Beth

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Finalizada em: 09/11/2021

Capítulo Único

Beth I hear you calling
Beth, eu ouço você chamando
But I can't come home right now
Mas eu não posso ir para casa agora
Cause me and the boys are playing
Porque, eu e os garotos estamos tocando
But we just can't find the sound
Mas nós ainda não conseguimos encontrar o som

Acordei de manhã com o Sol ainda começando a nascer. Levantei-me da cama, calcei os chinelos e fui até o banheiro fazer minha higiene matinal. Tirei a roupa e tomei uma chuveirada gelada apenas para despertar totalmente do efeito do sono. Cantarolei alguma música antiga de rock dos anos oitenta, enquanto passava o shampoo no cabelo. Lavei-me e desliguei o chuveiro, pegando uma toalha e a enrolando no corpo. Fui até o armário e agarrei qualquer peça de roupa de lá de dentro. Desci para preparar o café. Tomei meu café e subi novamente até o quarto. Olhei minha namorada, Elizabeth, dormindo e pensei em acordá-la para dar-lhe um beijo de despedida, mas preferi deixá-la dormindo. Recolhi minha guitarra da sorte, caderno para escrever e caixinha de palhetas, passei a mão nas chaves e sai de carro.
O caminho até o estúdio não era curto, mas eu tinha tempo - somente o suficiente para que eu chegasse cedo, sem pressa e correria, como geralmente eu fazia.
Quisera eu voltar para casa e ficar mais algumas horas dormindo ao lado de Elizabeth, ouvindo-a sonhar. Sorri com a memória de alguns dias atrás, quando acordei cedo como sempre e fui cumprimentado por um de seus gloriosos bilhetes de café da manhã (que geralmente era uma variedade de pãezinhos e rosquinhas).
A estrada estava vazia, talvez pelo horário. Diminuí a velocidade, sabendo que não correria o risco de eu me atrasar.
Os últimos dias em que estivemos no estúdio foram inúteis - embora tenhamos dado nosso máximo para compor e produzir canções que pudessem agradar os produtores, falhamos.
Estacionei o carro na entrada onde vi meus outros amigos de banda. Mark, vocalista, Greg, baixista, Chris, baterista, e eu, , guitarrista (às vezes vocalista). Desci e fui cumprimentá-los. Trocamos algumas palavras e entramos naquele prédio enorme. Chamamos o elevador e apertamos o décimo sétimo andar. Atravessamos o hall de entrada e entramos na sala onde Michael McGreen ouvia - muitas das vezes, desaforos. - nossas músicas.

Just a few more hours
Apenas mais algumas horas
And I'll be right home to you
E eu estarei em casa, para você
I think I hear them calling
Eu acho que eu ouvi eles chamando
Oh Beth what can I do
Oh Beth o que eu posso fazer?
Beth what can I do
Beth o que eu posso fazer?

As horas dentro daquele estúdio passavam lentamente e, embora música fosse o que eu mais gostava de fazer, eu me sentia infeliz por estar ali.
McGreen ouvia o arranjo que havíamos composto alguns dias atrás, sem expressar qualquer satisfação - nem mesmo a falta dela.
Suspirei pesadamente ao vê-lo levantar, sabendo que ainda não estávamos nem perto de tocar o que ele queria ouvir. Pensei em Elizabeth em casa, sozinha. Eu daria tudo para estar lá com ela agora, tocando apenas para ela.
Mas eu precisava fechar este contrato de uma vez por todas, era minha única chance de fazer com que essa banda progredisse. Há anos tentávamos acordos com gravadoras que nos subestimavam e eu sabia que desta vez, estávamos próximos de conseguir. Estávamos perto demais para desistir, e Elizabeth - por mais sozinha que tivesse estado nas últimas semanas -, entendia que esta era nossa grande chance.
Peguei meu celular no bolso disfarçadamente, esperando encontrar alguma mensagem de Beth. A essa hora ela deveria estar acordada e era natural que nos falássemos apesar de eu estar em serviço.
No entanto, nenhuma mensagem havia chegado até agora.
Guardei o aparelho de volta no bolso, voltando a prestar atenção no discurso que Michael fazia. Aparentemente nossas músicas não atendiam aos pedidos do público de hoje em dia e, embora tivéssemos tentado recriá-las com todos os ritmos e compassos possíveis, nenhum agradara à produtora.
Mark levantou e voltou para a sala de gravação, para onde todos o seguimos logo depois.
Tentei parar de pensar em Elizabeth por um segundo - mas a ideia de que pela quarta semana consecutiva eu havia a deixado em casa sozinha me atormentava.
Apenas mais algumas horas, pensei.
Logo eu estaria no caminho de volta para casa. Mas agora me chamavam, e eu precisava ir,
Apenas mais algumas horas.

You say you feel so empty
Você diz que você se sente tão vazia
That our house just ain't our home
Aquela nossa casa simplesmente não é o nosso lar
I'm always somewhere else
Eu estou sempre em algum lugar
And you're always there alone
E você está sempre lá sozinha

Depois de algumas horas compondo e tocando, Michael nos liberou para tomarmos um ar, conversar e pôr as ideias em prática. Sentei numa cadeira e coloquei os pés para cima, como sempre fazia em casa. Peguei o celular do bolso e comecei a reler as conversas que tinha com Beth quando estava fora de casa. Ela às vezes reclamava que eu não ficava tempo o suficiente com ela, que eu estou sempre em algum outro lugar e que ela sempre ficava sozinha. Com as dificuldades da banda em ter dinheiro, minha dificuldade pessoal também aumentava. Minha casa não era a melhor coisa do mundo. Na verdade, eu e Beth moramos numa kinete de um bairro do Queens, numa rua miserável qualquer.

Beth
Online

Sinto sua falta. Quando volta pra casa? Eu tô me sentindo sozinha e vazia.


Suspirei.
O que eu mais queria era poder dar uma vida melhor para ela, ter nossa casa numa situação melhor e confortável para ambos. Lembrei-me do dia em que ela veio de casa até aqui apenas para me ver tocando, linda como sempre. Sorri, sozinho, com aquela lembrança. Ela sabia cantar todas as músicas do começo ao fim. Nós namoramos desde quando fizemos quinze anos, onde eu escrevi uma música especialmente para ela, se chamava Give Me Love. Que era uma das únicas que eu cantava sozinho com minha guitarra.

Just a few more hours
Apenas mais algumas horas
And I'll be right home to you
E eu estarei em casa, para você
I think I hear them calling
Eu acho que eu ouvi eles chamando
Oh Beth what can I do
Oh, Beth o que eu posso fazer?
Beth what can I do
Beth, o que eu posso fazer?

Embora o dia estivesse se arrastando, o sol parecera se cansar uma hora e se pôs tão logo quanto pode.
Senti uma onda de alívio tomar conta de mim quando McGreen nos liberou para irmos embora. Me despedi do resto da banda, peguei a chave do carro e saí, dirigindo o mais depressa que a fiscalização fotográfica permitia.
Eu tamborilava os dedos no volante do carro, ansioso para chegar em casa.
Era cedo, mais cedo do que eu costumava sair normalmente e eu queria aproveitar esse tempo com minha namorada e tudo o que ela tinha para me oferecer.
O barulho do motor do carro roncava em meus ouvidos. Eu precisava de um carro novo urgentemente, pensei comigo mesmo.
Estacionei em frente ao que eu chamava de casa, puxando o freio de mão com força - não era sempre que o breque funcionava corretamente. Apenas depois de ter certeza de que o carro não andaria, desci. Porém, antes que eu pudesse entrar em casa, Beth abriu a porta, distraída em seu celular.
Vestia uma roupa casual e o rosto estava sério.
Saiu sem me ver e, talvez vencido pelo cansaço, não a chamei. Logo ela voltaria para casa, e eu estaria a esperando, para variar os papéis.
Mas quando estava entrando no hall, vi que Elizabeth virava a esquina de uma rua sem saída, cujo término era a entrada de um cemitério grande e assustador. Não era normal, uma vez que ela sempre dissera ter medo até mesmo de morar por perto de lá.
Curioso, dei meia volta e resolvi que iria atrás dela.
Ela adentrou o cemitério em passos cuidadosos e eu a segui com cuidado, para ela não ver que eu estava ali. Ela passou por duas fileiras de túmulos, e virou à esquerda, andando mais uns minutos e parou em frente a um túmulo aparentemente novo, pois ele não tinha a lápide gasta como maioria.
Aproximei-me dela, tentando lembrar de alguém que ela possa ter perdido. Mas nome algum vinha à minha mente, não durante estes dez anos em que estivemos juntos.
Em dourado, cravado na lápide preta, li um nome familiar para mim - assustadoramente familiar.
.
Cambaleei para trás, sem acreditar no que via.
Por que meu nome estava ali? Não era possível. Não havia como outra pessoa estar enterrada em minha cova, com meu nome. E eu estava vivo, eu estava ali.
Foi quando percebi.
Há semanas, Beth não falava comigo.
Há semanas minha rotina era a mesma, meus dias os mesmos.
Há semanas que eu me sentia cada vez mais cansado... Como se eu estivesse sendo apagado do mundo em que vivia.
Não havia ninguém em minha lápide, a não ser eu.
Olhei Beth por trás, tentando alcançá-la. Ela estava tão perto, e agora eu entedia o porquê ela parecer distante ao mesmo tempo.
Os meninos... A banda... O estúdio. Todos estes dias.
E ela, sozinha. Agora, para sempre.
Beth abaixou-se perto do mármore, as lágrimas correndo pelo rosto.
Senti meu peito se apertando em culpa, talvez por não poder mais consolá-la. Era por minha causa que ela sofria - e agora eu estava longe demais para ajudá-la.
Entre soluços, ouvi sua voz sussurrada:
- Queria que estivesse aqui quando nosso filho nascer.
Ela estava grávida e eu não a veria gerar nosso filho. Não o veria crescer, também.
- Todo dia vou mostrar ao nosso bebê como você era uma pessoa incrível. De como se dedicou para que sua vida desse certo. E, nossa, você seria um pai tão maravilhoso. Só queria que soubesse que eu vou voltar para casa dos meus pais.
Pelo menos ela estaria segura e longe desse bairro medíocre onde vivíamos. Numa tentativa inútil de confortá-la, a abracei por trás. No segundo seguinte, senti um pequeno sorriso surgir no seu rosto bem alinhado e ela se abraçar, como se soubesse que eu estava ali.

Beth I know you’re lonely
Beth eu sei, você está sozinha
And I hope you’ll be alright
E eu espero que você fique bem
‘Cause me and the boys will be playing all night
Porque eu e os garotos vamos continuar tocando a noite toda

Beth se soltou vagarosamente do meu abraço, sem olhar para mim. Limpou uma lágrima no canto do olho, e, ainda com um leve sorriso no rosto, saiu devagar, andando cabisbaixa entre as fileiras que ficavam em direção ao portão de saída.
E mesmo que toda aquela informação fosse nova demais para que eu pudesse estar conformado, eu soube que eu não deveria a seguir.
Pensei para mim e para Deus que ela pudesse ser feliz, mesmo que eu não estivesse por perto para compartilhar da felicidade dela.
Eu queria, do fundo do meu coração, que ela ficasse bem.
Eu a amava, e seria assim até o fim da eternidade.
Meu celular vibrou no bolso, com uma mensagem dos meninos cujos dizeres eram os mesmos dos últimos dias:
- , temos um último ensaio para fazer. Venha para cá.
E eu soube que eu estaria lá.


Epílogo

Cinco anos depois...

Elizabeth estava em casa depois de voltar de um dia cansativo de trabalho como intérprete de uma empresa de ações enquanto fazia jantar para ela e sua filha, , fruto do seu relacionamento com , baixista e vocalista da banda , que havia falecido cinco anos atrás junto com seus amigos de banda, numa explosão na gravadora na qual eram contratados. Depois da morte de e de todo o frisson que isso causou, trazendo a eles uma fama fervorosa, as famílias decidiram não lançar o debut álbum deles, em forma de respeito aos garotos e a eles mesmos. Beth não havia se relacionado com mais ninguém depois de . Quis focar 100% na sua filha e na sua carreira. Fez faculdade, saiu da casa dos pais, fez mestrado e conseguiu um bom emprego que garantiu um bom apartamento para ela e sua filha. Claro que ser mãe solo nunca foi pensado, já que ela sempre esteve acompanhada de , mas sua partida repentina a fez mudar seus planos. Colocou em um bom colégio particular em tempo integral enquanto ela trabalhava de segunda à sexta, além de fazer parte do conselho do colégio, o que ela detestava, mas sabia que isso daria créditos a criança quando crescesse, então ela fazia o esforço.
- Mamãe? – chamou uma vozinha manhosa, descendo as escadas devagar.
- Oi, minha princesa! A babá disse que você se comportou muito bem hoje, sabia? – ela disse, secando a mão no pano de prato e pegando a menina de cabelos ondulados no colo.
- Eu sonhei com o papai. Sinto saudades dele. – Beth puxou as lágrimas que queriam se formar em seu rosto para dentro e sorriu para filha. – Eu também sinto muita falta dele. – ela disse, a aninhando nos braços e plantando um beijo em sua testa. – Quer ver desenho? Estou fazendo macarrão do jeito que gosta.
- Posso ver Bob Esponja? – Elizabeth assentiu e ligou a tv para menina. – Se quiser alguma coisa e só me pedir. – disse, marchando de volta para cozinha, mas antes que pudesse sujar as mãos novamente, ouviu o telefone fixo tocar.

- Alô? Eu falo com Elizabeth?
- Depende. Quem quer falar com ela?
- Eu sou a ex esposa do Mark, Donna.

Ela sabia quem era Mark. Ele era amigo de e parceiro de banda. Também havia morrido na explosão, assim como Greg e Chris.
- Ah, oi. Como você vai?
- Bem, indo. Na verdade, eu tenho uma proposta para te fazer. A gravadora dos meninos me ligou esses dias e eles, de alguma forma, conseguiram o material que eles estavam fazendo...
- E?
- E eles querem lançar o projeto, você topa?

Elizabeth ouviu aquilo como um martelo na cabeça. Iam lançar a banda postumamente, ela precisava pensar.

- Eu tenho que pensar, eu não sei se eu tenho coragem...
- Eu falei com as esposas, elas gostaram muito da ideia, e a gente até pensou em doar uma parte do lucro para algumas instituições de caridade. Eu sei que não éramos próximas, mas talvez isso faça com que a gente crie laços.
- Tudo bem. Mas agora eu moro em Nova York e tenho uma filhinha, não sei se sabe, mas é do . Ele não a conheceu. Infelizmente.
- Eu sinto muito, mesmo. Bom, a viagem é realmente até Nova York. Eu vou marcar com eles e depois eu retorno com você e as meninas. Vamos montar um grupo no Whatsapp? Anota meu celular!

Elizabeth conversou por mais alguns minutos e encerrou a ligação. Ficou encarando cantar a música de outro desenho que estava começando. Sorriu ao lembrar o quanto ela parecia o pai, que cantava todas as músicas de todos os comerciais que passavam na tv.

Alguns meses depois...

Elizabeth saiu do elevador com Donna, Melaine e Betanny e caminharam juntas até a grande sala com paredes de vidro que dava vista para cidade inteira. Quando chegaram na sala viram os representantes da gravadora e seus advogados já acomodados.
- Bom dia, senhoras. Somos da Velatorian, empresa de advocacia da gravadora da banda dos seus ex-parceiros, a . A gravadora está disposta a pagar três milhões para vocês liberarem as músicas e como vocês são em quatro, setecentos e cinquenta mil para cada um de vocês. Depois do álbum liberado, caso aceitem, vocês vão receber os royalties também divido por quatro e com a gravadora. Como não vamos ter shows, vamos dividir os lucros de cds físicos, LP’s, etc. Algumas músicas precisam de retoques vocais, também. Já temos um cantor que vai ajudar com essa parte. – Elizabeth levantou a mão.
-Vocês vão substituir as vozes deles? – disse em tom de indignação.
- Não, senhora, vamos fazer como se ele fosse a voz de apoio. Mas, tem uma música que ela só foi gravada pela metade, se chama Give Me Love. – ele disse, passando o olho no papel.
Parecia que um buraco tinha engolido Elizabeth. A sua música. A música que Dan havia feito só para ela. A música que ele cantava todos os dias para ela. Deixar alguém tomar o lugar do nessa música seria uma traição.
- Essa música eu não quero. – ela disse, se levantando. - Ninguém vai cantar a música do , entenderam? Ninguém!
- Calma, Elizabeth, deixa eles falarem. – Bettany tentou amenizar o clima, segurando a mão dela.
- Não! A música dele não! – ela disse, pegando sua bolsa e saindo pisando duro da sala.

Elizabeth correu para dentro do elevador enquanto deixava seu rosto ser molhado pelas lágrimas que não caiam já fazia muito tempo. Ela nunca poderia deixar outro homem cantar a música que fez. Isso nunca. Saiu do prédio rápido enquanto ouvia Donna a gritando para voltar, sem sucesso.
- Oi, mamãe! – disse, enquanto pulava no colo da mulher.
- Oi, . – ela sorriu, triste.
- O que houve, mamãe?
- Nada. – ela disse, tentando disfarçar.
- Conta para mim, mamãe. Eu sou sua amiga. – ela disse, apertando o rosto da mãe e dando um beijo no nariz dela.
- Bom, eu foi num lugar hoje e eles queriam pedir para eu usar a voz do seu papai para fazer um cd. – ela contava aos olhos atentos da pequena, que estava pendurada no seu pescoço. – Mas eles queriam uma música que o papai fez para mamãe e eu não deixei.
- Mas, mamãe, você sempre disse que o papai queria ser cantor... mesmo ele morando com o papai do céu, ia ser legal ter um papai famoso! Eu acho que você podia deixar, o papai ia ficar feliz.
- Você acha? – ela disse, arrumando o cabelo da filha, que assentiu. – Tudo bem, eu vou pensar. Agora, vai subindo que eu já vou te dar banho.
Elizabeth largou seus pertences na mesa e ficou pensando no que a filha disse.

Alguns dias depois...

Desde quando saiu apressada da reunião que Beth não tinha ouvido falar de Donna, Bettany ou Melaine. Muito menos da gravadora. Por um lado, estava se sentindo culpada de ter feito aquilo, afinal, aquele dinheiro poderia ajudá-las. Mas ela não conseguia aceitar outra voz na sua música. Por isso, sentou no computador, e abriu seu e-mail, afim de pedir desculpas para elas. Tamborilou os dedos no teclado pensando em como começar seu texto, mas antes que pudesse raciocinar, o sono veio e a fez apagar e sonhar com .

Lizzie? Onde você está? Lizzie? – ela sabia quem a chamava assim, era . – Meu amor, eu sei que você está brava por causa da gravadora, mas eu quero que pense que ninguém vai tomar meu lugar nunca, mas você precisa seguir em frente. Por você, por mim e pela nossa . Deixe-os usarem nossa música, coisas maravilhosas podem acontecer se você se permitir. Eu te amo, Lizzie. Fica bem. Diz a que o pai dela adora assistir os desenhos dela com ela.

E como um passe de mágica, Elizabeth acordou de supetão e ligou para Donna e acertou os detalhes do cd de estreia da banda .

Um ano depois...

Todos estavam na casa de Donna para saber das indicações do Grammy Awards daquele ano, na casa estavam os namorados de todas as meninas, e o marido novo de Donna, Ryan. O cd de estreia da banda, de nome autoral, foi um enorme sucesso. Todos os singles escolhidos foram #1 no Itunes e nos streamings. As novas amigas, sempre que podiam, davam algumas entrevistas para aumentar a busca da banda.
- Sh! Eu vou ler as categorias agora! Caladas! – protestou Melaine, enquanto digitava rapidamente na tela do celular... – Aaaaaaaah! Eles conseguiram! – ela disse, dando pulinhos de alegria. – Best Rock Album, Best Rock Performance., Best Metal Performance, Best Rock Song, Album do Ano, e....- ela parou abruptamente de falar, como se tivesse lido algo desagradável.
- O que houve, Mel? – disse Donna, a encarando.
- Musica do ano com Give me Love. – ela disse, levando os olhos até Elizabeth, que estava imóvel.
- Isso é incrível! – ela disse, tirando as lágrimas do olho depressa.
- Ei, não fica assim! – elas disseram, a abraçando, fazendo com que ela ficasse protegida. – O ia ficar super feliz de ter essa indicação. Vamos aproveitar e torcer para eles vencerem tudo. – disse Betanny, sorrindo largo e levantando uma taça. – Aos nossos eternos meninos e a ! – ela disse, batendo o vidro na taça das outras.

Fevereiro, Noite do Grammy Awards...

A noite de gala do Grammy finalmente tinha começado, Elizabeth, Donna, Melaine e Britanny haviam confirmado presença e tinham suas cadeiras reservadas em nome da banda. Enquanto a cerimônia se aproximava, um filme se passava na cabeça de Elizabeth, desde quando se conheceram, quando começaram a namorar, a morte precoce de , o nascimento de ... Os pensamentos dela viraram poeira quando alguém chamou por como melhor álbum de rock, fazendo com o que as quatro se levantassem e fizessem o discurso de agradecimento. E assim se fez com as outras categorias que estavam indicados. Só faltava uma, música do ano. As mãos de Elizabeth ficavam cada vez mais frias e trêmulas. O que ela falaria se ganhassem? Como ela iria agradecer? E se perdessem? Como ela iria reagir? Respirou fundo e esperou que chamassem o vencedor da noite.

- E o Grammy de música do ano vai para... Give Me Love, de da banda ! – a câmera correu até o rosto de Elizabeth, que estava imóvel.
Ela se levantou devagar e subiu as escadas, agradecendo a quem apresentou a categoria e ficando em frente ao microfone, aos olhos atentos de todos.
- Bom... – começou, dando um leve pigarro fora do microfone. – Eu gostaria de agradecer a Academia, a todos que votaram, a minha família, minhas novas amigas que me convenceram a embarcar nessa loucura, minha filha linda, , que deve estar por aí com a babá e família do meu amor. O sempre foi fã da cerimônia e disse que um dia estaria aqui. Ele está. Não como ele gostaria, mas ele está bem aqui. – disse, colocando a mão no lado esquerdo do corpo. – E ele está todos os dias na minha vida, quando eu olho para nossa filha, quando eu vejo nossas recordações de adolescência. Essa música foi feita quando nós tínhamos 15 anos. Ele cantou no meu aniversário, quinze anos atrás, quando a maioria das pessoas achava que não íamos durar nem seis meses. E hoje, eu, Elizabeth , me apresento nesse palco para todos vocês e agradecendo a todos que acreditaram em nós, Donna, Mel, e Britanny. E nos nossos parceiros para sempre, Mark, Chris, Greg e . Obrigada. – ela disse, segurando a barra do vestido e caminhando para o backstage, sendo abraçada pelas amigas que estavam a esperando de braços abertos.

Algumas semanas depois...

- Eu não vou a encontro nenhum que vocês armaram para mim! – protestou, enquanto Melaine tentava passar o rímel em seus longos cílios.
- Querida, se não quisesse, não estava aqui se maquiando, hm? – rebateu Melaine, com uma das mãos na cintura.
- Vocês me enganaram, é diferente!
- Um encontro não vai te matar, Beth. – foi a vez de Britanny se meter – E já faz cinco anos. Você merece se dar uma chance, hm? Não é porque você vai sair com outro, que você trairá a memória do . – Todas nós perdemos alguém naquele dia. Mas aprendemos a amar outras pessoas.
- Tá, tá bom... eu vou. Podem me maquiar.
Depois de arrumada, Elizabeth pegou o endereço do restaurante e o nome do seu encontro. No fundo ela sabia que precisava de alguém para compartilhar os problemas, as alegrias, e por mais que preenchesse sua vida, ela sentia falta de ter um peso a mais em casa. Talvez suas amigas estivessem certas, todas elas encontraram novos amores, por que não tentar se dar uma chance com alguém novo? Suspirou pesadamente antes de entrar no hotel e perguntar do restaurante e confirmar a reserva em seu nome. Pegou uma mesa bem localizada, boa o suficiente para correr caso o encontro fosse horrível e para chamar atenção caso ele fosse do tipo “espertinho”, pensou ela, sozinha.
- Você ri sozinha, devo me preocupar? – uma voz rouca saiu por trás.
- Você é?
- Aparentemente seu encontro. . – ele disse, estendendo a mão.
- Elizabeth. – ela comentou, apertando de volta.
- Então, a risada... posso saber?
- Escolhi essa mesa porque é boa o suficiente para eu correr ou para chamar atenção caso você passe do limite.
- Esperta. Gostei de você. – ele se sentou. – Não vai sentar?
- Achei que ia puxar a cadeira para mim. – resmungou.
- Você não pediu. – ele disse, segurando o riso. – Mas como eu sou um cara bacana, eu vou puxar, hm? – ele saiu do seu lugar e tirou a cadeira do interior da mesa.
- Obrigada.

e Elizabeth conversaram o resto do jantar, o que a fez o convidar para caminhar, o que levou a deixá-la na porta de casa, o que fez com que outros encontros surgissem, o que levou a outras caminhadas e outras idas para casa, o que levou a um novo amor.
- Amor, eu vou levar o lixo! – gritou o homem da porta de entrada da casa. – Depois vou levar a para comprar Donuts.
- Tudo bem, vão com cuidado. Filha, dá a mão ao seu padrasto, entendeu? – ela respondeu da cozinha.
- Tá bom, tá bom! – a pequena revirou os olhos para o adulto ao seu lado, o fazendo rir da sua atitude.
Elizabeth aproveitou que eles tinham saído e foi até a sacada da casa dela com uma taça de vinho, a colocando na mesinha de centro e abrindo um livro, quando sentiu alguém cutucar seu ombro.
- Oi, Lizzie.
- ? – ela disse, em choque.
- Em espectro e... bom, espectro. – disse, dando de ombros. – O é um cara legal, andei o investigando, mexendo uns pauzinhos aqui e ali.
- Eu já bebi muito ou eu estou realmente falando com você?
- Realmente falando comigo. Mas antes de beber, só queria agradecer. Por tudo. Os caras estão super felizes em sermos conhecidos agora. Ganhar um Grammy foi incrível e vocês foram maravilhosas em tudo! Mas, agora que tudo está encaminhado, eu vou embora de vez. Essa é a nossa despedida.
- Como assim?
- Bom, eu vou reencarnar. Em breve. – ele disse, a encarando.
- Eu vou te ver quando reencarnar?
- Vai. Mas em contextos diferentes.
- Eu vou me separar do ? É isso?
- Não. Ele está envolvido nisso.
- Eu não entendi, .
- Você vai saber. E, quanto a isso... - ele disse, dando um peteleco na taça que caiu no chão. – Sem bebidas por um tempo. Você ainda não sabe, mas está grávida. Mas conta no aniversário dele, que vai cair junto com a vitória dos Yankees, o time dele.
- Você vai reencarnar como meu filho?
- Não. Quase isso. A gente se vê na minha outra vida. Já estão me chamando...Você vai saber quando eu chegar. – e assim foi desaparecendo de vez dos olhos de Elizabeth, que ficou olhando mais uma vez para o nada até que a voz de a despertou.
- Mamãe, mamãe, olha o que o papai viu na rua!
- , não podemos ter cachorros no prédio, lembra? Só na casa da vovó. – ela disse, entrando na sala e se deparando com um bebê recém-nascido no colo de . Um menino.
- A gente pode adotar. O que acha?
Ela abriu um grande sorriso afirmativo. Ela sabia.



Fim.




Nota da autora: Oi, gente! Nem acredito que desenterrei a pobi da Beth de novo, obrigada por lerem. Fiz essa estória em 2015, se não me engano e sempre tive vontade de continuar a escrevê-la, mas sempre fui deixando para lá. E hoje, 2021, finalmente saiu. Quem sabe não venha a parte 2, contando o começo da estória do casal? Até mais! Se gostou, deixa seu recadinho na caixinha de mensagem, ou me procura no twitter pelo @exizle. <3







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04. Falling Over Me
A Curandeira


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