Prólogo
Aqueles olhos null e profundos me fitavam com tanto interesse e tanta curiosidade que senti minhas bochechas esquentarem, contrastando com o frio que passava pelo meu corpo.
Eu estava sonhando? Quer dizer, era impossível que ele estivesse ali, bem na minha frente, com os malditos olhos null que mexiam com a minha cabeça.
Andei em sua direção, sem pensar muito.
Ele estava apoiado no grande carvalho, como se estivesse esperando por mim desde o princípio.
De alguma forma, eu sentia que também estava esperando por ele.
Parte 1
A Princesa null null estava correndo por seu quarto — desesperadamente e um pouco atrapalhada —, atrás do batom que parecia estar fugindo dela. Xingou alto ao bater o dedo no móvel, ignorando o fato de sua mãe, a Rainha, tê-la proibido de falar coisas desse tipo. Ela não se importava. Só precisava achar o batom.
Sentou-se na cama, suspirando. Por que tudo dava errado quando estava com pressa?
— null?
A porta de seu quarto abriu e null, sua melhor amiga desde que se conhecia por gente, entrou. null levantou os olhos para a amiga, que retirava a máscara do rosto.
— null! — null se sentou ao seu lado — Você precisa se apressar. Todos estão esperando você descer.
— Eu não gosto disso. — null fez careta — Não consigo nem achar meu batom, esse vestido está me pinicando e essas cintas não me deixam respirar.
— Pensa assim: quanto mais rápido você descer e encarar, mais rápido isso acaba.
— Faz sentido.
— É claro que faz! — null sorriu — Sou eu quem está dizendo!
null riu enquanto null fazia-a levantar ir colocar seus sapatos de salto, totalmente desconfortáveis. Ela preferia sentir o chão sob seus pés, mas não podia.
Não podia fazer o que tinha vontade em seu próprio aniversário.
null encontrou o batom vermelho de null dentro de uma das gavetas de sua cômoda, onde as cintas e roupas íntimas ficavam. null devia ter deixado cair sem perceber. null revirou os olhos, sorrindo de lado.
— null, achei seu batom!
— Ah, null! — null levantou-se da cama, tropeçando nos próprios pés — Eu já disse que te amo?
— Milhares de vezes. Agora vem aqui, vou passar o batom para você.
— Nem pensar! — null fez careta — Tenho 21 anos agora, posso passar batom sozinha.
— Amiga, faz menos de 24h que você tem 21 anos. Não se sinta tão adulta.
— Você ainda não fez 21, sou mais adulta que você.
— Mas eu sou mais alta.
As duas olharam uma para a outra e riram da discussão “adulta” que estavam tendo. null agradeceu null por ter encontrado o batom e passou-o cuidadosamente.
Era a noite do Baile da Princesa null. A noite que a Princesa se tornaria adulta o bastante para começar a tomar atitudes de Princesa e futura Rainha, já que, um dia, o Reino seria seu. null não tinha nenhum irmão ou irmã, nem nenhum outro parente do sexo masculino que pudesse assumir o trono, então o Rei fazia questão de que sua filha assumisse tudo que tinha quando ele morresse. null ficava orgulhosa por saber que seu pai confiava nela a esse ponto, mas temia fazer ago errado. Mesmo assim, nunca pensou que estaria tão perto de assumir o reino. Estava fazendo 21 anos e, finalmente, começaria a treinar para ser Rainha. Seus pais podiam dizer o que quisessem — coisas como “esse baile é para você” e “o único objetivo disso é te prestigiar” — mas null sabia que era onde ela deveria escolher um pretendente. Alguém que fosse bom o bastante para ser um Rei.
Ela estava muito assustada com a possibilidade de não encontrar ninguém ou encontrar alguém errado.
O Rei não queria que null escolhesse algum rapaz por sua aparência, então exigiu que todos usassem máscaras. A única exceção era a própria Princesa, já que aquela era sua festa e todos deveriam prestigiá-la.
null colocou sua máscara e acompanhou null até o salão principal do Palácio, onde a festa estava acontecendo, uma música calma preenchendo o ambiente, tornando tudo mais agradável. As pessoas riam e pareciam se divertir e apreciar o banquete farto que o Rei null estava servindo aos convidados.
Todos, menos a própria null.
null não tinha nada contra os pais ou suas vontades; ela tinha algo contra a sociedade que administraria em alguns anos. Estava cansada de ser atingida por sorrisos falsos, vindos de pessoas falsas, que só estavam interessadas em status sociais, terras e riquezas. null achava tudo uma tremenda chatice.
— Boa sorte, Princesa. — null murmurou ao se afastar de null, que deveria descer as escadas principais do salão para sua “grande entrada”.
— Obrigada. Vou precisar. — null sussurrou, apesar de null já estar longe, descendo outra escada, no canto do salão.
null ficou parada no pé da escada, onde todos podiam vê-la. O Rei e a Rainha estavam na outra ponta, esperando que outra música começasse a tocar para que null pudesse descer. As escadas douradas estavam cobertas por um manto vermelho de veludo, feito com a linha mais cara do Reino, tudo só para null.
Ela não estava se importando.
A música parou e todos olharam para escada. null não conseguiu reconhecer ninguém devido às máscaras que todos usavam, mas, confirmando suas suspeitas, o número de rapazes era bem maior do que o número de moças. A Princesa quis revirar os olhos, mas alguém poderia acabar vendo, então se conteve. Abriu o sorriso falso mais convincente que tinha e, quando a música dos órgãos, flautas e violinos começou a soar suavemente pelo salão, null desceu as escadas, erguendo a ponta de seu vestido dourado, tentando não olhar para o chão. Estava com medo de cair, não porque estava no meio de quase 1000 pessoas que esperavam tudo dela, mas sim porque queria andar a cavalo no dia seguinte, e não conseguiria montar se estivesse com a perna machucada.
Não é preciso dizer o quanto ficou aliviada ao descer o último degrau.
O Rei sorriu para null e pegou sua mão quando a filha sorriu para ele. Abraçou a garota e sussurrou desejos de felicidade em seu ouvido, depois foi a vez da Rainha. Todos esperavam em silêncio, apreciando o que acontecia na ponta da escada. null se sentia uma aberração em um show particular. É claro que o sorriso ainda estava em seu rosto.
— Hoje, minha filha, null null, se torna uma Princesa. — o Rei null começou seu discurso, falando alto para que todos pudessem ouvir. O som ressoava pelo salão, já que sua voz era forte e imponente — null completou 21 anos e em poucos anos, será a nova Rainha do Reino. — olhou para null, que estava bem ao seu lado, mas continuou a gritar — Filha, hoje você se tornou uma mulher tão bela quanto sua mãe e uma pessoa tão sábia quanto eu. Espero que, um dia, possa governar o Reino como eu e sua mãe fazemos.
null sorriu para seu pai, agradecendo suas palavras e então se virou para a multidão, que a encarava, esperando que null cometesse algum deslize, uma falha, ou qualquer coisa que a constrangesse no meio de tanta gente. Seus olhos se estreitaram e limpou a garganta discretamente, se preparando para falar o que sentia que era certo.
— Eu, null null, prometo ser a melhor Princesa que o Reino já teve e, no futuro, serei a melhor Rainha que já pisou por aqui. Prometo tirar as pessoas das ruas e fazer nosso Reino crescer o bastante para conquistar os países ao Sul. Prometo não deixar que as atividades econômicas do nosso amado Reino morram. Mas, mais do que isso, prometo que terão orgulho em chamar null null de Rainha.
A multidão soltou exclamações agitadas e um coro de palmas foi ouvido. null surpreendeu a todos, inclusive a seu pai, que — honestamente — não esperava tudo isso de sua filha. As palavras apareceram para null, como se ela tivesse nascido só para dizer aquilo.
Mas era fácil. Todos sabiam mentir um pouco.
— Agora, eu, Rainha null, declaro o início oficial do Baile da Princesa null. — a Rainha anunciou.
Na mesma hora, a música voltou a tocar e as pessoas começaram a se dispersar. Uns comiam, outros dançavam, outros cochichavam — a final, falar dos outros e fazer fofoca era a atividade mais praticada no Reino — e null só queria encontrar null.
Aquela festa era a mais comentada do ano, para não dizer do século. Todos os presentes ali se sentiam prestigiados e não haviam penetras. As pessoas mais importantes da região estavam ali e até pessoas de outros Reinos. Todos eram bem vindos.
Ou quase todos.
— null, null! — null ouviu null chamando-a. Agradeceu mentalmente por ter achado a amiga. Despediu-se educadamente de Blair, a garota com que conversava e foi atrás da voz de null, encontrando-a perto da mesa do banquete. null estava um pouco pálida.
— Que bom que te achei, null. O que aconteceu?
— Você já ouviu os boatos? Estão dizendo que há um null aqui.
— Um null? — null estreitou os olhos — Um null, tipo um membro do Reino do Rei null?
— Isso mesmo, null!
— Isso é impossível. Não há penetras na festa. Os seguranças já mais deixariam um null entrar aqui. Isso sem contar que os null não teriam coragem de pisar em nossas terras.
— Não de acordo com o resto do salão. — null balançou a cabeça — Enfim, o que eu ouvi foi que ele quis desafiar o pai e acabou parando aqui. Você sabe que o Baile de hoje não era nenhum segredo, já que seu pai gritou isso aos quatro ventos. Todos sabiam sobre hoje. Qualquer um com máscara e vestido a caráter pode entrar, null.
— Não. — null balançou a cabeça — Isso é impossível, null. Impossível! Os convidados têm nome na lista!
— Ele pode ter usado um nome falso. Não há como provar.
null suspirou, olhando em sua volta. Centenas de pessoas mascaradas cercavam-na e ela era a única que estava com o rosto à mostra. O resto das pessoas usava máscaras dos mais variados tipos e jeitos, deixando-a confusa.
— Quem viu o null? — null perguntou para null, sentindo-se derrotada.
— Esse é o problema. Ninguém viu. Ninguém sabe como ele está vestido nem que máscara ele está usando.
— E como têm tanta certeza de que ele está aqui? As pessoas falam mais besteira do que meus ouvidos aguentam ouvir, por Deus!
— null, me escuta. Há um null aqui. Tome cuidado.
— O que um null pode fazer? — null revirou os olhos — O máximo é tentar falar comigo e assim que eu perceber quem ele é, chamarei a segurança e ele vai apodrecer nos calabouços. Não há o que temer, null. — null sorriu para a amiga — Aproveita a festa, ok? Não se preocupe com nada.
null assentiu e as duas mudaram de assunto. null não admitiria, mas estava sim com certo medo. Ninguém sabia do que os null eram capazes.
O Reino era dividido em três partes. A parte pertencente ao Rei null era a parte do Norte, onde era também chamado de o Reino dos Sábios, graças a inteligência dos Reis que já governaram aquela parte do Reino. A segunda parte, localizada no centro, era pertencente ao Rei null, parente do Rei null, onde o Reino era conhecido como o mais belo de todos, por causa da beleza excessiva dos habitantes daquela parte do Reino e dos Reis e Rainhas que dominavam o lugar. O Rei null e o Rei null eram muito amigos, então tinham planos para juntar os dois Reinos em um futuro próximo, provavelmente através de um laço de matrimônio entre null e null, o Príncipe null — mesmo que nenhum dos dois não tivesse a menor ideia de que poderiam acabar se casando em um futuro bem próximo. E, por fim, o Reino null. Se pudessem defini-lo em algo, definiriam como o Reino da crueldade e da frieza. As pessoas que moravam lá não sofriam, não eram cruéis, não eram frias. Mas os atos dos Reis que haviam governado aquela parte do Reino eram. Todos, sem exceção, haviam feito algo ruim. O último ato de crueldade fora matar a Rainha null por causa de uma briga sem motivos com o Rei null. Isso fora há 500 anos, com os antepassados de null. Com raiva, o Reino null revidou e uma pequena guerra começou ali, fazendo com que as pessoas do Reino null sofressem sem nem mesmo terem envolvimento em tudo. Por causa disso, o Rei null interrompeu a guerra e proibiu qualquer envolvimento entre null e null. Caso houvesse qualquer briga, os envolvidos seriam condenados a morte em praça pública, no centro do Reino, para que todos pudessem ver a desgraça que brigas e guerras causavam. O Tratado de Paz foi assinado, garantindo que, para o bem comum, null e null não poderiam estar no mesmo lugar. Desde então, tudo parecia estar bem.
Até null ouvir os boatos de que tinha um null em sua festa. Um null no meio dos null. Algo que não acontecia há 500 anos.
Sua vontade era de ir correndo contar para seus pais e pedir que os guardas prendessem qualquer suspeito, até que tivessem certeza de que o null estava ou não na festa. Afinal, poderiam ser só boatos. Internamente, null rezava para que fossem só fofoca de invejosos que queriam ver a destruição de seu baile. Mesmo assim, estava difícil continuar no salão.
— Princesa null. — ouviu uma voz aveludada chamar por ela, então virou-se, assim como null. Enquanto uma tentava decifrar quem era o homem, null já estava sorrindo.
— Olá, null. Ainda somos amigos e você pode me chamar de null, como sempre fez.
— Não sei se me sinto bem fazendo isso. Hoje é um dia importante, não é?
— Eu não acho que seja. — null bufou. Sempre podia contar com null para revelar seus sentimentos — Isso aqui está muito chato.
— Aposto que as coisas vão esquentar se descobrirem quem é o null escondido.
— Você também já está sabendo? — null se interessou. Ela adorava boas histórias.
— Claro que já! Todos estão. Menos os seus pais, null. Não precisa ficar pálida.
— Desculpa. — null suspirou — Mas eu estou com um pouco de medo. Se eles descobrirem...
— Vai ser uma desgraça. — null completou.
null assentiu.
— Haja o que houver, eles não podem ficar sabendo. Vocês precisam me ajudar.
Os dois assentiram, ouvindo atentamente o que null dizia.
— Eu vou falar com os convidados. Distraiam meus pais o máximo que puderem, pelo menos até a Última Dança começar.
— Deixa comigo, null. Ninguém vai saber que tem um null aqui. Esse é o melhor baile do ano, amiga. — null se afastou com uma piscadinha. null sorriu.
— Ela é ótima, não é?
— Você também é, null. — null murmurou, sorrindo de lado.
null corou um pouco.
— Por que está me olhando assim?
— Acho incrível o jeito que você já consegue comandar as coisas antes mesmo de começar seu treinamento para Rainha. Acho que você nasceu com o dom.
— Obrigada. — null sorriu verdadeiramente pela primeira vez na noite — Estou me sentindo bem melhor agora. Vai me ajudar?
— Claro. Não posso recusar uma ordem da Rainha.
null corou ainda mais.
— Ah, e antes que eu me esqueça... — null se aproximou de null ainda mais e depositou um beijo carinhoso e demorado no canto de seus lábios. A máscara de null não cobria seus lábios convidativos, então não foi difícil para ele beijar null. O ato era quase sensual de tão calmo que era feito — Feliz aniversário.
null sussurrou aquilo em seu ouvido e se afastou sem dizer mais uma única palavra. null suspirou. null causava-lhe arrepios por todo corpo, mas ela não acreditava que amava-o. Para null, o amor era algo maior, que deveria ser sentido com mais intensidade e sem pudor algum. Só o fato de null ficar constrangida com um simples beijo de null era o suficiente para convencê-la de que ele não era o homem certo para ela. Mesmo assim, olhar não tirava pedaço e não machucava ninguém, então observou o desenho perfeito das costas de null enquanto ele se afastava, descendo um pouco os olhos para sua bunda, onde perdeu alguns segundos. Depois, pegou uma bebida da mesa de banquete e repreendeu a si mesma por ter ficado olhando demais para null.
A festa foi acontecendo sem mais imprevistos. null dançara com vários homens diferentes, sem nem saber o nome de todos. Havia conversado com o Rei null, seu “tio” de consideração, que lhe desejara um feliz aniversário, acreditando na competência da garota para ser uma grande Rainha em alguns anos. Aquele não foi o único desejo de feliz aniversário que ouviu, então agradeceu a todos do mesmo modo polido e contido. Aceitou pedidos de dança, recusou outros. Até mesmo null pediu para dançar com ela, que, obviamente, não recusou. Nenhuma mulher, em sã consciência, recusaria um pedido de um null.
A música fez uma grande pausa e o Rei apareceu no topo da escada. Pediu atenção de todos e anunciou o início da Última Dança. A Última Dança era uma dança que só os jovens podiam dançar. Os mais velhos ficavam em volta, observando a beleza que era vê-los moverem-se ao som de uma música calma e forte, tocada principalmente por um violino. A Última Dança servia para marcar o fim das festas — em outras palavras, era um aviso para as pessoas irem embora. Como expulsar alguém não era nada educado, a Última Dança fora inventada. Era conhecida por não ter envolvimento físico, ou seja, os casais não se tocavam durante o ato, mas diziam que o envolvimento emocional entre o casal era bem intenso. null não acreditava nisso, já que havia dançado aquilo centenas de vezes e não sentia absolutamente nada.
Uma fileira de mulheres foi feita e, paralelamente, uma de homens. Estavam de costas um para o outro, o que tornava tudo mais intenso. Quem dançava nunca sabia quem seria seu par. Isso incluía null, mas ela sabia que null acabaria dançando com ela, já que ele sempre era seu par na Última Dança.
Quando a música começou, null foi surpreendida.
Um par de olhos null encaram null, deixando-a completamente sem ação. O rosto do homem estava completamente escondido, mas teve certeza de que não era null. Afinal null não tinha olhos null e seus cabelos não eram tão null. null também se lembrava da máscara que null usava; era uma mascara preta, que cobria ¼ do rosto, deixando os lábios a mostra e uma parte da bochecha esquerda. O rapaz que estava de fronte para ela usava uma máscara branca que cobria todo seu rosto, deixando somente os olhos null a mostra. null teve medo de ver seu rosto e descobrir que era tão lindo quanto seus olhos. No mesmo instante que o viu, teve certeza de que ele era parte do Reino null. Talvez algum parente distante de null, mesmo que não fosse parecido com ele. Aquela beleza era só dos null, não havia ninguém mais perfeito. Se aquele homem não fosse um null, tudo que null conhecia deveria ser posto a prova.
Os homens cumprimentaram as moças e vice-versa. A dança começou e o que null mais queria no mundo era tocar aquele homem. Queria tirar a máscara e perguntar por seu nome e descobrir quem ele era. Não se importava se seus pais queriam que se cassasse com null; ela se casaria com aquele homem.
null não conseguiu tirar os olhos das íris null que estavam em sua frente. Eram estranhamente familiares, mas completamente diferentes, de algum jeito. Era como se conhecesse o homem por toda sua vida e estivesse só esperando sua chegada, pacientemente.
Agora que null o tinha, não deixaria que escapasse.
A dança acabou rápido demais. Logo, null se viu sendo bombardeada por despedidas e palavras inúteis que não faziam sentido em sua cabeça. Precisava encontrar aquele homem.
null foi saindo do meio da multidão e seguiu o homem para o jardim do Palácio. Ele não usara a saída convencional, o que null estranhou na mesma hora. Ele não...
Os sapatos de salto estavam incomodando seus pés, então tirou-os e carregou-os em uma das mãos, enquanto o outro segurava o vestido volumoso que atrapalhava sua caminhada atrás do estranho conhecido.
— Espera! — null gritou. O homem dos olhos null parou por um instante, mas não se virou. null correu até ele, alcançando-o.
O homem se virou quando null tocou sua mão. O coração da Princesa começou a bater mais rápido quando olhou em seus olhos. Havia uma mistura de sentimentos ali que ela não conseguiu decifrar. O predominante era o medo. Ele tinha medo dela? null não era tão perigosa assim, era? Mas é claro que não! Ninguém nunca tinha se ferido ao seu lado. Os únicos que se feriam em seu Reino eram os...
Então era isso.
null começou a se quebrar em milhões de pedaços.
— É você, não é? — ela murmurou, olhando em seus olhos — Você é o null que todos falavam.
Ele não disse nada, apenas engoliu em seco. null juntou uma grande quantidade de ar em seus pulmões e ergueu a mão para tocar o rosto do homem. Ele podia não ser um null. Ela precisava saber. null tinha que saber quem ele era.
Com cuidado, levantou sua máscara, revelando aos poucos as partes de seu rosto. O queixo era forte e másculo, mostrando tudo que ela não deveria ver e gostar; a boca bem desenhada lhe tirou o fôlego e, pela primeira vez, sentiu-se verdadeiramente tentada a beijar um homem. Seu coração bateu mais forte ao perceber que ele não estava interrompendo-a. Concentrou-se em tirar a máscara do homem. O nariz foi revelado e, logo em seguida, seus olhos, que estavam fechados. Sua boca estava entreaberta e ele respirava um pouco forte demais. null teve medo, assim como sabia que ele sentia. A máscara caiu das mãos de null, fazendo um barulho surdo no chão.
null quis chorar.
Ele não era um simples null. Ele era o filho do Rei null, o Príncipe.
Era pior do que imaginava.
null abriu os olhos ao ouvir a exclamação de null.
— Vai me denunciar? — ele perguntou. Sua voz era rouca e null teve certeza de que era o melhor som que já havia ouvido.
— Eu devo.
— Eu sei. Posso tentar correr?
null balançou a cabeça em negatividade. Ela sabia o que deveria fazer. Deveria gritar e tentar segurar null até que algum guarda aparecesse e o levasse preso. Ele seria morto em praça pública, já que havia interrompido uma cerimônia dos null.
Morto.
null não suportava a ideia de ver null morto.
null se virou para correr, mas foi impedido por um grito de null.
— Não! — ela correu atrás dele, segurando seu pulso com toda força que tinha — Por favor, não vá.
— Você não quer que eu vá? — null perguntou para null, um pouco desconfiado. Estava perto da passagem que tinha por baixo dos muros, onde um buraco cavado de qualquer jeito — provavelmente por um animal — ajudava-o a escapar antes que qualquer guarda o prendesse. Ele tinha tudo pronto em sua cabeça.
— Não. Não vou chamar ninguém. Não posso estragar essa noite.
— Desculpe se eu atrapalhei alguma coisa.
Ela preferiu ignorar aquela sentença à responder que, de algum jeito, a presença dele só tinha melhorado tudo.
— Por que está aqui?
null não respondeu. Ele não sabia dizer.
— Você é o filho do Rei, não é? O Príncipe null null.
— null. — null corrigiu-a. Odiava ser chamado pelo nome que também pertencia ao seu pai.
— Não vai dizer o porquê de estar aqui?
— Não sei por que vim até aqui.
— Não? — null retrucou, arqueando uma sobrancelha.
— O que você quer comigo? Não vai chamar os guardas, não quer que eu vá embora. O que você quer, Princesa? — null perguntou de forma rude, ficando com os nervos à flor da pele enquanto o tempo passava. Ele precisava correr se quisesse voltar a tempo, mas não queria se afastar da Princesa com quem tinha dançado.
— Honestamente? — null perguntou, retoricamente. O que ela queria? Com certeza não queria se envolver com o filho do Rei null. null deveria ser tão ruim quanto seu pai e como todo os null. Não havia mais nada para acreditar, já que isso é tudo que sempre ensinaram para ela. Não conhecia outro jeito ou outra regra. Simplesmente não existia.
null se aproximou de null. Ela podia sentir seu cheiro e a respiração levemente alterada dele. Os dois estavam correndo perigo ali, tão expostos no jardim. Qualquer um poderia aparecer e ver null, que acabaria morto. Percebeu que ele estava tão próximo dela que era difícil raciocinar o que queria. Ele havia perguntado isso, não havia?
— Sim. Honestamente, o que você quer? — null perguntou, segurando o rosto da Princesa em suas mãos.
Naquele momento, tudo que null queria era que null a beijasse. Claro que não diria aquilo em voz alta. Não, seria humilhante demais.
null só havia beijado algumas vezes e sempre o mesmo rapaz. null. Ele fora o dono do primeiro beijo de null, que morria de vergonha disso. Mesmo assim, ela era curiosa e null não era bobo. Nunca havia sentido tanta necessidade de ter lábios colados nos seus.
— Diga, Princesa.
— Você... — ela começou, mas perdeu o ar e acabou engolindo o resto de sua sentença. Seus olhos não haviam desviado dos lábios de null e ela se deu conta disso, sentindo o rosto esquentar ainda mais.
— Sim? — null incentivou. Ele podia imaginar o que ela pediria e ele só podia esperar ansiosamente para que pedisse.
— Você me beijaria? — ela soltou de uma vez, prendendo a respiração e finalmente olhando para os olhos null dele, esperando uma resposta.
— Sinto que morreria se não beijasse. — null respondeu antes de acabar com a pouca distância entre eles.
null teria corado em uma situação normal. Não era correto uma moça de família dizer aquilo. Mas, mesmo assim, era o que ela mais queria e o grande motivo de não ter deixado-o ir. Precisava sentir o gosto de seus lábios. E, quando o contato finalmente aconteceu, null sentiu que poderia morrer.
A boca de null tocou suavemente a de null. Jamais null fora tão calmo como null. Ele segurava o rosto da Princesa, imobilizando-a. O rosto dela tinha o encaixe perfeito na mão dele. Quando a língua de null tocou o lábio superior de null, ela sentiu uma corrente elétrica passar por seu corpo. Sua boca não se abriu, mas null conseguiu introduzir a língua na boca da garota. E, quando as de ambos se encontraram, gemeram de satisfação. Era como se estivessem esperando por aquele toque durante uma vida toda. A boca de null se encaixava tão perfeitamente com a de null que era como se fossem feitas uma para a outra. null tinha pouquíssima experiência com beijos, então deixou null conduzir tudo. Era como se estivessem dançando no salão outra vez. Nada nem ninguém podia atrapalhar os dois ou fazê-los parar até que sentissem que era certo. null levou a mão para a de null, onde apertou-a um pouco. O beijo ganhou uma certa intensidade quando null mudou o ângulo, deixando o rosto de null sob a luz da lua, dando-lhe uma perfeição única. Ele queria poder ficar daquele jeito para sempre.
Mas eles eram proibidos.
Quando se deram conta disso, soltaram-se como se tivessem levado um choque. A perda do contato doeu em ambos, mas não iriam admitir aquilo.
— Eu... — null tentou falar algo, mas estava ofegante demais e simplesmente não sabia o que dizer.
— Eu também. — null murmurou, olhando para o chão, referindo-se a falta de palavras.
— O que isso significa?
null não conseguiu dizer nada, apenas apreciar o rosto da mulher em sua frente.
— null? null!
— É a minha mãe. Vá embora, null. Agora!
null assentiu, mas não se afastou completamente. Deu um último beijo em null, dessa vez bem mais breve e mais leve. Então abraçou-a, envolvendo todo seu corpo em seus braços, aproximando a boca de seu ouvido.
— Feliz aniversário, Princesa. — sussurrou.
E então, null observou quando null se afastou correndo.
Três longas noites haviam se passado desde o grande baile. Aquela fora a última vez que null encontrara null.
null estava em seu quarto, tentando dormir. Olhos null não saiam de sua cabeça, assim como aquele beijo. Fora o melhor beijo de sua vida e foi quando começou a entender que havia algo mais do que as verdades que todos costumavam a colocar em sua cabeça. Talvez, houvesse algo mais do que aquilo que conheciam.
A Princesa deitara-se uma hora atrás e não conseguia dormir. O sono parecia não querer tomar conta de seu corpo e ela já estava achando aquilo preocupante. Nas últimas três noites, estava ansiando pelo momento que fecharia os olhos e os sonhos lhe dominariam, já que era o único modo que encontrara para receber a visita de null. Mas essa noite era diferente.
Levantou-se e caminhou em direção à sua enorme sacada, onde se apoiou no parapeito. Olhou para o céu bem iluminado e desejou que null estivesse olhando para a mesma lua que ela olhava agora. Se ela pudesse vê-lo só mais uma vez...
Foi aí que a grande dúvida lhe atingiu.
O que faria se visse null null mais uma vez?
Mil e uma ideias passaram por sua cabeça, mas apenas uma ficou martelando: a ideia de fugir por um tempo.
null não conhecia nada que ultrapassasse os portões do castelo. Já fora para as ruas algumas vezes, mas sempre em uma carruagem, cercada por guardas reais. Jamais sozinha. Ela queria saber como a rua era de noite, se a luz da lua e das estrelas alcançava os pontos escuros da cidade e conhecer tudo aquilo que via só pela sacada de seu quarto.
Às vezes, invejava null. Sua melhor amiga era uma plebéia, filha da costureira de null. null já tinha viajado para todos os cantos e inclusive já estivera no Reino null. Como não tinha o sobrenome null, podia entrar livremente nos Três Reinos. null era anônima.
E, sentindo o coração pesado, null desejou ser anônima também.
— Princesa!
Um pouco assustada com aquela voz que apareceu do nada, null olhou para os lados, o coração batendo aceleradamente. Então, olhou para baixo.
Era como um sonho se tornando realidade.
— null!
— Olá, Princesa. Sentiu minha falta?
— Mais do que posso expressar em palavras.
null corou.
— O que veio fazer aqui? — ela perguntou, quando, na verdade, queria perguntar “Por que não veio antes?”.
— Eu queria te ver mais uma vez. Posso subir?
Aquela era a hora. null não era do tipo que fazia coisas erradas o tempo todo, mas do tipo que tinha ideias malignas para acabar com a vida daqueles que insistiam em interromper o curso feliz da sua. Deixar null subir era, com certeza, algo errado de se fazer. Ela tinha plena consciência disso, mas, mesmo assim, queria que ele fosse até seu quarto. Queria que null tocasse-a mais uma vez e fizesse milhares de correntes elétricas percorrerem suas veias.
— Como pretende subir aqui, null? — null tentou. Aquela era a última chance de tentar fazer a coisa certa. Se null encontrasse uma boa resposta para isso, null deixaria que subisse.
— Posso subir pela trepadeira.
— Você vai acabar se machucando.
— Eu não me importo.
E, antes que null pudesse responder, null começou a escalar a trepadeira que cobria os muros do castelo. As folhas estavam bem aparadas, já que alguns empregados eram bem recompensados para fazerem isso sempre que necessário. Os espinhos não existiam mais, pois haviam sido aparados no dia do baile e ainda não tinham tido tempo de crescer novamente, o que deixou null mais aliviada. Não queria ver null todo machucado.
Pouco tempo depois, ele chegou à sacada. null ajudou-o a pular para dentro.
— E agora? — null perguntou.
— Agora me conte como é ter 21 anos.
null riu.
— Você já não tem mais de 21?
— Tenho, mas aposto que ser um homem e ter 21 é diferente de ser uma mulher com 21.
— Talvez seja um pouco diferente.
Os dois riram. null percebeu que a risada de null era um dos melhores sons que poderia ter ouvido durante toda sua vida.
Eles conversaram durante vários minutos. null não viu a hora passar, assim como null. Ambos estavam perdidos nos olhos um do outro. O dia começou a dar sinais de vida quando o sol começou a nascer.
— Você vai ter que voltar para o Reino dos null ainda hoje? — null perguntou, quando os primeiros raios de sol começaram a iluminar a sacada de null.
— Não. Estou na casa de um amigo no Reino dos null.
— Pensei que os null não tivessem amigos por aqui.
— E não têm. Acho que sou o único que tem amigos fora do Reino.
— Isso é estranho. — null franziu o cenho — Quer dizer, você é o filho do Rei. Deveria ser o que mais apóia o pai.
— Não concordo com tudo que meu pai faz. Na verdade, não concordo com nada que ele faz.
— Você e seu pai não se dão muito bem, não é?
— Sim. Ele espera que eu governe como ele um dia, mas eu não quero. Quero conseguir um Tratado de Paz com o seu Reino. Um Tratado de verdade e não um que apenas garanta que null e null não se matem toda vez que se encontrarem.
— Sério? Nunca pensei que um null pudesse querer paz.
— Você está muito acostumada com o estereótipo de null ruim. Nem todos que vivem no meu Reino são ruins, Princesa.
— Desculpe. — null corou — É só que... Bom, eu não conheço muita coisa.
— Eu sei que não. Posso ver pelos seus olhos. São tão inocentes quanto os de uma criança.
null olhou para ele, incrédula.
— Isso não é verdade! — reclamou, fazendo null rir e chegar mais perto.
— É adorável.
null estava próximo de null. Próximo demais. null podia sentir sua respiração regulada batendo em seu rosto e o cheiro dele invadia suas narinas. Ela gostava daquilo. null se aproximou ainda mais e beijou os lábios de null. Ela era tão inocente! null estava apaixonado pela inocência de null. Tudo nela parecia atraí-lo. Às vezes tinha até medo de acabar destruindo a inocência que a mulher exalava.
Quebrou o beijo quando sentiu o calor do sol atingi-lo. Se não fosse embora naquele momento, ele não conseguiria sair do Reino dos null a tempo.
— Preciso ir. — ele murmurou com a voz um pouco rouca.
— Não. — null resmungou. Seus olhos pareciam desesperados para null — Me leve para algum lugar que possamos ficar sozinhos, null. Quando a noite cair, venha e me leve. Vou estar te esperando e tudo que teremos que fazer é correr. Você só precisa dizer “sim”.
— Sempre direi “sim” para você, null.
E, depois de dar um singelo beijo nos lábios da Princesa, null partiu.
Parte 2
>null se deitou assim que null foi embora e, quando finalmente conseguiu fechar os olhos, foi acordada por suas criadas. Estava com olheiras profundas graças à noite que passara sem dormir. Quando uma das criadas perguntou-lhe o porquê, null desconversou e deu respostas vagas.
O dia parecia estar se arrastando. null queria que a noite chegasse logo para que pudesse ir encontrar null, mas isso parecia tão distante. Nem mesmo suas atividades como futura Rainha eram interessantes o suficiente para mantê-la concentrada.
Quando a noite finalmente chegou, null fingiu dormir quando as criadas fecharam a porta de seu quarto. Assim que o barulho de passos no corredor cessou, deu um pulo e levantou da cama. Tirou suas roupas de dormir e vestiu algo mais apresentável. Ficou na sacada, esperando null dar algum sinal de vida.
null já estava quase desistindo quando ouviu seu nome ser sussurrado. Seu coração disparou quando viu null.
— null! — null murmurou — Você consegue descer?
— Acho que sim.
E, com cuidado, null se pendurou na trepadeira. Apesar do medo, ela estava adorando aquela sensação de pânico que estava dominando seu corpo. Isso mais o fato de que estava indo se encontrar com null no jardim de sua casa.
— Está tudo bem? — null perguntou, olhando para null que parecia que iria cair daquelas folhas a qualquer momento.
— Sim. — ela murmurou, deixando um sorriso escapar dos lábios, seguido por uma risada — Droga, sim!
null acabou rindo também. null estava tão animada por fazer algo errado! null, que já estava acostumado a desobedecer seus pais, achava aquilo tão normal!
A Princesa descia com cuidado, olhando para os lados e, principalmente, para baixo. null agradeceu aos céus por ela não ter medo de altura. Poucos minutos depois, null ficou a um metro do chão.
— null, vou pular. — ela anunciou.
— Tudo bem, eu te pego.
E, confiando plenamente em null, null se jogou.
null pegou a Princesa no colo, tombando um pouco para trás. Os dois acabaram caindo na grama do jardim, quase caindo em um canteiro de rosas. Riram.
— Meu Deus, não acredito que estou fazendo isso! — null comentou enquanto null a ajudava a se levantar.
— Vamos correr, null! Estamos mortos se alguém souber disso.
null riu e seguiu null.
Os dois passaram pelo buraco que null já conhecia tão bem. null não estava usando um dos vestidos pomposos e cheios de brilho e pedras como sempre, dessa vez era um simples vestido branco, sem detalhes e costuras aparentes, que logo ficou sujo, mas ela não se importou. Estava se divertindo demais para isso.
Ela ainda sorria quando null se embrenhou no meio das árvores, voltando segundos depois com um lindo cavalo negro.
— Princesa, gostaria de te apresentar Lightness, um dos meus melhores amigos.
null se aproximou, esticando a mão para acariciar o focinho do animal, que estava extremamente calmo. Por causa de sua pelagem escura, era praticamente vê-lo na escuridão da noite.
— Ele é lindo. — null comentou, com a mão ainda acariciando o cavalo forte.
Lightness estava sem cela, então null ajudou null a montar, com as pernas de lado por causa do vestido. Então, subiu no cavalo também, começando a cavalgar.
— Para onde estamos indo? — perguntou null, quando eles atravessaram os limites da cidade e começaram a entrar na floresta mais densa.
— Você vai ver. — null respondeu vagamente.
Eles cavalgaram por mais alguns minutos e null decidiu que, na próxima vez, usaria calças para poder cavalgar direito.
Próxima vez.
Era loucura pensar que teria uma próxima vez?
Aos poucos, o espaço entre as árvores ficava cada vez maior, na medida em que a floresta se abria. Logo, uma enorme clareira apareceu na frente deles.
— Que lugar é esse? — null perguntou, mesmerizada com o lago bem no centro da clareira.
— É um desvio na estrada que une os Três Reinos. Se você seguir a trilha à esquerda, vai encontrar a estrada que vai direito para o Reino null. — null explicou, acariciando Lightness, agradecendo pela corrida.
Ele seguiu a mulher que corria até o lago. Não era grande o suficiente para ter peixes nem muito fundo. Porém, algumas flores coloridas e brilhantes estavam decorando pontos específicos ao seu redor, tornando-o ainda mais lindo.
— Esse lago só está por aqui nessa época do ano, depois das chuvas de verão. Logo, ele seca e só volta a aparecer no ano que vem.
null sentiu uma enorme necessidade de sentir a grama sob os pés e foi exatamente o que fez. Tirou seus sapatos delicados e os deixou no meio do caminho. A grama não era alta, então seria fácil encontrá-los depois. Abriu os dedos para sentir melhor a grama em seus pés e a sensação de liberdade tomou conta de seu corpo. Não conseguiu evitar erguer os braços para o alto, deixando que o vento da madrugada dominasse o ar ao seu redor, fazendo seu semblante reluzir com a luz da lua.
null estava totalmente hipnotizado. Aquela era a mulher mais linda do mundo e estava bem na sua frente, com um sorriso maravilhoso.
null abriu os olhos para observar ao redor. Perto do lago, encontrou um enorme carvalho de tronco largo, onde as folhas começavam a cair por causa da chegada do outono, criando uma cama fofinha de folhas sob a copa. E, atrás do carvalho, havia as ruínas de um castelo que parecia muito antigo. Ela se virou para null.
— E ali, o que é?
null se aproximou e posicionou a mão na base da cintura da moça.
— É o antigo Castelo null. — contou, sorrindo ainda mais abertamente ao ver a expressão de surpresa no rosto da mulher — Não conhece a história?
null fez uma careta.
— Bom, mais ou menos. Estou aprendendo tudo agora, que vou ser Rainha. Podemos ir até lá?
Naturalmente, null concordou e os dois seguiram pisando na grama fofa.
— Acho que meus pais nunca esperaram que eu fosse mesmo governar. Eles devem ter tentado produzir um herdeiro homem durante os meus vinte e um anos de vida. Quando perceberam que não ia dar certo, resolveram me educar às pressas para assumir um posto para o qual eu deveria estar treinando desde que nasci. — null desabafou, de repente.
null se virou para ela, um pouco surpreso com a confissão.
— Por que diz isso, Princesa?
null sorriu, mas não havia humor nenhum.
— Bom, pense comigo: nunca uma mulher assumiu um Reino sozinha. Eu vou ser a primeira Rainha. Mesmo que eu precise me casar, ainda vou ser a Rainha null original e o homem com quem eu me casar vai ser apenas... Bom, não sei o que ele vai ser, mas sei que vai ser menos importante que eu. E acho que meus pais nunca acreditaram que eu fosse mesmo ser essa pessoa. Acho que eles ainda têm esperança de minha mãe engravidar e dar um menino de presente ao Reino. Então, meus estudos vão poder parar e eu vou virar mais uma sustentada pelo Palácio, sem importância nenhuma, só com um sobrenome que não me serve de nada.
Chocado com aquela explicação ainda mais explícita da confissão feita há segundos, null agarrou a cintura de null com mais força e a trouxe para ainda mais perto de si.
— Princesa, isso é ridículo... Não consigo imaginar um motivo para seus pais não quererem colocá-la no trono. — null revirou os olhos com o comentário, como se não acreditasse, mas null percebeu e resolveu reforçar seu ponto — Não, null, eu falo sério.
Eles pararam a caminhada quando estavam prestes a subir a escada de pedra que dava acesso ao lado inteiro do Castelo.
— Princesa, olhe para você. É uma mulher incrível. Pode não ter conhecimentos profundos de matemática, história ou geografia. Mas sei que gosta de literatura e ama aprender sobre ervas medicinais. E, pelo que já conversamos, é muito boa quando lhe deixam fazer seu trabalho. Você não é uma princesinha estúpida e mimada, só porque não sabe coisas que acha que deveria saber. Você foi negligenciada. A educação que você quer não lhe foi dada e isso faz com que você se sinta inferior, mas não consigo imaginar o motivo. Você já é bem mais do que todas as pessoas que conheci, sem a instrução que acha que deve ter. Quando, finalmente, assumir o lugar que é seu por direito e se tornar Rainha, será tão brilhante que nenhum Rei jamais poderá superá-la. E sei o que eu estou falando, porque, quando você for Rainha, eu serei Rei também.
null sorriu para ele, encantada com tudo o que o Príncipe dissera.
— Acha mesmo tudo isso?
null acariciou a bochecha de null.
— Mas é claro que eu acho. E, além de tudo isso, você é incrivelmente linda. Sua beleza aumenta cada vez que descubro algo novo sobre você. — ele confessou, dando a entender que não estava falando apenas de beleza exterior.
Ela o beijou antes que começasse a chorar.
Sorriram um para o outro e então null subiu o primeiro degrau de pedra.
Era obviamente um antigo castelo medieval, daqueles que serviam como fortaleza. O lado direito, nos fundos da construção, estava destruído pelo que parecia ter sido um bombardeio. Já o lado esquerdo, estava mais conservado. Havia duas escadas de pedra, uma de cada lado do Castelo, subindo em espiral até a entrada, onde se encontravam em uma só. Depois da entrada, mais escadas laterais existiam e levavam para as torres mais altas do Castelo — que não pareciam nada seguras devido ao desgaste do tempo.
null e null pararam na entrada coberta, onde vigas de pedra sustentavam o telhado, fazendo com que fosse um andar coberto, porém aberto o suficiente para entrar toda a luz que fosse possível.
— Me conte a história. — pediu null, se apoiando no muro baixo, olhando para o lago que refletia a lua e as estrelas. null se apoiou no quadril e entrelaçou seus dedos com os da Princesa.
— Tem uma estrada aqui perto. Essa estrada costumava a ligar os Três Reinos, sendo que quem seguisse por ela, passaria na frente de cada um dos Castelos: null, null e null. Depois da guerra entre os Reinos, os null resolveram ir mais para o norte, ficando bem longe da estrada e se escondendo atrás da cidade. É muito mais seguro.
— E como aconteceu a guerra? O que aconteceu de tão grave que foi necessário uma guerra para resolver?
— “Guerras nunca são necessárias”, era o que minha avó me dizia. Há 500 anos, quando os Três Reinos conviviam em paz, era comum acontecer bailes e festas, como o seu de aniversário. Todos os Reinos eram convidados e a festa podia durar dias. Um desses bailes aconteceu no Castelo null. Durou uma semana. A Rainha null era uma das mulheres mais lindas na festa e todos sabiam disso. Principalmente o Rei null. Eles dançaram juntos a festa toda, o que era normal, considerando que os reis e rainhas dos Três Reinos eram muito amigos. O problema foi quando o Rei null encontrou a Rainha nos braços do null.
null soltou um arquejo de surpresa.
— Não acredito!
— Ninguém acreditou. A Rainha null sempre parecera tão apaixonada por seu marido, ninguém nunca imaginou que aquilo pudesse acontecer. Então, eles brigaram dentro daquele mesmo quarto, mas nada aconteceu. A festa acabou imediatamente e cada um voltou para o seu respectivo Castelo.
null mudou de posição para poder olhar melhor para null, que não tirava os olhos dele, ouvindo a história de suas famílias com toda sua atenção.
— Poucas pessoas ficaram sabendo do ocorrido. Os reis não queriam fazer alarde antes de decidirem o que seria feito. Veja bem, Princesa, naquela época, a sociedade era bem mais cruel com as mulheres do que é hoje em dia. Você sabe qual era a pena para a mulher que traísse seu homem?
Ela não precisou pensar muito. É claro que conhecia a lei machista que fora revogada por sua avó, poucos anos atrás.
— Morte. — murmurou, com nojo da palavra.
— Exatamente. — null confirmou, apertando a mão da Princesa ao sentir sua tensão — Mas os null já tinham filhos. O mais velho já estava prestes a se tornar Rei. O Rei null não podia matar a Rainha sem que todos soubessem o que ela havia feito. E, se soubessem, ele se sentiria humilhado demais. Mas isso não o impediu de matar a Rainha mesmo assim.
Em choque, null arregalou os olhos.
— Mas dizem que foi o Rei null que a matou!
— Sim, é o que dizem. Porque foi o que o Rei null disse. Ele acusou o Reino null de ter matado sua Rainha. Quando perguntaram os motivos, ele alegou que era por causa do casamento que estava sendo arranjado entre seu filho mais novo e a Princesa null. Disse que os null estavam com raiva por ficarem de fora do acordo e resolveram se vingar. A história ficou muito boa e foi facilmente comprada. Mas o Rei null não iria ser acusado de traição e ficar quieto.
— O que ele fez?
— O Rei null estava loucamente apaixonado pela Rainha null. Quando soube de sua morte, ficou enlouquecido. Como null tinha inventado uma boa história, ele a usou como desculpa para bombardear o Reino null. E a guerra começou. Era muito fácil para os Reinos se atacarem, por causa da estrada. Então, no meio da guerra, o Castelo null foi bombardeado. O Príncipe null que estava noivo da Princesa null acabou morrendo enquanto lutava ao lado do pai, sem ter a menor ideia do que ele havia feito. Os null já haviam sofrido bastante com a guerra, já que se abstiveram dela. Não podiam escolher um lado, então resolveram não participar. Mas quando a Princesa ficou viúva antes do casamento, o Rei null interveio. E então foi criado o Tratado de Paz.
null bufou.
— Não me parece um Tratado de Paz. Parece um tratado de silêncio. Se null e null não se encontrarem, tudo estará bem. Bom, não acho certo que os Três Reinos se considerem unidos mas sejam separados assim.
— Concordo com você, Princesa.
— Por que será que nunca me contaram a história? — null indagou.
— Os únicos que realmente sabem a história são os null. Eles são imparciais nessa questão e está tudo registrado na biblioteca do Palácio.
— E como você teve acesso?
null deu um sorrisinho malicioso e as pontas de seus dedos correram pelo braço de null, fazendo com que ela ficasse arrepiada com o carinho.
— Um amigo conseguiu pegar algumas coisas para mim. Meu pai sempre me contou a história dizendo que a Rainha null morreu com alguma doença da época e o Rei acusou nossos antepassados de traição, então começou a guerra. Não acreditei no velho nem por um segundo, então fiquei obcecado em descobrir a verdade.
null balançou a cabeça, tirando o braço do alcance de null para abraçar a cintura do homem, trazendo-o de encontro ao seu corpo.
— Você é tão determinado, null.
null sentiu o corpo esquentar quando a Princesa correu os dedos por suas costas, contra o tecido fino de sua camisa.
— Espero que isso não seja um problema, Princesa. Porque estou determinado a ficar com você pelo resto da minha vida e sei o quão difícil isso pode ser.
Ele ouviu a mulher em seus braços suspirar.
— Tudo bem. Nós podemos e vamos tentar.
Ambos sorriram e null se aproximou da Princesa para depositar beijos em todo seu rosto.
— Obrigada por me ajudar a ver coisas que eu não poderia ver por mim mesma. — null agradeceu.
Ambos sabiam que ela não falava muito além da visão que os dois estavam tendo naquele momento.
No dia seguinte, null decidiu que iria investigar a história que null havia contado. Não sabia quando seria a próxima visita aos null, então pensou em enviar uma carta para null perguntando sobre os registros da biblioteca, mas desistiu. Se ele perguntasse como ela sabia daquilo, não teria resposta.
Então, resolveu usar sua segunda melhor opção: seu pai.
— Pai, o senhor pode me contar um pouco mais sobre o Tratado de Paz? — pediu, tomando cuidado com a escolha de palavras. Qualquer coisa dita do modo errado acabaria levantado suspeitas.
O Rei sorriu para a filha ao ouvir a pergunta. Fazia dias que estava tentando ensiná-la a como governar o Reino, mas null parecia cansada e sem interesse. Com aquela pergunta, sentiu todo o seu mundo sendo reequilibrado. Ele daria uma aula sobre o assunto, se fosse preciso.
Os dois estavam na biblioteca do Palácio, onde null alisava a capa de couro de uma bíblia. O pai havia planejado ensiná-la sobre o catolicismo e todos os rituais dos Três Reinos, mas podia facilmente mudar o assunto da aula.
— O que quer saber, minha filha? Acredito que saiba o básico: nenhum null precisa se sujeitar a ter um null sob seu teto. Isso quer dizer que os null não podem vir até aqui e nós não vamos até o Reino deles, para manter a paz e poupar nossos amigos null de possíveis violências, já que null não são civilizados.
null sentiu o ódio do pai, mas fingiu não perceber.
— Queria que o senhor me explicasse um pouco melhor o que aconteceu antes da guerra. O motivo de precisarmos do Tratado de Paz.
O peito do Rei null se inflou quando ele se preparou para contar a história que havia ouvido de seu pai, que ouvira de seu avô e assim se seguira por gerações.
— Muito bem, filha. Eu esperei anos para que você fosse madura o suficiente para ouvir a história. Parece que o dia chegou! Sente-se perto de mim, sim?
null se sentou na cadeira ao lado da do pai na mesa de mogno coberta de livros e mapas.
— No começo, quando a paz reinava entre nós, sempre ficou clara a preferência dos null pelos null. Dizem até que o destino tenta juntar as duas famílias desde os primórdios! E é claro que os null tinham inveja e se sentiam excluídos. Tinham medo de que juntássemos nossos reinos por meio de matrimônio, o que nos tornaria ainda mais poderosos. Os null sempre tiveram os melhores exércitos com os melhores soldados, mas não seriam capazes de ganhar nenhuma batalha se null e null se unissem. Porém, o destino falou mais alto e o Príncipe George null se apaixonou pela belíssima Rosalinda null.
null ouvia tudo em silêncio, se lembrando da história de null. A do pai era bem parecida, mas deixava de lado alguns acontecimentos.
— A inveja dos null ficou clara, pois na festa de noivado do Príncipe null e da Princesa null, a Rainha null foi encontrada morta, com uma facada no coração. A faca tinha a marca do brasão null em seu cabo. E, mesmo que não estivesse marcada, todos sabiam que os null eram responsáveis pela fabricação das armas nos Três Reinos. Era um modelo típico do exército deles.
Se null não soubesse a história verdadeira, poderia acreditar na versão do pai.
— O Rei null não podia deixar barato, então a guerra começou. É claro que os null foram os verdadeiros responsáveis pelo início da guerra quando mataram a Rainha Anneliza, mas isso não vem ao caso. O que importa é que eles fizeram questão de capturar o Príncipe George. Ele foi torturado até a morte e, depois, nosso Castelo da época foi bombardeado. Rosalinda pediu ao pai para acabar com a guerra e foi o que o Rei null fez. Logo após o Tratado ser assinado, a Princesa Rosalinda foi encontrada morta. Ela se enforcou no próprio quarto.
null perdeu o fôlego, ouvindo aquela parte nova, que null não havia mencionado.
— Isso é... Terrível.
— É sim, minha filha. — concordou o Rei — E é por isso que nós não recebemos um null no nosso Reino. Ele não só matou um dos nossos por inveja, mas também causou grandes dores aos nossos maiores amigos.
Naquela tarde, null ficou com o pai, ouvindo a história com atenção e se questionando se deveria mesmo acreditar em null, um null — a família que ela fora ensinada a temer e a odiar desde que nascera — ou se acreditaria na história de seu pai, o homem que a havia amado e criado por 21 anos.
Duas noites depois, como havia sido combinado, null montou em sua égua branca — Tempestade — e galopou até o lugar combinado para encontrar null: o antigo Castelo.
Quando chegou, ele já estava lá, mais lindo do que nunca. Seu cabelo que costumava a ser bagunçado estava penteado para trás, enquanto suas roupas também pareciam mais sofisticadas do que as que usara no último encontro. null se arrependeu por estar usando um simples vestido de linho azul.
Porém, o sorriso que ele lançou para ela a fez esquecer suas roupas de criada. Seu coração se aqueceu e todas as dúvidas que tinha tido nos últimos dias pareceram desaparecer quando null a envolveu em seus braços. Estar com ele era tão certo. Ela nunca havia sentido nada assim antes.
— Senti sua falta. — null murmurou contra os lábios dela, interrompendo o beijo para pronunciar aquelas palavras que estavam explodindo em seu peito.
— Eu também. — null respondeu, voltando a beijá-lo com a mesma voracidade de antes.
Quando o beijo ficou perigoso demais, null se afastou. null estava com os cabelos enrolados em um coque no topo da cabeça, o que deixava seu rosto mais exposto. Ele sentia vontade de beijar cada centímetro da pele dela.
Eles se sentaram à beira do lago, onde os cavalos se refrescavam. null tirou seus sapatos e molhou os pés, tomando cuidado para não molhar seu vestido. null apenas tentou não olhar para as pernas dela que estavam expostas bem ao seu lado.
— Tenho algo para você. — ele murmurou, com a voz bem mais rouca que o de costume. null sorriu de lado para ele.
— É mesmo? O que é?
null mexeu nos bolsos da calça, até encontrar o que procurava. Logo, pediu a palma de null, depositando nela uma gargantilha dourada com uma pequena placa de ouro servindo de pingente. Quando null analisou melhor a placa, encontrou os dizeres “Lightness”.
— Ah, null! É lindo! Não tenho palavras para agradecer! Se importa...? — ela perguntou, em um gesto que indicava seu pescoço, para que null colocasse o colar nela.
null concordou com um movimento breve de cabeça e a Princesa se virou para que o colar fosse colocado. Ele fitou o pescoço desnudo da mulher e depositou um beijo terno em sua nuca antes de enfim envolvê-la com a gargantilha.
null segurou a placa entre os dedos, encantada com o presente.
— O que “lightness” significa para você? — ela perguntou. Achava que era só o nome de seu cavalo, mas se ele tinha uma gargantilha com o nome gravado, devia significar algo importante.
— Era da minha avó. Ela usava esse colar o tempo todo, mas sempre sob o vestido. Não deixava ninguém ver. Uma noite antes de sua execução, ela me deu.
— Oh, é uma joia de família? Então eu não devo aceitar, null. É valiosa demais.
— Eu sei que é, Princesa. É por isso que a dei para você. É uma prova do meu amor, para que você sempre acredite em mim.
null perdeu o fôlego e abriu e fechou a boca várias vezes antes de conseguir falar outra vez.
— Prova do seu... Amor? — ela repetiu, só para conferir se tinha ouvido corretamente.
Para seu alívio, null sorriu.
— Sim, null. Prova do meu amor. Eu estou apaixonado por você, Princesa. Eu amo você como pensei que nunca amaria nenhuma mulher enquanto eu fosse vivo. Nunca acreditei que pudesse acontecer com alguém como eu, mas aconteceu. E meu coração não poderia se alegrar mais, tendo escolhido você para ser sua dona.
— Tenho certeza que seu coração iria preferir que eu não fosse uma null. — null pontuou, se sentindo emocionada e querendo desesperadamente beijá-lo até o nascer do sol.
— Não, null. É apenas um sobrenome. Ele não faz quem você é. Eu a descobri de verdade nos últimos dias, e foi por essa pessoa por quem me apaixonei. Não me apaixonei pelo seu título ou pelo seu sobrenome. Me apaixonei apenas por você. E se o meu sobrenome for algo que a mantenha longe de mim, eu o renunciarei sem hesitar.
O coração da Princesa batia tão forte que ela teve medo de que null pudesse ouvi-lo. Aceitando o amor que null estava oferecendo, ela o envolveu com seus braços e o beijou para demonstrar que sentia o mesmo. Podia não estar pronta para dizer as palavras, mas sabia que sentia.
Eles se beijaram e se amaram por horas até que ficaram apenas abraçados na grama, sob as estrelas e a lua cheia.
— Me conta mais sobre sua avó. — null pediu, enquanto seus dedos traçavam formas desconexas no antebraço de null.
Ao ouvir aquilo, null sorriu. Sentia falta da avó.
— Ah, ela era minha pessoa favorita no mundo. Mãe da minha mãe. Uma mulher tão boa quanto a minha avó não poderia ser mãe do meu pai, um homem sádico e cruel. Ela se chamava Anya. Tinha o sorriso mais lindo do mundo e contava as melhores histórias. Assim como você, era muito curiosa.
null soltou uma risadinha e depositou um beijo na bochecha de null, incentivando-o a continuar falando.
— Ela me contou uma das minhas histórias favoritas. Gostaria de ouvir?
A Princesa assentiu na mesma hora.
— Como eu te disse, ela foi executada. Foi queimada em praça pública por ordem do meu pai. Aparentemente, ela foi encontrada com cartas com informações importantes sobre comércios dos Três Reinos no exterior, ou algo do tipo. Eu tinha apenas 10 anos, não entendia direito as coisas. Mas sabia que ela tinha sido condenada a morte.
null sentiu os olhos se encherem de lágrimas ao imaginar o jovem null null, com apenas 10 anos, sofrendo pela morte da avó.
— As execuções ocorriam de manhã, então ela teve a noite toda em liberdade dentro do Palácio. Passou a noite comigo, já que nem minha mãe queria falar com ela. Meus dois irmãos mais novos eram pequenos demais para entender qualquer coisa então ela ficou só comigo. Foi quando me deu o colar e me contou a história.
A Princesa continuou atenta, ouvindo com paciência quando a voz de null engrossava por causa das lágrimas que ele tentava conter.
— Eu estava muito triste com sua morte, mas ela me pediu para ficar feliz. Me contou que a Vida e a Morte costumavam a ser amantes, em um mundo muito distante do nosso. Eles foram proibidos de ficar juntos, assim como o Sol e a Lua e o Dia e a Noite. Desde então, como prova de seu amor, a Vida costuma mandar presentes para a Morte. Vovó disse que ela seria um presente e ficaria muito feliz em receber a Morte. Aquilo me tranqüilizou o suficiente para eu não chorar durante sua execução. Meu pai achou que eu não chorei porque era igual a ele e ficou orgulhoso. No outro dia, comecei meu treinamento para ser Rei.
null abraçou null com força.
— É uma história linda.
— Eu também acho.
Os dois ficaram abraçados até o amanhecer e depois se separaram, prometendo um reencontro dali a dois dias.
null estava bêbada. Pela primeira vez na vida, estava extremamente bêbada.
Para sua felicidade, null também estava.
Naquela noite, quando se encontraram, null estava com uma garrafa de vinho null, o melhor vinho do mundo. As vinícolas null eram abençoadas e exportavam vinho para os reinos próximos. null estava ficando na casa de um amigo no Reino null, então não foi difícil conseguir uma garrafa do melhor vinho.
Eles beberam até a garrafa estar vazia e se sentaram sob o grande carvalho para conversar e se beijarem até ficarem com os lábios dormentes.
E foi bêbada que null finalmente conseguiu dizer as palavras que nunca tinha dito à homem nenhum.
— null null, eu amo você. Amo tanto você que poderia explodir em amor!
null riu e a girou no ar, o que fez os dois ficarem tontos e caírem sobre as folhas macias do grande carvalho.
— Só está dizendo isso porque está bêbada! — null acusou, mas o tom de brincadeira em sua voz fez null relaxar.
— Não, estou falando sério! — ela teimou — Antes de você eu conheci vários homens. Muitos mesmo! Eu precisava escolher alguém pra casar e conheci tantos homens que fiquei até enjoada! Mas aí... Aí você apareceu e dançou comigo no meu Baile. Eu lembro que meu coração disparou e minha pele coçava de vontade de tocar você. Quando descobri com quem tinha dançado, eu fiquei com medo, mas me esqueci de temer assim que você me beijou, no jardim. Ali, naquele beijo, foi onde comecei a te amar, null. Não consegui colocar em palavras antes e, sim, talvez o vinho esteja me ajudando, mas não quer dizer que é menos verdade. Eu te amo muito.
Ele a beijou com vontade, sentindo seu coração pesado ficar leve, finalmente, depois de tantos anos de escuridão.
Um pouco antes de se separarem naquela noite, null gravou as iniciais deles no grande carvalho, na altura de onde os dois se encontravam para um beijo. Não colocou as iniciais dos sobrenomes, apenas do primeiro nome, rodeadas por um coração. Eles não precisavam de sobrenomes.
Parte 3
null estava feliz. Ela e null combinaram de se encontrarem apenas dali a sete dias, devido à recorrência de seus encontros. Tiveram medo de serem descobertos e preferiram dar um tempo. null também precisava voltar para o seu Reino, então eles aceitaram a distância.
Ela estava sorrindo o tempo todo, até mesmo durante as aulas mais chatas com o pai ou com algum instrutor. Demonstrou interesse e todas as suas atividades e estava bem mais gentil.
Foi aí que as coisas começaram a dar errado.
Uma noite antes de se encontrar com null novamente, ela jantava com os pais quando eles resolveram dar a notícia bombástica.
— Você está tão radiante esses dias, meu amor. — a mãe comentou, sorrindo para a filha sentada ao seu lado. Toda sua família estava na longa mesa, incluindo suas tias, tios, primos e os nobres privilegiados pelo Rei.
null sorriu de volta para a mãe.
— Estou só feliz por estar aprendendo lições valiosas. — respondeu, contando uma mentira. Ela nem corou. Não se importava.
— Que bom que está interessa, filha. — o Rei comentou, com um brilho nos olhos que null não entendeu. Então, subitamente, o Rei ficou de pé e bateu na mesa de mogno, chamando a atenção de toda a família real — Ouçam todos, tenho um anúncio a fazer!
null se sentou com as costas eretas, curiosa com o gesto do pai. A mesa ficou em um silêncio absoluto para ouvir as palavras do Rei.
— Há muitos anos, houve o desejo de juntar o Reino null e o Reino null. Como todos nós sabemos, esse desejo foi massacrado pela inveja dos null. Porém, nós, os null, somos um povo persistente.
Após ouvir apenas a primeira parte do discurso, null sentiu seu estômago revirar. O que quer que fosse ser dito a seguir, não era nada bom.
— Minha filha, null, se tornou uma mulher esplendida e com o passar dos dias, demonstra grande potencial para se tornar Rainha. O mesmo aconteceu com o Príncipe null null, cada vez mais sensato e honesto, como seu grande pai! Assim, eu me sentei com o Rei null dias atrás e, em comum acordo, nós decidimos que devemos seguir os planos de nossos ancestrais e selar o acordo que fora feito há anos.
null estava prestes a vomitar toda a comida que havia ingerido até aquele momento. Quando seu pai a encarou, a náusea cresceu ainda mais.
— Amanhã, nós iremos até a casa de nossos irmãos null, onde anunciaremos para o nosso povo o sagrado matrimônio da Princesa null null e do Príncipe null null!
A mesa explodiu em gritos felizes enquanto todos comemoravam. Ninguém pareceu perceber que null entrava em choque. null, que estava do outro lado da mesa, percebeu o olhar da amiga e tentou chamar sua atenção, sem sucesso.
Depois que a comemoração diminuiu, null pediu licença para descansar para a viagem do dia seguinte. Ninguém a questionou. Estavam felizes demais com a notícia do casamento.
Em seu quarto, null chorou tanto que sentiu a pele ao redor dos olhos queimar.
null entrou no quarto da amiga sem bater, como o de costume.
— O que aconteceu lá embaixo? — ela perguntou, notando as lágrimas de null, mas sem saber o que fazer além de abraçá-la com toda a força.
— Eu não posso me casar com ele, null! Eu não posso! Eu amo outro homem!
Assim, pela primeira vez, null contou para alguém o que se passava em seu coração e como estava perdidamente apaixonada pelo Príncipe null null.
Os null chegaram ao Palácio null antes do sol do meio dia. As pessoas faziam festa com a visita e null tinha vontade de gritar com toda aquela alegria a cercando.
A pior parte seria contar para null. Como poderia olhar em seus olhos null e dizer que iria se casar com outro, logo depois de ter dito o quanto o amava? Ela sempre estava ansiosa para vê-lo, ainda mais depois de passar uma semana longe, mas, naquele dia, null não queria nem pensar no momento em que veria os olhos null do homem que amava.
null entrou no Palácio, seguida por null, que, hora ou outra, lançava olhares de compreensão para a amiga. Assim que passaram pelas enormes portas do Palácio, null apareceu para recebê-las, com seu enorme sorriso galante. null sempre ficava feliz por vê-lo, mas era diferente agora. Só de pensar que teria que se casar com aquele homem sorrindo para ela, tinha vontade de vomitar.
Os pais entraram na frente e foram cumprimentando os presentes conforme avançavam. null estava logo atrás da mãe com null. As duas pararam para cumprimentar null.
Ele abraçou null, sentindo que a mulher não conseguia relaxar.
— Eu sinto muito. — murmurou em seu ouvido, antes de soltá-la para cumprimentar null.
null ia questioná-lo e exigir saber o motivo de ele sentir muito. Até então, os dois sabiam que existia uma chance de se casarem, mas nunca acreditaram que aconteceria. Estavam até confortável com a ideia de se casar — já haviam discutido aquilo antes. A única coisa que mudara fora que null se apaixonara por outro homem e ninguém além de null sabia daquilo.
Mas não teve tempo. Antes que pudesse falar qualquer coisa, ouviu a confusão formada atrás de si. Quando virou, viu o Rei null tentando tirar seu pai de cima de um homem, sendo que os dois estavam caídos o chão. Sua mãe estava mais para trás, observando a cena com a mão na boca, para impedir os gritos de escaparem. Logo, null passou correndo por null indo ajudar o pai a separar a briga. Sem pensar duas vezes, null o seguiu.
Era uma grande confusão. As pessoas gritavam, null chamou os guardas, curiosos se aglomeravam para entender o que estava acontecendo.
— Pai, pare com isso! — null gritou, puxando o pai pelo tecido grosso de sua roupa, em uma tentativa de tirá-lo de cima do outro homem.
null falhou miseravelmente e logo foi empurrada para longe, caindo de costas no chão, sentindo um impacto forte na parte de trás da cabeça, o que fez sua coroa cair e voar longe.
E então, ela ouviu seu nome ser chamado e seu mundo parou.
Ela ouviu cada sílaba pronunciada com cuidado na voz aveludada que acalmava seu coração e produzia pensamentos incoerentes em sua cabeça. O pânico naquela voz era bem claro, o que fez com que um breve sorriso brotasse em seu rosto.
Mas a dor na cabeça logo apagou qualquer vestígio de felicidade.
De repente, ela não estava mais no chão. Sentiu seu corpo ser erguido do chão e sua cabeça estava apoiada em algo macio que fez sua pele queimar em todos os lugares certos.
— null, pelo amor de Deus! — a voz murmurou, acariciando sua bochecha.
Então, null abriu os olhos e encontrou a imensidão os null olhos dele.
— null. — ela sorriu, totalmente alienada do momento.
— Não. — null murmurou, tentando alertá-la dos acontecimentos ao redor.
Ele tinha a coroa dela na mão, então a colocou na cabeça da mulher, fazendo o melhor para não estragar o elaborado penteado de coque. Automaticamente, null lembrou de quando null usava aquele mesmo penteado — de forma bem menos elaborada — e de como ele passou o colar de sua avó pelo pescoço dela e lhe jurou seu amor. Sentia vontade de beijá-la bem ali, na frente de todo mundo.
Antes que fizesse qualquer coisa, um rugido ecoou pelo Palácio.
— Solte a minha filha, seu animal!
null foi tirada do chão e conseguiu se virar a tempo para ver o pai pular para cima de null e lhe acertar um soco, fazendo-a gritar e recobrar a consciência.
Os guardas apareceram e tiraram o Rei null de cima do Príncipe null.
— Já chega! — gritou o Rei null, batendo seu cajado de apoio no chão com tanta força que null pode sentir um tremor percorrer o Palácio — As famílias reais devem se encontrar no meu gabinete agora!
O Rei null estava tão irado que ninguém teve coragem de questioná-lo.
Os guardas precisaram escoltar as famílias até o gabinete. Apenas os membros mais importantes foram permitidos — Reis, Rainhas e futuros governantes.
No gabinete, o Rei e a Rainha null se encontravam ao lado de null, com uma expressão furiosa no rosto. De um lado, os null; do outro, os null.
— Vocês assinaram um Tratado de Paz! — gritou o Rei null, fazendo questão de lembrar aquilo antes de dizer qualquer coisa.
Tanto o Rei null quanto o null estavam com o rosto sangrando, mas null só sentiu mal quando olhou para null e percebeu que a área ao redor de seu olho esquerdo estava ficando roxo e inchado.
— O Tratado diz que nós não precisamos nos encontrar, nunca! — rebateu o Rei null, furioso — O que você fez foi traição!
— Não me venha com essa, null! Nós concordamos que o casamento de null e null só seria permitido mediante a paz completa nos Três Reinos! Um novo tratado seria assinado por todos nós e por nossos filhos, concordando em manter a paz verdadeira pelas próximas gerações! Você concordou comigo, null!
null olhou para o pai, chocada.
— O quê? — perguntou — O que isso quer dizer, pai?
Ela foi completamente ignorada.
— Nós nunca concordamos com isso! — interveio o Rei null — Vocês não vão se juntar! Não vou ficar sentado vendo vocês dois se aliarem pelas minhas costas!
— O casamento é algo que os null sempre quiseram e foi o que eu ofereci para selar o acordo de paz. — Rei null rebateu.
— Eu não vejo vantagem nenhuma para o meu Reino!
— A vantagem é o fim da guerra fria que vocês travam! — o Rei null gritou outra vez — Todos os dias, pessoas morrem por causa de vocês. Famílias pobres foram separadas e seus membros não puderam voltar para casa! Há duas gerações, vocês mataram um Rei e uma Rainha, por causa de um tratado cujo objetivo é paz! Não há paz em assassinato!
— Ele está falando da vovó? — null se manifestou, perguntando para o pai.
Ninguém falou nada.
— O que nós não sabemos, pai? — null perguntou também, esperando receber algumas respostas.
— O Rei Edward null e a Rainha Trementine null foram mortos pelo Tratado. — contou a Rainha null, já que os outros presentes não diziam nada — Edward e Trementine se uniram em sagrado matrimônio quando eram jovens, em segredo. Mais tarde, se casaram mais uma vez por dever e mantiveram o primeiro casamento em segredo. Eles se encontraram durante toda a vida, até que foram descobertos. Edward já não era mais Rei e foi morto por asfixia, mas sua morte foi registrada oficialmente como causas naturais da velhice.
null soltou uma exclamação chocada e teve que morder a mão para impedir as lágrimas de caírem de seu rosto.
A Rainha null não deu tempo nenhum para a Princesa se recuperar e continuou a história.
— Já Trementine foi acusada de traição econômica e queimada em praça pública. Foi feito um acordo de silêncio para que os dois não fossem uma vergonha para seus respectivos Reinos. Dois líderes importantes na história não poderiam ser pegos quebrando o Tratado de Paz, que move os Três Reinos há 500 anos.
null tremia.
— Nós descobrimos quando o colar da família sumiu. — confessou a Rainha null, quebrando o silêncio assustador que se instalou no gabinete — É um colar de ouro simples, com uma pequena placa com a palavra Lightness gravada. É a joia que costumava ser usada nos casamentos da família null. Quando Edward disse ter perdido a joia, nós soubemos que era mentira e começamos a investigá-lo, segui-lo para todos os lados. Mesmo assim, a joia nunca foi encontrada. Por outro lado, o encontramos com Trementine.
null soltou um soluço de espanto e olhou para null enquanto instintivamente colocava a mão no peito, onde sentia o colar tão procurado repousar, lembrando-a o tempo todo do amor proibido.
— Por que nunca nos contou? — null perguntou, sem conseguir tirar os olhos de null, que chorava em silêncio.
— null e null jamais se aproximarão, diz o Tratado. — o Rei null murmurou.
Um silêncio denso tomou conta do gabinete, enquanto todos se lembravam da história trágica e recente o suficiente para ainda ter feridas abertas nos presentes.
— É por isso que aceitei o casamento. — o Rei null murmurou, olhando diretamente para null — O casamento é a prova de lealdade entre o Reino null e o null. E, para provar a minha lealdade para com o Reino null, eu ofereço metade das minhas terras.
O Rei null arregalou os olhos, surpreso com a proposta.
— Como?
— Se concordar em apoiar e abençoar o casamento de null e null, cederei metade do meu Reino para você. Assim, o Reino null será do tamanho dos outros dois Reinos juntos. Terá o maior território, o que prova que não temos a intenção de atacar suas terras.
O Rei null olhou para os null e depois seu olhar se voltou para Rei null. Notou como os dois reis estavam acompanhados por suas esposas e sentiu falta de sua Rainha, que morrera de depressão poucos anos depois de sua mãe ser morta na fogueira, por causa da estúpida rixa que existia há séculos.
Depois de alguns minutos de silêncio e reflexão, o Rei null ergueu a mão na direção do Rei null.
— Assim que acontecer o casamento, a paz reinará outra vez, assim como nossos filhos. Eu aceito o novo acordo.
Hesitante, Rei null apertou a mão estendida.
O Rei null sorriu com aquilo.
— Vou mandar o meu escrivão projetar todos os acordos que foram feitos aqui. Em uma semana, teremos um casamento que trará paz para os Três Reinos, após 500 anos de guerras!
Os três jovens na sala se entreolharam, sem saber exatamente o que acontecera e como seriam suas vidas dali em diante.
O banquete começou a ser servido antes do pôr do sol. O Rei null e o Rei null se sentaram lado a lado e ficaram bêbados com o vinho, enquanto o null comemorava a paz.
null aproveitou a distração de todos e procurou null incansavelmente.
Encontrou-o no jardim do Palácio, andando de um lado para o outro.
— null! — ela chamou, correndo em sua direção, mas parou antes de poder abraçá-lo. Algo nos olhos null dele a fez tremer.
— Você sabia? — null perguntou. null pode ver melhor seu rosto e notou que estava inchado por causa da briga de mais cedo e molhado com lágrimas.
— De quê?
— Do casamento. Sabia que teria que casar com null?
null balançou a cabeça freneticamente e voltou a se aproximar dele.
— Mas é claro que não! Eu sabia que meu pai queria uma aliança com os null, mas eu e null nunca imaginamos que aconteceria. Fiquei sabendo ontem a noite e nunca me senti mais triste, null!
null puxou null para si e a abraçou com tanta força que, por um momento, ele chegou a pensar que os dois poderiam se fundir em um só.
— Eu não posso vê-la casar com outro. Prefiro morrer, null! Prefiro estar morto a saber que você está com outro!
null começou a chorar outra vez. Não aguentava mais tantas lágrimas.
— Eu não posso me casar com alguém que não seja você. — ela murmurou, se afastando dele apenas o suficiente para pegar o colar que pendia em seu pescoço — Está vendo? Eu ainda uso o colar. Eu sou sua, null. Não importa o que aconteça.
— E o que faremos agora?
— null?
Eles se viraram e encontraram null se aproximando, trazendo Litghness consigo.
— O que o seu cavalo faz aqui? — perguntou null, se afastando de null, com medo de que null desconfiasse de alguma coisa.
Os dois homens olharam para ela e então null disse:
— null, precisamos conversar.
A verdade era que o amigo no Reino null onde null estava ficando naquele mês para visitar null era o próprio Príncipe null. Fora assim que ele conseguira as informações na biblioteca do Palácio e era por isso que null não demonstrava nenhuma surpresa ao ver null com null; ele já sabia de tudo.
— Como eu não sabia que vocês eram amigos? — null perguntou para null — Achei que você me contasse tudo!
— Desculpa, null. Eu conheço seu pai e conheço o pai do null e sei como eles se odeiam. Antes de null me contar que estava apaixonado por você, eu não tinha ideia se era seguro te dizer que éramos amigos. Fiquei com medo de que você surtasse e se afastasse de mim.
— Então... Foi você que colocou o null pra dentro no meu Baile, não é? Ele não teria conseguido entrar de outro jeito, mas se você dissesse que ele era seu amigo, os guardas não questionariam o Príncipe null.
— Exatamente. — null respondeu — Eu estava ficando um tempo por aqui quando null me contou sobre o seu Baile. Eu disse que queria ir, só por diversão. Desafiar meu pai, talvez. Entrar no “território inimigo”. null não queria me levar, mas eu o convenci. E foi a melhor decisão que eu já tomei na minha vida.
null corou, mas não conseguiu deixar de sorrir.
— Tudo bem, mas e agora? — null perguntou, se aproximando de Lightness e acariciando seu focinho — O que vamos fazer?
— Eu queria muito poder ajudar vocês. — null começou e os outros dois não gostaram nada do tom — Mas acho que o casamento é a melhor solução. Vai trazer a paz, a paz verdadeira. Ninguém nunca mais vai sofrer como os antepassados de vocês sofreram! Todos vão ficar bem.
— Eu não vou ficar bem! — null protestou.
— Nem eu!
— Eu sei que parece horrível, mas pensem bem. Eu estou apaixonado por null, null. — null confessou de uma vez, fazendo a Princesa arregalar os olhos, mas não lhe deu nenhum tempo para comentar — E ela é uma plebéia. Eu nunca vou poder ficar com ela. Por outro lado, você também não está apaixonada por mim. Então, nós vamos nos casar, mas podemos muito bem ficar com outras pessoas. Você com null e eu com null. E ainda traremos paz para os Três Reinos.
null e null se entreolharam, começando a pensar no assunto.
— Eu não vou te obrigar a ficar comigo, null. Sei que você ama o null e nosso casamento será apenas de aparências.
De aparências. Tão falso quanto tudo o que ela mais odiava em toda a realeza.
null se lembrou de seu aniversário, de todos os sorrisos falsos, de todas as posturas que teve que manter. Lembrou-se de seu avô e da avó de null, que mantiveram uma vida de aparências, só para sofrerem ainda mais no fim da vida.
Ela não queria aquilo para si e nem para null.
Mas, por outro lado, não podia deixar mais ninguém passar pelo que eles tinham passado.
— Nós podemos conversar? — null pediu baixinho, apontando para ela e para null.
null assentiu na mesma hora.
— Claro. Eu vou procurar null e confessar meu amor por ela.
null sorriu e puxou null para lhe depositar um beijo na bochecha.
— Boa sorte.
Ele se afastou com uma piscadela.
null começou a falar assim que null sumiu de vista.
— Vamos fugir.
— O quê?
— Fugir! Ir para longe! Sumir daqui. Podemos ir juntos e nunca mais voltar.
— Mas e o acordo?
— Que se dane o acordo, null! Eles não pensam em nós! Eles não pensam em você! Seu casamento foi arranjado há dias e você só ficou sabendo ontem. Um casamento político, ainda por cima! Ninguém te perguntou se você estava apaixonada por null, perguntou?
null balançou a cabeça, tentando não pensar naquilo que estava ouvindo.
— null, não podemos ser egoístas e deixar que mais pessoas passem pelo que estamos passando. Vamos ser o sacrifício. Depois de nós, ninguém jamais vai sofrer.
— null, ouça o que está dizendo! Você acha que seu casamento vai acabar com a guerra? Acha que depois de nós, ninguém vai sofrer por amar alguém de uma família inimiga? Quem nos garante que nossas famílias não irão continuar se odiando depois disso?
— Nós, null! Nós vamos garantir isso! Nossas famílias não vão se odiar porque nós ensinaremos que não vale a pena odiar alguém por algo que já passou.
null balançou a cabeça, começando a entrar em desespero.
— Não, null. Não. Nós não podemos trocar a nossa felicidade por um acordo. Não podemos abrir mão do nosso amor para que outras pessoas não se odeiem.
— null, eu...
null a puxou pelo braço, colando o corpo dela no dele. null parou de falar na mesma hora e, como na primeira vez que o vira, se encontrou presa em seu olhar.
— Sente isso? — null perguntou, pegando a mão de null e colocando sobre seu peito, onde seu coração martelava com tanta força que parecia que iria explodir a qualquer momento — É por você. Cada batida é sua. — e então ele se abaixou e beijou seu pescoço exposto, deixando sua respiração bater na pele arrepiada — Cada vez que eu respiro... É por você.
null ergueu o rosto de null para que ela olhasse para ele. Abaixou-se até que sua boca encostou na dela com cuidado, com medo de que a mulher fosse correr se ele ultrapassasse um limite. Deixou um beijo amoroso ali, ainda a segurando perto de seu corpo.
— É por você, null.
null assentiu, para fazê-lo ver que ela entendia exatamente o que ele queria dizer, porque sentia o mesmo. Impulsionou o corpo para cima e voltou a beijá-lo como beijava quando se encontravam na clareira. Envolveu seu pescoço com seus braços e se agarrou nele como se sua vida dependesse disso.
— Eu vou entender se você não quiser ficar comigo. E eu sou um imbecil por te oferecer uma vida sem os confortos da realeza e sem futuro nenhum, mas não posso evitar. Eu te amo demais. Eu te amo tanto que não sei viver sem você. Então, se aceitar a proposta de null, eu vou aceitar o que você estiver disposta a me dar, null. Qualquer pedacinho seu vale um mundo todo para mim.
null continuava chorando e suas lágrimas se misturavam às de null.
— Mas, se você sente pelo menos metade do que eu sinto por você... Então venha comigo. Fuja comigo. Me deixe ser seu pelo resto da minha vida. Me dê uma criança que vai te chamar de “mamãe” e me deixe saber como você ficará em cinquenta anos, com os cabelos brancos e a pele enrugada.
null riu daquela possibilidade, como se um futuro com null fosse tão impossível que chegava a ser utópico.
— Duvido que vá me achar linda com cabelo branco e a pele enrugada.
— Fica comigo e vou provar pra você em cinquenta anos.
Então, null assentiu.
— Tudo bem, null. Eu fujo com você. Eu te amo.
— Eu também, meu amor. Eu te amo.
Parte 4
— null, eu juro pra você! Foi o sonho mais louco que eu tive na minha vida!
null riu e bebeu um grande gole do conteúdo de seu Starbucks.
— Ah, mas não faz sentido nenhum! Eu duvido muito que o null seria contra a fuga do casal! Ele é romântico demais! Não lembra de quando a gente assistiu Titanic e ele chorou como criancinha?
Eu ri, me lembrando claramente daquele dia.
Era uma manhã de outono. Eu e null esperávamos null, seu namorado — e meu ex — para irmos juntos para a faculdade.
null e eu nos conhecíamos desde crianças e acabamos namorando porque era o que nossos pais viviam nos dizendo para fazer. Éramos adolescentes e é legal ter um namorado quando se tem 14 ou 15 anos. Depois, eu apresentei null para null e ele se apaixonou por ela. Eu fiquei brava com ele por tipo... Dois minutos. Aí terminamos e eu armei um encontro entre ele e null. Logo depois, os dois estavam juntos.
É como minha mãe sempre dizia: às vezes as coisas simplesmente não dão certo.
E eu estava espantada como a nossa relação tinha sido capturada perfeitamente no meu sonho.
Havia sonhado com esse reino meio medieval, totalmente fictício com reis e rainha cruéis. Talvez tenha sido porque eu estava estudando Romeu e Julieta no meu grupo de teatro, e fiquei envolvida demais com a história. Mas a verdade era que eu havia sonhado com um maravilhoso homem de olhos null e, apesar de ter esquecido seu rosto logo após acordar, não conseguia me esquecer daquela imensidão que havia me capturado.
null nos encontrou e eu contei meu sonho para ele, que concordou com null; ele teria ajudado o casal a fugir. Nós rimos e fomos para a faculdade, que era no outro quarteirão.
— Eu estou tão fodido em literatura clássica. — null comentou, balançando a cabeça — Mas tão fodido que pedi ajuda para o monitor do senhor Clark.
— E o senhor Clark tem monitor? — perguntei, ainda tomando meu café com leite.
— É, ele acabou de contratar um. Era o único professor que não tinha. O cara é bacana, me passou uns exercícios e fiquei de entregar um resumo para ele dar uma olhada.
— Olha só que lindo, meu amorzinho se esforçando para terminar a faculdade! — brincou null, empurrando null com o quadril.
Eles começaram a brincar e eu estava rindo, mas me desconcentrei totalmente quando algo entrou no meu campo de visão.
Havia um grande carvalho na frente da escola, onde os alunos costumavam a se apoiar e passar o tempo. Seu diâmetro era tão largo que vários grupinhos se dividiam ali, incluindo eu, null e null.
Mas aquele homem era novo.
Ele me era vagamente familiar e eu parei de andar no mesmo minuto, analisando-o no meio do caminho, como uma estátua. null e null não pareceram perceber, porque passaram por mim rindo e tudo. Mas eu não podia me mexer.
Algo nele devia estar conectado em mim porque, assim que fitei seu rosto por mais de cinco segundos, ele ergueu os olhos e me observou também.
Estava encostado no carvalho, usando sua mochila verde militar para se apoiar enquanto lia um livro, que eu não conseguia ver o título. Usava uma calça jeans de lavagem escura e uma camiseta cinza que se agarrava ao seu corpo de uma maneira espetacular.
De repente, ele se levantou.
Do mesmo jeito que eu o esquadrinhava com o meu olhar, ele fazia comigo.
Não sei por quanto tempo ficamos parados nos observando como duas estátuas no meio do campus, mas senti o mundo voltar a girar quando encontrei seus olhos.
Verdes.
Aquele tom único, que eu só havia visto uma única vez em meus...
— null! — null gritou, parando ao meu lado. O homem pareceu levar um susto, assim como eu — E aí, cara? Valeu pelos exercícios! Já terminei alguns resumos, posso te entregar?
Ele olhou para mim, para null, para null e depois se voltou para mim.
— Ah... Claro. — ele respondeu e, meu deus! Era a mesma voz! Era a mesma voz que eu havia ouvido em meus sonhos!
null começou a mexer na mochila para pegar os resumos e, novamente, meu mundo ficou paralisado enquanto o homem — null — se aproximava de mim.
— Eu te conheço... — ele murmurou mais para si mesmo do que para mim e meu coração bateu com mais força ao ouvir aquela voz tão de perto.
— Eu já te vi... — murmurei de volta, tentando ligar meus pensamentos. Não era possível eu ter sonhado com aquele homem, sem nem mesmo conhecê-lo, era?
— Aqui, null! — null interrompeu outra vez, entregando os resumos para null, que os pegou de modo automático — Quando terminar, me avisa?
— Pode deixar.
null se despediu de null e puxou null, que me puxou também.
— Misericórdia, null, que homem é esse! — comentou null, olhando rapidamente para trás.
— Ah, nem começa, null! Se eu falo de alguma mulher você já começa a encher meu saco!
— Pipipipopopo... — null retrucou, revirando os olhos e se virando para mim — Amiga, você precisa chamar ele pra sair!
Antes que eu pudesse falar algo, null soltou a bomba bem no meu colo.
— Péssima ideia, null. O null é monitor do professor, então ele tem acesso às provas e às notas, como se fosse um professor. Sendo assim, as alunas dele não podem se envolver com ele. E eu e null somos alunos.
— E como você sabe disso, espertão? — null caçoou, sem nem fazer ideia de eu estava quase caindo dura no chão.
— Lembra do Rick? Ele era louco por uma monitora também, ai eles saíram e deu o maior problema. Ela foi até demitida e por aí a ladeira vai descendo...
Eles continuaram a conversar, mas eu não ouvia absolutamente nada.
As cenas que eu havia sonhado voltavam para mim como vários socos no estômago e logo as imagens eram tão claras como uma memória.
Junto com o sonho uma música ficava cantando baixo na minha cabeça:
I know you, I walked with you once upon a dream. I know you, the gleam in your eyes is so familiar a gleam! Yet, I know it’s true that visions are seldom all they seem. But if I know you, I know what you’ll do: you’ll love me at once the way you did once upon a dream…
Eu conheço você, eu andei com você uma vez num sonho. Eu conheço você, o brilho em seus olhos é um brilho tão familiar! Mesmo assim, eu sei que as visões nos sonhos raramente são o que parecem ser. Mas se eu conheço você, eu sei o que você vai fazer: você vai me amar do jeito que me amou uma vez num sonho...
FIM
Nota da autora: Olá pra você, que leu mais uma fic minha!
Love Story é uma das minhas músicas favoritas da Taylor e o vídeo dessa música é o meu favorito de todos os vídeos dela! Tanto que escrevi essa fic quando tinha 12 anos e precisava escrever algo relacionado à Shakespeare e acabei encontrando esse vídeo e as músicas maravilhosas da Taylor! Aí, foi só reescrever e adaptar algumas cenas - tirando o perrengue que passei porque meu pendrive pegou vírus e eu tive que reescrever tudo em 5 dias rs - e ficou tudo certo!
Espero de verdade que tenham gostado dessa história que é uma das minhas favoritas! Estou pensando em fazer uma continuação baseada na música Once Upon A Dream, mas ando ocupada demais, então não prometo nada! Maaas, eu adoraria criar uma relação nova com os mesmos personagens, em um contexto totalmente novo!
Quero agradecer a Clara Prado, capista do FFOBS que fez essa capa M A R A V I L H O S A para a fic! Ficou do jeito que eu imaginava que ficaria <3
Bom, é isto! Espero que tenham gostado dessa fic e que comentem o que acharam (significa muito para mim!!)!
XOXO, Flowers
E o grupo no face, vocês já conhecem? Podem acessar clicando aqui, e aí a gente pode conversar, falar sobre spoilers e tudo mais!
Também escrevo outras fics, caso você tenha interesse em conhecer um pouco mais do meu estilo como escritora! Entra aqui e dá uma olhada na minha página de escritora do FFOBS! Tem todas as minhas fics já escritas, incluindo essa que você está lendo!

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