Capítulo Único
- Ei... Olá! Qual é o seu nome, amiguinho?
O pequeno bichinho assustado ergueu a cabeça, as lágrimas ainda escorrendo pelo rosto, atingindo o focinho rosa em formato de coração. O que ele viu, foi um ser humano que brilhava tanto quanto o sol, sorrindo de maneira carinhosa e amável. O bichinho estava com medo, era verdade, mas algo naquele sorriso o fazia se sentir um pouco mais seguro.
- Meu nome é null! - O ser humano comentou, abaixando-se ao lado do pequeno bichinho. Este se encolheu cada vez mais, como se estivesse com medo de ser tocado. - Calma, amiguinho! Eu não vou te machucar! Você não sabe falar, né? Consegue me entender...?
Aquele ser humano, null, pendeu a cabeça para um lado, sem fazer movimentos bruscos enquanto o bichinho continuava com o coração acelerado, com medo de qualquer tipo de interação. Observando null com seus grandes olhos marejados de lágrimas, aos poucos fez que sim com a cabeça. Aquilo pareceu animar null mais ainda.
- Que bom! Você é novo por aqui, né? Está machucado? Te vi chorando e fiquei preocupado com você... - Ele mal terminou de falar e o bichinho correu até ele, abraçando os joelhos de null e escondendo o focinho de coração no meio destes. - Ah, o que foi? Você está com medo?
null estava um pouco surpreso com aquela reação, afagando a cabeça do bichinho enquanto o mesmo confirmava com a cabeça.
- Shhh, não precisa ter medo. Eu tô aqui e não vou deixar nada de ruim acontecer, ok? - E null sempre mantinha o sorriso no rosto enquanto falava com o bichinho. - Ok, null? Gostou desse nome?
O bichinho ergueu os olhos, um pouco mais animados, as bochechas corando com o que null podia prever que seria uma grande amizade. Não sabia o motivo, mas algo naquele animalzinho o lembrava dele mesmo.
- Bem vindo ao null World, null. - E null sorriu de maneira mais brilhante que o sol.
- Ei, null! Acorda!
E quase caiu da cadeira com null chacoalhando-o para que voltasse à vida real, em seu estúdio, produzindo suas músicas.
- Já não basta ter quebrado a cadeira, você também quer me quebrar agora? - null murmurou de volta, mal abrindo os olhos enquanto se colocava de pé. - Bruto.
- Não é minha culpa que de cinco em cinco minutos ou você cochila ou fica sonhando acordado com o seu próprio mundinho. - null deu uma pequena risada, sentando-se em uma cadeira ao lado de null. - Precisamos continuar aquela track que estamos trabalhando desde o início do mês. A intenção é lançar...
- Nesse fim de semana, eu sei... - null se espreguiçou, estalando o pescoço. Em seguida, pegou um caderno e anotou algumas coisas enquanto null já abria os arquivos em que trabalhariam no computador.
- Mais ideias pras suas músicas? - null perguntou sem olhar para o amigo. Escrever era um processo que exigia privacidade.
- Yep. Logo logo eu termino e lanço alguma coisa... - Com essa frase, null começou a murmurar um ritmo que animou null.
- Parece bom. É de uma delas...?
- É sim. Espero que seja tão boa quanto estou esperando, ainda falta muita...
- Gente, desculpa o atraso! - E uma voz esbaforida os interrompeu, entrando de maneira escandalosa no estúdio e fazendo null congelar no lugar. null tirava o cachecol e suspirava, fechando a porta da sala com dificuldade enquanto tentava equilibrar uma grande sacola de papel pardo nos braços. - Acordei super tarde e me atrasei no banho! Quando saí, tava tão frio que quase congelei na minha bicicleta!
- Oi, null. - null sorriu, acenando para a moça, no que null imitou o gesto. Ele não sabia que ela estaria ali e o coração estava disparado. - Não precisa se preocupar, o null tava cochilando.
- Respeita meu sono, null. - null suspirou, fazendo-a dar uma boa risada. Aquilo o fez sorrir de volta e sentir as bochechas corando.
- Pra compensar o meu atraso, eu trouxe bebidas quentes e doces! - Ela imediatamente levantou a sacola de papel pardo após descansar a bolsa, o casaco e o cachecol na cadeira de null.
- Ah, não precisava, null! Seu coração é lindo! - Ele não conseguiu ficar sem reagir na hora, fazendo null lançar um olhar um tanto suspeito e null dar uma risada um tanto envergonhada.
- O seu que é, null. - Ela respondeu com as bochechas róseas. A sorte era que estava correndo no frio, então parecia que o tom das bochechas era pelo esforço físico na baixa temperatura. - Eu trouxe seu café preferido e um pote de churros com chocolate... O mesmo pra você, null! Seu café e um pote de churros, porque sei que vocês gostam!
- Ah, muito obrigado...! - null não podia estar mais agradecido enquanto pegava os doces. - Você sempre sabe como animar nossos dias puxados de trabalho... Ei. O que é o seu?
E null percebeu que ambos a encaravam com sobrancelhas erguidas. Ela começou a rir enquanto dobrava a sacola para deixar junto com as coisas e levar de volta para casa.
- É chá! - A moça colocou um feixe de cabelo atrás das orelhas, gesto que sempre fazia null sorrir inconscientemente. - Chá preto com cranberry e jasmim e bolo de semolina com calda de flor. É exótico, mas é bom!
- Parece interessante... - null se aproximou cuidadosamente, com o cuidado de não tocá-la, pois se o fizesse, provavelmente seu coração iria explodir. null o observou com uma sobrancelha erguida enquanto ele farejava o aroma de flores por cima do ombro dela. - O cheiro é muito bom!
- Quer experimentar...?
- Ah, posso?! Não quero te incomodar, null! Mas parece tão bom, você tem um ótimo gosto pra comida! - null sorria de maneira radiante e provavelmente falava mais alto que o recomendado. - Quer dizer, seu gosto é bom pra tudo, inclusive pra comida...!
Apesar de rir da reação do rapaz, o celular de null tocou no mesmo momento e ela saiu do estúdio para poder atender. Foi só ela deixar o recinto que null respirou fundo como se estivesse sentindo aquela ansiedade louca que surgia em seu estômago sempre que a via o deixar em paz pela primeira vez em semanas. Ele se sentou em uma terceira cadeira próxima de null, balançando a cabeça e respirando fundo.
- Sabe... Não dava pra ser mais óbvio que você gosta dela. - O amigo finalmente comentou, reprimindo uma risada que queria surgir no fundo da garganta.
- Cala a boca, null. - E claro, null só podia lançar um olhar de morte.
- Vamos precisar trabalhar rápido hoje. - No momento seguinte, null entrou novamente no estúdio após desligar o celular, enquanto o guardava no bolso. - Do que vocês estão falando?
- Nada! - null se virou para ela com um sorriso enorme nos lábios, parecendo que havia acabado de levar um choque e a voz duas oitavas acima do normal. - Faremos tudo o mais rápido possível! Tudo bem por aí, null?!
- Tudo ótimo! Só uma amiga que não vejo há muito tempo que resolveu marcar um jantar comigo e me ligou pra me lembrar do compromisso! - null sorriu de volta, sentando-se em uma cadeira com rodinhas e escorregando para perto de null, que a segurou prontamente. - Temos até a noite pra terminar.
- Não se preocupe! Até de noite é tempo suficiente! - null fez joinhas com as mãos, o coração batendo desenfreadamente enquanto ela somente ria do amigo.
null balançou a cabeça, sorrindo. null não conseguiria ser mais óbvio nem se quisesse.
- Você é um ser de outro planeta produzindo música, null. - null comentou com um suspiro enquanto salvavam o arquivo em três pen drives diferentes: um para ela, um para null e um para null. A noite já havia chegado e logo ela teria que correr até o restaurante para se encontrar com a amiga, mas, como null prometera, o tempo fora suficiente para terminarem o que tinham que fazer.
E aquele elogio da parte dela o deixou completamente sem palavras, vermelho como um pimentão e com um sorriso enorme no rosto.
- E eu? Tudo bem que você gosta do null, mas né...! - null resolveu se manifestar, quase fazendo tanto null quanto null se enfiarem embaixo do sofá do estúdio de vergonha.
- Não! Não é isso! É que, eu...! - Ela começou a gaguejar, sentindo as bochechas corando novamente. E dessa vez não tinha a desculpa da bicicleta. - Ele teve ótimas ideias hoje, mas você também é genial, null! Não é nada...!
- Eu sei, eu sei, estava brincando. - null sorriu de volta para a moça. - Obrigado pelo café e pelos doces. Agora vai antes que você se atrase para se encontrar com a sua amiga.
- Ok, ok! Você tem razão! - Ela deu uma risada sem graça e, pegando tudo que precisava para ir, parou à porta para se despedir. - Vejo vocês amanhã então?
- Yep. Amanhã! - null fez joinha com as mãos, fazendo uma risada surgir nos lábios dela.
- Ah, e não esquece seu caderno de músicas! - null entregou o objeto para ela, fazendo-a suspirar em alívio.
- Obrigada, null! Até amanhã! - E, sorrindo, null deixou o estúdio.
- Sério. Se você não parar com essa mania de falar que a gente se gosta, eu vou te jogar do prédio um dia desses. - null rolou os olhos e comentou com o amigo quando tinha certeza que ela já estava longe.
- Eu espero que um dia vocês se joguem nos braços um do outro! - E, com essa frase, null foi acertado pelo caderno de músicas de null.
No que ela estava em seu jantar, null voltou para casa para uma boa noite de sono e descanso. Finalmente deitando na cama após o banho, pegou seu caderno de músicas, abriu em uma página aleatória em branco e começou a rabiscar o rascunho de um bichinho.
O focinho em forma de coração, os olhos sinceros e as patinhas fofinhas, null fora trazido à realidade. null pegara uma boa feição dele. Deitando o caderno sobre o peito e fechando os olhos, deixou-se levar pelo sono até o seu próprio mundo, null World.
- Ah, olá, null! - Ele acenou para o bichinho assim que o avistou. null acenou de volta de maneira animada, correndo com pequenos passinhos para se aproximar de null e fechar as patinhas em volta da panturrilha do rapaz. null deu uma boa risada, abaixando-se como podia para acariciar a cabeça de null. - Como você está? Já fez alguns amigos?
null somente o observou, os olhos contentes. Tinham alguns flamingos por perto e null parecia ter feito uma boa amizade com eles. Como era de se esperar, as aves cor de rosa estavam brincando de surfar na água do lago azul esverdeado com as grandes e compridas patas enquanto alguns outros as observavam por cima de óculos escuros de aros grossos feito de plástico multicolorido.
- Ah, os flamingos surfistas! Eles são ótimas companhias, null! - null se abaixou ao lado do mais novo amiguinho, abaixando o tom de voz e chegando mais perto, como se para confidenciar um segredo. null aproximou-se animado, feliz de que null resolvera confiar nele. - Mas te digo, tome cuidado com os de óculos escuros! Eles são uma elite que fala com um sotaque metido, da mais alta sociedade, cheios de intrigas e que gostam de julgar os surfistas. Ah, além disso eles curtem muito mais jogar críquete do que aproveitar o tempo sobre as ondas e não se deve confiar muito no críquete deles. Principalmente porque já tentaram usar coquinho laranja das árvores como bolas e todo mundo sabe que essa é uma ideia realmente frustrada.
null olhou para ele com estranheza, fazendo null sussurrar mais ainda, uma das mãos cobrindo a boca.
- Coquinhos só funcionam pra esportes de araras. Os flamingos são muito grandes e precisam de bolas maiores pros esportes, mas a elite insiste em achar que têm as mesmas dimensões de araras! - No que ele comentou, null reprimiu uma risadinha, fazendo o coração de null arder em alegria. - Mas não diga isso para eles, ou ficarão magoados. Apesar de tudo, são criaturas amigas.
- null, meu caro! Que deleite vê-lo por aqui! - Um flamingo de óculos branco cumprimentou de maneira cortês, abaixando levemente os óculos pelo bico arredondado. - Fazendo uma visita prolongada, eu espero?
- O tanto quanto meu sono me autorizar, Sr. Travers! - null cumprimentou com um aceno elaborado e respeitoso com a mão.
- Se o seu sono lhe autorizar um bom tempo, junte-se a nós para uma xícara de chá, meu rapaz! - O flamingo respondeu, colocando os óculos de volta no lugar e null sorriu de volta.
- Pode deixar, Sr. Travers! Esse chá está marcado! - Dizendo isso, ele estendeu uma das mãos para segurar a patinha de null e os dois começaram a caminhar juntos pelo colorido null World. - Viu? Bons flamingos. Mas a mania do sotaque e o chá da tarde, é algo realmente a se prestar atenção!
Pela primeira vez, null ouviu a risada entusiasmada de null. Parecia com a dele quando ele mesmo começou a aprender a ter esperança e abrir o coração novamente para pessoas que pudesse amar e deixar que o amassem de volta. Após algum tempo caminhando, sentiu null puxando sua mão e apontando para um canto.
- Quer ir pra lá? Está com fome? - Era como uma praça: colorida, cheia de avisos em neon, risadas, invenções criativas e as mais variadas pessoas e criaturas caminhando rindo entre si. Mesmo assim, não era bagunçado ou lotado: tudo espaçado de maneira perfeita para que você se sentisse em casa. - Aqui fica o que eu chamo de praça de alimentação. Podemos comer um bom hambúrguer, você gosta de hambúrguer?
null acenou afirmativamente com a cabeça de maneira entusiasmada. null somente riu, levando-o até a praça com tanta atividade e tanta vida. Puxando novamente a mão de null, null apontou para ele e depois para a praça.
- Hã? Ah, sim! Eu que criei tudo isso! - null sorriu de volta, parecendo orgulhoso. - Tudo fruto da minha imaginação, um mundo de sonhos que eu chamo de null World.
null estava maravilhado - e, mais importante, sentia-se seguro. null World era a sua casa e ele tinha certeza que nunca sairia de lá, aproveitando para observar a praça e as grandes árvores que os rodeavam, os passarinhos cantando no céu azul, o chão de tijolos amarelos embaixo dos pés enquanto null o ajudava a subir em uma cadeira colorida da praça de alimentação. Algumas pequenas girafas brincavam por perto, um astronauta caminhava destemidamente para uma estação espacial que logo lançaria um foguete, duas garotas com roupas renascentistas e flores e pequenas frutinhas vermelhas nos longos cabelos esvoaçando ao ar passeavam no entorno.
- null, meu grande amigo! O que podemos fazer por você hoje?
- Dois especiais do null World completos, por favor, Hwang! - null respondeu com um sorriso e null arregalou os olhos ao perceber que quem fizera a pergunta era um peixe dourado que nadava em pleno ar, claramente garçom da lanchonete iluminada de azul e rosa neon perto deles.
- Ah, olá! E quem é esse novo amiguinho? - O peixinho dourado deu o que parecia ser um sorriso e null sorriu de volta, mexendo o focinho de coração. - Meu nome é Hwang, é um enorme prazer conhecê-lo!
- Esse é o null! - null apresentou de maneira orgulhosa, fazendo null se sentir completamente alegre com aquela introdução. - Ele é o mais novo habitante do null World!
- Legal saber disso! Vou falar pro pessoal caprichar lá na cozinha! - Hwang piscou de volta para eles e saiu navegando pelo ar. - Liam! Pega o pessoal que hoje temos uma visita nova pra atender!
- Eles são muito legais! Se você quiser, é até capaz de acharem um emprego legal pra você na lanchonete. - null piscou para null, fazendo-o dar pequenos pulinhos em seu banco. Aquilo o fez dar uma boa risada. - Você é muito fofo, sabia?
Repentinamente, o celular de null começou a tocar. Com as sobrancelhas franzindo, ele pegou o aparelho do bolso, sem notar que tinha deixado cair algo sobre a mesa. null escorregou as patinhas para conseguir alcançar o que parecia um pedaço de papel, enquanto null checava o aparelho.
Era uma foto. null conseguia ver null ao lado de uma linda moça, ambos sorrindo animadamente, no que parecia ser algo espontâneo. Ao que null pôde notar, eles tinham saído para se encontrar em algum lugar, o que resultou naquela foto dos dois rindo juntos, de uma maneira que aquecia o coração de null. Era quase como se ele conseguisse ouvir a voz da moça rindo e conversando animadamente com null. Ao virar a foto, encontrou algo escrito “Feliz Aniversário, null! Continue sempre com esse sorriso lindo! Enquanto você não me apresenta seu null World, pode me carregar no bolso até ele! - null”.
- O que você está olhando? Encontrou algo...? - null perguntou com curiosidade, deixando o celular sobre a mesa. null mostrou a foto e ele imediatamente sorriu, as bochechas corando levemente enquanto o coração acelerava. - Ah! A foto da null! Ainda bem que você encontrou, não posso ficar sem ela!
null apontou para o próprio coração, para null e em seguida para a foto - null sabia exatamente o que ele queria dizer. Com um pequeno suspiro e um sorriso nos lábios, ele se deixou responder, afinal não havia motivos para mentir para null.
- Sim. Eu gosto dela... Mas não consigo achar uma boa maneira para falar isso. - Os dedos de null encontraram a foto e ele se pôs a apreciar a maneira como null ria. Aquele sorriso que, se dependesse dele, queria ver todos os dias. - Meu coração sempre acelera perto dela e eu começo a agir como se tivesse tomado três litros de café, completamente descontrolado.
Em seguida, null apontou para a foto e abriu os bracinhos para mostrar a praça na qual estavam. null arregalou os olhos.
- Trazê-la aqui?! Você acha que seria uma boa ideia?! - No que null começou a falar de maneira desembestada, finalmente ouviu uma alegre risadinha da parte de null, o som mais bonitinho que ele já tinha ouvido em seu null World. null entendia o que ele tinha dito sobre ficar completamente descontrolado perto de null.
- Aqui estão, dois especiais! - Porém, ambos foram interrompidos por Hwang e Liam trazendo as bandejas com as comidas que tinham acabado de pedir. null começou a farejar o ar enquanto eram deixadas sobre a mesa colorida. - Caprichados para nosso novo amigo, null! Bem vindo!
E null começou a fazer pequenos sons animados, como um bichinho de pelúcia sendo apertado, como agradecimento por todo aquele tratamento. Nunca em sua vida sentira que pertencia a um lugar - mas estava sentindo aquilo no null World.
- Ei, Hwang, me diz uma coisa... - null chamou, cutucando o peixinho dourado a seu lado. - Esse doce... É de quê?
- Semolina e calda de flor. Adição nova da casa! - Hwang piscou para ele. - Aparentemente, você teve ótimas memórias com ele!
Dizendo isso, os dois peixes riram enquanto nadavam de volta para seus afazeres. null somente observava enquanto null olhava pasmo para o doce, lembrando-se de quando null guiara um pedaço do mesmo até a boca dele naquela tarde.
- Ok... - Ele suspirou, olhando para null de maneira decidida. - Talvez você tenha razão. Talvez... Talvez eu deva trazê-la para cá.
null levantou os bracinhos, apitando em alegria enquanto pequenos corações cor de rosa borbulhavam de seu focinho. null imediatamente começou a rir, querendo abraçar aquela pequena criaturinha e não soltá-la nunca mais.
- Eu disse talvez! - null voltou a falar, rindo por cima dos adoráveis guinchos de null. - Talvez! Quem sabe ela gosta de tomar chá com o Sr. Travers, não?!
E ele até resolveu ignorar o celular tocando novamente enquanto aproveitava sua refeição com null, acordando meia hora atrasado no dia seguinte. Mas valera a pena.
- Hmmm... null? - Ele ouviu a voz de null entrando cuidadosamente em seu estúdio. null girou na cadeira, virando-se para ela e tirando os fones de ouvido. - Estou te atrapalhando? Posso voltar depois, se quiser!
- Não, não! De jeito nenhum, pode entrar! - null sorria de maneira desajeitada, um tanto nervoso de tê-la no estúdio. - Tudo bem? O que houve? Quer um chá?
- Oi? - Eram muitas perguntas e null piscou algumas vezes, rindo em seguida. Aquilo fez null rir também.
- Rápido demais, né...?
- Só um pouquinho. - null respondeu com um riso engraçadinho que null achou simplesmente adorável. Até ouvir a pequena risada característica de null e franzir as sobrancelhas. Olhando por cima dos ombros da moça, encontrou o bichinho sentado no sofá do estúdio, brincando com as próprias patinhas e cheio de carinho nos olhos enquanto observava null. A imaginação de null era realmente fértil, principalmente quando se tratava de sonhar acordado.
A verdade é que ele passara a última hora conversando com null sobre a própria música que estava produzindo para seu primeiro álbum solo, null World. Como estava fazendo tudo sozinho e não queria mostrar para os colegas do grupo como null para não estragar a surpresa, resolvera pedir a ajuda de null, que ficara dançando sobre a mesa de null durante a última hora enquanto ele sonhava acordado. Para qualquer outra pessoa, estaria falando sozinho. Para ele mesmo, trocava ótimas ideias com null.
- Então, você está com o seu caderno de músicas...?
- Estou, por quê? - null estranhou a pergunta dela, alcançando o caderno sobre a mesa.
- Porque eu estou com o diário do null World, null. Esse aí é o meu caderno. - null sorriu enquanto tirava o caderno dele de dentro da bolsa. null arregalou os olhos imediatamente e começou a folhear, encontrando milhares de anotações de null e desenhos. Muitos desenhos.
- Meu Deus...!
- Pode deixar que eu não olhei nada. Quando percebi uma letra que não era a minha, vi a capa e, quando li “null World”, sabia que era seu diário de anotações. - Ela falou rapidamente, como se para pedir desculpas antecipadas por algo que nem era culpa dela.
- Obrigado! Mas null, me desculpa... - null suspirou, sorrindo de maneira envergonhada. - Eu desenhei no seu caderno.
- Ah, tudo bem. Quando precisar do que tá nele pode me avisar, se quiser tirar alguma foto também... - null deu de ombros, entregando o caderno de volta a null. - Mas tenho que falar que fiquei curiosa com o null World. Faz tempo que você comenta dele pra mim e não chegamos em nada. Quando vai sair seu álbum?
null imediatamente ficou atento, as orelhinhas empinadas prestando atenção em null. null sabia que aquele seria o maior argumento do novo amiguinho: null queria visitar null World.
- Então, logo logo... Ainda tenho muitas coisas a corrigir, muitas coisas para refinar... - null suspirou, apoiando-se na mesa de mixagem e deixando o caderno sobre a mesma, parecendo um pouco desconfortável. - Será esse ano ainda! E claro, vou ter que gravar um clipe, planejar várias coisas... Você sabe, o de sempre.
- Sei, sei sim. - Ela sorriu de maneira compreensiva. - Se precisar de qualquer ajuda com a arte ou som, já sabe, né? Pode me gritar.
- Ok! - E null deu um radiante sorriso para a moça. - Pode deixar! Você vai ser uma das primeiras a ver o null World!
- Ah, obrigada! - null riu de volta e checou o horário no celular. - Bom, de volta ao trabalho. Te vejo depois, null!
- Ok, bom trabalho, null! - Ele acenou para ela e, assim, null deixou o estúdio.
null pulou de onde estava, segurou a mão de null e começou a puxá-lo insistentemente até a porta. null franziu as sobrancelhas, sem mover um músculo.
- O que foi, seu doido? - Foi só perguntar que null começou a acenar insistentemente com uma das patinhas até a porta. null arregalou os olhos. - Ir atrás dela?! Pra fazer o quê?! Chamá-la pra sair?! - E null confirmou veementemente com a cabeça. - Mas de jeito nenhum! Eu não vou fazer isso! Você não pode me forçar!
E null passou uma boa hora parado no lugar, imaginando null puxando-o por uma das mãos enquanto ele grudava à mesa de mixagem feito um gato reclamando que não chamaria null para sair nem se null o arrancasse de lá com uma legião de flamingos surfistas.
****
null acordou relativamente cedo. Tinha trabalho para fazer e null dissera que precisaria dela o mais cedo que ela conseguisse. Espreguiçando-se, a moça saiu da cama e foi preparar seu chá matinal.
Pegando o celular na bancada da cozinha - tinha esquecido lá por algum motivo que a escapava - null colocou a água para ferver e começou a checar as mensagens não lidas. Todas eram de null. 12 mensagens.
null: Bom dia, null!
null: Tudo bem?
null: Lembra que pedi pra você vir pro estúdio cedo?
null: Então, não é bem o estúdio. Vou te mandar o endereço
null: Aliás
null: É melhor você checar suas correspondências :)
null: As físicas, quero dizer
null: Não e-mails
null: Cartas
null: Me avisa quando checar, ok?
null: Ok, vou parar de falar e esperar você acordar
null: Desculpa. Bom dia!
null riu consigo mesma, achava adorável quando ele se comportava daquela maneira. Mesmo assim, franziu um pouco as sobrancelhas com o suspense, tirou a água do fogo e juntou com as folhas de chá, indo para a porta de entrada logo em seguida. Era raro receber alguma correspondência que não era alguma conta a pagar, então não esperava nada de mais.
Mas havia um envelope branco, que fora colocado por debaixo da porta. Ela não sabia que horas havia sido deixado lá, mas sabia que fora null - a letra dele escrevera o nome dela com cuidado no envelope para não ser extraviado e não encontrar a pessoa errada caso se perdesse por algum motivo.
Abrindo o grosso papel branco, null encontrou o que parecia um passaporte dentro. Estranhando ainda mais, ela viu uma arte toda colorida, um mundo de cores, objetos e criaturas adornando um céu cor goiaba no qual ela podia ler “Passaporte null World”.
null abriu o passaporte com avidez, encontrando uma cópia da foto dela e de null rindo em uma festa - que ela tinha dado para ele de aniversário um ano antes - como se fosse a identificação dela naquele documento. As informações dela estavam escritas cuidadosamente em letras cor de goiaba e a caligrafia de null podia ser lida em uma das páginas em branco do passaporte dizendo: “Você quer conhecer o null World? Estou gravando Daydream no endereço abaixo. Ia adorar se você passasse por lá para ver um pouquinho como está ficando!”
Ela nunca sentiu tanta animação e expectativa queimando na base do estômago. Correndo, null foi de maneira desembestada para o quarto, sabendo que enfiaria todo aquele chá em uma garrafa e beberia no caminho. Prioridades.
null: null! EU RECEBI O PASSAPORTE!
null: Não acredito que serei admitida no famoso null World!
null: Seu tonto, por que demorou tanto?!
null: E por que fez tanto suspense comigo com Daydream?!
null: Só de ouvir aquelas samples eu tô doida pra ouvir a música toda!
null: Você me aguarde, senhor null, porque eu vou chegar aí como um furacão!
null: Pode vir que estamos te esperando!!
null começou a dar pulinhos de alegria aos pés de null, enquanto ele analisava um pouco da conversa e sorria, sentado em sua cadeira para descansar entre uma take e outra da gravação do MV.
- Calma, calma... Ela já vai vir pra cá. - Ele sorriu para null, que saiu dançando pelo estúdio. null somente ria.
- Ela quem? A null? - E null se sentou ao lado do amigo descompromissadamente. null somente ergueu uma sobrancelha.
- Eu achei que você já tinha ido embora.
- Ah, estava quase... - null suspirou. - Mas quando te ouvi falando dela, resolvi ficar.
- Qual é a sua com o meu relacionamento com a null, hein? - Apesar da pergunta e das mãos na cintura, null ria. Era padrão dele: sempre que ficava um tanto irritado, dava algumas risadas fora de contexto.
- Vocês dois se gostam, null. Por que você não fala pra ela de uma vez? - null respondeu sem rodeios, abrindo a barrinha de Twix que tinha entre os dedos. - De verdade, eu não entendo. É óbvio que a null gosta de você também. A maneira que ela te olha, que vocês conversam... Só a energia de vocês dois quando estão um ao lado do outro grita: “SOMOS UM CASAL”. E você quer que eu não fique te importunando porque você não toma atitude nenhuma?
- É mais complicado, ok...? - null suspirou, massageando o pescoço levemente. - Eu sei algumas coisas da null, ela sabe algumas de mim, e, sinceramente, relacionamentos não são o nosso forte.
- Não precisa ser. Vocês se gostam. Isso já é suficiente. - null empurrou o amigo com o ombro, fazendo null dar um sorriso sem graça.
Ele se lembrava claramente daquele dia chuvoso em que null mandara uma mensagem no grupo reclamando que estava sem guarda chuva e, consequentemente, ilhada sem conseguir voltar para o estúdio. null imediatamente respondera que podia buscá-la, levando um enorme guarda chuva e correndo embaixo dos pingos de água para resgatá-la.
Estavam em uma cidade em que normalmente não passavam muito tempo - fosse gravando, produzindo ou passando férias. Encontraram um estúdio pequeno, mas bom o suficiente para que pudessem viver em paz durante um tempo - a vantagem, era que ninguém conhecia null ou o grupo dele, o que fazia com que fosse possível para ele andar livremente na rua e buscá-la do toldo em que null se protegia da água.
- Olá, bela dama! - Ele disse com um enorme sorriso nos lábios, fazendo-a sorrir de volta e parar de se preocupar. - Gostaria de passear comigo nessa adorável chuva?
- Adoraria! - Ela respondeu com uma breve risada, segurando a mão que null estendeu e se enfiando embaixo do guarda-chuva com ele.
A caminhada durou mais do que esperavam - simplesmente porque ambos tinham um amor profundo por passear pela chuva sempre que podiam. Sabendo que o outro apreciava aquele tipo de passeio, resolveram que podiam voltar ao estúdio somente quando parasse de chover.
Além de que a conversa sempre fluía de maneira fácil e animada entre null e null. Como se ambos fossem complementares, melhores amigos que podiam gastar horas e horas trocando ideias sem ao menos se cansar. null podia ouvir a voz de null o dia todo e ela podia apreciar as histórias que ele tinha a contar o tempo que fosse.
- Ah, é tão bom estar em uma cidade em que eu posso simplesmente caminhar por aí... - null respirou fundo, aproveitando o ar que parecia com liberdade para ele. - Imagina. Se estivéssemos no nosso estúdio, provavelmente já teria mil notícias espalhando que estamos namorando. Seu namorado não ficaria nem um pouco feliz com isso.
- Meu namorado? - null franziu as sobrancelhas. - Que namorado?
- Ué... Você não namora? - Ele franziu de volta, confuso com a reação dela. - Quer dizer... Você é inteligente, talentosa, bonita e simpática... Achei meio óbvio que teria um namorado, não?
- Ah... - E ela imediatamente ficou vermelha como um pimentão. - Obrigada pelos elogios. Mas não, não tenho namorado. Nunca namorei.
- O quê? - E agora null estava em choque. - Não me entenda mal, nada de errado nisso, mas é que você é tão... E nunca... O mundo não faz o menor sentido!
- Não faz mesmo! - null respondeu com uma risada, fazendo-o ficar mais calmo. Tinha o receio de que a ofendera com a reação. - Mas é que... Ai, como falar? É uma história meio longa... São várias na verdade... - Ela suspirou, olhando para os pés e tentando se achar nos próprios pensamentos. - Bom, eu gostava de um cara na escola. Minha “melhor amiga” foi lá e ficou com ele. Sofri um bullying desgraçado de todo mundo que se dizia meu amigo, fiquei com depressão porque basicamente perdi todo mundo que amava, comecei a odiar seres humanos e prometi nunca mais gastar tempo com gente que não merecia. Anos depois, eu comecei a achar que gostava de um amigo muito próximo meu e a cogitar a possibilidade de me abrir pro mundo e pras pessoas novamente, que nem todo mundo queria meu mal e eu podia amar sim... E minha melhor amiga da época ficou com ele. As duas sabiam que eu tinha sentimentos pelos caras, então não foi algo “sem querer”. Só depois eu percebi que as duas eram relacionamentos completamente tóxicos e manipuladores, em fases diferentes da minha vida. Moral da história: resolvi nunca mais me abrir para ser humano nenhum e achei muito melhor construir minha carreira do que gastar tempo com relacionamentos e dramas de “ain, meu namorado não tá me dando atenção, será que ele tá com outra” enquanto eu podia estar produzindo músicas ao invés de ter crises existenciais estúpidas. Pelo menos, sei que me encaixo no mundo das minhas músicas... Esse é o resumo mais rápido que eu consigo fazer!
- Nossa, null! - null parecia chocado, sentindo algo diferente no peito, que nunca sentira antes. - Por que você nunca me contou? Isso é horrível! Essas pessoas foram ruins com você, te traíram, te machucaram e fizeram com que você se fechasse para o mundo... Você pelo menos deu umas nas caras delas, né?
- Não! - null respondeu rindo, achando aquela reação de null claramente muito engraçada... E ele não entendia o motivo. - É kármico, null. O que tiver que voltar para elas, vai voltar. Eu resolvi só largar o rancor e o ódio, porque isso me envenenava e fazia mal. Elas que vivam as vidas delas e eu a minha, porque o Universo não vai deixar barato. Tenho certeza.
- Ah, você é muito piedosa... - Ele rolou os olhos, fazendo-a dar uma breve risada.
- Você nunca passou por algo assim? Em que achou melhor simplesmente deixar de lado e seguir com a vida?
null ficou em silêncio durante alguns segundos, pensando enquanto ouvia a sola do tênis contra a calçada molhada. Ela somente aguardou, sem querer forçar nada em relação a ele. - Já... Já aconteceu algo assim... - null suspirou. - Minha ex namorada. A gente se divertia bastante, eu era bobo, apaixonado e mais novo... Fazia tudo por ela, buscava em casa, guardava meu dinheiro pra sairmos pra uma lanchonete legal, nunca deixava que ela pagasse. Claro, gastava muito tempo dançando, mas ela sempre ia me assistir nas competições e torcia por mim. Eu achava que era aquilo, sabe? Que esse era o amor da minha vida, minha história de filme de romance, daqueles livros que a gente lê e sempre se pergunta “será que um dia eu vou viver algo assim?”. Eu gostava muito dela, mas... Aparentemente não era tão recíproco assim. Ela me deixou pra ficar com meu melhor amigo. Não via futuro para nós e eu era sempre muito distante. Entrei numa crise tão grande de “será que só eu via o bom no relacionamento, será que sou tão ruim assim?”, que deixei pra lá e nem tirei mais satisfações, nem dele, nem dela... Nem quis saber se eles já estavam juntos antes que ela terminasse comigo, mas provavelmente sim.
- Ah, eu entendo... É uma droga. - null suspirou de volta, vendo como null deu um pequeno sorriso triste em seguida.
- É, né... Mas pelo menos eu tive tempo pra ensaiar e chegar até aqui! - Com essa frase, ele parecia mais animado. - Parece que não somos tão diferentes assim, não é mesmo?
- Parece que não... O null me disse que você era bem mais sério e meio fechado no começo. - null deu um pequeno sorriso, fazendo null corar como um tomate até as pontas das orelhas. - Mas que foi melhorando aos poucos, apesar de ainda ser bem sério quando precisa.
- Bom, eles precisam de alguém pra botar ordem no circo, né? - Ele perguntou de volta como se fosse óbvio, fazendo-a rir. Vendo uma oportunidade para mudar de assunto e deixar o clima mais leve, null continuou. - É sério! Você já viu como aquele bando de criaturas que trabalham comigo conseguem deixar o mundo um completo caos? Se não sou eu, os ensaios não saem!
E o resto da caminhada foi entre risadas e conversas animadas, até que voltassem sequinhos ao estúdio. Mesmo assim, null nunca iria esquecer da maneira como os olhos de null carregaram o sentimento de vazio que ele mesmo tinha com suas próprias memórias doloridas - queria poder dar a null um lugar em que ela se encaixasse que não fosse somente na solidão das próprias músicas.
null não queria machucá-la. Depois de tudo aquilo, null demoraria para se abrir novamente a outro ser humano - como ele mesmo precisou de muitos anos ao lado dos amigos para voltar a sorrir e se animar como antes, além de achar que existia alguma esperança no quesito relacionamentos.
O amor nem sempre precisava ser uma mentira. null aprendera aquilo, null também. Mas algo nela não aceitava aquela premissa 100% - ele sabia que ela precisava de alguém que a mostrasse aquilo, que segurasse as mãos dela com cuidado e tocasse o coração dela com calma para que a moça finalmente voltasse a acreditar que sim, o amor podia existir sem ser enlaçado de mentiras e traições.
null estava com as patinhas apoiadas nos joelhos de null, os olhos marejados de lágrimas enquanto o focinho em coração tremia levemente, trazendo null de volta das próprias memórias.
- Você também passou por isso, não...? - Ele murmurou e null fez que sim com a cabeça, entendendo perfeitamente tanto o coração de null quanto o de null.
- Hã? Passei pelo quê? - null franziu as sobrancelhas, sem entender uma palavra do amigo. Porém, no mesmo momento, null foi chamado para voltar à gravação.
- Nada. - null sorriu como se tudo fizesse perfeito sentido. Em seguida, deixou o caderno em cima do colo de null. - Segura aí, eu vou lá gravar e já volto!
- Doido... - null deu uma pequena risada, balançando a cabeça enquanto começava a folhear o caderno de null.
Não podia mentir. Quando escutou o álbum pela primeira vez, null ficou realmente impressionado com a qualidade e a atenção aos detalhes de null. O amigo demorara muito tempo trabalhando para lançar aquele álbum, colocando todo seu mundo em músicas que cuidara de maneira tão paciente e dedicada. Era até melhor do que as músicas de null quando ele resolvera lançar seu álbum solo.
- Esse filho de um inhame... - Repentinamente, null ouviu uma voz raivosa atrás de si e viu null borbulhando com uma mistura de raiva e orgulho. - Ele não me mostrou nada! Durante todo esse tempo, pediu minha ajuda, ideias para algumas partes, mas não me mostrou nem trinta segundos! E agora olha só!
- Oi, null! Senta aí! - null indicou a cadeira em que null estava sentado anteriormente, mas ela estava indignada demais para se sentar.
Como era de se esperar, null brilhava em seu próprio MV. A parte da música que estava gravando ecoava por todo o estúdio enquanto ele aproveitava, dançava e cantava entre as milhares de cores do MV. null World logo seria lançado para todos e aqueles sonhos e viagens enquanto acordado que null tinha estavam prestes a se tornar realidade.
- Inhame desalmado... - null observava com olhos semicerrados, apesar de começar a rir logo em seguida. Ela viu quando null olhou na direção dela e começou a sorrir, cantando para a câmera de maneira mais convencida que antes. Ela finalmente se sentou ao lado de null e fechou os olhos, escutando a música. - Mas...
- É boa, né? - null comentou de maneira orgulhosa. - E a letra. Você precisa ler a letra depois. Sobre o escapismo do dia a dia para poder aguentar uma vida que nem a nossa, um lugar só seu em que você pode ir mesmo quando acordado para rir, chorar e se divertir da maneira que quiser. Um lugar sem as amarras de ser uma figura pública, mas só você mesmo...
- Sem nunca estar mal agradecido pelo sucesso que tem. Só uma válvula de escape mesmo. - null deu um pequeno sorriso, escutando a letra muito bem. null somente confirmou com a cabeça: devia saber que ela interpretaria até melhor que ele. - O null realmente é um ser humano precioso nesse mundo...
null somente suspirou. Era até irritante o quanto eles eram perdidos um no outro e não faziam nada.
- Ei, null. Quando você vai falar pro null que gosta dele?
- Oi...?! - null abriu os olhos, completamente chocada com a pergunta de null. Mas a expressão que tinha era de “como você sabe disso” não de “isso é um absurdo”. O que deixou null mais satisfeito ainda.
- null! Você chegou! - Mas a voz de null e o silêncio da música interromperam qualquer discussão que poderiam ter. - Estou tão feliz que você está aqui! Bem vinda ao null World!
- Ah, null! - Ela se levantou imediatamente, correndo para o abraço que ele nitidamente queria dar para cumprimentá-la. Assim que o alcançou, null a prendeu entre os braços de maneira carinhosa e apertada. - Tá sensacional! Esse passaporte?! Essa roupa?! Essas cores?! Essa música?! E esses flamingos de óculos escuros?!
- O null World não seria o mesmo se não fossem os flamingos de óculos escuros! - null piscou para ela, soltando-a do forte abraço. null imediatamente começou a rir.
- Imagino, devem desejar ser os seres mais estilosos... - Ela analisou como se estivessem falando da coisa mais normal do mundo. - Com certeza já se acham sensacionais por ter penas cor de rosa e pernas compridas. Aposto que tomam chá no meio da tarde enquanto discutem dos acontecimentos do dia.
null imediatamente fingiu desmaiar ao lado de null, coraçõezinhos cor de rosa borbulhando do focinho. O bichinho estava cada vez mais convencido de que null era perfeita para null - e, consequentemente, para o null World - e seu pequeno coração não estava mais aguentando. null teve que segurar uma risada com o exagero de null.
- Um dia eu te levo pra visitar tudo com detalhes. - null comentou com um pequeno sorriso no rosto enquanto null soltava um guincho de empolgação como um bichinho de pelúcia apertado com muita força.
- Por favor, seu de-sal-ma-do! - E no que null falou, era uma batida no braço de null com o passaporte que ele fizera especialmente para ela. null não entendeu o motivo da agressão repentina, quase indo se proteger atrás de null. - Você me deixou no limbo durante meses! Como sua amiga eu tinha o direito de saber de alguma coisa! Te dei tantas ideias e você não me mostrou nem uma linha de baixo!
- Eu queria que fosse surpresa! Queria ver a sua reação quando ouvisse a primeira vez! - Ele começou a explicar rapidamente, enquanto null somente se entregava às risadas. - Me perdoa, não quis te magoar! Só queria que você tivesse uma experiência completa, não uma coisa inacabada e sem sentido! Queria que estivesse bonito pra você!
- Ah... - E null imediatamente começou a corar após as palavras de null. - Poxa, null. Obrigada... Aliás! O meu caderno! - Ela tirou o mesmo da bolsa, mudando de assunto rapidamente para não ficar tão envergonhada. - Tinha um desenho... Esse aqui! Você que fez, não? O null é parte do null World?
- É sim! Ele é recém-chegado, pra falar a verdade. Mas é uma fofura. - null sorriu de volta para ela, ouvindo a respiração em expectativa de null enquanto o bichinho agarrava a batata da perna dele.
- Ele é muito bonitinho... Você podia me apresentar quando me levar no tour do null World, não? - E foi só null terminar a frase que null começou a dar pulinhos de alegria, com leves apitos de comemoração. Adorava o fato de que ela o achou bonitinho.
- Posso sim, quando você quiser... - Ele segurou o caderno para ver melhor o desenho, tocando levemente na mão de null e se aproximando da moça.
- null! Vamos para a próxima cena! - Foram interrompidos por um assessor, que fez com que ele começasse a se arrumar no mesmo momento e null guardar o caderno, acenando para que conversassem depois. - O que você está fazendo? Você sabe que ficar perto dela desse jeito é péssimo e pode trazer consequências!
- Eu sei, eu sei... - E null somente rolou os olhos, enfiando as mãos nos bolsos do casaco.
null somente sentiu os ombros afundando com aquele comentário do assessor. Esse era o problema: ela não queria que seu coração se abrisse novamente para ser jogado fora de maneira fria e cruel.
- Não liga pra isso, null. - null repousou uma das mãos no ombro dela, parando ao lado da amiga, percebendo que ela já não brilhava tanto quanto antes. - Você sabe que os assessores vão sempre fazer esse mesmo discurso, que temos uma imagem pra cuidar e etc. Você sabe que não concordamos com todo esse controle, mas também...
- Sim, eu sei... - Ela suspirou. - Sei que qualquer um pode tirar uma foto de nós dois e inventar um boato de que estamos namorando. Isso acabaria com a imagem e a sanidade mental do null... Eu sei. Não estou ofendida.
Com isso, ela voltou a observar null em toda sua glória de artista, brilhando como a estrela que deveria ser. Aquele era null ídolo, o homem que subia no palco e brilhava para as fãs. Era diferente do null pessoa que ela conhecia dos dias no estúdio dando risadas e trabalhando incansáveis horas para montar uma música. E ela amava ambos, pois os dois formavam o mesmo homem.
- Só um pouco triste. - Ela murmurou em complemento e aquilo acabou com o coração de null.
Observando de longe, null não entendeu o motivo, mas null abraçava a perna de null, esfregando a cabeça nela com os olhinhos fechados como se quisesse consolá-la.
O dia foi repleto de null tentando falar com null, mas sendo chamado para gravar ou retocar a maquiagem. Ele via enquanto null dançava em volta dela ou abraçava as pernas da moça enquanto null curtia a gravação e fechava os olhos enquanto movia os pés timidamente no lugar.
Ela até se aventurou a dar opiniões na produção - escolha de cores, luzes, ângulos das câmeras... Em pouco tempo, ela estava imersa no mundo de null, ajudando a tornar todo aquele sonho realidade. Ele não podia estar mais satisfeito e null não podia ter gostado mais dela.
Afinal, toda vez que estava perto de null, pequenos corações borbulhavam inconscientemente de seu focinho e aquilo fazia null rir enquanto gravava suas cenas.
- Pausa de quinze minutos! - O diretor gritou no fim da tarde. - Temos mais uma cena para gravar! null, tenta não estragar o cabelo e a roupa. null! Preciso da sua opinião sobre alguns enquadramentos da próxima take, acho que você terá bons insights.
- Ah... Ok! - Ela disse com um sorriso, olhando para null de uma maneira um pouco triste. - Bom, vou ajudar a criar seu null World. Mas... Você acha que vai estar muito cansado quando terminar aqui?
- Depende. Você quer sair pra comer alguma coisa? - null perguntou com um sorriso, aproximando-se somente o recomendado. - Eu nunca estou cansado o suficiente pra jantar com você.
- Ok! Então eu te espero terminar aqui! - null sorriu de volta, dessa vez de maneira contente, as bochechas corando levemente. Logo, ouviram o diretor chamando-a novamente. - Vou lá, mas...
- Sairemos após as filmagens, pode deixar. - null piscou para ela e, com isso, null correu atrás do diretor para conversar sobre a próxima take.
Enquanto isso, null olhava para o teto, suspirando como se tivesse feito algo horrivelmente estúpido.
- Eu falei que nunca estava cansado para ir jantar com ela? - Ele olhou para baixo, encontrando null com as patinhas nas bochechas, contendo uma risadinha. - Fala que eu não fiz isso...
Mas null somente acenou veementemente com a cabeça, fazendo null querer se esconder embaixo da cama do set e não sair de lá nunca mais.
Percebendo que não tinha como voltar atrás, ele se deu por vencido e deitou na cama, ajeitando o travesseiro para que pudesse observar enquanto todos se preparavam para a próxima take. null subiu na cama com certa dificuldade, escalando o corpo de null e deitando sobre a barriga dele, fechando os olhinhos como se fosse a primeira vez em tempos que se sentia seguro daquela maneira. null sorriu, descansando uma das mãos na cabeça do bichinho.
Seus olhos, porém, se atentaram à null. Ele se impressionava como ela brilhava aos olhos dele, como se um de seus sonhos tivesse se tornado realidade. Sentia que podia rir e chorar com ela, assim como podia fazer em seu próprio mundo imaginário. Podia ser ele mesmo - a maneira como ela se deslumbrava com cada uma das coisas que ele tinha criado e agora trazia à realidade o fazia ter certeza que null sempre o aceitaria por inteiro, não pela metade como a maioria das pessoas o faria.
- Consegue imaginar, null...? - null perguntou de maneira meio distraída. - Como seria se ela fosse nos visitar...?
null fez um tipo de barulho que era certamente de uma satisfação um tanto sonhadora, enquanto se aninhava ainda mais em null. Ele, por sua vez, se deixou viajar durante alguns minutos, pensando naquela possibilidade que animara tanto ele quanto null.
****
- É uma cama, null. Como vamos para null World assim?
Era uma cena perfeita, na imaginação dele. null estava com uma grande blusa velha e um shorts de esportes rosa claro que usava de pijama, parada na varanda de sua casa, enquanto null estava sentado em sua cama branca brilhante, flutuando pelo céu de um azul profundo do meio da noite - assim como Aladdin e Jasmine, conforme ele assistira quando era pequeno.
A única diferença era que Aladdin tinha um tapete voador. Aquilo passava um pouco mais de credibilidade do que uma cama voadora, ele tinha que admitir.
- Confia em mim, null. - Ele estendeu a mão para ela, sorrindo. - Teremos que passar pelas estrelas e ir mais além, mas te garanto que a cama voadora é o melhor meio de transporte para chegar ao null World.
null o observou durante um tempo. Ele sabia o que ela estava pensando, conseguia ver nos olhos da moça: confiança. Aquela palavra a assustava. Segurar a mão dele era muito mais do que só uma viagem aleatória a um mundo que era somente de null - null teria que se abrir, confiar e ser vulnerável a outra pessoa novamente. Teria que fechar os olhos e se segurar em null, precisando acreditar que ele não iria largá-la no meio do caminho - e era isso que ela tinha medo.
Porém, os olhos dele tinham exatamente o que ela precisava - esperança. Era null. Ela o conhecia, ela sabia como ele era. E tinha certeza que ele nunca a machucaria - ou pelo menos era o que gostava de acreditar.
- É bom eu não cair disso daí no meio do caminho. - Ela avisou enquanto segurava a mão dele e tomava impulso no parapeito para subir na cama. null sorriu ainda mais, puxando-a com alegria para que se sentasse junto com ele. - Se você me perder no meio da Via Láctea, vou jogar uma estrela na sua cabeça!
- Pode deixar que não vou te perder! Comigo não há perigo! - null piscou para ela e, de repente, ambos ouviram um guincho de alegria e pequenos corações cor de rosa flutuando para lá e para cá. - Ah! Está na hora de vocês se conhecerem!
De trás de null, null saiu de maneira até envergonhada, porém certamente apaixonada, para conhecer null. A moça imediatamente começou a sorrir, a voz ficando mais doce do que antes.
- Ah, é o null! Você é mais fofo do que no desenho! É um prazer imenso te conhecer! - Ela estendeu os braços para o bichinho, esperando que ele fosse cheirar as mãos dela para depois se aproximar.
Mas null já morria de amores por null, correndo até ela e se jogando no colo da moça, fazendo-a quase cair na cama. null ria, abraçando-o com carinho e, pela primeira vez, null se sentiu seguro nos braços de outro ser que não fosse null.
Ele, por sua vez, observava a tudo com um sorriso nos lábios e um sentimento no coração que não sabia muito bem como definir. Só sabia que aquilo o deixava cada vez mais apaixonado - talvez por null, ou por null, ou pela vida em si. null somente sabia que estava sentindo amor.
- Então vamos? Segurem-se passageiros, pois a jornada será empolgante! - Dizendo isso, a cama começou a se mexer como se null a estivesse dirigindo.
Eles flutuaram pelo céu noturno, null sempre mantendo null em segurança em seus braços. O bichinho não poderia estar mais contente, enquanto null guiava o caminho pelo firmamento azul. As cores começaram a ficar cada vez mais escuras e o mundo cada vez mais distante até finalmente alcançarem as estrelas - a Terra embaixo deles, as estrelas espiralando coloridas em volta dos três.
null fez questão de olhar para null nesse momento - e não pôde deixar de se perder na expressão dela. A moça estava maravilhada, as próprias estrelas refletindo nos olhos dela enquanto sorria como se aquele fosse o mais maravilhoso dos sonhos em forma de realidade que ele levara a ela.
- Quer parar um pouco por aqui?
- Podemos? - null perguntou impressionada e ele fez que sim com a cabeça. A cama logo perdeu a velocidade e eles se encontraram flutuando em meio ao mar de estrelas da Via Láctea. - null, isso aqui... É maravilhoso...!
- Bonito, né? Às vezes eu gosto de ficar por aqui... - Ele suspirou, observando os pontos de luz que brincavam em volta deles.
- Imagino... É um bom lugar pra relaxar. Ei! - E null ficou alerta quando null tentou se soltar dos braços dela para brincar entre as estrelas. - Cuidado! Você pode cair!
- Não se preocupe, ele sabe nadar por aqui. - null respondeu de maneira calma com uma breve risada.
null franziu um pouco as sobrancelhas, mas em seguida soltou null. O bichinho saiu navegando pela imensidão do Universo, brincando em frente a eles como se estivesse nadando. null sorriu de maneira contente e maravilhada, voltando a prestar atenção em null somente quando ele segurou a mão dela.
- Eu gosto de ficar sentado assim, acho que você também vai gostar... Vem cá. - E ele a puxou cada vez mais para a beirada da cama. Ambos colocaram as pernas para fora desta, balançando-as contra o ar do Universo. null tinha as pernas consideravelmente mais curtas que as de null - o que ele achava simplesmente adorável - balançando-as de maneira divertida enquanto fechava os olhos e respirava fundo.
- Você passa muito tempo aqui?
- Só quando preciso de paz de espírito... - null comentou de maneira pensativa, observando enquanto null brincava com algumas pequenas estrelas que espiralavam em volta dele. - Quando preciso colocar a minha mente no lugar e voltar a ser eu mesmo.
- É aqui que você vem quando quer chorar...? - null perguntou cuidadosamente, fazendo-o se virar para ela. A moça tinha um olhar compreensivo, que o fazia se sentir seguro. O mesmo tipo de sentimento que null teve ao ser abraçado por ela.
- É. Eu venho pra cá. É uma liberdade que normalmente não tenho. - null sorriu levemente para ela. - Não que eu esteja reclamando, nada disso. Sou extremamente agradecido pela minha vida e pelas coisas que tenho, mas é que às vezes...
- Ei, ei... - E ela começou a afagar a mão de null. O coração dele imediatamente acelerou ao sentir o toque aveludado da mão dela. - Não precisa se explicar pra mim, eu entendo. Todo mundo precisa chorar de vez em quando. Eu estou feliz que você é humano.
null sentiu as bochechas corando e a incerteza do que fazer em seguida batendo em seu coração. Ele estava com um impulso quase insuportável de beijá-la - ali, entre as estrelas, seria um ótimo lugar para se fazer aquilo. Mas não sabia se ela aceitaria e tinha medo de ser rejeitado - além de levar as coisas muito rapidamente e assustá-la. null queria tudo, menos assustá-la.
Como se pressentindo o desespero dele, null chegou flutuando entre ambos, estendendo para null uma pequena estrela brilhante que tinha entre as patinhas. Era como uma pedra, a mais cintilante de todas, que ele pegara para dar de presente à moça.
- Para mim? - E ela parecia genuinamente impressionada e lisonjeada com o presente. - Muito obrigada, null! Eu nem sei o que dizer! Você é maravilhoso!
Com isso, ela deu um forte abraço no bichinho, que como sempre apitou e borbulhou seus corações cor de rosa, aninhando-se em null. Ela ria, com a pequena estrela em mãos, maravilhada com aquela realidade criada por null.
- Hmmm, me empresta a estrela um pouquinho? Já sei o que fazer. - Ele disse enquanto tirava uma correntinha de prata do próprio pescoço.
null não discutiu e, logo que null tinha a estrela em mãos, ela não sabia como ele o fizera, porém ficara maravilhada: os dedos dele trabalharam habilmente com a corrente e a estrela e logo o colar tinha o pingente mais brilhante de todos: uma estrela para brilhar até nas noites mais escuras.
- Aqui! - null sorriu para ela. - Um colar com a estrela do null para você! Quer que eu te ajude a colocar?
- Isso é lindo, null! Como você faz essas coisas? - null nem precisou responder: somente tirou os cabelos do caminho e se virou de costas para que null pudesse prender o colar no pescoço dela, algo que ele fez com cuidado, porém de maneira que ela ainda conseguisse sentir os dedos quentes dele contra a pele levemente gelada do pescoço dela.
- Lembre-se que tudo isso daqui fui eu quem criou. - Ele piscou para null assim que a moça se virou novamente para ele. - Você ficou linda. Foi uma boa escolha de estrela, null!
O bichinho somente acenou com a cabeça, abraçando null com mais força e fazendo-os rir.
- Mas você já está ficando muito gelada, acho que precisamos tomar um sol! Além de que o Sr. Travers e seus amigos flamingos estarão nos esperando para o chá! - Dizendo isso, a cama começou a se mover novamente enquanto eles se moviam para o meio desta. - null, null, segurem-se firme!
- O que ele quer dizer com isso...? - Mas foi só null perguntar que a cama começou a voar em uma velocidade muito maior que a anterior. - AH, , VAI COM CALMAAAA!
Ele somente riu enquanto ela estava sentada atrás dele e se segurava com força nos ombros de null. null abraçava a cintura de null e a viagem não demorou tanto tempo assim: em questão de segundos, adentraram um céu azul cristalino, com nuvens das mais diversas cores em tons pastéis, enquanto o ar era preenchido por uma música animada e certamente gostosa de se ouvir. A cama tomou uma velocidade mais calma, fazendo-os aproveitar o calor do sol dourado que atingia a pele e o grande mundo embaixo deles: rios, mares e lagos das mais variadas cores, florestas e cidades multicoloridas com pessoas, animais e criaturas convivendo de maneira animada. A praça principal era o centro que dava vazão a muitas outras ruas, para muitos outros lugares e casas, sendo o local no qual a cama se estacionou calmamente e parou de brilhar.
- Bem vinda ao null World. - null abriu os braços logo que se levantou, parando no meio dos tijolos amarelos da praça principal. null estava boquiaberta enquanto os residentes do mundo de null a observavam com curiosidade, enquanto conversavam e continuavam seus afazeres.
- null... É sensacional. - null estava embasbacada. Aquele era o mundo de null, um pedacinho dele em cada canto que havia criado. E ele estava mostrando para ela. - Você é sensacional. Eu amei esse lugar!
- Mas você ainda não viu nada! - Ele deu uma boa risada, sentindo um pouco de vergonha enquanto null segurava a mão dela, pronto para levá-la em um tour.
- Mas tudo isso é você! - null explicou, rindo que nem ele, enquanto caminhava com null. - Eu sei que vou amar!
null se pegou em choque com as palavras da moça - mas ela parecia não ter percebido o que acabara de falar. Após alguns segundos processando, correu atrás dela e de null.
- Bom, precisamos ver o que você quer fazer! Temos muitas atividades em null World! - E ele tentava esconder as bochechas coradas. - Podemos visitar o Centro de Animais, a Praça de Freestyle, almoçar na Praça de Alimentação, precisamos falar com o Sr. Travers no lago dos Flamingos Surfistas, talvez...
- Olá, null! Olá, null! E olá... Nossa! Temos uma nova residente por aqui? - Eles ouviram uma voz animada atrás de null e null se chocou ao encontrar um astronauta segurando o capacete e os observando com gentis olhos azuis.
- Ah, Arthur! Tudo bem? - null perguntou de volta com um enorme sorriso. - Essa é a null! Ela queria visitar o nosso...
- Essa é a famosa null?! - E Arthur não podia ser mais direto. null simplesmente congelou no lugar, sem coragem de olhar para ela. - Ouvimos muito sobre você, o null simplesmente te adora! É uma honra finalmente te conhecer, null!
- É uma honra estar aqui e te conhecer, Arthur! - Ela segurou a mão que ele estendia em um animado aperto de mão. - Você vai em alguma missão espacial hoje?
- Vou! Estou em uma missão muito importante de recuperar algumas estrelas para estudos sobre energia! - O astronauta respondeu de maneira orgulhosa, apontando para o colar que pendia no pescoço dela logo em seguida. - Vejo que você mesma foi fazer as suas próprias pesquisas no cosmos!
- Presente do null e do null. - null pegou a estrela entre os dedos, observando-a com carinho. null ainda não tinha coragem para descongelar e olhar para ela.
- As vantagens de ser amiga deste homem incrível, acredito. - Arthur deu um bom tapa nas costas de null, quase o fazendo perder o ar. null tentou não rir quando ele arregalou os olhos. - Tente ver o lançamento do nosso foguete, acho que você irá adorar! Estaremos na Plataforma de Lançamento daqui a quatro horas, vocês são nossos convidados! Até mais, famosa null!
- Até mais! Prazer te conhecer, Arthur! - A moça acenou de volta, sorrindo placidamente, virando-se para null com uma sobrancelha erguida assim que o astronauta estava longe o suficiente. - “Famosa”...?
- Sabe como é, você é minha amiga e passo muito tempo com você... - null tentou explicar da melhor maneira possível. - Naturalmente o pessoal aqui já ouviu falar.
Quando ela somente sorriu de volta, null finalmente pôde se acalmar e respirar fundo novamente.
- Então... Qual é o itinerário? - Ela perguntou em expectativa, fazendo-o se animar.
- Você confia em mim para te guiar, então? - Ele perguntou de volta, sorrindo quase tanto quanto null sentia a animação agitar o pequeno coração.
- null... Eu subi em uma cama voadora com você e atravessei o Universo. Sim, eu confio em você pra me guiar! - Dizendo isso, null nem hesitou em segurar a mão dele.
E, com certeza e carinho, null a segurou de volta.
- Ah, você vai gostar daqui...! - null exclamou com empolgação, começando a andar mais rápido e praticamente arrastando null atrás de si. A moça segurou null, que decidira sentar em seus ombros, com mais força para que o bichinho não caísse. - Você vai adorar! Tenho certeza...!
- Espera, espera! O chão...! - null tentou segurá-lo, porém null era mais forte.
Somente quando adentraram uma parte que tinha uma vegetação e certamente casas, flores e um céu definitivamente fora do comum é que null parou e se virou para ela, confuso.
- O que foi? - As sobrancelhas dele estavam franzidas, mas o rosto... null colocou as mãos na boca, observando-o em choque. - O que foi, null?!
- Você! - Ela apontou de volta. - Parece uma pintura! Do Monet! Seu rosto parece que foi feito com pinceladas!
- Sim, sim! Essa é a mágica desse lugar especificamente, a Vila Monet! - null abriu os braços, sorrindo de maneira radiante para ela. - Vamos! Tem muita coisa para ver na vila!
- Mas... - E null tocou a mão de null com cuidado. Era tão sólida e acetinada quanto antes. - Achei que você estaria molhado de tinta como uma pintura!
- Aqui só afeta a aparência, as cores e como as coisas se apresentam. A textura continua a mesma, não se preocupe. - null piscou para ela enquanto null somente apitava. - E você também não precisa se preocupar. Continua lindo como sempre, meu null.
null riu, adorando como null parecia completamente à vontade em seu próprio mundo - além de estar completamente radiante de apresentar tudo aquilo a alguém. Mal sabia ela que o motivo da empolgação dele era poder mostrar à moça - que ela era quem fazia tudo aquilo ainda mais maravilhoso.
Continuaram o caminho por uma rua não muito grande de terra, ladeada da grama mais verde, até alcançarem a vila. Ela fervilhava de pessoas em seus afazeres diários - quase como no início de filmes da Disney.
- Eu sei que você vai ficar maravilhada com tudo, mas tem uma pessoa que precisa conhecer... - null murmurou, focado em encontrar uma simples casa à distância: um senhor barbado trabalhava em um atelier, deixando suas pinturas para secar ao lado de fora no sol enquanto a rua era tomada pelo cheiro aconchegante de muffins de damasco. - Ali! Gael, boa tarde!
- null...? - O senhor perguntou de volta, abaixando os óculos em meia lua na ponte do nariz para identificá-los melhor à distância. Em seguida sorriu. - null, meu filho! É bom te ver por aqui! null, também estou feliz em vê-lo! E essa é... Não pode ser.
- Não pode ser o quê...? - null pareceu um pouco assustada, parando à frente do homem com os olhos arregalados enquanto ele se levantava emocionado de seu banquinho. null somente franzia as sobrancelhas. - O que houve...?
- Você é a null? - Gael perguntou e novamente lá estava null congelado, sem saber o que fazer e completamente em pânico. - Minha filha, nós te esperamos por muito tempo.
- Jura? - null perguntou com um sorriso impressionado nos lábios. - Não é a primeira vez que eu ouço isso.
- E definitivamente não será a última. O null me disse muito sobre você. - O senhor suspirou e começou a procurar em suas telas por algo que precisava mostrar a eles. - Por favor... Quero que leve isso... Assim que eu achar... Ah! Aqui está!
Nisso, Gael resgatou um rascunho em aquarela numa folha A4 em que desenhara ninguém menos que null, entregando-o para a moça enquanto ela e null observavam boquiabertos. null só queria morrer.
- Uma tarde ele se sentou aqui comigo e me contou de uma moça tão radiante quanto o sol, misteriosa como a lua e apaixonante como as estrelas. A moça que o fez criar essa vila inteira na qual eu moro pela paixão que ela tem por Monet. - Gael colocou uma das mãos no coração, observando-a com carinho. null questionava-se se cavar um buraco e se enfiar dentro demoraria muito tempo. - Eu me senti inspirado pelas palavras e pelos sentimentos dele, tentando retratá-la em um pedaço de papel. Claro, o desenho não faz jus a você. Mas gostaria que o levasse como um presente de boas vindas.
- Muito obrigada, Gael. Vou guardar com muito carinho, disso você pode ter certeza. - null sorriu de volta, de maneira gentil. O senhor suspirou.
- Realmente, null. Radiante como o sol. - Ele comentou e, assim que olharam para null, perceberam o criador daquele vasto mundo ficando tão vermelho quanto um tomate.
- Pois é. - E null deu um sorriso desajeitado. - Agora acho que é melhor continuarmos a explorar, ou não conseguirei mostrar as coisas mais importantes daqui para ela.
- Ah, sim! Melhor seguirem em frente! Um dia quando tiverem mais tempo, parem um pouco por aqui para que possamos desenhar juntos. - Dizendo isso, Gael se sentou de volta em seu banco, acenando para eles enquanto null e null acenavam de volta animadamente.
null não sabia onde se enfiar. Liderava o caminho, mas sentia null perto demais enquanto ela brincava com as patinhas de null apoiadas em seus ombros. Os coraçõezinhos que borbulhavam do bichinho voavam como bolhas ao redor da cabeça de null e, apesar da vergonha ocasional, ele nunca se sentira tão feliz em finalmente ter mais alguém junto com ele em null World.
- Então quer dizer que você criou uma vila inteira só porque eu gosto de um artista específico? - null finalmente emparelhou com null e ele deu um sorriso um tanto envergonhado.
- É... Lembro de algumas pinturas que você me mostrou uma vez, alguns desenhos que você fez. Gostei muito e acabei criando a vila para me lembrar. - Ele respondeu de maneira desajeitada. - Tanto é que as casas são principalmente azuis e amarelas, do jeito que você me mostrou.
- Fico muito feliz que você tenha gostado tanto, null. - null sorria não somente com os lábios, mas com os olhos. De uma maneira que ele sabia que ia se apaixonar cada vez mais por ela.
Estavam tão entretidos com a conversa que nem perceberam que deixaram a vila das pinturas e adentraram outra parte do mundo que parecia uma cidade grande como Los Angeles - porém com prédios repletos de pinturas de rua, grafites das mais variadas cores, carros brilhantes em cores berrantes dirigindo pelo asfalto com músicas animadas tocando e batalhas e mais batalhas de dança ocorrendo nos mais variados cantos.
- Deixa eu adivinhar... Praça de Freestyle? - Ela perguntou assim que viu as pessoas dançando e null riu de volta, parecendo energizado de uma maneira diferente.
- Exatamente! Você sabe que não dava pra faltar dança no meu mundo, não? - Ele piscou para ela, novamente segurando uma das mãos de null. Como ela e null já sabiam o que lhes aguardava, null segurou a patinha do bichinho com a mão livre e ele apitou em agradecimento assim que começaram a ser levados por null. - Você vai adorar a música por aqui! O objetivo é se divertir, é curtir como se não houvesse preocupação nenhuma! Como se eu não fosse famoso, como se você não fosse uma produtora, como se nós dois não fôssemos workaholics que mal temos tempo para descansar!
- Olha só, você está me fazendo gostar demais do conceito desse lugar! - Ela respondeu animadamente, tentando acompanhar os passos largos de null até o lugar onde vários grupos competiam com improvisações de coreografias. - Se continuar assim, é capaz que eu queira ficar aqui pra sempre!
O coração de null bateu mais forte e null percebeu, soltando um leve guincho - o que fez null dar uma risada adorável, apesar de não entender a reação do bichinho. Aquele lugar era como o coração de null: as paixões dele, quem ele era, suas raízes e sentimento de pertencimento eram daquele lugar - e nada poderia mudar aquilo. Saber que null se sentia tão confortável em um local em que null conseguia fechar os olhos e se deixar sentir sem restrições era como saber que ela se sentia confortável dentro do coração dele.
- null! Vai dançar hoje, meu lindo? - Uma mulher que null só podia definir como incrível, saiu de um dos grupos para chamar null. A pele dela era negra, os cabelos afro cuidados com muita atenção e carinho, as roupas em tons diferentes de neon. Ela exalava confiança e dança em cada passo que dava na direção deles. - Estávamos te esperando! Hoje o... Ah, você trouxe uma amiga de fora? Meu nome é Tina!
- Olá, Tina! Eu sou a null! - A moça estendeu a mão para apertar a de Tina, tentando permanecer confiante em cada palavra que falava. Mas não podia negar que toda a confiança de Tina era certamente intimidante... E magnética. - Prazer!
- Ah, você tem que vir dançar com a gente, minha querida! Ainda mais depois que...
- Depois de nada! Eu vou dançar! - null imediatamente se colocou no meio do assunto para que mais uma pessoa não dissesse algo como “ainda mais depois de ouvirmos falar tanto de você”. null somente trocou olhares com null e ambos reprimiram uma pequena risada enquanto ela o ajudava a chegar ao chão. - Quero ver o que vocês prepararam dessa vez! Cada dia é algo novo, eu podia ficar aqui o tempo todo!
- Imagino. Você já fica na sala de dança o dia todo até de madrugada, se não sou eu pra te arrancar de lá pra comer alguma coisa, você vai direto pra cama, dormindo suado mesmo. - null comentou de volta, fazendo Tina dar uma boa risada enquanto null parecia indignado. null tentava levá-la mais rapidamente para a roda de dança, animado para entrar no ritmo da batida.
- Gostei de você, mulher! - Tina respondeu, batendo de leve no braço de null como se fossem melhores amigas. - Alguém precisa colocar esse aí nos trilhos, ou é um caminhão desgovernado!
- Ah, vocês duas vão se juntar contra mim agora, é isso? - null parecia indignado, porém null e Tina simplesmente confirmaram com a cabeça. - Ok, ok. Vamos ver o que vocês podem fazer então!
Dizendo isso, null abriu os braços, aproximando-se da roda de dança e sendo recebido com gritos animados. Ele não demorou a se sentir imediatamente em casa, tomando conta do ritmo e dançando da maneira apaixonante como sempre dançava - o próprio null ficou observando animadamente, completamente hipnotizado pela maneira como null se movia.
null não podia deixar de observá-lo com admiração e carinho - algo que Tina percebeu nos olhos da moça. Outra coisa que Tina também sabia é que null não tinha mais uma queda por null, era um precipício, e ele nunca parecia tomar coragem para dizer a ela - quando a moça claramente correspondia. Enquanto ele dançava, assim que apontou para as duas, Tina deu um empurrão em null.
- O quê?! Eu?! Mas eu não posso...!
- Você deve, mulher! - Tina respondeu, empurrando-a novamente quando null tentou voltar para a orla da roda, evitando ao máximo encontrar com null no centro da roda de dança. - Você tem força suficiente pra botar esse homem em ordem, então consegue ir lá e brigar com ele em uma dança! Se solta! E vai!
No meio da roda, com todos gritando, null respirou fundo e olhou para null - que sorria com expectativa em frente a ela. A moça não queria desapontá-lo e ele queria ver o que ela faria. null aceitaria qualquer coisa de null, mas nunca esperava o que aconteceu: sorrindo de volta, a moça se soltou no ritmo da música de uma maneira que ele nunca vira antes.
- Isso aí, mulher! Acaba com ele! - Tina gritou animadamente, emprestando à null mais ainda de sua confiança. - Mostra o que nós podemos fazer!
null jogou os cabelos para trás e começou a misturar os passos que tinha aprendido de maneira tão envergonhada com null com os passos que soube desde sempre de jazz e ballet. Ele estava completamente impressionado e sabia a cada batida da música que seu coração não podia pertencer a mais ninguém que não fosse ela.
null estendeu uma das mãos e null sorriu ao segurá-la. Ele a puxou mais para perto de si, começando a dançar com a moça em perfeita sincronia, como se o ritmo de um complementasse o outro. O pessoal da roda gritou em animação, Tina torcia como se nunca tivesse visto null dançando tão bem - e provavelmente nunca vira. Pela primeira vez ele parecia apaixonado de uma maneira completamente diferente, aproximando o rosto do pescoço de null enquanto ela fechava os olhos e jogava a cabeça para trás - completamente imersos um no outro.
Tina repentinamente viu corações como bolhas explodindo a sua volta e, ao olhar para baixo, viu null com as duas patinhas unidas, balançando no ritmo da música, completamente apaixonado pelos dois que dançavam à sua frente.
- Concordo com você, null. - Tina comentou com um pequeno sorriso, fazendo o animalzinho dar uma risadinha de volta. - Eles realmente são apaixonantes. Fico tão feliz pelo null ter encontrado alguém que nem ela.
Quando a música chegou ao fim, null descansou as mãos na cintura de null, ambos de frente para o outro, os olhares presos nos olhos um do outro, a respiração pesada tentando recobrar o ritmo enquanto os outros dançarinos torciam.
Os olhos de null eram sinceros e, pela primeira vez em que null não estava propositalmente se distraindo para saber se comportar em torno dela, ele notou como todos os sentimentos dele eram espelhados na maneira que ela o observava. null sentiu as mãos formigando e as pernas ficando cada vez mais moles ao perceber pela primeira vez que null era tão apaixonada por ele quanto ele por ela.
Repentinamente, as bochechas dela ficaram cada vez mais vermelhas e a moça começou a rir, aproximando-se dele em um abraço enquanto agradecia à torcida dos outros dançarinos. Ele a segurou como se não quisesse soltá-la, até que null segurou a mão de null, levando-o para a orla enquanto outra dupla entrava para uma batalha. null pulava animadamente ao lado de Tina.
- Você foi incrível! - A mulher exclamou, abraçando null assim que se aproximaram. Já a considerava uma grande amiga. - O que foi que eu disse?! Quando você se solta, não tem erro, querida!
- Obrigada, Tina. - null respondeu simplesmente, abraçando-a com mais força. Tina teve alguns segundos de choque com aquela reação, porém entendeu e sorriu em seguida. Afinal, ela vira a maneira como ambos se olharam ao fim da dança. - E obrigada a você também, null! Eu podia te ouvir torcendo daqui!
E, enquanto ela brincava com null, null somente a observava, sem dizer nada - somente com o carinho interminável nos olhos. Tina parou ao lado dele, cruzando os braços e dando um pequeno sorriso.
- null... Você tem que falar pra ela.
- Hmmm? - Ele perguntou de maneira meio avoada, voltando o olhar para ela. Porém Tina não ia se repetir: null havia ouvido muito bem e ela sabia daquilo. - Ah, Tina... - E ele suspirou. - Não existem palavras suficientes.
Voltando a observar null dançando de mãos dadas com null e divertindo-se como nunca enquanto o bichinho parecia tão feliz e seguro nos braços dela, null solidificou aquela convicção em si: não havia palavras suficientes em nenhum idioma para traduzir o que null precisava dizer; havia somente sentimentos.
- Sabe que eu fiquei muito interessada no tal Centro dos Animais... - null começou a falar fingindo desinteresse enquanto segurava uma patinha de null, que corria atrás de uma borboleta verde brilhante. O bichinho parou no mesmo momento, olhando null com receio.
- Eu sei e acho que você vai gostar muito. Principalmente de ser perseguida por um rebanho de cachorrinhos amarrados em balões coloridos. - null respondeu, vendo a maneira como os olhos de null começaram a brilhar. - Porém, alguém ficou com medo de perder a sua atenção e me pediu pra não te levar lá hoje.
null franziu as sobrancelhas e no mesmo momento null apontou para null. O bichinho observou a moça com grandes olhos pidões e ela imediatamente deu uma risada enquanto os olhos se enchiam de lágrimas.
- Seu bobo! Eu nunca vou te dar menos atenção! Eu te amo, meu null! - null imediatamente o abraçou, tirando-o do chão enquanto o girava no ar e null fechou os bracinhos em volta dela, começando a soluçar. - Por que você está chorando? Nunca te falaram que você é maravilhoso e só merece amor? Porque é exatamente isso. E não importa o que aconteça, eu sempre vou estar aqui ao seu lado, null!
O bichinho escondeu o pequeno focinho em forma de coração no pescoço de null e começou a chorar copiosamente. Fazia muito tempo que não se sentia amado e querido daquela maneira. Sentia-se seguro, como se realmente pertencesse àquele mundo, ao lado de null e null. Ela o recebera tão bem, sem preconceitos e de braços abertos, fazendo-o amá-la mesmo após conhecê-la oficialmente somente naquele dia.
O próprio null tentava não demonstrar muito seus sentimentos com aquilo - ele e null passaram por coisas parecidas que os deixaram machucados. Ver que alguém podia receber null de maneira tão carinhosa e desprovida de qualquer julgamentos dava esperanças a null. Ele sabia que null não seria o tipo de pessoa que o machucaria da maneira como ele fora machucado - e ele mesmo não a machucaria como ela esperava de qualquer relacionamento que iniciava.
Só que null já tinha entendido tudo aquilo - como ele faria para que null entendesse?
Repentinamente, porém, o chão começou a tremer.
- O que é isso?! - null perguntou assustada, protegendo null com os braços. - Um terremoto?!
- Não... - null franziu as sobrancelhas, estranhando assim que a terra parou de tremer. Em seguida, seu rosto se iluminou. - Não! É o lançamento do foguete do Arthur! Vem comigo, você vai amar!
Segurando a mão de null, null começou a correr. Ela teve que segurar null com força para evitar problemas, mas o próprio bichinho já sabia que quando null a levava junto, era melhor segurar firme.
- Eu esqueci completamente o horário que o Arthur tinha me falado! Temos que correr pra chegar à Plataforma!
- Ok, sem problemas!
null conseguia ouvir a animação na voz de null. Ela o seguia sem questionar, correndo por um campo de grama magenta repleto de borboletas cintilantes que espiralavam como as estrelas no Universo. Eles atravessaram com pressa, fazendo-as revoar animadamente enquanto tentavam chegar à Plataforma o quanto antes.
De repente, o celular de null começou a tocar. Retirando do bolso enquanto corriam, viu que era uma chamada de Arthur que, quando null atendeu, fez surgir somente uma tela amarela com os dizeres “sem pânico!” em preto na tela. Ambos franziram as sobrancelhas, até chegar à Plataforma: um vasto campo de lançamento em um ambiente que lembrava o Grand Canion, o céu alaranjado colorindo tudo com a mesma cor. Assim que alcançaram o lugar, uma engenheira de cabelos igualmente laranja se aproximou deles com um sorriso no rosto.
- Chegaram bem a tempo! O Arthur pediu para que esperássemos vocês para poder lançar o foguete! - A moça os cumprimentou enquanto segurava um rádio colorido em uma das mãos. Aproximou-o dos lábios e apertou um dos botões. - Base, podemos lançar! O null, o null e a null já chegaram!
- Copiamos, Ellen! Começaremos a contagem regressiva!
- Vamos, vamos! Não temos muito tempo! - Ellen respondeu, segurando a mão de null que null soltara e começando a caminhar com a moça e null até a beira do cânion, podendo observar o gigante ônibus espacial de perto. - Não se preocupe, é completamente seguro!
- Não existe um habitante desse mundo que não saiba quem eu sou...? - null perguntou com uma sobrancelha erguida e Ellen imediatamente reprimiu uma risada.
- Não quando o mundo é feito pelo null. - A moça piscou de volta para null, fazendo-a corar como um tomate enquanto null agitava as perninhas nos ombros dela.
- Qual é a contagem, Ellen? - null perguntou assim que se aproximou.
- Faltam cinco segundos!
- Ok, melhor colocarmos isso então! - Com essas palavras, null distribuiu abafadores coloridos para colocarem nos ouvidos, que somente ele sabia de onde tinham saído.
- Três! Dois...! - Ellen começou a contar junto com a base. - Um! Segurem-se firme!
null não entendeu muito bem o que ela queria dizer até o foguete começar a decolar, irradiando uma forte onda de vento. A moça segurou a mão de null, sentindo os cabelos voando furiosamente em volta de si.
Mas era a coisa mais linda. Enquanto o ônibus espacial alçava voo com o nome de null World em sua carcaça, a fumaça que saía dele era nada menos que azul do tom mais vibrante que ela já tinha visto. O foguete subia lentamente, tomando velocidade aos poucos, enquanto pintava tudo a sua volta de azul.
E, quando finalmente disparou aos céus e todos os envolvidos naquele lançamento começaram a gritar de alegria comemorando o sucesso do início da missão, null finalmente notou que ela mesma estava completamente azul.
Ao olhar para null, desatou a rir.
- null! Você parece um smurf!
Nem ele se aguentou e começou a rir junto com ela.
- Ora, muito obrigado, minha smurfette! - E ele abraçou null, compartilhando todo o azul que tinha com ela e null.
- Vocês podem seguir para o lago dos Flamingos Surfistas pra tirar toda essa fumaça, não é muito longe daqui. - Ellen sugeriu, balançando um pouco os cabelos cor de laranja, agora manchados de azul. - Tenho certeza que eles não iriam se importar. E ainda vão pegar o horário do chá do Sr. Travers.
- Ah, verdade. Ele não vai parar de falar nunca mais. - null rolou os olhos, porém tinha um pequeno sorriso nos lábios.
- Ah, só sugiro pegarem o caminho à esquerda, pois o da direita tem algo que ainda não identificamos muito bem o que é. - E Ellen parecia preocupada. null e null imediatamente ficaram alerta. - Parece...
- Um espaço vazio. Não tem problema eles irem pra lá comigo, mas é bom que você lembre os outros de ficar longe, Ellen. Obrigado pelo aviso. - null respondeu de maneira séria e ela confirmou com a cabeça.
- Vejo vocês mais tarde! - Com um último aceno, Ellen se pôs de volta à base enquanto null novamente segurava a mão de null para guiá-la por null World.
Entretanto, dessa vez não havia pressa. Ele passeava ao invés de correr, já acostumado em segurar a mão da moça.
- Então quer dizer que existe um espaço completamente vazio aqui em null World? - null perguntou com interesse, fazendo-o confirmar com a cabeça.
- É... Ainda não descobri o que fazer com ele. - E null suspirou, olhando para o céu. - É como se alguma coisa estivesse faltando. Algum pedaço de mim, talvez...
- Você quer me mostrar? Às vezes, consegue descobrir o que fazer quando eu estiver lá. - Ela sugeriu, fazendo-o observá-la durante um tempo.
- Pode ser... Vamos lá! - E, com um sorriso, null mudou de direção, levando-a para o único lugar de null World que mais ninguém além dele já tinha pisado.
- Pode vir sem medo... Não vai acontecer nada. - null comentou assim que começou a caminhar por um lugar que era completamente branco.
Não havia nada. null segurou a patinha assustada de null e caminhou com ele pelo chão branco, completamente estéril e sem vida. Era exatamente o que null comentara antes com Ellen: vazio. Ele caminhava distraidamente, com as mãos nos bolsos, vezes olhando para cima, vezes para baixo. Era como se estivessem flutuando em um grande espaço branco e sem nada: nem música, nem cores, nem formas... Nada.
- Você nunca teve vontade de criar nada por aqui? - null perguntou enquanto soltava null para que ele pudesse explorar aquele lugar vazio.
- Já tive... Inclusive tenho. Mas não consigo fazer nada. - null suspirou, olhando para ela em seguida e dando um pequeno sorriso que parecia até triste. - Acho que já acabou a minha criatividade em relação ao null World.
- Não fala isso. Você tem uma criatividade incrível, null. - Mas ela notou que as palavras não foram suficientes para convencê-lo, enquanto null dava de ombros. - Você é incrível, null.
- Oi? - E claro, ele foi pego de surpresa.
- Nunca vi alguém fazer as coisas da maneira como você faz. null, tudo isso... Você é incrível e cada dia que passa, eu te admiro cada vez mais. - null segurou uma das mãos dele, sem notar que null estava corando como as pétalas de uma cerejeira. - Tenho certeza que você vai arranjar algo lindo pra fazer com esse lugar, porque tudo que você toca, é tratado com carinho e vira algo maravilhoso. Inclusive...
Mas ela parou de falar. null pendeu a cabeça um pouco para o lado, aproximando-se de null e segurando a outra mão da moça. null estacou onde estava e observava a tudo de olhos arregalados e com o pequeno coração pronto para explodir em milhares de corações.
- Inclusive...? - null perguntou de volta, abaixando um pouco a cabeça para incentivá-la a falar. null levantou os olhos e, ao encontrá-lo, null abriu um de seus belos sorrisos que ela não cansava de ver, fazendo-a sorrir enquanto as bochechas coravam.
- Inclusive, foi o que você fez comigo, não percebeu? - A moça deu uma breve risada ao ver o choque de null com toda aquela sinceridade repentina, começando a afagar levemente as mãos dele. - Você pegou uma pessoa completamente amarga como eu e me fez perceber novamente que há esperança nesse mundo. Que há pessoas que nem você.
null sentia pequenas lágrimas formando no canto dos olhos. Sem pensar duas vezes, ele repousou uma das mãos no rosto de null e finalmente se aproximou, beijando-a da maneira que sempre quis.
null apitou e coraçõezinhos borbulharam de seu focinho enquanto caía no chão de emoção. O mundo explodiu em cores e sons em volta deles no momento em que os braços de null se enlaçaram em volta do pescoço de null, correspondendo cada sentimento do beijo. Ele a abraçou pela cintura, trazendo-a mais para perto, sem querer soltá-la. Por muito tempo quiseram viver aquilo, mas não diziam ao outro. Enquanto o mundo à volta deles ganhava pradarias, casas, pessoas, animais multicoloridos, os mais diversos tipos de plantas, flores, cores e músicas, tanto null quanto null se esqueceram por qual motivo negaram aquilo durante tanto tempo.
- null... - null finalmente desgrudou os lábios dos dela, ainda sem perceber o que tinha acontecido em volta deles. - Você fala isso, mas você nem sabe... Eu dou esperanças pra todo mundo, mas guardo poucas a mim mesmo. Mas você, bom. Você também me fez acreditar de novo que existe...
- Amor? - null perguntou de volta com uma pequena risada e null concordou animadamente com a cabeça, impressionado.
- Como você...? - Mas, antes que ele pudesse terminar a pergunta, ela apontou para algo atrás dele.
Um mundo todo havia surgido. O mais próximo era uma vila pavimentada com belas pedras bege e casinhas coloridas, repleta de flores para todos os cantos, passarinhos e borboletas multicoloridos voando por todos os lados - bem como balões em formato de coração nas cores vermelhas e cor de rosa, infestando o brilhante céu azul com todas as suas cores enquanto os habitantes da vila conversavam entre risadas e soltavam mais e mais balões.
- Puxa vida. Não tinha como ficar mais óbvio, né...? - Ele perguntou de maneira até envergonhada e null somente concordou com a cabeça, segurando a mão de null. - Acho que eu vou ter que dar uma boa desbravada nessa parte de null World depois.
- Por quê? O mundo não é seu?
- Essa parte não. Essa parte é sua. - null deu uma pequena risada, abaixando um pouco a voz. - Porque uma parte do meu coração é sua, né?
null arregalou os olhos com a frase de null, finalmente notando o que aquilo significava. Teria reagido de maneira diferente, porém null finalmente surgiu e, correndo, agarrou as pernas de ambos e começou a chorar de alegria enquanto borbulhava seus coraçõezinhos cor de rosa pelo focinho no mesmo formato.
- Bom... Parece que alguém ficou muito feliz com tudo isso! - A moça comentou animadamente, pegando null no colo. - A gente demorou, não...?
Foi só ela perguntar que null disparou em uma profusão de sons ininteligíveis, mas que certamente tratavam de como ele ficou esperando por aquilo durante tanto tempo. null começou a caminhar com ele pelas novas pradarias de null World, dançando aos poucos com null para acalmá-lo e distrai-lo de toda aquela reclamação.
Observando toda aquela nova criação enquanto ela dançava com null em um lugar que null acreditava que ficaria vazio até praticamente o fim de sua vida, ele abriu um grande sorriso e fechou os olhos.
Tinha certeza que amaria descobrir aquela parte de seu mundo - e que ela não poderia ser melhor, mesmo com todas as suas imperfeições.
****
- null! Ei, null! Acorda!
- Oi?! - Ele perguntou um tanto assustado, olhando para o assistente da produção ao seu lado que praticamente o chacoalhava.
- Você estava dormindo de olhos abertos? Faz cinco minutos que eu te chamei! - O homem respondeu enquanto balançava a cabeça. - Precisamos terminar as filmagens de hoje!
- Ah, me desculpa, eu estava... - Fechando os olhos, null se lembrou do lugar que tinha acabado de surgir em null World. O mesmo lugar que ele fora forçado a deixar para acordar no mundo real. - Com a cabeça nas nuvens...
- Era de se esperar. - O homem resmungou, virando-se para a equipe. - Ele está pronto! Podemos ir?
- Podemos! Última take do dia, pessoal!
null deixou null cuidadosamente em cima da cama - o bichinho ainda estava um pouco desnorteado de voltar de null World daquela maneira e null não queria que ele se machucasse. Levantando do colchão, ele se espreguiçou levemente e voltou para o set a fim de concluir a filmagem - que consistia nele dançando em um ambiente com uma tela branca, completamente vazio.
Encontrando null animada e fazendo sinais positivos para ele ao lado do Diretor, null sorriu animadamente, acenando para ela. Somente ele sabia que aquele lugar vazio não existia mais em null World - era de null, sendo que ela o criaria desde o início até o fim. Junto com ele e ao lado dele.
E aquilo fez a árdua missão de gravar aquele MV muito mais fácil - principalmente por ter null no backstage sorrindo para ele quando null se sentia cansado.
- Eu adorei as filmagens de hoje. O dia foi cansativo, mas gostoso... Ah, e o jantar estava ótimo também. - null sorriu enquanto caminhavam pela rua na madrugada. - Você é a melhor companhia.
- Também adoro a sua, null. - null respondeu enquanto mantinha as mãos nos bolsos da calça.
A lua refletia no rio ao lado do qual ambos caminhavam. A noite tinha acabado de iniciar no céu mais negro e límpido de maneira que pudessem observar as estrelas. null se lembrava do colar que havia dado para null com a pequena estrela que null encontrou para ela e desejava poder fazer aquilo também na vida real.
Em momento algum ele mencionara a aventura deles em null World enquanto estavam jantando - só sabia que agora observava null com um olhar diferente ao conversarem. Talvez ela tivesse notado ou talvez permanecesse alheia como sempre ficava em assuntos do coração. E null não podia culpá-la, já sabia muito bem com quem estava lidando.
Como a própria null colocava, ela não era uma princesa de contos de fada e filmes de romance. Mas ele também não era um príncipe encantado e tinha plena consciência que vivia na realidade.
- Eu só não entendi aquele lugar branco e vazio na última take... - null suspirou repentinamente. null pareceu mais interessado no assunto, tirando as mãos do bolso e mal percebendo que queria segurar a mão dela. Aquilo parecia quando apresentou seu mundo a ela. - Se o null World é você e surgiu das suas vontades e dos seus sentimentos, aquele lugar...
- É um vazio dentro de mim. - null respondeu simplesmente, porém apressou-se em corrigir. - Ou melhor, era.
- Era? - null franziu as sobrancelhas, sem perceber que havia parado no caminho, de costas para o rio à luz do luar.
- É... Eu descobri muitas coisas sobre esse lugar. E agora ele é um dos mais novos espaços que eu nunca desbravei antes, apesar de ser muito interessante. - null se aproximou dela, sem perceber o sorriso que tinha nos lábios. null observava com interesse.
- Bom... - E ela sorriu de volta, da mesma maneira de quando estavam no mundo dele. - Tenho certeza que deve ser algo lindo. Porque tudo que você toca, é tratado com carinho e vira algo maravilhoso...
Nesse momento, null arregalou os olhos. Ele nunca esqueceria daquelas palavras - mas achava que era algo que sua mente somente tinha inventado para que ele se contentasse em sonhar acordado com um amor que nunca poderia acontecer.
- Inclusive... - E a voz de null sumiu. null se aproximou dela, levantando o rosto da moça com uma das mãos, segurando-a como se null fosse um cristal que pudesse quebrar a qualquer momento se fosse tratada com movimentos bruscos. E ela não precisou de encorajamento de palavras: a expectativa nos olhos de null e o sorriso bobo que ele tinha nos lábios eram suficientes. - Foi o que você fez comigo, não? Eu era amarga e desacreditada do mundo todo, achando que todo mundo que vinha falar comigo só queria se aproveitar ou tirar algo de mim, até que você... Fez com que eu visse que há esperança no mundo. Que você existe.
- Que você existe. - null respondeu, repousando as mãos no rosto de null. Tentava conter as lágrimas que surgiram nos olhos, mas tinha certeza que não conseguiria por muito tempo. - Eu dou esperanças para todos a minha volta, mas não guardo pra mim. null, você me fez ter certeza de novo que existe...
Mas as palavras de null foram cortadas pelos lábios de null, que se encontraram com os dele em um beijo que não poderia ser melhor em nenhum outro mundo fictício. Quando seus lábios se separaram, null riu ao ver uma lágrima escorrendo pelo rosto de null, limpando-a com a manga do aconchegante moletom.
- É bom você me levar para tomar chá com os flamingos, conversar com astronautas, brincar com as estrelas... E tudo mais que existe em null World. Eu quero conhecer tudo. - Ela finalmente respondeu, fazendo-o rir animadamente enquanto enxugava o excesso de lágrimas.
- Pode deixar, null. Eu te levo pra conhecer tudo, apesar de que você vai ter que me apresentar uma parte nova também. - null a olhou de maneira carinhosa. - Eu ainda não conheço muito bem o meu espaço que era vazio.
- Tudo bem... Eu não conheço muito o meu também. - null piscou para ele. - Aliás! Vou querer altas conversas com o null!
- Não se preocupe, ele já está abraçando a sua perna com corações borbulhando pelo focinho. - Ele apontou para a perna dela, esperando null rir da brincadeira e seguir como se nada estivesse lá, pois essa era a realidade.
- Ah, null! Eu também te amo! - Mas ela olhou para a própria perna e falou com carinho, fazendo null sorrir e null apitar de alegria. - Vamos para casa?
- Ah, era isso que eu ia falar... Se você quiser, claro... - null parecia um pouco envergonhado, fazendo null erguer uma sobrancelha enquanto null subia nos ombros dela assim como fizera em null World. - Podemos ir pra minha casa. Aí eu posso te mostrar tudo sobre o álbum, as músicas, o null World... Mas só se você quiser. Não quero te...
- Ok. - null respondeu simplesmente, fazendo null comemorar de maneira animada enquanto null sorria um tanto pego de surpresa com aquela resposta.
- Ok! - O coração dele batia um pouco mais forte, animado em finalmente poder mostrar tudo que trabalhara, todos os seus sentimentos e sonhos, para a pessoa a quem pertencia uma parte de seu coração. Com isso, ele estendeu a mão para ela. - Vamos?
- Vamos! - E null segurou-a sem titubear, assim como fizera em null World. - E já aviso que vou dormir com a sua blusa do Snoopy. Ela é muito confortável para que eu finja que não existe.
- Você pode dormir com a roupa que quiser, contanto que deixe as suas dobradinhas em um cantinho e não espalhe pelo quarto. - null respondeu de maneira analítica, rolando os olhos em seguida. - Sério. O null deixa tudo espalhado para cima e para baixo e é um caos. Às vezes eu quero esganar aquele cara.
- Já era de se esperar de vocês dois! +- Ela riu de volta, entrelaçando os dedos com os de null. Por algum motivo, segurar a mão dele daquela maneira parecia o certo a se fazer.
null e null se sentiam em casa - como se tivessem passado muito tempo em busca de algo que sempre estivera lá e, por algum motivo que agora os escapava, eles sempre evitaram aquilo.
Mas agora, caminhavam juntos, de mãos dadas, à beira do rio em que a lua refletia como se estivesse sorrindo para eles. Nenhum dos dois poderia ter imaginado uma melhor maneira de finalmente constatar o que sentiam pelo outro - nem que daria tão certo e seriam correspondidos.
Enquanto caminhavam naquela madrugada de volta para casa pela primeira vez, null e null sentiam como se estivessem em paz, o mesmo sentimento que tinham quando sonhavam acordados ao se encontrar - porém, aquela era uma das raras vezes em que a realidade era melhor do que qualquer sonho que poderiam ter.
O pequeno bichinho assustado ergueu a cabeça, as lágrimas ainda escorrendo pelo rosto, atingindo o focinho rosa em formato de coração. O que ele viu, foi um ser humano que brilhava tanto quanto o sol, sorrindo de maneira carinhosa e amável. O bichinho estava com medo, era verdade, mas algo naquele sorriso o fazia se sentir um pouco mais seguro.
- Meu nome é null! - O ser humano comentou, abaixando-se ao lado do pequeno bichinho. Este se encolheu cada vez mais, como se estivesse com medo de ser tocado. - Calma, amiguinho! Eu não vou te machucar! Você não sabe falar, né? Consegue me entender...?
Aquele ser humano, null, pendeu a cabeça para um lado, sem fazer movimentos bruscos enquanto o bichinho continuava com o coração acelerado, com medo de qualquer tipo de interação. Observando null com seus grandes olhos marejados de lágrimas, aos poucos fez que sim com a cabeça. Aquilo pareceu animar null mais ainda.
- Que bom! Você é novo por aqui, né? Está machucado? Te vi chorando e fiquei preocupado com você... - Ele mal terminou de falar e o bichinho correu até ele, abraçando os joelhos de null e escondendo o focinho de coração no meio destes. - Ah, o que foi? Você está com medo?
null estava um pouco surpreso com aquela reação, afagando a cabeça do bichinho enquanto o mesmo confirmava com a cabeça.
- Shhh, não precisa ter medo. Eu tô aqui e não vou deixar nada de ruim acontecer, ok? - E null sempre mantinha o sorriso no rosto enquanto falava com o bichinho. - Ok, null? Gostou desse nome?
O bichinho ergueu os olhos, um pouco mais animados, as bochechas corando com o que null podia prever que seria uma grande amizade. Não sabia o motivo, mas algo naquele animalzinho o lembrava dele mesmo.
- Bem vindo ao null World, null. - E null sorriu de maneira mais brilhante que o sol.
- Ei, null! Acorda!
E quase caiu da cadeira com null chacoalhando-o para que voltasse à vida real, em seu estúdio, produzindo suas músicas.
- Já não basta ter quebrado a cadeira, você também quer me quebrar agora? - null murmurou de volta, mal abrindo os olhos enquanto se colocava de pé. - Bruto.
- Não é minha culpa que de cinco em cinco minutos ou você cochila ou fica sonhando acordado com o seu próprio mundinho. - null deu uma pequena risada, sentando-se em uma cadeira ao lado de null. - Precisamos continuar aquela track que estamos trabalhando desde o início do mês. A intenção é lançar...
- Nesse fim de semana, eu sei... - null se espreguiçou, estalando o pescoço. Em seguida, pegou um caderno e anotou algumas coisas enquanto null já abria os arquivos em que trabalhariam no computador.
- Mais ideias pras suas músicas? - null perguntou sem olhar para o amigo. Escrever era um processo que exigia privacidade.
- Yep. Logo logo eu termino e lanço alguma coisa... - Com essa frase, null começou a murmurar um ritmo que animou null.
- Parece bom. É de uma delas...?
- É sim. Espero que seja tão boa quanto estou esperando, ainda falta muita...
- Gente, desculpa o atraso! - E uma voz esbaforida os interrompeu, entrando de maneira escandalosa no estúdio e fazendo null congelar no lugar. null tirava o cachecol e suspirava, fechando a porta da sala com dificuldade enquanto tentava equilibrar uma grande sacola de papel pardo nos braços. - Acordei super tarde e me atrasei no banho! Quando saí, tava tão frio que quase congelei na minha bicicleta!
- Oi, null. - null sorriu, acenando para a moça, no que null imitou o gesto. Ele não sabia que ela estaria ali e o coração estava disparado. - Não precisa se preocupar, o null tava cochilando.
- Respeita meu sono, null. - null suspirou, fazendo-a dar uma boa risada. Aquilo o fez sorrir de volta e sentir as bochechas corando.
- Pra compensar o meu atraso, eu trouxe bebidas quentes e doces! - Ela imediatamente levantou a sacola de papel pardo após descansar a bolsa, o casaco e o cachecol na cadeira de null.
- Ah, não precisava, null! Seu coração é lindo! - Ele não conseguiu ficar sem reagir na hora, fazendo null lançar um olhar um tanto suspeito e null dar uma risada um tanto envergonhada.
- O seu que é, null. - Ela respondeu com as bochechas róseas. A sorte era que estava correndo no frio, então parecia que o tom das bochechas era pelo esforço físico na baixa temperatura. - Eu trouxe seu café preferido e um pote de churros com chocolate... O mesmo pra você, null! Seu café e um pote de churros, porque sei que vocês gostam!
- Ah, muito obrigado...! - null não podia estar mais agradecido enquanto pegava os doces. - Você sempre sabe como animar nossos dias puxados de trabalho... Ei. O que é o seu?
E null percebeu que ambos a encaravam com sobrancelhas erguidas. Ela começou a rir enquanto dobrava a sacola para deixar junto com as coisas e levar de volta para casa.
- É chá! - A moça colocou um feixe de cabelo atrás das orelhas, gesto que sempre fazia null sorrir inconscientemente. - Chá preto com cranberry e jasmim e bolo de semolina com calda de flor. É exótico, mas é bom!
- Parece interessante... - null se aproximou cuidadosamente, com o cuidado de não tocá-la, pois se o fizesse, provavelmente seu coração iria explodir. null o observou com uma sobrancelha erguida enquanto ele farejava o aroma de flores por cima do ombro dela. - O cheiro é muito bom!
- Quer experimentar...?
- Ah, posso?! Não quero te incomodar, null! Mas parece tão bom, você tem um ótimo gosto pra comida! - null sorria de maneira radiante e provavelmente falava mais alto que o recomendado. - Quer dizer, seu gosto é bom pra tudo, inclusive pra comida...!
Apesar de rir da reação do rapaz, o celular de null tocou no mesmo momento e ela saiu do estúdio para poder atender. Foi só ela deixar o recinto que null respirou fundo como se estivesse sentindo aquela ansiedade louca que surgia em seu estômago sempre que a via o deixar em paz pela primeira vez em semanas. Ele se sentou em uma terceira cadeira próxima de null, balançando a cabeça e respirando fundo.
- Sabe... Não dava pra ser mais óbvio que você gosta dela. - O amigo finalmente comentou, reprimindo uma risada que queria surgir no fundo da garganta.
- Cala a boca, null. - E claro, null só podia lançar um olhar de morte.
- Vamos precisar trabalhar rápido hoje. - No momento seguinte, null entrou novamente no estúdio após desligar o celular, enquanto o guardava no bolso. - Do que vocês estão falando?
- Nada! - null se virou para ela com um sorriso enorme nos lábios, parecendo que havia acabado de levar um choque e a voz duas oitavas acima do normal. - Faremos tudo o mais rápido possível! Tudo bem por aí, null?!
- Tudo ótimo! Só uma amiga que não vejo há muito tempo que resolveu marcar um jantar comigo e me ligou pra me lembrar do compromisso! - null sorriu de volta, sentando-se em uma cadeira com rodinhas e escorregando para perto de null, que a segurou prontamente. - Temos até a noite pra terminar.
- Não se preocupe! Até de noite é tempo suficiente! - null fez joinhas com as mãos, o coração batendo desenfreadamente enquanto ela somente ria do amigo.
null balançou a cabeça, sorrindo. null não conseguiria ser mais óbvio nem se quisesse.
- Você é um ser de outro planeta produzindo música, null. - null comentou com um suspiro enquanto salvavam o arquivo em três pen drives diferentes: um para ela, um para null e um para null. A noite já havia chegado e logo ela teria que correr até o restaurante para se encontrar com a amiga, mas, como null prometera, o tempo fora suficiente para terminarem o que tinham que fazer.
E aquele elogio da parte dela o deixou completamente sem palavras, vermelho como um pimentão e com um sorriso enorme no rosto.
- E eu? Tudo bem que você gosta do null, mas né...! - null resolveu se manifestar, quase fazendo tanto null quanto null se enfiarem embaixo do sofá do estúdio de vergonha.
- Não! Não é isso! É que, eu...! - Ela começou a gaguejar, sentindo as bochechas corando novamente. E dessa vez não tinha a desculpa da bicicleta. - Ele teve ótimas ideias hoje, mas você também é genial, null! Não é nada...!
- Eu sei, eu sei, estava brincando. - null sorriu de volta para a moça. - Obrigado pelo café e pelos doces. Agora vai antes que você se atrase para se encontrar com a sua amiga.
- Ok, ok! Você tem razão! - Ela deu uma risada sem graça e, pegando tudo que precisava para ir, parou à porta para se despedir. - Vejo vocês amanhã então?
- Yep. Amanhã! - null fez joinha com as mãos, fazendo uma risada surgir nos lábios dela.
- Ah, e não esquece seu caderno de músicas! - null entregou o objeto para ela, fazendo-a suspirar em alívio.
- Obrigada, null! Até amanhã! - E, sorrindo, null deixou o estúdio.
- Sério. Se você não parar com essa mania de falar que a gente se gosta, eu vou te jogar do prédio um dia desses. - null rolou os olhos e comentou com o amigo quando tinha certeza que ela já estava longe.
- Eu espero que um dia vocês se joguem nos braços um do outro! - E, com essa frase, null foi acertado pelo caderno de músicas de null.
No que ela estava em seu jantar, null voltou para casa para uma boa noite de sono e descanso. Finalmente deitando na cama após o banho, pegou seu caderno de músicas, abriu em uma página aleatória em branco e começou a rabiscar o rascunho de um bichinho.
O focinho em forma de coração, os olhos sinceros e as patinhas fofinhas, null fora trazido à realidade. null pegara uma boa feição dele. Deitando o caderno sobre o peito e fechando os olhos, deixou-se levar pelo sono até o seu próprio mundo, null World.
- Ah, olá, null! - Ele acenou para o bichinho assim que o avistou. null acenou de volta de maneira animada, correndo com pequenos passinhos para se aproximar de null e fechar as patinhas em volta da panturrilha do rapaz. null deu uma boa risada, abaixando-se como podia para acariciar a cabeça de null. - Como você está? Já fez alguns amigos?
null somente o observou, os olhos contentes. Tinham alguns flamingos por perto e null parecia ter feito uma boa amizade com eles. Como era de se esperar, as aves cor de rosa estavam brincando de surfar na água do lago azul esverdeado com as grandes e compridas patas enquanto alguns outros as observavam por cima de óculos escuros de aros grossos feito de plástico multicolorido.
- Ah, os flamingos surfistas! Eles são ótimas companhias, null! - null se abaixou ao lado do mais novo amiguinho, abaixando o tom de voz e chegando mais perto, como se para confidenciar um segredo. null aproximou-se animado, feliz de que null resolvera confiar nele. - Mas te digo, tome cuidado com os de óculos escuros! Eles são uma elite que fala com um sotaque metido, da mais alta sociedade, cheios de intrigas e que gostam de julgar os surfistas. Ah, além disso eles curtem muito mais jogar críquete do que aproveitar o tempo sobre as ondas e não se deve confiar muito no críquete deles. Principalmente porque já tentaram usar coquinho laranja das árvores como bolas e todo mundo sabe que essa é uma ideia realmente frustrada.
null olhou para ele com estranheza, fazendo null sussurrar mais ainda, uma das mãos cobrindo a boca.
- Coquinhos só funcionam pra esportes de araras. Os flamingos são muito grandes e precisam de bolas maiores pros esportes, mas a elite insiste em achar que têm as mesmas dimensões de araras! - No que ele comentou, null reprimiu uma risadinha, fazendo o coração de null arder em alegria. - Mas não diga isso para eles, ou ficarão magoados. Apesar de tudo, são criaturas amigas.
- null, meu caro! Que deleite vê-lo por aqui! - Um flamingo de óculos branco cumprimentou de maneira cortês, abaixando levemente os óculos pelo bico arredondado. - Fazendo uma visita prolongada, eu espero?
- O tanto quanto meu sono me autorizar, Sr. Travers! - null cumprimentou com um aceno elaborado e respeitoso com a mão.
- Se o seu sono lhe autorizar um bom tempo, junte-se a nós para uma xícara de chá, meu rapaz! - O flamingo respondeu, colocando os óculos de volta no lugar e null sorriu de volta.
- Pode deixar, Sr. Travers! Esse chá está marcado! - Dizendo isso, ele estendeu uma das mãos para segurar a patinha de null e os dois começaram a caminhar juntos pelo colorido null World. - Viu? Bons flamingos. Mas a mania do sotaque e o chá da tarde, é algo realmente a se prestar atenção!
Pela primeira vez, null ouviu a risada entusiasmada de null. Parecia com a dele quando ele mesmo começou a aprender a ter esperança e abrir o coração novamente para pessoas que pudesse amar e deixar que o amassem de volta. Após algum tempo caminhando, sentiu null puxando sua mão e apontando para um canto.
- Quer ir pra lá? Está com fome? - Era como uma praça: colorida, cheia de avisos em neon, risadas, invenções criativas e as mais variadas pessoas e criaturas caminhando rindo entre si. Mesmo assim, não era bagunçado ou lotado: tudo espaçado de maneira perfeita para que você se sentisse em casa. - Aqui fica o que eu chamo de praça de alimentação. Podemos comer um bom hambúrguer, você gosta de hambúrguer?
null acenou afirmativamente com a cabeça de maneira entusiasmada. null somente riu, levando-o até a praça com tanta atividade e tanta vida. Puxando novamente a mão de null, null apontou para ele e depois para a praça.
- Hã? Ah, sim! Eu que criei tudo isso! - null sorriu de volta, parecendo orgulhoso. - Tudo fruto da minha imaginação, um mundo de sonhos que eu chamo de null World.
null estava maravilhado - e, mais importante, sentia-se seguro. null World era a sua casa e ele tinha certeza que nunca sairia de lá, aproveitando para observar a praça e as grandes árvores que os rodeavam, os passarinhos cantando no céu azul, o chão de tijolos amarelos embaixo dos pés enquanto null o ajudava a subir em uma cadeira colorida da praça de alimentação. Algumas pequenas girafas brincavam por perto, um astronauta caminhava destemidamente para uma estação espacial que logo lançaria um foguete, duas garotas com roupas renascentistas e flores e pequenas frutinhas vermelhas nos longos cabelos esvoaçando ao ar passeavam no entorno.
- null, meu grande amigo! O que podemos fazer por você hoje?
- Dois especiais do null World completos, por favor, Hwang! - null respondeu com um sorriso e null arregalou os olhos ao perceber que quem fizera a pergunta era um peixe dourado que nadava em pleno ar, claramente garçom da lanchonete iluminada de azul e rosa neon perto deles.
- Ah, olá! E quem é esse novo amiguinho? - O peixinho dourado deu o que parecia ser um sorriso e null sorriu de volta, mexendo o focinho de coração. - Meu nome é Hwang, é um enorme prazer conhecê-lo!
- Esse é o null! - null apresentou de maneira orgulhosa, fazendo null se sentir completamente alegre com aquela introdução. - Ele é o mais novo habitante do null World!
- Legal saber disso! Vou falar pro pessoal caprichar lá na cozinha! - Hwang piscou de volta para eles e saiu navegando pelo ar. - Liam! Pega o pessoal que hoje temos uma visita nova pra atender!
- Eles são muito legais! Se você quiser, é até capaz de acharem um emprego legal pra você na lanchonete. - null piscou para null, fazendo-o dar pequenos pulinhos em seu banco. Aquilo o fez dar uma boa risada. - Você é muito fofo, sabia?
Repentinamente, o celular de null começou a tocar. Com as sobrancelhas franzindo, ele pegou o aparelho do bolso, sem notar que tinha deixado cair algo sobre a mesa. null escorregou as patinhas para conseguir alcançar o que parecia um pedaço de papel, enquanto null checava o aparelho.
Era uma foto. null conseguia ver null ao lado de uma linda moça, ambos sorrindo animadamente, no que parecia ser algo espontâneo. Ao que null pôde notar, eles tinham saído para se encontrar em algum lugar, o que resultou naquela foto dos dois rindo juntos, de uma maneira que aquecia o coração de null. Era quase como se ele conseguisse ouvir a voz da moça rindo e conversando animadamente com null. Ao virar a foto, encontrou algo escrito “Feliz Aniversário, null! Continue sempre com esse sorriso lindo! Enquanto você não me apresenta seu null World, pode me carregar no bolso até ele! - null”.
- O que você está olhando? Encontrou algo...? - null perguntou com curiosidade, deixando o celular sobre a mesa. null mostrou a foto e ele imediatamente sorriu, as bochechas corando levemente enquanto o coração acelerava. - Ah! A foto da null! Ainda bem que você encontrou, não posso ficar sem ela!
null apontou para o próprio coração, para null e em seguida para a foto - null sabia exatamente o que ele queria dizer. Com um pequeno suspiro e um sorriso nos lábios, ele se deixou responder, afinal não havia motivos para mentir para null.
- Sim. Eu gosto dela... Mas não consigo achar uma boa maneira para falar isso. - Os dedos de null encontraram a foto e ele se pôs a apreciar a maneira como null ria. Aquele sorriso que, se dependesse dele, queria ver todos os dias. - Meu coração sempre acelera perto dela e eu começo a agir como se tivesse tomado três litros de café, completamente descontrolado.
Em seguida, null apontou para a foto e abriu os bracinhos para mostrar a praça na qual estavam. null arregalou os olhos.
- Trazê-la aqui?! Você acha que seria uma boa ideia?! - No que null começou a falar de maneira desembestada, finalmente ouviu uma alegre risadinha da parte de null, o som mais bonitinho que ele já tinha ouvido em seu null World. null entendia o que ele tinha dito sobre ficar completamente descontrolado perto de null.
- Aqui estão, dois especiais! - Porém, ambos foram interrompidos por Hwang e Liam trazendo as bandejas com as comidas que tinham acabado de pedir. null começou a farejar o ar enquanto eram deixadas sobre a mesa colorida. - Caprichados para nosso novo amigo, null! Bem vindo!
E null começou a fazer pequenos sons animados, como um bichinho de pelúcia sendo apertado, como agradecimento por todo aquele tratamento. Nunca em sua vida sentira que pertencia a um lugar - mas estava sentindo aquilo no null World.
- Ei, Hwang, me diz uma coisa... - null chamou, cutucando o peixinho dourado a seu lado. - Esse doce... É de quê?
- Semolina e calda de flor. Adição nova da casa! - Hwang piscou para ele. - Aparentemente, você teve ótimas memórias com ele!
Dizendo isso, os dois peixes riram enquanto nadavam de volta para seus afazeres. null somente observava enquanto null olhava pasmo para o doce, lembrando-se de quando null guiara um pedaço do mesmo até a boca dele naquela tarde.
- Ok... - Ele suspirou, olhando para null de maneira decidida. - Talvez você tenha razão. Talvez... Talvez eu deva trazê-la para cá.
null levantou os bracinhos, apitando em alegria enquanto pequenos corações cor de rosa borbulhavam de seu focinho. null imediatamente começou a rir, querendo abraçar aquela pequena criaturinha e não soltá-la nunca mais.
- Eu disse talvez! - null voltou a falar, rindo por cima dos adoráveis guinchos de null. - Talvez! Quem sabe ela gosta de tomar chá com o Sr. Travers, não?!
E ele até resolveu ignorar o celular tocando novamente enquanto aproveitava sua refeição com null, acordando meia hora atrasado no dia seguinte. Mas valera a pena.
- Hmmm... null? - Ele ouviu a voz de null entrando cuidadosamente em seu estúdio. null girou na cadeira, virando-se para ela e tirando os fones de ouvido. - Estou te atrapalhando? Posso voltar depois, se quiser!
- Não, não! De jeito nenhum, pode entrar! - null sorria de maneira desajeitada, um tanto nervoso de tê-la no estúdio. - Tudo bem? O que houve? Quer um chá?
- Oi? - Eram muitas perguntas e null piscou algumas vezes, rindo em seguida. Aquilo fez null rir também.
- Rápido demais, né...?
- Só um pouquinho. - null respondeu com um riso engraçadinho que null achou simplesmente adorável. Até ouvir a pequena risada característica de null e franzir as sobrancelhas. Olhando por cima dos ombros da moça, encontrou o bichinho sentado no sofá do estúdio, brincando com as próprias patinhas e cheio de carinho nos olhos enquanto observava null. A imaginação de null era realmente fértil, principalmente quando se tratava de sonhar acordado.
A verdade é que ele passara a última hora conversando com null sobre a própria música que estava produzindo para seu primeiro álbum solo, null World. Como estava fazendo tudo sozinho e não queria mostrar para os colegas do grupo como null para não estragar a surpresa, resolvera pedir a ajuda de null, que ficara dançando sobre a mesa de null durante a última hora enquanto ele sonhava acordado. Para qualquer outra pessoa, estaria falando sozinho. Para ele mesmo, trocava ótimas ideias com null.
- Então, você está com o seu caderno de músicas...?
- Estou, por quê? - null estranhou a pergunta dela, alcançando o caderno sobre a mesa.
- Porque eu estou com o diário do null World, null. Esse aí é o meu caderno. - null sorriu enquanto tirava o caderno dele de dentro da bolsa. null arregalou os olhos imediatamente e começou a folhear, encontrando milhares de anotações de null e desenhos. Muitos desenhos.
- Meu Deus...!
- Pode deixar que eu não olhei nada. Quando percebi uma letra que não era a minha, vi a capa e, quando li “null World”, sabia que era seu diário de anotações. - Ela falou rapidamente, como se para pedir desculpas antecipadas por algo que nem era culpa dela.
- Obrigado! Mas null, me desculpa... - null suspirou, sorrindo de maneira envergonhada. - Eu desenhei no seu caderno.
- Ah, tudo bem. Quando precisar do que tá nele pode me avisar, se quiser tirar alguma foto também... - null deu de ombros, entregando o caderno de volta a null. - Mas tenho que falar que fiquei curiosa com o null World. Faz tempo que você comenta dele pra mim e não chegamos em nada. Quando vai sair seu álbum?
null imediatamente ficou atento, as orelhinhas empinadas prestando atenção em null. null sabia que aquele seria o maior argumento do novo amiguinho: null queria visitar null World.
- Então, logo logo... Ainda tenho muitas coisas a corrigir, muitas coisas para refinar... - null suspirou, apoiando-se na mesa de mixagem e deixando o caderno sobre a mesma, parecendo um pouco desconfortável. - Será esse ano ainda! E claro, vou ter que gravar um clipe, planejar várias coisas... Você sabe, o de sempre.
- Sei, sei sim. - Ela sorriu de maneira compreensiva. - Se precisar de qualquer ajuda com a arte ou som, já sabe, né? Pode me gritar.
- Ok! - E null deu um radiante sorriso para a moça. - Pode deixar! Você vai ser uma das primeiras a ver o null World!
- Ah, obrigada! - null riu de volta e checou o horário no celular. - Bom, de volta ao trabalho. Te vejo depois, null!
- Ok, bom trabalho, null! - Ele acenou para ela e, assim, null deixou o estúdio.
null pulou de onde estava, segurou a mão de null e começou a puxá-lo insistentemente até a porta. null franziu as sobrancelhas, sem mover um músculo.
- O que foi, seu doido? - Foi só perguntar que null começou a acenar insistentemente com uma das patinhas até a porta. null arregalou os olhos. - Ir atrás dela?! Pra fazer o quê?! Chamá-la pra sair?! - E null confirmou veementemente com a cabeça. - Mas de jeito nenhum! Eu não vou fazer isso! Você não pode me forçar!
E null passou uma boa hora parado no lugar, imaginando null puxando-o por uma das mãos enquanto ele grudava à mesa de mixagem feito um gato reclamando que não chamaria null para sair nem se null o arrancasse de lá com uma legião de flamingos surfistas.
null acordou relativamente cedo. Tinha trabalho para fazer e null dissera que precisaria dela o mais cedo que ela conseguisse. Espreguiçando-se, a moça saiu da cama e foi preparar seu chá matinal.
Pegando o celular na bancada da cozinha - tinha esquecido lá por algum motivo que a escapava - null colocou a água para ferver e começou a checar as mensagens não lidas. Todas eram de null. 12 mensagens.
null: Bom dia, null!
null: Tudo bem?
null: Lembra que pedi pra você vir pro estúdio cedo?
null: Então, não é bem o estúdio. Vou te mandar o endereço
null: Aliás
null: É melhor você checar suas correspondências :)
null: As físicas, quero dizer
null: Não e-mails
null: Cartas
null: Me avisa quando checar, ok?
null: Ok, vou parar de falar e esperar você acordar
null: Desculpa. Bom dia!
null riu consigo mesma, achava adorável quando ele se comportava daquela maneira. Mesmo assim, franziu um pouco as sobrancelhas com o suspense, tirou a água do fogo e juntou com as folhas de chá, indo para a porta de entrada logo em seguida. Era raro receber alguma correspondência que não era alguma conta a pagar, então não esperava nada de mais.
Mas havia um envelope branco, que fora colocado por debaixo da porta. Ela não sabia que horas havia sido deixado lá, mas sabia que fora null - a letra dele escrevera o nome dela com cuidado no envelope para não ser extraviado e não encontrar a pessoa errada caso se perdesse por algum motivo.
Abrindo o grosso papel branco, null encontrou o que parecia um passaporte dentro. Estranhando ainda mais, ela viu uma arte toda colorida, um mundo de cores, objetos e criaturas adornando um céu cor goiaba no qual ela podia ler “Passaporte null World”.
null abriu o passaporte com avidez, encontrando uma cópia da foto dela e de null rindo em uma festa - que ela tinha dado para ele de aniversário um ano antes - como se fosse a identificação dela naquele documento. As informações dela estavam escritas cuidadosamente em letras cor de goiaba e a caligrafia de null podia ser lida em uma das páginas em branco do passaporte dizendo: “Você quer conhecer o null World? Estou gravando Daydream no endereço abaixo. Ia adorar se você passasse por lá para ver um pouquinho como está ficando!”
Ela nunca sentiu tanta animação e expectativa queimando na base do estômago. Correndo, null foi de maneira desembestada para o quarto, sabendo que enfiaria todo aquele chá em uma garrafa e beberia no caminho. Prioridades.
null: null! EU RECEBI O PASSAPORTE!
null: Não acredito que serei admitida no famoso null World!
null: Seu tonto, por que demorou tanto?!
null: E por que fez tanto suspense comigo com Daydream?!
null: Só de ouvir aquelas samples eu tô doida pra ouvir a música toda!
null: Você me aguarde, senhor null, porque eu vou chegar aí como um furacão!
null: Pode vir que estamos te esperando!!
null começou a dar pulinhos de alegria aos pés de null, enquanto ele analisava um pouco da conversa e sorria, sentado em sua cadeira para descansar entre uma take e outra da gravação do MV.
- Calma, calma... Ela já vai vir pra cá. - Ele sorriu para null, que saiu dançando pelo estúdio. null somente ria.
- Ela quem? A null? - E null se sentou ao lado do amigo descompromissadamente. null somente ergueu uma sobrancelha.
- Eu achei que você já tinha ido embora.
- Ah, estava quase... - null suspirou. - Mas quando te ouvi falando dela, resolvi ficar.
- Qual é a sua com o meu relacionamento com a null, hein? - Apesar da pergunta e das mãos na cintura, null ria. Era padrão dele: sempre que ficava um tanto irritado, dava algumas risadas fora de contexto.
- Vocês dois se gostam, null. Por que você não fala pra ela de uma vez? - null respondeu sem rodeios, abrindo a barrinha de Twix que tinha entre os dedos. - De verdade, eu não entendo. É óbvio que a null gosta de você também. A maneira que ela te olha, que vocês conversam... Só a energia de vocês dois quando estão um ao lado do outro grita: “SOMOS UM CASAL”. E você quer que eu não fique te importunando porque você não toma atitude nenhuma?
- É mais complicado, ok...? - null suspirou, massageando o pescoço levemente. - Eu sei algumas coisas da null, ela sabe algumas de mim, e, sinceramente, relacionamentos não são o nosso forte.
- Não precisa ser. Vocês se gostam. Isso já é suficiente. - null empurrou o amigo com o ombro, fazendo null dar um sorriso sem graça.
Ele se lembrava claramente daquele dia chuvoso em que null mandara uma mensagem no grupo reclamando que estava sem guarda chuva e, consequentemente, ilhada sem conseguir voltar para o estúdio. null imediatamente respondera que podia buscá-la, levando um enorme guarda chuva e correndo embaixo dos pingos de água para resgatá-la.
Estavam em uma cidade em que normalmente não passavam muito tempo - fosse gravando, produzindo ou passando férias. Encontraram um estúdio pequeno, mas bom o suficiente para que pudessem viver em paz durante um tempo - a vantagem, era que ninguém conhecia null ou o grupo dele, o que fazia com que fosse possível para ele andar livremente na rua e buscá-la do toldo em que null se protegia da água.
- Olá, bela dama! - Ele disse com um enorme sorriso nos lábios, fazendo-a sorrir de volta e parar de se preocupar. - Gostaria de passear comigo nessa adorável chuva?
- Adoraria! - Ela respondeu com uma breve risada, segurando a mão que null estendeu e se enfiando embaixo do guarda-chuva com ele.
A caminhada durou mais do que esperavam - simplesmente porque ambos tinham um amor profundo por passear pela chuva sempre que podiam. Sabendo que o outro apreciava aquele tipo de passeio, resolveram que podiam voltar ao estúdio somente quando parasse de chover.
Além de que a conversa sempre fluía de maneira fácil e animada entre null e null. Como se ambos fossem complementares, melhores amigos que podiam gastar horas e horas trocando ideias sem ao menos se cansar. null podia ouvir a voz de null o dia todo e ela podia apreciar as histórias que ele tinha a contar o tempo que fosse.
- Ah, é tão bom estar em uma cidade em que eu posso simplesmente caminhar por aí... - null respirou fundo, aproveitando o ar que parecia com liberdade para ele. - Imagina. Se estivéssemos no nosso estúdio, provavelmente já teria mil notícias espalhando que estamos namorando. Seu namorado não ficaria nem um pouco feliz com isso.
- Meu namorado? - null franziu as sobrancelhas. - Que namorado?
- Ué... Você não namora? - Ele franziu de volta, confuso com a reação dela. - Quer dizer... Você é inteligente, talentosa, bonita e simpática... Achei meio óbvio que teria um namorado, não?
- Ah... - E ela imediatamente ficou vermelha como um pimentão. - Obrigada pelos elogios. Mas não, não tenho namorado. Nunca namorei.
- O quê? - E agora null estava em choque. - Não me entenda mal, nada de errado nisso, mas é que você é tão... E nunca... O mundo não faz o menor sentido!
- Não faz mesmo! - null respondeu com uma risada, fazendo-o ficar mais calmo. Tinha o receio de que a ofendera com a reação. - Mas é que... Ai, como falar? É uma história meio longa... São várias na verdade... - Ela suspirou, olhando para os pés e tentando se achar nos próprios pensamentos. - Bom, eu gostava de um cara na escola. Minha “melhor amiga” foi lá e ficou com ele. Sofri um bullying desgraçado de todo mundo que se dizia meu amigo, fiquei com depressão porque basicamente perdi todo mundo que amava, comecei a odiar seres humanos e prometi nunca mais gastar tempo com gente que não merecia. Anos depois, eu comecei a achar que gostava de um amigo muito próximo meu e a cogitar a possibilidade de me abrir pro mundo e pras pessoas novamente, que nem todo mundo queria meu mal e eu podia amar sim... E minha melhor amiga da época ficou com ele. As duas sabiam que eu tinha sentimentos pelos caras, então não foi algo “sem querer”. Só depois eu percebi que as duas eram relacionamentos completamente tóxicos e manipuladores, em fases diferentes da minha vida. Moral da história: resolvi nunca mais me abrir para ser humano nenhum e achei muito melhor construir minha carreira do que gastar tempo com relacionamentos e dramas de “ain, meu namorado não tá me dando atenção, será que ele tá com outra” enquanto eu podia estar produzindo músicas ao invés de ter crises existenciais estúpidas. Pelo menos, sei que me encaixo no mundo das minhas músicas... Esse é o resumo mais rápido que eu consigo fazer!
- Nossa, null! - null parecia chocado, sentindo algo diferente no peito, que nunca sentira antes. - Por que você nunca me contou? Isso é horrível! Essas pessoas foram ruins com você, te traíram, te machucaram e fizeram com que você se fechasse para o mundo... Você pelo menos deu umas nas caras delas, né?
- Não! - null respondeu rindo, achando aquela reação de null claramente muito engraçada... E ele não entendia o motivo. - É kármico, null. O que tiver que voltar para elas, vai voltar. Eu resolvi só largar o rancor e o ódio, porque isso me envenenava e fazia mal. Elas que vivam as vidas delas e eu a minha, porque o Universo não vai deixar barato. Tenho certeza.
- Ah, você é muito piedosa... - Ele rolou os olhos, fazendo-a dar uma breve risada.
- Você nunca passou por algo assim? Em que achou melhor simplesmente deixar de lado e seguir com a vida?
null ficou em silêncio durante alguns segundos, pensando enquanto ouvia a sola do tênis contra a calçada molhada. Ela somente aguardou, sem querer forçar nada em relação a ele. - Já... Já aconteceu algo assim... - null suspirou. - Minha ex namorada. A gente se divertia bastante, eu era bobo, apaixonado e mais novo... Fazia tudo por ela, buscava em casa, guardava meu dinheiro pra sairmos pra uma lanchonete legal, nunca deixava que ela pagasse. Claro, gastava muito tempo dançando, mas ela sempre ia me assistir nas competições e torcia por mim. Eu achava que era aquilo, sabe? Que esse era o amor da minha vida, minha história de filme de romance, daqueles livros que a gente lê e sempre se pergunta “será que um dia eu vou viver algo assim?”. Eu gostava muito dela, mas... Aparentemente não era tão recíproco assim. Ela me deixou pra ficar com meu melhor amigo. Não via futuro para nós e eu era sempre muito distante. Entrei numa crise tão grande de “será que só eu via o bom no relacionamento, será que sou tão ruim assim?”, que deixei pra lá e nem tirei mais satisfações, nem dele, nem dela... Nem quis saber se eles já estavam juntos antes que ela terminasse comigo, mas provavelmente sim.
- Ah, eu entendo... É uma droga. - null suspirou de volta, vendo como null deu um pequeno sorriso triste em seguida.
- É, né... Mas pelo menos eu tive tempo pra ensaiar e chegar até aqui! - Com essa frase, ele parecia mais animado. - Parece que não somos tão diferentes assim, não é mesmo?
- Parece que não... O null me disse que você era bem mais sério e meio fechado no começo. - null deu um pequeno sorriso, fazendo null corar como um tomate até as pontas das orelhas. - Mas que foi melhorando aos poucos, apesar de ainda ser bem sério quando precisa.
- Bom, eles precisam de alguém pra botar ordem no circo, né? - Ele perguntou de volta como se fosse óbvio, fazendo-a rir. Vendo uma oportunidade para mudar de assunto e deixar o clima mais leve, null continuou. - É sério! Você já viu como aquele bando de criaturas que trabalham comigo conseguem deixar o mundo um completo caos? Se não sou eu, os ensaios não saem!
E o resto da caminhada foi entre risadas e conversas animadas, até que voltassem sequinhos ao estúdio. Mesmo assim, null nunca iria esquecer da maneira como os olhos de null carregaram o sentimento de vazio que ele mesmo tinha com suas próprias memórias doloridas - queria poder dar a null um lugar em que ela se encaixasse que não fosse somente na solidão das próprias músicas.
null não queria machucá-la. Depois de tudo aquilo, null demoraria para se abrir novamente a outro ser humano - como ele mesmo precisou de muitos anos ao lado dos amigos para voltar a sorrir e se animar como antes, além de achar que existia alguma esperança no quesito relacionamentos.
O amor nem sempre precisava ser uma mentira. null aprendera aquilo, null também. Mas algo nela não aceitava aquela premissa 100% - ele sabia que ela precisava de alguém que a mostrasse aquilo, que segurasse as mãos dela com cuidado e tocasse o coração dela com calma para que a moça finalmente voltasse a acreditar que sim, o amor podia existir sem ser enlaçado de mentiras e traições.
null estava com as patinhas apoiadas nos joelhos de null, os olhos marejados de lágrimas enquanto o focinho em coração tremia levemente, trazendo null de volta das próprias memórias.
- Você também passou por isso, não...? - Ele murmurou e null fez que sim com a cabeça, entendendo perfeitamente tanto o coração de null quanto o de null.
- Hã? Passei pelo quê? - null franziu as sobrancelhas, sem entender uma palavra do amigo. Porém, no mesmo momento, null foi chamado para voltar à gravação.
- Nada. - null sorriu como se tudo fizesse perfeito sentido. Em seguida, deixou o caderno em cima do colo de null. - Segura aí, eu vou lá gravar e já volto!
- Doido... - null deu uma pequena risada, balançando a cabeça enquanto começava a folhear o caderno de null.
Não podia mentir. Quando escutou o álbum pela primeira vez, null ficou realmente impressionado com a qualidade e a atenção aos detalhes de null. O amigo demorara muito tempo trabalhando para lançar aquele álbum, colocando todo seu mundo em músicas que cuidara de maneira tão paciente e dedicada. Era até melhor do que as músicas de null quando ele resolvera lançar seu álbum solo.
- Esse filho de um inhame... - Repentinamente, null ouviu uma voz raivosa atrás de si e viu null borbulhando com uma mistura de raiva e orgulho. - Ele não me mostrou nada! Durante todo esse tempo, pediu minha ajuda, ideias para algumas partes, mas não me mostrou nem trinta segundos! E agora olha só!
- Oi, null! Senta aí! - null indicou a cadeira em que null estava sentado anteriormente, mas ela estava indignada demais para se sentar.
Como era de se esperar, null brilhava em seu próprio MV. A parte da música que estava gravando ecoava por todo o estúdio enquanto ele aproveitava, dançava e cantava entre as milhares de cores do MV. null World logo seria lançado para todos e aqueles sonhos e viagens enquanto acordado que null tinha estavam prestes a se tornar realidade.
- Inhame desalmado... - null observava com olhos semicerrados, apesar de começar a rir logo em seguida. Ela viu quando null olhou na direção dela e começou a sorrir, cantando para a câmera de maneira mais convencida que antes. Ela finalmente se sentou ao lado de null e fechou os olhos, escutando a música. - Mas...
- É boa, né? - null comentou de maneira orgulhosa. - E a letra. Você precisa ler a letra depois. Sobre o escapismo do dia a dia para poder aguentar uma vida que nem a nossa, um lugar só seu em que você pode ir mesmo quando acordado para rir, chorar e se divertir da maneira que quiser. Um lugar sem as amarras de ser uma figura pública, mas só você mesmo...
- Sem nunca estar mal agradecido pelo sucesso que tem. Só uma válvula de escape mesmo. - null deu um pequeno sorriso, escutando a letra muito bem. null somente confirmou com a cabeça: devia saber que ela interpretaria até melhor que ele. - O null realmente é um ser humano precioso nesse mundo...
null somente suspirou. Era até irritante o quanto eles eram perdidos um no outro e não faziam nada.
- Ei, null. Quando você vai falar pro null que gosta dele?
- Oi...?! - null abriu os olhos, completamente chocada com a pergunta de null. Mas a expressão que tinha era de “como você sabe disso” não de “isso é um absurdo”. O que deixou null mais satisfeito ainda.
- null! Você chegou! - Mas a voz de null e o silêncio da música interromperam qualquer discussão que poderiam ter. - Estou tão feliz que você está aqui! Bem vinda ao null World!
- Ah, null! - Ela se levantou imediatamente, correndo para o abraço que ele nitidamente queria dar para cumprimentá-la. Assim que o alcançou, null a prendeu entre os braços de maneira carinhosa e apertada. - Tá sensacional! Esse passaporte?! Essa roupa?! Essas cores?! Essa música?! E esses flamingos de óculos escuros?!
- O null World não seria o mesmo se não fossem os flamingos de óculos escuros! - null piscou para ela, soltando-a do forte abraço. null imediatamente começou a rir.
- Imagino, devem desejar ser os seres mais estilosos... - Ela analisou como se estivessem falando da coisa mais normal do mundo. - Com certeza já se acham sensacionais por ter penas cor de rosa e pernas compridas. Aposto que tomam chá no meio da tarde enquanto discutem dos acontecimentos do dia.
null imediatamente fingiu desmaiar ao lado de null, coraçõezinhos cor de rosa borbulhando do focinho. O bichinho estava cada vez mais convencido de que null era perfeita para null - e, consequentemente, para o null World - e seu pequeno coração não estava mais aguentando. null teve que segurar uma risada com o exagero de null.
- Um dia eu te levo pra visitar tudo com detalhes. - null comentou com um pequeno sorriso no rosto enquanto null soltava um guincho de empolgação como um bichinho de pelúcia apertado com muita força.
- Por favor, seu de-sal-ma-do! - E no que null falou, era uma batida no braço de null com o passaporte que ele fizera especialmente para ela. null não entendeu o motivo da agressão repentina, quase indo se proteger atrás de null. - Você me deixou no limbo durante meses! Como sua amiga eu tinha o direito de saber de alguma coisa! Te dei tantas ideias e você não me mostrou nem uma linha de baixo!
- Eu queria que fosse surpresa! Queria ver a sua reação quando ouvisse a primeira vez! - Ele começou a explicar rapidamente, enquanto null somente se entregava às risadas. - Me perdoa, não quis te magoar! Só queria que você tivesse uma experiência completa, não uma coisa inacabada e sem sentido! Queria que estivesse bonito pra você!
- Ah... - E null imediatamente começou a corar após as palavras de null. - Poxa, null. Obrigada... Aliás! O meu caderno! - Ela tirou o mesmo da bolsa, mudando de assunto rapidamente para não ficar tão envergonhada. - Tinha um desenho... Esse aqui! Você que fez, não? O null é parte do null World?
- É sim! Ele é recém-chegado, pra falar a verdade. Mas é uma fofura. - null sorriu de volta para ela, ouvindo a respiração em expectativa de null enquanto o bichinho agarrava a batata da perna dele.
- Ele é muito bonitinho... Você podia me apresentar quando me levar no tour do null World, não? - E foi só null terminar a frase que null começou a dar pulinhos de alegria, com leves apitos de comemoração. Adorava o fato de que ela o achou bonitinho.
- Posso sim, quando você quiser... - Ele segurou o caderno para ver melhor o desenho, tocando levemente na mão de null e se aproximando da moça.
- null! Vamos para a próxima cena! - Foram interrompidos por um assessor, que fez com que ele começasse a se arrumar no mesmo momento e null guardar o caderno, acenando para que conversassem depois. - O que você está fazendo? Você sabe que ficar perto dela desse jeito é péssimo e pode trazer consequências!
- Eu sei, eu sei... - E null somente rolou os olhos, enfiando as mãos nos bolsos do casaco.
null somente sentiu os ombros afundando com aquele comentário do assessor. Esse era o problema: ela não queria que seu coração se abrisse novamente para ser jogado fora de maneira fria e cruel.
- Não liga pra isso, null. - null repousou uma das mãos no ombro dela, parando ao lado da amiga, percebendo que ela já não brilhava tanto quanto antes. - Você sabe que os assessores vão sempre fazer esse mesmo discurso, que temos uma imagem pra cuidar e etc. Você sabe que não concordamos com todo esse controle, mas também...
- Sim, eu sei... - Ela suspirou. - Sei que qualquer um pode tirar uma foto de nós dois e inventar um boato de que estamos namorando. Isso acabaria com a imagem e a sanidade mental do null... Eu sei. Não estou ofendida.
Com isso, ela voltou a observar null em toda sua glória de artista, brilhando como a estrela que deveria ser. Aquele era null ídolo, o homem que subia no palco e brilhava para as fãs. Era diferente do null pessoa que ela conhecia dos dias no estúdio dando risadas e trabalhando incansáveis horas para montar uma música. E ela amava ambos, pois os dois formavam o mesmo homem.
- Só um pouco triste. - Ela murmurou em complemento e aquilo acabou com o coração de null.
Observando de longe, null não entendeu o motivo, mas null abraçava a perna de null, esfregando a cabeça nela com os olhinhos fechados como se quisesse consolá-la.
O dia foi repleto de null tentando falar com null, mas sendo chamado para gravar ou retocar a maquiagem. Ele via enquanto null dançava em volta dela ou abraçava as pernas da moça enquanto null curtia a gravação e fechava os olhos enquanto movia os pés timidamente no lugar.
Ela até se aventurou a dar opiniões na produção - escolha de cores, luzes, ângulos das câmeras... Em pouco tempo, ela estava imersa no mundo de null, ajudando a tornar todo aquele sonho realidade. Ele não podia estar mais satisfeito e null não podia ter gostado mais dela.
Afinal, toda vez que estava perto de null, pequenos corações borbulhavam inconscientemente de seu focinho e aquilo fazia null rir enquanto gravava suas cenas.
- Pausa de quinze minutos! - O diretor gritou no fim da tarde. - Temos mais uma cena para gravar! null, tenta não estragar o cabelo e a roupa. null! Preciso da sua opinião sobre alguns enquadramentos da próxima take, acho que você terá bons insights.
- Ah... Ok! - Ela disse com um sorriso, olhando para null de uma maneira um pouco triste. - Bom, vou ajudar a criar seu null World. Mas... Você acha que vai estar muito cansado quando terminar aqui?
- Depende. Você quer sair pra comer alguma coisa? - null perguntou com um sorriso, aproximando-se somente o recomendado. - Eu nunca estou cansado o suficiente pra jantar com você.
- Ok! Então eu te espero terminar aqui! - null sorriu de volta, dessa vez de maneira contente, as bochechas corando levemente. Logo, ouviram o diretor chamando-a novamente. - Vou lá, mas...
- Sairemos após as filmagens, pode deixar. - null piscou para ela e, com isso, null correu atrás do diretor para conversar sobre a próxima take.
Enquanto isso, null olhava para o teto, suspirando como se tivesse feito algo horrivelmente estúpido.
- Eu falei que nunca estava cansado para ir jantar com ela? - Ele olhou para baixo, encontrando null com as patinhas nas bochechas, contendo uma risadinha. - Fala que eu não fiz isso...
Mas null somente acenou veementemente com a cabeça, fazendo null querer se esconder embaixo da cama do set e não sair de lá nunca mais.
Percebendo que não tinha como voltar atrás, ele se deu por vencido e deitou na cama, ajeitando o travesseiro para que pudesse observar enquanto todos se preparavam para a próxima take. null subiu na cama com certa dificuldade, escalando o corpo de null e deitando sobre a barriga dele, fechando os olhinhos como se fosse a primeira vez em tempos que se sentia seguro daquela maneira. null sorriu, descansando uma das mãos na cabeça do bichinho.
Seus olhos, porém, se atentaram à null. Ele se impressionava como ela brilhava aos olhos dele, como se um de seus sonhos tivesse se tornado realidade. Sentia que podia rir e chorar com ela, assim como podia fazer em seu próprio mundo imaginário. Podia ser ele mesmo - a maneira como ela se deslumbrava com cada uma das coisas que ele tinha criado e agora trazia à realidade o fazia ter certeza que null sempre o aceitaria por inteiro, não pela metade como a maioria das pessoas o faria.
- Consegue imaginar, null...? - null perguntou de maneira meio distraída. - Como seria se ela fosse nos visitar...?
null fez um tipo de barulho que era certamente de uma satisfação um tanto sonhadora, enquanto se aninhava ainda mais em null. Ele, por sua vez, se deixou viajar durante alguns minutos, pensando naquela possibilidade que animara tanto ele quanto null.
- É uma cama, null. Como vamos para null World assim?
Era uma cena perfeita, na imaginação dele. null estava com uma grande blusa velha e um shorts de esportes rosa claro que usava de pijama, parada na varanda de sua casa, enquanto null estava sentado em sua cama branca brilhante, flutuando pelo céu de um azul profundo do meio da noite - assim como Aladdin e Jasmine, conforme ele assistira quando era pequeno.
A única diferença era que Aladdin tinha um tapete voador. Aquilo passava um pouco mais de credibilidade do que uma cama voadora, ele tinha que admitir.
- Confia em mim, null. - Ele estendeu a mão para ela, sorrindo. - Teremos que passar pelas estrelas e ir mais além, mas te garanto que a cama voadora é o melhor meio de transporte para chegar ao null World.
null o observou durante um tempo. Ele sabia o que ela estava pensando, conseguia ver nos olhos da moça: confiança. Aquela palavra a assustava. Segurar a mão dele era muito mais do que só uma viagem aleatória a um mundo que era somente de null - null teria que se abrir, confiar e ser vulnerável a outra pessoa novamente. Teria que fechar os olhos e se segurar em null, precisando acreditar que ele não iria largá-la no meio do caminho - e era isso que ela tinha medo.
Porém, os olhos dele tinham exatamente o que ela precisava - esperança. Era null. Ela o conhecia, ela sabia como ele era. E tinha certeza que ele nunca a machucaria - ou pelo menos era o que gostava de acreditar.
- É bom eu não cair disso daí no meio do caminho. - Ela avisou enquanto segurava a mão dele e tomava impulso no parapeito para subir na cama. null sorriu ainda mais, puxando-a com alegria para que se sentasse junto com ele. - Se você me perder no meio da Via Láctea, vou jogar uma estrela na sua cabeça!
- Pode deixar que não vou te perder! Comigo não há perigo! - null piscou para ela e, de repente, ambos ouviram um guincho de alegria e pequenos corações cor de rosa flutuando para lá e para cá. - Ah! Está na hora de vocês se conhecerem!
De trás de null, null saiu de maneira até envergonhada, porém certamente apaixonada, para conhecer null. A moça imediatamente começou a sorrir, a voz ficando mais doce do que antes.
- Ah, é o null! Você é mais fofo do que no desenho! É um prazer imenso te conhecer! - Ela estendeu os braços para o bichinho, esperando que ele fosse cheirar as mãos dela para depois se aproximar.
Mas null já morria de amores por null, correndo até ela e se jogando no colo da moça, fazendo-a quase cair na cama. null ria, abraçando-o com carinho e, pela primeira vez, null se sentiu seguro nos braços de outro ser que não fosse null.
Ele, por sua vez, observava a tudo com um sorriso nos lábios e um sentimento no coração que não sabia muito bem como definir. Só sabia que aquilo o deixava cada vez mais apaixonado - talvez por null, ou por null, ou pela vida em si. null somente sabia que estava sentindo amor.
- Então vamos? Segurem-se passageiros, pois a jornada será empolgante! - Dizendo isso, a cama começou a se mexer como se null a estivesse dirigindo.
Eles flutuaram pelo céu noturno, null sempre mantendo null em segurança em seus braços. O bichinho não poderia estar mais contente, enquanto null guiava o caminho pelo firmamento azul. As cores começaram a ficar cada vez mais escuras e o mundo cada vez mais distante até finalmente alcançarem as estrelas - a Terra embaixo deles, as estrelas espiralando coloridas em volta dos três.
null fez questão de olhar para null nesse momento - e não pôde deixar de se perder na expressão dela. A moça estava maravilhada, as próprias estrelas refletindo nos olhos dela enquanto sorria como se aquele fosse o mais maravilhoso dos sonhos em forma de realidade que ele levara a ela.
- Quer parar um pouco por aqui?
- Podemos? - null perguntou impressionada e ele fez que sim com a cabeça. A cama logo perdeu a velocidade e eles se encontraram flutuando em meio ao mar de estrelas da Via Láctea. - null, isso aqui... É maravilhoso...!
- Bonito, né? Às vezes eu gosto de ficar por aqui... - Ele suspirou, observando os pontos de luz que brincavam em volta deles.
- Imagino... É um bom lugar pra relaxar. Ei! - E null ficou alerta quando null tentou se soltar dos braços dela para brincar entre as estrelas. - Cuidado! Você pode cair!
- Não se preocupe, ele sabe nadar por aqui. - null respondeu de maneira calma com uma breve risada.
null franziu um pouco as sobrancelhas, mas em seguida soltou null. O bichinho saiu navegando pela imensidão do Universo, brincando em frente a eles como se estivesse nadando. null sorriu de maneira contente e maravilhada, voltando a prestar atenção em null somente quando ele segurou a mão dela.
- Eu gosto de ficar sentado assim, acho que você também vai gostar... Vem cá. - E ele a puxou cada vez mais para a beirada da cama. Ambos colocaram as pernas para fora desta, balançando-as contra o ar do Universo. null tinha as pernas consideravelmente mais curtas que as de null - o que ele achava simplesmente adorável - balançando-as de maneira divertida enquanto fechava os olhos e respirava fundo.
- Você passa muito tempo aqui?
- Só quando preciso de paz de espírito... - null comentou de maneira pensativa, observando enquanto null brincava com algumas pequenas estrelas que espiralavam em volta dele. - Quando preciso colocar a minha mente no lugar e voltar a ser eu mesmo.
- É aqui que você vem quando quer chorar...? - null perguntou cuidadosamente, fazendo-o se virar para ela. A moça tinha um olhar compreensivo, que o fazia se sentir seguro. O mesmo tipo de sentimento que null teve ao ser abraçado por ela.
- É. Eu venho pra cá. É uma liberdade que normalmente não tenho. - null sorriu levemente para ela. - Não que eu esteja reclamando, nada disso. Sou extremamente agradecido pela minha vida e pelas coisas que tenho, mas é que às vezes...
- Ei, ei... - E ela começou a afagar a mão de null. O coração dele imediatamente acelerou ao sentir o toque aveludado da mão dela. - Não precisa se explicar pra mim, eu entendo. Todo mundo precisa chorar de vez em quando. Eu estou feliz que você é humano.
null sentiu as bochechas corando e a incerteza do que fazer em seguida batendo em seu coração. Ele estava com um impulso quase insuportável de beijá-la - ali, entre as estrelas, seria um ótimo lugar para se fazer aquilo. Mas não sabia se ela aceitaria e tinha medo de ser rejeitado - além de levar as coisas muito rapidamente e assustá-la. null queria tudo, menos assustá-la.
Como se pressentindo o desespero dele, null chegou flutuando entre ambos, estendendo para null uma pequena estrela brilhante que tinha entre as patinhas. Era como uma pedra, a mais cintilante de todas, que ele pegara para dar de presente à moça.
- Para mim? - E ela parecia genuinamente impressionada e lisonjeada com o presente. - Muito obrigada, null! Eu nem sei o que dizer! Você é maravilhoso!
Com isso, ela deu um forte abraço no bichinho, que como sempre apitou e borbulhou seus corações cor de rosa, aninhando-se em null. Ela ria, com a pequena estrela em mãos, maravilhada com aquela realidade criada por null.
- Hmmm, me empresta a estrela um pouquinho? Já sei o que fazer. - Ele disse enquanto tirava uma correntinha de prata do próprio pescoço.
null não discutiu e, logo que null tinha a estrela em mãos, ela não sabia como ele o fizera, porém ficara maravilhada: os dedos dele trabalharam habilmente com a corrente e a estrela e logo o colar tinha o pingente mais brilhante de todos: uma estrela para brilhar até nas noites mais escuras.
- Aqui! - null sorriu para ela. - Um colar com a estrela do null para você! Quer que eu te ajude a colocar?
- Isso é lindo, null! Como você faz essas coisas? - null nem precisou responder: somente tirou os cabelos do caminho e se virou de costas para que null pudesse prender o colar no pescoço dela, algo que ele fez com cuidado, porém de maneira que ela ainda conseguisse sentir os dedos quentes dele contra a pele levemente gelada do pescoço dela.
- Lembre-se que tudo isso daqui fui eu quem criou. - Ele piscou para null assim que a moça se virou novamente para ele. - Você ficou linda. Foi uma boa escolha de estrela, null!
O bichinho somente acenou com a cabeça, abraçando null com mais força e fazendo-os rir.
- Mas você já está ficando muito gelada, acho que precisamos tomar um sol! Além de que o Sr. Travers e seus amigos flamingos estarão nos esperando para o chá! - Dizendo isso, a cama começou a se mover novamente enquanto eles se moviam para o meio desta. - null, null, segurem-se firme!
- O que ele quer dizer com isso...? - Mas foi só null perguntar que a cama começou a voar em uma velocidade muito maior que a anterior. - AH, , VAI COM CALMAAAA!
Ele somente riu enquanto ela estava sentada atrás dele e se segurava com força nos ombros de null. null abraçava a cintura de null e a viagem não demorou tanto tempo assim: em questão de segundos, adentraram um céu azul cristalino, com nuvens das mais diversas cores em tons pastéis, enquanto o ar era preenchido por uma música animada e certamente gostosa de se ouvir. A cama tomou uma velocidade mais calma, fazendo-os aproveitar o calor do sol dourado que atingia a pele e o grande mundo embaixo deles: rios, mares e lagos das mais variadas cores, florestas e cidades multicoloridas com pessoas, animais e criaturas convivendo de maneira animada. A praça principal era o centro que dava vazão a muitas outras ruas, para muitos outros lugares e casas, sendo o local no qual a cama se estacionou calmamente e parou de brilhar.
- Bem vinda ao null World. - null abriu os braços logo que se levantou, parando no meio dos tijolos amarelos da praça principal. null estava boquiaberta enquanto os residentes do mundo de null a observavam com curiosidade, enquanto conversavam e continuavam seus afazeres.
- null... É sensacional. - null estava embasbacada. Aquele era o mundo de null, um pedacinho dele em cada canto que havia criado. E ele estava mostrando para ela. - Você é sensacional. Eu amei esse lugar!
- Mas você ainda não viu nada! - Ele deu uma boa risada, sentindo um pouco de vergonha enquanto null segurava a mão dela, pronto para levá-la em um tour.
- Mas tudo isso é você! - null explicou, rindo que nem ele, enquanto caminhava com null. - Eu sei que vou amar!
null se pegou em choque com as palavras da moça - mas ela parecia não ter percebido o que acabara de falar. Após alguns segundos processando, correu atrás dela e de null.
- Bom, precisamos ver o que você quer fazer! Temos muitas atividades em null World! - E ele tentava esconder as bochechas coradas. - Podemos visitar o Centro de Animais, a Praça de Freestyle, almoçar na Praça de Alimentação, precisamos falar com o Sr. Travers no lago dos Flamingos Surfistas, talvez...
- Olá, null! Olá, null! E olá... Nossa! Temos uma nova residente por aqui? - Eles ouviram uma voz animada atrás de null e null se chocou ao encontrar um astronauta segurando o capacete e os observando com gentis olhos azuis.
- Ah, Arthur! Tudo bem? - null perguntou de volta com um enorme sorriso. - Essa é a null! Ela queria visitar o nosso...
- Essa é a famosa null?! - E Arthur não podia ser mais direto. null simplesmente congelou no lugar, sem coragem de olhar para ela. - Ouvimos muito sobre você, o null simplesmente te adora! É uma honra finalmente te conhecer, null!
- É uma honra estar aqui e te conhecer, Arthur! - Ela segurou a mão que ele estendia em um animado aperto de mão. - Você vai em alguma missão espacial hoje?
- Vou! Estou em uma missão muito importante de recuperar algumas estrelas para estudos sobre energia! - O astronauta respondeu de maneira orgulhosa, apontando para o colar que pendia no pescoço dela logo em seguida. - Vejo que você mesma foi fazer as suas próprias pesquisas no cosmos!
- Presente do null e do null. - null pegou a estrela entre os dedos, observando-a com carinho. null ainda não tinha coragem para descongelar e olhar para ela.
- As vantagens de ser amiga deste homem incrível, acredito. - Arthur deu um bom tapa nas costas de null, quase o fazendo perder o ar. null tentou não rir quando ele arregalou os olhos. - Tente ver o lançamento do nosso foguete, acho que você irá adorar! Estaremos na Plataforma de Lançamento daqui a quatro horas, vocês são nossos convidados! Até mais, famosa null!
- Até mais! Prazer te conhecer, Arthur! - A moça acenou de volta, sorrindo placidamente, virando-se para null com uma sobrancelha erguida assim que o astronauta estava longe o suficiente. - “Famosa”...?
- Sabe como é, você é minha amiga e passo muito tempo com você... - null tentou explicar da melhor maneira possível. - Naturalmente o pessoal aqui já ouviu falar.
Quando ela somente sorriu de volta, null finalmente pôde se acalmar e respirar fundo novamente.
- Então... Qual é o itinerário? - Ela perguntou em expectativa, fazendo-o se animar.
- Você confia em mim para te guiar, então? - Ele perguntou de volta, sorrindo quase tanto quanto null sentia a animação agitar o pequeno coração.
- null... Eu subi em uma cama voadora com você e atravessei o Universo. Sim, eu confio em você pra me guiar! - Dizendo isso, null nem hesitou em segurar a mão dele.
E, com certeza e carinho, null a segurou de volta.
- Ah, você vai gostar daqui...! - null exclamou com empolgação, começando a andar mais rápido e praticamente arrastando null atrás de si. A moça segurou null, que decidira sentar em seus ombros, com mais força para que o bichinho não caísse. - Você vai adorar! Tenho certeza...!
- Espera, espera! O chão...! - null tentou segurá-lo, porém null era mais forte.
Somente quando adentraram uma parte que tinha uma vegetação e certamente casas, flores e um céu definitivamente fora do comum é que null parou e se virou para ela, confuso.
- O que foi? - As sobrancelhas dele estavam franzidas, mas o rosto... null colocou as mãos na boca, observando-o em choque. - O que foi, null?!
- Você! - Ela apontou de volta. - Parece uma pintura! Do Monet! Seu rosto parece que foi feito com pinceladas!
- Sim, sim! Essa é a mágica desse lugar especificamente, a Vila Monet! - null abriu os braços, sorrindo de maneira radiante para ela. - Vamos! Tem muita coisa para ver na vila!
- Mas... - E null tocou a mão de null com cuidado. Era tão sólida e acetinada quanto antes. - Achei que você estaria molhado de tinta como uma pintura!
- Aqui só afeta a aparência, as cores e como as coisas se apresentam. A textura continua a mesma, não se preocupe. - null piscou para ela enquanto null somente apitava. - E você também não precisa se preocupar. Continua lindo como sempre, meu null.
null riu, adorando como null parecia completamente à vontade em seu próprio mundo - além de estar completamente radiante de apresentar tudo aquilo a alguém. Mal sabia ela que o motivo da empolgação dele era poder mostrar à moça - que ela era quem fazia tudo aquilo ainda mais maravilhoso.
Continuaram o caminho por uma rua não muito grande de terra, ladeada da grama mais verde, até alcançarem a vila. Ela fervilhava de pessoas em seus afazeres diários - quase como no início de filmes da Disney.
- Eu sei que você vai ficar maravilhada com tudo, mas tem uma pessoa que precisa conhecer... - null murmurou, focado em encontrar uma simples casa à distância: um senhor barbado trabalhava em um atelier, deixando suas pinturas para secar ao lado de fora no sol enquanto a rua era tomada pelo cheiro aconchegante de muffins de damasco. - Ali! Gael, boa tarde!
- null...? - O senhor perguntou de volta, abaixando os óculos em meia lua na ponte do nariz para identificá-los melhor à distância. Em seguida sorriu. - null, meu filho! É bom te ver por aqui! null, também estou feliz em vê-lo! E essa é... Não pode ser.
- Não pode ser o quê...? - null pareceu um pouco assustada, parando à frente do homem com os olhos arregalados enquanto ele se levantava emocionado de seu banquinho. null somente franzia as sobrancelhas. - O que houve...?
- Você é a null? - Gael perguntou e novamente lá estava null congelado, sem saber o que fazer e completamente em pânico. - Minha filha, nós te esperamos por muito tempo.
- Jura? - null perguntou com um sorriso impressionado nos lábios. - Não é a primeira vez que eu ouço isso.
- E definitivamente não será a última. O null me disse muito sobre você. - O senhor suspirou e começou a procurar em suas telas por algo que precisava mostrar a eles. - Por favor... Quero que leve isso... Assim que eu achar... Ah! Aqui está!
Nisso, Gael resgatou um rascunho em aquarela numa folha A4 em que desenhara ninguém menos que null, entregando-o para a moça enquanto ela e null observavam boquiabertos. null só queria morrer.
- Uma tarde ele se sentou aqui comigo e me contou de uma moça tão radiante quanto o sol, misteriosa como a lua e apaixonante como as estrelas. A moça que o fez criar essa vila inteira na qual eu moro pela paixão que ela tem por Monet. - Gael colocou uma das mãos no coração, observando-a com carinho. null questionava-se se cavar um buraco e se enfiar dentro demoraria muito tempo. - Eu me senti inspirado pelas palavras e pelos sentimentos dele, tentando retratá-la em um pedaço de papel. Claro, o desenho não faz jus a você. Mas gostaria que o levasse como um presente de boas vindas.
- Muito obrigada, Gael. Vou guardar com muito carinho, disso você pode ter certeza. - null sorriu de volta, de maneira gentil. O senhor suspirou.
- Realmente, null. Radiante como o sol. - Ele comentou e, assim que olharam para null, perceberam o criador daquele vasto mundo ficando tão vermelho quanto um tomate.
- Pois é. - E null deu um sorriso desajeitado. - Agora acho que é melhor continuarmos a explorar, ou não conseguirei mostrar as coisas mais importantes daqui para ela.
- Ah, sim! Melhor seguirem em frente! Um dia quando tiverem mais tempo, parem um pouco por aqui para que possamos desenhar juntos. - Dizendo isso, Gael se sentou de volta em seu banco, acenando para eles enquanto null e null acenavam de volta animadamente.
null não sabia onde se enfiar. Liderava o caminho, mas sentia null perto demais enquanto ela brincava com as patinhas de null apoiadas em seus ombros. Os coraçõezinhos que borbulhavam do bichinho voavam como bolhas ao redor da cabeça de null e, apesar da vergonha ocasional, ele nunca se sentira tão feliz em finalmente ter mais alguém junto com ele em null World.
- Então quer dizer que você criou uma vila inteira só porque eu gosto de um artista específico? - null finalmente emparelhou com null e ele deu um sorriso um tanto envergonhado.
- É... Lembro de algumas pinturas que você me mostrou uma vez, alguns desenhos que você fez. Gostei muito e acabei criando a vila para me lembrar. - Ele respondeu de maneira desajeitada. - Tanto é que as casas são principalmente azuis e amarelas, do jeito que você me mostrou.
- Fico muito feliz que você tenha gostado tanto, null. - null sorria não somente com os lábios, mas com os olhos. De uma maneira que ele sabia que ia se apaixonar cada vez mais por ela.
Estavam tão entretidos com a conversa que nem perceberam que deixaram a vila das pinturas e adentraram outra parte do mundo que parecia uma cidade grande como Los Angeles - porém com prédios repletos de pinturas de rua, grafites das mais variadas cores, carros brilhantes em cores berrantes dirigindo pelo asfalto com músicas animadas tocando e batalhas e mais batalhas de dança ocorrendo nos mais variados cantos.
- Deixa eu adivinhar... Praça de Freestyle? - Ela perguntou assim que viu as pessoas dançando e null riu de volta, parecendo energizado de uma maneira diferente.
- Exatamente! Você sabe que não dava pra faltar dança no meu mundo, não? - Ele piscou para ela, novamente segurando uma das mãos de null. Como ela e null já sabiam o que lhes aguardava, null segurou a patinha do bichinho com a mão livre e ele apitou em agradecimento assim que começaram a ser levados por null. - Você vai adorar a música por aqui! O objetivo é se divertir, é curtir como se não houvesse preocupação nenhuma! Como se eu não fosse famoso, como se você não fosse uma produtora, como se nós dois não fôssemos workaholics que mal temos tempo para descansar!
- Olha só, você está me fazendo gostar demais do conceito desse lugar! - Ela respondeu animadamente, tentando acompanhar os passos largos de null até o lugar onde vários grupos competiam com improvisações de coreografias. - Se continuar assim, é capaz que eu queira ficar aqui pra sempre!
O coração de null bateu mais forte e null percebeu, soltando um leve guincho - o que fez null dar uma risada adorável, apesar de não entender a reação do bichinho. Aquele lugar era como o coração de null: as paixões dele, quem ele era, suas raízes e sentimento de pertencimento eram daquele lugar - e nada poderia mudar aquilo. Saber que null se sentia tão confortável em um local em que null conseguia fechar os olhos e se deixar sentir sem restrições era como saber que ela se sentia confortável dentro do coração dele.
- null! Vai dançar hoje, meu lindo? - Uma mulher que null só podia definir como incrível, saiu de um dos grupos para chamar null. A pele dela era negra, os cabelos afro cuidados com muita atenção e carinho, as roupas em tons diferentes de neon. Ela exalava confiança e dança em cada passo que dava na direção deles. - Estávamos te esperando! Hoje o... Ah, você trouxe uma amiga de fora? Meu nome é Tina!
- Olá, Tina! Eu sou a null! - A moça estendeu a mão para apertar a de Tina, tentando permanecer confiante em cada palavra que falava. Mas não podia negar que toda a confiança de Tina era certamente intimidante... E magnética. - Prazer!
- Ah, você tem que vir dançar com a gente, minha querida! Ainda mais depois que...
- Depois de nada! Eu vou dançar! - null imediatamente se colocou no meio do assunto para que mais uma pessoa não dissesse algo como “ainda mais depois de ouvirmos falar tanto de você”. null somente trocou olhares com null e ambos reprimiram uma pequena risada enquanto ela o ajudava a chegar ao chão. - Quero ver o que vocês prepararam dessa vez! Cada dia é algo novo, eu podia ficar aqui o tempo todo!
- Imagino. Você já fica na sala de dança o dia todo até de madrugada, se não sou eu pra te arrancar de lá pra comer alguma coisa, você vai direto pra cama, dormindo suado mesmo. - null comentou de volta, fazendo Tina dar uma boa risada enquanto null parecia indignado. null tentava levá-la mais rapidamente para a roda de dança, animado para entrar no ritmo da batida.
- Gostei de você, mulher! - Tina respondeu, batendo de leve no braço de null como se fossem melhores amigas. - Alguém precisa colocar esse aí nos trilhos, ou é um caminhão desgovernado!
- Ah, vocês duas vão se juntar contra mim agora, é isso? - null parecia indignado, porém null e Tina simplesmente confirmaram com a cabeça. - Ok, ok. Vamos ver o que vocês podem fazer então!
Dizendo isso, null abriu os braços, aproximando-se da roda de dança e sendo recebido com gritos animados. Ele não demorou a se sentir imediatamente em casa, tomando conta do ritmo e dançando da maneira apaixonante como sempre dançava - o próprio null ficou observando animadamente, completamente hipnotizado pela maneira como null se movia.
null não podia deixar de observá-lo com admiração e carinho - algo que Tina percebeu nos olhos da moça. Outra coisa que Tina também sabia é que null não tinha mais uma queda por null, era um precipício, e ele nunca parecia tomar coragem para dizer a ela - quando a moça claramente correspondia. Enquanto ele dançava, assim que apontou para as duas, Tina deu um empurrão em null.
- O quê?! Eu?! Mas eu não posso...!
- Você deve, mulher! - Tina respondeu, empurrando-a novamente quando null tentou voltar para a orla da roda, evitando ao máximo encontrar com null no centro da roda de dança. - Você tem força suficiente pra botar esse homem em ordem, então consegue ir lá e brigar com ele em uma dança! Se solta! E vai!
No meio da roda, com todos gritando, null respirou fundo e olhou para null - que sorria com expectativa em frente a ela. A moça não queria desapontá-lo e ele queria ver o que ela faria. null aceitaria qualquer coisa de null, mas nunca esperava o que aconteceu: sorrindo de volta, a moça se soltou no ritmo da música de uma maneira que ele nunca vira antes.
- Isso aí, mulher! Acaba com ele! - Tina gritou animadamente, emprestando à null mais ainda de sua confiança. - Mostra o que nós podemos fazer!
null jogou os cabelos para trás e começou a misturar os passos que tinha aprendido de maneira tão envergonhada com null com os passos que soube desde sempre de jazz e ballet. Ele estava completamente impressionado e sabia a cada batida da música que seu coração não podia pertencer a mais ninguém que não fosse ela.
null estendeu uma das mãos e null sorriu ao segurá-la. Ele a puxou mais para perto de si, começando a dançar com a moça em perfeita sincronia, como se o ritmo de um complementasse o outro. O pessoal da roda gritou em animação, Tina torcia como se nunca tivesse visto null dançando tão bem - e provavelmente nunca vira. Pela primeira vez ele parecia apaixonado de uma maneira completamente diferente, aproximando o rosto do pescoço de null enquanto ela fechava os olhos e jogava a cabeça para trás - completamente imersos um no outro.
Tina repentinamente viu corações como bolhas explodindo a sua volta e, ao olhar para baixo, viu null com as duas patinhas unidas, balançando no ritmo da música, completamente apaixonado pelos dois que dançavam à sua frente.
- Concordo com você, null. - Tina comentou com um pequeno sorriso, fazendo o animalzinho dar uma risadinha de volta. - Eles realmente são apaixonantes. Fico tão feliz pelo null ter encontrado alguém que nem ela.
Quando a música chegou ao fim, null descansou as mãos na cintura de null, ambos de frente para o outro, os olhares presos nos olhos um do outro, a respiração pesada tentando recobrar o ritmo enquanto os outros dançarinos torciam.
Os olhos de null eram sinceros e, pela primeira vez em que null não estava propositalmente se distraindo para saber se comportar em torno dela, ele notou como todos os sentimentos dele eram espelhados na maneira que ela o observava. null sentiu as mãos formigando e as pernas ficando cada vez mais moles ao perceber pela primeira vez que null era tão apaixonada por ele quanto ele por ela.
Repentinamente, as bochechas dela ficaram cada vez mais vermelhas e a moça começou a rir, aproximando-se dele em um abraço enquanto agradecia à torcida dos outros dançarinos. Ele a segurou como se não quisesse soltá-la, até que null segurou a mão de null, levando-o para a orla enquanto outra dupla entrava para uma batalha. null pulava animadamente ao lado de Tina.
- Você foi incrível! - A mulher exclamou, abraçando null assim que se aproximaram. Já a considerava uma grande amiga. - O que foi que eu disse?! Quando você se solta, não tem erro, querida!
- Obrigada, Tina. - null respondeu simplesmente, abraçando-a com mais força. Tina teve alguns segundos de choque com aquela reação, porém entendeu e sorriu em seguida. Afinal, ela vira a maneira como ambos se olharam ao fim da dança. - E obrigada a você também, null! Eu podia te ouvir torcendo daqui!
E, enquanto ela brincava com null, null somente a observava, sem dizer nada - somente com o carinho interminável nos olhos. Tina parou ao lado dele, cruzando os braços e dando um pequeno sorriso.
- null... Você tem que falar pra ela.
- Hmmm? - Ele perguntou de maneira meio avoada, voltando o olhar para ela. Porém Tina não ia se repetir: null havia ouvido muito bem e ela sabia daquilo. - Ah, Tina... - E ele suspirou. - Não existem palavras suficientes.
Voltando a observar null dançando de mãos dadas com null e divertindo-se como nunca enquanto o bichinho parecia tão feliz e seguro nos braços dela, null solidificou aquela convicção em si: não havia palavras suficientes em nenhum idioma para traduzir o que null precisava dizer; havia somente sentimentos.
- Sabe que eu fiquei muito interessada no tal Centro dos Animais... - null começou a falar fingindo desinteresse enquanto segurava uma patinha de null, que corria atrás de uma borboleta verde brilhante. O bichinho parou no mesmo momento, olhando null com receio.
- Eu sei e acho que você vai gostar muito. Principalmente de ser perseguida por um rebanho de cachorrinhos amarrados em balões coloridos. - null respondeu, vendo a maneira como os olhos de null começaram a brilhar. - Porém, alguém ficou com medo de perder a sua atenção e me pediu pra não te levar lá hoje.
null franziu as sobrancelhas e no mesmo momento null apontou para null. O bichinho observou a moça com grandes olhos pidões e ela imediatamente deu uma risada enquanto os olhos se enchiam de lágrimas.
- Seu bobo! Eu nunca vou te dar menos atenção! Eu te amo, meu null! - null imediatamente o abraçou, tirando-o do chão enquanto o girava no ar e null fechou os bracinhos em volta dela, começando a soluçar. - Por que você está chorando? Nunca te falaram que você é maravilhoso e só merece amor? Porque é exatamente isso. E não importa o que aconteça, eu sempre vou estar aqui ao seu lado, null!
O bichinho escondeu o pequeno focinho em forma de coração no pescoço de null e começou a chorar copiosamente. Fazia muito tempo que não se sentia amado e querido daquela maneira. Sentia-se seguro, como se realmente pertencesse àquele mundo, ao lado de null e null. Ela o recebera tão bem, sem preconceitos e de braços abertos, fazendo-o amá-la mesmo após conhecê-la oficialmente somente naquele dia.
O próprio null tentava não demonstrar muito seus sentimentos com aquilo - ele e null passaram por coisas parecidas que os deixaram machucados. Ver que alguém podia receber null de maneira tão carinhosa e desprovida de qualquer julgamentos dava esperanças a null. Ele sabia que null não seria o tipo de pessoa que o machucaria da maneira como ele fora machucado - e ele mesmo não a machucaria como ela esperava de qualquer relacionamento que iniciava.
Só que null já tinha entendido tudo aquilo - como ele faria para que null entendesse?
Repentinamente, porém, o chão começou a tremer.
- O que é isso?! - null perguntou assustada, protegendo null com os braços. - Um terremoto?!
- Não... - null franziu as sobrancelhas, estranhando assim que a terra parou de tremer. Em seguida, seu rosto se iluminou. - Não! É o lançamento do foguete do Arthur! Vem comigo, você vai amar!
Segurando a mão de null, null começou a correr. Ela teve que segurar null com força para evitar problemas, mas o próprio bichinho já sabia que quando null a levava junto, era melhor segurar firme.
- Eu esqueci completamente o horário que o Arthur tinha me falado! Temos que correr pra chegar à Plataforma!
- Ok, sem problemas!
null conseguia ouvir a animação na voz de null. Ela o seguia sem questionar, correndo por um campo de grama magenta repleto de borboletas cintilantes que espiralavam como as estrelas no Universo. Eles atravessaram com pressa, fazendo-as revoar animadamente enquanto tentavam chegar à Plataforma o quanto antes.
De repente, o celular de null começou a tocar. Retirando do bolso enquanto corriam, viu que era uma chamada de Arthur que, quando null atendeu, fez surgir somente uma tela amarela com os dizeres “sem pânico!” em preto na tela. Ambos franziram as sobrancelhas, até chegar à Plataforma: um vasto campo de lançamento em um ambiente que lembrava o Grand Canion, o céu alaranjado colorindo tudo com a mesma cor. Assim que alcançaram o lugar, uma engenheira de cabelos igualmente laranja se aproximou deles com um sorriso no rosto.
- Chegaram bem a tempo! O Arthur pediu para que esperássemos vocês para poder lançar o foguete! - A moça os cumprimentou enquanto segurava um rádio colorido em uma das mãos. Aproximou-o dos lábios e apertou um dos botões. - Base, podemos lançar! O null, o null e a null já chegaram!
- Copiamos, Ellen! Começaremos a contagem regressiva!
- Vamos, vamos! Não temos muito tempo! - Ellen respondeu, segurando a mão de null que null soltara e começando a caminhar com a moça e null até a beira do cânion, podendo observar o gigante ônibus espacial de perto. - Não se preocupe, é completamente seguro!
- Não existe um habitante desse mundo que não saiba quem eu sou...? - null perguntou com uma sobrancelha erguida e Ellen imediatamente reprimiu uma risada.
- Não quando o mundo é feito pelo null. - A moça piscou de volta para null, fazendo-a corar como um tomate enquanto null agitava as perninhas nos ombros dela.
- Qual é a contagem, Ellen? - null perguntou assim que se aproximou.
- Faltam cinco segundos!
- Ok, melhor colocarmos isso então! - Com essas palavras, null distribuiu abafadores coloridos para colocarem nos ouvidos, que somente ele sabia de onde tinham saído.
- Três! Dois...! - Ellen começou a contar junto com a base. - Um! Segurem-se firme!
null não entendeu muito bem o que ela queria dizer até o foguete começar a decolar, irradiando uma forte onda de vento. A moça segurou a mão de null, sentindo os cabelos voando furiosamente em volta de si.
Mas era a coisa mais linda. Enquanto o ônibus espacial alçava voo com o nome de null World em sua carcaça, a fumaça que saía dele era nada menos que azul do tom mais vibrante que ela já tinha visto. O foguete subia lentamente, tomando velocidade aos poucos, enquanto pintava tudo a sua volta de azul.
E, quando finalmente disparou aos céus e todos os envolvidos naquele lançamento começaram a gritar de alegria comemorando o sucesso do início da missão, null finalmente notou que ela mesma estava completamente azul.
Ao olhar para null, desatou a rir.
- null! Você parece um smurf!
Nem ele se aguentou e começou a rir junto com ela.
- Ora, muito obrigado, minha smurfette! - E ele abraçou null, compartilhando todo o azul que tinha com ela e null.
- Vocês podem seguir para o lago dos Flamingos Surfistas pra tirar toda essa fumaça, não é muito longe daqui. - Ellen sugeriu, balançando um pouco os cabelos cor de laranja, agora manchados de azul. - Tenho certeza que eles não iriam se importar. E ainda vão pegar o horário do chá do Sr. Travers.
- Ah, verdade. Ele não vai parar de falar nunca mais. - null rolou os olhos, porém tinha um pequeno sorriso nos lábios.
- Ah, só sugiro pegarem o caminho à esquerda, pois o da direita tem algo que ainda não identificamos muito bem o que é. - E Ellen parecia preocupada. null e null imediatamente ficaram alerta. - Parece...
- Um espaço vazio. Não tem problema eles irem pra lá comigo, mas é bom que você lembre os outros de ficar longe, Ellen. Obrigado pelo aviso. - null respondeu de maneira séria e ela confirmou com a cabeça.
- Vejo vocês mais tarde! - Com um último aceno, Ellen se pôs de volta à base enquanto null novamente segurava a mão de null para guiá-la por null World.
Entretanto, dessa vez não havia pressa. Ele passeava ao invés de correr, já acostumado em segurar a mão da moça.
- Então quer dizer que existe um espaço completamente vazio aqui em null World? - null perguntou com interesse, fazendo-o confirmar com a cabeça.
- É... Ainda não descobri o que fazer com ele. - E null suspirou, olhando para o céu. - É como se alguma coisa estivesse faltando. Algum pedaço de mim, talvez...
- Você quer me mostrar? Às vezes, consegue descobrir o que fazer quando eu estiver lá. - Ela sugeriu, fazendo-o observá-la durante um tempo.
- Pode ser... Vamos lá! - E, com um sorriso, null mudou de direção, levando-a para o único lugar de null World que mais ninguém além dele já tinha pisado.
- Pode vir sem medo... Não vai acontecer nada. - null comentou assim que começou a caminhar por um lugar que era completamente branco.
Não havia nada. null segurou a patinha assustada de null e caminhou com ele pelo chão branco, completamente estéril e sem vida. Era exatamente o que null comentara antes com Ellen: vazio. Ele caminhava distraidamente, com as mãos nos bolsos, vezes olhando para cima, vezes para baixo. Era como se estivessem flutuando em um grande espaço branco e sem nada: nem música, nem cores, nem formas... Nada.
- Você nunca teve vontade de criar nada por aqui? - null perguntou enquanto soltava null para que ele pudesse explorar aquele lugar vazio.
- Já tive... Inclusive tenho. Mas não consigo fazer nada. - null suspirou, olhando para ela em seguida e dando um pequeno sorriso que parecia até triste. - Acho que já acabou a minha criatividade em relação ao null World.
- Não fala isso. Você tem uma criatividade incrível, null. - Mas ela notou que as palavras não foram suficientes para convencê-lo, enquanto null dava de ombros. - Você é incrível, null.
- Oi? - E claro, ele foi pego de surpresa.
- Nunca vi alguém fazer as coisas da maneira como você faz. null, tudo isso... Você é incrível e cada dia que passa, eu te admiro cada vez mais. - null segurou uma das mãos dele, sem notar que null estava corando como as pétalas de uma cerejeira. - Tenho certeza que você vai arranjar algo lindo pra fazer com esse lugar, porque tudo que você toca, é tratado com carinho e vira algo maravilhoso. Inclusive...
Mas ela parou de falar. null pendeu a cabeça um pouco para o lado, aproximando-se de null e segurando a outra mão da moça. null estacou onde estava e observava a tudo de olhos arregalados e com o pequeno coração pronto para explodir em milhares de corações.
- Inclusive...? - null perguntou de volta, abaixando um pouco a cabeça para incentivá-la a falar. null levantou os olhos e, ao encontrá-lo, null abriu um de seus belos sorrisos que ela não cansava de ver, fazendo-a sorrir enquanto as bochechas coravam.
- Inclusive, foi o que você fez comigo, não percebeu? - A moça deu uma breve risada ao ver o choque de null com toda aquela sinceridade repentina, começando a afagar levemente as mãos dele. - Você pegou uma pessoa completamente amarga como eu e me fez perceber novamente que há esperança nesse mundo. Que há pessoas que nem você.
null sentia pequenas lágrimas formando no canto dos olhos. Sem pensar duas vezes, ele repousou uma das mãos no rosto de null e finalmente se aproximou, beijando-a da maneira que sempre quis.
null apitou e coraçõezinhos borbulharam de seu focinho enquanto caía no chão de emoção. O mundo explodiu em cores e sons em volta deles no momento em que os braços de null se enlaçaram em volta do pescoço de null, correspondendo cada sentimento do beijo. Ele a abraçou pela cintura, trazendo-a mais para perto, sem querer soltá-la. Por muito tempo quiseram viver aquilo, mas não diziam ao outro. Enquanto o mundo à volta deles ganhava pradarias, casas, pessoas, animais multicoloridos, os mais diversos tipos de plantas, flores, cores e músicas, tanto null quanto null se esqueceram por qual motivo negaram aquilo durante tanto tempo.
- null... - null finalmente desgrudou os lábios dos dela, ainda sem perceber o que tinha acontecido em volta deles. - Você fala isso, mas você nem sabe... Eu dou esperanças pra todo mundo, mas guardo poucas a mim mesmo. Mas você, bom. Você também me fez acreditar de novo que existe...
- Amor? - null perguntou de volta com uma pequena risada e null concordou animadamente com a cabeça, impressionado.
- Como você...? - Mas, antes que ele pudesse terminar a pergunta, ela apontou para algo atrás dele.
Um mundo todo havia surgido. O mais próximo era uma vila pavimentada com belas pedras bege e casinhas coloridas, repleta de flores para todos os cantos, passarinhos e borboletas multicoloridos voando por todos os lados - bem como balões em formato de coração nas cores vermelhas e cor de rosa, infestando o brilhante céu azul com todas as suas cores enquanto os habitantes da vila conversavam entre risadas e soltavam mais e mais balões.
- Puxa vida. Não tinha como ficar mais óbvio, né...? - Ele perguntou de maneira até envergonhada e null somente concordou com a cabeça, segurando a mão de null. - Acho que eu vou ter que dar uma boa desbravada nessa parte de null World depois.
- Por quê? O mundo não é seu?
- Essa parte não. Essa parte é sua. - null deu uma pequena risada, abaixando um pouco a voz. - Porque uma parte do meu coração é sua, né?
null arregalou os olhos com a frase de null, finalmente notando o que aquilo significava. Teria reagido de maneira diferente, porém null finalmente surgiu e, correndo, agarrou as pernas de ambos e começou a chorar de alegria enquanto borbulhava seus coraçõezinhos cor de rosa pelo focinho no mesmo formato.
- Bom... Parece que alguém ficou muito feliz com tudo isso! - A moça comentou animadamente, pegando null no colo. - A gente demorou, não...?
Foi só ela perguntar que null disparou em uma profusão de sons ininteligíveis, mas que certamente tratavam de como ele ficou esperando por aquilo durante tanto tempo. null começou a caminhar com ele pelas novas pradarias de null World, dançando aos poucos com null para acalmá-lo e distrai-lo de toda aquela reclamação.
Observando toda aquela nova criação enquanto ela dançava com null em um lugar que null acreditava que ficaria vazio até praticamente o fim de sua vida, ele abriu um grande sorriso e fechou os olhos.
Tinha certeza que amaria descobrir aquela parte de seu mundo - e que ela não poderia ser melhor, mesmo com todas as suas imperfeições.
- null! Ei, null! Acorda!
- Oi?! - Ele perguntou um tanto assustado, olhando para o assistente da produção ao seu lado que praticamente o chacoalhava.
- Você estava dormindo de olhos abertos? Faz cinco minutos que eu te chamei! - O homem respondeu enquanto balançava a cabeça. - Precisamos terminar as filmagens de hoje!
- Ah, me desculpa, eu estava... - Fechando os olhos, null se lembrou do lugar que tinha acabado de surgir em null World. O mesmo lugar que ele fora forçado a deixar para acordar no mundo real. - Com a cabeça nas nuvens...
- Era de se esperar. - O homem resmungou, virando-se para a equipe. - Ele está pronto! Podemos ir?
- Podemos! Última take do dia, pessoal!
null deixou null cuidadosamente em cima da cama - o bichinho ainda estava um pouco desnorteado de voltar de null World daquela maneira e null não queria que ele se machucasse. Levantando do colchão, ele se espreguiçou levemente e voltou para o set a fim de concluir a filmagem - que consistia nele dançando em um ambiente com uma tela branca, completamente vazio.
Encontrando null animada e fazendo sinais positivos para ele ao lado do Diretor, null sorriu animadamente, acenando para ela. Somente ele sabia que aquele lugar vazio não existia mais em null World - era de null, sendo que ela o criaria desde o início até o fim. Junto com ele e ao lado dele.
E aquilo fez a árdua missão de gravar aquele MV muito mais fácil - principalmente por ter null no backstage sorrindo para ele quando null se sentia cansado.
- Eu adorei as filmagens de hoje. O dia foi cansativo, mas gostoso... Ah, e o jantar estava ótimo também. - null sorriu enquanto caminhavam pela rua na madrugada. - Você é a melhor companhia.
- Também adoro a sua, null. - null respondeu enquanto mantinha as mãos nos bolsos da calça.
A lua refletia no rio ao lado do qual ambos caminhavam. A noite tinha acabado de iniciar no céu mais negro e límpido de maneira que pudessem observar as estrelas. null se lembrava do colar que havia dado para null com a pequena estrela que null encontrou para ela e desejava poder fazer aquilo também na vida real.
Em momento algum ele mencionara a aventura deles em null World enquanto estavam jantando - só sabia que agora observava null com um olhar diferente ao conversarem. Talvez ela tivesse notado ou talvez permanecesse alheia como sempre ficava em assuntos do coração. E null não podia culpá-la, já sabia muito bem com quem estava lidando.
Como a própria null colocava, ela não era uma princesa de contos de fada e filmes de romance. Mas ele também não era um príncipe encantado e tinha plena consciência que vivia na realidade.
- Eu só não entendi aquele lugar branco e vazio na última take... - null suspirou repentinamente. null pareceu mais interessado no assunto, tirando as mãos do bolso e mal percebendo que queria segurar a mão dela. Aquilo parecia quando apresentou seu mundo a ela. - Se o null World é você e surgiu das suas vontades e dos seus sentimentos, aquele lugar...
- É um vazio dentro de mim. - null respondeu simplesmente, porém apressou-se em corrigir. - Ou melhor, era.
- Era? - null franziu as sobrancelhas, sem perceber que havia parado no caminho, de costas para o rio à luz do luar.
- É... Eu descobri muitas coisas sobre esse lugar. E agora ele é um dos mais novos espaços que eu nunca desbravei antes, apesar de ser muito interessante. - null se aproximou dela, sem perceber o sorriso que tinha nos lábios. null observava com interesse.
- Bom... - E ela sorriu de volta, da mesma maneira de quando estavam no mundo dele. - Tenho certeza que deve ser algo lindo. Porque tudo que você toca, é tratado com carinho e vira algo maravilhoso...
Nesse momento, null arregalou os olhos. Ele nunca esqueceria daquelas palavras - mas achava que era algo que sua mente somente tinha inventado para que ele se contentasse em sonhar acordado com um amor que nunca poderia acontecer.
- Inclusive... - E a voz de null sumiu. null se aproximou dela, levantando o rosto da moça com uma das mãos, segurando-a como se null fosse um cristal que pudesse quebrar a qualquer momento se fosse tratada com movimentos bruscos. E ela não precisou de encorajamento de palavras: a expectativa nos olhos de null e o sorriso bobo que ele tinha nos lábios eram suficientes. - Foi o que você fez comigo, não? Eu era amarga e desacreditada do mundo todo, achando que todo mundo que vinha falar comigo só queria se aproveitar ou tirar algo de mim, até que você... Fez com que eu visse que há esperança no mundo. Que você existe.
- Que você existe. - null respondeu, repousando as mãos no rosto de null. Tentava conter as lágrimas que surgiram nos olhos, mas tinha certeza que não conseguiria por muito tempo. - Eu dou esperanças para todos a minha volta, mas não guardo pra mim. null, você me fez ter certeza de novo que existe...
Mas as palavras de null foram cortadas pelos lábios de null, que se encontraram com os dele em um beijo que não poderia ser melhor em nenhum outro mundo fictício. Quando seus lábios se separaram, null riu ao ver uma lágrima escorrendo pelo rosto de null, limpando-a com a manga do aconchegante moletom.
- É bom você me levar para tomar chá com os flamingos, conversar com astronautas, brincar com as estrelas... E tudo mais que existe em null World. Eu quero conhecer tudo. - Ela finalmente respondeu, fazendo-o rir animadamente enquanto enxugava o excesso de lágrimas.
- Pode deixar, null. Eu te levo pra conhecer tudo, apesar de que você vai ter que me apresentar uma parte nova também. - null a olhou de maneira carinhosa. - Eu ainda não conheço muito bem o meu espaço que era vazio.
- Tudo bem... Eu não conheço muito o meu também. - null piscou para ele. - Aliás! Vou querer altas conversas com o null!
- Não se preocupe, ele já está abraçando a sua perna com corações borbulhando pelo focinho. - Ele apontou para a perna dela, esperando null rir da brincadeira e seguir como se nada estivesse lá, pois essa era a realidade.
- Ah, null! Eu também te amo! - Mas ela olhou para a própria perna e falou com carinho, fazendo null sorrir e null apitar de alegria. - Vamos para casa?
- Ah, era isso que eu ia falar... Se você quiser, claro... - null parecia um pouco envergonhado, fazendo null erguer uma sobrancelha enquanto null subia nos ombros dela assim como fizera em null World. - Podemos ir pra minha casa. Aí eu posso te mostrar tudo sobre o álbum, as músicas, o null World... Mas só se você quiser. Não quero te...
- Ok. - null respondeu simplesmente, fazendo null comemorar de maneira animada enquanto null sorria um tanto pego de surpresa com aquela resposta.
- Ok! - O coração dele batia um pouco mais forte, animado em finalmente poder mostrar tudo que trabalhara, todos os seus sentimentos e sonhos, para a pessoa a quem pertencia uma parte de seu coração. Com isso, ele estendeu a mão para ela. - Vamos?
- Vamos! - E null segurou-a sem titubear, assim como fizera em null World. - E já aviso que vou dormir com a sua blusa do Snoopy. Ela é muito confortável para que eu finja que não existe.
- Você pode dormir com a roupa que quiser, contanto que deixe as suas dobradinhas em um cantinho e não espalhe pelo quarto. - null respondeu de maneira analítica, rolando os olhos em seguida. - Sério. O null deixa tudo espalhado para cima e para baixo e é um caos. Às vezes eu quero esganar aquele cara.
- Já era de se esperar de vocês dois! +- Ela riu de volta, entrelaçando os dedos com os de null. Por algum motivo, segurar a mão dele daquela maneira parecia o certo a se fazer.
null e null se sentiam em casa - como se tivessem passado muito tempo em busca de algo que sempre estivera lá e, por algum motivo que agora os escapava, eles sempre evitaram aquilo.
Mas agora, caminhavam juntos, de mãos dadas, à beira do rio em que a lua refletia como se estivesse sorrindo para eles. Nenhum dos dois poderia ter imaginado uma melhor maneira de finalmente constatar o que sentiam pelo outro - nem que daria tão certo e seriam correspondidos.
Enquanto caminhavam naquela madrugada de volta para casa pela primeira vez, null e null sentiam como se estivessem em paz, o mesmo sentimento que tinham quando sonhavam acordados ao se encontrar - porém, aquela era uma das raras vezes em que a realidade era melhor do que qualquer sonho que poderiam ter.
Fim.
Nota da autora: Olha eu aqui de novo escrevendo fics de MVs praticamente impossíveis!
Mas eu tenho um fraco pelas músicas desse homem, não posso fazer nada.
Espero que tenham gostado de Daydream! Usei muito da letra e do álbum inteiro pra ser sincera, ou não tinha muito como traduzir o mundo dele em algum tipo de história.
Além disso, dois personagens que aparecem são referências a livros/filmes/cantores: o querido Sr. Travers é uma homenagem à escritora de Mary Poppins, P.L Travers, a Ellen é uma referência à Ripley, de Alien, e a Tina como uma abreviação à Tinashe. Já o Hwang e o Liam... São nomes que eu realmente curti pra peixinhos dourados.
Queria explorar mais um pouco desse mundo, mas não tinha páginas suficientes. Talvez fica para uma próxima? Afinal, ele tem que descobrir o que preencheu o vazio.
E perdão pelas lágrimas no final à beira do rio iluminado pela lua, mas eu estava escutando A Whole New World do Aladdin e não deu pra segurar xD
Então fica aqui a minha homenagem para essa música maravilhosa, com um MV mais lindo e criativo ainda, que eu simplesmente amo de paixão!
Espero que tenham aproveitado muito desse mundo! Me falem se gostaram, o que gostariam que eu desenvolvesse mais e até a próxima!
XX
Para quem quiser entrar em contato comigo e ficar por dentro das atualizações de fics novas/em andamento, segue página do Facebook: https://www.facebook.com/Fanfics-Kah-Fly-121365969253972
Disclaimer: Essa história é protegida pela Lei de Direitos Autorais e o Marco Civil da Internet. Postar em outro lugar sem a minha permissão é crime.
Não gosto de falar essas coisas, mas como já tive problemas antes, acho bom deixar avisado. Nem tudo que tá na internet é do mundo, minha gente. Quer postar em outro site? Fala comigo! Eu não mordo! Hahaha a gente vê de me dar o crédito e linkar para o original aqui no FFObs! Só me mandar um e-mail ou pedir aí nos comentários!
Outras Fanfics:
Hunts and other drugs
Séries / Supernatural / Finalizadas
Hunts and other drugs 2 - Playing with the boys
Séries / Supernatural / Finalizadas
Hunts and other drugs 3 – What do you fear most?
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Hunts and other drugs 4 – The Song Remains the Same
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MV - DNA
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05. Immigrant song
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Ficstape 085: Boys Over Flowers Original Soundtrack: Part 1
13. 21st Century girls
Ficstape 080: BTS - You never walk alone
08. Silver Spoon
Ficstape 0103: BTS - The Most Beautiful Moment in Life: Young Forever
10. Beautiful
Ficstape 062: EXO – Exodus
It's gonna rain
KPOP / BTS / Shortfics
Dance Practice
KPOP / BTS / Em Andamento
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Mas eu tenho um fraco pelas músicas desse homem, não posso fazer nada.
Espero que tenham gostado de Daydream! Usei muito da letra e do álbum inteiro pra ser sincera, ou não tinha muito como traduzir o mundo dele em algum tipo de história.
Além disso, dois personagens que aparecem são referências a livros/filmes/cantores: o querido Sr. Travers é uma homenagem à escritora de Mary Poppins, P.L Travers, a Ellen é uma referência à Ripley, de Alien, e a Tina como uma abreviação à Tinashe. Já o Hwang e o Liam... São nomes que eu realmente curti pra peixinhos dourados.
Queria explorar mais um pouco desse mundo, mas não tinha páginas suficientes. Talvez fica para uma próxima? Afinal, ele tem que descobrir o que preencheu o vazio.
E perdão pelas lágrimas no final à beira do rio iluminado pela lua, mas eu estava escutando A Whole New World do Aladdin e não deu pra segurar xD
Então fica aqui a minha homenagem para essa música maravilhosa, com um MV mais lindo e criativo ainda, que eu simplesmente amo de paixão!
Espero que tenham aproveitado muito desse mundo! Me falem se gostaram, o que gostariam que eu desenvolvesse mais e até a próxima!
XX
Para quem quiser entrar em contato comigo e ficar por dentro das atualizações de fics novas/em andamento, segue página do Facebook: https://www.facebook.com/Fanfics-Kah-Fly-121365969253972
Disclaimer: Essa história é protegida pela Lei de Direitos Autorais e o Marco Civil da Internet. Postar em outro lugar sem a minha permissão é crime.
Não gosto de falar essas coisas, mas como já tive problemas antes, acho bom deixar avisado. Nem tudo que tá na internet é do mundo, minha gente. Quer postar em outro site? Fala comigo! Eu não mordo! Hahaha a gente vê de me dar o crédito e linkar para o original aqui no FFObs! Só me mandar um e-mail ou pedir aí nos comentários!
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