ela era uma pessoa alegre e carinhosa, inclusive comigo, depois de tudo o que aconteceu. Independente daquilo, eu a queria muito bem, queria vê-la sorrindo pelos cantos, dando suas respostas irônicas e aparecendo em qualquer lugar possível.
Segui pelo corredor, virando à esquerda e passei por algumas pessoas sentadas pelo corredor e não foi difícil encontrar seu quarto, pois encontrei Fabrizio e os gêmeos sentados na lateral de uma das portas. Um deles dormia e o outro parecia ler uma revista.
- Scusa... – Fabrizio ergueu o rosto.
- Ah, Gigi! – Ele falou, se levantando e me abraçou fortemente, dando dois tapinhas em minhas costas. – Que bom que veio!
- Queria ter vindo antes, mas chegamos de Milão só agora. – Falei. – Como ela está?
- Acordou tem uma hora, mais ou menos. – Ele falou. – Está meio devagar ainda, as pernas também ainda estão imobilizadas por causa da raquidiana, mas ela está responsiva e bem. – Assenti com a cabeça.
- Como foi a cirurgia? – Perguntei.
- O médico disse que tudo certo, eles não conseguiram fazer por vídeo, devido ao tamanho do tumor, também disse que ela vai precisar de algumas sessões de quimioterapia, mas garantiu que vai ficar bem.
- Ah, graças a Deus. – Suspirei. – Podemos vê-la? – Apontei para trás e ele desviou o olhar de mim e acenou para os outros jogadores.
- Eles só estão permitindo entrar dois por vez, a Giulia e a Gio estão com ela, assim que elas saírem, você entra lá. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Podemos esperar com vocês? – Olhei para o garoto que já tinha desviado da revista e olhava para nós.
- Claro, senta aí! – Ele indicou e eu me sentei à frente deles e os outros jogadores se sentaram ao meu lado.
Respirei fundo, passando a mão na cabeça e puxei o celular do bolso. Entrei nas mensagens e rolei as conversas, procurando a de Alena e respirei fundo, pensando no que eu escreveria. Sei que não tinha nada demais, mas não havia contado para ela, talvez para evitar estresse, não sei. Ela não sabia que eu e tivemos algo no passado, mas seria bem suspeito se ela souber que me chamou para resgatá-la depois de sua tentativa de quase se matar.
“Ei, Lena, cheguei em Turim, estamos em reunião de finalização com o time, apareço quando der. Beijos”. – Enviei e suspirei, guardando do celular no bolso.
Virei para o lado, vendo Alex pegar uma revista, Fabio mexia no celular como eu, Trezeguet brincava com um dos gêmeos e Mauro conversava com Fabrizio. Respirei fundo, coçando a testa e ouvi um barulho e vi Giovanna sair do quarto.
- Ela quer suco de uva! – Ela falou visivelmente inconformada. – Suco de uva! Agora! – Ela puxou a porta. – Parece desejo. – Ri fracamente e ela se virou para mim. – Ah, Gigi! – Ela veio em minha direção e eu me levantei, abraçando-a e ela ficou na ponta dos pés para me apertar. – Que bom te ver aqui.
- Vim checar como ela está. – Falei.
- Ah, ela está bem, agradeço por ter vindo. – Ela acariciou meu rosto. – Pode entrar lá, Giulia está com ela. Bom, a Giulia está meio dormindo, na verdade. Estava tão nervosa que nem dormiu a noite.
- Eu dormi pouco também. – Suspirei. – A me avisou que seria hoje. – Ela assentiu com a cabeça.
- Pode ir, eu vou procurar o médico para ver se posso dar suco para ela. – Ri fracamente e virei para meus amigos.
- Vai lá, cara! – Alex falou. – A gente vai depois. – Ele assentiu com a cabeça e eu suspirei.
Fabrizio deu um aceno de cabeça para mim e eu repeti, seguindo até a porta. Empurrei-a devagar e ergui o rosto para o centro da cama, encontrando deitada nela. Ela usava a camisola do hospital e tinha a coberta até a altura de sua cintura. Seu rosto estava pálido e seus cabelos claros também, eles estavam presos em uma trança que caía em seu ombro, mas era possível perceber que essa tinha sido feita às pressas, já que os fios estavam espetados.
Ela olhava para algo que Giulia lhe mostrava no celular, mas seus olhos estavam pequenos, como se ela tivesse com sono e era capaz de ela dormir naquela posição logo mais. Sua mão esquerda, apoiada em sua barriga, estava com diversos esparadrapos e era possível ver o local ligado a algum remédio que descia devagar.
- Scusi? – Perguntei, vendo ambas erguerem o olhar para mim.
- Gigi! – falou com a voz fraca, abrindo um pequeno sorriso e senti meus ombros relaxarem quase imediatamente. – Você veio!
- Vim te ver. – Falei, me aproximando dela e acenei para Giulia que sorriu para mim. – Posso sentar? – Vi a cadeira vazia do lado contrário de que Giulia estava.
- Claro! – Ela disse, tossindo quando sua voz falhou.
- Como você está? – Perguntei, me sentando e levei minha mão até a sua caída ao lado da cama.
- Um pouco fraca, mas estou bem. – Ela sorriu, tossindo novamente.
- Eu não posso te dar mais água, amiga. – Giulia falou.
- Eu estou bem. – Ela se virou para Giulia para falar e voltou a olhar para mim.
- Vai ficar tudo bem agora? – Perguntei e ela assentiu com a cabeça.
- Vai sim. – Ela suspirou. – Vou ficar com uma cicatriz meio chatinha para usar biquini, mas...
- Veja como uma cicatriz de batalha, amiga, já falei. – Giulia disse e abriu um sorriso, com dificuldade de gargalhar.
- Vai ficar linda. – Falei rapidamente. – O que importa é que nem um câncer vai te derrubar. – Ela apertou minha mão com a força que tinha.
- Não. – Ela suspirou. – Nada vai me derrubar. – Sorri, levando a mão para seu rosto, jogando alguns fios para trás. – Eu tenho seis semanas de recuperação, depois o médico disse que eu vou precisar fazer algumas sessões de quimio, mas que até agosto ou setembro eu volto. – Ela disse.
- Sem pressa, . – Suspirei. – O que importa é você ficar bem. – Ela deu um pequeno sorriso.
- Até parece que eu vou conseguir ficar longe. – Ela puxou a respiração forte, relaxando em seguida.
- Eu sei que não, mas vai precisar, você me deu um susto. – Falei, acariciando seu rosto e ela inclinou seu rosto em minha direção.
- Nem fala. – Giulia falou baixo e ri fracamente.
- Me desculpe... – Neguei com a cabeça.
- Você não precisa se desculpar. – Falei. – Só não faz de novo. – Rimos juntos.
- Eu vou tentar. – Notei que ela puxava a respiração fortemente e, quando soltava, parecia uma boneca de pano desmontando.
- Você precisa descansar. – Falei.
- Não é como se eu conseguisse ir muito longe, não estou sentindo nada da cintura para baixo. – Ri fracamente.
- Logo volta.
- Espero realmente que sim! – Ela disse.
- Para de brincar com isso. – Giulia falou e sorri.
- Vai voltar. – Falei firme. – Ah, eu trouxe algo para você. – Falei, puxando a camisa amassada do bolso e estiquei-a em cima de suas pernas com a parte da frente para cima.
- Uma blusa sua? – Ela perguntou e eu apontei para o adesivo em formato de flor próximo ao escudo.
- Nós usamos isso em homenagem a você. – Ela pressionou os lábios, suspirando. – Foi difícil convencer, mas...
- Vocês lembraram de mim? – Ela sorriu.
- Todos nós. – Apertei sua mão. – Os meninos estão lá fora também.
- Quem? – Ela perguntou, surpresa.
- A gangue de sempre, Alex, David, Fabio e Mauro.
- Ah, vocês não precisavam. – Ela suspirou.
- Precisávamos sim. – Falei firme. – Você é parte da gangue, . Nos preocupamos muito com você. – Ela sorriu.
- Vem cá. – Ela abriu um pouco os braços e me levantei, inclinando meu corpo até o dela e a abracei. Suas mãos pousaram devagar em minhas costas e não tinham forças para me segurar. – Grazie.
- Prego. – Falei, me afastando devagar.
- E obrigada pela blusa, é a primeira que eu ganho. – Ela disse, suspirando.
- Você pode começar sua coleção. – Falei.
- Fazer uma grande coleção, depois vender para colecionadores e ganhar uma grana.
- Ah, é assim?! – Brinquei e ela sorriu, segurando outra gargalhada.
- Não, eu vou guardar para sempre. – Ela suspirou. – E como foi o jogo ontem? Ganharam? – Fiz uma careta. – Vocês perderam? – Ela suspirou.
- 3x0 ainda. – Ela fez uma careta.
- Ah, fala sério, Gigi. – Ela negou com a cabeça. – Que posição?
- Sétimo.
- Ah, isso acaba com minhas ações. – Ela disse, sorrindo novamente e ri com ela.
- O Fabio vai sair do time também. – Falei.
- É, fiquei sabendo. Meu chefe me ligou na semana passada para falar. – Ela suspirou.
- Ele está no fim de carreira, , já era esperado. – Ela confirmou com a cabeça.
- Eu sei, mas não gosto quando eles vão embora. Ainda mais quem é meu amigo. – Sorri.
- Eu ainda vou ficar por aqui mais três anos. – Falei e ela sorriu.
- Você vai renovar de novo que eu sei. – Ela disse e ri fracamente.
- Tem tempo ainda. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Sabe o que meu chefe falou também? – Ela perguntou.
- O quê? – Virei para ela.
- Lembra na apresentação do projeto que eles queriam comprar o espaço de Continassa próximo do novo estádio?
- Sim, lembro. – Falei.
- Eles compraram. – Ela deu um sorriso, suspirando.
- Dio mio. – Falei.
- É um projeto para 10 anos, mais de 60 milhões de euros em investimento, vai ser legal. – Ela disse.
- Aquele espaço é enorme, eles vão fazer tanta coisa. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- A gente vai ver isso, Gigi. – Ela disse e eu sorri.
- Esperamos que sim, . – Falei e ela relaxou a cabeça no travesseiro novamente. – Você vai ter que ficar de molho nas férias. – Falei e ela sorriu.
- Não me importo. – Ela disse. – Vou ter minha família e vocês no Mondiale. – Ela sorriu, rindo fracamente. – Você vai, não vai?
- Vou sim. – Falei. – Eu, Chiellini, Fabio, Mauro, Marchisio e Iaquinta. – Ela confirmou com a cabeça.
- Tentem ganhar, eu não vou poder aproveitar meu verão, então tentem avançar bastante na competição para me ocupar. – Ri fracamente.
- Vamos tentar. – Ela confirmou com a cabeça, suspirando.
- Estou ficando cansada de novo. – Ela disse.
- Vou sair para o pessoal te ver.
- Fica mais um pouco. – Ela segurou minha mão pelo polegar e eu sorri.
- Pode deixar. – Falei, inclinando meu corpo para dar um beijo em sua testa e sentei novamente.
- É melhor mesmo que vocês ganhem ou eu vou ter que usar minhas pegadinhas pré-prontas. – Giulia disse, me fazendo rir. – E elas são muito ruins. – Ela falou.
- Você vai cobrir? – Perguntei.
- Vou sim, estarei lá enchendo o saco. – Ri fracamente.
- Boa sorte para vocês. – falou com os olhos fechados e eu sorri, abaixando o olhar para nossas mãos novamente e deixei um pequeno sorriso se formar.



Capitolo veintitre

Stagione 2010/2011
Lei
Oito de setembro de 2010

Passei pela entrada do Trattoria Fratelli Bravo e guiei o carro um pouco mais para frente, procurando um lugar para estacionar e encontrei, fazendo uma baliza que foi preciso entrar e sair da vaga duas vezes para acertar. Fazia três meses que eu não dirigia, tinha perdido totalmente o costume.
Liguei a luz interna do carro, me olhando pelo espelho retrovisor e ajeitei o lenço que eu tinha colocado como tiara na minha cabeça e empurrei-o um pouco para trás, tentando esconder as diversas falhas na cabeça e coloquei parte dos cabelos curtos atrás da orelha. Desliguei a luz, puxando minha bolsa do banco do carona e saí do carro, travando o mesmo.
Coloquei a bolsa atravessada no corpo e joguei a parte caída do lenço no ombro e segui para a calçada. O vento de agosto de Turim fazia o lenço sacudir para os lados, então o segurei a caminho do restaurante. Entrei, passando devagar pelo local. Esse restaurante era o favorito dos jogadores aqui em Turim, mas era basicamente uma casa com três andares que se transformou em um restaurante. Logo numa das primeiras salas, tinha a blusa de vários jogadores, inclusive do pessoal que eu encontraria hoje.
- Buona sera! – Um garçom me parou.
- Oi, eu vim encontrar o Alex. – Falei, sorrindo e esperava que minha cara de pau permitisse minha entrada.
- Qual seu nome? – Ele perguntou, pegando um papel atrás do balcão.
- . – Falei e ele olhou rapidamente.
- Ah, aqui está! – Ele disse e eu suspirei, aliviada. – Eles estão no último andar, senhorita.
- Grazie. – Assenti com a cabeça e suspirei ao virar de costas.
Eu estava fazendo cada vez menos sessões de quimioterapia, mas ainda estava fazendo e elas ainda me cansavam. Comecei a subir as escadas devagar, segurando no corrimão e comecei a ouvir os gritos e risadas do outro andar e suspirei, seguindo para mais um andar. Cheguei e encontrei o motivo das risadas. Não tinha muitas pessoas ali, jogadores, esposas e namoradas e algumas crianças que corriam de um lado para o outro.
- Ciao, ragazzi! – Falei um pouco alto, apoiando na parede e respirando fundo.
- ! – Alex foi o primeiro a vir em minha direção e eu dei um sorriso, abraçando-o levemente.
- Não podia ser no primeiro andar? – Perguntei, ouvindo-o rir fracamente.
- Ah, me desculpe. – Ele falou, olhando para mim e eu respirei fundo, sentindo o pulmão pesar. – Cansa demais?
- Nem fala. – Suspirei e ele me abraçou novamente.
- Como você está? – Ele perguntou, olhando para meu rosto e eu assenti com a cabeça.
- Agora eu estou bem! – Sorri.
- Obrigada por ter vindo. – Ele disse e eu assenti com a cabeça, vendo-o dar licença e Trezeguet vinha logo atrás dele.
- Trezegol! – Falei, dando um sorriso.
- Ah, garota! – Ele me abraçou fortemente, me tirando do chão por alguns segundos. – Como é bom te ver sem aquela carinha de doente. – Ri fracamente e ele acariciou minha bochecha. – Como você está?
- Estou bem. – Suspirei. – Um pouco cansada e um pouco fraca, mas um dia de cada vez.
- Você está linda! – Ele disse e eu ri fracamente.
- Não acredito que vai nos deixar. – Comentei.
- Você entende, não entende? – Ele perguntou.
- Claro que entendo, você quer jogar na cidade da Beatrice, é completamente normal, mas não quer dizer que eu não vá sentir sua falta.
- Eu também, garota! – Ele deu um beijo em meu rosto e eu sorri.
- Ah, como é bom te ver com cor novamente. – Mauro comentou, me abraçando em seguida e eu ri fracamente, negando com a cabeça.
- Há, há, há, muito engraçado. – Comentei e ele olhou para mim. – Vou sentir sua falta também.
- Eu também. – Ele sorriu, me apertando mais uma vez. – Mas acho que é a hora, , o time não está dos melhores e...
- Você não precisa se explicar para mim, Mauro, fico feliz pela sua amizade e desejo sucesso para você e para o David. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Queria discutir minha saída contigo, mas você não estava lá.
- Tenho mais um mês de tratamento pelo caminho, devo voltar no fim de setembro, começo de outubro, se eu tiver bem. – Comentei.
- Pelo menos você pôde vir hoje. – Gigi falou atrás dele e eu sorri.
- Não exijam muito de mim hoje, as escadas já me quebraram. – Eles sorriram e Gigi veio em seguida, soltando um suspiro.
- Você não tem ideia como é bom te ver em pé, com as bochechas coradas, sem nenhuma agulha dentro de você e fora do hospital. – Ele disse e eu o abracei, ficando na ponta dos pés.
- Eu não tenho como te agradecer por tudo o que você fez por mim. – Ele me apertou pela cintura e eu suspirei, fechando os olhos.
- Eu só fiz o que você fez por mim. – Ele falou e eu me afastei devagar, sorrindo e assenti com a cabeça.
- E eu faria de novo. – Ele sorriu.
- Eu também. – O abracei novamente, suspirando. – Mas só eu cumpri minha promessa. – Me afastei devagar e ele riu fracamente.
- Foi um fracasso, não foi?
- Chegar na Copa do Mundo como favoritos e ser eliminado na fase de grupos com duas derrotas e um empate? Imagina! – Falei e ele riu fracamente.
- Acredite, eu preferia ter ajudado a Nazionale a avançar um pouco mais do que descobrir uma hérnia de disco no primeiro jogo. – Ri fracamente.
- Como você está? – Perguntei.
- Eu estou bem. – Ele assentiu com a cabeça. – Já passou dois meses e meio da cirurgia, lá para setembro ou outubro eu volto para fisioterapia e aí é analisar em quanto tempo eu volto a jogar.
- Deus nos acuda. – Falei e ele riu fracamente.
- Vai ter que ir atrás de outro goleiro. – Neguei com a cabeça.
- Espero que já tenham ido, eu ainda tenho um mês pelo caminho.
- Um mês ainda? – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Mais cansaço, mais náuseas e mais queda de cabelo. – Franzi os lábios, dando de ombros logo em seguida.
- Você está incrível, como sempre. – Dei um sorriso de lado. – Gostei do cabelo curto. – Ri fracamente.
- Tentando copiar você. – Ele riu fracamente.
- Eu já te copiei na cicatriz, então tudo certo. – Neguei com a cabeça.
- Ah, isso não é algo bom ou bonito de se comparar!
- Você ainda está aqui, é o que importa. – Assenti com a cabeça.
- Graças a Deus. – Sorri e ele riu fracamente.
- Chega de monopolizá-la, não é mesmo? – Trezeguet abraçou Gigi pelos ombros. – Ela está cansada, a deixe sentar. – Ele disse e eu ri fracamente. – Você quer beber alguma coisa? Vinho? Vodca? Uísque?
- A última coisa que ela vai beber na vida dela é uísque. – Gigi falou e eu ri fracamente.
- Água, Treze, por favor. – Falei e ele sorriu.
- Fica à vontade. – Ele disse e Gigi indicou o salão e eu passei por ele, seguindo e vendo algumas namoradas e esposas. Beatrice abriu um largo sorriso para mim.
- Ah, minha amiga corajosa. – Ela me abraçou fortemente.
- Ah, eu vou sentir falta de vocês. – Sorri, abraçando-a também.
- Eu também. – Ela sorriu. – A gangue vai se separar.
- Bom, perdemos Fabio, Mauro, David, mas ganharemos alguém de novo. – Falei, apoiando minha mão na cadeira de Alex.
- Quem? – Eles perguntaram.
- Eu não volto para o time desde maio e sei mais do que vocês? – Me aproximei de Sonia, dando um beijo nela.
- Como você está, querida?
- Eu estou bem. – Sorri e dei a volta na mesa, seguindo para Karina, esposa de Mauro.
- Ah, verdade, vocês não são acionistas. – Falei, dando um rápido abraço nela já que tinha menos contato.
- Ela ainda zoa com a nossa cara. – Trezeguet falou.
- É a comprovação perfeita que nem um câncer e uma quimio tiram a zoeira dela. – Alex falou e eu ri fracamente.
- Alguém tem falado com o Pavel? – Perguntei.
- Pavel? – Eles perguntaram juntos e parei atrás de Alena.
- Oi, Alena, tudo bem? – Ela sorriu e dei um beijo em sua bochecha e vi o bebê em seu colo.
- Oi, . Como você está? – Ela sorriu. – Gigi me contou...
- Agora está tudo bem. – Ela assentiu com a cabeça.
- Fico feliz em saber disso. – Sorri.
- Esse é o David? – Perguntei, vendo o bebê em seu colo.
- Sim, é! – Acariciei a cabeça do menino que dormia e sorri.
- Ele é uma graça. – Ela sorriu.
- Desembucha, ! – Trezeguet falou e eu me sentei na cadeira vazia ao lado do mesmo, entre ele e Alex.
- Ela fica encantada com as crianças e dá nisso.
- Enfim, vocês ficaram sabendo que o administrativo mudou, não sabem? Temos um novo presidente, um novo diretor geral e um novo diretor de esportes, certo?
- Sim, fomos apresentados para ele em Villar Perosa na semana passada. – Gigi falou.
- Eu não o conheço ainda, sei que ele é neto dos Agnelli, não é?!
- Sim, neto do Umberto. – Alex falou.
- Bom, meu chefe me falou que ele é muito amigo do Pavel e indicou o Pavel como vice dele, só depende de os acionistas majoritários votarem.
- O Pavel vai voltar como vice-presidente do time? – Alex perguntou.
- Provavelmente. – Ri fracamente.
- Isso vai ser demais. – Gigi falou e eu ri fracamente.
- Nunca vi o Pavel como um engravatado. – Mauro disse.
- E não vai ver, já que vai nos abandonar. – Fiz uma careta para ele que retribuiu. – Para onde você vai mesmo?
- Stuttgart. – Ele falou.
- Alemanha? – Ele assentiu com a cabeça. – Nunca ouvi nada, mas desejo muita boa sorte. – Sorri e ele assentiu com a cabeça. – Para vocês dois, vai fazer falta, sério. Vocês dois são os comediantes, vou ficar com esses dois quadrados aqui.
- Ei! – Alex e Gigi reclamaram, fazendo Camoranesi e Trezeguet gargalharem.
- Três, na verdade. Pavel é mais quietão também.
- Temos algumas novidades no time, ok?! – Gigi falou e eu ri fracamente.
- Bom, temos já o Chiellini como parte da gangue, quem temos de interessante?
- Felipe Melo. – Mauro falou e eu fiz uma careta.
- Difícil, hein?! – Suspirei e o garçom colocou a água na minha frente. – Grazie.
- Eu não voltei ainda, nem sei quem são os novos jogadores. – Gigi falou e coloquei água no copo, dando um gole na mesma.
- Na minha área temos o Fabio Quagliarella, veio do Napoli, e o Alessandro Matri, do Cagliari. – Alex disse e assenti com a cabeça.
- Ah, conheço. – Falei. – Comentamos dele na temporada passada, que bom que deu certo, gostei do estilo de jogo dos dois... – Alex assentiu com a cabeça. – E o técnico novo? Já deu para analisar? Luigi Delneri, não é?!
- É. – Alex falou. – Fizemos seis amistosos, empatamos só um, e tivemos duas rodadas do Trofeo Tim, perdemos os dois.
- Milan? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça.
- E Internazionale. – Suspirei.
- Ainda bem que no campeonato temos uma ótima vantagem sobre eles. – Dei de ombros. – E o campeonato?
- Perdemos o primeiro jogo. – Gigi falou e eu suspirei.
- Contra o Bari. – Alex falou.
- É... – Fiz uma careta. – Temos mais 37 pela frente. – Eles riram fracamente.
- Por que não falamos sobre outra coisa que não seja futebol? É o último dia de todos vocês juntos. – Beatrice falou e rimos juntos.
- O que você vai comer, ? – Trezeguet perguntou.
- Acho que vou ficar no aglio, olio e peperoncino mesmo. – Suspirei. – O gosto das comidas está muito estranho com o tratamento, pelo menos fico no básico.
- Fechado. – Ele disse.
- Ah, e meia porção, eu pareço um passarinho comendo. – Fiz uma careta e eles riram.
- Isso é um perigo, hein?! – Sonia falou e eu dei de ombros.
- Eu estou perdendo muito peso e sinto falta de me fartar em um belo spaghetti a marinara ou a carbonara. – Suspirei. – Mas ok, logo mais eu viro um monstrinho de novo. – Eles riram.
- Tia ... – Virei para trás e vi Aarón, mais velho de David.
- Oi, meu amor. – Passei a mão em seus cabelos e o abracei.
- Eu vou sentir saudades. – Suspirei.
- Eu também, meu amor. – Dei um pequeno sorriso. – Mas você pode vir me visitar sempre que quiser.
- bom! – Ele disse e eu sorri.
- Quer brincar com a gente?
- Essa eu quero ver. – Mauro falou.
- A está dodói hoje, filho, ela não pode brincar. – Trezeguet falou e eu ergui o olhar para ele em agradecimento.
- Outro dia, que tal? – Falei e ele sorriu, seguindo correndo e suspirei. – Acho que é isso que eu sinto mais falta. Não tem um dia que eu veja os filhos de vocês e não lembre dos meninos do Lilian.
- Eles gostavam muito de você. – Gigi falou e eu assenti com a cabeça.
- Bom, todas as crianças te amam, o Louis gosta muito do seu colo. – Alena falou e eu ri fracamente, pressionando os lábios um no outro.
- Talvez ele precise me dar colo agora. – Tentei olhar por cima de Gigi e Mauro em minha frente para procurar Louis e eles riram.
- Talvez ele não se importe. – Gigi disse e eu sorri.
- Ok, agora me fala mais sobre o Pavel. – Alex falou.
- Eu não volto para o time desde a minha cirurgia, gente, nem em Vinovo eu estou indo, tenho ficado lá na casa dos pais da Giulia, porque eu não posso ficar sozinha depois da quimio, mas eu tenho umas ações no time e já faltei duas reuniões, aí meu chefe me passa as informações. – Falei, passando a mão em meu copo. – Aí ele me disse que o Pavel está em pauta.
- Será que vai rolar? – Gigi perguntou.
- Não acho difícil, o Pavel realmente é próximo do Andrea Agnelli. – Alex falou.
- E o Andrea Agnelli vem a ser nosso novo presidente. – Dei de ombros. – Isso eu fiquei sabendo no fim do semestre passado, teve uma votação, que eu faltei, mas presidência é só majoritário que vota, enfim... – Dei de ombros.
- Você precisa voltar logo para nos dar informação privilegiada. – Alex falou e eu ri fracamente.
- Ei, achei que você fosse nosso capitano. – Falei para ele, que riu.
- Eu jogo e você mexe com o dinheiro. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Cada um com seu talento. – Eles riram fracamente.
- Eu prefiro o seu talento. – Mauro falou e eu neguei com a cabeça.
- Ei! Eu só organizo o dinheiro, eu não o faço crescer em árvore...
- Ainda. – Gigi falou e eu ponderei com a cabeça.
- É, ainda. – Rimos juntos.

Lui
20 de setembro de 2010

- Ok, Silvio, vamos fazer sim. Eu passo aí assim que tiver uma folga para acertarmos os últimos trâmites. – Falei, batendo a caneta na mesa.
- Perfeito, Gigi. Seu investimento vai vir muito a calhar para o Carrarese. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Eu sou muito fã desse clube, Silvio, eu cresci nele, participei da torcida organizada quando mais novo, tenho as siglas da CUIT nas minhas luvas até hoje, não posso ver esse time se afundar desse jeito. – Suspirei, inclinando meu corpo para o lado e vi Alena na porta, me chamando.
- Vamos ajudar o Carrarese a crescer de novo, então.
- Combinado, Silvio. Preciso ir, vamos nos falando. – Falei, ajeitando meu corpo na poltrona.
- Perfeito, Gigi. Até mais!
- Até, ciao! – Disse, desligando o telefone e me levantei. – Ei, Lena. – Falei e ela entrou no meu escritório.
- Você vai sair hoje? – Ela veio em minha direção.
- Não, vou ficar por aqui. – Me aproximei também e ela passou os braços em minha cintura.
- Você pode levar os meninos para dar uma volta? Levar no parquinho ou algo assim? Eu tenho uma sessão de fotos agora e o Louis está precisando gastar aquela energia dele. – Rimos juntos.
- Claro, Lena. – Falei, colando meus lábios nos dela rapidamente. – Vai ser bom tomar um pouco de ar puro também, estou enfiado dentro de casa todo dia. – Ela riu fracamente.
- Ok, eu devo voltar mais à noite. – Assenti com a cabeça e ela deu um curto beijo em meus lábios.
- Ok, ciao. – Ela disse, seguindo para fora do escritório e eu suspirei.
Fui logo atrás dela, vendo-a descer as escadas e fui no quarto dos meninos, vendo ambos no cercadinho e vi que Louis tentava escalar o local, enquanto David brincava com os móbiles colocados em cima dele.
- Papai! – Louis falou, animado e me aproximei dele.
- Você quer ir no parquinho? – Perguntei, erguendo-o do cercadinho.
- Sim! – Ele falou, animado. – Parquinho! Parquinho! – Ele bateu palmas e eu ri fracamente.
- Ok, vamos colocar um tênis e ir. – Levei-o até sua cama, sentando-o nela e peguei um par de tênis e uma meia em seu armário e me aproximei do meu filho. – Ergue o pezinho. – Falei, vendo-o me ajudar a colocar os tênis nele e logo ele pulou da cama. – Me espera para descer! – Falei firme.
Segui até o cercadinho novamente, pegando David de lá, ouvindo-o resmungar um pouco e segui até o bebê-conforto, ajeitando-o e prendendo-o lá. Dei uma rápida olhada em sua bolsa, vendo se tinha troca de roupa, fraldas e outros itens, apesar de ser uma rápida ida ao parque e coloquei-a no ombro, segurando o bebê-conforto na outra.
- Vamos, amor. – Estiquei a mão para Louis e ele a segurou, apressado.
Descemos as escadas e segui até a cozinha, encontrando Roberta, nossa ajudante, na cozinha. Acenei rapidamente para ela e fui para a geladeira, pegar uma mamadeira com suco, outra com água e colocar também no copo de Louis.
- Eu vou sair com eles, Roberta, até amanhã.
- Até amanhã, senhor Buffon. – Ela disse e Louis acenou para ela.
- Ciao! – Ele falou e ela sorriu.
- Ciao, Roberta. – Falei, seguindo para o carro com os dois e coloquei David no banco de trás e coloquei Louis na cadeirinha.
Segui para o banco da frente e tirei o carro da garagem. O parquinho daqui de Vinovo não era longe de onde eu morava, mas andar a pé com uma criança e um bebê ou em dois carrinhos não seriam uma tarefa exatamente fácil, ainda mais com Louis que tinha disposição de sobra.
- Parquinho! Parquinho! – Ele falou, animado, quando eu estacionei em volta da pracinha.
Dentro dela era possível ver diversas crianças brincando nos diversos brinquedos colocados na areia, alguns jovens fazendo piquenique e alguns adultos fazendo caminhada em volta de lá. Segui para o banco de trás.
- Parquinho! – Louis gritou.
- Calma! – Falei para ele. – Não é para sair de perto de mim, ok?! – Falei firme. – E nada de comer areia de novo! Entendido?
- Uhum. – Ele falou avoado e eu suspirei. É claro que não estava.
Peguei uma toalhinha e coloquei sobre David no bebê-conforto e deixei sua bolsa no carro, pegaria se precisasse. Segurei o bebê-conforto e segui para o outro lado, abrindo a porta para Louis e ele pulou do carro, animado.
- Vamos, pai! Vamos! – Ele falou e eu ri fracamente. Tranquei o carro e guardei a chave no bolso antes de segurar sua mão.
Segui pela parte de gramado da praça, procurando algum lugar mais vazio e perto dos brinquedos para me sentar com David e Louis me puxava com sua grande força para um garoto de dois anos e quase nove meses.
- Olha! Olha! – Ele falou, animado.
- Espera aí, garotão. Vamos devagar! – Falei. – Papai não tem o mesmo pique do que você.
- Mas olha-a-a-a! – Ele falou dramático e virei o rosto para onde ele apontava.
Observei o ambiente no geral, tentando encontrar o que ele estava vendo e foi preciso quase uma volta em 180 graus para saber o que meu pequeno estava mostrando, até que eu vi. Ou melhor, até que eu a vi. estava cerca de uns cinco metros para o lado, sentada na grama, com uma roupa de ginástica e os cabelos escondidos embaixo de um lenço e um pequeno sorriso no rosto, enquanto dava um sorriso discreto para mim.
- Posso? Posso? – Louis falou.
- Vai lá! – Falei, rindo e ele saiu correndo em direção à , me deixando surpreso de como ele se lembrava dela.
Ele tropeçou nos pés para chegar até ela e ela abriu os braços quando ele pulou em cima dela. Ela tombou o corpo para trás, pegando-o no colo e pude ouvir a gargalhada de ambos ali enquanto eu me aproximava.
- Ah, menino! – Ouvi sua voz e ela se sentou novamente com ele em seu colo. – Saudades de você.
- Eu também. – Ele disse baixo, mexendo com o final de seu lenço e ela deu um beijo em sua cabeça, erguendo o olhar para mim.
- Ciao, Gigi. – Apoiei o bebê conforto de David ao seu lado e sorri.
- Que surpresa te ver aqui. – Falei e ela sorriu. – Posso? – Apontei ao seu lado.
- Por favor. – Ela sorriu e sentei ao seu lado. – A médica me liberou para alguns exercícios leves, eu vim caminhando até aqui, agora não consigo voltar. – Ela riu fracamente.
- Muito cansada? – Ela suspirou, assentindo com a cabeça.
- É difícil. – Ela pressionou os lábios.
- Falta muito para acabar o tratamento? – Perguntei.
- Eu fiz a última sessão na semana passada. – Ela deu um sorriso. – Agora é só me recompor.
- Isso é ótimo, . – Sorri e ela assentiu com a cabeça.
- Pai, posso ir brincar? – Louis perguntou.
- Pode, mas não vá muito longe, fique onde eu possa te ver. – Falei, vendo ajudá-lo a se levantar. – E não sobe nos brinquedos altos.
- Ele vai te ignorar. – falou.
- Com toda certeza. – Falei e ela riu fracamente. – Então, o que falta para você voltar para o time? – Virei para ela.
- Novos exames, resultados satisfatórios que mostrem que estou livre do câncer para valer e um pouco mais de pique. – Ela suspirou. – Essa é a parte mais difícil.
- Consigo ver nos seus olhos o seu cansaço. – Falei. – E você emagreceu bastante também.
- A nutricionista me deu uma dieta para eu ganhar um pouco mais de peso, mas eu ainda não tenho tanta fome e as coisas ainda têm um gosto estranho. – Ela disse.
- Logo tudo volta ao normal. – Falei, olhando rapidamente para Louis que brincava na areia.
- Sim. – Ela sorriu. – Eu realmente não posso reclamar, tudo aconteceu tão rápido que... – Ela suspirou fundo. – Penso que foi só para me dar um susto mesmo.
- Você não tem noção como eu sou feliz por ter sido tudo muito rápido e ter dado tudo certo. – Ela deu um sorriso, apoiando a mão em minha perna.
- Grazie, Gigi. Não sei quantas vezes eu preciso te agradecer, mas você foi muito importante para mim nesse processo.
- Você não precisa me agradecer em nenhum momento. – Coloquei minha mão em cima da sua. – Eu estou aqui por você para o que você precisar. – Ela assentiu com a cabeça. – Tudo mesmo.
- Espero honestamente não precisar. – Rimos juntos. – Minha vida bagunçou demais esses últimos meses.
- Às vezes essas coisas acontecem para mexer com as nossas vidas, mudar hábitos, consertar alguma coisa... – Comentei.
- Beh, posso te garantir que isso eu consertei. – Falei e ele riu fracamente. – Me livrei do coglione do Domenico, aprendi a aceitar a família da Giulia como a minha e percebi quem são meus amigos de verdade. – Ela se virou para mim e eu sorri.
- Na minha opinião, são coisas que você deveria ter feito e percebido há muito tempo, mas que bom que ajudou. – Ela riu fracamente, negando com a cabeça e ouvi um resmungo, vendo David batendo as pernas no bebê-conforto.
- Acho que alguém quer fazer parte da conversa. – puxou o bebê conforto até que ele ficasse em sua frente e ela acariciou os pés de David. – Oi, meninão! – Ela falou com sua voz de bebê e sorri. – Segundo seu pai, eu sou a tia . – David a olhava curioso como se tentasse entendê-la e eu ri fracamente.
- Eu não menti. – Falei, virando para Louis novamente que parecia ter encontrado um amigo para brincar.
- Não mesmo. – Ela disse, pegando a toalhinha dele e passando em sua boca. – Ele logo faz um ano, não faz?
- Sim, faz. Ele é de 31 de outubro. – Falei.
- Me lembro disso. Ele quase nasceu no mesmo dia que eu. – Ela falou, se aproximando dele e assoprando sua barriga, fazendo-o rir. – Nasceu no dia das bruxas, meu bruxinho. – Ela falou com a voz fina e ele riu.
- Você é a hipnotizadora de bebês. – Comentei e ela sorriu.
- Eu amo crianças, Gigi. – Ela se virou para mim. – Não que isso seja regra, mas parece que eu sei lidar com eles.
- Beh, o Louis se lembrou de você, não sei como, mas...
- Meu colinho é muito bom, ok?! – Ela disse, me fazendo rir.
- Sei bem. – Falei, sorrindo, virando meu rosto para Louis.
- Talvez tenha algo que você não saiba... – Ela disse e virei o rosto para ela novamente.
- O quê? – Perguntei.
- O Domenico e o pai venderam as ações do time. – Ela disse e eu franzi a testa. – Isso quer dizer que eu não vou encontrá-lo nunca mais... – Ela sorriu. – Pelo menos não nas dependências do time.
- Isso é muito bom, . – Sorri e ela assentiu com a cabeça.
- Grazie. – Ela falou, virando para David e eu franzi os olhos.
- Pelo que dessa vez? – Perguntei.
- Eu não sei como nossa história nunca saiu no Le Iene, Gigi, a Giulia é péssima para guardar segredos. – Ela falou, rindo fracamente e eu revirei os olhos.
- Ah, mas eu não...
- Deveria ter batido mais. – Ela falou, virando o rosto para mim. – Queria ter visto isso. – Ela negou com a cabeça.
- Eu queria ter batido mais, mas achei melhor não parar realmente na imprensa... – Falei. – Ou na prisão. – Ela gargalhou, fazendo David gargalhar também.
- Eu pagava a fiança de todos vocês. – Ela disse, rindo. – Não me importaria de gastar minhas economias nisso. – Ri fracamente.
- Vou me lembrar da próxima vez. – Falei e ela sorriu.
- Posso pegá-lo? – Ela perguntou, olhando para David.
- Claro! – Falei e ela soltou David do bebê conforto, colocou a toalha em seu ombro e o pegou. Ela o ajeitou em seu peito e ele apertou as mãozinhas em seu peito, curioso com a mudança de ambiente. – Eu espero o dia que algum bebê vai chorar no seu colo. – Falei e ela riu fracamente.
- Pietro! – Ela falou.
- O quê? – Perguntei.
- O Pietro, irmão da Giulia. Quando eu a conheci, eles tinham quase um ano, ele chorou no meu colo.
- Mentira! – Falei e ela riu fracamente.
- Abriu o berreiro que eu acho que, se ficar em silêncio, ouço até hoje. – Rimos juntos.
- Mas hoje ele é apegado em você, não? Os dois? – Perguntei, vendo Louis se levantando da areia e seguir em nossa direção.
- Ah, hoje sim, mas a diferença de idade é grande e eu os conheço desde esse tamanhinho aqui. – Ela abraçou David. – Eu acabo sendo uma irmã para eles também.
- Você é, . – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Preciso me acostumar com isso, principalmente depois dos últimos acontecimentos. – Assenti com a cabeça.
- Se quer saber minha opinião, , eles são seus pais. – Falei e ela pressionou os lábios. – Eles surtaram quando eu liguei para eles aquele dia. – Ela assentiu com a cabeça.
- Papai! – Louis veio em minha direção.
- Ah, como você está sujo! – Falei, passando a mão na roupa dele, batendo a areia.
- Eu sei. – Ela falou e virei para o lado. – Eu tentei fugir disso tudo achando que eu estava atrapalhando, que eles gostariam de... Enfim, gastar comigo, fazer as coisas por mim... – Ela negou com a cabeça. – Mas se tornou inevitável.
- Eles te amam, . Pode não ser a família que você queria, mas eles se preocupam contigo dessa forma. Eles te amam dessa forma. – Falei e ela assentiu com a cabeça. – Há quantos anos você já não os conhece?
- Desde 99. – Ela falou, suspirando.
- 11 anos. – Falei, rindo fracamente. – Já era, você é da família. – Falei e ela riu fracamente.
- Vitale. – Ela brincou, sorrindo. – A melhor parte disso tudo é que eu sei que meus pais gostariam muito deles. – Ela suspirou. – Já faz 21 anos, sobraram poucas lembranças, mas sei que, se estivéssemos nessas mesmas condições, nossas famílias seriam amigas demais. – Sorri.
- Eles são. – Falei, vendo Louis se debruçar em e sentar em seu colo, fazendo-a rir.
- Ei, mocinho, aonde você vai? – Ela brincou, desviando um pouco os braços que seguravam David e Louis se ajeitou como pôde, fazendo rir.
- Fala sério. – Brinquei, fazendo cócegas na barriga de Louis e riu.
- Você perdeu seus filhos para mim, Gigi. – Ela brincou e eu ri fracamente.
- Pelo menos eu sei que eles estão em um lugar bom. – Falei e ela virou o rosto para mim, dando um sorriso com os lábios pressionados.
- Tira uma foto para mim, por favor? – Ela ergueu um pouco a blusa, tirando o celular da cintura e me entregou.
- Claro. – Falei.
- Olha aqui, Louis. – falou e eu me afastei um pouco, tirando algumas fotos dos três e sorriu, fazendo algumas caretas em seguida e Louis a imitou, me fazendo rir. – Agora tira uma com a gente. – Ela falou e eu sorri, virando o celular e procurei o botão antes de inclinar meu corpo em direção à e estiquei a mão, sorrindo e apertei algumas vezes.
- Espero que tenha ficado bom. – Falei, abrindo na galeria e passei pelas fotos.
- Está ótimo. – Ela sorriu e eu assenti com a cabeça, devolvendo o celular para ela que o deixou na grama.
- Saiba que minha família também se preocupa contigo. – Falei e ela virou o rosto. – Eu contei sobre você, espero que não se importe.
- Não me importo. – Ela disse. – Não tem nada para esconder. – Ela deu de ombros.
- Acabei contando quando falei para Alena. – Disse. – Foi difícil sair para te visitar no hospital com os meninos muitas vezes...
- Você pode contar para ela sobre a gente, eu não me importo... Faz tanto tempo. – Ela suspirou, negando com a cabeça.
- Eu sei, mas eu não quero que ela fique com ciúmes e queira me afastar de você. – Suspirei. – Ou que mude a forma que ela te trata, enfim... – Neguei com a cabeça. – Eu gosto de te ter por perto. – Ela deu um pequeno sorriso, assentindo com a cabeça.
- E como você explicou nossa amizade tão próxima? – Ela perguntou.
- Você é uma parte importante no time. – Falei e ela gargalhou. – Eu não menti.
- Não, mas também não foi assim... – Rimos juntos.
- Beh... – Ela negou com a cabeça. – Detalhes.
- Nove anos de bagunça definidos em uma palavra...
- Detalhes... – Falamos juntos e ela gargalhou, apertando David no colo.
- Bom te ver gargalhando de novo. – Ela sorriu.
- É por essas e outras que eu sei que as coisas estão melhorando. É tão ruim não conseguir rir assim, tão verdadeiramente. – Ela sorriu.
- Dava para perceber que você tentava e não saía. – Ela negou com a cabeça.
- É muito ruim se sentir daquele jeito. – Ela suspirou. – E você? Alguma novidade?
- Ah, estou na mesma. – Falei. – Me recuperando, mas não foi nada tão grave quanto você...
- Mas não deixa de ser menos importante. – Ela falou e eu assenti com a cabeça. – Logo nós dois voltamos para atazanar aquele time.
- Dio mio! – Falei e ela sorriu, suspirando. – Você não está cansada? – Perguntei.
- Um pouco. – Ela falou, colocando David de volta no bebê conforto. – Preciso pegar fôlego para voltar. – Ela falou, colocando a toalhinha em cima de David novamente, mas Louis logo se ajeitou no colo dela, fazendo-a rir. – Se eu conseguir... – Ela afinou a voz, abraçando Louis, fazendo-o rir.
- Eu posso te dar uma carona, eu estou de carro. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Talvez eu vá precisar. – Ela sorriu.
- Você pode brincar comigo. – Louis falou e eu ri fracamente.
- Qual vai ser sua desculpa agora? – Perguntei e ela riu fracamente.
- Eu prometo que brinco com você outro dia, amore. – Ela falou para Louis. – Eu não posso ainda.
- Não pode brincar? – Ele perguntou.
- Não, amor. Estou dodói. – Ela falou, dando um beijo em sua bochecha.
- O que você tem? – Ele perguntou.
- Uma doença aqui dentro. – Ela apontou para o peito e ele levou as mãozinhas para o local nela.
- Dói muito?
- Um pouco. – Ela sorriu e ele se aproximou dela, dando um beijinho no local e eu abri um largo sorriso.
- Ah, mio amore. – Ela o abraçou, apoiando a cabeça na dele, suspirando. – Grazie. – Ela suspirou. – Agora vai sarar. – Ela olhou para mim, sorrindo e eu assenti com a cabeça.
- Vai! – Ele falou, apoiando a cabeça no peito dela e ela deu um beijo em sua cabeça.
- Não sei como vocês estão criando-os, mas vocês estão fazendo alguma coisa certa. – Ela comentou e eu assenti com a cabeça.
- Pelo menos isso, não consigo me ver como um bom pai. – Falei e ela negou com a cabeça.
- Você é um pai incrível, Gigi. A profissão torna a distância inevitável, mas eu tenho certeza de que você faz o melhor que pode. – Assenti com a cabeça. – E eles sempre vão ter a tia . – Ela falou baixo, fazendo cócegas na barriga de Louis, fazendo-o gargalhar.
- Espero que sim. – Falei baixo, suspirando em seguida.

Lei
15 de outubro de 2010

Observei os muros de Vinovo aparecer em meu campo de visão e sorri enquanto guiava o carro até os portões. Embiquei o carro na entrada, esperando outros carros entrarem e acenei, animada, para os porteiros quando chegou a minha vez, abaixando o vidro.
- Ei, um rosto que eu não vejo há muito tempo! – Pasquale falou e eu ri fracamente.
- Que saudade de ver você! – Falei e ele sorriu.
- Como você está? – Ele perguntou e eu acenei com a cabeça.
- Tudo bem, graças a Deus! E as novidades?
- Nada de novo. – Ele falou e rimos juntos. – Bom te ver, garota! – Ele segurou minha mão e eu sorri, guiando o carro para dentro do CT.
Entrei, respirando, aliviada, ao ver os prédios administrativos e os prédios do CT do lado esquerdo da rua e o estacionamento e diversos carros do lado direito e guiei o carro até alguma vaga livre. Saí do carro, ajeitando a faixa em minha cabeça e puxei a bolsa, saindo dele. Olhei em volta, vendo várias pessoas chegando junto e fechei o carro, trancando-o em seguida.
- Vou começar a perguntar se está me seguindo. – Virei o rosto para o lado e revirei os olhos ao ver Gigi saindo de seu carro.
- Ei, o que você está fazendo aqui? – Me aproximei dele, rindo fracamente.
- Fisioterapia, voltei hoje também. – Ele falou e eu neguei com a cabeça.
- Acho que você está me seguindo, então. – Ele sorriu e passei os braços pelos seus ombros, ficando levemente na ponta dos pés e ele me passou os braços pela minha cintura.
- Como você está? – Ele perguntou baixo e eu soltei-o após alguns segundos.
- Estou na faixa de 95 por cento bem, tem cinco por cento que estão mais devagar ainda. – Ele riu fracamente.
- Imaginei que algo não estivesse bem com esses pés no chão de novo. – Ele riu fracamente e eu empurrei-o de leve pelos ombros, vendo-o sorrir.
- Relaxa, logo mais eu já volto com os saltos e já podemos conversar na mesma altura. – Ele sorriu, assentindo com a cabeça.
- AH, OLHA QUEM ESTÁ AQUI! – Me assustei com o grito e senti alguém me abraçando pela cintura e me girando pelo estacionamento.
- Ah, eu vou ficar zonza! – Reclamei e fui rapidamente colocada no chão novamente. Virei para o lado e vi meu capitano. – Alex! – Empurrei-o com o ombro e ele riu fracamente.
- Ah, que saudades de você! – Ele me abraçou e eu sorri, abraçando-o direito. – Firme e forte?
- Quase firme e quase forte. – Sorri e vi outros jogadores com ele, Chiellini, Marchisio e um terceiro desconhecido.
- E aí, , como você está? Ficamos preocupados com você. – Chiellini falou e eu sorri, abraçando-o rapidamente.
- Agora eu estou bem, ragazzi. Obrigada pela preocupação. – Sorri e Marchisio e o outro garoto me deram um rápido aceno. – E você, quem é? – Perguntei para o desconhecido de cabelos pretos ralos.
- Leonardo Bonucci. – Alex apresentou.
- Defensor do Bari, não?! – Comentei.
- Sim, isso! – Ele disse.
- , coordenadora da contabilidade, uma das poucas pessoas nesse time que você realmente deve puxar o saco. – Gigi falou e eu bati com a mão em sua barriga, ouvindo-o reclamar. – Ai! – Ele disse, me fazendo rir.
- Já fico feliz com a sua amizade. – Falei e ele riu fracamente.
- Combinado. – Ele falou.
- Bom, eu adorei a recepção, mas eu realmente devo trabalhar. – Falei, sorrindo. – Descobrir quem mais eles contrataram no meu tempo fora.
- Bom te ver, . – Alex falou e eu sorri.
- Não suma! – Gigi falou e eu assenti com a cabeça, sabendo que não importava quando ou onde, eu sempre acabava esbarrando nele pelo bairro ou pela cidade.
- Até mais! – Falei, acenando com a mão e segui em direção ao prédio administrativo.
Passei pela calçada, pelos corredores e pelo elevador e sempre parava por alguém perguntando da minha ausência ou feliz pelo meu retorno. Alguns sabiam da minha doença, agora alguns eu precisava contar e era sempre aquela situação “ah, mesmo? Que pena” e o papo se alongava. Demorou quase 20 minutos para eu chegar na sala da contabilidade de novo, consequentemente, uns 30 minutos atrasada.
- Ciao, ragazzi! – Falei, entrando na sala.
- Ah! – O pessoal falou e vi Angelo desviar da sua mesa e vir correndo em minha direção.
- Angelo! – Ele me abraçou fortemente.
- Finalmente você está de volta! – Ele sorriu. – Deixa eu olhar para você. – Ele passou a mão em meu rosto e eu ri, desviando o rosto.
- Eu estou bem! – Falei, ajeitando minha faixa e ele riu fracamente.
- Ah, eu só senti sua falta, cinco meses é muito tempo. – Ele sorriu.
- Nem fala. – Suspirei. – Senti sua falta, falta desse time, de todos esses estagiários. – Sorri para eles e Sara vinha logo atrás de Angelo.
- Saudade de você, . – Ela falou e eu sorri, abraçando-a. – Você está bem agora?
- Agora eu estou, gente. Obrigada. – Sorri e Miguel veio logo em seguida, me abraçando também.
- Vamos voltar à ativa, então? – Angelo falou.
- Sim! Por favor, me atualizem de tudo! – Falei, seguindo até minha mesa e apoiei minha bolsa, me sentando nela.
- Perdemos Claudio. – Angelo falou.
- Fiquei sabendo, ele me ligou, fiquei chateada por não poder me despedir. – Suspirei. – Ele foi para Roma, não?
- Sim, foi, estava em um processo seletivo de uma multinacional, agora somos só eu e você. – Ele apoiou as mãos em minha mesa.
- Que bom que deu certo! – Deu de ombros. – Pelo menos você tem a mim e eu realmente não tenho intenção de sair daqui tão cedo. – Ele riu fracamente.
- Estamos juntos! – Ele disse, sorrindo.
- Soube que temos alguns estagiários que se tornaram analistas. – Cantarolei e Sara sorriu.
- O Miguel se formou. Agora com a saída do Claudio, Giorgio achou legal já subir algum estagiário e o relatório da Sara é tão perfeito quanto o seu. – Assenti com a cabeça. – E ela se forma no fim do ano, então...
- Perfeito. – Sorri. – Fico feliz pelo time estar finalmente abrindo a mente quando dizemos de mulheres e futebol. – Ele piscou para mim.
- Você começou isso. – Ele disse.
- Poderia cantar vitória com isso, mas estou mais interessada em saber quem temos de novo no time. – Falei. – Conheci o Bonucci lá fora. Encontrei o Alex e o Chiellini.
- Eu não sei de cor agora, mas temos contratos de três e cinco anos, dependendo da idade do jogador. – Angelo falou e eu assenti com a cabeça. – Temos um novo goleiro, Marco Storari, 34 anos do Milan...
- Da idade do Gigi e do Manninger
- Lembra da situação do Abbiati? Quando o Gigi se machucou?
- A mesma coisa? – Ele assentiu com a cabeça. – Entendi. O que mais?
- Bonucci de defensor, Simone Pepe da Udinese, Leonardo Spinazzola do Siena de meio campo. – Ele foi falando e pensando. – Fabio Quagliarella do Napoli, Alessandro Matri do Cagliari... – Assenti com a cabeça. – Giorgio está tentando o Luca Toni, mas acho que vai ficar para as transferências de verão mesmo.
- Beh, parece que estamos bem renovados. – Falei.
- Ah, ainda temos um pessoal que eu esqueci, preciso olhar na tabela. – Ele abanou a mão.
- E quem saiu? – Perguntei.
- Você deve saber do Trezeguet e do Camoranesi. – Assenti com a cabeça.
- Sim, falei com eles recentemente.
- Temos também o Amauri, o Diego Ribas, o Legrottaglie e alguns outros. – Ele disse. – Ai, Cáceres finalizou empréstimo, mas o Giorgio está de olho de novo, Giovinco emprestaram para o Parma, Immobile para o Siena, Zebina para o Brescia... Depois te passo a lista completa. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Espero não ir a lugar nenhum tão cedo. – Falei e ele sorriu.
- Conseguiu se ocupar nesse tempo? – Sara perguntou.
- Comecei meu mestrado. – Franzi os lábios.
- Você está brincando! – Angelo falou, rindo. – Você ficou cinco meses fora e ficou estudando?
- Beh, eu já estava pensando em fazer, aproveitei. – Dei de ombros.
- Só você mesmo. – Rimos juntos. – Mestrando em quê?
- Treinamento e Gestão Esportiva.
- Propício. – Rimos juntos.
- Eu encontrei um caminho que realmente me agradou, preciso aproveitar. – Dei de ombros.
- É a voz da minha funcionária favorita que eu escuto? – Giorgio entrou na sala e eu ri fracamente, me levantando da mesa.
- Não fala isso, chefe, o Angelo pode ficar com ciúmes. – Comentei e ele riu fracamente, dando a volta na mesa e me abraçando.
- Que bom te ter aqui de volta, garota. – Ele sorriu. – Fiquei muito preocupado contigo.
- Eu estou bem agora, Giorgio. Obrigada mesmo por tudo o que você, o pessoal e o time fizeram por mim. – Ele assentiu com a cabeça.
- Você é parte importante do time. – Ele sorriu. – E não digo isso só por dizer.
- Grazie, fico muito feliz. – Ele sorriu.
- Aproveitando que está aqui, gostaria que você conhecesse um pessoal. – Ele disse, se afastando e virei para a porta, vendo quatro homens, um deles muito conhecido por mim.
- .
- Pavel Nedved! – Falei, animada e segui em sua direção, abraçando-o fortemente.
- Ah, que saudades de você! – Ele disse.
- Nem fala, nem fala! – Suspirei, apertando-o fortemente. – Como você está?
- Eu? Eu estou bem, fiquei preocupado quando soube de você. – Ele ergueu o olhar para mim, apoiando a mão em minha cintura.
- Agora eu estou bem, tive muito ajuda do pessoal. – Ele assentiu com a cabeça.
- O Alex me contou. Fico feliz que esteja bem. – Sorri e ele me abraçou novamente, dando um beijo em minha bochecha.
- Eu também, é bom estar de volta. – Sorri, me virando para os outros homens.
- Nem fala! – Ele riu fracamente.
- , esses são Andrea Agnelli, novo presidente do time. Fabio Paratici, novo diretor de esportes, Giuseppe Marotta, novo diretor geral, além do Pavel, novo vice-presidente. – Ele falou. – Essa é , nossa coordenadora de contabilidade junto de Angelo.
- É um prazer conhecê-los. – Falei, estendendo a mão para todos os três, cumprimentando-o um a um.
- O prazer é nosso, senhorita . – O presidente falou e eu assenti com a cabeça. – Gostaríamos de conhecer todos do setor mais importante do time e estava faltando você. – Ri fracamente.
- Me sinto importante assim. – Brinquei, ouvindo-os rirem. – Espero que os senhores consigam nos tornar vencedores de novo.
- Todos nós. – Ele disse. – É nossa prioridade. – Assenti com a cabeça. – Fiquei sabendo sobre sua doença, você está melhor?
- Sim, muito bem, pronta para recomeçar. – Sorri e ele assentiu com a cabeça.
- Precisamos de toda força extra. – Ele disse e confirmei com a cabeça.
- O que precisar, pode contar comigo. – Ele assentiu com a cabeça.
- Depois te informo sobre as novidades, pode ser? – Giorgio falou.
- Claro, eu estou por aqui. – Falei e ele sorriu, me abraçando rapidamente.
- Bom te ver, . – Pavel falou.
- Um prazer te conhecer. – Os outros falaram e eu assenti com a cabeça, vendo-os saírem da sala e voltei para minha mesa.
- O presidente é novo. – Sussurrei para Angelo.
- 33 anos só. Filho do Umberto Agnelli. – Assenti com a cabeça, reconhecendo o nome do famoso antigo presidente da FIAT e dono do time, falecido em 2004.
- E os outros? – Perguntei.
- O Paratici é da mesma idade do Pavel, 38, e o Marotta é o mais velho, 53. – Assenti com a cabeça.
- Bem, sempre fui a favor de gente nova no administrativo, quem sabe não coloquem o trem de volta nos trilhos? – Falei.
- É isso que esperamos. – Ele disse, suspirando.
- Ok, agora, me diga, o que eu preciso fazer? – Falei, ligando o computador.

Lui
28 de novembro de 2010

Desviei o olhar do celular quando ouvi os gritos do estádio e de Alena ao meu lado e olhei para o campo, vendo Simone Pepe comemorar o gol de empate. Já era hora. Já não bastasse o primeiro tempo com um gol contra de Motta, o empate veio somente aos 82 minutos após uma cobrança de falta de um dos novatos do time. Até Storari, meu reserva entre as balizas, veio abraçar Pepe e comemorar essa falta demorada.
- Isso! – Alena comemorava ao meu lado e virei o rosto para o lado, vendo e Pavel rindo sobre alguma coisa. – Você viu, Gigi?
- Oi? – Virei meu rosto para ela.
- O gol, foi uma falta perfeita.
- Sim! Foi demais. – Guardei o celular no bolso na calça, colocando as mãos dentro dele e Alena me abraçou de lado, apoiando a cabeça em meu ombro.
Voltei a prestar atenção no jogo, tentar, na verdade. Eu estava muito curioso em e Pavel, eles haviam papeado o jogo inteiro. Ele ainda era casado, não era? E ele era o quê? 10 anos mais velho do que ela? Um pouco demais, não? Balancei a cabeça, respirando fundo e desviei o olhar para ambos de novo, vendo observando o jogo animada e suspirei.
Dessa vez foi diferente da última, ela já estava aqui com seu chefe, ela nos cumprimentou rapidamente e voltou a ficar perto do top cinco do time. E então, o jogo começou e ela e Pavel não paravam de papear sobre o jogo ou sei lá o que fosse, o barulho do estádio não me permitia ouvir muita coisa.
- Eu estava pensando sobre as férias, Gigi...
- É? – Virei para Alena de novo.
- Precisamos levar David para conhecer meus pais, podemos passar o fim de ano lá e eu aproveito e resolvo mais algumas coisas do casamento, o que acha?
- Claro é uma boa. – Falei, sentindo o celular vibrar no bolso novamente.
- Eu vou falar com eles, então. – Assenti com a cabeça e puxei o celular do bolso, vendo uma mensagem nova e franzi o rosto ao ver que era de .
“Jogo interessante?” – Ela mandou e ergui o olhar para ela, vendo-a olhar para mim, mas desviou logo em seguida.
“Bem interessante! ¬¬ Será que vem uma remontada?” – Enviei de volta e observei-a olhar para o celular novamente e não demorou para que sua mensagem chegasse.
“Não mesmo, vocês estão com muita dificuldade para passar do meio de campo, fique feliz com a falta, eles não vão errar novamente”. – Dei um pequeno sorriso e virei para ela, vendo-a dar um sorriso em minha direção e logo desviar para algo que Pavel falou.
Suspirei, guardando o celular dentro do bolso novamente e voltei a focar no jogo. Não tivemos muitas chances de gol depois disso, como havia previsto. O jogo acabou em 1x1 mesmo, mas acabou estendendo até os 90+5 por uma bagunça entre os times, vários amarelos que acabaram em vermelho para um jogador da Fiorentina.
- Bom, foi mais difícil do que o esperado. – Alena falou e eu assenti com a cabeça.
- Você quer ir? Quer comer alguma coisa? – Perguntei, apoiando a mão em sua cintura.
- Podemos ir, eu só vou ao banheiro. – Ela deu um beijo em minha bochecha e eu sorri, assentindo com a cabeça.
Virei o rosto para , vendo-a se levantar com Pavel, Agnelli e seu chefe e ela cumprimentou os dois últimos e seguiu com Pavel até a área superior, subindo as escadas e pude finalmente ouvir o que eles falavam.
- Eu não escolho ninguém, Pavel. Eu só ajudo nas transações, isso é com o grupinho que sempre foi popularizado como top cinco. – Ela falou, seguindo em nossa direção.
- Não só a gente, não é? O conselho também, não? - Ele perguntou.
- Eu realmente não sei, mas acho que nas contratações não, a não ser que seja uma oferta gigantesca, mas a última, se eu não me engano, foi desse aqui. – Ela apoiou o braço em meu ombro.
- O que estão falando? – Perguntei e abaixou seu braço e inclinou o corpo para dar um beijo em minha bochecha.
- Pavel queria saber como funciona as contratações e se eu tenho algum poder na escolha. – Ela disse, colocando as mãos dentro do bolso da calça.
- Você tem, não? – Perguntei.
- Não, eu posso sugerir alguém, mas a decisão final é do top cinco, principalmente do Giorgio por causa da parte monetária, etc... – Ela balançou a cabeça.
- Você já sugeriu alguém? – Perguntei.
- O Quagliarella. – Ela disse. – Ele tinha números incríveis e uma explosão que estava faltando no time, além de que era do Napoli, ele precisava vir para um lugar melhor. – Ri fracamente.
- Você e seu ódio de Nápoles. – Ela levou a mão ao peito.
- Você sabe que eu tenho meus motivos.
- E não tiro sua razão. – Falei e ela riu fracamente.
- E Alena? Onde está?
- Foi ao banheiro, logo devemos ir embora. – Falei, checando o relógio.
- É, são quase 11 da noite. – Pavel falou.
- Eu não sei sobre vocês, mas eu tenho que estar no time as oito. – Ela disse.
- Não. – Pavel falou e ela riu fracamente.
- Eu tenho fisioterapia, mas só a tarde. – Falei.
- Bom, sobra para mim. – Ela deu de ombros. - Posso garantir que não durmo mais oito horas. – Ri fracamente.
- Você sobrevive. – Comentei e ela riu.
- Pavel... – Nós três viramos para trás e o presidente o chamava.
- Eu tenho que ir. – Pavel falou, dando um rápido beijo em e depois em mim. – Se cuidem.
- Você também. – Falamos.
- Bom te ver, . – Ele falou.
- Você também. – Ela sorriu e ele seguiu até seu presidente.
- Então, você e Pavel? – Comentei.
- Eu não sabia que Pavel era tão falante. – Ela disse, virando o rosto para mim, me fazendo rir. – Acho que hoje eu ouvi sua voz mais do que nos oito anos dele de time. – Ela disse.
- Depende se ele estava empolgado. – Ela riu fracamente, sorrindo em seguida.
- Bom, acho que ele estava, então... – Ela negou com a cabeça.
- Não sabia que você gostava de loiros... – Ela virou o rosto para mim. – Ou tchecos.
- Não tenho problema com nenhum dos dois, mas você entendeu tudo errado. – Ela sorriu. – Meu chefe está me trazendo constantemente a jogos e, já que eu preciso ficar aqui em cima, melhor conversar com alguém que eu conheça.
- Eu estava aqui hoje...
- Com sua noiva. Tcheca, por sinal – Ela disse, virando o rosto para mim. – Da última vez já deixamos ela falando sozinha, melhor não abusar do bom humor dela. E eu já estava falando com ele quando você chegou.
- Ah, sim... – Ela riu fracamente.
- O que são todas essas perguntas? – Ela se virou, ficando na minha frente. – Da última que eu chequei, Pavel ainda tinha uma esposa, e você quase tem uma, e não foi problema eu ficar um jogo inteiro conversando com você, mas é com ele? – Ela arqueou as sobrancelhas.
- Não quero que o pessoal pense algo de vocês dois...
- Como você pensou? – Ela riu fracamente. – Ah, por favor, Gigi. – Ela negou com a cabeça. – E, mesmo se ele não fosse casado, ele é um pouco baixinho para mim, não acha? – Ela ponderou com a cabeça e eu ri fracamente.
- É, foi exatamente o que eu pensei. – Comentei. – E ele é bem um pouco mais velho para você.
- Beh, 10 anos é bastante tempo, mas o presidente é mais novo, ouvi que está se separando. – Ela piscou para mim e eu revirei os olhos, vendo-a gargalhar. – Não se preocupe comigo, Gigi. – Ela disse. – Eu estou solteira e livre. E você não tem noção como é bom falar isso depois de tudo o que aconteceu no semestre passado. Eu preciso de um tempo para mim mesma.
- Concordo. – Ela revirou os olhos.
- É, melhor a gente deixar isso para lá. – Ela comentou e eu dei um meio sorriso.
- Você vai ficar aqui nas férias? – Perguntei.
- Provavelmente. – Ela deu de ombros. – Talvez eu fique de plantão esse ano, compensar o tempo que eu fiquei fora.
- Você tirou uma licença, , é seu direito...
- Eu sei, mas a Giulia também vai trabalhar, os pais dela vivem preocupados comigo, pensei em passar umas semanas lá, fazer um fim de ano mais calmo, sem praia, sem festa, só os biscoitos de gengibre da nonna Vitale e uma ceia mais calma. – Ela explicou e eu ri fracamente.
- Acho que até eu quero esses biscoitos de gengibre depois disso.
- São bons demais. – Ela suspirou. – Ei, você ouviu falar sobre o árbitro da Copa de 2002?
- Ouvi! – Virei para ela. – Eu entendi certo? Ele foi pego com seis quilos de drogas?
- No aeroporto. – Ela riu fracamente, revirando os olhos.
- Ah, que raiva que eu tenho daquele cara! – Falei.
- Foi comprovado o roubo dele em três jogos, Gigi, pensa que não podemos voltar no tempo.
- Nem fala, me irritou demais... – Bufei baixo.
- Pelo menos deu certo quatro anos depois. – Ela falou, desviando o olhar para o campo novamente.
- É, mas podia ter dado certo em 2002 também... – Ela suspirou, dando um meio sorriso.
- É... – Ela suspirou.
- Eu acho que o cara já estava com seus quilos de drogas naquele jogo, não embaixo da roupa, mas no sistema. – gargalhou, apoiando o braço em meu ombro.
- Quem dera fosse, Gigi. Quem dera...
- . – Virei para trás e vi Alena ao nosso lado.
- Alena! – sorriu, abraçando-a. – Como você está?
- Estou bem e você? Você está bonita, adorei o casaco.
- Grazie. – sorriu.
- E o jogo? O que achou? – Alena perguntou.
- Hum, melhor não comentar, não é mesmo? – Ambas riram juntas. – Pelo menos foram para terceiro na tabela. – falou.
- Sim, esperamos que continue assim e melhore. – Comentei.
- Vocês têm três jogos até a festa de Natal do time, quem sabe o Agnelli não fala sobre o desempenho pela primeira vez? – comentou.
- Ele vai falar, certeza, todos presidentes comentam, fazem aquela pressão de sempre. – Falei.
- Bom, ele é novo, conversei pouco com ele, mas ele tem uma visão diferente. – Ela falou.
- Quem sabe a música da festa não seja melhor também? – Alena brincou.
- Ah, eu ia gostar disso. – falou, sorrindo. – Bom, eu preciso ir. Como estão os meninos? Tudo bem?
- Sim, eles estão bem, David chegou a um ano, Louis logo faz três...
- David chegou a um ano e eu estou há um ano dos 30, não é muito confortável. – falou, rindo fracamente.
- Ah, você nem chegou nos 30 ainda, não se preocupe. – Alena falou brincando, fazendo-a rir. – Seu aniversário é um dia depois do Dado, não?
- Sim, dia primeiro de novembro.
- Com o time. – Falei.
- Exatamente. – sorriu.
- Você combina muito com esse time. – Alena falou e sorriu.
- Algumas coisas foram feitas para ficarem juntas. – Ela disse. – Bom, eu vou me despedir do pessoal e ir embora, bom ver vocês. – Ela abraçou Alena, dando um rápido beijo em sua bochecha.
- Você também. – Alena sorriu.
- Ciao, Gigi, melhore logo, precisamos de você. – Ela sorriu, me dando um rápido beijo também.
- Ano que vem, pelo que me falaram. – Ela ponderou com a cabeça.
- Bom, o Storari não é tão mal, mas não é você... – Rimos juntos.
- Aguenta mais um pouco. – Falei.
- Não é como se eu tivesse muito escolha. – Ela disse, acenando e rimos juntos. Ela se afastou, se aproximando de seu chefe e suspirei.
- Nós devemos ir também, não? – Virei para Lena.
- Sim, por favor. Desculpe a demora, fila grande.
- Não se preocupe. Ela e Pavel me distraíram um pouco. – Falei.
- Sobre o que falaram? – Ela perguntou.
- Sobre contratações, Pavel ainda está um pouco perdido no seu novo posto. – Falei, ouvindo-a rir fracamente.
- Ele logo se acostuma.
- Sim, foi o que eu falei. – Sorri, dando um beijo em sua testa e seguimos para a área interna do estádio. Olhei para trás rapidamente, vendo cumprimentando o presidente e abanei a cabeça. Era só brincadeira, certeza.





Continua...



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