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Finalizada em: 28/06/2018

I. As montanhas de outono


As noites de céu estrelado eram muito comuns nas montanhas de Naveera. Qualquer pessoa que passasse por ali após o pôr do sol entenderia porquê gostava de se deitar na relva e contemplar as estrelas. Esse era um hábito que ela e sua irmã mais velha, , tinham conservado desde pequenas, embora não fosse um costume de seu povo.
Os Tólsotíl eram um dos únicos povos que habitavam as montanhas daquela região. Não porque fosse perigoso ou muito isolado — na verdade, era comum a presença de viajantes nas diversas trilhas que conectavam os diversos picos e vilarejos pelo caminho — mas sim porque os diversos povos naveerianos entendiam que aquelas terras deviam ser cuidadas e protegidas por seus habitantes originais. Havia algo de diferente, talvez mágico, no próprio ar que somente os Tólsotíl e seus povos-irmãos conseguiam compreender.
O povo de vivia em harmonia com a natureza, dela retirando tudo que precisavam e devolvendo a ela tudo o que podiam, em uma espécie de ciclo natural. Desse modo, se dedicavam a diversas atividades que lhes traziam sustento, como a caça, a pesca, a colheita de frutas e o pastoreio. costumava fazer as tarefas de caça ou pesca junto com vários outros homens e mulheres, sendo reconhecida por suas habilidades com a funda — ela conseguia acertar qualquer animal que mirasse em segundos.
ainda não tinha uma função definida no vilarejo, de maneira que passava os dias ajudando sua irmã em suas tarefas e quem mais precisasse de um par extra de mãos. Ela costumava sair em longas caminhadas ao final de cada tarde para colocar seus pensamentos em ordem e depois ver as estrelas. Já fazia algum tempo que não podia acompanhá-la, pois suas tarefas a mantinham ocupada até esse horário, assim como os outros adultos.
As montanhas onde os Tólsotíl viviam tinham as cores permanentes do outono, com tons de vermelho e laranja nas folhas das árvores. Era uma região vasta, de terreno acidentado e cheia de rios caudalosos, habitada quase em sua totalidade por pequenos animais que conviviam com as pessoas dos vilarejos. Talvez as montanhas parecessem traiçoeiras para os precipitados, mas eram todo o mundo de . Embora as estações passassem por aquelas terras, as folhas mantinham as mesmas cores conforme a vegetação se renovava a cada ano.
As montanhas de Naveera, no entanto, como todas as montanhas em nosso mundo e em outros tantos, também tinham sua cota de mistérios não resolvidos e lendas antigas. Um desses mitos, que nossa história conta, é a Lenda do Puma Errante. Há mais de oitenta anos, contava-se que todas as noites um puma espectral aparecia em alguma parte vazia das montanhas e atacava tanto viajantes experientes como desavisados que estivessem desbravando aquelas terras. Não se sabia qual era seu destino, uma vez que nenhuma das vítimas havia retornado. Poucos haviam desaparecido, porém, já que as pessoas evitavam sair para caminhar à noite. Dizia-se também que único modo de se defender do puma era jogar um tronco grande e bifurcado no chão entre si mesmo e entre o espectro — isso faria com que ele perdesse suas forças, desvanecendo no ar.
Fazia pouco tempo que as irmãs tinham retornado de um jantar de comemoração aos ancestrais com o resto da vila. Com a aproximação do solstício de verão, as preparações para o festival da colheita já estavam em curso. Assim que chegaram em sua tenda, correu para o que seria seu quarto e começou a colocar uns poucos pertences em sua pequena bolsa de couro. Fazia dias que vinha pensando naquilo; não era justo viverem com medo de um fantasma que ninguém nem mesmo tinha certeza que existia. Se os membros do Conselho da vila eram covardes demais para lidar com aquele suposto problema — mesmo ela já tendo falado do assunto diversas vezes nas reuniões —, ela mesma iria assumir aquela responsabilidade.
— Você está saindo de novo? — questionou ao ver colocando alguns suprimentos numa pequena bolsa de couro. — Já temos tudo que precisamos para essa semana. Não precisa sair a essa hora.
pôs a bolsa no ombro e se virou para a irmã, reprimindo um suspiro.
— Não, . Estou indo caminhar. Lembra-se? Como costumávamos fazer após o jantar. — ela viu a expressão da irmã mudar de calma para ansiosa em um milésimo de segundo.
— Você sabe que não deve ir! Estas terras não são as mesmas de quando éramos crianças… é perigoso lá fora, e está tudo ainda pior com o fantasma vagando por aí! Você não ouviu falar das pessoas desaparecidas? — se pôs na frente de , impedindo sua passagem.
andou de um lado para o outro com a bolsa ainda pendendo em seu ombro. Ela não queria ter que empurrar para fora de seu caminho, mas não haveria outra opção se não conseguisse convencê-la rápido.
— Entendo sua preocupação, suske. Realmente entendo. Mas você não percebe que esse é o ponto? Nós vivemos com medo, não podemos sair à noite quando bem entendemos e o nosso Conselho nunca toma decisão alguma. As pessoas estão desaparecendo e eu não posso ficar aqui fazendo nada, me escondendo com medo de uma criatura que nem sabemos se existe! — ela viu que se preparava para responder, mas continuou argumentando. — Suske, eu saio para caminhar e ver as estrelas todas as noites e nunca me aconteceu nada, nem nunca me perdi. Você não acha que, se esse fantasma realmente existisse, eu já o teria visto?
— Isso não podemos afirmar. Você pode apenas não ter ficado no caminho dele, ou deve ter tido sorte. — reprimiu outro suspiro, mas decidiu não rebater aquilo. — Certo, sisko, alguém tem que lidar com essa questão dos desaparecimentos, mas por que tem que ser você e não um dos anciãos ou um dos homens da vila?
segurou a bolsa com mais força em seu ombro e passou pela irmã enquanto ela falava, indo em direção à porta.
— Porque, se eu não for, ninguém irá. Eles têm demasiado medo. — dizendo isso, ela pisou para fora da cabana e se virou para . — Eu volto logo, suske, prometo. Eu faço isso por todos nós.
Ela foi surpreendida por um abraço apertado de sua irmã, que também encostou sua testa na dela. — Então vá, sisko. Cuide-se, e que os bons ventos a acompanhem.
— As estrelas serão meu guia — respondeu o cumprimento como de praxe e sua irmã a soltou. saiu em meio à escuridão daquela noite em que a lua não tinha aparecido, indo na direção oposta à qual seguia todos os dias.

Aquela era a primeira vez em muitos anos que não buscava um pedaço de relva para se deitar e admirar o céu noturno. Em vez disso, ela procurou guiar-se pelo brilho das estrelas, suas velhas amigas, e assim, o caminho escuro que havia começado na porta de sua cabana se iluminava.
Até aquele momento, achava que conhecia aquela região como a palma de sua mão, mas as estrelas provaram o contrário, levando-a por caminhos até então desconhecidos pela jovem naveeriana. As montanhas pareciam muito mais inóspitas e maiores do que antes. nunca saberia por quanto tempo seguiu caminhando, mas, ao que parecia o fim de algumas horas, chegou a uma encruzilhada.
Ela conseguia distinguir as silhuetas de algumas árvores de troncos grossos de onde dois novos caminhos saíam, um em meio à escuridão e o outro repleto de damas da noite, que intoxicavam o ambiente com seu rico perfume. precisou apenas sentir o perfume para saber por onde seguir. Sem pensar duas vezes, a garota seguiu a trilha mostrada pelas flores. Diferente do caminho anterior, aquela trilha tinha algumas bifurcações e por vezes tinha que virar em diferentes direções para não perder o rastro das damas da noite — apenas seu brilho fraco mostrava que ela estava na direção correta. Diversas flores pareciam se abrir conforme se aproximava e passava por elas, emitindo luzes esbranquiçadas.
Após mais algumas bifurcações, viu uma raposa vermelha sentada na frente de uma das árvores, que se levantou ao passar por ela. se virou ao ver que o animal parecia andar atrás dela. Ao fazer isso, porém, a raposa regougou e começou a correr, ultrapassando . Ela entendeu que deveria segui-la, e assim o fez.


II. O tronco bifurcado


O animal a guiou por aqueles caminhos cada vez mais iluminados até que decidiu sentar-se para descansar num pedaço de relva. Ela se surpreendeu ao ver que a raposa também parou de correr e se aproximou, deitando-se ao lado dela. cruzou as pernas e abriu a bolsa de couro sobre seu colo, fazendo uma rápida refeição de frutas e pedaços de pão. Ela nunca havia estado tão longe de casa. Na verdade, estava tão dentro das montanhas que não saberia voltar para a vila se não fosse pelo caminho de flores brilhantes.
Aquela área da floresta era tão densa que não era possível ver o céu. As árvores eram juntas demais, de modo que qualquer fonte de luz exterior era bloqueada, dando a impressão que estavam numa noite eterna. compartilhou um pouco de sua comida com a raposa e, por falta de outra companhia, lhe contou tudo que sabia sobre seu povo e sobre o fantasma que ela nem tinha certeza se existia. Como todos os animais deste mundo, as orelhas da raposa se levantaram, mostrando que ela estava escutando e estava interessada. Era quase como se o animal entendesse cada palavra de .
A jovem acabou dormindo ali mesmo na relva, flanqueada por sua nova companheira. teve um sono tranquilo, no entanto, o mesmo não se podia dizer da raposa. O que houve foi que Raposa despertou agitada depois de poucas horas, pois o barulho de galhos quebrando tinha chamado sua atenção. Ela se levantou e assumiu uma posição de ataque, posicionando-se na frente da garota, que agora dormia esparramada na grama. Seus ganidos se transformavam em rosnados após cheirar o ar e não descobrir nada — nada vivo, pelo menos, já que ainda sentia uma presença sufocante que mudava o ambiente.
Um puma pulou da escuridão sem aviso, correndo na direção de . Raposa o atacou, impedindo-o de chegar até a jovem adormecida. Uma disputa se seguiu — mesmo com seu tamanho diminuto, ela conseguia bloquear o puma em qualquer direção que viesse. Apesar disso, não conseguia atingí-lo. Em um momento lhe parecia que ele estava na sua frente e ao mesmo tempo não estava. Após várias tentativas, o puma voltou para o meio da floresta, e Raposa rugiu novamente para espantá-lo. Raposa ainda estava alerta quando se acomodou perto de , voltando a seu sono agitado.
No que parecia ser a manhã seguinte — devido à falta de luz natural ali — Raposa deu uma leve mordida nos dedos de para que acordasse, e logo começou a puxar a alça da bolsa dela com a boca, arrastando-a no chão. Ela correu em direção ao caminho de damas da noite, que continuavam abertas e exalando perfume.
despertou no momento que sentiu os dentes da raposa beliscando sua pele. Ela se sentia bem descansada, e ainda grogue, como nos sentimos após uma noite de muito trabalho. Por isso, não compreendeu quando viu o animal mordendo e puxando a alça de sua bolsa com os dentes, e saindo correndo com ela.
— Ei! Espere aí! — levantou-se de um pulo e disparou atrás de Raposa, vendo que voltavam ao caminho do dia anterior. Ela tomava cuidado para não esmagar as flores com seus passos apressados. A raposa olhou para trás por um momento e, após comprovar que estava em seu encalço, continuou seguindo o rastro das flores.
gritava para que a raposa a esperasse. Seguiu-a pela trilha de flores que parecia interminável — até que, algum tempo depois, encontrou Raposa parada em frente a uma caverna, a bolsa jogada a seu lado. Parecia estar curiosa, já que tinha seu olhar fixo na entrada do local. olhou da entrada para a trilha que tinham acabado de seguir, concluindo que era ali que acabava. Ela não fazia ideia do que a esperava dentro, mas imaginava que aquele devia ser o caminho correto. Afinal, por qual outro motivo as estrelas e as flores a teriam guiado até Raposa e até aquele lugar?
Ela jogou a bolsa sobre o ombro, lançando um olhar duro ao animal.
— Que foi, cansou de roubar minha bolsa, é? O que é que você queria me mostrar? — como resposta, Raposa regougou e entrou na caverna, o que fez com que a seguisse mais uma vez. As duas seguiram por um túnel curto e escuro até que ele se abriu numa caverna pequena, por onde entrava um pouco de luz, mostrando que de fato estavam durante o dia.
se permitiu alguns minutos para admirar seu entorno, enquanto Raposa seguia em frente, descendo pelas pequenas elevações de rocha abaixo das duas, quase como degraus naturais, que levavam a uma pequena lagoa no centro da caverna. Havia diversos pinheiros e árvores de coníferas na beira da lagoa, algumas tão altas que quase alcançavam o teto. Na verdade, o que mais se notava naquela caverna eram os diferentes tons de verde da vegetação e a beleza e tranquilidade que traziam àquele ambiente esquecido pelo tempo. Ela desceu os degraus com lentidão, admirando tudo sobre que aquele ambiente. Ela imaginava que deveria ser a primeira pessoa ali em séculos, devido à maneira que tudo parecia intocado e como os pequenos animais que via correndo pela caverna se aproximavam dela sem medo algum, apenas com curiosidade.
Conforme se aproximava do centro da caverna, viu que Raposa a esperava na beira da lagoa, cuja água era tão clara que ela conseguia ver um pedaço de tronco no fundo e salmões nadando de um lado para outro. A raposa inclinou a cabeça quando ela se aproximou, como se mostrasse que aquele era o próximo passo. entrou na lagoa com cuidado, notando que a água batia em seus calcanhares. Ela esticou o braço e recuperou o tronco, vendo sua madeira escura e percebendo que era bifurcado e muito leve. Então ela entendeu porque estava ali.
— Um tronco bifurcado… a lenda o menciona, não é mesmo? Que só estaremos livres do Puma Errante com esse tronco. — a raposa virou a cabeça em sua direção e a encarou. — Então era aqui que você queria me trazer. A lenda é verdadeira.


III. A força que nos protege


Convencida pela raposa e pelos elementos que a tinham guiado naquela jornada até a caverna, levou muito menos tempo para retornar até a parte das montanhas que conhecia do que tinha levado para sair dela. Raposa ainda a acompanhava, e a noite já tinha caído havia muitas horas quando ela chegou a uma distância segura de sua aldeia, de modo que conseguia ver suas luzes a pouca distância. Ela apertou sem perceber o tronco em suas mãos enquanto procurava algum rastro do fantasma. Nada na lenda mencionava como encontrá-lo ou atraí-lo, apenas diziam que ele vagava pelas montanhas a cada noite à procura de novas vítimas.
Diferente do que se esperaria numa situação daquelas, a jovem naveeriana não sentiu medo quando um rosnado chamou sua atenção. Na sua frente, um puma gigantesco e espectral corria até ela. Raposa se virou em segundos e rosnou de volta, porém se manteve ao lado da jovem. se preparou para um possível impacto, esperando até que o puma estivesse bem próximo para jogar o tronco bifurcado no chão entre eles. O efeito foi imediato: o puma parou de correr ao alcançar o tronco, que, percebeu, agia como uma barreira entre eles, protegendo a ela, a raposa e tudo que estava daquele lado das montanhas. Se tivesse olhado para trás naquele momento, teria visto que toda aquela movimentação e o barulho tinham feito com que não só como também a maioria dos aldeões deixassem suas cabanas e fossem na direção dela, efetivamente apoiando-a contra o fantasma.
O puma rosnou como em frustração e tentou avançar várias vezes, apenas para ser repelido e jogado para trás a cada nova tentativa. Ele parecia cada vez mais irritado. Aquilo não causou qualquer tipo de medo em — deixando-se guiar por seus instintos, ela se aproximou de modo que seus pés tocassem o tronco e esticou seus dois braços, posicionando as palmas de suas mãos na testa do puma. Ela pronunciou com voz suave: “Está tudo bem. Eu acho que você não é o que todos dizem ser. Você apenas precisa ser compreendido.”
O animal-espectro rosnou mais uma vez — o que mais pareceu um lamento do que qualquer outra coisa — e seu pelo espectral brilhou como a luz da lua e se dissolveu, revelando um homem de cabelos castanhos que chegavam até sua cintura. Ele tinha uma expressão triste e ao mesmo tempo aliviada, em seu rosto enrugado.
— Você me salvou, minha jovem. Obrigado por me tirar dessa existência miserável.
O choque de foi tanto que ela quase removeu o tronco entre eles.
— Você é humano?! O que estava fazendo na forma de um puma, então? Por que você sequestra as pessoas dos povos das montanhas?
Ele sorriu para ela, para a raposa (que tinha parado de rosnar no momento da transformação) e para todos que observavam aquela cena.
— Sim, . Muito tempo atrás, eu me perdi nestas montanhas de outono (elas eram muito mais traiçoeiras naquela época…) e tanto tempo se passou sem que me procurassem que, após a minha morte, eu tomei a forma do meu espírito protetor, o puma. Desde então… há pouco menos de oitenta anos, sem ter para onde ir e ainda estando perdido, eu vagueio por estas terras ajudando aldeões e viajantes perdidos a encontrarem o caminho de casa, para que não tenham o mesmo destino que o meu. — dizendo isso, ele levantou os braços com leveza e cinco pessoas que haviam desaparecido recentemente, todas Tolsotíl, apareceram ilesas.
Percebendo o que estava para acontecer, chutou o tronco entre ela e o espectro, quebrando a barreira e deixando que aquelas pessoas passassem. Foi naquele momento que ela se virou e viu que quase toda sua comunidade os observavam — e agora estavam tomados de emoção, abraçando e beijando seus amigos e familiares perdidos há semanas ou até meses. Ela voltou seu olhar ao espectro, deixando que terminasse de se explicar.
— Tanto tempo vagando fez com que eu fosse perdendo o que restava da minha sanidade, embora ainda tivesse momentos lúcidos. É por isso que eu cheguei a atacar pessoas, e também é por isso que tentei atacá-la na noite passada, e me desculpo por isso.
— O quê? Mas eu… eu não vi nada disso!
— Isso porque sua valente raposa a defendeu, . — ele sorriu, olhando na direção de Raposa, e acariciou a cabeça do animal, que regougou satisfeito. — Sei como isto parece, mas apesar dos ataques eu nunca cheguei a machucar alguém. Eu as assustava para que encontrassem o caminho de casa ou as levava comigo até que pudesse guiá-las para casa. A todos vocês, eu peço que me perdoem por ter causado tanto medo e dor à minha comunidade.
olhou dos Tolsotíl para o espectro, parecendo um pouco confusa.
— Espere, então você é um de nós? — o burburinho atrás dela mostrava a surpresa de todos. — Tudo que sabíamos sobre você estava errado então. Espere aí, como sabe meu nome?
Pela primeira vez o espectro se moveu, tocando o braço de . Em vez do toque gelado que esperava, ela sentiu um toque reconfortante, como quando se abraça um membro da família.
e … — saiu do meio da multidão e se posicionou ao lado de sua irmã mais nova. — Eu sempre estive acompanhando vocês nos meus momentos de sanidade. Não só sou, ou fui, um Tólsotíl, como também fazia parte da família de vocês. Meu nome é Signar, e sou pai que Maruska não pôde conhecer.
— Você é o nosso avô… atasí! — deu um passo para frente e o abraçou, e fez o mesmo em seguida. Os três ficaram naquele abraço por um momento que pareceu eterno para eles, embora na realidade fossem poucos minutos. Os muitos Tolsotíl atrás deles deram vivas, e muitos agradeceram aos deuses por aquele reencontro (ou primeiro encontro). — Vai ficar conosco, não é mesmo? Temos pouco espaço em casa, mas tenho certeza que podemos dar um jeito. — acrescentou, sem poder conter sua emoção.
Signar deu um sorriso triste e elas viram que seus olhos se encheram de lágrimas.
— Mesmo que os deuses assim queiram… eu já passei demasiado tempo aqui, atasarian. — Usou o termo da língua tolsotíl para netas. — Agora que estou livre, eu devo dar o próximo passo no meu ciclo, que é me juntar a todos os nossos ancestrais. Eles já me esperam.
— Não é justo — interviu , sem conter as lágrimas. — Agora que nós o achamos, você vai embora, atasí... não poderemos ser uma família. Seremos só eu e a suske, para sempre.
Signar abraçou as netas novamente antes de responder.
, querida, lembre-se dos ensinamentos dos anciãos da vila. Somos um, todos nós somos parte um do outro. Mesmo quando partimos, a nossa existência permanece a mesma. Passamos a fazer parte da natureza. Por isso, minhas queridas, eu estarei em todo lugar. Quando se sentirem tristes ou perdidas, lembrem-se que estarei com vocês, para sempre.
Aquelas palavras, embora tristes, ajudaram a confortar e , que já compreendia melhor tudo aquilo. Ela apertou a mão da irmã mais nova, e retribuiu o gesto com mais força que gostaria. Signar deu um abraço longo e cheio de lágrimas nas duas.
— Um dia vocês se juntarão a mim e a todos nossos ancestrais quando o ciclo de cada uma de vocês se completar. Não imaginam o quanto estou feliz por conhecê-las. Até lá… eu sempre estarei em todo lugar para guiá-las.
Signar desvaneceu tão rápido como tinha se transformado de puma em homem. Assim que ele se foi, as irmãs se deram as mãos novamente. Embora aquela despedida fosse difícil, a luz do sol no horizonte lhes trazia esperança.
Afinal, a partir daquele milésimo de segundo, as montanhas perpétuas de outono nunca mais foram as mesmas.

Ele vive em você.
He lives in you! He lives in me!
He watches over everything we see.


FIM.



Nota da autora:
Oi galera, como vão? Curtiram minha terceira fic neste site maravilhoso que é o FFOBS? Espero que tenha dado pra notar a vibe de Rei Leão aqui com toda essa lore dos ancestrais e de algo parecido com o Ciclo da Vida.
Se vocês já estiverem acostumados com a minha escrita, terão visto que nessa história eu acabei mudando um pouco meu estilo, falando mais com o leitor e indo um pouco pro realismo fantástico. Deu pra perceber? Vocês curtiram isso?
Por fim: não deixem de comentar abaixo, a opinião de vocês é super importante! E não deixem de ler as outras histórias que tenho publicadas no site:
- Timişoara (Originais/Shortfic)
- MV: Élan (Especial Music Video)
Até uma próxima história! E não se esqueçam: vocês devem ocupar seus lugares no Ciclo da Vida!
- Lioness
Bjs!



Outras Fanfics:

- Timişoara (Originais/Shortfic)
- MV: Élan (Especial Music Video)

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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