Finalizada em: 06/02/2022

Capítulo Único

Edmonton, Canadá, 2010.


A casa dos Campbell estava tudo, menos silenciosa. tentava fazer seu melhor amigo parar de rir, mas ele se divertia com o programa que passava na televisão.
— Para de rir, ! — sussurrou. — Sua mãe vai acordar.
— Você é sem graça, . — ele resmungou entre risos.
— Eu achei engraçado, mas eu não posso nos dedurar, seu mané. — a adolescente resmungou.
Sem que ela pudesse fugir, pulou em e começou a fazer cócegas na menina. tentou a todo custo não gargalhar, mas sempre fora sensível à cócega.
, por favor. — ela pediu quase sem ar. — Para! — Não paro, não! — ele riu e, ao tentar evitar que fizesse cócegas nele, segurou seus braços em cima da cabeça.
— Por favor! — ela implorou e, por pena, ele parou. sempre conseguia tudo que queria.
Antes que os dois pudessem continuar a guerrinha besta, Patricia Campbell apareceu no quarto. Não tinha nem como os dois fingirem estar dormindo naquela situação. Tentando manter a compostura e evitando a fofura do momento, ela foi séria.
— Os dois, parem! — a mulher brigou. — Desliguem a televisão e vão dormir, são três horas da manhã.
deu um tapa na coxa de e virou-se para seu lado da cama emburrada. Queria mesmo ficar acordada.
— Desculpa, senhora Campbell.
— É, foi mal, mãe. — o menino completou.
— Boa noite, crianças.
— Boa noite. — disseram em uníssono.
Enquanto os dois tentavam dormir, se aproximou de Elie e falou baixinho em seu ouvido.
— Não fique chateada, amanhã a gente tenta enganar ela de novo. — ele a abraçou. — A gente sempre tenta de novo.
— Pinky promise? — ela estendeu o mindinho.
— Pinky promise. — ele sorriu.
Edmonton, Canadá, 2020. .


Jones respirou fundo ao se deparar com a casa antiga. A fachada muito bem cuidada e o jardim impecável que seus pais cuidavam continuavam os mesmos. Antes que pudesse entrar, sua mãe veio correndo até ela.
, querida! — a senhora Jones a abraçou. — Eu fiquei tão preocupada.
— Oi, mãe. — ela sorriu ao sentir o quentinho que o abraço de sua mãe lhe causou. — Eu senti saudades.
— Como está esse pé?
— Bem. É bom vir passar o feriado aqui para descansar um pouco.
— Eu tenho certeza que você vai sair daqui em menos de uma hora para ir patinar no lago, querida. — ela riu baixinho.
— É, você tem razão. — ela sorriu. — Cadê meu pai?
— No lago com , é claro. — ela riu. — também veio passar o Natal em casa.
— Não sabia que jogadores de hóquei tinham folga no Natal. — fez uma careta.
— Ele conseguiu ser dispensado do Oilers, querida. — ela disse baixinho. — Será transferido para o Rangers em breve.
— Sério? vai para Nova Iorque? — ela arregalou os olhos.
— Sim. Você deveria chamar ele para patinar, . — ela disse baixinho. — Talvez isso conserte as coisas.
Campbell e eu não temos nada para conversar, mãe. — ela bufou.
— Ótimo saber, . — ouviu a voz de e seu corpo inteiro se arrepiou. De susto, saudade, terror.
, querido. — a senhora Jones abraçou o jogador.
! — seu pai apareceu em seu campo de visão e ela correu para os braços do pai.
Todos da cidade sabiam que Jones era a menininha de Phil e nada mudaria isso. Os Jones tinham um agregado — e sua mãe, melhor amiga da mãe de . A família de cinco tinha tudo para dar certo, até que decidiu seguir seus sonhos nos Estados Unidos e teve que ficar em Edmonton para acompanhar os Oilers. Apesar de estar sempre no país vizinho, nunca se encontrou com , mas ela já havia o espionado, enquanto assistia seus jogos escondida na multidão do Madison Square Garden. Todas as vezes que sabia que o Edmonton Oilers jogaria em Nova Iorque, ela estava lá para admirar o melhor amigo e sua grande paixão.
A verdade era que Jones sempre quisera ser patinadora e vivia seu sonho de jogar hóquei. O desentendimento deles surgiu quando conseguiu uma bolsa de estudos na Universidade de Nova Iorque para ser patinadora. A menina havia decidido cursar cinesiologia na universidade estadunidense.
— Mamãe disse que você estava no lago. — a menina não largou do abraço do pai. — Eu estava indo pra lá.
— Você não deveria, tipo, descansar? Soube da lesão. — perguntou.
— É. — seu pai fez cara feia. — Nada de lago para você.
— Mas pai… — ela resmungou e olhou feio para como se ele fosse o grande culpado. — , seu idiota!
deu um empurrão nele e não se mexeu quase. Era um jogador de hóquei, oras. Levava porradas mais fortes que aquela e, na verdade, o empurrão de foi incrivelmente delicado.
— Não briguem, crianças. — Amelia sorriu. — Vamos entrar e comer algo.
Os quatro seguiram caminho a dentro e Phil perguntava coisas sobre . Fazia quase dois anos que a menina não aparecia em Edmonton. Era sim uma surpresa e eles tinham motivos para ter saudade de sua menina. E ela sentia saudade de casa, é claro. Estar na sala de estar com seus pais e era uma das coisas que mais amava no mundo, apesar do humor ácido do jogador para ela. Sabia o efeito que Campbell tinha sobre si. Enquanto Amelia e Phil levantaram para fazer chocolate quente para os quatro, se recordou da última conversa que tivera com Campbell.
“— Você foi aceita na NYU? — ele disse animado. — , não acredito!
— Eu sei, eu sei! — ela estava eufórica. — Tenho que estar lá semana que vem.
— E o que estamos esperando, ? Temos que comprar passagens, ver lugar pra ficar e nos organizarmos o mais rápido possível.
O choque atravessou o corpo de . — Você vai largar tudo pra ir pra Nova Iorque comigo?
— É claro que eu vou, linda. — ele sorriu fraco. — Eu vou pedir para o meu agente me arranjar algo por lá. Ele sempre consegue.
, você acabou de entrar no Oilers… — ela falou baixinho. — Não pode fazer isso com a sua carreira.
— Claro que posso!
— Não pode, não.
— A gente vai manter um relacionamento à distância, ? — ele perguntou. Sabia que aquilo era tudo, menos o que eles queriam.
— Não… — e em questão de segundos, o momento mais feliz da vida de tinha se tornado um dos piores.
— Se eu ficar… A gente acaba? — ele perguntou assustado.
— Você não pode desistir dos seus sonhos, . — ela foi sincera. — Não podemos garantir que estaremos juntos daqui cinco anos e eu não quero ser a culpada de fazer você desistir da coisa que mais ama fazer.
, você não está me forçando a nada.
— É claro que estou. Não posso fazer isso.
— E a gente vai fazer o que, ? — ele levantou o tom de voz e pela primeira vez ela olhou em seus olhos. Eles brilhavam por causa das lágrimas.
— Terminar parece a melhor saída. — ela disse baixo.”

Antes que começasse a chorar, tratou de sair de seus devaneios. a encarava calado e parecia estar desvendando um enigma. Sem dizer mais nada, pegou seu celular e foi para o segundo andar da casa, se escondendo em seu quarto.

Todos os desejos de se resumiam em . Parte dele, que achou que jamais a veria novamente, aceitou que, pelo menos, eles seriam amigos de novo, enquanto a outra parte se negava a aceitar que jamais teria a chance com a mulher de sua vida de novo. O jogador de hóquei não era ingênuo, havia conhecido e namorado outras mulheres durante o tempo em que estava fora, mas nenhuma jamais chegou aos pés da patinadora.
, querido? — Amelia chamou sua atenção. O jogador levantou o olhar para sua tia de consideração com um leve sorriso. — Você deveria conversar com ela.
não quer falar comigo, infelizmente. — ele suspirou. — E temo que nunca vá querer. Nunca insisti em nós dois, apenas aceitei o fato de que ela iria para outro país e eu ficaria aqui.
— Querido… Não é bem assim. — Amelia tentou consolar .
Passos pesados foram ouvidos e os dois não puderam continuar a conversa, mas já havia ouvido o suficiente. não queria falar com sobre os dois porque temia, com todas as suas forças, que tudo desmoronasse mais uma vez. Estar em outro país sem seu melhor amigo e namorado foi a pior experiência que passou.
— Filhota, pensei que fosse dormir até amanhã. — Amy passou os braços pelos ombros de sua filha quando ela se sentou ao seu lado no sofá.
— Não consegui. — a mulher confessou. — Acho que a viagem me cansou demais.
— Coma um pouquinho, tome seu remédio para dor e vá deitar, minha menina. — foi a vez de seu pai se intrometer na conversa. Você precisa se alimentar também.
sorriu e dirigiu-se à cozinha, enquanto se despedia de seus pais para ir embora. Parte dela queria correr para os braços de Jones, mas parte dela tinha medo de se machucar novamente. Quando seus pais voltaram para a sala de estar, se despediram de e foram dormir.
O espaguete com tomate seco de seu pai era uma de suas comidas favoritas no mundo. Aquela refeição combinava muito com o vinho tinto que ela tanto amava, então ela decidiu tomar um pouco para talvez relaxar o corpo e finalmente dormir. Quando se deu conta, metade da garrafa havia ido embora, assim como sua sobriedade. sabia que não deveria beber muito enquanto tomava os remédios para dor, mas o estrago já estava feito.
Ao invés de seguir o caminho para seu antigo quarto, seguiu em direção à saída. O frio a abraçou com força e ela se encolheu toda. Ok, talvez aquela não tenha sido uma boa ideia, mas nada a impediria agora que estava decidida. Cuidadosamente, a patinadora atravessou a rua e notou que a mãe de não estava em casa. Patricia provavelmente estava de plantão naquela noite, por isso não havia comparecido ao jantar com seus pais.
A patinadora torceu para que os Campbell ainda mantivessem a chave reserva dentro do enfeite de jardim deles. Por sorte, eles ainda o faziam. Sem fazer muito barulho, entrou na casa de e percebeu que nada havia mudado. Patricia ainda tinha porta-retratos espalhados por todo canto. Fotos dela com , com os Jones, todos os cinco. Eram uma família e sempre seriam.
subiu as escadas silenciosamente e se dirigiu ao quarto que tanto visitava. Passava várias noites por ali e mesmo depois de anos, nada tinha mudado. Devagar, a patinadora abriu a porta do quarto do ex-namorado e soltou uma risadinha ao perceber que a temática de seu quarto ainda era da NHL. Antes que se arrependesse do que estava fazendo, ela tirou suas botas uggs e deitou-se ao lado dele. percebeu a presença de alguém e lentamente acordou.
? — sua voz rouca surgiu no escuro. — O que você tá fazendo aqui?
— Como você sabe que sou eu, Jones?
— Você tem cheiro de jasmim. — ele comentou. — Desde sempre.
Ela hesitou por um segundo. ainda se lembrava do cheiro dela. Aquilo doeu como o inferno. Muito mais do que todas as vezes em que caíra no rinque.
— Eu não consegui dormir, pensei em tomar vinho para relaxar meu corpo um pouco, mas eu estou tomando remédios para dor no tornozelo. — ela confessou como uma criança que havia sido pega roubando doce. — Eu acabei bêbada e na cama do meu ex-namorado.
deu risada do comentário dela. — Tudo bem, . Vamos dormir, vem, vem cá.
A patinadora se aconchegou no peitoral de Jones e, aos poucos, sua respiração ficou calma e percebeu que ela havia, finalmente, dormido. Aquela havia sido a demonstração de de que ainda havia algo entre eles, mas que ela só não tinha coragem de enfrentar. Com um sorrisinho esperançoso no rosto, decidiu que enfrentaria todos seus medos por aquela mulher deitada em seus braços. Lugar de onde jamais deveria ter saído.

O quentinho que sentia não era tão comum no Canadá quanto ela estava acostumada. Em casa, a patinadora dormia com dois ou três cobertores para ficar suficientemente aquecida, mas aquele não parecia ser o caso. Ao abrir os olhos com esforço e incômodo causados pela intensidade dos raios de sol, ela percebeu que não estava em sua casa.
— Merda. — ela disse baixinho. — O que eu fiz?
— Bebeu enquanto tomava remédio. — a respondeu com uma voz rouca.
, eu não sei o que eu fiz ontem, mas peço desculpas. — ela se levantou rápido. — Principalmente por ter invadido sua casa.
. — ele a chamou.
— Nunca mais vou fazer isso na minha vida, juro. — ela disse rapidamente. — Isso é praticamente uma invasão de propriedade privada!
Ele gargalhou ao ouvir aquela mulher soltar aquelas palavras.
— Do que você está rindo, seu idiota? — ela resmungou. — Eu invado sua casa, deito na sua cama e você ri?
— Sim. — ele sorriu. — E não faria outra coisa senão rir do seu surto matinal.
— Por quê? — ela perguntou com um tom irritadiço.
— Porque eu te amo, Jones. — ele disparou aquelas palavras e pavor tomou o corpo da patinadora.
… Não precisamos discutir isso, sério. — ela hesitou e, ao levantar para sair do quarto, foi puxada para continuar onde estava.
— Só preciso que me escute, . — ele suplicou. — E depois você pode ir embora e ignorar tudo que foi dito aqui. Eu só preciso te dizer algumas coisas.
— Tudo bem.
— Eu amo você, . — ele disparou mais uma vez. — Quando você foi embora, eu mal tive a chance de tentar resolver a situação. Eu não me importava se eu ia jogar em um outro time, se eu iria para um time juvenil ou qualquer droga que fosse.
… — ela sussurrou e ele percebeu as lágrimas em seus olhos.
Shhh… Desde que você foi embora, eu me culpo por não ter feito nada, não ter dito nada. Não tive a oportunidade de dizer a você que sim, o hóquei é meu sonho, . Mas ele não vale de nada se eu não compartilhar meu sonho com você. — nesse momento, entrelaçou os dedos dos dois. — Eu me arrependo de não ter feito nada e eu entendo que você não queria me impedir de viver meu sonho. Mas eu me arrependo imensamente de não ter dito todas as coisas que eu queria no momento certo. Eu te amo, , e eu iria para qualquer lugar do mundo que você fosse. Não existe sem .
Entre lágrimas, a patinadora sorriu. — Eu também amo você, Campbell. Sempre amei e acho que sempre vou amar.
— Promete que vamos dar um jeito de conciliar meus jogos e os seus treinos? — ele pediu.
— Prometo. — ela sorriu.
— Pinky promise? — ele estendeu o dedo para ela.
Ela riu e entrelaçou seu dedo mindinho ao dela. — Pinky promise.


Fim



Nota da autora: Sem nota.

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