Última atualização: 17/07/2024

ATENÇÃO:
Essa é uma obra de ficção e os envolvidos em sua criação não compactuam com o uso de substâncias ilícitas,
tão pouco pretendem incentivar o uso.

Capítulo 16

A cabeça de parecia estar funcionando a mil por hora. Sua nuca e seu maxilar doíam tamanha tensão que estava sentindo, seus dedos estavam doloridos de tanto apertar o volante, mas ela dirigia de volta à Cambridge como se não houvesse amanhã. Não sabia como estava conseguindo enxergar a estrada e as sinalizações à sua frente.
ainda estava sentindo muita dor, fechou os olhos e recostou no banco depois de perguntar diversas vezes “Ele quem?” para a ex-namorada e não receber nada menos que um olhar assustado. Ela tinha tentado falar, de verdade, mas tudo ainda estava confuso na sua cabeça, os flashbacks daquele dia invadindo sua mente de uma vez. E tinha um outro problema: a garota duvidava muito que acreditasse nela. Além disso, sabia que ele estava muito machucado e precisava ir para o hospital. Os problemas dela podiam ser resolvidos depois.
Por um segundo, a garota desviou os olhos da estrada e olhou de relance para o garoto. Não podia acreditar naquele dia. Nunca imaginaria que ela o salvaria de alguma coisa, que ele se deixaria ser salvo por ela. Tinha chamado ele de amor. Sem nem pensar, porque era isso que ele realmente era. era o grande amor da sua vida, sempre seria.
Pensou em todas as vezes que ele a tinha salvado, achando-a quando ela desaparecia, ajudando-a consertar todas as merdas que ela fazia. E agora os dois estavam ali, tão perto, mas um imenso abismo entre os dois. Nada nunca mais seria como antes, mas agora ela tinha a chance de provar o que realmente tinha acontecido e finalmente conseguir concluir seu plano. O real motivo pelo qual ela tinha voltado a Cambrigde, cidade da sua ruína.
gemeu e abriu os olhos, os dois já estavam quase chegando na sua casa. Ainda estava zonzo pela quantidade de bebida e drogas que tinha ingerido, sabia que estava mal. Pior do que todas as outras vezes. Mas não virou na rua que o levava para casa.
— Para onde está me levando? — Sua voz era rouca e mal saiu de sua garganta, mas ele conseguiu perguntar.
— Pro hospital. — A de também não passava de um sussurro.
— Nada disso. — Afirmou, tentando se ajeitar no banco do carona. — Quero ir para casa.
… você está machucado, realmente machucado, precisa ver um médico e…
Não me diga o que eu preciso. — O grunhido do garoto foi o suficiente para que não discutisse e apenas encolhesse os ombros, evitando ao máximo olhar para o ex-namorado.
Quando chegaram à porta da casa dos , tentou ser orgulhoso e sair do carro sozinho, mas estava fraco demais para isso. Todo seu corpo doía. Aceitou em silêncio a ajuda de , que deixou que ele se apoiasse nela até a porta. Os dois subiram as escadas com dificuldade, mas conseguiram sentar o garoto na cama. suspirou, suas pálpebras estavam pesadas e tudo que ele queria era dormir.
— Posso limpar seus machucados? — perguntou, tinha decidido que não tomaria nenhuma decisão sem perguntar a ele, era mais fácil assim.
apenas assentiu com a cabeça, estava cansado demais, mas sentia o sangue pregando em seu rosto e aquilo estava o incomodando.
A garota vasculhou o armário do banheiro, em busca de um kit de primeiros socorros, e encontrou algodões e gazes, além de um soro para limpar os machucados. Posicionou-se de frente para ele, sem estar tão perto, e se inclinou para começar a limpar os machucados. tentou não se mexer e nem se esquivar ao sentir a ardência no rosto, já tinha levado porrada antes e sabia que era o único jeito de sarar, então ele não se comportaria como uma criança.
Suas pupilas ainda estavam dilatadas e ele enxergava tudo em câmera lenta, além de estar tudo embaçado. Mas ele tinha ciência que ele e estavam tendo um momento, talvez o melhor momento desde quando ela tinha voltado: não havia gritos, não havia lágrimas e nem chateação, era apenas limpando seu rosto, com um vinco na testa e a uma feição de pena, mas seus olhos estavam sombrios.
O que ela tinha dito no carro mesmo sobre ? Sua cabeça estava confusa e a garota estava muito nervosa no carro, parecia que tinha se lembrado de algo…
— Prontinho. — murmurou, sua voz estava rouca.
Ela também estava exausta, parecia que aquele dia nunca ia terminar.
— Obrigado. — sussurrou, de coração, e se inclinou para trás, para deitar-se na cama. — Pode ficar, se quiser. — Falou mais baixo ainda, o que surpreendeu a garota.
Não seria uma má ideia fugir de casa por mais um tempo, já tinha respondido às mensagens de Emma, dizendo que estava com , mas não queria chegar em casa e ficar sozinha com seus pensamentos. Ainda estava assustada pelas memórias dentro do carro e ainda sentia o frio na nuca causado pelo cano da arma. Precisava de descanso, antes de enfrentar os seus próximos problemas.
voltou seu olhar para o ex-namorado, que já se encontrava com os olhos fechados e a boca entreaberta, suspirando baixinho. Ela já tinha observado ele dormindo diversas vezes quando namoravam, mas agora parecia diferente. Seu rosto não era tão suave quanto antes, mas, ainda assim, ele parecia indefeso, desarmado. No fim, era apenas um adolescente que tinha sido forçado a aprender se virar rápido demais e agora estava se afundando no próprio pesar. E parte disso era culpa dela.
Não.
Não mais.

Ela sabia que não tinha feito nada, sabia que o verdadeiro culpado se escondia atrás da vulnerabilidade dela, mas isso estava prestes a acabar. Finalmente ela encontraria a paz que tanto procurou durante todos os anos.
As pálpebras da finalmente começaram a pesar e a garota se deitou na cama. Era estranho se deitar com novamente, mesmo que estivessem em lados bem opostos da cama. Mas ela não se deitaria no quarto dos pais dele, muito menos no de Lily, e estava cansada demais para se mover. Apenas fechou os olhos e esperou que não fosse perturbada com pesadelos.

Três dias depois...

Já era o quinto copo de café que jogava fora. Suas olheiras estavam chegando quase na sua boca e seus ombros estavam pesados como se ela carregasse um muro nas costas. ainda não tinha voltado de sabe lá Deus onde ele estava com , ela não sabia onde ele estava e nem quando voltaria, só tinha recebido uma mensagem com um pedido de desculpas e dizendo que voltaria logo. Apenas isso. Nenhuma satisfação.
Ela estava sozinha novamente depois de ter sido expulsa da casa de aos berros do garoto há três dias. Ele simplesmente não lembrava de nada do dia anterior: não se lembrava que ela tinha salvado ele e não a deixou falar sobre o que tinha lembrado de . Resumindo: ela estava na estaca zero novamente. Não sabia o que fazer em relação ao que tinha se lembrado, não tinha como provar que tinha se envolvido com a morte de Lily-Anne... mas por que ele teria deixado as peônias no túmulo da garota? Por que ele estava lá? Por que ele tinha a ameaçado com uma arma? Nada disso se encaixava e ela precisava de ajuda para descobrir a verdade, mas agora estava sozinha e sem rumo novamente.

se lembrava. Era tudo nebuloso, mas ele sabia que tinha ido ao cemitério, sabia que de alguma forma Lily tinha aparecido para ele e sabia que, com certeza, tinha levado a maior surra de todos os tempos. Mas se negava a acreditar que, de todas as pessoas naquela cidade, justo tinha cuidado dele. E dormido na sua cama. Com ele.
Sabia que a reação ao acordar e vê-la ali tinha sido completamente irracional e exagerada, mas ele estava confuso e não sabia o que fazer. Não podia olhar para a garota sem sentir dor e se lembrar de todo mal que ela causava. Mas uma parte dele também queria ouvir o que ela tinha a dizer, queria acreditar que tudo tinha sido um mal-entendido. Mas sua mente estava conflituosa demais para tudo aquilo. A única coisa que passava pela sua cabeça, era que precisava da sua melhor amiga de novo.
tinha saído da cidade com , mas ele não sabia onde os dois estavam. Não sabia se se sentia aliviado por pelo menos ela estar com , mesmo que ele fosse um traidor, ou se se sentia culpado por saber que ela tinha saído da cidade por causa dele. Por causa de tudo que ele tinha causado e continuava causando. Mas ele sabia que não podia fazer nada, enquanto a amiga não voltasse para casa, então resolveu agir com o que ele podia: iria tentar falar com de novo. Talvez até pedir desculpas pela reação que teve em sua casa. Querendo ou não, ela tinha o ajudado, não iria agradecê-la nem nada disso, porque era culpa dela. Mas iria tentar ouvir, finalmente, o que a garota tinha para dizer.
Eles tinham detenção naquela tarde. Tinham conseguido adiar o máximo possível por causa dos ensaios para a peça, mas agora que os ensaios tinham sido pausados, eles eram obrigados a cumprir. estava um caco, como ele. Mesmo que nos dias atuais, ao contrário de antes do acidente, ela não fizesse uma superprodução para ir à escola, a garota estava sempre arrumada, com os cabelos alinhados e uma maquiagem básica, mas hoje ela estava vestida com um moletom e os cabelos amarrados em um rabo de cavalo. Parecia que ela não dormia e nem comia há dias.
Inconscientemente, sentiu uma pontada de culpa no peito, mas resolveu ignorar. Faria o que fosse necessário apenas para descobrir a verdade, não era mais responsabilidade dele cuidar dela.
Caminhou em direção à sala de detenção e quando entrou, a ex-namorada já estava lá. Porém, seus olhares não se cruzaram. estava de cabeça baixa, mexendo no celular. não sabia se sentava próximo a ela, então escolheu um meio termo e sentou duas cadeiras à frente. Havia mais dois garotos do terceiro ano na sala e ele duvidava que enchesse. , felizmente, já tinha cumprido o castigo e não precisaria ficar com eles novamente. Aquele garoto era um porre e todos os dias provava que o soco que tinha dado nele foi merecido, mas ele tentava deixar para lá.
Espiou novamente a loira e dessa vez seus olhos se encontraram, em uma eletricidade que jamais tinham sentido desde que tinha voltado. Aquele momento no quarto dele tinha mexido com os dois mais do que poderiam imaginar ou admitir. Mas os olhos de eram tristes e cansados, e ela logo os desviou. O que estranhamente incomodou , mas ele não sabia o que dizer.
— Boa tarde a todos vocês. — Senhor Charlie, o professor de História da Arte, era responsável pela detenção naquele dia e, obviamente, estava tão desanimado quanto os alunos. — Hoje vocês serão designados em duplas para suas tarefas e devem ficar até o final da tarde, trazendo um relatório de atividades para que eu assine no final, então sugiro que façam o que eu mandar. — Fitou-os por um momento, antes de continuar. — Kylie e Jason, vocês ajudarão no refeitório, Lisa, a cozinheira, vai dizer o que vocês devem fazer. — Os garotos exclamaram murmúrios de reclamação e saíram em direção ao refeitório. — E vocês dois irão para os arquivos na sala do diretor Thomas, a Lauren dirá o que vocês precisam fazer. — Senhor Charlie abanou as mãos para que eles fossem logo e os dois se levantaram para caminhar para a sala do diretor, que ficava no terceiro andar.
Caminharam em silêncio, em uma distância segura. sentia suas mãos suando e tinha uma dor latente no estômago. Ela não sabia se era pelo nervosismo ou pelos copos de café que tinha tomado, mas sentia que estava prestes a falar com ela. Ela o conhecia demais, sabia que ele estava nervoso e tentava um jeito de se aproximar.
— Boa tarde, senhorita e senhor ! — Lauren os recepcionou, ela era a ária puxa-saco do diretor.
Os alunos até desconfiavam que os dois tinham um caso, mas não passava de um boato… até onde sabiam.
— Vocês vão organizar as pastas de ocorrências dos alunos por ano, está tudo uma bagunça! De 2010 para trás pode ir tudo para o lixo, mas, para frente, precisa ser organizado e é isso que vocês farão hoje. Certo? Coloquem por ordem alfabética, aqui está a lista de todos os alunos do colégio. — Sorriu amarelo, claramente aliviada de alguém ter que fazer esse trabalho por ela.
Os adolescentes apenas assentiram, em silêncio, e caminharam para a sala do diretor, que felizmente estava vazia. Então, olharam-se novamente por alguns minutos, mudando o peso de uma perna para outra, até que quebrou o silêncio:
— Como quer fazer isso? — Murmurou e pensou por algum tempo, antes de responder.
— Acho que podemos separar primeiro o que for para jogar fora, enquanto o outro vai colocando por ano e depois colocamos juntos em ordem alfabética. Certo? — Tentou ao máximo ser simpático, já que tinha sido um imbecil após expulsá-la da casa dele, depois dela ter cuidado dele.
apenas assentiu e os dois passaram a trabalhar dessa forma.
Seus ombros estavam menos pesados, apesar de ainda estar nervosa. Mas parecia estar estranhamente tentando tratá-la com o mínimo de respeito.

Depois de um tempo trabalhando em silêncio, o garoto resolveu quebrá-lo. Sem perceber que suas mãos estavam tremendo, começou a falar:
… o que aconteceu naquele dia? — Perguntou, fitando os olhos castanhos de intensamente. — Eu me lembro, mas não de tudo… te devo, te devo… desculpas por ter te tratado daquela forma. Eu… eu não sei. Está tudo bem confuso, eu vi Lily, ora, eu vi minha irmã e ela está morta, você… sabe disso, você…
— Eu não matei Lily, . — A voz de era praticamente inaudível e ela já sentia as lágrimas brotarem nos olhos dela, mas ela as segurou. — Eu juro… tudo isso… não sei explicar, não me lembro de tudo, mas não foi eu. — Garantiu e fez uma careta de dor.
Aquela conversa estava sendo mais difícil do que ele imaginava. Por todos esses anos ele não tinha pensado sequer em dar uma abertura para , nunca, tinha jurado pela vida dele jamais perdoar a garota que ele tanto amou, mas as circunstâncias praticamente o obrigavam a saber a versão dela. E depois da visão que tinha tido com sua irmã, ele não tinha certeza de mais nada. Lily era sua vida, a sua pessoa favorita no mundo. Como ele podia ignorar o que ela tinha dito a ele? Mesmo que fosse um fantasma ou uma alucinação dele, ele não conseguia tirar as palavras da irmã de sua cabeça: precisa entender que só estará em paz quando aprender a perdoar.
Será que ele só estaria em paz se perdoasse ? Mas como ele poderia perdoar alguém que lhe causou tanta dor? Por que Lily estaria feliz com isso?
— Eu voltei para descobrir o que aconteceu de verdade, não vim para te machucar, não vim para causar nenhuma dor. — suplicou, tentou se aproximar de , mas ele se afastou, o que fez a garota recuar.
Um passo de cada vez, pensou.
— O que eu disse sobre , é sério, ele está envolvido com alguma coisa! — Falou mais alto que pretendia e olhou em volta, assustada.
a observava com atenção, tentando decifrar se ela estava mentindo ou não. Quando namoravam, sabia dizer com convicção se estava falando a verdade, mas agora ele não a conhecia mais, a garota parecia mais… cascuda.
respirou fundo e contou para o garoto tudo que tinha acontecido naquele dia, desde a hora que ela tinha ligado para ele, até o momento que voltaram para casa. ouviu tudo em silêncio, tentando juntar as peças. Sabia que era louco, alucinado por , e faria qualquer coisa, mas não fazia sentido que ele tivesse matado a sua irmã. Ele não seria tão sádico.
… Lily morreu de overdose. — disse, entredentes, era difícil acreditar nessa história, mas era isso que os boletins médicos diziam. — Você a forçou a usar junto com você. É o que se encaixa, o que faz sentido. Você não se lembra como estava naquele dia, mas eu sim. Nem parecia você mesma… você estava… estava… — não conseguiu terminar sua fala.
Lembrar daquele dia doía demais, levava-o para um lugar sombrio.
— Mas a troco de que viria me ameaçar, então? — questionou, sabia que precisava desesperadamente que acreditasse nela.
Precisava de um aliado para descobrir toda a verdade e nenhum seria melhor que ele.
— Por favor, você precisa acreditar em mim. Sei que tenho uma parcela de culpa, eu jamais queria ter sido o que fui no passado, você não merecia tudo que fiz você passar… , eu… eu te amei de verdade. — Quando percebeu, as palavras já tinham saído e os dois se encararam.
Ali, pareciam estar de volta ao passado, mas no meio dos dois havia turbulências, dores, pesar, choro e a culpa. Nada seria como antes.
— Você está com . — murmurou, entredentes.
Isso, no meio de tantas coisas, tinha virado apenas um detalhe. Mas, ainda assim, o machucava.
não sabia como responder aquilo. Não queria estragar o momento que estavam tendo, era a primeira vez que estavam conversando como pessoas civilizadas desde que ela tinha voltado e a garota sabia do comportamento explosivo de . Uma palavra errada os faria andar para trás e agora que tinha chegado até aqui, ela não queria estragar tudo.
pareceu perceber o desconforto da loira e mudou de assunto:
— Nada explica as mensagens de texto que recebi… por que alguém estaria me perturbando assim? — ele murmurou. — Talvez tenha algo a ver, mas não estou certo disso.
— Tudo se volta para ele. — insistiu.
Sabia com toda certeza de que estava envolvido dos pés à cabeça em tudo.
— Ele teria motivos para me ferrar, para…
— Você também precisa parar de achar que é isenta de culpa, . — O som da voz de falando seu nome fez o coração da garota quase parar de bater.
Ela o encarou e se arrependeu logo em seguida. Não gostava de como ele a olhava.
— Você pode achar que está mudada, mas nada muda tudo o que você nos fez passar no passado, talvez se você… se você estivesse como está agora, Lily ainda estaria aqui. Então, por favor, eu juro que estou tentando acreditar em você, mas, por favor, pare de agir como se você fosse a vítima.
não ia tentar se justificar, porque tinha medo de que o progresso que tinham feito até aqui fosse por água abaixo, então, limitou-se a balançar a cabeça positivamente e continuou fitando os papéis à sua frente, nomes de pessoas que tinham crescido com ela, alguns de novos habitantes da cidade, outros que ela não tinha o menor contato...
parecia estar se esforçando no seu limite para ficar ali no mesmo ambiente que ela e conversar para resolverem tudo. Naquele momento, ele sentia que Lily devia estar feliz por ele estar tentando, ele realmente queria que tudo ficasse bem e as perguntas sem resposta fossem solucionadas, mas sabia que nunca ia conseguir perdoar totalmente.
— Você sabe onde está? — Perguntou baixinho.
Ele ainda estava com raiva, mas se preocupava com o amigo. Não queria que ele fosse embora novamente.
— Não. — O olhar de endureceu, dava para ver que ela estava chateada com o garoto. — Mas ele disse que está bem. está com ele. — Comentou, fechando os lábios em uma linha.
— É. Espero que voltem logo. — deu de ombros e continuou entregando os papéis para a mais nova.
Era estranho que os dois estivessem quase… batendo papo. Depois de tanta dor, tanto ódio envolvido, quase pareciam os mesmos… quase.
— Parece que tem toda nossa vida aqui. — riu ao ver a grossura de algumas pastas. — Certeza que o Thomas guarda segredos que nem sonhamos... — ela estava se sentindo estranhamente confortável em conversar com .
Seu coração ainda estava batendo descontroladamente e ela sentia que poderia desmaiar a qualquer momento, mas não estava mais com medo.
— É verdade. — riu e seu coração pareceu saltar do peito.
Como ele era bonito, meu Deus! Por mais mudado que ele estivesse, seu sorriso ainda era um dos mais belos do mundo e o jeito que ele apertava os olhos a encantava demais.
— Nossa… sua pasta é bem maior que de todo mundo. — comentou, pegando a grande pasta escrito “ ”.
Quando ia abrir, em um timing quase perfeito, a porta da sala se abriu e o diretor Thomas entrou na sala. Sua expressão era vazia, mas ele parecia estar preocupado com alguma coisa.
— Bom dia, senhor e senhorita ! Fico feliz que estejam convivendo com civilidade nesta tarde... — comentou e os dois se entreolharam, mas nada disseram, além de responder os cumprimentos do diretor. — Creio que minha ária se confundiu, vocês não devem mexer nesses arquivos. Dito isso, podem se concentrar em outras atividades. — Disse em um tom firme.
e então se levantaram e cumprimentaram novamente o diretor ao saírem da sala.
— O que tem de tão o que não podemos ver? — ergueu as sobrancelhas, mas não sabia responder.
Lauren estava cabisbaixa quando passaram por ela, provavelmente tinha levado uma grande bronca.
— Foi o professor da detenção que me pediu para os levarem aos arquivos, não sabia que era ultraso! — Rolou os olhos para os dois e os garotos seguraram o riso. — Eu recebo pouquíssimo para essa humilhação toda, meninos. — A ária desabafou. — Vocês já podem ir… amanhã vou procurar outra coisa para fazerem, não contem ao diretor que eu os liberei mais cedo. — Deu uma piscadela para eles e os enxotou com a mão.
e agradeceram, depois de assinar o relatório que Lauren entregaria ao professor Charlie, e saíram da sala, indo em direção ao corredor que partia para a saída. O silêncio reinou novamente entre os dois, não sabiam como agir ou o que falar depois do momento que tiveram, mas sentia que estava cada vez mais próxima de atingir seu objetivo e tinha dado um grande passo, só precisava conquistar a confiança de aos poucos. Estava feliz que ele tinha parado para ouvi-la, coisa que ela jamais imaginou que faria novamente.
estava com o mesmo sentimento, mas ainda receoso. Sabia que a única pessoa que a entenderia nesse momento era , mas ela estava longe. E Lily, que estava morta. E ele duvidava que o fantasma dela aparecesse novamente para ele. Ele estava sozinho. De novo.
A escola já estava mais vazia naquele ponto, pois as aulas à tarde já tinham acabado, mas os dois tinham treino. Seguiram juntos para os vestiários, atraindo alguns olhares de quem ainda estava no colégio e cochichos. ouviu uma garota dizer “O que pensa disso?” e um outro dizer “Não faz apenas uns dias que ele a estava chamando de assassina por aí?”, mas resolveu ignorar, já estava acostumada com as pessoas falando dela. , por outro lado, estava profundamente incomodado. Suas bochechas estavam coradas, ela não sabia se era por raiva ou por vergonha, mas quando chegaram nas portas dos vestiários que separavam o feminino do masculino, tudo que ela ganhou foi um aceno de cabeça e ele entrou rapidamente no vestiário masculino. Como se estivesse fugindo dela.
No final do dia, ela estava sozinha. De novo.
— Como foi a detenção, lindinha? — Foi recebida logo com o deboche de Meredith quando entrou no vestiário feminino, mas não tinha forças para rebater a colega de treino, então apenas a ignorou.
A garota deu um sorriso de satisfação, pensando que tinha afetado a loira, e saiu rebolando para o campo. apenas suspirou e naquele momento sentiu falta de . Ela sempre sabia o que falar nesses momentos. Onde será que ela estava? O que ela e estariam fazendo?

espiava pela cortina do quarto de hotel onde estavam, observando o movimento do lado de fora, enquanto estava no banho. Os dois planejavam tomar um café da tarde em uma das lanchonetes que tinham conhecido quando viajaram pela primeira vez para New York. Sim, estavam nos Estados Unidos! Às vezes era assustador o privilégio que tinham de simplesmente sair do país, sozinhos, usando seus próprios cartões de crédito.
A mãe de estava em sei lá qual lugar do mundo, trabalhando, e os pais de já estavam se acostumando com as escapadas do filho. Tinham decidido puramente no desespero o destino da viagem: enfrentou uma crise de pânico e precisava fugir de tudo.

Três dias antes...

— Eu nunca fiz algo assim antes... — comentou quando se sentaram nas poltronas do avião.
Eram desconfortáveis, mas o melhor que tinham conseguido comprando uma passagem de última hora.
— É divertido. — sorriu, mas era um sorriso forçado.
Não estava nem um pouco confortável. Ainda se preocupava com , se ela tinha achado ou se ela estava brava com ele. também estava ansiosa por notícias do amigo, mas também estava aliviada por fugir de tudo aquilo um pouco. Ela estava ficando cansada do peso de sempre precisar cuidar dos amigos e não ter ninguém para cuidar dela.
A garota juntou sua mão com a de , dando um rápido beijo no dorso da do garoto.
— Obrigada. — Murmurou e fez um carinho no cabelo da amiga.
Estava feliz de poder ajudá-la, mas ela não sabia que era ela que estava o salvando. Não conseguia parar de pensar na mensagem de texto que ele tinha recebido. Sabia que ele tinha arruinado tudo.

— Você parece estar se escondendo. — apareceu do nada novamente no quarto, o que fez o garoto pular e logo em seguida corar as bochechas: ela estava apenas de sutiã e calcinha. — Não é nada que você não tenha visto antes, -boy! — Ela riu e balançou a cabeça, colocando um vestido logo em seguida.
Pegou seu celular para checar as mensagens de texto, já sabendo que teria as de . Respondeu ao amigo, dizendo que estava tudo bem e que voltaria logo, e também perguntou como ele estava. A garota estava evitando ligar para , sabia que desmontaria e voltaria correndo para Cambridge assim que ouvisse a voz dele, sabendo que ele precisava dela. Mas era hora dela se cuidar. Precisava de mais um tempinho só para ela, antes de tornar tudo sobre os outros de novo.
— Está pronta? — franziu a testa e a garota percebeu que ele estava incomodado com alguma coisa, mas resolveu não perguntar.
estava estranho desde que saíram da cidade, parecia estar fugindo também. Mas ela suspeitava que fosse por toda a situação que ele tinha criado: estava se envolvendo com ninguém menos que .
Não tocaram no assunto desde que tinham chegado, sabia que devia a o apoio que ele tinha dado a ela no seu momento de crise, então, embora não concordasse com as atitudes do amigo e não soubesse como seria quando eles voltassem para Cambridge, a garota não queria pensar nisso naquele momento. Estava curtindo seus dias de escape.
— Vamos. — Respondeu, pegando a bolsa e entrelaçando as mãos com a do amigo, antes de saírem do quarto.

» : Estou bem. Logo estou de volta. Como você está?

leu as mensagens de assim que chegou em casa e pensou em ligar para a amiga, mas já tinha feito isso antes e ela não tinha o respondido, então apenas respondeu de volta que estava com saudades e que queria se desculpar por tudo que tinha causado.
Sentia falta do calor e da paz que trazia para os seus dias, mas também entendia que ela quisesse ficar um tempo longe. Ela segurava a barra demais, uma hora explodiria e esse momento tinha chegado, o que deixava o garoto se sentindo extremamente culpado.
se deitou no sofá, repassando toda a conversa que tinha tido com , tentando ligar os pontos e pensar em alguma coisa. Precisavam tomar uma atitude logo. Além disso, tinha estranhado a reação do diretor quando viu as pastas que eles mexiam. Por que a de era a maior de todas? Tinha ficado extremamente curioso em relação a isso e sentiu estranhamente uma vontade de comentar com a garota sobre isso.
Pegou seu celular e ponderou por alguns minutos. Quando ia imaginar que estaria cogitando ligar para por livre e espontânea vontade novamente? Aquilo estava muito, muito estranho.
Quando finalmente tomou coragem para ligar, o som da campainha ressoando o impediu, o que entendeu ser um sinal. Mas, ao abrir a porta, preferia que não fosse. Imediatamente sua boca se fechou em uma linha fina, ao contrário do homem do outro lado da porta, que sorria como se fosse o melhor dia da vida dele.
O que você está fazendo aqui?



Capítulo 17 - Parte 01

— Então, eu preciso, encarecidamente, que você vá hoje depois das suas aulas resolver isso, . Estamos correndo contra o tempo aqui, minha filha! — A voz de Emma tornou-se apenas um eco na mente de , enquanto a garota remexia o cereal no pote, ao invés de realmente comer.
Ainda estava um pouco atordoada com os acontecimentos e a conversa que teve com . Estava, por um lado, feliz de estar conseguindo chegar em algum lugar e por outro, estava morrendo de medo. Precisava urgente que a próxima consulta com seu psicólogo chegasse logo.
, você está me ouvindo?
— Me desculpe, Emma! — Agarota deu um sorriso falso. — Fica difícil entender, quando você solta quinhentas palavras por segundo.
A mãe dela nem se afetou com o sarcasmo, estava preocupada demais com todas as tarefas do Baile dos Fundadores naquele final de semana, que coroava a mais nova Miss Cambridge.
— Só achei que você ia gostar de tentar mudar seu par, minha filha. A não ser que você e já tenham feito as pazes. — Emma cruzou os braços e encarou a filha, que finalmente pareceu lhe dar a devida atenção.
arregalou os olhos e deu um tapinha na própria testa. Tinha se esquecido completamente que tinham feito a inscrição para o baile enquanto ainda namoravam e tinha certeza de que preferia enfiar a cabeça num poço, do que ir ao evento com ela, principalmente porque precisavam performar uma dança ridícula.
— É por isso que você vai à casa da senhora Lockwood, depois das suas aulas, para resolver a questão do seu par, como eu estava dizendo… e logo após irá para a prova do seu vestido, que tomei a liberdade de escolher, já que você…
— Emma! — exclamou, pousando as mãos sobre os ombros da mãe. — Me mande uma to-do list pelo celular, ok? Não consigo me concentrar com toda essa falação! — A garota não gostava de ser malcriada com a mãe, mas em algumas situações parecia ser a única solução que Emma simplesmente calasse a boca.
A garota se levantou da cadeira e pegou sua mochila, seu motorista já a aguardava na porta de casa e ela saiu sem se despedir de Emma, que já estava no celular irritando outra pessoa. Já estava exausta só de pensar no dia que tinha pela frente com aulas monótonas, detenção e ainda teria que conversar com a insuportável senhora Lockwood. A mulher do prefeito agia como se fosse a rainha da Inglaterra e não tinha a menor paciência para aquilo, às vezes até entendia por que Damien era um descompensado, não deveria ter sido fácil viver numa casa com aquelas pessoas.

Ao chegar no colégio, imediatamente o estômago da garota passou a se remexer inteiro, como se as borboletas estivessem enfurecidas. Ela sabia que essa reação era porque veria novamente. Não sabia encarar a nova realidade em que ele conseguia, mesmo que relutante, conversar com ela sem chamá-la de assassina ou coisa parecida. Sabia que ele ainda não confiava nela, mas estava feliz de ele pelo menos ter dado o benefício da dúvida em relação ao que ela tinha contado sobre .
Ao lembrar desse nome, um novo arrepio percorreu seu pescoço. Medo. Era o que ela sentia em relação ao . Sabia que ele estava envolvido até o último fio de cabelo com a morte de Lily, mas não tinha como provar. Até então, só tinha suas memórias que não eram nenhum um pouco confiáveis. Mas ela sabia que a verdade estava cada vez mais próxima e ela só precisava aproveitar a chance quando aparecesse.
Os pensamentos de foram interrompidos pelo vibrar do celular, que denunciava uma mensagem:

» : Tudo bem? Estou com saudades, não vejo a hora de consertar tudo isso.

Mas ela não respondeu, apenas fechou o celular novamente. Ela precisava dele, tudo se alinharia com ele, mas não conseguia conversar com ele naquele momento. Já havia dias que ela nem sabia onde ele estava e suas mensagens eram sempre em tons vazios. Estava começando a acreditar que quando ele voltasse, tudo estaria por água abaixo, mas se recusava a pensar nisso. Agora, com a “reaproximação” de , seus sentimentos ficaram confusos novamente. sabia que era boba de pensar que podia passar por cima de tudo e gostar dela novamente, mas era o que ela queria. Ela o amava com todo o coração e queria que eles pudessem ser felizes juntos. A única coisa que a faria feliz na vida seria isso. Mas não tinha como voltar no tempo e apagar tudo que tinha acontecido. Seu destino estava fadado desde a maldita hora que resolveu usar drogas naquele maldito dia.
Pegou o celular novamente para checar a próxima consulta com seu terapeuta, já estava sentindo tudo saindo dos eixos novamente e precisava que ele a lembrasse de seus objetivos e que nada estava perdido ainda.
Os olhos de vagaram para as garotas da torcida passando com a decoração do Baile. Há alguns anos, ela estaria liderando aquela fila. Ser Miss Cambridge era tudo que ela queria, muito por influência de Emma, mas também porque era uma forma de afirmação. Ela era a rainha daquele Império. Porém, nada daquilo fazia sentido mais. Afinal, o que eles eram? Uma espécie de realeza que se destacava dos demais, só porque eram filhos fundadores e tinham gordas poupanças? Porque eles tinham que ser melhores? No fim, eles só eram fodidos como todo mundo. Ela usava drogas para preencher o vazio que sentia em casa, tinha sido abandonada pelo pai, não tinha um bom relacionamento com seu pai e , bom, era um anjo entre todos eles, e por culpa dela tinha virado uma pessoa completamente sem perspectiva.
Cada um deles tinham problemas que eram mascarados por dinheiro, status e nome familiar, mas, no fim, eram todos fodidos. Todos ali tinham um segredo a guardar, todos carregam um peso que ninguém sabia. A não ser ela. Todos sabiam como tinha arruinado a própria vida, seu relacionamento e suas amizades. E ninguém dava a mínima!

— Soube que o traste está de volta à cidade. — Melanie resmungou, enquanto bebericava seu chá.
Emma se remexeu desconfortável na cadeira, enquanto aguardava seu croissant ficar pronto.
As duas estavam sentadas do lado de fora do café de Bobby, tinham marcado de se encontrar para resolver as pendências do baile. Além disso, sempre que possível se encontravam para um brunch, eram boas amigas desde a adolescência e tinham o apoio uma da outra no período em que os filhos estavam fora após a morte de Lily.
— Espero que a visita dele seja breve, já temos problemas demais em Cambridge para lidar com isso agora. — Emma balançou a cabeça negativamente e fez uma careta.
— Não entendo como éramos amigos no colégio... — Melanie também fez uma careta. — Não tínhamos muito juízo… — riu ao se lembrar das enrascadas em que ela e a amiga se metiam.
— Talvez nossos filhos tenham a quem puxar. — Emma suspirou, elas não eram um bom exemplo e muita coisa do passado das duas estava enterrado.
Se descobrisse, com certeza apontaria dedos e usaria de justificativa para fazer o que bem entendesse. Por mais que agora ela tivesse muito mais juízo do que quando mais nova, a mulher carregava o medo de que sua filha voltasse a ser o que era e perdesse todo o propósito de sua volta. Isso era algo que perturbava Emma profundamente.
— Por falar nisso... — a loira comentou, afastando os pensamentos ruins. — Tem falado com ? está miserável, sentindo muita falta dele. — Comentou.
Estava preocupada com a filha, não estava comendo direito e nem se comunicando, aparecendo com olheiras nos olhos e com o semblante triste, preocupado.
— Ah, você sabe como eles são… precisava de um tempo para ele. Vivo dizendo ao Thomas que esse é o preço que pagamos por dar tanta liberdade ao , com o cartão de crédito ele consegue ir até à China! — Melanie resmungou, à contragosto. — Mas espero que tudo se resolva, eu nem sabia que os dois estavam juntos, ficou tão distante depois que a mais nova dos se foi… — Melanie parecia querer falar mais, mas sua boca se fechou em uma linha fina e seus olhos ficaram fixos na figura masculina que desceu do carro do outro lado da rua, e caminhou em direção à cafeteria com um sorriso cafajeste nos olhos e um olhar cintilante por trás das lentes dos óculos escuros.
— Senhoras… — cumprimentou sem tirar os olhos das duas e adentrou na cafeteria sem tirar o sorriso do rosto.
Emma apenas respirou fundo, tentando controlar sua raiva, enquanto Melanie rolava os olhos.
— Acho que essa é a nossa deixa para ir embora! — Emma pegou sua bolsa e deixou o dinheiro da conta e da gorjeta em cima da mesa, e as duas se levantaram, prontas para irem para casa, despedindo-se com um abraço.

— Droga! — resmungou, quando tentava pela milésima vez acender seu isqueiro, que aparentemente tinha perdido o gás.
Depois da vigésima tentativa, arremessou o artefato longe e guardou o cigarro no bolso, frustrado.
— Dia difícil, huh? — Ao ouvir o som dessa voz, todos os músculos rígidos do garoto pareceram relaxar e ele pôde respirar fundo.
— Achei que você tinha decidido dar o fora de Cambrigde de vez, cricket... — sorriu verdadeiramente pela primeira vez na semana e abraçou , que também sorria.
Finalmente sua melhor amiga estava de volta.
— Nunca mais faça isso. — a ameaçou em tom sério.
— Posso dizer o mesmo para você, seu cretino! Não suma novamente. — Pediu, em tom de súplica, e abraçou o amigo novamente.
O garoto se sentia culpado, sabia que era boa parte do motivo de ter precisado de todo esse tempo longe, mas também tinha noção que a amiga tinha as próprias questões e, principalmente, os próprios traumas, não era justo que ela cuidasse sempre de todos e esquecesse de si mesma.
— Senti saudades, como estão as coisas por aqui?
— Você não faz ideia… — não sabia nem por onde começar a atualizar a amiga depois de tudo que tinha acontecido e, principalmente, depois da visita que tinha recebido. — Temos muito o que conversar, o que acha de matar aula? — Sorriu travesso e concordou.
Apesar de tudo, ele estava feliz com a volta da melhor amiga, parecia o sopro de esperança que ele precisava para finalmente começar a resolver as pontas soltas de toda essa história.

Em geral, agora lidava teoricamente bem com o turbilhão de emoções da sua vida, poucas vezes desde sua volta ela tinha tido um episódio ruim. Óbvio que a terapia e os remédios que ela tomava para depressão e ansiedade a ajudavam muito, mas tinha dias que a tristeza a pegava de jeito. Hoje estava sendo um daqueles dias, em que nada fazia sentido e que ela queria ter o poder de voltar no tempo e apagar tudo de ruim que tinha feito, tudo que tinha contribuído para que ela estivesse nessa situação atual: sem amigos, sem namorado e sem conseguir provar que não tinha cometido um assassinato. Sabia que ela não respondia criminalmente, todos sabiam do laudo de Lily: overdose. Mas ninguém acreditava nessa história. As pessoas da cidade transpareciam não ligar, já tinham se passado anos, todos seguiam sua própria vida. Mas era a pessoa mais importante da vida dela. Era tudo por ele. O que a garota mais queria era o perdão do seu grande amor.
A garota se sentia tão culpada que parecia transbordar. Sentia-se culpada por ter sido uma filha rebelde e malcriada, que tinha tudo em suas mãos e não era grata por ter, por ter sido uma má melhor amiga para , por seus diversos episódios de egoísmo. Na terapia, ela entendia que algumas questões eram além dela. Ela não se sentia vista em casa e fazia certas coisas para chamar atenção de seu pai, que sempre estava longe viajando e não participava de seu dia a dia. E Emma, ah, Emma, queria controlar cada passo que ela dava, queria que ela se tornasse uma mini Emma, não a enxergava como , com sua própria personalidade e seus próprios gostos, tudo girava em torno do legado da família , o legado da família fundadora e isso pesava muito em seus ombros desde criança.
não tinha o direito de não ser perfeita.
E tudo isso estava caindo sobre seus ombros de novo. Seria o fim para Emma se ela não se tornasse a Miss Cambridge, sabia que a mãe não demonstraria a decepção, mas que estaria profundamente triste pela filha mais uma vez quebrar o legado. Mas era impossível que ela ganhasse: Caroline também dedicava sua vida inteira para esse momento e, inclusive, merecia mais que ela. O famoso Baile dos Fundadores tinha deixado de ser um sonho para há muito tempo. E, pra falar verdade, ela nem sabia mais o que sonhava, não sabia mais qual caminho trilhar na sua vida, estava à deriva, perdida.
A garota estava tão imersa em seus pensamentos, que nem percebeu que o sinal havia tocado e ela estava sozinha na sala. Balançou a cabeça negativamente e se levantou para ir em direção ao refeitório, pelo menos essa tinha sido sua última aula do dia e depois do pequeno compromisso na casa dos Lockwood, ela poderia ir para casa e se esconder em seu quarto.

— Uau! — Foi a única exclamação de ao ouvir contar tudo que tinha acontecido nos últimos dias, inclusive as conclusões que tinha chegado e a busca, então estagnada, de provas contra .
— Eu não acredito que ele te bateu, eu sinto tanto por isso, sinto muito mesmo, . — A garota afagou as mãos do amigo. — Mas eu não… matar Lily? Por que ele faria isso?
— Por que faria? — nem acreditou nas palavras que saíram de sua boca.
Se algum tempo atrás ele não tinha dúvidas que a ex-namorada tinha matado sua irmã, agora uma pontinha insistente de incerteza rondava sua mente. No fundo, ele sempre teve a esperança de estar errado e o grande amor da sua vida ser inocente, mas na maior parte do tempo estava tomado pelo ódio.
— Você está defendendo ela? — se afetou e se levantou. — Não acha que seria simplesmente conveniente para ela que fosse o culpado? Afinal, eles se odiavam, ele te bateu… era a oportunidade perfeita para ela tirar ele da reta.
— Defendendo? Defendendo? Eu só estou confuso, , não sei mais em quem acreditar. Eu só estou surpreso de você ter certeza de que é cem por cento inocente, depois daquele filha da puta ter me espancado até eu quase perder os dentes e você ter ido passar férias com seu melhor amigo, enquanto a assassina cuidava de mim! — vomitou as palavras antes que pudesse se conter e subiu as escadas de sua casa, batendo a porta ao passar pelo quarto, deixando uma furiosa na sala de casa.
Tudo aquilo estava passando dos limites, talvez fosse a hora de encarar que talvez não houvesse nenhum culpado e a versão da polícia fosse verdadeira: Lily tinha tido uma overdose. Adolescentes mentiam, certo? se recusava a acreditar que seu ex-namorado era um assassino, nada os davam pista disso, ele era filho do pastor, pelo amor de Deus! Sabia que não era uma pessoa fácil de lidar, mas ele não tinha nenhum conflito com Lily-Anne. Seu problema sempre tinha sido com . Será que ele seria tão frio a ponto de matar uma criança só para que fosse considerada culpada? Nada disso fazia sentido!
pegou suas coisas para sair dali, não podia acreditar que tinha dito aquilo tudo para ela. Passar férias? Ela tinha tido a porra de uma crise do pânico.
fechou os olhos com força ao ouvir a porta da frente de sua casa bater. Sabia que tinha ido embora furiosa e não a culpava, não tinha pensado muito antes de falar. Sua cabeça estava um turbilhão de emoções com todo o drama que eles estavam envolvidos novamente e a visita que ele tinha recebido na noite anterior não tinha ajudado em nada.

Quando finalmente tomou coragem para ligar, o som da campainha ressoando o impediu, o que entendeu ser um sinal. Mas ao abrir a porta, preferia que não fosse. Imediatamente sua boca se fechou em uma linha fina, ao contrário do homem do outro lado da porta, que sorria como se fosse o melhor dia da vida dele.
— O que você está fazendo aqui?
—Não era bem essa a recepção que eu estava esperando, mas vou aceitar! —Tio John suspirou de um jeito irônico e sorriu para , que ainda não tinha aberto passagem.
O que ele estava fazendo? Nunca tinha se importado em dar as caras desde o enterro de Lily, por que agora?
— Não vai me convidar para entrar? — O sorriso dessa vez se tornou ameaçador e engoliu em seco, dando passagem para que o irmão de seu pai passasse.
Ele trazia apenas uma mala. Pelo menos não ficaria tanto tempo, assim esperava.
— Não se preocupe, não pretendo ficar no seu caminho. Só vim me certificar que o sobrenome seja bem representado na festa dos fundadores. Vou ficar no quarto de hóspedes e já contratei uma faxineira, imaginei que essa casa estaria um pandemônio. — Torceu o nariz olhando em volta e subiu as escadas.
— Fodido. — rolou os olhos e xingou baixinho.
Era obrigado a respeitar o tio, porque ele era o único parente vivo e “responsável” por ele, além de cuidar do dinheiro dele até que fizesse vinte e um anos, então ele tinha que andar na linha. Só esperava que essa visita durasse o menor tempo possível.

bufou ao se lembrar da noite anterior. Não tinha visto o tio hoje ainda, ele tinha saído antes que ele acordasse. Era melhor assim. Queria que os caminhos deles se cruzassem o menos possível. Mas como nada na sua vida era do jeito que ele queria, logo ouviu os passos fortes de John na escada, seguidos de duas batidas na porta. O garoto se levantou e abriu, fitando o homem que carregava dois ternos pendurados em um cabide, dentro de uma capa protetora.
— Tomei a liberdade de encomendar seu terno para o Miss Cambridge, sinto que meu gosto é um pouco mais... refinado. — Analisou as vestes do garoto de cima a baixo e deu uma risada, fazendo resistir ao ímpeto de rolar os olhos.
— Agradeço a sua preocupação, mas eu não vou ao baile. — fez menção de fechar a porta, mas seu tio segurou com a outra mão.
— É claro que você vai. — Sua voz era firme, que procurava intimidar.
Mas não se importou muito com isso. Deu de ombros e se jogou na cama, mas o tio não desistiu. Entrou no quarto do garoto, pendurando calmamente o terno em um gancho da parede, sentando-se na cadeira da mesa de computador.
— Você pode tentar lutar contra isso, mas faz parte de ser um .
— Você nunca está aqui para fazer parte, por que eu tenho que estar?
— Porque eu preciso tocar os negócios da família, enquanto você fica aqui torrando o dinheiro com drogas. O mínimo que você tem que fazer é vestir a porra do terno e honrar o que resta de dignidade dessa família. — John mostrou sua verdadeira face e segurou a língua para não responder e cerrou os punhos.
Sua vontade era socar aquele maldito, mas sabia que seria pior para ele. Então resolveu ficar calado.
— Eu vou no seu baile estúpido, por favor, saia e feche a porta. — Falou baixo, cerrando os dentes e John assentiu, satisfeito com sua pequena cena.
Só precisava que o sobrinho estivesse no baile, feliz ou não.
Saiu fechando a porta delicadamente e desceu as escadas novamente. Tinha algumas pendências para serem resolvidas.

saiu da escola ensaiando um discurso perfeito que comoveria a senhora Lockwood, sabia que precisava ser impecável, porque a mulher era uma bruxa. Nem julgava Damien por querer morar longe daquela casa, uma enorme mansão apenas para duas pessoas: ela e o prefeito.
Subiu as escadas depois de passar pela segurança e entrou, sendo levada até onde a mãe de Damien estava. A mulher já a esperava na sala de estar, sentada com as pernas cruzadas. Ela era tão elegante quanto Emma, parecia que até tinham sido treinadas juntas, os mesmos trejeitos, a mesma forma de falar, o cabelo alinhado da mesma forma. Sabia que as duas tinham sido amigas no colégio e se encontravam sempre para assuntos relacionados aos eventos dos fundadores e esperava que isso pesasse ao seu favor, embora soubesse muito bem o que a senhora Lockwood pensava da filha depravada dos .
— Oi, senhora Lockwood! — usou seu tom de voz mais simpático.
Tinha até mesmo colocado um vestido e feito uma maquiagem básica para parecer mais humana e melhorar a terrível aparência que ela estava nos últimos dias.
— Obrigada por ter separado um tempo para me encontrar, sei que sua agenda está cheia com as coisas do baile…
— É sempre um prazer, ! — Sorriu falsamente para garota, que retribuiu. — Aceita um chá? — Perguntou, já servindo antes que a mais nova respondesse, mas, ainda assim, ela balançou a cabeça positivamente. — Então, em que posso ajudar?
— Bom… — tomou um gole de seu chá antes de continuar. — A senhora sabe que as inscrições para o Miss Cambridge foram feitas quando éramos mais novos e antes de… bom, antes de eu ir embora... — resolveu concluir assim e senhora Lockwood deu um sorriso acolhedor. — Então meu par nas inscrições era o e hoje em dia nós não nos falamos… então queria saber se eu posso trocar pra, bem, qualquer pessoa que fale comigo. — se ajeitou desconfortável na cadeira, quando a feição de Carol se fechou.
— Creio que não será possível, querida. Todos os pares já estão formados e nosso trabalho é muito sério para qualquer briguinha atrapalhar isso! Filhos fundadores precisam dançar e se apresentar com filhos fundadores! — A senhora ajeitou os cabelos (que já estavam perfeitamente arrumados) e antes que a garota pudesse argumentar, uma voz masculina invadiu a sala.
— Então isso não será um problema, se ela dançar comigo. — apareceu na sala de estar com seu sorriso perfeito e seu cabelo, antes uma bagunça total que o deixava charmoso, estava cortado rente a cabeça, deixando-o incrivelmente lindo da mesma forma.
sentiu um misto de emoções ao ver novamente seu… namorado? Ela não sabia mais o que ele era para ela. Mas a que prevaleceu foi a raiva. Profundo ódio por ele ter a deixado sozinha e ter voltado com aquele sorriso idiota nos lábios como se nada tivesse acontecido.
— Bom, acho que assim não será um problema…— Carol deu de ombros e sorriu desconfortável.
Tinha sentido a tensão que se espalhou no ambiente.
— Muito obrigada pelo seu tempo, senhora Lockwood! Tenha um bom dia! — forçou um sorriso educado e saiu depressa, precisava ir para casa o mais rápido possível.
Sentiu que ia atrás dela, mas não queria falar com ele, não agora.
, por favor, espere! — O chamado dele era em vão e a garota conseguiu chegar no carro antes que ele a alcançasse. — Corra e o atropele se for necessário! — Disse ao motorista, que arregalou os olhos, mas fez o que a garota pediu, virando o carro em direção à residência dos , que ficava a poucas quadras dali.

Quando chegou em casa, tudo que a garota queria era se jogar em sua cama e chorar. Definitivamente não estava preparada para ver , tampouco ter algum tipo de conversa com ele. Só de ouvir o som da voz dele um frio percorreu por sua espinha e tudo que ela queria era chorar e chorar. Não estava nem um pouco a fim de lidar com aquela situação. Por dias tinha planejado cada palavra que falaria para o namorado por ter simplesmente a abandonado sem dar nenhuma explicação ou satisfação, principalmente porque sabia o tanto que ela precisava dele. Por não a ter defendido diante de , mesmo que fosse uma situação delicada, e, sobretudo, não estar lá para protegê-la quando tinha uma arma em seu pescoço. Não queria que nada daquilo viesse à tona, não queria contar da pequena aproximação que teve com , nem nada disso. Só queria que ele tivesse continuado onde quer que ele estivesse, isso pouparia algumas coisas. Mas também sabia que muita coisa do seu presente e futuro dependiam de seu relacionamento com . Não podia simplesmente acabar com tudo. Não agora que estava tão perto!
desmoronou em sua cama. Estava perdida. Não sabia o que fazer para continuar sustando aquela situação. Então resolveu ligar para a única pessoa que saberia dizer a ela o que fazer:
— Doutor Marcus, me desculpe te ligar fora do meu horário, mas preciso da sua ajuda. Você é o único que pode me ajudar a pensar com clareza agora. — Implorou no celular quando o psicólogo atendeu no terceiro toque e suspirou quando ouviu a voz suave do médico:
—Não se preocupe, minha querida. Imaginei que me ligaria. Sou todo ouvidos…

E o Miss Cambridge 2019 vai para… — Senhora Lockwood abriu um sorriso encantador, antes de anunciar a vencedora do concurso daquele ano. — Caroline Forbes! — O som da plateia foi ensurdecedor e o sorriso de Caroline poderia rasgar sua cara.
estava genuinamente feliz ao ver a amiga caminhar para o palco segurando seu vestido azul bebê. Sabia que Carol sonhava com isso desde quando eram crianças, verdadeiramente um sonho, e não apenas um legado imposto a ela como era das .
De longe, conseguiu ver o desapontamento no falso sorriso de Emma, mas não se importou. Já estava nervosa o suficiente com o abraço que pesava na sua cintura. Seu coração não tinha parado de bater forte desde que tinha sido chamada para a grande dança e agora, com aquelas mãos trêmulas pousadas em sua cintura, tampouco pararia.
Mas sua atenção foi tomada para os arfos vindo da plateia, seguidos de alguns gritos exagerados. O discurso de Caroline foi interrompido por uma onda de choque no grande palco que tinha sido montado no jardim enorme de Cambridge High School. Lá atrás, depois de onde os convidados estavam sentados, rastejava no chão levando uma poça de sangue consigo.



Capítulo 17 - Parte 02

ALGUMAS HORAS ANTES

A música era ambiente quando as portas do salão do casarão dos Lockwood finalmente se abriram, observou tudo com os olhos semicerrados. Aquilo era parte de uma grande orquestra, um grande circo. Todo ano as famílias fundadoras gastavam quantidades incontáveis de dinheiro apenas para continuarem mantendo seu status, aquilo tudo era uma grande palhaçada, mas não deixava de ser bonito: decoração impecável, musicistas famosos de Londres convidados para comporem a orquestra, tudo minimamente calculado para que fosse perfeito. Havia uma grande escada, bem no meio do salão, onde as candidatas ao Miss Cambridge desceriam para encontrarem seus pares no fim dos degraus, tudo milimetricamente calculado, claro. Depois que se encontrassem, todos os casais desceriam para o grande salão, para performaram uma dança ridícula da qual eles eram obrigados a saber desde a pré-adolescência. e Caroline no passado costumavam ser obcecadas pelo dia que elas finalmente poderiam ser candidatas, então todos eles sabiam o passo a passo do Miss Cambridge de cor.
Após a grande dança, todos se direcionariam ao grande palco no jardim da casa dos Lockwood, onde as cadeiras estavam posicionadas para os convidados, e ali seria anunciada a grande vencedora. enfiou as duas mãos nos bolsos da calça social enquanto observava o fluxo de pessoas chegando, procurando onde estariam oferecendo as bebidas. Se fosse encarar aquilo, precisava de uma bebida. Tinha considerado fumar um baseado para se acalmar, mas sabia que John, que não saía da sua cola, o repreenderia, então preferiu evitar.
Aproveitou que o tio saiu de sua cola e caminhou até onde as bebidas estavam sendo servidas. O barman levantou as sobrancelhas, provavelmente porque sabia que ele era menor de idade, mas sorrateiramente passou uma nota de cem libras pelo balcão e deu uma piscadela para o homem, que rapidamente pegou o dinheiro e serviu um whisky duplo para o garoto. encostou no bar e passou a observar as pessoas no local, os pais de seus colegas de classe eram desembargadores, políticos, donos de grandes empresas. Todas as famílias ali tinham um legado, todos tinham nascido ali e honravam o nome de Cambridge pelo país inteiro. Aquilo o fez sentir falta de seus pais. James esperava que fosse grande, bem sucedido como ele. Apesar de apoiar sua carreira no futebol, sabia que aquilo só abriria portas para uma bolsa na faculdade. Sabia que o verdadeiro desejo de seu pai era que ele assumisse as indústrias , que agora eram comandadas pelo seu Tio John. O seu legado era comandado por um idiota. Mas não queria saber daquilo, estava perdido, divagando como um peixe fora d'água.
— Você parece um pinguim. — Ouviu o murmúrio de uma voz conhecida e rolou os olhos. estava vestida como uma viúva em um enterro, mas não deixava de estar estonteante. A beleza da amiga reluzia de uma forma diferente, ela estava diferente desde a pequena viagem com , que por sinal ainda não tinha dado as caras. não sabia o que pensar e o que faria com sua amizade com ainda, estava puto, nunca imaginaria que o amigo seria capaz de roubar sua garota… esse último pensamento fez o garoto de olhos azuis balançar a cabeça negativamente, tentando ignorar.
— E você está radiante — ironizou e beijou a bochecha de . — Sinto muito pelas coisas que falei. — Beijou a mão da amiga em seguida. A garota apenas deu um meio sorriso. Ainda estava com as coisas engasgadas, mas estava morrendo de saudades de seu melhor amigo e preferia deixar as coisas em paz por pelo menos uma noite. — Tenho certeza que você será nossa próxima Miss Cambridge. — deu uma risada verdadeira enquanto levava um peteleco da amiga.

***


não se reconhecia no espelho. A garota nem lembrava a última vez que tinha se arrumado dessa forma. Seus cabelos caíam em ondas perfeitamente alinhadas, enquanto Caroline a ajudava nas últimas amarrações do vestido. Um corset verde-água lhe acinturava e, abaixo, uma saia rodada. Estava como uma princesa. Do jeito que Emma sempre havia sonhado. Mas não parecia ela mesma. Aquela garota não existia mais, esses sonhos, tudo que a vida da alta sociedade de Cambridge proporciona, não a preenchia mais. A garota sabia que estava ali apenas para agradar sua mãe, por todo sofrimento que ela tinha causado, aquilo era o mínimo, mas ainda assim não deixava de se sentir vazia. Ali definitivamente não era seu lugar.
— Estou tão feliz! — Caroline estava tão radiante que suas pupilas estavam dilatadas e ela não conseguia conter seus pulinhos de felicidade. — Sonhamos com isso desde crianças!
se limitou a forçar um sorriso para a amiga. Estava feliz por ela e esperava que ela ganhasse. Teria pelo menos uma satisfação em ver a cara de cu de Meredith ao ver que tinha perdido. A garota as fuzilava com os olhos do outro lado da sala.
— Com quem você vai dançar? — Forbes não conseguiu segurar a curiosidade para ela mesma
respondeu sem olhar para a amiga
— Ele voltou? Vocês conversaram? Eu achei uma palhaçada ele simplesmente sumir depois daquela cena toda no refeitório. Como você está em relação a isso? Eu fico preocupada com você às vezes, … — Caroline falava mais rápido do que a garota conseguia acompanhar, então a deteve, colocando as mãos no ombro da amiga e olhando fixamente nos seus olhos.
— Sua maquiagem está borrada — sussurrou para a loira, que imediatamente arregalou os olhos e foi se preocupar consigo mesma no espelho, deixando a garota respirar em paz.
Ao mencionar o nome de seu namorado, ela tinha instantaneamente ficado nervosa, não tinha tido nenhum contato com desde a casa dos Lockwood, mas esperava que ele aparecesse para a estúpida dança e esperava que a música estivesse alta o suficiente para que os dois não tivessem a oportunidade de conversar. Não queria falar com ele ainda. Seu coração estava profundamente confuso e magoado e ela não tinha certeza se queria continuar com aquilo, por mais que custasse outras coisas. Ela daria outro jeito de se dar bem. tinha pouco tempo até que Caroline percebesse que sua maquiagem não estava nem um pouco borrada, então se esgueirou sorrateiramente para fora da sala de hóspedes da senhora Lockwood, que tinha sido transformada numa espécie de camarim para elas. Ao sair, percebeu que, na sala ao lado, John, tio de , conversava aos sussurros com o prefeito, senhor Lockwood, e com o diretor Thomas, o pai de , o que significava que o garoto tinha chegado, assim ela esperava.
— Oh, ! — O diretor percebeu sua presença, enquanto os outros dois sorriram amarelo para a garota. — Espero que não se esqueça que, depois da festa, você e estão encarregados de levar os enfeites de volta para a escola, faz parte da detenção. — Deu uma piscadela para a menina, que rolou os olhos. Achava um absurdo, mas não iria contestar e correr o risco de ser expulsa da escola (de novo).
— Ei, ! Está quase na hora! Os fotógrafos têm que tirar as últimas fotos. — Ouviu a voz de Caroline a chamar, então voltou sua atenção para a amiga, recebendo um tapinha no ombro do diretor como dispensa. Antes de se concentrar nas fotos, seu celular apitou em suas mãos, mostrando uma mensagem de .

» : Não se preocupe. Estou quase chegando.

Sem perceber, a garota respirou aliviada. Apesar de tudo, tinha medo que ele sumisse de novo. Não que se preocupasse excessivamente com a droga do concurso e todo aquele teatro, mas sabia que isso era importante para Emma. A mulher estava radiante desde a noite anterior e sabia que devia isso ela, já tinha decepcionado sua mãe muitas vezes no passado e, apesar da relação das duas não ter sido ideal, sabia que Emma fazia o que podia e que sempre esteve do seu lado, mesmo com a cidade inteira achando que tinha matado uma criança. Emma merecia que ela ao menos tentasse, mesmo que essa vida não a preenchesse mais.
ficou triste ao se lembrar do quanto ela e Caroline falavam sobre esse dia, sua visão sobre o Miss Cambridge era totalmente diferente naquela época, tinha sido um pouco antes das drogas se tornarem a coisa mais importante da sua vida. Ela sonhava em descer as escadas e encontrar lhe esperando no pé delas, com o cabelo lambido para trás e os olhos azuis reluzindo para ela… balançou a cabeça e tirou a imagem do pensamento. Aquilo estava no passado, simplesmente enterrado. Ela precisava olhar para frente, para o presente.
Deu o último ajuste em seu penteado e seguiu com Caroline onde os fotógrafos tiravam as últimas fotos e mandavam as garotas fazerem diversas poses.


***


se arrependeu de não ter aceitado a oferta de carona de seu pai no minuto em que saiu de casa e viu o Volvo preto parado em sua porta. Mas ele não se arrependia do anel que levava em seu bolso, que agora parecia pesar uma tonelada. Os dias que passou nos Estados Unidos foram reveladores para ele. O garoto sentia que precisava urgente sair de Cambridge, e queria que fosse com ele. Tinha certeza que o lugar da garota era com ele, com ninguém mais. Sabia que ela estava muito brava com ele e seria uma tarefa difícil conseguir que ela o perdoasse, mas sabia as palavras exatas para convencê-la. Ele era apaixonado por ela de verdade. Sua amizade com estava em jogo, novamente, por causa de uma garota, mas não era qualquer uma. orbitava em sua mente, era dona de seus pensamentos e de seu coração e ele sabia que precisava sair o mais rápido possível da cidade com ela, mesmo que a verdade fosse revelada.
Caminhou rápido até seu carro e deu partida. Sabia que seria seguido, mas contanto que fosse rápido e conseguisse entrar depressa nas dependências da casa dos Lockwood, estaria a salvo. Nunca dirigiu tão rápido e tão certo do que queria naquele dia, saberia o quanto ele a amava e entenderia que todas as suas atitudes foram por amor, nada mais que isso.
Sua testa pingava suor e seus olhos não desgrudavam do retrovisor, onde os olhos castanhos que dirigiam o Volvo também não se desviavam dele. Respirou fundo quando chegou à imponente residência dos Lockwood. Antes de abrir a porta, seu celular bipou. Era uma mensagem de um número desconhecido.

» UN: Hey, é aqui. A bateria do meu celular morreu. Mudança de planos! A grande dança será feita no jardim dos Lockwood. Me encontre nos fundos.

sorriu, seu coração passou a bater mais forte. Ela não estava tão brava com ele assim, certo? Achou estranho que mudassem a programação assim em cima da hora, mas guardou o celular no bolso e se dirigiu a entrada do jardim dos fundos da casa dos Lockwood, que desembocava na floresta antes da grande clareira onde os convidados se sentariam para a coroação da Miss Cambridge.

***


já estava em seu quinto whisky duplo quando a senhora Lockwood apareceu no topo da grande escadaria com seu vestido vermelho e seus cabelos perfeitamente alinhados em um coque. Ela sorriu majestosamente antes de tomar o microfone em mãos.
— Boa tarde a todos. É um prazer receber todas as famílias fundadoras e convidados! É uma honra ser cerimonialista de mais um Miss Cambridge, no qual nossas garotas são apresentadas à sociedade com uma belíssima apresentação. Além disso, no final, como todos já sabem, apenas uma delas será premiada como a nossa próxima MISS CAMBRIDGE! — A fala da senhora Lockwood foi seguida de uma grande salva de palmas. Ela sorriu graciosamente, enquanto uma assistente entregou um papel que seguiria com o nome de todas as participantes, em ordem alfabética. As garotas sairiam de um quarto e se posicionariam em frente a grande escada, assim, seu par indicado a esperaria no fim da escada quando seu nome fosse chamado.
— Sem mais delongas, nossa primeira participante: Meredith Smith, acompanhada de . — revirou os olhos, logo o casal mais insuportável do colégio tomaria as honras de abrir a cerimônia. Aquilo era uma tortura. Queria sair dali, mas sentia os olhos de John firmes nele, sabia que seria um escândalo se ele abandonasse o evento. estava sentada perto da sua mãe, fazendo caretas, riu quando ela sinalizou o capeta enquanto Meredith e se posicionaram.
E assim a cerimônia seguiu, ao todo, dez meninas seriam chamadas. O garoto estava nervoso, sabia que estaria deslumbrante, e também que aquele era para ser um momento deles. Tinham ensaiado por meses aquela coreografia estúpida, sabia os passos de cor e o quanto aquilo era importante para a ex-namorada, não sabia o quanto era agora que tudo tinha mudado, mas fato era, significava alguma coisa já que ela tinha desistido de participar.
Inconscientemente, ele chegou mais perto da escadaria quando a letra do nome dela se aproximava. Queria vê-la, independente de tudo. Poderia ser pela bebida, mas a mágoa e o ódio pareciam ter desaparecido naquele momento.
, acompanhada de . — Quando ela apareceu, parecia que tudo ao redor tinha ficado em câmera lenta. Ele nunca tinha a visto tão linda assim, um vestido tão gracioso que ressaltava cada detalhe de sua pele, uma maquiagem leve, mas que a deixava graciosa, além de um lindo sorriso nos lábios, mesmo que parecesse um pouco nervosa. Ela estava maravilhosa. Mas logo seu sorriso se tornou um de confusão. não estava na ponta da escada e os convidados passaram a olhar para os lados, o procurando. Senhora Lockwood pigarreou e novamente chamou:
, acompanhante de . — Esperou alguns segundos se passassem, mas o garoto não apareceu.
não chegou a pensar direito, mas quando percebeu, já estava na ponta da escada, estendendo o braço para que descesse. A atitude do garoto ocasionou alguns cochichos e uma feição extremamente confusa em , que o fuzilava com os olhos do outro lado do salão. , por outro lado, estava tão surpresa quanto aliviada. Ela ainda era uma , não queria passar a vergonha de ser abandonada na frente da cidade inteira, já não bastava o seu péssimo histórico. suava frio enquanto esperava que ela descesse, enquanto a garota descia devagar, pois seu coração batia tão forte que ela tinha medo de tropeçar e pagar um mico ainda maior.
Quando suas mãos se tocaram, parecia que os dois tinham tomado um choque. Uma carga de eletricidade inexplicável passou em seus corpos. As últimas garotas foram chamadas, enfim era o momento da grande dança. Seus passos eram delicados e milimetricamente calculados, e a melhor parte: nenhuma parte do corpo se tocava. As mãos ficavam para cima, as palmas viradas uma para o outro, mas sem se tocarem. Os corpos separados. A única coisa que devia se manter era o contato visual. A coisa mais difícil do mundo para o antigo casal.
não conseguia decifrar os olhos do garoto, enquanto ele via tudo nela: confusão, medo, vergonha e… encanto? Decerto, ela era encantada por ele, estava lindo de terno e seus olhos azuis eram tão intensos, apesar de sempre estarem tristes ultimamente. não entendia seus sentimentos naquele momento, mas não queria sair dali. Parecia que os dois estavam numa bolha, longe de tudo e todos, longe de todas as coisas ruins, mas sabia que aquilo tinha tempo certo para terminar. Assim que a música acabasse, tudo voltaria para o mesmo lugar novamente. Então decidiu aproveitar aquele momento único de paz em todos esses meses.

***

percebeu do que se tratava no minuto que chegou na clareira e viu o palco e as cadeiras longe de onde ele estava. Se sentiu um tanto quanto imbecil por isso. Tinham ensaiado mais de mil vezes a coreografia das meninas descendo as escadas e seus pares as buscando.
— Eu não tinha ideia se funcionaria, mas ultimamente você tem sido extremamente burro. — se virou para encarar o homem atrás dele, que estava acompanhado pelo garoto.
— Eu te avisei para não se meter mais com . Você foi avisado. E depois, se meter para longe da cidade com ? O que você pensou? Que não iriamos atrás de você?
— Eu não penso muito em vocês. — tentou se mostrar durão para esconder o medo.
— Não tente ser espertinho, filhinho do diretor. Seu pai não vai conseguir te defender mais. — O garoto sibilou para , mas recebeu um olhar de alerta, então recolheu as asas.
— O que vocês querem? — perguntou, estava tentando se manter na defensiva.
— Considere isso como um recado. — Antes que o garoto pudesse ter tempo de pensar, recebeu um soco no olho tão forte que perdeu o equilíbrio. Em seguida, foi segurado pelo garoto enquanto levava chutes na barriga do homem, sem qualquer possibilidade de defesa. Apenas fechou os olhos e gritou a cada surra que recebia, sabia que ninguém o ouviria, sabia que morreria se não tivessem pena dele. Só fechou os olhos e rezou para que tivesse forças para ir ao carro quando eles terminassem.
Mas fizeram pior: o deixaram perto de onde a próxima Miss Cambridge seria coroada. Ele não tinha outra escolha a não ser se rastejar para lá para que alguém o ajudasse.
— Fique longe da , todos os passos de vocês estão sendo monitorados. Nós sabemos de tudo.
Então percebeu que aquele não era um aviso só para ele.

***

Depois da grande dança, parecia ter recebido um balde de água fria, nada era como antes. Nunca mais seria. o olhou com uma compaixão absurda, que chegava a dar enjoo. Mas ele sorriu de lado quando ela o agradeceu com os lábios, sem sair som da sua boca. E ela realmente estava agradecida, e furiosa por ter lhe abandonado DE NOVO. Depois disso, era insustentável manter qualquer tipo de relacionamento com o garoto, por mais que isso lhe custasse quase tudo.
Agora era hora de se dirigir ao palco, para que a vencedora fosse anunciada. Todas as garotas se perfilaram no palco, enquanto os convidados se assentaram nas cadeiras colocadas na grama. pousou as mãos na sua cintura, o que novamente lhe passou as ondas de choque elétrico que pareciam ir direto para seu coração, que queria sair do peito. O garoto suava frio, pensando que tudo aquilo era muito errado, mas ao mesmo tempo muito certo. Só queria apagar todas as coisas ruins que tinham acontecido, para que pudesse ficar junto de quem ele realmente amava. Mas isso era impossível.

— E o Miss Cambridge 2019 vai para… — A senhora Lockwood abriu um sorriso encantador antes de anunciar a vencedora do concurso daquele ano. — Caroline Forbes! — O som da plateia foi ensurdecedor e o sorriso de Caroline poderia rasgar sua cara. estava genuinamente feliz ao ver a amiga caminhar no palco segurando seu vestido azul bebê. Sabia que Carol sonhava com isso desde quando eram crianças, verdadeiramente um sonho, e não apenas um legado imposto a ela como era das . De longe, conseguiu ver o desapontamento no falso sorriso de Emma, mas não se importou. Já estava nervosa o suficiente com o abraço que pesava na sua cintura. Seu coração não tinha parado de bater forte desde que tinha sido chamada para a grande dança e agora, com aquelas mãos trêmulas pousadas em sua cintura, tampouco pararia. Mas sua atenção foi tomada para os arfos vindo da plateia, seguidos de alguns gritos exagerados. O discurso de Caroline foi interrompido por uma onda de choque no grande palco que tinha sido montado no jardim enorme de Cambridge High School. Lá atrás, depois de onde os convidados estavam sentados, rastejava no chão levando uma poça de sangue consigo.

Capítulo 18

Toc.Toc.Toc.Toc. Esse era o único som que ouvia no quarto escuro, não sabia o que o gotejar significava, só sabia que todas as partes do seu corpo doíam. Pelos flashbacks que estivera tendo, provavelmente — e assim ele esperava — ele estava em um hospital. Tentou abrir os olhos, mas não conseguiu. Até isso doía. Mesmo com os olhos fechados, sua cabeça latejava e seu rosto inteiro doía. Até se lembrar dos socos que recebeu doía. Sabia que precisava se certificar que ninguém fosse atrás dele, mas ninguém o faria mal em hospital, certo? Não se arriscariam dessa forma, além disso, já tinham dado seu recado, provavelmente recuariam agora. O que daria tempo para que ele seguisse com seu plano assim que conseguisse sair dali: pegar , dar o fora e não voltar nunca mais para aquela cidade de merda.
Em meio aos seus pensamentos, conseguiu ouvir vozes conhecidas no corredor. Uma gritaria acontecendo, era… era a voz de . Tentou se mexer para ir em direção à voz, mas tudo doía demais.
一 Você NÃO pode me proibir de vê-lo por causa de uma merda de detenção, está maluco? — a garota esbravejava no corredor, indignada com o que estava acontecendo.
一 Não só posso como vou, mocinha. Você não vai ser de nenhuma ajuda aqui e combinados são combinados. 一 Thomas estava impassível na sua decisão.

ALGUMAS HORAS ANTES

一 E o Miss Cambridge 2019 vai para… 一 senhora Lockwood abriu um sorriso encantador antes de anunciar a vencedora do concurso daquele ano. 一 Caroline Forbes! 一 O som da plateia foi ensurdecedor e o sorriso de Caroline poderia rasgar sua cara.
estava genuinamente feliz ao ver a amiga caminhar no palco segurando seu vestido azul bebê. Sabia que Carol sonhava com isso desde quando eram crianças, verdadeiramente um sonho, e não apenas um legado imposto a ela como era das . De longe, conseguiu ver o desapontamento no falso sorriso de Emma, mas não se importou. Já estava nervosa o suficiente com o abraço que pesava na sua cintura. Seu coração não tinha parado de bater forte desde que tinha sido chamada para a grande dança, e agora, com aquelas mãos trêmulas pousadas em sua cintura, tampouco pararia.
Mas sua atenção foi tomada para os arfos vindo da plateia, seguidos de alguns gritos exagerados. O discurso de Caroline foi interrompido por uma onda de choque no grande palco que tinha sido montado no jardim enorme de Cambridge High School. Lá atrás, depois de onde os convidados estavam sentados, rastejava no chão, levando uma poça de sangue consigo. Passada a onda de choque, as pessoas mais próximas rapidamente correram em direção ao garoto, aos gritos de “Chamem uma ambulância”, “Chamem o senhor ”. olhou em choque para , que prontamente pegou na mão da garota para que corressem na direção do garoto de cabelos encaracolados.
No meio do caminho, sentiu uma mão firme segurando seu braço, como advertência, mas puxou forte, se afastando de Tio John, e continuou correndo com .
seguia em choque, observando toda a cena, enquanto via seu melhor amigo arfar de dor e sangrar na frente da cidade inteira.
一 SAIAM DA FRENTE 一 berrou.
Ela estava tão atordoada que nem percebeu que as lágrimas já caíam descontroladamente por seu rosto. Se sentia tão culpada, tinha sumido e ela não havia se preocupado se algo tinha acontecido com ele. Apenas ficou com raiva, pensando que ele a tinha deixado na mão, e agora ele estava ali, sem conseguir nem abrir os olhos direito. Tinha claramente levado uma surra, mas quem faria isso com ele? Por quê?
… 一 lamentou enquanto se abaixava ao lado do namorado.
… 一 arfou, conseguindo abrir levemente os olhos e os fechando novamente. 一 Você… Nós… fugir 一 balbuciou palavras desconexas até que não aguentou a dor lancinante e desmaiou nos braços da garota, que gritou, ainda mais desesperada por ajuda.
A ambulância chegou poucos minutos depois, os paramédicos afastaram com dificuldade, mas conseguiram colocar na maca, depois no automóvel, seguindo para o hospital. O pai e a mãe do garoto foram juntos na ambulância com ele, enquanto corria desesperada para encontrar alguém que a levasse para o hospital o mais rápido possível. Emma tentou chegar até a garota, mas ela estava transtornada, sabia que alguém tinha feito isso com e tinha suas desconfianças, as ameaças estavam cada vez mais perto dela. Ele tinha dito algo como fugir.
seguiu atordoado, mas sabia que tinha que ajudá-la. Estranhamente hoje, estava tendo esse ímpeto com a ex-namorada.
… 一 limpou a garganta quando alcançou a garota e tocou levemente seus ombros. 一 Tente se acalmar, eu vou te levar até lá.
Poderia estar com o maior ódio possível do amigo, mas o ver daquele jeito tinha dilacerado seu coração. claramente tinha levado uma surra, mas não conseguia imaginar de quem. O amigo era a pessoa mais boa praça que conhecia, se relacionava bem com todos os outros, até mesmo com o nojento ou com Lockwood. Não via motivos para que alguém quisesse bater nele. Exceto, por seu relacionamento com .
conseguiu levar até seu carro, a garota estava com os cabelos bagunçados e a maquiagem borrada pelo choro. Tentou ignorar os olhares das pessoas em volta, mas estava ciente que a cidade inteira, após o choque dos dois terem dançado juntos no baile, se chocavam mais ainda com os dois indo para o carro juntos. Mas nada daquilo importava naquele momento. não sabia mais separar as coisas, não sabia mais carregar tanto ódio da garota e no fundo, sabia que a partir daquele momento seus destinos estavam selados, teriam que conviver mesmo que doesse muito.

ALGUMAS HORAS DEPOIS

não podia acreditar que estava sendo proibida de ver , não pelos médicos e nem pelos enfermeiros, mas pelo senhor Thomas , que barrava o corredor para que nem ela, nem se aproximassem do quarto. Ela podia ver, pelo vidro, a condição de seu namorado na maca, todo enfaixado e inchado, com os olhos fechados. Seus olhos se encheram de lágrimas novamente; a garota só tinha conseguido ficar calma no carro, com , embora tivesse sido uma viagem extremamente desconfortável e silenciosa até o hospital. Seus pensamentos estavam confusos e desordenados, havia acontecido tantas coisas em um dia só, que a garota só queria sair correndo e se trancar em algum canto.
一 Você NÃO pode me proibir de vê-lo por causa de uma merda de detenção, está maluco? 一 a garota esbravejava no corredor, indignada com o que estava acontecendo.
一 Não só posso como vou, mocinha. Você não vai ser de nenhuma ajuda aqui, e combinados são combinados. 一 Thomas estava impassível na sua decisão. 一 E você vai acompanhá-la, . 一 Seu rosto se virou duramente para , que até então estava calado, observando o amigo pelo vidro. Tão ferido. Por quê…?
一 Não faz o menor sentido, Thomas. Como poderemos nos concentrar em detenção com dessa forma? Como o senhor pode sequer pensar nisso? 一 tentou demonstrar calma, mas queria gritar descontroladamente como . Seu celular estava com pelo menos cinquenta chamadas perdidas de , assim como sabia que John o encheria o saco também.
一 Vocês têm um dever a cumprir. 一 Por falar no diabo, o seu tio tinha aparecido atrás deles. revirou os olhos, seu rosto estava vermelho de tanto ódio e também pelas lágrimas. A última pessoa que queria ver ali era o tio asqueroso de .
一 Me deixe, pelo menos, vê-lo por um momento 一 suplicou a Thomas, que suspirou e apenas apontou para o quarto, dando passagem para que a garota entrasse, logo atrás.
一 Dois minutos.
… 一 As lágrimas caíam fortemente pelo rosto da garota, ela tinha medo de tocá-lo pela extensão dos machucados. O garoto tentou se mexer na maca, denunciando que estava acordado. 一 Não se mexa, eu estou aqui. Você vai ficar bem. 一 Mesmo chorosa, tentou limpar suas lágrimas e beijou o topo da testa de , o único lugar no rosto do garoto que não estava machucado.
一 Ei, cara 一 falou, a voz baixa e embargada ao ver o amigo daquela forma. 一 Você vai ficar bem, vamos descobrir quem fez isso com você. 一 Trocou um olhar rápido com e, ao olhar para o lado de fora, percebeu que Thomas e John conversavam em voz baixa, observando os três dentro do quarto.
一 Você vai ficar bem, eu prometo que vai.
, com muito esforço, conseguiu estender a mão para que pegasse. A garota sorriu com o esforço do mais velho, que conseguiu abrir levemente os olhos, franzindo a testa de dor. 一 … 一 sussurrou, a voz quase inaudível. 一 Fuja.
olhou para com os olhos arregalados
一 O quê?
一 Fu… 一 tentou falar novamente, mas seus remédios pareceram começar a fazer efeito, ao mesmo tempo que Thomas entrou no quarto .
一 É melhor vocês irem. Podem ir pra casa, me desculpem. 一 O diretor pareceu recuperar a sanidade. Era de se esperar que não estivesse bem, vendo o filho daquela maneira. e saíram do quarto sem protestar, a primeira depositou outro beijo leve na testa de antes de deixar o quarto. olhou com raiva para o tio, mas não disse nada, apenas saiu pelo corredor ao lado de , não sem antes puxá-la para a primeira esquerda, lado contrário da saída. A garota o olhou com uma expressão confusa, mas se calou ao ver fazer sinal de silêncio com indicador, apontando para o corredor. De lá, ouviram a voz de Thomas se exaltar.
一 Quero saber agora quem fez isso com o meu filho e por que, John! Esse nunca foi nosso combinado…一 Dava pra sentir o ódio na voz de Thomas, mesmo que não pudessem vê-los.
一 Fique tranquilo, Thomas. Acho que tem lugares mais apropriados para termos essa conversa 一 John falou calmamente, guiando o diretor de Cambridge High School para longe dali.

***


一 Ele disse fuja, não foi? 一 murmurou para .
O garoto a estava levando para casa e, devido aos acontecimentos, os dois não se falaram muito enquanto dirigia pelas ruas de Cambridge. Ele pilotava mais devagar do que costumava, como se estranhamente não quisesse chegar rápido na casa de . Não sabia por que, mas algo fazia com que ele quisesse a ex-namorada próxima, e isso perturbava a sua mente.
一 Mas fugir de quê?
一 Ou de quem… 一 sussurrou, estremecendo ao se lembrar da arma no seu pescoço. 一 … você era a última pessoa que precisava estar fazendo isso por mim, me desculpe, eu…
一 Eu também não entendo o porquê... 一 a interrompeu. 一 Eu… há poucas semanas atrás, você era a pior pessoa da minha vida, desde… desde a morte de Lily eu tenho um ódio profundo por você, mas parece que… desde aquele dia que você me encontrou, as coisas estão diferentes, de alguma forma eu acho que acredito em você, ou pelo menos não tenho mais tanta certeza do que aconteceu naquele dia… 一 despejou as palavras, sem jeito, nem ele sabia o que realmente estava sentindo ou pensando. 一 Eu só queria que isso tudo fosse um pesadelo… não quero reviver a morte de Lily, ao mesmo tempo que, se não foi sua culpa, preciso descobrir de quem foi… Mas juro por Deus, , se você estiver me manipulando de alguma forma… 一 balançou a cabeça, tentando não pensar nessa possibilidade.
, eu juro, eu vim justamente por isso, para descobrir a verdade, descobrir por que isso aconteceu, quem fez isso… 一 tentava dizer, mas as lágrimas começaram a cair novamente pelo seu rosto enquanto se aproximava da casa dela.
Estava feliz pelo voto de confiança, mesmo que ainda não parecesse perdoá-la, mas ao mesmo tempo preocupada com o que viria a seguir. Sabia que precisava ser completamente honesta com a partir de agora. O garoto parou o carro na entrada da garagem da mansão dos , e olhou intensamente para , sem saber o que fazer. Num ato impensado, limpou as lágrimas da garota, levemente. O toque no nas bochechas da ex-namorada fez com que a eletricidade de antes voltasse. Aquele era um momento que nenhum dos dois imaginou que teriam de novo. Parecia lindo, errado e cheio de esperanças.
… 一 murmurou. 一 Eu preciso te contar uma coisa, mas você não pode contar pra ninguém. Ninguém. Nem para .

***


Quando acordou ele não sabia se era dia ou noite, mas suas dores estavam melhores. Ele já conseguia abrir o olho quase por completo e o latejar na sua cabeça, agora, não passava de um incômodo. Relembrou a vinda de em seu quarto, lembrou-se vagamente de ver uma figura masculina atrás dela, mas não tinha certeza de quem era porque não falara com ele. Esperava que a garota estivesse bem, se culpava muito por não ter chegado a tempo de tirar daquela maldita cidade antes que o pegassem, e sabia que, se não fizesse alguma coisa, seria muito pior. Três batidas na porta de seu quarto o despertaram de seus pensamentos, junto ao arfar de ver quem passava por ela.
一 Chegou a hora de conversarmos. 一 Damien levantou as sobrancelhas para , como um desafio, e fechou a porta atrás de si.

***


chegou atordoado em casa. Ainda não tinha saído do carro, sem conseguir se mexer. Precisava urgentemente de um baseado para esvaziar a mente. Quando viu que o carro de John não estava na rua e nem na garagem, desceu do seu carro e seguiu para o quintal dos fundos, onde poderia fumar em paz. Estava perturbado com as coisas que tinha contado. Não sabia se confiava nela, mas também não teria por que a garota mentir para ele e nem inventar aquilo tudo. Precisava de , para conversar sobre, mas tinha prometido que não contaria para ninguém e, de certa forma, entendia que aquele precisava ser um segredo dos dois. Ninguém tinha mais sofrimento nessa história toda do que os dois. Sua cabeça fervia ao pensar que talvez ele houvesse desperdiçado anos de vida odiando a pessoa que ele mais amava no mundo por algo que ela não tinha cometido, mas mesmo assim, não conseguia ver como isenta de tudo. Ela definitivamente estava drogada no dia, e não cuidou de Lily, independente da culpa ter sido dela ou não. Ele só queria saber o que realmente tinha acontecido, e a perda de memória de não era oportuna para nenhum dos dois. Mas agora o garoto estava determinado a descobrir o que tinha acontecido, e definitivamente não podia fazer isso sozinho. Teria que aprender a deixar o ódio e o rancor de lado para trabalhar lado a lado com quem um dia foi o amor da sua vida.

***


se sentia aliviada por finalmente ter se aberto com e ter contado tudo que ele precisava saber sobre sua volta e seus verdadeiros motivos. Torcia para que ele tivesse acreditado nela e a ajudasse a entender o que realmente tinha acontecido naquela noite. Estava farta de guardar tudo aquilo só para si. Sabia que o garoto tinha se perturbado com tudo que ela tinha falado, mas precisava saber antes que fosse tarde demais e os dois perdessem a chance de descobrir a verdade. A garota, com os últimos acontecimentos, sentia que o quebra cabeça estava mais próximo do que imaginava de ser resolvido.
Emma não estava em casa quando ela entrou. Checou seu celular e viu a mensagem dizendo que estava na senhora Lockwood, que tinha tido um mal estar terrível depois do baile ter sido arruinado por . Todos da cidade estavam escandalizados pela cena do filho do diretor se rastejando, jorrando sangue. Os policiais trabalhavam para saber o que tinha acontecido, e as fofocas corriam soltas, algumas mais absurdas que outras.
tomou um banho demorado de banheira antes de voltar para seu quarto e deitar na cama. Seus pensamentos rondavam todos os anos que passara longe até agora. Parecia que já tinha uma vida que tinha voltado, tantas coisas ruins tinham acontecido que era até difícil acreditar que ela tinha voltado por um bem maior. A garota nem percebeu quando adormeceu, seus sonhos finalmente a deixando em paz para um sono profundo. Que, porém, foi interrompido pelo som insistente do seu celular tocando. Pensou em ignorar, mas depois da terceira chamada, foi obrigada a atender:
一 Alô 一 murmurou, com a voz sonolenta.
? Aqui é o … 一 a voz do garoto estava estranha, como se ele tivesse chorado… 一 A mãe de me ligou, ela estava muito perturbada e eu…eu não sei o que fazer.
一 Fazer com o quê? Não estou entendendo, o que houve? 一 sentou imediatamente na cama, preocupada.
sofreu uma parada cardiorrespiratória no hospital 一 falou devagar, como se estivesse tentando processar as palavras que ele mesmo disse 一 Ele não resistiu, . está morto.


Capítulo 19

PRIMEIRO DIA PÓS MORTE.


não aguentava mais ir a velórios, mas parecia que estes faziam grande parte da sua vida. Em todos os outros, ele tinha seu melhor amigo do lado, mas nesse, ele estava sozinho. estava dentro daquele caixão, sem poder ser tocado. Nunca mais veria o amigo sorrir; nunca mais veria seus cabelos bagunçados; nunca mais ouviria dedilhar canções no violão… não tinha se despedido do seu melhor amigo. O último sentimento que tinha sentido por ele era raiva, desgosto e mágoa, tudo por uma garota que os dois amavam. E agora ele estava morto, como todas as outras pessoas da sua família.
O olhar de estava perdido, atordoado. Tinha ciência que a principal igreja da cidade estava cheia, todas as famílias fundadoras, a comunidade escolar e a prefeitura estavam prestando apoio à família depois da grande tragédia. A polícia de Cambridge estava investigando a morte, já que a insuficiência respiratória de tinha sido ocasionada pela surra que o garoto tinha levado pouco antes do Baile dos Fundadores, mas ainda não tinham nenhuma pista do que pudesse ter acontecido. Já era a segunda morte naquele ano na cidade. Uma espécie de maldição.
Enquanto caminhava, tentando tomar coragem de chegar perto do caixão que estava no altar, cercado por coroas de flores e um grande quadro de , vestido com a farda de futebol de Cambridge. Seu caixão estava aberto, mas um grande véu branco transparente tampava o corpo. Tinha ouvido alguém sussurrar que o garoto estava inchado, mas não deu importância. Suas pernas pesavam e sua cabeça doía, não sabia se conseguiria ver o amigo naquela situação. Nada daquilo parecia real. Sentiu a mão de em seu ombro, ela estava com os olhos vermelhos, mas não chorava. Ela o guiou até o caixão, mas ele não conseguiu olhar. Não queria que a última imagem de na sua mente fosse aquela, queria se lembrar do melhor amigo de outra forma, de momentos felizes.
estava na segunda fileira de cadeiras, sentada imóvel ao lado de Emma e Joe, que tinha acabado de chegar de mais uma viagem. Sua visão estava turva e sua cabeça latejava, não tinha conseguido chegar nem perto do caixão de . Não queria que nada daquilo tivesse acontecido, seu plano não era esse.
A garota se levantou, decidida a tentar ver , se despedir. Não queria que a última imagem na sua mente fosse dele no caixão, mas para que sua ficha caísse ela precisava vê-lo. Ela sentia um peso incomum nas costas, como se mais uma morte fosse culpa dela. Não entendia o porque daquilo ter acontecido. Se não tinha nada a ver, porque ele tinha apanhado? Quem faria isso? Porque todas as pessoas pareciam saber que tinha algo errado, menos ela? Se sentia no escuro naquela situação.
e estavam próximos ao caixão quando a loira se aproximou, os olhos da ex-amiga estavam marejados e as olheiras fundas. Nenhum dos dois olhavam para o corpo, mas pareciam estar em transe. deu uma leve olhada para a ex-namorada, tinha quase se esquecido que o melhor amigo e ela estavam em um relacionamento. Aquilo ainda o embrulhava o estômago, mas, de alguma forma, ele queria estar lá por ela. Não entendia os sentimentos que o estavam abraçando naquele momento, mas já era impossível para ficar longe de .
A garota se aproximou do caixão em passos lentos, mas parou no primeiro degrau. Definitivamente não conseguiria. desabou nas escadas, seu estômago retorcia em dor física enquanto a garota chorava. Não se importava com todas as pessoas a olhando, sentindo pena ou sem saber o que fazer, mas ela não tinha mais forças para encarar tudo aquilo. Parecia um erro ter voltado e desencadeado mais problemas do que soluções.
sentiu seus braços serem puxados, em uma tentativa falha de erguê-la. Mas ela não queria sair dali. Seus olhos se levantaram o suficiente apenas para ver que quem a segurava era a última pessoa que ela queria ver: .
— Vamos, , não faça uma cena… — seus olhos eram penetrantes e sua feição parecia se divertir. No mesmo instante a garota tentou puxar o braço, mas o aperto do homem era bem mais forte que ela.
— Me solta agora. — a voz de saiu mais baixa e menos firme do que ela pretendia, o que só pareceu diverti-lo ainda mais. — SOLTA AGORA, SOLTA! FOI VOCÊ, SEU MALDITO, FOI VOCÊ! — nesse momento toda a igreja se virou para a garota, que conseguiu se desvencilhar de e se levantar. Sua visão estava turva e prejudicada pelas lágrimas. Mas ainda sim conseguiu encontrar o olhar de , que balançou a cabeça negativamente, assustado, como se a garota corresse algum perigo. E se as desconfianças dos dois estivessem certas, ela realmente estava em perigo gritando com daquela forma.
— Eu não sei do que essa louca drogada está falando. — levantou os braços, se defendendo. Enquanto todos olhavam a cena com perplexidade, sem saber como agir. , por fim, foi perdendo suas últimas forças e sentiu cambalear para o lado, antes que seu corpo atingisse o chão, sentiu duas mãos e um peito quente a segurando.
— Peguei você. Está tudo bem. Vamos embora. — ouvia a voz dele de longe, mas não conseguiu mais abrir os olhos.

***

— Isso não vai acabar bem. Já estamos muito expostos… aquela cena de incriminando ! Você precisa ir embora agora. Vai ser uma questão de tempo até descobrirem a verdade. — a voz da garota no porão era estridente e nervosa. Ouviam-se alguns murmúrios concordando, mas a voz do garoto prevaleceu.
—Ninguém vai descobrir nada. A morte de não tem nada a ver conosco.
— Mas foram vocês que bateram nele! — a garota agora chorava, o desespero tomando conta de todo o seu ser.
— Eu já disse que nós não fizemos nada disso, porra! — A voz do garoto se alterou. — Você que começou isso, agora aguente as consequências. está morto. Nada tem mais volta.

***

ALGUNS DIAS ANTES DA MORTE

— Faz bem, né? — observou com um sorriso se lambuzar com o gelato que tinham comprado na quinta avenida. Tinham pousado em New York há poucas horas e somente naquele momento a tensão da garota tinha passado. Nunca tinha visto a amiga ter uma crise de pânico, mas sabia que toda aquela situação com o sumiço de tinha mexido - ainda mais - com a cabeça dela, principalmente por estar envolvida.
— Então… qual é a sua com a ? — tentou parecer casual, mas ainda não tinha engolido aquela história de buquê de flores e pedido de namoro. Sabia que tinha uma quedinha por antes dela e começarem a namorar no passado, mas jamais imaginaria que tinha evoluído de forma tão… avassaladora.
— Isso nunca foi novidade. — desconversou, parecendo ler os pensamentos da amiga.
— Você realmente atirou para todos os lados. — riu. O garoto levou um tempo para relembrar, mas depois caiu em si, dando um sorrisinho sem graça.
— Não fique tão vermelho, . Não foi seu melhor trabalho. — torceu o nariz, se lembrando da noite em que ela bebeu demais. bufou, ofendido, mas logo depois riu e puxou a amiga pela mão. — Acho que podemos tomar algo mais forte que isso — apontou para o sorvete de chocolate quase no fim.

***

7 ANOS ANTES DA MORTE

— Ei, ! Duvido que você consegue sem as mãos. — se exibiu para o amigo enquanto descia de bicicleta pela rua. Tinha acabado de ganhar o brinquedo de aniversário e estava com os amigos na rua brincando desde o almoço. As mães de e já tinham buscado os dois, mas continuou brincando com ela, não estava interessado em ir para casa e estava se divertindo muito andando de bicicleta com a amiga. Além disso, sua casa era bem próxima de , então seus pais o deixaram ficar mais um pouco.
— Vamos descer até o final da rua! — exclamou e os dois desceram acelerando até o fim da rua, que era sem saída. No entanto, , sem perceber, passou por cima de uma pedra, perdendo um pouco do controle da bicicleta nova, já que ela era um pouco maior do que a menina estava acostumada. A garota acabou caindo, seus óculos indo parar longe.
— Ai! — exclamou com um muxoxo de dor.
— Ei, você machucou? — ajoelhou do lado da amiga, que estava com um pequeno ralado no joelho e no cotovelo esquerdo, mas nada grave. A garota balançou a cabeça negativamente, tentando se levantar.
— Eu sou tão desastrada. Nunca vou ter um namorado! — desabafou do nada. não sabia como reagir aquilo porque não sabia que a amiga queria um namorado. Fazia pouco menos de dois meses em que ele tinha parado de achar garotas nojentas, então não sabia que também se sentia pronta para ter um namorado.
, eu tenho 12 anos e ainda gosto desse tipo de brincadeiras. As garotas da minha idade não andam mais de bicicleta, elas gostam de maquiagens… veja a . — ela se esticou, tomando cuidado com o joelho, e cruzou os braços, deixando uma lágrima escorrer pelo seu rosto. A verdade é que a menina não sentia que se encaixava. E desde que seu pai a tinha deixado, ela não se sentia tão bem assim no mundo.
— Eu te acho muito legal. — afirmou.
… — de repente a garota teve uma ideia ao olhar para os olhos verdes do amigo — Você me daria um beijo? O primeiro beijo?
— Ahn… hoje? — o garoto coçou a cabeça. Nunca tinha pensado nisso também.
— Minha mãe diz que nosso primeiro beijo tem que ser com um garoto que nos ache legal. — sentiu seu rosto enrubescer.
— Ahn… tudo bem. — se aproximou da amiga, os dois com os olhos abertos e depositou um beijo rápido na amiga, um selinho inocente como os dois eram.

***

ALGUNS DIAS ANTES DA MORTE

explodiu em gargalhadas quando e ela se lembraram daquele momento. Já era a quinta dose de whisky duplo que os dois dividiram no serviço de quarto. Sabia que a qualquer momento poderiam receber reclamações da vizinhança, mas não se importava. Estava precisando se divertir assim, sem ninguém para se preocupar ou cuidar.
— Você não tinha ninguém melhor para tirar seu beijo virgem. — se gabou.
— Não posso dizer o mesmo sobre a virgindade… — refletiu por um momento, antes dos dois se acabarem em risadas novamente. Que foram se findando até os dois se encararem.
— Você realmente acha que não foi meu melhor trabalho? Eu já estava bem experiente. — se gabou.
, nós transamos porque eu estava bêbada, no dia dos namorados e tomei um bolo da pessoa que eu amava. — riu e o amigo acompanhou. Aquele assunto era enterrado para os dois, mas naquele dia ele estava estranhamente vindo à tona
— Eu sou muito bom no que eu faço. Eu explodi sua mente, seja sincera. — deu um soquinho de leve na amiga, que o encarou, e depois seus olhos desceram para sua boca e se demoraram ali. Deixando confuso.
— O que foi?
— Nada… é que…— não sabia encontrar as palavras certas, apenas se aproximou do garoto e depositou um selinho em seus lábios, e depois outro. afastou gentilmente a amiga, colocando as mãos em seus ombros.
, você passou por muito hoje, está confusa… — ele tentou a afastar, mas a garota novamente se aproximou dele, depositando beijos em seu pescoço.
— Eu preciso… de uma distração. — respirou na orelha do amigo e sentiu o pescoço dele arrepiar.
a olhou, parecendo ponderar sobre a situação.

— Ela nunca vai saber. Por favor. Eu preciso me desligar. — insistiu, subindo no colo do garoto, se acomodando em um rebolado. sentiu seus pelos eriçarem e o ar ficar mais difícil de respirar. — Por favor.
suplicou antes de se dar por vencido e enfiar as mãos no cabelo da garota, a puxando para perto e fazendo-a arfar. O beijo dos dois não era necessariamente gostoso, mas sim urgente, com um misto de sentimentos que nada tinha a ver com os dois. Seus corpos ali estavam totalmente separados da mente e logo as roupas estavam espalhadas pelo chão.

1ª DIA PÓS MORTE

— Joe, eu acredito que você irá entender quando eu disser que prefiro que sua filha não compareça ao enterro de . Já tivemos aborrecimentos demais por um dia. — a expressão de Thomas era vazia, como se apenas seu corpo estivesse ali, no automático.
— Os dois estavam namorando… — Emma suspirou, preocupada com o estado que a filha tinha sido levada dali e com o medo do pesadelo de anos atrás se repetir. — Não é fácil para ela… embora eu não saiba o que aconteceu entre ela e o filho do pastor .
— A verdade é que sua filha é uma grande criadora de problemas, Emma. — John se intrometeu na conversa. Fazendo com que Joe bufasse. Ele odiava aquele cara, assim como todos que o conheciam de verdade.
— Não ficarei aqui para ouvir besteiras sobre minha filha. — Joe virou as costas, puxando Emma consigo.

***

UM MÊS ANTES DA MORTE

— Você tem sardinhas. — sorriu e passou os dedos levemente pelo rosto da namorada. — Porque sempre as esconde com maquiagem?
— Porque acho ridículo. — respondeu, pegando o dedo do garoto e tirando de seu rosto. Os dois estavam deitados em seu quarto, curtindo a preguiça depois de transarem. sempre ficava pensativa depois desses momentos porque, apesar de ser bom, nada parecia se encaixar perfeitamente. Sabia que era uma clara comparação a , que não existia e provavelmente não existiria nada igual. Por mais vezes que ela queria admitir, enquanto estava por cima dela, ela desejava que fosse .
— Você é linda. — beijou seu nariz e as maçãs do rosto da garota, onde as suas sardas se concentravam. — Eu sou louco por você. Seria capaz de matar por você.

***

UM DIA ANTES DA MORTE

estava disposto a fazer o que fosse necessário para estar junto com a garota que ele amava. Sabia que estava sendo perseguido desde New York. Não só por aquelas pessoas, mas também por seus próprios pensamentos. Sabia que não deveria ter se deixado levar e transado com sua melhor amiga. Sabia que os dois estavam bêbados e em situação de estresse, mas sua tarefa era cuidar da amiga e não se aproveitar dela.
Ele se sentia nojento, não apenas por trair o amor da sua vida, mas também por ter feito aquilo com . Ele a pediu mil desculpas, apesar de que a amiga disse que não precisava, que se sentia tão mal quanto ele e que, na verdade, ela que tinha o usado. Mas, de toda forma, estava tudo errado e ele precisava consertar. Depois de fugir dele na casa dos Lockwood, mas ainda sim aceitar dançar com ele. Sabia que precisava de um grande gesto. Ele estava saindo da loja de joias, depois de finalmente achar um anel que combinava perfeitamente com , quando seu celular bipou uma mensagem. O garoto ficou pálido com o conteúdo do vídeo. Ciente que ele precisava sumir daquela cidade com sua namorada o mais rápido possível.

***

DIA DA MORTE

O efeito do remédio ia e vinha, mas continuava grogue e sem saber direito o que estava acontecendo, ouvia vozes o tempo inteiro, entrando e saindo do quarto, mas não sentia forças o suficiente para abrir os olhos, muito menos para levantar e dar uma olhada em volta. Em algum momento, sentiu sua maca mexendo, como se estivessem movendo-o de lugar. Quando abriu os olhos, só conseguiu ver o teto branco acima de si. Não conseguia olhar para os lados e nem identificar as vozes que falavam, tudo estava distante. Depois, apagou de novo.
Quando acordou novamente, tudo estava escuro. Não conseguia se mover para achar um interruptor e sua voz não saía, para que chamasse alguém. Ele não parecia estar no hospital. De repente, ouviu uma voz familiar e suspirou aliviado. Talvez ele só estivesse realmente sendo tratado da maior surra de todos os tempos.
— Ei, cara, me desculpe por isso. Mas é para o seu bem. - ouviu a dureza na voz e viu a dor no olhar ao mesmo tempo. Em questão de segundos, ele não enxergou mais nada e o monitor ao seu lado apitou em um único som.

Hora da morte 18h51.



Continua...

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Nota da autora: Sem nota.



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