Última atualização: 22/07/2023

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Capitolo quarentuno

Lei
10 de setembro de 2013

A porta do elevador se abriu e o som era mais alto e abafado aqui embaixo. Andei lado a lado com Pavel e seguimos em direção ao túnel, ficando cada vez mais próximo do campo, mas sem sair da parte coberta.
- Buona sera! – Falei, distraindo o assessor da Nazionale.
- Buona sera! – O homem mais velho falou.
- Eu sou . – Estendi a mão.
- Ah, sim! Diretora de contabilidade e vice-presidente do time. – Ele disse, cumprimentando nós dois. – É um prazer, eu sou Marco.
- Prazer. – Pavel disse e assenti com a cabeça.
- Nós os chamamos aqui, pois hoje o Buffon completa 136 aparições pela Nazionale, igualando Fabio Cannavaro que foi a pessoa a mais aparecer, e o Pirlo completa cem, então achamos que legal vocês entregaram esses prêmios. – Ele disse, pegando duas placas de aço com alguns escritos. – Imagino que sejam próximos deles no time. Estar aqui no estádio de vocês é uma grande coincidência.
- Claro! – Pavel disse antes de mim. – Antes do jogo ou no intervalo? – Ele perguntou.
- Antes do jogo. – Marco disse. – Eles têm mais uns cinco minutos de treino, depois vocês já entregam a eles. Tudo bem?
- Claro. – Falei, pegando as duas placas das mãos de Marco.
- Perfeito! – Ele disse, se afastando alguns passos.
- Toma! – Escolhi a placa de Pirlo e entreguei para ele.
- Achei que quisesse entregar a do Gigi.
- Não! – Falei, virando o olhar para ele.
- O quê? O que aconteceu? – Ele perguntou e eu suspirei, encostando o corpo na parede.
- Eu não quero falar disso agora. – Suspirei.
- Qual é, , sou um dos seus amigos mais velhos, vai. O que houve? – Ele me cutucou com o ombro e eu suspirei.
- Eu cansei, só isso. – Neguei com a cabeça. – Eu não consigo esquecê-lo, então, eu vou tentar ficar longe o máximo possível. – Suspirei, virando o olhar para ele. – Não vai ser fácil trabalhando juntos, mas são pequenas ações assim que eu o afasto.
- O que aconteceu? – Ele perguntou. – De novo, eu digo. – Suspirei.
- De novo, nada. A gente só se atrai sempre, sua esposa já não olha direito na minha cara, os filhos dele me amam como se fosse uma tia deles e os quatro são iguais comercial de margarina, perfeito, lindo, mas eu sei os podres por trás. – Pressionei os lábios um no outro. – Eu gosto dele, sei que ele gosta de mim, mas eu não sou prioridade. – Dei de ombros e virei para ele de novo. – Preciso virar prioridade para mim.
- Espero que consiga, . – Ele disse. – Você é incrível. – Ele disse e eu ri fracamente. – Estou falando sério! Se eu fosse solteiro...
- Não termine essa frase. – Rimos juntos.
- Ah, o que foi? Somos nove anos de diferença, vai dizer que não gostaria? – Ele apontou para o corpo e eu ri fracamente, negando com a cabeça.
- Eu prefiro não comentar, nem para acabar com a minha reputação ou perder meu amigo. – Ele fechou a cara, rindo em seguida e me abraçou de lado.
- Falando sério agora, você merece ser feliz, . – Ele disse. – E o Gianluigi não te merece.
- A pior parte é que eu sei. – Suspirei, pressionando os lábios. – Mas o coração quer o que o coração quer, não é? – Dei de ombros. – E a vida parece tentar conspirar sempre a favor.
- Affanculo la vita. – Ele disse rapidamente. – Achei que você tivesse o controle dela. – Dei um pequeno sorriso, tombando a cabeça.
- Sabe que você tem razão?
- Eu sempre tenho! – Ele disse, nos fazendo rir.
- Mas e aí, Pavel? Gostaria de jogar hoje?
- É claro! – Ele disse, rindo. – Acho que nunca fiz um gol no Gigi, precisava. – Ele disse, nos fazendo rir.
- Vamos? – O assessor nos chamou.
- Quem sabe nos jogos de lendas no futuro? – Brinquei e ele me empurrou pelo ombro.
- Magoou! – Ele falou. – Doeu! – Rimos juntos.
Vi os jogadores entrando de volta para o treino e alguns conhecidos nos cumprimentaram: Chiello, Leo, Giaccherini, que havia saído do time, Ogbonna, que entrou nessa temporada, além de De Rossi e Astori. Era difícil viver no meio de jogadores de futebol, você ganhava intimidade muito rápido.
- Venham. – Marco nos chamou e seguimos para fora do campo onde Gigi e Pirlo estavam na frente de um arco montado para o canto dos hinos e apresentação dos times.
- Ciao, ragazzi. – Pavel falou e sorri, acenando para ambos.
- Ei! – Gigi sorriu.
- Ah, tinha que ser! – Pirlo disse sorrindo e pisquei para ele.
- Prestem atenção. – Marco falou.
- Essa noite... – O narrador do estádio começou a falar. – Gianluigi Buffon completa 136 aparições pela Nazionale, igualando o maior participante de jogos da Nazionale de todos. E Andrea Pirlo completa cem aparições também. – Ele finalizou.
- Parabéns, gente! – Falei e entreguei a placa para Pirlo, ouvindo os torcedores aplaudirem e gritarem.
- Valeu, chefa! – Pirlo me abraçou, dando um beijo em minha bochecha e sorri.
- E ganhem hoje! – Falei, ouvindo-o rir e eu e Pavel trocamos de lado e abracei Gigi rapidamente. Ele estava com o rosto sem barba e aquele queixo marcado só dificultava minha concentração. – Parabéns!
- Valeu, ! – Ele disse e eu e Pavel viramos de frente para a entrada do túnel, vendo alguns fotógrafos ali e passei o braço pelas costas de Gigi, sorrindo para alguns flashes.
- Bom jogo! – Falei, afastando o braço de Gigi e voltei alguns passos de volta para o concreto.
- Dai, ragazzi. – O assessor falou e os dois jogadores seguiram correndo pelo túnel.
- Pronto! – Pavel disse. – Vamos? – Assenti com a cabeça, seguindo por dentro do estádio de volta para o camarote.
- É como prender a respiração, sabe? – Falei para ele, entrando no elevador.
- Como assim? – Ele perguntou.
- Falar com ele, abraçá-lo. É como desarmar uma bomba. – Suspirei. – Eu não posso viver assim, Pavel.
- Espero que dê certo. – Ele disse, pressionando minha mão e assenti com a cabeça.
Assim que as portas do elevador se abriram, encerramos o assunto. Caminhamos calmamente até o camarote, cumprimentando algumas pessoas calmamente e suspirei ao ver o camarote dividido entre mais cheio e mais vazio que o normal. Por ser jogo da Nazionale, não tinha acionistas e nem os Agnelli em peso. Em compensação, tinha quase todos os jogadores e familiares que não estavam convocados com suas Nazionali. E nós tínhamos vários jogadores convocados frequentemente. O maior time da Itália, sabe como é, né?!
Dei uma rápida olhada em volta, reconhecendo alguns conhecidos e acenei para eles, vendo outros rostos virarem, denunciando minha posição. Vi Marchisio com Roby e engoli em seco com Alena ao lado dela, me fazendo suspirar, mas fiz minha parte e a cumprimentei com um aceno de cabeça que não teve retorno. Virei o rosto e vi Barza, sorri, acenando para ele e ele me chamou com a mão. Desviei de algumas pessoas, descendo os degraus e me aproximei dele.
- Ei, Barza! – Sorri e ele me abraçou.
- Tudo bem, ? – Ele estalou um beijo na minha bochecha e eu assenti com a cabeça.
- Tudo bem e contigo? – Sorri.
- Senta aí! – Ele disse, se sentando em uma cadeira e me sentei ao seu lado, passando a mão no quadril para abaixar o vestido. – Tudo bem também. – Ele disse.
- Fiquei surpresa por você estar aqui e não no campo. – Falei.
- Ah, o Prandelli está poupando um pessoal. – Ele disse. – Confesso que não me importo. – Ele disse, rindo. – Se ganharmos hoje, vamos para o Mondiale do ano que vem, então prefiro guardar gás para o ano que vem.
- E como você pode ter tanta certeza de que vai ser convocado para o ano que vem? – Perguntei, virando o rosto para ele.
- Ai, chefa! Nem brinca com isso! – Ele disse, me fazendo rir. – Alguém me falou que eu tinha sido pouco desvalorizado... – Gargalhei.
- Ah, agora vai jogar nas minhas costas?
- Mas é claro! – Ele disse, rindo. – Você que cuida da minha valorização de mercado.
- Isso é a maior mentira do mundo. – Falei, rindo.
- Como assim? – Ele perguntou.
- Não sou eu que escolho os números, Barza. Tudo depende do seu desempenho. – Falei. – Temos sim uma tabela de “pontos”... – Fiz as com as mãos. – De quanto você vale ou não, mas isso depende de você. – Dei de ombros. – Já faz quase três anos e você ainda é a minha melhor contratação...
- Eu fui barato, não é?! – Ele riu fracamente.
- Não por isso. Isso ajuda e muito, claro! – Ele riu fracamente. – Mas você se tornou indispensável. – Falei, suspirando. – Você é um dos jogadores com mais presença em todos os campeonatos, maior porcentagem de bolas recuperadas e, por causa de você e dos meninos, o Gigi coleciona clean sheet e torna a Juventus a melhor defesa do campeonato. – Disse.
- Na temporada passada. – Ele disse.
- Beh, só tivemos dois jogos essa temporada, nem tem como fazer grande avaliações. – Rimos juntos. – Se contar a Supercoppa e os dois jogos do campeonato, temos três jogos e duas clean sheet. – Disse.
- É algo.
- Encare, Barza, eu nunca vou deixar você sair do time. – Falei, rindo fracamente.
- É, mas em um momento eu vou ter que sair. – Ele disse.
- Já pensando em aposentadoria? – Franzi a testa e ele deu de ombros.
- Tenho mais três anos aqui, vai saber como eu vou estar até lá. – Ele disse.
- Bom... – Apoiei minha mão em cima da dele no braço da poltrona. – Temos tempo até lá, vamos analisando aos poucos. – Ele assentiu com a cabeça. – Mas não pense que vai ser fácil assim. – Rimos juntos. – Você tem o quê? 32? 33 anos?
- 32, faço 33 em maio do ano que vem. – Ele disse.
- Ah, certo, você é do mesmo ano que eu, não? 81?
- Você é de 1981? – Ele riu fracamente.
- Sim, mas sou de novembro.
- Isso eu sei, junto com o time, mas não sei, às vezes te acho tão mais velha. – Ri fracamente.
- Ah, nem fala isso. – Suspirei.
- Mas de um jeito bom. – Ele disse. – Acho que sua posição e sua postura te tornam imponente, sei lá. – Ele disse. – Mas você tem rosto de nova ainda. – Fechei os olhos e coloquei a mão no queixo, fazendo-o rir.
- Sou mais nova que você, Barza, nem vem. – Ele riu. – Agora com seu novo estilo, talvez pareça. – Falei.
- As pessoas tiveram uma boa recepção. – Ele disse, passando a mão no queixo e ri fracamente.
- Foi um grande upgrade, Barza. – Disse sorrindo. – Aproveite isso e sua solteirice. São uma ótima combinação. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Pode deixar que eu vou. – Ele sorriu com os lábios pressionados e desviei o rosto dele quando os jogadores entraram em campo e nos levantamos para o hino italiano.
- Posso te fazer uma pergunta? – Ele perguntou, inclinando o rosto em minha direção.
- Claro. – Falei, focando na frente.
- Por que você sempre vem uniformizada? – Ele perguntou e desci o olhar para minha roupa. O vestido preto e branco ajustado no corpo.
- Por que diz isso? – Perguntei baixo, ouvindo o início de Fratelli d’Italia.
- Entendo o preto e branco em compromissos da Juventus, é perfeito e cai muito bem em você, mas hoje você está de folga, não? – Ele perguntou baixo quando os cantos efusivos sobressaíram.
- Estamos na nossa casa, Barza. – Falei baixo, virando o olhar para ele. – Eu sou sempre observada. Tem sempre alguém ou alguma câmera nos encontrando. Melhor prevenir do que remediar. – Falei e vi seu olhar descer pelo meu corpo.
- Posso dizer que está muito bem. – Ele disse e evitei virar o rosto novamente, mas um sorriso dançou em meus lábios.
As Nazionali se separaram e nos sentamos novamente. O jogo não começou muito bom para o nosso lado. Aos 18 minutos, Kozak, da República Tcheca abriu o placar. Em uma falha de De Rossi, Gigi não conseguiu se conter, mas isso mudou no segundo tempo.
Aos 51 minutos, em uma cobrança de escanteio de Candreva, Chiellini subiu mais, encontrou a bola e o Juventus Stadium explodiu em comemorações. Era até estranho ver as arquibancadas pintadas de azul e vermelho, e não do preto e branco convencional, apesar das diversas bandeiras.
Três minutos depois, Balotelli foi derrubado dentro da área e ele mesmo bateu o pênalti, nos colocando à frente e se manteve assim para o resto do jogo e para a felicidade de todos no camarote hoje. Assim que o juiz apitou, foi uma festa tanto no campo, quanto nas arquibancadas, pelo menos para nós. Estávamos oficialmente no Mondiale do ano que vem, duas rodadas antes do fim das eliminatórias.
- Te vejo no Mondiale, Barza? – Perguntei quando ele me abraçou no fim do jogo.
- Com certeza. – Rimos juntos. – Mas vê antes também. – Ri fracamente.
- Já vejo muito, não acha? – Brinquei.
- Não acho, não. – Ele negou com a cabeça, pressionando os lábios.
- Bom, não sei se viu, mas a propaganda da Jeep saiu. Não sou uma pessoa que assiste muito televisão, mas vocês estão aparecendo demais! – Rimos juntos.
- Nem fala, meus filhos adoram me ver na televisão, mas até a minha mãe me ligou. – Ele falou, rindo.
- Mas ficou bem bonita. – Falei.
- Ficou! – Ele disse. – Eles conseguiram deixar a gente bonitos! – Rimos juntos.
- Nem parece que eram nove desajeitados na frente da câmera. – Sorrimos e vi as pessoas esvaziando o camarote. – Bom, acho melhor eu ir também.
- Casa? – Ele perguntou.
- Sim! – Suspirei. – Amanhã eu trabalho normal. E vocês?
- Treino depois das duas. – Ele disse. – Dá para dormir um pouco mais. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Não sei muito mais o que é isso. – Falei, saindo da fileira.
- Podemos sair para você relaxar um dia. – Ele disse, coçando a nuca e assenti com a cabeça.
- Claro. – Assenti com a cabeça. – Um dia.
- Posso te acompanhar até o carro?
- Claro, mas saiba que eu sou parada há cada 10 segundos ou menos. – Falei, andando um pouco à frente dele.
- Tudo bem, não estou com pressa. – Ele disse, me alcançando e assenti com a cabeça.

Lui
19 de setembro de 2013

- É, tipo assim, o único dia que a gente consegue fazer o Cáceres ficar bonito! – Vidal disse, fazendo as risadas estourarem pelo vestiário, com exceção do uruguaio.
- Ei! – Ele reclamou, abrindo os braços.
- Qual é, Martin, você não lava o cabelo. – Fernando, o novato, falou em um sotaque forte espanhol.
- Logo mais vira um dread isso! – Disse, ouvindo as risadas estourarem.
- Ok, ok, seus engraçadinhos! – Ele disse, voltando a fazer o nó em sua gravata. – Vou começar a denunciar todo mundo aqui! – Ele disse, nos fazendo rir. – Todos os hábitos estranhos e nojentos.
- Ah, gente, qual é! Não é culpa dele se ele gosta de se vestir igual um mendigo. – Barza falou e isso fez as risadas continuarem a ecoar no local.
- O Gigi não sabe dar nó em gravata até hoje e ninguém nunca falou nada! – Martin disse.
- EI! – Foi minha vez de gritar.
- Estou mentindo? – Cáceres apontou para mim.
- Não, mas também não precisa jogar assim na roda! – Falei rindo, ouvindo o pessoal rir em volta.
- O Gigi fica enrolando com a gravata até alguém se oferecer para ajudar. – Marchisio disse e eu pressionei os lábios.
- Vai, Gigi. Deixa que eu te ajudo! – Pepe disse ao meu lado e eu ri fracamente.
- ANDIAMO, RAGAZZI! – A voz de Conte nos distraiu antes de ele aparecer na divisão do vestiário. – Vai demorar quanto aí? A presidência já chegou, vamos! – Ele deu dois tapas na parede, fazendo o som sair ecoado e as risadas e brincadeiras reduziram, enquanto terminávamos de nos arrumar com o terno.
Pepe me ajudou com a gravata, então não demorei tanto quanto normalmente. Claro que eu preferia uma certa mulher de cabelos e lábios avermelhados para me ajudar, mas ela não estava aqui hoje. Pelo menos não aqui dentro. O pessoal começou a sair aos poucos e me sentei para calçar os sapatos, completando a roupa.
- Vamos, Fabio! – Padoin falou para Quagliarella.
- Eu coloco lá! – Ele disse, puxando a gravata e saímos juntos lado a lado.
- É ruim igual a mim? – Falei e ele riu fracamente.
- Totalmente desajeitado! – Ele disse, erguendo a gola da camisa social enquanto seguíamos para fora do vestiário.
Saímos por trás do vestiário e demos a volta até chegar na frente do prédio. Conte tinha razão, o top cinco já estava lá, conversando com os jogadores que iam chegando. Agnelli, Pavel, Paratici e Beppe estavam com as mesmas roupas que a gente, agora ... Bom, ficava linda até com um saco de papel na cabeça, hoje ela estava especial. Usava um vestido até o joelho preto e branco, exatamente preto e branco, dividido pela metade as duas cores, a gola era mais próxima do pescoço, então não deixava nada mais do que sua silhueta exposta. Além disso, ela usava sandálias altas finas tanto no salto, quanto na fivela. Se olhasse de relance, dava a impressão de que ela estava descalça.
- Ah, como vocês estão lindos! – Ouvi sua voz mais esganiçada, enquanto ela passava a mão no paletó de Barza.
- Olha quem fala! – Leo disse, abraçando-a de lado.
- Do lado preto pode, do branco não. – Ela disse, abraçando Leo pela cintura e mostrando os dois lados do vestido.
- Mancha? – Marchisio perguntou.
- Eu não vou pagar para ver. – disse, rindo.
Me aproximei do pessoal, vendo-a seguir para cumprimentar Quagliarella e Pepe e ela ajudou o primeiro a dar o nó na gravata e suspirei, vendo a proximidade da boca de Fabio da dela. Storari me abraçou pelos ombros e ri fracamente.
- Eu sou melhor nisso do que você. – A ouvi dizer quando abaixou as golas de sua camisa.
- E aí, Gigione! – Agnelli disse.
- E aí, Andry? – O abracei, dando um tapinha em seu ombro.
- Estávamos falando do jogo do fim de semana. – Pavel disse.
- Do que foi ou do que será? – Perguntei.
- Do que foi. – Agnelli disse.
- Ah! – Suspirei, tentando parecer desinteressado no empate contra a Internazionale no sábado, um gol de cada lado saiu com dois minutos de diferença e decidiu o jogo. – Acontece.
- É, não pode acontecer, né?! – Agnelli falou e fui interrompido antes de algum som sair da minha boca.
- Ah, vai começar cedo, Andrea? – apareceu ao nosso lado, revirando os olhos. – É o terceiro jogo da temporada, relaxa. Teremos outros 35 para estressá-los. – Ela apoiou as mãos na cintura, se colocando entre mim e Ogbonna. – A sessão de fotos marca o começo oficial da temporada, relaxa. – Ela virou para mim. – Alguém está irritadinho hoje.
- Normalmente é você, certo? – Agnelli disse para e ambos se entreolharam.
- Não fale algo que você possa se arrepender, Agnelli. – Ela disse mais baixo e ele suspirou.
- Me desculpe. – Ele disse, se afastando e franzi os olhos.
- Não vale a pena. – Ela disse, dando um sorriso para os quatro que sobraram na rodinha. – Vocês estão lindos demais! – Ela sorriu, virando para Pavel. – Agora entende a importância de ser patrocinado por uma maison? – Ela falou para ele.
- É por isso que você é diretora de contabilidade, não eu. – Ele disse, nos fazendo rir.
- Você deveria ser modelo, Angelo! – Ela disse para Ogbonna, o novato que veio do Torino.
- Ah, que isso. – Ele disse, rindo.
- Eu estou falando sério. – Ela disse, séria. – É só comparar, você. E... – Ela virou para mim e Storari que demos sorrisos largos. – Eles. – Ogbonna riu fracamente.
- Agradeço o elogio, ...
- Chefa! – Storari disse. – Ela é a chefa.
- Eu sou a chefa. – Ela disse para Pavel, nos fazendo rir e se afastou alguns passos. – Vamos tirar essa foto logo, gente, eu tenho um voo em três horas! – Ela falou mais alto, batendo as mãos fortemente.
- Aonde você vai? – Me aproximei dela, vendo-a tomar um susto. – Scusi.
- Vamos montar com os jogadores, então! – O fotógrafo falou. – Todos aqui?
- Sim! – Ela disse animada e virou o rosto para mim que estava um pouco atrás dela. – Eu vou para Inglaterra. – Ela disse baixo. – Paratici está sondando um jogador lá. – Ela disse.
- Alguém interessante? – Perguntei baixo, seguindo para a frente dos bancos.
- É isso que eu vou descobrir – Ela disse e eu assenti com a cabeça. – Acho que é melhor você ir. – Ela apontou para um dos poucos bancos vazios na minha fileira e eu assenti com a cabeça, sentindo-a me empurrar levemente pelo ombro e segui até meu lugar. – Tente deixar eles bonitos, é difícil, mas essa foto vai durar um ano inteiro! – disse, seguindo até atrás do fotógrafo junto do resto do pessoal e todos rimos.
- Alguém está atacada hoje! – Vucinic disse entre nós, nos fazendo rir.
- Eu ainda posso te ouvir, Mirko! – Ela gritou e olhei para ela que tinha os braços cruzados e um largo sorriso no rosto.
- Eu te amo! – O montenegrino gritou de volta, fazendo-a piscar para ele.
- Também te amo! – Ela disse, rindo.
Me sentei no meu lugar, ajeitando o paletó e Rubinho e Storari se sentaram ao meu lado. O pessoal foi se ajeitando em cima dos bancos e soltei a respiração devagar, vendo os assistentes organizarem os refletores nas laterais.
- Ok, ragazzi! Olhem para cá! – Ele gritou com um alto-falante. – Sem piscar! – Ele disse e o silêncio tomou conta do lugar. – Sorriam! – Ele gritou.
- Eles ficam mais bonitos sérios! – gritou de volta, fazendo as risadas estourarem na foto e tentei manter a seriedade, mas não foi possível. – Scusa! – Ela gritou de volta.
Demoramos mais um pouco para voltar à seriedade e observei esconder a boca com as mãos, provavelmente se segurando para não falar mais nada que demorasse mais do que alguns segundos para essas fotos serem tiradas.
- Pronto! – O fotógrafo disse. – Agora o pessoal da presidência.
Os cinco seguiram em nossa direção e vi os cinco entrarem na fileira do meio, fazendo a equipe técnica se afastar um pouco e vi pelo canto do olho. Ela ficou na linha de Rubinho, então apoiou as mãos nos ombros dele.
- Andiamo, ragazzi. – Ela disse e eu sorri.
- O que você tomou, ? – Quagliarella perguntou, virando o rosto para trás.
- Honestamente? – Ela fez uma careta e todos, sem exceção, viramos o rosto para ela.
- ? – Lich perguntou com os olhos arregalados para ela.
- ? – Perguntei também preocupado.
- Ei, relaxa, é só energético. – Ela disse e um alívio passou por todos nós. – Eu só não durmo mais que três horas há dois dias... – Arregalei os olhos. – MAS ESTÁ TUDO CERTO! – Ela disse mais alto, batendo as mãos novamente.
- Eu já teria morrido. – Vidal falou dramático. – Ela ainda consegue vir linda e de salto alto.
- Ah, mas que mulheres sempre foram superiores aos homens, eu nunca tive dúvidas. – Ela disse, nos fazendo gritar.
- Uh! – Gritamos juntos.
- Ah, coitadinhos. Até parece que eu estou mentindo. – Ela disse. – Vocês precisam da gente, qual é!
- É, bem... – Conte disse, nos fazendo gargalhar.
- Ok, ragazzi, vamos prestar atenção! – O fotógrafo falou e ouvi umas risadas baixas antes do silêncio se formar para mais algumas fotos. – Ótimo, perfeito! – O fotógrafo retornou o barulho após alguns segundos. – Agora vão trocar pelo segundo uniforme e nos encontramos no campo. – Ele disse e nos levantamos.
- Isso, agora vão colocar aquele uniforme de galinha. – disse e eu virei o rosto para trás.
- Você não está no seu normal. – Falei.
- Você também não, mas eu não estou falando nada! – Ela disse, saindo da fileira e eu franzi os olhos.
- O que isso quer dizer? – Storari falou ao meu lado.
- Não faço a mínima ideia. – Falei.
- Eu vou embora, ragazzi. – Agnelli disse. – Adio.
- Ciao! – Gritamos de volta.
- Eu não tenho muito mais o que fazer, as coisas estão no carro, estamos há meia hora do aeroporto, posso ficar um pouco mais. – Ouvi falar para Pavel e ele assentiu com a cabeça.
Segui com o resto do time para o vestiário novamente e demorou mais para tirar o terno do que enfiar o uniforme. Os jogadores de linha vestiriam o segundo uniforme, amarelo e azul dos jogos, agora eu, Storari e Rubinho vestiríamos o uniforme preto, muito mais bonito. Eu gostava dos uniformes escuros, eles eram mais imponentes e bem menos bregas, do tipo que me faziam usar meias amarelas e calças verdes. Não sei quem criava isso.
Saímos do vestiário bem mais rápido dessa vez. Pepe como sempre estava fazendo alguma gracinha na ida para o campo principal, o do fundo, onde os bancos estavam montados da mesma forma que antes.
- Consegue fazer isso? – Pogba falou, fazendo algumas embaixadinhas com as costas do pé e observei um pouco atrás dele, com os pés descalços na grama e a sandália nos pés.
- Ah, claro. Com toda certeza! – disse irônica. – Melhor do que você ainda! – Pogba e Vidal riram juntos.
- Você trabalha em um time de futebol, chefa. Você precisa saber jogar futebol. – Ele disse.
- Ei, ei, ei! – Ela chutou seu pé, fazendo-o perder as embaixadinhas e a bola rolar para o chão. -Eu falei que não sei fazer isso, mas eu tenho meus truques. – Ela disse, nos fazendo rir.
- O que ela está aprontando? – Falei baixo.
- Segura isso! – Ela disse, estendendo as sandálias para Pogba, batendo-as no peito dele.
- Ai! – Ele disse com a ponta fina e ela riu.
- Desculpa. – Ela disse e puxou a bola com o pé, aproximando dela e olhou rapidamente em volta.
Os campos em Vinovo funcionavam quase como a letra L. O principal era o na horizontal, e tinha outros dois na vertical, separados por grades com cerca de três metros de altura. A última vez que eu vi jogando futebol foi há quase 10 anos e ela quase deixou Lilian sem os dentes, mas não sabia se ela tinha treinado alguma coisa depois.
- O que você vai aprontar? – Vidal perguntou.
- Ei, não são só vocês que têm truques. – Ela disse, se afastando cinco passos largos da bola, horizontalmente ao campo.
- Estamos seguros aqui? – Pirlo perguntou, se ela chutasse de frente, a bola viria na nossa cara.
- Tchau! – Pepe foi o primeiro a sair rápido do local e eu já adiantei a colocação das luvas.
puxou um pouco da barra do seu vestido, erguendo-o até a altura das coxas, olhou fixamente para o campo do outro lado e vi seus ombros relaxarem. Ela correu uns cinco ou seis passos e seu pé direito descalço atingiu a bola. Ao contrário do que Pirlo pensava, a bola não veio em nossa direção, ela foi para o outro campo. Ela subiu a altura exata, não estourou na grade e nem bateu lá em cima, ela fez uma parábola perfeita, me deixando boquiaberto.
- CAZZO, CHEFA! – Pogba pulou surpreso.
- COMO? – Vidal gritou surpreso.
- Isso foi incrível! – Pirlo disse ao meu lado.
- Nem você faz isso. – Falei.
- Provavelmente não. – Ele disse, rindo.
- Eso fue increible. – Tevez disse surpreso e me aproximei do pessoal.
- Não sabia que jogava. – Barza disse.
- Ah. – deu de ombros. – Eu não jogo, eu me divirto. – Ela riu fracamente.
- Você sabia disso? – Conte virou para mim.
- Não! – Falei rapidamente. – Como você esconde essas coisas, ?
- Eu não estou escondendo nada... – Ela disse, rindo. – Só não teve oportunidade. – Ela deu de ombros.
- A última vez que eu te vi chutar uma bola... – Conte disse.
- NÃO É?! – Falei alto. – Foi a minha última também. – Falei.
- Ah, vocês são muito dramáticos. – Ela abanou com a mão.
- Eu sempre achei que a fosse defensora, cara. – Chiello disse. – Ela usa até o meu número.
- Não é o seu número, Chiello, é o meu número no time. Top três, lembra? – Ela falou, mostrando o número entre os dedos.
- Deixa eu sonhar! – Ele disse, nos fazendo rir.
- A é meio-campista, nunca tive dúvidas. – Marchisio disse e assentiu com a cabeça.
- Bom, eu sou a ligação central entre o começo e o fim, então... – Ela deu de ombros.
- Isso não foi sorte, foi? – Perguntei. – Você faz isso. – Ela cruzou os braços.
- Eu e a Giulia nos divertimos com os gêmeos de vez em quando. – Ela deu de ombros. – A gente acabou aprendendo algumas coisas. E depois que se descobre que defender uma bola com os pés no vôlei, reduz bastante dor nas costas, fica mais divertido. – Ela disse sorrindo para mim.
- Faz de novo. – Falei, me aproximando do amontoado de bolas e chutei uma rasteira em sua direção, vendo-a parar com os pés.
- Me testando? – Ela disse.
- Só estou curioso. – Falei.
- Ok... – Ela disse, parando a bola no chão.
Então ela fez exatamente a mesma coisa. Deu cinco passos largos, subiu o vestido, olhou para o outro lado do campo, onde a bola branca estava solitária lá, relaxou os ombros, correu e chutou. A bola fez exatamente a mesma trajetória e caiu há poucos centímetros da outra, batendo nela com o quique.
- Isso é demais! – Falei, rindo.
- Isso é incrível! – Pogba disse, rindo.
- Eu também tenho meus truques. – Ela disse, rindo.
- Você e eu vamos conversar disso depois. – Pavel disse, olhando para ela.
- Ah lá, escondendo alguns segredos! – Lich gritou.
- Posso garantir que escondo muito mais coisas de você. – Ela disse, seguindo em minha direção.
- Aonde você vai? – Ele perguntou.
- Sair daqui, senão vocês não acabam essas fotos nunca. – Ela disse e ri fracamente, segurando em seu braço quando ela passou perto de mim.
- Eu não sabia que você fazia isso. – Falei baixo. – Ou que jogava no geral.
- Não é lá grande coisa, Gigi. – Ela disse.
- Você está falando isso para mim que vivo disso. E você também. – Falei. – Foi incrível, . – Falei da mesma forma que ela falava para mim.
- Os gêmeos me ensinam. – Ela disse. – Eles estão treinando aqui com a gente agora, estão evoluindo bastante, acaba que a gente se diverte bastante.
- Fabrizio finalmente deixou eles virem para Juve? – Perguntei.
- Sim. – Ela sorriu. – Será que é nepotismo eu contratá-los para a equipe principal?
- Com toda certeza. – Rimos juntos. – Mas agora? - Franzi a testa.
- Só se vocês quiserem jogar com meninos de 14 anos. – Ela se afastou alguns passos.
- Ainda não. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Deixa eu ir. – Ela disse. – Preciso lavar os pés para pegar o voo... Ah, Pogba, meus sapatos! – Ela disse apressada e o francês veio em sua direção, entregando os saltos para ela. – Grazie.
- Prego! – Ele disse, rindo. – Vem jogar com a gente um dia.
- Ah, claro. Pode deixar. – Ela disse irônica. – Ciao, ragazzi! – Ela gritou.
- Ciao, chefa! – O pessoal disse alto.
- Ciao, Gigi. – Ela disse, se afastando e eu suspirei.
- Ciao, . – Falei baixo, evitando virar o olhar para ela e segui até o pessoal no campo que só falava do chute dela. Marchisio e Pirlo até comentavam de como precisaria bater na bola para alcançar isso. E ela tinha conseguido fazer duas vezes seguidas, sem hesitar.
E eu não tinha ideia que ela fazia isso.

Lei
26 de setembro de 2013

Me distraí do celular quando o trânsito ficou um pouco mais devagar e alguns gritos me distraíram. Suspirei, checando o horário e já passava das oito horas. Eu queria matar Pavel. Como ele tinha me avisado em cima da hora que não poderia ir? Espero que Ivana estivesse com uma febre bem forte para ele precisar levá-la no hospital.
Ok, não exagera, , mas ele realmente poderia ter me avisado antes, ainda mais fim de mês que eu estava finalizando as informações da reunião de acionistas. Algumas pessoas bateram no vidro do carro e eu suspirei. Treinando meu sorriso de aparições sociais.
Eu não sou um jogador, gente!
Pelo menos havia dado tempo de passar em casa para tomar um banho e fazer uma maquiagem à altura, mas os cabelos eu precisei prender em um rabo de cavalo alto e esperava que os brincos compridos tirassem a distração deles. O carro estacionou em frente à nova loja da Trussardi aqui em Turim e suspirei. Tinha um pequeno corredor aberto até a porta e um segurança abriu a porta para mim.
Coloquei o celular dentro da bolsa de mão e trouxe-a comigo. Senti alguns flashes em meu rosto, mas os gritos foram reduzidos com a decepção. Bom, decepção dos torcedores, os fotógrafos mantiveram os flashes em meu rosto, mas segui a passos rápidos até a entrada da loja, feliz pela compensação na temperatura.
Observei a loja com poucas pessoas lá dentro, mas devido ao espaço, dava impressão de que todos estavam no restaurante do hotel do time. Além do time inteiro, Agnelli estava próximo de Conte, Gigi e Tomaso Trussardi, o representante da marca aqui em Turim, irmão de Gaia, que fui apresentada no evento no fim da temporada passada.
Acenei para alguns jogadores e dei uma rápida olhada nas bolsas expostas e meus olhos focaram em uma preta e branca. A influência do time no meu guarda-roupa era incrível, inclusive o vestido preto de hoje. Alguns jogadores me chamaram com a mão, optando por seguir em direção ao meu presidente antes de tudo.
- Buona sera! – Falei, me aproximando.
- Ciao, ! – Agnelli me cumprimentou e dei dois beijos em seu rosto rapidamente. – Conhece Tomaso Trussardi?
- Sim, é claro! – Falei, cumprimentando o homem alto e maravilhoso, devo dizer.
- Já nos falamos para o fechamento da parceria. – Tomaso disse, apoiando a mão em minhas costas para me dar um beijo.
- Sim! – Sorri. – Onde está Gaia? Não veio?
- Hoje não, está cuidando de umas coisas em Milão. – Ele disse.
- Ah, que pena. – Assenti com a cabeça, passando para os dois últimos. – Conte, Gigi. – Falei para os outros dois, dando um rápido beijo em cada um deles.
- Tudo bom, ? – Conte perguntou.
- Tudo ótimo. – Assenti com a cabeça. – Ei, Gigi!
- Ei. Você está bonita. – Ele disse e eu desviei o olhar rapidamente para o decote em meu vestido. Não era a opção mais ideal, mas era um vestido da marca e foi o primeiro que eu encontrei entre as milhares de sacolas que eles me enviaram.
- Obrigada. Vocês também estão muito bonitos. – Falei, tentando não manter contato e dei uma olhada no ambiente e vi Cristina, apresentadora da Juventus TV. – Eu vou dizer oi para o pessoal. – Disse, vendo Tomaso e Agnelli assentirem com a cabeça e segui andando pelos dois ambientes da loja, pegando um copo de suco de laranja antes de seguir o caminho.
- Ciao, ragazzi. – Cumprimentei Lich e Llorente que estavam com a apresentadora. – Cristina.
- ! Que surpresa te ver aqui! – Ela disse e eu sorri, dando um abraço e um beijo em sua bochecha. – Que saudades que eu estava de você.
- Também estava. – Sorri. – Adorei seu vestido.
- Olha quem fala! – Ela disse, rindo. – Você está sempre magnífica. – Ela disse e eu sorri.
- Grazie, Cris. – Sorrimos. – E aí, meninos, tudo bem?
- Tudo bem, chefa, e contigo? – Lich disse e cumprimentei-o, em seguida cumprimentei Llorente e inclinei o corpo um pouco para frente para cumprimentar Cáceres.
- Adorei esses ternos. – Comentei alto.
- São lindos, não? – Cristina disse e sorrimos juntas.
- Nos meus jogadores ficam mais lindos ainda! – Falei e Lich riu, piscando para mim e eu neguei com a cabeça.
- Fala aí, chefa! – Senti uma mão em minha cintura e virei, vendo Quagliarella.
- Oi, querido. – Falei sorrindo e troquei dois beijos com ele também. – Isso é demais! – Falei, passando a mão nos ombros dele.
- Estamos chiques agora. – Cáceres disse e ri fracamente.
- Para você ver o milagre que um terno faz. – Falei e ele fechou a cara, me fazendo rir. – Vou dar uma volta, gente! – Desviei o copo com a mão e dei uma volta maior, cumprimentando Asa e Tevez no meio do caminho e me aproximei das bolsas pretas. Eu era muito tendenciosa, não tinha nem como esconder. Lembrei do copo em minha mão e levei-o à boca.
- Eu não faria isso se fosse você. – Barza disse, levando a mão até o copo.
- Por quê? – Franzi a testa.
- Não sentiu o cheiro? – Ele perguntou, mantendo o copo na altura do meu nariz e senti um forte cheio de vodca.
- Achei que era suco. – Falei, rindo fracamente.
- Tem suco aí dentro. – Ele disse, rindo, me devolvendo o copo. – Para dar cor, talvez. – Ri fracamente.
- Tudo o que eu menos preciso agora é de dor de cabeça. – Comentei, segurando o copo com a mão.
- Dia cheio? – Ele perguntou.
- Fim de mês. – Dei de ombros. – É uma loucura com reuniões de acionistas, pagamentos de funcionários, ainda o RH me obrigou a demitir dois funcionários, o que não é exatamente uma escolha difícil, mas não é confortável... – O vi me olhar atentamente. – Mas isso não importa. – Ri fracamente.
- Beh, se te incomoda, é importante. – Ele disse e eu sorri.
- Grazie, Barza. Como você está? – Inclinei o corpo para dar um rápido beijo em sua bochecha e ele apoiou a mão em minha cintura.
- Indo, na medida do possível. – Ponderei com a cabeça. – Como foi o jogo ontem?
- Mais difícil que o esperado. – Ele disse. – Se não fosse aquele gol contra no final... – Rimos juntos.
- Vocês não podem tropeçar com o Chievo, gente. – Rimos juntos.
- Ei, não fale mal do meu antigo time. – Ele disse, rindo.
- Você foi do Chievo?
- Um ano. – Ele disse. – Fiz três gols.
- Mais do que dois anos e meio na Juve. – Falei e ele fez uma careta.
- Assim você me magoa, . – Ele levou a mão ao peito e eu sorri.
- Você é a prova perfeita que não é o gol que segura um jogador em um time. – Falei.
- E aí, chefa? – Virei para o lado, vendo Leo e dei um rápido beijo nele.
- Tudo bem? – Sorri, cumprimentando ele e Pepe que estava ao seu lado.
- Está linda, hein?! – Pepe disse em seu jeito brincalhão.
- Algum dia ela não está? – Marchisio falou dramático e eu neguei com a cabeça, voltando a observar as roupas.
- Faz um tempo que não te vejo nos jogos. – Barza disse e percebi que ele ainda havia ficado ao meu lado.
- Eu fui só contra a Lazio, primeiro jogo em casa. – Falei.
- Perdeu o interesse? – Ele falou e eu franzi o rosto.
- No quê? – Perguntei.
- No futebol. – Ri fracamente. – Que eu também não te vi lá contra a Lazio. – Suspirei.
- Não, não, só fugindo um pouco do... – Indiquei Gigi com a cabeça e fiquei feliz por ele ser capitano do time, ele ficava preso em algumas coisas.
- Você não está indo aos jogos por causa dele e...
- No vestiário! – Falei firme. – Também ver Hella e Chievo, Barza? Apesar de tudo...
- Você não foi no jogo contra a Internazionale, . É derby d’Italia. – Suspirei.
- Eu me conheço, Barza. – Fiquei de frente para ele. – Eu sou fraca e assumo isso.
- Bom, somos em 25 jogadores, você não pode deixar de ir por causa de um. – Ele falou e eu sorri. – Todos gostamos de você.
- Para você ver como são as coisas. – Falei, dando de ombros. – Mas eu vou nos próximos, prometo. – Falei. – Eu ainda sou responsável pelas contratações. – Falei.
- Nos próximos quais? – Ele perguntou, me olhando com seus olhos verdes.
- Nos dois ou três próximos. – Falei, pensando. – Contra o Torino no fim de semana, derby dela mole, não posso perder.
- Obviamente. – Ele falou, me fazendo rir.
- Contra o Milan em casa, outro derby importante. – Falei.
- Bastante! – Ele disse, rindo.
- Ver o Matri, apesar de ele não merecer. – Ele sorriu. – E, talvez, para sua felicidade, eu vou para Florença com vocês, mas só por você. – Ele riu fracamente.
- Por mim?
- Obviamente. – Falei, virando o rosto. – Já que está insistindo tanto. – Ele sorriu.
- E vai nos ver. – Ele disse. – Sua beleza dá uma inspiração a mais. – Ele falou e eu revirei os olhos, empurrando seu rosto para o lado, ouvindo-o rir.
- Não dê uma Quagliarella ou de Matri, Barza. – Falei.
- Ah, não, está um pouco cedo ainda para prometer casamento e tudo mais. – Ele disse sorrindo e senti minhas bochechas esquentarem.
- Barza, Barza... – Falei, negando com a cabeça.
- Posso te perguntar algo? – Ele falou, virando o corpo para o outro lado e fiz o mesmo, vendo as outras bolsas e franzi a testa.
- Talvez... – Falei e ele riu fracamente.
- Não é pessoal. – Ele disse e eu sorri.
- Ok, diga! – Falei.
- Por que vocês fizeram parceria com uma marca de ternos? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Não estão gostando?
- Ah, assim, estamos muito mais bonitos, mas não usamos isso nos jogos. – Ele disse.
- Nos jogos não, mas para qualquer tipo de apresentação vão usar agora. – Falei, esticando a mão para uma sacola preto e branca.
- Como assim? – Ele perguntou.
- Viagens, chegada e saída de jogos, eventos do time... – Dei de ombros. – Bem melhor que o moletom, não acha?
- Vamos começar a usar para isso? – Ele perguntou.
- É uma ideia minha e de Angela, ainda estamos vendo se é viável, mas eu acho que sim. – Sorri, virando para ele. – Sempre brincamos que os jogadores da Juventus são outro nível, assim vocês provam que são. – Falei firme.
- Não vou negar, mas é impossível jogar futebol com isso. – Ele disse, rindo. – Eu não consigo correr com isso.
- Não se preocupe com isso. – Falei, apoiando a mão em seu ombro. – Um terno não foi feito para isso. – Pressionei os lábios. – No máximo para ficar jogado no chão no canto de um quarto. – Disse.
- Ah, ... – Ele disse em um misto de suspiro e eu sorri.
- Muito cedo? – Brinquei.
- Não mesmo. – Rimos juntos e ele deu um beijo em minha têmpora, já que de saltos eu ficava um pouco mais alta do que ele.
- Eu vou dar uma volta. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
Pressionei meu lábio inferior quando saí do seu campo de visão e olhei para a área das fotos, vendo Agnelli me chamar com a ponta dos dedos e vi Gigi olhando fixamente para mim. Engoli em seco e me aproximei deles.
- Podemos tirar umas fotos contigo e de seu vestido? – Tomasso disse.
- Claro! – Sorri. Como se fosse difícil sorrir para um homem daqueles.
Ele passou o braço pela minha cintura e eu fiz o mesmo. Vi Agnelli, Gigi e Conte se aproximarem da foto e vi o olhar de Gigi sobre o meu e desviei para frente, sentindo alguns flashes. Olhei para atrás dos fotógrafos, vendo Barza lá atrás e engoli em seco.
Fodeu!

Lui
Sete de outubro de 2013

Imbiquei o carro na garagem e suspirei, esperando o portão eletrônico abrir. Entrei com o carro no espaço vazio e o desliguei. Suspirei, olhando a casa com as luzes apagadas e perdi uns cinco minutos no carro, antes de empurrar a porta e sair, puxando minha mochila comigo.
Empurrei a porta da cozinha, vendo a casa toda apagada. Já passava da meia-noite, era esperado. Tirando a luz do corredor, tudo estava desligado. Subi a passos lentos, ouvindo os tênis de corrida guincharem contra o mármore e subi as escadas devagar, ouvindo o barulho ecoar devido aos tapetes.
Parei no quarto de Dado antes, abrindo a porta devagar e vi o abajur aceso com desenhos de dinossauro que refletiam nas paredes do quarto. Me aproximei da cama, passando as mãos nos cabelos do meu menino de quase quatro anos e dei um beijo em sua cabeça. Peguei o dinossauro de pelúcia que estava caído no chão e coloquei entre seus braços de novo.
Saí após alguns minutos, puxando a porta e segui para o quarto do Louis. Dado era mais comportado para dormir, agora Lou parecia que tinha guerreado contra o travesseiro. Ele já quase caía e parte do seu corpo estava coberto e parte não. Não era à toa que sua cama era encostada na parede.
Ajeitei-o de volta no centro da cama, colocando sua cabeça em cima do travesseiro e ele resmungou alguma coisa. O cobri e me sentei na beirada na cama. Passei a mão em seus cabelos lisos, dando um beijo em sua cabeça e respirei fundo. Apesar de tudo, eles são as pessoas mais importantes para mim.
Suspirei, sentindo o cansaço começar a me ganhar. O jogo havia sido difícil! Levei um gol com menos de 20 segundos de jogo. Pirlo igualou com uma falta aos 15 minutos e ficou assim até o segundo tempo. Era o Milan, então o jogo nunca era calmo, sempre era violento e não podia nem contar quantas faltas não foram dadas para os dois lados ou o jogo demoraria muito mais do que durou.
Giovinco e Chiellini deram maior diferença aos 69 e aos 75, com um drible da defesa inteira, da parte de Sebastian, e com um rebote de Giorgio, respectivamente. E, quase nos acréscimos, eles aproximaram, mas conseguimos manter a vitória. Agora tínhamos alguns dias de folga devido às eliminatórias da Copa, mas eu precisava estar em Florença amanhã para me apresentar para Nazionale, então não tinha muito descanso.
Saí do quarto de Louis, fechando a porta e segui até meu quarto. Segurei a maçaneta da porta e respirei fundo antes de abrir a porta. Engoli em seco quando o abajur ainda estava ligado e Alena lia alguma revista na cama. Seu olhar encontrou com o meu e fechei a porta logo que entrei.
- Ei, Lena. – Falei, seguindo até a poltrona no meio do quarto e deixei a mochila lá.
- Oi. – Ela disse e segui pelo closet, tirando o conjunto de moletom de ida e volta dos jogos. – Você demorou. – Ouvi sua voz um pouco mais alta e virei o rosto para a porta, vendo-a apoiada nela.
- Ganhamos do Milan, Lena. O pessoal quis comemorar. – Falei, jogando a roupa dentro do meu lado do armário e ajeitaria isso depois.
- É, eu vi que vocês estavam mu-u-uito felizes. – Ela disse sarcasticamente e virei o rosto para ela, vendo-a revirar os olhos.
- O que isso quer dizer? – Falei, pegando os shorts do pijama e o vesti.
- Nada! – Ela disse e eu me aproximei dela.
- Fala logo, Alena. – Disse. – Eu estou cansado e preciso ir para Florença amanhã cedo.
- Eu te vi com . – Ela disse e eu joguei a cabeça para trás.
- Ah, essa história de novo. – Bufei, jogando uma camiseta pela cabeça. – Já falei, não tem nada entre mim e a . – Falei firme.
- Não foi o que aquele abraço e aquelas risadas me disseram. – Ela falou e eu suspirei, desviando dela e saindo do closet.
- Estávamos falando do Matri, como ele virou milanista em menos de dois meses. – Falei firme. – Reclamão e chato.
- Suas palavras podem dizer algo, Gigi, mas sua feição não. Você se abre para ela quando a vê. – Ela disse. – Parece o Lou. – Ela suspirou. – Afunda o rosto no cabelo dela, cheira, passa as mãos pelo corpo dela...
- Eu não faço isso.
- VOCÊ FAZ! – Ela disse mais alto, respirando fundo e levando as mãos na cabeça. – Você a ama, Gigi...
- Eu não...
- Você pode mentir para si mesmo, mas não mente para mim. – Ela disse. – Ela é como sua boneca de porcelana, que você não pode pegar e brincar com ela. – Revirei os olhos. – Você não me trata desse jeito.
- Olha o que você está falando, Lena...
- Vai dizer que eu estou ficando louca agora?
- Sim! – Falei firme e ela riu sarcasticamente.
- Você é ridículo. – Ela disse, rindo. – Se eu soubesse que esse seu amor era platônico, eu nunca teria me casado com você.
- O que você está dizendo, Lena? – Neguei com a cabeça.
- Eu estou dizendo que isso não pode continuar assim, Gigi! – Ela falou firme. – Não posso ficar casada contigo, sendo que eu nunca fui a sua favorita...
- Não fala besteira, Lena...
- E nunca vou ser! – Ela completou alto. – Você só ficou comigo porque ela terminou contigo. – Ela disse firme. – Eu nunca fui sua primeira escolha. Aposto que se não fosse os meninos a gente nem teria durado tanto. – Engoli em seco e ela negou com a cabeça. – Você precisa se decidir, Gigi.
- O quê? – Franzi a testa.
- Eu ou ela! – Ela disse firme.
- É você, Alena. Eu não tenho mais nada com a há anos.
- Fisicamente, talvez. – Ela disse. – Mas não é só por ações que as traições acontecem.
- O que você está dizendo? – Ergui o olhar para ela. – Eu não te traio, Alena. – Falei firme.
- Por ações talvez não, mas aposto que seus pensamentos são sempre ela, ela, ela! Até nossos filhos preferem ir com ela do que comigo!
- Ah, pelo amor de Deus, Alena. O Lou tem uma ligação especial com ela por causa de você! – Falei firme. – Foi você que deixou-o no colo da por três horas quando ele era um bebê.
- Isso foi antes de eu saber que você tinha transado com ela! – Ela disse brava e eu neguei com a cabeça.
- Agora porque você descobriu que tivemos uma história, você não gosta mais dela? – Falei rindo sarcasticamente. – Você sempre falava com ela nos jogos e eventos, o que mudou? Que eu e ela namoramos?
- Mudou que você não me contou isso. – Ela disse firme. – Escondeu isso de mim e eu só descobri por que você descobriu que ela estava lá no Mondiale. Que ela te viu comigo. Que você a traiu comigo. Foi isso, não? – Me aproximei rápido dela.
- Nunca mais diga isso. – Falei firme. – Eu nunca traí a contigo, porque eu e a nunca tivemos um relacionamento sério.
- Você só pensa nela, Gigi... – Ela riu sarcasticamente. – Até hoje você tem um relacionamento sério com ela! Sem as diversões, mas tem! Você só é idiota o suficiente para não enxergar isso. – Ela deu de ombros. – E eu fico parecendo uma equilibrista tentando conciliar suas mudanças de humor. Ela te ignora? É isso? Ela seguiu em frente? Está com outro namorado? – Suspirei. – Eu preciso que você se decida, Gigi. – Ela disse e ergui o olhar para ela.
- Decidir o quê? – Perguntei, franzindo a testa.
- Se realmente vale à pena continuar com esse casamento. – Ela disse e eu engoli em seco.
- O que você está dizendo, Lena?
- Eu estou dizendo que eu cansei de ser só a mulher modelo. Eu te amo, Gigi, mas eu também gosto de ser amada. Não vou viver em um relacionamento de aparências, porque eu não sou assim. Eu não sou italiana, mas eu também gosto do amor, do calor, da paixão... – Ela negou com a cabeça. – Eu sinto como se morasse com um colega de quarto. Acho que até com um colega de quarto eu teria mais intimidade.
- Eu estou decidido, Alena! – Falei firme.
- Não. – Ela negou com a cabeça. – Não me responda agora! – Olhei em seus olhos. – Eu preciso de você totalmente disposto a fazer isso dar certo. Porque da última vez você também prometeu, mas durou os quatro meses até o casamento e foi decaindo a níveis desastrosos até virarmos dois estranhos na mesma casa. – Suspirei.
- Alena, me escuta...
- Não, agora não. – Ela disse. – Eu disse o que precisava dizer. – Ela disse, suspirando. – Eu não quero perder a minha vida insistindo em alguém que não me ama, que não está inteiramente disposto a fazer isso dar certo.
- Alena, por favor...
- Seu coração pertence a outra pessoa, Gigi. – Ela disse. – Mas você também não se esforça nem um pouco para fazer o que temos dar certo.
- Você está errada, Alena.
- Ah é?! – Ela riu fracamente. – Eu tenho certeza que não. – Ela deu um curto sorriso, voltando para a cama. – Se você não estiver mentindo para mim e realmente não tem ideia do que eu estou falando, então você é mais desatento do que parece. – Ela se sentou na cama. – Só pensa, ok?!
- Isso é ridículo, Alena, eu...
- Não, Gigi! – Ela falou firme. – Vai para Florença, pensa, vamos ficar esses 10 dias afastados, tenta dedicar um pouco da sua agenda em nós dois, se você ao menos quiser. – Engoli em seco e ela pegou a revista novamente. – Você pode dormir no sofá.
- Ah, e eu ainda durmo no sofá? – Ri fracamente, vendo-a nem se mexer. – Ok.
Suspirei, cansado de brigar e puxei meus travesseiros da cama, colocando-os embaixo do braço e procurei meu celular na bolsa e segui para fora do quarto, batendo a porta. Passei pelo corredor, entrando no quarto da bagunça dos meninos e empurrei alguns brinquedos para o chão para limpar o sofá e joguei os travesseiros lá. Procurei uma coberta no armário e peguei antes de deitar.
Ajeitei a coberta em cima do corpo, sentindo os pés ficarem para fora e bufei, ajeitando a cabeça no travesseiro diversas vezes. Mexi o corpo para um lado e para outro e sentei novamente. Aqui não daria certo. Olhei para o tapete felpudo no chão e tirei os brinquedos de cima, ouvindo os barulhos das peças baterem e estiquei a coberta em cima dele e joguei os travesseiros no chão. Peguei outra coberta no armário e me sentei no chão, sentindo as pernas doerem devido ao ritmo pesado do jogo e bufei.
Olhei para a luz acesa e tentei esticar o corpo para desligar, mas era à prova de crianças. Me sentei, escorregando o corpo para trás e desliguei a luz, aproveitei para fechar a porta também. Voltei para meu lugar, tentando me ajeitar da melhor forma possível e lembrei que eu deveria ter ido no banheiro antes de deitar. Neguei com a cabeça e peguei o celular.
As fotos do jogo já estavam em meu e-mail e as abri para vê-la uma a uma. A última era depois do jogo, eu abraçando . Suspirei ao ver minhas mãos apertando-a fortemente pela cintura e engoli em seco, negando com a cabeça.
Alena tinha razão, eu não me esforçava nem um pouco para fazer isso dar certo e pensava em em toda oportunidade possível, mas eu não podia falar isso para ela, não é? Eu podia ter um casamento entediante, mas não queria ser morto. Eu só não sabia como desapegar disso. Já são anos, eu não conseguia me desapegar. Ela perto, ela longe, eu sempre acabava voltando meus sentimentos para ela.
Abri nossa mensagem no WhatsApp e vi que fazia tempos que não conversávamos por ali, desde sua mensagem na Copa das Confederações. Cliquei em sua foto, vendo-a expandir e era uma foto da sessão de fotos do time. Ela estava rindo, jogando o cabelo para trás e usava o mesmo vestido da sessão de fotos.
Sorri ao me lembrar de ela fazendo aqueles chutes e suspirei. Quem diria que a menina que chutou uma bola no queixo de Lilian, que sonhava em ser jogadora profissional de vôlei, teria alguns truques com os pés. E que eu não sabia disso. Voltei a foto, vendo o espaço de mensagem e eu sabia que eu não deveria fazer isso, mas também sabia que não dormiria logo, então eu digitei algumas palavras.
“Grande vitória hoje, hein?”
Enviei e esperei. Sabia que demorava para dormir sempre, seja em dias de jogos ou não. O trabalho dela a consumia mais do que parecia. Ela estava a base de energético uns dias atrás, do contrário, a maquiagem escondia seu cansaço para que ela parecesse perfeita. Ela é perfeita, mas até ela se cansava.
Esperei 15 minutos observando o celular apagar e eu forçá-lo a acender e suspirei frustrado. Ela não ia responder agora. Neguei com a cabeça e larguei o celular de lado, eu precisava tentar dormir, mas sabia que seria muito difícil.



Capitolo quarantadue

Lei
20 de outubro de 2013


Acho que fazia uns 10 minutos que o apito final tinha sido soado e eu continuava travada em minha cadeira como se tivessem colado minha calça com cola extraforte. O braço apoiado na cadeira, o rosto encaixado na mão e os lábios entreabertos. Era o primeiro jogo que eu ia fora em bastante tempo para isso? Não era possível.
Olhei para o lado, vendo que tinha praticamente eu, Beppe e Paratici no camarote reservado para nós e todos tinham a mesma feição de surpresa do que eu. Parecia que tinha dado um apagão no time, um tilt, que fez o time inteiro se desesperar e, um momento perfeito, se transformou no maior pesadelo nas nossas vidas!
O primeiro tempo começou razoavelmente bem. Boas chances tanto para nós, quanto para a Fiorentina. Tanto Gigi, quanto Neto, estavam segurando bastante, era um jogo bastante equilibrado. Na verdade, equilibrado o suficiente para eu começar a pesquisar sobre o goleiro deles durante o jogo e a comentar sobre isso com Paratici.
Norberto Murara Neto, 24 anos, brasileiro, natural do estado de Minas Gerais, havia jogado no Atlético Paranaense antes de vir para a Fiorentina em 2013. Ele era interessante, estava segurando bastante e quase tinha pegado o pênalti de Tevez. Podia ter certeza de que ele entraria no meu radar.
Para o nosso lado, Gigi também estava segurando, mas quem mais estava atacando era Cuadrado, outro nome que entraria no meu radar em breve. Colombiano de 25 anos, veio para a Itália para jogar na Udinese, foi emprestado para o Lecce, mas iniciou sua carreira no Independiente de Medellín. Ele estava fazendo Gigi suar mais que o planejado.
Enfim, após minhas pesquisas de campo e eu decidir que jogadores eu roubaria de times italianos para Juventus, eu voltei a focar no jogo. Abrimos o placar em um pênalti sofrido em cima de Tevez. Ele mesmo bateu e, apesar de Neto ter feito o movimento certo, meu argentino favorito chutou no centro do gol. Três minutos depois, foi a vez de Pogba fazer a diferença. E foi assim que terminamos o primeiro tempo. Bom, assim e com dois cartões, um para Tevez e outro para Barza, mas amarelos.
O segundo tempo começou mais lento do que o esperado. Depois de dois gols em três minutos, achei que a diferença ficaria grande. Ainda bem que eu só achava. Marchisio teve uma chance aos 55, mas Neto segurou e segurou bem demais. Em uma cobrança de falta de Pirlo, também. Ele tinha até o mesmo estilo de Gigi para organizar a barreira.
Talvez um sucessor? Eu deveria pensar nisso agora? Gigi tinha contrato com a gente até 2015 e continuava em excelente nível. Mas um reserva talvez? Amava Storari, mas não era o reserva à altura de Gigi e Rubinho não tinha chances de mostrar sua capacidade. Não sei, a cabeça começava a fervilhar e talvez seja algo a se pensar.
Eu sempre suspeito quando o jogo está calmo, sem muitas chances para os dois lados, quase como um dia lindo de sol, mas sem nada de vento, uma hora o sol te queima. Isso podia ser metafórico, mas acontecia o mesmo em um jogo de futebol. Asa derrubou Rossi na área ao tentar tirar dele e o time foi em cima do árbitro.
Barza era sempre o mais esquentado, o que era engraçado baseado no quão carinhoso ele era comigo. Ele foi o primeiro a chegar. Pirlo e Padoin foram depois, e só então o capitano chegou. Gigi era quase político demais, ele se dava bem com todo mundo, então chegou no sorriso para cima do juiz. Não adiantou de nada, Rossi mesmo bateu o pênalti e apesar de a bola e Gigi irem no mesmo lado, foi gol.
Mas ainda estava calmo, apesar da torcida viola começar a cantar muito alto. E eu sabia muito bem o poder de uma torcida. Curva Sud que o diga. O jogo seguiu, faltava somente 20 minutos para acabar, mas estava calmo. Tivemos uma chance de falta, mas não conseguimos converter.
Até que o sol lindo e sem vento começou a nos queimar. Aos 76 minutos e pelos próximos quatro minutos ele nos queimou, descascou e causou uma insolação que não te deixava colocar nenhuma roupa.
Tudo começou com um passe errado de Leo. Gigi fez a saída de bola, passou para Leo e, no passe para o meio, o número 49 da Fiorentina interceptou e não fez mais nada, só chutou. Gigi se esticou todo para conseguir, mas já tinha acontecido o empate.
No minuto e pouco que foi o intervalo de um gol e outro, Conte tirou Marchisio e colocou Vidal. E ainda tivemos uma chance de gol, mas Neto pegou.
O segundo gol da leva, e terceiro contra nós no jogo, veio por um erro de Pogba. Ele perdeu a bola, mas Asa recuperou, Asa passou para Pirlo e Pirlo passou para... Era para ser para Vidal, mas o jogador da Fiorentina interceptou. Ele deu início ao contra-ataque, passou para Cuadrado, Cuadrado se embolou com Pirlo e recuou a bola, o número 23 passou para o número 20 que passou para Joaquim que estava sozinho, repito, SOZINHO do lado esquerdo do campo. Gigi saiu do gol para interceptar, Chiello, Barza e Leo foram para dentro do gol, mas a bola já tinha entrado.
Eu achei que o pesadelo tinha acabado aí, 3x2, dois gols em dois minutos, era um grande feito, mas achei que ainda tivesse jeito, construção e tudo mais. Em mais um minuto e pouco entre os gols, Conte tirou Asa e colocou Giovinco, um atacante a mais poderia resolver, talvez a criar mais ataques, mas não mais gols.
O erro começou em nosso ataque, todos os violas na área deles fez a bola recuar e em uma das levantadas e cabeceadas, Padoin não conseguiu pegar, mas os violas pegaram. Barza estava quase na área deles e entrou em modo desespero para alcançar Cuadrado. Barza tinha uma grande estirada, mas não foi possível competir com ele.
Leo conseguiu sair um pouco mais à frente e Chiello vinha do lado esquerdo. Tinha Gigi, dois violas e três defensores em péssimas posições. Ao invés de Cuadrado chutar, ele passou por Rossi, posso garantir que ela passou entre Leo e Barza. Rossi recebeu a bola e chutou, tive a impressão de que Chiello foi o único a tentar alguma coisa.
Enquanto a Fiorentina comemorava esse grande feito, e que grande feito, Gigi, Barza, Leo e Chiello se olhavam sem reação. Eu entendo, eu estava do mesmo jeito. Não tem nem que o que falar de Gigi, ele estava sozinho ali, a única explicação é por que os outros não estavam ali? Barza nunca recuava junto.
Eu fiquei os últimos 10 minutos pensando nisso, 13, na verdade. Tivemos alguns minutos de acréscimos. Era visível que todo o BBBC tinha travado, o meio de campo estava começando a abusar das faltas e sabia que logo mais alguém sairia machucado e as coisas ficariam mais feias para o nosso lado. Pogba deu entrada feia, Leo deu uma que ele pisou no cara, não precisava disso. Leo era o mais novo de todos, tinha 26 anos, comparado com os 35 de Gigi, 32 de Barza e 29 de Chiello, então ele se esquentava rápido demais.
O jogo acabou sem grandes surpresas. Apesar que depois de três gols em quatro minutos, que mais surpresas eu queria ter? Talvez mais gols nossos, uma remontada, mas não. De 2x0, o placar acabou em 4x2 e doía demais.
- A gente precisa descer. – Beppe disse e eu suspirei.
- Vamos lá. – Falei, dando de ombros. Não tinha outra escolha além dessa, então não tinha o que fazer.
Segui um pouco atrás dos outros dois. O caminho até o vestiário estava completamente vazio. O estádio já deveria estar quase vazio, na verdade. Chegamos no nível do vestiário e alguns jogadores da Fiorentina ainda estavam lá. Dei alguns rápidos acenos de cabeça, sem me demorar mais do que alguns segundos nisso e suspirei ao me ver na frente do vestiário do visitante.
Beppe e Paratici entraram na frente e eu segui logo atrás, respirando fundo. O vestiário da Fiorentina era bem menor do que o que estávamos acostumados lá em Turim, a área de se vestir dos jogadores era quase do tamanho do meu quarto. O antigo, não o que eu estava prestes a adquirir. E, no fundo, tinha algumas salas menores.
O silêncio era maior do que em uma igreja, parecia um velório e o corpo era velado no centro do vestiário. Boa parte dos jogadores não estavam ali, talvez estivessem no chuveiro, mas os que estavam, em sua maioria reservas, estavam quietos em seu canto. Vi Conte apoiado na parede e me aproximei dele.
Ele não falou nada e eu também não, só passei meu braço pelos seus ombros e puxei-o para um abraço. Havia sido feio e desastroso, mas não era o fim do campeonato, tínhamos 30 jogos ainda.
- Tudo bem? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça.
- Vai lá. – Ele disse, indicando com a cabeça uma outra sala.
- O quê? – Perguntei, seguindo em direção a sua mão e empurrei a porta entreaberta.
- A gente fixa isso! – Vi Barza dizer sentado, enquanto Leo andava em círculos pela sala e Gigi e Chiello estavam encostados nas paredes. – Eu não recuo mais, não sou bom de cabeça mesmo...
- Tudo certo aqui? – Falei, sentindo o olhar dos quatro em minha direção e me senti levemente intimidada com isso.
Os quatro mantinham somente o calção do uniforme e as chuteiras, as meias estavam arriadas e as caneleiras estavam quase soltas. O suor ainda era visível no tronco brilhante dos quatro, mas tenho que dizer que não era isso que eu estava preocupada, eu tinha quatro amigos muito gostosos.
- Ei, ! – Gigi foi o primeiro a dizer, se sentando no banco no centro da sala ao lado de Barza.
- Veio analisar nossos erros? – Leo perguntou.
- Como se eu gostasse de dançar em cima de caixão fechado. – Falei, fechando a porta, ouvindo o estalo. – E pelo jeito vocês já estão fazendo isso...
- Não tem o que falar. – Chiello disse. – Deu um apagão na gente, não tem explicação.
- Mas é a última vez. – Barza disse apressadamente.
- Vocês não precisam dizer isso para mim. – Falei, rindo sem graça. – Não é uma derrota que vai fazer eu perder confiança em vocês.
- O problema não é a derrota, . – Gigi disse. – Foi o contexto, foi...
- Foi horrível. – Leo falou firme.
- Isso foi! – Falei, suspirando. – Mas não é o fim do mundo. Semana que vem tem mais um jogo, e outro jogo, e outros 30 jogos para vocês limparem o que aconteceu hoje. – Cruzei os braços.
- Mas isso não pode acontecer de novo. – Barza disse, erguendo o olhar para mim. – Basta!
- É! – Chiello disse.
- Ótimo! – Sorri. – Então está decidido! – Eles riram fracamente.
- Agora precisamos ver como. – Gigi disse. – Se a Fiorentina conseguiu fazer isso, imaginem os outros times...
- Eu confio em vocês. – Falei, suspirando. – Só espero que vocês acertem isso logo, temos Real Madrid na quarta-feira e não quero ir para Madrid para ficar em estado de choque. – Barza riu fracamente.
- Você vai?
- Nunca fui para Madri, por que não? – Dei de ombros.
- Fernando não veio de lá? – Leo perguntou.
- Atletico Bilbao, mas foi uma escolha do Paratici, eu nunca tinha visto-o jogar. – Dei de ombros.
- Seu trabalho é roubar jogadores de outros times italianos. – Leo disse, rindo.
- Ei, o Barza veio da Alemanha... – Apontei para ele, ouvindo-os rirem. – Mas você não deixa de ter razão, Leo. Contratar jogadores italianos ou que estão na Itália é bem mais fácil.
- Por quê? – Chiello perguntou.
- A documentação já está pronta, a prova de proficiência na língua já está feita, muitos já fizeram dupla cidadania... – Dei de ombros. – É fácil como contratar vocês. – Disse.
- Agora está explicado. – Leo disse.
- Falando nisso, me interessou muito o Neto e o Cuadrado hoje. – Falei. – O que achou do Neto, Gigi?
- Ele é muito bom! – Ele falou.
- Me lembrou muito de você. É quase como te ver jogar em 2001, 2002 de novo. – Falei sorrindo.
- Tentando me substituir? – Ele perguntou.
- Um dia, infelizmente, eu vou ter que fazer isso. – Dei de ombros. – Mas não hoje e nem amanhã. – Suspirei. – E isso vale para vocês quatro! – Falei firme. – Não é uma derrota e quatro minutos de apagão que vai fazer eu desistir do meu BBBC. – Disse, me desencostando da parede. – Sei que a semana está corrida, mas relaxem, descansem e treinem. Vocês sabem seus erros e sabem como consertar.
- Valeu, ! – Eles falaram.
- E não leiam os jornais amanhã, as fotos serão horríveis! – Eles riram. – Se arrumem. – Falei, dando dois toques na parede antes de sair pela porta.
Conte ainda estava do outro lado, com a mesma cara e encostado na parede ainda. Apertei seu ombro, vendo-o se virar para mim e dei um beijo em sua cabeça, vendo-o sorrir e me abraçar pela cintura. Ele me soltou alguns segundos depois e eu optei por sair do vestiário, já estava ficando abafado lá dentro.
- ! – Virei o rosto, vendo Barza sair do vestiário.
- Ei, Barza! – Falei.
- Viu a importância de ir em jogos? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Ver desastres como os de hoje? – Ele riu. – Vou começar a achar que eu dou azar.
- Não, não. Foi só bom te ter aqui. - Sorri.
- Não faça disso um hábito, ok?! – Ele sorriu.
- Dá para sonhar, não? – Ele deu de ombros e eu neguei com a cabeça, vendo-o seguir de volta para o vestiário e ri fracamente.

Lui
Primeiro de novembro de 2013

Depois da derrota contra o Real Madrid no dia 23 por dois erros nossos, vencer dois jogos seguidos era muito bom. 2x0 contra o Genoa e 4x0 contra o Catania, era algo a se comemorar. Hoje iríamos para Parma, enfrentar meu antigo time. Então minha rotina acabou ficando igual, saí de casa por volta das 11 horas e segui em direção ao CT para almoçar com o time e logo pegaríamos o trem para Parma.
- Buongiorno, ragazzi! – Falei, entrando no restaurante.
- Ciao, Gigi! – Eles responderam e eu deixei minha mochila no canto do local, junto de várias outras e segui em direção ao pessoal de sempre que estava em roda.
- O que estão fazendo? – Olhei por cima do outro de Claudio.
- É um bolo para ! – Ele disse, ajeitando várias pequenas velas em cima dele.
- Ah, certo. É aniversário dela! – Falei, revirando os olhos por eu ter esquecido, mas não é como se estivéssemos nos falando muito fora do time.
- É, a gente pediu para o pessoal fazer um bolo. – Chiello disse. – Não graças a você, é claro.
- Há! Engraçadinho. – Falei, mostrando a língua para ele e rimos juntos. – Vocês vão levar lá?
- O Pavel disse que vai conseguir trazê-la para o almoço... – Barza disse.
- É, mas se isso vai realmente acontecer, é outra coisa. – Leo disse, mastigando já algo que estava em seu prato.
- Ela foge de aniversário, cara. Não dá! – Vidal disse.
- Ela não foge de aniversários, ela foge de vocês! – Barza disse, me fazendo rir.
- Ah, qual é, é só um bolo! Nem vamos jogar o bolo nela. – Cáceres disse.
- Não seria uma má ideia. – Quagliarella disse.
- Seria! – Eu e Barza falamos juntos e nos entreolhamos, confirmando com a cabeça.
- Até parece que não a conhece. – Falei, seguindo até o buffet, dando uma olhada no que tinha de bom nos rechaud.
- Jogar bolo nela só vai deixá-la irritada até o Natal. – Barza disse. – E eu até gosto das festas de Natal, viu?!
- Eu gosto também, boas lembranças... – Falei, pressionando os lábios.
- Imagina se ela cancela? – Pogba colocou a mão no queixo.
- ELA ESTÁ VINDO! – Giovinco entrou desesperado no restaurante.
- Até você? – Perguntei.
- Acende isso! – Vucinic falou desesperado.
- Pega mais isqueiro! – Claudio disse no mesmo tom.
- Aqui! – Tirei o meu do bolso e entreguei para Mirko e olhei para o bolo.
- Quantas velas têm aqui? – Perguntei, franzindo a testa.
- 35. – Claudio disse.
- É 32, gente! – Falei e vários olhares viraram para mim.
- Ela não tem sua idade? – Eles perguntaram.
- Nã-ão. – Falei devagar, um tanto intimidado com os olhares.
- Gente! – Giovinco chamou e eles desviaram.
- Bom, menos três. – Claudio tirou as velas, jogando-as no chão e ele e Mirko finalizaram de acender no mesmo momento que Pavel e entraram no restaurante.
- Buongirno a tutti! – Ela disse e Claudio pegou o bolo rapidamente.
- Vai! Vai! – Ele disse, indicando com a cabeça.
- TANTI AUGURI DA TE... – Vidal puxou, nos fazendo começar a cantar com ele.
- Ah! – parou, cruzando os braços.
- Tanti auguri da te! Tanti auguri da te! Tanti auguri da te! – Cantamos juntos, batendo as mãos no ritmo do “parabéns a você”.
- AUGURI, CHEFA! – O pessoal gritou e Claudio virou o bolo para ela.
- Ah, gente! Foi para isso que vocês me chamaram aqui? – Ela riu fracamente.
- Vai, enfesadinha! É seu aniversário! – Barza disse, rindo. – Tanti auguri da te!
- Tanti auguri da te! Tanti auguri da te!
- Vai, chefa, assopra e faz um pedido. – Claudio disse, levando o bolo até ela.
- Posso pedir para vocês pararem com isso? – Ela brincou.
- NÃO! – Falamos juntos.
- Ok. – Ela sorriu, respirando fundo e assoprou todas as velas rapidamente.
- É! – Gritamos animados, batendo as mãos.
- O que você desejou? – Vidal perguntou.
- Ei! Meu pedido! – Ela disse, rindo. – Se eu contar, não se realiza.
- Envolve a gente? – Barza perguntou.
- E eu tenho vida fora desse time? Sempre envolve vocês. – Ela disse, rindo.
- Auguri, . – Barza disse, abraçando-a de lado e ela sorriu, passando os braços pelo seu corpo e ele deu um beijo em sua bochecha.
- Grazie, Barza. – Ela sorriu, retribuindo o beijo e observei o sorriso nos lábios de ambos, me fazendo franzir a testa.
- AUGURI, CHEFA! – Leo veio logo em seguida e começou a fila para abraçá-la.
Tinha poucos jogadores por enquanto ali. O BBBC completo, Claudio, Mirko, Giovinco, Vidal, Pogba, Storari, Quagliarella, Cáceres e Tevez, e todos foram antes de mim, não sei se foi pela ordem que ela seguia ou se foi de propósito, mas eu fui o último a abraçá-la.
- Auguri, ! – Falei, abraçando-a e ela me abraçou pela cintura.
- Grazie, Gigi! – Ela sorriu, deslizando as mãos pela minha cintura e eu me obriguei a fazer o mesmo.
- Tudo de bom para você, está bem? – Falei mais baixo e ela assentiu com a cabeça.
- Agradeço. Eu preciso. – Ela sorriu com os lábios pressionados e eu assenti com a cabeça.
- Preciso dizer que o pessoal quase errou sua idade. – Falei.
- COMO ASSIM? – Ela disse mais alto.
- Oh! Bocudo! – Claudio disse, me fazendo gargalhar.
- Quantos anos você achou que eu estava fazendo, Marchisio? – Ela falou, colocando as mãos na cintura.
- 35. – Ele disse baixo.
- Ainda não, por favor! – Ela disse, rindo.
- Eu achei que por você e o Gigi... Enfim, que vocês eram da mesma idade.
- Isso não quer dizer nada, meu amor. – Ela sorriu. – Não pensou em procurar no Google, não? – Ela disse.
- Você está no Google? – Ele devolveu.
- Alô! Gerente de contabilidade do maior time da Itália? – Ela disse sarcasticamente. – Tem até bastante coisa lá. – Ela riu. – Imagina se eu começasse a falar com a imprensa?
- Ainda vamos mudar isso, não é, ? – Pavel disse um pouco mais longe.
- Eh, não! – Ela negou com a cabeça, rindo. – Eu sou uma pessoa pública, minha vida não é pública. E você e o Agnelli existem para isso, eu cuido dos trâmites internos.
- Queria que essa separação de pessoa pública e vida pública funcionasse. – Falei, rindo.
- Queria também. – Ela suspirou. – Bom, eu vou comer alguma coisa e depois eu quero um pedaço desse bolo. – Ela seguiu para o buffet. – E, se o Conte deixar, eu divido com vocês.
- CONTE! – Claudio gritou e ela riu fracamente, negando com a cabeça.
- Gigi, vem cá, por favor? – Ela disse, pegando um prato e eu apontei para meu peito. – É, você. Vem cá! – Ela disse, começando a se servir o buffet e fui ao lado dela.
- O que aconteceu? – Perguntei, pegando um prato e começando a me servir atrás dela.
- Você se lembra do jogo contra o Genoa? – Ela perguntou.
- Hum, sim... – Dei de ombros. – O que tem?
- Você me parecia bem desocupado, já que nada chegava em você... – Ri fracamente. – Você tem alguma opinião sobre o trabalho do Perin? – Franzi a testa.
- O goleiro?
- É! – Ela disse, andando passo a passo até o fim do buffet. – Eu contei umas oito defesas decisivas dele. A gente dominou o jogo inteiro. – Ela disse.
- Eu o conheci ano passado quando a gente jogou contra o Pescara, acho. Aquele 6x0, lembra?
- Ah, sim! – Ela disse.
- Claro que os times não são os mesmos e as situações são diferentes, Genoa tem uma tradição maior no futebol, mas você viu a evolução dele. – Falei, começando a me servir de legumes.
- Ele foi incrível! – Ela disse surpresa. – E eu pesquisei, ele faz 21 anos agora em novembro.
- Pensando no futuro? Primeiro o Neto, agora o Perin... – Falei e ela franziu os olhos.
- Não fique preocupado, eu ainda não quero me livrar de você.
- Ainda... – Falei e ela sorriu.
- Por quando tempo mais você acha que o Storari vai aguentar ficar sendo sua sombra? – Ela perguntou mais baixo, olhando em meus olhos.
- Você sabe de algo? – Perguntei e ela deu de ombros.
- Ele não está contente. – Ela falou. – Ele também tem um contrato a cumprir, mas eu preciso me preparar. – Ela suspirou. – E goleiros acabam me atraindo de certa forma, não sei por quê. – Rimos juntos.
- Também queria. – Suspirei.
- Se você acabar tendo mais informações sobre ele ou o Neto, você sabe onde me encontrar, pode ser?
- Você vai me responder dessa vez? – Perguntei e ela suspirou.
- Eu não vou te responder as duas da manhã, Gigi. – Ela falou baixo. – Desculpa. – Ela deu de ombros, seguindo até o caixa, batendo seu cartão do time e eu suspirei. – E... – Ela disse quando voltou até mim. – Vocês precisam começar a vencer jogos na Champions ou seu sonho vai ter que ser colocado em pausa mais um ano. – Suspirei.
- Está ruim, não está? – Falei.
- Dois empates e uma derrota? Sim! E eu não digo isso pelo time, a grana é boa sim, mas digo por você. – Ela disse, pressionando os lábios e seguiu até as mesas.
A observei seguir em direção à longa mesa onde seu bolo estava e se sentou ao lado de Barza. Ambos sorriram e ela falou alguma coisa, olhando para o bolo e passou a ponta do dedo na calda, colocando na boca.
- EI! – Claudio falou exagerado.
- Meu bolo! – Ela disse rindo, dando um tapa na mão dele, fazendo todos gargalharem. Suspirei e voltei a pegar comida.

Lei
16 de novembro de 2013 • Trilha SonoraOuça

- Não, não tem como, agora só no segundo trimestre do ano que vem. – Falei firme. – Nossa grana está contada, Fabio, não vou endividar a gente, ainda mais em janela de inverno. – Suspirei.
- Me escuta, , vai compensar.
- Por quem? – Perguntei.
- Daniel Osvaldo, está no Southampton...
- Espera um segundo! – Falei apressada, vendo as luzes do meu telefone piscarem e abaixei o telefone para o peito. – SARA, PUXA A LIGAÇÃO! – Gritei.
- NÃO DÁ! – Ela respondeu de volta.
- LUCA, ANTONIO, ALGUÉM! – Gritei, suspirando. – Espera um pouco, Fabio! – Falei ao telefone, digitando o nome dele no sistema da FIGC. – Argentino naturalizado italiano?
- Ele mesmo! – Ele falou e eu olhei rapidamente as informações.
- NÃO MESMO! – Falei rápido. – Ele tem oito times em oito anos, Fabio! – Suspirei. – Ou ele não é tão bom assim, ou ele é totalmente inconsistente.
- Qual é, !
- Não, não. Empréstimo, no máximo. E sem opção de compra! Se ele não compensar em seis meses, já devolvemos. – Falei, ouvindo o telefone tocar de novo. – TELEFONE, GENTE!
- NÃO DÁ! – Mais vozes gritaram e eu suspirei.
- Espera aí, Fabio. – Falei, transferindo a ligação.
- . – Falei.
- , é o Pavel...
- Você pode esperar? – Perguntei.
- Claro...
- Te ligo daqui a pouco. – Falei, mudando a ligação de novo. – .
- , aqui é o Danielle, seus documentos estão prontos.
- Oi, Dani. – Suspirei. – Já peço para alguém ir buscar. – Disse, desligando e voltando para Fabio. – Estamos entendidos? – Perguntei para ele.
- Claro, eu vou ver as informações e volto a falar contigo.
- Nada mais que quatro milhões de salário, entendeu? – Falei firme.
- Isso vai ser difícil. – Ele falou.
- Aí é problema seu com ele. Qualquer coisa, vem aqui, está tudo uma loucura! – Disse, desligando o telefone. Empurrei a cadeira e segui para fora da minha sala que já tinha a porta aberta e entrei na outra sala. – O que está acontecendo, gente? – Perguntei, vendo quatro dos meus seis funcionários no telefone.
- As coisas estão complicadas, chefa. – Sara disse e eu suspirei. – O sistema do banco caiu, tudo está sendo feito manualmente. – Ela colocou a mão no bocal do telefone. – Sim, claro! – Ela falou ao telefone.
- Eu preciso que alguém pegue umas coisas lá no administrativo. – Olhei em volta e todo mundo me olhou com cara de súplica e eu suspirei. – AH! Eu preciso de mais funcionários. – Bufei, ouvindo o telefone da minha sala tocar de novo e voltei a passos rápidos até ela, puxando o aparelho. – !
- , aqui é o Alberto. – Bufei, jogando a cabeça para trás.
- Fala, Alberto. – Me sentei na poltrona na frente da minha.
- Só passando para te avisar que conseguimos finalizar a transferência do Felipe Melo.
- ALELUIA! – Suspirei. – Depois de quase três anos! – Suspirei.
- É, foi difícil, mas conseguimos. A taxa ficou em três milhões 750, mas acabou.
- Ah, graças a Deus. – Suspirei. – Obrigada, Alberto, mesmo. – Suspirei.
- Não há de que, . Depois vocês podem vir pegar os documentos aqui no direito, tá? – Franzi os olhos.
- Ok, eu... Eu vou aí. – Suspirei, ouvindo dois toques na porta e franzi os olhos antes de virar e vi Barza na porta, acenando com a mão. – Tenho que ir, Alberto, chegou alguém.
- Va be’, , até mais! – Ele disse e eu desliguei o telefone.
- Ei, Barza! – Falei, me levantando da cadeira, colocando os pés já cansados no chão.
- Posso entrar?
- Claro, claro! – Falei, chamando-o. – As coisas estão meio corridas, mas está tudo bem. – Disse, me aproximando dele e abracei-o, sentindo-o dar um beijo em minha cabeça e sorri, relaxando o corpo.
- Muito trabalho?
- MUITO! – Falei rápido, apontando a cadeira para ele. – Mas é por falta de pessoal, eles tiraram dois funcionários meus, mas não reduziu o trabalho. – Falei, ouvindo o telefone tocar de novo e ergui o fone, colocando-o de novo no gancho.
- Por que tiraram? – Ele perguntou, se sentando na poltrona e eu sentei na minha.
- Aparentemente manter quatro funcionários ganhando nove mil euros, dois ganhando três mil e dois ganhando mil, é muito para eles. – Revirei os olhos. – Em compensação, o Fabio acabou de me ligar querendo contratar alguém que será inútil no time por um salário de quatro milhões. – Dei de ombros. – Irônico, não?
- Muito! – Ele disse e eu suspirei.
- Mas, enfim, o que você está fazendo aqui? Não deveria estar com a Nazionale? – Perguntei.
- É, deveria, mas voltei antes, tive uns problemas musculares. – Franzi o olhar.
- Ah, Barza. – Falei quase em um gemido.
- Relaxa, relaxa! – Ele falou rapidamente. – É só uns 10 dias, vim pegar o atestado contigo. – Arregalei os olhos e suspirei. – Péssima hora?
- Demais! – Suspirei, relaxando os ombros. – Eu tenho tudo isso para fazer e já são quatro horas. – Estiquei minha agenda para ele.
- Eu posso pegar depois, é mais formalidade mesmo. – Ele disse. – Apesar de achar que você precisa relaxar um pouco. – Ele disse e eu ri fracamente.
- Acho que preciso de um café. – Falei, rindo.
- Qual você gosta? – Ele se levantou, a perna um pouco dura.
- O de canela. – Falei e ele colocou a capsula na máquina, fazendo o cheiro de café subir.
- Sabe que, se fosse o Marchisio, ele ia te matar por fazer café assim.
- Não tem por que eu ter uma garrafa só para mim, e eu não bebo sempre. – Dei de ombros, me levantando e fui para perto dele, vendo-o me entregar a xícara e apoiei o quadril na mesa do café, assoprando o café.
- Eu sou péssimo com cozinha, então, não julgo. – Ele disse, fazendo um café para ele.
- Você também? – Perguntei, dando um gole.
- São poucas coisas que eu realmente faço, mas para sobreviver, não por ser bom. – Rimos juntos.
- Minha lasanha é boa. – Falei, virando o rosto para ele. – Prosciutto, mozzarella, bechamel, básica mesmo, mas o pessoal gosta.
- Hum, interessante! – Ele disse, sorrindo. – Você podia fazer para mim um dia. – Ponderei com a cabeça.
- Ok. – Rimos juntos.
- Enquanto isso, para resolver seu problema do telefone...
- E andanças. – Falei, apoiando a xícara de volta no pires. – Pegar documentos, entregar documentos, falar com vocês lá embaixo... Não dá. Perco muito tempo nisso.
- Por que você não contrata um assistente? – Ele perguntou.
- Eles não me deixam contratar ninguém. – Falei.
- Mas não te deixam contratar ninguém com graduação e que vai ganhar nove mil, e um assistente? Algum estudante ou recém-formado que serve para atender ligações, organizar sua agenda, pegar documentos, falar com a gente... – Suspirei, ponderando com a cabeça. – Quanto eles pagariam por isso?
- Uns mil euros se for horário completo. – Suspirei.
- Eles te negam isso?
- Talvez até neguem, mas posso tirar do meu salário, seria um assistente para mim, não para seção. – Mordi meu lábio inferior. – E eu não ia sentir falta desse dinheiro e ia me ajudar muito. – Suspirei. – É perfeito, Barza. – Falei e ele riu fracamente. – Você é um gênio. – Falei, colocando a xícara na mesa.
- Eu tenho algumas qualidades. – Ele disse.
- Mais do que algumas. – Pressionei meus lábios e ele inclinou a cabeça.
- Você poderia me pagar com um jantar, o que acha? – Ele perguntou. – Ouvi falar que sua lasanha é muito boa. – Ri fracamente, negando com a cabeça.
- Eu sei que tipo de jantar você quer... – Suspirei. – Eu não sei se estou pronta para isso.
- Por que não?
- Você sabe o porquê, não seria justo contigo, Barza. – Suspirei. – Eu venho com muita bagagem. – Ele deixou sua xícara na mesa e se virou para mim.
- Eu sei. De alguma parte dela, pelo menos. – Ele se colocou em minha frente, colocando as mãos em minha cintura. - Mas eu também acho que você merece ser feliz de verdade, com alguém que quer te fazer feliz.
- O melhor amigo dele? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Ele é meu amigo, mas já eu estou cansado de ele sempre te colocar em segundo plano, de dar conselhos para ele sobre você e vê-lo fazer nada sobre isso. Se ele não quer, tem quem queira e valorizaria muito seu amor. – Levei uma mão até seu rosto, acariciando-o devagar.
- Você é incrível, mas eu não sei, não parece certo com você... – Ele virou o rosto, tocando os lábios na palma da minha mão.
- Deixe-me tentar. – Ele disse, aproximando nossos corpos e meu braço deslizou pelos seus ombros.
- Eu não quero te magoar, eu não posso te magoar... – Suspirei.
- Por que você diz isso?
- Minha história e do Gigi começou em 2001 e eu ainda estou presa nele... – Neguei com a cabeça.
- Eu sei tudo isso e estou disposto a tentar. – Suspirei.
- Eu... – Senti seu corpo mais perto do meu e deixei a respiração sair pela boca entreaberta.
- Difícil arranjar desculpas? – Ele falou.
- Depois não diga que eu não avisei... – Falei, sentindo seus lábios colarem nos meus, me fazendo suspirar.
Todas as questões internas em minha cabeça sumiram, pelo menos naquele momento, em compensação, outras me fizeram pensar “por que não?” Gigi falava que me queria, que vinha atrás de mim, mas nunca me priorizou. Eu precisava seguir em frente, precisava deixar Gigi de lado e Barza era um cara incrível, uma alma incrivelmente boa e ainda era lindo de morrer.
Era um dos melhores amigos de Gigi, sim, mas a vida acabou colocando-o em minha vida, mas eu sabia que minhas escolhas estavam entre o mundo do futebol. Barza era tudo o que Gigi não era, menos foco, menos holofote, só aparecia quando fazia um ótimo trabalho e me queria para si.
Relaxei o corpo, desligando a mente e ergui minha outra mão, levando até sua nuca e senti sua mão apertar minha cintura, enrugando o tecido da minha blusa. Deixei que sua língua encontrasse a minha e aprofundasse o beijo. Sentia que meu corpo se arrepiava conforme sua mão subia para minhas costas, apertava minha cintura e me mantinha escorada na mesa atrás de mim.
Não era perfeito, mas talvez uns 90 por cento. Eu poderia trabalhar nos outros 10.
Mordi seu lábio inferior, deslizando as mãos até seus ombros e nossos lábios se separaram quando nossas testas se encontraram. Soltei um longo suspiro, deixando um sorriso aparecer em meu rosto e abri os olhos devagar. Os olhos verdes de Barza me encaravam de volta e vi um sorriso se formar em seus lábios.
- Tudo bem? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Foi bom! – Falei, ouvindo-o rir fracamente e eu passei os braços pelos seus ombros e encaixei meu rosto na curva.
- Foi! – Ele disse, apertando minha cintura e eu suspirei.
- Podemos ir devagar? – Perguntei baixo, endireitando meu rosto de frente para o dele.
- Como você quiser. – Ele disse. – Sem jantar hoje, então? – Rimos juntos.
- Hoje não. – Falei, acariciando seu rosto. – Mas é um começo. – Mordi meu lábio inferior e ele pressionou os lábios nos meus mais uma vez e acariciei sua nuca.
- Um bom começo. - Rimos juntos.
- E sem contar para ninguém. – Falei firme. – Minha vida pessoal já é aberta demais nesse time.
- Pode deixar! – Ele disse sorrindo e eu ouvi o telefone tocar, me fazendo suspirar. – Se você tivesse um assistente... – Ri fracamente, empurrando-o levemente pelo ombro e segui até a mesa, puxando o telefone do gancho.
- . – Falei.
- , é o Michele.
- Ei, não morre mais! – Falei, animada. – Quer falar primeiro?
- Vamos ter uma saída de um funcionário, só para fazer o repasse dos valores devidos. – Ele disse.
- Claro, me manda a documentação. – Falei. – Só vai demorar um pouco, sabe, estamos atolados... – Falei ácida e vi Barza se sentar na minha frente, colocando as duas xícaras meio vazias na mesa.
- Sinto muito, , as coisas vão melhorar, eu prometo...
- Não é por isso que eu estou ligando. – Suspirei.
- Ah, então diga.
- Eu posso contratar um assistente?
- Um assistente? – Ele perguntou.
- É! Alguém que pegue documentos, arrume minha agenda, atenda ligações, fale com os jogadores... – Ponderei com a cabeça. – Algo simples.
- Não sei, , talvez se...
- Tirar do meu salário? – Perguntei.
- É, talvez... – Ele pensou. – O salário não é alto, entraria nas suas despesas de diretora mesmo e...
- Ia me ajudar muito, Mich. – Suspirei.
- Acho que consigo te ajudar nessa. – Ele falou.
- Ah, graças a Deus! – Mostrei o polegar para Barza e ele sorriu antes de dar um gole em seu café.
- Alguma formação especial?
- Não, só ensino médio mesmo, algo básico, um aprendiz, algo assim. – Suspirei.
- Nós recebemos currículos frequentes de pessoas que deixam aqui na portaria, em sua maioria são fãs de futebol que possuem algum interesse no time, mas talvez você ache alguém. – Ele disse. – Se quiser vir buscar e agilizar a procura... – Suspirei, rindo fracamente.
- Pode deixar, Mich, eu ou alguém vamos assim que possível. – Ele riu pelo bocal. – Grazie.
- Prego. Te mando as informações logo mais.
- Perfeito! – Falei e desligamos a ligação.
- Parece que deu certo.
- Sim! – Suspirei. – Agora eu tenho três lugares para ir. – Ri fracamente. – Sem jantar hoje, nem se eu quisesse.
- Tudo bem, eu espero. – Ele disse, sorrindo.
- Eu vou pedir para alguém fazer seu atestado ou eu não consigo trabalhar mais. – Falei.
- Por quê? – Ele perguntou.
- Não gosto de trabalhar com pessoas me olhando. – Ele riu fracamente. – Ainda mais alguém com segundas intenções. – Me levantei da poltrona.
- E terceiras. – Ele disse e eu ri fracamente, seguindo até a porta.

Lui
24 de novembro de 2013

O dia estava estranho.
Na verdade, desde ontem o dia estava estranho. Quando eu cheguei em Vinovo para nossa viagem para Livorno.
Para começar, que todo o top cinco estava lá. Raramente o top cinco ia em peso para jogos fora, mesmo tinha reduzido drasticamente sua participação em jogos oficiais e sabia da sua presença nos jogos em casa, mas fazia questão de não descer sempre ao vestiário. Talvez a culpa disso seja minha, mas não tinha certeza e nem do motivo para isso.
Agnelli também, principalmente com jogos alternativos como o Livorno, ele não viajava conosco, deixava com Pavel, Beppe e Paratici. Eles são um time sem tradições no futebol, estavam há três temporadas na Serie A, mas com grandes chances de ser relegado novamente, então, por que se importar?
Eu sabia por que eles estavam vindo, e eu ficava feliz por isso, principalmente por estar ali. 500 presenças no campeonato Serie A era um grande feito. Um feito que até me assustava, na verdade. Eu estava há 18 anos jogando esse campeonato, 17, tirando aquela temporada na Serie B. De pensar em quanta coisa mudou, o quanto eu mudei era simplesmente assustador.
O jogo era as três da tarde, então combinamos de descer para almoço às 11 horas e uma hora já seguiríamos em direção ao estádio. Chiello, meu companheiro de quarto do dia, sumiu por volta das 10 horas e não tinha voltado, Filippi não tinha vindo falar comigo ainda e nenhum dos mais novos vieram para conversar ou algo assim. E isso era realmente suspeito.
Perto das 11 horas, eu arrumei minhas coisas, me arrumei e desci. Cheguei no lobby e deixei minha mala junto das outras. Todas eram iguais, com o logo do time, então não sabia dizer quem estava ali só olhando pelo lado de fora. Cheguei no restaurante e franzi a testa, encontrando-o vazio.
- Scusi. – Chamei o garçom que estava arrumando as mesas. – Cadê o pessoal? – Perguntei.
- Eles estão lá no fundo. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Grazie. – Disse, assentindo com a cabeça.
Saí pelos fundos do restaurante, observando pela janela algumas pessoas realmente lá do lado de fora e senti um vento gelado bater sobre meu corpo. Estávamos perto da minha cidade, Carrara, mais para o centro do país, mas ainda precisava mais do que a blusa que eu usava para sair. O pessoal estava um pouco afastado da piscina, no gramado.
- Ciao, ragazzi. – Me aproximei o semicírculo.
- E aí, Gigi? – Eles disseram.
- O que estão fazendo aqui? – Perguntei, colocando as mãos no bolso da calça.
- Dando um tempo. – disse, franzindo os lábios e batendo o queixo.
- Você está com frio. – Falei.
- Eu sempre estou com frio. – Ela disse, apertando as mãos no bolso e rimos juntos.
- Então... – Franzi a testa, sentindo vários olhos sobre mim. – Vamos almoçar?
- Acho bom, né, galera? – Marchisio disse igualmente travado e eu franzi a testa.
- Está tudo bem? – Perguntei, virando o olhar para Chiello, Leo, Vidal, Pogba, passando pelos olhares deles.
- Está tudo bem, sim, Gigi. Vamos comer! – me puxou pelo braço, me fazendo virar o rosto para o outro lado e ela me empurrou pelas costas quando eu o fiz. – AGORA!
Ela gritou e senti várias coisas baterem e quebrarem em minhas costas, me fazendo franzir o rosto, sentindo o negócio pegajoso em minhas costas. Outras voaram à minha frente me errando e vi que eram ovos.
- CAZZO! – Gritei, me virando para me proteger e o pessoal começou a me circular para jogar mais em mim. – Para! Para! – Gritei e só conseguia ouvir a risada do pessoal, já que abaixei o rosto. Eu topo levar ovo nas costas, mas não na cara!
- DAI, GIGIONE! – Leo gritou e eu só conseguia identificar as gargalhadas de .
- CHEGA! – Gritei, rindo com eles.
- Guardar armas, ragazzi. disse, rindo.
- Parou mesmo? – Perguntei.
- Cada um tinha dois ovos, não tem como fazer milagre. – Chiello disse e eu abaixei os braços, olhando para o pessoal que sorria. Estiquei minha blusa, sentindo-a colar e vi as manchas onde o ovo acertou.
- Eca.
- Ah, nem foi tão mal assim. – falou sarcasticamente, rindo logo em seguida.
- É porque não foi com você. – Falei, sentindo a ânsia subir por causa do cheiro do ovo.
- Está tudo bem? – Claudio perguntou.
- Eu acho que vou vomitar! – Falei, franzindo os lábios.
- Ah, pensa bem, poderia ser pior. – falou.
- Como? – Perguntei. – Vocês não têm farinha aqui, tem? – Afastei alguns passos para trás.
- Não. – Ela disse. – Mas a ideia era boa! – Ela pressionou os lábios.
- A ideia foi sua?
- Ah, não. – Ela riu fracamente. – Eu só coordenei a situação, a ideia foi do... – Ela apontou para Vidal e Pogba e ambos começaram a se afastar alguns passos.
- Porra, . É assim? No duro. – Paul disse.
- Ah, qual é, é só ovo. – Ela revirou os olhos. – O que ele vai fazer? Colocar laxante no café de vocês?
- Hum... – Falei.
- Ah, ótimo, valeu, ! – Vidal disse. – Vou ter que trazer tudo de casa agora.
- Acho que eu estou vendo muito os vídeos da Giulia. – Ela falou baixo, franzindo os olhos.
- Ela está fazendo sucesso, né?! Eu estava no YouTube vendo uns vídeos com os meninos e apareceu. – Falei.
- Eles gostaram?
- Adoraram! – Falei, rindo.
- Viu? Eu falei que o canal dela atingia de quatro a... – Ela olhou para Vidal e Pogba. – 20 anos.
- Eu tenho 26, ok?! – Vidal falou.
- Não melhora. – Ela disse com a feição séria e se virou para mim de novo. – Pelo menos está dando certo, só tenho medo de encontrá-la e ela fazer alguma pegadinha comigo, ela não está tendo dó de ninguém, principalmente dos gêmeos. – Rimos juntos.
- Um que eu vi era com os gêmeos mesmo, ela tirou o estrado da cama e trocou por barbante, coitado! – Falei, rindo em seguida. – O Lou já queria fazer com o Dado. – Ela riu.
- Eu não me responsabilizo por isso. – Ela se afastou, erguendo as mãos. – Mas o stand up dela é legal, se tiver a oportunidade de ver. – Ela ponderou com a cabeça.
- Está em Milão ainda?
- Não, mudou a agenda, ela começou no Sul, vem para Milão mês que vem, acho. Está tentando vir para Turim...
- É seguro eu ir assistir? – Perguntei.
- Bom, eu estava lá e começou uma piada com “a minha amiga...” – Rimos juntos.
- O que ela disse?
- Ela foi legal, ela falou que eu era a pessoa mais incrível que ela conhecia e que me invejava. – Ela sorriu. – Nós temos um acordo silencioso que eu não falo dela e ela não fala de mim. – Ela deu de ombros. – Quase como se não nos conhecemos.
- É uma ideia boa.
- É seguro! – Ela falou. – Imagina se a Giulia começa a falar da minha vida abertamente? Mesmo sem saber que sou eu, nós temos várias fotos juntas na internet, é só ligar um mais um.
- As coisas ficariam muito feias? – Perguntei, franzindo os olhos com o cheiro.
- O que acha? – Ela deu de ombros e eu franzi os lábios.
- É, provavelmente. – Ela assentiu com a cabeça.
- Ah, eu vou subir para tomar um banho. – Falei e ela riu fracamente.
- Vai lá! – Ela riu.
- Vai pela sombra, viu? E cuidado com as esquinas! – Leo gritou.
- Vou dormir com um olho aberto, Leo! Te cuida. – Falei, ouvindo-o gargalhar.
- Ah, Gigi! – gritou de volta e virei para eles.
- PARABÉNS PELAS 500 PRESENÇAS! – Eles falaram juntos, dando largos sorrisos e eu ri fracamente.
- Grazie, ragazzi. – Falei, sorrindo. – Apesar de tudo.
- Nem tudo é perfeito! – Chiello disse.
- Não mesmo. – Falei, observando e virei o corpo, seguindo de volta para o restaurante.
Arranquei a blusa, evitando que acabasse infestando o lobby e segui para o quarto. A roupa foi inteira para um saco muito bem vedado e entreguei para o roupeiro. Almoçamos decentemente, tinha um bolo para comemorar minhas presenças. Seguimos para o jogo e lá eu recebi uma camisa comemorativa de Agnelli e uma salva de aplausos de todo top cinco, de todos os meus colegas e até do estádio do Livorno.
O jogo acabou seguindo o esperado. Apesar de demorarmos para abrir o placar, tivemos poucas chances de gol contra, então quando Llorente abriu aos 63 minutos, Tevez fez aos 75 para festa ficar completa.
Eu fui aproveitar minha conquista no trem de volta, sozinho, ouvindo algum cantor italiano que tocava em meu celular. 500 presenças era bastante coisa, mas não era o suficiente para mim ainda, esperava conseguir mais. Me manter em alto nível e conseguir bater mais metas e conquistar mais prêmios.
Uma risada mais alta me distraiu e vi Tevez, Llorente e Vidal rindo de alguma coisa. Desviei o rosto, sentindo alguém me observando e vi os olhos de por cima de um livro, me olhando. Dei um sorriso para ela e ela assentiu com a cabeça, abaixando o olhar de volta e subindo suas pernas para a poltrona. Tombei a cabeça para trás e fechei os olhos, suspirando.



Capitolo quarantatre

Lei
28 de novembro de 2013 • Trilha SonoraOuça

- ? – Atendi o telefone quando ele tocou.
- Ei, , é o Pavel.
- Ei, Pavel. – Falei, observando que faltava minutos para quatro horas.
- Pode descer aqui? – Ele perguntou. – Vamos começar a gravar a narração da propaganda de Natal.
- Hum, precisam mesmo de mim?
- Ah, não, mas você gosta de ver essas coisas, por quê? – Ele falou.
- Eu tenho uma entrevista agora quatro horas. – Disse.
- Ainda não achou seu assistente? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Eu... – Neguei com a cabeça. – Ainda não. Entrevistei três pessoas e não achei que combinava comigo ou com o time. Estou ficando desesperada já.
- Talvez você esteja sendo exigente demais. – Ele disse e eu ri fracamente.
- Eu preciso de alguém camaleão, sabe? Que consiga se relacionar com todo mundo para eu não precisar relacionar. – Ele riu fracamente.
- Isso dificilmente se descobre em uma entrevista, .
- É, mas não. Muito travado. – Suspirei. – É o último. Se eu não gostar, vou ter que chamar mais, mas faço isso amanhã, eu desço quando acabar aqui.
- Tudo bem, aqui vai demorar, está uma piada! – Ele disse rindo.
- Pode deixar. – Falei, suspirando e desliguei o telefone, ouvindo-o tocar logo em seguida e o puxei. – .
- , é a Sara. – Ela falou baixo.
- Oi, Sara, o que houve?
- Você não disse que viria um menino fazer uma entrevista? – Ela perguntou.
- Sim, Emanuelle. – Falei.
- Hum, chegou uma menina aqui. – Ela disse e eu franzi a testa.
- Estou indo. – Falei.
Desliguei o telefone e puxei o currículo em minha mesa, observando as informações. Emanuelle, Rodrigues, brasileiro, 18 anos e só. Será que no Brasil mulheres podiam se chamar Emanuelle? Posso garantir que aqui na Itália não. Levantei da cadeira e segui até a porta da sala, abrindo-a e fui para outra sala. Os olhos arregalados de Sara para mim me surpreenderam e eu virei o rosto para onde ela indicou e tive a mesma reação.
A menina que estava ali tinha os cabelos azuis. Azul da cor do calção do segundo uniforme. Fora isso, os cabelos eram ondulados, brilhosos e estavam enfiados dentro de uma touca. Ela usava uma roupa convencional, calça preta, botas nos pés e um casaco bem quente. Ela se distraía com alguma revista e tive um déjà vu de quando fiz minha entrevista aqui.
- Ciao? – Falei, chamando sua atenção.
- Buona sera. – Ela disse com um sotaque forte.
- Você é Emanuelle?
- Sì, sono.* – Ela disse lentamente, quase como que em código Morse.
- Eu sou , diretora de contabilidade do time. – Estiquei minha mão, sentindo-a apertar com luvas.
- Lo so, è un piacere. – Ela sorriu e senti obrigada a sorrir também. (eu sei, é um prazer)
- Viene! – Falei, chamando-a com a mão e segui para a sala. Deixei-a entrar primeiro e segui logo atrás, fechando a porta. – Può sederti. (Pode se sentar) – Indiquei a cadeira para ela.
- Seder... Sì, sì. – Ela disse, batendo o corpo na porta. – Ai! Scusi...sa. – Ela disse e eu assenti com a cabeça, vendo-a se sentar em uma das poltronas e me sentei na minha poltrona, observando-a.
- Devo dizer que esperava um homem aqui hoje. – Falei, apoiando as mãos na mesa.
- Un ragazzo? – Ela perguntou.
- Sì. Emanuelle é nome de homem aqui. – Ela franziu a testa.
- Oh! – Ela disse, tendo um efeito atrasado. – No, no! – Ela sorriu. – Io sono una ragazza. – Ela sorriu. – Ragazze? Ragazza? – Ela pensou sozinha.
- Ragazza. – Falei sorrindo. – Parla bene l’italiano? (Fala bem o italiano?) – Perguntei.
- No molto. – Ela disse. – Sono in Italia dal... – Ela fez as contas nos dedos. – Cinque mesi. (Não muito. Estou na Itália há cinco meses)
- Era in Brasile? (Estava no Brasil) – Perguntei.
- Sì! – Ela assentiu com a cabeça.
- Podemos falar em português, se preferir, então. – Falei, mudando de idioma e ela arregalou os olhos.
- Você fala português! – Ela disse com muito mais fluência e eu sorri.
- Sim! – Sorri. – Lidar com jogadores do mundo inteiro acaba tornando isso uma exigência. – Falei.
- Uau! – Ela riu. – Eu sabia que você era demais, só não sabia tanto. – Sorri.
- Você me conhece?
- Ah, eu torço para Juventus lá do Brasil e quem não conhece a mulher mais importante do futebol italiano e europeu? – Sorri, ponderando com a cabeça.
- É bom saber como eu me apresento lá fora.
- Molto bene! – Ela sorriu e eu retribuí.
- Bom, Emanuelle, eu estou surpresa, porque você é uma menina e tem cabelos azuis, então... – Ri fracamente.
- Eu posso mudar, se for um problema. – Ela falou rapidamente.
- Não se preocupe! – Falei. – É legal. Nunca tive a oportunidade de fazer uma loucura dessas na minha vida, mas teria gostado.
- Seu cabelo ficaria bom de qualquer cor. – Ela sorriu e eu acenei em agradecimento.
- Bom, Emanuelle, é... Apesar de eu saber falar em português, poucos aqui sabem, e esse cargo é para você me ajudar com situações do dia a dia, atender telefonema, organizar minha agenda, falar com todas as seções do time, inclusive com jogadores. – Ela arregalou os olhos. – E é necessário você saber o italiano.
- Io sto imparando. (Estou aprendendo) – Ela disse rapidamente. – È che la... Mudança... – Assenti com a cabeça. – Del mio padre fue molto veloce. No era pronta per venire. – Ela disse. (A mudança do meu pai foi muito rápida, não estava pronta para vir)
- Andiamo provare? Vamos tentar? – Perguntei.
- Sì. – Ela sorriu.
- Beh, Emanuelle, diciame, dove sei e che fa qui? (de onde é o que faz aqui?) – Perguntei.
- Io sono brasiliana, dal uma città chiamatta Campo Grande. (sou brasileira de uma cidade chamada Campo Grande) – Ela disse.
- È de alcuni stati conosciuto? (É de algum dos estados conhecidos?) – Perguntei.
- No molto, è... – Ela parava para pensar. – Fuori dal corso Rio de Janeiro oppure San Paolo. (Não muito, é fora do caminho Rio de Janeiro ou São Paulo) – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- È più caldo da qui? (É mais quente que aqui?)
- Sì. – Ela riu fracamente. – No sto acostumbrada. (Sim, não estou acostumada)
- Acho que você foi para o espanhol agora. – Falei em português e ela riu fracamente. – È abituato.
- Scusi... SA! – Ela disse apressada. – Scusa.
- Possiamo parlate en tu. – Sorri. (Podemos falar no tu)
- Grazie. – Ela assentiu com a cabeça.
- E che fa qui a Torino? – Perguntei. (E o que faz em Turim?)
- Mio padre è um ingegnere... – Ela disse franzindo a testa. – E c’è un lavoro qui a Torino e io sono venuta con lui. (Meu pai é engenheiro e tem um trabalho aqui em Turim, e eu vim com ele)
- Mah, e ti piace la Juventus? La città? – Perguntei. (Gosta da Juventus? Da cidade?)
- Sì, io ho conosciuto la squadra alla Copa do Mundo... – Ela franziu a testa. (Sim, eu conheci o time na Copa do Mundo)
- Mondiale. – Falei.
- Al mondiale de 2010 per tutti l’italiani che sono più famosi a Brasile... – Assenti com a cabeça. – E mi è piaciuto molto l’Italia, però se ne sono andati nella fase dal gironi... – Franzi os lábios. - E io ho iniziato a pensare che cosa loro fanno fuori dal mondiale. – Confirmei com a cabeça. - Ho cercato i giocatori e ho trovato la squadra e mi sono innamorato dal Lei e della città. – Ela sorriu. – Venire qui è stato semplicemente molta sorte... (Copa do mundo de 2010 por causa de todos os italianos que são famosos no Brasil. Gostei da Itália, mas eles saírem na fase de grupos. E eu comecei a pensar o que eles faziam fora da Copa do Mundo, procurei pelos jogadores e encontrei o time, me apaixonei por ele e pela cidade. Vir para cá foi muita sorte)
- Fortuna. – Falei e ela confirmou com a cabeça.
- E una grande coincidenza. – Sorri. (E uma grande coincidência)
- Molto bene. – Falei e ela assentiu com a cabeça. – E che tu faceva in Brasile? – Perguntei. (E o que fazia no Brasil?)
- Io mi sono laureata a scuola alla fine de 2012, però la mudança... (Me formei na escola no fim de 2012, mas a mudança)
- Trasferimento. – Falei.
- Il trasferimento de mio padre già era certo e volevo venire con lui. (do meu pai já estava certa e eu queria vir com ele)
- Tu sei qui dal luglio? (Está aqui desde julho?)
- Sì. – Ela assentiu com a cabeça.
- No pensa in studiare? – Perguntei. (Não pensa em estudar?)
- No adesso. – Ela disse. – Sono uma persona più pratica, non penso en studiare di più, non era molto bene alla scuola. – Assenti com a cabeça. – Però sto imparando l’italiano e mi piace molto. – Sorri. (Não agora, sou uma pessoa prática, não penso em estudar mais, não ia bem na escola. Mas estou aprendendo o italiano e gosto muito)
- E che ti piace? (O que te agrada?)
- Mi piace delle fotte. – Assenti com a cabeça. – Conoscere gente nuova... – Ela disse. – Parlare molti lingue. (Foto, conhecer gente nova, falar muitas línguas)
- Parla altri? (Fala outras?)
- Lo inglese e lo spagnolo. (Inglês e espanhol)
- Ah, brava! – Sorri. – Sarà bene qui, poi. Abbiamo spagnolo, argentino, chileno, uruguaio, brasiliano e tanti altri... – Ela confirmou com a cabeça. – Tu me dice che è conosciuto la Juve allo Mondiale, sì? (Se dará bem aqui, temos espanhol, argentino, chileno, uruguaio, brasileiro e tantos outros. Me disse que conheceu a Juve pela Copa)
- Sì.
- Chi ti é piaciuto? (Quem te agradou?)
- Ah, Buffon... – Ri fracamente. – Chiellini, Cannavaro. – Sorri. – Cannavaro é più bello. (Cannavaro é muito bonito)
- Sì... – Rimos juntas.
- Marchisio, Camoranesi... – Sorri. – E Bonucci che non’era della Juve, però è oggi. – Assenti com a cabeça. – E quando ho cercato la squadra, ho conosciuto tanti altri come Barzagli, Lich, Pirlo... (Bonucci não era da Juve, mas é hoje. E quando pesquisei do time conheci tantos outros como Barzagli, Lich, Pirlo)
- Conosce tutta la squadra, no? (Conhece todo o time?)
- Sì. – Sorri.
- E che ne pensi de lavorare con me? (E o que pensa de trabalhar comigo?)
- No duro? – Ela falou em português, mas não entendi.
- Duro? De duro? – Bati na mesa.
- È una esprezione di... – Ela pensou. - “Davvero”? – Sorri. (É uma expressão tipo “para valer”)
- Davvero. – Falei. – Sto cercando un’assistente per me casi 15 giorni fa e bisogno molto presto alcuna persona che mi aiuterà. E tu mi sei piaciuta. – Sorri. (Estou procurando um assistente para mim há 15 dias e necessito muito de alguma pessoa que me ajudará e gostei de você)
- Sarà un piacere. – Ela sorriu animada. (Será um prazer)
- Vamos para as partes importantes? – Falei em português e ela assentiu com a cabeça. – Meu trabalho é um pouco bagunçado, porque eu não tenho muito horário de entrada e saída, mas como a intenção principal é você me ajudar no âmbito geral do time, telefone, agenda, reuniões, pegar e levar coisas aqui dentro do time, vou te colocar no horário comercial, então das oito às seis da tarde. – Assenti com a cabeça. – Os jogadores normalmente folgam de segunda-feira por causa de jogo, mas só quando têm outros campeonatos acontecendo, então eu acabo folgando de segunda também, porque trabalho de sábados e domingos, mas você pode auxiliar a seção enquanto estiver fora. Tudo bem para você?
- Sim, perfeito. – Ela sorriu.
- Você tem duas horas de almoço, pode escolher seu horário depois, tem almoço aqui no time, caso não queira ir para casa... – Ela confirmava com a cabeça enquanto falava em seu idioma natal. – Podemos combinar algumas folgas se você precisar resolver alguma coisa fora daqui... – Pensei. – Ah, você tem desconto na loja do time e ingresso para assistir os jogos aqui em Turim, fora não temos controle disso.
- Mesmo? Isso é demais! – Ela sorriu.
- Sei bem, tive a mesma sensação quando descobri. - Rimos juntas. – O local é acima do banco de reservas nosso.
- Bem melhor do que de onde eu vi o jogo. – Ela disse rindo.
- De onde foi?
- Lá em cima... Foi o que deu para pagar. – Ela riu fracamente.
- Bom, agora não precisa pagar. – Sorri. – Ah, e o salário é de 13.473 euros anuais, dá quase 1200 mensais e tem transporte incluso e alimentação também aqui.
- Uau! É ótimo! – Ela sorriu e eu ponderei com a cabeça.
- É o salário base, ele vai aumentando conforme ajustes, tempo no time, entre outras coisas...
- Não, sério, está ótimo! – Ela sorriu, animada.
- Bom, Emanuelle...
- Pode me chamar de Manu. – Ela sorriu.
- Bom, Manu, se você quiser, o emprego é seu!
- SIM! – Ela disse animada, tombando para trás e me assustei quando ela e a cadeira foi para o chão. – Ah!
- Ah, meu Deus! – Levantei rapidamente, correndo até ela e estiquei as mãos para ela, sentindo-a segurar.
- Scusi! – Ela disse, se levantando e ajeitando a cadeira.
- Está tudo bem?
- Sim, está! Não é a primeira vez que acontece. – Ela riu fracamente.
- Mesmo? – Franzi a testa.
- Eu sou um tanto desastrada.
- Oh! – Ri fracamente.
- Mas isso não me atrapalha, relaxa. – Ela disse.
- Se você diz, só não vai se machucar. - Brinquei e ela sorriu.
- No, no, sto bene! – Ela sorriu.
- Você tem tempo agora? – Voltei para o italiano.
- Sì. – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu vou te apresentar o pessoal, aí eu preparo sua papelada e você pode começar na quinta-feira que vem, que tal?
- Ah, no dia do meu aniversário! – Ela sorriu.
- Mesmo? – Perguntei.
- Sim! 19 anos.
- Ah, que ótimo! – Sorri. – Vem, vamos lá. – Falei. – Se quiser deixar suas coisas aqui.
- Tudo bem. – Ela deixou sua bolsa na cadeira e segui até a outra sala, vendo-a vir atrás de mim.
- Ragazzi. – Chamei atenção dos meus funcionários. – Essa é Emanuelle, Manu, ela vai ser minha assistente. – Falei. – Ela é brasileira, não tem completo conhecimento na língua italiana, mas vai nos ajudar bastante com algumas situações práticas.
- Ciao, Manu! – Eles falaram juntos e ela sorriu tímida, acenando.
- Eles são Sara, Luca, Antonio, Miguel, Elisa e Michele. – Falei, apontando para cada um.
- Michele também é nome de mulher no Brasil. – Ela sussurrou e ri fracamente.
- Você acaba se acostumando. – Disse. – Vem. – Chamei-a. – Logo volto. – Falei para minha equipe e Sara assentiu com a cabeça.
Seguimos pelo elevador e notei que ela tropeçou para entrar e sair dele, por pura desatenção. Segui pelas salas do primeiro andar, apresentando-a para Danielle do administrativo, Michele do RH e Antonio do direito, um dos que eu tinha mais contato. Todos ficaram surpresos com ela, o cabelo azul realmente destoava de todos aqui no time, mas ela era simpática.
- Vem, agora vamos lá com o time e meus companheiros de administrativo. Aqui temos o top cinco, são as cinco pessoas mais importantes do time...
- Já ouvi falar. – Ela sorriu. – Agnelli, Nedved, você, Paratici e Marotta, não? – Arregalei os olhos.
- Estou surpresa.
- Eu realmente acompanho o time e vocês e... – Ela riu. – Eu te sigo no Instagram.
- Isso é ótimo! – Sorri. – Eles também são importantes e você terá um contato constante. – Ela confirmou com a cabeça. – Além dos jogadores, eu vou te mandar aqui frequentemente para passar recados, chamar para reunião, entregar contratos...
- Eu prometo tentar não surtar. – Ela disse.
- Pode surtar uma vez, depois se acostuma. – Disse e ela assentiu com a cabeça.
- Você surtou quando entrou no time? – Ela perguntou.
- Eu não acompanhava a Juve ou nenhum time quando consegui o emprego, então eu não sabia que eles eram lendas, eu acabei conhecendo-os como pessoas e hoje é algo comum demais para mim, eles são meus amigos e funcionários sensacionais. – Sorri.
- Uau! Deve ser legal. Quando você entrou no time?
- 2001. – Falei.
- Junto com o Buffon, Nedved e Thuram, certo? - Ela perguntou.
- Andou pesquisando.
- Um pouquinho. – Ela riu.
- Sim, eu acompanhei a transferência dos três. O Lilian saiu do time há alguns anos, mas o Gigi e o Pavel são grandes amigos. – Sorri.
- Legal!
- Eu tinha sua idade na época.
- Isso é demais! Eu tinha quase seis anos. – Rimos juntas quando finalmente chegamos no prédio do CT. – AH, ISSO É DEMAIS! – Ela disse, animada. – É igualzinho no vídeo! – Ela suspirou.
- Pode ir na frente. – Indiquei com a mão e ela sorriu, seguindo em frente à porta e ela seguiu rápido demais, batendo o rosto na porta de vidro e eu gargalhei.
- Scusi. – Falei e ela suspirou.
- Eu estou bem, prometo. – Ela disse rindo, passando a mão no nariz. – Eu não vi. – Ela puxou a porta e eu ri fracamente.
- Fico feliz que os documentos não quebram. – Ela riu.
- Eu sou um pouquinho desligada, sabe? – Ela deu um sorriso sem graça.
- Percebi. – Falei e ela riu. – Olhe por onde anda e venha. – Chamei-a com a mão, seguindo na sua frente. – Aqui é tudo focado no time principal, lá no fundo nos juvenis, eles estão gravando uma propaganda hoje, então eles estão na sala de multimídia, que é onde eles estudam os adversários... – Segui pelo largo e longo corredor do CT e logo comecei a ouvir as vozes e risadas. – Ah, aqui estão. – Falei.
- Eu estou nervosa. – Ela riu fracamente.
- Não se preocupe, eles são legais. – Falei, segurando na porta e ela assentiu com a cabeça, nervosa. – Podemos ir?
- Sim, podemos. – Ela disse sorrindo e abri a porta que dava para área realmente reservada do time e já comecei a ver o povo sentado no corredor.
- Ciao, ragazzi! – Falei um tanto mais alto, chamando algumas atenções.
- Ciao, chefa! – O pessoal lá fora disse mais alto e vi os olhares se dirigirem à menina de cabelos azuis atrás de mim.
- Cadê o Pavel? – Perguntei.
- Lá dentro. – Cáceres disse e eu assenti com a cabeça para ele e Vidal.
- Vem! – Chamei Manu e ela tinha um sorriso nos lábios. – Vocês dois também. – Falei para Cáceres e Vidal.
Observei de fora a sala multimídia apinhada de jogadores, além de Pavel, Conte e Paratici e eles estavam rindo, então não me preocupei em abrir a porta, distraindo algumas pessoas. Manu entrou atrás de mim e Cáceres e Vidal também que não sabiam ser nada discretos.
- Ei, ! – Pavel disse.
- Ciao, ragazzi. – Falei, vendo os olhares virem em minha direção e evitei um sorriso maior quando Barza sorriu para mim. – Posso atrapalhar?
- Já atrapalhou. – Conte disse.
- Ah, aposto que sua narração está sensacional, Conte. Não se preocupe. – Ele riu fracamente. – Quero apresentar uma pessoa para vocês. – Indiquei Manu atrás de mim e ela deu um sorriso tímido. – Essa é Emanuelle, minha nova assistente. – Falei. – Ela vai me ajudar em algumas coisas, inclusive fugir de vocês de vez em quando.
- Há, há, há, engraçadinha! – Claudio disse.
- Ela é brasileira.
- Ei! – Rubinho disse animado e Manu sorriu acenando para ele.
- E ela não fala completamente o italiano, então tenham paciência dos dois lados. Tevez, Vidal, Cáceres, Llorente, Isla, ela fala espanhol, pode facilitar para vocês. – Eles assentiram com a cabeça. – E ela é minha assistente, ok?! Não de vocês, antes que vocês pensem em folgar. – Falei e ela riu fracamente o meu lado.
- AH! – Eles reclamaram e eu revirei os olhos.
- Achei que Emanuelle fosse nome de homem. – Pirlo disse.
- Andrea é nome de mulher no Brasil. – Ela deu de ombros e as risadas explodiram pela sala, com exceção de Pirlo e Barza que franziram os lábios. – Simone também. – Ela sorriu e foi a vez de Pepe e Padoin ficarem quietos e o pessoal gargalhar.
- Eu não gostei dela, muda. – Pepe disse e eu ri fracamente.
- Gigi, me ajuda! – Falei quase em um gemido.
- Emanuelle, certo? – Ele se aproximou. – Eu sou...
- Gianluigi Buffon. – Ela falou rapidamente. – Você é demais! – Ela abriu um largo sorriso e Gigi ficou levemente desconcertado por alguns minutos, sorrindo logo em seguida. – Eu sou fã.
- Eu gostei dela. – Ele falou para mim e eu assenti com a cabeça. – Eu sou o capitão do time, então te dou as boas-vindas, espero que goste também.
- Aposto que vou. – Ela sorriu e seus olhos estavam brilhando, ela deveria estar se segurando para não chorar.
- Preciso apresentar o resto do pessoal para você? – Perguntei.
- Eu sou... – Pogba se aproximou.
- Paul Pogba. – Manu valou mais rápido.
- É um prazer te conhecer, milady. – Ele esticou a mão para ela e ela a segurou na expectativa de um aperto de mão, mas ele a beijou.
- Ah, Pogba, para de graça! – Afastei sua mão e ele gargalhou, se afastando, virei para ela e ela estava roxa de vergonha. – Manu...
- Eu conheço... – Ela olhou em volta. - Todo mundo.
- Mesmo? – Leo perguntou.
- Sim. – Ela disse, indicando Gigi com o polegar. – Buffon, Rubinho e Storari. – Ela apontou para os três goleiros. – Carlito Tevez, Llorente, Quagliarella, Giovinco e Vucinic. – Ela apontou para todos os atacantes. – Pogba... – Ele sorriu. – Vidal, Pirlo, Marchisio, Asamoah, Padoin, Pepe e Isla. – Os meninos estavam começando a se divertir com isso. – E Cáceres, Ogbonna, Lichsteiner, Chiellini, Barzagli, você é demais... – Ele riu fracamente. – Peluso e... – Ela apontou para Bonucci. – Não faço a mínima ideia quem você é. – As risadas estouraram pela sala e nem eu consegui aguentar, gargalhando junto, principalmente da cara que Leo fez. – Mentira, você é o Bonucci.
- Ufa! – Ele relaxou o corpo.
- BBC ou BBBC. – Ela ponderou com a cabeça. – É bem legal.
- Cara, já gostei dessa menina! – Conte disse.
- E você é Antonio Conte e ele é Pavel Nedved, duas lendas do time. – Ela sorriu animada e passou as costas da mão na bochecha quando uma lágrima finalmente caiu. – E ele é o Paratici. – Ela sorriu.
- Ela é uma enciclopédia ambulante. – Quagliarella disse.
- Ela faz parte do time agora, tratem-na bem quando tiverem contato com ela e sejam gentis, coisas que vocês não sabem ser muito com a pessoa que paga vocês. – Falei ácida e eles mostraram a língua, rindo fracamente.
- Posso fazer uma pergunta? – Pepe perguntou.
- Claro. – Falei.
- Para ela. – Apontou para Emanuelle.
- Sì. – Ela disse.
- Por que seu cabelo é azul? – Ele perguntou e vi os olhos de Chiello revirarem.
- Eu sou metade Avatar. – Ela disse séria e eu ri logo em seguida. – Mas ao invés da pele, saiu o cabelo, vai entender. – Quem entendeu a piada gargalhou, mas Pepe, que não era muito ágil, demorou para rir.
- Ah! Entendi! O filme?
- É! – Ela disse. – Eu sou alta, então não dá para ser smurfete. – Ela sorriu e eu gargalhei de novo, levando a mão à boca.
- Ok, eu vou deixar vocês trabalharem. – Falei, suspirando. – Gigi, Barza e Chiello, vocês podem vir aqui comigo rapidinho, por favor? – Perguntei e os três se entreolharam e saíram comigo e com Manu. – Manu, pode esperar lá fora, por favor? – Perguntei e ela assentiu com a cabeça, saindo pela porta, tropeçando na correção de piso entre a porta e eu neguei com a cabeça.
- O que foi, ? – Chiello perguntou e suspirei.
- Ela tem 19 anos. – Falei baixo para eles. – Fiquem de olho nela se os meninos começarem a ser um tanto...
- Inconvenientes? – Gigi disse.
- É! – Falei firme. – Vocês já viram o Pogba. – Neguei com a cabeça. – Já chega as brincadeiras comigo.
- Pode deixar, . – Chiello. – A gente corta se for necessário.
- Não temos jogadores tão novos, Pogba é o único que regula com a idade dela, mas vocês sabem como eles sabem ser de vez em quando.
- Pode deixar, . A gente cuida disso. – Barza disse e eu sorri.
- Obrigada. Espero que seja só um aviso preocupado, mas...
- Nunca é demais prevenir. – Gigi disse e eu assenti com a cabeça. – Pode deixar. – Ele disse.
- Bom, eu vou oficializar a contratação dela agora. – Disse e eles assentiram com a cabeça. – Até mais!
- Não vai acompanhar a gravação? – Gigi perguntou.
- Agora não dá. – Dei de ombros, me aproximando da porta e vi os três me entreolharem. Gigi e Chiello entraram e Barza ficou um pouco atrás, mas somente a tempo de dar uma piscadela para mim e eu mordi o lábio inferior, saindo rapidamente quando Gigi virou o olhar para mim. – Ciao, ragazzi! – Falei rapidamente e saí pela porta e encontrei Manu passando as mãos nos olhos. – Vamos, Manu?
- Desculpa, me emocionei. – Ela disse.
- Sem problemas, eu entendo. – Falei e ela assentiu com a cabeça. – Vamos te oficializar.
- Vamos sim. – Ela sorriu animada e segui ao seu lado, apoiando a mão em suas costas, sentindo seus cabelos azuis em minha mão.


*A entrevista da Emanuelle mostra algumas regrinhas da língua italiana. Dizem que para você iniciar a conversa com o italiano, se deve começar em 3ª pessoa do singular, esperando que ele dê apertura para o informal, mas tudo depende do local em que tiver a conversa.

Lui
11 de dezembro de 2013

Chegamos no estádio Türk Telekom Arena em Istambul com somente um dever: ganhar esse jogo. Era confronto direto entre nós e o Galatasaray para ver quem seguiria pelas oitavas da Champions League e quem ficaria com o prêmio de consolação que era a Europa League. Nós estávamos com seis pontos e eles estavam com quatro. Quem vencer, ganha os três pontos, fica em segundo lugar na tabela e passa, já que o Real Madrid ganhou cinco dos seus jogos e ficou em um empate conosco em casa.
O jogo sendo na Turquia não nos ajudava em nada, a neve pesada muito menos. Tanto que jogo era para ter sido ontem, mas os árbitros acharam melhor suspender no trigésimo primeiro minuto devido às condições. O gramado, já prejudicado, estava branco e, junto com a lama, se assemelhava à um rinque de patinação. Barza e Vidal foram quem mais se saíram prejudicados nos minutos, além dos jogadores do outro time.
Então, o caminho que estávamos fazendo hoje, já tinha sido feito ontem, mas o nervosismo agora era maior. É como se você esperasse tanto por algo e precisasse adiar mais ainda quando ele finalmente chegou. Eu não sou supersticioso, mas acho que horários são escolhidos por motivos. A vantagem – ou desvantagem – é que nenhum dos dois times tinham feito gols, somente um cartão amarelo para cada lado.
Quando saí para o treino lá fora, o campo estava muito melhor. Era possível realmente ver a cor verde do gramado, mas o gelo do dia anterior estava acumulado nos quatro cantos, me lembrando da nevisca que estava ontem.
Meu treino foi focado em aquecimento, principalmente, o jogo era as duas da tarde, mas o tempo ainda estava bastante gelado. Voltando para dentro, eu fui direto para fisioterapia. Não podia ficar tensionado em nenhum momento e, apesar de não ser muito friorento, o corpo ficava duro no frio quase automático.
O ambiente dentro do vestiário também não era dos melhores. Todo mundo estava quieto, nervoso, fazendo aquele ambiente ser palpável. Alguns estavam com a música na orelha, outros estavam quietos, mas a conversa baixa e constante do top cinco com Conte incomodava um pouco.
era a mais desligada de todos, talvez desligada não seja a palavra certa. Nervosa talvez. Ela tinha as mãos enfiadas com força no casaco, demonstrando seu frio, tinha cachecol enrolado em seu pescoço e que mantinha somente seus olhos de fora e boa parte dos cabelos estavam escondidos dentro de uma touca. Pelos seus olhos, era possível ler seu nervosismo.
- Precisamos pensar que estamos melhores do que eles. – Chiello disse, quebrando o silêncio e olhei-o na maca no lado.
- Hoje não significa nada. Três pontos, só isso importa. – Falei, suspirando.
- Ele está certo. – Barza disse. – Se não vencermos, não vai adiantar de nada. – Ele falou, se sentando de volta na maca e assenti com a cabeça.
- Vamos fazer isso, ok?! – Disse e o massagista finalizou comigo.
- Usar a mesma estratégia do campeonato, basta. – Barza disse e eu assenti com a cabeça, batendo minha mão na dele e nós três saímos da sala.
Segui em direção ao vestiário, colocando o uniforme azul junto da segunda pele por baixo. Depois que as calças foram, de certa forma, banidas dos uniformes oficiais, eu subia as meias quase até os joelhos, como forma de proteção e para me esquentar.
Sentei no meu espaço para calçar as chuteiras e passei o olhar pelo resto do time. estava apoiada ao lado de Barza. Não era possível ouvir o que eles diziam, porque eles não diziam nada, mas confesso que me dava um pouco de raiva vê-los juntos. Não sabia se algo estava rolando ali, Barza estava separado e é solteira, mas eles estavam passando tempo demais juntos e eu não estava gostando de nada disso. Eles não tinham nada a ver, eram completamente diferentes.
Além de que ele era meu amigo, tinha uma distância a ser respeitada, não? Ela não faria isso. Ele não faria isso. O pior era não poder palpitar em nada sobre isso. Ela se afastou de mim no âmbito pessoal, mas me contentava em vê-la no profissional, apesar de tudo estar colapsando lá em casa.
- Gigi? – Ouvi sua voz e seu corpo fez sombra em meus olhos e eu ergui para olhar para .
- Ei. – Falei fraco, pegando as luvas dentro da mochila.
- Você tem um minuto? – Ela perguntou.
- Claro! – Falei baixo e ela se abaixou em minha frente, ficando de cócoras e apoiou a mão em meu joelho.
- Não se pressione, ok?! – Franzi a testa.
- O que está dizendo?
- O que eu disse. – Ela suspirou, me olhando com seus olhos . – Não se pressione e não pressione o time.
- Achei que não pudesse dizer isso para gente. – Falei.
- Não posso. – Ela suspirou. – Mas existem momentos que eu me preocupo mais com vocês como pessoa do que como time. – Ela disse, se levantando novamente. – Eu sei que é seu sonho, mas saiba seus limites, ok?! De todo mundo.
Incapaz de falar algo, eu só assenti com a cabeça e ela seguiu para fora do vestiário e foi quando percebi que a conversa baixa do top tinha acabado e estávamos somente nós ali. Eu conhecia e ela não falava simplesmente essas coisas para nos fazer desistir, era sua forma de nos pedir por consciência, me pedir por consciência. Eu tenho o sonho, o desejo de ganhar uma Champions, ela sabe disso, mas existem limites a ser seguidos e ela provavelmente sabe de algo que eu não. Ou só estava esperando pelo pior como todos nós.
Ir para o campo foi difícil, o Galatarasay teve alguns jogadores poderosos que estavam escondidos aqui. Muslera era um deles, goleiro do Uruguai que segurou tantos pênaltis quanto nós, Didier Droga também, o costa-marfinense tinha grandes aparições em sua Nazionale e era figurinha carimbada por onde passava na Europa. Além deles, também tinha Felipe Melo, o cara que havia praticamente sido enxotado do time por e todo o top e fazia questão de nos xingar e falar dos seus maus momentos no time em toda oportunidade que tinha.
Seguimos para o campo, os times foram divididos e as coisas começaram a esquentar logo após o apito. Era estranho recomeçar o jogo aos 32 minutos e ter somente uma hora mais de jogo, então aquele tempo de esquentar o corpo não poderia acontecer, precisávamos entrar já fervendo.
Entre o treino e o começo do jogo, a neve tinha voltado a cair, então o gramado já tinha um pouco de neve e o gramado voltaria a ficar enlameado logo mais, mas não tinha o que fazer. Já jogamos e treinamos com neve lá em Turim, o gramado era em condições muito melhores e eles tinham uma tática para não ficar destruído, mas sem vantagens para nós.
O cronômetro voltou a ser contado junto de uma tentativa de Lich, mas foi para fora. Tevez teve uma chance de gol logo em seguida, mas acabou deslizando na neve. Logo em seguida, em uma cobrança de escanteio, minha defesa fez o trabalho para mim. Com 15 minutos de jogo, acabou o primeiro tempo e voltamos para o vestiário.
O que falar após 15 minutos de jogo? Nada. Ninguém teve a oportunidade de criar nada.
Voltamos e o gramado já estava melhor, ainda desgastado e estranho, mas com menos neve e o céu colaborava um pouco. O jogo estava bem equilibrado, chutes para fora de ambos os lados e sem nenhuma chance real de gol. Eu fiz uma defesa boa, de Drogba, diferente do jogo em casa que eu saí do gol após um passe errado e precisei deixar para Barza ser o goleiro – o que ele acabou não chegando a tempo.
Dessa vez foi à queima-roupa e sem rebote, o problema é que, quando o corpo cai no gelo, dói mais do que eu estou acostumado, então tinha um atraso para levantar, caso tivesse um rebote, o que não teve. O rebote veio logo em seguida, mas foi para fora.
Asa teve uma chance, mas o goleiro pegou. Depois eles voltaram para nós, mas foi para fora. Marchisio e Chiellini também tiveram chances, mas nada. O jogo seguia com um ataque deles e com um nosso, mas nada, até que, aos 85 minutos, quase seguindo para prorrogação e pênaltis, o gol veio.
Contra nós, mas veio.
Weijner chegou pelo meio, ele cortou Leo e Chiello do meu lado esquerdo e fez o chute, eu e Barza nos esticamos, mas a bola fez aquele lance bem chato de bater no cantinho da trave e entrar. Eles comemoraram efusivamente e sabíamos que tínhamos perdido o jogo aí, mas ainda faltava uns oito minutos e precisávamos lutar.
Tivemos uma falta a favor, mas a bola foi para fora. Eles tiveram a chance de alargar a diferença, mas eu me aproximei deles, encurralando o atacante e a bola passou longe do gol. Já passando dos 93, Drogba tentou chegar próximo do gol, mas outro jogador de seu time acabou afastando a bola antes de eu tocá-la.
O jogo finalizou e eu precisei priorizar o posto de capitano à minha frustração pessoal, cumprimentei os jogadores do outro time, troquei meia dúzia de palavras enroladas com Muslera e precisei tentar achar desculpas para o nosso fracasso na Champions League, três empates, duas derrotas e uma vitória. E, obviamente, fingir que estávamos realmente empolgados pela Europa League e que faríamos valer à pena.
É, as mentiras que contamos para nós e para a imprensa.
Voltei para o vestiário, finalmente tirando minhas luvas, sentindo as mãos suarem e suspirei quando me vi seguro dentro do túnel. Os fotógrafos e cinegrafistas já tinham saído e somente algumas pessoas estavam ali. Vi sentada no chão, com um dedo da luva preso entre os dentes, enquanto a mão sem elas tentava digitar com um dedo só no celular.
- Foi expulsa? – Perguntei, vendo-a erguer o rosto.
- Ah? Ah, não, não! – Ela disse rindo. – Conte está dando esporro em todo mundo, não é meu trabalho ouvir isso. – Ela deu de um sorriso e eu revirei os olhos, jogando a cabeça para trás.
- Posso ficar contigo? – Perguntei e ela sorriu.
- Até pode, mas imagino que você não pode fugir disso, capitano.
- Às vezes não gosto disso. – Suspirei.
- Ser capitano?
- É, ter a pressão do time completa inteira sobre mim.
- Você sabe a única forma de fugir isso, não sabe? – Ela falou.
- Saindo do time? – Ela assentiu com a cabeça. – Está tentando me dizer algo?
- Não isso! – Ela riu fracamente. – Só confirmando que você está preso com a gente por mais dois anos e meio, pelo menos. – Ela sorriu com os lábios prensados.
- E eu não posso passar a braçadeira para alguém? – Perguntei.
- Não sei se isso já aconteceu antes, mas caso seja possível, não adianta passar a braçadeira e continuar sendo um líder dentro de campo, Gigi. – Ela tombou a cabeça até encostar na parede. – Existem pessoas que são líderes mesmo sem ser, você é uma delas. Você, Chiello, Barza...
- Você e Ba... – Me parei rapidamente. Eu não sabia se queria saber alguma coisa deles, não sabia se tinha coragem de enfrentar caso viesse uma resposta positiva. Também não estava preparado com mentindo para mim, caso ela tentasse.
- Sim? – Ela disse.
- E a Manu. – Corrigi rapidamente. – Como está indo?
- Ela é incrivelmente desastrada, vive tropeçando, derrubando as coisas, mas eu gostei dela. – Ela sorriu. – Ela é genuína, sabe? – Ela ponderou com a cabeça. – Trata todo mundo da mesma forma e não tenta esconder esse jeito atrapalhado dela.
- Ela parece legal. – Falei.
- Ela é. – Ela sorriu.
- Mais uma mulher para moldar? – Perguntei.
- Quem sabe? Foram só alguns dias. Temos bastante tempo. – Assenti com a cabeça, suspirando.
- É melhor eu entrar. – Apontei para porta, desviando meu olhar.
- Vai lá. – Ela disse. – E tenta não se culpar por hoje, ok?! – Bufei alto, virando o rosto para ela novamente.
- É possível?
- É sim. – Ela sorriu. – Pensa, teve um ponto bom nisso tudo.
- Qual? – Perguntei coma feição séria.
- Eu conheci mais um país. – Ela sorriu e eu assenti com a cabeça, rindo.
- Va be’. – Disse, entrando e ouvi sua risada fraca assim que passei pela porta, só o suficiente para ser substituído pelos gritos de Conte.

Lei
12 de dezembro de 2013 • Trilha SonoraOuça

Eu passei os últimos dias, horas, minutos, segundos e todo o caminho até o bairro Colle dela Maddalena pensando se o que eu estava fazendo era certo. Barza é um cara sensacional, ele é carinhoso, fofo, entendia todo meu rolo com Gigi e estava disposto a tentar me fazer feliz e me ajudar a esquecê-lo.
Só tinha um problema, ele ainda é amigo do Gigi, eu sou amiga do Gigi, apesar de tudo, e sabia que esse pseudo relacionamento secreto não daria certo por muito tempo. Eu não era muito boa em fingir e esconder, muito menos para Gigi que parecia me ler com um livro com uma lupa bem grande, então a situação era um pouco complicada no geral.
Eu queria tentar ser feliz com alguém decente, já que o homem que eu quero não faz questão de atender minhas necessidades. Eu não podia cruzar os braços e declarar a solteirice com 32 anos só porque não conseguia me desapegar dele e ele não desapegava de sua esposa. Sei que seria difícil, eu tinha uma ligação com Gigi há uns 12 anos, mas Barza é bom, uma boa pessoa interna, sabe? Não estava totalmente solteiro ainda, mas não estava prometendo amor eterno e nem casamento, era uma forma de distração, de me sentir querida e, quem sabe, daria em algo a mais. Valeria à pena tentar, mas eu sabia que cada passo seria dado com uma meticulosidade incrível.
Eu poderia listar todas as dúvidas que eu tinha em minha cabeça, provavelmente ocuparia umas duas páginas. Motivos que eu devesse ficar com Barza, motivos que eu não devesse ficar com ele, motivos que eu não deveria esconder de Gigi, mas o único que eu realmente me importava, que havia feito com que eu dirigisse até o bairro de Giulia é: minha felicidade.
Você sabe o quão triste é, entre aspas, depender de um único homem para ser feliz nesse departamento? Assim, eu sei que eu tenho uma ligação forte e fora do comum com o Gigi, sei sim, mas eu também sei que ele é um quadrado e ainda tenta fazer valer o casamento dele com Alena pelos filhos, apesar de também saber que isso é uma mentira gigantesca, já que ele parecia preferir ficar comigo do que com ela em vários momentos.
Então, eu dependia dele, mas não podia depender dele. E eu estava cansada de esperar. Se contar todas as merdas que ele fez, eu estava há sete anos esperando-o corrigir seus erros para gente viver a nossa história, acho que deu, não?
Eu esperava que sim. E foi isso que me fez aceitar esse jantar, vindo totalmente com segundas intenções, e tocar a campainha de sua casa quando eu cheguei. Sentindo as mãos suadas apesar do frio de dezembro de Turim. Soltei a respiração pela boca, vendo a fumaça branca sair pelos lábios e ouvi o barulho da porta se abrir e Barza aparecer pelas grades do portão.
- Buona sera! – Ouvi sua voz e meu corpo relaxou quase automaticamente e permitiu que eu desse um sorriso.
- Buona sera, Barza. – Ele sorriu, abrindo ao portão.
- Achei que não viria. – Ele disse e eu suspirei.
- Pensei em não. – Fui honesta, apoiando meu braço em seu ombro e dando um beijo em sua bochecha. – Mas algo me fez vir.
- O quê? – Ele perguntou enquanto eu passava pelo portão e ele o fechava.
- Eu mesma. – Falei e ele sorriu, assentindo com a cabeça.
- Que bom, então. – Ele disse, estendendo a mão para mim. – Vem! – Segurei-a e segui com ele para dentro. A casa era de lado, então seguindo em frente iria para o fundo e do lado esquerdo era a casa mesmo.
- Está sozinho? – Perguntei.
- Sim, as crianças estão com a Maddalena, achei que seria um pouco cedo.
- Um pouco. – Falei e ele riu fracamente.
- Fica à vontade. – Ele disse e eu assenti com a cabeça, entrando em sua casa.
A diferença de temperatura era alta, então já entrei tirando o cachecol e abrindo o casaco. O primeiro andar era simples, tinha uma cozinha à esquerda, à frente uma sala de TV, mais à esquerda tinha uma sala de jantar e uma de estar. Do lado direito tinha um corredor que parecia dar para um escritório e tinha escadas para o segundo andar.
- Eu não sou um bom cozinheiro, então eu comprei comida para gente, ok?! – Ele disse e eu me distraí, colocando o casaco e o cachecol no braço do sofá e soltei o suéter colado no corpo um pouco.
- Eu poderia fazer minha lasanha para você. – Falei, me aproximando da bancada e apoiei os braços nela.
- Já são nove horas, , você trabalhou o dia inteiro.
- Você também. – Falei, rindo.
- É, mas eu parei as seis. – Ele disse sugestivamente e eu franzi o rosto.
- Vantagens e desvantagens... – Dei de ombros e ele riu fracamente.
- Como estão as coisas? Melhores?
- Sim! – Falei quase em um alívio. – Você não tem noção como a Emanuelle me aliviou as coisas. – Suspirei.
- De vez em quando a gente a vê indo de lá para cá, o cabelo é...
- Inconfundível. – Falei, rindo e ele checou algo no forno. – Ela estava resolvendo algumas coisas do juvenil com o Braghin para mim, ela deve aparecer lá essa semana para vocês, janela de inverno, sabe como é. – Suspirei, vendo-o colocar as luvas térmicas e tirar uma travessa borbulhante e gratinada de dentro, apoiando na grelha do fogão.
- Alguém em vista? – Ele perguntou, fazendo uma careta quando queimou a mão e eu ri fracamente.
- Não do meu interesse, Paratici quer umas duas pessoas, nada muito relevante. – Ela deu de ombros.
- Você estava vendo algumas pessoas, não? Nos últimos jogos?
- Até estava, mas não para agora, são pessoas novas nos times, então gosto de maturar...
- Como um vinho?
- É, tipo isso. – Ponderei com a cabeça.
- Falando sobre vinhos, você sabe que eu tenho um rótulo, não?
- De vinhos? – Franzi a testa.
- É! – Ele disse, abaixando o corpo e tirou uma garrafa de algo embaixo da bancada, apoiando na bancada.
- Nossa, Barza! – Falei, surpresa, pegando a garrafa gelada e li “Le Casematte” no rótulo. – Desde quando? – Passei a mão no rótulo que indicava que o vinho era tinto suave.
- Faz uns dois, três anos. – Ele disse. – Abri com um amigo na Sicília. O conheci quando morei em Palermo e ele me apresentou, acabei gostando e é um negócio legal. Poucas garrafas ainda, mas estamos começando.
- Ah, isso é ótimo. – Sorri. – Posso experimentar? – Perguntei.
- Claro! – Ele disse. – Deixa eu abrir para você. – Ele pegou o saca-rolhas.
- Por que você não nos serve e eu abro? – Falei, estendendo a mão e ele sorriu, me entregando.
Abri a garrafa com facilidade e vi duas taças já colocadas em cima da bancada, junto com os pratos. Servi as duas taças, vendo o líquido arroxeado bonito e cheiroso. Peguei a taça, cheirando-o mais de perto e dei um gole, suspirando logo em seguida.
- É muito gostoso. – Falei, suspirando. – É o tipo que eu tomaria fácil todo dia após o trabalho. – Falei e ele riu fracamente.
- Eu te dou algumas garrafas. – Ele disse. – Tem branco e rosé também. – Ele disse.
- Aceito. – Falei e ele sorriu. – Tem um gosto de noz-moscada, não? – Falei, após o segundo gole.
- Você é boa! – Ele disse e rimos juntos.
- Tenho bebido mais vinho do que deveria, talvez. – Falei, suspirando.
- Só vinho? – Ele perguntou, servindo um pedaço generoso de lasanha para cada um de nós e meu estômago borbulhou de fome com o cheiro.
- Principalmente, gosto de uísque também, mas só tomo em casos especiais.
- Que são?
- Quando eu quero ficar bêbada e esquecer meu nome. – Falei e ele franziu os lábios.
- Oh! – Rimos juntos.
- Eu não estou brincando. Tenho uma história com o Jack que você não tem noção.
- Vamos reduzir, então. – Ele disse rindo.
- Já é bem reduzido, garanto. – Falei.
- Você prefere comer na mesa ou...
- Não me importo em ficar na bancada. – Falei, puxando um banco e me sentando. – Não vamos fazer isso chique demais. – Ele riu fracamente.
- Como você preferir. – Ele disse, pegando seu prato e se colocando na diagonal do meu e puxou a taça para perto. – Aqui... – Ele me entregou os talheres e eu sorri. – É do Fratelli Bravo, não sei se conhece...
- Quem não conhece, Barza? – Rimos juntos. – Todo juventino que se preze já foi lá umas 200 vezes. – Ele sorriu e eu cortei um pedaço da lasanha, colocando-a na boca e dividindo entre assoprar pela quentura e suspirar pelo gosto. – Mas tenho que dizer que a minha é melhor.
- Ah, é?! – Ele disse e ri fracamente.
- Bom, eu tenho um grupo de pessoas que vão confirmar o que eu estou dizendo. – Ergui o garfo na defensiva e ele riu.
- Quem? – Ele perguntou.
- Minha família. – Ele riu fracamente. – Bem, quase como uma família adotada, mas...
- Eu sei pouco disso. – Ele falou e eu ponderei com a cabeça.
- Eu perdi meus pais com oito anos, morei em um orfanato até os 14, uma avó estranha apareceu em Nápoles, morei com ela, mas era péssimo, fugi aos 17 anos aqui para Turim para fazer faculdade e não voltei mais. Acabei conhecendo a Giulia na faculdade e a família dela me acolheu.
- É por isso que você odeia o Napoli? – Ele perguntou.
- Basicamente. – Falei. – Eu não tive momentos de felicidade lá, fui inspirada a basicamente relegar todo amor dos meus pais, vivia em sintonia de alerta todo momento, e eu acabei ligando isso à cidade. – Dei de ombros. – Me recuso a voltar para lá, foi um lugar que me fez muito mal.
- E essa sua avó...
- Nunca mais tive contato com ela. – Dei de ombros, comendo outro pedaço. – Não estou alongando muito o assunto para não ficar depressivo, tá? – Disse e ele riu. – Isso é gostoso.
- É sim. – Ele sorriu, bebendo um gole de sua taça.
- E você? Qual a grande história de Andrea Barzagli? – Perguntei.
- Ah, acho que não tão diferente de tantos outros. – Ele falou. – Nasci em Fiesole, mas sempre morei em Scandicci, perto de Florença... – Assenti com a cabeça. – Estudei em uma escolinha de futebol e as coisas começaram a dar certo, fiz parte de vários times menores, Chievo, Rondinella, Ascoli... – Sorri. – Fui para o Palermo, tive sorte de ser convocado para o Mondiale...
- Ainda não me conformo que eu te conheci naquele dia. – Falei rindo e ele sorriu.
- Pena que foi em uma situação ruim para você. – Suspirei.
- Ah, é passado, não posso deixar uma situação como aquela apagar tudo de bom que aconteceu naquele dia, aquela campanha incrível de vocês. Vocês foram campeões do mundo, isso é demais! – Sorri e ele retribuiu.
- Foi demais mesmo! – Ele riu. – Naquele tempo achei loucura ter sido convocado, para ajudar eu ainda joguei. – Sorri.
- Você é muito bom, Barza, sei que diz em entrevistas que evoluiu na Juventus e tal, mas valorizaram seu potencial. – Ele assentiu com a cabeça, com um largo sorriso no rosto. – E depois do Palermo?
- Fui para Alemanha, venci um campeonato lá, mas o ambiente era totalmente diferente, aí você me chamou e eu não olhei para trás. - Sorri.
- Pensando hoje, não me conformei com o valor da sua transferência, você é bom demais só para aquilo.
- Vocês estão me compensando com os bônus. – Rimos juntos e eu engoli antes de falar.
- Vocês estão me compensando também, então estamos quites. – Falei, bebendo um gole de vinho logo em seguida. – E sobre você e Maddalena? Como estão as coisas? – Perguntei e ele soltou um longo suspiro. – Só disso sei que está mal.
- Péssimas. – Ele disse rindo. – Ela é ciumenta demais, joga as crianças contra mim... – Franzi a testa.
- Isso é horrível.
- É! Agora entendo por que eu me separei?
- Me pergunto por que se casou mesmo. – Falei e ele riu fracamente.
- Nos conhecemos quando eu tinha 23 anos, envelhecer juntos é aceitar todas as mudanças de uma pessoa, mas às vezes nem sempre conseguimos aceitar. – Ele disse.
- Disso eu entendo. – Falei. – Vamos deixar para lá.
- Vamos! – Ele disse rindo. – Você vai no jogo de domingo? – Ele perguntou.
- Sim, vou, mas não por vocês. – Ele riu fracamente.
- Por que, então?
- O Trezeguet vem! – Sorri. – E ele é um grande e querido amigo. – Falei talvez feliz demais.
- Vocês eram todos um grupo, não? – Ele perguntou.
- Desde 2001, Barza. É bastante tempo. – Sorri. – Era eu, Alex, Pavel, Trezeguet, Camoranesi, tivemos a fase com Fabio e Lilian Thuram...
- E Gigi.
- É, e o Gigi. – Falei, ponderando com a cabeça. – Muita coisa mudou, sabe? Não de um jeito ruim, só diferente mesmo. – Neguei com a cabeça. – Tenho amizade com muito mais jogadores hoje, mas na época era mais fácil. Eu não tinha cargo de gerência, não tinha esse foco exagerado da mídia... Era só gostoso. – Sorri.
- E você viu esse pessoal ir e vir?
- Além de outros. – Falei. – Conheci o Lippi, ele me adorava. Vi o Conte se aposentar como jogador, vi o Ciro Ferrara se tornar treinador, Pessotto que hoje está na descoberta de talentos... Vi escândalos de manipulação de resultados, vi Fabio e Lilian sair, depois Pavel, Trezeguet, Camoranesi... Alex! – Ponderei com a cabeça e senti meus olhos marejarem. – Nossa, pensando assim, faz bastante tempo. – Ri fracamente. – O tempo passa e a gente nem vê.
- Falando desse jeito dá para parecer que você se importa mais com as pessoas do que com o time, não?
- Sim, o que é um pouco contraditório na minha posição. – Falei, finalizando o último pedaço.
- Mais um pouco?
- Sim, por favor. – Sorri, estendendo meu prato para ele.
- Quantas vezes eu sabia que precisávamos da vitória, mas pedi para o Gigi priorizar a sanidade? – Suspirei – Eu sei que é porque é ele, mas eu sei como ele se prende muito em algumas coisas e como isso deve consumi-lo por dentro.
- Como...
- Uma Champions? – Falei, pegando meu prato de volta. – Eu acompanhei a campanha de 2003, outros anos quando éramos mais próximos e... – Neguei com a cabeça. – Fica estampado na cara dele a frustração após uma eliminação, como se ele se culpasse por isso, sabe?
- E você acha que ele se culpa? – Ele perguntou.
- Tenho certeza. – Falei. – Igual ontem, quando eu fui falar com ele antes do jogo, pedi para ele ser coerente, o local, o campo naquele desastre, a neve, preferia vocês sem o título do que com metade do time lesionado. – Suspirei. – Ah, deixa para lá, eu sou muito trouxa ainda. – Ele riu fracamente.
- Não acho que você seja, você se preocupa com ele. Ele que é trouxa por não enxergar como você é incrível. – Suspirei.
- Talvez ele saiba disso, só prefere não fazer nada sobre. – Dei de ombros, colocando um pedaço maior de lasanha intencionalmente, quem sabe me faria ficar quieta sobre ele?
Barza, . Não Gigi, Barza, Barza, Barza. Entendeu?
- Então... – Falei, passando o guardanapo na boca e descansando os talheres, após finalizar.
- Um pouco mais? – Ele disse, estendendo a garrafa.
- Vou para terceira taça, daqui a pouco começa a fazer o que não devia. – Ele riu.
- É vinho suave, . Para quem bebe uísque, isso é água. – Ele disse, me servindo com a segunda garrafa aberta.
- Mas depois dessa chega, ok?! – Falei e ele riu fracamente.
- Ok, combinado. – Ele disse e eu me levantei, sentindo as costas e a bunda doer do banco.
- Quer ir para o sofá? – Ele perguntou.
- Claro. – Peguei a taça, dando mais um gole nela e segui ao seu lado até o sofá claro da sala de TV, me sentando na ponta e ele se sentou ao meu lado. – E sobre sua família? Só tem você?
- Não, eu tenho um irmão mais velho, três anos. E meus pais moram em Livorno, temos um daqueles clubes à beira-mar.
- Hum, então você é um cara que faz investimentos também. – Falei, apoiando o pé da taça em minha coxa quando virei o corpo para o lado.
- Apesar da boa condição que o futebol dá, não podemos depender disso. – Ele negou com a cabeça. – Eu tenho mais o quê? Uns cinco ou seis anos? Se tiver sorte em lesões? – Suspirei.
- Vocês precisam parar de falar sobre aposentadoria, me deixa levemente desesperada.
- Acaba sendo inevitável. Analisamos ano a ano, mas uma hora sabemos que vai chegar. – Pressionei os lábios, esticando a mão no encosto do sofá.
- Eu sei, mas você ainda está em alto nível, está no line-up de todos os jogos, exceto os com algum tipo lesão e, quando está lesionado, volta em um ou dois meses. – Falei, sentindo sua mão encostar na minha no sofá.
- Isso que eu tenho um problema no pé, estou adiando fazer cirurgia exatamente por esse alto nível, mas não sei quanto tempo consigo aguentar. – Ele ponderou com a cabeça. – Preciso me dedicar a isso.
- Quanto tempo fora? – Perguntei.
- Três meses de recuperação, mais fisioterapia. – Ele disse.
- Uns seis meses, pelo menos. – Frisei a última parte e ele assentiu com a cabeça.
- Sim, aí leva mais um tempo para ganhar força e pique, quase um ano. – Fiz uma careta.
- É bastante tempo mesmo. – Suspirei. – Claro que não é a mesma coisa, mas me lembra o meu câncer. Até recuperar totalmente foram uns seis meses.
- Você me falou brevemente sobre isso em Villar Perosa um dia, mas não entrou em detalhes. – Ele disse.
- Tive câncer de ovário, mas, por sorte, precisei tirar só um dos ovários, mas passei por cirurgia, quimioterapia, queda de cabelo, até ficar completamente bem e o cabelo voltar a crescer foi muito demorado.
- Quando foi isso? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Meio de 2010, abril, se eu não me engano. – Tentei me lembrar melhor. – Voltei quase em outubro, aí logo depois fui promovida e você chegou. – Ele sorriu. – Ainda não acredito que você se lembrou de mim.
- Uma mulher linda como você? Um pouco difícil me esquecer, não? – Revirei os olhos, vendo-o rir.
- Eu estava acabada depois de passar quase 24 horas sem dormir, porque eu fui no susto para Berlim, não consegui hotel, aí fui para o jogo que foi aquela loucura, estava suada, derretendo de calor, descabelada e nem perto de como me visto hoje. – Virei para ele.
- Ainda estava bonita, . – Ele riu. – Tive dúvidas se era você mesma, mas aí vi você e o Gigi perto, comecei a perguntar e...
- E o Gigi surtou. – Falei.
- Ele não sabia, né?!
- Não. – Suspirei. – E vamos dizer que foi esse meu segredo que fez com que nos separássemos de vez... – Engoli em seco.
- Por quê? – Ele perguntou.
- O quê?
- Você não contou para ele? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Achei que não tinha o direito. – Neguei com a cabeça. – Antes do Mondiale, nós terminamos, de certa forma, sabe? – Suspirei. – Então, pensando em tudo, eu não devia nada a ele, analisei as informações erradas e... – Dei de ombros. – E me senti trocada, pois, na minha cabeça, foi muito rápido, então eu fiquei irritada e não contei, mas depois eu descobri que eles já se conheciam... – Dei de ombros. – E quando ele percebeu que me queria de volta, a Alena engravidou e... Beh, game over. – Ri fracamente.
- É confuso, porque ele gosta de você. – Suspirei.
- Eu sei. – Assenti com a cabeça. – Mas o Gigi tem uma visão diferente da vida, um pouco mais retrógrada, algo que eu nunca vou entender, então, eu optei por me afastar. – Dei de ombros. – Não é fácil, por causa do trabalho, mas você está me ajudando. – Sorri e ele retribuiu, deixando sua taça na mesa de dentro.
- Eu sei que você tem esse histórico todo, mas para mim é gostoso também, sabe, ver que tem outros tipos de relacionamento. – Sorri.
- Você também estava com uma pessoa há 10 anos, Barza. Teve mais constância do que eu, imagino que seja mais difícil. – Dei um último gole na minha taça, apoiando-a ao lado da dele.
- É como uma balança, sabe? – Ele disse, suspirando. – Você pensa sobre os momentos bons, também pensa no que desgasta... – Assenti com a cabeça.
- Entendo. – Suspirei, percebendo que ele se aproximava devagar de mim pelo sofá. – E como estão seus filhos? Quais as idades deles?
- Estamos tentando esconder de certa forma, sabe? – Ele suspirou. – É difícil, porque o Mattia tem cinco anos e a Cami tem só dois, então estamos meio que usando aquelas táticas de “o papai está viajando, papai está ocupado”, coisa assim, enquanto não confirmamos tudo. – Ele falou.
- E você quer confirmar? Finalizar tudo? – Ele riu fracamente, abrindo aquele sorriso bonito e bobo que ele tinha.
- Baseado em agora, sim. – Ele disse, subindo uma mão para minha perna e eu sorri, inclinando meu corpo para perto dele.
- Você sabe que eu não sou nada confiável, não sabe? – Falei, erguendo uma mão para seu ombro.
- Sim, eu sei, mas não estamos prometendo amor eterno, certo? – Sorri, negando com a cabeça.
- Não... – Falei rindo e ele juntou nossos lábios.
Subi minha mão pela sua nuca, deslizando-a pelo seu peito e senti seu corpo forte embaixo do suéter. Ele puxou minha perna, colocando em cima da dele e eu deixei um curto sorriso escapar de meus lábios. Meus lábios pressionaram os dele mais uma vez e ele me segurou pelo queixo, guiando o beijo.
Desci minha mão pela sua cintura, apertando sua roupa entre os dedos e ele me trouxe para perto de si. Inclinei meu corpo para cima do seu, sentando em seu colo e tive um déjà vu enorme passando pela minha cabeça que fez com que eu parasse os movimentos por alguns segundos.
- Tudo bem? – Ele perguntou, tirando meu cabelo do rosto e eu suspirei, dando uma mordiscada em seu lábio inferior.
- Sim, está. – Segurei seu rosto com a mão e ajeitei meu corpo em seu colo, colando nossos lábios mais uma vez, sentindo sua mão se manter firme em minha cintura e a ponta dos dedos deslizarem pela minha bunda.
Mas não passou disso.

Lui
21 de dezembro de 2013

Ok, eu estava cada vez mais abismado pela festa de Natal do time e tinha que tirar o chapéu para todos os envolvidos. Ano passado, pelo que tinha tido, havia sido quase um teste, um plano piloto. Fizeram no estádio mesmo, somente os funcionários, mas com muita coisa diferente. Era diferente daquela festa quadrada que eu estava acostumada no começo da Juventus, teve anos que nem festa teve, era só um jantar simples entre os jogadores, equipe técnica, diretoria e acionistas.
Agora, onde eu entrei, não era nada como aquilo e nem como o ano passado. A começar pelas roupas, o terno da Juventus era obrigatório. A festa seria no OGR que era um lugar enorme para eventos aqui em Turim.
Assim que entrei, junto de Lena, o local era sóbrio e tinha uma atmosfera clean, tinha algumas mesas altas distribuídas pelo local, um bar e só. Os jogadores chegaram praticamente juntos, então os cumprimentos começaram ali. Os mais velhos estavam com esposa, os mais novos com uma namorada ou família, e todos estavam surpresos com tudo.
- Gigione! – Chiello me abraçou e eu sorri. – Alena!
- Ei, ragazzi! – Sorri, cumprimentando Barza, Marchiso e Leo que estavam com eles e logo cumprimentei as esposas.
- O que estão achando? – Leo disse.
- Está incrível! – Alena falou e sorri com ela.
- Ouvi alguns rumores que eles estão preparando algo sensacional para esse ano. – Barza disse.
- Não duvido nada. – Disse.
- Então, Barza, onde está Maddy? – Carolina perguntou e virei o olhar para ele.
- Estamos separados no momento. – Ele disse. – As coisas não estavam indo bem. – Ele disse.
- Ah, mesmo? – Roberta disse. – Ela disse que vocês iriam voltar. – Arregalei os olhos.
- Você quer beber algo? – Perguntei para Lena, tentando tirar Barza dessa situação.
- Sim, por favor. Você sabe o que eu gosto.
- Eu vou contigo! – Barza disse.
- Podem ir, ficamos aqui com ela. – Martina disse e as esposas ficaram juntos, me fazendo desviar o curso rapidamente.
- Desculpa por isso, Barza. – Claudio disse. – A Roby é amiga da Maddy e...
- Não me surpreende nada a Maddalena falar isso para os outros. – Barza disse e nós cinco nos apoiamos no bar.
- Mas vocês pretendem voltar? – Perguntei, curioso para matar minhas dúvidas de forma discreto.
- Não agora. – Ele disse rindo. – Eu estou em uma... Vamos dizer uma jornada de autodescoberta. – Ele disse.
- Eu estou contigo, Barza. – Leo disse. – A Maddy era muito ciumenta, real. – Ele disse e eu franzi os olhos.
- Algo em vista? – Perguntei.
- Ah... – Ele ponderou com a cabeça. – Vamos ver! – Ele riu fracamente. – Um vinho branco, por favor. – Ele disse e eu suspirei.
- Uísque puro. – Disse, precisaria de algo forte para aguentar isso. Se estivesse acontecendo o que eu achava que estava, eu não ficaria feliz.
- Senhores... – O garçom colocou as respectivas bebidas em nossa frente e peguei-a, dando um aceno em agradecimento.
- Já viram o top? – Leo perguntou e nos afastamos um pouco do bar e eu apoiei a mão nele lateralmente.
- Ainda não, acabei de chegar. – Falei, observando Alena conversar com o pessoal de longe.
- Ciao... – Virei para o lado. – Buona notte, signor. – Vi a Smurf de se aproximar do bar. – Una Coca-Cola, per favore? – Ela pediu para o garçom.
- Olha quem está aqui! – Falei, indicando a menina e o pessoal virou o rosto para vê-la. Ela era bem cria de mesmo, blusa de gola alta branca, calça e botas pretas, um casaco preto e os cabelos azuis dando um toque de cor ali.
- Grazie. – Ela sorriu quando ele entregou um copo e ela deu um gole, antes de virar para sair pelo nosso lado.
- Ciao. – Falei.
- Ah, ciao! – Ela se assustou, fazendo o líquido se movimentar no copo e ela derrubar um pouco na mão. – Ah! – Ela fez uma careta. – Scusa!
- Está tudo bem. – Falei, esticando o corpo para pegar um guardanapo e tirei o corpo de sua mão, entregando o papel para ela, vendo-a limpar a mão.
- Grazie. – Ela disse sorrindo, pegando o copo de volta e jogando o papel em uma lata de lixo.
- Você está bonita. – Disse e ela sorriu.
- Grazie, mas eu acho que estou muito básica, não? – Ela fez uma careta, falando devagar.
- Por que você diz isso? – Perguntei e ela indicou nossos ternos.
- As mulheres estão de vestido... – Ela indicou saias longas. – Gala. – Ela disse.
- Ah, sì! Non c’è problema. – Falei. – Você está adequada. – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu vou... – Ela indicou o caminho.
- Fugir da gente? – Leo disse e ela fez uma careta.
- É. – Ela disse, nos fazendo rir.
- Nós não mordemos. – Falei.
- Que bom! – Ela sorriu, rindo fracamente. – Mas não é por isso, é... – Ela negou com a cabeça. – Buffon, Barzagli, Chiellini, Marchisio e...
- O irrelevante. – Leo disse e ela riu fracamente, fazendo uma careta.
- Foi só uma brincadeira. – Ela falou.
- Está tudo bem. – Ele disse. – Eu te desafiei, você me deu o troco, faz parte.
- É um pouco intimidador. – Ela disse.
- Somos normais. – Barza disse.
- Não. – Ela sorriu. – Eu sou normal, vocês são... – Ela movimentou a mão livre.
- ETs? – Marchisio disse e rimos juntos.
- Quase isso. – Ela ponderou com a cabeça. – Vocês são lendas lá no Brasil, e falar com vocês é... – Ela suspirou. – Loucura! – Sorri.
- Agradeço o elogio, mas não precisa agir assim. Estamos conversando normal, não? – Falei e ela assentiu com a cabeça animadamente. – Ótimo. – Falei e ela sorriu, rindo fracamente logo em seguida.
- Seria muito inconveniente eu pedir uma foto? – Ela falou.
- Não! – Dissemos juntos.
- Mas tem que marcar horário, tá? – Leo disse.
- Ah, idiota! – Falamos juntos, empurrando pelos ombros e ele riu.
- É brincadeira! – Ele disse e eu revirei os olhos.
- Scusa, poi... – Ela pegou o celular no bolso, apertou rapidamente alguns botões.
- Me dá, vem aqui no meio. – Falei, pegando seu celular e indiquei o meio.
Estendi seu celular para cima, vendo-o já com câmera frontal e vi Manu entre mim e Barza, além de Leo, Marchisio e Chiello do outro lado de Barza. Ela tinha um largo sorriso no rosto, franzindo os olhos e sorri também, apertando o botão algumas vezes.
- Grazie! – Ela sorriu.
- EI! Vai tirar foto sem mim? – Vidal apareceu com Pogba.
- Entra aí! – Falei e fui vendo outras pessoas se amontoando também. Storari, Cácares, Lich, Quagliarella, Llorente, Tevez e até Giovinco que se colocou na frente e a mão começou a pesar. – Vai logo!
- Pronto! – Eles gritaram e apertei o botão algumas vezes.
- Agora olhem aqui! – Abaixei o braço e vi o fotógrafo do time nos olhando.
- Não! Deixa eu sair daqui! – Manu disse, tentando fugir e eu e Barza a puxamos pelos ombros.
- Fica aqui! – Falei.
- Ai, Dio! – Ela disse rindo e sorri, sentindo alguns flashes no rosto. O resto do time se juntou e mais fotos foram tiradas.
- Pronto! – O fotógrafo disse e franzi os olhos, sentindo-os escurecerem pelos flashes e vi na nossa frente, sorrindo.
Acho que agora entendia o que Manu tinha falado de vestido de gala. estava incrível. O vestido longo preto de mangas compridas colado no corpo com alguns detalhes que davam a impressão que ele brilhava na luz. Os cabelos jogados para o lado em ondas.
- ! – Manu disse rapidamente.
- Se divertindo? – Ela sorriu e Manu fez uma careta.
- Eu pedi só uma foto. – Ela disse e sorriu, negando com a cabeça.
- Não me importo, é bom ver que estão se entendendo!
- Ela é ótima! – Vidal disse.
- Agora entende o que eu falei do vestido? – Manu cochichou para mim, se aproximando de e eu ri fracamente.
- Meu Deus! Você está linda! – disse sorrindo.
- Não como você! – Manu disse e negou com a cabeça.
- Melhor e muito mais confortável. – Ela disse e Manu sorriu. – Ragazzi, como estão? – Ela acenou para gente.
- Não ganhamos beijos ou algo do tipo? – Pogba perguntou.
- Mas está muito cara de pau, hein?! – disse rindo.
- Não estou, sou! – Ele sorriu e se aproximou para cumprimentar todos os jogadores que haviam permanecido por aqui.
- Amor da minha vida! – Quagliarella disse.
- Fazia tempo, hein?! – disse rindo.
- Você ainda é minha número um! – Ele estalou um beijo em sua bochecha e ela sorriu.
- E você ainda mente! – Ela disse, nos fazendo rir. – Chiello, Leo! – Ela cumprimentou-os. – Claudio, Barza. – Observei-a cumprimentar Andrea, vendo-a dar um rápido abraço como em todos nós. – Gigi. – Ela fez igual e franzi a testa. – Espero que aproveitem a festa. – Ela disse e assenti com a cabeça. – Está sozinha, Manu? – Ela perguntou e a mais nova finalizava de beber seu refrigerante.
- Sim. – Ela disse.
- Vem comigo, então. – disse e Manu assentiu com a cabeça. – Até mais, gente.
- Até! – Falamos juntos e ela se afastou.
- Ragazze! – Ela cumprimentou as mulheres com um rápido aceno e seguiu pelo salão, com todas olhando para ela. Alena tinha falado do nosso histórico e as esposas haviam se juntado contra. Era ótimo, principalmente com a olhada que eu recebi de todas.
- Vem, estão entrando. – Chiello disse e segui com eles.
Voltei a ficar ao lado de minha esposa e ainda tinha mais. Uma cortina se abriu, indicando outro ambiente maior do que esse, com mesas e cadeiras, além de um telão gigante que ocupava três dos quatro lados do salão. Identifiquei minha mesa e de Lena e me sentei nela, junto de Chiello, Marchisio e as esposas. Identifiquei em outra mesa com Manu, Pavel e Ivana, além de outros desconhecidos.
Não demorou muito para ela levantar e seguir junto do top cinco para próximo do palco, respirei fundo e sabia que logo mais as coisas esquentariam. Bebi um gole do vinho que foi servido e respirei fundo, sentindo o carinho de Lena em meu braço.
Após alguns minutos de falas soltas e conversas jogadas fora, tudo escureceu por alguns segundos, os telões se apagaram e todo aquele silêncio nos fez pensar o que tinha acontecido, mas logo depois os telões se acenderam e uma música alta começou a tocar. Dançarinas faziam uma coreografia junto das imagens que aparecia no telão, me deixando abismado e boquiaberto. A montagem não durou mais do que três minutos, mas surpreendeu a todos e arrancou forte aplausos de nós.
- Buona sera! – Vi Agnelli falar assim que subiu no palco. – Hoje é um dia de festa, nós, nossos acionistas, nossa equipe, nossos jogadores, nossos convidados. Estamos juntos aqui para festejar o Natal e nossas conquistas. – Ele sorriu e o aplaudimos. – Gostaria de chamar aqui meus parceiros do administrativo, Nedved, , Paratici e Marotta. – Ele indicou e os outros quatro subiram no palco, sendo aplaudimos por nós. – Agora, gostaria de chamar aqui os responsáveis principais por nossas conquistas. Por favor, os jogadores e equipe técnica.
Respirei fundo e me levantei junto com os jogadores, todos saíram das mesas mais à frente e subimos no palco. Como capitano, cumprimentei todos do top como representante da equipe e me coloquei junto dos jogadores no fundo do palco, vendo os outros quatro do top também ir para o lado.
- Esse 2013 foi um grande ano para nós, tivemos diversas vitórias, muitas conquistas, mas não foi o suficiente...
Desliguei minha mente pelo clássico discurso de resultados, observando as pessoas nas mesas da frente e olhei para Barza ao meu lado com as mãos em frente ao corpo. Deslizei o olhar para , vendo como ela estava incrível com aquele vestido e suspirei. Ela era sempre incrível, mas tinha alguma coisa acontecendo e eu descobriria o que era.
- Buon natale e um buon capodanno. – Agnelli finalizou e aplaudi junto dos outros, relaxando o corpo. Os jogadores saíram do palco e segui para minha mesa também.
- Tudo bem, Gigi? – Alena perguntou quando me sentei. – Você parecia perdido.
- Ah, só me desligando do discurso, nada demais. – Falei e ela assentiu com a cabeça, sorrindo.



Capitolo quarantaquatro

Lei
21 de dezembro de 2013

- É, foi aniversário do Parma. – Gigi disse. – 100 anos.
- Eu vi umas fotos, que legal que você foi. – Falei e ele sorriu.
- Eles foram muito importantes para minha carreira, precisava ir. – Ele disse.
- Que ótimo, Gigi! Mesmo. – Sorri e olhei para a feição totalmente desinteressada de Alena. – Bom, se me dão licença, preciso me despedir de algumas pessoas.
- Já vai? – Ele perguntou.
- Sim, tem jogo e preciso finalizar algumas coisas para as férias. – Ele assentiu com a cabeça.
- E Trezeguet, vem quando?
- No primeiro jogo após a volta, ele teve uns problemas e não conseguiu vir. – Falei.
- Ah, Treze! – Ele negou com a cabeça.
- Até amanhã, Gigi. Até mais, Alena. – Falei e ela cumprimentou com um aceno e me afastei de ambos, respirando fundo.
Segui em direção à saída do evento, cumprimentando o pessoal por quem eu passava. Alguns jogadores, equipe técnica, até Paratici e Beppe que ainda estavam aqui, o resto já tinham ido embora há algum tempo. Peguei meu casaco na porta do evento e vi que Barza já me esperava na porta, dei um sorriso discreto, mordendo meu lábio inferior e passei por ele.
- Vamos? – Falei, virando rapidamente de costas e ele assentiu com a cabeça. Descemos um tanto quanto separados pela escadaria e encontrei Manu no final delas com o celular na mão. – Manu? Ainda aqui?
- Ah, oi, gente! – Ela falou.
- Achei que já tivesse ido embora.
- Ah, não, acabei encontrando a Sara e o Miguel e ficamos conversando. – Ela disse sorrindo.
- Precisa de carona?
- Não, não, meu pai já está vindo. – Ela disse.
- Quer que espere contigo? – Perguntei.
- Não, tudo b... Aí ele! – Ela acenou para o carro que parou na nossa frente.
- Buona notte, Manu.
- Buona notte, chefa! Até amanhã. – Sorri.
- Até! – Acenei para o homem dentro do carro, recebendo um aceno seco de cabeça e vi o carro sair.
- Nada parecido com ela. – Ele disse.
- Bom, quantos pais possuem cabelos azuis, não é mesmo?
- Acho que nenhum que seja normal! – Barza disse e rimos juntos.
- Vem, parei para lá. – Indiquei o caminho para o lado esquerdo e seguimos lado a lado pela rua. Poucas pessoas saíam juntas. – Como você veio?
- Táxi. – Ele disse, procurando pela minha mão ao lado do corpo.
- Aqui não! – Falei, desviando a mão.
- Qual é, , não tem ninguém aqui. – Ele disse, segurando-a e suspirei.
- Ok, ok. – Ri fracamente ele me puxou para si, dando um beijo em minha bochecha e ri fracamente. – Para! – Disse e ele sorriu.
- Scusi, foi difícil não pode te beijar a noite toda, ok?! E fugir de você também. – Suspirei.
- Me desculpa? – Perguntei, apertando sua mão. – Eu não quero...
- Entendo sim! Nem eu quero que as coisas vão muito rápidas. As esposas dos outros caras já te fuzilam com o olhar pelo Gigi.
- Ah, elas são muito interesseiras, desculpe. – Bufei, soltando as mãos para procurar a chave do carro na bolsa. – Ficam jogando conversa fora, me elogiando até falar chega, mas só pela minha posição, por trás... Argh! – Reclamei.
- Você não pode se importar com isso.
- Não me importo, mas me incomoda, porque é muita falsidade. – Suspirei. – Entendo que elas são amigas, mas deem as costas para mim e se mantenha ao papel. Só a Alena me ignora, mas por motivos um tanto óbvios. Acho que faria o mesmo. – Dei de ombros e abri o carro, entrando de um lado e ele do outro.
- Imagina se elas descobrirem da gente. – Ele disse e eu ri fracamente.
- Bom... – Dei de ombros, colocando a bolsa entre os bancos do carro. – A única pessoa que eu preciso dar satisfação sobre a gente é o Michele do RH... Isso se as coisas se seguirem bem.
- E se seguirem mal? – Ele perguntou e eu ri fracamente, fazendo uma careta.
- Se o clima ficar estranho entre a gente, também. – Dei de ombros. – Mas eu e Gigi trabalhamos juntos há 12 anos, você é mais legal do que ele, então...
- A gente sobrevive. – Ele disse e eu virei o rosto para ele.
- É, tipo isso. – Dei de ombros e ele riu fracamente. – Por enquanto, acho que não tem nenhum problema darmos uns beijos aqui e ali.
- Não tem. – Ele disse, inclinando o corpo em direção ao meu e segurei seu rosto, colando nossos lábios.
- Vamos sair daqui! – Falei, empurrando-o levemente com o ombro e ele riu fracamente. – Quer ir para minha casa? – Mordi meu lábio inferior.
- Sim. – Ele disse e eu sorri.
Liguei o carro e dirigi em direção a Vinovo, mas, dessa vez, ao invés de parar nos prédios logo na entrada do distrito, eu segui até Villaggio i Cavalieri. Tinha me mudado há algumas semanas, muita coisa não estava pronta ainda, mas eu já tinha me transferido para lá e entregado meu apartamento. A distância de OGR, que ficava no centro, até Vinovo, era de uns 20 minutos, mas era quase meia-noite, então as ruas estavam mais calmas e a estrada mais vazia.
Eu morava na rua principal de Villaggio i Cavalieri, era praticamente um condomínio, mas não era fechado, na verdade. Morava cerca de umas sete casas antes do fim da rua, que era sem saída. Eu finalmente comprei minha mansão em Vinovo. Loucura? Talvez, mas sabe quando você faz algo só porque pode? Sou eu! Depois de morar em quitinetes e micro apartamentos, estava na hora de eu ter algo que me sentisse bem em chamar as pessoas para ir lá.
A casa era similar a que Alex tinha aqui nesse mesmo bairro. A frente era verde com detalhes em pedra. Tinha dois andares, no andar de baixo tinha duas salas grandes, de estar e de televisão, uma cozinha estilo americano com uma mesa para 10 pessoas, além de uma lavanderia, dispensa e academia. No andar de cima, chegando em uma escadaria larga tinha cinco quartos, três banheiros e mais uma sala que eu optei por fazer de estar, tudo isso formando um L do lado esquerdo da casa.
Um desses quartos era o meu, uma suíte master enorme com um closet maior que meus dois quartos do outro apartamento, uma sacada para o fundo e um banheiro com banheira, duas pias, chuveiro, entre outras coisas. Fiz um quarto de escritório e os outros ficariam para visitas até eu pensar o que fazer com eles, apesar que Giulia já queria morar em um deles. Não seria mal ter minha irmã como companhia, mas sabia que era da boca para fora. E, no quintal, ainda tinha uma piscina de oito metros por seis, um campo de futebol que era ¼ de um verdadeiro, uma casa da piscina com banheiro e uma pequena cozinha e garagem para cinco carros, era perfeito!
Viver em um lugar desse tamanho é exagero, mas eu precisava pensar no futuro. Imagina quando eu finalmente tiver filhos? Ter um espaço desse tamanho para viver? Era uma delícia. E ainda tinha uma boa segurança, era perto do trabalho e longe de toda a bagunça de jogadores e possível fama que ficava no centro da cidade.
- Já falei que eu adorei essa casa? – Ele disse e eu ri fracamente, fechado a porta.
- Ei, não é tão diferente da sua. – Falei e ele riu fracamente.
- É bem menor! – Ele disse, rindo.
- Talvez eu tenha exagerado um pouco. – Fiz uma careta.
- Não, é ótimo! – Ele disse. – A minha tem só três quartos e um pequeno escritório, me mudei meio rápido para cá, não tive muito tempo para pensar.
- Mas sua casa é ótima também, bem aconchegante. – Falei, destrancando a porta, desativando o alarme de segurança e entrei na casa, sentindo a diferença de temperatura. – A Giulia mora lá, sabia?
- Mesmo? – Ele entrou e eu fechei a porta.
- Sim, mas ela mora em uma casa estilo a minha. – Disse, ouvindo-o rir. – Acho que foi de lá que eu tirei inspiração para essa, sempre amei muito aquela casa. – Suspirei.
- Acertou em cheio. – Ele disse.
- Vem, vamos subir. – Falei, ouvindo os sapatos baterem contra o piso claro de mármore e subi as escadas rapidamente.
- Eu não posso dormir tão tarde, amanhã tenho que acordar as oito para ir para Bérgamo. – Ele disse, suspirando logo em seguida.
- Hum, tudo bem. – Dei de ombros, olhando rapidamente para trás e ele ria fracamente. – Eu tinha outros planos, mas... – Mordi meu lábio inferior e entrei no quarto, acendendo a luz.
- Ah, outros planos? – Ele falou e eu deixei a bolsa na bancada, tirando os brincos e anéis e ele riu fracamente.
- Sabe como é, você mesmo disse que ficamos um tanto afastados hoje. – Passei a mão na gola alta do vestido, soltando os dois botões.
- Eu acho que bebi demais. – Ele disse. – Toda vez que o Gigi perguntava algo, eu bebia algo. – Ri fracamente, tirando os sapatos.
- Fiquei feliz que vocês enturmaram a Manu. – Ela disse. – Ela parecia meio perdida logo que cheguei.
- Ah, ela é ótima. – Ele disse. – Não tem como não.
- Me ajuda aqui? – Tirei o cabelo das costas, puxando-o para frente.
- Você está linda demais. – Ele disse, puxando o zíper do vestido no centro das costas.
- É o vestido. – Falei, o sentindo dar um beijo em minhas costas e mordi meu lábio inferior.
- Achei que você precisava dormir cedo hoje. – Falei baixo, sentindo sua mão acariciar minha cintura.
- Preciso. – Ele deslizou sua barba em minhas costas, fazendo meu corpo arrepiar e soltei a respiração devagar pela boca. – Eu durmo na viagem. – Ele disse, dando mais um beijo em minha espinha.
- É pouco mais de uma hora de trem, Barza. – Falei fracamente. – E o jogo é as três, não vai ter tempo.
- Tudo bem, nada que uma bolada na cara não me acorde. – Sorri, virando de frente para ele e levei minha mão até seu queixo, erguendo seu corpo.
- Como você levou contra a Udinese? – Brinquei, subindo os braços pelos seus ombros.
- É, talvez! – Rimos juntos e ele roçou os lábios nos meus.
- Tudo bem, eu durmo por nós dois. – Falei e ele riu, deixando curtos beijos em meu pescoço, me fazendo suspirar.
- Você deveria ir com a gente. – Ele disse.
- Não! – Falei. rindo. – Eu quero férias também, ok?! – Disse suspirando.
- Ok, ok. – Fingi revirar os olhos e ele riu.
Seus lábios colaram nos meus lentamente e subi minha mão para sua nuca, acariciando-a devagar. Apertei-o pelos ombros, ficando levemente na ponta dos pés para reduzir a diferença e ele deslizou as mãos devagar pelas minhas costas. Passei as mãos em seus cabelos espetados pelo gel, deslizando pela lateral de seu rosto e nos separei devagar, dando curtos beijos, vendo-o sorrir. Ele desceu os lábios pelo meu queixo novamente e eu suspirei.
- Barza... – Chamei-o com a pouca força que me restava.
- Hum... – Ele fez um som abafado.
- Você não se importa se a gente for devagar, não é? – Falei baixo, vendo-o erguer o olhar para o meu. – Eu sei que está super convidativo, mas não acho que ainda consiga... Você sabe.
- Tudo bem. – Ele passou a mão em meus cabelos, jogando-os para trás. – No seu tempo. – Ele disse e eu sorri, dando curtos beijos em seus lábios.
- Mesmo, mesmo? – Perguntei.
- Mesmo, mesmo. – Ele disse, colando os lábios nos meus mais demoradamente e se afastou para o lado, tirando o paletó. – Vamos mudar de assunto, então? – Ri fracamente, vendo-o puxar a gravata e eu sorri. – Tem alguma roupa que eu possa usar?
- Você é demais, sabia? – Falei, levando uma mão até seu rosto, acariciando-o devagar e ele beijou minha mão.
- Eu não sou nada disso, só entendo como deve ser confuso para você. – Ele disse com um sorriso no rosto e me aproximei dele, abraçando-o mais uma vez. – A última coisa que eu quero é mais confusão na sua vida.
- Obrigada. – Sorri, dando um beijo em sua bochecha.
- Você não precisa me agradecer de nada. – Ele disse, virando o rosto e colei nossos lábios levemente. – Eu gosto de ficar com você, basta para mim. – Assenti com a cabeça, me contendo a não agradecer mais uma vez. – Agora vamos, que você está muito tentadora nesse vestido. – Ri fracamente. – Roupas?
- Hum... – Fiz uma careta. – Eu devo ter umas calças de moletom da Juventus aqui, é tudo modelo masculino. – Segui até o closet, procurando pelas tralhas da Juventus e puxei uma calça. – Aqui. – Estendi para ele.
- Ah, serve. – Ele disse e eu peguei meu pijama de frio.
- Eu vou me trocar. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
Entrei no banheiro, trancando a porta e tirei o vestido que estava me incomodando já e me olhei no espelho, suspirando. Como eu parava um homem desses? Sei que era novo, fazia só um mês que as coisas começaram, mas ele é lindo demais e super carinhoso, o sexo seria também, tenho certeza disso.
Mas também tenho certeza de que algo está me parando. Algo não, alguém.
Abanei a cabeça, focando em tirar a maquiagem, escovar os dentes, pentear os cabelos, fazer as necessidades e colocar o pijama de frio e saí do quarto, vendo com o moletom que eu tinha dado para ele e o peito nu e com alguns pelos. Não que fosse a primeira vez que eu visse, via frequentemente nos vestiários, mas dessa vez eu realmente encarei e analisei. Barza era tão forte quanto Gigi. Devido a estatura um pouco mais baixa, dava a impressão de que Barza era mais forte, mas eles eram gostosos iguais.
Jogadores de futebol, né?!
- Quer uma blusa? – Perguntei.
- Você quer que eu coloque uma blusa? – Ele perguntou e eu ri fracamente, me aproximando e passei a mão em seus cabelos.
- Não. – Falei, inclinando meu corpo e colando nossos lábios. – Mas talvez você tenha frio.
- Você me esquenta. – Sorri, confirmando com a cabeça. – Já volto. – Assenti com a cabeça e ele seguiu para o banheiro, fechando a porta.
Peguei uma meia no closet, sentando na cama para calçá-la e me coloquei embaixo das cobertas. Liguei o aquecedor, sabendo que demoraria para esquentar e liguei o abajur ao meu lado, batendo a mão no disjuntor. Fiz minhas rezas de sempre e finalizei-as pouco antes de Barza sair do banheiro.
- Usei sua pasta de dente. – Ele disse.
- Tudo bem. – Disse e ele deu a volta na cama, se deitando ao meu lado.
- Tenho que acordar as oito. – Ele disse, mexendo no celular.
- Eu devo levantar junto. – Suspirei e ele deixou o celular na mesa de cabeceira.
- Você não descansa? – Ele esticou a mão para meu lado e me aproximei, apoiando a cabeça em seu braço e ficando levemente de costas para ele.
- Não muito. – Suspirei. – Por isso eu preciso desses dias de férias. – Falei baixo.
- Podemos fazer algo. – Ele disse, dando um beijo em meu rosto.
- Eu não posso sair de Turim, ainda fico de plantão. – Disse.
- Tudo bem, a gente inventa algo aqui. – Ele disse e eu sorri, fechando os olhos. – Posso desligar as luzes? – Ele perguntou.
- Claro. – Falei baixo e suspirei.
Notei que a iluminação reduziu e ele subiu a coberta para nos cobrir e passou a mão livre em minha cintura, me trazendo para perto de si. Levei minha mão até a dele e deixei um pequeno sorriso se transformar em meus lábios. Senti mais um beijo seu em minha bochecha, mas sabia que não aguentaria acordada por muito tempo.

Lui
23 de dezembro de 2013 • Trilha SonoraOuça

Oito jogos.
Foram oito jogos sem levar gol.
PORCARIA DE OITO JOGOS!
E ESSA SEQUÊNCIA ACABOU POR QUÊ?
POR CAUSA DA PORRA DA !
Mais uma vez essa filha da puta me distraía e fazia com que eu errasse! AFFANCULO, CAZZO!
Eu estava tão irritado que foi sorte ela não ter ido ao jogo ou eu perderia o controle.
Na verdade, sorte maior foi o time estar em sintonia e virarmos o jogo e ganharmos de 4x1, mas minha sequência espetacular, que bateu alguns recordes acabou aos 15 minutos daquele maldito jogo. Foram 745 minutos sem levar gol! 745 MINUTOS! E acaba por quê? Porque está com Barza? Eu não conseguia acreditar.
COMO ELA PÔDE FAZER ISSO?
Como ela fica com Barza?
Como eles escondem isso de mim? Bom, eles podem ter tentado esconder, mas eu estava de olho neles há um tempo já, as conversas mais próximas, os risinhos, a troca de olhares. Eu posso só parecer idiota, mas eu não sou.
Pelo menos não completamente.
Os dedos entrelaçados, os beijos no queixo, o beijo dentro do carro. ELES NÃO SABIAM ESCONDER, NÃO?! Era para ficar aberto para todo mundo mesmo? Por que ficaram afastados na porra da festa então? Caramba!
Eu não conseguia acreditar que eles estavam fazendo isso. Não sabia de quem era pior. Dele, meu amigo, meu muro na defesa, quem eu confiava para fazer com que as bolas não chegassem em mim, quem treinava sempre próximo a mim. Ou ela que está nos meus pensamentos desde 2001, quem sempre demonstrou gostar de mim, sempre me deu bola e, do nada, começou a sair com meu amigo?
Ah não, tinha alguma coisa aí. Isso não podia estar acontecendo, ela é minha garota. Minha .
Mas...
A pior parte...
Ela não é mais a minha há sete anos.
Por mais que eu queira, que eu goste dela, que eu a queira sempre perto de mim, ela não é minha , e eu sou inteiramente o culpado disso. Não podia exigir nada dela, se eu não fazia por merecer, mas eu a tive só para mim, com exceção das brincadeiras de sempre do pessoal, desde que aquele namorado ridículo terminou com ela.
Eu não a queria com ninguém, muito menos com Barza, qual é! Era algo totalmente sem sentido! Como isso aconteceu? Ele se separou no meio do ano, será que se separou por causa dela? Será que já tinha algo aí?
Não, imagino que não, ela acabou sendo próxima dele, mas porque eu sou próximo dele. Minhas amizades sempre acabavam virando suas amizades também, mas amizade. AMIZADE! Não beijos e mãos dadas e sorrisinhos pelos cantos... Não!
Barza era um cara legal, legal demais, na verdade. Uma melhor pessoa do que eu, isso era certeza. E era por isso que ele não podia ficar com ! Era totalmente fora de cogitação! E onde eu ficava nessa história? Sem ela?
E a pior parte, se tiver como classificar o que era pior, eu não podia estourar com os dois. Colocá-los na parede e perguntar o que estava acontecendo. Eu ainda tenho Alena. Um casamento desastroso com Alena, mas ainda sim. Ambos são solteiros... Eu só não conseguia ficar bem com essa situação. Eu me sentia traído, honestamente.
Não deveria, mas sentia. Ela precisava me dar alguma satisfação. Ela precisava falar comigo e dizer que cansou, que desistiu, qualquer coisa...
Apesar que...
Ela disse. Milhares de vezes e eu ignorei todas as vezes que consegui, me envolvendo sempre que conseguia para perto dela, ficando perto dela e aproveitando o que deveríamos ter hoje, mas era diferente, não? Nós temos algo, eles não. Nunca tiveram, não era agora que começaria a ter.
Não podia, não podia acontecer. E ainda esconder de mim? Até quando isso daria certo? Eu já sabia e não tinha nada que me escondesse que eu não descobria. Da última vez demorou quase cinco anos, mas eu descobri e comecei a analisar melhor seus movimentos quando ela mentia. Ela nunca respondia de cara, sempre desviava o olhar e acabava mudando de assunto bruscamente, normalmente falando algo que me obrigasse a ficar quieto.
Mas agora não, ! Ah, agora eu quero ver o que você vai fazer, porque eu não vou deixar isso de lado. A bebedeira exagerada de Barza foi explicada um pouco também, sempre que eu a citava na festa, ele virava o copo, e foram várias vezes. Na hora achei normal, mas fez todo sentido depois do que eu vi.
Pelo menos pareceu que só eu vi. Alena não falou nada e nem o resto do pessoal que saiu conosco. Isso era bom, manteria essa informação para mim, não estava com cabeça para ter que lidar com o pessoal me zoando por mais isso. O que eu tinha certeza de que viria. Minha história e de é famosa no time, algo nosso, que dividíamos, mas era isso. Nossa, não dela e do Barza.
Ah, como eu estava com raiva. Foi difícil até ir e voltar de Bergamo próximo dele, ainda bem que ele dormiu tanto na ida quanto na volta. Vai saber o motivo do cansaço, não é mesmo? Saíram juntos, no mesmo carro, a estava incrível com aquele vestido... Eu posso imaginar o que teria acontecido se fosse comigo e ela.
Pelo menos teria 10 dias de folga. 10 dias sem , sem Barza... A pergunta é que eles teriam um ao outro nesse meio tempo. Eu só precisava parar de pensar nisso, tirar a imagem da minha cabeça, mas era impossível.
- Gigi? – Ergui a cabeça do encosto do sofá, sentindo-a pesar e vi meus filhos deitados em minhas pernas. Um virado de cada lado do sofá. – Gigi! – Olhei para frente, vendo Alena.
- Ei, Lena! – Falei, levando a mão aos olhos, apertando-os fortemente.
- Está tudo bem? Você está quieto! – Ela disse.
- Só dor de cabeça. – Suspirei, inventando alguma coisa rapidamente.
- Você não vai querer fazer um favor para mim, vai? – Ela deu um sorriso, mordendo o lábio inferior e sacudi a cabeça quando visualizei o rosto de .
- O quê? – Perguntei, passando as mãos nos cabelos dos meus meninos que pareciam interessados demais na televisão.
- Os meninos querem aquele doce...
- Ah, o doce, pai! – Eles falaram animados e eu arregalei os olhos, vendo eles começarem a pular no sofá.
- Que doce? – Sussurrei para Lena.
- Aquela padaria perto do estádio.
- Nossa, mas é lo-o-o... – Suspirei. – Longe. – Falei.
- Eu encomendei algumas coisas para o Natal também que sua mãe pediu e... – Suspirei. – Tudo bem, eu vou mais tarde.
- Ah, pai! – Lou falou, fazendo um bico e eu suspirei.
- Vai, pai! É aquele doce grande e gostoso! – Dado falava fazendo caras e bocas e eu ri fracamente.
- Tudo bem, eu vou. – Falei, fingindo que havia sido vencido.
- Eba! – Os dois falaram animados.
- Mas olha! É só dessa vez. – Falei, passando os braços nos dois em pé no sofá. – Da próxima, eu vou cobrar com cócegas, hein?! – Disse, fazendo cócegas na barriga de ambos e eles começaram a gargalhar, querendo fugir de mim. Levantei, correndo atrás deles e ouvi as risadas deles quando os peguei.
- Me solta, pai! – Lou falou, jogando a cabeça para trás.
- Eles vão ficar com soluço. – Alena disse e coloquei-os no sofá.
- Eu vou lá. – Falei, me aproximando dela.
- Grazie. – Ela disse, levando a mão até meu rosto e eu assenti com a cabeça, levando minha mão até a sua e abaixei-a.
- O que eu peço lá? – Perguntei.
- O meu eu encomendei, está no meu nome, para eles você traz um sfogliatelle de casa. É grande, não quero eles loucos de açúcar de novo. – Assenti com a cabeça.
- Tudo bem, eu logo volto. – Suspirei e ela se aproximou de mim e dei um curto selinho em seus lábios, desviando o rosto logo em seguida. – Se comportem, hein?! Ou eu vou comer tudo.
- Não vai! – Eles disseram e eu ri fracamente.
Fui para o carro e segui em direção ao estádio. De casa era uns 30 minutos, mas eu não estava com pressa. Era a desculpa perfeita para eu sair de casa. Essa padaria era boa, bem famosa na Juventus, já ouvi muita gente falar que saía de Vinovo para ir para essa padaria pegar quitutes e guloseimas para aniversários e outras coisas, ela só era totalmente fora de mão de mim que morava em Vinovo.
Estacionei na frente, vendo que não estava tão cheia e apertei o casaco quando saí. Era segunda-feira, quatro horas da tarde, time em férias, sem jogo, não tinha motivo para estar cheio. Me aproximei do balcão e esperei alguém me atender.
- Buon pomeriggio, em que posso ajudar?
- Eu tenho uma encomenda no nome de Alena. – Falei.
- Ah sim, um segundo. – Ela disse e observei os doces na vitrine. Queria muito abusar e pegar um para mim, mas sabia que já abusaria com as comidas da minha mãe e nem teria muito tempo para aproveitar, já que voltaria no dia dois. – Ela está terminando de embalar, pode esperar?
- Claro! – Falei. – Eu vou querer dois sfogliatelle, para viagem.
- Perfeito, eu vou organizar. – Ela disse e eu assenti com a cabeça, me afastando um pouco e suspirei, andando pelo local que recebia pessoas para o café também.
- Buffon? – Franzi o rosto quando alguém me chamou e só pedi para não ser algum torcedor ou , eu não estava com cabeça para isso. Virei devagar e vi Ilaria, a jornalista, sentada em uma das mesas, tomando um café.
- Ah, Ilaria. Buon pomeriggio. – Falei e ela sorriu, jogando seus cabelos pretos para trás.
- Ciao, Gigi. – Ela sorriu. – Perdido por aqui?
- Eu que deveria te perguntar isso. – Falei e ela riu fracamente.
- É verdade. – Ela sorriu. – Estamos preparando alguns especiais para o fim do ano, então eu vim. Meu produtor vem me encontrar logo mais.
- Ah sim! – Assenti com a cabeça. – Vim pegar umas coisas para o Natal, apontei para o balcão, colocando as mãos nos bolsos da frente da calça.
- Vai passar por aqui?
- Na minha cidade, com minha família.
- Ah sim. – Ela disse.
- Hum, e você? – Perguntei.
- Vou passar em Milão com meu filho, ele vai ficar o ano novo com o pai, então preciso aproveitar. – Ela disse.
- Não sabia que era casada. – Falei.
- Estou em processo de separação. – Ela disse.
- Ah sim, é complicado mesmo. – Falei.
- É, mas vamos lidando um dia de cada vez.
- Consigo entender um pouco disso. – Suspirei.
- Beh, se precisar de alguém para jogar conversa fora ou tomar um café... – Ela deu de ombros e procurou algo na bolsa antes de me estender um cartão. – Me liga.
- Scusa... – Virei para o lado, vendo a moça do balcão com três caixas empilhadas no mesmo. – Está pronto. – Assenti com a cabeça e virei para Ilaria.
- É... Claro! – Falei, pegando o cartão e ela sorriu. – Buon Natale.
- Para você também. – Ela sorriu e virei meu rosto, seguindo de volta para o balcão.
Paguei os pedidos e saí do local, recebendo um aceno de Ilaria e um sorriso. Franzi o rosto e segui para o carro, colocando as encomendas no banco de trás. Olhei para o cartão em minha mão e suspirei, guardando-o dentro do bolso da calça.
Com tudo o que estava acontecendo, talvez fosse necessário.

Lei
31 de dezembro de 2013• Trilha SonoraOuça

- Me desculpe. – Falei assim que Barza, somente de moletom, abriu a porta e ele franziu os olhos. – Não foi minha culpa.
- É dia 31 de dezembro, . – Ele disse e eu ri fracamente.
- Culpe o Pavel. – Falei. – Eu queria vir antes, mas eles me seguraram e...
- Entendi. – Ele disse, levando a mão para minha cintura e eu sorri, sentindo-o colar os lábios nos meus e passei o braço pelos seus ombros, segurando em sua nuca. – Entra logo antes que eu mude de ideia. – Ele disse e eu ri fracamente, passando para dentro de sua casa.
- Espero que não tenha comido tudo sem mim. – Falei, apoiando a mochila na mesa e tirei os botões do casaco.
- Tudo não, mas eu precisei fazer uma boquinha, você demorou demais. – Ele disse e eu ri fracamente.
- Eu passei em casa para tomar banho antes.
- Você poderia tomar aqui, eu não ligo. – Ele disse, roubando mais um pedaço de queijo da tábua de frios.
- Eu sei, mas aí demoraria mais para eu ficar contigo. – Falei, vendo-o sorrir.
- Bom saber. – Ele disse.
- Mas eu gostaria de trocar por algo mais confortável igual você. – Falei.
- Vem, vamos lá em cima. – Ele disse, abrindo a adega embaixo da bancada e tirando uma garrafa de vinho. – Rosé?
- Está ótimo! – Sorri, colocando a mochila nas costas e peguei a garrafa em sua mão e ele pegou a tábua com alguns frios.
- Pode ir! – Ele disse sorrindo e segui à sua frente, subindo as escadas e chegando no segundo andar. – Você pode se trocar no meu quarto, estou lá na sala do fundo. – Ele indicou e eu assenti com a cabeça.
Ele pegou a garrafa em minha mão e foi para o fundo e eu segui para o quarto dele, fechando a porta. Tirei a calça jeans, o suéter e as botas que eu usava e troquei pelo pijama cumprido que eu havia trazido. Calças largas de moletom e uma camiseta regata. Prendi meus cabelos cumpridos em um rabo de cavalo e tirei as meias, calçando chinelos no lugar. A casa de Barza estava bem quentinha.
Deixei minha mochila na poltrona que ele tinha no quarto e segui para fora. Atravessei o corredor, indo para a sala de televisão que ele tinha no andar de cima e sorri. O sofá mais largo estava com a extensão aberta, deixando-o maior e no centro tinha uma mesa com algumas guloseimas, duas taças e um balde com o vinho enfiado no gelo. Confesso que tive mais um déjà vu sobre isso, mas não quis pensar nisso agora.
- O que você fez aqui? – Falei sorrindo e entrei no local.
- Achei que podíamos aproveitar por aqui, ver algum filme ou... – Assenti com a cabeça com um sorriso nos lábios e me sentei ao seu lado.
- Está ótimo, Barza. – Sorri, deslizando pelo sofá para ficar mais próxima dele e abracei-o de lado. – Sem festas e sem problemas. – Disse, sentindo sua mão em meu ombro e apoiei a cabeça em seu ombro.
- Volto na quinta mesmo, preciso aproveitar. – Ele disse, apoiando a cabeça na minha e eu sorri, apoiando a mão em sua barriga.
- Ah, nem fala. – Suspirei. – Pelo menos não temos viagens nessa primeira semana, vai ser em casa.
- Contra a Roma. – Ele disse.
- Jogão, vai. – Disse e ele riu fracamente.
- Sim, mas a gente chega meio frio, foram só 10 dias, mas mesmo assim... – Ergui o rosto para ele.
- Você está ótimo, para! – Disse e ele riu fracamente, abaixando o rosto e colando os lábios nos meus lentamente.
- Preciso manter o pique. – Ele disse e eu sorri.
- Por causa do Mondiale? – Perguntei, inclinando meu corpo para frente e peguei um pedaço de queijo, salame e mortadela, colocando na boca um a um devagar.
- Sim, por isso. – Ele disse, inclinando o corpo também. – Certificar minha convocação.
- Você se tornou indispensável para Juve e para a Nazionale, eles vão te convocar. – Falei e ele pegou a garrafa de vinho, apoiando na mesa.
- Espero que sim! – Ele disse e eu neguei com a cabeça, colocando o último pedaço de embutido na boca, antes de pegar as taças e aproximar dele.
- O que vamos assistir? – Perguntei e ele abriu a garrafa, servindo as taças.
- Tem algumas opções no Pay Per View, o que você gosta? – Ele perguntou.
- Só não gosto de terror. – Falei, vendo-o encher minha taça e colocar a garrafa de volta no balde e voltei minha posição no sofá com a taça.
- Hum, vamos ver. – Ele pegou o controle, apontando para a televisão que passava algum especial de ano novo e colocou na TV a cabo.
Dei um gole no líquido, sentindo o gosto de morango nos lábios e observei os filmes passando pela tela. Com a quantidade de opções, provavelmente ficaríamos ali por bastante tempo, foi tempo de eu roubar vários pedaços de queijos nesse tempo.
- Ei, eu nunca vi esse. – Falei quando apareceu As Aventuras de Pi na tela.
- Você quer ver? – Dei de ombros.
- Ah, coloca aí. Aposto que nos distraímos antes disso. – Disse, olhando para ele que riu fracamente, dando play no filme.
- Ah, é? – Ele disse, apoiando em mim novamente e eu sorri.
- Eu não disse o quê, Barzagli. – Falei, empurrando com o ombro e ele riu fracamente. – Eu posso dormir antes de virar o ano. – Disse e ele riu fracamente.
- Do tanto que você trabalhou, não é difícil. – Ele disse e eu suspirei.
- Ah, já falei o quanto eu odeio reuniões e o quanto minha posição exige isso? – Falei e ele riu fracamente.
- Acho que não. – Ele disse.
- Eu preferia ficar fazendo contas e mais contas, confesso. – Suspirei e ele riu fracamente.
- Mas você relaxou no tempo que eu estava com meus filhos, não? – Ele disse.
- Ah sim, eu fui na Giulia. Os gêmeos estavam lá, a nonna, o nonno, todo mundo. – Dei de ombros. – É divertido.
- A Giulia é famosa, não é?! – Ele perguntou.
- Ela trabalhou no Le Iene uma época. – Falei. – Agora ela faz stand up pela Itália e tem um canal no YouTube.
- É um canal de comédia, não é? – Ele disse.
- De pegadinhas, sim. – Virei o rosto para ele, apoiando no sofá.
- Cara, agora explica muita coisa. – Ele disse, rindo. – O pessoal falava da sua amiga, fugia dela e tal, eu não entendia, mas ela é Giulioca do Le Iene, a doida que falava de futebol. – Gargalhei.
- Ei, não fala assim da minha irmã. – Sorri.
- Teve uma vez que eles levaram uma montagem minha seminu, . – Gargalhei.
- Eu lembro disso. – Abaixei a taça para a mesa novamente. – Mas não foi ela que te entrevistou. Foi o outro lá.
- Sim, não foi ela, mas ela estava atrás das câmeras. Eu nunca me senti tão envergonhado na minha vida. – Ele disse e eu gargalhei.
- Ah, mas me lembro que você se saiu bem. – Falei, virando para ele e ele puxou minhas pernas para seu colo. – Os outros se irritaram, brigaram, mas você foi legal, você assinou...
- Eu assinei, cara! – Ele ficou vermelho de vergonha e eu sorri.
- A montagem até que estava boa, se não fosse aquele outro cara.
- Não me atenta, . – Ele disse e eu sorri.
- Ah, vai dizer que prefere as sessões de fotos da revista do time? – Falei.
- Prefiro! – Ele falou fortemente. – São bem melhores. – Gargalhei. – Eu estou com roupa.
- Lá você estava também, só não era você por inteiro. – Falei e ele negou com a cabeça. – Você está com a mesma feição envergonhada daquele vídeo. – Falei e ele riu nervoso.
- Aquilo vai ficar marcado para o resto da vida. – Ele falou e eu levei a mão para seu rosto, acariciando devagar.
- Esquece disso. – Falei. – A Giulia é legal, prometo. – Sorri e ele inclinou o corpo, deixando sua taça também na mesa.
- Não confio nisso. – Rimos juntos e ele desceu a mão para minha perna. – O Mattia gosta dos vídeos dela, mas só... – Sorri.
- Confesso que morro de medo de ela falar algo de mim nesse stand up, ela nunca cita nomes, mas nós duas temos Instagram e temos fotos da outra nas redes sociais, para o pessoal fazer a ligação, é rapidinho.
- Você acha que ela falaria algo de você e do Gigi? – Ele perguntou.
- Bom, no show que eu fui ela já falou algo que começava com “a minha amiga”... – Ele riu fracamente. – Normalmente se é algo muito vergonhoso, as pessoas logo ligam a ela, mas tem coisas que eu sei que é sobre mim. – Ele riu fracamente.
- Vocês são amigas há tanto tempo, ela não faria isso. – Ele disse.
- Espero mesmo, só imagino a dor de cabeça que isso geraria para mim. – Suspirei.
- A imprensa nunca soube nada sobre vocês? – Ele perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Na época que nos relacionamos, eu tinha sido efetivada há pouco tempo e, eu fiquei sabendo, que não queriam me efetivar por eu ser mulher e pela certa proximidade dos jogadores, etc... – Ponderei com a cabeça. – Então a gente adiou ficar juntos por bastante tempo. Até que as coisas aconteceram, então fazíamos tudo dentro de casa. Na dele ou na minha, nunca saíamos juntos.
- Como a gente.
- É, tipo isso. – Suspirei. – Quando abrir para todo mundo, abrir para imprensa, precisa ser algo certo, sabe? Firme já. Não por mim, por vocês mesmos, da pouca relevância que meu posto tem, eu sei como isso é chato, imagina do lado de vocês.
- É chato mesmo. – Ele assentiu com a cabeça. – E como o time sabe? – Suspirei.
- Homens também fofocam, Barza. – Disse, dando de ombros. – E eles podem ser mais chatos do que mulheres. – Ele assentiu com a cabeça. – Na época tínhamos um grupo bem próximo de pessoas, então as coisas foram espalhando a cada temporada e, depois de Trieste, foi difícil abafar os rumores. - Suspirei.
- Não é só isso, , é que vocês se atraem, é estranho, sabe? – Ele disse e eu suspirei.
- Eu sei! É por isso que eu quero fugir disso, porque tem algo fora do comum, mas não tem futuro. – Dei de ombros. – Por causa disso, eu preciso ficar presa nisso para o resto da vida? – Abaixei a mão para seus ombros, encontrando a ponta dos dedos atrás de sua nuca.
- Não. – Ele disse, virando o corpo para mim e dobrou uma perna em cima do sofá. – Porque eu sei o que é ficar ligada em uma pessoa por bastante tempo e decidir mudar isso.
- Mas você teve um relacionamento longo com essa pessoa, não viveu a base de cogitações e seis meses de relacionamento escondido. – Dobrei as pernas, colocando-a ao redor de seu corpo.
- É, mas é chato, a família fica inteira em cima, é un cazzo. – Rimos juntos.
- Natal foi difícil? – Perguntei e ele suspirou.
- Meus pais costumam apoiar minhas decisões, mas nisso...
- O certo é melhor que o duvidoso, Barza. – Suspirei. – É por isso que as pessoas evitam, ainda mais os mais velhos. Mudar é complicado. – Dei de ombros.
- Eu sei disso, sei como foi difícil eu falar para ela que queria distância um ano depois de casado, mas não acho que ser infeliz compense. – Ele me puxou para o seu colo e sorri, aproximando os lábios dos seus.
- Eu concordo contigo. Mas minha vida sempre foi cheia de momentos duvidosos, eu cansei disso. Ter que esperar os outros, algum tempo, as coisas, não dá mais. – Falei mais baixo, sentindo nossos lábios roçarem conforme falava. – Eu quero algo certo, que eu não precise batalhar uma luta diária para ter.
- Eu estou aqui, . Pelo que precisar. – Ele disse e eu confirmei com a cabeça.
Levei as mãos para seu rosto, acariciando sua barba e ele colou os lábios nos meus. Apertei as mãos em seu pescoço. Suas mãos desceram pelas minhas costas, acariciando-as devagar até chegar em minha bunda e colei meu corpo mais perto do seu, me ajeitando em seu colo. Deslizei minhas mãos para seus ombros, apertando-os levemente.
Suas mãos me pressionaram contra si e soltei um suspiro baixo, entreabri os lábios com o feito, sentindo sua língua encontrar a minha e suguei-a para dentro da minha boca, sentindo-o fazer o mesmo movimento. Puxei-o mais para mim pelos ombros, pressionando meu quadril sobre o seu e ele soltou a respiração forte, afastando o rosto do meu.
- Vamos... – Ele disse com a respiração forte. – Vamos devagar ou eu não vou aguentar. – Ele disse fraco, me fazendo rir e ergui seu rosto em minha direção.
- Não. – Falei baixo, mordendo seu lábio inferior. – Eu quero isso...
- Tem certeza? – Ele perguntou, me apertando com as suas mãos e eu assenti com a cabeça.
- Sim... – Falei, deslizando os lábios pela sua barba e ele aproveitou a deixa para levar os lábios até meu pescoço, me fazendo arrepiar.
Tombei a cabeça para trás, fechando os olhos e senti seus lábios deslizarem pelo local devagar, deixando curtos beijos ali. Deslizei minhas mãos pelo seu tronco nu, com poucos pelos no local, e senti sua barriga contraída. Seus lábios desceram mais pelo meu corpo, encontrando o decote da minha regata e inclinei mais meu corpo para trás, sentindo-os atingirem o meio de meus seios.
Sua mão foi para um de meus ombros, descendo a alça e a blusa deslizou um pouco para baixo. Seus lábios encontraram meus seios e ele deu curtos beijos sobre meu mamilo antes de abocanhá-lo e passar a língua nele, fazendo meu corpo se arrepiar. Inclinei meu corpo, sentindo suas mãos firmes na base da minha cintura e ele afastou seus lábios devagar para deitar meu corpo no sofá.
Soltei minhas pernas de sua cintura, vendo-o vir para cima de mim e ele colocou uma perna de cada lado do meu corpo. Puxei-o pela nuca, sentindo-o deitar em cima de mim devagar e ele apoiou uma mão em minha barriga, por dentro da blusa. Seus lábios encontraram os meus novamente e deixei-o guiar os movimentos dessa vez.
Desci minhas mãos pelo seu corpo, sentindo os músculos de suas costas contraídos e desci para sua bunda, entrando em sua calça e cueca com a ponta dos dedos. Ele deslizou o corpo para baixo, encontrando meus seios novamente e deu somente alguns curtos beijos, antes de puxar também a outra alça para baixo.
Ele deslizou as alças para fora de meus braços e os ergui novamente, colocando em seus ombros e colei meus seios em seu peito, sentindo-o pressionar o corpo sobre o meu. Seus lábios colaram nos meus e senti sua ereção pressionar minha cintura. Suas mãos desceram para minha bunda e virei o corpo no sofá, me colocando em cima dele. Me sentei em cima de seu quadril, passando a mão em sua barriga e mordi meu lábio inferior.
Suas mãos foram para minha cintura, me pressionando para baixo e eu puxei a regata de minha barriga, jogando-a para fora do sofá. Inclinei meu corpo sobre o seu, dando um curto beijo em seus lábios e fui descendo pelo seu corpo, passei pelo pescoço e desci para seu peito. Barza tinha menos pelos no peito do que Gigi. Bom, do que a última vez que eu e Gigi nos relacionamos, da última transa ele estava sem nada, o que não me agradava muito.
Desci os lábios pela sua barriga, vendo-o contraí-la e desci o rosto. Seu pênis estava pressionando a calça e mordi o lábio inferior. Passei a mão pelo cós de sua calça e puxei-a devagar para baixo. Ele me ajudou e passei a língua pelos lábios quando o vi.
Eu sei que não devemos comparar, mas eu estava em uma situação impossível de não fazer. Gigi era maior e Barza era mais grosso, mas ambos bem interessantes. Sabia que isso não queria dizer nada se a pessoa não soubesse o que fazer com ele, mas eu sabia como meu sexo com o Gigi era e talvez procurasse a mesma interação com Barza. Material para isso ele tem.
Deixei um beijo em seu pênis, passando a língua por toda extensão e o senti contrair o corpo, levando a mão na minha cabeça. Abocanhei a cabeça de seu pênis, passando a língua pelo mesmo e suguei por alguns segundos antes de sentir sua mão em meus cabelos. Não me alonguei muito no serviço e dei curtos beijos na sua glande antes de voltar a olhar para si.
Inclinei meu corpo sobre o seu de novo, sentindo suas mãos apertarem minhas nádegas e apoiei minha mão em seu peito, sustentando meu corpo quando o fiz. Colei meus lábios nos seus novamente, sentindo-o me apertar contra seu corpo e levei uma mão até seu pênis, acariciando devagar. Ele soltou a respiração forte com a boca. Afastei meu corpo devagar, endireitando-o sobre Barza e continuei deslizando seu pênis devagar. Ele tinha fechado os olhos e jogava a cabeça para trás, eu só conseguia morder meu lábio inferior.
Ele apertou as mãos em minha bunda e sorri, passando a mão livre em seu peito. Inclinei meu corpo em direção ao seu de novo e soltei seu pênis, apertando meu corpo contra o seu. Ele apertou as mãos em meu corpo, me girando no sofá e eu soltei uma risada com o movimento brusco que ele logo me calou com seus lábios novamente.
O beijo durou pouco, ele aproveitou a mudança na posição para tirar sua calça e se ocupou em tirar a minha também. Ele observou meu corpo por alguns segundos e o chamei com a mão. Ele deitou o corpo sobre o meu novamente e colei meus lábios nos seus. Suas mãos apertaram minha cintura e abracei-o pelos ombros. Subi uma perna para sua cintura, sentindo nossos sexos chocarem e mordi seu lábio inferior, suspirando.
Ele ergueu uma mão sobre meu rosto, tirando os cabelos que insistiam em cair e fez um carinho de leve em minha bochecha. Colei nossos lábios novamente por alguns segundos e afastei meu rosto do dele.
- Acho que precisamos de uma camisinha. – Sussurrei para ele que assentiu com a cabeça.
- Eu tenho que pegar no quarto. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Vai logo. – Falei, colando os lábios nos dele e ele se levantou apressado.
Suspirei quando o vi sair do quarto e desci a mão para minha vagina, sentindo-a úmida e acariciei meu clitóris devagar, mordendo meu lábio inferior. Uma batida me distraiu e ergui rosto, vendo Barza voltar com o pacote na mão e sorri. Me sentei no sofá, sentindo meu corpo suado no pano e peguei o pacote de sua mão.
Abri o pacote sem muitas dificuldades e me aproximei dele, deslizando a camisinha sobre seu pênis e dei um curto beijo em sua glande, ouvindo-o suspirar. Segurei-o pela base e passei a língua por ele, incomodada pelo gosto do silicone. Deslizei a mão pela extensão dele e deixei mais um beijo na glande.
Inclinei meu corpo no sofá de novo, vendo-o subir em cima de mim e passei os braços pela sua cintura. Ele se colocou entre minhas pernas e passei em sua cintura. Ele inclinou o corpo em direção ao meu, direcionando seu pênis em minha entrada e soltei um suspiro quando ele me penetrou.
Puxei-o mais para perto, respirando forte enquanto acomodava-o dentro de mim e apertei minhas mãos em si, sentindo-o seguir mais fundo e eu soltei um suspiro. Ele apoiou os antebraços na lateral de meu rosto e subi as mãos para seu rosto, acariciando-o devagar. Ele deu um curto beijo em meus lábios e fiz um movimento de aceno com a cabeça.
Ele começou a fazer movimentos de vai e vem, fazendo com que eu jogasse a cabeça para trás e soltei um suspiro baixo. Os movimentos continuaram mais rápidos e frequentes e levei minha mão até meu seio, apertando-o fortemente. Seus olhos estavam focados nos meus e o movimento não me permitia focar por mais que alguns segundos.
Após alguns minutos, a respiração começou a falhar, mas sentia que não estava tão rápido em chegar lá. Minha cabeça estava em outro lugar, em outra pessoa. Soltei um suspiro, deslizando a mão pela minha barriga e desci pelo meu clitóris. Comecei movimentar o indicador e o médio sobre local e percebi que Barza começou a ir mais rápido e a tensionar o corpo para trás, ele estava chegando lá.
Soltei um suspiro, apertando minha perna com a sua, deixando um gemido escapar e senti meu corpo se contrair. Meus dedos agilizaram em meu clitóris e senti Barza suspirar fortemente e notei seu corpo rígido, relaxando-o logo em seguida. Agilizei meus dedos por mais alguns segundos, e logo senti aquela descarga de adrenalina passar pelo meu corpo, me fazendo suspirar logo em seguida.
Ergui meus olhos, encontrando-o olhando para mim e chamei-o em minha direção. Ele inclinou o corpo para cima de mim, dando um beijo em meus lábios e abracei-o pelos ombros. Após alguns segundos seu corpo relaxou e suspirei quando ele saiu de mim. Rocei meus lábios sobre os seus, sentindo a respiração acelerada e suas mãos me apertaram fortemente pela cintura.
- Fica comigo. – Falei baixo e ele assentiu com a cabeça, dando um beijo em meu rosto.
Relaxei meu corpo entre ele e o encosto do sofá e girei meu corpo para o lado contrário, puxando sua mão para me abraçar. Sua outra mão foi para baixo da minha cabeça e me encostei em seu peitoral, fechando os olhos.
Evitei a todo custo, mas outras imagens apareceram em minha cabeça e eu engoli em seco. Não foi ruim, de longe. Barza sabia muito bem como fazer seu tamanho funcionar, mas o problema não era isso. O problema era que ele não era quem eu e meu corpo queríamos que fosse. E eu era péssima em sexo casual.
Eu sei que era o começo e esperava que meu corpo girasse a chave e entendesse que não poderia ter o outro. A intenção era essa, esquecê-lo e viver com outra pessoa que fosse boa para mim, que cuidasse de mim e se preocupasse comigo a ponto de me colocar em primeiro lugar, mas a intimidade não mentia.
E minha intimidade ainda dizia que eu deveria estar com outra pessoa e não o Barza. Seus beijos em minha nuca, sua mão em minha barriga, tudo me excitava, mas na hora H, meu corpo não respondeu da mesma forma, me deixando um tanto confusa e eu estava mais irritada do que excitada no momento.
Irritada por não ter sido como eu esperava, irritada por talvez ter deixado isso claro para Barza, irritada por ter sido muito mais rápido do que eu estava acostumada, mas também muito demorado. Irritada por estar pensando em todas as coisas possíveis, menos em seu carinho e em como o pós-sexo era tão gostoso quanto o ato em si.
Eu estava irritada por, mesmo após tentar, pensar em Gigi.

Lui
Dois de janeiro de 2014

Eu bocejei pela milésima vez quando imbiquei no portão do CT. Diversos carros chegavam junto de mim, então tive que esperar até que todos fossem liberados. Voltar oito da manhã depois da virada do ano novo era para acabar! Meus filhos não me deram folga, eu bebi mais do que devia para aguentar tudo, tinha dormido mal e na minha cabeça só passava uma coisa: e Barza.
Eu sabia que ficaria louco em breve. Muito em breve.
Segui até o fim da larga rua, estacionando na primeira vaga que eu vi e outros carros estacionaram à minha volta. Todos chegavam juntos. Abaixei os óculos de sol no rosto e puxei minha mochila, saindo do carro e vi Marchisio saindo de um carro, Barza saindo do outro e, do outro lado, mais próximo do administrativo, saía de seu carro também e engoli em seco.
- Buongiorno! – Marchisio falou e eu relaxei o corpo.
- Giorno! – Falei, travando o carro e segui em direção a entrada do CT.
Cumprimentei outras pessoas ao entrar no prédio, alguns com abraços, outros com rápidos cumprimentos de mãos e segui em direção ao vestiário, cumprimentando todos em alto em bom som, dando alguns tapinhas nas costas.
- Giorno! – Falei firme.
- Giorno, capitano! – O pessoal falou e deu um rápido abraço em Giovinco e Storari que ficavam mais perto de meu armário.
- E aí, o que fizeram de ano novo? – Quagliarella perguntou.
- Fui para minha cidade. – Essa foi a maioria das respostas.
- Cara, deve ser chato ser casado, né?! – Pogba falou, fazendo os solteiros estourarem rindo.
- Há, há, há, engraçadinho. – Chiellini falou. – E você, o que fez?
- Eu fui para balada e aproveitei dema-ais! – Ele falou no dramático tom Pogbense de sempre e gargalhamos.
- E eu pensei que tinha bebido demais. – Comentei, ouvindo as risadas.
- O que você fez, Gigi? – Vidal perguntou.
- Fui para minha cidade, virei babá, nada demais. – Dei de ombros. Isso não deixava de ser verdade, mas não tirei os olhos do celular conversando com certa jornalista.
- E você, Barzaglione, como aproveitou seu fim de ano? – Leo perguntou, puxando-o pelo ombro e ele gargalhou.
- Non, non! – Ele movimentou as mãos rindo. – Fiquei sozinho, cara! – Ele disse rindo, mas Barza ficava envergonhado muito fácil e era óbvio. – Meus filhos ficaram com a Maddy.
- Ah, fala sério! – Quagliarella reclamou e Barza riu.
- Pior que é verdade. Eu fiquei assistindo filme, cara! – Ele vestiu a camiseta.
- O que assistiu? – Perguntei.
- Ah... – Ele fez careta. – O filme de um tigre lá. – Ele falou.
- As Aventuras de Pi? – Asamoah perguntou.
- Isso aí! – Ele falou.
- É bom demais.
- Não entendi nada, confesso! – Ele disse, rindo em seguida e ambos sorriram.
- Buongiorno, ragazzi! – Virei o rosto, vendo Pavel entrar no vestiário com e ela ficou na porta.
- Buongiorno! – Falamos juntos.
- Felice capodanno, ragazzi. disse sorrindo.
- Anche a te, chefa! – Eles falaram e olhei para ela, tentando focar seu olhar no meu, mas ela não olhava para mim.
- Como passou o ano novo? – Lich perguntou.
- Pavel aqui foi para os Alpes, esquiar! – Ela disse de forma dramática, revirando os olhos.
- Eu fui com a minha esposa, ok? – Ele disse, nos fazendo rir.
- Mas não teria problema nenhum chamar a sua amiga de longa data, eu juro que ficaria em silêncio. – Eles riram e Pavel negou com a cabeça.
- Ah, vai dizer que uma mulher linda como você ficou sozinha? – Vidal perguntou.
- Agradeço o elogio, mas fiquei. – Ela suspirou. – Passei o Natal com minha família e optei ficar o ano novo com mais calma, esse daqui me chamou para trabalhar no dia 31 e partiu para os Alpes. – Ela falou brava, empurrando Pavel pelo ombro.
- Ei, eu...
- Não fala nada! – Ela disse, fazendo o pessoal mais próximo gargalhar. – Só queria dormir, coloquei um filme na TV e fiquei bebendo e comendo até dormir.
- O que assistiu? – Pepe perguntou, se virando para ela e parei de calçar as calças no meio do caminho.
- Ah, qual o nome? – Ela franziu a testa, fazendo uma careta logo em seguida. – Do Pi, lá! Do tigre! – Ri fracamente, negando com a cabeça.
- Ah, você também?! – Barza perguntou e olhei para ambos.
- Você viu?! – Ela perguntou e podia quase rir da atuação de ambos.
- Vi, mas não entendi nada. – Ele falou. – Você entendeu?
- Mais ou menos... – Ela riu fracamente. – Eu dormi no meio, posso te explicar o fim. – Ela disse.
- Era um tigre ou não?! – Ele perguntou.
- Então, é um tigre ou realmente ele usou metáforas? – Ela deu de ombros e ele ponderou com a cabeça.
- Eu tenho que assistir de novo. – Ele falou.
- E eu preciso ver o meio de novo. – Ela riu fracamente.
- Pô, chefa! Podia ter passado o ano novo comigo, né?! – Quagliarella falou.
- Ah, lindinho! – disse. – Agradeço o convite, mas acho que eu estava melhor sozinha. – Ela disse.
- Sozinha, sei. – Falei e ela ergueu o olhar para mim, franzindo a testa.
- Algum problema? – Ela perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Não, nada! – Sorri, me sentando para calçar os sapatos e ela sustentou o olhar no meu por um tempo, tentando entender o que eu estava fazendo e retribuí com um sorriso.
- Bom, vamos ao que importa. – Conte disse. – O que estão fazendo aqui?
- Teremos uma visita daqui a pouco e ele vai vir conversar com vocês. – falou.
- David? – Perguntei mais alto.
- David! – Pavel confirmou, sorrindo.
- ! – Ouvimos uma voz mais fina e ela se afastou da porta.
- Você pode entrar aqui, sabia? – Ela disse.
- Eles estão pelados! – Ela respondeu e rimos fracamente.
- Não estão, infelizmente. – disse, fazendo algumas pessoas gritarem e eu neguei com a cabeça. Os cabelos de azul de Manu apareceram logo em seguida e ela tinha as mãos na lateral dos olhos, evitando olhar para nós.
- Buongiorno, ragazzi. – Ela disse.
- Buongiorno, Manu! – Falamos e ela espiou o vestiário entre os dedos, antes de abaixar a mão.
- Ah, tudo bem. – Ela disse rindo.
- O que houve? – perguntou.
- Ah sim, o Trezeguet está aí. – Ela disse e tanto eu, e Pavel, nos entreolhamos, saindo com pressa do vestiário.
- !
- TREZEGOL! – O grito de veio antes de eu sair do vestiário e saí a tempo de ver Trezeguet a abraçar pela cintura, fazendo-a apertá-lo com as pernas. – Que saudade de você!
- Minha pessoa favorita no mundo! – Trezeguet disse sorrindo e observei-o melhor quando ele parou de girar. Fazia uns dois anos que eu não o via, mas ele estava bem diferente.
- Ei, estamos aqui também! – Pavel falou.
- Ah, me perdoem, mas não tem nem competição. – Ele disse gargalhando, soltando e ela gargalhou, se afastando para Pavel abraçá-lo.
- Eles sabem disso. – Ela deu de ombros, colocando as mãos na cintura.
- Você pode falar a verdade para ela, cara, ninguém vai ficar chateado. – Falei e ele gargalhou, antes de me abraçar e apertei-o forte, sorrindo.
- Cara! Senti falta demais de vocês! – Ele disse, sorrindo. – Dessa turma aqui, nós quatro... – abraçou-o de lado.
- Isso que está faltando bastante gente! – Ela disse.
- Nem fala, mas é o suficiente! – Ele a abraçou de lado. – Senti muita falta de vocês.
- Nós também. – Pavel sorriu.
- Agora, quais as novidades? – Ele disse. – Como está o time? Vocês? – Ele virou para todos nós.
- Voltamos a vencer. – disse.
- Vemos quem era o problema! – Comentei para e ela gargalhou.
- Ei! – Pavel reclamou, nos fazendo rir.
- Pavel ainda está conosco, agora você... – Ela falou para David. – Como estão as coisas? Você ainda está jogando, não?
- Sim, estou no Newell’s Old Boys, um time da Argentina. – Ele falou. – Devo ir mais um ano, um ano e pouco. – Ele ponderou com a cabeça. – Estou jogando menos, sem lesões, mas acho que chega. – Ele disse.
- Você sabe que, se depender de mim, você sempre vai ter um lugar aqui, não sabe? – falou.
- De mim também. – Pavel disse e David sorriu.
- Bom saber disso, gente. Muito bom. – Ele falou, abraçando-os de lado. – E vocês? Quais as novidades?
- Sem nenhuma novidade desde a última vez que nos vimos. – disse, dando de ombros.
- Nada? Nada? – Ele falou, nos olhando um a um e franzi os lábios.
- Nada! – Eu e falamos juntos e ele franziu a testa.
- Tudo bem... – Ele e Pavel riram fracamente.
- Eu te conto depois. – Ele disse e revirei os olhos.
- Não some, ok?! – falou e desviei o olhar para trás, vendo os outros jogadores saindo do vestiário.
- Não, eu vou ficar uns dias aqui...
- Tem o jogo. – Pavel disse e assentiu com a cabeça.
- Jogo, encontro com os sócios torcedores, depois teremos um coquetel para você.
- Ah, gente, não precisava, sério. – Ele sorriu.
- Precisa sim! – disse, dando um beijo em seu rosto e ele sorriu. – Você merece.
- Grazie. – Ele disse sorrindo.
- E como estão seus meninos? – Ela perguntou.
- Ah, eles vão comigo. Estão empolgados em ver vocês.
- Saudade deles. – sorriu.
- Gigi... – Virei para o lado, vendo Filippi me chamando.
- Eu preciso ir treinar, gente. Nos falamos depois? – Cumprimentei Trezeguet mais uma vez.
- Claro, vai lá, Gigi! – Ele disse, sorrindo. – E você? Quem é? – Virei para o lado, vendo Emanuelle observando de longe e ela sorriu envergonhada e ri fracamente, seguindo pelo meu caminho.
Observei-os conversarem por mais alguns minutos antes de eles saírem dali junto de Emanuelle. Seguimos com o treino normal e o trauma das férias atingiu a gente cedo demais. Barza teve uma pequena lesão e foi para dentro. Realmente esperava que não fosse nada demais. Apesar de tudo, eu era mais confiante com ele na minha defesa, só esperava que não fosse nada grave, ainda mais contra a Roma que tinha Totti e De Rossi.
Depois disso, queria poder encontrar Trezeguet e passar várias horas conversando com ele e a gangue de antes, mas tive que ir às pressas para Milão para receber o Pallone Azzurro, um prêmio que era dado aos melhores jogadores da Nazionale.
Achei que seria chato, Alena não foi comigo, apesar que não estávamos nos melhores termos depois do Natal, não foi nada “jingle bells”, se quer saber. Na verdade, não estávamos nos melhores termos há muito tempo, ficar casado só era uma formalidade para mim. Em compensação, Ilaria estava lá, o que já era uma ótima companhia. Ela não era como eu imaginava, estava passando pelos mesmos problemas que eu no casamento, então era bom para distrair.


Capitolo quarantacinco

Lei
Cinco de janeiro de 2014

- Bem-vindo a casa, Treze. – Falei, assim que saí do carro.
- ! – Ele sorriu e deixei as chaves com Giulia e segui em sua direção, abraçando-o pelos ombros. – Isso é lindo demais!
- Primeira vez? – Perguntei e o largo sorriso no rosto denunciava que sim.
- Vim ontem, mas ainda é loucura! – Assenti com a cabeça.
- Espere vê-lo cheio. – Disse e olhei em volta, vendo duas pessoas conhecidas.
- Lembra desses dois pestinhas? – Ele disse.
- Ah, o Noraan tinha um ano quando foi embora daqui, não vai se lembrar de mim. – Vi o mais novo se esconder atrás de David. – Agora o Aaron... Você se lembra de mim, não?
- Claro que lembro, ! – O menino alto de 13 anos sorriu para mim e correu em minha direção, me abraçando pela cintura, mais um pouco e ele era da minha altura sem salto.
- Ah, meu menino! – Passei a mão em seus cabelos cacheados e dei um beijo no local. – Você está tão grande! – Puxei a respiração fortemente.
- Você tá linda! – Ele disse, me fazendo rir e abracei-o mais apertado.
- Obrigada, meu amor. – Suspirei, sentindo as lágrimas se acumularem em meus olhos. – E quem são esses outros? – Perguntei, vendo outras duas pessoas com ele.
- Meu pai e meu afilhado. – Ele disse e cumprimentei os dois sorrindo.
- Você se lembra da Giulia, não? – Indiquei-a que estava ao meu lado.
- Faz tempo, mas lembro sim. – Ele sorriu para Giulia. – Na verdade, faz bastante tempo. – Ele se aproximou, trocando um cumprimento para ela e mordi meu lábio inferior.
- Da última vez que eu te vi, você tinha mais... – Ela passou a mão no queixo.
- Aquela coisa ridícula no queixo. – Disse e ele riu fracamente.
- ! – Giulia disse e eu dei de ombros.
- Não estou mentindo. – Chequei o horário. – Vamos entrar? Precisam de você lá dentro.
- Sim, claro. – Ele disse sorrindo.
- Você chegou a ir ao museu? – Perguntei, seguinte para dentro com ele.
- Sim, fui com Agnelli. Vocês fizeram tanta coisa. – Ele disse. – Você ser diretora ainda é loucura para mim, então eu vejo o estádio, o museu, o CT... – Ele riu fracamente. – Estou surpreso.
- Bastante coisa mudou, Treze, é loucura. – Sorri e ele assentiu com a cabeça.
- Vamos por ali... – Indiquei o caminho para o elevador. – Giulia, te encontro lá em cima?
- Sim! – Ela disse, seguindo para o lado dos camarotes e fui com Trezeguet e seus familiares para outro.
- Ela não vai com a gente? – Ele perguntou.
- Ah, David! – Falei, rindo. – Não pode ver um rabo de saia, é?! – Brinquei e ele gargalhou.
- Eu não lembro dela tão bonita. – Ele disse mais baixo e eu sorri.
- Você vai passar uma semana conosco, não começa. – Falei, rindo. – Mas as pessoas evoluem, não é mesmo? – Apertei o botão e ele riu fracamente.
- Você que o diga. – Ele disse e eu ri fracamente. – Como estão as coisas contigo? Honestamente.
- Ah, Treze, estão indo, honestamente. Depois que você se foi, as coisas não mudaram muito. – Suspirei. – E eu sei exatamente o que você quer saber, está tudo igual. – Falei.
- Notei que vocês ainda trocam algumas farpas. – Ri fracamente.
- Agora mais que nunca. Estou tentando seguir em frente e, para isso...
- Já ouvi isso antes. – Ri fracamente.
- Agora tem outra pessoa na jogada. – Falei baixo. – E, pelo o que parece, ele está se remoendo de ciúmes. – Ele gargalhou.
- Ah, Gigione. – Ele negou com a cabeça. – E não faz nada, não é mesmo?
- Exato. – Dei de ombros. – Acho que deu, não?
- Faz tempo, né?! – Ele disse e sorrimos juntos quando saímos do elevador.
- Eu estou bem, prometo. – Disse, andando até o vestiário.
- Está feliz? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Estou confortável, serve? – Ele me puxou pelo ombro, dando um beijo em minha bochecha e eu suspirei.
- Da última vez que você estava confortável, eu precisei socar o cara. – Ele disse baixo e gargalhamos juntos.
- Prometo que esse é bem melhor. Uma boa pessoa, pelo menos. – Ele assentiu com a cabeça.
- Vou confiar em você. – Ele disse e vi os jogadores voltando do treino. Barza piscou para mim e pressionei os lábios para retribuir.
- Bem na hora. – Disse, vendo Gigi voltar com os goleiros e ele deu um abraço apertado em Trezeguet antes de seguir em frente.
- ...
- Gianluigi. – Falei e Filippi veio atrás, abracei-o e recebi um rápido beijo na cabeça, vendo-o seguir com os outros.
- Bom ter você aqui. – Agnelli disse e cumprimentei Pavel, Paratici e Beppe rapidamente.
- Vai precisar de mim, Andrea? – Perguntei ao presidente.
- Não, está tudo bem. – Ele disse, me cumprimentando e eu sorri.
- Encontro vocês lá em cima, então. – Disse. – Curta seu momento, David! – Ele assentiu com a cabeça sorrindo nervoso e o puxei para um forte abraço.
- Eu te acompanho. – Pavel disse.
- Não se preocupe. – Falei, dando um rápido beijo nele.
Subi em direção ao camarote, cumprimentando as mesmas pessoas de sempre e, antes de me encontrar com Giulia, fui cumprimentar os Agnelli presentes, John, Lapo e Allegra estavam lá, além das esposas e filhos, quando finalmente parei, Trezeguet já era reapresentado ao estádio.
- Ei. – Giulia disse e sorri para ela. – O quê?
- Sério? Vai deixar David Trezeguet te cantar? – Falei e ela riu fracamente.
- Ah, nem todas temos Gi...
- Xí! – Falei e ela calou-se. – Campo minadíssimo.
- Scusi, mas você me entendeu. – Ela disse e eu ri fracamente. – Afinal, foi só uma olhada, nada demais. – Ri fracamente.
- Ele é uma boa pessoa, Giu. Não seria nada mal. – Falei e ela sorriu.
- Chega de namoros à distância. – Ela disse e assenti com a cabeça.
- LA MAGLIA NUMERO DICIASETTE, DAVID...
- TREZEGUET! – Gritamos animados e David cumprimentou Agnelli.
Agnelli entregou a ele uma placa comemorativa do jogador estrangeiro a mais fazer gols pelo time, com 171 gols em 11 temporadas, e entregou uma camisa nova com seu nome e número nas costas. Ele ergueu a blusa com seu número e vi as imagens passando no telão, me fazendo suspirar. De pensar o quão importante ele foi para esse time. Para mim, era loucura, mas eu só sentia orgulho em poder tê-lo de volta e, também, em ter um amigo como ele.
Ele começou o giro de campo, sendo efusivamente aplaudido de pé por toda as pessoas do estádio. Os grupos da Curva Scirea, da Curva Sud e de outras torcidas organizadas, tinham placas com seu nome, número, rosto e blusa e gritaram quando ele parou na frente delas. O barulho era verdadeiramente ensurdecedor, mas David merecia isso e muito mais. Merecia ter ficado e ter aproveitado isso aqui conosco. As consequências foram outras, mas ele está aqui, é o que importa.
- E não acabou as surpresas de David, o esperamos aqui no centro do campo onde espera aqui com a gente, Cristina Chiabotto. – O narrador do estádio introduziu a apresentador do canal e ela se juntou a ele. – E agora, esse momento tão esperado por todos os juventinos, rei David, finalmente veio encontrar os torcedores. Valeu à pena, pois foi um momento inesquecível. Foi belo ver, não foi? – Ele falou quando David se aproximou deles.
- Buona sera a tutti! – Ele falou, fazendo o estádio gritar. – Como eu prometi, antes ou depois, sempre tive uma vontade de voltar a Juventus e, hoje, Andrea Agnelli e toda a Juventus fizeram o meu retorno possível. Passei 10 anos muito proveitosos aqui, desde a beleza do futebol, os estímulos... – Ele parou emocionado e o estádio o aplaudiu animado.
- TREZEGUET, TREZEGUET, QUANDO GIOCA SEGNA SEMPRE TREZEGUET! TREZEGUET, TREZEGUET, QUANDO GIOCA SEGNA SEMPRE TREZEGUET! – A torcida começou a gritar e sorri, lembrando quando ouvia essas músicas anos atrás.
- É bonito ver a sua emoção. – Cristina disse.
- Estou muito emocionado, porque...
- TREZEGUET, TREZEGUET, QUANDO GIOCA SEGNA SEMPRE TREZEGUET! – Eles voltaram a gritar, me fazendo sorrir.
- Você fez mais gols que todo estrangeiro aqui na Juventus, vamos rever alguns...
Eles passaram por alguns gols de David, desde gols antes de eu conhecê-lo, como quando entrou no time em 2000, até gols que eu vi na televisão ou no próprio Delle Alpi. Antes ou depois de nos tornarmos amigos.
- Agora, terminamos aqui em campo com o nosso rei David. Grazie a Cristina...
- Grazie a David...
- La nostra maglia numero diciassette, David...
- TREZEGUET! – Gritamos animados.
David cumprimentou o estádio mais uma vez, recebendo mais uma salva de aplausos e entrou. Sabia que era minutos até ele chegar aqui em cima e sabia que demoraria para ele se acalmar com a quantidade de pessoas para cumprimentar. Antes disso acontecer, os jogadores entraram e agora precisava me preocupar com outra coisa. Juventus x Roma, jogão!
Também, era uma ótima oportunidade para eu dar uma olhada no desempenho de alguns jogadores. Seria impossível eu trazer De Rossi para a Juventus, pela idade e pelo seu grande histórico na Roma, era quase igual ao Gigi com a Juventus, a diferença é que De Rossi joga desde a base na Roma... Marchisio, vamos colocar assim. Mas a Roma de hoje tinha Miralem Pjanic, Medhi Benatia, Lukasz Skorupski, Marquinhos e Alessandro Florenzi, nomes já visados por mim.
O jogo começou para o nosso lado, Vidal abriu o placar aos 17 minutos. Tevez enganou a defesa inteira ao passar a bola para Vidal que fez um chute à queima-roupa em De Sanctis. Logo em seguida, David apareceu no camarote junto de Pavel e Agnelli e seguiu cumprimentar algumas pessoas. Acenei para ele, denunciando minha posição e ele fez um aceno para eu esperar.
Aos 32 minutos, Tevez fez uma entrada em um romano, ficando incrivelmente bravo quando lhe foi dado um amarelo. Coisa de um minuto depois, foi a vez de Chiello dar uma rasteira em Pjanic, mas conhecendo o Chiello, isso não era nada. Para o nosso lado, o primeiro tempo acabou dessa forma, isso sem citar todas as outras chances de quase gol.
- Então, se não podemos falar do A, podemos falar do B? – Giulia perguntou quando o apito de intervalo foi soado.
- Não, não podemos. Já falei o que precisava falar. – Disse.
- Mas você está feliz, não?! – Ela mais afirmou do que perguntou.
- Ele é fofo, carinhoso, se preocupa, mas...
- Não é o A.
- Exato. – Suspirei. – Mas confio que isso vá mudar. – Falei, suspirando.
- E quando você vai ser o meu stand up de novo? – Ela perguntou.
- Quando você vier para Turim ou Milão. – Falei. – Sem ser dia de jogo.
- Em breve, amiga, mais um mês. – Ela falou e eu sorri.
- Bom mesmo! – Ela me abraçou de lado.
- Posso sentar com vocês? – Trezeguet perguntou.
- Claro! – Disse. – Senta ali do lado da Giulia. – Falei, dando um sorriso para ela. – Eu vou abraçar esse Aaron aqui até ele ficar menorzinho. – Abracei-o, vendo-o rir.
- Ah, ! – Ele riu.
- Não é porque chegou na pré-adolescência que vai fugir de mim. – Disse e dei um beijo em sua cabeça, vendo-o sentar ao meu lado.
O segundo tempo começou animado para nós, aos 48 minutos Leo aumentou a diferença. Pirlo fez uma cobrança de falta, Leo chutou escorregando para dentro do gol e saiu correndo pegar a bola e colocar na barriga. Leo ia ser pai de novo? Eu não sabia disso. Bom, na verdade, eu estava meio fora da vida das esposas deles, mas ficava feliz por ele. Precisava lembrar de cumprimentá-lo.
Uma parte de mim ficava levemente triste, pois Leo era sete anos mais novo do que eu e estava indo para o segundo filho. Era um tanto desesperador, mas tentei não me abalar com isso. Pelo menos não hoje.
Aos 60 minutos tivemos uma substituição, Mirko entrou e saiu Tevez. Aos 72, Totti saiu aplaudido pelo nosso estádio e entrou Florenzi.
Aos 75, a primeira surpresa do jogo, Chiello saiu para fazer o contra-ataque sozinho do lado esquerdo, quando ele estava quase na linha de fundo, ele fez o cruzamento, mas De Rossi veio com tudo em cima dele. Minha defesa já tinha costumo de ficar raivosa, agora Chiello ficou demais. O árbitro pelo menos fez a decisão correta, deu vermelho para De Rossi. Leo tentou agilizar a saída dele do campo, mas de Rossi, que não tinha já uma boa fama de calma, saiu bastante irritado.
Pirlo se preparou para bater a falta à cerca de um metro da linha de fundo e bateu. Chiello dentro da pequena área cabeceou, Leo e Mirko se trombaram para garantir que a bola entrava, mas um romano que estava entre eles e o goleiro, achou que estava jogando vôlei e deu um corte na bola.
Leo, Mirko, Chiello, Asa, Pogba, Vidal e os jogadores da Roma foram em cima do árbitro. Ele levantou mais um vermelho em menos de um minuto de jogo, marcou pênalti e eu comecei a rir. Era algo surreal. Era Juventus e Roma, um dos jogos mais esperados da temporada e estava melhor do que a encomenda. Até Barza se aproximou da bagunça em uma tentativa de agilizar o processo. Isso era melhor que a encomenda.
Vucinic bateu e foi gol! 3x0 contra a Roma. Eu levantei no desespero para comemorar, assim como todos os juventinos do estádio. Era um belo jeito de começar o ano.
Conte aproveitou para fazer substituições, saiu Vidal, entrou Marchisio. Saiu Llorente e entrou Quagliarella.
Com nove jogadores em campo, não tinha muito que a Roma fazer, mas eles ainda fizeram algumas tentativas, mas o que chegava na defesa, parada, e se por acaso passasse deles, Gigi defendia, da mesma forma que defendeu várias antes dessa bagunça rindo.
Aos 87, o que eu dizia sobre o lado nervoso da defesa, mas fofo de Barza, se confirmou. A bola atravessou e Chiello tentou conter o jogador, não conseguindo, o jogador tentou e Barza simplesmente se colocou na frente dele, fazendo-o esbarrar nele, não foi nada demais, mas o juiz marcou a falta e ergueu um amarelo. Barza saiu reclamando como se fosse uma criança de oito anos e eu não consegui não gargalhar. Ele batia os pés no chão e exclamava alguma coisa inaudível para mim, mas era impossível não rir.
Depois dessa eu nem lembrei mais da falta, mas o jogador isolou. O jogo acabou minutos depois sem acréscimos e aplaudi nossa vitória, me levantando rapidamente.
- Eu vou descer, nos falamos depois. – Disse para Giulia e David.
- Tudo bem. – Giulia disse.
- Ficamos bem aqui. – David disse e pisquei para eles.
- ... – Virei o rosto, encontrando Fabio Capello, antigo treinador.
- Nossa! Que surpresa de ver aqui! – Sorri, cumprimentando-o.
- Como está?
- Tudo bem, graças a Deus. – Falei e ele sorriu.
- Bom te ver. – Ele disse.
- Você também. – Sorri, seguindo para fora, um tanto confusa, tinha pessoas que me conheciam ou lembravam de mim que ainda me surpreendia.
Encontrei o resto do top e seguimos a fazer o percurso tradicional de todos os jogos. Ouvi a música da propaganda da Jeep estourar pelos autofalantes. Encontramos alguns jogadores ainda no corredor e Chiello me abraçou fortemente.
- ! – Ele disse animado e eu ri, sentindo-o estralar um beijo em minha testa.
- Jogo sensacional! – Falei, segurando-o pelos ombros e ele sorriu.
- Chefa! – Leo veio logo em seguida e apertei-o pelos ombros.
- Não sabia que você ia ser pai, parabéns! – Disse e ele sorriu.
- Grazie, ! – Ele me apertou pelos ombros e vi Barza vindo logo atrás e trocamos um sorriso.
- E você... – Virei para Barza, abraçando-o fortemente pelos ombros. – Você reclama como uma criança de oito anos. – Falei rindo e ele apertou as mãos em minha cintura.
- Não foi tão mal, vai! – Ele disse rindo.
- Foi demais! – Sorri e ele estalou um beijo em minha bochecha. – Falamos disso depois. – Disse baixo e ele assentiu com a cabeça.
- Te vejo no coquetel?
- Sim! – Vidal respondeu antes de mim e me abraçou fortemente, me fazendo gargalhar.
Alguns jogadores paravam em mim, outros passaram direto, mas esperei-os entrar. O último a vir era Gigi, talvez tenha dado entrevista ou o que for. Ele tinha a expressão séria e coçava a barba, me fazendo engolir em seco como aquele uniforme azul ficava muito bem nele.
- . – Ele disse, seguindo reto e puxei-o pela blusa, obrigando-o a parar.
- Parabéns pela vitória. – Falei, olhando fixo em seus olhos.
- Achei que não fosse mais seu favorito. – Ele disse e eu revirei os olhos.
- Você está falando muita merda, sabe disso, não? – Falei.
- Não. E você sabe disso. – Ele falou e eu suspirei.
- Achei que ainda pudéssemos ser cordiais com o outro. – Ele franziu a testa.
- Beh... – Ele deu de ombros, querendo se afastar e o puxei de volta.
- Gigi! – Franzi a testa. – Você está me zoando, não está? – Falei, rindo fracamente e ele revirou os olhos.
- Grazie, . – Ele disse sem ânimo na voz e deu um fraco beijo em minha testa. – Posso ir agora?
- Faça o que quiser. – Falei com a voz pesada, soltando sua blusa e não esperei-o falar nada, dessa vez quem saiu andando primeiro fui eu.

Lui
26 de janeiro de 2014 • Trilha SonoraOuça

- Você demorou, papai! – Lou falou enquanto colocava David na cadeirinha.
- Eu sei, amor, desculpa. Papai estava voltando para casa por causa do jogo de ontem. – Disse, afivelando-o e fechei a porta, pegando-o no colo e dando a volta no carro. – Mas vocês se divertiram no aniversário, não? – Perguntei.
- Sim! Foi muito legal! – Lou disse animado, fazendo movimento exagerado com suas mãos gordinhas. – Teve pula-pula!
- Sim, pai! Pula-pula! – David falou enquanto eu colocava Lou em sua cadeirinha.
- Fico feliz, meninos. – Baguncei os cabelos de Lou, jogando-os para trás. – Agora vamos para casa?
- A gente podia passar para comprar sorvete. – Dado disse.
- Ah, bonito, hein?! Acabou de comer bolo, refrigerante e docinho, e ainda quer sorvete? – Fechei a porta, seguindo para o banco da frente.
- SIM! – Deu para ouvir o grito deles dentro do carro.
- Nã-ã-ão! – Falei na mesma animação, mas mais baixo. – Vocês precisam tomar banho e descansar.
- Ah, pai! – Eles falaram.
- Ah, nada! Vocês já abusaram muito hoje. – Coloquei o cinto de segurança e liguei o carro novamente. – Vamos para casa, vocês vão tomar banho e dormir.
- Ah!
- E com sorte a adrenalina vai abaixar antes de chegar em casa e a Alena me culpar disso também. – Falei baixo, voltando para casa.
- E o jogo, pai? – Lou perguntou alto e olhei pelo espelho retrovisor.
- Como foi? – Dado perguntou. – Eu dormi. – Ele disse balançando as pernas e eu sorri.
- Era muito tarde para vocês. – Suspirei.
- Mas como foi? – Lou repetiu.
- Foi... – Suspirei, pensando no cartão vermelho que eu tinha levado no jogo de ontem. – Bom. – Suspirei. – Empatamos, mas continuamos em primeiro na tabela.
- Vocês vão ganhar de novo, pai! – Dado disse.
- Vamos sim, meu amor. – Sorri para eles pelo retrovisor.
Estávamos quase do outro lado da cidade na festa de aniversário de um amiguinho do Louis. Eu poderia começar a me sentir velho agora, meu filho de seis anos havia sido convidado para uma festinha de aniversário e levado o de quatro. Era muito orgulho de pai mesmo. Eles logo acalmaram no banco de trás, a adrenalina de doce e sei lá mais o que, finalmente baixou e pude dirigir até aproveitando as músicas no rápido.
- OLHA, PAI! – Lou gritou quando estávamos na rua de casa.
- O quê, amor? – Olhei para ele pelo espelho.
- Aquela menina tem cabelo azul! – Franzi a testa, olhando para os lados, feliz por estar em velocidade baixa e vi Emanuelle sentada no rodapé em frente a uma casa.
- Eu a conheço! – Falei, dando um pouco de ré e imbiquei em frente à casa, abaixando o vidro. – Manu! – Gritei, vendo-a se levantar rapidamente.
- Gigi! – Ela disse sorrindo, passando a mão na calça. – O que está fazendo aqui? – Ela perguntou.
- Eu que deveria te perguntar isso, eu moro no fim do quarteirão.
- Ah, mesmo? – Ela falou surpresa. – não me disse que morava nessa rua também.
- ? – Franzi a testa.
- É, ela mora aqui! – Ela apontou para casa atrás dela e endireitei o corpo para ver a casa alta.
- Ela mora aqui? – Ela franziu a testa.
- Foi o que eu acabei de dizer. – Rimos juntos.
- Eu não sabia, só isso.
- A tá aqui, papai? – Lou gritou e eu suspirei.
- São seus filhos, Gigi? – Abaixei o vidro de trás e Manu se debruçou para vê-los.
- Louis e David. – Falei. – Já volto. – Desliguei o carro e saí dele.
- Eu sou a Manu. – Ela falou.
- Seu cabelo é azul de verdade? – David perguntou.
- Não, ele é pintado! – Ela riu fracamente e dei a volta no carro.
- Ele é bonito! – Dado disse.
- Oi, Manu. – Falei para ela.
- Oi, Gigi! – Ela sorriu e passei um braço pelos seus ombros, dando um beijo em sua cabeça.
- O que está fazendo aqui? – Perguntei.
- chegou do jogo e perguntou se eu podia ajudá-la em algumas papeladas antes do Gran Gala amanhã, não é como se eu estivesse fazendo muita coisa. – Ela sorriu e eu assenti com a cabeça.
- Mas o que está fazendo aqui fora? – Perguntei.
- Ah, ela contratou uma empregada e eu estou servindo de ponto de referência. – Ela mexeu nas madeixas azuis e eu ri fracamente.
- Combina! – Ela sorriu. – Se importa de ficar com os meninos rapidinho? – Perguntei e ela negou com a cabeça.
- Tudo bem para vocês? – Manu perguntou.
- Tudo! – Dado falou.
- Eu quero ver a , papai! – Lou disse.
- Eu a trago aqui, amor. Ela vai adorar te ver. – Falei, suspirando. Era difícil ter raiva dela quando meus filhos a amavam, especialmente o Lou.
- Vai lá! – Manu disse e eu assenti com a cabeça. – E vocês? Onde estavam?
- Numa festinha! – Eles gritaram.
- Em uma festinha? – Manu fingiu surpresa, mas sua voz foi ficando mais distante conforme eu entrava na casa, mas eu parei assim que vi a casa.
Eu vi onde morou durante dois momentos de sua vida aqui em Turim, uma quitinete, onde eu não passei da porta, e um apartamento até que aconchegante aqui em Vinovo, dois quartos, um banheiro, uma pequena sala, cozinha e lavandeira. Gostava muito de lá, passei bons momentos da minha vida lá com ela.
Eu sabia que sua vida havia melhorado drasticamente quando ela virou diretora e ela já havia comentado, talvez até na brincadeira, que queria sair de lá e melhorar a vida dela, com razão, obviamente. E acho que ela finalmente conseguiu. Sua nova casa era enorme. Bem similar à minha que era no final da rua. Uma larga sala, a cozinha no fundo, uma sala de TV do lado esquerdo, janelas do lado direito dando para um quintal, à frente tinha uma porta que dava para ver o azul claro da piscina.
- Gigi? – Virei o rosto, vendo-a seguir pelo corredor do segundo andar e descer pelas escadas. – O que está fazendo aqui? – Observei-a com roupas comuns, calça e um moletom largo jogado por cima do corpo e segurei um sorriso.
- Eu estava indo para casa e vi a Manu lá na frente. – Apontei o polegar para a porta. – Você mora aqui?
- Você mora aqui? – Perguntamos juntos e eu ri fracamente.
- Eu moro na última casa da rua. – Falei e ela entreabriu os lábios, surpresa.
- Oh! Eu não sabia. – Ela suspirou.
- Se mudaria para cá se soubesse? – Perguntei e ela revirou os olhos.
- Já falei para você parar com essa perseguição para cima de mim. – Ela seguiu para cozinha e fui atrás dela.
- Ok, me desculpe. – Falei rapidamente. – Eu só fiquei curioso.
- Você não está curioso, Gianluigi, você está com ciúmes, e você é um idiota com ciúmes. – Ela negou com a cabeça, pegando um copo no armário.
- Eu não estou com ciúmes, eu...
- Está com ciúmes! – Ela falou firme, olhando para mim. – Eu só não entendo por quê.
- Você e Barza estão juntos?
- Não. – Ela falou rapidamente e suspirei, ela estava mentindo. – E mesmo se tivéssemos, o que você tem a ver com isso?
- Beh, eu...
- NADA! – Ela falou alto. – Você não tem nada a ver com isso, sabe por quê? Você tem uma esposa! – Ela sorriu, suspirando. – Você realmente não pensa que eu vou te esperar pelo resto da vida, pensa? – Ela negou com a cabeça, virando o corpo para o filtro na bancada e o barulho de água caindo nos distraiu.
- Eu queria falar contigo sobre isso. – Falei e ela virou o olhar para mim.
- O quê? – Ela falou baixo.
- Eu e Alena não estamos muito bem. – Falei baixo, suspirando.
- E o que você qu...
- ! – Me assustei com o grito e os pés de Lou batendo forte no mármore me distraiu.
- Meu amor? – falou surpresa e se abaixou para abraçar Louis, desliguei o filtro antes que fizesse bagunça. – O que está fazendo aqui?
- Vim com papai! – Ele disse e ela deu vários beijos em seu rosto.
- Ah, que saudade que eu estava de você. – Ela falou.
- Desculpa, ele pulou da cadeirinha. – Manu apareceu na porta com David em seu colo e ele estava surpreso com os cabelos dela.
- Você mora aqui, ? – o levantou, fazendo uma careta com o feito e o apoiou na bancada.
- Você está pesado, amor. – Ela disse, ajeitando os cabelos dele. – Moro sim.
- A gente mora lá embaixo. – Ele apontou no sentido da rua.
- Meu Deus! Eu moro pertinho de vocês? – Ela falou surpresa. – Que notícia maravilhosa!
- Eu posso vir te visitar...
- Ah, amor, eu vou adorar. – Ela o abraçou.
- Quando a estiver livre, eu trago vocês para ver ela. – Falei, levando a mão ao rosto.
- Eba! – Lou gritou animado.
- Eu vou adorar ver vocês, meus amores. – virou o rosto para David no colo de Manu e riu fracamente.
- Vamos voltar para o carro? Precisamos ir embora. – Falei.
- Mas já? – Lou fez beicinho.
- A precisa trabalhar, amores. – Falei.
- Eu tenho que ir para Milão amanhã. – Ela suspirou, colocando Lou no chão.
- Dessa vez eu não vou. – Suspirei.
- Sinto muito. – Ela disse.
- Ná! Está tudo certo. – Abanei a mão. – Não é o fim do mundo, já ganhei, já não ganhei, só sei que faço meu trabalho bem. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Eu concordo com isso. – Ela sorriu, acariciando os cabelos de Lou.
- Sobre o que eu estava falando, eu e Lena não...
- O que tem a mamãe, papai? – Lou perguntou e eu suspirei.
- Eles entendem. – disse e eu neguei com a cabeça.
- Podemos conversar um dia só nós dois? – Perguntei mais baixo e ela mordeu seu lábio inferior.
- Gigi, eu...
- Por favor. – Falei mais baixo.
- Eu não posso. – Ela ergueu o olhar para mim e seus lábios estavam pressionados. – Eu sei o que você quer, mas eu não posso, não mais... – Ela suspirou e virou o rosto para porta e eu fiz o mesmo.
- Acho que eu vou sair daqui. – Manu disse. – Louis, David, vem cá! Vou mostrar o campo de futebol. – Ela disse, passando por nós e seguindo pela porta do fundo e Lou foi atrás dela. – Olha que lind...
- Ela sabe? – Perguntei.
- Não. – Ela disse. – Não sabe de nada. – Ela suspirou.
- Eu preciso falar com você, preciso de... – Levei as mãos a cabeça e ela ergueu a mão até meu rosto.
- Me desculpe, mas não posso. Eu não aguento mais. – Ela suspirou e seu tom de voz fez meu coração dar uma batida em falso. – Eu preciso de um tempo para mim. – Assenti com a cabeça.
- Tudo bem. – Engoli em seco. – Eu entendo. – Suspirei e fechei os olhos com seu carinho. – Não gosto, mas... – Deixei a frase no meio do caminho, pressionando os lábios.
- Eu vejo um cabelo branco aqui. – Ela disse baixo, passando a mão em meu rosto e abri os olhos, vendo-a com um sorriso nos lábios. – Primeiro pelo de barba branco, quase 36 anos. – Ela sorriu e eu ri fracamente.
- Para você ver... – Cocei a barba.
- Parabéns adiantado, Gigi. Não devemos nos ver na terça.
- Você pode me mandar uma mensagem. – Falei e ela suspirou.
- É, eu sei. – Ela abaixou a mão, franzindo os lábios e sabia que ela não mandaria. – Se cuida, tá?
- Tudo bem. – A vi seguindo para perto da porta.
- E tentem se manter firme na Europa League, já que não deu na Coppa Italia. – Assenti com a cabeça.
- Pode deixar.
- E sem mais cartões vermelhos. – Ela me indicou com o dedo e ri fracamente.
- Eu não tive culpa dessa vez. – Falei.
- Talvez... – Ela fez uma careta e sorriu em seguida. – Vamos, meninos, o papai vai embora! – Ela disse para os meninos.
- A gente pode vir te ver? – Lou perguntou, correndo em direção a .
- Claro, meu amor. Agora estamos pertinho. – disse, dando um beijo em sua cabeça e Manu colocou David no chão.
- Eu também! – Ele disse.
- Você também. – o abraçou apertado, dando um beijo em sua cabeça.
- Vamos, meninos, a precisa trabalhar. – Falei, vendo se levantar e ela apoiou a mão na cabeça de Dado.
- Scusa? – Virei para a porta, vedo uma mulher mais ou menos da nossa idade entrar. – A porta estava aberta, eu entrei. Aqui é a casa de ? – Ela perguntou.
- Sim, sou eu! – sorriu. – Martha, certo?
- Isso! – Ela sorriu.
- A gente se fala depois. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
Apoiei as mãos nos ombros dos meninos e segui para fora da cozinha, enquanto ouvia falar com a nova mulher. Os meninos saíram acenando os braços e virei por um momento para olhá-la.
- ... – Chamei-a e ela desviou o olhar da mulher para me ver. – Desculpe pelo jogo da Roma.
- Está tudo bem. – Ela disse e eu suspirei.
- Ciao, Manu! – Falei, vendo-a vir logo atrás de mim.
- Ciao, Gigi. Até mais.
- Até. – Sorri e segui até o carro.
Coloquei os meninos dentro do carro, dessa vez despreocupado em prendê-los, pois estávamos há sete casas da minha e não passava de 10 por hora dentro do bairro. Ela não queria falar comigo. A não queria falar comigo e isso me quebrava de uma forma que nem eu entendia, mas eu também conseguia ver como ela estava machucada por dentro e não podia forçá-la a nada. Talvez ela realmente precise de um tempo da minha loucura.
- Mamãe! – Os meninos gritaram quando entramos em casa e Alena veio em nossa direção.
- Chegaram! – Ela disse, dando um beijo em cada um deles e se levantou, olhando para mim. – Vocês demoraram, aconteceu algo?
- Ah, não, é só que...
- A gente parou na casa da , mãe! – Lou falou e eu franzi os olhos. Crianças.
- Da ? – Seu olhar se virou para mim.
- Ela se mudou aqui para rua. – Falei desanimado. – Eles queriam dar oi para ela.
- Eles? – Ela perguntou.
- É, mamãe! – Lou falou. – Eu adoro a .
- Eu sei, meu amor. Ela é ótima com vocês, né?! – Ela falou.
- Com o papai também. – David disse na inocência.
- Eu vou tomar um banho. – Falei baixo.
- Não pense que essa história acabou, Gigi. – Alena disse.
- Você precisa parar com essa perseguição, Lena. Honestamente. – Falei próximo ela. – Eu não aguento mais.
- Bom saber, porque eu também não aguento. – Ela disse com os olhos focados em mim e eu suspirei.
- Se precisar de mim, estarei no quarto. – Falei, seguindo para o andar de cima a passos pesados.

Lei
27 de janeiro de 2014

- Honestamente, não sei por que eu ainda venho nesses prêmios. – Falei, entrando no hotel.
- Porque é importante para o time. – Pavel disse como se fosse óbvio e rimos juntos.
- Eu sei, mas é chato! Se fosse só as premiações, até vai, mas o pessoal fazendo aquelas piadinhas e gracinhas... – Neguei com a cabeça. – Não aguento.
- Bom, mais uma vez você está um arraso e tiramos uma foto linda juntos. – Ele falou em tom sarcástico e rimos juntos.
- Somos parceiros nisso, Pavel. – Falei.
- Mais ou menos, né?! – Ele disse e franzi a testa.
- Por que você diz isso?
- Você e nosso defensor favorito estão tendo alguma coisa? – Me fingi de desentendida.
- Eca, Pavel. – Falei. – O Chiello é meu amigo e... – Entramos no elevador e ele apertou o botão.
- Eu não estou falando do Chiello, . – Ele disse sério e eu suspirei.
- Está tão na cara assim? – Perguntei surpresa.
- Não, mas o afastamento seu e do Gigi está, aí eu só fui ligando os pontos. – Suspirei.
- Tem um tempo, mas... – Neguei com a cabeça.
- Você não precisa explicar para mim e, enquanto isso é segredo, nem para o time, só quero saber se você está feliz. Eu sou um dos poucos que sei quase tudo dessa história. – Soltei um longo suspiro, levando a mão à testa.
- Eu não sei, honestamente. – Suspirei. – Ele é ótimo em vários sentidos. – Virei para ele. – Bonito, charmoso, carinhoso, amoroso de uma forma que eu não sou, mas...
- Ele não é o Gigi. – Ele falou e eu abaixei a cabeça, negando com a cabeça.
- Não. – Suspirei. – Mas eu não posso ficar nisso, Pavel. – Engoli em seco. – Eu não sei se algum dia poderia retribuir o que o Barza me dá hoje, mas eu me sinto, confortável...
- Eu só quero que você seja feliz, . Realmente. – Ele disse. – O que for melhor para você. Eu só penso que o Barza... – O elevador deu um solavanco leve. – Pode não ser a melhor opção para isso.
- Por que diz isso? – A porta se abriu e, no fundo do corredor do andar, revelou Barza, Chiello, Vidal e Pirlo, ganhadores do Gran Gala Del Calcio desse ano pela Juventus.
- Porque ele é amigo dele. – Ele disse mais baixo, saindo do elevador e eu suspirei, indo logo atrás dele, batendo os dedos na bolsa de mão. – Buona notte, ragazzi. – Pavel disse.
- Já vai, cara? – Vidal perguntou.
- Amanhã temos que voltar cedo para Turim e nos preparar para um derby bem chato. – Ele disse.
- Compensar o desastre do placar anterior, não é mesmo? – Falei, me aproximando deles e eles riram.
- Você fala como se a gente tivesse perdido de 4x0, . – Pirlo disse.
- Não ganharam também, Pirlo. – Sorri. – E temos Internazionale em casa, vai ser mais... – Suspirei. – Complicado.
- A gente dá conta. – Barza disse e eu confirmei com a cabeça.
- Esperamos mesmo. – Suspirei. – Bom, senhores, boa noite. – Falei sorrindo. – Parabéns pelo prêmio, foi um ótimo trabalho. – Eles sorriram.
- Grazie, chefa! – Eles disseram e segui em direção ao meu quarto, pegando a chave dentro da bolsa e entrei nele, ouvindo a porta bater logo em seguida.
Suspirei, deixando a bolsa ao lado da cama e passei a mão na gola alta do vestido, soltando o fecho do vestido, puxando desajeitadamente o zíper na parte de trás do mesmo. Ouvi alguns toques na porta e dei um pequeno sorriso, me aproximando dela e abri uma fresta.
- Podemos conversar? – Me assustei com Chiello.
- O que está fazendo aqui? – Perguntei e ele empurrou um pouco a porta, entrando e fechando a porta atrás de si.
- Podemos conversar? – Ele repetiu, encostando na porta e cruzou os braços, o paletó ainda no corpo.
- Claro. O que foi? – Cruzei os braços da mesma forma que ele.
- Você pensou no que está fazendo? – Franzi a testa.
- O que está falando, Chiello?
- Você sabe do que eu estou falando, não me faça falar em voz alta. – Suspirei.
- Por que você está me perguntando isso? – Mordi meu lábio inferior.
- Porque eu sei sua história, . Você e do... – Revirei os olhos.
- Ah, era só o que me faltava. – Virei de costas, levando as mãos até o rosto. – Agora todo mundo vai me julgar por isso? – Virei para ele de novo.
- Não estou te julgando, . Só estou tentando evitar que alguma merda aconteça. – Ele falou firme.
- E que merda seria essa, Giorgio? – Falei no mesmo tom que ele.
- O Barza sair machucado dessa história? – Ri ironicamente.
- Ah, ótimo! – Neguei com a cabeça. – Agora eu sou a errada na história.
- Nessa situação é sim, . – Ele disse.
- Caso você não saiba, eu fui completamente honesta com o Barza sobre mim e sobre Gigi, e ele aceitou meus termos...
- Essas coisas são lindas na teoria, , na prática não funcionam. – Bufei.
- Por que ninguém quer me ver feliz? – Perguntei.
- Você está feliz? – Ele perguntou forte. – Feliz mesmo? De verdade? Completa? – Suspirei. – Viu? – Senti o choro subir à garganta.
- Por que está fazendo isso, Chiello? – Engoli em seco.
- Porque eu te conheço. – Ele falou baixo. – Você não tem nem ideia do quanto eu quero que você seja feliz. Vá viver sua vida, esqueça Gigi e seja honestamente feliz. – Senti meu lábio tremer e o mordi para evitar. – Mas, nessa equação, eu também sou amigo do Barza e sei como ele vai ser afetado se algo acontecer. – Ele disse e eu suspirei. – Não dizendo que você vá fazer algo para o magoar, mas você não esqueceu o Gigi ainda, .
- É por isso que eu estou com ele, Chiello, para esquecer o Gigi. – Suspirei. – O Barza é bom, sabe? – Neguei com a cabeça. – Uma boa pessoa, carinhoso, quer me fazer feliz... Ele também tem os problemas dele com a ex-esposa e...
- Vocês não estão em igualdade, . – Ele disse. – Não mesmo. – Engoli em seco. – Eu sei o peso do meu pedido para você. Eu sei de verdade, mas eu não posso não fazer minha parte, sabe?
- E o que você quer que eu faça, Chiello? – Perguntei e ele suspirou. – Diga! Com todas as palavras.
- , eu...
- Diga, Chiello! – Falei firme. – Você veio até aqui por isso, diga! – Suspirei. – Nossa amizade vai continuar a mesma, posso te garantir.
- Você precisa parar com isso, .
- Parar com o quê, Giorgio? – Perguntei firme. – Parar de amar alguém que não é meu? Esquecê-lo como toda pessoa normal faz? Acabar tudo com o Barza que é a única coisa que tem me mantido sã desde o meio do ano? Ou viver miseravelmente assim pelo resto da minha vida? Sabendo que sou a segunda opção sempre? – Perguntei, notando meu tom de voz afinando conforme as lágrimas me cegavam.
- , eu não...
- Não sabia disso? É bom quando é na piada, certo? – Ri fracamente. – Pois saiba, que por trás de toda piadinha de vocês, tem alguém tentando se manter forte, alguém tentando viver, alguém tentando separar o pessoal do profissional, enquanto sorri para não sofrer mais ainda. – Ele tombou a cabeça para trás, respirando fundo.
- Me desculpe, .
- Eu não aceito suas desculpas, Chiello. – Falei, esperando que ele abaixasse o olhar para eu encará-lo. – Antes de você vir aqui fazer suas conjeturas e pedidos, você deveria ter me perguntado como eu estou, tentado entender, talvez falado com Barza sobre isso. Você falou com ele sobre isso? – Ele suspirou. – É, foi o que eu imaginei, vocês estão agindo como se eu fosse o Buffon da vez, fazendo buracos nos peitos das pessoas no meio do caminho. – Mordi meu lábio inferior. – Ele sabe tudo isso, Chiello. Ele também sabe como não está sendo fácil para mim, mas ele entende. Somos amigos quando eu preciso, quando ele precisa, somos amantes bem menos que isso, mas é bom. – Suspirei. – E ele também sabe que é isso que eu posso oferecer agora. Que eu vou exigir muito mais dele do que ele de mim... Ele sabe tudo. – Dei um pequeno sorriso. – Já não basta minha cabeça estar cheia de bagunça, você ainda teve coragem de vir falar isso comigo. – Falei mais baixo, dando a volta pelo quarto.
- Entendi, . – Ele disse. – Só não quero ninguém machucado.
- Ah, claro. – Fui sarcástica. – E eu posso? – Sorri para ele.
- Você entendeu o que eu disse. – Ele disse.
- Você já fez esse mesmo discurso para o Gigi?
- Todas as vezes que ele sorri diferente para você desde 2005. – Ele falou e eu virei o rosto para ele novamente. – É, eu me preocupo contigo também. – Ele falou. – Você não tem ideia quanto, minha amiga. – Suspirei. – E, apesar de querer te ver muito bem, eu não quero ver mais pessoas, pessoas próximas... – Ele frisou. – Se machucando também.
- Eu farei o máximo para evitar isso, Chiello, mas eu também quero ser feliz. – Falei e ele suspirou, assentindo com a cabeça. – E se uma amizade colorida com o Barza puder ser a minha maior felicidade, é o que eu quero agora. Se ele não quiser, ele está livre para seguir a vida dele e ele também sabe disso.
- Espero que esteja certa, porque quando os sentimentos começam a falar, as coisas ficam mais complicadas e você sabe disso. – Suspirei.
- Você não tem ideia do quanto eu vou adorar amar o Barza e seguir com a minha vida, mas isso só pode acontecer se eu tentar. – Suspirei. – Posso? – Ele não respondeu.
- Espero que esteja certa. – Ele disse e se virou para a porta novamente. – E que seja feliz, honestamente. – Pressionei os olhos por alguns segundos. – E que não me odeie por te falar isso.
- Você é meu amigo, Chiello. Você precisaria fazer algo muito ruim para eu te odiar.
- Eu não posso. – Ele virou para mim novamente. – Você é uma das minhas amigas mais antigas. – Assenti com a cabeça, vendo-o abrir a porta e sair do quarto, puxando a porta, mas ela não fechou totalmente, me fazendo franzir o rosto e vi Barza pela fresta.
- Ei. – Fechei os olhos, suspirando.
- Você realmente quer falar comigo agora? – Perguntei, seguindo em direção ao banheiro, puxando os brincos das orelhas.
- Sim, acho que você precisa de mim. – Ele disse e o vi aparecer pelo reflexo do espelho.
- Você ouviu, Barza. Ouviu tudo. – Suspirei, tirando o colar e as pulseiras.
- E eu deveria ficar bravo contigo? – Ele riu fracamente, se apoiando no batente da porta.
- Não? – Virei para ele, cruzando os braços.
- Fomos muito honestos um com o outro, . Desde o começo. – Ele disse. – Como você disse: eu sei de tudo, eu concordo com nossos termos. E, por enquanto, estou bem com eles. – Franzi os lábios, me aproximando dele.
- Você vai falar comigo se, por algum motivo, não estiver mais? – Perguntei e ele ergueu uma mão até meu rosto.
- Você vai ser a primeira a saber. – Dei um sorriso com os lábios pressionados e passei os braços pela sua cintura, abraçando-o fortemente.
Ele passou as mãos em minhas costas, me apertando fortemente e suspirei, dando um beijo em sua bochecha e passei as mãos em seu peito que ainda estava com o paletó do time.
- Vocês ficam lindos nesse terno. – Ele sorriu.
- Você também está incrível. – Rimos juntos e colei meus lábios nos seus delicadamente.
- Preciso me trocar. – Disse baixo.
- Precisa de ajuda? – Ri fracamente.
- Eu estava com pique, até o Chiello chegar e me irritar. – Suspirei.
- Eu posso te ajudar a trocar e depois a gente fica na cama. – Ele segurou minha cintura e eu ri fracamente.
- Viu? Isso é bom! – Falei com um bico nos lábios e ele assentiu com a cabeça.
- Sim, é bom, . – Ele disse e suspirei, virando de frente para a pia novamente.
Senti as mãos de Barza no final do zíper do meu vestido e puxei as mangas compridas, antes de deixar o vestido deslizar pelo meu corpo. Olhei meu reflexo pelo espelho e ele apoiou a mão em minha cintura, dando um curto beijo em meu ombro e eu sorri, puxando minha necessaire para começar a tirar a maquiagem.
Barza distribuiu alguns beijos em meus ombros e minhas costas e eu senti meu corpo arrepiar quando ele atingia certos pontos, mas não o suficiente para me excitar. Apesar de tudo, o que Chiello falou, me fez pensar e sabia que aquilo rondaria minha cabeça por bastante tempo.
Barza desistiu alguns segundos depois, voltando para o quarto e aproveitei para lavar o rosto para tirar o excesso de maquiagem e pentear os cabelos para tirar um pouco do laquê. Voltei para o quarto, encontrando-o deitado na cama somente de cueca e ri fracamente, seguindo até minha mochila e peguei uma camisola que eu havia trazido e segui em direção à cama, entrando embaixo das cobertas. Barza fez o mesmo e abracei-o, apoiando a cabeça em seu braço tatuado.
- Barza... – Chamei-o.
- Diga. – Suspirei.
- Você me promete que, se algum dia, isso te incomodar, você vai me dizer? – Senti sua mão acariciando minha cabeça.
- Eu prometo, . – Ele disse e eu suspirei, apertando minhas mãos em seu corpo e fechei os olhos.

Lui
Quatro de fevereiro de 2014

- Vocês estão vendo aqui? – Conte apontou para tela. – Isso não pode acontecer. – Ele falou com seu tom forte de sempre. – Essa falha enorme aqui. – Cruzei os braços, suspirando.
- O lado esquerdo precisa fechar mais. – Storari falou.
- Se eu trabalhar junto com o Pogba, dá para fazer esse caminho mais certo. – Leo disse.
- E eu posso chegar pelo centro se tiver um avanço maior. – Pirlo finalizou.
- Vamos com quatro atrás ou com três? – Perguntei.
- Três. – Conte falou. – Com Cáceres no lugar do Barza, igual contra a Inter. – Assenti com a cabeça.
- O Cáceres fez bem meu papel, não precisa se preocupar. – Barza disse na maca ao lado e eu assenti com a cabeça.
- Não estou preocupado com isso. É o Verona, não é para termos tantos problemas. – Passei a mão no queixo, coçando-o.
- Tem algum conhecido nosso lá? – Quagliarella perguntou.
- Luca Toni. – Chiello falou.
- Ele ainda joga? – Pirlo perguntou.
- Foi uma surpresa para mim também. – Chiello disse.
- Nossa! – Ele riu fracamente.
- Estamos vindo de uma vitória importante contra a Lazio com goleiro reserva...
- Marcone fez um bom trabalho, contra a Lazio, contra a Inter... – Falei e o pessoal aplaudiu, fazendo-o sorrir.
- Grazie. – Ele sorriu e eu assenti com a cabeça.
- Bom, eles estão em sexto na tabela, vamos fazer o teste com essa formação deles aqui e ver se... – Algumas batidas nos distraíram e todos viramos o rosto para trás e não tinha ninguém, somente uma mão acenando.
- Quem é? – Conte perguntou.
- Sou eu, Manu. – Sua voz saiu mais alta.
- Pode entrar, Manu! – Chiello disse.
- Todo mundo está vestido? – Ela movimentou o dedo fazendo um ponto de interrogação no ar.
- Sim, todo mundo vestido. – Falei rindo e sua cabeça apareceu devagar antes do restante do corpo.
- Está seguro. – Ela disse rindo e eu sorri. – Estou atrapalhando? – Ela olhou para Conte.
- Não, não está. – Ele disse. – No campo em 15 minutos. – Ele disse.
- Eu preciso conversar com o Barzagli. – Ela disse, sacudindo os papéis em sua mão.
- Aqui! – Ele disse, esticando a mão.
- Ah, oi... – Ela seguiu em direção a ele. – Ah, gente! Vestido não quer dizer sendo coberto por uma toalha de rosto. – Ela disse quando chegou perto dele, virando de costas e gargalhamos.
- Você precisa se acostumar com isso, princesa. – Pogba falou.
- Não! – Ela disse sorrindo. – Pelo menos não com você.
- Oh! – Falamos rindo e levei minha mão na boca.
- Você ainda vai me dar uma chance, Emanuelle, tenho fé disso. – Ele disse e ela franziu os lábios.
- Não faz seu Deus trabalhar tanto, ele não merece tal sacrifício. – Ela disse no tom mais delicado possível e mesmo assim nós gargalhamos mais uma vez.
- Você não gosta de mim, ok, entendi.
- Eu gosto de você, mas não dessa forma. – Ela deu um sorriso travado e franzi os olhos.
- Ai, essa doeu! – Giovinco falou ao meu lado.
- E nem com esse cabelo. – Ela disse e isso deu um estralo em Pogba.
- Como não? Olha que estilo! – Ele brincou, passando as mãos em seu topete e ela gargalhou.
- Amigos, que tal? – Ela sorriu e ela ficava muito fofa fazendo isso.
- Ainda não desisti. – Ele disse, colocando as mãos na cintura e ela negou com a cabeça.
- O que precisa de mim, Manu? – Barza perguntou, acabando com as investidas em cima dela.
- Você precisa assinar seu atestado. – Ela disse, esticando as folhas para trás, sem virar o rosto.
- Pode esperar acabar aqui? – Ele perguntou já que o fisioterapeuta fazia massagem nele.
- Tudo bem, eu vou esperar lá... Na outra sala. – Ela indicou, saindo na sala e ri fracamente.
- Bom, vamos lá. – Falei, me levantando.
Saí da sala junto de outros jogadores e fui em direção ao vestiário. Passei pelo corredor, vendo Manu sentada à mesa que ficava logo na porta e sorri. Essa menina era um barato, tinha que admitir que havia escolhido alguém sensacional. Envergonhada, é claro, mas ela logo se acostumaria, tinha só 20 anos, era um ambiente novo para ela, as coisas se ajeitariam.
Troquei a camiseta que eu vestia pela de treino, jogando o corta-vento por cima de tudo. Tirei os tênis e calcei as chuteiras e comecei a ouvir algumas risadas baixas e inclinei o rosto para fora do vestiário, vendo que era Emanuelle enquanto assistia alguma coisa no celular. Peguei as luvas e saí do vestiário, seguindo em sua direção.
- Ei, o que está rindo? – Perguntei e ela ergueu o rosto.
- Ah... – Ela passou as mãos nos olhos que lacrimejavam. – Essa menina é demais! – Ela apontou para o celular.
- O que está assistindo?
- Ah, é uma moça aqui no YouTube, ela grava vídeos engraçados e posta na internet. – Franzi a testa. – Normalmente com amigos ou os irmãos dela, eu dou muita risada.
- Ela é italiana? – Perguntei.
- É sim, pelo que eu vi, ela é daqui de Turim mesmo. – Ri fracamente.
- Qual o nome dela?
- Giulioca! – Ela falou e eu ri fracamente. – Descobri que ela participou daquele programa tonto, o Le Iene, mas ela é muito melhor fora dele. – Ela sorriu.
- Não acredito que você está vendo vídeos da Giulia. – Neguei com a cabeça, puxando a cadeira e sentando à sua frente.
- Você assiste?
- Mais do que isso, eu a conheço.
- Mesmo?
- Você já falou dela para ? – Perguntei.
- Não, por quê? – Ela disse.
- Elas são praticamente irmãs. – Falei e ela arregalou os olhos.
- MENTIRA! – Ela disse surpresa.
- Sim! Eu convivi com ela lá atrás quando... – Parei a frase no meio do caminho. – Quando a a levava para as festas do time, jogos, etc...
- UAU! Eu não sabia disso. – Ela sorriu. – Eu preciso falar isso com ela. Quero ver o stand up dela, se for um por cento do que são os vídeos, vai ser ótimo.
- E ela é assim mesmo pessoalmente, viu?! Engraçada, inconveniente...
- Legal! – Ela sorriu. – Bom, legal para o que ela faz... – Sorri.
- Sim. – Assenti com a cabeça.
- Fala, Manu! O que você precisa de mim? – Barza apareceu saindo da sala, devidamente vestido.
- Você precisa assinar isso. – Ela disse, abaixando o celular e esticando os papéis e caneta para ele. – Falamos com o médico e ele te deu 20 dias...
- Talvez seja menos.
- Sim, mas a assinou para 20 dias, então. – Ela finalizou.
- Tudo bem. – Ele disse, colocando o copo que segurava na mesa e se inclinou para assinar as três vias rapidamente.
- Perfeito. Uma é para você, outra para o administrativo e outra para ela fazer de lixo. – Ela falou e franzi a testa.
- Como assim?
- Ah, por que vocês precisam de atestado médico? Vocês fazem tratamento com o time. – Ela deu de ombros. – É prestação de contas só, e é muito chato. – Ri fracamente, olhando para Barza, mas minha risada sumiu logo em seguida.
- Bom, se é só isso que precisa de mim, vou para fisioterapia. – Ele disse, pegando o papel em uma mão e o copo em outra, fazendo uma careta.
- Não, só isso mesmo. – Ela sorriu, virando para ele e bebeu um gole do líquido esverdeado no copo. – Ah, na verdade... – Ela disse.
- Diga, linda. – Ele falou, virando para ela.
- Que horas são, por favor? – Ela sorriu e franzi a testa.
- São... – Ele virou o pulso com o relógio, que era o mesmo que segurava o copo, derrubando o líquido no chão. – Ah! – Ela gargalhou logo em seguida.
- Não acredito que funciona! – Ela disse gargalhando. – Meu Deus! Você viu isso? – Gargalhei com ela, mais pela sua alegria do que pela brincadeira em si.
- Vi e foi genial! – Falei, negando com a cabeça.
- Mancada, Emanuelle! – Ele disse.
- Eu só vi um vídeo da Giulioca. – Ela deu de ombros e ele fez uma careta, mexendo o pé dentro do chinelo.
- Essa amiga da está começando a me dar dor de cabeça. – Ele disse e rimos juntos. – Te cuida, hein, Manu? Vai ter volta! – Ele disse sério.
- Manda ver! – Ela falou com a mesma expressão, abrindo um largo sorriso em seguida.
- Eu tenho que ir. – Ele disse.
- Ciao, ciao. – Manu sorriu e ele se afastou para o vestiário também. – Você viu isso? Deu certo, Gigi! – Ela falou empolgada para mim.
- Funciona porque o pessoal está desligado. – Falei e ela sorriu. – Emanuelle.
- O quê? Eu só sorri. – Ela se levantou.
- É, mas bem sei o que está pensando. – Falei e ela franziu os lábios.
- Fica atento. – Ela deu de ombros, rindo fracamente e pegando os papéis na mesa.
- Ah, Giulia! – Neguei com a cabeça e ela seguiu até a porta. – Fala com a , ela vai querer te matar. – Ela sorriu.
- Vou sim. – Ela sorriu. – Até mais, Gigi.
- Até, Manu... – Falei e ela puxou a porta, fazendo um estalo soar e a vi bater a cara na porta. – Ai! – Fiz uma careta.
- Ok, essa doeu. – Ela disse, passando a mão na testa.
- Precisa de ajuda? – Perguntei.
- Não, está tudo bem. – Ela disse, checando a mão.
- Não está sangrando. – Falei.
- Até mais. – Ela falou, saindo pela porta e eu ri fracamente.
- Cuidado! – Gritei de volta, me levantando também. – Emanuelle é cria de Giulia, essa vai ser interessante. – Neguei com a cabeça.


Capittolo quarantasei

Lei
15 de fevereiro de 2014
- São coisas que acontecem e não temos como controlar isso. – Giulia dizia enquanto a plateia continuava gargalhando. – Vocês concordam comigo, não? – Ela falou, indicando para o pessoal.
- NÃO! – O pessoal gritou rindo.
- Não?! – Ela falou surpresa. – Ah, não é possível. Vamos lá. – Ela andou pelo palco. – Quem aqui tem um amigo que é mais bonito do que você? – Ela disse e várias pessoas levantaram a mão. – Ah, falei! – Ela sorriu, apontando para o pessoal. – Agora, quem aqui tem um amigo que é mais bem-sucedido que vocês? – As pessoas levantaram as mãos. – Agora, quem tem um amigo que é as duas coisas? – Pouco mais da metade ergueu a mão. – Rola ciuminho, fala? – Ela deu seu sorrio sarcástico. – Pode falar, eu deixo. Eu tenho alguém aqui. – Ela disse, fazendo as risadas estourarem e eu neguei com a cabeça.
- E eu não estou dizendo isso para fazer vocês se sentirem mal, estou falando porque eu sou essa amiga! – Ela apontou para si mesma, nos fazendo gargalhar. – Dei sorte na vida, sim, mas eu tenho uma amiga que é muito, mas muito mais bonita do que eu e que é muito, mais muito mais bem-sucedida do que eu. – O pessoal gargalhou com seu exagero e eu era uma das poucas no teatro que sabia que isso era um completo exagero. – Para começar que ela tem uma posição de poder em um ambiente completamente masculino, isso é sensacional e uma das coisas que eu mais me orgulho nela, pois eu sei o quanto ela batalhou para chegar lá. – Ela se sentou no banco no centro do palco.
“Segundo que ela sempre foi bonita, mas ela era uma bonita normal, quando ela entrou nesse ambiente, ela se tornou a mulher mais linda do mundo. Não sei se foi o dinheiro, a posição, ela se arrumar sempre, mas ela é a mulher que eu acho mais linda. Desculpe, mamãe”. – Sorri, ouvindo as gargalhadas. – “E terceiro que, apesar de tudo o que passou na sua vida, tudo o que mudou, ela ainda é a mesma pessoa humilde de antes, e eu só consigo sentir orgulho dela. Não ligo de ser o pato feio nas nossas saídas”. – Levei uma mão no peito, suspirando.
- Ela está falando de você, não? – Manu sussurrou ao meu lado e eu assenti com a cabeça, dando um sorriso.
- Mas... – Ela falou alto e o pessoal gargalhou. – Tem que ter uma compensação, gente! Sempre tem. – Ela colocou a mão livre na cintura. – Vamos contar comigo: vida profissional incrível... – Ela esticou o número um no polegar. – Dá realmente aquela inveja boa e aquele pensamento “e se fosse comigo?” Linda de morrer, ganha roupas, sapatos, bolsas, maquiagens só de marcas incríveis. – Ela esticou o número dois. – Ah, devo dizer que ela se mudou para uma mansão faz pouco tempo, provavelmente para caber tudo isso. – Rimos juntos dela. – Apesar da relevância, ela não tem a vida dela exposta na mídia, da mesma forma que eu tenho. – Ela mostrou o terceiro dedo. – Isso eu tenho mais do que ela, mas confesso que gosto de vocês... – A plateia gritou animada. – Mas paparazzi não me agradam tanto. – Rimos juntos. – E isso ela não tem na cola dela. Raras entrevistas, se quer saber. – Ela disse. – O que mais? – Ela fingiu pensar. – Acho que está bom!
- Agora, tem uma coisa que ela é ruim. Eu sou ruim também, mas ela consegue ser mil vezes pior do que eu nesse caso. Vida pessoal! – Ela disse rindo e eu revirei os olhos. – Como, repito, COMO uma pessoa linda daquele jeito é solteira? – Ela falou em seu tom dramático, me fazendo rir. – NÃO TEM COMO! Mas ela é! – Gargalhamos juntos. – Ela tem uma ligação com uma pessoa há mais de 13 anos, gente! E o cara é um babaca! – Ela falou dramática e gargalhei alto, pois sabia que metade do time estava presente. – Virei o olhar um pouco à esquerda e vi Barza gargalhando, me deixando aliviada.
- Ainda sobre você? – Manu sussurrou e eu ri fracamente.
- Não, agora não. – Falei, suspirando.
- Não estou dizendo também que a minha vida pessoal é muito boa, mas não sou apegada a mesma pessoa há tanto tempo. – Rimos juntos. – As vantagens de você ser o patinho feio, gente! – Ela indicou os olhos para gente, nos fazendo aplaudir animados e gritar. – Obrigada, obrigada! Muito obrigada por terem vindo, espero que tenham gostado e teremos muito mais aqui em Turim, pela Itália e, logo mais, pela Europa. – Ela sorriu e o povo se levantou para aplaudir. – Gostaria de agradecer a presença da minha família aqui, dos jogadores da Juventus que vieram prestigiar, apesar das piadinhas... – Gargalhamos. – Papai, você me deve essa! – Ela apontou para Fabrizio que estava mais na primeira fileira. – Muito obrigada mesmo! Eu vou continuar no YouTube, no Facebook e no Instagram, sigam-me e espero ver vocês no próximo “La Mata della Giulioca”, boa noite! – Ela gritou, fazendo as luzes apagarem e levantei, aplaudindo animadamente minha amiga, com o mesmo sorriso no rosto das outras duas vezes que eu vi esse espetáculo e o pessoal se levantou para aplaudir comigo.
Fui uma das últimas a parar de aplaudir e suspirei, sentando novamente, muito feliz pela minha amiga. A parte de piadinhas comigo, eu já tinha superado, concordava com a Giulia que era melhor você rir da sua desgraça do que sofrer com ela. Eu já estava sofrendo há muito tempo, agora era hora de rir um pouco.
- Ela é demais! – Manu falou animada ao meu lado. – Ela é tão autêntica! Tão natural! – Ela dizia animada e eu sorri. – É louco pensar que vocês duas são amigas. – Ela falou mais baixo e rimos juntas.
- Irmãs. – Sorri. – Ela é como uma irmã para mim.
- É, você falou. Alguma relação em especial? Ou só forma de dizer mesmo? Tipo melhores amigas? – Ela perguntou e eu suspirei.
- Eu perdi meus pais muito cedo, e aí quando eu vim fazer faculdade em Turim, conheci a Giulia e, bom, as coisas seguiram assim, foi acontecendo naturalmente, hoje somos uma pessoa só. – Ela sorriu.
- Isso é demais, . Uau! Adorei mesmo! Já quero ver de novo. – Sorrimos juntas.
- Que bom! – Sorri. – Eu tenho muito orgulho de tudo o que ela construiu. – Suspirei.
- Posso conhecê-la? – Ela perguntou animada.
- Claro! – Me levantei quando os assentos próximos de nós esvaziaram um pouco. – Você pode vir jantar com a gente, se tiver tudo bem com seus pais.
- Mesmo? – Ela disse empolgada e eu não conseguia parar de sorrir. Ela minha amiga, afinal.
- Sim, vamos em uma choperia aqui perto comemorar a apresentação, ela aqui em Turim, enfim, você pode vir conosco.
- Tem certeza? Eu não quero atrapalhar. – Ela se levantou atrás de mim.
- Relaxa, Manu! – Falei e ela riu nervosa. – Vou ver com os meninos se eles querem ir também, enfim... – Abanei a mão.
- Ah, eu vou ligar para os meus pais. – Ela disse feliz.
- Fala que eu te deixo em casa depois. – Disse e ela assentiu com a cabeça.
Saí pelo corredor, descendo devagar os degraus, vendo algumas pessoas pararem com os jogadores da Juventus e passei para eles, dando um rápido sorriso e fui até a primeira fileira, encontrando Gio, Fabrizio e os gêmeos.
- Oi, amores! – Falei.
- ! – Gianni e Pietro com seus quase 15 anos, me abraçaram apertado e eu ficava cada dia mais surpresa como eles estavam da minha altura já, se não fossem os saltos.
- , querida! – Dei um beijo em cada gêmeo, mexendo nos cabelos descoloridos a là Pogba de Pietro e me aproximei de Gio, abraçando-a apertado.
- Oi, tia Gio. – Sorri, dando um rápido beijo e Fabrizio me abraçou em seguida.
- Se escondeu lá atrás, foi? – Fabrizio brincou e rimos juntos.
- Ah, quando começa o papo “minha amiga”, eu fujo. – Revirei os olhos e eles riram juntos.
- Ela foi comportada, vai. – Gio disse, apoiando a mão em meu ombro.
- Ah, foi. Ela pegou pesado com o time hoje, isso que estamos vindo de sequência de vitórias. – Fabrizio riu comigo.
- Culpa minha! – Fabrizio ergueu a mão e eu neguei com a cabeça.
- Seu Fabrizio, não vai complicar meu lado. – Brinquei e ele sorriu.
- Bom, nós vamos lá na choperia? – Gio perguntou.
- Sim, vamos, eu vou levar minha funcionária, vou ver com o pessoal do time também. – Indiquei-os com o dedo.
- Ah, vai ser ótimo! – Gio falou.
- Encontro vocês lá?
- Sim! – Eles falaram animados.
- Até mais, ! – Pietro disse e eu sorri, mandando um beijo para eles e voltei a subir alguns degraus, vendo dois torcedores terminando de falar com ao pessoal.
- Oi, gente! – Falei, me aproximando devagar e toquei os ombros de Claudio.
- Ei, ! – Eles falaram e eu sorri para o grupinho clássico: Gigi, Barza, Chiello, Leo, Claudio, Pirlo e Lich.
- Obrigada por virem. – Falei e eles sorriram.
- Que isso, foi legal! – Barza riu.
- Tirando quando ela começou a brincar com a gente. – Leo disse.
- Ah, foi engraçado, vai? – Chiello disse. – Ela acertou direitinho como a gente corre. – Ele disse e eu gargalhei de novo.
- O Barza! – Apontei para ele, ouvindo as gargalhadas ecoarem de novo e levei a mão na boca quando o vi com os lábios pressionados.
- Valeu, chefa! – Ele disse e eu sorri.
- Você e o Lich, foram os melhores. – Sorri.
- E teve sobre você também... – Lich disse.
- SEMPRE tem sobre mim. – Fiz drama. – A história dela na comédia praticamente começou pela minha trágica história de vida. – Disse e eles riram, com exceção de Gigi.
- Ela faz piada, mas ela gosta muito de você. – Leo disse.
- São quase 15 anos de amizade, gente. – Sorri. – Da mesma forma que ela me coloca nesse pedestal, eu também a coloco. – Eles assentiram com a cabeça. – Ela é incrível.
- Tenho que assumir que agora que ela está fora do programa, ela é mais legal! – Leo disse.
- Agora só depende dela, ela monta as piadas, os sketchs, tudo. – Sorri. – É legal.
- , eu falei com a minha mãe... – Virei o olhar para Manu descendo as escadas do teatro quase vazio. – Ela deixou eu ir, só não posso voltar tão tarde que eu esqueci a cha... – Ela tropeçou no degrau, apoiando as mãos nos ombros de Pirlo, nos fazendo gargalhar e o centro-campista tentou segurá-la, mas ela já estava no chão.
- Ai, meu Deus, Emanuelle! – Falei, correndo ajudá-la e ela se levantou com aquela cara de quem tinha passado mais uma vergonha.
- Eu estou bem, eu juro. – Ela fez uma careta. – Eu preciso parar de fazer isso
- PRECISA! – Falamos juntos.
- Eu juro que é inevitável, gente! Não faço de propósito. – Ela suspirou.
- Acho que nem de propósito alguém é tão desastrado assim. – Barza disse.
- Eu concordo. – Falei, suspirando. – Enfim, se quiser ir pegar a chave, nós pegamos e depois você fica lá com a gente até... – Abanei a mão. – Ou você pode dormir em casa também, quarto sobrando é o que não falta.
- Não, que isso, eu vou para casa, mas topo pegar a chave, se você não se importar. – Ela disse.
- Não se preocupe, você mora perto da Piazza San Carlo, a choperia é lá.
- Ah, é perto, então. – Ela sorriu.
- Vocês estão convidados também, gente. – Falei para a roda. – Alguém topa?
- Choperia antes de dia de jogo, ? – Gigi disse.
- É só não beber. – Dei de ombros. – E nem exagerar na comida. – Fiz uma careta.
- Ah, vamos, gente! Vai ser legal! – Manu sorriu. – Vocês não precisam beber para se divertir. – Manu falou.
- Alguns mais do que outros. – Sussurrei.
- O jogo é que horas amanhã? – Marchisio perguntou e notei que eles estavam falando entre si.
- Três da tarde. – Falei. – Vocês precisam estar uma hora no time, se vocês mantiverem isso entre nós, eu deixo cada um de vocês tomar uma pint. – Falei baixo.
- Eu não jogo amanhã, então estou bem. – Barza disse.
- Ah, sem graça! – Os outros empurraram-no e ele gargalhou só do jeito de Andrea Barzagli sabia fazer.
- Vocês que sabem. – Falei, checando o relógio. – São oito horas agora, dá para vocês beberem até umas dez e parar. E concordamos que sem fotos, é claro.
- Obviamente. – Gigi disse.
- Espero vocês lá? – Perguntei.
- É, vamos! – Leo disse. – Folga das esposas hoje.
- Antes vocês do que eu. – Disse. – Choperia do Antonio na Piazza San Carlo, todos conhecem, certo?
- Quem não? – Lich disse e assenti com a cabeça.
- Vamos, Manu! – Chamei-a com a mão. – E se segura em mim. – Falei, dando o braço para ela, ouvindo os meninos rirem.
- Não sei como você fica andando de salto para lá e para cá. – Ela disse, enquanto seguíamos para fora do teatro.
- Vamos dizer que eu tenho um equilíbrio muito maior do que eu o seu. – Falei e ela riu fracamente.
- Já falei que quando crescer eu quero ser igual a você? – Ri fracamente.
- Se Deus quiser, você vai ser muito melhor. – Falei sério e ela sorriu.
- , posso te perguntar uma coisa? Honestamente? – Ela disse e apertei o casaco quando saímos no vento. – Não sei se tenho intimidade com isso, mas sou curiosa.
- Isso eu já notei também. – Falei e ela riu fracamente.
- Me pare se eu estiver sendo inconveniente, ok? Juro que minha mãe me deu educação. – Rimos juntas.
- Não se preocupe, Manu, o que você quer saber?
- Eu não sei se é aberto para todo mundo, mas você e o Barza estão tendo algo, não? – Ela perguntou mais baixo, dando uma olhada rápida para trás e eu suspirei.
- Sim. “Algo” descreveria o que estamos tendo. – Falei, ponderando com a cabeça. – Não é um relacionamento ainda, mas estamos nos conhecendo melhor. – Assenti com a cabeça, esperando aonde chegaria isso.
- Ok, tudo bem. Acho ótimo. – Ela riu fracamente.
- Como assim? – Perguntei, pegando a chave do carro na bolsa.
- Ah, ele é muito bonito, simpático, carinhoso... – Ela deu de ombros. – Um dos melhores jogadores do time... Quieto... – Assenti com a cabeça. – E você é, bom, você. – Sorri. – Sua amiga já te descreveu melhor do que eu podia. E sem usar palavrões. – Rimos juntas e abri o carro.
- Entra aí! – Falei, abrindo a porta do passageiro, entrando no mesmo e joguei minha bolsa no banco de trás e coloquei o cinto de segurança.
- Agora... – Manu falou quando fez a mesma coisa do que eu. – Quando ela falou de 13 anos em um relacionamento, era você também, não era? – Ela virou para mim. – Você disse que não, mas você ficou encabulada demais, com medo que soubessem que é você. – Ri fracamente.
- Você é boa em ler as pessoas, hein?! – Ela sorriu. - E sim, sou eu também. – Suspirei, ligando o carro. – Quando eu venho nessas coisas da Giulia, eu me sinto meio presa, sabe? Como se o povo fosse descobrir que eu sou a amiga que ela fala. – Suspirei.
- Mas seria tão mal se soubessem que é você? – Ela perguntou.
- Algumas coisas não, como a amiga mais bonita e tal, eu acho hilário ela falar isso, mas sobre o relacionamento sim. Você vai ver que o mundo precisa mudar muito para eu trabalhar de forma relaxada. – Falei para ela, apertando as mãos no volante na estrada. – Tenho plena convicção que posso agir de igual para igual com Pavel e Agnelli, mas também sei que eu quase não fui efetivada há quase 13 anos por ser mulher. – Suspirei. – É uma balança muito sensível, sabe? E eu prefiro me manter quieta, na minha, sem causar mais problemas.
- Entendi. – Ela soltou um suspiro alto. – E essa pessoa que você não esquece há anos? Sabe disso?
- Sim, sabe. – Suspirei. – Porque ele também não me esquece.
- E por que vocês não ficam juntos? – Ela perguntou e eu soltei um longo suspiro.
- Porque ele é casado. – Engoli em seco. – É difícil explicar 13 anos de relacionamento, Manu, mas muitos deles foram feitos a base de erros e acertos, pena que os erros se sobressaíram e é por isso que não podemos ficar juntos hoje. – Engoli em seco.
- E eu conheço essa pessoa? – Ela perguntou com cuidado na voz.
- Talvez. – Engoli em seco. – Não tenho certeza. – Suspirei, incapaz de falar mais.
- E o Barza te faz feliz? – Ela perguntou.
- Sim. – Sorri. – Não é perfeito, mas é gostoso, sabe?
- Sim, sim! – Ela disse e fiquei feliz pelo silêncio prevalecer no carro.
Dirigi em direção a Piazza San Federico, seguindo as indicações de Manu até chegar no apartamento que ela morava. Era muito bem localizado, seus pais tinham boas condições. Sua mãe, Cecília, desceu com Manu novamente, perguntando 200 vezes se não ia atrapalhar e fui apresentada como sua chefe. Após uns bons 10 minutos e uma Emanuelle bem envergonhada, seguimos pelo resto do caminho. A Piazza San Carlo era perto, mas não podia estacionar na praça, precisei arranjar local nas laterais, etc. Quando chegamos na choperia, até Giulia já tinha chegado.
- Aleluia, hein?! – Ela disse, vindo me cumprimentar e ri.
- Culpa minha. – Manu fez uma careta e Giulia me abraçou pelos ombros.
- Foi incrível, minha amiga! – Apertei-a, sentindo-a girar o corpo para lá e para cá.
- Você gostou? – Ela perguntou.
- Claro que gostei! – Falei animada. – Principalmente a piada com aqueles tontos ali. – Falei baixo e ela gargalhou.
- Não gostou do que eu falei de ti? – Ela fez uma careta.
- Foi super suave, relaxa. – Abanei a mão. – E devo dizer que você é uma grande mentirosa, ok?!
- Não, nem vem.
- Não, xi! Já falei, para! – Rimos juntas e ela me abraçou pelos ombros, estalando um beijo em minha bochecha. – Agora, deixa eu te apresentar essa pessoa aqui. – Falei, me virando de lado, passando a mão em sua cintura. – Giulia Vitale, essa é Emanuelle Rodrigues, minha assistente. – Manu abriu um largo sorriso. – Sua fã e futura cria, pelo que eu ouvi. Manu, minha irmã Giulia.
- Ah, é um prazer enorme te conhecer, sério! – Manu disse nervosa e eu sorri.
- Quando você disse que tinha um assistente chamado Emanuelle, eu achava que era um homem. – Giulia disse e nós três gargalhamos.
- Tudo bem, eu também. – Dei de ombros. – Mas no Brasil é feminino.
- Eu posso usar isso para um próximo sketch. – Ela virou para mim.
- Eu sei! – Falei rindo.
- Espere descobrir que Andrea, Danielle e Simone são femininos no Brasil. – Manu disse e Giulia riu.
- Já gostei de você. – Giulia sorriu. – É um prazer te conhecer. Como minha fã e como amiga da minha irmã. – Deixei ambas, me aproximando da mesa com jogadores e familiares.
- Oi, gente! – Falei rapidamente, seguindo até a ponta da mesa e abracei a nonna pelos ombros. – Olha que surpresa!
- Oi, minha linda! – Ela disse sorrindo e estalei um beijo em sua bochecha, abaixando atrás dela para abraçá-la mais apertado.
- Que saudades da senhora. – Falei e ela sorriu, apoiando a cabeça na minha.
- Eu também, meu amor. – Sorri com sua fala trêmula.
- Depois quero saber de tudo da senhora, hein?! Cadê o nonno?
- Ah, aquele chato não quis vir. – Ela disse enquanto eu levantava.
- Ah, precisamos tirar ele de casa agora. – Falei e ela riu.
- Você me ajuda com isso.
- Pode deixar, amanhã mesmo passo lá. – Falei, passando por trás dos gêmeos, indo até uma poltrona livre entre Gianni e Lich.
- Mesmo? – Gio perguntou.
- O jogo amanhã é as três, posso jantar lá, que tal? – Perguntei, puxando a cadeira.
- Combinado, mas te quero lá antes das seis. – Gio falou firme e eu ponderei com a cabeça.
- Tudo bem. – Falei e ela sorriu.
- Vou comprar as coisas para sua lasanha.
- Combinado! – Rimos juntas e sentei na poltrona, me vendo na frente de Gigi e Barza na minha diagonal. Gigi tinha um sorriso no rosto e eu sabia que era o sorriso família dele. – Então, ragazzi, o que pediram? – Perguntei, puxando o cardápio do centro.
- Cada um pediu uma pint e o Fabrizio cuidou da comida, acho que ele talvez tenha exagerado um pouco. – Gigi disse.
- Beh, posso garantir que as festas dos Vitale sempre dão para uns 100 convidados, normalmente convidamos 30... – A mesa gargalhou e olhei para Barza ao seu lado que tinha um sorriso discreto no rosto e eu suspirei. Deus, me dê calma aqui, sabia que não conseguiria sozinha, então ergui a mão para o garçom. – Ele pediu queijo, né?! – Perguntei aleatoriamente.
- Fabrizio? Sim.
- Ok... – Ergui para o garçom. – Uma Baladim Fumé para mim e uma Coca-Cola para moça de cabelo azul, per favore. – Falei.
- Giusto. – Ele disse, se retirando.
- Você bebendo cerveja? – Gigi perguntou.
- Ei, a Baladim é piemontesa, precisamos valorizar os investimentos locais. – Fechei o cardápio, apoiando-o entre os condimentos e virei o rosto para Gianni. – Agora fala, Gianni, eu quero saber tudo.
- Papai vai me matar por falar isso, mas é demais. – Ele disse animado. – Já fui colocado como titular na Sub-15, e estou tendo bastante evolução.
- Eu falava para o seu pai, ele não me ouvia. – Fabrizio fez uma careta.
- Gianni está na Juventus? – Gigi perguntou surpreso.
- Sim, estou! – Ele disse sorrindo. – Fui para Sub-15.
- Quando você faz aniversário?
- Faço 15 em junho. – Ele disse.
- Isso é muito bom. – Gigi disse. – Que posição?
- Centro-campo. – Ele disse.
- Ei, essa é a minha especialidade. – Marchisio disse da ponta da mesa.
- Por que você não troca de lugar comigo? – Falei baixo para Gianni. – Você pode pegar umas dicas.
- Vocês não se importam? – Gianni perguntou.
- Somos do mesmo time agora, garoto. Você pode jogar com a gente um dia! – Pirlo disse.
- Espero mesmo. – Falei sorrindo e me levantei, trocando de lugar com Gianni. – Posso aproveitar com vocês um pouco. – Abracei Pietro pelos ombros e ele riu, apoiando a cabeça na minha.

Lui
15 de março de 2014
- Gigi, quando isso acontecer, tenta deslizar o corpo no chão. Cai com o quadril e depois desliza o ombro, assim você não prejudica tanto. – Claudio falou.
- Assim? – Olhei para Luca, pedindo a bola e ele jogou baixo, longe do meu alcance e eu fiz o que Claudio falou.
- Isso! Você tenta atrasar o impacto da pancada junto com o impacto da bola. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Tudo bem. – Falei, jogando a bola de volta para ele.
- Gigi! – Levei a mão acima dos olhos, vendo Conte me chamando com a mão.
- Segura aí, por favor?
- Claro, vai lá! – Claudio disse e segui a passos rápidos em direção ao meu treinador.
- Fala, Conte! – Me aproximei do mesmo, tirando as luvas.
- Vem cá! – Ele me puxou pelo pulso para fora das quatro linhas. – Quem você prefere para o lugar do Barzagli? Ogbonna ou Cáceres? – Franzi a testa.
- Eu... – Dei de ombros. – O que aconteceu com Barza?
- Está vendo-o por aqui? – Olhei rapidamente em volta, vendo que o trio de sempre agora era uma dupla.
- O que aconteceu? – Cruzei os braços.
- Confirmou lesão no gémeo, pelo menos 30 dias fora. – Ele falou e eu franzi a testa.
- Cazzo! Ele está se lesionando demais. – Falei.
- Quarta na temporada. – Ele negou com a cabeça, falando baixo. – Espero que consiga ir para o Mondiale.
- Espero também. – Suspirei.
- Quem você prefere? Cáceres está com uma constância boa, mas o Ogbonna também está sendo uma surpresa boa. – Ele perguntou.
- Acho que a melhor pessoa que pode responder isso é o Barza mesmo. – Falei, coçando a nuca, sentindo-a molhada.
- Se importa em checar isso? Ele já não vai para Gênova conosco e eu vou encerrar aqui logo mais. – Soltei um longo suspiro, mas me lembrei que tinha que separar as coisas.
- Claro. – Disse, assentindo com a cabeça. – Che cazzo! – Reclamei baixo.
Ele me deu dois tapinhas nas costas e segui para fora do campo de treinamento, subindo pelo largo caminho na lateral dos outros campos até a área dos vestiários. Puxei a porta, vendo-o vazio àquela hora com todos treinando. Entrei na área do time principal, me sentando nos bancos para tirar as chuteiras e ouvi uma risada alta, me fazendo franzir a testa. Eu conheço essa risada.
- Quem dera! – Ouvi a voz de Barza.
- Você para de graça, ouviu?! É a última vez e eu falo sério. – Ouvi a voz de e dei um pequeno sorriso. Agora era a hora.
- Você não faria isso comigo, faria? – Barza disse.
- Claro que faria! – Ela falou rindo. – Chega de lesões, Barza.
- Ok, chefa, ok! – Ele disse rindo.
- Cuida dele, Marco, a Manu traz a documentação quando ficar pronta. – disse.
- Tudo bem. – Barza disse.
- Até mais, gente! – Ouvi sua voz e voltei a me interessar mais em tirar as chuteiras do que outra coisa, como se minha vida dependesse disso. Seus saltos ecoaram pelo piso do vestiário. – Ei, Gigi! – Ouvi sua voz e ergui o olhar.
- Ei, ! – Levantei o corpo. – Surpresa te ver aqui.
- Ah, Barza lesionado mais uma vez, a perícia começa a ficar em cima de mim. – Ela suspirou e quase acreditei que fosse isso mesmo.
- Está tudo bem com ele? – Perguntei. – Fiquei sabendo agora.
- O Marco disse que é a mais séria de todas... – Ela suspirou. – Rezar para ele estar enganado.
- Sim. – Falei, assentindo com a cabeça.
- Você vai conosco hoje? – Perguntei.
- Hoje não, estamos perto do fim da temporada, as coisas ficam mais complicadas. – Ela disse pressionando os lábios.
- Tenho a impressão de que sempre as coisas estão complicadas para você. – Falei. – Ou você só realmente não quer ir. – Ela riu fracamente.
- Não tem por que eu ir. – Ela deu de ombros. – E dessa vez as coisas estão corridas mesmo. – Ela suspirou.
- Ah, será um dia importante para mim e...
- Eu ouvi falar. – Ela sorriu. – Vai igualar o Dino Zoff, não? – Assenti com a cabeça.
- Em presenças pela Serie A sim. – Ela sorriu.
- Auguri, Gigi. – Ela apoiou as mãos em meus ombros e me deu um curto beija na bochecha, me fazendo sorrir. – Apesar que estamos chegando em um ponto que sinto que estou te parabenizando todos os dias. – Rimos juntos.
- É a idade chegando... – Ela sorriu.
- Não concordo com isso. – Ela deu de ombros. – Idade é só um número quando você faz seu trabalho direito. – Ela se afastou um pouco. – Nos falamos depois.
- Grazie, . – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Ah, Gigi, deixando crescer a taturana de novo? – Ela passou a mão no queixo e fiz o mesmo.
- Ah, ! – Percebi que era a barba e ela gargalhou antes de passar pelas portas da nossa área e a perdi de vista logo mais pela porta de vidro.
Suspirei, pegando as chuteiras no chão e deixei-as em cima do acento, junto das levas e engoli em seco antes de seguir em direção à área das macas e entrei, vendo Barza e Marco, um dos massagistas, ocuparem um espaço.
- Ei, Barza. – Falei, me aproximando dele.
- Fala, Gigi! – Ele disse e cruzei os braços quando cheguei perto de mim.
- Outra lesão, cara? – Perguntei.
- É! – Ele falou, bufando em seguida. – Não aguento mais.
- Você precisa se fortalecer, reduzir isso. – Disse.
- Eu sei, é só... – Ele negou com a cabeça. – Inevitável.
- Melhore, ok?! – Ele assentiu com a cabeça. – Deixa eu falar, Conte pediu para te perguntar quem é o mais adequado para te substituir amanhã.
- Cáceres. – Ele disse. – Ele joga melhor na direita. O Ogbonna é melhor para o Leo. – Assenti com a cabeça.
- Era entre os dois que ele está em dúvidas mesmo.
- Cáceres! – Ele frisou. – Ele funciona melhor com o Leo e o Chiello. – Assenti com a cabeça.
- Beleza, então. – Disse, assentindo com a cabeça e suspirei, observando seu olhar sobre mim.
- Mais alguma coisa? – Ele perguntou.
- Não, só... – Neguei com a cabeça, me afastando alguns passos. – Na verdade... – Me aproximei dele de novo, suspirando, era minha chance de perguntar sobre eles, mas não sabia se estava pronto para isso. – Deixa para lá. – Falei, suspirando.
- Pode nos dar uma licença, Marco? – Ele perguntou e o massagista olhou para nós dois antes de seguir para fora da sala. – Fala, Gigi.
- Deixa quieto, não é importante! – Falei, abanando a mão.
- Você está com medo de saber a resposta, não está? – Ele perguntou, erguendo o corpo na maca e apoiando os antebraços nela.
- Eu não estou com medo de nada, Barza. – Falei, rindo em seguida.
- Sim, você está. – Ele disse. – Você está com medo de que eu esteja com a . Só não sabe se quer saber a resposta. – Franzi os lábios, soltando um longo suspiro.
- Você está? – Perguntei, olhando para ele.
- Faz alguma diferença para você? – Ele perguntou.
- Não... – Falei rapidamente. – Ela é minha amiga, só isso...
- Você sabe que eu sei que vocês não são só isso, Gigi. Eu estava em Trieste quando vocês transaram no vestiário. – Ele disse.
- E mesmo assim vocês estão juntos? – Perguntei.
- Ela está solteira, eu estou solteiro, temos mais semelhanças do que parece... – Ele deu de ombros. – Não vejo problema nenhum.
- Você sabe que eu gosto dela. – Falei e ele riu fracamente.
- Um milagre você ter assumido isso em voz alta, não?
- O que quer dizer com isso? – Perguntei.
- Ela sabe disso?
- Sabe, é claro que sabe. – Falei rapidamente. – Faz tempo, na verdade.
- Então, por que vocês não estão juntos? – Ele perguntou.
- Você sabe o porquê. – Ele assentiu com a cabeça.
- Então, por que você se importa se estamos juntos ou não? – Ele disse.
- Eu não quero que ela se machuque...
- Mais? – Ele completou minha frase e engoli em seco, vendo-o se sentar na maca. – Olha, Gigi, eu não me acho adequado para dizer como você deve viver sua vida. Ou o que você deve fazer e como você deve fazer, nem quero perder sua amizade por isso, porque sabemos que isso afeta muito mais do que nós mesmos. – Ele respirou por um momento. – Mas se você gosta mesmo da , você deveria ter valorizado-a quando teve a chance. – Ele respirou fundo. – E já que você não fez isso a ponto de ficarem juntos, deixe-a ser feliz. – Ele engoliu em seco. – Também não estou dizendo que ela vá ser feliz comigo, a relação de vocês é muito mais complexa e eu não tento entender, nem julgar, mas ela merece ser feliz, e eu sei o quão triste ela estava quando a encontrei. – Ele disse e eu suspirei, franzindo os lábios.
- Entendi. – Falei, sem saber como seguir essa conversa sem perder meu autocontrole.
- Você concorda com isso? – Ele perguntou.
- Não. – Falei rapidamente. – Porque eu sei o que aconteceu com seu último namorado. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Eu também. – Ele olhou para mim e sabia que estávamos falando de duas pessoas diferentes.
- Acho que isso é escolha dela, não? – Falei, dando de ombros.
- Sim. – Ele assentiu com a cabeça. – Mas o mais importante é ela te esquecer. – Engoli em seco, sentindo meu peito palpitar.
- Ela não me esqueceu? – Meu ego me obrigou a perguntar.
- Ela diz para si mesma que sim, mas eu sei que não. – Ele falou e assenti com a cabeça.
- Melhoras, ok? – Falei, incapaz de seguir com a conversa.
- Você sabe que isso é decisão dela, não sabe? – Ele falou antes de eu dar mais alguns passos. – Não minha e nem sua.
- Sim, eu sei. – Suspirei. – Só não concordo. – Disse.
- Você não tem com o que concordar, Gigi, você fez sua escolha. Não é capaz de ficar feliz por ela? – Virei o rosto para ela.
- Sim, eu sou, Barza, mas nossa amizade já provou que somos muito mais do que amantes ou como você queria rotular. – Falei firme. – Se ela me esquecer, eu vou ficar feliz por ela, mas ninguém nunca vai ser à altura dela, nem eu. – Suspirei.
- Se ela ao menos te esquecer, eu estarei feliz. – Ele disse. – Porque assim ela vai ser livre. – Engoli em seco.
- É... Talvez. – Falei, negando com a cabeça e saí da sala da fisioterapia antes de alongar mais o papo.
Eu sei o quão egoísta eu sou. A queria somente comigo e com mais ninguém. Mas eu também tinha noção do quanto eu já tinha magoado ela. Barza era um cara legal, mas eu não sabia se estava pronto para vê-la com outra pessoa, muito menos com um amigo meu. Na verdade, isso tornava tudo isso muito pior. Bom, isso e ela mentir na minha cara e esconder tudo.
Tentar esconder, na verdade. Depois de todos esses anos, ela ainda não sabe que eu a conheço melhor que todo mundo. E isso me irrita para caramba.

Lei
30 de março de 2014
- Eu trouxe pipoca e suco. – Falei, entrando no meu quarto.
- Suco, ? – Barza reclamou largado na cama. – Sério?
- O que você esperava? – Me aproximei dele, entregando-o um copo e tirei a vasilha de pipoca da dobra do braço, colocando-a na cama.
- Ah, um vinho, talvez? – Revirei os olhos.
- Você está tomando antibiótico, seu idiota! – Falei, dando um gole no suco e apoiei o copo na mesa de cabeceira antes de me sentar ao seu lado.
- Ah, um dia a mais, um dia a menos... – Ele deu de ombros e me aninhei em seus braços, passando a mão pela sua barriga. – Não faz diferença.
- Estamos chegando no fim da temporada, Barza, faz diferença sim. – Falei firme. – Não podemos te perder.
- Eu devo voltar só no fim de abril, , com sorte. – Ele disse, apoiando o queixo na minha cabeça e puxei a vasilha da pipoca com a ponta dos dedos para perto.
- Eu não entendo essas lesões musculares de vocês, se fosse uma torção ou algo quebrado, era mais fácil. – Disse e ele riu fracamente.
- Seria bem pior e mais doloroso, então ficamos com as musculares, sim? – Ele virou para mim e eu sorri, colando meus lábios nos dele por alguns segundos.
- Tudo bem, sei bem o que é torcer algo, mais tempo de recuperação e só cirurgia para completar totalmente. – Falei, pegando um pouco de pipoca e colocando na boca.
- Já teve algo assim?
- Sim, joelho e tornozelo, eu jogava vôlei na faculdade. – Falei.
- Mesmo? Eu não sabia disso. – Coloquei a vasilha em cima de minha barriga e ele pegou um pouco.
- Eu estava na faculdade, foi quando eu comecei a estagiar no time. – Disse. – Sonhava em fazer carreira no vôlei, tinha boas chances, mas aquela queda acabou com tudo. – Suspirei.
- E não tinha conserto? – Ele perguntou.
- Só cirurgia, mas o tempo de recuperação era muito grande e, baseado no meu histórico, o médico não achava necessário, então eu tive que escolher entre minha carreira como jogadores de vôlei ou um ano doloroso de recuperação. – Suspirei.
- Você não fez a cirurgia. – Ele disse.
- Não. – Suspirei. – Na época eu fiquei meio receosa, imagina? Ter chance de representar o país? – Ele riu fracamente. – Mas hoje eu não me arrependo tanto, minha carreira no time deu certo, então foi uma escolha boa.
- A melhor! – Ele disse rindo. – Não sabia disso.
- Ah, foi em 2002, por aí, faz muito tempo. – Ri fracamente e ele negou com a cabeça. – Era fim de temporada também, acho que foi o Mondiale que eu acompanhei descansando. – Ele riu fracamente. – Pensando rápido, todo Mondiale alguma coisa acontece. Nesse eu estava engessada, o de 2006 a gente ignora, o de 2010 eu tinha retirado o ovário... – Ele me apertou com o braço.
- E a próxima, o que vai fazer? – Ele virou para mim e ergui o rosto.
- Se tudo certo, vou acompanhar vocês daqui. De preferência sem nenhuma parte do meu corpo afetado. – Rimos juntos.
- Por que você não vai para o Brasil? – Ele perguntou.
- Eu pensei, honestamente, mas vamos ver como estarão as coisas. Na segunda fase quando as coisas estiverem mais calmas aqui, em junho eu ainda estou encerrando temporada e julho recebendo jogadores novos, mas prometo que vou pensar.
- Vamos ficar no Rio, lá é bonito, quem sabe? – Ele cantou baixo em meu ouvido e eu neguei com a cabeça.
- Só for para te encontrar em outro lugar, não pretendo encontrar a Nazionale em peso tão cedo. – Falei.
- Por que não? – Suspirei.
- Teve umas duas vezes algo aqui no time, não lembro se você estava convocado, teve aquela vez com o Papa, na Euro 2012... – Suspirei. – Enfim, pelo jeito minha história e do... – Movimentei com a mão, evitando falar o nome dele. – É conhecida entre eles também.
- É mesmo. – Ele falou.
- E da mesma forma que eu não quero ficar taxada como “a garota dele”, não acho que ser taxada como a sua garota vá ajudar na minha reputação. Nem entre a Nazionale e nem na Juventus. – Ele riu fracamente.
- Você sabe minha opinião sobre isso, . No seu tempo. – Ele disse e eu levantei meu corpo.
- E seu tempo? – Falei. – Nós só falamos de mim e do meu péssimo histórico, mas e você e a Maddalena? Você não é completamente solteiro ainda. – Ele riu fracamente.
- Nos encontramos de vez em quando por causa das crianças e o clima está daquela forma mesmo, sabe? – Ele suspirou. – As crianças pressionam uma volta, mas eu não quero daquele jeito de novo.
- Mas você quer de alguma forma? – Perguntei e ele suspirou. – É difícil, não?
- É difícil. – Ele confirmou e eu ri no automático. – Não quero que nós...
- Não, Barza, que isso! – Falei, apoiando minha mão na sua. – Nós dois entramos muito conscientes nessa relação, cada um com seu foco.
- Eu sei. – Ele disse, suspirando. – E eu gosto das coisas contigo. – Ele me puxou de volta e deitei ao seu lado de novo. – É leve, sabe?
- É completamente diferente, Barza. – Suspirei. – Você não precisa se explicar para mim. – Ele suspirou. – Nosso acordo continua o mesmo, para os dois lados. Eu só quero esquecê-lo, mas você vive um casamento. Se acha que deve voltar com ela, voltar com a sua família, eu vou te apoiar nisso. – Passei a mão em sua barriga. – Só quero que você viva algo gostoso, sabe? Sem pressões de ciúmes ou filhos, só um relacionamento gostoso, sabe?
- Por isso eu gosto do que a gente tem. – Ele disse.
- Não é bem um relacionamento. – Falei rindo.
- Relacionamento é a interação de duas pessoas, certo? Seja com ou sem vantagens. – Ele disse e eu gargalhei.
- Ah, Barza, só você.
- Vamos, . Nós dois estamos em sinal de igualdade aqui, ninguém está mentindo para o outro. – Ele falou, segurando meu rosto. – Enquanto isso for bom para mim, eu estou dentro. – Sorri.
- E você me distrai, então é muito bom. – Ele sorriu, me dando um curto beijo.
- Pena que ele está na TV, né?! – Ele disse e eu virei o rosto para a mesma, vendo os dois times entrarem.
- Bom, pelo menos nessa parte eu ainda sei separar, hoje eu só sou torcedora! – Falei rindo.
- Hoje vai ser pesado, fico bravo demais por não poder ajudar.
- Já falei que você é uma gracinha bravo? – Brinquei em tom infantil e ele riu.
- Engraçadinha! – Ele disse e eu sorri
- Mas é o Napoli, a gente precisa ganhar. – Falei irritada, enchendo a mão de pipoca.
- Você deveria ter ido hoje, é jogo importante. – Ele disse.
- Eu não vou para Nápoles, Barza. Nunca. – Falei pausadamente.
- Nunca?
- Nunca! – Repeti rindo.
- Por que não? – Ele perguntou.
- Se lembra quando contei minha história de vida? Por que eu saí do orfanato e tudo mais? – Me sentei na cama, apoiando as costas na cabeceira.
- Sim, que você tinha uma avó que não gostava de você e foi o que te motivou a vir para Turim. – Ele disse.
- Ela era de Nápoles. – Falei.
- Oh, eu acho que já ouvi essa história. – Ele disse, se ajeitando da mesma forma que eu e rimos juntos.
- É, o pessoal mais antigo sabe.
- E como você se sente sobre isso? Digo, sobre a história inteira? – Suspirei.
- Ah, honestamente eu tento ignorar da minha vida, sabe? – Vi Gigi e o capitão do Napoli separando os times e campos. – Me fez mal, então gosto de tirar o que foi ruim da minha vida. Deu certo, de certa forma.
- E, além dessa avó, você não tem outros parentes que possa contatar? – Ele perguntou.
- Então, o lado do meu pai era envolvido em coisas erradas, então nunca cogitei de ir atrás deles, nunca me fez falta, sabe? Acho que estou em um patamar da minha vida que não quero problemas.
- Sim, claro! – Ele disse.
- Em compensação, sei que meus pais tinham dois amigos próximos e vira e mexe eu procuro em arquivos e documentos antigos por eles, mas nada ainda. O sobrenome Battaglia é bem comum na Itália. – Rimos juntos.
- Se você precisar de ajuda, eu fiquei quatro anos em Palermo, ainda tenho alguns contatos na cidade, advogados, contadores... – Sorri, acariciando sua barriga.
- Não se preocupe, Barza. Eu tento não surtar por isso, penso se eu receber uma notícia ruim, sabe? Eles terem morrido ou algo assim, acho que tudo ficaria pior. – Falei e ele acariciou minha cabeça.
- O que você achar melhor, . – Ele disse e assenti com a cabeça.
- Obrigada. – Falei, voltando a prestar atenção no jogo.
Eu confesso que tinha uma relação muito ruim com o Napoli, isso era óbvio, mas eu tinha algo pior ainda quando eles eram superiores a gente em campo. Logo nos primeiros minutos eu sabia que o jogo seria pesado. Eles abriram o placar aos sete minutos, mas estava impedido. Aos nove Gigi precisou fazer uma defesa sensacional, mas por que precisou? A bola não podia ter chegado tanto. Aos 14, 24 minutos de novo. Eu já estava muito irritada e eu e Barza dividíamos quem xingava mais.
Aos 25 minutos finalmente conseguimos chegar em uma chance de Tevez, mas foi defendida. Em seguida, os lances voltaram a ser todos do nosso lado. Eu acabava observando Higuaín durante o jogo, achava-o muito bom, mas esse jogo ele estava um tanto apagado. Aos 28 eles tiveram outra chance e aos 36 o gol saiu. Asa errou alguma coisa e sobrou para Gigi.
- ARGH! – Reclamei, apertando minha mão forte uma na outra. – Deles não! – Bufei, apertando o travesseiro no rosto.
- Eu posso estar irritado igual você, mas sua reação é incrível e eu só quero rir. – Ele disse e eu ri fracamente.
- Eles estão comandando o jogo, não dá para ficar assim. – Suspirei.
- Forza, Juve! Forza, Juve! – Ele falou como um mantra e eu suspirei.
Pela minha felicidade, o primeiro tempo acabou assim, mas o segundo não melhorou muito, em compensação, os lances ficaram cada vez mais próximos. Aos 50 eles tiveram uma chance impedida, aos 51, Higuain, que eu achei que estava sumido, fez um ataque, mas foi impedido. Lich tentou aos 52, mas Cáceres tornou o lance impedido, aos 53 Gigi defendeu, aos 56 tivemos uma chance, mas foi defendido.
- Eu dou risada com o Lich, ele reclama demais. – Ele riu fracamente.
- Muito! – Barza disse. – Ele, Pogba, Vidal...
- Você quando leva cartão. – Ele riu.
- Ei, não sou tão mal.
- Não, mas é engraçado, tem dias que você age super bem, tem dias que você se irrita e outros que parece uma criança irritada. – Rimos juntos.
- Tenho meus momentos. – Ele disse e sorri.
- Ah, lá vai! – Suspirei, apertando a testa e vendo que havia sido uma falta contra nós. – O que ele grita para vocês? – Perguntei, vendo Gigi gritar para o pessoal.
- Ele está formando a barreira, então ele vê o ângulo que fica ideal para ele e o que é melhor para não rebote.
- Eu só leio ele gritando. – Falei e ele riu fracamente.
- É, tipo isso. – Rimos juntos.
Após a cobrança de falta, Gigi conseguiu defender. O jogo seguiu e aos 63 foi a vez de Pirlo bater uma falta, mas foi para fora. Pirlo estava perdendo a essência dele e eu ficava cada vez mais nervosa com isso tudo.
- Ei, você sabe o que eu vi hoje? – Virei para ele.
- Hum... – Ele comentou, buscando o sal no fundo do pote da pipoca.
- Eu vi a sua propagada com o Tevez hoje. Achei ótimo!
- Ah, não! Aquilo estava péssimo. – Rimos juntos.
- Não, Barza, real, você é bom com isso. Talvez daria um ótimo ator. – Ele gargalhou.
- Ah não, . É horrível. – Rimos juntos e ele colocou a vasilha vazia na mesa de cabeceira ao seu lado.
- Não, eu gostei. De verdade. – Falei, vendo a bola se aproximar de Gigi, mas alguém cabeceou antes disso. – Vou ver de te colocar nas próximas.
- Ah, meu Deus! – Ele riu.
- Essa com o Tevez foi nossa, mas as dos patrocinadores a grana é boa, vai...
- Ah, isso sim, mas não tenho jeito para coisa. – Ele disse.
- Eu discordo de você. – Sorri e ele riu fracamente.
- Só você. – Rimos juntos.
- Ah lá o Gigi irritado! – Falei, apontando para a TV aos 75 minutos de jogo.
- O tempo vai passando e o nervosismo piora. – Ele disse.
- Eu fico nervosa fora de campo, imagino vocês dentro com a pressão da torcida contra e a favor em cima de vocês. – Ele suspirou.
- É a pior parte, com toda certeza. – Vi Isla tentar um contra-ataque.
- AH, CAZZO! – Reclamei, vendo a bola sendo tirada. – Vai, Fer, CHUTA ESSA BOLA! – Falei alto, mas já tinha sido tirada de Llorente antes.
- Ah, o contra-ataque. – Barza disse e nós dois erguemos o corpo na cama.
- SEGURA, GIGI! – Gritei, relaxando o corpo logo em seguida quando a bola foi defendida. – GENTE, VOCÊS NÃO PODEM DEIXAR ESSA DEFESA ABERTA ASSIM! – Falei alto.
- Eu sou o único que fico com o Gigi lá atrás no contra-ataque. O Leo e o Chiello avançam, o Lich também. O Cáceres não está acostumado a fechar sozinho. – Ele falou e eu suspirei.
- Não pode acontecer isso, alguém precisa ficar. – Falei, suspirando. – Agora estão jogando garrafas no campo, isso, gente, muito esperto. – Bufei.
Após quase um minuto, Pirlo finalmente conseguiu bater o escanteio que foi salvo pelo goleiro deles, Reina. Ele aproveitou a saída de boal rápida e, mais uma vez, a solidão de Gigi lá, Lich, Marchisio e Isla chegaram e Claudio tentou fazer uma tirada de bola incrível.
- OLHA O QUE ELE FEZ, CARA! – Falei surpresa, mas dois segundos depois ele achou espaço e não deu tempo de Gigi chegar na bola. – CAZZO! – Falei irritada, apertando as mãos no rosto. – Agora vai ficar difícil. – Bufei.
- Calma, ainda tem 10 minutos.
- 10 minutos, Barza? Eles não fizeram nada o jogo inteiro. – Bufei. – Tem que se contentar se ficar assim.
Eu sabia que era a raiva falando, mas havia sido quase igual ao jogo da Fiorentina, tinha dado um apagão neles e eles não conseguiam remontar a estratégia de jogo. Até tivemos algumas outras chances de gol, mas estava impedido ou Reina pegou. Era só a segunda derrota da temporada, mas me irritava demais por ter vindo em cima do Napoli em Nápoles.
- Ah, que merda de jogo! – Falei irritada quando o apito final foi soado. – A gente não perde há 23 jogos e vem perder contra o Napoli? Mesmo? Nesse jogo horrível? – Suspirei.
- Foi feio mesmo. – Ele falou, suspirando. – Conte vai detoná-los no vestiário. – Ele disse.
- Ainda bem que não estou lá para ver isso. – Falei.
- Eu que o diga. – Ele falou e eu suspirei.
- Pelo menos a gente continua em primeiro na tabela, não? – Falei, inclinando o corpo e pegando o celular na mesa, mas Barza se debruçou sobre mim, segurando minha mão.
- Lascia! – Ele disse.
- O que? – Perguntei, virando para ele.
- Acabou, , agora foca no próximo. – Ele disse e eu suspirei.
- Lyon pelas quartas da Europa League. – Falei. – E depois Livorno em casa. – Ele sorriu.
- Você sabe tudo. – Ele disse e eu dei de ombros.
- Preciso, não? – Ele sorriu.
- Você vai para Lyon?
- Sim, vou. – Sorri. – Gosto de ir para destinos que nunca fui, me traz lembranças de quando eu sonhava em ter um por cento do que tenho hoje. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu te encontro depois, então? – Ele disse e eu sorri.
- Sim, mas eu ainda estou aqui agora. – Falei e ele sorriu.
- E como você quer ocupar esse tempo?
- Eu preciso relaxar, esse jogo foi um desastre. – Suspirei, apertando as têmporas. – E dormir, são quase onze e acordo cedo amanhã. – Fiz uma careta.
- Posso te ajudar a relaxar. – Ele falou e eu ergui o olhar para ele.
- Como? Voltando no tempo? – Perguntei e senti sua mão deslizar pela minha barriga.
- Conheço um jeito mais prático. – Ele disse, sua mão deslizando perto do short do pijama.
- Ah é? – Perguntei, sentindo-o entrar no mesmo e contraí minha barriga quando ele entrou em minha calcinha.
- Me falaram que até ajuda a dormir melhor. – Ele disse baixo e eu ri fracamente.
- Ajuda também, posso te garantir isso. – Falei e ele riu fracamente, atingindo minha vagina e suspirei.
- Já testou esse método? – Ele começou a mexer os dedos lentamente.
- Uso muito, na verdade. – Falei e rimos juntos quando nossos olhares se encontraram.
- Acho que precisamos ficar concentrados para isso funcionar, não? – Ele disse e eu ergui minha mão para sua nuca.
- Talvez. – Falei, puxando-o para mim e colei nossos lábios.

Lui
Primeiro de maio de 2014
Assim que o juiz apitou, eu me contive em demonstrar minha verdadeira indignação sobre o jogo, mas não consegui evitar em tirar as luvas e a braçadeira com raiva. Esse tinha sido, de longe, o pior jogo da temporada. Nem o jogo de ida onde perdemos de 2x1 tinha sido tão ruim quanto esse.
Em Lisboa, eu deixei realmente dois gols entrarem, a defesa bagunçada não ajudou. Eu estava braço com ele, mas era justo o suficiente para falar que a fala de Barza era gigantesca. Ele estava no banco, mas Conte achou melhor não abusar, principalmente pela prioridade do Mondiale que estava cada vez mais perto.
Tivemos uma posse de bola equilibrada, mas eles atacaram muito mais. Abriram o placar aos três minutos, Tevez igualou aos 73 e eu tentei segurar, mas aos 84 veio outro indefensável. Tinha seis pessoas servindo como defesa, além de mim, e mesmo assim a bola entrou.
Quando voltamos para Turim, sabíamos que tínhamos somente uma missão: chegar na final. Não que a Europa League fosse nosso sonho. Todos queríamos a Champions, mas decidimos lutar da mesma forma após a eliminação. Quando passamos pelas fases, a vontade de crescer aumentou e foi seguindo até chegar na semifinal. Uma pena que deu no que deu.
Após um jogo até que equilibrado, devo dizer, perdemos, mas o moral continuou alto e sabíamos que precisávamos lutar para chegarmos à final uma semana depois. Fizemos tudo o possível para conseguir, mas não era nosso dia, nem do árbitro e nem de nada.
Com o estádio apinhado de pessoas, inclusive algumas pessoas importantes como Maradona, conseguimos segurá-los durante 90 minutos. Eu trabalhei pouco, não precisei fazer tantas defesas, em compensação tivemos diversas chances de gol, mas eram chutes aleatórios, a esmo. Alguns paravam no goleiro deles, Artur, agora outros simplesmente não chegavam ou eram anulados pelo bandeirinha.
A quantidade de cartões mostradas em campo provavam o quão difícil o jogo foi. Tão difícil que quando Mirko foi ser substituído por Sebastian, Mirko acabou sendo expulso por responder provocações de um benfiquense. Isso acabou estendendo o jogo mais ainda, mas acabou em 0x0 e isso queria dizer a nossa eliminação.
Todos saímos irritados do jogo e dessa vez eu fugi da entrevista pós-jogo, já tinha falado no outro jogo, que outro fosse para o fogo dessa vez. Entrei com pressa no vestiário, pegando minhas coisas com raiva e fui direto para o banho. Conte provavelmente ia falar algo, nos xingar ou o que for, mas eu não estava com saco para ouvir.
Liguei o chuveiro gelado em minha cabeça e deixei a água cair até meu corpo relaxar e eu parar de sentir vontade de socar a parede ou chorar. Dificilmente eu chorava na situação em si, de felicidade ou de tristeza, mas quando a situação clareava e batia a sensação, me destruía e acabava saindo sem querer.
Após relaxar por uns 20 minutos, finalmente tomei banho, tirando o suor e grama em meu corpo. Odiava precisar ir para linha nos minutos finais, os treinamentos eram diferentes, vai que acontecia o pior? Que eu atingia algum de meus companheiros com força maior? Ou um contra-ataque e piorasse a situação?
Eu poderia ficar dias e dias pensando nos erros, mas, como sempre, eu sabia que não adiantaria de nada eu pensar no que já foi, as horas não voltariam e não tinha como fazer de novo. Agora era olhar para frente e focar no fim do campeonato em alguns dias. Se tudo desse certo, poderíamos fechar o scudetto até o fim da semana.
Saí do box, vendo outros jogadores se arrumando e percebi que ninguém conversava. As poucas vozes que eram ouvidas eram baixas e discretas. Alguma pergunta ou comentário rápido, mas nada sobre o jogo. Me sequei, vesti a cueca e joguei a toalha nos ombros para voltar para o vestiário.
Na sala que antecedia o vestiário, onde ficavam as macas de preparação de jogo, alguns jogadores faziam o trabalho pós-jogo e, entre eles, em uma vazia, estava sentada na mesma, a saia do vestido um pouco para cima em suas coxas e Pavel e Paratici em volta dela. Ela me acompanhou com o olhar e abaixei a cabeça, seguindo para o vestiário.
- Você fugiu do papo. – Claudio falou assim que voltei para o vestiário.
- Teve algo de novo? – Perguntei para o centro-campista.
- Não, só um pouco mais de dor de cabeça. – Ele disse e eu ri fracamente.
- Vai fazer alguma diferença?
- Não. – Ele disse e eu dei de ombros.
- Não perdi nada, então. – Suspirei, passando a toalha nos cabelos e me levantei para vestir a calça de moletom do time.
- Vai usar essa agora? Aposto que o Conte não vai gostar. – Virei o rosto para o lado, vendo apoiada na divisão das salas e bufei.
- Você também? – Perguntei e ela riu fracamente.
- Alguém está estressado. – Ela disse, desviando o olhar para frente e virei o rosto para onde ela olhou, vendo Barza em seu canto com Chiello à sua frente.
- Seu namorado não vai ficar chateado por te ver conversando comigo? – Perguntei e ela revirou os olhos, se aproximando de mim.
- Primeiro de tudo: ele não é meu namorado. Segundo: fala baixo, por favor, não quero ser zoada por mais um relacionamento entre vocês. E terceiro: eu estou aqui como sua chefe. – Ri fracamente.
- Ah, entendi, então. – Abaixei o corpo para calçar os tênis.
- E sua amiga. – Ela disse e eu ri fracamente. – Qual é, Gigi.
- O que você quer? – Ergui o olhar para ela.
- Uma explicação do porquê você está bravo assim. – Ela disse e eu suspirei.
- Perdemos, não? – Falei. – Deveria estar pulando de felicidades?
- Não, claro que não. – Ela cruzou os braços. – Mas vocês fizeram tudo o que podiam, não? – Revirei os olhos.
- Não vem com esse papinho para cima de mim, . – Falei, me levantando e ela deu um passo para trás, se apoiando no armário de Storari.
- Que papinho? Só estou dizendo que ninguém está culpando vocês por hoje. – Puxei minha blusa. – Agnelli nem está puxando os cabelos.
- Vocês não culpam, ótimo, legal, mas a gente pode ficar irritado e frustrado. Ou nem isso pode mais? – Falei firme e ela suspirou.
- Ok, já entendi. – Ela negou com a cabeça. – Não está mais aqui quem falou. – Ela disse, passando por Storari, dando um tapinha em seus ombros, recebendo um beijo em sua bochecha e ela seguiu para trás novamente.
- Está tudo bem, Gigi? – Marco perguntou e eu suspirei.
- Por quê? – Perguntei, me sentando novamente.
- Nunca vi você tratar a assim. Mesmo com todos os rolos de vocês. – Ele perguntou e eu engoli em seco.
- Estou com alguns problemas em casa. – Neguei com a cabeça.
- E tratá-la assim vai ajudar? – Ele perguntou. – Entendo que vocês têm suas diferenças, mas ela é sempre legal e compreensiva com todo mundo. Inclusive contigo. – Suspirei.
- Vamos focar no próximo desafio. – Falei, suspirando e ele deu de ombros.
- Você que sabe. – Ele disse e eu levei as mãos aos olhos, apertando-os fortemente.
- Gigi? – Ergui o rosto, vendo Pavel onde antes estava .
- Sim?
- Pode vir aqui um pouco? – Ele disse e eu suspirei.
Peguei a toalha de volta, jogando-a no local de descarte e segui para onde a estava da outra vez, vendo que agora Conte e Filippi, meu treinador, se juntaram a Pavel e Paratici. estava da mesma posição da outra vez, mas dessa vez ela pulou da maca assim que me aproximei.
- Se importam se eu não participar disso? – Ela virou para Pavel.
- Não, vai lá. – Pavel disse, olhando para mim.
- ! – Chamei-a e ela se afastou abanando a mão e eu levei a mão às têmporas, massageando-as. – Mais essa agora. – Sussurrei.
- Não é esse o foco agora, Gigi. – Conte disse. – Presta atenção aqui. – Vi passar para dentro do vestiário e voltei a focar nele. – Perdemos essa competição, mas precisamos nos manter firmes para fechar o scudetto logo. Não dá para depender da Roma perder o próximo jogo, entendeu? Precisamos nos levantar e focar no próximo desafio. Entendeu?
- Sim, eu sei disso. – Suspirei. – Só precisamos de um tempo para superar isso.
- Não temos muito tempo para isso. – Conte disse. – Podemos fechar já no próximo jogo.
- Estaremos prontos. – Falei.
- E manter a cabeça no jogo, entendeu? – Pavel falou firme.
- Minha cabeça está sempre no jogo. – Falei no mesmo tom para ele. – O problema é depois... – Falei mais baixo.
- Escolhas. – Pavel disse com uma alfinetada e revirei os olhos. Só faltava essa agora.


Capittolo quarantasette

Lei
Quatro de maio de 2014
- Você acha bom ver isso agora? – Manu perguntou.
- Não, vamos focar no fim da temporada antes. Se o Real Madrid tiver um interesse real em vende-lo, aí fica mais fácil a transferência e mais barata. – Falei. – Se a gente demonstrar interesse muito cedo, pode desandar, valor de mercado aumentar e tudo mais.
- Ah, entendi. – Ela assentiu com a cabeça e seguiu rapidamente para perto da mesa do meu escritório para atender o telefone. – Sim? – Ela disse. – Ah, ciao! Está sim, espera um pouco. – Ela afastou o mesmo. – É o Pavel.
- Ah sim. – Trocamos de lugar e peguei o telefone. – Alô?
- , sou eu. – Ele disse. – O que a Manu está fazendo na sua casa no domingo?
- Me ajudando a organizar umas coisas, mas aposto que não foi por isso que você ligou.
- Não! – Ele falou rindo. – Você está vendo o jogo? – Ele perguntou afobado.
- Que jogo? – Franzi a testa e bati na mesa, chamando atenção de Manu e apontei para a televisão na parede.
- Da Roma. Eles estão perdendo de 3x1 para o Catania, a gente pode fechar esse scudetto antes das cinco da tarde e sem depender do jogo de amanhã. – Arregalei os olhos.
- Onde estão os jogadores?
- Estamos aqui no hotel do CT, eles estavam chegando para um treino e aí ligaram o jogo e está um baile. – Ele gargalhou.
- A GENTE VAI GANHAR, CHEFA! – Afastei o telefone da orelha quando ouvi alguns gritos e ri gargalhei.
- Ei! Eu não estou ouvindo! – Pavel disse, voltando a ligação. – Disse alguma coisa?
- Chego aí em 10 minutos. – Falei rindo.
- Ok, vem, logo, faltam 30 minutos para acabar! – Ele disse.
- Ok! – Falei, desligando o telefone e me levantei, olhando para a televisão.
- O que houve? – Manu perguntou.
- Se a Roma perder, a gente fecha scudetto sem depender do jogo de amanhã! – Falei e ela arregalou os olhos.
- Eles estão perdendo de 3x1. – Ela disse surpresa, apontando para televisão.
- Exatamente! – Falei rindo. – Larga tudo aí, vamos encontrar os jogadores. – Falei, passando a mão no celular e segui até a porta. Ela pegou sua bolsa na poltrona e deslizou no tapete para se colocar ao meu lado.
- Pronto! – Ela disse, jogando os cabelos para trás.
- Vem! – Chamei-a, saindo do escritório montado em casa, passei rapidamente no quarto para colocar uma alpargata e trocar a camiseta larga por uma mais leve. Pensei em trocar os shorts, mas com o calor que fazia em Turim, eu não seria capaz de entrar na mesma.
Saí do mesmo e seguimos a passos rápidos pelas escadas da minha casa. Esperei-a entrar do outro lado e seguimos em direção a Juventus aqui em Vinovo. Chegaríamos rápido, mas com a notícia iminente da Roma, os torcedores já começavam a se aglomerar. Ao invés de entrar no portão principal, segui pelo portão lateral, onde dava para o hotel dos jogadores, um local especial para unir o pessoal antes de alguns jogos ou viagens importantes.
Os torcedores gritaram quando o portão foi aberto e coloquei o carro em movimento até o local. O ônibus do time estava lá, estacionado na frente do hotel. Estacionei meu carro no primeiro lugar vago, já que todos os jogadores estavam lá e saí do mesmo, vendo Manu sair do outro lado.
- Ai! – Ela reclamou.
- O quê? – Virei para ela.
- Bati o braço. – Ela se aproximou de mim e vi um furo na sua camiseta.
- Meu Deus, Manu! Rasgou a camiseta! Imagina como vai ficar sua pele!
- Ah, um roxo a mais, um a menos. É a vida me batendo. – Ela deu de ombros e revirei os olhos.
- Acho que é você se batendo, isso sim. – Falei, atravessando o estacionamento e ouvi alguns gritos vindo de dentro e passei pelas portas do restaurante.
- Como estamos? – Perguntei mais alto, vendo todos os jogadores e o top quatro, faltando somente eu ali, amontoados nos sofás, poltronas e no chão, em frente à uma televisão.
- EI, CHEFA! – Eles gritaram e alguns se levantaram vindo em minha direção.
- Eles fizeram mais um! – Pavel gritou.
- Eles quem? – Gritei, franzindo o olhar quando Pogba pulou nos meus ombros.
- Catania! – Eles gritaram.
- ESTÁ QUATRO A UM? – Gritei animada, desviando de Pogba e seguindo para perto do pessoal, acumulado na frente da TV.
- Está! – Llorente falou gargalhando e me apoiei no braço da poltrona de Quagliarella.
- Está gata, hein, chefe? – Ele disse e eu virei seu rosto para o lado.
- Foca no jogo, Fabio! – Ele gargalhou.
Dei uma rápida olhada pelo local e encontrei o olhar de Barza sobre o meu. Dei um sorriso e virei o rosto para a televisão. Os últimos 10 minutos foram mais empolgantes para nós do que para eles. A Roma estava completamente perdida em campo, eles não sabiam o que fazer e os minutos só passavam. Para ficar o jogo, o Catania decidiu fazer suas duas últimas substituições, para ganhar tempo e, do lado da Roma, Pjanic, um jogador que eu estava de olho, e Totti, a lenda do time, ainda levaram cartões amarelos. Sem mais o que acrescentar, o juiz apitou e os gritos ao meu lado me ensurdeceram.
- SIAMO NOI! SIAMO NOI! I CAMPIONI DELL’ITALIA SIAMO NOI! – Franzi os olhos ao sentir um beijo de Quagliarella em minha cabeça e deixei o corpo cair na poltrona quando ele saiu.
Abri um largo sorriso, sentindo meu corpo relaxar para trás, ficando quase deitada no mesmo e passou por mim mais uma vez aquela sensação de dever cumprido. Três anos, três scudetti. Não poderia estar mais feliz e realizada. Nosso plano de reformular o time tinha dado certo e não poderia ser mais grata a esses tontos gritando ao meu lado.
A melhor parte dessa festa toda, era que havíamos conseguido atingir os 30 scudetti mais uma vez, apesar de sabermos que, em campo, já estávamos em 32. Afinal, o lema dessa campanha era “Non c’è due senza tre”, mas a forma que o marketing colocou dava a impressão de que era “Não tem dois sem 32”, mas poder ir contra tudo e todos e oficializar isso era maravilhoso.
- ! – Pavel apareceu em minha visão e estiquei as mãos para ele, sentindo-o me puxar e abracei-o fortemente pelos ombros, sentindo-o me apertar fortemente.
- Auguri, Pavel! – Falei e gargalhamos juntos.
- GIOVINCO, NÃO! – Virei o rosto apressado, vendo Sebastian estourar um champanhe e Manu virou o corpo contra a parede, tentando se esconder na mesma.
- SIAMO NOI! SIAMO NOI! I CAMPIONI DELL’ITALIA SIANO NOI! – Sorri, virando para Agnelli.
- Grazie, ! – Ele disse e abracei-o fortemente, sentindo-o dar dois tapinhas em minhas costas.
- Auguri per noi! – Sorri, vendo eles sacudirem outras garrafas de champanhe e finalizei meus cumprimentos internos com Paratici e Beppe que também tinham sorrisos animados no rosto.
Não foi preciso dar mais que dois passos, pois Storari já veio me abraçar, depois Claudio, Cáceres, Pepe e eu só sorria e recebia abraços fortes, beijos molhados e logo eu já fui atingida pelo champanhe igual Manu.
- Ah, Fabio! – Empurrei-o para o lado, sentindo-o me abraçar fortemente e sorri, abraçando Ogbonna fortemente, depois Asa e Lich.
- GANHAMOS, CHEFA! – Leo falou animado e Giovinco tentou me erguer com seu 1,60 de altura, me fazendo gargalhar.
- Sebastian, não! – Falei rindo e sorri quando ele me largou na frente de Barza.
- Chefa! - Ele falou, me abraçando pela cintura e passei os braços em seus ombros, sentindo-o me apertar fortemente e suspirei, afastando meu olhar do seu, vendo-o sorrir.
- Auguri, Barza. – Falei e ele deu um beijo em minha bochecha, perigosamente perto de meus lábios e dei um tapa em seu ombro quando voltei os pés no chão. – Aqui não. – Falei baixo e ele gargalhou, dando de ombros.
- CHEFA! – Senti alguém me abraçar pelas costas e vi Chiello apoiar a cabeça em meu ombro.
- Ah, Chiello. – Apertei suas mãos em cima da minha e virei para abraça-lo fortemente. – Auguri!
- Auguri, chefa! – Sorri.
- Mais um, Chiello.
- Mais um! – Ele disse, me apertando novamente e gargalhei.
Ao soltar Chiello, recebi uma blusa preta com o nome do título e coloquei-a por cima da blusa que eu estava. Vi o pessoal saindo lá para fora para as comemorações e finalizei os cumprimentos do pessoal que estava à minha volta: Tevez, Llorente, Vucinic, Vidal, Pirlo, Padoin, Rubinho, alguns até eram cumprimentados duas vezes. Só faltava uma pessoa ali e ele não estava em nenhum olhar que eu virasse. Não que merecesse algum cumprimento, é só uma constatação, afinal, ele é capitão do time.
- ! – Sorri para Conte, abraçando fortemente e ouvi alguns gritos e risadas vindo lá de fora.
Segui para o meio da comemoração, vendo Manu se levantar com a ajuda de Cáceres e eles gargalharam juntos. Não que as quedas da Manu fossem poucas, mas o chão estava realmente escorregadio de champanhe e logo mais ficaria grudento.
Vi os jogadores se unirem para tirar uma foto mostrando o número três nos dedos e Manu veio até meu lado, me abraçando pelos ombros e evitei ter alguma reação exagerada, eu também estava molhada, mas meu corpo não estava cheio de grama.
Observei Barza gritando no meio do pessoal e sorri. Meu coração podia mudar, não? Sabia que ele tinha a pendência de seu casamento, mas era algo gostoso e divertido. Vi o pessoal dispersar ainda gritando e eles pulavam e gritavam bem alterados. Pogba era o pior, ele pulava literalmente nos outros, me fazendo rir.
- Eles precisam ir para o estádio. – Pavel riu ao meu lado.
- Vão para lá hoje? – Perguntei.
- Sim, vamos gravar algumas coisas para o marketing. – Ele disse.
- Que incrível! – Suspirei. – Que amanhã seja um jogo lindo! – Ele riu fracamente.
- Vai ser! – Ele disse, me abraçando de lado e sorri.
- Auguri, Pavel.
- Auguri! – Ele disse e senti um beijo em minha testa.
- Bom, vou aproveitar a saída de vocês e vou voltar para casa, levar a Manu para dela...
- Minha mãe vai me matar se eu aparecer assim em casa. – Ela disse e rimos juntas.
- Sua mãe sabe que você trabalha em um time de futebol? – Perguntei.
- Saber ela sabe, mas não gosta muito. – Ela disse rindo. – Meu pai é pior.
- Você está feliz conosco? – Perguntei.
- SIM! – Ela disse e eu sorri.
- É o que importa. – Falei.
- Andiamo, ragazzi! – Massimo, auxiliar do Conte, gritou. – Para o ônibus! – Ele disse rindo e neguei com a cabeça.
- Auguri, ragazzi. – Falei alto, vendo eles gritarem junto.
Os jogadores sumiram aos poucos, seguindo para seus devidos quartos e fui atrás de duas toalhas para não detonar meu banco de couro. Não é porque o carro foi presente que tinha que destruir, né?!
- A gente se vê amanhã, então. – Falei para meus companheiros de administrativo.
- Não vai faltar! – Agnelli disse.
- Até parece que eu vou faltar nesse. – Falei rindo. – Mais uma vez, gente, auguri per noi. – Suspirei.
- Auguri, ! – Paratici disse com um largo sorriso no rosto.
- Andiamo, Manu! – Falei.
- Ciao, ragazzi! – Ela disse, acenando e segui para fora do restaurante, acenando para alguns funcionários e abraçando um ou outro jogador que ainda estava lá ou que já tinha decido.
- Bom trabalho, gente! – Disse.
- Gracias, chefa! – Tevez disse e sorri, acenando e seguindo em direção ao meu carro.
- Eles fazem isso sempre? – Manu perguntou, apertando a toalha em seu corpo.
- Há três anos! – Disse rindo e esperei um carro passar na rua para eu atravessar. – Isso sem contar as comemorações que eu não participava.
- Eu vou ficar cheirando champanhe para sempre e eu nem bebo! – Sorri e destravei o carro.
- Olha, o Gigi chegou! – Ela disse e virei o rosto para o lado, vendo Gigi sair do carro que tinha acabado de entrar, já com a blusa da comemoração. – Achei estranho ele não estar aqui mesmo. – Ela disse, sumindo para dentro do carro e vi Angela sair do outro lado, provavelmente deveriam ter levado ele para alguma entrevista sobre a vitória.
Observei-o sair do carro e mordi meu lábio inferior quando ele tirou os óculos escuros. Suspirei, negando com a cabeça e seu olhar virou para mim quando ele fechou a porta. Sem esperar alguma reação extra, dei um aceno de cabeça e entrei no carro, puxando a porta em seguida.
- Mal posso esperar para o jogo de amanhã. – Manu disse e ainda olhei para ele pelo vidro do carro. – ?
- Oi! – Virei para o lado.
- Está tudo bem? – Ela perguntou.
- Sim, está. Só me perguntando onde o Gigi estava. – Falei, colocando a chave na ignição.
- Vai saber. Ele deve ter os problemas dele para resolver. – Ela deu de ombros.
- É, talvez. – Suspirei, virando o rosto para ela. – Enfim, vamos para casa, você toma banho lá, depois eu libero você. Se sua mãe descobrir que você estava trabalhando...
- Apesar de ser trabalho, eu gosto de ficar contigo, . Assim, tirando os dois colegas do curso de italiano, que um é coreano e outro é indiano, não tenho amigos na cidade. Pelo menos com vocês é legal. – Sorri.
- Que bom, mas você precisaria achar alguém da sua idade, não 12 anos mais velha.
- Ah, como se isso se importasse no time. – Ela disse rindo e eu sorri.
- Isso é verdade!

Lui
Cinco de maio de 2014
A festa já rolava solta antes mesmo do apito inicial ser soado. Fechar o scudetto sem depender de realmente jogar foi interessante. Acho que durante todos os meus anos de Juventus, era a primeira vez que o resultado do outro time realmente nos afetou. Poderíamos selar esse scudetto hoje, mas foi interessante poder fazê-lo ontem, aproveitando o belo tropeção da Roma contra o Catania.
Foi só uma pena que não ter podido participar mais da festa. Minhas brigas e de Alena estavam cada vez piores. Eu não conseguia esconder mais minha insatisfação com tudo o que estava acontecendo em nosso casamento. Eu já estava cansado, irritado, saco para tudo. Se não fosse pelos meus filhos que são uma das coisas mais importantes da minha vida, podia dizer com todas as palavras que nunca deveria ter me casado. E a culpa não era de Alena, era que eu gostava de outra pessoa e meu corpo fazia questão de me falar isso diversas vezes.
Sabia que parte dessa piora tinha nome e sobrenome. Esse afastamento de , essa distância me matava cada vez mais. Ela estava me ignorando completamente e eu ficava cada vez mais louco e irritado com tudo isso. Ver o carro de Barza na frente da casa dela também não me ajudava em nada. Estava óbvio que eles estavam juntos e eu precisava dela. Eu precisava de , ela sabia como me acalmar, como fazer com que eu me sentisse bem e me dizer o que eu deveria fazer.
Eu havia sido um belo de um idiota na última vez que nos falamos, eu sei, mas eu ficava louco sem ela. Isso me afetava de uma forma que nem eu entendia, mas eu precisava dela, do seu colo, do seu abraço, do seu beijo. E sem tudo isso, fazia com que eu afetasse em toda as pessoas à minha volta.
Ontem, quando eu finalmente cheguei no hotel, Angela me pegou para dar uma entrevista para a Sky Sports sobre isso... Para Ilaria sobre isso. Quando estava pronto para comemorar junto com o pessoal, eu a vi. Era a primeira vez em muito tempo que eu a via de forma esportiva. Shorts, a camiseta do scudetto e sapatos baixos. Para ajudar tudo o que eu estava passando, me lembrei de nós em 2006. Isso fez meu coração dar um salto dentro do meu peito, mas ele parou segundo depois quando eu recebi somente um sorriso e ela entrou no carro, só isso. Manu meu deu um sorriso mais largo que o dela e isso só colaborou para me quebrar por dentro.
Eu não aguento mais.
Vim para o jogo de hoje na esperança de poder conversar com ela, mas sabia que seria difícil, ela já tinha deixado claro que não queria falar comigo e eu sabia que não deveria forçar ou as coisas ficariam piores ainda. Pelo menos fiquei no banco, depois de selar o scudetto ontem, Conte topou em me poupar para o Mondiale, as preparações começavam em pouco mais de duas semanas, precisaria do descanso.
O jogo em si foi bom para o nosso lado. Por termos fechado o scudetto ontem, a vitória não era obrigatória, mas era necessário, já que era o dia que comemoraríamos com nossa torcido. A posse de bola foi nossa em quase todo jogo, sempre que a bola chegava em nosso campo, Chiello, Ogbonna e Barza tiravam-na com muita facilidade. Só não conseguimos abrir o placar antes, porque Consigli, goleiro do Atalanta, segurava bastantes bolas. Pogba, Osvaldo, Giovinco e Padoin se aproximavam fácil.
Tirando diversas substituições, não tivemos muita coisa nesse jogo além de trocas de passes e chutes à gol. Os dois momentos mais relevantes do jogo foram aos 72 minutos. Estigarribia, ex-Juventus, levou um cartão amarelo ao dar um carrinho em Pogba. O pior foi que aconteceu já quase fora das quatro linhas. Após esse lance, teve a cobrança de falta, Chiello chutou direto, mas Pogba acabou desviando para Quagliarella que estava no centro da grande área. Ele deixou passar e Padoin veio do fundo, mandando do lado esquerdo do gol, deixando Consigli perdido.
O gol de Padoin acabou causando um baque em um jogador da Atalanta. O zagueiro deslizou para tentar tirar a bola, mas o joelho de Padoin bateu em seu rosto, fazendo-o sair de maca e colar cervical para imobilização. Eu gostava do meu time, pois tínhamos os melhores torcedores. Quando Yepes saiu de maca, a torcida o aplaudiu.
Do nosso lado, estava na hora de Pepe entrar, ele recebeu alguns tapas na cabeça e Pirlo trocou de lugar com ele, se sentando ao meu lado. Quando ele finalmente saiu, Lich ocupou o lugar dele. Após a troca, o jogo se seguiu por mais nove minutos. Nos segundos finais, logo após Quagliarella fazer um passe que selaria o jogo, Tevez não conseguiu finalizar, mas não era importante mais. O apito final foi soado e era hora de comemorar com a torcida.
O pessoal invadiu o campo, jogando os squeeze para cima, nos molhando com água e dessa vez pudemos aproveitar com a torcida em casa, sem que eles invadissem o campo. Após vários abraços calorosos, fizemos um cordão, correndo em direção à torcida como fazíamos ao fim de todo jogo, mas dessa vez era especial, todos os jogadores e equipe técnica participaram.
Era o terceiro consecutivo. Eu nunca tinha atingido isso, então era especial e tinha um gosto muito mais que especial. Era aquele gosto que você queria mais e mais e mais! Nesse e em todos os campeonatos! Conte foi jogado para cima e a torcida se empolgava com a gente. Tinham sido três temporadas incríveis e a conversa no fim da temporada 10/11 ainda rodavam a minha cabeça e era loucura tudo o que conseguimos conquistar.
- Gigi. – Parei quando Asa me abraçou, praticamente subindo em meu colo e vi Barza atrás dele.
- Barza! – Falei e ele riu fracamente.
- Vem cá! – Ele me puxou para um abraço e sorri, sentindo-o me apertar e suspirei.
- Vencemos, cara! – Falei e ele abriu um largo sorriso, gargalhando logo em seguida.
Talvez as coisas não tivessem da melhor forma possível para mim, mas sabia que não valia à pena perder essa amizade por causa das nossas vidas pessoais. Nossa relação no time afetava muito o que acontecia em campo.
Após cessarmos a comemoração lá fora, era hora de entrar. Pessoal entrou animado e aos gritos. Acho que todos tinham o mesmo sentimento de mim sobre o terceiro consecutivo. Muitos começaram a ganhar aqui na Juventus, então quanto mais títulos vencidos, mais surpreendente as coisas ficavam.
O top cinco já estava no vestiário quando entramos. foi a primeira a se afastar para o fundo quando Leo e Fernando começaram a jogar mais champanhe pelos ares e a maioria de nós foi direto para o fundo quando o chão começou a ficar molhado de novo. Pena que fugimos do champanhe para ficarmos surdos com uma daquelas buzinas de gás que ecoou pelo vestiário inteiro.
- AH, CAZZO! – Reclamei, colocando a mão no ouvido.
- EMANUELLE! – gritou, fechando os olhos com força e virei o rosto para o lado vendo a mascote de cabelos azuis escondida atrás de uma pilastra e um largo sorriso no rosto.
- Auguri? – Ela falou na inocência, fazendo as risadas ecoarem pelo local.
- Me dá esse negócio! – Agnelli falou, tomando a buzina dela e negou com a cabeça.
- Lasciala! – Ela disse. – Ela está feliz. – apontou a mesma.
- Sim! – Ela falou baixo. – E eu preciso ficar aqui, por causa dos peladões no outro ambiente. – Ela disse.
- Vem cá, vem cá! – Barza a chamou com a mão e ela se aproximar. – Você é novata, mas faz parte do time. – Ele disse, abraçando-a apertado e ela sorriu. – Mas isso vai ter troco! – Ele falou. Puxando a buzina de sua mão e soltando em sua orelha, fazendo-a fugir pelo caminho.
- AH, BARZA! – reclamou de novo, mas ele apertava com força, correndo atrás de Emanuelle.
- Para, Barza! – Manu gritava, sua gargalhada ecoando pelo local.
- Cuidado, está molhado, você vai... – Falei tarde demais, vendo-a deslizar no chão até a parede e caiu de costas no chão, me fazendo gargalhar.
- Isso, muito bem! – disse, puxando Barza pela gola da segunda pele. – Para! – Ela falou firme. – Daqui a pouco o seguro de doença dela vai ser maior que o de vocês.
- Ah, não fica irritada! – Ele disse em tom infantil, abraçando-a pelos ombros e ela afastou-o com a mão em seu rosto.
- Sim, eu fico! – Ela disse brava, batendo nele que se afastou gargalhando. – Eu preciso entregar essa menina inteira para mãe dela!
- Inteira talvez não seja mais possível. – Comentei um pouco mais alto e percebeu minha presença na sala. – Alguns neurônios já foram.
- Mais? – Manu perguntou, ainda largada no chão e eu gargalhei, vendo os braços e as pernas tortos pela pancada.
- Acho que essa tinta azul afeta o seu cérebro. – Falei, me aproximando dela e eu e Barza a puxamos pelas mãos, fazendo-a se levantar.
- Eu comecei a pintar meu cabelo tem uns quatro anos. – Ela falou e eu passei as mãos em seus cabelos, abaixando a franja. – Eu posso te garantir que sou estabanada há muito mais tempo. – Ri fracamente.
- Quatro anos? – Perguntei.
- É! – Ela deu de ombros. – Eu queria fugir do colégio militar, aí comecei a fazer umas loucuras. – Ela sorriu sarcasticamente e virei o olhar para que ergueu as mãos e se virou de costas.
- Eu deveria perguntar “quais?” – Barza falou me olhando.
- Você realmente quer saber? – Devolvi.
- Ah, gente, que isso. Não é nada demais. – Ela abanou a mão. – Eu só pintei o cabelo, fiz uma tatuagem e coloquei um piercing, não é nada demais. – Ela deu de ombros, se afastando a passos de tartaruga. – O piercing inflamou e fechou, a tatuagem meu pai nunca soube, mas o teste médico soube sim. – Ela disse, logo em seguida como se tivesse feito aprontado algo gigantesco. – Ah e posso ter fingido ter problema na vista no teste médico, nada demais.
- , você contratou uma delinquentezinha. – Falei e ela gargalhou.
- Cada um tem uma história, não? – disse.
- Você não achou melhor só fingir o problema na vista? – Barza perguntou.
- É, eu percebi isso depois, mas gostei do cabelo e a tatuagem é para sempre. – Manu falou e neguei com a cabeça, me aproximando de .
- E o piercing? – Ele gargalhando continuou o papo.
- Foi no lábio, mas durou bons três dias. – Ela disse rindo. – Meu pai tirou com um alicate, se quer saber. Depois inflamou. – Me aproximei de .
- Posso? – Perguntei, indicando seu lado e ela assentiu com a cabeça, cruzando os braços. – Eu vi você indo embora ontem.
- É, eu fui só comemorar com o pessoal. – Ela disse.
- Você não falou comigo. – Falei.
- Eu estou evitando estresse. – Suspirei.
- Me desculpe. – Falei, engolindo em seco. – Após... Enfim, aquele dia.
- Vai fazer de novo? – Ela perguntou.
- Não. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Tudo bem, então. – Ela disse, virando o rosto para mim. – Agradeço. – Assenti com a cabeça.
- Podemos conversar? Um dia? – Falei rapidamente, virando o corpo para ela. – Eu estou precisando...
- Já falamos sobre isso, Gigi. – Ela disse.
- Não é isso, é só conversar mesmo... – Ela negou com a cabeça.
- Eu não posso, me desculpe. – Puxei a respiração, engolindo em seco.
- Isso quer dizer que nunca mais vamos poder conversar sozinhos? – Perguntei um pouco mais ríspido.
- Não, mas eu preciso desse tempo para mim. – Ela apoiou a mão em meu ombro. – Você entende, não? – Suspirei, preferindo não responder. – Auguri pelo campeonato. – Ela deu um curto beijo em minha bochecha e suspirei.
- Para você também. – Falei, vendo-a desviar de mim e ergui o olhar, vendo Pavel em meu campo de visão.
Ele tinha os lábios pressionados e negou com a cabeça, me fazendo suspirar. Virei o olhar, vendo ir para perto de Barza e Manu que ainda conversavam e Lich que havia entrado na conversa. Vi abraçar Manu de lado, apoiando o queixo na cabeça dela e neguei com a cabeça, suspirando.
- Eu vou arrumar minhas coisas. – Falei de forma aleatória, recebendo somente um aceno de Pavel.

Lei
10 de maio de 2014
- Ah, não foi tão mal! – Barza disse enquanto eu desligava o alarme e destrancava a porta.
- Foi sim, Barza! Ah! Foi o pior dia da minha vida! – Falei, ouvindo-o rir.
- Você foi como minha convidada, não tem nada demais.
- Ah, mas o Storari e o Vucinic? O Pepe? Fala sério, Barza... – Empurrei a porta, esperando-o entrar. – O Pepe é o maior fofoqueiro do time. – Ele riu fracamente, entrando atrás de mim.
- Eles não sabem de nada, . – Tranquei a porta de novo. – A gente combinou de ir devagar, não combinou? Então! – Suspirei.
- Mas não é um pouco suspeito? – Ele me olhou.
- , chegamos separados, você me deu um abraço e se sentou perto da Roby...
- O que foi um desastre, devo dizer. A Alena é amiga delas, então fiquei na maior parte do tempo no celular. – Dei um sorriso sarcástico e ele riu fracamente. – Elas não gostam de mim.
- É, mas elas podem não gostar de você por causa da Alena, não por causa da gente. Só tem... – Ele pensou. – Três... Quatro pessoas que sabem da gente. – Olhei para ele. – Pelo menos do meu lado.
- Quem? – Perguntei, deixando as chaves na gaveta e segui pela cozinha.
- Giorgio, Leo, Claudio e Gigi. – Ele falou e eu ponderei com a cabeça. – Pelo menos suspeitam, na verdade.
- O Gigi sabe? – Perguntei no impulso.
- Ele me confrontou um dia no time. – Arregalei os olhos.
- Enfim, não me importa, não me importa! – Abanei as mãos e ele gargalhou, me apertando pela cintura, enquanto seguíamos para o andar de cima.
- Não falei com todas as palavras, mas pressionei-o. Se ele não queria, tem quem queira. – Ri fracamente, segurando sua mão e subindo os degraus devagar.
- O Giorgio sabe, você viu aquele dia em Milão, agora os outros dois.
- O Giorgio falou um dia algo comigo sobre você e os dois estavam perto. Ele não citou nomes, mas eles só se fazem de tontos. – Ponderei com a cabeça.
- É, isso é verdade. – Suspirei. – Independente de tudo, estamos passando bastante tempo juntos.
- Exato! E os outros sabem que você foi porque é minha chefe e minha amiga. – Ele disse e entrei em meu quarto, acendendo a luz. – Conheço a fama do Pepe, do Storari e do Vucinic, não se preocupe. – Ele disse rindo.
- Depois falam que mulheres fofocam. – Brinquei, apoiando a bolsa na cômoda e ele riu fracamente.
- Até parece, aquele vestiário antes e depois de treino é um inferno! – Rimos juntos e puxei os brincos das orelhas, apoiando na cômoda.
- Eu só não gosto das esposas tomando partido, sabe? Principalmente por algo que aconteceu há oito anos. Pelo amor. – Neguei com a cabeça.
- Oito anos? – Ele perguntou e virei para ele, vendo-o puxar a gravata para fora.
- É! Não acho que o Gigi tenha contado sobre Trieste. – Ri fracamente. – Ele é burro, mas nem tanto.
- Deve ter mais aí, não é possível! – Ele disse, jogando o paletó na poltrona.
- Bom, teve a vez que eu fui com ele para a cidade dele, ela começou a ficar estranha comigo... Mais estranha, depois disso. – Falei, dando de ombros.
- Você foi com ele para cidade dele? Sem ela? – Franzi a testa.
- Ah, Barza, é complicado demais para explicar. – Virei para ele, apoiando os braços na cômoda atrás de mim. – Não é só o físico. – Suspirei.
- Eu sei! Eu entendi. – Ele se aproximou, tirando o relógio. – Mas também não concordo com esse clubinho das esposas, elas me julgam também pela separação com a Maddalena. É tipo um...
- Complô. – Falamos juntos.
- Exato! – Ele riu.
- Estamos cometendo crimes sem saber. – Acariciei seu rosto e ele levou as mãos atrás de mim no móvel.
- Fodam-se elas! – Ri fracamente, colando meus lábios nos dele lentamente.
- Agora vamos parar de falar delas, deles. Fomos comemorar seu aniversário, como se sente um ano mais velho? – Brinquei e ele riu fracamente.
- Mais dores nas costas, talvez? – Rimos juntos.
- Não começa com essa, Barzaglione! Não quero ir tão cedo atrás de um defensor igual você. Principalmente porque sei que vai ser difícil. – Passei os braços pelos seus ombros.
- Eu adoro quando você fala isso. De pensar que eu queria me aposentar mais cedo. – Sorri, colando meus lábios nos dele.
- Não me conformo até hoje. – Rimos juntos e ele colou os lábios nos meus por alguns segundos. – Vou tirar minha maquiagem. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Que horas precisamos acordar amanhã? – Ele perguntou e puxei a regata de seda que eu puxava e deixei na poltrona antes de entrar no banheiro.
- Seis horas! – Falei.
- Ah, tão cedo? – Ele apoiou os braços no batente da porta.
- Precisamos ir para Roma amanhã. Era para termos ido hoje, mas por algum motivo não deu certo. – Falei. – E o jogo é 17:45.
- “Precisamos”? – Ele perguntou e virei o rosto para ele.
- Ok, vocês precisam! – Falei e ele riu fracamente.
- Agora que fechamos o scudetto você não vai mais, né?! – Peguei meus produtos na gaveta.
- Eu também quero férias, então preciso correr para encerrar tudo. – Ele riu fracamente. – Mas vocês precisam ganhar, Conte está com um novo foco agora.
- Sim! Passar de 100 pontos no campeonato. – Ele disse. – Será que dá certo?
- Precisamos de quatro pontos em dois jogos. – Falei, passando o algodão no rosto. – Vocês conseguem.
- Contra a Roma e o Cagliari? – Ele disse.
- Roma deu aquele vexame em cima do Catania, deve estar totalmente bagunçada, agora o Cagliari é mais fácil, só vocês focarem, porque eles são violentos. – Ele riu fracamente.
- Ninguém quer lesão antes do Mondiale. – Ele suspirou.
- Você joga? – Perguntei, jogando o algodão no lixo.
- Provavelmente. Eu, Giorgio e Leo, manter a defesa forte. Gigi provavelmente não, então não podemos deixar chegar no Storari. – Assenti com a cabeça.
- Quando é a convocação? – Coloquei uma faixa na cabeça, enrolei os cabelos para trás e inclinei meu rosto na pia.
- Dia dois, mas segunda sai a pré-lista para os amistosos antes. Daí a gente já tem uma ideia de quem vai e quem fica. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Você vai, tenho certeza. Você, Gigi, Chiello, Leo, Claudio, Pirlo... Eles são idiotas, mas nem tanto! – Ele riu fracamente e ele se afastou da porta.
- A questão é quem mais vai, né?! Eu não fui na última convocação por lesão.
- Eu sei um pouco aqui baseado em quem joga na Itália. – Esfreguei o rosto com a ponta dos dedos. – Balotelli, De Rossi, Montolivo... – Fiquei em silêncio para jogar água no rosto. – Mas o Prandelli parece gostar de bastante gente nova, então apostaria no Perin, Immobile, De Sciglio, Darmian... – Ergui o rosto, puxando algumas toalhas de papel e passei no rosto, me certificando que não estava sujo antes de passar a toalha branca no rosto.
- Você está interessada no Perin, não? Comenta bastante sobre ele. – Ele falou e passei a toalha entre meus seios.
- Estou bastante, gostei do estilo de jogo dele. – Falei. – Dele e do Neto da Fiorentina. O primeiro que sair, eu pego algum deles. – Falei.
- Gigi talvez? – Ele falou e eu ri fracamente.
- Storari sai antes. – Falei. – Contrato dele acaba agora, se quer saber. Talvez renove algum tempo, mas coisa de um ano ou dois, não vai muito longe.
- Será? – Ele perguntou e deixei a toalha no banheiro.
- Ele é um ano mais velho que o Gigi e tem poucas presenças na temporada, ele sabe que não tem espaço. – Dei de ombros. – Todos do top concordamos que o Gigi ainda representa uma segurança entre as balizas, por que mudar?
- Faz sentido. – Ele disse.
- Tanto que é muito difícil contratar goleiro, porque a gente contrata e fala que a pessoa nunca vai jogar. Um jogador de linha ainda tem chances, mas goleiro? O segundo ainda joga a Coppa Italia, mas o terceiro só serve de torcida. – Dei de ombros. – Agora os mais novos aceitam esse cargo, pelo peso que a marca Juventus tem. Vêm aqui, ganham dinheiro, visibilidade e a gente empresta depois para ter chances de ser contratado pelas suas Nazionali específicas. – Ele riu fracamente.
- Já falei que essa questão de contratação é mais complicada do que parece? – Ele falou.
- Já te falei que temos cerca de 60 jogadores contratados no time? – Ergui as sobrancelhas e ele arregalou os lábios.
- Mesmo? Mas só tem... 25 no time.
- Exato. – Sorri. – Imagina o que é conciliar contratos de empréstimos, divisão de propriedade e tudo mais. É para enlouquecer. – Ele riu fracamente. – Falo que meus momentos de mais calma são setembro e outubro, depois março e abril. De restante fica com essas janelas e bagunça um pouco.
- Beh, você tem feito muito bem. – Ele sorriu. – Terceiro scudetto seguido, é formidável. – Sorri.
- Nunca pensei que medidas desesperadas dessem certo. – Neguei. – Agora deixa eu ir no banheiro. – Ele gargalhou e fechei a porta em sua cara.
Tirei a saia que eu usava, fiz minhas necessidades, lavei as mãos e saí pouco tempo depois, com a saia na mão. Barza estava largado na minha cama somente de cueca e o celular na mão. Ri fracamente e ele ergueu o olhar para mim. Peguei a blusa e entrei no closet, jogando-a no cesto e peguei minha camisola, voltando para o quarto.
- Não, não, nem vem! – Ele falou, me puxando pelo braço.
- O quê? – Perguntei confusa e ele me puxou para seu colo, me fazendo soltar um gritinho com o impacto inesperado.
- Se não dá para gente transar, pelo menos fica assim. – Ele puxou a camisola da minha mão, jogando-a longe e eu gargalhei, apoiando minha mão em seu peito.
- Ninguém disse nada sobre não poder transar, só precisamos acordar em... – Virei o rosto para o relógio. – Pouco mais de seis horas.
- Hum, será que vale à pena? – Ele brincou, roçando os lábios em meu pescoço, me fazendo arrepiar com a barba deslizando pelo local.
- A viagem para Roma é longa, você pode dormir. – Deslizei a mão pelo seu pescoço. – Scudetto já fechou, vai estar todo mundo mais calmo.
- Ah é?! – Ele brincou, dando curtos beijos em meu pescoço e eu suspirei. – E você?
- Ah, eu? Eu tenho certas vantagens de ser diretora, querido. – Ele ergueu o olhar para mim. – Posso dormir um pouco mais, encher a Manu de serviço. – Falei e ele riu fracamente.
- E eu sofro, né?! – Ele disse rindo.
- Ah, cada um com a sua responsabilidade? – Brinquei, colando meus lábios nos dele lentamente.
- Quem leva xingamento e multa sou eu. Cobrado por você mesma. – Joguei a cabeça para trás, gargalhando.
- Prometo que se você levar alguma multa amanhã, eu desconto. – Sorri.
- Eu deveria me contentar com isso? – Ele falou e eu joguei a cabeça para trás.
- A escolha é sua. – Falei e ele meu deu um sorriso sacana, inclinando seu corpo para cima do meu e passei as mãos em seus ombros, puxando-o para cima de mim.
Ele colou os lábios nos meus, me apertando pela cintura e passei uma perna ao redor de seu corpo, puxando-o contra mim. Os movimentos ficavam mais ágeis e desci minhas mãos pelas suas costas, apertando-o fortemente, sentindo seus músculos contraídos. Seus lábios desceram pelo meu pescoço, dando curtos beijos em meus seios dentro do sutiã e contraí a barriga, sentindo-o descer. Levei minha mão em seus cabelos, apertando os fios duros devido ao gel e ergui o corpo quando ouvi a campainha tocar.
- Ah, fala sério! – Barza disse, jogando o corpo para o lado.
- À essa hora? – Perguntei, ouvindo a campainha pressionar mais algumas vezes.
- Quer que eu atenda? – Ele perguntou e me levantei.
- Eu vou lá, se eu gritar, chame a polícia. – Peguei o robe atrás da porta e vesti.
- Ah, muito engraçadinho, ! – Ele disse e eu ri fracamente, percebendo sua ereção na cueca.
- Vai se preparando, ok?! – Pisquei e ele riu fracamente.
- Não demora muito! – Ele disse e eu fechei o robe e segui para fora do quarto, descendo os degraus apressadamente.

Lui
10 de maio de 2014 • Trilha SonoraOuça
- Ah, resolveu aparecer, foi? – Tentei aliviar o susto ao fechar a porta e virei o rosto, vendo Alena sentada na poltrona.
- Está fazendo toque de recolher agora? – Falei, largando as chaves do carro na bancada. – Eu estava no time! – Ela riu fracamente.
- São 23 horas, Gigi, você realmente espera que eu acredite que você estava no time? – Ela se levantou, cruzando os braços.
- Eu estava com os caras, , pelo amor de Deus, não enche!
- Eu falei com a Roby, elas estavam no aniversário do Barzagli! – Ela disse firme. – Que você não foi, pelo jeito.
- Não, eu não fui nem convidado, se quer saber. – Falei irritado e ela me puxou pelo braço.
- Pelo amor de Deus, Gigi, fala comigo! Eu não aguento mais isso. – Ela me forçou a olhar em seu rosto.
- Não aguenta para o quê, Alena? Esse clima entre a gente?
- É! – Ela falou alto e suspirou, colocando as mãos na cabeça. – Nosso casamento já está ruim, mas você não para mais em casa, não olha mais para mim, finge que eu não existo...
- Você me dá um ultimato e não quer que eu fique irritado? É isso? – Ri sarcasticamente. – Me poupe, Alena.
- Ah, então esse é o problema! – Ela negou com a cabeça. – Eu peço para você focar na sua família, na sua esposa e você vê isso como um problema? Ah, Gianluigi, você que me poupe! Não te pedi nada mais que o mínimo! – Ela apontou para mim. – SEU trabalho como marido. O que está esperando?
- Eu não estou esper...
- Carta branca para você viver seu romance adolescente com a ? Liberdade para acabar com esse casamento? – Ela continuou falando.
- Não fala assim! – Falei firme.
- O quê? Do seu brinquedinho brilhante?
- Eu não estava com ela, Alena! Pelo amor de Deus! Se escuta!
- Ela estava na festa que eu sei. – Ela disse. – Pelo jeito ela é amiga dos garotos ainda, apesar de tudo.
- Apesar do quê? – Falei firme, olhando para ela. – De você falar tanto de maturidade e agir perto dela como uma adolescente de 17 anos? Colocar todo o grupinho de esposas contra ela por um relacionamento QUE ACONTECEU ANTES DE EU TE CONHECER? – Falei mais alto, negando com a cabeça. – Não venha falar de maturidade comigo. Ainda bem que os meninos gostam dela e não são atingidos por essas picuinhas ridículas de vocês, porque ela é uma mulher incrível e lutou muito para o posto que tem hoje.
- Não acredito que você está defendendo-a. – Ela riu fracamente.
- Eu estou sendo justo, Alena! Justo com uma das minhas amigas mais antigas. Justo com uma amiga que eu vi escalar esse posto. Ela não merece esse ódio gratuito de vocês. Pelo menos ela não se importa. – Neguei com a cabeça.
- Se você gosta tanto dela, por que não fica com ela, então? Eu também não quero ficar em um relacionamento que eu não me sinta amada, desejada. Sabe o quão difícil é você gostar de uma pessoa que não se importa contigo? Que faz de tudo para se afastar de você?
- SEI! – Falei alto. – Eu sei sim. – Respirei fundo, colocando as mãos na cabeça, vendo que ela se calou e franzi os olhos, sabendo que tinha falado besteira.
- Você está falando dela, não está? – Ela falou baixo, negando com a cabeça. – Você estava com ela.
- EU NÃO ESTAVA COM ELA, ALENA! – Gritei. – QUANDO VOCÊ VAI COLOCAR ISSO NA SUA CABEÇA?
- QUANDO VOCÊ OLHAR NA MINHA CARA E FALAR QUE NÃO SENTE MAIS NADA POR ELA! – Ela gritou de volta e eu engoli em seco.
- Eu não acredito. – Neguei com a cabeça.
- Não se faça de coitadinho. – Ela disse. – Eu deveria ter visto lá atrás os detalhes. Nunca foi eu, sempre foi ela. – Ela puxou a respiração fortemente. – Todos os olhares, os abraços, os sorrisos, ela te fazer sentir algo depois de tanto tempo, a viagem para Carrara sem mim. Você ainda gosta dela. Você sempre gostou dela. – Ela negou com a cabeça.
- Sim, Alena, gostei! – Falei firme. – Eu não tenho culpa se meu corpo não entende que eu estou em um relacionamento com outra pessoa, que eu tive dois filhos com outra pessoa e precisei criar responsabilidades com essa pessoa. – Engoli em seco.
- Alguma parte do nosso relacionamento foi real? – Ela perguntou, negando com a cabeça. – Em algum momento você estava pensando em mim e não nela? – Suspirei.
- Sim, teve um tempo sim. – Engoli em seco.
- Quanto?
- Eu não sei... – Neguei com a cabeça. – Nos primeiros anos... Eu estava bravo demais para sentir algo por ela. – Engoli em seco.
- Eu não posso viver mais assim, Gigi. – Ela disse baixo. – Eu consigo entender tudo o que você sente por ela, tudo o que você passou, realmente, mas eu também quero que alguém me ame assim, que se preocupe comigo assim. – Ela passou as mãos nos olhos. – Eu ia amar se fosse meu marido, mas isso precisa ser uma decisão sua. – Ela engoliu em seco.
- Minha? Alena, eu...
- Não! – Ela falou alto. – Eu não vou falar mais nada, os meninos logo vão acordar e eu não quero que eles vejam isso. Decida o que você quer fazer, eu cansei de lutar. – Suspirei.
- Cansou de lutar com o quê?
- COM VOCÊ! – Ela disse alto. – Eu não posso lutar mais, eu tenho meus dois meninos para cuidar, eu preciso pensar neles primeiro.
- E EU SOU O QUÊ? – Falei alto.
- Você realmente quer que eu diga? – Ela olhou fixo em meus olhos.
- Mãe? – Virei o rosto para o lado, franzindo os olhos ao ver Dado na beirada da escada. – Tá tudo bem? – Ele perguntou.
- Ah, meu amor! Está sim! – Alena foi até ele, pegando-o no colo. – Eu e o papai só estávamos conversando.
- Vocês estavam brigando de novo. – Ele disse e eu suspirei.
- Não, amor. Está tudo bem. – Falei baixo, suspirando.
- Vamos para cama. – Alena disse e eu passei a mão nos olhos. – Se decida, Gigi. Eu não consigo fazer mais isso. – Ela disse baixo, apoiando a cabeça de Dado em seus ombros.
- E eu tenho que decidir isso sozinho? – Perguntei.
- Se você está em dúvidas, você já se decidiu. – Ela disse, negando com a cabeça. – Só pensa nos meninos, está bem?
- Alena!
- Xí! – Ela colocou o dedo na boca e neguei com a cabeça.
A vi subir até o segundo andar, com o olhar de Dado em mim e dei meia volta por onde eu tinha entrado, pegando as chaves na bancada de novo. Segui apressado até o carro, com vontade de socar tudo o que estava em meu caminho e apertei as mãos no volante assim que me vi sozinho dentro dele.
Apertei minhas mãos fortemente no volante e eu sabia o que deveria fazer. Eu sabia isso há muito tempo, mas por que era tão difícil falar isso? Por que era tão difícil colocar isso em palavras e simplesmente me livrar disso tudo? Me livrar dessa agonia, dessas dores de cabeça, de tudo? Eu preciso falar com alguém. Alguém que me entenda e que possa me colocar nos trilhos. E só tinha uma pessoa que podia me ajudar agora. A única pessoa que sempre me ajudou, na verdade.
Tirei o carro da garagem com pressa e o ronco do motor ecoou na rua vazia. Passei as casas que nos separavam e freei o carro na frente da casa dela, imbicando entre os carros. Saí do carro na pressa e pulei o pequeno portão que separava a calçada da casa e apertei a campainha uma vez, me fazendo bater o pé nervoso. Apertei a campainha outra vezes, batendo as mãos na porta até o barulho ficar mais alto e vi o reflexo de aparecer pela janela que rondava a porta.
- Ei, Gigi. – falou fracamente, abrindo uma fresta da porta e colocando seu rosto entre ela.
- Oi, . – Respirei fundo, apoiando as mãos na porta.
- O que está fazendo aqui agora? – Ela perguntou. – Você sabe que horas são? – Balancei a cabeça.
- Podemos conversar? – Perguntei rapidamente, respirando fundo.
- Não é uma boa hora, Gigi. – Ela disse, mordendo o lábio inferior e fazendo a mesma feição das nossas últimas conversas.
- Por favor, , eu preciso de você. – Ela franziu os olhos.
- O que aconteceu? – Ela perguntou baixo.
- Alena e eu... – Neguei com a cabeça. – Acho que acabou. – Engoli em seco. – Posso ficar aqui hoje? Nós conversamos? E você me ajuda com isso e...
- Não dá, Gigi, me desculpe. – Ela disse com a voz baixa.
- Por favor, . – Ameacei a dar um passo para porta e sua mão foi para meu peito. A porta entreabriu e vi seu robe branco deixando em evidência a lingerie escura por baixo do mesmo.
- Não dá, Gigi. Não dessa vez. – Ela suspirou.
- Você está acompanhada, não? - Falei, engolindo em seco e ela suspirou.
- Eu não posso parar minha vida por causa de você. – Ela disse baixo. – Não vou ficar te esperando quando bem entender.
- É o Barza, não é? – Ri sarcástico. – Eu estou notando você dois para cima e para baixo.
- Gigi, por favor... – Ela suspirou, negando com a cabeça.
- Não acredito que vocês fizeram isso, pelas minhas costas ainda... – Ela suspirou, revirando os olhos.
- Eu não vou deixar você falar assim! – Ela disse firme. – Eu fui atrás de alguém me que trate bem e não como segunda opção. – Notei que ela calculou as palavras para falar.
- Eu estou aqui por você, não estou? – Ela riu sarcasticamente.
- Você está me zoando, não? – Ela disse sorrindo. – Você nunca esteve por mim, Gigi. Quando eu te quis, você me negou diversas vezes, optou por outra diversas vezes, agora eu estou feliz, estou bem e sem você.
- Ah, vá a merda, . – Falei bravo e seu olhar se arregalou para mim. – Não aja como se não fizesse parte disso. Que fosse uma santa....
- Pelo amor de Deus, Gigi, vá embora. – Ela disse baixo. – Não venha me enfiar em uma luta que não é minha.
- Você está falando baixo para ele não te ouvir? - Aumentei meu tom de voz. – É isso que você quer?
- DIFERENTE DOS OUTROS... – Ela aumentou seu tom, me fazendo calar – Ele sabe do meu passado e da minha história contigo. Não temos segredos, mas estou falando baixo por educação, pelo horário e para não perder minha paciência contigo. – Vi seu olhar franzido em minha direção.
- Vai me bater de novo? – Perguntei rindo.
- Se for preciso. – Ela disse firme, sustentando o olhar no meu e sabia que ela não estava mentindo. – Vá embora, Gigi. Respira fundo, volte para sua esposa e aja como homem. Eu não sou a solução dos seus problemas. Não hoje. Não assim. – Ela suspirou.
- Nunca foi, pelo jeito. – Falei e senti sua mão em meu peito me empurrar para trás e ela bateu à porta com força. - ! - Gritei, batendo na porta diversas vezes. – ! Abre aí! - A janela da fresta se abriu e só vi seus lábios iluminados pela luz da rua.
- Se você acha que eu nunca fui a solução dos seus problemas por negar te ajudar hoje para você não fazer mais besteira do que já deve ter feito, pelo visto não temos mais o que conversar. – Ela fechou a janela.
- ! ! - Bati na porta insistentemente por alguns segundos, mas nada aconteceu, me fazendo bufar.
Afastei meu corpo da porta, tentando ver algo lá dentro, mas tudo estava escuro e em silêncio. Engoli em seco, vendo um carro igual o meu na porta e neguei com a cabeça, sabendo que era de Barza. Contive a raiva de chutá-lo ou quebrar um vidro e entrei no carro. Puxei o celular do bolso e vi algumas notificações da minha mensagem com Ilaria mais cedo.
“Eu não aguento mais ficar dentro de casa. Qualquer coisa dá briga”
“E onde você está agora?”
– Ela perguntava.
“Estou em um bar aqui perto do estádio, passando o tempo para ir para casa”
“Já passei por isso, é difícil mesmo, mas sabe que se precisar de alguma coisa, um ombro amigo, estarei aqui”.
– Ela dizia por fim e suspirei, colocando os dedos para digitar.
“Onde você está agora?” – Chequei o horário novamente, estava perto da meia-noite, talvez ela não fosse responder, mas a resposta veio poucos segundos depois.
“Na minha casa, em Milão, por quê?”
“Acho que preciso daquele ombro agora”.
– Enviei.
“Eu te espero”. – Dizia e joguei o celular para o lado, colocando o carro em movimento novamente.
Turim e Milão não era tão perto assim. Dava quase duas horas de viagem, mas com a raiva se passando em minha cabeça e o pé fundo no acelerador, consegui reduzir esse tempo em pouco mais de uma hora. Tudo para que eu evitasse pensar em tudo o que tinha acontecido essa noite.
Eu não estava nem com raiva mais de Alena, estava com raiva de . Ia ficar com essa gracinha de me afastar para se sentir bem, mas podia transar com meu amigo? Era isso mesmo? Eu não conseguia acreditar que ela estava fazendo isso. O que aconteceu com aquele papo de apoiar o outro para sempre? Era bom só quando era com ela? É isso mesmo?
Depois de tudo o que passamos, ela me diz não? Era inacreditável! Isso sem contar no relacionamento dela com Barza. Ela não teve a decência de falar para mim, tive que ouvir de Barza, Chiello e até de Leo, todos sabiam antes de mim, mas nada dela me falar. Eu não poderia estar com mais raiva. Os nós nos meus dedos esbranquiçavam quando eu apertava o volante.
Me despertei dos meus pensamentos quando cheguei em Milão, passava de uma da manhã e, apesar de ser sexta-feira, os caminhos por onde eu passei estavam vazios. Estacionei meu carro na frente do apartamento de Ilaria e respirei fundo quando desliguei o carro. Observei o prédio e suspirei.
Puxei o celular novamente, vendo se tinha alguma mensagem, seja de , de Alena ou até de Barza, mas não tinha nada. Respirei fundo, vendo que outra mensagem surgiu e abri, vendo que era de Ilaria.
“É você que estacionou aqui na frente?” – Suspirei.
“Sim”. – Falei.
“Vou abrir para você”. – Dizia.
Suspirei, pegando minha bolsa no carro e coloquei nos ombros, saindo do mesmo. Não foi preciso apertar a campainha, pois o portão foi aberto assim que me aproximei do mesmo. Fechei-o, voltando meus pensamentos à Alena e à , mas sacudi a cabeça. Elas não pensaram em mim, não seria eu quem pensaria agora.
Passei pela porta, andando pelo lobby e entrei no elevador, esperando que me levasse ao andar que eu sabia de cor, mas nunca tinha passado da porta. Assim que saí do mesmo, vi a porta do apartamento de Ilaria aberta e ela estava na fresta da mesma.
- Ei, Gigi! – Ela disse, abrindo-a e apoiei no batente.
- Ei, te acordei?
- Não, está tudo bem? – Ela disse sorrindo.
- Seu filho está aqui? – Perguntei.
- Não, estou sozinha. – Ela falou.
- Ok... – Disse, passando a mão em sua cintura e empurrei-a para dentro do apartamento, colando meus lábios nos dela e ouvi a porta bater antes de eu pressionar seu corpo contra a parede e ignorar os pensamentos.


Capittolo quarantotto

Lei
10 de maio de 2014 • Trilha SonoraOuça
- Vai me bater de novo? – Ele perguntou rindo e minha mãe fechou em punho, me contentando em não fazê-lo.
- Se for preciso. – Falei, sustentando o olhar e engoli em seco, soltando um suspiro. – Vá embora, Gigi. Respira fundo, volte para sua esposa e aja como homem. Eu não sou a solução dos seus problemas. Não hoje. Não assim. – Falei, sentindo um aperto no peito.
- Nunca foi, pelo jeito. – Ele disse e meu choque foi tão grande que eu empurrei-o para fora, batendo a porta. Encostei na porta fechada e respirei fundo, sentindo meu peito doer. – ! – Ele me chamou e passei a mão nos olhos, segurando o choro. – ! Abre aí! – Virei o corpo com pressa, abrindo a janela nas laterais da porta e colei meus lábios na divisória, pigarreando antes de falar.
- Se você acha que eu nunca fui a solução dos seus problemas por negar te ajudar hoje para você não fazer mais besteira do que já deve ter feito, pelo visto não temos mais o que conversar. – Fechei novamente um baque, voltando a me esconder atrás da porta.
- ! !
Ele continuou batendo e senti meu corpo escorregar no chão, fazendo o choro finalmente sair. Levei as mãos à boca, tentando conter e soltei a respiração pela boca tentando evitar que o ar me faltasse. Levei a mão até o peito, apertando o tecido do robe e me assustei quando ouvi um carro arrancando na rua e bati a cabeça na porta, sentindo a nuca doer e pressionei os lábios.
- Por favor, Senhor, cuide dele. Cuide dele. Ele não está bem. – Falei baixo, mordendo meu lábio inferior e joguei a cabeça para trás.
- ? – Ergui o olhar para o topo da escada, vendo Barza. – Meu Deus, ! – Seus passos ficaram mais rápidos e apertei meus braços em meus joelhos. – O que aconteceu? Quem era? – Ele deslizou os joelhos no chão, se colocando ao meu lado e me abraçou pelos ombros, me puxando para si.
- Era o Gigi... – Falei com a voz falha.
- O que ele queria? Ele te machucou? – Ele perguntou rapidamente, checando meu corpo por baixo do robe.
- Não... – Falei baixo. – Eu não sei. – Engoli em seco, sentindo a respiração falhar devido ao choro.
- O que aconteceu, ? – Ele perguntou, passando as pernas ao redor do meu corpo, me puxando para perto dele.
Não consegui falar nada de imediato, eu ainda estava um pouco atordoada. A respiração falha e o coração agitado só me faziam pensar que eu estava tendo um ataque cardíaco. Barza apertou meu corpo contra o seu quando eu não consegui falar e apoiou seus lábios em minha cabeça, movimentando o corpo devagar quase como se ninasse um bebê.
- Eu disse não, Barza. – Falei baixo, apertando suas mãos em meu corpo.
- Como assim? – Ele perguntou baixo.
- Ele precisava de mim e eu disse não. – Engoli em seco, negando com a cabeça. – Eu disse não... – Falei baixo, sentindo as lágrimas encherem meus olhos novamente e fechei-os, sentindo todos os nossos momentos passarem pela minha cabeça.
- O que aconteceu, ? – Ele perguntou baixo, dando um beijo em minha bochecha.
- Ele... – Suspirei. – Acho que ele terminou com a Alena. – Puxei a respiração, passando a mão no nariz. – E ele veio atrás de ajuda, Barza. – Neguei com a cabeça. – Nós temos um acordo de ajudar o outro em qualquer momento. – Suspirei. – Mas eu não podia ajudar agora. – Puxei a respiração. – Eu sei como acabaria.
- Ah, . – Ele me apertou.
- Eu não sou forte ainda, eu não consigo... – Puxei a respiração. – Me desculpe! – Falei, virando o rosto para o lado.
- Por que você está pedindo desculpe, ? – Ele perguntou baixo, puxando meu rosto para si. – Estamos nisso juntos.
- É, mas isso só prova que eu não o esqueci ainda. – Puxei a respiração. – E dói muito!
- Eu estou aqui por você, . De qualquer jeito, já falei. – Ele disse baixo e eu virei para ele.
- Eu não sei como você me aguenta assim. – Falei baixo.
- Porque eu estou mais preocupado contigo e não com a gente. – Ele disse no mesmo tom. – Eu estou preocupado com seu bem-estar. – Puxei a respiração fortemente. – Mas você precisa me ajudar também. – Suspirei.
- Eu estou preocupada com ele. – Falei baixo, engolindo em seco. – De ele sair com esse carro e fazer uma besteira...
- Não, , ele não...
- Se acontecer alguma coisa com ele, Barza, vai ser culpa minha. – Perguntei baixo.
- Não vai acontecer nada com ele, . – Ele disse.
- Mas e se acontecer? – Falei baixo, sentindo a voz quase sumir ao afinar. Barza ficou em silêncio por alguns segundos antes de falar:
- Se acontecer alguma coisa com ele, vai ser culpa inteiramente dele. – Ele disse sério. – Ele não tem o direito de terminar o relacionamento dele e jogar isso nas suas costas quando você está querendo algo melhor para você. – Ele falou baixo.
- E nossa promessa? – Perguntei baixo.
- Para cuidar dos outros, precisamos estar bem antes. – Ele disse. – E você não está bem, , não agora. – Puxei a respiração forte. – Eu estou aqui por você, ok?!
- Grazie, Barza. – Falei baixo.
Esperei alguns minutos que minha respiração se acalmasse, que meu peito parasse de apertar e que as lágrimas finalmente parassem de rolar pelas bochechas, queixo e colo. Barza ficou abraçado em mim o tempo inteiro e eu tinha dois sentimentos estranhos dentro de mim: o primeiro era alegria. Barza era uma pessoa boa demais para mim. Isso eu já tinha descoberto lá atrás.
Mas eu também sentia culpa. Culpa por fazer Barza passar por isso quando poderíamos estar transando ou ele estar curtindo com alguma outra pessoa ao invés de ficar me consolando. E eu também sentia culpa por não ajudar Gigi. Sabia que ele precisava se responsabilizar pelas coisas dele, mas era muito difícil ouvir que ele terminou com a Alena e falar que eu não queria mais nada com ela.
Porque eu queria. Parte de mim ainda queria ele, queria ficar com ele e isso complicava toda minha vida. Me sentia uma idiota por dentro. Em compensação, a outra parte, que não estava sofrendo sentada no chão da sala escura, sentia orgulho disso tudo. Eu sabia que ele claramente queria sexo. Talvez transar comigo, conseguir o meu colo e carinho e no dia seguinte voltar para sua vida feliz de comercial de margarina.
Eu merecia mais do que isso. Giulia não estava certa. Eu merecia uma história de amor de verdade, não esse sofrimento diário.
- Acho que podemos sair daqui. – Falei baixo, puxando um ar mais forte que o esperado ao fazer, percebendo que estava segurando.
- Está melhor? – Barza perguntou e eu virei o corpo para ele, apoiando as mãos em seu corpo.
- Sim, acho que sim. – Suspirei.
- Vem, vamos levantar, então. – Ele disse se levantando primeiro e estendeu as mãos para mim, me puxando para cima.
- Obrigada. – Falei, abraçando-o pelos ombros.
- Você não precisa agradecer, . – Ele disse, me apertando pelas costas e eu suspirei. – Eu estou aqui, ok? Para sempre e sem exigências. – Sorri, afastando-o devagar.
- Já falei que não te mereço? – Perguntei baixo e ele riu fracamente.
- Talvez... – Ele abaixou o corpo, me pegando no colo.
- BARZA! – Gritei e ele riu fracamente, me segurando pelas costas e pernas, e eu abracei-o pelo pescoço.
- Vamos, eu vou te levar para o quarto, depois pegar um pouco de água com açúcar para você relaxar... – Ele disse, seguindo até as escadas.
- Se eu for para o chão...
- Ei, não me chamam de “The Wall” à toa. – Rimos juntos e ele subiu as escadas devagar, sem errar os passos.
- Menos mal. – Brinquei e ele sorriu, colando os lábios nos meus por alguns segundos.
- Que tal um banho de banheira para relaxar? – Ele perguntou, me levando até a cama.
- Está tarde, você precisa acordar cedo amanhã. – Ele me deitou na mesma e eu suspirei.
- Amanhã, então? – Ele brincou, se sentando ao meu lado.
- Domingo, talvez. Vocês não voltam amanhã – Falei, sentindo-o acariciar meu rosto e ele riu fracamente. – É melhor eu dormir. – Suspirei. – Amanhã eu vou para Milão encontrar a Giulia, é bom para distrair.
- Você sabe que eu estarei no celular, não sabe? – Ele disse.
- Sei sim, você não larga isso! – Falei e ele sorriu.
- Eu vou pegar um pouco de água para você. – Ele disse.
- Não, fica aqui! – Falei, deslizando o corpo mais para o meio da cama. – Podíamos estar melhor e a culpa foi minha.
- Está tudo bem, terão outras vezes. – Ele disse rindo e eu sorri, vendo-o se deitar ao meu lado. – Agora você precisa dormir. – Ele falou baixo.
- Vai ser difícil. – Falei, suspirando.
- Tente. – Ele disse baixo, me apertando pela cintura e virei o corpo, passando um braço em sua barriga. – Eu estarei aqui quando acordar. – Assenti com a cabeça, suspirando.
Gostaria de falar mais alguma coisa, mas eu sabia que eu estaria ali quando ele acordasse, pois seria difícil dormir. Minha cabeça só pensava em Gigi irritado, andando igual louco com esse pela cidade. Ele poderia ficar bravo comigo pelo resto da vida, mas que ficasse vivo para isso.

Lui
11 de maio de 2014
Percebi que estava acordado quando a cabeça pesou. Na verdade, acho que eu acordei porque a cabeça doeu, se for possível. Eu tinha receio de abrir os olhos e ter noção de onde eu estava. As cenas da noite passada rodeavam a minha cabeça e eu sabia que tinha feito merda. De alguma forma eu tinha feito.
Abri os olhos devagar, percebendo o ambiente mais claro do que eu estava acostumado ao acordar e me vi em um quarto diferente do meu. As cortinas estavam fechadas, mas a cor branca fazia a luz entrar com facilidade no quarto, mas não o suficiente para irritar o olhar.
Senti uma mão apertar meu peito e franzi os olhos e olhei para o lado, percebendo que não eram os cabelos de Alena e muito menos os cabelos de . Soltei um suspiro baixo e vendo que era Ilraia e joguei a cabeça para trás. CAZZO!
Estávamos conversando há alguns meses já. Eu sabia de suas intenções comigo e gostava da atenção, já que havia me afastado completamente de si, mas nunca chegamos nesse ponto. Já tinha vindo aqui, conversado com ela, mas nunca passei da porta. Ilaria é jornalista da Sky Sports e não muito preocupada em esconder as coisas, fazer o que acabou de acontecer, era perigoso demais.
E eu não era exatamente o tipo de pessoa que gostava muito do perigoso ou do aberto demais para a imprensa. Ainda mais me abrir com a imprensa, isso tornava tudo muito pior. E explicava minha dor de cabeça. As palavras de ecoavam em minha mente. Acho que era esse tipo de coisa que eu não deveria ter feito, mas na hora da raiva... Raiva dela. O corpo falou mais rápido do que a mente e a mente estava querendo compensar isso com uma tremenda dor.
Me mexi devagar na cama, tentando localizar que horas eram. Tinha jogo hoje, precisava voltar para Turim e encontrar o time para ir para Roma. Já não bastasse toda dor de cabeça que eu estava sentindo, não queria levar mais uma multa por atraso, logo mais eu não receberia salário desse jeito. Ok, exagerei, mas estamos falando de . A minha .
Tentei tirar Ilaria devagar de cima de meu peito e virei o corpo na cama, encontrando minha calça na beirada e sentei devagar, evitando me mexer muito. Inclinei meu corpo para frente, puxando-a e encontrei o celular no bolso.
- Buongiorno. – Franzi os olhos, sentindo uma mão em minhas costas.
- Buongiorno. – Falei sem a empolgação dela, sentindo suas mãos passarem pelos meus ombros e tive um rápido déjà vu, mas não era .
- Dormiu bem? – Ela perguntou, passando os lábios pelo meu pescoço e eu só conseguia pensar no quão fodido eu estava.
- Sim e você? – Apertei o celular, vendo que passava das seis da manhã e eu tinha que estar no time as oito, era fisicamente impossível.
- Bem também. – Virei para ela, encontrando seu olhar sobre o meu.
- Eu amei a noite passada. – Ela falou, colando os lábios nos meus.
- Foi bom. – Falei. E eu não estava mentindo, havia sido bom e levemente violento, foi bom para compensar tudo o que tinha acontecido de um ano para cá. Só que não podia ter acontecido. – Eu tenho que ir.
- Já? – Ela perguntou, sua mão deslizando pelo meu corpo e eu suspirei.
- Eu tenho jogo hoje ainda. – Falei, me levantando, comprovando o ar que passava por entre minhas pernas e encontrei a cueca um pouco mais longe.
- Você vai jogar ainda? – Ela perguntou e virei o corpo, vendo-a deitada na cama, o lençol delineando seu corpo. Ela era gostosa, não podia negar.
- Não, mas preciso fazer companhia para meu time. – Falei, vestindo a cueca às pressas e voltei para pegar a calça.
- A gente pode se falar depois? – Ela perguntou.
- É, claro... – Falei sem pensar, vestindo a calça. – Eu te mando mensagem. – Olhei rapidamente em volta, mas lembrei que minha blusa havia ficado no outro cômodo.
- Não se preocupe, eu mando. – Ela falou sorrindo e mordeu o lábio logo em seguida.
- Eu tenho que correr. – Falei.
- Não ganho um beijo? – Ela disse e evitei bufar, então inclinei meu corpo para ela na cama, colando meus lábios nos dela rapidamente e saí correndo do quarto, batendo a porta em seguida.
Tentei evitar que os pensamentos passassem pela minha cabeça, mas eu só conseguia pensar em: cazzo! Cazzo! Cazzo! Encontrei minha blusa jogada em cima da sala de jantar e a vesti, tentando reduzir o amassado dela e encontrei minha bolsa. Joguei o celular dentro dela e corri para fora do apartamento.
Não prestei atenção em muita coisa quando saí, só precisava chegar correndo em Vinovo ou eu seria esfolado vivo. Tinha alguns créditos por ser capitão, mas não tantos, muito menos quando eu sabia que queria me matar depois de ontem. Eu tinha sido muito injusto e sabia disso. Na raiva eu acabei falando besteira. Não podia exigir que ela me priorizasse quando estava tentando seguir em frente, fugir da nossa montanha russa.
Acho que foi isso que mais me irritou, na verdade. Que ela realmente tivesse me esquecendo. Barza era um cara muito melhor do que eu, eu sabia disso. Quando seu relacionamento ficou ruim, ele teve coragem de ir lá e terminar com ela, e agora estava com , a minha , e eu não aguentava isso. Nem ele com ela e nem ela conseguir seguir com a vida sem mim. Eu não sei viver sem ela e parte disso que estava me irritando nesses últimos dias.
Me irritei quando o som ligou e desliguei-o com pressa, focando na estrada. Devido ao horário, não consegui voltar para Turim com a mesma velocidade e os minutos passando só me irritavam por estar completamente atrasado. Quando deu oito horas, meu celular começou a tocar e eu ainda estava há uns 20 minutos de Turim. Puxei o aparelho da calça e vi o nome de Chiello no mesmo. Optei por jogar o celular para o lado e agilizar a aceleração, que eu não levasse tantas multas de velocidade, perder a carteira de motorista não ajudaria agora.
Respirei aliviado quando cheguei nos portões de Vinovo e vi o ônibus do time ainda estacionado no mesmo. Segui para a primeira vaga que eu vi e saí correndo do mesmo, puxando minha bolsa do banco. Eu não tomava banho desde ontem de manhã, a roupa era a mesma de quando eu saí do treino e meus cabelos estavam bagunçados, mas eu resolveria isso depois, no primeiro banheiro que eu encontrasse e com calma.
Me aproximei do ônibus, vendo o pessoal acumulado na frente dele e vi que estava ali. Notei que ela soltou a respiração pesada quando me viu e engoli em seco ao reparar em sua feição. Ela com certeza não tinha dormido, seus olhos estavam fundos e ela com certeza estava sem maquiagem, coisa que eu não via sem faz tempo. A calça jeans e os sapatos no chão só confirmavam isso.
- Chegou, hein?! Porra! Demorou! – Conte falou quando me aproximei.
- Me desculpe, tive um contratempo. – Falei.
- Poderia ter atendido o telefone, achei que tinha morrido. – Chiello disse.
- Demoraria mais. – Falei e ele riu fracamente.
- Não faz mais isso, Gigi, assustou a gente, oh! – Marchisio disse, suspirando.
- Desculpe! – Falei, acenando com a mão.
- Vamos para o ônibus, gente, já estamos atrasados. – Alessio falou, batendo as mãos uma na outra.
- Andiamo, ragazzi! – Chiello falou e esperei que eles entrassem.
Observei receber um rápido beijo e abraço de Barza, Chiello, Tevez e Llorente, e engoli em seco, sentindo seu olhar penetrando sobre mim. Esperei o pessoal entrar, vendo que ficava cada vez mais perto dela e pensava rapidamente no que dizer. Pedir desculpas? Não pedir? Ou simplesmente não falar nada? Não precisei pensar muito, pois assim que me aproximei, ela me segurou pela gola da camisa e me apertou com força no ônibus.
- ! – Pavel falou surpreso.
- Entra nesse ônibus, Pavel. Agora. – Ela falou, com os lábios pressionados e eu quase podia ver seus olhos pegando fogo.
- , tem certeza que...
- PARA DENTRO, AGORA! – Ela falou alto.
- , eu...
- CALA A TUA BOCA! – Ela gritou, apertando sua mão mais próximo do meu pescoço. – Escuta aqui, se você, algum dia, fizer o que você fez noite passada... – Ela falava pausadamente, apertando mais sua mão. – Eu juro que eu te mato, Gianluigi! E eu não estou brincando!
- Como agora? – Falei baixo e ela soltou a mão, me fazendo respirar mais forte.
- COMO VOCÊ SE ATREVE A FAZER AQUILO? – Ela gritou.
- , por favor...
- O QUÊ? NÃO QUER QUE O TIME ESCUTE? – Ela respirou fundo. – Não foi assim que você me tratou ontem? – Ela disse e notei a mágoa e a raiva dançando em suas palavras.
- Me desculpe, ...
- Não venha com desculpas. – Ela falou firme. – Eu fiquei morrendo de medo de algo acontecer contigo. Não podia falar com ninguém, não podia ligar para ninguém. – Ela falou mais baixo. – Ainda você ME CULPA por não te ajudar? – Ela falou alto. – Você tem merda nessa cabeça, Gianluigi? – Ela respirou forte. – Apesar da sua carreira incrível, nem tudo é sobre você! – Ela me empurrou de novo.
- Eu sei, , me desculpe por isso. – Falei, olhando para ela. – Eu fui injusto contigo. – Ela ergueu o olhar para mim. – Eu não deveria nunca ter feito aquilo, principalmente depois de todo nosso histórico.
- NÃO DEVERIA MESMO! – Ela gritou de novo.
- Por favor, só me escuta. – Pedi, tentando aproximar minhas mãos dela, mas ela se afastou.
- Eu não posso ter essa conversa agora. – Ela falou, negando com a cabeça. – Eu não consigo olhar para você, Gigi. Sinto raiva, angústia, nojo... – Ela puxou a respiração e engoli em seco. – Me diz que pelo menos você ouviu. – Ela falou baixo, suspirando. – Diz que você não fez mais besteira. – Engoli em seco.
- Você realmente se importa com isso ou é só consciência pesada? – Perguntei e ela me empurrou contra o ônibus novamente, pressionando a mão próximo a meu pescoço.
- Vai falar isso de novo? – Ela perguntou irritada.
- Não. – Falei baixo e ela me soltou.
- Ótimo! – Ela disse, dando um sorriso sarcástico. – Porque eu não tenho que ficar com consciência pesada nenhuma, mas você sim. – Ela falou firme. – Não sei que cazzo você fez essa noite, Gigi, mas pensa na sua vida, na sua esposa, nos seus filhos... – Ela negou com a cabeça. – E se sobrar um tempinho, em mim, que não dormi por causa de você. – Ela suspirou e um sorriso acabou passando pelos meus lábios.
- Você não dormiu? – Perguntei.
- Revejo suas prioridades. – Ela falou, suspirando.
- Eu me preocupo contigo, , de verdade. Você sabe disso.
- Se isso é verdade, para de jogar bomba no meu colo e me deixa ser feliz. – Ela negou com a cabeça, a voz fina com o choro iminente.
- Eu tento, eu só não...
- . – Virei para o lado, vendo Pavel na porta. – Precisamos ir.
- Vai embora. – Ela se afastou de mim. – E não faça nenhuma besteira! – Ela suspirou, se virando para Pavel. – Eu estarei em casa, Pavel, colocando o sono em dia.
- Te ligo se precisar de você. – Ele falou e ela assentiu com a cabeça, abanando a mão.
- . – Chamei-a, vendo-a virar o rosto para mim. – Podemos conversar? Depois? – Perguntei.
- Não! – Ela falou firme. – Não consigo ficar perto de você agora e é por outro motivo dessa vez. – Ela engoliu em seco. – É raiva. Muita raiva! – Ela suspirou, virando o corpo e sumiu atrás do ônibus.
- Gigi, vamos! – Pavel me chamou e respirei fundo.
Fui logo atrás dele, subindo no ônibus e notei os olhares em mim assim que entrei, me fazendo respirar fundo. Parei logo no primeiro banco, ao lado de Pavel, peguei meu celular com fone na bolsa, coloquei-a no bagageiro antes de me jogar na poltrona. Senti um suspiro com o macio no corpo, acho que tinha dormido tensionado a noite de ontem inteira e agora tudo doía.
- Eu vou ter que perguntar ou você vai falar sem que eu precise perguntar? – Ouvi Pavel e engoli em seco.
- Podemos conversar depois? – Perguntei, suspirando.
- Pode, mas você não vai fugir disso. – Ele disse e eu neguei com a cabeça, colocando o fone na orelha, sentindo o ônibus começar a se movimentar para fora do CT.

Lei
14 de maio de 2014
- Você vai para o time hoje? – Barza perguntou, escondendo as cordinhas da calça de moletom para dentro.
- Não, eu vou para o estádio hoje. – Suspirei, passando batom nos lábios. – A AIC e a FIGC vão fazer uma checagem para a premiação no domingo.
- A gente se vê mais tarde, então? – Ele perguntou e eu aguardei o batom de volta na gaveta, saindo do banheiro.
- Eu tenho que ir na final da Europa League, quer ir comigo? – Perguntei, me aproximando dele. – Mais pessoas vão, então não seria literalmente “comigo”. – Ele riu fracamente.
- Os jogadores estavam comentando de ir, te encontro lá? – Ele perguntou, dando um beijo em minha bochecha e eu assenti com a cabeça.
- Claro! – Falei. – O jogo é 20:45, devo chegar uns 20 minutos antes, por aí.
- Eu te mando mensagem, que tal? A distância é quase a mesma. – Ele disse.
- Claro, combinado! – Falei, assentindo com a cabeça. – Não vai ficar com seus filhos?
- Vou ficar no fim de semana, levá-los ao jogo domingo e tudo mais. – Ele falou e ouvi a campainha tocar, me fazendo franzir a testa.
- Ah, quem é agora? – Bufei.
- Quer que eu vá para você? – Ele perguntou rindo.
- A Martha está lá embaixo, só espero que não seja mais dor de cabeça. – Puxei a bolsa da poltrona. – Eu vou descer.
- Eu vou contigo, já estou pronto. – Ele pegou sua mochila, colocando no ombro.
- Vamos, então, faltam 10 para as oito. – Falei, sentindo-o passar a mão em minha cintura, dando um beijo em meu pescoço e inclinei-o para o lado. – Para, Barza!
- Ah, só um beijinho. – Ele disse rindo.
- Não podemos chegar atrasados. – Falei, descendo as escadas e ele riu fracamente, logo atrás de mim.
- Senhora , é para você. – Martha falou, apontando para a porta e bati nas mãos de Barza, tirando-as da minha cintura e me aproximei da mesma, abrindo mais a porta e me coloquei na mesma, franzindo a testa ao ver Alena.
- Alena, você a... – Senti um arder em minha bochecha, me fazendo levar a mão até o local e a feição de ódio de Alena só comprou que eu tinha acabado de levar um tapa.
- MEU DEUS! – Martha reagiu.
- Talvez eu tenha merecido. – Falei, suspirando. – Com atraso...
- Mereceu e muito! – Ela falou. – Onde ele está? – Alena perguntou forte. – ONDE ESTÁ GIGI? – Ela gritou e eu movimentei a mandíbula, passando a mão nela.
- Eu não sei o que você está falando, Alena. – Falei.
- Eu sei que ele está aqui, não adianta esconder. – Ela entrou em casa e eu me afastei do lado.
- , está tudo bem? – Barza perguntou.
- Eu não tenho certeza. – Falei, sentindo o local levemente dormente. – Doeu!
- Andrea? – Alena perguntou para Barza.
- Oi, Alena! – Ele disse, se aproximando de mim e levando a mão até o local. – Está tudo bem?
- Está sim. – Suspirei, virando para Alena. – O Gigi não está aqui, Alena. Eu não o vejo há uns três dias. – Falei, vendo seu olhar confuso
- O que você está fazendo aqui? – Alena perguntou para Barza e passei a mão nos ombros dele.
- Por que você não vai indo? – Falei baixo para Barza. – Nos encontramos mais tarde?
- Tem certeza? – Ele perguntou, olhando para Alena e eu assenti com a cabeça.
- Sim, acho que precisamos conversar. – Falei e ele assentiu com a cabeça, dando um curto beijo em meus lábios e sorri, vendo-o sair pela porta.
- A gente se vê à noite.
- Tudo bem, bom treino. – Falei e ele sorriu, se afastando e fechei a porta, ouvindo-o desarmar o alarme do seu carro.
- Eu estou perdida. – Alena falou. – Você e Barza...
- Você quer sentar e conversar? – Perguntei, indicando a sala de televisão do lado esquerdo e ela seguiu para mesma. – Pode trazer um chá de camomila para gente, Martha?
- Claro! – Ela disse e eu assenti com a cabeça, seguindo logo atrás de Alena.
- Fique à vontade. – Falei, vendo-a se sentar em um dos sofás e me sentei na poltrona à frente.
- Eu estou perdida, . – Ela disse.
- Eu e Barza estamos juntos, Alena. – Falei, puxando a almofada para meu colo. – Não oficialmente, mas estamos nos conhecendo melhor, passando um tempo juntos... – Suspirei.
- Há quanto tempo? – Ela perguntou.
- Um ano? – Perguntei, negando com a cabeça. – Fisicamente menos, mas nos aproximamos por causa dos nossos corações quebrados. – Falei.
- Eu pensei que Gigi estaria aqui. O carro...
- É o mesmo, eu sei. – Suspirei.
- Há quanto tempo você não vê o Gigi, ? – Ela perguntou e parei para analisar seu rosto, ela claramente não dormia há dias. Alena sempre foi uma mulher linda, mas podia dizer que ela estava acabada.
- Desde domingo de manhã. – Falei. – Fui no time para ver se ele iria para o jogo da Roma, pois ele... – Engoli em seco.
- O quê?
- O que está fazendo aqui, Alena? – Perguntei.
- Eu não o vejo desde sábado à noite, . Ele não liga, não manda mensagens, e hoje estava levando meus meninos para escola e ouvi no rádio que eu era corna. – Ela disse e eu arregalei os olhos. – Eu desliguei o rádio para os meninos não ouvirem, mas acho que o viram entrando em algum lugar e só consegui imaginar aqui. – Ela disse, começando a chorar e eu suspirei. – Mas ver você e Andrea juntos... – Ela negou com a cabeça.
- Ele veio aqui, Alena. No sábado. – Suspirei. – Disse que vocês dois tinham terminado, perguntando se podia conversar, mas eu sei o que ele quer dizer quando fala isso, e eu cansei dos joguinhos dele, por isso estou com Barza. – Tentei tomar cuidado com as palavras. – Eu não deixei ele entrar, principalmente porque eu estava com Barza aqui em casa, ele ficou irritado, falou algumas coisas para mim e saiu cantando pneu.
- Para onde?
- Não sei. – Falei fracamente. – Eu fiquei preocupada que pudesse ter acontecido algo com ele, não dormi à noite toda, por isso fui no time no domingo para ver se ele apareceria. Ele chegou quase meia hora atrasado, Alena. Isso me deixou preocupada que ele pudesse ter sofrido algum acidente. – Neguei com a cabeça. – Mas ele apareceu. A mesma roupa do dia anterior e cara de quem não tinha dormido também. – Respirei fundo.
- Você falou com ele?
- O xinguei. Ele falou algumas coisas que desvalorizaram esses 13 anos de amizade e eu não gostei. – Suspirei.
- Pode dizer o quê? – Ela perguntou.
- No sábado, quando eu neguei deixá-lo entrar, falei para ele não fazer nenhuma besteira, pensar em você e nos meninos, que não queria que ele fizesse mais besteira...
- Me trair. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Sim. Aí ele disse que eu nunca estive lá para ele, o que ele sabe que é mentira. – Suspirei. – Estivemos lá um para o outro em várias situações e a raiva falou mais alto. – Pressionei os lábios. – Aí eu o xinguei e tentei colocar um pouco de noção na cabeça dele, mas acho que não adiantou.
- Ele não vem para casa desde sábado. – Ela falou baixo. – Eu não sei mais o que dizer para meus filhos, já liguei para mãe dele, para as irmãs e nada.
- Pode esperar um segundo? – Pedi e ela assentiu com a cabeça. Peguei o celular na bolsa e abri a conversa com Manu, enviando um áudio. – Manu, faz um favor para mim, checa se o Buffon deu entrada em Vinovo hoje. – Enviei, respirando fundo.
- Eu sei que nosso casamento está ruim há anos, mas eu achei que fosse por causa de você. – Ela disse. – Eu pedi para ele decidir se queria continuar comigo, porque eu vejo a forma que ele te olha, , ele te ama... – Neguei com a cabeça. – AMA SIM! – Ela falou mais alto e eu suspirei. – E parece que piorou.
- Talvez eu tenha culpa nisso, Alena. Da mesma forma que você deu um ultimato para ele, eu também dei, não com as mesmas palavras. – Suspirei.
- Como assim? – Ela perguntou e eu suspirei algo, vendo Manu responder e apertei o botão.
- Oi, chefa, entrou sim, faz uns quatro minutos, mas entrou. – Sua voz ecoou.
- Grazie, Manu. Avisa o Pavel que eu vou me atrasar, por favor, tive um contratempo. – Enviei, abaixando o celular para o meu colo.
- Você sabe que eu e Gigi temos uma história, não sabe? Eu sei a forma que você olha, Alena, não vamos fingir mais. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Sim, eu sei. – Ela falou baixo. – Só não sei o quanto eu sei disso. – Ela engoliu em seco.
- Você é capaz de ouvir meu lado? – Perguntei e ela assentiu com a cabeça.
- Sim, sou. Acho que é o mínimo depois do tapa. – Ela falou e eu ri fracamente.
- Em partes, eu mereci, Alena. – Falei, franzindo os lábios. – Mas não agora. – Ela engoliu em seco.
- Quando?
- Eu e Gigi nos conhecemos quando ele entrou no time, a atração foi imediata. – Falei baixo. – Nos beijamos pela primeira vez em 2002, mas nada aconteceu, eu era estagiária e queria o emprego no time. – Pressionei os lábios. – Eu sou órfã de mãe e pai, então o dinheiro me ajudaria muito.
- Sinto muito. – Ela disse e eu neguei com a cabeça.
- Com isso, eu não quis me envolver, mas eu não o esquecia, ele teve outro relacionamento, mas também não me esquecia, enfim... – Abanei a mão. – No meio de 2005, eu decidi que não importava o emprego, eu gostava dele, ele estava solteiro, a gente ia ficar juntos, nos resolveríamos com o RH depois. – Ela assentiu com a cabeça. – Mas ele não veio atrás, ficou lesionado por boa parte do tempo, escondido em Forte dei Marmi...
- Foi quando eu o conheci. – Ela disse e eu confirmei com a cabeça.
- Quando ele voltou para o time, ele não veio atrás de mim, me ignorava e eu achei estranho, ele sempre foi muito direto nas coisas, aí eu comecei a segui-lo, tentar entender por que ele me ignorava, achava até que ele tinha outra namorada... – Rimos juntos.
- Ainda não. – Ela disse.
- Conversamos, transamos, ficamos juntos, aí descobri da depressão dele... – Ela assentiu com a cabeça. – É uma das coisas que eu falo que eu estava lá por ele. – Ela mudou sua posição na cadeira. – Enfim, nos relacionamos de novembro a maio e foi perfeito. – Suspirei. – Não quero entrar em detalhes, mas era muito bom, a gente tinha sintonia...
- Têm até hoje. – Ela disse. – É claro! – Ela disse.
- Até que veio a manipulação de resultados que relegou a Juventus.
- Me lembro, claro. – Ela disse.
- Eu fui quem encontrou o erro na contabilidade, eu não dormia todo esse tempo que estávamos juntos e ele nunca tinha me contado. E ele era culpado, Alena. – Ela assentiu com a cabeça, revirando os olhos. – Aí eu briguei com ele, me irritei e acabei pedindo um tempo por causa da raiva.
- Totalmente compreensivo.
- Aí ele foi para o Mondiale e eu fiquei. – Suspirei. – Até que um ex-jogador se jogou do prédio, tentou suicídio.
- Eu lembro disso! – Ela falou surpresa e vi Martha entrando na sala, colocando a bandeja na mesa de centro.
- Grazie. – Falei para ela que sorriu, se retirando. – Eu vi o corpo dele, Alena. Fui a primeira a ver, na verdade. – Ela franziu os lábios.
- Meu Deus, . – Ela disse surpresa.
- Enfim, a imprensa veio em peso querendo informações, e pelo jeito o Gigi viu isso pela televisão. – Comecei a servir as duas xícaras. – Ele me ligou, a gente conversou, eu abri meu coração para ele, que queria ele comigo, algo assim. Faz tanto tempo... E ficou nisso. – Entreguei uma xícara para ela. – Aí eu percebi como eu gostava dele e que queria ele ao meu lado, independente do que ele tinha feito.
- Acho que é nessa parte que eu entro. – Ela falou.
- Sim, eu decidi ir na final do Mondiale, fazer uma surpresa para ele e te vi no colo dele. – Neguei com a cabeça. – Meu mundo caiu ali e eu decidi que não ia conversar mais com ele, que ia seguir em frente, pois ele tinha seguido.
- A culpa foi minha, . Eu gostei dele sim, como você disse, ele sempre foi direto em tudo, quando nossos times jogaram contra, eu sou checa. – Ela falou e eu assenti com a cabeça. – Eu fui falar com ele, ele não citou nada sobre você, talvez pensasse que eu fosse um caso. Na final, eu fui atrás dele e ficamos juntos naquela noite. – Assenti com a cabeça, engolindo em seco.
- É, então. Eu vi você e fui embora, mas eu vi o Cannavaro, Del Piero e o Barzagli naquele dia. Conversei com eles.
- Certo. – Ela disse.
- Voltamos para Turim, eu não conseguia olhar para ele, também não consegui falar que estava lá, pois eu pedi um tempo, ele não tinha responsabilidade nenhuma comigo naquele dia. – Bebi um gole do chá, apoiando-o na mesa de novo. – E aí seguiu. Ele, por sua vez, engatou em um relacionamento contigo e vi que tínhamos seguidos caminhos diferentes.
- É, oficializamos em outubro, algo assim. – Ela disse.
- Beh... As coisas seguiram assim até março ou abril, quando você ficou grávida... – Ela assentiu com a cabeça. – Eu o ouvi contar para os meninos isso. Que estava querendo terminar contigo, que ainda não tinha me esquecido, mas você estava grávida e ele não terminaria contigo por isso.
- Ele não precisava ficar comigo por isso. – Ela falou. – Eu gostava dele, mas não seria um problema para mim.
- O Gigi tem uma cabeça retrógrada, Alena. Parece velho, de vez em quando. Nunca reparou? – Perguntei. – Ele prefere viver uma mentira do que abandonar uma grávida, por exemplo.
- Agora que você me fala, faz todo sentido.
- Com isso, eu me afastei, segui minha vida por bem e por mal, comecei a namorar um outro cara e realmente nos separamos por um tempo. – Falei baixo. – Até meu câncer em 2010... – Ela assentiu com a cabeça.
- Ele me contou isso, mas pouco.
- Quando eu descobri o câncer, meu ex terminou comigo. – Ela arregalou os olhos.
- OI? No dia? – Ela perguntou.
- Minutos após o diagnóstico. – Falei rindo.
- Meu Deus, , que horror! – Ela disse.
- É, então. – Ri fracamente. – Eu me destruo bebendo e eu bebi naquele dia, demais, na verdade. Sei meus limites e sei como passá-los. – Suspirei. – Nesse dia eu mandei mensagem para Gigi, obviamente com segundas intenções, devo admitir. Você estava com dois filhos, eu sempre tive sonho de ser mão, tinha acabado de descobrir que precisaria tirar todo meu aparelho reprodutivo, enfim...
- Você viu isso como uma fórmula de escape. – Ela falou.
- Algo assim. – Engoli em seco. – Achei que transando com ele aquele dia, eu podia engravidar, enfim... – Neguei com a cabeça. – É até feio eu falar isso, mas eu estava bêbada, só sei disso porque ele me contou.
- Não se preocupe, estamos sendo honestas com a outra. – Ela falou, bebendo o chá.
- Enfim, não aconteceu nada naquela noite. Gigi estava mais preocupado com minha vida do que com qualquer outra coisa. Acordei deitada, de banho tomado, na minha cama, com ele e a minha família, que são os pais da minha melhor amiga, nervosos e apáticos na sala. – Ela assentiu com a cabeça. – Enfim, depois eu fiz a cirurgia e ele me visitava, falava comigo, enfim, a gente acabou se aproximando de novo por causa disso. Ele é realmente muito importante para mim, Alena.
- Você o ajudou na depressão, ele te ajudou no câncer... Eu entendo. – Ela assentiu com a cabeça.
- É, mas sempre foi algo a mais. Não é só amizade, é uma atração estranha e... – Neguei com a cabeça. – Enfim, passou essa fase e o coração voltou a bater mais forte.
- Deixa eu só te parar um pouco, você sempre quis ser mãe? – Assenti com a cabeça. – Isso explica um pouco sua relação com meus filhos. Você é muito maternal, . – Ri fracamente.
- Com os filhos de todo mundo, na verdade, mas o Louis me adora. – Ela sorriu.
- Gosta sim. – Assenti com a cabeça. – E agora você não pode ter filhos?
- Na verdade, eu acabei tirando só um ovário, nos meios tradicionais talvez seja mais difícil, mas eu ainda posso sim. – Ela sorriu.
- Ah, que bom! – Ela disse. – Espero que você realize um dia.
- Obrigada. – Sorri e ela confirmou com a cabeça. – Enfim, eu comecei a sentir algo por ele de novo, veio a minha promoção e a gente se aproximou de novo. – Ela confirmou com a cabeça. – Aí eu contratei o Barza no time e ele contou que me viu no Mondiale para o Gigi.
- Ele se lembrou de você! – Ela falou surpresa.
- Sim. – Suspirei. – Aí o Gigi me confrontou, a gente brigou, eu expus toda a minha parte, ele também tinha mágoas comigo, falou que eu não podia ter escondido dele...
- Ele ficou bem estranho nessa época mesmo. – Ela disse.
- Vocês estavam de casamento marcado. – Falei e ela confirmou. – Enfim, ele praticamente me pediu para falar para vocês terminarem, mas eu não podia fazer isso, eu sei o que é um casamento, um comprometimento e... Enfim, não podia, não conseguia fazer isso. – Engoli em seco.
- Foi aí que ele contou sobre você. Ele ficou estranho um tempo, e eu achando que nós terminaríamos... – Assenti com a cabeça. – A gente se acertou e casamos, mas logo eu percebi que foi algo do momento, ele ficou estranho depois.
- Eu fiquei realmente chateada. Não falei para ele que vocês deveriam terminar, mas esperava, sabe? – Ela assentiu com a cabeça. – Aí entrou na temporada seguinte, nós ficamos estranhos, mas a gente sempre se aproximava. Você também sempre simpática, o Lou sempre querendo meu colo... – Ela riu fracamente. – Aí em março ou abril, nós fomos para Palermo em um jogo e eu sou de lá... – Ela confirmou com a cabeça. – Ele me levou para ver onde eu morei com meus pais, o orfanato que eu fiquei e até onde eles estão enterrados. – Ela assentiu com a cabeça. – Aquele dia a gente quase se beijou. – A vi engolir em seco. – Mas uma força maior nos separou.
- Não aconteceu nada?
- Naquele dia não. – Falei. – Mas quando fechamos o scudetto em Trieste, aconteceu. – Falei honestamente. – Mais do que um beijo. – Ela respirou fundo.
- Vocês dois... – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim. – Falei baixo.
- E depois? – Ela perguntou.
- Nada. – Falei. – Mais uma vez ele escolheu você, mais uma vez eu fui colocada de lado e eu tentava colocar na minha cabeça que eu deveria esquecê-lo, mas sempre algo acontecia para nos juntar.
- Vocês foram para Carrara juntos. – Ela disse.
- Sim, eu estava renovando contrato com ele, a Guendalina ligou falando da Maria Stella e eu desesperei. A culpa foi minha por aquilo tudo. – Falei. – Meus pais faleceram de acidente de carro, então projetei tudo nisso de novo. Eu me dispus a ir com ele, eu dirigi, começou a chover, ficamos presos em uma cidade e, sim, dividimos o quarto. – Vi seu olhar sobre mim. – Trocamos alguns beijos, mas alguma força maior me fez parar. – Ela engoliu em seco.
- Mas ele estava contigo. Ele estava bem. – Suspirei, pegando a xícara e dando mais um gole. – E quando você e o Andrea...
- No começo dessa temporada. No fim da anterior eu vi vocês juntos e achei perfeito, sabe? Ele é filha da puta sim, mas vocês dois, os meninos, parecia propaganda de margarina, sabe? – Ela gargalhou.
- Mesmo? Porque eu penso a mesma coisa sobre você e ele. – Ri fracamente e eu neguei com a cabeça.
- Não, eu sempre fui a outra. – Suspirei. – Então, quando começou essa temporada, eu realmente decidi me afastar, Barza tinha terminado com a esposa dele, então a gente acabou se aproximando. Toda vez que o Gigi me pede para conversar ou se aproxima, eu fujo, pois eu sei que eu ainda gosto dele, e eu sou completamente honesta com o Barza sobre isso. Sei que as coisas podem sair pela tangente e... – Neguei com a cabeça. – Ele volta para você e eu fico chorando. – Suspirei.
- É óbvio o estresse dele, então. – Ela falou. – Eu o pressionei de um lado e você se afastou, ele não tinha ninguém para se apoiar.
- Pelo jeito tinha, né?! – Falei. – Se ele não estava comigo e nem contigo, onde ele estava? – Perguntei, engolindo em seco, com medo da resposta.
- Aposto que está na internet já. – Ela falou suspirando.
- Eu não sei o que você vai fazer, Alena.
- Eu vou...
- Espera eu falar! – Pedi. – Não me interessa o que você vai fazer, honestamente, acho que isso é um problema de vocês dois, só gostaria, da minha parte, que você pudesse me perdoar um dia. – Suspirei. – Sei que não deve ter sido fácil ouvir isso, mas é o mínimo que eu posso falar agora.
- Ouvir de você, , só me provou, mais uma vez, que meu casamento é uma fachada. – Ela disse, rindo sarcasticamente. – Ele sempre te amou, sempre foi você e eu fui colocando armadilhas pelo meio do caminho para ele ficar comigo, mas ele nunca te esqueceu. – Engoli em seco, sentindo o peito apertar. – Posso te garantir, que se eu soubesse da história de vocês dois, eu nunca teria me envolvido com ele, nunca teria procurado-o no Mondiale, vocês ainda estariam juntos. – Sorri.
- Talvez, Alena, mas o Gigi é impulsivo, se não fosse você, talvez seria outra pessoa. – Ela suspirou.
- Eu estou me sentindo muito idiota agora. – Ela se levantou. – Olha tudo o que aconteceu! Já faz oito anos, pelo amor de Deus. – Suspirei. – Me desculpe, .
- Pelo amor de Deus, Alena, não! – Falei firme. – Não vou deixar você me pedir desculpas. Apesar de tudo, ele escolheu você, vocês casaram e tiveram dois filhos, eu não deveria nem estar envolvida nisso agora. – Falei erguendo as mãos.
- É, mas eu tive a coragem de vir na sua casa e te dar um tapa. – Ri fracamente.
- Agora eu sei o sentimento de quem leva. – Ela sorriu e suspirei, reduzindo o sorriso aos poucos.
- Eu sei o que eu quero, . Honestamente. – Assenti com a cabeça, indicando para continuar. – Eu quero um amor como o seu e dele. – Engoli em seco.
- Não, Alena. Você quer algo melhor para você. – Falei. – Se eu puder te dar um conselho, posso?
- Claro. – Ela disse.
- Cuida dos meninos. – Falei baixo. – Eles não têm culpa de nada.
- É a minha prioridade. – Ela falou e eu confirmei com a cabeça. – Mas eu não posso mais viver assim, cansei. Não dá mais. – Suspirei.
- Faça o que for melhor para você, mas não faça o mesmo que ele, pense só em você, ok?! – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu sei que ele vai ficar bem, ele tem você. – Ele falou e eu neguei com a cabeça.
- Não mais. – Senti a garganta doer ao falar isso. – Ele já encontrou alguém para substituir nós duas. – Falei baixo, engolindo em seco.
- Você vai ficar bem? – Ela me perguntou e ri fracamente.
- Você está me perguntando isso? Não deveria ser o contrário? – Perguntei.
- Talvez, mas sei que você sofre mais tempo do que eu. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Sim, eu vou. – Suspirei. – Estou bem há oito anos.
- Isso não é estar bem. – Ela disse e eu dei de ombros.
- Agora eu tenho Barza. – Dei um pequeno sorriso. – Não é uma grande história de amor, mas é ótimo para conversar, dormir abraçada...
- E ele é uma ótima pessoa. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, espero realmente um dia que eu possa amá-lo. – Falei, suspirando. – Meus problemas seriam bem menores. – Ela suspirou, apoiando as mãos no encosto do sofá.
- Você me perdoa por isso também? Falar de você para as esposas? – Ela pressionou os lábios.
- Se eu estivesse preocupada com isso, Alena, eu nunca teria entrado me mantido nesse meio. – Falei rindo. – Adoraria uma relação mais simpática, mas isso não me faz menos.
- Ainda bem, ouvindo sua história me faz pensar que você merece isso. – Ri fracamente.
- Ih, isso não é nada, antes de Turim minha história é muito mais empolgante. – Ela sorriu.
- Fala! Me conte. – Ela disse.
- Perdi meus pais com oito anos, vivi até os 14 em um orfanato, encontraram uma avó que me odiava e eu fugi para Turim aos 17. – Dei um sorriso. – Está bom ou quer mais? – Ela sorriu.
- Com certeza eu vou mudar minha imagem de você depois dessa. – Assenti com a cabeça.
- Agradeço muito. – Sorri. – Só peço para você não contar para ninguém sobre mim e Barza. – Suspirei. – Eu estou tentando adiar isso como um relacionamento, pois Gigi veio aqui sexta e fez mais bagunça na minha cabeça e acho que Barza está aguentando mais do que deve, sabe? Não é porque ele aceitou essa condição que ele deva aceitar para sempre. – Ela assentiu com a cabeça.
- Sem problemas, eu vou ficar quieta. – Ela disse, assentindo com a cabeça. – Talvez eu me afaste também, enfim... – Confirmei com a cabeça.
- Se precisar de alguma coisa, sabe onde me encontrar. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Pode deixar, . Foi muito esclarecedor. – Ela disse, pegando sua bolsa e suspirando. – Se souber do Gigi, você pode tentar falar para ele ir para casa?
- Duvido que vá vê-lo, mas eu aviso sim. – Suspirei.
- Vou te deixar trabalhar. – Ela falou. – Obrigada, viu?! E desculpe pelo tapa.
- Não se preocupe. – Dei um curto sorriso, seguindo até a porta com ela e abri devagar. – Manda um beijo para os meninos.
- Pode deixar! – Ela sorriu e abri a porta. – Ciao.
- Ciao. – Falei e ela saiu pela mesma, me fazendo suspirar. Esperei-a entrar no carro e fechei a porta, virando de costas e vi Martha vindo em minha direção.
- A senhora está bem? – Ela perguntou.
- Já falei para me chamar de . – Ela assentiu com a cabeça. – Mas estou bem sim, atordoada, mas bem. – Suspirei.
- O senhor Pavel ligou enquanto estava ocupada. – Suspirei.
- Eu vou encontrá-lo, só preciso ver um negócio antes... – Falei e ela assentiu com a cabeça.
Subi as escadas apressadamente, ouvindo os saltos ecoarem pelo carpete nos degraus e segui em direção ao meu escritório. Sentei na cadeira sentindo-a deslizar um pouco e voltei, mexendo no mouse, vendo a tela do notebook acender. Abri rapidamente o navegador e coloquei no Google, digitando uma simples palavra “Buffon” e esperei carregar.
Eu fechei os olhos enquanto a página carregava, mas a vontade por saber disso era maior, então abri os olhos, vendo as notícias sobre o caso aos montes na internet. Cliquei no primeiro link da revista “Chi” com o título “Notte segreta tra Buffon e la D’Amico”.
- AH, NÃO! – Gritei, dando um soco na mesa e abri o link. – Gigi Buffon e Ilaria D'Amico foram surpreendidos por um paparazzo ao entrarem em um apartamento em Milão, na noite anterior à partida entre Roma e Juventus. As fotos são publicadas em uma matéria no "Chi", nas bancas a partir de amanhã, dia 14 de maio. – Senti meus olhos arderem. – Gianluigi, como é burro! – Falei com a voz embargada e abri a matéria, engolindo em seco quando as fotos carregarem.
“GIGI BUFFON E ILARIA D'AMICO, UMA NOITE DE PAIXÃO
O semanário "Chi" documenta o encontro secreto em um apartamento
Dois lindos, um jogador de futebol, dois casamentos e uma traição. Esses são os ingredientes para a história de espionagem mais “fofoquenta” do ano. Revelado pela “Chi”, que após ter contado a crise conjugal entre Seredova e Gigi Buffon e revelado a ligação entre o goleiro da Juventus e a apresentadora Ilaria D'Amico, documenta com imagens a noite de paixão entre os dois. Enquanto isso, Alena posta uma mensagem enigmática no Instagram: "Eu sorrio da vida, sempre". Para o bom entendedor...”
- AH, SEU BURRO! IDIOTA, FILHO DA PUTA, VAGABUNDO! – Gritei forte. – ELA? MESMO?
Senti o vômito subir à garganta, mas voltou logo em seguida. De todas as pessoas do MUNDO, ele vai se envolver com Ilaria D’Amico? A jornalista mais sem escrúpulos de todas? Não era ela que não ia com a cara do Gigi? Ah, que nojo!
O pior de tudo era ler das suspeitas desse relacionamento pela própria “Chi”, se eles já suspeitavam, isso rolava há mais tempo, e onde eu estava durante todo esse tempo? Fugindo dele! Não acredito! Como ele foi capaz de fazer isso? Só de pensar era nojento, ainda bem que não tinha nenhuma foto mais relevadora, pois eu provavelmente vomitaria de verdade.
Eu conseguia sentir mais raiva e nojo dele agora, mas ficava feliz por ele não ser mais problema meu, pois agora quem não queria vê-lo nem pintado de ouro era eu. E que ele vá para os quintos dos infernos com essa D’Amico e nunca mais olhe para mim, pois eu não conseguia mais olhar para ele.

Lui
14 de maio de 2014
Estacionei no entorno do estádio e puxei o freio de mão. Virei o olhar para Alena e ela saiu sem dizer mais nada e suspirei, negando com a cabeça. Saí do outro lado, vendo-a tirar Dado da cadeirinha e fiz o mesmo com Lou que quase pulou do carro quando o fiz. Dei a volta no carro e vi que Alena já tinha fechado a porta, então tranquei a mesma.
- Lena... – Chamei-a baixo e ela virou o rosto para mim. – Podemos não...
- Eu estou pelos meninos, Gigi. – Ela disse e eu suspirei, seguindo logo atrás dela.
Soltei um suspiro, dando a mão para Lou e segui um pouco atrás dela. Eu ainda estava um pouco atordoado hoje. Minhas últimas decisões tinham finalmente aparecido e recaído sem minhas costas. Para começar que a “Chi” estava na porta da casa de Ilaria e eu não vi, fotos minha e dela estavam em todas as bancas da Itália e todos os sites do mundo.
Eu não voltava para casa há quatro dias, mas hoje acabei voltando. Depois de evitar e fugir durante tantos anos, Alena havia feito o que eu esperava fazer durante todos esses oito anos e nunca tive coragem de fazer, pedir a separação. Eu estava escondido no hotel do time quando uma mensagem de Alena subiu. No que abri, só tinha quatro palavras:
“Eu quero o divórcio”.
Isso me fez ir para casa como um foguete, tentei argumentar e ela não falou nada, me ignorou em todos os papos, deixou que eu falasse, gritasse e brigasse sozinho. Quando eu finalmente fiquei quieto, ela somente falou:
- Depois de tudo o que eu ouvi e vi hoje, não tem mais volta. Estou certa da minha decisão. Já dei entrada nos papéis. – E depois de alguns segundos em silêncio, ela finalizou. – Os meninos querem ver o jogo hoje, vamos pensar como e quando falar com eles, mas eles precisam de diversão, então finja que se importa.
E foi isso.
Não teve briga, não teve gritos, pelo menos não da parte dela, e não teve choro. Ela estava decidida e eu estava livre. Confesso que eu esperava me sentir diferente quando tudo isso acabasse. Achei que estaria dando uma festa e pulando de alegria, mas eu me sentia mal. Nunca, em nenhum momento, eu queria que Alena se sentisse mal, estávamos juntos há oito anos, ela merecia mais, mas agora ela sabe, está na imprensa inteira e eu só conseguia me sentir a pior pessoa do mundo.
Pior que isso tudo, acho que era pensar que também sabia. Talvez seja ridículo pensar nela antes da minha esposa, mas tudo o que eu fiz foi para ficar com e, se ela soubesse disso, eu imaginava que ela não olharia mais na minha cara. Além de estar com Barza, o que me colocava em segundo lugar rapidamente, apesar de saber que ela ainda gostava de mim.
Abanei a cabeça quando entramos no camarote do estádio e passei o olhar em volta para ver quem de conhecido estaria ali e minha garganta fechou e a saliva descer bem devagar. foi a primeira pessoa que eu notei ali, junto de Pavel e Barzagli. Em uma rodinha próximo deles, estava também Llorente, Chiello, Lich e Pepe. Todos com largos sorrisos no rosto.
- Não, nem vem, cara! – Pepe falou rindo. – Você não vai se livrar dessa.
- Mas eu não fiz nada. – Barza disse rindo.
- Ei, não olhem para mim, eu sei tanto ou menos quanto vocês. – disse.
- Mamãe! – Lou a chamou e sabia que ele também tinha visto. – , mamãe! – Ele falou.
- Pode ir lá, meu amor. – Ela falou e Lou soltou da minha mão, correndo o primeiro lance que nos separava e puxou a barra da saia de .
- Ei, se não é o amor da minha vida! – A voz dela se exaltou e ela se abaixou para abraçar Lou. – Ah, que abraço mais gostoso. – Virei o rosto para Alena.
- Desde quando você não se incomoda com o Lou com a ? – Perguntei.
- Desde quando eu descobri que ela não é o problema. – Ela falou, colocando Dado no chão que foi para o mesmo caminho. – Pelo menos não agora. – Ela olhou para mim e eu engoli em seco.
- Ah, Dado, como você cresceu, meu amor. – falou.
Ela sabe! A Alena sabe, certeza que ela sabe. Qualquer coisa, mas ela sabe! E eu estava notando que o buraco embaixo de mim se abria cada vez mais como areia movediça.
- Oi, gente, tudo certo? – Alena perguntou para o pessoal e eu saí do transe.
- Oi, tudo bem? – sorriu, cumprimentando-a e eu engoli em seco.
CHE CAZZO ESTAVA ACONTECENDO AQUI?
- Fala aí, Gigione! – Pepe deu dois tapas em meus ombros. E olhei para todos, me perguntando quem mais sabia ou se todos estavam fingindo que não tinha um elefante branco no local.
- E aí, gente? – Falei, tentando manter a normalidade.
- Fala, Gigione! Vai torcer para quem? – Lich perguntou.
- Sei lá. – Ri fracamente. – Talvez para o Sevilla, já que o Benfica eliminou a gente. – Falei e eles riram juntos.
- falou a mesma coisa. – Lich disse e virei o olhar para ela, vendo-a com ele em Lou enquanto ela acariciava os cabelos.
- Falando nisso, vamos para os nossos lugares? Logo vai começar. – Ela disse e suspirei.
- Quero ver se esse buffet é bom mesmo, hein? – Pepe brincou.
- Ei, não mexa com meu buffet! – falou brava, apontando para ele que gargalhou. – Salsicha no palito com mostarda, me agradeça depois.
- Não gosto de mostarda. – Ele falou.
- Ah, sai daqui, Pepe! – Ela disse rindo. – Ah, olha quem chegou. – Virei para o lado, vendo Manu entrando no camarote.
- Oi, gente! – Ela acenou envergonhada, se aproximando de nós.
- Oi, Manu! – Falamos em coro.
- Uau! – Ela disse surpresa. – Aqui é demais! – Ela disse rindo.
- Lá embaixo é melhor. – disse, suspirando.
- Ah, isso com certeza, mas me sinto importante aqui. – Ela disse e sorri.
- Vamos, criança, fica comigo. – disse.
- Vamos lá para baixo. – Pavel falou para ela.
- , posso ficar contigo? – Lou perguntou baixo.
- Fica com a mamãe, amor. Depois ela vem falar contigo, que tal? – Alena falou.
- Eu venho aqui logo mais, pode ser? – falou. – Eu tenho que cumprimentar um pessoal importante, estou trabalhando.
- Agora? – Ele perguntou e meus colegas riram.
- Para você ver. – fez uma careta. – Mas eu logo volto. – Ela deu um beijo na bochecha de cada um dos meus meninos, deixando-os sorrindo.
- Tudo bem! – Eles disseram e ela riu fracamente. – Andiamo, ragazzi! – Ela se levantou, batendo as mãos e suspirei.
- Vem, meninos, vamos sentar ali. – Alena indicou e suspirei, vendo o pessoal dispersar.
desceu os degraus com Pavel. Os outros jogadores seguiram com eles, mas se sentaram em outra fileira e eu fui com Alena e as crianças. Me sentei em uma ponta e Alena fez questão de colocar os meninos entre nós e se sentar só do outro lado, me fazendo engolir em seco.
Eu estava ali basicamente pelo jogo, mas o jogo mesmo foi um desastre. Depois de 90 minutos sem gols, teve mais 30 minutos de prorrogação sem gols e o resultado só foi descoberto nos pênaltis quando o Sevilla acertou quatro contra dois do Benfica, tornando-os campeões.
O começo do jogo foi bem, os meninos estavam interessados e empolgados, mas depois Alena ficou incomodada ali do lado e foi para o fundo, mudando minha atenção. não estava do lado de Barza, mas ele e o resto do pessoal estava logo atrás dela, então eles viviam trocando alguns comentários e risinhos.
Eu estava irritado que eu tinha tudo na mão para simplesmente perdê-la por causa de Barza? De mim? De uma noite totalmente sem significado? Era uma porcaria! E só pelo gelo que ela havia me dado, eu sabia que ela ainda não queria falar comigo. Na verdade, agora mesmo que eu acho que não queria falar comigo.
Quando o jogo foi se alongando sem gols, os meninos começaram a ficar entediados e com sono. Dado foi em direção à mãe, mas logo notei-o no colo de que o ninava com a maior calma do mundo. Lou era mais interessado, ele gostava mais de futebol do que de Dado, mas também estava apoiado em mim quase dormindo.
Eu sabia que eu tinha mancado e muito com Alena, com toda nossa história e nossa vida, mas só conseguia pensar agora nos meus filhos. Eu não sabia o que se passava na cabeça dela, mas sabia que ela podia tornar minha vida muito difícil.
Agora o papo delas que estavam me incomodando. não falaria sobre nossa história para Alena, falaria? Elas não estavam conversando assim só porque eram as duas esposas no recinto que eu sei. Algo tinha acontecido e eu estava me contorcendo para saber, pena que nenhuma das duas falava comigo.
Será que elas tinham se juntado para me detonar?
Não era difícil, ainda mais conhecendo .
- Beh, ragazzi, eu preciso descer! – falou e virei o rosto para trás quando ouvi.
- Vai trabalhar? – Alena perguntou.
- Entregar as medalhas. Pavel está representando o Agnelli hoje. – Ela falou.
- Então é trabalho mesmo. – Alena disse.
- Não tem hora, você sabe disso, não? – Ela brincou rindo.
- Ah, sabe como é! – Alena respondeu.
- Ciao, meus amores, eu vejo vocês no jogo domingo? – perguntou, tocando o nariz de Dado.
- Vê! – Ele falou, bocejando e deu um beijo em sua testa e deu outro na bochecha de Alena.
- Se cuida, tá? Se precisar de mim...
- Eu sei onde te encontrar. – Alena sorriu e desceu os degraus.
- Ciao, amore. – disse e Lou pulou da cadeira, indo em sua direção estrategicamente do outro lado de onde eu estava.
- Ciao, ! – Ele disse, abraçando-a e ela também deu um beijo em sua testa.
- Te vejo domingo? – Ela perguntou.
- Uhum! – Ele falou rindo e fez cócegas em sua barriga.
- Tchau. – Ela disse e Lou deu um beijo em sua bochecha.
- Ciao! – Ele sorriu e ela se levantou. Seu olhar subiu sobre mim, me fuzilou e ela se levantou de novo, encontrando com Barza no corredor.
- Te vejo depois? – Ouvi sua voz baixa.
- Se quiser ir, te encontro na sua casa depois. – Ela falou e ele assentiu com a cabeça.
- Eu espero. – Ele falou e ela assentiu com a cabeça.
- Vamos, Pavel! – o chamou. – Larga ele, Ivana! – brincou, puxando-o pela mão e o casal riu, sumindo com ela para fora do camarote.
Observei Barza na minha diagonal e seu olhar encontrou com o meu, ele acenou com a cabeça e eu repeti o movimento, engolindo em seco. Lou pulou na poltrona ao meu lado e eu passei o braço sobre ele e vi o olhar de Barza ainda sobre mim.
- Você tem algo para dizer? – Perguntei.
- Até tenho. – Ele disse, suspirando. – Mas prefiro não.
- Bom, não preciso de mais gente se intrometendo na minha vida. – Falei e ele puxou a respiração fortemente, soltando em seguida.
- Você deveria ter pensado nisso antes de tudo. – Ele falou e desviou o olhar, subindo os degraus para fora do camarote também.




Continua...



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