Capítulo Único
Desligou o forno, verificou a carne assada com legumes e inalou o delicioso aroma. O mousse de chocolate para a sobremesa e as torradinhas de entrada estavam prontas. Checou os talheres, os pratos e taças, a toalha de mesa de crochê que ganhou de presente da sua avó estava perfeitamente forrada. Passou as mãos tentando esticá-la, mas parou ao sentir algo macio roçar suas pernas. Olhou para baixo e viu o , o gato de pelos brancos e volumosos feito um tufo de algodão, pedindo atenção. Lutou contra o desejo de pegá-lo no colo e encher sua roupa de pelos, mas durou apenas um minuto. Os amigos sabiam do seu amor por gatos e que se não estivesse chamuscada de branco, não seria .
- Só um pouquinho. - Falou com a voz séria, o gato em seus braços e que fechou os olhos ao receber carinho de sua dona na região atrás da cabeça. Ela começou a murmurar palavras com a voz engraçada que costumava usar apenas na presença de gatos e cachorros, não resistia e era um desejo incontrolável. Não podia ver um bichinho e um interruptor clicava dentro de si, quando se dava conta já estava fazendo carinho e usando a voz divertida.
A campainha tocou e seguiu até a porta aos pulinhos. O porteiro conhecia Claire e Andrew, então deixaria eles subirem sem interfonar para o apartamento.
- Eles chegaram. - Cantarolou para o gatinho que olhou-a da mesma forma entediada de sempre. O que fez com que fingisse irritação. - Você deveria se animar mais. - Falou para o bichano e riu. O gatinho ignorou-a e continuou quieto em seu colo.
Ela destrancou a porta e abriu-a, viu os dois rostos familiares que tinham sorrisos alegres e um deles, estendeu uma garrafa de vinho. Pegou com a outra mão livre e sorriu em resposta.
- Eba! - Nem precisou verificar o rótulo. - Diretamente da vinícola dos Rogan. - A família da melhor amiga há gerações produzia uvas e vinhos, uma marca muito conhecida e apreciada por seu sabor e qualidade. Todas as ocasiões especiais, a mulher estava preparada com vinho.
Abriu espaço para que entrassem no apartamento, apenas Andrew se manteve na soleira, parecia aguardar alguma coisa.
Ela franziu a testa, mas seguiu até a mesa e deixou a garrafa.
- Que cheiro gostoso! - Claire colocou a bolsa no sofá de camurça cinza e jogou-se nele, inalando o aroma que estava espalhado por cada cômodo do apartamento.
- Fiz a minha especialidade. - Respondeu e aproximou-se, entregou o gato para o espaço vago ao lado da mulher. E virou-se procurando o amigo, viu-o ainda ocupando a soleira da porta. Franziu a testa. - Precisa de um convite? - Brincou.
A situação com o amigo e marido de sua amiga lembrou-a de uma de suas séries favoritas, The Vampire Diaries. Os vampiros não podiam entrar em uma casa sem o convite dos moradores.
- Então… - Ele coçou a nuca ruiva, a expressão envergonhada.
A esposa cortou-o.
- É que esquecemos de avisar ao amigo dele que teríamos um jantar e ele veio de longe…
O rosto da anfitriã murchou.
- Ah, o vinho foi para consolar o bolo que vocês vão me dar? - Dramatizou, as mãos descansando na cintura. O suéter de tricô preto e a calça de algodão verde musgo estavam cobertos de pelos brancos. Nos pés, usava meias com estampas de gatinhos. Ficou chateada com a possibilidade de ser trocada por outra amizade que sequer conhecia.
Viu a amiga revirar os olhos e continuar acariciando .
- Não, sua boba. - Revirou os olhos novamente. Passou as mãos nos cabelos castanhos e prendeu num coque. - Marcamos há meses o jantar, tivemos que esperar sua turnê acabar para que tivesse tempo para nós, meros mortais. - Provocou. - Andrew insistiu e o fez vir para o feriado, mas esquecemos de te perguntar se poderíamos trazê-lo.
fez uma expressão de compreensão e colocou a mão no peito, um gesto de alívio.
- E onde ele está? - Olhou para a amiga e desviou a atenção para o homem na porta.
- Lá embaixo. - Andrew gesticulou com a mão para o corredor atrás de si.
- Nesse frio? - Ela franziu a testa, a preocupação em seu rosto. - Está muito, muito frio lá fora!
Ambos riram divertidos.
- Posso garantir que ele está muito acostumado com baixas temperaturas. - A amiga ironizou.
- Por quê? Ele veio do Alasca? - Entrou na brincadeira.
- Ele mora em Londres.
- Vocês não estão… - Ela encarou-os acusadoramente, os braços cruzados na frente do corpo, os olhos quase fechados.
Ambos negaram ao mesmo tempo, os rostos cobertos de inocência.
- Vá buscá-lo, Andy. - Ela pediu séria e seguiu até o armário da cozinha, iria adicionar mais um lugar à mesa. - Ou a comida vai esfriar.
Ouviu a porta bater atrás de si.
Passos abafados soaram em seu carpete e sentiu a presença reconfortante de sua amiga ao seu lado, forçou sua atenção em arrumar a mesa. Não queria pensar na dor do término de seu relacionamento e o quanto a ferida ainda estava aberta em seu coração. Passou os últimos seis meses lutando para manter longe de sua mente e pensar que seus amigos poderiam estar querendo que conhecesse outra pessoa, deixava-a preocupada.
- Não foi de propósito, realmente esquecemos de avisar que ele viria. - A voz da amiga soou calma.
Conferiu seu trabalho com a mesa e descansou as mãos nas costas da cadeira, encarando-a.
Claire estava em pé, o quadril descansando na lateral da mesa e os braços cruzados na frente do corpo, o olhar castanho sincero.
Ela soltou um suspiro derrotado e resolveu aproveitar que o amigo não estava por perto para confessar o que vinha perturbando sua mente.
- Eu ainda não superei. - Passou a língua nos lábios, umedecendo-os e pressionou-os com força.
Sentiu a mão quente da amiga nas suas.
- Você vai conseguir. - Afirmou com uma certeza tão grande que trouxe um enorme conforto e uma tranquilidade que arrancou o peso em seus ombros.
- Obrigada. - Apertou a mão em resposta e sorriu.
A porta se abriu e ambas viraram na mesma direção, ouvindo as risadas masculinas. Observou Andrew retirar os sapatos e deixá-los no canto próximo a porta, em seguida, o homem entrou fazendo o mesmo. Segurava uma orquídea branca em um vaso e tinha um sorriso tímido no rosto e maravilhosas covinhas.
- Ele é fofo. - Sussurrou para sua amiga no tom que os ouvidos masculinos não alcançariam.
- Muito.
Ele tinha um porte masculino, quadrado, os cabelos num tom de mel e o nariz bem destacado, mas que combinava com suas feições. Ainda não conseguia definir a cor dos olhos, mas pareciam combinar com os cabelos. Vestia um sobretudo preto e que parecia úmido do sereno lá fora. Um suéter idêntico ao dela, mas muito maior, calça jeans e as meias pretas. Assim que fechou a porta, parou e manteve o sorriso que o tornava uma gracinha, o vaso descansando em suas mãos.
Ouviu a risada do casal de amigos e encarou-os, sabia que tinham reparado o mesmo que ela.
- Parece que compartilham o mesmo estilo excêntrico. - Andrew provocou.
Ela revirou os olhos.
Na sua vida profissional era obrigada a se vestir na última moda, mas quando estava em casa ou convivendo com familiares e amigos, voltava a ser a “excêntrica”. Adorava roupas coloridas, modelos confortáveis e várias estampas, principalmente de gatinhos. E como o jantar era com seus amigos, não preocupou-se com o que vestiria, pois já estavam acostumados a vê-la com roupas mais estampadas. Só vestiu o suéter preto, porque não tinha encontrado o moletom com a sua foto segurando no colo.
O rapaz riu e se aproximou, um sorriso simpático no rosto, mas as covinhas tornando-o ainda mais fofo. Ela descobriu que amava covinhas.
Observou os lábios rosados e cheios, decidindo que seriam muito beijáveis. Sua mente apitou em alerta vermelho para a linha de seus pensamentos, afinal, estava indo por um caminho perigoso, mas sabia que não tinha culpa. O homem realmente atraiu sua atenção.
- . - Estendeu a mão.
- . - Apertou a dela.
Na mesma hora, ela mordeu o lábio inferior para impedir a risada, mas os amigos traíras gargalhavam atrás de si, deliciando-se com a situação que apenas ambos sabiam. - o rapaz, e não seu gatinho - revirou os olhos e abriu um sorriso provocador, abandonando a expressão de timidez.
- Parece que inalaram muito gás do riso. - Falou para , a voz levemente rouca.
- Eles adoram fazer gracinhas, mas não aguentam o chumbo depois.
Ele sorriu malicioso em resposta.
- Exatamente. - Olhar parecia tramar alguma coisa. - Como trouxeram o vinho, - Revirou os olhos, afinal também sabia que Claire era a garota do vinho. - comprei essa flor do outro lado da rua.
- Não precisava, mas obrigada.
Ele deu de ombros.
- Fique à vontade e muito prazer em conhecê-lo. - Deu as costas e seguiu até sua escrivaninha que ocupava um canto de sua sala, aproveitando para lançar um olhar assassino em direção aos amigos.
Não iria admitir, mas era cômico saber que o homem que atraiu sua atenção compartilhava o mesmo nome de batismo do seu gato.
Seria o nome?
XXX
Naquele jantar, surgiu uma amizade entre e - o homem, e não seu gato. Ele teve uma crise de riso até faltar ar nos pulmões e tossir, quando soube que tinha o mesmo nome do gatinho.
E ela encontrou uma óbvia diferença entre eles: o senso de humor.
XXX
You are somebody that I don't know
Você é alguém que eu não conheço
But you're takin' shots at me like it's Patrón
Mas você está me dando tiros como se fossem doses de tequila
Um ano depois…
- Nós podemos cancelar essa turnê.
- Não.
- … - Ouviu o tom preocupado de sua mãe ao telefone.
- Foram meses exaustivos, gastamos muito dinheiro com todos os preparativos e os meus fãs estão ansiosos, não posso decepcioná-los. - Ela soltou um suspiro, a visão embaçada pelas lágrimas. O celular estava pressionado em sua orelha, encarava o teto, o apartamento escuro. Estava deitada em seu sofá com descansando em sua barriga.
- Tem certeza?
- Sim.
- Eles não te conhecem de verdade, não dê ouvido às críticas. Você lutou muito para chegar ao topo. - A mãe lembrou-a, a voz séria, mas era perceptível a sua preocupação. Ouviu os latidos persistentes ao fundo e deduziu que o enorme cachorro de sua mãe e novo filho, queria atenção. Imaginou-a, dando tapinhas carinhosos na cabeça do cachorro.
- Machuca.
- Eu sei, mas vai passar, querida. - Fechou os olhos ao ouvir o tom familiar que sua mãe usava na sua infância, quando um tombo era a maior dor que sofreria em sua vida infantil.
- Obrigada. - Segurou o choro que queria escapar de sua garganta, não queria deixá-la ainda mais preocupada ou a mulher aparecia em sua porta a qualquer momento.
- Eu te amo, querida.
- Eu também, mãe.
Oh-oh, oh-oh, oh-oh, oh-oh, oh-oh
You need to calm down
Você precisa se acalmar
You're being too loud
Você tá fazendo muito barulho
And I'm just like oh-oh, oh-oh, oh-oh, oh-oh, oh
E eu fico tipo oh-oh, oh-oh, oh-oh, oh-oh, oh-oh
Desligou e deixou o telefone cair em seu peito. Secou as lágrimas que escaparam de seu rosto e acariciou que dormia. Sabia que o gato sentia quando a dona estava triste e, por isso, mantinha-se por perto para consolá-lo, o que ajudava-a não se sentir sozinha.
A mídia nos últimos meses vinha bombardeando-a com notícias sobre o seu corpo, analisando as últimas premiações em que apareceu. Perdeu peso, mas porque estava tornando sua alimentação mais saudável. O início da sua carreira e durante muitos anos, rendeu-se a pressão da indústria para se manter dentro dos padrões, mas há anos havia se libertado dos grilhões. Não estava preocupada com sua aparência, somente com sua saúde e, por isso, passou a se alimentar melhor e até a exercitar-se algumas vezes por semana. Vinha trabalhando sua saúde mental para lidar com a pressão da fama, vencia bravamente nos últimos tempos, mas a ansiedade e estresse com os preparativos da turnê, afetaram muito. E justamente, quando o início estava chegando, a mídia colocou-a em exposição negativa, fazendo com que saísse dos trilhos.
You just need to take several seats
Você só precisa se acalmar
And then try to restore the peace
E então tentar restaurar a paz
Pegou cuidadosamente nos braços e ergueu-se do sofá, acendeu a luz da sala e foi até o outro cômodo onde ficava seu piano. Sentou-se no banco acolchoado e deixou o gato em seu colo. Levantou a tampa das teclas e soltou o ar dos pulmões, começando a tocar melodias aleatórias que surgiam de acordo com os sentimentos que lhe sufocavam. Ouviu o celular tocar alto na sala e o gato acordou, jogando-se de seu colo e miando. Parou de tocar e bufou frustrada, não estava preparada para falar com seu produtor. Sabia que sua mãe poderia ter entrado em contato com ele para tentar pedir sua ajuda para convencê-la a cancelar a turnê.
Pegou o aparelho no sofá e viu que era uma chamada de vídeo de -o humano. Pela primeira vez no seu dia, abriu um sorriso divertido com seu pensamento. Toda vez que o rapaz surgia em sua mente ou alguém tocava seu nome, ela fazia esse adendo, o que divertia os amigos e a si mesma.
- Péssima hora? - Ele perguntou com seu sotaque pesado e que o deixavam mais fofo, um sorriso apareceu rodeado por suas covinhas.
Ela fez um som de negação e sorriu, um leve esticar de lábios.
Viu-o franzi a testa de preocupação.
Ouviu seu gatinho roçar em suas pernas cobertas pela calça de moletom e miar alto, o felino havia reconhecido a voz do homem.
- Parece que alguém quer me dizer oi. - Ele riu e passou uma das mãos pelos cabelos. Parecia estar sentado no sofá e deu para ver um pedaço de seu violão.
pegou o bichinho no colo, dando fim ao miado e colocou-o na frente da câmera.
- Diga olá, . - Ela fez a mesma vozinha para o bichinho e ele miou.
- Olá. - Outro disse no aparelho, agitando a mão.
Ela botou o bichinho com cuidado no chão e viu-o correr para o sofá, acomodando-se.
Voltou a atenção para a câmera.
- Mal-humorado. - Ela sorriu divertida.
Ele ignorou o comentário e tornou-se sério.
- Está tudo bem? - Aproximou a câmera do rosto, o olhar atento.
Ela mordeu o lábio inferior para segurar a vontade de chorar ao ouvir a pergunta. Sentia toda a pressão dos últimos meses dentro de si, pareciam querer explodir a qualquer momento e lutava para se manter nos eixos. Ver o amigo com uma preocupação tão sincera, só aumentou a vontade de colocar tudo para fora.
Não queria falar e acabar chorando, por isso apenas confirmou com um gesto de cabeça, forçando um sorriso que mais pareceu uma careta.
Seguiu até a poltrona confortável e sentou, abraçando os joelhos e mantendo o celular em sua direção.
- Mentirosa. - Acusou-a. O tom tornou-se preocupado. - Tenho acompanhado as notícias…
A visão dela tornou-se embaçada. Sabia que o amigo também teria acesso, mas como costumava evitar, achou que não veria. Claire também tinha as visto e visitado-a no dia anterior, tiveram uma longa conversa e tomaram muito vinho até pegar no sono. Adormeceu no sofá e acordou envolta em uma manta quentinha, a amiga abraçando-a. Ali, sentiu-se bem, mas quando ficou sozinha novamente, toda a angústia voltou a ser sua companheira.
Soltou um suspiro sofrido e massageou as têmporas.
- Tem sido… Difícil. - A voz rouca pelo choro preso em sua garganta, olhava para a câmera.
Ele encarava-a com atenção e tinha uma postura tão reconfortante, tranquila, fazendo com que uma sensação de segurança dominasse-a. Havia descoberto no rapaz, um ouvinte de confiança e que, no final, ajudava a enxergar onde estava o erro. Era o tipo de amizade que estaria disposto a ouvir, sem qualquer tipo de julgamento e que, no final, teria a palavra certa a dizer, mesmo que doesse. E esse foi um dos motivos que se tornaram tão próximos no ano anterior.
Permaneceu em silêncio, incentivando-a a continuar.
- Eu lancei um dos melhores álbuns da minha carreira, - listou com uma das mãos. - todas as músicas ficaram nas paradas de sucesso, foi indicado ao Grammy… - deixou a mão cair e soltou um suspiro irritado. - e estão mais preocupados se visto 38 ou 36. - cobriu o rosto com a mão livre.
O homem não abriu a boca. Sentiu-se confortável para continuar.
- Só sabem focar nos meus relacionamentos e no meu corpo. - descobriu o rosto e bufou novamente, começou a gesticular com a mão livre. - Não olham só para o meu trabalho e eu odeio tudo isso! Isso machuca! - Soltou o ar dos pulmões, a voz magoada. - Eu estou preparando a maior turnê de todas com uma estrutura absurda! Gastei milhões! E o que querem saber quando procuram minha assessoria? - Perguntou irritada sem esperar por uma resposta. Tornou a voz fina e debochada. - , você está namorando Collins Simpson? Você está fazendo alguma dieta? É verdade que odeia a Katy Perry? - Soltou um som de frustração e cobriu o rosto com a mão livre novamente.
O silêncio dominou a chamada por longos minutos. Ela ainda escondia o rosto com a mão e mexia a cabeça em um gesto negativo, o coração acelerado por colocar todo o peso e os pensamentos que lhe dominavam nos últimos meses. Ele olhava-a pacientemente, o rosto não denunciava o que se passava em sua cabeça. Ficaram nesse momento confortável até que ela se sentiu pronta para encará-lo novamente.
Ouviu-o suspirar e encará-la seriamente.
- Você precisa de um tempo.
- Eu não posso. - Soltou frustrada. - A turnê começa em três dias e a minha vida vai ficar corrida, viajando de um lado para o outro, milhares de entrevistas, muitas horas de voo, problemas técnicos de última hora para resolver…
- Calma. - Pediu num tom doce tentando desacelerar a amiga. - Você está muito agitada.
- Eu sei. - Deu de ombros.
Retornou o silêncio e ela percebeu que ele parecia considerar algo muito importante.
- Venha conhecer Londres.
A testa dela franziu numa mistura de surpresa e confusão.
- Já conheço Londres. - Riu.
Ele revirou os olhos e abriu um sorriso divertido, as covinhas dizendo “olá’’ novamente.
- Não a minha Londres. - Piscou.
Ela riu e em seguida, mordeu o lábio inferior pensativa.
- Eu viajo em três dias.
- Se conseguir um voo hoje, estará aqui pela manhã e teremos um dia para conhecer a minha cidade.
- Mas significa que no dia seguinte, tenho que estar de volta.
- Sim, mas se viajar amanhã à noite, tudo dará certo.
- E se não der? - Perguntou receosa.
- Vai dar. - Afirmou confiante.
Ambos encaravam-se. Ele parecia repleto de expectativa pela resposta enquanto ela estava mergulhada em dúvidas. Temia fazer aquela loucura e causar problemas para o início da turnê, além disso, sua mãe e seu produtor morreriam ao saber o que ela havia feito. Mas e ela? Como se sentia sobre isso? Seria divertido passar um tempo com , mesmo que curto e não se viam há meses desde o aniversário de Claire. Sentia falta da companhia do amigo e uma visita não faria mal, afinal, prometia visitá-lo, mas não tinha tomado uma atitude para realmente fazer acontecer.
Fechou os olhos e tomou sua decisão. Reabriu-os temerosa e olhou o amigo.
- Eu vou.
XXX
estava aliviada.
Viu Londres passar através da janela do táxi, a expressão ansiosa e animada. A últimas horas até chegar ali foram muito corridas. Conseguiu as passagens, arrumou uma mochila, vestiu sapatos confortáveis e adiantou a estadia de - o gato - na casa de Claire e Andrew. Contou a aventura e sua melhor amiga preocupada, questionou-a, bem longe do marido, se estava rolando alguma coisa, além da amizade entre eles. Negou, o que era verdade, mas omitiu o fato de que estava começando a entrar num caminho sinuoso, quando se tratava de . Ela confessou suas suspeitas sobre o amigo, o que deixou a cantora nervosa. Sua família e seu produtor não estavam cientes de sua viagem e se a mídia descobrisse, tudo iria por água abaixo. Esforçou-se ao máximo para passar despercebida e o alívio em estar em Londres, sem qualquer paparazzi em sua cola, tranquilizou-a.
O veículo parou em frente a uma casa simples com um gramado, uma garagem de carros e uma pequena varanda na entrada. Avistou na entrada, sentado nos degraus e que se ergueu rapidamente ao vê-la desembarcar. Aproximaram-se um do outro e envolveram-se em um abraço apertado. Ela respirou fundo, inalando o perfume masculino e sentiu-se feliz em estar ali. A sensação que teve era que ele não tinha pressa em soltá-la, o que reforçou as palavras de Claire na noite anterior.
Será que estava apaixonado por ela?
O familiar frio na barriga tomou conta de si e afastou-se delicadamente, desfazendo o abraço.
Uma rajada de vento frio atingiu-os e lhe causou arrepios. O amigo riu, observando-a.
- Londres está te dando boas-vindas. - Abriu os braços, as covinhas em evidência. O vento bagunçando seus cabelos.
- Obrigada, Londres. - Sorriu debochada, as mãos esfregando os braços numa tentativa de manter-se aquecida. - Você não me disse que estava tão frio. - Acusou-o.
- Desculpa. - Sua expressão envergonhada. - Aqui é sempre frio e nublado, então nunca sofro com a mudança de temperatura. - Deu de ombros e escondeu as mãos no bolso.
Ela fez um gesto de pouco caso com a mão.
- Qual é o nosso roteiro? - Perguntou curiosa enquanto o seguia até em casa.
- Espere e verá.
XXX
- Vou morrer congelada! - Ela falou indignada enquanto colocava um capacete na cabeça e via subir na scooter azul.
Comeu torradas com geleia de morango e tomou chá quente com leite, tomou banho e vestiu por cima de suas roupas, o mesmo suéter que o amigo usou no jantar que se conheceram. Conseguiu ficar mais aquecida, mas seria difícil manter a temperatura ao rodar Londres na garupa da motocicleta.
As covinhas apareceram, o olhar dele era divertido.
- O seu sotaque é tão bonitinho. - Provocou-a tentando imitá-la, apertou uma de suas bochechas, a mão fria.
O coração dela acelerou ao sentir o toque inesperado. Cruzou as mãos na frente do corpo e disfarçou a reação apaixonada com um revirar de olhos.
- O seu também. - Imitou-o.
A expressão passou rápida por seu rosto, mas ela viu.
disfarçou com uma risada.
- Vamos ou não iremos conhecer todos os lugares que planejei. - Girou a chave da ignição e encarou-a, o motor aquecendo.
Ela soltou o ar dos pulmões.
- Espero que morra de culpa, caso eu tenha hipotermia.
- Se você me agarrar bem apertado, posso mantê-la aquecida. - O olhar e a voz não combinavam, tentavam enganá-la. Um demonstrava malícia, o outro respingou deboche.
Foi pega de surpresa pela provocação e levou alguns segundos para reagir. Riu debochada, mas o coração continuava a todo vapor.
- HAHAHA. - Debochou. - Não sabia que você se chamava Tocha humana.
Ele piscou provocador.
- Vem ou não?
Ela acomodou-se atrás dele, envolveu sua cintura bem apertado e soltou o ar dos pulmões.
- Pisa fundo, , o homem. - Riu divertida, a bochecha descansando nas costas do rapaz.
Ouviu-o gargalhar e, em seguida, a moto entrou em movimento. Saíram do bairro residencial e pegaram o trânsito da cidade rumo à Highgate Wood. O vento congelante açoitando o seu rosto e arrepiando todo o seu corpo, mas sentia-se tão feliz de estar ali que lutava para ignorar o incômodo do clima. Observava os carros, as pessoas, as lojas, cada canto dos lugares por onde passavam. Aquele dia era um dos momentos que gostaria que não acabasse e durasse para todo o sempre, mas sabia que seria impossível. Não se arrependia de estar ali e estava grata pela companhia do amigo. Iria focar apenas em viver aquele dia e abandonaria todas as suas preocupações. Pensaria nelas, apenas quando desembarcasse do avião.
- Aqui é a Oxford Street! - Gritou acima do barulho e apontou para a calçada.
- Eu sei! - Respondeu no mesmo volume, sentou-se mais reta e afrouxou o aperto, envergonhada, ao perceber que havia grudado ao corpo dele como uma mochila ou até mesmo, um carrapato. - Estive aqui!
- Chata!
Ela riu divertida e sentiu as costas dele, tremendo pelo riso.
Tinha certeza que o próprio rosto deveria estar estampando um imenso sorriso, além da pele estar assada pelo vento congelante. Lembraria-se de evitar uma moto quando estivesse em Londres novamente, se bem que a viagem incluísse , ela toparia novamente.
Ele fez uma curva por entre os veículos, os famosos ônibus vermelhos repletos de turistas passavam pelo trajeto. Nunca tinha andado neles, mas numa próxima visita iria fazê-lo. Levantou o olhar para o céu e observou-o nublado, o risco de chuva iminente. Torcia profundamente para que não acontecesse. Descansou a cabeça novamente nas costas que que parecia tranquilo enquanto pilotava a motocicleta. Se dissessem um ano atrás que teria fugido para um dia de aventura em Londres numa motocicleta, ela riria na cara do felizardo e depois, escreveria uma música sobre aquela loucura.
Os seus olhos se arregalaram com a constatação. Sabia como eternizar aquela aventura com . E ela o faria.
- A Bond Street! - Apontou para a rua que haviam acabado de entrar.
As dezenas de lojas, principalmente de grifes, começaram a surgir.
- Não conhecia!
Sentiu a tremedeira novamente e em seguida, ele buzinou três vezes seguidas numa espécie de comemoração e o que arrancou uma gargalhada dela. Ele reduziu a velocidade para que ela pudesse observar toda a rua.
Sentia-se tão alegre, leve que seria capaz de flutuar. Não se assustaria caso surgissem belas asas brancas em suas costas. O sentimento de felicidade parecia envolvê-la em uma aura e era tão prazeroso que os olhos encheram-se de lágrimas. Vivenciava uma que estava escondida em um canto escuro dentro de si e agora, pelo menos naquele dia, ela havia se libertado de seus grilhões e lutaria para não ser pega novamente.
XXX
A moto entrou em um caminho repleto de árvores, um cenário de diversos troncos longos e marrons escuros, além de galhos com folhas verde musgo. Poderia ser o cenário de um romance de época. Tinha uma imensa placa de madeira, talhada com o nome Highgate Wood. Estacionaram na entrada do lugar, a rua atrás deles não passavam nenhum veículo e não tinham pessoas por perto, um local bastante reservado para curtir um momento de solidão e, também, o cenário perfeito para se cometer um crime. Afastou o pensamento tenebroso e focou na beleza da natureza.
Puxou o celular do bolso e fotografou as árvores.
- 28 hectares de bosques. - Ele cruzou os braços e observou.
Ambos seguiram lado a lado, caminhando sem pressa em direção ao bosque.
- É lindo. - Admirou ao seu redor.
- Estou aliviado em saber disso, fiquei preocupado de você não curtir. - Confessou, o alívio aparente em seu rosto. - Gosto de lugares tranquilos e que dê para ouvir os meus próprios pensamentos…
- E aqui é um desses.
Ele confirmou com um gesto de cabeça.
- Além de ser um bom lugar para matar alguém, caso decidam me encher o saco.
Encarou-o e forçou uma expressão de medo.
Ele mexeu a sobrancelha direita várias vezes, as covinhas decorando o sorriso provocativo.
Ela riu e caminhou até uma árvore próxima. O som do seu riso ecoando através dos troncos e na profundidade do bosque. Soltou um suspiro de satisfação ao tocar uma árvore e levantou a cabeça para observar seu topo, o céu cinza logo acima.
Ouviu o som de uma câmera de celular e virou-se assustada, avistou-o com o aparelho em sua direção.
- Merecia uma foto de recordação. - Sorriu e sentou-se em um pedaço de tronco. Metros de distância separando-os.
- Tudo bem. - Sorriu sem jeito.
Sentou-se com ele em silêncio. O corpo e mente cientes da proximidade dele. Esforçou-se para manter a respiração controlada e torceu para que não fosse possível escutar as batidas agitadas de seu coração. Estar ali, compartilhando aquele lugar e perceber que havia se preocupado com ela, fazia o seu coração derreter-se ainda mais.
- Hum? - Murmurou distraidamente ao perceber que ele tinha dito algo. A expressão estava relaxada, os braços envolvendo os joelhos e o olhar perdido no lugar.
- Qual cena encaixaria aqui?
Ela fez um som com a boca que indicava que estava considerando a pergunta. A mente dela começou a criar hipóteses.
- Imagino séculos atrás, uma moça com um longo vestido azul, segurando-o para evitar esbarrar em sua barra e que está indo encontrar o amado para dizer que terá que se casar com outro.
Virou para encará-lo.
Ele parecia concentrado e apenas confirmou com um gesto de cabeça. Apontou para o lado esquerdo.
- O rapaz viria correndo de lá, ofegante, vestindo suspensório e todo suado. - Levantou e caminhou calmamente em direção ao local. Parou e virou-se, parecendo aguardar.
Ela franziu a testa em confusão.
- Você não vem, minha amada? - Abriu um sorriso brincalhão, o sotaque acentuado.
Ela riu e levantou-se. Seguiu para o lado oposto e ambos começaram a caminhar um na direção do outro, passos tranquilos. parou a dois passos de distância, uma das mãos tocando o tronco da árvore.
- Eu vou me casar com outro, . - Forçou uma voz feminina e dramática.
Ele apressou o passo e diminuiu a distância, podendo abraçá-la facilmente. O olhar dele compartilhava a diversão.
- Não, . - A entonação que usou para pronunciar o nome dela e a expressão séria fez o peito bater mais forte, a boca ficou seca e as palmas da mão escorregadias.
- Meu pai me obrigou. - Ela desviou o olhar para o chão e respirou fundo.
Sentiu um leve toque em seu queixo, a mão de fria ergueu sua cabeça com delicadeza. Estavam muito próximos, deixando-a nervosa. Ansiosa pelo beijo, fez com que olhasse para os lábios deles, a própria boca pinicando de vontade de tocá-lo.
- Você é minha, . - Ele sussurrou e foi aproximando a cabeça bem devagar.
A mente dela parecia que iria explodir e desmaiaria ali feito um tronco recém-cortado. Sua cabeça repetia sem parar, chocada que ele realmente iria beijá-la. O pânico foi tão grande que ela desviou o olhar, a cena parecendo em câmera lenta, mas na verdade foram segundos. Tudo muito rápido. Olhou para o galho atrás da cabeça dele e viu uma cobra da cor do tronco. Deu um grito e se afastou para trás, caindo de bunda no chão, espanto em sua face.
- Está tudo bem? - Ele perguntou surpreso, esticou a mão para ajudá-la.
- Cobra! - Apontou e ele viu-a enrolada em um galho acima de sua cabeça. Deu um pulo para frente, afastando-se e quase caiu em cima da mulher, mas desviou.
Ela levantou e deu batidinhas na calça para limpar a terra do tecido. Viu um pálido.
- Você está bem? - Aproximou-se preocupada.
- Detesto cobra. - Soltou o ar dos pulmões, os olhos assustados.
Ela franziu a testa e compreendeu a situação. Abriu um sorriso doce e indicou a moto que estava alguns metros de distância.
- Podemos ir?
O alívio na expressão dele foi explícito.
Ela sorriu e cruzou os braços, acompanhando-o por todo o trajeto. Ambos em silêncio. parecia se recuperar do susto enquanto ela ainda estava atordoada sobre o quase beijo. Viu-o colocar o capacete, o rosto mais corado. Quando encarou-a, estendeu o capacete, as covinhas apareceram e ela perdeu a noção do tempo, da vida e de onde estava, o coração acelerado.
estava muito apaixonada por .
XXX
- Muito obrigada. - Apertou o rapaz em seus braços e inalou o perfume.
Depois de se recuperarem do Highgate Wood, eles almoçaram na casa de um amigo de infância, Jeremy. Eles compartilharam suas aventuras na faculdade e no West End, além de convidá-la para ir ao pub com os outros amigos para assistir uma partida de Rugby e tomar muita cerveja.
Foi muito divertido e criou uma esperança de que realmente estava apaixonado por ela, afinal, por que apresentaria para um amigo de infância?
Em seguida, passearam pelo Mercado de Candem e tomaram o chá da tarde. Quando a noite caiu, beberam no Soho e depois, voltaram para a casa dele. Pegou sua mochila e tinha que correr para o aeroporto ou perderia o voo.
O quase beijo ficou esquecido e isso a entristeceu, mas não queria perder a mágica daquele dia, mesmo que o rapaz inglês não tivesse se ajoelhado à sua frente e rasgado o coração com declarações de amor.
Estava apaixonada por ele.
Gostava das covinhas, o som da sua risada e o sotaque. Amava a forma que ele olhava para ela, quando estava querendo desabafar. Adorava o senso de humor e mais ainda, o fato de ter dois que em sua vida. Poderia abrir o próprio coração e revelar os seus sentimentos, mas valeria a pena perder um amigo? Não estava pronta para correr esse risco.
- Boa turnê, . - Soltou-a gentilmente e depositou um beijo em sua bochecha. Afastou-se e não avistou nenhuma covinha em seu rosto.
- Se cuida. - Ela desejou. Sentia, perfeitamente, o calor do beijo depositado em sua bochecha. Queria tocá-la com seus dedos e mergulhar na sensação, mas esforçou-se para não demonstrar o que se passava dentro de si.
Entrou no táxi e bateu a porta, abaixou o vidro da janela e colocou a cabeça para fora. Estava parado na calçada com as mãos escondidas no bolso, a expressão séria.
- A próxima aventura é por minha conta. - Ela gritou e acenou em despedida.
Ouviu-o gargalhar pela última vez.
O veículo entrou em movimento e ela virou para trás, vendo-o com um braço esticado em despedida, tornando-se cada vez menor até sumir de vista. Virou-se para frente novamente, abraçou sua mochila e sentiu o perfume dele no suéter.
Não tinha como mentir para si mesma.
XXX
passou todo o voo de volta para casa com a sensação de que o próprio coração não estava em seu peito. Ele havia ficado em Londres.
Ocupou a poltrona na área executiva e abriu o celular, começou a digitar a música que não saía de sua cabeça.
XXX
Quatro meses depois…
A turnê foi um sucesso.
estava feliz consigo mesma e toda a aura negativa que estava em cima havia desaparecido. A paz e felicidade dominavam o seu coração, sentia-se pronta para a próxima luta.
Ela e continuavam amigos. Infelizmente, estava sofrendo por ele. Alcançou um patamar em que o amor não permitia que continuasse ocupando o cargo de amiga, encontrando uma bifurcação em seu caminho. Ou afastava-se ou contava a verdade. Conversou muito com Claire para criar coragem e por isso, lançou a música London Boy que escreveu sobre a aventura que tiveram juntos. Uma declaração mais do que clara de seu amor por ele.
Avisou horas antes de que iria se apresentar ao vivo em um programa de TV. Ele confirmou que assistiria e por isso, estava muito mais nervosa.
Quando chegou a hora, cantou com todo coração e derramou todo o sentimento naquela canção. Recordou-se de cada momento, os conselhos, as risadas, as vídeo-chamadas, o único quase beijo. Colocou tudo de si naquela letra e torcia para que ele entendesse a mensagem.
Quando saiu do estúdio e entrou em seu carro, parecia que iria explodir de ansiedade. Ocupou o banco ao lado de sua mãe e pegou o celular de sua mão. Respirou fundo duas vezes e desbloqueou a tela, abriu as mensagens e lá estava, , o humano. Clicou e leu, o coração aos pulos.
Que os céus me ajudem! Eu me apaixonei por uma americana!
Ela soltou um gritinho animado e se jogou nos braços da mãe que encarou-a confusa.
- Ele está apaixonado por mim! - Repetiu sem parar, gargalhando.
- Só um pouquinho. - Falou com a voz séria, o gato em seus braços e que fechou os olhos ao receber carinho de sua dona na região atrás da cabeça. Ela começou a murmurar palavras com a voz engraçada que costumava usar apenas na presença de gatos e cachorros, não resistia e era um desejo incontrolável. Não podia ver um bichinho e um interruptor clicava dentro de si, quando se dava conta já estava fazendo carinho e usando a voz divertida.
A campainha tocou e seguiu até a porta aos pulinhos. O porteiro conhecia Claire e Andrew, então deixaria eles subirem sem interfonar para o apartamento.
- Eles chegaram. - Cantarolou para o gatinho que olhou-a da mesma forma entediada de sempre. O que fez com que fingisse irritação. - Você deveria se animar mais. - Falou para o bichano e riu. O gatinho ignorou-a e continuou quieto em seu colo.
Ela destrancou a porta e abriu-a, viu os dois rostos familiares que tinham sorrisos alegres e um deles, estendeu uma garrafa de vinho. Pegou com a outra mão livre e sorriu em resposta.
- Eba! - Nem precisou verificar o rótulo. - Diretamente da vinícola dos Rogan. - A família da melhor amiga há gerações produzia uvas e vinhos, uma marca muito conhecida e apreciada por seu sabor e qualidade. Todas as ocasiões especiais, a mulher estava preparada com vinho.
Abriu espaço para que entrassem no apartamento, apenas Andrew se manteve na soleira, parecia aguardar alguma coisa.
Ela franziu a testa, mas seguiu até a mesa e deixou a garrafa.
- Que cheiro gostoso! - Claire colocou a bolsa no sofá de camurça cinza e jogou-se nele, inalando o aroma que estava espalhado por cada cômodo do apartamento.
- Fiz a minha especialidade. - Respondeu e aproximou-se, entregou o gato para o espaço vago ao lado da mulher. E virou-se procurando o amigo, viu-o ainda ocupando a soleira da porta. Franziu a testa. - Precisa de um convite? - Brincou.
A situação com o amigo e marido de sua amiga lembrou-a de uma de suas séries favoritas, The Vampire Diaries. Os vampiros não podiam entrar em uma casa sem o convite dos moradores.
- Então… - Ele coçou a nuca ruiva, a expressão envergonhada.
A esposa cortou-o.
- É que esquecemos de avisar ao amigo dele que teríamos um jantar e ele veio de longe…
O rosto da anfitriã murchou.
- Ah, o vinho foi para consolar o bolo que vocês vão me dar? - Dramatizou, as mãos descansando na cintura. O suéter de tricô preto e a calça de algodão verde musgo estavam cobertos de pelos brancos. Nos pés, usava meias com estampas de gatinhos. Ficou chateada com a possibilidade de ser trocada por outra amizade que sequer conhecia.
Viu a amiga revirar os olhos e continuar acariciando .
- Não, sua boba. - Revirou os olhos novamente. Passou as mãos nos cabelos castanhos e prendeu num coque. - Marcamos há meses o jantar, tivemos que esperar sua turnê acabar para que tivesse tempo para nós, meros mortais. - Provocou. - Andrew insistiu e o fez vir para o feriado, mas esquecemos de te perguntar se poderíamos trazê-lo.
fez uma expressão de compreensão e colocou a mão no peito, um gesto de alívio.
- E onde ele está? - Olhou para a amiga e desviou a atenção para o homem na porta.
- Lá embaixo. - Andrew gesticulou com a mão para o corredor atrás de si.
- Nesse frio? - Ela franziu a testa, a preocupação em seu rosto. - Está muito, muito frio lá fora!
Ambos riram divertidos.
- Posso garantir que ele está muito acostumado com baixas temperaturas. - A amiga ironizou.
- Por quê? Ele veio do Alasca? - Entrou na brincadeira.
- Ele mora em Londres.
- Vocês não estão… - Ela encarou-os acusadoramente, os braços cruzados na frente do corpo, os olhos quase fechados.
Ambos negaram ao mesmo tempo, os rostos cobertos de inocência.
- Vá buscá-lo, Andy. - Ela pediu séria e seguiu até o armário da cozinha, iria adicionar mais um lugar à mesa. - Ou a comida vai esfriar.
Ouviu a porta bater atrás de si.
Passos abafados soaram em seu carpete e sentiu a presença reconfortante de sua amiga ao seu lado, forçou sua atenção em arrumar a mesa. Não queria pensar na dor do término de seu relacionamento e o quanto a ferida ainda estava aberta em seu coração. Passou os últimos seis meses lutando para manter longe de sua mente e pensar que seus amigos poderiam estar querendo que conhecesse outra pessoa, deixava-a preocupada.
- Não foi de propósito, realmente esquecemos de avisar que ele viria. - A voz da amiga soou calma.
Conferiu seu trabalho com a mesa e descansou as mãos nas costas da cadeira, encarando-a.
Claire estava em pé, o quadril descansando na lateral da mesa e os braços cruzados na frente do corpo, o olhar castanho sincero.
Ela soltou um suspiro derrotado e resolveu aproveitar que o amigo não estava por perto para confessar o que vinha perturbando sua mente.
- Eu ainda não superei. - Passou a língua nos lábios, umedecendo-os e pressionou-os com força.
Sentiu a mão quente da amiga nas suas.
- Você vai conseguir. - Afirmou com uma certeza tão grande que trouxe um enorme conforto e uma tranquilidade que arrancou o peso em seus ombros.
- Obrigada. - Apertou a mão em resposta e sorriu.
A porta se abriu e ambas viraram na mesma direção, ouvindo as risadas masculinas. Observou Andrew retirar os sapatos e deixá-los no canto próximo a porta, em seguida, o homem entrou fazendo o mesmo. Segurava uma orquídea branca em um vaso e tinha um sorriso tímido no rosto e maravilhosas covinhas.
- Ele é fofo. - Sussurrou para sua amiga no tom que os ouvidos masculinos não alcançariam.
- Muito.
Ele tinha um porte masculino, quadrado, os cabelos num tom de mel e o nariz bem destacado, mas que combinava com suas feições. Ainda não conseguia definir a cor dos olhos, mas pareciam combinar com os cabelos. Vestia um sobretudo preto e que parecia úmido do sereno lá fora. Um suéter idêntico ao dela, mas muito maior, calça jeans e as meias pretas. Assim que fechou a porta, parou e manteve o sorriso que o tornava uma gracinha, o vaso descansando em suas mãos.
Ouviu a risada do casal de amigos e encarou-os, sabia que tinham reparado o mesmo que ela.
- Parece que compartilham o mesmo estilo excêntrico. - Andrew provocou.
Ela revirou os olhos.
Na sua vida profissional era obrigada a se vestir na última moda, mas quando estava em casa ou convivendo com familiares e amigos, voltava a ser a “excêntrica”. Adorava roupas coloridas, modelos confortáveis e várias estampas, principalmente de gatinhos. E como o jantar era com seus amigos, não preocupou-se com o que vestiria, pois já estavam acostumados a vê-la com roupas mais estampadas. Só vestiu o suéter preto, porque não tinha encontrado o moletom com a sua foto segurando no colo.
O rapaz riu e se aproximou, um sorriso simpático no rosto, mas as covinhas tornando-o ainda mais fofo. Ela descobriu que amava covinhas.
Observou os lábios rosados e cheios, decidindo que seriam muito beijáveis. Sua mente apitou em alerta vermelho para a linha de seus pensamentos, afinal, estava indo por um caminho perigoso, mas sabia que não tinha culpa. O homem realmente atraiu sua atenção.
- . - Estendeu a mão.
- . - Apertou a dela.
Na mesma hora, ela mordeu o lábio inferior para impedir a risada, mas os amigos traíras gargalhavam atrás de si, deliciando-se com a situação que apenas ambos sabiam. - o rapaz, e não seu gatinho - revirou os olhos e abriu um sorriso provocador, abandonando a expressão de timidez.
- Parece que inalaram muito gás do riso. - Falou para , a voz levemente rouca.
- Eles adoram fazer gracinhas, mas não aguentam o chumbo depois.
Ele sorriu malicioso em resposta.
- Exatamente. - Olhar parecia tramar alguma coisa. - Como trouxeram o vinho, - Revirou os olhos, afinal também sabia que Claire era a garota do vinho. - comprei essa flor do outro lado da rua.
- Não precisava, mas obrigada.
Ele deu de ombros.
- Fique à vontade e muito prazer em conhecê-lo. - Deu as costas e seguiu até sua escrivaninha que ocupava um canto de sua sala, aproveitando para lançar um olhar assassino em direção aos amigos.
Não iria admitir, mas era cômico saber que o homem que atraiu sua atenção compartilhava o mesmo nome de batismo do seu gato.
Seria o nome?
Naquele jantar, surgiu uma amizade entre e - o homem, e não seu gato. Ele teve uma crise de riso até faltar ar nos pulmões e tossir, quando soube que tinha o mesmo nome do gatinho.
E ela encontrou uma óbvia diferença entre eles: o senso de humor.
You are somebody that I don't know
Você é alguém que eu não conheço
But you're takin' shots at me like it's Patrón
Mas você está me dando tiros como se fossem doses de tequila
Um ano depois…
- Nós podemos cancelar essa turnê.
- Não.
- … - Ouviu o tom preocupado de sua mãe ao telefone.
- Foram meses exaustivos, gastamos muito dinheiro com todos os preparativos e os meus fãs estão ansiosos, não posso decepcioná-los. - Ela soltou um suspiro, a visão embaçada pelas lágrimas. O celular estava pressionado em sua orelha, encarava o teto, o apartamento escuro. Estava deitada em seu sofá com descansando em sua barriga.
- Tem certeza?
- Sim.
- Eles não te conhecem de verdade, não dê ouvido às críticas. Você lutou muito para chegar ao topo. - A mãe lembrou-a, a voz séria, mas era perceptível a sua preocupação. Ouviu os latidos persistentes ao fundo e deduziu que o enorme cachorro de sua mãe e novo filho, queria atenção. Imaginou-a, dando tapinhas carinhosos na cabeça do cachorro.
- Machuca.
- Eu sei, mas vai passar, querida. - Fechou os olhos ao ouvir o tom familiar que sua mãe usava na sua infância, quando um tombo era a maior dor que sofreria em sua vida infantil.
- Obrigada. - Segurou o choro que queria escapar de sua garganta, não queria deixá-la ainda mais preocupada ou a mulher aparecia em sua porta a qualquer momento.
- Eu te amo, querida.
- Eu também, mãe.
Oh-oh, oh-oh, oh-oh, oh-oh, oh-oh
You need to calm down
Você precisa se acalmar
You're being too loud
Você tá fazendo muito barulho
And I'm just like oh-oh, oh-oh, oh-oh, oh-oh, oh
E eu fico tipo oh-oh, oh-oh, oh-oh, oh-oh, oh-oh
Desligou e deixou o telefone cair em seu peito. Secou as lágrimas que escaparam de seu rosto e acariciou que dormia. Sabia que o gato sentia quando a dona estava triste e, por isso, mantinha-se por perto para consolá-lo, o que ajudava-a não se sentir sozinha.
A mídia nos últimos meses vinha bombardeando-a com notícias sobre o seu corpo, analisando as últimas premiações em que apareceu. Perdeu peso, mas porque estava tornando sua alimentação mais saudável. O início da sua carreira e durante muitos anos, rendeu-se a pressão da indústria para se manter dentro dos padrões, mas há anos havia se libertado dos grilhões. Não estava preocupada com sua aparência, somente com sua saúde e, por isso, passou a se alimentar melhor e até a exercitar-se algumas vezes por semana. Vinha trabalhando sua saúde mental para lidar com a pressão da fama, vencia bravamente nos últimos tempos, mas a ansiedade e estresse com os preparativos da turnê, afetaram muito. E justamente, quando o início estava chegando, a mídia colocou-a em exposição negativa, fazendo com que saísse dos trilhos.
You just need to take several seats
Você só precisa se acalmar
And then try to restore the peace
E então tentar restaurar a paz
Pegou cuidadosamente nos braços e ergueu-se do sofá, acendeu a luz da sala e foi até o outro cômodo onde ficava seu piano. Sentou-se no banco acolchoado e deixou o gato em seu colo. Levantou a tampa das teclas e soltou o ar dos pulmões, começando a tocar melodias aleatórias que surgiam de acordo com os sentimentos que lhe sufocavam. Ouviu o celular tocar alto na sala e o gato acordou, jogando-se de seu colo e miando. Parou de tocar e bufou frustrada, não estava preparada para falar com seu produtor. Sabia que sua mãe poderia ter entrado em contato com ele para tentar pedir sua ajuda para convencê-la a cancelar a turnê.
Pegou o aparelho no sofá e viu que era uma chamada de vídeo de -o humano. Pela primeira vez no seu dia, abriu um sorriso divertido com seu pensamento. Toda vez que o rapaz surgia em sua mente ou alguém tocava seu nome, ela fazia esse adendo, o que divertia os amigos e a si mesma.
- Péssima hora? - Ele perguntou com seu sotaque pesado e que o deixavam mais fofo, um sorriso apareceu rodeado por suas covinhas.
Ela fez um som de negação e sorriu, um leve esticar de lábios.
Viu-o franzi a testa de preocupação.
Ouviu seu gatinho roçar em suas pernas cobertas pela calça de moletom e miar alto, o felino havia reconhecido a voz do homem.
- Parece que alguém quer me dizer oi. - Ele riu e passou uma das mãos pelos cabelos. Parecia estar sentado no sofá e deu para ver um pedaço de seu violão.
pegou o bichinho no colo, dando fim ao miado e colocou-o na frente da câmera.
- Diga olá, . - Ela fez a mesma vozinha para o bichinho e ele miou.
- Olá. - Outro disse no aparelho, agitando a mão.
Ela botou o bichinho com cuidado no chão e viu-o correr para o sofá, acomodando-se.
Voltou a atenção para a câmera.
- Mal-humorado. - Ela sorriu divertida.
Ele ignorou o comentário e tornou-se sério.
- Está tudo bem? - Aproximou a câmera do rosto, o olhar atento.
Ela mordeu o lábio inferior para segurar a vontade de chorar ao ouvir a pergunta. Sentia toda a pressão dos últimos meses dentro de si, pareciam querer explodir a qualquer momento e lutava para se manter nos eixos. Ver o amigo com uma preocupação tão sincera, só aumentou a vontade de colocar tudo para fora.
Não queria falar e acabar chorando, por isso apenas confirmou com um gesto de cabeça, forçando um sorriso que mais pareceu uma careta.
Seguiu até a poltrona confortável e sentou, abraçando os joelhos e mantendo o celular em sua direção.
- Mentirosa. - Acusou-a. O tom tornou-se preocupado. - Tenho acompanhado as notícias…
A visão dela tornou-se embaçada. Sabia que o amigo também teria acesso, mas como costumava evitar, achou que não veria. Claire também tinha as visto e visitado-a no dia anterior, tiveram uma longa conversa e tomaram muito vinho até pegar no sono. Adormeceu no sofá e acordou envolta em uma manta quentinha, a amiga abraçando-a. Ali, sentiu-se bem, mas quando ficou sozinha novamente, toda a angústia voltou a ser sua companheira.
Soltou um suspiro sofrido e massageou as têmporas.
- Tem sido… Difícil. - A voz rouca pelo choro preso em sua garganta, olhava para a câmera.
Ele encarava-a com atenção e tinha uma postura tão reconfortante, tranquila, fazendo com que uma sensação de segurança dominasse-a. Havia descoberto no rapaz, um ouvinte de confiança e que, no final, ajudava a enxergar onde estava o erro. Era o tipo de amizade que estaria disposto a ouvir, sem qualquer tipo de julgamento e que, no final, teria a palavra certa a dizer, mesmo que doesse. E esse foi um dos motivos que se tornaram tão próximos no ano anterior.
Permaneceu em silêncio, incentivando-a a continuar.
- Eu lancei um dos melhores álbuns da minha carreira, - listou com uma das mãos. - todas as músicas ficaram nas paradas de sucesso, foi indicado ao Grammy… - deixou a mão cair e soltou um suspiro irritado. - e estão mais preocupados se visto 38 ou 36. - cobriu o rosto com a mão livre.
O homem não abriu a boca. Sentiu-se confortável para continuar.
- Só sabem focar nos meus relacionamentos e no meu corpo. - descobriu o rosto e bufou novamente, começou a gesticular com a mão livre. - Não olham só para o meu trabalho e eu odeio tudo isso! Isso machuca! - Soltou o ar dos pulmões, a voz magoada. - Eu estou preparando a maior turnê de todas com uma estrutura absurda! Gastei milhões! E o que querem saber quando procuram minha assessoria? - Perguntou irritada sem esperar por uma resposta. Tornou a voz fina e debochada. - , você está namorando Collins Simpson? Você está fazendo alguma dieta? É verdade que odeia a Katy Perry? - Soltou um som de frustração e cobriu o rosto com a mão livre novamente.
O silêncio dominou a chamada por longos minutos. Ela ainda escondia o rosto com a mão e mexia a cabeça em um gesto negativo, o coração acelerado por colocar todo o peso e os pensamentos que lhe dominavam nos últimos meses. Ele olhava-a pacientemente, o rosto não denunciava o que se passava em sua cabeça. Ficaram nesse momento confortável até que ela se sentiu pronta para encará-lo novamente.
Ouviu-o suspirar e encará-la seriamente.
- Você precisa de um tempo.
- Eu não posso. - Soltou frustrada. - A turnê começa em três dias e a minha vida vai ficar corrida, viajando de um lado para o outro, milhares de entrevistas, muitas horas de voo, problemas técnicos de última hora para resolver…
- Calma. - Pediu num tom doce tentando desacelerar a amiga. - Você está muito agitada.
- Eu sei. - Deu de ombros.
Retornou o silêncio e ela percebeu que ele parecia considerar algo muito importante.
- Venha conhecer Londres.
A testa dela franziu numa mistura de surpresa e confusão.
- Já conheço Londres. - Riu.
Ele revirou os olhos e abriu um sorriso divertido, as covinhas dizendo “olá’’ novamente.
- Não a minha Londres. - Piscou.
Ela riu e em seguida, mordeu o lábio inferior pensativa.
- Eu viajo em três dias.
- Se conseguir um voo hoje, estará aqui pela manhã e teremos um dia para conhecer a minha cidade.
- Mas significa que no dia seguinte, tenho que estar de volta.
- Sim, mas se viajar amanhã à noite, tudo dará certo.
- E se não der? - Perguntou receosa.
- Vai dar. - Afirmou confiante.
Ambos encaravam-se. Ele parecia repleto de expectativa pela resposta enquanto ela estava mergulhada em dúvidas. Temia fazer aquela loucura e causar problemas para o início da turnê, além disso, sua mãe e seu produtor morreriam ao saber o que ela havia feito. Mas e ela? Como se sentia sobre isso? Seria divertido passar um tempo com , mesmo que curto e não se viam há meses desde o aniversário de Claire. Sentia falta da companhia do amigo e uma visita não faria mal, afinal, prometia visitá-lo, mas não tinha tomado uma atitude para realmente fazer acontecer.
Fechou os olhos e tomou sua decisão. Reabriu-os temerosa e olhou o amigo.
- Eu vou.
estava aliviada.
Viu Londres passar através da janela do táxi, a expressão ansiosa e animada. A últimas horas até chegar ali foram muito corridas. Conseguiu as passagens, arrumou uma mochila, vestiu sapatos confortáveis e adiantou a estadia de - o gato - na casa de Claire e Andrew. Contou a aventura e sua melhor amiga preocupada, questionou-a, bem longe do marido, se estava rolando alguma coisa, além da amizade entre eles. Negou, o que era verdade, mas omitiu o fato de que estava começando a entrar num caminho sinuoso, quando se tratava de . Ela confessou suas suspeitas sobre o amigo, o que deixou a cantora nervosa. Sua família e seu produtor não estavam cientes de sua viagem e se a mídia descobrisse, tudo iria por água abaixo. Esforçou-se ao máximo para passar despercebida e o alívio em estar em Londres, sem qualquer paparazzi em sua cola, tranquilizou-a.
O veículo parou em frente a uma casa simples com um gramado, uma garagem de carros e uma pequena varanda na entrada. Avistou na entrada, sentado nos degraus e que se ergueu rapidamente ao vê-la desembarcar. Aproximaram-se um do outro e envolveram-se em um abraço apertado. Ela respirou fundo, inalando o perfume masculino e sentiu-se feliz em estar ali. A sensação que teve era que ele não tinha pressa em soltá-la, o que reforçou as palavras de Claire na noite anterior.
Será que estava apaixonado por ela?
O familiar frio na barriga tomou conta de si e afastou-se delicadamente, desfazendo o abraço.
Uma rajada de vento frio atingiu-os e lhe causou arrepios. O amigo riu, observando-a.
- Londres está te dando boas-vindas. - Abriu os braços, as covinhas em evidência. O vento bagunçando seus cabelos.
- Obrigada, Londres. - Sorriu debochada, as mãos esfregando os braços numa tentativa de manter-se aquecida. - Você não me disse que estava tão frio. - Acusou-o.
- Desculpa. - Sua expressão envergonhada. - Aqui é sempre frio e nublado, então nunca sofro com a mudança de temperatura. - Deu de ombros e escondeu as mãos no bolso.
Ela fez um gesto de pouco caso com a mão.
- Qual é o nosso roteiro? - Perguntou curiosa enquanto o seguia até em casa.
- Espere e verá.
- Vou morrer congelada! - Ela falou indignada enquanto colocava um capacete na cabeça e via subir na scooter azul.
Comeu torradas com geleia de morango e tomou chá quente com leite, tomou banho e vestiu por cima de suas roupas, o mesmo suéter que o amigo usou no jantar que se conheceram. Conseguiu ficar mais aquecida, mas seria difícil manter a temperatura ao rodar Londres na garupa da motocicleta.
As covinhas apareceram, o olhar dele era divertido.
- O seu sotaque é tão bonitinho. - Provocou-a tentando imitá-la, apertou uma de suas bochechas, a mão fria.
O coração dela acelerou ao sentir o toque inesperado. Cruzou as mãos na frente do corpo e disfarçou a reação apaixonada com um revirar de olhos.
- O seu também. - Imitou-o.
A expressão passou rápida por seu rosto, mas ela viu.
disfarçou com uma risada.
- Vamos ou não iremos conhecer todos os lugares que planejei. - Girou a chave da ignição e encarou-a, o motor aquecendo.
Ela soltou o ar dos pulmões.
- Espero que morra de culpa, caso eu tenha hipotermia.
- Se você me agarrar bem apertado, posso mantê-la aquecida. - O olhar e a voz não combinavam, tentavam enganá-la. Um demonstrava malícia, o outro respingou deboche.
Foi pega de surpresa pela provocação e levou alguns segundos para reagir. Riu debochada, mas o coração continuava a todo vapor.
- HAHAHA. - Debochou. - Não sabia que você se chamava Tocha humana.
Ele piscou provocador.
- Vem ou não?
Ela acomodou-se atrás dele, envolveu sua cintura bem apertado e soltou o ar dos pulmões.
- Pisa fundo, , o homem. - Riu divertida, a bochecha descansando nas costas do rapaz.
Ouviu-o gargalhar e, em seguida, a moto entrou em movimento. Saíram do bairro residencial e pegaram o trânsito da cidade rumo à Highgate Wood. O vento congelante açoitando o seu rosto e arrepiando todo o seu corpo, mas sentia-se tão feliz de estar ali que lutava para ignorar o incômodo do clima. Observava os carros, as pessoas, as lojas, cada canto dos lugares por onde passavam. Aquele dia era um dos momentos que gostaria que não acabasse e durasse para todo o sempre, mas sabia que seria impossível. Não se arrependia de estar ali e estava grata pela companhia do amigo. Iria focar apenas em viver aquele dia e abandonaria todas as suas preocupações. Pensaria nelas, apenas quando desembarcasse do avião.
- Aqui é a Oxford Street! - Gritou acima do barulho e apontou para a calçada.
- Eu sei! - Respondeu no mesmo volume, sentou-se mais reta e afrouxou o aperto, envergonhada, ao perceber que havia grudado ao corpo dele como uma mochila ou até mesmo, um carrapato. - Estive aqui!
- Chata!
Ela riu divertida e sentiu as costas dele, tremendo pelo riso.
Tinha certeza que o próprio rosto deveria estar estampando um imenso sorriso, além da pele estar assada pelo vento congelante. Lembraria-se de evitar uma moto quando estivesse em Londres novamente, se bem que a viagem incluísse , ela toparia novamente.
Ele fez uma curva por entre os veículos, os famosos ônibus vermelhos repletos de turistas passavam pelo trajeto. Nunca tinha andado neles, mas numa próxima visita iria fazê-lo. Levantou o olhar para o céu e observou-o nublado, o risco de chuva iminente. Torcia profundamente para que não acontecesse. Descansou a cabeça novamente nas costas que que parecia tranquilo enquanto pilotava a motocicleta. Se dissessem um ano atrás que teria fugido para um dia de aventura em Londres numa motocicleta, ela riria na cara do felizardo e depois, escreveria uma música sobre aquela loucura.
Os seus olhos se arregalaram com a constatação. Sabia como eternizar aquela aventura com . E ela o faria.
- A Bond Street! - Apontou para a rua que haviam acabado de entrar.
As dezenas de lojas, principalmente de grifes, começaram a surgir.
- Não conhecia!
Sentiu a tremedeira novamente e em seguida, ele buzinou três vezes seguidas numa espécie de comemoração e o que arrancou uma gargalhada dela. Ele reduziu a velocidade para que ela pudesse observar toda a rua.
Sentia-se tão alegre, leve que seria capaz de flutuar. Não se assustaria caso surgissem belas asas brancas em suas costas. O sentimento de felicidade parecia envolvê-la em uma aura e era tão prazeroso que os olhos encheram-se de lágrimas. Vivenciava uma que estava escondida em um canto escuro dentro de si e agora, pelo menos naquele dia, ela havia se libertado de seus grilhões e lutaria para não ser pega novamente.
A moto entrou em um caminho repleto de árvores, um cenário de diversos troncos longos e marrons escuros, além de galhos com folhas verde musgo. Poderia ser o cenário de um romance de época. Tinha uma imensa placa de madeira, talhada com o nome Highgate Wood. Estacionaram na entrada do lugar, a rua atrás deles não passavam nenhum veículo e não tinham pessoas por perto, um local bastante reservado para curtir um momento de solidão e, também, o cenário perfeito para se cometer um crime. Afastou o pensamento tenebroso e focou na beleza da natureza.
Puxou o celular do bolso e fotografou as árvores.
- 28 hectares de bosques. - Ele cruzou os braços e observou.
Ambos seguiram lado a lado, caminhando sem pressa em direção ao bosque.
- É lindo. - Admirou ao seu redor.
- Estou aliviado em saber disso, fiquei preocupado de você não curtir. - Confessou, o alívio aparente em seu rosto. - Gosto de lugares tranquilos e que dê para ouvir os meus próprios pensamentos…
- E aqui é um desses.
Ele confirmou com um gesto de cabeça.
- Além de ser um bom lugar para matar alguém, caso decidam me encher o saco.
Encarou-o e forçou uma expressão de medo.
Ele mexeu a sobrancelha direita várias vezes, as covinhas decorando o sorriso provocativo.
Ela riu e caminhou até uma árvore próxima. O som do seu riso ecoando através dos troncos e na profundidade do bosque. Soltou um suspiro de satisfação ao tocar uma árvore e levantou a cabeça para observar seu topo, o céu cinza logo acima.
Ouviu o som de uma câmera de celular e virou-se assustada, avistou-o com o aparelho em sua direção.
- Merecia uma foto de recordação. - Sorriu e sentou-se em um pedaço de tronco. Metros de distância separando-os.
- Tudo bem. - Sorriu sem jeito.
Sentou-se com ele em silêncio. O corpo e mente cientes da proximidade dele. Esforçou-se para manter a respiração controlada e torceu para que não fosse possível escutar as batidas agitadas de seu coração. Estar ali, compartilhando aquele lugar e perceber que havia se preocupado com ela, fazia o seu coração derreter-se ainda mais.
- Hum? - Murmurou distraidamente ao perceber que ele tinha dito algo. A expressão estava relaxada, os braços envolvendo os joelhos e o olhar perdido no lugar.
- Qual cena encaixaria aqui?
Ela fez um som com a boca que indicava que estava considerando a pergunta. A mente dela começou a criar hipóteses.
- Imagino séculos atrás, uma moça com um longo vestido azul, segurando-o para evitar esbarrar em sua barra e que está indo encontrar o amado para dizer que terá que se casar com outro.
Virou para encará-lo.
Ele parecia concentrado e apenas confirmou com um gesto de cabeça. Apontou para o lado esquerdo.
- O rapaz viria correndo de lá, ofegante, vestindo suspensório e todo suado. - Levantou e caminhou calmamente em direção ao local. Parou e virou-se, parecendo aguardar.
Ela franziu a testa em confusão.
- Você não vem, minha amada? - Abriu um sorriso brincalhão, o sotaque acentuado.
Ela riu e levantou-se. Seguiu para o lado oposto e ambos começaram a caminhar um na direção do outro, passos tranquilos. parou a dois passos de distância, uma das mãos tocando o tronco da árvore.
- Eu vou me casar com outro, . - Forçou uma voz feminina e dramática.
Ele apressou o passo e diminuiu a distância, podendo abraçá-la facilmente. O olhar dele compartilhava a diversão.
- Não, . - A entonação que usou para pronunciar o nome dela e a expressão séria fez o peito bater mais forte, a boca ficou seca e as palmas da mão escorregadias.
- Meu pai me obrigou. - Ela desviou o olhar para o chão e respirou fundo.
Sentiu um leve toque em seu queixo, a mão de fria ergueu sua cabeça com delicadeza. Estavam muito próximos, deixando-a nervosa. Ansiosa pelo beijo, fez com que olhasse para os lábios deles, a própria boca pinicando de vontade de tocá-lo.
- Você é minha, . - Ele sussurrou e foi aproximando a cabeça bem devagar.
A mente dela parecia que iria explodir e desmaiaria ali feito um tronco recém-cortado. Sua cabeça repetia sem parar, chocada que ele realmente iria beijá-la. O pânico foi tão grande que ela desviou o olhar, a cena parecendo em câmera lenta, mas na verdade foram segundos. Tudo muito rápido. Olhou para o galho atrás da cabeça dele e viu uma cobra da cor do tronco. Deu um grito e se afastou para trás, caindo de bunda no chão, espanto em sua face.
- Está tudo bem? - Ele perguntou surpreso, esticou a mão para ajudá-la.
- Cobra! - Apontou e ele viu-a enrolada em um galho acima de sua cabeça. Deu um pulo para frente, afastando-se e quase caiu em cima da mulher, mas desviou.
Ela levantou e deu batidinhas na calça para limpar a terra do tecido. Viu um pálido.
- Você está bem? - Aproximou-se preocupada.
- Detesto cobra. - Soltou o ar dos pulmões, os olhos assustados.
Ela franziu a testa e compreendeu a situação. Abriu um sorriso doce e indicou a moto que estava alguns metros de distância.
- Podemos ir?
O alívio na expressão dele foi explícito.
Ela sorriu e cruzou os braços, acompanhando-o por todo o trajeto. Ambos em silêncio. parecia se recuperar do susto enquanto ela ainda estava atordoada sobre o quase beijo. Viu-o colocar o capacete, o rosto mais corado. Quando encarou-a, estendeu o capacete, as covinhas apareceram e ela perdeu a noção do tempo, da vida e de onde estava, o coração acelerado.
estava muito apaixonada por .
- Muito obrigada. - Apertou o rapaz em seus braços e inalou o perfume.
Depois de se recuperarem do Highgate Wood, eles almoçaram na casa de um amigo de infância, Jeremy. Eles compartilharam suas aventuras na faculdade e no West End, além de convidá-la para ir ao pub com os outros amigos para assistir uma partida de Rugby e tomar muita cerveja.
Foi muito divertido e criou uma esperança de que realmente estava apaixonado por ela, afinal, por que apresentaria para um amigo de infância?
Em seguida, passearam pelo Mercado de Candem e tomaram o chá da tarde. Quando a noite caiu, beberam no Soho e depois, voltaram para a casa dele. Pegou sua mochila e tinha que correr para o aeroporto ou perderia o voo.
O quase beijo ficou esquecido e isso a entristeceu, mas não queria perder a mágica daquele dia, mesmo que o rapaz inglês não tivesse se ajoelhado à sua frente e rasgado o coração com declarações de amor.
Estava apaixonada por ele.
Gostava das covinhas, o som da sua risada e o sotaque. Amava a forma que ele olhava para ela, quando estava querendo desabafar. Adorava o senso de humor e mais ainda, o fato de ter dois que em sua vida. Poderia abrir o próprio coração e revelar os seus sentimentos, mas valeria a pena perder um amigo? Não estava pronta para correr esse risco.
- Boa turnê, . - Soltou-a gentilmente e depositou um beijo em sua bochecha. Afastou-se e não avistou nenhuma covinha em seu rosto.
- Se cuida. - Ela desejou. Sentia, perfeitamente, o calor do beijo depositado em sua bochecha. Queria tocá-la com seus dedos e mergulhar na sensação, mas esforçou-se para não demonstrar o que se passava dentro de si.
Entrou no táxi e bateu a porta, abaixou o vidro da janela e colocou a cabeça para fora. Estava parado na calçada com as mãos escondidas no bolso, a expressão séria.
- A próxima aventura é por minha conta. - Ela gritou e acenou em despedida.
Ouviu-o gargalhar pela última vez.
O veículo entrou em movimento e ela virou para trás, vendo-o com um braço esticado em despedida, tornando-se cada vez menor até sumir de vista. Virou-se para frente novamente, abraçou sua mochila e sentiu o perfume dele no suéter.
Não tinha como mentir para si mesma.
passou todo o voo de volta para casa com a sensação de que o próprio coração não estava em seu peito. Ele havia ficado em Londres.
Ocupou a poltrona na área executiva e abriu o celular, começou a digitar a música que não saía de sua cabeça.
Quatro meses depois…
A turnê foi um sucesso.
estava feliz consigo mesma e toda a aura negativa que estava em cima havia desaparecido. A paz e felicidade dominavam o seu coração, sentia-se pronta para a próxima luta.
Ela e continuavam amigos. Infelizmente, estava sofrendo por ele. Alcançou um patamar em que o amor não permitia que continuasse ocupando o cargo de amiga, encontrando uma bifurcação em seu caminho. Ou afastava-se ou contava a verdade. Conversou muito com Claire para criar coragem e por isso, lançou a música London Boy que escreveu sobre a aventura que tiveram juntos. Uma declaração mais do que clara de seu amor por ele.
Avisou horas antes de que iria se apresentar ao vivo em um programa de TV. Ele confirmou que assistiria e por isso, estava muito mais nervosa.
Quando chegou a hora, cantou com todo coração e derramou todo o sentimento naquela canção. Recordou-se de cada momento, os conselhos, as risadas, as vídeo-chamadas, o único quase beijo. Colocou tudo de si naquela letra e torcia para que ele entendesse a mensagem.
Quando saiu do estúdio e entrou em seu carro, parecia que iria explodir de ansiedade. Ocupou o banco ao lado de sua mãe e pegou o celular de sua mão. Respirou fundo duas vezes e desbloqueou a tela, abriu as mensagens e lá estava, , o humano. Clicou e leu, o coração aos pulos.
Que os céus me ajudem! Eu me apaixonei por uma americana!
Ela soltou um gritinho animado e se jogou nos braços da mãe que encarou-a confusa.
- Ele está apaixonado por mim! - Repetiu sem parar, gargalhando.
Fim.
Nota da autora: Olha, essa fic quase não saiu! Que luta! Maaaaas no final deu tudo certo e fiquei feliz com o resultado. Espero que tenham gostado desse casal, assim como eu. Obrigada por ter chegado até aqui! <3
Beijos e até a próxima.
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Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Beijos e até a próxima.
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