17. Mad World

Finalizada em: 24/10/2021

Um

louco sou eu ou os outros?
albert einstein

dois anos depois - local desconhecido, 05:00pm

apertou os próprios dedos, tentando confortar a si mesma de algo que ela não sabia, mas que era um tormento constante. Ela olhou ao redor, fixando os olhos no céu azul, que podia enxergar pela janela aberta da sala fria que estava.
Aquele lugar não era o seu favorito. Nem de longe.
Mas uma cláusula trabalhista obrigava-a a estar ali duas vezes por semana, há dois anos. Por um momento, nos primeiros dias em que tinha realmente aceitado continuar com a terapia obrigatória, a agente teve esperança que alguma coisa mudasse, mas mesmo após dois anos, tudo continuava a mesma coisa. Sua psicóloga gostava de dizer constantemente que elas tinham feito um avanço juntas, mas… que avanços? Uma hora a mais de sono? Dois pesadelos por dia, ao invés da noite inteira? Sem crises de pânico e ansiedade o tempo todo?
suspirou.
Em momentos como aquele, costumava sentir-se uma mulher egoísta e insegura, incapaz de reconhecer o trabalho de sua terapeuta, que se esforçava para melhorar um pouco a sua vida, depois de tudo o que ela tinha passado. Mas talvez fosse justamente aquele o problema. não sabia o que tinha passado.
Bem… ela sabia o que tinham lhe contado. Estava trabalhando em um caso e houve um sequestro, mas… era só isso. Não conseguia abandonar a sensação de que havia algo mais e que ela não lembrava.
Ela nunca se lembrava.
Nem mesmo quando acordava gritando no meio da noite, completamente suada, enquanto recuperava-se de mais um pesadelo. Um que somava todos os seus medos, mas nunca trazia uma memória de verdade à tona.
? — A Dra. chamou. — Você quer compartilhar algo hoje?
A agente virou o rosto na direção da sua psicóloga, sentada em uma poltrona bem na sua frente. pensou se estava confortável o suficiente para querer compartilhar algo naquele dia específico. Ela encarou o bloco de anotações da doutora e mordeu o próprio lábio, soltando um suspiro em seguida. Algumas coisas ela guardava demais para si, mesmo que soubesse que não deveria. A Dra. Allister estava ali para ajudá-la, mas pensou que havia coisas incapaz de verbalizar.
— Eu… — ela tentou dizer, percebendo o quanto sua garganta estava seca, mas não se importou. — Eu não sei como dizer isso. Não sei como me sentir em relação.
Allister deu um aceno compreensivo na direção da paciente. Ela nunca forçava a dizer qualquer coisa que não quisesse, mas era muito boa em instruir a agente a querer dizer coisas que não contaria para mais ninguém. Era seu trabalho, afinal.
— Só solte as palavras, — sugeriu.
A agente parou de apertar os próprios dedos e não desviou mais o rosto para a janela. Estava cansada de guardar as coisas para si, então resolveu compartilhar o que a angustiava há muito tempo. achava difícil conseguir livrar-se de todas aquelas sensações que a consumia, pouco a pouco.
​— Eu continuo tendo pesadelos, mas... é diferente — começou a falar, soltando um suspiro em seguida. — É sobre a morte. Sonho que estou morrendo, e ao contrário dos outros pesadelos, quando sonho que estou morrendo, acordo desejando que fosse real.
piscou os olhos, sentindo que sua voz estava começando a ficar embargada. Tudo o que ela não queria naquele momento era chorar. Desabar na sessão de terapia não fazia parte do seu roteiro diário.
— Como eu posso desejar a morte? — ela sussurrou.
A doutora Allister a encarou por um breve momento.
— Você passou por muita coisa, — respondeu, usando um tom de voz ameno. — Alguns desejos se intensificam mais do que os outros. Você tem pensamentos sobre a morte durante o dia?
quase riu.
— Suicídio, você quer dizer? — questionou. — Não. Não penso em tirar minha própria vida. Só penso em morrer — explicou, dando de ombros. — Não sei, é diferente.
Era meio óbvio para qualquer um que a conhecesse que não era boa em ter muitas noites de sono completas. A mulher sempre teve dificuldade para dormir, mas desde que o sequestro tinha acontecido, raramente dormia mais do que três horas seguidas, sem pesadelos. A maior parte da noite, seus pensamentos a perturbavam com questões como aquela. Queria morrer? Ou só queria sentir a normalidade de volta à sua vida?
Por que tinha a sensação constante de que todos os dias eram iguais e as pessoas ao seu redor tinham medo que ela quebrasse?
— Quer tentar explicar? — questionou sua psicóloga.
umedeceu os lábios, recostando-se contra o sofá. Ela esfregou o rosto com as duas mãos, meio irritada.
— Me sinto constantemente vigiada — começou a tentar explicar. — Sinto falta de alguém que não lembro. Há uma lacuna enorme nas minhas memórias e às vezes não sei quem eu sou — ela encarou a doutora. — Eu desejo a morte como um fim.
...
— Não, tudo bem — apressou-se em interromper. — Eu sei o que você vai dizer. Olha, Dra... minha mente está uma merda na maior parte do tempo, mas eu estou bem — garantiu, completamente sincera. suspirou, derrotada. — Eu só queria me lembrar.
Allister retornou a anotar alguma coisa na ficha de , que não deu importância. Tinha sido liberada a trabalhar em campo há muito tempo, mas optou por aceitar o convite das delegacias e universidades para trabalhar como professora e palestrante no ensino comportamental, representando o FBI. Ela gostava de ensinar, e apesar de sentir falta da adrenalina dos casos em campo, não sentia-se confiante o suficiente para voltar. Não enquanto não lembrasse.
— Nossa sessão está terminando, mas quero retornar esse assunto na próxima semana, tudo bem? — A psicóloga questionou, recebendo um aceno pouco positivo de . — Você anda tomando os remédios, ?
— Todos os dias — respondeu.
E nem os remédios aceleravam o processo de recuperar a sua memória, apesar de saber que eles não funcionavam para aquilo. Ela levantou do sofá, pegou sua bolsa e despediu-se da doutora.
?
A agente parou perto da porta, com a mão na maçaneta, pronta para ir embora, mas virou-se na direção da voz. A Dra. Allister abriu um sorriso genuíno para a paciente.
— Feliz aniversário.
franziu o cenho, confusa. Não tinha dito a ninguém que era seu aniversário, mas levando em conta que aquela mulher era sua terapeuta e tinha acesso à sua ficha, não estranhou que pudesse ter pegado a informação de lá. devolveu o sorriso, sem o mesmo ânimo.
— Obrigada.
E finalmente foi embora.

O céu estava claro, entregando o fim de tarde. apertou a jaqueta contra o próprio corpo e ficou parada na frente do prédio, bem do lado de fora, observando os movimentos das pessoas e o trânsito caótico.
Ela fazia isso quase sempre.
Era como lembrar que, diante daquela multidão, ninguém a notava e ela era só mais uma entre tantas no mundo. A mulher perguntou a si mesma se havia alguém sentindo a mesma falta de existência que ela sentia. Como se fosse só mais um componente de poeira estelar preenchendo o vazio do universo. Despertada pelo som de uma buzina, respirou fundo e piscou os olhos, balançando a cabeça em seguida, afastando os pensamentos aleatórios que sempre surgiam. Algumas vezes, gostaria de parar de pensar.
A agente verificou o relógio no pulso. Não havia mais nenhum compromisso pelo restante da noite e, como não tinha nenhuma intenção de comemorar o seu aniversário, optou por simplesmente ir para casa.
Mas antes de seguir aquele caminho, ela tornou a andar e virou uma esquina, adentrando o seu local de café favorito. Eles vendiam tortas de limão e café com espuma. quase gemeu de felicidade quando sentiu o cheiro invadir as suas narinas. Ela olhou ao redor, por puro costume, notando que não havia muita gente àquela hora do dia. Mais calma, ela andou diretamente até o balcão, sentando-se em um banco vazio.
— Oi, ! — Peter surgiu logo em seguida, com um sorriso enorme no rosto. Ele era sempre alegre ao atender alguém. — O mesmo de sempre?
Na maior parte do dia, não sorria com sinceridade, mas quando encontrava Peter, ela fazia um esforço para devolver o cumprimento na mesma intensidade e percebia como era fácil.
Ele a conheceu depois da perda de memória, então ela não sentia que tinha alguma expectativa para cumprir, o que a deixava bastante aliviada.
— Oi, Peter! — respondeu, com um sorriso genuíno. — Sim, obrigada! Mas vou querer para viagem.
Peter assentiu.
— Você quem manda.
O mais novo sumiu logo depois. Ele não costumava demorar muito, mas mesmo assim, tirou o celular da bolsa e verificou algumas mensagens pela barra de notificações. Não sentia vontade de responder a ninguém, mas ela não podia ignorar assuntos do trabalho. Marcando alguns como prioridades, decidiu que podia responder mais tarde, quase já estivesse pronta para dormir.
— Você parece solitária.
A agente virou o rosto na direção da voz desconhecida, encontrando um homem que não conhecia. Ele parecia mais velho e tinha os olhos muito escuros, mas não sabia dizer se o conhecia. Ele parecia familiar para ela, mas mesmo que forçasse a memória, não lembraria. Talvez estivesse imaginando coisa. Queria tanto recuperar a memória que estava começando a se confundir.
— Só estou cansada — ela finalmente respondeu, dando de ombros.
O homem abriu um sorriso estranho, o qual ela não devolveu.
— Entendo — ele murmurou, sem parecer ter a intenção de deixá-la em paz. — Solidão pode ser confundida com cansaço.
piscou os olhos para ele.
— Eu te conheço? — questionou, um pouco rude demais.
Havia algo estranho naquele homem. Ela não costumava se importar com eles sendo inoportunos com ela em qualquer momento do dia, mas não conseguia afastar a sensação de desconforto. Sua cabeça começou a latejar e ela esfregou a têmpora rapidamente.
Aquele era só mais um presente infernal que ela tinha ganhado com a perda de memória.
— Acho que você lembraria se me conhecesse — foi tudo o que ele respondeu, a voz enigmática.
Não, ela não lembraria, pensou.
fechou os olhos rapidamente, sentindo sua cabeça doer mais intensamente e respirou fundo. Precisava do remédio, mas tinha esquecido em casa. Quando ela abriu os olhos novamente, o homem não estava mais ali, ao seu lado, o que a deixou aliviada.
— Tudo bem, ?
A voz de Peter a despertou. Ela umedeceu os lábios e ignorou a cabeça latejando, forçando um sorriso na direção do mais novo e assentiu.
— Sim, claro — reforçou.
Peter a encarou por um breve instante, mas deu de ombros e voltou a exibir o seu sorriso alegre e gentil, como se trabalhar ali fosse a melhor coisa do mundo. Ele entregou uma sacola temática para a agente, com o pedido dela empacotado. Ela aceitou e não conferiu se estava tudo certo. Sabia que estava, pois todas as vezes Peter nunca errava nada do seu pedido e era uma cliente fixa do estabelecimento. A agente entregou o pagamento.
— Obrigada, Peter — agradeceu, antes de seguir o seu caminho de volta para casa.
Sentindo como se estivesse sendo observada, virou o rosto mais uma vez, encarando o lado de dentro da cafeteria, mas não encontrou ninguém. Nem mesmo o homem estranho de antes estava lá. Não era a primeira vez que ela tinha aquela sensação inquietante, mas todas as vezes que procurava alguém ao seu redor que pudesse estar observando-a, ela não encontrava ninguém. Era estressante viver daquela forma, mas não havia outra escolha. Não podia deixar de viver a sua rotina para ficar trancada o dia inteiro no quarto, como continuou por dois meses após o acidente, até a sua irmã intervir em seu estado, obrigando-a a procurar ajuda.
Ela atravessou a avenida e pegou um táxi, entregando o endereço ao motorista. Não morava tão longe do prédio de sua consulta, mas preferiu não arriscar ir andando vários quarteirões sozinha. Dentro do carro, ela recostou a cabeça contra o banco de couro e fechou os olhos, respirando fundo por alguns minutos seguidos. Estava cansada de viver daquele jeito, de sentir falta de alguém que não lembrava, de não entender como tudo aconteceu.
Vivia o tempo todo procurando respostas que ninguém parecia saber dar. Não era difícil explicar o que tinha acontecido, detalhe por detalhe. até solicitou o arquivo do caso, mas a Dra. Allister recusou, impedindo o seu pedido. Ela só abriu os olhos e voltou para a realidade quando o taxista comunicou que havia chegado ao endereço. A agente deu um sorriso sem graça e entregou o valor da corrida, saindo do carro em seguida, segurando a sacola com o café e a torta. Se escolhesse um filme, podia assistir comendo e depois dormiria pelo resto da noite, se o remédio fizesse efeito. Enquanto adentrava o prédio, entrando no elevador, esperando que chegasse ao seu andar - o terceiro -, considerou que a dor de cabeça estava bastante tolerável.
Deixando os ombros caírem, demonstrando a derrota que ela estava se sentindo, passou direto pelas portas abertas do elevador e andou até a última porta do corredor. Ela procurou a chave na bolsa, encontrando-a rapidamente e girou a maçaneta, finalmente abrindo-a.
Mas arrependeu-se no mesmo instante.
Quando encontrou o interruptor de luz, iluminou vários rostos que não lembrava de conhecer, e sua irmã com uma felicidade exagerada, na frente de um cartaz enorme de aniversário. Ela ponderou o quanto seria mal educada ignorar todas aquelas pessoas e ir direto para o seu quarto, quando um coro preencheu os seus ouvidos.
— Surpresa!

dia seguinte - Unidade de Análise Comportamental, Virginia - 08:24am

Um suspiro escapou dos lábios entreabertos de Spencer, sentado desajeitadamente na cadeira, enquanto tentava manter toda a sua concentração na análise de caso que estava fazendo, os olhos atentos ao papel que segurava na mão. Mas mesmo que fosse um gênio, e totalmente focado no trabalho, não conseguia prestar atenção em mais do que uma dúzia de palavras, perdendo toda a observação que deveria fazer do conteúdo. Era um caso importante, e ainda assim, o agente não estava dando a mínima.
Ele soltou o ar, frustrado, deixando o papel em cima do que era a sua mesa e levantou-se em seguida, decidido a tomar um copo pequeno de café, apenas para arejar os seus pensamentos. Não gostava de estar distraído, no entanto, naquele dia específico, ele estava. E sabia o motivo de tal distração.
Ele só não deveria lembrar.
Era um fardo que carregava. Enquanto as lembranças consumiam-o totalmente, a falta delas assombrava .
Ele verificou o relógio, em algum lugar daquele escritório, e seguiu direto para a área do café, ignorando os seus amigos. Ele encheu o copo de líquido preto e experimentou um gole, comprimindo os lábios. Dentro do bolso, carregava um pingente que moldava uma estrela, que considerava especial - e com ela, a lembrança constante do aniversário de alguém que não podia se aproximar. Ele tentou imaginar se ela comemorou mais um ano de vida, ou se simplesmente decidiu que era só mais um dia como outro qualquer. Queria ter certeza de que ela estava bem, vê-la somente uma outra vez, mas para quê?
não lembraria dele. Reid estaria apenas se torturando.
Tomando mais um gole, ele ficou parado ali, percebendo a presença de Morgan. A julgar pela expressão do outro, Reid imaginou que Morgan tinha notado que algo estava errado com ele. Morgan sempre notava - afinal de contas, quem não percebia? Estava cercado por analistas comportamentais. Para um gênio, era muita burrice pensar que não iam traçar o seu perfil.
— Está tudo bem? — Derek questionou, um tom de voz cuidadoso.
Spencer assentiu rapidamente, mesmo que sua expressão entregasse o contrário.
— Certeza? — Morgan insistiu. — Você parece distraído e só estamos começando o dia.
O mais novo crispou os lábios. Aprendera o bastante para saber que escolher ter segredos entre a sua equipe nunca era uma boa ideia. Além do mais, Morgan era mais do que só um cara com quem trabalhava; ele também era o seu amigo.
— É a — explicou. — Ontem foi aniversário dela. E hoje completa três anos que…
Ele não concluiu a frase, mas Morgan entendeu perfeitamente.
Três anos que se conheciam. E pouco mais de dois anos que não podia se aproximar dela. Não podia ligar e discutir sobre Star Wars ser melhor que Star Trek, ou trocar teorias sobre coisas que não entendia, mas Reid sim. Não podia mais gostar de sentir vergonha toda vez que ela tentava fazê-lo flertar sexualmente com ela, uma coisa que ele não era bom em fazer, mas que a divertia. Não podia fazer mais nada, senão agarrar-se às únicas lembranças que tinha.
Morgan se aproximou dele, tocando-o no ombro esquerdo.
— Ouça, Reid — ele disse. — Eu sei que é difícil. Mas ela está segura assim. Não pode procurar ela, entendeu?
Duplamente frustrado, Spencer assentiu.
Ele, mais do que ninguém, sabia daquilo.
Morgan resolveu deixar o mais novo sozinho e deu as costas. Reid esfregou o rosto e deixou o copo de café de lado, desistindo de consumir a cafeína. Tinha dormido mal a noite inteira e agora não conseguia se concentrar para ajudar no caso. O agente considerou pedir o dia de folga a Hotchner, mas que bem faria? Ali, ele podia dar um jeito de mergulhar a cabeça no trabalho, sem que fosse completamente emergido nos próprios pensamentos, o que aconteceria se ele tirasse o dia livre.
Não.
Era melhor obrigar-se a trabalhar, do que correr o risco de sofrer a tentação de ir atrás de , nem que fosse para vê-la de longe, embora não soubesse por onde ela estaria. Perdeu completamente o acesso à sua rotina e não tinha vontade de se tornar o homem que a perseguia, principalmente quando ela não lembrava quem ele era. Quem ele tinha sido para ela.
Um pouco mais calmo e decidido, ele ouviu as vozes de Prentiss e JJ ao longe e resolveu voltar para o seu lugar. Mas quando cruzou o corredor, esbarrou em alguém que não prestou atenção. Uma pasta caiu no chão e os papéis foram soltos.
— Eu sinto muito! — ele apressou-se em dizer, observando os papéis espalhados no chão.
Estava prestes a se abaixar e ajudar a pessoa a juntar tudo, mas quando ele virou o rosto na direção do corpo com quem tinha esbarrado, prendeu a respiração. O agente mal se deu conta de que a mulher que estava ali a sua frente, com uma expressão familiar irritada, era mesmo real, e não uma alucinação.
Era .
A mulher que desejava ver todos os dias, desde dois anos atrás.



Dois

escondo minha cabeça
quero afogar a minha tristeza

Seu coração quase parou.
esqueceu o que estava fazendo ali e não se importou com os papéis espalhados no chão. Ele ainda a olhava e ela não conseguia desviar os olhos dele, alguma coisa dentro dela insistindo que aquilo era real. Ela não estava imaginando nada.
Seu coração batia ainda mais forte contra seu peito, e mesmo que ela ainda não entendesse a natureza de tudo, sabia que aquilo significava alguma coisa. Quando o encarava, permanecendo seus olhos presos nos dele, não conseguia lembrar-se de coisa alguma relacionado a ele - talvez, exceto, um cheiro que lhe vinha à memória naquele momento em questão, mas ela não prestou atenção nisso. Mesmo assim, foi agraciada com uma sensação confortante de familiaridade em relação ao homem desconhecido.
— Eu conheço você? — ela finalmente questionou, a voz mal saindo.
Ninguém saberia dizer quanto tempo aquilo durou, até que um deles falasse alguma coisa. Despertado pela voz dela, Reid engoliu a seco e tentou manter uma compostura calma. Infelizmente para ele, a resposta não podia ser sim.
— Eu acho que não — mentiu, odiando um pouco a si mesmo por aquilo.
umedeceu os lábios, balançando a cabeça. O choque da resposta deixou-a abalada, o último fio de esperança sumindo.
Era a primeira vez que alguém lhe causava uma sensação de conforto daquela maneira e não podia acreditar que ele fosse somente mais um estranho.
— Mesmo? — ela insistiu. Aproximou-se um passo dele. Suas mãos tremiam. — Seus olhos… a forma como você me olha… — listou, em um sussurro. Seu coração bateu ainda mais forte do que antes. — É tão familiar.
Spencer piscou os olhos. Se coração partido fosse uma causa provável de morte, ele tinha certeza que era assim que morreria. Suportar ver os olhos tristes e desesperançosos de alguém que amava era algo que ele não queria lidar. Queria dizer que sim, ela o conhecia, mas não lembrava. Não lembrava porque um homem da pior espécie garantiu que ela não lembrasse.
— Desculpe — ele disse, sentindo o peso do pingente torná-lo um mentiroso. — Acho que você está me confundindo com alguém.
se afastou, sorrindo sem humor. A agente abaixou-se e começou a juntar todos os papéis, recusando a ajuda dele. Quando ela colocou tudo dentro da pasta novamente, resolveu ignorar o seu coração, que estava traindo-a mais uma vez com sensações e sentimentos que não eram reais. Sonhava com aqueles olhos, mas ele estava certo.
Ela com certeza estava confundindo-o com outra pessoa. Sentia-se patética, mais uma vez.
— Sinto muito por isso — ela disse. — As coisas têm andado meio confusas, e…
não conseguiu completar a frase. Sua cabeça latejou tão forte que os papéis voltaram para o chão novamente, a pasta caindo da sua mão. Dois anos daquele inferno e ainda não tinha se acostumado com a dor lancinante que insistia em piorar o seu dia.
— Desculpa, eu não… — ela tentou dizer, esfregando as têmporas com as duas mãos.
Tinha tomado o remédio naquela manhã. Esperava que não sentisse nenhuma dor de cabeça pelo restante do dia, mas a frequência da dor só tendia a aumentar.
— Você está bem? — Reid questionou, preocupado.
Sua feição era carinhosa. Ele queria poder demonstrar seus sentimentos em público, principalmente para ela, mas havia tanta coisa impedindo.
— Vou ficar — respondeu, garantindo. — Você não precisa fazer…
Ela tentou impedir, mas o agente já tinha se abaixado e juntou as folhas ele mesmo, fechando a pasta. parou de esfregar as têmporas, ainda incomodada com a dor e respirou fundo.
— Eu sou o Dr. Spencer Reid — ele se apresentou, estranhando a sensação de dejavu. — Quer tomar um copo de água?
— Você é médico? — ela soltou a pergunta.
Reid sorriu.
— Não esse tipo de doutor — explicou, ainda segurando a pasta.
Ele assistiu a expressão dela suavizar.
— Ah.
aceitou a pasta de volta e assentiu, pedindo silenciosamente que ele mostrasse o caminho. Por um instante, ela até esqueceu o motivo de estar naquele prédio, mas seguiu-o mesmo assim, admitindo para si mesma que queria passar mais um tempo com o agente. Podia estar se confundindo ou o que fosse, mas era a primeira vez em mais de dois anos que sentia paz ao lado de alguém. Se não conhecia Reid, podia acabar conhecendo, não podia?
Nada a impedia.
Spencer voltou para o mesmo local de antes, onde desistiu do café. Dali, tinha bastante espaço para uma visão privilegiada do escritório e das mesas de outros agentes, mas ele torceu para que ninguém da sua equipe aparecesse naquele momento. Morgan tinha acabado de avisá-lo sobre não estar perto de , e agora ele estava ali, sozinho com ela.
Não por culpa dele, claro. Ele não teria procurado por ela se isso significasse colocar a sua vida em perigo. Mas não podia evitar aproveitar o momento em que ela justamente foi de encontro a ele. Era um acaso do destino.
Ele pegou um copo de água e virou-se, um pouco distante dela, estendendo a mão com o líquido.
— Aqui.
aceitou o copo e bebeu um gole, mantendo os olhos fixos nele, ainda pensativa. Ela gravou cada traço do agente, procurando por qualquer coisa familiar em sua memória, mas mesmo que não lembrasse dele, seu coração parecia ser totalmente oposto à sua mente.
— Tem certeza que não nos conhecemos? — arriscou perguntar, mais uma vez.
Reid não sabia por quanto tempo mais precisaria mentir. Não era do seu feitio, não fazia parte da sua personalidade, mas ele tinha aprendido que algumas coisas na vida não era permitido ter o controle de tudo.
— Por que você acha isso? — devolveu, querendo ganhar tempo.
sequer pensou em uma resposta.
— Você me traz paz — ela soltou, respirando tranquilamente pela primeira vez em muito tempo. — E seus olhos são iguais aos dos meus sonhos.
A mulher não se importou em revelar aquilo. As palavras saíam de sua boca tão facilmente que ela sequer controlou-se em dizer qualquer coisa. sentia que, se ele questionasse todos os seus segredos, ela diria.
— Você sonha comigo?
Reid tinha o poder de transformar qualquer pergunta em uma totalmente genuína. deixou o copo de lado, mordendo o lábio, encostando-se contra a pia que havia ali. Ela observou quando ele mexeu os ombros e colocou as mãos dentro do bolso da calça.
— Não com você, realmente — explicou. — Eu… eu sonho com alguém e seus olhos parecem os dele. Estou sendo estranha, desculpa.
Ela balançou a cabeça, percebendo em como parecia patética naquela situação, desejando desesperadamente que ele mantivesse sua atenção totalmente nela. Nunca sentiu-se em paz e tranquila por tanto tempo. Ela até tinha conseguido ignorar a dor de cabeça.
— Tudo bem, eu entendo — ele tranquilizou-a.
deixou a pasta de lado e abriu a bolsa, procurando por uma aspirina. Levava consigo mesma uma necessaire carregando uma farmácia dentro de tanto remédio que havia. Foi tirando frasco por frasco até encontrar o que queria.
— É só que… — ela tentou dizer, pegando o copo de água de volta, sentindo os olhos dele sobre si. — Há dois anos eu me sinto perdida. Tudo é sempre uma confusão para mim e preciso mostrar o tempo todo que eu estou bem — acrescentou, desabafando. Ela enfiou um comprimido na boca e bebeu um gole, engolindo. — Você é a primeira pessoa que eu encontro que não me rodeia em caos. Por isso eu estou perguntando: eu conheço você?
Enquanto guardava os remédios distraidamente, virou o rosto para ele, esperando uma resposta. Reid parou de encarar os remédios dela e fitou o seu rosto, seus olhos levemente brilhantes. Um brilho quase inexistente.
— Nós trabalhamos em um caso juntos — ele resolveu dizer, uma mentira pela metade.
piscou os olhos, engolido a seco. Assentiu devagar, concluindo que aquela resposta fazia sentido, uma vez que trabalhavam no mesmo lugar, ainda que em unidades diferentes. Nada impedia um agente de ajudar o outro e não era incomum duas Unidades se juntarem para resolver o caso.
— Como eu era? — ela indagou.
Reid piscou os olhos.
— Desculpe, eu não...
— Minha irmã diz que eu mudei — ela explicou, ao notar a confusão no rosto do outro. — Eu consigo me lembrar quem eu era antes, mas mesmo assim, não parece que eu sou a mesma pessoa. Como eu era para você?
Spencer sentiu uma tristeza enorme comprimir o seu peito. Ele abriu um sorriso mínimo na direção dela.
— Determinada, confiante — começou a dizer. — Você gostava de me deixar sem graça.
Ele imaginava que era tão difícil para ele, quanto era para ela, mas afinal, o que era pior? Não lembrar e sofrer por isso? Ou lembrar e guardar para si?
— Como? — curiosidade escapou dos lábios de .
Era animador encontrar alguém que a conhecia antes.
— Com flertes sexuais — ele confessou, a voz baixa. — Eu não sou muito bom, então…
— Isso não é assédio? — questionou, com humor.
Reid soltou uma risada, balançando a cabeça.
— É um ponto de vista — respondeu. — Você sorria muito também. E não há mais brilho em seus olhos.
deu um sorriso sem graça, cruzando os braços na altura do peito, sem saber como reagir.
— Você sabe meu nome? — a agente mudou de assunto rapidamente.
Reid assentiu.
.
— Sua memória é muito boa — ela elogiou.
— Tenho memória fotográfica — explicou.
— Então você não me esqueceria?
— Nem se eu me esforçasse muito para isso — Spencer confessou. Houve um momento de silêncio até ele perceber o que tinha acabado de dizer. — Há quanto tempo você tem essas dores?
Em uma tentativa de desviar o assunto novamente, ele direcionou a mão para a bolsa dela, indicando os remédios. Estava desconfiado por haver tantos e não sabia se deveria preocupar-se com as dores de cabeça dela. Não parecia um fato isolado.
— Um pouco depois que eu saí do hospital — respondeu. — Comecei a tomar alguns remédios novos e tenho tido esses efeitos colaterais.
— Seu médico receitou?
— Não, minha psicóloga me encaminhou para um psiquiatra — ela explicou mais uma vez. Ouvindo um bipe de mensagem do celular, ela bufou, descruzando os braços. Tornou a pegar a pasta e a bolsa de volta. — Sinto muito, eu tenho que ir.
Sentindo o coração apertado, Reid não impediu que ela fosse embora. Talvez fosse até melhor assim, antes que acabasse dizendo coisas que não deveriam. Mesmo que soubesse que o certo seria assistir ela ir, não conseguia afastar a sensação que tinha algo errado. Só não sabia o que.
? — ele chamou, testando o som da palavra novamente, o tom de carinho bem visível na voz, mas que ela pareceu não notar. Tantas vezes ele chamara aquele nome.
— Sim? — ela virou-se na direção dele mais uma vez, prestes a ir embora.
— Cuide-se, por favor.
Podia não sorrir muito mais agora, mas quando ouviu as palavras dele, abriu um sorriso sincero, carinhoso, confortável. Tudo demonstrando como ela se sentia, em um único gesto. Assentindo para o rapaz, desejou que aquela não fosse a última vez que o visse, enquanto atravessava os corredores e sumia entre as pessoas, indo, de fato, finalizar o trabalho que tinha para fazer ali.

[flashback on]
três anos atrás - local desconhecido

— Ei, Peter Quill, quer jantar comigo mais tarde?
O homem virou o rosto na direção da amiga, revirando os olhos em seguida, ao notar que ela não tinha mesmo abandonado o apelido que tinha adotado para ele, homenageando-o com um personagem que ele nem gostava. Em defesa de , ela dizia que os dois tinham muitas semelhanças, além de terem o primeiro nome igual. Peter tentou contestar todas as vezes, mas era meio difícil vencer os argumentos dela, mesmo que não fossem bons. vencia qualquer um pelo cansaço e com ele não seria diferente.
— Oi, pé no saco — ele devolveu, dispensando um aluno educadamente, enquanto voltava toda a sua atenção para a mulher bem na sua frente. — É por sua conta?
— Estou te convidando, não estou? — ela retrucou, com um sorriso bem humorado.
Peter apontou um dedo em riste para ela, empurrando-a devagar e delicadamente para o canto mais perto da parede, impedindo que os dois ficassem no meio dos fluxos de estudantes universitários pelo corredor principal. Ambos eram agentes e trabalhavam juntos, mas também eram convidados constantemente para palestrarem nas Universidades país afora. O FBI gostava de manter a credibilidade e era sempre bom incentivar os jovens a se tornarem os novos agentes. gostava de influenciar uma nova geração.
— Da última vez, você fingiu esquecer a carteira — Peter lembrou.
— Eu não fingi — se defendeu. — Eu realmente esqueci.
O agente deu de ombros, mostrando que não acreditava nem um pouco nela, embora a história fosse verdade. bufou ao assistir ele abrir um sorriso e mostrar as suas covinhas nas bochechas.
— Você é irritante, Peter Quill — ela provocou. Seu celular tocou, indicando uma mensagem. — Hora de inspirar alguns universitários. Vamos.
Peter balançou a cabeça, desistindo de repreendê-la mais uma vez sobre o apelido, decidindo que não valia a pena. Uma hora ela desistiria, ele tinha certeza. Quando ela o empurrou, ele voltou a andar pelo corredor, lado a lado com ela, adotando uma postura profissional. era extrovertida e gostava de perturbar ele, mas era igualmente profissional e sabia a hora de separar o trabalho de diversão. Desde que tinham sido colocados como parceiros, a amizade de ambos parecia ir muito além do trabalho.
No meio do caminho, ela se deixou ser guiada pelo amigo, verificando as mensagens no celular. Peter pousou uma mão acima da cintura dela, guiando-a perfeitamente entre o mar de pessoas, claramente acostumado a fazer aquilo, já que às vezes era uma completa desatenta andando em público.
— Ah, que droga — ela murmurou, digitando algo rapidamente antes de bloquear a tela e guardar o aparelho. — Eu esqueci do Phil.
Peter soltou uma risada e tirou a mão da cintura dela, apontando com a cabeça para direção contrária.
— Eu te espero na sala — ele avisou, divertindo-se com a careta desgostosa dela. — Vou começar sem você.
deu uma batidinha no ombro dele e respirou fundo antes de se virar na direção oposta. Phil era um estagiário que seguia a dupla, às vezes. Ele tinha sido mandado para ajudar nas palestras daquela semana em três universidades próximas, mas tinha esquecido que ele se perdia muito fácil e sempre esperava que alguém fosse buscá-lo na sala de reunião.
Ela estava prestes a virar um corredor que dava direto para a sala, mas seu corpo se chocou contra o de outra pessoa. Com o impacto dos dois corpos se batendo, se desequilibrou e caiu sentada no chão, soltando um resmungo, seguido de um palavrão baixo.
— Eu sinto muito!
Ela virou o rosto na direção do corpo que a fez cair. Um rapaz alto e magro, completamente desajeitado, encarava-a com culpa nos olhos. Spencer deu um sorriso culpado e estendeu a mão na direção de , que não conseguiu emitir mais nenhum som ou palavra. Percebendo que ele ainda estava com a mão estendida, ela aceitou, deixando-o ajudá-la a se levantar. Em pé, ela fez uma careta ao passar a mão atrás de si, limpando qualquer sujeira.
— Tudo bem, eu deveria prestar mais atenção — disse.
não era uma mulher que se surpreendia com qualquer pessoa no mundo, disso ela tinha absoluta certeza. Mas quando encarou aqueles olhos, ele soube que, quem quer que fosse aquele cara, ele era a sua exceção.
— Eu não costumo ser tão distraído — o rapaz explicou, mal percebendo que ela estava encarando-o de um jeito diferente. — Você se machucou?
— Não — respondeu.
Spencer assentiu, crispando os lábios. passou os olhos, o coldre na cintura do homem chamando a sua atenção. Ele não tinha cara de segurança e também não parecia ser um funcionário. Tinha cara de universitário, mas com certeza universitários não eram liberados para portarem armas.
— Você é um agente? — ela se viu perguntando.
Reid estreitou os olhos, mas assentiu. Só agora ele tinha notado o distintivo dela preso na calça.
— Sim — ele confirmou. — Qual sua unidade?
— Crimes Sexuais — respondeu, pendendo um pouco a cabeça para o lado, os lábios desenhados em um sorriso, presa naquele jogo interessante de adivinhar. — Vou arriscar. Você é um analista comportamental?
— É, eu sou — ele confirmou novamente. — Como você…?
A agente balançou a cabeça, impedindo-o de terminar a pergunta.
— O Peter mencionou brevemente a sua participação na palestra de agora — ela lembrou, mas sua memória a traiu ao tentar lembrar do nome dele. — Agente .
Ela estendeu a mão para ele. Reid aceitou quase instantaneamente.
— Dr. Spencer Reid.

[flashback off]

Ela estava diferente, Reid pensou, mas não importava.
Qualquer um que passasse pelo trauma que tinha passado, sofreria por aquilo. Era normal, e bastante comum, que uma pessoa mudasse diante da situação, mesmo que não se lembrasse de muita coisa. Sua mente a protegia de si mesma, escondendo-a do mundo, mas Reid não pôde evitar pensar em como sentia falta do jeito despojado dela. Agora, ela parecia calcular cada passo que dava, como se tivesse medo de fazer alguma coisa errada.
quase nunca tinha medo de alguma coisa, exceto talvez, de altura.
Agora, ela parecia paralisada por ele.
O agente respirou fundo. Tirou as mãos da calça e resolveu beber um pouco de água também antes de voltar ao trabalho, quando notou que ela tinha esquecido um frasco de remédio. Ele esticou o pescoço, tentando descobrir se ainda dava para vê-la, mas ela simplesmente sumiu do seu campo de visão.
Reid pegou o frasco e leu o nome do remédio, além dos dados da paciente. O agente franziu o cenho, a expressão se transformando em confusão. Ele não conseguia lembrar de um remédio com aquele nome. Claro que era um agente e não um médico de verdade, mas tinha conhecimento o suficiente para saber que alguma coisa estava errada. Ela não deveria sentir tanta dor de cabeça, mesmo que fosse um efeito colateral.
Sentindo que estava procurando por brechas para encontrá-la uma outra vez, ele soltou um suspiro frustrado e afastou a ideia paranóica da mente. Deixou o copo de água para trás e seguiu o mesmo caminho da mulher, na esperança que pudesse alcançá-la, antes que fosse embora. Devolveria o remédio e voltaria para a sua rotina, sem ela.
— Com licença — ele pediu, parando no corredor principal, que ligava a todos os outros escritórios. — Viu uma mulher passar por aqui apressada, carregando uma pasta e uma bolsa?
O homem na frente dele assentiu, indicando que ela tinha pegado o elevador para o térreo. Reid agradeceu e resolveu ir pelas escadas, descendo um pouco apressado. Ao chegar no térreo, passou os olhos pelo salão, encontrando a silhueta dela do lado de fora do prédio. Quando Reid aproximou-se o suficiente para enxergá-la melhor, seu corpo inteiro paralisou.
Ela estava acompanhada de um homem, enquanto esperava um táxi, e não parecia confortável perto dele. Reid examinou o homem melhor, a expressão em seu rosto gelando em pânico ao perceber que não estava errado. Não estava vendo coisas.
Aquele homem ao lado de era realmente ele.
O suspeito desgraçado que tinha sequestrado e transformado a vida de todo mundo um inferno, até agora. Ele estava foragido aquele tempo todo e continuou ameaçando a vida da mulher, caso ela lembrasse de alguma coisa ou se Reid voltasse para a vida dela. Ele tinha feito um acordo com um assassino para salvar a mulher que amava, e mesmo assim, ela ainda corria perigo.
Porque o suspeito estava bem ali, ao lado dela, e ela não tinha sequer ideia de quem ele era.
Spencer estava prestes a chamar por , mas a agente disse algo ao suspeito e entrou em um táxi logo em seguida, deixando o homem para trás.
— Ei! — Reid gritou, chamando a atenção dele.
O suspeito olhou na direção de Reid e começou a correr. O agente tentou ir atrás dele, mas o homem já tinha sumido na multidão, fugindo mais uma vez.
Movido pela adrenalina, Spencer Reid voltou para o prédio, entrando no elevador, apertando freneticamente o botão que o levava ao andar da UAC. Assim que as portas se abriram, ele correu direto para as mesas da sua equipe, mas nenhum deles estavam ali. Reid lembrou da sala de reunião, onde eles geralmente apresentavam o caso, e correu até a sala.
Sem bater, entrou ofegante, atraindo a atenção da equipe.
— Uau, Reid — Morgan soltou. — Estava correndo uma maratona?
Ele ignorou a brincadeira.
— Garcia, você consegue acessar as câmeras da frente do prédio? — ele questionou, encarando a analista de TI.
Todo mundo se entreolhou. Garcia abriu um sorriso, com as mãos ágeis já no notebook.
— Reid, sua pergunta é uma ofensa. É claro que eu consigo — a loira respondeu.
O rapaz aproximou-se da mesa.
— Acesse elas para mim — ele pediu. — De cinco minutos atrás.
O sorriso de Garcia sumiu, mas como parecia um pedido sério, ela concordou.
— Spencer, o que está acontecendo? — JJ questionou, preocupada.
Todos os olhares se voltaram para Reid. Ele encarou todo mundo de volta e percebeu que ainda segurava o frasco de remédio.
estava aqui — ele respondeu, finalmente. — Ela esqueceu esse frasco de remédio e fui entregar e...
— Charles Coolidge estava com ela — Garcia completou.



Três

quando as pessoas correm em círculos
é um mundo muito, muito louco

[flashback on]
dois anos antes

— Está tudo bem?
Era uma pergunta perfeitamente apropriada para a ocasião, mas não queria responder no momento. Ela andou de um lado para o outro, segurando uma foto, sem desviar os olhos dela. Não deveria estar olhando, mas não conseguia evitar.
Estava com raiva. Irritada. Qualquer sentimento que indicasse que ela estava prestes a explodir.
Morgan não se importou em ser ignorado. Ele assistia a mulher andar de um lado para o outro, mas sem querer estender a situação por muito mais tempo, andou até ela e tirou a foto de sua mão, obrigando-a a parar de andar.
— Eu sei que isso afeta você — Morgan começou a dizer, enfrentando o olhar irritado dela. Reid tinha uma mulher e tanto ao seu lado. — Mas precisa confiar em nós.
suspirou.
— Eu confio, Morgan — afirmou. — Foi por isso que eu procurei vocês. Mas já é a quinta vítima em menos de uma semana.
Quando o caso começou, não tinha muita coisa. Apenas uma mulher assassinada, e tudo indicando que era um crime sexual, mas as coisas começaram a se intensificar e ela dedicou-se melhor a pegá-lo. Quando o assassino fez a sua terceira vítima, decidiu procurar Reid e pedir a ajuda da sua equipe. Peter estava em uma viagem de trabalho e não podia acompanhar o caso com ela, mas apoiou a sua decisão de se unir à UAC.
Tinham feito progresso com o perfil do suspeito, mas até aquele momento, ainda não tinham uma identidade real dele.
O estresse começava a tomar conta da mulher. Fazia alguns dias que não dormia bem e se enchia de aspirina, mesmo que não fosse recomendado ou sequer saudável. Não importava.
Ela esfregou a nuca, suspirando.
— Nós vamos pegá-lo — Morgan garantiu.
Ela encarou o homem e sorriu sem humor, admirando a confiança que ele possuía. Quando começou a sair com Reid e percebeu que ele era muito protegido pela sua equipe, ela temeu não ser muito bem aceita por eles, mas Morgan e Garcia foram os primeiros a abrir os braços de boas-vindas para ela.
Estar perto daquela equipe era como estar em casa.
Ela estava prestes a dizer alguma coisa, quando a porta foi aberta e Reid passou por ela com um copo de café. Ele andou até a mulher e agradeceu ao amigo pela companhia. Derek balançou a cabeça e apertou o ombro de Reid ao passar por ele, sumindo pela porta, deixando-os sozinhos.
— Oi — murmurou, deitando a cabeça no ombro dele, aceitando o copo de café.
— Estou preocupado com você — admitiu.
A agente soltou um suspiro, tirando a tampa do copo, afastando a cabeça do ombro dele.
— Spence…
, você está ficando obcecada — interrompeu-a.
A mulher bufou, bebendo um gole do café. Já estava irritada o suficiente para discutir.
— Vai me reduzir a isso? — ela questionou.
Reid crispou os lábios e segurou a mão dela entre as suas.
— Só estou dizendo que ninguém vai te culpar por tirar um tempo do caso — explicou, carinhosamente. — Você anda precisando descansar.
Inferno. Era humanamente impossível irritar-se com aquele homem. Um ano juntos e nunca houve uma briga por nada sério.
— Spencer, não há a menor possibilidade de eu sair do caso, está bem? — ela devolveu, tentando não sumcubir ao tom de voz irritado. — Não vou sossegar enquanto não pegar aquele desgraçado.
Ele já esperava por aquela resposta, mas se sentiria melhor se tivesse tentado sugerir aquela opção para ela. O agente queria muito que tirasse um tempo para si, mas mesmo que conseguisse, não sentiria paz em saber que o suspeito ainda estava solto por aí.
— Desculpe — ela murmurou, colocando o copo de café em cima da mesa que havia ali e abriu um sorriso pequeno, respirando fundo logo em seguida. — Não gosto de me irritar e descontar em você.
— É a parte ruim do trabalho — ele concordou.
beijou a bochecha dele e abraçou-o, sentindo o seu cheiro.
Ela costumava dizer que ele tinha cheiro de lar.
A porta foi aberta novamente, revelando a cabeça de Garcia, que pigarreou para amenizar em interromper a intimidade do casal. Reid e se afastaram, olhando na direção da loira.
— Encontramos o suspeito.

[flashback off]

— O que você disse?
Um instante de silêncio foi quebrado. Garcia não perdeu tempo em projetar a tela do notebook para a pequena TV que tinha ali na sala, em frente a mesa que eles estavam sentados. Reid assistiu, com o restante da equipe, Charles se aproximar de .
Infelizmente o vídeo não tinha áudio, mas era possível analisar a linguagem corporal de ambos e estava bastante claro que não estava confortável com a presença dele. Era como se, de alguma forma, ela soubesse que ele não era um sujeito de quem deveria se aproximar. Mesmo assim, o suspeito continua ao lado dela, até que diz alguma coisa e adentra o táxi, sumindo em seguida. Logo depois, mostra a imagem do homem correndo e Reid aparecendo logo depois, perdendo-o de vista.
— Hotch, eu sei que não posso me aproximar de , mas isso foi antes de descobrir que esse homem anda rondando ela — Reid começou a dizer, bastante decidido. — Não vou deixar as coisas se repetirem de novo.
Aaron Hotchner encarou o mais novo e assentiu.
— O que quer fazer? — questionou.
— Quero contar a verdade à — respondeu. — E quero ir atrás dele.
—Reid, tem certeza? — Morgan questionou.
Reid encarou o amigo, assentindo rapidamente.
— Entendo a sua preocupação, Derek, mas acho que está sendo envenenada — começou a explicar a sua teoria, sentando-se em uma cadeira livre ali. —  O médico disse que ela podia recuperar a memória eventualmente, mas…
— Ele disse também que era possível que ela não recuperasse — Rossi lembrou.
Reid suspirou.
— Eu sei - concordou. — Confiem em mim.
JJ encarou o melhor amigo carinhosamente. Os outros se entreolharam, mas acabaram concordando silenciosamente que Reid merecia uma chance para confirmar a sua teoria. Amava muito a , mas nem por isso deixava o seu juízo ser comprometido no trabalho.
— Lembram como ele mudou o MO¹ quando sequestrou ela? — Reid continuou, recebendo acenos positivos. — Não fazia sentido droga-lá e fazê-la perder a memória. Eu acho que deixamos passar alguma coisa. Garcia, pesquise quem é a psicóloga dela.
— Isso é meio anti ético — a analista disse.
— É por uma boa causa — Prentiss assegurou.
Garcia deu de ombros e pesquisou a ficha de , encontrando a psicóloga e o psiquiatra a quem ela foi encaminhada.
— É a Dr. Allister — ela começou a dizer as informações, projetando na TV. — O que é estranho, porque não há nada além de um diploma em Harvard. Nenhuma informação sobre o passado.
— E o psiquiatra? — Reid continuou.
Garcia puxou a ficha dele também.
— Dr. Alexander, mas também não há muita informação além de um diploma — ela respondeu. Houve um minuto de silêncio enquanto ela digitava rapidamente nas teclas do notebook a sua frente. — E olha só, não há nenhum aluno que corresponda aos dois doutores.
Derek Morgan balançou a cabeça.
— Porque eles não existem.
— O que isso significa? — JJ indagou.
Spencer deixou o frasco de remédio na mesa.
— Eu acho que Charles planejou isso há muito tempo — ele explicou sua teoria. — foi consequência e agora é uma peça do seu jogo. Ele garantiu que se ela lembrasse de alguma coisa, correria perigo.
— Ele nos manteve afastados dela esse tempo todo a troco de quê? — Garcia perguntou, confusa.
Reid sentia-se culpado. Se tivesse prestado mais atenção em tudo, talvez não estivesse na situação que estava agora. Ele poderia ter evitado muita coisa, mas principalmente, poderia ter dito a verdade a ela há muito tempo.
— Ele queria que ela não lembrasse de nada, garantiu isso — Hotchner disse. — O perfil inicial mostrava que ele era um homem vingativo, mas achamos que ele estava se vingando das mulheres.
— Nós erramos — Rossi lamentou. — Garcia, puxe tudo o que puder sobre ele e os doutores.
— Sim, senhor — ela concordou.
— É por isso que ela não recupera a memória — Reid murmurou. — Continua sendo envenenada por Ramrik². Ele garantiu também que ela tivesse alguém aqui com acesso diretamente à ela.
— Reid… — Prentiss lamentou. — Eu sinto muito.
O rapaz assentiu. Ele soltou uma risada sem humor.
— Ela estava aqui. Perguntou se nós nos conhecíamos e eu menti — ele disse, encarando as próprias mãos. Se pudesse voltar ao passado…
— Nós vamos pegá-lo — Morgan prometeu.
Reid concordou silenciosamente.
— Ah! — Garcia exclamou. — Não vão gostar disso.
Toda a atenção se voltou para ela.
— O quê? — Aaron questionou.
— Charles perdeu o pai em uma troca de tiroteio com o FBI — ela tornou a explicar. — Entrou com processos judiciais, mas perdeu todos. O pai era um criminoso comprovado. Desde então, declara o ódio pelo FBI nas redes sociais, mas parou de postar há dois anos.
Exatamente quando tudo começou. Como tinham deixado aquilo passar?
— A Dra. Allister, na verdade, é Amber Hilfiger. Ex do Coolidge — a loira continuou. — Largou a faculdade de psicologia no Texas, não Harvard. Ela tem fotos com o falso psiquiatra, mas não há muitas informações sobre ele ainda. Ela também tem muitas declarações de ódio contra o FBI.
— Coolidge não começou a matar mulheres porque queria se vingar delas — Rossi disse. — Ele queria chamar a nossa atenção.
— E agora? — Garcia questionou.
JJ lançou um olhar compreensivo para ela.
— Agora significa que ele não acabou — Reid respondeu. — O que quer que seja, precisa da para isso.
— Senhor… — Garcia chamou Hotchner, o tom cauteloso, os olhos fixos na tela. — Recebemos um chamado do prédio da .
Ela acessou as câmeras e projetou na tela, como tinha feito antes.
— Essas imagens são ao vivo. Ele está com ela.

Unidade de Crimes Sexuais, FBI - EUA

Uma hora mais tarde, ainda pensava em Spencer Reid.
Ela não conseguiu esquecer os seus olhos e visitava-os constantemente em sua memória, como se tivesse medo de perder aquela lembrança também.
Com um copo de café na mão, o líquido preto já acabando, ela levantou-se da mesa, parando de encarar uma foto sua com Peter, um antigo parceiro seu com quem tinha perdido contato ao longo dos anos. Sua irmã tinha dito que os dois eram muitos amigos, mas raramente lembrava-se dele e não ficou triste quando ele anunciou que estava saindo do FBI, para trabalhar infiltrado para a CIA em algum lugar que ela não prestou atenção, mas gostava da foto o suficiente para deixá-la na sua mesa. Vez ou outra, ele costumava deixar uma mensagem para ela.
A agente andou até a copa, jogando o copo de café no lixo pelo caminho. Organizou rapidamente a bagunça na mesa antes de se dirigir ao banheiro, mas antes mesmo de seguir o caminho que queria, ela parou para observar um homem saindo do elevador. Era a terceira vez que o via em menos de dois dias. franziu o cenho ao notar que ele estava indo exatamente de encontro a ela, a sensação horrível esmagando seu peito outra vez. Antes que ela conseguisse pensar em seguir seus instintos e correr, ele já estava próximo o suficiente para mostrá-la a arma que carregava e apontava na direção da barriga dela.
— Quem é você? — ela sussurrou, meio paralisada.
O homem deu um sorriso frio e distante.
— Eu sou o homem que fodeu a porra da sua mente — ele respondeu. — E você vai me ajudar a explodir isso tudo aqui.
A agente engoliu a seco, notando agora que ele carregava uma bolsa maior que uma mala. Continuou paralisada, no mesmo canto, aparentemente agindo normal. Ninguém ao seu redor percebia que havia algo errado e que tinha uma arma apontada para ela.
— Não vou a lugar nenhum — ela disse.
Seus lábios tremeram e ela se odiou por isso. Antes, conseguia perfeitamente driblar o medo e controlar a situação, mas agora parecia totalmente dominada por ele. O homem riu.
— Ora, , vamos — ele cutucou a barriga dela com o cano da arma bem escondida. — Eu queria ter tido mais tempo para trabalhar com você, mas você é muito desconfiada. Isso não mudou.
Um arrepio gélido tomou conta do corpo inteiro dela. paralisou completamente ao sentir o cano da arma contra a sua pele, o coração quase saltando pela boca. Ela se amaldiçoou mentalmente por ter esquecido a sua em cima da mesa, a poucos metros de distância.
— Vamos, andando — ele ordenou. — Não vai querer que isso vire uma cena de crime e corpos caídos, não é?
Ele apontou com a cabeça para algo atrás dele. Quando olhou e encontrou sua psicóloga e seu psiquiatra parados perto dos elevadores, com suas bolsas iguais, ela soltou um palavrão baixo.
— O que…?
— Eles não são médicos de verdade — Coolidge explicou. — Mas eu precisava ficar de olho em você e Amber era ótima. Ela foi ótima com você, não foi?
sentiu um nó na garganta. Quando ele pressionou a arma contra ela novamente, a agente começou a andar, com ele ao seu lado, apontando a arma discretamente. não tinha certeza para onde ele a estava levando, mas quando cruzou uma porta, a outra precisava de acesso interno, que seu cartão dava.
— Não pense nisso — ele alertou, ao notar um movimento suspeito vindo dela. — A bala dessa arma com certeza é mais rápida que seus reflexos. Agora, o cartão.
trincou os dentes, irritada. Mesmo que conseguisse imobilizá-lo de alguma forma, não conseguia seguir em frente. Alguma coisa a impedia.
— Por que está fazendo isso? — ela questionou, passando o cartão, liberando o acesso da porta para o corredor seguinte.
O homem não respondeu imediatamente, obrigando-a a andar na frente. Por sorte dele - e azar dela -, não havia ninguém por ali. Os dois andaram mais um pouco até cruzarem outra porta, que levava às escadas.
— Planejo isso há muito tempo — ele explicou. — Mas se eu quisesse que desse certo, ainda precisava de alguém dentro para acessar. Principalmente alguém que soubesse o melhor ponto estratégico para explodir o prédio inteiro.
— O quê?! — Saúde exclamou. — Eu não…
— Como eu disse, tolinha, Amber é muito boa.
A agente não conseguia acreditar que tinha passado dois anos dividindo a sua vida com uma mulher que estava conspirando contra o FBI. Tinha confiado na Dra. e realmente tiveram bons resultados juntas, mas naquele momento, tudo parecia ter sido em vão. não sentia mais nenhuma conquista dela e algumas coisas começavam a fazer sentido, como Allister - ou Amber -, questionando o tempo todo sobre seus remédios. As perguntas sobre o FBI e acessos internos. Os trabalhos de campo, armas, treinamento. A agente simplesmente achava que era um exercício para verificar o estado de suas memórias, mas agora tudo tinha uma explicação.
— O que você fez comigo?
Coolidge lançou um sorriso frio na direção dela.
— A falta de memória pode ser uma bênção, sabia disso? — ele respondeu, debochando. — Quero que você me leve à sala de controle.
A sala de controle era o ponto principal do prédio. Ele fazia ligação com tudo, desde estrutura até a tudo o que fazia o prédio funcionar tecnologicamente.
— Não posso — ela disse, decidida.
Não moveu os pés sequer uma vez mais. Se levasse aquele homem até a sala e ele enchesse o local de explosivos, ninguém sobreviveria.
— Não brinque comigo, garota — ele murmurou, raivoso. Empurrou-a contra a porta, prensando o seu corpo contra o dela com força. — Quer saber o que eu fiz com você? — sibilou. — Usei Ramrik em você. Te droguei com essa merda por vários dias, para garantir que fizesse efeito. Era um prazer enorme ouvir você agonizando com todos os efeitos colaterais, mas principalmente, foi maravilhoso observar suas memórias sendo apagadas. Houve um momento em que você não lembrava nem de si mesma.
Ele riu. fechou os olhos com força, odiando cada palavra. Ele tinha feito aquilo. Tudo aquilo era culpa daquele desgraçado e ainda assim, ela continuava paralisada contra a parede, incapaz de fazer qualquer coisa, senão ouvir.
— Quando encontraram você, era tarde demais e eu consegui fugir — ele continuou, sentindo prazer ao notar dor na expressão dela. — Os médicos tentaram lavar o remédio do seu sistema, mas não conseguiram um bom resultado. De longe, garanti que você fosse afastada de todo mundo que te amava.
Ela abriu os olhos, sentindo lágrimas silenciosas molharem as suas bochechas. Tinha vivido aquele inferno todo a troco de quê?
— Você é desprezível — ela sibilou.
O homem deu de ombros.
— Eu sei, mas deu certo, não foi? — perguntou. — O que você sentiu quando reencontrou o seu namorado? É uma pena ter se esquecido dele também. O Dr. Reid empenhou-se bastante em te encontrar.
O coração de acelerou à menção do nome de Reid.
— O que você disse?
Mas Coolidge não respondeu. Ele sequer teve uma oportunidade, antes dos agentes aparecerem.
— FBI! — Derek Morgan gritou, seguido dos outros. — Solte ela e abaixe a arma.

Unidade de análise comportamental - Quântico, Virginia
antes

— Reid! — JJ chamou, indo atrás dele. — Spence, espere. Você não pode ir sozinho.
Ela conseguiu alcançá-lo logo depois, pondo-se na frente dele, impedindo-o de continuar andando. Ele estava completamente fora da razão depois de ter visto o vídeo de Coolidge encurralando no meio do salão, cercada de agentes que não percebiam nada.
— Eu entendo o que você está sentindo — a loira continuou, acariciando os braços do melhor amigo. — Mas precisa da equipe. Vamos trabalhar da melhor forma para tirar a das mãos daquele sádico, está bem?
Incapaz de dizer qualquer coisa, Reid assentiu.
No momento seguinte, Hotchner tinha conseguido reunir alguns agentes e entrado em contato com o supervisor da Unidade de Crimes Sexuais, apenas aguardando algumas instruções, enquanto seguiam até o carro, devidamente vestidos com o colete.
Reid não conseguia parar de pensar em e em como falhou em impedir que ela passasse por tudo de novo. Não suportava a ideia de imaginar ela presa com aquele homem de novo e o que ele era capaz de fazer daquela vez. Spencer sabia que ele tinha um objetivo, mas desejava que pudessem chegar a tempo de impedir que se machucasse. Não seria justo recuperá-la logo agora apenas para perdê-la de novo. Mesmo ele tinha sua própria cota de perdas na vida e estava começando a preencher demais.
Prentiss, sentado ao lado dele, observou-o em silêncio, notando o quão distante em pensamentos ele estava. Ela não conseguia imaginar com precisão a aflição que ele deveria estar sentindo.
— Garcia me disse que Ramrik é bem raro e pode causar danos irreversíveis, dependendo da dose aplicada — Prentiss começou a dizer. — Mas ela encontrou um médico especialista que está prestes a desvendar a cura. — explicou. Reid olhou para Emily com calma e a mulher devolveu um sorriso contido. — Vai dar tudo certo. Você só precisa acreditar nisso.
Ele assentiu, agradecendo silenciosamente pelo conforto dela.
Spence estava desesperadamente ansioso para receber de volta e poder compartilhar a memória que tinha dos dois. Não se importaria em criar novas e nem que ela se lembrasse das antigas, desde que estivesse com ele novamente. Ele queria poder comentar sobre o dia que a conheceu e como achou ela a pessoa mais incrível e corajosa quando pediu ele em namoro. Queria comentar que o primeiro beijo dos dois foi um desastre, mas que ela fazia tudo ficar melhor quando ria daquela forma que deixava os seus olhos brilhando.
Que não havia nenhuma outra pessoa no mundo com quem quisesse dividir o espaço, a rotina, a vida.
Ele suspirou, tendo consciência que estava sendo observado pelo restante da equipe, mas não se incomodou. Entendia que eles só estavam preocupados. Ficaram em silêncio o trajeto inteiro até a Unidade de .
Ele foi o primeiro a descer do carro, juntando-se aos outros. Hotchner se aproximou do supervisor.
— Todas as saídas estão cercadas, como você recomendou — o supervisor explicou para Aaron. — Segundo testemunhas, foi levada por um homem na direção da sala de controle. Também há mais dois suspeitos no hall principal e inúmeros reféns. O que quer fazer?
Aaron sabia que a melhor tática era esperar, mas também sabia que Reid não faria isso. Olhando para o restante da equipe, ele tomou uma decisão que considerou imprudente, mas serviria.
— Peça a SWAT para se prepararem — ele instruiu. — Vamos invadir em um minuto.
O supervisor assentiu, dando as costas para a equipe. Hotchner se virou para o restante, focando principalmente no mais afetado.
— Reid, você vai ficar atrás — ele avisou. — Morgan vai comandar a direção, com JJ e você atrás. Rossi e Prentiss, em outra direção. Vou comandar com a SWAT.
Todos eles assentiram. Reid não tinha sequer energia para contestar alguma coisa. Só queria poder entrar naquele prédio e verificar se estava bem com os próprios olhos.
Um minuto depois, todos eles estavam posicionados. Aaron se juntou a equipe da SWAT e foi na frente, comandando a invasão, o resto de sua equipe logo atrás, seguindo o fluxo.
Eles liberaram os civis e agentes do térreo, optando por usarem as escadas como melhor caminho. O capitão da SWAT tinha acesso às câmeras pela tela que carregava ao redor do seu pulso. Ele verificou os ângulos que os suspeitos estavam e virou-se rapidamente para trás.
— Carter, granada de luz — ele ordenou, recebendo um aceno positivo do policial. — Quando eu fizer o sinal.
Eles subiram mais um lance de escadas. Carter esperou o sinal do capitão, e quando o capitão gesticulou com as mãos, Carter lançou a granada de luz pela porta entreaberta do acesso das escadas. Uma pequena explosão foi ouvida e todos eles invadiram o hall principal do terceiro andar, imobilizando os dois suspeitos.
— Reid, JJ — Morgan chamou, tomando outra direção.
A direção que levava à sala de controle. Eles passaram por uma porta e seguiram até o corredor, avistando Coolidge prendendo contra a porta de outro acesso às escadas. Reid tentou avançar, mas JJ impediu, pedindo que ele se acalmasse. Morgan aproximou-se mais ainda e apontou a arma diretamente para Coolidge.
FBI! — ele anunciou. — Solte ela e abaixe a arma.
Os agentes ficaram atentos a cada movimento do assassino. Quando Coolidge afastou-se de em um movimento rápido, apontando a arma para os agentes, Morgan foi mais rápido em acionar o gatilho e atirar três vezes nele, fazendo o corpo cair direto ao chão, imóvel. tremeu, encolhendo o próprio corpo e Reid correu até ela, sem ninguém para impedi-lo dessa vez.
Ele parou na frente dela, fechando o seu campo de visão.
— Sinto muito ter mentido para você — foi a primeira coisa que disse. encontrou os olhos dele.
— Eu sabia que conhecia você — murmurou. — Não podia me esquecer dos seus olhos.
Spencer sorriu, aliviado. Era tão bom vê-la bem.
— E eu não poderia esquecer você — ele retrucou, limpando as lágrimas dela.
o abraçou, como se sua vida dependesse daquilo.
— Obrigada — ela sussurrou, verdadeiramente grata. Estava incrivelmente aliviada por ter encontrado o conforto nos braços da mesma pessoa mais uma vez. inspirou o seu cheiro. — Spencer?
— Sim? — ele murmurou.
— Você tem cheiro de lar.

¹Modus operandi.

² Ramrik é um remédio totalmente ficcional que causa perda de memória em uma grande quantidade administrada.


Epílogo

Um ano depois

— Ela ainda não lembra? — JJ questionou.
Spencer observou brincar com Henry na grama, enquanto os outros estavam em volta de uma mesa de comida e bebidas, conversando. Vez ou outra, Henry corria até eles com em seu encalço, fazendo a mulher experimentar todo tipo de comida de churrasco que seu pai, Will, estava preparando. Henry ficou completamente encantado com a mulher e Reid também ficou bastante aliviado por isso.
Estava feliz que as coisas caminhavam muito bem, mas nem tudo ainda era umas mil maravilhas.
— Não — ele respondeu, deixando os ombros caírem. — O médico disse que não houve dano completamente irreversível, mas até ela recuperar tudo, vai levar tempo.
JJ assentiu, bebendo um pouco do seu vinho, compadecida pelo estado do amigo. Ela não tinha dúvidas de que os dois eram completamente apaixonados um pelo outro e aquele era só mais um obstáculo que tinham que passar juntos.
— Ela ainda tem pesadelos — Reid contou. — Demorei a convencê-la que fizesse terapia novamente, mas consegui.
— Ela parece mais leve — a loira observou.
Reid sorriu quando Henry jogou um pouco de água em . Seu coração se enchia de calma ao notar que ela estava mesmo muito mais leve, do que não era há um ano. tinha dito que parte daquilo era graças a ele. A sensação de perda tinha passado para ela e a cada dia que passava, a mulher não sentia que a escuridão tomava conta de si. Toda vez que ela olhava para Reid, sentia-se em paz. Não importava se sua mente não quisesse resgatá-lo em suas memórias, ela acreditava que seu coração lembrava-se o suficiente. Era tão fácil amá-lo que ela se apaixonou uma segunda vez.
— Deveríamos nos juntar aos outros — JJ sugeriu.
Reid concordou com um aceno e assistiu ela ir primeiro.
Ele também se juntaria aos outros, mas primeiro andou até onde a namorada estava com o afilhado, ambos sentados na grama.
— Oi — ele murmurou, sentando ao lado dela.
sorriu. O brilho nos olhos tinha voltado e ela apertou a mão dele carinhosamente em cumprimento.
— O Henry estava me contando sobre você ensiná-lo a fazer mágica — ela comentou. — Eu não deveria saber dessa sua habilidade?
Henry prestou atenção nos dois.
— Você sabe — Reid contou. — Só é mais uma coisa que esqueceu.
empurrou-o pelo ombro, por pura implicância.
— Não é justo — ela reclamou.
— Henry, querido, venha aqui um pouco — JJ chamou.
Henry obedeceu prontamente e seguiu até onde a mãe estava. soltou uma risada, encostando a boca contra a de Spencer.
— JJ precisa aprender a disfarçar um pouquinho — ela sussurrou.
Spencer concordou com um sorriso e deixou-se ser levado pelo beijo breve que ela deu.
— Ela é minha melhor amiga — ele disse. — Deve ter adicionado que eu quero te dar uma coisa.
franziu a testa. Não sentia dor de cabeça há meses, desde que tinha parado com os remédios.
— Não é meu aniversário.
— Eu sei — ele concordou. — É só algo que eu carreguei comigo por muito tempo e pertenceu a você.
Curiosa, ela observou quando ele enfiou a mão no bolso da calça e retirou de dentro um colar, cujo pingente lembrava uma estrela.
Ela encarou o objeto e sentiu os olhos lacrimejarem.
— Você me deu ele no nosso primeiro ano de namoro — ela lembrou.
Reid piscou os olhos, surpreso.
— Sim, você lembra?
balançou a cabeça.
— Eu não lembrava antes, mas ver o pingente ativou a minha memória — explicou.
Ele entregou o pingente a ela, que aceitou, acariciando a estrela com os dedos.
— Carregou isso consigo por dois anos? — sussurrou.
O agente deu de ombros.
— Carregaria a vida inteira, se fosse preciso — ele disse.
Um sorriso pintou os lábios da mulher. Ela deitou na grama, com ele deitando no espaço ao seu lado. Sadia segurou o pingente contra o seu coração, encarando o céu azul por um momento, contemplando a sensação de felicidade que a consumia naquele momento. Ela virou o rosto, somente para encontrar aqueles olhos já a encarando. lambeu os lábios e continuou sorrindo para o único homem a quem entregou seu coração.
Agora, para a vida inteira.
— Quer casar comigo?



FIM.



Nota da autora:É madrugada enquanto eu estou escrevendo essa nota com sono, porque sinto que devo uma explicação a qualquer pessoa que leu isso aqui até aqui. Mad World foi um desafio e eu nem consegui colocar tudo como deveria, porque apertei demais o prazo de entrega, mas eu estou feliz que eu tenha conseguido entregar. Peço desculpas por qualquer furo de roteiro e de desenvolvimento e pela ausência de romance HAHAHAHA espero que tenha ficado uma história legal que sirva de entretenimento para vocês. Um beijo e até a próxima!



05. Show me love - Ficstape The Wanted
12. What Makes a Woman - Criminal Minds
EXITUS - Criminal Minds/Em andamento
In Dark - Criminal Minds/Finalizada


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