No Longer

Finalizada em: 30/08/2019

.capítulo único – she no longer needs me

O antigo sofá revestido de couro marrom, o qual fora antecipadamente arquitetado para complementar a decoração retrô da sala de estar, acomodava o corpo magro e displicente do seu proprietário. O ambiente ressoava os sons externos da forte chuva que caia lá fora, abafando a turbulência dos trovões e relâmpagos daquela noite.
estava mais do que acostumado com temporais iguais a este, principalmente nessa época do ano.
Exatamente por saber disso que suas noites eram sempre livres de compromisso, onde ele simplesmente poderia passá-las em casa, no aconchego do seu lar.
O abajur sobre a pequena mesa redonda posta ao lado do móvel facilitava a leitura do rapaz, o qual passível explorava uma por uma das páginas do livro que no momento lhe prendia tanto a atenção. Era uma das obras de Murakami, cujo o considerava com apreço um dos seus autores favoritos. Prosseguia agilmente devorando as palavras inspiradoras do escritor, por vezes se vendo completamente submerso naquele mundo ficcional, compartilhando e sentindo na pele todas as emoções e sensações do personagem que ironicamente lhe parecia um reflexo seu; talvez por causa dos sofrimentos tão compatíveis. O dedo indicador já seguia em direção à beirada da folha para pular a página quando de uma maneira inesperada sua concentração fora desfocada do livro para o som da campainha que soou pela extensão do apartamento. A chuva continuava resistindo do lado de fora, o que apenas somou para intrigar o rapaz. Imediatamente seu cenho franziu em dúvida e internamente se questionou sobre estar esquecendo de algo ou qualquer outro compromisso que tenha marcado para hoje. A questão era que ele não tinha esse hábito.
Descansando o livro sobre a mesa do abajur, caminhou até a entrada do apartamento e pousou a destra na maçaneta, puxando-a para baixo e abrindo a porta principal. No instante que seus olhos se sobressaltaram em surpresa, o sentiu-se minimamente atordoado, mal apercebendo que havia parado de respirar. Sua postura rija parecia petrificada ao piso enquanto observava com fixidez o corpo feminino parado em frente à sua porta. A mulher estava agarrada ao próprio corpo molhado pela chuva, com os lábios meio roxeados e trêmulos, carregando uma fisionomia abatida.
... — sua fala saiu arrastada, quase como um murmúrio. apertou com mais força o metal da fechadura, na tentativa de manter seus instintos controlados e não deixá-los tão expostos à ela. Havia se passado tantos meses desde a última vez que a viu que acabara esquecendo a forma como reagia àquela mulher, esquecendo-se da instabilidade que consumia todo o seu autocontrole sempre que ficava diante à sua presença.
naquele instante se recobrava e trazia à tona, em sua mente e coração, todos os sentimentos que estava guardando dentro de si, por todos aqueles anos. — E-eu... não esperava te encontrar aqui.
A mulher o conhecia bem para saber que o rapaz estava sendo sincero consigo. Tanto pelo timbre instável de sua voz quanto por ter absoluta certeza de que ele jamais mentiria para si. A estrangeira era tão confiante na lealdade do amigo que jamais se ataria a um dia desconfiar de qualquer coisa que viesse dele. Entre tremores de frio, ela lhe lançou um sorriso fraco.
— Desculpa aparecer assim... Você foi a única pessoa que veio à minha mente. Pensei que talvez pudesse me ajudar — soltou sem restrições, mirando envergonhada a inexpressão do maior. Por um momento, segundos depois de tocar a campainha, se arrependera de estar ali. Arrependeu-se por ter sido impulsiva e deixado ser levada por suas emoções, as quais lhe conduziram diretamente para alguém que, por mais que soubesse que poderia acabar com o que ela estava sentindo, não merecia ser envolvido na turbulência que eram os seus problemas. Por mais amigos que fossem, já havia feito muito por si, ao ponto de envergonhá-la. Mas agora ele já estava de frente para si, aguardando por respostas. Ou, até mesmo, tentando digeri-las.
Depois de alguns míseros segundos refletindo e reproduzindo em pensamentos as palavras ditas pela garota, caiu na realidade deparando-se finalmente com o que estava acontecendo diante os seus olhos. Era real, não uma mera ilusão. Ela estava de volta.
— A-ah, certo — piscou algumas vezes, afastando-se da entrada para lhe dar passagem. A garota entrou rapidamente no apartamento, não suportando mais aquele frio impiedoso que fazia lá fora. Sua carne toda tremia, mesmo ela evitando demonstrar fisicamente essa reação.
notou a maneira na qual ela tentava parecer forte, mas por debaixo daquela máscara impenetrável, ele sabia que existia uma garotinha insegura que muitas vezes não sabia lidar com suas próprias decisões. — Você deve estar sentindo frio, certo? Vou buscar uma toalha para se secar.
Após receber uma confirmação da amiga o rapaz correu para o próprio quarto e demorou-se por lá uns poucos minutos. Enquanto isso, no tempo em que aguardava voltar de dentro do cômodo, ficou estática no centro da sala de estar. Observava tudo bem atentamente, confirmando que nada havia mudado desde a última vez que estivera ali.
continuava tendo um gosto sofisticado para decoração e era apegado as suas coisas. Viu em cima da estante repleta de livros, que as várias fotografias compartilhada entre os dois haviam dado lugar a um tocador antigo de disco, um quadro de pintura abstrata que mesclavam cores frias de algum artista desconhecido por si e outros pequenos detalhes que não se ativeram a sua curiosidade em querer reconhecê-los.
De maneira meio melancólica, mordeu um sorriso triste. Não sentiu-se surpresa em constatar que o agora não é mais como o antes. Talvez jamais voltasse a ser. Não poderia exigir que fosse diferente pois o tempo havia passado, afinal. Uma hora ou outra eles se deparariam com a realidade insólita que cada um buscou seguir. Por mais triste que isso soasse.
— Aqui está.
aproximou-se do corpo menor, vendo-a ainda encarar o canto superior da estante. Seus olhos também capturaram as imagens daqueles objetos que, para si, possuíam significados totalmente distintos (e desconhecidos) por qualquer outra pessoa.
Principalmente à ela.
— Eu precisava fazer algumas mudanças em casa e acabei decidindo que elas ficariam melhores em outro lugar — ele se justificou, rapidamente. Não queria que a garota se sentisse magoada com sua escolha.
— Não precisa me dar explicações, ... — sorriu complacente, estendendo as mãos e agarrando a toalha limpa das mãos do outro. — Você já está fazendo muito por mim. Na verdade, sempre fez. E obrigada por isso — balançou o pano macio e cobriu-se em seguida.
Preferiu desviar o seu olhar dos olhos castanhos do rapaz, sentindo-se agitada outra vez. Alguns pensamentos que deveriam ter sido banidos da sua mente voltavam à tona, fato que a deixou um pouco mais sensível — e suscetível a desmoronar.
— Eu nunca fiz o suficiente por você, . — o homem negou, balançando levemente a cabeça. — Mas sempre fiz aquilo que estava ao meu alcance. E, se você passar a ver minhas ações como algo que deve ser retribuído, também passaremos de amigos para bem feitores. E eu não quero que isso aconteça.
Ela aquiesceu.
— Você tem razão.
O olhar de ambos se cruzaram e, dessa vez, provocando instantaneamente uma reação incômoda de agitação no estômago do . Sentia-se um tolo por ter essas reações; já tinha passado da fase imatura de adolescência há tempos, agora não deveria mais se sentir dessa forma. Para se livrar dessa sensação buscou um meio de fazê-los mudar aquele clima estranho que, para si, era mais do que poderia suportar antes de perder por completo o controle.
— Aceita algo quente para beber? — a perguntou de uma vez, mudando sua postura. — Posso preparar um chocolate quente para nós dois e depois poderemos conversar com calma.
— Tudo bem.
Ele lhe sorriu fraco.
— Volto em um minuto.

•xXx•
possuía boas habilidades na cozinha e como havia dito anteriormente, em um minuto já se tinha sobre a bandeja inox duas xícaras fumegantes de chocolate cremoso com chantilly. A bebida estava pronta, contudo, não se sentia da mesma forma.
Apoiou-se com as duas mãos sobre o mármore frio da ilha, tombando a cabeça para baixo e respirando fundo. Soltou o ar devagar pelos lábios, direcionando seu olhar para a sala de estar. Há quanto tempo não a via ali, daquele jeito, recostada em seu sofá enquanto pairava de modo pensativo? Fazia muito tempo, realmente, porém ela continuava linda, até mesmo estando com os cabelos sem forma, úmidos e meio embaraçados. Linda da mesma maneira que o coração do sempre a guardou, da forma como nunca se permitiu esquecer. O coração do rapaz bombeou mais forte, desacostumado com tal cena. Ele sabia que sua amiga havia mudado, ele podia sentir isso. Entre tantas estações ela se derreteu, floresceu, irradiou. Por isso não precisava mais dele.

"Ela não precisa mais de mim
Quanto mais eu a quero, mais a minha realidade fica pesada
Eu quero correr até você agora mesmo"

Estes pensamentos não saíam da sua mente, por mais difíceis que fossem. Um misto tão imensamente intenso de emoções. Suspiroso, pegou a bandeja e arrastou os pés até estar próximo à mulher. Ela o observou em silêncio colocar as xícaras acima da mesa de centro, em seguida, oferecer-lhe.
Nenhum dos dois parecia estar pronto para dizer algo. Apesar do silêncio absoluto entre eles, somente com a chuva soando ao fundo, ambos não se sentiram tão desconfortáveis quanto acharam que seria. Na verdade, nunca houve situações embaraçosas e desconfortáveis entre os dois. Bom... não até aquele dia.
— Como esperado... — a mulher falou depois de saborear a bebida, com a xícara ainda próxima dos lábios. De certo modo, tinha ciência que se não fosse ela a dar o primeiro passo para quebrar com aquele clima, passariam o restante da noite entre olhares e palavras não ditas. E, afinal, ela quem veio atrás dele, no mínimo lhe devia algumas explicações. — Senti falta dos seus dotes culinários — riu de si mesma.
Contudo, o rapaz apenas se atentou ao sentido condicionado daquela frase. Apenas disso? — sentiu-se tentado em lhe perguntar, mas o medo de ouvir uma resposta que o magoaria era ainda maior. Não achou a mesma graça que ela, mas lhe lançou um sorriso enviesado.
— Quando você voltou?
Era uma pergunta simples, de fato, mas a mulher hesitou por alguns segundos antes de respondê-lo.
— Há uma semana — mordeu a pele macia do lábio inferior, desviando os olhos para a xícara entre seus dedos. — Pedi ao que não dissesse nada, por enquanto. Eu precisava terminar algumas coisas...
— Ele sabia sobre isso?
Por não observá-lo, não sabia qual era a expressão que carregava em sua fisionomia, mas era audível para ela o suspiro frustrado do amigo. Imaginou que ele ficaria decepcionado com a revelação, por isso não quis ser direta.
— Sim, ele já sabia.
— Uau... — o rapaz soltou, meio irônico. Não estava acreditando que havia feito isso consigo. Mais do que qualquer outra pessoa, o sabia como o amigo se sentia em relação à e a distância entre os dois. Sabia tão bem o quanto sentia a falta dela. Mas, o que mais o chateou mesmo, foi lembrar que duas noites anteriores a essa o tinha dito que não conversava com a amiga já fazia um tempo, por isso não sabia muito sobre como ela estava... E esse tempo todo ela estava tão perto. — Pensei que não havia isso entre a gente...
Soltou um riso sem humor, sustentando a imagem da mulher à sua frente, por mais que ela não lhe retribuísse o contato visual.
— Não fica chateado com ele, . Fui eu que o pedi para que não contasse a você, a ninguém, na verdade. Eu que escolhi ser assim...
Finalmente o encarou de volta, mantendo a troca de olhares.
— E por quê? Por que quis que fosse desse jeito?
Ambos já haviam desistido de terminar de beber o achocolatado. Agora, o que importava era somente a sinceridade entre eles.

"Todos os meus momentos são passados ansiando por você"

fechou forte os olhos, evitando que as suas palavras sinceras saíssem livres por sua boca. Ele não poderia fazer isso.
— E-eu... — ele encarou-a novamente. Seu coração disparava sob o peito. — Se pelo menos você tivesse uma pequena noção do quanto eu senti a sua falta...
O não poderia saber, mas, sentenciado por suas palavras, o coração de também falhou algumas batidas. A mulher sentiu o peso das suas escolhas lhe subjugarem ali mesmo, fazendo-a se arrepender. Fazendo um nó invisível incomodar sua garganta.
— Me desculpe, . Eu realmente não queria que...
Então a primeira lágrima se desprendeu do rio formado em seus olhos. E depois da primeira cair, muitas outras surgiram, uma atrás da outra, banhando o rosto sem maquiagem da brasileira. Ela não conseguiu terminar de dizer o que queria; desejava poder fazê-lo enxergar que a sua intenção era boa ao não avisá-lo sobre sua volta.
já tinha tantos problemas para resolver, não gostaria de passá-los para o amigo, pois sabia que ele o faria se pudesse.
se assustou ao vê-la daquela maneira tão frágil. E como instinto, rapidamente a decepção que lhe afetava deu lugar à irremediável sensação de impotência. O rapaz poderia suportar várias coisas — ele convive até hoje com seus sentimentos —, mas tornava-se completamente desarmado quando a via chorar.
Ao ouvi-la romper em soluços, abraçada ao próprio corpo, não esperou por mais nada e apenas se arrastou para mais perto da garota, delicadamente tocando os seus ombros e a fazendo se virar para si. Antes de consolá-la, ele a chamou pelo apelido antigo.
— Tudo bem, você não precisa dizer mais nada. Está tudo bem.
Puxou-a para que descansasse a cabeça contra seu peito, afagando os cabelos em um carinho cuidadoso. Tê-la tão próxima de si, entre seus braços, o fez se sentir um verdadeiro perdedor. Entretanto, a ação do maior só colaborou para que o choro da garota se intensificasse, ganhando maiores proporções. O barulho da chuva competia contra os gemidos sôfregos de . E naquele momento, o se questionou por quanto tempo a amiga vinha suprimindo aquelas lágrimas.
— Na verdade, eu não sei o porquê de estar aqui... — ela confessou entre soluços. — Eu não deveria, .
— Ei, eu continuo sendo o seu melhor amigo, não é? Pode me dizer o que está acontecendo, huh — ele praticamente sussurrou contra seus cabelos.

"Compartilhe a sua dor comigo
Eu estou correndo até você agora"

— Eu te conheço tão bem ao ponto de sentir o quanto você está se esforçando para isso. Então me conte, . Seja sincera comigo.
Entre suspiros fortes e fungadas, a garota limpou as lágrimas com o dorso das mãos, mesmo que fosse uma atitude inválida já que o seu choro continuava a molhar seu belo rosto, agora avermelhado.
— Eu não sou uma mulher forte, . Nunca fui. E depois de ter sido abandonada... eu desmoronei, simplesmente.
Ao tomar fôlego, ergueu seu rosto e se afastou minimamente, apenas para pode vê-lo enquanto falava.
— Passei noites em claro, chorando e me culpando por tudo ter acabado. Ele foi embora afirmando que não daríamos mais certo, que ele precisava de um tempo — não precisava que ela dissesse nomes, pois ele já o conhecia. Conhecia e odiava o cara que levou para tão longe a pessoa que mais amava. — Mas eu ainda amo tanto ele, ... Não posso viver desse jeito.

"O mundo constantemente faz você ficar a um passo de distância de mim"

Sim, ele sentiu a distância entre eles retornar. Sua respiração cada vez mais falhada se tornava.
— Eu tenho certeza que se ele te fez sofrer por tanto tempo, esse cara não merece nada que venha de você — falou com toda sinceridade, contendo-se ao máximo para não xingá-lo dos nomes mais baixos. Mas, por mais odioso que aquele homem pudesse parecer aos olhos do , ele ainda sentia inveja de si; por dois motivos específicos, aos quais poderiam ser absolutos. O primeiro, era que ele tinha o amor da mulher por quem era apaixonado. E, o segundo, é que ele já não a amava mais. — Como alguém não consegue valorizar a mulher incrível que você é, ? Isso é incabível.
— Mas ainda dói tanto aqui — ela apertou forte o tecido da blusa acima do seu peito esquerdo, indicando aonde doía. — Ele não me ama mais... Eu sei disso.
suspirou, alcançando as mãos finas da menor e as trazendo para si, cobrindo-as sob as suas próprias. Ato que a fez observá-lo atentamente, entre arfares e suspiros de choro.

"Ela não precisa mais de mim
Eu anseio ainda mais por você mesmo que essa realidade seja dura"

admirou aquele rosto banhado de lágrimas, o nariz de ponta rosada e os olhos grandes e marejados que capturavam displicentes as suas reações. Assim como o tempo, sua amiga também havia passado. Passara de uma jovem imatura para à mulher apaixonada, cujo coração sofria por um outro homem que não fosse ele. O tempo deles já se passou... Tudo o que um dia eles poderiam ter construído juntos, agora não é mais do que sonhos improváveis.
— Às vezes eu sinto inveja dele, . — num sussurro baixo, disse. E por mais que ele desejasse não encará-la nos olhos por medo do que viria a ser sua reação, ele se forçou a mantê-los nivelados. — Daquela pessoa que não te ama mais.

"Se conseguíssemos transmitir todos os sentimentos que estão dentro dos nossos corações, o medo que fica no espaço entre a compreensão e o mal entendido não existiria"

A mão aquecida tocou a pele ainda gélida da mulher, passeando o polegar sobre as sardinhas de sua bochecha corada. Os olhos estrangeiros tornaram-se ainda maiores.

"Você, que preencheu meus dias que antes não tinham fragrância"

— Fique aqui, ... Não descanse aqui só por um momento. Em vez disso, apenas fique — pediu, como se a implorasse. — Chore o quanto quiser. Derreta entre as estações. Exprima tudo que estiver dentro de ti. Porque tudo vai ficar bem, . Eu estou aqui.
Ambos mantinham os olhos fixos um no outro, os quais tremiam de ansiedade. O rapaz tomou o ar para dentro dos pulmões, apertando com um pouco mais de força a mão que segurava a palma pequena da amiga. Antes de voltar a falar algo, ele desviou seu olhar do dela para observar os lábios ternos da garota, que estavam meio abertos por forçar uma respiração desregular.
— Eu sei, eu sei. Me confessar desse jeito, tão repentinamente, pode acabar complicando tudo. Mas, eu não consigo mais esperar por você. Eu quero correr até você agora mesmo. Pois todos os meus momentos são passados ansiando por isso — fechou os olhos, os apetando com força. — Não aguento mais te ver distante, . Porque eu te amo... muito.
A mulher sentiu-se momentaneamente aturdida com aquela confissão. Seus lábios se desprenderam, porém, não balbuciavam absolutamente nada. Apenas o silêncio. O choro quis lhe retornar ainda mais intenso, tendo a mente um completo embaraço. Seu coração encolheu contra o peito, muito mais machucado.
— Há quanto tempo? — sussurrou com a voz quase falha. Há quanto tempo ele a amava? Por quanto tempo ele a escondeu esses sentimentos de si? desejou, mais do que tudo, que o tempo parasse ali mesmo.
Ao notá-lo novamente, ela viu que não eram somente as suas lágrimas que caiam ali. também chorava.
— Desde sempre.

"Acredite que todos os meus momentos são dedicados a você"

— Não existe uma data exata, eu... simplesmente te amei.
A mulher balançou a cabeça, desaprovando o que havia escutado.
Afastou-se do rapaz, desfazendo qualquer contato entre eles.
não poderia imaginar, mas, por muito tempo atrás, era ela quem o amava. Só que agora esse amor tinha sido transferido para outra pessoa, e ela achava impossível transferi-lo uma segunda vez.
— E só agora que você me diz isso? — mordeu o riso irônico que lhe quis escapar. Ela nunca imaginou que poderia se sentir traída pelo melhor amigo. Sentir-se magoada por ele e por si mesma. — Você me pediu para ser sincera contigo, mas nem você mesmo conseguiu ser sincero com o seu coração. Nós poderíamos ter sido diferente, ...
"Ela não precisa mais de mim"

— Evitaria termos que passar por isso.
Levantou-se sem desviar os olhos das lágrimas do rapaz, deixando a toalha sobre o couro do sofá e engolindo a seco.
— Obrigada por me consolar... Mas agora eu preciso ir.
Deu as costas para seguir até a saída, tendo a visão embaçada devido à inundação salgada em seus olhos. Rumou praticamente às cegas, engolindo os soluços e a trave presa na garganta. O mundo inteiro parecia orbitar em sentido contrário, num looping infinito, com os pensamentos constantemente preenchidos pelas imagens de momentos inesquecíveis que vivera. ocupava grande parte deles, competindo acirradamente com o homem cujo o seu coração ainda pertencia.
Seus passos eram apressados, assim como as batidas arritmas do coração. Estava tão atordoada que mal se apercebeu quando o frio intenso da chuva passou a abatê-la. Gradativamente suas roupas voltavam a ficar encharcadas, pesando seu corpo para baixo. As lagrimas já se mesclavam com as gotas espessas da chuva.
!
Ouviu seu nome ser gritado de longe. Sabia à quem aquela voz pertencia por isso não parou, pelo contrário, fez de seus passos ainda mais ligeiros. O frio daquela tempestade fazia com que todo o seu corpo se debatesse em espasmos, dificultando que ela voltasse ao próprio controle.
! Você não precisa ir embora de novo!
Exprimindo fortemente os olhos, a mulher puxou o ar para os pulmões e os soltou de volta em forma de desabafo.
— Será que você não entende, ? Eu não posso fazer mais nada por nós dois! Não se pode recuperar o tempo perdido.
Abruptamente o braço feminino fora alcançado pelo rapaz, o qual a virou para si, prendendo-a pelos ombros sem machucá-la. Uma descarga elétrica os fixou ao chão, fazendo ambos imóveis e exasperados.
— Você sempre foi péssima com mentiras, . — retrucou. As respirações descompassadas se mesclando ao clima gélido. — E, sim. Eu realmente sempre fui um covarde quando o assunto era você, e talvez eu não tenha sido sincero com os meus sentimentos por todos esses anos, mas... Agora eu estou aqui para fazer diferente.
Apertou um pouco mais os ombros dela, partindo a distância entre os dois ao dar dois passos à frente.
— Basta você aceitar.
Os dois permaneceram sob um silêncio absoluto. Um observando as feições tão próximas do outro, memorizando os detalhes específicos daquela noite. Receoso, esperou com certa aflição por qualquer mínima rejeição da mulher, afinal, ele nunca a forçaria a fazer nada que não quisesse fazer. E depois de alguns segundos, ao não vê-la realizar qualquer tipo de reação que o fizesse entender que não consentia com aquela aproximação, que ele passou a diminuir o limite entre seus corpos, daquilo que era considerado como 'seguro'.
Os olhos escuros do apreciaram a chegada desejosa dos lábios femininos da amiga. Antes que os tocasse, porém, a viu fechar os olhos ao tê-lo a centímetros de si e não pode evitar sorrir com isso. O toque de seus lábios surtiu um efeito imediato no coração de ambos que dispararam contra o peito, também fraquejando o equilíbrio da garota. Ele a segurou com mais propriedade, tendo firmeza em cada toque. Suspirosos, os dois deram-se a liberdade de aproveitar somente o momento, sem pensar nas consequências que surtiriam depois de retornarem à pesada realidade. O contato sutil aos poucos foi ganhando intimidade, aprofundando e os envolvendo cada vez mais. Era uma experiência totalmente nova, onde a descoberta dos lábios ternos e sabores múltiplos era verdadeiramente excitante. tinha quase certeza de que nunca conseguiria esquecer do sabor intrigante daquele beijo, de cada sensação e arrepio que percorreu o seu corpo. Era revigorante, ao ponto de aquecer o seu coração em meio à tormenta.
— Então... isso seria o seu 'sim'? — ele a perguntou na expectativa de finalmente tê-la para si, logo após desfazerem-se do beijo.
Os olhos esperançosos do rapaz vibravam num brilho apaixonado ao mirá-la, entregando a qualquer um que os vissem que estava intrínseco, irredutível e loucamente cativado por um amor insólito.
Contudo, o olhar dela não retribuía o mesmo amor. E duramente percebeu isso antes de qualquer outra coisa.
— Eu ainda amo ele, ... — ela suspirou frustrada, o encarando. — Isso só demonstra que estou confusa — apossou-se da mão alheia que segurava o seu maxilar e lentamente a retirou dali, dando um riso sem humor. — Eu sinto muito.
Lançando à ela um sorriso triste, o rapaz assentiu, dando dois passos para trás.
— É exatamente como eu tinha imaginado — engoliu a seco, dando de ombros. As lágrimas querendo vir a todo custo. — Você já não precisa mais de mim, . Mas, posso te dizer só mais uma última coisa? — ele prosseguiu depois de vê-la aceitar seu pedido: — Ainda quero correr até você, como agora.


Fim.


Nota da autora: Sem nota.



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