Capitolo treintadue
Quando o juiz apitou o fim do jogo, eu estava chorando como se meu coração tivesse sido tirado de mim. Na verdade, eu estava chorando desde os 28 minutos quando Alex fez seu último gol como bianconero. Aos 57 durante sua saída, as coisas pioraram, vê-lo ser ovacionado pelo estádio fez meu coração apertar de forma que nem Pavel e Trezeguet tinham feito. 19 anos de time, 705 jogos, 289 gols, eram marcas difíceis de bater. E quando os 92 minutos chegaram, eu senti orgulho.
Há um ano nós tínhamos feito uma aposta gigante. Nós do top cinco e os três capitães. Algumas medidas drásticas para tentar fazer o time voltar a crescer e, ver isso concretizado, trazia uma felicidade enorme dentro do meu peito. Tínhamos conseguido. Estávamos no topo novamente. Não tinha maior felicidade para mim.
- Não chora, ! – Ouvi a vozinha de Lou e ele passou as mãozinhas em meu rosto e eu suspirei, tocando meus lábios de sua cabeça.
- Ah, amore, está tudo bem.
- Por que tá chorando? – Ele perguntou. – Tá tristi?
- Não, amor. – Ri fracamente. – Eu estou feliz. – Suspirei.
- Pode chorar feliz? – Sorri.
- Pode sim. – Apertei-o em meus braços e vi Alena sorrindo algumas poltronas para o lado.
Dei um aceno de cabeça, me sentindo um tanto desconfortável com toda a situação, mas abanei a cabeça, suspirando. Não seria eu a contar para ela de toda a situação minha e de Gigi na semana passada e, pelo visto, Gigi também não tinha contado, pela forma que ela me abraçou lá embaixo e deixou Louis vir para meu colo com facilidade. Na verdade, uma parte dentro de mim não queria que ela soubesse, minha relação com Gigi acabaria ali e meu contato com meus bochechudos também.
Talvez pudesse fazer com que eu e Gigi finalmente ficássemos juntos, mas ainda assim era uma realidade difícil de imaginar. Sacudi a cabeça quando Agnelli veio me abraçar e segurei Louis próximo a minha barriga para abraçá-lo fortemente.
- Eu preciso descer, meu amor. Você vai junto, não vai? – Perguntei para Louis.
- Mamá! Podemos descer? – Ele gritou entre as pessoas e Alena veio em minha direção.
- Ah, me desculpa! – Ela falou.
- Não se preocupa, ele é um amor. – Falei, estalando um beijo em sua cabeça e acariciei a cabeça de Dado. – Eu preciso descer.
- Logo vamos também. – Ela sorriu. – Vamos deixar a ir trabalhar um pouquinho? – Ela perguntou para Louis.
- Só um pouquinho. – Ele falou e eu ri fracamente, estalando um beijo em sua bochecha.
- A gente se encontra no campo! – Falei, sorrindo. – Você também, Dado!
- Ok, aí eu vou ficar contigo um pouco. – O mais novo disse e eu sorri.
- Combinado! – Falei, esticando meu dedinho e ele fez o mesmo, juntando os nossos. – Até mais! – Disse para Alena.
- Até! – Ela sorriu.
Segui a passos rápidos para fora do camarote, alcançando o top antes de entrar no elevador e Pavel me abraçou pelos ombros. Não precisava falar nada, sabíamos que a palavra “conseguimos” passava na cabeça de todos. Todos éramos responsáveis por isso e ninguém precisava deixar isso claro, os sorrisos já diziam muito.
Assim que chegamos lá embaixo, a festa acontecia lá dentro. Não com champanhe e tudo molhado, mas eles gritavam e comemoravam como se a vitória fosse agora, não só a premiação. Dei uma rápida olhada em volta, a maioria dos jogadores finalizavam de se trocar para a premiação, mas só tinha duas pessoas que me interessava, e nenhuma delas era o goleiro de 34 anos que me encarava.
- Fabio! – Me aproximei do mesmo.
- Chefa! – O abracei fortemente, sentindo-o me tirar do chão e sorri.
- Eu te desejo todo sucesso na sua vida, ok?! – Falei firme, olhando em seus olhos.
- Obrigada, . – Ele sorriu.
- Se quiser um lugar aqui, pode falar comigo, ok?! – Ele assentiu com a cabeça.
- Vou começar fazendo os cursos de treinador, mas vamos nos falando. – Confirmei com a cabeça.
- Combinado! – Dei dois tapinhas em seus ombros, tentando conter a emoção da sua aposentadoria cedo de Grosso.
Ele tinha somente 34 anos, mas a decadência desde o auge no Mondiale 2006 havia sido bem duro com ele. Me aproximei do astro do dia que conversava com os outros dois vice-capitães e abracei Alex pelos ombros, apoiando minha cabeça em seu ombro e ele riu fracamente.
- Ei, não morre mais! – Ele disse e eu ri fracamente, vendo-o virar o rosto para mim.
- Por isso que minhas orelhas estão queimando, então. – Falei, rindo e me abaixei para abraçar meu, agora, antigo capitano.
- Ah, ! – Ele falou e eu suspirei, tentando puxar as lágrimas para dentro, mas elas insistiam em deslizar pela minha bochecha. – Eu vou sentir saudades.
- Eu também. – Suspirei, apertando mais minhas mãos em seu uniforme e ele bateu a mão em minhas costas.
- Você sempre vai ser bianconero, você sempre vai ser juventino, não se atreva a sumir, ok?! – Falei firme, erguendo o rosto para olhá-lo.
- Ainda vamos nos encontrar muito pela vida, . Isso você pode ter certeza. – Sorri e ele assentiu com a cabeça.
- Eu não estou preparada para dizer adeus para você. – Suspirei.
- Está na hora. – Ele disse e eu engoli em seco.
- Obrigada por tudo, capitano. – Ele sorriu.
- Eu não fiz nada. – Ri fracamente.
- Acredite, você fez mais do que imagina. – Ele me abraçou novamente, me obrigando a abaixar o rosto em seu ombro e suspirei.
- Pegue tudo o que eu te ensinei, então, e voe, . – Sorri. – Você merece e vai levar o time sempre avante.
- Espero que esteja certo. – Sorri, sentindo-o acariciar meu rosto e rimos juntos. – Allora, andiamo, é dia de festa! – Sorri.
- Pare de chorar, então. – Rimos juntos e estalei um beijo em sua bochecha.
- Andiamo! – Sorri, soltando-o e passei as mãos abaixo de meus olhos. – O que estavam falando de mim? – Virei para Gigi e Chiello.
- Alex estava dizendo que agora é com a gente! – Gigi disse e eu suspirei.
- Não estou feliz com esse papo. – Disse, ouvindo-o rir fracamente.
- Eu disse a mesma coisa. – Chiello disse e suspirei.
- Vocês sabem o próximo passo agora, ragazzi... – Falei, pressionando os lábios um no outro.
- Vincere, vincere, vincere... – Os três disseram juntos e rimos fracamente.
- Ainda temos mais um na semana que vem. – Falei para Alex.
- Pena que não estarei com vocês para acompanhar. – Gigi disse.
- Já vai se encontrar com a Nazionale? – Perguntei no automático.
- Sim, vou mais cedo para fazer alguns treinos extras...
- Ah sim. – Assenti com a cabeça no automático. – Beh, o resto tem alguns compromissos ainda, mas imagino já quem será convocado também.
- Quem? – Chiello perguntou.
- Todos os meus defensores para começar. – Falei, cruzando os braços. – Temos a melhor defesa do campeonato, Prandelli vai usar o BBC na Itália, pode ter certeza. – Eles sorriram. – E talvez nossos meias... Não sei sobre ataque, mas apostaria no Quagliarella se fosse apostar em alguém. – Dei de ombros.
- Quem sabe? – Alex disse, rindo.
- Adiamo, ragazzi! – O organizador falou para eles.
- Eu encontro vocês lá fora! Agnelli vai falar alguma coisa! – Falei, abanando a mão.
- Vai lá! – Eles disseram e dei mais um rápido abraço em Alex, ouvindo-o rir e soltei-o rapidamente, seguindo para fora do vestiário.
Passei por Matri e Quagliarella que me interceptaram e eu ri fracamente, abraçando ambos rapidamente e segui para fora do vestiário, andando pelo corredor, já me surpreendendo com os familiares se colocando na lateral do campo e ao palco da premiação quase completo.
Agnelli fez um rápido discurso agradecendo a todos por essa vitória. Aos fãs, aos administrativos, ao top cinco e toda equipe de conselheiros, a equipe técnica, aos jogadores, aos familiares, a Alex por todos os anos de time, a Gigi por ter sido o capitão em campo devido a poucas presenças de Alex, e a todos os que tiveram alguma relação com o time esse ano.
- Scusa! Scusa! – Falei para algumas esposas.
- ! – Sonia me viu e eu sorri.
- Ah, Sonia! – A abracei fortemente, tomando cuidado com o pequeno Sasha de somente dois anos em seu colo e ela me apertou com o braço livre.
- Eu vou sentir tanta sua falta. – Ela disse e eu sorri.
- Eu também. – Suspirei. – Obrigada por todos esses anos. Foi incrível ter vocês por perto.
- Eu também. Foi incrível te ver crescer diante dos meus olhos. – Sorri, rindo fracamente. – Me prometa que vá ser feliz, com ou sem um homem... – Ela reduziu o tom de voz na última frase e eu ri fracamente, pensando se ela sabia sobre semana passada.
- Pode deixar. Minha vida é esse time, vou fazê-lo crescer novamente. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Bom! – Ela disse, rindo fracamente.
- Alex já sabe o que vai fazer? – Perguntei baixo.
- Ele vai falar contigo nessa semana. – Assenti com a cabeça, vendo o aceno dos organizadores para a entrada. – Bom, deixa eu ir, nos falamos depois?
- Sim, o dia só começou agora! – Ela disse e rimos juntas.
Segui mais para o centro do campo, sendo parada por outras esposas, a maioria que eu havia conhecido rapidamente na festa de Natal do time, mas eu não tinha intimidade com nenhuma, da mesma forma que eu tinha com Sonia e as esposas de Trezeguet, Pavel, Fabio e Lilian. Gigi e Chiello eram mais próximos de Marchisio, Bonucci, Barzagli, Storari, Lichtsteiner e Pirlo, então eu acabava conhecendo Roby, Martina, Maddalena, Veronica, Manuela e Deborah, respectivamente, além de Alena e Carolina, mas eu não tinha a mesma intimidade com elas, do que com Sonia, Beatrice, Ivana, Karine, Danielle e outras, talvez para brincar com seus filhos, mas só.
- ! – Louis gritou por mim novamente e passei as mãos na cabeça dele e de Dado e mandei um rápido beijo para as esposas que estavam em volta. Eu precisava trabalhar um pouco antes de me divertir com o filho dos outros.
Me coloquei entrei Pavel e Paratici no mesmo momento em que o troféu começou a entrar no time com aquelas lindas modelos e, com a penca de fotógrafos ao lado, sabia que estava com todas as lentes viradas para mim, ser uma mulher comandando um time de futebol não era fácil. Cumprimentei o prefeito da cidade, o presidente da FIGC, da Lega Serie A, além de todos os Agnelli e Elkann que eu vi na minha frente e aproveitei para brincar com algumas crianças ali em volta.
- Signori e signore, começamos a cerimônia de premiação de entrega da Copa Campione Dell’Italia Serie A Tim 2011/2012. – O narrador falou.
As crianças representando os 20 times do campeonato entraram e, logo depois, as mulheres com as medalhas e o troféu. Foi inevitável não sorrir, era nosso finalmente! O presidente da Lega e da Federazione entraram, ocupando seu lugar e era hora dos jogadores.
- Signori e signore, o time vencedor da Serie A Tim 2011/2012, a Juventus... – O narrador falava e Gigi foi o primeiro a se colocar no arco feito para a entrada e foi inevitável não sorrir. Sempre era inevitável, na verdade. – O campeão da Itália com a número um, Gianluigi...
- BUFFON! – As arquibancadas gritaram e Gigi correm em direção ao palco, cumprimentando as crianças ali em volta e eu sorri, vendo-o receber sua medalha e ser o primeiro a se colocar no palco.
Chiellini veio logo atrás, devagar devido a lesão no jogo que acabou de acontecer. E assim se seguiu pelos números da camisa: Cáceres, quatro. Grosso, seis. Pepe, sete. Marchisio, oito. De Ceglie, 11. Manninger,13, que sairia para a próxima temporada. Vucinic, 14. Barzagli, 15, que havia acabado de fazer um gol no jogo. Elia, 17. Quagliarella, 18. Bonucci, 19. Pepe, 20. Pirlo, 21. Vidal, 22. Borriello, 23. Giaccherini, 24. Lichtsteiner, 26. Krasic, 27. Estigarribia, 28. Storari, 30. Matri, 32. Marrone, 34.
Logo em seguida veio o staff técnico, Angelo Alessio, Cristian Stellini, Massimo Carrera, Paolo Bertelli, Claudio Filippi, além dos auxiliares. Conte veio logo em seguida, fazendo o estádio inteiro gritar por ele mais uma vez. É, Conte. Você havia feito sucesso como jogador, saindo há oito anos, mas agora tinha conseguido mais uma vez como treinador.
Alex foi o último a entrar, com a faixa de capitão da Juventus pela última vez na sua vida. Foi inevitável não sorrir e chorar quando isso aconteceu. Ele desviou de seu caminho para dar um beijo em Sonia e seguiu para o palco para receber o troféu. Levei a mão no peito quando ele a tocou e os fogos e papéis picados estouraram para o alto enquanto os jogadores e equipe técnica pulavam e gritavam. Gigi foi o primeiro a subir ao lado de Del Piero para pegar o troféu.
Foi como se a faixa fosse passada.
Era isso, agora eu tinha mais um capitão para pedir conselhos e ajuda. Era bom de uma parte, mas sei que poderia ser incrivelmente perigoso.
Storia di un grande amore começou a tocar quando eles desceram do palco, fazendo a letra passar pelos meus lábios como chiclete e eles tiraram a foto na frente da placa. Vucinic abriu o champanhe e a festa realmente começou. Os filhos e familiares invadiram o campo e eu só consegui suspirar por tudo.
O cansaço de um trabalho bem-feito me atingiu, mas também doeu ver Gigi abraçar Alena e seus meninos como se fosse a coisa mais normal do mundo. Beh, é a coisa mais normal do mundo, mas ele era um filho da puta que aproveitou de uma situação para ficar comigo. Eu queria matá-lo. Mais uma vez, eu só conseguia pensar nisso. Abanei a cabeça quando aquela quantidade de mulher e filhos começou a se aproximar e aquilo iria acabar com a minha sanidade de sonhar em ser mãe e meus problemas com o Gigi rapidamente.
Suspirei ao ver todos os jogadores com suas parceiras, esposas ou namoradas e neguei com a cabeça. Precisava colocar a cabeça no lugar, precisava de Giulia, precisava de um ótimo uísque e, talvez, eu conseguisse fazer tudo se ajeitar.
- Ei, chefa! - Virei para o lado, vendo Quagliarella com o prêmio em suas mãos. – Não vai tentar fugir, vai? – Ri fracamente.
- Tenho muito para fazer ainda. – Inventei qualquer coisa.
- Hoje não. É dia de festa, se esqueceu? – Ele sorriu e eu retribuí. – Vem! Isso é seu também! – Ele disse, estendendo o prêmio e ri fracamente, me aproximando dele.
- Grazie. – Sorri, pegando o prêmio de suas mãos e ele deu um beijo em minha bochecha, me fazendo rir fracamente.
Observei a inscrição no prêmio e a felicidade e a emoção tomaram conta de mim com um sorriso e uma lágrima discreta e eu só consegui suspirar. Na verdade, eu consegui rir também, pois alguns jogadores se colocaram à minha volta e começaram a me abraçar, a gritar e a pular, sendo impossível eu querer estar em outro lugar senão ali. Com a minha família, com o meu time, com a minha Juve.
Eu não sabia quantas vezes eu já tinha me trocado hoje, mas ainda conseguia contar dois banhos e imaginava que teria um terceiro lá pela madrugada. Eu também estava perdido um pouco no tempo, acho que era por volta de sete ou oito da noite, era possível ver a claridade pelas janelas que davam para fora do banheiro do vestiário.
A festa lá fora acabou durando mais pela quantidade de familiares que estavam lá e pela empolgação dos fãs, sabíamos que o dia demoraria para acabar, então tínhamos que guardar um pouco de energia. Ainda tinha a comemoração nas ruas e a festa, então só Deus sabe que horas isso acabaria.
Quando entramos, as conversas e risadas se misturaram com o fotógrafo do time que queria tirar mais algumas fotos da nossa bagunça. Aproveitei a oportunidade para tirar mais fotos com mio capitano, as últimas nossas como companheiros de equipe. Agora o que ficava, era a braçadeira, dada para mim logo que entramos. De forma tão simples e quase desleixada, mas que eu guardaria para o resto da vida.
Um longo abraço, algumas lágrimas e aquele sorriso confiante que só Alessandro Del Piero podia dar, finalizaram sua jornada como 19 anos de bianconero. Fiz questão de guardar muito bem a braçadeira, era um dos presentes com mais significado que eu havia ganhado na vida e tinha vários.
Após sair do banho e me arrumar com o uniforme de passeio da Juventus, acabei me juntando ao pessoal que organizava as bebidas, buzinas e apetrechos que levaríamos para nosso pequeno passeio pela cidade com nossos fãs. Claro que as bebidas eram o mais requisitado.
Da garagem do estádio, por onde entrávamos e saíamos de jogos com o ônibus do time, já era possível ouvir os gritos da torcida do lado de fora e os câmeras estavam animados por alguma imagem mais privilegiada de toda a comemoração. Apesar que eu já estava levemente bêbado de todo o champanhe e de todos os acontecimentos, mas penso que minha única preocupação era cair ou não do ônibus.
- Será que temos o suficiente? – Bonucci perguntou.
- É para beber, não entrar em coma alcóolico. – Alex falou, nos fazendo rir.
- ALEX! ACHEI! – Viramos o rosto para o lado automaticamente e vi Marchisio abraçando os ombros de , que tentava afastá-lo de todos os jeitos, mas ele a apertava mais pelo pescoço. Pareciam duas crianças.
- Me solta, Claudio! – Ela falava, rindo fracamente e ambos tropeçaram, fazendo os óculos de sol dela ir para o chão. – Agora pega, vai! – Ela disse e Claudio o fez, entregando para ela.
Ela prendeu os óculos na gola da camiseta preta que usava e soltou seus cabelos de 10 anos atrás. – Falei e ela riu fracamente, virando o corpo em minha direção, mostrando um largo sorriso. – Muito mudou, não? – Ela comentou.
- Não acho! – Falei, sorrindo. – Prefiro assim, na verdade. – Ela pressionou os lábios, se virando novamente.
- Chefa! – Cáceres pulou em suas costas.
- Ah, cazzo! – Ela o empurrou para trás, se virando para dar alguns tapas em seus braços, fazendo-o sair correndo e rindo. – Sai daqui! – Ela disse.
- Vai com a gente, chefa? – Vidal perguntou, tentando recuperar o equilíbrio quando Cáceres passou por ele.
- É claro! – Ela sorriu.
- ! – Alex a chamou. – Vem cá! – Ela voltou alguns passos para trás, se colocando entre mim e Alex.
- Diga! – Ela falou, apoiando o cotovelo em meu ombro e franzi a testa, vendo-a levemente na ponta dos pés.
- Você é importante agora, não? – Ele perguntou e foi a vez de ela franzir os olhos.
- Não gostei de como isso começou. – Ela disse. – Mas sim, top três, da última vez que eu chequei.
- Você contrata essa galera, não?
- Ah, tem três nessa roda que eu não contratei, mas sim, contratei metade desse time, mais ou menos ... – Rimos juntos.
- Acho que seria legal você manter uma coleção. – Alex esticou uma caixa para ele, ela era pequena coisa de 15x15 e baixa, não mais do que isso.
- O que é isso, Alex? – Ela perguntou.
- Abra. – Ele disse, mantendo a caixa em sua mão.
- Se alguma coisa pular daqui... – Rimos juntos e parei de dobrar os joelhos quando ela tirou o apoio de meu ombro e não precisei mais compensar a altura.
- Vai, , por 11 anos de amizade. – Alex disse, fazendo-a rir e ela abriu a caixa, um cartão ocupava boa parte da caixa e abaixo dele tinha uma braçadeira de capitão e uma camisa dele.
- Ah, Alex. – Ela sorriu, pegando o cartão e consegui ler o escrito. “Colecionamos muitos momentos e memórias, está na hora de você começar a colecionar algo com o mesmo peso para não sentir tanta falta. Alex.” – Não vai compensar nunca. – Ela disse, abraçando-o e ele ergueu a caixa para abraçá-la direito.
- Qualquer coisa você pode vender e usar o dinheiro para algo. – Eles riram juntos.
- A última coisa que eu preciso me preocupar hoje é dinheiro, capitano. – Pressionei os lábios, feliz por essa mudança, isso já tinha sido um grande problema para ela um dia. – Eu agradeço muito o presente. Agora já sabem, quero camisa de todo mundo! – Rimos juntos e Alex deu mais um beijo em sua bochecha.
- Andiamo! – Ele disse, sorrindo.
- Logo vou. – Ela disse, pegando a caixa de minha mão fechando tudo novamente e seguiu pelo estacionamento até seu carro.
- Andiamo, ragazzi! – Vucinic gritou já de cima do ônibus e rimos, seguindo para dentro do ônibus.
Deixei a caixa em minha mão no canto do ônibus, colocando as cervejas dentro do cooler junto de Chiello e Alex. O resto do pessoal começou a entrar e , Pavel, Paratici e Beppe finalizaram a entrada. se apoiou na frente do ônibus junto do top quatro e da equipe técnica, abraçando e sendo abraçada por Conte e Filippi e logo saímos do estádio.
Os torcedores já estavam amontoados na saída do estádio com bandeiras e sinalizadores, gritando por nós. Era uma sensação boa demais. Saímos pela avenida do estádio, seguindo para o centro da cidade e, assim que nos aproximamos, encontramos as pessoas, além dos gritos, buzinadas, pessoas nos acompanhando a pé, de moto ou bicicletas.
Nunca tinha visto a cidade tão apinhada dessa forma. Era quase impossível passar pelas ruas de Turim, o ônibus mal conseguia andar com o mar de pessoas à nossa volta. Nós sacudíamos banheiras, erguíamos o troféu, subíamos nas quinas do ônibus, tirávamos fotos e fazíamos vídeos e tentávamos corresponder a mesma empolgação do pessoal.
O dia virou noite, a vontade de mijar surgiu e comecei a perder noção de quanto tempo estávamos na rua, imaginava que ficaríamos uma ou duas horas, no máximo, mas meu relógio marcava quase 23 horas e estávamos parados fazia um bom tempo no meio da Piazza San Carlo. Não tinha por onde passar e nem como passar. Os torcedores cantavam empolgados ainda, mas nós já estávamos começando a cansar, muitos já tinham se ajoelhado no chão, outros se apoiavam na beirada e alguns já tinham se sentado no teto do ônibus.
Passei os olhos pelo pessoal e vi inclinada para frente no fundo do ônibus, com os cotovelos apoiados na quina e engoli em seco. Eu não tinha nada para falar com ela, nem achava que deveria falar algo, na verdade, sabia que agora ela deveria estar me odiando novamente, mas eu não conseguia ficar longe dela, não queria, além de que era um momento para aproveitarmos juntos, não? Tínhamos vencido um scudetto, conseguido trazer o time de volta à elite do futebol italiano, e tudo isso por um plano ousado dela e de todo o top cinco.
Desci do banco que eu estava, desviando de algumas pessoas e fui até o cooler, pegando duas cervejas e me aproximei dela, apoiando um braço ao seu lado, abrindo espaço com Filippi ao meu lado que entendeu o recado, se afastando para o lado.
- Cerveja? – Perguntei, esticando a garrafa para ela e seu olhar encontrou com o meu, pegando-a.
- Grazie. – Ela disse, girando a tampa, jogando-a para dentro do ônibus e deu um curto gole nela, voltando a sua posição.
- Achei que seria uma volta rápida. – Falei, inclinando meu corpo ao seu lado, ouvindo-a rir fracamente.
- Eu também. – Ela disse. – A festa estava programada para começar as dez lá na boate.
- Ainda vai ter?
- Vai, não é?! – Ela deu de ombros. – As pessoas já estão lá, faltam só os protagonistas agora.
- Em um momento a gente chega. – Falei e ela riu.
- Eu gostaria de tomar um banho e me arrumar antes de ir. – Ela suspirou. – Acho que não vai dar. – Ela bebeu mais um gole da cerveja.
- Eu quero mijar...
- Ah, Gigi! – Ela riu fracamente.
- O quê? – Perguntei.
- É uma expressão horrível. – Sorri.
- Ok, quero fazer xixi... – Ela se virou para mim.
- É, não fica legal. – Sorrimos juntos e apoiei o cotovelo na quina, virando para ela.
- Como você está? – Perguntei.
- É melhor você não ficar perto de mim, Gigi. – Ela disse e franzi os lábios.
- Por quê?
- Você sabe por quê! – Ela falou firme, virando o rosto para mim. – Você fez sua escolha, agora eu vou fazer a minha.
- O que isso quer dizer, ? – Perguntei, virando ao seu lado novamente, apoiando o outro braço na quina.
- Eu vou me escolher agora, Gigi. – Ela pressionou os lábios, passando a unha no vidro. – Eu tentei isso há seis anos e, bem ou mal, acabou dando certo, então... – Ela deu de ombros. – Vou começar de novo. – Ela levou a garrafa à boca novamente.
- E sobre nó... – Suspirei, pressionando os olhos rapidamente. – Nossa amizade?
- Eu ainda vou estar aqui. – Ela deu um pequeno sorriso. – Com uma maior distância. – Suspirei, assentindo com a cabeça.
- Eu quero falar contigo, te explicar o que houve, eu não consegui fazer isso ainda e...
- E nem vai! – Ela se virou, apoiando o corpo para o meu lado. – Você não entende, Gigi? Se isso que temos entre nós fosse realmente acontecer, nada te impediria, mas algo te impede, então não tem o que fazer. – Ela suspirou.
- Eu tenho família, . Eu... – Me aproximei dela e ela ergueu uma mão para minha barriga. – Não é fácil. – Falei.
- Eu não estou exigindo nada de você, como nunca exigi, mas eu preciso pensar em mim e eu não quero viver nisso pelo resto da minha vida. – Ela suspirou. – Preciso valorizar meu coração e minha sanidade.
- E se isso te fizer ficar longe de mim? – Perguntei.
- Eu vou. – Ela falou rapidamente. – Nossa relação vai ser estritamente profissional. Pelo menos eu vou tentar...
- Mas eu gosto do seu apoio e das suas palavras e...
- Não apresse as coisas, Gigi. Isso não é para sempre. Agora eu preciso me valorizar. – Ela pressionou os lábios. – Talvez possamos ser amigos um dia, sem toda tensão que acontece em volta.
- Não acho que seja possível, eu e você temos algo que...
- Não mais. – Ela negou com a cabeça. – Não pode ter. – Ela suspirou. – Se não vamos ter, não pode ter, certo? – Ela colocou uma mecha que escapou de seu rabo de cavalo para trás novamente.
- Não, eu...
- É a minha vida, Gigi. Eu escolho dessa forma. – Ela pressionou os lábios. – E só um detalhe, quem insiste em falar que tem responsabilidade com uma família é você, não eu. Então, por que você está me pressionando nisso? – Ela virou para mim. – Eu sou solteira e vou viver minha vida dessa forma. – Ela pressionou os lábios em um sorriso. – Talvez começando por Quagliarella.
- Você não faria...
- Por que não? Eu sou solteira, ele também, ele gosta de mim, além de que é bonito e simpático. – Ela deu um sorriso debochado. – Se você não quer viver sua vida comigo, não me impeça de viver com os outros. – Ela se aproximou de mim. – Eu não sou e nunca serei amante, sua e de ninguém. – Ela disse firme, com a raiva clara em seu olhar e se afastou de mim, seguindo para frente do ônibus.
Acompanhei-a chegar em Quagliarella e Matri que ainda gritavam animados na beirada do ônibus e o primeiro passou o braço em seu ombro, fazendo-a pular com ele. Abri a garrafa com pressa, virando-a quase inteira na boca e bufei, abaixando-a logo em seguida.
Eu não queria dizer isso, eu não sugeri isso em nenhum momento, eu só não queria perdê-la de minha vida. Era tão difícil de entender? Eu sou burro! Burro! Burro!
Um passeio que era para demorar uma ou duas horas, acabou demorando seis! VOCÊ SABE O QUE É ISSO? Eu já estava enrolando minhas pernas e aposto que já tinha deixado escapar um pouco de xixi. Agradeço muito ao apoio dos torcedores por fazer nossa festa ser incrível, mas éramos para ter chegado até as oito da noite de volta no estádio, ido para casa, se arrumado para a festa que começaria as dez, mas não. Já passava da meia-noite e ônibus estava entrando no estádio ainda.
Ele podia parar no local da festa, mas o OGR ficava à dois quilômetros e meio da Piazza San Carlo, ou seja, a rua na frente dele também estaria apinhada de torcedores. Precisávamos despistar eles um pouco para que os jogadores conseguissem entrar no local. Depois de toda bagunça no ônibus, bebida e molhaceira que essas crianças fizeram com cerveja, eu já estava pronta para ir para casa, tomar um banho e dormir, honestamente, mas fazer parte do top cinco tinha essas desvantagens.
Assim que o ônibus parou no estádio, todos, sem exceção, saíram correndo atrás de um banheiro, eu fui logo atrás também, mas enquanto eles se matavam no vestiário deles, eu fui no vestiário do visitante que estava vazio. Sabe o que é você segurar o xixi por seis horas? Nunca tentem isso, não é uma situação boa.
Depois de bons 10 minutos trancada na cabine, eu saí e vi um pessoal se matando por uma cabine, Borriello entrou na minha com pressa e fechou a porta, me fazendo rir. Parei ao lado de Padoin na pia e aproveitei para tentar dar um jeito em meu corpo. Passei bastante água no rosto, tirando o pouco que restava de maquiagem em meu rosto depois de suor e bebida e passei papel toalha entre meus seios e barriga, dando uma cotovelada em Padoin quando ele me espiou pelo espelho, nos fazendo rir juntos.
Livrei a pia para outros e segui de volta para o vestiário do time, desviando de algumas pessoas e peguei minha mochila na sala do treinador, onde tínhamos um armário para cada um. Peguei a minha de volta, dando uma espiada dentro do banheiro da sala dele e as cabines estavam ocupadas, voltei para o banheiro principal, ignorando Gigi, que me encarou do espelho e entrei em um chuveiro, fechando o box.
Tirei a calça e a blusa úmidas e coloquei novamente a saia do jogo, a blusa de uniforme rosa e os saltos novamente. Meus calcanhares estavam latejando, mas seria fácil arranjar um esparadrapo para isso. Saí do banheiro, desviando de Marchisio e Barzagli e voltei para a pia, escolhendo a mais longe de Gigi possível.
Eu podia quase borbulhar de raiva pelo que ele me falou mais cedo. Como ele quer que eu pare minha vida por causa dele? Ele que está todo pai de família, mas também foi ele que traiu a esposa e os filhos. Eu gosto muito dele, mas eu não vou ser amante! Só espero encontrar alguém o mais rápido possível para me fazer relaxar!
Ah! Dava vontade de pegar a cara dele e dar com tudo nesse espelho.
Sacudi a cabeça com meus pensamentos, desviando meu olhar do seu no espelho e soltei meus cabelos, ajeitando em um novo rabo de cavalo e enrolei a ponta para manter as ondas dele. Peguei minha necessaire, passando novamente lápis, rímel e um batom vermelho, escolha óbvia para aquele momento. Retoquei o desodorante por baixo da blusa, o perfume e saí sem dizer uma palavra, voltando para o vestiário.
- Quem tem um esparadrapo para me emprestar? – Gritei na divisão para o vestiário.
- Chefa! – Storari chamou minha atenção, jogando-o.
- Já devolvo! – Falei e segui para a sala intermediária.
Me sentei nas escadas que davam para as banheiras e tirei os saltos, sentindo um alívio passar pelo pé. Coloquei o esparadrapo no calcanhar e no dedão que tinha formado uma bolha e logo calcei os sapatos novamente, sentindo o pé latejar. Me levantei novamente e suspirei, fazendo uma careta. Voltei para o vestiário, devolvendo o esparadrapo para Storari e me aproximei do top quatro.
- Pronta?
- Sim, fiz o melhor que pude. – Falei para Paratici.
- Vamos ter que levar o pessoal, não dá tempo de eles voltarem para Vinovo, vai atrasar mais ainda.
- Posso levar quatro. – Falei.
- Alguns já foram para o estacionamento, veja quem está lá e vamos. – Beppe falou.
- Vamos, então. – Falei, seguindo pelos corredores com o pessoal até o estacionamento, encontrando um pessoal já perdido por ali.
- Quatro com cada um de nós! Vamos! – Pavel falou e segui até o carro, abrindo o porta-malas e coloquei a mochila no local e virei para ver quem vinha junto.
- Sai! Sai! – Bonucci e Marchisio quase se estapeavam para ver quem entraria no meu carro.
- EI! Organiza aí! – Falei.
- Eles estão se matando à toa. – Barzagli falou.
- É, dá para ver. – Neguei com a cabeça. – Barza, Pirlo, Lich, podem entrar. – Eles riram fracamente, colocando as mochilas dentro do carro e observei os dois mais novos tentando se matar. – OH! – Gritei para ambos, vendo-os olharem para mim. – Se um topar de ir no colo do outro, cabem os dois.
- Nem a pau! – Eles falaram juntos e eu ri fracamente.
- Andiamo, Leo! – Pavel gritou e ele bufou, seguindo para o carro do outro, me fazendo rir. Abaixei o porta-malas e segui para dentro do carro, puxando o cinto de segurança.
- Vamos, gente! – Liguei o carro. – Apesar de que eu topava ir para cama.
- Eu também. – Barzagli falou.
- Não curtem festas? – Marchisio perguntou.
- Até curto, mas estou em pé desde as seis da manhã, gente. – Falei, rindo fracamente. – O corpo começa a reclamar.
- Desde as seis? Para que tão cedo? – Pirlo perguntou.
- Finalizar de arrumar as coisas... – Ri fracamente. – Esses últimos dias foram complicados. – Suspirei.
- Agora pode descansar. – Lich disse.
- Não muito. – Ri fracamente. – Precisamos começar a preparar a próxima temporada já, finalizar algumas partes dessa e começar a próxima. – Suspirei.
- Você não para, não? – Barza me perguntou ao meu lado.
- Pouco. – Falei, rindo juntos. – A pré-temporada vai começar lá pelo dia 15, 16 de julho, e já temos que saber onde, com qual time, onde vocês vão ficar, que jogadores vamos ter de volta ou sairão... – Ri fracamente. – Talvez eu tenha umas duas semanas de folga, com o telefone comercial junto.
- Cazzo! – Marchisio disse.
- Você vai ao meu casamento, não vai? – Barzagli perguntou e eu fiz uma careta.
- Ah, qual é, chefa! – Eles falaram juntos e Marchisio empurrou meu ombro.
- Quando é mesmo? – Virei o rosto para Barzagli ao meu lado.
- Dia 13 de julho. – Ri fracamente.
- Acho que não. – Suspirei. – Eu te mando um presente. – Falei para ele.
- A chefa não vai que ela vai ficar bêbada e pagar mico. – Lich disse e eu ri fracamente.
- Ah, depois da semana passada, nada mais me abala. – Eles riram juntos.
- Você fala de boa disso, não? – Pirlo perguntou.
- Por que diz isso? – Olhei para ele pelo espelho.
- Ah, sei lá, pela situação e pela história de vocês dois, ele contou meio por cima e a gente acaba juntando alguns pontos aqui e ali.
- Apesar de transar no vestiário e vocês ouvirem, todos somos adultos para saber o que aconteceu lá. Então não tem por que eu ter vergonha. – Falei, séria. – E sobre mim e ele, eu não tenho o que falar sobre, nossa história é longa e complicada até para nós dois, mas, agora, eu estou solteira e ele não, foi um erro, mas eu não tenho que ficar me responsabilizando por isso. – Dei de ombros. – E nem vou esperar por ele.
- Aposto que o Matri ou o Quagliarella adorariam uma chance contigo. – Marchisio disse, me fazendo rir fracamente.
- Acho que chega de jogadores para mim, Claudio. – Falei e eles riram juntos.
- Legal que você leva isso bem. – Barzagli disse.
- Eu não tenho família, Barza, perdi meus pais aos oito anos, então fico encontrando famílias por onde passo, e vocês são minha família, então... Não tem por que eu ter vergonha. – Dei de ombros e deixei um curto sorriso sair de meus lábios.
- Isso aí, chefa! – Marchisio disse, me fazendo rir.
- Vocês poderiam variar um pouco e me chamar de também, agradeceria.
- Fechado! – Eles riram juntos.
Pouco depois nós chegamos ao OGR e até tinha alguns torcedores acumulados na porta, mas consegui passar pelos seguranças com minha identificação e entramos pelo estacionamento. Nós cinco entramos lado a lado e eu fiquei abismada pelo tamanho do local, só tinha vindo ali para a formatura da Giulia – nossa, na verdade – e o local era realmente gigantesco.
Nos separamos e fui cumprimentar Agnelli, além de toda sua família, os Elkann, aquela galera de sempre. Todos comentaram sobre a demora e só consegui rir e dar aquela básica desculpa de que os torcedores estavam empolgados por essa conquista após seis anos. Afinal, quem os culpa, não?! O cansaço físico quase matava, mas mentalmente eu estava muito empolgada com tudo. Feliz pela nossa conquista pessoal.
Quando consegui me desviar do pessoal, a maioria dos jogadores já tinha chegado, então o foco voltou a ser eles, pela minha felicidade. Felicidade, pois eu poderia colocar algo no meu estômago além de bebida. Minha última refeição tinha sido um almoço adiantado as 11 horas. Eu comi uma baguete quase inteira na primeira mordida, mas meu suspiro de felicidade me mostrava que não precisava me importar com isso.
- Te achei! – Me assustei com o aperto em minha cintura e me virei rapidamente.
- GIULIA! – A abracei fortemente, dividindo entre segurá-la e segurar meu lanche. – Você está aqui!
- Você me convidou. – Ela falou, rindo fracamente.
- Eu não te convidei.
- Como imprensa. – Ela esticou o crachá.
- Ah, a Angela te convidou. – Falei, ouvindo-a rir. – Ah, mas que bom ter você aqui, tenho tanto para te contar. – Suspirei, colocando o resto do lanche na boca.
- Eu quero te parabenizar tanto, minha amiga! – Ela me apertou de novo, me fazendo rir com a boca cheia. – Vocês conseguiram!
- Ah, nem fala! – Falei baixo, engolindo logo em seguida. – É bom ver que o trabalho compensou. – Suspirei.
- Mas e aí? O que quer me contar? – Ela perguntou, me fazendo rir fracamente.
- É isso? Só um abraço e um parabéns?
- Quer mais? – Ela me abraçou de novo, me fazendo rir. – Uh, você está cheirando cerveja.
- Seis horas com 40 homens gritando, comemorando e jogando cerveja para cima. – Rimos juntas.
- É, te entendo! – Ela passou o braço pelos meus ombros. – Agora conta as novidades. – Suspirei.
- Ah, nem sei por onde começar, vem cá. – Falei, puxando-a pela mão, tentando me afastar da muvuca para um lugar menos minado.
- Olha, o Gigi... – Ela disse quando ele passou em nossa frente.
- Não! – Falei firme, puxando-a mais rápido.
- Ei, o que foi? Eu só ia dizer... – Empurrei-a para fora do salão, dando no jardim do lado de fora. – Você não era tão violenta assim.
- Sem falar com o Gigi, ok?! – Falei firme.
- Ah, agora vocês estão bravos um com o outro de novo? Vocês estavam bem da última vez que eu te vi. – Ela bufou. – O que aconteceu agora?
- Hum, por onde eu começo? – Fingi pensar, dando uma olhada em volta para ver se realmente não tinha ninguém por perto. – Dormimos juntos.
- O QUÊ? – Ela gritou e coloquei a mão em sua boca rapidamente, ouvindo somente seus resmungos.
- Você precisa ficar quieta. – Falei firme, olhando em seus olhos. – Você vai ficar quieta?
- Uhum... – Ela disse e eu tirei as mãos devagar. – COMO ISSO ACONTECEU, ? – Ela gritou e dei um tapa em seu ombro. – Ai, cazzo! Você tem muito o que explicar, começa a falar. Quando isso aconteceu? Como? Onde? Você não ficou depressiva por mais alguma coisa que eu não sei, ficou?
- Não! – Falei firme. – Foi semana passada, em Trieste, no vestiário depois do jogo.
- Oi?! – Ela abriu a boca em um perfeito “o”, seu rosto entre surpresa e um largo sorriso. – e Gigi transaram no vestiário de um estádio? – Ela falou baixo, olhando em volta.
- Podemos não citar o nome dele? Todo mundo está aqui!
- Ok, não vou, mas como isso aconteceu?
- Quando fui para Palermo ele já tentou me beijar, mas eu parei...
- O quê? – Revirei os olhos.
- Se você continuar me perguntando, não vou terminar nunca.
- Ok, fala. – Ela disse.
- Eu parei, mas aí em Triste, estávamos felizes, ele me abraçou, aí ele me prensou contra a pia e rolou. – Suspirei.
- E nenhum dos dois pensou em parar? – Ela perguntou.
- Várias vezes, mas é ele, Giulia. Foi bom demais. – Suspirei. – Aí depois brigamos que não deveríamos ter feito aquilo e que não estávamos juntos por causa dele, eu dei um tapa na cara dele e... – Suspirei.
- E? – Ela aproximou o rosto do meu.
- Transamos de novo. – Falei baixo.
- ! – Ela disse, surpresa, rindo logo em seguida.
- Era quase um passe livre, Giulia, eu não queria, mas eu não tive como resistir, eu me atraio para ele como um ímã, sei lá. – Neguei com a cabeça. – Sei que fiz errado, mas foi bom.
- E aí? Como você está? – Suspirei.
- Tentando não me apaixonar de novo. – Engoli em seco.
- Mas e ele? Não fez nada? Não vai terminar com a esposa? Vocês vão viver felizes para sempre, não? – Revirei os olhos.
- Você realmente acha isso? Ele não terminou com ela quando ela estava grávida, imagina agora com seis anos de relacionamento, dois filhos, um ano de casado... – Suspirei. – Vai ser como se nunca tivesse conhecido.
- Ah, . – Ela fechou o sorriso.
- E sabe o que mais me deixa irritada? É óbvio que ele gosta de mim, ele fala como se realmente quisesse fazer acontecer, mas não se mexesse para fazer isso. – Bufei. – Agora no ônibus só faltou ele sugerir para gente ir ficando e ver no que ia dar.
- Ser amante? – Ela franziu a testa.
- É, tipo isso. – Suspirei.
- E o que você disse?
- Disse que isso nunca ia acontecer e fui fazer ciúmes nele com o Quagliarella.
- Hum, ele é gatinho. – Rimos juntas.
- Foca, Giulia. – Bati as mãos em frente a seu rosto. – Não posso entrar nessa de novo, por favor. Eu não posso. – Suspirei. – Foram seis anos de luta, não posso voltar à estaca zero.
- Ah, minha amiga, queria muito mandar no seu coração, mas é difícil. – Suspirei.
- Eu sei. – Neguei com a cabeça. – Mas eu tenho a fórmula perfeita para curar isso.
- Qual? – Ela franziu a testa.
- Eu preciso de uísque e um homem para transar. – Ela riu fracamente. – Eu estou falando sério. – Suspirei.
- Fica com o Quagliarella, você não disse que foi fazer ciúmes com ele para o Gigi?
- Foi na piada, ele e o Matri vivem me cantando, foi só para atiçar ele. – Neguei com a cabeça.
- Mas ele é bonito e solteiro, acho. – Ela disse.
- Sim, ele é, mas não, chega de jogadores de futebol. Preciso de alguém de fora desse meio, de preferência alguém que não saiba quem eu sou. Uma noitada. – Suspirei.
- Bom, vai ser meio difícil. – Ela riu fracamente. – Estamos na festa do seu time, onde você paga o salário de todo mundo. E do meio em que eu trabalho, todos te conhecem também.
- Ah, que inferno. É isso? Nunca mais vou poder transar aqui em Turim? – Suspirei.
- Talvez não, mas as férias estão aí, que tal uma viagem? – Ri fracamente.
- Ainda tenho algumas semanas de trabalho para finalizar tudo, tem a final da Coppa Italia, talvez fique livre em junho por algumas semanas.
- Eu topo esperar. – Ela disse, me fazendo rir. – Fechado, então? – Ela perguntou.
- Fechado! – Rimos juntas.
- O homem não tem, mas o uísque sim, vem! – Ela me puxou de volta para o salão, me fazendo gargalhar.
- O que acabou de acontecer aqui? – Falei, depois de manter os olhos fixos na televisão pelos últimos 15 minutos após o apito final.
No último jogo da temporada, no último jogo literal de Alex pela Juventus, algo de muito errado aconteceu e acabamos perdendo de 2x0 para o Napoli. A Coppa Italia havia ido para o Napoli. Isso seria algo difícil para engolir pelos próximos dias. Talvez até a próxima final, na verdade. Quando poderíamos ter a chance de ganhar deles novamente.
O pior de tudo foi que dominamos o jogo durante os 90 minutos, Storari fez defesas incríveis para impedir que a bola entrasse. Barzagli, Cáceres e Bonucci também fizeram coisas incríveis para evitar que a bola chegasse, mas ainda assim não foi possível para nós e tive que ver, pela televisão, o Napoli levantar o troféu.
As feições do top cinco foram as piores, ninguém acreditava realmente que isso tinha acontecido. era a que menos conseguiu esconder seu horror a isso, mas ela já tinha seus problemas com a cidade de Nápoles, o Napoli também entrava nessa situação toda.
Bem que dizem que às vezes o time que ganha não é o time que merece. E foi o que eu vi hoje. Independente de ser meu time, eu tinha clareza em analisar isso.
Tirando nossa clara superioridade em campo, chances incontáveis de gols, muito mais do que eles, as coisas ficaram bem bagunçadas no quesito de faltas e punições. O primeiro amarelo foi dado para Marchisio, depois de várias faltas do Napoli que não foram marcadas, ele foi sem querer no pé do napolitano e recebeu um amarelo. Minutos depois Marchisio foi quem recebeu a falta e não foi dado nada. No final do primeiro tempo, Pirlo foi quem precisou de uma rápida assistência médica por outro carrinho. Isso que Vidal e Borriello já tiveram algumas derrubadas mais severas que não necessitaram da entrada da assistência médica.
Depois de aumento nos acréscimos, o primeiro tempo ficou no zero a zero. O segundo começou com Lich fazendo uma falta, talvez pelo nervosismo do momento, pelo menos não deu em cartão nem nada. Aos 54 e 56, os napolitanos levaram dois cartões por entradas perigosas em Del Piero e Cáceres, respectivamente.
Aos 62 o jogo começou a esquentar, e não de uma forma boa. Na verdade, esse jogo já estava tenso e era palpável o nervosismo e ações a esmos dos dois times, mas devido à uma saída errada de Storari, consequentemente um atropelamento dele em algum napolitano, foi marcado o pênalti e ele ainda levou um cartão amarelo. Pelo menos não levou Barzagli junto, que estava marcando o jogador.
Cavani fez a cobrança, Storari foi para um lado, o uruguaio para outro e era 1x0 para eles. A feição de decepção dos dirigentes da Juventus foi mostrada na televisão e os ânimos eram bem baixos. Alguns minutos depois, com outras várias chances de gols nossa, Conte fez algumas substituições. Tirou Del Piero, que foi ovacionado mais uma vez pela sua despedida do time, e colocou Vucinic. Depois tirou Lich e colocou Pepe.
Eu ainda estava um pouco confuso com as escolhas de Alex. Ele iria para Austrália. Isso não era anunciado ainda e imagino que não seria por um bom tempo. Ele não me falou sobre os detalhes disso, mas ele comentou a oferta do Liverpool. Não sei sobre parte monetária, mas o Liverpool ao menos era lembrado no mundo do futebol. O Sydney FC, não.
As opções de gols da Juventus eram inúmeras. A bola simplesmente não entrava e isso fazia com que eu quisesse entrar no jogo para ajudar. Tinha desvantagens de você torcer para o time que jogava, mas era meio impossível depois de 11 anos. Teve até cobrança de falta, mas a bola não entrou. Simples assim.
Aos 72, mais substituições, a última possível. Conte tirou Borriello e colocou Quagliarella, como medida desesperada. Colocar pernas novas para o ataque. Eu estava criando um desgosto por ele, por causa da , mas tinha que assumir que ele era um bom jogador.
Que história era essa dele e da , afinal? Estava rolando alguma coisa? Que depois da nossa conversa semana passada, ela ficou com ele durante todo passeio de ônibus e depois ficou com a turminha dele durante a festa. Para ajudar foi difícil não perceber os olhares de Giulia sobre mim. Ela sabia, tinha certeza de que sabia! Começou com ela querendo me dar um oi animado e terminou com ela me fuzilando com o olhar.
Não seria fácil.
Eu sei que eu tinha sido um idiota, eu sei que sim, mas eu não poderia simplesmente largar toda a minha vida para ficar com ela. Eu ainda tinha dois filhos para proteger dessa bagunça toda. Eu sabia que estava sacrificando minha vida pessoal por essa decisão. Claramente! Porque eu tinha noção de que gostava mais de do que Alena e, também, sabia que Alena nunca conseguiria me dar o que a conseguia, mas eu errei e era por isso que estava nessa situação hoje. Eu sei! Ninguém mais precisa me lembrar, eu tiro essa conclusão todo dia quando acordo e tem um corpo à dois metros de distância mim e não alguém de cabelos babando em meu peito e acordando quase como se tivesse de ressaca com aqueles olhinhos confusos.
AH, GIANLUIGI! PARA! Você não é assim.
Para ajudar toda situação, durante uma falha gigantesca da defesa, não sei exatamente de quem, Hamsik, um marrento do Napoli que fazia jus à raiva de pela cidade, time e o que for, ele ampliou o placar. Não tinha como falar de Storari, ele estava sozinho e foi driblado. Foi falha da defesa, mas podia ser falha desde o contra-ataque, não prestei tanta atenção para confirmar.
Com cinco minutos de jogo e acréscimos, não tinha muito o que fazer, até tinha, mas estava difícil acertar o jogo com a cabeça fria, imagina agora com minutos para o fim? Pelo menos eu achava que não, mas, por algum motivo, eles foram capazes de fazer isso acontecer. Faltando somente os acréscimos, durante uma cobrança de falta, Quagliarella foi expulso. De início não deu para entender o motivo, mas depois de ver o napolitano tentando segurá-lo e dar uma chave de braço nele, a cotovelada no nariz do número seis é bem compreensiva.
O que irritava era que não contabilizaram a falta do napolitano em Quagliarella, às vezes fazia muita falta a permissão de uma análise externa. Ia facilitar muita coisa. Apesar de a Coppa Italia ser quase sempre jogada pelo segundo goleiro, foi uma derrota bem amarga de engolir. Acho que estava me incomodando com o Napoli devido a e isso ficava cada vez pior.
Ah, ! Eu queria tanto falar com ela. Tentei pedir desculpas para ela, mas acabei falando besteira e a situação piorou mais ainda. Eu não queria que ela fosse minha amante, não tinha intenção nenhuma disso, eu só não queria perdê-la. Eu ainda tentava entender, mas eu precisava dela. De alguma forma. Qualquer forma, na verdade. Mesmo de longe. Eu só não queria perdê-la.
- Cara, eu vou dormir. – Chiello falou, se levantando ao meu lado e eu suspirei.
- Vai lá, cara. – Bati minha mão na dele. – Logo vou também.
Observei Chiello sair da sala em Coverciano e me vi sozinho novamente. De jogadores só tinha nós dois da Juventus que viemos antes. Eu, para começar os treinos, e ele, devido a lesão no jogo da semana passada, então ele não jogaria hoje mesmo, seria melhor já começar a recuperação com o fisioterapeuta da Nazionale. Os assistentes técnicos e outros jogadores já tinham subido e o espaço estava em silêncio.
Observei as últimas imagens da premiação focados no Napoli e inclinei o corpo para o lado extremo contrário do sofá para pegar o controle remoto e ameacei apertar o botão antes de voltar à minha posição, mas vi focar em Alex novamente e uma mulher de cabelos o abraçava. A câmera mudou o ângulo e pude ver com os olhos cheios de lágrimas e um sorriso engraçado no rosto. Engoli em seco quando a câmera mudou o ângulo e apertei o botão, finalizando meu sofrimento.
Puxei o celular do bolso, desbloqueando-o e fui direto nas conversas, procurando entre as diversas conversas a minha e da . Fazia bastante tempo que não conversarmos, pois não encontrei nenhuma mensagem atual, tinha deletado tudo há pouco tempo. Abri uma nova conversa e pensei por onde começar. Eu podia falar do jogo e começar a jogar conversa fora ou falar direto sobre nós, enquanto eu pensava, uma lágrima escorreu pela minha bochecha até a tela do celular e eu passei o dedo sobre ela, vendo algumas letras aleatórias serem escritas e apaguei antes de enviar algo.
Eu estava renunciando muita coisa com as minhas decisões, eu tinha certeza disso. Eu poderia me machucar quantas vezes eu quisesse, sofrer e manter essa dor no coração por quanto tempo fosse necessário, mas eu não podia magoá-la, não mais. Talvez eu devesse realmente ouvi-la e deixá-la seguir sua vida, até que eu tivesse coragem de fazer algo para mim. Talvez quando os meninos entendessem melhor ou até Alena ter coragem de fazer o que eu não tinha. Ou até encontrar alguém que a faça feliz de verdade.
Apesar de que uma parte de mim não gostaria de vê-la com outra pessoa.
Era egoísta da minha parte, eu sei, mas depois de Domenico e o que ele fez quando ela descobriu o câncer, ninguém seria o suficiente para ela. E quando eu digo ninguém, eu falo sério, me incluo nessa. Eu só sentia muito por não poder ter tentado quando eu tive a chance. Bem que dizem para fazer as coisas antes que nos arrependam. Pena que eu tinha muitas pessoas envolvidas hoje.
Peguei o celular de novo, desbloqueando-o mais uma vez e suspirei, só tinha uma coisa que eu podia dizer para ela e foram as duas palavras que eu deixei meus dedos digitarem:
“Sinto muito”. – Enviei e suspirei. Claro que ela não responderia agora.
Me levantei, desligando as luzes e segui pelo CT da Nazionale, saindo da área comum e segui para a área dos quartos. Entrei no meu, trancando a porta assim que a fechei e arranquei a camiseta da Nazionale na primeira oportunidade. Dobrei em cima da mesa e fui até o banheiro, escovei os dentes, fiz minhas necessidades e voltei já sem calça para o quarto, pegando o celular na pia.
Me joguei na cama, me cobrindo novamente e chequei se o despertador estava ativado para a sete da manhã. Deixei o celular de lado, mas não deu tempo de eu soltá-lo, pois ele apitou. Engoli em seco, na expectativa de ser e encontrei seu nome nas notificações, me fazendo abrir a mensagem.
“Está tudo bem. Foi uma pena para o Alex, mas não se pode ganhar todas. Fizemos um bom trabalho no campeonato, não se preocupe com isso.” – Engoli em seco, suspirando e respondi.
“Eu não estava falando disso”. – Suspirei, esperando sua resposta que não demorou.
“O Napoli vencer não me alegra, mas meu incômodo fica só com a cidade mesmo. Farei meu melhor para tirar bons jogadores de lá”. – Ri fracamente com sua resposta, mas engoli em seco por ela não entender do que estava falando, mas precisaria finalizar isso logo.
“Eu quis dizer sobre nós”. – Engoli e esperei.
A resposta demorou dessa vez. Primeiro não teve nenhuma reação, depois começou a aparecer que ela estava digitando e parava. Voltava a digitar e nada. Meu celular já tinha apagado quando a resposta finalmente veio e engoli em seco antes de abrir.
“Boa Euro para vocês. Tentem ganhar, ok?!” – Suspirei, engolindo em seco e pressionei meus lábios um no outro.
Soltei um suspiro, colocando o celular de lado e virei o corpo para o lado contrário. Ela ainda estava magoada, só esperava não ter que esperar mais cinco anos, um câncer, um namorado idiota, um casamento e dois filhos para voltarmos a manter uma relação prazerosa. Eu não aguentaria novamente e aposto que ela também não.
Capitolo treintatre
Estate 2012
Lei
25 de junho de 2012
- Argh! – Bufei quando o sinal fechou e ficamos presas neles mais uma vez.
- Ei, chefa. – Virei para o lado, vendo Sara.
- Oi?
- Está tudo bem? – Ela perguntou e eu suspirei. – Você já bufou umas 10 vezes desde que a gente entrou no táxi.
- Só estou frustrada. – Neguei com a cabeça. – Isso aconteceu da mesma forma há seis anos.
- Mesmo? – Ela perguntou.
- Sim. Entre temporadas, uma grande competição acontecendo, a diferença é que eu não fui atrás deles na competição, meu antigo chefe foi, e eu perdi muito mais coisas.
- Você e o Gigi, não? – Ela perguntou e eu virei o rosto para o lado.
- Como você sabe? – Franzi a testa.
- Já suspeitava de algo, ele te olha de um jeito diferente, mas ficou meio óbvio quando ele deixou a sala da contabilidade suja de lama para ir na sua sala. – Ri fracamente.
- É. E o time foi para Série B, foi um ano bem interessante para mim. – Bufei novamente.
- O que aconteceu? – Ela perguntou. – Entre você e o...
- Ah sim. – Suspirei. – Nós tivemos um breve relacionamento entre 2005, 2006, aí eu descobri a manipulação de resultados, briguei com ele, nos separamos, mas a raiva passou, eu fui encontrá-lo na final do Mondiale e ele estava com outra mulher.
- Ah, chefa! – Ela fez uma careta.
- Já faz seis anos e eu ainda não o esqueci. – Suspirei. – Espero o dia que eu esqueça. – Ela assentiu com a cabeça, dando um curto sorriso.
- Chegamos! – O taxista falou em um inglês bem forte e entreguei alguns zloties a mais e saí apressada do táxi, puxando minha mochila junto, colocando nas costas.
Sara veio apressada ao meu lado e olhei para cima, vendo o sol dificultar minha visão do estádio Marshal Józef Pilsudski em Cracóvia, Polônia. A FIGC havia me informado que eles voltaram para cá depois da vitória em cima da Inglaterra na Ucrânia por pênaltis. Eles fizeram um jogo fantástico, Balotelli e Cassano forçaram bastante, mas Joe Hart era um goleiro de peso. Não que eu tenha conseguido prestar muita atenção, porque uma manipulação de resultados vinda dos meus jogadores estava acontecendo. Qual era a desse pessoal, hein?! Que merda!
Apesar de todas as chances, e até um gol impedido da nossa parte na prorrogação, o jogo permaneceu no 0x0 e seguiu para pênaltis. Montolivo errou um para nós, mandando para fora. Os ingleses fizeram o mesmo e Gigi defendeu um, levando a gente para semifinal. O nervosismo de uma possível vitória me arrepiava, mas eu tinha coisas mais importantes para lidar.
- Hello, miss. – O atendente do estádio falou em inglês. – Esse lugar está fechado para visitações hoje.
- Eu fui mandada pela FIGC para conversar com alguns jogadores. – Puxei o crachá da minha bolsa.
- Ah sim, pode seguir pelo corredor até o final que você vai dar na entrada da diagonal, eles estão treinando no campo. – Ele disse.
- Thank you. – Falei, chamando Sara com a mão e segui por onde ele mandou.
Assim que chegamos ao fim do corredor, o estádio se abriu para mim. Era só um estádio para treino e, com certeza, não era nem de perto mais bonito que o nosso estádio, mas dava para o gasto. Alguns jogadores estavam em campo e outros fazendo corrida pelo estádio, procurei rapidamente o técnico para pedir permissão e o encontrei no banco de reservas.
Pisei na grama, me equilibrando na ponta dos dedos para o sapato não afundar e fui em direção ao local, encontrando Gigi do outro lado do campo, sentado em cima de uma bola e rindo de algo com os outros goleiros.
- Scusa, signore Prandelli? – Toquei levemente seu ombro, vendo-o virar o rosto para mim.
- Sì? – Ele olhou para mim. – Nos conhecemos, não?
- , gerente de contabilidade da Juventus, nos conhecemos na festa de inauguração do estádio. – Estendi a mão para ele.
- Ah sim, claro. – Ele apertou minha mão. – Veio resolver o meu problema?
- Não sou eu que preciso resolver isso, é a justiça, mas eu gostaria de falar com meus jogadores, se possível. – Falei.
- Alguns estão ali, eu chamo os outros. – Virei o rosto para o lado, vendo Barzagli, Marchisio e outros jogadores da Nazionale com a feição surpresa em me ver.
- Eu só preciso do Buffon e do Bonucci. – Falei, desviando dele e segui até o banco de reservas. – Ragazzi.
- Chefa! – Meus dois jogadores falaram.
- O que você está fazendo aqui? – Marchisio perguntou.
- Bom te ver também, Claudio. – Falei ironicamente. – Vim visitar vocês, não gostou da surpresa?
- Não me entenda mal, mas suas surpresas não são muito boas. – Barzagli disse e eu ri fracamente.
- Eu disse que ia estar ocupada demais para o seu casamento, não? – Rimos juntos – Mas é, eu sei, mas vocês estão livres disso, preciso daqueles dois... – Apontei para ambos que andavam pelo campo em minha direção.
- Ei, eu conheço você! – Danielle De Rossi falou e eu virei para ele. – Você é a garota do Gigi! – Ri fracamente.
- Uau, Gigi. Nossa história está famosa na Nazionale também, é? – Revirei os olhos. – Prazer em te conhecer, mas não. Essas palavras nunca estiveram juntas na mesma frase e não vão começar agora. – Falei, ouvindo-o rir.
- O prazer é meu. – Ele sorriu e eu assenti com a cabeça.
- Sirigu, Ogbonna, Giovinco, Diamanti... – Assenti com a cabeça para os outros jogadores.
- . – Giovinco falou e eu sorri, já tínhamos conversado antes, ele estava de volta para o time.
- Essa é , gerente de contabilidade da Juventus. – Marchisio me apresentou para o pessoal e eu acenei rapidamente, sorrindo. Chiellini e Pirlo, estavam em campo com outros jogadores.
- E essa é Sara, nossa coordenadora. – Apontei para Sara que deu um sorriso tímido.
- O que está fazendo aqui, ? – Ouvi a voz de Gigi atrás de mim e virei o rosto.
- Ciao, ragazzi. – Sorri para ambos, pressionando os olhos para Gigi. – Você ainda pergunta?
- Ah, merda. – Bonucci falou.
- É, Leo. Que merda! – Falei, pressionando os lábios. – Podemos ir lá para dentro? Conversar? – Perguntei, não esperando resposta e segui para o túnel central do campo, sentindo a visão escurecer um pouco com a diferença de iluminação e fiquei feliz pelos dois e Sara vierem em minha direção.
- Fale! – Gigi disse, cruzando os braços.
- Eu lido com você depois, porque há seis meses você me disse que não tinha nada e eu fui idiota em acreditar em você! – Apontei para seu rosto. – Agora você! – Virei para Bonucci. – Que merda você estava pensando?
- Eu não sabia que...
- Obviamente não sabia o que estava fazendo! – O interrompi. – Você só tem 25 anos, Leo, para eu acabar com a sua carreira, é um estalar de dedos. – Fiz o movimento. – Não foda a sua vida, não ferre o time, porque o Gianluigi sabe muito bem o que aconteceu da última vez e o quanto nós perdemos com isso.
- Ei, calma! Calma! – Ele falou, erguendo as mãos. – Não quero me envolver na bagunça de vocês dois, não. – O puxei pela gola da camiseta, vendo seus olhos arregalarem.
- Repete! – Falei firme. – Vai, repete!
- Oh, pega leve, ! – Gigi soltou minha mão de Leo e eu virei para ele.
- Se algo acontecer com o time de novo, eu juro que demito os dois sem nem pensar duas vezes e ainda coloco uma multa exorbitante que vocês vão ficar a vida inteira pagando. – Falei firme. – Porque o Conte está por um fio disso. – Respirei fundo.
- O Conte? – Leo perguntou.
- É, o Conte! 15 meses de suspensão. Se não aceitarem a apelação, será uma temporada e pouco sem o próprio técnico no banco para os jogos. – Respirei fundo.
- Eu tive uma pequena participação, não vou ter muitos problemas, não tive nenhuma intimação formal ainda. – Leo disse e eu respirei fundo.
- Você entendeu o que eu disse, não? Porque eu tenho certeza de que tem uma cláusula sobre dar problemas para o time que nos isenta de ter que pagar qualquer multa em caso de problemas. – Suspirei, virando para Gigi. – A colocamos depois dos últimos problemas.
- Há, há, há, engraçadinha. – Gigi disse.
- Não estou brincando. – Falei firme.
- Isso foi na época do Bari, não é para respingar no time.
- Esperamos que não. – Bufei. – Está exatamente da última vez, a bomba explodiu quase dois anos depois. – Suspirei. – Vocês precisam se tratar se acham que precisam se envolver nisso. – Virei para Gigi. – E parar de atacar a imprensa quando eles perguntam sobre isso, eu vi a coletiva. Vocês erraram, agora aguentem as consequências. – Falei firme.
- Eu vou. – Leo disse e eu suspirei. – Me desculpe.
- Não se desculpe comigo, se desculpe com seus fãs, com seu time, com todas as pessoas que estão na merda disso. – Falei firme.
- Você fez isso com mais alguém? – Leo passou a mão no pescoço. – Eu nunca te vi assim.
- Posso te garantir que o Pepe ficou bem mais assustado do que você e eu quase consegui levantar o Conte do chão. – Gigi riu fracamente e eu virei para ele. – Não terminamos ainda. – Respirei fundo. – Sara, Leo, podem nos dar licença? – Perguntei e Leo foi o primeiro a sair correndo dali.
- Eu sei o que você vai falar... – Ele disse e eu o empurrei pela parede, não do jeito bom.
- Você me prometeu que não tinha nada! – Falei firme.
- Não tem nada, ! – Ele tentou me segurar pelos ombros e eu dei alguns tapas, fazendo-o soltar.
- Não minta para mim, Gianluigi. Não na minha cara, não sobre isso. – Respirei fundo.
- Não tem nada! Eu faço investimento em imóveis, não tem nada a ver com manipulação de resultados. – Ri fracamente.
- Ah é?! Você faz isso em uma tabacaria? – Bufei. – Incrível como as coisas estão atualizadas, não?! – Empurrei-o pelos ombros novamente. – Eu não caio nessa, seu idiota! – Falei firme. – A sua gravação com o Nicola apareceu de novo nas notícias, a mesma gravação que eu te perguntei em dezembro, ou você se esqueceu disso?
- Eu não estou envolvido nisso, . Eu posso ser um idiota contigo...
- Ainda bem que sabe.
- MAS... – Ele falou firme. – Eu não estou mentindo para você. – Ele suspirou e eu relaxei os ombros, me afastando um pouco e desviando meu corpo do dele pelo corredor, ouvindo meus saltos e os gritos do treino preencherem o vazio. – Eu juro. – Engoli em seco.
- Isso vai abrir precedente para 2006, Gigi. – Suspirei. – Eles estão te investigando de novo.
- Meu advogado está resolvendo isso já, , não falei contigo, porque achei que não quisesse falar comigo.
- Eu não quero, mas, por algum motivo, a gente sempre se encontra nas suas burradas, não? – Suspirei. – Eu falei com seu advogado, ele foi bem inútil sobre a informação. – Fui irônica.
- O que ele disse?
- Que os valores eram destinados a uma pessoa de total confiança e que as transferências eram feitas pelo fato de Alfieri ser uma espécie de administrador do patrimônio do jogador, e falou dos imóveis que você adquiriu em Parma, mas ele não apresentou escritura ou registro de compra. – Revirei os olhos.
- É isso.
- Ah, qual é, Gigi. Olha com quem você está falando! Uma mulher dos números, dos fatos, dados, você realmente acha que eu vou acreditar nessa historinha dele? – Ri fracamente. – Me mostre esses registros que eu paro de te infernizar, mas, por enquanto, eu vou continuar procurando isso.
- Não tem nada, . – Revirei os olhos.
- Você continua mentindo.
- Tem uma grande diferença entre mentir e você não acreditar, não tem nada, pelo amor de Deus.
- Nossa, se você culpá-lo de todos os seus problemas, posso te garantir que sua passagem para o inferno está garantida. – Suspirei.
- A sua também, lembra? – Ele falou e eu revirei os olhos, tentando empurrá-lo novamente, mas ele segurou meus braços. – Se você fizer isso de novo, vamos ter que seguir para um lugar privado, porque você sabe o que vai acontecer. – Bufei.
- Você não presta, sabia?
- É, eu sei, por isso você está aqui! – Ele falou e eu sacudi os braços.
- Me solta agora! – Falei firme e ele me soltou e eu dei dois passos para trás. – A imprensa diz que se realmente estiver falando a verdade...
- Eu estou...
- Essa questão de “modo mais seguro para permitir o rastreamento do dinheiro” é um ponto a favor para você, mas ele precisa ser real. – Falei.
- É real, ! – Falei firme. – Eu faço apostas sim, como falei para você no fim do ano, mas de formas veladas e sozinho. Recentemente eu abri uma empresa de investimentos com a minha família, para cuidar das administrações, junto do hotel, mas não tem nada a ver com esse Calcioscommesse.
- É melhor você não estar mentindo para mim, Gianluigi. Já está difícil segurar os acionistas com o Bonucci e o Pepe. – Suspirei. – Eu não preciso do nosso novo capitão, que já tem histórico nessa merda, envolvido mais uma vez. – Cruzei os braços.
- Eu não estou, ok?! – Ele falou firme, aproximando um passo de mim. – Eu prometo. – Suspirei.
- É melhor isso ser verdade. – Desviei para o lado.
- Você veio aqui só para isso? – Ele perguntou.
- Precisava olhar nos seus olhos para ver se você não estava mentindo.
- Eu passei no teste? – Ele perguntou, sorrindo.
- Não. Você nunca passa. – Suspirei. – Pelo menos fiz o Leo quase fazer xixi nas calças.
- E eu adorei ver isso. – Dei um curto sorriso, fechando o rosto logo em seguida. – Aproveite a Euro, faça o que é certo e não me envolva nisso. – Falei firme, me afastando alguns passos.
- Pode deixar, chefa! – Ele disse, com um sorriso dançando em seus lábios e eu suspirei, desviando meu rosto.
Lui
1 de julho de 2012
Quando descobrimos que iríamos para a final contra Espanha, eu já imaginava que não seria igual o primeiro jogo da fase de grupo. Eu só não achava que eu estivesse tão certo assim. Os times costumavam criar mais força conforme a passagem das fases, como aconteceu conosco, mas com eles foi bem mais e isso acabou nos destroçando da pior forma possível.
Casillas era um grande colega meu, então nos cumprimentamos como da última vez, mas era possível sentir o peso do ar. E, quando entramos em campo, o estádio lotado em Kiev fazia com que o peso ficasse maior ainda. A quantidade de vermelhos era maior e não sabia o quanto isso nos afetaria até o começo da partida.
O jogo começou bem equilibrado, só começou, na verdade. As duas seleções tinham chances de ataque e contra-ataque similares, mas, em um momento, começamos a defender mais do que acertar. Eu não fiz nenhuma defesa literal, pois a bola passava por cima do gol, mas uma hora ela chegou. Aos 14 minutos para ser mais exato.
Iniesta fez o passe para Fábregas pela direita e Chiellini não conseguiu segurá-lo e ele fez o passe. Eu já tinha deslizado e não tive como fazer a compensação. Barza foi pego tão surpreso quanto eu e Silva cabeceou para dentro do gol, fazendo o primeiro gol deles.
Só o primeiro.
Tivemos algumas chances em outros momentos, mas Casillas e sua defesa estavam mais preparados do que a gente. Até quando Barza teve a chance de fazer seu primeiro gol na Nazionale, quem dividia o número 15 com ele, Sergio Ramos, conseguiu tirar antes de Casillas. Cobrança de falta? Casillas. Meu parceiro era incrível, mas hoje ele estava demais!
Aos 20 minutos, Chiellini foi substituído depois de sentir a coxa. Balzaretti entrou em seu lugar. Um carrinho um tanto exagerado de Piqué aos 25, fez com que ele levasse o primeiro amarelo da partida.
Tivemos outras tentativas, outras bem próximas de Balotelli, outras longe de Pirlo e Abate, mas nada. Sabia que parte disso era o nervosismo, mas pelo menos estávamos atacando. Agora adivinha? Falei cedo demais.
Em um contra-ataque, eu me vi sozinho, nem Bonucci, nem Barzagli, nem Abate e nem Balzaretti conseguiram me alcançar, eu saí do gol antes para tentar evitar o chute, mas Jordi Alba o fez de longe mesmo, fazendo a bola estourar atrás de mim. Estava 2x0 e faltando quatro minutos para o fim do primeiro tempo.
Montolivo ainda tentou mais uma vez, o que Casillas defendeu, Barza tentou parar Iniesta, deu uma rasteira nele e isso acabou em um cartão amarelo para ele. Esse e do Piqué foram os dois únicos cartões da partida e, para finalizar o primeiro tempo, Silva tentou de novo, mas eu segurei.
Voltamos para o segundo tempo com saída de Cassano e a entrada de Di Natale. Ele começou atacando e a bola passou por cima do gol. Algumas chances em mim, mas eu defendi para o lado, tentaram o rebote, mas Abate mandou para o lado esquerdo. Em cobrança de escanteio, Leo chutou junto de Ramos, a bola ricocheteou em seu braço, mas não foi dado o pênalti.
Di Natale teve duas grandes chances de gol, uma mais rápida e outra lenta, mas Casillas pegou as duas. Balotelli tentou mais algumas vezes, mas também nada, a bola não entrava, simplesmente. Com essas incertezas e o placar do jeito que estava, sentia a vitória literalmente deslizando junto com o suor.
Aos 12 minutos, Montolivo foi substituído por Motta e poderíamos aguentar o restante do jogo, mas o impensado aconteceu. Motta se lesionou quatro minutos depois e precisou sair. Com todas as substituições feitas, estávamos em 10 agora. Já era difícil, mas sem um, ficaria pior ainda.
Em um momento, Bonucci foi derrubado na área deles, foi pedido pênalti, mas nada, acho que igualou uma injustiça de cada lado. Ramos tentou se aproximar, mas Balzaretti o tirou. O espanhol claramente se jogou, mas o bandeirinha estava ao seu lado atento. Minutos depois, outra tentativa, passou relando em meus dedos, mas estava claramente impedido.
Faltando 15 minutos para o fim do jogo, Fernando Torres entrou, ele era um tanto quanto famoso, trocou o Liverpool pelo Chelsea, sofrendo algumas críticas pela mudança de time dentro da mesma liga, mas tem se destacado no time. E foi dele o terceiro gol.
Aconteceu exatamente o mesmo que o segundo, rolou o contra-ataque, me vi sozinho, a defesa não chegou a tempo, tentei me adiantar para compensar e foi gol. Achando que tinha acabado no terceiro, eu estava muito enganado. Quatro minutos depois veio o quarto gol. Quando vi Torres se aproximar, eu fui direto nele e Bonucci não tentou segurá-lo, mas tentou compensar meu lugar no gol, mas Torres fez o passe para Mata e foi só preciso um toquinho para a bola entrar.
4x0.
Em uma final.
Quando achávamos que finalmente conseguiríamos trazer esse título depois de 44 anos. Chegamos na final em 2000 novamente, não com a minha participação, mas ainda assim, só que não foi possível. E hoje também não foi possível.
Senti que após o quarto, eles começaram a levar na brincadeira as chances, mas tentei não deixar aquilo me abalar, às vezes precisávamos fingir que as coisas não eram conosco para não nos estressar, ou no nosso caso, deixar que falassem mais ainda e usassem isso contra nós.
Assim que o juiz apitou, os espanhóis comemoraram e invadiram o campo. Eu tentei manter minha feição sem reação. Saí do gol com calma, atravessei o campo e cumprimentei quem passou em minha direção. Casillas foi o primeiro a se aproximar e o cumprimentei, recebendo um forte abraço em retorno.
Alguns jogadores estavam tristes, outros estavam inabalados como eu, agora tivemos alguns, como Balotelli, que saíram exaltados do campo, sem pensar duas vezes. Não tinha o que fazer. Eles foram superiores hoje era isso.
Abracei Pirlo, Barza e Chiello quando passei por eles e fui em direção à nossa torcida para cumprimentá-los e agradecer o apoio. Era o que dava para fazer hoje. Leo passou por mim aos prantos e passei meus braços pelos seus ombros, abraçando-o fortemente e ele me apertou em retorno, apoiando a cabeça em meu ombro.
- Andiamo, Leo. – Passei a mão em sua cabeça. – Olha para mim. – Ele fez o que eu pedi. – Terão outras oportunidades.
- Foi minha culpa. Nos dois gols foi minha culpa.
- Não foi, não pense nisso. É um jogo, essas coisas acontecem. – Beijei sua testa e ele pressionou os olhos, abaixando a cabeça e Prandelli trocou de lugar comigo, abraçando-o também e dei um tapinha nas costas do meu treinador. – Vamos, gente, cabeça erguida. – Falei baixo.
Os organizadores nos indicaram a sequência para entrega de medalhas e os espanhóis abriram um corredor para nós. Agradeci com um movimento de cabeça, batendo nas mãos deles enquanto seguindo para as arquibancadas e os torcedores fizeram o mesmo, dividindo entre aplausos e toques de mão.
Cumprimentei o presidente do meu país, o da Espanha e os presidentes da FIFA e da UEFA, recebendo do último a minha medalha e agradeci com um aceno de cabeça antes de descer novamente. Aguardei o resto da squadra receber suas medalhas e alguns não a aceitavam como eu, mas eu não poderia controlar isso neles, só podia aconselhar.
Esperei que todos finalizassem a premiação para seguir em direção à zona mista, onde eu sabia que ainda teria que dar alguma declaração sobre isso. Confesso que eu não estava muito no pique para falar alguma coisa, mas a responsabilidade de ser capitão incluía coisas assim. Vi o repórter da Sky Sports de longe e tinha que concordar com , às vezes eles pareciam muito mais animados do que as coisas eram, pelo menos não era a situação de agora.
Ah, , até aqui eu lembraria de você? Só esperava que nossas diferenças não te impedissem de falar comigo mais tarde. Suas palavras eram muito boas para me colocar nos eixos. Era incrível como eu conseguia falar isso para os outros, mas não conseguia fazer funcionar comigo.
- Gigi, per favore. – Ele me chamou e eu suspirei. – Nos fale algumas palavras sobre o que aconteceu aqui hoje.
- Beh... – Dei de ombros. – Para nós é um orgulho entregar o prêmio para o time que mereceu mais hoje, nós demos tudo o que podíamos, mas às vezes existem outros que estão melhores e eles mereceram hoje.
- Você acha que precisamos dar um pouco mais de atenção à Nazionale, como disse o Prandelli?
- A Nazionale é um patrimônio da nação, dos fãs, penso que é o único meio que traga felicidade coletiva para os italianos.
- Parabéns pela partida...
Segui para o lado sem esperar mais e desviei dos outros repórteres, querendo abafar o som dos gritos da torcida espanhola um pouco e sair dali o mais rápido possível. Ir para o hotel, tomar um banho quente e relaxar um pouco. Eu só precisava disso.
Entrei novamente no túnel, o local estava mais vazio do que na entrada, os italianos entraram com rapidez e os espanhóis demorariam para entrar agora. Me sentindo mais confortável em um local mais privado, puxei a medalha e suspirei, negando com a cabeça ao ver sua cor prata, me fazendo engolir em seco.
- Não tira. – Ouvi uma voz e ergui o rosto, prendendo a respiração.
No fim do corredor, entre os dois vestiários, estava . Franzi a testa, confuso pela sua presença ali, podia achar que era alguma miragem baseada nos meus pensamentos, mas sua voz não enganava e aquele seu sorriso pressionando os lábios também não. Ela usava uma blusa de uniforme de goleiro vermelha, com um crachá no centro de seu peito, e estava no seu estilo despojado com jeans e tênis. Engoli em seco e olhei em volta para ver se tinha mais alguém.
- Eu estou aqui, Gigi. Eu não morri. – Ela riu fracamente, me fazendo retribuir. – E nem você, eu espero.
- Você ficou... – Falei baixo, me aproximando dela e ela assentiu com a cabeça.
- Eu não consegui ir embora. – Ela pressionou os lábios. – Não depois que eu fiquei para semi. Não poderia perder a final.
- Seria melhor, não precisaria ver esse papelão. – Falei baixo e ela negou com a cabeça.
- Achei que nosso pacto “eu vou te apoiar” incluísse momentos bons e ruins...
- Você diz essas coisas, mas... – Ela passou as mãos em meus ombros.
- Xí! – Ela disse, me puxando para um abraço e apertei sua cintura, apoiando meu rosto na dobra de seu ombro, sentindo seu corpo arqueado devido à diferença de altura. – Nosso pacto não envolve nossos sentimentos e raivas pessoais, se esqueceu disso? – Ela falou em meu ouvido e eu engoli em seco.
- Podia ter sido assim da outra vez. – Falei baixo e ela suspirou.
- Xi... Não fala nada. – Senti sua mão em meus cabelos e subi a mão para suas costas. – Não podemos mudar o passado, então, vamos seguir em frente...
- Eu tento, realmente tento. – Falei, nos afastando devagar.
- Tire um tempo para você, ok?! – Ela desceu a mão para meu rosto, secando uma lágrima que deslizava ali.
- Você podia ficar comigo... – Ela sorriu.
- Não dá, sua esposa está aqui... – Ela pressionou os lábios com a última frase e engoliu em seco. – Eu tenho que ir também.
- Veio sozinha? – Perguntei.
- Um pessoal da contabilidade está aí, a gente distribuiu ingressos. – Ela suspirou. – Vou dormir aqui e volto amanhã para Turim. – Ela passou um lábio no outro.
- A gente se vê? – Perguntei.
- Quando você voltar para o time. – Ela falou, assentindo com a cabeça. – Em agosto.
- Você não vai no casamento do Barza? – Perguntei.
- Não, preciso trabalhar. Alguns jogadores já voltam dia 14, o Conte precisa de um time para começar a trabalhar. – Assenti com a cabeça.
- Você era mais divertida, . – Falei e ela riu fracamente.
- Vantagens e desvantagens em crescer e ter responsabilidades. – Sorri, assentindo com a cabeça. – Fica bem, ok?! – Ela acariciou meu rosto e deu um beijo na bochecha contrária. – Só se lembre que isso não te define, ok?! Você é um goleiro incrível.
- E você é uma ótima chefe. – Ela sorriu, rindo fracamente.
- Amiga! Estou aqui como sua amiga hoje. – Assenti com a cabeça, sorrindo. – Eu tenho que ir e você também, já falei com os outros meninos. – Ela apontou para trás e eu confirmei com a cabeça.
- Grazie, . – Disse e ela sorriu, erguendo a mão e acenando com a ponta dos dedos.
- Ah, eu gostei do seu cabelo desse jeito. – Rimos juntos e ela deu um aceno de cabeça e deu as costas, seguindo pelo corredor interno, me fazendo respirar fundo.
Levei a mão até o local do beijo, sentindo o local formigar e respirei fundo, abanando a cabeça. Amiga, Gigi. Ela é sua amiga. Só isso.
Preciso aprender isso.
Lei
Dois de agosto de 2012
- Ok, confirma comigo, Enrico. – Me coloquei em frente ao quadro. – Goleiros.
- Laurentiu Branescu veio do setor juvenil. – Ele disse. – E o Rubinho veio do Palermo.
- Ok, saídas?
- Manninger foi para o Ausburg, era fim de contrato, então não é da nossa responsabilidade. – Risquei os nomes no quatro.
- Ok, certinho. Defensores?
- Veio o Peluso do Atalanta por empréstimo e uma taxa de um milhão e meio. – Confirmei. – E o Lúcio que veio da Internazionale de graça.
- Temos empréstimos, não? – Virei para Luca.
- Sim, compramos o Cáceres para valer do Sevilla, full ownership. Taxa de oito milhões. – Assenti com a cabeça.
- Vale à pena, gosto muito dele. Saídas?
- Grosso...
- Aposentadoria. – Falei para ele.
- E só. – Confirmei com a cabeça, riscando também.
- Meias?
- Pogba que vem do United de graça... – Ri fracamente.
- Eu ainda não acredito que deixaram esse menino sair de graça, mas ok. – Eles riram comigo.
- Asamoah da Udinese por nove milhões... – Ponderei com a cabeça. – E o Isla por nove milhões e 400 mil. – Suspirei.
- Espero que valha o investimento.
- Temos o Giaccherini que é full nosso também agora, pagamos quatro milhões e 250 mil para o Cesena. – Luca disse e eu confirmei com a cabeça.
- Saídas? – Perguntei.
- Estigarribia voltou para o Deportivo Maldonado por fim de empréstimo, Elia foi para o Wender Bremen por sete milhões e meio, e Krasic para o Fenerbahçe por sete milhões. – Suspirei, ticando os jogadores e os valores.
- Atacantes? – Perguntei.
- Sebastian Giovinco...
- Paguei 11 milhões para pegar ele de volta do Parma, ele é nossa galinha dos ovos de ouro. – Eles riram comigo.
- Temos o Nicklas Bendtner do Arsenal, por um milhão e meio, e o Boakye, mas ele vai direto para o Sassuolo como empréstimo.
- Sim, pagamos quatro milhões. – Suspirei. – Paratici o quis, vamos ver se compensa o valor do empréstimo.
- E teve o Stefano Beltrame que vem do setor juvenil. – Assenti com a cabeça.
- Saídas? – Perguntei.
- Del Piero. – Ele falou baixo e eu suspirei. – E o Borriello que voltou para Roma do empréstimo.
- Borriello vai fazer falta, mas não compensa pagar oito milhões por ele. – Suspirei, fechando a caneta. – Sara, faz o relatório, por favor, e depois manda para o Danielle do administrativo.
- Não quer checar? – Ela perguntou.
- Não, confio em você. – Suspirei. – Eu vou descer para encontrar o Pavel e Agnelli e volto mais tarde para dividirmos as tarefas dos jogos do campeonato e para falarmos de Pequim, Miguel.
- Combinado! – Ele falou e eu assenti, seguindo para fora da sala.
Passei rapidamente na minha sala para ir ao banheiro e dar uma rápida retocada em meu batom e voltei pelo corredor, pegando o elevador e, alguns minutos depois, eu já saía do prédio principal, em direção ao prédio do CT, mas não foi preciso seguir muito longe, pois ambos estavam parados lado a lado na entrada do CT.
- Ei, já estão aqui? – Perguntei ao me aproximar deles.
- Ei, , tudo bem? – Agnelli foi o primeiro a falar e o cumprimentei, dando um rápido beijo em sua bochecha.
- Tudo bem e com vocês? – Me aproximei de Pavel, cumprimentando-o também e ele me abraçou de lado.
- Tudo bem também.
- O que estão esperando? – Me coloquei ao lado de Pavel.
- O time está chegando de Genebra. – Agnelli disse.
- Ah, sim. – Confirmei com a cabeça. – Falando disso, todos os contratos prontos, selados e repassados, falta só a vinda de alguns jogadores.
- Quem mesmo? – Agnelli perguntou.
- O Bendtner e o pessoal do juvenil, eu preciso da liberação do Braghin para isso, ou seja...
- Administrativo, juvenil, juvenil, administrativo, você... – Pavel falou.
- Está aprendendo. – Falei e ele riu fracamente. – E o pessoal que está encerrando contrato. – Eles assentiram com a cabeça. – Então, vocês me chamaram aqui, qual o motivo?
- Pequim! – Agnelli disse, animado. – Você vai, certo?
- Eu não perco a oportunidade de conhecer um novo país, Andrea. – Falei e ele riu fracamente. – Por quê?
- Só checar as situações mesmo, data de ida, data de volta, situação do jogo? – Ele falou.
- Serão poucos dias, vamos no dia oito pela manhã, chegamos dia nove, por causa do fuso horário, o jogo vai ser no dia 11 às oito da noite, voltamos após o jogo, assim eles têm alguns dias de descanso antes de Villar Perosa e do Luigi Berlusconi que serão em um intervalo de três dias. – Falei.
- Quando começa o campeonato mesmo? – Pavel perguntou.
- Dia 25, o sorteio é na segunda. – Falei.
- Vamos encarar. – Agnelli disse.
- Vamos lutar pelo primeiro lugar de novo. – Pavel disse e desviei o olhar para a portaria, onde o ônibus do time chegava.
- Aprendemos a fórmula, só seguir. – Dei de ombros, vendo o ônibus parar na nossa frente.
- Tudo certo com você e com o Buffon? – Agnelli perguntou e eu virei o rosto rapidamente.
- De onde veio isso? – Franzi a testa.
- Eu soube sobre Trieste, . – Suspirei. – Com detalhes.
- Não me surpreendo.
- Não estou perguntando para proibir qualquer coisa, RH está aí para isso... – Rimos juntos. – Mas ele é o capitão agora, você vai saber lidar com isso?
Suspirei, virando o rosto para a saída do ônibus, vendo o dito cujo sair de lá, a camiseta polo branca do time, calça de moletom, os cabelos da mesma forma que eu tinha visto há um mês quando tive meu coração partido mais uma vez ao vê-lo perder em uma final. Eu posso ser tonta, eu sei, mas eu não aguentava vê-lo perdendo algo que ele lutou tanto para conseguir, principalmente quando estava tão perto.
Mordi meu lábio inferior quando ele passou as mãos nos cabelos, seguindo para o bagageiro do ônibus e eu engoli em seco, abanando a cabeça, vendo o tempo voltar na velocidade normal novamente, quase como se estivesse em câmera lenta.
- ? – Agnelli perguntou de novo e eu engoli em seco.
- Sei sim. – Suspirei, negando com a cabeça. Espero que sim, pelo menos.
- Fala aí, chefa! – Bonucci gritou assim que saiu e eu revirei os olhos. – Cedo demais?
- Um pouco! – Falei, vendo-o desviar o olhar.
- Ciao, ragazzi. – Gigi se aproximou de nós e virei o rosto para ele. – ...
- Gigi. – Falei e ele me deu um curto beijo na bochecha e pressionei os lábios para esconder um sorriso.
- Como foi lá? – Pavel perguntou.
- Cansativo. Jogo sem graça, sem ânimo, os gols saíram nos acréscimos, não sei como conseguimos empatar. – Ele disse.
- Gol de quem? – Perguntei.
- Krasic... – Arregalei os olhos, fazendo uma careta. – O quê?
- Ele está de partida. – Falei e ele fez a mesma careta que eu.
- Essas coisas acontecem. – Rimos juntos.
- Beppe! – Agnelli falou, me distraindo e ele e Pavel seguiram em direção aos outros dois membros do top cinco.
- Como você está? – Gigi perguntou e eu virei o rosto.
- Tudo bem. – Assenti com a cabeça. – Novo ano, nova temporada, muito trabalho para fazer... – Ele riu fracamente. – E você? Como ficou depois...
- Mah... – Ele suspirou. – Não é a primeira vez, é ruim toda vez, mas estou bem. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Que bom. – Falei baixo. – Teremos novos desafios logo mais, a começar pela próxima semana. Pronto para liderar essa turma de... – Virei para os jogadores amontoados perto do ônibus. – Turma de quinta série? – Ele riu fracamente.
- É só uma braçadeira, , não é uma guerra ou algo assim. – Apoiei minha mão em seu ombro.
- É muito mais do que isso e você sabe, Gigi. – Suspirei.
- Vamos ver...
- Vamos, capitano. – Rimos juntos.
- Você é muito espirituosa, . – Ele disse.
- Alguém tem que ser. – Deslizei a mão pelo seu braço. – Nos vemos?
- Já vai? – Ele perguntou.
- Só vou ali com o pessoal... – Apontei na direção dos quatro.
- Não suma, ok?! – Ele falou e eu neguei com a cabeça.
- Não se preocupe, estaremos juntos na semana que vem trocando o ciao pelo nǐ hǎo logo mais. – Brinquei e ele riu fracamente.
- Você fala chinês agora? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Ainda não, mas logo chego lá. – Ele sorriu.
- Não sei por que ainda me surpreendo. – Dei de ombros.
- Cinco idiomas, Gigi. – Mostrei a mão com o número. – Graduação, três especializações e um mestrado quase completo... – Ele abriu um largo sorriso. – Você deveria tentar um dia, sabe?
- Preciso me formar no ensino médio antes, fazer um cursinho de inglês, quem sabe? – Sorri. – Deixo os livros para você por enquanto. – Assenti com a cabeça.
- Combinado. – Falei, acenando rapidamente. – Zàijiàn. – Falei.
- O que isso quer dizer? – Ele perguntou.
- Se eu falei certo, tchau. – Ele sorriu, confirmando com a cabeça e virei o rosto.
- Ciao, . – Ele disse e suspirei, escondendo o sorriso no rosto.
Lui
9 de agosto de 2012
Depois de 14 horas de voo, tirando as três horas de conexão em Frankfurt, um dia para frente sem anoitecer, chegamos à Pequim. Era de esperar que todo mundo estivesse destruído, alguns por dormir demais, outros por não dormir nada, como era meu caso, mas saiu do banheiro pronta para um desfile de moda. E eu não digo teoricamente, digo literal.
Quando ela entrou no avião hoje de manhã, ela estava fora do modo top três. Tênis, jeans e a blusa polo do time que todos usavam, o que é um milagre vê-la dessa forma. Mas, quando ela saiu agora no dia seguinte... Hoje... Sei lá como se diz, ela estava no modo full . Saia preta de couro até os joelhos, com aquela pequena fenda na parte de trás, a blusa polo branca, os sapatos de bico fino e uma maquiagem impecável.
Isso obviamente causou reação da parte dos jogadores, principalmente da duplinha de sempre, Matri e Quagliarella, mas ela já estava acostumada com isso, então voltou para seu lugar nas primeiras fileiras, deu uma piscadela e abaixou os óculos escuros que todos tínhamos ganhado igual, fazendo os gritos ficarem mais altos ainda. Ri fracamente, negando com a cabeça, mas por dentro eu estava igual a todos. Prestando atenção em todos os detalhes daquela mulher.
- Você nem finge, cara. – Virei para o outro lado do corredor, vendo Chiello rindo de mim e fechei os olhos.
- Não começa! – Falei.
- Não, falando sério... – Ele inclinou o corpo no corredor que nos separava. – Você é louco por essa mulher desde que eu te conheço, qual o motivo de não ficar com ela, cara? – Suspirei.
- Minha família. – Neguei com a cabeça. – Eu não tenho com a Lena um por cento do que tenho com a , mas meus filhos não merecem isso. – Suspirei. – Eles são pequenos demais para entender todo o rebuliço.
- E você tem intenção de um dia separar e ser feliz com ela? – Bufei baixo, deixando a respiração para cima mexer em meus cabelos. – Não precisa responder.
- Eu espero que ela encontre alguém que a trate melhor do que eu, sabe? – Suspirei. – Que realmente a mereça, que faça com que ela se sinta a pessoa mais importante do mundo.
- Porque se depender de você... – Ele cantarolou e eu suspirei.
- É, eu sei.
- Eu não sou pai ainda, então não consigo imaginar o que seria a cabeça de uma criança em um processo de divórcio, mas acho que você precisa se priorizar em um momento também. – Suspirei.
- Eu já acho que me priorizo demais. – Suspirei.
Chiello não falou mais nada e eu agradeci, alguns barulhos vindo lá da frente deixaram a gargalhada hilária de Cáceres em evidência e se levantou com pressa, batendo nele com o travesseiro, fazendo as gargalhadas aumentarem. Balancei a cabeça e desviei o olhar para a janela do avião quando começamos a baixar para pouso.
Depois de todos sairmos do avião, fazer os clássicos trâmites com imigração, saímos pelo aeroporto e foi algo mais surreal do que em Dubai. Os chineses eram mais contidos que os árabes, com toda certeza, mas eram em muito mais. Eles esticavam as câmeras em nossa direção, até gritavam um pouco, nos estendiam camisas para autografar, mas não foi preciso seguranças intervirem, nem sair correndo desesperado. Foi até assustador, na verdade.
Entrei no ônibus logo atrás de , na esperança de sentar ao seu lado – sim, igual uma criança de 12 anos ao lado do melhor amigo, eu sei – mas ela se sentou ao lado de Pavel e ambos já começaram a comparar algumas papeladas. Ignorei isso por um minuto e me sentei algumas poltronas atrás.
Eu não fazia a mínima ideia de onde estava, mas a cidade tinha pontos óbvios que não estávamos na Itália mais, além da escrita, é claro. A cultura ocidental ficava em evidência nos prédios altos espelhados, outdoors, mas a oriental se destacava de formas incríveis. Estátuas de dragões, clássicos da cultura e muita gente nas ruas.
Chegamos no hotel com bastante presença de torcedores, autografei algumas camisas, tirei algumas fotos, mas os seguranças logo nos colocaram para dentro. Do lado de dentro era tão incrível quanto do lado de fora. já estava lá e dava voltas ao redor do corpo olhando para cima e sabia como isso tudo ainda era um pouco novo para ela.
O setor de comunicação fez a divisão de quartos e logo todos subimos. caiu no mesmo andar que nós, mas caiu próximo a Storari, ambos fizeram brincadeirinhas antes de entrar no quarto e eu abanei a cabeça, entrando ao lado do quarto de Barza. Tomei um banho, relaxei um pouco na cama, informei minha esposa, mas nem deu para aproveitar muito tempo, pois logo descemos para o almoço.
Eu não era muito adepto para comer coisas diferentes, então acabei indo no clássico da cultura italiana. Segui para as mesas e vi em uma mesa afastada, dividindo o olhar de seu prato para o computador. Ponderei com a cabeça, bufando com a possibilidade e segui em direção à sua mesa, apoiando o prato na mesa antes de sentar ao seu lado. Ela ergueu o olhar para mim, com a boca cheia do pequeno bolinho que ela tinha acabado de colocar na boca e eu sorri.
- Ni Hao. – Falei e ela riu fracamente, ela mexeu as bochechas, antes de engolir o que estava em sua boca.
- O que está fazendo aqui? – Ela me olhou, abaixando os pauzinhos.
- Você está comendo sozinha. – Falei, pegando os pauzinhos e olhando para o macarrão.
- Eu estou revisando o contrato da Supercoppa, eles mandaram algumas cláusulas novas que não estavam no primeiro e... – Ela virou o rosto para mim. – Não é interessante.
- Eu não me importo. – Falei e ela riu fracamente, pegando mais um bolinho com os pauzinhos, molhou no shoyu e colocou na boca.
Olhei para meu prato, respirando fundo com o macarrão e encarei os pauzinhos em minha mão. fez de forma tão fácil que quase parecia simples. Tentei imitar seus dedos, ajeitando-os em minha mão e toquei o macarrão, tentando pegar alguns fios, mas eles escapavam antes de chegar na boca, espalhando molho para os lados. Já que não deu certo, tentei usar igual um garfo, os afundei no macarrão e o girei um pouco, ouvindo uma risada vir do meu lado direito e virei o rosto para .
- O quê? – Perguntei.
- Não é assim, Gigi. – Ela abriu um sorriso. – O indicador vai em cima e o polegar e o médio embaixo... – Ela fez o movimento, fazendo-o abrir com facilidade. – É o de cima que mexe.
- Não vai... – Falei, rindo fracamente, vendo-os escaparem de meus dedos e ela sorriu.
- Você faz... – Tentava ajeitar e escapava de novo. – Posso...
- Por favor. – Falei e ela puxou a cadeira para mais perto de mim.
- Relaxa a mão. – Ela disse, segurando minha mão com as suas como se eu fosse uma criança aprendendo a segurar o lápis e confesso que estava mais interessado na visão da dobra do seu pescoço e dos seus lábios segurando a risada e do seu toque em meus dedos do que em como realmente usar aquilo. – Gigi?
- Oi! – Falei rapidamente.
- Relaxa a mão! – Ela disse de novo.
- Ah, sim. – Falei, tentando relaxar e ela riu.
- Relaxa! Você é um goleiro, você trabalha com as mãos, qual é! – Ela riu e a acompanhei, sentindo os pauzinhos escaparem de novo.
- Mas como eu vou comer macarrão com isso? – Perguntei e ela sorriu.
- Você... Você não vai... – Ela riu, sozinha. – Olha! – Ela pegou seus pauzinhos, colocou em meu prato e colocou na boca com facilidade, mastigando antes de falar novamente. – Pega as carnes que é mais fácil, o macarrão vem junto.
- Ah, eu vou pegar um garfo. – Falei e ela sorriu.
- Um dia você aprende. – Ela sorriu. – É prática.
- Eu não ligo para comida japonesa, chinesa, nem nada disso. – Rimos juntos e ela afastou sua cadeira de novo.
- É prática, eu já espetei as coisas também, não é fácil. – Disse, rindo fracamente.
- Você é muito mais culta do que eu, . – Falei e ela virou o rosto para mim.
- Eu? – Sorriu com os lábios fechados. – Você sabe de onde eu vim, Gigi, não tem nada disso.
- Não é porque você teve uma vida humilde que isso te define. – Ela sorriu. – Você foi atrás para mudar isso. Estudou, conheceu diversas línguas, culturas, merece viajar. – Ela assentiu com a cabeça. – Agora eu tenho o dinheiro e não consigo nem segurar esses pauzinhos direito. – Ela abriu um largo sorriso.
- Hashi. – Ela falou.
- O quê?
- O nome disso é hashi! – Ela falou e rimos juntos.
- Viu? Eu não sou nada culto, não conheço cultura, não consegui nem escolher o que comer fora esse macarrão com carne. – Ela sorriu.
- Isso não te define, lembra? – Assenti com a cabeça.
- Verdade! – Sorri e ela sustentou o olhar antes de desviar em seguida. – O que você está comendo, falando nisso?
- Eu adoro a cultura oriental, então peguei um pouquinho de cada para experimentar. – Ela disse, puxando os diversos pratos para perto de nós. – Esse é o porco agridoce, lombo com molho de soja, açúcar, vinagre e molho de tomate. – Assenti com a cabeça. – Esse é o dumpling, é quase um tortellini, é recheado com carne de porco e acelga, esse daqui é cozido no vapor, mas tem fritos também. E esse é o famoso pato de Pequim. – Ela sorriu apontando para o terceiro prato. – É tipo pato assado com essa crosta do lado de fora, é bem temperado, mas suave. O melhor pato que eu já comi, com certeza.
- De Pequim, né?! – Falei e ela me empurrou com o ombro, rindo fracamente.
- Piada tonta. – Ela disse.
- Você riu! – Ela deu de ombros. – Parecem gostosos.
- Fique à vontade, depois eu pego mais. – Ela falou, virando para mim e sorri.
- Eu vou pegar um garfo antes. – Falei e ela negou com a cabeça.
- Quem sabe no jantar? – Ela falou e eu ri fracamente, vendo-a desviar o rosto para o notebook novamente.
- Argh! – Bufei quando o sinal fechou e ficamos presas neles mais uma vez.
- Ei, chefa. – Virei para o lado, vendo Sara.
- Oi?
- Está tudo bem? – Ela perguntou e eu suspirei. – Você já bufou umas 10 vezes desde que a gente entrou no táxi.
- Só estou frustrada. – Neguei com a cabeça. – Isso aconteceu da mesma forma há seis anos.
- Mesmo? – Ela perguntou.
- Sim. Entre temporadas, uma grande competição acontecendo, a diferença é que eu não fui atrás deles na competição, meu antigo chefe foi, e eu perdi muito mais coisas.
- Você e o Gigi, não? – Ela perguntou e eu virei o rosto para o lado.
- Como você sabe? – Franzi a testa.
- Já suspeitava de algo, ele te olha de um jeito diferente, mas ficou meio óbvio quando ele deixou a sala da contabilidade suja de lama para ir na sua sala. – Ri fracamente.
- É. E o time foi para Série B, foi um ano bem interessante para mim. – Bufei novamente.
- O que aconteceu? – Ela perguntou. – Entre você e o...
- Ah sim. – Suspirei. – Nós tivemos um breve relacionamento entre 2005, 2006, aí eu descobri a manipulação de resultados, briguei com ele, nos separamos, mas a raiva passou, eu fui encontrá-lo na final do Mondiale e ele estava com outra mulher.
- Ah, chefa! – Ela fez uma careta.
- Já faz seis anos e eu ainda não o esqueci. – Suspirei. – Espero o dia que eu esqueça. – Ela assentiu com a cabeça, dando um curto sorriso.
- Chegamos! – O taxista falou em um inglês bem forte e entreguei alguns zloties a mais e saí apressada do táxi, puxando minha mochila junto, colocando nas costas.
Sara veio apressada ao meu lado e olhei para cima, vendo o sol dificultar minha visão do estádio Marshal Józef Pilsudski em Cracóvia, Polônia. A FIGC havia me informado que eles voltaram para cá depois da vitória em cima da Inglaterra na Ucrânia por pênaltis. Eles fizeram um jogo fantástico, Balotelli e Cassano forçaram bastante, mas Joe Hart era um goleiro de peso. Não que eu tenha conseguido prestar muita atenção, porque uma manipulação de resultados vinda dos meus jogadores estava acontecendo. Qual era a desse pessoal, hein?! Que merda!
Apesar de todas as chances, e até um gol impedido da nossa parte na prorrogação, o jogo permaneceu no 0x0 e seguiu para pênaltis. Montolivo errou um para nós, mandando para fora. Os ingleses fizeram o mesmo e Gigi defendeu um, levando a gente para semifinal. O nervosismo de uma possível vitória me arrepiava, mas eu tinha coisas mais importantes para lidar.
- Hello, miss. – O atendente do estádio falou em inglês. – Esse lugar está fechado para visitações hoje.
- Eu fui mandada pela FIGC para conversar com alguns jogadores. – Puxei o crachá da minha bolsa.
- Ah sim, pode seguir pelo corredor até o final que você vai dar na entrada da diagonal, eles estão treinando no campo. – Ele disse.
- Thank you. – Falei, chamando Sara com a mão e segui por onde ele mandou.
Assim que chegamos ao fim do corredor, o estádio se abriu para mim. Era só um estádio para treino e, com certeza, não era nem de perto mais bonito que o nosso estádio, mas dava para o gasto. Alguns jogadores estavam em campo e outros fazendo corrida pelo estádio, procurei rapidamente o técnico para pedir permissão e o encontrei no banco de reservas.
Pisei na grama, me equilibrando na ponta dos dedos para o sapato não afundar e fui em direção ao local, encontrando Gigi do outro lado do campo, sentado em cima de uma bola e rindo de algo com os outros goleiros.
- Scusa, signore Prandelli? – Toquei levemente seu ombro, vendo-o virar o rosto para mim.
- Sì? – Ele olhou para mim. – Nos conhecemos, não?
- , gerente de contabilidade da Juventus, nos conhecemos na festa de inauguração do estádio. – Estendi a mão para ele.
- Ah sim, claro. – Ele apertou minha mão. – Veio resolver o meu problema?
- Não sou eu que preciso resolver isso, é a justiça, mas eu gostaria de falar com meus jogadores, se possível. – Falei.
- Alguns estão ali, eu chamo os outros. – Virei o rosto para o lado, vendo Barzagli, Marchisio e outros jogadores da Nazionale com a feição surpresa em me ver.
- Eu só preciso do Buffon e do Bonucci. – Falei, desviando dele e segui até o banco de reservas. – Ragazzi.
- Chefa! – Meus dois jogadores falaram.
- O que você está fazendo aqui? – Marchisio perguntou.
- Bom te ver também, Claudio. – Falei ironicamente. – Vim visitar vocês, não gostou da surpresa?
- Não me entenda mal, mas suas surpresas não são muito boas. – Barzagli disse e eu ri fracamente.
- Eu disse que ia estar ocupada demais para o seu casamento, não? – Rimos juntos – Mas é, eu sei, mas vocês estão livres disso, preciso daqueles dois... – Apontei para ambos que andavam pelo campo em minha direção.
- Ei, eu conheço você! – Danielle De Rossi falou e eu virei para ele. – Você é a garota do Gigi! – Ri fracamente.
- Uau, Gigi. Nossa história está famosa na Nazionale também, é? – Revirei os olhos. – Prazer em te conhecer, mas não. Essas palavras nunca estiveram juntas na mesma frase e não vão começar agora. – Falei, ouvindo-o rir.
- O prazer é meu. – Ele sorriu e eu assenti com a cabeça.
- Sirigu, Ogbonna, Giovinco, Diamanti... – Assenti com a cabeça para os outros jogadores.
- . – Giovinco falou e eu sorri, já tínhamos conversado antes, ele estava de volta para o time.
- Essa é , gerente de contabilidade da Juventus. – Marchisio me apresentou para o pessoal e eu acenei rapidamente, sorrindo. Chiellini e Pirlo, estavam em campo com outros jogadores.
- E essa é Sara, nossa coordenadora. – Apontei para Sara que deu um sorriso tímido.
- O que está fazendo aqui, ? – Ouvi a voz de Gigi atrás de mim e virei o rosto.
- Ciao, ragazzi. – Sorri para ambos, pressionando os olhos para Gigi. – Você ainda pergunta?
- Ah, merda. – Bonucci falou.
- É, Leo. Que merda! – Falei, pressionando os lábios. – Podemos ir lá para dentro? Conversar? – Perguntei, não esperando resposta e segui para o túnel central do campo, sentindo a visão escurecer um pouco com a diferença de iluminação e fiquei feliz pelos dois e Sara vierem em minha direção.
- Fale! – Gigi disse, cruzando os braços.
- Eu lido com você depois, porque há seis meses você me disse que não tinha nada e eu fui idiota em acreditar em você! – Apontei para seu rosto. – Agora você! – Virei para Bonucci. – Que merda você estava pensando?
- Eu não sabia que...
- Obviamente não sabia o que estava fazendo! – O interrompi. – Você só tem 25 anos, Leo, para eu acabar com a sua carreira, é um estalar de dedos. – Fiz o movimento. – Não foda a sua vida, não ferre o time, porque o Gianluigi sabe muito bem o que aconteceu da última vez e o quanto nós perdemos com isso.
- Ei, calma! Calma! – Ele falou, erguendo as mãos. – Não quero me envolver na bagunça de vocês dois, não. – O puxei pela gola da camiseta, vendo seus olhos arregalarem.
- Repete! – Falei firme. – Vai, repete!
- Oh, pega leve, ! – Gigi soltou minha mão de Leo e eu virei para ele.
- Se algo acontecer com o time de novo, eu juro que demito os dois sem nem pensar duas vezes e ainda coloco uma multa exorbitante que vocês vão ficar a vida inteira pagando. – Falei firme. – Porque o Conte está por um fio disso. – Respirei fundo.
- O Conte? – Leo perguntou.
- É, o Conte! 15 meses de suspensão. Se não aceitarem a apelação, será uma temporada e pouco sem o próprio técnico no banco para os jogos. – Respirei fundo.
- Eu tive uma pequena participação, não vou ter muitos problemas, não tive nenhuma intimação formal ainda. – Leo disse e eu respirei fundo.
- Você entendeu o que eu disse, não? Porque eu tenho certeza de que tem uma cláusula sobre dar problemas para o time que nos isenta de ter que pagar qualquer multa em caso de problemas. – Suspirei, virando para Gigi. – A colocamos depois dos últimos problemas.
- Há, há, há, engraçadinha. – Gigi disse.
- Não estou brincando. – Falei firme.
- Isso foi na época do Bari, não é para respingar no time.
- Esperamos que não. – Bufei. – Está exatamente da última vez, a bomba explodiu quase dois anos depois. – Suspirei. – Vocês precisam se tratar se acham que precisam se envolver nisso. – Virei para Gigi. – E parar de atacar a imprensa quando eles perguntam sobre isso, eu vi a coletiva. Vocês erraram, agora aguentem as consequências. – Falei firme.
- Eu vou. – Leo disse e eu suspirei. – Me desculpe.
- Não se desculpe comigo, se desculpe com seus fãs, com seu time, com todas as pessoas que estão na merda disso. – Falei firme.
- Você fez isso com mais alguém? – Leo passou a mão no pescoço. – Eu nunca te vi assim.
- Posso te garantir que o Pepe ficou bem mais assustado do que você e eu quase consegui levantar o Conte do chão. – Gigi riu fracamente e eu virei para ele. – Não terminamos ainda. – Respirei fundo. – Sara, Leo, podem nos dar licença? – Perguntei e Leo foi o primeiro a sair correndo dali.
- Eu sei o que você vai falar... – Ele disse e eu o empurrei pela parede, não do jeito bom.
- Você me prometeu que não tinha nada! – Falei firme.
- Não tem nada, ! – Ele tentou me segurar pelos ombros e eu dei alguns tapas, fazendo-o soltar.
- Não minta para mim, Gianluigi. Não na minha cara, não sobre isso. – Respirei fundo.
- Não tem nada! Eu faço investimento em imóveis, não tem nada a ver com manipulação de resultados. – Ri fracamente.
- Ah é?! Você faz isso em uma tabacaria? – Bufei. – Incrível como as coisas estão atualizadas, não?! – Empurrei-o pelos ombros novamente. – Eu não caio nessa, seu idiota! – Falei firme. – A sua gravação com o Nicola apareceu de novo nas notícias, a mesma gravação que eu te perguntei em dezembro, ou você se esqueceu disso?
- Eu não estou envolvido nisso, . Eu posso ser um idiota contigo...
- Ainda bem que sabe.
- MAS... – Ele falou firme. – Eu não estou mentindo para você. – Ele suspirou e eu relaxei os ombros, me afastando um pouco e desviando meu corpo do dele pelo corredor, ouvindo meus saltos e os gritos do treino preencherem o vazio. – Eu juro. – Engoli em seco.
- Isso vai abrir precedente para 2006, Gigi. – Suspirei. – Eles estão te investigando de novo.
- Meu advogado está resolvendo isso já, , não falei contigo, porque achei que não quisesse falar comigo.
- Eu não quero, mas, por algum motivo, a gente sempre se encontra nas suas burradas, não? – Suspirei. – Eu falei com seu advogado, ele foi bem inútil sobre a informação. – Fui irônica.
- O que ele disse?
- Que os valores eram destinados a uma pessoa de total confiança e que as transferências eram feitas pelo fato de Alfieri ser uma espécie de administrador do patrimônio do jogador, e falou dos imóveis que você adquiriu em Parma, mas ele não apresentou escritura ou registro de compra. – Revirei os olhos.
- É isso.
- Ah, qual é, Gigi. Olha com quem você está falando! Uma mulher dos números, dos fatos, dados, você realmente acha que eu vou acreditar nessa historinha dele? – Ri fracamente. – Me mostre esses registros que eu paro de te infernizar, mas, por enquanto, eu vou continuar procurando isso.
- Não tem nada, . – Revirei os olhos.
- Você continua mentindo.
- Tem uma grande diferença entre mentir e você não acreditar, não tem nada, pelo amor de Deus.
- Nossa, se você culpá-lo de todos os seus problemas, posso te garantir que sua passagem para o inferno está garantida. – Suspirei.
- A sua também, lembra? – Ele falou e eu revirei os olhos, tentando empurrá-lo novamente, mas ele segurou meus braços. – Se você fizer isso de novo, vamos ter que seguir para um lugar privado, porque você sabe o que vai acontecer. – Bufei.
- Você não presta, sabia?
- É, eu sei, por isso você está aqui! – Ele falou e eu sacudi os braços.
- Me solta agora! – Falei firme e ele me soltou e eu dei dois passos para trás. – A imprensa diz que se realmente estiver falando a verdade...
- Eu estou...
- Essa questão de “modo mais seguro para permitir o rastreamento do dinheiro” é um ponto a favor para você, mas ele precisa ser real. – Falei.
- É real, ! – Falei firme. – Eu faço apostas sim, como falei para você no fim do ano, mas de formas veladas e sozinho. Recentemente eu abri uma empresa de investimentos com a minha família, para cuidar das administrações, junto do hotel, mas não tem nada a ver com esse Calcioscommesse.
- É melhor você não estar mentindo para mim, Gianluigi. Já está difícil segurar os acionistas com o Bonucci e o Pepe. – Suspirei. – Eu não preciso do nosso novo capitão, que já tem histórico nessa merda, envolvido mais uma vez. – Cruzei os braços.
- Eu não estou, ok?! – Ele falou firme, aproximando um passo de mim. – Eu prometo. – Suspirei.
- É melhor isso ser verdade. – Desviei para o lado.
- Você veio aqui só para isso? – Ele perguntou.
- Precisava olhar nos seus olhos para ver se você não estava mentindo.
- Eu passei no teste? – Ele perguntou, sorrindo.
- Não. Você nunca passa. – Suspirei. – Pelo menos fiz o Leo quase fazer xixi nas calças.
- E eu adorei ver isso. – Dei um curto sorriso, fechando o rosto logo em seguida. – Aproveite a Euro, faça o que é certo e não me envolva nisso. – Falei firme, me afastando alguns passos.
- Pode deixar, chefa! – Ele disse, com um sorriso dançando em seus lábios e eu suspirei, desviando meu rosto.
Quando descobrimos que iríamos para a final contra Espanha, eu já imaginava que não seria igual o primeiro jogo da fase de grupo. Eu só não achava que eu estivesse tão certo assim. Os times costumavam criar mais força conforme a passagem das fases, como aconteceu conosco, mas com eles foi bem mais e isso acabou nos destroçando da pior forma possível.
Casillas era um grande colega meu, então nos cumprimentamos como da última vez, mas era possível sentir o peso do ar. E, quando entramos em campo, o estádio lotado em Kiev fazia com que o peso ficasse maior ainda. A quantidade de vermelhos era maior e não sabia o quanto isso nos afetaria até o começo da partida.
O jogo começou bem equilibrado, só começou, na verdade. As duas seleções tinham chances de ataque e contra-ataque similares, mas, em um momento, começamos a defender mais do que acertar. Eu não fiz nenhuma defesa literal, pois a bola passava por cima do gol, mas uma hora ela chegou. Aos 14 minutos para ser mais exato.
Iniesta fez o passe para Fábregas pela direita e Chiellini não conseguiu segurá-lo e ele fez o passe. Eu já tinha deslizado e não tive como fazer a compensação. Barza foi pego tão surpreso quanto eu e Silva cabeceou para dentro do gol, fazendo o primeiro gol deles.
Só o primeiro.
Tivemos algumas chances em outros momentos, mas Casillas e sua defesa estavam mais preparados do que a gente. Até quando Barza teve a chance de fazer seu primeiro gol na Nazionale, quem dividia o número 15 com ele, Sergio Ramos, conseguiu tirar antes de Casillas. Cobrança de falta? Casillas. Meu parceiro era incrível, mas hoje ele estava demais!
Aos 20 minutos, Chiellini foi substituído depois de sentir a coxa. Balzaretti entrou em seu lugar. Um carrinho um tanto exagerado de Piqué aos 25, fez com que ele levasse o primeiro amarelo da partida.
Tivemos outras tentativas, outras bem próximas de Balotelli, outras longe de Pirlo e Abate, mas nada. Sabia que parte disso era o nervosismo, mas pelo menos estávamos atacando. Agora adivinha? Falei cedo demais.
Em um contra-ataque, eu me vi sozinho, nem Bonucci, nem Barzagli, nem Abate e nem Balzaretti conseguiram me alcançar, eu saí do gol antes para tentar evitar o chute, mas Jordi Alba o fez de longe mesmo, fazendo a bola estourar atrás de mim. Estava 2x0 e faltando quatro minutos para o fim do primeiro tempo.
Montolivo ainda tentou mais uma vez, o que Casillas defendeu, Barza tentou parar Iniesta, deu uma rasteira nele e isso acabou em um cartão amarelo para ele. Esse e do Piqué foram os dois únicos cartões da partida e, para finalizar o primeiro tempo, Silva tentou de novo, mas eu segurei.
Voltamos para o segundo tempo com saída de Cassano e a entrada de Di Natale. Ele começou atacando e a bola passou por cima do gol. Algumas chances em mim, mas eu defendi para o lado, tentaram o rebote, mas Abate mandou para o lado esquerdo. Em cobrança de escanteio, Leo chutou junto de Ramos, a bola ricocheteou em seu braço, mas não foi dado o pênalti.
Di Natale teve duas grandes chances de gol, uma mais rápida e outra lenta, mas Casillas pegou as duas. Balotelli tentou mais algumas vezes, mas também nada, a bola não entrava, simplesmente. Com essas incertezas e o placar do jeito que estava, sentia a vitória literalmente deslizando junto com o suor.
Aos 12 minutos, Montolivo foi substituído por Motta e poderíamos aguentar o restante do jogo, mas o impensado aconteceu. Motta se lesionou quatro minutos depois e precisou sair. Com todas as substituições feitas, estávamos em 10 agora. Já era difícil, mas sem um, ficaria pior ainda.
Em um momento, Bonucci foi derrubado na área deles, foi pedido pênalti, mas nada, acho que igualou uma injustiça de cada lado. Ramos tentou se aproximar, mas Balzaretti o tirou. O espanhol claramente se jogou, mas o bandeirinha estava ao seu lado atento. Minutos depois, outra tentativa, passou relando em meus dedos, mas estava claramente impedido.
Faltando 15 minutos para o fim do jogo, Fernando Torres entrou, ele era um tanto quanto famoso, trocou o Liverpool pelo Chelsea, sofrendo algumas críticas pela mudança de time dentro da mesma liga, mas tem se destacado no time. E foi dele o terceiro gol.
Aconteceu exatamente o mesmo que o segundo, rolou o contra-ataque, me vi sozinho, a defesa não chegou a tempo, tentei me adiantar para compensar e foi gol. Achando que tinha acabado no terceiro, eu estava muito enganado. Quatro minutos depois veio o quarto gol. Quando vi Torres se aproximar, eu fui direto nele e Bonucci não tentou segurá-lo, mas tentou compensar meu lugar no gol, mas Torres fez o passe para Mata e foi só preciso um toquinho para a bola entrar.
4x0.
Em uma final.
Quando achávamos que finalmente conseguiríamos trazer esse título depois de 44 anos. Chegamos na final em 2000 novamente, não com a minha participação, mas ainda assim, só que não foi possível. E hoje também não foi possível.
Senti que após o quarto, eles começaram a levar na brincadeira as chances, mas tentei não deixar aquilo me abalar, às vezes precisávamos fingir que as coisas não eram conosco para não nos estressar, ou no nosso caso, deixar que falassem mais ainda e usassem isso contra nós.
Assim que o juiz apitou, os espanhóis comemoraram e invadiram o campo. Eu tentei manter minha feição sem reação. Saí do gol com calma, atravessei o campo e cumprimentei quem passou em minha direção. Casillas foi o primeiro a se aproximar e o cumprimentei, recebendo um forte abraço em retorno.
Alguns jogadores estavam tristes, outros estavam inabalados como eu, agora tivemos alguns, como Balotelli, que saíram exaltados do campo, sem pensar duas vezes. Não tinha o que fazer. Eles foram superiores hoje era isso.
Abracei Pirlo, Barza e Chiello quando passei por eles e fui em direção à nossa torcida para cumprimentá-los e agradecer o apoio. Era o que dava para fazer hoje. Leo passou por mim aos prantos e passei meus braços pelos seus ombros, abraçando-o fortemente e ele me apertou em retorno, apoiando a cabeça em meu ombro.
- Andiamo, Leo. – Passei a mão em sua cabeça. – Olha para mim. – Ele fez o que eu pedi. – Terão outras oportunidades.
- Foi minha culpa. Nos dois gols foi minha culpa.
- Não foi, não pense nisso. É um jogo, essas coisas acontecem. – Beijei sua testa e ele pressionou os olhos, abaixando a cabeça e Prandelli trocou de lugar comigo, abraçando-o também e dei um tapinha nas costas do meu treinador. – Vamos, gente, cabeça erguida. – Falei baixo.
Os organizadores nos indicaram a sequência para entrega de medalhas e os espanhóis abriram um corredor para nós. Agradeci com um movimento de cabeça, batendo nas mãos deles enquanto seguindo para as arquibancadas e os torcedores fizeram o mesmo, dividindo entre aplausos e toques de mão.
Cumprimentei o presidente do meu país, o da Espanha e os presidentes da FIFA e da UEFA, recebendo do último a minha medalha e agradeci com um aceno de cabeça antes de descer novamente. Aguardei o resto da squadra receber suas medalhas e alguns não a aceitavam como eu, mas eu não poderia controlar isso neles, só podia aconselhar.
Esperei que todos finalizassem a premiação para seguir em direção à zona mista, onde eu sabia que ainda teria que dar alguma declaração sobre isso. Confesso que eu não estava muito no pique para falar alguma coisa, mas a responsabilidade de ser capitão incluía coisas assim. Vi o repórter da Sky Sports de longe e tinha que concordar com , às vezes eles pareciam muito mais animados do que as coisas eram, pelo menos não era a situação de agora.
Ah, , até aqui eu lembraria de você? Só esperava que nossas diferenças não te impedissem de falar comigo mais tarde. Suas palavras eram muito boas para me colocar nos eixos. Era incrível como eu conseguia falar isso para os outros, mas não conseguia fazer funcionar comigo.
- Gigi, per favore. – Ele me chamou e eu suspirei. – Nos fale algumas palavras sobre o que aconteceu aqui hoje.
- Beh... – Dei de ombros. – Para nós é um orgulho entregar o prêmio para o time que mereceu mais hoje, nós demos tudo o que podíamos, mas às vezes existem outros que estão melhores e eles mereceram hoje.
- Você acha que precisamos dar um pouco mais de atenção à Nazionale, como disse o Prandelli?
- A Nazionale é um patrimônio da nação, dos fãs, penso que é o único meio que traga felicidade coletiva para os italianos.
- Parabéns pela partida...
Segui para o lado sem esperar mais e desviei dos outros repórteres, querendo abafar o som dos gritos da torcida espanhola um pouco e sair dali o mais rápido possível. Ir para o hotel, tomar um banho quente e relaxar um pouco. Eu só precisava disso.
Entrei novamente no túnel, o local estava mais vazio do que na entrada, os italianos entraram com rapidez e os espanhóis demorariam para entrar agora. Me sentindo mais confortável em um local mais privado, puxei a medalha e suspirei, negando com a cabeça ao ver sua cor prata, me fazendo engolir em seco.
- Não tira. – Ouvi uma voz e ergui o rosto, prendendo a respiração.
No fim do corredor, entre os dois vestiários, estava . Franzi a testa, confuso pela sua presença ali, podia achar que era alguma miragem baseada nos meus pensamentos, mas sua voz não enganava e aquele seu sorriso pressionando os lábios também não. Ela usava uma blusa de uniforme de goleiro vermelha, com um crachá no centro de seu peito, e estava no seu estilo despojado com jeans e tênis. Engoli em seco e olhei em volta para ver se tinha mais alguém.
- Eu estou aqui, Gigi. Eu não morri. – Ela riu fracamente, me fazendo retribuir. – E nem você, eu espero.
- Você ficou... – Falei baixo, me aproximando dela e ela assentiu com a cabeça.
- Eu não consegui ir embora. – Ela pressionou os lábios. – Não depois que eu fiquei para semi. Não poderia perder a final.
- Seria melhor, não precisaria ver esse papelão. – Falei baixo e ela negou com a cabeça.
- Achei que nosso pacto “eu vou te apoiar” incluísse momentos bons e ruins...
- Você diz essas coisas, mas... – Ela passou as mãos em meus ombros.
- Xí! – Ela disse, me puxando para um abraço e apertei sua cintura, apoiando meu rosto na dobra de seu ombro, sentindo seu corpo arqueado devido à diferença de altura. – Nosso pacto não envolve nossos sentimentos e raivas pessoais, se esqueceu disso? – Ela falou em meu ouvido e eu engoli em seco.
- Podia ter sido assim da outra vez. – Falei baixo e ela suspirou.
- Xi... Não fala nada. – Senti sua mão em meus cabelos e subi a mão para suas costas. – Não podemos mudar o passado, então, vamos seguir em frente...
- Eu tento, realmente tento. – Falei, nos afastando devagar.
- Tire um tempo para você, ok?! – Ela desceu a mão para meu rosto, secando uma lágrima que deslizava ali.
- Você podia ficar comigo... – Ela sorriu.
- Não dá, sua esposa está aqui... – Ela pressionou os lábios com a última frase e engoliu em seco. – Eu tenho que ir também.
- Veio sozinha? – Perguntei.
- Um pessoal da contabilidade está aí, a gente distribuiu ingressos. – Ela suspirou. – Vou dormir aqui e volto amanhã para Turim. – Ela passou um lábio no outro.
- A gente se vê? – Perguntei.
- Quando você voltar para o time. – Ela falou, assentindo com a cabeça. – Em agosto.
- Você não vai no casamento do Barza? – Perguntei.
- Não, preciso trabalhar. Alguns jogadores já voltam dia 14, o Conte precisa de um time para começar a trabalhar. – Assenti com a cabeça.
- Você era mais divertida, . – Falei e ela riu fracamente.
- Vantagens e desvantagens em crescer e ter responsabilidades. – Sorri, assentindo com a cabeça. – Fica bem, ok?! – Ela acariciou meu rosto e deu um beijo na bochecha contrária. – Só se lembre que isso não te define, ok?! Você é um goleiro incrível.
- E você é uma ótima chefe. – Ela sorriu, rindo fracamente.
- Amiga! Estou aqui como sua amiga hoje. – Assenti com a cabeça, sorrindo. – Eu tenho que ir e você também, já falei com os outros meninos. – Ela apontou para trás e eu confirmei com a cabeça.
- Grazie, . – Disse e ela sorriu, erguendo a mão e acenando com a ponta dos dedos.
- Ah, eu gostei do seu cabelo desse jeito. – Rimos juntos e ela deu um aceno de cabeça e deu as costas, seguindo pelo corredor interno, me fazendo respirar fundo.
Levei a mão até o local do beijo, sentindo o local formigar e respirei fundo, abanando a cabeça. Amiga, Gigi. Ela é sua amiga. Só isso.
Preciso aprender isso.
- Ok, confirma comigo, Enrico. – Me coloquei em frente ao quadro. – Goleiros.
- Laurentiu Branescu veio do setor juvenil. – Ele disse. – E o Rubinho veio do Palermo.
- Ok, saídas?
- Manninger foi para o Ausburg, era fim de contrato, então não é da nossa responsabilidade. – Risquei os nomes no quatro.
- Ok, certinho. Defensores?
- Veio o Peluso do Atalanta por empréstimo e uma taxa de um milhão e meio. – Confirmei. – E o Lúcio que veio da Internazionale de graça.
- Temos empréstimos, não? – Virei para Luca.
- Sim, compramos o Cáceres para valer do Sevilla, full ownership. Taxa de oito milhões. – Assenti com a cabeça.
- Vale à pena, gosto muito dele. Saídas?
- Grosso...
- Aposentadoria. – Falei para ele.
- E só. – Confirmei com a cabeça, riscando também.
- Meias?
- Pogba que vem do United de graça... – Ri fracamente.
- Eu ainda não acredito que deixaram esse menino sair de graça, mas ok. – Eles riram comigo.
- Asamoah da Udinese por nove milhões... – Ponderei com a cabeça. – E o Isla por nove milhões e 400 mil. – Suspirei.
- Espero que valha o investimento.
- Temos o Giaccherini que é full nosso também agora, pagamos quatro milhões e 250 mil para o Cesena. – Luca disse e eu confirmei com a cabeça.
- Saídas? – Perguntei.
- Estigarribia voltou para o Deportivo Maldonado por fim de empréstimo, Elia foi para o Wender Bremen por sete milhões e meio, e Krasic para o Fenerbahçe por sete milhões. – Suspirei, ticando os jogadores e os valores.
- Atacantes? – Perguntei.
- Sebastian Giovinco...
- Paguei 11 milhões para pegar ele de volta do Parma, ele é nossa galinha dos ovos de ouro. – Eles riram comigo.
- Temos o Nicklas Bendtner do Arsenal, por um milhão e meio, e o Boakye, mas ele vai direto para o Sassuolo como empréstimo.
- Sim, pagamos quatro milhões. – Suspirei. – Paratici o quis, vamos ver se compensa o valor do empréstimo.
- E teve o Stefano Beltrame que vem do setor juvenil. – Assenti com a cabeça.
- Saídas? – Perguntei.
- Del Piero. – Ele falou baixo e eu suspirei. – E o Borriello que voltou para Roma do empréstimo.
- Borriello vai fazer falta, mas não compensa pagar oito milhões por ele. – Suspirei, fechando a caneta. – Sara, faz o relatório, por favor, e depois manda para o Danielle do administrativo.
- Não quer checar? – Ela perguntou.
- Não, confio em você. – Suspirei. – Eu vou descer para encontrar o Pavel e Agnelli e volto mais tarde para dividirmos as tarefas dos jogos do campeonato e para falarmos de Pequim, Miguel.
- Combinado! – Ele falou e eu assenti, seguindo para fora da sala.
Passei rapidamente na minha sala para ir ao banheiro e dar uma rápida retocada em meu batom e voltei pelo corredor, pegando o elevador e, alguns minutos depois, eu já saía do prédio principal, em direção ao prédio do CT, mas não foi preciso seguir muito longe, pois ambos estavam parados lado a lado na entrada do CT.
- Ei, já estão aqui? – Perguntei ao me aproximar deles.
- Ei, , tudo bem? – Agnelli foi o primeiro a falar e o cumprimentei, dando um rápido beijo em sua bochecha.
- Tudo bem e com vocês? – Me aproximei de Pavel, cumprimentando-o também e ele me abraçou de lado.
- Tudo bem também.
- O que estão esperando? – Me coloquei ao lado de Pavel.
- O time está chegando de Genebra. – Agnelli disse.
- Ah, sim. – Confirmei com a cabeça. – Falando disso, todos os contratos prontos, selados e repassados, falta só a vinda de alguns jogadores.
- Quem mesmo? – Agnelli perguntou.
- O Bendtner e o pessoal do juvenil, eu preciso da liberação do Braghin para isso, ou seja...
- Administrativo, juvenil, juvenil, administrativo, você... – Pavel falou.
- Está aprendendo. – Falei e ele riu fracamente. – E o pessoal que está encerrando contrato. – Eles assentiram com a cabeça. – Então, vocês me chamaram aqui, qual o motivo?
- Pequim! – Agnelli disse, animado. – Você vai, certo?
- Eu não perco a oportunidade de conhecer um novo país, Andrea. – Falei e ele riu fracamente. – Por quê?
- Só checar as situações mesmo, data de ida, data de volta, situação do jogo? – Ele falou.
- Serão poucos dias, vamos no dia oito pela manhã, chegamos dia nove, por causa do fuso horário, o jogo vai ser no dia 11 às oito da noite, voltamos após o jogo, assim eles têm alguns dias de descanso antes de Villar Perosa e do Luigi Berlusconi que serão em um intervalo de três dias. – Falei.
- Quando começa o campeonato mesmo? – Pavel perguntou.
- Dia 25, o sorteio é na segunda. – Falei.
- Vamos encarar. – Agnelli disse.
- Vamos lutar pelo primeiro lugar de novo. – Pavel disse e desviei o olhar para a portaria, onde o ônibus do time chegava.
- Aprendemos a fórmula, só seguir. – Dei de ombros, vendo o ônibus parar na nossa frente.
- Tudo certo com você e com o Buffon? – Agnelli perguntou e eu virei o rosto rapidamente.
- De onde veio isso? – Franzi a testa.
- Eu soube sobre Trieste, . – Suspirei. – Com detalhes.
- Não me surpreendo.
- Não estou perguntando para proibir qualquer coisa, RH está aí para isso... – Rimos juntos. – Mas ele é o capitão agora, você vai saber lidar com isso?
Suspirei, virando o rosto para a saída do ônibus, vendo o dito cujo sair de lá, a camiseta polo branca do time, calça de moletom, os cabelos da mesma forma que eu tinha visto há um mês quando tive meu coração partido mais uma vez ao vê-lo perder em uma final. Eu posso ser tonta, eu sei, mas eu não aguentava vê-lo perdendo algo que ele lutou tanto para conseguir, principalmente quando estava tão perto.
Mordi meu lábio inferior quando ele passou as mãos nos cabelos, seguindo para o bagageiro do ônibus e eu engoli em seco, abanando a cabeça, vendo o tempo voltar na velocidade normal novamente, quase como se estivesse em câmera lenta.
- ? – Agnelli perguntou de novo e eu engoli em seco.
- Sei sim. – Suspirei, negando com a cabeça. Espero que sim, pelo menos.
- Fala aí, chefa! – Bonucci gritou assim que saiu e eu revirei os olhos. – Cedo demais?
- Um pouco! – Falei, vendo-o desviar o olhar.
- Ciao, ragazzi. – Gigi se aproximou de nós e virei o rosto para ele. – ...
- Gigi. – Falei e ele me deu um curto beijo na bochecha e pressionei os lábios para esconder um sorriso.
- Como foi lá? – Pavel perguntou.
- Cansativo. Jogo sem graça, sem ânimo, os gols saíram nos acréscimos, não sei como conseguimos empatar. – Ele disse.
- Gol de quem? – Perguntei.
- Krasic... – Arregalei os olhos, fazendo uma careta. – O quê?
- Ele está de partida. – Falei e ele fez a mesma careta que eu.
- Essas coisas acontecem. – Rimos juntos.
- Beppe! – Agnelli falou, me distraindo e ele e Pavel seguiram em direção aos outros dois membros do top cinco.
- Como você está? – Gigi perguntou e eu virei o rosto.
- Tudo bem. – Assenti com a cabeça. – Novo ano, nova temporada, muito trabalho para fazer... – Ele riu fracamente. – E você? Como ficou depois...
- Mah... – Ele suspirou. – Não é a primeira vez, é ruim toda vez, mas estou bem. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Que bom. – Falei baixo. – Teremos novos desafios logo mais, a começar pela próxima semana. Pronto para liderar essa turma de... – Virei para os jogadores amontoados perto do ônibus. – Turma de quinta série? – Ele riu fracamente.
- É só uma braçadeira, , não é uma guerra ou algo assim. – Apoiei minha mão em seu ombro.
- É muito mais do que isso e você sabe, Gigi. – Suspirei.
- Vamos ver...
- Vamos, capitano. – Rimos juntos.
- Você é muito espirituosa, . – Ele disse.
- Alguém tem que ser. – Deslizei a mão pelo seu braço. – Nos vemos?
- Já vai? – Ele perguntou.
- Só vou ali com o pessoal... – Apontei na direção dos quatro.
- Não suma, ok?! – Ele falou e eu neguei com a cabeça.
- Não se preocupe, estaremos juntos na semana que vem trocando o ciao pelo nǐ hǎo logo mais. – Brinquei e ele riu fracamente.
- Você fala chinês agora? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Ainda não, mas logo chego lá. – Ele sorriu.
- Não sei por que ainda me surpreendo. – Dei de ombros.
- Cinco idiomas, Gigi. – Mostrei a mão com o número. – Graduação, três especializações e um mestrado quase completo... – Ele abriu um largo sorriso. – Você deveria tentar um dia, sabe?
- Preciso me formar no ensino médio antes, fazer um cursinho de inglês, quem sabe? – Sorri. – Deixo os livros para você por enquanto. – Assenti com a cabeça.
- Combinado. – Falei, acenando rapidamente. – Zàijiàn. – Falei.
- O que isso quer dizer? – Ele perguntou.
- Se eu falei certo, tchau. – Ele sorriu, confirmando com a cabeça e virei o rosto.
- Ciao, . – Ele disse e suspirei, escondendo o sorriso no rosto.
Depois de 14 horas de voo, tirando as três horas de conexão em Frankfurt, um dia para frente sem anoitecer, chegamos à Pequim. Era de esperar que todo mundo estivesse destruído, alguns por dormir demais, outros por não dormir nada, como era meu caso, mas saiu do banheiro pronta para um desfile de moda. E eu não digo teoricamente, digo literal.
Quando ela entrou no avião hoje de manhã, ela estava fora do modo top três. Tênis, jeans e a blusa polo do time que todos usavam, o que é um milagre vê-la dessa forma. Mas, quando ela saiu agora no dia seguinte... Hoje... Sei lá como se diz, ela estava no modo full . Saia preta de couro até os joelhos, com aquela pequena fenda na parte de trás, a blusa polo branca, os sapatos de bico fino e uma maquiagem impecável.
Isso obviamente causou reação da parte dos jogadores, principalmente da duplinha de sempre, Matri e Quagliarella, mas ela já estava acostumada com isso, então voltou para seu lugar nas primeiras fileiras, deu uma piscadela e abaixou os óculos escuros que todos tínhamos ganhado igual, fazendo os gritos ficarem mais altos ainda. Ri fracamente, negando com a cabeça, mas por dentro eu estava igual a todos. Prestando atenção em todos os detalhes daquela mulher.
- Você nem finge, cara. – Virei para o outro lado do corredor, vendo Chiello rindo de mim e fechei os olhos.
- Não começa! – Falei.
- Não, falando sério... – Ele inclinou o corpo no corredor que nos separava. – Você é louco por essa mulher desde que eu te conheço, qual o motivo de não ficar com ela, cara? – Suspirei.
- Minha família. – Neguei com a cabeça. – Eu não tenho com a Lena um por cento do que tenho com a , mas meus filhos não merecem isso. – Suspirei. – Eles são pequenos demais para entender todo o rebuliço.
- E você tem intenção de um dia separar e ser feliz com ela? – Bufei baixo, deixando a respiração para cima mexer em meus cabelos. – Não precisa responder.
- Eu espero que ela encontre alguém que a trate melhor do que eu, sabe? – Suspirei. – Que realmente a mereça, que faça com que ela se sinta a pessoa mais importante do mundo.
- Porque se depender de você... – Ele cantarolou e eu suspirei.
- É, eu sei.
- Eu não sou pai ainda, então não consigo imaginar o que seria a cabeça de uma criança em um processo de divórcio, mas acho que você precisa se priorizar em um momento também. – Suspirei.
- Eu já acho que me priorizo demais. – Suspirei.
Chiello não falou mais nada e eu agradeci, alguns barulhos vindo lá da frente deixaram a gargalhada hilária de Cáceres em evidência e se levantou com pressa, batendo nele com o travesseiro, fazendo as gargalhadas aumentarem. Balancei a cabeça e desviei o olhar para a janela do avião quando começamos a baixar para pouso.
Depois de todos sairmos do avião, fazer os clássicos trâmites com imigração, saímos pelo aeroporto e foi algo mais surreal do que em Dubai. Os chineses eram mais contidos que os árabes, com toda certeza, mas eram em muito mais. Eles esticavam as câmeras em nossa direção, até gritavam um pouco, nos estendiam camisas para autografar, mas não foi preciso seguranças intervirem, nem sair correndo desesperado. Foi até assustador, na verdade.
Entrei no ônibus logo atrás de , na esperança de sentar ao seu lado – sim, igual uma criança de 12 anos ao lado do melhor amigo, eu sei – mas ela se sentou ao lado de Pavel e ambos já começaram a comparar algumas papeladas. Ignorei isso por um minuto e me sentei algumas poltronas atrás.
Eu não fazia a mínima ideia de onde estava, mas a cidade tinha pontos óbvios que não estávamos na Itália mais, além da escrita, é claro. A cultura ocidental ficava em evidência nos prédios altos espelhados, outdoors, mas a oriental se destacava de formas incríveis. Estátuas de dragões, clássicos da cultura e muita gente nas ruas.
Chegamos no hotel com bastante presença de torcedores, autografei algumas camisas, tirei algumas fotos, mas os seguranças logo nos colocaram para dentro. Do lado de dentro era tão incrível quanto do lado de fora. já estava lá e dava voltas ao redor do corpo olhando para cima e sabia como isso tudo ainda era um pouco novo para ela.
O setor de comunicação fez a divisão de quartos e logo todos subimos. caiu no mesmo andar que nós, mas caiu próximo a Storari, ambos fizeram brincadeirinhas antes de entrar no quarto e eu abanei a cabeça, entrando ao lado do quarto de Barza. Tomei um banho, relaxei um pouco na cama, informei minha esposa, mas nem deu para aproveitar muito tempo, pois logo descemos para o almoço.
Eu não era muito adepto para comer coisas diferentes, então acabei indo no clássico da cultura italiana. Segui para as mesas e vi em uma mesa afastada, dividindo o olhar de seu prato para o computador. Ponderei com a cabeça, bufando com a possibilidade e segui em direção à sua mesa, apoiando o prato na mesa antes de sentar ao seu lado. Ela ergueu o olhar para mim, com a boca cheia do pequeno bolinho que ela tinha acabado de colocar na boca e eu sorri.
- Ni Hao. – Falei e ela riu fracamente, ela mexeu as bochechas, antes de engolir o que estava em sua boca.
- O que está fazendo aqui? – Ela me olhou, abaixando os pauzinhos.
- Você está comendo sozinha. – Falei, pegando os pauzinhos e olhando para o macarrão.
- Eu estou revisando o contrato da Supercoppa, eles mandaram algumas cláusulas novas que não estavam no primeiro e... – Ela virou o rosto para mim. – Não é interessante.
- Eu não me importo. – Falei e ela riu fracamente, pegando mais um bolinho com os pauzinhos, molhou no shoyu e colocou na boca.
Olhei para meu prato, respirando fundo com o macarrão e encarei os pauzinhos em minha mão. fez de forma tão fácil que quase parecia simples. Tentei imitar seus dedos, ajeitando-os em minha mão e toquei o macarrão, tentando pegar alguns fios, mas eles escapavam antes de chegar na boca, espalhando molho para os lados. Já que não deu certo, tentei usar igual um garfo, os afundei no macarrão e o girei um pouco, ouvindo uma risada vir do meu lado direito e virei o rosto para .
- O quê? – Perguntei.
- Não é assim, Gigi. – Ela abriu um sorriso. – O indicador vai em cima e o polegar e o médio embaixo... – Ela fez o movimento, fazendo-o abrir com facilidade. – É o de cima que mexe.
- Não vai... – Falei, rindo fracamente, vendo-os escaparem de meus dedos e ela sorriu.
- Você faz... – Tentava ajeitar e escapava de novo. – Posso...
- Por favor. – Falei e ela puxou a cadeira para mais perto de mim.
- Relaxa a mão. – Ela disse, segurando minha mão com as suas como se eu fosse uma criança aprendendo a segurar o lápis e confesso que estava mais interessado na visão da dobra do seu pescoço e dos seus lábios segurando a risada e do seu toque em meus dedos do que em como realmente usar aquilo. – Gigi?
- Oi! – Falei rapidamente.
- Relaxa a mão! – Ela disse de novo.
- Ah, sim. – Falei, tentando relaxar e ela riu.
- Relaxa! Você é um goleiro, você trabalha com as mãos, qual é! – Ela riu e a acompanhei, sentindo os pauzinhos escaparem de novo.
- Mas como eu vou comer macarrão com isso? – Perguntei e ela sorriu.
- Você... Você não vai... – Ela riu, sozinha. – Olha! – Ela pegou seus pauzinhos, colocou em meu prato e colocou na boca com facilidade, mastigando antes de falar novamente. – Pega as carnes que é mais fácil, o macarrão vem junto.
- Ah, eu vou pegar um garfo. – Falei e ela sorriu.
- Um dia você aprende. – Ela sorriu. – É prática.
- Eu não ligo para comida japonesa, chinesa, nem nada disso. – Rimos juntos e ela afastou sua cadeira de novo.
- É prática, eu já espetei as coisas também, não é fácil. – Disse, rindo fracamente.
- Você é muito mais culta do que eu, . – Falei e ela virou o rosto para mim.
- Eu? – Sorriu com os lábios fechados. – Você sabe de onde eu vim, Gigi, não tem nada disso.
- Não é porque você teve uma vida humilde que isso te define. – Ela sorriu. – Você foi atrás para mudar isso. Estudou, conheceu diversas línguas, culturas, merece viajar. – Ela assentiu com a cabeça. – Agora eu tenho o dinheiro e não consigo nem segurar esses pauzinhos direito. – Ela abriu um largo sorriso.
- Hashi. – Ela falou.
- O quê?
- O nome disso é hashi! – Ela falou e rimos juntos.
- Viu? Eu não sou nada culto, não conheço cultura, não consegui nem escolher o que comer fora esse macarrão com carne. – Ela sorriu.
- Isso não te define, lembra? – Assenti com a cabeça.
- Verdade! – Sorri e ela sustentou o olhar antes de desviar em seguida. – O que você está comendo, falando nisso?
- Eu adoro a cultura oriental, então peguei um pouquinho de cada para experimentar. – Ela disse, puxando os diversos pratos para perto de nós. – Esse é o porco agridoce, lombo com molho de soja, açúcar, vinagre e molho de tomate. – Assenti com a cabeça. – Esse é o dumpling, é quase um tortellini, é recheado com carne de porco e acelga, esse daqui é cozido no vapor, mas tem fritos também. E esse é o famoso pato de Pequim. – Ela sorriu apontando para o terceiro prato. – É tipo pato assado com essa crosta do lado de fora, é bem temperado, mas suave. O melhor pato que eu já comi, com certeza.
- De Pequim, né?! – Falei e ela me empurrou com o ombro, rindo fracamente.
- Piada tonta. – Ela disse.
- Você riu! – Ela deu de ombros. – Parecem gostosos.
- Fique à vontade, depois eu pego mais. – Ela falou, virando para mim e sorri.
- Eu vou pegar um garfo antes. – Falei e ela negou com a cabeça.
- Quem sabe no jantar? – Ela falou e eu ri fracamente, vendo-a desviar o rosto para o notebook novamente.
Capitolo treintaquatro
Eu já tinha entrado em estádios lotados e incríveis na minha vida. Apesar do que aconteceu depois, eu fui para a final do Mondiale 2006 em Berlim, onde o Olimpico estava com 69 mil pessoas, recentemente tinha ido para a final da Eurocopa, onde tinha mais de 63 mil pessoas no Olimpico de Kiev, mas o Estádio Nacional de Pequim estava no mesmo nível. Segundo minhas informações, todos os 65 mil ingressos tinham sido vendidos! Eu estava amando os chineses.
Na verdade, eu estava amando esse país desde o primeiro dia que chegamos aqui. A viagem era curta, vir para o outro lado do mundo para ficar somente três dias era uma das desvantagens de viajar com o time, mas tinha algumas vantagens de eu vir, basicamente, para acompanhar. Todos os contratos já haviam sido ajeitados antes, tirando a revisão nas mudanças em cima da hora, não tinha muito o que fazer.
Os acompanhei no treino no primeiro dia, tentando me manter acordada, depois de uma péssima noite de sono no avião, e no segundo dia eu saí para dar uma volta pela cidade. Não foi uma grande volta, na verdade, tinha muito o que ver, eram coisas largas e eu adorava absorver as coisas novas que esse time me dava oportunidade de conhecer, então só consegui ir à Cidade Proibida e na Muralha. O que eu acho que foi bastante coisa, meus pés quase não entraram no sapato agora e eu fiquei de chinelo o resto do dia para tentar relaxá-los.
Voltando ao jogo, os chineses estavam de parabéns! Eles dividiam a torcida entre Napoli – argh – e Juventus, mas os preto e branco e o uniforme rosa se destacavam nas arquibancadas. Storia di un grande amore era cantada no estádio e as bandeiras sacudiam freneticamente. É loucura! Estávamos na China, mas eu me sentia em Turim novamente.
Assim que chegamos no camarote, nós sendo o top cinco completo, fomos recepcionados pelo presidente do comitê olímpico chinês, responsável por liberar nosso treino lá nesses dois dias, outras pessoas que eu não lembrava o nome e a equipe do Napoli. Após cumprimentos falsos e sorrisos sem graças, nos ajeitamos nas poltronas para ver, logo começaria.
Nosso line-up seria Gigi – que usava o mesmo uniforme amarelo que me dava lembranças de alguns meses atrás -, Marchisio, Lich, Asamoah, Pirlo, Lucio, Barza, Giovinco, Bonucci, Vidal, e um dos meus namorados, Matri. Era a primeira vez que Gigi capitaneava o time. Pelo menos como capitão principal. Ele já era o substituto absoluto de Del Piero desde 2008, mais ou menos, quando as presenças de Alex decaíram até sua saída do time na temporada passada, mas essa era a primeira vez que ele era o capitão.
E minha mente incrivelmente bagunçada tinha que comentar como dava um ar mais sexy para ele. Era uma braçadeira, , não muda muita coisa. Eu sei! Mas alguma coisa estava diferente. Talvez os bíceps sendo apertado por ela, vai saber, não?! Me deixa!
Sendo Napoli e Juventus, eu já esperava que o jogo fosse pesado, apertado e nada amistoso. Eles nos destroçaram na final da Coppa Italia e sentia que estavam querendo garantir a vitória aqui também, já que a Supercoppa nada mais era do que o campeão da Série A e da Coppa Italia, então eles tentariam nos atropelar. E isso foi comprovado pelas faltas contra meus jogadores logo no começo do jogo.
Não sei quem eles pensavam que eram, na verdade. O clube foi à falência em 2004, só continuou existindo depois de esforços de um investidor e voltou para Série A somente na temporada 2007/2008. Aqui não, meus queridos!
Tirando as faltas e o começo frio ainda, tivemos várias alternativas logo depois, mas a defesa deles estava bem-posicionada e o tal do Cavani tirava a bola e fazia falta junto, fazendo difícil o jogo fluir.
Por volta dos 15 minutos, alguém finalmente se machucou, Bonucci levou uma cotovelada no nariz e começou a sangrar, precisando se retirar por alguns segundos para estancar. No mesmo instante, uma chuva fina começou a cair e o tempo começou a gelar. Aos 20 minutos, após uma puxada em Vidal pelo pescoço, uma pequena discussão começou em campo, enquanto Marchisio queria brigar, Lich o tirava de perto.
O primeiro gol saiu somente aos 27 minutos e ainda foi deles. O tal Cavani roubou a bola depois de um passe errado de Asamoah e se viu sozinho com Gigi. Lucio e Barza correram para alcançar, mas Gigi saiu do gol para tentar alcançar e alcançou, desviando a bola e voltando rapidamente para o gol, mas Cavani conseguiu pegar a bola de novo e fez o chute, mas Gigi não conseguiu pegar dessa vez.
Era um ótimo jeito de começar. Claro!
Eles tiveram outra chance logo depois, mas Gigi estava mais perto, então pegou.
O primeiro cartão saiu aos 32, para os raivosos também. Não foi de Cavani, mas ele merecia um também segundo antes após uma entrada forte em Giovinco, foi Britos quem levou o primeiro após uma entrada em Matri. Cinco minutos depois, Asamoah compensou o erro no segundo gol – e seu primeiro gol como bianconero. Vidal fez um cruzamento incrível e ele só chutou, mandando no cantinho esquerdo do gol, sem chances para o goleiro.
Esse 1x1 me fez ter uma pequena esperança, mas durou pouco, quatro minutos depois dos napolitanos aumentaram a diferença de novo. Isso que Cannavaro – irmão mais novo do Fabio – tentou um chute, mas Gigi pegou. Pandev foi o autor dessa vez, mas foi quase igual ao de Cavani. Por um erro de Giovinco, Pandev se viu sozinho, mas dessa vez Gigi não fez a primeira defesa, Bonucci e Barzagli até tentaram interceptar, mas ele ergueu a bola e entrou. Foi bonito, devo confessar.
O primeiro tempo acabou dessa forma e, após pegar uma água no bar, fazer alguns comentários sobre o jogo com Pavel, o segundo tempo começou. Massimo – substituto no banco de Conte, que estava há algumas poltronas de mim – tirou Matri e colocou Vucinic que estava hilário com aquele bigode estilo Freddie Mercury.
O segundo tempo começou irritado igual o primeiro, principalmente o tal do Cavani que xingava toda vez que sua bola parava em Gigi. Aos 49 minutos tivemos uma chance de ouro que me fez até levantar de como a bola não entrou. Vucinic mandou sozinho e a bola bateu no ângulo do travessão. Metade do estádio gritou em comemoração e a outra metade de raiva.
Aos 52, Cannavaro levou um cartão amarelo após uma entrada violenta em Giovinco. Minha nova contratação tinha meio metro de altura, então ele voava com muita facilidade, caramba! Não dava para machucá-lo. Um minuto depois foi a vez de Behrami levar um por entrada em Marchisio agora. Ah, meu princippino.
Cavani teve uma nova chance aos 57, mas, após o toque de Gigi, a bola passou na frente do gol. Vucinic conseguiu o contra-ataque, mas a defesa parou a bola. Logo mais, para esquentar um pouco as coisas nesse frio, Vucinic e o 11 do Napoli começaram a se empurrar em campo. Não aprovava isso – não podia, na verdade –, mas era divertido.
Aos 64 finalmente foi a hora de Cavani levar um amarelo, mas foi por bater o braço na bola na defesa da bola durante uma falta. Durante alguns minutos o jogo ficou calmo, tivemos várias chances de gols, principalmente chances de faltas, mas Pirlo não conseguia acertar. Até que um carrinho em Vucinic dentro da área, fez nosso placar mudar! Vidal bateu só como Vidal conseguia bater e igualamos novamente. Agora precisávamos de mais um gol para passar.
Mas, claro, sem antes passar por mais uma discussão. Pirlo desarmou Zúñiga após uma arrancada, Lich tentou pegar a bola para seguir o jogo. O napolitano se levantou, agitado e começou a brigar com Lucio que não tinha nada a ver com isso. Leo, Claudio e Arturo tentaram conter Zúñiga. Gigi se aproximou para tentar apaziguar a situação, mas o juiz acabou com tudo dando um cartão para Zúñiga e para Lich que tinha o incrível hábito de pedir cartão para os outros e acabar levando para si também.
Nada de novo até aí.
Aos 77 minutos um lance um tanto duvidoso a meu ver, mas o árbitro não viu e eu não poderia fazer muito daqui de cima. O Napoli vinha para o ataque, Barza claramente empurrou um jogador dentro da área, tentando desviá-lo de seu caminho. O caído até pediu pênalti, mas foi totalmente ignorado.
O jogo voltou a ficar interessante aos 85 minutos, quando Pandev foi expulso. Não entendi exatamente o motivo da expulsão, talvez xingamento. Ele estava discutindo com o bandeirinha após dar seu contra-ataque como impedido e o juiz levantou o cartão. Não fez muito sentido, mas posso ter perdido alguma coisa após um comentário de Pavel.
Com esse placar, estávamos indo para a prorrogação, mas meus meninos continuavam tentando. Uma jogada após a outra. Antes do fim, Lich saiu e entrou Padoin, Giovinco levou um amarelo por uma rasteira no número 85 e, logo depois, Zúñiga foi expulso após o segundo amarelo, depois de uma empurrada em Giovinco.
Agora era nove jogadores contra 11, confesso que fiquei receosa se isso não tinha algum envolvimento em manipulação de resultados. Para piorar meu receio, o técnico do Napoli foi expulso do campo.
O jogo acabou em três minutos de acréscimos e os jogadores tiveram um tempo para se recuperar. Não conseguia entender o motivo, mas Gigi parecia bem irritado daqui de cima e falava rapidamente com Storari enquanto apontava para a saída para os vestiários. Enfim, saberia mais depois, agora tínhamos mais 30 minutos de prorrogação.
Depois de 90 minutos, era normal que o cansaço começasse a demonstrar, ainda mais com essa chuva fina e irritante que não parava de cair. Os chutes saíam a esmo e as faltas eram mais frequentes. Com dois jogadores a menos, nós precisávamos usar isso como vantagem.
Aos 97 minutos essa oportunidade veio, durante uma cobrança de falta de Pirlo, ele cruzou para a área e inicialmente tive a impressão de ter sido cabeceado por Bonucci, mas não, a cara de decepção do número 11 napolitano ficava óbvio que o gol havia sido contra. O anúncio do estádio confirmou minhas suspeitas.
Estávamos com 3x2, então tínhamos a vantagem, agora só precisávamos manter. O cansaço talvez não permitisse muito mais, mas meu jogador montenegrino desafiou meus pensamentos. Aos 101 minutos, Vucinic aumentou a distância. Asamoah fez o cruzamento, Marchisio interceptou e enganou o goleiro, passando a bola para Vucinic que chutou ainda entre as pernas do goleiro napolitano. O estádio que já cantava “Juve! Juve!” agora cantava mais alto ainda.
O primeiro tempo da prorrogação acabou e ainda tínhamos 15 minutos do segundo. Devido ao cansaço, os meninos só faziam toquinhos de bola, mas Bonucci tinha que fechar o jogo com chaves de ouro batendo a mão em um jogador, mas ok, foi só um amarelo e a falta foi batida de longe.
A última atividade de Massimo foi tirar Giovinco e colocar Giaccherini para jogar os últimos quatro minutos. Uma cãibra em Leo aos 118 só deixou claro o cansaço dos jogadores, seria uma comemoração um pouco diferente dessa vez. Não contente, ele ainda deu um minuto de acréscimo, mas apitou enquanto Vidal, Pirlo e Marchisio brincavam de toques.
Era isso, tínhamos vencido. A quinta Supercoppa Italiana. Apesar de ter tido muitos lances estranhos e eu estava pronta para puxar algumas orelhas se realmente tivesse outra manipulação de resultados. Até na China, caramba?
Assim que o apito final foi soado, saí rapidamente junto do top cinco, quatro, na verdade, Beppe já estava em campo, e fomos rapidamente para o campo enquanto organizavam o palco para a premiação. Quando chegamos lá embaixo, estava tudo quase pronto, mas não tinha nem sinal do Napoli. Eles não quiseram receber suas medalhas e eu não podia estar mais surpresa com isso.
Os três do top adentraram o campo, seguindo em direção aos jogadores, eu nem tentei. O gramado já não facilitava com o salto, imagina molhado e com os pés doendo depois de minhas voltas por Pequim? Nada legal!
Logo após a entrega de medalhas dos árbitros, meus meninos subiram para receber as suas. Um a um eles apertaram as mãos das autoridades que estavam ali e recebiam suas medalhas. Gigi veio por último, apesar de ser o número um, ele ficaria por último agora. E ele parecia incrivelmente nervoso pelo foco ser ele.
Quando ele ergueu a taça, notei duas coisas: a primeira é que ele parecia muito com cara de quem comeu e não gostou. A mesma cara de quando eu o obriguei a experimentar alguns pratos chineses no jantar de ontem. Ele estava claramente com vergonha. A segunda é que alguma coisa estava acontecendo com seu braço esquerdo. Ele não conseguiu sustentar a taça com os dois braços e logo a passou para outros jogadores erguerem-na. Alguma coisa tinha acontecido.
Após algumas gracinhas em cima do palco, eles seguiram para tirar foto na frente da placa e era isso. Fim da premiação e nem sinal do Napoli. Só esperava que isso não respingasse nas minhas costas, principalmente com a bagunça da Calcioscommesse que ainda estava rolando.
Andei a passos largos pela pista de atletismo na lateral do Ninho do Pássaro de Pequim, estádio construído para as Olímpiadas de 2008, até ficar na frente dos meninos, vendo-os fazerem algumas caretas, mas logo eles se distraíram e começaram a dispersar. O primeiro que eu puxei para perto de mim quando eu vi, foi Barzagli. Puxei-o pela manga da camiseta.
- Ei, chefa! – Ele me abraçou fortemente e eu tive que retribuir o sorriso, eu adorava esse homem.
- Eu vi! – Falei, olhando em seus olhos verdes.
- O quê? – Ele falou, rindo e eu franzi os olhos.
- Você sabe o quê. – Falei firme e ele deu uma risada fraca, pressionando os lábios em minha têmpora, me fazendo revirar os olhos. – Vocês não me compram com carinho, Barza!
- O Gigi defenderia, qual é! – Ele disse e eu revirei os olhos, cutucando sua barriga, vendo-o rir.
- Ah, Andrea! – Franzi os lábios. – Não me arrepende de ter de contratado.
- Nunca! – Ele disse, sorrindo e soltei sua manga que eu ainda segurava, deixando-o seguir seu caminho.
Alguns outros jogadores passaram por mim, pulando em minhas costas, dando beijos e abraços, alguns até subindo em meu colo – obrigada por quase me derrubar na frente de todo mundo, Marchisio –, mas eles seguiam em direção para o vestiário. Um dos últimos que sobraram foi Gigi e ele pressionou os lábios em um sorriso quando me viu.
Passei uma mão pela sua barriga, segurando-o antes que ele desviasse de mim e sustentei a taça com a outra mão quando o parei. Ele colou seus lábios em minha cabeça, apoiando sua cabeça na minha por alguns segundos e peguei a taça com as duas mãos.
- Parabéns, capitano! – Falei e ele riu fracamente, coçando a nuca.
- Isso é estranho! – Ele disse e eu tirei um confete que estava colado em sua testa.
- Bem te vi envergonhado lá em cima. – Sorri e ele riu fracamente, indicando o caminho com a cabeça e segui ao seu lado.
- Não estou acostumado com isso.
- Ah, qual é, Gigi! – Falei, empurrando-o com o ombro, olhando o nome da Juventus na taça. – Você é uma lenda viva, você tem muito mais foco do que isso. – Ele riu.
- Lenda viva?
- Só citando jornais especializados e revistas. – Ele sorriu, passando o braço pelo meu ombro, notei que seu corpo relaxou um pouco.
- Conta! – Falei.
- O quê? – Ele virou para mim e fiquei feliz por passarmos para dentro do túnel onde não tinha holofotes e nem câmeras.
- Você está compensando o braço esquerdo. O que foi?
- Como você percebeu isso? – Ele perguntou, surpreso e eu ri fracamente.
- É meio óbvio quando você mal conseguia compensar com a mão esquerda. Imagino que tenha sido o braço, pelo menos. – Dei de ombros, andando alguns passos à sua frente.
- Deu uma repuxada no fim do jogo. Os bíceps.
- Cãibra? – Perguntei, virando o corpo de frente para ele.
- Mais forte do que isso.
- Não se atreva a começar a temporada lesionado. – Ele riu fracamente.
- Pode deixar, chefa. – Ele disse sugestivamente e eu revirei os olhos, ouvindo as comemorações da porta do vestiário.
- Auguri, capitano. – Falei e ele riu fracamente.
- Quer comemorar? – Ele perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Não com você. – Indiquei a porta e ele riu fracamente, pegando a taça de minha mão antes de entrar.
Esperei mais alguns jogadores entrarem e os segui. Eu, ele e um vestiário vazio eram ótimas lembranças, mas não o suficiente para eu querer recriá-las em qualquer oportunidade. Ainda mais na situação civil em que ele se encontrava.
Chegar em Villar Perosa era sempre empolgante. Por diversos motivos: a maior aproximação dos fãs, um momento de relaxamento entre os jogadores e, nesse ano especificamente, de shorts e a blusa preta do segundo uniforme do time. Começava a achar que ela tinha algo contra o primeiro uniforme do time, mas o preto caía muito bem nela. Na verdade, até um melão caía bem nela.
Na casa dos Agnelli foi a mesma coisa de sempre, Agnelli, Elkann e Conte fizeram discursos chatos de sempre, pedindo por resultados nessa temporada e depois seguimos para o café da manhã. Para mim a temporada já tinha começado muito bem devido a vitória há alguns dias em Pequim, mas o discurso era inevitável. Eu o ouvia desde 2001, nada mudava.
Diferente do ano passado, quando ficou conosco, dessa vez ela sumiu antes do fim do discurso. Segui para perto da mesa, pegando um café e sentei nas cadeiras espalhadas pelo jardim, ao lado de Pirlo que ria de alguma coisa.
- Do que está rindo? – Perguntei, bebericando o café quente.
- Pogba contando piada. – Ele riu fracamente. – Está difícil de entender.
- Logo ele aprende o italiano... – Ri fracamente, vendo uma pequena roda em volta de Pogba, enquanto ele tentava se lembrar como falava a palavra em italiano e Vucinic o ajudava com o francês.
- Eu ainda não acredito que esse cara veio jogar com a gente de graça. – Disse e Pirlo riu ao meu lado.
- Culpa dela. – Ele indicou o olhar para cima e virei o rosto para onde ele indicou.
estava no segundo andar da casa, com o celular colado na orelha, segurando a risada enquanto apontava para baixo. Desci o olhar e Quagliarella fazia a maior pose de príncipe encantado, ajoelhado na grama e apontando em sua direção.
- PARA DE GRAÇA, FABIO! – Ela gritou, afastando o celular e ele gargalhou.
- Sai daí, príncipe encantado! – Matri se aproximou dele e puxou-o pelo pé, fazendo ambos rolarem na grama e eu revirei os olhos.
- O que acha disso? – Pirlo perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Não tem nada que achar. – Falei, cruzando os braços.
- Talvez não, mas a cara de ciúme é óbvia. – Suspirei, relaxando o rosto em um sorriso.
- Deixa quieto, eu fiz uma escolha. – Dei de ombros. – Se algum dos dois for bom com ela, eu prometo que eu vou ficar feliz.
- Uhum, tá! – Ele disse e suspirei.
Erguei o rosto para novamente, vendo-a com os cotovelos apoiados na sacada do segundo andar, ouvindo alguma coisa no celular e eu suspirei. Pensei em subir até lá e... Não sei, só conversar, mas Pavel e Agnelli apareceram ao lado dela e a vi se erguer novamente, fazendo questão de desligar a ligação o mais rápido possível para dar atenção a eles.
Suspirei, voltando a prestar atenção em meu café da manhã e prestar atenção nas piadas do novo jogador de 19 anos do time. Havia visto pouco dele ainda, poucos treinos somente, mas ele era muito promissor. Tinha vindo do Manchester United e sabia o peso de sua contratação, mas ele só tinha 19 anos, era uma criança, comparado com o resto do time. E comigo que tinha 34, quase o dobro da sua idade.
Depois de um momento de relaxamento, finalmente chegou a hora de ir para o campo e, dessa vez, todo mundo foi em peso para lá, inclusive . Ela seguia alguns passos de mim, falando com Barza e Marchisio sobre o casamento do primeiro ou algo assim...
- 2004? Dio mio! Acho que enrolou demais ela, não? – Ela riu em seguida.
- Eu tinha 23 anos, não pensava nisso ainda. – Ele deu de ombros. – Sei lá, começou como um namoro e foi rolando...
- E como você chegou ao casamento?
- Ela acabou me dando um ultimato. – Barza disse.
- Ah! Fala sério! – reclamou e o vi desviar o caminho para o lado um pouco rindo, deve ter batido nele. – Vocês não entendem nada sobre as mulheres mesmo.
- E sobre você? – Ele perguntou.
- O que tem?
- Como seria o momento ideal para pedido?
- Depende muito, Barza. É algo em conjunto, quanto tempo você conhece a pessoa, como vocês são como um casal, se vocês possuem o mesmo foco... – Ela disse. – Eu namorei um cara por três anos e não pensava em me casar com ele, ainda bem que ele nunca me pediu, pois eu negaria. – Eles riram.
- Ainda bem mesmo. Ele era um mala! – Chiellini se meteu no papo, fazendo-os gargalharem.
- É, vocês até o encheram de porrada que eu sei. – Ela disse e eu sorri.
- Não foi minha ideia. – Chiello disse.
- Eles bateram no seu ex-namorado? – Barza perguntou e eu virei meu corpo para eles.
- Ele terminou com ela no dia que ela descobriu que estava com uma doença séria, qual é! – Falei. – Ele mereceu. – sorriu para mim.
- É, mereceu! – Ela disse, nos fazendo rir. – Deveriam ter batido mais, na verdade, mas eles não queriam ser fichados e eu nem tinha dinheiro para tirar todo mundo da cadeia.
- Você pagaria a minha fiança. – Falei. – Foi minha ideia.
- Sua e da Giulia, fala sério. – Ela negou com a cabeça, me fazendo rir. – Mas os outros foram na sua, então...
- Não me arrependo, chefa! – Chiellini disse. – Acho que foi a primeira vez que eu realmente bati em alguém, intencionalmente. – Ela sorriu.
- Dio! Eu gostaria de ter visto isso. – Marchisio disse e rimos juntos.
- Eu também. – disse e eu virei o rosto de novo, voltando a andar.
- O que você teve? – Barzagli perguntou mais baixo e os gritos dos torcedores me fizeram perder a resposta.
Entramos na área do campo, onde eles montavam as arquibancadas e seguimos em direção ao campo. Agnelli, Conte e John Elkann seguiram na frente com nossos dois troféus, o da Supercoppa e o do campeonato, vencido em maio. Eles tiraram algumas fotos e logo os troféus começaram a passar de mão em mão por nós, enquanto acenávamos para a torcida.
Era uma formalidade, os dias em Villar Perosa eram gostosos, mas tudo virava uma loucura antes do final do segundo tempo. E tudo o que eu mais precisava era de distância de , e esses momentos que todo o time estava próximo, não me ajudava.
Seguimos para dentro do vestiário para nos arrumarmos para o jogo e ela estava lá, sentada no largo banco da entrada, as pernas cruzadas deixando suas coxas à mostra enquanto ela tinha os braços apoiados na mesa atrás de si e a cabeça tombada para trás.
Respirei fundo e segui para meu canto no vestiário improvisado, me trocando pelo uniforme azul que já estava arrumado para mim. Troquei os tênis pelas chuteiras e segui com Alfonso para fazer umas massagens em meu braço esquerdo. Ele ainda não estava cem por cento, tinha falado com Conte e jogaria somente alguns minutos – como todos –, mas não queria piorar as coisas, o começo da temporada seria em uma semana e não queria perder isso.
Assim que finalizei, segui para fora do vestiário acompanhado de Leo que também estava na massagem e ouvi os gritos dos torcedores de novo. Acenei para alguns, autografei algumas camisetas e finalmente me vi no centro do campo. Foram somente 15 minutos de aquecimento e logo nos colocamos em posição para entrar em campo. Durante a formação, olhei para o pequeno palanque formado no centro do campo e se destacava entre o pessoal, sorrindo para John.
Villar Perosa era tipo um agradinho aos fãs e à família Agnelli, então não tinha isso de quantidade máxima de substituições e nunca foi possível jogar os 90 minutos, então eu joguei os primeiros 30 minutos. Durante esse tempo, Quagliarella abriu o placar para gente. Eu não fui requisitado muitas vezes, mas, quando fui, senti o braço pegar fogo e isso não era um bom sinal.
No primeiro tempo, tivemos somente esse gol, já no segundo foi que conseguimos abrir mais as jogadas. Matri fez o primeiro e Bonatini, do time Primavera, fez um para eles. Logo em seguida Giaccherini distanciou, Giovinco aumentou e finalizamos com Ruggiero, que jogava anteriormente no Primavera e agora treinava conosco, fechou os 5x1.
Logo após o último gol, eu já começava a procurar os lados para sair e não demorou muito para eu realmente precisar sair correndo, assim como todos. Os torcedores começaram a invadir o campo e seguiram em direção a nós para tentar conseguir qualquer lembrança, e é bem literal quando eu falo em qualquer lembrança.
Me livrei de minha blusa e meu calção rapidamente, sentindo-os serem puxados de minhas mãos com a mesma rapidez. Soltei as chuteiras dos pés e só não consegui me livrar das meias porque as colava com fita para a caneleira não descer.
- Gigi! Gigi! – Fui parado por alguns torcedores e assinei algumas camisetas, mas logo segui correndo para dentro do vestiário, vendo o segurança me puxar para dentro.
- Uau! – Desviei o rosto para que agora estava sentada na mesa e os pés no banco, conversando com Filippi que estava ao seu lado. – Parece que cada ano fica pior!
- Engraçadinha! – Falei e ela deu de ombros.
- Não sou eu que estou só de cueca por aqui, certo, Filippi?! – Meu treinador somente riu e ela abriu um sorriso, descendo o rosto pelo meu corpo.
- Perdeu algo por aqui, ? – Perguntei e ela ergueu o olhar rapidamente.
- Só estava procurando pela sua dignidade. – Ela sorriu.
- Foi embora junto com a sua um tempo atrás. – Disse e ela revirou os olhos, mostrando a ponta da língua para mim, desviando o olhar.
- Vocês precisam arranjar outro jeito de prender essas meias que não seja com fita. – Ela disse.
- Aceitamos sugestões. – Falei.
- Gigi! – Virei o rosto, vendo Angela atrás de mim.
- Fala!
- Eu estava te esperando na zona mista! – Ela disse firme.
- Eu vou me trocar. – Falei e olhei para novamente. – Eu tenho que ir.
- Vai lá. – Ela sorriu e desviou o olhar para Filippi que ainda olhava para mim.
- Como está o braço? – Ele perguntou e eu neguei com a cabeça, ouvindo-o suspirar.
- Falamos disso depois. – Ele disse e confirmei com a cabeça. Observei por mais alguns segundos e desviei o olhar, seguindo para meu lugar no vestiário.
Parei o carro em frente a ONG e abri um sorriso ao ver o grande prédio com a estrutura moderna, o logo e os mascotes na fachada deixando o local mais infantil. Segui pela porta junto de outras pessoas que chegavam juntos e um grande salão se abriu para mim. Dava para ver que era uma recepção que foi improvisada em salão de festas.
Dei uma olhada em volta, vendo as fotos, banners e camisetas de ídolos da Juventus nas paredes e sorri para algumas pessoas, cumprimentei outras com o olhar e vi algumas crianças que o projeto atendia com largos sorrisos no rosto por isso ter se tornado realidade. Abri um sorriso ao encontrar Chiellini junto de seu irmão e sua namorada e segui em sua direção, tocando seu ombro levemente.
- ! – Ele sorriu, me abraçando e passei os braços pelos seus ombros. – Ah, muito obrigado por ter vindo.
- Que isso, Giorgio. Não podia deixar de vir. – Apoiei as mãos em seus ombros. – Estou muito feliz por você. Parabéns pelo projeto! – Ele assentiu com a cabeça.
- Obrigado pelo seu apoio, sem seu apoio não seria possível. – Ele disse.
- Pode contar comigo sempre que precisar. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Grazie! – Ele sorriu.
Troquei um rápido beijo com Carolina e Claudio, irmão gêmeo de Giorgio e abri espaço para outras pessoas cumprimentaram Giorgio pelo incrível projeto. O Insuperabili foi criado como uma academia de futebol para crianças e jovens que possuem algum tipo de deficiência, seja cognitiva, relacionais, física, motora, emocionais ou sensoriais. Foi inspirado no projeto inglês Football For Disabled. Além da academia de futebol, teria diversos profissionais de saúde para ajudar no melhor desenvolvimento dessas crianças, além do apoio às famílias.
Por confiar muito em Giorgio e realmente acreditar nesse projeto, eu doei metade do meu salário anual para esse projeto sair do papel e pretendia continuar ajudando por todo tempo. Era um projeto sensacional e merecia visibilidade e atenção.
Segui pelo salão, pegando um copo de suco quando me foi oferecido e observei as fotos mais de perto, vendo quando tudo começou em um pequeno campinho de futebol que Giorgio havia adquirido em 2007, até tudo o que havia crescido.
- Bom ver alguém conhecido aqui. – Virei o rosto para o lado, vendo Gigi apoiado na parede e sorri.
- Que surpresa te ver aqui! – Falei e inclinei meu corpo, trocando um curto beijo em sua bochecha e comprimi a barriga quando ele me segurou pela cintura, fazendo umas pequenas cócegas.
- Não tenho cara de quem venho para esses eventos? – Ele perguntou e eu ri fracamente, virando de frente para o salão novamente.
- Não, na verdade. – Falei e ele riu fracamente.
- Eu ajudei o Chiello com algumas doações e pretendo participar mais ativamente do projeto. – Ele disse e eu sorri.
- Bom saber disso! – Falei, sorrindo. – Eu ajudei também e o time vai patrocinar com o material esportivo, vim como representante e pela amizade com o Chiello. – Sorri.
- Bom te ver. – Ele sorriu. – Mesmo! Acho que não te vejo desde...
- O Trofeo Luigi Berlusconi. – Falei. – As coisas ficaram um tanto bagunçadas na contabilidade, estou precisando valorizar meu sono um pouco. – Ele assentiu com a cabeça.
- Confesso que não lembro muito do Berlusconi. – Ele disse e eu ri fracamente.
- Vocês beberam demais aquele dia. – Sorri.
- Finalmente vencemos, né?! – Ele brincou e eu ri.
- Ah, tivemos outras oportunidades, nem vem! – Falei, bebendo mais um gole de suco. – É só muito difícil ganhar deles nessa competição.
- Imagino que seja comprado. – Ele falou mais próximo ao meu ouvido e eu ri fracamente.
- Não é impossível, da mesma forma que acho que também foi a Supercoppa.
- Continua com esse pensamento? – Ele perguntou.
- Vamos ser honestos, Gigi... – Virei de frente para ele, olhando em seus olhos claros. – Teve muita coisa errada. Muitos lances duvidosos.
- Não foi o jogo perfeito, mas... – Bufei.
- Ah, desisto!
- Já foi, , você quer voltar e denunciar tudo o que teve de errado? – Ele falou baixo em meu ouvido.
- Deveria! – Falei baixo igual ele.
- Você é muito espirituosa.
- Eu odeio coisas erradas, Gigi.
- Sei bem! – Ele desdenhou e eu abanei a mão, cansando do assunto.
- Deixa para lá, vai! – Bufei baixo. – Parabéns pelas 400 presenças no time.
- Que você não foi? – Ele perguntou, virando o rosto para mim e rimos juntos.
- É fase de grupos, Gigi. E fora de casa ainda! – Ele riu fracamente. – Eu sei o quão importante a Champions é para você, mas minha maior felicidade atualmente é dormir cedo, e isso tem acontecido pouco. – Ele sorriu.
- Ok, eu entendo. Você é importante agora. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Eu vou no jogo em Turim e acompanho depois que vocês passarem de fase. Que tal?
- Combinado! – Ele falou, sorrindo.
- E eu vou no jogo contra a Chievo no sábado...
- Acho bo...
- Scusami, scusami! – Giorgio falou, chamando a atenção de todos nós e virei em direção a ele. – Gostaria de agradecer a presença de todos na inauguração do Insuperabili. Esse projeto é de idealização minha e do meu irmão Claudio, pois crescemos no mundo do futebol e sabemos como o esporte é importante no desenvolvimento das pessoas. A intenção do projeto é desenvolver e ajudar todos os nossos membros pelo futebol. – Ele sorriu. – Agradeço pelas doações que nos ajudaram a montar nossa sede, além de nossos patrocinadores que pagam nossos profissionais e nos provem materiais que nos ajudarão nessa nova etapa. Vamos evoluir juntos! – Ele disse e sorri, aplaudindo-o junto de outras pessoas. – Se puderem me acompanhar, vamos conhecer o espaço. – Ele indicou com a mão e esperei algumas pessoas seguirem, antes de seguir junto, mas Gigi me puxou pela blusa.
- Espera! – Ele falou e virei o rosto para ele.
- Por quê? – Perguntei, franzindo a testa.
- Imprensa à vista. – Ele disse. – À direita. – Ele falou e virei o rosto, vendo uma mulher conhecida vir em nossa direção.
Eu estava acostumada em vê-la na televisão. Eu não conseguia achá-la bonita, mas sabia que muitos achavam. Ela era a rainha do esporte na Sky Sport e os jogadores se dividiam entre os que a amavam e os que a odiavam. Eu pessoalmente não suportava sua voz na televisão e como ela sempre parecia querer ser o centro das atenções, mas era a primeira vez que eu teria contato com ela pessoalmente.
- Scusa. – Ela falou com aquela voz enjoada e precisei fazer cara de paisagem para não rir.
- Ciao. – Gigi falou.
- Que surpresa encontrá-los aqui. – Ela disse e estendeu a mão para mim. – Ilaria D’Amico, Sky Sports. – Assenti com a cabeça.
- ...
- , diretora de contabilidade da Juventus. Sei bem. – Ela disse com um sorriso nos lábios. – Você é importante. – Dei um curto sorriso.
- É, me falaram – Virei para Gigi que tinha um sorriso risonho dançando em seus lábios.
- Poderia entrevistá-los para uma reportagem sobre a ONG? – Ela perguntou.
- Eu estou aqui somente apoiando um amigo, não representando o time, então prefiro que não. – Tentei dar meu melhor sorriso, mas a real é que eu só falava com a imprensa em situações excepcionais: quando me tornei diretora e uma vez ao ano na reunião de acionistas e conselheiros do time, que eu apresentava, mas, de resto, fazia questão de fugir, ainda mais ela. – Agora Gigi...
- Prefiro não também. Estamos de civil aqui. – Ele disse e precisei fingir uma tosse para não rir na frente dela.
- Giorgio vai adorar falar contigo. – Falei, pressionando meus lábios em um sorriso.
- Sim, com certeza. – Gigi me acompanhou.
- Tudo bem. – Ela disse e se afastou junto do câmera que estava há alguns passos longe.
- O que ela está fazendo aqui? – Gigi sussurrou para mim e dei um beliscão em seu braço. – Ai! Por que você fez isso?
- Por que você usou minha desculpa? – Sussurrei para ele.
- Eu não quero falar com ela. – Ele disse.
- É, mas você é famoso, não eu.
- Você é a top três de um time de futebol, . Se ninguém te informou isso, eu vou te informar: você é famosa, lindinha! Desiste de tentar não ser. – Revirei os olhos.
- Não precisa ser tão irônico assim. – Falei com um bico nos lábios e ele riu fracamente.
- E desde que você falou da voz dela, eu não consigo não rir quando penso. – Suspirei.
- Fico imaginando essa voz falando durante o sexo. – Falei baixo e ele gargalhou, escondendo a boca com as mãos para abafar o som.
- Ah, , só você. – Dei de ombros, seguindo pelo caminho que as outras pessoas tinham ido e ele veio ao meu lado.
- Além do mais, ela faz questão de deixar claro que não gosta de você, que te acha imaturo e lembra de coisas que você fez na época do Parma, ou seja, de 12 a 17 anos atrás, para não gostar de você. – Revirei os olhos.
- Isso te incomoda? – Ele perguntou.
- Eu acredito que as pessoas mudam, e você mudou bastante desde que eu te conheci, então... – Dei de ombros. – Sim, isso me incomoda. – Virei para ele, vendo-o sorrir.
- Bom saber que tenho alguém para proteger minha honra. – Ele falou baixo próximo ao meu ouvido e apoiei as duas mãos em seu ombro, empurrando-o para mais longe e ele riu fracamente.
- Vem logo ou vou chamá-la para falar contigo. – Disse.
- Nem brinca com isso! – Ele falou e rimos juntos, seguindo lado a lado pelo caminho da sede do Insuperabili até encontrar a galera novamente. Paramos atrás dos últimos, fingindo que estivemos ali o tempo todo e trocamos uns risos cúmplices que tentávamos esconder entre os lábios.
- Por que estamos aqui? – Quagliarella perguntou.
- Você quer a resposta óbvia ou... – Vucinic falou e o primeiro deu um soco em seu braço. – AH!
- Não, falo sério. Não vamos no estádio? – Ele perguntou.
- Pelo jeito não. – Falei, dando o nó na gravata pela milésima fez e desfazendo logo em seguida.
- Hoje será só para registro do campeonato e nosso. Ano passado foi por causa do estádio novo. – Angela falou na porta do vestiário e virei para Quagliarella.
- Explicado!
- Valeu! – Quagliarella falou.
- Já pode ir? – Marchisio perguntou.
- Sim, quem estiver pronto vai na saída do CT, os fotógrafos os esperarão lá. – Angela disse antes de sumir pelo vestiário. Olhei para Claudio já arrumado e ri fracamente.
- Claudio! – O chamei e indiquei a mão para ele vir em minha direção.
- Fala! – Ele pulou próximo de mim, fechando o botão do paletó.
- Me ajuda aqui! – Falei, esticando a gravata para ele.
- Já passou da hora de aprender a dar um nó de gravata, não? – Ele brincou e eu ri fracamente, erguendo o pescoço.
- Eu sempre tive ajuda nesse departamento. – Desci os olhos para ele. – Ajuda feminina!
- O melhor tipo! – Rimos juntos.
- Bem vi a ajuda feminina que te ajudou ano passado! – Pirlo sussurrou próximo de nós e ri fracamente, empurrando-o para o lado, vendo-o sair do vestiário.
- Pronto! – Marchisio falou.
- Valeu! – Falei, abaixando a gola da blusa e ele seguiu junto do pessoal para fora do vestiário.
Vesti o paletó, fechando-o e ajeitei as mangas da camisa social para dentro das mangas do paletó. Me olhei rapidamente no pequeno espelho que tinha na parede do armário e passei a mão na barba por fazer e depois joguei os cabelos para o lado. Bati o armário e segui Lich e Rubinho para fora do vestiário.
Atravessei o prédio do CT e logo saí pelas portas de vidro que davam para os campos de treinamento. Lá a maioria dos jogadores já rondavam os bancos que sentaríamos e os fotógrafos já ajeitavam os jogadores que saíam em pé no fundo. Me aproximei do pessoal, procurando meu nome no centro do banco e me sentei nele.
- Por favor, se ajeitem nos bancos. – O som abafado do megafone do fotógrafo saiu e ajeitei as mangas do paletó novamente.
Storari se sentou ao meu lado direito e Rubinho do meu lado esquerdo. Conte apoiou as mãos em meus ombros, me usando como centro das fileiras e olhei para trás rapidamente, vendo-o sorrir e dei um tapinha em sua mão.
- Se ajeitem aí atrás! – O fotógrafo gritou. – Bonucci e Vucinic, mais perto. – Ele disse e eu ri fracamente.
Ambos haviam tido um pequeno estresse no jogo contra a Roma no fim de semana e pareciam se estranhar um pouco ainda. Não liguei muito a isso, eu era o capitão, não o resolvedor de problemas pessoais! Não sabia nem o que tinha acontecido, na verdade. Só os separei após um curto bate-boca.
- Para o pessoal da primeira fileira, coloquem as mãos nos joelhos e mantenham as costas retas. – O fotógrafo seguiu dizendo e fiz o que ele pediu, endireitando o corpo para trás. – Sorriam! – Ele gritou.
O sol pegava um pouco no rosto e tentei não franzir os olhos, mesmo que os olhos lacrimejassem com o feito. Devido ao silêncio, deu para ouvir as fotos sendo tiradas uma atrás da outra. Passei as mãos nos olhos por alguns segundos e voltei a focar no fotógrafo por alguns segundos. Poucos.
Do lado esquerdo dele, o top cinco se aproximava como quem vinha da rua na frente do CT. Os quatro homens estavam com o terno iguais aos que nós usávamos, mas fazia questão de se destacar entre eles como sempre. Ela sempre usava os mesmos tipos de roupas e, cada dia mais, eu achava que ela estava mais incrível. Ela usava uma saia preta de couro com um zíper que ia da cintura até a barra, uma blusa social rosa clara e sapatos da mesma cor. Seus cabelos soltos pareciam estar mais , como se ela tivesse renovado a pintura e o sol parecia colaborar com o brilho.
Eu sempre a achava mais incrível hoje do que ontem, mas tinha uma vaga lembrança de seus cabelos em um tom mais escuro do que hoje e isso me fez rir fracamente sozinho. Ela se ajeitou ao lado de Paratici, cruzando os braços como todos os outros e respirei fundo.
- Olhos na câmera, ragazzi! – O fotógrafo falou e alguns risos ecoaram pelo local e imaginei que eu não era o único que estava observando-a.
Virei meu rosto para o fotógrafo, sorrindo mais um pouco e logo o vi checar as fotos no notebook com os outros assistentes à sua volta. Relaxei os ombros e as mãos, observando virar de costas para gente e comentar alguma coisa com Pavel que o fez rir e desci o olhar pela sua bunda e depois pelas suas pernas, me fazendo respirar fundo. Desci o olhar para as alianças que eu usava em minha mão esquerda e neguei com a cabeça.
- Vamos colocar os cinco no centro. – O fotógrafo disse.
A fila de assistentes técnicos atrás de mim deu uma espaçada e entraram na seguinte ordem: Beppe, Pavel, Agnelli, e Paratici, o restante da fila se arrumou para equilibrar o centro da fileira e deixá-los no centro. Ergui meu rosto em direção a e ela piscou para mim, apoiando a mão em meu ombro por alguns segundos e desviei o olhar para o fotógrafo novamente.
- Ok, mais uma vez! – Ele disse e forcei o sorriso e os olhos para mais alguns flashes antes de eles finalizarem tudo. – Pronto! – Ele disse e eu me levantei, ajeitando as pregas das calças nos joelhos.
- Mão! Mão! – Virei para trás, vendo esticando a mão rapidamente e segurei-a, vendo-a pular o banco para sair com mais facilidade.
- Fugiu do preto e branco hoje? – Perguntei e ela riu fracamente.
- Derrubei comida na minha blusa. – Ela fez uma careta e rimos juntos.
- Fala aí, chefa! – Storari disse e ela abraçou-o pelos ombros quando ele deu um beijo em sua cabeça.
- Tudo bom, querido? – Ela passou a mão nos cabelos arrepiados dele, tentando abaixar e ri fracamente.
- Tudo bem e você?
- Tudo ótimo! – Ela sorriu para gente.
- Troca de roupa! – O fotógrafo gritou e suspirei.
- Eu vou com vocês... – disse. – Eu quero falar com... – Ela olhou rapidamente em volta e saiu a passos rápidos atrás de alguém. – Você! – Ela apertou Barza pelos ombros, fazendo-o inclinar o corpo para frente e ambos tropeçarem, fazendo gargalhar.
- Desculpa! – Barza disse, gargalhando com ela e ele a segurou pela cintura.
- Eu estou bem! Estou bem! – Ela disse, abraçando-o pelos ombros. – Eu quero te beijar! – Arregalei os olhos.
- Uh! – Os jogadores gritaram e revirei os olhos.
- Gente! Aquele chapéu foi a coisa mais linda que eu vi no jogo inteiro! – Ela disse, rindo. – Barza, você driblou o lado direito inteiro... – Ela disse, rindo. – Eu fiquei abismada. Parecia que alguma coisa daria errado e você foi até o fim.
- Valeu, ! – Ele disse claramente envergonhado.
- E o meu baixinho... – Ela olhou em volta rapidamente. – Sebastian!
- Ah, não! – Ele disse, rindo sozinho.
- Você finalizou de modo perfeito! – Ela passou os braços nos ombros do mais baixo, me fazendo rir como ele batia em seu peito. – Se você errasse, eu juro que te matava.
- Eu não duvido disso. – Ele disse com os lábios abafados pelos braços dela e o resto do time também gargalhou pela diferença de altura.
- Foi perfeito! – Ela disse, rindo. – Ainda contra a Roma. – Ela suspirou, entrando no vestiário com a gente. – Sem contar os três gols em oito minutos, né?! – Ela apoiou as costas em uma parede livre de armários. – Pirlo, Vidal, marido... – Ela disse, fazendo o pessoal rir e eu só franzi a testa.
- Decidiram casar agora? – Cáceres perguntou.
- É, eu e o Matri conversamos, vamos nos casar, ter dois filhos e alguns cachorros. E o Quagliarella vai ser o amante fixo. – Nem eu me contive em rir dessa vez.
- Assim todo mundo fica feliz. – Matri falou.
- É, eu ganho o sexo e o Matri as fraldas sujas, acho uma boa ideia. – Quagliarella disse e revirou os olhos com isso. Uma blusa voou em direção ao mesmo, fazendo-o rir.
- Engraçadinho. – Matri disse e Fabio devolveu a blusa.
- Tenho que parar de brincar dessa forma, um dia vai dar problema. – sussurrou, me fazendo rir fracamente.
- Ah, é brincadeira? – Quagliarella falou brincando e ela revirou os olhos.
- Deixa quieto! – Ela suspirou. – Foi um ótimo jogo, gente. Claudio, bem vi você tentando, mas não foi dessa vez.
- Valeu, chefa! – Ele disse.
- Não te vi lá. – Falei.
- Não fui. – Ela falou, olhando para mim. – Puxaram a reunião de acionistas para segunda e precisei finalizar as informações mais rápido. Vi o jogo daqui, da televisão do meu escritório. – Ela disse e eu pressionei os lábios, assentindo com a cabeça.
- Eita, chefa! Que droga! – Pogba falou e rimos juntos.
- Beh, ragazzi, apesar da boa vista, tenho que ir. Nos falamos depois. – Ela disse.
- Ei, já vai? – Fiquei feliz por Chiello perguntar.
- Não tenho mais por que ficar aqui. – Ela riu fracamente. – Já vim, tirei minhas fotos, agora eu vou voltar para o ar-condicionado. – Rimos juntos. – E eu tenho que preparar também a viagem de vocês para o jogo do fim de semana.
- Importante, não? – Conte apareceu, passando o braço pela cintura de e eles trocaram rápidos beijos nas bochechas.
- Eu acho e você? – Ela brincou e ambos riram.
- Não vai ficar para tirar fotos de uniforme de novo? – Leo perguntou.
- Não, acho que deu para mim. – Ela sorriu.
- Vamos nos arrumar, galera! Temos que treinar! – Conte disse mais alto, me fazendo finalmente começar a tirar o paletó.
- Ciao, ragazzi! – disse, batendo a mão na parede.
- Ciao, . – Falamos um tanto juntos e ela passou pelas portas.
- Ah! – Ela gritou antes mesmo de sair. – É bom vocês começarem a ganhar algum jogo na Champions, ok? – Fiz uma careta, provavelmente a mesma de todos os outros jogadores já que ficou um silêncio desconfortável.
- O que ela disse! – Conte falou.
- Até mais! – gritou de novo, dessa vez passando de vez pela porta e suspirei, puxando a gravata.
- Ela está certa, sabe? – Chiellini cochichou ao meu lado.
- Claro que está. Dois empates em dois jogos não é um bom jeito de começar. – Suspirei, negando com a cabeça e abri os botões da blusa. – Vamos pensar nisso mais para o fim do mês, beleza?
- Beleza! – Ele disse e assenti com a cabeça, voltando a trocar de roupa para tirar as fotos com o uniforme de jogo, fazendo essas palavras ferverem em minha cabeça.
Capitolo treintacinque
- Podemos fazer isso no dia 19. – Bufei, pegando o calendário em cima da mesa e rolando duas folhinhas para ver a data que Angela falava.
- Temos jogo dia 21, será que dá certo? – Suspirei.
- Contra quem?
- Cagliari. – Falei, engolindo em seco ao me lembrar de Cagliari em maio. – Jogo vai ser em Parma.
- Não é um jogo difícil, é?! – Angela perguntou.
- Eles são mais chatos do que difíceis, mas estamos em primeiro lugar na tabela, se continuarmos em primeiro, mesmo se não for o melhor jogo...
- Acho que é a melhor opção, . – Ela disse e eu suspirei. – Não tem mais data.
- Vai ter menos ainda se eu conseguir fechar o contrato com a Jeep na semana que vem. – Suspirei, desviando o olhar para a televisão, vendo os dois times entrarem para os treinamentos e vi meu celular acender em uma nova mensagem.
“Você não vem?” – Era Pavel e isso me fazia suspirar.
- Vamos fechar essa data? São dois meses, , eu preciso de tempo se for fazer algo diferente como você quer...
- O time está evoluindo, Angela, durante todos esses anos só tivemos homens cuidando desse departamento e você sabe como a festa era horrível... – Ela riu fracamente. – Precisamos inovar, por favor. Algo bonito, bem vistoso, vamos levar isso como um projeto piloto.
- Se for fazer isso no Auditório Umberto Agnelli vai ter que ser menos pessoas, você sabe disso, certo?
- Veta a presença dos familiares. É uma festa de Natal, ninguém passa mais do que três horas lá e os jogadores vão por obrigação mesmo... – Observei o celular se acender de novo.
“Não vem mesmo? Eles têm cachorro-quente no pali-i-to”. – Ri fracamente com a mensagem de Pavel e logo depois sua foto carregou e era somente o espeto, me fazendo sorrir.
- E outra, a festa é estendida para os familiares por educação, não temos obrigação nenhuma nesse departamento. – Finalizei.
- Dia 20, então? – Ela falou e eu suspirei.
- Sim, pelo amore de Dio. – Ela riu fracamente.
- Ok, vou entrar em contato com os fornecedores, montar um plano e te entrego em até duas semanas. – Ela disse.
- Feito! Mas vá descansar hoje, por favor. – Falei, suspirando.
- Você também. – Ela disse e eu abaixei a tela do notebook com força e peguei o celular, digitando para Pavel.
“Guarda um para mim! Estou chegando”. – Digitei, antes de empurrar a cadeira do meu escritório e saí correndo para meu quarto.
Abri o armário correndo, procurando por uma calça jeans, vestindo-a com pressa e peguei uma cacharréu preta. Tirei a camiseta larga que eu usava e peguei um sutiã, vestindo-o e jogando a cacharréu por cima. Abri meu armário de roupas que eu usava para trabalhar e suspirei, dando uma olhada geral nelas, mas empurrei-as com pressa, antes de abrir meu armário de uniformes do time e peguei uma blusa azul, jogando-a por cima da cacharréu.
Voltei rapidamente para o banheiro, soltando meus cabelos que ainda estavam meio úmidos e sacudi-os para os lados, jogando-os para trás para tentar dar uma ajeitada neles. Me olhei no espelho, vendo-os armado, mas não tinha tempo. Abri minha gaveta de maquiagem, sem paciência ou tempo para fazer uma maquiagem completa, então passei um corretivo nas minhas olheiras até que comportadas, fiz um sombreado delicado, preenchendo-o com bastante rímel e lápis preto e passei um batom cor de boca. Me olhei no espelho, franzindo os lábios, mas teria que servir por hoje.
Voltei rapidamente para o quarto, olhando minhas botas amontoadas em meu armário e fui para meu escritório, vendo as outras roupas. Eu precisava urgentemente de uma casa maior, com a quantidade de roupa que eu ganhava ou comprava, elas ficavam espalhadas por qualquer lugar. Acabei optando por uma ankle boot preta de salto grosso. O tempo em Turim estava começando a gelar e meus pés eram as primeiras coisas a sentir.
Voltei para o armário, escolhendo um entre os diversos sobretudos pretos e coloquei-o entre as alças da minha bolsa. Era quase seis horas, o sol ainda estava no céu, mas logo baixaria. Peguei meu celular e as chaves de casa, saindo correndo de meu prédio. Entrei no carro, jogando a bolsa no banco do carona e segui em direção ao estádio.
Demorava uns 30 minutos da minha casa em Vinovo para o estádio, mas com o jogo prestes a começar, as ruas para o estádio estavam uma loucura, então tive um pouco de dificuldade para entrar, mesmo que eu tivesse na área VIP. Consegui estacionar o carro às 18:15, sabia que até eu chegar lá em cima já seria 18:25 e eu teria perdido mais da metade do primeiro tempo, mas eu realmente não estava a fim de correr.
As portas foram abertas para mim com facilidade e era possível ouvir os gritos do que é que acontecia lá em cima com a torcida. Não fazia a mínima ideia contra quem iríamos jogar, não tinha o calendário de cor na cabeça, mas sabia que estávamos lotados, então deveria ser algum jogo importante.
Entrei no camarote, desacelerando um pouco o passo, vendo o bar vazio e acenei com a cabeça para os funcionários atrás do balcão e passei pelas portas de vidro, dando uma rápida olhada em volta. O jogo estava em 23 minutos e estava 0x0 ainda. Procurei rapidamente pelos meus colegas e encontrei a cabeça de Agnelli e Pavel nos lugares de sempre. Desci os dois degraus em direção a eles e me abaixei ao lado de Agnelli.
- Cheguei! – Falei.
- Ei, ! – Eles falaram juntos.
- Desculpe o atraso. – Falei baixo.
- Veio pelo cachorro-quente, não é? – Pavel brincou e eu ri fracamente.
- Estava cuidando da nossa festa de Natal, ok?! – Falei baixo, suspirando.
- , querida, senta aqui! – Allegra, mãe de Andrea, falou ao lado de Pavel.
- Não se preocupe, Allegra, eu vou lá em cima. – Estiquei a mão para ela, sentindo a senhora de 67 apertar e ela me deu um fofo sorriso. – Nos vemos depois. – Falei, baixo para Agnelli e Pavel e me levantei, subindo para o balcão novamente e apoiei os braços nele, tentando entender o que estava acontecendo.
Assim que olhei para o campo, identifiquei os uniformes pretos e azuis. Não tínhamos uniformes azuis claros, os únicos azuis eram o que eu usava, mas era de goleiro, então logo identifiquei que nós jogávamos com o segundo uniforme e aqueles azuis só podiam ser do Napoli. Revirei os olhos, suspirando. Ótimo, era o Napoli. Agora entendia a empolgação da torcida, era uma forma de vingar a Supercoppa, se isso pudesse acontecer.
No jogo, as coisas estavam ruins para nosso lado. O Napoli fazia ataque e Vidal havia dado uma rasteira em um jogador próximo ao gol, mas fora da área. Foi dada a falta, mas Storari fez a defesa e Barza e Asa a recuperaram do outro lado... Oh! Espera aí! Storari? Onde estava Gigi? Franzi os olhos, dando uma arqueada no corpo, mas era impossível enxergar o camarote daqui do alto, precisava estar mais embaixo.
Desviei meu olhar para a área do camarote e o encontrei. Ele olhava para mim e se sentava no extremo esquerdo do camarote, sozinho. Ele me deu um sorriso e eu assenti com a cabeça, retribuindo-o com os lábios fechados. Tinha lugar vago ao lado dele, mas não chegaria ali por conta própria, então preferi voltar a prestar atenção no jogo.
Nos 15 minutos faltantes de jogo, não aconteceu muita coisa. O árbitro tinha acabado de levantar o cartão amarelo para Vidal, mas não consegui entender o motivo. Aos 35 minutos, Quagliarella, meu amante, segundo informações, teve uma chance de gol, mas estava impedido. Quase vi Giovinco e Cavani saindo no tapa, mas não sei como isso funcionaria pela diferença de altura. Meu baixinho era bem irritado, mas ainda era baixinho! Barza fez uma falta em Cavani alguns minutos depois e a briga seria de igual para igual, mas me surpreendia como Barza evitava briga em campo, apesar de ser o primeiro a se irritar quando ganhasse um cartão.
Após o relógio passar de 45 minutos, Marchisio teve a grande chance desse primeiro tempo, mas a bola subiu alto demais. O Napoli contra-atacou e Barza conseguiu alcançar e desarmar o número 11 napolitano, Maggio, mas ele puxou-o pela camisa, fazendo ambos caírem no chão, mas meu jogador se levantou rápido, até o juiz parar o campo. Barza pegou a bola e encarou-o, fazendo com que a irritação aparecesse, me fazendo rir dele encarando o juiz e logo largou a bola irritado.
Barza e Lich eram sensacionais para isso, eu morria de dar risada com ambos. Pelo menos que mantivesse assim. Após a cobrança de falta, o juiz apitou, finalizando o primeiro tempo e ri fracamente, negando com a cabeça.
- Scusa. – Virei para o lado, vendo um garçom.
- Ciao. – Virei para ele.
- Pediram para te entregar. – Ele me estendeu um potinho com um cachorro-quente no palito coberto de mostarda e ri fracamente.
- Grazie. – Sorri, apesar de estar franzindo a esta.
Olhei rapidamente em direção a Pavel e ele continuava conversando com Agnelli. Dei uma mordida, suspirando. Acho que eu não comia algo desde meu café da manhã tardio. Passei a mão no queixo, limpando de mostarda e lambi o dedão, virando o rosto em direção a Gigi e ele tinha um largo sorriso no rosto, rindo de mim. Franzi a testa, erguendo o palito e ele fez o mesmo com o dele já no final.
Desencostei os braços da bancada, levando meu cachorro-quente comigo e segui em sua direção, pedindo licença para algumas pessoas e entrei na sua fileira, vendo-o sorrindo para mim e me sentei ao seu lado.
- Você me enviou isso? – Perguntei baixo.
- Pavel disse que você gosta. – Ele disse e eu ri fracamente, colocando o potinho em meu colo.
- Gosto sim. – Suspirei, negando com a cabeça. – Trocamos o buffet do estádio e agora ficou bom demais. – Dei mais uma mordida e ele sorriu, passando a mão no queixo e fiz o mesmo movimento, sentindo o sujo. – Eu só faço bastante sujeira.
- Você chegou tarde hoje. – Ele falou.
- Estava trabalhando. – Falei baixo, mastigando a comida.
- É sábado! – Ele disse e eu franzi a testa. – Eu trabalho de fins de semana, mas sei que seus horários são diferentes. – Ri fracamente.
- Não tenho mais dessa, Gigi. Quando eu descanso, eu descanso porque eu quero, não porque o trabalho acabou. – Mordisquei mais um pedaço. – Pelo menos estava em casa. – Ri fracamente e ele sorriu, assentindo com a cabeça.
- Queria que você realmente tirasse uma folga, como a gente. – Puxei a respiração, soltando um longo suspiro.
- Está cada dia mais difícil, mas estamos indo bem, é o que importa. – Falei, pressionando os lábios e ele assentiu com a cabeça.
Mordisquei a comida até acabar, enquanto isso o jogo foi retornado, fazendo com que a raiva e energia da torcida aquecesse o estádio novamente. Logo na volta, aos 49, Pirlo bateu uma falta e ela acabou rebatendo em Chiello, achava que era a chance de gol, mas o goleiro pegou.
- E você? O que está fazendo aqui? – Perguntei, limpando a boca com o guardanapo, vendo o batom ficar marcado nele.
- Lesão. – Ele puxou a barra da calça e eu consegui ver os adesivos para dor em sua panturrilha.
- Eu não recebi essa informação.
- É mais uma fadiga, descanso, nada sério. Alessio só me tirou desse jogo para descanso, semana que vem estou de volta. – Assenti com a cabeça.
- Espero não precisarmos de você. – Suspirei, vendo uma falta cometida em Giovinco, mas logo em seguida ele teve uma chance incrível, mas foi para fora. – Não vai ser fácil... – Falei baixo.
- Não, mas pelo menos o jogo está todo no campo deles. – Gigi disse.
- Perdi alguma coisa antes de chegar? – Perguntei.
- Ah, o Barza saiu voando ao dar de encontro com alguém aí... – Ri fracamente.
- Só dá o Barza hoje. – Neguei com a cabeça e ele riu fracamente.
- E o Bonucci saiu de maca...
- Mas ele está aí, não está?
- Mas ele voltou para o jogo. – Ele disse.
- Sem mais preocupações hoje, vai. – Suspirei, vendo Quagliarella saindo e Matri entrando e aplaudi junto com o resto do estádio. Queria fazer alguma piadinha, mas me contive por causa da pessoa que estava ao meu lado.
O jogo seguiu e Chiellini teve uma briga com o número 14, Campagnaro, após uma chance nossa e ambos levaram cartões amarelos. Asamoah sofreu uma entrada forte, saiu para recuperar, mas logo retornou enquanto Angelo e Massimo preparavam Cáceres no banco.
Aos 73, Barza fez uma falta em algum napolitano, do lado norte do campo, eu conhecia meus jogadores pelas posições dele, agora não me peça para analisar os do Napoli, eu não os acompanhava tão de perto, deixava Paratici resolver isso. Barza levou um cartão amarelo e saiu reclamando e debochando, me fazendo rir, era sempre assim.
Faltando 15 minutos para o jogo acabar, Massimo tirou Vidal e colocou Pogba, além de finalmente tirar Asa, que estava com dificuldades e colocar Cáceres para aguentar nesses minutos finais.
- Como você está? – Gigi perguntou e virei o rosto para ele.
- Estou bem. E você? – Me senti obrigada a responder.
- Bem também. – Assenti com a cabeça.
- E os meninos?
- Bem também. – Sorri, virando o rosto para o campo e vi Pirlo no escanteio. Ele cobrou, cruzando-o para área e Cáceres cabeceou.
- GOL! – Gritei, me levantando apressada e o estádio gritou junto, me fazendo sorrir.
Cáceres correu pelo campo, abraçando e desviando dos jogadores, arrancou a blusa e foi para galera. O árbitro deu um amarelo para ele, mas isso só me fez rir. Não satisfeito com esse placar já suado, Pogba aumentou a diferença. Giovinco tentou fazer o chute, mas foi recuado pela defesa que encontrou Pogba fora da grande área, o meia deu um chute só e a bola foi para o fundo do gol, nos fazendo pular animados de novo.
Sua comemoração foi mais rápida que de Cáceres, agora que abriram o placar e ampliaram, eles queriam tentar mais. Giovinco preparou uma ótima para Matri, mas meu marido errou ao chutar.
- Deve até dar um gostinho a mais para você ganhar do Napoli, não é? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Ainda faltam alguns minutos de jogo, mas quando o jogo é honesto... – Olhei firme em seus olhos. – É bom sim. – Suspirei.
- Quem sabe um dia você não volta lá com a gente? Da mesma forma que fez em Palermo? – Ele perguntou e pressionei os lábios.
- Não... – Neguei com a cabeça. – Palermo é meu céu, Napoli é meu inferno... – Neguei com a cabeça. – Só se alguma coisa muito importante acontecer lá, do contrário é só um lugar no mapa. – Dei de ombros, desviando o olhar para roupa que ele usava. – Quem te vestiu? Um cego?
- Ai! – Ele disse, me empurrando pelo ombro e ri fracamente. – Não está tão mal.
- Está sim! – Falei firme e ele riu fracamente.
- E você está usando a minha blusa. – Ele disse.
- Não, essa é minha. – Virei o corpo na cadeira, mostrando o três nas costas com meu sobrenome.
- É, mas é de goleiro. – Ele riu fracamente. – Você deveria usar o número um.
- Só não uso pela hierarquia, se quer saber. – Dei de ombros. – Você é o jogador mais antigo do time e... VAI, STORARI! – Gritei, vendo o contra-ataque do Napoli e Marco saiu do gol, interceptando a bola longe das balizas. – Ufa.
- Eu sou o jogador mais antigo e...
- E tem seu valor. – Ele riu fracamente.
- Valeu, .
- De nada, Gigi. – Sorri para ele, virando o rosto para o campo, vendo que o juiz havia dado quatro minutos de acréscimos.
O jogo acabou aos cinco minutos de acréscimos e sem mais novidades e pudemos comemorar esses novos três pontos que nos manteriam em primeiro lugar na tabela.
- Eu vou descer. – Falei, me levantando rapidamente.
- Eu vou contigo! – Ele falou e eu assenti com a cabeça, apontando involuntariamente para a porta e segui sem me certificar se ele tinha vindo comigo.
- ! – Beppe me encontrou na porta e eu o abracei de lado, sorrindo com a felicidade dele.
- Mais uma, Beppe!
- Mais uma! – Rimos juntos e seguimos em peso rapidamente para fora do camarote.
- ARRIVAMO, RAGAZZI! – Acordei no pulo ao ouvir o grito e virei o rosto para a janela, vendo que estávamos entrando em Vinovo.
Dio mio! Eu deveria estar cansado! Dormi durante o percurso do aeroporto para cá, coisa de meia hora. O dia havia sido pesado. Jogo às 12:30, o que já começava mal, depois viagem de quase duas horas de volta para Turim, o sol ainda estava no céu, mas começava a se esconder devido ao inverno.
Olhei as diversas vagas vazias no estacionamento de Vinovo e chequei o relógio, já passava das sete horas, não era para ninguém estar ali, na verdade.
- Ih, lá vem bomba! – Ouvi Pavel citar na poltrona da minha frente e vi alguns jogadores cruzarem o corredor do ônibus para ver o que ele dizia.
Ergui o corpo na poltrona, não conseguindo ver e neguei com a cabeça, Barza também dormia ao meu lado e eu ri fracamente. Toquei seu ombro devagar, vendo que não tinha reação e o sacudi devagar.
- Ô, Barza! – Falei, vendo-o acordar, assustado e Asa e Cáceres, que estavam na poltrona do lado, riram.
- Oi! – Barza disse, apressado.
- Chegamos! – Falei e ele coçou os olhos.
- Cara, eu dormi? – Ele perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Imagina! – Falei, irônico e ele revirou os olhos. – Relaxa, eu dormi também.
- Filho da mãe! – Ele disse e eu ri.
- O que está acontecendo aí? – Perguntei para Asa, indicando a janela.
- A e o Danielle estão esperando a gente. – Ele disse e eu suspirei.
- Ótimo, voltar com xingo. – Murmurei.
- Ela não é tão mal assim, cara. – Barza disse e eu ri fracamente.
- Força do hábito.
O ônibus finalmente freou e pudemos sair de dentro dele. Peguei minha mochila no bagageiro e segui atrás do pessoal que estava mais à frente.
- O que está acontecendo, ? – Agnelli foi o primeiro a perguntar.
- Recepção especial? – Quagliarella perguntou.
- Ah, claro! Com toda certeza. – Ela disse, rindo fracamente.
- Você está esperando por quem? – Perguntei, apoiando o ombro no ônibus.
- Vocês, mas se vocês continuarem nesse mau humor, eu escondo minha surpresa para sempre. – Ela disse, com aquele sorriso fino nos lábios, sem mostrar os dentes, que misturava raiva, ódio e ironia.
- Não é tão fácil de esconder, mas... – Danielle disse ao seu lado e ambos rirem.
- È vero!
- O que está rolando, ? Eu quero ir para casa. – Conte disse e ela revirou os olhos.
- Nos sigam, por favor. – Ela disse, virando de costas com Danielle e seguiram para dentro do CT.
Alguns jogadores deixaram suas mochilas no chão e eu fiz o mesmo, seguindo ambos logo atrás. Marchisio e Bonucci estavam em minha frente e, logo após, , Pavel, Agnelli, Beppe e Paratici. Pavel mencionou algo e ela confirmou com a cabeça, fazendo-o abrir a boca, surpreso.
- MENTIRA!
- Não mesmo! – Ela disse, sorrindo. Passamos por dentro dos corredores e ela parou antes de abrir a porta do outro lado. – Levem isso como o presente de Natal adiantado de vocês!
- A gente nunca ganhou presente de Natal. – Chiello falou mais rápido do que eu.
- Fiquem felizes, então. – Ela disse e abriu a porta, sendo a primeira a sair.
O pessoal foi saindo pelas portas e parando poucos passos à frente. Me coloquei na lateral e consegui entender a surpresa de Pavel. Nos quatro campos que tínhamos para dentro, que formavam um “L” em Vinovo, tinha diversos carros estacionados nele. Diversos carros iguais, só mudavam a cor, preto, prata, branco ou azul escuro. Eram carros da marca Jeep com laços vermelhos em cima deles. Os holofotes dos campos davam uma iluminação mais bonita para eles.
- ISSO É PARA GENTE? – Cáceres gritou.
- ESTÁ BRINCANDO! – Giovinco disse, animado.
Eu estava tão abismado quanto todos eles, eles pulavam e gritavam de surpresa, eu só estava travado mesmo. Aquilo era loucura, cara! A gente ia ganhar um Jeep? É isso mesmo? Por que ninguém colocou a como diretora de contabilidade antes?
- Você não fez essa brincadeirinha com a gente, fez? – Vidal perguntou e riu fracamente.
- Não, gente! Cada carro aqui é para um de vocês. – Ela disse, andando um pouco a frente e pegou uma caixa. – Um para cada jogador, assistente e colaborador técnico e cargos administrativos importantes. – Ela a abriu e pude ver várias chaves
- EU TE AMO! – Vucinic falou, animado, correndo em direção a ela e abraçou-a fortemente, fazendo-a arregalar os olhos, surpresa e ele a tirou do chão por alguns segundos.
- Imagino que o contrato tenha dado certo. – Agnelli falou.
- Sim! – Ela sorriu. – Fechamos o contrato com a Jeep*, 17 milhões de euros mensais com cláusulas ínfimas, levando em conta que ganhamos um carro. – Ela disse, rindo.
- Quais são? – Perguntei.
- Usar o logo dele em nossos uniformes, estádios e toda forma de exposição e alguns de vocês farão a propaganda da marca. – Ela deu um sorriso. – Vai ser ótimo!
- E eles vão investir 17 milhões no time? – Perguntei.
- Mais royalties e bônus por conquistas. – Ela riu fracamente. – E eles dão um carro novo por ano. – Ela sorriu. – As opções eram um Jeep Wrangler, que parece um jipe de verdade ou o Grand Cherokee. Optei pelo segundo, é mais carro de passeio.
- ELE É DEMAIS! – Marchisio disse.
- Peguem suas chaves, acionem o alarme e descubram qual é seu carro. – Ela disse, esticando a caixa.
- Vamos lá! – Lich disse, animado, sendo o primeiro a pegar a chave.
- Acionem um por vez ou vai ficar uma brincadeira difícil! – gritou logo em seguida, me fazendo rir.
Esperei que todos os jogadores, assistentes e administrativos pegassem suas chaves, sobrando somente duas. A minha e a dela. O pessoal ria, gritava e corria pelo campo à procura de seus campos.
- Bom trabalho, ! – Agnelli falou, dando um tapinhas nas costas dela e ela sorriu.
- Vai valer a pena. – Ela disse, rindo. – Mal vejo a hora de gravar as propagandas. – Eles riram juntos e me aproximei dela.
- Quer escolher? – Perguntei e ela riu fracamente.
- Já peguei o meu. – Ela puxou a chave do bolso. – Queria um branco, já garanti. – Rimos juntos.
- E de quem é esse?
- Da Angela. – Ela riu. – Vai, tire sua própria sorte. – Ela falou e eu puxei a respiração fortemente.
- Vamos lá! – Mexi nas duas chaves e peguei uma, vendo-a sorrir. – Não acredito que você conseguiu um carro para gente.
- Eu consegui uns 50 carros, nem vem! – Ela riu fracamente, deixando a caixa no banco que estava antes. – E o contrato vale até 2021, então, se mantivermos uma constância boa de vitórias e títulos, é algo já garantido para gente. – Sorri.
- Nunca tive dúvidas que você seria incrível nesse posto. – Ela enrugou com as bochechas de vergonha e colei meus lábios em sua cabeça por alguns segundos.
- Eu vou procurar meu carro. – Falei.
- Vai lá! – Ela sorriu. – O meu é esse aqui... – Ela indicou o branco ao nosso lado, apertando o botão do alarme, fazendo-o piscar os faróis.
- Aposto que o meu vai ser o mais longe. – Rimos juntos.
- Não duvido de nada. – Ela disse. – Ah, Gigi! – Virei para ela. – Como foi o jogo?
- Mais difícil do que eu esperava. – Falei, suspirando. – Mas vencemos... – Ela assentiu com a cabeça.
- Continuamos em primeiro, vamos tentar finalizar o ano assim, pode ser? – Ri fracamente.
- Pode deixar, chefa! – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Legrottaglie está no Catania, né?! – Ela falou.
- Está sim, falei com ele rapidamente, está começando a pensar em se aposentar. – Disse.
- Uma hora chega para todo mundo. Uma pena, mas... – Ela suspirou, dando de ombros e eu confirmei com a cabeça.
- Um dia de cada vez, . – Disse e ela riu fracamente, sorrindo para mim.
- Vai lá. – Ela suspirou. – E fala para o pessoal ter cuidado para tirar os carros daqui, não quero ter que reformar gramado em meio de temporada.
- Você que trouxe os carros aqui, agora aguenta.
- Onde você queria que eu enfiasse 50 carros, Gigi? – Rimos juntos. – Estacionamento estava lotado quando eles chegaram.
- Ok, está perdoada! – Disse e a última coisa que vi antes de virar foi seu sorriso.
*A Jeep é uma das maiores patrocinadoras da Juve até hoje.
- Beh, é uma celebração. – Pavel falou e eu suspirei.
- Sim, só esperamos fazer bonito. – Disse, ouvindo-o rir fracamente.
- Ah, não, vamos ganhar sim. Em comemoração ao aniversário do time e ao seu! – Ele disse rindo.
- Espero mesmo! – Brinquei, vendo-o empurrar a porta que dava para o túnel e ele segurou para eu passar.
Nós dois seguimos pelos corredores e vi a pequena bagunça pré-jogo, organizadores e equipe técnica da Juventus e da Internazionale andavam de um lado para outro. Faltava uns 10 minutos para começar, então os jogadores já tinham entrado do aquecimento. Passei pelos corredores, vendo Pavel vir junto e entrei no vestiário.
- AUGURI, CHEFA! – Me assustei com o grito e um canhão de confete estourou há uns dois metros de mim, vindo das mãos de Cáceres.
- Como fazer 31 anos e morrer de ataque cardíaco, é isso? – Suspirei, levando a mão ao peito, sentindo o coração bater mais forte.
- Não foi a intenção. – Vidal disse e eu ri fracamente.
- Grazie, mas meu aniversário foi há dois dias...
- Não te vimos há dois dias. – Marchisio disse.
- Auguri, ingrata! – Leo estourou outro canhão ao meu lado e eu dei um soco em seu braço. – Ai!
- Para! – Falei, rindo em seguida e ele sorriu, passando o braço pelos meus ombros e eu o abracei pela cintura. – Grazie, ragazzi... – Ele beijou minha cabeça. – Ganho uma vitória de presente?
- Claro! – Eles falaram junto e eu ri fracamente.
- Assim que eu gosto! – Sorri e Lich, que estava ao lado de Leo, veio me abraçar e me senti na obrigação de passar por cada um, recebendo um beijo, abraço, uma bagunçada no cabelo ou até uma erguida, como foi o caso de Matri e Quagliarella.
- Auguri, chefa! – Gigi disse quando eu cheguei nele e neguei com a cabeça, sentindo-o me apertar pelos ombros e eu o abracei pela cintura, apertando seu uniforme amarelo.
- Você não me chama assim. – Falei e ele riu fracamente.
- Entrando no clima. – Ele disse. – Recebeu minha mensagem?
- E suas flores, sim. Grazie! – Falei.
- Não fala para eles que eu mandei flores separado do time. – Ele sussurrou e eu ri fracamente, dando um beijo em sua bochecha.
- Outros mandaram também! – Falei.
- Quem? – Ele perguntou, curioso.
- Leo, Chiello, Barza, Pirlo, Marchisio, Lich... – Dei de ombros. – Meus maridos...
- Droga! – Ele falou e eu ri, ergui a mão para seu rosto, onde tinha uma barba bem rala e dei um sorriso.
- Gostei assim. – Me afastei dele, seguindo para os outros até finalizar a fila novamente.
- Auguri, chefa! – Vidal foi o último e ele me apertou fortemente pela cintura e eu o abracei pelos ombros.
- Agradeço a todos pela lembrança do meu aniversário e espero que alguém limpe isso daqui antes de vocês sujarem de barro e grama. – Falei, dando um sorriso escondido entre os lábios e eles riram fracamente, Leo revirou os olhos ao meu lado.
- Bom jogo, ragazzi! – Pavel falou.
- Se vocês ganharem, champanhe liberado para vocês lá em cima. – Falei e eles comemoraram batendo nas portas dos armários e mais um canhão foi estourado, dessa vez por Matri. – Para!
- A gente que vai ter que limpar mesmo... – Ele deu de ombros e eu ri fracamente.
- Ciao, ragazzi.
- Ciao, ! – Eles falaram daquela forma cantada de sempre e eu revirei os olhos, saindo do vestiário e dei de cara com Claudio Filippi.
- Tanti auguri, . Muitas felicidade e amor na sua vida. – Ele deu um beijo em minha cabeça e eu sorri.
- Por que eu senti um frisar na palavra “amor”? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Você sabe... – Ri fracamente.
- Auguri, ! – Conte veio logo em seguida e abracei o mais baixo.
- Grazie, amori miei. – Falei para ambos, sorrindo. – Te encontro lá em cima, Conte?
- Logo mais! – Ele disse e dei um beijo na bochecha de cada um e segui logo atrás de Pavel.
- Ainda bem que deu certo! – Pavel disse, rindo fracamente.
- Você sabia? – Passei por Paratici e Beppe, acenando rapidamente para ambos.
- Claro que sim! – Ele disse.
- Por isso você só quis descer agora. – Falei, negando com a cabeça.
- Claro! – Ele disse. – Eles já teriam voltado até do treino. – Neguei com a cabeça.
- Ah, só vocês mesmo! – Disse, rindo, entrando no elevador novamente.
- Ah, você faz comigo também. – Dei de ombros.
- Estamos quites, então. – Disse e ele riu.
- Fechado! – Ele falou e sorri.
O elevador logo abriu novamente no andar dos camarotes e passamos por algumas pessoas, recebendo rápidos cumprimentos deles, outros abraços e seguimos para o camarote. Agnelli e sua família já tinha me cumprimentado e todos estavam de olho no campo, já que o jogo começaria em poucos minutos.
- Signorina . – Virei para o lado, vendo a atendente do bar.
- Oi.
- Uma moça te mandou. – Ela colocou uma marguerita em cima de um guardanapo, apoiando no balcão.
- Grazie. – Falei, franzindo a testa, esse negócio de ganhar coisas do bar do time estava ficando complicado. Primeiro Gigi, agora uma moça? Agradeço o interesse, mas não.
Me aproximei do balcão, pegando a bebida e vi o guardanapo com alguns escritos “Ciao, bella, topa beber comigo? Estou na poltrona 34G”. Revirei os olhos, negando com a cabeça e peguei a taça, dando um curto gole para esvaziar um pouco e segui com ela pelo camarote, seguindo até a poltrona 34G e encontrei a moça com os cabelos, milagrosamente, no seu tom natural.
- Vontade de jogar isso na sua cabeça! – Falei e Giulia gargalhou na fileira.
- Ah, minha amiga! – Ela me apertou fortemente, me fazendo rir. – Já imaginou que ia se dar bem hoje, é?! – Ela falou baixo em meu ouvido e ri fracamente.
- Não me interesso por meninas, mas a situação está feia a ponto de eu quase aceitar. – Ela gargalhou. – Quase!
- Ah, minha amiga, que saudades de você!
- Nem fala! – A apertei com a mão livre, sentindo o líquido escorrer um pouco pela minha mão. – O que está fazendo aqui? – Perguntei, me afastando dela e ela suspirou.
- Ah, longa história! – Ela disse. – No momento, estou voltando para casa.
- Pode contar! – Empurrei-a levemente pelo ombro e ela se sentou na poltrona e eu me sentei na do seu lado. – Temos, no mínimo, duas horas aqui, depois vamos para minha casa...
- Eu larguei o programa. – Ela suspirou.
- O que aconteceu? – Perguntei.
- Mudou o diretor e ele não aceitava que eu fizesse as melhores piadas do futebol e do, segundo ele, “mundo dos homens”, e queria montar personagens para cada apresentador e queria me colocar para falar do mundo dos famosos, maquiagens, vestidos e bleh! – Ela fez uma careta.
- Ah, fala sério! Você era a melhor coisa daquele programa! – Falei e ela sorriu. – Os meninos te odiavam, mas isso quer dizer que você era boa! – Ela riu fracamente.
- Então, aí eu pensei um pouco e larguei. – Ela deu um curto sorriso.
- E o que você vai fazer agora?
- Eu entrei em contato com alguns produtores independentes e eu montei um piloto para fazer um stand up comedy... – Franzi a testa.
- É teatro, não?
- É! – Ela ponderou com a cabeça. – Vou contar piadas para um público, é quase a mesma coisa, e eu posso focar no que eu quiser, inclusive futebol e o mundo dos homens. – Gargalhamos juntas. – Nós duas somos a prova que isso não existe. – Ela disse. – Você mais do que eu! – Sorri.
- Adoro fazer parte dessa turma. – Disse e ela sorriu. – Mas e aí, como vai ser?
- Ah, vamos começar aqui na região de Piemonte primeiro, se der certo, seguimos em turnê pelo resto da Itália. – Ela suspirou. – Vamos montar junto de uma produtora e, a intenção, é começar em junho do ano que vem.
- Ah, então quer dizer que vou ter minha amiga de volta, é?
- Sua irmã! – Ela disse e eu apoiei a cabeça em seu ombro, suspirando.
- Vai ser bom demais. Estou precisando da minha amiga. – Sorri e ela riu fracamente.
- Ah, e tem outra coisa, vou montar um canal no YouTube. – Ela disse.
- O quê? – Franzi a testa.
- Um canal, onde eu vou fazer piadas, falar do cotidiano, algo geral. Vai ser tipo o Le Iene, mas montado, escrito e dirigido por mim.
- Ou seja, só as partes legais do Le Iene. – Falei e ela gargalhou.
- Isso aí! – Ela sorriu. – Agora me dá um gole, vai! – Ela disse, pegando minha taça e bebendo, me fazendo rir.
Os jogadores entraram, os campos foram divididos e a bola começou a rolar. Não tinha dado 18 segundos e Vidal já abriu o placar, me deixando surpresa. Era a primeira vez que eu via isso acontecer. Se o jogo fosse assim, seria ótimo.
- E aí, como estão as coisas aqui?
- Ah, corridas como sempre. – Ela deu de ombros. – Almocei com seus pais na semana passada e estava combinando de trazer os meninos para algum jogo.
- Ah, meu pai falou que você está tentando corrompê-los. – Ela disse sarcasticamente e eu ri.
- Ei, eu posso trazê-los para o jogo contra o Torino, não é bem corromper. – Ela riu fracamente.
- Até parece que ele cai nessa.
- Fica feliz, que eu já cogitei trazê-los para base da Juve... – Falei baixo.
- Nossa! Ele te mata! – Rimos juntas.
- Ah, eles já estão com 13 anos, Giulia, se quiserem realmente seguir essa carreira, eles precisam de um investimento de qualidade. Não falando do Torino, mas eles mal conseguem manter o time principal...
- Eu sei. – Ela suspirou. – Pietro não sei muito se vai seguir a carreira de jogador, mas o Giani gosta muito.
- Então... – Ela franziu os lábios.
- Eu preciso falar com seu Fabrizio. De verdade, sério! Não só essa rixa de Juve e Torino. – Ela suspirou.
- Te desejo boa sorte e vá com colete à prova de balas. – Rimos juntas.
- Eu vou pegar os meninos um dia e os trago aqui, para ele conhecer o ambiente, o pessoal, ver o que eles acham...
- Nossa! Se você trouxer eles aqui, aí sim que eles vão infernizar meu pai. – Rimos juntas.
Aos oito minutos Marchisio teve uma grande chance, mas que foi defendida pelo goleiro da Internazionale. Aos 12, Palacio fez um gol, fazendo com que todos ficassem irritados, mas foi dado como impedido. Barza o empurrou pelas costas e isso quase causou um pênalti, mas o juiz ignorou isso. Aos 15, Vidal teve outra chance, mas foi defendido e, antes disso, já estava impedido.
- E sua vida amorosa, amiga? – Giulia perguntou.
- Da mesma forma da última vez. – Suspirei.
- Mas e vocês dois?
- Agindo como se nada tivesse acontecido. – Neguei com a cabeça. – Às vezes nós mesmos fazemos uma piadinha sobre o fato, mas nada demais.
- E como você se sente com isso?
- Eu estou bem. – Suspirei. – Somos amigos, sinto que finalmente vou poder seguir em frente. – Ela franziu os olhos.
- Mesmo? – Ri fracamente, empurrando-a pelo ombro.
- É sério! Eu estou bem. – Ela semicerrou os olhos, me encarou por alguns segundos e empurrei-a. – Para! É sério!
- Quero só ver, hein?!
- Só estou sentindo falta de um pouco de atividade... – Falei baixo e ela entendeu.
- Ah, nem me fala, amiga. Estou nessa também! – Rimos juntas.
- Vai pegar uma bebida para mim agora, você acabou com ela. – Rimos juntas.
O primeiro tempo se seguiu e Giovinco, meu baixinho, teve uma grande chance aos 30 minutos, mas fez o passe para Vucinic que acabou perdendo a bola. Aos 34, Bonucci claramente levou uma rasteira dentro da área, mas não foi dado. O primeiro tempo acabou com um minuto de acréscimo e uma chance a mais de Vidal.
Pegamos uma porção de fritas no intervalo e ficamos papeando como se estivéssemos no chão de seu quarto, gargalhando até alto demais. O segundo tempo voltou e Bonucci teve uma chance defendida aos 51. No contra-ataque, Inter teve outra chance e Gigi a defendeu.
Aos 58 minutos, devido a uma bagunça na grande área nossa, foi dado um toque de mão que eu não consegui ver, mas foi dado o pênalti e Gigi foi na bola, mas ela estava mais rápida do que ele. Aos 73, eles tiveram mais uma chance, mas foi para fora.
O jogo estava até que equilibrado, mas logo as coisas mudaram. Aos 75, o Inter teve uma grande chance. Gigi defendeu, mas, no rebote, ele não conseguiu segurar e o placar virou. Os últimos 10 minutos foram, definitivamente, o pior, aos 89 minutos, em outro contra-ataque, a Inter se viu literalmente sozinha no nosso campo, meu BBC até conseguiu se formar, mas eles driblaram meus meninos e Gigi tentou sair para interceptar, mas a bola estourou nele e foi para trás, entrando no gol.
Posso te garantir que o tempo fechou no camarote. Somente os dirigentes e convidados da Inter comemoravam e os torcedores da Juventus xingavam e continuavam a deixar o estádio, os que sobravam, gritavam da marra da Inter e continuavam a cantar músicas de apoio. O jogo finalizou com três minutos de acréscimos e eu estava travada na cadeira, tão chocada quanto todos outros.
- Eu preciso descer! – Falei para Giulia. – Te encontro depois?
- Eu te espero. – Ela falou. – Te encontro na saída do camarote. – Ela disse.
- Ok, logo volto, vai estar um velório lá embaixo. – Suspirei. – Ainda mais pelo aniversário do time.
- Ah, meu Deus, foi seu aniversário, deixa eu te abraçar. – Ela me apertou pelos ombros.
- Você já me cumprimentou.
- É, mas não pessoalmente. – Ela disse e rimos juntos.
- Logo volto. – Suspirei, olhando para o campo, onde a Inter claramente fazia uma festa e segui até a porta do camarote, esperando por Pavel e Agnelli e não trocamos nenhuma palavra, somente erguemos a cabeça e seguimos novamente em direção ao elevador.
Ok, acho que agora aquela frase “não deixe um homem fazer o trabalho de uma mulher” faz total sentido. Na verdade, não sei em que ponto foi coisa das mulheres do time, mas essa era a festa de Natal mais bonita que eu já tinha visto!
Para começar que o auditório Umberto Agnelli, o auditório que dá para os camarotes exclusivos do time, estava completamente irreconhecível. Eu não saberia dizer que estava entrando ali, para falar a verdade. As paredes estavam brancas, onde desenhistas faziam algumas grafitagens na hora com os símbolos do time. Algumas televisões mostravam vídeos e fotos das nossas conquistas esse ano. Por todo espaço, mesas mais altas estavam colocadas somente para o apoio de copo, tinha poucas poltronas e, no palco, um quarteto de cordas tocava algumas músicas de Natal. Estava incrível! De verdade!
Boa parte dos jogadores chegaram juntos, então já ocupamos boa parte do salão. Diferente dos outros anos, aonde chegávamos um tanto espalhados, tinha a presença dos familiares e familiares dos funcionários, as pessoas acabavam se perdendo no meio da galera, agora hoje não. Os acionistas nos miraram como gaviões e eu sabia que precisava de um uísque o mais rápido possível. Principalmente quando vi o repórter do canal da Juventus começar a procurar pessoas para falar alguma coisa.
- Fala aí, Chiello! – Falei quando ele se apoiou na mesa que eu estava.
- O que está acontecendo aqui, cara? – Ele perguntou, rindo.
- Eu estou surpreso também. – Falei, rindo fracamente.
- se superou! – Ele disse, rindo.
- Você acha que foi ela? – Perguntei.
- Ela é a dona do dinheiro... – Ele deu de ombros.
- Você já a viu? – Perguntei.
- Ainda não. – Ele disse, rindo.
- O quê? – Perguntei.
- Nada! – Ele disse e eu revirei os olhos.
- Eu vou pegar uma bebida. – Falei, seguindo em direção ao bar e me apoiei no mesmo ao lado de Barza e Giovinco. – Uísque puro, por favor.
- Vai começar forte já? – Barza perguntou e eu ri fracamente.
- Eles provavelmente vão me chamar no palco em algum momento e eu tenho que me parecer mais empolgado do que estou. – Ele gargalhou.
- Esse é o verdadeiro Grinch! – Giovinco disse, me cutucando na barriga e eu a contraí.
- Eu gosto de Natal, mas por trás da festa de Natal do time, vem aquela pressão nada velada do que devemos conquistar.
- Estamos bem, vai! Ganhamos a Supercoppa, estamos em primeiro lugar na tabela desde o começo da temporada, só curtir. – Barza disse e eu fiz uma careta.
- Espero que sim! – Ele riu e eu peguei o copo, seguindo até a mesa mais próxima e apoiei os antebraços nela e mantive o copo entre minhas mãos.
Giovinco apoiou ao meu lado também e dei uma rápida olhada pelo salão. Até que estava calmo mesmo, mas eu estava aqui por 15 minutos, nem tinha motivo para não estar. Vi o repórter do canal falando com Bonucci e Cáceres e suspirei, saberia que seria o próximo.
- Gigi! – Virei para o lado, vendo Agnelli e Pavel.
- Ciao, ragazzi. – Falei, cumprimentando ambos e senti uns tapinhas nas minhas costas.
- Tudo bem?
- Tudo bem e com vocês?
- Tudo certo! – Pavel falou.
- Depois, você se importa de subir no palco com a gente para falar algumas coisas? – Agnelli perguntou.
- Claro, claro! – Falei, assentindo com a cabeça e ele fez o mesmo movimento.
- Sebastian! – Agnelli e Pavel o cumprimentou. – Até mais! – Agnelli falou e eu puxei Pavel pela manga da blusa.
- Fala! – Ele disse.
- não veio? – Ele riu fracamente. – Só estou perguntando.
- Veio sim! Estava com o Quagliarella da última vez que a vi. – Revirei os olhos e ele seguiu Agnelli com uma risada entre os lábios.
- Tem alguma coisa aí, não tem? – Giovinco perguntou e eu suspirei, dando um gole na minha bebida. – Ah, tem sim! Vocês dois...
- Tivemos alguma coisa no passado, mas hoje somos só amigos. – Disse e ele riu fracamente.
- E eu devo acreditar nisso? – Ele disse e eu ri fracamente.
- Pior que é sério! – Falei, rindo. – Seguimos em frente... – Falei a última parte mais baixo, ocupando o silêncio com mais um gole da bebida. Não deixava de ser verdade, apesar de tudo.
- Ciao, ragazzi. – O repórter chegou em nós. – Podemos gravar uma coisa com vocês rapidinho.
- Claro, vamos lá. – Apoiei o copo na mesa, afastando um pouco e ele e o câmera se posicionaram em nossa frente.
- São duas perguntinhas rápidas. – Ele disse. – O que vocês desejam para 2013?
- Hum... – Falei e Giovinco pareceu pensar também. – Muita paz, saúde e conquistas para nós.
- Que o Carrarese continue firme e forte também. – Ele disse, olhando para mim e eu ri fracamente.
- Seria bom! – Pensei no time da minha cidade que eu tinha grande parte nas ações.
- Agora mandem um recado para o pessoal! – Ele disse.
- Um bom Natal a todos os juventinos e fãs de esportes! – Falei. – Um ótimo Natal e um ano novo belíssimo.
- O mesmo que o capitano disse! – Giovinco falou e rimos juntos.
- Grazie, grazie! – O repórter falou e acenei com a mão, vendo-o se retirar.
- Foi fácil! – Sebastian disse.
- Sì, sì! – Falei, pegando meu copo novamente e dando mais um gole.
- Vou dar uma volta! – O mais baixo falou e eu virei o corpo, passando os olhos pelo salão e foi quando consegui vê-la.
Não sei por que eu ainda me surpreendia ao vê-la. Como sempre, ela se destacava entre as pessoas, e não era pelo fato de ela ser uma das poucas mulheres no recinto e nem por ela ser a única que usava um casaco branco que parecia um holofote se comparado aos diversos ternos pretos no local, mas isso ajudava.
Ela estava com uma calça colada preta, camisa social preta e a gola branca, um sobretudo branco por cima e botas pretas de cano alto. Seus cabelos e compridos estavam jogados nos ombros e formavam verdadeiras ondas. E o sorriso... Cazzo!
Sacudi a cabeça antes que meus pensamentos me bagunçassem mais uma vez e prestei atenção no que ela ria. Ela, Padoin e Barza falavam alguma coisa com o repórter e ela negou com a mão freneticamente, fazendo os três gargalharem mais ainda e foi possível ouvir a risada de onde eu estava.
fez uma careta, mas se afastou um pouco dos meus colegas e passou a mão nos cabelos antes de olhar para o repórter. Sorri quando ela apertou as mãos, claramente nervosa e falou algumas coisas para o repórter com um sorriso tímido nos lábios. Ela olhou para ele esperançosa e ele confirmou com a cabeça, fazendo-a rir fracamente e apontar para os dois que riam por ela.
O repórter seguiu para os outros dois e se afastou, dando um toquinho em suas costas antes de desviar das outras pessoas. Ela ergueu o rosto em minha direção e deu um pequeno sorriso, afundando as mãos no bolso do casaco. Ela desviou de algumas pessoas, sorrindo para elas e veio em minha direção.
- Ei, Gigi. – Ela disse.
- Oi, . – Falei e ela sorriu, enrugando suas bochechas.
- Tudo bem? – Ela perguntou e dei um curto beijo em sua bochecha.
- Tudo sim. Contigo? – Ela assentiu com a cabeça. – Faz tempo que não nos vemos. Fugiu dos jogos de novo? – Ela riu fracamente.
- Um pouco, lidando com alguns problemas, nada de novo. – Ela apoiou as mãos na mesa.
- Se você estiver precisando conversar...
- Ah, não pessoais. – Ela disse rapidamente. – Coisas do time. – Ela deu de ombros. – Bonucci simulou um pênalti e isso bagunçou as coisas.
- Deu problema? Pensei que ele só tinha ganhado suspensão de um jogo.
- Claro que sim! – Ela riu fracamente. – Multa de dois mil para ele e queda de ações para gente. O que não é algo bom levando em conta o fim do ano. – Ri fracamente.
- Leo está te dando bastante problema, não?
- Você também, não se esqueça do meio do ano! – Ri fracamente.
- Estamos em primeiro, . – Falei. – Relaxa. – Ela riu fracamente, ponderando com a cabeça.
- Vocês perderam dois jogos importantes, contra a Internazionale e contra o Milan. Eu não estava lá, mas eu ainda tenho televisão. – Fiz uma careta.
- Argh! – Reclamei e ela riu fracamente.
- É horrível, não? – Ela franziu os olhos.
- O quê? Perder deles? Sim!
- Não! Também, mas me tornar a pessoa que foca mais nos lucros do time do que nos resultados. – Rimos juntos.
- Beh, eu tenho uma leve lembrança de você xingando o top cinco do time com a gente nas festas de Natal. – Ela riu fracamente.
- Vocês não me xingam, xingam? – Ela virou o rosto para mim e eu ri fracamente. – Xingam, não é mesmo?
- Não. – Falei, sorrindo. – E se alguém tentar, eu não vou deixar. – Ela sorriu.
- Protegendo minha honra?
- Você protege a minha... – Falei e ela sorriu, rindo logo em seguida.
- O que está achando da festa?
- Está linda! – Falei. – Que evolução!
- Viu? É essa reação que eu esperava. – Ela disse, sorrindo.
- Está ótimo, sério! Vocês fizeram um ótimo trabalho.
- Eu tive a ideia e a Angela colocou em ação. Gostei muito. – Ela sorriu.
- Ficou ótimo, de verdade. – Ela assentiu com a cabeça.
- Vamos tentar evoluir a cada ano. O Agnelli dá esse tipo de liberdade, então é muito bom.
- Sim, é legal. – Falei e ficamos em silêncio por alguns segundos.
- Mah, foi um bom ano. – Ela sorriu, suspirando em seguida. – Esperamos que 2013 seja ótimo também.
- Vai ser sim, eu garanto da minha parte e você da sua, que tal?
- Fechado! – Ela disse, rindo. – Ganhamos a apelação e o Conte vai voltar para o banco virando o ano. – Ela sorriu.
- Até que foi cedo. – Falei.
- Sim, agora voltamos aos gritos na beirada do campo. – Rimos juntos.
- Você vai no último jogo? – Perguntei.
- Sábado? – Assenti com a cabeça. – Não, decidimos dar férias coletivas esse ano, então tem muita coisa para finalizar, por quê?
- Ah, só para saber... – Dei de ombros, virando o último gole da minha bebida.
- É contra o Cagliari, não? – Ela disse, franzindo os lábios.
- É sim... – Ela riu fracamente.
- Ah, Gigi. – Ela negou com a cabeça.
- O quê? – Falei, rindo.
- O jogo não vai ser em Trieste.
- Ah, não? Eles já voltaram para Cagliari? – Ela riu fracamente.
- Não, mas vai ser em Parma.
- Droga. – Falei baixo e ela riu, negando com a cabeça.
- A esperança é a última que morre. – Ela deu de ombros, virando o rosto para o lado quando alguém tocou seu ombro rapidamente. – Ciao! – Ela sorriu para a pessoa.
- Acho que você precisa trabalhar. – Falei e ela riu fracamente.
- É, fazer um social. – Ela suspirou. – Logo mais te chamamos para ir lá em cima com a gente. – Suspirei.
- O Agnelli comentou. – Ela sorriu.
- Isso que dá ser o capitão, Gigi. – Ela pressionou os lábios em um sorriso.
- Vantagens e desvantagens... – Dei de ombros e ela sorriu. – Nos falamos depois.
- Claro, só... – Ela franziu os olhos.
- O quê? – Falei.
- Tem uma sujeirinha no seu queixo. – Ela disse.
- O quê? Onde? – Passei a mão em meu queixo.
- Scusi. – Ela disse, se aproximando de mim e levou a mão até meu queixo, puxando minha barbicha.
- Ai! Isso é meu! – Falei e ela gargalhou em seguida.
- Só estou brincando contigo. – Ela disse, sorrindo.
- Há, há, há, engraçadinha! – Falei, revirando os olhos.
- Está horrível, Gigi. – Ela disse, rindo e eu franzi os lábios. – Por que você faz isso?
- O quê? Eu gostei, ok?!
- Você é bonito, por que tenta ficar feio? – Revirei os olhos.
- Eu gosto, ok?! – Ela revirou os olhos.
- Não, só... – Ela aproximou a mão de novo e dei um tapa nela.
- ! – A repreendi. – Me deixa! – Falei e ela franziu os lábios.
- Depois não diga que eu não avisei! – Ela disse, encerrando nosso papo com o sacudir de seus cabelos, me deixando rindo sozinho.
Levei a mão até o queixo, sentindo os poucos pelos logo abaixo de meus lábios e revirei os olhos, suspirando. Vi já parar com dois homens engravatados, imaginei serem acionistas e abanei a mão antes de voltar a andar pelo salão.
Capitolo treintasei
- Não tem como, fala sério. – Revirei os olhos.
- Eu estou criando monstros! – Falei, surpresa. – Não é assim, gente! – Apoiei o quadril na mesa de Sara. – Vocês são novos, precisam aproveitar a vida agora. – Disse, cruzando os braços. – Porque depois vocês crescem, conseguem um posto importante e aí mesmo que não vão poder aproveitar e só vão pensar em dormir em qualquer tempo livre. – Meus funcionários riram.
- A vantagem é que você é alguém importante no time, então sua diversão e seu trabalho são no mesmo lugar. – Miguel falou.
- Sim, com certeza, mas eu sei que todos vocês aqui são apaixonados pelo time, então, vão para o jogo, divirtam-se, aproveitem o open bar! – Eles riram. – O jogo no sábado vai ser 20:45, dá para vocês saírem e ainda fazer um after-party.
- Nossa chefe falando para gente festejar é demais! – Sara disse e eu ri fracamente.
- Eu só pareço mais velha, meus amores, mas eu tenho 31 anos, ok? O mais velho entre vocês é a Sara, 20 e...
- 25. – Ela disse, rindo.
- Viu?! 25 anos! – Falei, colocando a mão no queixo. – Onde eu estava com 25 anos? - Pensei. – Era 2000 e... Oh, era 2005. – Ri fracamente.
- O que aconteceu em 2005? – Enrico perguntou.
- Beh... – Fiz uma careta, pensando em alguma mentira rápida.
- Ganhamos um scudetto. – Ouvi uma voz masculina forte e virei o rosto para a porta da sala, vendo Gigi apoiado no batente da mesa. – E foi demais!
- Ei. – Sorri e ele retribuiu.
- Eu estou atrasado, não estou? – Ele perguntou e eu chequei o relógio.
- 15 minutos. – Vi que era 18:15. – Meu Deus, gente! Vocês já passaram da hora, vão embora! – Falei rapidamente.
- Quer que fique, chefa? – Sara perguntou.
- O que acabamos de falar?
- Descansar e se divertir. – Os oito responderam comigo.
- Ótimo, agora vão descansar e se divertir...
- Mas é quarta-feira...
- Sara! – A repreendi e todos riram, inclusive Gigi. – Até amanhã!
- Ciao, chefa! – Eles falaram e eu segui para a porta.
- Vem comigo! – Falei, desviando dele e seguindo pelo corredor, empurrando minha porta novamente.
- Ensinando seus funcionários a se divertir? – Ele perguntou, apoiando a mão em minha cintura para dar um beijo em minha bochecha e eu dei um sorriso, levando a mão mais uma vez a sua barbicha. – ! – Ele deu um tapa no automático e eu ri fracamente.
- Tive uma pequena esperança de que você teria tirado até nossa reunião. – Disse e fechei a porta.
- Engraçadinha. – Ele disse.
- Mas sim, estou criando monstros, até eu, com todas as minhas dificuldades, aproveitei mais do que eles. – Suspirei. – Também lembro dos momentos que eu só queria dormir no fim de semana, mas a Giulia me tirava de casa... – Suspirei. – Às vezes para baladas suspeitas, mas tudo certo. – Ele riu fracamente.
- Desculpe o atraso, Conte e Filippi me seguraram até não dar mais. – Ele tirou o casaco enquanto eu seguia até atrás da minha mesa. – Aí eu precisava tomar um banho para vir... – Ri fracamente.
- Agradecemos por não vir sujo de terra e bagunçar minha sala mais uma vez. – Abri os armários da lateral, procurando pelo seu arquivo e tirando de lá. – Tenho que dizer que estava muito empolgada por isso hoje.
- Mesmo? – Me sentei e indiquei a cadeira da frente para ele.
- Claro! Essa é a primeira vez que eu vou assinar um contrato seu. – Ele se sentou, passando as mãos na calça jeans clara que usava. – Em 12 anos.
- É loucura ver onde nós dois chegamos, não? – Ele disse, apoiando os cotovelos na minha mesa.
- Por que você está dizendo como se sua carreira fosse acabar amanhã? – Fiz o mesmo movimento que ele.
- Não sou mais o mesmo cara de 12 anos atrás, . – Ele deu um pequeno sorriso. – Faço 35 em alguns dias, as coisas começam a ficar diferentes.
- Não acho. – Dei um curto sorriso. – Você continua jogando em altíssimo nível, Gigi. Me atrevo a dizer que você está melhor hoje do que em 2006 que dizem ser seu ápice por causa do Mondiale. – Ele suspirou com um sorriso nos lábios.
- Só você mesmo. – Revirei os olhos.
- Eu vejo resultados, Gigi. – Abri minha pasta. – Falando do começo da temporada até hoje... – Olhei as anotações com minha letra. – 11 clean sheets na Serie A, três na Champions League... 21 aparições na Serie A, seis na Champions League, presença constante na Nazionale desde 2000, chegou na final da Euro de 2012... – Ele abaixou o rosto, rindo envergonhado. – Onde só eu estou dizendo isso? Os números não mentem.
- Ok, eles não mentem, mas você está enchendo minha bola por ser minha amiga. – Ergui o olhar para ele.
- Eu sou uma chata do top cinco, Gigi, se algum dia, por algum motivo, eu precisar falar que você está indo mal e que sua produtividade reduziu, eu vou dizer. – Ele riu fracamente. – Mas esse dia não é hoje. – Sorri e ele assentiu com a cabeça.
- Então... – Rimos juntos. – Agnelli adiantou alguma coisa para você? – Ele perguntou, passando as mãos nos cabelos úmidos.
- Já sim, mas eu acho que ele falou errado, você quer um contrato de um ano? – Arqueei as sobrancelhas.
- Não é que eu quero, imaginei que vocês gostariam pela idade.
- Nem a pau! – Falei rindo fracamente. – O Storari é mais velho do que você e tem contrato até 2014...
- O Storari é reserva.
- O Pirlo é da sua idade e tem contrato até 2014. E é um jogador de linha. – Ele suspirou.
- Ok, entendi o que você disse. – Sorri, olhando para minhas anotações em vermelho anexadas ao contrato.
- Só tem uma questão...
- O quê?
- Você quer continuar com a gente? – Apoiei as mãos na mesa, erguendo o olhar para ele.
- Claro que sim! Por que a pergunta? – Ele franziu a testa.
- Eu sou sua amiga e me sinto na obrigação de dizer isso... – Suspirei. – Você pode fazer tão mais em outros times. – Ele sorriu, rindo fracamente. – Estamos indo bem, eu sei, mas eu penso no seu sonho da Champions e... – Suspirei. – Não quero que você perca anos preciosos aqui e, baseado em como foi difícil passar da fase de grupos, talvez...
- Não, ! – Ele segurou minha mão. – Estar em outro time não é garantia que eu vá conseguir, aqui pelo menos eu estou ligado ao time, estamos em sincronia... – Ele negou com a cabeça. – Eu quero ficar aqui na Juventus, lutar por esse título aqui. – Suspirei. – Com você. – Sorri, pressionando os lábios. – Conseguiremos juntos, ok?! – Assenti com a cabeça.
- Espero que esteja certo. – Suspirei e ele assentiu com a cabeça. – Bom, então... – Um toque de celular nos interrompeu.
- Me desculpe. – Ele disse, tirando o telefone do bolso e desligou o som. – É minha irmã, eu ligo para ela depois.
- Certeza? – Perguntei.
- Sim, sim! – Ele disse.
- Ok, bom, então, sua valorização de mercado caiu e...
- Eu disse. – Ele falou.
- Cala a boca, Gianluigi! – Ele riu fracamente.
- Você fala assim com todos os jogadores?
- Só com os que eu tenho intimidade. – Sorri.
- Ou seja, todos... – Falamos juntos, rindo em seguida.
- Caiu de 16 para 10 milhões, mas, apesar disso, vamos aumentar seu salário em sete por cento por causa das duas conquistas no ano passado. Além dos bônus da vitória da Suppercopa como capitano. – Ele deu um risinho.
- Isso é coisa de , não é?! – Ele perguntou e eu dei de ombros.
- Eu sou manteiga derretida. – Suspirei e ele sorriu. – Só resta assi... – O telefone começou a tocar de novo.
- Ah, Guendy! – Ele falou, desligando o telefone de novo.
- Você pode atender, sabe? Só estamos nós aqui.
- Eu logo ligo para ela, estamos acabando. – Revirei os olhos.
- Enfim, só resta assinar. Quer dar uma checada? – Deslizei o maço de papéis para ele.
- Não, o Silvano já viu e eu confio em você. – Ele falou e eu puxei de volta.
- Não deveria. – Falei, virando as páginas do contrato e fiz minha assinatura acima do meu nome. – Aqui. – Virei o contrato para ele, entregando a caneta.
- , diretora de contabilidade... – Ele disse fracamente e eu revirei os olhos, vendo-o fazer sua assinatura bonita ao lado.
- Pronto! Você está preso conosco até julho de 2015. – Rimos juntos.
- Espero que vocês não se arrependam disso. – Neguei com a cabeça.
- Não mesmo. – Ele sorriu e o telefone tocou mais uma vez.
- Per amore de Dio, atende isso logo! – Falei e ele pegou o telefone.
- Scusi. – Ele falou, colocando o telefone na orelha e virei a cadeira para levantar e levar as folhas para o scanner do lado direito da minha mesa. – Fala, Guendy. – Soltei o grampo. – O QUÊ? – Ele falou alto. – Um acidente de carro? Onde? Quando? – Arregalei os olhos. – Não! Calma, Guendy! Respira! – Voltei para a mesa, apoiando as mãos, olhando para ele. – Como ela está? – Ele se levantou rápido, respirando fundo e a cadeira que ele sentava tombou com a velocidade. – O quê? E eles não conseguem tirar ela? – Ele pausava e vi lágrimas deslizando pelos seus olhos, isso fazia com que meus olhos lacrimejassem já. – Me mantenha informado, chego aí assim que possível. – Ele disse, desligando o celular.
- O que aconteceu? – Perguntei, encarando seus olhos azuis que estavam brilhando pelas lágrimas.
- Minha mãe... – Ele ergueu os olhos para a luz. – Ela... – Ele engoliu em seco e eu dei a volta na mesa e apoiei a mão em seu ombro. – Ela sofreu um acidente de carro...
Minha cabeça acabou, sem querer, voltando para 89, quando Olga, a amiga de meus pais, se sentou ao lado de mim no balanço e contou, com o maior cuidado, com as palavras mais delicadas para uma pessoa de oito anos, que meus pais haviam falecido após um acidente de carro.
Minha garganta fechou com a lembrança e as lágrimas verteram de meus olhos sem piedade. Agradeci os saltos por nos manterem na mesma altura e passei meus braços pelos seus ombros, puxando-o para um abraço. Senti suas mãos me apertarem com força e ele puxar a camisa de manga comprida que eu usava.
- Eu tenho que ir... Eu... – Sua voz saía falha e eu afastei meu rosto de seu ombro, encarando seus olhos. – Foi um engavetamento e... Eles ainda não a tiraram do local e... – Segurei seu rosto com as mãos. – Eu... – Ele puxou a respiração, desviando o olhar do meu diversas vezes. – Eu vou para Carrara e...
- Eu te levo. – Falei rapidamente.
- O quê? – Parece que sua consciência voltou a ligar.
- Eu te levo, vamos! – Falei, desviando dele e abaixei o notebook e peguei minha bolsa na bancada lateral.
- Você... Você vai comigo?
- Você não está pensando em ir sozinho, está? Você mal consegue falar. Vamos! – Peguei seu casaco na cadeira e puxei-o pela manga do suéter que ele usava.
- Espera, ! – Ele falou. – Você não... Você não precisa ir comigo...
- Você vai mesmo se eu não for?
- Sim, claro, eu não consigo ficar aqui! – Ele falou rápido.
- Então, eu vou. Não queremos dois acidentes de carro na família Buffon hoje, não é mesmo? – Falei, abrindo a porta da minha sala e ele ficou me encarando próximo à mesa por alguns segundos! – GIGI! – O chamei, vendo-o sair do transe. – Vamos! – Falei firme.
- É... É, ok! – Ele disse, pegando sua mochila na cadeira do lado e seguiu rapidamente em minha direção, pegando o casaco da minha mão e puxei a porta, seguindo rapidamente atrás dele pelo corredor.
Eu não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo ou de que horas eram ou de onde eu estava. Meus olhos estavam fixados no mesmo lugar tempo o suficiente para embaçarem e eu não conseguir designar mais o que é que estava exatamente na minha frente.
Senti que o local foi ficando mais escuro com a passagem do meu tempo ali, talvez o sol tivesse se posto e eu não tinha percebido. Tinha algo no som que eu não conseguia designar, reconhecia o italiano nas vozes de algumas cantoras, mas também sabia que já tinha mudado para inglês e espanhol, só não sabia de quem. O local era morno, mas não sabia dizer se era o ambiente que estava quente ou se o apoio em meu colo que fazia meu corpo esquentar. E o cheiro era gostoso, tinha um cheiro forte de flores, tipo fortes como lírio, mas não tão forte como a flor, talvez perfume feminino.
Alena...
Não, Alena gostava de coisas mais cítricas, cheiros que faziam meu nariz coçar um pouco, não era ela. O cheiro me remetia a uma lembrança longe, boa, confortável, quase como um sono gostoso seguido de um sonho que nos levava para uma realidade melhor do que atual.
.
Senti meu pescoço até doer quando eu virei o rosto para meu lado esquerdo e encontrei-a no banco do motorista. Uma mão firme no volante, com o olhar para frente e a outra esticada em minha direção. Desci o olhar para o caminho de seu braço e vi sua mão apoiada em meu joelho. A mão estava relaxada, mas era possível ver a tensão nelas, talvez ela estivesse assim há muito tempo.
Meus olhos se ergueram para o painel do carro e as luzes denunciavam de onde vinha o som. As letras na pequena tela do som andavam devagar, mas não conseguia focar o suficiente para ler. Subindo os olhos mais um pouco, vi a rua à nossa frente sendo iluminada somente pelos faróis do carro.
Senti o peito doer quando eu soltei a respiração fortemente, como se fosse algo que eu não fizesse há muito tempo e a mão em meu joelho apertou. Acabei virando meu rosto por impulso para novamente e ela tinha aquele sorriso com os lábios pressionados que significava muitas coisas vindo dela. Agora, pelo menos, parecia com o sorriso que eu dava para ela durante os momentos em Palermo no começo do ano.
Tombei a cabeça para o lado, puxando com dificuldade o celular do bolso e o olhei para algumas notificações, mas não tinha nada de novo. Eu só conseguia pedir para Deus para que Ele fosse gentil e misericordioso. Eu não era a melhor pessoa do mundo, sei que não, fiz muitos erros e alguns eu continuo fazendo sem medo, mas minha mãe não merecia nada disso. Eu só queria que ela finalmente fosse resgatada e tivesse o cuidado merecido.
O celular iluminou novamente quando as horas cravaram em 23 horas e franzi a testa. Há quanto tempo eu estava nesse carro mesmo? Minha reunião com era às 18. Cheguei lá as 18:15 e não durou mais do que 15 minutos antes de sairmos correndo do local em direção ao seu carro.
Estávamos há umas quatro horas e meia no carro, e minha bexiga denunciava que era algo aproximado assim mesmo. Será que eu tinha falado para aonde iríamos? A não ser que tivesse algum problema na estrada, Carrara ficava a uma hora a menos de distância.
- Hum, ? - Virei para ela.
- Finalmente falou algo. – Ela disse, virando o rosto rapidamente para mim, antes de virar novamente. – Como você está?
- Bem, eu acho. – Suspirei. – Onde estamos? - Ela soltou um longo suspiro, fazendo uma careta logo em seguida. – ?
- Boa pergunta. – Ela suspirou.
- Você não sabe onde estamos?
- Eu acabei perdendo a entrada para Carrara, aí eu estava esperando aparecer uma placa, mas não apareceu e você está há quase cinco horas olhando para o nada, eu não queria atrapalhar e eu fui indo e indo e... – Ela desembestou a falar e eu levei as mãos para o rosto, respirando fundo.
- Estamos perdidos? – Perguntei fortemente e ela deu um sorriso sem graça.
- Possivelmente. – Ela falou baixo.
- Você sabe para que existe um GPS?
- É, eu sei, mas meu celular acabou a bateria também, e aí eu volto a você travado e eu mais preocupada com a sua sanidade do que com o caminho.
- Ah, ! – Falei, irritado, puxando o celular do bolso.
- O quê? Eu estava preocupada com você, está bem? – Ela disse igualmente irritada.
- Eu deveria ter vindo dirigindo. – Abri o GPS do celular, digitando e errando algumas vezes.
- Ah, com certeza. Com a cabeça quente e esse olhar perdido ia dar muito certo mesmo. Com sorte você chegaria nos portões de Vinovo, isso se não causasse um acidente antes. – Ela falou no mesmo tom de voz do que eu.
- É, mas eu achei que você soubesse o caminho!
- Eu perdi a entrada! – Ela falou alto, batendo no volante. – Você parece que viu um fantasma desde que a gente saiu de lá!
- Você poderia ter me acordado, qualquer coisa.
- Ah, claro, para levar mais patadas do que eu estou levando agora? Não, obrigada! – Ela falou firme, bufando. - É isso que eu ganho por querer ajudar. Deveria ter deixado você vir sozinho mesmo.
- É! Talvez assim eu estivesse em casa já, não rodando em sei lá onde! – Gritei igual e ela ficou em silêncio, fazendo nossas respirações fortes ficassem em evidência no carro e a música estranha de começasse a tocar de novo. – Ah, como desliga essa merda? - Apertei alguns botões do som, abaixando o volume.
Olhei para o celular, esperando carregar minha localização e vi que estávamos perto de San Gimignano, próximo a Florença, Siena, Arezzo e Livorno. Não muito longe de Carrara. Esperei que minha respiração voltasse ao normal, deixando o ar sair devagar pela boca conforme meus ombros relaxavam com a situação.
Isso durou alguns segundos, pois logo em seguida algumas gotas começaram a bater contra o carro e o som oco e constante se tornou a trilha sonora ali dentro. Ótimo! Vi o limpador do para-brisa começar na velocidade um, depois na dois e, logo em seguida, as gotas batiam mais forte que a velocidade máxima e usava o farol de milha para iluminar o máximo possível.
Ouvi uma puxada de ar mais pesada, como se o nariz estivesse entupido e virei o rosto para , vendo-a passar as costas da mão direita na bochecha, antes de apertar o volante mais forte ainda e me senti um idiota. Ela estava aqui por mim e eu estava brigando com ela por algo que ela não tinha obrigação de saber.
- Me desculpe, . – Falei baixo, engolindo em seco. – Eu não deveria ter dito aquelas coisas.
- Não mesmo. – Ela falou baixo, fazendo sua voz sair abafada.
- Eu só estou nervoso, eu... Eu não sei o que esperar. – A vi engolir em seco e suspirei, vendo outra lágrima deslizar de seus olhos.
- É por isso que eu vim contigo. – Ela disse baixo.
- Por quê? – Perguntei baixo e levemente com medo da resposta.
- Quando eu ouvi... – Ela disse baixo. – Veio algumas memórias na minha cabeça.
- Seus pais... - Falei baixo e ela assentiu positivamente com a cabeça sem tirar os olhos da estrada e virei o rosto para o local.
- Eu não podia deixar de te apoiar nesse momento, aconteça o que acontecer.
Suspirei, me sentindo a pessoa mais estúpida do mundo. havia perdido seus dois pais em um acidente. Eu procurei os detalhes quando estive em Palermo, sem ela saber, é claro. Eles estavam voltando de algum lugar à noite, parados no semáforo, quando um motorista bêbado invadiu a pista contrária, dando de frente com ambos. O motorista estava sem cinto e morreu ao voar quatro metros do veículo. O pai de morreu com uma ferragem em sua barriga e sua mãe conseguiu chegar ao hospital, mas foi dado morte cerebral horas depois.
Não sabia se sabia esses detalhes, encontrei o atestado de óbito, a notícia no jornal e registros na prefeitura, mas, mesmo se não soubesse, eu entendia o pavor dela com acidentes de carro. Deve ser uma situação muito difícil de lidar. E agora, ela está aqui, nessa chuva, correndo esse perigo para simplesmente me acompanhar e eu não sofrer a mesma coisa que ela. Eu tinha fé que não aconteceria nada, mas eu não sabia muito mais. Guendy só disse que ela ainda estava nas ferragens e que o resgate estava difícil. Isso podia significar muitas coisas.
- Agradeço por vir comigo, mas...
- Já sei, só vim para atrapalhar e... – Suspirei.
- Eu não ia falar isso. – Falei baixo, engolindo em seco. - Entra na próxima cidade ou nós dois poderemos sofrer um acidente. – Ela assentiu com a cabeça sem me olhar.
- Está muito longe? – Ela perguntou baixo.
- Uns cinco quilômetros. – Falei e ela suspirou.
Ela havia reduzido a velocidade devido à chuva, então o nosso percurso acabou demorando um pouco mais, mas ela acabou entrando logo em seguida. Dei uma olhava rápida no mapa e procurei por um hotel. Eu não conseguiria me manter acordado por muito tempo e imaginava que ela estava cansada devido às cinco horas dirigindo.
- Tem um hotel logo mais... – Falei, vendo o ponteiro que indicava o carro se aproximar da marcação.
- Você quer parar em um hotel? – Ela perguntou.
- Você provavelmente está cansada e não vamos sair de novo enquanto essa chuva não parar. – Suspirei. – E já é quase meia-noite.
Ela não disse nada, somente assentiu com a cabeça. As ruas da cidade estavam desertas, afinal, quem sairia em uma chuva dessas? Eu estava reconhecendo o caminho, já tinha vindo jogar aqui diversas vezes, inclusive nessa temporada, mas não sabia dizer exatamente qual caminho seguir se não tivesse a ajuda do GPS.
- Aqui, à esquerda. – Falei e guiou o carro para o recuo do lado direito, antes de cruzar as avenidas, parando em frente ao hotel.
- Vai lá ver se tem quarto disponível. – Ela disse, suspirando.
Guardei meu celular dentro do bolso do carro e respirei fundo antes de sair do carro e seguir rapidamente para a entrada do hotel, sentindo alguns pingos fortes baterem e gelados em minhas costas, fazendo meu corpo se arrepiar mais ainda devido ao frio.
- Buona notte. – Falei para o recepcionista que me olhou um tanto surpreso. Droga! Ele sabia quem eu era!
- Ciao, Gigi Buffon! - Ele disse e eu tentei dar meu melhor sorriso “não estou preocupado com a minha mãe e nem em uma cidade há quilômetros de distância de onde eu estou e nem com frio ou molhado”.
- Tem quartos disponíveis? - Perguntei.
- Claro, claro! – Ele disse. – Para uma pessoa?
- Duas. – Falei.
- Uma estadia?
- Sim, espero. – Falei, puxando a carteira do bolso.
- Eu preciso de um documento e um cartão de crédito. – Ele falou e eu tirei ambos da carteira e joguei no balcão.
- Tem onde estacionar o carro?
- Aqui do lado. – Ele indicou o caminho ao lado do hotel.
- Eu já volto. – Falei e ele assentiu com a cabeça e eu voltei correndo para o carro, abrindo uma fresta da porta.
- Estaciona aqui do lado e vem logo. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
Puxei minha bolsa no carro, sabendo que precisaria dela, e fechei a porta novamente. O frio já fazia parte do meu corpo e isso me incomodava demais, mas não a ponto de me molhar menos. Esperei o homem fazer a reserva e ele logo entregou meu documento, o cartão e a chave.
- Quarto 27, segundo andar. – Ele disse.
- Grazie. – Falei, suspirando e olhei para a porta, vendo entrar totalmente encolhida, assim como eu, com seu casaco nas costas e a bolsa pendurada em seu braço. – Você está bem?
- Si-sim... – Ela disse, batendo o queixo. – Só com fr-rio.
- Vem, vamos subir. – Falei, vendo-a vir em minha direção e passei o braço pelos seus ombros, esfregando-os para tentar esquentar. – Grazie. – Falei para o atendente e ele me deu um aceno de cabeça.
O elevador já estava no andar, então entramos sem esperar. Apertei o botão para o segundo andar e esperei poucos segundos. Um bater constante denunciava que estava batendo os dentes e seus lábios estavam levemente arroxeados, talvez eu estivesse da mesma forma se estivesse somente com essa blusa fina no corpo.
- Gigi? – Ela perguntou baixo.
- Sim. – Virei para ela, desviando do seu reflexo no espelho quando as portas do elevador se abriram.
- Onde estamos? – Ela perguntou em um sopro.
- Em Siena. – Falei baixo, puxando-a para fora do elevador comigo.
- É um ti-ime, não é? – Ela perguntou.
- É sim! - Suspirei, procurando os números nas portas.
Eu só percebi que eu realmente não tinha ideia do que eu estava fazendo quando abri a porta do quarto e vi uma cama de casal, grande, mas ainda sim de casal, e Gigi entrando logo atrás de mim. Cazzo! Não que fosse a situação, mas era um tanto inevitável pensar a última vez que ficamos juntos, sozinhos e com algum tipo de empolgação ou tristeza nos assolando.
- Hum... – Pigarreei quando a voz saiu fraca. – Vamos dividir? – Evitei olhar em seus olhos.
- Ah, eu me esqueci de pedir duas camas... – Ele falou baixo. – Ou dois quartos. – Engoli em seco. – Eu vou lá embaixo e... – O puxei pela manga do suéter antes que ele se virasse.
- Está tudo bem, só precisamos nos aquecer, comer e descansar um pouco. – Falei baixo, andando pelo quarto e colocando minha bolsa e o casaco na mesa encostada na parede. – Eu só não sei como...
- O quê? – Ele perguntou, colocando sua mochila na mesa e puxou o suéter molhado.
- Precisamos trocar essas roupas molhadas ou vai dar muito ruim. E você tem jogo no sábado, não pode ficar doente agora. – Falei, procurando o aquecedor do quarto e liguei-o. – E eu, com sorte, tenho minha nécessaire na bolsa. – Voltei para minha bolsa e a vasculhei, tirando a mesma e a abri devagar. – E tem uma calcinha limpa. – Ele riu fracamente.
- Talvez eu tenha uma calcinha sua também. – Ele falou e virei a cabeça para ele.
- Você guardou a minha calcinha? – Arqueei as sobrancelhas e ele deu de ombros, me fazendo rir logo em seguida. – Não acredito...
- Eu estou com a minha mochila do treino, dá para gente improvisar enquanto as roupas secam. – Ele disse, abrindo a mochila e puxando as coisas de dentro dela, uma calça de moletom, uma blusa do uniforme e um casaco estilo corta-vento. – Ajuda?
- Bastante! – Falei. – Estão limpos?
- Secos. – Ele disse e eu peguei a blusa, dando uma rápida cheirada e senti o cheiro de seu perfume masculino e precisei pigarrear para ignorar ou ficaria inebriada.
- É, deve servir. – Suspirei, esticando a blusa em frente ao corpo, me olhando no espelho e ficava na altura da minha coxa. – Ok, eu fico com a blusa e meu casaco, e você fica com o resto. – Falei, sabendo que precisaria procurar cobertas, muitas cobertas.
- Fechado. – Ele disse.
- Posso tomar banho antes? – Perguntei.
- Claro. – Ele disse. – Você está com fome? Posso procurar algo para gente.
- Sim, minha última refeição foi o almoço. – Fiz uma careta.
- Beleza, vou lá embaixo e logo volto... – Ele disse, apontando para porta.
- Não senta molhado na cama, por favor.
- Ok, mãe! – Ele disse e rimos juntos.
O vi sair pela porta e soltei um suspiro, colocando as mãos na cabeça. Onde eu estava me metendo, meu Senhor Jesus? Eu juro, por tudo o que é mais sagrado, que eu estava preocupada com a sua mãe, se por acaso vier a acontecer algo tão terrível quanto aconteceu com os meus. Não foi minha intenção perder a entrada, muito menos ficar perdida em uma cidade que eu só conhecia porque era lar de um time que havia acabado de subir da Serie B – ou que sempre ficava no final da tabela da Serie A.
Que eu tenha forças para aguentar tudo isso... E sanidade, muita sanidade.
Beh, quem está na chuva é para se molhar, vamos focar no agora.
Levei o casaco e a nécessaire comigo, honestamente feliz por ao menos uma calcinha seca e limpa e fechei a porta do banheiro, trancando-a. Tirei as botas, meias, calça jeans, blusa de manga comprida e a segunda pele que eu usava e fui direto para o banho. Usei os minis xampu, condicionador e sabonete que havia disponíveis e deixei que a água quente caísse com força em minha pele, relaxando meu corpo aos poucos.
Quando senti que já havia abusado o suficiente e que a água quente começasse a literalmente queimar meu corpo, eu tomei banho. Quando saí do mesmo, me sequei, enrolei a toalha em meu cabelo e usei minha nécessaire para renovar o desodorante, passar um pouco de perfume e usei o demaquilante para tirar o resto de maquiagem que não saiu no banho.
Vesti a calcinha e peguei a blusa de Gigi, me fazendo suspirar e pressionar os lábios. A vesti, sentindo a toalha cair da cabeça e a blusa ficava na altura da coxa, não perfeito, mas não tão ruim. Peguei a escova na minha nécessaire e passei nos cabelos, sacudindo-os um pouco para tirar o excesso de água. Tinha aqueles secadores de hotel, mas ficaria uma eternidade aqui com o tamanho do meu cabelo.
Peguei meu casaco e virei-o na horizontal, enrolando-o em minha cintura quase como uma toalha e fiz uma careta. Estava horrível, mas teria que servir até eu pegar uma coberta e me enrolar embaixo dela. Juntei minhas roupas e a nécessaire no braço e saí do banheiro, dando de cara com Gigi sentado na cadeira ao lado da escrivaninha, lendo um folheto.
- Ei. – Falei, pegando a outra cadeira livre e aproximei do aquecedor que já mantinha o ar mais gostoso.
- Chique! – Ele disse, provavelmente das minhas roupas e ri fracamente.
- Tive que improvisar. – Ajeitei minhas roupas na cadeira, esticando-as da melhor forma.
- Você fica bem de uniforme. – Ele falou, dividindo seu olhar entre me olhar e parecer interessado no folheto.
- Me falaram... – Deixei escapar, suspirando.
- Eles têm pizza. – Ele falou, esticando o folheto e eu me sentei na beirada da cama.
- Eu como qualquer coisa. – Falei e ele riu fracamente.
- Eu sei. – Ele disse, recolhendo o folheto. – Pedi margherita. – Sorri, assentindo com a cabeça. – Eles vão entregar, você recebe?
- Claro, pode ir para o banho. – Falei e ele assentiu com a cabeça, pegando a mochila e seguindo para dentro.
Soltei um suspiro, me levantando rapidamente e peguei meu celular na bolsa e o cabo. Fui para um lado da cama e procurei pela tomada, conectando-o e deixando na mesa de cabeceira. Passei a mão no edredom colocado na cama e ponderei com a cabeça. O aquecedor já estava esquentando o quarto, meu corpo já estava quente, talvez não precisasse de mais.
Liguei o celular quando deu um pouco de carga e procurei no panfleto a senha do Wi-Fi. As mensagens, e-mails e notificações carregaram aos montes, mas chequei se tinha alguma coisa especificamente para mim e para agora e só tinha uma mensagem de Giulia.
“Ei, amiga, vai trabalhar até tarde? Rola uma noite de queijos e vinhos?” – Às 19:34.
“Acho que vai e acho que não rola”. – Às 20:58. Suspirei e digitei.
“Oi, amiga, sumi, sei bem! Acabei tendo que vir para Siena de última hora. Longa história, te conto depois. Aviso quando voltar”.
Eu sei que não se deve mentir para sua melhor amiga e irmã, mas se eu falasse que estava com o Gigi, sabia que ela ia me dar lição de moral agora, então, esperaria levar pessoalmente depois. Vi as notificações nos e-mails, somente as limpando e lidaria com isso depois. Abri um novo tópico de conversa no e-mail da minha seção e escrevi rapidamente.
“Ciao, ragazzi. Aconteceu um imprevisto e talvez não consiga ir trabalhar amanhã. Finalizem a homologação do contrato do Buffon que está em cima da minha mesa e passem para o Danielle assim que tiver retorno. Cancelem minha reunião com o Rubinho e o Bendtner e remarquem para semana que vem. Falem com o Peluso e o Anelka também, imagino que sexta-feira já esteja aí para fazer a assinatura de contrato de entrada. Chequem também a finalização do contrato do Lúcio, não pode atrasar mais, depois sigam os trabalhos normais. Temos jogo em casa no sábado. Estou no celular se precisarem de algo. Beijos e bom trabalho”.
Dei uma rápida lida, vendo que parecia lista de compras, mas não estava com cabeça para elaborar melhor ou dividir em parágrafos, então disparei para todos do setor. Voltei a conversa com a Giulia e talvez ela já estivesse dormindo a essa hora, eu deveria estar também, na verdade. O dia tinha sido corrido. Janela de transferência de inverno era mais calmo, mas era igualmente complicada, principalmente com as renovações de contrato. Me distraí com dois toques na porta e me levantei, seguindo até ela.
- Aqui que pediram uma margherita? – O jovem perguntou.
- Sim! – Falei, animada da mesma proporção da minha fome.
- Posso colocar o carrinho?
- Tem guardanapo? – Perguntei.
- Tem sim!
- Já nos ajuda! – Falei, pegando a pizza no carrinho e ele me entregou os guardanapos na outra. – Grazie.
- Grazie, buona notte! – Ele disse e eu segui de volta para o quarto, fechando a porta com o quadril.
Segui de volta para a cama, apoiando a pizza nela, feliz por estar em um refratário e não direto na caixa de papelão e apoiei os guardanapos também. Abri a tampa que a cobria e suspirei com o cheiro de mozzarela, manjericão e tomates. Tirei uma fatia, dando uma mordida e suspirei quando finalmente a mordi.
- Parece que alguém estava com fome. – Virei o rosto para a porta do banheiro, vendo Gigi sair com a calça de moletom do time, o tórax nu e os cabelos molhados e precisei de muito esforço para engolir e pizza, já que a saliva se acumulou junto.
- Scusi. – Falei, pressionando os lábios. – Nem te esperei.
- Está tudo bem, também estou com fome. – Ele disse, seguindo até a cadeira mais próxima e observei-o, a calça baixa deixando os ossos da sua bacia em evidência e, de costas, pude ver a cicatriz mais clara. Imaginei ser da hérnia que ele teve em 2010.
Continuei me deliciando com a pizza, um pouco mais humana e não animalesca, acompanhando-o com o olhar enquanto ele fazia o mesmo que eu com suas roupas na cadeira livre e endireitei meu corpo na cama, tentando ajeitar o casaco improvisado em minhas pernas. Ele veio em minha direção, passando as mãos nos cabelos, sacudindo-os de leve e se sentou ao meu lado, do outro lado da cama.
- Está boa? – Ele perguntou, pegando uma fatia.
- Está sim. – Falei, ocupando minha boca com outro pedaço de pizza e percebi que, fora o time e fora nós, não tínhamos assunto. Tentei me lembrar de nós dois em 2005, mas o assunto simplesmente fugiu e as lembranças não vieram.
Continuei ocupando minha boca com pizza e ele a dele até que vimos o fundo do refratário e isso me lembrou de 2005, com toda certeza. Quando eu não tinha que me portar como uma dama ou pessoa influente ou com saúde, eu exagerava bastante na comida de coisas boas, diferente de hoje que era raro os momentos que eu realmente aproveitasse como hoje. Fiquei feliz quando o silêncio foi preenchido pelo toque do seu telefone e ele foi rapidamente em direção a sua mochila, limpando as mãos no guardanapo no meio do caminho.
- É minha irmã! – Ele disse e eu me levantei, segurando no nó do casaco. – Fala, Ve! – Ele disse. – Sim? Já? Ah, graças a Deus. – Ele disse e senti meu corpo aliviar. – Eu tive uns problemas, acabei errando o caminho e estou em Siena. – Deu para ouvir o tom de surpresa pelo bocal e ele riu fracamente, olhando para mim e eu franzi os lábios. – Não, está tudo bem, só me distraí! Mas está caindo o mundo aqui, achei melhor ficar por aqui essa noite e ir quando passar. – Ele disse e eu me aproximei da janela que tinha as cortinas fechadas e abri uma fresta, somente vendo as gotas pesadas baterem contra a janela e embaçarem as luzes. – Ok, me mantenha informado, não importa o horário. – Ele disse. – Também te amo, Ve! Manda um beijo para todo mundo. – Ele disse, desligando o telefone.
- E então?
- Eles conseguiram resgatá-la, ela está bem, mas eles estão fazendo alguns exames, ela não está sentindo a perna esquerda. – Ele disse, suspirando.
- Será que é grave?
- Os médicos dizem que deve estar dormente, pois alguns ossos quebraram, talvez algum músculo distendido, só com os exames mesmo para saber. – Suspirei.
- Não sei se fico feliz ou triste. – Mordi o lábio inferior.
- Ela está viva, . É algo bom. – Ele suspirou, se sentando na beirada da cama e levou as mãos ao rosto, respirando, aliviado.
Seu choro ficou evidente segundos depois e eu suspirei, apertando a gola da blusa, como quem queria apertar o coração. Isso era um alívio para ele. Fico imaginando quanto ele estava aguentando até agora. Suspirei e me aproximei dele, passando as mãos em seus cabelos úmidos e ele ergueu o rosto, me abraçando pela cintura e afundando o rosto em minha barriga.
- Está tudo bem agora. – Falei baixo, abaixando o rosto e apoiando a cabeça na sua, fechando os olhos.
Ele apertou os braços em meu corpo e seu choro foi abafado. Dei um beijo em sua cabeça e esperei, acariciando seus cabelos devagar, sentindo os fios secarem devido ao carinho e o aquecedor. Os números do relógio na mesa de cabeceira mudaram quatro vezes antes de ele erguer o rosto novamente e soltar meu corpo devagar.
- Melhor? – Perguntei, passando a mão em seu rosto e ele assentiu com a cabeça, suspirando.
Passei o polegar próximo a seus olhos, secando as lágrimas que caíram e as que ainda estavam presas e dei um pequeno sorriso para ele, vendo-o soltar a respiração com dificuldade pelo nariz e entreabrir os lábios.
- Sim... – Ele disse.
- Ótimo, então eu posso falar mais uma vez o quanto eu quero arrancar isso... – Fingi puxar sua barbicha e ele riu fracamente, desviando o rosto.
- Você fala como eu devo deixar o cabelo desde que eu te conheci. – Ele disse.
- E você ainda não me ouve. – Dei de ombros, fazendo uma careta e ele riu fracamente.
- Grazie, . – Ele disse, e afastei um pouco para ele se levantar.
- Pelo o quê? – Franzi os lábios.
- Por estar aqui comigo. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Para sempre, lembra? – Falei, me afastando um pouco e ele assentiu com a cabeça.
- Parece que a gente acaba se atraindo nesses momentos, não? Quais as chances de eu estar contigo? – Ele disse e eu voltei até a cama, pegando o refratário vazio e apoiei-o na mesa e joguei os guardanapos fora.
- Vai ver Deus sabia que você precisaria de mim. – Dei de ombros e ele riu fracamente.
- Talvez... – Ele suspirou.
- Já volto. – Falei, pegando minha nécessaire e voltei para o banheiro, fechando a porta.
Aproveitei para passar fio dental e escovar os dentes e dei mais uma penteada em meu cabelo. Dessa vez eu usei o secador de cabelo para secar aos fios que ainda estavam úmidos. Tirei o casaco improvisado e fiz xixi, ajeitando a calcinha, antes de colocá-lo novamente para sair do banheiro.
- Todo seu. – Falei, dando espaço para ele e trocamos de lugar.
Aproveitei que estava sozinha no quarto e tirei o casaco improvisado e puxei a coberta do lado que eu estava e me enfiei dentro dela, jogando o casaco no chão. Precisaria dele quando acordasse. Ajeitei o travesseiro atrás da minha cabeça, tentando deixá-lo um pouco mais alto e suspirei, colocando os braços para fora.
Gigi saiu alguns minutos depois, dando uma risada fraca quando me viu na cama e ri fracamente. Ele foi até sua mochila, guardando suas coisas e deu uma checada em suas peças de roupa, amanhã talvez estivessem tudo ok. Esperava pelo menos ou eu faria Gigi sair daqui sem calças ou com as dele molhada.
- , você se importa... – Ele disse e eu ergui o olhar para ele.
- O quê?
- A cama...
- Claro que não, Gigi! – Falei rapidamente.
- Eu posso dormir no chão, se você se importar...
- Claro que não, Gigi. – Falei, apoiando os antebraços na cama. – Não é como se fosse a primeira vez que dividiríamos uma cama...
- Não... – Ele disse, rindo fracamente. – Só faz bastante tempo. – Dei um curto sorriso.
- É, bastante. – Falei, relaxando o corpo e ele veio em minha direção, se sentando na beirada da cama.
Observei-o ficar quieto por alguns segundos ao fazer sua reza e aproveitei para fazer o mesmo. No momento só conseguia pedir por sua mãe e que nós chegássemos em segurança também. Ele virou as pernas para dentro da coberta antes de eu finalizar a minha e encolhi os braços, tentando evitar qualquer tipo de contato. Mordi meu lábio inferior e suspirei.
- Eu vou... – Ele disse, virando o corpo e desligando a luz de cima, deixando somente os dois abajures ligados.
- Então... – Falei, tentando preencher o silêncio. – Como sabia onde estamos?
- GPS mesmo. – Ele disse e eu me senti uma idiota e fiz uma careta.
- Já tinha vindo aqui? – Perguntei.
- Só para alguns jogos. Viemos em outubro, se eu não me engano. – Assenti com a cabeça, mesmo se não soubesse que ele estava me vendo.
- Ganhamos?
- 2x1. – Franzi a testa.
- Sério que você deixou um gol do Siena passar? – Virei o rosto para ele, que riu fracamente.
- Nem todo jogo que parece fácil, é fácil, . – Ele disse.
- Ah, nem vem! – Disse, rindo. – Você não vai vir com essa para cima de mim.
- Ainda quer me manter no time? – Ele perguntou e eu virei o corpo para ele, apoiando o braço embaixo do travesseiro.
- De onde veio isso? – Perguntei e ele deu um longo suspiro. – Vai, Gigi, fala comigo.
- É só que... – Ele suspirou. – As pressões vão mudando conforme a idade. Hoje eu não sou só o jogador, eu sou o capitão e o líder e o foco fica só em mim.
- E... – O inspirei para falar, vendo-o olhar para o teto.
- Eu me pergunto se mereço esse foco. – Ri fracamente, vendo-o virar o rosto para mim. – O quê?
- Você está me zoando, certo? – Perguntei.
- Não. Por que você diz isso? – Me levantei, apoiando o braço na cama e virei para ele.
- Porque você é Gianluigi Buffon, pelo amor de Deus! – Falei, rindo. – Um goleiro incrível, uma lenda viva, o jogador mais simpático e carismático de todos, que raramente se envolve em encrencas... – Parei. – Dentro de campo, pelo menos. – Ele riu fracamente. – Um líder nato. – Suspirei, relaxando os ombros, inclinando meu corpo para trás. – Você merece tudo isso, Gigi.
- Você diz isso porque...
- Porque eu te acompanho há 12 anos! – O interrompi. – E já pesquisei seu passado no Parma para saber o quanto você evoluiu e evolui cada dia mais. – Ele suspirou. – E eu não tenho papas na língua, Gigi. Nunca tive. Não fui ensinada o que eu devia ou não dizer, não tenho aquele termômetro de noção, se tem algo que eu não ache legal, eu falo. – Ele suspirou. – Pela última vez, se você, algum dia, achar que é menos do que você é, eu vou arrancar essa barbicha na mão. De verdade. – Ele gargalhou, jogando a cabeça para trás e eu sorri. – Você é grande, você é uma lenda, não fique de modéstia. Pelo menos não para cima de mim. – Tombei meu corpo na cama novamente, me deitando ao seu lado e ele suspirou.
- Pelo menos se algum dia eu estiver mal, já sei com quem falar. – Ele disse e eu suspirei, olhando para o teto também.
- Eu estive ao seu lado durante o pior momento da sua vida, creio eu...
- Sim, foi. – Ele disse.
- Se, por algum motivo, ela resolver aparecer de novo, eu serei a primeira a estar do seu lado novamente. – Virei o rosto em sua direção e ele me encarava com um sorriso nos lábios. – Entendido?
- Sim, senhora. – Sorri, virando o rosto para cima novamente. – E você, senhorita ?
- O quê? – Virei para ele, franzindo os olhos e ele virou o corpo em minha direção, apoiando a cabeça na mão.
- Sua história é bem mais legal do que a minha. – Ri fracamente. – Entrou no time como estagiária, sem saber nada de futebol, somente porque pagava bem. Hoje é a diretora de contabilidade, top três do time e é responsável por contratações significantes do time. – Pressionei os lábios. – Sem contar o que houve antes de Turim. – Suspirei.
- Estamos quase na mesma página, Gigi. – Falei, virando o corpo e ficando na mesma posição que ele. – Cada um na sua área.
- Tenho que admitir que toda vez que eu te vejo e você está junto do resto do pessoal... Agnelli, Pavel, Paratici, Beppe, ou sendo paparicada pelos acionistas e conselheiros, como foi na festa de Natal, eu sinto tanto orgulho de você. – Sorri, apoiando a mão livre no travesseiro.
- Isso explica sua cara de tonto para cima de mim. – Rimos juntos.
- Conhecendo sua vida e sua história, é impossível não sentir. – Suspirei. – E eu sei que você pode atingir muito mais se quiser. – Sorri, derrubando a cabeça para baixo, suspirando.
- Ah, nem fala isso.
- Por quê? – Ele perguntou.
- Eu recebi uma oferta de emprego durante o recesso. – Falei baixo, dançando com a língua na boca.
- Mesmo? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim... – Suspirei, deitando direito na cama e voltei a olhar para cima, suspirando. – Você é a primeira pessoa que eu conto isso, nem a Giulia sabe.
- Por quê? – Ele perguntou.
- Porque eu cogitei ir. – Engoli em seco. – Mas talvez eu tenha cogitado pelos motivos errados. – Suspirei.
- Por quê? É uma boa oferta?
- Sim, é ótima, na verdade. – Suspirei. – Aumento de 30 por cento no meu salário... E ganho em libras.
- Inglaterra? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, Chelsea. Eu conheci o presidente quando eles vieram jogar aqui e ele manteve em contato. – Suspirei.
- E você quer ir? – Ele perguntou e percebi o receio na sua voz quando ele perguntou isso.
- Honestamente não. Não sei se trabalharia com a mesma paixão em outro time. – Engoli em seco. – Você sabe que a Juventus foi o meu primeiro time. – Ele sorriu, rindo fracamente.
- Então, se você não quer ir, o que está te fazendo aceitar? – Mordi meu lábio inferior. – O dinheiro?
- Não. – Ri fracamente. – Isso é a última coisa que eu preciso agora. – Suspirei. – Logo mais eu ganho mais do que você. – Ele se mexeu na cama.
- Então o quê? – O vi aparecer na minha visão e virei o corpo um pouco para o lado, encontrando-o ao meu lado.
- Você. – Falei, suspirando em seguida.
- Eu? – Sua feição ficou confusa.
- Qual é, Gigi, ainda estamos em uma montanha-russa. Calma agora, entre as subidas e as quedas. Sinto que acabou, mas não tenho certeza. – Suspirei e o vi morder seu lábio inferior.
- Por... Por que você diz isso? – Mordi meu lábio inferior, passando a língua entre eles.
- Porque eu quero te beijar desde que você me abraçou no elevador. – Engoli em seco e seu olhar ergueu para o meu.
- , eu... – Ele disse.
- E você me olhando desse jeito parece que estamos pertos de fazer alguma besteira.
- Talvez... – Ele disse, acariciando meu rosto com a mão livre e eu suspirei.
- Não podemos, Gigi. – Falei baixo, segurando-o pelo punho.
- Só um beijo... – Ele disse, passando o polegar em meus lábios e prendi minha respiração por um momento.
Eu sabia que seria hipócrita se negasse isso agora, principalmente sendo responsável pelo que ele se aproximava para fazer, mas eu teria que me manter forte e manter somente nisso, principalmente onde estávamos e como estávamos.
Fechei os olhos quando seus lábios tocaram nos meus levemente e soltei seu pulso devagar, sentindo a ponta de seus dedos deslizar pelo meu rosto e senti seu corpo colar no meu quando ele alinhou nossos rostos. Subi minha mão para sua nuca e sua língua encontrou meus lábios, mas, diferente das outras vezes, ele não aprofundou, ficou dando curtos beijos em meus lábios, sugando lentamente meu lábio superior para entre os seus e eu fiz o mesmo com o seu inferior, sentindo aquela barbicha ridícula coçar meus lábios devagar.
Passei os lábios um no outro, recuando-o um pouco dos dele e abri meus olhos devagar, vendo-o fazer o mesmo e me encarar com seus olhos azuis. Ele deu um curto sorriso com os lábios fechados e acariciei seu rosto, assentindo com a cabeça, na esperança de que ele entendesse que mais do que isso daria ruim, mas, ao invés disso, ele aproximou seu rosto do meu mais uma vez e colou nossos lábios mais uma vez, me fazendo suspirar.
Ele apoiou uma mão em minha barriga, acariciando-a levemente e, como da outra vez, ele manteve os beijos curtos e alongados e sabia que estava pensando demais ao invés de aproveitar esse momento que eu sabia que não teria novamente em muito tempo.
Acariciei sua nuca, passando a ponta dos dedos na ponta de seus cabelos e entreabri os lábios, permitindo que sua língua encontrasse a minha e contraí a barriga quando ele apertou os dedos em minha blusa. Senti seu nariz bater no meu algumas vezes com o movimento de seu rosto e ele mordeu meu lábio inferior, fazendo nossos lábios se separarem e abri os olhos devagar, encontrando-os no meu.
- É melhor... – Falei baixo. – É melhor a gente dormir. – Suspirei e ele assentiu com a cabeça, roçando nossos narizes.
- É... – Ele disse no mesmo tom de voz e inclinei meu corpo para frente para colar nossos lábios rápido e pela última vez e ele sorriu quando apoiei a cabeça no travesseiro de novo.
Ele se afastou de mim e virei o rosto para o lado contrário dele, esticando a mão para desligar o abajur do meu lado e ele logo fez o mesmo, pois o quarto escureceu. Suspirei, sentindo Gigi se mexer na cama e senti sua mão tocar em minha cintura, me fazendo contrair a barriga em cócegas e mordi meu lábio inferior. Eu poderia, mais uma vez, pedir para ele se afastar, mas eu não queria.
- Boa noite, Gigi. – Falei baixo, levando minha mão para cima da dele, entrelaçando nossos dedos.
- Boa noite. – Ele disse e eu fechei os olhos. – Só para registro, ... – Ele disse e sua voz saiu abafada em meu ouvido.
- Hum... – Falei baixo, sabendo que não tinha capacidade de dizer mais nada agora.
- Se eu fico no time, você fica também. – Dei um pequeno sorriso, pressionando meu lábio mais forte. – Vamos lidar com isso da mesma forma, juntos. – Suspirei. – Combinado?
- Sim, combinado. – Falei baixo, fechando meus olhos mais uma vez.
Ele apertou a mão em minha barriga, se ajeitando na cama e senti minhas costas baterem em seu peito e mordi meu lábio inferior, minha cabeça a mil com todos os pensamentos que rondavam minha cabeça, mas o cansaço ou o conforto, me fez ignorar isso e aproveitar o momento, dormindo no mesmo conforto que eu dormi com ele ao meu lado há sete anos.
Quando eu abri os olhos na manhã seguinte, eu tive quatro sensações imediatas. A primeira foi susto. Ao dar de cara com o rosto calmo de a centímetros do meu. O segundo foi um déjà vu. Que me fez levar a cabeça para os seis meses que passamos juntos e eu acordava com ela da mesma forma que agora. O terceiro foi confusão. Para tentar lembrar o que exatamente tinha acontecido na noite passada. E a quarta foi calma. Por finalmente lembrar e tê-la aqui perto de mim mais uma vez.
Era incrível como nada tinha mudado, pelo menos no seu jeito de dormir. Ela estava na ponta do travesseiro, quase saindo dele, o corpo inteiro virado para o meu lado. Um braço embaixo do travesseiro e a de cima seguindo a linha do seu corpo e somente a mão caída em sua barriga. Ela estava calma demais, como se não tivesse problemas nenhum na vida. Como se eu não tivesse mancado nenhuma vez com ela e realmente estivéssemos entre novembro de 2005 e maio de 2006.
Eu poderia ficar horas somente observando-a e acariciando seu rosto devagar. Vendo-a mexê-lo devido as poucas cócegas que eu fazia próximo de seu pescoço, mas eu também tinha noção de que não poderia fazer isso pela escolha que eu havia feito. Não era certo com ela, não era certo com Alena e nem era certo comigo. Apesar de eu ser quem menos importava nessa equação toda.
Soltei um suspiro, depositando um curto beijo em sua testa e me assustei com o toque escandaloso do meu celular, me fazendo quase grunhir de raiva por destruir meu momento. Virei meu corpo na cama, pegando-o na mesa de cabeceira e vi o nome de Veronica no mesmo, me fazendo suspirar.
- Ve? – Atendi.
- Ei, mano! Como você está? – Ela perguntou.
- Tudo bem e aí? E a mãe? – Perguntei rapidamente, coçando a testa e senti a cama se mexer ao meu lado.
- Está tudo bem, mano. Ela fez uma cirurgia durante a noite por causa da perna, ela acabou de sair e foi para o quarto. – Suspirei.
- E como ela está? Como está a perna?
- Está tudo bem, mano. O médico disse que com o repouso indicado e algumas sessões de fisioterapia, fica como novo. – Suspirei.
- Ah, que notícia boa! – Levei a mão na testa.
- E você? Onde está? – Ela perguntou.
- Estou em Siena ainda, acordei agora. – Engoli em seco.
- Não parece voz de quem acordou agora.
- É, mas foi! – Falei firme. – Eu vou me arrumar e pegar a estrada logo mais.
- Ok, maninho, te esperamos aqui no hospital. É para ela ter alta hoje, mas precisa passar a anestesia, o médico passar aqui... – Ela falou com voz entediada.
- Beleza, Ve! Até mais tarde. – Falei.
- Até! – Ela disse, desligando o telefone e eu suspirei.
- Ela está bem? – Ouvi a voz de e virei o corpo para dentro da cama, apoiando a perna esquerda em cima da mesa e olhei para ela.
- Ela fez uma cirurgia por causa da perna, mas já terminou e está no quarto. – Falei, descendo o olhar automaticamente ao ver suas pernas descobertas.
- Que bom! – Ela fez um rápido sinal da cruz. – Isso é muito bom, Gigi. – Dei um pequeno sorriso.
- Se a gente não tivesse sido tão afobado... – Falei e ela riu fracamente.
- Mas foi bom. – Ela disse, se levantando, puxando a blusa para baixo e seguiu até o banheiro. Observei a blusa um pouco mais abaixo de sua bunda, mas logo ela fechou a porta, me fazendo suspirar.
Joguei meu corpo para trás, passando as mãos com força na cabeça e puxei o travesseiro mais perto e coloquei em meu rosto, apertando-o com força e grunhindo igualmente irritado. Ergui meu corpo, pegando o celular novamente e vi que era 8:12. Talvez eu tenha dormido umas seis horas, não o ideal, mas com certeza eu já estaria em pé para o treino.
Droga! O treino. Abri minhas mensagens rapidamente, procurando a conversa com Chiello, digitando rapidamente algumas palavras para ele.
“Cara, minha mãe sofreu um acidente, vim para minha cidade correndo, avisa o pessoal que eu não vou conseguir ir hoje, mas devo voltar entre hoje ou amanhã cedo. Grazie”.
Suspirei e me assustei mais uma vez com um toque, mas dessa vez veio de . Inclinei o corpo para trás, pegando e vi o nome de Agnelli. Fiz uma careta e saiu apressada do banheiro e eu estendi o telefone para ela, vendo-a atender.
- Ciao, Andrea. – Ela falou e observei suas pernas mais uma vez. – Sim, foi, mas aconteceu um problema pessoal e eu não consegui finalizar. – Ela disse e mordi meu lábio inferior, vendo-a me encarar e ela abanou a mão, me fazendo virar, mas ri fracamente, negando com a cabeça. – Podemos marcar para sábado, que tal? Antes do jogo, é claro. – segurou meu rosto, virando-o, mas abanei-o, vendo-a revirar os olhos e se virar de mim. – Claro, falo com a Agnela e com o Buffon, pode deixar. – Ela disse, desligando o telefone.
- Hum, eu sou o Buffon para assuntos profissionais? – Falei, vendo-a soltar o celular na cama e puxar as cobertas, me empurrando para trás. – Eu já vi tudo o que tinha para ver aí, , e não é de hoje. – Ela revirou os olhos, soltando a coberta.
- Não é porque já viu que precisa ver de novo.
- Já vi muito mais do que isso, na verdade. – Falei, vendo-a checar sua calça na cadeira e vestiu-a rapidamente, me fazendo rir. – Vi bem recentemente, por sinal.
- Podemos manter o decoro e a dignidade, por favor? – Ela perguntou, erguendo a blusa e fechando o botão e o zíper.
- Então, você está com fome?
- Não costumo tomar café da manhã, só bebo um café quando chego em Vinovo. – Ela disse, pegando o resto das suas roupas. – Você?
- Eu como em Vinovo, normalmente, mas estou de boa, dá tempo de eu chegar até Carrara.
- Pode me deixar em Florença? – Ela perguntou e eu franzi os olhos, erguendo o rosto para ela. – Eu consigo um trem direto mais fácil do que daqui e você pode ficar com meu carro, depois eu pego.
- Você quer voltar para Turim? – Perguntei e ela ergueu o olhar para mim, travando por alguns segundos.
- Ah... – Ela endireitou o corpo. – Sua mãe está bem, não acho que tenha algo a mais que eu possa fazer.
- Beh... – Virei o rosto. – Achei que ia comigo para Carrara... Ver minha mãe... Conhecer minha cidade... – Ela mordeu o lábio inferior.
- Ah... – Ela deu de ombros. – Não achei que quisesse que eu fosse... – Ela deixou um curto sorriso se formar em seus lábios.
- Eu nunca nego sua companhia, . – Falei, sorrindo. – E eu já conheci sua cidade, talvez esteja na hora de conhecer a minha. – Ela riu fracamente.
- Tem certeza de que é uma boa ideia? Digo...
- Eu sei. – Suspirei. – Mas não acho justo você vir até aqui, perder sua noite e seu dia de trabalho só para ter dado uma volta de carro comigo e ainda voltar de trem. – Falei e ela riu fracamente. – Ah, e me deixar com seu carro.
- Não foi tão ruim assim, está bem? – Ri fracamente.
- Sim, eu sei. – Sorri. – A não ser que você queira...
- Não! – Ela disse fracamente, me fazendo sorrir. – Eu vou terminar de me arrumar, então. – Assenti com a cabeça e ela pegou o restante de suas roupas e voltou para o banheiro.
Aproveitei o quarto vazio e fui atrás das minhas roupas também. Peguei-as na cadeira e aproveitei para dar uma espiada pela janela. O dia estava bonito demais, o sol forte no céu e poucas nuvens. A única coisa que denunciava a chuva da noite passada eram as poças de água no chão.
Peguei minhas roupas e me troquei, passando desodorante e perfume. Coloquei a calça do dia anterior e a camisa social. Não vi necessidade em colocar o suéter por cima, pelo menos não agora. Estávamos um pouco mais no Sul, não tão frio quanto era em Turim. Guardei as roupas dentro da mochila de novo e deixei para fora somente minha bolsa para escovar os dentes.
Enquanto eu calçava as meias e o tênis, saiu do quarto. Com a mesma roupa de ontem, calças jeans, blusa de manga comprida vermelho queimado e sua bolsa e botas na mão. Ela se sentou na cama à minha diagonal e esticou minha blusa do uniforme.
- Grazie. – Ela disse.
- Você pode ficar, se quiser... – Falei, tentando parecer o menos desesperado possível e ela riu fracamente.
- Aumentando minha coleção. – Ela disse, colocando-a em cima da sua bolsa.
- Já tem algumas? – Perguntei.
- Algumas de jogadores e várias que eu pego na loja... – Ela suspirou. – Não tenho mais lugar para colocar roupa.
- Precisa de um guarda-roupa maior? – Ri fracamente.
- Eu já estou usando o do escritório. – Ela disse.
- Escritório? – Franzi a testa.
- Ah sim, eu mudei algumas coisas lá em casa, agora o outro quarto virou escritório e já está lotado de coisas. – Ela suspirou.
- Precisa de uma casa nova. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- É, eu preciso ir atrás, talvez nas férias. – Ela jogou os cabelos para trás, fazendo um rabo de cavalo. – Eu só... É só preguiça mesmo. – Rimos juntos. – Mas eu preciso criar vergonha na cara.
- Aposto que agora você possa encontrar algo maior e permanente. – Falei.
- Ah, sim, com certeza. – Ela sorriu. – Uma mansão em Vinovo, talvez. – Ela piscou para mim e rimos juntos.
Deixei-a calçar seus sapatos e segui para o banheiro para finalmente mijar e escovar os dentes. Aproveitei o momento sozinho para dar uma ajeitada no cabelo e na roupa. Talvez eu devesse informar minha família que eu estava levando , mas elas já me xingariam lá que eu sei, então optei por levar o xingo uma vez só.
Saí do banheiro e terminava de colocar as coisas em sua bolsa, parecendo tentar achar lugar para elas. Também, pelo tamanho da bolsa, poderia levar um cachorrinho que ninguém ia saber. Ou até o Giovinco. Ri com esse pensamento e ela ergueu o rosto.
- O quê? – Ela perguntou.
- Estava pensando que a sua bolsa é tão grande que caberia o Giovinco. – Ela riu fracamente.
- Provavelmente. – Ela sorriu.
- Eu estou pronto, podemos ir?
- Claro. – Ela disse, seguindo até a mesa de cabeceira e pegando o celular e o cabo, colocando-os dentro da bolsa.
Coloquei minha mochila no ombro e peguei as chaves, colocando no bolso. Saí do quarto e segurei a porta para ela passar e, por um instinto, apoiei a mão no batente, impedindo sua passagem e a mantive perto de mim.
- Gigi! – Ela falou firme, olhando para mim.
- Só mais um... – Falei baixo, apoiando a mão na sua cintura.
- Não, Gigi. – Ela falou baixo. – Por favor... – Ela mordeu seu lábio inferior.
- Só um. – Falei baixo, aproximando meu rosto do dela, ouvindo-a suspirar.
- Depois quem fica triste, tendo que superar, sou eu. – Ela falou baixo, mas sua mão subiu para meu peito.
- Não pense que eu não sofro também. – Falei baixo, sentindo sua respiração na minha e ela mordeu seu lábio inferior.
- Eu não quero falar sobre isso agora. – Ela disse.
- Você quer me beijar? – Perguntei baixo e ela riu fracamente.
- Eu sempre quero te beijar, Gigi. – Ela disse e eu pressionei meus lábios nos seus.
Diferente de madrugada, onde parecia que tudo era feito calculadamente, dessa vez ela me puxou pela nuca, me fazendo soltar a porta e apoiar as duas mãos em sua cintura, pressionando-a contra a parede. Sua outra mão encontrou meu ombro e pedi passagem com a língua. Ela permitiu sugando minha língua para sua boca e pressionei meu corpo contra o seu, ouvindo-a gemer baixo.
Inclinei meu rosto para outro lado, sentindo nossos narizes roçarem e ela acariciou minha nuca devagar, descendo-a logo em seguida para meu peito. Subi minha mão pela sua cintura, sentindo sua blusa subir junto e sua barriga contrair, me fazendo sorrir, lembrando do ponto que ela sentia cócegas. Levei minha mão para suas costas, pressionando meus lábios nos seus mais uma vez, mas ela me empurrou levemente pelo peito.
- Chega. – Ela falou baixo, soltando a respiração fortemente logo em seguida e eu franzi os lábios.
- Não... – Falei baixo, roçando meus lábios nos dela.
- Não! – Ela falou firme e afastei meu rosto do dela a ponto de ver seus olhos . – Não. – Ela repetiu como quem fala com criança. – Ou eu te deixo em Florença e volto para Turim com o meu carro. – Ela disse.
- Ainda vai comigo? – Perguntei com um sorriso no rosto.
- Confesso que estou curiosa em saber onde você cresceu. – Ela disse, mordendo seu lábio inferior e eu sorri.
- Não importa. – Falei e ela me empurrou pelo ombro.
- Eu vou ver sua mãe, Gigi. Não em uma viagem passe livre contigo. – Ela falou firme e eu suspirei.
- Já falei que você é muito chata? – Perguntei, ainda apertando seu corpo com a mão, sentindo seu corpo contrair.
- A culpa disso tudo é... – Ela parou no meio da frase. – Eu não vou brigar contigo agora, está tudo indo muito bem até agora. – Ela suspirou.
- Sim, está! – Sorri, aproximando meus lábios nos dela e ela tapou-os com a sua mão.
- Não, Gianluigi! Você não é uma criança de cinco anos.
- Ainda bem. – Falei, o som saindo abafado e lambi sua mão.
- Ah! – Ela disse, abaixando a mão e passando em meu ombro. – Eca.
- Não é o que você diz quando ela está dentro da sua boca. – Ela revirou os olhos e aproveitei para colar meus lábios nos dela rapidamente.
- Ah, Gigi! – Ela empurrou meu braço e puxou a porta, saindo pelo corredor e eu ri fracamente, apesar de saber que talvez tivesse ido longe demais.
Ela estava entrando no elevador quando a alcancei e ela cruzou os braços quando eu entrei atrás dela. Ela não falou nada durante o caminho, mas eu só conseguia sorrir com sua cara de emburrada. Chegamos no térreo e fui para a recepção, apoiando as chaves no balcão, encontrando outro atendente.
- Como foi sua estadia?
- Muito boa, obrigado. – Falei e ele me entregou um recibo.
- Somente uma pizza margherita, certo?
- Sim, certo. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Só assinar, por favor. – Ela disse e eu o fiz. – Obrigado e volte sempre.
- Obrigado. – Falei, seguindo até que me esperava na porta.
- Depois dividimos. – Ela falou.
- Nem vem. – Falei, andando ao seu lado. – E quero pagar sua gasolina também.
- Ah, pelo amor de Deus, eu mal-gasto com isso. – Ela disse, abanando a mão e a segui para o estacionamento lateral.
- Eu pago a volta, então. – Falei e ela não me respondeu, desativando o alarme de seu Jeep.
- Você quer ir dirigindo? Para eu não me perder de novo. – Ela disse claramente me cutucando e eu ri fracamente.
- Pode ser. – Falei, pegando a chave de sua mão.
Trocamos de lado dessa vez e coloquei minha mochila no banco de trás e entrei no carro, afastando um pouco o banco e ajeitando os espelhos. Ela ajeitou o som do carro, voltando ao menos em músicas italianas e dei uma olhada rápida no GPS para pegar o caminho mais curto, sem ter que passar por Florença, ou acabaríamos presos no trânsito.
Era quase 10 horas quando saímos de Siena e quase 12:30 quando entramos em Carrara. Esse tempo foi ocupado com as cantorias de ou as constantes ligações de telefone que ela recebeu de... Bom, todo mundo, ouvi ela falar com Sara, Enrico, Miguel, Pavel, Paratici e até Conte. Acho que nunca soube exatamente o que fazia. Ela cuidava do dinheiro do time, eu sei, mas não exatamente. Acabei descobrindo um pouco durante essas ligações.
Minha cidade não é grande, cerca de 65 mil habitantes somente, mas fazia questão de parecer uma grande metrópole e até abaixou a janela do carro para tirar algumas fotos. Eu ficava feliz com isso, não só por ser a minha cidade, mas por ela fazer questão de absorver qualquer tipo de cultura quando podia. Guiei o carro até o hospital no centro da cidade e precisei dar algumas voltas até achar onde estacionar, o que não era de se surpreender.
- Hum... – Falei ao puxar o freio de mão. – Eu não contei para eles que você vinha comigo e...
- Tudo bem, eu tento ser discreta. – Ela disse.
- Não, só... – Suspirei. – Deixa quieto. – Falei e ela riu fracamente.
Saímos do carro e andamos lado a lado em direção a entrada do hospital e eu tentei me esconder um pouco ao colocar os óculos de sol. Era difícil quem não sabia quem eu era aqui e, como eu não vinha com frequência, talvez fosse piorar.
- Ciao, buon pomeriggio. – O recepcionista falou.
- Ciao. – O homem falou, arregalando os olhos e eu suspirei. Cazzo!
- Eu vim ver Maria Stella Massocco Buffon, por favor. – Batuquei levemente na bancada com a ponta dos dedos e vi desviando o olhar.
- Ela está no quarto 34.
- Posso vê-la? – Perguntei.
- Sim, só seguir pelo corredor, virar a primeira a esquerda, subir e seguir as placas. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Grazie. – Falei, me afastando da recepção. – . – Chamei-a e segui pelo caminho indicado e ela veio até meu lado.
Fiz todo caminho indicado e encontrei as placas que o homem havia dito e vi o longo corredor com diversas portas e cadeiras que seguiam o corredor. Segui pelo corredor e nem precisei encontrar o quarto de minha mãe, pois encontrei meus cunhados sentados no corredor.
- Gigi! – Eles falaram juntos e eu os cumprimentei.
- Tudo bem? – Perguntei.
- Agora sim, ela deu um grande susto na gente. – Marco falou e rimos fracamente.
- Posso entrar?
- Claro, só estão eles lá dentro. – Stefano disse.
- Ok, eu vou e... – Virei para que estava um pouco atrás.
- Eu espero aqui. – Ela disse baixo, dando um curto sorriso.
- Marco, Stefano, essa é . – Falei rapidamente, apertando a maçaneta. – Marco, acho que você a conhece. – Ele pareceu arregalar os olhos. – Eu explico depois. – Falei baixo.
- Estávamos em uma reunião e... – Ouvi a voz de , mas parei de ouvir quando abri a porta e vi minha mãe lá dentro, me fazendo suspirar.
- Mãe... – Os quatro olharam para mim. Minha mãe parecia bem, com alguns curativos no rosto, mas o pior era sua perna que tinha aquelas sustentações de aço do joelho para baixo da perna direita, aquelas que penetravam na perna e deixavam uma proteção em volta e me fazia arrepiar.
- Filho! – Ela sorriu, erguendo os braços e vi seu dedo preso no monitor e o braço em um soro.
- Como a senhora está? – Me aproximei dela e abracei-a, com medo de apertar muito e machucá-la.
- Estou bem agora. Foi só um susto. – Falei.
- Que belo susto. – Veronica disse.
- O que aconteceu?
- Ah, está chovendo muito aqui, acho que eu aquaplanei quando tentei frear e entrei na traseira de outro carro. – Ela disse, acariciando meu rosto. – Foi só desatenção, eu estou bem. Você não precisava ter vindo.
- Eu me desesperei, mãe. – Neguei com a cabeça, passando a mão em seu rosto e vi seu sorriso.
- Está tudo bem. Quando Veronica disse que você viria, eu fiquei preocupado contigo sozinho na estrada.
- Hum, então... – Pigarreei. – Eu acabei tendo companhia.
- Alena veio junto? – Fiz uma careta.
- .
- O QUÊ? – Guendy gritou e eu coloquei a mão na boca.
- Xi! – Falei.
- Como isso aconteceu? – Veronica perguntou.
- Eu estava em reunião com ela de renovação de contrato, a Guendy ligou e ela ficou preocupada. – Falei. – Ela perdeu os pais dela em um acidente, acho que ficou mais nervosa do que eu. – Suspirei. – Mas ela que se prontificou a me trazer e por isso acabamos em Siena.
- Isso explica muito, na verdade. – Veronica disse e eu ri fracamente. – E vocês passaram a noite juntos?
- Não aconteceu nada, ok?! Cada um ficou em um quarto, acordamos e viemos, nada demais. – Sabe aquelas mentiras para não se ferrar mais ainda? Então...
- E ela está aqui? – Minha mãe perguntou.
- É, ela está lá fora com o Marco e o Stefano. – Falei.
- Beh, ela veio me ver, chama ela aqui. – Minha mãe falou, dando um curto sorriso nos lábios.
- Mãe...
- Ela viajou diversos quilômetros por causa de mim, não de você, chame-a aqui. – Ela falou e eu suspirei, andando até a porta e a abri, vendo e meus cunhados me olhar.
- Ela quer te ver. – Falei desanimado para , que riu fracamente e se levantou, seguindo até a porta do quarto e dei espaço para ela entrar.
- Scusa, scusa! – falou, encostando a porta.
- Oi, querida. – Minha mãe disse e eu cruzei os braços.
- Como a senhora está? – Ela perguntou.
- Eu estou bem, obrigada. – Minha mãe disse, sorrindo e olhei para minhas irmãs que não paravam de me encarar. – Fiquei sabendo que te dei um susto. – riu fracamente e eu revirei os olhos para minhas irmãs.
- Um pouco. – Ela suspirou. – Eu morro de medo de acidentes de carro.
- Com razão. – Falei baixo.
- Eu estou bem, não se preocupem. – Minha mãe disse, sorrindo. – Vou ficar com esse amigo por um tempo, mas tudo bem. – Suspirei, aliviado.
- Que bom. – disse com um sorriso verdadeiro nos lábios.
- Tem algo que eu possa fazer? – Perguntei.
- Descansar. – Minha mãe disse. – Você precisa se preparar para o próximo jogo. Não era nem para ter vindo.
- Por favor, mãe, não começa. – Veronica falou.
- Teimosa? – Perguntei.
- Sempre. – Guendy disse revirando os olhos.
- Por que vocês não vão lá em casa descansar? – Minha mãe disse. – As meninas também. Eu devo ter alta mais tarde, aí vocês já podem seguir para seus caminhos. – Revirei os olhos.
- Eu aceito, porque eu estou precisando dormir. – Guendy disse.
- Eu posso ficar. Nós trocamos. – Falei.
- Não, você está com a aqui, leve-a para dar uma volta na cidade, lá em casa, qualquer coisa, ela não vai vir para Carrara para ficar no hospital, não é?!
- Viemos por você, mãe. – Falei firme.
- É, mas o horário de visita logo acaba, não? – Minha mãe disse e suspirei. Ê, mulher difícil.
- Às duas. – Meu pai falou.
- Pronto. Está decidido. – Minha mãe disse. – Vão descansar, nos vemos mais tarde. E você e a logo podem voltar para seus compromissos.
- Tem certeza? – Perguntei.
- Sim, eu tenho. – Ela disse insistindo e me aproximei dela novamente, dando um beijo em sua testa. – Vai descansar, ok?
- Ok. – Falei baixo, suspirando.
- Obrigada por ter vindo, . – Minha mãe disse.
- Beh, não nos vemos muito, mas eu me preocupo com vocês. – disse, sorrindo.
- Também me preocupo com você. – Ela sorriu. – Tudo bem contigo? – assentiu com a cabeça.
- Tudo certo.
- Ótimo! – Minha mãe disse e ambas sorriram. – Agora vão, ciao, ciao. - Suspirei e foi a primeira a sair do quarto e saí logo atrás com as minhas irmãs.
- O que aconteceu aqui? – Guendy perguntou baixo, me apertando pela cintura.
- Nada diferente do que eu contei no quarto. – Falei no mesmo tom.
- Você não me engana, Gianluigi. – Ela disse e revirei os olhos.
- Bom, nós vamos descansar e nos encontramos mais tarde na casa da mãe. – Guendy disse como se não desejasse minha morte e todos assentimos com a cabeça, confirmando.
- Vamos. – Falei para e seguimos pelo caminho que viemos, junto de minhas irmãs e meus cunhados, em direção a porta do hospital.
- Nos vemos mais tarde? – Veronica perguntou.
- Claro. – Falei, vendo que seguimos para lados contrários quando saímos do hospital.
- Elas não vão para o mesmo lugar que a gente? – perguntou.
- Elas têm casa aqui, eu não. – Falei e assentiu com a cabeça, continuando a me seguir.
Capitolo treintasette
O caminho do hospital até a casa do Gigi não foi tão longo. Na verdade, a cidade não era muito grande, mas notei que eles moravam um pouco afastados do centro. Chegamos em cerca de 10 minutos, mas deu para perceber a redução de trânsito e comércio conforme seguíamos. Não era um condomínio fechado, mas era bem mais glamoroso quanto ao resto dos outros bairros.
Gigi foi calado durante todo percurso, ele parecia irritado, mas imagino o quão xingado ele foi pela sua mãe e irmãs por aparecer aqui com outra mulher que não era a mulher que compartilhava a aliança em seu dedo. Pelo menos foi isso que ficou óbvio na cara de Marco quando ele me viu e pelo silêncio nos cinco minutos que fiquei sozinha com ele e o outro cunhado.
Eu não falei nada, Giulia me daria um xingo também quando eu chegasse e eu estava cada vez mais certa que esconderia os beijos, apesar de que ela me conhecia melhor do que eu mesma, talvez não tivesse como. Só esperava que ficasse realmente nisso, já que estávamos indo juntos e sozinhos para a casa de seus pais. Eu sou manteiga derretida e não sei resistir a esse homem ou falar não, estava muito a fim de dar outro passe livre como Trieste, mas não posso. Eu ainda tinha um pouco de amor-próprio na minha vida e, se ele quisesse ficar comigo, teria que ficar só comigo, não com outras.
Preferi me manter calada também, cantarolando os últimos lançamentos de Baby K, que até isso estava irritando Gigi. Eu era bem eclética, então talvez isso esteja deixando-o mais furioso ainda. Ele imbicou em uma rua longa e parou quase no final dela, dando em uma rua sem saída. A casa era grande, claramente tinha dois andares e tinha um estilo meio tradicional, com pedras na decoração. O jardim era composto de verde, mas com o frio, não era de se esperar que florescesse, não é mesmo?
Gigi saiu do lado do motorista, puxando a mochila no banco de trás e eu até esperei alguns segundos para sair do carro, talvez tivesse algum tipo de convite especial, vai saber. Ele seguiu em direção a porta e fuçou em seus bolsos, pegando o chaveiro do seu carro e encontrou alguma chave, abrindo a porta da frente.
- Vem. – Ele disse fraco e eu fui atrás dele, ouvindo o alarme do carro atrás de mim. – Aqui! – Ele me estendeu as chaves do carro e eu assenti com a cabeça.
- Scusi. – Falei, entrando em sua casa, limpando os pés no capacho.
A casa era simples. Uma grande sala logo na entrada, uma escada do lado esquerdo que dava para uma sacada no andar de cima e alguns cômodos mais ao fundo. Era impossível não sentir o orgulho de Maria Stella pelos filhos, pois eles estavam em todos os lugares. Diversos porta-retratos, seja na parede ou nos móveis, mostravam seus filhos, inclusive três fotos grandes dos três na parede logo na entrada, Guendalina e Veronica em cima e Gigi embaixo.
Gigi bebê era a coisa mais fofa de todas! Os cabelos cheios na cabeça, os olhos azuis sempre muito penetrantes e o nariz e a boca enfiados dentro de suas grandes bochechas. Eu podia apertar aquela foto quase como se fosse real.
- Ah, Gigi. Você era muito fofo! – Falei, rindo logo em seguida.
- Ah, nem fala. – Ele disse, revirando os olhos.
- Ah, qual é! Olha isso! – Me aproximei da foto. – Que vontade de apertar, meu Deus! – Falei com voz de criança e ele riu fracamente.
- Elas já se foram, . – Ele falou.
- Engorda um pouquinho que elas aparecem logo mais. – O provoquei e ele riu fracamente. – Agora eu entendo de onde vieram as bochechas do Lou. – Sorri, negando com a cabeça e desci os olhos pelas fotos, vendo uma da família toda, inclusive de Gigi, esposa e filhos, me fazendo suspirar.
- Vem, vamos subir.
- Não, olha isso! – Falei, rindo. – Posso levar essa foto para casa?
- O que você vai fazer com uma foto minha criança, ? – Ele perguntou e fingi pensar.
- Voodoo?
- Há, há, há, engraçadinha! – Ele falou, me puxando pelo ombro e eu o segui, começando a subir as escadas.
- Não que você não mereça, mas... – Deixei a frase no ar. – De quando é aquela foto?
- Eu tinha três anos. – Ele disse.
- Ah, você era bonitinho. – Ri fracamente.
- Era? – Ele perguntou.
- Era! – Falei firme. Poderia continuar e falar que agora ele estava lindo per un cazzo, mas preferi manter para mim.
- Você está com mais fome ou cansaço? – Suspirei, ponderando com a cabeça.
- Acho que cansaço. – Falei, suspirando. – Não dormi tão bem à noite. – Comentei, denunciando os momentos que fiquei observando-o dormir por volta das quatro da manhã quando acordei para fazer xixi.
- Ok, podemos descansar e depois almoçamos alguma coisa. – Ele disse, andando pelo corredor do andar de cima.
- Tudo bem para mim. – Disse e o vi abrir a porta no fim do corredor.
- Entra aqui. – Ele disse e eu fui receosa atrás dele. – Ignora algumas coisas.
Era impossível ignorar qualquer coisa naquele quarto. Era o quarto do Gigi de pré-adolescente, cara! Tinha pôsteres de vários jogadores importantes, inclusive goleiros como Dino Zoff e Thomas N’Kono, além de pôsteres de várias mulheres só de biquini. Na mesa e nas prateleiras o passado e o presente se misturavam, tinha fotos dele mais novo nos times de futebol quando criança, fotos do Parma e da Juventus e, também, foto dele com os filhos.
- Oh! Eu me lembro disso. – Peguei uma foto do dia que ele fechou o contrato com a Juventus.
- Nossa! Olha o cabelo. – Ele falou e rimos juntos.
- Ah, não era a coisa mais linda do mundo, mas... – Dei de ombros e o vi sorrindo.
- Está dizendo que eu estava bonito aí? – Ele perguntou.
- Não perfeito, mas... – Dei de ombros e ele riu fracamente.
- Eu lembro de você nesse dia também. – Ele comentou quase para si mesmo, então preferi ficar quieta. – Eu já volto. – Ele disse.
Olhei a foto mais uma vez, Gigi com um largo sorriso no rosto, os cabelos mais longos e a blusa azul e a calça branca. Lembro que me surpreendi com ele naquele dia. Não sei se ele era grande demais ou se as roupas eram mais largas, mas ele parecia enorme. Eu não usava salto no meu dia a dia, então fiquei realmente surpresa por um homem daquele tamanho. Ele tinha razão, os cabelos mais compridos não valorizavam-no, mas os olhos chamavam atenção e acho que foi isso que me chamou para ele. Beh, isso e a simpatia dele. Pavel e Lilian fecharam contratos naquela mesma semana e nenhum deles se quer me viu na sala, mas Gigi realmente me viu... E o resto é história.
- Aqui! – Gigi me distraiu de meus devaneios e o vi estender algumas roupas para mim. – Aqui tem um pijama quente e algumas roupas mais limpas, se quiser tomar banho. São da Guendy, e devem servir.
- Grazie. – Falei, um tanto confusa.
- Se quiser dormir mais confortável e tomar banho. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Ah, sim. – Rimos juntos.
- Eu vou dormir no outro quarto, fique à vontade, ok? – Ele falou.
- Não quer ficar aqui? Eu fico em um sofá, não me importo...
- Não, não! Fica aqui, depois nos vemos. – Assenti com a cabeça. – Se acordar e eu estiver dormindo ainda, pode me acordar ou atacar a geladeira, fique à vontade. – Ri fracamente.
- Relaxa, Gigi. – Falei, sorrindo e ele assentiu com a cabeça, franzindo os lábios e eu achei que ele ia falar algo, mas ele saiu e fechou a porta logo em seguida, me fazendo suspirar.
Coloquei as roupas da Guendalina na mesa que tinha ali e chequei o conjunto de moletom que ele havia me dado e suspirei. Pelo menos me livrar dos jeans e do sutiã já me deixaria mais confortável. Tirei as calças, trocando pelo moletom e tirei minha blusa e o sutiã, colocando a camiseta que fazia conjunto com ele. Deixei minhas roupas dobradas e coloquei-as de lado.
O que fazer no quarto do meu primeiro a... Do meu verdadeiro... Do cara que eu tive a melhor história do mundo? Fuçar, é claro.
Garanti de trancar a porta antes, tentando fazer o mínimo de barulho possível e me senti em um parque de diversões. Comecei a abrir os armários e gavetas como se eu fosse realmente dona do lugar. No começo, não havia nada de muito interessante, roupas, materiais antigos da escola, fotos de namoradinhas e afins, até que eu encontrei suas revistas pornográficas.
Claro que elas eram bem antigas, o próprio amarelado do papel denunciava isso, mas fiquei curiosa em saber o que chamava atenção dele. Ele tinha tido relacionamentos comigo, com Alena que eu considerava alguém totalmente diferente de mim e com Vincenza, que era mais diferente ainda. Isso sem contar possíveis namoradas que ele deve ter tido na infância e no Parma. Sem chances que esse cara ficou solteiro até chegar na Juventus.
As revistas não tinham padrão. Mulheres brancas, pretas, loiras, morenas e ruivas estampavam elas e isso só deixou mais na cara que Gigi não ficou solteiro até chegar na Juventus. Ele deve ter sido um belo mulherengo em seus momentos de escola e Parma. Para eu ver como a vida das pessoas são diferentes. Dos meus oito aos 14 anos eu só queria viver um dia de cada vez e planejar no futuro. E dos 14 aos 17, eu só pensava em como colocar esses planos em prática. Não lembrava muito de escola, meninos e namorados. Meu foco era passar na universidade e fugir, então intercalando o trabalho com muito estudo, nunca tive como aproveitar. Só quando cheguei em Turim e me ajeitei, conheci o Luigi e tive minha primeira verdadeira experiência.
Abanei a cabeça com meus pensamentos, realmente precisando descansar um pouco e abri o espaço para guardar as revistas de Gigi e vi algo no fundo da gaveta que literalmente me fez abrir a boca. Puxei a foto, surpresa e ri fracamente. Era uma foto de Gigi pelado. Não só dele, tinha outros homens igualmente pelados ou seminus na foto. Não que o Gigi pelado fosse alguma novidade para mim, era uma ótima visão, mas não era algo que mudava, mas essa foto era uma surpresa.
Eles pulavam e comemoravam, abraçados como se a vida dependesse disso. Reconheci o logotipo do Parma na blusa de um dos homens de blusa e ri fracamente. Eu ainda achava estranho quando eles tiravam a blusa ou a calça para dar para os torcedores, principalmente em Villar Perosa, mas ficar inteiramente pelado era uma novidade para mim. Não que eu fosse reclamar.
Tentei puxar na memória o que é que Gigi tinha ganhado na época do Parma e ele havia subido no profissional em 95 e ficado até 2001 quando foi para Juventus. Teve um evento que eu descobri que ele havia tirado a blusa do uniforme e mostrado a blusa do Superman, como chamavam-no no Parma – e chamam até hoje –, após defender um gol de Ronaldo. Foi em uma UEFA Cup? Supercoppa? Acho que algo assim.
Segui a passos de formiga de volta para minha bolsa e peguei o celular. Coloquei na câmera e tirei uma foto daquilo. Para quê? Não sei, mas eu era curiosa e eu sentia um tesão enorme por esse homem, e já que eu não poderia tê-lo, por que não guardar uma pequena lembrança?
Guardei tudo, tentando deixar da mesma forma que eu encontrei e me senti satisfeita com as minhas pesquisas. Deitei no centro da cama, ne esperança de encontrar seu cheiro entre os lençóis, mas não, provavelmente ele não vinha aqui há muito tempo para dormir.
Tentei fechar os olhos e relaxar e aquela imagem voltava na minha cabeça com rapidez. Com isso, as cenas de Trieste voltaram para minha cabeça, quando ele ficou completamente pelado em minha frente, sentado no vaso sanitário ou a última vez que transamos antes dessa bagunça toda. Acho que foi no chuveiro.
Mordi meu lábio inferior, sentindo minha mão descer pelo meu corpo e adentrei-a na calcinha, me fazendo suspirar. Levei a mão até minha vagina, acariciando-a devagar e o passei entre os lábios, sentindo-a levemente umedecida. Abanei a cabeça, fechando os olhos e deixei que as imagens passassem com mais calma e detalhes, me fazendo morder meu lábio inferior.
Subi os dedos para meu clitóris, começando a fazer um carinho delicado sob ele. Meus pensamentos foram para algumas horas atrás, com a prensada que ele me deu na parede e eu quase desisti de me conter ali. Eu sabia que era errado, mas eu não conseguia resistir, não conseguia dizer não para ele.
Meus dedos começaram a agilizar, fazendo com que o elástico apertado da calcinha e do moletom começassem a me incomodar e abaixei ambos até os joelhos, dobrando as pernas em cima da cama e entreabrindo-as mais.
Meus dedos trabalhavam cada vez com mais rapidez, deslizando por entre os lábios, sentindo meu interior cada vez mais úmido e entreabri os lábios quando comecei a sentir a respiração ficar cada vez mais afetada. Joguei a cabeça para trás, tentando desacelerar os movimentos, mas não tinha como e eu não queria parar.
Mordi meu lábio inferior quando soltei uma lufada forte de ar e apertei a outra mão em meu seio, tentando passar a energia para ela. Minhas coxas começaram a se contrair quase em uma cãibra e meu corpo respondia da mesma forma. Ignorei tudo e deixei que meus dedos me levassem ao clímax, me fazendo soltar a respiração forte e apertar minha vagina devido aos espasmos que meu corpo mandava.
Relaxei meu corpo aos poucos, esperando-o voltar ao normal e puxei a calça para cima. Apoiei a mão na barriga descoberta e soltei um suspiro, deixando um curto sorriso escapar de meus lábios. Mordi meu lábio inferior ao pensar em Gigi novamente e suspirei mais uma vez, virando meu corpo na cama de solteiro. Aposto que agora eu durmo mais relaxada ainda.
Abaixei o rosto quando a água começou a cair em minha cabeça e suspirei, entreabrindo os lábios para não dificultar a respiração. Fechei os olhos e o sorriso de surgiu imediatamente em minha cabeça, me fazendo abri-los com pressa. Neguei com a cabeça, sabendo o quão errado isso era e o quão dependente eu era, mas eu precisava deixar para lá. Não sei que força me deu para deixá-la sozinha em meu quarto, eu tinha vontade de ficar com ela, pelo menos abraçá-la e dormir acariciando seu rosto mais uma vez. Isso para não falar outras coisas que eu queria fazer.
Peguei o xampu, colocando um pouco em minha mão e logo em minha cabeça e esfreguei o cabelo um pouco, antes de colocar o cabelo embaixo da água de novo, fechando os olhos. Seu sorriso apareceu de novo e eu engoli em seco. Não queria abrir os olhos, não mesmo. Era seu sorriso tentando analisar meus movimentos enquanto estávamos na cama. Ela me avisou, mas não me parou em nenhum momento. Sei que isso não era certo, sei que ela também gostava de mim, mas ela tinha que vir comigo? Eu não tinha como resistir a ela. Ela era... Não sei, meu primeiro amor? Isso era loucura!
Repassei em minha mente os curtos beijos que demos na cama, sua mão em minha nuca e sua barriga contraída embaixo da minha mão. Depois lembrei de como eu abracei-a quando ela virou para o outro lado e como seu corpo encaixou no meu e não me afastou em nenhum momento. E hoje de manhã, quando ela estava virada para mim e sua mão quase apoiada em meu peito, quase pude ver um sorriso em seus lábios. O mesmo quando ela dormia nos meus braços lá atrás.
Levei minha mão para meu pênis, começando a acariciá-lo devagar e pressionei os lábios quando as imagens de mim pressionando-a contra a parede surgiram. Não foi intencional e eu não tinha programado isso, eu só senti uma vontade enorme de beijá-la. Posso garantir que não transamos na noite anterior porque eu não quis pressioná-la, mas observá-la com a blusa azul do uniforme e as pernas descobertas me fizeram pensar em muita coisa, inclusive acabei me masturbando no banho também.
Senti sua mão em meus ombros novamente, quase como se ela estivesse comigo e agilizei os movimentos cada vez mais. Soltei um suspiro quando minha cabeça foi para Trieste. O que tinha acontecido ali? Foi o melhor dia da minha vida. Ela toda livre, toda entrega, nossos movimentos sincronizados, minha vontade de abraçá-la e cuidar dela após o tapa e sua permissão... Foi perfeito.
Mordi meus lábios, visualizando seu corpo novamente. Seus cabelos bagunçados jogado pelos ombros, os lábios sendo mordidos, os seios excitados, a barriga contraída... A cicatriz de sua cirurgia deixando o começo da sua vagina ainda mais tentador e suas pernas deliciosas. Queria poder levá-la para um hotel sensacional, mas se aquele vestiário era o que eu teria, então precisei aproveitá-lo. Mas não importava o local, com ela era sempre perfeito. Ela sabia onde me atingir e sabia que eu também sabia disso.
Eu queria me matar toda vez que havia pensado em minhas decisões e como elas afetavam minha vida, mas, infelizmente, eu não podia voltar no tempo. Senti meu pênis apertar cada vez mais conforme eu agilizava os movimentos que minha respiração ficou cada vez mais fraca, fazendo meu corpo se contrair cada vez mais.
Minha cabeça foi mais longe e lembrei da nossa primeira vez. A primeira vez que eu fiz amor de verdade. Ela passou as pernas pelo meu corpo, sentou em meu colo, me segurou pela nuca e eu ainda fiquei desconcertado com seu movimento, seus olhos, mas eu só pensava o quanto eu estava feliz, apesar de toda situação. Minhas mãos desceram para sua bunda e suas pernas e nos beijamos. Ela praticamente ordenou que eu tirasse a roupa e tudo começou daí. Só não esperava que a vida tivesse mais pegadinhas para gente.
Arfei quando eu gozei em minha mão e joguei a cabeça para trás, tirando-a de baixo da água. Apoiei a mão na parede, ainda acariciando meu pênis devagar, tentando normalizar a respiração e soltando a respiração devagar pela boca. Quando a respiração normalizou, eu entrei embaixo do chuveiro novamente.
Tomei banho direito agora, passando sabonete no corpo e aproveitando para acariciar meu pênis enquanto o lavava, garantindo que não apareceria ereto para de novo e não causasse mais problemas do que eu já tive causado e puxei a toalha. Me sequei dentro do box e enrolei a toalha na cintura antes de sair no quarto de Guendalina.
Vesti a cueca e as roupas que havia pegado em meu quarto e passei a toalha nos cabelos, jogando-os para trás. Suspirei, me olhando no espelho na parede e ponderei com a cabeça, estava bom. Pendurei a toalha de volta no banheiro e peguei meu celular na mesa de cabeceira e chequei as notificações, vendo uma mensagem de Alena.
“Você poderia ter me dito, eu poderia ir contigo! Como está sua mãe? Ela está bem? Quando você volta? Avisou o time?” – Suspirei, mordendo meu lábio inferior.
“Aconteceu muito rápido, eu estava em reunião com o time, o pessoal me liberou para eu vir. Ela está bem, volta para casa hoje. Eu pretendo voltar assim que ela tiver alta”. – Respondi, não me alongando mais e guardei o celular no bolso.
Saí do quarto, seguindo em direção ao meu quarto e vi a porta aberta. Me aproximei devagar e o vi vazio, me fazendo franzir a testa. Olhei para o andar de baixo, deslizando a mão pelo corrimão e vi lá embaixo sentada no sofá, folheando alguma coisa. Peguei o celular, apontando para ela e dei zoom, vendo os álbuns que minha mãe deixava na mesa.
Cazzo!
Suspirei, observando pela câmera e apertei o botão da foto, feliz por estar em flash. Guardei o celular no bolso de novo e desci as escadas, vendo seu rosto se virar para mim quando a madeira rangeu.
- Ei, você acordou. – Ela falou, com um sorriso no rosto.
- Faz um tempo, aproveitei para tomar banho.
- Ah, eu tomei também, espero que não se importe. – Ela falou e a vi com a roupa de Guendy.
- Não, claro que não. – Falei, me sentando na poltrona à sua diagonal. – O que está vendo?
- Você pequeno. – Ela fechou o álbum, colocando-o de volta na mesa de centro.
- Ah, mãe! – Falei, baixo e ela riu fracamente.
- Toda mãe sente orgulho dos filhos. – Ela disse. – Já perdi as contas de quantas fotos minhas tem na casa da Giovanna e do Fabrizio. – Dei um curto sorriso.
- Os aceitou como seus pais? – Ela deu de ombros.
- Não é algo que eu precise aceitar quando eles me dão amor, carinho, me ligam para saber como foi meu dia e me colocam na foto da família. – Ela disse, sorrindo. – Até a nonna me chama de quarta neta. – Ela riu fracamente.
- Isso é muito bom, . – Falei, sorrindo e ela assentiu com a cabeça.
- Eu estava tão desesperada para ter uma família quando eu já estava em uma e nem sabia. – Ela pressionou os lábios.
- Mas você ainda quer ser mãe, certo? O que aconteceu não impede?
- Ah, não. Ainda quero sim. – Ela sorriu. – Só não preciso me desesperar mais. – Assenti com a cabeça.
- Mas você ainda tem o time também...
- Sim, sim! – Ela assentiu com a cabeça.
- Então, você já comeu? – Perguntei.
- Não, eu desci faz uns 20 minutos só, estava te esperando.
- A gente pode ir em um pub que tem aqui perto, eles servem alguns petiscos, aposto que minha mãe vai obrigar eu ou a Veronica a fazer janta e jantarmos de verdade. – Ela riu fracamente.
- Você ou a Veronica?
- É. – Ela riu fracamente. – Não sou tão ruim, eu só tenho um prato, mas...
- Já basta. – Ela sorriu. – Não o como há sete anos, acho que não vou enjoar. – Ela piscou para mim e rimos juntos.
- Topa ir ao pub? – Perguntei.
- Tem certeza de que é uma boa ideia? Digo... – Ela ponderou com a cabeça. – É sua cidade, eu não sou sua esposa... – Ela mordeu o lábio inferior e eu bufei.
- Você é minha chefe. – Falei firme, mas entendia o lado dela, eu só não me importava com isso.
- Ok, então... – Ela disse. – Eu vou pegar minha bolsa. – Assenti com a cabeça.
Subi logo atrás dela e fomos em direção ao meu quarto. Ela tirou algumas coisas de sua bolsa e eu aproveitei para colocar meus tênis. Ela fez o mesmo com a sua bota e sumiu no banheiro por alguns segundos e voltou com uma maquiagem leve no rosto.
- Podemos ir. – Ela disse, colocando o cabelo atrás da orelha.
- Vamos lá, é aqui perto, podemos ir andando. – Falei.
- Claro. – Ela disse.
Parei no quarto de Guendy para pegar minha carteira e desceu na minha frente. O pub ficava a cerca de 10 minutos da minha casa, logo saindo do bairro, não falava nada e eu preferi também não. Pelo menos ela não manteve uma longa distância de mim ou algo assim. O local era um tanto temático irlandês, então tinha aquele toque robusto.
- Se alguém perguntar, estamos em uma reunião de negócios. – Ela falou antes de entrarmos e eu assenti com a cabeça, passando pela porta.
- Gigione! – Foi rápido para a primeira pessoa me conhecer.
- Fala aí, Antonio! – Cumprimentei o barman, batendo minha mão na dele.
- Que milagre te ver aqui, cara! Não te vejo desde...
- Faz tempo que eu não vinha mesmo. – Rimos juntos.
- E aí, o que te traz aqui? – Ele perguntou.
- Negócios, preciso resolver umas coisas. – Indiquei com a cabeça e ele assentiu com a cabeça.
- Claro! Vou limpar uma mesa para vocês. – Ele disse.
- Grazie. – Falei e o segui com próximo a mim.
Antonio nos levou para uma mesa no canto, onde eu realmente encontrava algumas pessoas para negócios, e livrou o espaço. Eu entrei de um lado do sofá e do outro, apoiando sua bolsa do lado.
- O que posso servi-los? – Antonio perguntou.
- Uma pint para mim e... – Virei para que pareceu pensar.
- Seu melhor branco seco. – Ela disse e Antonio assentiu com a cabeça, se retirando. – O que você indica comer aqui?
- Depende do seu nível de fome. – Falei.
- Não como desde a uma da manhã. – Ela disse, checando o relógio. – Faz quase 13 horas. – Rimos juntos.
- Os lanches são muito bons. – Falei e ela pensou.
- Não a melhor escolha com vinho, mas... – Rimos juntos.
- Eu volto dirigindo, ok? – Falei e ela ergueu o olhar.
- Dividimos. – Ela definiu e eu não falei nada. – Pego quando chegar mais perto de onde eu conheço. – Ri fracamente.
- Está tudo bem, me desculpe pela forma que falei contigo, eu... – Ela negou com a cabeça.
- Você estava estressado com motivo, relaxa. – Ela falou. – Faria o mesmo. – Ela suspirou e eu confirmei com a cabeça. – Então, por que me pareceu que você vir aqui a negócios não é novidade?
- Ah, eu tenho uma empresa de investimentos com minhas irmãs. É por ela que está o hotel, meus investimentos imobiliários...
- As manipulações de resultado... – Ela cantarolou baixo.
- Eu não faço mais isso, ok? – Falei e ela riu.
- Eu não acredito em você. – Ela deu um curto sorriso e nem tentei negar.
- Eu sou sócio majoritário do time daqui também. – Falei. – O Carrarese.
- Eu me lembro de você citar algo disso, só não lembro o quê. – Ela falou.
- Também não lembro, mas comprei todas as ações, então eu venho de vez em quando para falar sobre patrocínio, investidores, etc... – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu faço basicamente isso...
- Em uma escala bem maior. – Falei.
- É, talvez... – Rimos juntos. – Como o time é?
- Eles subiram para a primeira divisão da Lega Pro na temporada passada. – Ela assentiu com a cabeça.
- É tipo a Serie C, não?
- Sim, era, mudou de nome em 2008. – falei.
- Ah, eles mudam tantas coisas... – Ela suspirou. – E o que importa, eles não mudam.
- Como o quê? – Ela perguntou.
- Ah, não me conformo alguns lances não serem validados só porque o juiz não viu. Tem quase 200 câmeras no estádio acompanhando todos os movimentos, deveria poder usar as filmagens.
- Talvez acabe sendo o futuro mesmo. – Comentei e Antonio voltou com as bebidas.
- Aqui está. – Ele colocou em nossa frente. – Vão comer algo?
- Eu gostei desse número oito aqui. – disse. – Poderia só acrescentar picles? - Ela perguntou.
- Claro. – Ele disse. – Gigi, número quatro?
- Sim, tira o meu picles e coloca no dela. – Falei e sorriu. – E traz uma cebola para gente.
- Fechado. – Ele disse, se retirando.
- Não lembro de você não gostar de picles. – Ela comentou.
- Não saíamos muito para comer, lembra? – Falei e ela assentiu com a cabeça, em um pequeno sorriso e deu um gole em sua taça.
- Cozinhamos muito. – Sorrimos e assenti com a cabeça.
- Você ainda gosta de cebola, não?
- Eu gosto de quase tudo, Gigi. – Ela disse, sorrindo e eu assenti com a cabeça. – Você que tem o paladar de uma criança. – Ri fracamente.
- O Lou é melhor do que eu para comer, agora o Dado...
- Nem imagino a quem puxou... – Rimos juntos e ouvi um toque de celular.
- Você me dá licença?
- Claro! – Falei e ela colocou o celular na orelha.
- Fala, Angela. – Ela disse, apoiando o braço livre na mesa. – Sim, claro. Eu falo com ele. – Falei, suspirando. – Sábado, que tal? Por volta das 10? – Ela apontou para mim e ergui o rosto para prestar atenção. – Não, eu falei com ele hoje mais cedo, ele volta hoje à noite ou amanhã cedo. – Ela parava para ouvir. – Isso, 10 horas. – Ela disse. – Beleza, vou checar com a Sara e já te aviso, mas está feito, com toda certeza. – Ela mordeu a ponta do dedo. – Ok, grazie, ciao, ciao. – Ela disse, desligando o telefone.
- O que eu tenho sábado 10 da manhã? – Perguntei.
- Coletiva de imprensa de renovação de contrato. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Ah, de boa! – Falei.
- Deixa só avisar a Sara. – Ela disse, digitando o telefone e colocando na orelha de novo.
- A Sara é tipo você, não é? – Perguntei e ela me olhou.
- Como assim? – Ela franziu a testa.
- Você está moldando-a da mesma forma que seu ex-chefe te moldou...
- Sara? – Ela falou. – Oi, . Tudo bem? – Ela olhou para mim. – Deu certo a homologação do contrato do Buffon? – Ela assentia com a cabeça com a resposta. – Isso, dá uma agilizada neles, por favor, a coletiva ficou para sábado de manhã. – Ela falou. – É, eu sei, mas é o Buffon, ele é o capitano, jogador mais velho... – Ela ponderou com a cabeça. – Isso. – Dei um pequeno sorriso. – E como estão as outras coisas? Ok, beleza, eu devo trabalhar normalmente amanhã. – Ela pausou. – Está tudo bem, não se preocupe. – Ela falou. – Ok, grazie, baci, baci. – Ela disse, desligando o telefone. – Pronto. Você estava dizendo?
- Acho engraçado como você me designa profissionalmente. – Ela sorriu.
- É profissional mesmo. Isso quando não citamos o número. – Ela disse. – Principalmente quando estamos na pressa.
- Nossa! Acho que nem eu sei o número de todos. – Falei.
- Você é o um, dois era o Lucio que saiu, três Chiello, quatro Cáceres, cinco saiu também, seis é o Pogba, sete é o Pepe, oito Marchisio, nove Vucinic, 10 era o Alex, estamos guardando para alguém à altura... E por aí vai. – Ela disse, me fazendo rir.
- Isso é legal. – Falei.
- Mas é profissional, não pense que eu vou começar a te chamar de Buffon assim. – Sorri.
- Agradeço, . – Rimos juntos. – Mas eu estava falando que você parece estar moldando a Sara. – Falei. – Como seu ex-chefe te moldou.
- Ah, sim, estou. – Ela sorriu. – A Sara é bastante envergonhada, mas ela tem bastante potencial, ela pode vir a me substituir um dia, se ela ficar no clube. – Ela disse.
- Você pensa em sair? – Perguntei.
- Já pensei, mas alguém mandou eu ficar. – Ela ergueu o olhar para mim e rimos juntos. – Mas acho que não. – Ela disse. – Digo, meu ex-chefe ficou por 30 anos no time... Eu gosto de lá. – Sorri.
- Estamos em boas mãos contigo no time.
- Só eu tenho coragem de brigar com vocês quando algo de errado acontece. – Ela falou.
- Nunca vi o Giorgio segurar ninguém pelo pescoço como você fez. – Ela gargalhou.
- Eu talvez estivesse um pouco descontrolada. – Ela disse, me fazendo rir. – Mas você sabe o que eu sinto sobre isso...
- Sim, eu sei. – Suspirei. – Não posso tirar sua razão.
- Ainda tem você envolvido, o Leo com aquela manipulação ridícula de pênalti, espero que 2013 venha com menos bomba. – Ela disse e rimos juntos.
- Talvez. – Sorri. – Essa semana está aloprada.
- Tem o Gran Gala no domingo, certo? – Ela perguntou.
- Tem sim. – Falei, suspirando. – Eu preciso ir.
- Eu talvez vá também. – Ela disse e eu ergui o olhar, surpreso.
- Mesmo? – Perguntei e ela deu de ombros.
- Eu sou convidada desde 2011, mas não me sentia muito confortável em paparazzi, tapete vermelho, etc...
- Agora se sente mais confortável? – Perguntei.
- Acaba sendo inevitável quando o time que você idealizou começa a dar frutos. – Ela deu de ombros. – Vamos ver, minha semana já ia ser corrida, agora com essa viagem inesperada, vai ser mais ainda.
- Não foi tão mal... Foi? – Perguntei pausadamente.
- Ah, não. Com toda certeza. A gente nem tentou se matar. – Ela brincou e eu sorri.
- Aqui está. – Antonio apareceu e encostei as costas no sofá. – Número oito para senhorita e quatro para você. – Ele disse, colocando os lanches para gente. – E uma porção de cebola. – Ele disse, colocando a cebola frita no meio da gente.
- Grazie. – disse.
- Grazie. – Repeti e ele assentiu com a cabeça, se retirando.
- Isso está com uma cara boa. – Ela disse, animada com o lanche e eu sorri.
- Você vai gostar. – Falei e ela sorriu, pegando o lanche, dando uma mordida nele.
- Hum, é bom. – Ela falou com a mão na frente da boca, suspirando. – Ou é a fome.
- Um pouco dos dois. – Falei, pegando meu lanche e ela riu fracamente com a boca fechada. – Sabe... Posso te levar no Carrarese depois, se você quiser conhecer. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Claro. Vai ser legal. – Ela disse, me olhando por cima do lanche, antes de dar mais uma mordida nele. Observei-a por alguns segundos, deixando um sorriso dançar pelos meus lábios e mordi meu lanche, suspirando pelo gosto.
- Não é como o Juventus Stadium, mas... – Ri fracamente.
- Não, Gigi, é ótimo! – Sorri. – A gente demorou mais de cem anos para termos nosso próprio estádio, vocês estão no lucro.
- É da cidade, não do time...
- Mas não tem outro time na cidade, tem? – Virei o rosto para ele que riu fracamente.
- È vero. – Sorri.
- Mas é muito ajeitado, não sei como era a Juventus lá no começo, mas posso apostar para você que era nesse nível ou pior, baseado nas fotos que eu vi. E o do seu time ainda cabe quase 10 mil pessoas, o nosso cabe 40. Não é exatamente um grande avanço... – Rimos juntos.
- É, mas acho que as pessoas ainda ficam cobertas em caso de chuva ou neve. – Ele disse.
- Boa parte. – Falei, rindo. – Nem fala em neve, faz tempo que não temos jogos com neve, o último foi na temporada 2010/2011...
- Alex ainda estava no time. – Ele comentou e eu assenti com a cabeça.
- As coisas foram mudando e nem percebemos, não é? – Virei para ele, que assentiu com a cabeça.
- Acho que isso que me deixa meio bagunçado, eu fiz parte da época antiga do time e ainda estou aqui e...
- Você tinha 23 anos quando veio para o time, Gigi, você era grande, mas era o pirralho ainda, como hoje é o Pogba, Asamoah, Marrone, Isla... O resto da turma era bem mais velho do que você.
- Do que nós. – Ri fracamente.
- Se eles já eram mais velhos do que você, imagina que mim.
- Ei, nem sou tão velho assim, ok?! – Ele brincou, passando o braço pelo meu ombro e eu ri fracamente.
- Três anos e nove meses. – Falei, sorrindo. – A diferença dos seus filhos é menor que isso. – Falei, erguendo o rosto e o vi sorrindo para mim.
- Mas não é tanto, ok?! Nos entendemos. – Ri fracamente.
- Homens amadurecem mais tarde. – Dei um tapa com as costas das mãos em sua barriga e dei alguns passos mais a frente, querendo fugir de seu abraço quente. – É ridículo falar isso de um homem de quase 34 anos, mas a gente releva algumas coisas.
- Algumas? – Ele perguntou, andando mais rápido em minha direção e eu virei de frente para ele, andando de costas.
- Temos relevado bastante coisas suas desde 2001. – Brinquei e ele revirou os olhos.
- Engraçadinha! – Ele mostrou a língua, me fazendo rir fracamente e virei de frente novamente quando ele se colocou ao meu lado.
- Eu não minto, Gigi.
- Não vamos entrar nisso, pois você falar isso é uma mentira. – Ele virou para mim e eu fiz uma careta.
- Ok, eu não minto mais. – Ele assentiu com a cabeça. – E esconder não é mentir! – Falei rapidamente.
- Depende do que você esconder, é sim! – Falei.
- Ah, vamos mudar de assunto, vai! – Falei e ele gargalhou.
- Nós temos nosso passado, . Todos temos. Melhor deixar para lá mesmo. – Suspirei, negando com a cabeça.
- O que importa é se tentamos ser melhores amanhã do que no passado. – Disse e ele fez uma careta.
- Tentar a gente tenta, agora conseguir... – Neguei com a cabeça, virando na rua da sua casa.
- Tem carros! – Falei, apontando para frente da sua casa.
- Será que eles chegaram? – Gigi disse, andando um pouco mais rápido e corri atrás dele para alcançá-lo. Ele empurrou a porta e segui logo atrás dele. – Ah, vocês estão aqui.
Entrei na casa de Gigi e ela estava um pouco mais vazia do que o hospital, somente os quatro, agora cinco Buffon, estava lá, os maridos e cunhados não. As irmãs de Gigi ajeitavam Maria Stella no sofá, imaginei que seria difícil ela subir as escadas com essa estrutura toda, inclusive tendo feito a cirurgia há poucas horas.
- Como a senhora está? – Gigi acariciou a cabeça de sua mãe, antes de dar um beijo no local.
- Está tudo bem. – Sua mãe disse. – Só estou cansada. – Gigi assentiu com a cabeça. – E vocês, como estão?
- Tudo certo... – Interrompi Gigi.
- Descansamos um pouco e saímos para almoçar.
- Fui no Antonio. – Gigi disse.
- Ah sim, muito bom, não é, ? – O pai de Gigi perguntou.
- Sim, uma delícia. – Falei, sorrindo.
- Eu dormi no seu quarto. – Gigi falou para Guendy como uma forma de explicação e eu ri fracamente.
- Depois o Gigi me levou no Carrarese... – Falei.
- A é contadora, quem sabe ela não dá umas dicas para o time crescer? – Gigi disse e eu dei um sorriso de lado quando todos os olhares viraram para mim.
- Controle monetário é 50 por cento do problema, se isso estiver ok, o resto fica mais fácil, juntar administrativo, marketing, o time vai crescendo. – Falei e o pai de Gigi assentiu com a cabeça. Qual o nome dele mesmo? Adriano? Alessandro? Ih!
- Não é um desafio fácil, mas precisamos começar de algum lugar. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Que bom que foi só um susto, dona Maria. – Falei e ela sorriu.
- Graças a Deus! E eu agradeço pela preocupação. – Ela disse e assenti com a cabeça.
- Acho que está na hora de deixá-los em família... – Falei.
- Mah, ...
- Já passa das sete horas, Gigi, não quero chegar tão tarde. E estamos em meio a janela de transferência, não posso ficar tanto tempo assim fora do time. – Falei. – Você aproveite com a sua família, se importa em pegar um trem ou...
- Mas ele vai voltar também, não é, filho? – Sua mãe falou e nós dois viramos para ela. – Finalizar o contrato, tem jogo no fim de semana...
- Sim, eu vou contigo, . – Ele falou.
- Não quer ficar até amanhã? Ficar com a sua mãe...
- Eu estou bem. – Maria Stella disse. – Vocês precisam trabalhar, eu estou bem, o Adriano fica aqui comigo. – Pelo menos nisso eu acertei. – E vocês duas voltem para seus maridos e suas famílias, agora é repouso e remédios, não tem mais o que vocês fazerem. – Ela era teimosa igual tio Fabrizio. – Não era nem para terem vindo, onde já se viu...
- Não começa, mãe. – Gigi e suas irmãs falaram juntos e imaginei que isso fosse algo normal dela.
- Vão embora, então. – Ela disse e ri fracamente.
- Eu vou pegar minhas coisas. – Gigi disse.
- Eu tenho que me trocar também. – Falei e virei para Guendalina. – Eu envio suas roupas pelo Gigi, pode ser?
- Ah, nem se preocupe, deixa aqui que eu lavo depois. – Ela disse, abanando a mão.
- Tem certeza?
- Claro que sim, , não se preocupe com isso. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Vamos? – Gigi falou, apontando para as escadas.
- Claro... – Falei, andando escadas acima e segui em direção ao quarto do Gigi mais uma vez.
- Eu te encontro lá embaixo depois. – Gigi disse, puxando a porta e me vi sozinha.
Sentei na beirada da cama, passando os olhos rapidamente pelas fotos dele criança, dos times de futebol e com sua família e suspirei. O dia tinha sido incrível, lanchar com ele, falar sobre besteiras do dia a dia, andar por Carrara, conhecer o time que ele era dono, relembrar a Catedral de Mármore, entre outras coisas. Tinha dado uma calma incrível no coração, mas só de pensar que voltaríamos para Turim e ele agiria como se nada tivesse acontecido, apertava meu coração um pouco.
Eu tinha que parar de ser tonta e colocar o ponto final que ele não conseguiu colocar. Só precisava ter forças para isso.
Troquei as roupas de Guendalina pelas que eu vim, renovei o perfume e o desodorante e não me preocupei com maquiagem, eu viajaria. Recoloquei as botas e deixei as roupas anteriores dobradas na mesa. Ajeitei a cama de Gigi, esticando as cobertas e chequei se o travesseiro não tinha ficado com alguns fios dos meus cabelos que insistiam em cair ainda.
Com tudo pronto, suspirei, dando uma rápida olhada no local. Sinto que o quarto de uma pessoa era algo um tanto sagrado, só algumas pessoas tinham acesso e outras mais ainda para dormir e, vindo aqui, de alguma forma, havia entrado na intimidade de Gigi mais do que nos meses que passamos juntos. Era a casa de seus pais, seu quarto, sua cidade, sua realidade. Não senti isso em Palermo, mas havia sido extraordinário.
Juntei minhas coisas na bolsa novamente, vendo-a ficar tão cheia quanto e fiz xixi mais uma vez. Era umas quatro horas e meia de viagem, não era muito menos do que na ida, mas precisava me prevenir. Vesti o casaco, amarrei o casaco em um rabo de cavalo baixo e frouxo e saí do quarto. Observei lá embaixo e Gigi conversava baixo com seus familiares, eles deveriam querer matá-lo e com razão. Mas não precisavam se preocupar, eu estava indo embora e precisaria começar a pensar mais em minhas ações.
- Podemos ir. – Falei, fingindo um sorriso quando eles olharam para mim.
- Sim, vamos! – Ele falou.
- Preparei um tramezzino para vocês, caso sintam fome no caminho. – Veronica esticou um saco para mim.
- Ah, muito bom. Melhor a gente ir direto mesmo. – Falei e Gigi assentiu com a cabeça.
- Bom, melhor vocês irem. – Sua mãe disse e ri fracamente.
- Foi um prazer revê-los. – Cumprimentei Adriano e segui para dar um abraço em suas irmãs e deixei Maria Stella por último. – Fique bem.
- Obrigada, querida. Foi muito bom te rever. – Ela disse, acariciando meu rosto e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Vocês também. – Falei honestamente.
- Avisa quando chegar, não me deixa mais nervosa. – Maria Stella disse.
- Pode deixar, mãe. – Gigi deu um abraço forte nela, que me fez sorrir.
- Eu os acompanho. – Adriano disse, seguindo até a porta e ele a abriu.
- Arrivederci.
- Ciao, ! – As mulheres falaram e acenei antes de sair.
- Ciao. – Falei baixo, saindo para o lado de fora, onde agora o sol já havia se posto completamente.
- Gostou da cidade? – Adriano perguntou.
- Sim, muito bonita e acolhedora. – Sorri.
- Fique à vontade para retornar quando quiser. – Sorri.
- Espero que em melhores situações. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Andiamo, . Chaves? – Gigi disse e eu procurei na bolsa, entregando a ele. – Ciao, pai! Bom te ver.
- Você também, meu filho. Deus te abençoe na viagem.
- Obrigado. – Eles se abraçaram.
- Cuida da mãe, por favor. – Ele falou em tom de súplica.
- Vou tentar. – Eles riram juntos e Gigi desativou o alarme.
Abri a porta de trás e coloquei minha bolsa na mesma e segui para o banco da frente, abrindo a porta e acenei para Adriano mais uma vez antes de entrar. Gigi fez o mesmo caminho, se sentando e colocamos o cinto juntos.
- Eu vou passar no posto antes, tudo bem?
- Sim, sim, claro! – Claro, apoiando o braço na porta.
- Então, vamos lá. – Ele disse e assenti com a cabeça.
Gigi deu partida no carro e deu uma buzinada rápida quando saiu com o carro e suspirei ao seu lado. Ele parou em um posto de gasolina próximo dali e logo pegamos estrada novamente. Ambos fizemos um sinal da cruz e o silêncio se instalou no carro. Eu liguei o som do carro, mas deixei o som baixo para não irritar Gigi.
O silêncio me incomodava, mas me preparava para mais uma leva de Gigi e em Turim, talvez podíamos chamar de O Silêncio Mórbido parte 200 mil se fosse um filme, mas não era como se fosse novidade para mim. Também não tinha o que reclamar, eu escolhi vir com ele e eu permiti um quarto, permiti a aproximação, apesar de ele ter a culpa no cartório, seria hipócrita jogar toda essa culpa nele.
Sem assunto para jogar conversa fora, a escuridão da noite no tempo frio e sem trabalhos para resolver, eu dormi. Fui acordar somente com os holofotes da portaria de Vinovo em meu rosto e o relógio marcando meia-noite.
- Chegamos? – Perguntei, assustada.
- Sim. – Gigi disse, dirigindo para perto do único carro do estacionamento, o dele.
- Você não me acordou?
- Você estava dormindo tão gostoso, não quis te acordar. – Ele disse, com um curto sorriso nos lábios e eu retribuí.
- Obrigada. – Falei, passando a mão na nuca. – Preciso descansar bastante para o resto da semana. – Ele parou o carro e nós dois saímos, fazendo alguns alongamentos pelo tempo dentro do carro.
- Obrigada, . – Ele disse, dando a volta no carro. – Não sei o que teria acontecido sem você. – Assenti com a cabeça.
- Foi meio no susto, mas você pode contar comigo para o que for, Gigi. – Falei.
- Eu sei, é só... – Ele negou com a cabeça.
- Falta de costume. – Falei.
- É. – Ele disse.
- Achei que 12 anos e meio de amizade já seria o costume. – Falei e ele riu fracamente.
- A gente se vê? – Ele perguntou.
- Claro, sábado, acho. – Ele assentiu com a cabeça.
- Obrigado de novo. – Ele disse, me abraçando e me coloquei levemente na ponta dos pés para passar os braços pelos seus ombros.
- Não precisa agradecer. – Falei, nos afastando. – E me avise novidades da sua mãe. – Falei, afastando alguns passos rapidamente.
- Pode deixar. – Ele disse e eu dei a volta no carro.
- Boa noite. – Falei, abrindo a porta do motorista.
- Boa noite, . Dorme com os anjos. – Um sorriso se formou em meus lábios e eu suspirei, mordendo meu lábio inferior logo em seguida.
- Você também, Gigi. – Disse e o vi dar as costas em direção ao seu carro.
Entrei no meu e bufei fortemente, apertando as mãos no volante, abanei a cabeça com mais pensamentos e dei a partida no carro. Eu precisava ir para casa e dormir, o resto eu resolvia depois. Depois... Muito depois.
Entrei em Vinovo, acenando rapidamente para os fotógrafos do lado de fora e para o porteiro, e dirigi pelo estacionamento quase vazio do sábado de manhã, estacionei em uma das vagas perto do prédio administrativo. Saí, ajeitando o terno que eu usava, abotoando o primeiro botão e guardei o celular no bolso da calça.
Virei para a calçada e vi Angela ali junto de Fabio e um garoto mais jovem, fotógrafo do time. Suspirei, passando a mão nos cabelos e segui em direção a eles, sentindo o sol me cegar um pouco.
- Buongiorno. – Falei.
- Buongiorno, Gigi. – Paratici falou e eu cumprimentei os três.
- Pronto? – Angela perguntou.
- Claro, vamos lá! – Falei.
- Vamos te levar para quem importa. – Paratici falou e eu ri fracamente.
Eles entraram na frente e seguimos para o fundo do prédio administrativo, em um local que eu ia frequentemente para as coletivas do time. Angela abriu a porta da antessala e eu entrei nela, vendo os mais importantes do time, como Paratici disse. estava lá com Agnelli, Pavel e Beppe. Ela estava um pouco mais informal do que normalmente. Jeans e um moletom com alguns escritos que era comprido.
- Gigi! – Agnelli foi o primeiro a me cumprimentar e eu sorri.
- Tudo bem? – Retribuí o abraço e fiz o mesmo com os outros três homens antes de abraçar com um pouco mais de força e dar um beijo em sua bochecha.
- Como você está? – Ela perguntou baixo e eu assenti com a cabeça. Fazia somente dois dias que eu não a via, mas eu simplesmente adorava vê-la.
- Tudo bem. – Sorri, deslizando a mão pela sua cintura até ela se afastar de mim e se colocar ao lado de Pavel.
- Angela... – Ela indicou.
- Nenhuma novidade. Algumas palavras de Agnelli, suas e depois teremos algumas perguntas. – Ela disse. – A coletiva está planejada para durar 50 minutos, não queremos passar disso.
- Está ótimo.
- Depois vamos gravar um vídeo contigo para o canal, vários fãs mandaram mensagens e parabenizações para você. – Ela disse.
- Tudo bem... – Assenti com a cabeça.
- Eles estão prontos? – Agnelli perguntou, também ajeitando o paletó.
- Sim. – Angela disse.
- Ok, vamos lá. – Agnelli disse e ele foi o primeiro a sair da sala.
Segui logo atrás dele e entramos na sala do lado. A sala de coletivas estava lotada, como sempre. Agnelli subiu no palco, se sentando no centro da bancada e eu me coloquei ao seu lado, me sentando também. Observei e o resto do top cinco entrarem e se sentarem nas poltronas vagas na primeira fileira.
- Buongiorno a tutti. – Agnelli falou. – É um prazer para mim e para o Gigi estarmos aqui com vocês hoje. Muitos estiveram bastante preocupados por esse dia. – Rimos juntos. – Vamos fazer algumas circunstâncias antes de começar, sobre o Gigi, que é nosso capitão, capitão da Nazionale, que estendeu seu contrato por mais dois anos, renovou até junho de 2015, e serão 14 temporadas conosco. É vontade dele e nossa, continuarmos com ele aqui, nesse percurso.
Agnelli seguiu fazendo seu tradicional discurso, falando que eu tinha espaço no time por quanto tempo eu quisesse, que as portas estariam abertas para mim por quanto tempo eu quisesse. Depois ele começou a falar meus dados e minhas conquistas: melhor goleiro dos últimos 25 anos, cinco scudetti vencidos em campos e Mondiale 2006.
Depois falou das minhas características pessoais, minha personalidade, minha honestidade e capacidade de gerir as coisas dentro e fora de campo. Minha presença como capitão, a forma que eu gerencio a equipe, entre outras coisas. Aquela básica introdução de sempre que me fazia sorrir sem graça e tentar distrair o rosto para qualquer outro lugar que não fosse ele ou sorrindo à minha diagonal.
- Gigi é o nosso número um e o número um em sua posição. Não sou eu que eu falo, são as estatísticas. Vamos agora abrir para perguntas. – Ele disse e as pessoas aplaudiram, me fazendo dar aquele sorriso sem graça.
- Grazie. – Falei para Agnelli e ele sorriu, batendo sua mão na minha rapidamente.
- Gigi, quero te fazer uma pergunta do passado: uma primeira lembrança sobre seu primeiro dia no time, se encontrou alguma pessoa, se teve alguma sensação de que você se lembra. – Dei um pequeno sorriso e olhei para .
Será que eu devo dizer que fiquei caidinho pela estagiária de contabilidade desde o primeiro dia? A mesma estagiária que havia assinado meu contrato dessa renovação ou eu deveria deixar para lá? Eu não falaria isso, mas o sorriso nos lábios de veio junto da minha memória. Ela também se lembrava daquele dia e era, com toda certeza, minha melhor memória do meu primeiro dia.
Ela estava de calça jeans, a antiga camiseta polo do time, os cabelos mais escuros do que são hoje, presos em um rabo de cavalo e uma desatenção incrível, desde quando eu me senti tentado a dar oi para ela. Ela me acompanhou lado a lado até minha apresentação e simplesmente sumiu logo depois. É, essa era a minha melhor lembrança daquele dia. Mas eu não podia falar isso para a imprensa.
- Beh... – Ri fracamente. – Eu me lembro claramente do meu primeiro dia na Juve, o que me chamou mais atenção foi que eu saí de uma realidade como o Parma, então eu me questionava se eu era inadequado a esse tipo de futebol, de time, e essa foi minha primeira pergunta que eu fiz para mim mesmo.
O jornalista fez uma pergunta para Agnelli, perguntando se tinha medo de perder um jogador como eu, com a incerteza de renovação, mas ele nunca teve, por baixo dos panos, já tínhamos conversado, então não era nem intenção minha deixar o time ou eles me deixarem.
Depois perguntaram sobre o que o time ia fazer quando eu parar de jogar. Sabia que esse tempo estava chegando, mas achei um pouco engraçado essa pergunta agora. Calma, cara! Ainda não. Mas Agnelli falou praticamente isso, me fazendo rir, e a cara de confusão de só me fazia rir mais. Tínhamos falado disso três dias atrás. Ela não queria me ver fora do time tão cedo. Por mais que eu evitasse pensar nisso, e foi isso que eu falei para imprensa, eu realmente não sabia até quando ia, talvez até os 37, 38 anos, conforme o corpo aguentasse. Esperava que aguentasse.
A coletiva seguiu com todos os jornalistas fazendo perguntas, algumas interessantes, outras sobre o presente, outras sobre o passado, outras sobre o futuro, mas acabou seguindo o tempo que Angela havia programado. Fiquei feliz por seguir somente esse tempo, falar muito sobre o futuro me irritava um pouco. Não tinha mais os mesmos 23 anos de quando eu cheguei ali, mas também não estava morto. Começava a pensar se havia enchido minha bola de forma profissional para eu assinar os dois anos ou de forma pessoal, como minha amiga.
- Gigi, uma última pergunta aqui do Juventus Channel. – Olhei para Zambruno, um dos repórteres e narradores oficiais do time. – Quando você veio para cá, outra opção era o Barcelona, como você pensa isso hoje? Vendo o crescimento do Barcelona, a presença de jogadores incríveis como o Ronaldinho, como você se sente sobre isso? – Ri fracamente.
- Bom, o Barcelona foi uma oferta para mim sim, mas não pelo quesito de vitórias, eles voltaram a vencer em 2006, eu vim para cá em 2001, e venci desde a minha primeira temporada, então não tenho como fazer essa comparação. Na época não tinha o que comparar, a Juventus vinha de uma vitória de Champions e três finais seguidas, três scudetti consecutivo, uma Coppa Italia, uma Supercoppa. Vendo como está o time e minha carreira na Juventus, não tenho nenhum arrependimento. – Falei, sorrindo.
- Grazie! – Agnelli disse e nos levantamos.
Apertei sua mão com um sorriso no rosto, ouvindo as fotos serem tiradas e segui para fora da sala, vendo Angela indicando o caminho. Saí à frente, seguindo de volta para a antessala da reunião, vendo Agnelli entrar também.
- Segundo a imprensa, você se aposenta amanhã! – Ele disse.
- Nem fala! – Rimos juntos.
- Grazie, Gigi! – Ele me cumprimentou, estendendo a mão e eu apertei-a, abraçando logo em seguida.
- Grazie, Andry! – Sorri e assenti com a cabeça.
- Angela vai te segurar um pouco, nos vemos no jogo à noite. – Ele disse.
- Combinado! – Falei.
- Ciao, ragazzi! – Ele disse já no corredor e vi Angela entrar na sala e logo atrás dela.
- Doeu? – perguntou e eu ri fracamente.
- Doeu um pouco, na verdade. Perceber que você está velho é horrível. – Falei e ela revirou os olhos.
- Você não está velho. – Ela disse e eu revirei os olhos.
- ... Você ouviu as perguntas.
- Nem vem! – Ela disse. – Não caio nessa, Gigi. Mantenho o que te disse. – Ela sorriu e eu assenti com a cabeça.
- E você diz isso por que é minha amiga ou por que queria me manter no time? – Ela parou para pensar.
- É uma pergunta capiciosa. – Ela disse e eu ri fracamente. – Eu digo isso porque confio no seu trabalho e porque os números não mentem.
- Ah, os números. – Falei e ela riu fracamente.
- Você merece, Gigi. – Ela me segurou pelos ombros. – Olhe para frente e aproveite enquanto pode. – Ri fracamente e ela me abraçou. – Você ainda é o número um e pago para ver o dia em que você não vai ser. – Ela falou próximo ao meu ouvido e eu sorri.
- Você ainda não me respondeu. – Falei e ela riu fracamente.
- Eu digo isso por tudo o que falamos aqui. Você continua fazendo seu trabalho incrivelmente, então você continua tendo espaço no time, meu orgulho e meu apoio. – Sorri.
- Grazie, . – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Vou deixar você com a Angela, eu preciso ir. – Ela disse.
- Te vejo à noite? – Perguntei.
- Hoje não, eu vou com vocês amanhã, vou aproveitar hoje para descansar.
- Não aguenta os dois? – Ela sorriu.
- A semana foi pesada, Gigi. – Ela disse, sorrindo. – Você entende...
- Sim, entendo. – Sorri. Treinar nos últimos dias tinha sido difícil.
- Mas vença mesmo sem mim lá. – Assenti com a cabeça.
- Pode deixar. – Ela acenou com a mão.
- Ciao, ragazzi. – Ela disse para os outros dois e seguiu para a porta. – Espera aí, Pavel! – Ouvi sua voz e rimos juntos.
- Ah, . – Angela disse, rindo.
- Então, o que você quer que eu faça?
- Vamos só esvaziar a sala de coletivas, vamos te dar o tablet onde tem algumas postagens dos torcedores, vamos te filmar vendo, depois você deixa uma mensagem de agradecimento. Aí está livre. – Ela disse.
- Combinado. É fácil. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
Capitolo treintotto
Passei o batom nos lábios, me olhando no espelho e pressionei-os levemente. Passei os dedos levemente em volta, tirando os excessos e suspirei. Acho que estava bom. Passei as mãos na linha do cabelo, jogando-os para trás e deixei-os cair nos ombros e passei a mão na abertura do decote do vestido, checando se não estava demais para uma premiação de time de futebol, mas não tinha outra opção. E estava demais!
Saí do banheiro, me sentando na beirada da cama e coloquei o scarpin preto, me levantando novamente. Andei em direção ao espelho e mordi meus lábios. Esse vestido era sensacional. Mangas compridas, um decote bem sensacional e a saia um pouco rodada com um cinto da mesma cor na cintura e uma fenda deixando a perna direita à mostra conforme eu andava. Obviamente optei pelo preto, mas ele era espetacular assim, imagina em outras cores.
Andei até a mesa, colocando os anéis e os brincos de pontos de luz e peguei a bolsa de mão, colocando o celular dentro dela. Me olhei mais uma vez na frente do espelho e joguei a saia para o lado. Peguei a chave do quarto, colocando na bolsa também e puxei a porta, saindo dele.
- Isso é loucura! – Virei o rosto para o lado, vendo Conte sair de seu quarto também.
- Ah, o que agora? – Perguntei, puxando a porta e ele riu fracamente.
- Eu te vi crescer, agora olha isso! – Ele apontou para mim e eu me aproximei dele. – Você está linda!
- Grazie, mister. – Falei, vendo eles sorrirem.
- Qual sua idade mesmo?
- Ei! – Empurrei-o com o ombro e ele me abraçou pela cintura.
- Ah, verdade, problemas demais com o Gigi! – Ele sussurrou e eu ri fracamente.
- Só você, Conte! – Falei e seguimos juntos até o elevador.
- Cadê o resto do pessoal? – Ele perguntou.
- Devem ter descido já. Que horas são? – Perguntei.
- 19:34. – Ele disse.
- Estamos atrasados. – Falei e ele riu fracamente.
Entramos no elevador e ele apertou o botão do térreo e esperamos alguns segundos até o andar de baixo. As portas se abriram no lobby e, se Conte ficou boquiaberto comigo, eu fiquei exatamente da mesma forma quando vi Gigi, Barza, Pirlo e, até Pavel, Agnelli, Fabio e Beppe em seus ternos. Meus olhos foram direto para Gigi, é claro, mas tinha algo diferente nele. Agora Barza e Pirlo também estavam ótimos.
- Gente, conhecem minha acompanhante? – Conte falou, me apertando pela cintura e eu ri fracamente, passando o braço em seus ombros.
- Você está incrível, chefa. – Barza falou e eu sorri.
- Quando não? – Gigi disse e eu assenti com a cabeça.
- Eu estou tentando lembrar quando eu te conheci, cara. – Pavel disse.
- É, chega desse papo, o Conte falou a mesma coisa. – Empurrei o treinador. – Ganhei até uma cantada.
- Até eu te cantaria assim, . – Agnelli falou e eu revirei os olhos.
- Vou levar isso como elogio, mas gostaria de lembrá-los que todos, sem exceções, são casados, então, vamos parar antes que eu comece a me perguntar por que eu aceitei esse posto. – Falei, esperando que a acidez da voz ficasse nítida. – Temos um evento para ir, não? – Falei, passando por eles e seguindo em direção à porta.
- Oi, Angela. – Falei, vendo-a com seu terninho de executiva.
- Dia difícil, ? – Angela perguntou, me fazendo rir.
- Só você para me salvar. – Brinquei e ela riu.
- Ok, temos três carros, dividam-se e vamos.
- Sem gracinhas, hein?! – Conte apontou para Gigi e Barza e eu revirei os olhos.
Saímos do hotel e alguns fãs estavam lá esperando os jogadores. Eu entrei no segundo carro, cumprimentando o motorista e deslizei no canto dele. Suspirei ao ver Gigi entrar no mesmo carro que eu, se sentando de frente para mim e Barza veio logo atrás, fechando a porta logo em seguida.
- Somos dignos da sua companhia? – Gigi perguntou e eu ergui o olhar para ele.
- Eu não estou de mau-humor, mas acho algumas brincadeirinhas desnecessárias. – Falei, apoiando o braço na porta. – Principalmente vindo do Agnelli.
- Da gente está de boa? – Barza perguntou e eu virei para ele, rindo fracamente.
- Eu vejo vocês, o Pavel, Conte, como meus amigos, temos esse tipo de liberdade, agora o Agnelli é meu chefe. Independente de tudo. A família dele me contratou, é estranho. – Falei, suspirando.
- Mas vocês trabalham juntos há... Três anos. – Gigi disse.
- Mesmo assim, é diferente. Meu trabalho é mais com o Pavel e o Fabio, a hierarquia do top cinco é perfeita por isso. – Falei e ele franziu o rosto.
- Como assim? – Barza perguntou.
- Agnelli tem mais contato com o Pavel. Pavel tem mais contato comigo e com o Agnelli. Eu com o Pavel e o Fabio. Fabio comigo e com o Beppe e o Beppe só com o Fabio. – Dei de ombros. – Os cinco só se encontram em reuniões e quando precisamos mostrar a hierarquia de alguma forma. – Falei.
- Acho que nunca tinha pensado nisso. – Gigi disse e eu assenti com a cabeça.
- É prático. – Dei de ombros.
- Pelo menos temos você para vir comigo dessa vez. – Barza falou.
- Não entendo o porquê de vocês não poderem trazer acompanhantes esse ano, mas eu sempre aplaudo as conquistas de vocês. Mesmo longe. – Eles sorriram.
- É por isso que somos motivados. – Barza disse, rindo.
- Eu contrato vocês, se eu não acreditar em vocês antes de todo mundo, quem vai? – Virei para ele.
- Bom ponto. – Ele sorriu e rimos juntos.
Não demorou muito para chegarmos no Teatro dal Verme. Ele era relativamente perto dos grandes pontos turísticos de Milão como o Duomo, a Galleria Vittorio Emanuele, entre outros. Alguns fãs e fotógrafos os esperavam e eu sabia que precisava dar um rápido sorriso e poderia seguir meu caminho.
- Arrasem, meninos! – Falei quando a porta foi aberta e Barza foi o primeiro a sair, ajeitando o paletó.
- Precisa de ajuda? – Gigi perguntou.
- Melhor não. – Falei, pressionando meus lábios e ele assentiu com a cabeça. – Ah, finalmente tirou a sujeira do queixo.
- Engraçadinha! – Ele disse e eu sorri.
- Vou fingir que você tirou por conta própria e não porque eu te falei. – Disse e ele sorriu antes de sair do carro.
Fui logo atrás e o recepcionista me deu a mão para eu sair e eu assenti com a cabeça. Não era lá uma grande premiação, eles melhoravam a cada ano, mas o tapete vermelho era pequeno. Encontrei o outro carro com Pavel e outros e meu amigo me deu o braço. Ele faria sentido me acompanhar, não teria suspeita, problemas, nem uma esposa mais desconfiada do que seu marido já dava motivos.
Pavel me indicou o caminho a sua frente e eu respirei fundo antes de entrar no curto tapete vermelho. Era literalmente a primeira vez que eu estava fazendo isso e não havia me preparado para o que seria. Apoiei a mão livre na cintura e deixei-a com a bolsa ao lado do corpo e somente relaxei o rosto. Os fotógrafos gritavam para eu virar o olhar para eles, fazendo os flashes estourarem em meu rosto e acabei virando o rosto para os lados. Gigi estava há poucos metros de mim, parecendo incrivelmente travado, então não me senti tão mal.
Deu pouco menos de um minuto e achei que já era o suficiente. Acenei com a mão, ouvindo alguns gritos chamarem meu nome, mas era minha cota por dia. Obrigada, agradecemos, mas não. Passei atrás de Gigi e Immobile que estavam nos outros espaços do tapete e segui para dento do teatro.
Uma atendente me recepcionou na entrada e me levou até meu lugar, fiquei cerca de cinco fileiras atrás com Pavel e Fabio. Demorou um pouco para todos entrarem e a cerimônia acabou começando com um pouco de atraso. Nós, do time, já sabíamos quem seriam os vencedores, tinha certo mistério entre os torcedores, mas trazendo Gigi, Pirlo e Barza, sabíamos que os três venceriam. Marchisio foi convidado também, mas não pôde comparecer. O mistério era os 11 principais e quem ganharia de melhor jogador do campeonato no geral.
O primeiro prêmio foi de goleiro, o presidente da FIFPro foi anunciado para entregar o prêmio. Gigi ganhava esse prêmio pela oitava vez, não era muito novidade com o andamento da última temporada. Apareceu um vídeo de Gigi na temporada 2011/2012 e ele foi chamado ao palco, nos fazendo aplaudi-lo, sempre com um sorriso no rosto.
- Gianluigi Buffon, melhor goleiro da Itália e não poderia ser diferente. – O apresentador disse.
- Se está falando da temporada passada, sim. – Gigi disse sem graça. – Na atual, confirmaremos isso, mas estamos já em outro momento, outra situação. Gostaríamos de confirmar isso.
- A Champions pode ser um objetivo ou basta só confirmar...
- Nós gostaríamos muito de confirmar isso e não será fácil, pois a concorrência é grande e temos respeito pelos outros times, a Napoli e a Lazio. E sobre o quesito Europeu, sabemos que não é fácil, que encontraremos adversários mais fortes do que nós, mas só de poder competir, já é uma grande conquista.
Depois, o apresentador, pediu para Gigi jogar com a mão uma bola para o segundo andar do teatro, onde tinha vários torcedores. Para fazer isso, ele tirou seu paletó, ficando somente com o suéter que ele usava por mais do mesmo. Eu confiava nele, mas fiquei receoso de acabar caindo em minha cabeça, mas foi muito alto e muito rápido.
- Agora, temos um presente para Gigi Buffon que completa 35 anos amanhã... – O apresentador disse, trazendo um bolo e duas jovens carregando champanhe e eu ri fracamente. 35 anos... E cada dia mais bonito.
Cazzo!
Para completar o tempo do percurso, Conte foi perguntado se era melhor treinar o Gigi ou com ele. Antonio sempre foi muito culto, desde a época do time, tirando quando estava irritado na beirada do campo, mas respondeu que era sempre um prazer trabalhar com Gigi.
Depois de Gigi, chamaram os defensores, começaram por Christian Maggio do Napoli, depois Thiago Silva do Milan, até que chegou a hora de Andrea Barzagli subir no palco. Passou um vídeo dele, da mesma forma dos outros, até que ele subiu no palco. Barza não tinha tanta intimidade com a imprensa, então sorriu com os lábios pressionados, e eu achei até engraçado nisso.
- Andrea, seja bem honesto conosco, esperava esse protagonismo após seu retorno na Itália?
- Mah, não, protagonista assim não, mas estou contente pelo nosso ano na temporada passada e espero melhorar, pois sempre há a possibilidade.
- Ele está suando mais do que um porco. – Pavel comentou comigo e dei um sorriso.
- Tão experiente quanto eu na frente das câmeras. – Sussurrei de volta.
- Melhor defensor central junto a Thiago Silva, o que pensa disso?
- É um prazer, pois Thiago é o melhor defensor do mundo para mim, estou muito feliz desse prêmio.
- E sobre o campeonato? Não quero causar intriga, mas a Juventus ganha de novo?
- Não vai ser um campeonato fácil, mas vamos lutar pelos três pontos e dar o máximo para vencer. – Barza respondeu.
Depois eles seguiram com a mesma brincadeira das bolas. Barza era o nosso muro, ele recuperava as bolas e passava, mas deu um belo chute lá para cima. Logo em seguida, foi a dos centro-campistas. Pirlo foi receber seu prêmio, no mesmo momento, um apresentador do Le Iene subiu no palco e fiquei aliviada por Giulia não fazer mais parte desse programa, deu a impressão de ter sido completamente invasivo e não planejado.
Não tínhamos nenhum representante da Juventus entre os atacantes, mas Antonio Nocerino do Milan, Antonio Di Natale da Udinese e Zlatan Ibrahimovic, nosso antigo jogador até 2006, ganharam. Logo em seguida, foi a vez de Conte subir ao palco para receber o prêmio de melhor treinador. Não que fosse surpresa também, mas era bom ver Conte ser ovacionado como treinador, só imaginava como era difícil ser bom como jogador e treinador, mas ele tinha conseguido fazer dar certo.
Em seguida, o que também não foi surpresa, baseado na vitória do campeonato, foi vencermos de melhor squadra. Toda equipe juventina e torcedores, gritaram a nossa comemoração e Agnelli subiu no palco. Ele deu seu clássico discurso tradicional, um tanto político demais para o meu gosto e recebeu mais um prêmio para colocarmos em nosso museu.
Por último, mas não menos importante, os 11 jogadores da temporada subiram no palco e Pirlo foi escolhido como o melhor jogador da temporada. Foi bom ver isso, além de ter sido um ótimo esfrega na cara de todo mundo depois de ele ter sido mandado embora pelo Milan. Eu gostava dos jogadores mais velhos e eles continuavam me surpreendendo.
A premiação acabou com uma apresentação da banda, cantor ou rapper Club Dogo. Não é o tipo de música que me agrada, então não fazia a mínima ideia de quem era, mas parece que os mais jovens estavam gostando.
Para sair a premiação não foi tão fácil como chegar nela, então já não gostei muito assim. Os jogadores, equipes, top cinco dos times e afins, se encontraram, se cumprimentaram, parabenizaram e acabei precisando dedicar um maior tempo para isso. Fomos sair do teatro somente quando só havia sobrado nós ali. Compensou pelo menos, pois as ruas já estavam mais vazias e não tinha fãs nos esperando na porta.
Acabei voltando com Pavel e Agnelli no carro depois de eles fazerem confusão entre os carros, a vantagem foi que o caro veio em silêncio. O cansaço e necessidade de representar estava estampado no rosto de todos.
Assim que o carro chegou no hotel, subi com Pavel e Agnelli, cumprimentando-os pela premiação e deixei que as portas fechassem de cada quarto. Mantive a porta aberta do meu para esperar os jogadores, não consegui cumprimentá-los durante a premiação. Entrei em meu quarto, me livrando de meus saltos, mas já ouvi barulhos da risada escandalosa de Barza e Gigi, Pirlo ainda era mais contido. Saí do quarto e apoiei o corpo no batente da porta.
- Chefa! – Barza falou, animado.
- O que eu disse sobre vocês me chamarem assim? – Cruzei os braços.
- Não te chamar assim. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Nos esperando? – Gigi perguntou.
- Queria só dar um abraço em vocês e parabenizá-los. – Falei, alargando um sorriso no rosto.
- Grazie, ! – Pirlo falou e abracei-o primeiramente. – Vejo vocês amanhã.
- Vamos embora meio-dia, não dorme demais. – Falei, vendo-o sair e depois abracei Barza. Eu já tinha tirado os sapatos, então precisei ficar levemente na ponta dos pés para alcançá-lo. – Auguri, Barza. – Falei, olhando em seus olhos verdes.
- Grazie, ! – Ele sorriu. – Isso só foi possível por causa de você. – Sorri.
- Já falei, agradeça ao Alex por confiar em você. – Ajeitei seu paletó. – E confie em si mesmo um pouco, você merece isso e não precisa suar tanto assim. – Rimos juntos e ele estalou um beijo em minha bochecha.
- Vou tentar. – Ele riu fracamente. – Mas agradeço novamente. – Ele disse. – Boa noite.
- Boa noite, Barza. – Sorri, vendo-o dar um sorriso de lado e ele assentiu com a cabeça para Gigi antes de seguir para seu quarto.
- E sobramos nós dois. – Gigi disse e eu apoiei minha mão em seu peito.
- Vou te dar um abraço e te desejar boa noite. – Falei, sorrindo.
- Ok... – Ele disse, pressionando os lábios em um bico.
- É melhor dessa forma, Gigi. – Ele suspirou.
- Ok, não vou dizer nada. – Ele ergueu as mãos.
- Parabéns pelo prêmio. – Falei. – Não que seja o primeiro, mas também acredito que não será o último. – Ele deu um curto sorriso.
- Espero que não, alguém confiou em mim por mais dois anos e meio... – Ele sorriu e eu passei os braços pela sua cintura, abraçando-o.
- Como eu disse para o Barza, confie um pouco mais em si mesmo. – Sorri. – Não achei que precisasse dizer isso para você, mas repito quantas vezes for necessário. – Ele me apertou pela cintura também.
- Grazie, . – Ele sorriu, nos afastando e eu esperei estar a uma distância segura antes de virar de frente para ele de novo.
- Boa noite. – Falei, segurando a porta.
- Boa noite. – Ele disse, assentindo com a cabeça.
- Ah, feliz aniversário! – Falei, pressionando os lábios.
- Nos veremos amanhã. – Ele disse.
- Mas queria ser a primeira. – Disse e ele assentiu com a cabeça.
- Grazie. – Ele disse, sorrindo e fechei a porta antes de ele se afastar e encostei nela, me fazendo suspirar alto.
- De onde saiu esse seu autocontrole, ? – Perguntei para mim mesma e passei as mãos nos cabelos, seguindo em direção ao banheiro.
- Hoje vai ser somente algumas fotos. – Eu e o resto do pessoal olhávamos para ele tentando não transparecer loucos ou estranhos. Éramos jogadores de futebol, não modelos. – Vai ser a divulgação do Jeep Wrangler, ele é mais focado em trilhas, off-road, então vamos abusar disso como se vocês estivessem jogando na lama e na chuva também. – Ele falou e só fiz o que todos os outros fizeram, assenti com a cabeça.
- Vocês podem acompanhar a Valeira para os camarins e lá eles vão ajudá-los a se trocar e na maquiagem. – Outra mulher falou e identificamos a mulher antes de nos levantarmos e seguir com ela pelos corredores até várias salas.
A ideia do off-road era literal, pois vários uniformes de cada um de nós - eu, Barza, Vucinic, Chiello, Marchisio, Pogba, Vidal e Pirlo – estavam separadas e prontas para o que é que fôssemos precisar. Tinha umas seis trocas para cada um, não sei para o que exatamente usaríamos isso, mas todos já tinham sinais de sujeira e até alguns rasgos. Algo bem similar a um uniforme após um jogo na chuva.
- Buongiorno, ragazzi. Vamos começar? – Outra moça falou e a cumprimentamos com um rápido aceno ou aperto de mão. – Para Buffon teremos esse uniforme. – Ela apontou para o uniforme verde. – Para Vucinic, Barzagli, Pogba e Chiellini temos o branco. E para Marchisio, Vidal e Pirlo, o preto. – Ela apontou para os uniformes. – Depois vocês podem ir para outra sala que vamos maquiando aos poucos e liberando para as fotos.
Eu e o pessoal nos entreolhamos, trocamos algumas risadas sem graças e cada um pegou seu uniforme para trocar. Fiquei feliz pelo sistema de calefação ser forte, todos estávamos de roupas de frio e cachecóis, a manhã estava bem atípica para uma cidade que deveria estar começando a fugir do frio já.
- Eu vou primeiro. – Chiello falou, nos destravando de nossa confusão e pegou o uniforme, seguindo para outra sala.
- Eu vou também. – Pirlo disse.
O pessoal começou a finalmente se mexer e assim que os dois ficaram prontos, foi minha vez e do novato Pogba seguirmos para nos trocar. Não sei de quem tinha sido a escolha para essa propaganda, se havia sido do marketing, da Jeep, do top cinco, mas via isso como algo bom, além do lucro extra por direitos de imagem, me dava um pouco de alívio ao saber que meu trabalho estava sendo bem-feito.
- Você pode se sentar aqui. – A maquiadora disse e eu fiz o que ela pediu.
Chiello e Pirlo já haviam feito as maquiagens e tinham os cabelos, rostos, braços e pernas sujos de maquiagem que parecia terra e eu sabia que seria o próximo. Eu me senti uma criança na cadeira, pois ela era bem mais baixa para minha altura, mas não ficaria ali por muito tempo.
- Buongiorno, ragazzi! – Ouvi uma voz feminina e franzi a testa. – Como estamos aqui? – Vi Angela, gerente do marketing, aparecer na porta, seguindo pelo corredor.
- Mas vocês estão bonitos, hein?! – Ouvi uma voz mais conhecida. – Não me toca! – gritou, fazendo algumas vozes gargalharem.
- No estilo, hein, chefa?
- Você é lindo até sujo, Marchisio, desisto. – Sua voz ficou mais alta e ela colocou a cabeça para dentro da sala que eu estava. – Buongiorno, buongiorno. Gigi, Pogba, Barza. – Ela falou.
- Buongiorno. – Falei.
- Fala aí, ! – Barza falou e ambos trocaram um rápido abraço.
- Isso está legal! – Ela disse, se aproximando de nós e a vi puxar seu cachecol e abrir seu casaco branco.
- Caiu bem nele! – Barza disse, me fazendo rir e ela sorriu.
- Eu quero um abraço também. – Falei.
- É, claro! – Ela disse, rindo. – Talvez eu tenha escolhido a pior roupa para hoje, mas tudo bem.
- Chefa. – Vidal apareceu, trocando de lugar com Pogba.
- Oi, Arturo! – Ela trocou um rápido beijo na bochecha.
- Pronto, Gigi! – A maquiadora disse. – Tenta não coçar, ok?
- Pode deixar. – Foi ela falar que o rosto começou a coçar, mas vamos tentar nos controlar.
- Barzagli, pode vir. – A maquiadora disse e nós dois trocamos de lugar, dei um tapinha em seu ombro quando ele passou por mim.
- E aí, ? – Falei, me aproximando dela.
- Tudo bom, Gigi? – Ela sorriu e eu assenti com a cabeça.
- Ideia sua isso daqui? – Perguntei, apontando para roupa.
- Eu não tenho culpa nisso, agora na escolha de vocês, totalmente eu. – Ela sorriu.
- Ah, então está explicado. – Falei, rindo.
- Os mais rentáveis. – Ela sorriu. – Não é minha culpa. – Ela deu de ombros.
- Que horas vocês chegaram aqui hoje?
- Viemos ontem, na verdade. – Suspirei. – Foi difícil dormir, mas...
- Ah, eu fiquei tão brava com aquele jogo.
- Ah, nem fala! – Barzagli disse. – Eu queria matar aquele árbitro. – franziu a testa.
- Eu não consigo ter a visão de você matando ninguém, Barza. – Ela cruzou os braços e se apoiou na parede.
- Ele é bem irritado quando quer. – Falei e Vidal riu comigo.
- Bom, devo dizer que ver você levando cartão é sensacional. Cada vez uma reação. – disse, rindo.
- Há, há, engraçadinha! – Ele disse, rindo.
- Na maioria das vezes parece uma criança de oito anos que o pai falou “vem tomar banho, Andrea” e te tira da rua. – Gargalhei junto de e Vidal.
- Está toda atacada, hein, chefa? – Ele disse.
- Quem foi o primeiro a ir em cima do juiz quando ele acabou o jogo 10 segundos antes do apito final? – Ela olhou para Barza, cruzando os baços.
- Eu? – Ele disse e ela assentiu com a cabeça. – Em compensação, o capitano aqui do meu lado não poderia ter se importado menos. – Ela me indicou com a mão e eu ri.
- Ele já tinha apitado, ele não ia voltar atrás, pelo menos evitei o drama do Barzaglione aqui do meu lado.
- Affanculo, Gigione! – Barza disse, sorrindo.
- Oh! Buongiorno, ragazzi! – disse, gargalhando. – Nem parece que alguém com essa cara de bom moço fala palavras feias, né?! – Ela fingiu cochichar para mim e rimos juntos.
- Não me faça te xingar também, hein, chefa? – Barza disse.
- Você não faria isso com a pessoa que deu a oportunidade da sua vida, faria? – dramatizou, franzindo os lábios e piscando os olhos diversas vezes.
- Achei que tinha sido o Alex. – Ele falou.
- Ah, Barzagli, te cuida. Sua renovação está na minha mesa, hein?! – Ela apontou para ele e ambos gargalharam.
- Você é um anjo, , já falei isso?
- É, eu sei, mas isso não vai dar certo...
- Buffon, você pode indo para o estúdio. – Uma mulher falou e eu assenti com a cabeça.
- Eu vou lá. – Falei.
- Eu vou contigo. – Ela disse e eu assenti com a cabeça. – Te cuida, Barzagli! – Ela apontou para ele.
- Já estou sabendo. – Ele disse, me fazendo rir e seguimos lado a lado pelo corredor.
- Vai renovar com ele? – Perguntei.
- É claro. – Ela sorriu. – Barza, junto com Chiello e Bonucci são os únicos jogadores que estão relacionados em todos os jogos. – Ela se virou para mim. – Conte gosta dele, o top cinco gosta dele, as ações gostam dele, vocês gostam dele, não tem nem o que pensar. – Ela sorriu.
- Bom saber, ele se tornou um grande amigo. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- A defesa sempre fica junto, não é? – Ela disse e eu dei de ombros.
- Treinamos juntos sempre, acaba sendo inevitável. – Falei e ela confirmou com a cabeça.
- Ironicamente, eu acabo me aproximando do pessoal que você se aproxima. – Ela disse e dei de ombros.
- Nem imagino o porquê. – Falei sarcasticamente e ela sorriu.
- Beh, apesar do jogo de ontem, ainda continuamos em primeiro na tabela. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Sim e pretendemos avançar com o jogo da semana que vem. – Falei.
- Contra quem é? – Ela perguntou.
- Siena. – Falei com um sorriso no rosto e ela retribuiu, rindo fracamente em seguida. – Você vai?
- Vou tentar. – Ela mordeu o lábio inferior. – Estamos no meio do semestre, as coisas estão mais calmas. Pena que vai ser em casa, não? – Ela disse.
- Sim. – Assenti com a cabeça. – Não costuma ser um grande jogo, mas...
- Acho que acabei me afeiçoando a eles. – Ela disse.
- É, talvez. – Ela assentiu com a cabeça.
- E o jogo da Champions? 3x0 é algo muito bom. – Ela disse.
- Sim, foi muito bom mesmo, esperamos manter a positividade dentro de casa e passar de fase. – Falei.
- Que venham as quartas. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Espero que sim. – Ela sorriu.
- Vai dar certo, Gigi! – Ela falou e eu suspirei.
- Ok, vamos lá. – O fotógrafo nos distraiu. – Buffon, vamos fazer algumas fotos individuais antes. – Ele se aproximou de mim e andei até ele para reduzir a distância. – Você pode ficar ali naquele pedaço de grama, fazer alguma pose da sua posição e...
Ele continuou a falar e me levei até o espaço, pegando a bola com as mãos e me segui até o espaço vazio. Olhei ao longe se colocar ao lado de Angela e abrir um sorriso em minha direção. Tive vontade de fazer o mesmo, mas o momento não pedia.
Foquei nas minhas fotos individuais, vendo todos os jogadores passarem pelo mesmo momento, alguns rindo do outro, fazendo uma piadinha, nada de novo por aí, até que chegamos nas fotos em grupo. Se tinha sido difícil nos controlar sozinhos, imagina em grupos. Esperava que os fotógrafos tivessem paciência.
- Ok, deixa eu pensar. – Suspirei, cruzando os braços e olhei para o quadro colorido de Antonio. – E se... – Franzi os lábios. – Eu não sei.
- Ainda temos quantos jogos até o fim da temporada? – Sara perguntou.
- 11. – Falei, suspirando. – Temos mais 33 pontos a serem jogados.
- E como estão atrás de nós? – Enrico perguntou.
- Eles estão com 53 e nós com 59. Seis pontos e ainda empatamos ontem no confronto direito. – Levei a mão até a cabeça.
- Pior que eu não sei o que eu posso fazer, já falei com o Pavel, já falei com o Conte, o time precisa aproveitar essa diferença ou as ações vão continuar caindo. – Falei.
- Mas se a gente vencer, as ações sobem, não? – Patrizia, a estagiária novata, disse.
- Sim, mas temos 11 semanas ainda, 10, nove ou oito. – Suspirei. – Isso se eles não mancarem.
- Confia, chefa, vai dar certo...
- AH! – Reclamamos juntos quando um barulho de estática alta nos distraiu.
- Dio mio, o que foi isso? – Franzi os lábios, levando uma mão ao ouvido, ouvindo um zunido.
- Parece que estourou alguma caixa de som. – Luca disse.
- Eles devem estar arrumando alguma coisa lá embaixo. – Sara disse.
- Enfim, vamos tentar controlar uma coisa de cada vez e...
- AH! – Reclamamos de novo com o barulho.
- Ah, eu vou ver o que está acontecendo lá embaixo, vamos fazer o que tem para hoje. – Falei, me levantando da poltrona. – A gente vê isso depois, já volto.
Suspirei, saindo para fora da sala dos meus funcionários e apertei o botão do elevador, esperando poucos segundos até ele chegar e apertei o botão para o térreo. Assim que as portas se abriram, o som estava mais alto, daquele tipo que fazia as paredes tremerem.
- Ah, isso tem cara dos meninos. – Sussurrei, dando uma rápida olhada nas salas do administrativo do primeiro andar e parecia que elas estavam vazias.
- CON LOS TERRORISTAS...
Me assustei mais uma vez com o som e a música era familiar, como se eu já tivesse ouvido antes. Tinha uma batida de balada, mas não era o tipo de música ideal para balada, apesar de eu não ir em uma há uns bons três anos.
- AND DO THE HARLEM SHAKE!
Ah, não acredito que eles estão fazendo o Harlem Shake! Neguei com a cabeça, seguindo pelo corredor e segui em direção a sala da coletiva de imprensa, no fundo do corredor, dando umas checadas nas salas do meio do caminho, até chegar na antessala, encontrando um pessoal se arrumando e outros gargalhando.
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – Gritei um pouco mais do que o normal, chamando algumas atenções.
- Ei, se não é o amor da minha vida! – Matri falou, animado, com uma peruca estilo algum personagem japonês e o pessoal riu.
- Dá para ouvir vocês lá de cima! – Reclamei, sentindo Matri me abraçar de lado e franzi os lábios.
- Vamos fazer o Harlem Shake, chefa? – Bonucci me perguntou, se aproximando com uma roupa estilo de... Do que ele estava vestido?
- Não mesmo. – Falei, rindo.
- Vamos, chefa! – Quagliarella disse, se aproximando e eu inclinei a cabeça para o lado contrário por causa da peruca estranha dele.
- Eu amo vocês, mas não. – Falei, séria e eles riram fracamente.
- Vamos, gente! Vocês precisam treinar e nós temos que trabalhar. – Danielle disse.
- Você está envolvido nisso também? – Perguntei para ele.
- Eles pediram com tanto carinho. – Ele falou e eu neguei com a cabeça.
- Terminem logo, a gente precisa resolver o problema das quedas das ações após o empate de ontem à noite. – Falei, olhando sugestivamente para eles e vi algumas caretas em minha direção
- Ciao! – Vidal falou e saiu correndo.
Bonucci, Pirlo, Pogba, Quagliarella e Matri foram atrás dele, junto de alguns funcionários do administrativo e do marketing e eu suspirei, passando a mão na cabeça. O vi seguirem pelo corredor e a porta da sala de coletivas foi fechada, me fazendo suspirar. Me vi sozinha na sala e ainda ouvi algumas risadas, me fazendo franzir a testa. Segui pelo corredor, à frente da sala, ouvindo a música estourar mais uma vez e me afastei da porta. Passei até o outro lado do corredor e segui do outro lado.
- Ela se jogou para cima de você, cara! – Lich disse, gargalhando em seguida.
- Ah, Gigione! – Marchisio apertou Gigi, fazendo as risadas gargalharem.
- Achei que ela fosse muito pior, honestamente. – Gigi disse com um sorriso no rosto e aquele sorriso presunçoso nos lábios.
- Mas a Ilaria é gata, cara! – Chiello disse.
- Levemente insistente, mas é sim! – Marchisio disse.
- Gigi se dando bem, cara. Primeiro com a , agora com...
- Finaliza essa frase que seu contrato é rescindido agora, Chiellini. – Falei, cruzando os braços e os cinco pareceram se assustar.
- !? – Eles gritaram, se ajeitando na poltrona.
- Ragazzi. – Falei. – O papo está bom?
- Nós só...
- É...
- Sobre o jogo e... – Eles tentaram se explicar, mas os impedi.
- Falando sobre mulheres dando em cima do Gigi, o que não é nem novidade... – Usei o máximo de acidez possível na voz. - Mas que tal falar sobre o empate que deveria ter sido uma vitória ontem? – Falei, deixando a língua dançar nos lábios.
- É só um empate, . – Notei o tom de desânimo na voz de Gigi.
- 17 por cento de queda nas ações, Gianluigi. – Usei o mesmo tom. – Já que é só um empate, que tal eu tirar isso do seu salário para cobrir? – Ele engoliu em seco e notei que todos ficaram em silêncio.
- Vamos compensar, . – Barza disse, mas meus olhos não distraíram dos de Gigi.
- Espero que sim. – Falei firme. – São seis pontos de diferença, era para ser oito, só imaginem os cortes que vão ter se isso não voltar a subir logo. – Passei o polegar no queixo.
- Isso é muito ruim? – Lich perguntou, mais preocupado com a situação.
- As ações caem de dois a cinco por cento por jogo perdido, caiu 17. – Falei, desviando o olhar para ele. – Era confronto direto e vocês perderam.
- Empatamos e ainda estamos em primeiro. – Gigi falou, sério.
- Não ligo se estão em primeiro ou em último se eu preciso resolver essa perda de dinheiro. Ganhando todos os próximos jogos, especialmente contra a Internazionale, Lazio, Milan e Torino. – Falei. – Espero que isso compense um pouco, não é uma ciência exata.
- É matemática, mais exato do que isso? – Chiello disse.
- As contas sim, mas os investimentos não. – Ri sarcasticamente. – Não podemos controlar se a pessoa tira seus investimentos do time ou se ela coloca de novo. – Dei de ombros. – E não adianta vencer o campeonato com essa queda de ação, pois são dinheiros para fins diferentes. – Falei.
- Eu já estou perdido. – Marchisio disse.
- Cuidem do que vocês são pagos para fazer que eu cuido do que eu sou paga para fazer. – Falei, dando à volta.
- Oh, ! – Virei o rosto para trás, vendo-os olharem para mim. – Desculpe. – Chiello disse e eu neguei com a cabeça, virando novamente, seguindo pelo corredor, sentindo as paredes tremerem e ouvi alguns passos rápidos pelo corredor e alguém me puxando pelo ombro.
- Que merda aconteceu contigo? – Vi Gigi se aproximar e dei um passo para trás.
- Comigo? – Ri sarcasticamente. – Tenho que tentar compensar a saída de 17 por cento dos nossos investimentos, o que dá mais ou menos 700 investidores, na semana de pagamento. Tenta fazer essa conta bater quando 28 funcionários ganham 95 por cento do salário total. – Falei firme. – E vocês falando de mulheres e “ai, é só um empate”. – Afinei a voz. – Tenta dizer isso para quem ganha 800 euros. Eles não reclamam se por acaso precisar atrasar um dia ou dois, agora vocês...
- Ok, entendi, você está brava. – Ele disse, erguendo os braços.
- Eu não estou brava, eu estou irritada. – Falei firme. – Isso nunca tinha acontecido antes. É isso que acontece quando se está no topo, Gianluigi, só podemos ir para baixo. Dói e afeta muitas pessoas. Então não podemos dar ao luxo de um empate.
- Eu não sabia, me desculpe. – Ele disse, suspirando. – Eu vou falar com o time, com o Conte...
- O Conte já sabe. – Falei baixo, passando a mão no nariz, me assustando com o barulho de novo. – E esses idiotas ainda ficam fazendo Harlem Shake. – Dei um soco na porta com as costas da mão.
- Ok, , respira fundo! – Ele segurou meus braços e eu movimentei os ombros, afastando-os. – Não vai adiantar nada você se irritar desse jeito. – Suspirei, negando com a cabeça.
- Passem de fase na quarta, quem sabe esse número não reduz. – Falei firme. – Só estamos aqui hoje por causa de vocês, meus funcionários precisam de folga. – Suspirei, negando com a cabeça.
- Vamos dar nosso máximo. – Ele disse.
- E nunca, na sua vida, me compare com Ilaria D’Amico. Eu prefiro morrer a ser comparada a ela. – Falei, franzindo os dentes. – Eu ainda tenho um pouco mais de ética do que ela. Não fico criticando alguém em rede nacional e depois dou em cima da mesma pessoa. – Falei.
- Ela não...
- Não foi eu quem disse, foram vocês. – O interrompi e ele assentiu com a cabeça. – O Chiello está bem? Esqueci de perguntar. Eu vi a chave de braço do Cavani, era um vermelho fácil. – Ele assentiu com a cabeça.
- Sim, está. – Ele disse. – Só um pouco dolorido. – Assenti com a cabeça.
- Ok... – Falei, suspirando e dei à volta novamente, seguindo pelo meu caminho.
Tudo bem, eu surtei.
Não podia fazer isso.
Tudo isso porque a ridícula da Ilaria D’Amico havia dado em cima dele? O que eu estava pensando? Eu não podia me permitir fazer isso. Não era problema meu. Se ela falava algo na televisão e agia de forma diferente, não era problema meu. Precisava focar no meu dinheiro, nos funcionários e no clube, nada mais.
Nada mais.
- Não acredito que você mentiu para mim. – Alena disse e eu suspirei.
- Eu não menti...
- VOCÊ MENTIU! – Ela aumentou o tom de voz. – E eu ainda tive que saber pela sua mãe? – Ela bufou. – Eu não acredito que você mentiu para mim. Ela mentiu para mim.
- Ninguém mentiu para você, Alena. Não temos mais nada. – Falei firme, segurando em seus ombros.
- ME SOLTA! – Ela se afastou e eu abaixei as mãos, suspirando. – Então, se você não mentiu, por que esconder, então?
- Para você não agir exatamente como está agindo agora! – Falei firme.
- Ela é sua ex, como queria que eu reagisse? – Ela perguntou irritada.
- Per amore de Dio, Alena, eu não tenho mais nada com a há quase sete anos. – Falei firme.
- Mas você ainda gosta dela que eu sei! – Ela falou, me olhando nos olhos. – Você quase desistiu do casamento por causa dela. – Ela engoliu em seco. – Por que eu deveria acreditar que agora você vai ter esquecido dela? – Foi minha vez de engolir em seco. – Viu?
- Eu só quero que você entenda que não aconteceu nada, Alena. Ela conviveu com a minha família durante aquele tempo, ela se preocupa com eles. Eu estava renovando meu contrato, a Guendy ligou e eu travei, ela me ajudou a chegar lá.
- Você realmente quer que eu acredite que vocês ficaram presos em um hotel por uma noite e não tiveram nada?
- Quero, Alena. Por favor. – Falei firme, bufando. – Ela ficou em um quarto, eu fiquei em outro, quando fomos para Carrara também. Por favor, ela é só uma amiga. A mais velha, levando em conta que todo mundo saiu. – Ela respirou fundo, olhando para mim com a respiração visivelmente acelerada. – Por favor.
- Eu não consigo acreditar em você agora, Gigi. – Ela negou com a cabeça. – Não consigo nem olhar na sua cara agora... – Ela falou e eu suspirei.
- Eu não queria sair com você assim. – Falei.
- Aonde você vai?
- Gravação de propaganda. – Falei. – Já estou atrasado. – Chequei o relógio.
- Você vai encontrá-la, não vai? – Suspirei.
- Ela ainda é diretora do time, Lena. Não tem como evitar.
- Isso torna tudo muito pior. – Respirei fundo, passando a mão nos cabelos.
- Apesar de você não acreditar nisso, não é todo dia que eu a vejo. – Falei firme. – Ela não vai a todos os jogos, ela não fica grudado na gente e ela fica no último andar do administrativo. A sala dela dá para o campo, mas ela precisa dar uma volta gigantesca para chegar lá. Deve cansar. – Falei, sentindo que havia exagerado no sarcasmo e suspirei. – Não temos nada, Alena. Apesar de nossas diferenças, eu ainda estou comprometido com isso. – Apontei para nós dois.
- Vai para sua propaganda, nos falamos mais tarde. – Ela disse e eu segurei-a pela mão.
- Eu não quero ir embora com você chateada comigo. – A puxei em minha direção. – Por favor...
- Depois, Gigi. – Ela disse, puxando a mão e eu suspirei. – Tente não fazer nenhuma besteira nesse tempo. – Pressionei os lábios e ela seguiu em direção às escadas.
Suspirei, passando a mão no rosto e pressionei os lábios um no outro. A mentira vinha com facilidade nos lábios e isso só me comprovava que as coisas estavam começando a sair do controle, mas mais uma vez eu fugia de resolver isso agora ou em qualquer outro problema. Agora eu precisava chegar na gravação antes que o esperado.
Segui até o Corso Lombardia, local onde foi feito as fotos, mas demorei quase 30 minutos para chegar. Morar em Vinovo tinha vantagens somente para fins do time, para o resto da cidade eu estava longe demais. O telefone tocou diversas vezes durante meu percurso, mas parar para atender só pioraria as coisas. Para ajudar ainda estacionei longe, já que todos vieram com seus carros, mas não adiantava agilizar o passo, eu ganharia uns 30 segundos, no máximo.
Me aproximei das portas, empurrando-as e já vi na abertura a grande produção que se formava cerca de cinco metros para frente. O espaço era o mesmo que viemos fotografar um tempo atrás, mas não estava nada parecido. Ele era um aquário com aquelas telas verdes para substituição de imagem. Até pouco mais de três quartos do local, um campo feito de areia e pedras estava montado, junto de algumas gruas e outras coisas. No espaço que sobrava, alguns carros estavam estacionados.
- Ah, decidiu aparecer! – Vi Angela aparecer em meu campo de visão.
- Me desculpa! – Falei rapidamente. – Eu tive uns problemas.
- Podia ter atendido ao celular. – Ela disse.
- Só atrasaria mais minha chegada. – Falei e ela ponderou com a cabeça.
- Vai se trocar, precisamos gravar isso logo. – Ela disse, apontando para a mesma mulher que fez a maquiagem da outra vez e assenti com a cabeça.
Passei o olhar pelo local, vendo meus companheiros conversar com o diretor e vi a bunda e as pernas de bem-marcadas pela saia justa que ela usava e eu suspirei. Sacudi minha cabeça e segui a mulher.
- Buongiorno, mi dispiace. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Sem problemas, seu uniforme é o azul, pode vestir e depois vem aqui, vamos só tirar o brilho. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
Peguei o uniforme que ela indicava e segui diretamente para o mesmo camarim da outra vez, já vendo as coisas jogadas do resto do pessoal ali. Vesti o uniforme e achei estranho. Esse não era o uniforme azul que eu estava acostumado, ele era um azul mais claro. Não tinha como pensar nisso agora. Calcei as meias e as chuteiras e saí o mais apressado possível do banheiro.
Me sentei na cadeira da maquiadora e analisei o que ela faria comigo. Diferente da outra vez, quando ela usou uma maquiagem que nos sujava, dessa vez ela só passou alguns pós em meu rosto, que para mim não fez diferença nenhuma, e dei uma ajeitada no meu cabelo com gel para trás, nada diferente do que já estava.
- Pronto, pode ir.
- Grazie! – Sorri para ela e ela assentiu com a cabeça. Peguei minhas luvas na mochila e segui de volta para o set de gravações, me aproximando do campo montado.
- Você está atrasado. – Ouvi a voz de e virei para trás, vendo-a sentada em uma daquelas cadeiras de diretor, as pernas cruzadas, deixando sua coxa em destaque, além do sapato preto de bico fino nos pés, enquanto olhava para alguns papéis em suas mãos.
- Vou ganhar multa por isso? – Perguntei, ácido e ela ergueu o olhar.
- Dormiu com a bunda descoberta, foi? – Ela perguntou e eu suspirei. – Ou é desconto pela última vez que eu fui grossa contigo? – Relaxei os ombros.
- Me desculpe, problemas em casa. – Falei, não podia entrar naquele assunto agora, seria melhor nunca, na verdade.
- Tudo bem. – Ela disse. – Vai lá, eles têm uma ideia ótima para você. – Ela deu um sorriso sacana e sabia que ela zoaria comigo em qualquer oportunidade.
- Só uma coisa: esse uniforme é novo? – Perguntei e ela ergueu o olhar novamente.
- Essa propaganda vai ser lançada só em outubro, adiantamos o uniforme da próxima temporada. – Ela deu de ombros. – Não sai daqui, obviamente.
- Claro. – Falei, rindo fracamente e ela sorriu.
- Buffon? – Virei para um homem careca de óculos.
- Sì! – Falei apressado, levando as luvas para a mão esquerda e apertando sua mão.
- Emerson, diretor.
- Prazer. – Sorri. – Me desculpe o atraso, tive uns problemas.
- Tudo bem, podemos começar? – Ele disse.
- Claro! – Falei, me aproximando dele e vendo meus outros companheiros.
, ou o departamento de marketing, tinham mudado os jogadores dessa propaganda. Talvez ela soubesse que alguns jogadores sairiam na próxima temporada ou não eram tão rentáveis quanto ela esperava nesse momento. Dessa vez, além de mim e de alguns atores, tinha Pogba, Giovinco, Bonucci, Marchisio, Vucinic, Asamoah, Barzagli, Pirlo e Vidal.
- A propaganda é mostrar que todo lugar que você está, pode ser um campo de futebol. – O diretor falou. – Assim como os carros da Jeep, que possuem tração para enfrentar qualquer tipo de terreno. – Assenti com a cabeça. – Será um jogo de futebol, claro que com alguns efeitos visuais, então precisamos mostrar isso. – Ele disse. – Já gravamos algumas cenas individuais com o Pogba e com o Vidal... – Ele foi indicando. – Agora precisamos fazer algumas cenas contigo com a grua e algumas paradas.
- Tudo bem. – Falei, assentindo com a cabeça.
- Tem medo de altura? – Ele perguntou.
- Não! – Falei rapidamente e franzi a testa logo em seguida. – Por quê? – Perguntei.
- Marco, explique para ele, por favor. – Ele disse e um moço mais novo e loiro se aproximou de mim. – Enquanto isso, Vucinic...
- Gigi! – O loiro falou, esticando a mão e eu a apertei. – É um grande prazer.
- O prazer é meu. – Falei, sorrindo.
- Temos uma ideia de você fazer um mortal...
- Ah, não sei... – Ri fracamente. – Eu não sou bom nessas coisas.
- Não se preocupe, será usado cabos. Você já deu cambalhota na piscina? – Ele perguntou e eu tentei não parecer tão confuso.
- Já, mas faz muito tempo... – Rimos juntos.
- O ideal é dar para trás, assim... – Ele disse, afastando alguns passos de mim. – Lello! – Ele gritou para outro homem e, logo em seguida, ele deu uma cambalhota para trás, os cabos ajudando-o.
- Não parece tão difícil. – Falei e ele riu fracamente.
- Nós vamos colocar um cinto por baixo da sua blusa e vamos prender os cabos. – Ele disse.
- Ok, eu acho... – Falei, ouvindo-o rir.
Eles fizeram o que indicaram enquanto Pirlo, Pogba, Vidal e Marchisio gravavam uma cena com os outros atores. Eu não me sentia muito confortável nisso, mas eu era goleiro, a elasticidade era meu forte. Pelo menos precisava ser.
- Você só joga seu corpo para trás, que o Lello te puxa para cima, caso não dê certo. – Ele disse, me fazendo rir.
- Porque provavelmente não vai dar certo. – Falei, vendo-o ajeitar os cabos.
- Vai dar certo. – Ele disse.
- Ainda bem que eu não tomei café da manhã! – Falei e ele riu fracamente. – Ok, vamos lá. – Suspirei.
Vesti as luvas, ajeitando-as nos braços e respirei fundo antes de tentar fazer o que ele havia dito, mas na primeira vez eu nem tirei meus pés do chão. Ele me deu um olhar de confiança e respirei fundo. Pulei novamente, dessa vez saindo o chão, mas não consegui jogar o corpo para trás. Cara, fazer isso para o futebol parecia tão fácil. Ou até na piscina quando brincava com meus meninos.
- Relaxa. – O loiro disse e eu respirei fundo.
Quando eu me joguei para trás da terceira vez, deu certo. Pelo menos em partes. Minhas pernas ficaram presas nos cabos e eu fiquei preso de cabeça para baixo. Algumas risadas ecoaram pelo lugar e uma mais alta ainda me fez olhar para fora do set, apesar de não ser necessário eu olhar para saber quem era. estava com o braço apoiado no ombro de Asamoah, fraquejando de tanto rir.
- Ideia sua, não?! – Gritei quando consegui colocar os pés no chão de novo e ela só negou com a cabeça, incapaz de responder algo, somente apoiando a mão livre no peito. O Asa tinha uma paciência incrível.
- Vamos, de novo! – O loiro falou e eu suspirei, acabando caindo na risada logo em seguida.
Soltei a respiração devagar, respirando fundo. Da última vez deu certo, consegui fazer a volta completa, mas as pernas endureceram na descida, como quando fazia um pulo no futebol, e senti os cabos me puxando para cima de novo.
- Isso! – O loiro falou. – Pode relaxar mais as pernas na hora de cair. – Assenti com a cabeça.
- Tudo bem. – Falei.
- Podemos gravar? – Ele perguntou.
- Vamos lá. – Suspirei.
- Os atores virão nessa direção, Vucinic, Pirlo, Giovinco e... – Ele olhou em volta. – Asamoah! – Ele gritou pelo descanso de ombro da e ambos riram, fazendo-o vir em nossa direção. – E você pula.
- Ok! – Ri fracamente.
Fizemos a cena três vezes e aquilo logo mais ia começar a me enjoar. Poderiam ter colocado o Giovinco para fazer isso. Apesar que Vidal ria demais, então imaginava que talvez ele já tivesse feito a mesma coisa e talvez ficado preso também.
Após isso, fui apresentado aos outros atores e a menina que representava o goleiro do outro time. Eles gravaram algumas cenas com Pogba mostrando alguns de seus talentos e depois outras cenas em rodinhas que eu não participei. Enquanto isso, eles fizeram algumas paradas um tanto quanto fajutas comigo, mas tudo bem, estávamos em tela verde. Pelo menos não fiz careta.
A propaganda era quase uma competição, algo no estilo “quer encarar?” então, depois, eles nos uniram em um lado do campo para fazer uma cena de “encarada” e eu os chamei para a briga, logo depois correndo em direção à câmera junto dos outros jogadores.
Depois de fazer a cena diversas vezes, seguimos para gravar as cenas nos carros. Poderia falar que seria legal, mas foi tudo feito na tela verde de novo. Eu e Barza entramos em um carro igual o que tínhamos ganhado e tínhamos que parecer bem empolgados por dirigir no nada. Eles jogaram água no vidro, sacudiram o carro. Foi ridículo e engraçado ao mesmo tempo.
- Buffon e Barzagli, estão livres. – O diretor falou e eu e Barza saímos do carro rindo.
- Foi divertido. – Andrea disse e rimos juntos.
- Tomei um susto da primeira vez. – Falei, abraçando-o pelos ombros e rimos juntos.
- Acho que não servimos como atores. – Ele disse.
- Ah, Dio! – Rimos juntos.
- Pelo menos tem vantagens. – Disse, soltando-o quando entramos no camarim.
- No te preocupes por eso. – Vi encostada na parede do camarim com o celular na orelha e demos um aceno para ela e ela fez o mesmo. – Normalmente no, pero esta vez yo voy, porque es un derbi, e es aquí en Torino. – Ela dizia em outra língua. Espanhol, talvez. – Si, si, te veo allí, entonces. – Ela passou a mão no queixo. – Ok, gracias. Adios. – Ela desligou a ligação. – Então, já terminaram? – Ela voltou para o italiano.
- Sim, foi divertido. – Barza falou.
- Eu vou dar licença para vocês. – Ela disse.
- Não é como se fosse diferente do que você vê no vestiário, chefa. – Ele disse e ela riu fracamente.
- É, mas aqui é diferente. – Ela disse, rindo e se retirando do camarim e eu fui atrás dela.
- Você até parece alguém importante falando no telefone e enrolando a língua desse jeito. – Brinquei e ela riu fracamente.
- Fim de temporada, Gigi. Alguns sairão, novos precisam vir. – Ela disse.
- Espanhóis? – Perguntei.
- E argentino. – Ela ponderou com a cabeça. – Vamos ver se vai dar certo antes.
- Traga bons jogadores para o meu time, chefa. – Falei e ela franziu os olhos.
- Seu? Achei que era meu! – Ela piscou e rimos juntos.
- Giusto! – Sorri.
- Eu não consegui falar contigo depois da Champions, achei que não quisesse conversar, mas eu sinto muito. – Ela disse, suspirando.
- Está tudo bem, sério. Não imaginava que iríamos longe depois de tantos anos sem participar. – Falei.
- Mas vocês foram até as quartas, acho que ninguém esperava tanto. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Grazie, . – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Sempre que precisar. – Ela apoiou a mão em meu ombro. – Para te apoiar ou rir de você. – Rimos juntos. – Eu vou deixar vocês e ver o resto do pessoal... – Assenti com a cabeça. – E me desculpe pela última vez que conversamos.
- Está tudo bem, eu entendo. Foi feito para o seu departamento. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- É, mas não posso me descontrolar desse jeito. – Suspirei.
- Acontece. – Falei e ela sorriu, abaixando a mão de meu ombro e seguindo pelo corredor. Observei sua bunda rebolando dentro da saia preta e suspirei, balançando a cabeça antes de voltar para o camarim.
Capitolo treintanove
Quando eu cheguei no Juventus Stadium naquele sábado à tarde, eu sentia a boca salivar. Não por fome, fazia pouco mais de uma hora e eu tinha comido lasanha, então estava bem satisfeita, mas eu tinha aquela fome enorme de vitória! Como se isso fosse me deixar mais saciada ainda.
E era tudo o que precisávamos hoje, mais uma vitória e o scudetto seria nosso. Após aquele empate com o Napoli no dia primeiro de março, os meninos conseguiram uma sequência espetacular de sete vitórias. E a vitória de hoje selaria tudo, faltando três jogos para o fim da temporada. O jogo seria contra o Palermo, não era um time que chamávamos de forte, mas eles tinham certa tradição e tentavam se reerguer após a saída de grandes estrelas, inclusive Barzagli há cinco anos.
Eu estava feliz com essa temporada de forma geral. No âmbito profissional, é claro. Voltamos a jogar a Champions League depois de sete anos e chegamos nas quartas, sendo eliminado pelo Bayern em um agregado de 4x0. Fomos eliminados da Coppa Italia nas semifinais contra a Lazio com 3x2 no agregado. Vencemos a Supercoppa e, no campeonato, acumulávamos 25 vitórias, cinco empates e quatro derrotas. Era veramente sensacional. Ficamos em primeiro lugar na tabela durante essas 34 rodadas. Isso tudo depois do problema do Calciocommesse que tirou o Conte do nosso banco até dezembro, mas Massimo e Alessio fizeram ótimos trabalhos.
Já no âmbito pessoal... Bom, deixa para lá! Por um momento eu achava que finalmente tinha me desapegado de Gigi, mas prestou pouco menos de duas horas dividindo o mesmo quarto de hotel para eu ter certeza que não. Tirando as horas no carro antes disso. E ninguém precisava me dizer que eu estava me enfiando em um buraco fundo e que logo mais não teria como sair. Eu só precisava me conscientizar disso... De uma vez por todas.
Só não daria para ser hoje.
Cheguei no Juventus Stadium 14:40. Conte havia pedido expressamente que não aparecêssemos antes do jogo, pois ele queria manter os meninos concentrados. Imagino que isso tenha a ver comigo, pois eles não se distraíam com tanta facilidade assim. Enfim, por bem ou por mal, eu optei por usar a blusa do time convencional, junto do meu nome e o número três atrás. Junto disso minha clássica saia lápis preta e meu scarpin preto.
Chegar em cima da hora também me fez evitar aquele clássico lenga-lenga junto dos Agnelli, top cinco e até alguns familiares de jogadores, que eu apostava que estariam em peso. Já no estacionamento recebi alguns cumprimentos, mas pelo horário em cima, dei rápidos acenos e sorrisos e subi em direção ao camarote.
Os corredores estavam vazios, então cheguei lá com muito mais facilidade. Quando saí para o campo, foi algo bonito de se ver. Tirando o espaço reservado para a torcida adversária, o estádio estava apinhado. Minha cidade não era exatamente perto daqui de Turim, era no extremo contrário, mas sempre tinha alguém, só não o suficiente para encher o local.
- Ciao, ragazzi. – Me aproximei de Pavel e Agnelli.
- Ei, chegou! – Pavel disse.
- Achei que não viesse. – Agnelli disse.
- Precisava descansar um pouco. – Falei rapidamente. – Fim de temporada, sabe.
- Só mais um jogo importa, . – Agnelli disse e eu sorri.
Queria falar que não era para perder os próximos, mas entendia o cansaço, todos estávamos. Cumprimentei ele e Pavel, me colocando entre Pavel e Paratici e cumprimentei o segundo e Beppe. Dei uma olhada rápida pelo camarote, acenando para a esposa de Agnelli, para sua mãe e para Ivana, esposa de Pavel. Acabei encontrando Roby, esposa de Marchisio e Veronica, esposa de Storari. Elas acenaram para mim e sorri. Nisso, uma terceira pessoa se virou, Alena. Ergui a mão para acenar, mas recebi uma feição séria e uma jogada de cabelos para trás.
Ela sabe.
Não sabia o quanto, mas ela sabe. Era claro que Gigi ia esconder sobre Siena e sobre Carrara, como tinha certeza de que ele escondeu sobre Trieste e todos os nossos pequenos momentos depois que ele começou a namorá-la e, principalmente, depois que se casou. Também não sabia se eu queria que ele compartilhasse nossos momentos com os outros, algumas coisas eu guardava para mim, apesar de tudo, eram importantes e significativos para a trouxa aqui.
Só esperava que Alena não fosse o tipo que fazia barraco ou eu estaria com sérios problemas no final do jogo.
Abanei a cabeça por um momento, aceitando de bom grado o drink que surgiu em minha mão e isso só fazia eu me apaixonar mais ainda pela escolha do buffet. Só chequei em volta se não tinha alguém esperando ou que não tivesse escrito no bilhete. Tinha encontrado Giulia na quinta-feira e, se tudo desse certo, nos encontraríamos na boate mais tarde para a festa do scudetto. Só esperava que a volta pela cidade não demorasse as mesmas cinco horas da última vez.
Os gritos denunciaram a entrada dos times e eu voltei para o presente pelo menos por enquanto. Gigi puxava a fila da nossa clássica formação: ele, Barza, Leo, Chiello, Lich, Pogba, Pirlo, Vidal, Asa, Marchisio e Vucinic. Tirando Fabrizio Miccoli, o tradicional capitão do Palermo, eu não conhecia mais ninguém em campo.
Achei que o jogo seria relativamente fácil, mas eu estava enganada. Talvez não ter ido lá embaixo tirou a inspiração deles e não colocou mais. Tirando alguns chutes nossos bem esporádicos, o primeiro tempo foi levemente entediante. Vucinic, Asa, Vidal e Lich tentavam, mas nada significante e nem muitas vezes. O Palermo os desarmava de diversas formas.
Para não falar que não tivemos nada, Barza acabou levando um amarelo por uma entrada violenta e, pelas minhas contas, estaria fora do próximo jogo. Pena que Barza nem reclamou dessa vez, ao menos nós daríamos algumas risadas.
No segundo tempo eu lembrei da existência de Gigi. Ele não tinha feito nada o jogo inteiro, porque o Palermo não tinha tido nenhuma chance real de ataque. Mas teve nesse lance. A bola bateu na trave e, por uma grande força poderosa que vem do céu, não deu tempo de eles darem o rebote.
Aos 56 minutos, Barza decidiu aparecer mais que todo mundo e foi, literalmente, jogado para fora do campo. E quando eu digo jogado, foi uma rasteira que quase trocou a substituição de Lich pela dele mesmo. Meu expresso suíço saiu alguns minutos depois e Padoin entrou.
Aos 59 minutos, finalmente abrimos o placar, mas só porque derrubaram Vucinic na área, do contrário não seria nada. Vidal bateu o pênalti, o estádio foi ao delírio e começamos a garantir nosso scudetto. Mas é claro que a partir daí o estádio não parou mais de cantar. Vidal acabou se empolgando na comemoração e levou um amarelo.
Depois tivemos algumas sequências de substituições. Asa saiu e entrou Peluso para nós e, no Palermo, saiu Ilicic e entrou Dybala. Eu estava de olho nesse Dybala desde o outro jogo do Palermo. Ele também entrou quase no fim. Não deveria ter mais que 20 anos, mas ele surpreendia um pouco. Talvez não agora, mas com certeza ficaria de olho nele.
Aos 78, Gigi resolveu aparecer de novo. O Palermo teve uma chance real, mas a bola acabou indo para fora. Estava tudo sob controle. Aos 79, Vucinic saiu e deu espaço a Quagliarella. As piadinhas tinham parado drasticamente depois que ele havia começado a namorar, mas ainda nos encontrávamos de vez em quando, aqui e ali e ele ainda vinha me abraçar e me dar um beijo. Seria uma amizade para o resto da vida.
Estava na hora de fazê-las sem depender de Gigi, na verdade.
Um minuto após entrar, ele teve uma tentativa real de gol e Pogba logo depois, mas a bola não entrou e o placar se manteve. Aos 83, uma surpresa, Pogba levou um vermelho. Pelo jeito ele havia xingado um jogador do Palermo, mas alguns cochichos e a irritação de Conte lá embaixo, indicaram que não tinha sido muito bem o que aconteceu, pelo visto Pogba levou um na cara e não reagiu.
Chegava mais para o fim do jogo e parecia que ele estava mais empolgado. Gigi começou a aparecer mais frequentemente, comprovando que nosso time estava cansado e deixando mais chance chegarem, mas Gigi não estava cansado, então não tivemos problemas.
Quatro minutos de acréscimos nos separavam do scudetto. A pouca torcida do Palermo fugia do estádio e a da Juventus cantava a plenos pulmões. Eu só estava mais uma vez feliz. Abracei Paratici e Pavel pelos ombros, sentindo-o fazer a mesma coisa, deixando todos os cinco abraçados. Gigi fez uma última defesa milagrosa, onde a bola podia ter passado facilmente pelas suas pernas e, em um último lance contra o Palermo, o juiz finalizou o jogo.
Gritamos e comemoramos animados, obviamente sendo calados pelos gritos no estádio e nos abraçando entre si, gargalhando animados. Os jogadores começaram a se abraçar animados, as bandeiras foram esticadas pelo gramado enquanto nossa animação tomava conta dos corredores do camarote. Quando nos preparamos para sair correndo lá para baixo, Pavel nos parou.
- Nem precisa ter pressa! – Ele nos chamou e virei meu olhar para os diversos torcedores que invadiam o campo.
- Mas até aqui? – Falei surpresa, vendo Cáceres, Padoin, Matri e Giovinco saindo correndo desesperados em direção ao túnel.
Isso me trouxe memórias de um ano atrás. Eles saíram correndo empurrando os outros jogadores e levei meus olhos para o telão quando eu os perdi de vista. Gigi havia ficado preso com alguns torcedores, mas tinham três seguranças com ele, estava seguro. Ele ainda era bem carinhoso, não era à toa que todos gostavam dele.
- Vamos lá! – Falei, puxando Pavel pela blusa.
Nós cinco seguimos apressados pelo corredor, desviando das pessoas que nos cumprimentavam e entramos no elevador. Apoiei o ombro na parede enquanto ele descia e saímos na mesma pressa quando abriu lá embaixo. Passamos pelos corredores, vendo-os vazios e seguimos onde estava a bagunça.
- Sem fazer algo que você se arrepender depois, . – Pavel disse para mim e eu revirei os olhos, empurrando-o com o ombro.
- Cala a boca. – Falei, ouvindo-o rir e ele me abraçou pelo ombro.
Passamos pelas portas dos corredores, já ouvindo os gritos e comemorações vindas lá de dentro e atravessamos o corredor de entrada, mas foi só no vestiário em si que vimos o pessoal comemorando. Muitos estavam com a blusa oficial da comemoração, agora outros ainda estavam de uniforme e alguns quase nus, como era o caso de Quagliarella que estava somente de cueca e a blusa.
- Ragazzi! – Pavel falou na frente e senti alguém me puxar pelos ombros.
- Chiello! – Sorri quando o vi, abraçando-o fortemente pelos ombros e ele me abraçou pela cintura.
- Conseguimos, ! Conseguimos.
- Sim, meu amigo. Mais uma vez! – Falei, segurando seu rosto e gargalhamos juntos.
- Chefa! – Marchisio estava ao seu lado e o abracei também animada, vendo o mais baixo tentar me levantar, me fazendo desequilibrar e nós dois caímos de bunda no chão, causando algumas gargalhadas estridentes de alguns espectadores.
- Precisa de alguma ajuda, chefa? – Barzagli estendeu as mãos para mim e, por um segundo, tive um déjà vu e preferi deixar os sapatos no chão antes de aceitar e me levantar, puxando a saia para baixo novamente.
- Parabéns, Barza! – Abracei-o fortemente, sentindo o mais alto agora, me abraçar apertado e sorrimos juntos.
- Conseguimos! – Ele sorriu eu assenti com a cabeça, passando a mão em seu cabelo espetado.
- Conseguimos! – Respondi, rindo e senti alguém me abraçar pela cintura.
- CHEFA! – O grito quase me ensurdeceu, mas o beijo na bochecha denunciou quem era e eu só gargalhei.
- Fabio! – Virei, abraçando Quagliarella e quando se faz parte do alto escalão de um time, algumas coisas você releva. – Parabéns!
- Grazie, mi amore. – Ele disse, me fazendo rir.
- SIAMO NOI, SIAMO NOI, I CAMPIONI DELL’ITALIA SIAMO NOI!
Os gritos só aumentaram quando cheguei na área da fisioterapia, vendo parte do pessoal como os de lá de dentro. A maioria ainda tinha o calção de jogo e a blusa da vitória. Eles gritavam, pulavam e batiam palmas e eu só comecei a abraçar quem eu visse na minha frente. Alguns já estavam molhados e grudentos, outros ainda estavam secos, mas a comemoração era geral.
Desviei de um jato de champanhe que Peluso abriu, mas só para ser atingida nas costas por um de Cáceres, me fazendo rir e abracei-o pelos ombros, dando um beijo no meu uruguaio favorito. Storari estava perto dele e o abracei rapidamente antes de ele começar a jogar coisas nas pessoas, acho que era sabonete.
Encontrei Leo, Matri, Asa e Pogba em volta da banheira e os abracei rapidamente, recebendo um abraço gostoso dos quatro. Durou pouco tempo, pois Massimo, o que ficou no lugar de Conte no começo da temporada, começou a esvaziar a banheira e jogar água para todos os lados. Os pés já estavam no chão, o corpo parcialmente molhado, mas era melhor água do que champanhe.
Era gostoso ver a felicidade do pessoal, os sorrisos, brigas, gritarias, era nesses momentos que eu conseguia relaxar e esquecer todos os meus problemas e do time. Comemorando, rindo e sabendo que aqui embaixo eu estava com a minha família. Novos, antigos, mas todos estavam lá se divertindo.
Beh, em partes. Eu nunca reclamei dessas cuecas brancas que o pessoal usava. Na verdade, adorava encontrar Gigi nelas, pois elas não deixavam nada escondido, eram bem demarcadas, mas quando eu vi Conte literalmente só com elas. Só com elas. Minha visão de mundo mudou em dois segundos. Giovinco jogou água nele e logo o time se juntou para jogá-lo dentro da banheira gelada. Pelo menos disso eu estava livre.
- Que cena mais linda. – Falei baixo, cruzando os braços e apoiando em uma pilastra.
- Trauma para o resto da vida. – Vi Barza ao meu lado e rimos juntos.
- Antes vocês do que eu. – Falei, dando um tapinha em seus ombros e ele riu.
- SE QUISEREM SAIR COM O ÔNIBUS, VOCÊS PRECISAM ESTAR PRONTOS EM 40 MINUTOS! – A voz de Angela se sobressaiu sobre o pessoal e só vi Vidal abraçando-a fortemente. Angela era baixinha, então ele podia carregá-la como uma bolsa.
- É melhor a gente ir se arrumar. – Barza disse.
- Que não sejam cinco horas. Que não sejam cinco horas. – Juntei as mãos, rezando e ele riu, voltando para o vestiário.
Entrei no vestiário novamente, vendo as câmeras de TV andando de um lado para o outro e Agnelli estava entre as duas salas. Massimo se empolgou e jogou mais um balde de água nele. Os gritos aumentaram e eu segurei a risada, não podia falar nada, eu já estava similar, talvez pior.
Os ânimos do pessoal começaram a relaxar. Eu segui em direção a sala dos assistentes, encontrando meu armário e dessa vez eu estava melhor preparada. Tinha começado a deixar roupas aqui para esses tipos de momentos. Peguei a necessaire, a blusa polo cinza com rosa do time, além de uma calça jeans que eu tinha ali e fui para o banheiro. Não me importei que alguns assistentes técnicos estavam lá, já sabíamos dividir o espaço.
Não enrolei muito no banho e muito menos dei aquela lavada que meu cabelo merecia, mas estava de bom tamanho. Me sequei e me troquei dentro do box mesmo, tendo dificuldade para entrar na jeans skinny, mas logo saí dele. Me ajeitei melhor na frente do espelho, prendendo os cabelos em um coque firme, tentando esconder o estado dele e dei uma secada nas minhas coisas. Peguei uma sacola do time, guardando minhas coisas e estava pronta.
Não sabia quanto tempo tinha demorado, mas um pessoal já estava começando a ficar pronto. Segui em direção ao estacionamento, já vendo o ônibus que nos levaria para dar a volta na cidade no meio do estacionamento de entrada. Fui até meu carro, deixando as roupas úmidas e me sentei na beirada do porta-malas para trocar os saltos pelo tênis.
- , você está aqui! – Ergui os olhos, vendo Gigi se aproximar e foi quando percebi que eu não tinha visto-o.
- Ei! – Falei surpresa e finalizei de dar o nó nos cadarços.
- Não tinha te visto. – Ele disse e eu pulei do porta-malas, batendo-o.
- Não mesmo. – Sorri e ele me apertou pela cintura, me fazendo suspirar. – Auguri, capitano.
- Auguri, chefa! – Ele disse contra meu ouvido e passei os braços pelos seus ombros, apertando-o forte contra mim.
- Você não me chama assim. – Falei e ele riu fracamente.
- Hoje eu chamo. – Ele sorriu e passei a mão em seus cabelos, jogando-os para trás.
- Onde você estava? Perdeu a bagunça no vestiário.
- Zona mista. – Ele disse e eu fiz uma careta.
- Ah sim, às vezes esqueço que você tem responsabilidades. – Falei e ele riu fracamente.
- Eles me seguraram bastante, chego no vestiário e está tudo molhado. – Ele disse e eu me afastei, apoiando o quadril em meu carro.
- Tudo e todos. – Falei, erguendo o indicador e ele riu, se apoiando igual a mim.
- Conseguimos, . – Ele suspirou, visivelmente aliviado e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Conseguimos. – Respirei fundo. – Parece loucura, adrenalina, não sei...
- Mas é bom. – Ele disse.
- É bom demais. – Rimos juntos e ele me puxou pelo ombro, dando um beijo em minha cabeça, me soltando logo em seguida.
- Agora vamos ficar cinco horas no ônibus? – Ele perguntou, se afastando quando viu Marchisio e Giovinco serem os primeiros a saírem também.
- Espero que não. – Rimos juntos.
- Espero que não também. – Ele riu fracamente.
- Beh, signor Buffon, já ganhamos dois scudetti di fila, a última vez que isso tinha acontecido era 2005 e 2006 e sabemos o que houve... – Ele assentiu com a cabeça. – Agora que tal três seguidos? É possível?
- Acabamos de ganhar o segundo e já está pensando no terceiro? – Ele disse rindo.
- Beh, não é vocês que dizem: vincere è l’unica cosa che conta? – Ele abriu um largo sorriso.
- Já conseguimos ganhar três consecutivos? – Ele perguntou.
- Nosso recorde são cinco, de 1930 a 1935, o restante são só dois seguidos, depois quebra a sequência. – Ele disse.
- Beh, que tal cinco seguidos, então? – Ele perguntou e eu sorri.
- Isso quer dizer que você estará conosco até 2016? – Perguntei sugestivamente e ele riu fracamente.
- Se meu corpo deixar. – Ele disse, dando de ombros e eu sorri.
- Vou cobrar, Gianluigi. – Me desencostei do carro. – Em contrato. – Falei, apontando para ele e rimos juntos.
- Combinado. – Ele sorriu.
- Dai, ragazzi. – Giovinco passou, animado, batendo as mãos.
- Vamos, chefa!
- Ah! – Gritei quando seguraram em minhas pernas e vi Matri aparecer entre elas e ergueu o corpo. – Matri, Matri, Matri! – Falei rapidamente, tentando me equilibrar em seus ombros.
- Vamos, chefa! – Ele disse e eu apoiei as mãos em sua cabeça.
- Me coloca no chão, Matri. – Falei, tentando controlar o escândalo, mas só via Gigi, Marchisio e Giovinco gargalhando de mim.
- Dai, ! – Gigi disse provocativo e eu revirei os olhos, mostrando o dedo do meio para ele.
- Cuidado com a cabeça. – Matri disse.
- A gente não entra no ônibus assim, Matri. – Falei e ele riu fracamente.
- Ok, te pego lá em cima de novo. – Ele disse.
- UH! – O pessoal falou enquanto Matri se abaixava para me deixar no chão novamente e eu bati a mão na cabeça de Leo e Barza que estavam mais pertos.
- Não ficou legal, eu sei, mas não começa. Temos mais algumas horas presos no mesmo ônibus juntos. – Falei, subindo os primeiros degraus.
- Posso te garantir que vai ser pior para você do que para eles. – Filippi disse e eu sorri.
- Deus me ajude! – Brinquei, subindo para o segundo andar, à procura de uma cerveja e de um lugar relativamente confortável.
Chegar no estádio hoje foi diferente do ano passado. Já tínhamos comemorado com a nossa torcida e com a cidade no domingo. No jogo de quarta-feira contra o Atalanta em Bergamo eu já não joguei, então hoje seria praticamente uma convenção. Jogar, levantar o prêmio e participar de um coquetel com os poderosos do time. Bom, eu não jogaria.
Apesar de fazer parte do banco de reservas nesse jogo, jogar contra o Cagliari em fim de comemoração me trazia lembranças muito boas do ano passado, lembranças melhores do que eu estava vivendo em casa. Depois que Alena descobriu – ou melhor, depois que minha mãe contou – que eu estive em Carrara com , o clima lá em casa havia piorado drasticamente. Com ela passando mais tempo em casa, eu precisava dar satisfações até quando tocava o telefone.
Sei que eu não podia tirar a razão dela. Eu me comprometi com esse relacionamento fazendo figas atrás das costas e sabia que essa conta chegaria um dia. Bom, ele chegou, agora eu precisava cumprir com meus votos e com a aliança em meu dedo ou finalmente viver a melhor história de amor que eu tive até então.
Com mais de 40 mil fãs gritando, dois times em campo, um scudetto a ser recebido, essa pessoa fazendo parte da diretoria do time, minha influência e mais uma competição internacional a caminho, eu sabia que precisava calcular muito bem os meus atos antes de agir. Na verdade, acho que sempre foi assim, eu só não colocava isso em prática.
Por outro lado, confesso que às vezes eu pensava se não era aquela pessoa que eu não podia ter. Se isso não era fogo de palha e não sumiria assim que ficássemos juntos. Por decisões certas ou erradas, eu estava em um relacionamento com Alena há sete anos, tínhamos dois filhos, era algo estável. Não perfeito, mas estável.
tinha sido meu primeiro amor de verdade, e me arrependo de ela nunca ter sabido disso, mas talvez tudo isso já tivesse passado e eu quisesse ficar com ela só porque eu não a tinha mais. Era sempre assim, na verdade. Sempre queríamos algo que não tínhamos ou não podíamos ter. A vida dos outros é mais legal, a grama do vizinho é mais verde... A sintonia com a ex é mais perfeita que com a esposa.
Talvez fosse um pensamento errado, mas entre a certeza e a indecisão, eu ficava entre ambos e vivia um relacionamento gostoso com Alena, mas não com a mesma vontade e ânimo que eu tinha qualquer coisa com , e aproveitava nossos momentos sozinhos quando tinha qualquer oportunidade. Eu sei, eu fazia isso, mas era simplesmente inevitável. Era como se um ímã me puxasse para perto dela.
Acho que era por isso que eu odiava ficar no banco, pensava demais e logo mais começaria a entrar em parafuso. Coitada da minha psicóloga quando eu chegava nessas situações. Nem ela deveria entender mais a minha vida. Pelo menos as consultas eram sigilosas e ela não negava atendimento.
Durante meu surto interno, o Cagliari abriu o placar. Foi meio inesperado, na verdade, apesar do campeonato vencido, não dava para fazer esse vexame em casa, não é mesmo? E eu só saí do surto porque o Barza se sentou ao meu lado depois da substituição e esticou a perna para cima, enquanto o médico passava relaxante muscular em sua panturrilha.
- Está tudo bem? – Perguntei.
- Sim, só fisgou. – Ele disse, fazendo uma careta.
- Precisamos de você na Copa das Confederações.
- Nem fala! – Ele disse e rimos juntos.
Ele já tinha se ausentado no jogo da quarta-feira por inflamação no mesmo lugar, esperamos que não fosse mais nada grave.
Depois da saída de Barza, não teve nada que valesse à pena mencionar. No intervalo Conte nem falou muita coisa, o cansaço era visível no rosto de todos e a gente só queria acabar com isso. Isso sem contar que tinha mais um jogo na semana que vem. No segundo tempo, Giovinco deu lugar a Vucinic e esse fez um gol no meio do segundo tempo, finalmente animando a torcida e nós mesmos. A última substituição foi de Quagliarella que entrou no lugar de Matri. Para finalizar pior do que estava, Chiello levou um amarelo.
Empate no dia da premiação em casa, ótimo!
O pessoal voltou animado para o vestiário para se preparar para a premiação e comecei a pensar se eu que estava rabugento e sem muito pique para comemorações, mas não. Conte, Quagliarella, Giaccherini e Chiello saíram do campo bem irritados com o último lance com o cartão de Chiello, mas eu estava avoado demais para pensar nisso.
Cada um seguiu para o vestiário e o pessoal ficou falando sobre as decisões incoerentes do árbitro, eu costumava ser o primeiro a entrar nesse tipo de discussão, mas hoje não. Só me arrumei com o uniforme novo, o mesmo azul usado na propaganda da Jeep e finalmente pude dar uma olhada melhor nele.
Os organizadores entraram e saíram para falar sobre como seria, mas já tínhamos feito isso ano passado. A diferença é que dessa vez não seria Alex que levantaria a taça e sim eu. Isso incluía ser o último a sair do vestiário e foi assim quando começou. As televisões no vestiário mostravam as mesmas imagens da televisão e do estádio e, em um momento, focou no top cinco lá embaixo, me fazendo engolir em seco.
se sobressaía entre os cinco, isso era óbvio. Seus cabelos estavam alisados e o vento fazia questão de jogá-los para todos os lados. Enquanto eles usavam os ternos, ela tinha o estilo descolado do último jogo, a camisa de linha do time, calças pretas, mas os saltos a mantinham mais alta que os outros e mostravam-na se equilibrando entre eles.
Chiello foi o primeiro a sair, visivelmente animado, com isso, a ordem de números se seguiu. Cáceres, Pogba, Pepe, Marchisio, Vucinic, DeCeglie, Giovinco, Peluso, Barzagli, Bendtner, Anelka, Bonucci, Padoin, Pirlo, Asamoah, Vidal, Giaccherini, Lich, Quagliarella, Storari, Matri, Isla, Rubinho e Marrone. tinha razão, acabava sendo mais fácil chamar pelos números.
A equipe técnica saiu do vestiário logo em seguida e sobrou eu e Conte. Não tinha o que dizer e nem por que preencher o silêncio, estávamos felizes, era o que importava. Conte saiu e eu saí logo atrás. Eles fizeram um caminho gigante para chegar pelo caminho da premiação. Pelo menos foi beirando os fãs.
Me apresentaram, fazendo o estádio gritar em me recepcionar e as crianças me recepcionaram animadas. Pepe e Cáceres deram tapas em minha cabeça e ombros quando cheguei no palco montado e subi no mesmo, com um largo sorriso no rosto. Precisava comemorar. Recebi minha medalha e me entregaram o prêmio.
Eu devo ter feito a maior cara de tonto, tudo compensou e sumiu ali. Em cima do palco com a copa scudetto em minhas mãos. Meus companheiros me rodearam e ergui as mãos no ritmo do grito deles, vendo os fogos estourarem para cima. Diferente da Supercoppa, eu não estava com dor nos braços, mas não foi mais que 10 segundos, para eu passar o troféu para outros. Descemos do palco, seguindo em direção à placa para tirar fotos. Giaccherini, Chiello, Barza e Marchisio estouraram champanhe, jogando para todos os lados e o pessoal dispersou.
- Papá! – Vi Lou e Dado desviando das pessoas e correndo em minha direção e me abaixei para receber os dois de braços abertos.
- Ah, meus meninos. – Dei um beijo na cabeça de cada e me levantei com Dado no colo.
- Oi, amore! – Alena se aproximou e dei um sorriso, sentindo-a dar um curto beijo em meus lábios. – Parabéns!
- Grazie. – Sorri e preferi aproveitar o momento. Sabia que muita coisa era do momento, mas ninguém queria criar caso hoje, não é mesmo?
- Vem, amor. – Lena falou para Lou, segurando-o pela mão e passei a mão na cabeça dele.
- Ele não está bem ainda, não é? – Perguntei.
- Está meio enjoado ainda. – Lena disse e eu assenti com a cabeça.
- Vem tirar uma foto. – Chamei-a, vendo o pessoal trocando de lugares para tirar a foto com o prêmio e esperei Bonucci, Martina e seu menino Lorenzo tirarem uma foto e me agachei com minha família para tirar também. Olhamos para todos os lados disponíveis e abrimos espaço.
- Hoje vai ter alguma festa depois? – Alena perguntou.
- Sim, vai. – Falei, suspirando. – Só um coquetel, nada grandioso.
- Não sei se o Lou está bem para isso. – Ela disse.
- Você sabe que eu preciso aparecer pelo menos por alguns minutos. – Falei, tentando evitar de começar a brigar ali.
- Eu sei, só estou dizendo que não vou ficar muito. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Tudo bem, qualquer coisa nos encontramos em casa depois. – Falei.
- Sim. – Ela assentiu com a cabeça.
- Mamá! – Lou a chamou com aquela voz baixa. – Mamá!
- O que foi, amor? – Ela perguntou.
- Mamá! Mamá! – Ele começou a apontar e a pular e eu franzi os olhos, tentando seguir na direção de uma criança de cinco anos e meio.
- Fica perto de mim! – Alena pediu.
- Não, eu... – Ele disse, puxando a mão de Alena e saiu correndo.
- LOU! – Ela gritou mais alto e seguiu atrás dele.
Segui apressado atrás dos dois. Estávamos no estádio, era um lugar fechado e eles tinham crachá identificativo, mas não era para ele sair correndo desse jeito. Andei alguns passos e esbarrei em Alena, vendo-a parada. Segui o olhar na mesma direção que ela e encontrei Lou pendurado nos braços de enquanto ela segurava-o no colo. Soltei um suspiro e foi inevitável não sorrir.
- Queria vir com a , papá. – Ele disse, se aninhando nos ombros dela e eu ri fracamente.
pressionou os lábios em minha direção e de Alena e eu só engoli em seco, nem me atrevi a virar o rosto para o lado. Ela deu um beijo nos cabelos de Louis e parecia confortável com meu filho em seus braços, como se carregasse uma bolsa. Alena parecia travada no seu lugar e eu não sabia o que dizer também. Fugir me parecia uma ótima ideia.
- Ciao, mi amore. – sussurrou para Lou, fazendo-o rir e abraçá-la mais forte e eu suspirei. – Seu filho me encontrou. – disse, visivelmente incomodada também. Será que ela sabia de algo?
- Me desculpe, . Ela saiu correndo, acho que te viu... – Alena disse.
- Não precisa se desculpar. – disse, ainda olhando para Lou.
- Vem com a mamãe, amor. A precisa...
- Não! – Lou desviou o olhar de Alena e eu tentei conter a arregalada nos olhos.
- A precisa trabalhar, amor. – Alena disse.
- Eu não quero. – Lou disse e eu suspirei.
- Ciao, ! – Dado acenou do meu colo.
- Oi, lindinho! – disse para Lou, fazendo uma careta e ele mandou um beijo para ela, vendo-a sorrir. – Que beijo gostoso! – disse e Dado riu, finalmente tirando a mão da boca.
- Vem, amor. Agora já deu. – Alena tentou tirar Lou de , mas ele agarrou os braços e pernas nela e dava para ver suas mãos soltas ao redor do corpo dele. – Louis Thomas, agora!
- Não! – Ele disse e eu suspirei, puxando Alena para perto.
- Por que não o deixamos só alguns minutos? – Pedi baixo, vendo-a me fuzilar com o olhar. – Eles gostam dela.
- Eles não têm culpa dos seus erros. – Ela disse baixo. – Só um pouco, hein?! – Ela voltou a olhar para Lou e se afastou um pouco, indo para perto de alguém.
- Me desculpe por isso. – Falei para que já havia abraçado Lou novamente e tinha sua cabeça apoiada na dele de novo.
- Sobre... – Ela perguntou baixo, virando o rosto para mim.
- Alena, Lou, eu, sei lá... – Falei e ela riu fracamente.
- Não vejo motivo nenhum para pedir desculpas. – Ela disse, sorrindo. – Eu amo seus meninos. – Ela deu um sorriso. – O resto não é problema meu. – Senti a cortada e suspirei.
- Me desculpe pelo peso do Lou, então. – Ela riu fracamente.
- Esse é o único motivo que eu malho. – Ela disse, fazendo Lou gargalhar. – Você está grande, moleque! – Ela falou, estalando um beijo na bochecha dele, fazendo-o rir. – Logo mais não vou poder te carregar mais.
- A gente dá um jeito! – Lou disse e nós três sorrimos.
- Pelo menos ele está feliz, ele passou mal essa noite, vomitou um pouco, estava bem enjoado.
- Só precisava de um abraço da tia para curar, não é mesmo? – Ela brincou no seu tom de voz infantil.
- E um beijo. – Ele disse, nos fazendo rir.
- Ah, claro. Um beijo! – Ela disse sorrindo, dando mais um beijo nas bochechas dele.
- Agora sim! – Ele disse e ri fracamente.
- Safado. – Falei baixo e ele riu.
- A cura tudo, papá! – Ele disse e eu neguei com a cabeça, mudando Dado de braço.
- É, ouvi falar. – Falei e ela riu fracamente.
- Por que você não vai com o papai? – perguntou.
- Ainda não! – Lou disse e sorriu.
- Sua mãe tem razão, amor, eu preciso trabalhar um pouco. – disse, se abaixando e colocando Lou no chão. – Me dá 10 minutos, que tal? – Ela ajeitou a blusa do uniforme que ele usava.
- Quanto são 10 minutos? – Ele perguntou, curioso.
- Está vendo aquele relógio lá no alto? – Ela apontou para o telão que marcava as horas. – Quando ele chegar em 20:53, passou 10 minutos.
- Aí eu posso te encontrar de novo?
- Isso se eu não te encontrar antes. – Ela disse, estalando mais um beijo em sua bochecha, fazendo-o abraçá-la fortemente. – Eu já volto, está bem?
- Tá bem! – Ele disse sorrindo e se levantou.
- Eu posso ir também? – Dado perguntou.
- Claro que pode! – disse, se aproximando de mim e dando um beijo em Dado, apoiando a mão em minha barriga. – Eu estou por aqui. – Ela disse.
- Ok. – Dado disse sorrindo e olhou para mim.
- Pelo menos nesse departamento você fez um ótimo trabalho. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Eu ainda te vejo, não? – Perguntei.
- Claro. – Ela assentiu com a cabeça. – Ainda temos o jantar mais tarde e temos outros compromissos. Não é porque ganhamos que a temporada acabou. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Sim, ouvi falar que temos mais alguns eventos. – Ela assentiu com a cabeça.
- E eu quero vocês lá, representando as cores do time. – Ela sorriu e se afastou devagar, passando as mãos na cabeça de Lou e a vi andar alguns passos, logo parando em Barza e Chiello.
- Acabou a família feliz do comercial de margarina? – Virei para o lado, vendo Lena de braços cruzados.
- Ah, não começa! – Falei baixo, puxando Lou pela mão e segui pelo campo.
Me olhei no espelho, puxando levemente o vestido para baixo e joguei os cabelos para trás. Peguei o baby liss, dando mais uma passada na ponta dos cabelos, vendo ondas mais fixas se formarem neles. Me aproximei do espelho, passando a mão na lateral dos lábios, limpando o batom rosa pink na ponta dele e suspirei. Saí do banheiro e voltei para o quarto.
- Você está um arraso, amiga. – Ela falou e eu sorri, piscando para ela.
- Está óbvio que eu estou sem sutiã? – Perguntei, virando de frente para ela.
- Bom, o vestido tem um decote gigante nas costas, é óbvio sim, mas não parece. – Ela disse e passei as mãos nos seios, afundando os mamilos mais uma vez.
- Você precisa variar nas cores do seu guarda-roupa urgentemente. – Ela disse. – Um vermelho aí ficaria mais linda ainda.
- Não são as minhas cores, meu amor, são do time. E preto é discreto e chique. – Falei, me sentando na beirada da minha cama, empurrando seus pés para baixo.
- Ai! – Ela reclamou. – Já falei que essa casa se tornou minúscula para você? – Giulia falou, jogada na minha cama e colocando os Doritos um a um na boca.
- Já sim e eu sei. – Suspirei, pegando as sandálias e calçando-as.
- Olha isso! Se você trouxer um homem na sua casa, vocês precisam transar no chão da sala. – Ela disse, mordendo o Doritos.
- Eu transava muito bem aqui com o... – Balancei a cabeça. – Esquece.
- Já até sei com quem. – Ela disse e ouvi o estalo dos salgadinhos de novo, me fazendo revirar os olhos.
- Deixa quieto. – Suspirei. – Eu preciso esquecê-lo, Giulia.
- Eu sei... – Ela disse.
- Não, falando sério. – Virei o corpo, subindo uma perna para cama. – Eu preciso, Giulia. Foi horrível no jogo de sábado. Ele e a Alena parecem um casal de propaganda de margarina, sabe? O Lou me ama, mas foi muito desconfortável. – Neguei com a cabeça. – E ele não vai terminar com ela para ficar comigo, não adianta, ele teve dois anos e meio para fazer isso, ele não vai mudar.
- Mas eu te falo isso há anos. – Ela falou.
- Eu sei, Giulia, mas eu acabo indo na dele, nas investidas, Siena mesmo. – Suspirei. – Foi ótimo, mas foi horrível o olhar da família dele sobre mim como se eu não devesse estar lá.
- E não deveria. – Ela disse e eu suspirei.
- Eu sei. – Neguei com a cabeça. – Eu preciso me afastar, Giu. De verdade, sabe? Ter a força de vontade de negar os abraços e beijos carinhosos, as mãos com segundas intenções. Porque ele não está nem aí, mas eu tenho uma reputação a zelar. As esposas e crianças deles gostam de mim, imagina se a Alena fala? Já era minha imagem. – Suspirei. – E relacionamento é tudo no meu posto.
- E como você pretende fazer isso, amiga? – Ela perguntou e eu engoli em seco.
- Me afastar, nem se para isso eu precise me afastar do time. – Suspirei. – Dos compromissos do time.
Ela olhou para mim, mastigando o último Doritos, fazendo o barulho do crocante me irritar e ela amassou a embalagem de alumínio. Ela jogou as pernas para o lado e se sentou na minha caminha de solteiro, se inclinando para jogar a embalagem no lixo.
- Eu te desejo muita boa sorte e força de vontade mesmo, . Por diversos motivos. – Ela disse. – Primeiro: você é linda, poderosa, gostosa e precisa de uma vida pessoal. Alguém que te ame e te valorize. – Suspirei. – Segundo: porque isso já está rodando há muito tempo, real. É ruim para sua sanidade. E a minha. – Revirei os olhos para ela. – E terceiro: minha turnê começa no mês que vem, eu não quero te largar sozinha aloprada de novo por causa de Gianluigi Buffon. – Suspirei.
- Eu sei. – Falei. – Eu prometo que vou tentar. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Eu sei e eu confio em você. – Ela disse, me abraçando pelos ombros e colando sua cabeça na minha. – Agora vai, você tem seu evento para ir. – Ela disse. – Evento para o time, não para Gianluigi Buffon. – Ela disse e eu ri fracamente.
- Eu sei, o Alex vai estar lá, já estou feliz por isso. – Sorri e ela assentiu com a cabeça. – Tem certeza de que não quer ir?
- E ver o Del Piero? Ele me mata! – Ela disse, se levantando, puxando os shorts para baixo e eu ri fracamente.
- Ok, nos vemos mais tarde, então. – Falei. – E você não vai embora antes de eu comprar minha casa nova. – Apontei para ela.
- Já sabe a região que vai comprar? – Ela perguntou e eu finalizei de abotoar as fivelas, me levantando também.
- Aqui em Vinovo mesmo. Villaggio i Cavalieri. – Pisquei para ela.
- NÃO! – Ela pulou, animada. – Você vai comprar uma mansão? – Ela disse animado.
- Eu sei que pode parecer demais, morando sozinha e tal, mas eu preciso pensar no futuro, sabe? Eu ainda quero casar, ter filhos... – Suspirei. – Ou só filhos, baseado na merda da minha vida amorosa.
- Melhor que a minha está.
- Mas aposto que você não tem dor de cabeça.
- Não. – Ela disse sorrindo. – Mas eu topo super a ideia, cara! Você é alguém importante, tem dinheiro para caralho, além dos bônus com premiações e tal. – Ela me olhou. – Eu assino embaixo. – Ela sorriu.
- Você me ajuda a comprar uma?
- A melhor que tiver. – Ela me abraçou de novo e rimos. – Com um quarto para mim, é claro! – Ela sorriu.
- É claro, minha irmã. – Falei e ela sorriu.
- Agora vai, você vai chegar atrasada para sei lá que coisa chata você tem. – Rimos juntos.
- Uma exposição no museu. – Falei.
- Viu? Chato! – Ela disse.
- Vai ficar aqui?
- Eu ia aproveitar o silêncio para gravar alguma coisa, mas acho que vou ver algumas imobiliárias. – Ela disse, sorrindo.
- Uma mansão mobiliada, ok?! – Falei e ela riu. – Sou péssima para decoração.
- Fechado! – Ela disse. – Qual a faixa de preço? – Ela perguntou.
- Não tenho a mínima ideia. – Suspirei. – Mas eu tenho um milhão e 200 mil para investir, não gostaria de limpar, mas também não quero precisar financiar. – Falei e olhei para ela que estava travada.
- Quanto você está ganhando, ? – Ela perguntou, apoiando a mão no meu ombro.
- Atualmente estou em 600 mil euros anual, mas eu ganho bônus a cada novo prêmio ou a cada avanço de fase na Champions. Depende muito o valor, mas só com o scudetto esse valor quase duplica. Ainda teve a Supercoppa e chegamos as quartas da Champions, o patrocínio da Jeep e o novo da Trussardi, é muito...
- Demais! – Ela disse, rindo. – Cara, depois falam que eu sou rica. Não, não, você é rica, eu sou famosa, é diferente. – Rimos juntas. – Você precisa sair desse cubículo urgente, qual é! – Sorri.
- Se lembra quando meu problema era dinheiro? – Virei para ela, pressionando os lábios.
- Parece uma realidade tão distante, não? – Ela disse, suspirando.
- Cadê aquelas duas meninas que jogavam vôlei e sonhavam em ganhar o campeonato estudantil? – Rimos juntas.
- Bem que dizem as coisas mudam. – Ela suspirou. – Deveríamos jogar vôlei esses dias.
- Eu vou tirar umas férias dessa vez, RH me obrigou. – Ela riu.
- Que dia? – Peguei o celular na escrivaninha, procurando minha agenda.
- 30 de maio até 30 de junho. Duvido que eu consiga ficar esse tempo em casa, mas é o tempo.
- Podemos aproveitar isso. – Ela disse, rindo.
- Bom, deixa eu ir. É lá no museu, não é aqui no CT. – Falei, pegando minha bolsa de mão, colocando
- Ih! Acho que você está atrasada. – Ela disse e eu dei um beijo em sua bochecha, peguei as chaves na mesa da sala e saí do apartamento.
Demorei os tradicionais 30 minutos para chegar, mas não precisei procurar lugar para estacionar com minha vaga reservada esperando por mim em qualquer lugar que eu ia nesse time. Saí do carro, ajeitando a barra do meu vestido e já vi o movimento na porta do museu. Diferente de como era normalmente, o espaço em frente ao museu estava ocupado com diversas mesas e cadeiras cobertas, além de um túnel e um tapete que levava para a porta dele.
A exposição que estava inaugurando era “Il lunedì si parlava di cálcio: Agnelli – Juventus: 90 anni di passione bianconera”. Uma exibição que celebrava os 90 anos da associação da família Agnelli com o time que completaria 116 anos em novembro junto com meu aniversário. O pessoal estaria em peso ali, isso era verdade.
Meu horário me informava que eu estava quatro minutos atrasada, mas esperava que fosse um atraso no mínimo tolerável. Passei pelos fotógrafos da porta sentindo alguns flashes sobre mim e dei um curto aceno, não me demorando para entrar.
O museu era dividido em vários corredores, fazendo com que a gente percorresse um caminho quase programado durante a visita. Só que a entrada do museu era a melhor parte de todas. O letreiro Juventus do lado esquerdo era lindo e o longo salão tinha a sala dos troféus e as blusas de todos os jogadores que tiveram algum feito no time. A regra era pelo menos 300 presenças no time, mas quando a pessoa aumentava as presenças ou completava algum tipo de meta importante, ia para ali. Gigi, Chiello, o pessoal mais antigo, todos tinham camisas no mesmo.
- Buongiorno, buongiorno. – Sorria e cumprimentava o pessoal que eu tinha contato mais de vista e me aproximei de Agnelli, Elkann e o resto dos Agnelli. – Buongiorno.
- , você chegou! – Allegra, mãe de Agnelli disse sorrindo para mim e eu abracei a senhora. – Você sempre está linda! – Sorri.
- Como a senhora está? – Perguntei, dando dois beijos em sua bochecha.
- Estou ótimo.
- Andrea, John. – Cumprimentei ambos, recebendo beijos e abraços apertados, e, também, cumprimentei Lavinia, esposa de John.
- Como está, ? – John sorriu e assenti com a cabeça.
- Muito bem. – Disse sorrindo.
- O Alex estava procurando por você. – Agnelli disse.
- Logo vou encontrá-lo. – Falei em um sorriso.
Os jogadores enchiam o local com os ternos pretos do nosso novo patrocinador ainda não oficializado, mas foi fácil saber onde ele estava, era só acompanhar Gigi, Chiello e Barza. E os três estavam próximos ao painel de troféus. Claro que não foi fácil chegar neles. Todos os jogadores que me viram me cumprimentavam com fortes abraços e beijos. Pessotto também estava lá e me cumprimentou, hoje ele cuidava do setor juvenil. Roberto Bettega, uma grande lenda bianconera, conversava com Pavel e Paratici, então também parei para conversar com ele.
Vi Alex escondido atrás de Gigi, devido a diferença de altura, e o goleiro estava agarrado no prêmio. Os quatro pareciam sérios, diferente das gargalhadas deles que eu estava acostumada. Alex estava diferente com aquele terno azul e os cabelos mais cumpridos, mas era o Alex. Ele estava bem de qualquer jeito.
- Eu vou sozinho. – Ouvi Barza falando.
- Ah, queria. – Gigi bufou. – Alena faz questão de ir junto. Estava contando um tempo para ficar sozinho.
- As coisas não estão fáceis, não?! – Alex disse e ergui a mão para acenar para ele. – Ah! Agora sim! – Ele falou mais alto, empurrando os ombros de Gigi e Chiello e me abraçou fortemente, me fazendo gargalhar.
- Ah, capitano! – Apertei suas costas, rindo da diferença de altura. – Que saudades de você. – Suspirei.
- Nem fala, ! – Ele disse, rindo. – Você está tão incrível...
- Comparado da última vez que nos vimos. – Brinquei e ele riu.
- Na final da Coppa Italia, não? – Ele perguntou.
- Naquele jogo horroroso! – Falei e ele riu.
- Como você está? – Ele perguntou.
- Tudo bem, sem grandes novidades. – Dei de ombros. – E você?
- Ah, só muito feliz em estar aqui e ver vocês. – Sorri.
- Como está na Austrália? – Perguntei.
- Ah, bem, na medida do possível... – Ponderamos juntos com a cabeça, rindo em seguida. – Você precisa levar o time lá com a gente.
- Não ache que já não pensamos nisso. – Falei.
- Espero que dê certo. – Sorri.
- Pena que você não vai estar de preto e branco. – Falei e ele fez uma careta.
- Deixa eu te contar um segredo... – Ele aproximou o rosto do meu ombro. – O coração é sempre bianconero. – Gargalhamos juntos e o abracei fortemente.
- Scusi, Signori. Vamos começar com um pequeno discurso para o nosso tour? – O organizador falou.
- Nos falamos depois? – Perguntei.
- Claro! Tem o almoço e depois eu vou ficar aqui uns dias. – Assenti com a cabeça.
- Vamos nos encontrar. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Ciao, ragazzi. – Me aproximei dos outros três novamente, tocando os ombros de Chiello e o braço de Gigi.
- Ciao, . – Eles falaram e eu sorri pressionando os lábios.
Evitei contato visual com qualquer um dos três e dei de costas, seguindo em direção ao pequeno espaço com um púlpito, me colocando próxima ao mesmo, ficando entre Pavel e Paratici e suspirei, vendo John subir ao palco.
Quando me falaram ontem que eu tinha uma sessão de fotos com o resto do time para uma marca de ternos, eu achei que tinha entendido errado. Honestamente, por que precisaríamos de ternos? Certeza de que isso era algum tipo de invenção da . Tirando alguns eventos esporádicos, jantares e coquetéis, nós não usávamos terno. Claro que eu ficava muito bem neles, nem seria tão mal usá-los.
A Trussardi era uma maison tradicional e famosa aqui na Itália, fundada em Bergamo. Eles começaram como fabricantes de luvas, mas atualmente o foco deles era mais em jeans. Não era uma marca tão relevante quanto outras tão famosas marcas italianas ao redor do mundo, mas era uma parceria que combinava com a Juventus, era um negócio de família, feito em família e mantido em família.
Não estávamos acostumados com tantos patrocinadores, ainda travávamos quando precisávamos gravar algo para o canal do YouTube, imagina para essas sessões de fotos grandiosas, mas foi divertido como sempre. Fizemos as medições dos paletós enquanto o pessoal do site gravava com a gente e depois tiramos algumas fotos no jardim da própria maison.
Isso tinha sido ontem, aqui em Milão mesmo. Ficamos por aqui à noite. Agora hoje, aí sim eu me perguntava de quem havia sido a ideia brilhante – note o sarcasmo – de nos fazer servir um café para a imprensa e acionistas que viriam na divulgação da parceria com o time. Eu não fazia um café tão ruim e tinha um bom equilíbrio para o que a minha profissão pedia, mas não para servir pessoas. Isso podia dar mal demais.
Mas sentia que talvez isso fosse o que eles queriam: boas imagens engraçadas nossas enquanto conversávamos com os acionistas e os jornalistas nos enchiam de perguntas incoerentes e desconfortáveis.
No próprio prédio da maison em Milão, eles tinham o Cafe Trussardi. Era um local com vidros na frente que dava um estilo moderno e atualizado em comparação aos prédios clássicos de Milão. Assim que passávamos da porta, tinha a área de recepção, com diversas mesas montadas e, passando para o interno do café, tinha um balcão em formato de U e outro encostado na parede.
A diferença da sessão de fotos e prova das roupas do dia anterior, era que nem todo mundo que estava lá, faria parte dessa pequena confraternização. Seria Pirlo, Peluso, Chiello, Matri, Storari, Bonucci e eu.
- Buongiorno, ragazzi. – Uma mulher muito bonita, ao lado de Angela, falou, chamando nossa atenção. – Eu sou Gaia Trussardi, diretora criativa da marca da minha família e, junto do meu irmão, quero agradecer muito pela parceria com a Juventus. É o nosso time, são as nossas cores, então é muito bom ter duas coisas muito boas juntas. – Nós oito aplaudimos um tanto confusos.
- Grazie. – Angela disse. – O evento de hoje é só uma formalidade, ragazzi. Pensamos que a ideia se vocês fazendo o serviço e interagindo com a imprensa e com os acionistas dê mais proximidade.
- Só não sei se vai dar certo a gente fazer isso. – Matri disse rindo. – Eu sou péssimo para essas coisas.
- Vocês não estarão sozinhos, os baristas e garçons estarão com vocês o tempo inteiro, as máquinas são automáticas, os brioches só precisam ser recheados, e a maioria dos salgados já estão esquentados. – Angela disse.
- Nós simplificamos o cardápio para facilitar as coisas para vocês. – Gaia disse.
- Beh, estamos aqui, não? – Pirlo falou rindo. – Vamos fazer isso.
- É assim que se fala. – Angela disse animada. – Nós vamos dividir vocês em cada posição e logo já começamos. – Ela disse.
- Giuseppe, por favor. – Gaia disse.
- Buongiono, Signori. Eu sou Giuseppe, gerente do Cafe Trussardi. Vamos dividir vocês em algumas tarefas para facilitar a distribuição nos balcões. – O senhor do chapéu de chef falou. – Precisamos de duas pessoas para tirar o café. – Ele disse.
- Eu vou. – Matri disse. – Não deve ser tão difícil. – Rimos.
- Eu vou com ele para ele não faze besteira. – Pirlo disse.
- Pode seguir com o Nicola. – Ele disse e ambos seguiram até o homem que estendeu a mão.
- Um para fazer a spremutta. – Giuseppe continuou.
- Eu vou. – Giorgio disse.
- Pode seguir a Anna. – O chef disse.
- Preciso de outro para fazer o serviço das tortas.
- Eu vou! – Falei rapidamente. – Não vai dar tão errado assim. – O pessoal riu.
- Pode ir com a Anna também. – Ele disse e segui a mulher junto de Chiello. Storari, Bonucci e Peluso ficaram responsáveis de rechear os brioches junto dos outros garçons.
- Vocês podem ficar aqui. – A tal da Anna disse. – Chiellini.
- Giorgio. – Ele disse e ela sorriu.
- Sua responsabilidade é espremer as laranjas e colocar nas jarras, algum responsável pela comida pode te ajudar a servir os copos e colocar na bancada no pessoal, trocando de lugar caso canse. – Giorgio assentiu com a cabeça. – As laranjas estão aqui embaixo, caso acabe, pode pedir para qualquer um de nós que trazemos mais.
- Ok, pode deixar. – Ele falou.
- Sabe usar um espremedor? – Ela perguntou.
- Sim! Isso ainda sim! – Chiello riu, nos fazendo rir.
- Agora...
- Gigi! – Falei rapidamente.
- Gigi, você vai ser responsável em servir as tortas e quiches. – Ela disse. – Elas estão todas aqui embaixo, isso é só para manter quente. – Ela apontou para o aparelho embaixo da mesa. – Elas já estão cortadas, então é só colocar no prato. Coloca o guardanapo, pega o pedaço com o pegador e coloca na bancada. As pessoas vão retirar.
- Tudo bem, parece fácil. – Falei.
- Estarei aqui para auxiliar vocês. – Ela disse.
- Vai ser um desastre! – Peluso falou, nos fazendo rir.
- Vai cuidar do seu brioche! – Falei e ele gargalhou.
- Aqui os aventais e luvas de vocês. – Anna entregou. – Coloque na cabeça e prenda bem forte na cintura. E, Gigi, só cuidado com o cabelo. – Ela disse.
- Tudo bem. – Falei, jogando o cabelo para trás e prendendo a parte que caía com um prendedor antes de colocar as luvas plásticas e o avental.
- Vamos ver o que vai rolar. – Giorgio disse baixo para mim e eu fiz uma careta.
- Eu vou matar a . – Falei baixo.
- Ah, vai ser divertido. – Ele disse rindo.
- Vamos ver! – Falei rindo.
Quando todos estávamos ajeitados, Pirlo e Matri já tinham se queimado o suficiente com a máquina de café e os fãs começaram a descobrir nossa localização, liberaram a entrada do pessoal. Era uma situação estranha. Ser político e fazer a interação com acionistas, mesa diretora e até com a imprensa, mas não enquanto eu servia tortas e quiches.
Pelo menos não era uma atividade complicada.
Alguns acionistas, fotógrafos e jornalistas passavam, pegavam alguma coisa, comentavam outra, mas ninguém parava realmente para conversar. Eu tentava procurar o top cinco com o olhar, mas só tinha encontrado Pavel pelo cabelo e Beppe pela falta dele, mas pela quantidade de homens no ambiente, não deveria ser difícil encontrá-la logo mais.
- Como está aí? – Chiello perguntou, apertando as laranjas no aparelho.
- Sem lambança ainda. – Falei e ele gargalhou.
Uma outra risada se sobressaiu também e virei o rosto em busca da mesma. Ilaria D’Amico, a jornalista da Sky Sports, estava com Matri e Pirlo atrás do balcão do café e eles riram de alguma coisa. Ela era bonita para caralho, isso eu não podia negar. E todos os olhos estavam virando para ela. Bom, quase todas.
- Chiello, quero um suco, por favor. – Ergui o rosto, vendo apoiada no balcão em frente ao Chiello e arregalei os olhos. Ela estava com um paletó azul escuro quase preto, com as mangas arregaçadas e seu decote era fundo, como se ela estivesse sem blusa por baixo.
- E aí, chefa! – Chiello disse sorrindo. – Está bonita, hein?! – Ela riu fracamente e deu a volta ao redor do corpo. Inclinei meu olhar e vi que ela usava short e salto nos pés, além dos cabelos presos em um rabo de cavalo alto.
- Acho que é o café da manhã mais requintado que eu já tive na vida. – Ela falou para ele e ambos riram.
- Espero que esteja gostoso. – Chiello disse, entregando o copo para ela e eles riram.
- É laranja, Chiello, não é para ter segredo. Apesar que aceitaria uma dose de vodca aqui dentro. – Ri fracamente e seu olhar encontrou com o meu. – Ei, Gigi! – Ela disse.
- Chefa. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Não tenho, , mas talvez saiba quem tem... – Chiello disse e eles riram juntos.
- Vidal não está aqui. – Ela disse, nos fazendo rir.
- Ele teria, com toda certeza. – Falei e ela fez uma careta, levando o dedo até a boca, pedindo silêncio e eu sorri. Vidal frequentemente vinha de ressaca para os treinos, não era exatamente novidade que ele tinha problemas com bebidas, pelo menos não para gente do time.
- Acho que essa é a oportunidade de eu desejar boa sorte para vocês na competição. – Ela disse e eu franzi a testa.
- Tem jogo amanhã ainda. – Falei rapidamente.
- É em Gênova, eu não vou. – Ela riu fracamente. – Tenho muita coisa para finalizar antes de tirar férias.
- Vai tirar férias dessa vez? – Perguntei e ela deslizou o copo intocado no balcão até se colocar em minha frente.
- Fui obrigada. – Ela disse rindo fracamente e tentei desviar os olhos do seu decote, mas era impossível.
- Já pensou em ir nos ver? – Perguntei.
- Ano que vem, talvez. Se nada der errado. – Ela disse. – O Brasil é um país lindo, tenho vontade de ver.
- Sim, é bonito mesmo. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Façam uma boa competição, teremos oito representantes.
- Daremos nosso melhor. – Falei e ela assentiu com a cabeça. – Já sabe onde vai aproveitar suas férias?
- Eu vou atrás de uma casa para mim. – Ela sorriu. – Até a Giulia já está criticando meu cubículo. – Ri fracamente.
- Ainda mora naquele apartamento? – Perguntei, franzindo os lábios.
- Ei, não fale mal do meu apartamento! – Ela brigou e rimos.
- E aonde você vai...
- E o Buffon está conversando aqui! – Ergui meu olhar e vi Ilaria se aproximar junto de outras pessoas. – Ah, , não te vi aqui!
- Senhora D’Amico. – disse calma, dando um sorriso simples.
- Como você está? – Ilaria perguntou, se inclinando para dar um beijo em , mas minha chefe esticou a mão.
- Vamos manter no profissional, sim? – disse.
- Ah, claro! – Ilaria apertou sua mão com um largo sorriso, mas se mantinha sem grandes reações. – Vim ver o trabalho do grande Buffon. – Vi arqueando os olhos.
- Não sou mais necessária aqui, então. – disse. – Scusami. – disse e eu queria arregalar os olhos e pedir para ela ficar, mas ela pegou seu copo e seguiu para o outro lado do balcão.
- Que gracinha... – Ilaria disse e pressionou os lábios. – Então, Buffon, o que está servindo aqui? – Ela perguntou.
- Hum... Temos quiche e torta de frango. – Falei, tentando dar um sorriso e ela apoiou as mãos no balcão.
- Eu gostaria de um pedaço de quiche, por favor. – Ela disse sorrindo e eu peguei o prato e o guardanapo para servir um pedaço para ela.
- Aqui está! – Coloquei o prato no balcão.
- Grazie. – Ela sorriu. – E como você está? Como está o fim da temporada? – Ela perguntou e tinha um pessoal em volta dela.
- Tudo bem, nos preparando agora para a Copa das Confederações. – Falei, focando em servir os pratos.
- Temos bastantes representantes da Juventus, o que você espera dessa competição? – Ela perguntou.
- Ah, vai ser uma competição difícil. Será no Brasil, eles estão com uma squadra incrível e a torcida brasileira é bem acalorada. – Falei. – Também teremos Espanha que é a última vencedora do Mondiale e da Euro, Uruguai e México que também são squadri incríveis, então sabemos que não vai ser algo fácil.
- E sobre essa temporada da Juventus? Vocês vieram de uma sequência de vitórias, mas empataram o jogo da premiação...
- Beh, o cansaço acaba pegando um pouco, mas nosso time lutou bastante para fazer uma boa partida para a torcida, mas... – Vi passar um pouco atrás de Ilaria e fazer uma careta em minha direção enquanto apontava para Ilaria, me fazendo sorrir, mas ela seguiu seu caminho sem parar.
- Buffon? – Ilaria perguntou.
- Ah, beh, nem sempre isso é possível refletir no placar. – Falei, sorrindo.
Capitolo quaranta
Estate 2013
Lei
27 de junho de 2013
- Eu vou sentir saudades. – Ele falou baixo, me apertando fortemente e eu suspirei, tentando impedir que mais lágrimas deslizassem.
- Eu também. – Respirei fundo.
- Você entende, não entende? – Ele perguntou baixo.
- Claro que entendo. – Falei baixo, sentindo-o apertar minhas costas. – Eu mais do que ninguém entendo que isso é um negócio, e precisamos nos valorizar para ser valorizados. – Falei baixo e afrouxei meus braços em volta de seu corpo, olhando para Matri.
- Eu ainda tenho um tempo aqui, mas eu precisava vir falar contigo antes. – Ele disse e eu acariciei seu rosto, jogando seus cabelos loiros para trás.
- Você não se preocupe comigo. – Falei com um pequeno sorriso nos lábios. – Só mantenha o alto nível, ok?! Eu vou tentar te trazer de volta para gente assim que possível. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu vou tentar. – Ele disse, sorrindo. – E vá nos jogos em Milão para eu te ver. – Ele apontou para mim e eu ri fracamente, abraçando-o novamente.
- Pode deixar, farei esse esforço por você. – Suspirei, ouvindo-o rir fracamente.
- Eu deixo uma camisa para você depois da Supercoppa, pode ser? – Ele perguntou quando nos afastamos.
- Pode sim. – Suspirei. – Não conseguimos ter nossa casa, filhos e cachorros, mas seja feliz, ok?!
- Você também. – Ele segurou meu rosto com as mãos. – Encontre alguém que te valorize, . Alguém que lute por você, que te coloque sempre em primeiro lugar. – Engoli em seco, entendendo a direta.
- Eu vou tentar. – Sorri.
- Menos o Fabio! – Ele disse rapidamente, me fazendo rir.
- Não se preocupe, só funcionaria contigo mesmo. – Brinquei e ele riu fracamente.
- A gente ainda se vê, certo? – Ele perguntou.
- Sim! Faço questão de te ver ainda antes de te mandar para o inferno! – Ele riu fracamente.
- Ah, nem brinca com isso! – Rimos juntos.
- Não tem nada como a Juve, Matri. Saiba disso. – Dei um pequeno sorriso.
- Como sabe? Já trabalhou em outro time? – Ele perguntou.
- Não, mas a Juve é minha família e não tem nada melhor do que nossa família. – Pisquei para ele, apoiando a mão na minha mesa e ele assentiu com a cabeça.
- Está certo. – Ele disse e sorrimos juntos. – Até mais, chefa. – Ele sorriu.
- Não, agora eu sou só para você. – Ele pressionou os lábios, puxando a respiração e deu um daqueles seus largos sorrisos.
- Va be’, chefa. – Ele disse e eu sorri. Ele acenou mais uma vez antes de sair da minha sala.
Respirei fundo, voltando para minha mesa e eu suspirei, puxando a primeira gaveta e tirando uma caixa de lenços e passando embaixo dos olhos, vendo o risco preto da maquiagem ficar no lenço e suspirei, jogando-o no lixo logo em seguida. Olhei para o contrato de venda de Matri para o Milan e o relógio. Já passava alguns minutos das seis horas.
Peguei um envelope, colocando o contrato e o fechei, selando-o. Olhei para minha agenda, observando os afazeres e ele era o último. Paulo De Ceglie, Emanuele Giaccherini, Nicklas Bendtner, Luca Marrone e Nicolas Anelka também já tinham passado por aqui, mas sempre tinha aquele que eu era mais apegada e Matri era um deles.
Foi irrecusável a oferta que o Milan fez para eles de 11 milhões, tanto para ele, quanto para gente. Não tínhamos como oferecer mais para ele. Ele tinha feito somente 10 gols nessa temporada e Conte reduziu suas aparições, focando mais em Vucinic e Giovinco. Só esperava que ele ficasse bem, continuasse fazendo sucesso e agradecia por ele se manter na Itália, poderíamos nos ver sempre.
Desliguei meu computador, peguei minha bolsa e segui para fora da minha sala, puxando a porta e vi Sara e Enrico se arrumando para ir embora. Caminhei até a sala, levando o envelope até a mesa de Luca e ele entenderia o que precisava fazer amanhã.
- Tudo certo, chefa? – Sara perguntou.
- Sim, tudo certo. – Sorri. – Amanhã recepcionamos Ogbonna e Tevez, e o Llorente fica para daqui uns dias.
- Você deveria estar de férias, . – Enrico falou e eu ri fracamente.
- Eu sei, mas o time chama, fazer o quê? – Dei de ombros. – E Matri é um grande amigo, precisava vir. – Eles assentiram com a cabeça. – Allora, vamos embora? Ver o jogo? – Brinquei e eles riram, finalizando de pegar seus materiais.
- Vamos sim! – Eles falaram, colocando a bolsa e mochila nos ombros e saíram à minha frente da sala. Dei uma rápida checada, vendo se a cafeteira estava desligada e segui com eles pelo corredor.
Seguimos juntos pelo elevador e pelos corredores vazios do time. Nos separamos entre carros e ofereci carona para Enrico até o terminal de ônibus de Vinovo, já que eu passaria no mercado antes de ir para casa. Peguei vários sacos de biscoitos e salgadinhos processados, além de alguns queijos, embutidos e garrafas de vinho e refrigerante e enfrentei uma longa fila de pessoas quem pensaram o mesmo que eu.
Fui para casa e entrei direto no banho, lavando demoradamente meus cabelos e relaxando embaixo da água quase gelada. Saí do banho, enrolada na toalha e passei desodorante e perfume antes de voltar para o quarto. Procurei um novo conjunto de lingerie, coloquei um short jeans e peguei minha blusa nova da Nazionale que eu havia recebido da FIGC há alguns dias. A vesti e voltei para o banheiro para cuidar dos cabelos.
Após penteá-los, voltei novamente para o quarto e peguei minha mochila de viagens. Junto da necessáire sempre organizada lá dentro, juntei uma troca de roupa limpa, pijama e um par de chinelos. Sentei na mesa do computador para colocar meus tênis sem meia e meu notebook acendeu com o movimento.
Virei o rosto para ele e suspirei, sentindo meu peito apertar mais uma vez. As fotos de Gigi, Alena e as crianças em alguma praia do Rio de Janeiro e no Cristo Redentor ainda estavam abertas. Eles estavam felizes, sorridentes, se divertindo como se não tivesse amanhã e eu só consegui suspirar. Eles eram a família perfeita e, apesar de Gigi demonstrar em vários momentos que gostava de mim, ele nunca largaria dela para ficar comigo. Ele era a pessoa mais quadrada que eu já conheci na vida, é capaz de viver de aparências pelo resto da vida antes de fazer algo pela própria felicidade.
Apesar disso, eu sei que sou trouxa, ficava me torturando ao ver as fotos, ao encontrar com ele, ao deixar que as coisas acontecessem, mas agora não. Matri estava certo, eu precisava de alguém que me valorizasse e me amasse com esse passado conturbado estranho. Suspirei e fechei as fotos uma a uma, até encontrar a última, alguns jogadores somente de bermuda, molhados, também na mesma praia. Giovinco, Pirlo, Astori do Cagliari, Leo, Barza, De Sciglio do Milan e Sirigu do PSG. Alguns estavam bem magrinhos, mas o abdome de Barza até que chamou minha atenção.
- Ah, chega de homem casado! – Suspirei, fechando a aba também e abaixei a tela do notebook.
Peguei a mochila e a bolsa e fui para o andar de baixo checando as mensagens de Giulia reclamando da minha demora, enviei que estava chegando e mal esperava ver a cara dela quando eu precisasse ainda atravessar Turim para chegar lá.
Parei em frente à casa de Gio e Fabrizio e toquei a campainha antes de pegar as sacolas com os aperitivos no porta-malas. Nesse meio tempo, Giulia abriu a porta e cruzou os braços ficou batendo os pés enquanto eu pegava.
- Tem mais coisa, viu?! – Falei, dando um beijo em sua bochecha e ela fez uma careta.
- Está atrasada. – Ela disse.
- Eu tive que trabalhar. – Falei.
- Você está de férias. – Ela disse.
- É, claro! Me surpreendo que eu ainda fiquei 25 dias. – Falei, rindo.
- Entra lá, mamãe está esperando. – Ela disse e fiz o que ela pediu, atravessando a porta e já vi os gêmeos largados no sofá.
- Ciao, famiglia! – Falei, animada.
- Oi, ! – Meus meninos de 14 anos falaram e eu mandei beijo de longe, atravessando a sala e entrei na cozinha.
- Oi, gente! – Falei, deixando as sacolas na mesa.
- Oi, querida! – Giovanna disse e sua mãe e Fabrizio sorriram para mim.
- , querida! – A nonna falou.
- Ciao, nonna. – Me aproximei dela primeiro, dando um beijo na matrona da família e depois segui para Gio e Fabrizio.
- Oi, gente! – Beijei ambos também.
- Tudo bom, querida? – Gio perguntou.
- Tudo sim, desculpa a demora, tive que ir ao time. – Falei.
- Não tem problema, estamos preparando umas bruschettas, cortando uns queijos... – Fabrizio disse.
- Diga isso para irritadinha! – Falei e eles riram.
- Ela está dramática que ela vai entrar em turnê. – Gio disse baixo, nos fazendo rir.
- Foi morar em Roma e agora fica de graça. – Neguei com a cabeça, me apoiando no balcão e roubei um queijo da tábua de Fabrizio.
- Ai, ! – Ele disse brincando e eu ri, dando um beijo em sua bochecha.
- Acho que é tudo. – Giulia disse, apoiando o resto das sacolas lá.
- Tem minha mochila! – Falei, andando apressada até ela.
- Mas tem coisa sua aqui, querida. – Gio falou.
- Ah, eu nunca sei o que tem aqui, então trouxe umas coisas. – Falei.
- Você tem um armário, . – Giulia disse.
- Eu tenho uma parte de um armário, não é a mesma coisa. – Falei e eles riram.
- Tem até um quarto aqui, só não usa porque não quer. – Gio disse e eu e Giulia nos entreolhamos, rindo.
- Mas, Gio, eu sou...
- A diretora de contabilidade da Juventus e blá, blá, blá. – Gio disse, desdenhando. – Eu sei, mas vocês ainda são meus bebês. – Ela disse e rimos juntas.
- Os 50 anos estão chegando, ela está dramática. – Giulia cochichou para mim e rimos juntos.
- Está gata, tia Gio! Deixa-a falar! – Disse, seguindo até o carro novamente e peguei minha bolsa e minha mochila antes de fechar tudo e voltar para dentro.
- Vocês querem comer na mesa ou já ficarem na sala? – Gio gritava para o pessoal na porta da sala para cozinha.
- Sala! – Os gêmeos gritaram.
- Podemos jogar algum jogo. – Gianni disse.
- Estou louca para fazer uma revanche no pebolim com a . – Fabrizio disse.
- Ah, ficou tão sentido porque perdeu de mim. – O zoei, ouvindo as mulheres na cozinha rindo. – Eu sei jogar bola, Fabrizio, desiste.
- São bonequinhos, , nem vem! – Ele falou, irritado. – E você não joga nada de bola. – Rimos juntos.
- Ei! Me respeita! – Brinquei. – Eu brinco com os meninos, ok?!
- É, o Gianni dá um banho em você. – Ele disse e ouvi a risada de Gianni da sala.
- Falando disso, as inscrições começam em agosto, vai querer? – Perguntei mais baixo para ele, que suspirou. – Já falei...
- Eu sei! A Juventus pode oferecer coisa melhor para ele. Ele quer, , não vou impedi-lo de crescer por causa dos meus sonhos. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Eu falo com o Pessotto, ele está responsável por isso, vou precisar da fichinha dele do Torino e alguns dados. – Fabrizio assentiu com a cabeça.
- Posso colocar o Pietro também? Ele não sabe se quer seguir, mas gosta de jogar.
- Claro! Mas lá eles nivelam, tá? É bom você falar. O Gianni pode entrar na sub-14, o Pietro seria mais aulinhas extracurriculares. – Fabrizio assentiu com a cabeça.
- Eu falo com eles. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Ok, nos ajudem aqui! – Gio disse.
- Deixa no saco, mãe, vai sujar muita coisa. – Giulia disse.
Ajudei a separar as coisas que todos nós juntamos e Giulia tinha razão, distribuir em potes só ia ter mais coisa para limpar, mas ela queria fazer as coisas bonitas. Era quase oito da noite, ainda tinha uma hora para o jogo. Ficamos comendo besteiras, bebendo vinho e jogando pebolim e dardos até a hora do jogo. Quando deu nove horas aqui na Itália e quatro no Brasil, em uma cidade chamada Fortaleza, a Nazionale entrou em campo.
Era a semifinal da Copa das Confederações. Brasil já tinha ganhado de 2x1 contra o Uruguai e passou para a final. Agora Espanha e Itália se enfrentavam para decidir quem iria e quem jogaria o terceiro lugar.
O jogo foi muito difícil mesmo. Os espanhóis eram os atuais campeões mundiais, mas isso normalmente não queria dizer nada, mas eles com certeza estavam fazendo uma marcação pesada em cima da azzurra. Eles tinham mais chances, mas Gigi estava pronto para o que viesse. Infelizmente, quando nós tínhamos chances, Casillas estava muito bem-preparado do outro lado. Ele e Gigi eram grandes amigos e a imprensa vivia comparando ambos, então a competição era mais de egos. Quem seria o melhor.
Em 90 minutos, o placar não mudou e as unhas começavam a ser roídas, Fabrizio e Giulia começavam a xingar e eu me mantinha agarrada ao meu pacote de batatas e a taça de vinho vazio. Após 120 minutos, o placar também não mudou e só teria uma solução: ir para pênaltis e foi aí que as coisas esquentaram. Eu estava vendo que teria um ataque cardíaco logo mais.
Gigi, Leo, Chiello, Pirlo, Giaccherini e Giovinco continuavam em campo. Barza saiu no segundo tempo com alguma reclamação e Claudio foi substituído no fim do tempo regulamentar. Agora ficaria para eles decidirem.
Do nosso lado foram escolhidos Candreva, Aquilani, De Rossi, Giovinco e Pirlo para bater. Dos espanhóis foram Xavi, Iniesta, Piqué, Ramos e Mata. De todos esses 10 chutes, todos entraram. Gigi não defendeu nenhum e Casillas não defendeu nenhum.
Estava tudo igual. Montolivo foi o sexto escolhido para bater. Ele acertou. Busquets foi o escolhido para bater. Também acertou. Com as opções acabando, a defesa precisou cooperar, Leo foi escolhido e se posicionou na bola.
Acho que nunca pedi tanto por algo em minha vida, mas não adiantou pedir muito. Leo chutou e... Ele isolou a bola. O Leo isolou a bola. O meu Leo. O meu jogador. Eu fiquei incapacitada de falar qualquer coisa nesse momento. O pessoal à minha volta era mais animado e irritado do que eu, mas eu simplesmente não tive reação, só faltava esperar que um milagre acontecesse e Navas errasse ou que Gigi defendesse.
Ambos se posicionaram em seus lugares e eu já sentia a ponta dos meus dedos doerem de tanto morder. Navas chutou a bola e Gigi foram para o mesmo lado, mas a bola entrou. A Espanha ia para a final e a Itália jogaria o terceiro lugar contra o Uruguai. O Uruguai que tinha Cáceres e Cavani de conhecidos. Muslera e Suárez como outros grandes nomes.
- AFFANCULO! – Fabrizio gritou, irritado e eu suspirei. – Três horas para nada!
- Se controla, pai. – Giulia disse. – É pênalti, não tem certo e nem errado.
- Tem sim. O jogador da tinha que errar? Ele errou na Euro também. – Ele gritou, irritado e eu me levantei.
- Se você for levar para o pessoal, as coisas não vão ficar legais, tio. – Falei, séria.
- É a segunda vez, ! Segunda vez! – Ele falou irritado.
- Aí você briga com o Prandelli, não comigo! No time ele é ótimo. – Falei, rindo sarcasticamente logo em seguida. – Abaixa a bola aí, Fabrizio! – Falei, séria. – Ninguém vai ganhar nada com isso. – Suspirei. – Nem eu, antes que pergunte! – Falei firme.
- É, pai! Relaxa, vai. – Pietro disse, puxando-o pela camiseta.
- Eu vou no banheiro. – Ele disse e eu me sentei de novo.
Peguei o celular discretamente e procurei pela conversa de Leo. Fabrizio não estava errado, mas não adiantaria nada criticar Leo, ele já deveria estar se sentindo mal o suficiente. Escrevi rapidamente para ele.
“Tem dias bons e ruins, não perca seu tempo preocupado com isso”. – Enviei e suspirei, guardando o celular no bolso de novo.
- Bom, quem está com fome? – Giulia disse.
- Giulia, é meia-noite, vamos dormir. – Gio disse, nos fazendo rir.
- ?
- Ah, chega para mim, amiga. Eu trabalho amanhã de novo. – Falei, suspirando.
- Ah, vocês são chatos. – Ela disse, nos fazendo rir.
Lui
30 de junho de 2013
Eu sentia que estava exatamente da mesma forma que quatro dias atrás. A única coisa que mudava eram as cores das camisas. Antes vermelhas e amarelas, hoje azuis celestes. Os rostos eram diferentes também, mas velhos conhecidos. Incluindo Cáceres que jogava conosco, isso podia nos dar alguma vantagem contra a parte defensiva do Uruguai, mas também não garantia nada.
A questão era que, quatro dias atrás, nós jogamos contra a Espanha, não tivemos resultados em 90 minutos de jogo, depois não tivemos em 120 e fomos para pênaltis, acabando perdendo porque Leo acabou isolando uma bola. Não que eu esteja jogando a culpa nele, são coisas que acontecem, só estou comentando um fato.
O que me irritava daquele jogo era que tivemos sete batidas de cada lado e eu não consegui defender nenhuma. Se Leo não tivesse errado, ou eles não tivessem errado, capaz de estarmos lá até hoje, pois Iker é um grande goleiro, apesar de também não ter conseguido defender nada.
Mas hoje eu esperava que fosse diferente. O jogo pelo menos já tinha sido.
Nós conseguimos abrir o placar aos 24 minutos com um gol de Astori, do Cagliari. Depois o Uruguai acabou tendo uma chance de Cavani, mas foi dado impedimento, então foi desvalidado. Em seguida, a defesa estava em falta, Leo e Barza estavam no banco, mas consegui fazer duas defesas cruciais que seguraram o jogo pelo primeiro tempo.
No segundo, bobeamos e Cavani conseguiu o empate. Eu tinha certo nervosismo desse cara desde o Napoli, ele era um tanto vingativo, não sabíamos ser assim. 15 minutos depois, ficamos na frente mais uma vez, dessa vez graças a uma falta de Cavani mesmo em El Shaarawy. Diamanti bateu e nos colocamos a frente mais uma vez.
Pena que isso durou somente cinco minutos, já que aconteceu a mesma coisa e eu não consegui pegar a falta, quando a bola subiu demais. O jogo seguiu empatado pela prorrogação e nenhum dos dois times conseguiu alargar a vantagem para acabar com isso logo. Só Montolivo que ainda teve a capacidade de ser expulso após um segundo amarelo, pelo menos estava no fim e ninguém tinha mais pernas para isso.
Depois de tudo isso, suando nesse sol de 15:30 da tarde, pedindo arrego e precisando urgentemente tirar esse uniforme e entrar embaixo da água fria... Sério, de quem foi a ideia de fazer um jogo às 13 horas nessa cidade? Assim, era minha primeira vez no Brasil, mas depois do jogo contra os donos da casa na fase de grupos aqui nesse mesmo estádio às 16 horas, eu pensava quem havia sido o gênio a colocar o jogo mais cedo ainda?
Bom, entre o bem e o mal, estávamos aqui. Isso porque era inverno, mas acho que era algo do país inteiro, ainda mais estando do nordeste do país. Enfim, vamos voltar aqui. Só imaginava como seria o Mondiale no ano que vem.
Eu estava aqui, cumprimentando Muslera, que também era um excelente goleiro, apesar de seu nome não estar frequentemente na mídia, me preparando para as cobranças. Eu precisava fazer diferente do jogo da semifinal. Terceiro lugar não era tão bom, mas ainda era algo. Poder deixar nossa marca na história, principalmente quando só estávamos aqui pela Espanha ter ganho duas vezes e ter espaço sobrando para nós que fomos vices na Euro.
Forlán veio primeiro. Me preparei e esperei a liberação do árbitro. Ele chutou reto, forte, mas quase rasteiro, eu só deixei o corpo cair no chão e barrei a bola.
Aquilani seria nosso primeiro batedor. Eu era tão medroso quanto qualquer coisa em cobranças de pênalti, então eu fiquei de costas. Ouvi o apito e esperei alguns segundos antes de ver alguns torcedores comemorando. Era nosso.
O segundo a bater do Uruguai foi Cavani. Ele pegou bastante distância, então sabia que viria uma bomba. Batida liberada, fomos para lados diferentes. 1x1 com uma cobrança a menos.
El Shaarawy veio em seguida. Apoiei as mãos na cintura, respirando fundo e só comemorei com os gritos. 2x1 para gente. Estava quase lá.
Suárez veio em seguida. Ele tinha certa fama na Europa junto de Messi e Neymar, era um trio de ataque poderoso no Barcelona, mas hoje ele ficou sumido do jogo. Ele bateu e fomos para lados contrários. 2x2 com uma batida menos.
O novato De Scligio, bom defensor do Milan, veio em seguida. Depois de 120 minutos, as opções para pênaltis eram cada vez mais variadas, mas ele se prontificou, então estávamos aqui. O chute foi bom, mas Muslera defendeu. 2x2, mas melhor defender do que errar.
Cáceres veio em seguida. Tínhamos uma ótima relação no time, já tínhamos nos cumprimentado, mas agora era diferente. Ele bateu rasteiro e foi fácil chegar na bola. Tentei não comemorar muito, pela amizade, então me contive, apontando para meus jogadores. 2x2 ainda.
Giaccherini veio logo em seguida. Agora que eu não queria mais ver mesmo. Não pelo Emanuele, ele era bom, mas pelas cobranças em si estarem chegando no fim. Ouvi só o grito da torcida e estava 3x2 agora. Mais uma defesa e conseguíamos acabar antes da última batida.
Gargano veio logo em seguida, ele se afastou pouco, quando isso acontece, a velocidade da bola costuma ser baixa. Ele chutou e meu reflexo me mandou ir para a direita junto com a bola e ela encaixou em minhas mãos, me fazendo suspirar.
Tinha acabado.
Levantei devagar, jogando a bola para o árbitro, ouvindo o apito de fim de jogo e cumprimentei Gargano, mas meus companheiros já pularam em cima de mim, me fazendo abrir um largo sorriso. O pessoal se rodeou em volta de mim, dando tapas em minhas costas e em minha cabeça, me fazendo querer fugir dali, mas isso só fazia os jogadores juntarem mais ainda, me fazendo rir.
Essa vitória tinha um gosto diferente. Era o que diziam: o segundo lugar perde, mas o terceiro ganha, mas eu estava feliz pela minha conquista pessoal, tinham sido três defesas. Três defesas de pênalti e isso era algo que eu deveria comemorar demais.
Na verdade, eu não precisava fazer nada, todo mundo tinha vindo em cima de mim e eu não precisava fazer nada além de sair abraçando todo mundo que eu visse, inclusive jogadores do Uruguai. Muslera tinha feito algo sensacional também e Cáceres era meu amigo, imagino que continuasse no time por mais uma temporada, não era hora para isso.
De Rossi foi o último a me soltar, ele me agarrou pelos ombros e só soltou quando Pirlo o puxou para longe. Barza e Chiellini também se mantiveram perto a todo momento. Eu estava feliz, mas eu estava mais aliviado. Agora era aproveitar o restante das férias e voltar à minha bagunça de sempre.
Só que agora não era hora de pensar nisso. Em nada ou ninguém que me ligasse a Juventus.
Ninguém!
Curtimos nossa vitória com a torcida enquanto o palco era montado e recebemos nossas medalhas de terceiro lugar. Não que fosse a melhor coisa do mundo, mas em duas competições em dois anos havíamos conseguido um resultado bem expressivo. Segundo lugar na Euro e terceiro na Copa das Confederações. Isso me fazia acreditar que ano que vem podíamos realmente passar para as fases finais do Mondiale, depois da eliminação na fase de grupos na de 2010, boa parte pela minha hérnia. Só dependia de como seria a temporada no geral.
Alena me abraçou quando desceu para o campo após a premiação e os meninos pularam em meus braços. Não que eu e Alena estivéssemos nos melhores termos, não. Ela havia insistido em me acompanhar aqui e tinha me colocado na parede mais uma vez sobre , além de me pressionar em toda oportunidade que eu tinha, mas tínhamos tido ótimos momento em família.
Pena que eu sabia que as coisas ficariam tensas assim que voltássemos para Turim. E era inevitável. Eu sabia que meu coração estava dividido. Eu só não tinha certeza.
Voltei para o vestiário e me larguei no meu espaço assim que possível. Eu estava acabado e não tinha mais condições de nada. Prorrogação e pênaltis não eram fáceis, o jogo em si não tinha sido muito complicado, mas o fim sim, a pressão piora o sentimento cada vez mais.
Puxei o celular da mochila à procura de mensagens de uma pessoa. Sabia que meus familiares já deveriam ter mandado também, mas só importava uma pessoa para mim agora e a mensagem estava lá para me aliviar de tudo.
“Hoje vocês fizeram bonito. Suaram, lutaram, mas foram muito superiores. Auguri, ragazzi. Um grande abraço da Juventus”. – Franzi a testa, lendo novamente a mensagem e chequei se eu estava lendo o número certo.
- Recebeu também? – Barza perguntou ao meu lado, levantando o celular.
- ? – Perguntei.
- É! Ela deve ter mandado para todo mundo do time. – Ele disse.
- ? – Leo gritou e assentimos com a cabeça. – Recebi aqui também. Ela já tinha me mandado no outro jogo.
Ela não me mandou nada no último jogo.
- É... Mandou. – Barza disse, seguindo para o fundo do vestiário e eu suspirei, digitando de volta.
“Eu só recebo uma mensagem em grupo? Igual para todo mundo?” – Enviei de volta, esperando que a resposta viesse logo, eram nove da noite em casa.
“Só te tratando como você me trata: como todo mundo”. – Revirei os olhos, suspirando e apareceu outra mensagem. – “Mas auguri, capitano, foi incrível”.
Eu fiquei em uma mistura de choque e sorriso, mas preferi ignorar. Eu não tinha como me defender. Guardei o celular de volta e peguei minha mochila e segui para o chuveiro, à procura de um vazio.
Stagione 2013/2014
Lei
25 de julho de 2013
- Bom, perder do Milan e ganhar do Sassuolo não é exatamente uma compensação, mas...
- Não, foi um desastre mesmo. – Suspirei. – Foi para pênalti as duas partidas, isso não é normal, mesmo com parte do elenco reserva ou novo. – Neguei com a cabeça.
- Eu vou falar com o Beppe e o Conte sobre isso ou você quer...
- Não, pode falar. – Cortei Pavel. – Eu tenho algumas coisas da pré-temporada nos Estados Unidos para resolver ainda, quero já deixar tudo certo para o voo no dia 30.
- Já tem a decisão dos times? – Ele perguntou.
- Everton da Inglaterra em San Francisco, Los Angeles Galaxy em Los Angeles e Internazionale em Miami.
- Ah, são bons... – Ele falou.
- Foi o que eu consegui. – Suspirei.
- Villar Perosa ficou para quando?
- Dia 11, logo que eles voltarem, acho que o voo de volta é no dia sete ou oito. – Falei, procurando entre os papéis da minha mesa.
- Ainda está calmo, , relaxa. Começa a surtar no dia 24. – Rimos juntos.
- Um mês, Pavel. Eu quero o terceiro scudetto di fila. – Enrolei o fio do telefone em meus dedos.
- Vai rolar! As melhores coisas acontecem em três, não? - Ele disse e eu ri fracamente, ouvindo uma batida na porta.
- Pavel, eu preciso desligar, tem alguém aqui. Nos falamos depois?
- Claro! Até mais! – Ele disse e desliguei o telefone.
- Viene! – Falei, vendo a porta se abrir devagar.
- Ei, , podemos conversar? – Franzi o rosto com a pessoa de barba na minha porta e devo ter demorado para eu falar alguma coisa, porque o homem notou.
- Por que todo mundo me olha assim? Ficou tão ruim? – Arregalei os olhos ao reconhecer a voz de...
- BARZA? – Falei surpresa.
- Fala aí, chefa! – Ele disse. – Posso entrar?
- Po-ode. – Falei fracamente, me levantando.
Sabe quando dizem que a barba é a maquiagem do homem? Era totalmente real! O Barza sempre foi um homem lindo, mas ainda tinha cara de menino novo, principalmente quando sorria. Agora essa barba tinha feito-o amadurecer muito mais e ele estava lindo demais! E ele não estava assim na Copa das Confederações alguns dias atrás. O que tinha acontecido?
- Para de me olhar assim! – Ele disse e eu abanei a cabeça.
- Barza, você está... – Suspirei, tentando ser respeitosa na escolha das palavras.
- Estranho?
- LINDO! – Falei, rindo em seguida. – Assim, você sempre foi bonito, mas deu uma bela mudança... Nossa! – Suspirei, sentindo-o me abraçar e ele riu fracamente. – Está um arraso. – Suspirei.
- Grazie, chefa. – Ele disse e eu indiquei a cadeira.
- O que aconteceu? Decidiu mudar? A fama da barba chegou em você também? – Brinquei e ele riu fracamente.
- Ah... – Ele ponderou com a cabeça. – Mudanças, sabe. – Ele riu fracamente, apoiando as mãos em minha mesa. – Fico feliz que tenha sido aprovado.
- Tirou aquela cara de criança. – Sorri e ele riu fracamente, abrindo aquele sorriso bonito. – É, mas o sorriso é o mesmo.
- Ah, , só você.
- Você não estava assim na competição, estava? Auguri, falando nisso. É o terceiro lugar, mas vocês penaram.
- Ah, grazie! A gente recebeu sua mensagem. – Assenti com a cabeça. – E não, mudei depois que voltamos mesmo, tive alguns problemas e é bom renovar. – Ele disse, ponderando com a cabeça e imitei seus movimentos.
- E sua lesão?
- Nada sério. Só estiramento, já estou pronto para voltar. – Ele disse.
- Falando nisso, não esperava você aqui até a semana que vem. Falei para você que poderíamos renovar depois da pré-temporada, não é como se eu fosse deixar outra pessoa tirar você de nós ou tirar você do time. Eu brinco de vez em quando, mas... – Ele riu fracamente.
- É, então, eu acabei encurtando as férias, precisava espairecer um pouco e treinando ajuda. – Ele suspirou.
- Algum problema? – Franzi a testa.
- Ah, alguns... – Ele estendeu sua mão esquerda e só vi a marca mais clara da pele em um lugar onde deveria estar uma aliança.
- Vocês se separaram? – Perguntei, surpresa.
- É, pois é. – Ele suspirou.
- Mas vocês não se casaram no ano passado? – Franzi a testa e ele suspirou.
- Sim, para você ver. – Ele suspirou, relaxando os ombros com força.
- Você parece precisar desabafar, Barza, pode falar. – Disse e ele riu fracamente.
- Ah, a Maddalena sempre teve um histórico de ciúmes. Desde que a gente começou a namorar. Mas era algo saudável, sabe?! Engraçadinho e até excitante, mas depois do casamento as coisas ficaram mais difíceis, me senti sendo guiado em uma coleira.
- Aí você achou melhor...
- Eu pedi a separação. – Ele suspirou. – Eu saí de casa, agora estou tentando me reinventar, pensando o que eu realmente quero fazer com essa relação.
- Sinto muito, Barza. Se tiver algo que eu possa fazer por você, só me falar. Apesar de que você está falando com a pior pessoa sobre relacionamentos na sua vida. – Rimos juntos.
- Você e Gigi? – Assenti com a cabeça.
- Eu preciso parar de ser trouxa, Barza. O Gigi é quadrado, tradicional demais, ele nunca vai se separar para ficar comigo e eu cansei de ser segunda opção. – Suspirei. – Talvez eu precise fazer igual você, seguir em frente, deixar o passado para trás, me valorizar mais e...
- Você é linda, , e uma mulher incrível. Pelo pouco que eu sei da história de vocês, talvez não seja fácil, mas você merece. – Sorri.
- Você também, Barza. – Rimos juntos.
- Bom, vemos que estamos na mesma situação, senhorita , vamos nos ajudar a encontrar nossa felicidade? – Ri fracamente.
- Por favor. – Rimos juntos. – Apesar de que sinto mais como dois amigos na fossa, mas...
- É assim que começa. – Sorri.
- E suas crianças? Como vai ser? – Perguntei, apoiando os braços na poltrona.
- Ainda não entrei com o pedido de divórcio, falamos muito besteira um para o outro quando nos separamos, não quero acabar assim, imagino que ela vá ficar aqui com eles enquanto isso...
- Ela trabalha? – Perguntei, deslizando a cadeira para atrás e abrindo um dos armários. – Acho que só conversamos rapidamente em eventos ou quando você estava junto.
- Hoje não. Ela era modelo fotográfica quando nos conhecemos, mas parou depois que o Mattia nasceu. – Revirei os olhos.
- O que vocês, jogadores de futebol, tem com modelos? – Perguntei. – Pessoas ordinárias também são lindas e incríveis, ok?!
- Eu não gostei dela por isso, foi uma incrível coincidência. – Rimos juntos. – E você não é nada ordinária, .
- Hoje não, mas sabia que eu entrei aqui somente porque o salário era bom? Já tive que escolher qual refeição fazer no dia para economizar...
- Gigi contou sua história para gente meio por alto... – Assenti com a cabeça.
- Minha vida se ajeitou nesse time... – Dei de ombros. – Mas nada veio fácil. – Suspirei.
- Beh, você merece! Você é incrível, . Sério! O trabalho que você faz é sensacional. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Tive bons tutores que confiaram em mim e me ajudaram nesse escalada. – Ele sorriu.
- Ainda bem, porque o time está em boas mãos. – Sorrimos juntos.
- Mas, voltando a Maddy, ela talvez possa voltar a focar no trabalho dela, não? – Ele riu sarcasticamente.
- Até parece... – Ele disse. – Ela talvez prefira a vida de dona de casa.
- Ah, me arrepia pensar em não fazer nada.
- Posso garantir que vocês são bem diferentes. Na verdade, você é bem diferente da maioria das esposas e namoradas. – Ele disse e eu sorri.
- Eu sempre levo isso como um elogio. – Sorrimos.
- E é para levar. – Assenti com a cabeça.
- Vai dar certo, Barza. – Suspirei. – Uma hora dá! – Falei.
- Diga isso para você também. – Ele disse.
- Comigo é um pouco mais complicado... – Ele riu fracamente.
- Você me ajuda e eu te ajudo, que tal? A não fazer nenhuma besteira. – Fiz uma careta.
- Talvez eu precise mais de você do que você de mim. – Ele sorriu.
- Eu estarei aqui. – Ele disse, me fazendo sorrir e percebi o silêncio incomodo enquanto olhava em seus olhos verdes.
- Bom, contrato? – Perguntei, me destravando.
- Sim, vamos lá! – Ele disse e eu peguei a pasta com seu nome na gaveta de jogadores e coloquei-a sobre a mesa, abrindo-a em um estalo. – Boas ou más notícias? – Ele perguntou.
- Deixa eu ver. – Suspirei, passando os olhos pelas anotações de caneta vermelha em cima dos relatórios da última temporada. – Muitos bons, na verdade. – Franzi a testa. – Sua desvalorização foi de quatro por cento, Barza.
- Isso é bom, não?! – Ele perguntou.
- Bom, desde que você entrou no time, sua valorização foi de 50 por cento, desde o desastre na temporada 10/11. A desvalorização começa a descer por conta de várias coisas, idade, lesões, entre outros. Então você ter só quatro por cento de desvalorização é bom demais, Barza. – Ri fracamente. – O problema chega quando a desvalorização é de 50 por cento...
- Aí você vai querer me expulsar do time.
- Talvez não. – Rimos juntos. – Um dia de cada vez, que tal? – Perguntei.
- Ok, chefa. – Ele disse.
- Bom, seu salário vai ter o aumento de sete por cento, mais os bônus dos dois scudetti vencidos, além do repasse das propagandas da Jeep. – Peguei a calculadora, fazendo as contas novamente para ver se batiam com o que eu tinha feito e eu confirmei, fazendo um círculo no número e virei para ele. – O que acha?
- Está ótimo! – Ele disse, me fazendo rir.
- Bom, então não preciso mexer no contrato. – Falei, pegando-o embalado em um saco no final do arquivo e o abri, estendendo a ele. – Se quiser checar.
Enquanto ele olhava os papéis, eu fechei a pasta dele, guardando novamente no meio de meus arquivos e aproveitei para juntar as papeladas da pré-temporada na minha mesa.
- Tudo certo, chefa. – Ele disse.
- Perfeito, então. – Peguei o contrato, seguindo até as últimas folhas e assinei as duas últimas no local do meu nome e virei para ele. – Assine as duas, por favor. – Entreguei a caneta.
- Pronto. – Ele disse, me devolvendo novamente.
- É isso, então, Barza. Você está preso conosco por mais três anos. – Falei e ele riu.
- Depois desse tempo você vai querer fazer contratos anuais comigo. – Ele disse.
- Um dia de cada vez, que tal? – Falei e ele suspirou.
- Va be’. – Nos levantamos juntos. – O pessoal volta amanhã, não?
- Acho que já devem estar chegando. – Chequei o horário rapidamente.
- Preciso me apresentar ao Conte. – Ele disse.
- Fala com o Beppe, ele sabe mais isso. Quer que eu ligue para ele?
- Não, não. Eu vou lá. – Ele disse.
- Se quiser desabafar um dia ou só tomar um café, sabe onde me encontrar. – Falei, dando a volta na mesa e ele riu fracamente.
- Você também. Beber um vinho e falar besteiras. – Sorrimos e o abracei mais uma vez, recebendo um beijo na bochecha.
- Você está muito bonito, Barza. Sério. – Ele riu fracamente.
- Grazie, ! – Ele sorriu. – A gente se vê depois. – Ele disse, seguindo até a porta.
- Sim. – Sorri, acenando com a mão e ele dei um sorriso antes de sumir, me fazendo rir sozinha.
Eu sabia que a temporada já começaria louca com essa super transformação de Barza. Já me dava medo de pensar o que é que aconteceria comigo.
Droga, ! Um dia de cada vez!
Lui
11 de agosto de 2013
- Honestamente? Eu não faço a mínima ideia. – Filippi cochichou para mim.
- Ah, só falta mais encrenca. – Cochichei, cruzando os braços.
- Oh, cara! – Marchisio me bateu no peito.
- Ah! – Reclamei, levando a mão até o local. – Por que você fez isso?
- A temporada nem começou e você já está reclamando? O que está acontecendo?
- Ele está irritadinho desde o Brasil. – Leo disse, rindo.
- Ah, Gigi! – O pessoal em volta começou a gritar e dar tapas e beliscões em mim.
- Ei, ei! Calma aí! – Dei alguns tapas, vendo as mãos se afastarem. – Só não quero dor de cabeça logo cedo. – Falei, cruzando os braços em cima do peito.
- Relaxa, Gigione! Aproveita! – Leo disse, abaixando os óculos escuros. – É Villar Perosa. Pensa que até o fim do dia todos terminaremos pelados. – Franzi a testa e o pessoal gargalhou logo em seguida.
- É, não do jeito que eu queria, mas ainda assim. – Barza disse, fazendo as risadas gargalharem mais alto.
- Ei, parem de graça! – Conte falou. – O presidente da UEFA vai estar aqui hoje, finjam que vocês são educados. – Virei a cabeça para trás, enxergando Filippi na minha diagonal.
- Está explicado. – Falamos juntos.
- Presidente da UEFA, cara? – Barza falou ao meu lado. – O que será que é?
- Será que foi algum convite? Ou é problema para gente logo cedo? – Perguntei.
- Está mais para pressão de sempre logo no começo mesmo. – Ele disse e rimos juntos.
- É, talvez. – Suspirei.
Inclinei minha cabeça para trás, fechando os olhos por mais alguns segundos, mas não deve ter demorado mais do que 10 minutos para chegarmos, pois deu para ouvir os gritos dos torcedores que rodeavam a Villa Agnelli. Por estarmos um pouco mais à frente, fomos um dos primeiros a sairmos do ônibus e demos alguns passos mais rápidos até passar dos portões.
- Podem seguir o pessoal. – Um dos seguranças que estavam na porta falou e eu olhei para frente, vendo algumas pessoas um pouco mais à frente.
Reconheci de cara parte do top cinco, top quatro, na verdade, Agnelli não estava com eles. As pernas de e os cabelos loiros de Pavel eram duas coisas facilmente identificáveis, mas se não fosse isso, a risada alta de realmente a denunciava.
Eles andavam mais rápidos do que nós, seguindo em direção ao grande sobrado, mas isso só me fazia pensar que eu não a via desde o fim da temporada. Uns três meses, na verdade. Ela estava naquele evento estranho da Trussardi e não lembro de ter me despedido antes de ir embora. Acabei ficando distraído com a imprensa em cima de mim. Fazer duas coisas ao mesmo tempo era complicado.
O top quatro sumiu logo em seguida, mas o alcançamos algum tempo depois quando chegamos no jardim da Villa Agnelli. Diferente das outras vezes, onde todo mundo se acumulava na grama mesmo, dessa vez eles estavam no coberto. E quando eu digo eles, dizia John Elkann, Andrea Agnelli e Michel Platini, presidente da UEFA.
- Gigi. – John me cumprimentou primeiro e eu passei pelos três.
- Buongiorno. Buongiorno. – Falei, passando por eles e vi o restante do pessoal um pouco mais afastado e somente ergui a mão para eles. Os quatro me deram acenos com a cabeça e segui para o canto, esperando que todos os jogadores cumprimentassem as três pessoas importantes e se aproximassem de nós.
Tirei a caixa com medalha da Copa das Confederações do bolso e mexi com ela na mão. Tinha concordado em doá-la para o museu para deixar em exposição por algum tempo. Virei o rosto para , vendo-a mais interessada no seu celular do que Beppe falava para ela. Os olhos estavam no celular, mas seus lábios se moviam devagar.
- Buongiorno, ragazzi. – John falou, nos desviando. – Sejam bem-vindos a nossa casa...
John fez seu clássico discurso de boas-vindas que servia basicamente para o pessoal novo. Eu ainda me lembrava desse discurso desde a primeira vez que eu vim aqui em 2001, 12 anos tinham se passado e o discurso ainda era o mesmo.
- É especial, porque aqui somos uma família. – Ele finalizou e acabei puxando os aplausos.
- Estamos começando mais uma temporada e estamos no topo. E como uma amiga minha diz... – Agnelli virou para . – Quando estamos no topo, só tem um lugar para irmos, para baixo, mas também podemos permanecer no topo e subir alguns degraus. – Agnelli disse. – Estamos no topo da Itália, mas podemos subir e ficarmos no topo da Europa também. – Ele falou. – Vamos fazer isso, continuar vencendo e acumular mais vitórias. – Ele foi mais breve que Elkann, mas também não tivemos grandes novidades em seu discurso.
- O Gigi trouxe algo para o museu, não? – Elkann disse.
- Sim! – Me despertei e levei a medalha até ele.
- Cuidaremos bem dela. – Ele falou e eu o cumprimentei, batendo sua mão na minha.
- Vamos tirar esse momento para relaxar, antes de irmos para o jogo. Fiquem à vontade! – Agnelli disse e o pessoal começou a dispersar.
O pessoal foi direto para a mesa se servir do café da manhã e eu fui logo atrás. Peguei uma xícara e me servi de café na máquina. Peguei também um panino recheado. Olhei em volta e me aproximei do pessoal de sempre, meias e defensores. Me joguei no canto de um dos sofás, ao lado de Pirlo e beberiquei aos poucos o café quente enquanto engolia o lanche com rapidez.
- Ciao, ! – Ouvi algumas vozes e ergui meu olhar, vendo-a acenar com a ponta dos dedos para o pessoal mais novo.
- Buongiorno, ragazzi. – Ela disse, se colocando ao lado de Asa e apoiando o braço em seu ombro.
- Ela adora fazer isso. – Marchisio disse.
- Eu sou o apoio dela. – Asa disse e eles riram.
- Me desculpa. – disse rindo, abaixando o braço e abraçando-o pelos ombros. – É força do hábito! – Ela abaixou o copo, sem forças mais para erguer o braço. – Eu preciso compensar os pés. – Desci o olhar pelas suas pernas, vendo-a de salto mais uma vez. – É mais fácil fazer isso no pessoal mais baixo. Imagina se eu invento de fazer isso no Rubinho? – Ela apontou para meu reserva que estava do seu lado.
- Que tal se a gente te levantar, chefa? – Storari disse.
- Ah, não inventa, Marcone. – Ela disse, mas ele passou os braços pelas pernas dela e a ergueu. – Ah! – Ela gritou, inclinando o corpo para frente. – Eu vou cair! – Ela disse, apoiando as mãos nos ombros de Chiello na frente. – Marcone, me coloca no chão! – Ela disse.
- Ah, qual é, que mal pode acontecer? – Ele brincou.
- Além de eu dar de cara no chão? – Ela disse brava e dava para ver seus braços e suas mãos tensionados.
- É, além disso. – Ele disse.
- Fica firme aí, . – Chiello disse.
- Eu estou, mas está dando cãibra. – Ela disse, rindo, abaixando os braços e abraçando Chiello pelo pescoço.
- Solta ela, cara. – Barza disse, rindo.
- Ai, devagar! Devagar! – disse rápido quando Marco desceu o corpo e colocou seus pés no chão, mas manteve as mãos presas em Chiello.
- Está tudo bem aí? – Ele perguntou.
- Não! – Ela gemeu baixo, rindo sozinha. – Ai, não faz mais isso. – Ela disse baixo, abrindo e fechando as mãos constantemente.
- Está fraca, hein, chefa? – Marco brincou.
- Só não te dou um tapa, porque eu não consigo sair daqui. – Ela disse, nos fazendo rir.
- Eu vou jogar, , você sabe disso, não? – Chiello disse.
- Acho que eu vou junto para substituição. – Ela disse.
- Ah, vai dar certo. Sobe aí! – Ele disse.
- A saia não permite. – Ela disse.
- Ok, vamos improvisar! – Ele disse, puxando seus braços mais para baixo, fazendo-a tirar os pés no chão e ele saiu com ela, dando alguns passos. – Ah, Chiello!
- Só fazendo um teste. – Ele disse e ela finalmente soltou as mãos dele, fazendo-os rirem.
- Funciona! – Ela disse, dando dois tapinhas nas costas dele e endireitou as costas, esticando os braços para cima, onde ouvimos alguns estalos.
- Ah! – Um pessoal reclamou.
- Ah, vocês são muito frescos. – Ela disse, fazendo de propósito o barulho ao estralar os dedos das mãos de uma vez só.
- AH, CAZZO! – Pogba disse alto. – Não faz isso, chefa! – Ele disse igual criança birrenta e as risadas aumentaram.
- Vocês são impossíveis. – Ela revirou os olhos. – Eu vou ali com o pessoal menos fresco. – Ela apontou em direção aos atacantes.
- Isso, vem com a gente! Nós somos legais! – Quagliarella disse.
- Caham! – Forcei a tosse. – Desculpa, você estava dizendo? – Brinquei, ouvindo algumas risadas.
- Isso é inveja, hein?! – Ele passou os braços pelos ombros de .
- Vocês todos são impossíveis. – Ela disse, revirando os olhos. – É o quê? Começo de temporada? – Ri fracamente.
- Ah, relaxa, chefa, a gente só faz isso porque te ama. – Matri disse e ela negou com a cabeça.
- Eu sei, esse é o perigo. – Ela disse, bagunçando os cabelos do loiro, fazendo mais risadas estourarem. – Eu vou pegar um café enquanto vocês se preparam para o jogo. – Ela disse, rindo, se afastando dos braços de Quagliarella e olhou para nós. – Eu ainda não me acostumei. – Ela apontou para Barza, nos fazendo gargalhar.
- Acho que ninguém se acostumou. – Comentei e ele passou a mão no queixo rindo.
- Pelo menos a aprovação foi positiva. – Ele disse, negando com a cabeça e me distraí com seguindo de volta para o coberto, ajeitando saia na cintura.
Lei
13 de agosto de 2013
Quando eu tinha 16 anos, como todas as pessoas da minha idade, eu tinha diversos sonhos. Passar em uma faculdade, ter um grande emprego, conhecer o mundo, namorar, casar, e tudo bem similar ao que todas as pessoas dessa idade têm. Mas, devido a minha realidade, eu sabia que não podia ter sonhos muito grandiosos. Não podia sonhar em conhecer o mundo sem sair de Nápoles primeiro, não podia passar em uma faculdade, se eu não me sentisse livre, não podia namorar ou casar sem que eu saísse de casa.
Acho que foi tudo isso que me fez decidir pela escolha mais difícil da vida: fugir de casa e viver por conta. Tive muita sorte em fazer amizade com a Giulia e sua família me acolher como sua, mas ainda assim, fazer essa escolha de primeira, ter essa pulga colocada na orelha, ir embora sem dizer adeus e somente com uma passagem de ida, não foi fácil. É algo que tira a gente de rumo, pensar que você não vai poder contar com ninguém, que você estará sozinha no mundo, é loucura!
E, por isso, meus sonhos acabaram sendo simples: viver. Qualquer tipo de conquista que eu tivesse na vida, eu prometi para mim mesma que valorizaria da melhor forma possível. Seria muito grata a quem me desse essa oportunidade e, principalmente, a Deus e meus pais que garantiram minha segurança lá de cima desde o começo da minha decisão. No começo foi difícil, os primeiros meses, antes das aulas começarem, foram sofridos, tive ansiedade, quase entrei em depressão, mas conforme eu fui conhecendo as pessoas, conhecendo a cidade, o mundo foi se abrindo para mim.
Só não achei que se abriria tanto assim.
Ser estagiária na Juventus? Sensacional! Um salário que era o dobro do que eu ganhava no mercado perto de casa? Loucura! Mas eu pensei que seria isso. Agora ser diretora de contabilidade, a terceira pessoa mais importante do maior time da Itália? Ganhar mais de um milhão de euros por ano? Conhecer diversos países? Ir para Dubai e para China? Isso nunca nem passava pela minha cabeça.
Essa nova vida me permitiu, e permite, diversas coisas. Nunca pensei que chegaria nesse ponto. Talvez abrir um escritório de contabilidade fosse o maior sonho da minha vida, encontrar alguém tradicional, talvez mediano no sexo e viver assim pelo resto da vida? Ok, estamos indo para outro caminho, mas não podia reclamar que quando eu transava, eu transava bem demais. Com um homem casado, mas... Ah, deixa para lá.
Voltando na história de realizar vários sonhos e desejos, eu realmente não sabia qual seria o limite dessa minha vida. Se é que tinha limite, Giorgio, meu antigo chefe, ficou 30 anos no time, eu podia ficar também, só precisava continuar fazendo o ótimo trabalho.
Mas em todos os meus sonhos pequenos ou grandes, sempre teve uma coisa que eu nunca pensei que eu pudesse realizar: ir ao Vaticano. E quando eu digo “ir ao Vaticano” eu me refiro a parte interna do Vaticano, não somente às partes turísticas como a Piazza de San Pietro ou a Cappella Sistina. E era exatamente onde eu estava entrando agora.
Devido ao amistoso entre Itália e Argentina amanhã, o Papa Francisco, que havia sido nomeado há pouco mais de um mês novo chefe da Igreja Católica, argentino e fanático por futebol, faria um jogo e, com isso, uma reunião entre as duas Nazionali, daria sua bênção, teria um pequeno coquetel depois e uma coletiva de imprensa. Devido a tudo isso, o representante de cada time dos jogadores convocados, foi convocado para participar desse encontro. Agnelli não queria envolver futebol com religião, Pavel seguia outra religião, então eu estava feliz demais quando o carro estacionou em frente a construção clássica dentro do Vaticano.
Tinha sido difícil me vestir para esse evento. Eu sempre acabava optando por preto e branco que são as cores do time, mas não me importava de estar sensual, os homens sempre olhavam primeiro para minhas pernas e seios antes do meu rosto antes, para que esconder? Agora eu não podia vir assim em uma visita com o Papa, não é mesmo? Acabei optando por um vestido mais fechado, de meia manga e um pouco abaixo dos joelhos. E, obviamente, preto.
Um senhor com vestes religiosas – é assim que fala? – me indicou para a entrada e outro me recepcionava, olhei rapidamente pela porta e vi somente um longo corredor completamente decorado com pinturas e mármores lindíssimos.
- Buongiorno, signorina. Seu nome?
- , Juventus. – Falei e ele checou na lista.
- Benvenuta. – Ele indicou a entrada e passei por ela, segurando minha bolsa junto ao corpo com as duas mãos.
Andei devagar pelo local, dando uma rápida olhada em volta, mas seguindo as pessoas que andavam em minha frente. Os quadros, as pinturas, os símbolos sacros, tudo era incrivelmente bonito. Eu sempre tive grande aproximação com a igreja, meus pais me batizaram, eu frequentava sempre que podia, não sempre por causa dos compromissos ao clube, mas sempre reservo parte do meu dia para conversar um pouco com meus pais e com Deus, mas isso era algo totalmente diferente.
Virei no corredor, passando por um portal e engoli em seco, finalmente encontrando o pessoal. As duas Nazionali estavam ali, além de vários representantes de times, presidentes, vice, diretores de contabilidade assim como eu.
- . – O presidente do Milan foi o primeiro a me cumprimentar e eu assenti, esticando a mão para cumprimentá-lo.
- Tudo bem? – Sorri e cumprimentei os outros dois com ele. Inter e Roma, se eu não me engano.
- Tudo ótimo. – Notei os olhares nada discretos pelo meu corpo e encerrei a conversa, seguindo pelo local.
Passei pelo corredor do centro, que separava suas fileiras de cadeiras e acenava e desviava do caminho para cumprimentar os outros administradores importantes dos times. Muita gente eu não fazia ideia quem era, mas se me cumprimentasse, fazia questão de cumprimentar também. Quando estava no meio do corredor, vi um rosto se destacar no meio dos jogadores. Um rosto, não. Vários, na verdade, que foram surgindo conforme sabiam da notícia de minha chegada. E não era somente Gigi, Leo, Barza, Chiello, Pirlo, Marchisio e Giaccherini, outros rostos também apareceram.
Claudio esticou a mão, me chamando com a ponta dos dedos e eu tentei manter a feição serena enquanto seguia na direção deles. Minha vontade era de revirar os olhos. Parei alguns segundos para cumprimentar Cesare Prandelli, técnico da Nazionale, que eu já tinha conhecido em algumas oportunidades quando ele ia assistir jogos da Juventus e vi a turminha de sempre sorrir para mim quando eu parei próximo à rodinha deles.
- Buongiorno, ragazzi. – Falei, com um sorriso no rosto.
- Ei, chefa! – Eles falaram e passei um a um, inclusive por Gigi, dando um beijo na bochecha deles, além de outros dois conhecidos parcialmente desconhecidos.
- Daniele De Rossi e Davide Astori, certo? – Cumprimentei os últimos dois que pareciam curiosos demais com a minha chegada.
- Sim! – Eles falaram, sorrindo.
- Eu te conheço, não? – De Rossi, da Roma, falou.
- , diretora de contabilidade da Juventus. – Falei, sorrindo.
- Ah, eu lembro de você! – Ele disse. – Quando fomos treinar em Turim, mas você não era diretora, era?
- Naquela época ainda não. – Franzi a testa. – Estou surpresa, acho que não conversamos...
- Ah, você é a garota do Gigi e... Ah! – Meu goleiro beliscou seu braço. – Cara! Doeu! – Ele disse, fazendo o pessoal em volta rir.
- Aqui não, cara. – Gigi sussurrou.
- Aqui, nem nunca, eu espero. – Dei um sorriso para Gigi e virei para De Rossi. – Essa definição nunca existiu. – Falei para ele.
- Ai! – Leo disse, fazendo uma careta. – Essa doeu.
- Bom saber. – De Rossi disse, rindo.
- O que veio fazer aqui, ? – Gigi perguntou já emburrado.
- Me perdi dentro da Cappella Sistina e acabei encontrando vocês, olha que coincidência! – Falei e ouvi Barza e Chiello gargalharem, e a feição de Gigi não mudou. – É óbvio, não? – Ri fracamente, dando de ombros.
- Está bem engraçadinha hoje, não? – Gigi disse e eu dei de ombros.
- Eu vim só acompanhar o encontro e o jogo como representante do time, não se preocupem. Não vim por vocês. Vim por causa da Federazione. – Falei, trocando a bolsa de lugar.
- Ah, menos mal, estava esperando você me pegar pelo pescoço de novo. – Leo disse e eu ri fracamente.
- Tem motivo? – Olhei para ele.
- Eh... Não? – Ele falou fazendo careta e eu ri fracamente.
- Isso já aconteceu? – Barza perguntou e eu pressionei os lábios, dando de ombros. – !
- Ei! – Virei para ele. – Pergunta para ele o que ele fez. – Falei, sabendo que tinha ultrapassado os limites de birra.
- Deixa para lá. – Leo disse e Barza negou com a cabeça.
- Bom, senhores, vou encontrar um lugar, nos falamos depois.
- Claro. – Eles falaram e voltei pelo corredor.
Voltei pelo corredor, vendo alguns jogadores da Nazionale argentina e somente acenei com a cabeça. Além de Messi do Barcelona, eu conhecia Mascherano, Higuaín, novo contratado do Napoli e Di Maria do Real Madrid. Me sentei do lado italiano e não demorou muito para que outros tomassem seu lugar.
O Papa Francisco entrou alguns minutos depois, sendo recepcionado por aplausos nossos e ele se colocou no centro entre as duas fileiras. Eu tinha noção do que era ver o Papa da janela dos aposentos dele, estando no meio da Piazza San Pietro. Não que já tivesse acontecido, vim poucas vezes para Roma, mas somente uma para turismo e não tinha dado sorte, mas sabia o quão incrível era. Agora imagina estar há menos de 10 metros do líder de toda Igreja Católica? Para quem é católica, era uma situação emocionante.
- Buongiorno! Buongiorno. – Ele nos cumprimentou quando os aplausos cessaram. – Eu os convidei aqui hoje para um amistoso sempre a minha Nazionale do coração e a minha Nazionale do meu novo lar. – Ele disse em italiano, esperava que os argentinos tivessem como entender.
Ele seguiu seu discurso falando da importância desse jogo, quase como um “amistoso do Papa” e depois chamou os capitães de cada Nazionale – Gigi e Messi – para entregar uma Oliveira da Paz, uma planta que representaria a paz entre os times amanhã durante o jogo. Seu discurso não durou mais do que 10 minutos.
Gigi entregou uma bola autografada pelos jogadores da Nazionale e Messi entregou um tipo de flâmula da Argentina. Os dois times se juntaram para tirar foto com o Papa e aí era a hora dos cumprimentos. Vi primeiro os italianos o cumprimentarem um a um, depois os argentinos. Após isso, o restante dos convidados seguiu para cumprimentá-lo.
Engoli em seco quando me levantei e movimentei o corpo discretamente para o vestido deslizar pelo corpo e segui por entre as pessoas para ter o imenso prazer de cumprimentar o Papa. Eu tinha estudado no hotel como fazer isso. Atualmente se deveria dar um beijo em sua mão, mas observando como outros jogadores estavam cumprimentando-o, imaginava que não seria muito bem isso. Eles somente deram um aperto de mão, o mesmo que eu havia dado para qualquer um deles.
- A senhorita , ela é a representante da Juventus, o time atual campeão do campeonato italiano e da Supercoppa. – O assistente disse para o Papa e ele estendeu a mão para mim.
- Vossa Santidade. – Falei, apertando sua mão levemente e fiz uma flexão com a cabeça.
- Signorina. – Ele deu um pequeno sorriso. – O que a senhorita é da Juventus?
- Diretora de contabilidade. – Falei, realmente confusa se deveria fazer contato visual ou não, mas ele fazia questão de fazer tal contato. – Responsável por todas as transações monetárias e contratações de jogadores.
- Ah, muito importante. – Ele disse e assenti com a cabeça. – Temos jogadores da Juventus aqui, não? – Ele cochichou para seu assistente.
- Sim, seis jogadores, inclusive o capitão Gianluigi Buffon. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- É um prazer, signorina. – Ele disse e eu fiz mais uma flexão, antes de sair da frente dele.
Assim que virei de costas, soltei a respiração fortemente, sentindo meus ombros doerem de tanta tensão. Junto a isso, meus olhos ficaram embaçados e eu tinha perdido até o rumo depois disso. Levei a mão até o pescoço, sentindo minha pele até um pouco quente e me aproximei de Chiello e Barza.
- Está tudo bem? – Chiello perguntou e eu suspirei.
- Sim, está. – Assenti com a cabeça, dando um pequeno sorriso. – É só que eu nunca imaginei isso na minha vida. – Falei, pressionando os lábios e ambos sorriram.
- Me parece que você se vê diferente do que você realmente é. – Barza disse, tirando o lenço de seu paletó e me estendendo.
- Grazie. – Falei, passando-o próximo dos olhos. – Eu cresci sem nada, Barza. Estar aqui é algo grandioso. – Suspirei.
- Mas você tem um posto grandioso, . Essas coisas acabam vindo. – Ele disse e Chiello inclinou o rosto para perto do meu ouvido.
- Ele tem razão, sabe? – Ele disse e eu ri fracamente, apoiando minha mão em seu braço, sentindo Chiello me apertar pela cintura.
Lui
18 de agosto de 2013
Quando o apito finalmente foi soado, nós já estávamos comemorando há 34 minutos! Talvez antes disso, na verdade. Ganhar de 4x0 da Lazio não era algo que nunca esperávamos, talvez 4 a alguma coisa, mas nunca 4x0.
Pogba abriu o placar aos 23 minutos após uma cobrança de falta de Pirlo. Andrea chutou lento para Lich, Lich mandou para o centro da grande área e Pogba só a colocou dentro do gol. Tivemos algumas desvantagens em alguns momentos, mas eu e nem os defensores tivemos dificuldades de afastar o perigo.
No segundo tempo, voltamos com a confiança mantida. Chiello alargou o placar aos 52 minutos. Em uma cobrança de escanteio do meu lado, Pirlo mandou para longe e passou para Vidal, Vidal viu Lich e ele e Chiello correram juntos, com Tevez um pouco atrás, contra um defensor da Lazio. Lich fez o passe e Chiello também só colocou-a no gol.
Dois minutos depois, Lich quis fazer o dele. Na verdade, ele praticamente fez o gol e a assistência. Pogba distribuiu, Lich recebeu. Ele correu em direção à área e fez um passe para Vucinic que acabou recuando para trás e encontrando Lich. Lich estava sozinho com Marchetti e foi gol.
Tivemos gol de novatos também. Tevez, que estava conosco há cerca de um mês, há 18 dias comigo, pois voltei mais tarde, também decidiu mostrar para o que foi contratado. Eu fiz a saída de bola e passei para Leo. Leo passou para Asa do lado esquerdo, esse recuou para Chiello, Chiello alargou para Vidal, Vidal passou para Vucinic, Vucinic recuou e encontrou Lich que fez a defesa. Marchetti defendeu, mas Pogba estava pronto para fazer o rebote. Marchetti defendeu de novo, Pogba então recuou e passou para Tevez que explodiu na rede.
Não tinha como ficar mais feliz. Foi limpo, foi simples, acho que só três cartões, sendo um para nós. Era uma competição menor, mas vencer era um ótimo jeito de começar a temporada, dar um gás para conquistar mais um scudetto e o que mais que viesse.
- Estamos aqui com Gigi Buffon... – O jornalista da RAI falou assim que parei na frente da tela dos patrocinadores, ainda respirando fundo e passando as mãos nos cabelos molhados. – Que festeja o quarto troféu com a gestão Conte... – Ri fracamente. – E o seu é o quinto...
- Sim, quinta Supercoppa. – Falei, olhando o pessoal se acumulado do lado de fora do campo.
- Só seu...
- Pentacampeão. – Falei, rindo.
- Pentacampeão de Supercoppa. – Rimos juntos. – Gigi Buffon, mais um feito incrível. Uma vitória que manda para longe todas as dúvidas e perplexidade sobre a Juventus. O primeiro momento que a Juventus mostrou suas cores.
- Essa noite foi assim, mas foi assim pela grande squadra, pelos grandes jogadores, grandes jogadores se veem aqui, não em turnês na América, China e Japão. Jogadores se veem assim, quando vencem. – Falei, passando a mão no rosto.
- Uma das caras da Juventus é o Conte, isso se mantém ainda?
- Sim, claro. Vejo que isso tem um valor para gente muito suado, todos os jogadores, equipe, têm esse triunfo, e isso é atribuído a ele, mas também a nós. – Disse.
- Para finalizar, Gigi, é o primeiro prêmio que vocês comemoram perto dos fãs.
- Sim, sim, foi um prazer, é o primeiro troféu que festejamos em uma única partida com nossos torcedores, foi uma experiência nova. Dai. – Disse, acenando com a mão.
Troquei de lugar com Conte, dando um tapinha em suas costas e segui pelo campo, abraçando Chiello e Barza pelos ombros. Já tinha passado por quase todos os jogadores no meu caminho para a entrevista. Agora todos estávamos acumulados próximo ao palco montado, esperando a entrega das medalhas. Vi os jogadores da Lazio e segui cumprimentando-os um a um, abraçando o goleiro Marchetti.
Voltei para meu lugar quando os árbitros começaram a receber as medalhas e nos aproximamos devagar em fila. Eles receberam, depois a Lazio, depois chegou nossa vez. Eu fiquei por último com Conte para receber minha medalha e erguer o troféu. Desviei meu olhar para o outro lado do palco e estava lá com o resto do top cinco, com um largo sorriso no rosto, os braços cruzados e os pés equilibrando em cima dos saltos.
Subi no palco, cumprimentando o presidente da Supercoppa e outros dois que eu não me lembrava se eu sabia quem eram e inclinei a cabeça para receber a medalha. Meus colegas começaram a gritar e bater nas laterais do palco e eu coloquei as luvas novamente, apertando-as e o homem mais velho estendeu o prêmio para mim. A ergui para o céu de Roma, vendo os fogos e papéis picados estourarem pelo céu e logo passei a taça para o próximo.
Desci do palco do outro lado, esperando dar de cara com , mas ela e o resto do pessoal já tinham saído dali e estavam na pista de atletismo em volta do estádio. A risada escandalosa de Pepe me distraiu e ele trazia a taça logo atrás mim.
- Vai derrubar! – Barza disse, enquanto Chiello gargalhava.
- Cala a boca! – Pepe disse mais baixo, segurando-a direito e gargalhei com eles.
- A foto! – Pogba gritou quando íamos perto de nossa torcida e empurrei Pepe para perto da placa que havíamos passado.
Arrumamos o prêmio em frente ao local, nos juntamos atrás dela e mais papéis picados estouraram enquanto gritávamos e pulávamos. Após alguns cliques, finalmente seguimos para aproveitar com a nossa torcida.
Quando finalmente a adrenalina baixou, seguimos de volta para o vestiário. Logo no túnel, já vi o top cinco cumprimentando os jogadores que se aproximavam. Pepe, que já havia passado a taça para mim, foi correndo em direção à e abraçou-a fortemente, pegando-a pelas pernas e a colocou em seus ombros. Essa brincadeira estava fácil, não?
- PEPE! – Ela gritou. – Me coloca no chão agora.
- Vou te soltar, espera aí. – Ele disse.
- Não assim! – Ela gritou de volta. – Me puxa de volta. – Ela disse, desviando o rosto da bunda dele.
- Não soltar um pum é importante também. – Padoin disse.
- Ah, gente! – Ela disse rindo. – Me tira daqui, Pepe! – Ela disse mais baixo. – Está dando dor de cabeça, o sangue tá descendo.
- Alguém me ajuda. Ela está pesada. – Pepe disse, nos fazendo gargalhara.
- Ah, filho da puta! – Ela disse, rindo, colocando a ponta dos dedos no chão pela distância.
- Dá uma cambalhota, chefa! – Matri disse.
- Não inventa! – Ela disse.
- Para de graça! – Barza se aproximou, puxando para trás e Pepe finalmente a colocou no chão, os cabelos bagunçados.
- Desculpa! – Pepe disse, fazendo uma careta.
- Eu só não te bato porque a cabeça está doendo demais. – Ela disse, jogando os cabelos para trás e seu rosto estava mais corado, enquanto ela suava um pouco.
- Ciao! – Pepe disse, saindo correndo.
- Eu vou matá-lo. – Ela disse baixo, mas logo ela abraçou Quagliarella que estava próximo e depois Barza. – Exagerou. – Ela disse, passando a mão em sua barba e ele riu fracamente.
- É?
- É! – Ela disse rindo, empurrando-o pela cabeça e seguiu para Matri.
Ela talvez tenha ficado uns cinco minutos literais abraçada nele. Matri sairia do time junto de outros, mas sabia da proximidade deles. Poderia ser só brincadeira que eles casariam, teriam filhos e tudo mais, mas isso os aproximou. Eu não sentia tanto a saída de Matri quanto ela, principalmente por seus olhos estarem cheiros de lágrimas.
- Eu sei! – Ela disse, com a cabeça apoiada em seu ombro. – Foi bom demais. – Eles riram juntos, finalmente se afastando.
- Nos vemos em Milão. – Ele disse.
- Em Turim antes, em outubro. – Ela falou e ele assentiu com a cabeça.
- Ah, antes que eu me esqueça. – Ele disse, puxando a camisa que usava e entregou para ela, fazendo-a rir fracamente. – Para sua coleção.
- Normalmente me entregam limpa, nova e assinada, mas vale. – Ela disse, nos fazendo rir.
- Eu já volto! – Ele disse, puxando a blusa de volta e gargalhou quando ele saiu para o vestiário.
- Ah, Matri. – Ela disse, negando com a cabeça.
Não era só que recebia abraços efusivos, o resto do top também, mas todo mundo queria abraço da diretora bonita. Vidal, Pogba, Storari e Cáceres também fizeram algumas brincadeirinhas com ela, Lich, Leo, Claudio e Chiello a abraçaram apertado, Vucinic estalou um beijo em sua bochecha e ela precisou dobrar os joelhos para alcançar Giovinco, me fazendo gargalhar. Tevez teve um abraço apertado pela sua estreia e pelo gol, Llorente recebeu um carinho em seus cachos e Asa foi seu clássico apoio.
- Nossa! Nunca percebi como o time é grande. – Falei, me aproximando dela e ela deu um sorriso discreto.
- Você não costuma ser o último. – Ela disse.
- Não mesmo. – Falei. – Eu ganho um abraço?
- Bom, eu já abracei umas 40 pessoas, algumas me colocaram de cabeça para baixo, mas acho que é válido. – Ela disse, passando os braços pelos meus ombros e abracei-a pela cintura com uma mão, enquanto segurava o troféu com a ponta dos dedos. – Auguri, Gigi.
- Grazie. – Falei, me afastando devagar. – Faz tempo que a gente não conversa, nem deu tempo de conversar no amistoso do Papa. – Falei e ela riu fracamente.
- Ah, sabe como é, começo de temporada, as coisas estão meio loucas. – Ela falou e eu assenti com a cabeça. – Mas foi legal aquele dia, pena que vocês perderam.
- Nem todo dia é uma final de Mondiale. – Falei e ela riu fracamente.
- Quem sabe no ano que vem? – Ela falou. – Chegaram em terceiro na Copa das Confederações, têm tudo para ficar em primeiro.
- Deus te ouça. – Falei, sorrindo e ouvi passos rápidos.
- Aqui, chefa! – Matri apareceu de volta. – Agora sim. – Ele entregou a blusa dentro de uma sacola e riu.
- Agora eu nem preciso mais vender no eBay com suor de Matri. – Ela disse, rindo e eles se abraçaram novamente. – Grazie.
- Eu que agradeço, por tudo. – Ele disse e ela assentiu com a cabeça. – A gente se vê?
- É claro! – Ela disse, sorrindo, acariciando sua bochecha e ele inclinou a cabeça para o lado, dando um beijo em seu punho. – Voa, Matri. Você merece. – Ele assentiu com a cabeça, visivelmente emocionado e se afastou segundos depois, deixando suspirando sozinha.
- Você vai ficar bem? – Perguntei e ela virou o rosto para mim, passando o polegar embaixo dos olhos.
- Sim... – Ela disse em um suspiro, relaxando os ombros. – Ainda tenho o Quagliarella. – Ela brincou e eu sorri.
- Achei que falaria que ainda me tinha...
- Fizemos um acordo de ficar no time, lembra? – Ela disse olhando para mim e começou a andar em direção ao vestiário, me fazendo rir fracamente e segui-la alguns passos para trás.
- Eu vou sentir saudades. – Ele falou baixo, me apertando fortemente e eu suspirei, tentando impedir que mais lágrimas deslizassem.
- Eu também. – Respirei fundo.
- Você entende, não entende? – Ele perguntou baixo.
- Claro que entendo. – Falei baixo, sentindo-o apertar minhas costas. – Eu mais do que ninguém entendo que isso é um negócio, e precisamos nos valorizar para ser valorizados. – Falei baixo e afrouxei meus braços em volta de seu corpo, olhando para Matri.
- Eu ainda tenho um tempo aqui, mas eu precisava vir falar contigo antes. – Ele disse e eu acariciei seu rosto, jogando seus cabelos loiros para trás.
- Você não se preocupe comigo. – Falei com um pequeno sorriso nos lábios. – Só mantenha o alto nível, ok?! Eu vou tentar te trazer de volta para gente assim que possível. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu vou tentar. – Ele disse, sorrindo. – E vá nos jogos em Milão para eu te ver. – Ele apontou para mim e eu ri fracamente, abraçando-o novamente.
- Pode deixar, farei esse esforço por você. – Suspirei, ouvindo-o rir fracamente.
- Eu deixo uma camisa para você depois da Supercoppa, pode ser? – Ele perguntou quando nos afastamos.
- Pode sim. – Suspirei. – Não conseguimos ter nossa casa, filhos e cachorros, mas seja feliz, ok?!
- Você também. – Ele segurou meu rosto com as mãos. – Encontre alguém que te valorize, . Alguém que lute por você, que te coloque sempre em primeiro lugar. – Engoli em seco, entendendo a direta.
- Eu vou tentar. – Sorri.
- Menos o Fabio! – Ele disse rapidamente, me fazendo rir.
- Não se preocupe, só funcionaria contigo mesmo. – Brinquei e ele riu fracamente.
- A gente ainda se vê, certo? – Ele perguntou.
- Sim! Faço questão de te ver ainda antes de te mandar para o inferno! – Ele riu fracamente.
- Ah, nem brinca com isso! – Rimos juntos.
- Não tem nada como a Juve, Matri. Saiba disso. – Dei um pequeno sorriso.
- Como sabe? Já trabalhou em outro time? – Ele perguntou.
- Não, mas a Juve é minha família e não tem nada melhor do que nossa família. – Pisquei para ele, apoiando a mão na minha mesa e ele assentiu com a cabeça.
- Está certo. – Ele disse e sorrimos juntos. – Até mais, chefa. – Ele sorriu.
- Não, agora eu sou só para você. – Ele pressionou os lábios, puxando a respiração e deu um daqueles seus largos sorrisos.
- Va be’, chefa. – Ele disse e eu sorri. Ele acenou mais uma vez antes de sair da minha sala.
Respirei fundo, voltando para minha mesa e eu suspirei, puxando a primeira gaveta e tirando uma caixa de lenços e passando embaixo dos olhos, vendo o risco preto da maquiagem ficar no lenço e suspirei, jogando-o no lixo logo em seguida. Olhei para o contrato de venda de Matri para o Milan e o relógio. Já passava alguns minutos das seis horas.
Peguei um envelope, colocando o contrato e o fechei, selando-o. Olhei para minha agenda, observando os afazeres e ele era o último. Paulo De Ceglie, Emanuele Giaccherini, Nicklas Bendtner, Luca Marrone e Nicolas Anelka também já tinham passado por aqui, mas sempre tinha aquele que eu era mais apegada e Matri era um deles.
Foi irrecusável a oferta que o Milan fez para eles de 11 milhões, tanto para ele, quanto para gente. Não tínhamos como oferecer mais para ele. Ele tinha feito somente 10 gols nessa temporada e Conte reduziu suas aparições, focando mais em Vucinic e Giovinco. Só esperava que ele ficasse bem, continuasse fazendo sucesso e agradecia por ele se manter na Itália, poderíamos nos ver sempre.
Desliguei meu computador, peguei minha bolsa e segui para fora da minha sala, puxando a porta e vi Sara e Enrico se arrumando para ir embora. Caminhei até a sala, levando o envelope até a mesa de Luca e ele entenderia o que precisava fazer amanhã.
- Tudo certo, chefa? – Sara perguntou.
- Sim, tudo certo. – Sorri. – Amanhã recepcionamos Ogbonna e Tevez, e o Llorente fica para daqui uns dias.
- Você deveria estar de férias, . – Enrico falou e eu ri fracamente.
- Eu sei, mas o time chama, fazer o quê? – Dei de ombros. – E Matri é um grande amigo, precisava vir. – Eles assentiram com a cabeça. – Allora, vamos embora? Ver o jogo? – Brinquei e eles riram, finalizando de pegar seus materiais.
- Vamos sim! – Eles falaram, colocando a bolsa e mochila nos ombros e saíram à minha frente da sala. Dei uma rápida checada, vendo se a cafeteira estava desligada e segui com eles pelo corredor.
Seguimos juntos pelo elevador e pelos corredores vazios do time. Nos separamos entre carros e ofereci carona para Enrico até o terminal de ônibus de Vinovo, já que eu passaria no mercado antes de ir para casa. Peguei vários sacos de biscoitos e salgadinhos processados, além de alguns queijos, embutidos e garrafas de vinho e refrigerante e enfrentei uma longa fila de pessoas quem pensaram o mesmo que eu.
Fui para casa e entrei direto no banho, lavando demoradamente meus cabelos e relaxando embaixo da água quase gelada. Saí do banho, enrolada na toalha e passei desodorante e perfume antes de voltar para o quarto. Procurei um novo conjunto de lingerie, coloquei um short jeans e peguei minha blusa nova da Nazionale que eu havia recebido da FIGC há alguns dias. A vesti e voltei para o banheiro para cuidar dos cabelos.
Após penteá-los, voltei novamente para o quarto e peguei minha mochila de viagens. Junto da necessáire sempre organizada lá dentro, juntei uma troca de roupa limpa, pijama e um par de chinelos. Sentei na mesa do computador para colocar meus tênis sem meia e meu notebook acendeu com o movimento.
Virei o rosto para ele e suspirei, sentindo meu peito apertar mais uma vez. As fotos de Gigi, Alena e as crianças em alguma praia do Rio de Janeiro e no Cristo Redentor ainda estavam abertas. Eles estavam felizes, sorridentes, se divertindo como se não tivesse amanhã e eu só consegui suspirar. Eles eram a família perfeita e, apesar de Gigi demonstrar em vários momentos que gostava de mim, ele nunca largaria dela para ficar comigo. Ele era a pessoa mais quadrada que eu já conheci na vida, é capaz de viver de aparências pelo resto da vida antes de fazer algo pela própria felicidade.
Apesar disso, eu sei que sou trouxa, ficava me torturando ao ver as fotos, ao encontrar com ele, ao deixar que as coisas acontecessem, mas agora não. Matri estava certo, eu precisava de alguém que me valorizasse e me amasse com esse passado conturbado estranho. Suspirei e fechei as fotos uma a uma, até encontrar a última, alguns jogadores somente de bermuda, molhados, também na mesma praia. Giovinco, Pirlo, Astori do Cagliari, Leo, Barza, De Sciglio do Milan e Sirigu do PSG. Alguns estavam bem magrinhos, mas o abdome de Barza até que chamou minha atenção.
- Ah, chega de homem casado! – Suspirei, fechando a aba também e abaixei a tela do notebook.
Peguei a mochila e a bolsa e fui para o andar de baixo checando as mensagens de Giulia reclamando da minha demora, enviei que estava chegando e mal esperava ver a cara dela quando eu precisasse ainda atravessar Turim para chegar lá.
Parei em frente à casa de Gio e Fabrizio e toquei a campainha antes de pegar as sacolas com os aperitivos no porta-malas. Nesse meio tempo, Giulia abriu a porta e cruzou os braços ficou batendo os pés enquanto eu pegava.
- Tem mais coisa, viu?! – Falei, dando um beijo em sua bochecha e ela fez uma careta.
- Está atrasada. – Ela disse.
- Eu tive que trabalhar. – Falei.
- Você está de férias. – Ela disse.
- É, claro! Me surpreendo que eu ainda fiquei 25 dias. – Falei, rindo.
- Entra lá, mamãe está esperando. – Ela disse e fiz o que ela pediu, atravessando a porta e já vi os gêmeos largados no sofá.
- Ciao, famiglia! – Falei, animada.
- Oi, ! – Meus meninos de 14 anos falaram e eu mandei beijo de longe, atravessando a sala e entrei na cozinha.
- Oi, gente! – Falei, deixando as sacolas na mesa.
- Oi, querida! – Giovanna disse e sua mãe e Fabrizio sorriram para mim.
- , querida! – A nonna falou.
- Ciao, nonna. – Me aproximei dela primeiro, dando um beijo na matrona da família e depois segui para Gio e Fabrizio.
- Oi, gente! – Beijei ambos também.
- Tudo bom, querida? – Gio perguntou.
- Tudo sim, desculpa a demora, tive que ir ao time. – Falei.
- Não tem problema, estamos preparando umas bruschettas, cortando uns queijos... – Fabrizio disse.
- Diga isso para irritadinha! – Falei e eles riram.
- Ela está dramática que ela vai entrar em turnê. – Gio disse baixo, nos fazendo rir.
- Foi morar em Roma e agora fica de graça. – Neguei com a cabeça, me apoiando no balcão e roubei um queijo da tábua de Fabrizio.
- Ai, ! – Ele disse brincando e eu ri, dando um beijo em sua bochecha.
- Acho que é tudo. – Giulia disse, apoiando o resto das sacolas lá.
- Tem minha mochila! – Falei, andando apressada até ela.
- Mas tem coisa sua aqui, querida. – Gio falou.
- Ah, eu nunca sei o que tem aqui, então trouxe umas coisas. – Falei.
- Você tem um armário, . – Giulia disse.
- Eu tenho uma parte de um armário, não é a mesma coisa. – Falei e eles riram.
- Tem até um quarto aqui, só não usa porque não quer. – Gio disse e eu e Giulia nos entreolhamos, rindo.
- Mas, Gio, eu sou...
- A diretora de contabilidade da Juventus e blá, blá, blá. – Gio disse, desdenhando. – Eu sei, mas vocês ainda são meus bebês. – Ela disse e rimos juntas.
- Os 50 anos estão chegando, ela está dramática. – Giulia cochichou para mim e rimos juntos.
- Está gata, tia Gio! Deixa-a falar! – Disse, seguindo até o carro novamente e peguei minha bolsa e minha mochila antes de fechar tudo e voltar para dentro.
- Vocês querem comer na mesa ou já ficarem na sala? – Gio gritava para o pessoal na porta da sala para cozinha.
- Sala! – Os gêmeos gritaram.
- Podemos jogar algum jogo. – Gianni disse.
- Estou louca para fazer uma revanche no pebolim com a . – Fabrizio disse.
- Ah, ficou tão sentido porque perdeu de mim. – O zoei, ouvindo as mulheres na cozinha rindo. – Eu sei jogar bola, Fabrizio, desiste.
- São bonequinhos, , nem vem! – Ele falou, irritado. – E você não joga nada de bola. – Rimos juntos.
- Ei! Me respeita! – Brinquei. – Eu brinco com os meninos, ok?!
- É, o Gianni dá um banho em você. – Ele disse e ouvi a risada de Gianni da sala.
- Falando disso, as inscrições começam em agosto, vai querer? – Perguntei mais baixo para ele, que suspirou. – Já falei...
- Eu sei! A Juventus pode oferecer coisa melhor para ele. Ele quer, , não vou impedi-lo de crescer por causa dos meus sonhos. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Eu falo com o Pessotto, ele está responsável por isso, vou precisar da fichinha dele do Torino e alguns dados. – Fabrizio assentiu com a cabeça.
- Posso colocar o Pietro também? Ele não sabe se quer seguir, mas gosta de jogar.
- Claro! Mas lá eles nivelam, tá? É bom você falar. O Gianni pode entrar na sub-14, o Pietro seria mais aulinhas extracurriculares. – Fabrizio assentiu com a cabeça.
- Eu falo com eles. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Ok, nos ajudem aqui! – Gio disse.
- Deixa no saco, mãe, vai sujar muita coisa. – Giulia disse.
Ajudei a separar as coisas que todos nós juntamos e Giulia tinha razão, distribuir em potes só ia ter mais coisa para limpar, mas ela queria fazer as coisas bonitas. Era quase oito da noite, ainda tinha uma hora para o jogo. Ficamos comendo besteiras, bebendo vinho e jogando pebolim e dardos até a hora do jogo. Quando deu nove horas aqui na Itália e quatro no Brasil, em uma cidade chamada Fortaleza, a Nazionale entrou em campo.
Era a semifinal da Copa das Confederações. Brasil já tinha ganhado de 2x1 contra o Uruguai e passou para a final. Agora Espanha e Itália se enfrentavam para decidir quem iria e quem jogaria o terceiro lugar.
O jogo foi muito difícil mesmo. Os espanhóis eram os atuais campeões mundiais, mas isso normalmente não queria dizer nada, mas eles com certeza estavam fazendo uma marcação pesada em cima da azzurra. Eles tinham mais chances, mas Gigi estava pronto para o que viesse. Infelizmente, quando nós tínhamos chances, Casillas estava muito bem-preparado do outro lado. Ele e Gigi eram grandes amigos e a imprensa vivia comparando ambos, então a competição era mais de egos. Quem seria o melhor.
Em 90 minutos, o placar não mudou e as unhas começavam a ser roídas, Fabrizio e Giulia começavam a xingar e eu me mantinha agarrada ao meu pacote de batatas e a taça de vinho vazio. Após 120 minutos, o placar também não mudou e só teria uma solução: ir para pênaltis e foi aí que as coisas esquentaram. Eu estava vendo que teria um ataque cardíaco logo mais.
Gigi, Leo, Chiello, Pirlo, Giaccherini e Giovinco continuavam em campo. Barza saiu no segundo tempo com alguma reclamação e Claudio foi substituído no fim do tempo regulamentar. Agora ficaria para eles decidirem.
Do nosso lado foram escolhidos Candreva, Aquilani, De Rossi, Giovinco e Pirlo para bater. Dos espanhóis foram Xavi, Iniesta, Piqué, Ramos e Mata. De todos esses 10 chutes, todos entraram. Gigi não defendeu nenhum e Casillas não defendeu nenhum.
Estava tudo igual. Montolivo foi o sexto escolhido para bater. Ele acertou. Busquets foi o escolhido para bater. Também acertou. Com as opções acabando, a defesa precisou cooperar, Leo foi escolhido e se posicionou na bola.
Acho que nunca pedi tanto por algo em minha vida, mas não adiantou pedir muito. Leo chutou e... Ele isolou a bola. O Leo isolou a bola. O meu Leo. O meu jogador. Eu fiquei incapacitada de falar qualquer coisa nesse momento. O pessoal à minha volta era mais animado e irritado do que eu, mas eu simplesmente não tive reação, só faltava esperar que um milagre acontecesse e Navas errasse ou que Gigi defendesse.
Ambos se posicionaram em seus lugares e eu já sentia a ponta dos meus dedos doerem de tanto morder. Navas chutou a bola e Gigi foram para o mesmo lado, mas a bola entrou. A Espanha ia para a final e a Itália jogaria o terceiro lugar contra o Uruguai. O Uruguai que tinha Cáceres e Cavani de conhecidos. Muslera e Suárez como outros grandes nomes.
- AFFANCULO! – Fabrizio gritou, irritado e eu suspirei. – Três horas para nada!
- Se controla, pai. – Giulia disse. – É pênalti, não tem certo e nem errado.
- Tem sim. O jogador da tinha que errar? Ele errou na Euro também. – Ele gritou, irritado e eu me levantei.
- Se você for levar para o pessoal, as coisas não vão ficar legais, tio. – Falei, séria.
- É a segunda vez, ! Segunda vez! – Ele falou irritado.
- Aí você briga com o Prandelli, não comigo! No time ele é ótimo. – Falei, rindo sarcasticamente logo em seguida. – Abaixa a bola aí, Fabrizio! – Falei, séria. – Ninguém vai ganhar nada com isso. – Suspirei. – Nem eu, antes que pergunte! – Falei firme.
- É, pai! Relaxa, vai. – Pietro disse, puxando-o pela camiseta.
- Eu vou no banheiro. – Ele disse e eu me sentei de novo.
Peguei o celular discretamente e procurei pela conversa de Leo. Fabrizio não estava errado, mas não adiantaria nada criticar Leo, ele já deveria estar se sentindo mal o suficiente. Escrevi rapidamente para ele.
“Tem dias bons e ruins, não perca seu tempo preocupado com isso”. – Enviei e suspirei, guardando o celular no bolso de novo.
- Bom, quem está com fome? – Giulia disse.
- Giulia, é meia-noite, vamos dormir. – Gio disse, nos fazendo rir.
- ?
- Ah, chega para mim, amiga. Eu trabalho amanhã de novo. – Falei, suspirando.
- Ah, vocês são chatos. – Ela disse, nos fazendo rir.
Eu sentia que estava exatamente da mesma forma que quatro dias atrás. A única coisa que mudava eram as cores das camisas. Antes vermelhas e amarelas, hoje azuis celestes. Os rostos eram diferentes também, mas velhos conhecidos. Incluindo Cáceres que jogava conosco, isso podia nos dar alguma vantagem contra a parte defensiva do Uruguai, mas também não garantia nada.
A questão era que, quatro dias atrás, nós jogamos contra a Espanha, não tivemos resultados em 90 minutos de jogo, depois não tivemos em 120 e fomos para pênaltis, acabando perdendo porque Leo acabou isolando uma bola. Não que eu esteja jogando a culpa nele, são coisas que acontecem, só estou comentando um fato.
O que me irritava daquele jogo era que tivemos sete batidas de cada lado e eu não consegui defender nenhuma. Se Leo não tivesse errado, ou eles não tivessem errado, capaz de estarmos lá até hoje, pois Iker é um grande goleiro, apesar de também não ter conseguido defender nada.
Mas hoje eu esperava que fosse diferente. O jogo pelo menos já tinha sido.
Nós conseguimos abrir o placar aos 24 minutos com um gol de Astori, do Cagliari. Depois o Uruguai acabou tendo uma chance de Cavani, mas foi dado impedimento, então foi desvalidado. Em seguida, a defesa estava em falta, Leo e Barza estavam no banco, mas consegui fazer duas defesas cruciais que seguraram o jogo pelo primeiro tempo.
No segundo, bobeamos e Cavani conseguiu o empate. Eu tinha certo nervosismo desse cara desde o Napoli, ele era um tanto vingativo, não sabíamos ser assim. 15 minutos depois, ficamos na frente mais uma vez, dessa vez graças a uma falta de Cavani mesmo em El Shaarawy. Diamanti bateu e nos colocamos a frente mais uma vez.
Pena que isso durou somente cinco minutos, já que aconteceu a mesma coisa e eu não consegui pegar a falta, quando a bola subiu demais. O jogo seguiu empatado pela prorrogação e nenhum dos dois times conseguiu alargar a vantagem para acabar com isso logo. Só Montolivo que ainda teve a capacidade de ser expulso após um segundo amarelo, pelo menos estava no fim e ninguém tinha mais pernas para isso.
Depois de tudo isso, suando nesse sol de 15:30 da tarde, pedindo arrego e precisando urgentemente tirar esse uniforme e entrar embaixo da água fria... Sério, de quem foi a ideia de fazer um jogo às 13 horas nessa cidade? Assim, era minha primeira vez no Brasil, mas depois do jogo contra os donos da casa na fase de grupos aqui nesse mesmo estádio às 16 horas, eu pensava quem havia sido o gênio a colocar o jogo mais cedo ainda?
Bom, entre o bem e o mal, estávamos aqui. Isso porque era inverno, mas acho que era algo do país inteiro, ainda mais estando do nordeste do país. Enfim, vamos voltar aqui. Só imaginava como seria o Mondiale no ano que vem.
Eu estava aqui, cumprimentando Muslera, que também era um excelente goleiro, apesar de seu nome não estar frequentemente na mídia, me preparando para as cobranças. Eu precisava fazer diferente do jogo da semifinal. Terceiro lugar não era tão bom, mas ainda era algo. Poder deixar nossa marca na história, principalmente quando só estávamos aqui pela Espanha ter ganho duas vezes e ter espaço sobrando para nós que fomos vices na Euro.
Forlán veio primeiro. Me preparei e esperei a liberação do árbitro. Ele chutou reto, forte, mas quase rasteiro, eu só deixei o corpo cair no chão e barrei a bola.
Aquilani seria nosso primeiro batedor. Eu era tão medroso quanto qualquer coisa em cobranças de pênalti, então eu fiquei de costas. Ouvi o apito e esperei alguns segundos antes de ver alguns torcedores comemorando. Era nosso.
O segundo a bater do Uruguai foi Cavani. Ele pegou bastante distância, então sabia que viria uma bomba. Batida liberada, fomos para lados diferentes. 1x1 com uma cobrança a menos.
El Shaarawy veio em seguida. Apoiei as mãos na cintura, respirando fundo e só comemorei com os gritos. 2x1 para gente. Estava quase lá.
Suárez veio em seguida. Ele tinha certa fama na Europa junto de Messi e Neymar, era um trio de ataque poderoso no Barcelona, mas hoje ele ficou sumido do jogo. Ele bateu e fomos para lados contrários. 2x2 com uma batida menos.
O novato De Scligio, bom defensor do Milan, veio em seguida. Depois de 120 minutos, as opções para pênaltis eram cada vez mais variadas, mas ele se prontificou, então estávamos aqui. O chute foi bom, mas Muslera defendeu. 2x2, mas melhor defender do que errar.
Cáceres veio em seguida. Tínhamos uma ótima relação no time, já tínhamos nos cumprimentado, mas agora era diferente. Ele bateu rasteiro e foi fácil chegar na bola. Tentei não comemorar muito, pela amizade, então me contive, apontando para meus jogadores. 2x2 ainda.
Giaccherini veio logo em seguida. Agora que eu não queria mais ver mesmo. Não pelo Emanuele, ele era bom, mas pelas cobranças em si estarem chegando no fim. Ouvi só o grito da torcida e estava 3x2 agora. Mais uma defesa e conseguíamos acabar antes da última batida.
Gargano veio logo em seguida, ele se afastou pouco, quando isso acontece, a velocidade da bola costuma ser baixa. Ele chutou e meu reflexo me mandou ir para a direita junto com a bola e ela encaixou em minhas mãos, me fazendo suspirar.
Tinha acabado.
Levantei devagar, jogando a bola para o árbitro, ouvindo o apito de fim de jogo e cumprimentei Gargano, mas meus companheiros já pularam em cima de mim, me fazendo abrir um largo sorriso. O pessoal se rodeou em volta de mim, dando tapas em minhas costas e em minha cabeça, me fazendo querer fugir dali, mas isso só fazia os jogadores juntarem mais ainda, me fazendo rir.
Essa vitória tinha um gosto diferente. Era o que diziam: o segundo lugar perde, mas o terceiro ganha, mas eu estava feliz pela minha conquista pessoal, tinham sido três defesas. Três defesas de pênalti e isso era algo que eu deveria comemorar demais.
Na verdade, eu não precisava fazer nada, todo mundo tinha vindo em cima de mim e eu não precisava fazer nada além de sair abraçando todo mundo que eu visse, inclusive jogadores do Uruguai. Muslera tinha feito algo sensacional também e Cáceres era meu amigo, imagino que continuasse no time por mais uma temporada, não era hora para isso.
De Rossi foi o último a me soltar, ele me agarrou pelos ombros e só soltou quando Pirlo o puxou para longe. Barza e Chiellini também se mantiveram perto a todo momento. Eu estava feliz, mas eu estava mais aliviado. Agora era aproveitar o restante das férias e voltar à minha bagunça de sempre.
Só que agora não era hora de pensar nisso. Em nada ou ninguém que me ligasse a Juventus.
Ninguém!
Curtimos nossa vitória com a torcida enquanto o palco era montado e recebemos nossas medalhas de terceiro lugar. Não que fosse a melhor coisa do mundo, mas em duas competições em dois anos havíamos conseguido um resultado bem expressivo. Segundo lugar na Euro e terceiro na Copa das Confederações. Isso me fazia acreditar que ano que vem podíamos realmente passar para as fases finais do Mondiale, depois da eliminação na fase de grupos na de 2010, boa parte pela minha hérnia. Só dependia de como seria a temporada no geral.
Alena me abraçou quando desceu para o campo após a premiação e os meninos pularam em meus braços. Não que eu e Alena estivéssemos nos melhores termos, não. Ela havia insistido em me acompanhar aqui e tinha me colocado na parede mais uma vez sobre , além de me pressionar em toda oportunidade que eu tinha, mas tínhamos tido ótimos momento em família.
Pena que eu sabia que as coisas ficariam tensas assim que voltássemos para Turim. E era inevitável. Eu sabia que meu coração estava dividido. Eu só não tinha certeza.
Voltei para o vestiário e me larguei no meu espaço assim que possível. Eu estava acabado e não tinha mais condições de nada. Prorrogação e pênaltis não eram fáceis, o jogo em si não tinha sido muito complicado, mas o fim sim, a pressão piora o sentimento cada vez mais.
Puxei o celular da mochila à procura de mensagens de uma pessoa. Sabia que meus familiares já deveriam ter mandado também, mas só importava uma pessoa para mim agora e a mensagem estava lá para me aliviar de tudo.
“Hoje vocês fizeram bonito. Suaram, lutaram, mas foram muito superiores. Auguri, ragazzi. Um grande abraço da Juventus”. – Franzi a testa, lendo novamente a mensagem e chequei se eu estava lendo o número certo.
- Recebeu também? – Barza perguntou ao meu lado, levantando o celular.
- ? – Perguntei.
- É! Ela deve ter mandado para todo mundo do time. – Ele disse.
- ? – Leo gritou e assentimos com a cabeça. – Recebi aqui também. Ela já tinha me mandado no outro jogo.
Ela não me mandou nada no último jogo.
- É... Mandou. – Barza disse, seguindo para o fundo do vestiário e eu suspirei, digitando de volta.
“Eu só recebo uma mensagem em grupo? Igual para todo mundo?” – Enviei de volta, esperando que a resposta viesse logo, eram nove da noite em casa.
“Só te tratando como você me trata: como todo mundo”. – Revirei os olhos, suspirando e apareceu outra mensagem. – “Mas auguri, capitano, foi incrível”.
Eu fiquei em uma mistura de choque e sorriso, mas preferi ignorar. Eu não tinha como me defender. Guardei o celular de volta e peguei minha mochila e segui para o chuveiro, à procura de um vazio.
Stagione 2013/2014
- Bom, perder do Milan e ganhar do Sassuolo não é exatamente uma compensação, mas...
- Não, foi um desastre mesmo. – Suspirei. – Foi para pênalti as duas partidas, isso não é normal, mesmo com parte do elenco reserva ou novo. – Neguei com a cabeça.
- Eu vou falar com o Beppe e o Conte sobre isso ou você quer...
- Não, pode falar. – Cortei Pavel. – Eu tenho algumas coisas da pré-temporada nos Estados Unidos para resolver ainda, quero já deixar tudo certo para o voo no dia 30.
- Já tem a decisão dos times? – Ele perguntou.
- Everton da Inglaterra em San Francisco, Los Angeles Galaxy em Los Angeles e Internazionale em Miami.
- Ah, são bons... – Ele falou.
- Foi o que eu consegui. – Suspirei.
- Villar Perosa ficou para quando?
- Dia 11, logo que eles voltarem, acho que o voo de volta é no dia sete ou oito. – Falei, procurando entre os papéis da minha mesa.
- Ainda está calmo, , relaxa. Começa a surtar no dia 24. – Rimos juntos.
- Um mês, Pavel. Eu quero o terceiro scudetto di fila. – Enrolei o fio do telefone em meus dedos.
- Vai rolar! As melhores coisas acontecem em três, não? - Ele disse e eu ri fracamente, ouvindo uma batida na porta.
- Pavel, eu preciso desligar, tem alguém aqui. Nos falamos depois?
- Claro! Até mais! – Ele disse e desliguei o telefone.
- Viene! – Falei, vendo a porta se abrir devagar.
- Ei, , podemos conversar? – Franzi o rosto com a pessoa de barba na minha porta e devo ter demorado para eu falar alguma coisa, porque o homem notou.
- Por que todo mundo me olha assim? Ficou tão ruim? – Arregalei os olhos ao reconhecer a voz de...
- BARZA? – Falei surpresa.
- Fala aí, chefa! – Ele disse. – Posso entrar?
- Po-ode. – Falei fracamente, me levantando.
Sabe quando dizem que a barba é a maquiagem do homem? Era totalmente real! O Barza sempre foi um homem lindo, mas ainda tinha cara de menino novo, principalmente quando sorria. Agora essa barba tinha feito-o amadurecer muito mais e ele estava lindo demais! E ele não estava assim na Copa das Confederações alguns dias atrás. O que tinha acontecido?
- Para de me olhar assim! – Ele disse e eu abanei a cabeça.
- Barza, você está... – Suspirei, tentando ser respeitosa na escolha das palavras.
- Estranho?
- LINDO! – Falei, rindo em seguida. – Assim, você sempre foi bonito, mas deu uma bela mudança... Nossa! – Suspirei, sentindo-o me abraçar e ele riu fracamente. – Está um arraso. – Suspirei.
- Grazie, chefa. – Ele disse e eu indiquei a cadeira.
- O que aconteceu? Decidiu mudar? A fama da barba chegou em você também? – Brinquei e ele riu fracamente.
- Ah... – Ele ponderou com a cabeça. – Mudanças, sabe. – Ele riu fracamente, apoiando as mãos em minha mesa. – Fico feliz que tenha sido aprovado.
- Tirou aquela cara de criança. – Sorri e ele riu fracamente, abrindo aquele sorriso bonito. – É, mas o sorriso é o mesmo.
- Ah, , só você.
- Você não estava assim na competição, estava? Auguri, falando nisso. É o terceiro lugar, mas vocês penaram.
- Ah, grazie! A gente recebeu sua mensagem. – Assenti com a cabeça. – E não, mudei depois que voltamos mesmo, tive alguns problemas e é bom renovar. – Ele disse, ponderando com a cabeça e imitei seus movimentos.
- E sua lesão?
- Nada sério. Só estiramento, já estou pronto para voltar. – Ele disse.
- Falando nisso, não esperava você aqui até a semana que vem. Falei para você que poderíamos renovar depois da pré-temporada, não é como se eu fosse deixar outra pessoa tirar você de nós ou tirar você do time. Eu brinco de vez em quando, mas... – Ele riu fracamente.
- É, então, eu acabei encurtando as férias, precisava espairecer um pouco e treinando ajuda. – Ele suspirou.
- Algum problema? – Franzi a testa.
- Ah, alguns... – Ele estendeu sua mão esquerda e só vi a marca mais clara da pele em um lugar onde deveria estar uma aliança.
- Vocês se separaram? – Perguntei, surpresa.
- É, pois é. – Ele suspirou.
- Mas vocês não se casaram no ano passado? – Franzi a testa e ele suspirou.
- Sim, para você ver. – Ele suspirou, relaxando os ombros com força.
- Você parece precisar desabafar, Barza, pode falar. – Disse e ele riu fracamente.
- Ah, a Maddalena sempre teve um histórico de ciúmes. Desde que a gente começou a namorar. Mas era algo saudável, sabe?! Engraçadinho e até excitante, mas depois do casamento as coisas ficaram mais difíceis, me senti sendo guiado em uma coleira.
- Aí você achou melhor...
- Eu pedi a separação. – Ele suspirou. – Eu saí de casa, agora estou tentando me reinventar, pensando o que eu realmente quero fazer com essa relação.
- Sinto muito, Barza. Se tiver algo que eu possa fazer por você, só me falar. Apesar de que você está falando com a pior pessoa sobre relacionamentos na sua vida. – Rimos juntos.
- Você e Gigi? – Assenti com a cabeça.
- Eu preciso parar de ser trouxa, Barza. O Gigi é quadrado, tradicional demais, ele nunca vai se separar para ficar comigo e eu cansei de ser segunda opção. – Suspirei. – Talvez eu precise fazer igual você, seguir em frente, deixar o passado para trás, me valorizar mais e...
- Você é linda, , e uma mulher incrível. Pelo pouco que eu sei da história de vocês, talvez não seja fácil, mas você merece. – Sorri.
- Você também, Barza. – Rimos juntos.
- Bom, vemos que estamos na mesma situação, senhorita , vamos nos ajudar a encontrar nossa felicidade? – Ri fracamente.
- Por favor. – Rimos juntos. – Apesar de que sinto mais como dois amigos na fossa, mas...
- É assim que começa. – Sorri.
- E suas crianças? Como vai ser? – Perguntei, apoiando os braços na poltrona.
- Ainda não entrei com o pedido de divórcio, falamos muito besteira um para o outro quando nos separamos, não quero acabar assim, imagino que ela vá ficar aqui com eles enquanto isso...
- Ela trabalha? – Perguntei, deslizando a cadeira para atrás e abrindo um dos armários. – Acho que só conversamos rapidamente em eventos ou quando você estava junto.
- Hoje não. Ela era modelo fotográfica quando nos conhecemos, mas parou depois que o Mattia nasceu. – Revirei os olhos.
- O que vocês, jogadores de futebol, tem com modelos? – Perguntei. – Pessoas ordinárias também são lindas e incríveis, ok?!
- Eu não gostei dela por isso, foi uma incrível coincidência. – Rimos juntos. – E você não é nada ordinária, .
- Hoje não, mas sabia que eu entrei aqui somente porque o salário era bom? Já tive que escolher qual refeição fazer no dia para economizar...
- Gigi contou sua história para gente meio por alto... – Assenti com a cabeça.
- Minha vida se ajeitou nesse time... – Dei de ombros. – Mas nada veio fácil. – Suspirei.
- Beh, você merece! Você é incrível, . Sério! O trabalho que você faz é sensacional. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Tive bons tutores que confiaram em mim e me ajudaram nesse escalada. – Ele sorriu.
- Ainda bem, porque o time está em boas mãos. – Sorrimos juntos.
- Mas, voltando a Maddy, ela talvez possa voltar a focar no trabalho dela, não? – Ele riu sarcasticamente.
- Até parece... – Ele disse. – Ela talvez prefira a vida de dona de casa.
- Ah, me arrepia pensar em não fazer nada.
- Posso garantir que vocês são bem diferentes. Na verdade, você é bem diferente da maioria das esposas e namoradas. – Ele disse e eu sorri.
- Eu sempre levo isso como um elogio. – Sorrimos.
- E é para levar. – Assenti com a cabeça.
- Vai dar certo, Barza. – Suspirei. – Uma hora dá! – Falei.
- Diga isso para você também. – Ele disse.
- Comigo é um pouco mais complicado... – Ele riu fracamente.
- Você me ajuda e eu te ajudo, que tal? A não fazer nenhuma besteira. – Fiz uma careta.
- Talvez eu precise mais de você do que você de mim. – Ele sorriu.
- Eu estarei aqui. – Ele disse, me fazendo sorrir e percebi o silêncio incomodo enquanto olhava em seus olhos verdes.
- Bom, contrato? – Perguntei, me destravando.
- Sim, vamos lá! – Ele disse e eu peguei a pasta com seu nome na gaveta de jogadores e coloquei-a sobre a mesa, abrindo-a em um estalo. – Boas ou más notícias? – Ele perguntou.
- Deixa eu ver. – Suspirei, passando os olhos pelas anotações de caneta vermelha em cima dos relatórios da última temporada. – Muitos bons, na verdade. – Franzi a testa. – Sua desvalorização foi de quatro por cento, Barza.
- Isso é bom, não?! – Ele perguntou.
- Bom, desde que você entrou no time, sua valorização foi de 50 por cento, desde o desastre na temporada 10/11. A desvalorização começa a descer por conta de várias coisas, idade, lesões, entre outros. Então você ter só quatro por cento de desvalorização é bom demais, Barza. – Ri fracamente. – O problema chega quando a desvalorização é de 50 por cento...
- Aí você vai querer me expulsar do time.
- Talvez não. – Rimos juntos. – Um dia de cada vez, que tal? – Perguntei.
- Ok, chefa. – Ele disse.
- Bom, seu salário vai ter o aumento de sete por cento, mais os bônus dos dois scudetti vencidos, além do repasse das propagandas da Jeep. – Peguei a calculadora, fazendo as contas novamente para ver se batiam com o que eu tinha feito e eu confirmei, fazendo um círculo no número e virei para ele. – O que acha?
- Está ótimo! – Ele disse, me fazendo rir.
- Bom, então não preciso mexer no contrato. – Falei, pegando-o embalado em um saco no final do arquivo e o abri, estendendo a ele. – Se quiser checar.
Enquanto ele olhava os papéis, eu fechei a pasta dele, guardando novamente no meio de meus arquivos e aproveitei para juntar as papeladas da pré-temporada na minha mesa.
- Tudo certo, chefa. – Ele disse.
- Perfeito, então. – Peguei o contrato, seguindo até as últimas folhas e assinei as duas últimas no local do meu nome e virei para ele. – Assine as duas, por favor. – Entreguei a caneta.
- Pronto. – Ele disse, me devolvendo novamente.
- É isso, então, Barza. Você está preso conosco por mais três anos. – Falei e ele riu.
- Depois desse tempo você vai querer fazer contratos anuais comigo. – Ele disse.
- Um dia de cada vez, que tal? – Falei e ele suspirou.
- Va be’. – Nos levantamos juntos. – O pessoal volta amanhã, não?
- Acho que já devem estar chegando. – Chequei o horário rapidamente.
- Preciso me apresentar ao Conte. – Ele disse.
- Fala com o Beppe, ele sabe mais isso. Quer que eu ligue para ele?
- Não, não. Eu vou lá. – Ele disse.
- Se quiser desabafar um dia ou só tomar um café, sabe onde me encontrar. – Falei, dando a volta na mesa e ele riu fracamente.
- Você também. Beber um vinho e falar besteiras. – Sorrimos e o abracei mais uma vez, recebendo um beijo na bochecha.
- Você está muito bonito, Barza. Sério. – Ele riu fracamente.
- Grazie, ! – Ele sorriu. – A gente se vê depois. – Ele disse, seguindo até a porta.
- Sim. – Sorri, acenando com a mão e ele dei um sorriso antes de sumir, me fazendo rir sozinha.
Eu sabia que a temporada já começaria louca com essa super transformação de Barza. Já me dava medo de pensar o que é que aconteceria comigo.
Droga, ! Um dia de cada vez!
- Honestamente? Eu não faço a mínima ideia. – Filippi cochichou para mim.
- Ah, só falta mais encrenca. – Cochichei, cruzando os braços.
- Oh, cara! – Marchisio me bateu no peito.
- Ah! – Reclamei, levando a mão até o local. – Por que você fez isso?
- A temporada nem começou e você já está reclamando? O que está acontecendo?
- Ele está irritadinho desde o Brasil. – Leo disse, rindo.
- Ah, Gigi! – O pessoal em volta começou a gritar e dar tapas e beliscões em mim.
- Ei, ei! Calma aí! – Dei alguns tapas, vendo as mãos se afastarem. – Só não quero dor de cabeça logo cedo. – Falei, cruzando os braços em cima do peito.
- Relaxa, Gigione! Aproveita! – Leo disse, abaixando os óculos escuros. – É Villar Perosa. Pensa que até o fim do dia todos terminaremos pelados. – Franzi a testa e o pessoal gargalhou logo em seguida.
- É, não do jeito que eu queria, mas ainda assim. – Barza disse, fazendo as risadas gargalharem mais alto.
- Ei, parem de graça! – Conte falou. – O presidente da UEFA vai estar aqui hoje, finjam que vocês são educados. – Virei a cabeça para trás, enxergando Filippi na minha diagonal.
- Está explicado. – Falamos juntos.
- Presidente da UEFA, cara? – Barza falou ao meu lado. – O que será que é?
- Será que foi algum convite? Ou é problema para gente logo cedo? – Perguntei.
- Está mais para pressão de sempre logo no começo mesmo. – Ele disse e rimos juntos.
- É, talvez. – Suspirei.
Inclinei minha cabeça para trás, fechando os olhos por mais alguns segundos, mas não deve ter demorado mais do que 10 minutos para chegarmos, pois deu para ouvir os gritos dos torcedores que rodeavam a Villa Agnelli. Por estarmos um pouco mais à frente, fomos um dos primeiros a sairmos do ônibus e demos alguns passos mais rápidos até passar dos portões.
- Podem seguir o pessoal. – Um dos seguranças que estavam na porta falou e eu olhei para frente, vendo algumas pessoas um pouco mais à frente.
Reconheci de cara parte do top cinco, top quatro, na verdade, Agnelli não estava com eles. As pernas de e os cabelos loiros de Pavel eram duas coisas facilmente identificáveis, mas se não fosse isso, a risada alta de realmente a denunciava.
Eles andavam mais rápidos do que nós, seguindo em direção ao grande sobrado, mas isso só me fazia pensar que eu não a via desde o fim da temporada. Uns três meses, na verdade. Ela estava naquele evento estranho da Trussardi e não lembro de ter me despedido antes de ir embora. Acabei ficando distraído com a imprensa em cima de mim. Fazer duas coisas ao mesmo tempo era complicado.
O top quatro sumiu logo em seguida, mas o alcançamos algum tempo depois quando chegamos no jardim da Villa Agnelli. Diferente das outras vezes, onde todo mundo se acumulava na grama mesmo, dessa vez eles estavam no coberto. E quando eu digo eles, dizia John Elkann, Andrea Agnelli e Michel Platini, presidente da UEFA.
- Gigi. – John me cumprimentou primeiro e eu passei pelos três.
- Buongiorno. Buongiorno. – Falei, passando por eles e vi o restante do pessoal um pouco mais afastado e somente ergui a mão para eles. Os quatro me deram acenos com a cabeça e segui para o canto, esperando que todos os jogadores cumprimentassem as três pessoas importantes e se aproximassem de nós.
Tirei a caixa com medalha da Copa das Confederações do bolso e mexi com ela na mão. Tinha concordado em doá-la para o museu para deixar em exposição por algum tempo. Virei o rosto para , vendo-a mais interessada no seu celular do que Beppe falava para ela. Os olhos estavam no celular, mas seus lábios se moviam devagar.
- Buongiorno, ragazzi. – John falou, nos desviando. – Sejam bem-vindos a nossa casa...
John fez seu clássico discurso de boas-vindas que servia basicamente para o pessoal novo. Eu ainda me lembrava desse discurso desde a primeira vez que eu vim aqui em 2001, 12 anos tinham se passado e o discurso ainda era o mesmo.
- É especial, porque aqui somos uma família. – Ele finalizou e acabei puxando os aplausos.
- Estamos começando mais uma temporada e estamos no topo. E como uma amiga minha diz... – Agnelli virou para . – Quando estamos no topo, só tem um lugar para irmos, para baixo, mas também podemos permanecer no topo e subir alguns degraus. – Agnelli disse. – Estamos no topo da Itália, mas podemos subir e ficarmos no topo da Europa também. – Ele falou. – Vamos fazer isso, continuar vencendo e acumular mais vitórias. – Ele foi mais breve que Elkann, mas também não tivemos grandes novidades em seu discurso.
- O Gigi trouxe algo para o museu, não? – Elkann disse.
- Sim! – Me despertei e levei a medalha até ele.
- Cuidaremos bem dela. – Ele falou e eu o cumprimentei, batendo sua mão na minha.
- Vamos tirar esse momento para relaxar, antes de irmos para o jogo. Fiquem à vontade! – Agnelli disse e o pessoal começou a dispersar.
O pessoal foi direto para a mesa se servir do café da manhã e eu fui logo atrás. Peguei uma xícara e me servi de café na máquina. Peguei também um panino recheado. Olhei em volta e me aproximei do pessoal de sempre, meias e defensores. Me joguei no canto de um dos sofás, ao lado de Pirlo e beberiquei aos poucos o café quente enquanto engolia o lanche com rapidez.
- Ciao, ! – Ouvi algumas vozes e ergui meu olhar, vendo-a acenar com a ponta dos dedos para o pessoal mais novo.
- Buongiorno, ragazzi. – Ela disse, se colocando ao lado de Asa e apoiando o braço em seu ombro.
- Ela adora fazer isso. – Marchisio disse.
- Eu sou o apoio dela. – Asa disse e eles riram.
- Me desculpa. – disse rindo, abaixando o braço e abraçando-o pelos ombros. – É força do hábito! – Ela abaixou o copo, sem forças mais para erguer o braço. – Eu preciso compensar os pés. – Desci o olhar pelas suas pernas, vendo-a de salto mais uma vez. – É mais fácil fazer isso no pessoal mais baixo. Imagina se eu invento de fazer isso no Rubinho? – Ela apontou para meu reserva que estava do seu lado.
- Que tal se a gente te levantar, chefa? – Storari disse.
- Ah, não inventa, Marcone. – Ela disse, mas ele passou os braços pelas pernas dela e a ergueu. – Ah! – Ela gritou, inclinando o corpo para frente. – Eu vou cair! – Ela disse, apoiando as mãos nos ombros de Chiello na frente. – Marcone, me coloca no chão! – Ela disse.
- Ah, qual é, que mal pode acontecer? – Ele brincou.
- Além de eu dar de cara no chão? – Ela disse brava e dava para ver seus braços e suas mãos tensionados.
- É, além disso. – Ele disse.
- Fica firme aí, . – Chiello disse.
- Eu estou, mas está dando cãibra. – Ela disse, rindo, abaixando os braços e abraçando Chiello pelo pescoço.
- Solta ela, cara. – Barza disse, rindo.
- Ai, devagar! Devagar! – disse rápido quando Marco desceu o corpo e colocou seus pés no chão, mas manteve as mãos presas em Chiello.
- Está tudo bem aí? – Ele perguntou.
- Não! – Ela gemeu baixo, rindo sozinha. – Ai, não faz mais isso. – Ela disse baixo, abrindo e fechando as mãos constantemente.
- Está fraca, hein, chefa? – Marco brincou.
- Só não te dou um tapa, porque eu não consigo sair daqui. – Ela disse, nos fazendo rir.
- Eu vou jogar, , você sabe disso, não? – Chiello disse.
- Acho que eu vou junto para substituição. – Ela disse.
- Ah, vai dar certo. Sobe aí! – Ele disse.
- A saia não permite. – Ela disse.
- Ok, vamos improvisar! – Ele disse, puxando seus braços mais para baixo, fazendo-a tirar os pés no chão e ele saiu com ela, dando alguns passos. – Ah, Chiello!
- Só fazendo um teste. – Ele disse e ela finalmente soltou as mãos dele, fazendo-os rirem.
- Funciona! – Ela disse, dando dois tapinhas nas costas dele e endireitou as costas, esticando os braços para cima, onde ouvimos alguns estalos.
- Ah! – Um pessoal reclamou.
- Ah, vocês são muito frescos. – Ela disse, fazendo de propósito o barulho ao estralar os dedos das mãos de uma vez só.
- AH, CAZZO! – Pogba disse alto. – Não faz isso, chefa! – Ele disse igual criança birrenta e as risadas aumentaram.
- Vocês são impossíveis. – Ela revirou os olhos. – Eu vou ali com o pessoal menos fresco. – Ela apontou em direção aos atacantes.
- Isso, vem com a gente! Nós somos legais! – Quagliarella disse.
- Caham! – Forcei a tosse. – Desculpa, você estava dizendo? – Brinquei, ouvindo algumas risadas.
- Isso é inveja, hein?! – Ele passou os braços pelos ombros de .
- Vocês todos são impossíveis. – Ela disse, revirando os olhos. – É o quê? Começo de temporada? – Ri fracamente.
- Ah, relaxa, chefa, a gente só faz isso porque te ama. – Matri disse e ela negou com a cabeça.
- Eu sei, esse é o perigo. – Ela disse, bagunçando os cabelos do loiro, fazendo mais risadas estourarem. – Eu vou pegar um café enquanto vocês se preparam para o jogo. – Ela disse, rindo, se afastando dos braços de Quagliarella e olhou para nós. – Eu ainda não me acostumei. – Ela apontou para Barza, nos fazendo gargalhar.
- Acho que ninguém se acostumou. – Comentei e ele passou a mão no queixo rindo.
- Pelo menos a aprovação foi positiva. – Ele disse, negando com a cabeça e me distraí com seguindo de volta para o coberto, ajeitando saia na cintura.
Quando eu tinha 16 anos, como todas as pessoas da minha idade, eu tinha diversos sonhos. Passar em uma faculdade, ter um grande emprego, conhecer o mundo, namorar, casar, e tudo bem similar ao que todas as pessoas dessa idade têm. Mas, devido a minha realidade, eu sabia que não podia ter sonhos muito grandiosos. Não podia sonhar em conhecer o mundo sem sair de Nápoles primeiro, não podia passar em uma faculdade, se eu não me sentisse livre, não podia namorar ou casar sem que eu saísse de casa.
Acho que foi tudo isso que me fez decidir pela escolha mais difícil da vida: fugir de casa e viver por conta. Tive muita sorte em fazer amizade com a Giulia e sua família me acolher como sua, mas ainda assim, fazer essa escolha de primeira, ter essa pulga colocada na orelha, ir embora sem dizer adeus e somente com uma passagem de ida, não foi fácil. É algo que tira a gente de rumo, pensar que você não vai poder contar com ninguém, que você estará sozinha no mundo, é loucura!
E, por isso, meus sonhos acabaram sendo simples: viver. Qualquer tipo de conquista que eu tivesse na vida, eu prometi para mim mesma que valorizaria da melhor forma possível. Seria muito grata a quem me desse essa oportunidade e, principalmente, a Deus e meus pais que garantiram minha segurança lá de cima desde o começo da minha decisão. No começo foi difícil, os primeiros meses, antes das aulas começarem, foram sofridos, tive ansiedade, quase entrei em depressão, mas conforme eu fui conhecendo as pessoas, conhecendo a cidade, o mundo foi se abrindo para mim.
Só não achei que se abriria tanto assim.
Ser estagiária na Juventus? Sensacional! Um salário que era o dobro do que eu ganhava no mercado perto de casa? Loucura! Mas eu pensei que seria isso. Agora ser diretora de contabilidade, a terceira pessoa mais importante do maior time da Itália? Ganhar mais de um milhão de euros por ano? Conhecer diversos países? Ir para Dubai e para China? Isso nunca nem passava pela minha cabeça.
Essa nova vida me permitiu, e permite, diversas coisas. Nunca pensei que chegaria nesse ponto. Talvez abrir um escritório de contabilidade fosse o maior sonho da minha vida, encontrar alguém tradicional, talvez mediano no sexo e viver assim pelo resto da vida? Ok, estamos indo para outro caminho, mas não podia reclamar que quando eu transava, eu transava bem demais. Com um homem casado, mas... Ah, deixa para lá.
Voltando na história de realizar vários sonhos e desejos, eu realmente não sabia qual seria o limite dessa minha vida. Se é que tinha limite, Giorgio, meu antigo chefe, ficou 30 anos no time, eu podia ficar também, só precisava continuar fazendo o ótimo trabalho.
Mas em todos os meus sonhos pequenos ou grandes, sempre teve uma coisa que eu nunca pensei que eu pudesse realizar: ir ao Vaticano. E quando eu digo “ir ao Vaticano” eu me refiro a parte interna do Vaticano, não somente às partes turísticas como a Piazza de San Pietro ou a Cappella Sistina. E era exatamente onde eu estava entrando agora.
Devido ao amistoso entre Itália e Argentina amanhã, o Papa Francisco, que havia sido nomeado há pouco mais de um mês novo chefe da Igreja Católica, argentino e fanático por futebol, faria um jogo e, com isso, uma reunião entre as duas Nazionali, daria sua bênção, teria um pequeno coquetel depois e uma coletiva de imprensa. Devido a tudo isso, o representante de cada time dos jogadores convocados, foi convocado para participar desse encontro. Agnelli não queria envolver futebol com religião, Pavel seguia outra religião, então eu estava feliz demais quando o carro estacionou em frente a construção clássica dentro do Vaticano.
Tinha sido difícil me vestir para esse evento. Eu sempre acabava optando por preto e branco que são as cores do time, mas não me importava de estar sensual, os homens sempre olhavam primeiro para minhas pernas e seios antes do meu rosto antes, para que esconder? Agora eu não podia vir assim em uma visita com o Papa, não é mesmo? Acabei optando por um vestido mais fechado, de meia manga e um pouco abaixo dos joelhos. E, obviamente, preto.
Um senhor com vestes religiosas – é assim que fala? – me indicou para a entrada e outro me recepcionava, olhei rapidamente pela porta e vi somente um longo corredor completamente decorado com pinturas e mármores lindíssimos.
- Buongiorno, signorina. Seu nome?
- , Juventus. – Falei e ele checou na lista.
- Benvenuta. – Ele indicou a entrada e passei por ela, segurando minha bolsa junto ao corpo com as duas mãos.
Andei devagar pelo local, dando uma rápida olhada em volta, mas seguindo as pessoas que andavam em minha frente. Os quadros, as pinturas, os símbolos sacros, tudo era incrivelmente bonito. Eu sempre tive grande aproximação com a igreja, meus pais me batizaram, eu frequentava sempre que podia, não sempre por causa dos compromissos ao clube, mas sempre reservo parte do meu dia para conversar um pouco com meus pais e com Deus, mas isso era algo totalmente diferente.
Virei no corredor, passando por um portal e engoli em seco, finalmente encontrando o pessoal. As duas Nazionali estavam ali, além de vários representantes de times, presidentes, vice, diretores de contabilidade assim como eu.
- . – O presidente do Milan foi o primeiro a me cumprimentar e eu assenti, esticando a mão para cumprimentá-lo.
- Tudo bem? – Sorri e cumprimentei os outros dois com ele. Inter e Roma, se eu não me engano.
- Tudo ótimo. – Notei os olhares nada discretos pelo meu corpo e encerrei a conversa, seguindo pelo local.
Passei pelo corredor do centro, que separava suas fileiras de cadeiras e acenava e desviava do caminho para cumprimentar os outros administradores importantes dos times. Muita gente eu não fazia ideia quem era, mas se me cumprimentasse, fazia questão de cumprimentar também. Quando estava no meio do corredor, vi um rosto se destacar no meio dos jogadores. Um rosto, não. Vários, na verdade, que foram surgindo conforme sabiam da notícia de minha chegada. E não era somente Gigi, Leo, Barza, Chiello, Pirlo, Marchisio e Giaccherini, outros rostos também apareceram.
Claudio esticou a mão, me chamando com a ponta dos dedos e eu tentei manter a feição serena enquanto seguia na direção deles. Minha vontade era de revirar os olhos. Parei alguns segundos para cumprimentar Cesare Prandelli, técnico da Nazionale, que eu já tinha conhecido em algumas oportunidades quando ele ia assistir jogos da Juventus e vi a turminha de sempre sorrir para mim quando eu parei próximo à rodinha deles.
- Buongiorno, ragazzi. – Falei, com um sorriso no rosto.
- Ei, chefa! – Eles falaram e passei um a um, inclusive por Gigi, dando um beijo na bochecha deles, além de outros dois conhecidos parcialmente desconhecidos.
- Daniele De Rossi e Davide Astori, certo? – Cumprimentei os últimos dois que pareciam curiosos demais com a minha chegada.
- Sim! – Eles falaram, sorrindo.
- Eu te conheço, não? – De Rossi, da Roma, falou.
- , diretora de contabilidade da Juventus. – Falei, sorrindo.
- Ah, eu lembro de você! – Ele disse. – Quando fomos treinar em Turim, mas você não era diretora, era?
- Naquela época ainda não. – Franzi a testa. – Estou surpresa, acho que não conversamos...
- Ah, você é a garota do Gigi e... Ah! – Meu goleiro beliscou seu braço. – Cara! Doeu! – Ele disse, fazendo o pessoal em volta rir.
- Aqui não, cara. – Gigi sussurrou.
- Aqui, nem nunca, eu espero. – Dei um sorriso para Gigi e virei para De Rossi. – Essa definição nunca existiu. – Falei para ele.
- Ai! – Leo disse, fazendo uma careta. – Essa doeu.
- Bom saber. – De Rossi disse, rindo.
- O que veio fazer aqui, ? – Gigi perguntou já emburrado.
- Me perdi dentro da Cappella Sistina e acabei encontrando vocês, olha que coincidência! – Falei e ouvi Barza e Chiello gargalharem, e a feição de Gigi não mudou. – É óbvio, não? – Ri fracamente, dando de ombros.
- Está bem engraçadinha hoje, não? – Gigi disse e eu dei de ombros.
- Eu vim só acompanhar o encontro e o jogo como representante do time, não se preocupem. Não vim por vocês. Vim por causa da Federazione. – Falei, trocando a bolsa de lugar.
- Ah, menos mal, estava esperando você me pegar pelo pescoço de novo. – Leo disse e eu ri fracamente.
- Tem motivo? – Olhei para ele.
- Eh... Não? – Ele falou fazendo careta e eu ri fracamente.
- Isso já aconteceu? – Barza perguntou e eu pressionei os lábios, dando de ombros. – !
- Ei! – Virei para ele. – Pergunta para ele o que ele fez. – Falei, sabendo que tinha ultrapassado os limites de birra.
- Deixa para lá. – Leo disse e Barza negou com a cabeça.
- Bom, senhores, vou encontrar um lugar, nos falamos depois.
- Claro. – Eles falaram e voltei pelo corredor.
Voltei pelo corredor, vendo alguns jogadores da Nazionale argentina e somente acenei com a cabeça. Além de Messi do Barcelona, eu conhecia Mascherano, Higuaín, novo contratado do Napoli e Di Maria do Real Madrid. Me sentei do lado italiano e não demorou muito para que outros tomassem seu lugar.
O Papa Francisco entrou alguns minutos depois, sendo recepcionado por aplausos nossos e ele se colocou no centro entre as duas fileiras. Eu tinha noção do que era ver o Papa da janela dos aposentos dele, estando no meio da Piazza San Pietro. Não que já tivesse acontecido, vim poucas vezes para Roma, mas somente uma para turismo e não tinha dado sorte, mas sabia o quão incrível era. Agora imagina estar há menos de 10 metros do líder de toda Igreja Católica? Para quem é católica, era uma situação emocionante.
- Buongiorno! Buongiorno. – Ele nos cumprimentou quando os aplausos cessaram. – Eu os convidei aqui hoje para um amistoso sempre a minha Nazionale do coração e a minha Nazionale do meu novo lar. – Ele disse em italiano, esperava que os argentinos tivessem como entender.
Ele seguiu seu discurso falando da importância desse jogo, quase como um “amistoso do Papa” e depois chamou os capitães de cada Nazionale – Gigi e Messi – para entregar uma Oliveira da Paz, uma planta que representaria a paz entre os times amanhã durante o jogo. Seu discurso não durou mais do que 10 minutos.
Gigi entregou uma bola autografada pelos jogadores da Nazionale e Messi entregou um tipo de flâmula da Argentina. Os dois times se juntaram para tirar foto com o Papa e aí era a hora dos cumprimentos. Vi primeiro os italianos o cumprimentarem um a um, depois os argentinos. Após isso, o restante dos convidados seguiu para cumprimentá-lo.
Engoli em seco quando me levantei e movimentei o corpo discretamente para o vestido deslizar pelo corpo e segui por entre as pessoas para ter o imenso prazer de cumprimentar o Papa. Eu tinha estudado no hotel como fazer isso. Atualmente se deveria dar um beijo em sua mão, mas observando como outros jogadores estavam cumprimentando-o, imaginava que não seria muito bem isso. Eles somente deram um aperto de mão, o mesmo que eu havia dado para qualquer um deles.
- A senhorita , ela é a representante da Juventus, o time atual campeão do campeonato italiano e da Supercoppa. – O assistente disse para o Papa e ele estendeu a mão para mim.
- Vossa Santidade. – Falei, apertando sua mão levemente e fiz uma flexão com a cabeça.
- Signorina. – Ele deu um pequeno sorriso. – O que a senhorita é da Juventus?
- Diretora de contabilidade. – Falei, realmente confusa se deveria fazer contato visual ou não, mas ele fazia questão de fazer tal contato. – Responsável por todas as transações monetárias e contratações de jogadores.
- Ah, muito importante. – Ele disse e assenti com a cabeça. – Temos jogadores da Juventus aqui, não? – Ele cochichou para seu assistente.
- Sim, seis jogadores, inclusive o capitão Gianluigi Buffon. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- É um prazer, signorina. – Ele disse e eu fiz mais uma flexão, antes de sair da frente dele.
Assim que virei de costas, soltei a respiração fortemente, sentindo meus ombros doerem de tanta tensão. Junto a isso, meus olhos ficaram embaçados e eu tinha perdido até o rumo depois disso. Levei a mão até o pescoço, sentindo minha pele até um pouco quente e me aproximei de Chiello e Barza.
- Está tudo bem? – Chiello perguntou e eu suspirei.
- Sim, está. – Assenti com a cabeça, dando um pequeno sorriso. – É só que eu nunca imaginei isso na minha vida. – Falei, pressionando os lábios e ambos sorriram.
- Me parece que você se vê diferente do que você realmente é. – Barza disse, tirando o lenço de seu paletó e me estendendo.
- Grazie. – Falei, passando-o próximo dos olhos. – Eu cresci sem nada, Barza. Estar aqui é algo grandioso. – Suspirei.
- Mas você tem um posto grandioso, . Essas coisas acabam vindo. – Ele disse e Chiello inclinou o rosto para perto do meu ouvido.
- Ele tem razão, sabe? – Ele disse e eu ri fracamente, apoiando minha mão em seu braço, sentindo Chiello me apertar pela cintura.
Quando o apito finalmente foi soado, nós já estávamos comemorando há 34 minutos! Talvez antes disso, na verdade. Ganhar de 4x0 da Lazio não era algo que nunca esperávamos, talvez 4 a alguma coisa, mas nunca 4x0.
Pogba abriu o placar aos 23 minutos após uma cobrança de falta de Pirlo. Andrea chutou lento para Lich, Lich mandou para o centro da grande área e Pogba só a colocou dentro do gol. Tivemos algumas desvantagens em alguns momentos, mas eu e nem os defensores tivemos dificuldades de afastar o perigo.
No segundo tempo, voltamos com a confiança mantida. Chiello alargou o placar aos 52 minutos. Em uma cobrança de escanteio do meu lado, Pirlo mandou para longe e passou para Vidal, Vidal viu Lich e ele e Chiello correram juntos, com Tevez um pouco atrás, contra um defensor da Lazio. Lich fez o passe e Chiello também só colocou-a no gol.
Dois minutos depois, Lich quis fazer o dele. Na verdade, ele praticamente fez o gol e a assistência. Pogba distribuiu, Lich recebeu. Ele correu em direção à área e fez um passe para Vucinic que acabou recuando para trás e encontrando Lich. Lich estava sozinho com Marchetti e foi gol.
Tivemos gol de novatos também. Tevez, que estava conosco há cerca de um mês, há 18 dias comigo, pois voltei mais tarde, também decidiu mostrar para o que foi contratado. Eu fiz a saída de bola e passei para Leo. Leo passou para Asa do lado esquerdo, esse recuou para Chiello, Chiello alargou para Vidal, Vidal passou para Vucinic, Vucinic recuou e encontrou Lich que fez a defesa. Marchetti defendeu, mas Pogba estava pronto para fazer o rebote. Marchetti defendeu de novo, Pogba então recuou e passou para Tevez que explodiu na rede.
Não tinha como ficar mais feliz. Foi limpo, foi simples, acho que só três cartões, sendo um para nós. Era uma competição menor, mas vencer era um ótimo jeito de começar a temporada, dar um gás para conquistar mais um scudetto e o que mais que viesse.
- Estamos aqui com Gigi Buffon... – O jornalista da RAI falou assim que parei na frente da tela dos patrocinadores, ainda respirando fundo e passando as mãos nos cabelos molhados. – Que festeja o quarto troféu com a gestão Conte... – Ri fracamente. – E o seu é o quinto...
- Sim, quinta Supercoppa. – Falei, olhando o pessoal se acumulado do lado de fora do campo.
- Só seu...
- Pentacampeão. – Falei, rindo.
- Pentacampeão de Supercoppa. – Rimos juntos. – Gigi Buffon, mais um feito incrível. Uma vitória que manda para longe todas as dúvidas e perplexidade sobre a Juventus. O primeiro momento que a Juventus mostrou suas cores.
- Essa noite foi assim, mas foi assim pela grande squadra, pelos grandes jogadores, grandes jogadores se veem aqui, não em turnês na América, China e Japão. Jogadores se veem assim, quando vencem. – Falei, passando a mão no rosto.
- Uma das caras da Juventus é o Conte, isso se mantém ainda?
- Sim, claro. Vejo que isso tem um valor para gente muito suado, todos os jogadores, equipe, têm esse triunfo, e isso é atribuído a ele, mas também a nós. – Disse.
- Para finalizar, Gigi, é o primeiro prêmio que vocês comemoram perto dos fãs.
- Sim, sim, foi um prazer, é o primeiro troféu que festejamos em uma única partida com nossos torcedores, foi uma experiência nova. Dai. – Disse, acenando com a mão.
Troquei de lugar com Conte, dando um tapinha em suas costas e segui pelo campo, abraçando Chiello e Barza pelos ombros. Já tinha passado por quase todos os jogadores no meu caminho para a entrevista. Agora todos estávamos acumulados próximo ao palco montado, esperando a entrega das medalhas. Vi os jogadores da Lazio e segui cumprimentando-os um a um, abraçando o goleiro Marchetti.
Voltei para meu lugar quando os árbitros começaram a receber as medalhas e nos aproximamos devagar em fila. Eles receberam, depois a Lazio, depois chegou nossa vez. Eu fiquei por último com Conte para receber minha medalha e erguer o troféu. Desviei meu olhar para o outro lado do palco e estava lá com o resto do top cinco, com um largo sorriso no rosto, os braços cruzados e os pés equilibrando em cima dos saltos.
Subi no palco, cumprimentando o presidente da Supercoppa e outros dois que eu não me lembrava se eu sabia quem eram e inclinei a cabeça para receber a medalha. Meus colegas começaram a gritar e bater nas laterais do palco e eu coloquei as luvas novamente, apertando-as e o homem mais velho estendeu o prêmio para mim. A ergui para o céu de Roma, vendo os fogos e papéis picados estourarem pelo céu e logo passei a taça para o próximo.
Desci do palco do outro lado, esperando dar de cara com , mas ela e o resto do pessoal já tinham saído dali e estavam na pista de atletismo em volta do estádio. A risada escandalosa de Pepe me distraiu e ele trazia a taça logo atrás mim.
- Vai derrubar! – Barza disse, enquanto Chiello gargalhava.
- Cala a boca! – Pepe disse mais baixo, segurando-a direito e gargalhei com eles.
- A foto! – Pogba gritou quando íamos perto de nossa torcida e empurrei Pepe para perto da placa que havíamos passado.
Arrumamos o prêmio em frente ao local, nos juntamos atrás dela e mais papéis picados estouraram enquanto gritávamos e pulávamos. Após alguns cliques, finalmente seguimos para aproveitar com a nossa torcida.
Quando finalmente a adrenalina baixou, seguimos de volta para o vestiário. Logo no túnel, já vi o top cinco cumprimentando os jogadores que se aproximavam. Pepe, que já havia passado a taça para mim, foi correndo em direção à e abraçou-a fortemente, pegando-a pelas pernas e a colocou em seus ombros. Essa brincadeira estava fácil, não?
- PEPE! – Ela gritou. – Me coloca no chão agora.
- Vou te soltar, espera aí. – Ele disse.
- Não assim! – Ela gritou de volta. – Me puxa de volta. – Ela disse, desviando o rosto da bunda dele.
- Não soltar um pum é importante também. – Padoin disse.
- Ah, gente! – Ela disse rindo. – Me tira daqui, Pepe! – Ela disse mais baixo. – Está dando dor de cabeça, o sangue tá descendo.
- Alguém me ajuda. Ela está pesada. – Pepe disse, nos fazendo gargalhara.
- Ah, filho da puta! – Ela disse, rindo, colocando a ponta dos dedos no chão pela distância.
- Dá uma cambalhota, chefa! – Matri disse.
- Não inventa! – Ela disse.
- Para de graça! – Barza se aproximou, puxando para trás e Pepe finalmente a colocou no chão, os cabelos bagunçados.
- Desculpa! – Pepe disse, fazendo uma careta.
- Eu só não te bato porque a cabeça está doendo demais. – Ela disse, jogando os cabelos para trás e seu rosto estava mais corado, enquanto ela suava um pouco.
- Ciao! – Pepe disse, saindo correndo.
- Eu vou matá-lo. – Ela disse baixo, mas logo ela abraçou Quagliarella que estava próximo e depois Barza. – Exagerou. – Ela disse, passando a mão em sua barba e ele riu fracamente.
- É?
- É! – Ela disse rindo, empurrando-o pela cabeça e seguiu para Matri.
Ela talvez tenha ficado uns cinco minutos literais abraçada nele. Matri sairia do time junto de outros, mas sabia da proximidade deles. Poderia ser só brincadeira que eles casariam, teriam filhos e tudo mais, mas isso os aproximou. Eu não sentia tanto a saída de Matri quanto ela, principalmente por seus olhos estarem cheiros de lágrimas.
- Eu sei! – Ela disse, com a cabeça apoiada em seu ombro. – Foi bom demais. – Eles riram juntos, finalmente se afastando.
- Nos vemos em Milão. – Ele disse.
- Em Turim antes, em outubro. – Ela falou e ele assentiu com a cabeça.
- Ah, antes que eu me esqueça. – Ele disse, puxando a camisa que usava e entregou para ela, fazendo-a rir fracamente. – Para sua coleção.
- Normalmente me entregam limpa, nova e assinada, mas vale. – Ela disse, nos fazendo rir.
- Eu já volto! – Ele disse, puxando a blusa de volta e gargalhou quando ele saiu para o vestiário.
- Ah, Matri. – Ela disse, negando com a cabeça.
Não era só que recebia abraços efusivos, o resto do top também, mas todo mundo queria abraço da diretora bonita. Vidal, Pogba, Storari e Cáceres também fizeram algumas brincadeirinhas com ela, Lich, Leo, Claudio e Chiello a abraçaram apertado, Vucinic estalou um beijo em sua bochecha e ela precisou dobrar os joelhos para alcançar Giovinco, me fazendo gargalhar. Tevez teve um abraço apertado pela sua estreia e pelo gol, Llorente recebeu um carinho em seus cachos e Asa foi seu clássico apoio.
- Nossa! Nunca percebi como o time é grande. – Falei, me aproximando dela e ela deu um sorriso discreto.
- Você não costuma ser o último. – Ela disse.
- Não mesmo. – Falei. – Eu ganho um abraço?
- Bom, eu já abracei umas 40 pessoas, algumas me colocaram de cabeça para baixo, mas acho que é válido. – Ela disse, passando os braços pelos meus ombros e abracei-a pela cintura com uma mão, enquanto segurava o troféu com a ponta dos dedos. – Auguri, Gigi.
- Grazie. – Falei, me afastando devagar. – Faz tempo que a gente não conversa, nem deu tempo de conversar no amistoso do Papa. – Falei e ela riu fracamente.
- Ah, sabe como é, começo de temporada, as coisas estão meio loucas. – Ela falou e eu assenti com a cabeça. – Mas foi legal aquele dia, pena que vocês perderam.
- Nem todo dia é uma final de Mondiale. – Falei e ela riu fracamente.
- Quem sabe no ano que vem? – Ela falou. – Chegaram em terceiro na Copa das Confederações, têm tudo para ficar em primeiro.
- Deus te ouça. – Falei, sorrindo e ouvi passos rápidos.
- Aqui, chefa! – Matri apareceu de volta. – Agora sim. – Ele entregou a blusa dentro de uma sacola e riu.
- Agora eu nem preciso mais vender no eBay com suor de Matri. – Ela disse, rindo e eles se abraçaram novamente. – Grazie.
- Eu que agradeço, por tudo. – Ele disse e ela assentiu com a cabeça. – A gente se vê?
- É claro! – Ela disse, sorrindo, acariciando sua bochecha e ele inclinou a cabeça para o lado, dando um beijo em seu punho. – Voa, Matri. Você merece. – Ele assentiu com a cabeça, visivelmente emocionado e se afastou segundos depois, deixando suspirando sozinha.
- Você vai ficar bem? – Perguntei e ela virou o rosto para mim, passando o polegar embaixo dos olhos.
- Sim... – Ela disse em um suspiro, relaxando os ombros. – Ainda tenho o Quagliarella. – Ela brincou e eu sorri.
- Achei que falaria que ainda me tinha...
- Fizemos um acordo de ficar no time, lembra? – Ela disse olhando para mim e começou a andar em direção ao vestiário, me fazendo rir fracamente e segui-la alguns passos para trás.
Continua...
Outras Fanfics:
Em breve!