Finalizada em: 14/08/2020

Capítulo 18

Ninguém sabia dizer ainda qual o motivo, mas a recuperação de estava sendo bem mais lenta do que de costume, embora ainda fosse rápida para uma pessoa normal. Havia um fator que devia ter correlação – a mulher estar aparentando muito mais cansaço do que o normal –, só que isso não acalmava muito os médicos do complexo. deveria recompor suas energias em uma velocidade muito maior e, embora pudesse explicar a razão de seu organismo não estar conseguindo manter o ritmo habitual, aquele fato apenas trazia a pergunta de o que estava causando tanto cansaço.
E isso resultou no pedido de algumas visitas emergenciais à Monica, o que não ajudou em nada no quesito cansaço psicológico da mulher, que teria agradecido de joelhos os imprevistos que causaram o adiamento de suas consultas se não tivesse lhe causado ainda mais estresse.
- Qual o motivo do alarme? – perguntou assim que viu Steve passar correndo pelo corredor do laboratório em que ela se encontrava. Como a pele de suas mãos continuava muito sensível, todas as suas tarefas costumeiras tinham sido adaptadas: se era algum trabalho virtual, Sexta-feira se encarregava de realizar exatamente as ordens da mulher, e, quando era algo físico que um robô não podia fazer em seu lugar, acabava buscando auxílio em quem estivesse mais próximo. Como os Vingadores mantinham sua rotina mesmo com um membro a menos, acabava contando mais com os cientistas das salas próximas, embora a maior parte do seu trabalho pendente eram projetos para terminar e relatórios que precisava redigir.
Steve acabou passando bastante da porta por não ter esperado que a mulher estivesse tão perto assim, então teve que voltar um pouco para que pudesse ter contato visual quando entregasse a informação nova.
- Pista sobre o Rumlow – disse ele de uma vez, sem rodeios. A expressão entediada de passou de surpresa para frustrada em milésimos de segundo.
- Droga, eu não vou poder ir, não é?
- Coordena daqui?
Steve não obteve uma resposta verbal, apenas assistiu afastar com um comando de braço todos os arquivos em aberto que a rodeava até então, os hologramas logo diminuindo no canto da sala até desaparecerem. Sem precisar ser solicitada, Sexta-Feira puxou a ficha que tinham de Rumlow já com as informações de hoje, além do breve rascunho que o Capitão fizera no curto espaço de tempo entre entender a situação e comunicar o time que o acompanharia na missão.
Suas opções eram bastante restritas dessa vez. Tony, Rhodes e Petr estavam fora da base, e, como imaginava que agir logo era a melhor opção, não parecia uma boa ideia ordenar o retorno imediato. Os dois mais velhos, além do mais, não se encaixavam no perfil da missão que ele vinha esboçando mais mentalmente, mas o russo talvez fosse ser um desfalque preocupante. Eles precisariam de discrição, e Steve estava sem dois de seus três espiões. Embora fosse também uma boa oportunidade para testar Wanda no que ela vinha aprendendo pelos últimos meses com o trio de soviéticos. Ter Natasha e Sam na equipe deveria ser o suficiente para equilibrar a falta de experiência da novata.
Só que nem toda experiência do mundo foi o suficiente para garantir o sucesso da missão.
- Steve, para de dar ouvidos a ele e apague o Rumlow – abandonou a calma que até o momento fingia ter, se colocando de pé com as mãos espalmadas sobre a mesa que trabalhava até então. Aquele frio na barriga nunca adiantava coisa boa. Wanda estava a caminho para dar suporte, mas algo dizia para a mulher que não seria rápido o suficiente. Steve tinha abaixado a guarda para um inimigo ardiloso, tinha criado uma situação crítica e ela estava há quilômetros de distância para poder interferir fisicamente – Se ele está enrolando é porque está tramando alguma coisa! Rogers...! Eles não estão com o Bucky, me escuta!
Em nenhum momento obteve respostas, nem mesmo quando o pior aconteceu.
Os Vingadores tinham cometido mais um erro de grandes proporções em território estrangeiro e ninguém mais teria paz no complexo pelas próximas semanas.

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Steve poderia tentar se iludir e explicar o silêncio no complexo pelo horário que estavam chegando, mas aquela pressão no ar duraria dias, sem respeitar um cronograma específico. Os corredores estavam bem menos movimentados do que de costume, mas talvez tivesse a ver com a voz de que ecoava pelo ar, seu tom falsamente calmo aumentando a tensão de quem ousava se aproximar.
- Estava ocorrendo o roubo de uma arma biológica e você está querendo nos transformar nos vilões?
Wanda tinha seguido direto para seu quarto assim que chegara, sem trocar muitas palavras com ninguém. Natasha não fizera muito diferente, apenas rumando para a enfermaria por seu ouvido ainda estar zumbindo um pouco. Steve que ia mais frente em direção à sala de reunião principal, com Sam em seu encalço, em uma distância segura para não transpassar a delimitação tênue entre vida pessoal e profissional de seu capitão, mas também perto o suficiente para caso sua interferência viesse a ser necessária.
tinha entrado em contato o mínimo possível com a equipe desde que a operação fora comprometida, e ficara claro para todos mesmo em seu tom controlado que a mulher tinha ultrapassado os limites humanos de irritação.
- O ocorrido foi uma fatalidade. Eu já perdi a conta de quantas vezes eu repeti isso apenas nessa ligação: todos os Vingadores estão à disposição – estava de costas para a entrada da sala, mas Sam duvidava que ela não tinha ciência da dupla que se aproximava, embora fizesse um excelente trabalho para ignorá-los – Tudo que for possível, estamos dispostos a fazer. Vocês estão recusando nosso suporte, e três segundos depois nos acusam de não nos preocuparmos pelo que aconteceu, não é?
A mulher jogou a cabeça para trás quando seu interlocutor assumiu o turno da conversa, uma de suas mãos pairando sobre o fone em seu ouvido prestes a arrancá-lo e jogá-lo longe, mas ela se conteve, fechando a mão em punho e batendo três vezes seguidas na mesa enquanto respirava fundo.
- Eu fui a responsável pela operação, não o Capt. Rogers, eu respondo por ela. O Capt. Rog... O Capt. R... Cacete, Ross! Se não vai me deixar falar, por que não me deixa uma mensagem? Pelo menos assim eu vou poder te pausar – a explosão da mulher pegou a dupla no corredor de surpresa, e até mesmo a própria , já que ela parou com os olhos levemente arregalados e expectativas encarando a parede em sua frente, o silêncio da linha de repente parecendo suspeito demais – Secretário? Merda. Sexta-feira, ligue para o Secretário Ross.
A Inteligência Artificial apenas assentiu, informando que estava tentando reestabelecer a comunicação, e aproveitou esse momento de folga para se jogar na cadeira mais próxima, a cabeça indo descansar entre seus joelhos. Só que sua folga não foi tão longa como ela queria, já que o chamado baixo de Steve fez com que toda aquela frustração voltasse com força total.
- Vocês não saem em público até essa situação acalmar, entenderam? – Steve não sabia dizer ao certo o que esperava, mas o rosnado baixo da mulher e seu olhar irritado não o pegou desprevenido, embora não tenha também feito com ele se sentisse melhor – Sexta-feira?!
- O Secretário exigiu uma reunião na capital.
- Ligue para o Rhodes – ordenou , ajeitando sua postura para voltar a trabalhar no que deixara de lado para atender a última ligação – Faça um resumo se precisar, diga que ele vai comigo.
- Eu vou com você.
- Não, não vai – ela logo cortou o soldado, seu olhar abandonando seu trabalho apenas por um breve segundo antes de retornar como se nada tivesse acontecido – Você vai para o quarto ou para enfermaria, dependendo do seu estado.
- ... – insistiu Steve, adentrando na sala sem um pingo de paciência. Ele estava se sentindo mais culpado do que nunca, só que a mulher o ignorando estava dificultando a tarefa de se redimir de alguma forma – ..! Será que dá p...?
- O que, Rogers? Quer me ouvir agora? - a mulher voltou a explodir, girando sua cadeira para ficar de frente para o loiro – Um pouco tarde demais, não acha?
Era algo bastante idiota, mas esperava que Steve fosse retrucar, jogar um belo argumento em sua cara que justificava suas ações em campo e limpava sua ficha. Só que ele se manteve em silêncio, de cabeça baixa. Steve estava ali para ser repreendido e aquilo era tão frustrante e ela estava tão cansada.
- Quantas vezes eu vou ter que te falar que a HYDRA está pouco se importando com o Soldado Invernal? Que ter ele perdido ou com a gente não fazia a menor diferença? Hein?! – a medida que avançava, a voz de ia se elevando, contrastando com sua expressão que se mantinha o mais neutra possível, embora seus olhos lhe entregasse. Não confia em suas ações, não confia em suas palavras – Por que diabos é tão difícil acreditar em mim?!
- Eu acredito em você, .
- Então me ilumine e me explique o que aconteceu hoje!
- Ele disse q...
- Eu ouvi o que ele disse, Steven – lembrou ela. Seu canal com Steve ficara aberto o tempo todo, um costume que tinha adquirido sempre que um dos dois ficava fora do campo e outro responsável pela coordenação – Eu pedi uma explicação.
Steve engoliu em seco.
- Eu travei quando ele falou do Bucky – ela já sabia daquilo, o soldado também já sabia que ela sabia, se lembrava muito bem de ter escutado ao longe os gritos de pedindo que ele reagisse e não se deixasse levar pela conversa do inimigo. Só que que ele precisava assumir e verbalizar o erro que cometera.
E ouvir aquilo apenas fez com que ficasse ainda mais furiosa.
- Você sabe da gravidade do seu erro, não é? Sabe que teria sido um desastre ainda maior se a Wanda não estivesse contigo? Você teria morrido junto com ele. A garota que fez a coisa certa e diminuiu absurdamente o número de mortos, e o mundo inteiro está jogando a responsabilidade do erro nas costas dela!
Steve não disse mais nada ou ergueu a cabeça, e nem conseguiu também verbalizar mais suas frustrações. Eles ficaram ali por alguns instantes, suas respirações aos poucos se normalizando, embora suas mentes apenas parecessem ainda mais confusas.
- Vá consolar a garota – ordenou ela, se colocando de pé – Em outro momento eu iria, mas agora tenho certeza que vou continuar gritando e eu tenho que guardar um pouco para a reunião na capital.
Steve deixara a sala primeiro, e aproveitou aquele intervalo de crises para lidar para organizar todo o material que separara até então, apenas para quase pegar o copo próximo de sua mão e atirar na direção da silhueta que aparecera do nada na porta.
- Não acha que pegou um pouco pesado com ele, Stark? – suspirou Sam, escorado no batente da porta, com os braços cruzados.
- Acho que ainda estou pegando leve. Se eu tivesse exagerado, essa situação nunca teria acontecido – retrucou ela – Vocês lembram apenas do nome que ele leva e esquecem que o cara não é perfeito.
- Acho que você que se esquece disso, já que não aceita erros vindo dele.
Mesmo indo contra seus instintos, os dedos de relaxaram o aperto ao redor do celular que ela recolhera para colocar no bolso, salvando assim o aparelho de uma destruição precoce. Todos estavam com os nervos a flor da pele, ela mais do que ninguém estava ciente disso, só que a última coisa que a mulher precisava era de alguém querendo virar a situação para o seu lado.
- Alguns erros são inaceitáveis, Wilson. O de hoje foi um deles – continuou ela, continuando a organização da mesa para evitar encarar o moreno, já que sabia que sua voz estava bem mais controlada do que sua expressão – Rogers já tem experiência o suficiente para saber que não devia ter dado ouvidos para o Rumlow.
- E se tivesse sido você no lugar do Cap, como você agiria? Você também se importa com o cara, até onde eu saiba.
Aquela pergunta pegou levemente desprevenida, a resposta pronta na ponta da língua apenas não passando porque seus dentes foram mais rápidos, impedindo a saída. Era remorso o nome daquela sensação estranha no estômago? Ela precisava fazer algo a respeito daquilo.
- Se não conseguisse conter a urgência de o matar, o nocautear e interrogar depois, longe de civis.
- Claro, – Sam respirou fundo, girando os calcanhares para retornar para seu quarto – Vamos fingir que teria sido assim mesmo.
passou alguns minutos parada no mesmo lugar, tanto aproveitando aquela pausa como sem saber também o que fazer. Inconscientemente sua mão quis seguir para o aparelho guardado no bolso de sua calça, mesmo sabendo que quem queria checar estava perfeitamente bem, já que ela pedira atualização de status horas mais cedo.
Não era completamente hipocrisia, apenas não mataria uma mensagem rápida para garantir o que ela já sabia.
Certo?
A voz de Sexta-Feira anunciando que Rhodes chegaria no complexo fez com que ela voltasse para suas obrigações, rumando para a lavanderia atrás de alguma roupa mais apresentável já que não estava disposta a entrar em seu quarto e encarar Steve tão cedo. Sua pressa era tanta que ela sequer optou por se trocar logo de cara – principalmente porque correria o risco de amassar a roupa durante a viagem –, deixando isso para quando pousassem na capital. Talvez não fosse certo querer chegar lá tão rápido, aquela pressa em querer terminar aquilo de uma vez comprometendo a estratégia que deveriam elaborar nesse meio tempo.
Nada daquilo estava passando batido pelos olhos atentos de Rhodes.
Principalmente quando pareceu tropeçar no próprio pé quando já estavam no ar, tendo que buscar apoio tanto na parede da nave além de precisar que ele lhe desse apoio também.
- Wow, ? Você está bem? – perguntou o homem no automático, seus instintos gritando que não tinha como estar bem enquanto com cuidado ajudava ela a se sentar no chão. O olhar da mulher parecia um tanto desfocado e suor começava a se formar em sua testa – Você parece que vai desmaiar, quer um pouco de água?
- Não, está tudo bem – desconversou ela, passando uma mão no rosto e gesticulando com a outra que não era nada demais – Demorou, mas finalmente as poucas horas de sono estão começando a fazer falta.
- Quantos dias acordada?
- Três.
- Você é definitivamente filha do Tony, então estou assumindo que você está mentindo.
- Três – suspirou , sabendo que não tinha exatamente para onde fugir – Mais sete.
Parecendo nada surpreso, Rhodes apenas se sentou ao lado da mais nova, assistindo a ela mexer com as pontas das unhas que não tivera tempo de cortar até então.
- Sabe o que tem tirado seu sono? – mesmo se fosse Tony que tivesse abordando, Rhodes sabia que precisava ir com cuidado. Com então era como pisar em cacos. Embora tivesse assistido a mulher crescer, ele não a conhecia tão bem, e algo lhe dizia que teria dificuldades de conseguir respostas sinceras mesmo se conhecesse.
- Problemas. Eles estão transando entre eles e criando mais numa velocidade que eu não consigo lidar – a tentativa de resposta bem-humorado arrancou um riso fraco do militar, e ela o acompanhou, mesmo sem vontade.
- Precisa de ajuda com algo?
- Você vai ter que me monitorar pelas próximas horas – comunicou ela, o seu planejamento para a reunião voltando aos poucos a sua mente, mas não sentia que era um bom momento para se ocupar com tantos detalhes – Meu objetivo é não explodir com ninguém porque é exatamente isso que eles querem, mas...
- Vai ser difícil, eu sei – completou ele – Você é boa lidando com burocracia, mas vou estar do seu lado o tempo todo. Eu que te ensinei a andar de bicicleta, não vou te deixar cair agora.
piscou algumas vezes antes de virar o rosto para Rhodes, um sorriso nostálgico aos poucos se alargando em seus lábios.
- Verdade, foi você que me ensinou. Tinha esquecido disso – disse ela por fim, aceitando em silêncio o carinho rápido que Rhodes fizera no topo de sua cabeça antes de levantar e tomar seu lugar como piloto. continuou ali por apenas mais alguns instantes, respirando fundo em seguida e se levantando com cautela, sem nenhum movimento brusco que pudesse fazer com que sua pressão caísse de novo.
No fundo, ela estava bem mais calma agora. Ela não precisava dominar tudo de uma vez. Primeiro podia apenas pedalar devagar e se acostumar com o guidão, depois deixar que alguém tirasse as rodinhas de treino. E, na pior das hipóteses, se tudo aquilo fosse feito cedo demais, era só ter alguém próximo para impedir ou ao menos amenizar a queda.
Ela não precisava fazer tudo sozinha.

Capítulo 19

sequer esperou Sexta-Feira desligar o carro para desembarcar, seus passos rápidos seguindo para a área da nova mansão Stark que a Inteligência Artificial dissera que seu pai estava.
Sua chegada na mansão tinha sido quase em tempo recorde, já que a mulher deixara o complexo no mesmo instante em que recebera a notificação de emergência. Steve até tentara a interceptar quando a viu correndo pela sala de convivência para pegar a chave de um dos carros, mas apenas respondeu um vago “problemas nas indústrias” e disse que voltava assim que fosse liberada. Já fazia quase um mês do incidente em Lagos e da última vez que a dupla de Vingadores tivera uma conversa fora do âmbito professional propriamente dita, mas nenhum colega parecia ter percebido esse fato até o momento. Ou pelo menos escolhera não comentar sobre isso. O clima no complexo tinha suavizado consideravelmente nas últimas semanas, mas ainda era notável certo desconforto na maioria dos membros da equipe de heróis.
Steve e não eram exceção. Talvez por isso o acordo silencioso era de não perturbar ainda mais a dupla.
- Pai? – o quarto estava na mais completa escuridão, mas não pediu para que as luzes fossem acesas, já que conseguia localizar quem procurava esparramado na cama mesmo assim. Tony por sua vez teve dificuldade em identificar a silhueta na porta como sua filha, seus olhos se fechando institivamente quando as luzes foram acesas a seu pedido.
- ? O que está fazendo aqui? – estranhou ele, assistindo a filha caminhar até a cama espaçosa enquanto ele próprio também se sentava.
- Sexta-feira me avisou que talvez você estivesse precisando de companhia.
- Não preciso, mas não vou negar.
- Tem espaço para mim aí?
- Para você, sempre.
Com um sorriso triste que espelhava bem o de Tony, se sentou ao lado do pai, as costas apoiadas contra a cabeceira da cama, as mãos entrelaçadas em cima do colo.
- Como você está se sentindo? – perguntou a mais nova, sem muita enrolação. Tony não parecia estar evitando o assunto, e já deveria suspeitar o motivo da visita (in)esperada da filha.
- Horrível – confessou ele, depois de soltar todo o ar de seus pulmões de uma vez. Depois de tantos anos vendo Tony voltar de missões, já estava mais que acostumada com sua expressão cansada, mas daquela vez era diferente. Tony estava miserável – Mas talvez seja melhor assim. É coisa demais para exigir de alguém.
- Eu realmente sinto muito – disse em um sussurro, uma sinceridade em sua voz que fez com que Tony risse sem humor. Alguns anos atrás ele nunca acreditaria de verdade naquele tom – Sei quanto você gosta da Pepper.
- Por isso acho que ela tomou a melhor decisão – continuou o mais velho, sem mais saber dizer se continuava a repetir aquilo para se convencer ou se consolar – Não quero ela sofrendo por minha causa.
- Os Stark deveríamos vir com algum tipo de aviso...
- As coisas ainda estão tensas entre você e o Rogers?
Tony sequer titubeara para aquela pergunta, o que fez com que respirasse fundo antes de respirar, apreciando com cuidado cada segundo que segurava o ar antes de responder.
- Podemos dizer isso.
- É isso que está te incomodando? Tem algo de diferente em você.
- Diferente?
Tony se ajeitou um tanto desconfortável depois de ter a pergunta devolvida. de repente parecia inquieta, como se temesse a tese que viria, o que apenas incomodou mais homem. Pior do que não ter a resposta era saber que a filha provavelmente a tinha e agora tentava evadir.
- Eu não sei explicar... Mas você está diferente. Sua postura, seu jeit... – Tony já começava a se irritar com a dificuldade de encontrar a resposta satisfatória, e quase se irritou de verdade ao ouvir a filha rindo divertida, se não tivesse notado algumas notas de desespero no som – O que foi?
- Eu convivo com dois super soldados que conseguem me ler como ninguém, e nenhum deles notou alguma diferença. Mas você notou.
- Superpoder de pai – devolveu ele sem pensar duas vezes, e muito menos abandonando o tópico. Agora ele estava genuinamente preocupado – O que aconteceu, ?
- Eu estou grávida.
Tony piscou duas vezes.
- Me desculpe, eu me distraí – pediu ele segundos mais tarde, se virando completamente para , que mantinha o olhar para frente – Tive a impressão de que você disse que estava grávida.
- Eu não vou dizer isso em voz alta de novo.
- Você está falando sério? Tem certeza? Você vez algum tipo de teste?
- Não precisava, mas eu fiz – contou , seus dedos se mexendo nervosamente sobre o colo – Eu tinha notado alguns hormônios novos na minha corrente sanguínea um tempo atrás, mas ouvir um segundo batimento cardíaco meio que entregou.
- Você consegue...?
- Até andei evitando Pete nos últimos dias. Há muitas distrações em casa, e acho difícil ele perceber caso não esteja procurando... Steve não iria notar isso, mas...
- Espera, Rogers não sabe?
controlou a vontade de revirar os olhos, apenas suspirando no lugar. Era exatamente por isso que não queria tocar no assunto.
- Nós praticamente terminamos mês passado, só não tomamos iniciativa para mudar as coisas – disse ela por fim – Já estamos com problemas demais para lidar.
- Você deveria contar logo – aquilo deveria soar como um conselho, mas Tony não voltou atrás no tom quase de ordem, mesmo tendo sentido entrar na defensiva – Esse é o tipo de coisa que faz as outras perderem a importância.
- Não, Tony. Faz com que você jogue para o lado todos problemas que você não consegue resolver, e esquece por um tempo – corrigiu a mais nova, séria – E depois tudo isso volta de uma vez. Sai da suspensão mais forte do que nunca.
- Com a experiência de alguém que apenas teve ciência da criança quando ela estava com três meses, eu preciso pedir que você fale com o Steve. Ele merece saber o que está acontecendo.
- Não acredito que você está tomando o lado dele – ofegou ofendida, suas mãos finalmente se separando, prontas para lhe dar o apoio para levantar da cama. Ela apenas não conseguiu porque Tony fora mais rápido tanto com as palavras como em segurar seu pulso.
- Coração, eu estou tomando o seu lado – disse ele com cuidado, não vacilando sob o olhar assassino da filha – Você ainda não percebeu isso, mas falar com ele vai te fazer bem. Talvez vocês consigam resolver tudo de uma vez.
- Quando eu voltar para a mansão.
- Hoje.
- Não vou voltar hoje – insistiu ela – Meu pai precisa de mim.
- Tanto quanto você está precisando do seu pai agora – devolveu Tony, quase rindo ao assistir a mais nova revirar os olhos – Como você está lidando com isso tudo?
- Não estou. Estou evitando pensar nisso, para falar a verdade – contou , afundando um pouco mais no colchão – Eu não sou do tipo maternal.
- Você se dá muito bem com os filhos do Barton.
- Eu apareço uma vez por ano e encho as crianças com dinheiro, não dá para comparar – lembrou ela rindo, parando apenas quando percebeu que Tony além de não a acompanhar, também tinha o olhar levemente arregalado perdido em algum lugar aleatório do quarto,
- Merda, eu vou ser avô.
Aquilo foi o suficiente para que ela voltasse a rir.
- É normalmente o que acontece quando sua filha tem um filho, pensei que você soubesse – brincou ela, voltando a um tom mais sério apenas quando notou a respiração do homem começando a se alterar. Logo ela tinha uma mão em seu ombro, em um aperto buscando trazer um pouco de realidade – Está tudo bem?
- Preciso de cinco minutos para absorver isso. E talvez uma bebida. E um abraço. Vamos começar com um abraço.

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Um pouco mais tarde Tony arrastou a filha para a cozinha sob o argumento de que ela precisava comer alguma coisa.
- Você precisa de férias do complexo – ele tinha iniciado uma lista de coisas “a fazer” fazia alguns minutos, e estava usando tudo o que tinha para não jogar a cafeteira na cabeça do pai – Aquilo está um ambiente estressante demais para você, não pode fazer bem.
- Desde quando você é um expert no assunto?
- Não me teste, amanhã cedo eu posso saber até como realizar um parto, se precisar – disse ele sério – Não acho que o Rogers vai concordar com isso, mas talvez fosse bom vocês dois ficarem aqui por um tempo. Deixar que Romanoff e Rhodes lidem com todo o resto.
- Eu não preciso ser afastada.
- Então por que você parece doente? – devolveu o engenheiro, dividido entre ficar satisfeito por ter silenciado a mais nova e preocupado por estar certo – Me fala o que você já sabe. Não adianta me dizer que não fez nenhum teste, te conheço melhor que isso.
- Não estou lidando tão bem com isso como deveria. Fisicamente – contou , se deitando sobre a bancada da cozinha – Todo o organismo aprimorado, poderes? Não é o suficiente para ficar sem enjoos matinais. Na real, esse termo é a maior mentira já criada. É enjoo o tempo todo.
- Amanhã cedo nós vamos para o complexo e você vai conversar com o… depois de amanhã, na verdade – corrigiu Tony, parando por um segundo antes de voltar a servir o que sobrara de suco integral para ambos – Sei que você não vai fazer isso se não for obrigada, e tenho uma palestra amanhã no MIT. Não é de aula mesmo, é sobre a Fundação Setembro. Pepper não vai representar as Indústrias, você pode ficar no lugar dela na apresentação.
- Acho que prefiro ficar em casa. Você vai apresentar o BAFO e eu continuo desconfortável com a ideia.
Tony até pretendia insistir, mas acabou por optar em deixar o assunto de lado.
Não era uma surpresa para ninguém sua motivação em trabalhar com traumas psicológicos, só que isso não fazia com que sua motivação ficasse menos desconfortável. Desde o incidente com Wanda no mês passado que qualquer menção a saúde mental era pisar em ovos com , e agora mais do que nunca não parecia um bom momento para forçar a barra. O que seria apresentado no MIT era apenas uma pequena demonstração que sequer usaria a mais nova como cobaia, mas talvez fosse realmente melhor deixar ela no conforto da casa.
Tony não ficaria fora por muito tempo, e a ordem que tinha era de descansar o máximo possível, além de se alimentar direito. Talvez fosse a mudança para um ambiente menos hostil que estava trazendo bons resultados, mas o que importava era que ela conseguira dormir por três horas seguidas um pouco depois da partida do pai, e passara o resto da tarde deitada em seu quarto, reassistindo um dos filmes que mais gostava desde a adolescência. Vez ou outra sua mente a traía e se lembrava da proposta de Tony de ela permanecer ali por um tempo e até chegava a gostar da ideia, apenas para lembrar que tinha mais uma pessoa naquela equação que ela não estava preparada para encarar.
Por mais que quisesse resolver as coisas, sabia que não tinha mais nada que ela pudesse fazer, nem Steve. Ele não confiava em seu julgamento, e ela própria vez ou outra também começava a desconfiar de si. Inconscientemente algumas vezes ela se pegava com as veias brilhando em suas mãos, estudando os desenhos que elas formavam em sua pele. Tantos anos tinham se passado e tão pouco ela continuava entendendo de sua própria constituição. Não era mais algo apenas físico que ela precisava se adaptar, era agora algo muito mais profundo do que isso. Não era, sempre foi. Sua mente intimamente ligada com os poderes, quantas de suas decisões tiveram interferência? Quanto dos seus julgamentos de agora estavam limpos do tal desequilíbrio?
Como manter o mínimo de confiança com tudo isso em mente?
- Senhorita, seu pai retornou chegou a abrir a boca para agradecer em voz alta tanto pelo o aviso que quebrou sua linha de pensamento como por ter mais uma vez companhia, mas Sexta-Feira não tinha terminado seu anúncio. E o melhor teria sido que não tivesse mais o que avisar – O secretário Ross está aqui.
Inquieta, apenas pegou o primeiro par de calçados que viu, os mesmos tênis com que viera para a mansão no dia anterior. Suas roupas também se mantinham as mesmas, a camiseta de material especial para atividade física e sua calça preferida para treinar. Não era o vestuário mais apropriado para uma reunião, mas, como o Secretário não teve a decência de vir com um aviso de antecedência e não sentia que aguentaria fugir do que estava para acontecer por um segundo a mais, ela não deu muita importância.
Assim que colocou os olhos no Tratado de Sokovia, desejou que tivesse adiado um pouco mais a dor de cabeça.
- Você espera que nós concordemos com isso? – perguntou ela com um vestígio de riso em sua voz, ainda folheando o arquivo que parecia desnecessariamente extenso demais. O Secretário pareceu compartilhar do humor da mulher.
- Se você quer continuar na ativa, é a única maneira, Sra. Rogers.
- Senhorita Stark – corrigiu Tony sem pensar duas vezes, voltando a tomar o lugar ao lado da filha no sofá – O casamento ainda não aconteceu, mas eu não esperaria um convite, secretário.
- De qualquer forma, eu não sm animaria em assinar o acordo – continuou Ross, ganhando a curiosidade da mulher, que interrompeu sua leitura superficial para questioná-lo com o olhar – Todos os heróis vão ter que passar por avaliações de capacidade antes de aprovarmos que entrem em ação, e eu não consigo te ver sendo aprovada.
- Está duvidando das minhas habilidades?
- Estou duvidando da sua saúde mental – explicou ele, o sorriso satisfeito sendo incapaz de ser controlado quando notou que atingira uma ferida que ainda devia estar aberta – Você trabalhou para a HYDRA por meses, nos causou imensos problemas.
- Eu estava sendo controlada. Algo desse gênero não irá se repetir.
- Isso a tornou instável, criança – o tom de Ross se tornou quase que caridoso. O argumento que recebera como resposta viera no automático, e sequer parecia mais acreditar nele. Seu contato com a mais nova dos Stark fora bastante restrito até então, mas ele podia chutar que toda a confusão em Lagos e o fato de ter sido a responsável pela operação estava a esgotando. Era desconcertante de se ver, mas não tinha como ele aliviar para o seu lado – Você atacou sua própria equipe, matou aliados. Esse tipo de coisa abala uma pessoa. Sem contar que você ainda não foi em julgamento pelos crimes do “Corvo mais jovem”. Algo que podemos deixar esquecido, caso você faça uma boa escolha.
Luz vermelha. Tony chegou a se ajeitar em seu lugar, um braço pronto para segurar a filha, caso necessário.
- Você está me ameaçando, secretário? – perguntou , fechando o arquivo e o deixando sobre suas pernas. Suas palmas ainda mais finas do que de costume ficaram sobre a capa, seus dedos tentados a agarrar em suas páginas e rasgá-las sem a menor cerimônia.
- Estou apontando os fatos.
- Não está parecendo.
- Você apenas não se encaixa no perfil de heróis que o mundo precisa, – disse Ross, depois de um longo suspiro – Tem que aceitar isso antes que mais desastres aconteçam.
Por ter assistido a mulher engolir em seco e desviar o olhar, o Secretário acreditou que ela estava consentindo com o silêncio, mesmo que contra sua vontade. Por isso sua surpresa quando se colocou de pé, mas não antes de ter a última palavra.
- Não sou exatamente o tipo de pessoa que aceita algo com que não concorda, Secretário.

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A apresentação do Tratado deveria ter sido feita com toda a equipe presente, mas, como Tony tinha solicitado buscar pessoalmente sua filha em casa, a notícia estava sendo entregue aos picados. Por isso Ross ficou consideravelmente irritado quando pediu que eles fossem na frente para o Complexo, que ela logo mais os alcançaria.
- Eu não vou ficar parada enquanto ele me ameaça – se explicou a mulher quando Tony a olhou feio, exigindo respostas sobre o que ela planejava fazer tão de imediato – Preciso fazer um movimento logo. Prometo que não vou demorar.
- O que vai fazer?
- Começar a preparar minha defesa.
- Podemos comunicar os advogados dos Vingadores e das Indústrias Stark no caminho – bufou Tony, gesticulando para que ela entrasse logo no carro. não se mexeu um centímetro sequer na direção que seu pai queria.
Ele ficaria tão irado.
- Talvez eu queira alguém que não esteja na nossa folha de pagamento.
Tony franziu o cenho e esperou por respostas, mas logo desconversou e correu para o carro que usaria, dizendo que explicaria seus planos assim que tivessem a chance.
Claro que se tratava de uma jogada arriscada, mas não era como se ela tivesse muito mais a perder, certo?
Matt Murdock parou por um instante assim que chegaram no corredor do escritório, algo que passou completamente despercebido por Karen e Foggy, que continuaram rumando para a porta e estava prestes a destravar a tranca.
Tinha alguém no escritório e não parecia ter chegado agora, mas o intruso não parecia estar roubando algo. Quem quer que fosse, estava extremamente calmo, sentado na cadeira de Karen, observando a silhueta da cidade pela janela atrás da mesa. A pessoa esperava por eles, e era feio deixar as pessoas esperando.
Tentando agir naturalmente, o moreno deixou que seu amigo entrasse primeiro, acedendo a luz do escritório e praguejando baixo quando localizou uma figura desconhecida no ambiente. A mulher de cabelos escuros riu de leve, girando a cadeira para ficar de frente para os recém-chegados.
- Desculpem eu ter entrado sem vocês aqui – pediu , um sorriso em seu rosto que parecia satisfeito com a reação que causara – Sei que não é muito educado, mas a porta estava aberta.
- Não, não estava.
- Todas as portas estão abertas para mim, Murdock.
- Pode explicar por que uma vingadora invadiu nossa propriedade? – indagou Foggy, seu tom confiante se esvaindo quando começou a supor o motivo da visita da mulher – Ou você veio aqui por causa do... do...?
- Não, eu vim pelos advogados – riu a mulher – Mas obrigada por me avisar que vocês já sabem da vida dupla do Sr. Murdock. Eu estava me matando para pensar em um jeito de abordar certos assuntos sem te entregar...
- O que você quer, Stark? Está me ameaçando? Quem mais já sabe?
- Apenas eu – garantiu ela, séria. Era difícil dizer se ela estava mentindo ou não, mas não parecia o caso – Meu pai e eu estamos tentando identificar os vigilantes da cidade, mas você foi um tanto que um desafio. Nunca teria descoberto se já não te conhecesse, parabéns. Meu pai ainda não ligou os pontos, acredito que vai demorar um pouco mais, mas eu ficaria atento. E eu já disse: vim aqui pelos seus serviços legais.
- Você pode contratar qualquer firma de advocacia do mundo, por que veio até nós?
- Por dois motivos – contou ela, erguendo o indicador para enumerar sua fala – O primeiro é porque vocês são bons e às vezes a melhor opção não é a mais cara. O segundo que é muito indiretamente você está envolvido nessa bagunça também.
- Ele ele, ou ele...?
O olhar tedioso de foi a única resposta que eles obtiveram, e foi o suficiente para Matt. Ele já estava com sérios problemas, não custava nada ouvir o que a mulher tinha a dizer.
- Vamos para meu escritório.
assentiu, pegando um fino envelope e o que parecia ser um livro da mesa de Karen e seguindo o trio para uma das salas separadas.
- O que te traz aqui, Srtª Stark? – questionou Matt em seu melhor tom profissional, tomando seu lugar a mesa.
- Acredito que vocês já devem estar familiarizados com o desastre em Sokovia.
- Ouvimos falar.
- Isso pode ter sido a gota d’água para um movimento anti-heróis... Pelo menos da forma com que estamos habituados – contou ela, entregando o grosso livro para Foggy, que começou a folhear as páginas – Me desculpe, não deu para passar isso para braile. No momento eles estão apenas focados nos Vingadores, mas achei que seria bom deixar você dar uma olhada nisso. É questão de tempo para eles imporem isso em um nível menor.
- “Tratado de Sokovia”? – Karen leu o título na capa, seu olhar viajando do material para a mulher, silenciosamente pedindo por uma explicação melhor do que se tratava aquele material.
- O Tratado determina que os Vingadores deixam de ser uma iniciativa privada e passam a responder a um painel da ONU.
- Você quer que a gente refute isso? – assumiu Matt, seu rosto virado na direção da mulher – Ficou doida?
- Eu já sabia que em algum momento algo desse gênero apareceria. Desde 2012 há esse movimento contra super pessoas, e não vou mentir, até que demorou para eles se organizarem...
- Então o que você quer que façamos? – estranhou Foggy, sem erguer os olhos das especificações que o tratado em suas mãos estipulava.
- A ONU não concorda que eu continue a integrar a minha equipe. Eles afirmam que eu não tenho estabilidade mental para continuar em ação.
- Uma avaliação psicológica não resolveria isso? – perguntou Karen, e logo balançou a cabeça.
- Eu dificilmente seria aprovada.
- Quanta confiança.
- Sou realista, é diferente – a heroína corrigiu a constatação de Foggy, com uma calma de atenção que não lhe parecia natural, não pelo menos de acordo com a imagem mental que eles haviam construído a seu respeito – Eles não querem que eu seja aprovada, e não é apenas por essa baboseira de instabilidade... Eles não confiam em mim, e têm razão para isso, não posso negar.
- Você ainda não disse o que quer conosco – lembrou Matt, e ela sorriu. Objetivo.
- Para me incentivar a não assinar o tratado e continuar na equipe, o secretário Ross pode ter amigavelmente me informado que eles já têm um processo formado contra mim, com base nos meus crimes cometidos durante minha estadia com a HYDRA no final de 2014.
- Então você vai assinar o tratado e quer que nós sejamos sua defesa?
- Ela não vai assinar o contrato, e quer que estejamos preparados caso decidam seguir com o processo mesmo assim – corrigiu Matt a suposição de seu parceiro, ouvindo o suspiro de como confirmação logo em seguida.
- Não gosto de deixar as pessoas um degrau na minha frente. Eles têm um processo pronto, eu preciso de algo pronto para usar contra isso – contou a mulher, entregando a Matt o envelope que tinha em mãos até o momento. Seu conteúdo era um pen drive achatado, que logo Foggy tratou de plugar o notebook sobre a mesa, analisando as informações junto com Karen – Isso foi tudo que eu consegui juntar de informações do período que eles vão usar contra mim. Detalhes de missões que me enviaram, e minhas avaliações de quando fui recuperada.
- Santo Deus... – ofegou Foggy, atraindo a atenção dos dois morenos – D-desculpe eu... Controle mental?
- Eles limparam minhas memórias e me fizeram adotar a identidade da pessoa que eu deveria ter sido, mas não fui. Eu originalmente sou parte da HYDRA, mas não cresci com eles, como vocês já sabem – tentou resumir superficialmente, querendo evitar qualquer perda de tempo por motivos como surpresa e choque da parte deles – O ponto que a acusação vai abordar com mais empenho vai ser o curto espaço de tempo que eu tinha noção das duas identidades que eu possuo, e mesmo assim continuei obedecendo a eles.
- Por que você continuou?
- Porque eu não tinha para onde fugir – ela respondeu à pergunta de Karen com o máximo de honestidade que tinha. Seria egocentrismo demais da sua parte acreditar que teria conseguido fugir sozinha, e era um tanto que idiota demais qualquer um assumir que ela teria sido capaz disso – Precisava esperar ser resgatada, e ainda tinha meu irmão no meio. Eu não tinha opção.
- Não acho que seja tão difícil te livrar dessa... – comentou Matt, tomando o controle da conversa. Não era como se sua possível cliente não estivesse lhe dando informações preciosas para trabalhar, só que tinha um detalhe que não fora comentado até o momento que estava o deixando incomodado – Além do mais, há quanto tempo você está grávida?
, que até aquele momento não tinha se alterado por menor detalhe que fosse sua postura calma e confiante, passou vários segundos encarando perplexa o homem a sua frente, piscando diversas vezes até encontrar sua própria voz.
- Um pouco mais de um mês... – respondeu ela em um sussurro, o choque claro tanto em seus olhos como em sua voz – Como q...? Isso é um grau de percepção maior até que do meu irmão! Suas habilidades não se resumem a chutar bundas, não é?
- Você está mesmo grávida?! – riu Foggy – Tipo, grávida do Capitão América? Cara... Isso é irado.
- Foggy!
- Desculpe.
- Estou assumindo que você não pretendia usar isso na defesa.
- Não tinha considerado essa opção, na verdade – confessou , pensativa – Mas quem prenderia uma mulher mentalmente instável grávida? Pegaria bem mal publicamente. Gostei.
Mais alguns detalhes foram discutidos e perguntas respondidas até precisar se ausentar para ir ao banheiro, mas o assunto entre o trio não se alterou. Quando a mulher retornou para a sala, eles ficaram instantaneamente quietos, estudando sua figura como se apenas o ar que respirava fosse entregar algo a mais que eles precisavam saber.
- Então... Vocês vão aceitar o caso? – perguntou ela por fim, as mãos ainda um pouco úmidas juntas às suas costas – Não posso dizer que vai ser um caso mais fácil que o do Justiceiro, mas pelo menos vocês vão ser pagos por isso.
- Quanto, exatamente? – questionou Foggy, fazendo com que ela abrisse um sorriso mais bem-humorado. “O quanto vocês quiserem” foi a resposta, e o loiro logo virou para os outros dois – Por que não ouvimos isso com mais frequência?
- Discutimos pagamento depois, pode ser? Quando ganharmos o caso, e se ele for posto em ação – disse , antes de praguejar baixo depois de checar o relógio em seu pulso – Droga, eu estou muito atrasada. Eu não posso te deixar com essa cópia do tratado porque tem algumas anotações que eu preciso debater em meia hora com o secretário, mas envio uma cópia mais tarde. Acho importante você saber esse negócio de trás para frente, Murdock. Eles vão ir atrás de todos nós, em todos os níveis. É questão de tempo.
Matt assentiu, e eles finalizaram algumas questões em aberto em poucos segundos antes de deixar o escritório.
Quando ela retornou para o carro e determinou seu destino como o Complexo dos Vingadores, se sentia um pouco mais confiante em colocar o plano que discutira com seu pai quando estava a caminho de Hell’s Kitchen em ação.

Capítulo 20

Secretário Ross terminava sua fala final quando notou a porta da sala de reuniões se abrindo, uma versão um pouco mais bem vestida de entrando em seguida, com algumas pastas nos braços. Seu conjunto de roupa de treino fora trocado por peças sociais de cor escura, mas o par de tênis de mais cedo continuavam em seus pés.
- Sra. Rogers, resolveu se juntar a nós, enfim – provocou o homem, depois que ela pediu desculpas pelo atraso. por sua vez, revirou os olhos enquanto seguia para a grande mesa onde quase toda a equipe estava posta, trocando a cópia do Tratado que Wanda folheava com a que ela trazia.
- Essa tem anotações, vamos trabalhar com essa – disse ela rápido, já se direcionando para o secretário – E pela última vez, Ross, não importa quantas vezes você trazer o assunto do casamento à tona, você não vai ser convidado.
- Demorou bastante para alguém que disse que chegava logo.
- É que eu não queria vir.
- Se importa em me dizer onde estava?
- Não é meu pai, meu irmão, ou meu noivo, então sim, me importo.
- – Tony chamou sua atenção, ficando quase surpreso ao vê-la realmente respirar fundo e seguir como se nada estivesse acontecendo.
- Aqui estão os arquivos que me pediu – disse ela, entregando a outra pasta que trazia ao secretário – Não são os mais atuais, mas já é o suficiente para o momento.
- Terminou sua leitura? – perguntou o homem, apontando com a cabeça para o material que ela deixara com a mais nova do grupo – Preciso saber o que vai querer questionar antes da assinatura.
- Acredito que seja melhor isso ser questionado com toda a equipe primeiro – lembrou a mulher, sorrindo cínica – Te entrego o que precisar o mais rápido possível.
- Sendo seu mais rápido possível amanhã à noite... – devolveu Ross – Se importa de me acompanhar até a saída?
- Sim, me importo.
Mesmo nada contente com mais aquela tarefa, sinalizou o caminho para o secretário, deixando que ele saísse primeiro da sala. No breve tempo que teve, ela buscou algum adiantamento do que acontecera na reunião em seu pai, que apenas balançou a cabeça de leve em negação. Não tinha saído tudo bem, as desavenças que eles já imaginavam se tornaram realidade, então.
- O que você quer? – quando já estavam bastante afastados da equipe que rumava para a sala de convivência, arriscou a pergunta, sem conseguir entender a vontade repentina da homem de ser acompanhado quando Sexta-Feira poderia facilmente lhe dar as direções, se tivesse esquecido o caminho que fizera – Me ameaçar um pouco mais?
- Te dei avisos do que poderia vir a acontecer no futuro, não podemos chamar de ameaças – desconversou o homem, com a mulher concordando sem convicção em seguida – Apenas queria te lembrar que ainda possui uma posição importante aqui, tente manter as coisas sob controle. Especialmente de seu noivo. Você deve ser capaz de imaginar o impacto que vai ter se o Capitão América se recusar a assinar.
- Se alguém da equipe vai deixar de assinar ou não, é um problema de cada um – disse ela firme – Ninguém é obrigado a concordar com as novas condições para ação, e, se alguém quiser se aposentar, não é da conta de ninguém.
- Que bom que você entende que essas são as únicas opções possíveis, Stark. É continuar ou aposentadoria.
- O que foi? Acha que alguém vai tentar ir contra? Mais alguém além de mim que você quer prender? – devolveu a mulher, cruzando os braços e forçando uma risada debochada – Agora fiquei curiosa.
- Só cumpra seu papel, Stark. Tenha uma boa noite.
assistiu o secretário seguir para seu carro, a maior parte do tempo considerando tirar um pé de seu tênis e lançar na cabeça do homem, um golpe certeiro que provavelmente o deixaria no hospital por dias. Foi necessário um autocontrole que ela nem sabia que tinha no momento para apenas dar as costas e voltar para o prédio, agradecendo o auxílio de Sexta-Feira para que se juntasse ao grupo mais uma vez.
Talvez tivesse sido melhor ter pedido para ser guiada para seu quarto do que para a sala, a conversa alta de alguns membros discutindo já sendo o suficiente para precisar respirar fundo quando ainda estava a algumas portas de distância.
Aquele dia não acabava nunca.
- Vocês estão perdendo o foco nessa história – foi a primeira coisa que ela disse ao entrar na sala, alto o suficiente para interromper a discussão inútil entre Sam e Rhodes.
- O que o Ross queria?
- Me irritar – ela respondeu à pergunta do pai, o único que se dera o trabalho de mudar o assunto. Steve seguia sua leitura do Tratado, de costas para os dois Stark próximos a bancada da cozinha – Chegou bem perto.
- O que você quer dizer, ? – perguntou o Capitão, sem se virar para a mulher ou tirar os olhos de sua leitura – Sobre estarmos perdendo o foco.
- Não é sobre concordar ou não com o acordo. Não é algo que possamos impedir. A única coisa que está ao nosso alcance é manter certa imagem – respondeu a mulher, as expressões apreensivas da maior parte do grupo sendo um sinal de que aquilo não se tornaria uma conversa amigável agora com sua intervenção – Foram muito erros públicos recentes. Nem todos concordam com a nossa ação, e não assinar o acordo apenas vai deixar essas pessoas felizes.
- Você está sugerindo que assinemos algo com o que não concordamos? – retrucou Sam, um tom claro de deboche que apenas fez com que imitasse sua postura, cruzando os braços em frente ao corpo, o convidando a seguir se opondo a sua posição.
- Pelo menos fingir que concordamos. Podemos facilmente controlar toda a situação se fingimos levar tudo numa boa. Controlar o painel que vai nos controlar – ela explicou a possibilidade, não parecendo muito mais feliz do que quem a ouvia – É um pensamento horrível, mas é o melhor que podemos fazer no momento. Não estamos em um mundo perfeito.
- Eu ainda não consegui identificar em que parte, mas você está mentindo em alguma coisa, – comentou Petr, depois de um longo silêncio onde todos trocavam olhares questionadores sobre quem se pronunciaria primeiro – Quer dividir com o grupo?
- Bem, um deles está prestando atenção – comentou Tony, sem medir primeiro o peso de suas palavras ou perceber o fora que dera, algo que não passou despercebido por ninguém, principalmente .
Tony por sua vez pareceu alheio a todos os olhares em sua direção.
- Quer me explicar o que foi isso? – resmungou a mulher, se virando para o pai confuso.
- Isso o que?
- Você me apunhalando pelas costas?! – continuou ela, o nível de sarcasmo em sua voz apenas aumentando – O cara faz uma pergunta certa e você já me entrega? Que ótima equipe você está sendo.
- Muito tempo sem dormir, reconsidere – pediu Tony, assim que entendeu onde tinha errado, o olhar desconfiado de todos não deixando a dupla que parecia a personificação do cansaço – Eles iriam perceber mais cedo ou mais tarde.
- Isso é vingança por eu ter descordado com você mais cedo?
- Um pouco.
- , o que você não está contando?
A mulher respirou fundo, ponderando até o último instante sobre qual segredo seria revelado. Steve esperava sua resposta, seu olhar frio esperando algum vacilo da parte da mulher, alguma hesitação que entregasse algum detalhe a mais.
- Eu não vou assinar o acordo – disse ela por fim, nem um pouco surpresa com as reações simultâneas que obteve, nenhuma muito pacífica ou compreensiva.
- E está dando todo esse discurso para que a gente assine?
- Senti que seria importante eu participar dessa discussão – explicar a mulher, com o máximo de calma que ainda tinha no momento – Não ficaria nada legal eu simplesmente desaparecer.
- Espera, que?
- Fui oficialmente desligada dos Vingadores hoje cedo – o anúncio foi feito de uma vez, um breve silêncio se estendendo. não demorou a começar a rir – Nossa, eu estava errada. Isso foi bem mais dramático do que contar por uma carta.
- Como é que é?
- , do que você está falando?
- Por que eu só estou ouvindo disso agora?
A pergunta de Steve se sobressaiu a dos outros, principalmente pelo seu tom profundo e sério, que contrastava com os alterados e mais agudos do restante da equipe.
- Porque eu ia falar com você mais tarde, mas alguém pelo visto não sabe ficar de boca fechada.
- Não estou conseguindo entender sua motivação – Sam se uniu ao coro.
- Por que eu não tenho condições de assumir tal posto? Eu sou mentalmente instável. A Wanda deu o veredito mês passado, o relatório já foi entregue. Eu não posso mais trabalhar em campo, pelo menos não agora – algumas coisas naquela equipe eram impossíveis de permanecerem sendo segredo, e o incidente de um pouco mais de um mês era um deles, assim como o que foi revelado com ele. Não era do desconhecimento de ninguém o que a mais nova do grupo descobrira, mas tinha um peso completamente diferente ter falando sobre aquilo tão abertamente e na presença de todos – Eu não deveria sequer ter voltado na primeira vez, não deveria ter insistido depois de Sokovia. Agora parece ser um bom momento para deixar de ser teimosa e parar de brincar de heroína.
- Tem certeza que é só isso, ? – Steve optou por insistir no assunto, algo na mulher lhe dizendo que ainda tinha algo a mais, só que ele não conseguia definir ao certo o que era.
- Tenho.
- Você continua escondendo algo, você est...
- Eu estou o que? Alterada? Tensa? – ela tentou completar o raciocínio do irmão, deixando sua postura miseravelmente controlada de lado para terminar aquele tópico de uma vez – Talvez seja porque estou tendo que abordar um assunto delicado antes do que planejava e anunciar uma decisão que eu queria evitar, se pudesse? Então será que dá para não pegarem no meu pé por um segundo nesse mês? É pedir demais?
Até a própria acabou ofegando surpresa, assim como seus colegas. Talvez ela estivesse sob mais pressão do que tinha se dado o crédito, aquele desabafo sendo sincero demais para poder dizer que fora planejado, embora bem-sucedido. Poucos tiveram coragem de manter o contato visual com a mulher, Petr e Sam sendo os primeiros a desviar o olhar, seus ombros tensos exteriorizando o desconforto que sentiam.
- Srtª Stark, o Sr. Carter na sua linha privada – anunciou Sexta-Feira, quebrando o silêncio que dominava o ambiente, porém de uma maneira negativa, já que Tony já começava a ficar agitado.
- “Carter”? Como em “Stuart Carter”? Sexta-feira, desliga.
- Dá licença que a ligação é para mim, não para você.
- Se você der mais dinheiro para aquele garoto...
- O dinheiro é meu e eu faço o que eu quiser com ele! – a mulher voltou a gritar, sua mão que parecia tremer apontando ameaçadoramente para o pai – E se reclamar eu transfiro todas as minhas ações para ele, está bom assim?
Sem mais respostas de Tony, buscou seu fone no bolso, encaixando o aparelho na orelha enquanto ia para um canto mais afastado da sala em busca do mínimo de privacidade que o momento permitia.
- Stu? – ela chamou o homem, sorrindo de leve quando ele a cumprimentou de volta, mesmo não parecendo muito animado – Quem morreu ou quem vai morrer? Você não me liga.
- Ah, você vai se arrepender dessa brincadeira bem rápido...
- Agora eu estou assustada.
- Meu pai acabou de falar comigo e achei que seria melhor se eu que falasse com vocês aí – não precisava ser um gênio para entender do que se tratava aquela ligação, mas esperava alguma reviravolta no assunto, ou que não passasse de uma brincadeira de mal gosto do homem. O problema era que ela sabia que não era – Ela faleceu agora de tarde.
O grupo ao fundo já havia retomado as discussões sobre o Tratado, apenas vez ou outra deixando que o olhar fosse para a mulher mais afastada para tentar entender sobre o que era a tal ligação, mas era sempre algo tão rápido que nenhum chegou a perceber a forma como pareceu congelar na posição que estava, a quantidade de ar que entrava e saia de seus pulmões sendo a mínima necessária para que não desmaiasse de uma vez.
- ? Ainda está aí? – preocupado com o silêncio na linha, embora compreensível, Stuart chamou por ela, chegando a respirar um pouco mais aliviado ao ouvir pigarrear de leve.
- Sim, estou.
- Sei o quanto ela significava para você também. Preferia fala com você pessoalmente, mas o oceano no meio atrapalha um pouco... – Stuart acabou por assumiu a conversa, ciente de que sua amiga de infância precisava de mais tempo para digerir a informação – Alguém precisa falar com o Rogers também. Sei que parece bem injusto deixar isso com você, m...
- Não, não tem problema – ela de apressou em dizer, uma mão indo instintivamente para os cabelos e apertando os fios enquanto começava a voltar para o grupo no centro da sala – Estamos meio que em reunião no momento, eu falo com todo mundo. Sem problemas.
Em segundo plano prestava atenção nas informações que seu interlocutor lhe passava, mas tudo aquilo parecia estar sendo abafado pelo som de seu coração batendo descontrolado contra suas costelas, o eco ritmado dominando seus ouvidos. Ela continuava tendo total ciência do que acontecia a sua volta, e talvez isso que estivesse a fazendo sentir sufocada a cada segundo que se passava.
Steve, parcialmente alheio a conversa que o cercava, sacou o celular do bolso assim que sentiu o aparelho vibrar. O que ele não esperava era uma mão interferindo no seu processo de checar a notificação.
- Não olha – pediu em um sussurro antes que ele pudesse reagir devidamente – Eu preciso falar com você primeiro.
Steve tinha a intenção de questionar a mulher silenciosamente com os olhos, mas tudo isso se esvaiu mente quando notou a ausência da aliança em seu dedo, e agora ele não sabia dizer quando fora a última vez que vira a mulher portando a joia. Seu estômago pareceu afundar com como aquele detalhe parecia entregar uma mensagem definitiva, de uma decisão tomada em conjunto que no fundo ele esperava que fosse ser reconsiderada.
pelo visto pensava diferente.
A mulher pareceu com um misto de ofensa e mágoa quando Steve afastou sua mão, voltando a atenção para o aparelho que instantes atrás anunciara uma mensagem. A compreensão só atingiu um pouco o rosto da mulher ao olhar para a própria mão e sentir falta do brilho discreto que a pedra do anel sempre reluzia, um leve desespero seguindo por não fazer ideia de onde estava a aliança e pela mensagem acidental que aquilo trazia.
Não demorou muito para que Steve lesse a tal mensagem, se colocando de pé em seguida e pedindo licença antes de deixar o grupo. Ele não olhou para ninguém, seguiu de cabeça baixa, e teve que respirar fundo várias vezes para se acalmar.
- Stu, pode me fazer um favor? Na verdade, eu tenho uma missão para você: descobre quem foi o estrupício que achou que era uma boa ideia avisar o Rogers por mensagem, e avisa que a pessoa está com os dias contados.
- Ah, droga. Não conseguiu parar ele?
- Eu meio que sou a última pessoa que ele vai ouvir no momento, estou de mãos atadas.
- Está tudo bem aí? Precisa de ajuda com algo?
- Se tiver uma máquina do tempo seria ótimo... Tenho que terminar algumas coisas aqui, te ligo depois, pode ser? Ou te vejo daqui alguns dias.
Stuart não pareceu muito contente com as opções, mas não tinha muito o que pudesse fazer no momento, ainda mais com aquela distância, por isso apenas se despediu e pediu a amiga se cuidasse, algo que ela devolveu com um sorriso cansado antes de encerrar a ligação.
Um silêncio desconfortável se estendeu na sala, até Rhodes tomar a dianteira e questionar a mulher sobre o que tinha acontecido.
- Tia Peggy faleceu.
- Tia Peggy como em “Margaret Carter”? – arriscou Sam surpreso, olhando do Stark mais velho para a mais nova.
- Ela própria – suspirou , amassando seus cabelos com vontade entre os dedos depois de jogar de qualquer jeito seu fone sobre a bancada da cozinha – Vocês querem deixar essa discussão para depois ou continuam sem a gente? Eu não tenho cabeça para isso agora, Steve muito menos.
- Você está bem?
- Quantas horas você dormiu hoje, ? – Rhodes aproveitou a pergunta de Natasha.
- Eu fiquei com um pouco de sono vindo para cá, conta? – brincou ela, algo que não foi muito bem recebido. Por fim, ela acabou se dando por vencida, seu tom de voz mais arrastado deixando claro que não se oporia a um descanso – Eu vou tentar dormir um pouco, tudo bem? Qualquer coisa, não me chamem.
O grupo assistiu deixar a sala com uma postura bem diferente de Steve: enquanto o soldado saíra tenso e com pressa, a ex-espiã parecia um tanto sem rumo, seus passos mais lentos do que de costume e seus ombros sem forças para se manterem retos. Como se toda sua energia estivesse direcionada para outra coisa.
Como não perder o chão.
- Eu já volto – avisou Tony segundos mais tarde, sem se dar o trabalho de esperar a resposta de alguém – Vou checar a e volto em um minuto.
O engenheiro estava quase prestes a perguntar à Sexta-Feira a localização do casal de heróis, porque naquele momento ele não conseguia prever os passos de nenhum dos dois. Sua sorte foi que não demorou muito para que encontrasse a filha a alguns corredores de distância da sala de convivência, a testa apoiada contra a parede a sua frente, parada ao lado de um bebedouro.
O plástico do copo descartável quase cedia à força que os dedos de seguravam o material, a pouca água que já estava em seu interior sacudia com violência pelos tremores que ela não conseguia controlar de jeito nenhum, não importava o quanto se esforçasse.
- , tudo bem? – Tony perguntou enquanto corria em sua direção, depois de ela largar o copo de qualquer jeito sobre o bebedouro e se afastar com violência, a frustração impressa em todos os seus gestos.
- Mas é claro que não! – explodiu a mulher de uma vez, fugindo do toque do pai quando ele tentou a abraçar de lado. Se Tony tivera como objetivo transmitir conforto, tudo o que conseguiu foi despertar ainda mais a raiva da filha – Você não percebeu o que fez, não é? É por isso que eu não te conto as coisas! Se eu te conto você me apunhala pelas costas. É isso que você chama de trabalho em equipe? Eu preciso de você do meu lado, Tony. Essa vai ser a primeira vez que você vai ouvir isso, então pense muito bem no que vai fazer: eu não consigo lidar com tudo sozinha. Não dá! Eu fisicamente não consigo. Já tinha coisa demais acontecendo e agora... Eu não estou respirando.
- Ei, se acalma – dessa vez não tentou recuar, aceitando o toque calmo de Tony em suas costas, permitindo que ele a guiasse para o chão, onde ambos ficaram sentados até que ela se acalmasse.
Aos poucos, doía menos fisicamente para respirar, mesmo com sua mente ainda latejando.
- Você resolve as coisas relacionadas ao Tratado, eu preciso voltar para a cidade – anunciou ela em um fio de voz, tão baixo que por um breve segundo até chegou a acreditar que Tony não tinha escutado, mesmo ela estando com a cabeça descansando em seu ombro.
- Para fazer o que?
- Resolver algumas coisas. Te conto depois – foi o que ele obteve como resposta, assistindo se colocar de pé, para seu desagrado. Não apenas lhe incomodava a ideia de não saber o que ela planejava, mas também algo parecer estar sendo colocado de lado.
- , e o Stev...?
- Alguém tente falar com ele depois, por favor.
- Você não vai? – estranhou Tony – Deveria ser você.
- Deveria? Mesmo? – a voz de voltou a se alterar, a frustração em seu tom em gestos tomando uma proporção mais exasperada – Porque de qualquer forma que eu tento encarar isso, me parece ofensivo. Peggy foi o primeiro amor dele, pai. Uma das poucas ligações que ele ainda tinha com o passado. Eu não sei como agir nesse cenário. Alguém da minha família faleceu, e eu mal estou conseguindo lidar comigo mesma, imagine conseguir ajudar outra pessoa. Não dá.
Tony apenas pode abaixar o olhar e assentir enquanto engolia em seco, ciente da situação delicada em que se encontravam, e como ele se encontrava de mãos atadas.
- Agora, se me dá licença, eu preciso vomitar um pouco – anunciou assim que entendeu que seu pai não insistiria mais em assunto algum, o peito um pouco menos pesado depois de verbalizar o que a atormentava, embora não tivesse ajudado em nada sua mente – Não é uma cena bonita, prefiro fazer isso sem plateia.
O caminho até seu quarto foi feito sem mais interferências. Apenas assim que fechou a porta que ela sentiu que respirava mais uma vez, o alívio não durando muito tempo por ter permitido seu controle físico relaxar, seu estômago voltando a se comportar como bem entendia. Por assumir que Steve não arriscaria cruzar seu caminho com o dela, a mulher optou por aproveitar aquele singelo momento de paz, sequer se preocupando em pedir o monitoramento de Sexta-Feira, confiante de que não precisava se preocupar com terceiros a procurando.
Pelo menos pessoalmente.
Era ingenuidade demais esperar que sua linha se mantivesse silenciosa por tanto tempo.
A ligação já deveria estar nos últimos toques quando conseguiu alcançar o aparelho sobre a cama, suas pernas um tanto moles dificultando a tarefa de se locomover com mais agilidade. O nome do contato que salvara algumas horas mais cedo piscava na tela, e ela chegou a suspirar aliviada.
Quando eram pessoas que podiam facilitar a sua vida, ela não se importava nem um pouco de ser incomodada.
- Mas já está com saudades? – brincou , prensando o aparelho contra o ouvido com a ajuda do ombro – Eu falei que voltava mais tarde.
- Eu queria saber se você tem acesso a algum tipo de relatório da HYDRA do Barnes também, já que é um caso parecido – contou Murdock ¬– O relatório que a tal garota Maximoff fez, o que sua psicóloga tiver também.
- Eu comecei a separar isso mais cedo, para caso você pedisse. Daqui a pouco estou de volta.
- Isso era outra coisa que eu queria te falar... – o tom cauteloso do advogado fez com que fizesse uma careta suspeita, sem conseguir entender de primeira as suas motivações – Não volte para o escritório.
- E onde eu vou te encontrar?
- No meu apartamento. Que eu acredito que você já deva saber onde é, então vou me poupar e não falar o endereço.
- Por que no seu apartamento? Acha que alguém pode me seguir? Você sabe que eu sou uma espiã, não é?
- Às vezes no escritório fica movimentado, não vai ser bom se alguém te ver lá – explicou ele – É importante mantermos tudo isso em silêncio. Esses caras têm um processo contra você, e a mídia não está exatamente a seu favor no momento. Melhor não dar motivo para eles colocarem em andamento antes da hora.
- Certo, chefe. Entendido – suspirou a mulher, jogando o pen-drive com material requisitado junto com alguns arquivos impressos dentro de uma mochila enquanto rumava para a porta. Só quando já abria a porta que lembrou que deixara seu fone na cozinha, e, como não era inteligente sair sem ele, deixou a mochila ao lado da porta entreaberta e foi para o armário procurar um de seus reservas – Não apareço mais no... Falando no escritório, existe a possibilidade de você ter encontrado a minha alianç..?
- A aliança que parece valer mais do que minha alma? É, eu achei. Pensei que talvez fosse um tipo de pagamento adiantado.
- Vai sonhando. Eu preciso dela de volta. Já estranharam me ver sem ela.
- Você parece nervosa, as coisas desandaram aí por causa do acordo?
- Você não faz ideia. Te conto quando chegar. Até daqui a pouco.
Mal desligara a ligação e saíra do quarto, trombou com Sam do lado de fora, com uma intensidade que entregava que o homem não estava em movimento. Sua expressão abismada também era uma boa pista, assim como seus músculos que não pareciam mais saber como agir.
- Wilson! – ofegou , recuando alguns passos. Mais estranho do que ser pega de surpresa por alguém dentro de casa era o olhar que parecia um misto de indignação e mágoa – Você... Você estava ouvindo atrás da porta?
- Você está traindo o Rogers? – a pergunta pareceu ainda mais absurda quando deixou os lábios do homem, mas não tinha como ele voltar atrás. Sam ainda sentia sua frequência cardíaca mais rápida do que o natural, mas aos poucos ia recobrando seus sentidos, embora ainda parecesse tudo surreal demais.
- Você estava ouvindo atrás da porta!
- E você não está se defendendo!
- Eu não tenho que te dar explicações – tentou desconversar, puxando sua porta com mais força que o necessário para que ela se fechasse de uma vez. De princípio ela imaginou que o som da batida pudesse servir como uma imagem sonora para finalizar a conversa, mas logo percebeu que fora uma péssima ideia quando o som ecoou pelo corredor vazio, podendo atrair facilmente a atenção de alguém, assim como os gritos inconformados de Sam.
- Meu Deus, você realmente está...?!
- Para de gritar! – pediu ela em um sussurro ríspido, apenas para ser ignorada.
- Por isso você simplesmente está deixando o cara se afastar? – diante daquela acusação retomou o controle de sua postura, sua expressão séria passando despercebida pela revolta do colega – Eu não acredito nisso!
- Samuel, chega. Você que está tirando conclusões precipitadas.
- Então você não está traindo o Rogers?
- Não – Sam não sentiu firmeza na resposta, nem mesmo . Aquele era um péssimo momento para analisar quantos níveis de traição existiam, mas sua mente não podia perder a chance de complicar sua vida e imediatamente lembrar que tudo o que estava fazendo por trás de suas costas podiam facilmente contar como traição – Pelo menos não dá forma que você está imaginando.
- Me deixou bem mais tranquilo, obrigado – devolveu ele, irônico.
- Olha, não tenho tempo para isso, entendeu? Tenho muita coisa para resolver em um espaço de tempo apertado, e você não vai me arrumar mais problemas, certo? Fica calado e eu não falo para ninguém que você fica bisbilhotando conversas dos outros.
- Acho que você não está entendendo a seriedade da situaç...
- Não, Wilson. Você que não está entendendo – o cortou, ajeitando a alça da mochila sobre um ombro e começando a caminhar para longe, sua voz firme e o olhar determinado não vacilando por um segundo sequer – Fica fora disso. Não te diz respeito.
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Sequer tinha algo dentro do micro-ondas que Sam encarava com tanto empenho, mas era o aparelho que tinha toda a atenção do vingador no momento. Ele precisava comer alguma coisa, só que sua mente não conseguia parar de repassar o que ouvira horas mais cedo. Era seu dever fazer algo a respeito, não era? Steve era seu amigo. também era, mesmo com a clima um tanto ruim entre eles nos últimos tempos. Algo dentro de si dizia que, caso a mulher fosse fazer algo daquele gênero, nunca que ela seria descoberta, ou pelo menos de uma forma tão simples como aquela. Tinha algo errado demais naquela história, esse era o ponto.
Só que como ele podia agir naquele cenário?
- Sam.
A voz grave e baixa de Steve fez com que o homem pulasse em seu lugar, quase caindo da cadeira em que estava enquanto se virava para o Capitão com a expressão mais neutra que conseguira fazer na surpresa.
- E aí, parceiro?
Talvez a postura desconfortável de Sam não tivesse passado despercebida pelo soldado, mas Steve não pareceu dar importância àquilo. Seus olhos ainda estavam inchados e avermelhados mesmo depois de tantas vezes lavando o rosto com água fria, seus ombros encolhidos inconscientemente. A impressão que Steve passava era que estava alheio a tudo a sua volta.
- Viu a ?
- Na verdade, não.
Ele podia não estar se importando com muita coisa, só que a velocidade absurda em que Sam lhe respondera não tinha como ser ignorada.
- Por que ficou nervoso? – indagou o soldado, assistindo o amigo de forma suspeita ainda desviar o olhar hesitante o mais rápido possível – Cadê a ?
- Eu genuinamente não sei – ele insistiu na mesma resposta, falhando em parecer mais confiante do que antes. Não era como se Sam tivesse a localização exata da mulher, mas era difícil disfarçar que tinha algo que escondia.
Steve por sua vez não estava com paciência.
- Sexta-Feira?
- A localização da Srtª Stark é confidencial.
- Sob ordem de quem? – perguntou ele, balançando a cabeça em um gesto decepcionado quando a Inteligência Artificial informou que se tratava de uma solicitação da própria . Fazendo as coisas sozinha mais uma vez, parecia que eles davam um passo para frente apenas para pegar impulso para correr para trás – Passe por cima da ordem. Porque está acobertando a , Sam?
- Acredite, eu não estou.
- Srtª Stark está em Hell's Kitchen – o anúncio de Sexta-Feira salvou Sam naquele momento de um interrogatório mais dedicado, a própria atenção do homem remanejada junto com a de Steve que questionava o sistema sobre os motivos de estar naquele bairro – Não tenho registros sobre isso, senhor.
Steve respirou fundo e segurou o ar enquanto ponderava o que fazer com aquela informação.
Era coisa demais para digerir em pouco tempo. Seu julgamento estava em cheque porque ele simplesmente não conseguia pensar direito por não conseguir aceitar que Peggy tinha...
- Me dê o endereço.
Ele estava cansado, e também deveria estar. Eles não eram mais crianças, não tinha como continuar daquele jeito. Já tinham atingido a cota de fazer as coisas pelas costas um do outro. Se a mulher havia sido desconectada da equipe, uma ligação importante entre eles tinha sido cancelada, e, se outra precisava ser oficializada, tinha que ser agora.
- O que você vai fazer?
- Ir atrás dela – respondeu Steve, já se direcionando para partir, para o desespero de Sam. O soldado estava determinado demais, como fazer ele mudar de ideia sem parecer ainda mais suspeito? Natasha que tinha que cuidar daquelas coisas – Nós precisamos conversar.
- Por que não espera ela voltar? – soltou ele sem pensar devidamente, ganhando em velocidade recorde o olhar indagador de seu superior.
Steve não parecia nem um pouco calmo.
- Sam, eu só vou perguntar mais uma vez – avisou ele, a voz baixa e séria que normalmente reservava para quando estava de uniforme, sua fala pausada para dar peso a cada palavra – O que você sabe?
Droga. Não teria outro momento como aquele para ser honesto. Se tentasse desconversar ali, Sam não teria defesa mais para frente e Steve parecia estar ciente disso.
- Não quero ser a pessoa a te contar isso – suspirou o mais novo, jogando a cabeça para trás – E eu ainda posso estar equivocado.
- Desembucha.
- Eu ouvi ela conversando com um cara – conto ele de uma vez, sequer tendo coragem de acompanhar a reação do soldado com a informação – Ela marcou de se encontrar com ele no apartamento dele, e ela está sem a aliança porque está lá.
Demorou para Steve conseguir abrir a boca, e, quando conseguiu, não conseguiu emitir som algum. Seu olhar confuso buscava alguma explicação a mais no amigo a sua frente, ou algum sinal de que aquilo se tratava de fato de um equívoco. Só que podia fazer sentido, em algum nível, não? Não era em comunicação o seu maior problema com ?
- Você ach... Você a confrontou, não é? – perguntou ele por fim, sua voz agora um tanto falha fazendo Sam se arrepender de ter aberto a boca – Por isso estava desconversando?
- Ela disse que talvez não fosse do jeito que eu estava imaginando.
Steve travou o maxilar mais para frente enquanto assentia, sua mente a milhão.
Então era isso.
- Vamos lá – disse ele por fim, gesticulando que Sam o acompanhasse enquanto já rumava para a saída.
- Você realmente quer ir atrás dela? – questionou Sam, mas todo o peso de sua pergunta não foi o suficiente para que Steve voltasse atrás.
- Quero.
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queria já ter começado a ajudar Matt com o caso assim que chegasse a seu apartamento, mas, nas palavras do vigilante, até ele conseguia ver que seu estado não era dos melhores. Matt separara seu melhor conjunto de moletom para a mulher, quase obrigando que ela entrasse no banheiro e tomasse uma ducha quente, o máximo de conforto que talvez ela fosse capaz de obter no momento. Não adiantaria nada tentar correr antes de aprender a andar, ele insistia, se não estivesse com a mente minimamente no lugar, aquilo seria como andar em círculos.
Aquela medida até pareceu dar resultados em um primeiro momento. Sua postura tinha se tornado minimamente mais relaxada, sua mente mais focada, e até tinha ingerido alguns alimentos leves enquanto auxiliava na análise de alguns diagnósticos.
Só que aquilo durou pouco tempo.
Matt apenas percebeu que talvez não tivesse como trabalhar com a mulher naquela semana quando seu celular começou a tocar, voltando ao estado neurótico anterior antes mesmo de checar a tela e quem tentava contato.
- Sério mesmo que você está gesticulando para uma pessoa cega?
- Só fica em silêncio – resmungou ela, ignorando o vigilante para se concentrar unicamente na pessoa do outro lado da ligação que ela acabara de atender. E talvez em não vomitar no processo – Oi, Stevie. Você está bem?
- Onde você está? Não te encontro em lugar nenhum.
- Desculpe, eu tive que voltar para a Torre – aquela mentira deixou um gosto diferente na boca de , algo que pelo menos ela não se recordava de sentir até então. Houvera um tempo que ela sabia que Steve podia ver por de trás do que ela tentava esconder, e nem mesmo naquela época aquela sensação lhe atingia. Desde quando era tão difícil esconder algo de alguém? – Volto de manhã. Na outra manhã. Você não faz ideia de quanto trabalho a Potts me deu dessa vez.
- Ok, então – talvez fosse ficando paranoica, mas Steve não soava nem um pouco convencido, e a falta de empenho em manter a conversa estava a deixando mais desconfortável e ansiosa – Vou te deixar trabalhar.
- Steve?
- Hm?
- Eu sinto muito mesmo pela Peggy – soltou ela de uma vez. Tudo o que tinha planejado dizer até então parecia um amontoado de palavras de uma língua que ela não dominava, não dava para tentar passar com algo preparado. Pelo menos naquilo ela teria que ser sincera – Sei o quanto ela significa para você. E ela significa muito para mim também, então... Eu não sei como... Eu não quero te deixar desconfortável, certo? Nem eu sei como lidar com isso direito, é injusto exigir isso de você, então... Até é bom eu passar um tempo aqui. Só não quero que você pense que eu estou ignorando isso tudo ou algo do tipo.
O silêncio do outro lado da linha pareceu sufocar , aquela sensação se estendendo mesmo depois de Steve concordar e ambos se despedirem, a ligação se encerrando em seguida. deixou o corpo escorregar pelo sofá até suas costas estarem curvadas contra o encosto, seus dedos segurando o celular sem registrar o seu toque de fato.
- Quer um abraço? – ofereceu Matt, lhe arrancando um riso baixo e espontâneo, mesmo que um tanto engasgado.
- Isso vai aparecer na conta no final do processo?
- Considere como cortesia da casa.

Capítulo 21

Quando se tratava de Londres, um dia nublado estava longe de ser considerado uma anormalidade, mas mesmo assim se sentiu no direito de refletir seu espírito abatido no céu fechado.
Toda a viagem de NY até a capital inglesa fora feita no mais absoluto silêncio. Por não atenderem ao funeral, Natasha, Petr e Tony iriam apenas algumas horas mais tarde para o velho continente, o que deixou , Steve e Sam sozinhos no quinjet. No fundo a mulher esperava que a comunicação entre eles não fosse melhorar em um momento como aquele, mas tal consciência não fazia com que ela se sentisse melhor. Na verdade, estava a endoidando aos poucos. tinha a sensação de que a qualquer momento Steve perceberia seu batimento acelerado ou o batimento extra.
Era pressão demais.
Algo que não melhorou quando chegaram na igreja.
O ar estava um tanto abafado naquela manhã, mas não era isso que parecia sufocar a mulher. Eram os rostos familiares, a realização lenta de que aquela era sua realidade agora.
Seu principal instinto era parar ao lado de Steve, como se apenas dividir o mesmo espaço fosse o suficiente para lhe trazer algum conforto e segurança. Só que a áurea do soldado nada mais era do que distante. As chances de Sam ter compartilhado informações distorcidas nunca foram descartadas, mas não havia o que a mulher pudesse fazer a respeito. Steve não iria assinar o Tratado, aquilo já era um fato, mas isso não diminuía a confusão que iria causar se soubesse o que estava em jogo para o lado dela. Eles podiam estar em um momento difícil e mais longe um do outro do que nunca, mas ela não queria acreditar que Steve não tomaria a dianteira na sua defesa se a julgasse injusta. Se a transição já estava sendo conturbada, definitivamente não ficaria melhor se fosse exposto a todos como tinha sido jogada sob gelo fino.
Então ela precisava controlar a situação primeiro, depois poderia recorrer ao conforto de quem quisesse.
Ela precisar do conforto agora era o menor de seus problemas.
- Se não é minha Vingadora favorita... – uma voz desconhecida pela parte masculina do trio chamou a atenção pelas suas costas, os dois homens assistindo o desconhecido mostrar um sorriso largo e abrir os braços abertos para acolher a parte feminina, que não hesitou em o abraçar, escondendo o rosto na curva de seu pescoço – Como você está, ?
- Bem – a resposta não teve muita firmeza, mas o homem não pareceu surpreso com isso. Quando se afastou para iniciar as apresentações, ele manteve o braço esquerdo ao redor da mulher, mantendo a lateral de seu corpo como apoio para ela – Esses são Steve e Sam. E esse é Stuart Carter, um dos sobrinhos mais velho da tia Peggy.
- Eu meio que já sabia os nomes, mas tudo bem... É um prazer conhecê-los – riu ele, esticando a mão para os dois heróis, que o cumprimentaram com um sorriso educado. Stuart tremia de leve enquanto esteve sob o aperto de Steve, algo que não passou despercebido por , que escondeu o sorriso divertido ao virar o resto em seu ombro. Para disfarçar seu nervosismo por conhecer um de seus heróis de infância, ele se voltou para a mulher – Seu pai veio? Seu irmão? Ainda não conheci a peça.
- Eles ficaram no complexo, vendo como lidar com toda a zona do Tratado.
Steve sentia que precisava dizer algo, mas de repente ele era incapaz de formular a mais simples das frases. Todas as pessoas ali estavam presentes pela Peggy, e ele se sentia um tanto deslocado, mais do que de costume. Em meio a tantos parentes e amigos de família, quem era ele ali? Como ele podia estar ali da forma que estava, enquanto ela…?
Vez ou outra ele sentia o instinto de buscar apoio em , só que não era o nervosismo e a tensão em seus gestos que faziam ela parecer tão distante, mas principalmente a imagem da mulher sentada despreocupada em um sofá ao lado de um homem que ele não conhecia, organizando papeis que ele não tinha ideia do conteúdo, mas que fazia lembrar incontáveis cenas de ele junto a estudando informações para missões futuras. Sam passara a informação que a própria dissera não ser o que o moreno imaginava, e Steve quase se via concordando com ela.
Talvez não fosse.
Talvez o que eles planejavam não fosse nada importante.
Talvez fosse apenas o retirando por completo de seu dia-a-dia, de suas tarefas e planos.
Talvez apenas fosse ela dizendo que não o queira mais por perto.
E sinceramente ele não sabia o que poderia fazer. A respeito de e tudo.
O soldado quase agradeceu quando uma criança que não devia ter mais que quatro anos atraiu a atenção de todos, gritando por seu pai.
Quando ela percebeu que seu pai não estava sozinho, ela se escondeu atrás das pernas de Stuart, que riu em compaixão.
sorriu para o rostinho assustado da criança antes de se agachar para que a altura entre elas não fosse mais tão contrastante. Como ela pareceu mais alerta pelo gesto, desistiu de lhe estender a mão e apenas acenou.
- Olá?
Em dúvida se era uma boa ideia ou não, a garota buscou apoio no pai, que assentiu para que ela se apresentasse. Com uma leve confiança aparecendo em seu rosto, ela saiu de trás das pernas no pai, esticando a mãozinha enluvada para a mais velha, seu rosto corado ou de vergonha ou pelo nervosismo
- O-oi, eu sou Mary Margareth.
- Oi, Mary Margareth – a mulher sorriu para ela, apontando para si própria e depois para os homens que a acompanhavam – Eu sou , e esse é o Sam e aquele é o Steve.
- Você é a Tia , não é? – arriscou a garota, recuando um passo como se não soubesse se estava ultrapassando limites ou não. A mulher tinha uma expressão amigável, mas, assim como todos os adultos ali, tinha algo nela que fazia com que ela sentisse vontade de chorar. Sua mãe tinha lhe explicado mais cedo que todo mundo que ela veria de tarde estaria muito triste, e que não tinha problema nisso, mas que ela podia ajudar conversando com os adultos. Por isso ela continuou – Eu sei quem você é, meu nome vem de você.
- Uhum, mas eu ainda queria que tivesse sido meu primeiro nome usado, não o segundo – comentou , enquanto se colocava de pé mais uma vez. Mary Margareth timidamente se aproximou mais da mulher, seu ombro apenas relaxando quando ela sentiu a mão de pousar sobre seu cabelos, a permissão silenciosa que ela precisava para abraçar as pernas da mulher enquanto ela voltava a falar com seu pai – Não ia reclamar nenhum pouco de ver sua mãe quase tendo um derrame.
- Ah, ela quase teve. Primeiro ela ficou confusa porque o Margareth não vinha primeiro, e depois veio perguntar de onde tinha saído o Mary – contou Stuart rindo, um sorriso misto de nostalgia e divertimento em seu rosto – Foi um ótimo dia, mamãe quase foi internada, tia Peggy riu tanto que até me expulsaram do quarto por perturbar a paz. Pensei que não me deixariam entrar para visitas pelo resto do ano.
- Acho que até hoje sua mãe deve ter pesadelos com o nome Carter. Aposto que ela deve ter planos para tirar seu sobrenome caso você invente de continuar com essa ideia – continuou a mulher – Mas, na real, essa foi muito mais inteligente. Se a gente se casasse, eu perderia o Carter com um divórcio, mas você não pode se divorciar da sua filha.
- Veja, Capitão, uma mulher difícil de conquistar você conseguiu – Stuar se virou para Steve, apontando para enquanto falava – Passei minha vida inteira querendo casar com ela apenas para irritar a minha mãe. Só que não tem nada que faça ela desistir do sobrenome de solteira.
- Fala sério, Stark tem seu charme.
- Podemos pensar em uma combinação – a sugestão saiu naturalmente, tanto que surpreendeu o próprio Steve, que teve que olhar para o seu lado vazio para fugir do olhar surpreso de .
Não era apenas o fato de nunca terem tocado naquele assunto, mas sim entrarem naquele assunto no geral como se continuasse sendo algo tão corriqueiro e comum como meses atrás. De repente Steve tinha muito mais jogo de cintura do que ela, tinha respostas adequadas e rápidas, enquanto ela estava um tanto desnorteada, fosse pelo tópico que não previra ou por não ter tido uma boa velocidade de resposta. A aliança em sua mão esquerda parecia crescer de peso.
- Viu? É por isso que eu vou casar com o Steve, não com você – para Stuart, as palavras não soaram nada mais do que naturais, mas o trio de ex-vingadores pareceu ficar ainda mais tenso, seus olhares desconfortáveis evitando se encontrarem.
- Não posso reclamar, vocês são incríveis juntos – continuou Stuart, alheio ao que acontecia na sua frente – Odiaria tentar ficar no meio. Ou adoraria.
chegou a abrir a boca para retrucar, mas suas palavras viraram uma tosse surpresa quando a criança ao seu lado soltou “como assim?”. Stuart e Sam tentaram controlar suas risadas para não atrair olhares irritados das pessoas ao redor que começavam a adentrar na igreja, enquanto Steve apenas assistiu sua noiva cobrir os ouvidos da criança enquanto ralhava com seu pai.
- Papai, preciso ir no banheiro!
- Ah, eu também preciso – se juntou à criança – Leva a gente.
- Você foi no banheiro no hotel – lembrou Sam, olhando desconfiado para sua antiga superior – Faz uns dez minutos.
- Sim, mas eu tomei muito líquido.
- Não, não tomou.
- Quer parar de querer controlar minha bexiga?
Stuart acabou intervindo no caso, brincando que eles não precisavam se preocupar, que ele devolveria a mulher em alguns minutos. Ele não sabia dizer o motivo da hostilidade entre a dupla, ou o motivo do Rogers não ter interferindo ele próprio, e, como não parecia um bom momento para perguntar – além de não conhecer os homens o suficiente para isso –, o mais seguro era levar as duas garotas logo ao banheiro. Ainda mais que uma delas não estava completamente habituada a ficar sem fraldas e ele teimara em não trazer roupas extras para a criança.
Depois da saída do trio, algumas pessoas se arriscaram a se aproximar da dupla de ex-vingadores, basicamente conhecidos antigos e novos.
Entre elas a outra metade dos irmãos Carter que eles conheceram minutos mais cedo, acompanhada de uma mulher aparentemente mais velha do que ela, com o mesmo tom de cabelo loiro.
- Mãe, esse é o Capitão Rogers, e esse é Sam Wilson – Sharon assumiu as apresentações, Steve logo estendendo a mão para a mulher que logo envolveu entre as suas.
- Senhora.
- Um prazer finalmente o conhecer, Capitão – disse ela, a voz baixa e pouco expressiva – Mesmo que em uma situação tão triste.
- Sinto muito por sua perda – as palavras pareceram estranhas em sua voz, mas a cunhada de Peggy pareceu contente com elas, lhe forçando um sorriso agradecido antes de se virar para a filha e perguntar pelo irmão. Sharon olhou ao seu redor antes de responder.
- Acho que ele já está lá dentro com a e a Mary Margareth.
- Já? Aquela fedelha não consegue ficar cinco minutos longe? – grunhiu a mulher, ignorando o olhar reprovador da filha e seu tom de aviso enquanto chamava por ela – Aquela garota traz nada além de problemas, o que ela está fazendo aqui?
- é noiva do Cap. Rogers, mãe.
- O que significa que ainda tem tempo de desistir – insistiu ela, se virando para Steve com a expressão menos agressiva, mas a voz ainda carregada – Com todo respeito, não vale as dores de cabeça que causa, Capitão. Mas acho que você já percebeu isso sozinho, ou estaria ao lado de sua noiva.
Sam esperou que Steve fosse se pronunciar, mas ele manteve a expressão neutra o tempo todo, mesmo quando a mulher deu as costas ao grupo a pedido da filha, indo buscar por conhecidos na parte oposta do pátio em que estavam.
- Me desculpe pela minha mãe – suspirou Sharon, assim que a mulher se afastou. Assim como Sam, ela também estranhava a falta de ação do soldado, mas optou por não tocar no assunto – Ela nunca gostou muito de nenhum dos Stark, não importa a geração.
- Não a julgo – soltou Steve depois de respirar fundo, seguindo para o grupo que o chamava para começarem a se preparar para a cerimônia.
Sharon acompanhou a movimentação de Steve com os olhos levemente arregalados, até voltar para Sam, que não estava nem um pouco surpreso.
- As coisas em NY não parecem estar muito boas – comentou ela por fim, e Sam riu.
- Nem te conto...

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As pessoas aos poucos começavam a tomar seus lugares nos bancos, e estava mais ocupada em manter sua respiração em um ritmo saudável. A cada passo que dava, as paredes pareciam se aproximar mais, a luz no ambiente parecia mais escassa. As vozes diversas, baixas e simultâneas ainda pareciam invadir a sua mente, abafando seus próprios pensamentos de que precisava manter a calma.
E então seu olhar recaiu sobre o púlpito em frente às fileiras de bancos, a foto ampliada de Peggy em um suporte.
E então ela não conseguiu mais suportar.
- E-eu não vou conseguir... – sussurrou com a voz trêmula, a mão se agarrando ao braço do homem ao seu lado – Stu, me tira daqui.
Stuart não hesitou por um segundo sequer, afastando a mão de do braço que ela segurava para que segurasse o outro, deixando aquele livre para que ele pudesse passar alguma sensação de proteção e deixar o outro braço ao seu redor, a guiando para fora da igreja pela saída lateral. Eles provavelmente já tinham atraído um pouco de atenção do lado de dentro, era melhor tentarem manter a descrição do lado de fora, e isso se fazia sem criar oportunidades para que alguém fotografasse a antiga vingadora no meio de uma crise.
Com cuidado, ele sentou nos degraus que eles desceram instantes antes, mantendo um aperto confortável em suas mãos enquanto acompanhava a movimentação excessiva de seus olhos baixos.
- Respira, devagar... Quer um saco de papel? – brincou ele, mais aliviado quando notou ela rindo de leve. não tinha ido tão longe assim, não precisava se preocupar tanto – Você não vai querer voltar, não é?
- Quão ruim eu seria se pedisse para você ficar aqui comigo? – arriscou ela, os olhos agora fixos no amontoado de folhas secas que se mexiam vez ou outra no ritmo da brisa que ia e vinha.
- Ah amor, você não me tira do seu lado nem com tiros... – brincou ele, se jogando no degrau ao seu lado – Faz ideia do castigo infinito que a Tia Peggy me colocaria se eu te deixasse aqui sozinha nesse estado?
sorriu agradecida, seus olhos idiotas voltando a arder.
- E a Mary?
- Minha mãe e Sharon cuidam dela, sem problemas.
Ela chegou a abrir para encontrar algum outro empecilho, mas Stuart lhe ofereceu a mão, e não teve coragem de recusar, logo sendo puxada quando o homem se colocou e pé e passou a guia-lo pelas ruas, em busca de um lugar quieto e amigável.
- Vá em frente, converse comigo – incentivou ele depois de um tempo, depois de alguns quarteirões percorridos. Do que conhecia de , sabia que ela não falaria por livre e espontânea vontade, mas algo lhe dizia que tudo que ela precisava era de um leve empurrãozinho e alguém que soubesse andar naquele campo minado. E felizmente ele era alguém bastante experiente – Diga o que te atormenta.
- Tudo – respondeu ela, em uma sinceridade que a própria teve dificuldades em acreditar – Está tudo desmoronando.
Com suas habilidades desreguladas, não se surpreendeu ao perceber que já fungava de leve, que sua mão direita ainda tremia de leve. Apenas sua mão esquerda envolvida pela mão de Stuart se mantinha estável, o calor que emanava do mais velho sendo o suficiente para controlar minimamente pelo menos aquele lado.
- Sabe, era difícil eu conseguir fazer uma visita quando eu precisava, mas eu sempre ia quando a situação ficava difícil – comentou ela, e Stuart assentiu, ele próprio tentando disfarçar os olhos que ameaçavam ficar marejados. Ele também entendia aquele sentimento, se sentia na mesma posição que a mulher. Eles sentiam que precisavam correr para alguém, e era exatamente para esse alguém que eles não podiam pedir mais socorro – Ela quis me socar quando eu disse que tinha entrado para a S.H.I.E.L.D., você lembra.
- Ela estava com medo de não ser o melhor para você, não que você não seria capaz – lembrou ele – Você sabe que ela sempre foi mais protetora com você do que comigo, ou até mesmo com a Sharon.
- Às vezes temo que ela estivesse certa, que a sua mãe também esteja certa – a confissão depois de um longo suspiro não pegou o homem despreparado, embora o nível de sinceridade talvez fosse algo novo – Que eu seja a origem dos problemas.
- É sobre o Tratado? – arriscou ele, estudando atentamente as reações de sua interlocutora – Ouvi a história por cima, não parece nada fácil para o lado de vocês.
- De certa forma, sim. É sobre o Tratado – foi a visão que optou por abordar, que não estava por total errada. Aquela era uma fonte de suas dores de cabeça dos últimos dias, ou talvez apenas um bom agravante – Me colocaram em uma posição delicada demais, não sei mais se estou fazendo a coisa certa.
- Você acredita que seja?
- Tenho que acreditar – respondeu ela de prontidão, deixando claro a resposta pronta e sem mais convicção – Mas acho que falhei, de qualquer forma. Era crucial que toda a equipe assinasse, mas... Eu poderia tentar convencê-los, mas alguns estão fora do meu alcance, e eu nem tenho emocional para isso no momento.
Stuart assentiu e deixou que o silêncio se instalasse ao gosto de , o único som produzido pela dupla sendo o barulho de seus sapatos na calçada. parecia minimamente mais relaxada agora, mas ainda era visível todo o excesso de peso em seus ombros, e isso não fazia com que ele se sentisse melhor. Estava fora de seu alcance resolver os problemas da mais nova, o máximo que ele podia fazer era a ouvir.
Por isso ele resolveu testar a sorte.
- De quantas semanas você está? – a pergunta repentina fez com que parasse de caminhar, Stuart ainda avançando dois passos até suas mãos entrelaçadas o puxar para trás. O homem até planejava manter a expressão neutra, mas o olhar amedrontado de o obrigou a rir em compaixão – Que foi? Te conheço melhor do que você pensa. E eu tenho duas crianças e uma esposa grávida em casa. Já virei um expert em perceber isso. E não adianta me dizer que não sabe. Você sabe tudo.
- Cinco, eu acho – respondeu ela por fim, depois de abrir e fechar a boca diversas vezes e desistir de desconversar – A situação é mais problemática do que você imagina, e ela só piorou. Pensei que poderia resolver tudo antes de me preocupar com isso, mas... Algumas coisas acho que não tem mais conserto.
- Steve não sabe – assumiu ele, assobiando quando assentiu – O timing dos acontecimentos está ótimo.
- Nem me fale...
- Você vai ter um filho com o Capitão América... – disse Stuart depois de um tempo em silêncio, um vestígio de riso em sua voz que atraiu o olhar nada humorado da mulher – Ah, não me olhe assim! Me deixa apreciar o momento!
O celular vibrando em seu bolso ganhou a atenção de , que deixou Stuart falando sozinho para checar a notificação, levando o aparelho ao ouvido quando viu que era uma chamada de Sexta-Feira.
- Srtª Stark, acredito que queria checar as notícias.
- O quê?
- – antes que a Inteligência Artificial pudesse responder, a mão de Stuart em seu ombro e seu tom de voz alerta fez com que ela esquecesse do aparelho que segurava, se virando para a mesma direção que o homem encarava. Do outro lado da rua havia uma loja de eletrônicos, com todas as telas da vitrine ligadas em um noticiário local – Meu Deus.
Em um piscar de olhos eles já tinham atravessado a rua, e não sabia sequer dizer se Stuart tinha checado a movimentação dos carros. Os olhos da mulher estavam travados nas imagens aéreas e da destruição do ataque ao prédio da ONU.
- Stuart, preciso que me leve para o aeroporto. Agora.
- Você não pode ficar passando por estresse, – argumentou o homem, institivamente segurando a mão de com mais vontade, como se com algo tão simples fosse conseguir pará-la – Faz mal.
- Estresse já está na minha composição básica, a genética não falha.
Stuart acabou se dando por vencido, com ambos praticamente correndo para onde tinha deixado seu carro. O estacionamento já estava bastante esvaziado, o que significava que o funeral terminara a algum tempo, mas nada disso passava pela mente de . Seus dedos não pareciam mais responder aos seus comandos, então ela passava todas as instruções verbalmente para Sexta-Feira. Ela não conseguia completar a ligação nem com Natasha nem com Petr, e Tony não atendia.
Apenas quando já estavam dentro do carro que Tony a atendeu, a mulher gritando assim que ouviu a voz do homem, ele soando um pouco menos alterado do que ela.
- Pai, o que aconteceu?!
- Onde você está? – Tony ignorou a pergunta da filha, disparando as suas próprias – Steve está com você?
- E-eu não sei onde ele está – respondeu ela, estranhando a motivação de Tony e aquela sensação de ter algo ainda mais errado fazendo com que ela se agitasse mais – Natasha. Ela está bem? Pete foi para a assinatura?
- Acabei de falar com ela, ela está bem. Pete ficou comigo, está todo mundo bem – Tony respondeu rápido demais, parecia querer apressar a ligação e ela não sabia dizer o motivo. Apenas quando foi continuar que o vingador diminuiu o ritmo, tomando cuidado de por o devido peso em cada uma de suas palavras para que não houvesse desentendimentos – , quero que encontre o Rogers e fique com ele. Desliguem a TV e a gente cuida de tudo. Não dá para envolver vocês, ainda mais na sua situação.
- O caramba que eu vou fazer isso. Já estou indo para o aeroporto.
- , não.
- O que você não está me contando?!
- A polícia já sabe quem foi o atacante, logo mais vai sair na mídia.
- E quem foi?
- James Barnes.
em um primeiro momento ficou confusa, um breve silêncio se estendendo até entender o que acontecia.
- Bucky James Barnes?! Isso é ridículo, claro que não foi ele – sinalizando para Stuart entregar seu celular também, digitando com agilidade o número já decorado e colocando o aparelho na outra orelha – E agora é certeza que eu vou.
- Não é mais sua área, . Você se aposentou.
- Me manda o Tratado e eu assino agora – respondeu ela de imediato – Se realmente foi ele, eu sou a mais indicada para a operação.
- Você é a menos indicada, ou já esqueceu que não pode mais de maneira alguma entrar em ação?
- Estamos falando do homem que me protegeu da HYDRA, que teria me devolvido para você sem pensar duas vezes se eu não fosse tão teimosa. Isso não vai ser discutido, eu sou a mais indicada – retrucou ela – Ele já me conhece, confia em mim, e eu tenho a vantagem de adiantar as ações dele. Mesmo se Steve assinar, não sabemos como ele vai reagir na presença dele.
- Você sabe que pelo o que ele fez, não vão tentar conversar, não é?
- Outro motivo para eu interferir – insistiu ela, grunhindo alto quando o outro aparelho da sua orelha cancelou a ligação pelo tempo de tentativa – Bucky não está me atendendo, mas não foi ele, pai. Eu sei o que eu estou falando.
- O que você quer dizer com...? Eu não acredito que você tem o número dele, !
- Realmente pensou que eu deixaria ele solto no mundo sem supervisão? – devolveu ela – E ainda bem que eu não deixei, já que tem alguém tentando incriminar o menino!
- Onde ele está, ? – perguntou Tony, a voz séria deixando claro que não era momento para brincadeiras e jogos. Era questão de política internacional agora.
- Digo quando chegar em Viena, enquanto isso, você arruma meu retorno para a equipe – continuou ela, um pouco mais confiante quando ouviu o pai bufando do outro lado da linha, se dando aos poucos por vencido – Se você me deixar fazer isso por dentro da lei, talvez Steve aceite ficar no banco. Você sabe que ele vai ficar fora de si assim que souber o que está acontecendo, ele não vai nos dar ouvidos.
- É arriscado demais, . Pare e pense no que está sugerindo. Você vai ser processada se assinar, você fez um acordo.
- Eu lido com o processo depois, sem problemas – devolveu ela, uma firmeza em sua voz que não condizia com o tremor que voltava para as suas mãos – Não é nada arriscado, fico só na conversa dessa vez. Barnes nunca me machucaria, pai. Grávida ou não.
- Você está dizendo isso em voz alta agora.
- Tentando me acostumar com a condição – respondeu ela, arriscando um breve olhar para Stuart, assentindo para ele continuar o caminho para o aeroporto – Não está ajudando.

Capítulo 22

Não importava em que agência que fosse, nunca era bom quando alguém era apresentado a já sorrindo. Fora algo que ela aprendera logo, já nas primeiras semanas na S.H.I.EL.D., e não mudara até então.
Por isso ela já ficou com os dois pés atrás quando foi apresentada a Everett Ross, o comandante da Força Antiterrorismo.
- Não me importa sua assinatura ou não, Stark – disse ele simplesmente, sequer parando ao estar em uma distância adequada para ouvir o que a mulher tinha a dizer – Você não vai entrar na operação.
- Você tem dois Vingadores a sua disposição, uma delas sendo a pessoa que mais tem controle sob o acusado – insistiu , engolindo toda a sua revolta pela falta de atenção que recebia e seguindo o agente no mesmo ritmo que ele caminhava. Seu pai ficara imensamente irritado com as escolhas que ela tomara, e, embora não estivesse mais se opondo às suas ações, não tinha lhe dado permissão para receber seu uniforme habitual, então ela fora obrigada a usar os trajes comuns de agentes de campo da CIA, caso contrário teria que continuar com seu conjunto social e sapatilhas – Bem inteligente deixar os dois de fora, com certeza sua operação vai ser um sucesso. Já posso até escrever seu cartão de parabéns.
- Não é uma missão de captura e você sabe muito bem, Stark.
- Senhor, você está permitindo a execução de um homem inocente.
- Ele matou m...
- HYDRA matou, não ele – interromper a fala de seus superiores estava na lista de “não fazer” que organizara mentalmente enquanto assinava o Tratado, mas ela já estava no meio do processo quando se deu conta da falha. Tudo que ela podia esperar agora era pelo melhor, já que não tinha muito tempo sobrando – Barnes é tão ou mais vítima do Soldado Invernal do que qualquer um.
- Diga isso para quem ele matou e para seus familiares.
- É uma dessas pessoas com que você está falando – diante daquela fala da mulher que Ross parou seu trajeto, pronto para jogar em sua cara que na verdade não, ela podia se excluir daquele grupo já que sua mãe tinha morrido de causas naturais, bem longe do Soldado Invernal, mas acabou desistindo quando seu olhar recaiu sob . Havia uma determinação admirável na mulher, algo que o Secretário Ross lhe avisara para tomar cuidado assim que soube do retorno da Stark mais nova para a equipe de heróis. O Secretário havia pedido que deixasse a ex-espiã na parte mais burocrática, que não precisava a colocar em campo para que suas falhas fossem ainda mais expostas, mas agora ele estava tentando a ver até onde ela iria – Senhor, por favor. Ao menos permita que ele seja capturado e interrogado. Passe por análise médica. Ao menos dê a ele o privilégio da dúvida, se não acredita no que eu digo.
Ross respirou fundo e soltou todo o ar de uma vez em seguida.
- Você lidera a operação – cedeu ele, apontando o indicador para a mulher quando ela ameaçou abrir a boca para agradecer – Traga Barnes sem causar tumulto e eu dou a ele o privilégio da dúvida para você largar do meu pé. Se a situação sair do seu controle, a ordem para matá-lo a menor chance volta. Entendido?
- Sim, senhor.
seguiu para a sala de preparação apenas para vestir um colete e pegar um rádio igual ao dos outros agentes, deixando seu comunicador dos Vingadores no outro ouvido, apenas por garantia. Já fazia no mínimo meia hora desde que anonimamente ela delatara a localização de Barnes, e começava a suspeitar que alguém estava segurando a informação. Das duas, uma: ou alguém estava tentando atrasar a CIA para protegê-lo, ou alguém queria ir atrás dele antes que eles chegassem. Considerando que coisas boas nunca aconteciam, assumiu a última possibilidade com a real, por isso teve que pensar em formas de acelerar o processo ela mesma, conseguindo acesso às denúncias e selecionando algumas aleatórias para disfarçar a sua precisão em palpites.
Desde que arquitetara o plano que havia desistido de contatar Barnes, mas isso não significava que o celular saíra de suas mãos. Ela apenas tinha um novo contato que não atendia suas chamadas.
Steve assistiu a tela de seu celular acender com um desenho de que fizera anos atrás pelo o que devia ser a quinta vez em dez minutos. Seu instinto era de selecionar a opção recusar, mas era mais fácil fingir que não vira nenhuma de suas tentativas, lhe traria bem menos dor de cabeça do que confirmar a ela que estava apenas sendo ignorada, mesmo que ciente disso. O soldado não podia desconsiderar a parte de que deveria estar genuinamente preocupada com como ele estava lidando com aquilo, mas isso não diminuía o fato que ela iria se opor ao seu plano.
Um assobio baixo de Sam chamou sua atenção, Steve finalmente tirando os olhos da tela do aparelho para olhar ao seu redor. A cafeteria estava bastante cheia, não era difícil para alguém próximo conseguir ver a tela e suspeitar de quem era o dono celular, por isso o soldado virou sua tela para baixo, mesmo sem ele parar de vibrar.
Steve teve a impressão que foram três ligações seguidas, chegando até a ficar com o aparelho nas mãos para evitar que ele se locomovesse pelo balcão enquanto ouvia Sharon relatar o que conseguira descobrir até então.
- É a Stark? Eu não atenderia, Capitão – aconselhou ela, depois de notar a tela do aparelho que o soldado segurava desligar apenas para acender novamente. A certeza em sua voz pegou a dupla de ex-vingadores de surpresa, que ficaram olhando para as costas da loira, esperando por explicações – Ela assinou o Tratado. A Stark que está organizando a operação de busca pelo Barnes.
Sam chegou a praguejar baixo, mas Steve seguiu sem reação por alguns instantes, sem conseguir correlacionar as ações da mulher. podia não ter seu empenho em localizar Bucky, mas ele não podia dizer que ela ignoraria uma chance de localizá-lo se tivesse a oportunidade. Só que ela tinha sido bastante categórica sobre não assinar o Tratado, tinha uma motivação forte para não assinar, envolvendo tanto sua segurança como a dos outros ao seu redor, e agora ela simplesmente assinara, como se tudo aquilo não tivesse importância? dias atrás se julgara incapaz, e agora liderava uma operação que tinha permissão e objetivo de matar o alvo?
- Precisamos nos mexer. E rápido – disse Steve por fim, pegando o arquivo que Sharon trouxera enquanto se colocava e pé e guardava o celular que ainda tocava no bolso – Temos que chegar antes da .

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Se fosse em um cenário diferente, teria sido indiscutivelmente contra a duas abordagens separadas, por isso ela teve que fingir muito desagrado quando a equipe foi dividida em dois grupos. Rhodes ficara com o primeiro grupo, indo checar o endereço errado que receberam, a alguns quarteirões de distância do endereço correto. Por insistência sua – e para não entregar que ela sabia mais do que devia –, Rhodes devia também tentar conversar primeiro caso encontrasse o alvo, evitando ao máximo uma abordagem ofensiva. Seria a mesma tática que utilizaria na localização certa.
A equipe que a acompanhava se posicionava ao redor do prédio em questão, com um grupo menor subindo em sua companhia. Estava tudo seguindo exatamente como planejado, até um dos agentes do suporte aéreo anunciar companhia no terraço, assim como a movimentação de mais alguém dentro do apartamento. tentara tomar a dianteira e subir mesmo assim, mas o segundo em comando lembrara perfeitamente que a condição da permanência da mulher na operação era não ter confusões, e aquela possibilidade agora era presença constitucional na equação.
A mulher fora escoltada de volta para o veículo em que viera, sendo vigiada o tempo todo pelo mesmo agente. apenas respirava fundo o tempo todo, as mãos fechadas em punhos sobre os joelhos, tentando manter os pensamentos em ordem enquanto ouvia pelo rádio comum todo o andamento da operação. Quando se iniciou a movimentação do alvo, o agente passara para o banco do motorista e mais dois embarcaram na traseira, para que pudessem fazer o acompanhamento do deslocamento e dar suporte, caso fosse necessário. Acabou que não havia apenas dois indivíduos obstruindo a operação, mas um terceiro que eles não conseguiam identificar. Pela narração dos colegas, Barnes estava sendo perseguido por três fontes diferentes: o desconhecido em trajes escuros e bastante resistentes, os dois ex-vingadores, e a própria Força Antiterrorismo. Em um certo ponto o soldado que a vigiava desceu do carro em busca de alguém que pudesse fornecer um pouco de água porque ele tinha certeza que a mulher estava prestes a desmaiar.
Depois de conseguirem encurralar os alvos, todos foram capturados. não recebera exatamente permissão para descer do veículo e auxiliar o processo, mas foi mesmo assim. Ela tinha ciência do olhar de Sam e Steve em sua figura enquanto caminhava junto com outros agentes em direção do alvo principal, mas sua atenção era completamente de Barnes, assim como a dele era sua.
Diferente de anos atrás, seu olhar não era animalesco, inexpressivo ou confuso. Aquele era o mais próximo de Bucky Barnes que chegara até então, e ela não podia dizer uma palavra sequer. Seus olhos apenas perderam contato com os olhos de Barnes quando ela se moveu para as suas costas, depois de sinalizar para os agentes ao redor que se afastassem e que alguns também abaixassem suas armas. Rhodes estava lidando com os outros três capturados e não parecia precisar de ajuda, por isso ela auxiliou a locomoção de Barnes para sua cela de contenção. Qualquer pessoa que assistisse mais de perto não acharia nada suspeito a mão de segurando ambos os pulsos do ex-agente da HYDRA enquanto o empurrava de lado, mas o aperto era tudo, menos agressivo. Os dedos da mulher estavam mais ao redor de seus pulsos do que realmente o segurando, seu toque mais firme no pulso natural, como se tentasse transmitir alguma coisa.
Claro que Barnes entendia a mensagem, mas não estava nada feliz com o envolvimento da mulher. Ela devia continuar mantendo sua distância de sempre, longe dos problemas que ele tinha o dom de causar.
Durante todo o trajeto de volta para Berlin, esteve inquieta. Algo lhe dizia que o pior não tinha passado, e todo o silêncio no veículo e no canal de comunicação era apenas um indício daquilo. Ela não havia conseguido completar as exigências de Ross, todos os canais do mundo já deviam estar rodando a imagem da perseguição a luz do dia, uma verdadeira caça de gato e rato envolvendo um inimigo de décadas, dois ex-heróis e um futuro rei. Completamente fora do seu plano inicial.
Claro que se tivessem deixado que ela agisse as coisas poderiam ter sido diferentes, mas não tinha tempo para aquilo.
Precisava pensar rápido, bem rápido.
Quando desembarcou, Bucky já estava sendo movido em sua cela de contenção, e Steve e Sam conversavam com Ross e sua equipe. Rhodes apareceu em algum momento às suas costas, e não demorou muito para que Natasha surgisse ao lado dos agentes também, sua expressão tensa deixando claro que não estava nada feliz.
-Excelente operação, Stark – comentou Ross – Posso ver o motivo de querer tanto assinar sua permanência.
- As coisas tendem a dar errado quando não me deixam agir, você ganhou essa dor de cabeça porque quis – retrucou ela, cruzando os braços. Responder não parecia uma ideia muito boa, mas não tinha como deixar aquilo passar em branco – Você me tirou da ação antes de ela começar. Sou boa em controle de danos, mas mentalmente é meio difícil fazer meu trabalho. Não sou telepata.
O sorriso voltara para o rosto de Ross, e ela quase engoliu em seco.
- Srtª Stark, por acaso está com seu celular? - não gostou daquele tom, nem um pouco. Aquela era a voz de quem encurralava uma presa e se divertia ao notar que ela não percebera que caíra na emboscada. Natasha também percebeu, inconscientemente se aproximando mais um passo, como se pudesse proteger fisicamente sua antiga pupila, ainda mais quando apenas confirmou com a cabeça que estava em posse do celular – Posso ver o aparelho?
- Quer checar meu papel de parede agora? – Natasha quis nocautear a mais nova ali, antes que conseguisse tirar o celular do bolso do traje, talvez destruir o aparelho no processo. A russa não sabia dizer o que Ross planejava, mas estava fazendo com que um arrepio ruim percorresse seu corpo – Se quiser ver nudes do Capt. Rogers, vai se decepcionar. Não importa o quanto eu peça, ele não curte essas coisas.
- Quer ver algo interessante? Tecnologia faz umas coisas bem legal hoje em dia – Ross tirou um aparelho mais ultrapassado do bolso, sequer gastando tempo em digitar algo muito longo, apertando apenas um botão na tela. Não demorou muito para que o celular na mão de começasse a tocar, a mulher fechando os olhos a força enquanto praguejava baixo. Ross por sua vez ria divertido, diminuindo a distância entre eles e pegando o celular na mão e estudando a tela – Jefferson? Você ainda foi mais criativa que ele. Seu contato está salvo como Lauren. Não era o nome falso da sua mãe? O mesmo que você usou para manter aquele apartamento?
Silenciosamente, todos se viraram para , que já usava a sua melhor expressão neutra.
- Aquele apartamento é uma aquisição pessoal que estava sendo vigiada constantemente e estava sob os cuidados de James Barnes – contou ela, seu tom baixo e calmo contrastando com seus batimentos acelerados. Suas mãos estavam relaxadas, mas começavam a suar.
- O tanto de informação da HYDRA e da S.H.I.E.L.D. lá parece ser o suficiente para causar um alvoroço ainda mais do que o de Triskelion, acha mesmo que vai me convencer com isso? – continuou Ross, confiante o bastante para abaixar o rosto em direção à mulher, estudando sem pressa seus traços se contraindo vez ou outra. Até o painel responsável da ONU estudar o histórico da mulher, iria pelo menos mais uma semana até ela sair de cena com um processo em mãos, mas aquilo era totalmente diferente. Em poucas horas como heroína registrada e já era uma criminosa.
E tinha bastante noção do cenário delicado que estava, tanto que apenas não esperneou, não deu nenhuma resposta atravessada, não tentou nenhuma gracinha. Ela apenas respirou fundo e estendeu a mão com a palma para cima.
- Posso ter meu celular de volta para ligar para os meus advogados?
- Confiscado como prova – disse Ross, sinalizando para um agente próximo que revistasse a mulher, que apenas ergueu os braços e ficou olhando para o teto – Stark, você está presa por terrorismo, espionagem e obstrução de justiça. Ou acha que não sei que entregou a localização do Barnes para o Rogers?
se flagrou rindo enquanto o agente retirava seu colete de proteção e buscava por armas, murando alguns “fica quieta, ” e “pelo amor de Deus, não responde”. Não demorou muito para que o agente anunciasse que a mulher não estava armada, que os únicos objetos que ela portava eram o rádio da CIA e o comunicador interno dos Vingadores, uma aliança escondida no bolso, e o celular que já estava na posse do comandante. Ross não pareceu muito satisfeito com a informação que obtivera, e apenas deu de ombros. Ela tinha avisado desde o começo que não faria uma abordagem ofensiva, tanto que fora de mãos vazias.
- Pode descer ela com o Barnes, então.
- Qual é, não vai mesmo devolver meu celular? – resmungou, recebendo apenas silêncio como resposta – Posso pegar um emprestado, por favor? Preciso mesmo falar com meu advogado.
- Stark está com umas três ligações lá dentro.
- Ele não sabe quem é meu advogado.
- Alguém dá um celular para a garota – Ross se deu por vencido, gesticulando para cima enquanto dava as costas ao grupo – Romanoff, leva a Stark depois para a sala de contenção. Rhodes pode descer o Sam também e deixar o Rogers com o Stark, ele quer falar com o Capitão primeiro.
- Stark disse que você estava em Hell’s Kitchen antes de vir para cá – comentou Natasha depois de retirar seu aparelho do bolso e jogar para a mais nova, que esqueceu momentaneamente do que precisava fazer para expressão sua indignação.
- Ele estava me rastreando? Estou ofendida! – ofegou ela, logo se voltando para a tela desbloqueada e digitando a sequência de números que fora obrigada a decorar para emergências, como aquela. Exatamente como esperava, em menos de dois toques alguém do outro lado já atendera, sua expressão mudando drasticamente para uma careta chorona assim que que a pessoa se identificou – Mattie, estou com problemas. Me salva.
- Viva-voz, por favor – pediu Natasha em sussurro, algo que obedeceu sem muitos problemas. Oficialmente, eles não precisavam saber o que ficaria combinado entre advogado e cliente, mas era bom o lado oficializado saber o que estava sendo planejado para a defesa para que eles pudessem ajudar, ou no mínimo não atrapalhar.
- Eu já vi as notícias, mesmo sem seu nome aparecer assumi que você estava envolvida. Queria estar errado.
- Me desculpa, eu juro me esforcei para andar na linha dessa vez - suspirou ela - E acho que você pode ter mais coisa no seu prato agora.
- Quem mais eu preciso defender?
- Eu, Barnes, Wilson, e Rogers. Acho que meu irmão também - ela foi listando as pessoas enquanto olhava para cada um, seu olhar buscando Natasha no fim para questionar a localização de Petr - Eles vão julgar os meus crimes, pode trazer à tona os crimes do Corvo mais velho também. Me diga o que eu faço.
Pelo suspiro longo que dera, Matt não parecia muito animado.
- Nós não conseguimos encontrar muitas provas para ajudar na sua defesa nas últimas vinte e quatro horas, m...
-
Não, foca na defesa do Barnes primeiro. Eu aguento.
- Como seu advogado - começou ele, devagar na tentativa de persuadir sua cliente, mesmo sabendo que teimosia era sua marca registrada - Eu realmente não acredito que isso seja uma boa ideia.
- A condição do Barnes é bem mais delicada do que a minha. O Príncipe de Wakanda quer a cabeça dele em uma bandeja, e eu duvido que seja figurativamente - insistiu ela, sua voz baixa não falhando em transmitir firmeza. No melhor dos cenários, ela teria todos os advogados possíveis trabalhando em sua defesa, mas não tinha como mudar as propriedades naquele cenário - Ainda podemos pedir para que me mandem de volta para os EUA, não podemos? Estão me acusando pelo atentado em Viena, mas eu tenho álibi. Eu fiquei a manhã toda junto com o Stuart Carter, ele é irmão de uma das agentes da CIA na Força Antiterrorismo.
- Eu não acons... Como que estão te acusando por Viena?
- O estrupício do Barnes deve ter deixado a porcaria do celular dele jogado no apartamento e encontraram durante a revista. Eu juro que a minha vontade é de arrancar o braço dele e enfiar n...
- Como que o Barnes tinha seu contato, Stark? E como que conseguiram rastrear ligações?
- Você não é novo nisso, Murdock. Ninguém sabia disso, por que eu te contaria? - devolveu ela no mesmo tom, quase se arrependendo ao sentir as pessoas a sua volta ficarem levemente mais irritadas - Eu fiquei desleixada. Não pensei que teria problema usar alguma linha comum, mas o Universo gosta de provar que eu sou uma idiota. Eu já deixei com você tudo o que tinha sobre o Barnes, não foi? Consegue trabalhar com isso?
- Você é uma figura pública, atrasar a sua defesa pode ser arriscada demais para a sua imagem - Matt tinha completa ciência de que não estava o ouvindo de fato, que suas palavras entravam por um ouvido e saiam pelo outro, só que não tinha como deixar de insistir em que ela mudasse de ideia. Não era apenas seu trabalho que estava em jogo, e sim o bem estar de alguém - Por que eu só pego clientes teimosos? Você não abre a boca até eu chegar aí, entendeu? Nem uma palavra oficial.
-
Eu ainda posso te responder ou faço votos de silêncio total?
- Voto de silêncio total. Na verdade, ficaria mais tranquilo se você fosse dormir e só acordasse quando eu chegar.
- Certo - concordou sem pensar duas vezes, chegando a se despedir até se lembrar de algo que esquecera de perguntar - Matt! Pode pedir para o Foggy fazer aquele chocolate quente de novo? Sei lá o que ele colocou naquilo, mas me deixou sonolenta por um bom tempo. Murdock? Vou assumir isso como um “sim”.
respirou fundo enquanto travava a tela do celular e devolvia o aparelho para Natasha. Seu olhar apenas abandonou o aparelho quando ele estava nas mãos da dona, que, assim como os outros, esperavam com olhares questionadores por respostas.
- Eu tenho duas perguntas - Natasha que começara, quase desistindo ao avistar os indícios de cansaço na mais nova que ela não notara até então. Mais um pouco e ela estaria no mesmo estado físico de que voltara da HYDRA. Ela começara a ficar assim um mês atrás ou tinha algo a mais que a ruiva não estava considerando? - A primeira é há quanto tempo você sabe a localização do Barnes.
respirou fundo, ponderando sua resposta enquanto não soltava o ar. Ela tinha ensaiado aquela conversa tantas vezes, tinha assumido todos os cenários possíveis, menos aquele. Tantas vezes sentira que era finalmente um bom momento para contar, e agora que não tinha outra escolha era quando ela menos se sentia confortável
- Uns dois anos? - contou ela por fim, a hesitação de sua voz fazendo com que o olhar de Natasha se intensificasse - Ele me contatou.
- E você não disse nada a respeito disso por...?
- Ele me pediu para não contar. Nat, não usa sua voz de adulta comigo, me assusta.
- Então enquanto nós estávamos tentando rastrear o cara...? - assumiu Sam, deixando o restante no ar para que a mulher completasse. Para sua surpresa, se virou para ele com sua melhor expressão exasperada, as mãos erguidas em sinal de inocência.
- Eu nunca atrapalhei, juro. E vocês nunca tiveram uma pista muito boa também - a segunda sentença não causou exatamente o efeito que esperava, Sam parecia ainda mais ofendido e Steve estava ainda mais tenso, seu olhar sequer dando sinais de que planejava abandonar o chão tão cedo - Eu sinto muito mesmo, mas não achei uma boa ideia forçar Barnes a nada. No fundo esses anos todos foi mais ele checando se eu estava realmente viva porque ele não confia nem um pouco em mim.
- Então se você disse que estava com problemas, ele teria aparecido? - perguntou Natasha, a pausa que fizera para responder sendo o suficiente para entender que sim, Barnes apareceria em um segundo caso ela precisasse de seu auxílio - Por que não fez isso?
- Porque ele perceberia que era mentira em algum momento - devolveu ela, seu rosto adotando um tom constrangido em seguida - E ele gritaria comigo por uma semana, sem pausas.
Sem mais alguém disposto a seguir com o interrogatório, um silêncio desconfortável se instalou no grupo, todos impacientemente esperando pela a única pessoa que ainda teria algo a questionar, aquele que eles esperavam ser o mais atingido por toda aquela história.
Mas ele continuava a encarar o chão com o maxilar travado.
- Quer dizer alguma coisa, Steve? - Natasha não queria forçar o amigo, mas ela não tinha começado ontem, com nenhuma parte constituinte do casal. Se não usassem aquela janela que se abrira por motivações fora de seus controles, eles esperariam por outra abertura espontânea, nunca uma iniciativa deles. Se não fizesse alguma coisa, aquele assunto seria mais um ressentimento entre a dupla, e Natasha estava começando a ficar cansada de assistir.
- “Eu já traí a confiança dele uma vez, e não vou fazer isso de novo” - um arrepio percorreu , principalmente quando Steve finalmente ergueu o olhar para encontrar o seu, a falta de expressão em seu rosto e seu olhar duro sendo algo que a mulher não estava habituada a ter direcionado para ela - Suas palavras.
voltou a respirar fundo, fechando os olhos para controlar o enjoo que ameaçou a dominar, de origem que ela duvidava ser biológica.
- Eu sinto muito, Steve. Foi decisão dele, não era meu lugar fazer algo contra isso - embora sua voz tivesse adotado um tom oscilante e fragilizado, nenhuma palavra que proferiu estava tomada por nada menos do que convicção, o contraste com seus olhos que adotavam um tom avermelhado deixando todo o restante do grupo desconfortável - Não é como se eu não tentasse convencer ele do contrário. Ele só nunca me ouviu.
Steve passou a língua pelos lábios e prendeu o interior entre os dentes, a linha de seu maxilar ainda sobressaltada enquanto assentia contra a sua vontade. Aquilo era o mais sincera que fora em semanas, ele não era idiota em negar, mas não significava que aceitava e estava em paz com suas verdades.
- Nelson & Murdock - começou Natasha, sua curiosidade não sendo mais algo que estava em seu controle - Qual deles é o cego com quem você dormiu?
se virou tão rápido para a ruiva que pensou que sua pressão ia cair. Mas aquilo não era importante no momento.
- Sério, Romanoff? De tudo que você podia comentar, você escolheu logo isso?! - grunhiu a mais nova, suas mãos até chegando a parar na cintura para dar mais ênfase na imagem de decepcionada com a postura da mais velha - E foi o Murdock. E ele continua uma graça. Como graça vamos entender como gostoso para cacete, você vai ver.
quase agradeceu mentalmente pela mudança de assunto até se lembrar de um detalhe importante, se voltando para Sam e Steve às suas costas, a dupla dividida entre revoltada e surpresa pela sua declaração.
Mas era claro que o Wilson tinha aberto a boca.
- E quando ela diz “dormiu”, é pretérito perfeito, o que significa que aconteceu e acabou - explicou ela, prestes a virar os calcanhares para encerrar o assunto até se dar conta de que ainda ficara detalhes ausentes que podiam ser usados contra ela - E a localização no tempo é 2009, não 2016. Me envolvi com o Murdock quando ele ainda estava na faculdade de Direito, e eu era novata na S.H.I.E.L.D.
- Não foi exatamente o que pareceu quando te seguimos até o apartamento do cara semana passada - devolveu Steve, quando a mulher já se virava depois de murmurar um “boca de caçapa”. Mas em segundos ela estava de frente para o soldado mais uma vez, seu olhar arregalado já adiantando a sua confusão.
- Como q...?!
- Por questões de segurança, Tony e eu temos algumas formas de te rastrear, caso necessário.
precisou piscar algumas vezes na esperança de que a resposta fosse processada.
Ok...
Ok.
Ok.
- Certo, sei que não tenho o direito, mas eu estou um pouquinho desapontada - disse ela por fim, as palmas de suas mãos unidas em frente ao corpo. Um pouquinho era um belo de um eufemismo, mas tinha noção de quanto a hipocrisia estava lhe provando de fazer drama.
- Não me senti bem também te vendo trabalhar com o tal Murdock pelas minhas costas - devolveu Steve no mesmo tom, afundando as mãos nos bolsos da calça. “Ela disse que não era o que parecia”, foi o que Sam contara. No fim, ele não duvidava da palavra de . Só que isso não significava que estava de acordo com o rumo das coisas. Talvez ele estivesse mais magoado pelas atitudes e escolhas de do que se ela realmente estivesse tendo um caso.
- Eu sinto muito mesmo pela parte do “pelas suas costas”, mas se eu for absolvida nós vamos ter que conversar sobre essa história de rastreador.
- Se você não for, pelo menos vamos saber o tempo todo onde você está - comentou Natasha e se engasgou com o ar enquanto ofegava - Vamos logo. Seu pai vai querer falar com você também.

Capítulo 23

A tensão entre os dois era tão grande que sequer Natasha arriscou dizer alguma coisa no breve tempo que guiou a dupla até a sala onde Tony tentava retomar as rédeas da situação. Steve parecia estar se contendo, seu olhar dificilmente seguindo para a mulher ao seu lado, mas toda aquela energia estava sendo direcionada a ela, mesmo que inconscientemente. por sua vez parecia estar em outro mundo, embora igualmente tensa. Mesmo conhecendo a peça há anos, Natasha não sabia dizer o que estava de errado naquela história, embora agora tivesse certeza que tivesse. Muita coisa havia mudado nos últimos meses, mas, mesmo com a recente falta de confiança em si própria, aquelas reações mal controladas não faziam o perfil de . Natasha já a tinha visto em seus momentos mais impulsivos, e mesmo assim a mulher não ficava naquele estado. E não era por causa de Barnes.
Tinha alguma coisa a segurando.
Tony terminava uma ligação nada agradável quando o trio adentrou na sala que lhe tinha sido cedida, agradecendo com a cabeça a Natasha antes de ela dar meia volta e deixá-los sozinhos. Seu olhar se demorou minimamente na figura da filha e seguiu para o soldado. Com pelo menos ele tivera a chance de conversar e tentar fazer com que ela desistisse da ideia, além de ter acompanhado a operação. Agora Rogers? Não dava para saber o que se passava pela cabeça do homem.
Muito menos o que podia ser feito para ele concordar deixar que outros resolvessem a situação.
- Olha só se não é meu casal problema! – sequer Tony sabia dizer se aquilo era pra soar como uma brincadeira ou não, mas não estranhou a expressão fechada de ambos no final. A garrafa de material escuro que estava sobre a mesa ele jogou para a filha, que se sentara em uma ponta. Steve permaneceu de pé, logo atrás de suas costas – Eu sei que você não gosta de beber algo que não sab... Certo, você já está bebendo.
não parecia nem um pouco feliz com o que estava ingerindo, mas ainda tomou mais um longo gole antes de parar para respirar.
- Não me deixaram parar no caminho para comprar água, então vai isso mesmo.
Tony tentou dar um sorriso divertido, mas acabou apenas com um triste enquanto prometia à filha que providenciaria algo decente para que ela comesse também.
- Não vi a Pepper aqui.
- Bem, nós… Nós estamos…
- Estão grávidos?
Tony entregou o jogo naquele momento como nunca fizera antes, completamente desprevenido. Sua sorte foi que a mais interessada em manter informações fora do alcance do soldado tivera problemas com o restante de sua bebida, boa parte do líquido errando a entrada. Ele até teria tentando sair em auxílio da filha, mas Steve fora mais rápido, uma mão tirando a garrafa de sua posse e outra em suas costas, em movimentos ritmados tentando fazer com que ela se acalmasse.
apenas assentiu com a cabeça quando Steve perguntou se ela estava bem, sequer ousando tirar seu olhar do chão. Em um momento a mão que passava por suas costas foi para o topo de sua cabeça, passando os cabelos para o outro lado em um toque igualmente carinhoso. E ela quis chorar.
Talvez Steve nem tivesse ciência do que fazia. Alheio ao fato de que tinham se afastado tanto nas últimas semanas que aquela mera preocupação podia causar uma reação daquelas.
- Nossa, o gosto disso fica ainda pior saindo pelo nariz – resmungou ela depois de respirar fundo, sua ação de voltar a se apoiar contra o apoio da cadeira sendo o suficiente para que Steve retomasse seu lugar às suas costas – Não quero isso mais, não.
Quando finalmente olhou para o pai, Tony tinha uma expressão bem menos idiota no rosto, mas ainda permanecia a nada discreta permissão que solicitava.
Conta.
Me deixa contar.
nem precisou pensar para fazer que não com a cabeça, algo completamente instintivo. Era um péssimo momento. Tanto para Steve como para ela. A última coisa que ela precisava agora era ter que lidar com o soldado. Sua maior vontade era pegar o quinjet e sumir sem deixar rastros, colocar sua mente no lugar e só então pensar na possibilidade de atualizar alguém na história.
Só que nada disso parecia estar para acontecer logo.
- Nós estamos dando um tempo – contou Tony a contragosto, a expressão surpresa e logo triste do soldado fazendo com que voltasse um pouco mais para o momento – Não foi culpa de ninguém.
O olhar de Steve recaiu sobre , que apenas apoiou os cotovelos sobre a mesa, usando as mãos para dar suporte ao seu queixo. Ela já sabia, ele logo constatou.
Definitivamente não estava sendo uma boa temporada para os Stark.
- Tony, sinto muito – disse o soldado por fim, tomando o lugar vago ao lado de , ficando assim entre pai e filha, já que Tony ocupou o lugar de frente para a mais nova – Eu não fazia ideia.
- Alguns anos atrás eu quase perdi a Pepper e eu destruí meus trajes. E então teve a volta da HYDRA e o problema Ivanov, com essa coisinha do seu lado quase acabando com a minha sanidade – Tony rapidamente apontou para , que apenas deslizou um pouco em seu lugar, as mãos unidas sobre a mesa parecendo ser todo o alvo de sua atenção – E Ultron também, minha culpa essa. E as coisas continuaram, e eu nunca parei. Porque na verdade eu não quero parar. Pensei que talvez o Tratado... – ele parou mais uma vez, seu olhar passando por seus interlocutores quietos antes de respirar fundo e se colocar de pé – Na defesa dela, eu sou problema demais. Mas você já sabe disso, está com problemas com a sua própria Stark, não é?
- Pai, não é momento para isso – se opôs em velocidade recorde, a voz bem mais firme do que a hesitação dos seus olhos transmitia. Steve olhou do mais velho para a mulher, mais uma constatação um tanto definitiva diante de si: terceiros estarem entrando naquele problema dava uma fachada mais realista ao problema, não era algo de sua cabeça ou algo bobo que eles resolveriam sem intervenção. Por mais das implicâncias iniciais que fizera, anos atrás, Tony dificilmente se intrometia quando não era estritamente necessário, quando não era algo sério. E dessa vez tinha um detalhe diferente: Tony estar cedendo à vontade da filha e a forma como estava fazendo aquela abordagem entregava que aquela conversa já tinha acontecido entre ambos. provavelmente tinha buscado o pai.
Ambos não sabiam como resolver aquilo.
- Eu ainda acho que vocês já se deixaram tempo demais em banho-maria, mas quem sou eu para dizer alguma coisa, não é, criatura que eu ajudei a trazer ao mundo? – devolveu Tony irônico, nem um pouco surpreso ao ver a filha o fuzilando com os olhos – Acredito que o Ross já tenha falado com você, a propósito.
- Que eu estou em prisão preventiva? Já me informou, sim.
- Você por acaso falou com seus advogados nesse meio tempo? – continuou ele, o pronome frisado fazendo com que a mulher abrisse um sorriso cínico. Ela ainda tinha que tirar a limpo a história do rastreador, embora não fosse um bom momento para aquilo também – Quando que você vai parar de agir pelas minhas costas?
- Nelson e o Murdock já estão a caminho, pedi que eles dessem mais atenção para a defesa do Barnes – contou ela, ignorando o comentário solto do pai – Peça que o resto da equipe faça o mesmo. Eu posso segurar o grosso por um tempo sozinha, não é como se eles pudessem fazer muita coisa contra mim agora.
- Não vai ser necessário – Tony a cortou, conseguindo de uma vez a atenção curiosa da dupla – Steve e eu vamos resolver as coisas, não é, Capitão?
- Como assim? – perguntou , seu olhar mais desconfiado do que do soldado, ainda mais quando seu pai deu a volta pelo canto da mesa, girando sua cadeira para que ficassem frente a frente. Tony se inclinada minimamente em sua direção, dificultando a tarefa de fugir de seu olhar.
- Não há alvoroço nenhum se a operação foi executada por heróis registrados. Toda a confusão das suas ligações para o Barnes é fácil de ser explicada, nem esquenta com isso – explicou ele, a voz calma e baixa, mas o suficiente para que Steve às suas costas ainda pudesse acompanhar – Você volta para casa no fim do dia, sem estresse.
- Mas e o B...?
- Deixe que nós garotos lidamos com isso – continuou ele, conquistando milagrosamente o silêncio da filha. não queria continuar, mesmo que dissesse o contrário. Seu abalo era visível por não conseguir a solução que esperava e estava com medo de causar mais problemas. Queria passar a responsabilidade para alguém, mas não se achava no direito de tirar o time de campo. Constatar aquilo apenas fez com que Tony quebrasse mais um pouquinho por dentro – Você tem que descer para a análise psicológica. Mas não se preocupe em criar uma boa impressão, você volta para casa em qualquer cenário, entendeu?
ia abrir a boca, mas a pressão em sua garganta lhe fez mudar de ideia. Ah, aquele era um péssimo momento para não conseguir usar seus poderes. O próprio Tony não sabia dizer se ria ou se chorava junto ao assistir seus olhos marejarem, seus lábios sendo espremidos em uma linha fina enquanto ela tentava miseravelmente se controlar.
Ele cometera um erro imenso ao se deixar dobrar pelas afirmações da mais nova. Acreditara em suas palavras sobre poder entrar em ação, mesmo que fosse algo mais burocrático. Tony odiava quando a filha mentia, mas era pior quando não tinha consciência daquilo. Ela não estava em condições, e sequer eram físicas. O timing dos acontecimentos era o pior possível, ela tendo que tomar responsabilidade por coisas que ficaram longe do seu controle quando menos confiava em si mesma. O medo estava claro em seus olhos e não ter alcançado sucesso em suas últimas ações estava pesando ainda mais em seus ombros.
Ciente de que também não podia confiar em sua voz, Tony passou uma mão pelos cabelos da filha, a puxando para perto e assim poder beijar sua testa. aproveitou o gesto para se acalmar, a colônia familiar e o toque conhecido sendo o suficiente para que ela voltasse um pouco mais para os trilhos.
Mas não o suficiente para que arriscasse olhar para o soldado.
Steve acompanhou com o cenho franzido a mulher deixar a sala acompanhada de um agente que apenas se apresentou e permitiu que ela continuasse em silêncio. Depois de tantas idas e vindas dos últimos anos, Steve podia ser considerado um especialista em perceber o estado da mulher, mas, devido à distância criada entre eles nas últimas semanas, ele não chegara a perceber como aparentava estar cansada. Física e mentalmente. E o pior era ele não conseguir entender os motivos por não estar ocupando o lugar ao seu lado como deveria.
Tony depositar um estojo de canetas sobre a mesa que fez com que ele voltasse para a realidade, contando sua história que Steve apenas respondeu no automático.
- Até agora não aconteceu nada que não possa ser desfeito. Se você assinar, legitima as últimas 24 horas. Barnes é transferido para um centro psiquiátrico nos EUA invés de uma prisão em Wakanda e também fica livre das acusações de hoje – continuou Tony, quase agradecendo em voz alta quando Steve se colocou de pé e pegou uma das canetas – Eles podem até passar uma temporada dividindo um corredor, se bobear.
Steve parou no meio do caminho, seu olhar confuso de voltando para o engenheiro.
- Pensei que você tinha dito que ela voltava para casa – estranhou o soldado, e Tony respirou fundo e fechou os olhos. Tão perto. Tinha chegado tão perto. Argh, era incapaz de colaborar de fato.
- O caso da é diferente da Wanda. Podemos mantê-la confinada no complexo por um tempo também, mas vamos precisar de um controle de danos antes da ONU colocar em ação o processo contra ela – explicou ele, torcendo para que aquilo não fosse novidade para o soldado. Ou ele estaria com problemas.
- Espera, você está dizendo que a Wanda está confinada em casa? Ah, Tony! Quando eu acho que voc...! – gemeu o soldado descrente, balançando a cabeça de um lado para o outro antes de se voltar para o mais velho – Por que a ONU tem um processo contra a ?!
- É contra a Dominik, para ser mais preciso. Eles ofereceram um acordo: ela se aposentava e eles jogavam o processo para debaixo do tapete – continuou Tony, assistindo a compreensão aos poucos se apossar do rosto do soldado – Só que ela insistiu em assinar para ir atrás do Barnes.
Steve queria rir. Agora o comentário de Petr durante a discussão da equipe sobre o tratado fazia total sentido. O mais velho da dupla tinha notado o desconforto da irmã e sua relutância referente a algo que escondia. Só que de costume não era apenas um detalhe ocultado do coletivo. tinha seus segredos enfileirados em ordem de importância e descartava alguns para despistar quem estava a sua volta.
- Então toda aquela conversa em casa não passou de um teatrinho? – grunhiu o soldado, uma ira nova aparecendo em sua voz – E você ainda foi capaz de concordar com tudo isso, Tony?! Eles ameaçaram a sua filha!
- ia se aposentar de qualquer forma, eles aceleraram o processo. Ela só quis se poupar do estresse – retrucou ele sem pensar duas vezes, a justificativa já bem elaborada em sua memória fazia dias – Não foi bem uma ameaça, foi mais um favor. Consegue imaginar o que aconteceria se ela assinasse? Os crimes dela são públicos. Eu não concordei com ela assinar para tentar aliviar para o Barnes, mas fez o que achou que era certo e não tinha como eu me opor.
- Então está de acordo em manter a Wanda em confinamento? Ela é só uma criança!
- Estou fazendo o que precisa ser feito para que não fique pior!
- Continue dizendo isso.
Tony grunhiu alto em frustração, sua exaltação muito parecida com a do soldado. o mataria por usar aquela carta, mas ele não via outra saída. Ele precisava tentar.
- Se não tornarmos a ação de hoje oficial, fica sob os cuidados da ONU até o julgamento, em prisão especial – Steve chegou a hesitar pela mudança na postura de Tony. Ele até então realmente parecia capaz de lhe acertar um soco no rosto caso tivesse a chance, mas agora sua energia parecia ter tomado outra natureza. Ele continuava possesso, claro, mas adotara uma postura mais concentrada, seu maxilar completamente tensionado enquanto falava – Eu não sei que droga de crise vocês estão passando, mas é muito baixo da sua parte permitir algo assim, Rogers.
- Não tenho certeza se e eu ainda concordamos com o que é certo ou errado.
- está grávida, Rogers. Certo e errado não importa mais – Tony sequer se importava tanto com o tratado naquele momento. Preservar o futuro dos Vingadores era sua função, mas ele tinha outro papel fora do traje Homem de Ferro, e aquele à sua frente também tinha, e estava prestes a ganhar novos. E isso que mais o irritava. Rogers estava sendo cabeça dura e colocando muita coisa em risco, coisa que Tony talvez sequer fosse capaz de proteger sozinho, mesmo querendo dar a alma por isso. Se algo acontecesse a sua filha e seu possível neto por causa do soldado, Tony não tinha ideia do que poderia ser capaz de fazer – A última coisa que ela deveria estar se preocupando é em se desdobrar para limpar a sua barra e a do seu amigo, mas olha onde ela está.
Algo dentro de Steve dizia que ele devia parar por alguns segundos e refletir um pouco mais. Apenas por dois segundos. Só que seu sangue já agitado silenciou a voz, e ele já abria a boca antes que algo pudesse de fato fazer sentido.
- Ela n... Ela... Sério mesmo que você está me dizendo isso para me fazer assinar?! – soltou ele exasperado, balançando a cabeça em descrença antes de se adiantar para a mesa com a caneta em mãos a frente – Sabe de uma coisa? Eu odiaria quebrar conjunto.
Um agente estava do lado de fora pronto para guiar Steve, mas o soldado saiu a frente pisando duro, vez e outra alterando seu trajeto quando o agente comunicava às suas costas que estava fazendo o caminho errado. Apenas alguns andares depois que a consciência começou a voltar em sua mente, e Steve se viu preocupado.
tinha sacrificado alguns segredos para proteger um maior, Tony podia ter tentado fazer a mesma coisa até desistir da estratégia da filha. Mas não podia ser, certo? Ela teria contato. Não era algo que ela esconderia, certo? Claro, tinha um bom histórico de esconder coisas, vide aquele mesmo episódio, mas aquilo era um nível completamente diferente, não era?
Sentado na mesa da sala de espera Steve quase socou a mesa, relaxando os dedos antes que danificasse algo. Seu contato com tinha sido reduzido além do máximo nas últimas semanas, era difícil assim supor alguma coisa. A única coisa que ele notara era como a mulher aparentava estar mais cansada ultimamente, quase doente.
Não podia ser isso, não é?
- Carter? – ele chamou por Sharon depois de outro leve grunhido frustrado, a mulher apenas erguendo os olhos sérios para ele – Eu consigo falar com a ?
Carter apertou um botão no teclado que trabalhava, a imagem de uma quieta no canto de uma sala sendo exposta para a dupla. O mesmo agente de mais cedo estava sentado à porta, com um carrinho de serviço ao seu lado, com pratos que não conseguiam distinguir àquela distância, mas que certamente era comida. estava sentada de cabeça para baixo em uma poltrona giratória, as pernas penduradas no encosto da cabeça, os braços descansando sobre a barriga e a cabeça apoiada de leve no apoio das pernas. Seus olhos estavam fechados e ela parecia falar algo, mantendo alguma conversa simples com seu vigia, mas mesmo assim ela ainda parecia a figura da exaustão.
O peito de Steve pareceu se apertar ainda mais.
- Ninguém entra, ninguém sai, Capitão – comentou Sharon, voltando sua atenção para o seu trabalho. Ela fora capaz de notar uma preocupação extra no soldado, mas não se achou no direito de questionar. Aquilo parecia muito mais papel de Sam, que não pensou duas vezes.
- O que foi, Steve?
- Tony me disse algo e agora estou com medo de que ele não estivesse mentindo – contou o loiro, seu olhar em nenhum momento abandonando a figura quieta da tela – Teria sido muito baixo até mesmo para ele, sendo verdade ou não.
Sam pensou em questionar o que Tony tinha dito, mas Steve estava tão tenso e silencioso que acabou optando por deixar o assunto de lado. O soldado não parecia disposto a conversar sobre aquilo, talvez fosse melhor não insistir. Aparentemente, a pessoa com quem ele precisava conversar estava um tanto indisponível.

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Os pelos se eriçaram assim que as luzes comuns se apagaram e as de emergência tomaram o ambiente, seu olhar indo no mesmo instante para o segurança na porta que lhe fazia companhia.
- Deve ter sido só uma queda de energia – o homem tentara lhe transmitir alguma segurança, mas sua postura agitada contagiou a mulher que não era capaz de monitorar sequer aquele pequeno ambiente que ocupavam.
Depois de anos de carreira, havia alguns sons característicos que era capaz de identificar em qualquer lugar e hora. Qualquer um pode reconhecer o som de alguém caindo, mas o som de alguém sendo atirado contra algo era levemente mais específico.
O agente gritara uma ordem apressada para que não saísse dali, e, em um primeiro momento, ela não se opôs. Ela não estava em condições de entrar em combate, contra quem quer que fosse, embora ela tivesse uma leve suspeita – e ela queria muito estar errada. Só que sons de ossos sendo quebrados chegaram aos seus ouvidos, e não teve outra coisa que ela pudesse fazer.
Não dava para se ausentar.
Assim que passara a porta, já teve que desviar de um punho metálico que tentara lhe agarrar. Ela apenas conseguira colocar uma distância mínima entre eles graças a um agente que investira contra Barnes, ganhando assim algum tempo de preparo.
Ela devia dar as costas, correr o mais rápido que podia, mesmo sendo bastante arriscado perder a noção de onde o Soldado estava. estava com todos os seus poderes de percepção comprometidos, a capacidade de poder prever seus movimentos sendo uma das poucas coisas que podia garantir que ela saísse daquela inteira.
Ela precisava de suporte. Só que assistir o Soldado apagar outro agente como se fosse um brinquedo era algo que não dava para fazer quieta.
Barnes não entraria no modo Soldado sozinho. Alguém tinha que ter dito as palavras.
E não tinha como contatar ninguém no momento. Era ela ou ela.
O Soldado tinha completa ciência de sua localização, e, mesmo com a quantidade de agentes que partiam contra ele, Barnes continuava tentando ir em direção a ela mesmo quando ainda hesitava. Ela era o alvo mais uma vez, a mulher logo constatou. Só que isso não interferia em nada em sua tarefa.
Seu rosto pareceu inexpressivo quando a mulher se lançou contra ele, segurando o punho que tentara acertar seu rosto enquanto chutava um alguém para longe. girara o próprio corpo para tirar o aperto do homem, tentando lhe acertar um chute de costas que fora mal sucedido, embora tivesse o atingido. Barnes aproveitou do movimento mais lento da mulher para devolver o pé ao chão para lhe chutar o joelho oposto. Não tinha como ela impedir a queda, mas lhe acertou um bom chute com a perna que não conseguira voltar ao chão em seu queixo, fazendo com que ele recuasse minimamente. Com um impulso das pernas depois de contrair ao máximo o abdômen, se colocou de pé, já tendo que sair em auxílio do agente que logo teria o pescoço quebrado. Um extintor estava nas proximidades, e ela não hesitou em pegar a peça, o movimento sendo o mais cuidadoso para acertar a lateral da cabeça do soldado. Acabou que Barnes optou por soltar sua última vítima, erguendo o braço metálico para que a região recebesse o impacto. Com o objeto agora fazendo o trajeto oposto que a força de , ela perdeu momentaneamente o equilíbrio. Barnes iria se lançar contra ela naquela brecha em sua defesa, e, na tentativa de ganhar um pouco mais de tempo para se recompor, a mulher arriscara um chute frontal, tendo o tornozelo segurado com bastante facilidade pelo seu atacante. Ela tentara aproveitar a outra perna para se defender, mas o chute não conseguira completar o movimento já que Barnes a lançou contra a quina de duas paredes, metade de suas costas e sua cabeça colidindo com força total, seus sentidos sendo comprometidos. Quando ela voltou a entender a cena, já era tarde.
com uma mão tentava afastar os dedos metálicos do Soldado que estavam ao redor de seu pescoço, a outra mão segurando seu punho real para que não lhe acertasse qualquer outro golpe. Uma de suas pernas buscavam o contato com o chão que fora perdido ao ser erguida, a outra entre os dois, tentando criar alguma distância entre eles. Seu rosto já estava bastante avermelhado pela falta de ar, o brilho amarelado de seus olhos ganhando um leve fundo alaranjado.
- Seu dever é me proteger, Soldado – sua voz saíra quase inaudível, mas ele ouvira. não fazia ideia de quais eram as palavras de comando de Barnes, e sua única esperança no momento era que ainda pudesse usar os mecanismo de segurança de sua mãe, a língua russa podendo ser um bom elo para desestabilizar Barnes.
Pareceu funcionar por um breve momento, seu olhar vacilando sobre o seu. Ou foi isso que quis acreditar na hora, alheia ao movimento do soldado se buscar algo em seu bolso com a mão real.
não teve tempo de reação. Quando notou a seringa na mão de Barnes, a agulha já adentrava na pele de seu pescoço, e o que quer que fosse aquilo invadia sua corrente sanguínea.
E então ele se afastou.
O corpo de foi ao chão sem delicadeza, a nova pancada na cabeça atrapalhando a sua já precária percepção. Ela não sabia dizer se era a substância ou não, mas seus músculos estavam mais pesados do que se lembrava. A tarefa de se colocar de pé parecia impossível, mas algo no seu inconsciente não aprovava que ela fechasse os olhos e descansasse um pouco.
Seu olhar turvo localizou uma pessoa diferente no ambiente, seu olhar satisfeito estudando o espaço, até sua atenção recair na mulher. sabia quem ele era, embora não soubesse dizer. O homem em um primeiro momento chegou a se adiantar para ela, mas alguma movimentação fez com que ele mudasse de ideia, retornando para a sala de que saíra.
E então tudo ficou quieto.
Quando recobrou os sentidos, o alarme ainda piscava pelos corredores. E ela própria estava no modo emergência. Não havia pensamentos lógicos em sua mente, apenas o instinto de sobrevivência.
Seus braços cederam algumas vezes na tentativa de se erguer, e ela tropeçara mais vezes do que se orgulharia enquanto corria pelos corredores que até pareciam todos iguais, mas que ela logo conseguiu encontrar a saída. Fazia tempos desde que se sentira tão vulnerável e exposta, o ambiente do ataque parecendo quase ser uma fonte disso. Do lado de fora ainda imperava o caos e a correria, então ela apenas continuou sem que ninguém a identificasse. Todos estavam preocupados e assustados demais para notarem a mulher cambaleante que desapareceu em uma das ruas secundárias.
apenas voltou aos seus sentidos minutos mais tarde, a uma boa distância da base.
O estabelecimento parecia se dividir entre bar e restaurante, os clientes bem mais preocupados em acompanhar o noticiário nas televisões do que realmente conversarem entre si. A agitação deles era compreensível, claro, pela proximidade deles entre o local, e a mulher agia então se aproveitando dessa distração.
O homem em que esbarrara no caminho até o banheiro não percebera o bolso da jaqueta mais leve pela recente ausência de sua carteira, nem o casal entretido na matéria notara a chave do carro desaparecer de sobre a mesa que ocupavam. Um moletom escuro também viera parar em suas mãos no curto trajeto, que logo cobriram a camiseta simples que usava, mas que poderia ajudar na sua identificação. Seu cabelo estava preso no topo de sua cabeça para não passar a impressão de que tentava esconder o rosto se deixasse ele solto, mas uma franja fora improvisada para não permitir o reconhecimento com tanta facilidade.
Da mesma forma que entrava sem ser percebida no local, também saíra. Seus passos calmos até o veículo recém-adquirido contrastavam com os batimentos acelerados e desritmados de seu coração. Até chegar ao seu destino provisório, ela apertou mais o casaco contra o corpo, falhando na tentativa de se transmitir algum conforto. O aparelho que inicialmente não era seu vibrava no bolso, avisando alguma mensagem que não seria lida pelo destinatário, quase na mesma frequência de seus dedos. O ideal era ter Sexta-Feira dirigindo por ela naquele momento, mas não tinha como ela arriscar. Alguém da HYDRA tinha se infiltrado, não tinha como ela confirmar no painel, e o painel controlava seu pai. Não tinha a quem ela recorrer no momento. Precisava sair dali, e rápido. E precisava fazer algo a respeito da substância desconhecida que percorria sua corrente sanguínea, e definitivamente não estava causando bem.
Quase uma hora depois que estacionou o carro, parada em um subúrbio até então desconhecido. O dono do celular roubado não fora rápido o suficiente para bloquear o aparelho, então ela conseguira alterar as configurações de acordo com a sua necessidade enquanto dirigia. A rua não tinha movimento, e ela esperava do fundo do coração que as casas ao redor realmente estivessem sem seus moradores, que ninguém estivesse a observando pela janela, porque ela não sabia dizer se estavam ou não. Com a cabeça contra o encosto, ela respirou fundo enquanto seus dedos ainda trêmulos digitavam agilmente um número conhecido. Com o aparelho contra o ouvido, percebeu como estava com sede, a garganta ardendo e com dificuldades para respirar. Ela imaginava que perderia a consciência enquanto ouvia os toques da chamada, mas sequer chegara a soar o segundo toque por completo para a ligação ser concretizada.
- Oi, Barton – soltou ela em meio de um grunhido baixo, a voz rabugenta do arqueiro lhe trazendo algum nível de conforto mesmo sendo grosso ao atender a ligação de um número não identificável – Eu sei que você está fora dessa, mas eu preciso muito de você. Não te ligaria se não fosse necessário.
- Estou um pouco ciente da situação – devolveu ele, alheio ao tom particular que sua antiga protegida expunha. Clint já estava com tanta coisa para resolver em um espaço de tempo minúsculo que aquele pequeno detalhe passou despercebido pelos seus ouvidos - Rogers já me chamou e já estou a caminho.
- A caminho para quê? – devolveu ela confusa sem pensar duas vezes, seus olhos instintivamente se abrindo, como se assim fosse ficar realmente mais desperta – Merda, o buraco é ainda mais embaixo do que eu estou pensando, não é? Onde você está?
- Indo buscar a Wanda.
Aquilo estava bem longe de acabar bem. Até onde conseguia buscar em sua memória, Wanda tinha perdido a permissão de sair do complexo para acalmar a ONU, a envolver no que quer que fosse aquilo era uma medida que traria consequências pesadas para todos. Como que ela podia contornar aquilo? O que podia ser feito para amenizar a situação? Como que ela podia fazer algo útil em um cenário como aquele?
- Clint, preciso que você vá no meu quarto, na parte do guarda-roupa do Steve – sua mente não parara de tentar encontrar uma saída, mas pelo menos sua boca lembrou de passar as instruções para o que precisava, mesmo com a dificuldade de sua respiração inconstante – Tem uma caixa de madeira escura no meio das roupas dele de treino. Preciso que você traga para mim.
- Não é lá que fica seus antídotos mais fortes?
- Ótimo, você sabe o que está procurando.
- , o que aconteceu?
- O cara que aparentemente estamos enfrentando. Ele usou alguma coisa em mim – contou ela - Não é o mesmo de sempre, mas espero o antídoto de sempre funcione.
- Desculpe, mas eu tenho que perguntar: como que ele conseguiu injetar algo em você?
- Rogers não te contou que eu fui presa? Eu estava sozinha lá embaixo contra o Soldado Invernal, e eu não queria machucar o Barnes... – soltou uma risada sem humor, sua cabeça se voltando contra o encosto enquanto fechava os olhos com força – Foi o segundo pensamento mais idiota que eu tive hoje.
- E qual foi primeiro?
- Que eu poderia controlar a situação sozinha.
Clint pisou com vontade no pedal do freio, agradecendo a rua vazia por não causar nenhum acidente. Sua testa foi instintivamente contra o volante, os olhos fechados com força enquanto tentava se preparar. Ele conhecia aquele tom. Preferia não ter que ouvir aquele desespero de novo.
- Vamos consertar tudo, entendeu, filhote? – murmurou ele de volta, quase perdendo a linha ao ouvir um tímido “eu não sei o que fazer, Clint” – Eu e você, como nos velhos tempos. Nenhuma situação está tão ruim que não possamos dar um jeito junto, ok? Fique onde está que eu vou te buscar.
- Não precisa – ela negou de imediato, pelo menos a voz voltando a adquirir alguma firmeza – Me fala onde o Capitão marcou com você e eu vou para lá. Não é bom eu ficar muito tempo no mesmo lugar, estão procurando por mim também.
- Eles estão indo para o aeroporto. ? – houve um breve silêncio na chamada, e Clint podia ter jurado ouvir um leve fungado no meio tempo até a mais nova responder com um baixo “sim?” – Tenha cuidado, tudo bem? Você é uma fugitiva agora também, e não acho que eles vão ser mais carinhosos com você do que com o Barnes.
- Saudades do tempo que as pessoas me subestimavam – a risada fraca foi abafada pelo som do veículo voltando a ser ligado – A vida era bem mais fácil.

Capítulo 24

Steve explicava os últimos acontecimentos para o grupo, assim como já apontava o que acreditava que eles poderiam e deviam fazer agora. Scott Lang era o que mais prestava atenção em suas palavras, e o soldado era grato por isso. Wanda também não ficava muito atrás, embora fosse visível seu desconforto por tudo que passara nas últimas horas, e Sam e Bucky estavam mais atentos a serem necessários para intervir caso ele falhasse em algum ponto específico.
Clint era o verdadeiro problema.
O arqueiro estava inquieto desde que chegara, seu olhar dificilmente se mantendo em um ponto por muito tempo, checando seu celular mais vezes do que Steve se lembrava de ser um costume. Steve sabia que também não era uma escolha confortável que o herói aposentado fazia, mas seu comportamento não característico estava começando a deixar o soldado preocupado e a ponto de questioná-lo. Coisa que não teve a oportunidade de fazer, já que o próprio o cortou no meio da explicação.
- Alguma ideia de quando a chega? – perguntou o arqueiro, depois de desbloquear a tela de seu celular pela milésima vez naquela hora e ser cumprimentado por um total de zero notificações novas. Seu olhar para a tela não conseguiu captar a confusão de Steve – Faz horas desde a última vez que consegui falar com ela.
- Ela ainda está presa – devolveu o soldado, sua voz vacilando entre a certeza e o questionamento. Ali que Clint ergueu o olhar para seu antigo líder, a preocupação expressa em todos os traços de seu rosto.
- Ela não te contatou – assumiu o arqueiro, sua voz adotando um tom mais grave – Quando foi a última vez que você viu a ?
- Ontem de t…
- fugiu? Ela está sozinha? – a interrupção de Bucky trouxe um ar mais urgente ao grupo, o desespero do antigo assassino claro em sua movimentação – Isso é ruim. Ela deveria estar sob observação.
- Você lembra o que aconteceu então?
- Eu injetei algo nela – ele respondeu à pergunta de Clint de prontidão, a memória ainda em loop em sua mente. Aquilo não era algo que ele fosse ser capaz de esquecer com facilidade – Não sei dizer o que foi, mas não deve ter sido coisa boa.
Clint então narrou rapidamente os contatos que tivera com sua antiga pupila, até reparar os olhos avermelhados de Wanda e seu cenho franzido. Ela percebera alguma coisa.
- Wanda?
- Tem um carro no andar inferior – contou a garota – O motorista está alterado de alguma forma, pode ser ela.
Antes que qualquer um pudesse dizer mais algum a coisa, Bucky disparou na frente de todos, gritando pela mulher ao alcançar o andar superior, a procurando nas janelas dos carros, até a avistar em um veículo próximo.
O cinto de segurança cumprira seu papel, impedindo que a mulher colidisse contra o volante, mas isso não melhorava em nada seu estado. A tal garota que também tinha poderes mentais ficara para trás, os olhos amedrontados e as mãos cobrindo a boca, como se já tivesse uma constatação do que eles ainda iriam descobrir. Completamente ignorando o fato de que talvez Steve que devesse ter que tomar a dianteira, Bucky enfiou os dedos de metal na maçaneta do carro, arrancando a porta em um movimento único. estava de cabeça baixa – provavelmente pela colisão do veículo com a barra de proteção –, a calça de moletom cinza um pouco molhada pela saliva que escapava de sua boca aberta, com alguns pontos mais escuros onde dava para se identificar como sangue. O agasalho que ela usava também estava molhado, mas era de suor. Ele mal encostara nela, e já conseguia sentir o calor acima do normal que seu corpo estava liberando. Aquela febre era um péssimo sinal, mas pelo menos ainda indicava que havia esperança.
Assim que conseguiu distinguir o toque estranho em sua testa, fazendo com que sua cabeça se inclinasse para trás, ela juntou o máximo de forças que tinha para tentar abrir os olhos, sua visão embaçada não conseguindo identificar nada em especial em um primeiro momento. Apenas quando algo se inclinou sobre ela que um cheiro familiar a atingiu e a silhueta com falta de nitidez lhe parecer bem mais conhecida.
Só que claro que sua mente iria fazer com que ela pensasse no Soldado Invernal primeiro.
- Ei, está tudo bem – disse o soldado com pressa, deixando suas mãos no campo de visão da mulher e longe dela para ela voltar a realidade. Ele havia causado aquilo, não podia sequer reclamar da reação de – Sou eu, Bucky.
- Bucky... – repetiu ela em seguida, iniciando uma crise de tosse ao tentar engolir um pouco de saliva na tentativa de aliviar sua garganta. Enquanto isso, Barnes arrancou o encaixe do cinto, com cuidado se posicionando para retirar a mulher do veículo – O Steve...
- Ele está aqui também – garantiu ele, ignorando o gemido baixo de pela movimentação. Steve o ajudara com as pernas enquanto ele ajeitava a cabeça da mulher sobre suas coxas, lutando contra seus cabelos molhados de suor para ter acesso à parte de seu corpo que ele acreditava ser a mais comprometida. Bucky praguejou baixo ao expor o pescoço da mulher, seus dedos incertos sobre a área sem saber o que fazer: a mancha que a substância causara tinha atingido seu rosto com bem menos violência do que todo o resto. Na área que fora aplicado o soro, era uma tonalidade de roxo tão forte que parecia preto, se estendendo para seu colo e ombro – Merda.
Uma mão em seu ombro fez com que o ex-assassino se sobressaltasse, virando a cabeça para trás para assistir o homem que contatara lhe entregar uma seringa de líquido também escuro e lhe dar instruções. A própria tinha solicitado o antídoto, mas nenhum deles sabia dizer se seria efetivo ou não. Eles só podiam torcer pelo melhor.
Bucky tirou a proteção e a posicionou exatamente no local que havia sido perfurado mais cedo, quase fechando os olhos quando um gemido alto e sofrido da mulher escapou por sua garganta. Assim que a substância entrou em seu organismo, a mancha começou aos poucos a perder a cor escura, mas não chegou a desaparecer. encheu de uma vez os pulmões com ar, emendando logo em uma crise de tosse. Com o auxílio de Steve, Barnes a sentou, passando a mão real por suas costas para tentar a acalmar.
Não demorou muito para que ela logo afastasse ambos os homens em um movimento ágil, se debruçando sobre o chão do carro e esvaziando o que quer que tivesse em seu estômago no tapete.
- O que você disse? – perguntou Bucky depois que ela pareceu murmurar algo e as ânsias pareceram cessar.
- Eu disse que pretendia devolver o carro, mas você arrancou a porta – repetiu ela agora mais alto, virando o rosto minimamente para o soldado depois de limpar a boca com a manga da blusa – Agora vou ter que pagar.
Bucky apenas pode soltar uma risada nervosa, deixando que suas pernas ficassem em frente ao corpo, se sentando no chão de fato e deixando que seus braços caíssem aos seus lados. Pelo esforço que fazia, seu rosto tinha ganhado uma tonalidade avermelhada, mas aos poucos ia voltando ao tom natural, mesmo ainda parecendo bastante pálida.
- Você está bem? – perguntou ele quando também se sentou no chão, perto o suficiente para que sua mão natural alcançasse seus cabelos. Instintivamente, a mulher se inclinou em direção ao toque, terminando bem segura no abraço do soldado.
- Depois que isso me matar eu vou ficar bem melhor.
- Só não mira em mim, por favor – pediu ele, tentando disfarçar seu nervosismo – Você precisa parar de me assustar desse jeito, criança.
- Juro que não faço de propósito – devolveu ela em meio de um gemido, sua mão contra o peito do homem para criar alguma distância – Cara, o abraço está ótimo, mas você está elevando minha temperatura que já está alta.
- Droga, desculpe – praguejou ele, permitindo que ela voltasse a se sentar. Em um momento de epifania, colocou a mão metálica sobre sua testa molhada de suor. no mesmo instante fechou os olhos e soltou todo o ar de seus pulmões de uma vez – Isso ajuda?
- Não o suficiente, mas alivia. Valeu.
- Fui promovido para seu saquinho de gelo?
- Ei, essa é uma dúvida bem antiga que eu esqueci de fazer em McMurray – contou ela, arriscando abrir um olho para acompanhar a reação do soldado – Você consegue desconectar o braço do seu corpo? Que nem tipo, jogar ele para alguém se pedirem por uma mãozinha? Você vai me socar de novo ou eu posso te chamar de Buzz Lightyear?
- Eu não estava mentalmente preparado para conviver com você de novo.
- Ninguém realmente está, coração. Essa é a graça – riu ela, afastando a mão metálica dele e apontando para o interior do veículo – Tem uma garrada de água gelada no carro, joga nas minhas costas.
- Vai piorar seu estado de choque.
- Mas não vai me matar, já é mais do que o suficiente.
Enquanto Bucky se levantava para pegar a tal garrafa, se virou para o restante da equipe improvisada que Steve reunira, um rosto em especial não lhe sendo tão familiar como os outros.
- E aí, Scotty? – ela cumprimentou o homem, que pareceu congelar no lugar – Como está a Cassie? Ela gostou do presente de Natal?
- Ela est... Espera, que? – começou ele, a confusão perturbando sua habilidade de formar frases – Foi você que mand...? Como que você sabe q...?
- Acha mesmo que você pode invadir a minha casa e eu não vou descobrir tudo sobre você? – devolveu ela, o sorriso debochado se formando com facilidade mesmo com a recente exaustão – Pensa de novo.
- Mas não foi o Wilson que...?
- Estava só deixando ele se sentir útil.
- Pensei que a gente tinha feito as pazes – o comentário de Sam tivera como objetivo descontrair o ambiente, mas tinha um fundo de preocupação real. Ele tinha tomado lados naquela história, ambos sabiam disso muito bem. Pelo menos naquele momento, não parecia se importar com isso, tanto que apenas fechou os olhos e lançou um sorriso calmo para o herói.
- .
Não era uma pergunta de fato, mas a voz baixa e profunda às suas costas solicitava uma atualização de status.
- Está tudo dormente. Eu não faço ideia se estou bem ou não – contou ela, seu olhar hesitante viajando para Steve, que parecia querer memorizar cada arranhão de seu rosto para confirmar depois se eles deixariam vestígios ou não – Me dá mais cinco minutos. Em cinco minutos eu vou estar bem.
- Você não está pensando em...?
- Desde o começo eu estou na parte da conversa, não vou mudar agora. Mas quero meu uniforme, de qualquer jeito – ela cortava Sam sem muitas delicadezas, seu olhar firme fazendo com ele voltasse a ficar em silêncio – Steve?
- Vão se trocar também – ordenou Steve, pegando a garrafa d’água com Bucky e se colocando de pé – Eu cuido dela.
Boa parte da equipe quis se opor à ideia, mas acabaram por acatar, logo se dividindo pelo estacionamento em busca de alguma privacidade. Steve auxiliara a se colocar de pé com cuidado, sua força muito mais controlada por não saber dizer em que pontos poderia ter ferimentos mais sérios ou não, além de que tipo de estrago a substância poderia ter feito naquele meio tempo. Uma mão continuava com um aperto firme em sua cintura enquanto caminhavam, vez ou outra sendo necessária quando vacilava.
- Quer que eu me afaste? – não demorou ele em perguntar, notando o suor que voltava a se acumular em sua testa – A temperat...
- Você pode... – começou ela, a voz fraca e um tanto embargada – Pode me abraçar só por um segundo? Dessa vez eu estou com medo, ok?
Steve não conseguiu se debruçar sobre a mulher logo de cara, seu olhar preso na expressão nova de seus olhos. Não era apenas exaustão, era algo novo. Algo que até então ele não tinha presenciado, e no fundo estava com medo de ter falhado ao longo do percurso e não ter amenizado as coisas. Não tinha como aquilo ser das últimas horas, certo? O que quer que fosse, tinha passado despercebido por seus olhos, e ele não fazia ideia do que podia fazer.
relaxou assim que o par de braços passou por cima de seus ombros, e seus próprios envolveram o tronco de Steve, suas mãos se agarrando ao tecido de sua jaqueta com bem menos força do que queria. Sua respiração controlada lhe trouxe um pouco de tranquilidade que lhe faltava, o peso familiar de seu queixo em sua cabeça o suficiente para sua mente voltar um pouco aos trilhos. Até mesmo os sussurros falsos de que ficaria tudo bem pareciam estar surgindo aquele efeito.
- Não minta para mim – pediu ela, um sorriso forçando em seus lábios quando criou mais uma vez uma distância entre eles – Você sabe que não vai.
Steve não respondeu, nem teve chance para isso. Clint pigarreara para anunciar sua presença, entregando uma mochila ao soldado que continha um dos uniformes de .
Em silêncio, Steve auxiliou na preparação da mulher. As roupas que usava não eram justas, mas o tecido úmido dificultava a tarefa de os distanciar de sua pele. Com o passar dos minutos, começava a ter um melhor tempo de reação para tudo, seus movimentos ainda não ágeis como de costume, mas bem menos travados. Só que ainda não significava que suas habilidades estavam mais uma vez em ação. Steve podia dizer quando estavam, e aquele não era o caso. continuava anestesiada, ele podia assumir, já que não tinha como ela estar se movendo sem reclamar de dor. A mancha no geral já tinha desaparecido, mas havia um caminho do que pareciam veias por seu corpo naquela tonalidade arroxeada, todas com origem em seu pescoço. Havia pelo menos três hematomas consideráveis em seu tronco, o maior se estendendo por sua coluna, um na lateral de sua caixa torácica, e próximo ao seu estômago, como se tivesse levado um soco direto. A situação das suas pernas não era muito diferente, um hematoma quase que em formato de dedos em seu tornozelo.
Quem quer que fosse aquele cara e o que ele planejava obter, estava apenas deixando Steve mais irado.

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Barton, aparentemente, falava alguma coisa para o grupo, mas Bucky vez ou outra parava de prestar atenção para olhar para trás na esperança de ver a dupla retornando. Ela estava respirando, mas ele sabia que era teimosa demais para morrer de fato, o que significava que apenas estar consciente não era o suficiente para ser classificado com “estar bem”.
E então eles apareceram entre carros, com um uniforme diferente do que ele se lembrava, já que apenas a vira em ação quando estava sob o controle da HYDRA. As botas pesadas pareciam semelhantes, mas essas tinham alguns detalhes em azul celeste em seu design, além de irem até a altura dos joelhos, a proteção da articulação já acoplada nelas. As calças não eram completamente pretas nessa versão, seu material-base sendo em um tom de chumbo, enquanto suas laterais erguiam uma espécie de compartimento até o meio das coxas. Uma jaqueta cobria a parte de cima de seu corpo, sendo um pouco mais comprida nas costas do que na frente. O zíper na frente tinha o mesmo tom de azul das botas, e, nessa ocasião, estava fechado até seu queixo, mantendo todo seu pescoço escondido.
Boa escolha.
- Vou me trocar também – anunciou Steve, se dirigindo ao fusca para pegar seu traje – Fiquem de olho nela por mim, por favor.
chegou a olhar feio para o soldado por puro costume, depois fitando o chão enquanto o soldado se afastava e o grupo permanecia em silêncio, sem saber como prosseguir. Ninguém ali ainda tinha entendido o que a mulher planejava fazer, mas todos eram estritamente contra ela entrar em ação, sem exceções.
Barton estava perto de questionar a mulher sobre algo, mas Bucky que estava mais próximo e também chegara a abrir a boca, mas nenhuma palavra chega a ser proferida. Apenas um gemido baixo.
se aproveitara da proximidade e da guarda baixa do homem, chutando com o máximo de força que conseguia juntar a parte de trás de seu joelho, aproveitando quando ele inclinou o corpo para trás para agarrar um amontoado do cabelo de sua nuca e puxar com gosto.
- Da próxima vez que eu te ligar e você não atender, nós vamos mudar nossa tradição e vai ser eu indo atrás de você para te matar, ficou claro? – grunhiu ela, aumentando o aperto quando não obteve uma resposta de imediato.
- S-sim, senhora – ofegou ele, resmungando mais um pouco quando a mulher finalmente o soltou, passando assim a massagear a região atingida – Sério mesmo, puxar cabelo? Não sabia que você curtia esse tipo de coisa.
- Momento muito arriscado para fazer piadas, Barnes. Eu posso quebrar meu punho se tentar de socar, mas eu não vou sentir agora – devolveu ela, quase se arrependendo da escolha das palavras ao notar um remorso mal disfarçado nos olhos do soldado – Não faz essa cara de cachorro perdido, você sabe que eu odeio.
Bucky apenas riu sem jeito, balançando a cabeça em descrença.
- Você continua um pé no saco.
- Você não faz ideia – respirou fundo, o riso aos poucos sumindo de seu rosto para dar lugar a uma preocupação sincera – Você está bem? Não ouse mentir para mim.
- Você estando, eu estou ótimo. Tem certeza que consegue lutar?
- Não tenho certeza, mas posso tentar amenizar as coisas de novo – explicou ela, se voltando para Sam – Vocês descobriram quem era o pseudo-médico? Ele fez a encomenda de alguns socos e eu preciso entregar na cara dele.
- Não, mas sabemos para onde ele vai. Sibéria.
- O que ele espera encontrar lá? Neve?
- Ele queria o relatório da missão de 16 de dezembro de 1991, por isso ele estava atrás de mim – Bucky sequer ousou olhar na direção da mulher, mas sentia que agora toda sua atenção era dele.
chegou a abrir boca algumas vezes, mas não conseguia absorver a informação de uma maneira satisfatória. Não fazia sentindo. Não podia fazer sentido.
A última coisa que tinha naquele momento era cabeça para ter que lidar com aquele caso e ele vindo a ser de conhecimento de todos.
- A tentativa falhou. As cobaias foram mortas. É o que estava nos registros – lembrou ela, quando finalmente recobrou o controle sob sua voz, apenas para perder a paciência pelo olhar sugestivo que Bucky lhe lançava – Ah, qual é! Não me fala que a HYDRA estava mentindo para a HYDRA.
- Você sabia sobre isso, ? – estranhou Clint – Por que não contou antes?
- Porque era irrelevante.
- Você está mentindo.
- E eu tenho um motivo para isso! – retrucou ela, fechando os olhos por alguns segundos e respirando fundo. Não dava para ela resolver tudo aquilo sozinha dessa vez, tinha alguém com quem ela precisava acertar detalhes primeiro – Bucky, tem um minuto?
Sam quis se intrometer, algo em si dizia que problemas se aproximavam, mas não tinha como ele intervir sem uma boa motivação. Então ele apenas assistiu uma suspeitamente tensa caminhar mais à frente com um Barnes igualmente desconfortável mais atrás.
- Eles estão na Sibéria, então? – ela retomou o assunto quando já estavam a uma distância segura. Bucky perguntou se ela já tinha estado lá alguma vez, e ela negou com a cabeça – Me falaram que a base estava desativada, e eu nunca consegui a localização. Eu devia ter sido mais inteligente, agora falando isso em voz alta parece tudo muito suspeito.
Em silêncio, passou as mãos pelos cabelos, irritada com as pontadas que começava a sentir no pescoço, mas preferia não mexer, ainda mais na presença do soldado. Ela apenas queria dormir pelo resto da semana, mas a cada segundo que passava era um problema novo. A aposentadoria forçada não parecia mais uma obrigação, mas um prêmio distante que ela não parecia ser digna.
O silêncio se estendeu, e estranhou a falta de comentários de Barnes, quase como se ele não quisesse tocar no assunto de novo.
Ele estava com remorso, mas ela não conseguia dizer exatamente do que.
- Barnes...? – arriscou ela com cuidado, um pouco mais agitada quando ele se esforçou mais para não olhar em sua direção – Você não... Você contou para eles a coisa toda? Sobre como a HYDRA conseguiu o soro.
Bucky suspirou alto, deixando seus ombros caírem em derrota.
- Eu deveria ter me poupado e contado só o que eles não sabiam, mas...
O soldado continuou falando mais alguma coisa, mas os ouvidos de já não captavam mais as palavras. Apenas uma ideia fora processada por sua mente, e todo o resto entrou em pane.
“Eu devia ter contado só o que eles não sabiam”. Não era uma frase difícil de se compreender, mas a mulher estava com dificuldades de classificar o peso daquela informação, e não demorou para Bucky notar que ela já não mais o acompanhava.
- Espera, o que?

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Steve terminava de fechar seu colete quando notou alguém se aproximando, seus sentidos já ficaram em alerta pelos passos pesados e apressados da pessoa, mentalmente já se preparando para entrar em ação porque sabia que, quem quer que fosse, não trazia boas notícias.
E então seu olhar encontrou parando a alguns metros a sua frente, a expressão tensa e as mãos fechadas em punho.
Steve teve que engolir em seco antes de abrir a boca e perguntar da forma mais cuidadosa que podia se tinha algo errado, mesmo sabendo que tinha.
Ele tinha uma leve ideia do que poderia ser, mas não queria arriscar e falar primeiro.
- Você já sabia – respondeu a mulher por fim, sem precisar especificar o assunto – Barnes não te contou. Você sabia.
- , eu...
- Você está escondendo coisas de mim agora? – não permitiu que ele terminasse, e Steve nem se esforçou em tentar tomar o turno de fala. A irritação da mulher tinha fundamento e não tinha o que ele pudesse fazer. Ele inconscientemente estava preparado para ouvir gritar com ele pelas próximas semanas, e até fechou os olhos esperando por mais. Só que não veio. Ao tornar a abri-los, tudo que ele encontrou foi a expressão quase serena da mulher, em contraste com o brilho dolorido de seus olhos, embora a voz baixa e mesmo assim clara como água – Ter segredos é da minha natureza, não da sua.
- Eu quis te poupar – Steve tentou se defender, mas nem ele sentia firmeza em suas próprias palavras, algo que não passou despercebido por .
- Me poupar de que? De saber como a HYDRA destruiu minha família de todas as formas possíveis? Eu sou metade HYDRA, nunca teve nenhum segredo sobre isso – devolveu ela, prendendo o lábio entre os dentes antes de desviar o olhar da figura do soldado antes de continuar – Quanto tempo você sabe?
- Desde Washington – a reação foi exatamente o que Steve esperava, a mulher balançando a cabeça de um lado para o outro em descrença, um sorriso inconformado nos lábios – , sei que está com raiva d...
- Surpreendentemente, eu não estou – ela não hesitou em cortar o homem, nem um pouco interessada em assistir ele gastar energia em desperdiçar o tempo dos dois – O que estou sentindo não é raiva, nem perto. É desapontamento.
Não parecia inteligente se aproximar, mas foi mesmo assim, sem nem ao menos saber mais se estava selecionando o que falava ou não. Talvez fosse um pouco de raiva no final, embora não apenas aquilo. Era traição aquele sentimento, não? Tinha um teor diferente do que ela se lembrava, era bem mais amargo. Por que seria?
- Eu não precisei da temporada na HYDRA descobrir isso, eu já sabia bem antes. Lembra do meu teste psicológico? Aquele que o Clint se passou pelo Invernal? - a distância entre eles agora era bem menor, chegando a ter que inclinar mais o rosto para cima para não perder o contato com o soldado. Steve acompanhava a movimentação da ex-espiã enquanto tentava engolir todo aquele bolo de sentimentos travados na garganta. A menção ao teste absurdo que a Dra. Cho e Barton a submeteram fez com que sua respiração já comprometida travasse mais uma vez - Eu menti, eu estava em estado de choque. Não porque eu acreditei por alguns segundos que o Soldado Invernal estava atrás de mim de novo, mas porque aquele sentimento ruim de ver ele era muito mais antigo, e que eu não tinha o reconhecido por ser seu amigo.
A confusão nos olhos de Steve era clara, e quase chegou a rir. Ele não tinha acesso a todas as informações, no final. Sabia do atentado e seus envolvidos, talvez, mas não considerara seus desdobramentos. Mas não tinha problema, podia muito bem juntar as pontas soltas para ele.
- Barnes te contou isso? Que eu lembro do acidente? Que eu estava naquele maldito carro e que ele me poupou porque minha mãe programou ele para isso? Que o Soldado Invernal foi meu bicho-papão? - continuou ela. Seu indicador chegou a tocar o peito de Steve, sem força física nenhuma para de fato conseguir atrapalhar seu equilíbrio, mas o abalo do homem era tamanho que ele recuou.
- E o pior de tudo, a cereja do bolo, é que depois do teste eu cheguei muito perto de falar sobre isso contigo - o toque de pareceu ter mais pressão contra ele, a última informação que faltava - Eu não cogitei nenhuma outra pessoa, nem mesmo meu pai, e você que estava escondendo isso de mim o tempo todo.
Steve permaneceu em silêncio, incapaz de arquitetar alguma defesa. Tudo que podia fazer era encarar o olhar machucado e marejado de , que começava a recuar devagar como em busca de proteção. Tudo naquele cenário parecia errado.
- Stark – a voz de Tony ecoou pelo estacionamento, fazendo com que os dois se sobressaltassem – Se você estiver nesse aeroporto, saia agora. Você está sendo considerada uma refém, não fugitiva. Não torne as coisas piores, criança. Ninguém a mais precisa se machucar.
hesitou em um primeiro momento pela forma agressiva do comunicado. Se seu pai estava solicitando sua retirada, é porque não pretendiam se conter. Talvez sua mente não estivesse conseguindo absorver as proporções que aquilo estava tomando, e não ajudava em nada a tarefa de decidir suas estratégias.
Steve se atentar a um pequeno detalhe da fala de Tony também tirou um pouco de seu foco.
Seus ombros tensos, os olhos fechados com força. Toda sua figura parecia ser de alguém que alcançara a compreensão e não estava feliz com o que obtivera.
- Por que ele disse “ninguém a mais”, ? – Steve abriu os olhos apenas para ver a mulher levar as mãos às têmporas, soltando um “ele abriu a boca, eu devia ter previsto essa” – ... Me diz o que está acontecendo, por favor.
Seus lábios se desenharam em um sorriso debochado, mas tinha algo errado na constituição como um todo. A voz não tinha oscilado tanto, mantinha o tom irritado, mas tinha algo a mais. Seus olhos duros adquiriram uma tonalidade avermelhada, mas não parecia que estava perto de chorar. Steve sim, estava bem perto. Ele precisava que negasse sem pensar duas vezes, que questionasse de onde ele tirara um absurdo daqueles. Só que parecia que fazia uma eternidade que ele estava sob seu olhar.
- Como eu disse, guardar segredos é o meu lance, embora você venha fazendo isso há um bom tempo também – pelos últimos dias, tinha criado uma ilusão de que sua vida ficaria mais fácil assim que finalmente conversasse com Steve, que todo aquele peso deixaria seus ombros. Só que ali ela via acontecer todo o contrário: aquele tópico apenas aumentava seu nervosismo, a falta de previsibilidade fazendo com que se sentisse acuada, insegura. Toda a porcaria do cenário não facilitava a sua vida, por isso ela tomou uma postura ainda mais defensiva quando Steve passou as mãos pelos cabelos em um movimento nervoso, abrindo a boca para o que apenas podia ser um inquérito sobre o caso. Ela não podia lidar com aquilo agora – Não é momento para isso, Rogers. Temos outras coisas para lidar no momento.
- Você realmente acha que eu vou te deixar entrar em uma briga se estiver gr... ? – era apenas uma palavra, mas Steve se perdeu por completo, a respiração travando na garganta, apenas o deixando mais exasperado. Aquilo não podia estar acontecendo, não agora – Eu não consigo nem dizer.
- Eu não estou grávida!
- Não mente para mim! – Steve devolveu no mesmo tom exaltado, pegando a mulher de surpresa – Nas últimas semanas, nas poucas vezes que eu te vi, você deixou de parar com as mãos na cintura e passou a parar abraçando seu tronco. Desde que o Bucky te acordou você não tira a mão da barriga. ...
- Eu não est... Eu não sei mais dizer se estou ou não – ela desistiu do meio do caminho, seu pouco autocontrole que ainda estava sob seu domínio escorregando por entre seus dedos, bem ilustrados pela sua voz que começava a falhar e seus olhos marejados – Meus sentidos estão completamente fora de jogo, eu não consigo mais ouvir. O que quer que aquele cara usou em mim... Foi muito dano.
Aquilo atingiu ambos da mesma forma, na mesma intensidade, o silêncio entre eles soando pior do que se continuassem a proferir apenas o que sabiam que machucaria. Não era a perda de um apego criado sobre uma possibilidade recente. O que parecia assombrar os dois era a ideia de fracasso. O desperdício de chances em potencial que eles pareciam estar se tornando mestres em fazer.
- Voc... Você quer que eu cheque? – era uma péssima ideia, Steve tinha completa ciência disso, mas eles precisavam de alguma certeza, fosse ela boa ou não. Aquele devia ser um dos motivos de ter se esforçado tanto em manter distância naqueles últimos dias, certo? Se ela podia ouvir, ele provavelmente também podia, se se esforçasse o bastante.
sabia que era uma péssima ideia antes mesmo de concordar com um aceno inconstante de cabeça, mas não teve forças para voltar atrás. Sua respiração encontrou algum tipo de obstáculo em sua garganta, e ela sentia como se estivesse sufocando enquanto Steve diminuía a distância entre eles, se agachando à sua frente, sua mão levemente trêmula hesitando a se apoiar na sua cintura enquanto a orelha se aproximava de seu baixo ventre. Quanto com mais vontade e confiança Steve se apoiava contra ela, mais lutava contra a instinto de deixar seus dedos passarem pelo cabelo claro, aproveitar de sua posição e encontrar o caminho até seus braços, ficar ali onde um dia era um dos lugares mais seguros do mundo.
- Steve? – arriscou ela quando o soldado começou a praguejar baixo. Os dedos do homem se afundaram com mais vontade contra sua pele.
- É abafado e distante, mas eu consigo ouvir – disse ele por fim, erguendo o rosto minimamente para fitar a mulher, completamente ciente que sua expressão não devia ser a das mais controladas. O tanto que seus olhos ardiam não devia ser normal – Isso é bizarro.
A sensação era nova, embora ligeiramente familiar, e Steve estava assustado. Era estranho por, mesmo sem conseguir se entender com a mulher a sua frente, ele não sabia medir até onde iria por ela. E agora tinha um ser se formando que era uma combinação equilibrada de ambos. Era um novo nível de dependência que não tinha experimentado até o momento e de consequência sob suas ações.
O que ele faria agora?
Qual o próximo passo?
- Quanto tempo? – perguntou Steve, se colocando de pé. Seu olhar inconscientemente evitar a mulher a sua frente, embora não tivesse se esforçado para restabelecer a distância entre eles. por sua vez respirou fundo, rebuscando em sua mente todos os estudos apressados sobre biologia que não era exatamente de sua especialidade. Sexta-feira tinha ajudado em bastante coisa, mas não era como se ela tivesse de fato prestado muita atenção nas informações de recebera.
- Quase dois meses, acho.
- Por que não me contou antes?
- Você se lembra de tudo que estávamos brigando nas últimas semanas? Eu queria resolver tudo primeiro porque eu sabia que no momento que eu contasse nós iríamos fingir que não tínhamos mais problema nenhum no mundo, como sempre fazemos – não queria recomeçar a discussão, mas a expressão quase que desapontada de Steve definitivamente não ajudava no caso – Não parece, mas eu ainda estou puta contigo por não estar me contando as coisas, Rogers.
- Questões de prioridades, .
- Como que você acha que chegamos nesse estado em primeiro lugar? Estou cansada de ignorar coisas menores, Steve. Eu não consigo mais fazer isso.
- Aceite a oferta do seu pai. Você queria brincar dentro da lei nessa, não era? Por favor, vá em frente.
- Eu não vou fugir.
- Eu não posso autorizar que você vá com a gente. Eu não posso te arriscar nessa. Vamos ter que nos virar sem você.
- Eu fico para trás.
não conseguiu encontrar uma justificativa para Steve ter congelado no lugar, seus olhos se arregalando consideravelmente. A atenção do homem não era sua, ela logo notou. Ele estava olhando em sua direção, mas não olhava de fato para ela. A respiração se tornando momentaneamente irregular, sua expressão por alguns instantes se tornando tensa. não sabia dizer o que de tão estranho era se oferecer para ficar para trás, mas tinha incomodado o soldado, mesmo sendo exatamente o que ele também sugeria.
Por um milésimo de segundo, não era mais a de sempre à sua frente. Era a de seus pesadelos. O cabelo escuro em um corte mais curto, os lábios pintados de vermelho, uma camisa branca simples e uma saia comprida de cintura alta, algumas marcas de expressão um pouco mais fundas próximas aos olhos e nos cantos dos lábios, uma camada leve de maquiagem que tentava cobrir profundas olheiras e falhava. Se piscasse os olhos, voltava para a real, mas o estrago já estava feito. Se se concentrasse bastante, podia ouvir a criança chamando pela atenção da mãe, a única vingadora que restara.
Wanda um dia lhe apresentara seus maiores medos, e agora parecia que eles estavam prestes a se instalar na realidade.
- Tony não deve ter contado para os outros porque ele ainda deve ter amor a vida, mas deve ter dito para pegar leve comigo – continuou ela, alheia à confusão mental que o homem a sua frente passava – Ninguém vai me machucar durante o turno dele.
- Eu nunca colocaria você em uma situação de risco que você não fosse capaz de sair.
- Não dá para a gente apenas sair entregando socos agora – o Tratado tirava a independência da equipe, qualquer decisão precisava vir de um órgão externo, e não seria tão rápido para convencê-los quem era o inimigo de fato. Uma parte teria que agir por fora, mas não dava para ignorar a parcela da equipe que estava por dentro das regras. Eles não eram inimigos. Se todo mundo mantivesse a calma, podiam facilmente encontrar uma forma de contornar a situação sem que todos fossem punidos – Eles podem não acreditar, mas temos que tentar falar com eles. E nós dois somos a melhor opção.
- Se você for comigo, vai ficar no meio da luta.
- Eu sei me virar.
- Você está me colocando em situação complicada, – resmungou ele, dando momentaneamente as costas a ela, se afastando com as mãos na cintura – Não dá para eu me concentrar na missão e em você.
- Então se concentre na missão.
- Fácil para você dizer – devolveu ele sem pensar direito, apenas para no momento seguinte perceber como fora infantil. Ele já estava a postos para se retratar, mas fora mais rápida.
- Fácil para mim? – repetiu ela, inconformada. Sua risada em seguida viera do fundo da alma. Era muita ousadia ele pensar que... – Você tem noção de com quantas coisas eu estou tendo que me preocupar no momento, Rogers?! Para de olhar para a porra do seu umbigo!
- Eu não quis diz…! – começou ele, desistindo logo com um grunhido. Estava tudo errado. Tudo. Errado. E não parecia que tinha algo que ele pudesse fazer para consertar, pelo menos não no momento. E algo dentro de si dizia que não teria uma chance para isso – Eu venho andando sobre cacos de vidro com você por semanas! Eu não sei mais como agir, o que devo fazer. Você... Você me deixou no escuro.
- Nós dois estávamos no escuro o tempo todo, a diferença é que você deixou o quarto em algum momento e eu fiquei – devolveu , estranhamente mais calma agora. No meio de toda aquela confusão, saber localizar a fonte de um problema trazia alguma sensação de normalidade, mesmo que não soubesse como solucionar a equação – Você não pode esperar que eu ache luz sozinha, e o contrário também é verdade. Não era assim que devíamos funcionar.
Steve só pode fitar a mulher em silêncio, da mesma forma que o olhar dela estudava seu rosto. Ele sabia aquilo, em algum nível ele sabia aquilo. Então por que viera fazendo exatamente o contrário por tanto tempo?
- Sério mesmo que vocês estão achando que é um bom momento para ter uma DR?! Quantos anos vocês têm? – a voz potente e irritada de Clint vez com que os dois virassem em conjunto para sua direção, surpresos por não terem notado até então seus passos duros até eles – O Stark está a minutos daqui, precisamos nos posicionar. Rápido.
Clint não dera brecha para os dois, e assim a dupla seguia o arqueiro para se juntarem à equipe improvisada mais uma vez.
- , se algo der errad... – arriscou Steve em um tom mais baixo, mesmo ciente de que Clint ouviria de qualquer forma.
- Cala a boca, Rogers. Só cala a boca, ok? – queria deixar o tópico encerrado ali, mas ao notar que Steve não seria a pessoa inteligente dos dois, se viu obrigada a emendar – Você sabe como eu odeio ter que ficar para trás, e nas atuais circunstâncias, você não tem o direito de insinuar nada, entendeu? Não se atreva a terminar esse discursinho de despedida.
- ...
Aconteceu tão rápido que Steve não teve tempo de reação rápido o suficiente, muito menos o arqueiro que voltara a gritar com ambos, mesmo sendo ignorado. agarrara a gola de seu uniforme, um puxão firme e constante que, combinado com o chute em seu joelho, deixou o equilíbrio do soldado comprometido, e seu rosto bem próximo de uma mulher possessa.
- Você acha que eu estou brincando? Juro por Deus, Rogers. Continue para ver o que eu faço – rosnou ela, o tom baixo fazendo com que os pelos da nuca de Steve se eriçassem – Não é justo, então foque na porcaria da missão e eu me foco em falar com o meu pai e... Em ficar viva. Não estou acreditando que essa conversa tinha que acontecer logo no momento que eu não tenho o menor controle no que está acontecendo em mim. Mas que porra.
Steve se aproveitou do foco de se dispersando para aos poucos tomar sua mão na dele, a mulher sequer se opondo quando ele a puxou para mais perto, apoiando o rosto contra seu peito no automático enquanto era envolvida por seus braços. Clint questionava o soldado com os olhos, que apenas murmurou para que ele seguisse com o planejado. Ele praticamente não tinha mais o que explicar, e ninguém também estranhara alinhada a ele quando teve que repassar o início do plano. No fundo, era isso que estava o mantendo calmo, porque Steve definitivamente não sabia o que ele faria no momento que fosse obrigado a se separar da mulher.

Capítulo 25

apertava os dedos uns contra os outros.
Seu tato seguia comprometido e ela tinha impressão que perdera bastante calor corporal naquele meio tempo, então ela inconscientemente tentava também aquecer as mãos. Steve ao seu lado fingia não prestar atenção no menor dos seus movimentos, ciente de que, se sugerisse mais uma vez que a mulher ficasse de fora, a resposta mais amigável que receberia era um soco. Então ele se manteve em silêncio, repassando cada detalhe do plano em sua mente.
Se seguissem tudo à linha, estaria segura no final e eles conseguiriam enfrentar quem realmente importava.
Ambos respiraram fundo mais uma vez antes de apertarem o passo, a pequena encenação de que realmente planejavam alcançar o helicóptero pousado.
Se foi encenado ou não, não sabia dizer no momento, mas Steve ergueu o braço com o escudo à sua frente quando o dispositivo lançado no veículo queimou os motores, fazendo com que ela recuasse alguns passos.
- Não é estranho como esbarramos com pessoas no aeroporto?
Tony e Rhodes pousaram a alguns metros de distância, a conversa despojada que mantinham não alcançando os olhos sérios de Tony, que abrira seu capacete. Havia alguns hematomas escuros em seu rosto, e estava se esforçando para não pensar no que o pai passara sem a armadura no dia anterior. Se ela em sua melhor forma não era exatamente páreo para o Soldado Invernal, definitivamente não acalmava sua mente imaginar Tony sem poderes contra o soldado.
- Tony, o psiquiatra que está atrás disso tudo – começou Steve, sua atenção vacilando quando percebeu uma figura nova pousar a sua esquerda. praguejou baixo, menos confortável ainda com o cenário – Sua majestade.
- Ele tem acesso às palavras-gatilho do Barnes, pai – emendou a mulher, a voz bem menos firme do que ela planejava. Enfrentar o quarteto de vingadores registrados era algo para o qual ela já se preparara, mas, se pessoas aleatórias começassem a surgir, eles ficariam com problemas. Se as coisas ficassem muito ruins, podia apelar para o emocional da equipe adversária, mas esse tipo de coisa não iria funcionar com T’Challa – Precisamos pará-lo.
- Ross me deus 36 horas para levar o Barnes de volta. Isso foi ontem de tarde, se importa em colaborar? – continuou Tony, quase que ignorando a presença da filha. Ele estava possesso. Se tinha uma coisa que não estava, era em condições de se envolver naquilo tudo. Havia sangue dela na sala onde prenderam Barnes, assim como vestígios de uma substância que não parecia nada amigável. deveria ter sido inteligente o suficiente para buscar socorro qualificado depois do ataque do Invernal, e lá estava ela, mais uma vez obstruindo a justiça. Tony perdeu um pouco mais de sua compostura quando o casal negou ajudar – O julgamento de vocês está comprometido. O amiguinho de vocês matou pessoas inocentes ontem.
- Ele foi uma arma na mão de alguém, e esse alguém está prestes de conseguir mais cinco super-soldados – devolveu , no tom mais calmo que conseguia – Sabemos que vocês não podem assumir o caso, mas nós podemos.
- Não posso deixar o cara escapar, Tony.
Natasha às costas da dupla os chamou com a voz calma e amigável, tentando de uma forma diferente fazer com que eles desistissem. chegou a soltar uma risada nervosa e baixa quando a mais velha usou uma imagem parecida do que ela usara mais cedo, algo que não passou despercebido por ela. Dentre os dois, que parecia mais desconfortável, um tanto inquieta com o cenário e as pessoas envolvidas. Tony tinha sido bastante categórico sobre deixar Natasha e Petr encarregados de afastar a mais nova da bagunça assim que tivesse a chance, e talvez Tony realmente tivesse um bom motivo para aquilo. A movimentação inquieta dos olhos de entregava que ela estava apenas podendo contar com sua visão.
Ela estava fora do jogo e se recusava a sair do campo.
- Chega, perdi a paciência. Pirralho!
Elemento surpresa não era um conceito desconhecido para , mas naquele momento em especial se desenrolou como em uma aula. Sua confusão por não saber a quem Tony se direcionava, apenas notar mais uma pessoa adentrando na cena quando sentiu suas mãos serem puxadas para baixo, fazendo com que todo seu corpo fosse ao chão. não acompanhara a sequência, estranhando ver Steve de pé ao seu lado com as mãos unidas por um material esbranquiçado, sem escudo à vista.
- Eu não estou acreditando que você... – ofegou , sem se dar ao trabalho de tentar quebrar as fibras da teia que prendiam suas mãos. Ela encontrara o escudo na posse de alguém, e sabia dizer agora que material era aquele. Mas ela preferia não saber. Peter Parker tagarelava sobre algo, e praticamente via vermelho, sua atenção sendo completamente de seu pai. Bucky e Sam continuavam a dar atualizações pelo comunicador, mas ela não ouvia mais – Ele é uma criança!
- Wanda não é? – retrucou Tony no mesmo tom.
- Ela estava em cativeiro! – continuou ela, conseguindo se sentar no chão mesmo com as mãos presas, começando inconscientemente a tentar se soltar. Steve ao seu lado tentava lhe pedir calma, mas também não lhe dava ouvidos – Você foi buscar o garoto em NY! Em semana de aula!
- Eu meio que tenho prova amanhã....
- Garoto, não começa.
- Pet... Aranha. Garoto-Aranha. Não vou te chamar de Homem, desculpa – começou , ignorando a animação mal-contida do garoto ao soltar um “oi, Srtª Stark” – Não faço ideia do que meu pai te prometeu, mas ele vai cumprir. Dependendo do que for eu até ajudo, ok? Só dê as costas e... Vá conhecer a cidade, já que não vai rolar voos por hoje. Você não é parte disso, você não precisa arrumar essa para a cabeça.
- Sr. Stark disse você não sabe mais dizer se está fazendo a coisa certa ou não – respondeu Peter, a voz chegando a falhar um pouco porque puta merda, ele tinha derrubado Stark e Steve Rogers, e a Srtª Stark parecia capaz de lhe acertar um belo de um soco se não estivesse com as mãos presas. Ele definitivamente não queria estar por perto quando ela conseguisse se soltar.
fechou os olhos e respirou fundo uma, duas vezes.
O garoto estava bastante equivocado. Ela sabia o que estava fazendo, desde o começo. Agir sem a permissão da ONU? Completamente errado, mas era necessário. Tirar Wanda do complexo? Clint da aposentadoria? Errado e errado mais uma vez. Recrutar um garoto que até seis meses atrás não passava de uma criança comum e não tinha o menor treinamento para entrar em um briga? Errado também.
Tony foi o primeiro a notar algo diferente, já que a atenção de era completamente sua quando ela voltou a abrir os olhos. E ele ficou dividido entre recuar e partir em direção a filha
- Meu Deus, vocês conseguiram me fazer concordar com a premissa do Tratado – Peter teve que controlar o instinto de se proteger em algum lugar mais afastado, efeito causado não apenas pela voz mais profundo que a Srtª Stark adotara, que parecera ecoar com mais potência do que antes entre eles. Eram seus olhos amarelados que fez com que ele quisesse correr, aquele tom dourado parecendo se concentrar em seus pulsos até ela conseguir estourar as teias que a seguravam no chão – Aparentemente não podemos mesmo agir sem supervisão, já que cada um da sua maneira está conseguindo piorar ainda mais o péssimo.
Steve tinha completa ciência de que tinha perdido o foco de , mas Sam conseguir localizar o quinjet no mesmo instante que ela se soltou foi a melhor coincidência que ele podia esperar. O soldado não hesitou em erguer as mãos presas para que Clint o ajudasse a se soltar, o Scott logo também se encarregara em recuperar seu escudo.
- Você está b...? , seus olhos – ofegou o soldado, a mão livre logo partindo para segurar seu queixo e travar sua atenção. Depois de tantos anos, ele já estava mais que acostumado com o brilho azul que podia variar entre algo mais opaco e mais fluorescente. Só que aquilo era novidade. E um momento horrível para notar isso.
Repensando a movimentação combinada de todos da equipe, Steve sabia que Tony estava indo atrás de Wanda e Clint, o rei de Wakanda já se adiantava para ir atrás de Bucky, mas ele e estavam próximos. O tal Homem-Aranha conseguiu desviar da dupla de heróis, mas Steve não estava tão preocupado. Sam e Bucky deveriam ser capazes de lidar com a criança. Scott deveria ser capaz de atrasar Natasha por um tempo, e ele não fazia ideia de onde Visão e Petr podiam estar, mas não podia se esquecer deles.
Steve tentava manter a atenção de T’Challa o máximo que podia, mas vez ou outra ele conseguia se lançar contra , que mais desviava de seus golpes do que se protegia e revidava de fato. Não facilitou as coisas quando Rhodes entrou na briga. O general estava mais preocupado em derrubar Steve, e pouco investia contra . Até Steve conseguir derrubar Rhodes e destruir o bastão elétrico, ganhara dois conjuntos de cortes em seu braço direito por não ter conseguido desviar rápido o suficiente, e os ferimentos começavam a ficar dormentes, irradiando em velocidade considerável para o resto do membro. Steve estava atento em sua movimentação e se aproveitou da rasteira bem-sucedida que ela conseguira aplicar em T’Challa, se aproveitando de sua falta de equilíbrio momentânea para o chutar para longe.
- Eu estou bem, eu estou bem – repetia ela enquanto Steve a ajudava se colocar de pé antes mesmo de ele questionar alguma coisa, e ele por sua vez não sabia se acreditava mesmo ou não.
A atenção do soldado foi desviada por Scott ao pedir que ele lançasse o que parecia um caminhãozinho de brinquedo em um dispositivo, suas mãos abandonando por poucos segundos, mas o suficiente para não a encontrar mais depois da explosão.
Scott praguejava baixo às suas costas enquanto ele corria à frente, tentando localizar algum vestígio da mulher. Não demorou muito para que encontrasse uma figura familiar a deitando próximo a uma parede de vidro, o rosto de levemente contorcido enquanto segurava com a mão oposta o ombro do braço que Steve tinha quase certeza que T’Challa atingira. Uma mão enluvada destampara uma seringa, a longa agulha logo adentrando em uma das veias de seu pescoço, seu rosto virando para o lado e seus olhos encontrando os de Steve com facilidade, mesmo se fechando logo em seguida.
Steve, sem pensar, quase lançara o escudo contra a figura, parando o movimento na metade quando ele lhe mostrara o rosto, as sobrancelhas unidas e uma expressão nada feliz.
- Quando isso tudo terminar, nós vamos ter uma conversinha bem séria sobre deixar essa cabeça-dura fazer tudo que ela quiser, Rogers – resmungou Petr, sem parecer com muita pressa para se colocar de pé, guardando a seringa agora com a tampa em seu bolso como se tivesse todo o tempo do mundo – Não me olhe assim. Nós dois sabemos que ela não sairia da briga nem quando tivesse a chance, e que não vai acabar aqui.
Scott sabia bem quem era o homem, e por isso questionou o Capitão sobre se eles atacariam ou não. Steve não respondeu de imediato, o olhar sério travado no mais velho dos irmãos e vice-versa. Não demorou muito para que Petr apontasse com a cabeça para uma direção aleatória, e Steve apenas assentiu, pedindo que Scott o seguisse.
Eles ainda estavam em missão.
Apenas a participação de tinha chegado ao final, e Steve não podia se dar ao luxo de se preocupar com ela no momento.

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Em todos aqueles meses, Tony nunca vira Petr tão possesso, e ele não lhe tirava a razão.
Eles tinham completa ciência de que o argumento de ter sido levada como refém por Steve e Sam não convenceria ninguém, e que, com toda aquela confusão a mais, as acusações mais recentes de terrorismo não seriam esclarecidas. Então não foi uma completa surpresa quando Tony retornou para o prédio da Força-Tarefa e encontrou um Petr marchando de um lado para o outro.
- Eles fizeram um check-up às esperas e a transferiram para o Raft, Tony – contou o mais novo entre xingamentos – Eu tentei impedir, mas ninguém me deu ouvidos. E também não me atualizam sobre o status dela.
- Estava tão ruim assim? – perguntou Tony, mesmo com medo da resposta. Tudo que ele queria era fechar os olhos e abrir com tudo de volta à normalidade, vendo Rhodes e no fim do corredor, discutindo os próximos passos da missão seguinte.
- Você viu a análise do que encontramos no subsolo, se ela continua viva é porque é teimosa feito uma mula – continuou Petr – O da roupa de vibranium quase dilacerou o braço dela, o que quer que tenha naquele soro reage com mais força com ferimentos abertos. Rogers não devia ter deixado ela ficar perto da briga também...
- E o Rhodes?
- Ainda em cirurgia – contou ele, emendando um longo suspiro em seguida. Poderia dar problemas, mas ele precisava perguntar. Então Petr fez questão de usar sua expressão mais neutra e a voz mais despreocupada o possível – Cadê a Nat?
- Você que me diz – devolveu Tony sem pensar duas vezes, erguendo a sobrancelha para o mais novo que lhe lançava um olhar confuso que ele julgava ser fingido – Ou vai mentir para mim e dizer que vocês não planejaram deixar o Rogers escapar?
Petr soltou um “oh” enquanto ria de leve, sua postura se alterando para algo mais defensivo.
- Está me dizendo isso porque te dei ouvidos e fiz exatamente o que você mandou? – respondeu o homem, o tom sarcástico não atingindo seus olhos sérios – “Deixe a em segurança, nós cuidamos do resto”. A Sexta-feira deve ter uma gravação disso, caso você não se recorde.
- Pete. Olha para mim – pediu Tony, e sua voz cansada quase fez com que ele vacilasse. As últimas semanas não tinham sido fáceis para o mais velho dos Stark, e Petr tinha completa ciência disso. Tony tentava se desdobrar em mil para que os Vingadores não fossem prejudicados, assim como também se mantivessem unidos. Não devia ser fácil ver todos os seus esforços irem por ralo abaixo – Você ajudou a Romanoff?
- Não – respondeu o mais novo, sem hesitação – Ela nunca precisou da minha ajuda.
- Mas você também não me alertou.
- Te avisei de que o Tratado nos deixaria muito presos – devolveu Petr, segurando sua vontade de bufar quando Tony revirou os olhos e lhe deu as costas, se afastando alguns passos – Não esperava que teríamos isso ao vivo em questão de dias, mas mesmo assim.
Tony permaneceu em silêncio, rumando para a sala no fim do corredor, os ombros apenas se tensionando mais quando se debruçou sobre o parapeito. Ele queria virar e dizer a mesma coisa que disse para Natasha, mas não tinha nem fundamento para isso, já que T’Challa não tinha nenhuma prova para incriminar o Ivanov de obstrução de justiça e cumplicidade, já que seguira estritamente as ordens que recebera de resgatar a possível refém. Tony não teria frieza em dedurar o garoto, mas não facilitava em nada a tarefa de encará-lo.
- Eu odeio o Barnes, Tony. Odeio mesmo. No nível de ter apenas uma bala na arma, atirar para cima e acabar com ele na mão – contou Petr, escondendo as mãos nos bolsos da calça, sem dar sinais de que pretendia sair do lugar – Mas até eu consigo ver que ele não é o problema disso tudo. O Soldado Invernal não tem autonomia, completamente oposto dos Soldados Corvinais. O que aconteceu aqui foi ação do Invernal, o que implica que tinha alguém por trás dele.
Tony continuou em silêncio, quase que ignorando a sua presença. Então ele continuou, mesmo nenhum pouco confortável com isso.
- Quem quer que seja, se realmente há outros Invernais, Rogers e Barnes estão em perigo. Eles não vão dar conta. Precisam de suporte.
Petr esperou por alguns segundos, quase praguejando baixo quando não teve uma reação sequer naquele curto espaço de tempo. Ele precisava fazer alguma coisa, certo? Mas o que ele conseguia fazer naquele cenário? Se deixasse Berlin com um quinjet e sozinho, levantaria muitas suspeitas. Se pegasse um voo normal, chegaria tarde demais. E ele nem sabia para onde ir. Qualquer pessoa para quem ele pudesse perguntar estava no...
- Vou para o Raft – anunciou Tony de repente, guardando seu celular no bolso e girando nos calcanhares para voltar pelo caminho que fizera, passando por Petr sem olhar para seu rosto – Ross está lá, preciso falar com ele. Te atualizo sobre a .
- Não quer que eu vá junto? – perguntou ele, a desconfiança clara em sua voz. Mudança muito brusca de postura, tinha algo ali.
- Não, fica aqui. Me atualiza sobre o Rhodes e fica de olho no Garoto-Aranha – pediu Tony – Happy está começando a perder a paciência com ele.
- Ousado da sua parte pensar que eu vou ter paciência – brincou Petr, o riso não alcançando seu cenho franzido – Embora eu tenha quase certeza que ele levou uns socos do Rogers, o que quer dizer que ele deve aguentar alguns meus.
Tony forçou uma risada e pediu que ele fosse mais paciente com a criança, acenando rapidamente antes de virar o corredor e sumir de seu campo de visão. Só então Petr deixou seus ombros caírem, jogou a cabeça para trás com os olhos fechados, bufando alto.
Daquela vez seria bastante difícil fazer controle de danos.
Checando seus arredores, Petr fez o trajeto mais tranquilo para fora do prédio, se mantendo por um tempo na rota para o hotel onde Happy e Parker estavam hospedados, até parar bruscamente em uma esquina, respirando fundo antes de tirar seu celular no bolso.
- Oi – murmurou ele com o aparelho contra o ouvido, depois de apertar uma sequência curta de botões. Exatamente como gostava, Petr era um fantasma entre os transeuntes, ninguém de fato notando sua presença. Tecnicamente, nenhum dos seus passos ali eram complicados, mas ele teve que engolir aquele sentimento ruim que subira em sua garganta, ciente de que não teria como contornar a decisão que tomara – Onde eu te encontro, Nat?

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A localização por si só da prisão já dava para Tony uma sensação ruim, e o tempo fechado no momento de sua visita apenas piorou aquele sentimento. Toda sua energia estava sendo remanejada para não pensar a fundo o motivo principal de estar ali, da razão de aquela ser a residência de sua filha por sabe-se lá quanto temo.
Ele só precisava ver com seus próprios olhos que ela estava bem.
- Como ela está? – foi a primeira coisa que saiu de sua boca assim que foi recepcionado por Ross e alguns guardas, sendo assim guiado para uma ala separada da prisão, onde os feridos eram tratados.
- Com as informações que foram disponibilizadas, era para ela estar se curando naturalmente, mas não está – contou o médico responsável, quando eles entraram na ala hospitalar, a cela temporária de se destacando por ela ser a única paciente no momento – O organismo dela foi gravemente danificado e não consegue voltar às funções normais.
Sentindo o coração entalar na garganta, Tony se aproximou com passos receosos do vidro resistente que delimitava a contensão de sua filha, onde apenas duas pessoas transitavam, mexendo em diversos aparelhos que se ligavam a seu corpo. estava bem mais pálida do que ele se lembrava no aeroporto, com diversos curativos espalhados por seus braços e pernas expostos, assim como alguns pequenos em seu rosto. O médico não estava errado ao dizer que tinha algo errado.
E Tony descobriu o motivo no primeiro instante que seu olhar recaiu sobre a filha.
- Por que ela está de coleira? – a pergunta não soara calma como ele planejara, seu rosnado fazendo com que o médico recuasse sobressaltado – Com isso os poderes dela param, atrapalha a recuperação.
- Medidas de segurança, Stark – interveio Ross, que não parecia nenhum pouco atingido pela mudança brusca na postura do visitante.
- Você acha que alguém nesse estado consegue apresentar perigo? – devolveu Tony, se virando para a parede de contensão e batendo no vidro, assustando os dois enfermeiros que se intercalavam entre acompanhar o maquinário de monitoramento e checar os ferimentos cobertos – Tire a porcaria da coleira agora!
A única movimentação deles foram seus olhos, que seguiram para o médico e Ross às costas no homem alterado. Algo que apenas pirou quando Tony percebeu que não tinha voz alguma ali.
- Se minha filha morrer por sua causa...
- Se ela morrer, vai ser pelas escolhas dela – Ross cortou a pseudo-ameaça, ignorando a forma imatura que Tony se direcionava a ele – Ela quebrou o acordo, não é culpa minha nem sua.
- Tire a coleira. Agora – insistiu Tony, parando a poucos centímetros do secretário, sua voz adotando uma nova nuance. Desespero – Vocês estão monitorando a garota, quando ela estiver fora de risco, coloque de novo, não tem problema. Só deixe ela se recuperar primeiro, por favor.
Ross desviou o olhar logo em seguida, o homem implorando pela vida da filha lhe atingindo mais do que deveria. Se mantivesse o contato visual, Tony teria sido capaz de ver um flash de simpatia passar por seus olhos.
- Tirem a coleira – ordenou Ross por fim, os enfermeiros não hesitando em começar a desligar aquele aparelho em especial – Coloquem de volta ao menor sinal de ela estar recobrando a consciência.
Tony murmurou um agradecimento simples, acompanhando com atenção o trabalho da dupla dentro da contensão. Assim que o metal escuro da coleira foi afastado do pescoço ferido de , ela pareceu respirar mais fundo, quase que aliviada. O pai do lado de fora também.
Certo, algo a menos para se preocupar no momento.
Ele só precisava agora de alguém para lhe informar a localização de Rogers e do soldado sokoviano.

Capítulo 26

esfregou os olhos mais uma vez, na esperança que aquela moleza que sentia fosse ir embora com o movimento, apenas para voltar a bufar irritada e dar início mais uma vez àquele ciclo: tentar se levantar, não se sentir bem e tornar a sentar, respirar fundo algumas vezes na espera que surtisse algum efeito, mesmo sabendo que não iria. Seu corpo estava debilitado demais, e, de alguma forma, não ter se estabilizado era um bom sinal: seu organismo estava mais focado em proteger outro organismo do que se estabilizar de fato, e aquilo já era mais do que ela podia esperar.
Claro que a coleira em seu pescoço definitivamente não estava facilitando a tarefa de se recuperar, mas desistira de reclamar sobre aquilo depois que um dos enfermeiros narrara que ela ficara por algumas horas sem ela depois de seu pai implorar que Ross permitisse. Por intenção ou não, ela tinha colocado Tony em uma posição bastante delicada, o mínimo que ela podia fazer no momento era ser menos apressada porque, sendo bastante realista, não era como se ela fosse deixar aquele lugar tão cedo.
Uma movimentação estranha dos seus vizinhos de cela atraiu a atenção de , mesmo que tarde demais. Quando seus olhos se ergueram para as grades que a mantinha ali, seu pai já estava de frente para ela, sua péssima aparência sendo mais do que o suficiente para fazer com que todo o ar saísse de seus pulmões em um único movimento. Não apenas havia muito mais hematomas em seu rosto do que se lembrava antes de apagar e ferimentos que, mesmo olhando rápido, eram fáceis de classificar como frescos.
Ela não conseguia se lembrar da última vez que vira seu olhar tão frio e distante.
- Pai... O q...? – começou ela em um sussurro, a garganta ardendo por ainda estar muito machucada. Um movimento discreto no ombro de Tony fez com que ela abaixasse o olhar, sem nenhum problema identificando o escudo de Steve preso em seu braço, dificultando ainda mais na tarefa de produzir sons entendíveis – Você o prendeu?
Quando não obteve resposta e a expressão dele se tornou menos controlada, começou a se desesperar. Não era fácil separar o homem do seu escudo, não era um bom sinal.
- Pai... Cadê o Steve?
- Morto – respondeu o homem de uma vez, deixando que a arma caísse de seu braço com um movimento só. O olhar em choque de começou a permitir que lágrimas lhe escapassem, mas não atingiu Tony – Pelo menos para mim. E se você não der a resposta certa, acredito que vai tomar o mesmo rumo que ele.
- Do que você está falando? – perguntou ela entre as tentativas de controlar sua respiração, os lábios tremendo contra sua vontade – Não tem graça! Tony, cadê o Steve? O que você fez com ele?
Tony ignorou a filha, se adiantando mais um passo para as grades, já que não podia de fato ficar frente a frente com ela, e nem sabia se queria. Quanto mais olhava para a sua figura ainda debilitada, mais algo dentro de seu peito de agitava.
- Você sabia?
Uma pergunta simples e vaga, que não carregava o menor significado se não se soubesse do que se tratava. Só que sabia, e aquilo estava claro em seus olhos surpresos e confusos.
- Ele te contou...? – arriscou ela, logo percebendo que não era o caso. A forma como Tony recuara, a indignação visível em seus olhos. Aqueles eram vestígios do sentimento de traição onde não se descobre pela própria pessoa – Aquele cara contou, não foi? O falso psiquiatra.
- Eu sempre disse que você estava corrompendo o Rogers, mas nunca acreditei que você fosse o transformar na porcaria de um mentiroso – disse Tony em um fio de voz, aos poucos ganhando altura, sua ira se intensificando e ganhando mais forma em seu rosto – Você mentir para mim até que não me soa tão estranho, embora não me faça sentir nem um pouco melhor.
- Se te faz se sentir melhor, ele escondeu de mim também. Quando ele disse que estava tentando nos proteger, de alguma forma ele estava – devolveu , puxando as pernas para cima do colchão. Tinha bastante rancor na voz da mulher, Tony não falhou em notar, mas não mudava as coisas – Mesmo que no fundo eu ache que ele simplesmente estava sendo covarde demais para nos encarar.
- Mas você já sabia – insistiu ele – E mesmo assim estava arriscando tudo para proteger o Barnes também.
fechou os olhos e respirou fundo, tombando a cabeça para o lado antes de encarar o pai. Se lhe fosse dada a possibilidade, ela trocaria todas as suas habilidades, mesmo que estivessem funcionando perfeitamente, por controle do tempo. Pausar aquela conversa e apenas retornar quando tivesse condições de, de fato, tocar naquele assunto. Ela não tinha emocional o suficiente para aquilo no momento.
Mal conseguia fazer com que ela própria entendesse algumas coisas, como poderia guiar Tony?
- Isso tudo não é sobre ele, você já deveria ter percebido.
- Você sempre soube que tinha sido ele – retrucou Tony, quase que ignorando o que a filha dissera antes. , por sua vez, estranhou a firmeza em sua voz – Desde o começo.
- Do que você está falando?
- Quando uma criança que sofreu um acidente e chega no hospital dizendo que havia um homem estranho do lado de fora, os médicos contam para o pai, , e acontece que esse seria eu – explicou ele, voltando a avançar contra as grades, a raiva de sua voz em um último instante vacilando e deixando um lampejo de desespero dar as caras – Por que você não me contou?
abaixou a cabeça, passando a língua pelos lábios antes os prender entre os dentes, completamente inconformada com sua ingenuidade. Aquele tinha sido tão seu pesadelo particular quando criança que nunca cogitara alguém se lembrar daquilo.
- Eu passei a maior parte da minha vida me fazendo acreditar que toda aquela memória era uma alucinação, a ponto de que eu mal lembro direito o que aconteceu – contou ela – Demorou mais do que eu me orgulho para entender que tenho dificuldades de sentir a presença de pessoas aprimoradas, e quando eu finalmente entendi, eu fiz a ligação com o Soldado Invernal, mas não tinha como eu confirmar minha teoria. Não até eu conhecer o Barnes.
- Você tinha que ter me contado, eu tinha o direito de saber.
- Talvez eu seja mais parecida com o Rogers do que pensamos – o cortou, a voz adotando um tom mais alto – Eu me convenci de que estava te protegendo, mas agora...? Sei que eu nunca te contaria isso se não tivesse outra escolha. Não queria que você tivesse que viver com essa também.
- Eu já tinha percebido isso, porque assim como ele, você ficou do lado do monstro – rosnou Tony, a lateral de seu punho fechado acertando o pilar que sustentava as grades da cela da e a vazia ao lado – Você arriscou o seu bem-estar e do seu filho pelo assassino dos seus avós.
- Não chame ele assim – pediu ela com certa urgência, seu olhar baixo demorando para juntar coragem e retornar para o pai – Nunca mais chame ele assim, por favor. Bucky é uma vítima também, não transfira a culpa para ele. A HYDRA cometeu aqueles crimes, pelas mãos deles, mas não é culpa dele.
- Isso não muda nada – devolveu Tony, sem pensar duas vezes, sem nenhuma alteração em sua figura. por sua vez apresentou mudanças, sua risada sem humor parecendo trazer um desconsolo para seus traços.
- Então você também me vê como um monstro? – ela não precisava perguntar, mas ultimamente tinha assumido que tantas coisas estavam entendidas entre as partes que sentiu a necessidade de verbalizar. estava cansada de supor as coisas e estar errada, precisava mudar aquilo o mais rápido possível, e começaria com Tony – James e o Soldado são pessoas completamente diferentes, pai. Mas e Dominik não são. Eu estava ciente das minhas ações na maior parte do tempo, mesmo não podendo fazer nada a respeito. Se Barnes é um monstro, eu sou bem pior do que ele. Por isso você o chamar assim indiretamente está me chamando assim também. E esse julgamento vindo de você eu não vou conseguir aguentar de novo.
Tony quis abrir a boca para retrucar, mas se viu se mantendo em silêncio, recebendo a acusação sem se defender. Ele já sabia ao que a mais nova se referia, sequer precisava a ouvir. Mas ele se manteve lá, aos poucos se tornando inexpressivo enquanto se perdia mais e mais.
- Eu não dou a mínima para o que o mundo pensa de mim, e em alguns momentos nem o julgamento dos Vingadores me importa. Mas você é meu pai. Por todos esses anos, você foi a única família que eu tive – continuou ela, as palavras umas puxando as outras como se fosse um discurso ensaiado, mesmo nunca tendo considerado expressar tamanho temor, as lágrimas que escorriam pelo seu rosto parecendo queimar sua pele – Eu amo Steve tanto que às vezes nem sei como isso é possível, mas sei que não importa a merda que eu faça, ele não vai virar as costas para mim. Mas você não é como ele: você me daria as costas, assim como já fez antes. E eu morro de medo disso.
Ouvindo aquelas palavras, Tony pensou que sentiria o golpe. Então ele esperou. Elas eram sinceras, ele podia assumir isso com ou sem a maldita coleira no pescoço da mulher, mas ele parecia incapaz de senti-las. Todo o caminho até o Raft fora feito com ele se preparando para aquele momento, tentando prever os caminhos que poderia tomar. Então ali estava ele, perto o suficiente para assistir o desespero, mas não o suficiente para se sentir tocado.
- Eu costumava morrer de medo de acontecer alguma coisa com você - contou Tony por fim, o olhar mais angustiado de sendo um indício de que ela não precisava dos poderes para dizer como aquilo terminaria - Do que adianta um medo se você não muda as suas ações?
sabia o que estava por vir, então sequer se opôs quando seus olhos pareceram fechar por vontade própria, seu nariz fungando quase abafando a despedida sem jeito de Tony. O engenheiro tinha ciência de que aquilo poderia ser usado contra ele no momento, mas não tinha como continuar aquele assunto. Ele precisava ir para casa e colocar a cabeça no lugar, cuidar de seus ferimento e esperar que aquela dor no peito ao menos se amenizasse.
Porque não tinha como Tony conseguir encarar mais a própria filha.

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Se tinha algo que Steve estava tentando fazer até aquele momento, era se manter focado e concentrado na missão.
T'Challa estava ajudando dentro do possível, mas o ideal era que o rei não se envolvesse tanto naquela questão, por motivos políticos. Sua ação desde o começo não tinha autorização da ONU, e Steve não queria que ele tivesse mais problemas por auxiliar na invasão do Raft diretamente.
Mas como se tratava de uma base que não conseguiria suporte imediato, Steve estava consideravelmente tranquilo.
Pelo menos até Clint explicar o motivo de não estar no mesmo andar que o restante da equipe.
Clint ignorou o pedido do capitão para que fosse para a nave com os outros, deixando a Sam encarregado de ajudar uma Wanda cambaleante e exausta para o ponto de partida. O arqueiro já tinha presenciado muitos momentos em que Stark causara um susto coletivo, quase chegara a iniciar mentalmente um primeiro rascunho do que poderia ser seu discurso no enterro da protegida, e Steve esteve presente em boa parte deles. Então toda aquela agitação e desleixo do soldado tinha que ter um motivo.
Afinal, por que seria algo tão absurdo ser movida novamente para a ala hospitalar por passar mal depois da visita de Tony?
Havia apenas um enfermeiro na ala quando a dupla adentrou, logo sendo derrubado pelo arqueiro, já que Steve não hesitou em se direcionar para a mulher aparentemente adormecida na maca. Em outra situação, talvez ele tivesse se acalmado se notasse que ela usava as roupas de prisioneiro, não o traje comum hospitalar. Que seus ferimentos expostos agora já pareciam mais próximos dos estágios finais da cicatrização. Embora não confiasse no que via, Steve precisava ver seus olhos abertos, então ele não pensou duas vezes em tomar seu rosto entre suas mãos, murmurando com urgência seu nome algumas vezes até receber uma resposta.
- Steve...? - sua voz estava um pouco mais rouca do que de costume, seus olhos incertos e entreabertos passeando agitados pelo rosto do soldado, antes que se debruçasse sobre ela em um movimento repetindo, seus lábios sobre sua testa - Eu estou alucinando?
- Shh, está tudo bem agora. Vou te tirar daqui - devolveu ele, passando a trabalhar então na coleira em seu pescoço. Aquela não era a mesma contenção que desenhara anos atrás, a que todos os vingadores veteranos sabiam como manuseá-la. Aquele dispositivo parecia ser bem menos planejado, e Steve respirou fundo antes de quebrar a trava, torcendo para que não tivesse nenhuma medida de segurança para aquele tipo de ação, já que o aparelho em si tinha sido desligado junto com o da Wanda - Consegue andar ou quer que eu te carregue?
devolveu a confirmação de que conseguia andar, mas isso não impediu Steve de colar ao seu lado, garantindo que ela estava próxima o tempo todo. Normalmente, a mulher reclamaria daquilo. Fosse um lugar isolado ou não, eles precisavam de agilidade para uma fuga. Mas ela não se opôs, quase agradecendo a presença familiar do soldado. Seu silêncio preocupava Steve, mas ele optou por não tocar no assunto, se ocupando em analisar seus arredores para não envolver a mulher em nenhum confronto desnecessário. Pelo comunicador ele sabia que a base tinha sido tomada, que todos os vingadores presos já estavam em segurança na área de embarque, que apenas faltava o casal para finalizar a operação.
Não era o melhor dos futuros que esperavam o grupo, mas pelo menos o pior tinha acabado.
T’Challa foi o primeiro a notar a dupla se aproximando, parando no meio da rampa assim que os olhos confusos da mais nova dos Stark encontravam sua figura.
- Mas o que voc...?
- - Steve a cortou, pronto para explicar que o resgate só fora possível pelo wakandano, mas o próprio também o interrompeu.
- Eu fui cego pelo meu desejo de vingança e não consegui ver a verdade, me tornei manipulável em um jogo que não compreendia - contou ele, a cabeça levemente baixa. A mulher tinha todo o direito de se opor à sua presença, levando em consideração toda a confusão que ele ajudara a criar - Peço seu perdão.
- Você ouviu o homem - devolveu ela quase que no mesmo instante, se afastando alguns centímetros de Steve e esticando a mão para o wakandando da ponta da rampa - Me chame de . Me ajuda a subir.
T’Challa não pensou duas vezes antes de tomar a mão da mulher, descendo alguns passos para ficar levemente atrás dela, auxiliando com a mão livre ela a subir o restante do trajeto. Mesmo com a sua clara aparência cansada, T’Challa não podia disfarçar a surpresa por sua reação quase que despreocupada, a confiança mesmo que pequena que depositara nele. Seu noivo estava literalmente ao seu lado, pronto para garantir sua segurança, e mesmo assim ela passara aquela pequena tarefa para aquele que tentara matar um de seus amigos, assim como ajudara a colocar na lista de criminosos.
Clint deixou Sam fazendo companhia para Wanda quando notou embarcando, logo auxiliando o wakandano a deitar a mulher sobre os bancos enquanto puxava todos os equipamentos de monitoramento médico possíveis. queria abrir a boca e dizer que nada daquilo era necessário, mas se sentia tão cansada que sequer se opôs. Sua concentração estava tão prejudicada que mal notou quando decolaram do Raft, muito menos quando Steve sentou ao seu lado, desfazendo alguns nós de seu cabelo ao passar os dedos pelos fios. Muito menos ela percebeu quando perdeu a consciência.

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Bucky não gostava de ficar fora da ação, principalmente em um momento como aqueles.
Ele estava preocupado com toda a equipe por ter deixado todos para trás sabendo que seriam presos, mas tinha uma pessoa em especial que nascera com o dom de o tirar do sério que ele precisava ver bem, ou ele não saberia o que fazer. Seu coração não soube o que fazer quando avistou Steve às pressas desembarcando com desacordada nos braços, Sam em seu encalço segurando uma bolsa de soro acima de todos. A equipe de médicos já estava a postos, levando a mulher para dentro e Bucky não hesitou em seguir o grupo, Steve logo passando um braço por trás de seus ombros e acompanhando seus passos apressados e nervosos.
Tanto pela breve explicação de Steve como pela conversa entre os médios no trajeto pelo corredor até o quarto, Bucky soube que o caso não era mais tão grave. Os médicos do Raft tinham iniciado o tratamento depois da intercessão de Tony, que tinha controlado bastante o caso. O sistema de apenas precisava de uma pequena brecha para se reestabelecer, e agora os wakandanos só tinham que auxiliar no processo de fortalecimento.
- Com base nas informações que o Capt. Rogers disponibilizou, em algumas horas o quadro dela já deve estar estabilizado - contou a médica responsável depois de estudar algumas informações que eles já tinham conseguido reunir, enquanto sua equipe continuava a realizar alguns exames - Bem pouco da substância está aparecendo no sangue dela, a frequência cardíaca também está boa. Quando ela acordar, estará bem mais disposta.
Bucky assistiu o amigo ao seu lado assentir com as informações, mas seus ombros ainda tensos, o maxilar travado enquanto acompanhava um dos médicos erguer a camiseta de até a altura da cintura, passando por todo o abdômen um aparelho que brilhava pela concentração de gel na ponta. O soldado não conseguiu entender de primeira o que estava acontecendo, e isso atraiu a atenção da médica, que apenas pode sorrir ao entender o que ganhara com tanta força a atenção de ambos. Os ruídos das duas frequências cardíacas captadas ecoavam baixo pelo ambiente.
- Ambos estão bem, senhor - continuou a mulher - Eles só precisavam de algum tempo para descansar.
Depois daquilo não tinha como Bucky não compreender o que acontecia, e, mesmo com o choque, ainda foi capaz de captar o breve flash de alívio que passou pelo rosto de Steve antes de ele retomar a expressão travada. Tinha algo errado.
E claro que Steve não abriria a boca se não fosse pressionado, então foi a primeira coisa que Bucky fez assim que deixaram o quarto e ficaram sozinhos no corredor.
- Você parece mais nervoso agora com em segurança do que antes de sair para o resgate - soltou o mais velho, ganhando um olhar nada humorado, como se algo desse gênero fosse fazer ele desistir do assunto - Ela vai ficar bem, você devia focar um pouco nisso por hora e descansar.
Steve apenas pode rir sem vontade, balançando a cabeça em descrença enquanto suas mãos iam para a cintura. Aquela não era uma situação desconhecida para ele até então, era até bastante familiar. Check-up e atendimentos de emergência eram rotinas tanto para como para ele. Houve alguns casos mais graves, onde realmente a situação não parecia que teria solução? Também, mas ainda parecia diferente.
- Não é como se eu tivesse tempo para isso, Buck – devolveu o loiro. Aquele sentimento que se alastrava exponencialmente em seu peito tinha algo de familiar, algo que já tinha lhe passado pela mente anteriormente, algo que estava sempre em seu inconsciente.
- Do que você tem tanto medo, Rogers? - insistiu Barnes, bem mais impaciente do que deveria soar. Talvez ele estivesse um pouco irritado por nenhum dos dois ter pensado que aquela informação era importante para o planejamento da missão, ou porque devia ter ficado ainda mais preocupado com a mulher nas últimas horas. Ou ele simplesmente não conseguia entender o motivo de Steve parecer querer fugir dali - Aquela garota pode dar tudo o que você sempre quis. Eu mal conheço quem ela é agora, mas sei disso.
- O cara que queria isso tudo foi congelado setenta anos atrás - devolveu o soldado em tom monótono, a resposta parecendo quase automática, ensaiada. Algo que ele talvez tivesse costume de responder quando alguém questionava qualquer forma de seus planos para o futuro.
Outras pessoas talvez comprassem, Bucky não.
- Que babaquice! Dava para ver nos seus olhos quando viu o ultrassom e que tudo estava bem com os d...
- Eu estou amedrontado, ok?! – Steve praticamente gritara, cortando a fala do moreno, que amoleceu minimamente a expressão, embora seus olhos ainda transmitissem um que de indignado – Olha onde estamos, o cenário geral que estamos! Olha a facilidade com que tudo quase f…!
Uma movimentação no começo do corredor fez com que Steve parasse, resmungando baixo antes de respirar fundo com o pedido silencioso de Bucky para que ele se acalmasse, ou ao menos falasse um pouco mais baixo.
- Eu pedi que ela casasse comigo em um momento de êxtase, como se nunca mais fôssemos enfrentar uma ameaça na vida – sua voz adotou um volume menor, mas ainda existia uma urgência em seu tom, o movimento exasperado de seu braço se erguendo e apontando para a porta por qual saíram acentuando a sua expressão de desespero – Eu quero tudo isso? Mais do que tudo. Eu amo aquela mulher, Bucky, e ela tem um serzinho que é metade eu e ela crescendo na barriga. Ambos são meu mundo e olha como é fácil tirar eles de mim. Quase conseguiram, ainda podem conseguir.
- Você sabe que não tem como alguém controlar essas coisas, super-soldado ou não.
- Eu não consigo sem ela, Buck. Eu não sei o que faria se eu perdesse ela, não dá. Uma vez eu tivesse esse sonho e eu não estava por perto, era por conta própria.
- Você está dando importância demais para um sonho.
- Foi a Wanda que causou, quando ela ainda estava com o inimigo – devolveu Steve, e Bucky pareceu levar o relato mais a sério. Ou apenas estranhava o fato de a caçula do grupo ter começado do outro lado - No momento eu pensei que esse era o meu maior medo, não estar por perto para garantir que ela esteja bem. Em algum nível é verdade, mas é assim que as coisas deveriam terminar para mim. Não tem nada que a não seja capaz de superar, eu incluso. Ela pode causar um pandemônio, mas ela sempre encontra um jeito. Eu não consigo ver o contrário acontecendo.
Até então, Steve nunca tinha tocado naquele assunto com ninguém. Não com Natasha, não com Sam. Sequer com Tony, e ambos tinham um bom costume de reclamar do elo comum que lhe causava dores de cabeça constantes. Aquele tópico era algo que o soldado já tinha aceitado não levantar, que lidaria com aquilo em silêncio, sozinho. Só que a situação se alterara tão rápido diante de seus olhos que apenas percebera o que fizera quando já estava no processo. Agora tinha receio em erguer os olhos do chão e encarar seu amigo de infância, sem saber que tipo de reação causara.
- É preciso uma nova expressão para “ela te tem na palma da mão” para vocês dois, essa não é forte o suficiente – comentou Bucky depois de um momento, completamente sério, mas com um vestígio de sorriso em seus lábios. Steve por sua vez deixou os ombros caírem, quase rindo de desespero.
- Não tem graça, cara.
- Você precisa começar a olhar da perspectiva dos detalhes primeiro – começou Bucky com calma, diminuindo alguns passos a distância entre eles e colocando a mão em seu ombro - Você encontrou a mulher da sua vida e ela te ama na mesma intensidade. Caos pode seguir ela o quanto quiser, ela não é do tipo de cai fácil, ou que continua caída. é teimosa feito uma porta, tanto quanto você. Foque no que vocês têm agora, caso contrário você vai acabar endoidando.
Steve não respondeu, apenas respirou fundo e assentiu algumas vezes depois de segurar o ar por alguns instantes. Seu olhar ainda era temeroso, mas ao menos parecia um pouco mais recomposto, ou ao menos voltara a se dar o trabalho de parecer recomposto. Ele sabia daquilo, sempre soube daquilo. Talvez o que precisasse no momento era deixar aquele nervosismo se expressar, e ter alguém o relembrando e o colocando de volta nos trilhos. Quando voltou o olhar para Bucky e estava prestes a agradecer, o mais velho continuou, com um sorriso bem mais suspeito no rosto.
- E parabéns! Embora esteja com um pouco de medo em que tipo de criança vai sair disso. Realmente não sei se quero estar perto para ver isso.
- De novo: não tem graça, cara – devolveu Steve, fechando os olhos enquanto o amigo ria.
- Vai tomar um banho e tirar um cochilo – ordenou Bucky, o riso ainda em sua voz enquanto empurrava o soldado para o fim do corredor - já passou por muito nervoso nas últimas 24hs para acordar e dar de cara com um Steve-zumbi.

--- O ambiente mais claro era perceptível mesmo de olhos fechados, e um peso sobre sua barriga também era novidade quando aos poucos começou a despertar. Seu acompanhante também despertou com sua movimentação. A mão de que fora parar sobre a sua em algum momento dos últimos minutos apertara de leve sua pele fria, e logo ele já estava completamente alerta e acompanhando a menor de suas reações.
Em comparação com quando chegara no começo do dia, parecia já bem mais saudável. Os médicos de Wakanda tinham se empenhando em encontrar uma forma de diminuir os efeitos colaterais do que quer que tivesse entrado na corrente sanguínea da mulher, e os resultados eram bons. A última coisa que faltava era ela acordar para que todos saíssem do modo atenção. Com a moral baixa da equipe, acordada animaria minimamente a todos.
- Sei que você preferia seu homem aqui, mas ele está um pouco ocupado no momento – comentou Bucky assim que o olhar confuso da mulher recaiu no seu, forçando um sorriso no objetivo de trazer algum conforto – Sou seu substituto.
- Pode apostar que eu estaria perguntando por você se não estivesse aqui – respondeu ela, minimamente se ajeitando na maca. Sua expressão ainda era cansada, mas o som calmo de sua voz rouca já era o suficiente para acalmar o soldado, mesmo quando seu cenho começou a se franzir ao seu olhar recair no ombro esquerdo do soldado – Seu braço...
- Não foi nada, – ele tentou desconversar, mas tinha ciência que talvez não fosse ser tão bem-sucedido. Sam e o arqueiro tinham comentado que o mais velho dos Stark tinha feito outra visita depois do episódio da Sibéria, e que não tinha sido nada bonito.
- É minha culpa, e-eu...
- Nada disso é sua culpa.
- Como não? Eu sabia de tudo – retrucou ela, a hesitação de sua voz passando para um tom mais agressivo. Bucky chegou a se ajeitar na cadeira também, adotando uma postura minimamente mais defensiva, se atentando em não alterar o tom de voz para não irritar ainda mais a mulher – Eu optei por deixar Tony no escuro, deixei toda a responsabilidade com Steve, deixei você exposto, coloquei em risco uma vida em potencial. Me explica como nada disso pode não ser minha culpa. Me explica como que eu não falhei com todo mundo!
- Eu sei que você está frustrada, mas você precisa se acalmar, ok? – pediu ele, respirando fundo quando tentou segurar a mão da mais nova e ela se encolheu na maca, fugindo do toque como se fugisse da explicação. não queria ouvir, aquilo poderia ser bem problemático – Você está indo para um caminho sombrio pensando assim. Sei que disse que era o substituto, mas eu não sou o melhor para esse tipo de conversa. Steve é bem mais qualificado para isso do que eu.
Em um primeiro momento, Bucky pensou que tinha sido ignorado. estava tão tensa na maca, os ombros tensionados e as mãos unidas em um aperto nervoso sobre o colo que sua postura parecia exigir que a deixassem sozinha. Mas seu olhar inseguro logo se ergueu para o soldado, sua voz adotando um tom cansado que ele definitivamente não queria ouvir.
- Sei que é injusto com você – murmurou ela – Você é a última pessoa que precisa carregar o peso de outra, mas eu não posso fazer isso com o Steve.
- Qualquer coisa por você – devolveu ele em um sussurro sem pensar duas vezes, dando a volta na maca para facilitar a tarefa de deitar junto a ela, seu único braço com um aperto firme mantendo seu corpo contra o dele – Mas realmente acho que você precisa falar com Steve.
- Eu morro de medo de fazer isso – confessou ela, em uma honestidade que pegou Bucky desprevenido. não exagerara então quando disse que deixaria o peso com ele, afinal – Steve tem essa visão tão alta de mim e já arranhei demais essa imagem, não sei se aguentaria ver ela quebrando. Posso viver com o olhar de pena e com a constante falta de confiança de praticamente qualquer um, mas não dele. Não tinha percebido o quanto eu dependia dessa imagem que ele tem de mim e não estou pronta para ficar sem ela.
Bucky olhou de canto do olho para a figura em seu braço, sem controlar um sorriso discreto se formando em seu rosto. Eles não passavam de dois idiotas, não tinha como levar a sério.
- Provavelmente eu não tenho o menor direito de dizer algo, já que quem eu conheci foi um garoto magricela do Brooklin. Ele passou por muita coisa, é uma pessoa completamente diferente do garoto que cresceu do meu lado, mas você realmente acha que ele te ama tão pouco assim para depender tanto de uma imagem que até duvido que ele realmente mantenha? – como esperava, não deu sinais de querer responder, sua respiração interrompendo brevemente o ritmo até então para adotar um mais calmo e constante – Vocês estavam brigados, eu entendi isso mais tarde, mas, mesmo quando achamos que você estava em segurança em Berlim, ele estava morrendo de preocupação por você. Você é o mundo dele.
Não era fácil tentar adivinhar o que se passava na cabeça de em qualquer momento, Bucky aprendera isso das piores maneiras, mas parecia estar surtindo efeito. Ele já estava prestes a brincar sobre como era engraçado ver que Steve também a tinha na palma da mão quando ouviu o próprio entrar no quarto, sua voz um tanto incerta questionando se podia ter um segundo com a mulher.
Bucky teria que guardar a brincadeira para mais tarde.
voltou a se sentar melhor na maca, um pouco consciente demais da proximidade de Steve, que ignorou a poltrona quase colada na estrutura da maca e se sentou na beirada do colchão.
- Você ouviu o que conversamos – assumiu ela, notando a forma tensa que o soldado se portava, ainda mais como evitava seu olhar, de forma bastante parecida ao que ela própria fazia.
- Só o final – confessou ele, respirando fundo antes de continuar – , eu…
- Posso falar primeiro? – pediu ela, e Steve, mesmo um tanto desconsertado, não se opôs – Me desculpe por não ter contado da gravidez antes. Pensei em estar tomando a decisão certa, e…
- Talvez você tenha tomado – ele interrompeu a mulher, que não conseguiu esconder certa surpresa por tal admissão – Os fatores externos que não quiseram colaborar com seu plano. Sei que reagi mal no primeiro momento, mas você não precisa se desculpar pelas suas escolhas. Eu provavelmente teria feito exatamente como você previu, e essa conversa nunca teria acontecido, e nós precisamos dela. Nós nos perdemos no meio do caminho, eu me perdi, e só acabaríamos em desastre se tivéssemos insistido.
Steve quase sorriu ao notar como tinha deixado a mulher desconfortável, sem saber como agir depois de ouvir que estivera certa desde o começo. O pior que fazia sentido tal reação, levando em conta a visão equivocada que estava tendo de suas próprias ações, e não tinha como deixar aquilo continuar. Aquela conversa realmente era necessária. Algumas coisas antigas e novas precisavam ser esclarecidas, e Steve não iria pagar para ver o que aconteceria se adiasse aquilo ainda mais.
- De nós dois, eu que tenho que pedir desculpas – retomou ele, a voz mais firme do que ele planejava. Aquilo estava quase que fora de seu controle, já que aquele tópico realmente tinha o incomodado, já que nunca aquilo lhe passara pela cabeça – Você disse para o Bucky que eu te vejo de uma forma que exclui todos seus questionamentos e fraquezas, e sim, eu tenho uma imagem elevada de você, só que eu nunca tirei nada disso da conta. A imagem que eu tenho de você é tão elevada e inalcançável para qualquer outra pessoa exatamente porque eu nunca deixei de considerar tudo isso. Você é a pessoa mais incrível que eu conheço, e eu nunca ousaria tentar te dividir em parte ruim e boa para te tornar maior porque sua grandeza está exatamente no todo. E você tem ciência disso. Você mesmo diz que não pode lutar com seus demônios porque você é seus demônios. Talvez você não tenha entendido seu próprio valor ainda, mas então acredite em mim, que já te vi nos seus melhores e piores momentos: você nunca foi nada menos que magnífica, e isso nunca vai mudar.
Seu instinto era segurar a mão da mulher entre as suas, mas Steve se manteve imóvel. Ele não tinha terminado aqui. Talvez estivesse exagerando para o momento, mas realmente não tinha como deixar a oportunidade passar. Não dava mais para que não estivessem ambos na mesma página. Então ele continuaria mais um pouco.
- Agora eu tenho que pedir desculpas pela minha postura nos últimos meses. Eu comecei a te ver diferente, mas porque não soube separar as coisas. Só percebi isso na fuga da prisão, porque tudo perdeu a importância quando vi quão mal você estava. Eu estava lá pelo resto da equipe também, e estava preocupado com eles. Só que no momento que te vi, eu não conseguia pensar como o líder de uma equipe, e fazia muito tempo que eu não saia daquele papel. Era isso que eu estava fazendo errado – o olhar de Steve desviou momentaneamente do rosto da mulher, passeando vergonhosamente pelo ambiente antes de reunir mais uma vez coragem para a encarar. Agora parecia algo tão bobo e mesmo assim causara tamanho estrago – A divisa entre trabalho e nós estava tão maleável e discreta que em algum momento eu parei de me preocupar com ela. Você é a mulher que eu amo, e eu estava te vendo e te tratando apenas como uma colega de trabalho, o tipo errado de parceira. Somos ótimos juntos em campo, só que eu estava exigindo de você era que fosse um soldado perfeito, e nem eu sou um. Fui completamente injusto com você, e eu prometo que nunca mais vou fazer isso de novo. Se fizer, me soque para eu voltar ao normal.
Honestamente, nesse ponto Steve realmente esperava um soco. Ou um chute na perna por ser o membro mais próximo da mulher em seu campo de alcance. Alguma forma de retaliação por mais simples que fosse, mas ele apenas assistiu encolher as pernas para próximo ao corpo, escondendo o rosto nos joelhos enquanto ria baixo.
- Engraçado que as pessoas acham que sabemos o que estamos fazendo – suspirou ela, erguendo a cabeça e jogando o cabelo para trás com as mãos – Mas ainda temos muito que aprender.
- Nós só parecemos saber o que estamos fazendo – devolveu ele, respirando com uma facilidade notável, como se o peso do mundo tivesse saído de seus ombros – Se você estiver disposta a continuar, eu estou aqui. Se não..
- Desistir fácil assim não parece nada com você.
- É de lutas que eu não fujo – lembrou Steve, um vestígio de riso em sua voz, mas sua expressão neutra encarregada de transmitir toda a honestidade – Isso não é uma luta.
Ele tinha completa ciência de que ouviria dos médicos mais tarde, mas Steve chutou seus sapatos para um canto mesmo assim, se encolhendo contra na maca que definitivamente não fora projetada para duas pessoas, sua respiração batendo em seu pescoço sendo o suficiente para que finalmente saísse do modo alerta, pronto para tirar um cochilo de fato. Ele sabia que tinha permissão para levar a mulher para o quarto que lhe fora designado assim que ela acordasse, mas ele só precisava de cinco minutos. De um breve momento onde tudo parecesse estar em paz.

Capítulo 27

estava mais do que preparada para iniciar uma palestra sobre como ela podia ser movida para um quarto comum, mas não acabou sendo necessário. T’challa e a irmã tinham um sorriso mal contido no resto ao acompanhar a conversa da mais nova dos Stark e os médicos, a mulher ligeiramente confusa com a velocidade de avanços que eles tinham feito no seu caso e a prontidão para lhe darem alta porque realmente não tinha motivos para a manter internada. não estava se enganando dizendo que estava bem, ela realmente estava. Isso quase fazia com que ela desejasse ter ido para Wakanda mais cedo.
Steve acompanhava com um olhar atento a movimentação da mulher no quarto temporário que haviam designado para ambos, quase sem saber mais como agir em sua presença. A conversa de mais cedo tinha resultado em um alívio imenso sob seus ombros, mas mantinha uma postura pensativa, e ele começava a se preocupar. Por intermédio de Clint e Sam, ele já sabia que a visita de Tony não tinha sido nada pacífica e tinha certo receio em tocar no assunto, mesmo ciente de que precisava fazer isso o mais rápido possível.
A figura silenciosa de sentada com as costas apoiadas na cabeceira da cama com as mãos juntas sobre o colo tinha grandes potenciais de assombrar sua mente.
- Você está quieta demais para quem estava pronta para exigir alta há alguns minutos – comentou ele, suspirando alto antes de se sentar na beirada da cama – Tem certeza de que se sente bem?
- Eu preciso colocar mais algumas cartas na mesa – o aviso pegou Steve despreparado, algo que não passou despercebido por , mesmo que seu olhar unicamente estivesse ocupado em julgar suas unhas mal cuidadas. Parecia muito fora do personagem alimentar aquela conversa, mas estava cansada de ter que andar na ponta dos pés com aquele tópico, tendo que fazer malabarismo para evita-lo sempre que a menor brecha aparecia em seu caminho – Você não me deixou falar mais cedo e eu preciso terminar isso.
Sentindo o coração batendo mais forte contra as costelas em antecipação, Steve apenas assentiu, inconscientemente corrigindo sua postura que já estava mais do que reta.
- Você perdeu a confiança em mim pelas últimas semanas e eu fiquei com raiva sem motivo, já que eu estava sendo teimosa e não queria admitir que você estava certo – como imaginava, Steve estava tão confuso que sequer tentou verbalizar sus dúvidas. O máximo de resposta que teve foi ver sua cabeça se inclinar minimamente, seu olhar se tornando mais estreito. Ela, por sua vez, agradecia mentalmente a medicina wakandiana, já que ao menos agora tinha um melhor controle sob seus poderes e podia manter seus níveis estáveis, não tendo que se preocupar em como suas mãos estariam transpirando caso não tivesse intervenção – Eu tenho que pensar duas vezes em tudo que decido, para toda conclusão que chego. Todo mundo assumiu que foi o período na HYDRA que prejudicou as conexões na minha cabeça, mas não foi lá que eu entrei em contato com uma joia do infinito pela primeira vez.
- Loki – Steve respondeu sem pensar duas vezes, apenas para assistir negar com a cabeça.
- S.H.I.E.L.D. – corrigiu ela, surpreendendo seu interlocutor – Minha habilidade, a percepção espacial, evoluiu com o passar dos anos com todos os tipos de treinamento específico que passei para afinar essa característica. Acesse os registros do Coulson. Houve uma mudança considerável entre 2011 e 2012, o raio de percepção se estendeu mais do que nos outros anos. Meu contato com o Tesseract não foi tão dramático como com o cetro, ninguém deu muita importância. Mas agora sinto como se tivesse uma conexão. Então nós voltamos um pouco para o leve conflito de identidade porque eu não sei dizer o que sou eu e o que são as joias, e o pior é que nem sei se me importo mais.
- Você sabe que não se importa – o comentário de prontidão de Steve tão cheio de sinceridade fez com que um riso breve lhe escapasse, o sorriso cansado em seus lábios se mantendo enquanto sua cabeça tombava para o lado.
- Mas conseguir separar cada coisa na sua caixinha definitivamente me ajudaria a dormir à noite – continuou – Eu estou tentando o máximo que consigo, mas é exaustivo duvidar tanto das conclusões que chego. Então foi errado te julgar por duvidar de mim também.
- Embora não tenha refletido muito sobre as consequências caso desse errado, você foi a mais sensata de nós na última semana, – lembrou o soldado – Não estou dizendo para confiar de primeira em qualquer coisa que passar pela sua cabeça, mas você precisa voltar a confiar melhor nos processos que você realiza. Você é uma das melhores estrategistas que eu conheço.
- Você não estava confiando em mim desse jeito durante o último mês.
- Porque eu estava com medo de você estar regredindo e fui burro o suficiente para não falar com você sobre isso – devolveu ele – Não foi certo da minha parte. Não tocar no assunto não faz o cenário ser menos realidade. Já passei por uns mal bocados em todos esses anos, e o período que você ficou sob o controle do Krigor... Eu me sentia inútil porque fui incapaz de te proteger, mais ainda quando você voltou e eu não sabia o que fazer. Me mata um pouco toda vez que eu não consigo te ajudar. Mesmo sabendo que não posso consertar tudo. Eu só... Queria poder acabar com tudo isso, mas eu não consigo.
- Nunca esperei que você pudesse.
- Não muda muita coisa. Eu não sei o que faria se algo acontecesse com você, isso me assusta. Isso só aumenta com o passar do tempo – pela própria voz do soldado podia dizer que tinha mais coisa ali, mas foi sua figura incomodada que mais a perturbou, sua voz chamando o nome de Steve com cuidado. Steve por sua vez respirou fundo, não tinha mais motivos para deixar aquilo em segredo – Foi isso que a Wanda me mostrou. Quando ela estava com o Ultron. Algo tinha acontecido com os Vingadores e só restava você. Você e um filho nosso. Não me entenda errado, você é mais capaz que eu para a maior parte das coisas, mas... O papel de olhar por você é meu, a possibilidade de alguma coisa acontecer comigo e você... Isso me assombra. Eu quase perdi o foco quando você se ofereceu para ficar para trás em Berlim. Pensei que tinha chegado a hora.
- Então seu maior medo é me deixar sem supervisão?
- Até que demorou para você fazer graça – devolveu Steve, sem um pingo de hesitação, assim como o comentário – Estou orgulhoso, em algum nível.
- Eu me sinto assim também, de uma forma – confessou , bastante familiarizada com a confissão do homem – Eu tenho medo de algo acontecer com você e eu não ser capaz de impedir, principalmente se eu for a causa. Me perder para algo ou alguém de novo e partir contra vocês, definitivamente é meu pesadelo particular.
- Ah, esse é bom! – ofegou Steve, estalando os dedos e depois apontando para mulher – É meu medo depois do você ficar sem supervisão.
- Rogers!
- Eu estou sendo sincero! Você que pediu – brincou ele, contente ao continuar a ouvir o riso inconformado de – Não é como se eu dependesse de você ou algo assim, mas... Você significa tanto para mim que eu não consigo aceitar a possibilidade de te perder. Eu já perdi muita coisa.
- Sorte sua que eu sou bastante teimosa no quesito não morrer.
- É, mas não me livra dos ataques cardíacos.
- Eu tenho quase certeza de que o soro te livra disso.
- Às vezes você me faz sentir como se eu ainda fosse o Steve doente antes do exército – continuou ele, agora um pouco mais sério. A forma como seus músculos tensionaram um claro sinal de que as brincadeiras não tinham sido o suficiente para desviar o assunto. apenas pode sorrir em compaixão, com um pouco de alívio. Ambos precisavam disso – Querendo fazer tanto e não sendo capaz. É um sentimento bastante estranho. Você e o Bucky fazem bastante isso, para falar a verdade. Não fui capaz de salvar ele durante a guerra, não consegui impedir a HYDRA de chegar até você. E o soro não me ajudou em nada a ajudar vocês dois mais tarde porque o que vocês precisavam não era alguém derrubando uma parede no soco, e ainda não é.
- Nada disso tudo foi sua culpa, Stevie.
- Eu sei, mas... Eu não sei se me meti nessa confusão toda com ONU porque achei que era certo ou se era para proteger o Bucky. Não sei nem dizer o que faria se fosse você no lugar dele. O sentimento de nostalgia com o meu tempo? Nunca vai passar, mas eu encontrei nesse tempo amigos que conquistaram tudo que desejaram, viveram suas vidas sem arrependimentos. Dói ainda pensar que eu não pude fazer parte da vida deles, mas eu fico feliz por eles, por todos eles. Mas o Bucky não viveu. Não é só sobre ele ter crescido comigo, por todo o problema de deslocamento temporal. Eu falhei com ele uma vez, como posso fazer isso de novo?
- Você não falhou com ele, Steve. Ele sabe disso também.
- Sei que ele voltar para a cryo é a escolha mais inteligente, mas não me tranquiliza.
- Espera, o quê? – a voz de em um primeiro momento soou baixo, seu volume aumentando quando Steve não se explicou em velocidade apropriada – Quem vai voltar para onde agora?!

---

Clint no geral gostava de ficar sozinho e em silêncio, ajudava bastante em monitorar os espaços. Estar em mesa com outras pessoas num refeitório não contava como estar sozinho, mas ao menos havia silêncio, e o arqueiro deveria estar contente com isso. Porém não estava.
O clima entre a equipe não melhorara em nada desde as últimas horas, a única notícia que causara um certo alívio sendo a atualização do quadro de por meio de Bucky, a tensão entre os estrangeiros se mantendo constante desde então. O futuro era bastante incerto para o grupo, e o silêncio entre todos apenas parecia agravar aquela sensação. Por isso a aparição de uma emburrada fez com que o arqueiro soltasse um grunhido de alívio.
- Olha quem resolveu nos dar o ar da graça!
- Eu preciso de comida, ver vocês vem junto – devolveu a mulher, puxando a cadeira vazia ao lado de Wanda para se sentar. A mais nova não chegou a questionar a mais velha sobre como estava de fato, apenas sorrindo brevemente como resposta a seu olhar questionador – Tudo bem, Scott?
Scott ergueu o polegar da mão esquerda depois de soltar o potinho de gelatina que segurava, a colher cheia ainda dentro da boca. Sam fechou os olhos e balançou a cabeça em descrença, causando riso na recém-chegada. Não demorou muito para que alguém trouxesse uma bandeja preparada especialmente para , que torceu o nariz enquanto analisava o que estava sendo obrigada a comer, nada parecendo com o hamburguer que dissera para os médicos que queria comer.
- Vocês vão querer fazer um acordo, não? – comentou ela, cutucando algo que só podia ser um legume cozido com o garfo antes de espetar o alimento e levar à boca, a contra gosto – Bem, eu já paguei um advogado... Não acho que ele vá se importar.
- E você? – perguntou Clint, apenas para ouvir um “o que tem eu?” em resposta – Vai tentar fazer um acordo? Até onde eu me lembre, você estava saindo como refém na história.
soltou um riso irônico.
- Cárcere privado com alguém que não quer me ver nem pintada de ouro? Passo.
- Você devia conversar com o seu p... – começou o arqueiro, apenas para ser brutamente cortado.
- Eu tentei, ele que não quer ouvir – lembrou ela, séria – Não me importo quão frustrado e irritado Tony estava, a viagem da Sibéria para o Raft é bem longa, deu muito bem tempo de ele pensar que ir gritar com a filha presa, imunologicamente comprometida e ligeiramente grávida era uma péssima ideia. Gritar com o Steve? Completamente aceitável já que ele estava no mesmo ambiente que ele, além de estar lutando de volta.
- Eu não estou falando que não foi vacilo, eu só…
- Eu sei, Clint. Eu sei – continuou , atenuando o tom e a altura quando Wanda sussurrou que ela estava se exaltando – Eu só não quero tentar falar com ele enquanto ainda estou irritada. Barnes vai voltar para a cryo, vocês vão se entregar, Nat e Pete estão foragidos também... Faz muito tempo que eu não me sinto tão impotente, ok? A última coisa que eu preciso é ter meu espaço de circulação reduzido.
- Steve não acha que é melhor você se entregar? – soltou Sam, praguejando baixo quando ouviu o dito soldado às suas costas.
- Acho, com certeza. Mas ela não vai me ouvir mesmo se eu tentar – suspirou Steve, seu olhar contrariado nunca deixando a mulher que lhe forçava um sorriso mesmo de boca cheia – Mas ela está certa. Talvez faça mais mal do que bem.
- Então vocês não estão mais brigados? – perguntou Scott, o braço direito se apoiando sobre o encosto da cadeira que ocupava para poder se virar e olhar mais livremente para cada componente do casal.
- Depende do tópico – devolveu Steve, mais sério do que o assunto permitia, o que fez com que já suspirasse cansada. Ela tinha uma leve ideia do que estava por vir, e não queria lidar com aquilo no momento – Bucky quer falar com você.
E ela estava certa.
- E eu não quero falar com ele – resmungou ela em resposta, pegando mais uma garfada do que estava sendo uma refeição melhor do que ela esperava. Que seus médicos não escutassem.
- Você mais do que ninguém devia entend...
- Eu entendo, Rogers – ela logo tratou de o cortar – Mas isso não me deixa mais feliz com a escolha dele.
- Não sei por que estou surpreso que a Grávida não é a minha favorita – a voz de Clint soou com uma sinceridade que a mulher se viu se virando para o arqueiro sem pensar duas vezes, seu cenho franzido deixando claro toda sua confusão.
- Você nem tem uma favorita.
- Bom ponto – o arqueiro se deu por vencido, juntando suas coisas sobre a bandeja antes de se levantar – Boa sorte, Capitão.
Rindo mesmo sem querer, Steve pediu que a mulher procurasse por Bucky depois que terminasse a refeição, algo que ela concordou a contra gosto. Claro, ela estava confinada àquele prédio, não tinha autorização do rei (ela chegara a questionar se T’challa queria levar outro soco, o que causou riso no homem e um olhar indignado de uma de suas generais) para circular pela cidade, mas podia muito bem evitar Barnes mesmo com suas habilidades ainda retornando aos poucos, embora, nas palavras de Clint, não seria nada condizente com seu título de pessoa madura.
Talvez por isso Barnes parecesse tão surpreso ao avistar uma buscando por ele nos corredores dos laboratórios.
- Eu realmente estava preocupado que você fosse fugir de mim – brincou ele um tanto tenso, principalmente quando o olhar de permaneceu sério, firme. Bucky, por sua vez, sentia dificuldade em manter o contato visual. Ele sabia muito bem que estava à sua frente, mas sua figura parecia se alterar a cada batida de seu coração: Dominik de alguns meses atrás, sua versão criança, Valerik, . Só podia ser o nervosismo que a reação da mulher lhe causava, já que ele já tinha resolvido aquela questão. Não havia algo ativado no momento em sua mente que criava aquele instinto de proteção, era algo seu, genuinamente seu. Assim como aquela ansiedade por saber que não tinha a aprovação da mais nova.
- Eu continuo contra isso – devolveu ela, emburrada – Podemos fazer progresso com você respirando.
- Bem, acho que não tem ninguém melhor do que você para entender o que é não confiar na própria mente – disse ele depois de respirar fundo, a palavras parecendo mais difíceis de se formar em sua boca – Eu não quero continuar desse jeito.
Bucky esperava alguns gritos, não iria mentir. Pelo que Steve tinha relatado, já tinha ensaiado muito aquela discussão com o loiro, e não havia poupado a riqueza de seu vocabulário. Então por isso Bucky olhou desconfiado para os lados quando apenas abaixou a cabeça, balançando levemente de um lado para o outro enquanto praguejava baixo.
- Golpe baixo, cara – resmungou ela antes de voltar a erguer os olhos para o soldado. ainda estava visivelmente contrariada, mas havia um que de compreensão em seu olhar – Vai ser mais rápido do que você imagina. Pode confiar.
Barnes estava mais do que certo naquele ponto, não tinha como negar. Depois das últimas conversas mais pesadas com Steve, seria hipocrisia demais da sua parte se posicionar de outra forma. Se lhe fosse oferecida a chance de poder ficar em isolamento daquela forma, com a promessa de que voltaria com tudo em ordem meses atrás, ela teria recusado? Ela recusaria hoje? Era uma oferta tentadora, mesmo naquele momento, onde ela sentia ter o maior nível de consciência até então. Então como poderia se opor à decisão mais altruísta que alguém sem suas ferramentas poderia tomar?
- Vai ser só um cochilo rápido – Barnes dissera com a voz baixa, quase que confortando a ponta que deveria ser à reconfortar, diminuindo a distância entre eles com alguns passos despretensiosos, seus dedos adentrando entre os fios de seu cabelo e jogando a franja para trás, aproximando seu rosto do agora desprotegido da mulher – Mama Rogers.
- V...! Vai para a cryo logo, eu não ligo! – resmungou ela alto, se aproveitando da falta de um braço de Barnes e se esforçando menos para fugir do aperto do soldado, que passou a segui-la corredor abaixo enquanto ria.


Depois de um longo dia de trabalho, a última coisa que Carl queria era interações humanas. Tinha perdido a conta de quantos clientes tinham gritado com ele nas últimas horas, e tudo o que precisava era desligar seu celular, fechar as janelas do quarto e fingir que não existia por algumas horas. Todo o percurso do ponto de ônibus até a casa fora feito de cabeça baixa, torcendo para não ser notado por nenhum conhecido. Viver a maior parte da vida em uma mesma localidade tinha suas vantagens, mas também impossibilitava que se passasse despercebido na maior parte do tempo.
Por exemplo, era impossível vir do trabalho pelo caminho mais curto sem que uma parte do casal O’Neil o chamasse para comer um biscoito e os ajudar com o computador de sistema operacional ultrapassado. Em dias de folga ele até ia de bom grado, mas depois de tanto estresse ao longo do dia, não lhe restava muita paciência para auxiliar o casal de idosos. Outra coisa impossível também era ignorar o sorriso educado e a oferta de conversa de Davis toda vez que sua chegada coincidia com a do homem.
- Dia cheio de novo? – assumiu ele, equilibrando melhor as sacolas de papel no braço para pegar a chave da porta com uma habilidade que sempre surpreendia Carl.
- Você também parece ter tido um dia daqueles – devolveu Carl, rindo sem graça. Ele realmente queria dormir, mas não era desculpa para ser mal-educado com seu vizinho de alguns meses. Graham Davis e a esposa até então tinham sido nada menos do que prestativos com todos desde a mudança, e ele realmente não queria sofrer na mão dos outros moradores da rua por ter sido grosso com o casal – Madeline melhorou? Faz um tempo que não vejo ela por aí.
- Melhorou sim! Só é difícil fazer ela se mover para algum lugar sem um ventilador por perto, essa onda de calor veio em um péssimo momento – riu o mais velho dos homens, terminando de empurrar a porta com o pé – Vou deixar a tarefa de fazer ela sair um pouco de casa para o irmão dela quando ele voltar. Ele já perdeu o amor pela vida, eu, por outro lado, quero continuar nesse mundo por mais um tempo.
Carl apenas riu concordando, se despedindo depois de repetir que estava à disposição caso precisassem de algo, Graham agradecendo como sempre antes de entrar em casa e fechar a porta.
Assim que suas mãos estavam livres ao deixar as sacolas na bancada da cozinha, Graham aproveitou para esvaziar seus bolsos, sua carteira logo sendo jogada também sob a bancada, a habilitação de motorista escapando de um dos compartimentos e escorregando para o chão. Praguejando baixo, ele se agachou para buscar o documento, devolvendo o cartão à bancada sem se preocupar em realmente guardá-lo, sua atenção se demorando um pouco mais na sua imagem que registrava. Se tinha uma coisa que ele não estava naquele dia era com paciência, mas nada de sua irritação fora transmitida para a foto.
Era uma foto tão boa que, se olhasse rápido, Steve sequer era capaz de se reconhecer.
O cabelo estava mais curto, porém bem mais escuro do que agora. A barba também não estava tão densa. Um riso forçado lhe saiu pelo nariz depois de abandonar o documento, a recordação de quantas vezes a conversa sobre seu disfarce acontecera ao longo dos anos.
Ele não tinha tempo para aquilo no momento, realmente precisava checar se estava tudo bem com Madeline.
Subindo dois degraus por vezes, em segundos Steve já estava no andar superior, adentrando na então vazia suíte principal. Um ruído mínimo podia ser ouvido do banheiro, e ele bateu com leveza os nós dos dedos na madeira da porta antes de entrar, sem ter dificuldades de se localizar no banheiro pelo vapor do chuveiro já ter se dispersado. estava em frente ao espelho sem ainda ter se vestido completamente, entretida em observar as mudanças em seu corpo, mesmo que ciente de que não estava mais sozinha em casa. Havia um amontoado de roupas dobradas sobre a pia que aguardavam o momento de serem vestidas, com a delicada segunda peça do par de alianças que combinava com a sua no topo do monte.
- Parece que eu parei de treinar – comentou de repente, sua voz sequer parecendo ser direcionada a alguém, embora sua cabeça tivesse se virado minimamente para a porta que fora aberta – Quero dizer, eu parei, mas essa voltinha aqui não é gordura.
Steve apenas soltou um riso pelo nariz, se adiantando para beijar o rosto da mulher antes de começar a trabalhar em retirar suas roupas já impregnadas de suor.
- Quando tempo acha que vai demorar até não conseguir mais caber nas suas roupas? – comentou ele, parando todos seus movimentos no mesmo instante, sentindo o peso de suas palavras – Isso soou muito ofensivo. Na minha defensa, você já está usando as minhas camisetas. Seus peitos estão crescendo mais rápido que sua barriga.
- Você deve estar adorando ter um motivo extra para olhar para os meus peitos – devolveu a mulher, seu rosto se virando instintivamente para Steve quando ele escorregou no tapete em frente ao box.
- Que audácia! – resmungou ele, seu olhar concentrado no espaço que adentrava, ciente de que olhar para a mulher terminaria de assinar seu atestado de culpa – Eu não fico olhando.
- Rogers, alguns tipos de pensamentos afetam o funcionamento do corpo. Eu sei identificar.
- Você fica me analisando? Trapaceira!
Quando o barulho da água caindo voltou a dominar o banheiro, acreditou que teria o mínimo de paz e silêncio para terminar seu ritual de cuidado, mas Steve parecia ter outros planos, seu rosto com os cabelos grudados na testa logo aparecendo na porta que ele não fechara do box.
- Oh, bonita. Quando você termina com um sabonete, normalmente coloca outro no lugar.
- Eu ainda não sai do banheiro, você está invadindo a minha vez – devolveu ela, abrindo a gaveta errada duas vezes antes de encontrar os pacotes fechados de sabonete, entregando o objeto para Steve em seguida depois de se livrar da embalagem.
- Quer se vingar e invadir a minha? Cabe mais um aqui.
- Desculpa, ainda estou na fase de quero deitar e morrer, quem sabe semana que vem.
- Sem problemas – respondeu Steve, seus olhos fechando momentaneamente enquanto sorria – Pode checar as crianças depois? Eu faço o jantar hoje.
concordou e voltou sua atenção para suas roupas – ou roupas do Steve, se fosse ser sincera –, retornando para a suíte e para os aparelhos que deixara sobre a cama. Rastreamento Wanda, comunicação Petr, suporte Sam, atormentar Natasha. Embora fossem tarefas que demandam bastante atenção, não havia uma grande variedade de atividades que podia desempenhar. Sua atuação no campo havia sido drasticamente reduzida nas últimas semanas, e não tinha muito como argumentar contra aquilo, e nem queria. Embora um tanto monótono e doméstico, não era como se ela realmente tivesse como reclamar. Na verdade, era Steve que mais parecia estar prestes a subir pelas paredes do que ela, mesmo ainda participando esporadicamente de algumas missões mais curtas. Talvez porque não estivesse de fato facilitando as coisas para o seu lado. Como no episódio do morador novo.
Steve havia saído em missão junto com Wanda, algo que durara algo como três dias. Sam ficara na central com , em razão da dupla de russos estarem resolvendo outras pendências, e, embora Sam continuasse a insinuar como o mais velho ficava inquieto sobre deixar a casa, Steve estava bastante tranquilo. Sabia que Sam faria tudo o que estava a seu alcance e sabia que era mais do que capaz de garantir a própria segurança também, por isso as brincadeiras apenas ganhavam seu rolar de olhos. Steve sabia que retornaria para casa com tudo exatamente como deixara.
Até que as coisas ficaram ligeiramente diferentes.
A primeira coisa que Steve e Wanda ouviram ao entrar na casa não foram as comuns palavras de segurança combinadas previamente, mas sim uma sequência de latidos irritados. Um cachorro de porte grande e pelagem amarelada estava no corredor de entrada e determinado a não deixar ninguém passar. O animal só se acalmou quando um assobio agudo e alto ecoou pela casa, soltando mais alguns rosnados antes de dar as costas à dupla e seguir para a figura de que descia as escadas, se sentando próximo ao primeiro degrau com o rabo peludo abanando de um lado para o outro.
- O que é isso, ? – foi a primeira coisa que Steve perguntou, depois da mulher cumprimentar os recém chegados. Como de esperado, manteve a expressão limpa.
- O que é isso o quê?
- .
- Steve.
Wanda desistiu de assistir a cena, partindo para a cozinha de onde ela ouvia Sam rindo.
- O que é esse cachorro?
- Você já respondeu sua própria pergunt..
- Mari...
- Você que não está sabendo articular per... – desistiu de desconversar no meio do caminho, a expressão nada feliz de Steve e seus braços se cruzando em frente ao corpo não sendo um bom sinal do rumo que aquela conversa iria tomar – Ele me seguiu, fiquei com dó de espantar ele.
- Ele tem que ir embora – disse ele simplesmente, pronto para rumar para a cozinha também, mas sendo interrompido tanto por como por um latido contrariado do cachorro.
- Mas ele é tão quieto! – outro latido. ergueu a mão antes que Steve pudesse dizer mais alguma coisa – Você chegou do nada e ele não te conhece, não pode reclamar de ele estar na defensiva.
- Não tem como nós cuidarmos de um cachorro, ! Temos outras tarefas.
- Eu nunca pude ter um quando criança.
- Eu também não!
- Aproveita a chance de ter um agora!
- Não, .
Steve retornou para a suíte ainda esfregando a toalha nos fios molhados, não demorando para localizar mais uma vez adormecida sobre a cama, um notebook caindo de seu colo e o bendito cachorro com a cabeça deitada sobre seus pés cruzados. Pela nova movimentação, Curry abriu um dos olhos e soltou um rosnado baixo antes de tornar a fechar, como se não tivesse que se preocupar com possíveis aproximações, confiante de que seu aviso tivesse sido bastante claro.
Por já estar ficando com fome, Steve decidira descer e começar os preparativos do jantar. Completamente decisão própria, Curry.

Capítulo 28

já havia trocado de roupa três vezes nos últimos cinco minutos e aquilo não parecia ser um bom sinal. Suas decisões costumavam ser bastante rápidas quando o fator missão estava em jogo, sem espaço para hesitações. Talvez por isso Steve também começasse a ficar inquieto, seu pé direito batendo freneticamente no chão enquanto assistia a cena sentado na cama que dividiam.
Era começo de setembro, mas, embora ainda na época de altas temperaturas, uma frente fria mudara completamente o cenário, diminuindo as escolhas de para botas e alguns casacos. Sua barriga mais acentuada estava disfarçada no vestido escuro que optara, a combinação da peça escura com a meia-calça de mesmo tom deixando sua figura mais esguia, discreta.
- Então você está mudando os planos? – comentou Steve, depois de assistir a mulher descartar mais um casaco e jogar na cadeira que quase não podia ser mais vista.
- Não, não estou.
- Você sabe que não precisa fazer isso – continuou ele – Sei que eu sugeri, mas eu realmente não gosto tanto dessa ideia.
- Eu vou ficar bem – garantiu ela, seu olhar não se demorando em sua figura por ter localizado um casaco que parecia lhe agradar um pouco mais – Sam vai estar me monitorando, não?
- Não me deixa tão tranquilo assim.
- Vou dizer isso para ele, vai quebrar o coração do menino.
- Nunca é coisa boa quando você tenta desconversar...
- Ei, olha para mim – pediu , diminuindo a distância entre eles até poder tomar o rosto do soldado em suas mãos. Automaticamente, Steve cobriu suas mãos com as dele – Você sabe muito bem que não é mais assim que as coisas funcionam com nós dois. Sem mais segredos, sem mais assumir o que o outro está pensando.
Steve fechou os olhos e assentiu, se mantendo em silêncio porque sabia que não tinha terminado ainda.
- Eu não sei de fato se consigo ir até o fim, mas queria pelo menos tentar – confessou ela.
- Não quer levar a Wanda com você também?
- Não gosto da ideia de você ficar sozinho, e não queria ter que esperar Pete e Nat voltarem.
- Eu não sou tão toupeira assim, estou me saindo bem nesses últimos meses.
- Protocolo, coração – lembrou ela, beijando seu rosto rapidamente antes de retornar para o guarda-roupa, organizando novamente as peças que retirara do lugar – Ninguém age ou fica sozinho, lembra?
- Eu vou estar aqui com o cachorro idiota.
- Fala como se eu não visse você dormindo abraçado com ele.
Sam sequer precisava de todos os avisos de Steve para ficar atento de que não estava tão confiante assim, depois de tanto tempo de convívio, ele também era capaz de identificar a incerteza da mulher. Durante todo o trajeto, ou estava quieta ou falava demais, e o mais velho apenas seguia o fluxo, respeitando as vontades de sua momentaneamente protegida. Tudo estava impecavelmente planejado, todos os horários cruzados, mapas de movimentação habitual e planos de extração. A única coisa que não estava seguindo os conformes era a própria responsável pela operação, que parara no meio da sala do apartamento alugado sob o nome de Maria Matthews.
- ? – arriscou ele, ganhando sem dificuldades o olhar cansado da mulher. Mais tarde ele com certeza iria se vangloriar com Steve. Não era questão de identificar que queria desistir, era aguardar o momento certo para ela confessar não estar pronta – Quer voltar?
- Acho que quero – disse ela depois de um longo suspiro, seu olhar vagando para a rua pela janela ainda fechada – Eu realmente queria ser the bigger person. Se fizer piada, eu sento em você, Wilson – Sam apenas riu e ergueu as mãos em sinal de inocência, só depois murmurando um empático “talvez ainda seja muito cedo” – Ou muito tarde. A sensação que tenho é que vai ficar mais difícil com o tempo. Como abrir um machucado que já estava cicatrizado.
- Nossa, está aí o tipo de coisa que não se escuta de você todo dia.
- O quê? Esse nível de sabedoria? – esboçou um sorriso confiante, passando ambas as mãos na barriga e depois piscando para o homem – É o poder da maternidade. Você vai sentir um dia, quem sabe.
- Eu ficaria ótimo com um barrigão desses – suspirou ele, um pouco mais tranquilo ao ouvir a mulher rir. aceitou a mão que oferecia sem hesitação, ambos saindo ombro a ombro do prédio, retornando às ruas conversando sobre afazeres que estavam pendentes em casa, algo completamente mundano e adequado para o momento, ambos se misturando aos transeuntes sem grandes dificuldades.

Tony, por algum motivo, estava inquieto.
Eram poucas as reuniões que ele se dava o trabalho de participar, e quem diria participar presencialmente, embora ele não conseguisse se lembrar de fato de quando concordara com aquele compromisso. Mas se Sexta-Feira confirmava que ele tinha optado por ir até o local, não havia motivos para desconfiança. Só que isso não fazia com que ele se acalmasse.
Pepper vez ou outra voltava a perguntar se tudo estava bem e ele desconversava, tentava iniciar algum tópico relacionado à reunião. Chegava a surtir algum efeito, já que a mulher sempre retomava a lhe adiantar alguns pontos para ficar atento, mas continuava claro em seus olhos a preocupação. Apenas quando desceram do carro, na entrada do prédio, que Tony pareceu desligar de vez, a voz de Pepper questionando o que acontecera sendo apenas um ruído afastado em seus ouvidos.
Ele não sabia dizer o motivo, mas algo em si lhe obrigara a virar o rosto para trás, quase que o chamando. O outro lado da rua era bem mais comercial, com diversos estabelecimentos abertos, com mais pessoas transitando. Seu olhar em um primeiro momento passara sem dar muitas atenções à mulher sentada em um banco, mas algo fizera com que ele logo voltasse a olhar para ela. Talvez fosse a barriga protuberante dos últimos estágios de gravidez que tivesse atraído sua atenção, fazendo com que se lembrasse da filha, ou ele apenas tinha conseguido ver por trás de seu disfarce. Seu rosto mais largo e mais anguloso, o nariz mais achatado e os olhos menores, mas não parecia ser resultado de algum dispositivo para lhe dar um rosto novo, talvez fosse apenas maquiagem. O cabelo comprido agora se apresentava um corte pixie, e os fios escuros agora num tom discreto de ruivo, bem próximo do loiro. Seu olhar cruzara rapidamente com o de Tony, e ela se levantou assim que um ônibus parou no ponto. Tony quase sentiu o coração parar de vez ao não a avistar quando o veículo continuou o trajeto, a voz de Pepper parecendo ganhar mais força em sua consciência.
- Desculpa, eu... – começou ele, tendo que pigarrear para que sua voz voltasse o mais próximo da normalidade que era possível no momento – Eu só pensei que tivesse visto alguém, nada demais.

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Steve olhou desesperado para Sam, não encontrando nenhum apoio no homem que estava tão desesperado quando ele. tinha saído há quase duas horas, e, se ela não aparecesse nos próximos minutos, ele se juntaria à criança no choro desenfreado.
- Não é fome - começou Sam mais uma vez, tentando encontrar a explicação do desconforto da criança. O ser pequeno encolhido sobre o colchão parecia se encolher mais quando ele aproximava suas mãos para o pegar no colo, o que fazia com que Sam recuasse toda vez, deixando os braços caírem ao lado do corpo em um movimento exasperado – A fralda está mais limpa que material de hospital. Agora que diabos de cólica é essa?
- Não podemos dar alguma coisa? – sugeriu Natasha, que tinha ambas as mãos sobre os ouvidos. A mulher não queria soar impaciente, mas estava começando a ficar preocupada com o tanto de atenção que estavam atraindo na vizinhança. Embora fosse um local seguro, com o máximo de isolamento acústico possível, não tinha como aquele choro não estar sendo ouvido do lado de fora. Se bobeasse, logo chamaria a polícia com suspeita de que estavam tentando matar uma criança na casa.
- Acha que funcionaria? Poucas medicações funcionam com a , não é? Cadê essa mulher?! – lembrou Sam, buscando respostas em Steve, que apenas respirou fundo – Ela deveria saber o que fazer! Ela saiu em missão?
- Ela deixou o celular em casa.
tinha deixado a casa cedo, muito cedo. Embora tivesse avisado que ia sair, não deu detalhes de onde iria ou do que planejava fazer. Na hora, Steve não achou estranho, mas agora começava a se preocupar, principalmente por não ter como se comunicar com a mulher. As coisas estavam bastante calmas na cidade, a estadia do grupo não chamara nenhum tipo de atenção até então, mas agora o soldado começava a se questionar se não tinham sido ingênuos demais.
Steve já começava a considerar ligar para Tony quando a porta da casa foi aberta com pressa, o batente colidindo com a parede sem delicadezas.
- Stark, onde diabos v...?!
- Wilson, dois segundos – ela logo o cortou, passando pelo grupo com os olhos fechados – Calma.
se sentou em frente ao seu notebook em um movimento brusco, retirando do bolso de seu moletom largo o que parecia ser um tipo de headset. Ela plugara o aparelho na máquina e passara a digitar algo com agilidade, parando apenas quando uma luz azul acendeu. No fundo, ela não fazia ideia se aquilo funcionaria, mas era a melhor aposta que tinha até então.
Com cuidado, ela encaixou o aparelho na cabeça da criança. Ambas extremidades se encaixavam na entrada dos ouvidos, o que pareceu causar algum incômodo, já que os bracinhos, embora novos, tentaram afastar as mãos da mãe, quase conseguindo. Depois de alguns instantes, porém, a criança parou de apresentar resistência, assim como também silenciou o choro que já durava horas. Ela também estava cansada, afinal, por isso não estranhou a forma que sua respiração se tornara ritmada e serena, iniciando um sono leve.
- O que você fez? – questionou Sam em um sussurro, suas mãos ainda erguidas no aviso de silêncio para não perturbar a criança finalmente adormecida. apenas pode rir com toda a cautela.
- Nós nascemos com a visão péssima, mas a audição muito boa.
- Excesso de estímulo – deduziu Natasha, sem tirar os olhos do aparelho – Isso que você fez está limitando?
- Acredito que abafe um pouco, na verdade. O objetivo maior foi criar uma frequência constante para tirar a atenção do excesso.
- Isso não pode vir a fazer mal?
- Eu não sei, Natasha! Desculpe se eu não prestei atenção em todo mínimo detalhe dos testes da HYDRA com os corvos pequenos – a mudança brusca de tom de fez com que todos se sobressaltassem, Sam institivamente quase cobrindo os ouvidos da criança. suspirou alto em seguida, seu rosto se tornando muito mais calmo – Foi mal gritar, eu estou muito cansada.
- Bebê dorme, os pais também – lembrou Sam, se afastando da cama e empurrando Natasha com delicadeza para fora do quarto junto consigo – A gente segura as pontas aqui.
Steve foi o primeiro a se aconchegar no colchão, ocupando seu já costumeiro lugar na beirada da cama, enquanto seguira para o banheiro para tomar um banho e trocar suas roupas por peças limpas. Pelo nível de estresse que estava a casa desde o dia anterior, a mulher assumiu que encontraria o soldado apagado quando retornasse ao quarto, mas Steve continuava completamente acordado, sua postura perfeita mesmo deitado, apenas com o rosto virado para o bebê, acompanhando sem pressa os menores de seus movimentos.
- O que foi? – perguntou ela por fim, tirando o elástico que prendia seu cabelo e o deixando ao lado do notebook antes de ocupar seu lugar entre o bebê e a parede.
- Medo de dormir e acordar com ela gritando de novo – confessou ele baixo, um leve sorriso lhe escapando pela expressão exagerada da mulher que querendo ou não tinha o mesmo medo – Você consegue fazer o aparelho avisar quando estiver perto de acabar a bateria? Provavelmente vai ser a primeira coisa que eu vou checar daqui para frente, mas gostaria de me preparar psicologicamente.
- Vou trabalhar nisso – devolveu ela por fim, esticando uma mão para afastar uma mecha de cabelo que ameaçava cair nos olhos da criança. Talvez ela devesse cortar seu cabelo de novo quando acordasse, não sabia dizer quando fora o último corte – Tirando Lauren Rogers querendo dar um ataque cardíaco em todo mundo, tudo tranquilo? Petr e Wanda deram notícias?
- Sempre gostei de Lauren – comentou , seus olhos cansados se atentando aos menores detalhes do rosto do bebê que dormia tranquilo nos braços de Steve. O soldado, que tinha deitada sobre seu lado esquerdo, franziu o cenho mesmo sem se virar para ela, sem entender no que a mulher queria chegar. Era uma sugestão um tanto inusitada, para se dizer o mínimo – Até uns anos atrás, Lauren era minha mãe, não a doida da Valerik. Lauren para mim era uma boa pessoa, alguém que eu queria ter crescido perto. Alguém em quem eu me espelhava. Eu não sou nem um pouco parecida com a Lauren que eu imaginava, mas quero que ela seja. Não quero ela parecida comigo ou com a Valerik. Ela merece normalidade.
- Lauren Stark... – suspirou Steve, pegando a pequena mãozinha do bebê entre seus dedos – Gostei.
- Eu estou tendo problemas de audição pela exaustão ou você tirou seu nome da equação?
- Seu pai me ameaçou muito sobre isso – brincou ele, rindo quando um tapa leve lhe acertou o estômago – E nós não nos casamos de fato ainda. Você continua sendo só Stark. E você fez a maior parte do trabalho, é justo ela levar só o seu nome.
- Você não percebeu o que eu estava planejando aqui, não é?
- E você não percebeu que eu só estou prestando atenção nessa coisinha... – cantarolou ele, ajeitando o bebê em seu peito – Você vai ter que me tirar daqui aos socos, . Ou pegar uma arma, sei lá.
- Nome de mães, Steve – disse ela, e o soldado virou o rosto em um movimento rápido.

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O filme que o aparelho reproduzia estava falhando em prender sua atenção, a única coisa que impedia de se levantar e procurar outra atividade sendo o vidro de cookies pela metade. O fato era que estava sendo tão escassos os momentos de paz naquela casa que até ficar jogada no sofá comendo era uma excelente forma de preencher sua agenda. Lauren ao seu lado, em contrapartida, não estava muito feliz com o cenário.
O teclado que fazia sons engraçadinhos já havia perdido a graça há muito tempo, o olhar do bebê entretido na mãe, que começava a perder a paciência para ignorar o pedido silencioso.
- Tenho certeza de que você se lembra muito bem da dieta que seu pai planejou. Não faço ideia de como você conseguiu convencer ele a liberar as papinhas do mercado – lembrou a mulher, bufando alto quando o olhar de Lauren se tornou mais pidão, vendo a mãe buscar mais um biscoito no pote – Talvez tenha sido fazendo essa cara.
Lauren mostrou seu melhor sorriso banguela, esticando seus bracinhos quando a mãe desistiu de morder o doce, sentindo que havia conseguido a persuadir. apenas pode rir, já que de uma forma ela estava certa.
- Tudo bem, mas vamos deixar algo bem claro: antes de Stark ou Rogers, você é minha filha. Guardar segredos é da sua natureza e esse vai ser o primeiro, mas só uma mordida – ela se deu por vencida, estendendo o biscoito para o bebê que colocou o máximo que podia na boca – Eu não faço a menor ideia se você pode comer isso, então... Um pedacinho só, Laurie.
Lauren apenas ergueu os olhos para a mãe, parecendo sorrir enquanto suas gengivas trabalhavam em dissolver a massa.
- Você tinha que babar todo o negócio, não é? - resmungou , desistindo de segurar o biscoito quando a garota praticamente estapeou sua mão para longe – Se você passar mal, seu pai vai me m... Você vai fingir passar mal, não vai?
O riso divertido da criança foi interrompido pelo ranger da porta de entrada sendo aberta, Lauren enfiando o restante do biscoito na boca e se deitando no sofá de forma de sua bochecha proeminente ficasse camuflada. Achando graça, se levantou para auxiliar Sam e Steve que voltavam do mercado, mas não antes de pedir que a criança permanecesse onde estava. Natasha, Petr e Wanda estavam em missão durante aquela semana, e o trio que ficara estava se desdobrando entre suporte e coordenação e cuidar de uma criança. Era a primeira vez que a proporção criança e adultos fora tão reduzida, mas eles julgavam que estavam se saindo bem. Com Lauren ameaçando dar seus primeiros passos, o trio tivera que correr para proteger todos os espaços possíveis da casa, o que vez ou outra resultava em alguém praguejando por não conseguir abrir um armário com tanta facilidade, ou pegar algo na geladeira.
- Que barulho foi esse? – estranhou Steve, desistindo de guardar alguns congelados no freezer. Ele ouvira vidro se quebrando e não parecera ser longe o suficiente para ser nos vizinhos – Laurie?
foi a primeira a se mover, já que ela não precisava de um confirmação sonora para entender o que acontecera, embora ela tenha acontecido alguns segundos de atraso depois, o choramingo controlado guiando o trio para a sala onde Laurie se encolhera no sofá com a mão direita ensanguentada. O vidro com biscoitos que deixara sob o estofado agora tinha sua boca quebrada.
Steve com agilidade já tinha um lenço em mãos e se adiantava para envolver os dedos da criança, que parecia se recusar por receio da dor. O soldado chegou a tentar acalmar a filha usando um tom de voz baixo e mais doce, só para depois perceber que a criança estava mais calma do que todos eles, e não estava de fato receosa pelo contato. Lauren estava se recusando a deixar que Steve limpasse e tratasse o ferimento, esticando o bracinho estável para a mãe, que ficou a encarando de volta por alguns segundos, sem entender o que a criança poderia querer.
Até algo estalar em sua mente.
Com uma concentração que Steve apenas via na mulher quando trabalhava em algum projeto complicado, se agachou próxima à filha, fechando as mãos em punhos com vontade, forçando aquela familiar energia azul a fluir por sua pele. Depois de alguns segundos, abriu ambas as mãos e tomou a mão ferida da criança entre elas, seus dedos ficando tensos enquanto sua expressão se tornava ainda mais concentrada. Não demorou para que o bebê escorregasse sua mão para longe das mãos de e se jogasse em seus braços, murmurando um som infantil que todos já sabiam interpretar como um agradecimento.
- Puta merda, a garota entendeu meus poderes antes mesmo que eu pudesse entender – ofegou a mulher, puxando os dedos da criança apenas para constar com os olhos o que seu outro sentido já lhe confirmava: que os cortes, embora não completamente cicatrizados, estavam coagulados.
- Qual é, – resmungou Steve, se colocado de pé com um sorriso brincalhão mesmo depois da leve parada cardíaca que tivera – Criança aprendendo a falar.
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teve que controlar seu instinto de ralhar com seu irmão depois de ele gritar na porcaria do comunicador, tendo que se contentar em amassar o canudo que segurava em uma mão que não poderia mais ser usado para colocar no copo de café gelado que acabara de comprar. Ela entendia que tinha ficado um tempo suspeito em silêncio, sem responder as coisas que Petr lhe perguntava, mas também não era para tanto.
- Tem uma energia estranha aqui – contou ela por fim, deixando o estabelecimento e retornando para as ruas, tomando o máximo de cuidado para manter seu olhar baixo e não atrair atenções desnecessárias.
- Estamos falando de Nova Iorque, . Essa cidade é bizarra.
- Estou incomodada demais até para entrar na brincadeira.
- Me dá uma hora – pediu Petr, o tom de voz da irmã deixando claro que não deveria ignorar o que ela lhe falava – Fazemos o reconhecimento juntos.
- Certo, vai me mantendo atualizada.
Seu papel naquela missão era fácil. Fácil até demais. Principalmente porque o objetivo era muito simples. Petr podia cumprir aquilo sozinho, mas, por precaução, ninguém agia sozinho, então estava ali de suporte, caso algo desse errado. Tudo que ela precisava era estar nas redondezas, não achar atenção. Mas a atenção dela que fora chamada, e não estava conseguindo ignorar.
Quando deu por si, já tinha saído completamente da área que devia cobrir, seu comunicador guardado no bolso de sua jaqueta, encarando o que parecia ser – de acordo com a placa do local – os restos de uma casa de repouso que fora demolida.
A energia não estava ali, isso ela podia dizer com completa certeza. Mas estivera.
E, quando deu por si, também não estava lá, mas dentro de uma sala de aparência antiga.
- Mas que p…? – começou ela, procurando outro sinal de vida até encontrar um homem um pouco mais alto que ela no topo da escada, usando uma espécie de roupa suspeita demais para a deixar calma – Quem…?
- Sou o Doutor Stephen Strange – contou o homem, descendo os degraus com uma calma que apenas aumentava a inquietude de – Loki te mandou? Odin não está mais aqui.
de repente estava tão confusa que sequer conseguia mais produzir palavras, sua boca abria e fechava sem produzir som algum. Strange saiu em seu auxílio ao chegar ao fim da escada, lhe entregando um resumo do que acontecera até então, e onde ela estava.
- Espera… Você está me dizendo que Odin, o Pai de Todos, está exilado na Terra e que Loki, que deveria estar morto, foi quem o deixou aqui? – repetiu a mulher, cada palavra deixando um gosto pior que a última em sua boca. A cada segundo que passava, a cada coisa que ouvia, sua frequência cardíaca aumentava, e, ou ela não conseguia controlar, ou não queria de fato controlar – E em nenhum momento você acreditou que era uma boa ideia avisar sobre isso?!
- Quem precisa saber e pode fazer algo a respeito já está ciente. Eu, no caso.
- Mas é muita prepotência! Quem você pensa que é?! – rosnou , sua irritação apenas aumentando por notar a áurea plena que o mago continuava a exalar, completamente imune à sua energia. Suas mãos que praticamente gesticulavam sozinhas brilhavam em azul, o que queria dizer que seus olhos deviam estar no mesmo estado – Acha que pode cuidar do planeta todo sozinho e que ninguém precisa saber de nada? Quem foi o idiota que te deixou nessa posição? Porque não vejo mais ninguém aqui!
- Acha que essa é sua tarefa então? – devolveu Strange, com um sorriso cínico – Uma filhinha de papai que adquiriu algumas habilidades mais evoluídas depois de anos? Alguém que pelo próprio cargo já diz que não é capaz de proteger, apenas buscar vingança depois que tudo já foi destruído? Desculpe, esqueci que nem uma vingadora você é mais. Você não passa de uma fugitiva agora, Stark. Deixe as pessoas adequadas lidar com a situação, pelo menos uma vez na vida.
Strange assistiu a mulher abrir a boca para retrucar, sorrindo erroneamente satisfeito ao não receber resposta. Pelas histórias que ouvira até então, a imagem controlada de Stark era uma farsa, ou ela apenas não passava da sombra da mulher que fora. A Stark que conhecia não ficaria ofegante daquela forma, ou completamente fora do controle de suas emoções, parecendo prestes a pular em seu pescoço com as mãos vazias, sem precisar de poderes.
- Tem algo estranho em você – disse ela por fim, a voz mais baixa e profunda do que antes, o que pegou o doutor de surpresa. Havia algo diferente – Nesse lugar…
De princípio, ele não soube dizer o que havia mudado. Tudo que ele pode registrar foi como a energia da mulher mudara de repente, parecendo mudar de cor em um pulso, se tornando um azul mais intenso.
- Tem uma joia do infinito aqui – constatou , e Strange mal teve tempo de reagir, uma mão da mulher já em sua garganta, tirando seus pés do chão – Quem é você de verdade?
Strange chegou a conjurar cordas, mas a mão livre de descarregou uma energia estranha em seu corpo ao atingir o meio de seu peito, fazendo com que ele voasse alguns metros para trás, sem conseguir respirar por alguns instantes.
apenas seguia seus instintos, subindo escadas atrás de escadas, virando corredores e corredores até sentir que aquele era o lugar. Sua mão já estava para alcançar a maçaneta quando algo envolveu sua cintura, um movimento de Strange fazendo com que ela voasse para longe, caindo um lance de escadas com um barulho alto. Aquela mesma energia logo tentou envolver seus pulsos, mas, energia contra energia, saiu vitoriosa. Depois disso, a mulher precisou seguir de olhos fechados porque tudo começou a ficar estranho. O bom que sua percepção do espaço nunca pareceu estar tão afinada, seu corpo se movendo com facilidade, afastando os obstáculos.
Strange, por sua vez, nunca quis tanto enforcar alguém. A maior parte dos seus esforços se mostravam inúteis, apenas vez ou outra conseguia atrasar a mulher, e ele não queria descobrir o que podia acontecer caso alcançasse a joia, embora talvez logo se tornasse um cenário real.
Ela já tinha as mãos sobre Olho de Agamoto quando ele tentou um último ataque, partindo para cima da mulher. Strange conseguiu ver de relance o brilho particular da joia quando a mão esquerda se ergueu em sua direção, envolta daquele brilho azul característico. O pulso de energia ao tocar seu braço fez com que ele voasse para o canto da sala, desnorteado em um primeiro momento com o impacto.
Só depois ele notou como a sala estava silenciosa e como não estava mais ali.
Mas a joia estava.

Epílogo

O Executor seguia Hela um pouco mais atrás, um temor que não passava dominando seu peito. A deusa não era nada misteriosa sobre seus planos, mas mesmo assim ele temia pelos próximos passos da mulher. Ele não sabia o que ela buscava no cofre de tesouros do castelo, e a cada arma que Hela dizia ser inútil – ele tinha bastante certeza que mesmo assim elas continuavam mortais –, ele se encolhia um pouco, se colocando ainda mais atrás a ela.
Até eles passarem pelo que devia ser uma arma única.
- Ora, ora... O que temos aqui? – suspirou Hela, se ajoelhando em frente à arma, um riso divertido e curioso em sua voz. Duas correntes presas aos pulsos garantiam que a pessoa não sairia daquela posição, os braços esticados em uma posição que não deveria ser nada confortável, a cabeça inclinada para frente aumentando a imagem de redenção da cena, os longos cabelos mais escuros nas pontas e perdendo a cor ao longo dos fios esparramados em frente ao corpo, se misturando com o tecido branco com as pontas imundas da capa que cobria seu corpo pelo chão.
Não dava para chutar quanto tempo a criatura estava ali, mas era claro que fazia uns bons anos.
Hela, sem se conter – seus soldados não iriam a lugar nenhum, não fazia mal checar o motivo daquela criatura estar ali, nem o que ela era capaz de fazer –, esticou uma mão em direção aos fios desgrenhados, afastando parte da cortina cinza, apenas para ofegar em seguida. A criatura não estava desacordada, como ela esperava. Não apenas ela estava consciente, como seus olhos azuis incandescentes brilhavam sem poupar energia. A deusa por um momento chegou à conclusão errônea de que os olhos estavam desfocados, até ela perceber que a atenção deles era algo que estava do outro lado do corredor de tesouros, algo que particularmente brilhava no mesmo tom de azul celeste.
Tendo agora mais dois observadores, o Tesseract chegou a brilhar com mais empenho.
- Bem, isso pode ser interessante... – comentou Hela, amontoando os fios que afastara atrás da orelha da criatura, rindo surpresa e divertida quando seus olhos brilhantes se moveram em sua direção, silenciosamente questionando a visitante e suas motivações para estar ali – Quem é a garota?
- É u-uma das atrizes reais – contou o Executor, ganhando a atenção das duas mulheres – Loki alguma vez se referiu a ela como prisioneira.
- Não, ela não é uma prisioneira... É uma aquisição – Hela retrucou baixo, seus dedos gélidos passeando pela pele igualmente fria da criatura, que não pareceu se abalar pelo tom falsamente carinhoso da deusa – Qual seu nome, criança?
A criatura respirou mais fundo, juntando mais ar para uma atividade que não realizava a algum tempo, a língua passando seus lábios secos e rachados para não comprometer os sons.
- Eir, Aleksandra, Lauren, Corvo, Ás, Dominik... – ela passou a proferir uma lista, a deusa e seu ajudante ficando mais intrigados a cada nome, até ela fazer uma pausa que eles interpretaram como fim da lista, apenas para ela acrescentar um nome final.
Hela não tinha conhecimentos anteriores para temer aquele nome, mas o Executor, como um bom ouvinte das aventuras do então príncipe herdeiro, agora sabia muito bem quem ela era.
- .



Fim?


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Nota da autora: HELLO HELLO, I’M NOT WHERE I’M SUPPOSED TO BE
EU SINTO MUITO MUITO MESMO.
NÓS VEMOS EM THE REAL SIDE III: DAMAGED

para mais sofrimento, e uma pontinha de alegria, confiram os links abaixo!

The Real Side: Belonging
The Real Side: Longing
The Wrong Side

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