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Última atualização: 29/04/2018

Capítulo Único

Os convites para o baile de formatura estavam à toda na Downers Grove Christian School. Era início de maio e Steven havia montado um outdoor em frente à escola com os dizeres “Julie, quer ir ao baile comigo?”, enquanto Josh trocou o toque do celular de Logan para um áudio com a voz da moça do Google perguntando “gostaria de acompanhar Josh no baile?”. Tocou no dia do aniversário de Logan.

Talvez o convite mais decepcionante, até o momento, tenha sido o de Stephan para Jenny. O rapaz copiou a carta de aceite da Brown University, que chegou às mãos da menina através de um dos funcionários da escola. Foi uma situação em que ninguém se lembrou de que os resultados de admissão ainda não estavam sendo feitos. A única coisa que todos pensaram quando viram o envelope, Jenny inclusive, é que ela havia conquistado uma vaga na universidade dos sonhos (e que universidade!). Foi um tanto quanto frustrante constatar que, na verdade, não passava de um convite para o baile de formatura. Criativo, sim. Chato também.

, porém, não ficaria conhecida por receber um chamado extraordinário demais (tanto no sentido bom, quanto no ruim). A fama de viria por ter sido a única garota daquele ano a recusar um convite.

guardava em seu armário os livros usados na última aula, as paredes de ferro do compartimento vindo forradas por recortes de revista da banda McFLY. Ela não se deu conta de que tinha um rapaz parado atrás da pequena porta até que a fechasse, cadeado travado. Kevin Kronemberg aparecia com as costas apoiadas no armário ao lado. Vestia o uniforme do time de futebol e um sorriso sacana no canto dos lábios, os olhos no rosto de .

“Hey, !”, cumprimentou. “O que acha de ir ao baile comigo?”

Não, nada elaborado, tampouco surpreendente. Pedido (sugestão?) simples, olhos nos olhos. O fato dele ser Kevin Kronemberg já era impactante o suficiente para aquela situação, não precisava de nada além. Ele ocupava o posto de capitão do time de futebol do colégio. Só o fato dele convidar uma menina que se mantinha longe dos holofotes – não só longe, mas escondida atrás de um livro na maioria das vezes – era toda a surpresa daquela situação.

O mais impactante, no entanto, foi a resposta de .

“Oh, Kevin, agradeço a gentileza, mas passo.” Kronemberg precisou de alguns segundos para processar aquela informação. Não estava acostumado com a rejeição (ele era o capitão, oras!). “Espero que você encontre outro par para não ir sozinho, sim?” Desejou, afastando-se do garoto. Tinha outra aula à sua espera, portanto não havia tempo hábil para prolongar aquela conversa – especialmente quando ela parecia estar encerrada.

Já de costas para Kevin, soltou o ar pelas narinas de uma forma pesada.

Ela sabia quais eram as intenções do rapaz ao chama-la para aquele evento. Não, leva-la para a cama não vinha no topo da lista de suposições, embora fosse de conhecimento global e universal que muitos casais terminavam a noite do baile de formatura daquele jeito. Não, acreditava que a gratidão soava mais coerente, ainda mais quando ela própria ajudara o garoto em algumas disciplinas ao longo daquele ano. E foi justamente por isso que ela recusou.

Não queria que sua companhia ao baile fosse uma recompensa por algo que ela faria por qualquer um.

Fora que seu ‘sim’ estava guardado para outra pessoa, mesmo que não tivesse a certeza de que ele a chamaria.

***


Por mais que tudo tenha acontecido de uma forma bastante discreta, apenas uma conversa muito breve em frente aos armários, a notícia de que tinha recusado o convite de Kevin Kronemberg se espalhou por toda a escola. Assustador, mas nada além do que costuma acontecer. É incrível como as paredes dos colégios parecem ter olhos e ouvidos por todas as partes.

Além das fofocas, a notícia foi capaz de desestabilizar algumas pessoas. Um certo , por exemplo.

“Se ela dispensou um cara como o Kevin, é porque não tá afim de ir”, compartilhou seus achismos com , no refeitório. Eram os únicos naquela mesa durante o almoço, uma cena comum todos os dias. Isolados, é o que aquela dupla sempre tinha sido. Geeks eram muito pouco compreendidos em uma escola como Christian School. Aparentemente, eram os únicos dessa tribo. “Ou já tem par, vai saber.”

estava preparado para dar mais uma mordida em seu sanduíche de presunto quando mudou de ideia. Dar um esporro em vinha como prioridade.

“Você é um ridículo”, soltou, espantando até o amigo. “Sua auto-estima baixa tá ultrapassando barreiras, cara. Só nessa sua fala você cometeu uns trezentos erros”, odiava quando começava com histórias como aquela. Era óbvio que ele estava colocando obstáculos em algo que queria muito fazer. “Você realmente acha que a é a garota que diria ‘sim’ pro Kronemberg só porque ele é o Kronemberg? Que a única razão dela dar um fora no cara é porque já combinou de ir com outra pessoa? Me poupe, caralho. Até parece que não conhece a menina!”

arqueou as sobrancelhas. falou um palavrão. nunca falava palavrão! Ele tinha conseguido deixar o baixinho no vermelho.

“Não é bem assim...”

“Cala a boca que eu não terminei.” Só faltou enfiar o dedo na cara de . “Você tá enchendo sua cabeça de caraminholas pra não levantar a bunda dessa cadeira e chama-la você mesmo. Tudo por medo”, viu tomar ar pra rebater e elevou o tom de voz para calá-lo antes, atraindo alguns olhares. “Medo sim senhor!”, exclamou. Prosseguiu no volume normal, baixo, quando percebeu que não seria interrompido. “Você tá sendo a porra de um bundão. Cê não sabe se ela já tem par, mas vai descobrir se for lá convidar a garota pra te acompanhar.”

Não queria admitir, mas estava certo. não queria passar pela mesma situação de Kronemberg. O capitão popular com certeza não sentia nada especial por – possivelmente queria apenas inclui-la em sua lista de ‘garotas que já peguei –, não por ela não ser incrível, porque era, mas sim por um cara como Kevin não dar o menor valor pra esse tipo de coisa. Para Kevin, o importante é ser O Pegador.

Ele, , era diferente (sobre , pelo menos, era, porque no fundo no fundo ele achava a ideia de ficar com várias meninas muito legal, mas isso não vinha ao caso). Uma rejeição vinda da garota que ele gostava com certeza o derrubaria. Queria se proteger. Mal imaginava que aquela tentativa de se manter firme era a bola de canhão que estava acabando com suas estruturas.

“Faça o convite”, aconselhou. “Tenta, pelo menos. O ‘não’ você já tem.”

“E é o ‘não’ que eu não quero”, resmungou, recebendo um olhar torto do outro, que voltou sua atenção para o sanduíche de presunto. Ele já tinha dado seu recado. Agora era com .

***


As semanas passavam, abril dava lugar a maio e ainda não tinha sido capaz de reunir coragem suficiente para convidar para o baile de formatura. O cenário, na cabeça do rapaz, não era favorável. Deu o braço a torcer para tudo o que lhe dissera no refeitório, é verdade, e estava mais do que decidido a no mínimo tentar. Só não tinha ideia de como fazer.

não era exibicionista. Não que a menina tenha lhe passado esse tipo de informação, ela não fez, mas lembrava-se muito bem de qual tinha sido a reação da colega diante do pedido feito em forma de outdoor feito por Stevens. Assistiu de longe levar uma das mãos à bochecha, as sobrancelhas franzidas, meneando a cabeça em sinal de negação. Vergonha alheia.

Sentia que era uma pessoa simples e se o pedido viesse de alguém com chances de ganhar o ‘sim’, pequenos gestos poderiam fazê-la feliz. Considerou apenas se aproximar e pedir. Seria diferente do pedido de Kronemberg. Não que ele tenha visto o convite do jogador, muito menos escutado relatos – não falava no assunto, Kevin muito menos, então todos na escola tinham as mesmas informações –, mas conhecendo a fama do rapaz, com certeza foi algo carregado de convencimento e egocentrismo. Ele, , não era assim. Mas ele, , também sabia que começaria a gaguejar enquanto estivesse falando e isso poderia atrair olhares de quem estivesse por perto. A atenção poderia constranger . Aquilo era tudo o que ele não queria.

“Argh, por que tudo é tão complicado?!”, exclamou, exasperado, os dedos enroscados nos cabelos. Sua voz ecoou pela sala parcialmente vazia. Eram apenas ele e Collins, os únicos que chegavam mais cedo na aula de Matemática Avançada, e o mesmo encarou-o com ares de questionamento. Ignorou. Preferiu encarar o teto e continuar pensando naquela situação que, ao que tudo indicava, não tinha uma solução.

Encostou a testa no tampo da mesa, olhos fechados e mantendo a vontade de gritar ainda mais alto entalada na garganta. As coisas deveriam ser mais simples!

Não soube ao certo quanto tempo ficou naquela posição, sabe que só voltou a se sentar como um aluno decente quando escutou a voz de ser dirigida para ele.

“Tá tudo bem, ?”, ela perguntou enquanto terminava de arrumar os materiais em cima de sua própria mesa, aquela que vinha logo ao lado da dele. arrumou a postura em um instante, costas coladas à cadeira, ombros rígidos e uma gota de suor escorrendo pela testa. causava aquele efeito.

“Tudo ótimo!”, respondeu, a voz esganiçada demais, levando a menina a arquear a sobrancelha e murmurar um “Certo... já que você diz...” recheado de descrença sobre a fala do colega. não poderia estar mais certa. estava nervoso, angustiado, aflito. Muitas coisas e ‘ótimo’ não era uma delas.

A professora escrevia uma infinidade de fórmulas e números no quadro negro e não poderia estar mais alheio a tudo o que acontecia dentro da sala de aula. Os joelhos tremiam e batia na mesa com a ponta do lápis – se ela não viesse revestida com uma borracha, estaria fazendo barulho suficiente para atrapalhar a aula. estava sentada ao seu lado, como acontecia todas as quartas, naquele horário. Aquela era a única hora da semana em que ficavam próximos sem que ele tivesse que criar uma situação, coisa que fazia muito raramente dada a timidez de se aproximar da garota. Se não fizesse nada até o final da aula, só teria outra oportunidade na semana seguinte e até lá, outro poderia chama-la. Ele perderia.

Ele não queria perder.

Quando deu por si, escrevia Quer ir ao baile comigo? no canto da folha do caderno. Arrancou o pedaço e colocou sobre a mesa da menina, em um impulso só. Lembrou-se do quanto ela gostava de McFLY. As capas de seus cadernos eram compostas por recortes de revistas com fotos dos meninos da banda. O toque do celular era Star Girl. fletcher96 era seu endereço de e-mail.

“Please, please, please please”, sussurrou no ritmo da música, os olhos focados no que a professora escrevia no quadro, incapaz de olhar para o lado para ver se a colega estava lendo. Como escutou uma risadinha abafada, supôs que sim, ela leu – não só leu, como o escutou.

Ela riu.

Céus, ela riu. Ela com certeza iria negar. Ele tinha sido um paspalho e ela interpretou a música como uma súplica – era súplica mesmo, mas argh, era pra ter sido bonitinho! Ideias tidas de última hora, elas eram péssimas. Jamais faria algo no impulso outra vez. Se pouparia de outra humilhação, com certe- parou de pensar quando o mesmo papel pousou novamente sobre seu caderno. Parou de respirar, também.

Uhum.

Não ousou olhar para o lado até que o toque do sinal anunciou o término da aula. Virou-se em direção a , rígido, os ossos praticamente se fantasiando de lata. Era um robô. Mais um pouco e a menina não só repensaria no ‘sim’, como também lhe daria uma lata de óleo para molhar as engrenagens. Queria, mas também não conseguia relaxar. Não ainda.

“Hm, então”, começou a dizer, sem conseguir olhá-la nos olhos. Focou-se em um ponto sobre a sua cabeça. “Podemos conversar sobre o baile mais tarde? E-eu- eu- não me leve a mal, é só que-” que o quê, seu bocó?! “Eu tô atrasado pra próxima aula! É. É isso. Atraso.” Riu, sem graça. Sentiu o alívio abraçar seu corpo quando os lábios da menina também se voltaram para cima, e o sorriso dela não vinha carregado de tensão ou nervosismo. Era só verdadeiro e tranquilo. Compreensivo.

“Fica tranquilo”, falou. “Eu também tenho aula daqui a pouco e nós vamos ter bastante tempo para conversar sobre. Ainda temos um mês para o baile.”

“Pois é! Qualquer coisa eu te mando um e-mail e-” Céus. Ele era péssimo. apenas assentiu. Era impressão ou ela estava contendo a vontade de rir?

“Boa aula, .”

***
deixou a sala a passos lagos e certeiros, ultrapassando todos os que vinham à sua frente. Queria chegar ao corredor em que as laterais vinham cercadas por armários; sabia que seria lá que encontraria naquele momento. O amigo com certeza estaria pegando os materiais que teria de usar no próximo tempo de aula. Um conhecia os horários do outro suficientemente bem para saber onde poderiam se encontrar, dentro do colégio.

Dito e feito. se encontrava com a porta de seu armário aberta, retirando aquilo que usaria e guardando o que não tinha mais nenhuma utilidade para aquele dia. não esperou que terminasse o que estava fazendo. Pegou-o pelo braço, arrancando um “Eu não tenho dinheiro, me larga!” de , que soltou todos os livros, com ares de piada. Não respondeu. Apenas empurrou o mais novo contra o armário ao lado, pousando as mãos trêmulas nos ombros do amigo. Encarou-o.

“Pelo amor de Deus, então quer dizer que vai ser assim, amor?!”, exclamou, erguendo os braços como quem se rende. “Vai me assumir na frente de toda a escola?!”

Abaixou a cabeça, rindo, ainda com as mãos grudadas no outro. Não esperava uma reação diferente de .

“Prometi que seria uma cena e tanto, não?”, entrou na brincadeira, balançando a cabeça em negação. Respirou fundo antes de continuar, a expressão mudando completamente e assumindo os mesmos traços tensos antes de rir diante da piada de . “Eu consegui.”

“Homem, isso tá ficando cada vez mais estranho. Você já pode sair do papel de quem vai se declarar pra mim, ou eu vou começar a acreditar e, sinto muito, mas você não faz meu tipo. Eu gosto de moças e não tô afim de te machucar.”

“Não, besta!”, exclamou, voltando a sorrir. “Eu consegui. Chamei a para o baile.”

Os olhos de cresceram, a boca ficando entre aberta. “Você vai ter que me contar tudo. Tudo, ouviu bem? Detalhes. Quero todos. Tem bastante tempo daqui até a aula de História. Me ajuda a catar todos esses livros que você me fez derrubar e vamos.”

Deixaram o espaço dos armários andando lado a lado, o braço de passando pelos ombros de , livros e cadernos sendo carregados com a mão livre. Não, não poupou detalhes.

***


Era difícil acreditar que a festa de encerramento daquela fase da vida enfim tinha chegado. Sim, para , o Baile de Formatura era exatamente aquilo. Um ponto final. Sua última participação enquanto aluna da Downers Groove Christian School e tudo estava em seu devido lugar.

O vestido longo e rosa lhe cobria o corpo, exceto nas costas. Os cabelos vinham soltos, ondas castanhas jogadas ao vento. Usava salto, também, e já sentia pena de de antemão – com certeza pisaria nos pés do par em algum momento, mesmo depois de todas as aulas de dança patrocinadas pelos pais. . Sentou-se na cama com cuidado para não amassar o tecido delicado da roupa, os olhos se perdendo na paisagem que a janela enquadrava. O sol começava a se pôr. O céu estava semelhante àquele quando reparou em pela primeira vez, meses antes.

Não se lembrava do dia exato, muito menos da data, mas lembrava-se bem de que estava sentada nas arquibancadas da quadra de esportes externa junto com as amigas. Todas assistiam aos testes que os rapazes tinham se submetido para entrar para o time de futebol americano da escola. Lembrava-se, também, de que Johnson era a piada do dia – um nerd tentando uma vaga em um espaço como aquele. Mas não era que mais chamava a atenção de , naquele momento. Enquanto todos abafavam risadas e ficavam se perguntando se o garoto não tinha noção do ridículo, os olhos de estavam no garoto sentado algumas fileiras abaixo de onde ela estava.

torcia por como se não houvesse amanhã. “Tá no seu sangue, cara!”, ele exclamava. “Isso! Mandou bem!” tinha a impressão de que ele teria levado até um cartaz motivacional, se pudesse. Depois de tanto escutar os incentivos de , pegou-se concordando com suas palavras. era bom. Se não fosse considerado um garoto esquisito por ser nerd, com toda a certeza teria entrado para o time. Levava jeito. Ficou claro para ela que os rapazes do time só não o colocaram na escala por puro preconceito.

“O azar foi todo deles, irmão”, escutou dizer para o amigo quando todos já haviam deixado as arquibancadas, o céu não mais iluminado pelo pôr-do-sol e sim pelo escuro da noite. As luzes brancas e fortes eram a única fonte de iluminação, então. “Você jogou futebol com o seu pai a vida toda e fez um ótimo trabalho. Eles que foram babacas. Você vai dar o troco na faculdade, pode apostar.”

Foi no dia seguinte que percebeu que aquele garoto que tanto apoiava o amigo era o mesmo menino que se sentava do seu lado, em Matemática Avançada. era quieto em sala, até sua respiração era baixa demais. Nada denunciava sua presença. Um menino invisível que, da noite pro dia, ganhou cor e vida para os olhos da menina.

Não eram de trocar muitas palavras, embora seu interesse em conhecer aquele rapaz fosse grande. Escutava-o sussurrar as respostas para os problemas que a professora passava em questão de segundos e ele acertava todos, absolutamente todos. Lembrava-se do dia em que conseguiu tomar coragem para perguntar porque ele nunca falava em voz alta, para ganhar créditos na disciplina.

“Ah- eu não me importo com créditos”, ele respondeu, pálido demais. Será que não estava passando bem naquele dia? Céus, ela tinha que ter escolhido justamente um dia em que ele não estava tão bem assim para conversar? Poxa vida. “É só que- ah. O que vale mesmo é que eu saiba resolver tudo e- bem. E que saiba passar isso na hora da prova.” Ele encolheu os ombros, como se não soubesse mais o que dizer.

“Entendi”, falou. “Tenho certeza de que você vai bem nelas, então. Você é muito inteligente.”

Viu o vermelho se alastrar pelas bochechas do outro, acabando com a palidez anterior. Ainda bem que o sinal tocou naquele momento, ou então ela com certeza teria apertado pela fofura ao vê-lo ficar envergonhado depois de receber um elogio. Que menino mais fofinho era o !

Não sabia ao certo quando começou a desejar que a convidasse para o Baile. Talvez tenha sido no dia em que Josh trocou o toque do celular de Logan. aparentava ser um menino sensível e provavelmente pensaria em algo delicado e com significado, exatamente como Josh fez. Ela queria ser a escolhida do pedido do menino que torcia e apoiava, do menino que incentivava e ficava com as bochechas coradas diante de elogios. Pensou que seu coração fosse pular pela garganta quando o papel com a pergunta caiu em sua mesa, acompanhada de uma nova versão de Please, Please. Ela amava McFLY e lá estava ele cantando uma música da sua banda preferida com o seu nome na letra.

Agora ali estava ela quase um mês depois pronta para ir para o Baile de Formatura com aquele mesmo rapaz.

Escutou o toque da campainha e sua mãe começar a tagarelar animada no andar de baixo. Ele deveria ter chegado. Levantou-se, passando as mãos pelo vestido como se aquilo pudesse desamarrotar qualquer possível marca que os minutos sentada tivessem deixado. Percebeu que estava nervosa apenas quando suas mãos tocaram a maçaneta da porta. Os dedos estavam trêmulos.

Deixa de ser boba, , pensou. Você só vai descer as escadas para um baile de formatura, não seu casamento. Rolou os olhos sozinha, sorrindo para si própria.

Desceu os degraus, o flash da câmera do pai disparando a toda. “Ai, tá tão linda!”, a senhora exclamou, os olhos na filha e as mãos dando palmadinhas no ombro do marido. “Fotografa, George! Fotografa muito. Vou mandar uma dessas pra Selena ainda hoje, pra agradecer pelo tecido do vestido!”

“Eu vou continuar tirando foto, mas contigo me batendo vai sair tudo tremido. Sossega, mulher!”, bronqueou, brincando, arrancando risadas de e um olhar carrancudo da esposa, que só voltou a sorrir quando olhou de novo para a filha.

Era inegável o orgulho que George e Susan sentiam pela filha. Os olhos brilhavam e não apenas no sentido figurado, no literal também. Uma lágrima escorria pela bochecha de George, Susan ainda conseguindo manter tudo dentro de si – só não sabia dizer até quando. Não era apenas sobre o baile, ou um vestido bem arrumado ou a companhia bem-apessoada que ela conseguira para aquele dia.

Era a conquista. Era ver que estava concluindo uma fase importante da vida depois de anos consecutivos recheados de muito estudo e dedicação – as cartas de aceite de Harvard e Yale estavam ali para provar. Ela poderia escolher entre duas integrantes da Ivy League!

Era ver que a garotinha deles – a única garotinha! – estava alçando novos ares. A pequena estava crescendo, afinal. A pequena grande . Ontem eles estavam segurando o banco da bicicleta até que ela tivesse equilíbrio suficiente para andar sozinha, sem rodinhas, e agora ela descia as escadas rumo ao Baile de Formatura do highschool. Aquilo era muito para aqueles dois corações.

assistia os dois começando a sentir a garganta ficar apertada. Caso continuasse, ia desabar. Voltou-se, então, para o rapaz que até aquele instante parecia ser mero coadjuvante naquela cena, aquele que a assistia tão encantado quanto o casal de pais coruja. trazia um sorriso abobalhado no rosto, terno cinza e a gravata da mesma cor do vestido dela. A mãe, Susan, fazia questão daquele detalhe e estava disposto a aceitar tudo, com certeza. Retribuiu o sorriso e escutou a comemoração de Susan – George deve ter capturado aquele momento com a câmera.

“Ai, venham, crianças. Precisamos tirar uma foto de vocês dois assim, bem arrumadinhos. Vamos para a frente da lareira, vamos!”, senhora ordenou, encaminhando os dois adolescentes – jovens? – para o espaço adequado para aquela última foto.

“Hm- com licença, senhora ”, se pronunciou antes que os pais de tomassem a vez. Atraiu a atenção dos três presentes. Em outras épocas teria ficado roxo de vergonha, é verdade, mas desde que convidara havia se aproximado bastante de Susan e George também. Claro que tinham que conhecer o rapaz que chamara a garotinha deles para o baile, em um jantar preparado com muito carinho. Oferecer aula de dança para ambos, também. Aulas que eram realizadas ali mesmo, na casa, toda sexta à noite. “Minha mãe mandou um presente”, avisou, olhando para a menina. Tirou de dentro do bolso interno do paletó pequenas flores rosas, mesma cor do vestido e da gravata, presas a uma pulseira de pérolas.

“O corsage!”, Susan exclamou, emocionada.

“Mamãe que fez”, comentou baixinho para que apenas escutasse, enquanto colocava a peça no pulso que ela tinha lhe oferecido, o esquerdo.

“Obrigada”, agradeceu no mesmo tom, sorrindo com os olhos.

“Pombinhos, agora atenção aqui”, George pediu, levantando a câmera e enquadrando o casal no visor, corpo inteiro. e posavam em frente à lareira, a mão dele vindo na cintura dela e as bochechas levemente mais avermelhadas depois de escutar ‘pombinhos’. Ele e haviam evoluído de colegas de sala para bons amigos, mas definitivamente não tinham chegado naquele ponto. Pombinhos, tsc.

Quem dera.

***
O orçamento do colégio não era tão alto para promover uma festa de arromba. Apesar da pouca verba, porém, conseguiram organizar uma comemoração que fez com que a saída de casa valesse a pena. A quadra de esportes estava toda decorada com fitas metálicas presas ao teto e um globo de luz localizado bem no centro, enquanto lá, onde deveria estar uma das traves de gol, estava um pequeno palco onde uma banda local tocava e agitava aqueles que tinham ido para dançar. Os músicos não eram conhecidos, mas se fosse a vontade deles ganhar reconhecimento, talvez não demorasse para acontecer. Eram bons.

viru-se perdido às portas do salão, músicas do Queen ribombando pelo espaço com a voz do vocalista da banda. Ele se preparou para o processo de fazer o convite e até de ir uma vez por semana na casa de , para ensaiar, mas estar na festa era diferente. Ele não tinha visualizado aquela parte.

“Vem, vamos dançar!”, a voz de se sobressaiu à música alta, a mão da menina envolvendo seu pulso e puxando-o para a quadra, onde outros tantos formandos também balançavam os corpos no ritmo da música.

Ali, dançando, não pôde deixar de pensar que tudo estava valendo a pena. Antes era a garota que sentava ao seu lado na aula de Matemática Avançada e foco de todo o seu platonismo. Ela era inteligente, aplicada, tinha um sorriso que chamava a atenção e era, também, linda por inteiro. Era grato a por tê-lo convencido a chamar a colega para aquele dia. Passaram um mês inteiro se aproximando e o que antes era apenas achismo para , agora eram certezas. Pensava que fosse uma menina doce. Confirmado. Pensava que era um pouquinho atrapalhada, desengonçada até. Depois de uma série de aulas de dança e pisadas no pé, sabia que não tinha se enganado.

também sabia, agora, que aquilo não deveria ser só uma paixão boba.

“Tá tudo bem?”, escutou a parceira perguntar. Merda, deveria estar olhando pra ela com cara de paspalho!

“Sim! Tá tudo certo! É só que-”

Infelizmente não conseguiu expressar seus pensamentos naquele momento. Não quando sentiu um cutucão em seu ombro e desviou a atenção para ver quem era.

Kronemberg.

“Posso conversar com você um segundo?”, o recém-chegado perguntou, ignorando a presença de .

“Oi, Kevin!”, a menina cumprimentou, simpática. “Tudo bem se for mais tarde? Agora eu estou dançando”, sorriu, indicando com um aceno da cabeça. Kevin assentiu, ainda sem olhar para o outro rapaz.

“Claro. Mais tarde, então.”

A dupla assistiu o jogador se afastar, música lenta começando a tocar. levou as mãos à nuca de , as dele indo para a cintura dela. Era aquilo que eles basicamente tinham feito durante maio inteiro.

“Você e o Kronemberg tiveram alguma coisa?”, a pergunta saiu como um fiapo, mas o suficiente para que escutasse e entendesse. Sentiu medo de qual seria a resposta.

A menina apenas negou com a cabeça.

“Ajudei em algumas matérias, só.” Deu de ombros, sentindo os ombros de relaxarem embaixo de seus antebraços. Sorriu. “Mesmo que tivesse, seria algo que ficou no passado.” Garantiu. Mesmo com os ombros mais relaxados, ainda sentia o nervosismo tomar conta do rapaz. Pendeu a cabeça para o lado. “E você não precisa ficar tenso desse jeito. Sou só eu.”

“É justamente por ser você que eu fico assim”, soltou. O calor se alastrou pelas bochechas. Nunca desejou tanto que a falta de luz de um local pudesse esconder o rubor em seu rosto. O sorriso de ficou ainda maior.

“Posso fazer uma coisa?”

“O quê?”

Viu, então, a garota se apoiar nas pontas dos pés – mesmo de salto, ele ainda era mais alto –, as mãos descendo pra suas bochechas, cada palma espalmada em um dos lados. Os lábios de eram quentes e macios, e ele se pegou desejando que aquele instante durasse muito mais tempo do que de fato foi. Talvez tivesse durado mesmo, se uma orla de palmas e risadas de hiena não tivessem chegado até eles.

olhou por cima do ombro, ainda apoiada em seu corpo. e o restante dos rapazes que tinha como amigos aplaudiam e assoviavam, gritos como “ESSE É O MEU GAROTO!” e “FINALMENTE!” não sendo esquecidos. Revirou os olhos, contendo-se para não levantar o dedo do meio, mas certo de que aquela intromissão teria volta.

“Temos um fã clube?!”, perguntou, divertida.

“É... quase isso.” Voltou a dar as costas para o grupo de meninos desacompanhados – dentre todos, ele foi o único que arrumou um par para aquela noite.

“Seus amigos parecem ser legais.”

“Acho que nós poderíamos voltar para o que estávamos fazendo, antes desses abelhudos atrapalharem.”

riu, tornando a ficar nas pontas dos pés. não entendia nada de músicas lentas, mas com certeza iria buscar o nome daquela que a banda ainda estava tocando. Aquela música foi a trilha sonora de um de seus melhores momentos no colégio.



FIM



Nota da autora: Enfim minha primeira participação em um projeto do FFOBS <3 Que alegria! Espero que vocês tenham gostado desse casalzinho tanto quanto eu. Os próximos, daqui pra frente, vão ser os ficstapes.

Muito obrigada por tudo, bonitas, e fiquem à vontade para ler Questão de Tempo e The Royal Wedding, meus outros trabalhos publicados aqui no FFOBS!


   

   

Outras Fanfics:
Questão de Tempo (Restritas - Outros - Em andamento)
The Royal Wedding (Restritas - Originais - Shortfic)

Leio e recomendo!
02. Something in the way you move (Finalizada) | 04. She Will Be Loved (Finalizada) | 12. Broken Home (Finalizada) | 9/11 (Finalizada) | A Place to Call Home (Em andamento) | Amor de Rua (Em andamento) | Dylan (Em andamento) | Falcons (Finalizada) | If Tomorrow Comes (Finalizada) | One More Dream (Em andamento) | Outer Space (Em andamento) | Ride or Die (Em andamento) | Sixth Sense (Finalizada) | SNUFF (Em andamento) | Two is better than one (Finalizada) | VERSUS (Em andamento)      
 


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