Última atualização: 13/08/2022

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Capitolo veintiquattro

Lei
13 de dezembro de 2010 • Trilha SonoraOuça

- Bom, já foram 16 jogos, estamos em segundo na tabela, estamos melhores que nessa época do ano passado, pode ser o momento! – Angelo falou.
- Eu realmente não sei, temos meia temporada ainda. – Dei um gole em meu café. – Mas consigo imaginar alguns jogadores que eles devem forçar a vender, precisamos dar uma sondada melhor nessa janela de transferências que vem aí.
- Melo! – Ele falou e eu ri fracamente.
- Esse é o primeiro. – Comentei, rindo. – Os empréstimos da defesa também, a maioria é novo demais e o Delneri não colocou para jogar ainda.
- Alguns do ataque, eles vão comprar ou estender, certeza. – Angelo disse também tomando um gole de seu café.
- Provável. – Suspirei. – Pepe, Matri e Quagliarella estão se saindo bem.
- Tem que ver o que o Giorgio vai querer fazer, a gente está com dois para treinar, não é fácil. – Suspirei.
- Eles estão indo bem, vai. – Empurrei-o de leve. – Mas acho legal a gente ficar de olho na janela.
- Sabe o que eu lembrei? – Angelo estalou o dedo. – O Alex já tem 36 anos, está vindo de lesões constantes...
- O que quer dizer com isso? – Perguntei, virando para ele.
- Aposentadoria...
- Ah, nem brinca com isso. – Fiz um rápido sinal da cruz. – Já perdemos Cannavaro, Trezeguet e Camoranesi juntos, o Alex não...
- Só constatando um fato, ele já está velho para profissão... – Neguei com a cabeça.
- Não, não, vamos mudar de papo... – Ele gargalhou e finalizei meu café rapidamente quando vi Giorgio entrar na sala. – Vamos lá... – Saímos da copa que ficava no fundo da sala e fui em direção à minha mesa. – Oi, Giorgio.
- Fala aí, chefe. – Angelo falou, se sentando na dele.
- Alguém está precisando de alguma coisa? – Ele perguntou. – Eu tenho reunião com o presidente e o vice logo mais.
- Hoje está bem parado, viu?! – Comentei. – Estamos esperando retorno do administrativo sobre a planilha de janeiro.
- Ah, eu dei uma passada lá mais cedo, estava falando com o Paratici sobre o Toni. – Ele falou, se apoiando no batente da porta.
- Vai rolar? – Angelo perguntou.
- Sim, estamos só discutindo uma transferência grátis, quanto menos gastos, melhor. – Giorgio falou, nos fazendo rir.
- Beh, mais um campeão do mundo para nosso time. – Falei e eles riram fracamente.
- Vocês precisam de algo? – Ele perguntou para os quatro estagiários, Luca, Antonio, Giovanni e Enrico, além de Sara e Miguel que agora são analistas.
- Tudo bem por aqui, parado também. – Enrico falou.
- Giorgio? – Vi Pavel e o presidente Agnelli aparecerem na porta.
- Ciao, ragazzi, come stanno? – Giorgio falou, cumprimentando ambos.
- Pronto para a reunião? – Agnelli perguntou.
- Claro, vamos lá! – Giorgio falou. – , poderia vir conosco, por favor? – Arregalei os olhos.
- Eu?
- Isso! – Pavel falou e eu olhei para Angelo, vendo-o assentir com a cabeça.
- Está tudo bem? – Me levantei.
- Sim, por favor. – Giorgio falou e eu franzi a testa.
Dei a volta em minha mesa, sentindo minhas mãos começarem a suar, apesar do frio de dezembro e vi Pavel indicar a saída e passei por ele, seguindo o presidente Agnelli até a sala de Giorgio. Entrei, me colocando no meio da sala e Pavel e Giorgio entraram logo atrás.
- Vamos aqui no sofá, gente? – Giorgio falou e Agnelli apontou para a pequena sala de estar no canto da sala de Giorgio e segui para me sentar em uma poltrona, Giorgio se sentou na poltrona à minha esquerda e Pavel e Agnelli sentaram-se no sofá à minha direita.
- Está tudo bem? – Perguntei, escondendo as mãos dentro do casaco.
- Não vamos demorar muito. – Agnelli falou.
- Não se preocupe, . É coisa boa. – Pavel falou.
- E uma ruim também. – Giorgio falou, rindo fracamente.
- Não brinque com a menina, Giorgio, ela está nervosa. – Agnelli falou e eu ri fracamente.
- Um pouco... – Engoli em seco. – O que está acontecendo?
- Posso dizer? – Giorgio perguntou, olhando para os outros e eles assentiram com a cabeça. – Então, , você deve ter ouvido os boatos que eu vou me aposentar, não ouviu?
- Sim, no começo do ano, mas você cita tem um tempo. – Comentei.
- Bom, esses boatos finalmente se tornaram verdade. – Ele disse e eu engoli em seco.
- Ah, não, Giorgio. – Suspirei e ele deu um meio sorriso.
- Eu já tenho 70 anos, , estou na Juventus há mais de 40 anos, trabalho desde meus 18 em contabilidade. – Ele deu um pequeno sorriso. – Acho que já está na hora de descansar, não acha? – Rimos fracamente juntos.
- Acho que já passou da hora. – Falei e ele riu fracamente.
- Já falei para ele. Ele precisa aproveitar o conforto que a profissão dele deu e curtir com a esposa, os filhos, os netos, logo vêm bisnetos aí. – Agnelli falou, nos fazendo rir.
- Isso é verdade. – Giorgio riu. – Enfim, eu vou sair de verdade agora, queria ver o time voltar a vencer, mas eu não aguento mais, preciso aproveitar sim o que resta da minha vida. – Ele suspirou. – É aí que você entra.
- Eu? – Franzi a testa. – Por quê?
- Eu quero que você fique no meu lugar. – Arregalei os olhos.
- Eu? – Perguntei um tanto alto.
- Sim, você. – Ele sorriu.
- Mas por quê? – Ri de nervoso, não conseguindo evitar um largo sorriso no rosto.
- Você mostrou muito mais do que só um bom trabalho durante esses seus quase 10 anos aqui no time, . Mostrou conhecimento pelo jogo, carisma com todos que você teve contato, fez amizade com os jogadores, se interessou em aprender sobre o jogo, as técnicas e táticas, fez especializações na área, está fazendo mestrado também, fala quatro idiomas... – Ele riu fracamente. – Além da sua incrível colaboração no Calciopoli, nos escândalos do time e durante a relegação. – Engoli em seco.
- Isso é... – Suspirei. – Loucura. – Ri sozinha.
- Você entrou aqui não sabendo nada, mas você criou amor à profissão, à posição e, principalmente, se tornou uma verdadeira juventina. – Giorgio falou.
- Quando eu aceitei a presidência do time, eu vim com uma mentalidade de renovação, colocar uma equipe jovem nos cargos mais importantes do time. – Agnelli falou. – Eu, Pavel, Paratici... – Ele apoiou os cotovelos nas pernas. – Éramos para ter te convidado antes, mas com a sua doença, optamos por esperar a sua completa recuperação para você aproveitar essa promoção e vir firme para nos ajudar com o time.
- Mas e Angelo? Ele está aqui há mais tempo do que eu, não? – Giorgio riu fracamente.
- Sim, está. – Ele disse. – Mas ele não tem metade do seu currículo, e só fala italiano. – Ele deu um sorriso. – Você, de certa forma, se dedica desde a sua formação para isso. – Giorgio disse e eu suspirei. – E eu fico muito grato por poder ter alguém muito melhor do que eu para tomar esse lugar. – Suspirei.
- Eu... – Neguei com a cabeça. – Me desculpa, eu estou em choque. – Levei a mão à boca. – Isso é incrível.
- Você merece, . – Pavel falou. – E eu digo isso como quem estava do outro lado até pouco mais de um ano. – Suspirei. – Todos te adoram, jogadores, equipe técnica. – Ele sorriu. – E você tem pulso. Me lembro na época do Calciopoli quando você foi na casa do Gigi e xingou todo mundo. – Fiz uma careta.
- Sobre isso... – Falei, virando para Agnelli.
- Eu sei o suficiente. – Agnelli falou. – Pavel me contou um pouco sobre a montanha-russa de vocês.
- Sem montanha-russa agora. Faz quatro anos que terminamos. – Falei.
- Pode até ser, mas minha interpretação corporal de vocês diz outra coisa. – Pavel gargalhou.
- Por favor, senhor, não preciso de mais uma pessoa me zoando sobre isso. – Agnelli riu fracamente. – Eu admito que tenho dificuldades sobre o assunto, mas sabemos ser profissionais.
- Tudo bem, mas nada de “senhor”, temos quase a mesma idade. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Combinado, Andrea. – Falei e ele assentiu com a cabeça. – Se eu aceitar isso, o que muda? – Virei para Giorgio.
- Muito mais trabalho e muito menos sono. – Ele falou, rindo fracamente. – Além disso, você terá completa responsabilidade sobre o setor de contabilidade do time, desde os gastos mais simples que está acostumada, até as contratações. Você, junto do setor esportivo, decidirá quem vale à pena contratar, quem deve ser vendido, quais ofertas fazer, tudo para melhorar nosso time. – Assenti com a cabeça. – Vai cuidar do pagamento de todos os funcionários e jogadores do time, vai cuidar dos projetos de reformas e construções, vai liberar dinheiro para outras áreas do time, vai sugerir melhorias ou mudanças, participar de reuniões do conselho sobre liberação de verba, ações e outros assuntos monetários...
- É bastante coisa. – Falei, suspirando.
- O salário dá uma compensada... – Pavel falou e eu virei para ele.
- Quanto? – Perguntei um tanto baixo, olhando para os três individualmente.
- Com a baixa da temporada passada, o salário de Giorgio caminha por volta de 450 mil euros, anuais. – Arregalei os olhos.
- Eu... – Levei a mão a boca, fazendo umas contas rápidas. Quase quintuplicava meu salário mensal. – Me desculpe... – Eles riram fracamente. – Sinto que levei um tiro agora.
- Claro que com isso vem estresse, falta de sono e muitas outras coisas, mas gostaríamos que você aceitasse. – Giorgio disse.
- Mas e o estádio? Você não pode ir embora agora, estamos quase no fim da construção. – Virei para ele.
- E você vai acompanhar esse fim junto de Pavel e Andrea.
- Cazzo! – Falei baixo, ouvindo-os rirem.
- Mas e o problema de eu ser mulher e...
- Você mesma me provou que isso não tem nada a ver. – Giorgio falou.
- Eu não sei que papo é esse, mas eu quero o melhor ao meu lado, . – Agnelli falou. – E esse cara diz que você é a melhor. – Ele finalizou. – Só depende você dizer sim.
- É “vai ou vai”, não é mesmo? Sem período de experiência? – Perguntei, ouvindo-o rir fracamente.
- Eu ainda tenho cerca de um mês aqui, você pode começar a nos acompanhar desde já. – Giorgio disse.
- E, obviamente, caso queira se retirar do posto, é um emprego, você não precisa ficar. – Agnelli falou.
- Eu não sei se eu sei fazer essas coisas, Giorgio. Se eu aguento e...
- Você sabe e você aguenta. – Ele falou, sorrindo. – Eu sei que aceita.
- Cazzo. – Suspirei, rindo fracamente.
- Ah, e no posto também temos a parte de colocar a cara na imprensa, manter uma participação frequente em jogos, fazer algumas viagens com o time, essas coisas. – Giorgio disse.
- E você acha que eu aguento? – Perguntei.
- Com toda certeza. – Giorgio falou e eu suspirei.
Levei a mão até minha cabeça, puxando a respiração devagar e ainda parecia loucura que isso estivesse acontecendo. Quando Giorgio começou a falar de aposentadoria, eu queria muito que isso acontecesse, mas eu não esperava que isso fosse realmente acontecer. Acho que era algo que eu não acreditava que pudesse acontecer. Mas parecia que algumas pessoas acreditavam por mim e isso era louco demais.
Eu seria capaz de enfrentar tudo isso? Eu seria capaz de dar conta com a gama de trabalho? Além de que o salário era muito tentador, mais de 40 mil euros por mês. Pensar que quando eu entrei no time, estava feliz pelos 800 euros que eles pagavam e fiquei surpresa quando isso subiu para oito mil. Agora 40? Oh, Dio mio. Era loucura demais.
Mas eu não era o tipo de pessoa que desistia de um desafio, era? Ok, 29 anos recém-feitos era um tanto louco. Quem confiaria algo assim para alguém tão jovem? Mas Agnelli tinha 33, Giorgio entrou aqui aos 40, não sei se como gerente, mas entrou, eu só estava abaixando mais essa faixa etária. Que mal poderia dar? Era incrível, confuso e apavorante, mas parecia certo e óbvio demais.
- Ok, então. – Falei, erguendo o olhar para os três que me olhavam com expectativa.
- Isso é um sim? – Giorgio perguntou.
- Sim! – Falei, sentindo meu corpo relaxar quando eu respondi e foi inevitável meus olhos não se encherem de lágrimas.
- Vai ser um prazer trabalhar contigo. – Agnelli se levantou, esticando a mão para mim e eu a apertei, sentindo-o dar um tapinha em meu ombro.
- O prazer é meu. – Sorri.
- Bem-vinda ao time, . – Pavel falou e eu sorri, sentindo-o dar um beijo em minha bochecha.
- Grazie, Pavel. – Falei e ele sorriu.
- Tenho certeza de que o setor estará em ótimas mãos, . – Giorgio falou e eu assenti com a cabeça, suspirando.
- Isso é loucura. – Falei e ele riu.
- Talvez. – Giorgio sorriu. – Vai dar certo.
- Vai sim. – Pavel falou. – Você está pronta para isso.
- Eu cuido das coisas aqui agora, ragazzi. – Giorgio disse.
- Auguri, . – Agnelli me cumprimentou mais uma vez e eu assenti com a cabeça, vendo-o sair com Pavel da sala da contabilidade.
- Você pode relaxar agora. – Giorgio falou e eu ri fracamente, me sentando na poltrona novamente.
- Isso é louco, Giorgio, por que eu? – Perguntei.
- É óbvio, . – Ele disse. – Você é a melhor, não tem segredos. – Sorri.
- E como eu faço isso? Como eu lido com isso?
- Você vai trabalhar ao meu lado pelo próximo mês, vou te explicar o máximo que eu conseguir, você vai participar de reuniões do conselho, contratações na janela de transferência, para, no fim de janeiro, começar a cuidar disso sozinha. – Ele disse, pressionando os lábios.
- Isso é loucura.
- Não se preocupe, tem muito trabalho que vai ficar pendente para você continuar, isso vai ser um ótimo esquenta para você... – Rimos juntos.
- Eu só penso em Angelo, ele não vai ficar chateado e...
- Ele já sabe, . – Ele disse e eu suspirei. – Eu falei com ele antes de te oferecer isso, não quero segredos ou picuinhas aqui dentro, acho que nossa equipe sempre foi honesta com tudo e gostaria que permanecesse. – Assenti com a cabeça.
- Sim, senhor. – Suspirei. – Eu vou manter isso.
- Mas os estagiários não sabem, vamos te anunciar para eles, depois gostaríamos de te anunciar na festa de Natal do time. – Ele disse.
- Uou, para todo mundo? – Ele riu fracamente.
- Sim, para todo mundo. Está pronta para isso? – Neguei com a cabeça.
- Eu não estava esperada para essa promoção repentina, senhor, isso vai ser fichinha. – Falei, ouvindo-o rir.

Lui
22 de dezembro de 2010

- Isso é um completo desastre. – Alex falou, colocando a mão no rosto.
- Beh, não um comple-e-eto desastre, só um pequeno desastre. – Leo falou. – Um contratempo.
- Não, cara, acredite, é um desastre. – Falei.
- Parece que o azar não sai da gente, caramba! – Alex falou um tanto irritado, virando o restante do seu uísque em um gole só.
- Às vezes eu acho que estamos um pouco amaldiçoados. – Chiellini disse.
- Vocês não acreditam nisso, não é mesmo? – Sonia falou, abraçando Alex.
- Vocês não acreditam nisso, não é mesmo? – Alena falou ao meu lado.
- Eu não sei até que ponto acredito nisso, mas não ganhamos nada desde 2006, já faz quatro anos. – Suspirei. – Primeiro começamos a decair no campeonato italiano, depois saímos da Coppa Italia, Champions League, agora somos eliminados na Europa League, que veio como um consolo.
- Como é possível termos empatado todos os jogos? – Alex falou, suspirando.
- Você precisa voltar logo, Gigi. – Chiello bateu em meus ombros.
- Logo mais, gente, mas acho que o Storari está indo bem, até. – Comentei.
- Estávamos em segundo na temporada passada, mas conseguimos acabar essa última em quarto, estou até vendo já. – Alex falou. – Sétimo! Sétimo!
- Oh, fica quieto, cara! – Todos falamos, dando tapas em seus ombros, fazendo-os rir.
- Ainda temos 21 jogos, perdemos só duas vezes, a gente vai conseguir virar o jogo. – O novato Matri falou.
- Espero que sim, eu estou ficando velho, gente! Quero vencer antes de me aposentar. – Alex disse, nos fazendo rir.
- Se Deus quiser, cara. Se Deus quiser. – Falamos juntos e virei o restante do copo em minha boca.
- Ciao, ragazzi. – Virei para o lado, vendo Marchisio se aproximar todo engravatado.
- Ah, mas é o principino, mesmo! – Alex falou, zoando sua roupa e todos gargalhamos.
- Não é minha culpa se eu me visto melhor do que vocês. – Ele disse, segurando as laterais do paletó e dando uma volta ao redor do corpo, nos fazendo rir.
- Está chique, cara. – Leo falou, fazendo-o rir.
- Falando em pessoas chiques, alguém já viu a aí? – Ele falou e meu olhar deu uma procurada rápida pelo salão.
- Acho que não a vi ainda. – Alex falou.
- Eu vi! – Sonia falou. – Ela está espetacular. – Ela levou a mão no peito, fingindo que suspirava.
- Ela estava com o top cinco e outras pessoas, Dio mio, que gata. – Ele disse, me fazendo rir fracamente, escondendo um comentário ao beber mais um gole.
- Acho que um pouco velha para você, meu caro. – Chiellini falou.
- Eu sou casado, gente! – Claudio falou, rindo fracamente.
- ? Da contabilidade? Cara, ela é gata! – Matri falou e eu tentei relaxar os lábios quando senti que eles franziram.
- Hoje ela está especial, sei lá. – Marchisio disse.
- Acho que de todos os solteiros, eu sou o mais perto dela, com licença. – Quagliarella falou.
- Com licença. – Pepe falou e rimos juntos.
- Adoro que todos vocês estão competindo por ela, mas ela não namoraria nenhum de vocês. – Alena falou, fazendo-os fecharem a cara e eu evitei outro comentário, tomando mais um gole.
- Com certeza não. – Alex disse e ele e Sonia deram sorrisos nada discretos em minha direção.
- Beh, é a festa de Natal, não é? E está frio, todo mundo se veste bem no frio. – Apoiei a mão em Marchisio, ouvindo-o rir fracamente.
- Falando nela... – Chiellini falou, escondendo a boca também em sua bebida e foi imediato os rostos se virarem para o lado esquerdo.
vinha acompanhada de seu chefe e de Pavel, ambos usavam roupas escuras similares a minha, jeans, blusa social, suéter por cima e tênis nos pés, mas se destacava. Na verdade, para mim, ela sempre se destacava, mas olha, ela estava especial mesmo. Usava uma calça preta que parecia de couro, um sobretudo branco impecável inteiro fechado estilo casaco de soldadinho de chumbo, tinha uma touca da mesma cor em cima de seus cabelos , fazendo-os quase se esconderem dentro dela devido ao cumprimento, tinha botas pretas altas nos pés onde só o salto tinha um tom de vermelho mais chamativo e luvas da mesma cor nas mãos. Foi difícil não babar por ela ali mesmo.
- Ciao, ragazzi. – Giorgio falou e ela ergueu a mão para acenar para nós e foi óbvio o olhar de todos para ela.
- Cazzo! – Quagliarella falou. – Quer meu coração? Eu te dou!
- Vocês são ridículos. – Sonia falou. – A é uma moça de classe e nunca daria bola para vocês. – Alena, Alex, Claudio e eu gargalhamos, mas imaginava que a risada deles e a minha eram de motivos totalmente diferentes.
- Ela podia ficar mais próximo da gente. – Matri falou.
- Acho que ela talvez queira espaço de você. – Comentei, passando o braço pelos seus ombros.
- Ela tem namorado? – Ele perguntou.
- Não! – Eu, Alex, Sonia e Chiello falamos rapidamente juntos.
- O que foi isso? – Quagliarella perguntou.
- Longa história. – Alex falou, me fazendo rir fracamente.
E que longa história!
- E aqui vamos nós... – Chiellini falou, indicando à frente antes de beber um gole de seu vinho e ergui o rosto para onde ele indicou e vi o presidente Andrea Agnelli subir no palco.
- Apostas? – Alex perguntou.
- Pressão! – Falamos juntos, estendendo o copo e rimos quase juntos.
- Buona notte, ragazzi! – Agnelli falou, pegando o microfone e vi que Pavel também estava com ele. – Hoje é a primeira festa de Natal que eu venho como presidente, mas frequento essa festa desde que era muito pequeno com meu pai, Umberto Agnelli. Na verdade, frequento esse time, os treinos, as reuniões há muito tempo, mas, dessa vez, estou aqui com uma nova oportunidade, de dirigir essa grande empresa e ajudar que ela prospere sempre mais.
“Não estou aqui para falar sobre as coisas que estão acontecendo com o time ou o que devemos fazer para vencer, hoje é a primeira vez que me direciono a todos. Funcionários, jogadores, seus familiares, e quero mostrar transparência. Tenho a consciência de que estamos vindo de péssimos momentos, de uma relegação, de perda de grandes astros em nosso time e perdas monetários e é preciso começar a empilhar tijolo por tijolo para voltar a crescer”.
Eu e Alex nos entreolhamos, comprimindo os lábios.
- Todos sabemos que somos um time e que nosso trabalho é vencer, é com as vitórias que lucramos para fazer novos investimentos que acabarão em mais vitórias e se tornará um ciclo constante, mas esse ciclo de vitórias que estamos procurando, não começa com os jogadores. – Ele estendeu a mão para frente, como se nos visse. – Começa aqui. – Ele apontou para si mesmo. – Começa desde o administrativo, até os jogadores, nossos funcionários de todas as áreas, pois é com todos que podemos voltar a vencer.
“E, por isso, aqui, me direcionando a todos vocês, eu gostaria de apresentar a minha equipe. Sei que vocês comumente chamam de top cinco, então, vou definir dessa forma também. Quando entrei no time, optei por trazer pessoas jovens comigo, novos rostos, novos nomes na diretoria para realmente mudar a mentalidade do time, zerar tudo o que foi feito nesses quatro anos e recomeçar”.
- Bom, vamos lá. Como meu braço direto, meu vice-presidente, um grande conhecido de vocês, Pavel Nedved. – Ele falou, nos fazendo aplaudi-lo e Pavel subiu no palco, dando um aceno discreto com a cabeça. – Como novo diretor esportivo, Fabio Paratici. – Ele falou e o outro homem que eu já tinha conhecido nos corredores subiu ao palco, se colocando ao lado de Pavel. - Como novo diretor geral, eu apresento, Giuseppe Marotta. – Ele falou e o mais velho dos três subiu ao palco, também para aplausos de todos.
“Para completar esse time, temos também Giorgio Bianchi. Ele está conosco há 45 anos, sendo 30 como nosso diretor de contabilidade, mas, infelizmente, ele decidiu se aposentar no final desse ano, e escolhemos uma pessoa que combina muito com esse time, com as cores, com a gestão que eu pretendo construir, foi altamente indicada pelo Giorgio e tem todo conhecimento para nos levar sempre para frente...”
- Não. – Falei, surpreso, procurando rapidamente com o olhar, mas não foi possível encontrá-la.
- Como nova diretora de contabilidade, no time conosco há quase 10 anos, .
- O QUÊ? – O pessoal falou, surpresos e eu perdi a voz, somente abrindo a boca.
apareceu na luz do palco aos aplausos – e gritos – do pessoal e se colocou entre Pavel e Paratici. Ela estava muito tímida, então somente deu um curto aceno com a cabeça para o pessoal e um sorriso discreto para o presidente Agnelli. Ela estava ali. Um, dois, três... Top três! é a top três da Juventus!
CAZZO!
Nossa conversa cogitando isso me pareceu tão longe agora. Era uma situação que nem eu, e muito menos ela, pensava ser realmente possível. Era incrível e empolgante ver alguém como crescer no time depois de lutar tanto para ao menos continuar aqui que eu não conseguia me conter de tanto orgulho e meus olhos se encheram de lágrimas. Ela tinha entrado como estagiária aqui e lutou pelo seu crescimento, muitas vezes negando sua vida pessoal, eu sei o que foi isso. E agora ela estava lá. Em cima do palco, claramente destacada dos outros, como a top três do time. Diretora de contabilidade. Cazzo!
- Aproveitem o resto da noite e buon Natale! – Saí do meu transe pessoal quando Agnelli finalizou o discurso e eu estava claramente travado.
- GIGI! – Virei o rosto rapidamente quando Alex me sacudiu. – A , cara! A é diretora agora! – Ele falou, animado, me sacudindo pelos ombros. – Você sabia disso?
- Não... – Falei, surpreso.
- Cazzo, cara! Cazzo! A é diretora, cara! – Ele me sacudiu, visivelmente surpreso, me fazendo gargalhar e nos abraçamos, gargalhando sozinhos.
- Ela merece! – Falei.
- Demais! – Alex disse. – Não acredito que eu vi isso acontecer. – Ele falou, apertando meu rosto e eu ri fracamente.
- É surreal. – Falei, ouvindo-o rir.
- Eu não estou seguindo. – Bonucci falou.
- Eles a conhecem desde que ela entrou no time. – Chiellini falou. – São amigos dela.
- Se vocês soubessem quanto ela lutou para conseguir esse estágio, depois esse emprego... – Falei. – Além do tanto que ela estuda, seja na área, línguas, enfim... – Abanei a cabeça. – Ela merece demais, cara! – Suspirei.
- Total. – Chiellini falou e eu assenti com a cabeça.
- Eu estou chorando. – Sonia falou, levando as mãos ao rosto e rimos juntos.
- Ah, amore. – Alex falou.
- De pensar o tanto que ela lutou esse ano com a doença, o namorado, além da história inteira do trabalho dela... Ela ainda vai conseguir finalizar o ano com um saldo positivo. – Sonia disse, secando os olhos e eu sorri.
- Ela merece. – Suspirei. – Demais. – Falei, virando o rosto para Alena e ela sorriu, assentindo com a cabeça.
- Ela parece feliz. – Alena falou e virei o rosto para onde ela olhava e algumas pessoas, principalmente algumas mais jovens, a abraçavam empolgados.
Ela tinha um largo sorriso no rosto, distribuindo gargalhadas para quem quisesse e eu só consegui sorrir com isso. Meu Deus! A era diretora, isso ainda parecia uma loucura para mim, mas eu sentia um orgulho enorme no peito. Eu conseguia ver aquela estagiária entrando envergonhada na sala quando eu ia assinar o contrato. Agora ela havia chegado ao ponto máximo. Independente de ser rápido ou não, eu sabia que ela merecia isso.
andava pelo salão, sendo cumprimentada por algumas pessoas e eu queria que ela chegasse logo em nós, mas alguém sempre a parava para cumprimentar. Conforme ela se aproximava, ela dava um largo sorriso em nossa direção e sabia que eu, Alex, Sonia e Chiello tínhamos o mesmo sorriso.
- Eu sei o que vocês vão dizer... – Não foi possível que ela finalizasse a frase, pois eu e Alex a abraçamos fortemente, ouvindo-a gargalhar.
- Não vamos dizer nada além de auguri, . – Alex falou e me afastei para que ele a abraçasse apertado. – Estamos tão felizes por você, você merece tanto isso. – Ele disse e ela me olhava com aquele sorriso choroso nos lábios.
- É loucura, capitano! – Ela disse, rindo sozinha.
- Não é loucura, , é um novo desafio, só isso. – assentiu com a cabeça e pude finalmente abraçá-la, apertando-a fortemente.
- Eu estou tão feliz por você. – Falei baixo em seu ouvido, sentindo-a me abraçar pelos ombros. – Você merece tanto isso, . Dio mio!
- Grazie, Gigi! É incrível, mas é assustador também.
- Você já lidou com coisas piores do que isso. – Falei, sentindo-a se afastar devagar e olhei fundo em seus olhos . – E eu sei quanto.
- Eu já esperava pela aposentadoria, mas eu não esperava que ele fosse me escolher, pelo menos não de verdade. – Ela disse, passando os dedos delicadamente pelos olhos. – Eu tenho 29 anos, gente!
- Quanto mais novo para gente, melhor. – Alex falou, nos fazendo rir.
- Ah, garota! – Sonia abraçou, empolgada também, fazendo-a sorrir. – Auguri! Auguri! Auguri! – Meu Deus, isso é demais! Você vai poder mandar neles agora. – gargalhou, me fazendo sorrir.
- Essa é a parte chata do trabalho. – Ela brincou, mostrando a língua e eu, Alex e Chiello rimos.
- Parabéns, . Ou devo dizer chefa? – Chiello falou e ela sorriu.
- Grazie, Chiello! – Ela sorriu. – Eu estou tão feliz. – Ela suspirou. – É louco e incrível ao mesmo tempo, eu ainda estou em choque. – Ela disse.
- Auguri, . – Alena falou, se aproximando dela para dar um curto beijo nela.
- Grazie, Alena. – Ela sorriu.
- Parabéns, !
- Auguri, ! – Os outros jogadores falaram e ela sorriu, assentindo com a cabeça.
- Quando isso aconteceu? – Perguntei.
- Faz uns 10 dias só, gente. – Ela suspirou. – O Giorgio, Pavel e Agnelli me chamaram para uma reunião e fizeram o convite. – Ela disse. – Eu pensei que era mentira, tentei achar vários motivos para não ser a opção, mas não é o tipo de convite que eu poderia negar.
- Eu ia te bater se você negasse. – Sonia falou e a abraçou pelos ombros com facilidade, fazendo-as rirem.
- Eu ainda estou em estado de choque. – disse. – É incrível, gente!
- E agora? O que muda? – Alex perguntou.
- Muita coisa! – Ela falou, suspirando. – A primeira coisa é que agora eu não durmo. – Rimos juntos. – Mas sim, eu vou ficar mais próxima de vocês agora, principalmente na parte de conselhos, eu não tenho tanta experiência com isso, então... – Ela suspirou. – Vamos lá.
- E qual vai ser seu primeiro trabalho como diretora? – Chiello perguntou.
- Quem você vai trazer para nos ajudar? – Alex perguntou.
- Me senti uma fada madrinha agora. – Rimos juntos. – Bom, o Giorgio vai ficar até dia 15, e a contratação do Luca Toni está em andamento. – Ela disse. – Ele deve chegar aqui até dia oito. – Ela disse, nos fazendo assentir com a cabeça. – Também está a caminho a contratação do Claudio Filippi...
- Esse nome não me é estranho. – Falei.
- Treinador de goleiros. – Falei. – É para você mesmo! – Ela bateu a mão em minha barriga, me fazendo a contrair. – Queremos tentar manter uma constância nos goleiros, não adianta ter o melhor goleiro do mundo e ficar um desastre quando ele se machuca, não é mesmo? – Ela sorriu para mim.
- Faz sentido. – Falei e ela riu fracamente. – De onde ele é?
- O currículo dele é extenso, mas os mais recentes são no Siena, Parma e Chievo. Te é familiar? – Ela perguntou.
- Bastante. – Falei rindo fracamente.
- Depois do dia 15 aí é com você de vez? Sozinha? – Alex perguntou.
- Sim, aí eu vou atrás do Barzagli! – Ela falou firme, cruzando os braços.
- Você vai atrás do Barzagli? – Alex falou, empolgado.
- Você fala dele para mim faz uns cinco anos, por que não? – Ela deu de ombros. – Se você diz que ele é bom, eu acredito.
- Ele é campeão do mundo também. – Falei e ela pressionou os lábios.
- Sim, ouvi falar. – Ela disse. – Paratici vai fazer uma visita ao time dele assim que virar o ano só para demonstrar interesse, pelo visto estão querendo vendê-lo lá, então não deve ser tão difícil, ele só precisa querer vir. – Ela deu de ombros.
- Ah, ele vai querer vir! – Alex falou, rindo.
- Consegue desenrolar isso para mim? Me fazer cortar caminho? – Ela perguntou.
- Claro! Me fala quando que eu ligo para ele. – Alex falou.
- Depois do dia 15. – Ela piscou, sorrindo.
- Eu já gostei de você como diretora. – Alex falou, abraçando-a pelos ombros, ficando na ponta dos pés para chegar na altura de com salto e ela se abaixou para facilitar, nos fazendo rir.
- Vamos trabalhar juntos, ragazzi. Vamos reerguer esse time, agora não tem mais desculpa. – Ela sorriu.
- Botei fé, hein?! – Chiello falou e sorriu para nós, parando em mim.
- É um novo ano, ragazzi. Temos grandes novidades a caminho e elas combinam com um time vencedor. – Ela pressionou os lábios, nos fazendo sorrir.
- Acho que agora eu vejo um novo futuro. – Falei, virando para Alex.
- Agora temos alguém do nosso lado, cara. Isso nunca aconteceu antes. – Alex falou, esticando a mão e eu bati na dele.
- Façam sua parte que eu faço a minha. – Ela cruzou os braços e nós gargalhamos.
- Combinado. – Falei e ela assentiu com a cabeça.

Lei
26 de janeiro de 2011

- Você está nervosa? – Angelo perguntou enquanto eu batucava as unhas na mesa.
- Demais. – Falei, soltando o ar devagar pela boca. – Eu nunca fiz isso, o Giorgio sempre estava aqui com a gente, mas...
- Você é o Giorgio agora, . – Ele sorriu para mim e eu suspirei.
- Você deveria ser o Giorgio agora.
- Ah não, eu não gosto de estudar, . – Ele disse, me fazendo rir. – Você tem mais qualificações do que eu, na hora de promoções não importa a idade, importa o currículo...
- Acho que meu currículo já deve ter umas três páginas. – Ele sorriu.
- O meu deve ter meu nome, idade e formação. – Ele disse, me fazendo sorrir. – Eu vou dizer um milhão de vezes se for necessário, você merece isso. Eu fico feliz por estar aqui aproveitando contigo. – Sorri, esticando a mão para ele em cima da mesa.
- Grazie, Angelo. Por tudo. Pela sua amizade, seu apoio, tantos anos de Juventus e por ser meu braço direito hoje. – Ele sorriu, apertando minha mão.
- Vou te ajudar no que você precisar, chefa! – Ele falou, me fazendo rir.
- Ah, não começa! – Falei e ele sorriu.
- Beh, chamávamos o Giorgio assim, agora é você. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Sabe o mais incrível de tudo isso? – Virei para ele.
- O quê?
- 300 mil euros, Angelo! – Falei sorrindo e ele retribuiu também. – Minha primeira contratação nos custou só 300 mil euros... Beh, 300 fixos e 300 variáveis...
- Mesmo assim, normalmente não contratamos por menos que milhões. – Ele sorriu. – O conselho amou isso.
- O Alex falou que ele estava pensando em se aposentar, você viu os vídeos dele? Eu fiquei chocada! Como um cara com aquele talento quer aposentar? Ele tem minha idade. – Falei, suspirando.
- Às vezes não acha que precisa tentar, não chegou ao ápice, são vários motivos. – Ele falou.
- Vamos descobrir. – Falei, assentindo com a cabeça.
- Bom, ele é nosso agora! – Angelo disse, se levantando e seguindo até a máquina de café que ficava em minha nova sala.
- Por dois anos e meio, pelo menos. – Suspirei, apoiando a cabeça na mesa. – Eu estou nervosa. – Assumi, ouvindo-o rir.
- É a primeira vez, logo mais você se acostuma. – Angelo piscou para mim, tirando um expresso. – E logo mesmo, do jeito que o time anda, começo a acreditar nos jogadores falando que estamos amaldiçoados.
- Não acredito nisso. – Ergui o rosto, ajeitando a touca na cabeça novamente.
- Você quer que eu fale nosso lugar na tabela?
- Sexto, eu sei bem. – Suspirei. – Mais do que nunca... – Ele riu fracamente. – Pelo menos o Buffon voltou. – Assoprei devagar. – Ganhamos as oitavas da Coppa Italia, vamos ver amanhã nas quartas.
- Você vai? – Ele perguntou.
- Vou sim, na Roma tem o Mirko Vucinic, o Giorgio estava de olho nele, quero analisar de perto para ver se vale à pena.
- E...
- Ah, e rezar para gente passar de fase, por favor. – Falei, ouvindo-o rir.
- Não quero ser pessimista, principalmente ainda tendo 17 jogos a caminho, mas acho que o Agnelli não vai conseguir arrumar muito as coisas agora.
- Acho difícil também, o time está vindo de uma sequência de derrotas, precisamos dar uma renovada em tudo, inclusive nos jogadores, quem não tiver o stilo Juve, a gente vende e encontra quem consegue se encaixar ao novo estilo. Além da equipe técnica, sinto que o Delneri está igual o Zaccheroni na temporada passada...
- E está! – Angelo falou. – Conversei um pouco com os jogadores na festa de Natal, não tem aquela constância...
- Vamos programar amanhã para começar a pesquisar sobre técnicos. – Falei.
- Italianos?
- Sim! – Falei firme. – Não temos um histórico muito bom de técnicos estrangeiros, não é? O melhor foi o Deschamps, mas ficou só durante a Série B.
- Verdade. – Ele disse.
- Eu vou pedir para o Paratici fazer uma pesquisa de campo também, precisa ser alguém nosso, da nossa turma, que esteja totalmente comprometido ao projeto... – Me levantei ao ver a sala escurecer e olhei para a janela, vendo os jogadores no campo de treinamento e ergui o olhar para o céu, vendo as nuvens fecharem o tempo. – Eu sempre gostei dessa vista.
- É bem privilegiada. – Ele disse, se colocando ao meu lado e virei o rosto quando ouvi uma batida na porta.
- Viene! – Falei e vi Sara abrir a porta devagar.
- Ele chegou. – Respirei fundo, soltando devagar.
- Vamos lá. – Falei para Angelo e peguei o contrato e a caneta em cima da minha mesa e segui para fora da minha sala.
- Relaxa, . Ele vai vir, assinar, apertaremos as mãos, você vai tirar uma foto com ele e só... – Angelo disse, apertando meus ombros.
- Eu não vou lutar, Angelo, relaxa, não vai ser tão mal. – Suspirei. – Sem pressão.
Os saltos da minha bota eram os únicos barulhos no corredor do nosso andar. Seguimos até o elevador, apertando o andar abaixo e estralei o pescoço quando as portas se abriram. Segui pelo corredor, vendo a sala de vidro aparecer para mim e soltei a respiração devagar quando vi Pavel, Paratici, o fotógrafo do time, além de dois rostos desconhecidos, Andrea Barzagli e seu agente Claudio Orlandini.
Na verdade, não tão desconhecidos assim, eu havia conhecido Andrea Barzagli quando fui para a final da Copa do Mundo de 2006 e toda aquela merda aconteceu. Claro que eu pretendia manter essa informação só para mim, aquele evento ainda me trazia más recordações, além de que muita coisa tinha mudado em quatro anos e meio, inclusive eu mesma.
Os olhos se viraram para mim e ele também tinha mudado em quatro anos e meio. Claro que da última vez que eu o vi, ele estava todo suado e com os cabelos arrepiados após se tornar campeão do mundo e eu estava impossibilitada de enxergar muito devido ao mar de lágrimas que deslizaram de meus olhos aquele dia, mas agora, olhando mais de perto, ele era bem gatinho. Os cabelos castanhos arrepiados, olhos verdes, uma barba por fazer e um sorriso discreto nos lábios.
Minha primeira contratação.
É isso, , respira fundo e vai. Fiz o que meu cérebro mandou e abri a porta.
- Buona sera. – Falei, empurrando a porta e os olhares se viraram para mim.
- ! – Paratici foi o primeiro a se levantar e eu me aproximei do nosso mais novo brinquedinho.
- Andrea Barzagli, certo? – Estendi a mão para ele.
- Sim. – Ele disse, apertando minha mão.
- , diretora da contabilidade. É um prazer te ter aqui conosco. – Sorri e ele retribuiu.
- Acredite, o prazer é meu, senhora. – Ele disse, me fazendo rir fracamente.
- Sem “senhora”, eu sou mais nova do que você. – Falei, ouvindo-o rir fracamente. – Come sta? – Cumprimentei seu agente.
- Tudo bem. – Ambos sorriram.
- Esse são Angelo, coordenador, e Sara, analista. Ambos do meu setor. – Falei e ambos foram cumprimentados também, Sara tinha a pele mais clara que um papel, então suas bochechas se avermelharam com facilidade.
- Beh, vamos sentar? – Paratici falou e acenei com a cabeça para ele, que retribuiu.
- Eu tenho que admitir que estou muito nervosa com tudo isso. – Falei, me sentando na ponta da mesa, começando a separar os papéis.
- Por quê? – Barzagli perguntou e eu suspirei.
- Você é meu primeiro contratado, então...
- Apostas altas em mim? – Dei de ombros.
- Um pouco. – Aliviei a pressão, ouvindo-o rir. – Mas eu nunca fiz isso antes... – Ele riu fracamente. – Só não entendi por que você disse para o Alex que estava pensando em se aposentar cedo.
- Ah, isso... – Ele riu fracamente, coçando a nuca. – Eu nunca tive a oportunidade de jogar em um grande clube durante toda minha vida, quando veio o Mondiale, achei que aconteceria, mas continuou da mesma forma, acabei criando uma carreira mediana... – Ele disse.
- Acho que foi lhe dado uma nova oportunidade, então. – Falei, virando o rosto para ele, que sorriu.
- A melhor oportunidade. – Ele disse e assenti com a cabeça. – Acompanhei muito a Fiorentina quando mais novo, sou da região de Florença... – Assenti com a cabeça, girando as folhas. – Mas a Juventus é a maior da Itália, todos queremos jogar no melhor.
- Espero que voltemos a ser os melhores em breve. – Falei e ele assentiu com a cabeça. – Eu não estou achando... – Confessei baixo, ouvindo Pavel rir e Angelo veio ao meu lado. Fechei as mãos com força, sentindo-as tremerem e ri fracamente de nervoso.
- Aqui. – Angelo disse, colocando na página correta.
- Ok... – Suspirei, virando o rosto para seu agente. – Não fizemos nenhuma alteração no contrato, 300 mil euros fixos, mais 300 mil euros em bônus, contrato até o final da temporada de 2013, propriedade total. – Falei, erguendo o olhar. – Feito?
- Feito! – Barzagli falou mais rápido do que seu agente e sabia que o interesse de ele vir até nós era muito maior do que o contrário.
Só fui atrás dele, pois Alex tinha pedido, ele estava fora da Itália desde 2008 e eu não acompanhava o futebol alemão. Paratici me mostrou vários jogos dele no Wolfsburg, no Palermo e na Nazionale, jogos inclusive que eu tinha visto, mas ele sempre me passou despercebido, agora ele precisava se reconectar ao seu futebol conosco e eu me consolidar na minha primeira contratação. O conselho estava em peso nas minhas costas. Nada diferente de quando eu quase não fui efetivada: mulher, time de futebol, agora uma posição importante aqui dentro... Motivos de sobra para duvidar.
Peguei a caneta, assinando no lugar que dizia meu nome e vi minha caligrafia fina sair um pouco tremida, mas guardei essa informação somente para mim. Passei a caneta para Barzagli e ele fez sua assinatura mais vistosa, mas só consegui identificar a letra B. Seu agente assinou logo em seguida e Paratici foi como testemunha. As folhas voltaram para mim e separei em duas pilhas, entregando uma para Andrea e a outra para Angelo ao meu lado.
- Pronto. – Falei e ouvi algumas palmas isoladas na sala e me levantei junto de Andrea, estendendo a mão para ele e cumprimentando-o.
- Sorriam! – O fotógrafo do time falou e eu virei o rosto para ele, vendo os flashes agora serem direcionados a mim.
Foi difícil abrir um largo sorriso, isso tudo era novo demais para mim, mas tentei fazer com que meus lábios ao menos não tremessem na foto e dei um pequeno sorriso ao apertar a mão de Andrea. Logo o fotógrafo abaixou a câmera e foi como se eu pudesse respirar aliviada.
- Benvenuto alla Juventus. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- È buono essere qui. – Trocamos um sorriso.
- Agora vamos te levar para conhecer os jogadores e depois vamos dar uma volta na área interna para você escolher seu número e tirar algumas fotos. – Paratici falou.
- Você gostaria de nos acompanhar, ? – Pavel falou sugestivamente.
- Claro, quero ver a cara do Alex quando ele chegar... – Todos rimos e Pavel me direcionou a porta.
- Leve para mim, por favor, logo eu subo. – Falei baixo para Angelo e Sara e ambos assentiram com a cabeça.
Fui a primeira a sair da sala de reunião com Pavel, Paratici, Barzagli e seu agente conosco. Seguimos juntos até o elevador e, enquanto Paratici falava um pouco de nossas instalações, Pavel me dava um sorriso de orgulho e me mostrava o polegar para mim, como se me desse uma estrela dourada pelo trabalho bem-feito.
- Hoje em dia nosso lar é o Stadio Olimpico, mas o nosso estádio está planejado para ficar pronto para a próxima temporada. – Paratici falou.
- Planejado não, ele vai ficar pronto! – Falei, ouvindo-o rir. – Ah, vai! – Pavel sorriu.
- Todo nosso time, seja parte de jogadores, administrativo, tudo fica aqui em Vinovo...
Paratici seguiu falando sobre nossas instalações enquanto saíamos dos administrativos, andando pelas ruas que beiravam o estacionamento e fiquei observando o céu para ver se aquelas nuvens não despencariam uma chuva pesada, mas parece que os outros não estavam preocupados com isso.
Entramos no prédio reservado para o primeiro time e Barzagli parecia surpreso com tudo, desde os pequenos detalhes até as grandes construções. O CT da prima squadra era relativamente novo, então aquilo praticamente ainda cheirava à tinta.
Quando chegamos no campo, meus pés tornaram tudo mais difícil e foi quase como se eu precisasse levitar para pisar na grama. Nós cinco paramos fora da linha e aguardamos o técnico Delneri finalizar o exercício. Ele e Barzagli já se conheciam dos tempos no Palermo, então ambos trocaram um abraço efusivo ao se verem, fazendo algumas risadas ecoarem pelo CT, isso fez com que os jogadores dispersassem logo mais e, o primeiro a vir em nossa direção, foi nosso capitano.
- Eu sabia que ela ia conseguir! – Alex falou apontando para mim, dando uns tapinhas nas costas de Barzagli. – Bom te ver, cara!
- Bom estar aqui! – Barzagli disse, rindo.
Além de Alex, Gigi, Grosso, Iaquinta e o novato Toni o abraçaram, animados, todos haviam jogado com ele no infame Mondiale de 2006. Além disso, ele já conhecia Matri, Quagliarella e Pepe de outros times ou jogos, então todos estavam animados pelo novo colega. Parecia turma da escola quando o amigo de outra escola se juntava a eles.
- Parabéns, . – Vi Gigi se aproximar e ele passou o braço pelos meus ombros.
- Se me permite. – Falei, tirando seu braço do meu ombro. – Você está suado e eu estou cheirando rosas ainda. – Ele riu fracamente, cruzando os braços em seguida.
- Fresca. – Ele me empurrou com o ombro e eu sorri. – Você trouxe o cara. – Ele disse.
- Trouxe... – Falei, rindo fracamente. – Agora, façam ter valido a pena, por favor. – Virei para ele que assentiu com a cabeça.
- Vai valer. – Ele suspirou. – Ele é bom. Travado por estar fora do futebol italiano, mas um pouco de óleo resolve. – Sorri. – O que achou dele?
- Não conversamos muito, mas ele está muito empolgado em estar aqui. Acho que no mesmo nível que eu estava nervosa ao fazer essa contratação.
- Sua primeira, hum?! – Suspirei, assentindo com a cabeça.
- A primeira de muitas, eu espero. – Sorri e ele passou o braço em minhas costas dessa vez, me puxando para um rápido abraço.
- Espero estar aqui para ver muitas dela. – Ele disse. – Eu sei que não precisa da minha aprovação, mas me sinto no dever de dizer que sinto orgulho de você.
- Grazie, Gigi. – Suspirei. – É tudo novo ainda, mas farei de tudo para dar certo.
- , já deu certo. – Ele disse. – Você é a nova diretora e ali está sua primeira contratação. É legal, vai!
- Demais. – Sorri. – E é uma bela contratação, vai! – Cruzei os braços, sorrindo para ele.
- O que quer dizer? – Ele arqueou uma sobrancelha.
- Ele é bem bonito. – Falei baixo e o vi revirar os olhos.
- Ele tem uma namorada, se eu não me engano, e dois filhos. – Ele virou o rosto para mim.
- Você também tem e vive me cantando. – Pisquei para ele, vendo-o soltar um riso sarcástico.
- É diferente...
- Claro, porque é você. – Falei, sorrindo. – Eu tenho que ir, minha equipe precisa de mim. – Toquei seu ombro levemente e, devido aos saltos, foi fácil alcançar sua bochecha para um beijo. – Até mais.
- Até, . – Ele disse e me afastei devagar.
- Ah, sem mais lesões, ok?! – Falei, apontando para ele.
- Vou tentar. – Respondeu e eu assenti com a cabeça. Seu olhar me acompanhou por um tempo, até que eu virei de costas, deixando um pequeno sorriso andar pelos meus lábios.

Lui
26 de janeiro de 2011 • Trilha SonoraOuça

Vi Storari defender mais uma bola que Filippi mandou para ele e ele deslizou na grama encharcada, esbarrando em meus pés. Desencostei da baliza e estiquei minha mão para ele, ajudando-o a se levantar. Olhei para cima, sentindo as grossas gotas de chuva caírem em meu rosto e o céu parecia noite, mas sabia que estava próximo das seis horas ainda.
Manninger seguiu para fazer sua série, igualmente deslizando do outro lado, e Costantino, do Primavera, fez a sua também. Respirei fundo antes de fazer o primeiro pulo, defendendo para baixo, deslizando no chão e defendendo para cima e meu corpo deslizou na água com lama quando eu caí no chão novamente.
- Isso não vai dar certo! – Falei, ouvindo os trovões. – Muita gente vai se machucar.
- São 17:52, ele já vai parar. – Filippi falou, checando o próprio relógio.
- Esperamos que sim! – Storari falou, suspirando. E dei meia volta por trás do gol, vendo os outros dois seguirem para fazer sua série.
Quando o goleiro da base estava finalizando, Delneri apitou, encerrando o treino e eu pude respirar aliviado. A chuva caía por cerca de uma hora sem parar e com muita força, apesar do tempo estar fechando desde as três da tarde.
Puxei as luvas apressado, sentindo lama dentro de minhas chuteiras e eu estava louco para um banho. O uniforme de treino estava inteiramente sujo e fiquei feliz pelo frio, ao menos estava com calça e corta-vento. Segui os outros jogadores em direção ao vestiário, vendo já o rastro de lama antes mesmo de entrar e ri fracamente ao ver o chão branco igualmente imundo. Bati as chuteiras do lado de fora, esperando que melhorasse algo e entrei.
- Dai, Barzaglione! – Grosso brincou com nosso novo jogador que estava em frente ao nosso quadro de conquistas conversando com Paratici e ele deu um sorriso.
Dio! Era loucura pensar que havia ouvido Alex. Desde que havíamos jogado com ele na Copa, Alex falava de quão interessante seria contratar Barzagli pelo fato de ele ser novo, cheio de vontade, um defensor incrível, mas ninguém nunca deu bola para ele, foi só tomar conta do cargo e ele já estava aqui.
Tirei o corta-vento assim que entrei na cobertura, descartando-a na primeira oportunidade e parei ao lado de Alex que estava igual eu, com lama no corpo completo. Ele observava Barzagli tirar algumas fotos com a sua nova camisa, número 15. Mio capitano tinha os braços cruzados e um sorriso de orgulho nos lábios.
- O que está pensando? – Perguntei, parando ao seu lado.
- Ela fez, cara. Ela o contratou. – Ele sorriu, suspirando. – Você não tem noção como isso me deixa feliz.
- Mesmo? – Perguntei.
- Ah, você treinou com ele também, esse cara tem garra. – Ele suspirou. – Não acreditei quando ele disse que pensava que se aposentaria.
- Ele é novo demais para isso, não?! – Perguntei.
- Vai fazer 30 em maio, cara. Tem a idade da . É loucura! – Ele suspirou. – Espero que isso dê um gás para ele. – Ele negou com a cabeça.
- Espero que sim, agradeceria muito uma linha forte de defensores. – Falei e ele riu fracamente, dando um tapinha em minhas costas.
Observei Barzagli sorrir para mais algumas fotos e logo finalizou, abaixando a camisa que segurava. Ele a observou com real desejo e foi visível o sorriso verdadeiro que ele deu para a ela. Danielle foi o primeiro a se retirar, passando por nós e Paratici falou mais alguma coisa com ele, antes de nos indicar e ambos vieram em nossa direção.
- Ragazzi... – Ele falou.
- Ei! – Eu e Alex falamos.
- Vocês cuidam daqui a partir de agora? – Ele perguntou.
- Claro, claro! – Alex falou. – Cuidaremos bem dele.
- Não que seja uma ótima recepção, mas... – Falei, ouvindo-o rir fracamente.
- Desafios de Turim, cara. Chuva e frio. – Alex falou.
- Se não tiver temperaturas negativas aqui, eu já fico feliz. – Barzagli falou, sorrindo.
- Raramente. – Falei, ponderando com a cabeça. – Menos um ou menos dois, mas nos contenhamos com níveis positivos. – Ele riu genuinamente.
- Beh, ragazzi, preciso finalizar algumas coisas ainda. Benvenuto, Barzagli. Te vejo amanhã no jogo. – Paratici esticou a mão para cumprimentá-lo e saiu, dando um tapinha em minhas costas.
- E aí, cara, o que achou? – Alex perguntou.
- Acho que é o melhor CT que eu vi na minha vida. – Andrea falou. – É um sonho estar aqui.
- Tira da cabeça essa vontade de se aposentar, recomece aqui. – Alex falou. – Estamos em baixa agora, mas esperamos tempos melhores por aqui.
- Fabio me falou um pouco das reformas que o time fez e estão fazendo, ele me levou ao estádio, falou da nova equipe de administração. É um investimento incrível, acho que o maior na Itália. – Ele disse.
- É a intenção. O setor de contabilidade está jogando alto para fazer o time crescer. – Falei.
- Beh, a te trouxe aqui, é o que importa. – Alex falou rindo, dando um tapinha nas costas dela.
- Ela me é familiar. – Barzagli falou, coçando o queixo e eu franzi a testa.
- Ela se tornou diretora de contabilidade faz pouco tempo, foi anunciada no começo do ano, talvez em algum jornal ou revista? – Comentei.
- Não, não acho que tenha visto-a na imprensa. – Falei. – Pessoalmente, acho.
- Beh, você ficou quatro anos no Palermo, tirando o ano que estivemos na Série B, nós tivemos dois confrontos por ano. Ela vai constantemente em jogos, ia muito no vestiário quando... – Abanei a cabeça. – Antes da relegação. – Pigarrei. – Vai ver você a viu em uma dessas vezes. – Ele ponderou, suspirando.
- Realmente não sei, mas faz tempo, ela estava diferente. – Barzagli comentou. – Ela está muito bonita hoje, mas...
- Ah, já sei, cara! – Alex falou. – Vai ver vocês se esbarraram no Mondiale. – Alex falou e eu arregalei os olhos.
- Ah, verdade! Isso mesmo! – Barzagli falou. – Ela estava lá com...
- NO MONDIALE? – Perguntei alto.
- É, cara! Você não se lembra? – Ele se virou para mim. – A foi falar com a gente depois da final, disse que...
- A FOI FALAR COM A GENTE DEPOIS DA FINAL? – Perguntei alto, sendo impossível arregalar mais os olhos.
- O que você quer dizer, Gigi? Claro que foi! Ela estava com a amiga dela e...
- Oh, oh, oh! ESPERA AÍ! – Falei alto, apoiando as mãos nos ombros dos dois. – A , a minha , estava na final do Mondiale 2006?
- Esta-va. – Ele falou travado, olhando para Barzagli confuso. – Eu estava bêbado, mas a Sonia me lembrou bem depois...
- Cazzo! – Bargazli falou baixo.
- O quê? – Alex virou para ele.
- Ela estava com o Cannavaro... – Barzagli falou. – Chorando... – Ele suspirou. – E pediu para não contar para ninguém que estava ali. – Ele me olhou, mas meus olhos já estavam cheios de lágrimas. – O que eu estou perdendo?
- Gigi? – Senti as mãos de Alex em meus ombros. – O que está acontecendo, cara?
- É por isso que ela terminou comigo, Ale. – Falei, sentindo os lábios tremerem.
- O quê? – Ele perguntou.
- Não foi por causa do Calciopoli, foi por causa disso. – Levei as mãos aos olhos, pressionando fortemente. – E eu estava com Alena lá...
- O QUÊ? – Alex perguntou alto. – Ela viu com... – Não esperei o fim de sua pergunta, pois eu dei a volta e saí para fora do vestiário. – GIGI!
Esbarrei em algumas pessoas, sentindo a chuva cair forte, molhando agora a parte que estava seca e limpa do uniforme e corri pelo prédio do time principal, sentindo os pés enlameados e de chuteiras deslizarem pelo chão e saí na rua principal. Olhei rapidamente para os carros estacionados, tentando enxergar alguma coisa com as luzes dos postes brilhando por causa da água, mas não consegui.
Segui em direção ao prédio administrativo, vendo diversas luzes ligadas e desviei de várias pessoas que estavam saindo. Não me importei em molhar ou sujar o local, eu precisava vê-la, eu precisava saber que isso era mentira!
Não, a não estava na final do Mondiale 2006. Ela não estava lá, ela não desceu no vestiário, ela não me viu bêbado com a Alena e, muito menos, escondeu isso de mim durante todos esses anos. Quatro anos e meio. São quatro anos e meio achando que eu não a tenho mais em minha vida por causa de uma série de erros meus, mas se ela me escondeu isso durante todos esses anos... Eu não sabia o que fazer.
Por que ela fez isso? Por que ela escondeu isso de mim? Como o Alex sabia disso e não me contou? Como o Cannavaro obedeceu a um pedido dela e não me falou nada? Será que a ida dele para o Real Madrid teve alguma coisa a ver com isso? Não! Não podia ser.
Conforme eu subia pelas escadas, eu não conseguia mais pensar direito, parecia que as lágrimas estagnaram em meus olhos e não queriam mais escorrer, mas elas continuavam pressionadas em meus olhos, impedindo minha visão.
Assim que eu cheguei no andar da contabilidade, eu passei por algumas pessoas, tentando desviar ao máximo delas, mas acabei tropeçando em algumas coisas pelo meio do caminho ou talvez fossem meus próprios pés, eu não era capaz mais de distinguir. Visualizei a sala da contabilidade, vendo poucas pessoas ainda ali e segui para a próxima, tentando ler seu nome na porta fechada e a empurrei com pressa, vendo-a sentada na mesa com um olhar surpreso.
- Gigi, o que você... – Ela abanou a cabeça.
- Me diga que é mentira. – Falei, batendo a porta com força.
- Posso ligar depois? – Ela falou para alguém no telefone, desligando-o e se levantou. – O que você está fazendo aqui? – Ela se aproximou. – E sujo desse jeito?
- Me diga que é mentira... – Repeti com a voz falha, passando as mãos nos olhos, tentando melhorar minha visão.
- O quê? O que houve, Gigi? – Ela se aproximou de mim, erguendo uma mão para meu rosto e eu a segurei pelo pulso antes que ela alcançasse.
- ME DIGA QUE É MENTIRA! – Falei mais alto, sentindo-a puxar seu pulso de volta.
- O que você está dizendo? – Ela perguntou, se afastando alguns passos.
- Me diga que você não estava na final do Mondiale!
- Cazzo! – Ela levou a mão na boca.
- Me diga, .
- Quem contou isso? – Ela perguntou baixo.
- ME DIGA, .
- Por que... Por que eu nunca soube disso? – Falei baixo, sentindo a voz falhar.
Ela permaneceu da mesma forma de antes e eu suspirei, levando a mão até meu rosto, coçando a barba por fazer e pisquei os olhos algumas vezes, sentindo as lágrimas finalmente deslizarem pela bochecha.
- Por favor, , eu preciso saber...
- Eu não posso... – Ouvi sua voz falha. – Eu não posso fazer isso agora. – Ela puxou sua respiração forte e foi aí que ela finalmente ergueu o rosto.
Meus olhos encontraram com os dela instantaneamente. Seus olhos já dividiam o espaço com o avermelhado e um brilho intenso que demonstravam as lágrimas que ainda não caíram. Seus lábios rosados tremiam e as mãos mexendo em seu corpo denunciavam seu frequente nervosismo.
- Então, quando? – Perguntei. – Quatro anos e meio, . Eu tinha esse direito.
- Você nunca teve direito nenhum. – Ela puxou a respiração forte. – Não quando dizia respeito a mim. – Ela respirou fundo.
- Pelo amor de Deus, , acabou. – Falei, suspirando. – Não faça essa pose agora, eu sei de tudo. – Foquei o olhar nela novamente. – Por que eu nunca soube antes? – Repeti.
- Porque eu nunca quis. – Ela puxou a respiração, passando a mão no nariz. – E porque o Fabio manteve a promessa dele. – Ela negou com a cabeça.
- Mas por que precisava ter uma promessa? Por que você escondeu isso de mim durante todo esse tempo?
- PORQUE ELA ESTAVA NO SEU COLO! – Ela falou alto, erguendo o olhar novamente. – É isso que você quer ouvir? – Ela se levantou, vindo em minha direção. – É isso? Você quer voltar quatro anos e meio? Ok, vamos voltar. – Ela passou as mãos com força nos olhos. – Eu pedi para Fabio não contar, porque eu achava que nós não tínhamos terminado depois do Calciopoli. – Ela falou alto. – Porque eu pensei que você esperaria a raiva baixar para conversamos quando eu voltasse! – Ela falava firme. – Porque eu pensei que tinha ficado tudo bem DEPOIS QUE O PESSOTTO PULOU DO SEXTO ANDAR DO PRÉDIO. – Ela aumentou o tom de voz, apontando para a janela. – Por isso. – Ela disse, puxando a respiração forte. – Mas não. – Vi seus lábios tremerem de novo.
- ...
- Eu pensei durante aquele tempo que você estava na Alemanha, pensei nos seus erros e em tudo o que tinha acontecido aqui. Vi que não tinha evidências que você tivesse feito isso, apesar de eu saber que você fez, mas eu não me importava com isso. – Ela riu sarcasticamente. – Eu só pensava em quanto eu sentia sua falta... – Sua voz embargou. – E como eu queria que você me abraçasse depois de tudo que eu vi. – As lágrimas começaram a deslizar em meus olhos. – Que você deitasse comigo, me abraçasse e falasse que ia passar, que eu não ia ter pesadelos durante um mês com aquele barulho e com aquela cena. – Ela engoliu em seco e notei que as lágrimas deslizavam pelos meus olhos também. – Então, eu decidi te fazer uma surpresa. – Ela suspirou, puxando o ar. – Mas é o que dizem: “não faça surpresas, você pode acabar surpreendido.” E eu fui. – Ela negou com a cabeça. – Eu fiquei tão triste e tão brava com você por destruir um momento tão importante para você, para o pessoal, para o Lippi, para Itália, para o nosso país, com... – Ela negou com a cabeça. – Aquilo.
- Eu pensei que você não quisesse me ver e...
- Engraçado como você sempre acha isso. – Ela disse, engolindo em seco. – E o que você faz? Comemora o momento mais importante da sua vida com uma desconhecida? Ou você estava com ela enquanto estava comigo?
- Não, , eu...
- Porque sim, Gigi, apesar de nunca termos falado “somos namorados”, NÓS FOMOS NAMORADOS. Eu não divido minha vida daquela forma com qualquer um. – Ela suspirou. – Vamos lá, você comemora o dia mais importante da sua vida com alguém que não sou eu, achando que eu estou brava. Aí você volta, achando que nada aconteceu, e eu coloco um ponto final na nossa história. – Ela falava sarcasticamente. - Ao invés de você esperar a raiva baixar, não, você engrena em um relacionamento com ela, e o que mais? A apresenta para todos seus amigos e familiares para me fazer ciúmes. – Ela disse, rindo fracamente. – E quando você diz que estava pensando em terminar com ela para voltar comigo, o que aconteceu? ELA ENGRAVIDA! – Ela gargalhou sarcasticamente, jogando a cabeça para o alto. – A vida é mesmo uma caixinha de surpresas, não? – Me levantei rapidamente, surpreso.
- Como você sabe isso? – Perguntei.
- Porque eu ouvi o dia que você contou para o time inteiro, quando vocês estavam se preparando para ir para o jogo no começo de 2007. – Apoiei minhas mãos em seus ombros.
- Não aconteceu desse jeito! – Falei rapidamente e ela deu um tapa em cada braço meu nos separando.
- Ah, não? O que eu fiz? Exagerei muito no sarcasmo? – Ela perguntou.
- Um pouco, mas não aconteceu dessa forma. – Suspirei, tentando olhar no fundo de seus olhos. – Nos conhecemos antes da gente ficar juntos, mas era só sexo, diversão, uma forma de distração enquanto eu estava em Forte dei Marmi durante a depressão...
- Uh, é assim que você chama a mulher que você tem dois filhos e vai casar? – Ela perguntou, revirando os olhos.
- Cala a boca, por favor! – Falei, respirando fundo.
- Como você...
- Você falou todas as merdas que queria, agora é minha vez! – Falei firme, segurando seus ombros novamente. – Quando eu voltei, eu não tive contato nenhum com ela e, quando você me beijou aquele dia... – Suspirei. – Eu encontrei a felicidade de novo, . Foi como se minha vida mudasse totalmente. – Ela mordeu seu lábio inferior. – Passar aqueles seis meses com você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Sem “mas”, foi a melhor coisa. – Suspirei. – E quando a história do Calciopoli veio à tona, eu pensei em quantas noites não dormidas você teve, em todo o estresse que você estava passando, eu entendi que você tinha terminado comigo quando você foi lá em casa. Eu fui parte da sua dor e você queria manter distância. – Suspirei.
- Eu queria, mas...
- Por favor... – Falei fracamente. – Eu fui para o Mondiale com dor no coração, achando que eu tinha perdido a melhor coisa que aconteceu na minha vida. – Suspirei. – Eu acabei encontrando a Alena lá, nós jogamos contra a República Tcheca na fase de grupos e ela tinha certa influência... – Neguei com a cabeça. – Nós conversamos, mas foi isso. Quando eu falei com você por causa do Pessotto, eu achei que você precisasse de mim, mas quando chegou à final, eu não lembro de muita coisa depois de levantar a taça, . Eu me lembro que ela foi no vestiário e que a gente ficou junto, algo aconteceu, mas era algo para comemorar, não para trazer de volta para Turim. – Respirei fundo. – E quando eu recebi sua mensagem me parabenizando, eu achei que estava tudo bem... – Neguei com a cabeça. – Por que você me mandou aquela mensagem se você já tinha me visto com ela? – Senti as lágrimas escorrerem.
- Porque eu fiz uma promessa. – Ela mordeu o lábio inferior. – De sempre te apoiar. – Ela negou com a cabeça. – Eu não podia não te parabenizar pelo maior feito da sua vida. – Ela levou a mão aos olhos novamente.
- E, então, eu voltei para casa e você terminou tudo. Foi como se eu tivesse voltado para maio. – Respirei fundo. – Sim, eu fiquei com raiva de você por ter me dado sinais errados, e eu fiquei com a Alena para te fazer ciúmes, mostrar que eu não precisava de você, mas isso acabou dando muito errado... Eu senti ciúmes de você, você estava linda, incrível, se reerguendo, e eu estava me afundando cada vez mais em algo que até hoje eu não sei se é aquilo que eu queria. – Suspirei. – Você sabe quantas coisas seriam diferentes hoje? – Suspirei. – Você, eu, nossas vidas.
- Não faria diferença nenhuma, Gigi, e você sabe isso.
- Claro que faria! – Falei alto.
- Não faria, porque você é impulsivo e imprudente. Se não fosse isso, você faria outra coisa para nos separar. Você não podia ter esperado? – Suas lágrimas voltaram novamente. – Minha raiva passou aos poucos, mas quando você apareceu com ela... – Ela negou com a cabeça. – Eu sabia que eu tinha perdido a batalha.
- Você não entende? Você não perdeu batalha nenhuma, eu ainda gosto de você. – Neguei com a cabeça. – Eu ainda a... – Suspirei. – O que quer que eu faça agora? Eu vou casar em cinco meses.
- Eu? Eu não me importo com o que você faz, Gigi, eu...
- Não minta para mim, . – Falei baixo. – Você é como eu, você sente minha falta, você me chamou quando você teve problemas. Você me chamou porque queria transar comigo e...
- Se você vai jogar isso na minha cara...
- Eu não vou! – Falei rapidamente. – Eu só estou dizendo que você também não se esqueceu de mim. Talvez você não saiba disso ainda, mas seu subconsciente sabe. – Suspirei e ela engoliu em seco. – Você poderia chamar suas amigas, Alex, Trezeguet, Fabio, Camoranesi, qualquer um, mas você me chamou. – Dei um pequeno sorriso. – Você me queria contigo.
- Você sabe que você é mais importante que todos eles. – Ela disse. – Não só como namorado, amante ou o que for, você é meu protetor, de alguma forma. – Ela deu um pequeno sorriso. – Eu não sei por que ou como, mas estamos ligados, Gigi. Qual é, já faz 10 anos que nos conhecemos, não era para termos seguido em frente nesse meio tempo? Porque eu sei que eu não gostava do Domenico como eu gostava de você. E eu vejo seu olhar quando eu estou perto ou quando estou com seus filhos...
- Nós somos diferentes...
- Eu sei, é o time, nós fazemos questão de nos encontrar... – Ela disse, suspirando. – Mas agora é tarde demais, Gigi. – Ela deu um pequeno sorriso.
- Por que o Fabio não me contou que você estava lá? – Suspirei.
- Confesso que não sei também, achei que você fosse atrás de mim assim que eu saísse do estádio, mas ele também deveria estar bêbado igual todos vocês. – Ela suspirou.
- Eu preciso falar com ele, eu... – Ela segurou meu pulso.
- Não. – Ela disse. – Deixa para lá. – Ela negou com a cabeça. – Não podemos culpar os outros pelos nossos erros. – Ela suspirou. – Eu errei em não contar para você e você errou em não esperar. – Ela deu de ombros.
- E o que fazemos com isso? – Perguntei.
- Agora, eu só posso pedir desculpas à essa altura do campeonato. – Ela disse, passando as mãos nos olhos. – Me desculpe, Gigi, a raiva e a tristeza agem de formas estranhas. – Ela negou com a cabeça e eu a abracei, passando os braços pela sua cintura.
- Eu também, . – Falei, sentindo-a apoiar a cabeça em meu ombro e eu suspirei, permanecendo de olhos fechados por algum tempo. – Eu só não posso fingir que nada disso aconteceu. – Falei e ela nos afastou devagar, dando um passo para trás.
- Não faça nada no impulso, Gigi. Por favor. – Ela disse, passando as mãos nos olhos. – Vai para casa e esfria a cabeça. – Ela suspirou. – Pela primeira vez na sua vida.
- E sobre nós? – Ela deu de ombros.
- Eu sou diretora de contabilidade, Gigi, eu vou ficar aqui por um tempo. – Ela brincou, mas não senti vontade de rir com isso.
- Você não tem mais nada para me contar? – Perguntei. – Não vai vir uma próxima contratação com algum segredo mais destruidor do que esse? – Ela deu um pequeno sorriso.
- Não, era só esse. – Ela negou com a cabeça. – E eu pensava que ele não ia me reconhecer.
- Agradeça ao Alex por ele. – Ela negou com a cabeça, rindo fracamente.
- Esqueci de pedir segredo para o Alex.
- Ele nunca faria isso. – Falei.
- O Cannavaro fez, Gigi. Ele faria também. – Ela deu um pequeno sorriso, suspirando.
- Você está roubando meus amigos. – Falei, vendo-a rir.
- Nossos amigos. – Ela disse, suspirando. – Vai para casa, ok?! – Ela abaixou o olhar, esticando seu casaco branco. – Eu vou arranjar alguém para limpar essa bagunça que você fez. – Ela disse, desabotoando seu casaco com algumas manchas de terra e jogando-o na poltrona. – Imagino que o corredor esteja assim também.
- E as escadas e o caminho até aqui. – Falei, fazendo uma careta e ela suspirou. – Isso tudo é culpa sua.
- Muito cedo para brincadeiras. – Ela falou, desviando da mancha mais forte no chão e abriu a porta, me surpreendi com Alex e Chiellini encostados na parede do corredor, respirando aliviados.
- Ah, vocês estão vivos! – Alex disse, checando dentro da sala. – Está tudo bem aqui?
- Não perfeitos, mas vamos sobreviver. – falou, dando um meio sorriso. – Eu tenho que ir, preciso chamar um atendente da limpeza.
- Eu já chamei. – Alex falou e vi o chão que eu tinha vindo, vendo-o já limpo, diferente da sala de .
- Grazie, capitano. – Ela disse e Alex assentiu com a cabeça. – É melhor você ir. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Vamos voltar a falar disso. – Falei baixo e ela assentiu com a cabeça.
- Um dia de cada vez. – Ela suspirou e me aproximei dela, dando um curto beijo em sua bochecha, vendo-a pressionar os lábios.
- Até mais. – Falei, suspirando.
- Tire as chuteiras. – Ela e Alex falaram juntos e eu os obedeci, enrolando um pouco a barra da calça antes de sair da sala.
- Ciao. – Disse para e ela assentiu com a cabeça.
- Ciao, Gigi. – Ela suspirou antes de fechar a porta.
- O que aconteceu aqui, cara? Deu para ouvir os gritos e do nada o silêncio e... – Coloquei a mão no ombro de Alex.
- Muita coisa, Alex. – Suspirei. – Eu preciso pensar... – Neguei com a cabeça. – Eu só sei que eu fiz merda.
- Você está bem? Ela está bem? – Chiellini perguntou rapidamente.
- Não, cara. Definitivamente não. – Suspirei. – Alguém me descola um sofá? Acho que não consigo ir para casa hoje.
- Claro, cara! Claro. – Alguém respondeu, mas eu não fui capaz de raciocinar, já que minha cabeça começou a latejar fortemente.



Capitolo veinticinque

Lei
26 de janeiro de 2011

Fechei a porta assim que a atendente da limpeza saiu e observei o local onde ela limpou ainda úmido e cheiroso devido ao produto. Minha respiração ainda estava acelerada e eu sentia minha cabeça latejar, e ela pesava tanto que eu não conseguia entender como ela ainda se mantinha erguida em minha cabeça.
Voltei devagar para minha mesa, apoiando as mãos pelos móveis para me segurar caso minhas pernas derem um passo em falso e cheguei em minha poltrona novamente, sentindo o corpo reclamar com o macio repentino depois de bons minutos tensionados. Observei a tela do computador desligada e dei um toque no mouse, vendo-a se acender novamente e vi as diversas páginas e documentos abertos.
O que eu estava fazendo mesmo antes de tudo?
Parecia algo muito complexo agora ou só minha visão que ainda estava um pouco embaçada e que complicava a leitura dos relatórios. Virei o rosto para a calculadora que mostrava o resultado de alguns milhões e o telefone piscava em quatro ramais diferentes. Soltei um suspiro, balançando a cabeça e meu olho parou no relógio. Era quase nove da noite. Eu tinha o costume de estender um pouco, mas não tanto.
Ignorei minha agenda do dia e forcei o desligamento do computador, vendo as janelas e documentos fecharem rapidamente, zerei o número na calculadora, esperando que me lembrasse o motivo desses números e passei a mão em minha agenda, vendo-a fechar em um baque oco e me levantei novamente, sentindo as pernas bambearem um pouco e firmei-a antes de puxar minha bolsa.
Atravessei a sala novamente, passando pela poltrona e peguei meu casaco bege com algumas manchas marrons no mesmo. Suspirei, negando com a cabeça, mas o vesti da mesma forma antes de sair da sala. Foi fácil e rápido chegar ao térreo, poucas pessoas continuavam no prédio. Só percebi a chuva insistente quando ela atingiu meus cabelos, mas não pensei em recuar ou procurar por algum guarda-chuva.
Não tentei correr quando a chuva começou a me encharcar e demorei até chegar no carro. Suspirei ao entrar nele e sabia que ficaria pelo menos uma semana com aquele cheiro de cachorro molhado. Apertei as mãos no volante, assoprando um pouco e passei as mãos no rosto, tirando o excesso de água. Liguei o carro, saindo da vaga e deixei com que o carro me guiasse pelas ruas de Turim quase no instinto.
Notei que demorei mais do que o normal para chegar em casa e, quando parei, me vi na frente na casa de Giulia. Era óbvio que eu acabaria chegando aqui. Desliguei o carro assim que parei e saí dele, sentindo a chuva me molhar novamente e caminhei até entrada. Empurrei o portão baixo e levei minha mão na campainha, apertando-a com força.
- Espera! – Ouvi uma voz masculina. – Para de tocar! Espera aí! – Abaixei a mão na campainha ao perceber que ela ainda estava pressionada e sacudi a cabeça, respirando fundo. – ? – Ouvi sua voz antes mesmo de Fabrizio abrir a porta e senti a luz da sala me cegar por alguns segundos. – Mio Dio, o que aconteceu aqui? – Ele perguntou e o senti me puxar pelo ombro. – ? Você me escuta? ! – Ele me sacudiu e eu respirei fundo.
- Ele sabe. – Falei baixo, sentindo as gotas caírem em meus lábios e pressionei-os, respirando fundo.
- Quem sabe, ? – Ele perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Ele sabe...
- Gio! GIOVANNA! – Ele gritou e eu suspirei.
- Por que você está gritando? – Ouvi sua voz, mas não conseguia identificar de onde ela vinha. – ? Querida? O que você está fazendo aqui?
- Algo aconteceu, ela está em travada. – Os ouvi falarem.
- Você está toda molhada, você vai ficar doente... – Suspirei.
- Eu só preciso... – Falei baixo.
- Eu vou levá-la para o banheiro, me ajude, por favor. – Ela disse. – Vem, querida, vamos! – Ela me segurou pela mão e senti meus pés caminharem pelo piso.
- Erga os pés, , vamos, colabora. – Ele disse e comecei a subir as escadas, sentindo cada um me segurar por um braço.
- Me deixe aqui com ela... – Ela me colocou dentro do banheiro e eu me sentei no vaso sanitário. – Ligue para Giulia. – Ela falou baixo e eu suspirei, passando as mãos no rosto.
Respirei fundo, sentindo meu rosto secar aos poucos e vi tia Gio começar a encher a banheira com água quente que fazia os espelhos embaçarem. Ela não falava nada e nem eu. Em um momento, ela me esticou a mão e eu me levantei do vaso sanitário, seguindo até ela. Tirei minhas roupas por impulso, sentindo algumas partes do corpo doerem devido a força que eu tive ao fazer e ela pegou tudo, sumindo rapidamente por outro cômodo.
Não esperei que ela chegasse para colocar o pé na banheira e senti meu corpo relaxar com o quente e me sentei nela. Inclinei meu corpo para baixo por alguns segundos, submergindo e molhei os cabelos, sentindo-os deslizarem pelo pescoço. Tia Gio entrou no banheiro novamente, falando algumas coisas e ela puxou uma cadeira para o meu lado, se sentando na nela.
- Podemos conversar agora? – Ela falou baixo e eu abracei minhas pernas antes de virar o rosto para ela, assentindo com a cabeça. – Você está falando, não está?
- Sim, eu estou. – Falei baixo, pigarreando quando a voz saiu fraca.
- A Giulia está no telefone, quer que eu a mantenha com a gente? – Ela perguntou e respirei fundo antes de falar.
- Fala, Giulia! – Falei baixo e Giovanna colocou o celular na borda da banheira, apertando o botão do viva-voz.
- Ei, amiga. – Ouvi sua voz e suspirei. – Como você está? São nove horas, eu não posso entrar ao vivo com a minha amiga nervosa desse jeito. – Suspirei.
- As coisas voltaram, Giulia! – Suspirei, sentindo sua mãe acariciar meus cabelos.
- Não fale em enigmas, meu amor, por favor. – Minha amiga falou, me fazendo suspirar.
- Gigi...
- E lá vamos nós de novo... – Suspirei.
- Não, Giulia, agora é sério. – Falei fraco, sentindo tia Gio começar a massagear meus cabelos com algum xampu cheiroso. – Ele sabe sobre o Mondiale.
- O QUÊ? – Ela gritou e eu dei um pequeno sorriso.
- Eu falei que era sério. – Falei fracamente. – Ele sabe de tudo. – Falei de novo.
- Como? Como ele descobriu? Agora? Como as coisas voltaram agora? – Suspirei.
- Eu contratei alguém. – Falei, suspirando. – E ele aparentemente se lembrou de mim e deixou escapar. – Abaixei a cabeça e tio Gio me puxou de volta, me fazendo suspirar.
- Aquele gatinho que a gente encontrou com o Fabio? Não sei se você viu, mas ele...
- Ele mesmo. – Suspirei. – Eu não sabia que me lembrava dele, muito menos que ele se lembrasse de mim. – Neguei com a cabeça.
- Ok, ele é gato, mas vamos voltar a fita e parou. O que aconteceu? Como foi a história?
- Eu não sei como, eu fui até o campo levar o jogador novo, eu e Gigi nos cumprimentamos e eu subi, horas mais tarde ele apareceu todo enlameado, está caindo uma chuva pesada aqui, e ele soltou tudo em cima de mim. – Suspirei, enxergando a cena novamente em minha cabeça e sacudi-a, tentando mandar embora.
- E o que ele disse? – Giulia perguntou e inclinei meu corpo para baixo, sentindo as mãos de Giovanna acariciarem minha cabeça e tirassem a espuma.
- Ele surtou. – Neguei com a cabeça. – Ele disse que isso muda tudo, Giulia. – Pressionei os lábios, tentando evitar que mais lágrimas caíssem. – Que isso poderia nos manter juntos ainda... – Fechei os olhos.
- E o que você disse?
- Que errei, mas que ele também errou por não ter esperado a raiva passar. – Mordi o lábio inferior. – E que era tarde demais.
- Tarde demais para o quê? – Ela perguntou.
- Ele perguntou o que eu queria que ele fizesse, Giulia. Ele pensou em cancelar o casamento. – Suspirei.
- O QUÊ? – Ela falou alto, mas Giovanna falou a mesma coisa.
- É...
- E o que você acha sobre isso? – Giovanna perguntou atrás de mim.
- O que você quer que ele faça?
- Eu não acho que tenho direito de querer que ele faça nada. – Passei a mão no rosto.
- Mas o que você quer? – A voz de Giulia saiu firme pelo speaker.
- Eu não sei. – Suspirei. – Honestamente. É óbvio que ele ainda pensa em mim e que gosta de mim, isso ficou claro para mim hoje quando ele veio chorando, gritando... – Neguei com a cabeça. – Parte de mim quer que ele desista de tudo para gente fica junto de novo. – Suspirei. – Você sabe que eu ainda gosto dele, Giulia...
- Sim, eu sei. – Ela suspirou alto pelo bocal. – E a outra parte? – Ela perguntou.
- E a outra parte sabe que eu não tenho mais 24 anos, que o tempo passou e, apesar dos nossos erros, ele criou uma família. – Engoli em seco. – E ambos crescemos com o time.
- Você precisa respirar fundo, colocar ordem nas coisas e decidir o que você quer. – Ela disse.
- Eu não acho que eu tenha que decidir alguma coisa, eu estou solteira, eu não tenho filhos ou outros compromissos. – Falei, suspirando.
- Não, minha amiga, você precisa decidir se quer esquecê-lo ou continuar sofrendo desse jeito para um cara que está com a vida em um curso diferente do seu. – Senti uma lágrima se acumular em meu olho esquerdo e passei o dedo nela.
- Você não acha que eu já não tentei? Em quase cinco anos? Namorando por três anos outra pessoa? – Perguntei alto.
- Namorar alguém não quer dizer uma linda história de amor, ...
- Às vezes eu acho que não sou uma dessas pessoas. – Suspirei.
- Você é, minha amiga, mas talvez ela já passou e você ainda não percebeu isso. – Mordi meu lábio inferior.
- O que eu devo fazer? – Perguntei.
- Eu não posso fazer essa escolha para você, amiga, você precisa decidir sozinha. – Ela disse. – Eu só acho que você precisa colocar as cartas na mesa. – Pressionei os lábios. – Ver se isso ainda vale à pena.
- Eu não tenho essa resposta há quatro anos e meio, Giulia, como eu vou ter agora? – Perguntei.
- Porque as coisas mudaram. – Ela disse e ouvi o bocal ser abafado por alguns segundos. – A produção está me chamando, só pensa, amiga. Por favor? – Assenti com a cabeça como se ela pudesse ver. – Mãe?
- Fala, meu amor. – Giovanna falou atrás de mim.
- Cuida dela, ok?!
- Pode deixar. Boa noite, meu anjo.
- Boa noite, mãe. – Ela respondeu. – Ciao, .
- Ciao. – Falei baixo, suspirando e um estalo indicou o final da ligação. – Vocês acham que a Giulia é tipo minha salvadora, não acham?
- Ela te fez falar. – Giovanna passou a mão em minha cabeça e o cheiro gostoso subiu de novo. – Você vai ficar aqui hoje, ok?!
- Tudo bem. – Falei.
- Tem algo mais que eu possa fazer por você? – Ela perguntou.
- Você ainda tem o número da Tiziana? – Perguntei, suspirando.
- Sua antiga psicóloga? – Ela perguntou.
- Sim. – Falei.
- Eu acho que tenho, se não tiver, eu devo ter seus registros do final do tratamento. – Assenti com a cabeça.
- Eu quero marcar uma consulta de novo.
- Pode deixar. – Ela disse. – Agora relaxa... – Ela tombou minha cabeça para trás e eu suspirei.

Lui
27 de fevereiro de 2011

Observei minha mãe parada na porta quando eu estacionei o carro na rua de nossa casa em Carrara e sabia que sua cara podia dizer muitas coisas, mas a que impactava era o susto em me ver lá repentinamente assim. Louis foi o primeiro a gritar pela avó e minha mãe maleou um sorriso ao ver o neto acenar da janela de trás.
Alena saiu do carro quase sem esperar que o carro freasse totalmente e abriu a porta para que Louis corresse em direção a sua avó. Não foi preciso que eu pegasse nosso outro filho, pois Alena também o pegou rapidamente, seguindo para dentro da casa. Parei na porta do carro, vendo minha mãe e ela trocarem poucas palavras antes de Alena seguir para dentro, dando a mão para Louis.
Não precisava estar lá para ouvir o que ela falou, o clima em casa estava estranho desde que eu havia feito aquela descoberta sobre a e o Mondiale 2006. Isso já fazia um mês. Um mês que eu estava mais tonto que uma barata. Havia falado até com a minha psicóloga sobre isso, mas não é exatamente uma ansiedade, ataque de pânico, falando de novo, é uma decisão que eu precisava fazer, e isso me deixava da mesma forma de quando eu tive depressão: apático.
- Vai me explicar agora ou depois o porquê dessa viagem tão repentina? – Minha mãe perguntou quando me aproximei dela e trocamos alguns beijos.
- Eu tentei vir antes, mas só agora consegui uma folga no trabalho. – Falei, suspirando.
- Quanto tempo vai ficar aqui?
- Eu tenho jogo dia cinco de novo, tenho uns seis dias. – Ela assentiu com a cabeça.
- O que aconteceu, filho? A Alena não me pareceu muito feliz ou simpática... – Cocei a cabeça.
- Eu sei, as coisas estão complicadas ainda. – Neguei com a cabeça. – Vamos lá dentro, Guendy está aqui? – Perguntei, ativando o alarme do carro e passei os pés no capacho, entrando em casa.
- Você pediu, ela veio. – Ela disse.
Meu pai deveria estar no trabalho a essa hora, mas Guendy estava parada ao lado da escada, com Louis em seu colo e suspirei, vendo-a negar com a cabeça. Pressionei os lábios, seguindo em direção a ela e a abracei, sentindo alguns tapinhas em minhas costas.
- O que aconteceu, irmão? – Ela perguntou e eu suspirei.
- Podemos conversar? – Virei para minha mãe e ela confirmou com a cabeça.
- Vamos lá em cima, Alena foi para o fundo com David. – Guendy falou, colocando Louis no chão. – Vai lá com a mamãe, amor. – Ela disse e sorri para meu menino, vendo-o sair correndo.
- Mamá! – Ele gritou e eu assenti com a cabeça.
- Que merda está acontecendo, Gigi? Tudo parecia bem no ano novo e agora parece que são dois estranhos? – Guendy perguntou.
- Per favore. – Falei, olhando sugestivamente e subi as escadas para o andar de cima na frente delas.
Entrei no meu quarto de infância, vendo os diversos pôsteres de futebol e mulheres nas paredes e me sentei na cama de casal, diferente de quando era na minha infância. Guendy entrou e minha mãe logo atrás, fechando a porta atrás de si. Abri a janela, olhando para o quintal e vi Alena brincando com David no fundo e fechei-a novamente, não daria para fumar agora.
- Ok, desembucha logo. – Guendy falou, se sentando em minha cama e eu apoiei o corpo na janela.
- Eu não sei como começar isso. – Falei, suspirando. – Quando aconteceu eu tinha o discurso perfeito em minha cabeça, a ideia pronta, mas, agora, parece que as coisas se bagunçaram um pouco.
- Comece contando o que aconteceu há um mês que você queria vir desesperado falar com a gente que não podia contar por telefone. – Minha mãe disse.
- É algo muito importante para você ter retornado seu contato até com a Ellen. – Guendy falou e eu virei o rosto para ela. – Eu a encontrei em Forte dei Marmi, não me olha assim.
- Vocês prometem não me desmerecer ou criticar?
- Depende. – Minha irmã falou.
- Eu prometo. – Minha mãe falou.
- É sobre . – Disse, esperando pela reação delas.
- Ainda? – Guendy perguntou.
- Talvez eu retire o que eu falei. – Minha mãe disse.
- O que aconteceu agora, Gigi? – Minha irmã perguntou. – Eu sei que ela ainda mexe contigo um pouco, que você ainda sente um dever com ela, mas já faz quase cinco anos que vocês terminaram. – Guendy disse.
- Me deixa falar?
- Por favor, filha. – Minha mãe falou. – Fala.
- Vocês se lembram por que terminamos? – Perguntei, engolindo em seco ao escolher as palavras corretas.
- Porque você estava envolvido no Calciopoli. – Guendy falou.
- Exato. – Falei, suspirando. – Eu descobri que, apesar de tudo, não foi por isso.
- Pelo o que, então? – Minha mãe perguntou e eu franzi os lábios.
- Ela me viu com Alena na final do Mondiale. – Falei baixo.
- O quê? – Minha mãe perguntou.
- Na final, você diz... – Interrompi Guendalina.
- No vestiário, bêbado, com a Alena em meu colo com claras segundas intenções nas nossas caras. – Bufei alto.
- ELA ESTAVA LÁ? – Ela perguntou alto.
- Estava. – Suspirei, mexendo na minha caixa de cigarros no bolso de trás da calça.
- E você só descobriu isso agora? – Ela continuou e eu assenti com a cabeça. – Como? Quer dizer... – Ela respirou fundo – Como você não soube antes?
- Ela contratou seu primeiro jogador que vem a ser um dos jogadores que foram para o Mondiale com a gente, Barzagli, na época ele era um dos mais novos, foi como terceiro zagueiro, mal jogou...
- E ele a viu? – Guendy perguntou.
- Sim, ela estava lá, ela viu tudo, tirou suas próprias e certas conclusões e, quando eu voltei, eu pensaria que poderíamos nos ajeitar, mas ela tinha me visto e não estava pronta para enfrentar aquilo naquela hora. – Falei baixo, olhando para o chão.
- E você não esperou por ela. – Minha mãe falou e eu ergui o olhar para ela. – Não me olha dessa forma, eu falei um milhão de vezes para você parar de ser cabeça dura e esperar um pouco. – Ela disse. – Que a raiva ia embora e vocês poderiam conversar com calma. – Ela suspirou. – Mas não, dois ou três meses depois você e a Alena já estavam juntos e imagino que agora esteja em dúvida do seu casamento. Acertei?
- Por que mulheres assumem tudo? – Perguntei.
- Acertei ou não? – Ela repetiu.
- Sim. – Falei, cruzando os braços. – Eu não consigo não pensar no que poderia ter visto se eu tivesse essa informação antes.
- Mudaria algo? – Guendy perguntou.
- É claro que mudaria. – Ri fracamente. – Eu sei que vocês não entendem, que vocês acham que a é só mais uma ex-namorada na minha vida e que eu devo olhar para frente com a minha vida com Alena, mas a Alena não é a . – Falei firme. – Não é nem perto. – Levei a mão aos cabelos. – Ok, criamos uma vida juntos, temos dois filhos, mas até nisso eu sei que com seria diferente. – Neguei com a cabeça. – A tem algo diferente, ela é diferente...
- Você a ama. – Minha mãe falou.
- Não sei se é isso, mas...
- Não digo só no sentido romântico, Gigi. Você ama a de uma forma que eu sei que eu não tenho isso com seu pai. – Minha mãe falou. – A é sua amiga, sua rocha, seu ponto de felicidade e trabalhando juntos não ajuda em nada. – Bufei. – E você não tem isso com a Alena. Alena é seu interesse romântico, só...
- É tão difícil...
- Agora, você precisa entender se a é só o seu porto seguro ou se ela também é a mulher que você quer ter perto para si. – Minha mãe falou.
- Sim, mãe, é. – Cocei a testa.
- Então, por que está ainda em conflito? – Virei para ela rapidamente.
- Como assim? – Franzi a testa.
- Beh, você acabou de dizer que quer a como sua esposa, o que te impede de terminar tudo com a Alena e ir atrás dela? – Minha mãe perguntou.
- Você não está falando sério. – Falei.
- O que te impede? – Ela repetiu.
- Tudo! – Falei fracamente. – Nossas vidas, nossos filhos, nosso relacionamento, o casamento em quatro meses... – Minha mãe deu um sorriso.
- Então, não é fácil assim. – Ela disse.
- Eu fiz merda, mãe, mas agora tem muita gente envolvida. – Ela disse, suspirando.
- Mas você se sente convicto para se casar em junho? – Ela perguntou.
- Isso não, mãe, eu não me senti convicto nem em pedi-la em casamento e você sabe disso, acabou sendo uma obrigatoriedade devido à como nossa relação estava caminhando. – Falei, virando o corpo e observei Alena no andar de baixo.
- E agora você ainda pensa em , quer ficar com ela, mas tem Alena, Louis, David? O que mais? – Suspirei.
- É basicamente isso. – Falei fracamente. – É tão injusto. – Suspirei. – Eu sei que com a eu teria tudo o que me falta romanticamente, eu seria um homem genuinamente feliz, mas...
- Quando você coloca esse “mas” eu sei que as coisas estão complicadas. – Minha mãe falou.
- É muito complicado. – Falei, negando com a cabeça.
- Se você veio atrás de aprovação, filho, você não vai ter. Isso precisa ser uma decisão sua. – Ela falou. – Você precisa se decidir o que você quer, se você quer se separar de Alena e ficar com ou se você vai continuar no acordo que você fez com a Alena e se casar no meio do ano. – Bufei alto.
- Eu estou pensando nisso tem um mês e ainda não consegui decidir. – Suspirei.
- Porque algo te para e te impede de fazer alguma loucura. – Guendy disse. – Isso se chama responsabilidade. – Engoli em seco. – Você foi atrás de quando descobriu, não foi? Eu sei que foi.
- Sim...
- O que ela disse sobre isso? - Ela perguntou. – Como ela se explicou?
- Apesar do choro, mágoa e gritos? – Perguntei, sarcástico. – Ela disse que estava triste e irritada comigo por não ter esperado a raiva dela passar, que a irritação dela pelo Calciopoli já tinha passado, mas ver que eu tinha seguido em frente tão rápido a fez desistir.
- Eu disse para você esperar...
- Mãe, por favor... – Ela deu de ombros.
- E por que ela não te contou? – Ela perguntou.
- Pelo mesmo motivo, não queria que isso me influenciasse... Algo assim. – Neguei com a cabeça.
- Como a mãe disse, não vamos te dar aprovação para você cancelar seu casamento e seguir em frente, vamos apoiá-lo em sua decisão e trataremos da mesma forma que a tratamos desde quando a conhecemos, mas eu pensaria sobre tudo, Gigi. – Ela suspirou.
- Como assim? – Perguntei.
- Já faz quase cinco anos, vai ser como era antes? Isso não é só empolgação por perceber que tudo podia ser diferente? É amor de verdade? – Ela me olhava. – Vale à pena se afastar da mãe de seus filhos por uma loucura dessas? – Ela suspirou. – Me desculpa, irmãozinho, mas você não tem mais idade para agir irresponsavelmente. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Eu só não consigo viver assim mais. – Suspirei. – Andando pela Alena e pela como se nada tivesse acontecido, como se uma bomba fosse estourar. – Neguei com a cabeça.
- Por que você não muda isso, então? – Minha mãe falou e eu ergui o olhar para ela. – Conte a verdade para Alena e a deixe tirar as conclusões dela. – Ela suspirou.
- Eu trabalho próximo da , mãe, não quero problemas para mim ou para elas, principalmente para que virou diretora agora. – Suspirei. – Depois de mim e do meio do ano passado, ela não precisa de mais problemas na vida dela.
- Acho que é o mínimo que você pode fazer, filho. Você deve essa honestidade com a Alena. – Passei a mão nos cabelos. – Já faz quase cinco anos também.
- Eu não sei se isso adiantaria, talvez só traria problema para nós dois. – Suspirei.
- Você e tiveram algo físico fora do time? – Guendy perguntou.
- Eu penso muito nela e no que fomos, no que poderíamos estar sendo, mas nada físico. Sem beijos, sem sexo... – Suspirei. – Só algumas conversas de vez em quando, muitas focadas no time.
- Então, você diz isso para Alena. – Ela disse. – Um relacionamento precisa ter confiança, sem isso, vocês não têm nada e você já vai saber o que fazer quanto ao seu noivado. – Suspirei.
- É uma boa ideia. – Falei, suspirando. – Eu só não sei por onde começar.
- Começar pelo começo seria uma boa ideia, explicar por que você está distante e o motivo de toda essa crise existencial. – Guendy falou.
- Eu não quero falar tudo... – Disse baixo.
- Você não precisa. – Guendy falou. – O que você teve com é seu e dela, ninguém tem mais nada a ver com isso. É passado, aconteceu, foi bom e acabou. Você pode dizer o que aconteceu depois disso, com Alena. Ela não pode exigir mais do que isso. – Assenti com a cabeça.
- Não é uma solução milagrosa, filho... – Minha mãe se colocou ao meu lado, segurando minha mão. – Mas pode ser um começo.
- Eu só penso no que eu vou dizer para ...
- Por quê? – Guendy falou.
- Porque eu falei muito para ela, muito mesmo, eu gritei, eu briguei, eu... – Neguei com a cabeça. – Eu sinto que preciso dar uma resposta para ela.
- Ela disse que queria voltar com você? Disse para você fazer alguma coisa?
- Pelo contrário. – Suspirei. – Ela disse para eu não fazer nada sem pensar. Se dependesse de mim, eu teria terminado com a Alena naquele dia. – Pressionei os lábios. – Talvez ela tenha colocado um pouco de noção na minha cabeça.
- Ela é uma boa mulher. Ela sabe que você tem mais a perder hoje do que ela. – Assenti com a cabeça.
- É, entendi isso também. – Suspirei, bufando alto. – Eu preciso falar com Alena antes. É o mínimo que eu posso fazer.
- O que te segura? – Guendy falou e eu suspirei.
Olhei para baixo novamente, pela janela, vendo Alena sentada com David em uma das mesas enquanto Louis lhe entregava uma flor. Respirei fundo, largando a caixa de cigarros na janela e segui para fora do quarto.
Eu não pensei no que eu falaria, nem quanto eu falaria, mas eu estava cansado dessa confusão na minha cabeça. Ainda achava que era a melhor coisa que tinha acontecido na minha vida, mas tanta coisa mudou depois daquele fato, eu e ela, que não me parecia certo com Alena, que enfrentou tudo comigo durante esse tempo todo, terminar tudo sem ao menos pensar. Eu precisava, ao menos, dar a ela o benefício da dúvida.
Segui para o quintal, vendo-a erguer o rosto e respirei fundo, vendo-a franzir os lábios fortemente. Me aproximei devagar, pegando Louis no colo quando passei por ele na grama e fui até a cadeira livre ao lado de Alena, me sentando.
- Precisamos conversar. – Falei baixo, vendo-a assentir com a cabeça.
- Faz tempo. – Ela disse, passando os lábios um no outro.
- Eu preciso falar algo para você que afetou meu passado. – Suspirei. – Uns seis anos para cá. Um antigo relacionamento que às vezes bagunça as coisas um pouco e foi o que bagunçou agora. – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu estou escutando. – Ela disse com sua completa atenção virado para mim.
- Eu... Em 2005, eu me envolvi com a da contabilidade. – Ela riu fracamente.
- Isso explica tanto... – Ela disse, suspirando.
- Nós terminamos pouco antes do Mondiale 2006, antes de mim e você nos encontrarmos de novo... – Suspirei. – Mas as coisas acabaram um tanto incertas que até hoje ficam um pouco bagunçadas para mim. – Engoli em seco e ela assentiu com a cabeça.
- Eu não vou te julgar, Gigi, mas eu preciso saber... – Ela suspirou. – Como isso me afeta.
- É melhor se eu falar desde o começo...
- Talvez vai te ajudar. – Ela disse, segurando minha mão em cima da mesa e eu suspirei, relaxando os ombros devagar.
- Começou no meio de 2005, pouco antes de mim e você nos conhecermos, eu estava com depressão... – Pressionei os lábios. – Eu e você nos conhecemos quando eu estava aqui me recuperando da lesão, mas, quando eu voltei para Turim, nos encontramos e já trocávamos alguns olhares há um tempo e acabou rolando. – Suspirei, olhando para ela. – Tudo acabou seis meses depois com o fim do Calciopoli, mas eu achava que era por causa disso, mas não foi, não de verdade. – Ela suspirou. – Ela me viu com você na final do Mondiale daquele ano. – Engoli em seco. – Ela ficou brava comigo, eu fiquei bravo com ela, eu e você acabamos nos encontrando e nosso relacionamento começou a andar... – Franzi os lábios.
“Nós dois começamos um relacionamento, as coisas foram andando, mas acho que, por trabalhar juntos, sempre acabamos nos aproximando de alguma forma. Nunca tivemos nada depois que acabamos, mas é inevitável eu pensar sobre o passado, principalmente agora que eu descobri sobre essa informação sobre ela estar lá naquele dia. Eu não sabia até pouco tempo atrás”
- Por isso que você estava estranho. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Sim... – Suspirei. – Isso me bagunçou um pouco.
- Pela sua relação com ela, eu imaginava que algo tinha acontecido, mas nunca tive motivos reais para duvidar, só parece que vocês têm uma boa sintonia. – Assenti com a cabeça. – Eu agradeço por me contar, Gigi, mas eu não sei o que posso fazer por você. Eu te amo, apesar de tudo, estamos juntos há quase cinco anos, temos uma família, não posso decidir por você. – Suspirei.
- Me ajude a lembrar. – Falei suspirando. – De nós, de tudo... – Apertei sua mão e ela confirmou com a cabeça. – Só esteja aqui comigo... Eu sei que é pedir demais, mas...
- Não é. – Ela falou. – Somos um casal, fazemos essas coisas... – Assenti com a cabeça.

Lei
31 de março de 2011

- E agora vamos chamar Giulioca para falar sobre as novidades do esporte. – O apresentador falou.
- Isso não vai dar certo! – A mulher cantarolou.
- Nunca dá, mas vamos lá. – Ele falou com um sorriso sarcástico, me fazendo rir e, em seguida, a vinheta do quadro de Giulia começou a tocar com suas caras e bocas de sempre e me ajeitei no sofá para prestar atenção.
- Buona notte, buona sera ou buongiorno para você que nos acompanha de todos as partes do mundo. – Ela começou falando rápido como sempre fazia. – Ou só da Itália e se esqueceu que hoje ainda é sexta-feira e que PRECISA TRABALHAR! – Ela gritou e a câmera se aproximou de seu rosto. – Enfim, vamos falar de coisa boa, não?! – Ela jogou os óculos esbugalhados que usava para trás e ajeitou a gravata antes de apoiar os braços na mesa.
- Hoje tivemos Derby della Madonnina e o Milan meteu sem dó 3x0 em cima dos seus parceiros de Milão! – Ela sorriu. – Mas quem se importa, não é mesmo? Beh, talvez a Internazionale que cai para o terceiro lugar na tabela, enquanto o Milan caminha feliz pelo primeiro lugar! – Ela inclinou o corpo na poltrona.
- Domingo, a Velha Senhora se encontra com a Roma em confronto direto para tentar fugir do sétimo lugar, mas depende dos resultados da Lazio contra o Napoli no mesmo dia. – A câmera se aproximou dela novamente. – Sem resultados expressivos desde a relegação, parece que o azar está rondando Turim. – Ela se levantou apressada e a câmera a acompanhou. – Falando em azar em Turim, o Torino continua no meio da tabela da Série B e não tem mais chances de subir já que Atalanta, Siena e Noara possuem 20 pontos de distância deles... – A câmera aproximou novamente. – É, pai, não vai ser esse ano. – Abri um sorriso.
- Coitado do Fabrizio. – Neguei com a cabeça, rindo fracamente.
- Agora, às notícias da nossa querida, Azzurra! – Ela se aproximou de um quadro com o mapa da Itália. – Nosso goleirão, Gianluigi Buffon, alto, bonito, esbelto, lindos olhos azuis, campeão do mundo, dois scudetti, ou quatro para quem não concorda com a relegação... – Ela respirou fundo. – Fui bem, não fui? – Ela apontou para a câmera olhando para alguém que estivesse atrás dela. – Faltou algo? Não? Então, vamos lá! – Ela falou, animada. – Nosso goleirão, foi nomeado como o melhor... – A câmera se aproximou. – Repito, melhor goleiro da primeira década do século 21 pela IFFF... – Ela travou. – Quantos “Fs” são? – Ela sorriu. – Pela IFFHS, a Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol... Ou, como eu gosto de dizer, alguém importante! – Ela fingiu recuperar o fôlego. – Demais, não? – Ela sorriu.
- Demais mesmo, Giulia. – Suspirei, pressionando os lábios um no outro, negando com a cabeça.
- Acho que está bom por hoje, é com você de volta, Matteo. – Ela fez sua clássica jogada no sofá, colocando os pés em cima dele e acenou para a tela.
- Giulioca, Giulioca. Se comportou hoje, hein?! – O apresentador falou e Giulia apareceu no outro estúdio, se sentando em uma ponta da bancada.
- Ah, sem grandes novidades hoje. – Ela piscou, sorrindo em seguida.
- É só isso por hoje. – Matteo falou. – Espero que vocês tenham gostado do programa, não se esqueçam de acompanhar as novidades em nosso site. Eu sou Matteo.
- Eu sou Simona.
- E eu sou Giulia.
- E você assistiu ao Le Iene. – Eles falaram juntos, me fazendo sorrir e a imagem pretejou como se alguém tivesse desligado a TV.
- Muito bom, amiga! – Sorri, pegando o celular escondido nos cantos do sofá e abri minha conversa com Giulia.
“Vi seu programa hoje, amiga, só achei que você apareceu pouco. Adoro sua ironia para falar do Gigi, parece que nada muda”. – Enviei, desviando o rosto para a TV onde começava o Chiambretti Night, um programa de auditório e entrevistas.
- Ah, não tenho paciência para você. – Joguei as pernas para o lado, suspirando. Ouvi o celular apitar de novo e peguei-o.
“Obrigada, amiga. Confesso que odeio falar dele, tenho medo de falar alguma coisa errada!” - Sorri, negando com a cabeça.
- E hoje no Chiambretti Night... – Virei o rosto para a televisão, vendo o apresentador do programa. – Uma visita mais que especial para falar do casamento do ano...
- Até parece que isso é superinteressante. – Falei, sarcástica, olhando para o celular por alguns segundos.
- Gianluigi Buffon e Alena Seredova! – Virei com pressa para a TV, prendendo a respiração por alguns segundos, vendo ambos entrarem no estúdio de mãos dadas e me ajeitei no sofá para prestar mais atenção.
- Benvenutti, benvenutti, ragazzi! – O apresentador falou, direcionando ambos para duas poltronas separadas. – É um prazer recebê-los aqui.
- O prazer é nosso. – Alena falou, sorrindo.
- Então, fiquei sabendo que os pombinhos têm uma notícia para nos dar hoje? – Ele falou em uma falsa empolgação.
- É, viemos compartilhar com vocês algumas informações do nosso casamento. – Alena falou, sorrindo e tentei ler o sorriso nos lábios de Gigi, se era de empolgação ou falso.
- Conte-me mais. – Piero falava como se estivesse descoberto a cura para o câncer.
- Vamos nos casar na primeira quinzena de junho, em Praga, cidade da Lena. – Gigi falou, dando um sorriso para ela.
- Sem data ainda?
- Estamos vendo nossos compromissos ainda, muita coisa está acontecendo. – Alena falou. – Mas temos três dias em vista.
- E como será o grande dia? – Ele virou para Gigi.
- Optamos pela Basílica de São Pedro e São Paulo que fez parte da infância de Lena, serão convidados vários colegas próximos...
- Jogadores?
- Sim, vários jogadores na Juventus e da Nazionale, meus técnicos, pessoas que estão conosco durante todos esses anos de relacionamento. – Gigi disse, sorrindo.
- E a festa? – Ele perguntou.
- Teremos uma recepção em Praga, logo após a cerimônia. – Alena disse, sorrindo. – Depois outra em Forte dei Marmi, dois dias depois, para comemorarmos aqui na Itália.
- E a lua de mel? Qual destino escolheram? – Ele perguntou, curioso, me sentia vendo um programa de fofocas e eu não conseguia desligar a televisão.
- Grécia. – Gigi falou. – Alena é apaixonada por lá e será um bom lugar para aproveitarmos juntos.
- Agora, me conte, como foi o pedido? – Ele perguntou.
- Ah, foi muito romântico. – Ambos deram as mãos. – Gigi preparou por meses de antecedência.
- Eu queria fazer algo importante para ela. – Ele disse e eu reconhecia aquele tom, falsidade. – Foi após a ceia de Natal em dezembro, na casa da família dela, com seus pais e sua irmã presentes, além dos nossos meninos. – Ela sorriu.
- Que mentira! – Falei, gargalhando sarcasticamente sozinha.
- Ele ficou de joelhos e pediu. – Ela sorriu.
- E você disse sim? Rapidamente?
- Ah, eu fingi pensar um pouco. – Ela sorriu. – Mas ele é o homem da minha vida, não podia dizer outra coisa. – A plateia aplaudiu empolgada com a mentira deslavada de todas. Até eu sabia que ele havia pedido no dia do nascimento do David.
- E o que você espera desse casamento? O que te motivou a aceitar?
- Hum... – Ela fingiu pensar. – Primeiro porque temos dois filhos. – Ela sorriu. – Depois que eu não gosto muito do meu sobrenome e pensava em mudar e, terceiro, que eu finalmente terei meus documentos italianos. – A plateia gargalhou com a resposta e eu revirei os olhos, focou em Gigi e ele também ria.
- E você, Gigi? O que fez você se interessar por ela.
- Além de ela ser linda demais? – Gigi disse, rindo. – Ela é incrível. – Ele sorriu e eu revirei os olhos.
- Dio mio. – Suspirei.
- Agora, vamos falar um pouco de outro grande casamento seu? Com a Juventus? – Ele perguntou. – Como estão as coisas lá?
- Ah, está tudo bem, eu estou com 33 anos, sei que posso jogar em alto nível por mais quatro ou cinco e espero encerrar minha carreira com eles. – Ele sorriu. – Caso eles não queiram, eu vou embora. Há 10 anos eu valia 105 bilhões e acho que ainda sou um goleiro valioso.
- Infelizmente. – Falei devagar, suspirando.
- E os boatos de você ir para Roma? É verdade ou não?
- Que boatos, meu amigo? – Falei com a televisão. – Só se for no seu nariz.
- Não estou sabendo de nada, mas acredito que a chegada de uma pessoa importante como DiBenedetto pode ser boa para todo o movimento do futebol italiano. – Ele sorriu.
- E a chegada do Agnelli? Até parece. Depois dessa eu espero que ganhem no domingo. – Bufei.
- Beh, voltando a falar de vocês dois, o que... – Desliguei a televisão.
- Chega! – Suspirei, negando com a cabeça.
Franzi os olhos, apertando-os fortemente com a mão e eu sabia que não tinha mais lágrimas para chorar e, se tivesse, talvez ele não merecesse mais. Dois meses, dois meses haviam passado desde nossa última conversa, se é que você pode chamar aquilo de conversa, mas, depois daquilo, só tinha o silêncio, mas depois de hoje, nada mais precisava ser dito, pelo menos não para mim.
Acabou. Perdi a batalha, perdi a guerra.
Agora de verdade. Estava na hora de seguir em frente, nos afastar de verdade e deixar que a vida seguisse seu curso. Só esperava que parte dessa escolha não fosse por falta de amor, e sim porque não tinha como voltar atrás. Cinco anos é realmente bastante tempo, não tinha por que voltar atrás agora. Com dois filhos, então, pior ainda.
Eu só precisava falar isso para o meu coração. Eu sou diretora de contabilidade da Juventus, tenho uma carreira de sucesso nas mãos e um time para ajudar a crescer, eu não preciso dele na minha vida. Eu sei disso, meu cérebro sabe disso, agora meu coração precisava saber também.
Ouvi meu celular apitar e peguei-o jogado pelo sofá.
“Domingo tem jogo contra a Roma, você vem com o time? Podíamos sair para jantar, queria te ver depois de tudo”.
“Amiga? Já foi dormir?”
“Você dorme rápido demais, está louco”.
– Suspirei e comecei a digitar.
“Oi, amiga, fiquei distraída com o Chiambretti, Gigi e Alena falando do casamento ¬¬”. – Suspirei, enviando outra mensagem.
“Eu estou relacionada para ir, mas depois do que eu vi, acho que vou ficar, preciso arranjar formas de fazer esse time crescer, analisar alguns jogadores que Paratici me enviou e ver um possível novo treinador”.
Me levantei do sofá, desligando as luzes da sala e segui até o banheiro, fiz minhas necessidades, joguei uma água no rosto e segui para o quarto, fechando as portas quando passei. Puxei o lençol e me sentei na cama, fazendo uma rápida reza e me deitei. Eu precisava de uma cama maior e ou de uma casa melhor, esperava poder adquirir isso ao longo dos próximos anos com o novo salário. Balancei a cabeça com os devaneios e olhei o celular de novo.
“Eu sei que não é fácil fazer isso, mas esquece ele, amiga. Ele não te merece”. – Suspirei, vendo outra carregar logo em seguida.
“Foca no seu sucesso! É a única coisa que devemos nos preocupar: nós mesmas. Dorme bem, te amo”. – Sorri.
“Também te amo”. – Respondi de volta, conectei o celular no carregador e deixei-o de lado.
Não foi exatamente fácil dormir, era claro que não seria, eu era uma trouxa, apaixonada pelo mesmo cara há 10 anos e acompanhei sua vida nesses anos que terminamos de longe, e ainda assim não conseguia esquecê-lo. Só esperava que isso mudasse algum dia, parecia que eu estava anestesiada com tudo, era como se eu apanhasse frequentemente e não sentia mais nada, mas eu queria sentir, sentir tudo de novo, como eu sentia com ele.
Consegui dormir até o despertador tocar, mas parecia que eu tinha sido atropelada por um caminhão. Por um momento pensei em enrolar por aqui, mas lembrei que meus dias de estagiária ou de analista acabaram e eu ainda trabalhava de sábado. Joguei a coberta para o lado e segui para o banheiro.
Me arrumei como se fosse um dia normal, feliz pelo início da primavera, poderia reduzir nas roupas pesadas e abusar das minhas saias e vestidos até o joelho. Optei por uma saia preta e blusa branca, além dos saltos pretos nos pés e dei uma última olhada na minha mala pronta no canto do quarto e suspirei.
É, melhor não.
Saí de casa e em poucos minutos eu estava passando pelos portões de Vinovo. Respirei fundo quando eu vi o ônibus que nos levaria para o aeroporto estacionado em frente ao prédio do CT e desci o carro até lá, estacionando em uma vaga qualquer, já que o estacionamento só tinha o carro dos jogadores, equipe técnica e poucos funcionários que estavam ali para trabalhar mesmo.
Puxei minha bolsa, saindo do carro e ouvi os sapatos baterem contra o asfalto e vi os jogadores em uma meia-lua próximo do ônibus e encontrei Pavel e Paratici do outro lado, seguindo em sua direção.
- Buongiorno, ragazzi! – Falei para geral.
- Buongiorno, ! – Tanto os jogadores quanto Pavel e Paratici falaram, mas obviamente que a cantarolada dos jogadores foi mais alto, me fazendo rir.
- Cadê sua mala? – Pavel perguntou.
- Eu não vou hoje. – Falei baixo.
- Mudou de opinião? – Ele perguntou.
- É melhor. – Pressionei os lábios.
- Não é por causa daquele incidente no começo do ano, é?! – Ele sussurrou para mim e eu ri fracamente.
- Lascia, Pavel. – Suspirei. – Eu preciso de tempo, também não é como se eles conseguissem ganhar o scudetto. – Falei baixo. – Estamos isolados na tabela e não de um jeito bom.
- Eu sei, mas você precisa começar a nos acompanhar um pouco mais. – Ele disse igualmente baixo.
- Eu sei e eu vou, eu só preciso de um tempo. – Ele assentiu com a cabeça. – Vou tentar encontrar nossa nova equipe. – Ele sorriu.
- Isso seria bom! – Rimos juntos.
- Eu tenho que ver algumas coisas que o Paratici mandou também. – Suspirei. – Vai ser longo sábado.
- Buona fortuna. – Assenti com a cabeça.
- Buongiorno. – Virei o rosto quando reconheci a voz e vi Gigi parar do outro lado da meia lua, na minha direção.
Seu olhar veio para o meu rapidamente e encarei seus olhos azuis. Meu olhar travou por alguns segundos e engoli em seco, mordendo meu lábio inferior. Ele inclinou sua cabeça para frente em um rápido aceno e eu suspirei, retribuindo, dando um curto sorriso. Sustentei o olhar para algum tempo antes de virar para Pavel.
- Até segunda. – Falei.
- Até! – Ele disse, dando um rápido beijo em minha bochecha e dei meia volta, seguindo em direção ao prédio principal.
Era isso.
Esse é o ponto final.

Lui
23 de maio de 2011

Acordei como se uma bigorna tivesse caído na minha cabeça. Isso se eu tivesse dormido por algum momento. O resultado do jogo passado e todos os empates e derrotas dessa temporada rondavam minha cabeça e parecia que o número sete não sairia mais de nossas vidas. Sétimo lugar, sétimo lugar! Tivemos temporadas ruins, mas nada como essas últimas duas. Parece que o tal fantasma da relegação não era mentira e não queria ir embora.
O despertador ainda tocava e eu bati a mão nele para desligá-lo. Joguei as pernas para o lado e segui direto para o banho. Apesar do calor de maio, deixei que a água quente caísse em minha cabeça e deixasse as memórias de 38 rodadas para trás, inclusive a falta que eu fiz durante metade disso. Não que eu fosse a solução desses problemas, mas não ter ajudado, me fazia sentir culpado por tudo isso.
Voltei para o quarto, me secando e segui direto para o closet, não era dia de jogo, minhas férias já estavam começando, então não precisava de uniforme para chegar até lá. Coloquei jeans, camisa social e tênis e voltei para o banheiro para escovar os dentes e os cabelos, seguindo a passos rápidos para o primeiro andar e entrando na cozinha.
- Buongiorno. – Falei para minha noiva, meus filhos e Roberta.
- Ciao, Gigi. – Alena falou, sorrindo e me aproximei dela, dando um curto beijo em seus lábios, além de acariciar os cabelos de David que estava no cadeirão.
- Buongiorno, Roberta. – Falei para nossa ajudante que sorriu.
- Papai! – Louis esticou os braços e eu peguei-o no colo.
- Buongiorno, meu amor. – Estalei um beijo em sua bochecha gorducha e ele me abraçou fortemente.
- Giorno. – Ele falou, sorrindo.
- Vai sair? – Alena perguntou.
- Vou sim... – Suspirei, colocando Louis no chão novamente. – Tenho uma reunião com o time. – Me sentei à sua frente, enchendo meu copo com café.
- Hoje?
- O presidente nos chamou, ele quer falar do time, técnico, futuro, algo assim. – Abanei a cabeça, dando um gole no café.
- Só ele? – Ela me olhou por cima da revista que lia.
- Você não tem mais nada para se preocupar, Lena. – Falei, inclinando meu corpo sobre a mesa e dando um beijo em seus lábios, fazendo-a sorrir.
- Eu não digo isso por mim, eu digo...
- Por nós, eu sei. – Assenti com a cabeça.
Comi minhas frutas e meu carboidrato de sempre, além da xícara de café e ouvi a buzina de Alex, me fazendo agilizar meus movimentos. Me despedi de todos, recebendo o olhar significativo de Alena e segui até o lado de fora, cumprimentando Alex e ele seguiu em direção ao CT.
Eu entendia a posição de Alena, desde a nossa conversa, as coisas ficaram mais claras entre nós, mas parece que uma chave ligou e seu ciúme começou a ficar mais evidente, principalmente coisas que ligavam a parte administrativa do time, ou seja, que envolviam . Eu sei que não me esqueceria de tão fácil, já fazia 10 anos desde que a conheci e já senti esse quentinho no peito, mas eu estava tentando, me mantinha afastado, não puxava papo quando a via e nossa relação não passava de acenos de cabeça e cumprimentos silenciosos.
Mas ela é a diretora de contabilidade do time, uma top três, tem situações que eu simplesmente não tinha como fugir. Só fiquei grato pela compreensão dela, depois do show que eu fiz em sua sala, ela tinha todo direito de voar na minha jugular, mas era a , afinal. Não deveria me surpreender em como ela saía por cima de todas as situações possíveis, nem que isso a quebrasse por dentro. Algo que eu não tinha capacidade ou graça para fazer isso. Ela era delicada, eu era turbulento.
- Sabe do que se trata? – Perguntei quando chegamos ao CT.
- Eu conversei rapidamente com a após o jogo e ela disse que ela Beppe e Paratici fizeram algumas decisões e eles querem limpar o time, eles nos chamaram aqui para pedir algumas sugestões. – Ele disse, trancando o carro. – O Agnelli já deixou claro que ele quer pessoas úteis aqui dentro, se não está fazendo seu trabalho direito, cai fora. – Alex falou.
- Espero que não estejamos nesse corte. – Brinquei e ele riu fracamente.
- Espero que seja uma reunião pacífica, não uma execução. – Alex sorriu. – Ali o Chiello. – Ele disse, apontando para o outro carro entrando no CT.
- Vamos lá. – Falei, me aproximando dele.
Nos cumprimentamos e seguimos para dentro do prédio administrativo. Era segunda-feira, para nós podia ser férias já, mas quase todas as vagas da parte de cima do CT estavam ocupadas. Entramos no prédio e seguimos até o andar da sala de reuniões. Quando o elevador abriu, pudemos ouvir as vozes dos outros participantes, ao sair dele, vimos que só estavam o top cinco. , como sempre, se destacou no meio dos homens. A saia amarela até os joelhos, a camisa regata preta e as pernas cruzadas deixavam os saltos pretos em evidência.
- Ah, eles chegaram! – Paratici falou nos cumprimentando e Pavel foi o único que realmente deu um abraço em todos nós, deu um rápido aceno de mão em nossa direção.
- Acho que podemos começar, então. – Ela falou, se levantando.
- Só vem a gente? – Alex perguntou.
- Só pessoas que podemos confiar. – Agnelli falou e ele seguiu na frente, esperamos que o top cinco saísse na frente e fomos atrás.
Eles se sentaram na ponta da mesa na sala de reuniões formando uma meia lua em suas declaradas posições hierárquicas. Agnelli na ponta, Pavel à sua direita, à esquerda, Beppe ao lado de Pavel e Fabio ao lado de , todos devidamente organizados. Eu me sentei ao lado de Beppe e Alex e Chiello ocuparam os lugares nessa respectiva ordem ao lado de Fabio.
- Primeiro de tudo, acho importante dizer que isso tudo é um tanto estranho para nós. – Alex falou. – Por que só nós fomos chamados?
- O time precisa passar por uma grande reformulação, Del Piero, não podemos deixar que isso se arraste mais um dia, quiçá outra temporada. – Agnelli falou. – Nós conversamos durante essas últimas 10 semanas e nós decidimos muitas coisas. E, como vocês são os capitães e vice-capitães do time, achamos que seria importante vocês terem informação privilegiada para o ano que vem.
- E nos ajudarem nessa nova etapa. – falou. – Não vai ser bonita e talvez tenha bastantes efeitos colaterais.
- Isso quer dizer... – Perguntei.
- Vamos vender muita gente. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Algum de vocês pensa em deixar o time para a próxima temporada? – Neguei com a cabeça e Chiello o mesmo.
- Alex? - Pavel perguntou.
- Eu estava pensando. – Ele foi honesto. – Mas, depois dessa apresentação, acho que posso esperar mais uma temporada.
- Não se atreva em sair daqui sem uma comemoração igual do Pavel. – falou, sorrindo para ele. – E no estádio novo.
- Vai ficar pronto? – Alex perguntou, apressado.
- Vai sim, está nos retoques finais. – Agnelli falou, sorrindo para . – Teremos uma grande inauguração antes do começo da temporada.
- É logo ali. – Giorgio falou.
- É sim. – sorriu.
- Nunca fui para lá depois de tudo. – Comentei.
- Nem eu. – disse.
- Ela está guardando a sete chaves. – Pavel disse, fazendo-a rir.
- Por que eu quero ver um estádio subindo sendo que eu possa ver tudo pronto? – Ela deu de ombros, fazendo-o rir.
- Mas sim, Alex, será um prazer poder finalizar contigo ano que vem na nossa nova casa. – Agnelli falou. – Talvez até com um scudetto em nossa casa se as nossas mudanças derem certo. – Ele suspirou.
- Vocês estão confiantes. – Chiello falou.
- Muito. – Paratici disse.
- Ok, vamos lá! – Alex disse. – Onde começamos?
- Jogadores. – Paratici disse.
- Beppe, Paratici e fizeram uma lista de jogadores que não se encaixam no time e não se encaixam nos planos para o ano que vem, e nós sugerimos também quem é interessante manter e quem deve ser vendido. – Agnelli falou. – E depois eles fizeram cálculos de lucro com essa venda e sugeriram pessoas que podemos comprar ou emprestar para o ano que vem. Fabio. – Ele indicou para que ele falasse.
- Em termos de goleiros, estamos bem, vamos manter você, o Manninger e o Storari, apesar da faixa etária acima dos 30, nos sentimos confortáveis com isso. – Ele disse. – Com a vinda do Claudio Filippi, estamos vendo uma melhor constância entre vocês. – Assenti com a cabeça.
- Sim, ele mudou bastante a forma de ver o jogo e os treinamentos. – Falei.
- Mas vamos vender o Costantino.
- Tem tido interesse por parte do Latina e do SPAL, transações em andamento já. – disse. – Defensores... – Ela olhou para Fabio.
- Nós vamos ficar com você... – Ele virou para Chiellini. – Grosso, Barzagli, De Ceglie e Bonucci. – Ele falou, lendo os nomes em uma lista.
- Traoré, Rinaudo, Camilleri e Sørensenon vão voltar para os seus devidos empréstimos e Ferrero para o Primavera até segunda ordem. – falou.
- Intenções de compra? – Alex perguntou.
- Eu vou tentar trazer o Cáceres de volta, ele está no Sevilla agora, eles são um tanto chatos para transações. – Ela disse, suspirando. – E vou roubar o Lichtsteiner da Lazio. – Ela deu um sorriso com os lábios pressionados, fazendo a mesa soltar risinhos.
- Vocês querem reduzir o time. – Comentei.
- Por que ter uma equipe gigantesca se o técnico só usa metade? – Agnelli falou e o top cinco assentiu com a cabeça.
- Podemos investir mais em menos pessoas e garantir uma posição consolidada com os que vierem. – falou, suspirando.
- O Lichtsteiner é muito bom. – Chiello falou.
- Ele para a gente com muita facilidade. – Alex disse.
- O que acham das saídas? – perguntou.
- Ninguém teve uma relevância impactante. – Falei e ela ergueu o rosto para mim. – Se teve alguma aparição nos jogos. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Meio de campo, Fabio. – Ela disse, desviando o olhar.
- A começar que vamos devolver os cinco jogadores da Primavera que o Delneri chamou. – Ele disse. – Giandonato, Boniperti, Silvestro, Corticchia e Liviero. – Ele virou a folha. – Aquilani vai voltar para o Liverpool de empréstimo, Büchel também para o Siena. Gostamos do Spinazzola, mas 18 anos, não temos como investir tanto nele assim, então volta para o Siena também. – Ele disse. – Martínez fora, Sissoko fora, Melo fora...
- Aí sim! – Falamos juntos, fazendo-os rir.
- Ele não combina com nosso time. – disse, suspirando.
- Se formos ver bem, vai sobrar o Marchisio, o Krasić e a vai comprar o Pepe.
- Depois daquele gol de falta dele contra a Fioretina, ele merece. – Ela disse e ambos sorriram juntos.
- Vocês vão manter três meias só? – Perguntei.
- Relaxa, Gigi. Temos outros em vista. – Pavel falou.
- A começar por Andrea Pirlo. – falou, sorrindo. – O contrato dele com o Milan está no final e não querem renovar... – Ela deu de ombros. – Algo sobre a idade e sei lá o quê. Já fiz a oferta, ele é nosso. – Ela sorriu. – Vamos fazer uma oferta também para o chileno Arturo Vidal, Fabio foi para Leverkusen e gostou do que viu.
- Sim, a Internazionale estava de olho nele, mas eles não podem oferecer o que podemos. – Ele disse.
- Estou de olho no Simone Padoin da Atalanta, eles acabaram de subir da Série B, então não deve ser tão difícil, e Emanuele Chiaccherini do Cesena, Cesena não jogava a Série A depois de 19 anos, não acho que teremos problemas também. – Ela disse. – Fabio está de olho no Eljero Elia, holandês que joga no Hamburg da Alemanha e no Estigarribia, paraguaio que está no Deportivo Maldonado. – Ela disse, repassando a folha.
- Tirando os que jogam na Itália, todos são nomes desconhecidos para mim. – Alex falou.
- Trazer jogadores para a Itália é mais difícil, por isso que a preferência é sempre para quem já está aqui. – falou. – Mas se já jogam na Europa, encurta um pouco o caminho, mas não é garantia.
- Precisamos encurtar esse caminho, nossa temporada recomeça dia 15 de julho, temos muito trabalho até lá. – Beppe falou.
- Vamos lá. – Agnelli falou.
- Atacantes. – sorriu.
- Fora: Iaquinta, Libertazzi e Giannetti. – Ele falou. – Del Piero sim, Alessandro Matri sim, vai comprar o Quagliarella depois do ótimo ano como empréstimo. – Ele disse.
- E o Toni? – Alex perguntou.
- Ele é uma incógnita, na verdade. – falou. – Ele tem umas ofertas, mas disse que não vai decidir agora, então vai ficar, por enquanto. O nome dele é mais do que gastamos em salário, não é algo que precisamos nos preocupar. – Ela deu de ombros.
- Vocês estão tirando metade da minha equipe de ataque, preciso de mais nomes. – Alex falou.
- Só dois: Mirko Vučinić da Roma e vamos emprestar o Marco Borriello junto por uma temporada para ver o que acontece. – Ela sorriu para Alex.
- É isso? – Perguntei.
- É isso. – Ela disse, suspirando. – Na verdade, estamos falando de pessoas do elenco, tenho mais 30 transações de saída, empréstimos e afins para fazer e outras seis de jogadores que vão voltar, mas serão repassados logos depois. – Ela esticou a folha para Agnelli.
- Quantas pessoas sobraram? – Chiellini perguntou.
- 26, contando o Toni. – disse.
- Dio! – Falei, deslizando o corpo na cadeira.
- É bem enxuto. – Alex falou.
- Beh, Giorgio sempre me dizia que um time enxuto era melhor do que muitos jogadores aleatórios, vamos ver se ele tinha razão. – falou. – Eu acho que com menos jogadores podemos investir em outros departamentos. E, se um jogador não corresponder com as expectativas nem nossas e nem do clube, opção é o que não falta.
- Você age como se fosse fácil. – Comentei.
- Fácil não é, tem sempre o fator emocional por trás. – Ela disse. – Vocês sabem como é difícil dar adeus para os que são nossos amigos, e é por isso que o contrato é feito antes da pessoa entrar no time. – Ri fracamente.
- E com o estádio novo, a pressão vai ser muito maior. – Agnelli falou. – As pessoas virão atrás de resultados, os acionistas, o conselho, tudo vai cair em cima de nós. Seremos muito mais vistos e precisamos de resultados.
- Sei que vocês nunca gostam dessa cobrança gratuita, mas hoje eu posso garantir que não é. – disse. – Tendo acesso a números que eu nunca tive, eu posso dizer que precisamos voltar a ganhar, e sim, isso interfere muito no dinheiro que entra com isso. – Seu olhar passou pelo meu e eu assenti com a cabeça.
- Ok, vocês fizeram a limpa, mas faltou uma coisa. – Alex disse.
- O técnico. – Pavel falou e Alex assentiu com a cabeça.
- Fabio e resolveram isso ontem, eu e Pavel vamos conversar com ele assim que essa reunião acabar. – Agnelli falou.
- Quem? – Perguntei.
- Antes de dizer quem é, acho importante dizer que optamos por alguém de dentro. – disse. – Alguém que conheça nossas cores, conhece o stilo Juve, sabe dançar conforme nossa música e, é claro, possa realmente nos representar. – Ela disse.
- Alguém que seja juventino de coração. – Fabio falou.
- Quem? – Eu, Alex e Chiello perguntamos juntos e todos viramos para .
- Vocês se lembram de Antonio Conte? – Ela sorriu, fazendo um riso escapar de seus lábios.
- Você está brincando. – Alex falou.
- Não mesmo. – Ela sorriu. – Desde que ele saiu daqui, ele tem passeado por vários times da Série B e ajudou o Bari e o Siena a subir para Série A, tem sido cotado como um potencial substituto desde Ranieri, por que não? – Ela deu de ombros. – Acredite, não acho que conseguimos ficar pior do que já estamos e o Conte tem aquela energia juventina, ele não vai ter medo de puxar algumas orelhas, principalmente quando ele só tem a ganhar com isso.
- É...
- Genial. – Falei, suspirando.
- Ele não é novo para isso? – Alex perguntou.
- 40 anos. – Agnelli disse.
- Com essa mesa aqui, você acha que estamos buscando conhecimento ou vontade de vencer? – Pavel perguntou. – Os mais jovens são os que tem mais vontade de mostrar para o que vieram.
- E precisamos de alguém que realmente represente o time na borda do campo, não que fique só fazendo anotações. – Fabio disse.
- Cazzo! – Alex disse, rindo.
- É uma completa reformulação. – Falei.
- Com-ple-ta. – falou pausadamente. – Beh, precisa combinar com o novo estádio. – Ela sorriu.
- Precisamos de vocês dispostos, ragazzi. – Agnelli falou. – Para mudanças, para renovações, para dar a cara a tapa se for necessário. – Ele nos entreolhou.
- Nova temporada, nova década, novo tudo. – disse. – Podemos não ganhar no primeiro ano, mas precisamos pelo menos competir.
- Você que manda, chefa. – Giorgio falou, fazendo piscar para ele. – Vocês que mandam. – Ele olhou para o resto da mesa.
- Beh, temos bastante coisa para fazer. – Agnelli disse.
- A começar com vocês dois. – disse, apontando para ele e Pavel.
- Vamos para Siena e damos a resposta o mais rápido possível. – O presidente e o vice se levantaram, nos fazendo ir junto.
- Eu tenho algumas ligações para fazer. – Fabio disse e ele e Beppe se entreolharam.
- E eu tenho que demitir um pessoal. – disse, rindo.
- A melhor parte. – Falei.
- Ah, fala, vocês queriam demitir o Melo, vai. – Ela brincou, sorrindo.
- Quem nunca? – Demos de ombros.
- Grazie per venire, ragazzi. – Agnelli falou. – Esperamos que gostem das mudanças e que consigamos fazer isso funcionar. – Ele suspirou.
- Boa sorte nos compromissos internacionais, boas férias, bom descanso, espero vocês em julho. – Paratici disse.
- Pode deixar. – Chiello disse e todos nos levantamos rapidamente.
- Bom vê-los. – Agnelli e Pavel nos cumprimentaram e foram os primeiros a sair da sala.
- ... – Alex a chamou antes que ela seguisse seu caminho e ela cumprimentou Fabio e Beppe que saíram da sala e juntou a papelada na mesa enquanto isso.
- Diga. – Ela disse, se virando para nós.
- O que está acontecendo? – Alex falou, rindo. – Eu estou perdido, confesso.
- A Juventus precisa começar a agir como o time grande que é. – Ela falou. – Não tem como fazer isso sem sacrifícios. – Ela suspirou.
- Mas é loucura. – Alex riu fracamente.
- Talvez estamos precisando de um pouco de loucura. – Ela deu de ombros. – Vamos dizer que o time precisa erguer de patamar, ganhar mais dinheiro, conseguir patrocinadores, se manter em alta, e não podemos fazer isso sem uma equipe que realmente queira jogar aqui. – Ela deu de ombros. – Vai valer à pena.
- Vai sim. – Ele disse, fazendo-a sorrir.
- Beh, eu adoraria ficar para um café, mas eu tenho uma reunião às 10 horas, não preparei nada ainda e boa parte da minha equipe está de férias. – Ela riu fracamente. – Bom ver vocês.
- Você também. – Falamos quase juntos e ela seguiu até a porta da sala de reuniões.
- Ah, Gigi... – Ela se virou e ergui o rosto para si. – Felicidades. – Ela deu um pequeno sorriso, pressionando os lábios com o feito.
- ! – A chamei antes de ela se virar novamente. – Eu queria falar com você, mas...
- Acho que não precisamos dizer mais nada. – Ela falou. – Já não basta o que houve da última vez. – Ela riu fracamente. – Eu entendo, mesmo. O tempo passou e a vida mudou, não tem nada que possamos fazer para voltar atrás, então, por que tentar? – Ela deu um pequeno sorriso. – A gente se vê por aí. – Ela disse antes de seguir para fora da sala.
Acompanhei seu andar pelas paredes de vidro antes de ela sumir pelo corredor do elevador e seus saltos funcionavam como uma trilha sonora que só me fazia suspirar, relaxei meus ombros para baixo e neguei com a cabeça com sua pergunta rondando a minha cabeça “por que tentar?” e eu só conseguia pensar em “para ser feliz”, mas não podia abandonar minhas responsabilidades.
- Pesado, cara! – Alex falou.
- É melhor desse jeito. – Suspirei.
- Tem certeza disso, cara? – Virei para Alex.
- Não. – Ri fracamente. – Mas não posso abandonar minha família. – Suspirei.
- Espero que esteja fazendo a coisa certa, cara. – Ele disse e eu ri fracamente.
- Eu me pergunto isso faz anos e eu ainda não sei a resposta. – Rimos juntos. – Vamos embora, eu tenho que resolver várias coisas do casamento antes de encontrar a Nazionale no fim de semana.
- Vamos... – Ele falou sem ânimo e fui o primeiro a sair da sala de reuniões.



Capitolo veintisei

Estate 2011
Lei
Cinco de junho de 2011

Entrei em Vinovo, rindo fracamente com o estacionamento quase vazio do meio do ano e era tão estranho vir para cá antes da hora. Fazia duas semanas do fim da temporada e a maioria do pessoal já tinha tirado férias. Eu não, não mais. Pelo menos não agora e não pelo mesmo tempo que eu tinha antigamente. Claro que eu teria uns dias de folga, mas tinha que resolver algumas coisas antes de eu aproveitar meus... 15 dias? 20? Não lembro, mas o telefone ficaria comigo a todo momento e, se ele tocasse, eu precisava atender.
Vantagens e desvantagens do sucesso. Por enquanto eu estava vendo de uma forma boa, o salário era sensacional, me dava a possibilidade de fazer mais planos de que eu jamais imaginei na vida e ainda era uma ótima distração de tudo o que estava acontecendo na minha vida pessoal. Na verdade, a situação certa era “que vida pessoal?” pois a real não me agradava muito.
Aquela ridícula bagunça no começo do ano só serviu para quê? Trazer um turbilhão de emoções de novo, aquela confusão toda que já tinha ido embora há muito tempo, aquele quentinho no coração de tudo o que havia sido bom, só para receber um sorriso de lado novamente e uma cara de “sinto muito, não posso fazer isso agora”.
Podia chamá-lo de covarde, xingá-lo de todos os nomes possíveis por me fazer lembrar de tudo o que já passamos, bons e maus momentos, e desistir, mas eu sabia que ele havia feito a melhor coisa, pelo menos para ele e sua família, não para mim ou para nós, mas faz parte. Agora era tarde, eu errei, confesso, agora precisava me colocar em pé novamente, respirar fundo e me reerguer, como eu sempre fazia.
Abanei os pensamentos na minha cabeça quando um vento passou por mim e segui até a entrada do administrativo. Meus saltos ecoavam alto pelo prédio devido ao silêncio entre eles e não foi preciso esperar pelo elevador. Cheguei no meu andar, seguindo em direção à antessala e ri fracamente ao encontrar Sara e Luca em seus respectivos computadores.
- Então, vocês perderam a aposta? – Brinquei, vendo-os erguerem a cabeça.
- Buongiorno, chefa! – Eles falaram, rindo.
- Come state? – Perguntei, me aproximando da mesa de ambos e apoiando o quadril na mesa de Luca.
- Tudo bem, sem grandes novidades. – Ele falou.
- Só checando as últimas planilhas mesmo para enviar para o administrativo. – Sara deu de ombros.
- Muita coisa? – Perguntei.
- O de sempre. – Ela deu de ombros. – Só colocando o repasse da Federazione.
- O grande repasse de sétimo lugar. – Arqueei os olhos e ela riu fracamente. – Eu tenho uma reunião com o novo treinador logo mais, depois eu tenho algumas ligações para fazer. – Suspirei. – Aprendam algo que nunca me disseram antes: quando você quer se livrar de um jogador por não ter uma imagem boa no time, não vai ser fácil porque ele provavelmente não tem essa imagem boa em nenhum time. – Falei, dramatizando com as mãos e eles riram.
- Problemas com o Melo? – Luca perguntou.
- Nem fala. – Suspirei. – Alguma novidade para mim?
- O pessoal do administrativo deixou alguns pacotes na sua sala. – Sara falou.
- Eba! Dia de correio. – Falei, empolgada. – Ou é coisa boa, ou é bomba. Eu voto na segunda opção. – Me desencostei da mesa de Luca e peguei minha bolsa. – Se precisarem de algo, só me chamar. – Falei e eles assentiram com a cabeça.
Segui até minha sala, fechando a porta quando entrei e vi a pilha de coisas em cima da minha mesa, me fazendo suspirar. Fui até a janela, abrindo a persiana e dei um pequeno sorriso ao ver o gramado vazio lá embaixo, somente com os sprinklers jogando água.
Me sentei na poltrona vendo alguns arquivos grandes que eram os históricos dos jogadores que eu estava tentando vender, um embrulho maior e alguns envelopes de cartas. Comecei pelo embrulho maior, eu estava curiosa por ele, não tinha pedido nada e ele parecia uma caixa enorme, algo como um metro de largura e 50 centímetros de altura. Medi seu peso e não era tão pesada assim.
Rasguei o papel que embrulhava a caixa e arregalei os olhos ao ver uma caixa preta com detalhes em dourado e o logo da marca Versace na tampa. Prendi a respiração por um momento e fui checar o papel rasgado no embrulho e estava endereçado a mim, vindo de Milão, casa da Versace.
Engoli em seco, sentindo as mãos tremerem um pouco e abri a caixa com cuidado, retirando a tampa e vi um papel de seda cobrindo o que é que estivesse embaixo e um papel com uma escrita à mão:
“Para mulheres como nós que não se contentam com pouco, não se cansam de buscar o que querem e insistem em dizer que sim, podemos nos envolver no mundo dos homens.
Conte conosco, Antonella Versace”.
Coloquei as mãos na boca com pressa, pois o grito saiu no mesmo instante que eu li o nome. Dio mio, Antonella Versace sabe quem eu sou. Eu, , uma Zé Ninguém que veio de lugar algum, ela sabia quem eu era. Cazzo! Era incrível demais!
Deixei o bilhete de lado, já que eu faria questão de guardá-lo pelo resto da minha vida e tirei o papel de seda que cobria a caixa e soltei um suspiro ao encontrar duas bolsas. Uma bolsa tote de couro preta com alça dupla e com a assinatura de Gianni Versace atravessado na diagonal. A outra era uma clutch de couro branca com o V da marca em dourado e alça de corrente da mesma marca.
- Dio mio! Isso é lindo!
Tirei ambas com cuidado da caixa, com medo de sujar ou algo assim e vi que o papelão do fundo tinha espaço para o dedo. Puxei-o, vendo que era um fundo removível e foi aí que eu quase desmaiei sozinha naquela sala.
Embaixo tinha quatro pares de sapatos de dois modelos diferentes, ambos scarpins com saltos bem altos e finos. Um modelo era de veludo liso, com a sola de floral amarela e tipo um broche na parte de trás, próximo ao calcanhar. Um era completamente branco e outro completamente preto. Já o segundo modelo era similar à bolsa tote, com a assinatura de Gianni Versace diversas vezes pelo sapato. Um possuía a cor preta e a assinatura em branco e o outro as cores eram trocadas.
Soltei um suspiro, sentindo meu corpo relaxar na cadeira e deixei que um pequeno sorriso aparecesse em meus lábios. Acho que nunca na vida eu imaginava ganhar algo assim, ser reconhecida assim, tudo isso por causa da minha posição. Dio mio! Peguei o bilhete de novo, dando outra lida e virei-o, encontrando mais algumas palavras.
“Pela sua altura e seu biotipo, supomos que calce 39/40, se não der certo, só entrar em contato com nosso escritório em Milão que fazemos a troca para você”.
Ri fracamente, surpresa por eles terem acertado em cheio e me sentei na poltrona. Tirei os sapatos pretos que eu usava, comprados em uma loja simples do centro de Turim e sem marca definida e peguei os sapatos inteiramente pretos, calçando-os, vendo-os entrarem com facilidade em meus pés. Me levantei, sentindo-o em meus pés e notei a diferente de altura, eu deveria estar da altura de Gigi assim, e eu digo isso por ele ser bons 13 centímetros mais alto do que eu, era só uma comparação.
Suspirei contente e anotei em minha agenda para responder pelo presente, mas faria isso do modo antigo, com uma carta e oferecendo um presente para ela. Guardei tudo de volta na caixa, tomando cuidado com tudo e coloquei a caixa no sofá, precisando abrir espaço na mesa. Queria só ver como eu sairia dali com aquilo sem chamar muitas atenção.
Peguei o bilhete e fui até o quadro de fotos que eu tinha colocado na parede atrás do sofá, tinha poucas fotos ali ainda, fotos minhas com os jogadores, com meus colegas de trabalho, com Giorgio, Giulia e nossas famílias, tudo fotos que foram tirados nesses últimos 10 anos de time, inclusive a minha polaroid com Gigi. Achei que seria uma forma mais pessoal de fazer uma decoração. Encaixei o bilhete em um dos espaços vazios e voltei para a mesa onde meus pais tinham um lugar privilegiado.
Peguei as cartas, desta vez prestando atenção nos remetentes e franzi a testa ao ver Guendalina Buffon como uma das remetentes e abri, tirando um cartão postal. A foto era de uma casa enorme de dois andares, iluminada por um jogo de luzes incríveis e uma piscina no centro de tudo. O nome “Hotel Stella della Versilia” estava em destaque. Virei o cartão e vi uma caligrafia à mão.
Carina, .
Não se assuste pelo cartão, mas achei que gostaria de saber que eu, Veronica e Gigi abrimos um hotel em Forte dei Marmi na antiga casa de veraneio de nossos pais. Sei que o clima entre vocês não é dos melhores, mas aqui talvez seja um bom lugar para relaxar agora que você é diretora de contabilidade. Parabéns, falando nisso. Você merece.
Ti aspetto para uma visita. Por conta da casa.
Um grande beijo, Guendy e Veronica”.
- Que amor. – Ri fracamente, sabendo para onde iria aquele cartão.
Pena que eu não poderia aproveitar o lindo local, pois era capaz de eu encontrar Gigi, já que tirávamos folgas sempre na mesma época. Responderia agradecendo pelo carinho, eu gostava da família do Gigi, eles eram ótimos. Com exceção dele, mas sempre alguém tem que sair da fila, não é mesmo? Me distraí de meus presentes quando ouvi dois toques na porta.
- Viene! – Falei, juntando rapidamente os outros envelopes.
- Buongiorno. – Vi Pavel entrar.
- Ei, Pavel. – Sorri, deixando de lado na mesa.
- Podemos entrar? – Ele indicou com a cabeça e eu me levantei, vendo Antonio Conte entrar na sala.
- Eu não acreditei quando me contaram! – Ele falou, animado, me fazendo rir. – Eu não acredito nisso! – Fui em sua direção, passando os braços pelos seus ombros e ele me abraçou fortemente. – Dio mio, ! Não consigo acreditar nisso. – Rimos juntos e trocamos dois beijos rápidos na bochecha. – Eu não saí por quanto tempo assim.
- Sete anos, se eu não estou enganada. – Falei, rindo fracamente.
- E você era estagiária ainda, agora você é a diretora da contabilidade? E o Pavel é vice-presidente? – Gargalhamos juntos.
- Eu já havia sido efetivada, mas é loucura mesmo, muita coisa aconteceu nesses anos todos. - Suspirei, abraçando-o de lado. – Que bom te ver. – Suspirei.
- Nem fala! – Ele suspirou. – Me permita dizer que você está linda! – Ele disse, me fazendo rir. – O tempo te fez bem.
- Não sei se te fez bem também... – Brinquei, vendo-o rir. – Mas é bom te ter de volta em casa.
- Beh, falaram que querem mudar a imagem do time? – Conte disse e indiquei as poltronas para ele e empurrei a caixa para o canto.
- Uh, Versace. – Pavel falou.
- Um pequeno presente. – Falei para ele. – Sim, Conte. – Me sentei no canto do sofá.
- E como vocês acham que eu sou a melhor escolha para isso? – Ele perguntou e eu dei de ombros.
- Por que não seria? – Devolvi a pergunta.
- Eu só treinei times da Série B, gente. Apesar da má fase, a Juventus é grande. – Ele disse.
- Beh, você fez um ótimo trabalho com times pequenos da Série B, imagino o que você faria com dinheiro e bons investimentos? – Perguntei, cruzando as pernas.
- Foi o que eu falei para ele. – Pavel disse.
- Além disso, poderíamos usar seu amor pela camisa, sua empolgação e sua experiência aqui dentro. – Falei. – Muita coisa mudou, mas você conhece o CT, conhece os espaços de treinamento, conhece alguns jogadores... – Dei de ombros. – Conhece 2/5 do administrativo. É quase perfeito.
- Por isso eu vim. – Ele riu fracamente. – É perfeito demais. – Sorri. – Fechar contrato contigo é perfeito demais. – Pisquei para ele, alargando o sorriso.
- Eles já te adiantaram as condições? – Perguntei.
- Já sim, busca completa por resultados, não é? – Ele perguntou.
- Sim! Contrato de um ano, se tivermos resultados positivos, voltamos a conversar. – Falei. – E com “positivos”, digo qualquer lugar cima do sétimo lugar. – Rimos juntos.
- Bom, quando a Velha Senhora chama, a gente não pode dizer não. – Ele sorriu.
- É assim que se fala. – Pavel disse e me levantei.
- Vou pegar os papéis. – Falei, seguindo até minha mesa.
- Então, quais as novidades? – Ele perguntou e peguei a pasta com os papéis, uma caneta e voltei para a sala.
- Além de ser a nova diretora de contabilidade do time? – Falei, franzindo a testa.
- Você sabe o que eu quero dizer. – Ele falou.
- Honestamente, não sei. – Falei.
- Você sabe. – Pavel falou, suspirando.
- Gigi? – Virei para Conte que sorria.
- É! – Ele apoiou a mão no encosto do sofá, virando o corpo em minha direção. – Não vai dizer que ainda estão naquele 0x0? – Ri fracamente.
- Não estamos. – Falei. – Mas já acabou também. – Suspirei.
- Como assim? – Ele falou, surpreso e eu suspirei.
- A história é longa. – Ri fracamente.
- Eles se envolveram, veio o Calciopoli, eles terminaram, aí ambos começaram a namorar outras pessoas e aí eu saí do time. – Pavel falou e eu revirei os olhos.
- É basicamente o que ele falou, a diferença é que eu estou solteira novamente e ele está casado ou quase casado e com dois filhos. – Falei e Conte abriu a boca. – Eu não tenho interesse em saber quando vai ser o casamento. – Disse firme.
- Eu só ia dizer que vocês sempre acabam voltando para o outro de alguma forma, mas você demonstrou isso perfeitamente. – Revirei os olhos. – Não adianta mentir, , olha o drama que teve no começo do ano, para quê? Para nada.
- Dessa vez não foi escolha minha, Pavel, eu adoraria seguir em frente e deixar tudo isso para trás. – Falei, esticando a caneta para Conte. – Mas parece que ninguém me deixa esquecer disso, não é?
- Beh, tenho que admitir que é a nossa diversão aqui. – Ele deu de ombros.
- Porque não é sua vida. – Suspirei.
- Mas a convivência é boa, não é? – Conte perguntou.
- Eu tenho um posto importante no time e ele é nosso goleiro titular e futuro capitão do time, precisamos ter uma convivência boa. – Falei.
- Você precisa entender os sinais. – Pavel falou. – Tem dias que eles estão de lua e não se olham, o dia que se tratarão como se nada tivesse acontecido e terão dias que eles vão gritar e o chão estará sujo de lama como se... – Peguei uma bala na mesa de centro e joguei nele, vendo-o rir. – Comprovando que ainda sentem algo pelo outro.
- Eu sempre fui honesta com isso e sobre meus motivos, você sabe disso.
- Eu gosto do Gigi, mas você precisa se esquecer dele, arranjar alguém que te mereça. – Conte falou.
- Viu? Obrigada. – Rimos juntos. – Teremos vários novos contratados, quem sabe não arranjemos ninguém mais interessante do que ele?
- Duvido... – Pavel falou. – E digo isso não por ele ser interessante, Deus me livre... – Rimos juntos. – Mas porque já foram 10 anos...
- E vocês continuam insistindo nessa história. – Dei de ombros.
- Ah, quem dera fosse só nós. – Revirei os olhos.
- Beh, eu estou de volta e vou tirar minhas próprias conclusões. – Conte falou, assinando o contrato e passou a folha para eu fazer o mesmo.
- Bentornato, Conte. – Falei, me levantando e ele fez o mesmo, esticando sua mão e trocamos um rápido aperto de mão antes de nos abraçarmos.
- É bom estar de volta. – Ele sorriu, dando uns tapinhas em minhas costas.
- Pronto para colocar ordem no time? – Pavel perguntou.
- Vamos lá! – Sorrimos cúmplices.

Lui
16 de junho de 2011 Trilha SonoraOuça
Passei as mãos pelos cabelos, espalhando um pouco do gel e joguei os cabelos para trás. Peguei a toalha, passando-a nos pontos ainda úmidos no peito e deixei-a na pia. Peguei a calça, vestindo-a e segui para fora do quarto, vendo Guendy e Veronica sentadas nas poltronas, Veronica tinha uma taça na mão.
- Não está um pouco cedo para beber? – Perguntei, seguindo até as outras partes do meu smoking.
- Estou celebrando seu casamento, irmãozinho. – Veronica falou, irônica.
- Dá para notar a felicidade no seu tom de voz. – Falei, pegando a camisa branca e passando-a pelos braços.
- É a vida, não? – Ela disse e eu bufei.
- O que você está fazendo agora? – Virei rapidamente para ela. – Honestamente.
- Para, gente! – Guendy falou. – Não é hora de brigar.
- Não! – Falei firme. – Porque quando eu quis brigar e tentar, todo mundo mandou eu parar! – Comecei a abotoar os botões, irritado. – Quando eu quis fazer algo por mim, ninguém estava preocupado comigo. – Coloquei a camisa dentro da calça, abotoando-a.
- Por favor, gente! – Guendy falou, apoiando a mão em meu ombro e eu o mexi, abaixando sua mão.
Observei Veronica com o olhar focado no meu e abanei a cabeça, voltando a me arrumar. Calcei as meias e os sapatos e segui para a parte chata de vestir o colete e dar o nó na gravata, desfazendo-o diversas vezes quando os dedos se enrolavam nele.
- Eu sei o que eu tenho que fazer. – Puxei a gravata com força, virando para elas novamente. – Eu também tenho culpa nisso, eu só... – Respirei fundo, pressionando os lábios um no outro. – Eu só queria poder ter escolha nisso tudo. – Sentei na beirada da cama.
- Por que você diz isso, irmão? – Guendy perguntou. – Você escolheu tudo isso, não? – Ela perguntou.
- Sim, mas lá atrás. – Suspirei. – Só não achava que eu mudaria de ideia depois de um tempo.
- Você tem escolha, Gigi. – Veronica disse.
- Não, não tenho! – Senti meu tom de voz aumentar. – Não mais. – Suspirei, voltando a me virar de frente para o espelho. – Eu tinha escolha quando eu descobri tudo, lá em janeiro, não agora depois de aceitar fazer isso, de mostrar para a Itália inteira que eu ia casar, não depois de fazer um comprometimento com a Alena, NÃO NO DIA DO CASAMENTO! – Senti o tom de voz aumentar e neguei com a cabeça, soltando a gravata de novo.
- Deixa eu te ajudar. – Guendy veio em minha direção e fiquei em frente a ela, esticando a gravata. – Eu sei que não é o maior conselho do mundo, mas tente, Gigi. Já que você não quer jogar tudo para cima, tente. – Ela falou.
- Eu estou tentando, mas independente da ou não, eu não me sinto preparado para casar. – Ri fracamente.
- Com a você sentia? – Veronica perguntou baixo e engoli em seco.
- Eu não sei dizer hoje, não me sentia com 28 anos, pelo menos. – Suspirei. – Mas não vou falar dela agora, não posso fazer isso agora. – Joguei a cabeça para cima, sentindo Guendy fazer o nó da gravata.
- Só queremos que você seja feliz, maninho. – Veronica falou.
- Eu sou feliz com a minha família e meus filhos, eu só não sou feliz no amor. – Ri fracamente. – É ridículo falar isso, mas...
- Não é. – Guendy falou baixo para mim. – Você tem todo direito de se sentir assim.
- A Lena é uma mulher incrível, linda, sexy, inteligente, tem sua própria carreira de sucesso, é uma mãe incrível, mas...
- Não é a . – Veronica falou e eu suspirei.
- Eu não sei, faz tanto tempo que eu nem sei mais... É o que vocês falaram, muito tempo passou, talvez não sejamos mais as mesmas pessoas, talvez não fosse dar certo mesmo. – Relaxei os ombros. – É o que me apega para seguir em frente com o casamento, mas não consigo não comparar. – Suspirei.
- Entendemos, maninho. – Guendy falou, passando as mãos em meus ombros quando finalizou o nó.
- Eu comparo com o se... – Virei para elas. – Temos intimidade o suficiente para falar da nossa vida privada, não?
- Hum, dã? – Veronica falou e ri fracamente.
- Eu comparo pelo sexo. – Pressionei os lábios. – Ok, o tempo passou, tivemos filhos, as coisas mudam um pouco, mas era diferente. Parecia que não tinha esse tabu em volta, quando queríamos transar, a gente transava. – Suspirei. – Eu e Alena não transamos há quatro meses, confesso que não sei nem se vamos transar na nossa noite de núpcias. – Me aproximei da mesa, pegando as abotoaduras e o broche da gravata, ajeitando tudo.
- E o quão importante isso é para você? – Veronica perguntou.
- Sexo? Super importante. – Falei, rindo fracamente. – E não só no ato, na intimidade do casal. – Suspirei. – Depois de tanto tempo, a Alena ainda continua com alguns pudores tão nada a ver. – Neguei com a cabeça, pegando o smoking.
- Me incomoda você falar isso no seu casamento, Gigi. Não deveria ser assim. – Guendy falou
- Eu vou ficar quieto. – Abanei a cabeça. – Eu fiz uma promessa para a Lena e vou cumprir. – Suspirei, só não sei por quanto tempo.
Vesti o smoking, abotoando-o e alisei as mãos nele. Ajeitei o pequeno arranjo no bolso e me olhei no espelho. Não era a roupa ideal para casar em junho em Praga. A temperatura lá fora batia 24 graus e estava me arrependendo de ter aceitado casar cedo. Pelo menos me livrava disso logo e poderia começar a me distrair com outras coisas.
Eu sei que isso não é a melhor coisa para se dizer no dia do seu casamento, também sei que havia escolhido seguir com isso por causa da nossa família e que também foi minha escolha começar esse relacionamento lá atrás, mas agora, prestes a seguir para a basílica, eu sentia que tinha sido a pior escolha da minha vida.
E não. Dessa vez não tem nada a ver com isso.
Pelo menos eu acho.
- Filho? – Virei para o lado, vendo minha mãe entrar no quarto com um vestido azul escuro e levou as mãos à boca. – Ah, você está lindo. – Ela falou, vindo em minha direção e me abraçou.
- Grazie, mamá. – Falei, sentindo-a dar dois beijos em minhas bochechas.
- Você está feliz? – Ela segurou meu rosto com as mãos.
- Sim. – Falei, dando um curto sorriso, não podia mentir para ela.
- E aí, filho! – Meu pai deu dois tapas em meus ombros antes de me abraçar com força. – Parabéns, filho, tudo de bom!
- Grazie, papá! – Falei com o mesmo sorriso no rosto.
- Está pronto? Precisa chegar antes que a noiva. – Minha mãe falou, rindo fracamente.
- Claro, vamos sim! – Falei, suspirando. Minhas irmãs se levantaram e Guendy veio em minha direção.
- Se você quiser largar tudo agora, eu te apoio. – Ela disse e eu dei um pequeno sorriso, abraçando-a e ela me apertou pela cintura.
- Obrigado, mas agora não dá! – Falei baixo e ela assentiu com a cabeça, dando um beijo em minha bochecha. A segurei pela mão antes de ela seguir seu caminho. – Só... – Suspirei. – Esteja comigo quando eu precisar, pode ser? Porque eu vou precisar.
- Claro! – Ela disse e eu assenti com a cabeça, recebendo um beijo em minha testa.
Fui o último a sair do meu quarto de hotel. Segui até o elevador com minha mãe, pai e irmãs e minha mãe já deu o braço para mim, me fazendo puxar e soltar a respiração devagar, tentando fazer silêncio para não chamar muita atenção. Essa questão já tinha se dado demais durante os meses que se seguiram ao meu escândalo na sala de e eu sei o quanto minha mãe batalhou para isso dar certo, se não fosse por mim, que fosse por ela, então.
Meus cunhados e sobrinhos estavam nos esperando no lobby e meus filhos estavam com Alena, seus pais e sua irmã. Recebi rápidos cumprimentos dos meus cunhados e os casais foram saindo aos poucos com os carros estacionados na porta. Eu e minha mãe ficamos por último e, quando eu saí, alguns fotógrafos estouraram os flashes em meu rosto. Coloquei minha mãe no carro e segui para me esconder também.
Eu não senti a necessidade de falar nada para minha mãe durante todo o percurso até a basílica. Minha mãe segurava minha mão, mas ela estava mais nervosa do que eu pelas mãos geladas, não queria piorar a situação, então mantive o silêncio, pelo menos literalmente, meus pensamentos estavam barulhentos e sentia como se tivesse um anjinho e um diabinho em cada ombro falando o que era para eu fazer.
Mas eu já tinha feito minha decisão e não podia mudar de opinião agora. Só esperava realmente encontrar a felicidade depois de tudo. Nós dois fomos muito honestos um com o outro depois que eu falei sobre meu passado, as coisas estremeceram um pouco, mas ela não pensou em desistir em nenhum momento e falou que queria manter nossa família unida. Então, aqui estamos.
O caminho do hotel para a Basílica de São Pedro e São Paulo foi rápido, cerca de 10 minutos, mas demorou mais o mesmo caminho para eu conseguir sair do carro com os diversos fotógrafos na porta. Às vezes ser uma pessoa pública não ajudava muito. Tudo o que eu mais queria era me esconder, mas sentia que meu rosto apático mostrava muito mais do que só um descontentamento. Parecia que mostrava todo meu passado.
Consegui chegar à porta da basílica com minha mãe, de braço dado a ela e entrei, vendo os diversos convidados, famosos ou não, ocupando todos os bancos do local, ou quase todos. Passei por alguns colegas do time, recebendo alguns apertos de mão ou acenos de cabeça dos mais distantes. Alex e Sonia me deram o clássico olhar dos Del Piero, mas fingi que não vi ao passar por eles. Passei pelo top cinco do time, ou melhor, top um, dois, quatro e cinco, sem a ponte que fazia eles e todos me cumprimentaram, apesar de Pavel também ter me dado o olhar Del Piero, me fazendo suspirar lentamente.
Quando cheguei perto dos meus familiares e de Alena, recebendo abraços e beijos de meus avôs, tios e primos distantes e me aproximei do padre. Ele me cumprimentou e deu um aceno com a cabeça, ciente que eu não entendia uma palavra em tcheco, devido ao ensaio ontem, mas seu olhar carinhoso até me deu um pouco esperança do que é que fosse acontecer.
- Está tudo bem, meu filho? – Minha mãe perguntou, jogando meu cabelo para trás e dei um pequeno sorriso.
- Na medida do possível. – Falei, não conseguindo mentir um simples “sim”.
- Sabe que eu vou estar contigo independente da sua decisão, não sabe? – Assenti com a cabeça.
- Eu sei, mas agora eu preciso decidir as coisas sozinho, mãe. – Falei e ela deu um beijo em minha testa.
- Tente ser feliz, ok?! – Ela falou e eu suspirei, dando um sorriso de lado.
Ela se colocou em seu lugar no primeiro banco e eu subi os poucos degraus do altar da basílica e era como eu me sentisse minúsculo diante da grandiosidade do local. Podíamos ter nos casado em uma igreja pequena, sem tantos convidados, talvez até na Itália, onde ambos entendíamos a língua, mas Alena queria tudo isso, eu não podia negar depois de tudo.
Acho que todas as mulheres já sonharam com seu casamento, eu nunca pensei nisso até a hora de realmente precisar pensar. Sempre tinha a impressão de que os homens precisavam fazer o pedido e as mulheres decidir tudo, mas isso era uma decisão de casal e não fui capaz de decidir muitas coisas.
Ouvi a música mudar e virei meu rosto para a entrada, puxando a respiração devagar. Os casais de padrinhos começaram a entrar. Sua irmã Eliška e o namorado vinham à frente, seguindo de um casal de amigos de Alena e logo atrás minhas irmãs e seus maridos. Eles se colocaram ao meu lado e Guendy apertou minha mão tentando passar alguma confiança e eu assenti com a cabeça.
Logo atrás dos padrinhos, meus filhos entraram jogando pétalas de flores pelo caminho. Ou melhor, Louis tentava jogar pétalas de flores e David esvaziou sua cesta antes de atingir metade do corredor. Antes de finalizar seus deveres, ambos correram em minha direção. Abaixei para abraçá-los, dando um beijo na cabeça de cada um e minha mãe os chamou para ficar próximos a ela.
Me levantei novamente, ajeitando as pregas no joelho e parei tudo quando a música mudou e o coral começou a entoar um canto um tanto imponente e respirei fundo quando a vi ao fundo do corredor. Tentei levar minha cabeça para todos os momentos juntos que passamos, mas o coral cantando na minha orelha não me ajudava a pensar.
Abanei minha cabeça, realmente enxergando Alena em minha frente e ela tinha um largo sorriso no rosto, cumprimentando todos com o olhar e eu também dei um sorriso. Abanei todos os pensamentos da minha cabeça e assenti com a cabeça quando o olhar de Alena se encontrou com o meu.
Ela se aproximou de mim e seu pai me cumprimentou, dando dois tapinhas em minhas costas e ele falou algo que não fui capaz de identificar. Segui em direção a Lena, dando um curto beijo em sua testa e ela deu um sorriso para mim. Dei meu braço para ela e subimos os degraus novamente, ficando lado a lado na frente do padre.
Só diga “sim”, Gigi. Sim.
Mesmo se eu quisesse, eu não faria nada de diferente agora.

Stagione 2011/2012
Lei
15 de julho de 2011

- ? – Ergui o rosto, vendo Pavel na porta. – Pronta?
- Eu não vou. – Falei, rindo fracamente. – Eu já disse.
- Eu não vim aqui para te convidar para ir para Bardonecchia de novo, apesar de achar que você deveria ir. – Ele falou.
- Eu tenho tanta coisa para resolver ainda, Pavel, inclusive os diversos amistosos na América do Norte que vocês inventaram de última hora. – Suspirei, apoiando os antebraços na mesa.
- É daqui do lado. – Ele falou, diminuindo a situação.
- Uma hora e meia para ir e uma hora e meia para voltar. Para quê? Para um evento de uma hora de apresentação do nosso elenco que ainda não está completo e um jogo contra um time chamado Rappresentativa Valsusa? – Falei sarcasticamente. – Se não for no mínimo 10x0, eu já rescindo contrato com todo elenco e começamos de novo. – Ele riu fracamente.
- Parece que alguém dormiu com a bunda descoberta. – Ele falou.
- Eu não tive férias, meu amor. – Falei. – Foram 10 dias, mas foram 10 dias em casa resolvendo coisas daqui, não serviu para muita coisa. – Ele riu fracamente.
- Não é sobre Bardonecchia, vem logo. – Ele disse.
Tentei encontrar algo em seus olhos azuis, mas eles não diziam nada. Empurrei minha poltrona, deixando minha caneta de lado e segui ao seu lado, puxando a porta quando saí. Acenei rapidamente para minha equipe e ouvi meus saltos ecoarem alto pelos corredores do administrativo.
- Como estão as coisas dos amistosos? – Ele perguntou quando entramos no elevador.
- Tudo certo. – Falei. – Dia 23 contra o Sporting de Portugal em Toronto, 26 contra o Club América do México em Nova York e dia 28 contra o Chivas de Gudalajara, do México também, em Raleigh. – Falei, suspirando. – Só preciso fechar a data da viagem com Conte, ele disse que estava querendo aproveitar e fazer outro amistoso em Bardonecchia. Aproveitar tudo. – Falei, suspirando.
- É, ele mencionou algo sim, quais as melhores chances? – Ele perguntou.
- Domingo para embarque na segunda, o primeiro jogo já é daqui oito dias, não vai dar nem tempo de ele arrumar o time. – Dei de ombros.
- Agnelli te informou sobre Villar Perosa desse ano? - Ele perguntou.
- Sim, recebi o e-mail dele ontem, 11 de agosto, certo?
- Sim, sim. – Ele disse.
- Posso te garantir que Bardonecchia eu perco, mas Villar Perosa não.
- O John Elkann está tão apaixonadinho por você, imagina se você não for... – Rimos juntos.
- Não que eu me sinta muito feliz com o Elkann apaixonado em mim, mas aceito pela benfeitoria com o trabalho, mas nunca fui a um Villar Perosa e sempre tive vontade, não posso perder. – Falei, chegando no térreo e o segui para fora do prédio administrativo.
- Teremos mais amistosos tirando na América? – Ele perguntou.
- Paratici e Conte pretendem, 90 por cento do time é novo, eles precisam estar em sincronia para o primeiro jogo, principalmente se for em casa, no estádio novo. – Comentei.
- Não podemos perder.
- Não. – Falei, suspirando. – Mas ainda temos um mês para a liberação do calendário, mas estamos buscando, o Antonio... – Ponderei com a cabeça. – Meu Antonio, já está fazendo uma lista de possíveis sondagens, caso não seja possível, teremos o Trofeo Tim contra a Internazionale e o Milan, duas vezes, por causa do Berlusconi. – Falei. – E a abertura do estádio.
- Sim... – Ele comentou.
- Agnelli falou para convidar o Notts County da Inglaterra para o jogo. – Falei.
- Notts County? Nunca ouvi falar.
- Também não, mas ele explicou que, lá atrás, foi de onde os fundadores da Juventus tiraram as listras pretas e brancas. – Dei de ombros. – Achei justo, eles toparam, só estamos confirmando a data. – Viramos para a área do CT, entrando no prédio e ele riu fracamente. – O quê?
- Por que eu não surpreendo por tudo estar tão incrivelmente organizado e acertado? – Ele falou e eu ri fracamente, passando meu braço pelo ombro de Pavel que estava mais baixo do que eu.
- Ah, querido Pavel, quando me dão um trabalho, eu cumpro. – Falei e ele riu fracamente. – O que estamos fazendo aqui, afinal? – Perguntei.
- Renovamos o setor de marketing também e eles decidiram investir no tal do YouTube... – Assenti com a cabeça. – A Angela achou legal fazer entrevistas esporádicas com pessoas importantes para o time.
- Ah, não. – Fiz uma careta.
- Não se preocupe, vai ser algo legal e curto, focado nos seus 10 anos de time. – Ele falou.
- Você vai falar também?
- Eu saí por um ano e meio, não conta. – Ele falou. – Mas terão outras pessoas, não se preocupe.
- Estou começando a não gostar dessa posição. – Falei, sentindo o sol no rosto e os campos de Vinovo se abriram em nossa frente.
- Você precisa aprender a lidar com a imprensa, lindinha. – Ele falou, me fazendo rir fracamente.
- Eu sei lidar com a imprensa, eu só não gosto. – Ele sorriu. – Mas com tantas vantagens, eu realmente não posso reclamar. – Dei um sorriso, vendo-o rir.
- As caixas que você está recebendo de marcas famosas por acaso influenciam algo?
- Oi? Ah, não, claro que não. – Rimos juntos.
- Você merece, . – Empurrei-o de lado. – E falo de forma geral, apesar de estar fazendo um grande trabalho. – Sorri.
- Grazie, Nedved.
- Prego, . – Rimos juntos.
Vi o grupinho de alguns jogadores dentro do campo e parei na parte de asfalto ainda e tirei meus saltos finos antes de pisar na grama. Melhor sujar o pé do que afundar os saltos nele. Não estava tão acostumada com saltos finos demais, mas estava amando usá-los.
- Ciao, ragazzi. – Pavel falou e os jogadores se viraram para nós.
- Ciao, Pavel. Ciao, chefa. – Eles falaram, me fazendo rir e vi Matri, Quagliarella, Chiellini, Barzagli e Lichsteiner.
- Ciao, chefa! – Matri abriu um largo sorriso para mim e eu revirei os olhos. O loiro com cabelos mais cumpridos e o corpo mais robusto era realmente bonito, mas sabia que ele era um tanto mais novo do que eu.
- Ah, Matri. – Falei, revirando os olhos, fazendo os outros jogadores rirem. – Eu posso demitir jogadores? – Virei para Pavel.
- Você pode demitir qualquer pessoa que esteja abaixo de você. – Pavel falou e os jogadores gargalharam.
- Bom saber disso. – Sorri.
- Oi, . – Chiello sorriu e ele veio em minha direção, me dando um abraço e um beijo.
- Tudo bem? – Perguntei.
- Tudo certo. – Ele sorriu, me abraçando pela cintura.
- Por que ele ganha um beijo? – Matri falou, nos fazendo gargalhar.
- Hum, deixa eu me pensar, seis anos de amizade e sem segundas intenções. – Falei.
- Scusa, cara! – Chiello falou, me abraçando para fazer ciúmes nele e rimos juntos.
As novas aquisições do time eram boas, mas o mais bonito de todos era Barzagli, com toda certeza. Apesar de ter a mesma idade que a minha, sendo uns seis meses mais velho, ele tinha uma feição jovial. Beh, eu também não via o mulherão que todos estavam vendo quando me olhava no espelho de manhã, mas sabia que as roupas e a maquiagem ajudavam e muito.
Agradecia por tudo, honestamente. Era bom se sentir bem.
- Então, chefa, já arranjou mais reforços para nós? – Chiello perguntou.
- Você não me chama desse jeito. – Virei para ele, fazendo-o rir. – Não caia na dessa duplinha aqui... – Virei para Matri e Quagliarella que faziam carinhas de anjo, piscando os olhos. – Mas sim, faltam poucos, não? – Virei para Pavel.
- Quem falta? – Ele perguntou.
- Cáceres e Vidal. – Falei.
- Legal! – Eles falaram.
- E até o começo da temporada eu já terei me livrado de um em especial. – Suspirei.
- O ódio é tanto assim?
- Você sabe que eu não odeio ninguém. – Falei.
- Ah tá! – Ele e Chiellini foram irônicos.
- Ok, só uma pessoa. – Eles riram juntos.
- Vai viajar com a gente? – Matri perguntou.
- Não, gracinha, de jeito nenhum. – Eles riram. – Falando nisso, Pavel, eu tenho coisas para fazer e não quero começar a sair daqui dez da noite antes de outubro.
- Verdade, vem cá! – Ele disse.
- Ciao, ragazzi. – Falei.
- Até mais, chefa! – Matri gritou e eu revirei os olhos.
- As vantagens e desvantagens de ser mulher em um time? – Pavel sussurrou para mim.
- Nem vejo exatamente com uma desvantagem, ele deve saber que não existe a mínima chance, não?! – Perguntei, seguindo para o segundo campo.
- Tem certeza de que não tem a mínima chance? – Ele perguntou.
- Acho que já deu de jogadores de futebol na minha vida, Pavel, e mesmo se tiver alguma chance de isso acontecer de novo, não estou pensando nisso agora e ele não está começando de um jeito bom. – Falei, ouvindo-o rir.
- Vai ficar livre, leve e solta? – Ele perguntou.
- Acho que eu já sofri o suficiente em relacionamentos nessa última década, tirar um tempo para mim parece uma boa forma de começar essa próxima temporada.
- O que for melhor para você. – Ele sorriu.
Andamos mais para o meio do campo e tinha uma pequena equipe de gravação lá no meio e Gigi estava sentado em uma poltrona com uma roupa mais social do que o kit de treino dos outros jogadores lá atrás, jeans, camisa social e paletó, além dos pés brincando com uma bola. Virei para Pavel, respirando fundo.
- Só tem eu e ele, não? – Perguntei.
- O quê?
- Completando 10 anos de time. – Cochichei.
- É, só. – Ele falou e revirei os olhos.
Gigi estava diferente das diversas fotos que saíram nas revistas italianas com seu rosto e de Alena estampados. Os cabelos mais curtos agora estavam cumpridos, quase de quando eu o conheci e, ao invés do rosto pelado do seu casamento, ele tinha uma barba por fazer até que cumprida, quase criando um cavanhaque. Talvez seja para relembrar os anos ou a lua de mel não... Quer saber? Não é da minha conta.
- Xí! – A mulher falou e respirei fundo, prestando atenção nele.
- Acho que minha defesa mais importante foi contra o Inzaghi na final da Champions de 2003... – Gigi pensava. – Tive uma importante contra uma falta do Zidane contra o Real Madrid também. – Ele disse.
- E o que você pensa sobre essa temporada que vai começar?
- Beh, já vi tanta coisa nesses últimos anos, mas agora temos a esperança de as coisas melhorarem, conseguirmos levar o time para um outro nível, voltar a trazer bons resultados.
- Ótimo, grazie, Gigi. Muito bom! – O moço que o entrevistava falou e Gigi se levantou da poltrona, cumprimentando ambos.
- Agora é sua vez! – Pavel falou e eu revirei os olhos.
- Eu vou te matar. – Falei e ele riu fracamente.
- Angela, essa é . – Pavel apresentou. – , Angela, gerente de marketing.
- Tudo bem? – A cumprimentei.
- É um prazer te conhecer. – Sorri.
- Ciao, ragazzi. – Gigi falou, coçando a nuca, claramente olhando para baixo.
- Ciao, Gigi. – Pavel o cumprimentou e ele ergueu o olhar para mim e suspirei, fazendo questão de desviá-lo.
- O que precisa de mim, Angela? – Perguntei, seguindo em sua direção.
- Fizemos com o Buffon uma rápida entrevista sobre os 10 anos dele no time e o Pavel sugeriu fazer uma assim. Você entrou aqui como estagiária e hoje é a terceira pessoa mais importante de todo o time, queríamos contar um pouco seu percurso até aqui. – Assenti com a cabeça. – Brevemente, claro.
- Claro! – Falei. – Eu não falo muito, mas podemos tentar. – Ela riu fracamente.
- Sente-se ali na poltrona, por favor. – Ela disse e eu segui até lá, me sentando e passei as mãos rapidamente nos pés antes de recolocar os saltos. – Vamos começar por perguntas simples de apresentação, depois fazemos algumas mais específicas, tudo bem?
- Claro!
- Um minuto, por favor. – Ela disse.
Apertei os braços na poltrona, dobrando uma perna sobre a outra e ergui o rosto, vendo Gigi e Pavel me observando. Passei as mãos em meus cabelos, feliz por eles estarem mais longos e preenchidos depois de quase um ano do câncer e vi seu olhar descer para minhas pernas descobertas pela saia e suspirei, virando o corpo.
- Ok, podemos conversar. – Ela disse. – Você está confortável?
- Não muito. – Rimos juntas. – Meu plano de vida era ser invisível. – Ela sorriu.
- Podemos começar com isso, então, você é a gerente de contabilidade do time e não gosta da atenção... – Rimos juntas.
- Scusa. – Pavel falou e olhamos para ele. – Eu quero te ver antes de irmos. – Ele falou para mim.
- Pode deixar! – Falei e ele assentiu com a cabeça. Ele se retirou do ambiente e vi que Gigi tinha ficado no mesmo lugar. Respirei fundo e desviei o olhar para Angela novamente.
- Podemos começar. – Falei.
- Ok, começamos pelo seu nome e idade...
- , 29 anos. – Falei.
- Data de nascimento.
- Primeiro de novembro de 1981, 84 anos depois da Juventus. – Sorri.
- Mesmo? – Rimos juntos. – Então não é tão grande coincidência você estar conosco.
- Honestamente? – Desviei o olhar dela, ainda vendo Gigi e dei um sorriso, rindo fracamente. – Foi uma completa coincidência, eu não sabia nada de futebol ou da Juventus antes de trabalhar aqui. – Ela sorriu.
- Então, me conte, como começou?
- Beh, vamos voltar para... – Parei para pensar. – Acho que 23 de maio de 2001, quando eu fui chamada para fazer uma entrevista aqui... – Sorri.

Lui
11 de agosto de 2011

Senti o ônibus começar a andar mais devagar e virei o rosto para a janela, vendo-o passar pelos portões da casa da família Agnelli em Villar Perosa, um pequeno vilarejo de cinco mil moradores há 40 minutos de Turim onde fazíamos um clássico amistoso contra a Juventus B, o time sub-21 ou Primavera da Juventus, todo início de temporada.
Passei as mãos nos olhos, bocejando logo em seguida e sabia que tinha tirado um cochilo, não sei como foi possível, o pessoal estava festejando como se fosse excursão escolar, mas não poderia julgar, eram poucos os jogadores maiores que 30 anos, a maioria ainda estava na casa dos 20 e era a primeira vez que muitos estavam em um time maior.
Começamos a sair do ônibus e os assistentes técnicos e o top quatro e cinco do time guiaram a entrada da casa. Eu, Alex e alguns outros já sabíamos onde era, então seguimos guiando o caminho. Quando passamos pelos imensos jardins, a grande casa apareceu por trás das árvores. Um casarão clássico e antigo de dois andares e diversos quartos e banheiros. Passamos pela lateral do local, seguindo para os fundos da casa e o grande jardim se abriu.
Tinha várias mesas com um café da manhã servido e poltronas e sofás de jardim espalhadas pelo local. John Elkann, sócio majoritário do time estava lá e foi o primeiro a nos receber. Apertei sua mão e dei um sorriso e ele deu um tapinha em minhas costas, segui para o presidente Agnelli e ele também me cumprimentou rapidamente.
Me coloquei para o lado com Alex e dei uma rápida olhava no ambiente, encontrando os dois membros tão importantes do time que faltavam. e Pavel estavam no meio do jardim conversando. usava a blusa rosa do nosso novo uniforme por dentro de sua saia preta, com as mangas dobradas, mas dessa vez ela não se equilibrava com os saltos na grama, estava com um tênis branco sem meia nos pés. Eles comentaram algo e ambos vieram em nossa direção rindo.
- Buongiorno. – Pavel falou e deu um rápido aceno em nossa direção.
- ! – Alex foi em direção a ela, abraçando-a fortemente, fazendo-a sorrir. – Bom te ver.
- Bom ver você também. – Ela sorriu, passando a mão nos cachos que ocupavam a cabeça dele, fazendo-o dar um tapinha em sua mão. – Gigi. – Ela indicou a cabeça para mim e repeti o gesto.
- Então, decidiu finalmente se vestir a caráter? – Alex perguntou.
- Ah, sabe como é, a Nike fez um bom trabalho dessa vez, realmente gostei. – Ela disse.
- O que colocou atrás? – Ele perguntou e ela se virou.
- 10, obviamente. – Vi seu sobrenome e o número em suas costas e ela se virou de volta sorrindo.
- Gostei da escolha. – Alex falou, rindo e ela negou com a cabeça.
- Não pense que tem algo a ver contigo. – Ela disse, sorrindo.
- Deixa eu aproveitar, vai. – Ele disse.
- Falei para ela que ela tem mais jeito como centro-campista. – Pavel disse.
- Eu sirvo como uma ponte entre o administrativo e as contratações. – Ela falou.
- E, se eu me lembro bem, tem um chute bem fortinho. – Comentei, vendo-a erguer o olhar para mim.
- Ah, bem... – Ela disse, rindo em seguida.
- Lilian que o diga. – Pavel falou e ela deu uma cotovelada nele.
- Deve ser por isso que ele não voltou para cá até hoje. – Alex disse e revirou os olhos, nos fazendo rir.
- Engraçadinhos. – Ela mostrou a língua, me fazendo sorrir.
- Ragazzi. – Viramos para o lado de Chiello chegava com Bonucci, Barzagli e Lichtsteiner.
- Ciao, ciao! – Os outros falaram.
- Ciao, come state? falou, sorrindo.
- Ecco, quais as novidades? – Alex perguntou.
- Eu que te pergunto isso, capitano, o que achou das aquisições? – Ela perguntou. – Muito cedo para perguntar?
- Um pouco cedo, mas estamos tendo uma boa pré-temporada. – Ele falou. – Perdemos somente um jogo, as coisas estão ok.
- Permita-me, Alex, foram jogos médios. – Pavel falou e assentiu com a cabeça.
- Times desconhecidos, nossa equipe sem grandes desfalques pelos compromissos internacionais... Deveria ser mais. – disse.
- Enfim... – Alex falou, nos fazendo rir. – Mas você trouxe esses dois... – Ele abraçou Barzagli de lado. – Já reforça nossa defesa. – Rimos juntos.
- Você vai ter que agradecer a vida inteira ao Del Piero por estar aqui. – falou para Barzagli e ele sorriu.
- Você que fez as coisas acontecerem. – Alex falou, me fazendo rir.
- Eu posso agradecer aos dois e a quem quiserem. – Barzagli falou, fazendo sorrir.
- Eu só estava pensando em te dar os créditos por um. – Ela falou, erguendo o número no dedo. – Se der certo, eu vou ter bem mais créditos. – Ela disse.
- Ah, engraçadinha. – Alex falou ironicamente, bagunçando os cabelos dela e ela bateu sua mão na dele, nos fazendo rir.
- Buongiorno, buongiorno! – Viramos o rosto e John Elkan estava chamando nossa atenção com Agnelli ao seu lado.
Vi que e Pavel seguiram para perto de Agnelli, claramente se colocando na posição um, dois e três, e Paratici e Beppe se colocaram na posição quatro, cinco. Era quase uma dança, algo muito bem coreografado, era estranho e incrível.
- Gostaria de dar as boas-vindas aqui na nossa casa em Villar Perosa. – John começou com seu tom de voz fraco de sempre. – Para os mais novos, Villar Perosa é um marco na Juventus, e gostamos sempre de recebê-los aqui na casa de nosso pai...
Ele seguiu o clássico discurso que eu ouvia desde 2001, dava boas-vindas à casa, à comuna e falava dos nossos deveres com o time. Apesar do discurso desse ano ser semelhante a todos, já que ele sempre fazia o discurso aqui em VP, dava para notar que a conversa era diferente, principalmente com os olhares do top cinco em cima de nós.
As palavras de Giampiero ecoavam em minha cabeça quase como o toque de um sino “vencer não é importante, é a única coisa que conta”. Essa frase teria que ser transformada em um mantra nessa temporada, para os mais antigos que estávamos acostumados com as duas últimas temporadas desastrosas era fácil, e os novatos? Será que eles também entrariam nessa? Muitos finalmente poderiam ganhar seu primeiro scudetto ou seu primeiro prêmio de verdade aqui na Juventus com os investimentos necessários, esperava que isso viesse como inspiração para eles.
- Agora sua vez de falar algumas palavras, Conte. – Elkann falou, batendo no ombro dele.
- Beh, eu já me apresentei para todos vocês, mas é muito bom estar aqui de volta como técnico dessa squadra. Eu passei 13 anos da minha carreira aqui na Juventus, antes disso tinha feito só parte de um outro time, mas simplesmente não larguei aqui pelo stilo Juve, pela vontade de dar tudo pelo time e espero que vocês gostem desse stilo e se dediquem para conseguirmos atingir nossas metas. – Ele sorriu.
- Aproveitem o café da manhã e bom jogo! – Elkann falou.
Os jogadores se dispersaram e Conte entregou uma camisa igual à que usava para John e aplaudimos quando ele colocou por cima da camisa social que usava. Eu me dispersei com os outros jogadores e me aproximei da mesa para me servir de uma xícara de café e pegar um brioche*.
Observei os outros jogadores dispersarem e meu olhar acabou parando em que conversava com Conte e suspirei. Claro que ela conviveu com Conte durante três anos, assim como eu, mas era incrível como ela tinha facilidade em falar com todo mundo. Apesar que a maioria dos jogadores falava com ela com claras segundas intenções. Matri e Quagliarella eram desses, mas eu me divertia com seus cortes para cima deles, era bem relaxante.
- Gigi... – Ergui o rosto, vendo na beirada, se servir de um copo de suco.
- . – Sorri. – Como está? – Perguntei.
- Tudo bem. – Ela me deu um sorriso de lado. – E você? – Assenti com a cabeça. – E os meninos?
- Bem também. – Falei e ela deu um sorriso de lado, pegando alguns biscoitos amanteigadas.
- Scusa... – Dei licença para Claudio Filippi se aproximar.
- Ei, Filippi, tudo bem? – Falei.
- Tudo bem. – Ele sorriu.
- Você conhece a ? – Indiquei-a.
- Brevemente. – Ela disse, sorrindo.
- Senhorita... – Ele estendeu a mão e deu um beijo na dela quando ela estendeu a sua.
- Já gostei de você. – Ela sorriu, claramente envergonhada.
- Espero que estejam gostando do meu trabalho. – Ele falou.
- Se o Gigi gostar do seu trabalho, eu gosto do seu trabalho. – Ela falou, se virando para mim para dar um curto sorriso.
- Eu estou. – Falei, vendo-o sorrir.
- Bom saber. – Ele falou. – Vocês são colegas ou amigos?
- Depende da época. – foi mais rápida do que eu.
- Entramos juntos no time, nos conhecemos há bastante tempo. – Falei, sorrindo e virei para .
- É... – Ela disse antes de esconder os lábios com o copo.
- ? – Virei o rosto para Agnelli.
- Ci vediamo. – Ela falou e seguiu com o presidente para perto de John Elkann.
- Tem história aí, não?! – Filippi perguntou.
- É, umazinha. – Suspirei, virando o resto do café.
- Vai me contar? – Ele perguntou.
- Não vale à pena perder tempo com o passado. – Suspirei.
- Se você diz... – Ele disse e eu ri fracamente.
Peguei mais um brioche, me aproximando de Alex e Chiellini, o grupo de sempre e papeamos por mais alguns minutos até que todos tivessem comido e tivéssemos um pouco de relaxamento para encarar muito mais do que só um jogo, os torcedores gritando também era algo muito importante para enfrentar.
Quando Conte nos chamou, todos seguimos para fora da casa dos Agnelli, inclusive o quinteto mais importante do time e foi só sair da propriedade em si que já era possível ouvir os gritos dos torcedores. Creio que cerca de oito mil pessoas tinham acesso a esse treino e jogo especial.
- Bom jogo, ragazzi! – Agnelli falou quando nos separamos para ir para o vestiário e eles seguiram em frente para a entrada do campo.
Vi rir de algo que Alex falava e ela o empurrou quando ele a abraçou apertado, fazendo-a abrir um largo riso com isso. Alex veio em minha direção e acenei para os fãs quando percebi que estava parado entre eles e a porta.
- Andiamo, Gigi! – Alex falou, apertando meus ombros e eu inclinei-os com o incômodo.
- Qual a piada? – Perguntei, entrando logo atrás dele no vestiário.
- O quê? – Ele se virou para mim.
- Você e . – Falei.
- Lascia estare, Gigi. – Ele falou. – Você precisa deixar isso para lá.
- Não digo sobre isso, só fiquei curioso. – Ele suspirou.
- Só falei para ela aproveitar a fama um pouco. – Ele disse. – Curtir um pouco.
- Ah, sim! – Falei e ele me empurrou pela cabeça para seguir para dentro do vestiário.
Encontrei meu lugar rapidamente e troquei a roupa de viagens para o novo uniforme da temporada. Dessa vez usávamos o primeiro uniforme, o clássico preto e branco para jogadores de linha e o cinza com verde para os goleiros. Finalizamos de nos arrumar e seguimos novamente para o lado de fora.
Deixa eu te explicar um pouco como funciona Villar Perosa: os torcedores ficam bem próximos ao campo com somente grades de divisão. Eles nos assistem treinar, jogar e, no final, acontece a clássica invasão de campo onde nós temos duas opções: ser engolido por fãs que estão procurando algum tipo de lembrança daquele momento ou dar alguma lembrança para eles enquanto foge de ser engolido. Difícil de entender, eu sei, mas funciona, pelo menos tinha algo bem sensato nessa situação, já que eles sempre esperavam o jogo chegar em pelo menos 70 minutos para começar a invasão.
Assim que entramos em campo, os gritos aumentaram e meu olhar foi direto para o top cinco mais John que conversavam no centro do campo. Abanei a cabeça, tentando ignorá-los por um momento e interagir com quem realmente importa: os fãs.
E de pensar que diziam que seria fácil. É, talvez quando ela era estagiária, agora seria tipo missão impossível, mas eu ainda tinha um pouco de fé em mim e na aliança escondida dentro da luva.
*Na Itália, brioche é croissant que conhecemos no Brasil e na França.



Capitolo veintisette

Lei
Cinco de setembro de 2011

- E aí, ? – Ergui o rosto, vendo Agnelli se aproximar de mim e fui em direção a ele.
- Tudo bem, Andrea? – Perguntei, trocando dois beijos de cumprimento.
- Tudo bem e contigo?
- Tudo bem também. – Sorri.
- Você está pronta? – Ele perguntou e eu soltei um longo suspiro.
- Confesso que estou nervosa. – Ri fracamente. – Eu sou muito tonta em estar nervosa ao ver um estádio?
- Estou surpresa que você não foi lá em nenhum momento. – Viramos o rosto, vendo Pavel sair do administrativo.
- Não é como se fosse caminho para a minha casa. – Virei para ele.
- Não é motivo. – Ele falou e eu suspirei, recebendo dois beijos dele também.
- Eu estava nervosa, ok?! – Falei, vendo ambos rirem fracamente. – Eu acompanhei todo o processo dele... de longe.
- Ah, e disseram que não seria divertido ser presidente do time. – Agnelli falou e nós rimos.
- Imagina em uma festa de Natal. – Comentei, vendo-os rirem.
- Vamos, então? Eles já devem ter começado o evento teste sem a gente. – Ele disse, indicando o carro e fui a primeira a entrar, acenando para o motorista e Pavel ocupou o lugar no centro e Andrea na outra porta.
- Tem muita coisa para fazer ainda? – Perguntei, inclinando meu corpo para trás.
- Eu falei com a organização mais cedo e a cerimônia de abertura está com uma duração de uma hora e 15 minutos, talvez tenhamos nos empolgado um pouco. – Andrea falou, rindo fracamente.
- Vai ser um lindo evento, presida, é o primeiro estádio de um time italiano, levamos quase 114 anos de existência para fazer isso ser possível, precisamos aproveitar. – Falei.
- está certa, além da publicidade que isso vai nos dar. – Pavel falou.
- Estamos com todos os jogos em casa com mais de 35 mil ingressos vendidos e a temporada nem começou. – Virei para Andrea.
- Todos os jogos? – Ele perguntou.
- Todos, contra Bologna, Genoa, Cesena, Cagliari... Derbies, jogos grandes ou pequenos, está quase tudo lotado.
- Dio mio! – Ele falou.
- Isso sem contar que os seis mil ingressos que sobram são para funcionários, familiares e patrocinadores que não podemos repassar. – Falei.
- Tem tudo para ser uma temporada incrível, gente. – Pavel.
- Pelo o que eu falei com os jogadores, eles estão em bastante sintonia entre si... – Agnelli falou.
- Estou esperançosa com o Conte. – Falei, cruzando as pernas.
- E o Alex e o Gigi parecem que estão realmente fazendo de tudo para unir o time. – Pavel falou.
- É a última temporada do Alex, se nada mudar, e o Gigi vai virar capitão, eles têm muito o que perder. – Falei baixo, suspirando.
- Bom, nossa parte já fizemos, agora depende deles. – Pavel falou.
- Esse é meu medo. – Agnelli falou, suspirando.
- Eu confio neles, Andrea. – Inclinei o corpo para frente para falar com ele. – No Alex, no Gigi, no Chiello e no Marchisio. – Suspirei. – Se formos ver, temos um líder em cada situação do time, além de que temos muitas pessoas novas que vieram de times menores que a Juventus. Eles também querem permanecer e isso só vai acontecer com resultados.
- Você fez contrato de dois anos para todos? – Agnelli perguntou.
- Sim, com várias cláusulas de resultados. – Falei, dando um sorriso. – Vai dar certo.
- Se Deus quiser. – Ele falou, suspirando.
Apoiei meu braço na janela do carro, observando a paisagem durante o caminho do CT em Vinovo até o novo Juventus Stadium em Continassa, no novo Corso Gaetano Scirea, um dos grandes nomes do nosso time que havia falecido precocemente em um acidente de carro.
Quando paramos no semáforo da Corso Alessandria com a Via Druento, eu prendi minha respiração. Da última vez que eu vim aqui, tudo era somente um espaço vazio, com montes acumulados de terra ainda e máquinas espalhadas pelo local, agora o local tinha um lindo estádio.
Levei a mão no peito automaticamente quando o carro seguiu pelo entorno do estádio e senti uma lágrima deslizar pela minha bochecha, me fazendo respirar fundo. Era impossível descrever a beleza do estádio, era muito mais bonito que todas as imagens que eu tinha visto nos projetos de engenharia. Ele seguiu até os portões, dando de frente para a placa de Juventus Stadium e um brasão com o número 29 estava colocado na entrada principal, marcando os 29 títulos vencidos, inclusive os dois que nos foram tirados após a relegação.
- Que afronta, hein, presida? – Brinquei com o número, fazendo-o rir.
- Eles podem não considerar, mas nós sim. – Ele falou, rindo.
Assim que o carro desacelerou, eu praticamente pulei dele, sentindo os olhos cegarem devido à claridade, mas respirei fundo quando o estádio abriu em minha frente e suspirei, levando a mão até o peito.
- Bonito, não é?! – Agnelli veio ao meu lado e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Ele é perfeito. – Suspirei, sorrindo.
- Seu trabalho. – Ele disse e eu ri fracamente.
- Não, isso é do Giorgio. – Sorri, relaxando os ombros.
- Vem! Sem chorar! – Ele esticou a mão para mim e eu segui em sua direção, andando até ele e Pavel.
Para a entrada, tínhamos duas opções, a dos jogadores, que era uma rua para o subsolo, onde tinha entrada especial para o ônibus, e a VIP para convidados, jogadores, que seguia para os lounges e outros locais que eu teria acesso. Seguimos pelo caminho do ônibus e já me arrependi de não ter trocado de calçados quando seguimos pela ladeira.
Pela ladeira, chegamos em uma placa que dizia “vestiários e campo”, e foi por onde entramos, descendo algumas escadarias e placas. O local era imenso, muito maior do que o antigo Delle Alpi. Eu fiquei perdida por alguns corredores, até que chegamos nos vestiários ao final do corredor.
- Aqui é o vestiário do time? – Perguntei.
- Sim, mas vem aqui antes! – Agnelli seguiu à frente, me chamando com a mão, entrando no corredor do lado esquerdo e eu o segui.
Ouvi meus saltos ecoarem mais alto pelo local e prendi a respiração quando me vi na entrada dos jogadores. Agnelli e Pavel seguiram em frente e eu senti meus passos ficarem cada vez mais lentos com a expectativa de chegar lá. Passei pelas portas que estavam abertas e senti meu rosto curvar em um sorriso quando senti meus pés afundarem na grama verde.
Cerca de quatro metros à frente começava a linha do campo, mas meu olhar não foi para baixo, foi para cima. Para as arquibancadas vazias do outro lado do campo. Os assentos brancos tinham uma decoração delicada, estrelas amarelas, silhuetas de jogadores, bandeira da Itália, além de alguns outros pontos pretos como um degradê de cima para baixo. No alto, o sol incomodava minha visão, mas era possível ver um telão de cada lado e o grande brasão do time acima dele.
Virei meu corpo devagar pelo estádio e me assustei com o barulho, me fazendo erguer o rosto novamente a tempo de ver um avião passando por cima do estádio e ri fracamente, me lembrando o quão próximos estávamos do aeroporto. Suspirei, completando minha volta, vendo todas as marcas e lembranças ao nosso time e mordi meu lábio inferior, sentindo uma lágrima deslizar pela bochecha. Era uma pena Giorgio não ter esperado para ver isso.
Adentrei alguns passos para dentro do campo, ficando na beirada da linha e olhei para cima onde tinha várias pessoas ali, eram os organizadores do evento teste. Em menos de uma semana seria a inauguração do estádio e o primeiro jogo e teríamos muitas pessoas importantes aqui e muitos trabalhos. Ver o estádio pronto não seria a única emoção que eu teria por esses dias.
Virei o rosto para o campo quando reconheci os gritos de Conte no campo e foi quando notei a presença do time ali. Levei a mão acima dos olhos, tentando formar um pouco de sombra e boa parte dos jogadores estavam jogados no gramado, mas três pontos estavam em pé na linha do gol. Reconheci Chiellini, Bonucci e Barzagli. O que será que Conte estava aprontando?
Ri fracamente, ouvindo-o gritar mais uma vez algumas palavras inconstantes e vi Agnelli e Pavel seguirem para o lado da organização do evento e vi Paratici e Beppe, próximos à assistência técnica. Dei mais um giro ao redor do corpo e suspirei, ainda chocada com a beleza do lugar, mal esperava em vê-lo cheio na inauguração na quinta-feira.
- Satisfeita com o seu trabalho? – Virei o rosto, vendo Gigi atrás de mim, tirando as luvas.
- Gigi! – Abri um sorriso, me contendo em não abraçá-lo.
- O que achou da nossa nova casa? – Ele perguntou, parando ao meu lado.
- É incrível. – Suspirei. – Nunca pensei que ficaria tão lindo assim. – Sorri, virando o rosto para ele.
- Você fez um ótimo trabalho, . – Ele falou e eu ri fracamente.
- Eu não fiz nada, Gigi. – Suspirei. – Não dessa vez.
- Você fez. – Virei o rosto para ele, vendo-o sorrir e retribuí, ouvindo outro grito.
- O que está acontecendo ali? – Vi que Conte estava irritado e os mesmos três jogadores da defesa estavam juntos.
- Ele está tentando mudar nossa forma de jogo. – Ele se virou também. – Ao invés de jogar na posição 4-3-3, ele está tentando jogar com três atrás, mas o Chiello, Barza e Leo são defensores centrais... – Ele riu fracamente. – Está uma bagunça.
- Não era mais fácil pegar cada um de uma posição? Chiello jogou um pouco na esquerda, De Ceglie também, e o Lichtsneiner é de direita...
- Mas os três estão em maior sincronia... – Ele disse. – Vai dar certo.
- Beh, eu confio no Conte, só acho que ele tem um ataque cardíaco antes do começo da temporada. – Falei, ouvindo-o rir.
- É possível. – Ele disse. – Eu tenho que ir lá dentro. – Ele disse, mostrando o furo em sua luva, me fazendo rir.
- Posso ir contigo? – Perguntei.
- Claro... – Ele falou, indicando o caminho e andamos lado a lado de volta pelo corredor.
Seguimos pelo corredor do lado esquerdo, voltando para onde eu tinha visto os dois vestiários e ele indicou o caminho para eu seguir pelo do lado esquerdo onde dizia “Juventus”. Entrei, seguindo pelo longo corredor e a única opção era virar do lado direito onde vinha a luz. Entrei no local vendo o vestiário um pouco bagunçado, mas sorri satisfeita. Tinha duas longas fileiras com um assento, armário e prateleiras para cada nome.
Gigi seguiu à frente, indo até o último lugar do lado direito e dei um giro ao redor do meu corpo e vi outros armários nos cantos. Segui até o fim do vestiário, vendo uma longa sala abrir, lá estava preparada para todo tipo de fisioterapia possível. Tinha macas, banheiras quentes e frias, além de muitos armários e itens de relaxamento. À frente tinha a entrada para os banheiros e à direita tinha algumas salas do técnico, assistência técnica e assessoria, além de outro corredor que dava para fora.
- O que acha? – Virei para o lado, vendo Gigi no batente da divisão das duas salas.
- Bem melhor que o Delle Alpi. – Falei, ouvindo-o rir fracamente.
- Com toda certeza. – Ele disse, cruzando os braços.
- O que você achou? – Perguntei, me aproximando alguns passos dele.
- É incrível. – Ele disse, sorrindo.
- Espero que isso dê um pouco de ânimo para o time. – Falei.
- Vai dar sim. O pessoal já ficou bem empolgado em vir aqui. – Ele disse, sorrindo.
- Eu deveria voltar para lá. – Mordi meu lábio inferior.
- Vai fazer parte da inauguração? – Ele perguntou.
- Não, ficarei lá no meu posto principal. – Ele riu fracamente. – Mas eu vou descer aqui para ver o pessoal, bastante gente vem...
- É, fiquei sabendo que me escolheram para a seção “lendas”. – Ele disse. – Grazie.
- 10 anos no time, campeão do mundo, nos apoiou durante a relegação após ser campeão do mundo, já demostrou amor por essa camisa tantas vezes mais do que precisou... – Apoiei meu ombro do outro lado da divisão. – Realmente achou que não estaria? – Ele sorriu.
- Você sempre me vê melhor do que eu me vejo. – Ele falou.
- Pelo menos nisso somos iguais. – Dei um pequeno sorriso. – É melhor voltarmos lá.
- É... – Ele falou e dei um curto beijo em sua bochecha antes de desviar de seu corpo e seguir o caminho de volta para o campo.

Lui
Oito de setembro de 2011

- Eu nunca vi um estádio tão cheio! – Alex falou, rindo fracamente enquanto passávamos quase correndo.
- Você sabe que sim, cara! – Barzagli o abraçou pelos ombros e ambos entraram gargalhando em minha frente.
É, o último estádio que eu tinha visto apinhado de pessoas, como estava nosso lar hoje, era o Stadio de Berlino na final do Mondiale 2006, um ótimo momento da minha carreira que hoje me traz péssimas lembranças. Bati nas mãos de alguns torcedores acumulados na entrada do ônibus e descemos as escadas correndo, sentindo a iluminação ficar mais forte e seguimos as indicações até o vestiário.
Cada um se dividiu como se fosse partida de jogo mesmo e fui até o último lugar e encontrei um terno completo com a gravata com uma estrela decorativa. A maioria dos jogadores tinha calças jeans e camisa polo para a hora da entrada. Acho que eu não faria parte disso.
- Buona sera, ragazzi! – Viramos o rosto para porta. – Eu sou Paolo, responsável por vocês hoje. – Ele disse e acenamos com a cabeça para ele. – Com exceção de Buffon e Del Piero, todos entrarão somente na apresentação dos jogadores mais para o final. Buffon, você está programado para entrar com as lendas as 20:30 junto de Antonio Conte... – O treinador assentiu com a cabeça. – Na parte das lendas. Então vocês podem se arrumar e já ficarem lá fora. – Ele checou o relógio. – Del Piero, você entrará com Boniperti as 20:40, pode ir também. – O capitano assentiu com a cabeça. – Os demais entrarão as 21:10, mas podem aguardar no banco de reservas. Entendido?
- Sim! – Respondemos juntos e o organizador se retirou.
- Uh, lendas! – Os jogadores começaram a nos zoar e empurrei Storari pelo ombro.
- Façam algo por esse time que vocês serão lendas também. – Conte disse e eu e Alex rimos juntos.
Cada um virou para se trocar e foi fácil eu me vestir. Já tinha ajeitado a barba em casa para me tornar mais apresentável, além de dar um jeito nos cabelos. Pena que eu ainda estava bronzeado da lua de mel e tinha alguns pontos vermelhos no rosto, mas teria que servir hoje.
Vesti a camisa e a calça, ajeitando uma dentro da outra e coloquei o cinto. Me sentei no meu espaço para colocar os sapatos e me levantei de novo para colocar a gravata e o broche nela. O dia em Turim estava bem quente e, apesar do ar-condicionado trincando, sentia que começaria a suar logo mais.
Estava perto das oito horas e o sol não tinha terminado de se pôr ainda. Os jogadores também terminavam de se arrumar e, os mais preocupados com a aparência, como Marchisio, ficavam se olhando diversas vezes mais no espelho, nos fazendo rir e eles serem zoados, obviamente.
- Buona sera, ragazzi! – Todos viramos para porta onde o presidente Andrea Agnelli entrava.
- Sera! – Respondemos naquele clássico tom bagunçado.
- Podemos unir todos para algumas palavras? – Ele entrou no vestiário, Pavel entrou logo atrás e respirei fundo quando entrou atrás dos três, me fazendo prender a respiração.
Ela estava linda. Linda só do jeito que podia ser. Ela usava um vestido regata preto com um decote respeitoso e a saia era um pouco rodada, deixando suas lindas pernas à mostra. A parte de trás do vestido era um pouco mais comprida, mostrando o fundo branco dele. Além disso, nos pés ela tinha um sapato preto e branco e seus cabelos , já um pouco mais cumpridos, estavam jogados em seus ombros em camadas e ela tinha uma maquiagem linda no rosto que me dava vontade de beijar seus lábios rosados.
- Uh! – Os meninos gritaram quando ela entrou e sua mão atingiu Chiellini que estava mais perto, fazendo-o rir.
- Por favor, gente! – Ela falou, visivelmente envergonhada.
- Você está incrível, chefa! – Alex falou e seu olhar passou pela sala e encontrou o meu, me fazendo assentir com a cabeça.
- Grazie, grazie. – Ela disse, abanando a mão.
- Se soubesse que teria essa reação, a gente deveria ter colocado mulheres aqui bem antes. – Pavel falou e ela empurrou-o pelo ombro, nos fazendo rir.
- Engraçadinho. – Ela disse.
- Você já é linda, , mas hoje você se superou. – Agnelli falou e os jogadores gritaram e aplaudiram, fazendo-a revirar os olhos, mas suas bochechas estavam franzidas de vergonha.
- Vocês parem! – Ela disse, apontando para nós. – E você não dá corda para eles, Andrea. – Ela disse para o presidente e dei um sorriso para ela.
- É um dia especial! – Ele disse e ela negou com a cabeça.
- Ok, vamos focar! – Conte falou, batendo as mãos. – Mas você sempre foi bonita, , só teve um upgrade incrível. – Os jogadores gritaram novamente.
- Coisas que o dinheiro e a posição nos proporcionam, vocês sabem disso. – Ela disse, abanando a mão e sorri com ela.
- Vamos lá, gente! – O presidente falou. – Hoje é a nossa primeira noite aqui no estádio. É um dia de grande importância para nós e estou feliz por poder fazer essa inauguração. – Ele disse, sorrindo. – Temos tudo para fazer esse ano ser especial para nós, espero que esse estádio novo, a nossa nova casa, seja de muita inspiração para todos vocês. – Ele sorriu. – Agradeço a todos vocês por fazer parte da nossa história e que coisas boas venham para todos nós. – Ele disse, nós o aplaudimos e eles seguiram para fora do vestiário, me fazendo suspirar.
- Cara, que gata! – Storari falou e eu me contive em revirar os olhos.
- Gigi, vamos lá fora? – Alex perguntou e eu peguei meu paletó, vestindo-o e segui pelo vestiário com Alex. – Comportem-se, hein?!
- Há, há, há! – Os outros jogadores o zoaram e passamos para fora do vestiário, vendo o túnel de entrada cheio, inclusive o trio principal ainda estava caminhando por ali.
- Você viu ? – Ele perguntou.
- Ela está linda! – Falei, suspirando.
- Está mesmo. – Ele falou, dando dois tapinhas em minhas costas e seguimos para perto das outras “lendas” que usavam o mesmo paletó do que nós.
- Gigione! – Marcello Lippi foi o primeiro a me ver e eu sorri, abraçando-o fortemente, sentindo-o dar alguns tapinhas em minhas costas.
- Ah, Lippi. Que saudades de você. – Falei.
- Alex! – Ele abraçou Alex com o mesmo carinho que eu e sorrimos.
- E aí, ragazzi?! – Fabio Cappelo, treinador dos dois títulos relegados, se aproximou, tocando em meus ombros.
- Ei, olha quem está aqui! – O abracei pelos ombros, vendo-o sorrir.
- Bom voltar. – Ele sorriu. – Adorei o convite!
- Vale à pena chamar vocês, não nós! – Falei.
- Ah, dramático! – Conte falou e cumprimentou Lippi e Capello.
- Veio pegar essa bomba para você, Antonio? – Lippi perguntou.
- Para você ver. – Conte disse. – Vamos ver o que vai rolar.
- Vai dar certo, eles estão bem-motivados. – Lippi disse, sorrindo.
- Tem espaço para mais um nessa roda? – Ciro Ferrara perguntou, abraçando Alex e Capello pelos ombros.
- Ei, cara! – O cumprimentei, vendo-o sorrir.
Tinha muitas pessoas famosas ali. Verdadeiras lendas do time, mas eram poucos com quem eu realmente tive contato. Gianluca Pessotto, Paolo Montero, Alessio Tacchinardi e Edgar Davids, que eu tinha jogado, eram os outros mais próximos meus ali. Depois tinha Roberto Bettega que era uma lenda para o time, Dino Zoff, um grande goleiro e ídolo que foi ganhador do mundo também em 1982 com 40 anos, Angelo Peruzzi que foi campeão do mundo comigo e havia jogado aqui antes da minha chegada, entre tantos outros nomes.
Cumprimentei todos eles, ficando um tanto quanto nervoso para falar com Zoff, mas depois me aproximei do pessoal que eu já conhecia. Agnelli, Pavel e andavam por entre os jogadores, cumprimentando todos eles e eu não conseguia tirar meus olhos dela.
- Gigi? – Virei para Lippi.
- Diga.
- Aquela é... – Ele apontou para e eu sorri.
- É sim. – Falei, rindo fracamente.
- O que eu perdi? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Um segundo. – Falei, desviando de algumas pessoas e toquei o braço de , vendo-a virar o rosto para mim.
- Ei, Gigi. – Ela disse.
- Vem cá. – Chamei-a com a cabeça.
- Scusa. – Ela falou para Pessotto e seguiu atrás de mim, me fazendo parar ao lado de Lippi. – Lippi! – Ela falou, animada, abraçando-o e ele tinha um largo sorriso nos lábios, eu também, confesso. Ainda me lembrava do conselho que ele tinha me dado sobre ela.
- Ah, , que saudades de você. – Ele disse, apertando-a fortemente. – Você está incrível. – Ele disse, segurando-a pelos braços, fazendo-a sorrir.
- , Marcelo Lippi... – Falei, vendo franzir os olhos para mim. – Lippi, , gerente de contabilidade do time.
- O quê? – Ele falou, surpreso e ela riu, negando com a cabeça. – Isso é sério?
- É sim, Lippi! – falou e ele a abraçou novamente.
- Dio mio, isso é incrível! – Ele disse. – De pensar que quando eu te conheci, você era uma estagiária toda curiosa...
- Já faz 10 anos, Lippi. – Ela disse, apoiando a mão em seu ombro.
- Dio mio, como o tempo passa. – Ele falou, negando com a cabeça.
- Beh, o Conte é treinador agora, o Gigi não é mais aquele cabelo estranho...
- Ei! – Falei, ouvindo-a rir e sorri para ela.
- E eu virei parte do top cinco.
- Top três! – Falei, mostrando o número nos dedos e Lippi sorriu. gargalhou, se apoiando em meu ombro.
- Parabéns, . Aposto que você vai fazer esse time ir sempre alto. – Ela sorriu.
- É importante ouvir isso de você, mister. – Ela piscou para ele, ambos se abraçaram novamente e ele deu um beijo em sua bochecha.
- E você está linda! – Ele disse e ela sorriu, negando com a cabeça.
- Está mesmo. – Falei, vendo-a sorrir para mim com as bochechas enrugadas.
- Tenho que representar as cores do time. – Ela disse, rindo fracamente.
- Scusa! – Ciro abriu espaço entre nós. – Eu não estou louco, eu te conheço, certo? - Ele perguntou para , fazendo-a rir.
- , estagiária da contabilidade de 2001 a 2003, estava lá... Bom, aqui, quando você jogou seu último jogo. – Ela sorriu.
- Eu sabia que lembrava de você! – Ele disse, rindo. – Você era a namoradinha do Gigi e... – Neguei com a cabeça. – Não?
- Deixa quieto. – falou, rindo fracamente.
- Você é importante agora. – Ele disse e ela sorriu.
- Eu preciso voltar para meus serviços, falando nisso. – Ela sorriu. – Bom te ver, Lippi. – Ela o abraçou novamente e ambos sorriram.
- Bom te ver também, garota. – Ele sorriu e ela se afastou para seguir seus cumprimentos, parando em Capello.
- Você é um idiota, já falei isso? – Ciro virou para mim e eu arregalei os olhos.
- Por que agora? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Você ainda pergunta? – Ele deu dois tapas em minhas costas e eu revirei os olhos.
- Isso vai me perseguir pelo resto da vida. – Sussurrei para Lippi.
- Bom, todos vivemos os altos e baixos de vocês, Gigi, alguns mais do que outros, é divertido, devo assumir. – Ri fracamente.
- Valeu, Lippi. Valeu! – Falei sarcasticamente e ele riu, dando um tapinha em meus ombros.
Observei praticamente flutuar por todos os convidados importantes, recebendo sorrisos de quem fosse e suspirei, negando com a cabeça. Os conhecidos pareciam se surpreender quando ela apresentada a eles, assim como Lippi se surpreendeu. Já os novatos sorriam felizes para ela, provavelmente pela sua beleza, mas eu não estava preocupado com isso, ela estava linda demais, eu simplesmente não conseguia tirar os olhos dela.
Ela estava linda, sim, hipnotizante, mas eu estava muito feliz de ela poder fazer parte de tudo isso. Parecia que ela havia sido feita para isso, estar no topo, sendo valorizada, bonita e incrível. Ela é uma pessoa incrível, merecia tudo isso e muito mais.
Roberto Bettega e Giampiero Boniperti se aproximaram de mim com Alex e eles começaram a falar algo, mas meu olhar realmente não saía dela. Com a proximidade das oito horas, os jogadores saíram do vestiário para se colocarem em seus lugares e alguns brincaram com , fazendo-a sorrir. Pouco tempo depois ela, Pavel e Agnelli se retiraram e fiquei surdo por alguns segundos com a buzina de início da cerimônia.
- Vamos lá! – Alex falou e seguimos para as laterais do corredor, deixando-o livre para os dançarinos e ergui o olhar para as televisões espalhadas pelo local. – Você está desligado, cara.
- O quê? – Perguntei, virando para ele.
- Você está desligado! – Ele repetiu, me fazendo rir fracamente.
- Só um pouco hipnotizado talvez. – Sorri.
- Já vi esse episódio antes. – Ele disse e neguei com a cabeça.
- Deixa quieto. – Falei, passando o braço pelos seus ombros e ele riu.
- Vamos inaugurar nossa casa, Gigi.
- Vamos! – Falei, suspirando.

Lei
Oito de setembro de 2011

- Beh, vamos subir, vai começar. – Agnelli falou quando a buzina estourou em nossos ouvidos.
- Foi um imenso prazer conhecê-lo. – Falei para Dino Zoff, sentindo-o segurar minhas mãos.
- O prazer foi meu. Bom trabalho para vocês. – Ele disse, sorrindo e assenti com a cabeça.
Dei uma rápida olhada para trás novamente, encontrando o olhar de Gigi perdido em mim mais uma vez e deixei que um curto sorriso aparecesse em meus lábios, me fazendo rir. Não, não me vesti dessa forma para ele, mas era bom ser apreciada. E ele estava incrivelmente lindo com esse terno feito especialmente para esse evento. Parecia que fazia eras que eu não o via de terno e era sempre uma visão incrível, principalmente com seu bronzeado que deixava seus olhos em evidência, tornando-os mais intensos.
Dei um pulo quando senti alguém apertando minha cintura e virei para Marchisio que seguia com os outros jogadores para o banco de reservas. Empurrei-o pela cabeça, vendo-o rir e os outros jogadores sorriram para mim, Chiello, Grosso, Barzagli e Bonucci e ri fracamente. Era incrível como as turminhas mudavam a cada temporada, tudo por causa de quem? Gigi. Era louco como as coisas aconteciam. Acenei para eles e segui com Agnelli e Pavel.
Andei logo atrás deles em direção ao camarote presidencial e era engraçado como éramos parados a cada gente nova que víamos. De lembrar que eu vinha no camarote do Olimpico com o Giorgio e eu era lindamente ignorada até ele me apresentar, agora não, todos queriam apertar minha mão e me dava um sorriso com ou sem intenções.
Era engraçado e estranho, da mesma forma que eu sempre soube quem era o top cinco do time e não sabia me comportar perto deles, as pessoas agiam assim perto de mim e fazia pouco mais de sete meses que eu estava nesse posto. Eu não tinha percebido isso até ser apresentada para grandes lendas do time e do futebol italiano.
Chegar no camarote não foi tão diferente, os Elkann, os Agnelli, as esposas de grandes nomes do time, inclusive a viúva de Gaetano Scirea e seu filho, todos me cumprimentavam, elogiavam minha roupa, meu cabelo, me parabenizavam pela minha posição e sei lá mais o quê. Meus olhos encontraram algumas pessoas conhecidas também como Sonia, esposa de Alex, que estava acompanhada da esposa de Gigi. Não me dei ao trabalho de realmente vê-la, na verdade, não consegui nem dar um abraço em Sonia, pois bastante pessoas estavam em cima de mim.
Quando conseguimos nos livrar de todos, seguimos até o último degrau do camarote e sentamos espalhados. Lá cumprimentei Deniz, sua esposa e filho Baya, além de Ivana, esposa de Pavel e seus dois pequenos. A pequena Ivana me abraçou fortemente e dei um beijo em sua testa. Ela já não era a menininha que eu tinha visto da última vez, já tinha seus 15 anos.
- ! – Virei para o lado e sorri para Angelo.
- Ah, alguém conhecido. – Falei, abraçando-o.
- Você está linda. – Sorri.
- Grazie.
- Falando em alguém conhecido... – Ele disse e entreabri os lábios, surpresa.
- Giorgio! – Ele sorriu e eu o abracei fortemente, ouvindo-o gargalhar.
- Ah, ! Não achou que eu ia perder isso, achou? – Ele disse, me fazendo rir.
- Fico feliz que não tenha perdido. – Sorri e ele me abraçou pelos ombros.
- Vocês fizeram um trabalho incrível... – Ri fracamente.
- Não diga isso, você tornou tudo isso possível. – Falei, apertando-o pelo ombro.
- E você está aguentando bem o tranco? – Sorri.
- Ela está aguentando perfeitamente. – Angelo falou, sorrindo.
- Fico feliz por você. – Ele disse e eu sorri.
- Aproveite o show, ok?! Nos falamos depois?
- Com certeza! – Ele sorriu. – Quero conhecer sua equipe.
- Rever a sua, você quer dizer... – Rimos juntos.
Ele seguiu para atrás com Angelo e me sentei entre Pavel e Ivana filha, e logo a cerimônia começou. Na verdade, até chegar aqui, ela já estava começando. Três zebras andavam pelo gramado e suspirei, olhando os diversos pontos de iluminação nas arquibancadas. Era emocionante estar ali, era incrível poder estar ali e ver o que antes era um campo de terra, se tornar na nossa casa.
Uma música impactante e conhecida deu início a cerimônia e nossos olhos foram para os telões do estádio. Diversas imagens novas e antigas do time e do estádio começaram a aparecer, imagens do estádio em construção, dos meninos jogando, dos gols e das defesas. Logo o foco voltou a ser o gramado, dançarinos e homens com tambores, quase como a dança brasileira capoeira tomaram lugar, fazendo com que os torcedores gritassem bem alto.
Após isso, dançarinos com roupas preto e branca começaram a fazer danças sincronizadas que davam uma imagem linda daqui de cima e que formava imagens conhecidas por todos nós. O número 1897, ano de criação do time, até chegar no brasão do time, fazendo a torcida gritar mais alto ainda.
Seguido a isso, fomos convidados a nos levantar para o canto do nosso hino nacional. A torcida se conteve durante toda canção, mas quando finalizamos com “L’Italia chiamò”, eles começaram a gritar as clássicas canções de jogo como se tivéssemos acabado de fazer um gol. Andrea Agnelli e o prefeito de Turim, Piero Fassino, precisaram falar acima dos gritos.
- Senhoras e senhores, bem-vindo à casa. – Agnelli começou. – Somos dezenas de milhares no mundo, milhões na Itália e milhares de centenas nessa cidade. Sabemos comemorar, sofrer, ganhar, granir, nós somos pessoas da Juve. Somos pessoas que se reconhecem ao se encontrar na rua, que sabemos aproveitar os resultados em campo, um campo tão verde quanto este aqui hoje. Pintado com as linhas brancas que pintam nosso destino. – A cada frase dele, os torcedores gritavam comemorando e nós o aplaudíamos.
“Um campo como esse onde fomos consagrados 29 vezes campeões da Itália, duas vezes campeões da Europa e duas vezes campeões do mundo. Hoje escrevemos um novo capítulo da nossa nova história, um capítulo que superará todos os momentos de felicidade e tristeza, uma lenda que superará todos os presidentes e jogadores, uma lenda que aquecerá nossos corações, uma lenda que entra em casa: a Juventus”.
“Quando entrarmos aqui, na nossa casa, saibamos nos reconhecer pelo olhar, pelo olhar de nossos jogadores que estarão aqui para vencer, porque vencer sempre foi o que estivemos acostumados a fazer. E é um ótimo costume. Agora, tentem fechar os olhos por um momento... Agora os abra e veja quem está ao seu lado, não esqueça esses rostos, são rostos da Juventus, rostos que se encontram depois de 114 anos e finalmente se encontram na sua casa. Temos nossa própria casa, temos nosso próprio time, temos fãs incríveis e estaremos sempre unidos, hoje e amanhã, prontos para cantar juntos... Fino alla fine!”
Logo em seguida o prefeito de Turim também fez um discurso, agradecendo a Juventus pelo novo presente para a cidade de Turim. Não foi possível entender muito, já que os torcedores não paravam de gritar, inclusive nós.
Após os discursos, Agnelli cortou uma fita simbólica, representando a oficial inauguração do estádio e fogos iluminaram o céu de Turim. Me levantei junto dos outros, aplaudindo animadamente e passei a mão devagar na lateral dos olhos, emocionada por tudo o que estava acontecendo ali. Tinha tudo para essa ser uma temporada incrível.
Após os aplausos do pessoal, réplicas gigantes de nossos prêmios vencidos nesses 114 anos entraram no gramado, sendo trazido por torcedores. 29 vezes campeões italianos, nove Coppas Italia, quatro supercopas italiana, duas Champions League, três Europa League, além de dois mundiais.
No bloco seguinte, após outras danças muito bonitas e bem sincronizadas, as lendas que eu encontrei lá embaixo começaram a entrar uma por uma. Campeões e pessoas importantes do passado e do presente. Eles entraram e se colocavam a frente dos prêmios, me fazendo sorrir com cada novo nome que entrava, fazendo com que os torcedores fossem literalmente à loucura. Pietro Anastasi, Romeo Benetti, Roberto Bettega, Sergio Brio, Gigi Buffon...
Quando Gigi foi anunciado e entrou no campo, senti meus ouvidos doerem com os gritos, mas também me fez sorrir, eu adorava ver como ele era querido por todo o time. Além de realmente vê-lo ali, ele estava muito bonito mesmo, era incrível a diferença que um terno fazia quando se estava acostumado com os uniformes do time.
A chamada continuou com mais lendas: Antonio Cabbrini, Fabio Capello, Franco Causio, Antonio Conte, Antonello Cucuretto, Edgar Davids, Luisito Del Sol, Angelo Di Livio, Ciro Ferrara, Giuseppe Furino, Claudio Gentile, Paolo Montero, Angelo Peruzzi, Gianluca Pessotto, Fabrizio Ravanelli, Lucidio Sentimenti, mais conhecido como Sentimenti IV, Alessio Tacchinardi, Stefano Tacconi, Moreno Torricceli, Dino Zoff e Marcello Lippi, que fez o estádio ir ao delírio novamente e todos gritaram alto, eu inclusive. Eu tinha um carinho muito especial por ele.
Muitos eu não conhecia mesmo, fui apresentada por eles lá embaixo e tinha feito uma rápida pesquisa pelos arquivos da Juventus, mas a maioria eu já conhecia pelas falas do dia a dia. Outros eu conhecia pelos meus 10 anos de Juventus: Capello, Conte, Davids, Ferrara, Montero, Pessotto e Lippi, alguns com mais e menos intimidade, mas não eram nomes estranhos.
Logos após a apresentação deles, antes de eles saírem do campo, Storia Di Um Grande Amore começou a tocar alto, fazendo com que mais lágrimas deslizassem pela minha bochecha enquanto o brasão da Juventus descesse por meio dos torcedores até tomar um lugar no centro do campo.

Simili a degli eroi, abbiamo il cuore a strisce
Portaci dove vuoi, verso le tue conquiste
Dove tu arriverai, sarà la storia di tutti noi
Solo chi corre può
Fare di te la squadra che sei

Juve, storia di un grande amore
Bianco che abbraccia il nero
Coro che si alza davvero, per te

- JUVE PER SEMPRE SARÀ! – Cantei as últimas palavras junto da torcida e os torcedores voltaram a gritar.
Após a saída das lendas de campo, me fazendo aproveitar mais uns segundos Gigi de terno, antes de ele colocar aquele pijama horroroso, um vídeo com mais estrelas começou a aparecer no telão com a música “Il Più Grande Spettacolo Dopo Il Big Bang” da banda Jovanotte. Nele apareceram mais estrelas, desde imagens em preto e branco, quando ainda era difícil se fazer imagens, passando por velhos conhecidos como Lippi, Zidane, Di Vaio, Peruzzi, Sciera, até chegar nas minhas estrelas, Gigi, Pavel, Del Piero, Trezeguet, Camoranesi, Lilian, Cannavaro, Conte, Chiellini e tantos outros que fez meu coração apertar em saudades. Sentindo pelos faltantes não poderem estar ali para ver esse momento importante para o time.
Não por falta de convite, só não era possível eles estarem ali hoje, cada um seguiu uma carreira e tinha outras responsabilidades para lidar agora.
Deixei que mais lágrimas deslizassem pelas minhas bochechas após um balé aéreo de dois bailarinos com um banco, que acabou sendo o mesmo banco que nosso capitão Alex Del Piero e Giampiero Boniperti, o famoso Boniperti, se encontraram para conversar, fazendo os gritos aparecerem novamente.
- Ciao a tutti! – Alex disse e ouvimos os cânticos voltarem animados, deixando-o verdadeiramente emocionados. – Eu sabia que seria emocionante, mas não achei que seria tanto. A história da Juventus é grande e importante, são 114 anos. A minha história aqui já completa 18... – Eu já chorava e era possível ver as lágrimas de outros também. – Eu vi tantas coisas, passei por vários jogadores, treinadores e foi aqui que eu venci realmente tudo. – Sorri com ele. – Essa história continuou com o Olimpico, com as perdas e a queda, mas quando se cai, tudo o que pode fazer é levantar, com a cabeça fria e com a vontade de vencer. E eu, nós, todos vocês devem fazer isso. Hoje estamos aqui... – Os gritos sobrepuseram a voz de Alex, me fazendo sorrir.
“Essa história é um quadro lindo e hoje damos um novo passo, mais um passo nessa história linda, que mostraremos ao mundo. É uma história linda escrita em preto e branco. Entrei aqui há 18 anos, mas tem pessoas que viram muito mais do que isso. Com vocês, o presidente Giampiero Boniperti”.
Abri um sorriso com os gritos cada vez mais alto e o estádio se colocou em pé para aplaudir Giampiero, a lenda viva do time estava aqui com 83 anos, ele tinha jogado conosco de 46 a 61, depois tinha virado presidente honorário do time em 1981 e depois disso ainda foi eleito senador do parlamento europeu. Além de ser autor de nossa filosofia de vencer. Ele merecia essa ovação.
- Minha história com a Juventus começa em junho de 46, o jornal Tuttosport falou da minha substituição para entrada no jogo, eu só tinha 17 anos, aquilo me marcou muito, eu só não sabia que tinha marcado para a vida inteira. Já passou 65 anos daquele momento e eu continuo aqui. Para parabenizá-los por essa conquista e lembrá-los que vencer não é importante, é a única coisa que conta. – Sorri, aplaudindo junto com os torcedores, feliz pela lembrança. – Auguri a tutti e espero grandes feitorias de todos vocês aqui nesse lar, a bola é sua.
- Hoje é um dia especial... – Alex voltou a falar. – Esse estádio é um presente para todos nós, que merecemos, esperamos que traga todo entusiasmos e felicidade que os presidentes esperam. Vontade, determinação, são importantes e viremos com tudo isso esse ano para vencer tudo. – Ele terminou, nos fazendo sorrir.
Após as falas de Alex, uma linda cantora de ópera começou a cantar e várias imagens de Gianni e Umberto Agnelli, irmãos, detentores de quase 30 por cento do Grupo FIAT, fundado aqui em Turim, como diz o nome, e que, em 1923, eles adquiriram a Juventus, ou seja, os Agnelli são donos do time, não é à toa que John e Lapo Elkann, netos de Gianni, possuem a maioria das ações do time e Andrea, um dos filhos de Umberto, é o presidente hoje e a quem eu sou muito grata pela minha posição.
Pensar na quantidade de filhos e netos que essa família possui e poder fazer parte dessa família, mesmo sendo alguém que nasceu bem longe daqui, no sul da Itália, eu tinha que agradecê-los demais por tudo o que eu havia conquistado nesse time, a eles, a Giorgio, aos jogadores. Minha vida é esse time, não tinha mais volta. Infelizmente eu nunca fui apresentada a nenhum dos dois, nunca os vi nem de longe, Gianni faleceu em 2003 e Umberto em 2004, mas estar em volta dessa família já era extraordinário.
Após o In Memorian, vários dançarinos fizeram coreografias bem sincronizadas com fogo e depois com luzes de LED. Com as luzes, eles fizeram vários símbolos aparecer para nós até a bandeira da Itália se formar em nossos pés e, após desmancharem, as palavras “welcome home” finalmente comprovaram o que estávamos fazendo ali.
- Agora, o momento que todos estávamos esperando, entra em campo a Juventus! – O narrador falou e todos nos colocamos em pé para receber todos os jogadores que eu tinha visto lá embaixo há mais de uma hora. Alguns entraram acenando para todos como Chiellini e Marchisio, grandes conhecidos, agora outros entraram cabisbaixos.
Enquanto a música alta de Jennifer Lopez tocava alto, os fogos estouraram acima de nossas cabeças, iluminando o céu de Turim novamente, fazendo com que mais lágrimas deslizassem pelos olhos, escorrendo pelas bochechas e até o pescoço, mas o sorriso no rosto mostrava que tudo estava bem, tudo havia sido perfeito e agora era a hora do jogo de verdade.
Quando a música e os fogos pararam, nos levantamos para aplaudir e vi um lencinho aparecer no meu campo de visão e sorri para Pavel, abraçando-o de lado, vendo-o rir e sequei os olhos devagar, evitando borrar minha maquiagem, isso tinha sido somente um evento da noite, faltavam outros dois ainda.
- Em breve, o amistoso. De um lado, a Juventus, o primeiro time a vencer tudo, da outra, Nottys County, o time de futebol mais antigo do mundo, o mesmo time que nos deu a camisa preto e branca em 1903. Entra em campo a história. – O narrador falou e eu sorri.
- Como você está? – Pavel perguntou em meu ouvido, gritando para que eu o entendesse.
- Estou bem demais. – Repeti o movimento e o tom de voz. – Deu tudo certo. – Falei e ele sorriu.
- Deu sim, . – Ele riu fracamente.
- Foi lindo demais. – Me sentei novamente, suspirando, secando ainda os pontos que secaram das lágrimas.
- Você aceita beber algo? – Ele perguntou.
- Eu vou lá. – Falei.
Me levantei com eles até o bar, mas com a intenção de ir ao banheiro. Encontrei Sonia dentro dele e trocamos um longo abraço e recebi vários elogios de como eu estava bonita, me fazendo sorrir. Fiquei feliz por não encontrar Alena lá, era um dia feliz, não queria que ele fosse estragado. Só pelo olhar dela, tudo ficou claro, ela sabia de algo, mas era passado, não é mesmo? Ambos se casaram, agora era seguir com a vida.
Passei no bar para pegar água e voltei para o meu lugar. Ou melhor, tentei, esse negócio de ser uma pessoa pública era mais difícil do que eu pensava, as pessoas me pararam para simples cumprimentos e até comentários sobre a cerimônia. Pelo menos só tinham elogios. A desvantagem foi que eu perdi o treino dos meninos, mas o jogo começaria 22 horas, não é como se tivesse muito tempo para treinar. Pelo menos eles estavam bem aquecidos depois de tudo, aqui no camarote estava fresco, mas estava abafado lá embaixo.
Ouvir a primeira formação da Juventus ser anunciada até fez meu corpo arrepiar. Treinador: Antonio Conte. Daí seguiram o nome dos outros 11: Buffon, Motta, Pazienza, Pepe, Del Piero, De Ceglie, Barzagli, Elia, Bonucci, Vidal, Matri. Fiquei surpresa com algumas escolhas, mas Gigi e Del Piero não poderiam faltar. Chiellini deveria estar se recuperando da lesão do fim da temporada passada ainda.
Os jogadores entraram sem a clássica formação, juiz e tudo mais, mas relevamos dessa vez, era um dia de festa. Del Piero e o capitão do Nottys County se encontraram no meio, trocaram camisetas e ficaram com o campo norte e estávamos prontos para começar.
A empolgação e pressão para o primeiro gol era grande, Conte havia dito a eles que daria um prêmio para quem fizesse o primeiro gol e que vencer era muito importante por causa da situação que nos encontrávamos. Era a inauguração do nosso estádio, era realmente importante.
Apesar da pressão, nos primeiros 45 não tivemos grandes feitos, Matri tentou, Elia tentou, todos tentaram, poucas faltas foram feitas, foi verdadeiramente um jogo chato. Quando chegou o segundo tempo, Conte começou a mexer, não tinha quantidade máxima de substituições e todo mundo queria jogar no estádio novo, então Toni tentou, Quagliarella tentou e, da mesma forma que nós tínhamos a obrigação de ganhar, parece que o Nottys County não estava muito aberto para deixar isso acontecer.
Aos 53 minutos, em um pênalti após toque de mão, eu pensei que viria nosso primeiro gol, mas não. Quagliarella bateu, após a saída de Del Piero, e o goleiro defendeu, a sorte foi que Luca Toni, que estava de saída do time, fez a finalização e mandou para o fundo do gol. O estádio comemorou como se fosse a final do Mondiale, apesar de tudo, mas foi bonito ver o primeiro gol em casa.
Seguramos o placar em 1x0 até o final do jogo, achava que acabaria assim, até vir uma falta para o outro time aos 86 minutos. Após uma bagunça na grande área e um desvio errado da nossa parte, Manninger, que já tinha substituído Gigi, fez a defesa, mas o rebote fez o adversário meter a bola no fundo do gol. Claro que o clima sumiu depois disso, mas fazer o quê?
A vantagem era que por ser quase meia-noite de uma quinta-feira, o estádio já estava esvaziando. De pensar que eu ainda tinha um coquetel para seguir depois que isso acabar. Meus pés já doíam, meu corpo já reclamava depois da última semana corrida, mas pelo menos todos teríamos folga amanhã, apesar de que precisava checar tudo para o primeiro jogo oficial do campeonato no domingo.
Mas quem precisava dormir, não é mesmo? Minha cabeça pensava nisso, mas minhas mãos escondendo meu bocejo diziam outra coisa. De pensar que hoje era só o começo do que viria a ser uma temporada incrível.
Esperávamos, pelo menos.
O jogo acabou em 1x1, não foi o resultado que esperávamos, com certeza não, mas agora dependia de Paratici, Beppe, Conte e toda a equipe técnica para avaliar como havia sido o jogo. Achei que foi difícil passar por eles, ainda mais um time que frequentemente se salvava do rebaixamento. Ou nós que havíamos subestimados eles. De um jeito ou outro, eu havia feito a minha parte, agora dependia do outro lado. Por enquanto, tinha uma festa para ir.
*Para ver a cerimônia completa, entre aqui.

Lui
Oito de setembro de 2011

- Não foi exatamente uma forma de começar, não é?! – Saí do box, enrolando a toalha na cintura.
- Podia ser pior, honestamente. – Vi Chiellini falando.
- Falando do jogo? – Me aproximei dele e de Alex.
- É! – Alex falou.
- Você sabe o que isso quer dizer, não?! – Bonucci falou.
- Eu não sou supersticioso, Leo. Para mim não quer dizer nada. – Falei, rindo fracamente.
- Foi um gol indefensável, qual é! – Storari apareceu entrando do corredor. – Ainda acho que estava impedido.
- Tive essa impressão também. – Falei, me aproximando das minhas roupas e coloquei a cueca.
- Sou só eu ou mais alguém está desanimado para essa festa? – Marchisio se aproximou de nós, saindo do box também.
- Eu estou cansado. – Alex falou, começando a vestir o terno novamente.
- A semana foi pesada para caramba, ensaios e treinos para essa inauguração. – Falei.
- Essa festa é mais para o administrativo e acionistas. – Alex disse. – É tipo uma apresentação. – Ele suspirou, fazendo o nó da gravata e eu comecei a me vestir também.
- Pelo menos o top cinco parecia feliz. – Marchisio falou, dando de ombros.
- Não sei se estão felizes, mas deu tudo certo. – Barzagli ocupou nosso lado.
- A está feliz. – Comentei baixo, suspirando e Alex sorriu para mim pelo espelho.
- Ela que fez boa parte das coisas acontecerem, né?! – Chiello falou. – Ela tem que estar feliz mesmo.
- Não deve ser fácil cuidar do dinheiro de um time, cara. – Barzagli disse.
- Ela está fazendo um bom trabalho...
- Andiamo, ragazzi! – Vi Conte bater no batente da porta para o banheiro pelo reflexo do espelho. – Eu estou com fome. – Rimos juntos.
- Pelo menos a festa vai servir para isso. – Dei de ombros, vestindo a camisa social e colocando-a por dentro da calça.
- Vai ser tipo a festa de Natal, beber, comer, tirar umas fotos e acabar antes do primeiro ficar bêbado. – Alex disse.
- Só não nessa ordem! – Chiello falou, nos fazendo rir.
- Você vai ser, vai começar pelas fotos. – Falei, ouvindo-os rirem.
- Está bem para mim! – Marchisio disse, sendo o primeiro a sair do banheiro.
Todos terminamos de arrumar, dessa vez com o mesmo terno que eu e Alex tínhamos usado na apresentação e saí do banheiro, levando minha mochila para fora também. Voltei para o vestiário, vendo a maioria dos jogadores já prontos ou quase prontos e me sentei para colocar novamente o sapato social. Passei a toalha rapidamente pelos cabelos e descartei-a no local correto.
- estava feliz, hum? – Vi Alex ao meu lado.
- É, parecia, pelo menos. – Suspirei.
- Só estou te copiando. – Ele falou, rindo fracamente e empurrei-o pela cabeça, ouvindo sua risada ficar mais alta.
- Não tem graça. – Disse baixo.
- Só dizendo, cara. Ela estava linda, na verdade, cada dia mais, não é?! É que não estamos acostumadas com ela de gala. – Ele deu de ombros.
- Eu gosto de como ela está indo bem. – Suspirei, afrouxando um pouco a gravata. – Ela foi feita por isso, Alex.
- Foi. – Ele suspirou, se sentando no espaço vazio de Elia. – Como vai ser ano que vem sem mim aqui?
- Oh, desacelera aí, capitano, a temporada nem começou ainda. – Ele riu fracamente. – E precisamos fazer de tudo para ganhar esse ano, já que você quer sair.
- Você acha que dá certo? – Ele perguntou, com o olhar disperso e me sentei ao seu lado.
- Espero que sim, a gente queira ou não, está com uma pressão gigantesca nas costas. – Ele suspirou, passando a mão nos cabelos. – Técnico novo, equipe nova, estádio novo. Não estão de brincadeira.
- Posso garantir que não mesmo. – Alex disse. – Vamos fazer dar certo. – Assenti com a cabeça.
- Quero saber o que eu vou fazer se você sair mesmo. – Ele riu fracamente.
- Cuidar desse time sozinho, capitano. – Ele disse e eu suspirei. – Mas ainda terá o Chiello da galera antiga.
- Não, o Chiello já é turma 2005, da turma 2001 vai sobrar só eu. – Suspirei.
- Você vai fazer um bom trabalho. – Ele bateu em minha perna e eu ri.
- É, vamos sobreviver a essa temporada antes. – Falei, me levantando e ele riu fracamente.
- Combinado. – Ele bateu em minhas costas e virei para finalizar de guardar minhas coisas.
Após finalizar, alguns jogadores já começaram a se retirar do vestiário e segui com eles. Deixamos nossas coisas com um dos assistentes e seguimos pelo túnel até os elevadores. A festa, que na verdade era mais um coquetel, levando em conta que já passava da meia-noite e todo mundo estava nas dependências do time para fazer os últimos detalhes desde as oito da manhã, seria em um dos vários lounges do estádio.
Tínhamos feito um pequeno tour e tinha o lounge do camarote oficial – ou presidencial –, o lounge dos jogadores e convidados de honra que cabia cerca de três mil pessoas e dava para o estádio, e outro que era para os futuros associados tinha metade da capacidade do anterior. A festa aconteceria no do meio, só esperava que não estivesse tão cheio.
Assim que chegamos no lounge, os olhos automaticamente foram para nós. O top cinco, que coincidente tirava algumas fotos com os acionistas bem na nossa chegada, se viraram para nós e Agnelli puxou uma salva de palmas, fazendo com que todos os seguissem e as pessoas se levantassem para o feito.
A ideia de chegar de fininho não tinha dado certo.
Agnelli veio cumprimentar a mim e Alex e Pavel veio logo atrás. Observei por cima do ombro de Agnelli e ela conversava com Beppe, mas seu olhar estava perdido em mim ou nos jogadores, não sabia dizer, estávamos todos juntos. Eu só queria aproveitar um pouco mais para olhá-la antes do dia finalizar. Ela estava linda. Agora seu batom já tinha saído, ela já tinha feito um coque com seus cabelos e suava como todos nós, mas continuava linda. Dava vontade de convidá-la para levar para casa só para aproveitar um pouco mais. Pena que...
- Alena está ali com a Sonia! – Alex falou e desviei meu olhar dele. – Vamos lá.
- Claro. – Falei, desviando das pessoas e dos outros jogadores que dispersavam até seus familiares ou até o top cinco.
Observei Chiellini, Bonucci e Barzagli se aproximarem de , Beppe e Paratici para cumprimentá-los com suas respectivas namoradas e esposas e abanei a cabeça, seguindo até minha esposa.
- Oi, Gigi. – Alena me abraçou pelos ombros.
- Ei, Lena. – Falei, levando minha mão para sua cintura e ela deu um curto beijo em meus lábios, me fazendo sorrir. – Oi, Sonia! – Acenei para a outra.
- Tudo bem, Gigi? – Ela sorriu, me esticando a mão e segurei-a por alguns segundos.
- E aí, o que acharam? – Alex perguntou.
- Você estava nervoso demais, amor. – Sonia falou, nos fazendo rir.
- Ah, ficou na cara? – Ele perguntou.
- Demais! – Sonia disse, rindo e nós a seguimos.
- Ainda bem que eu não precisei falar nada. – Disse, acariciando a cintura de Alena.
- Você estava lindo, Gigi. – Alena disse e eu sorri.
- O pessoal está aqui ainda, Gigi. – Alex falou, indicando com a cabeça algum lugar atrás de mim e me virei, encontrando alguma das lendas.
- Ah, bom, quero falar com o Lippi antes de ele ir embora. – Falei.
- O Prandelli também está aqui. – Ele comentou.
- Ano que vem tem Euro, ele deve estar vindo sondar um pouco. – Rimos juntos.
- Boa sorte para vocês. – Rimos juntos.
- Ele está falando com o Lippi. – Comentei. – Enfim, vocês querem beber algo?
- Eu estou bem, Gigi. – Lena disse.
- Eu vou contigo. – Alex disse. – Amor, quer algo? Vinho?
- Branco, por favor. – Ela disse e eu e Alex seguimos até o bar, nos apoiando no balcão.
- Dois uísques com gelo e um vinho branco, por favor. – Alex pediu, se apoiando no bar. – Essas festas são todas iguais, não?
- O pior de tudo que essa nem tem música. – Comentei, ouvindo-o rir.
- É, pelo jeito não querem nos manter aqui por muito tempo. – Alex disse e neguei com a cabeça.
- Não é como se não estivéssemos acostumados a dormir tarde. – Comentei, assentindo para o barman.
- Podemos fazer isso amanhã... – Virei o rosto, vendo Pavel e se aproximarem.
- Ei, nem conte comigo amanhã. – Ela falou, rindo. – Ciao, ragazzi. – Ela falou, apoiando os braços no balcão ao meu lado.
- Ciao, . – Alex falou antes de mim.
- Podemos ir e fazer isso em duas horas. – Ouvi Pavel falar para ela.
- Podemos fazer isso em 10 minutos, mas amanhã não conte comigo para nada. – Ela disse, risonha. – Eu estou com esses sapatos desde as quatro da tarde, amanhã eu não vou conseguir colocar os pés no chão, preciso me recuperar para domingo, vai ser outro dia pesado. – Ela negou com a cabeça. – Segunda-feira, por favor. Essa semana foi pesada.
- Ok, ok, segunda-feira. – Ele falou. – O pessoal vai embora quando? – Ele perguntou e eu dei um gole em minha bebida.
- Segunda-feira. – Ela disse, revirando os olhos. – Mas a transferência só vai sair em janeiro agora, a janela já fechou.
- Está bem, a gente vê isso depois. – Ele disse.
- Descanse, tire o paletó, erga os pés, aproveite com os filhos, só não me ligue. Eu adoro você, mas essa semana não.
- Relaxa, Pavel. – Alex disse, fazendo sorrir.
- Ok, ok, não está mais aqui quem falou. – Ele disse, rindo e se afastou alguns passos antes de se virar novamente.
- Uma água, por favor. – se virou para o barman.
- Na água hoje? – Alex perguntou.
- Estou o dia inteiro na água, não dava para beber hoje, o dia foi uma loucura...
- Mas deu tudo certo, , ficou ótimo. – Ela sorriu, recebendo a taça com água.
- Grazie. – Ela se virou para nós. – Deu sim, faz uma semana que eu não durmo direito de empolgação e ansiedade, isso que nem faço parte das relações públicas, mas a verba dedicada não deu e aí é aquela correria para liberação com o conselho e... Ah! – Ela suspirou.
- Relaxa, chefa! Agora é correr para o abraço. – Alex disse.
- Vocês não têm direito de me chamar assim, já falei para o Chiello. – Sorri. – Vocês são meus amigos.
- Onde eu fui me meter, não é mesmo? – Alex disse e revirou os olhos.
- Sai daqui! – Ela disse, nos fazendo rir. – Pena que ficamos num empate. No primeiro jogo. Dentro da nossa nova casa. – Ela falou pausadamente.
- Não foi nossa culpa! – Falei rapidamente, ouvindo-a rir.
- Não, mas o gol foi indefensável também. – Ela deu de ombros.
- Ah, meu trio favorito aqui. – Senti uma mão em minhas costas e eu e viramos para Lippi atrás de nós.
- Ah, meu técnico favorito aqui. – o abraçou pela cintura, sorrindo.
- Sério? Eu sou seu técnico favorito? – Ela riu fracamente.
- Não deixe o Conte ouvir isso. – Ela disse mais baixo.
- E como estão todos? Confesso que adoro ver vocês crescidos, bonitos, bem-sucedidos...
- Que papo mais de pai, Lippi. – Falei, ouvindo-o rir.
- Eu tenho idade para ser o seu pai, de todos vocês, na verdade. – Ele disse. – O Davide é mais novo que o Alex, por sinal.
- Ai, doeu! – Ele falou, nos fazendo rir.
- Mas estou feliz por todos vocês. – Ele acariciou o rosto de , fazendo-a sorrir. – Vocês vão fazer o time voltar a crescer de novo.
- Essa é intenção. – Alex disse, suspirando.
- Vamos fazer um brinde, então? – Ele falou. – Scusa, um uísque, por favor.
- Ao que você quer brindar? – Perguntei.
- A um futuro incrível para Juventus e a vocês. – Ele disse, assentindo com a cabeça para o garçom ao pegar o copo e ergueu-o.
- A todos nós, então. – disse.
- Não só profissional, mas pessoal também. – Ele sorriu e riu fracamente. – A nós. – Ele disse.
- A nós. – Alex estendeu seu copo e eu e fizemos o mesmo, ouvindo o tilintar dos copos e taças e cada um bebeu um gole.
- Você é terrível, Marcello Lippi. – disse, dando um beijo em sua bochecha. – Até mais, gente.
- Até. – Falei com Alex, franzindo a testa.
- Eu te acompanho, . – Ele disse, esticando o braço para ela e ambos seguiram em direção a Agnelli e Pavel.
- Por que ela disse aquilo? – Virei para Alex, ouvindo-o rir após minha pergunta.
- Você não entendeu mesmo? – Ele disse e eu neguei com a cabeça. – Vida profissional, pessoal, você e ela? Lippi dando uma de cupido mais uma vez?
- Ah, fala sério. – Revirei os olhos.
- Não é como se ele estivesse precisando fazer muito. – Ele pegou a taça de Sonia e seguiu alguns passos à frente.
- Ah, Del Piero... – Neguei com a cabeça, rindo fracamente. Virei o rosto para onde Lippi e tinham ido e suspirei, virando o restante do uísque. – Mais um, por favor. – Pedi, suspirando em seguida.



Capitolo veintotto

Lei
11 de setembro de 2011

- Ei, ela apareceu. – Pavel falou assim que eu entrei no estádio.
- Engraçadinho! – Falei, me aproximando dele e dos outros três confidentes, dando um beijo em cada um.
- Conseguiu recuperar? – Paratici perguntou quando eu o beijei por último.
- Sim, consegui. – Suspirei. – Não sei como os pés entraram nos sapatos hoje, mas... – Eles riram.
- Eu pago o dia que você vem sem salto. – Agnelli falou, sorrindo.
- Se tudo der certo, nunca. – Falei e ele sorriu.
- Beh, nós vamos lá para dentro cumprimentar os jogadores, eles devem estar voltando do treino agora, depois vamos ficar um pouco no campo até o começo do jogo. – Agnelli disse. – Uma forma de apoio aos jogadores e aos torcedores.
- Casa lotada hoje, gente. – Falei.
- Fazemos uma rápida aparição, cumprimentamos todos, depois subimos. – Ele disse.
- Vamos, então, faltam 20 minutos. – Chequei o relógio, vendo que era 12:10. – Afinal, de quem foi a ideia de fazer um jogo meio-dia e meio?
- Não sei, mas é horrível. – Pavel suspirou.
- A Federazione escolhe os horários, mas esse foi difícil. – Agnelli disse, revirando os olhos.
- Alguém sempre sofre, dessa vez fomos nós. – Pavel disse.
- Beh, vamos lá. – Beppe falou e esperei Agnelli e Pavel seguirem à frente para eu seguir logo atrás deles com Paratici e Beppe logo atrás.
Passamos pela área VIP do estádio, seguindo pelos corredores que eu já quase tinha decorado e algumas pessoas nos cumprimentavam com um aperto de mão, já outros davam rápidos acenos. Eu ainda achava loucura tudo isso, por um momento eu fui somente uma entre vários no time e acionistas, agora eu estava dando as cartas, todos faziam questão de me cumprimentar, era difícil, honestamente.
Seguimos pelos corredores até chegar no vestiário e dei uma rápida ajeitada em minha saia mid. Depois de quinta-feira, eu sabia que seria difícil eu passar despercebida dos jogadores, todos olhavam para mim e alguns tinham boas segundas e terceiras intenções com seus flertes e brincadeiras, mas eu me vestia para mim. Apesar de gostar do agrado... Beh, e do olhar de Gigi que tentava fingir que nada estava acontecendo quando parecia querer me comer com o olhar.
Junto da saia preta, eu tinha escolhido uma regata branca mais larguinha, que estava dentro da saia, além de sapatos altos, mas com saltos um pouco mais baixos e grossos, igualmente brancos. Precisava dar uma folga para meus pés. Agnelli e Pavel entraram na frente no vestiário, cumprimentando algumas pessoas e fui logo atrás, já parando em Conte.
- ... – Conte falou e eu sorri, abraçando-o rapidamente.
- E aí, mister, pronto? – Perguntei, passando as costas das mãos na testa suada do treinador.
- Um pouco nervoso, sendo bem honesto. – Rimos juntos.
- Sem pressão, seja o Antonio Conte de sempre. – Falei e ele sorriu, me abraçando fortemente.
- Só quero ver como vou sobreviver lá fora com esse terno.
- In bocca al lupo. – Dei dois tapinhas em seu ombro e ele sorriu.
- Fino alla fine. – Sorri, seguindo mais alguns passos e parei no treinador de goleiros.
- Claudio. – Falei, chamando-o.
- ! – Ele sorriu e abracei-o, dando um beijo em cada bochecha sua.
- Bom te ver! – Sorri e ele assentiu com a cabeça.
Passei por outros três assistentes e segui com Agnelli e Pavel para dentro do vestiário. Antes que eu pudesse ao menos me conter, meus olhos foram para o fundo do lado direito e levei minha mão rapidamente até meus lábios para tentar esconder a mordida no lábio que eu dei. Os jogadores ainda estavam se arrumando, alguns mais avançados que outros, mas Gigi não estava tão avançado assim, ele ainda subia os shorts e deixava seu abdome definido à mostra.
Abdome definido por sinal que estava limpo, sem nenhum pelo, diferente do que eu estava acostumada quando eu tinha essa visão privilegiada todos os dias. Além disso, ele definitivamente estava com essa região mais definida, não que ele não estivesse em forma quando passamos alguns meses juntos, longe disso, mas naquela época ele era forte, agora ele estava definido também, inclusive seus ossos da bacia me davam ótimas lembranças.
Ah, claro, isso sem contar todos os outros caras seminus à minha volta. Eu sabia que precisaria me acostumar com isso, não precisaria vir a todos os jogos, mas os jogos que eu viesse, era indicado fazer uma visita aqui embaixo. Talvez vir aqui para ver Gigi já era uma bela vantagem. Olhar não tira pedaço, não é mesmo? Talvez não, mas eu sentia algo esquentar entre minhas pernas e agradecia o sutiã com bojo, pois isso tinha me excitado. Quanto tempo até o fim do jogo?
- Buon pomeriggio, ragazzi. – Agnelli falou, me distraindo de meus pensamentos sórdidos e me encontrei apoiada na divisão do corredor e do vestiário.
- Ciao, ciao! – Os jogadores responderam e ninguém pareceu realmente se importar comigo ali, afinal, para que se importar quando as câmeras de transmissão entraram aqui e pegavam muito mais do que alguns tanquinhos?
- Viemos cumprimentá-los e desejar um bocca al lupo para vocês. Hoje é um dia importante, emocionante, o começo da nossa nova batalha. – Ele disse. – Esperamos que nossa casa presencie muitos gols, muitas defesas e muitas conquistas. Que possamos festejar sempre. – Ele disse, nos fazendo aplaudi-lo.
- Nós estávamos conversando e queríamos fazer uma aposta. – Alex falou um pouco mais alto, fazendo todos rirem fracamente.
- Ah, Dio! – Conte falou ao meu lado, revirando os olhos. – Eu não vou pagar nada. Fala com ela. – Ele apontou para mim.
- Que aposta? – Perguntei.
- Quem fizer o primeiro gol ganhar uma compensação monetária. – Chiellini falou ao meu lado e eu arqueei uma sobrancelha.
- Ok, e onde entramos nisso? – Perguntei, dando alguns passos para dentro do vestiário e cruzando os braços.
- Você dá a compensação monetária. – Alex disse e eu soltei uma risada sarcástica e alta. – Não?
- Não mesmo! – Fale, me aproximando da mesa colocada no centro.
- Ah, qual é, chefa! – Bonucci falou.
- Não! – Falei, rindo fracamente. – A gente já gastou muito, não tem como eu declarar uma quantia como “aposta” na contabilidade, gente! – O pessoal riu fracamente.
- Ah! – Eles fizeram caretas e encontrei Gigi sorrindo em minha direção.
- Agnelli, ajuda aí! – Marchisio falou.
- Ela manda no dinheiro. Ela que decide. – Ele falou e eu sorri em sua direção.
- Além do mais, essa aposta não é justa. – Falei. – Por dois motivos. Primeiro: o Toni já fez o primeiro gol. – Apontei para ele, vendo-o erguer os braços e sorrir.
- Grazie, grazie! – Ele disse, me fazendo rir.
- E segundo: o primeiro gol? E do meio para trás? Não entram na competição?
- Aí sim! – Chiello falou, começando a aplaudir e Barzagli, Lich e Leo foram com ele.
- Eu adoraria fazer um gol, mas acho meio difícil. – Gigi disse e eu sorri.
- Se você fizer um gol, aí eu penso em uma compensação, porque isso sim seria sensacional. – Falei, apontando para ele que sorriu e os meninos começaram a me zoar.
- Ah!
- Uh!
- Ah, qual é, eu já vi vários gols seus, Del Piero. – Falei para Alex. – Adoraria ver mais um, mas acho que não vou entrar nessa, não.
- Ah, mancada, chefa! – De Ceglie falou e eu ri fracamente.
- Vocês podem fazer uma aposta entre vocês. – Falei. – Peguem um chapéu, decidam o valor e apostem em quem vai fazer o primeiro gol. – Dei de ombros.
- Desse jeito até eu topo participar. – Pavel falou.
- Viu?! – Ergui a sobrancelha para Alex.
- Não é como se eles tivessem tempo. – Conte falou. – 10 minutos, ragazzi. – Ele gritou, nos fazendo rir.
- Eu aposto em você, capitano! – Falei para Alex e ele sorriu.
- Não tente me comprar agora. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Ei, eu não fiz nada. – Fui sarcástica, dando um curto sorriso e eles riram. – Bom jogo, gente! A casa está cheia, os torcedores querem um bom espetáculo e é o Parma. – Pisquei sem direção específica. – Arrasem, ok?!
- Uhul! – Eles começaram a gritar e bater nos armários.
- Lembrando que depois do jogo teremos um almoço aqui, não é obrigado a ficar, mas imagino que todos estarão com fome. – Beppe disse.
- Não negamos isso. – Storari falou, rindo com outros jogadores e eu ri fracamente.
- Vamos deixar eles terminarem. – Pavel falou.
- Ciao, ciao! – Falamos um tanto juntos e passei por Chiello que ficava próximo à porta e ele estendeu a mão para mim, dei um rápido abraço nele e em Marchisio antes de seguir para fora do vestiário.
- Bom jogo, Mister. – Falei para Conte na porta.
- Valeu, . – Ele disse, me dando um rápido abraço e segui para fora junto dos outros.
Desviei o passo para que Agnelli seguisse à frente e fui junto deles para o túnel de entrada dos jogadores. O time do Parma estava pronto e reconheci Giovinco, que era nosso empréstimo e Zaccardo, campeão do mundo junto de Gigi, Alex, Barzagli, Iaquinta, Toni e outros.
Pisei no gramado com mais facilidade dessa vez, arregalando os olhos surpresa de quantas pessoas tinha ali. Quinta-feira também estava lotado, mas as pessoas não puderam trazer faixas e bandeiras, hoje a torcida organizada havia trazido tudo mesmo e ver aquelas bandeiras sacudindo e os torcedores gritando era lindo demais.
Dei um rápido giro ao redor do corpo para enxergar todos os assentos ocupados e sorri. Agora sim! Quinta-feira não tinha sido o verdadeiro espetáculo, hoje era e estávamos prontos para tudo. Segui lateralmente com meus colegas de administração, me apoiando nas proteções ao redor do campo e suspirei deixando um sorriso escapar de meus lábios.
Não demorou muito para os jogadores entrarem. Nossa primeira formação era especial: Gianluigi Buffon no gol, Giorgio Chiellini, Andrea Barzagli, Stephan Lichtsteiner e Paolo De Ceglie na defesa, Andrea Pirlo, Claudio Marchisio, Simone Pepe e Emanuele Giaccherini no meio e Alessandro Del Piero e Alessandro Matri no ataque. Tinha tudo para ser incrível.
Os jogadores se cumprimentaram, se separaram e cada um foi para seu campo. O primeiro tempo começou até que calmo, tivemos algumas faltas, Del Piero estava sendo muito bem-marcado e Conte gritava muito quando acontecia algo injusto. Me assustava com seus gritos tão próximos, mas eu estava gostando de ver essa empolgação do lado de fora, diferente de Delneri. Parecia que Conte queria entrar no jogo e jogar.
Não seria tão mal.
O tão esperado gol veio aos 16 minutos por Stephan Lichsteiner, um gol lindo que fez quase todos os outros jogares pularem nele. Quem diria que o primeiro gol seria logo de um defensor? Falando em defensor, eu estava gostando de ver Barzagli, era difícil as bolas que chegassem em Gigi, no primeiro tempo não teve nenhuma. Coitado! Ele ficaria marcado para sempre como minha primeira contratação, mas ele estava saindo um belo investimento e ainda havia sido super barato. Não tinha como eu não fazer essa comparação.
No fim do primeiro tempo, Matri tentou fazer o segundo gol, fazendo o estádio inteiro pular pela beleza do gol, mas foi dado com impedido, pelos gritos de reclamação, imagino que não, mas não estava ali para isso.
Aproveitamos o intervalo para subir, agradeci, eu estava com um salto mais confortável, mas não o suficiente para ficar tanto tempo em pé na grama. Chegando no camarote, algumas pessoas nos cumprimentaram como era de praxe, inclusive esposas e viúvas de pessoas importantes para esse time e acenei de longe para Sonia que estava lá, acompanhada de Alena... Deixa para lá.
Me sentei ao lado de Pavel, relaxando meu corpo e o garçom do bar lá dentro veio perguntar o que eu queria. É, são essas vantagens que a gente tem com esse posto. Pedi uma Coca-Cola bem gelada e aguardei com o começo do jogo.
Se Gigi não tinha aparecido no primeiro tempo, ele apareceu logo no segundo, ele defendeu para frente, mas logo correu para pegar a bola. Matri teve outra oportunidade de gol, mas acabou perdendo. Tinha só ele e o goleiro, um gol feito e ainda bateu na trave. Logo depois Conte tirou ele e trocou por Mirko Vucinic, montenegrino, ex-jogador da Roma que estava fazendo sua estreia pela Juventus.
Depois de algumas tentativas, Pepe finalmente fez seu gol e o placar mais alargado começava a me dar mais conforto, foi a vez do Parma tentar compensar, mas Gigi fez todas as defesas que chegaram. Quando Del Piero foi substituído por Arturo Vidal, chileno, ex-jogador do Bayer Leverkusen, que também estava fazendo sua estreia hoje, ele deu a braçadeira de capitão para Gigi.
Era estranho ver essas cenas, pois elas seriam cada vez mais comuns, só esperava uma temporada confortável para Alex, sem muitas surpresas ou lesões.
Pepe saiu logo em seguida e foi trocado por Miloš Krasić, sérvio, que estava conosco há umas temporadas já. Após uma pequena mudança de jogo, Vidal não perdeu tempo em fazer seu primeiro gol, 3x0, era um ótimo começo, mas não era o suficiente. Eles ainda buscavam mais e parecia que os gritos da torcida os animavam para isso.
Pirlo fazia um jogo incrível, era loucura pensar que o Milan tinha se recusado a estender o contrato com ele por achar que ele não teria a capacidade de atuar em alto nível mais, mas ali estava ele, sendo um dos mais importantes da partida e colaborando com passes e assistências incríveis.
Seguindo para o final do jogo, Krasić sofreu uma falta e ele mesmo a bateu, o goleiro defendeu para frente e Marchisio aproveitou a levantada da bola para mandar mais uma, uma pintura que só o princippino poderia fazer mesmo.
O mais engraçado logo depois foi que Giovinco cometeu uma falta em Barzagli e o meu contratado levantou bem irritado, mas ao ver quem tinha feito a falta, parou na hora, talvez tenha sido pela altura, Giovinco deveria bater na minha cintura e isso não era exagero. Agora Barza era um pouco mais alto do que eu, imagine a diferença, mas tinha que assumir que Giovinco era ágil, precisava trazê-lo de volta para nós.
Quando o relógio estava chegando aos 90 minutos, De Ceglie fez uma falta dentro da área e o pênalti foi dado, Gigi, Chiello e Barza tentaram argumentar com o juiz, mas não deu certo, o pênalti foi dado e Paolo foi expulso. Depois de quatro gols, algo ruim tinha que acontecer. Juntei as mãos em uma reza silenciosa para que Gigi também tivesse seus louros hoje, mas não. Giovinco bateu, bola foi para um lado, Gigi para outro e logo em seguida o jogo acabou.
Beh, terão outros dias e outros jogos, por enquanto, eu estava feliz por tudo o que conquistamos aqui hoje. Era o primeiro jogo da temporada, primeiro jogo no estádio e estreia de Conte e de diversos outros jogadores, tinha muito para acontecer e, baseado nos gritos de Conte na beirada do campo, eu estava empolgada em ver isso.

Lui
15 de setembro de 2011

- Buongiorno! – Falei, saindo do carro e encontrando a maioria dos jogadores chegando ao mesmo tempo.
- Belo dia, hein?! – Alex falou, irônico, pegando rir quando eu fechei a porta.
- Só eu estou empolgado com isso? – Marchisio falou e rimos fracamente.
- Você é mais arrumadinho, mais charmosinho. – Barzagli falou, nos fazendo gargalhar.
- Eu lembrei de lavar o cabelo. – Chiellini falou e franzi o rosto, vendo seus cabelos ralos.
- É, faz bastante diferença. – Falei e ele gargalhou.
- Vai ficar todo mundo bem feio nessa foto. – Quagliarella falou.
- E você é o único bonito? – Matri brincou, passando a mãos nos cabelos bagunçados dele.
- Ei! – Ele reclamou, correndo atrás de Matri, fazendo as risadas aumentarem.
- Isso se conseguirmos tirar uma foto, não é?! – Alex falou baixo para mim e rimos juntos.
- Até parece! – Falei, passando o braço nos ombros do mais baixo.
O pessoal estacionava os carros e ia saindo dos carros fazendo alguma piadinha sobre as fotos oficiais do time. Era pouco mais de nove da manhã, o sol estava quente demais e o estádio reservado só para isso, seria um longo dia. Seguimos em direção ao túnel de entrada dos jogos e andamos pelos corredores ouvindo as vozes e risadas ecoarem pelas paredes do estádio.
Quando me aproximei do vestiário e do túnel de entrada, as vozes reduziam e eu parei logo atrás da fila que se formou. Olhei para frente, vendo que alguém tinha impedido a passagem, neguei com a cabeça e me aproximei com Alex mais perto para ver o que estava acontecendo.
- Ei, buongiorno. – Alex falou, cumprimentando o cara. – Não vamos nos trocar no vestiário? – Ele perguntou.
- Eles estão finalizando algumas fotos, logo libera, vocês chegaram um pouco antes do previsto. – O homem perguntou e assentimos com a cabeça, eu encostei na parede.
- Será que aconteceu alguma coisa? – Alex se encostou ao meu lado e eu dei de ombros.
- Vai ver estão fazendo mais fotos do estádio em si, sei lá. – Dei de ombros.
Chequei o relógio mais uma vez e era 9:18, realmente, tínhamos combinado de chegar as 9:30, mas o que são alguns minutos a mais? Os jogadores iam se escorando nas paredes também, os restantes iam chegando e só tinha nossas conversas aqui, ninguém entrava ou saía do vestiário, mas eles não sairiam de lá mesmo, cerca de 10 minutos depois, a equipe de fotografia passou por nós e pudemos ouvir outras conversas voltando também, inclusive uma gargalhada bem escandalosa.
- Se você continuar fazendo isso, eu vou... – Franzi a testa com aquela voz e logo depois um barulho oco pôde ser ouvido.
- Ai! – Pavel foi o primeiro a aparecer e, aparentemente, era o responsável pelo grunhido de dor. – Para de graça, você está linda! – Ele disse, pegando a bola que saiu rolando e jogou de volta para... .
- Eu ainda acho que isso é uma péssima ideia...
- Uau! – Alex reagiu antes de mim.
vinha andando logo atrás de Pavel usando o uniforme completo do time. E quando eu digo completo, eu digo completo mesmo. Blusa, calção, meias e chuteiras, a diferença de outras jogadoras de futebol é que ela tinha aqueles cabelos esvoaçantes e estava muito bem maquiada. Ok, a diferença era que é . Foi impossível minha boca não abrir em surpresa.
- Ah, ótimo, eles chegaram. – Ela falou, rindo fracamente.
- Fala, gente. Ela está um arraso! – Pavel falou, passando por nós e jogou a bola em suas costas de novo. – Ai, cazzo! – Ele passou a mão no local, nos fazendo rir.
- Você está... – Matri falou.
- Incrível.
- Sensacional.
- Linda. – Falei, levando a língua para a lateral da boca e passei um lábio no outro, vendo-a dar um sorriso em minha direção.
- Grazie. – Ela disse, andando de costas por um tempo, antes de virar seu corpo para trás, dando para ver o escrito “” e o número três nas costas.
- Vocês podem entrar... – O cara que estava empacando nossa entrada falou e fui o primeiro a sair correndo para dentro junto de , Pavel e uma galera que não me interessava.
- Eu ainda não decidi se eu vou deixar vocês liberarem essas fotos. – Ouvi falando e ela começou a quicar a bola no chão, fazendo o barulho oco ecoar pelo vestiário.
- Por que não? Está incrível. – Pavel falou, rindo.
- Você sabe como são as coisas. – Ela disse, chutando a bola para outra sala. – Mulher e futebol, ainda mais... Assim. – Ela mostrou seu corpo e ambos, mais Angela do marketing, seguiram para outra sala e fiquei feliz de meu armário ser lá perto. – O pessoal vai ter uma imagem negativa de tudo.
- Não veja dessa forma, . – Angela falou. – Você é a única mulher do mundo a ter um cargo importante em um time de futebol masculino. Do mundo, não só da Itália. Nossa intenção é mostrar isso. – Ela disse. – Uma mulher linda e jovem que cuida da contabilidade de um time de futebol, é algo tipo “nós podemos”. – Vi ponderar com a cabeça e suspirar.
- Eu quero ver esse release antes de ser publicado, ok?! – Ela falou, se sentando em uma das macas de fisioterapia e tirou as chuteiras.
- Você que manda, mas vai ficar legal, você vai ver. – Angela sorriu.
- Agora vai se trocar, precisamos tirar as fotos nossas ainda. – Pavel disse e riu fracamente.
se aproximou de uma das paredes que ficava fora do meu campo de visão e pegou um daqueles sacos para guardar roupas sociais e seguiu para dentro do banheiro, me fazendo-a perder de vista. Virei de volta para o vestiário e vários outros jogadores, espiavam junto de mim.
- Ei! Ei! – Falei, empurrando alguns ombros. – Dai! Dai! – Empurrei, Matri, Quagliarella, até Barzagli e Chiellini. – Até vocês?
- Ela está incrível, cara! – Chiello falou e eu suspirei.
- Ela sempre foi. – Falei, pressionando os lábios e senti dois tapinhas em minhas costas.
Virei para meu armário, tirando a roupa que eu havia vindo de casa e comecei a trocar pelo terno que estava ali. Eles tinham preparado literalmente tudo para nós, às vezes eu me surpreendia com isso. Marchisio foi o primeiro a ficar pronto, é claro, com tudo impecável, inclusive os cabelos, ele foi o primeiro a sair.
Eu sempre me enrolava um pouco para dar o nó na gravata, acho que até hoje não tinha aprendido direito isso e acabava com a incrível capacidade de dar o nó para dentro, precisando recomeçar do zero. Isso acabou vindo em uma boa hora, pois enquanto eu fazia e refazia o nó, vendo o vestiário esvaziar cada vez mais, foi possível ouvir o barulho de saltos altos contra o piso.
Inclinei meu corpo para frente, vendo a porta para outra sala e vi saindo do banheiro com uma roupa bem diferente do uniforme tradicional. Agora ela usava um longo vestido preto. Ele era simples, pelo menos parecia, as alças finas, o decote comportado realçando seus seios, mas uma fenda do lado direito mostrava um pouco de sua perna conforme ela andava. Ela parou em uma das macas, pegando uma mochila no chão e tirou uma bolsa menor, voltando para o banheiro.
Senti minha virilha pressionar e me sentei rapidamente, tentando respirar fundo. Eu não poderia me excitar agora. Não tinha como. Não se excite! Não se excite! Soltei a respiração devagar, tentando me distrair de sua imagem em minha cabeça e larguei da gravata, calçando os sapatos enquanto isso.
Quando senti que eu não teria que me aliviar no banheiro – onde ela estava – ou ser zoado pelo time inteiro, além de deixar clara minhas intenções com ela, eu voltei a me levantar, voltando ao meu trabalho muito malfeito. Ela saiu do banheiro novamente, agora com os lábios avermelhados e suspirei, vendo-a guardar suas coisas em sua mochila novamente. Ela virou seu olhar para mim e eu tentei desviar, mas ela já tinha me pego no flagra.
Voltei alguns passos para trás, sentindo a dobra dos joelhos baterem contra o assento e acabei caindo nele, bufando. Ouvi os sapatos ficando cada vez mais altos e ela acabou encontrando Matri saindo do vestiário.
- Tá gata, hein, chefa?! – Ele falou e ela riu fracamente, aparecendo na divisão das salas e seu olhar veio para mim.
- Precisa de uma ajuda? – Ela perguntou, batendo suas unhas na parede e passou seus lábios levemente um no outro.
- Está tudo bem, eu consigo... – Vi o nó desfazer em minha mão. – Me virar.
- Eu te ajudo. – Ela disse, se aproximando de mim e pegou o tecido em minha mão, enrolando-o em meu pescoço.
- Você não precisa fazer isso. – Falei baixo, pressionando os lábios levemente pelo seu decote estar um pouco mais alto que minha visão.
- Eu não me importo. – Ela falou, com o olhar baixo em meu pescoço, fazendo o nó com precisão. – Só me surpreendo por você ainda precisar de ajuda.
- Algumas coisas nunca mudam. – Falei e ela levou as mãos até o último botão da minha blusa, fechando-o.
- Você está bonito. – Ela disse baixo, subindo a gravata e ajeitando-a em torno de meu pescoço e depois abaixou a gola.
- Você também. – Falei no mesmo tom e seu olhar encontrou o meu. – Dos dois jeitos. – Ela riu fracamente.
- É uma ação que o marketing quer fazer para me promover ou promover o time. – Ela suspirou, se afastando alguns passos para trás e eu me levantei, ficando um pouco mais alto do que ela.
- Eu não vi as fotos, mas aposto que ficaram lindas. – Falei e ela sorriu, cruzando os braços e pude ver os anéis e pulseiras em destaque em sua pele.
- Eu tirei fotos no vestiário, no campo, com bola... Fazendo as poses ridículas de vocês. – Ela disse, me fazendo rir fracamente.
- Vai ficar ótimo. – Falei e ela sorriu, ficando levemente na ponta dos pés e passou a mão em meus cabelos.
- O quê? – Levei a mão até onde ela tocou.
- Você parece uma cacatua. – Ela disse, rindo fracamente e eu a acompanhei, passando as mãos em meus cabelos. – Assim está melhor.
- Será que você vai falar do meu cabelo pelo resto da vida?
- Enquanto você tentar ficar feio, eu vou. – Ela sorriu e eu ri fracamente. – Eu tenho que subir. – Ela disse.
- Eu te acompanho. – Falei, pegando o paletó pendurado e ela assentiu com a cabeça.
Ela seguiu alguns passos à minha frente e eu vesti o paletó, abotoando o primeiro botão e dei uma rápida olhada no vestiário e vi Alex com um sorriso no rosto e revirei os olhos, seguindo . Passamos lado a lado pela parte de dentro do vestiário e subimos algumas escadas. Seus saltos ecoavam e sua perna direita ficava em evidência quando ela subia, me fazendo puxar a respiração sem chamar muita atenção.
Virei o rosto para trás, vendo Alex subindo atrás de nós junto de Grosso e Vidal e os dois primeiros tinham sorrisos em minha direção e eu só queria apertar o pescoço de cada um deles. Assim que entramos em um dos lounges VIPs do estádio, o conhecido como camarote presidencial, foi à frente, encontrando o restante do seu quarteto.
- Ei, cadê minha modelo? – Ouvi Agnelli falando, fazendo-a rir e ela cumprimentou os outros três que não tinha visto.
- Você precisa ser mais discreto. – Alex cochichou mais perto de mim e eu empurrei-o com o ombro.
- Nem está tão na cara assim. – Falei.
- Para quem não sabe, não, mas para quem sabe... – Ele disse e eu ri fracamente.
- Ah, fica quieto. – Falei, ouvindo-o rir.
- Buongiorno, ragazzi. Giorno! – Virei para o lado, vendo a gerente de marketing chamar nossa atenção. – Nós queremos fazer essas fotos de forma rápida, porque vocês precisam voltar aos seus treinos, então peço que vocês colaborem, ok?!
- Colabora igual turma da quinta série. – comentou, nos fazendo rir fracamente.
- Nós faremos fotos individuais e em grupo. Primeiro com os cinco... – Ela indicou o top cinco. – Cada um vai para um dos dois fotógrafos, tira três fotos, uma de rosto, até a cintura e de corpo inteiro, depois vamos podem descer as escadas, onde vocês tirarão com os cinco. – Ela falou. – Enquanto isso, os jogadores vão tirando as fotos, por ordem de número, também farão três fotos e vão encontrando-os lá embaixo. Primeiro será foto com todos do administrativo, técnico e jogadores, depois jogadores e técnico e, por último, só jogadores. Entendidos? – Ela perguntou.
- Sim, está ok. – Falamos espalhados.
- Perfeito, depois o administrativo fica livre e os jogadores tirarão fotos com o uniforme um e dois, mas aí será no campo. – Ela bateu as mãos uma na outra. – Agnelli, Nedved, , Paratici e Marotta, podem ir. – Ela indicou os fotógrafos e começamos a nos espaçar pelo salão, à espera das nossas fotos.
Apoiei meu corpo em uma das pilastras, com a visão privilegiada de onde estavam tirando as fotos e vi sorrir para suas três fotos, na verdade eram três ângulos, pois eles estouraram muito mais do que só três flashes. Ela tirou algumas com um largo sorriso no rosto, outras mais sérias como se ela estivesse escondendo algum segredo e outras até gargalhando. Nas fotos em pé, eles mexeram em seu vestido para ele dar a impressão de estar voando e foi realmente bonito ver.
Logo os cinco seguiram para fora e foi minha vez de puxar a fila dos jogadores. Não foi tão divertido como tinha sido com ela. Tirei rapidamente as fotos e segui para fora do lounge, me aproximando do balcão antes de descer para os assentos. Observei lá embaixo o quinteto principal tirar as fotos lado a lado. Agnelli no centro, Pavel e Fabio do lado direito dele, e Beppe do lado esquerdo e suspirei.
Quando eles finalizaram, fomos chamados para ocupar nossos lugares. Eu segui para os primeiros bancos, abaixo de onde eles estavam e se sentou enquanto esperava, cruzando sua perna e deixando o vestido cair em cima do local. Passei a sua frente, vendo-a dar um pequeno sorriso e logo desviar o olhar.
As piadinhas eram as mesmas de sempre, o que eu acabei me distraindo de , de seu sorriso, suas pernas, seios ou qualquer coisa que pudesse chamar minha atenção. Como éramos em 30 jogadores e 12 assistentes técnicos, eu precisei realmente me distrair com alguma coisa ou ficaria olhando para ela a todo momento. Não que fosse algo ruim, mas eu precisava me distrair, eu sabia que isso não seria fácil, mas não tanto. Não sabia que essa posição vinha com um holofote incrível direcionado a ela. E não era só eu que dizia isso, todos os jogadores pareciam alvoroçados com ela.
Com todos os 47 a postos, nos colocamos em posição, demos alguns sorrisos, os flashes foram tirados e a linha do administrativo saiu da foto, descendo alguns degraus e se colocando à nossa volta. Depois a parte técnica e, por último, nós.
Todos subimos novamente, inclusive o administrativo e segurava a barra do vestido que deslizava pelo chão e quase me ofereci para segurar, mas eu sabia que os poucos que viram a cena da gravata já usariam para me zoar, não queria dar mais motivos.
Dessa vez seguimos para a entrada do estádio, dois bancos estavam ajeitados para nós e só foi preciso encontrar nosso lugar. O top cinco se colocou no meio junto dos assistentes técnicos e virei para trás, vendo na minha diagonal e ela sorriu, piscando para mim, desviando o olhar novamente. Suspirei e olhei para o fotógrafo também. As fotos foram tiradas e o administrativo se retirou novamente e dessa vez eles ficaram à nossa frente, observando o processo. O vento fez o vestido de dar uma subida, mas não o suficiente para fazer os jogadores – eu incluso – ter alguma reação a mais. Agradeci por isso, pois não estava gostando nada dessa intimidade deles com ela, não queria ter que escondê-la também.
- Ok, ragazzi, grazie! Agora para o uniforme um. – O fotógrafo falou e segui junto dos jogadores para dentro.
Alguns comentários sobre foram ouvidos lá dentro, mas nenhum sobre nós, então terminei de me arrumar mais rápido dessa vez e segui em direção ao campo. Dessa vez tudo estava arrumado na grama, do lado que tinha mais sombra e vi o top cinco observando tudo. Dessa vez já tinha tirado os sapatos e segurava-os com a ponta dos dedos, enquanto seus pés e seu vestido deslizavam pelo chão. Os cabelos já haviam subido para um coque que deixava seus ombros e nuca descobertos.
Como era possível ela ficar mais bonita assim? Não sei, mas ela conseguia.
Só eu que não sabia como sobreviveria ao resto do dia com ela linda assim. Só esperava que seu vestido não decidisse brincar de pega-pega com o vento mais uma vez ou quem teria problemas seria eu e, até onde eu saiba, eu já tinha histórico de excitação em momentos inoportunos em lugares públicos por causa dela. Só esperava não ter de novo.
Pelo menos não agora. Poderia esperar para que eu me aliviasse em casa.

Lei
Dois de outubro de 2011

- Espero que vocês gostem, façam bom proveito desse espaço dedicado a todos vocês. E vamos ganhar! – Pavel finalizou e nós aplaudimos, comigo e Paratici trocando sorrisos pelo completo descostume dele.
- Até que foi bom... – Paratici disse e eu franzi os lábios, levando a mão à boca.
- Se você diz... – Falei, virando o corpo e bebendo um pouco do vinho branco em minha taça.
- Que tour maravilhoso, parabéns! – Um dos acionistas falou e eu dei um cumprimento, sorrindo e fiz o mesmo com outras três pessoas, dando sorrisos empolgantes.
- E aí, como fui? – Virei para trás, vendo Pavel se aproximar de nós e eu e Paratici nos entreolhamos, rindo fracamente.
- Você é melhor como jogador. – Falei.
- Ai! – Ele disse, nos fazendo rir.
- Foi bom, vai. – Paratici falou.
- Beh, independente disso, acho que agora acabou de inaugurações, certo? – Perguntei.
- Acho que sim, já foi o estádio, museu, tour do estádio, o shopping, a Juventus Store... – Pavel foi contando nos dedos.
- É muita inauguração para dois meses. – Suspirei.
- Agora chega, por enquanto... – Paratici disse, virando o restante da bebida da sua taça. – Alguém vai para o jogo? – Chequei o relógio, vendo que passava das 21 horas.
- Eu vou subir um pouco, já estou aqui mesmo. – Dei de ombros.
- Acho que vou contigo, aproveitar que estamos em primeiro na tabela ainda. – Pavel disse, me fazendo rir.
- Não fala isso que dá azar. – Empurrei-o com o ombro. – Vai, Fabio?
- Logo vou, vou caçar o Beppe.
- Beleza, estamos lá. – Pavel falou e eu virei o restante da bebida, deixando a taça na mesa de comes e bebes e segui Pavel para fora do museu.
- Vamos logo que já perdemos 15 minutos. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Pelo silêncio, ainda está zero a zero. – Ele disse e rimos juntos, seguindo pela parte de fora do estádio, ainda vendo alguns flashes em nosso rosto dos fotógrafos que vieram para a inauguração do museu.
- Pelo visto sim. – Falei, dando uma rápida checada em meu celular.
- Agnelli falou algo sobre o aniversário do time? – Ele perguntou para mim.
- Não falou nada, mas eu sugeri passar em branco, vamos demorar uns três anos para renovar os investimentos da construção do estádio e essas inaugurações vão bastante dinheiro. – Falei, apressando o passo com ele.
- Não fazer nada? – Ele virou para mim. – São 115 anos do time, é importante.
- Eu sei, mas a gente precisa voltar a ganhar dinheiro, e esse tipo de retorno só volta com a vitória de um campeonato. – Ele suspirou.
- Cazzo! – Ele resmungou baixo. – Você poderia fazer algo para seu aniversário e comemoramos juntos. – Gargalhei alto.
- Claro, claro! Eu convido todos os 300 funcionários e mais de dois mil amigos e familiares para uma pequena reunião para comemorar meus 30 anos. – Virei para ele, ouvindo-o rir.
- Ah, talvez dê certo. – Ele falou, sarcástico.
- Com certeza, talvez caibam no meu pequeno apartamento. – Ele riu fracamente. – Mas falando sério, não tem como, é o aniversário do time ou a confraternização de Natal e, como estamos tentando um amistoso no começo do ano fora daqui, serão duas festas, uma aqui e outra sei lá onde. – Suspirei.
- Alguma sugestão? – Pavel perguntou.
- O Paratici sugeriu no Oriente Médio e, ironicamente, não é um gasto tão grande se comparado a América ou até Europa, então estou buscando Emirados Árabes, Arábia Saudita, Egito, Israel... Vamos ver.
- No meu tempo não tinha nada disso. – Ele falou e eu passei o braço pelos seus ombros, ouvindo-o rir.
- A gente pode aproveitar em conjunto. – Disse e ele riu.
- Independente de onde for, vai ser legal. – Ele disse.
- Vai sim. – Dei um pequeno sorriso e entramos pela entrada VIP do estádio, a que dava para os lounges.
- E seu aniversário? – Ele perguntou.
- Ah, sei lá, vai ser em uma terça-feira, é dia de trabalho. – Dei de ombros. – Vou abrir uma garrafa de vinho e ficar feliz se chegar em casa antes das nove. – Ele riu fracamente.
- Que jogo temos na semana? Podemos aproveitar lá e...
- Nem a pau! – Falei rapidamente. – É contra o Napoli em Nápoles...
- Ah, seu preconceito com eles...
- Ei, é um motivo bem plausível. – Falei e ele riu fracamente.
- É, se eu tivesse uma avó puttana eu também ia querer passar bem longe de lá. – Estendi as mãos e ele riu fracamente, batendo nela.
- Deixa quieto dessa vez, Pavel, relaxa. – Falei. – Mas aceito presentes... – Ele riu fracamente.
- É que são 30 anos, é algo importante.
- Tão importante que eu vou passar trabalhando no melhor emprego do mundo. – Falei, passando pelos corredores e parei na porta antes de sair para o campo.
- Ok, eu deixo passar... Mas ainda temos alguns dias...
- Ah, você não vai desistir. – Revirei os olhos.
- Talvez não. – Ele deu de ombros, passando na minha frente e entrando no camarote.
Revirei os olhos, rindo fracamente e fui logo atrás dele. Passei pelo lounge e segui para a parte de fora do estádio. Observei de cima o jogo em andamento e dei uma olhada no estádio, 24 minutos. A bola estava com o Milan, mas Chiellini acabava de desarmar Zlatan Ibrahimovic, me fazendo rir. De pensar na época que ele fez parte do time. Dio mio, parecia uma eternidade agora.
Observei o camarote sem muitas pessoas de fora dessa vez, apesar de ser Juventus e Milan, depois da superlotação na inauguração, a gente restringiu somente pessoas do administrativo, familiares dos Elkann/Agnelli, familiares dos jogadores e convidados do administrativo, restringido para quatro pessoas do top cinco, mas exigi não chamar atenção e me sentei na primeira poltrona da última fila.
- Buona notte, signorina , gostaria de alguma coisa? – O garçom me perguntou.
- No, grazie. – Sorri e ele se retirou, meu olhar seguiu para algumas poltronas abaixo do lado direito e meu olhar encontrou o de Alena. Fiz um aceno de cabeça e ela fez o mesmo.
Voltei meu olhar para o jogo, vendo um escanteio do Milan, mas passou longe do gol de Gigi. Apoiei o cotovelo direito no braço da poltrona e meu rosto na mão, observando o jogo calmamente.
O jogo estava no 0x0, mas bem equilibrado. Jogar contra o Milan nunca era fácil, mas adorava ver Pirlo mostrando para eles o que perderam ao não renovarem seu contrato. Me levantei na pressa quando Vucinic tentou um tiro ao gol, mas parou em Abbiati, e relaxei o corpo logo em seguida, me sentando novamente. Nem sabia a escalação do jogo, mas a defesa tinha os de sempre: Gigi, Chiello, Barza, Bonucci e Lich. E eles estavam fazendo um bom trabalho até agora.
O jogo seguiu empolgado assim por mais um tempo, Marchisio e Vucinic tentavam ao máximo chegar no gol, mas batia na trave ou Abbiati segurava e fazia o Juventus Stadium aquecer demais.
Aproveitei o intervalo para realmente ver as diversas notificações, mas só tinha coisas pessoais. Giulia, Fabrizio, Giovanna, os gêmeos, alguns e-mail do trabalho, retornos do administrativo e de possíveis contratações para o fim do ano, mas, enquanto eu estava distraída, senti alguma coisa me pegar pela perna e ergui meu olhar rapidamente, vendo Louis agarrado nela com a cabeça em meu colo.
- Ciao. – Ele falou e eu sorri, levando a mão para seu cabelo.
- Ciao, mi amore. – Falei igualmente fofa e ergui meu olhar para Alena que levantava apressada, com David no outro braço. – O que está fazendo aqui? – Perguntei.
- Vim te ver. – Ele falou e eu sorri.
- Me desculpa, . – Alena se aproximou. – Não pode fazer isso, Lou. – Ela falou com o mais novo.
- Está tudo bem. – Falei, passando minhas mãos nos cabelos dele. – Eu gosto dele. – Ergui o olhar para ela, vendo-a tentando me estudar.
- Eu também gosto de você. – Louis falou e eu sorri, fazendo carinho em sua bochecha. – Posso ficar aqui, mamá? – Ele perguntou para Alena que visivelmente bufou para cima.
- Você pode se sentar aqui. – Indiquei a cadeira vazia ao meu lado.
- Eu não posso... – Ela disse e dei de ombros.
- Você sabe que sim. – Olhei para ela, dando um pequeno sorriso. – Dai, Alena. – Falei, assentindo com a cabeça e ela suspirou.
- Ok, ok! – Ela disse, se sentando ao meu lado, ajeitando David em seu colo.
- Quer vir no meu colo? – Perguntei para Louis.
- Sim! – Ele falou, animado e peguei-o, sentando-o em meu colo. Ele deitou as costas em mim e se aninhou em meu peito, me fazendo rir fracamente. Pena que ele tinha quase quatro anos e não tinha mais noção do seu tamanho.
- Meu menino. – Dei um beijo em sua bochecha, ouvindo-o rir.
- Ele gosta de você. – Alena comentou e eu virei meu olhar para ela.
- Sim, gosta. – Dei um pequeno sorriso, fazendo cócegas na barriga de Louis, ouvindo-o rir.
- Scusa, isso é um pouco confuso para mim. – Alena disse e eu virei para ela.
- O que é confuso? – Franzi o olhar.
- Gigi me contou sobre... Vocês.
- Ah! – Assenti com a cabeça, rindo fracamente. – É por isso que você está me dando esse gelo totalmente desnecessário?
- É realmente desnecessário? – Ela perguntou e eu franzi a testa.
- Ele é seu marido, Alena, não o meu. – Falei, negando com a cabeça.
- É que... – Ela negou com a cabeça. – Ele te olha de um jeito...
- Nós tivemos algo bom, Alena. – Virei para ela. – Mas já faz cinco anos e meio. – Neguei com a cabeça. – Acabou. Eu não sei sua história e a dele, mas a minha e a dele acabou antes da de vocês começarem. – Suspirei, vendo Louis se levantar, vendo o jogo recomeçar. – Não aconteceu nada depois disso.
- E no começo do ano? O que houve? – Ela perguntou. – Ele se tornou uma pessoa totalmente diferente, , não me diga que não aconteceu nada.
- O que ele te disse? – Perguntei.
- Ele disse que descobriu uma coisa de vocês e me contou brevemente a história de vocês. – Assenti com a cabeça.
- Ele descobriu que eu estava na final do Mondiale 2006. – Falei, olhando para ela e Alena franziu os olhos.
- Eu não entendi, por que isso era relevante?
- Porque você estava com ele na final do Mondiale 2006. – Falei, franzindo os lábios.
- Oh! – Ela disse, levando a mão até a boca. – E vocês não tinham terminado ainda?
- Tínhamos, mas também não tínhamos. – Ri fracamente. – É uma mistura de situações e opiniões... – Ponderei com a cabeça. – Ele achou que tinha, eu achei que não, enfim... Eu prefiro não dizer mais.
- Mas ele ficou bem transtornado com tudo. – Ela disse.
- Ficou sim e ele me perguntou o que devia fazer com essa informação.
- E o que você disse a ele? – Ela perguntou.
- Eu não podia fazer essa decisão para ele. – Dei de ombros.
- É por isso que ele conversou comigo e resolvemos tudo, ele contou sobre você e tudo mais.
- Sim. – Falei. – Mas nada aconteceu, Alena. – Suspirei. – Eu não sou a puttana que você pensa que eu sou.
- Eu não...
- Você tem me ignorado, Alena, eu percebi. – Ela riu fracamente.
- Me desculpe. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Mas eu gostaria que você soubesse que eu e o Gigi somos amigos, se eu puder dizer isso. – Falei, suspirando. – Antes de tudo, nós somos amigos e, depois de tudo, mantivemos uma amizade. Ele me ajudou em vários momentos da minha vida, eu o ajudei em outros, temos o mesmo grupo de amigos, é inevitável nossa proximidade. Foram seis meses de relacionamento, mas são 10 anos de amizade. – Suspirei. – Não gostaria de perder isso. Ainda mais que agora sobrou só nós, Alex e Chiello. – Pressionei os lábios.
- Eu mentiria para você se dissesse que tudo bem, que eu fico bem com isso. – Ela disse baixo. – Mas eu também sei que você é uma pessoa importante do time agora e a proximidade acaba sendo mais inevitável ainda. – Ela ajeitou os cabelos de David. – E eu também não me acho em posição de proibir nada. – Ela suspirou. – Eu dou um voto de confiança. – Ela deu um curto sorriso.
- Nele. – Falei firme. – Você é casada com ele. – Suspirei.
- É! – Ela disse, rindo fracamente. – Mas em você também, meus filhos te adoram. – Sorri, abraçando Louis. – E seria bom ter uma conhecida para alguns momentos como esse. – Ela deu um meio sorriso.
- Eu não venho em todo jogo, mas você pode sorrir para mim quando me ver. – Ela riu fracamente.
- Me desculpa por isso. – Ela negou com a cabeça. – É que foi tão difícil que eu não sabia o que pensar.
- Não se preocupe, não temos mais nada. – Falei, pressionando os lábios e ela assentiu com a cabeça.
Poderia falar que não tinha mais nada físico, pois meus sentimentos se bagunçavam toda vez que eu o via, mas não me sentia confortável em falar desse assunto nem com minha melhor amiga, quiçá com a esposa do cara que eu sentia isso. Não me sentia confortável nem de falar sobre essas coisas, mas pelo menos tinha limpado a minha barra, só esperava que não aparecesse outro Gigi todo enlameado na minha sala para tirar satisfações sobre mais uma coisa que fizesse meu coração bater mais fácil e eu entrar em estado catatônico por mais alguns dias.
Não.
Agora o foco era a Juventus. Sexta rodada do campeonato, primeiro lugar na tabela e um jogo que seguia em 0x0 com 75 minutos de jogo. Isso não afetaria nosso lugar na tabela, mas não era ideal.
Louis seguiu o restante do jogo em meu colo, sem sair para andar por aí ou querer o colo de sua mãe, eu não reclamei, obviamente, mas também não me contive, brinquei com ele durante toda chance de gol ou defesa de Gigi. Afinal, eu estava assistindo a um jogo do futebol do time, não importando quem eram os jogadores.
O gol finalmente veio aos 86 minutos do meu centro-campista favorito. Marchisio aproveitou um erro da defesa e mandou para o fundo do gol. Eu, assim como o estádio inteiro, nos levantamos empolgados e eu sacudi Louis para cima, ouvindo-o rir e cantei junto do estádio.
- OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÊ, JUVE! JUVE!
O jogo se seguiu e, depois de quase 90 minutos sem nada, eu achei que já fosse bom o suficiente, mas os meninos não achavam. Após um segundo amarelo de Boateng, por tocar na bola com a mão e ainda bater no rosto de Chiello, ele foi expulso, então agora só esperava acabar os acréscimos e era mais uma vitória nossa. Bom, depois de Chiello ser retirado do campo, já que ele ainda estava deitado e até Gigi tinha saído do gol para ver como estava.
- Será que ele está bem? – Alena perguntou.
- O Chiello? Certeza. – Falei, rindo fracamente e ele logo se levantou com a cabeça enfaixada. – Ele poderia ser ator. – Neguei com a cabeça.
O assistente ergueu a placa de cinco minutos extras, mas já tinha passado um minuto. O Milan até tentou, mas não deu. O contra-ataque aconteceu e Giaccherini fez o passe, Vidal não alcançou e o desvio foi para fora da área, só deu tempo de Vidal se abaixar e Marchisio chutar. Abbiati tentou pegar, mas passou embaixo das suas pernas, me fazendo rir com o feito. Havia sido um gol lindo demais! Louis ria em meu colo e eu estava feliz com tudo.
- É, agora não tem jeito. – Falei, rindo fracamente enquanto Conte fazia todas as substituições possíveis até o apito final que não demorou para vir.
- Que sufoco! – Alena disse, rindo e olhei para o campo vendo Gigi abraçando Barza, Bonucci e Chiellini e eu sorri. Era o tal BBBC que a imprensa falava. Além disso, Conte parecia ter vencido um Mondiale, ele estava muito feliz.
- Eu tenho que descer. – Falei.
- Não vai. – Louis falou.
- Eu tenho que ir, amor. – Falei, dando um beijo na bochecha de Louis. – A gente vai se ver em breve.
- Vamos? – Ele sorriu.
- Claro que sim. – Falei, bagunçando seus cabelos e o coloquei no chão, me levantando também. – Até mais, Alena.
- Até, . Obrigada e me desculpe por tudo. – Ela disse.
- Não se preocupe. – Falei, assentindo com a cabeça e acenei para Louis e David, subindo o degrau faltando e me encontrando com o top cinco para seguir em direção ao vestiário abraçar Marchisio até fazê-lo ficar roxo por essa vitória.

Lui
12 de dezembro de 2011

As portas do elevador se abriram, passei pelo lobby do hotel e dei uma rápida olhada em volta, procurando alguém do time, mas não tinha ninguém. Acho que não encontrava ninguém fazia um tempo, na verdade. Não deveria ter dormido tanto e ainda faltava umas quatro horas para irmos ao estádio para o jogo de hoje à noite.
Passei pelo restaurante, vendo se encontrava alguém, mas só os assistentes técnicos estavam ali conversando. Dei um rápido aceno e segui para fora, na área da piscina. Apesar dos 14 graus lá fora, o grupinho com alguns jogadores estava em volta da piscina, na parte coberta. Todos distribuídos nas mesas e espreguiçadeiras como se estivéssemos em junho.
- Ciao, ragazzi. – Falei.
- Ciao, Gigi! – Eles responderam e sentei na cadeira livre ao lado de Alex.
- Dormiu demais, foi? – Ele perguntou.
- Ah, dormi mal à noite, precisei compensar.
- Ainda mais com o jogo de hoje. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Totti, De Rossi... – Rimos juntos. – É, vai ser interessante. – Falei.
- Quer café? – Ele perguntou.
- Talvez depois. – Suspirei, me espreguiçando. – Você viu a ? – Franzi a testa.
- Por quê? – Ele perguntou baixo, somente para mim.
- É só uma pergunta. – Falei. – Ela não estava com Pavel ou Paratici lá dentro. – Revirei os olhos. – Relaxa, cara.
- Ela saiu com aquela amiga dela logo após o almoço. – Ele falou.
- A Giulia?
- Ah, aquela louca do Le Iene. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Você só a chama assim porque ela fez uma pegadinha contigo. – Falei, ouvindo Chiello, Barza e Leo rirem em volta da mesa.
- A tem uma amiga que trabalha no Le Iene? – Barza perguntou.
- Sim. – Falei. – É uma amizade interessante. – Eles riram fracamente.
- Não deixem se enganar pelos olhos azuis, ela é boa para fazer piada. – Alex disse, me fazendo rir.
- Façam igual a mim, sejam amigos dela que ela não faz piadas com vocês. – Sorri. – Pelo menos ainda não. – Eles riram fracamente.
- Aposto que ela não vai perder a oportunidade se tiver. – Alex disse e eu ri fracamente.
- Falando nela... – Chiello falou e virei o rosto para trás, vendo e Giulia chegando na área da piscina.
- Mentira! – Leo falou. – A Giulia Vitale é amiga da ? – Ele arregalou os olhos.
- Quase irmãs, na verdade. – Falei.
- É uma amizade muito improvável, qual é. – Leo disse.
- Elas são amigas desde antes disso. – Ri fracamente, reduzindo o sorriso quando ambas vieram em minha direção e não tinha o mesmo sorriso que eu. – E lá vem bomba.
- Ciao, ragazzi. falou quando entrou embaixo do coberto.
- Ciao, amor da minha vida. – Matri falou e riu fracamente.
- Ciao... – Ela disse e eu revirei os olhos.
- Eu a quero longe daqui. – Alex falou, apontando para Giulia, me fazendo rir fracamente.
- Não se preocupe, ela não quer falar contigo dessa vez. – falou, me fazendo rir. – Podemos conversar, Gigi?
- Com ela? – Perguntei.
- Não, comigo. – Ela falou firme e se retirou na mesma rapidez.
- Olha a bomba! – Pirlo falou e eu suspirei.
- Olha lá que eu fico com ciúmes. – Matri falou.
- Ela nunca... – Falei para ele. – Deixa para lá, não vale à pena. – Falei, me levantando. – Eu já volto.
Segui em direção às duas e elas já tinham ido na extremidade mais longe possível de onde estávamos. Agradeceria, se fosse xingo ou piada, que eles não presenciassem, pelo menos não ouvissem. A piscina não era tão grande para eles não enxergarem.
- O que aconteceu agora? – Perguntei ironicamente.
- Ciao, Gigi! – Giulia falou, sorrindo e olhei seus cabelos castanhos e somente a franja roxa.
- Novo estilo? – Troquei dois rápidos beijos em sua bochecha.
- Ah, sabe como é! – Ela deu de ombros. – Definindo moda desde 2008...
- Coitada das crianças. – Ela mostrou a língua, me fazendo rir. – Então, o que você ou você querem comigo? – Virei para Giulia e para .
- A Giulia gostaria de entrevistar sobre um assunto, que nem eu sabia. – se virou para mim.
- O quê? – Franzi a testa.
- Me dá licença, Giu?
- Claro! – Ela disse, dando alguns passos para trás.
- E SEM PIADINHAS COM O ALEX DE NOVO. – gritou e Giulia soltou uma risada sarcástica alta que ecoou pela área da piscina inteira.
- Ele ficou bem traumatizado da última vez...
- Ela pegou pesado, fingiu que era babá do Tobias. – Ela disse, suspirando.
- É, foi difícil. – Virei para ela, vendo-a com braços cruzados. – O que foi?
- Por tudo o que a gente já passou e viveu, você não vai começar a mentir para mim agora, vai? – Ela perguntou.
- Como você mentiu para mim há quase seis anos? – Perguntei e ela pressionou os lábios.
- É, e olhe o que deu. – Ela disse, suspirando.
- O que houve? – Perguntei.
- Depois de tudo o que aconteceu conosco e com o time você está se envolvendo mais uma vez em manipulação de resultados, Gigi? – Ela manteve o olhar no meu e eu respirei fundo. – Ah, pelo amor de Deus.
- Não é assim, .
- FOI O QUE VOCÊ ME FALOU DA ÚLTIMA VEZ! – Ela gritou, balançando a cabeça e me puxando pelo punho um pouco mais longe. – E você se lembra o que aconteceu, não? Comigo, contigo, com o time? Por favor, Gigi, estamos indo bem.
- Eu faço apostas sim, mas de forma esportiva. – Falei.
- Não existe aposta esportiva se você é jogador de futebol profissional de um time na Série A. – Ela falava entredentes. – Principalmente se você é capitão da Nazionale, um exemplo para tantas pessoas. – Ela suspirou.
- Você não precisa se preocupar com isso, ok?!
- Se estiver envolvendo o nome do time, eu preciso sim. – Ela falou firme. – E espero saber antes do jogo, imagina se alguém te pergunta isso e ninguém sabe? – Ela riu fracamente. – Você não está preparado para encarar isso, Gigi. Você não sabe mentir nem para mim.
- Você é diferente, você...
- Eu cuido do dinheiro da Juventus, outro ano de relegação e perda de mais dois títulos vai fazer o time quebrar. E você vai dar sorte se a gente não te der de graça para algum time da segunda divisão. – Ela falou, irritada.
- Ok, se acalma. – Apoiei minhas mãos em seus ombros. – Relaxa, ok?!
- Eu vou te mostrar como se relaxa e envolve um soco no meio da sua cara. – Ela falou e eu afastei um passo para trás. – Você, o Fabio e o Gattuso. Graças a Deus dois daí não me interessa, mas você sim, então começa a se explicar.
- Eu tenho um cara que faz apostas para mim, é o sistema da Lottomatica mesmo.
- E você usa seu nome?
- É claro que não. – Falei firme e ela revirou os olhos.
- É mais de um milhão e meio de euros, Gigi. Você não tem outra coisa para investir seu dinheiro, não? – Ela suspirou.
- Eu gosto de apostar, ok?! Me processa, sei lá, só não crie grande coisa para isso...
- Eu posso te processar, eu posso te demitir se eu quiser, sem ter que cumprir contrato, caso você não saiba. – Ela falou firme. – Há seis anos eu não podia, hoje eu posso! – Era quase possível ver seus olhos pegando fogo e eu engoli em seco.
- Você não faria isso. – Olhei para ela.
- Paga para ver. – Ela falou. – Nós não podemos nos meter em encrencas, Gigi. Nada, nada. – Ela falou movimentando as mãos. – Ah, droga.
- O quê?
- Quem mais está envolvido nisso?
- O quê? Ninguém, é independente isso.
- Nós não perdemos nenhum jogo nessa temporada ainda, Gianluigi. Se estivermos envolvidos nisso de novo e questo cazzo estourar na minha cara de novo, eu juro que eu vou tacar fogo em você e ainda jogar gasolina até fazer bum! – Ela apontou o dedo para mim, me cutucando no peito e só conseguia olhar para seus olhos.
- Adoro quando você me ameaça de morte, me deixa tão excitado. – Falei, sorrindo e ela me cutucou mais forte no peito. – Ai!
- Presta atenção! – Ela falou firme. – Você entendeu o que eu estou dizendo?
- Eu estou, mas me escuta quando eu digo que isso não tem nada a ver com o time. Isso é algo meu, independente. – Falei e ela cruzou os braços de novo.
- Então, por que você seu nome apareceu em uma escuta telefônica do Nicola Santoni? Hein?!
- Sei lá, eu faço apostas frequentes, mas não daquela forma de antigamente. – Falei, olhando para ela.
- São quase 200 mil euros por mês, Gigi, é grana para caramba. – Ela falou, relaxando os ombros.
- Eu sei, mas não é como se isso fosse problema para mim. – Ela revirou os olhos.
- Você é incrível... – Ela afastou alguns passos e segui com ela.
- Me escuta, . – Segurei seu rosto com as mãos. – O time não está envolvido nisso. Eu faço apostas com um conhecido meu em Parma, há anos, mas não tem nada a ver com a Juventus ou com árbitros ou com não termos perdido nenhum jogo ainda nessa temporada, isso só foi sorte. – Falei e ela pressionou os lábios um no outro.
- Você sabe como isso me machucou, Gigi. Eu não quero e não posso passar por isso de novo. – Ela suspirou.
- Você não vai. – Falei, dando um beijo em sua testa e me afastei devagar, sentindo-a abaixar minhas mãos.
- Você vai contar essa história para Angela, para ela se preparar caso essa bomba exploda de novo...
- Não vai, , não...
- Prenderam o capitão da Lazio, Gigi. – Ela falou firme e arregalei os olhos. – Por suspeitas.
- Prenderam o Mauri?
- Prenderam. – Ela falou. – E por mais que eu goste de você, eu não vou gastar as minhas economias e investimentos corretos para te tirar da cadeia. – Ela disse firme.
- Quem mais está envolvido? – Perguntei.
- Cristiano Don e outras 17 pessoas, Palermo, Bari, Lazio, Genoa e Lecce, isso por enquanto, você se lembra quanto tempo demorou para chegar em você em 2006, não se lembra?
- Eu vou dar uma checada com meu advogado sobre isso, mas não precisa se preocupar, da minha parte, pelo menos, é aposta individual. – Falei. – E não tem nem meu nome nos registros, não tem como comprovar, vai ver estão jogando nomes aleatórios para tentar descobrir algo.
- Fabio falou a mesma coisa. – Ela suspirou.
- Você falou com ele?
- Não, tudo o que eu te falei agora foi a Giulia que me passou. – Ela negou com a cabeça. – Eu vim para me divertir e ver uma amiga que eu não vejo há seis meses, não para me irritar.
- Scusi, , eu não tenho intenção nenhuma de te irritar, ainda mais sobre esse assunto. – Falei e ela suspirou.
- Só tenta não fazer isso estourar de novo. E pare de fazer apostas, tem outras formas de fazer investimentos. Formas legais e até mais lucrativas. – Ela falou.
- Como você investe seu dinheiro? – Perguntei.
- Ações. – Ela disse. – Inclusive no time, ou seja, se você foder o time, eu vou te foder... – Sorri.
- Isso é interessante.
- Não vai ser do jeito que você está pensando, querido. – Ela deu um sorriso sarcástico e eu bufei.
- Agora a Giulia vai me entrevistar? – Perguntei um tanto mais exacerbado.
- Eu já falei que não, mas eles vão atrás de você, pode se preparar. – Ela disse, suspirando.
- Grazie, .
- Não me agradeça, só me deixe longe dos seus problemas, ok?! – Ela disse, se afastando alguns passos e logo virou as costas, seguindo de volta para perto dos jogadores onde Giulia estava.
Suspirei, negando com a cabeça e já não tinha cabeça para isso, não era intencional e eu realmente não queria estressar ou dar problemas para o time, era só realmente uma forma de investimento. Era melhor eu subir e me preparar para o jogo.
Falando disso, não é que ela falou sério sobre o fogo?
No começo do segundo tempo, após estarmos perdendo de 1x0, um torcedor jogou um sinalizador aceso a poucos metros de mim. Isso pode ter sido um acidente ou intencional dos torcedores da Roma, mas só acabou adiando o jogo por alguns minutos. estava no camarote, então fiz questão de erguer o polegar positivo para ela, agradecendo. Nunca que as ameaças dela tinham acontecido tão rápido.
Acabou que conseguimos igualar o placar e eu ainda defendi um pênalti de Totti, não foi hoje que as coisas pegariam fogo para mim. Apesar que quando falava de ou com , outras coisas pegavam fogo.



Capitolo veintinove


Lei
19 de dezembro de 2011

- Alô? – Atendi ao telefone.
- , Alessio do conselho de Turim, posso passar a ligação? – Sara falou ao telefone.
- Claro, por favor. – Falei, ajeitando meu corpo na cadeira.
- ? – Ouvi a voz do homem.
- Me diga que você tem boas notícias, Alessio. – Falei, pegando o enfeite de Natal na minha mesa.
- Ótimas notícias, . Eles aprovaram o projeto, Continassa é de vocês. – Ele disse.
- Ah, graças a Deus! – Suspirei, aliviada.
- Um belo presente de fim de ano, hein?! – Ele riu fracamente.
- Normalmente se ganha presentes de Natal, não gasta milhões de euros, mas sei que vai valer à pena. – Sorri, suspirando.
- Eu vou te enviar os papéis assinados, prefere por FAX ou o arquivo assinado?
- Pode mandar por FAX, já finalizamos isso hoje. – Falei.
- Perfeito! Vou enviar agora. – Ele disse e eu sorri.
- Grazie, Alessio.
- Grazie, e um bom Natal.
- Anche a te! – Suspirei, desligando o telefone. – CONSEGUIMOS! – Girei a cadeira, suspirando e me levantei animada. Segui para fora da sala e fui direto para a da contabilidade, vendo meus funcionários ali. – Buon pomeriggio, ragazzi.
- Ciao, ! – Eles falaram e eu sorri.
- Eu tenho boas notícias. – Falei.
- Continassa? – Sara perguntou, animada.
- É nosso! – Falei.
- É! – Eles bateram nas mesas, me fazendo rir fracamente.
- Ainda temos um tempo para começar a construção, mas o terreno é nosso e, em breve, todos iremos trabalhar lá, seja administrativo e jogadores. – Falei, sorrindo.
- Isso! – Enrico e Miguel falaram juntos, me fazendo sorrir.
- Estão todos empolgados, parece eu quando compramos o antigo estádio, mas demorou uns 10 anos até ele inaugurar. – Falei e eles riram fracamente. – Sara, puxa meu ramal? Está tocando. – Falei, ouvindo o telefone tocar na minha sala.
- Ciao? – Sara atendeu. – Uhum, ela está aqui, um segundo. – Ela estendeu para mim. – É o Paratici. – Fui até ela e peguei o telefone.
- Fala, Fabio.
- Você pode vir aqui no CT rapidinho? – Franzi a testa.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, é só que você realmente não vai querer perder isso. – Ele falou, rindo fracamente.
- Ok, estou descendo. Aproveito e dou as novidades pessoalmente. – Falei.
- O quê?
- Ei, cinco minutos, você espera. – Falei, ouvindo-o rir fracamente e desliguei o telefone. – Alguém está precisando de alguma coisa? – Perguntei.
- Férias. – Antonio falou e eu ri fracamente.
- Em dois dias, crianças. – Ele sorriu. – Fora isso?
- É fim de semestre, está daquele jeito. – Luca falou e todos se entreolharam.
- Ok, logo volto. Se precisarem de algo urgente, estou no celular. – Falei, devolvendo o telefone para Sara.
Segui para fora da sala dos coordenadores e analistas e peguei o elevador para o térreo. Saí do administrativo e fiz todo aquele caminho para o centro de treinamento. Entrei, acenando rapidamente para alguns funcionários e segui até o campo de treinamento.
De longe já foi possível ver a equipe de marketing apontada para a grande árvore enfeitada com enfeites de Natal como se fosse realmente uma árvore de Natal e já até imaginei o que estivesse acontecendo com os diversos jogadores em volta com gorros de Natal e barbas de Papai Noel. Agradeci pelo frio e pelos coturnos nos pés e pisei no gramado levemente esbranquiçado pela geada da noite passada e me aproximei da turminha que não parava de rir.
- É só falar “um bom Natal para todos os fãs da Juventus”. – Um dos assistentes de Angela falou.
- Mas para os fãs do canal ou para todos do mundo? – Chiello perguntou e cruzei os braços.
- Tanto faz. – Ele falou, aparentemente irritado. – Só fala alguma coisa.
- Um abraço de Giorgio Chiellini. – Ele falou, acenando.
- Agora canta “Jingle Bells”...
- No... – Ele disse, saindo da frente da câmera e tirou o gorro.
- A gente vai agora. – Pepe falou, puxando Vidal para frente da câmera.
- O que eu falo? – Vidal perguntou com seu sotaque espanhol.
- Tanti auguri di um buon Natale a tutti tifosi juventini. – Pepe disse.
- Não, pode falar. – Levei a mão para o rosto, entre segurar a risada e mostrar incredulidade.
- Vai, fala! – Pepe o puxou para o lado.
- Canta, pelo menos. – O assistente falou.
- Jingle bells, jingle bells, jingle be...
- All the way... – Pepe seguiu para outro caminho e os jogadores caíram na gargalhada.
- Ah, alguém me ajuda, pelo amor de Deus! – O assistente falou.
- Mais animado que o Vucinic e o Storari você não vai ter. – Alguém falou.
- Pelo menos foi menos morto que o Pirlo e o Barza! – Pepe falou.
- O Gigi canta, vai lá! – Alguém o empurrou para frente.
- Vou mostrar como se faz. – Ele disse, pegando o gorro e colocou na cabeça.
- Me ajuda, por favor. – O assistente disse.
- Tanti auguri di un buon Natale e un felice ano nuovo. – Gigi falou, sério.
- Agora canta! – Marchisio gritou, e eu tentei procurá-lo com o olhar.
- Jingle bells, jingle bells, jingle all the way... – Foi minha vez de gargalhar alto e chamar atenção de todos que estavam em minha frente.
- Olha quem chegou! – Paratici falou.
- Ah, tem que ser! – Gigi falou e eu passei as mãos embaixo dos olhos.
- Isso foi horrível. – Falei, negando com a cabeça.
- Acredite, ele foi um dos melhores. – Barzagli falou e eu levei as duas mãos para cobrir os olhos.
- Me lembra de investir em propaganda de Natal no que vem. – Falei.
- Agora você entende por que eu te chamei? – Paratici falou.
- Entendo e agradeço muito, animou meu dia. – Passei os indicadores embaixo dos olhos, tentando secá-los.
- Não foi tão mal, vai! – Gigi disse.
- Não, só a parte da cantoria que foi um desastre. – Falei, sorrindo para ele. – Não faça isso de novo, ok?! Nenhum de vocês, na verdade. – Neguei com a cabeça, ouvindo-os rirem.
- Ainda não terminamos. – O assistente falou.
- Vai lá, Matri! – Alguém o empurrou e eu ri fracamente.
- Então, que notícias queria me dar? – Paratici falou e dei alguns passos mais longe da gravação, especificamente onde ainda pegava um pouco de sol.
- O conselho de Turim aceitou a proposta, Continassa é nosso! – Sorri.
- Mentira! – Ele disse, me abraçando animado e rimos juntos. – Eu achei que eles fossem enrolar mais.
- Também achei, mas eu pressionei um pouco, honestamente. – Dei de ombros.
- O que você falou?
- Falei que se eles não vendessem para gente, aquela área morreria, pois quem quer construir qualquer coisa perto de um estádio de futebol?
- Você é um perigo, ! – Ele me abraçou de lado, me fazendo rir.
- Na volta do ano falamos sobre isso. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Você vai conosco, não? – Ele perguntou.
- Mas é claro! – Falei, rindo fracamente. – Só não vou para Arábia Saudita por motivos óbvios, mas vou para Dubai sim. – Ele sorriu.
- Podemos adiantar algo lá. – Ele falou.
- Preciso do retorno do arquiteto, mas agora é buscar investimentos. – Suspirei.
- Mais contigo do que comigo. – Assenti com a cabeça.
- Sim, essa parte sou eu e o Pavel. – Falei e desviei o rosto quando mais risadas ecoaram.
- Nos falamos depois. – Assenti com a cabeça e o vi se aproximar da bagunça de novo, me fazendo rir fracamente com a cantoria de Matri.
- Então, vamos passar o ano novo juntos? – Virei para o lado, vendo Gigi se aproximar.
- Não juntos, só no mesmo ambiente. – Falei, pegando o gorrinho em sua cabeça e coloquei-o na minha.
- Juntos, . – Ele falou e eu suspirei.
- É, talvez. – Ajeitei meus cabelos, colocando a franja para dentro do gorro. – Só vou para tirar umas férias, minhas últimas foram antes do câncer, faz tempo.
- Você merece se divertir depois de tudo o que aconteceu contigo. – Ele disse e dei um pequeno sorriso.
- É o que eu pretendo.
- Sabe, a gangue vai estar lá. – Ele disse.
- Que gangue? – Virei os olhos, virando para ele.
- Cannavaro, Trezeguet, além de mim, Alex e Pavel.
- Mesmo? – Sorri.
- Sim. – Ele assentiu com a cabeça. – Falei com eles esses dias.
- Nossa! Faz tempo que eu não vejo o pessoal. – Ele assentiu com a cabeça.
- Sim, vamos poder lembrar do passado pelo menos por uma noite.
- Sim. – Sorri. – Vai ser legal.
- Mostrar o quanto as coisas mudaram depois que eles saíram. – Ri fracamente, virando para eles.
- Você quer dizer o quanto eu cresci aqui dentro.
- Obviamente. – Ele sorriu e eu ri fracamente.
- Ah, parabéns pelo prêmio. Melhor jogador de dezembro. – Falei, sorrindo.
- Ah, é coisa de fã isso, nem vale. – Ele riu fracamente.
- Como não? Eles têm 30 opções e te escolheram. É algo legal.
- Quer dizer que eu estou fazendo algo direito. – Ele sorriu.
- Beh, são 16 jogos invictos, isso é algo legal. – Ele assentiu com a cabeça.
- Você vai no jogo quarta? – Ele perguntou.
- Não, vou ficar devendo, é o último dia da minha equipe também, preciso finalizar umas coisas com eles antes de 2012 chegar. – Ele assentiu com a cabeça.
- Vai passar o Natal aqui?
- Sim, a Giulia vem, vamos passar na casa dela. – Sorri.
- Isso é legal. – Assenti com a cabeça.
- E você?
- Também vou ficar por aqui, já vou passar fora o Ano Novo, preciso aproveitar com minha família. – Assenti com a cabeça.
- Sim, está certo. – Sorri. – Bem, eu tenho que voltar, nos vemos em 10 dias. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Até mais, . – Sorri. – Vai ficar com o gorro?
- Oh, verdade. – O puxei da minha cabeça, entregando-o.
- Fica bem melhor em você. – Ri fracamente.
- Acontece. – Dei de ombros, ouvindo-o rir fracamente e acenei com a mão antes de guardá-la no bolso novamente e segui caminhando pelo centro do campo, espalhando os pequenos pedaços de gelo que se acumulavam pelo gramado.

Lui
30 de dezembro de 2011

- Eu estou adorando ver vocês todos encapuzados, quero ver quando chegar lá. – Paratici comentou, rindo fracamente.
- Qual a média de temperatura? – Barzagli perguntou.
- Agora, no inverno, está por volta de 30. – Ele falou.
- O QUÊ? – Gritamos juntos.
- Ainda bem que vocês levam as roupas para treinos. – Marchisio falou.
- À noite reduz para 15, 12, mas de dia é igual o inferno. – Paratici disse, rindo e suspiramos.
- São sete da manhã e está nove, cara. – Chiello falou. – A gente vai derreter.
- Vocês queriam mais viagens de pré-temporada? Agora aguentem. – Viramos o rosto em direção da voz feminina e se aproximava de nós, entregando sua mala para o bagageiro.
- Buongiorno, . – A duplinha de sempre Matri e Quagliarella falaram com suas vozes cantadas e eu revirei os olhos.
- Buongiorno, ragazzi. – Ela sorriu, ajeitando o cachecol em seu pescoço. – Prontos para ir para Dubai?
- Achei que íamos para Dubai, não para o sol! – Lich falou, nos fazendo rir.
- Ah, suíço, você vai sofrer. Vai voltar igual um camarãozinho. – Ela deu um sorriso, nos fazendo rir.
- E aí, chefa? – Conte se aproximou e ambos trocaram um rápido beijo.
- Tudo bem, Conte? – Ela sorriu.
- Todos aqui? – O assistente de viagens passou por nós, checando em uma prancheta. – Todos para dentro, o avião não nos espera.
- Mas não é fretado? – Pirlo perguntou.
- Ainda não nos espera. – falou, seguindo para dentro do ônibus, me fazendo rir.
Matri e Quagliarella quase saíram no soco para saber quem entraria atrás dela e eu não sabia se ria ou se revirava os olhos. Qual é, nenhum dos dois tinha chances com ela. gostava de caras mais velhos e com um pouco mais de corpulência. Ok, eles eram da altura dela, mas não como eu. Sem chances. Isso nunca aconteceria.
Eu espero.
Barzagli e Chiellini puxou os dois desesperados por atenção pelo casaco e aproveitei a oportunidade para entrar na frente deles. Vi seguindo para o final do ônibus junto do top cinco e ela entrou em uma fileira ao lado de Pavel e segui atrás de Alex, empurrando-o para seguir até as últimas fileiras e ele entrou na do lado de e me sentei ao seu lado.
- Você é incrível. – Ele sussurrou para mim e dei um curto sorriso.
Não é como se fizesse muita diferença, levando em conta que estamos no penúltimo dia do ano, o dia mal amanheceu ainda e estávamos perto do aeroporto, não foi de grande vantagem me sentar ao lado dela, pois demoramos menos de meia hora para chegar no aeroporto e ela ocupou todo esse tempo falando com Pavel e Paratici sobre o próximo semestre.
Diferente de nós, ela estava vindo para tirar férias, e ela estava falando sobre o próximo semestre? Só para fazer isso mesmo.
Chegamos no aeroporto e alguns torcedores nos pararam para fotos e autógrafos, mas logo os seguranças nos tiraram e seguimos em direção ao salão de embarque. Aquela longa fila de jogadores encheu a emigração e observei ser uma das primeiras a se livrar, me fazendo sorrir.
Aguardei minha vez e logo segui os jogadores pelo aeroporto em direção ao avião. Adorava viajar de fretado que não tinha algumas burocracias para seguir. Acenei para a aeromoça e entrei no avião que estava vazio. O avião era literalmente nosso, então cada jogador ficava sozinho em uma fileira, pelo menos eram assim que alguns já tinham feito. Observei ajeitando sua bolsa no bagageiro e segui em sua direção, me sentando um banco a frente, na fileira do lado.
- Me seguindo? – Ela perguntou, se sentando na poltrona do corredor e eu ri fracamente.
- Só coincidência. – Falei, me sentando no corredor também e ela riu fracamente.
- Claro! Claro! – Ela disse, rindo, ajeitando o cinto de segurança e pegando a revista no bolso da poltrona da frente.
Fingi me distrair também, vendo se tinha alguma mensagem no celular, mas logo fecharam o voo, então desliguei-o e guardei no bolso do casaco. Esses voos eram interessantes, começava com todo mundo rindo, falando algo e jogando coisas nos celulares ou tablets e terminava com todo mundo capotado antes da primeira refeição.
Eu não tinha o costume de dormir em voos, o que não foi diferente, mas capotou em um momento de pura distração minha. Virei meu corpo para o seu lado, observando-a dormir pela luz que entrava por algumas janelas abertas e analisei sua respiração subir e descer conforme seu corpo parecia querer deslizar pelo assento inclinado.
Era difícil não lembrar do passado. Ela dormindo pesado ao meu lado após um dia cansativo, seu corpo se aninhando em meus braços e eu passando as mãos em seus cabelos devagar, me certificando que ela não acordaria tão cedo. Soltei um suspiro e sacudi a cabeça para o lado, desviando o olhar.
Eu acordei quando estavam servindo alguma alimentação, mas estava um tanto perdido no horário. continuava dormindo ao meu lado e me perguntava quão cansada ela estava ou se ela estava com sono acumulado com a nova loucura da sua vida como diretora de contabilidade. Passou quase mais duas horas de viagem e fomos avisados para ajeitar as poltronas que pousaríamos. As luzes foram acesas, as janelas abertas e minha ideia de acordá-la foi para o espaço.
- Ah, que dor de cabeça. – Ela falou, passando a mão nos cabelos.
- Bom dia, dorminhoca. – Falei e ela deu um sorriso em minha direção, coçando os olhos e se espreguiçando ao mesmo tempo, me fazendo sorrir.
- Eu dormi demais?
- O voo inteiro. – Falei. – Já vão pousar.
- Nossa! – Ela riu fracamente, endireitando a poltrona.
- Você estava cansada. – Falei e ela suspirou.
- Nem fala, fiquei até ontem finalizando uns contratos para o começo do ano. – Ela passou as mãos nos cabelos. – Pelo menos posso relaxar um pouco agora.
- Sim, vamos ficar aqui até dia seis, depois voltamos já com tudo.
- Eu vou voltar no dia dois mesmo. – Ela disse. – Quando vocês forem para Arábia Saudita, eu volto.
- Por quê?
- O país é extremista demais com mulheres. – Ela suspirou, revirando os olhos. – Não vou me submeter aos costumes deles.
- Entendi, é uma realidade difícil demais. – Falei.
- Não consigo imaginar mulheres submissas a maridos ou pais, ou que não possam trabalhar, estudar e ter que cobrir o corpo inteiro para... – Ela abanou a cabeça. – Deixa para lá. – Ela bufou. – Até aqui em Dubai falaram para eu tentar me enturmar, mas não preciso exagerar.
- Como assim? – Perguntei.
- Colocar ao menos um véu na cabeça. – Ela tirou o cachecol de seu pescoço. – E eu só vim com isso aqui por isso. – Rimos juntos.
- Vai dar tudo certo, você está conosco. – Sorri e ela riu fracamente.
- Se fosse na Arábia Saudita eu não poderia nem tocar em nenhum de vocês.
- Nem um abraço? – Perguntei.
- Nem. – Ela riu fracamente.
- Que vida chata. – Falei.
- É, deve ser muito chato não poder me abraçar. – Ela falou, piscando para mim e rimos juntos.
- Um pouco. – Devolvi e ela sorriu, desviando o olhar para a aeromoça.
- Poderia colocar sua poltrona na vertical?
- Ah, claro! – fez o que ela pediu e sorriu. – Posso ir aí contigo ver a paisagem? Estou bem curiosa para saber como é.
- Claro! – Falei.
Ela esperou a aeromoça voltar para a frente do avião e saiu rapidamente de sua fileira do meio e virei as pernas para o lado para ela entrar e se sentar na janela. Ela a ergueu e inclinou o corpo para olhar lá para baixo. Pulei para a fileira do meio para dividir a vista com ela e agora entendia o porquê de ela querer ver. O deserto, a água do mar e os prédios ultramodernos se misturavam lá embaixo.
- Isso é incrível. – Ela suspirou.
- É sim. – Falei, sentindo o cheiro de seu tradicional perfume floral próximo às minhas narinas e me afastei um pouco para pegar fôlego.
- Eu só saí do país três vezes, mas sempre foi para países similares ao nosso, nunca, nem em sonhos, eu pensei em vir para o Oriente Médio. – Ela falou baixo e toquei sua mão com a minha, vendo-a virar o rosto.
- Você merece isso e muito mais, . – Falei baixo. – Você merece o mundo.
- Grazie, Gigi. – Ela mordeu o lábio inferior e entrelaçou nossos dedos, me fazendo suspirar.
Não demorou muito para o avião pousar, mas eu aproveitei nossas mãos entrelaçadas durante todo esse tempo. Assim que o avião tocou as rodas no chão, nossas mãos se soltaram devido ao solavanco e ela ajeitou o cachecol em sua cabeça de forma que cobrisse seus cabelos.
Pegamos nossas malas e seguimos para fora do avião, seguindo todos os outros jogadores. Estava no fim da tarde em Dubai, o sol começando a se esconder, mas era possível ver o alaranjado no horizonte. Alguns árabes, sheiks ou o que eles fossem, nos recepcionaram na porta do avião, mas não passou de alguns acenos de cabeça. Entramos em peso no ônibus e seguimos para dentro do aeroporto. Nos separamos de novo para a imigração, mas a situação ficou caótica quando saímos do aeroporto.
Fomos parados por muitos e muitos fãs, além de filmadoras que aguardavam nossa chegada. Todos tinham blusas, bandeiras e flâmulas do time, pediam para assinar coisas ou tirar uma foto e segurança precisava intervir. Entrei no ônibus um tanto apressado e foi impossível ficar próximo de , ela estava lá no fundo, bem calma e paciente. Às vezes sentia saudades do anonimato.
Aproveitei o caminho para observar a vista e tirar algumas fotos. Eu já tinha viajado mais do que , mas eu também nunca tinha vindo para cá e era realmente muito bonito, principalmente o tal do Burj Khalifa, como um prédio podia ser tão alto assim? Cazzo! Dava para vê-lo de qualquer distância possível.
Chegamos no hotel e fizeram a distribuição de chaves. Todos em duplas, com exceção de que teria um quarto só para ela. Claro que isso foi alvo de piadas, mas ela só deu risada. Fiquei com Alex e subimos todos para conhecer nossos quartos.
Apesar do cansaço, a vista da janela era incrível. O hotel em que estávamos tinha vista para o rio – ou será que era o oceano? – que cortava Dubai e tinha uma praia privativa que não fazia parte da água. Eu já tinha ficado em resorts e hotéis cinco estrelas, mas isso era muito mais.
- Eu vou dar uma andada lá embaixo, quer ir? – Perguntei para Alex.
- Vou esperar as malas chegar e tomar banho, logo te encontro lá. – Ele disse.
- Beleza! – Falei e peguei uma chave, seguindo para fora.
Desci pelo elevador novamente e segui para o fundo do hotel percebendo que outras pessoas haviam tido a mesma ideia que eu. De lá de dentro não parecia grande coisa, mas lá de fora era outra história. Passei pelas piscinas cristalinas, pelos campos de golfe e finalmente cheguei na falsa praia que acabei descobrindo que era uma lagoa. Não que fizesse diferença, era bonito para caramba.
- Vou começar a achar que está realmente me seguindo. – Olhei para o lado, vendo com os pés na divisão entre areia e água, as calças com as barras erguidas e os cabelos agora voavam com o vento.
- Vai acreditar em mim se eu disser que não? – Perguntei e ela riu fracamente.
- Eu posso tentar. – Ela disse e eu me abaixei para tirar os tênis e as meias antes de me aproximar dela.
- Eu não estava, mas tornou as coisas melhores. – Falei e ela sorriu. – É muito bonito, não é?
- Quanto mais eu olho, menos eu acredito. – Deixei meus tênis na espreguiçadeira junto de seus sapatos e segui até ela.
- Parece outra realidade. – Falei.
- Com toda certeza. – Rimos juntos. – Eu só uma garota de Palermo, qual é. – Ela suspirou.
- Palermo ainda está no mapa, Carrara não. – Rimos juntos.
- È vero! – Ela sorriu. – Mas nós dois estamos aqui. – Ela virou para mim, sorrindo.
- Sim, , estamos. – Fiz menção de segurar sua mão, mas um grito me impediu.
- GIGIONE! – Marchisio pulou em minhas costas e precisei travar os pés para não ir de cara no chão.
- CAZZO! – Reclamei e ouvi diversas gargalhadas, inclusive da mulher ao meu lado.
- Ah, eu dava tudo para te ver beijando o chão. – gargalhava ao meu lado.
- Engraçadinha. – Disse.
- Vamos ver se isso dá certo? – Ouvi Matri falando.
- Não, não, não! – Falei rapidamente, sentindo-o pular nas minhas costas. – Para com isso! – Falei, irritado!
- Bomba! – Ouvi outra voz e com o impacto eu fui para o chão, dando de cara na água, ouvindo gargalhar.
- SAI DE CIMA! – Falei, irritado, empurrando-os e mais vozes gargalhavam.
- Moral está baixa, hein, Gigi? – Barzagli se aproximou de .
- Como se algum dia estivesse alta. – Ela disse, gargalhando junto dele.
- Por que você fez isso? – Me sentei na areia, sentindo a calça encharcar.
- Tudo para ver a chefa sorrindo. – Matri falou e bati a mão na água, molhando-o e o terceiro era Quagliarella que havia pulado.
- Vocês são tontos, ela nunca vai dar moral para vocês dois. – Falei, me levantando e tirando o casaco que eu usava.
- Nunca diga nunca, Gigi. – Ela deu de ombros.
- Você também não ajuda. – Virei para ela que sorria.
- Eles te derrubaram no chão para me fazer sorrir, Gigi, algum crédito eu preciso dar. – Ela disse, sorrindo e eu revirei os olhos, vendo o resto do grupinho se aproximar.
- Espera um minuto! Zoar o Gigi te faz rir? – Quagliarella perguntou.
- Claro! Somos amigos há 10 anos, qual é. – Ela disse, dando de ombros.
- Cala a boca, ! – Ergui seu cachecol até sua boca, ouvindo sua gargalhada sair abafada.
- Ei! – Ela abaixou minhas mãos. – Não seja tão carrancudo, vai! – Ela falou, rindo e neguei com a cabeça, ouvindo minha risada ecoar também pelo local.
- Isso vai ter volta. E eu também vou usar essa carta de 10 anos na manga, viu?! – Falei, ouvindo-a rir. – Não é porque você é diretora agora que eu vou deixar passar.
- Eu posso te demitir agora. – Ela ameaçou, levando a língua para o céu da boca e eu ri fracamente.
- Quero ver você tentar. – Falei e ela pressionou os olhos.
- Aposto que o time entra em colapso sem nós dois. – Ela disse e rimos juntos.
- Não é difícil. – Falei.
- O que eu perdi? – Matri perguntou.
- Nos conhecemos há 10 anos. – falou, pressionando os lábios. – Eu entrei como estagiária e ele como o novo goleiro do time.
- Uau! Isso é tempo para caramba.
- Pois é, mas ainda estamos aqui. – Falei e sorriu.
- E ai de você se inventar de sair. – Ela chutou água em minha direção.
- Ei, virou várzea aqui agora, né?! – Repeti o movimento, vendo-a aumentar a velocidade dos chutes e logo mais pessoas entraram na pequena guerra e todos já estávamos encharcados e com soluço de tanto rir.

Lei
31 de dezembro de 2011

Saí do banheiro deslizando os pés pelo carpete e parei na frente do espelho, dando uma checada no vestido. Não estava perfeito, era possível ver algumas dobras da mala, mas era uma virada do ano atípica. Eu estava longe de casa, longe de meus amigos e, de certa forma, longe da minha família.
Olhei para o relógio e estava perto das dez da noite, isso queria dizer que eram sete em Turim ainda, daria para eu comemorar o ano novo aqui e depois ligar para Giulia, Giovanna, Fabrizio, Gianni e Pietro, além do restante dos Vitale. Girei o corpo, sentindo o tecido leve se movimentar em meu corpo e ponderei com a cabeça. Estava bom. Voltei para o banheiro para passar um batom claro nos lábios e era isso.
Me sentei na cama, optando por uma rasteirinha baixa depois de passar o dia inteiro andando pelos pontos turísticos da cidade e estar com bolhas do tênis até na sola do pé, um salto agora faria maiores estragos. Além de que era ano novo nesse resort sensacional, logo mais meus pés estariam na areia ou na grama e eu realmente não precisava me preocupar com saltos a essa altura do campeonato.
Passei as mãos nos cabelos, fazendo um rabo de cavalo mais baixo, tentando esconder algumas falhas que ainda me lembravam do câncer e os prendi. Passei um pouco de spray para tentar manter tudo no lugar e estava ótimo. É, mais ou menos. O sofá da casa da Giulia parecia bem mais interessante agora.
Peguei minha chave e meu celular, guardando a chave dentro da capinha do aparelho e ajeitei o celular dentro do decote do vestido, checando no espelho se tinha ficado muito marcado, mas estava ótimo. De verdade. Dei uma rápida olhada nas falhas da cabeça, mas com a pouca iluminação, tudo se misturaria, e saí do quarto, puxando a porta.
- Você está muito melhor do que nós... – Virei para o lado, vendo os dois Andreas saindo dos quartos com seus moletons Juventus.
- Ei, ragazzi. – Falei, rindo fracamente. – Passar a virada do ano de Juventus, sério? – Perguntei, ouvindo-os rirem.
- Beh, estamos aqui como Juventus, não? – Pirlo perguntou.
- Mesmo assim. – Dei de ombros.
- Você está linda. – Barzagli falou e eu sorri.
- Obrigada. Eu vim preparada! – Falei, dando uma leve cutucada neles e eles sorriram. – Vocês estão descendo?
- Sim, vamos para praia. – Pirlo falou. – E você?
- Vou acompanhar vocês, depois eu subo no terraço para ver o restante do pessoal. – Falei e Barzagli indicou a mão para eu seguir pelo corredor e fui em direção a ao elevador, chamando-o.
Segui lado a lado dos dois até chegarmos na lagoa artificial que tinha no hotel, lugar onde eu tinha saído ensopada na noite passada depois de entrar na brincadeira de Gigi e do restante do time e a celebração deles era bem diferente da nossa. Ao invés de música muito alta e luzes iluminando ambiente, eles haviam construído um deque que se aproximava mais do riacho de água salgada que cortava Dubai. Até tinha uma música tocando, mas nada alto e agitado o suficiente para dançar.
Todos os jogadores estavam lá, bom, pelo menos alguns, não encontrei Gigi e nem Alex, sabendo que eles tinham ido para o terraço comemorar com o restante do povo. Cannavaro estava na Arábia Saudita como assistente do Al-Hilal, time que eles jogariam o amistoso no dia cinco. E Trezeguet estava no Baniyas de Abu Dhabi, não com uma grande temporada pelo que eu ouvi, mas seria bom ver ambos novamente.
- E aí, ? – Me aproximei de Pavel e Paratici.
- Tudo bom, gente? – Parei ao lado deles.
- Tudo bem. – Eles disseram.
- Você está bonita. – Pavel disse e eu sorri.
- Grazie. – Desviei o rosto.
- Quer beber alguma coisa? – Paratici perguntou.
- O que estão bebendo? – Perguntei.
- Champanhe. – Eles falaram juntos.
- Pode ser. – Disse.
- Eu pego para você. – Paratici disse.
- Você não vai lá com a galera? – Perguntei.
- Depois, podemos ir juntos. – Pavel disse.
- Claro! Pelo visto aqui não está muito animado.
- Costuma passar viradas do ano mais animadas? – Ele perguntou.
- Beh, um pouco mais do que isso. – Ele riu fracamente.
- Dá para relaxar um pouco. – Ele disse.
- É, talvez. – Rimos juntos.
- Aqui. – Paratici me estendeu a taça.
- Grazie. – Falei, dando um gole nela. – Eu vou dar uma volta. – Falei e eles assentiram com a cabeça.
Tinha algumas pessoas diferentes dos jogadores por ali, mas eles estavam quase separados de tudo, só tinha ali os jogadores, equipe técnica, equipe de comunicação e o top cinco. Três, na verdade, Agnelli e Beppe não estavam em meu campo de visão.
- Fala aí, chefa. – Chiello falou quando me aproximei dele.
- E aí, gente? – Falei para o grupinho em volta.
- Sumiu hoje. – Ele disse.
- Ah, você realmente achou que eu ia ficar vendo vocês treinarem? – Ele riu fracamente. – Fui dar uma volta pela cidade.
- Bonito? – Marchisio perguntou.
- Para caramba! – Rimos juntos. – Nunca vi nada parecido com isso.
- Foi lá no Burj Khalifa? – Bonucci perguntou.
- Fui! É demais. Lá de baixo já dá vertigem só de olhar para cima, aí você sobe e a vertigem continua... – Eles riram fracamente. – É alto demais e eu não costumo ter medo de altura.
- A gente vai ter folga no dia três, quem sabe eles não nos levam lá? – Barzagli perguntou.
- Isso é com o setor de comunicação, eu realmente só vim descansar um pouco. – Suspirei.
- Você não vai nem para Riade, não é mesmo? – Chiello perguntou.
- Não, eu volto no dia três para Turim, preparar as coisas para o restante da temporada. – Falei.
- Ia ser bom te ter lá, chefa. – Pirlo disse e eu sorri.
- Vocês são uns amores, mas é um país muito conservador para mim. – Eles riram.
- Eu li um pouco sobre isso, quem ainda vive assim? – Barzagli perguntou e eu apontei para ele.
- Boa pergunta. – Neguei com a cabeça. – Falar que é “cultura” não funciona para mim.
- E aí, chefa! – Quagliarella e Matri se aproximaram e eu suspirei, desviando o olhar para Chiello que ria.
- Oi, gente! – Falei e eles sorriram.
- Quem você vai beijar à meia noite? – Matri perguntou.
- Como é que é? – Perguntei, franzindo a testa e o restante do grupo gargalhou ao meu lado.
- Sabe como é, virada do ano, beijo à meia noite é com quem você quer passar o resto do seu ano junto... – Quagliarella falou e eu bufei, levando a mão até o rosto.
- Eu não ouvi isso. – Falei. – Eu fiquei surda por alguns segundos. – Os outros riram.
- Acho que é melhor. – Barzagli falou.
- Feliz ano novo para vocês. – Falei, apoiando a mão levemente no ombro de Barzagli que estava mais perto e eles riram.
- Dia difícil? – Me aproximei de Conte.
- Você precisa controlar seus jogadores. – Falei, ouvindo-o rir fracamente.
- Confesso que adoro ver a cara do Gigi toda vez que esses dois tapados dão em cima de você.
- Xi! – Falei. – Abaixa o tom, já faz anos, não quero essa história voltando para me assombrar, além do mais, eles são bonitinhos, quem sabe no futuro? – Ele riu fracamente.
- É, claro! Porque trocaria Gianluigi Buffon por coadjuvantes. – Ele disse, arqueando os olhos.
- Eu não troquei, eu fui trocada por uma modelo de biquini. – Falei.
- É, com todo perdão da palavra, você dá de mil nela, . – Passei a mão pelo ombro dele.
- Adoro vocês levantando minha moral. – Ele sorriu.
- Sempre que precisar, meu amor. – Abracei-o de lado. – E enquanto vocês continuarem se aproximando, , isso sempre vai voltar para te assombrar. – Suspirei.
- Ele fez a escolha dele, Conte, chances e opções eu dei, mas não é culpa minha se eu me tornei importante no time e nos encontramos sempre. – Dei de ombros.
- Só faltava também, não é? – Ele disse, me fazendo rir.
- È vero! – Sorri. – Trezeguet e Cannavaro estão lá em cima, não vai vê-los?
- Logo mais. – Ele disse, checando o relógio. – Ainda temos tempo.
- Sim, mas ouvi falar que as festas aqui acabam as três. – Falei.
- Não é como se eu fosse deixá-los aproveitar muito mais. – Ri fracamente.
- Feliz ano novo, Conte. – Dei um rápido beijo em sua bochecha.
- Para você também, . Que esse ano seja incrível para você.
- Para todos nós. – Falei e ele sorriu.
Dei uma rápida andada pelos outros jogadores e assistentes, recebendo algumas palavras, piadinhas e cumprimentos, e voltei para perto de Pavel e Paratici que pareciam que não tinham andado um centímetro sequer.
- Eu vou subir lá. – Falei.
- Vamos lá. – Pavel disse. – Vamos? – Ele virou para Paratici.
- Eu vou ficar por aqui, nos vemos depois. – Ele disse.
- Até mais. – Falamos juntos.
Seguimos de volta para o hotel e apertei no botão para o terraço quando entramos no elevador. Assim que as portas se abriram novamente, o nível havia subido um pouco. Além das pessoas estarem usando roupas um pouco melhores, ternos e vestidos, tinha música mais alta e mais animada. Não que o local estivesse tão cheio, mas o ambiente estava mais agitado.
Passamos pelo local e não foi difícil achar a turma, mas quando achamos, confesso que fiquei um pouco decepcionada ao ver Alena junto deles. Somente ela, sem as crianças. Não havia sido informada disso, não que tivesse um problema, mas era diferente quando elas estavam perto. Sonia e Daniela – esposa de Cannavaro – estavam lá também, mas não encontrei Beatrice com eles.
- ! – Foi impossível não se assustar com o grito de Trezeguet que chamou atenção da festa inteira, mas não posso dizer que não estava esperando.
- Trezegol! – Fui um pouco mais contida e ele me abraçou fortemente pela cintura, me girando pelo local.
- Eu vou ficar zonza! Eu vou ficar zonza! – Falei, ouvindo-o rir.
- Que saudade de você! – Ele me colocou no chão, afrouxando o abraço.
- Saudade de você também! – Dei um beijo em sua bochecha, vendo-o sorrir.
- PAVELZITO! – Ele gritou para Pavel e eu franzi o rosto com o apelido novo para mim, vendo-o esmagar o tcheco agora.
- ! – Cannavaro se aproximou.
- Eu nunca ouvi essa antes. – Apontei para Trezeguet, vendo-o rir.
- Ele está feliz demais! – Ele me abraçou fortemente. – E bebeu algumas já. – Rimos juntos.
- Que saudade de você, Fabio. – Falei baixo, abraçando-o fortemente.
- Eu também estava. – Ele suspirou, me encarando. – Ouvi falar que você é alguém importante agora.
- Ah, mais ou menos. – Falei rindo.
- TOP TRÊS, ! TOP TRÊS! – Trezeguet falou alto, me fazendo rir fracamente. – Quando isso aconteceu? – Rimos juntos.
- Seis meses depois que você saiu. – Falei.
- Cara! Isso é loucura! – Rimos juntos.
- Ei, o Pavelzito aqui é top dois. – Falei, rindo.
- Ah, mas ele é amiguinho do Agnelli tem anos, MAS VOCÊ! – Ele aumentou o tom de voz.
- Acho que todo mundo teve essa mesma reação. – Alex falou e vi Gigi, Sonia e Alena se aproximando.
- Até eu tive, confesso. – Falei, rindo fracamente, acenando para Sonia e Alena, e a primeira se aproximou.
- Você merece! Total! – Trezeguet falou.
- Nunca vou cansar dessa reação do pessoal. – Sonia disse, me abraçando e ri fracamente.
- Mas nenhuma bate a do Treze. – Falei baixo para ela, ouvindo-a rir.
- Ah, com certeza não. – Ela disse, rindo.
- Ciao, Alena. – Acenei para ela de longe, vendo-a sorrir. – Daniela, você vai vir me dar um oi, não vai?
- Mas é claro! – Ela falou, rindo e se aproximou de mim. – Faz tempo, não?
- Nem sei mais. – Rimos juntas.
- Parabéns pelo posto. – Ela disse e eu sorri.
- Grazie. – Sorri. – Como vocês estão?
- Ah, estamos bem. – Ela sorriu. – Bom rever a galera.
- Nem fala. – Sorri e reconheci Gianluca Zambrotta próximo do pessoal.
- Só esse olhar eu sei que você ainda quer me matar. – Ele falou e eu ri fracamente.
- São poucas as pessoas que eu odeio, e eu não sou muito sua fã. – Ele riu fracamente.
- Já sei que eu não volto para o time nem se eu quiser. – Ele disse, se aproximando e dando um rápido beijo em minha bochecha.
- Não ficou quando a gente queria, nem tente agora. – Falei rindo fracamente, mas era verdade. – Fica no Milan.
- Uh, essa doeu. – Trezeguet falou.
- É por isso que você deve valorizar algumas amizades. – Gigi falou e eu assenti com a cabeça para ele.
- Ainda mais essa daí. – Alex disse e eu ri fracamente.
- Então, Treze, onde está Beatrice? – Perguntei.
- Não faço a mínima ideia. – Ele falou e eu franzi a testa. – Diferenças irreconciliáveis. – Ele disse.
- Ah, entendi. – Ri fracamente.
- Agora eu e você podemos ficar juntos para sempre. – Ele me abraçou fortemente, apoiando a cabeça na minha e franzi os olhos, mas sabia que era o mesmo jogo do casamento do Alex.
- É, pode crer. – Falei, ouvindo Fabio, Alex e Pavel rirem, já Gigi não deu um risinho. – Entra na fila, ok?! – Falei.
- O quê? Por quê? – Ele perguntou, me soltando.
- Matri e Quagliarella acabaram de me perguntar quem eu vou beijar à meia noite. – Falei e Alex gargalhou alto, me fazendo rir junto e olhei para o rosto sério.
- Se você for beijar alguém, será eu! – Trezeguet falou rapidamente.
- Entre as opções, é a melhor. – Fabio falou e eu abanei a cabeça.
- Pelo amor, gente! Eu só vim aproveitar o fim do ano. – Eles riram. – Sem beijos e sem novos namorados para 2012. Principalmente amigos de longa data. – Empurrei Trezeguet delicadamente, ouvindo-o rir.
- Estou brincando, meu amor. – Ele disse e eu sorri.
- ? – Virei para Daniela.
- Oi? – A vi abraçada em uma menina loirinha e um garoto mais velho.
- Ela está perguntando se você se lembra deles. – Daniela falou e eu sorri.
- Martina e Christian, certo? – Pisquei para a menina e ela sorriu.
- ! – Ela correu em minha direção e eu a abracei.
- Dio mio, Martina. Como você está grande! – Falei, apertando-a fortemente. – Quantos anos você está?
- Fiz 10 dia 22. – Ela disse e eu suspirei.
- Eu estou ficando velha. – Falei, ouvindo-a rir. – E você, não vai me dar um abraço? – Christian sorriu e veio em minha direção.
- Tia ! – Ele falou e eu sorri, dando um beijo em sua cabeça.
- E você? Quantos anos?
- 15 anos. – Ele disse.
- Você está da minha altura, garoto. Está lindo. – Ele sorriu. – E Andrea? – Virei para Daniela.
- Já dormiu, não aguentou muito tempo. – Ela disse.
- Ele tem sete, certo?
- Tem sim! – Fabio falou.
- Se vocês estiverem aqui amanhã, eu o vejo. – Eles sorriram.
- Você é tipo a encantadora de bebês e crianças. – Alena falou e ergui o olhar para ela.
- Encantadora eu não sei, mas por algum motivo eles gostam de mim. – Dei de ombros, olhando para Martina.
- Porque você é mu-u-uito legal! – Ela disse, rindo.
- Você também é mu-u-uito legal. – A imitei, vendo-a rir fracamente.
- Deixem a respirar, crianças. – Daniela falou sorrindo.
Foi fácil esperar a meia-noite com Trezeguet bêbado, e ele, Fabio, Sonia e Daniela querendo saber todos os detalhes da minha nova posição, mas confesso que estava literalmente adorando a cara de quem comeu e não gostou de Gigi quando Trezeguet me abraçava apertado e fazia piadinhas como quem fosse me beijar.
Pelo menos eu esperava que isso só ficasse na brincadeira, vai saber o teor de álcool no sangue dele, mas eu também não o afastava. Queria gozar dos lábios franzidos de Gigi enquanto ele abraçava sua esposa como se fosse a melhor coisa do mundo. Acredite, era a melhor coisa do mundo, pelo menos para mim.
Quando chegou perto da meia-noite, nos aproximamos da beirada do terraço para ver a queima de fogos e Trezeguet me apertou fortemente. Independente de qualquer fosse a sua brincadeira, era bom ter meus amigos comigo novamente. Pena que eu sabia que era quase igual a fábula da Cinderela, tinha hora para acabar.
Trezeguet me deu um beijo na bochecha assim que deu meia-noite e vimos juntos os fogos saírem do Burj Khalifa que estava um tanto distante de nós, mas perfeitamente visível, e estourarem no céu de Dubai, além de outros que estouravam mais perto de nós.
- Feliz ano novo, ragazzi. – Fabio falou.
- Feliz ano novo. – Sorri, virando meu rosto para o lado e vi o olhar Gigi virado para mim enquanto sua esposa o abraçava pelo pescoço. Ri fracamente e ergui meu rosto novamente.
É, seria um feliz ano novo.

Lui
Seis de abril de 2012

- Fala aí, galera! – Me sentei na primeira poltrona livre, ao lado de Chiello e do lado das poltronas de Bonucci e Barzagli.
- Se ganharmos amanhã, garantimos a liderança. – Conte falou de alguns bancos à frente e gritamos juntos, batendo as mãos nas laterais do ônibus.
- Dio mio, parece excursão escolar! – Ouvi uma voz mais alta e viramos o rosto automaticamente para frente, vendo entrando nele. – Vocês vão quebrar o ônibus desse jeito.
- Quanto tempo, amor da minha vida! – Matri falou, ajoelhando no assento e fazendo um gesto de coração exagerado para ela.
- Matri, Quagliarella! – Ela disse, acenando com a cabeça.
- Senta aqui comigo, meu amor! – Quagliarella falou. – Cai fora, Vidal!
- Eu não! – Vidal reclamou e nós gargalhamos.
- Grazie, mas eu vou lá atrás. – Ela falou, atravessando alguns assentos, passando por nós. – Cáceres, está livre?
- Senta aí, chefa! – Ele falou e colocou sua mochila no bagageiro de cima e se sentou na poltrona do corredor, ao lado de Cáceres, atrás de Barza e Leo e na minha diagonal e de Chiello.
- Da última vez que eu chequei, vocês eram mais normais. – Ela falou baixo e rimos juntos.
- Beh, já faz uns meses que você não viaja conosco. Não posso garantir mais. – Pirlo, que estava ao lado de Marchisio falou e ela riu fracamente.
- Desde Dubai, talvez o calor do Oriente Médio tenha fritado os poucos neurônios de vocês. – Ela disse.
- Ainda bem que eu não fui. – Cáceres, que voltou na transferência de inverno, falou rindo.
- É, o que houve, chefa? – Chiello perguntou.
- Como assim? – Ela perguntou.
- Para vir conosco. – Falei com o rosto afundado no apoio de cabeça.
- Hum, vamos pensar. Eu fiquei quatro meses sem ir a um jogo fora e vocês tiveram a capacidade de empatar com o Milan e, depois que o juiz apitou, ainda teve briga. – Ela olhou para Chiellini.
- Mas... – Ele tentou se explicar.
- Não, não, eu não sou a Angela para xingar vocês, mas brigar com o Milan nunca é uma boa coisa, as ações despencaram. – Rimos juntos. – E agradeço você, senhor capitão, por SAIR DO CAMPO! – Ela olhou para mim.
- Ei, agora a culpa é minha? – Falei e rimos juntos. – Eu tentei apartar, esse coglione que foi em cima do Ambrosini de novo. – Empurrei Chiellini para o lado.
- Ei, cara! – Ele reclamou, nos fazendo rir.
- Mas ok, Storari tentou apartar, estava bem, aí veio Vucinic, Abbiati e eu só estava vendo pela televisão, podem me dizer o que aconteceu depois que cortou a transmissão? – Ela olhou para Chiellini e ele ficou mais pálido que o normal.
- Ah, nada... – Ele falou, nos fazendo gargalhar.
- É sei. – suspirou. – Mas aí tivemos coisas boas também, ganhamos da Internazionale, Gigi foi descrito como o quê? – Ela olhou para mim.
- “O melhor goleiro da Itália e talvez do mundo”. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Isso compensou as ações. – Ela sorriu para mim. – E com seu prêmio de melhor goleiro dos últimos 25 anos, sua cota de mercado subiu.
- Isso é bom. – Falei, rindo.
- Até demais. – Ela suspirou. – E o que mais? – Ela fingiu pensar.
- A Coppa Italia? – Alex, que estava atrás dela, se debruçou em sua poltrona.
- Ah sim, com certeza. Vocês chegaram na final depois de oito anos. – Ela sorriu e o pessoal à nossa volta gritou e bateram nas laterais dos ônibus. – Como torcedora, eu estou feliz e, como diretora, estou orgulhosa de vez que nosso projeto está tendo resultado. – Assenti com a cabeça, sorrindo.
- Ok, agora vamos falar sério. – Falei. – Você já nos xingou e parabenizou, mas não disse por que está indo com a gente. Não é a oportunidade de ficaremos em primeiro na tabela porque o Milan está vindo colado logo atrás. – Endireitei o corpo para olhá-la, sentindo o pescoço já começar a doer devido a posição.
- Vocês estão indo para Palermo, Gigi. – Ela falou, olhando para mim com os lábios franzidos e eu entendi na hora, dando um pequeno sorriso. – Eu não podia perder a oportunidade.
- Há quanto você não volta? – Perguntei baixo.
- 16 anos. – Ela suspirou, dando um pequeno sorriso. – Eu sei que voltamos amanhã, mas achei que estava na hora. – Ela assentiu com a cabeça e eu a acompanhei.
- O que eu perdi? – Chiellini perguntou ao meu lado.
- Eu sou de Palermo, Chiello. – Ela falou.
- Mesmo? – Ele e Barzagli perguntaram juntos.
- Sim. – Ela suspirou, abaixando o olhar. – E eu não volto para lá desde que tinha 14 anos.
- Conta para eles, . – Alex falou e ela olhou para cima para procurá-lo. – Somos sua família, se esqueceu? – Ela deu um pequeno sorriso.
- Não, nunca. – Ela deu um sorriso discreto, erguendo o olhar para mim e eu assenti com a cabeça, tentando dar uma força silenciosa para ela. Ela pressionou os lábios e pude percebê-los tremendo e estiquei minha mão até sua perna, tocando-o como a distância permitia. – Eu nasci em Palermo em 81, morava com meus pais. – Ela apertou suas mãos devagar. – Mas eles morreram quando eu tinha somente oito anos. – Ela pressionou os lábios.
- Ah, , sinto muito. – Marchisio foi o primeiro a falar e ela sorriu para ele.
- Eu fui para um orfanato em Palermo mesmo e vivi até meus 14 anos lá, depois eles encontraram uma avó e eu me mudei para Nápoles com ela, de onde meus pais saíram. – Ela suspirou.
- Nós não sabíamos disso. – Bonucci falou.
- O Gigi e o Alex sabem dessa história. – Ela disse. – Aí em Nápoles minha avó me tratava muito mal e, quando chegou a época de ir para faculdade, eu escolhi Turim por ser bem longe dela.
- É por isso, então, que você odeia Nápoles. – Barzagli falou e ela riu fracamente.
- É. Por isso eu brinco que precisava tirar o Quagliarella e o Pazienza de lá. – Sorri. – Eu odeio aquela cidade e tudo que tem ligação a ela. – Ela mordeu seu lábio inferior com raiva. – Vocês nunca vão me ver viajando para Napoli com vocês.
- Com razão. – Falei e ela me deu um sorriso.
- E, se eu puder perguntar, você nunca mais viu sua avó? – Marchisio perguntou.
- Não. – Ela falou. – Eu fugi no meio de 99 e vivo em Turim desde então. – Ela passou a mão levemente pelo seu olho. – Ela nunca foi atrás de mim, eu nunca fui atrás dela. – Ela deu de ombros. – Por sorte, eu acabei fazendo diversas famílias por aqui.
- Você pode contar sempre com a gente, você sabe disso, não? – Chiellini falou e ela assentiu com a cabeça.
- Eu sei. – Ela sorriu. – Mas essa história é pesada e olha como o clima morreu depois que eu contei? – Ela riu fracamente e eu sorri com ela. – Eu prefiro deixar no passado... – Ela passou as costas da mão no nariz. – Mas eu precisava aproveitar essa oportunidade de voltar para lá. Minhas amigas sempre ofereciam para me levar, mas eu sabia que era algo que eu precisava fazer por conta.
- Você não estará sozinha, . – Falei e ela assentiu com a cabeça. – Estaremos lá para você.
- Eu sei, Gigi. E agradeço por isso, mas preciso ir a passos de formiga. – Assenti com a cabeça. – Talvez eu fuja antes de subir no avião.
- Não vamos deixar. – Eu e outros quatro falamos juntos, ouvindo-a rir.
- Grazie. – Ela sorriu.
- Você se lembra onde morou? – Barzagli perguntou, apoiado em sua poltrona. – Eu vivi em Palermo durante quatro anos antes de ir para Alemanha.
- Ah, verdade! – falou. – Eu morava perto da estação Notarbartolo, próximo a Villa Sperlinga.
- Ah, sei! – Ele falou. – Bem centro da cidade, não?!
- É, centro velho. – Ela falou. – Ficava no meio de tudo, na verdade.
- É relativamente perto do Barbera, não? – Ele perguntou.
- Antes de Turim eu não era nada ligada a futebol. – Ela riu fracamente. – Mas acho que era sim.
- Acho que era, uns 15, 20 minutos. – Ele falou. – Beh, em Palermo tudo é perto de tudo. – Eles riram juntos.
- Eu andava muito de bicicleta quando morava no orfanato, mas ficava ali no entorno.
- Onde era o orfanato? Você se lembra? – Ele perguntou.
- Era perto do Porto, eu dei uma pesquisada e vi que virou um hospital público.
- Ah, eu sei onde era. – Ele falou. – Istituto Padre Messina, certo?
- Isso! – Ela sorriu. – Nossa! Veio na cabeça imediatamente. – Ela sorriu.
- Era bem bonito aquele entorno, perto da praia... – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu não era infeliz lá, acabou virando minha realidade. Morar perto da praia, tinha colegas, eu tinha certa liberdade e tudo mais, só em Nápoles mesmo que eu odiei. – Ela disse e eu sorri.
- Gostei muito de morar lá, era uma cidade ótima. – Barza falou.
- Demais! – Ela disse, sorrindo. – A cidade é maravilhosa, cheia de história, pontos turísticos, é banhada pelo mar Tirreno, fica no sul, então é um pouco mais quente... – Sorri. – Sabiam que chamam Palermo a Grécia italiana? – Ela falou para todos nós.
- Mesmo? – Franzi a testa.
- Sim! Fazer turismo em Palermo é demais. – Ela sorriu.
- É bom ver que você está feliz com a ida. – Falei e ela sorriu.
- Espero continuar feliz quando chegar lá. – Ela suspirou.
- Você vai. – Falei. – Confia em mim. – Disse e ela suspirou, relaxando os ombros.
- E você, Barza? Onde morou lá? – Desviei o olhar dos dois, voltando a minha posição original e tentei ignorar a conversa animada que acontecia ao meu lado.



Capitolo treinta

Lei
Sete de abril de 2012

Engoli em seco ao olhar pela janela e respirei fundo, olhando a pequena e estreita rua lá embaixo. Voltei alguns passos para dentro do quarto, movimentando as mãos e soltando o ar fortemente.
- Vamos, ! Você consegue! – Falei baixo, engolindo em seco diversas vezes, sentindo a saliva acumular em minha boca.
Senti algo subir pelo meu corpo e saí correndo pelo quarto, abrindo a tampa do vaso sanitário e o começo do meu almoço saiu em uma talagada só e eu passei a mão na boca, me sentando no chão e bufei alto, sabendo que toda essa ansiedade estava dentro de mim e eu já tinha feito o mais difícil, chegar até aqui, agora eu só precisava sair do hotel.
Só percebi as lágrimas deslizando pelas minhas bochechas quando ela pingou de meu queixo e puxei alguns pedaços de papel higiênico para secar o rosto com força e puxei a respiração devagar. Levei a mão até minha barriga, checando se não vomitaria novamente e me levantei do chão, apertando a descarga.
Encarei meu olhar no espelho e peguei minha escova de dente, colocando pasta e escovando os dentes para tirar aquele gosto ruim e estranho da boca. Era isso, eu ficaria no hotel e tudo o que eu veria daqui seria esse hotel, muito bom por sinal e o estádio. Acho que para uma primeira vez está de bom tamanho. Pulei quando ouvi algumas batidas na porta e cuspi a pasta antes de responder.
- Espera aí! – gritei, bochechando com água e sequei a pasta, seguindo para a porta secando a boca antes de abrir e dar de cara com Gigi apoiado na porta. – Ei, o que está fazendo aqui? – Perguntei.
- Eu que te pergunto. – Ele falou, apoiando a mão na maçaneta.
- Ah, bem, eu estou aqui... – Falei, dando de ombros, voltando para o banheiro.
- Por que você não está passeando pela cidade que você nasceu? – Ele perguntou, aparecendo na porta do banheiro. – Achei que era o propósito de você ter vindo.
- Eu não consigo, ok?! – Falei, pendurando a toalha de volta. – Eu estou travada.
- Como assim “travada”? – Ele perguntou, apoiando no batente da porta e eu passei por ele, abaixando sua mão antes que eu babasse. Ele ficava lindo demais assim.
- Travada, não consigo sair daqui, ok?! Estou com crise de ansiedade ou que for. – Falei irritada.
- Você não está falando sério. – Ele riu fracamente.
- Estou! – Falei firme. – Acabei de vomitar e estou suando e coçando e...
- ... – Ele me puxou pelo braço e eu virei para ele. – Eu não vou deixar você ficar nesse hotel.
- Por favor, Gigi, não... – Gemi baixo.
- Não! – Ele falou firme. – Vamos! Temos três horas até precisarmos ir para o estádio. – Ele falou. – Onde você quer ir antes? Vi que estamos há três quilômetros do orfanato.
- Não, Gigi, eu não posso fazer isso. – Falei, mordendo meu lábio inferior.
- Você pode! – Ele falou sorrindo. – Vamos, . Você vai se arrepender se não for comigo. – Suspirei, mordendo meu lábio inferior.
- Eu não posso fazer isso, Gigi. Vai doer... – Senti meus olhos se encherem de lágrimas. – Vai doer demais... – Senti minha voz falhar.
- Ah, ... – Ele me puxou pela mão, me abraçando fortemente. – Eu sei que vai doer... – Ele falou próximo ao meu ouvido. – Mas também vai te fazer bem. – Ele acariciava minha cabeça. – É sua cidade, seus pais, suas memórias... – Puxei a respiração fortemente. – Você já veio até aqui, não quer relembrar as coisas?
- Eu vou chorar e vai doer e...
- E eu vou estar com você. – Ele disse baixo. – Para sempre, lembra? – Afastei nossos corpos devagar, passando a mão nos olhos devagar. – Só vai ser nós dois, não falei para mais ninguém que viria aqui. – Ele disse, acariciando meu rosto e passando o polegar pelas lágrimas. – Achei até que já tivesse ido.
- Eu não consegui. – Falei baixo.
- Você vai se eu for junto? – Ele suspirou.
- Eu não sei... – Falei baixo.
- Vamos, , você consegue fazer isso.
- Por que você é fofo comigo nesses momentos? – Perguntei, ouvindo-o rir fracamente.
- Porque você está precisando. – Ele disse e eu suspirei, assentindo com a cabeça.
- Ok. – Falei, suspirando.
- Você vai? – Ele perguntou, animado e eu suspirei.
- Eu tenho uma opção verdadeira ou você vai me arrastar se eu disser não? - Olhei para ele.
- Eu vou te arrastar. – Ele disse e eu suspirei. – Já até pedi o táxi.
- GIGI! – Falei alto e ele riu fracamente.
- Vem, vamos! – Ele me puxou pela mão e a senti formigar com o toque.
- Espera! Me deixa pegar minha bolsa. – Falei e segui até minha bolsa na mesa e a cruzei no corpo e ele já me esperava com a porta aberta. – Você é muito insistente, já falei isso?
- Você que decidiu vir. – Ele disse. – Eu não estava nem lembrando ou teria te arrastado por conta própria. – Revirei os olhos e ele riu fracamente, puxando a porta quando eu saí.
- Mas vocês que vieram com o papo “por que você está vindo?” e tudo mais. – Falei, seguindo pelo corredor com ele.
- Para alguém do top cinco, você vai a menos jogos que o esperado. – Ele disse.
- Eu tenho trabalho de verdade, ok?! – Falei, entrando no elevador com ele. – E eu vou em quase todos os jogos em casa, não tem motivo para eu ir nos fora, sendo que os jogos são iguais.
- Nenhum jogo é igual ao outro, . – Ele falou.
- Não iguais, iguais. Iguais com os mesmos times. – Abanei a mão. – Você entendeu o que eu disse. – Abanei a mão e ele riu fracamente. – Ah, coglione. – Xinguei baixo e ele sorriu pelo espelho do elevador. – Além do mais, viajar com vocês significa ficar com vocês 48 horas, não é meu sonho de férias.
- Ei, eu sou legal, ok?! – Ele disse e eu sorri. – Vem! – Ele me puxou pela mão, causando o formigamento estranho de novo e seguimos pelo lobby, vendo-o vazio, até sairmos para o sol de Palermo e realmente tinha um táxi parado na porta. – Entra! – Ele puxou a porta para mim.
- O pessoal sabe que você está saindo? – Perguntei.
- Entra logo, ! – Ele falou firme e eu bufei antes de fazer o que ele havia mandado, vendo-o entrar logo atrás. – ‘Giorno!
- Oh, Gigi Buffon no meu táxi. – O cara falou, animado e eu suspirei, tentando dar meu melhor sorriso.
- Tudo bem? – Gigi o cumprimentou.
- Tudo ótimo! – Ele falou, animado. – Para onde vamos?
- ? – Ele virou para mim e eu suspirei.
- Istituto Padre Messina, por favor. – Falei baixo. – Próximo a Castello a Mare.
- É para já! – Ele falou e eu suspirei, me afundando no banco, olhando para a janela.
Eu sabia que não estávamos longe do orfanato, eu tinha feito todos os tipos de pesquisa antes de Turim. Era perto o suficiente para ir a pé, mas minhas pernas já tinham virado gelatina só para chegar aqui e, enquanto passamos cinco ou seis minutos dentro do táxi, meu olhar já encheu de lágrimas da mesma forma de quando chegamos do aeroporto para o hotel.
Eu tinha passado os melhores momentos da minha vida aqui. Isso era fato. Beh, talvez não todos os melhores, não podia negar que Turim havia sido uma surpresa para mim. Eu criei uma família, conheci o amor, fiz amizade com diversas pessoas que sei que me acolhem como uma família e conheci novas paixões, que é o futebol e a Juventus, que me deram a oportunidade de conquistar tudo de melhor que uma formação em contabilidade podia me dar.
A única coisa que Turim não tinha era meus pais mesmo. E, apesar de nem Palermo tê-los mais, era aqui que eu guardava as melhores lembranças deles. As ruas, os monumentos, os parques, era em Palermo que eu sabia que a alma deles permanecia, pois foi aqui que o amor deles cresceu e floresceu.
Observei o táxi estacionar na lateral do Istituto e franzi os lábios, sentindo as lembranças me encherem de vez e eu saí do carro quase como se eu tivesse sido levada por uma onda. O prédio era o mesmo que eu me lembrava, ele só não era mais azulado como quando eu morei aqui. Agora um rosado descascado tomava conta do local.
Atravessei a rua instintivamente, seguindo para a lateral do prédio, sentindo minhas pernas andarem rápido quase como se eu estivesse correndo e cheguei na porta do local, sentindo minha respiração apressada. Observei a cruz no alto do portão e da porta e respirei fundo, vendo-a fechada.
Afastei alguns passos, sendo levemente cegada pelo sol e olhei para as janelas fechadas e abertas e dei uma volta em torno do meu corpo, vendo as árvores do parque ao lado e suspirei. Segui pela rua, chegando no final dela e subi correndo as escadas que dava para o parque ao lado e debrucei meu corpo na marquise, tendo somente a vista do mar em minha frente, me fazendo suspirar.
Puxei a respiração fortemente, apoiando meu queixo em minhas mãos quando eu inclinei o corpo para frente e suspirei. Não que viver em um orfanato tenha sido bom, mas foi melhor do que Nápoles. Bem melhor do que Nápoles.
- Ei, ! – Virei para o lado, vendo Gigi se aproximar correndo também e ri fracamente.
- Scusa, te deixei para trás. – Falei e ele reduziu o passo.
- Tudo bem, só não some. – Ele falou, se apoiando ao meu lado. – Uau! – Ele falou.
- É bonito, não é? – Suspirei, passando a mão em meus olhos.
- Olha essa água! – Ele disse e eu sorri.
- Ninguém podia dizer que eu não morava na praia. – Brinquei e ele sorriu.
- Você morava ali? – Ele apontou para o prédio.
- Sim. – Sorri. – Quarta janela do último andar. – Suspirei. – Apesar das árvores, dava para ver o mar e quando os barcos chegavam, saíam, eu sentia que tudo ia ficar bem.
- É uma pena que Nápoles não foi tão boa para você. – Ele falou baixo.
- Não, mas tudo ficou bem, Gigi. – Virei para ele. – Turim foi minha felicidade. – Ele sorriu. – Giulia foi minha felicidade, a faculdade, o time, você... – Desviei o olhar. – Eu errei muito, mas eu dou valor para tudo o que eu tenho hoje, tudo o que eu passei. – Olhei para o horizonte. – Apesar de tudo, eu sou feliz.
- Eles estão felizes e orgulhosos de você, sabia? – Ele falou e eu dei um sorriso.
- Eu sei. – Relaxei os ombros. – Às vezes eu esqueço, mas sei que sim. E sei que todo desafio que eles me mandam é porque eu vou conseguir enfrentar. – Engoli em seco e ele passou o braço pelos meus ombros. – E eles estarão comigo todo tempo. – Apoiei minha cabeça em seu ombro.
- Quais eram os nomes deles mesmo? – Ele perguntou.
- Maurizio e Stella. – Falei.
- Fala aí, seu Maurizio, dona Stella. – Ele falou e eu franzi os olhos. – Eu vou cuidar dela, ok?!
- Ah, coitado! – Tirei seu braço de meus ombros. – Capaz de papá jogar um raio em você.
- Mas por quê? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Você sabe o porquê. – Falei, não querendo alongar o assunto, mas ele riu fracamente, dando um sorriso.
Apoiei meu corpo na marquise novamente, deixando o sol e o vento bater contra meu corpo e deixei que o clima e o local enchessem minha cabeça de memórias. Quantas vezes eu brinquei nesse mesmo calçadão. Quantas bolas de vôlei perdemos na água ou nas árvores. Quantas vezes eu caí de bicicleta e ralei os joelhos nessas pedras e, principalmente, quantas vezes eu fui pelo deque e tive vontade de me jogar lá e deixar tudo para trás.
Mas hoje não. Hoje não tinha motivos para eu fazer aquilo. Na verdade, fazia 13 anos que eu não tinha motivos para isso.
- Ok, pega um táxi, eu quero ir para outro lugar. – Falei, erguendo o corpo, sentindo as costas doerem pela posição constante.
- Eu pedi para o taxista esperar. – Ele falou, sorrindo e eu retribuí.
- Você sabe o quão importante é para mim, não sabe? – Perguntei, olhando em seus olhos.
- Eu sei o quão importante você é para mim, então... – Ele deu de ombros.
- Ok, sinta-se, então. Nem a Giulia, que é a pessoa que sabe de tudo da minha vida, veio aqui onde eu vou te levar.
- Manda ver! – Ele disse e seguimos lado a lado até o táxi, entrando novamente.
- Oi de novo, senhor. – Falei para o motorista.
- Para onde agora?
- Via Vittorio Alfineri, esquina com Via Giuseppe Borghi, número 41. – Falei, virando o rosto para Gigi que franzia os olhos.
- Que endereço é esse? – Ele perguntou.
- Você vai saber em breve. – Disse, virando o rosto para a janela novamente e suspirei.
O motorista seguiu pela avenida da praia até chegar na estação Giachery, abri um sorriso ao lembrar que havia sido por ela que eu tinha ido quando fui para Nápoles. Não uma boa lembrança, mas marcava alguma coisa. Com o trânsito calmo de sábado, chegamos em 10 minutos.
- Aqui no posto? – O motorista perguntou.
- Está ótimo. – Falei, vendo-o parar um pouco mais à frente e pulei do carro.
- Pode esperar? – Ouvi Gigi perguntar, mas não esperei a resposta.
Andei até o outro lado da calçada, seguindo um pouco mais para trás, onde as árvores não ocupassem minha visão e suspirei ao ver o prédio na esquina entre as duas ruas. Ele estava exatamente igual da última vez que eu tinha visto-o. O tom bege com as sacadas na esquina. A mesma loja de pisos embaixo, o mesmo posto e o mesmo cheiro de gasolina pelos ares. Era como se nada tivesse mudado.
Me sentei na guia, cruzando as pernas para dentro e abracei-as, soltando um suspiro. Por um momento eu quase podia me enxergar naquela mesma posição com 14 anos, a bicicleta jogada na calçada e o carro da assistente social parando na frente, me encontrando depois que eu fugi do orfanato, querendo fugir da minha ida para Nápoles. Naquela época eu só não queria me separar daqui, mas não sabia que seria tão mal.
As lágrimas inundaram meus olhos sem eu nem perceber, mas eu sabia que elas misturavam tristeza e felicidades. Tinha um tom doce amargo em vir aqui, mas com certeza o doce se sobressaía. Vi Gigi se sentar ao meu lado e ele não falou nada, só apoiou a mão em minhas costas e sabia que ele estava esperando que eu falasse alguma coisa. Apoiei minha cabeça em seu ombro, sentindo-o me abraçar novamente e suspirei.
- Eu morei aqui. – Falei baixo.
- Aqui? – Ele perguntou.
- Naquele prédio bem na esquina. – Apontei para o cruzamento. – Aquele de quatro andares.
- Parece ser uma região boa. – Ele falou baixo.
- Era demais. – Suspirei. – O apartamento era pequeno, tinha só dois quartos, mas tinha amor. – Dei um pequeno sorriso, passando as costas da mão no rosto. – Eles faziam tudo para me mostrar isso. – Virei para Gigi. – Não me faltou nada. – Ele sorriu. – E, quando eu fui para o orfanato, eu vivia achando motivos para voltar para cá. Seja a pé ou de bicicleta. Quando eu tinha 11, 12 anos, eu vinha aqui todo dia depois da escola...
- Acho que eu faria o mesmo. – Ele falou e eu sorri.
- Algumas psicólogas me disseram que era retornar a dor, mas eu não sinto dor quando venho aqui, sinto saudades sim, mas me lembro de um tempo sem tantas responsabilidades, sabe? Sem dor, sem sofrimento. – Suspirei. – Depois daqui foi só vó malvada, câncer, voc... – Ele riu fracamente. – Scusa.
- Sem problema. – Ele falou. – Aquilo me causou dor também. – Ele suspirou. – Mas não é o caso agora. – Rimos juntos.
- Não! – Falei rapidamente e ele sorriu.
- Posso perguntar algo? – Ele virou para mim.
- Claro. – Falei.
- Onde eles estão? – Ele perguntou.
- Meus pais?
- É! – Ele falou.
- No Cimitero Santa Maria di Gesù. – Falei.
- Aqui em Palermo? – Ele perguntou.
- É! – Falei, suspirando. – Eu fui lá algumas vezes com aqueles amigos dos meus pais. Lembra que eu te falei sobre eles? Olga e Ricky?
- Sim, lembro. – Ele falou. – Você quer ir lá? – Franzi o rosto, virando o olhar para ele.
- Você quer me levar para o cemitério, Gigi?
- Não é como se estivéssemos em um encontro. – Ele disse, me fazendo gargalhar.
- Está mais legal do que meu último encontro. – Falei, vendo-o sorrir.
- O que acha? Não estou te pressionando, nem nada...
- Seria bom. – O cortei. – Faz bastante tempo que eu fui. – Suspirei. – Fez 22 anos da morte deles há duas semanas e ainda não consegui ir à igreja pedir para rezar por eles.
- Vamos lá para o nosso encontro, então, senhorita ? – Ele perguntou, se levantando e eu gargalhei.
- Vamos, senhor Buffon. – Falei, segurando suas mãos para levantar e ele sorriu.
Sorri ao dar adeus para aquele prédio que significava muito para mim e entrei no carro novamente, dessa vez seguindo para o último destino que o motorista até estranhou, mas não comentou nada. O taxímetro estava rodando e ele estava feliz pelas centenas de euros que ele ia ganhar nessa corrida estranha.
Chegamos no local com aquela aparência nada simpática, mas eu não me abalava com essas coisas. Sabia que precisava me preocupar muito mais com os vivos do que com os mortos. Fui até a casinha que tinha na entrada e sorri para o senhor lá dentro.
- Buon pomeriggio, signore.
- Anche a te. – Ele sorriu.
- Poderia me falar onde é o jazigo que estão enterrados Maurizio e Stella , por favor?
- Claro, um segundo. – Ele disse e olhei para Gigi que parecia ter encontrado um fã no coveiro e me limitei a rir fracamente. O futebol estava em tudo mesmo. – Eles estão no jazigo da família Battaglia. Siga pela entrada, é o corredor letra G, jazigo número 34. – Ele disse.
- Grazie... – Franzi a testa. – Signore, é possível eu saber o dono do jazigo?
- Não, senhora, pelo menos não comigo. Precisaria ir na prefeitura.
- Ok, grazie. – Falei, me afastando e segui até a entrada onde Gigi me esperava. – Falando com um fã?
- Pois é, o cara ficou surpreso.
- Um jogador da Juventus em um cemitério em Palermo? Qualquer um, não é?! – Rimos juntos.
- Conseguiu?
- Sim, corredor G, jazigo 34. – Falei e ele indicou o caminho.
- Senhorita... – Ele falou, me esticando o braço e eu ri, segurando no dele, seguindo para dentro do cemitério.
- Sabe o que o cara me falou? – Virei para ele.
- O quê?
- Meus pais estão no jazigo da família Battaglia. – Falei.
- Ok... – Ele não entendeu.
- Eu imaginei que meus pais não tivessem um jazigo aqui na cidade, eles eram de fora e só tinham 30 e poucos anos quando faleceram, não é algo que você pensa em adquirir com a vida...
- Certo.
- E se esse jazigo for dos amigos de meus pais? – Ele virou o rosto para mim.
- Olga Battaglia?
- Ou Ricky Battaglia. Imagino que seja apelido de Ricciardo. – Falei, dando de ombros.
- É um ótimo começo, . – Ele disse, surpreso. – Aposto que tem o nome das pessoas na lápide, dá para começar a busca por aí.
- É errado eu estar empolgada por saber os nomes que tem em um jazigo? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Não quando eles vão te contar sua história. – Ele falou e eu sorri, aproximando meu corpo do seu e entrelacei nossos dedos, suspirando.
- É, você está certo. – Suspirei, chegando na fileira G.
- Vai indo, estou logo atrás de você. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
Entrei no pequeno corredor que separava com uma trepadeira no outro lado, passando os olhos por todos os jazigos iguais que tinha ali. Alguns mudavam a cruz, a foto ou até os vasos de flor, mas no geral eles eram iguais. Branco, com o nome da família em cima e os nomes e data de nascimento, falecimento e uma pequena foto na beirada.
Puxei a respiração fortemente quando vi “Família Battaglia” e deixei que a respiração escapasse com força logo em seguida. Meus olhos foram imediatamente para a foto de meus pais ao lado da cruz, além de outras duas pessoas e senti as lágrimas me cegarem por algum momento.

Stella
☆ 29/04/1955
† 21/03/1989
Maurizio
☆ 13/08/1957
† 21/03/1989

Me ajoelhei sobre o pequeno degrau até a lápide e tentei pressionar meus lábios para fazer que o choro voltasse para dentro, mas dessa vez não foi possível. As lágrimas se misturavam com o soluço e senti meu corpo fraquejar e precisei fazer muito mais força que o normal para que o ar entrasse em minhas narinas.
Levei minha mão até a foto de ambos, vendo seus rostos jovens como eu e ainda era confuso para eu entender a complexidade da vida e porque algumas pessoas precisavam ir mais cedo, principalmente as que mais amamos.
Fechei os olhos por alguns segundos, sentindo as lágrimas fazerem o caminho até meu queixo e passei as palmas inteiras nos olhos até que a mistura de molhado e colado parassem de me incomodar.
Senti uma mão apertar meu ombro e virei para trás, vendo Gigi um pouco ao meu lado e me levantei, abraçando-o fortemente, afundando meu rosto em seu peito. Algumas lágrimas caíram mais contidas agora, mas seu abraço era quase capaz de juntar os caquinhos dentro de mim, me fazendo suspirar algo. Ele deu um beijo em minha testa e só me soltou quando eu fiz o mesmo.
- Eu comprei isso. – Ele mostrou um buquê de gérberas vermelhas em suas mãos e eu sorri. – Você acha que eles vão gostar? – Incapaz de responder, só assenti com a cabeça, puxando a respiração fortemente, sentindo minhas narinas bloqueadas. – Você quer colocar?
- Sim... – Falei com a voz rouca, pegando o buquê de suas mãos e coloquei em cima do jazigo e me ajoelhei a frente dele, fazendo um sinal da cruz.
“Ciao, mamá. Ciao, papá. Como vocês estão aí? Já faz bastante tempo, mas eu estou aqui de novo. Sei que não preciso estar aqui para falar com vocês, mas é aqui que eu sinto mais a presença de vocês. Eu sei que vocês devem estar observando tudo aí de cima, mas eu quero dizer que eu estou bem. Tudo está bem agora. Eu estou saudável, eu tenho uma família que me acolhe como se eu fizesse realmente parte deles. Eu tenho amigos que me apoiam em minhas decisões, mas eu também tenho erros. Eu sei disso. Alguns que me arrependo amargamente, mas sei que posso conviver sem rancor.
É estranho pensar todas as coisas que mudaram sem vocês aqui. Sei que tudo seria diferente, mas não consigo me imaginar em outro lugar do que aqui, só gostaria que estivessem comigo, vendo todas as minhas conquistas. Presencialmente. Não sei se posso dizer isso, mas eu acabei encontrando pessoas que me dão o amor e carinho que eu preciso, que me tratam como filha, neta e irmã que eu preciso e é quase como se a vida fosse completa. Quase...
Às vezes eu penso que vocês agem por meio deles, sabe? A Giulia é uma irmãzona para mim, incrível como uma amizade da faculdade evoluiu para tanto. E, agora que ela mora mais longe, a tia Gio e tio Fabrizio fazem questão de manter contato comigo, de querer me encontrar sempre, de me chamar para os almoços de domingo, de saber como está tudo. E os gêmeos... Ah, como eu amo aqueles pestinhas, mãe... Só me faz querer mais ainda ter uma família. Uma família para dar amor, sabe? O mesmo amor que vocês me davam...
Falando um pouco de amor... Eu tenho problemas nessa parte, eu sei. Deixei escapar o homem dos meus sonhos, que está comigo aqui agora, ironicamente, vivi outro relacionamento até que ok, mas que acabou terminando de forma trágica e ainda penso se conseguirei amar outra pessoa quanto esse homem aqui ao meu lado. Não quero que minha história de amor seja só isso. Será que vocês podem me dar uma mão nisso?
Saiba que eu os amo e penso em vocês todos os dias. Agora, me deem uma força para achar seus amigos, ok?! Talvez eles aparecerem aqui e agora? Não? Há, há, há, eu tinha que tentar, não? Me guardem e me protejam para sempre, me guiem pelos melhores caminhos e saibam que eu sempre lembrarei de vocês. Amo vocês.”
Fiz um sinal da cruz novamente, sentindo minhas bochechas secas das lágrimas que caíram insistentemente por elas durante toda minha conversa e passei as costas das mãos no nariz, sentindo-o entupido e passei a mão nas fotos mais uma vez antes de me levantar e virei para Gigi que finalizava um sinal da cruz.
- Está tudo bem? – Ele perguntou, passando as mãos em minhas bochechas e eu suspirei.
- Não esperava que fosse esse rio todo. – Falei, erguendo os olhos, sentindo seus dedos próximos a eles e ele riu fracamente.
- Senti que você estava precisando desse rio todo. – Suspirei.
- São poucos os momentos que eu consigo focar somente neles. Foi bom. – Falei e ele sorriu.
- Você chorou também. – Falei, levando meu dedo em sua bochecha, impedindo as lágrimas de cair.
- São seus pais. – Ele disse. – Achei que devesse falar algo.
- O que você falou? – Franzi o rosto.
- Que eu fiz alguns erros contigo, mas que eu ia te proteger para sempre. – Ri fracamente, sentindo o nariz ter dificuldade de deixar o ar sair.
- É um começo. – Falei, acariciando sua bochecha e ele sorriu, apoiando a mão em minha nuca.
Minha boca estava entreaberta, com a respiração saindo por ela e meu olhar reconhecia a proximidade de seus olhos azuis há muito tempo. Seu corpo inclinou para frente devagar, fazendo com que sua respiração batesse em mim, até que nossos narizes se roçaram levemente. Puxei a respiração com força, querendo fechar os olhos e aproveitar o momento, mas um vento bateu em meus cabelos, levando-os para meu rosto e me separei para jogá-los para trás, prendendo-o com as duas mãos.
- Bem na hora. – Gigi disse e eu pressionei os lábios.
- Melhor assim. – Falei baixo, mordendo meu lábio inferior e virei novamente para a lápide. – Temos outros nomes aqui...
- É, claro! – Ele disse ainda também desconcertado. – Cinzia e Simone Battaglia. – Ele disse.
- Deixa eu anotar isso. – Peguei o celular na bolsa, anotando rapidamente no bloco de notas.
- Podem ser pais ou avôs de algum deles. – Gigi disse.
- É, eu posso ver no registro da cidade, algo assim. Já é um começo.
- É um ótimo começo, . – Ele falou. – Me manda os nomes? Eu tento procurar alguma coisa.
- Claro. – Falei, enviando na mesma hora e vi o horário. – É melhor a gente ir, são quase 16 horas, vocês precisam sair 16:30.
- É, vamos sim. – Ele falou, coçando a nuca e eu engoli em seco. – Eu vou deixar você se despedir. – Ele disse e eu ri fracamente, vendo-o voltar pelo corredor.
- Ciao, mamá. Ciao, papá! – Falei baixo, dando um beijo na mão e apoiando na lápide. – E obrigada pelo vento, pai. Veio bem na hora. – Ri fracamente e olhei para a lápide mais alguns segundos antes de seguir atrás de Gigi. – O Conte vai te matar se você se atrasar. – Falei um pouco mais alto.
- Eu estou com a top três do time, não ganho algum desconto?
- Meu poder acaba dentro das quatro linhas, Gigi, não se esqueça. – Rimos juntos.
- Claro que não. – Ele disse fracamente.
Seguimos subindo para fora do cemitério para um jogo que acabaria em 2x0 para nós e que nos garantiria o primeiro lugar na tabela, além de um discurso motivacional de Conte para os jogadores não perderem o pique e continuar acreditando no sonho do scudetto.
Sim, Conte, parece que depois de muitos anos eu voltei a acreditar também.

Lui
Seis de maio de 2012

- Eu quero que vocês mantenham o pique para conseguirmos conquistar isso. – Conte falou com aquela sua mistura de animado e irritado. – Eu sei que dependemos do resultado do jogo do Milan, mas precisamos lutar até o fim.
- Fino alla fine! – Gritamos juntos.
- Vamos! Vamos!
- Relaxa, Conte! – Seu assistente falou, empurrando-o para sentar em uma das poltronas e ri fracamente.
- Então, o que acha disso? – Virei para a poltrona do lado, vendo Alex apoiado nela.
- Eu acho que ele está certo em ficar empolgado, mas não quero cantar vitória antes da hora, depende de o Milan perder e não é fácil. – Suspirei.
- É contra a Internazionale, não? – Chiello perguntou.
- Sim, e a Inter ganhou na primeira parte da temporada. – Alex falou.
- Precisamos confiar que vá dar certo de novo, ragazzi. – Pavel falou na poltrona atrás de Alex.
- A gente precisa focar no que podemos controlar, não tem como controlar o outro jogo. – Falei olhando para os três.
- Mas fazer uma forcinha não custa nada. – Virei o rosto com a voz feminina e vi apoiada nas duas fileiras atrás.
- ! – Falei, surpreso.
Desde o quase beijo em Palermo nós não conversamos mais. A vi no vestiário dos jogos em casa, mas nada mais. Agora ela estava aqui como se nada tivesse acontecido. Suas pernas perfeitas dentro da saia preta, a tradicional blusa branca, os saltos nos pés e os cabelos soltos nos ombros.
- Já rezei para todo tipo de santo, santidade e entidade, precisa dar certo. – Ela falou, passando os olhos por nós quatro.
- É por isso que você está indo? – Alex perguntou.
- Faz seis anos que não conquistamos um scudetto, Alex... – Ela se sentou na poltrona ao meu lado do outro lado do corredor e cruzou as pernas para fora da fileira, fazendo a saia subir um pouco acima do seu joelho. – Não posso perder isso nunca.
- É bom ter a turma inteira junta. – Pavel falou do fundo e ela inclinou o corpo na fileira do trem para olhá-lo.
- É uma pena que você não esteja nos gramados. – Ela disse.
- Ah, sim! – Eu e Alex falamos juntos, ouvindo-o rir fracamente.
- Nós fizemos um bom trabalho, . – Ele falou e ela sorriu.
- Quem diria que estava faltando a gente para esse time voltar a andar, hein?! – Ela brincou e ambos gargalharam, me fazendo abrir um sorriso.
- Eu vou levar o crédito por isso sim. – Pavel disse.
- Vamos ganhar antes, ok?! – Alex disse e ambos sorriram.
- Isso é com vocês. – disse, sorrindo.
- Por que estamos indo para Trieste, afinal? – Chiello perguntou.
- Cagliari está com problemas com o estádio e com o conselho municipal que não libera que eles usem o de Sant’Elena por questões de mal uso e péssimas condições, então as opções eram jogar sem público ou...
- Nem a pau! – Falamos rapidamente.
- OU... – Ela frisou novamente. – Encontrar um campo neutro para jogar. Trieste foi a escolha. – Ela disse.
- Ah, entendi! – Falamos um tanto juntos.
- Eu agradeço muito, comprar 40 passagens de trem é mais barato do que fretar um avião. Além de que podemos ir e voltar no mesmo dia. – Ela deu um sorriso para mim e virou o rosto para buscar algo em sua bolsa.
- Haja economia. – Alex falou.
- Mais economia, mais investimentos para a próxima temporada. – Ela disse, pegando seu celular e conectou o fone de ouvido. – Me acordem em seis horas. – Ela disse, colocando os fones e virou o corpo para dentro.
Ri fracamente, olhando para Alex e Pavel que deram aquelas arqueadas nos ombros e abanei a cabeça, endireitando meu corpo também. Peguei meu celular também e coloquei os fones no ouvido. Deslizei o corpo para o lado, me aproximando da janela e deixei meu corpo relaxar.
Estaria mentindo se não dissesse que tinha uma coisa entalada dificultando minha fala e minha respiração. Uma coisa que estava entalada há seis agora. Oito, se formos ver. Aqueles dois títulos que nos foram relegados ainda passavam pela minha cabeça e, apesar de considerarmos, foi algo que machucou muito a gente. Todos os jogadores passaram por momentos difíceis depois daquilo.
Eu sei o que vai dizer: eu tive culpa nisso. Eu sei, eu tive, não nego, mas não quero que minha vida e nem a desse time seja definida por isso. Já faz seis anos, agora é hora de seguir para frente e ajudar o time a crescer.
Nós só pensávamos em vencer, isso desde o começo, mas agora era diferente. A equipe estava unida, bem formada, focada no mesmo propósito, seja jogadores novos que não passaram pelo que passamos, jogadores que nunca venceram nada na vida e jogadores como eu e Alex – e Pavel indiretamente – que passamos pelos altos momentos do time, vimos a queda e estamos lutando ano após ano para tentar trazer de volta.
E cada ano tem ficado mais difícil. Confesso que até hoje não sei como subimos da Série B, acho que era o ódio e a raiva falando, mas isso logo foi embora. Terceiro, segundo, sétimo, sétimo. Essas tinham sido as colocações nos últimos anos. Ao invés de evoluirmos, decaímos, mas estava na hora de falar mais um basta!
Nós estávamos com 78 pontos na tabela e o Milan com 77. Eles deram uma derrapada contra a Fiorentina no mesmo dia do nosso jogo contra o Palermo e Conte fez um discurso digno de motivação grupal. Depois disso, vencemos contra Lazio, Roma, Cesena, Novara e, infelizmente, empatamos contra o Lecce, se não fosse aquele gol no final da partida, talvez precisássemos só de um ponto hoje, mas não.
Hoje precisávamos de uma vitória linda e clara, mas o Milan também precisava perder. Se eles vencessem também, tudo dependia do último jogo, na última rodada, em casa. Não tinha como não colocar mais pressão, pois elas já estavam em nossas costas. Não podemos controlar o outro time, mas podemos controlar nossos resultados. Para ajudar, os dois jogos seriam no mesmo horário, 20:45, então era jogar com a cabeça focada em Trieste, mas também estaria em Milão, certeza.
As seis horas de trem até Trieste se passaram um tanto mais estranhas do que normalmente. Ao invés daquela festa que fazíamos normalmente, todos estavam em silêncio, inclusive Vidal, Matri, Quagliarella e Cáceres. Todos sabíamos do peso disso e eu passei as seis horas de viagem pensando nisso.
Bom, boa parte das seis horas. Pelo visto também não pregou os olhos durante a viagem. Não durante todo tempo. Observei-a se mexer várias vezes, inclinar e endireitar o assento pelo menos umas seis vezes e ela ficava entre mexer no notebook que saiu da sua bolsa após um tempo, e as músicas que ela parecia alterar diversas vezes em seu celular.
Foi só quando suas pernas subiram para o assento ao seu lado que eu preferi desviar o olhar, apesar de querer ficar olhando por muito tempo. Nosso dia em Palermo passava como uma fita quebrada em minha cabeça. Todos os momentos, a forma que ela se abriu comigo sobre todos os lugares que eram importantes para ela, sobre os sentimentos que ela ainda tem sobre mim e sobre o beijo.
Bom, quase beijo.
Talvez seus pais tenham mandado aquele vento para nos separar. Era necessário, eu sei, mas eu não queria. Eu queria chegar até o fim, sentir seus lábios nos meus novamente, tudo porque cada dia mais eu sei que ainda existe algo entre nós. Algo forte que faça com que meu coração bata forte quando ela sorri ou aparecia toda linda e pressionava quando ela chorava ou quando a via com outras pessoas.
chorava pouco, pelo menos em público. Eu mesmo tinha visto-a chorar poucas vezes e não conseguia me lembrar de cabeça quantas foram, mas naquele dia eu descobri o ponto fraco dela: seus pais. Olhar na lápide que seus pais morreram com 34 e 32 anos, apertou um pouco meu peito. tinha 30 anos, eu tinha 34, é uma realidade difícil de pensar.
Abanei esses pensamentos para longe, era impossível não ficar triste ou emotivo quando pensava em seus pais, em sua história e, consequentemente, em . Ela viveu nove anos sem saber muito bem quem era ou o que fazer e hoje é a mulher mais incrível que eu já conheci. Incrível em literalmente todos os sentidos.
Eu e fomos os únicos, da área que estávamos pelo menos, que aceitamos o lanche que foi servido por volta das quatro horas. Nos entreolhamos rapidamente e ela me deu um curto sorriso antes de focar no tramezzini que foi servido, comendo-o com muito mais delicadeza do que eu.
Será que eu era o único que estava realmente pensando naquele quase beijo? Não é possível! Ela estava inclinando na minha direção, ia acontecer, mas aquele maldito vento! Honestamente, senhor Maurizio realmente não gostava de mim mesmo no céu. Não o culpava, eu sei que dei mancada, mas eu também gosto muito da filha dele. Ela só podia mostrar para mim que também queria isso, não ficar com aquelas pernas em minha direção como se eu fosse alguém forte, porque eu não sou.
Um pouco mais perto de chegarmos, nos foi servido o jantar, era cedo ainda, mas estávamos acostumados com esses horários estranhos. Durante o jantar, mais pessoas começaram a dar sinais de que estavam acordadas também. Eu estava começando a bocejar e era a pior hora para fazer isso, eu sei.
Pouco antes de chegarmos, logo depois da última parada antes de nosso destino, as pessoas seguiram para o banheiro e fez o mesmo, me fazendo debruçar sobre a poltrona vazia ao meu lado para vê-la caminhando até o banheiro e voltar alguns minutos demais como se não tivesse encarado seis horas acordada, assim como eu.
Era 18 horas quando chegamos e tínhamos pouco menos de três horas para o jogo. Mas até todos saírem do trem, pegar nossas coisas, dar atenção aos fãs que haviam nos seguido para acompanhar esse selamento tão importante e entrar no ônibus, já estava na hora de ir.
Todos entramos no ônibus e, dessa vez, o top cinco, com exceção de Agnelli que não tinha vindo, seguiram para o fundo, mantendo suas conversas baixas durante todo o caminho. Me sentei no primeiro lugar vago que encontrei e respirei fundo.
A viagem para o estádio Nereo Rocco foi calma, sem muitos problemas como quando chegávamos em nosso estádio. Cagliari era uma equipe mais fraca que a nossa, mas mentalmente forte. Na verdade, todos que nascem em Cagliari vivem quase em uma realidade alternativa da nossa, como se eles não fizessem parte da Itália, mas não era o caso agora.
Entramos no estádio de cabeça erguida, ouvindo os gritos dos torcedores do lado de fora e seguimos para o vestiário. Claro que nosso estádio era bem melhor, mas esse era bem improvisado, o teto mais baixo, um salão bem grande para trocas, fisioterapia e reuniões, e um corredor em zigue-zague que dava para o banheiro e outra porta que dava para a sala da equipe técnica.
A preparação também foi estranha dessa vez. e Pavel costumavam descer no vestiário poucos minutos antes de começar, até depois dos treinos, quando já estávamos nos vestindo, mas hoje eles estavam ali, apoiados em uma das diversas pilastras do local, acompanhando todos nossos passos e movimentos.
Fui para o alongamento, para a fisioterapia e para o treino e ambos ainda estavam lá. Paratici e Beppe também, mas eles eram do esporte, então eles ficavam mais perto, apesar de ver o jogo lá da tribuna. Quando chegou a hora de sairmos, Conte nos juntou em uma roda e a presença dos quatro ali começou a fazer sentido.
- Dai, ragazzi. – Conte falou. – Eu não tenho muito mais o que falar hoje. Esse precisa ser o jogo de nossas vidas. Hoje é a final do Mondiale, dependemos de outras coisas para fazer isso dar certo, mas precisamos fazer a nossa parte primeiro. Cabeça erguida e vamos em busca dessa vitória.
- ISSO! – Vidal foi o primeiro a gritar e eu respirei fundo mais uma vez, fazendo o sinal da cruz.
Os jogadores titulares e reservas começaram a seguir do vestiário, peguei minhas luvas na minha mochila e a braçadeira junto do uniforme. Fiz um rápido sinal da cruz e, como sempre, fui o último a sair do vestiário, mas uma mão me parou dessa vez. .
- Faça dar certo, capitano. – Ela falou baixo e eu assenti com a cabeça.
- Eu vou. – Falei firme e ela passou os braços pelos meus ombros, me abraçando fortemente. Fechei meus braços em volta de seu corpo, sentindo toda curva dele e ela nos afastou primeiro.
- Vai dar tudo certo. – Ela disse, olhando em meus olhos e eu assenti com a cabeça.
- Vai sim! – Sorri, dando um demorado beijo em sua testa e me afastei devagar. – Por você!
- Não, por você, Alex, Pavel, Trezeguet, Camoranesi...
- E por você. – Falei firme e ela assentiu com a cabeça, dando um pequeno sorriso.
- Ok, então! – Ela falou, rindo fracamente e virei o corpo, seguindo pelos corredores.

Lei
Seis de maio de 2012

Observei Gigi seguir para fora do vestiário com seu uniforme amarelo chamativo e eu respirei fundo, fazendo um rápido sinal da cruz. Segui logo atrás dele e encontrei Pavel, Paratici e Beppe do lado de fora, acompanhando as duas filas de jogadores. Passei meu braço pela cintura de Pavel, chamando sua atenção.
- Vamos, gente! O jogo vai começar. – Falei para todos e recebi o mesmo olhar de apreensão dos três.
Eles me seguiram sem falar nada e caminhamos pelos corredores internos do estádio em direção aos lugares de honra do estádio. Todos pensávamos a mesma coisa, mas não poderíamos nos apegar a isso. Era um jogo como qualquer outro, a única coisa que pegava era que, dessa vez, precisávamos ganhar a todo custo.
Diferente dos nossos camarotes que eram sempre lotados de amigos, familiares e pessoas importantes da família Agnelli, Elkann, Scirea e de jogadores, dessa vez só tinha algumas pessoas espalhadas. Cumprimentamos o top cinco do Cagliari e nos sentamos lado a lado na nossa clássica organização que mostrava nossa hierarquia de sempre.
Gigi já estava no centro do campo junto do capitão do Cagliari, dessa vez Alex, que era nosso capitão oficial, estava no banco junto dos outros. Repassei nossa escalação enquanto Gigi passava para abraçar todo jogador vestido de preto e branco enquanto fazia seu caminho para o gol.
Barzagli, Bonucci e Chiellini – o BBC – à frente dele, na defesa. Lichtsteiner, Vidal, Pirlo, Marchisio e Pepe no meio de canto. Matri e Vucinic no ataque. Era a escalação clássica, Conte estava indo com tudo, como se estivéssemos jogando contra algum time de maior relevância. E ele não estava errado, precisávamos de toda força possível para vencer esse jogo.
Olhei para o estádio e sabia que cabiam 28 mil pessoas aqui e, hoje, tinha cerca de 18 mil, mas não parecia, boa parte das arquibancadas estavam vazias. Em compensação, as partes cheias, eram de juventinos. Juventinos que faziam barulho na área norte do gol, local que Gigi optou por começar jogando. Ele achava que isso era para os torcedores, mas não. Isso era para gente.
Seis anos. Um time que estava acostumado a ganhar sempre, ficar seis anos sem ganhar nada, era sofrido. Isso sem contar no ano de Série B, mas acho que, assim como eu, ninguém realmente contava uma vitória de volta para a elite do futebol italiano realmente como uma vitória.
Abri minha bolsa, pegando o meu antigo radinho da caixa e ri sozinha. Fazia muito tempo que eu não usava, mas ele seria útil para acompanhar Internazionale e Milan lá em Milão. Talvez minha torcida hoje estivesse mais com a Inter do que com a Juventus.
- Você trouxe um rádio? – Paratici me perguntou.
- Como você esperava acompanhar o outro jogo? – Devolvi, ligando-o e aproximando-o da orelha.
- Vendo na televisão lá de dentro? – Ele perguntou.
- E perder o jogo aqui fora? – Devolvi e ele riu fracamente.
- Inteligente, . Inteligente. – Ele falou e eu encontrei a estação.
- Vamos lá. – Falei, suspirando, ouvindo o apito dos dois jogos soarem quase juntos.
Como era de praxe ao jogar contra o Cagliari, o jogo começou pesado como sempre. Eles gostavam de vir para cima quase como se a intenção fosse machucar realmente e a gente respondia à altura, então as faltas começaram muito rápido, mas sem cartões ainda para nenhum lado.
Não demorou muito para gente abrir o placar. Após uma falta em cima de Pepe, a bola recuou para Bonucci que enviou uma longe para Vucinic, ele estava sozinho na área e a posição era regular. Eu e meus colegas pulamos no estádio, acompanhando os gritos da torcida e os jogadores se juntaram a Mirko para comemorar o gol. Começamos bem, agora precisávamos manter esse placar e, de preferência, estender.
- Gol da Inter. – Falei após alguns minutos.
- ISSO! – Os três comemoraram junto e suspirei.
O primeiro cartão do jogo saiu para Vidal após uma de suas várias entradas perigosas. Cerca de 10 minutos depois, Naiagollan do Cagliari levou outro, deixando tudo igual. Alguns minutos se passaram e Lich e Pinilla deram um choque de cabeça e ambos caíram no chão, me fazendo levantar para enxergar melhor. Parecia que ambos tinham desmaiado, mas a equipe médica entrou em campo e logo foi possível ver ambos se mexerem. Pinilla conseguiu recuperar para seguir no jogo, já Lich não.
- Por favor, senhor, que esteja tudo bem. – Sussurrei sozinha, respirando fundo.
Lich saiu de maca, mas era possível vê-lo conversando com a equipe médica, deveria ter ficado só um pouco desorientado. Devido a sua saída, Conte colocou Cáceres em seu lugar. O jogo seguiu e a pressão do Cagliari só aumentava. Marchisio foi visivelmente derrubado e o jogador levou um amarelo. Quase no final do primeiro tempo, Chiellini caiu após uma derrapada e o marcador chutou sua cabeça totalmente sem intenção, mas que deve ter doído, deve.
- Milan empatou. – Falei ao ouvir no rádio.
- Cazzo! – Eles reclamaram.
Gigi raramente aparecia em jogo, somente quando o BBC recuava a bola para ele, em compensação, o outro goleiro era bastante exigido, mas também pegava todas, com uma linha de quatro na defesa, era mais difícil de passar mesmo.
- Gol do Milan. – Falei, respirando fundo.
- CAZZO!
- Dai, ragazzi! – Pavel falou, batendo as mãos.
O intervalo acabou dessa forma e precisei de um pouco de água para respirar fundo. Estávamos fazendo nossa parte, mas o 2x1 do Milan ferrava a gente um pouco.
O segundo tempo começou sem mudanças para os dois times e me ajeitei melhor na poltrona para acompanhar. Chiello levou cartão amarelo poucos segundos depois e Gigi teve que enfrentar uma cobrança de falta, mas mandaram para fora. Minutos depois, Conte tirou Vidal e colocou Emanuele Giaccherini no lugar. O Cagliari também faz uma substituição.
Logo depois eles ganharam um amarelo por simulação de pênalti que acabou em uma pequena briga com o jogador e Chiellini, mas Barzagli e Gigi fizeram a separação. Adorava que Gigi sempre abraçava os jogadores e falava tipo “você errou, relaxa”. Minutos depois Pepe levou um também por uma entrada perigosa, na verdade, mais um atropelamento.
- Gol da Inter! – Falei.
- Isso! – O pessoal comemorou à minha volta e estávamos no empate novamente. A Internazionale precisava fazer só mais um.
Nosso jogo seguiu sem muitos lances além de inúmeras faltas, somente uma substituição de cada lado. Conte tirou Matri e colocou Borriello, finalizando suas substituições. Substituição feita a tempo para o nosso segundo e último gol. Cáceres fez o passe para dentro da área e, de repente, sem ninguém tocar nela, a bola foi para dentro.
- Não foi do Borriello, foi? – Pavel perguntou.
- Pareceu que foi contra. – Paratici falou.
Honestamente? Não importava quem tinha feito o gol. Era o segundo gol e tínhamos 25 minutos de jogo nos dois jogos. Cinco minutos depois, uma surpresa, a virada da Inter veio. Eles passaram o Milan e agora estava 3x2 para eles.
- Gol! – Falei, animada, pulando com eles.
- Agora só manter assim. – Beppe disse.
Era só manter assim, mas Gigi começava a ser mais requisitado e isso deixava todo mundo frustrado e irritado. Os ânimos estavam animados lá no campo também, eles deveriam saber da virada da Inter. Os torcedores com certeza sabiam, pois começaram a cantar muito alto, fazendo tudo sacudir.
- Oh, oh, oh, oh! Oh, oh, oh, oh! Oh, oh, oh, oh! FINO ALLA FINE, FORZA JUVENTUS! Oh, oh, oh, oh! – E seguia...
Aos 85 minutos, as coisas começaram a ficar um pouco caóticas e pressionadas demais. Os torcedores começaram a subir nas grades que separavam o campo das arquibancadas e a descer de seus setores e ficar beirando o campo. Os seguranças começaram, então, a fazer um cordão mais próximo em volta do campo.
- Olha isso! – Falei, surpresa, me levantando também.
- Nós temos seguranças o suficiente? – Beppe perguntou.
- Não. – Falei, rindo fracamente.
- Talvez precisaremos. – Apoiei o radinho na orelha.
- GOL! – Falei alto.
- De quem? – Eles perguntaram.
- Xi! – Falei. – Da Inter.
- ISSO!
- CAZZO!
- É NOSSO!
Pavel me abraçou fortemente, mas eu ainda não estava confiante disso até o apito final ser soado. Lá embaixo Conte já abraçava todos os jogadores e assistentes, mas ainda tínhamos três minutos mais acréscimos, tinha muito tempo ainda, nos dois jogos.
Gigi estava sendo muito requisitado nesse final e isso me irritava, Bonucci, Barzagli e Chiello precisavam fechar isso mais para não termos surpresa no fim do jogo.
- Dois minutos. – Beppe falou quando o assistente levantou o aviso.
Conte, os assistentes e os reservas se abraçavam lá embaixo e nós quatro nos abraçávamos aqui em cima. Pavel me apertou contra seus braços, dando alguns tapas em minhas costas e eu tinha um largo sorriso no rosto e sentia as lágrimas deslizarem pela minha bochecha sem medo.
Seis anos. Seis anos e agora acabou.
Virei o rosto apressada para o campo assim que o juiz apitou e os jogadores reservas invadiram o campo, mas não foram só eles que invadiram o campo. Os fotógrafos, repórteres e torcedores também. O que era para ser uma comemoração entre os jogadores, acabou em uma corrida de quem sairia mais rápido dali. Era quase Villar Perosa de novo, mas em proporções muito maiores.
- Cazzo! – Falei baixo.
- Dio mio! – Fabio falou ao meu lado e Pavel falou algo em tcheco, provavelmente um palavrão.
Os torcedores se aproximavam da entrada dos jogadores e tentei achar algum em meu campo de visão. Onde antes estava Gigi, agora tinha um grupo de pessoas totalmente acumulado. Bonucci era abraçado por torcedores que, por sua vez, eram contidos por seguranças. De Ceglie foi o primeiro que reconheci entrando, Marchisio teve dificuldades, mas logo entrou também. Agradeci o uniforme amarelo chamativo de Gigi, pois foi possível vê-lo entrando também.
- Vamos descer. – Beppe disse.
- Logo vou! – Falei.
Estava empolgada em ver os jogadores lá embaixo e a bagunça que seria no vestiário, mas eu nunca tinha visto nada igual ao que estava acontecendo bem embaixo dos meus olhos. Em nenhuma das outras vitórias que eu acompanhei e até fui ao campo celebrar, teve essa invasão de campo. Talvez Trieste não tenha sido uma boa ideia. Ou tinha, não podia culpar os torcedores. Engolimos muito sapo para termos esse retorno.
Encontrei Chiellini abraçando todo e qualquer torcedor que via e ele havia ficado quase pelado por inteiro, pelo menos esperava que era quase, mas parecia que ele tinha desistido de tentar entrar, pois os jogadores o abraçavam animados, o jogavam para cima, e ele entrava na deles.
Não consegui encontrar Alex em meu campo de visão, mas esperava que ele estivesse bem, imaginava que Gigi e Alex seriam os mais visados, mas os torcedores iam em quem eles alcançavam.
Os seguranças conseguiram fazer um cordão de isolamento na porta, mas não muito grande, ninguém deixaria os jogadores saírem com essa situação. Me sentei novamente, observando as bandeiras, placas e banners que os torcedores agitavam e lembrei-me que esse era o trigésimo scudetto, se contarmos todos os vencidos, todos mesmo. Além de que tínhamos vencido esse campeonato sem perder nenhuma vez, honestamente dessa vez, sem manipulação de resultados ou qualquer coisa que pudesse nos afetar.
Vi Beppe no centro do cordão falando com um repórter e só podia ser o pessoal chato da Sky Sport, não tinha problemas com imprensa, mas eles eram chatos demais. Beppe logo saiu e Conte e Pepe seguiram para fazer companhia a eles. Eles deveriam estar tentando voltar para comemorar com os jogadores. Era a hora de eu descer.
Segui pela parte de trás do camarote, feliz por vê-lo vazio e desci pelo caminho de volta para o vestiário. Não foi preciso chegar oficialmente no vestiário, jogadores e repórteres passavam por mim com facilidade e eu esperava passar pelos repórteres sem chamar atenção.
- ! – Senti alguém pular em minhas costas e virei rapidamente a tempo de ver Bonucci pendurado em meus ombros e eu gargalhei. – GANHAMOS! – Ele gritou em meu ouvido e suas roupas colavam, denunciando as bebidas que deveriam ter voado pelos ares.
- ! – Conte me viu e o abracei fortemente.
- Parabéns, mister! – Falei em seu ouvido e o mais baixo me ergueu um pouco nos ares, me fazendo rir, mas logo cada um seguiu pelo caminho.
- Chefa! – Chiellini que já estava vestido sorriu para mim e eu o abracei animado. – Conseguimos!
- Parabéns, Chiello! Conseguimos! – Rimos juntos.
- Amor da minha vida! – Matri se ajoelhou em minha frente e eu dei um tapa em sua mão, vendo-o se levantar e me abraçar fortemente.
- Parabéns! – Falei para ele, sorrindo quando ele se separou rápido de mim. – Alex! – O chamei quando o vi.
- ! – Ele veio em minha direção e passei os braços pelos seus ombros, apertando-os fortemente. – Conseguimos.
- Conseguimos, capitano. – Falei, sentindo-o estalar um beijo em minha bochecha e retribuí. – Agora você pode nos deixar.
- Com imensa dor no coração, mas eu finalizei meu trabalho. – Assenti com a cabeça um tanto chorosa e suspirei. – Não chore, hoje é um dia de festa.
- Hoje eu dou um desconto, mas só hoje. – Falei, ouvindo-o rir. – Cadê Gigi?
- Entrevista! – Ele disse, fazendo uma careta e rimos juntos.
Segui pelo corredor, abraçando todos os jogadores e assistentes que passavam por mim, alguns me apertavam mais fortes, outros menos, mas todos estavam com a felicidade a mil. Era uma vitória incrível e importante.
- Chefa! – Claudio Filippi, treinador de goleiros, me apertou e eu sorri. – Parabéns!
- Parabéns para nós. – Rimos juntos. – Seremos a melhor defesa do campeonato, você vai ver.
- Não posso levar os créditos sozinho.
- Mas pode levar uma parte. – Sorri e ele assentiu com a cabeça.
- Grazie. – Ele disse.
- Eu que agradeço. – Falei, ouvindo-o rir.
- Já tem uma camiseta? – Ele perguntou, mostrando sua blusa comemorativa.
- Não! – Falei um tanto alto devido aos gritos dos jogadores.
- Aqui! – Ele pegou de algum assistente e sorri.
O vi seguir pelo corredor e encontrei onde as entrevistas estavam sendo, no corredor paralelo das saídas dos jogadores. Gigi estava com a mesma blusa comemorativa, mas a segunda pele amarela aparecia no pescoço e apoiei na parede do outro lado para acompanhar.
- O que você sentiu com essa vitória?
- Ah, aquela dor nunca foi embora completamente, mas também sempre tive um senso de responsabilidade, então tive medo pelo time, por todos que estavam lutando conosco até o final. – Gigi respondeu.
- O que você achou dessa vitória? Vocês sempre foram vistos como favoritos, mas depois dos últimos anos isso mudou e ninguém esperava isso dessa vez.
- Esse foi o meu melhor feito depois do Mondiale. – Gigi disse e seu olhar se encontrou com o meu. Dei um rápido aceno, vendo-o dar um pequeno sorriso antes de seguir sua resposta. – Esportivamente falando, é claro, mas é algo que foi pago com suor e trabalho duro. Eu sempre fui otimista, mas tive dificuldades para acreditar nisso, hoje não.
- Pensou em alguém nesse momento particular? – Ele perguntou e eu endireitei o corpo na parede.
- Pensei em várias pessoas nesse momento, mas primeiro vendo Alessandro Del Piero, o qual finalmente consegui dividir esse dia dos dias. Depois, pensei em Camoranesi, Trezeguet, Nedved, eles também mereciam estar aqui. – Sorri com sua resposta. – Depois minha família, meus pais e meus amigos que me apoiaram em tudo. Seis anos não são poucos, mas isso compensou. – Sorri com sua resposta, assentindo com a cabeça e ele deu um sorriso em minha direção.
- Ilaria... – O repórter falou e eu revirei os olhos, desviando meu olhar dos jogadores que saíam do vestiário.
- Barzagli! – O puxei pelo braço quando ele saiu.
- Chefa! – Ele falou, animado e o abracei apertado.
- Meu melhor investimento! – Falei, ouvindo-o rir.
- Agradeço muito por essa oportunidade. – Ele disse.
- Não sei quem foi o idiota que te colocou de lado, mas posso te garantir que aqui você tem espaço. – Falei, nos afastando devagar.
- Grazie, chefa! – Ele disse e sorri, dando um tapinha em suas costas e notei que ele estava somente de cueca e blusa quando ele se afastou e ri fracamente sozinha.
- Chefa! Chefa! – Marchisio veio logo atrás, me abraçando pela cintura.
- Claudio! – O abracei fortemente. – Parabéns!
- Para todos nós! – Sorrimos e empurrei-o pela cabeça para ele seguir seu caminho.
Lichsteiner e Pirlo passaram por mim, me dando fortes abraços surpreendentes vindo de duas pessoas que eu não sabia que eram tanto de abraçar. Quagliarella passou em seguida, fazendo quase a mesma gracinha que Matri e começava a achar que ambos eram gêmeos apesar da diferença de idade. Sorri com o carinho e deixei-os seguir. Voltei a olhar para Gigi que ainda estava com o microfone perto de si e respondia alguma coisa.
- É interessante ver tudo o que passamos e... – Sua voz sumiu por algo que ele deve ter recebido no ponto e pisquei para ele quando ele olhou para mim novamente e ele tinha um riso no rosto. – Mas eu estou feliz aqui dentro, grazie. – Ele falou, saindo da frente do microfone e tirou o fone de seu ouvido.
- Conseguimos... – Ele disse vindo em minha direção com um largo sorriso no rosto e abri meus braços, sentindo-o me abraçar pela cintura, me fazendo rir.
Fechei meu abraço em seus ombros, apertando-o fortemente, sentindo-o me erguer do chão e suspirei, sentindo meu corpo relaxar automaticamente. Ele desceu as mãos pelo meu corpo e apoiei os pés no chão novamente, rindo fracamente.
- Conseguimos, Gigi. – Virei meu rosto para ele, que assentiu com a cabeça, rindo junto comigo em seguida.
- Conseguimos, ! – Ele disse, passando a mão em meus cabelos que já deveriam estar bagunçados.
- Dá licença! – Senti uma empurrão no quadril e era Del Piero.
- Ah, meus meninos! – Abracei-o de lado também, juntando-o no abraço e ele riu junto de nós. – Ah, eu preciso parar de chorar.
- Você me prometeu! – Alex disse.
- Não prometi nada! – Rimos juntos.
- Falando sério agora, eu iria lá dentro, aqui está muito minado de repórter. – Ele disse.
- Eu preciso colocar isso também. – Estiquei a camiseta em minha mão.
- Eu vou contigo. – Gigi falou e assenti com a cabeça, deixando Alex seguir para a entrevista e Gigi seguiu à frente em direção ao vestiário.

Lui
Seis de maio de 2012 • Trilha SonoraOuça

- Então, você estava falando com a chata da Ilaria? – perguntou assim que entramos no vestiário e eu ri fracamente.
- Sim, estava! – Falei, rindo.
- Nossa! Que bagunça vocês fizeram aqui! – Ela disse, vendo o as coisas jogadas e molhadas de nossa pequena festa com champanhe logo após conseguirmos entrar.
- Nos empolgamos um pouco. – Falei, me sentando em meu lugar.
- Precisam se empolgar muito mais. – Ela suspirou, dando uma olhada pelo espaço, mas estávamos só nós dois aqui.
- Hoje foi bom. – Falei e ela sorriu, assentindo com a cabeça.
- Ainda acho que é mentira, sabia? – Ela disse.
- Parece, não? – Ri fracamente. – Eu abracei o Pavel quando ele desceu e foi estranho, não pareceu uma vitória.
- Mas é, Gigi. – Ela se aproximou de mim. – Ah, até o chão está colando... – Ri fracamente. – É uma vitória bonita, justa e que vai ficar marcada para sempre. – Ela apoiou uma mão em meu ombro. – Nós vamos voltar a subir. – Sorri. – A não ser que você também vá me deixar...
- Não. – Sorri. – É a última coisa que eu vou fazer. Agora que ajudei meu time a ganhar, quero mantê-lo vitorioso. – Ela sorriu, assentindo com a cabeça.
- Como sua diretora, eu aceito. E como sua amiga, eu sinto orgulho. – Ri fracamente, passando a mão nos cabelos. – Não vai lá fora comemorar com o pessoal?
- Nunca fui muito esse tipo de cara, você sabe. – Ela riu fracamente.
- Já foi melhor. – Ela falou.
- No último scudetto eu tinha 28 anos. As coisas mudam. – Rimos juntos. – 25 se não contar os que nos foram tirados.
- Aposto que eles só queriam saber disso hoje, não? – Ela perguntou, se afastando alguns passos.
- Ah, com certeza. – Ri fracamente. – E vão perguntar mais, pode esperar.
- Boa sorte para vocês. – Sorri. – Onde posso me trocar?
- O banheiro é passando esse corredor. – Indiquei para ela e seguiu em direção a ele. – Por que você diz dessa forma quando é para falar com a imprensa? – Perguntei.
- Não é a imprensa, é a Sky Sport. – Sua voz saiu abafada quando ela entrou lá.
- O que tem?
- Eu não suporto a voz da Ilaria! – Ela disse e eu ri fracamente. – Além de que parece que todos estão muito mais animados do que realmente... Ah! – Me levantei correndo.
- ? – Corri em direção à porta.
- Eu estou... – Ela começou a gargalhar.
- Eu estou entrando... – Falei, um tanto receoso de ela já ter se trocado e entrei no banheiro, vendo-a caída e gargalhando a plenos pulmões.
- Eu caí! – Ela disse, rindo, apoiando os cotovelos no chão.
- Você se machucou?
- Não, estou bem. – Ela disse, sorrindo. – Vocês tiveram a capacidade de encharcar até o banheiro? – Ri junto dela, imaginando a cena e coloquei um pé de cada lado de seu corpo e estendi as mãos para ela.
- Vocês que nos deram champanhe, nem vem! – A puxei para cima e ela escorregou de novo, me fazendo gargalhar dessa vez.
- Espera aí! – Ela falou gargalhando e se sentou no chão, tirando seus saltos e me deu as mãos de novo. – Agora vai!
- Quem vem a um jogo de salto? – Perguntei, segurando suas mãos e a puxei para cima novamente.
- Quem não precisa jogar. – Ela falou, rindo fracamente.
- Tem certeza de que está tudo bem? – Perguntei.
- Está sim. – Ela disse, se inclinando para pegar a blusa igual a minha. – Talvez a bunda esteja doendo um pouco. – Ri fracamente.
- Eu posso dar uma olhada, se você quiser...
- Há, há, há, engraçadinho! – Ela falou, seguindo mais perto do espelho e olhei sua bunda, vendo a saia molhada bem na região.
- Machucado não está, mas está com uma mancha bem marcante. – Falei, me aproximando dela e ela se virou para o espelho para olhar a mancha no tecido preto, revirando os olhos.
- Ah, minha mochila está lá no ônibus. – Ela suspirou.
- Eu tenho algumas trocas de roupa, devo ter uma calça para te emprestar. Qualquer coisa, sempre temos uniforme. – Ela riu fracamente, desviando do meu olhar no espelho para realmente focar em mim que estava próximo dela.
- Opa! – Ela disse, rindo com a proximidade. – Não que eu fique mal de uniforme, sabemos que não, mas não acho confortável sair andando com aquilo. – Ela disse, apoiando na pia.
- E é confortável usar essa saia para lá e para cá? – Perguntei, apoiando uma mão em cima do mármore ao seu lado.
- Não é muito, principalmente com as minhas coxas, mas eu preciso me apresentar bem. – Ela falou com seus olhos focados nos meus.
- Você está sempre linda. – Falei, acompanhando seus olhos com os meus.
- Você também não está nada mal. – Ela passou as mãos em meus cabelos, jogando-os para trás. – É, até isso está colando... – Tirei sua mão de meus cabelos, vendo-a focar seus olhos em mim e subi a outra mão na lateral de sua coxa. – Gigi, o que você está...
- Xi. – Falei baixo, aproximando meu rosto do dela. – Você nos parou em Palermo, não vou deixar você fazer isso novo agora.
Aproximei meu corpo do seu, deixando-a no meio de minhas pernas e levei minhas duas mãos para seu quadril. Tentei analisar o que seus olhos diziam, mas eles pareciam tão perdidos quanto os meus. Senti nossos narizes se tocarem devagar e a respiração bateu em meu rosto. Fechei meus olhos quando nossos lábios se tocaram, fazendo meu coração começar a bater forte e pressionei meus lábios nos seus.
Suas mãos subiram pelos meus ombros automaticamente, me puxando para perto de si e comecei a movimentar meus lábios mais apressadamente. Sua língua pediu passagem antes da minha e deixei que ela liderasse os movimentos, me fazendo soltar suspiros de alegria conforme uma mão puxava meus cabelos e a outra me trazia para mais perto de si.
Desci minhas mãos pelas suas pernas, segurando firme em suas coxas e ergui seu corpo, sentando-a na pia e ela passou as pernas pela minha cintura, fazendo meu quadril roçar no seu e fazer meu pênis começar a apertar dentro do short. Subi minhas mãos pelas suas coxas, sentindo que sua saia havia subido e espalmei-as, deslizando o polegar na parte interna dela e jogou a cabeça para trás com o toque.
Aproveitei a deixa e levei meus lábios para o seu pescoço, passando-os delicadamente por ele, ouvindo-a soltar a respiração para cima e dei alguns beijos pelo local, sentindo suas mãos puxarem minha blusa com os apertos que ela dava em minhas costas. Desci meus lábios pelo decote de sua blusa, deixando vários beijos e curtas sugadas pelo meio do caminho, e suas mãos puxavam meus cabelos devagar, me fazendo suspirar.
Senti minha ereção apertar e desviei o olhar rapidamente para vê-la marcando por cima do uniforme e ri sozinho. Essa mulher tinha esse poder sobre mim e nem deveria saber disso. Senti sua mão em meu queixo e ergui meu rosto para ela, vendo um sorriso em seus lábios e colei nossos lábios novamente, puxando-a novamente para perto de mim e suas mãos acariciavam meu rosto, conforme nossas línguas se sugavam para a boca um do outro.
Passei minhas mãos em suas coxas, subindo mais a saia que ela usava e levei minha mão até sua vagina, tocando por cima da calcinha que ela usava. Passei a mão pela sua extensão, encontrando o ponto e circulei seu clitóris devagar, sentindo-a separar nossos lábios novamente. Seu olhar encontrou o meu mais uma vez e ela mordiscou meu lábio inferior, puxando-o para si e vi isso como permissão para adentrar sua calcinha.
Levei as duas mãos para o cós, puxando-a levemente para baixo e ela apoiou as mãos na pia para descolar seu corpo levemente da bancada para que eu a puxasse para fora. Dei um pequeno sorriso a ver os desenhinhos até infantis no tecido preto e me afastei para ela poder fechar as pernas para que eu retirasse toda a peça.
Olhei para ela por alguns segundos de mais longe, vendo-a passar os lábios um no outro e levei as mãos em suas pernas novamente. Abri-as devagar e, ao invés de me colocar entre elas, eu me ajoelhei no chão molhado e puxei suas pernas para mim. Ela levou um dedo à boca quando percebeu minha intenção e passou as pernas pelos meus ombros.
Segurei firme em suas coxas, puxando-a mais para perto de mim e passei a língua pela extensão de sua vagina, ouvindo um baixo gemido escapar de seus lábios e passei a língua em sua entrada, subindo em seguida para seu clitóris, dando algumas sugadas pelo local. Suas mãos foram para meus cabelos, puxando-os levemente e apertei mais minhas mãos, agilizando as lambidas e sugadas.
Seus gemidos e arfadas começaram a ecoar pelo ambiente vazio e minha ereção já apertava em meu quadril, querendo ter um pouco de ação também. Mantive meus movimentos frequentes em seu clitóris e levei meus dedos até sua entrada, passando o indicador e o médio levemente pelo local, sentindo-a úmida e ela tremeu quando enfiei dois dedos dentro dela. Sua mão apertou meus cabelos e ela murmurava meu apelido fracamente.
- Ah, Gigi, Gigi...
Ergui o olhar, vendo-a apertar seus seios com a mão livre e suguei seu clitóris com mais rapidez. Seus gemidos ficaram mais altos e senti seu corpo tensionar embaixo de minhas mãos. Ela apertou as pernas em meus ombros e sabia que ela estava chegando lá.
- Vai, Gigi! Vai, Gigi! – Ela falava cada vez mais rápido, fazendo sua voz afinar a cada movimento e tirei meus lábios de seu clitóris e troquei pelos meus dedos. – Ah! Isso! – Ela dizia baixo, soltando a respiração fortemente.
Agilizei o movimento dos dedos em seu clitóris, tendo seus gemidos em meu ouvido como música e apertei sua coxa mais forte, deslizando a mão pela parte interna e podia ouvir seus suspiros frequentemente.
- Vai, Gigi. Vai, Gigi. Vai... Ah! – Ela contraiu o corpo quando atingiu o ápice, soltando meus cabelos devagar e desacelerei os movimentos também. – Ah, isso... – Ela suspirava com a respiração acelerada e ergui meu corpo novamente, sentindo-a abaixar as pernas e apoiei minhas mãos em seu quadril novamente, vendo-a com o corpo relaxado para trás. – Ah, Gigi... – Ela levou uma mão até meu ombro e puxei-a para perto de mim.
- , eu... – Ela colou os lábios nos meus mais uma vez e levei minhas mãos até suas costas, mantendo seu corpo ereto.
Seus lábios se movimentaram mais devagar sobre os meus agora, fazendo meu corpo inteiro relaxar e senti sua mão encontrar meu quadril. Nos separei para acompanhar o que ela iria fazer e suas mãos foram para o short do uniforme. Ela puxou a cordinha que o prendia para fora, tirando o nó e adentrou a mão com mais facilidade. Soltei um suspiro quando sua mão encontrou meu pênis, puxando-o para fora da calça e da cueca.
Ela começou a movimentar sua mão devagar, fazendo um movimento de vai e vem e foi minha vez de arfar, jogando a cabeça para trás. Apoiei minhas mãos em suas pernas, sentindo-a intercalar movimentos lentos e rápidos, fazendo meu corpo ter alguns espasmos pelo movimento e entreabri os lábios para que a respiração saísse mais forte.
Ela abaixou as mãos devagar, me fazendo arfar de frustração, e me empurrou levemente para trás, descendo da bancada e se aproximou de mim. Ela se ajoelhou em minha frente e abaixou minha calça e minha cueca com pressa, segurou meu pênis com a mão e ergueu o olhar para mim.
- Você gosta quando eu faço isso, não? – Ela falou baixo e fui incapaz de responder quando seus lábios tocaram minha glande.
Joguei a cabeça para trás, encostando-a na parede e levei uma mão até sua cabeça, sentindo-a sugar toda extensão de meu pênis e se afastar novamente, fazendo o mesmo movimento diversas vezes. Suas mãos apertaram minhas coxas e comecei a movimentar o quadril lentamente, sentindo seus lábios deslizar pelo meu pênis. Meu corpo inteiro estava em ecstasy então os gemidos começaram a sair sem que eu nem percebesse.
Continuei penetrando seus lábios devagar, sentindo suas mãos me apertarem cada vez mais e ela foi se afastando devagar. Ela segurou-o firme, movimentando a mão mais rápida e lambeu sua extensão inteira, seguindo para minhas bolas, fazendo com que gemidos escapassem de meus lábios.
Ela voltou a abocanhar meu pênis só pela ponta, dando pequenas sugadas e senti meu corpo contrair cada vez mais, até que ela parou, me fazendo suspirar. Ela ergueu seu corpo devagar, empinando seu bumbum e a puxei pelo quadril quando ela ficou reta, colando seu corpo no meu. Ela passou as mãos em seu rosto, deslizando-as para meus ombros, me segurando pela nuca e colou nossos lábios em um rápido beijo, fazendo com que minha respiração acelerada ficasse em evidência.
- Eu quero você... – Ela disse baixo, mordendo meu lábio inferior e seguiu para o lado, me fazendo franzir os lábios.
A segui pelo reflexo no espelho, vendo-a ir até a última cabine, entrando nela. Dei um pequeno sorriso e deixei a calça e a cueca no chão e minhas chuteiras ao lado de seus sapatos, antes de seguir com ela.
Entrei apressado na cabine, trancando-a assim que a porta bateu e me puxou pela camiseta que eu usava, se escorando na parede lateral do banheiro. Levei minhas mãos até seu quadril, me aproximando dela e colei nossos lábios novamente, sentindo-a guiar o beijo dessa vez, fazendo nossas línguas se enroscarem e nossos narizes roçarem a cada movimento mais ágil.
Desci minhas mãos pelas suas pernas, puxando uma e ergui-a pela dobra do joelho e uma mão subiu pelo meu ombro, me segurando pela nuca e a outra apertou meu peito. Segurei meu pênis com a mão livre e guiei até sua entrada, observando seus olhos se fecharem com o movimento e penetrei-a fundo de uma vez só, ouvindo-a gemer alto e apertar minha cintura.
Levei meus lábios até os seus, roçando-os devagar e intercalando com alguns beijos pelo local. Ela puxou meu corpo para si, me apertando contra ela e comecei a movimentar meu quadril devagar, ouvindo-a gemer a cada estocada, me inspirando a seguir cada vez mais rápido.
- Ah, vai, Gigi. – Ela começou a falar em meu ouvido e jogou a cabeça para trás. – Isso...
Aumentei a velocidade dos movimentos devagar até que seus gemidos ficassem mais altos, se misturando com o som de nossos sexos se chocando freneticamente. Ela apoiou a cabeça para trás e inclinei meu rosto até seu decote, passando a língua por onde era possível, frustrado pelo tecido da blusa não ser tão maleável para eu alcançar mais.
Suas mãos apertaram meus cabelos fortemente e mantive as estocadas em um movimento constante, respondendo conforme seus gemidos ficavam mais altos, espaçados ou saíam finos próximo ao meu ouvido. Segurei suas pernas, erguendo seu corpo para cima e suas mãos apertaram meus ombros
- Vai, Gigi! Vai, Gigi!
A escorei mais contra a parede com um baque e ela apoiou a testa na minha. Ela apertou as pernas em minha cintura, mantendo-as erguidas e mantive os movimentos rápidos e acelerados. Desacelerando em uma estocada ou outra, mas forçando o movimento novamente, sorrindo em como ela respondia.
- Mais um pouco... Vai! – Sua voz saía baixa devido a respiração acelerada e suas mãos apertaram em meus ombros, conforme ela atingia o ápice.
Apoiei minha cabeça em seu ombro, sentindo meu corpo todo se contrair e arfei quando eu gozei, fazendo meu corpo relaxar. Ela me puxou pelos ombros, gemendo mais alto em seguida e suas mãos relaxaram logo em seguida, soltando um longo suspiro, fazendo nossas respirações se encontrarem e podia ver sua respiração subir com pressa de seu peito.
Ela me apertou mais contra si, suspirando. Sua mão subiu para meu rosto, acariciando-o devagar e ela colou nossos lábios mais uma vez de forma lenta. Nossas respirações falhas não permitiram que o beijo fosse longo, mas tirou mais um sorriso de meus lábios, coisa que era fácil quando eu estava com ela. Colei nossas testas e fechei os olhos, suspirando.
- Eu senti sua falta... – Falei baixo, fechando os olhos.



Capitolo treintuno

Lei
Sete de maio de 2012 • Trilha SonoraOuça

Apertei minhas mãos fortemente em seus ombros quando ele gozou dentro de mim e atingi o ápice segundos depois, sentindo meu corpo relaxar quase como se eu tivesse sido drogada. Soltei a respiração fortemente para cima, sentindo meu peito subir e descer rapidamente e apertei minhas mãos mais forte em sua nuca.
Passei os polegares em seu rosto, procurando pelos seus olhos azuis mais uma vez, sentindo minha visão um tanto turva e colei nossos lábios em um longo beijo, tentando aproveitar ao máximo esse momento. Soltei um suspiro, separando nossos lábios e ele apoiou a testa na minha, fechando os olhos, meu cansaço acabou fazendo o mesmo.
- Eu senti sua falta... – Ele falou com a respiração fraca e foi como se eu despertasse, abrindo os olhos rapidamente.
Tentei me localizar no espaço e tempo que estávamos e a culpa me atingiu como um trem. Estávamos em Trieste, em uma cabine dentro do vestiário dos jogadores após ganhar um scudetto depois de seis anos. Eu e Gigi. O mesmo Gigi que não me esperou depois do Mondiale. O mesmo Gigi que não me escolheu após descobrir o que houve naquele fatídico nove de julho de 2006, o mesmo Gigi que era casado com uma pessoa que não era eu. O mesmo Gigi que ainda estava dentro de mim e me abraçava como se a vida dependesse disso. E dependia, não?
Não, . Acorda! Você não nasceu para isso. Apesar de ser muito bom.
- Me solta... – Falei baixo, tentando colocar os pés no chão, sentindo as pernas tremerem.
- O quê? – Ele perguntou.
- Sai de dentro de mim e me solta. – Falei mais forte, empurrando seu peito para mais longe de mim.
- Ei, o que foi agora? – Ele disse, me fazendo gemer novamente quando saiu de dentro de mim e respirei fundo.
- Sentiu minha falta? – Empurrei-o com força, ouvindo o baque contra a parede de cabine. – É piada, não é?!
- Ei, , calma! – Ele tentou se aproximar e eu distribuí tapas em seus braços.
- Você é um idiota, Gianluigi. – Falei mais alto. – Sentiu falta, é? Só não estamos juntos hoje por causa de você e você sabe disso! – Franzi os olhos, sentindo o orgasmo ainda me atingir, mas mantive a mão forçando seu peito para trás.
- Não adianta voltar isso agora, você também teve culpa, você que estava brava comigo e não queria falar comigo...
- É, mas raiva passa e eu fui comemorar contigo, mas já tinha outra no seu colo quando eu cheguei. – Empurrei-o novamente quando ele tentou se aproximar.
- Como eu ia saber que você ia atrás de mim? Você estava com raiva de mim, se esqueceu? Você que terminou comigo depois do Calciopoli.
- E você não podia esperar me encontrar de novo para gente conversar? – Senti minha voz começar a embargar e puxei a respiração forte. Não podia chorar agora.
- Era só sexo, pelo amor de Deus! Eu tinha acabado de ganhar a Copa do Mundo, eu só queria me divertir. – Puxei a saia para baixo, sentindo-a toda molhada. – Quando eu cheguei, você ainda estava brava comigo, não achei que fosse por você ter ido lá. Porque você também não me disse. – Ele falou firme, apontando em minha direção. – Se você não se lembra, só soube que você foi lá quando o Barza entrou no time, há um ano e meio...
- É, e, mesmo assim, você a escolheu e não eu! – Falei firme.
- Eu queria acabar tudo e ficar contigo, mas você mesma disse para eu pensar antes de agir. Eu pensei, cazzo, agora a culpa é minha? – Levei as mãos para o rosto, sentindo-o suado e apertei-os fortemente, soltando um grunhido. – Você precisa se decidir melhor, mulher. Eu faço uma coisa, você fica brava comigo, eu não faço e, olha! Você também fica. – Bufei e encarei seus olhos, apontando o dedo para seu rosto.
- Não sei como eu posso gostar de você, você é um idiota e não vale nada! – Falei, abrindo a porta da cabine e ele fechou-a com força de novo.
- Eu não valho nada? – Ele falou alto. – Você que é complicada, , e eu sei disso há uns 10 anos, mas por algum motivo eu sempre venho atrás de você. – Bufei, negando com a cabeça.
- Ah, coitadinho, não? Que pena de você! Agora me dá licença! – O empurrei para trás da cabine, mas ele se colocou no lugar novamente, apertando minha mão na porta e eu suspirei, engolindo em seco. – A gente não podia ter feito isso... – Falei baixo, apoiando minha testa na porta.
- É, mas aconteceu. – Ele falou. – Teria acontecido uma hora ou outra e você sabe disso. – Mordi meu lábio inferior. – A gente sempre volta um para o outro, . – Ele falou baixo. – Não entendo por que, mas eu não consigo te deixar ir...
- Uma é coisa é amizade, Gigi, isso não é amizade...
- Não somos só amigos, . Nunca fomos. – Engoli em seco, levando as mãos aos olhos. - Aquela vez que você foi atrás de mim, por exemplo...
- Eu estava triste, tinha acabado de descobrir que estada doente, é diferente... – Virei rapidamente para ele novamente.
- Diferente como? – Ele deu de ombros. – Agora estamos muito felizes, melhor fazer besteiras em momentos de felicidade do que de tristeza. – Neguei com a cabeça. – Você me chamou porque queria sexo, agora quem queria sou eu...
- A diferença é que eu estava triste, sem esperanças e... – Movimentava minhas mãos, tentando olhar para baixo, mas seu pênis em minha visão não ajudava.
- Não, a diferença é que eu soube parar e você não... – Ele falou e eu ri, incrédula. – Mas eu não faria nada contigo bêbada, não sou tão lixo assim.
- Ah, eu deveria agradecer por isso? Obrigada! – Revirei os olhos. – Você não existe! Você é casado, seu idiota. Se esqueceu, foi? Como você pôde fazer isso? – Olhei em seus olhos e ele apoiou uma mão de cada lado meu da porta.
- E você me ajudou a trai-la. – Ele falou devagar, rindo em seguida e eu ergui minha mão, atingindo seu rosto em cheio e ele manteve o olhar fixo para o outro lado, como se pensasse o que fazer.
- Eu te odeio. – Falei firme, sentindo minha respiração forte se misturar com a vontade de chorar.
- Eu sei... – Ele falou baixo, voltando a olhar em meus olhos, endireitando seu corpo. – E eu sei que eu errei, me desculpe pelo que eu disse... – Puxei a respiração fortemente. – Eu só não consigo me sentir culpado por isso, porque eu estou com você. – Ele disse, olhando em meus olhos. – Eu não sou um bom homem, , sempre soube disso, fiz vários erros contigo, com minha família, amigos, time, mas com você é especial... – Ele negou com a cabeça. – Me desculpe... A gente não deveria ter feito isso...
- Até quando vamos ficar nisso? – Perguntei baixo. – Não no sexo, mas procurando um ao outro em todos os momentos?
- Eu não sei, mas não quero descobrir, você é muito importante para mim. – Ele disse suspirando, se afastando o pouco que a cabine permitia. – Me desculpe por hoje e por outros momentos...
- Ah, vai para o inferno... – Falei baixo, rindo fracamente em seguida e ele olhou para mim.
- Provavelmente nos encontraremos lá, não? – Ele respondeu e ri fracamente.
- É, talvez... – Falei, erguendo minha mão novamente para seu rosto, agora acariciando de leve a bochecha que estava levemente avermelhada pelo tapa e ele inclinou seu rosto em direção a mão, fechando os olhos e eu suspirei, sabendo que me arrependeria da minha próxima frase. – Sempre teremos Trieste, Gigi... – Falei baixo.
Puxei-o pelo centro de sua blusa, vendo-o erguer o rosto e vir em minha direção novamente. Passei meus braços pela sua cintura, puxando-o mais para perto de mim e encostei minhas costas na porta novamente e ele apoiou os braços nas laterais de minha cabeça, aproximando seu rosto do meu. Subi uma mão para sua nuca, acariciando-a devagar e ergui meu rosto em direção ao seu, tocando nossos lábios mais uma vez.
Suas mãos desceram para a lateral do meu corpo, segurando em minha blusa e passei os braços pelos seus ombros, sentindo-o colar seu corpo no meu. Sua língua encontrou a minha mais uma vez naquele dia, me fazendo suspirar e tentar me lembrar da última vez que isso tinha acontecido, mas a memória não veio, eu não conseguia me lembrar, pois não sabia que seria a última vez.
O beijo começou a criar velocidade e um sorriso começou a dançar em meus lábios, suas mãos começaram a deslizar pelo meu corpo e ergui uma perna até sua cintura, sentindo sua mão quente segurá-la e inclinei o corpo para trás quando seus beijos começaram a trilhar meu pescoço.
Ele levou as mãos para a barra da minha blusa já frouxa pela saia torta e levemente levantada e seu olhar encontrou com o meu. Dei um curto aceno com a cabeça e ele puxou o restante da blusa para fora e ergui meus braços para facilitar seu trabalho. Ele deixou o tecido já molhado e sujo encontrar o chão do banheiro e puxei-o pela nuca mais uma vez para um beijo.
Ele colou seu peito no meu, pressionando meus seios dentro do sutiã e suas mãos delinearam minhas costas devagar, fazendo meu corpo arrepiar. Suas mãos encontraram meu sutiã, desabotoando-o com facilidade e mordi seu lábio inferior levemente, imaginando o quão frustrado ele não tinha ficado por não conseguir atingi-los da outra vez.
Livrei a peça de roupa dos braços e ele levou as mãos ao local, apertando-os e eu suspirei, jogando a cabeça para trás. Ele passou os polegares nos mamilos já sensíveis e mordi meu lábio inferior para evitar um suspiro. Ele passou a língua entre ambos e depois abocanhou um, me fazendo soltar um gemido baixo.
Levei minha mão para seus cabelos molhados e puxei-os levemente, me fazendo suspirar conforme ele trabalhava em meus seios. Senti sua ereção voltar a pressionar minha cintura e procurei-a com a mão livre, subindo sua blusa e fechei minha mão em seu pênis. Gigi arfou com a boca colada e deu uma mordiscada no mamilo em resposta, fazendo um gemido escapar pelos meus lábios.
Comecei a movimentar minha mão devagar sobre seu pênis, sentindo-o endurecer novamente e Gigi suspirava conforme eu conseguia atingi-lo. Levei a mão livre até seu rosto, erguendo-o em direção do meu e passei a língua pelos seus lábios, sentindo-o sugar para dentro da sua boca e trocamos um curto beijo.
Ele jogou a cabeça para trás conforme eu acelerava os movimentos e ele segurou na barra da blusa comemorativa que usava e a puxou para fora, jogando-a para o lado e, logo em seguida, puxou a segunda pele amarela que ele usava embaixo do uniforme e tive a visão privilegiada de seu abdome liso e definido, me fazendo suspirar.
- Você não era assim há seis anos. – Falei baixo, ouvindo-o rir fracamente.
- Você prefere desse jeito? – Ele perguntou, colando os lábios em minha bochecha e eu suspirei.
- Acho que não. – Respondi, ouvindo-o rir fracamente e continuei meus movimentos em seu pênis.
Ele pressionou a mão em minha cintura, firmando-a e eu movimentava a mão lentamente, acariciando suas bolas, observando as reações de seu rosto conforme eu o atingia da forma que ele gostava.
- Mais rápido... – Ele sussurrou.
- Nã-não! – Falei baixo, sentindo-o apertar as mãos mais forte e soltar uns gemidos finos.
- Por favor...
- Não quero que você goze ainda... – Falei baixo, erguendo sua mão e segurando em sua nuca, aproximando meu rosto do seu, soltando seu pênis. – Pelo menos não assim.
- Você não era tão maldosa... – Ele disse baixo, me fazendo rir.
- Eu não sou. – Empurrei-o para trás, fazendo-o se sentar na tampa do vaso sanitário.
Ele lambeu os lábios ao observar meu corpo de cima a baixo e levei minhas mãos para o zíper de minha saia, encontrando-o quase na frente. Puxei-o para baixo devagar e puxei o tecido devagar, sentindo-o descer pelas minhas pernas. Ele levou as mãos para minha cintura e notei que olhava para minha cicatriz. Inclinei o corpo para baixo, arrebitando o bumbum e passei as mãos em suas coxas. Levei meus lábios para seu pênis novamente, ouvindo-o gemer e inclinar um pouco o corpo para trás.
Passei a língua em sua glande, sentindo uma mão vir em minha cabeça e abaixei o quadril, ficando de cócoras em sua frente e segurei-o com uma mão, abocanhando-o. Ele soltou um gemido alto, suspirando em seguida e ouvi os estalos de meus lábios contra seu membro conforme eu sugava a ponta devagar e trabalhava na base com a mão.
As coxas de Gigi se contraíam conforme eu acelerava os movimentos e eu desacelerava logo em seguida para estender o momento. Minha vagina já estava úmida também, mas não queria que isso acabasse tão rápido assim.
- Ah, ... – Ele arfou baixo, puxando meus cabelos para trás, em um rabo de cavalo e dei uma última sugada em seu pênis antes de soltá-lo. – Ah, qual é...
- Você não era tão apressado. – Devolvi a provocação e subi meus lábios para sua virilha, depois para seu peito, passando a língua pelo local liso, empinando o bumbum para trás e encontrei seus lábios novamente.
Ele me puxou para si novamente, dando um longo e forte beijo em meus lábios, puxando minha língua com pressa para sua boca e passei minhas pernas pela sua e segurei em seu pênis novamente. Nossas bocas se separaram e ele levou as mãos para minha cintura, me pressionando para baixo e coloquei seu pênis em minha entrada, já sentindo os espasmos dela na expectativa e ergui meu olhar para ele, vendo-o com um sorriso bobo no rosto.
Deslizei o corpo devagar para baixo, sentindo seu pênis deslizar para dentro de mim com facilidade e passei os braços em seus ombros. Ele me segurou pelas nádegas, apertando as mãos firmes e deixei um suspiro escapar de meus lábios quando atingi ao máximo. Ergui meus olhos para os dele novamente, apertando minhas mãos em volta de seu pescoço e ele procurou meus lábios novamente para um curto beijo.
Firmei minhas mãos em seus ombros quando ele começou a movimentar seu quadril devagar e comecei a movimentar o meu devagar em direção do seu, inclinando o corpo levemente para frente para poder cavalgar devagar em cima dele. Ele fez o mesmo, apoiando a cabeça na parede e apoiei a mão na parede atrás dele para permitir que ele me puxasse contra si.
Soltei um gemido quando ele começou a acelerar os movimentos, fazendo o som de nossos sexos se chocarem e mordi meu lábio inferior para evitar que o som saísse mais alto, mas com esse homem eu sabia que era difícil.
Apoiei uma mão em seu peito, sentindo meu quadril rebolar sobre o seu, fazendo meu corpo fraquejar a cada espasmo que recebia. Ele tirou uma mão de minha cintura, levando-a até minha nuca e eu sentia meu corpo pular em cima do seu no automático, aumentando a velocidade. Seus lábios encontraram meu seio mais uma vez, dando uma sugada neles e eu soltei um gemido alto, soltando a respiração forte logo em seguida.
- Vai, Gigi, mais rápido... – Falei no meio das arfadas, sentindo meus seios pularem conforme os movimentos.
Senti meu corpo começar a se contrair com o gozo iminente e joguei a cabeça para trás, apertando meu seio fortemente e soltei um gemido alto, chegando ao ápice. Gigi movimentou seu quadril devagar, fazendo vários gemidos escaparem pelos meus lábios e ele apertou minhas nádegas de novo, dando mais uma estocada, duas e gozou, me fazendo gemer e relaxar o corpo quando ele parou os movimentos.
Apertei meu seio devagar, tentando normalizar a respiração e senti suas mãos delineando as laterais do seu corpo devagar. Levei meu olhar até o seu, soltando a respiração pela boca e passei as mãos em seus ombros novamente, puxando-o mais para perto de mim. Ele me amparou na base das minhas costas e colei meus lábios nos dele em um beijo urgente e cansado.
Apoiei minha testa na sua, sentindo nossas respirações se misturarem e acariciei sua nuca devagar. Rocei meus lábios nos dele novamente, encarando seus olhos azuis e sabia que estava na hora de sair dali. Passei minhas mãos pelos seus cabelos, acariciando seu rosto em seguida e colei nossos lábios novamente. Muito podia ser dito naquele beijo, mas só uma coisa importava: ainda pertencíamos ao outro.
Nos afastei devagar e, sem querer, seu olhar procurou pelo meu. Neguei com a cabeça, pressionando os lábios e ele confirmou com a cabeça. Me levantei devagar, apertando seus ombros quando ele saiu de mim e sentia minha vagina pulsando e sabia que precisava urgentemente ir ao banheiro.
- Temos que ir... – Falei baixo, sentindo minha voz falhar.
- Eu sei... – Ele disse baixo, inclinando a cabeça para trás e eu suspirei.
- Eu preciso de uma roupa limpa... – Falei, pegando minhas roupas no chão.
- Eu tenho lá fora... – Ele disse, se levantando também.
- O problema vai ser sair. – Falei, começando a colocar o sutiã.
- Está quieto, não tem ninguém ainda... – Ele disse e eu suspirei.
Vesti o sutiã e a saia e ele colocou somente a blusa preta dessa vez. Abri a porta devagar da cabine, dando uma rápida olhada pelo caminho e vi que estava vazio. As cabines e chuveiros fechados e o espelho não denunciava ninguém escondido pelos cantos.
Mudei de cabine, fechando a porta e senti que passou uns dez minutos de tanto de xixi que eu precisava fazer. Me limpei da melhor forma com o papel higiênico, seja minha vagina, bunda ou pernas e saí novamente. Peguei minhas peças de roupa no chão e a blusa da comemoração estava úmida, mas serviria até eu pegar minha mochila. Ajeitei-a dentro da saia e olhei em volta, procurando minha calcinha.
- Procurando por isso? – Ele rodou o tecido em seu dedo e eu ri fracamente, pegando-a de sua mão e ele me pressionou contra a pia novamente, levando as mãos em minha cintura. – Seis anos e você não mudou isso?
- Você ainda usa essa cueca branca ridícula e eu não falo nada. – Disse, sentindo-o colar os lábios nos meus rapidamente.
- Você gosta que eu sei...
- Você gosta disso também... – Falei da minha calcinha.
- Adoro. – Ele sorriu com os lábios colados nos meus.
- Fica de presente, não posso colocar ela desse jeito. – Falei e ele riu fracamente.
- Vai sair daqui sem?
- Eu tenho na minha mochila, e não é como se eu fosse abrir as pernas para mais alguém hoje...
- Os caras vão ficar tão decepcionados. – Ele disse, me fazendo rir fracamente e virei para o espelho novamente.
Meus cabelos pareciam um ninho de rato, abaixei-os conforme pude e fiz um coque, prendendo-o com o próprio cabelo. Peguei alguns papéis toalha e passei no rosto, sentindo-o suado e aproveitei para passar dentro do decote, entre os seios. Ajeitei a saia de forma correta e abaixei-a até os joelhos novamente, dando uma checada o quão ruim estava. O preto disfarçava um pouco, mas ela estava úmida e me incomodava o fato de ela ter ficado no chão do banheiro.
Gigi também terminava de se vestir, somente tirando as meias e pegando as chuteiras do chão. Ele pegou meus saltos também e me entregou. Seu olhar encontrou com o meu novamente e eu suspirei, levando minha mão até seu rosto novamente e acariciando-o.
- Me desculpe pelo tapa. – Falei.
- Tudo bem, eu mereci. – Rimos juntos e aproximei nossos rostos novamente, sentindo seus lábios me beijarem pela última vez e senti meu coração apertar, coisa que não tinha acontecido durante todo esse tempo.
Desviei dele com uma força de quem empurra algo pesado e segui até a porta do banheiro. Observei-o de longe mais uma vez e neguei com a cabeça antes de sair do local novamente. Puxei a respiração fortemente em uma das esquinas do corredor em zigue-zague e soltei o ar devagar. Ergui a cabeça e andei pelo restante do corredor, me arrependendo amargamente disso.
Você sabe o que é ter cerca de 40 pares de olhos te encarando como se você fosse algum tipo de doente, bêbado ou louco? Agora imagine que esses olhos são de homens que são seus colegas de trabalho, direta ou indiretamente. Inclusive alguns que são superiores com você. Ah, e junte também sorrisos misturados com choque, surpresa ou até aquele que eu já estava acostumada vindo de Alex, Chiello e Pavel. Imaginou? Ainda assim não era perto do que estava acontecendo.
Engoli em seco, esperando que alguém falasse alguma coisa, mas sentia que minha respiração ficava cada vez mais pesada e minhas bochechas ferviam de vergonha. Será que eles tinham ouvido? Será que tínhamos gemido alto demais? Só podia, mas eu não podia lidar com aquilo agora, então ergui a cabeça e mirei a porta.
- O quê? Gostaram do show? – Perguntei um pouco mais alto, seguindo a passos firmes na direção da saída. – Precisamos voltar para Turim ainda hoje! Vamos! – Falei alto, assustando os mais próximos e finalmente me vi fora do vestiário, mas uma mão me parou na porta, era Conte. – Não começa, não fala nada. – Falei baixo para ele que retribuiu com um sorrisinho.
- Não vou falar nada, só estou tendo um déjà vu. – Revirei os olhos, soltando sua mão.
- Controle seus jogadores...
- Não fui eu que não me controlei. – Ele respondeu e revirei os olhos mais uma vez, seguindo finalmente para fora do vestiário, sentindo um pouco de ar puro chegar em meus pulmões.
- ... – Virei para o lado, vendo Pavel sair logo atrás de mim.
- Não! – Falei rapidamente, erguendo o dedo para ele. – Me desculpa, mas eu não vou falar disso agora. – Ele riu fracamente.
- Vocês não mudam, não é?! – Ele disse.
- Cala a boca. – Rosnei, ouvindo-o gargalhar e bufei alto. – Eu espero vocês no ônibus.
- Ah, vai esperar muito. Você eles não zoam, agora o Gigi... – Ele disse e eu levei as mãos à cabeça. – Bom, eles precisam descobrir que é o Gigi ainda, alguns jogadores não voltaram ainda, então temos algumas opções...
- Cala a boca! – Falei firme. – Por todo amor e carinho que temos nos últimos 11 anos, cala a boca. – Ele riu fracamente.
- Ah, quem dera se eu tivesse o mesmo amor e carinho que você tem com o Gigi. – Estendi os saltos em sua direção, fazendo-o correr para dentro e grunhi antes de seguir pelo corredor. – Lado errado! – Ele respondeu e eu bufei, virando para o outro lado dessa vez.
Eu sei que eu vou me arrepender dessa decisão, mas acho que tinha sido a melhor noite da minha vida em muito tempo. Beh, a melhor noite dos últimos seis anos.

Lui
Sete de maio de 2012 • Trilha SonoraOuça

Puxei-a para perto de mim mais uma vez, colando nossos lábios mais uma vez, me fazendo relaxar, mas antes que eu pudesse aproveitar mais, ela se afastou de mim. Ela foi em direção a porta do banheiro, pressionando seus lábios com aquela tristeza no olhar e senti uma dor em meu peito quando ela negou com a cabeça. Queria assentir e falar para ela ficar e que daríamos um jeito, mas eu era um idiota que não tinha capacidade de lutar pela mulher que ama. Eu tinha tudo na vida, podia ter o que quisesse, mas não tinha coragem para largar tudo e ficar com ela.
Soltei um suspiro, passando as mãos em meus cabelos e enfiei a cabeça na pia, ligando a torneira e passei água no rosto e na nuca, sentindo meu corpo formigar por inteiro. Esse era o efeito . Fazia meu corpo se arrepiar e eu não me sentia nem um pouco culpado em ter traído minha esposa. Eu queria repetir de novo e de novo, pois era melhor de tudo o que eu já havia passado com Alena.
Eu poderia dizer genuinamente que era a melhor coisa na minha vida. A melhor conversa, o melhor sorriso, melhor abraço, o melhor beijo, o melhor sexo, apesar de que não fazíamos sexo há muito tempo, era sempre amor. E essas quatro letras passavam na minha cabeça de forma que eu nem me tocava que teria problemas com elas mais tarde. Amanhã talvez.
Hoje eu só queria aproveitar esse sorriso em meus lábios, essa felicidade que emanava dentro de mim e todo esse momento que passamos aqui dentro. Seria um tolo dizer que isso não estava planejado, pois eu sentia saudades de beijá-la e tocá-la desde o câncer, mas com os últimos acontecimentos em Palermo, isso virou uma obsessão, só não sabia que chegaríamos até o fim.
Suspirei forte, esperando que ela não ficasse se remoendo por isso, mas sabia que seria impossível, pois eu ficaria me remoendo por isso, principalmente por mais uma vez não saber o que fazer. A balança família ainda pesava e eu sabia que deveria resolver tudo, mas eu simplesmente não conseguia. Não queria. Era a , caramba. A minha .
Franzi a testa ao perceber como tudo parecia quieto demais e desliguei a torneira, puxando o papel toalha e passei em minha nuca e meu rosto. Olhei meu reflexo no espelho e a bermuda do uniforme estava pior do que antes do jogo, mas dava para dar uma enganada. Peguei minhas chuteiras com a ponta dos dedos e olhei sua calcinha na pia e a peguei, suspirando. Ela ainda usava calcinha com desenhos fofos e eu amava isso nela.
Guardei-a fundo dentro das chuteiras e respirei fundo antes de seguir para fora do vestiário. Parando na porta assim que vi todos os meus colegas me olhando e um completo silêncio no ambiente.
Cazzo!
- VOCÊ? – Matri se levantou gritando. – ELA ESTAVA COM VOCÊ? – Revirei os olhos. – AH, QUAL É! COMO COMPETE CONTIGO, CAZZO? É ÓBVIO QUE ELA NUNCA VAI DAR MORAL PARA MIM TENDO VOCÊ!
- Ah, cala a boca. Ela nunca vai dar moral para você mesmo sem mim. – Ri fracamente. – Se ela der, posso te garantir que vai ser para me irritar. – Falei mais baixo a última parte, mas segui para meu vestiário e ouvi algumas gargalhadas. Virei o rosto vendo Alex, Pavel e Chiellini não se aguentarem em pé. – Pode parar vocês três.
- Nem vem, Gigi! – Alex falou estridente. – Você transa com a ... Depois de sei lá quantos anos... No nosso vestiário... Onde todo mundo podia ouvir os gemidos de vocês... E ainda não quer ser zoado? – A risada fina de Alex ecoou pelo local, fazendo algumas outras se juntarem a ele.
- Ah, fala sério. Vocês deveriam estar lá fora ainda. Isso estava vazio quando... – Abanei a mão. – Enfim... – As gargalhadas estouraram de novo.
- Gigi, são quase três da manhã. Vocês ficaram umas três horas aí dentro. – Pavel disse com aquele sorriso no rosto.
- Por favor, fiquem quietos...
- Nem vem, cara! – Foi a vez de Conte falar. – Eu saí desse time e vocês estavam no chove e não molha, mas aí eu voltei e ainda está no chove e não molha... – Os três gargalharam de novo.
- Alguém pode explicar o que está acontecendo? – Quagliarella perguntou e virei rapidamente para ele.
- Não, não pode. – Falei rapidamente.
- Você tem tempo? – Alex perguntou, ainda gargalhando e eu queria enfiar minha blusa goela abaixo para ele ficar quieto.
- Vai, Gigi. Conta para galera! – Chiellini falou, rindo em seguida.
- Vai cortar o coração dos dois ali, mas acho que já quebrou... – Pavel disse, secando os olhos com a gola do paletó.
- Para! Por favor, só para. – Neguei com a cabeça, me sentando no meu espaço ao lado de Cáceres. – Cadê ela, falando nisso?
- Ah, ela deve já estar em Turim com a pressa que ela saiu daqui... – Pavel disse, gargalhando em seguida e eu levei as mãos no rosto, respirando fundo.
- Tem história aí, não tem? – Lich perguntou.
- Você não quer saber... – Neguei com a cabeça.
- Nem eu sei tudo. – Chiellini falou.
- Ah, quer! – Alex disse, gargalhando. – Ai, Gigi, que bela lembrança da minha última temporada você vai me dar.
- Há, há, há, engraçadinho. – Falei. – A gente não tem que ir embora, não?
- Não, sem pressa. – Pavel falou. – Conseguimos um avião para voltar, temos tempo...
- Eu não vou falar sobre isso na frente do time inteiro. – Falei. – E já estou com problemas o suficiente na cabeça.
- Beh, você pode não falar, mas todo mundo ouviu... – Marchisio disse.
- “Vai, Gigi... Vai!” – Pirlo falou com a voz mais fina, fazendo minhas bochechas esquentarem e o vestiário inteiro caiu na gargalhada.
- E não me pareceu que tinha problemas nenhum lá dentro... – Grosso frisou a última palavra e eu revirei os olhos.
- Vai, Gigi, conta aí! Abre na roda! – Vidal disse.
- Eu estou finalmente começando a entender seu surto quando eu entrei no time e falei que a conheci na Copa. – Barzagli falou e Alex gargalhou mais alto ainda. Daqui pouco estaria com soluço.
- Ah, aquele dia. – Ele passou as mãos nos olhos. – Barza, você não tem noção como você abriu uma porta com diversas lembranças... – Ele riu fracamente.
- Você vai ser o capitão na próxima temporada, Gigi, precisa confiar no seu time. – Conte disse, rindo.
- Eu não confio. – Falei, rindo, sentindo várias coisas serem jogadas em mim.
- Uh! – Devolvi algumas, rindo fracamente.
- Eu já tenho muita coisa para pensar, ragazzi. Qual é! – Falei, negando com a cabeça.
- Você não vai fugir disso. – Pavel disse. – Se você não contar, eu conto... – Ele disse, rindo.
- À vontade. Eles vão descobrir de uma forma ou de outra depois de hoje. – Falei, apoiando as costas na parede e cruzei os braços.
- Sinto lhe decepcionar, Matri e Quagliarella, mas acho que vocês realmente nunca terão chance com a , pois a história desses dois começou em 2001. – Revirei os olhos.
- O QUÊ? – Mais pessoas além dos três gritaram em minha direção.
- 2001?
- É. – Falei, suspirando em seguida. – Entramos juntos aqui. Ela entrou como estagiária e eu como goleiro.
- 11 anos, cara? – Bonucci falou e eu suspirei.
- Sim, foi. – Ri fracamente. – A gente se conectou quase imediatamente, mas ela era uma estagiária buscando efetivação e não queria ter problemas com isso... – Suspirei. – Aí eu esperei por ela...
- Só que tivemos que mexer uns pauzinhos para ela se efetivada porque não queria mulheres perto dos jogadores... – Pavel disse.
- Nem imagino o porquê. – Marchisio falou irônico, me fazendo rir novamente.
- Eu cansei de esperar, segui minha vida, mas eu só conseguia pensar nela e querer ficar com ela, só que ela não podia... – Suspirei, negando com a cabeça. – Mas no fim de 2005 ela deu uma chance para gente, começamos um relacionamento...
- Naquela época o time inteiro fez festa por eles terem ficado juntos, agora vocês devem entender nossa felicidade também. – Alex disse, apontando para ele, Chiello e Pavel.
- E o que aconteceu para vocês se separaram? – Giaccherini perguntou.
- O Calciopoli aconteceu. – Falei, pressionando os lábios. – Ela descobriu o esquema dentro do time, ela ficou dias sem dormir e eu estava envolvido. Ela terminou tudo...
- Não terminou, mas... – Alex falou.
- É, ela disse que precisava de um tempo, mas aí veio o Mondiale. – Falei.
- Agora faz sentido a reação dela! – Barzagli falou. – Ela te viu com outra mulher... – Assenti com a cabeça. – E deve ter juntado tudo.
- Aquela mulher que vem a ser esposa dele hoje. – Alex disse e eu suspirei.
- Que merda! – Barza falou.
- Era para ser só uma diversão, mas aí quando voltamos, ela disse que tudo tinha acabado. – Engoli em seco. – Mas nós dois continuamos no time, a proximidade e o mesmo grupo de amigos acabaram nos aproximando de novo. – Suspirei.
- Isso explica algumas coisas, sabe? – Quagliarella falou. – Não só a sua reação com ela quando a gente brinca com ela, mas a reação dela contigo. Ela meio que te vê como forma de proteção, algo assim... – Suspirei, passando a mão nos cabelos.
- Isso envolve muita coisa a mais, Fabio, coisas pessoais dela. – Falei para ele. – Mas eu não consigo explicar o que a gente tem, não é frequente acontecer o que vocês ouviram, não acontecia há seis anos, na verdade, mas nós nos apoiamos e protegemos em diversas situações. – Suspirei.
- Seis anos? – Marchisio falou rápido. – Isso é 2006... – Assenti com a cabeça.
- Sim, a gente não transa desde 2006... – Ri fracamente. – Desde que terminamos.
- Cazzo! – Eles reagiram e eu suspirei.
- E eu só descobri o real motivo de ela ter terminado tudo quando o Barza entrou no time. – Apontei para o mesmo na minha diagonal. – Ele comentou que a conhecia e eu achei estranho, a não ia mais em vestiários desde que terminamos, aí eu fui atrás dela e colocamos todas as cartas na mesa. – Engoli em seco, suspirando.
- Mas e aí? – Lich perguntou.
- E aí, o quê? – Perguntei. – Eu tenho dois filhos, estava com casamento marcado, vi que tudo era passado...
- É, vemos bem o passado... – Filippi disse, rindo fracamente e eu suspirei. – É óbvio que você gosta dela, cara. – Ele disse, rindo fracamente. – Que ela gosta de você também, que vocês têm uma história... – Engoli em seco.
- É isso que bagunça minha cabeça. – Suspirei. – Eu só quero aproveitar esse momento, porque eu sei que depois vou ter que pensar nisso... – Neguei com a cabeça.
- Antes que vocês deem seus palpites, posso garantir que todos que souberam dessa história já deram e ele ainda não se decide. – Alex disse, se levantando.
- Eu não sei o que é estar em um relacionamento e gostar de outra pessoa para falar algo, muito menos se essa pessoa for quase minha namorada de infância... – Pepe falou. – Mas vocês têm história, Gigi. Isso tem. – Suspirei. – E enquanto vocês trabalharem juntos, você não vai conseguir pensar com clareza...
- É, mas aí vem a pergunta. Quem vocês manteriam no time? – Alex perguntou, rindo. – O melhor goleiro do mundo ou nossa top três? É compli...
- A ! – Todos falaram juntos, me fazendo rir fracamente.
- Bom, está decidido, vou pedir minhas contas... – Me levantei, fingindo drama e sentei em seguida. – O problema é que eu tenho que pedir minhas contas para a e ela não vai deixar eu sair...
- Vocês estão ferrados. – Filippi disse, rindo.
- Quando até meu treinador me zoa, eu sei que as coisas não estão bem. – Falei e ele riu fracamente.
- Você diz isso agora? – Alex perguntou, rindo. – Isso eu sei desde o meu casamento. – Ele falou e eu revirei os olhos.
- Não fala de casamentos. – Falei, suspirando. – Me deixa aproveitar o momento. – Suspirei.
- É, meu caro, você está ferrado. – Cáceres deu dois tapinhas em minhas costas e eu ri fracamente.
- Falando nela, onde está ? Ela precisava de roupas secas também... – O pessoal riu fracamente e eu suspirei.
- Eu cuido disso, ok?! – Pavel disse. – Se você for, capaz de vocês nos atrasarem de novo... – Ele disse, abanando a mão e fazendo as gargalhadas ecoarem pelo local.
- Não senti falta nenhuma dessas brincadeiras. – Falei.
- Ah, eu senti e muito! – Alex disse, se levantando. – Ok, ragazzi, presta atenção aqui. – Ele bateu as mãos algumas vezes. – Estamos brincando, mas isso não pode sair daqui, beleza? O Gigi e a são pessoas muito importantes para esse time e qualquer mísero boato vai virar uma incrível bola de neve. Então, sem impressa. – Ele disse e eu assenti com a cabeça, olhando para ele. – Combinado?
- Fechado! – Eles falaram e eu suspirei.
- Agora para o chuveiro! – Conte falou, fazendo os jogadores se levantarem.
- Ah, vai estar cheirando sexo... – Ri fracamente.
- Sexo de Gigi ainda... – Revirei os olhos e vi Alex vindo em minha direção.
- Você e eu teremos muito o que conversar ainda. – Suspirei.
- Não era para abrir para o time inteiro também.
- Foi inevitável, Gigi. Fomos voltando e começamos a ouvir. – Alex disse baixo. – O top voltou e ela não estava junto e, quando comecei a ouvir os gemidos, sabia que era você com ela. Era óbvio que não seria outra pessoa. – Suspirei. – Ninguém se atreveu a entrar, mas vocês não saíam, não acabavam e, bom, somos homens... – Revirei os olhos. – Nós só esperamos...
- Foi bom, cara. – Suspirei.
- É a , Gigi. São vocês dois, na verdade. É uma bomba. – Suspirei. – Não vou perguntar o que você vai fazer, mas você vai precisar pensar uma hora ou outra. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Eu sei. – Engoli em seco.
- Me pergunto o que você vai fazer sem mim aqui na próxima temporada. – Ri fracamente, suspirando.
- Sei lá, cara. – Suspirei.
- Seguir em frente talvez? Parece uma boa, não? – Ele falou, rindo e eu revirei os olhos, empurrando-o pela cabeça, rindo fracamente.
Não quis assumir, mas parecia uma boa ideia mesmo, eu só sabia que não seria o que ia acontecer.

Lei
Sete de maio de 2012 • Trilha SonoraOuça

- Vamos, , a gente precisa ir embora. – Suspirei, encarando meu reflexo no espelho.
- Podem ir, eu volto de trem, pego outro voo, sei lá. – Respondi, suspirando.
- Para de graça, . Qual é, vamos lá! – Bufei, olhando meu reflexo no espelho.
- Eu não vou sair daqui, Pavel, desiste. – Falei, irritada.
- Ah, dá licença... – Ouvi sua voz abafada e vi seu reflexo no espelho.
- EI! – Reclamei. – Isso é o banheiro feminino.
- Como se eu estivesse me importando... – Ele falou, esticando um saco para mim. – Toma! Roupas secas, limpas e apresentáveis para você. – Suspirei, pegando o saco de sua mão.
- Eu não posso me apresentar na frente de todo mundo, Pavel. – Engoli em seco.
- Eu não vou deixar você aqui, . – Ele falou. – Ninguém vai brincar contigo, qual é. Eles têm noção que você pode demiti-los se quiser. – Ri fracamente.
- Mas eu fiz merda, Pavel, em todos os sentidos da palavra. – Suspirei. – Transei com um cara casado, transei dentro do vestiário do time que eu comando, todos ouviram, me envergonhei na frente do meu técnico e meu superior...
- Seu amigo. – Ele disse firme e eu suspirei. – Antes de eu ser seu superior, eu sou seu amigo. E como seu amigo e sabendo da história toda, eu só estou preocupado como você está. – Engoli em seco.
- Eu não sei, honestamente. – Suspirei. – Eu sinto muita falta dele... – Neguei com a cabeça. – E ainda sinto atração por ele, mas eu sei que isso não podia acontecer. – Pressionei meus lábios um no outro. – E tenho certeza de que nada vai mudar depois de hoje...
- Por que você diz isso? – Ele perguntou.
- Porque tiveram duas oportunidades para ele terminar com a Alena e ficar comigo e ele a priorizou. A família que ele tem com ela. – Neguei com a cabeça. – E eu ainda tenho um pouco de amor-próprio para ser amante.
- Você não é amante dele, . Ele te ama. – Neguei com a cabeça. – Sim, ama, e eu sei que você o ama também... – Ele bufou. – Eu não sei como você está se sentindo, mas se você sabe que a luta é perdida, por que você ainda se permite?
- Eu não esperava que isso fosse acontecer, Pavel. Não vim com essa pretensão, qual é! – Virei para ele, apoiando o quadril na pia. – Quase nos beijamos em Palermo, mas eu consegui parar, aqui ele não me deu chances. Ele queria também, ele me beijou e depois eu entrei em estado de ecstasy... È un cazzino. – Suspirei.
- Se vocês não querem ficar juntos, precisam ficar longe um do outro pelo menos. – Ele disse.
- Ei, ei, ei! Eu sou solteira, eu não ando com uma aliança no dedo por aí. Não vou ser a mulher que sabe que é casado e ainda fica com ele, mas quem tem responsabilidade com a tão protegida família, é ele! – Falei firme para ele. – A família que ele priorizou duas vezes. – Ele suspirou. – Eu queria ficar com ele, Pavel, sempre quis, e pelo visto isso não mudou ainda. Tudo bem que eu priorizei meu trabalho e agora ele prioriza a família, mas eu não posso ficar nessa montanha-russa para sempre.
- Você tentou esquecê-lo?
- Eu namorei um idiota por três anos, Pavel. Eu tentei. – Falei firme. – Mas não era um namoro, era um posto, uma classificação de relacionamento, três anos que nem se compararam com os seis meses com o Gigi. – Suspirei.
- Sabe a pior parte? – Ergui o olhar para ele. – Eu não o via feliz daquele jeito em anos. – Suspirei. – Vocês podem não gostar, isso pode virar lenda na Juventus ou sei lá, mas vocês se fazem bem, vocês possuem uma ligação...
- É isso que me assusta. – Assumi. – Ter uma ligação com ele para sempre, mas nunca ter o físico.
- E isso importa? – Ele perguntou.
- Nós temos intimidade o suficiente, não? – Perguntei.
- Você é uma das minhas grandes amigas e te ouvi transando com um dos meus grandes amigos... – Ri fracamente. – Mais do que isso só se fosse ao vivo e a cores. – Rimos juntos.
- Ele é o melhor sexo da minha vida, Pavel. Toda vez ele acerta. Toda vez é novo, incrível, perfeito... – Suspirei. – E pela forma que ele reage comigo, sei que eu atinjo uns pontos que ele gosta que só eu sei como atingir... – Neguei com a cabeça. – Ele também é meu amigo, nos apoiamos em diversas situações... Meu câncer, minha família, a depressão dele... Mas o físico... – Dei um pequeno sorriso. – Sem isso seria andar de Ferrari e não passar dos 100 por hora...
- Tedioso...
- Uma hora se torna. – Suspirei.
- Me desculpe, . Eu não sei o que te falar, mas quero me tornar disponível como seu amigo também, ok?! Não precisamos ficar só em time, time, time... – Ri fracamente. – Beh, eu estou falando de sexo com você, então... – Sorri.
- Grazie, Pavel. Quem diria que você é sentimental?
- Ninguém mexe com meu casal que vai dar problema. – Ri fracamente. – Podemos ir, por favor? Eu te protejo e soco se alguém fizer brincadeirinhas contigo.
- Como foi lá dentro? – Cruzei os braços.
- O Gigi foi bem zoado, obviamente... – Revirei os olhos. – Mas ele abriu sua história para o time.
- Ah, fala sério. – Revirei os olhos.
- Matri e Quagliarella estão de coração partido, já avisando... – Ri fracamente.
- Eles são bons homens, mas chega de jogadores de futebol para mim, já basta um com rolo. – Ele sorriu.
- Mas todo mundo já suspeitava que tinha algo, porque vocês possuem uma linguagem corporal que os aproxima...
- É, isso eu sei, vou tentar evitar. Pelo menos a temporada está no fim... – Suspirei.
- Sem chances de vocês ficarem juntos? – Dei de ombros.
- Eu tenho a consciência que não, eu falei isso, eu dei a entender que seria algo de um momento só. – Suspirei. – O Gigi é o cara mais incrível do mundo, pessoal e profissionalmente, mas ele também é a pessoa mais perdida de todas. – Dei de ombros.
- Ele precisa se encontrar... – Assenti com a cabeça.
- E como foi naquela vez com a Vincenza, agora quem não vai esperar por ele sou eu. Eu preciso viver. – Ele sorriu.
- Assim que se fala. Você é bonita, sexy, incrível, a mulher mais importante de um time italiano, europeu e acho que mundial, você não o merece... – Sorri.
- Eu vou me trocar.
- Ok, vai lá. – Ele disse e eu peguei o saco, entrando em uma cabine.
Óbvio que a minha opção era uniforme. A calça de moletom preta do uniforme de passeio, a camiseta polo amarela e o casaco da mesma cor chamativa. Vesti tudo, achando estranho o tamanho mais largo, mas ok, dobrei minhas roupas e saí da cabine.
- Com o salto nem fica tão feio. – Falei, me aproximando da pia.
- Você está ótima. Fica bem com qualquer coisa. – Sorri, soltando o coque que eu havia feito e sacudi os cabelos.
- Eu acho que eu nunca fiquei com tanta vergonha na minha vida. – Dei uma ajeitada neles. – Como o resto do top reagiu?
- Um pouco perdidos, mas isso passa. – Ele disse. – O Agnelli sabia da história de vocês quando te convidou.
- É, mas era passado, ninguém esperava que isso fosse acontecer de novo. – Suspirei e ele riu fracamente.
- Ele não vai te demitir por isso, . Ele nem pode, na verdade, quando você foi aprovada pelo conselho, talvez ele só tenha curiosidade em saber...
- O time inteiro já sabe, isso vai chegar nele, pode se preparar. – Suspirei. – Mas um problema de cada vez.
- É, vamos voltar para casa antes, vai. Apesar de tudo, nós vencemos, . Siamo campione dell’Italia una altra volta. – Suspirei.
- Finalmente! – Sorri. – Isso é música para meus ouvidos.
- Conseguimos, !
- Conseguimos! – Sorri, me aproximando dele e passei os braços pelos seus ombros, abraçando-o fortemente.
- Agora vamos. – Suspirei, rindo fracamente e ele me esticou a mão.
Engoli em seco antes de segurar sua mão e ele me puxou para fora do banheiro. Seguimos pelos corredores já vazios do estádio e vi que todos já tinham saído quando chegamos no ônibus. Faltavam duas pessoas. Eu e ele. Passava de três da manhã e eles ainda estavam atacados, cantando que somos campeões ainda. Subi no ônibus e fiquei feliz pelo primeiro banco estar livre e me sentei do lado da janela e me afundei nele. Pavel sentou ao meu lado.
Eu coloquei os fones na orelha, aumentando minha playlist de músicas nacionais até que o som da cantoria fosse abafado e me isolei durante os 40 minutos até o aeroporto. Que porcaria de aeroporto longe, caramba. Certeza de que Trieste não era tão comprida assim.
Pela minha felicidade e por alguns pauzinhos que Angelo conseguiu mexer para mim caso ganhássemos, o ônibus parou diretamente na pista do aeroporto e só precisamos sair de um e entrar em outro, sem torcedores, sem problemas, sem burocracia.
Dessa forma, eu fui a primeira a sair do ônibus. Peguei minha mochila no bagageiro e subi as escadas que davam para o avião. Cumprimentei a aeromoça e me encaixei na primeira poltrona na janela. Conte e seus assistentes entraram logo em seguida, alguns dando rápidos acenos com a cabeça e a festa de jogadores começou a entrar, queria muito me fingir de morta, mas não era possível alguém dormir em 10 minutos, nem eu. Tudo estava bem, até meus dois admiradores entrarem.
- ! – Matri falou e eu tirei um fone da orelha, vendo-o se sentar ao meu lado.
- Cai fora. – Falei baixo e Quagliarella sentou na terceira poltrona.
- Só ouve a gente um pouco. – Fabio disse.
- Ele é goleiro, alto, bonitão, mãos grandes, etc, sabemos o que significa, clássico italiano... – Matri disse e senti vontade de rir. – Mas ele só defende, entende?
- Achei que fosse isso que goleiro significava. – Falei.
- É, mas a gente pode fazer gols, entendeu? – Quagliarella falou e ri fracamente. – E podemos dedicar para vocês... – Escondi o rosto com a mão, tentando não gargalhar.
- Vocês são uns amores, mas... – Ergui o rosto, vendo Gigi entrando e ele estava de terno. Bem melhor apresentado do que eu. Ele deu um sorriso e eu pressionei meus lábios...
- Sai daqui. – Quagliarella o empurrou.
- Parem de amolar ela. – Gigi falou, puxando-o pelo ombro, me fazendo rir quando ele caiu da poltrona e o avião explodiu em risadas.
- Vocês são uns amores, agradeço o carinho, mas eu gostaria de ficar sozinha agora... E por um bom tempo. – Falei baixo, tentando me manter o mais calma possível.
- Ah, qual é... – Matri se levantou, fazendo um bico.
- Affanculo, Gigi! – Quagliarella disse. – Você tinha que se meter, não é? – Gargalhei, negando com a cabeça e vi Barzagli e Chiello entrando no avião e ambos assentiram com a cabeça para mim.
- Ei! – Me levantei, chamando-os e ambos e Gigi me olharam. – Mas eu ainda aceito os gols!
- ISSO! – Eles falaram, animados, me fazendo rir e vi Gigi negar com a cabeça.
Soltei um suspiro e me sentei novamente. O avião era grande, não tinha motivo para dividir com alguém, então fui sozinha. Bem, mais ou menos. Nosso time era composto por jogadores de 22 a 35 anos, então sempre parecia uma excursão escolar. Eles cantaram durante o voo, depois ficaram fazendo guerrinhas com os travesseiros, não satisfeitos começaram a jogar camisetas e sei lá mais o quê. Se eu tinha intenções de dormir nessas quase duas horas de voo, eu estava bem enganada. Pelo menos a festa ficou do meio do avião para trás, eu fui poupada. Meu corpo cansado agradecia.
Quando chegamos em Turim, se a intenção era sair logo, eu também estava muito enganada. Os torcedores enchiam em peso as portas do aeroporto que foi preciso fechar com grades. Eu nunca tinha visto isso em toda minha vida. Turim é uma cidade pequena, o aeroporto também é pequeno, mas isso era loucura.
Os torcedores escalavam as grades e muros, os repórteres queriam tirar algumas falas dos jogadores e a polícia estava lá para intervir também. Posso te garantir que isso demorou cerca de mais uma hora só para chegarmos no ônibus, aí até o ônibus conseguir sair dali, o dia já estava amanhecendo. Já era segunda-feira e eu só tinha uma garantia, não ia trabalhar hoje, eu precisava urgentemente de um pouco de sono, mesmo que isso desregulasse meus horários.
Chegamos em Vinovo com mais festa da torcida, eles estavam literalmente em todo lugar, mas dessa vez eles já estavam preparados para a nossa chegada e, tirando algumas porradas na lataria e os jogadores abrindo as janelas para cantar com eles, chegamos bem.
Fui a primeira a sair do ônibus novamente e só queria saber de tirar aquelas roupas quentes, mas já estava próximo das oito horas, eu precisava dar alguma ajuda para minha equipe, nem se fosse por alguns minutos. Ou talvez deixar um bilhete e ir embora logo depois.
- Precisam de mim? – Perguntei para Pavel, Beppe e Paratici.
- Está tudo bem. – Pavel falou.
- Você está bem? – Paratici perguntou.
- Sim, na medida do possível. Desculpe por hoje.
- Não precisa pedir desculpas de nada... – Beppe disse.
- O RH diria diferente sobre conduta e ética. – Eles riram fracamente.
- Não vai sair daqui. – Beppe disse.
- Obrigada. Eu vou subir para falar com a minha equipe, nos falamos?
- Claro, sempre! – Pavel disse e sorri, ajeitando minha mochila nas costas e segui o caminho pela calçada que beirava os prédios.
- ! – Bufei alto.
- Ah, o que é agora? – Virei para trás, vendo Gigi vir em minha direção. – Ah, é você, pensei que fosse o Cip e Ciop*. – Falei, suspirando.
- Seria melhor?
- Nas atuais circunstâncias, sim. – Suspirei.
- Eu queria falar contigo, mas eu não sei o quê.
- Não fala nada, é melhor. – Dei de ombros. – Foi bom, divertido e prazeroso, mas ambos sabemos que não podia ter acontecido.
- E nós? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Enquanto você ainda tiver que me perguntar, “nós” nunca existiremos. – Suspirei, dando de ombros. – Eu tenho que ir. – Falei, me virando e agradeci quando ele não veio atrás.
Segui até o prédio do administrativo, me aproximando da porta a cada passo e suspirei quando virei em sua direção e ele ainda estava da mesma forma. Puxei a respiração fortemente e abanei a cabeça, entrando logo em seguida. Não podia fazer isso agora, simplesmente não dava.

*Nome dos personagens Tico e Teco na Itália.

Lui
13 de maio de 2012

Foi estranho acordar naquele dia. Na verdade, estava estranho acordar há uma semana. Os eventos em Trieste haviam me mudado, mas eu sentia que estava no topo de uma montanha-russa, antes de primeira queda. Travado e sem condições de sair, a não ser por uma queda livre que poderia ser a melhor da vida ou me matar. Alena estava com um novo programa de televisão, então passava pouco tempo em casa, e eu também agradecia pela Eurocopa que começaria amanhã, pois assim eu conseguiria fugir mais um pouco para colocar a cabeça no lugar.
Ou perder mais ela. O que eu tinha certeza de que seria possível com base em todas as escolhas erradas que eu tinha feito nos últimos dias. Boas sim, mas a culpa começava a me remoer novamente e eu voltava a me lembrar da montanha russa. Eu precisaria sair disso e, por enquanto, eu resolvi saindo da cama.
Era domingo e a casa estava movimentada, os meninos e Alena estavam empolgados por causa do jogo, Roberta estava de folga e eu me sentia perdido, quase como se fosse para uma final. Hoje era para ser um dia de festa, apesar da saída de Alex do time, mas eu só conseguia pensar que eu a encontraria novamente e me veria sem palavras mais uma vez.
Ocupei minha manhã com meus meninos, Conte me pouparia hoje para eu estar mais disposto para encontrar com a Nazionale já amanhã, então não precisei de longos repousos, fiquei correndo um pouco atrás deles pela casa. De pensar que eles já estavam com cinco e três anos, a vida estava passando rápido e eu nem percebi.
Cheguei em Vinovo por volta da uma da tarde para seguirmos para o estádio. Todos estavam empolgados com o jogo, faziam brincadeiras com o Alex e cantavam e batiam nas laterais do ônibus, então foi possível ignorar minha vida pessoal por um momento e focar nesse dia de comemorações. Eu tinha algumas conquistas pessoais para comemorar também. Tive 21 clean sheets durante a temporada, levei somente 16 gols em 35 partidas, o que dava menos de meio gol por jogo, e ainda finalizamos como melhor defesa na Itália. Fazia bastante tempo que isso não acontecia e era bom voltar ao topo novamente. 34 anos e voltando para o topo. Só não batia a sensação de ser campeão do mundo, apesar de tudo o que houve, mas era bom demais.
Chegamos no estádio e a torcida estava tão aloprada quanto quando voltamos depois de ganharmos o scudetto. Eles enchiam as ruas de fora do estádio, impediram a passagem do ônibus e batiam na lataria conforme passávamos. O sol estava a pino e parecia que eles não se importavam com isso.
Entramos no vestiário e cada um seguiu para seu canto, o jogo começaria as três da tarde e já estávamos atrasados para os protocolos clássicos de todos os jogos. Vesti o uniforme amarelo de treino, calcei as chuteiras e luvas e, como não jogaria, não precisei fazer minhas sessões de fisioterapia.
Sair para o campo novamente foi uma situação nova para todo mundo, até para mim que estava acostumado com isso. Parecia a inauguração do estádio novamente, todas as arquibancadas, todos os lugares, sem exceção, estavam ocupados. Os torcedores agitavam bandeiras, placas, pôsteres em nossa homenagem, faziam mosaicos e cantavam todas as músicas.
Estar lá no campo, ouvindo essas músicas e na situação que estávamos: scudetto vencido depois de seis anos, dois tirados, uma relegação, a saída de grandes jogadores e amigos que lutaram até se esgotar para isso acontecer, além de muitos outros detalhes, só consegui cantar junto com a torcida, com um largo sorriso no rosto.

Tu sei la squadra del cuore, sempre in campo undici eroi.
Vinci l'impossibile e vai, ti seguiremo anche noi.
Metti un'altra stella sul petto, mille mani al cielo per te.
Insieme, l'onda di una magica ora partirà.
Forza la Juve, la Juve, ale! È bianconera la bella signora.
Ale, la Juve, la Juve, la Juve, ale! Solo la Juve, è! Magica Juve, alè!


E quando eu virei para voltar para o vestiário, eu a vi. Na entrada, com Agnelli, Pavel, Paratici, Beppe e John Elkann, abaixada na grama, parecendo realmente interessada em algo que os filhos de John a mostravam bem animados. Sorri ao vê-la com mais uma saia preta, a blusa rosa do time e, com certeza, se equilibrando com os saltos na grama.
Ela não teve reação quando passei por ela, talvez não tenha me visto ou simplesmente escolheu não me ver. Não foi diferente de tantas outras vezes. Tudo o que eu consegui fazer sumir e deixar para lá desde 2006, havia surgido novamente em um dia. Talvez em três horas. Não que eu me arrependesse, eu não conseguia me arrepender, mas sentia que havia perdido ela novamente. E isso era a pior coisa que eu poderia fazer.
Bufei enquanto pensava nisso, trocando a roupa pelo uniforme de jogo e quis bater a cabeça na parede. Por que eu não podia fazer as coisas certas? Por que eu não terminava tudo com Alena e era feliz com ? Por que eu não poderia me priorizar? Por que eu não poderia ser feliz? Tive essas respostas assim que saí do vestiário para o campo.
Como já estava virando tradição no último jogo em casa, nossos filhos entrariam conosco e, do lado de fora do vestiário, parecia uma creche. Filhos de alguns jogadores e diversos organizadores do evento tentavam controlar as crianças para que elas não fugissem. Agora te dou uma chance de adivinhar onde o meu mais velho estava.
Louis estava no colo de , abraçando-a pelos ombros, usando o uniforme da Juventus com o número um nas costas. Ele apoiava a cabeça em seu ombro e ela parecia bem entretida no que ele falava enquanto mexia no colar dela. Eu podia ficar só observando aquela cena por muitos e muitos anos, principalmente quando reparei que David ainda a abraçava pelas pernas, entretida no papo.
Como isso era possível? Meus filhos a amavam, era loucura! Era o verdadeiro significado de carma! Me desviei de algumas crianças, alguns jogadores que já encontraram seus filhos e me aproximei dela.
- Eu vou morder essas bochechas. – Ela falou.
- Não pode! – Ele ria, desviando o rosto.
- Não? Como não? Elas servem para isso, não?! – Ela fingiu se aproximar de sua bochecha e ele se esquivou, gargalhando.
- Para! – Ele disse e ela acariciou sua cabeça, fazendo um carinho.
- Ah, meu menino. – Ela sorriu, suspirando.
- Papá! – David me viu antes e os outros dois viraram o rosto para mim rapidamente.
- Olha quem está aqui! – Louis disse, abraçando-a mais fortemente pelo pescoço e peguei Dado no colo, acariciando seus cabelos.
- Você tem um admirador, . – Falei e ela pressionou os lábios, dando um sorriso.
- Pelo menos ele não me dá dor de cabeça. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Entendi o recado. – Falei, suspirando. – Precisamos conversar... – Ela negou com a cabeça.
- Não. – Ela pressionou seus lábios. – Não temos e não aqui. – Ela apertou Louis.
- Isso é um pouco contraditório... – Ela riu fracamente.
- É um dia de festa, Gigi. Aproveite! – Ela sorriu. – E cuide dos seus meninos, ok?! Ou eu vou roubá-los de você um dia.
- EBA! – Louis falou, nos fazendo rir.
- Ele não ia se importar. – Falei.
- Nem eu. – Ela sorriu, dando um beijo na bochecha de Louis.
- Alena os deixou? – Perguntei.
- Sim... – Ela falou simplesmente, respirando fundo. – Eu preciso ir, ok?! – Ela se virou para Louis. – Ciao, meu lindo!
- Mas já? – Ele perguntou, surpreso.
- Sim, temos um jogo para assistir! – Ela falou no seu tom de voz mais fino.
- A gente se vê depois? – Ele perguntou, animado.
- Claro que sim! – Ela manteve a voz mais fina, me fazendo sorrir. – Vocês vão subir no camarote lá comigo depois que entrarem com o papai!
- Eba! Posso ver o jogo contigo? – Louis perguntou e eu suspirei.
- Claro que pode! – Ela ajeitou os cabelos lisos dele. – Eu te espero lá. – Ela sorriu, virando para você. – Você também, Dado.
- Ok! – Ele falou mais contido e ela sorriu.
- Aguenta mais um aí, papai? – Ela perguntou e estiquei o braço, pegando Louis e ela sorriu. – Pelo menos você soube fazer filhos. – Ela riu fracamente.
- Você acha? – Perguntei.
- O Lou é a sua cara. – Ela sorriu. – O Dado é mais a Alena, mas também tem suas bochechas. – Ela se aproximou para morder as bochechas de Dado e ele gargalhou em meu colo. – Cuida deles, ok?!
- E você se cuida também. – Falei e ela confirmou com a cabeça.
- Bom jogo. – Ela disse. – E vocês façam bonito lá fora, hein?! – Ela fez cócegas na barriga dos dois, fazendo-os rirem e senti meus braços pesarem.
- Eles vão cair! – Falei e ela riu e conteve ambos, segurando em meus braços. – Nos vemos depois?
- Claro! – Ela sorriu, suspirando. – Ciao, miei amori. – Queria responder, mas sabia que não era para mim.
- Ciao, ! – Eles falaram acenando para ela e vi se afastar um pouco, mas logo parar nos dois de Barza, me fazendo suspirar.
- Vocês gostam dela, não gostam? – Virei para meus meninos.
- SIM! – Louis falou, animado. – Por que a gente não vê ela mais?
- Porque ela é ocupada, meu amor. – Falei, vendo pegando o mais novo de Del Piero no colo um pouco mais longe de mim e suspirei.
- Eu gosto dela. – Dado disse e eu sorri.
- Eu também, meninos. – Pressionei os lábios, engolindo em seco.
- Ok, vamos lá! Em fila! – O organizador falou.
- Prontos?
- Sim! – Eles falaram juntos e animados.
Apesar de não jogar, todos entravam no último jogo, todos mesmos, então a fila contava com cerca de uns 20 jogadores, inclusive Conte. Alex puxou a fila com seus três filhos, depois vieram Storari no meu posto hoje com seus dois filhos, Chiellini sem ninguém, Giaccherini com sua menina, Lichsteiner e Marrone sem filhos, Pirlo com seus dois filhos mais crescidos, Bonucci com a mais velha de Cáceres, Padoin com um menino que também não era seu, Marchisio com Davide de quase três anos, Quagliarella com uma criança que também sabia que não era dele. Borrielo com seu menino de quatro anos, Barza com seu casal, Matri e Estigarribia sem filhos, Vucinic com seu meninos e a fila finalizada com Cáceres, Pepe e Conte com suas meninas. E o resto estava no campo.
Depois de ter dois meninos, eu tinha vontade de ter uma menina, mas com a bagunça no meu casamento, não sabia se seria possível mais. Sim, eu sei que o problema do meu relacionamento era só meu, mas eu não tinha como lidar com isso agora. Na verdade, não imaginava quando conseguiria.
Cumprimentamos os outros jogadores com um aceno de cabeça e me aproximei das famílias que rodeavam a entrada do campo. Entreguei meus meninos para Alena, sentindo-a se aproximar para dar um beijo e dei um rápido, me afastando logo em seguida. Subi para o banco de reservas, junto do pessoal e me ajeitei para ver o jogo.
O jogo foi bem calmo, Atalanta era um time que teve poucas vezes na Série A, então não era para termos muitas dificuldades. No primeiro tempo, Luca Marrone, novato no time e com pouquíssimas chances de jogar, fez um lindo gol. Bateu na baliza da esquerda e a bola ricocheteou para dentro do gol com 10 minutos de gol.
Aos 28 minutos, para fazer jus ao estilo Del Piero e para finalizar bem seu último jogo na Juventus, Alex fez seu gol. Alex se viu sozinho, fez o passe para Giaccherini, mas esse o devolveu. Ele ajeitou a bola do lado de fora da grande área e chutou. Quando a bola foi para o gol, ele comemorou da única forma que sabia: mostrando a língua e correndo para perto de seus companheiros. Todo o time dentro das quatro linhas o abraçou e o estádio gritou por ele animado.
O segundo tempo começou com algumas alterações nos dois times. Da nossa parte, Conte substituiu Del Piero por Pepe. A última substituição de Alex. Todos nos levantamos para cumprimentá-lo. Na verdade, o estádio inteiro se levantou. Eu desci os degraus do banco para aplaudi-lo da grama junto dos meus companheiros. Alex cumprimentou os jogadores e a torcida, com um largo sorriso no rosto e era impossível não sorrir com ele.
Ele veio em minha direção e eu o abracei fortemente. Não tinha o que dizer, já sabia o quão difícil isso estava sendo para ele, então só conseguia aplaudi-lo. Foram 19 anos de Juventus. Era impossível pensar quanto tempo ele havia ficado aqui. Eu já estava há 11 e achava bastante. Alex subiu na cadeira e o estádio gritou por ele, claramente ignorando o jogo que acontecia. Depois de ganhar, o jogo era uma simples formalidade. Não importava a pontuação na tabela para nós, talvez para o Atalanta, mas depois de 2x0, seria difícil virar.
Alex saiu do banco de reservas e foi direto para o setor dos ultras, dando uma volta olímpica pelo estádio, cumprimentando todos os torcedores. Isso foi realmente emocionante. Era isso! Agora só tinha sobrado eu. De toda turma, de toda gangue, tinha sobrado eu. Era comigo agora. Eu seria o novo capitão também, por ser o mais velho após ele, era uma responsabilidade que eu não sabia que estava pronto para ter, mas eu precisaria ter.
O jogo seguiu sem muitas surpresas, sem cartões, sem faltas, era um jogo bem calmo. Estigarribia saiu e Quagliarella entrou. Para o fim do jogo, por volta dos 83, Lich acabou fazendo um gol contra ao tentar defender a bola. Storari não conseguiu chegar – e seria bem difícil que conseguisse – e a bola entrou. Era 2x1 e faltava uns 10 minutos para o jogo acabar.
Aos 88 minutos, Chiellini sentiu a coxa e foi substituído por Barzagli. Logo em seguida, em um lance dentro da pequena área, Borriello foi derrubado e o pênalti foi dado. Após isso, algo surpreendentemente aconteceu: os torcedores começaram a gritar o nome de Barza. Ele era o único jogador de linha a não fazer gol durante a temporada, principalmente agora depois do gol de Marrone. E eles queriam mudar isso.
O mais interessante era que Barza é defensor, ele não treinava faltas, pênaltis e afins, então todos estávamos muito interessados em ver isso e torcíamos para que ele acertasse, é claro. Ele se aproximou da área bem desajeitado, quase tímido, como era de seu estilo. O árbitro apitou e ele cobrou um lindíssimo pênalti, metendo no meio do gol. Todos os jogadores seguiram em sua direção e era clara a felicidade em seu rosto por isso. Um ano e meio de Juventus e seu primeiro gol. Em tempos normais seria ruim, mas tinha acertado, ele não fazia gols, mas boa parte das minhas clean sheets era por causa dele e do resto do BBC.
Logo após o pênalti, o jogo foi finalizado em 3x1 e estava na hora de comemorarmos.





Continua...



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