Capítulo Único
O cheiro na cozinha estava delicioso. cozinhava o molho que usaria no macarrão como se sua vida dependesse do sucesso daquela comida. Queria que absolutamente tudo estivesse perfeito. Era uma ocasião especial e, bom, merecia. Mesmo que a relação dos dois estivesse estremecida, mesmo que tudo estivesse bastante estranho, ele merecia. E ela esperava, com aquela surpresa, melhorar as coisas entre eles.
Depois de dois meses sem ver o garoto, já que havia viajado para fazer um curso, finalmente tinha tomado coragem.
Ela deu sorte de ter saído de casa para ir à uma festa com seus amigos, juntamente com , ex namorado de . Dessa maneira, a casa da amiga estava à sua inteira disposição para preparar o melhor jantar do mundo e dizer a que, finalmente, os dois poderiam ficar juntos.
Não havia mais nada que os impedisse. Poderiam, depois de tanto tempo, se entregar aos sentimentos e ao amor que sentiam um pelo outro.
era total e completamente apaixonada por , desde os quatorze anos – ela agora tinha dezesseis, e , dezoito. Ele era irmão mais velho de sua melhor amiga, , dois anos mais nova que . Os amigos moravam lado a lado desde sempre. e foram criados apenas pelo pai, mas ele infelizmente veio a falecer em um acidente de carro, e os pais de , que eram muito amigos do pai dos dois, foram essenciais na criação deles e os tratavam realmente como filhos.
Na época em que descobriu seus sentimentos, estava namorando, razão pela qual ela nunca falou nada a ele. Guardou o sentimento a sete chaves em seu coração. Com dezesseis anos, teve seu primeiro porre, e acabou confessando a e também a o que sentia por ele, fato que apenas ele se lembrava. permaneceu sem saber que tinha aberto seu coração, já que aquele assunto só foi trazido à tona em uma conversa bastante importante que os dois tiveram.
Foi a partir daquela confissão de que as coisas começaram a mudar para .
Algum tempo depois, começou a namorar, finalmente se permitindo viver algo ao invés de esperar que percebesse que também gostava dela. Ela ficou com durante alguns meses, tinha se apaixonado pelo menino, mas era apenas isso, não era amor. nunca deixou de amar . E foi então que realmente percebeu tudo o que sentia pela menina, e eles tiveram dois diálogos decisivos.
O primeiro, ocorreu um tempo atrás, logo após ter uma discussão com , na época em que namoravam, e tiveram uma conversa um tanto quanto intensa. Enquanto cozinhava, ela permitiu que as lembranças daquela noite viessem à tona...
FLASHBACK
desceu do carro de Dougie, ex-namorado de , andando rápido até a porta da casa da amiga. Abriu sua bolsa para pegar a chave que estava consigo, e checou seu celular, os olhos enchendo de lágrimas ao ver na tela. Tinham acabado de ter uma senhora briga. Quer dizer, dava para considerar aquilo uma briga?
A menina finalmente abriu a porta, não esperando por - que ficara no carro conversando com Dougie. Entrou em casa fungando baixinho. Seguiu até a sala, ainda no escuro, e estava prestes a sentar no sofá e se afundar chorando quando viu deitado.
Sem camisa.
Ela quase esqueceu os motivos pelos quais estava chorando.
– Ahm – limpou o rosto não querendo mostrar que estava chorando – Desculpa – virou as costas pronta para sair, mas nem se mexeu, soluçando baixo e abraçando o próprio corpo.
quase pulou do sofá com o susto que levou, já que não tinha ouvido entrar em casa. Seu coração não se acalmou ao ver quem era, na verdade se agitou ainda mais.
– Ei – se sentou a fitando preocupado – ... – não pensou duas vezes em ir abraçar , com ela de costas mesmo – O que houve? – apertou-a em seus braços sentindo o corpo dela trêmulo de tanto chorar.
nem se mexeu, aproveitando o abraço dele, tentando não se ater ao fato de que ele estava sem camisa.
– – virou a menina em sua direção – Não chora, eu tô aqui... Tô aqui pra você... – segurou o rosto dela com carinho, preocupado – Me diz o que houve?
Ela o encarou enquanto as lágrimas desciam, mordendo o lábio e soluçando baixo tentando se acalmar.
– – choramingou e jogou os braços ao redor do corpo dele – Eu acho que eu nunca vou ser feliz de verdade com quem eu amo...
tentou não fazer careta ao ouvir a declaração dela. Seria tão mais fácil se ela ainda o amasse e eles pudessem ficar juntos... Quer dizer, agora estava com ... O menino balançou a cabeça tentando não desfocar para dar a atenção que ela precisava no momento.
– Que história é essa? – perguntou baixo a guiando o sofá, a aconchegando em si – , de onde tirou isso?
tentou não levar em conta a sensação da pele nua dele contra o seu corpo, se sentindo mais em casa e em paz do que nunca. Era confortante...
– não acredita em amor, ... – ela ergueu o rosto para ele, os olhos marejados – Eu só... Parece que eu só amo quem não me ama de volta – mordeu o lábio, balançando a cabeça – Eu disse que eu amo ele e... Ele fugiu... – a menina fungou, escondendo o rosto.
– Como assim não acredita em amor? – fez uma careta confusa – Digo... Ele não ama ninguém? Não é possível viver assim... – engoliu em seco se sentindo culpado ao ver que ela acreditava não ser correspondida.
– Ele diz que ama a mãe dele e só, eu já tentei explicar e argumentar – contou chorosa, se afastando um pouco para olhar para ele – Eu lutei tanto tempo contra isso, pra não sentir isso por ele, porque eu... Eu... Sabia que ia ser assim, nunca dá certo com quem eu amo – balançou a cabeça em negação chorando baixo.
– Ele é um covarde... – murmurou mesmo que se sentisse um também – Mas sabe, você ama a , ela te ama, você ama seus pais, eles te amam e, bom... Eu te amo, ...
– Eu sei... Eu amo eles também e... – ergueu os olhos para ele – E eu amo você... – foi a primeira vez que falou olhando nos olhos de .
– Eu sei que ama – segurou a mão dela e deu um beijo, abrindo um sorriso bonito.
sorriu pequeno.
– As coisas seriam tão mais simples se... – mordeu o lábio, balançando a cabeça e voltando a se aconchegar nele – Deixa pra lá... Quando eu falei pra ele, a gente tinha... A gente tava...
– Mais simples se...? – a incentivou continuar – Vocês estavam o quê? Não entendi – perguntou temendo verdadeiramente a resposta que poderia receber.
– Se eu não tivesse sido burra no passado, , e me declarado... – a menina balançou a cabeça em negação, resolvendo realmente deixar pra lá – Mas deixa isso pra lá...
entendeu. Sabia do que ela estava falando. realmente não se lembrava de ter dito a ele o que sentia quando estava bêbada.
– A gente tava em um momento meio íntimo, sabe, eu... Eu me abri um pouco mais hoje – começou a contar sobre o acontecimento com , ficando um pouco vermelha em seguida.
– Vocês... – engoliu em seco sentindo seu estômago revirar ao imaginar nos braços de outro – Vocês... E ele fugiu? – começou a sentir a raiva tomar conta de seu corpo, se pudesse, socaria a cara do menino.
– É, algo assim... E aí quando terminou eu falei que amava ele... E fugiu, disse que eu sabia como ele se sentia em relação ao amor e bateu a porta – fez um bico, o choro voltando – Eu não sei, – voltou a desabafar – Eu sou tão confusa que às vezes acho que eu mereço tudo isso ou que realmente não vou ser feliz com quem eu amo, porque já é a segunda vez... – desviou o olhar do dele, chorosa.
– ... – suspirou ao ouvi-la falar aquilo – Se tem alguém que merece ser feliz é você, não quero pense o contrário, tudo bem? – tocou o rosto dela levemente – Mas me diz... Nesse primeiro caso... Você e a pessoa tentaram?
respirou fundo, desviando o olhar mais uma vez. Como falaria daquilo sendo que o “primeiro caso’’ era ele mesmo?
– , eu não sei, não... Tenho vergonha de falar disso com você – confessou escondendo o rosto vermelho – Mas, não... Eu... Eu nunca contei pra ele – olhou para novamente – Eu perdi a chance, mas de qualquer maneira nunca foi recíproco – abanou o ar querendo disfarçar, com medo de que alguma maneira ele soubesse que ela estava falando dele.
– Eu... Ok... Certo – se remexeu no sofá, mas não a soltou do abraço – Nesse caso, pelo que você contou, não tem como saber se era recíproco, você não tentou, bonitinha – apertou o nariz dela antes de fazer uma careta, fazendo a menina sorrir de leve e franzir o nariz de uma maneira extremamente fofa.
– Eu não tentei porque não podia... Não tive oportunidade... E tive, na verdade ainda tenho, muito medo de estragar a amizade... – fez uma pausa, respirando fundo.
quis gritar e dizer que a amizade dos dois não mudaria em nada, mas, bom, ele nem tinha mais certeza se ainda sentia algo por ele. E, de qualquer maneira, aquilo era uma desculpa pelo medo que ela sentia. E sabia bem daquilo porque sentia o mesmo.
– Enfim, agora eu tô com o e apesar de amar ele, eu... – voltou a falar e riu fraco de maneira melancólica – A gente não esquece o primeiro amor mesmo que não seja recíproco. Você esqueceu a Angelina, sua primeira namorada?
Bingo. Era a informação que ele queria.
– Angelina não foi meu primeiro amor... – confessou ficando um pouco vermelho – Aprendi isso com o tempo... A gente sabe quando é amor mesmo... E bom, com ela não era.
– Não? Quem... Quem foi? – Franziu o cenho confusa, ficando pensativa por alguns momentos – Como eu sei se é amor mesmo?
– Bom, eu soube que era amor quando vi que não importa o quanto eu tente me afastar, aquela pessoa sempre vai ser a pessoa que vai me transmitir uma sensação de lar, sabe? De ter encontrado meu lugar... – enrolou o cabelo dela no dedo e apoiou o queixo no ombro de – Eu sei que é amor porque... Não importa se uma menina dê em cima de mim usando o perfume mais caro do mundo, pra mim não vai chegar nem aos pés do perfume da pessoa que eu amo, e eu sinto que cada segundo com ela é intenso e bem vivido, que vale a pena... – suspirou longamente – Bom, se você... Se você sente ou sentia essas coisas, e tem o abraço da pessoa como casa, é amor, .
A menina ouviu as falas de em silêncio, sua cabeça à mil e seu coração acelerado. Tudo aquilo... Ela sentia. Sabia o que era o amor, então, ela não estava errada naquele ponto. Mas estava errada em achar que sentia amor por .
Era por . Sempre foi...
Os olhos dela marejaram ao se dar conta daquilo.
O perfume que ela mais amava era o que estava sentindo no momento. A intensidade do momento que estavam tendo, e o abraço em que estava envolvida... estava em casa.
Ainda amava com todas as suas forças, com todo o seu ser.
Uma lágrima escorreu e ela se apressou em limpar.
– Eu... Meu deus – mordeu o lábio, desejando que tudo aquilo que falou ele sentisse por ela.
Mas sabia que não...
ficou em silêncio por alguns segundos, se perguntando se conseguia sentir o quão acelerado seu coração estava.
– Você... É o ? – resolveu quebrar o silêncio, um pouco receoso a fitando intensamente, ainda sem receber resposta – Porque se for... – suspirou ao pensar naquilo – Eu nunca disse pra pessoa que eu amo o que eu sinto, e eu me arrependo bastante disso, , porque fico sempre pensando em como seria estar junto com ela mas não fiz por onde... Então, se ele é a pessoa que você ama, não deixa ele escapar, você tem que falar mesmo, e ele vai ser o maior babaca da história se não der valor pra isso... Porque, droga, – balançou a cabeça – Você é incrível...
sentiu um frio na barriga ao ouvir o elogio de , e apenas balançou a cabeça em negação para a pergunta dele.
– Não, , não é... Acabei de perceber que não amo meu namorado e agora tô me sentindo culpada por ter falado pra ele que amo – ela riu limpando o rosto, secando as lágrimas que caíram.
estava confusa e assustada depois de perceber aquilo, ainda mais pelo momento que estava tendo com . Ela queria se virar e dizer que era ele, sempre foi e provavelmente sempre seria, mas não tinha coragem...
– Existem formas de amor, você pode amar o , mas não no sentido romântico – fez uma careta.
– Talvez eu... Ame ele mais como amigo? – franziu o cenho – Eu devia terminar com ele, talvez... Droga, o que eu faço agora? Eu assustei ele e nem o amo... – ponderou confusa como se falasse consigo mesma.
– É, você provavelmente confundiu as coisas... – suspirou um pouco cansado – Eu pensei que amava Angelina, mas não chega nem perto do que sinto por vo...¬você sabe quem – arregalou os olhos ao perceber o que quase falou.
– Na verdade eu não sei, não... – disse baixo, sem perceber a hesitação dele – Você não me contou...
E, na verdade, ela nem sabia se gostaria de realmente descobrir sobre quem ele estava falando. ficou em silêncio, sem saber o que responder. Estava com medo. A conversa, apesar de ter sido bastante esclarecedora, a deixou um pouco confusa e sem saber o que fazer.
– Sua história parece com a minha, né? Como... Como pode eu... Depois de tanto tempo... – resmungou meio confusa.
– Depois de tanto tempo? – franziu o cenho – ... – sentiu esperança e medo – A pessoa que você sente isso... É o primeiro menino que você disse?
engoliu seco. Não era a hora de responder aquilo.
– Ahm – resmungou baixo depois de pigarrear, se ajeitando no sofá e deitando contra o peito dele – Eu não... Nós podemos mudar de assunto?
suspirou, mas concordou. Não insistiria.
– Podemos – ficou em silêncio se perguntando o que aquilo significava, afinal. Ela o amava ou não? – Você quer comer algo?
– Não... Eu só quero ficar aqui com você – ergueu o rosto para o encarar, e ele sorriu.
– Então fica comigo... – era quase um pedido.
sorriu, seus olhos brilhando.
– Você me fez parar de chorar com a maior facilidade, ... Não tem ninguém como você – declarou antes de voltar a abaixar a cabeça, sabendo que aquela frase podia ser interpretada de diversas maneiras, mas não se importou.
Ela o amava. Queria tanto que as coisas fossem mais simples...
– , eu vou sempre fazer de tudo pra você ser feliz... Não tô brincando quando digo que te amo – fez carinho no rosto dela e aproximou seu rosto enquanto fitava os lábios da menina, mas a beijou na testa.
– Também te amo... Muito... Vou deixar a sozinha e dormir com você hoje – tocou o rosto dele levemente, deslizando a mão até a nuca dele, fazendo carinho.
deu uma risada gostosa.
– Pode dormir comigo, eu não vou reclamar – sorriu – Faço cafuné até você dormir, o que acha?
– Acho ótimo – sorriu verdadeiramente – Mas podemos dormir numa cama? Ou colchão? Porque aqui vamos acordar tortos e bom... Cama é mais confortável – sorriu doce.
deu um sorriso pequeno, quase melancólico, querendo que a situação fosse outra, e que aquelas frases fossem ditas em outra circunstância.
– Pretendia te levar pro meu quarto, bonitinha – riu a pegando no colo com um sorriso arteiro, já subindo as escadas ainda com ela nos braços, e sorriu para ele, abraçando o pescoço de enquanto era carregada.
– Obrigada por ficar comigo... – agradeceu baixinho.
– Não precisa agradecer, – sorriu sincero a colocando no chão já na porta do quarto.
Ela sorriu mais uma vez.
– Acho que eu deveria tirar a maquiagem, colocar um pijama da e vir deitar com você... – as bochechas dela coraram levemente ao pensar que dormiria sozinha com o menino que amava – Você espera?
– Claro que espero, – respirou fundo, pensando que seria bom um tempinho para se acalmar e se preparar para dormir com ela, sem demonstrar nada – Aliás – arregalou os olhos – Cadê minha irmã?
– Ah – sorriu sem jeito – Ela deve estar com o Dougie, ele que nos trouxe pra casa, devem estar conversando – suspirou torcendo para tudo estar bem – Eu já volto – sorriu pequeno para , entrando no quarto de com o coração acelerado.
apenas assentiu com a cabeça, e suspirou coçando a nuca preocupado com sua irmã, decidindo espiar pela janela, encontrando os dois em frente à casa, ainda conversando. Respirou aliviado e então entrou no próprio quarto, arrumando rapidamente o ambiente antes de descer para pegar alguns doces para os dois, sabendo quais eram os favoritos de .
Depois de ajeitar tudo, ele se deitou e ligou a televisão em um filme qualquer, tentando se distrair e fingir que seu coração não estava acelerado de maneira irritante.
No outro cômodo, lavou o rosto, tirando a maquiagem com calma. Resolveu tomar uma ducha rápida também, que não levou nem cinco minutos. Colocou um pijama de e escovou os dentes. Encarou seu reflexo no espelho, o colar com o pingente de guitarra que deu a ela pendurado em seu pescoço. Tocou a peça, suspirando triste.
Como olharia para ele depois de dizer que o amava e descobrir que na verdade não era amor? Que, na verdade, sente amor por outro? Que ainda amava com todo seu coração?
Meu Deus...
– Por que você tem que ser tão confusa? – perguntou ao seu reflexo.
Suspirou e saiu do quarto, respirando fundo antes de bater na porta do quarto de , mesmo estando aberta, apenas para avisar que estava entrando.
– Oi.
olhou para a porta na direção de , e se perguntou como ela conseguia ficar ainda mais bonita daquele jeito tão natural.
– Vem cá... – a chamou, abrindo espaço na cama para que ela se deitasse – Você se incomoda se eu dormir assim? – apontou o fato de estar sem camiseta – Posso vestir algo, não quero que não se sinta à vontade aqui.
abriu um sorriso pequeno e mordeu o lábio, observando o peitoral de .
Se importar? Mas é claro que não.
Balançou a cabeça em negação.
– Eu sempre me sinto a vontade com você – foi sincera, se deitando na cama ao lado dele, ficando de frente para .
– Deve ser porque você tá acostumada comigo na sua vida desde sempre – riu fraco levando a mão ao rosto dela, fazendo um carinho lento – Aliás, , eu tive uma ideia... – abriu um sorriso bonito – Sempre que estiver triste, ao invés de ir chorar no quintal da sua casa, você pode me procurar, e a gente faz daqui o nosso refúgio... O que acha?
Os olhos de brilharam com a ideia.
– Pode ser... Mas eu não quero incomodar...
– , desde quando tentar te fazer bem me seria um incômodo?
– Ah, – suspirou baixo – Há menos de um mês você tava me tratando como a pior pessoa do mundo, lembra? – abaixou o olhar ainda sem saber o motivo daquilo – Então eu realmente não quero incomodar, porque vai doer demais se você voltar a me tratar como... Como... – ergueu o olhar para ele com os olhos marejados de novo – Como se eu não significasse absolutamente nada pra você...
suspirou, se sentindo culpado. Era verdade. Ele tinha se fechado e se afastado, porque doía demais ver com , e também odiava saber que a menina sofria por sua causa. Ele sabia daquilo. Então resolveu ficar longe, para que ela pudesse ser feliz com o namorado.
– Eu não fiz isso por mim... – murmurou – Você... Eu não posso explicar, – suspirou ainda tocando o rosto dela – Mas não teve um dia se quer que eu tenha te amado menos, ou me importado menos...
– Por que não pode explicar? – perguntou confusa, chegando um pouco mais perto de , tocando os pés dele com os seus. As duas mãos dela foram para baixo de sua cabeça, usando quase como um travesseiro – Eu não entendo...
– Eu explicar isso requer explicar muita coisa – fitou o rosto dela com atenção, preso em cada detalhe – Então só posso pedir pra que confie em mim... Cada atitude que eu tomei, foi pensando em você e no seu bem – juntou sua testa na dela, ficando perigosamente próximo, fechando os olhos aproveitando o momento – Confia, ?
sentiu seu coração acelerar com a proximidade de . Ela tentou não fazer alarde, tentou respirar fundo e manter a calma. Enquanto ele fechava os olhos, manteve os seus bem abertos, estudando cada traço do menino.
– E–eu confio – respondeu baixo, sua voz saindo trêmula – Confio muito...
– Então é isso... – disse quase em um sussurro, tocando a cintura dela por baixo da camiseta do pijama, fazendo encolher levemente a barriga ao sentir o toque dele – Acredite quando digo que quero o seu bem, e que faria tudo pra te ver feliz, mesmo que tivesse que abrir mão da minha felicidade – passou seu nariz no dela de forma lenta e carinhosa – E mesmo que às vezes pareça que sim, nunca vou deixar de estar aqui pra você, .
estava quase entrando em combustão.
Meu Deus, meu Deus, meu Deus...
Tudo o que ela sempre quis foi estar daquela maneira com , ter o menino tão próximo, poder dizer tudo o que sente, ser retribuída...
Ela respirou fundo, tentando entender o que tudo aquilo significava.
– , eu... Eu amo você...
E, ao ouvir a declaração dela, o coração de acelerou mais do que em qualquer outro momento em sua vida, e ele desejou, mais do que nunca, que aquela fala fosse dita no sentido romântico.
– Eu também amo você, ... – afastou um pouco o rosto só para poder observar , abrindo os olhos – Você nem imagina o quanto.
– Você também não imagina o quanto – ela disse, abrindo um pequeno sorriso triste.
levou sua mão até o cabelo dele, tirando alguns fios do rosto, observando os olhos de .
Como ele podia ser tão lindo?!
Sem perceber, aproximou mais seus corpos, ainda sem tirar os olhos dos dele, o encarando.
– O que... – prendeu o ar ao notar a aproximação dela, fitando os lábios de . Por deus, queria tanto poder beijá–la... – Amanhã as coisas vão melhorar – a fala foi mais para conscientizar a si mesmo do que ela.
Amanha ela estaria fazendo as pazes com .
E ele continuaria ali, a amando de longe.
O coração de estava uma confusão. Ela não trairia , mas se fosse mais inconsequente, provavelmente estaria grudando sua boca na de , sem medo de ser rejeitada. Em sua cabeça, ela só pensava como conseguiria olhar para o namorado no dia seguinte, tendo certeza, agora, de que o amor que sentia por não tinha mudado, pelo contrário...
– Eu espero que sim, mas n... – balançou a cabeça, desistindo de falar, abrindo um sorriso pequeno – Eu espero que sim.
sorriu um pouco forçado, não sabendo mais o que dizer. Puxou para um abraço, fazendo-a deitar a cabeça em seu peitoral, não querendo que ela visse sua expressão confusa. E se aconchegou contra , levando sua mão até o peitoral dele e pousando ali, fazendo um carinho leve e gostoso.
– Seu abraço é um dos meus lugares favoritos no mundo – ela disse baixo, se recordando do que ele falou mais cedo sobre o abraço da pessoa que amava ser como casa – Você é uma das minhas pessoas favoritas no mundo...
– Seu abraço é como casa pra mim – murmurou sem pensar duas vezes, se perguntando se faria a associação das falas.
franziu o cenho ao ouvir a fala de . Seu coração acelerou e sentiu seu estômago revirar.
"Se você tem o abraço da pessoa como casa, é amor."
É amor.
Não era possível, com certeza ele não estava falando sério. Estava enganado, pensando em outra pessoa ao falar aquilo, qualquer coisa, não?
– Meu... M–meu abraço? – perguntou baixinho.
– Seu abraço... – suspirou beijando a cabeça dela, querendo deixar aquilo para lá – É melhor você dormir, deve estar cansada – a apertou mais em seus braços, querendo que de alguma forma ela sentisse o que ele queria transmitir.
ainda estava desnorteada, mas ao ouvir a mudança de assunto dele, em sua cabeça confusa, teve certeza de que ele tinha se confundido e se enganado.
– Claro, é melhor eu ir dormir – os olhos dela marejaram, e ajeitou o corpo levemente, fechando os olhos, o que fez com que algumas lágrimas caíssem – Obrigada...
– Não precisa agradecer – murmurou baixinho, fazendo cafuné no cabelo dela – Pode dormir tranquila, não vou sair do seu lado um segundo se quer.
ficou em silêncio, enquanto as lágrimas rolavam. Não estava se importando se percebesse. Ela não conseguia parar de chorar. Aos poucos o sono foi chegando e ela foi começando a sentir os olhos pesarem.
, por sua vez, fechou os olhos, sentindo a pele ser molhada pelas lágrimas dela, fazendo ele mesmo querer chorar.
Estava com a menina que amava nos braços, e ela chorava por outro.
Bom, era o que ele pensava...
Será que não entendia? Não percebia?
O coração dele era totalmente dela.
Assim como ele inteiro.
Ela se abraçou mais um pouco a e soltou um suspiro baixo, finalmente caindo no sono, desejando que as coisas se resolvessem e ela pudesse dizer que o amava mais que tudo. Que era com ele que ela queria ficar, era por ele que ela chorava, ela por ele que seu coração acelerava...
Mas não podia.
Porque não era recíproco, ela deixou para lá qualquer desconfiança quando mudou de assunto antes.
Naquela noite, nos braços dele, sonhou com os dois.
FIM DO FLASHBACK
Depois dessa noite, as coisas entre e ficaram um pouco estranhas. E ela não gostava nem de lembrar...
A menina tinha decidido se afastar um pouco de , para tentar focar em seu relacionamento com . O casal conversou e resolveu a situação que os levou a brigar anteriormente, então, deixou um pouco de lado.
O que acabou sendo bem mais difícil do que ela imaginava.
Já finalizando o macarrão e o molho, levou a comida para a sala de jantar e voltou rapidamente para a cozinha para deixar o bolo pronto para servir mais tarde. Pelas suas contas, já estava para chegar.
Então, ela se apressou em finalizar a decoração, e depois observou o resultado da mesa de jantar, sorrindo satisfeita, sentindo sua barriga se revirar de ansiedade. Checou as horas em seu celular, constatando que, realmente, chegaria em poucos minutos.
Tinha feito seu macarrão com molho de frango e queijo que o menino amava. Tinha feito suco de abacaxi com hortelã, que era o preferido dele. Além de um bolo enorme de chocolate, que ele também gostava muito. A mesa estava posta de maneira simples, mas as intenções daquele jantar estavam bem claras: era um jantar romântico.
E ela estava muito, muito ansiosa.
Já fazia alguns dias que tinha terminado com , e explicado para o garoto que, na verdade, nunca tinha deixado de amar . Fora difícil, ficou um caco, porque fez aquilo justamente no dia da formatura do menino, e ele havia preparado uma surpresa para ela, para dizer que tinha percebido que também a amava de verdade.
Mas, então, quebrou o coração de .
E ela vinha lidando com a culpa desde então, mas, como seu melhor amigo dissera... Era melhor terminar do que seguir daquela maneira, não?
Durante esse tempo que ficou longe, até tentou contar a ele sobre o término, mas as mensagens enviadas, em sua maioria, não eram respondidas e, quando eram, sentia que queria fazer tudo, menos conversar com ela. Então ela desistiu.
Por isso, agora, cerca de quase um mês depois do término, e um ou dois dias depois que voltou para a cidade, ela tinha certeza de que ficariam juntos.
Não tinha o que dar errado. amaria, ela sabia. Os dois eram perfeitos um para o outro. Ele era o amor da vida dela, sua alma gêmea... Daria tudo certo.
E, enquanto esperava, novamente os pensamentos dela voaram. Dessa vez, até o segundo diálogo importante: o fatídico dia em que resolveu a confrontar por estar distante e também declarar seu amor por .
FLASHBACK
– Querida, avisa o que talvez você não consiga sair h...
– Mas mãe! – choramingou, sem deixar Anne terminar – Hoje estamos fazendo sete meses, combinamos de s...
– Família, – ela cortou a filha – Vocês podem sair amanhã, se não der tempo – a menina bufou frustrada e irritada – Sem cara feia pra mim, mocinha!
forçou um sorriso e saiu batendo o pé, pegando seu celular para enviar uma mensagem ao namorado, avisando que teria que avisar mais tarde se fosse conseguir sair com ele. Estava tão empolgada e feliz, porque as coisas estavam indo tão bem entre os dois... Ela tinha conseguido deixar um pouco para lá, focado em seu namoro... E realmente estava com esperanças, cada vez mais, de que a paixão virasse amor. Seria uma noite linda.
– Que horas vem e ? Sua mãe precisa de ajuda pra arrumar as coisas, sabe disso – John disse ao passar pela filha.
– Devem estar chegando – deu de ombros, sem tirar os olhos do celular.
– Filha – John chamou – Sei que queria sair com seu namorado, mas faz tempo que não vemos seus tios, então, por favor...
– Eu sei, pai – ela suspirou guardando o aparelho. Foi até ele e beijou sua bochecha – Vou subir e desço quando eles chegarem, tá? – avisou, já subindo as escadas.
John concordou e foi até a cozinha com a esposa, que preparava a sobremesa para já deixar pronta.
E, enquanto isso, na casa ao lado, se arrumava.
Ele colocou a camisa social se olhando no espelho, fazendo um trato mental consigo mesmo.
Se levasse o namorado para o jantar, não questionaria nada, e respeitaria o afastamento dela. Agora, se não fosse, talvez significasse que realmente não o amava, e quem sabe tivesse desistido do namoro...
E isso lhe daria alguma chance.
– Pronto? – entrou no quarto com um sorriso simples – Tá bonito...
– Gosto desses jantares em família – sorriu de volta para a irmã.
– Te lembra que a gente não tem uma? – arqueou as sobrancelhas sendo irônica.
– A gente tem, – apertou o ombro dela e revirou os olhos – E estamos atrasados pra jantar com eles.
Saiu com a irmã, chegando sem demora à casa vizinha, onde os melhores amigos de seu falecido pai moravam. Tocou a campainha mais ansioso que o normal, ganhando um olhar desconfiado da irmã.
tinha suas desconfianças, mas nunca falaria nada enquanto seu irmão não resolvesse abrir o bico, o mesmo com sua melhor amiga.
No andar de cima, ouviu a campainha e nem se mexeu. tinha ficado um pouco chateado, e com razão. Mas disse que esperaria o aviso dela e que se não desse, fariam algo amanhã.
Ela suspirou, se levantando e ajeitando o vestido que tinha colocado para o jantar, sentindo agora um pouco de ansiedade para ver . Sabia que as chances de ele questionar o afastamento dela eram altas, mas, mesmo assim, seria bom revê-lo, já que passou os últimos dias fugindo dele.
Ela sentia saudades, fazer o quê? Nunca negaria isso.
John, pai de , foi quem abriu a porta.
– Oi – sorriu calorosamente, pronto para receber abraços – Como vocês estão?
– Oi, John! – o abraçou sorridente – A caçula tá mal-humorada, eu acho, mas eu tô bem – implicou com a irmã antes de entrar na casa, enquanto apenas revirou os olhos negando com a cabeça, abraçando John apertado em seguida.
John riu, dando tapinhas nas costas de e depois um beijo na cabeça de .
– E tá emburrada por quê, criança? – indagou segurando o rosto dela, procurando por alguma resposta.
– Eu não tô emburrada... – respondeu com um sorriso pequeno e forçado – Achei... achei algo da mãe lá em casa – admitiu suspirando – Pensei que ela tivesse levado tudo, ou se livrado de tudo – deu de ombros desviando o olhar, chateada ao pensar na mãe que não via há anos – Mas não me importo...
John analisou as feições de e por fim suspirou, a abraçando novamente pelo ombro.
– E o que é esse algo? Quer lidar com isso agora ou depois? – fez carinho no rosto dela, engatando uma conversa com a mais nova, a levando para o outro ambiente.
– Oi, querido – Anne apareceu, sorrindo e dando um beijo primeiro em – Tudo bem?
– Sim, e a senhora? – segurou a mão de Anne e deu um beijo – Linda como sempre – sorriu para ela, novamente olhando ao redor de maneira nada discreta.
– Tudo ótimo, querido – respondeu arrumando a gola da camisa dele, abrindo um sorriso pequeno ao perceber que ele procurava pela filha. Claro que ela sabia... – tá lá em cima emburrada – ela riu – Deve descer logo.
– Quer que eu... suba? – perguntou sem saber se devia ou não, cada vez mais tenso e com expectativas para ver .
– Não precisa... – piscou para ele, indicando a escada.
descia em silêncio, ficando um pouco vermelha instantaneamente ao ver . Ela mordeu o lábio internamente, repetindo para si mesma, como um mantra, para que se controlasse e não fizesse nada estúpido.
– Oi – cumprimentou.
soltou um suspiro baixo sem perceber.
– Oi... – se aproximou dela – Você tá linda – elogiou sincero a admirando – vai babar hoje – jogou verde semicerrando os olhos.
Anne sorriu ao ver a cena e, no mesmo momento, a campainha tocou, anunciando a chegada dos outros convidados, então a mais velha se afastou, indo abrir a porta, deixando os dois sozinhos.
sorriu fraco, sentindo seu coração acelerar com a proximidade de . “Você também tá lindo”, pensou em responder, mas apenas sorriu em agradecimento e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha.
– não vem – contou meio emburrada.
– Não vem? – arqueou uma sobrancelha surpreso, sem conter um sorriso pequeno com a informação. Pela expressão descontente dela, pensou que as coisas estivessem ruindo entre os dois – E nesse jantar... Você vai continuar fugindo de mim, ou vai agir normal? – perguntou baixo deixando claro que havia percebido a mudança de comportamento dela.
balançou a cabeça, engolindo seco. – Não, eu... Não tô fugindo, – ela desviou dele, seguindo caminho até a sala para cumprimentar os tios – Impressão sua – Sorriu sem mostrar os dentes.
– Uau, imagina se tivesse... – concordou sarcástico a seguindo para cumprimentar os parentes antes de se sentar ao lado de para o jantar, ficando entre ela e sua irmã – Se quiser eu posso procurar um lugar mais distante – murmurou irônico para a menina.
olhou para e suspirou, balançando a cabeça em negação.
– Você pode sentar onde quiser... Só não fica com ironia pra cima de mim, por favor – pediu baixo, sorrindo forçadamente antes de responder a um comentário vindo de um de seus tios.
– Claro... – manteve o sorriso irônico – Você pode aparecer e depois se afastar quando bem entender que eu vou continuar aqui, normal, não é? E vai ser sempre impressão minha... – resmungou.
estava prestes a responder a fala dele, mas a voz de sua mãe a interrompeu, então ela ficou quieta.
E suspirou desanimado sem entender. Se não estava mais na jogada, por que ela ainda agia tão estranho com ele? Não queria admitir, mas machucava muito ver a pessoa que ele amava se aproximando e se afastando como se não fosse nada demais. – Então, bom apetite! – Anne disse se sentando ao lado do marido depois de colocar a comida na mesa.
– Vamos comer? – John disse se levantando para se servir, e o restante dos convidados seguiu sua deixa.
Lançando um olhar duro a , como se pedisse para ele não fazer aquilo naquele momento com todos presentes, ela virou o olhar e resolveu falar com .
– Ei amiga – cochichou para , inclinando a cabeça para espiá-la – Nem me deu oi.
– Oi, amiga – sorriu pequeno, e mal teve tempo de puxar conversa, já que logo seus tios começaram a fazer perguntas.
– – um dos tios falou – Já sabe o que vai fazer de faculdade? já sei que é literatura, desde pequena a menina tem o dom da escrita...
– Ah, sim – respondeu ao tio com um sorriso sem graça ao lembrar que não havia passado no vestibular, se cobrando mesmo no primeiro ano do colegial, já que era extremamente inteligente e adiantada – Psicologia, em Londres.
– Ah, psicologia é um ótimo curso – o tio respondeu.
– Ela e querem morar juntas em Londres – John quem disse – Tô me preparando psicologicamente, desde já, pra ficar longe das minhas meninas...
Anne riu.
– Elas sabem se virar e ainda falta mais de um ano, querido – tranquilizou o marido.
– Bom, se vocês forem pra Londres, sabem que suas primas estão morando lá também – o outro tio respondeu, se referindo as filhas dele – Então, se precisarem de algo...
– Obrigada, tio – sorriu pequeno. Gostava muito de uma delas, mas ela e detestavam a outra com todas as forças. Portanto...
– Sabe que a gente sempre vai vir visitar vocês – sorriu para John e Anne – E vamos esperar visita também!
– Tenho certeza que sim, porque nós também vamos – John sorriu.
A conversa se seguiu entre todos os convidados, menos e , que não trocavam uma palavra. Não demorou para que todos já estivessem satisfeitos, e Anne limpou a boca com o guardanapo ao se levantar.
– Prontos para a sobremesa? – perguntou já se levantando para levar tudo a cozinha, lançando um olhar a para que a ajudasse.
suspirou também e se levantou, pegando alguns pratos e indo atrás da mãe.
– Você tá muito quietinha. Me desculpa por não deixar o vir, filha...
– Tanto faz, mãe, eu só... – balançou a cabeça – Vamos servir a sobremesa logo, tá bem?
Anne a encarou preocupada, colocando as taças e o mousse em uma bandeja para levar até a sala.
– Olha – Anne parou antes de sair da cozinha – Você e costumavam ser tão amigos, o que... O que aconteceu? – perguntou investigando, tentando descobrir algo ou apenas confirmar suas suspeitas.
franziu o cenho surpresa com a pergunta, ficando um pouco tensa.
– Nada, mãe... Nada – respondeu baixo.
– Bom, sei que é mentira. Então vocês dois vão ficar encarregados de lavar toda a louça e arrumar aqui, pra ver se resolvem esse “nada” que tá rolando entre vocês – ela decretou.
– Mãe! – esbravejou irritada – O ...
– Depois – disse firme antes de sair dali, deixando perdida em pensamentos – Mousse de chocolate! – anunciou colocando o prato na mesa.
veio atrás, em silêncio, se sentando novamente em seu lugar com uma expressão carrancuda.
franziu o cenho pro irmão em uma comunicação silenciosa questionando o porquê da cara fechada dele – que estava pior que a de , por sinal –, já que antes ele estava todo animado, mas apenas deu de ombros em resposta.
– O mousse mais gostoso que eu já comi – sorriu para Anne se servindo mais um pouco, não olhando na direção de , mesmo percebendo que ela havia voltado diferente.
– É o melhor que existe – John sorriu, elogiando a esposa.
– Fico feliz que tenham gostado – Anne agradeceu.
ficou apenas brincando com o mousse em seu prato, comendo bem pouco. Perdeu bastante o apetite depois da conversa com a mãe e do clima estranho entra ela e . Por que ele não entendia que era para o bem dela? Por Deus...
– Irmãos – John chamou pelos dois – O que acham de um whisky? Vamos lá pra sala – se levantou, pegando seu copo, aguardando pelos dois.
Anne sorriu e quando a sala ficou vazia, com apenas ela e os filhos, ela se levantou, pegando algumas coisas para levar para a cozinha.
– , querido – chamou por ele – Você pode ajudar a arrumar tudo na cozinha?
– Mãe...
– Por favor? – ignorou a fala da filha. – Eu preciso conversar uma coisinha com a ...
lançou um olhar de ajuda a amiga.
– Ahn... Claro – concordou engolindo em seco, nunca saberia falar não pra Anne – Sem problemas – sorriu forçado já indo para o cômodo sem esperar por .
encolheu o ombro em resposta ao olhar de , não sabendo o que fazer para ajudar a amiga.
suspirou um pouco irritada com a falta de resposta e se levantou também, seguindo até a cozinha. Ela entrou em silêncio, indo direto para a pia lavar a louça.
– Eu lavo, você seca – disse a .
– Como preferir – sorriu do mesmo modo que durante o jantar inteiro – Você vai mesmo agir como se não tivesse se afastado? Assim, só pra confirmar...
suspirou, fechando a torneira e apoiando as mãos na pia.
– ... Eu tô só tentando... Tô tentando fazer tudo dar certo, pro meu bem – disse antes de respirar fundo e voltar a lavar a louça.
– Então eu te faço mal, é isso? – perguntou baixo sentindo o coração acelerar enquanto se aproximava dela, engolindo em seco. – Não, , você não me faz mal – não olhou para ele enquanto falava – Nunca fez e provavelmente nunca vai fazer, você não tem culpa do que e... – mordeu o lábio, balançando a cabeça – Olha – se virou para ele – Eu só tô tentando colocar a cabeça no lugar... Você fez isso uma vez...
– Sim, eu fiz, e foi pro seu bem também, mas eu... – suspirou balançando a cabeça – Deixa pra lá, você tem razão... – voltou a se afastar.
mordeu o lábio, sentindo os olhos marejarem. Agora ela não queria mais deixar para lá.
– Mas você...? – o incentivou a continuar. – Eu pensei em me afastar, eu pensei que isso realmente fosse ser melhor pra você – falou soltando o pano, ficando de frente para ela – ... – soltou uma risada nasalada e a olhou quase implorando pra que ela não fizesse ele ter que dizer aquilo – Mas seu abraço é minha casa – murmurou a encarando com intensidade – Eu não... Não consegui ficar longe – engoliu em seco – Mas eu... – fechou os olhos balançando a cabeça – Deixa isso pra lá, você tem razão em se afastar pra colocar a cabeça no lugar...
sentiu seu coração dar um pulo e acelerar de maneira absurda. Ela piscou algumas vezes ao ouvir aquela frase novamente. Ficou em silêncio um bom tempo, dividida entre querer rir por não acreditar naquilo e querer chorar por estar naquela situação.
Justo quando as coisas estavam indo bem com ...
– Essa frase de novo – olhou para ele com os olhos brilhando – Eu não vou deixar pra lá, não de novo, você... Meu abraço é sua casa? – perguntou baixinho, praticamente implorando por aquilo ser verdade.
– ... – se aproximou mais tocando o rosto dela de forma delicada apreciando cada traço, e deitou a cabeça levemente contra a mão dele – Você sabe o que significa... – deu um sorriso pequeno, a fazendo suspirar – Eu falei sério quando disse a primeira vez, e tô falando sério repetindo isso agora, – balançou a cabeça sem desviar o olhar do dela, não conseguiria nem que quisesse.
a olhava com tamanha intensidade, o brilho nos olhos dela... Ele tinha certeza de que nunca tinha os visto tão brilhantes antes.
– Eu sei que você namora – voltou a falar – Sei que é complicado por diversas questões, mas é o seu sorriso, o seu abraço, o seu perfume.... É você, e não acho que tenha algo que eu possa fazer pra mudar isso – riu fraco de maneira melancólica – E mesmo se tivesse, eu não faria, porque... Porque te amar é uma das coisas mais certas que eu faço na vida.
O coração de queria sair pela boca. À essa altura algumas lágrimas já desciam por seu rosto.
Como assim a amava? Como assim o que ela sentia era recíproco?
E por que diabos ele não falou isso antes?!
Meu Deus.
tocou a mão dele levemente, fechando os olhos por alguns segundos enquanto digeria todas aquelas palavras.
“Te amar é uma das coisas mais certas que eu faço da vida.’’
Ela deixou mais lágrimas escorrerem.
Tudo o que ela quis, durante anos, foi ouvir aquelas palavras. Aquela declaração.
E agora...
– Você não tem noção do tempo que eu esperei e sonhei em ouvir isso sair da sua boca... – disse baixinho, abrindo os olhos e o encarando.
E, nesse momento, sentiu o coração dar um salto em seu peito, e abriu um sorriso sincero ao ouvi-la.
Mas logo afastou a mão dele de seu rosto, limpando as lágrimas.
E então o sorriso de morreu.
– Mas você tá me falando isso três anos depois, quando eu tô feliz com meu namorado e tudo tá caminhando para que eu venha a amar ele... ... Meu Deus – escondeu o rosto nas mãos.
Os olhos de marejaram e ele desviou o olhar, não querendo que reparasse nas lágrimas que imediatamente se formara.
– Você tem razão – disse baixo dando um passo pra trás – Eu nunca tentaria estragar sua felicidade, eu... – sorriu um tanto melancólico – Fico feliz de as coisas estarem bem e você feliz, é só que... não veio, eu pensei que... – balançou a cabeça realmente não conseguindo ordenar seus pensamentos, se sentindo um pouco sufocado – Foi egoísta da minha parte, perdão – ficou de costas para , fechando os olhos com força tentando impedir qualquer lagrima de escapar.
– Não é egoísta, ... – ela suspirou, cruzando os braços de modo a se abraçar – Você só não conseguiu guardar pra você como eu e... Desde quando?! – questionou baixo, sem saber se ele tinha entendido que ela o amava em segredo já há algum tempo.
Por que ele não estava surpreso com os sentimentos dela?
– ... Por que... Por que você se afastou de mim, dizendo que era pro meu bem, aquela época? – voltou a falar ao não receber resposta, e foi até ele, seu coração ainda acelerado – Por favor, eu... Eu tenho algumas perguntas.
– Porque, naquela noite, você disse que bebeu daquele jeito por minha causa, ! – suspirou pesadamente, passando a mão pelos cabelos, fazendo arregalar os olhos ao ouvir a fala dele.
– Eu... Eu te contei mesmo aquela noite? Meu Deus... – ela abaixou a cabeça pensativa, os olhos ainda marejados.
Como podia não se lembrar?
– Sim, ... E eu me senti culpado... Quando você disse que era apaixonada por mim e tinha bebido por causa disso, fiquei pensando no mal que isso te trouxe, então aquela noite cuidei de você e decidi que me afastaria pro seu bem, pra você me esquecer sem precisar encher a cara ou algo assim – foi sincero voltando a ficar de frente para – Mas nunca consegui me manter muito longe, não é? – sorriu frustrado, se sentindo cansado emocionalmente.
– Mas quando você... percebeu que me ama? Quando começou a me ver assim? – uma lagrima escorreu ao fazer aquela pergunta – ... – se aproximou dele, desejando que aquela situação não fosse tão complicada.
Ela queria abraçá-lo e beijá-lo.
Mas ela estava com e gostava muito do menino, estava apaixonada... Ou, ao menos, pensava que estava...
– Que diferença isso faz, ? – perguntou, balançando a cabeça – Ei... Não chora – pediu baixo segurando o rosto dela com carinho, dando um beijo demorado em sua testa – Vai ficar tudo bem, – murmurou, mesmo sem ter certeza – E eu fico feliz pelas coisas se acertarem entre vocês dois... – se afastou dela colocando as mãos no bolso – Acho melhor eu ir embora.
sentiu mais dor ainda ao receber o beijo. Como podia ficar tudo bem? Como ela conseguiria seguir com depois de saber disso tudo?
– , por favor... N–não me deixa sem respostas – ela praticamente implorou – Você me fez perceber o que é realmente o amor, por favor, não... Não vai embora – Ela abraçou o próprio corpo, encarando-o. – ... – abriu um sorriso triste com os olhos marejados – As respostas não fazem diferença, fazem? – Fazem sim – ela fungou, engolindo seco – Mais do que você imagina – Encarou os olhos dele, entendendo que não teria as respostas que queria. E não insistiria. Era doloroso demais, por Deus... – As coisas vão ficar ainda mais estranhas entre nós dois, não vão? – mordeu o lábio segurando o choro.
– As coisas ficarão por um tempo – colocou o cabelo atrás da orelha dela – Mas a gente sempre dá um jeito e volta ao normal, não é? Você é a – deu um sorriso charmoso – E eu não fico sem você...
mordeu o lábio, balançando a cabeça em negação, tentando segurar o choro que estava preso em sua garganta. Sabia que quando começasse não ia mais conseguir parar.
– Claro... Sempre damos um jeito, ... – sorriu fraco, sem mostrar os dentes, tendo certeza de que aquilo não aconteceria daquela vez.
As coisas não ficariam bem. Como poderiam?
– Por que... Por que você resolveu me contar isso agora, que eu tô feliz com o , finalmente? Me diz, ? Por quê? – se afastou um pouco dele, balançando a cabeça.
– Idiotice minha – coçou a nuca um pouco envergonhado, e franziu o cenho – Eu pensei que... Pensei que eu tivesse chances – sorriu sem graça – Não sabia que você e o estavam juntos... Ele não veio, você meio com a cara fechada. Como disse, idiotice minha – encolheu os ombros – Mas eu supero, – brincou com um sorriso ladino, tentando em vão não parecer tão abatido.
– Claro, idiotice – tentou não deixar aquela fala a abater tanto.
Não era idiotice. O amor que um sentia pelo outro não era idiotice.
Meu Deus...
– Você teve mais coragem que eu, todos esses anos – ela suspirou triste deixando mais lágrimas escorrerem.
Novamente abraçou o próprio corpo.
– Eu tive porque pensei que... – revirou os olhos ainda com o mesmo sorriso no rosto – Bom, eu tive coragem e foi bom pra tirar a dúvida – deu de ombros querendo bancar a pose de que estava bem.
– , você... Se eu não tivesse com o , você teria todas as chances do mundo, mas eu... – soluçou baixinho – Eu... Resolvi dar uma chance pro que eu sinto por ele, eu tá tudo indo bem... Meu deus – balançou a cabeça – Eu não consigo fazer isso agora... Não consigo lidar com isso!
sentiu seu coração doer mais ainda. Era triste.
Os dois se amavam. Por que ela não terminava com o namorado e dava uma chance à eles, finalmente? Por que insistir sendo que sabia não amar ? Não fazia sentido para ele. Mas, como sempre, respeitaria...
– Não tem com o que lidar, , você tá bem com ele e isso é ótimo! – suspirou não aguentando mais aquilo, aquela situação, ter que olhar para chorando por sua causa, enquanto ainda tentava processar o fato de que possivelmente tinha estragado tudo por demorar tanto a se dar conta do que sentia – Realmente é melhor eu ir... – deu um beijo na testa dela, deixando uma lagrima escorrer sem perceber.
fechou os olhos ao receber o beijo, as lágrimas ainda rolando por seu rosto. Ela manteve os braços cruzados e olhou para ele, antes que ele pudesse realmente se afastar.
– ... – chamou mais uma vez, o encarando com os olhos tristes – Claro que tem com o que lidar! – gesticulou com as mãos – Você sabia esse tempo todo do que eu sinto por você!
– Vai ficar tudo bem, ... Não vou forçar a barra – garantiu e abriu um sorriso triste, ignorando as outras falas de , se afastando em seguida – A gente se vê por aí – acenou com a cabeça, saindo do cômodo.
encostou brevemente a cabeça em uma parede, chorando por alguns segundos antes de ir embora sem se despedir de ninguém, nem avisando sua irmã. Apenas mandou mensagem dizendo ter tido uma emergência com um amigo e foi fazer o que seria o melhor para o momento: encher a cara.
E , permaneceu sem rumo na cozinha, chorando como há muito tempo não fazia.
FIM DO FLASHBACK
– ! – Jenny riu sentindo os beijos de em seu pescoço – Um dia longe e sentiu saudades, é? – mordeu o lábio o abraçando mais apertado, ignorando os olhares que recebiam por estarem no meio do aeroporto.
– Senti... – o rapaz se afastou segurando o rosto dela fazendo um carinho leve – Sabe que me faz bem... – foi sincero roçando seus lábios sob os da namorada.
– Você roubou meu coração em menos de um mês! – a menina disse segurando a nuca do namorado – Como conseguiu isso?!
não respondeu. Não poderia dizer que seu coração era dela. Provavelmente sempre seria de .
Mas ele não podia pensar naquilo. Já fazia dois meses que não via . Aliás, eles mal tinham conversado durante esse tempo – mesmo a menina mandando algumas mensagens, o que não o ajudava em nada.
havia aceitado um trabalho em outra cidade, passou esse tempo fora, e seguiu em frente. estava com , feliz. E ele, com Jenny.
Tudo estava bem.
Ou pelo menos ele tentava acreditar fielmente nisso...
Então deu mais um beijo na atual namorada antes de então segurar sua mão e partir em direção sua casa.
O caminho foi tranquilo, Jenny contava como havia sido a viagem, seu dia sem ele, e tentava fazer comentários que demonstrassem algum interesse no assunto, mesmo que sua mente o sabotasse, voltando toda hora para sua vizinha.
Ele não tinha falado há pouco que tudo estava bem? Por Deus...
Talvez voltar não tivesse sido uma boa ideia... Como esqueceria alguém com quem teria que voltar a conviver?
– Uau, é uma casa muito bonita – Jenny elogiou esperando na porta enquanto trazia sua mala – Tô ansiosa pra conhecer sua irmã!
– Provavelmente só amanha, ela tá em uma festa – contou franzindo o cenho ao notar a luz acesa no interior, antes de abrir a porta – Ao menos eu acho...
Dentro de casa, já estava de pé desde que ouviu o carro parar na garagem. Suas mãos suavam e o coração batia forte. Ela não via a hora. Daria tudo certo.
Tinha que dar.
Mas o destino tinha outros planos.
Quando a porta se abriu e ela ouviu a fala de e a palavra namorado, seu mundo caiu.
– Jenny, seja bem-vinda à casa do seu namorado! – sorriu abrindo os braços.
A barriga de revirou e ela não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo.
Não, não, não...
encarava a loira, e o olhar era recíproco, já que Jenny estava estática.
– Quem é ela? – Jenny perguntou engolindo em seco.
– Ela? – fez uma careta confusa, só então se virando e enxergando ali.
O quê?!
– ?! – sua expressão não poderia ser mais surpresa – O que... – franziu o cenho só então reparando cada detalhe.
A mesa posta para dois, seu jantar favorito, tudo tão... Romântico.
Não.
Ela tinha escolhido ficar com .
O que estava fazendo na sala de sua casa, por Deus?
Esqueceu que Jenny lhe fizera uma pergunta. Esqueceu de qualquer coisa que não fosse o quão acelerado seu coração batia com os possíveis significados da presença de ali.
– Ahm – piscou algumas vezes, se lembrando de que precisava reagir, mordendo o lábio com força e fechando as mãos em punho, apertando as unhas em sua pele – Eu... Ahm – riu nervosa, sentindo os olhos arderem – me contou que você vinha com sua namorada e eu quis fazer uma surpresa pra vocês – inventou a primeira desculpa que pensou, nem imaginando que não sabia sobre o namoro do irmão.
– ? – Jenny fez uma careta confusa, olhando para o namorado – Ei, você não me disse que ela sabia! – cutucou com o cotovelo, mas com um sorriso bonito – Poxa, acho que nunca fui tão bem recebida!
sorriu de maneira forçada, e deu alguns passos para trás, tropeçando no pé da cadeira, quase caindo, rindo de maneira nervosa e exagerada.
– Enfim, tem bolo e... – balançou a cabeça respirando fundo.
Aquilo estava sendo péssimo, por Deus...
Em um momento rápido, decidiu se aproximar e tornar sua atuação mais convincente. Ainda assim, não ousou olhar diretamente para , que ainda estava estático olhando para ela.
– Prazer conhecer você – disse a menina.
– O prazer é todo meu! Me chamo, Jenny, mas você já deve saber – riu colocando o cabelo pra trás – O cheiro do jantar me parece ótimo, – elogiou sincera nem imaginando que nos planos de , ela não estaria ali.
piscou algumas vezes, sem entender nada.
Não comprou a história que contou, sobre ter falado, principalmente pelo fato de que a irmã não sabia de nada.
havia feito aquilo para eles... Mas por quê?
Ela sorriu sem mostrar os dentes para Jenny, os olhos ainda marejados, torcendo para ela não perceber. Precisava sair logo dali.
– Eu espero que gostem – abanou o ar – Bem vindo de volta, – olhou para ele pela primeira vez – Já fiz o que tinha que fazer, então vou pra casa – engoliu seco – Aproveitem! – disse em falsa animação antes de sair correndo, não querendo nem ouvir a resposta de , batendo a porta com mais força que o necessário ao sair.
Não ousou parar de correr até que chegasse em casa. Sentia sua barriga se revirar, seu coração apertar e o ar faltar de seus pulmões. Escorregou até o chão ao mesmo tempo que um soluço alto escapou de sua boca, chorando sem parar.
Ela tinha perdido .
Era tarde demais.
Talvez estivesse errada... Os dois não eram para ser. Ele não era o amor da vida dela. Não era sua alma gêmea...
Ela soluçou novamente e escondeu o rosto nas mãos, dobrando as pernas, encolhendo o corpo sem saber o que fazer.
Seu mundo tinha desmoronado por completo.
não soube dizer quanto tempo ficou no chão chorando. Tinha perdido total a noção. Aquilo não podia estar acontecendo...
Era o karma, só podia. Ela estava pagando por toda a dor que causou a quando terminou com ele, e agora ficaria sozinha para sempre.
Em sua cabeça adolescente, agora tinha certeza de que estava fadada a não ser feliz e pronto.
Apoiou as mãos no chão, se levantando com certo esforço, zonza pelo tanto que tinha chorado. Pegou seu celular checando que ainda não era mal 23h. Não ligaria para seu melhor amigo e nem para . Os dois estavam curtindo a festa e não mereciam e nem precisavam ouvir suas lamentações. Não de novo...
Sentiu seu estômago roncar de fome, mas ignorou por completo, sabia que se colocasse algo para dentro não cairia bem. Subiu as escadas e fechou a porta, não querendo que seus pais chegassem e a vissem naquele estado, mas foi só pegar seu celular que viu uma mensagem da mãe dizendo que passariam a noite em um hotel na cidade vizinha, porque John tinha bebido demais na festa e ela não queria dirigir a noite.
Pelo menos aquela informação a fez suspirar aliviada e se jogou na cama, se encolhendo e se abraçando em seu bichinho de pelúcia, enquanto voltava a chorar sem parar.
A dor era quase física e ela só queria dormir para não sentir mais nada. Ficar em seu quarto doía. Ela queria ir se sentar lá fora, no quintal, se enrolar em seu cobertor e chorar até dormir enquanto observava as estrelas no céu.
Mas não queria de maneira alguma que a visse de janela dele.
Não daquela vez. Não mais.
Então se afundou em sua cama, decidida a guardar a dor e tudo o que sentia à sete chaves.
Como fez durante os últimos anos.
E como voltaria a fazer por quanto tempo fosse necessário.
Depois de dois meses sem ver o garoto, já que havia viajado para fazer um curso, finalmente tinha tomado coragem.
Ela deu sorte de ter saído de casa para ir à uma festa com seus amigos, juntamente com , ex namorado de . Dessa maneira, a casa da amiga estava à sua inteira disposição para preparar o melhor jantar do mundo e dizer a que, finalmente, os dois poderiam ficar juntos.
Não havia mais nada que os impedisse. Poderiam, depois de tanto tempo, se entregar aos sentimentos e ao amor que sentiam um pelo outro.
era total e completamente apaixonada por , desde os quatorze anos – ela agora tinha dezesseis, e , dezoito. Ele era irmão mais velho de sua melhor amiga, , dois anos mais nova que . Os amigos moravam lado a lado desde sempre. e foram criados apenas pelo pai, mas ele infelizmente veio a falecer em um acidente de carro, e os pais de , que eram muito amigos do pai dos dois, foram essenciais na criação deles e os tratavam realmente como filhos.
Na época em que descobriu seus sentimentos, estava namorando, razão pela qual ela nunca falou nada a ele. Guardou o sentimento a sete chaves em seu coração. Com dezesseis anos, teve seu primeiro porre, e acabou confessando a e também a o que sentia por ele, fato que apenas ele se lembrava. permaneceu sem saber que tinha aberto seu coração, já que aquele assunto só foi trazido à tona em uma conversa bastante importante que os dois tiveram.
Foi a partir daquela confissão de que as coisas começaram a mudar para .
Algum tempo depois, começou a namorar, finalmente se permitindo viver algo ao invés de esperar que percebesse que também gostava dela. Ela ficou com durante alguns meses, tinha se apaixonado pelo menino, mas era apenas isso, não era amor. nunca deixou de amar . E foi então que realmente percebeu tudo o que sentia pela menina, e eles tiveram dois diálogos decisivos.
O primeiro, ocorreu um tempo atrás, logo após ter uma discussão com , na época em que namoravam, e tiveram uma conversa um tanto quanto intensa. Enquanto cozinhava, ela permitiu que as lembranças daquela noite viessem à tona...
desceu do carro de Dougie, ex-namorado de , andando rápido até a porta da casa da amiga. Abriu sua bolsa para pegar a chave que estava consigo, e checou seu celular, os olhos enchendo de lágrimas ao ver na tela. Tinham acabado de ter uma senhora briga. Quer dizer, dava para considerar aquilo uma briga?
A menina finalmente abriu a porta, não esperando por - que ficara no carro conversando com Dougie. Entrou em casa fungando baixinho. Seguiu até a sala, ainda no escuro, e estava prestes a sentar no sofá e se afundar chorando quando viu deitado.
Sem camisa.
Ela quase esqueceu os motivos pelos quais estava chorando.
– Ahm – limpou o rosto não querendo mostrar que estava chorando – Desculpa – virou as costas pronta para sair, mas nem se mexeu, soluçando baixo e abraçando o próprio corpo.
quase pulou do sofá com o susto que levou, já que não tinha ouvido entrar em casa. Seu coração não se acalmou ao ver quem era, na verdade se agitou ainda mais.
– Ei – se sentou a fitando preocupado – ... – não pensou duas vezes em ir abraçar , com ela de costas mesmo – O que houve? – apertou-a em seus braços sentindo o corpo dela trêmulo de tanto chorar.
nem se mexeu, aproveitando o abraço dele, tentando não se ater ao fato de que ele estava sem camisa.
– – virou a menina em sua direção – Não chora, eu tô aqui... Tô aqui pra você... – segurou o rosto dela com carinho, preocupado – Me diz o que houve?
Ela o encarou enquanto as lágrimas desciam, mordendo o lábio e soluçando baixo tentando se acalmar.
– – choramingou e jogou os braços ao redor do corpo dele – Eu acho que eu nunca vou ser feliz de verdade com quem eu amo...
tentou não fazer careta ao ouvir a declaração dela. Seria tão mais fácil se ela ainda o amasse e eles pudessem ficar juntos... Quer dizer, agora estava com ... O menino balançou a cabeça tentando não desfocar para dar a atenção que ela precisava no momento.
– Que história é essa? – perguntou baixo a guiando o sofá, a aconchegando em si – , de onde tirou isso?
tentou não levar em conta a sensação da pele nua dele contra o seu corpo, se sentindo mais em casa e em paz do que nunca. Era confortante...
– não acredita em amor, ... – ela ergueu o rosto para ele, os olhos marejados – Eu só... Parece que eu só amo quem não me ama de volta – mordeu o lábio, balançando a cabeça – Eu disse que eu amo ele e... Ele fugiu... – a menina fungou, escondendo o rosto.
– Como assim não acredita em amor? – fez uma careta confusa – Digo... Ele não ama ninguém? Não é possível viver assim... – engoliu em seco se sentindo culpado ao ver que ela acreditava não ser correspondida.
– Ele diz que ama a mãe dele e só, eu já tentei explicar e argumentar – contou chorosa, se afastando um pouco para olhar para ele – Eu lutei tanto tempo contra isso, pra não sentir isso por ele, porque eu... Eu... Sabia que ia ser assim, nunca dá certo com quem eu amo – balançou a cabeça em negação chorando baixo.
– Ele é um covarde... – murmurou mesmo que se sentisse um também – Mas sabe, você ama a , ela te ama, você ama seus pais, eles te amam e, bom... Eu te amo, ...
– Eu sei... Eu amo eles também e... – ergueu os olhos para ele – E eu amo você... – foi a primeira vez que falou olhando nos olhos de .
– Eu sei que ama – segurou a mão dela e deu um beijo, abrindo um sorriso bonito.
sorriu pequeno.
– As coisas seriam tão mais simples se... – mordeu o lábio, balançando a cabeça e voltando a se aconchegar nele – Deixa pra lá... Quando eu falei pra ele, a gente tinha... A gente tava...
– Mais simples se...? – a incentivou continuar – Vocês estavam o quê? Não entendi – perguntou temendo verdadeiramente a resposta que poderia receber.
– Se eu não tivesse sido burra no passado, , e me declarado... – a menina balançou a cabeça em negação, resolvendo realmente deixar pra lá – Mas deixa isso pra lá...
entendeu. Sabia do que ela estava falando. realmente não se lembrava de ter dito a ele o que sentia quando estava bêbada.
– A gente tava em um momento meio íntimo, sabe, eu... Eu me abri um pouco mais hoje – começou a contar sobre o acontecimento com , ficando um pouco vermelha em seguida.
– Vocês... – engoliu em seco sentindo seu estômago revirar ao imaginar nos braços de outro – Vocês... E ele fugiu? – começou a sentir a raiva tomar conta de seu corpo, se pudesse, socaria a cara do menino.
– É, algo assim... E aí quando terminou eu falei que amava ele... E fugiu, disse que eu sabia como ele se sentia em relação ao amor e bateu a porta – fez um bico, o choro voltando – Eu não sei, – voltou a desabafar – Eu sou tão confusa que às vezes acho que eu mereço tudo isso ou que realmente não vou ser feliz com quem eu amo, porque já é a segunda vez... – desviou o olhar do dele, chorosa.
– ... – suspirou ao ouvi-la falar aquilo – Se tem alguém que merece ser feliz é você, não quero pense o contrário, tudo bem? – tocou o rosto dela levemente – Mas me diz... Nesse primeiro caso... Você e a pessoa tentaram?
respirou fundo, desviando o olhar mais uma vez. Como falaria daquilo sendo que o “primeiro caso’’ era ele mesmo?
– , eu não sei, não... Tenho vergonha de falar disso com você – confessou escondendo o rosto vermelho – Mas, não... Eu... Eu nunca contei pra ele – olhou para novamente – Eu perdi a chance, mas de qualquer maneira nunca foi recíproco – abanou o ar querendo disfarçar, com medo de que alguma maneira ele soubesse que ela estava falando dele.
– Eu... Ok... Certo – se remexeu no sofá, mas não a soltou do abraço – Nesse caso, pelo que você contou, não tem como saber se era recíproco, você não tentou, bonitinha – apertou o nariz dela antes de fazer uma careta, fazendo a menina sorrir de leve e franzir o nariz de uma maneira extremamente fofa.
– Eu não tentei porque não podia... Não tive oportunidade... E tive, na verdade ainda tenho, muito medo de estragar a amizade... – fez uma pausa, respirando fundo.
quis gritar e dizer que a amizade dos dois não mudaria em nada, mas, bom, ele nem tinha mais certeza se ainda sentia algo por ele. E, de qualquer maneira, aquilo era uma desculpa pelo medo que ela sentia. E sabia bem daquilo porque sentia o mesmo.
– Enfim, agora eu tô com o e apesar de amar ele, eu... – voltou a falar e riu fraco de maneira melancólica – A gente não esquece o primeiro amor mesmo que não seja recíproco. Você esqueceu a Angelina, sua primeira namorada?
Bingo. Era a informação que ele queria.
– Angelina não foi meu primeiro amor... – confessou ficando um pouco vermelho – Aprendi isso com o tempo... A gente sabe quando é amor mesmo... E bom, com ela não era.
– Não? Quem... Quem foi? – Franziu o cenho confusa, ficando pensativa por alguns momentos – Como eu sei se é amor mesmo?
– Bom, eu soube que era amor quando vi que não importa o quanto eu tente me afastar, aquela pessoa sempre vai ser a pessoa que vai me transmitir uma sensação de lar, sabe? De ter encontrado meu lugar... – enrolou o cabelo dela no dedo e apoiou o queixo no ombro de – Eu sei que é amor porque... Não importa se uma menina dê em cima de mim usando o perfume mais caro do mundo, pra mim não vai chegar nem aos pés do perfume da pessoa que eu amo, e eu sinto que cada segundo com ela é intenso e bem vivido, que vale a pena... – suspirou longamente – Bom, se você... Se você sente ou sentia essas coisas, e tem o abraço da pessoa como casa, é amor, .
A menina ouviu as falas de em silêncio, sua cabeça à mil e seu coração acelerado. Tudo aquilo... Ela sentia. Sabia o que era o amor, então, ela não estava errada naquele ponto. Mas estava errada em achar que sentia amor por .
Era por . Sempre foi...
Os olhos dela marejaram ao se dar conta daquilo.
O perfume que ela mais amava era o que estava sentindo no momento. A intensidade do momento que estavam tendo, e o abraço em que estava envolvida... estava em casa.
Ainda amava com todas as suas forças, com todo o seu ser.
Uma lágrima escorreu e ela se apressou em limpar.
– Eu... Meu deus – mordeu o lábio, desejando que tudo aquilo que falou ele sentisse por ela.
Mas sabia que não...
ficou em silêncio por alguns segundos, se perguntando se conseguia sentir o quão acelerado seu coração estava.
– Você... É o ? – resolveu quebrar o silêncio, um pouco receoso a fitando intensamente, ainda sem receber resposta – Porque se for... – suspirou ao pensar naquilo – Eu nunca disse pra pessoa que eu amo o que eu sinto, e eu me arrependo bastante disso, , porque fico sempre pensando em como seria estar junto com ela mas não fiz por onde... Então, se ele é a pessoa que você ama, não deixa ele escapar, você tem que falar mesmo, e ele vai ser o maior babaca da história se não der valor pra isso... Porque, droga, – balançou a cabeça – Você é incrível...
sentiu um frio na barriga ao ouvir o elogio de , e apenas balançou a cabeça em negação para a pergunta dele.
– Não, , não é... Acabei de perceber que não amo meu namorado e agora tô me sentindo culpada por ter falado pra ele que amo – ela riu limpando o rosto, secando as lágrimas que caíram.
estava confusa e assustada depois de perceber aquilo, ainda mais pelo momento que estava tendo com . Ela queria se virar e dizer que era ele, sempre foi e provavelmente sempre seria, mas não tinha coragem...
– Existem formas de amor, você pode amar o , mas não no sentido romântico – fez uma careta.
– Talvez eu... Ame ele mais como amigo? – franziu o cenho – Eu devia terminar com ele, talvez... Droga, o que eu faço agora? Eu assustei ele e nem o amo... – ponderou confusa como se falasse consigo mesma.
– É, você provavelmente confundiu as coisas... – suspirou um pouco cansado – Eu pensei que amava Angelina, mas não chega nem perto do que sinto por vo...¬você sabe quem – arregalou os olhos ao perceber o que quase falou.
– Na verdade eu não sei, não... – disse baixo, sem perceber a hesitação dele – Você não me contou...
E, na verdade, ela nem sabia se gostaria de realmente descobrir sobre quem ele estava falando. ficou em silêncio, sem saber o que responder. Estava com medo. A conversa, apesar de ter sido bastante esclarecedora, a deixou um pouco confusa e sem saber o que fazer.
– Sua história parece com a minha, né? Como... Como pode eu... Depois de tanto tempo... – resmungou meio confusa.
– Depois de tanto tempo? – franziu o cenho – ... – sentiu esperança e medo – A pessoa que você sente isso... É o primeiro menino que você disse?
engoliu seco. Não era a hora de responder aquilo.
– Ahm – resmungou baixo depois de pigarrear, se ajeitando no sofá e deitando contra o peito dele – Eu não... Nós podemos mudar de assunto?
suspirou, mas concordou. Não insistiria.
– Podemos – ficou em silêncio se perguntando o que aquilo significava, afinal. Ela o amava ou não? – Você quer comer algo?
– Não... Eu só quero ficar aqui com você – ergueu o rosto para o encarar, e ele sorriu.
– Então fica comigo... – era quase um pedido.
sorriu, seus olhos brilhando.
– Você me fez parar de chorar com a maior facilidade, ... Não tem ninguém como você – declarou antes de voltar a abaixar a cabeça, sabendo que aquela frase podia ser interpretada de diversas maneiras, mas não se importou.
Ela o amava. Queria tanto que as coisas fossem mais simples...
– , eu vou sempre fazer de tudo pra você ser feliz... Não tô brincando quando digo que te amo – fez carinho no rosto dela e aproximou seu rosto enquanto fitava os lábios da menina, mas a beijou na testa.
– Também te amo... Muito... Vou deixar a sozinha e dormir com você hoje – tocou o rosto dele levemente, deslizando a mão até a nuca dele, fazendo carinho.
deu uma risada gostosa.
– Pode dormir comigo, eu não vou reclamar – sorriu – Faço cafuné até você dormir, o que acha?
– Acho ótimo – sorriu verdadeiramente – Mas podemos dormir numa cama? Ou colchão? Porque aqui vamos acordar tortos e bom... Cama é mais confortável – sorriu doce.
deu um sorriso pequeno, quase melancólico, querendo que a situação fosse outra, e que aquelas frases fossem ditas em outra circunstância.
– Pretendia te levar pro meu quarto, bonitinha – riu a pegando no colo com um sorriso arteiro, já subindo as escadas ainda com ela nos braços, e sorriu para ele, abraçando o pescoço de enquanto era carregada.
– Obrigada por ficar comigo... – agradeceu baixinho.
– Não precisa agradecer, – sorriu sincero a colocando no chão já na porta do quarto.
Ela sorriu mais uma vez.
– Acho que eu deveria tirar a maquiagem, colocar um pijama da e vir deitar com você... – as bochechas dela coraram levemente ao pensar que dormiria sozinha com o menino que amava – Você espera?
– Claro que espero, – respirou fundo, pensando que seria bom um tempinho para se acalmar e se preparar para dormir com ela, sem demonstrar nada – Aliás – arregalou os olhos – Cadê minha irmã?
– Ah – sorriu sem jeito – Ela deve estar com o Dougie, ele que nos trouxe pra casa, devem estar conversando – suspirou torcendo para tudo estar bem – Eu já volto – sorriu pequeno para , entrando no quarto de com o coração acelerado.
apenas assentiu com a cabeça, e suspirou coçando a nuca preocupado com sua irmã, decidindo espiar pela janela, encontrando os dois em frente à casa, ainda conversando. Respirou aliviado e então entrou no próprio quarto, arrumando rapidamente o ambiente antes de descer para pegar alguns doces para os dois, sabendo quais eram os favoritos de .
Depois de ajeitar tudo, ele se deitou e ligou a televisão em um filme qualquer, tentando se distrair e fingir que seu coração não estava acelerado de maneira irritante.
No outro cômodo, lavou o rosto, tirando a maquiagem com calma. Resolveu tomar uma ducha rápida também, que não levou nem cinco minutos. Colocou um pijama de e escovou os dentes. Encarou seu reflexo no espelho, o colar com o pingente de guitarra que deu a ela pendurado em seu pescoço. Tocou a peça, suspirando triste.
Como olharia para ele depois de dizer que o amava e descobrir que na verdade não era amor? Que, na verdade, sente amor por outro? Que ainda amava com todo seu coração?
Meu Deus...
– Por que você tem que ser tão confusa? – perguntou ao seu reflexo.
Suspirou e saiu do quarto, respirando fundo antes de bater na porta do quarto de , mesmo estando aberta, apenas para avisar que estava entrando.
– Oi.
olhou para a porta na direção de , e se perguntou como ela conseguia ficar ainda mais bonita daquele jeito tão natural.
– Vem cá... – a chamou, abrindo espaço na cama para que ela se deitasse – Você se incomoda se eu dormir assim? – apontou o fato de estar sem camiseta – Posso vestir algo, não quero que não se sinta à vontade aqui.
abriu um sorriso pequeno e mordeu o lábio, observando o peitoral de .
Se importar? Mas é claro que não.
Balançou a cabeça em negação.
– Eu sempre me sinto a vontade com você – foi sincera, se deitando na cama ao lado dele, ficando de frente para .
– Deve ser porque você tá acostumada comigo na sua vida desde sempre – riu fraco levando a mão ao rosto dela, fazendo um carinho lento – Aliás, , eu tive uma ideia... – abriu um sorriso bonito – Sempre que estiver triste, ao invés de ir chorar no quintal da sua casa, você pode me procurar, e a gente faz daqui o nosso refúgio... O que acha?
Os olhos de brilharam com a ideia.
– Pode ser... Mas eu não quero incomodar...
– , desde quando tentar te fazer bem me seria um incômodo?
– Ah, – suspirou baixo – Há menos de um mês você tava me tratando como a pior pessoa do mundo, lembra? – abaixou o olhar ainda sem saber o motivo daquilo – Então eu realmente não quero incomodar, porque vai doer demais se você voltar a me tratar como... Como... – ergueu o olhar para ele com os olhos marejados de novo – Como se eu não significasse absolutamente nada pra você...
suspirou, se sentindo culpado. Era verdade. Ele tinha se fechado e se afastado, porque doía demais ver com , e também odiava saber que a menina sofria por sua causa. Ele sabia daquilo. Então resolveu ficar longe, para que ela pudesse ser feliz com o namorado.
– Eu não fiz isso por mim... – murmurou – Você... Eu não posso explicar, – suspirou ainda tocando o rosto dela – Mas não teve um dia se quer que eu tenha te amado menos, ou me importado menos...
– Por que não pode explicar? – perguntou confusa, chegando um pouco mais perto de , tocando os pés dele com os seus. As duas mãos dela foram para baixo de sua cabeça, usando quase como um travesseiro – Eu não entendo...
– Eu explicar isso requer explicar muita coisa – fitou o rosto dela com atenção, preso em cada detalhe – Então só posso pedir pra que confie em mim... Cada atitude que eu tomei, foi pensando em você e no seu bem – juntou sua testa na dela, ficando perigosamente próximo, fechando os olhos aproveitando o momento – Confia, ?
sentiu seu coração acelerar com a proximidade de . Ela tentou não fazer alarde, tentou respirar fundo e manter a calma. Enquanto ele fechava os olhos, manteve os seus bem abertos, estudando cada traço do menino.
– E–eu confio – respondeu baixo, sua voz saindo trêmula – Confio muito...
– Então é isso... – disse quase em um sussurro, tocando a cintura dela por baixo da camiseta do pijama, fazendo encolher levemente a barriga ao sentir o toque dele – Acredite quando digo que quero o seu bem, e que faria tudo pra te ver feliz, mesmo que tivesse que abrir mão da minha felicidade – passou seu nariz no dela de forma lenta e carinhosa – E mesmo que às vezes pareça que sim, nunca vou deixar de estar aqui pra você, .
estava quase entrando em combustão.
Meu Deus, meu Deus, meu Deus...
Tudo o que ela sempre quis foi estar daquela maneira com , ter o menino tão próximo, poder dizer tudo o que sente, ser retribuída...
Ela respirou fundo, tentando entender o que tudo aquilo significava.
– , eu... Eu amo você...
E, ao ouvir a declaração dela, o coração de acelerou mais do que em qualquer outro momento em sua vida, e ele desejou, mais do que nunca, que aquela fala fosse dita no sentido romântico.
– Eu também amo você, ... – afastou um pouco o rosto só para poder observar , abrindo os olhos – Você nem imagina o quanto.
– Você também não imagina o quanto – ela disse, abrindo um pequeno sorriso triste.
levou sua mão até o cabelo dele, tirando alguns fios do rosto, observando os olhos de .
Como ele podia ser tão lindo?!
Sem perceber, aproximou mais seus corpos, ainda sem tirar os olhos dos dele, o encarando.
– O que... – prendeu o ar ao notar a aproximação dela, fitando os lábios de . Por deus, queria tanto poder beijá–la... – Amanhã as coisas vão melhorar – a fala foi mais para conscientizar a si mesmo do que ela.
Amanha ela estaria fazendo as pazes com .
E ele continuaria ali, a amando de longe.
O coração de estava uma confusão. Ela não trairia , mas se fosse mais inconsequente, provavelmente estaria grudando sua boca na de , sem medo de ser rejeitada. Em sua cabeça, ela só pensava como conseguiria olhar para o namorado no dia seguinte, tendo certeza, agora, de que o amor que sentia por não tinha mudado, pelo contrário...
– Eu espero que sim, mas n... – balançou a cabeça, desistindo de falar, abrindo um sorriso pequeno – Eu espero que sim.
sorriu um pouco forçado, não sabendo mais o que dizer. Puxou para um abraço, fazendo-a deitar a cabeça em seu peitoral, não querendo que ela visse sua expressão confusa. E se aconchegou contra , levando sua mão até o peitoral dele e pousando ali, fazendo um carinho leve e gostoso.
– Seu abraço é um dos meus lugares favoritos no mundo – ela disse baixo, se recordando do que ele falou mais cedo sobre o abraço da pessoa que amava ser como casa – Você é uma das minhas pessoas favoritas no mundo...
– Seu abraço é como casa pra mim – murmurou sem pensar duas vezes, se perguntando se faria a associação das falas.
franziu o cenho ao ouvir a fala de . Seu coração acelerou e sentiu seu estômago revirar.
"Se você tem o abraço da pessoa como casa, é amor."
É amor.
Não era possível, com certeza ele não estava falando sério. Estava enganado, pensando em outra pessoa ao falar aquilo, qualquer coisa, não?
– Meu... M–meu abraço? – perguntou baixinho.
– Seu abraço... – suspirou beijando a cabeça dela, querendo deixar aquilo para lá – É melhor você dormir, deve estar cansada – a apertou mais em seus braços, querendo que de alguma forma ela sentisse o que ele queria transmitir.
ainda estava desnorteada, mas ao ouvir a mudança de assunto dele, em sua cabeça confusa, teve certeza de que ele tinha se confundido e se enganado.
– Claro, é melhor eu ir dormir – os olhos dela marejaram, e ajeitou o corpo levemente, fechando os olhos, o que fez com que algumas lágrimas caíssem – Obrigada...
– Não precisa agradecer – murmurou baixinho, fazendo cafuné no cabelo dela – Pode dormir tranquila, não vou sair do seu lado um segundo se quer.
ficou em silêncio, enquanto as lágrimas rolavam. Não estava se importando se percebesse. Ela não conseguia parar de chorar. Aos poucos o sono foi chegando e ela foi começando a sentir os olhos pesarem.
, por sua vez, fechou os olhos, sentindo a pele ser molhada pelas lágrimas dela, fazendo ele mesmo querer chorar.
Estava com a menina que amava nos braços, e ela chorava por outro.
Bom, era o que ele pensava...
Será que não entendia? Não percebia?
O coração dele era totalmente dela.
Assim como ele inteiro.
Ela se abraçou mais um pouco a e soltou um suspiro baixo, finalmente caindo no sono, desejando que as coisas se resolvessem e ela pudesse dizer que o amava mais que tudo. Que era com ele que ela queria ficar, era por ele que ela chorava, ela por ele que seu coração acelerava...
Mas não podia.
Porque não era recíproco, ela deixou para lá qualquer desconfiança quando mudou de assunto antes.
Naquela noite, nos braços dele, sonhou com os dois.
Depois dessa noite, as coisas entre e ficaram um pouco estranhas. E ela não gostava nem de lembrar...
A menina tinha decidido se afastar um pouco de , para tentar focar em seu relacionamento com . O casal conversou e resolveu a situação que os levou a brigar anteriormente, então, deixou um pouco de lado.
O que acabou sendo bem mais difícil do que ela imaginava.
Já finalizando o macarrão e o molho, levou a comida para a sala de jantar e voltou rapidamente para a cozinha para deixar o bolo pronto para servir mais tarde. Pelas suas contas, já estava para chegar.
Então, ela se apressou em finalizar a decoração, e depois observou o resultado da mesa de jantar, sorrindo satisfeita, sentindo sua barriga se revirar de ansiedade. Checou as horas em seu celular, constatando que, realmente, chegaria em poucos minutos.
Tinha feito seu macarrão com molho de frango e queijo que o menino amava. Tinha feito suco de abacaxi com hortelã, que era o preferido dele. Além de um bolo enorme de chocolate, que ele também gostava muito. A mesa estava posta de maneira simples, mas as intenções daquele jantar estavam bem claras: era um jantar romântico.
E ela estava muito, muito ansiosa.
Já fazia alguns dias que tinha terminado com , e explicado para o garoto que, na verdade, nunca tinha deixado de amar . Fora difícil, ficou um caco, porque fez aquilo justamente no dia da formatura do menino, e ele havia preparado uma surpresa para ela, para dizer que tinha percebido que também a amava de verdade.
Mas, então, quebrou o coração de .
E ela vinha lidando com a culpa desde então, mas, como seu melhor amigo dissera... Era melhor terminar do que seguir daquela maneira, não?
Durante esse tempo que ficou longe, até tentou contar a ele sobre o término, mas as mensagens enviadas, em sua maioria, não eram respondidas e, quando eram, sentia que queria fazer tudo, menos conversar com ela. Então ela desistiu.
Por isso, agora, cerca de quase um mês depois do término, e um ou dois dias depois que voltou para a cidade, ela tinha certeza de que ficariam juntos.
Não tinha o que dar errado. amaria, ela sabia. Os dois eram perfeitos um para o outro. Ele era o amor da vida dela, sua alma gêmea... Daria tudo certo.
E, enquanto esperava, novamente os pensamentos dela voaram. Dessa vez, até o segundo diálogo importante: o fatídico dia em que resolveu a confrontar por estar distante e também declarar seu amor por .
– Querida, avisa o que talvez você não consiga sair h...
– Mas mãe! – choramingou, sem deixar Anne terminar – Hoje estamos fazendo sete meses, combinamos de s...
– Família, – ela cortou a filha – Vocês podem sair amanhã, se não der tempo – a menina bufou frustrada e irritada – Sem cara feia pra mim, mocinha!
forçou um sorriso e saiu batendo o pé, pegando seu celular para enviar uma mensagem ao namorado, avisando que teria que avisar mais tarde se fosse conseguir sair com ele. Estava tão empolgada e feliz, porque as coisas estavam indo tão bem entre os dois... Ela tinha conseguido deixar um pouco para lá, focado em seu namoro... E realmente estava com esperanças, cada vez mais, de que a paixão virasse amor. Seria uma noite linda.
– Que horas vem e ? Sua mãe precisa de ajuda pra arrumar as coisas, sabe disso – John disse ao passar pela filha.
– Devem estar chegando – deu de ombros, sem tirar os olhos do celular.
– Filha – John chamou – Sei que queria sair com seu namorado, mas faz tempo que não vemos seus tios, então, por favor...
– Eu sei, pai – ela suspirou guardando o aparelho. Foi até ele e beijou sua bochecha – Vou subir e desço quando eles chegarem, tá? – avisou, já subindo as escadas.
John concordou e foi até a cozinha com a esposa, que preparava a sobremesa para já deixar pronta.
E, enquanto isso, na casa ao lado, se arrumava.
Ele colocou a camisa social se olhando no espelho, fazendo um trato mental consigo mesmo.
Se levasse o namorado para o jantar, não questionaria nada, e respeitaria o afastamento dela. Agora, se não fosse, talvez significasse que realmente não o amava, e quem sabe tivesse desistido do namoro...
E isso lhe daria alguma chance.
– Pronto? – entrou no quarto com um sorriso simples – Tá bonito...
– Gosto desses jantares em família – sorriu de volta para a irmã.
– Te lembra que a gente não tem uma? – arqueou as sobrancelhas sendo irônica.
– A gente tem, – apertou o ombro dela e revirou os olhos – E estamos atrasados pra jantar com eles.
Saiu com a irmã, chegando sem demora à casa vizinha, onde os melhores amigos de seu falecido pai moravam. Tocou a campainha mais ansioso que o normal, ganhando um olhar desconfiado da irmã.
tinha suas desconfianças, mas nunca falaria nada enquanto seu irmão não resolvesse abrir o bico, o mesmo com sua melhor amiga.
No andar de cima, ouviu a campainha e nem se mexeu. tinha ficado um pouco chateado, e com razão. Mas disse que esperaria o aviso dela e que se não desse, fariam algo amanhã.
Ela suspirou, se levantando e ajeitando o vestido que tinha colocado para o jantar, sentindo agora um pouco de ansiedade para ver . Sabia que as chances de ele questionar o afastamento dela eram altas, mas, mesmo assim, seria bom revê-lo, já que passou os últimos dias fugindo dele.
Ela sentia saudades, fazer o quê? Nunca negaria isso.
John, pai de , foi quem abriu a porta.
– Oi – sorriu calorosamente, pronto para receber abraços – Como vocês estão?
– Oi, John! – o abraçou sorridente – A caçula tá mal-humorada, eu acho, mas eu tô bem – implicou com a irmã antes de entrar na casa, enquanto apenas revirou os olhos negando com a cabeça, abraçando John apertado em seguida.
John riu, dando tapinhas nas costas de e depois um beijo na cabeça de .
– E tá emburrada por quê, criança? – indagou segurando o rosto dela, procurando por alguma resposta.
– Eu não tô emburrada... – respondeu com um sorriso pequeno e forçado – Achei... achei algo da mãe lá em casa – admitiu suspirando – Pensei que ela tivesse levado tudo, ou se livrado de tudo – deu de ombros desviando o olhar, chateada ao pensar na mãe que não via há anos – Mas não me importo...
John analisou as feições de e por fim suspirou, a abraçando novamente pelo ombro.
– E o que é esse algo? Quer lidar com isso agora ou depois? – fez carinho no rosto dela, engatando uma conversa com a mais nova, a levando para o outro ambiente.
– Oi, querido – Anne apareceu, sorrindo e dando um beijo primeiro em – Tudo bem?
– Sim, e a senhora? – segurou a mão de Anne e deu um beijo – Linda como sempre – sorriu para ela, novamente olhando ao redor de maneira nada discreta.
– Tudo ótimo, querido – respondeu arrumando a gola da camisa dele, abrindo um sorriso pequeno ao perceber que ele procurava pela filha. Claro que ela sabia... – tá lá em cima emburrada – ela riu – Deve descer logo.
– Quer que eu... suba? – perguntou sem saber se devia ou não, cada vez mais tenso e com expectativas para ver .
– Não precisa... – piscou para ele, indicando a escada.
descia em silêncio, ficando um pouco vermelha instantaneamente ao ver . Ela mordeu o lábio internamente, repetindo para si mesma, como um mantra, para que se controlasse e não fizesse nada estúpido.
– Oi – cumprimentou.
soltou um suspiro baixo sem perceber.
– Oi... – se aproximou dela – Você tá linda – elogiou sincero a admirando – vai babar hoje – jogou verde semicerrando os olhos.
Anne sorriu ao ver a cena e, no mesmo momento, a campainha tocou, anunciando a chegada dos outros convidados, então a mais velha se afastou, indo abrir a porta, deixando os dois sozinhos.
sorriu fraco, sentindo seu coração acelerar com a proximidade de . “Você também tá lindo”, pensou em responder, mas apenas sorriu em agradecimento e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha.
– não vem – contou meio emburrada.
– Não vem? – arqueou uma sobrancelha surpreso, sem conter um sorriso pequeno com a informação. Pela expressão descontente dela, pensou que as coisas estivessem ruindo entre os dois – E nesse jantar... Você vai continuar fugindo de mim, ou vai agir normal? – perguntou baixo deixando claro que havia percebido a mudança de comportamento dela.
balançou a cabeça, engolindo seco. – Não, eu... Não tô fugindo, – ela desviou dele, seguindo caminho até a sala para cumprimentar os tios – Impressão sua – Sorriu sem mostrar os dentes.
– Uau, imagina se tivesse... – concordou sarcástico a seguindo para cumprimentar os parentes antes de se sentar ao lado de para o jantar, ficando entre ela e sua irmã – Se quiser eu posso procurar um lugar mais distante – murmurou irônico para a menina.
olhou para e suspirou, balançando a cabeça em negação.
– Você pode sentar onde quiser... Só não fica com ironia pra cima de mim, por favor – pediu baixo, sorrindo forçadamente antes de responder a um comentário vindo de um de seus tios.
– Claro... – manteve o sorriso irônico – Você pode aparecer e depois se afastar quando bem entender que eu vou continuar aqui, normal, não é? E vai ser sempre impressão minha... – resmungou.
estava prestes a responder a fala dele, mas a voz de sua mãe a interrompeu, então ela ficou quieta.
E suspirou desanimado sem entender. Se não estava mais na jogada, por que ela ainda agia tão estranho com ele? Não queria admitir, mas machucava muito ver a pessoa que ele amava se aproximando e se afastando como se não fosse nada demais. – Então, bom apetite! – Anne disse se sentando ao lado do marido depois de colocar a comida na mesa.
– Vamos comer? – John disse se levantando para se servir, e o restante dos convidados seguiu sua deixa.
Lançando um olhar duro a , como se pedisse para ele não fazer aquilo naquele momento com todos presentes, ela virou o olhar e resolveu falar com .
– Ei amiga – cochichou para , inclinando a cabeça para espiá-la – Nem me deu oi.
– Oi, amiga – sorriu pequeno, e mal teve tempo de puxar conversa, já que logo seus tios começaram a fazer perguntas.
– – um dos tios falou – Já sabe o que vai fazer de faculdade? já sei que é literatura, desde pequena a menina tem o dom da escrita...
– Ah, sim – respondeu ao tio com um sorriso sem graça ao lembrar que não havia passado no vestibular, se cobrando mesmo no primeiro ano do colegial, já que era extremamente inteligente e adiantada – Psicologia, em Londres.
– Ah, psicologia é um ótimo curso – o tio respondeu.
– Ela e querem morar juntas em Londres – John quem disse – Tô me preparando psicologicamente, desde já, pra ficar longe das minhas meninas...
Anne riu.
– Elas sabem se virar e ainda falta mais de um ano, querido – tranquilizou o marido.
– Bom, se vocês forem pra Londres, sabem que suas primas estão morando lá também – o outro tio respondeu, se referindo as filhas dele – Então, se precisarem de algo...
– Obrigada, tio – sorriu pequeno. Gostava muito de uma delas, mas ela e detestavam a outra com todas as forças. Portanto...
– Sabe que a gente sempre vai vir visitar vocês – sorriu para John e Anne – E vamos esperar visita também!
– Tenho certeza que sim, porque nós também vamos – John sorriu.
A conversa se seguiu entre todos os convidados, menos e , que não trocavam uma palavra. Não demorou para que todos já estivessem satisfeitos, e Anne limpou a boca com o guardanapo ao se levantar.
– Prontos para a sobremesa? – perguntou já se levantando para levar tudo a cozinha, lançando um olhar a para que a ajudasse.
suspirou também e se levantou, pegando alguns pratos e indo atrás da mãe.
– Você tá muito quietinha. Me desculpa por não deixar o vir, filha...
– Tanto faz, mãe, eu só... – balançou a cabeça – Vamos servir a sobremesa logo, tá bem?
Anne a encarou preocupada, colocando as taças e o mousse em uma bandeja para levar até a sala.
– Olha – Anne parou antes de sair da cozinha – Você e costumavam ser tão amigos, o que... O que aconteceu? – perguntou investigando, tentando descobrir algo ou apenas confirmar suas suspeitas.
franziu o cenho surpresa com a pergunta, ficando um pouco tensa.
– Nada, mãe... Nada – respondeu baixo.
– Bom, sei que é mentira. Então vocês dois vão ficar encarregados de lavar toda a louça e arrumar aqui, pra ver se resolvem esse “nada” que tá rolando entre vocês – ela decretou.
– Mãe! – esbravejou irritada – O ...
– Depois – disse firme antes de sair dali, deixando perdida em pensamentos – Mousse de chocolate! – anunciou colocando o prato na mesa.
veio atrás, em silêncio, se sentando novamente em seu lugar com uma expressão carrancuda.
franziu o cenho pro irmão em uma comunicação silenciosa questionando o porquê da cara fechada dele – que estava pior que a de , por sinal –, já que antes ele estava todo animado, mas apenas deu de ombros em resposta.
– O mousse mais gostoso que eu já comi – sorriu para Anne se servindo mais um pouco, não olhando na direção de , mesmo percebendo que ela havia voltado diferente.
– É o melhor que existe – John sorriu, elogiando a esposa.
– Fico feliz que tenham gostado – Anne agradeceu.
ficou apenas brincando com o mousse em seu prato, comendo bem pouco. Perdeu bastante o apetite depois da conversa com a mãe e do clima estranho entra ela e . Por que ele não entendia que era para o bem dela? Por Deus...
– Irmãos – John chamou pelos dois – O que acham de um whisky? Vamos lá pra sala – se levantou, pegando seu copo, aguardando pelos dois.
Anne sorriu e quando a sala ficou vazia, com apenas ela e os filhos, ela se levantou, pegando algumas coisas para levar para a cozinha.
– , querido – chamou por ele – Você pode ajudar a arrumar tudo na cozinha?
– Mãe...
– Por favor? – ignorou a fala da filha. – Eu preciso conversar uma coisinha com a ...
lançou um olhar de ajuda a amiga.
– Ahn... Claro – concordou engolindo em seco, nunca saberia falar não pra Anne – Sem problemas – sorriu forçado já indo para o cômodo sem esperar por .
encolheu o ombro em resposta ao olhar de , não sabendo o que fazer para ajudar a amiga.
suspirou um pouco irritada com a falta de resposta e se levantou também, seguindo até a cozinha. Ela entrou em silêncio, indo direto para a pia lavar a louça.
– Eu lavo, você seca – disse a .
– Como preferir – sorriu do mesmo modo que durante o jantar inteiro – Você vai mesmo agir como se não tivesse se afastado? Assim, só pra confirmar...
suspirou, fechando a torneira e apoiando as mãos na pia.
– ... Eu tô só tentando... Tô tentando fazer tudo dar certo, pro meu bem – disse antes de respirar fundo e voltar a lavar a louça.
– Então eu te faço mal, é isso? – perguntou baixo sentindo o coração acelerar enquanto se aproximava dela, engolindo em seco. – Não, , você não me faz mal – não olhou para ele enquanto falava – Nunca fez e provavelmente nunca vai fazer, você não tem culpa do que e... – mordeu o lábio, balançando a cabeça – Olha – se virou para ele – Eu só tô tentando colocar a cabeça no lugar... Você fez isso uma vez...
– Sim, eu fiz, e foi pro seu bem também, mas eu... – suspirou balançando a cabeça – Deixa pra lá, você tem razão... – voltou a se afastar.
mordeu o lábio, sentindo os olhos marejarem. Agora ela não queria mais deixar para lá.
– Mas você...? – o incentivou a continuar. – Eu pensei em me afastar, eu pensei que isso realmente fosse ser melhor pra você – falou soltando o pano, ficando de frente para ela – ... – soltou uma risada nasalada e a olhou quase implorando pra que ela não fizesse ele ter que dizer aquilo – Mas seu abraço é minha casa – murmurou a encarando com intensidade – Eu não... Não consegui ficar longe – engoliu em seco – Mas eu... – fechou os olhos balançando a cabeça – Deixa isso pra lá, você tem razão em se afastar pra colocar a cabeça no lugar...
sentiu seu coração dar um pulo e acelerar de maneira absurda. Ela piscou algumas vezes ao ouvir aquela frase novamente. Ficou em silêncio um bom tempo, dividida entre querer rir por não acreditar naquilo e querer chorar por estar naquela situação.
Justo quando as coisas estavam indo bem com ...
– Essa frase de novo – olhou para ele com os olhos brilhando – Eu não vou deixar pra lá, não de novo, você... Meu abraço é sua casa? – perguntou baixinho, praticamente implorando por aquilo ser verdade.
– ... – se aproximou mais tocando o rosto dela de forma delicada apreciando cada traço, e deitou a cabeça levemente contra a mão dele – Você sabe o que significa... – deu um sorriso pequeno, a fazendo suspirar – Eu falei sério quando disse a primeira vez, e tô falando sério repetindo isso agora, – balançou a cabeça sem desviar o olhar do dela, não conseguiria nem que quisesse.
a olhava com tamanha intensidade, o brilho nos olhos dela... Ele tinha certeza de que nunca tinha os visto tão brilhantes antes.
– Eu sei que você namora – voltou a falar – Sei que é complicado por diversas questões, mas é o seu sorriso, o seu abraço, o seu perfume.... É você, e não acho que tenha algo que eu possa fazer pra mudar isso – riu fraco de maneira melancólica – E mesmo se tivesse, eu não faria, porque... Porque te amar é uma das coisas mais certas que eu faço na vida.
O coração de queria sair pela boca. À essa altura algumas lágrimas já desciam por seu rosto.
Como assim a amava? Como assim o que ela sentia era recíproco?
E por que diabos ele não falou isso antes?!
Meu Deus.
tocou a mão dele levemente, fechando os olhos por alguns segundos enquanto digeria todas aquelas palavras.
“Te amar é uma das coisas mais certas que eu faço da vida.’’
Ela deixou mais lágrimas escorrerem.
Tudo o que ela quis, durante anos, foi ouvir aquelas palavras. Aquela declaração.
E agora...
– Você não tem noção do tempo que eu esperei e sonhei em ouvir isso sair da sua boca... – disse baixinho, abrindo os olhos e o encarando.
E, nesse momento, sentiu o coração dar um salto em seu peito, e abriu um sorriso sincero ao ouvi-la.
Mas logo afastou a mão dele de seu rosto, limpando as lágrimas.
E então o sorriso de morreu.
– Mas você tá me falando isso três anos depois, quando eu tô feliz com meu namorado e tudo tá caminhando para que eu venha a amar ele... ... Meu Deus – escondeu o rosto nas mãos.
Os olhos de marejaram e ele desviou o olhar, não querendo que reparasse nas lágrimas que imediatamente se formara.
– Você tem razão – disse baixo dando um passo pra trás – Eu nunca tentaria estragar sua felicidade, eu... – sorriu um tanto melancólico – Fico feliz de as coisas estarem bem e você feliz, é só que... não veio, eu pensei que... – balançou a cabeça realmente não conseguindo ordenar seus pensamentos, se sentindo um pouco sufocado – Foi egoísta da minha parte, perdão – ficou de costas para , fechando os olhos com força tentando impedir qualquer lagrima de escapar.
– Não é egoísta, ... – ela suspirou, cruzando os braços de modo a se abraçar – Você só não conseguiu guardar pra você como eu e... Desde quando?! – questionou baixo, sem saber se ele tinha entendido que ela o amava em segredo já há algum tempo.
Por que ele não estava surpreso com os sentimentos dela?
– ... Por que... Por que você se afastou de mim, dizendo que era pro meu bem, aquela época? – voltou a falar ao não receber resposta, e foi até ele, seu coração ainda acelerado – Por favor, eu... Eu tenho algumas perguntas.
– Porque, naquela noite, você disse que bebeu daquele jeito por minha causa, ! – suspirou pesadamente, passando a mão pelos cabelos, fazendo arregalar os olhos ao ouvir a fala dele.
– Eu... Eu te contei mesmo aquela noite? Meu Deus... – ela abaixou a cabeça pensativa, os olhos ainda marejados.
Como podia não se lembrar?
– Sim, ... E eu me senti culpado... Quando você disse que era apaixonada por mim e tinha bebido por causa disso, fiquei pensando no mal que isso te trouxe, então aquela noite cuidei de você e decidi que me afastaria pro seu bem, pra você me esquecer sem precisar encher a cara ou algo assim – foi sincero voltando a ficar de frente para – Mas nunca consegui me manter muito longe, não é? – sorriu frustrado, se sentindo cansado emocionalmente.
– Mas quando você... percebeu que me ama? Quando começou a me ver assim? – uma lagrima escorreu ao fazer aquela pergunta – ... – se aproximou dele, desejando que aquela situação não fosse tão complicada.
Ela queria abraçá-lo e beijá-lo.
Mas ela estava com e gostava muito do menino, estava apaixonada... Ou, ao menos, pensava que estava...
– Que diferença isso faz, ? – perguntou, balançando a cabeça – Ei... Não chora – pediu baixo segurando o rosto dela com carinho, dando um beijo demorado em sua testa – Vai ficar tudo bem, – murmurou, mesmo sem ter certeza – E eu fico feliz pelas coisas se acertarem entre vocês dois... – se afastou dela colocando as mãos no bolso – Acho melhor eu ir embora.
sentiu mais dor ainda ao receber o beijo. Como podia ficar tudo bem? Como ela conseguiria seguir com depois de saber disso tudo?
– , por favor... N–não me deixa sem respostas – ela praticamente implorou – Você me fez perceber o que é realmente o amor, por favor, não... Não vai embora – Ela abraçou o próprio corpo, encarando-o. – ... – abriu um sorriso triste com os olhos marejados – As respostas não fazem diferença, fazem? – Fazem sim – ela fungou, engolindo seco – Mais do que você imagina – Encarou os olhos dele, entendendo que não teria as respostas que queria. E não insistiria. Era doloroso demais, por Deus... – As coisas vão ficar ainda mais estranhas entre nós dois, não vão? – mordeu o lábio segurando o choro.
– As coisas ficarão por um tempo – colocou o cabelo atrás da orelha dela – Mas a gente sempre dá um jeito e volta ao normal, não é? Você é a – deu um sorriso charmoso – E eu não fico sem você...
mordeu o lábio, balançando a cabeça em negação, tentando segurar o choro que estava preso em sua garganta. Sabia que quando começasse não ia mais conseguir parar.
– Claro... Sempre damos um jeito, ... – sorriu fraco, sem mostrar os dentes, tendo certeza de que aquilo não aconteceria daquela vez.
As coisas não ficariam bem. Como poderiam?
– Por que... Por que você resolveu me contar isso agora, que eu tô feliz com o , finalmente? Me diz, ? Por quê? – se afastou um pouco dele, balançando a cabeça.
– Idiotice minha – coçou a nuca um pouco envergonhado, e franziu o cenho – Eu pensei que... Pensei que eu tivesse chances – sorriu sem graça – Não sabia que você e o estavam juntos... Ele não veio, você meio com a cara fechada. Como disse, idiotice minha – encolheu os ombros – Mas eu supero, – brincou com um sorriso ladino, tentando em vão não parecer tão abatido.
– Claro, idiotice – tentou não deixar aquela fala a abater tanto.
Não era idiotice. O amor que um sentia pelo outro não era idiotice.
Meu Deus...
– Você teve mais coragem que eu, todos esses anos – ela suspirou triste deixando mais lágrimas escorrerem.
Novamente abraçou o próprio corpo.
– Eu tive porque pensei que... – revirou os olhos ainda com o mesmo sorriso no rosto – Bom, eu tive coragem e foi bom pra tirar a dúvida – deu de ombros querendo bancar a pose de que estava bem.
– , você... Se eu não tivesse com o , você teria todas as chances do mundo, mas eu... – soluçou baixinho – Eu... Resolvi dar uma chance pro que eu sinto por ele, eu tá tudo indo bem... Meu deus – balançou a cabeça – Eu não consigo fazer isso agora... Não consigo lidar com isso!
sentiu seu coração doer mais ainda. Era triste.
Os dois se amavam. Por que ela não terminava com o namorado e dava uma chance à eles, finalmente? Por que insistir sendo que sabia não amar ? Não fazia sentido para ele. Mas, como sempre, respeitaria...
– Não tem com o que lidar, , você tá bem com ele e isso é ótimo! – suspirou não aguentando mais aquilo, aquela situação, ter que olhar para chorando por sua causa, enquanto ainda tentava processar o fato de que possivelmente tinha estragado tudo por demorar tanto a se dar conta do que sentia – Realmente é melhor eu ir... – deu um beijo na testa dela, deixando uma lagrima escorrer sem perceber.
fechou os olhos ao receber o beijo, as lágrimas ainda rolando por seu rosto. Ela manteve os braços cruzados e olhou para ele, antes que ele pudesse realmente se afastar.
– ... – chamou mais uma vez, o encarando com os olhos tristes – Claro que tem com o que lidar! – gesticulou com as mãos – Você sabia esse tempo todo do que eu sinto por você!
– Vai ficar tudo bem, ... Não vou forçar a barra – garantiu e abriu um sorriso triste, ignorando as outras falas de , se afastando em seguida – A gente se vê por aí – acenou com a cabeça, saindo do cômodo.
encostou brevemente a cabeça em uma parede, chorando por alguns segundos antes de ir embora sem se despedir de ninguém, nem avisando sua irmã. Apenas mandou mensagem dizendo ter tido uma emergência com um amigo e foi fazer o que seria o melhor para o momento: encher a cara.
E , permaneceu sem rumo na cozinha, chorando como há muito tempo não fazia.
– ! – Jenny riu sentindo os beijos de em seu pescoço – Um dia longe e sentiu saudades, é? – mordeu o lábio o abraçando mais apertado, ignorando os olhares que recebiam por estarem no meio do aeroporto.
– Senti... – o rapaz se afastou segurando o rosto dela fazendo um carinho leve – Sabe que me faz bem... – foi sincero roçando seus lábios sob os da namorada.
– Você roubou meu coração em menos de um mês! – a menina disse segurando a nuca do namorado – Como conseguiu isso?!
não respondeu. Não poderia dizer que seu coração era dela. Provavelmente sempre seria de .
Mas ele não podia pensar naquilo. Já fazia dois meses que não via . Aliás, eles mal tinham conversado durante esse tempo – mesmo a menina mandando algumas mensagens, o que não o ajudava em nada.
havia aceitado um trabalho em outra cidade, passou esse tempo fora, e seguiu em frente. estava com , feliz. E ele, com Jenny.
Tudo estava bem.
Ou pelo menos ele tentava acreditar fielmente nisso...
Então deu mais um beijo na atual namorada antes de então segurar sua mão e partir em direção sua casa.
O caminho foi tranquilo, Jenny contava como havia sido a viagem, seu dia sem ele, e tentava fazer comentários que demonstrassem algum interesse no assunto, mesmo que sua mente o sabotasse, voltando toda hora para sua vizinha.
Ele não tinha falado há pouco que tudo estava bem? Por Deus...
Talvez voltar não tivesse sido uma boa ideia... Como esqueceria alguém com quem teria que voltar a conviver?
– Uau, é uma casa muito bonita – Jenny elogiou esperando na porta enquanto trazia sua mala – Tô ansiosa pra conhecer sua irmã!
– Provavelmente só amanha, ela tá em uma festa – contou franzindo o cenho ao notar a luz acesa no interior, antes de abrir a porta – Ao menos eu acho...
Dentro de casa, já estava de pé desde que ouviu o carro parar na garagem. Suas mãos suavam e o coração batia forte. Ela não via a hora. Daria tudo certo.
Tinha que dar.
Mas o destino tinha outros planos.
Quando a porta se abriu e ela ouviu a fala de e a palavra namorado, seu mundo caiu.
– Jenny, seja bem-vinda à casa do seu namorado! – sorriu abrindo os braços.
A barriga de revirou e ela não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo.
Não, não, não...
encarava a loira, e o olhar era recíproco, já que Jenny estava estática.
– Quem é ela? – Jenny perguntou engolindo em seco.
– Ela? – fez uma careta confusa, só então se virando e enxergando ali.
O quê?!
– ?! – sua expressão não poderia ser mais surpresa – O que... – franziu o cenho só então reparando cada detalhe.
A mesa posta para dois, seu jantar favorito, tudo tão... Romântico.
Não.
Ela tinha escolhido ficar com .
O que estava fazendo na sala de sua casa, por Deus?
Esqueceu que Jenny lhe fizera uma pergunta. Esqueceu de qualquer coisa que não fosse o quão acelerado seu coração batia com os possíveis significados da presença de ali.
– Ahm – piscou algumas vezes, se lembrando de que precisava reagir, mordendo o lábio com força e fechando as mãos em punho, apertando as unhas em sua pele – Eu... Ahm – riu nervosa, sentindo os olhos arderem – me contou que você vinha com sua namorada e eu quis fazer uma surpresa pra vocês – inventou a primeira desculpa que pensou, nem imaginando que não sabia sobre o namoro do irmão.
– ? – Jenny fez uma careta confusa, olhando para o namorado – Ei, você não me disse que ela sabia! – cutucou com o cotovelo, mas com um sorriso bonito – Poxa, acho que nunca fui tão bem recebida!
sorriu de maneira forçada, e deu alguns passos para trás, tropeçando no pé da cadeira, quase caindo, rindo de maneira nervosa e exagerada.
– Enfim, tem bolo e... – balançou a cabeça respirando fundo.
Aquilo estava sendo péssimo, por Deus...
Em um momento rápido, decidiu se aproximar e tornar sua atuação mais convincente. Ainda assim, não ousou olhar diretamente para , que ainda estava estático olhando para ela.
– Prazer conhecer você – disse a menina.
– O prazer é todo meu! Me chamo, Jenny, mas você já deve saber – riu colocando o cabelo pra trás – O cheiro do jantar me parece ótimo, – elogiou sincera nem imaginando que nos planos de , ela não estaria ali.
piscou algumas vezes, sem entender nada.
Não comprou a história que contou, sobre ter falado, principalmente pelo fato de que a irmã não sabia de nada.
havia feito aquilo para eles... Mas por quê?
Ela sorriu sem mostrar os dentes para Jenny, os olhos ainda marejados, torcendo para ela não perceber. Precisava sair logo dali.
– Eu espero que gostem – abanou o ar – Bem vindo de volta, – olhou para ele pela primeira vez – Já fiz o que tinha que fazer, então vou pra casa – engoliu seco – Aproveitem! – disse em falsa animação antes de sair correndo, não querendo nem ouvir a resposta de , batendo a porta com mais força que o necessário ao sair.
Não ousou parar de correr até que chegasse em casa. Sentia sua barriga se revirar, seu coração apertar e o ar faltar de seus pulmões. Escorregou até o chão ao mesmo tempo que um soluço alto escapou de sua boca, chorando sem parar.
Ela tinha perdido .
Era tarde demais.
Talvez estivesse errada... Os dois não eram para ser. Ele não era o amor da vida dela. Não era sua alma gêmea...
Ela soluçou novamente e escondeu o rosto nas mãos, dobrando as pernas, encolhendo o corpo sem saber o que fazer.
Seu mundo tinha desmoronado por completo.
não soube dizer quanto tempo ficou no chão chorando. Tinha perdido total a noção. Aquilo não podia estar acontecendo...
Era o karma, só podia. Ela estava pagando por toda a dor que causou a quando terminou com ele, e agora ficaria sozinha para sempre.
Em sua cabeça adolescente, agora tinha certeza de que estava fadada a não ser feliz e pronto.
Apoiou as mãos no chão, se levantando com certo esforço, zonza pelo tanto que tinha chorado. Pegou seu celular checando que ainda não era mal 23h. Não ligaria para seu melhor amigo e nem para . Os dois estavam curtindo a festa e não mereciam e nem precisavam ouvir suas lamentações. Não de novo...
Sentiu seu estômago roncar de fome, mas ignorou por completo, sabia que se colocasse algo para dentro não cairia bem. Subiu as escadas e fechou a porta, não querendo que seus pais chegassem e a vissem naquele estado, mas foi só pegar seu celular que viu uma mensagem da mãe dizendo que passariam a noite em um hotel na cidade vizinha, porque John tinha bebido demais na festa e ela não queria dirigir a noite.
Pelo menos aquela informação a fez suspirar aliviada e se jogou na cama, se encolhendo e se abraçando em seu bichinho de pelúcia, enquanto voltava a chorar sem parar.
A dor era quase física e ela só queria dormir para não sentir mais nada. Ficar em seu quarto doía. Ela queria ir se sentar lá fora, no quintal, se enrolar em seu cobertor e chorar até dormir enquanto observava as estrelas no céu.
Mas não queria de maneira alguma que a visse de janela dele.
Não daquela vez. Não mais.
Então se afundou em sua cama, decidida a guardar a dor e tudo o que sentia à sete chaves.
Como fez durante os últimos anos.
E como voltaria a fazer por quanto tempo fosse necessário.
FIM
Nota das autoras: Oi, gente linda! Esperamos muito que tenham gostado da nossa fic. Doída, né? Tenham em mente que essa personagem é adolescente, por isso, demos bastante foco no drama que ela passou.
Talvez algumas leitoras tenham achado esse casal e essa história familiar… Se sim, é porque você já leu as outras fics deles (com outros nomes, claro, porque a gente vive adaptando hahah) e pode encontrar os links aqui em baixo. Caso ainda não tenha lido, que tal dar uma chance?
Nós duas temos muito planejado pra eles, de verdade, só não sabemos se publicaremos tudo. De qualquer maneira, as outras duas fanfics narram o casal um pouco mais velho e o casal se reencontrando depois de passar um bom tempo longe um do outro.
Enfim, é isso! Muito obrigada por lerem, e agradeceremos demais caso possam deixar um comentário! Até a próxima!
07. Don’t Throw It Away [Ficstape Jonas Brothers - Hapiness Begins]
After All These Years [Especial 10 anos FFOBS - Equipe]
Talvez algumas leitoras tenham achado esse casal e essa história familiar… Se sim, é porque você já leu as outras fics deles (com outros nomes, claro, porque a gente vive adaptando hahah) e pode encontrar os links aqui em baixo. Caso ainda não tenha lido, que tal dar uma chance?
Nós duas temos muito planejado pra eles, de verdade, só não sabemos se publicaremos tudo. De qualquer maneira, as outras duas fanfics narram o casal um pouco mais velho e o casal se reencontrando depois de passar um bom tempo longe um do outro.
Enfim, é isso! Muito obrigada por lerem, e agradeceremos demais caso possam deixar um comentário! Até a próxima!
After All These Years [Especial 10 anos FFOBS - Equipe]