Finalizada em: 02/02/2021

Capítulo Único

Is it romantic how all my elegies
Eulogize me?
I'm not cut out for all these cynical clones
These hunters with cell phones


A aula de literatura inglesa era a favorita de . Gostava de se perder no mundo dos poemas e naquelas palavras que por trás tinham tantos significados. A garota, no último ano do ensino médio, tinha vontade de cursar Inglês na faculdade e, com sorte, se tornar escritora. Quando era mais nova, escrevia histórias em seus cadernos não usados de matemática. Do outro lado da sala, não tanto interessado, a encarava sem que ela percebesse. Na verdade, todos o faziam, menos quem deveria, de fato, perceber. Desde que entrara em sua vida, aprendeu a ler nas entrelinhas. Conseguia enxergar um mundo inteiro dentro de uma simples história que ela escrevia. Ele até leu Harry Potter por ela! E isso era algo que ele não fazia com tanta vontade. Quer dizer, ele preferia os fatos históricos. Gostava de saber sobre o contexto histórico de tudo, e era isso o que lhe salvava em literatura. E bem, o interesse na menina que sentava à sua direita também.
— Bom, como entraremos com o recesso e ficaremos duas semanas afastados, passarei um trabalho em dupla para que vocês realizem. - a senhorita Struts sorriu para a classe. - A turma será separada em duplas e quero que troquem poemas entre si.
— A escolha de duplas é livre? - a melhor amiga de , Morgan, perguntou.
— Não, senhorita Peterson. - a professora pegou sua pasta em cima da mesa. - Os alunos escolhidos estão separados e eu colocarei a listagem no mural, para que possam ver e entrar em contato com sua dupla. Não adianta virem até mim reclamando sobre a escolha, ela não mudará.
torcia para que ficasse com Morgan, mas sabia que a senhora Struts não as juntaria. Bastava saber quem seria a dupla dela e torcer que fosse alguém interessado. Assim que a professora de literatura se afastou do mural, alguns alunos se levantaram e olharam a lista. faria o trabalho com .

Take me to the Lakes
Where all poets went to die
I don't belong
And, my beloved, neither do you
Those Windermere peaks
Look like a perfect place to cry
I'm setting off
But not without my muse


engoliu em seco quando viu seu nome atrelado ao de . O resto da lista nem lhe importava mais, ainda mais quando sentiu o garoto atrás dela. Essa era uma coisa que os dois compartilhavam em segredo: conseguiam saber quando um estava na presença do outro. Era impossível não reconhecer o aroma de limão de e impossível de não sentir a energia de .
— Te vejo nas férias, então? - ele perguntou e engoliu em seco.
— Pode ser. - ela tentou fingir postura. - Você sabe onde eu moro.
— Não é como se você não fosse minha vizinha, . - ele lhe deu um sorrisinho sem graça. - Além disso, nós vamos passar o Natal e Ano Novo juntos.
— Não se eu puder evitar. - ela lhe deu um sorrisinho e voltou para pegar suas coisas na carteira.


What should be over
Burrowed under my skin
In heart-stopping waves of hurt
I've come too far to watch some name dropping sleaze
Tell me what are my Wordsworth


O caminho até as cabanas da igreja em que os James e Tuner costumavam frequentar estava sendo longo. Os adultos se separaram na frente do ônibus e os adolescentes ficaram na parte traseira. estava entretida em seu caderninho e se ocupava prestando atenção na menina. Sabia que ela estava escrevendo algo, era claro. Quando era mais nova, costumava franzir o nariz quando escrevia, como se avaliasse minuciosamente o que anotava nas folhas.
Antes que pudesse levantar para uma tentativa de conversa entre os dois, arrancou a folha e jogou em . O garoto não se assustou porque lhe encarava, mas aquela era uma surpresa. Ela lhe deu um olhar sério.
— Esse é o primeiro. - ela lhe disse e foi até seus pais para evitar com que ele a encarasse depois de ler o que ela escrevia.
— Fico lisonjeado com a delicadeza. - ele lhe deu um sorriso falso.
Rapidamente o rapaz desamassou o papel e reconheceu a caligrafia da menina que fazia seu coração parar. Antes que pudesse começar a ler, ele tomou coragem. Sabia que conseguia ferir as pessoas quando escrevia, inclusive, ele já fora uma de suas vítimas.

“Como eu tinha te dito antes, hoje eu não quero ser lida.
Talvez eu nunca quisera
Se meus poemas não são lidos, por que eu seria?
Escrevo como se fosse a última vez
Mas eu e você sabemos que não é verdade.
Essa é a primeira de muitas.
Hoje eu não quero ser lida
Não quero me descolorir
Não quero ser interpretada
E com toda certeza, eu não queria ser eu.
No entanto, você torna meus dias azuis.
Você me lê, me descolore e me interpreta.
E com toda certeza, eu não queria ter você.”
.


engoliu em seco ao ler a parte em que a menina dizia que não queria tê-lo. E pela primeira vez em muito tempo, se culpou por não dizer a ela o que realmente sentia. Quando os dois se conheceram, anos atrás, ela caiu imediatamente. Lembrou do último dia em que conversaram de verdade. havia escrito um poema para ele dizendo que o amava e ele basicamente não disse que a amava. Sabia que, dentre todas as pessoas no mundo, entenderia que ele ainda não estava pronto para dizer que a amava, mas tudo que saiu de sua boca foi um “eu não te amo, ”.

Take me to the Lakes
Where all poets went to die
I don't belong
And, my beloved, neither do you
Those Windermere peaks
Look like a perfect place to cry
I'm setting off
But not without my muse




havia jantado com os pais e estava prestes a ir até seu quarto na cabana em que estava ficando, quando ouviu duas batidinhas na porta. A menina, apesar de assustada por estar sozinha, encarou no olho mágico para ver quem estava. Viu que estava do lado de fora e rapidamente abriu a porta.
— O que você está fazendo aqui? - foi a primeira coisa que saiu de sua boca ao vê-lo sem uma porta entre os dois. - Está frio.
— Boa noite para você também, . - ele sorriu. Diferente dele, vestia apenas um vestido e seu cardigã favorito. - Você lembra quando nos conhecemos?
— Claro que sim, . Que pergunta é essa? - ela franziu o cenho. engoliu em seco. Odiava falar as coisas e era péssimo em dizer o que sentia. - Vou entrar, já que você não quer me falar. Boa noite, .
— Lembra quando você disse que não conseguia ver nada além de mim? E que… - ele tentou continuar, mas o interrompeu.
— E que parecia que tinham borboletas no meu estômago. - ela sorriu fraco.
— É, isso. - ele colocou as mãos dentro dos bolsos da jaqueta. - Eu quero que você não esqueça isso, .
— Do que você está falando? A gente nem está junto mais, lembra? - seus olhos brilharam com as lágrimas que surgiram depois de se recordar que havia dito a ela que não a amava.
— Não se esqueça das borboletas, . - ele lhe entregou um pedaço de papel e se virou para ir embora. o encarava, ainda confusa. Odiava gostar dele a ponto de doer mais do que sentir felicidade.

I want auroras and sad prose
I want to watch wisteria grow
Right over my bare feet
Cause I haven't moved in years
And I want you right here
A red rose grew up out of ice frozen ground
With no one around to tweet it
While I bathe in cliffside pools
With my calamitous love and insurmountable grief


Assim que se virou, entrou em sua cabana e se trancou no quarto disposta a chorar, como sempre. Não tinha vontade de mais nada além de voltar para casa e esquecer da existência de . Não estava disposta a esquiar, andar de snowboard ou até montar bonecos na neve. Com a pouca coragem que lhe restava, desdobrou o papel que havia lhe entregado a pouco.

“Eu pensei que jamais veria algo tão bonito
quanto um floco de neve
Mas tive certeza de que meu conceito de beleza era limitado
Até que vi seus olhos
Seu sorriso
E me vi perdido.
Talvez você nunca saiba o que eu sinto completamente
Mas eu sempre serei seu
Por dentro, por fora.
Cada pedaço de mim insiste em ser dominado
Por uma maldita borboleta
Toda vez que você aparece”


leu e releu o poema mais vezes do que o esperado. Pensou que seriam palavras vazias e que inventaria qualquer coisa para tirar uma boa nota no trabalho. Mas não eram palavras vazias. Mais embaixo na folha, encontrou uma frase de William Wordsworth, que sempre gostou.
“A verdadeira beleza vive em refúgios profundos, cujo véu é irremovível, até que coração em coração em concordância batam. E o amor é amado.” leu baixinho.
No final das contas, ela sempre soube que a conhecia. Ela se abrira com ele como não havia se aberto com Morgan em momento algum. Era ele que conseguia lê-la sem que ela precisasse escrever nada, ainda assim, não compreendia como poderia ser tão tola a gostar de alguém que fingia tão bem. Em alguns momentos, podia até jurar que ele se sentia do mesmo jeito que ela. Antes que pudesse se afundar mais ainda na tristeza, a menina pegou seu caderninho e sua caneta e escreveu o que sentia.

“Ninguém existe como você
E dói saber que eu preciso te esquecer
Porque eu deveria superar e seguir
A gente foi tão bom que
Te quero aqui.
Não deveria, porque dói mais que conforta
Eu ainda amo você,
Mas preciso seguir e esquecer
Porque o tempo cura o que é esquecido
E eu vou ficar feliz em me curar.
Trago no peito todas as borboletas que senti
Porque elas não serão esquecidas ou substituídas
Porque ninguém existe como você.”
.




Take me to the Lakes
Where all poets went to die
I don't belong
And, my beloved, neither do you
Those Windermere peaks
Look like a perfect place to cry
I'm setting off
But not without my muse
No, not without you


O dia havia amanhecido mais frio do que esperavam. Apesar de Vermont ser conhecido por seus dias extremamente frios no inverno, não gostava muito, mas ele tinha estabelecido metas para aquela viagem e ele iria cumpri-las, nem que fosse a última coisa que fizesse. Logo cedo, o garoto bateu na porta da cabana dos James. Quando abrira os olhos naquela manhã, encontrou um poema de dizendo que ela não iria esquecê-lo, então decidiu que teria o melhor feriado que ele pudesse lhe oferecer. Daquela vez, não lhe trouxera um poema de sua autoria, mas sim do poeta favorito de .
— Bom dia, senhor James. - sorriu ao ver o pai de . - está?
— Bom dia, filho. - o homem lhe devolveu o sorriso. - Ela foi até a cafeteria.
— O senhor e a senhora James se incomodam se eu roubá-la na véspera de Natal?
— Claro que não, filho. - o sr. James lhe deu permissão.
— Obrigado. - agradeceu e assim que ia descer as escadas, o pai de a chamou.
— Filho? - virou. - Não a machuque desta vez.
Aquilo atingiu em cheio.
— Tudo bem, senhor.
Em passos largos, chegou até a cafeteria perto das cabanas e foi fácil achar a menina. Reconheceria aquele cardigã a milhares de milhas de distância. Ela estava numa mesa sozinha e tomava um café enquanto escrevia em seu caderninho rosa. se aproximou de e sentou-se em sua frente.
— Qual é a da vez? - ele perguntou baixinho.
— Estou escrevendo o epílogo de Soulmates. - ela falou baixinho. - Joe contou a Taylor que a amava e eles vão casar.
? - a chamou pelo apelido que ele sempre usou. Ela o encarou. - Podemos conversar?
— Sobre? - pela primeira vez ela desviou o olhar do papel, mas não parou de escrever.
— Nós. - ele dizia baixinho. - Eu tenho algo para você.
Assim que disse isso, chamou atenção da menina e tirou o pequeno pedaço de papel do bolso da calça. o encarava com curiosidade. sorriu ao ver os olhos curiosos de nele.
— Mas primeiro faremos um passeio. - ele se levantou e bebeu um pouco do chocolate quente dela.
— Ei! - ela resmungou.
— Não é como se não tivéssemos dividido nossas bebidas antes, .
— Ugh, te odeio. - ela resmungou novamente e guardou a caneta dentro de seu caderninho e o seguiu. - Pode me dizer, ao menos, para onde estamos indo?
lhe deu um sorriso.
— Eu acabei de descobrir que no fim do parque tem outro parque cheio de glicínias. - ele lhe deu um pequeno empurrão. - E sei que você ama glicínias e essas coisas melancólicas que o inverno nos proporciona.
— Você fala como se eu fosse careta e brega. - ela riu e depois percebeu o que estava falando. - Ah, meu Deus! Eu sou brega e careta.
— A maior de todas, . - ele a puxou para o outro lado do lago. - Mas você consegue ser interessante assim mesmo. Linda, inteligente e simpática também.
Os dois continuaram caminhando enquanto falavam coisas sobre o outro, provando apenas que ninguém mais os conhecia como eles mesmos. Assim que chegaram ao parque, ficou encantada com as glicínias. Eram suas flores favoritas.
? - ele a chamou, tirando-a do transe. - Um cara inteligente disse uma vez que deveríamos encher o papel com os sopros do nosso coração.
— Você está estudando bastante o Wordsworth. - ela levantou uma sobrancelha.
— É. O cara tem umas escritas boas. - ele admitiu. - Acontece que há uns meses, eu percebi que eu havia sido um babaca com uma garota que eu amo. Ler poesias me deixou um maricas por completo, mas me ajudou a escrever uma coisa.
— O que você fez?
— Eu te escrevi isso. - ele a entregou uma grande folha de papel.
pegou o que ele havia lhe entregado e desdobrou a folha.
— Não é um poema, muito menos uma elegia. - ele falou baixinho. - Mas é verdadeiro, .
Sem dar atenção para , iniciou a leitura.

“Querida ,
Você, mais do que ninguém, conhece William Wordsworth. E acontece que o cara é um gênio. Como alguém teve tanto conhecimento sobre amor? Não sei. Mas Will, para os íntimos, disse uma vez que a melhor porção da vida de um homem são seus pequenos esquecidos atos de bondade e amor. Mais uma vez, o cara estava certo. O que eu entendo de poesia? Nada! Porém, eu gosto de história. E na minha cabeça, tenho uma história incrível e heroica, eu posso não ser um herói que vai entrar no museu de relíquias norte-americanas, mas eu sei que para que ela seja incrível, você precisa estar ao meu lado.
Quando você disse que me amava quando estávamos vendo seu filme favorito pela trilhonésima vez, eu travei. Lembro-me bem das cenas de Sociedade dos Poetas Mortos que passavam na hora. E a coisa mais mentirosa saiu da minha boca. Eu te amava, . Quer dizer, tira essa conjugação do passado. Eu te amo, Taylor James. E as borboletas sempre aparecerão quando você estiver perto de mim, nem que habitando o pior humor do mundo porque Morgan comeu o último pedaço da torta de chocolate da sua mãe.
Uma outra poetisa fantástica disse, especialmente para mim, que ninguém existe como eu. No entanto, , eu discordo muito dela. Se ela se olhasse no espelho, veria que eu apenas irradio a excelência e o brilho dela. Ontem à noite, eu estava olhando para o céu e lembrei-me que deveria ter dito a ela a coisa que guardei dentro do peito desde o primeiro sorriso que ela me deu: que eu a amo até a Lua e Saturno.
Não existem palavras mais claras para dizê-la além de que te amo, . Você é a pessoa mais incrível que passou na minha vida e eu seria um tolo de te deixar ir. Sei que vou errar muitas vezes nesse caminho e sei que somos novos, mas por você eu estarei disposto a enfrentar meus piores pesadelos se no fim do dia eu ganhar um sorriso seu. Sempre será por você, . Eu te amo.
Com amor, e provavelmente palavras que desrespeitam a ortografia,
.

— Eu espero que você acredite no que eu te disse, . - ele falou baixinho.
— Eu também te amo, . - ela sorriu. - E eu não deveria ter te pressionado a dizer.
— Você não me pressionou. Você, inclusive, me ajudou a expor o que eu sinto. E eu sei que eu tirei um peso gigante dos meus ombros e estou disposto a gritar ao mundo inteiro que você sempre será o motivo de eu conhecer o amor.
— Você sempre será a melhor das minhas inspirações, .
Antes que ele pudesse respondê-la, o puxou para perto e o beijou. As borboletas voltaram para os dois, mas daquela vez elas conversavam e deixavam a emoção tomar conta de todo processo. De todas as coisas mais corajosas a se fazer, os dois se renderam ao amor descabido e a maior história de amor escrita por um grande poeta. e sempre serão o passado, presente e futuro um do outro.



Fim!



Nota da autora: OI! Eu me meti em mais um ficstape porque eu sou uma doida. Eu peguei as três últimas músicas e só Deus sabe como consegui escrevê-las. Espero que gostem ❤

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Nota da beta: Você pegou 3 músicas para me matar do coração nas 3! Que história mais fofa, sério! Os poemas, os jeitos dos dois, o apelido, tudo é extremamente apaixonante! Você é incrível, eu amei demais 💙

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