Capítulo 18
2 de Julho
Circuito Silverstone – Inglaterra
- Que porra, Verstappen!
Max gira nos calcanhares a tempo de ver andar em sua direção com passadas firmes e uma expressão de fúria na face.
- Que merda foi aquela? – ela questiona quase derrubando o capacete da mão quando aponta simbolicamente para a pista atrás de si.
- Você me não me deu passagem, eu forcei o vácuo. – ele dá de ombros e cruza os braços.
As pessoas ao redor dos dois prestam atenção na conversa atentamente. Eles estavam nas margens das garagens e o carro da pilota vinha sendo trazido em cima de um guincho, com a lateral completamente destruída.
- Você não forçou um vácuo, você me pressionou contra a merda do guard rail! – ela esbraveja.
- Foi uma manobra agressiva, já devia estar acostumada com meu modo de direção. Se não quisesse ter escapado a zebra, era só ter reduzido a porra da marcha. – ele diz com um sorriso cínico nos lábios.
- Não estamos na corrida, é o caralho de um treino livre, seu imbecil! - ela grunhe e esbarra forte no braço do piloto para continuar caminhando até o boxe da McLaren.
Lá o seu carro com o número 13 arranhado é colocado em suspensão para os técnicos avaliarem o estrago.
- O treino classificatório é amanhã de manhã. – ela lamenta e se aproxima de Andreas – Foi muito grave?
O homem coça a barba castanha no queixo e analisa a lateral do carro de longe. Os mecânicos já providenciavam a retirada das peças para avaliações mais apuradas.
- Aparentemente foi superficial. – Andreas diz sorrindo de lado. – Vamos ter um pouco te trabalho, mas a maior prejudicada foi a lataria. Não se preocupe, vai estar pronto para amanhã.
Ela respira aliviada e entrega o capacete ao seu tio, que está a encarar Max fixamente com olhos raivosos.
- Esse cara... – ele diz entre dentes.
- Eu sei. – ela revira os olhos respirando fundo. – Ele consegue me tirar do sério.
Fabio dispersa o olhar do piloto e solta ar pelas ventas antes de se direcionar à sobrinha, preocupado: - Você está bem?
- Estou. Não foi nada demais. – ela diz sentando-se na banqueta de frente ao painel de controle da engenharia. – É só que... – ela tira as luvas das mãos, uma por vez – Já estamos na casa da escuderia, indiretamente há mais pressão nessa corrida que em qualquer outra. – ela dá de ombros – Há o dobro de fãs, de público e esse cara ainda fica...
- Ei, ei, ei. – Fabio a interrompe, chamando sua atenção. – É uma corrida como qualquer outra. Você só precisa se concentrar mais e não deixar ninguém tirar o seu foco. – ele se aproxima para falar mais baixo: - Por quê? tem alguém te pressionando? Se tiver é só falar que eu preparo as minhas ferramentas de tortura.
- Não. - ela faz uma careta e ri fraco – Eu só estou incomodada porque estamos na décima corrida e eu ainda não cheguei a um pódio. Estando aqui esse incômodo triplica.
Fabio sorri docemente e acaricia o ombro dela.
- Você sabe que não pode comparar a sua temporada na F2 com essa, certo? – ele questiona arqueando uma sobrancelha.
- Eu sei. – ela assente. – Mas imaginei que a essa altura do campeonato já teria pego um segundo lugar, no mínimo um terceiro.
- . – ele olha diretamente em seus olhos – O nível de dificuldade deste campeonato é o dobro do que estava acostumada. Estes aqui são os melhores carros, engenheiros e pilotos do mundo, incluindo você. – Fabio sorri – Você já chegou em quarto lugar umas duas vezes, como em quinto e o mais tardar em oitavo, e isso na Fórmula 1 são posições muito boas. Na classificação geral você está entre os cinco primeiros, ficando acima até do Vettel, que já foi tetracampeão mundial.
- Eu sei, mas...
- O Checo só alcançou a vitória de uma corrida depois de competir 190 corridas, sabia? – Fabio a interrompe e ela franze a testa, incerta.
- De onde tirou isso?
- Da página da Fórmula 1 que fala sobre algumas curiosidades. – o tio informa. – A primeira vitória dele foi ano passado e ele já tem dez anos de carreira.
- Ele é um piloto muito bom. – ela assente, refletindo.
- Muito bom. – Fabio concorda. – Assim como Norris, que também não alcançou o pódio na temporada de estreia e o Mick, que sequer chegou a pontuar ainda.
- O carro do Mick é uma droga, até ele concorda com isso. – ela diz e eles riem, descontraindo o clima. – Ele é muito bom para a Haas.
- Sim, mas a questão também é o nível da concorrência. – Fabio persiste. – Leva-se um tempo para pegar tanta experiência quanto os demais que já estão aqui. É um processo que todos têm que passar.
Ela suspira.
- Tem razão. – ela sorri fraco e abraça o tio de lado. – Obrigada por sempre me colocar nos trilhos. – Liza diz verdadeiramente – Você sempre diz que não tem vocação para ser pai, mas tem sido uma figura inspiradora desde sempre. Eu te amo e tenho muito orgulho do que nos tornamos.
- Eita, ganhei uma declaração assim, de graça?
Liza ri.
- Eu estou tentando trabalhar mais esse negócio do de falar mais o que eu sinto pelas pessoas com quem me importo. – ela explica.
- Sendo assim, sempre às ordens. – Ele bate continência. – Também te amo, pequena.
Eles se abraçam por alguns instantes e se afastam.
Como um furacão, Sandy entra na garagem à passadas rápidas com o rosto vermelho. Ela passa os olhos por todo o ambiente e ao encontrar a cliente, segue em sua direção.
- Eita, - Liza diz à Fabio quando vê a loira vir ao seu encontro com um olhar psicótico – Coisa boa não deve ser.
- Não vem com notícia ruim agora, não. – Fabio resmunga quando ela os alcança. – Eu acabei de colocar ela para cima.
Liza sorri.
- Sinto muito, mas isso é importante. – Sandy declara e vira-se para , que murcha o sorriso do rosto. – Perdemos o caso contra a FIA.
A pilota sente o estômago gelar.
- O que? – ela indaga levantando-se da banqueta.
- Não. – Fabio cruza os braços e balança a cabeça em negativa – Isso é impossível. Os caras demitiram toda a gestão que estava envolvida com o esquema, praticamente se declararam culpados.
- O júri voltou atrás quando o Felipe se recusou a prestar o depoimento à nosso favor como única testemunha que tínhamos. Sem ele não temos provas além de especulações de Angelo, René e toda a diretoria, o que não representam nada. – Sandy revela e os dois suspiram surpresos. – Os advogados da FIA conseguiram contornar a situação e anularam o caso. – ela engole em seco – Segundo o júri, há casos mais agravantes para se tratar em um tribunal.
- O que? – Fabio indaga chocado. - Ela podia ter se machucado!
- Por que o Felipe deu para trás? – Liza indaga à Sandy. – Ele não estava sob proteção judicial? Não tem como eles terem ameaçado ele de novo.
- Não, não acho que eles tenham o ameaçado. – Sandy suspira. – Ele deixou o caso por livre e espontânea vontade. Nosso erro foi não ter feito um acordo benéfico para ele.
- Mas ele não tinha te prometido que seria testemunha?
- Sim, mas há pouco tempo saiu na mídia que ele vai ser um dos pilotos da Carlin Motorsport na temporada que vem. – a loira fala – Contrato com uma construtora em ascensão, o garoto não quer estar envolvido em polêmicas.
- Filho da puta! – bate na mesa, atraindo a atenção de seus mecânicos. – Como ele pôde?
- O moleque não é lá flor que se cheire, . – Fabio diz cuidadosamente – Devíamos desconfiar que ele não cumpriria com a palavra só por estar se sentindo culpado.
- Mas e os outros, a gestão, o Pedro? – ela questiona desesperada. – Vão voltar normalmente, como se nada tivesse acontecido?
- A gestão antiga não vai voltar, ao menos para a FIA mostrar ao público que eliminou o mal pela raiz. Coisa que nós aqui sabemos que não é verdade. A podridão vem lá de cima, dos magnatas. – Sandy diz – Já o Piquet... Também não tínhamos provas contra ele então a superlicença dele não vai ser suspensa... – ela respira fundo – Teremos que torcer para que ele simplesmente amadureça.
- Não acredito. – ela ri inconformada. – Eu não acredito que eles conseguiram sair ilesos. – ela volta à empresária. – Não tínhamos outra testemunha?
Sandy se aproxima para falar mais baixo, mesmo que os demais na garagem já tivessem voltado aos seus afazeres: - Tínhamos o . Mas envolver ele judicialmente num processo que tem o seu nome, poderia levar a FIA acreditar em vínculo entre...
- Não, claro. – ela a interrompe. – Envolver ele está completamente fora de questão.
O silêncio cobre o trio.
Sandy olha copiosamente à Liza, vendo os olhos da cliente ficarem cada vez mais úmidos.
- Eu sinto muito, mon cherri. – ela diz sentida. – Eu fiz tudo que estava ao meu alcance...
Ela levanta a mão para interromper a mulher e assente com um sorriso tristonho no rosto.
- Não foi culpa sua, Sandy. Obrigada por tudo o que fez. Eu só... – ela limpa a garganta, a voz fanha. – Me deem licença, por favor.
Dito isso ela sai rapidamente da garagem, com a visão embaçada e um nó na garganta.
está limpando o rosto quando sai do vestiário do autódromo, aquela fora a primeira porta aberta que ela havia encontrado para se fechar e liberar toda a sua frustração em lágrimas.
Não sabia quanto tempo havia passado ali uma vez que não estava com seu celular ou um relógio qualquer, mas considerou ser um longo período já que as luzes artificiais haviam sido ligadas e o céu ao lado de fora passava a adquirir a cor alaranjada.
Ela anda pelo corredor vazio. Quando passa pelo a primeira abertura lateral encontra que assim que a vê, caminha rapidamente ao seu encontro.
- Ei, você sumiu. – ele diz com a voz preocupada.
- Precisava de um tempo sozinha. – ela diz com a voz rouca.
O monegasco olha ao seu redor e ao checar que estavam sozinhos naquela encruzilhada de corredores, ele a toma em seus braços.
- Fabio me contou sobre o julgamento. – ele diz acariciando os cabelos da mulher – Eu sinto muito, ma belle.
- Eu estava tão confiante. – ela lamenta envolvendo os braços na cintura dele e afundado o rosto na curvatura de seu pescoço. – Já havíamos até comprovado que a punição que eles me deram havia sido injusta, a gestão foi demitida... – ela se interrompe num suspiro – Eu realmente pensei que iria ter justiça.
- Talvez eu possa ir até o tribunal e...
Ela balança a cabeça em negativa de imediato.
- Não. – ela afasta o rosto minimamente para olhar em seus olhos – Eu não deixaria você arriscar a sua vaga. Já falamos sobre isso. – seus olhos verdes têm a sombra de compaixão – Já foi. O caso foi anulado e arquivado, não temos mais o que fazer. O que me resta é aceitar. Eu só... – ela solta o ar pesado de dentro de seus pulmões – Não consigo ficar cem por cento tranquila e simplesmente seguir em frente. Esse constante medo de que a qualquer momento alguma coisa pode acontecer está cada vez mais difícil de ir embora.
a aperta ainda mais em seus braços e beija o topo de sua cabeça.
- Queria poder fazer isso passar. – o monegasco enuncia – Eu realmente queria poder evitar que você passasse por isso.
Os dois estavam em um momento tão íntimo e entrosado que sequer percebem que ao final do corredor a figura corpulenta de Max Verstappen assistia a cena com o olhar perverso e sorriso maldoso nos lábios.
Ele percebe que ali tinha muito mais que uma simples amizade e sabia que poderia se aproveitar dessa informação preciosa.
- Isso foi um pódio, Andy? – Liza indaga com a garganta seca, ainda com as mãos no volante e percorrendo o trajeto final após o show de fogos e algazarra em celebração depois que ela passara pela faixa quadriculada pela última vez.
- “P3, porra. P3, garota!” – o engenheiro fala através do rádio. – “Parabéns, você mereceu. Que corrida!”.
- Puta que o que pariu, garotos! – ela grita emocionada. – Porra! Nós conseguimos! Conseguimos!
- “Parabéns, !” – ela ouve a voz de Zak soar em seus ouvidos – “Foi uma corrida do caralho!” – ele vibra.
- Yeeeeeeeeeeeeah! – ela comemora a plenos pulmões. – Parabéns rapazes, vocês foram incríveis!
- “Primeiro pódio na Fórmula 1!” – Andreas diz. – “Muito, muito, muito bom!”.
ainda está radiante quando desce do carro e é ovacionada por um público gigantesco. Diversas pessoas com cartazes e faixas com seu nome festejavam por ela.
Depois de um péssimo final de semana, com batidas e notícias desastrosas, ela não poderia estar mais que satisfeita com a sua conquista.
A sensação de subir o degrau no palco, em frente aquele mar de fãs do seu esporte do coração, não poderia ser descrito em palavras. Ela só tinha de aproveitar.
Ao soar a música tema, Liza com um sorriso no rosto abre o champanhe e joga o líquido contra Hamilton, que havia chegado em primeiro, e Daniel como segundo.
O australiano tira suas sapatilhas rapidamente e despeja a bebida de sua garrafa nelas, erguendo-a na direção da pilota e ao britânico.
- É uma tradição dele. – Hamilton a explica quando vê a careta da jovem para a sapatilha em suas mãos. – Ele faz isso em todo pódio.
Dito isso o britânico vira a sapatilha, bebendo todo o conteúdo.
Liza ri.
- Sendo o Danny eu não esperaria nada menos bizarro. – ela dá de ombros e espera Daniel encher a sapatilha novamente para que pudesse brindar com ele. – Já que estou na água, que seja para me molhar. – ela diz e vira o líquido na boca ao mesmo tempo em que o amigo, e o líquido escorre por seu pescoço e macacão já encharcados.
Eles gritam e voltam a se molhar com o restante do champanhe com sorrisos radiantes no rosto. Quando os jatos acabam, eles se abraçam e acenam ao público.
Era uma imagem bonita de se ver.
Histórica.
A primeira mulher à alcançar um pódio na Fórmula 1.
Apesar de uma grande conquista, a sensação de dever cumprido ainda não estava completa, para isso ela teria que ganhar. E gastaria até a última gota do seu suor para tornar aquilo realidade.
Depois que é encerrada a apresentação e eles descem do palco, o trio entra nos bastidores, já se secando com toalhas e saldando suas equipes. Liza está a abraçar o parceiro de escuderia animadamente quando um pelotão da Red Bull com Max à frente invade a sala pós-pódio.
Aquilo não podia significar boa coisa.
O rosto do holandês estava vermelho e ele parecia zangado, sequer esperou se afastar da pilota para esbravejar na direção dela: - Sua pilotinha de merda.
Liza automaticamente franze a testa e se vira em sua direção.
- O que está acontecendo aqui?
- Vencer trapaceando é fácil. – Max diz. – Aquela ultrapassagem na última curva foi completamente ilegal.
- Calma, Verstappen. – Hamilton diz sério.
Liza ameniza o rosto, finalmente entendendo sobre o que o holandês falava.
- Você diz o drible que fiz em você e tomei a sua posição de terceiro lugar?
- Você me jogou contra a zebra! – ele esbraveja. – Meu carro rodou nas britas!
- Era só você ter reduzido a marcha. – ela repete a fala do piloto com um sorriso convencido o rosto. – Se fosse tão bom quanto fala, não teria rodado.
- Sua filha da... – ele fecha a mão e antes que pensasse em se aproximar da pilota é impedido pela própria equipe, enquanto os colegas da McLaren e o próprio entram na frente de Liza de forma protetora.
- Tá maluco? – ela esbraveja incrédula por cima do ombro do parceiro – Você ia me bater?
Um suspiro audível de surpresa corre por cada um presente na sala.
- Não, eu não ia... – ele tenta se explicar, já mais retraído.
- Covarde! – ela o interrompe, apontando o dedo na cara dele e sendo barrada por Andreas e de se aproximar mais. – Seu moleque mimado do caralho!
- Eu não ia bater nela! – o holandês esbraveja aos homens que ainda o seguravam. – Foi uma reação involuntária, eu ia socar o ar!
- Max, não faz isso cara. – seu engenheiro diz à ele. – Você perde a razão deste jeito.
- Mas eu não ia... – ele se interrompe, respirando fundo. – Foda-se. Eu nunca bateria nela.
De repente o ambiente está em combustão, uma tremenda falação de ambos os lados para discutir o acontecimento.
- Calma, . – pede, a segurando pelos ombros.
Daniel que até então estava quieto, fato que era extremamente raro, comenta: - Ele vai dar uma de Verstappen de novo. – o australiano se vira para a pilota – Na temporada passada ele pediu a revisão em cinco corridas de toques mínimos, apenas um deles era ilegal.
- Esse cara é um palhaço. – Liza xinga depois de respirar fundo e se controlar, afastando-se da mão de Andreas que ainda estava em sua barriga e sendo amparada pelo parceiro.
Quando os ânimos se acalmam, a sala fica em silêncio.
- Me desculpem por isso, foi um mal-entendido. Foi só o calor do momento, não vai se repetir – um homem de cabelos grisalhos e olhos azuis apaziguadores, vestido com o uniforme da Red Bull, diz: – Mas nós ainda queremos recorrer aos fiscais sobre aquela última ultrapassagem. Acreditamos que seja ilegal e, sendo assim, o pódio pertence ao Max.
- Chame o fiscal que quiser, Horner. – Andreas toma a frente. – Nós sabemos que não teve nada de ilegal naquela manobra. Foi puro jogo de cintura e maestria de uma pilota talentosa.
- Nicolas, por favor. – o engenheiro chefe da escuderia azul chama a atenção do supervisor da FIA, que simplesmente dá de ombros.
- Todas as manobras são analisadas em tempo ao pódio e essa última ultrapassagem em específico foi reanalisada algumas vezes por causar o escape de um carro da pista. – o homem diz. – Mas não há nada de ilegal ali, Horner. A garota agiu dentro da regulamentação.
Andreas se vira para Christian com a face satisfeita e cruza os braços.
- Mais alguma coisa?
O homem suspira e nega de cabeça baixa.
- Vê se controla o seu piloto. – Andreas torna à falar para Horner – Da próxima vez ele pode não ter a sorte de ser parado antes de fazer besteira. Agressão não causa só a expulsão do campeonato, se ele encostar um dedo nela vai para a prisão.
As explosões raivosas de Max já eram conhecidas de longa data pelo público da Fórmula 1. Muitos já presenciaram momentos em que o piloto perdera a calma e descontara em chutes nos muros ou pneus, socos no próprio carro e empurrões agressivos em colegas. Mas tudo fora levado como puro estrelismo e a fama de arrogante ficou estampada no rapaz.
No entanto agredir uma mulher estava fora de seus princípios e ele jamais sequer pensaria em fazer algo do tipo. E por fazer com que pensassem que ele fosse esse tipo de pessoa Max fica ainda mais irritado com Liza.
De semblante duro ele encarava a pilota. No entanto antes que ele pudesse falar qualquer coisa o pelotão da Red Bull finalmente se retira, arrastando o piloto junto de si, e é quando Liza respira aliviada.
- Eu tinha plena certeza que não tinha feito nada de errado, mas como já tiraram isso de mim uma vez... – ela suspira. – O importante é que o troféu ainda é meu. – Liza sorri e ergue o monumento requintado em mãos.
A equipe celebra.
Mais tarde naquela mesma noite Liza está a comemorar em seu quarto de hotel na companhia do namorado. Eles haviam combinado de pedir comida nos aposentos e passariam a última noite em Baku da maneira mais romântica e depravada que poderiam, com direito a muito sexo, peças de roupas rasgadas e posições inusitadas.
havia acabado de chegar ao quarto e encontrou a mulher seminua, vestida apenas com um lingerie de renda preta, com ligas na perna, meia calça e saltos altos que ressaltavam o volume do seu bumbum brasileiro.
- Délicieux. – ele diz rouco aproximando-se vagarosamente dela enquanto já despia de sua jaqueta e tirava a camisa por sua cabeça.
Liza sorri e se senta na cama atrás de si, esperando que o homem chegasse até ela e a deitasse por inteira na cama, ficando por cima de seu corpo.
- Estou tão orgulhoso. – ele diz sorridente – Soube que o Verstappen deu uma de Verstappen com você, sinto muito por isso, mas isso só aumenta o seu grau de visibilidade. Foi um terceiro lugar justo.
Ela faz uma careta.
- Por favor, não vamos falar sobre esse cara agora.
- Tá certo. – assente. – Só me avise se ele fizer alguma coisa assim de novo para eu ter mais um motivo para socar a cara dele.
Liza ri.
- E eu não duvido que faça isso. – ela diz relembrando do acontecimento no hospital com Pedro.
- Você é minha musa. – ele diz voltando a mirar aqueles olhos avelã. – Ma princesse. E eu seria capaz de tudo por você.
- Fico tão excitada quando diz isso. – ela sorri e desabotoa o botão da calça jeans do monegasco vagarosamente.
- E você me deixa louco só de respirar. Temos uma clara desvantagem aqui.
Liza sorri e para pôr um instante, subindo as mãos para acariciar o rosto de suspenso acima do seu. Ele segurava o peso do próprio corpo com os braços.
Ela olha fundo em seus olhos, se agraciando por cada tom diferente de verde já decorado que dançava por sua íris – que depois de reparada mais atentamente, notou-se ter uma tonificação próximo ao amarelo perto das pupilas. Os olhos dele eram uma perfeita aquarela que ela se deliciava em explorar.
A jovem nota os cílios compridos, que mesmo sem terem nenhum cuidado eram maiores que os seus; passa os dedos pelas mínimas pintas nas bochechas, cada uma em um lugar específico e único e, por último, porém não menos importante, repara a boca do monegasco. Apesar de não muito carnuda, era tão bela e doce, que a fazia se derreter por inteira tanto com palavras quanto pelo seu toque macio em sua pele.
sorri ao perceber que ela admirava-o com olhos apaixonados, no entanto ainda se arrebata quando ela declara em alto e bom tom: - Eu acho que te amo.
- O que seria “achar”? – ele questiona franzindo a testa.
Liza ri fraco.
- Eu tenho quase certeza, mas como nunca me senti assim por ninguém antes... – ela admite aos sopros. – Preciso de dados da sensação para confirmar as minhas suspeitas.
O monegasco gargalha de forma doce.
- Isso soou tão equipe tática. – ele diz aos risos.
- Não foi você quem disse que pilotos trabalhavam com estatísticas e informações concretas? – ela arqueia uma sobrancelha rindo zombeteira, recordando-se da fala do namorado no começo do ano no aeroporto de Mônaco.
sorri docemente e suspira antes de relatar:- Todo o conceito de amar é muito amplo. Pode ser descrito de diversas formas. – ele umedece os lábios – Minha mãe fala que para se ter um amor saudável é preciso que se estabeleça respeito e reconheça os limites de cada um. Que tenha admiração, honestidade sobre seus desejos e sentimentos, respeitar limites e as amizades individuais, interesse pela vida e projetos um do outro e esclarecimento sobre as divergências na relação. – ele sorri – Amar incita a ação de estar perto, de estar na companhia do outro e se sentir completo e satisfeito. Tem-se paixão, intimidade, comprometimento... – ele dá de ombros – resumidamente é isso.
Liza sorri abertamente.
- Dados identificados e confirmados. – declara acariciando o rosto do namorado, que ri fraco – Eu te amo, .
abre um sorriso radiante.
Ele já sabia que amava Liza há algum tempo e sentia que era tão recíproco quanto se podia ser, dizer em voz alta tornava tudo mais real e intenso, por mais clichê ou bobo que isso soasse. E eles sentiam que aquela era a hora certa.
Como o bom francês que era, não podia negar que adorava um romantismo e ele poderia declarar com exatidão que aquele era um dos momentos mais felizes de sua vida.
- Independente da variedade de línguas existentes, nenhuma delas vai conseguir expressar o quanto eu te amo. – ele diz e beija a ponta do nariz de Liza. – Je t’aime pour toute ma vie (te amo por toda a minha vida).
- Você acabou de deixar e minha declaração no chinelo. – eles riem e aproximam os rostos.
Antes que selassem o beijo, porém, escutam batidas na porta de entrada do quarto.
Liza ri da expressão frustrada de .
- Como é que você diz mesmo? – ele questiona com a testa franzida – O próprio “empata foda”?
- É a comida. – ela ri se desvencilhando do corpo dele, que cai ao seu lado, e se levanta. – Pedi comida japonesa de um restaurante que o encontrou no Instagram. Eles têm umas fotos muito bonitas de uns combinados que eu nunca tinha visto. – ela diz procurando por seu robe e vestindo-o rapidamente assim que o encontra sobre a poltrona ao lado da cama. – Eles têm uma barca enorme e eu tive que pedir ela. Vamos ver se assim você não mata essa vontade de comida japonesa que fala há semanas.
Ela dá um nó da frente do robe que batia na metade de suas coxas e pega sua carteira enquanto aos risos segue na direção do banheiro.
- Vou mijar. – ele anuncia e em poucos minutos ela escuta o jato sendo disparado no fundo do vaso.
Ela ri.
- Pelo menos fecha a porta. – ela fala alto.
- Eu já te peguei fazendo coisa pior. – ele diz do banheiro e ela gargalha recordando-se do momento embaraçoso.
- A intimidade é um caminho sem volta. – Liza comenta seguindo na direção da porta de entrada.
Ela a abre, já com água na boca pensando no jantar, mas seu rosto se contorce em choque quando vê Max Verstappen parado em sua frente com o mesmo sorriso cínico no rosto.
Ele corre os olhos da cabeça aos pés de Liza, notando a alça do sutiã de renda que não era coberta pelo robe caído no ombro, os saltos extravagantes e as meias características. Ela se encolhe inconscientemente.
- Noite romântica? – ele questiona.
- O que você quer aqui, Max? – ela rebate a pergunta, seu humor muda drasticamente.
- Confirmar uma suspeita. – ele diz e seus olhos seguem pela fresta aberta da porta, onde ele consegue visualizar um descontraído sem camisa sair do banheiro e se jogar na cama pouco desarrumada.
Liza rapidamente fecha a porta atrás de si, saindo do quarto. Mas era tarde demais.
- Para alguém que me disse para repassar o regulamento para assimilar as regras, você mesma não prestou atenção em alguns detalhes. – ele pronuncia com o canto dos lábios levantados.
engole em seco.
- Eu sabia que você não é a boa moça que finge ser.
- Tá legal. – ela sopra impaciente. – Sabe sobre nós. E agora, o stalker vai fazer o que?
- Não vou te chantagear, se é isso que pensa que vou fazer. – ele informa. – Não sou esse tipo de pessoa.
- Então que tipo de pessoa você é?
- Do tipo que não aceita hipocrisia. – Ele diz e se afasta da pilota.
- Max... – ela sopra, mas o rapaz já havia lhe dado às costas e seguia corredor afora.
Liza respira fundo, controlando o surto de ansiedade que previu que viria. Em movimentos automáticos volta para dentro do quarto vagarosamente.
Quando ela se reaproxima da cama, nota seu olhar avoado e pergunta preocupado: - Ma belle, está tudo bem?
Liza pisca algumas vezes e foca a visão no rapaz, já ereto na cama, e em seguida sorri fraco.
- Sim, está.
- Não era a comida na porta? – ele questiona.
- Não. – ela se senta na cama vagarosamente.
- Então quem era?
A cabeça de estava um pandemônio, já se calculando todas as possibilidades de atitudes esperadas vindas de Max. Que ele era encrenqueiro ela sabia, mas não sabia o quão baixo ele poderia ser por uma vingança.
Claro que ele estava com as dores pelo acontecimento de mais cedo, e somado à circunstância de que eles não se suportavam, aquela parecia ter sido a gota d’água para o holandês.
O fato era que ali a prejudicada não seria somente e ela jamais se perdoaria se acabasse levando o tiro pela culatra por consequência de uma briga de pista.
Quanta infantilidade.
- ?!
Ela olha em seus olhos. A sua perdição.
Não teria coragem para falar à ele.
Não, não agora.
Não depois de falar que o amava incondicionalmente.
Porque se ela realmente amava-o, faria de tudo para protegê-lo. E tinha certeza sobre o seu sentimento como nunca antes.
- Ninguém de importante. – ela diz e sorri doce – Foi um engano.
A jogada genial de Max, mesmo que ele não soubesse quão agravante poderia ser, foi não ameaçar somente ela e sim o amor da sua vida.
Porque ela também faria qualquer coisa por , inclusive jogar-se aos leões para protegê-lo se preciso.
Capítulo 19
Monte Carlo – Mônaco
Um final de semana de corrida em Mônaco é uma loucura, completamente diferente do calmo e seguro ambiente que Liza havia conhecido no final do ano.
Não são apenas os fãs de Fórmula 1 que acompanham a corrida, o mundo inteiro fica interessado no Grande Prêmio no pequeno país porque é onde a nata está.
A elite se junta para esbanjar luxo em barcos, no porto, nos casinos, nas festas e tem um grande elenco de celebridades em camarotes com vista exclusiva para a pista que desfrutam do ronco dos motores. O ambiente exala dinheiro e glamour, é um evento grandioso mesmo sendo em um espaço pequeno.
A corrida é a mais antiga e prestigiada do calendário e estava entre as favoritas dos pilotos. Principalmente , quem é nascido no país e assistia às corridas da janela de seu quarto quando criança.
A pressão e o prestígio que vêm com a corrida, se um piloto fica no topo e ganha esse Grande Prêmio, é maior que qualquer outra.
Liza tem isso na cabeça quando para com suas malas na sala do apartamento de .
Estava tudo tão igual, mas tão diferente ao mesmo tempo.
Na sua última visita ao país ela não havia sido seguida por paparazzo desde o desembarque no avião até a porta do carro, não fora necessário um batalhão de segurança para afastarem os fãs com barricadas e ela não tinha precisado se esconder. Mas, ainda sim, Mônaco sempre impressionava.
- A vista daqui é incrível, adoro esse lugar. – Daniel diz passando pela pilota e seguindo na direção da varanda, que se iluminava com a luz do sol que refletia no mar.
- Vocês sempre ficam no apartamento do quando correm em Mônaco? – Liza pergunta seguindo o australiano, Carlos vem em seu encalço logo depois de deixar as malas sobre o sofá.
- Cinco suítes, videogames, terraço com mini golf, espaçoso para cacete e com uma vista espetacular. – declara apoiando-se no parapeito – Por que ele iria querer ficar aqui sozinho?
- É uma ótima forma de escapar dos fotógrafos. – Mick comenta cruzando os braços e admirando a vista.
- Vocês já sabem onde ficar. – o monegasco aparece na porta da varanda depois de uma conferida no ambiente – Mick, como você é novato aqui, deixei o primeiro quarto da esquerda para você. Boa sorte com o nascer do sol. – o grupo ri e Mick dá de ombros risonho – A governanta deixou tudo arrumado, mas se comportem e não destruam a minha casa.
Os cinco riem fraco.
- Quando tempo daqui até o Paddock da McLaren? – Liza pergunta a .
- Levando em consideração que todos os Paddocks são à beira-mar e estamos literalmente de frente para o mar, suponho que uns cinco minutos de carro. – o rapaz responde.
- Já te chamaram? – Daniel a questiona – Os compromissos só não começam amanhã?
- Temos uma entrevista às seis da manhã com Will Smith e a Sandy está preocupada porque não estou no quarto ao lado dela para ela me acordar. – Liza dá de ombros – Apesar de ela estar feliz de eu não estar no hotel, porque diz que a portaria está um pandemônio de tanta gente famosa que entra e sai, fotógrafos etc., ela tem medo de eu me atrasar.
- Will é hilário. – Carlos relata – Na última corrida aqui nós jogamos tênis junto, Hamilton quem me convidou. Passei o jogo inteiro sem fôlego de tanto rir.
- Tom Brandy já arremessou uma bola para mim de um barco ao outro. – Daniel diz e rostos confusos se viram para ele.
- Por que dessa informação aleatória? – Liza questiona risonha.
- Também foi na última corrida aqui. – ele dá de ombros. – Nunca é demais ressaltar o quão bom o cara é.
- Tá legal. – diz rindo e vira-se para Liza. – Eu vou à casa da minha mãe dar um alô. É quinta-feira, então ela está livre. Você vem?
Ela olha com dúvida à .
Max não havia falado mais nada desde quando deixara seu quarto em Silverstone, sequer havia mudado o seu comportamento com a pilota. Levando em consideração que a diretoria da FIA ainda não havia declarado punições para ela e , ou a polêmica de dois pilotos estarem namorando ter aparecido nas páginas de fofoca até então, ela deduzira que o holandês havia finalmente tomado uma atitude sensata: ficar de bico fechado.
Contudo, exatamente pelas coisas não terem sido jogadas aos ares, ela ainda estava relutante em ser flagrada com em qualquer tipo de situação – uma vez que ele tinha sido apontado como o affair da pilota mais de uma vez. Ela queria ter o dobro de cuidado.
Liza queria rever a adorável sogra, mas seu receio era ainda maior.
O monegasco parece entender o que se passa em sua cabeça, pois fala: - É a menos de dez minutos daqui, vamos de carro com insulfilm saindo diretamente da garagem à outra e aposto que a mídia está mais interessada em seguir Will Smith, Kim Kardashian, as dezenas de outras celebridades ou, no máximo, o Lewis do que prestar atenção em nós.
Ela sorri.
Que mal uma saidinha rápida faria, certo?
- Tá bom. Vamos lá. – ela entrelaça os seus dedos, dada por convencida.
- Fiquem a vontade e, mais uma vez, não destruam a minha casa. – ele diz aos rapazes e a guia porta afora.
- Não, ! – Liza esbraveja enquanto o rapaz ri alto. – Isso com certeza foi falta!
Na tela da televisão da sala do apartamento o personagem do jogo virtual de futebol está caído na grama do estádio, fazendo movimentos sequentes indicando a perna, que fora alvo de um chute de outro jogador controlado por .
- Não aguenta jogo de corpo, vai jogar xadrez. – o rapaz diz rindo e Liza lhe atira uma almofada do sofá. Ela atinge o balde de pipoca doce que a mãe do monegasco havia mandado pelo casal para os rapazes.
Depois de uma visita agradável a matriarca ainda cozinhou alguns petiscos para que o grupo não tivesse que comer industrializados, comida congelada ou “gastar dinheiro” à toa. Mãe sendo mãe.
- Você tem aprendido muita gíria, muppet. – Carlos diz ao britânico. – Acho que a pode ser uma má influência para você.
- Só não falo para você chupar as minhas bolas Carlota, porque não tenho bolas. – a brasileira diz, concentrada com a volta do jogo e o grupo ri.
, que está sentado ao chão com a namorada entre as suas pernas repara que o celular no bolso da jaqueta da jovem está vibrando.
- Ma belle, seu telefone. – ele diz puxando o aparelho e colocando no colo dela.
Ela abaixa a cabeça rapidamente para ver a tela do celular e ao ler “Desconhecido” dá de ombros e volta ao jogo.
No entanto quando o celular toca pela quinta vez consecutiva ela entrega o controle nas mãos do namorado, pega o celular e sai varanda afora para atendê-lo.
- Alô.
- Senhorita ? – uma voz masculina soa.
- Eu mesma. – ela estala a língua, descontraída.
- Aqui quem fala é Jean Todt.
Liza sente seu corpo gelar imediatamente.
Ai, caralho. Uma ligação do presidente da FIA?!
- Estou ligando porque gostaria de convidá-la para um almoço casual no meu iate amanhã. – o homem fala e a pilota engole em seco, tentando ser o menos audível possível.
- Eu posso checar com a minha empresária se encaixa na agenda...
- Oh, não, senhorita. Não será necessário, já providenciei que o compromisso para o seu almoço fosse cancelado. – ele a interrompe – Seria preferível também se fosse sozinha. Precisamos ter uma conversa particular... – ele limpa a garganta – São assuntos apenas do seu interesse.
Liza sente as pernas fraquejarem.
- Esteja pronta amanhã às onze e quinze. Meu motorista vai te buscar.
- Ham... Não sei se estarei no hotel por volta deste horário. – ela tenta se desvencilhar.
- Não se preocupe, ele te buscará diretamente no apartamento onde está hospedada. – ele diz e ela sente uma falta de ar. – Aliás, bonitas cortinas. Seria essa cor Turquesa?
A ligação é finalizada quando Liza gira pelos calcanhares, dando de cara com as cortinas azuis atrás das portas da varanda do apartamento de .
Ela só consegue soprar: - Merda.
Pelo resto da noite Liza fica pensativa, quieta e preocupada. Ela fica calculando e revisando todas as alternativas para uma negociação com Jean e se teria uma possibilidade de safar daquilo tudo.
Ela mal dormira a noite de tamanha agonia e desespero, por tal fato Guida tivera uma manhã trabalhosa ao tentar encobrir as olheiras com maquiagem para a entrevista com o ator famoso – que se tivesse sido em outra ocasião Liza teria ficado completamente ansiosa e animada.
A apresentação é rápida, as perguntas criativas e eles têm que fazer um passeio pela costa de Mônaco com câmeras os filmando pelo máximo de ângulos possíveis enquanto jogavam conversa fora sobre carros.
Teria sido bacana, teria.
No entanto a cabeça de Liza não para de martelar e após o final da entrevista ela não fica surpresa quando repara a sua completa falta de humor.
- Nunca te vi tão quieta. – ele diz. – Principalmente em uma entrevista tão interativa.
Liza suspira olhando o horizonte por cima do mar, eles estavam no iate retornando ao Paddock da construtora junto da equipe.
- Eu só não estou em um bom dia, até pedi desculpas ao Will pela minha falta de empolgação.
O parceiro senta-se ao seu lado.
- Aconteceu alguma coisa? – questiona atencioso.
A pilota desvia os olhos do azul do mar ao azul dos olhos de , completamente claros com o reflexo do sol, só para sorrir forçosamente e negar com a cabeça.
- Acho que já te conheço o suficiente para dizer que está mentindo. Que sorriso mais falso. – ele arqueia uma sobrancelha e Liza ri fraco, passando a mão pelo rosto.
- Eu estou bem, sério.
a analisa com olhos estreitos, mas por fim sorri acolhedoramente: - Sabe que pode contar comigo, não sabe?
Ela automaticamente sente um nó formar em sua garganta, por isso faz apenas assentir. Suas emoções estavam começando a ficar fora de controle e ela sabia que se abrisse a boca poderia começar a chorar, o que acabaria com a sua pose.
- Podemos discutir por algumas desavenças em pista, zoar um com o outro, encher o saco, fazer um complô de compra de salgadinho da máquina do hotel, mas isso porque somos uma família. E me preocupo com você. – diz e pega sua mão. É quando Liza sente os olhos lacrimejarem, então ela puxa o parceiro para um abraço.
- Obrigada, . – diz verdadeiramente, apoiando o queixo em seu ombro.
- Você está chorando? – ele questiona afastando-se para encará-la nos olhos.
Liza ri anasalada.
- Eu não estou chorando, você está. – ela repete a frase do parceiro e eles riem.
Quando eles chegam ao Paddock são direcionados à reunião pré-treino para a discussão sobre as estratégias usadas na corrida da vez. Liza tenta ao máximo prestar atenção no que Andreas e Zak diziam, mas era inevitável não olhar para o relógio em seu pulso de minuto em minuto para conferir quanto tempo faltava para seu encontro com o presidente.
Depois que a reunião é encerrada ela se aproxima de Sandy discretamente.
- Eu vou ao apartamento de para cochilar um pouco durante o almoço, estou com uma dor de cabeça que está acabando comigo. – mente.
- Percebi que você não está cem por cento hoje, mesmo. – a loira diz e começa a vasculhar sua bolsa com uma mão. Assim que tira uma cartela de remédios de lá, empurra na direção da pilota e diz: - Come alguma coisa e tome ao menos um desse. Coloque o despertador para a uma e meia da tarde, você tem que chegar ao treino ao menos com uma hora de antecedência para despertar.
Liza sorri e assente, aceitando a cartela.
- Quer que eu vá com você? – a empresária pergunta quando ela dá de costas, já ameaçando partir. – Os rapazes estão lá?
- Não, acho que eles têm entrevistas a manhã toda e o vai almoçar com o Carlos no porto. Mas não se preocupe, o Peter vai me deixar lá em segurança e eu vou dormir de qualquer forma. Não precisa ficar lá para assistir isso. – ela informa interrompendo momentaneamente sua saída rápida.
- Tudo bem. – Sandy se aproxima para abraçar Liza rapidamente. – Se cuida. Se não estiver se sentindo disposta para o treino à tarde eu falo com Zak, ele com certeza vai entender. – a pilota assente – Se precisar de mim estarei no hotel, também vou tirar um cochilo. Não sei como vocês aguentam essa constante troca de fuso horário.
Elas se despedem e a jovem continua seu caminho até a saída.
Quando Liza entra no banco de trás do carro e cumprimenta o motorista, já puxa seu celular do bolso para mandar uma mensagem direcionada ao namorado.
“Vou ficar presa no Paddock durante o almoço, a Sandy quer refazer algumas fotos para o marketing. Vejo você mais tarde.”
Assim que ela se despede de Peter e entra no prédio, recebe a resposta: “Tudo bem, Arthur apareceu por aqui e vou almoçar com ele na casa da minha mãe. Se precisar de alguma coisa, me avise. Beijos, te amo.”
“Também te amo.”
Ela troca de roupa, tira aquela com os símbolos da construtora e coloca uma casual, penteia os cabelos e passa um brilho nos lábios ressecados. Quando está conferindo seu reflexo no espelho recebe uma mensagem de um número desconhecido notificando que o carro já estava à espera dela.
Liza coloca os óculos escuros e o lenço sobre a cabeça para passar pela rua sem chamar a atenção, mas é quase impossível quando nota que é uma limusine que a aguarda ao lado de fora.
Um homem corpulento, vestido inteiramente com terno preto e óculos escuros abre a porta para ela sem nada dizer. Quando eles se acomodam e o motorista parte com o carro escuro, completamente coberto por insulfilm preto, ela pergunta: - Para onde vamos?
- Vamos à Larvotto Beach, o iate do Senhor Todt está atracado lá. – o motorista informa e ela encosta-se no banco de couro, respirando fundo e em uma sequência vagarosa, para se acalmar. Seus batimentos estavam acelerados e a sua dor de cabeça falsa já não era tão falsa assim.
Liza pensava, se ele ainda não havia comunicado aos demais membros da diretoria e ambos os pilotos continuavam como confirmados no GP talvez ele queira colocas panos quentes no assunto. Afinal, aquele regulamento não era lá grandes coisas. Era?
Nossa, como ela queria acreditar que poderia ser aquilo.
Ela continua a pensar, talvez ele só peça que eles sejam mais cuidadosos do que já estavam sendo. O que a faz se perguntar quando Max poderia ter sacado o que estava acontecendo e xingando-o mentalmente por dar com a língua nos dentes. Quão estúpida ela foi por pensar que ele deixaria aquilo passar.
Quando Liza desce do carro e atravessa a praia de areia branca com o horizonte de águas cristalinas à sua frente, ao lado dos homens de terno para chegar até o cais, suas pernas estão bambas. Ela acompanha os homens até o gigantesco iate de dois andares e sobe com a ajuda de um deles, que a oferece a mão.
Liza segue pela lateral do barco até o deque principal completamente fino e requintado, onde em uma mesa espalhafatosa e que transbordava de todo tipo de comida acomodava um homem vestido com roupas de linho nobre, cabelos grisalhos, óculos da Prada e barriga farta.
Quando ele a nota se aproximar, se levanta de imediato.
- , é um prazer finalmente conhecê-la. – ele fala apertando a mão que a jovem ergue. – Querida, não se preocupe. Pode se sentir à vontade aqui, ninguém irá nos perturbar. – diz indicando o lenço e óculos de sol.
- Pensei que seria bom me prevenir, já que deixou claro que queria que nosso encontro fosse privado. – ela diz e se acomoda na cadeira que o senhor cordialmente puxa para ela.
- Todas as mídias que são tiradas dos meus pilotos passam pelas minhas mãos antes de serem divulgadas. – ele diz sentando-se à sua frente. – Não precisa se preocupar.
Liza arqueia uma sobrancelha.
- O que significa...
- Que eu já sabia sobre você e Leclerc desde o primeiro dia? – ele indaga sorrindo. – Sim.
Liza não sabe se fica aliviada por saber que o homem está a par da informação há tanto tempo e não havia feito nada, ou assustada por todo esse controle. Ou seria perseguição?
- E este encontro particular tem qual intuito, já que o meu namoro não é novidade para você? – ela indaga retirando o lenço da cabeça e os óculos do rosto, permitindo que a brisa salgada bata livremente contra seu rosto e a claridade se apodere de seus olhos.
- Não vamos nos apressar, estamos em tempo. – ele diz gentilmente. – Tive a delicadeza em pesquisar pelos seus pratos favoritos e hoje estamos servidos com as mais variadas comidas brasileiras da melhor qualidade. – ele apresenta a mesa – Confesso que estou curioso, elas parecem ser deliciosas.
Liza corre os olhos à sua frente no almoço disposto com diversos pratos em porcelana fina e é quando finalmente nota. Seu estômago ronca quando ela identifica a famosa feijoada, com direito à couve e torresmo; Baião de dois; Moqueca; Carne de sol; Feijão tropeiro e até mesmo Acarajé.
- Vamos atacar. – ele diz com expectativa.
Liza sabia o que Jean estava fazendo, ele queria amaciá-la antes de jogar a bomba, ela podia sentir. Por tamanha ansiedade, apesar de muito saborosa, ela não conseguira aproveitar o almoço como deveria. A comida dançava em sua boca e descia com dificuldade pela garganta.
Enquanto ela está a cortar o mesmo pedaço de carne em seu prato pela terceira vez, perdida em pensamentos, o deque é invadido por uma garotinha de cabelos dourados, com olhos azuis chamativos e vestido rodado. Parecia uma boneca.
Ela estava saltitante e corre na direção de Jean.
- Vovô, vovô. – chama sua atenção animada. – Olha o desenho que eu fiz. – e levanta um pedaço de papel na altura dos olhos do homem.
- É uma belíssima obra de arte, meu amor. – ele diz docemente. – Se me permitir, vou enquadrá-lo para pendurar em meu escritório.
A garotinha olha para ele com o sorriso esperto e declara ao colocar a pintura de baixo do braço: – Você primeiro tem que pagar por ela, vovô. Como nos leilões. É um quadro único e muito valioso.
- De fato ele é. – ele diz aos risos. – Quanto você quer por ele?
- 10 euros. – a garotinha diz decidida, as bochechas rosadas saltadas em evidência.
O homem olha da garota à Liza com uma expressão perplexa e teatral no rosto, tudo para encantar a criança.
- É um valor muito alto, não acha, ?
Liza sorri, apesar do nervosismo.
- Se eu fosse você acrescentava mais uns zeros. – a pilota diz e é quando a garotinha finalmente coloca os olhos sobre ela.
- Oh, meu Deus, é aquela pilota, vovô! – ela diz entusiasmada. – A que a gente assiste pela televisão!
Liza arqueia as sobrancelhas em surpresa e vira-se à Jean.
- Ela mesma, meu amor. – ele diz à neta e no mesmo instante a garotinha abandona a pintura ao chão e corre para o lado da mesa em que Liza está.
- Eu sou uma grande fã. – ela diz radiante e estende a mão formalmente, Liza sorri com a cordialidade infantil. – É um prazer te conhecer, eu sou Julieta.
A pilota afasta-se um pouco da mesa e volta-se para a garotinha para apertar a mão pequena.
- É um grande prazer, Julieta.
- Vovô, tira uma foto da gente? – a criança pede e sobe no colo de depois de pedir licença. Ela se acomoda sobre as pernas da mulher e abre um sorriso cativante.
A pilota sorri para o celular do homem à frente delas, que disparada uma sequência de três flashes. Julieta salta de volta ao chão empolgada e corre na direção do avô, para pegar o celular em mãos e se maravilhar com a foto.
- Vou mostrar à mamãe. – ela diz e corre iate á dentro.
Os dois a observam ir até sua figura se perder por entre as vertentes dos aposentos.
- Ela é uma graça. – Liza elogia. – E muito esperta. Quantos anos têm?
- Dez. – o homem diz sorrindo, voltando-se ao seu prato.
- Presumo que ela frequente muitas corridas. – diz antes de tomar um gole do suco disposto em uma taça à sua frente.
- Só as de Mônaco. – ele revela. – A mãe dela gosta de esbanjar o glamour que meu filho fornece à ela e faz algumas aparições nos eventos que rodeiam o GP. As demais, Julieta acompanha pela televisão. É fascinada pelas corridas. E, agora, por você.
- Fico lisonjeada. – ela sorri fraco.
Jean sorri e tira seus óculos de sol, relevando de onde Julieta havia puxado os olhos azuis chamativos. Ele apoia os cotovelos em cima da mesa e cruza os dedos a frente do rosto. Seu semblante se torna mais sério, menos convidativo.
Ele percebe Liza engolir em seco involuntariamente.
- Sabe, , a Julieta não foi o único público que a sua vinda para a Fórmula 1 trouxe. – ele admite. – A audiência das nossas corridas, procura de ingressos e produtos, assim como o interesse pelo esporte aumentaram exponencialmente pelo gênero feminino. O que deixou o nosso pessoal completamente satisfeito. – o homem aponta a mulher – Você é a nossa máquina de dinheiro da vez.
- Fico feliz em saber. – e ela não mentia ao dizer.
- No entanto, - ele suspira pesadamente – sua vinda também chamou a atenção do grupo de elite da Fórmula 1 por um fator específico. E com isso quero dizer os magnatas que investem a maior porcentagem de dinheiro no nosso evento.
- Que fator seria esse? – ela induz.
- Que o esporte que havia sido criado para enaltecer a figura masculina e impressionar as mulheres está entrando em conflito quando uma mulher consegue superar o próprio homem. E isso não os deixou nem um pouco felizes.
Liza analisa a fala do homem e fica se perguntando se havia compreendido o que ele realmente quis dizer. Ela franze a testa, umedece os lábios vagarosamente, mas por fim ri em incredulidade.
- Deixe-me ver se entendi. – ela fala estralando os ossos dos dedos das mãos, era uma mania que tinha quando tentava controlar os seus instintos. Principalmente aqueles que a induziam voar no pescoço daquele homem por cima da mesa – Eles estão incomodados com o fato de eu estar pontuando mais do que alguns homens no grid?!
- Entenda, querida, eu não sou preconceituoso. – ele se adianta em esclarecer, com a face mais afetuosamente possível – Particularmente acho muito revigorante esse sangue novo para dar uma repaginada no nosso esporte. Nos modernizar à atualidade é necessário. Mas ainda há homens, com muito poder aquisitivo, que abomina essa situação e estão dispostos a fazer de tudo para que isso tenha um fim.
Liza sente seu estômago congelar quando o homem puxa um envelope médio na cor amarela de dentro de um bolso interno do paletó casual e a entrega por cima da mesa.
- Coisas como estas podem te fazer cair. – ele declara enquanto ela abre o pacote.
Lá ela encontra fotos suas com na Itália, na primeira vez que se encontraram; em Barcelona, mostrando a interação íntima deles durante todo o final de semana – principalmente depois do acidente onde notava-se o cuidado dele com ela; em Sakhir, fotos tiradas por drone do alto do prédio da proximidade deles no jantar; em diversos países que haviam visitado pela Fórmula 1, como em Melbourne no jantar com os pais da pilota; os incontáveis cliques de Mônaco nas festas de final de ano e as mais recentes, do dia anterior, quando eles haviam ido visitar a mãe do monegasco, dentre outras.
As fotos não eram apenas suspeitas como reveladoras, evidenciando beijos trocados, abraços, as mãos dadas e olhares apaixonados.
Ela passa os olhos vagarosamente por cada revelação, sua garganta seca enquanto o coração impulsionava o sangue por suas veias ferozmente, dado o aumento de suas batidas.
Ela estava tão perdida que mal ouve quando Jean diz: - Eu não queria ter que apelar para esse tipo de coisa, mas como a diretoria já relatou uma denúncia sobre vocês dois eu não tenho muito o que fazer.
Liza desvia os olhos das fotos e os pousam no homem.
- O que vai acontecer agora? – pergunta com a voz rouca.
- Eu teria que seguir com o regulamento e como punição suspender a sua participação e do Leclerc até o final desta temporada. - podia jurar que se não estivesse sentada, ela provavelmente teria caído pela súbita queda de pressão que a atinge – Mas, - ele diz atenuante e ela fica atenta às suas palavras – como não queremos que isso aconteça, já que a sua participação tem trazido lucros crescentes ao nosso capital, eu lhe proponho um acordo.
Liza deixa as fotos caírem sobre seu colo e passa a mão pelo rosto quente.
- O que você quer? – ela indaga desconfiada.
- Não é novidade para ninguém que a Fórmula 1 é um dos esportes onde mais se investe e circula dinheiro no mundo. Estamos falando de trilhões de dólares mensais. – Jean informa e ela assente – E parte das negociações, as de valores mais exorbitantes, são embolsadas em apostas dos nossos magnatas em cada GP. Eles são um grupo seleto de pessoas, incluindo a mim, que investem muito dinheiro por trás das organizações fiscais. Em resumo é dinheiro não fiscalizado que supera quantias até dos maiores patrocinadores do evento.
Liza suspira pesadamente antes de questionar: - E onde eu entro nisso?
- Você, minha querida e talentosíssima pilota, – ele sorri de forma ardilosa – vai desclassificar alguns de seus adversários de acordo com o apontamento das estatísticas do meu jogo.
- Como é? – ela diz no impulso, o semblante expressando o seu choque.
- Algumas batidas, uns pequenos acidentes, fechadas em curvas perigosas que não os façam cruzar a linha de chegada. – Jean explica – Qualquer coisa que acabe com a possibilidade de os pupilos dos meus adversários vencerem.
- Quer controlar os resultados das corridas? – Liza indaga num sopro quase sem voz, o homem assente com um sorriso inabalável no rosto. – E para isso precisa de um ceifador, que seria eu?!
- Preciso de um aliado. – ele reposiciona a fala, como se aquela tornasse todo o esquema menos corrupto.
- Isso é um absurdo, não vou te ajudar a fraudar os resultados dos GPs! – ela diz ofendida.
- Não é como se fosse uma novidade nesse esporte, é a forma que as corridas são posicionadas através das décadas. – ele diz. – Ou você pensou que tudo isso se resumia à habilidade dos pilotos e potência das melhores máquinas? – ele ri sádico. – Eu decido qual das escuderias vai vencer a temporada, sou eu quem decido o piloto que será o campeão, porque, afinal, é do bolso destes magnatas que se saem os fundos, o dinheiro do prêmio e todo o patrimônio de aplicação para que a realização deste evento seja possível.
Liza está boquiaberta.
Durante todos esses anos ela teve a ingenuidade de acreditar que toda aquela emoção era real, que todos que estavam ali eram merecedores por serem dedicados à um propósito e que lutavam e tinham a possibilidade de vencer por simplesmente talento. Mas estava completamente enganada.
- Pense bem, , o seu envolvimento com isso é perfeito. – ele continua – Mataremos dois coelhos em uma cajadada só. – ele sorri – Você cairá nas classificações, eu ganharei as apostas e você e seu namorado continuarão no campeonato. Agradável à todos.
estava farta de viver em um mundo onde homens com dinheiro ditavam as regras da sociedade. Ela havia sido mais uma marionete destes homens quando trabalhava com exportações, assim como diversos outros trabalhadores ao redor do globo que não tinham tanto poder aquisitivo quanto eles.
Ela correu atrás do seu sonho para, além de provar que o gênero não era determinante para ter sucesso no mundo automobilístico, para fugir das mãos de toda essa massa corrupta.
Mas novamente ela estava ali como mais uma das marionetes jogando conforme as regras deles.
Não poderia estar mais decepcionada. Consigo mesma por ser tão ingênua e com eles que permitiram-na pensar que tudo era justo, limpo e honesto.
Pobre Senna, ela pensa. Na história do ídolo vencedor não havia somente celebrações, mas a injustiça e penalidades não cabíveis – como a decisão polêmica no GP do Japão que acarretou uma suspensão de seis meses fora das pistas.
Naquela época fora até questionada, mas abafada pela mídia e logo esquecida pelo público e os demais. Mas não ele, que passou um por um tempo sombrio, o qual muitos questionavam sobre a sua sanidade mental.
Naquele momento ela conseguiu finalmente entender, ao menos ter uma ideia, do que ele pode ter passado naquele antro de mentiras e farsas. Ele, um homem justo e honesto na pressão de uma rede de enganação. Viver com isso deixou-o amargurado, insatisfeito, e sabe-se lá se não fora a razão da sua desestabilidade emocional.
- Isso é repugnante. – ela cospe entre dentes.
- É o mundo dos negócios, minha cara. – ele a corrige – Não tem que ser justo. Nunca foi e nunca será. Quem dá a maior quantia é o chefe.
Liza massageia as têmporas com olhos fechados por um instante.
- É a mesma coisa que fizeram comigo na Fórmula 2 – ela pronuncia e abre os olhos – Armaram um circo contra mim e agora você quer que eu me envolva nisso?
- Todos têm prioridades e eu sei usufruir delas para que as coisas sejam feitas de acordo com o viável à nós. – ele dá de ombros. – Pedro Piquet e Felipe Drugovich tinham as prioridades deles quando aceitaram as minhas propostas. E, se eu fosse você, pensaria duas vezes antes de tomar uma decisão. – ele pousa as mãos sobre a mesa – Porque posso fazer com que a suspensão de vocês dois não sejam temporárias, posso fazer com que nenhuma escuderia em qualquer campeonato automobilístico se recuse a recrutar vocês e por sua culpa o sonho de ser campeão do seu namorado vai ser impossível. – ele sorri formidável – Quer mesmo carregar essa culpa?
- Você comprou a sua inocência. – ela deduz e ri sem humor – Claro. Por isso Felipe deixou de ser a nossa testemunha, você o colocou contra a parede!
- O dinheiro pode comprar uma boca calada, informações privilegiadas, o melhor advogado, uma decisão do júri ou qualquer coisa que eu precisar. – ele revela, a voz subindo alguns tons de impaciência. – Portanto não pense em burlar o nosso acordo recorrendo à sua empresária, ao seu tio, seu namorado ou mesmo o seu chefe de equipe. Eu vou estar com os meus olhos grudados em você, bem de perto, e um passo fora do que eu ditar, com uma ligação as providências serão severamente tomadas.
Liza sente uma lágrima grossa escorrer pelo seu rosto, mas se recusa a secá-la ou desviar os olhos da figura do próprio diabo na sua frente.
- Você não tem vergonha? – ela questiona com a voz falha – É nesse mundo que quer que a sua neta cresça?
- É esse o mundo que ela vai aprender a ditar as regras. – ele diz pausadamente.
Liza suspira pesadamente e desce os olhos até o próprio colo, notando em uma das fotos o rosto de sorridente transcender. Seu peito dói.
Que outra opção tinha a não ser aceitar?
A jovem recolhe as fotos de seu colo e as repõem no envelope. Depois de fechado ela arrasta-o por cima da mesa na direção do homem que ainda está à olhá-la com um sorriso convencido.
- Mais alguma coisa? – ela questiona sem olhar nos olhos do homem.
- Termine com o rapaz. – ele diz duro e ela automaticamente ergue os olhos tristes em sua direção. – A FIA não admite a inflição das regras e o caso de vocês ultrapassou os limites impostos. Se algum dia essas fotos vazarem na mídia por alguma razão, seremos vistos como incompetentes e inaptos com a aplicação do nosso próprio regulamento. E uma Federação como a nossa não pode se dar ao luxo de ser envolvida em mais uma polêmica.
Ela respira fundo, controlando o bolo que subia pela garganta e por fim assente vagarosamente.
- Posso ir? – pergunta com o resquício de voz vivo em suas cordas vocais.
- Sim, claro. – ele diz sorrindo amigavelmente e se levanta educadamente. – Foi um almoço agradável, com certeza repetiremos a ocasião.
Liza engole em seco.
- Referente ao seu primeiro alvo, os meus homens te passarão as orientações. – ele diz. – Quanto ao Leclerc, que isso termine ainda hoje. E – ele aponta para o envelope com as fotos, que retorna ao seu lugar no bolso do paletó – eu tenho como saber se não o fizer.
Enquanto a jovem é levada de volta ao apartamento do namorado ela pensa no quão o fundo do poço poderia ser profundo e se desta vez ela conseguiria sair de lá.
Capítulo 20
chega ao apartamento no final de um dia cheio e cansativo repleto de entrevistas desgastantes, jornalistas inconvenientes, pressão de toda uma equipe, torcida da sua própria nação, celebridades soberbas, além de um treino livre fatigante.
Tudo o que ele precisava era de um banho quente para relaxar os músculos tensos, uma sessão de videogames com os colegas e uma boa noite de sono ao lado da namorada.
Contudo, antes de seguir com o seu plano para o descanso, ele segue apartamento adentro procurando por Liza, a quem pela primeira vez desde que a conhecera, faltara em um treino livre.
Ele havia mandado mensagens e até feito ligações durante toda a tarde, as quais não obtiveram retorno. E sua preocupação dobrou a intensidade quando Sandy o informara que ela estava indisposta e pediu o resto do dia de folga para repouso.
Por tal razão, ele corre diretamente ao próprio quarto, esperando encontrá-la deitada na cama vestida com um pijama ou uma camisa dele, com compressas sob a testa ou olhos, imersa em um sono profundo. No entanto, o que encontra o deixa completamente confuso.
Liza estava sentada na cama de forma ereta, com o olhar perdido na vista da porta da varanda aberta e rosto inchado, principalmente na região dos olhos. No entanto, o que mais chamara a atenção do monegasco não fora o fato dela estar vestida com roupas casuais, calçada com tênis e ter a pequena bolsa pendurada no ombro, mas sim as malas completamente feitas aos pés da cama e os armários, os quais ele separara para que ela colocasse os pertences, vazios.
- Ma belle... – ele a chama e ela parece se assustar momentaneamente com a presença do rapaz, de tão imersa em pensamentos que estava.
Ela olha na direção dele, mas não em seus olhos – fato que nota imediatamente.
- Está tudo bem? – ele questiona, aproximando-se em passos lentos. – Sandy me contou sobre o seu mal-estar. – a modo que ele se aproxima, os olhos dela fugiam para outra direção. – Me desculpe por não conseguir vir ver como estava antes, fiquei preso no Paddock...
- Tudo bem. – ela o interrompe com um sopro.
O monegasco olha as malas ao seu lado e volta sua atenção à ela com a testa franzida. As mãos de Liza estavam trêmulas, a perna cruzada balançava em um movimento frenético e automático, e seu lábio inferior estava com uma vermelhidão, indicando que ela havia-o maltratado com mordidas.
- Pode me dizer o que está acontecendo? – ele pede cuidadosamente.
Liza engole em seco, a saliva desce pela garganta de forma audível.
- Eu preciso de um tempo. – tem que se esforçar para ouvir a voz, de tão baixa que soou.
- Um tempo? – ele repete confuso, aproximando-se e parando em frente à ela. – Um tempo do quê?
A jovem respira fundo e ergue os olhos aos de , o semblante duro.
- De nós.
O monegasco franze ainda mais a testa, pensado ter ouvido errado.
- O quê? – ele questiona completamente confuso. – Um tempo de nós?
Os olhos de Liza se desviam por um instante, instáveis, mas ela volta à encará-lo para dizer com firmeza: - Isso.
O quarto é tomado por um silêncio momentâneo, que logo é quebrado pela risada de .
- Isso é um tipo de brincadeira? – ele indaga aos risos, olhando ao redor pelo quarto. – Danny está aqui para filmar algum tipo de pegadinha?
No entanto, quando ele volta à fitá-la, percebe que era o único que ria. Seu sorriso desaparece no mesmo instante.
Ele a encara em dúvida.
- Um tempo de nós? – ele volta a perguntar, desta vez em tom cético. – O que isso quer dizer?
- Quer dizer que preciso de espaço. – ela diz. – De você.
- Por quê? – questiona incrédulo.
- Preciso de um tempo para mim mesma. – ela engole em seco, desviando os olhos dos dele. – Para me redescobrir, me reinventar, me readequar à... – ela se interrompe – Eu quero me concentrar nos meus objetivos e... Sinto que estou pisando em ovos com a nossa situação.
- Você não pode estar falando sério. – ele declara descontente. – , ainda hoje pela manhã você me disse que me amava e agora precisa de espaço?
Ela suspira alto.
- As perspectivas mudam.
- Em menos de 12 horas? – ele rebate instantaneamente. – O que realmente aconteceu? É por causa daquela regulamentação estúpida sobre vínculos extracontratuais que o Nicolas falou?
Ela morde o lábio inferior, impaciente.
- Não. – ela diz.
- Então me fala o que está acontecendo porque eu simplesmente não consigo acreditar que isso não passa de uma brincadeira de mal gosto.
Liza se levanta da cama, ficando a poucos centímetros de distância do monegasco e sobe os olhos até os dele para pronunciar com convicção as palavras que quebrariam o coração do rapaz: - Eu não acho que nós dois combinamos mais.
Dito isso, ela desvia do corpo dele e caminha até as malas, ajeitando as alças das mesmas, mas para quando escuta a risada do monegasco.
Ele estava rindo.
Gargalhando.
No entanto, quando ela vira-se para checá-lo percebe que são risadas de desespero.
- Eu não sei o que dizer. – ele admite às gargalhadas. – Nós... – ele suspira alto, retomando fôlego. – Falamos sobre passar por tudo isso juntos, sobre matrimônio, sobre ter uma casa para criar as crianças e todo um futuro para você vir me dizer que não acha que combinamos mais?
Ao final da pergunta o semblante de beirava ao choro, seu queixo tremia ferozmente.
Ela simplesmente não podia continuar à assistir aquilo.
- Foi precipitado. – ela diz e se arrepende no mesmo instante quando ele morde o lábio inferior para controlar a tremedeira que se intensifica.
- Precipitado. – ele repete descrente e desta vez é ele quem desvia os olhos, passando a mão pela região da testa por vezes seguidas.
- ... – ela diz com a voz falha, ele não a encara. – Eu... Sinto muito.
- Por que disse aquelas coisas se não estava falando sério? – ele esbraveja com fúria, as veias das cordas vocais saltando no pescoço e assustando a mulher. – Eu me enganei tanto com você ao ponto de não enxergar que é esse tipo de pessoa que brinca com o sentimento das pessoas?
Liza se encolhe, abraçando o próprio corpo.
- Eu nunca quis que isso acontecesse...
- Então por que não colocou um ponto final quando teve a chance? – ele a interrompe, irritadiço. – Ou você veio à Mônaco para isso no final do ano e sentiu pena do pobre garoto apaixonado? – ela abre a boca, mas a fecha. – Foi exatamente isso, não foi? Meu Deus! – ele joga as mãos à cabeça.
- Não... – ela se reaproxima, mas estaca no chão quando ele a encara com olhos completamente magoados. – , não tem ideia do quanto isso está acabando comigo. Mas... – ela funga, sequer percebera que o rosto já estava encharcado pelas lágrimas – Eu não posso continuar com isso.
- Eu fiz alguma coisa errada? – ele questiona com a voz fanha.
- Não. – ela nega veemente. – Você não fez nada de errado.
Ele umedece os lábios com violência e dá os últimos passos que faltavam para estarem frente a frente novamente.
- . – ele chama a atenção para seus olhos úmidos. Quando eles entram em uma conexão, que era como uma estação à parte do universo feita somente para os dois, ele prensa os próprios lábios um no outro ao reconhecer a dor nos olhos dela. Um resquício de esperança brilha.
respira fundo, controlando os seus espasmos e pergunta com expectativa: – Quanto tempo você precisa?
- Eu não sei. – ela sopra.
- Ma belle, posso ver que não quer isso tanto quanto eu. Se me der uma base, um mês, dois ou quatro, eu espero, mesmo não entendendo. – ele apela, pegando em suas mãos e colando suas testas. – Se precisa tanto, disso te deixo ir se me disser que vai voltar.
Liza tem que inspirar e expirar por duas vezes seguidas para não desabar ao dizer: - Eu não sei se vou voltar.
Ela vê explicitamente a esperança dele ser atingida com uma facada nas costas. O monegasco engole em seco e dá um passo para trás, soltando a sua mão.
Ele passa as mãos pelo rosto e suspira alto, quando volta a olhar nos olhos da jovem diz aos sopros: - Je t’aime pour toute ma vie, não era? – seus olhos estão lacrimejando – O que mudou para você?
Neste instante ela tem que se lembrar da ameaça do asqueroso presidente da Federação, no esforço do monegasco para chegar aonde está, a sua busca pelo título de campeão mundial e no quanto ela amava-o.
E quem ama protege, ela ressalta a frase que se repetia em sua cabeça à cada instante durante aquela conversa dolorosa.
- Eu espero que um dia você possa entender. – ela diz, a voz quase falha.
- Ou você pode me explicar agora. – ele sugere, uma lágrima grossa escorre de seu olho.
Liza se aproxima e seca a lágrima antes que descesse pela bochecha de . Ele envolve a mão dela com a própria e sela os lábios em sua palma vagarosamente, de olhos fechados.
contém o instinto de jogar tudo ao alto e abraçá-lo.
Quando ele volta a abrir os olhos e direciona-os à ela, ela sente algo se partindo dentro de si mesma pelo sofrimento palpável expresso por eles. Ela nunca vira aquele verde tão escuro. O amarelo que dava vida à eles haviam sumido. E era tudo por sua culpa.
Liza recolhe a mão delicadamente e suspira pesadamente.
Sem ter mais nenhuma condição de ficar ali ela rapidamente recolhe as malas e sai do quarto, deixando Leclerc desacreditado para trás.
Quando ela chega ao final das escadas repara que os quatro amigos a encaram num misto de choque e confusão.
- O que está acontecendo? – Mick questiona preocupado. – Vocês...? – ele se interrompe visto o semblante arrasado da amiga.
Claro que eles tinham ouvido, ela pensa, já exausta pela ideia de ter que explicar algo.
- Eu estou indo para o hotel. – ela ignora os olhares indagatórios, respira fundo e atravessa a sala. – Não se preocupem, ficarei bem.
Os rapazes se entreolham enquanto ela caminha decididamente até a porta de saída.
- Vai com ela. – Daniel sopra à . – Ela obviamente não está nada bem.
O rapaz não pensa duas vezes e corre até o andar de cima para buscar alguns de seus pertences no quarto.
Enquanto isso Mick aproxima-se de Liza e impede que ela abra a porta.
- Ei, - ele diz aos murmúrios para ela – o que foi?
Liza fixa o olhar na madeira branca da porta ao dizer: - Nada.
Seu rosto está molhado, vermelho e inchado. Ela sabia que estava mentindo na cara dura, mas não tinha condições de dizer algo a mais.
O rapaz procura por seus olhos e quando ela finalmente o encara, ele entende que ela precisava de tempo. Assim ele a puxa delicadamente para um abraço e afaga a cabeça dela em seu ombro.
retribui o abraço do amigo, envolvendo-o pela cintura e aperta-o forte. Eles ficam por algum tempo abraçados e em silêncio, ninguém na sala se atreve a dizer uma palavra sequer.
Quando retorna com uma mochila nos ombros, eles se separam e ela se despede dos demais com um aceno de cabeça.
- Mick, dá uma força para ele por mim. – ela murmura na direção do amigo.
O rapaz assente lentamente com um sorriso tristonho no rosto e se afasta.
- Deixa eu te ajudar com isso. – diz ao pegar uma das malas dela e abre a porta. Juntos, os dois saem do apartamento.
Durante todo o caminho feito pelo táxi, ambos os pilotos permanecem em silêncio, Liza perdida em seus pensamentos enquanto tinha receio de falar ou fazer qualquer coisa. Ele notou que a jovem estava à beira de um descontrole e se o britânico dissesse um A, ela poderia desabar a chorar e ele não tinha muita experiência em lidar com mulheres chorando. Então preferiu, pela primeira vez, se calar.
Eles chegam ao hotel e são recebidos por dezenas de fotógrafos, fãs e jornalistas, e são auxiliados até a entrada pelos seguranças do próprio hotel. Durante o trajeto até o saguão de entrada Liza abaixa a cabeça e tenta ao máximo esconder o rosto dos flashes porque sabia que os registros daquelas fotos deixariam Jean mais que satisfeito.
Liza e agradecem aos seguranças e se encaminham à recepção. O rapaz fica encarregado de providenciar quartos enquanto ela se martirizava com a imagem de de olhos úmidos e completamente inconsolável em sua mente.
Porra, como doía.
Em poucos minutos volta com dois cartões e eles se direcionam aos elevadores. Chegando ao andar indicado, o britânico a acompanha até seu quarto e a ajuda com as malas quando o carregador chega com elas de prontidão.
Liza se senta sobre a cama bem arrumada e limpa, e passa a mão pelo edredom macio enquanto acompanhava a saída do homem depois que feito o seu trabalho. Sem sequer tirar os sapatos, ela se deita na cama encolhida e abraça um dos travesseiros fofos, com olhos vagos e vazios.
volta a se aproximar cauteloso e para de frente da cama, observando-a respirar lentamente.
- Acho que você não vai querer falar sobre isso agora. – ele deduz.
Ela não responde, sequer vira os olhos em sua direção ou muda de posição na cama. Ele só sabe que ela está viva pelo sobe e desce ritmado em seu peito.
- Eu estarei no quarto do lado, se precisar de mim. – ele diz apontando simbolicamente para trás. – É só mandar uma mensagem que eu venho correndo...
- Não. – ela diz de súbito, encarando-o com os olhos marejados. – Por favor, só... Não me deixe sozinha agora.
sente seu peito ser espremido, esmurrado e encarcerado. Ele era um rapaz emotivo e empático, principalmente quando envolvia as pessoas com quem se importava. Por isso faz assentir.
Ele tira seus tênis e se deita no lado livre da cama, por cima de todo o acolchoado. O britânico ajeita um dos travesseiros e deita de costas, com as mãos cruzadas sobre a barriga, completamente reto.
Depois de uns instantes em silêncio Liza ri fraco.
vira a cabeça em sua direção.
- O quê?
- Para quem dorme todo torto nos tatames, você está muito certinho na cama.
O rapaz ri e estica os braços para trás da cabeça.
- Eu não quero invadir o seu espaço, pelo menos até pegar no sono pesado. – ele dá de ombros – Depois disso pode ser que você leve alguns chutes, mãozada na cara ou acorde na beirada da cama.
Ela ri fraco.
- Sério, ainda fico impressionada como consegue dormir em qualquer lugar e em qualquer posição. – ela diz devido aos famosos e incomuns cochilos do parceiro.
- Uma vez fiz uma viagem com meus pais de Bistrol à Dublin em um trailer. Percorremos a costa do Reino Unido para aproveitar as praias, depois pegamos a balsa e fomos visitar uns familiares. – ele conta – A viagem durou uma semana e cada dia eu dormia em uma parte diferente do trailer. Dormi até sentado no vaso, no banheiro. – Liza gargalha – O balanço desses carros me deixa com sono.
- O que não te deixa com sono? – ela indaga ainda aos risos.
- É uma pergunta interessante.
Liza cessa o riso aos poucos.
- Seus pais ainda estão querendo se mudar para Dublin? – ela se recorda da preocupação que o colega havia comentado em algum momento.
faz uma careta ao dizer: - Sim, dizem que agora que eu já estou grande e saí de casa querem voltar às raízes. Estão só esperando encontrar a casa certa.
- São quantas horas de lá até Woking? – cidade onde tinha a sede da escuderia McLaren e ambos residiam.
- De sete a oito horas de carro e não tem viagens diretas de avião até lá, então leva cerca de cinco horas com escalas porque aparentemente é contramão. – ele diz dando de ombros. – Vai ser difícil não ter eles a menos de uma hora de distância. Mesmo que eu more sozinho eles sempre estavam por perto.
- Me lembro quando me mudei para a Itália por causa da Prema. – ela sorri com a lembrança. – Foi difícil os primeiros meses sem meus pais, principalmente meu pai. Nós somos muito ligados, assistíamos futebol juntos, íamos a bares e praticávamos algumas atividades. – ela suspira – O que me distraiu mesmo foram os treinos e a equipe da Prema, eles me acolheram tão bem. Com certeza teria ficado depressiva se não fosse por eles.
- Eu e Carlos ficávamos o tempo todo juntos quando ele morava em Woking. – revela – Tipo Batman e Robin, um sempre estava no mesmo lugar que o outro.
Liza sorri.
- Não sei como vai ser agora sem ele e meus pais. – ele limpa a garganta, tentando disfarçar o incômodo. – Por viajar muito, não tenho muito contato com os meus antigos amigos e o pessoal da equipe já é mais velho, tem suas famílias e dificilmente saímos juntos. Por isso que eu passo a maior parte das folgas no videogame e fazendo Twitch para os fãs. Meu canal já tem mais de 700 milhões de seguidores.
- Isso é impressionante, mas: Ei. – ela diz ofendida – Se esqueceu de que eu moro em Woking agora? – ela sorri – Não tivemos muitas oportunidades de sair por conta dos treinos antes de começar a temporada, mas com certeza vamos sair juntos. Você só precisa me apresentar o lugar, tudo o que conheço é o interior do meu apê e o Centro da McLaren.
sorri abertamente.
- A cidade em si não é muito agitada, tem muita área verde e de lazer. - ele informa – Mas estamos à uma hora de Londres.
- A capital da magia.
- Jurava que você ia falar da rainha. – ele ri.
- Não, o nome Londres só me faz lembrar de uma coisa. – ela sorri e os olhos do rapaz brilham em expectativa – Harry Potter.
- Aeeee! – ele celebra erguendo as mãos – Finalmente vou ter alguém para ir nos estúdios da Warner e ter uma experiência. Eu já fui várias vezes, mas o Carlos acabava com o clima porque acha bobo.
Que era um grande fã do Universo de Magia ninguém poderia negar, ele era o típico adolescente que se ludibriava com a ficção e fantasias. Talvez fosse esse o motivo para ser tão criativo e espontâneo.
E talvez fosse melhor viver na fantasia de vez em quando para encarar a dura realidade do mundo real.
- Seremos tipo Harry e Hermione. – ele diz.
- O que é muito melhor que Batman e Robin. – ela declara e eles riem.
Liza sorri e encara o rosto do amigo afetuosamente.
- Obrigada, boy. – ela sopra.
- Obrigado você, sis. – ele diz e pouco tempo depois eles são vencidos pelo sono, dormindo por cima do edredom mesmo e com a luz acessa.
O coração de Liza estava completamente em frangalhos, mas a esperança que poderia se sentir nem que for um pouco melhor com e os demais amigos lhe dão forças.
Ao menos conseguira tirar uma coisa boa no meio de tanta sujeira.
(...)
“Estamos na metade da corrida em Monte Carlo, famoso circuito de Mônaco e a situação não parece estar nem um pouco agradável para Leclerc.” – o comentarista narra.
“É, Damien, o nosso monegasco nunca esteve mais desatento.” – o outro concorda.
“Espaços absurdos, vácuos para os oponentes, além de ter travado as rodas por umas cinco vezes na curva antecedente ao túnel. Ele não fez uma boa escolha com os pneus.”
“Ele só não está pior que o Sérgio Pérez. Depois daquele toque da Benedetti na sua roda traseira parece que perdeu completamente a aerodinâmica. Caiu quatro posições e está fora da área de pontuação.”
“O toque está passando por investigação pelos fiscais da FIA e ela pode perder alguns pontos aí.”
No final da corrida, já na garagem de pesagem, Liza procura pelo mexicano entre os rostos suados e cansados dos pilotos. Ela o encontra na terceira fila e se direciona até o homem.
- Checo. – ela lhe chama a atenção. – Sinto muito pelo toque na traseira. A pista estava úmida na primeira curva e o carro acabou patinando demais.
- Está tudo bem, Benedetti. – ele sorri gentilmente. – Ainda consegui recuperar algumas posições no final. Essas coisas acontecem. É corrida, afinal.
assente com um sorriso fraco e volta ao seu lugar na fila.
Após a sessão de pesagem ela segue à sala social, onde eram dispostos petiscos, bebidas, toalhas e diversos outros aparatos para os pilotos pudessem se recompor e esfriar o corpo antes de retornar ao hotel.
A jovem prende o cabelo em um coque frouxo e pega uma toalha para colocar sobre o pescoço suado. Quando segue para a mesa onde estavam dispostas garrafas de água acaba esbarrando em .
- Desculpe. – ela diz contida e rapidamente desvia de seu corpo para pegar uma das garrafas.
Dois dias haviam se passado e ela sentia como se a sua ferida estivesse completamente exposta e tão dolorida que deixava-a em completa agonia. Tentava ignorá-la, mas tudo se tornava mais difícil ao vê-lo frequentemente e em um estado miserável.
Ela escuta uma risada sem humor à suas costas.
- Vai ser assim agora, nós mal vamos nos falar? – ela identifica a voz do monegasco questionar.
Liza respira fundo, gira nos calcanhares vagarosamente e precisa colher o resto de coragem espalhado pelo seu corpo para erguer os olhos até seu rosto.
- Desculpe. – ela diz novamente. – Sinto muito pela corrida.
- É, foi uma droga. – ele dá de ombros, o semblante visivelmente chateado.
Liza se encolhe.
- Não se preocupe, não culpo você. – ele diz. – A culpa é minha por não ter me concentrado o suficiente.
Ela engole em seco e abaixa os olhos para a garrafinha em suas mãos, já que não tinha muito que falar. Já que não podia consolá-lo.
- É isso mesmo o que você quer? – ele indaga depois de um tempo.
- ...
- . – ele a interrompe, a voz dura – Por favor, olha para mim.
Ela suspira e encara os amáveis olhos verdes.
- Eu fiquei repassando todos os momentos dos últimos dias na minha cabeça, me perguntando o que pode ter acontecido e... – ele solta o ar que estava preso – Eu sinceramente não sei. Eu fiquei muito grudento, ou te pressionei em alguma coisa? Se tiver acontecido algo do tipo e eu não percebi, por favor me fala porquê...
- . – ela o interrompe docemente, pegando em sua mão. – Você não fez nada de errado. Por favor, tira isso da sua cabeça.
- Mas então, o quê? – ele questiona – Você simplesmente se cansou de mim?
- Não. – ela nega veemente e ele espera por uma resposta. – Só entenda que eu precisei fazer isso. Eu tive que. – por mais que não quisesse, ela pensa – E espero que possamos continuar amigos por que...
- Amigos? – ele ri sarcástico e solta a mão dela – Está brincando, né?
Ela umedece os lábios, a boca estava seca.
- Prefere que nos tratemos como estranhos a aceitar ser meu amigo? – ela indaga magoada.
- Me fala, , como vou ser amigo de alguém que não me fala a verdade? – ele indaga. – Eu não consigo ser amigo de quem eu não confio. E agora eu não tenho um pingo de confiança em você.
A esse ponto todos os olhos na sala estão direcionados a eles.
- Não pode levar em consideração tudo pelo que já passados juntos? – ela indaga aos murmúrios, para que só ele ouvisse.
- Se você não levou em consideração, por que eu deveria? – ele rebate. – Esse tipo de atitude faz eu me perguntar se eu realmente conheço você. – ele passa a mão no rosto fadigado – E pensar que cheguei a acreditar que você era a única pessoa que nunca seria capaz de me machucar. É uma mentirosa.
Dito isso, ele sai, deixando-a sozinha na frente daquela plateia.
Liza contém o choro que ameaça a vir, tomando um pouco da água da garrafa em suas mãos trêmulas.
Ele tinha razão, ela pensa. Ela não poderia culpá-lo por um segundo sequer. Liza quem havia causado toda aquela mágoa, e as palavras cortantes de eram as consequências. Ainda assim ela não se arrepende da sua decisão, iria protegê-lo mesmo que ele nunca soubesse, principalmente pelo fato do que Jean faz para controlar o campeonato.
Elimine o seu adversário. – dizia no papel que os seguranças dele entregaram a ela com uma foto de Sérgio Perez – Custe o que custar.
Liza abraça o próprio corpo. Ela tinha medo do que aquele homem era capaz.
Quando a pilota se recompõe e se volta para a saída, vê Max encará-la do canto da sala.
Ela não saberia dizer o que estava descrito no semblante do holandês, mas não era satisfação. Ainda assim não consegue deixar de sentir aversão por ele ser um dos responsáveis pela sua ruína, e sai em passadas pesadas da sala antes que perdesse a razão e começasse a deslanchar xingamentos contra ele.
Ela já havia se exposto o suficiente por um dia.
Tudo o que ele precisava era de um banho quente para relaxar os músculos tensos, uma sessão de videogames com os colegas e uma boa noite de sono ao lado da namorada.
Contudo, antes de seguir com o seu plano para o descanso, ele segue apartamento adentro procurando por Liza, a quem pela primeira vez desde que a conhecera, faltara em um treino livre.
Ele havia mandado mensagens e até feito ligações durante toda a tarde, as quais não obtiveram retorno. E sua preocupação dobrou a intensidade quando Sandy o informara que ela estava indisposta e pediu o resto do dia de folga para repouso.
Por tal razão, ele corre diretamente ao próprio quarto, esperando encontrá-la deitada na cama vestida com um pijama ou uma camisa dele, com compressas sob a testa ou olhos, imersa em um sono profundo. No entanto, o que encontra o deixa completamente confuso.
Liza estava sentada na cama de forma ereta, com o olhar perdido na vista da porta da varanda aberta e rosto inchado, principalmente na região dos olhos. No entanto, o que mais chamara a atenção do monegasco não fora o fato dela estar vestida com roupas casuais, calçada com tênis e ter a pequena bolsa pendurada no ombro, mas sim as malas completamente feitas aos pés da cama e os armários, os quais ele separara para que ela colocasse os pertences, vazios.
- Ma belle... – ele a chama e ela parece se assustar momentaneamente com a presença do rapaz, de tão imersa em pensamentos que estava.
Ela olha na direção dele, mas não em seus olhos – fato que nota imediatamente.
- Está tudo bem? – ele questiona, aproximando-se em passos lentos. – Sandy me contou sobre o seu mal-estar. – a modo que ele se aproxima, os olhos dela fugiam para outra direção. – Me desculpe por não conseguir vir ver como estava antes, fiquei preso no Paddock...
- Tudo bem. – ela o interrompe com um sopro.
O monegasco olha as malas ao seu lado e volta sua atenção à ela com a testa franzida. As mãos de Liza estavam trêmulas, a perna cruzada balançava em um movimento frenético e automático, e seu lábio inferior estava com uma vermelhidão, indicando que ela havia-o maltratado com mordidas.
- Pode me dizer o que está acontecendo? – ele pede cuidadosamente.
Liza engole em seco, a saliva desce pela garganta de forma audível.
- Eu preciso de um tempo. – tem que se esforçar para ouvir a voz, de tão baixa que soou.
- Um tempo? – ele repete confuso, aproximando-se e parando em frente à ela. – Um tempo do quê?
A jovem respira fundo e ergue os olhos aos de , o semblante duro.
- De nós.
O monegasco franze ainda mais a testa, pensado ter ouvido errado.
- O quê? – ele questiona completamente confuso. – Um tempo de nós?
Os olhos de Liza se desviam por um instante, instáveis, mas ela volta à encará-lo para dizer com firmeza: - Isso.
O quarto é tomado por um silêncio momentâneo, que logo é quebrado pela risada de .
- Isso é um tipo de brincadeira? – ele indaga aos risos, olhando ao redor pelo quarto. – Danny está aqui para filmar algum tipo de pegadinha?
No entanto, quando ele volta à fitá-la, percebe que era o único que ria. Seu sorriso desaparece no mesmo instante.
Ele a encara em dúvida.
- Um tempo de nós? – ele volta a perguntar, desta vez em tom cético. – O que isso quer dizer?
- Quer dizer que preciso de espaço. – ela diz. – De você.
- Por quê? – questiona incrédulo.
- Preciso de um tempo para mim mesma. – ela engole em seco, desviando os olhos dos dele. – Para me redescobrir, me reinventar, me readequar à... – ela se interrompe – Eu quero me concentrar nos meus objetivos e... Sinto que estou pisando em ovos com a nossa situação.
- Você não pode estar falando sério. – ele declara descontente. – , ainda hoje pela manhã você me disse que me amava e agora precisa de espaço?
Ela suspira alto.
- As perspectivas mudam.
- Em menos de 12 horas? – ele rebate instantaneamente. – O que realmente aconteceu? É por causa daquela regulamentação estúpida sobre vínculos extracontratuais que o Nicolas falou?
Ela morde o lábio inferior, impaciente.
- Não. – ela diz.
- Então me fala o que está acontecendo porque eu simplesmente não consigo acreditar que isso não passa de uma brincadeira de mal gosto.
Liza se levanta da cama, ficando a poucos centímetros de distância do monegasco e sobe os olhos até os dele para pronunciar com convicção as palavras que quebrariam o coração do rapaz: - Eu não acho que nós dois combinamos mais.
Dito isso, ela desvia do corpo dele e caminha até as malas, ajeitando as alças das mesmas, mas para quando escuta a risada do monegasco.
Ele estava rindo.
Gargalhando.
No entanto, quando ela vira-se para checá-lo percebe que são risadas de desespero.
- Eu não sei o que dizer. – ele admite às gargalhadas. – Nós... – ele suspira alto, retomando fôlego. – Falamos sobre passar por tudo isso juntos, sobre matrimônio, sobre ter uma casa para criar as crianças e todo um futuro para você vir me dizer que não acha que combinamos mais?
Ao final da pergunta o semblante de beirava ao choro, seu queixo tremia ferozmente.
Ela simplesmente não podia continuar à assistir aquilo.
- Foi precipitado. – ela diz e se arrepende no mesmo instante quando ele morde o lábio inferior para controlar a tremedeira que se intensifica.
- Precipitado. – ele repete descrente e desta vez é ele quem desvia os olhos, passando a mão pela região da testa por vezes seguidas.
- ... – ela diz com a voz falha, ele não a encara. – Eu... Sinto muito.
- Por que disse aquelas coisas se não estava falando sério? – ele esbraveja com fúria, as veias das cordas vocais saltando no pescoço e assustando a mulher. – Eu me enganei tanto com você ao ponto de não enxergar que é esse tipo de pessoa que brinca com o sentimento das pessoas?
Liza se encolhe, abraçando o próprio corpo.
- Eu nunca quis que isso acontecesse...
- Então por que não colocou um ponto final quando teve a chance? – ele a interrompe, irritadiço. – Ou você veio à Mônaco para isso no final do ano e sentiu pena do pobre garoto apaixonado? – ela abre a boca, mas a fecha. – Foi exatamente isso, não foi? Meu Deus! – ele joga as mãos à cabeça.
- Não... – ela se reaproxima, mas estaca no chão quando ele a encara com olhos completamente magoados. – , não tem ideia do quanto isso está acabando comigo. Mas... – ela funga, sequer percebera que o rosto já estava encharcado pelas lágrimas – Eu não posso continuar com isso.
- Eu fiz alguma coisa errada? – ele questiona com a voz fanha.
- Não. – ela nega veemente. – Você não fez nada de errado.
Ele umedece os lábios com violência e dá os últimos passos que faltavam para estarem frente a frente novamente.
- . – ele chama a atenção para seus olhos úmidos. Quando eles entram em uma conexão, que era como uma estação à parte do universo feita somente para os dois, ele prensa os próprios lábios um no outro ao reconhecer a dor nos olhos dela. Um resquício de esperança brilha.
respira fundo, controlando os seus espasmos e pergunta com expectativa: – Quanto tempo você precisa?
- Eu não sei. – ela sopra.
- Ma belle, posso ver que não quer isso tanto quanto eu. Se me der uma base, um mês, dois ou quatro, eu espero, mesmo não entendendo. – ele apela, pegando em suas mãos e colando suas testas. – Se precisa tanto, disso te deixo ir se me disser que vai voltar.
Liza tem que inspirar e expirar por duas vezes seguidas para não desabar ao dizer: - Eu não sei se vou voltar.
Ela vê explicitamente a esperança dele ser atingida com uma facada nas costas. O monegasco engole em seco e dá um passo para trás, soltando a sua mão.
Ele passa as mãos pelo rosto e suspira alto, quando volta a olhar nos olhos da jovem diz aos sopros: - Je t’aime pour toute ma vie, não era? – seus olhos estão lacrimejando – O que mudou para você?
Neste instante ela tem que se lembrar da ameaça do asqueroso presidente da Federação, no esforço do monegasco para chegar aonde está, a sua busca pelo título de campeão mundial e no quanto ela amava-o.
E quem ama protege, ela ressalta a frase que se repetia em sua cabeça à cada instante durante aquela conversa dolorosa.
- Eu espero que um dia você possa entender. – ela diz, a voz quase falha.
- Ou você pode me explicar agora. – ele sugere, uma lágrima grossa escorre de seu olho.
Liza se aproxima e seca a lágrima antes que descesse pela bochecha de . Ele envolve a mão dela com a própria e sela os lábios em sua palma vagarosamente, de olhos fechados.
contém o instinto de jogar tudo ao alto e abraçá-lo.
Quando ele volta a abrir os olhos e direciona-os à ela, ela sente algo se partindo dentro de si mesma pelo sofrimento palpável expresso por eles. Ela nunca vira aquele verde tão escuro. O amarelo que dava vida à eles haviam sumido. E era tudo por sua culpa.
Liza recolhe a mão delicadamente e suspira pesadamente.
Sem ter mais nenhuma condição de ficar ali ela rapidamente recolhe as malas e sai do quarto, deixando Leclerc desacreditado para trás.
Quando ela chega ao final das escadas repara que os quatro amigos a encaram num misto de choque e confusão.
- O que está acontecendo? – Mick questiona preocupado. – Vocês...? – ele se interrompe visto o semblante arrasado da amiga.
Claro que eles tinham ouvido, ela pensa, já exausta pela ideia de ter que explicar algo.
- Eu estou indo para o hotel. – ela ignora os olhares indagatórios, respira fundo e atravessa a sala. – Não se preocupem, ficarei bem.
Os rapazes se entreolham enquanto ela caminha decididamente até a porta de saída.
- Vai com ela. – Daniel sopra à . – Ela obviamente não está nada bem.
O rapaz não pensa duas vezes e corre até o andar de cima para buscar alguns de seus pertences no quarto.
Enquanto isso Mick aproxima-se de Liza e impede que ela abra a porta.
- Ei, - ele diz aos murmúrios para ela – o que foi?
Liza fixa o olhar na madeira branca da porta ao dizer: - Nada.
Seu rosto está molhado, vermelho e inchado. Ela sabia que estava mentindo na cara dura, mas não tinha condições de dizer algo a mais.
O rapaz procura por seus olhos e quando ela finalmente o encara, ele entende que ela precisava de tempo. Assim ele a puxa delicadamente para um abraço e afaga a cabeça dela em seu ombro.
retribui o abraço do amigo, envolvendo-o pela cintura e aperta-o forte. Eles ficam por algum tempo abraçados e em silêncio, ninguém na sala se atreve a dizer uma palavra sequer.
Quando retorna com uma mochila nos ombros, eles se separam e ela se despede dos demais com um aceno de cabeça.
- Mick, dá uma força para ele por mim. – ela murmura na direção do amigo.
O rapaz assente lentamente com um sorriso tristonho no rosto e se afasta.
- Deixa eu te ajudar com isso. – diz ao pegar uma das malas dela e abre a porta. Juntos, os dois saem do apartamento.
Durante todo o caminho feito pelo táxi, ambos os pilotos permanecem em silêncio, Liza perdida em seus pensamentos enquanto tinha receio de falar ou fazer qualquer coisa. Ele notou que a jovem estava à beira de um descontrole e se o britânico dissesse um A, ela poderia desabar a chorar e ele não tinha muita experiência em lidar com mulheres chorando. Então preferiu, pela primeira vez, se calar.
Eles chegam ao hotel e são recebidos por dezenas de fotógrafos, fãs e jornalistas, e são auxiliados até a entrada pelos seguranças do próprio hotel. Durante o trajeto até o saguão de entrada Liza abaixa a cabeça e tenta ao máximo esconder o rosto dos flashes porque sabia que os registros daquelas fotos deixariam Jean mais que satisfeito.
Liza e agradecem aos seguranças e se encaminham à recepção. O rapaz fica encarregado de providenciar quartos enquanto ela se martirizava com a imagem de de olhos úmidos e completamente inconsolável em sua mente.
Porra, como doía.
Em poucos minutos volta com dois cartões e eles se direcionam aos elevadores. Chegando ao andar indicado, o britânico a acompanha até seu quarto e a ajuda com as malas quando o carregador chega com elas de prontidão.
Liza se senta sobre a cama bem arrumada e limpa, e passa a mão pelo edredom macio enquanto acompanhava a saída do homem depois que feito o seu trabalho. Sem sequer tirar os sapatos, ela se deita na cama encolhida e abraça um dos travesseiros fofos, com olhos vagos e vazios.
volta a se aproximar cauteloso e para de frente da cama, observando-a respirar lentamente.
- Acho que você não vai querer falar sobre isso agora. – ele deduz.
Ela não responde, sequer vira os olhos em sua direção ou muda de posição na cama. Ele só sabe que ela está viva pelo sobe e desce ritmado em seu peito.
- Eu estarei no quarto do lado, se precisar de mim. – ele diz apontando simbolicamente para trás. – É só mandar uma mensagem que eu venho correndo...
- Não. – ela diz de súbito, encarando-o com os olhos marejados. – Por favor, só... Não me deixe sozinha agora.
sente seu peito ser espremido, esmurrado e encarcerado. Ele era um rapaz emotivo e empático, principalmente quando envolvia as pessoas com quem se importava. Por isso faz assentir.
Ele tira seus tênis e se deita no lado livre da cama, por cima de todo o acolchoado. O britânico ajeita um dos travesseiros e deita de costas, com as mãos cruzadas sobre a barriga, completamente reto.
Depois de uns instantes em silêncio Liza ri fraco.
vira a cabeça em sua direção.
- O quê?
- Para quem dorme todo torto nos tatames, você está muito certinho na cama.
O rapaz ri e estica os braços para trás da cabeça.
- Eu não quero invadir o seu espaço, pelo menos até pegar no sono pesado. – ele dá de ombros – Depois disso pode ser que você leve alguns chutes, mãozada na cara ou acorde na beirada da cama.
Ela ri fraco.
- Sério, ainda fico impressionada como consegue dormir em qualquer lugar e em qualquer posição. – ela diz devido aos famosos e incomuns cochilos do parceiro.
- Uma vez fiz uma viagem com meus pais de Bistrol à Dublin em um trailer. Percorremos a costa do Reino Unido para aproveitar as praias, depois pegamos a balsa e fomos visitar uns familiares. – ele conta – A viagem durou uma semana e cada dia eu dormia em uma parte diferente do trailer. Dormi até sentado no vaso, no banheiro. – Liza gargalha – O balanço desses carros me deixa com sono.
- O que não te deixa com sono? – ela indaga ainda aos risos.
- É uma pergunta interessante.
Liza cessa o riso aos poucos.
- Seus pais ainda estão querendo se mudar para Dublin? – ela se recorda da preocupação que o colega havia comentado em algum momento.
faz uma careta ao dizer: - Sim, dizem que agora que eu já estou grande e saí de casa querem voltar às raízes. Estão só esperando encontrar a casa certa.
- São quantas horas de lá até Woking? – cidade onde tinha a sede da escuderia McLaren e ambos residiam.
- De sete a oito horas de carro e não tem viagens diretas de avião até lá, então leva cerca de cinco horas com escalas porque aparentemente é contramão. – ele diz dando de ombros. – Vai ser difícil não ter eles a menos de uma hora de distância. Mesmo que eu more sozinho eles sempre estavam por perto.
- Me lembro quando me mudei para a Itália por causa da Prema. – ela sorri com a lembrança. – Foi difícil os primeiros meses sem meus pais, principalmente meu pai. Nós somos muito ligados, assistíamos futebol juntos, íamos a bares e praticávamos algumas atividades. – ela suspira – O que me distraiu mesmo foram os treinos e a equipe da Prema, eles me acolheram tão bem. Com certeza teria ficado depressiva se não fosse por eles.
- Eu e Carlos ficávamos o tempo todo juntos quando ele morava em Woking. – revela – Tipo Batman e Robin, um sempre estava no mesmo lugar que o outro.
Liza sorri.
- Não sei como vai ser agora sem ele e meus pais. – ele limpa a garganta, tentando disfarçar o incômodo. – Por viajar muito, não tenho muito contato com os meus antigos amigos e o pessoal da equipe já é mais velho, tem suas famílias e dificilmente saímos juntos. Por isso que eu passo a maior parte das folgas no videogame e fazendo Twitch para os fãs. Meu canal já tem mais de 700 milhões de seguidores.
- Isso é impressionante, mas: Ei. – ela diz ofendida – Se esqueceu de que eu moro em Woking agora? – ela sorri – Não tivemos muitas oportunidades de sair por conta dos treinos antes de começar a temporada, mas com certeza vamos sair juntos. Você só precisa me apresentar o lugar, tudo o que conheço é o interior do meu apê e o Centro da McLaren.
sorri abertamente.
- A cidade em si não é muito agitada, tem muita área verde e de lazer. - ele informa – Mas estamos à uma hora de Londres.
- A capital da magia.
- Jurava que você ia falar da rainha. – ele ri.
- Não, o nome Londres só me faz lembrar de uma coisa. – ela sorri e os olhos do rapaz brilham em expectativa – Harry Potter.
- Aeeee! – ele celebra erguendo as mãos – Finalmente vou ter alguém para ir nos estúdios da Warner e ter uma experiência. Eu já fui várias vezes, mas o Carlos acabava com o clima porque acha bobo.
Que era um grande fã do Universo de Magia ninguém poderia negar, ele era o típico adolescente que se ludibriava com a ficção e fantasias. Talvez fosse esse o motivo para ser tão criativo e espontâneo.
E talvez fosse melhor viver na fantasia de vez em quando para encarar a dura realidade do mundo real.
- Seremos tipo Harry e Hermione. – ele diz.
- O que é muito melhor que Batman e Robin. – ela declara e eles riem.
Liza sorri e encara o rosto do amigo afetuosamente.
- Obrigada, boy. – ela sopra.
- Obrigado você, sis. – ele diz e pouco tempo depois eles são vencidos pelo sono, dormindo por cima do edredom mesmo e com a luz acessa.
O coração de Liza estava completamente em frangalhos, mas a esperança que poderia se sentir nem que for um pouco melhor com e os demais amigos lhe dão forças.
Ao menos conseguira tirar uma coisa boa no meio de tanta sujeira.
“Estamos na metade da corrida em Monte Carlo, famoso circuito de Mônaco e a situação não parece estar nem um pouco agradável para Leclerc.” – o comentarista narra.
“É, Damien, o nosso monegasco nunca esteve mais desatento.” – o outro concorda.
“Espaços absurdos, vácuos para os oponentes, além de ter travado as rodas por umas cinco vezes na curva antecedente ao túnel. Ele não fez uma boa escolha com os pneus.”
“Ele só não está pior que o Sérgio Pérez. Depois daquele toque da Benedetti na sua roda traseira parece que perdeu completamente a aerodinâmica. Caiu quatro posições e está fora da área de pontuação.”
“O toque está passando por investigação pelos fiscais da FIA e ela pode perder alguns pontos aí.”
No final da corrida, já na garagem de pesagem, Liza procura pelo mexicano entre os rostos suados e cansados dos pilotos. Ela o encontra na terceira fila e se direciona até o homem.
- Checo. – ela lhe chama a atenção. – Sinto muito pelo toque na traseira. A pista estava úmida na primeira curva e o carro acabou patinando demais.
- Está tudo bem, Benedetti. – ele sorri gentilmente. – Ainda consegui recuperar algumas posições no final. Essas coisas acontecem. É corrida, afinal.
assente com um sorriso fraco e volta ao seu lugar na fila.
Após a sessão de pesagem ela segue à sala social, onde eram dispostos petiscos, bebidas, toalhas e diversos outros aparatos para os pilotos pudessem se recompor e esfriar o corpo antes de retornar ao hotel.
A jovem prende o cabelo em um coque frouxo e pega uma toalha para colocar sobre o pescoço suado. Quando segue para a mesa onde estavam dispostas garrafas de água acaba esbarrando em .
- Desculpe. – ela diz contida e rapidamente desvia de seu corpo para pegar uma das garrafas.
Dois dias haviam se passado e ela sentia como se a sua ferida estivesse completamente exposta e tão dolorida que deixava-a em completa agonia. Tentava ignorá-la, mas tudo se tornava mais difícil ao vê-lo frequentemente e em um estado miserável.
Ela escuta uma risada sem humor à suas costas.
- Vai ser assim agora, nós mal vamos nos falar? – ela identifica a voz do monegasco questionar.
Liza respira fundo, gira nos calcanhares vagarosamente e precisa colher o resto de coragem espalhado pelo seu corpo para erguer os olhos até seu rosto.
- Desculpe. – ela diz novamente. – Sinto muito pela corrida.
- É, foi uma droga. – ele dá de ombros, o semblante visivelmente chateado.
Liza se encolhe.
- Não se preocupe, não culpo você. – ele diz. – A culpa é minha por não ter me concentrado o suficiente.
Ela engole em seco e abaixa os olhos para a garrafinha em suas mãos, já que não tinha muito que falar. Já que não podia consolá-lo.
- É isso mesmo o que você quer? – ele indaga depois de um tempo.
- ...
- . – ele a interrompe, a voz dura – Por favor, olha para mim.
Ela suspira e encara os amáveis olhos verdes.
- Eu fiquei repassando todos os momentos dos últimos dias na minha cabeça, me perguntando o que pode ter acontecido e... – ele solta o ar que estava preso – Eu sinceramente não sei. Eu fiquei muito grudento, ou te pressionei em alguma coisa? Se tiver acontecido algo do tipo e eu não percebi, por favor me fala porquê...
- . – ela o interrompe docemente, pegando em sua mão. – Você não fez nada de errado. Por favor, tira isso da sua cabeça.
- Mas então, o quê? – ele questiona – Você simplesmente se cansou de mim?
- Não. – ela nega veemente e ele espera por uma resposta. – Só entenda que eu precisei fazer isso. Eu tive que. – por mais que não quisesse, ela pensa – E espero que possamos continuar amigos por que...
- Amigos? – ele ri sarcástico e solta a mão dela – Está brincando, né?
Ela umedece os lábios, a boca estava seca.
- Prefere que nos tratemos como estranhos a aceitar ser meu amigo? – ela indaga magoada.
- Me fala, , como vou ser amigo de alguém que não me fala a verdade? – ele indaga. – Eu não consigo ser amigo de quem eu não confio. E agora eu não tenho um pingo de confiança em você.
A esse ponto todos os olhos na sala estão direcionados a eles.
- Não pode levar em consideração tudo pelo que já passados juntos? – ela indaga aos murmúrios, para que só ele ouvisse.
- Se você não levou em consideração, por que eu deveria? – ele rebate. – Esse tipo de atitude faz eu me perguntar se eu realmente conheço você. – ele passa a mão no rosto fadigado – E pensar que cheguei a acreditar que você era a única pessoa que nunca seria capaz de me machucar. É uma mentirosa.
Dito isso, ele sai, deixando-a sozinha na frente daquela plateia.
Liza contém o choro que ameaça a vir, tomando um pouco da água da garrafa em suas mãos trêmulas.
Ele tinha razão, ela pensa. Ela não poderia culpá-lo por um segundo sequer. Liza quem havia causado toda aquela mágoa, e as palavras cortantes de eram as consequências. Ainda assim ela não se arrepende da sua decisão, iria protegê-lo mesmo que ele nunca soubesse, principalmente pelo fato do que Jean faz para controlar o campeonato.
Elimine o seu adversário. – dizia no papel que os seguranças dele entregaram a ela com uma foto de Sérgio Perez – Custe o que custar.
Liza abraça o próprio corpo. Ela tinha medo do que aquele homem era capaz.
Quando a pilota se recompõe e se volta para a saída, vê Max encará-la do canto da sala.
Ela não saberia dizer o que estava descrito no semblante do holandês, mas não era satisfação. Ainda assim não consegue deixar de sentir aversão por ele ser um dos responsáveis pela sua ruína, e sai em passadas pesadas da sala antes que perdesse a razão e começasse a deslanchar xingamentos contra ele.
Ela já havia se exposto o suficiente por um dia.
Capítulo 21
Circuito de Ímola - Itália
Os carros passam em alta velocidade pela reta, sendo motivados pela empolgação do público na arquibancada.
Na primeira posição a usual pantera negra de Hamilton dominava, cortando o vento à 368 km/h. Ele estava significantemente distante do segundo colocado, este Alex Albon que tomou a posição de Carlos Sainz quando o mesmo precisou trocar os pneus gastos em uma parada no boxe.
Lá na faixa da décima segunda posição estava mirando o seu próximo alvo, Daniil Kyvat da Alpha Tauri à mando de Jean Todt. Ela estava mais uma vez calculando uma forma de tirá-lo da corrida sem causar um acidente grave e que não deixasse óbvia a sua intenção.
Eles saem da curva fechada e acentuada Rivazza e seguem até a variante Bassa.
- “, Kyvat 2.4 à frente. 2.4” – Andreas informa, inconscientemente a ajudando em sua estratégia.
- Copiado.
- “Haverá tráfego na saída dos boxes. Modo 7 para ultrapassá-lo na Tamburello logo em seguida.”
- O quê? – ela sopra, sentindo seu coração se apertar.
Aquele fatídico desvio, que alguns anos atrás era projetado como a curva mais rápida do circuito, fora aonde acontecera o acidente que custara a vida do seu ídolo Ayrton Senna.
Ela havia sido restaurada e virara uma simples chicane, com o intuito de reduzir a velocidade daqueles que por ali passavam e evitar mais uma tragédia. Mas ainda estava ali e continuava a transcender um clima melancólico toda vez que alguém passava por ela.
Nas suas voltas anteriores, Liza estava tão focada em Kyvat que mal a notara, mas a citação de seu nome pelo engenheiro a abalara completamente.
Ela não queria, por Deus, como não queria ter que acertar Kyvat justo naquela curva. Mas eles estavam entrando nas voltas finais da corrida e as demais curvas eram triplamente mais perigosas e arriscadas para se tentar um acidente leve.
Ela não tinha escolha.
Com o peito ardendo em chamas ela acelera na saída da reta e ao invés do modo 7, aperta o 8.
Ela passa por dentro da primeira virada, suas rodas travam e o carro roda duas vezes na pista. Sua traseira atinge o carro da frente enquanto sua dianteira toca o carro que vinha logo atrás.
Sobe a terra das britas enquanto várias pedrinhas são lançadas contra o seu capacete, atinge suas mãos e o próprio carro. A Alpha Tauri passa de raspão pelo muro e perde uma roda enquanto a McLaren se choca com a Aston Martin.
- Merda! – ela grita irritada.
- “Você está bem?” – Andreas questiona preocupado.
- Sim. – ela afirma com dificuldade pelo bolo que crescia na garganta, à sua frente estava ironicamente o muro onde Senna havia batido. – Sinto muito, gente. Sinto muito mesmo. – ela funga – Entrei na curva com muita velocidade. Eu sou uma idiota.
- “Tudo bem, . Não se preocupe, essas coisas acontecem. Recuperamos na próxima corrida.” – o engenheiro diz, sempre compreensivo – “O Safety car já foi acionado, pode sair do carro. O resgate já está indo.”
Ela solta a fivela de seu cinto e abre a viseira do seu capacete brutamente, passando as mãos nos olhos com força.
Estava triste, frustrava e com raiva.
Ela já não aguentava mais ter que submeter outros pilotos ao perigo por conta de um acordo sujo e seu coração se enchia de culpa. Já havia se passado três corridas e ela ainda não sabia como se livrar das chantagens de Jean.
Liza desconecta seu volante do painel, coloca na frontal do carro e salta para fora do cockpit.
Ao lado dos próprios carros estavam Kyvat resmungando alto e Lance Stroll balançando a cabeça em negativa, ambos completamente frustrados.
Os socorristas logo se aproximam e os indicam a saída emergencial, por trás do guard rail enquanto vários agentes do perímetro providenciavam a limpeza dos destroços na pista.
Os três se encaminham até a saída de ombros baixos e desapontamento nítido na face.
Liza tira o capacete e a touca antes de se acomodar ao lado de Lance no carro de golfe que os levariam de volta às garagens.
- Sinto muito, gente. – ela diz passando as mãos por entre os cabelos, jogando-os para trás. – Isso foi uma grande merda. Eu perdi o controle e as rodas... Elas... – ela suspira nervosa – Me perdoem.
- Tem que tomar cuidado, Benedetti. – Kyvat fala num sotaque puxado para o russo. O tom de repreensão. – Eu mal te vi na lateral e já estava nas britas. Você entrou na curva feito um raio.
Ela assente sentida.
- Ou foi feito um torpedo? – Lance declara, um ar de riso na face.
- Cala a boca. – Kyva fala, as sobrancelhas juntas em um semblante raivoso.
- Não entendi. – Liza diz e olha de um ao outro.
- Há alguns anos o Daniil fez a mesma coisa, se não me engano na largada do GP da China. – Lance explica enquanto o carro partia com eles. – Ele causou um acidente com o Vettel e o Raikkonen, comprometeu a corrida dos dois. No final da corrida, Seb nervoso foi tirar satisfação com o Daniil, dizendo que ele chegou feito um torpedo, que tinha que ter mais cuidado. – Lance ri – Foi o meme da temporada.
Liza segura o riso e olha para Kyvat, que cede e ri fraco. O clima já está mais descontraído.
- Você nem estava na corrida. – o russo diz.
- O vídeo é um dos mais famosos e engraçados da internet. – Lance diz. – O Ricciardo te chama de torpedo até hoje por isso.
- Então é por isso?! – Liza diz com ar divertido.
Kyvat se permiti rir abertamente.
- O fato é que essas coisas acontecem, todo muito tem uma fase ruim. – Lance diz à Liza. – Não se condene. Logo isso passa.
Ele aperta o ombro da pilota em apoio e ela sorri fraco.
Se ele realmente soubesse, ela pensa. E se sente ainda mais culpada por estarem sendo legais com ela.
- O lado bom de abandonar a corrida mais cedo é que posso voltar ao hotel e aproveitar a minha família. – Daniil diz com um sorriso terno no rosto. – A não ser que o chefe queira que eu repasse as técnicas de freio e aceleração depois desse acidente.
- A Kelly e sua filha estão aí? – Lance questiona.
- Sim, chegaram ontem. – ele assente – Kelly estava em Roma à trabalho e aproveitou para esticar até aqui.
Kelly Piquet.
A filha do tricampeão mundial e brasileiro Nelson Piquet. Ela era blogueira e colunista, estava em uma relação com Daniil há quatro anos e juntos eles tinham a adorável Penélope.
Quando Liza viu Kelly de relance momentos antes de entrar no cockpit, às margens dos boxes, soube no mesmo instante quem era. Ela tinha o mesmo formato de rosto, nariz e olhos do pai. Era inconfundivelmente uma cópia dele e, porventura, também parecida com seu irmão mais novo. Pedro Piquet.
Liza realmente torcia que ela não fosse tão sacana quanto o irmão, mas vista a admiração fervorosa que Daniil falava sobre a mulher ela deduzia com tranquilidade que aquele não era o caso. Pedro talvez fosse a única maçã podre da família.
Chegando à garagem ela é primeiramente abordada pelo pai, que estava presente no final de semana em apoio.
Liza não sabia se o fato era bom, por poder receber o consolo do pai de perto, ou ruim por ter que submetê-lo a assistir uma de suas piores performances da temporada.
- Você está bem? – ele pergunta com o semblante preocupado, automaticamente conferindo-a dos pés à cabeça procurando por algum sinal de lesões.
- Estou. – diz num sopro sem vida. - Sinto muito, pai.
- Ei. – ele diz tomando-a em seus braços – Está tudo bem. Mesmo que quase tive um infarto em te ver rodando justo na Tamburello, o importante é que está tudo bem.
Liza suspira emocionada.
- Obrigada. – ela sopra – Na verdade, por tudo.
- O que quer dizer? – ele pergunta, afastando-se para mirar o rosto da filha.
- Por, mesmo com a distância, sempre estar presente e estar ao meu lado. – ela sorri tristonha – Na alegria e na tristeza.
- Ser pai é muito mais que juras matrimoniais, querida. – ele acaricia seus cabelos – É ser pai, realmente. Nosso laço é mais forte que qualquer coisa. – Marcos olha diretamente em seus olhos – Eu nunca mais vou te deixar se sentir desamparada.
A pilota sorri verdadeiramente.
- E não é que esse terapeuta destravou a sua língua, mesmo?! – Lisa ri – Declarações explícitas, estou impressionada.
- Não enche o saco. – ele grunhe e eles riem bem-humorados.
Zak se aproxima deles com o semblante tenso.
- Esse final de semana não foi dos melhores, hein?!
Ela balança a cabeça vagarosamente em desapontamento.
- Eu fui uma pata na pista, sinto muito por ter posto todo o esforço da equipe a perder, eu só... – ela suspira, interrompendo-se – Acho que não estou nos meus melhores dias.
- Bola para frente. – ele dá um tapinha em seu ombro – Vá descansar, foi uma corrida estressante. Na próxima nós os pegamos. – ele ergue a mão fechada na sua direção e ela dá um soquinho sorrindo fraco.
- O , em que posição ele está? – ela questiona mirando as telas da mesa de transmissão interna.
- P2 e acho que o garoto sobe ao pódio hoje. – Zak diz contente. – Ele está fazendo uma bela corrida.
- Está fazendo uma bela temporada. – ela corrige, orgulhosa. – Diga a ele que sinto muito não estar presente o pódio? Realmente preciso ir me deitar.
- Claro, ele vai entender. – Zak diz e a abraça rapidamente. – Até mais. Se cuida.
Junto de seu pai, Sandy e Fabio, a pilota segue para o hotel, ignorando os jornalistas e entrevistadores pelo caminho que pediam por uma declaração do que havia acontecido na corrida.
Todos haviam visto que ela tinha rodado e “perdido o controle” do carro, por que eles precisavam de tantas declarações?
Quando ela chega ao quarto nem se dá o trabalho de se desfazer do macacão ou tomar um banho, só se joga na cama suspirando exausta. Liza se encolhe por cima dos lençóis, agarra um travesseiro e fica com os olhos perdidos em um ponto qualquer das cortinas das janelas.
O trio que entra no quarto logo atrás se entreolha em silêncio antes da empresária esbravejar, já esgotada: - Está legal, já chega.
Ela chama a atenção de Liza, que franze a testa e ergue-se na cama calmamente.
- Não aguento mais te ver assim. – a loira diz. – Toda reclusa, retraída, não fala com mais ninguém. Não abre a boca! – ela se aproxima da cama – Você perdeu a sua garra e vontade de competir, caramba. Como isso foi acontecer? – Sandy agita as mãos no ar. – O seu tio tenta conversar com você e você desconversa, diz que está tudo bem quando claramente não está. Precisamos deixas as coisas às claras agora mesmo!
Liza engole em seco e desce os olhos para as mãos em seu colo.
- Eu sei que tenho sido difícil...
- Não. Você não tem sido. – a loira a interrompe. – E esse é o problema. Eu gosto de quando você me dá trabalho, porque aí tenho coisa para fazer. Ficar te consolando eu não sei, não fui feita para dar tapinha nas costas e dizer que tudo vai ficar bem. Quero é te buscar às quatro da manhã em uma balada porque o Daniel te desafiou na tequila e brigar com você por isso. Quero te dar bronca porque ficou a madrugada inteira jogando videogame com o na noite antecedente à corrida. Quero ficar irritada porque não responde minhas mensagens e descobrir que você fugiu até um parque de diversão com o ... – ela se cala de súbito. Em seguida suspira pesado – Não me importo que me faça arrancar os cabelos da cabeça de novo, desde que esteja feliz.
Liza olha de Sandy ao pai e dele à Fábio.
- Não olha para mim, eu concordo com ela. – o tio diz, cruzando os braços. – Tem errado manobras bestas por estar desconcentrada, dobrou a rotina de treinos novamente, seu corpo está tenso, só anda cabisbaixa desde que você e terminaram. – Fabio arqueia uma sobrancelha – E, aliás, nós nem sabemos realmente o porquê deste término repentino.
- O quê? – o pai sopra.
- Terminaram, não. – Sandy corrige. – Ele me disse que você terminou com ele de uma hora para a outra. – a loira se acomoda na cama aos pés da pilota – Liza, se for por conta da demora na cláusula do contrato, estamos perto de encontrar uma brecha que acho que vai dar certo.
- Vocês terminaram? – Marcos se pronuncia surpreso.
- Já tem pouco mais de um mês. – Fábio informa em tom tristonho.
- Por que você não me contou? – o pai indaga para a filha boquiaberto.
pega um travesseiro e afunda o rosto nele, envergonhada, pouco antes de se jogar de costas de volta à cama.
- Eu realmente não quero falar sobre isso. – responde com a voz abafada.
- disse que ele simplesmente chegou em casa e ela já estava com as malas prontas para retornar ao hotel. – Sandy conta e Liza tira o travesseiro do rosto instantaneamente, para em seguida se sentar ereta e encarar a empresária cética.
- Ele foi fofocar para você tudo o que aconteceu?
- Não. – Sandy nega imediatamente. – Eu quem perguntei o que estava acontecendo, porque, nem contar para nós que vocês não estavam mais juntos, você contou.
Liza suspira pesadamente e passa a mão pelo rosto.
Ela não podia contar os seus motivos à ninguém, Jean já havia provado mais de uma vez que a vigiava todas as horas do dia. Ela não sabia como, mas ele era um homem de contatos e influente, Liza não duvidava que pudesse ter uma escuta no seu quarto naquele instante. Vivia em constante medo.
Quando percebe que os três estão olhando em sua direção, esperando por uma declaração, ela fala a primeira coisa que passa pela sua cabeça: - Não era você que dizia que eu não podia me envolver com pilotos por que eles só queriam me fazer subir no troféu deles? Deveria estar feliz por eu ter saído dessa. – ela relembra a fala da empresária no começo da sua temporada na F2, tentando desviar do ponto principal.
O que aparentemente funciona perfeitamente.
Sandy arqueia as sobrancelhas em surpresa, a própria havia se esquecido sobre aquele infeliz comentário e o quanto ela havia feito difícil a convivência dela e o monegasco no começo do namoro.
- Sobre isso... – ela suspira, cabisbaixa. Liza franze a testa, estranhando a reação da mulher. – Eu só falei porque foi um caso que aconteceu comigo mesma e não queria que se repetisse com você. Não deveria ter espelhado em você desta maneira, mas o fiz. Eu só queria te proteger. Mas fui errônea e por isso eu sinto muito.
Um momento de choque corre por todos no quarto.
- Como é? – Fabio é quem indaga, incrédulo. – Quem foi o corajoso que ousou te paquerar?
Sandy revira os olhos e lhe lança o dedo do medo. Quando ela se volta para a pilota, declara: - Quando eu gerenciava a carreira do Jules me envolvi com um dos adversários dele. Jean-Éric Vergne, é aquele francês charmoso. Hoje compete na Fórmula E. – Liza coloca a mão sobre a boca, espantada – Eu me apaixonei perdidamente por ele, todo aquele ar de perigo e a adrenalina das corridas, os motores potentes e sensação de poder me deixou tão instigada que acabou me fazendo cega.
- Não acredito que você era uma Maria gasolina. – Fábio ri e Liza olha feio na sua direção. – O quê? – ele questiona a sobrinha – É surpreendente saber que a Senhora certinha já meteu os pés pelas mãos pelo menos uma vez na vida.
- Cala a boca, Fabio. – desta vez é Marcos quem diz e o quarto fica em silêncio por um momento.
Sandy continua: - Eu estava tão perturbada que não percebi que na verdade ele estava tentando atingir Jules através de mim.
Liza suspira sentida.
- Ele queria afetar a imagem do meu cliente, arrancar informações de mim para conseguir superar ele nas corridas e... Bom, ele me usou. Basicamente. – ela solta o ar preso – Por pouco ele não prejudicou Jules. E sabendo que inconscientemente eu quase permiti isso... Me culpo até hoje principalmente porque tinha o Jules como meu irmão. Ele era meu melhor amigo. – ela umedece os lábios, com os olhos melancólicos – Por isso sou tão rígida com você, mon cherri. Só não queria que se repetisse.
- Sinto muito Sandy, eu não tinha ideia. – Liza diz pegando sua mão, finalmente compreendendo uma dúvida que havia sido abandonada com o passar do tempo: O porquê de Sandy ter implicado tanto com .
A mulher sorri.
- A questão é que, sim: existem pilotos e chefes de equipes corruptos que tentam a todo instante e de todas as formas prejudicar os seus oponentes para vencer, ainda temos que ter cuidado com eles. Depois desse caso eu descobri inúmeros outros dentro dos campeonatos. – você não tem ideia quantos, Liza pensa – Mas esse não é o caso aqui.
encolhe os ombros, cabisbaixa.
- nunca foi assim e eu percebi isso quando ele te protegeu com unhas e dentes dos meninos na Fórmula 2, se dispondo a depor e inúmeras outras coisas que ele fez por você. – Sandy declara. – Dá para notar do jeito que ele te olha o quando ele te ama, .
A pilota engole em seco.
- E eu sei que você o ama da mesma forma e está sofrendo por este término. – a empresária continua. – Vocês dois estão.
Liza, mais do que ninguém, sabia o quando ambos estavam sofrendo.
Toda vez que estava na presença do monegasco eles tentavam se tratar com cordialidade devido ao trabalho e em respeito aos amigos, mas ela sabia que ele ainda estava extremamente magoado com ela. Seus olhos nunca mais tinham sido os mesmos.
E isso destruía pouco a pouco as forças que a motivavam a continuar com o que havia se submetido, até o dia que não restasse mais nada.
Quando este dia chegasse, ela sinceramente não saberia o que fazer.
Liza já havia considerado inúmeras vezes em simplesmente pular fora do campeonato, deixar que os homens e suas marionetes se engolissem no buraco imundo da corrupção. Afinal, sem ela ficaria bem – não teria razão de Jean prejudicá-lo.
Mas a sua cabeça havia sido posta em uma grande vitrine de venda e, quanto mais o público demonstrasse interesse e ofertassem lances, maior era o tempo que ela seria obrigada a continuar ali. O número de fã-clubes crescia a cada dia, assim como as visualizações dos vídeos da sua construtora, produtos com seu nome vendendo rios de dinheiro, os ingressos e afins.
A única parte que realmente fazia-a se sentir melhor era o número progressista de pilotas femininas que surgiam nas categorias base. Algumas delas já eram conhecidas e tinham carreiras mais longas que a da própria , mas a imagem delas estava finalmente sendo posta em evidência. Como de igual para igual, não como mulheres gostosas que davam sorte de estarem ali.
esperava, sendo muito otimista, que, quando elas chegassem à Fórmula 1, fossem uma massa tão forte a ponto de deixar os homens de mãos atadas e não conseguirem persuadirem ao controle de resultados. Isso sim ela queria ver.
No entanto, enquanto esse futuro promissor não chega, ela ainda se via na situação degradante.
Ao perceber que o trio ainda a encarava, Liza respira fundo e pronúncia decidida: - Isso não vale de mais nada agora. Acabou e acho que não tem mais volta. Parem de insistir nisso.
Desgastada, ela se levanta da cama e sai do quarto, deixando-os para trás num clima amargurado.
Ela decide finalmente tomar um banho e aproveitar da banheira disposta na suíte, das quais raramente usufruía pelo pouco tempo que passava no hotel devido aos compromissos no Paddock.
A banheira grande com jatos de hidromassagem e alta tecnologia parecia mais uma nave espacial e prometia completo relaxamento muscular e mental. No entanto, após ficar cerca de 20 minutos cozinhando na própria sujeira, Liza decide sair. Não suportava ficar tanto tempo inerte.
Ao retornar ao quarto percebe-se este vazio.
O trio já não estava mais lá e ela suspira, os pensamentos que tanto evitara ter durante o banho devido a recente conversa ganhando cada vez mais espaço na sua cabeça.
Admitia que havia consideravelmente se afastado dos amigos, mas só porque queria dar o espaço que precisava para ter o amparo que precisava vindo deles. Ela não queria se intrometer, sequer dificultar as coisas ainda mais. Assim, simplesmente se retirava da jogada.
Liza sabia que as pessoas ao seu redor estavam preocupadas com o seu bem-estar e com a sua felicidade, e não poderia os culpar por isso. Mas já estava cansada de ouvir que ela tinha feito a pior burrada de sua vida ao terminar com . Ela já sabia disso, obrigada. De nada.
Liza termina de se vestir e prende os cabelos soltos em um rabo de cavalo com o elástico que estava em seu pulso, para se direcionar ao elevador no final do corredor do seu andar.
Para onde iria ela não tinha ideia, mas precisava dirigir para relaxar e eliminar o excesso de pensamentos variados que tinha na cabeça.
Reestabelecer a sua convicção e forças. Sim, era o que precisava.
sabia que na garagem do hotel havia alguns carros que as construtoras disponibilizavam para locomoções rápidas e privadas pela cidade, havia descoberto quando pedira a Andy para passar a madrugada treinando no simulador no Paddock antes da corrida na Bélgica. No dia em questão ela não estava conseguindo dormir novamente, insônia era apenas mais um dos sintomas que ela adquirira pela constante pressão psicológica.
Os carros não eram máquinas potentes e que roncavam com os motores, mas já ajudava.
Ela desce até o subsolo de paredes brancas e chão vernizado na cor cinza, e sai procurando por entre os carros, a modo de identificar quais eram os específicos da McLaren. O que se mostrou ser uma tarefa difícil, pois os carros das agências de locação local eram todos iguais.
Ela nunca havia usado essa assistência sozinha até então e não sabia como funcionava, mas não tinha mais nada para fazer, então vagou pelo estacionamento tranquilamente até que desse sorte de encontrá-los.
Ao entrar em uma das fileiras ela escuta alguns barulhos abafados, gemidos reprimidos e franze a testa, estranhando.
Duas vagas depois de onde estava ela flagra um casal no meio de uma sessão de amassos e grunhe de surpresa.
- Ah, meu Deus, me desculpem. – ela diz envergonhada, tentando desviar os olhos para qualquer outra direção.
No entanto, quando o casal se desgruda e ela vê quem de fato eram as duas pessoas, seu queixo cai.
Eita porra.
Os dois tentam se recompor, ajeitando as roupas amassadas e os cabelos desgrenhados, mas já era tarde demais.
Liza arqueia uma sobrancelha e balança a cabeça em desaprovação.
Sem nada dizer ela parte dali.
- Benedetti! – ela escuta Max chamá-la, mas sequer olha para trás. Continua o seu caminho ignorando o barulho abafado das passadas apressadas que a seguiam. - Benedetti! – ele diz novamente e alcança o seu braço, fazendo-a virar de frente a ele. – Não diga nada, por favor.
A jovem arqueia ainda mais as sobrancelhas e ri desacreditada.
Max ainda vestia o macacão que costumeiramente usava nas provas, o que significava que ele não havia se demorado muito no autódromo depois do final da corrida ou sequer passado em seu quarto de hotel para se trocar.
Ele estava inquieto e tinha pressa, não para menos.
Afinal, eles não podiam ser pegos.
- Dizer o que? – ela questiona cruzando os braços, crítica – Que você está ficando com a mulher do seu amigo? Por que eu faria isso? – Liza sorri – Ah, será que é porque você abriu essa sua boca imunda e fez a minha vida miserável?
Ela se recordava muito bem das palavras que o holandês despejara á ela antes de dar com a língua nos dentes sobre ela e . E uma delas, a que mais havia lhe tocado, era hipocrisia.
Quem era ele para chamá-la de hipócrita?
Liza estava furiosa. Pior que isso, decepcionada.
Ela tinha tido muito tempo sozinha para pensar e dentre as variadas questões que refletira estava a que Max Verstappen pudesse ser um homem de princípios e que tinha sim agido conforme a regularidade ao delatá-los. O que, apesar de não ter sido nada benéfico à ela, não deixava de ser uma atitude admirável.
Lutar pela clareza e honestidade.
Mas a pouca empatia que havia sentido por ele havia se difundido a um criterioso e intenso nojo.
- Eu sinceramente sinto muito. – ele diz olhando-a nos olhos. – Não sei a providência que eles tomaram com vocês, mas não deve ter sido a mais agradável. Vocês estão péssimos e por isso eu me arrependo, de verdade.
Ela ri sem humor.
- Se arrepende agora que eu te flagrei. – ela ruge entre dentes. – Você é um dissimulado, Max. Farsante. – cospe com toda a raiva carregada em palavras – Realmente pensei que você fosse melhor que isso. Mas me enganou direitinho. – ela umedece os lábios secos – É melhor que eu em fingir ser um bom moço.
- ...
- Sério, com tanta mulher no mundo você vai pegar logo a mulher do Kyvat? O único cara aqui que mais te suporta no campeonato?
- Aconteceu...
- Eu não quero saber das suas razões, das razões dela, como que vocês revezam ou enganam o cara. – o interrompe novamente. – Vocês me enojam. – ela o encara de cima à baixo para então falar: – Você é podre, Max.
Dito isso sai Liza andado, deixando o rapaz desconcertado para trás sem mais reações.
Capítulo 22
Circuito de Zandvoort – Holanda
As reuniões pré-treino geralmente eram tranquilas e apaziguadoras, a maior parte delas tediosas também.
As equipes e pilotos tinham espaço para falar sobre pontos referentes às corridas que já ocorreram, tirar dúvidas, esclarecer regulamentos e era encerrada com o repetitivo discurso de Nicolas sobre segurança e como os fiscais avaliavam as punições.
A parte burocrática que desviava a atenção da grande farsa que era a Fórmula 1, na opinião de Liza. Afinal o que determinava os resultados não tinha nada a ver com tudo aquilo e regras eram feitas só para se pensar que existiam limites ou transparência.
Ainda assim, raras eram às vezes onde se havia alguma emoção do tipo discussão entre pilotos, estresse com os fiscais da Federação ou, mesmo, estardalhaços por razões quaisquer nessas reuniões.
No entanto, naquela fatídica sexta-feira o anfiteatro do autódromo da Holanda estava em completa agitação. Isso porque Daniil Kyvat acertara um soco no rosto de Max Verstappen pouco antes do início da reunião.
- Seu traidor, filho da puta! – Kyvat gritava na direção do holandês enquanto era contido por alguns membros das equipes. – Como pôde?
- Eu sinto muito. – Max dizia de volta, com as mãos rendidas, rosto vermelho e marcado pela direita do, agora, ex-amigo.
- Senhores, por favor, se contenham! – Nicolas pedia no meio na confusão.
As cadeiras haviam sido lançadas a todos os lados devido ao impulso dos apaziguadores em separar os dois pilotos, uma roda – como da época de ensino fundamental – havia sido aberta no meio do anfiteatro onda de um lado estava o traído e do outro o traidor, com os seus espectadores atentos ao redor.
Liza observava a cena de longe desgostosa.
A que ponto a testosterona chegava pela honra de um ego ferido e traído.
- O que acha que aconteceu? – pergunta abismado, ao lado da pilota. – Em uma hora estavam conversando perto da mesa de café numa boa e na outra o Kyvat começou a socar o Max. – ele ri baixo – Eu nunca vi o Daniil tão possesso.
- O Max merece uma chacoalhada para acordar para a vida. – ela diz dando de ombros – Não vou mentir, acho bem-feito.
Muito bem-feito.
Os dois ficam lado a lado acompanhando o desenrolar da situação quando Daniel se aproxima dos dois com a face estupenda.
- O Max pegou a mulher do Kyvat. – ele solta a fofoca de uma vez.
- O quê? – sopra chocado. – Não acredito! Que cuzão! – xinga em português.
- E parece que eles têm um caso já tem um ano. – Ricciardo releva e tapa a boca horrorizado. Seus olhos azuis estavam tão esbugalhados que Liza jurava que saltariam das orbitas a qualquer momento.
- Para de ser fofoqueiro Danny, - Liza diz – o assunto cabe somente aos dois.
Apesar de repugnar a ação tanto quanto, sabia separar as coisas e não se via no direito de meter o bedelho na vida alheia. Afinal não era da conta dela e de nenhum daqueles dentro do anfiteatro além dos dois envolvidos.
- Não quando eles decidem lavar roupa suja bem na reunião da FIA. – o australiano dá de ombros – Nunca imaginei que o Max pudesse fazer uma coisa dessas. Isso me deixa profundamente decepcionado. É bom saber que já veto da minha lista de amigos.
Liza encara o piloto, sendo pega de surpresa por aquela frase.
Ela não via qualidades na personalidade de Max, isso não era nenhuma novidade, mas ainda assim havia aqueles que enxergavam algo. Como uma vez disse, bem lá no fundo.
Tanto ele quanto Danny, Alex, e até mesmo Hamilton, afirmaram o fato com a mesma convicção. E, se realmente existisse alguma coisa relativamente boas, seria certo condenar alguém por um erro?
- O mesmo vale comigo. – diz determinado. – Essa é a pior das traições possíveis. Com mulher de amigo não se mexe.
- Isso não é amigo, não. – Daniel comenta balançando a cabeça em desaprovação. – Foi um belo de um chute no saco o que ele fez.
observa a reação dos amigos e segue os olhos para os demais da sala, os que não estavam impedindo que o Kyvat se aproximasse de Verstappen encaravam o holandês com olhos decepcionados e comentavam coisas ou outras entre si. Suas faces eram maldosas e as palavras provavelmente eram ácidas.
e Pierre eram os únicos que estavam completamente indiferentes com a situação e tinham uma conversa concentrada sobre algo em específico.
O foco de Liza muda completamente.
Ter tão perto e ao mesmo tempo tão longe, justo naquele dia, deixava-a mais emotiva. Ela tentava distrair sua cabeça com diversos outros assuntos para não se deixar desmoronar, como a briga polêmica que acontecia bem na sua frente, porém era como o condenado à forca mirando a causa da sua destruição minutos antes dela se concretizar. Uma hora ela iria cair.
Contudo, Liza havia prometido à Sandy que tentaria melhorar seu humor e passar o dia inteiro dentro de um quarto chorando estava longe disso. Por isso ela tinha aceitado voltar a fazer a terapia que ela nunca devia ter parado, desde que voltara as pistas e, mesmo que a psicóloga nova soubesse somente da ponta do iceberg, ela tinha que colocar as suas dicas em prática. Não ficar remoendo pensamentos que te fazem mal era o principal, e era óbvio o quanto ela era falha naquilo.
Pouco tempo depois, quando os nervos se acalmam, Nicolas comunica no microfone para os presentes: - A reunião será adiada para após o almoço, uma hora antes do treino. Estão, por hora, dispensados. – ele mira diretamente os dois pilotos – Recomponham-se cavalheiros, espero que a situação esteja resolvida até lá.
O primeiro a sair da sala é Kyvat, acompanhado de alguns dos integrantes da Alpha Tauri em passadas pesadas.
Liza olha na direção de Max, a quem é inevitavelmente encarado por rostos desgostosos e automaticamente recriminado pelo grupo. Ele suspira pesadamente, sopra uma despedida inaudível à própria equipe e se retira da sala.
Sozinho.
Não vou me sentir culpada por isso, Liza pensa ao cruzar os braços.
nunca antes havia realmente reparado em Max Verstappen fora das pistas, por isso não saberia dizer se ele sempre fora tratado com tamanha inferioridade como naquele dia.
Ela queria acreditar que não fora devido o acontecimento revelador de mais cedo, mas estaria só tentando enganar a si mesma.
Por mais que o rapaz fosse insuportável de tão arrogante, prepotente, extremamente implicante, competitivo, hipócrita e tinha causado a maior desgraça na vida da pilota, seu coração mole não evitou sentir compaixão pela situação decadente do holandês, que estava em plena cinco horas da tarde sentado no balcão do luxuoso bar do hotel bebendo whisky puro sozinho.
Ela nunca tinha visto-o daquele jeito.
- Você é uma otária, Benedetti. – ela sopra para si mesma enraivecida enquanto se encaminha na direção de Max para sentar-se na baqueta ao seu lado, acomodando a sua bolsa de mão em cima do balcão.
Ele vira a cabeça de leve para conferir quem se aproximara e ri quando identifica a pilota. Max volta à mirar a sua frente, a parede extensa com as mais variadas bebidas dispostas atrás no balcão, e toma um gole de seu copo antes de questionar: - Veio rir da merda que você causou?
Liza franze a testa virando-se para Max.
- Eu não contei nada a ninguém.
Mesmo que quisesse.
Max umedece os lábios vagarosamente e admira o líquido no copo que dança com o balanço da sua mão direita. Ele dá outro gole seco e a indaga com a garganta rouca: - Por quê?
Ele sabia que ela não havia dado com a língua nos dentes, como ele mesmo havia feito, mas precisava de uma razão mesmo que questionável que o fizesse voltar a sentir antipatia por ela.
- Não cabia a mim. – ela dá de ombros – Daniil era seu amigo e marido dela, pensei que quem deveria contar fosse um dos dois.
Max arqueia as sobrancelhas levemente e assente uma vez.
O barman se aproxima dos dois.
- Bebida? – ele questiona a pilota.
Ela merecia um pouco de tranquilidade, sim. Esquecer os seus problemas, nem que fosse por uma noite ou algumas horas era o seu maior desejo.
E já que ela era amadora nas técnicas terapêuticas que a psicóloga a introduziu, faria como nos velhos tempos. Beberia até esquecer-se do próprio nome.
Liza deixa os ombros caírem, rendida, e diz: - O mesmo que o dele.
O rapaz sai em busca do pedido e em menos de dois minutos pousa o copo com líquido dourado na frente dela.
- Pensei que usaria isso como seu triunfo nessa guerra que nós decretamos um contra o outro. – Max revela, pedindo para o rapaz atrás do balcão encher o seu copo com um aceno de mão.
Liza toma um gole do próprio copo, sua garganta coça pelo ardor da bebida com alto teor alcoólico.
- Max, por mais raiva que você me faça, e acredite, é muita... – ela intensifica a expressão com os olhos – Eu não teria coragem de destruir uma família só por vingança. Isso é puro egoísmo.
Ele a encara e engole em seco.
Os dois viram os copos juntos.
- Como ele realmente ficou sabendo? – ela pergunta depois de bater o copo vazio no balcão. – O Kyvat.
- Kelly contou. – ele dá de ombros – Disse que já tínhamos passado dos limites e que tinha percebido o quão errado era o que estávamos fazendo. – Max indica ao barman para encher os copos vazios novamente – Terminou comigo mesmo que ele não fosse querê-la de volta.
Liza não consegue controlar o semblante de indignação.
- Sério, Max, uma mulher casada? – ela pergunta – Com tanta mulher no mundo você escolhe justo a mulher do seu amigo?
O holandês ri tristonho.
- Eu nem sei como isso começou. – ele balança a cabeça, tomado por lembranças – Nós nos conhecemos em uma corrida, Daniil me convidou para passar alguns dias na casa dele enquanto divulgávamos a marca, Kelly sempre foi muito simpática e... – o holandês suspira pesadamente – Acho que eu me encantei pela ideia de ter uma pessoa como ela. – ele dá de ombros. – Meus últimos relacionamentos foram um fracasso.
Liza balança a cabeça em desaprovação.
- Isso foi tão errado. – ela comenta.
- Eu sei, está legal? – ele diz impaciente. Logo se recompõe. – Desculpe.
- Não pense que eu vou diminuir o quanto isso foi uma puta falta de caráter só porque você está aí todo pra baixo. – ela diz firme – Mas, sério, por mais que eu ainda duvide da sanidade mental delas, existem muitas mulheres por aí que dariam tudo para estar contigo. Você poderia ter qualquer uma delas.
Max ri, estupendo.
- Esse é o seu jeito de tentar fazer eu me sentir melhor?
- Não. – ela pede outra rodada de uísque – Eu não estou tentando fazer você se sentir melhor, continuo não gostando de você. – ele assente em meio a risos fracos, Liza era tão transparente quanto água e ele achava graça em como ela tentava não deixar nítido que estava sendo gentil com ele. O que ele admirava, ainda mais depois do que ele havia feito à ela.
- Eu sou só uma ferrada sentada no bar com outro ferrado. – ela insiste em deixar claro.
Max ergue o copo e Liza brinda com ele.
- Aos fodidos.
Os dois bebem depois de uma risada fraca.
- Se realmente quer saber, acho que eu só não queria ficar sozinho. – ele admite depois de bater o copo vazio no balcão – O que é irônico porque destruí umas das amizades mais integras que tinha aqui dentro.
- Além de hipócrita, você não é muito esperto. – ela o alfineta.
- Eu sei que sou meio desagradável às vezes... – ele declara.
- Às vezes? – Liza o interrompe arqueando uma sobrancelha.
- Tá legal, pega leve. – ele pede e ela ri. – Eu sei que é uma parte que tenho que trabalhar em mim. Gostaria que fosse mais acessível, como você é, mas eu sou meio holandês e meio belga, sou ogro por natureza.
- Como assim eu sou acessível? – ela franze a testa.
- Ah, você sabe. – ele solta o ar – Todo mundo conversa com você, é simpático com você; Vocês riem juntos, tem coleguismo e, às vezes, nem é com pessoas da sua própria equipe. – ele relata – Eu vejo que você realmente se diverte enquanto compete... Bom, se divertia. – ele entorta a boca, a culpa tomando a sua face – Você faz amizades e realmente se importa com as pessoas, da mesma forma que elas se importam com você. Parece ser um ambiente agradável de se trabalhar.
- A gentileza leva à isso.
Max suspira.
- E ter um coração bom. – ele sopra, mais para si mesmo que para a pilota. - Todo mundo diz que sou provocador, arrogante e metido, mas é o único jeito de eles perceberem que eu estou aqui. Se não, sou só mais um dos vinte pilotos no grid. Igual aos demais. – o rapaz pronúncia e rapidamente pega o copo, que já estava cheio com o líquido, para virar na boca. Ele sequer causava o ardor mais.
- Sim, porque ser um dos melhores do grid não basta, você tem que ser insuportável. – ela declara sarcástica.
Max gargalha.
- Como é?
- Se disser para alguém que eu disse isso eu falo que é mentira. – ela se adianta em esclarecer séria, mas acaba o acompanhando na risada. – O fato é que: ser impulsivo é a pior forma de você conseguir a simpatia das pessoas. Porque tem uma grande diferença em ser sincero e ser mal-educado, ter personalidade e ser um idiota. E as pessoas te veem da pior forma.
O rapaz deixa os ombros caírem meio ao peso da verdade.
- Eu realmente sinto muito, . – ele diz sentido. – Eu fiquei com inveja e estava tão possesso que todos estavam te idolatrando e falando sobre como você era determinada e honesta que não pensei em quão baixo era esse golpe. – ele se vira em sua direção – Você não teve culpa de se apaixonar por um dos seus adversários.
- Assim como você não teve culpa de se apaixonar pela mulher do seu amigo. – ela sopra, finalmente compreendendo.
Max Verstappen era um homem mal compreendido por grande parte da sociedade. Por ser bruto, rude e explosivo as pessoas não consideravam que poderia existir um jovem rapaz com sentimentos atrás de toda essa máscara, que por algum motivo necessita de atenção, pois se sente sozinho.
Liza havia se deixado ser influenciada pelas primeiras impressões que tivera dele e as más línguas, diga-se de passagem de Guida, quem ela descobriu em pouco tempo que falava mal de todo mundo.
Quanto às desavenças na pista, quem nunca?
já teve problemas com Kimi, Vettel, Russel, Alonso e até mesmo com . Só que nestas situações ambos souberam diferenciar o trabalho da relação fora das pistas e tudo ficou bem. Os pilotos tinham que saber que são dois setores completamente diferentes e um nunca podia influenciar o outro para uma boa dinâmica. E ela admitia vergonhosamente não ter feito o mesmo com Max.
Liza tinha que parar de ser tão empática e boazinha, lá estava ela já considerando ser amiga do piloto a quem tanto odiou.
No entanto, seus dizeres eram reais e suas ações impensadas, ele não seria a primeira pessoa que cometia erros e nem o único. Mas poucos eram aqueles que verdadeiramente se arrependiam.
E Liza conseguia ver nos olhos dele a íntegra verdade, pois ela já não os via como tão sombrios.
- Quer saber? – ela diz levantando de súbito e recolhendo sua bolsa. – Vamos.
- Vamos aonde? – Max questiona perdido.
- Precisamos tomar um porre decente. – ela diz e deixa umas notas em cima do balcão. – Ficar loucos.
- Mas amanhã tem corrida. – o holandês diz levantando-se a contragosto da banqueta.
- Agora são, - ela olha no relógio de pulso – quinze para as seis da tarde. Até as dez da manhã são 16 horas. – ela espreme os olhos para fazer os cálculos rápidos mentalmente – Considerando que vamos ficar bêbados em menos de três horas, vamos ter por volta de 13 horas de recuperação. Até lá a ressaca já vai ter passado e boa parte do álcool já vai ter saído do corpo.
- Nossa, você é boa em matemática. – ele diz recolhendo seu casaco pendurado no apoio da banqueta e seguindo-a bar afora.
- Não, só em cálculos para bebidas. – ela diz e ri.
Eles mereciam um pouco de tranquilidade, afinal.
- Como faz o Fatality com o Sub-Zero? – Carlos pergunta à com o controle remoto na mão enquanto na tela da televisão seu personagem no jogo de luta estava com vantagem em cima do personagem do amigo.
Eles estavam sentados no chão do quarto de hotel, entre travesseiros, almofadas, guloseimas e bebidas industrializadas para mais uma noite de videogames.
- Não vale pedir ajuda. – o britânico diz.
- Mas você está à mercê, essa é a hora do Fatality. – Carlos diz aprontando para a tela. – O que custa me dizer a sequência para eu terminar bem a luta?
- Meu orgulho. – ri.
O espanhol vê retornar do banheiro ao quarto e indaga à ele: - Leclerc, qual a sequência para dar Fatality com o Sub-Zero?
- Frente, baixo, frente e bolinha. – o monegasco responde distraidamente com os olhos focados na tela do celular em suas mãos.
- Não, ! – reclama. – Não valeu!
Carlos aperta a sequência e logo o seu lutador aplica um golpe superviolento e sanguento, finalizando a luta. O espanhol comemora e se joga em cima de rindo, este ri da intensa felicidade do amigo.
Eles rolam perlo carpete, mas logo se separam aos risos.
- Próximo. – Carlos diz alto e ele e olham , que ainda está com o semblante franzido e olhos no celular. – Leclerc?
- Sim? – responde sem erguer os olhos.
- É sua vez. – diz levantando-se e caminhando tranquilamente até o monegasco. – O que tem de tão interessante aí?
finalmente sobe os olhos à e mostra a tela em sua direção: - me ligou.
- O quê? – o britânico indaga e puxa o celular para as próprias mãos. – Já tem uns 30 minutos, como você não viu isso?
- O celular estava no vibra e estávamos jogando, só vi agora. – ele explica – Será que é alguma coisa importante? – indaga preocupado.
- Não sei. – dá de ombros enquanto Carlos se aproxima. – Liga de volta e pergunta o que é.
ergue uma sobrancelha, considerando.
- Se fosse importante ela teria insistido. – ele deduz.
Quando viu a ligação seu coração acelerara na mesma hora. Depois de dias sem contato ela estar ligando justamente naquele dia seria significativo. No entanto seu receio de ter sido somente um engano era demais para o seu ego ferido.
- O que é agora? – Carlos questiona – Você fica chorando pelos cantos que ela não manda mais mensagens, que mal conversam cara-a-cara, que ela te esqueceu e quando ela te liga você fica com frescura?!
- Vai se foder. – grunhe e toma o celular da mão de . – Você sabe onde ela está?
- A última vez que a vi foi na reunião estratégica, depois disso ela foi fazer uma massagem e disse que passaria a noite no quarto assistindo uma série que não me recordo o nome. – o britânico diz dando de ombros – não é mais a mesma, antes a gente sempre inventava alguma coisa para fazer no tempo livre, se divertia e agora ela prefere se esquivar de tudo.
suspira pesadamente.
- Você acha que ela pode ter... – ele umedece os lábios vagarosamente para tomar tempo antes de questionar, levemente envergonhado: - Que ela já seguiu em frente?
- Não. – Carlos diz veemente – Acho que se isso tivesse acontecido, ela estaria mais leve e feliz. O que não é o que temos visto.
assente lentamente.
- Alguma coisa aconteceu. – declara exaltado. – Não é possível.
- Eu te disse, nada aconteceu. – relata cansado, sentando-se na cama.
- Na noite antes da entrevista com o Will Smith, em Mônaco. Vocês brigaram? – pergunta.
- Não. – o monegasco nega veemente. – Nós fomos para cama da minha mãe, elas conversaram normalmente. Foi uma tarde divertida. Voltamos para o apartamento e ficamos jogando videogame até tarde, vocês viram: ela estava normal. Quando fomos dormir ainda estava tudo bem.
bufa alto.
- Na manhã da entrevista ela estava estranha. – ele se recorda. – Disse que estava tudo bem, mas era óbvio que estava super preocupada com alguma coisa. – respira fundo – Por pouco ela não chorou na minha frente, foi a primeira vez que a vi emocionada. Sabe o quanto ela é osso duro, né?!
- Ela não te disse nada? – Carlos questiona.
- Não. – nega. – Assim que saímos da reunião eu ia chamá-la para almoçar com a gente, mas ela já tinha ido embora. Sandy disse que ela estava com dor de cabeça e que iria voltar ao apartamento para tirar um cochilo. Depois disso não voltou mais.
- O quê? – indaga com a testa franzida. – Ela foi ao apartamento antes do almoço?
- Sim. – dá de ombros. – Por quê?
- Ela havia me mandado uma mensagem dizendo que iria passar o almoço refazendo umas fotos do marketing, que a Sandy tinha insistido.
arqueia as sobrancelhas, surpreso.
- Ela não refez foto alguma, cara.
olha para o celular em mãos, a visão focada na chamada perdida com o nome de na lista. Ele pouco reflete antes de se recordar: - Ela recebeu uma ligação àquela noite.
- De quem? – Carlos pergunta.
- Não sei. – o monegasco informa – Era de um número desconhecido.
- Ela foi lá para fora para atender, não foi? – questiona puxando em sua memória – Foi quando você pegou o controle e virou o jogo.
- Exatamente! – solta alvoraçado. – Depois da ligação... Pode ser que ela tenha ficado mais quieta. Não é?! Eu não me recordo direito.
- Sim, ela ficou, não jogou outras partidas. – atenua. – Nem de Mortal Kombat que ela gosta.
- O que quer que seja que essa pessoa tenha falado para ela, fodeu com o psicológico na menina. – Carlos declara.
O trio suspira ao encontrar algum indício para uma razão na incógnita que assolava não só , como todos os amigos do ex-casal. Eles queriam vê-los juntos e felizes novamente e se aproximar de uma explicação era o primeiro passo para conseguirem.
O quarto fica em silêncio por um tempo, exceto pelo som da música tema da tela inicial do jogo que corria na televisão em volume baixo. O trio reflexivo se assusta quando um estridente telefone toca.
apalpa os bolsos dos shorts rapidamente, sob os olhos dos outros.
- Falando no diabo. – ele diz ao constatar o nome na tela do celular antes de atender – Oi, .
prende a respiração inconscientemente.
- O quê? – franze o cenho ao questionar confuso. – Max, como assim, qual Max? – ele aguarda a resposta da mulher – O Verstappen? Não! – sopra descrente.
- O quê? – Carlos questiona incrédulo.
- Fala mais alto, não escuto você. – diz para o telefone, mas a batida da música alta que tocava de fundo não o deixava ouvir com clareza, além da voz embaralhada de uma Liza provavelmente bêbada. – Onde é este lugar?
e Carlos ficam observando atentamente, procurando entender aquela conversa desconexa.
- ? – chama – Não! – ele tira o telefone do ouvido para checar a tela que indicava que a ligação havia sido finalizada. O rapaz tenta retornar a ligação, visivelmente preocupado, mas suas tentativas caem direto na caixa postal. A bateria do telefone devia ter acabado no meio da chamada.
Quando seus olhos voltam aos dois amigos, suas faces com interrogações o induzem a explicar: - Aparentemente Liza está tri bêbada em uma escola em Amsterdam junto com Max Verstappen.
- O quê? – eles questionam juntos em incredulidade.
- Foi isso o que eu entendi. – dá de ombros – Tinha uma música alta tocando, não dava para ouvir muita coisa.
- Ela disse que estava em uma escola? – questiona confuso.
- Sim. De School ainda significa escola na Holanda, ou não? – o britânico pergunta.
- De School é uma balada em Amsterdam. – Carlos explica. – Fomos lá com o George, Alex e o Ricciardo no ano passado, não se lembra?
- Não.
- Não me surpreende, você mal parava em pé. – o espanhol ri.
- Por que ela estaria em uma balada com o Max? – indaga, retornando ao assunto. – Eles se odeiam.
- Temos que ir até lá. – declara convicto. – Ela deve estar drogada para sair na véspera de uma corrida e ainda por cima com o Verstappen.
sente um frio percorrer pelo seu estômago. Aquele não estava sendo um bom dia para ele, e talvez Liza estivesse mesmo em apuros devido a forma como poderia estar lidando com aquela situação. Ainda que estivessem separados ele não havia deixado de se importar com ela ou amá-la.
O trio não pensa duas vezes antes de sair na fria noite da Holanda.
Capítulo 23
Setembro na Holanda trazia a temporada de pré-inverno. Ainda não era consumado o inverno por completo, com os ventos assombrosamente gelados e temperaturas negativas, mas o precedente clima preparava os seus residentes para o que estava por vir.
Nos termômetros nas ruas indicavam cinco graus e já podiam ver pessoas bem agasalhadas, usando galochas para manter os pés quentes, toucas na cabeça e, até mesmo, luvas para resguardar os seus dedos.
Durante o caminho percorrido por , Carlos e no táxi eles viram nas ruas as pessoas confortáveis e aquecidas em suas vestimentas enquanto eles tremiam de frio devido à falta de trajes equipados para o clima em virtude à aflita e apressada saído do hotel.
Chegando ao clube noturno, eles agradeceram aos céus por evitar enfrentar a fila gigantesca na entrada, privilégios de suas posições sociais e, assim que adentraram no ambiente repleto de luzes coloridas, que refletiam em diversas direções, suspiraram aliviados pelo calor transmitido pelos corpos dançantes, por mais que consigo trouxesse aquele odor de suor e umidade ao seu redor.
Com um próximo ao outro, os três percorreram a lateral da boate começando a procurar pelo bar lotado. Eram diversos corpos se esfregando conforme o ritmo da música atrapalhando a sua movimentação.
Jatos de fumaça eram disparados e buzinas estridentes soadas ao intervalo de cada melodia. Aquilo era uma repleta confusão e perturbação à indivíduos mais sensíveis.
pisca algumas vezes para focar a visão e pensa ver uma mulher parecida com a ex-namorada na mesa do DJ, ao alto, em frente à um telão colorido dançando como se não houvesse amanhã.
Ele coça os olhos e olha em sua direção novamente, vendo com clareza o rosto de Liza com um sorriso radiante jogar os cabelos para trás com as mãos, tirando-os do rosto suado enquanto se movimentava alegremente.
- Ali! – diz aos amigos, apontando para o final do salão.
- Merda! – xinga ao identificá-la e eles tentaram caminhar o mais rápido possível.
Depois de passar pelos seguranças, que conferem as suas pulseiras, eles chegam à cabine e ficam boquiabertos com a cena, que seria hilária se não fosse trágica.
estava em pé na mesa do DJ dançando em movimentos descontraídos, pouco cambaleante devido à embriaguez, e estava próxima ao beiral sem barreiras de segurança, que a levaria à uma queda livre de uns bons dois metros até a pista principal de dança.
Max Verstappen tentava convencê-la a descer, porém igualmente embriagado, ria da tentativa dos seguranças em puxá-la de volta à cabine enquanto o DJ parecia desesperado com o fato.
- ! - esbraveja caminhando rapidamente até a direção da pilota, que tem a atenção atraída pela voz do parceiro.
No momento em que ela para de se movimentar os seguranças a pegam pelas pernas e a colocam de volta no chão, em frente ao britânico, com agilidade. Carlos e assistem a cena pouco afastados, estupendos pelo estado da jovem.
- ! – ela comemora abraçando-o empolgada. – O que você está fazendo agui?
Sua voz embolada e o cheiro de álcool que saía de sua boa denunciavam os bons goles que ela já havia ingerido.
- Você me ligou. – o rapaz diz em tom alto, devido a música estrondosa.
- Liguei? – ela questiona olhando-o com a testa franzida, mas logo alivia a expressão. – Verdade, liguei! – Liza ri com humor – É que é a oportunidade perfeita para te ensinar a beber outra coisa além de leite. Max... – ela procura pelo holandês ao seu redor e ao encontrá-lo ela diz. – Olha só, é o . Ele adora leite, sabia? Parece um neném. - ela aperta as bochechas do parceiro – Ah! – suspira, como se tivesse acabado de ter uma ideia brilhante – Podemos te arrumar uma namorada hoje. Você precisa desencalhar.
Max gargalha bem-humorado.
olha de um ao outro com estranheza.
- O que está acontecendo aqui? – o britânico pergunta. – Você e o Max de repente viraram amiguinhos?
- Eu sei o que parece. – ela diz apoiada no ombro do parceiro, mal aguentando se equilibrar sozinha – Mas nós não nos tornamos abigos. – diz desconcertada.
- Ei! – Max solta ofendido.
- Ainda! – ela atenua na direção do holandês. – Não apresse as coisas, bonitão. Amizades não se constroem da noite para o dia. – Quando volta a mirar , explica – Eu só estou tendo um dia desgraçado, Max também. Então viemos agui – ela soluça – encher a cara.
Pouco o rapaz entendia, seja pelas palavras atropeladas da parceira ou pela razão de todos estarem ali.
- Eu adoro essa música! – Liza diz sorridente e puxa Max pelo braço, fazendo-o cambalear antes de fazer uma dança engraçada com as mãos. O copo na mão do holandês quase cai e eles riem pelo líquido que é derramado em suas roupas, pouco se importando com o próprio estado. Naquela altura, sequer deviam se lembrar dos próprios princípios.
- Liza. – a toca pelo braço, seu movimento é delicado, mas pela falta de equilíbrio ela quase cai em cima do rapaz, agarrando em seus ombros para se manter em pé. – Como assim, o que aconteceu para você ficar ruim desse jeito? Quanto você bebeu?
- Um montão de álcool. – ela diz rindo.
não se controla e acaba rindo junto, a cena definitivamente era engraçada.
- O que é que eu vou fazer com você? - o britânico indaga ainda risonho.
e Carlos finalmente se aproximam, ao perceberem a dificuldade do rapaz. Quando Liza percebe a aproximação, precisa espremer os olhos para focar a visão e enxergar.
- Você trouxe o Carlos! – ela comemora, as mãos ao alto. – Carlota, estávamos bebendo sangria até agora pougo. Não é como a da Espanha, mas você vai adorar.
Carlos ri fraco.
- Num outro dia, talvez .
Liza sorri e corre os olhos lentos até a terceira pessoa.
Quando identifica seu sorriso varia de feliz para tristonho em instantes. Todos os muros que ela tinha construído ao redor de si e que já estavam vacilantes terminam de desmoronar por completo quando ela vê aqueles olhos sem o mesmo brilho.
O silêncio entre o grupo se torna constrangedor.
- Eu não devia ter vindo. – o monegasco diz e se vira para sair do lugar.
- Não! – Liza esbraveja e dá alguns passos na direção do rapaz, que precisa segurá-la pela cintura para que ela não caísse. – Me desculpe. – ela diz ao notar que pisara no pé do rapaz.
- Você está bem? – ele questiona preocupado.
- Sim... – ela sorri sem humor, mas logo em seguida solta o ar pesadamente – Ah, a quem quero enganar, você sabe que não. – ela admite sem filtro algum. – E não é porque você está agui, na verdade é bom que esteja agui. É muito bom. – ela sorri – Eu só...
Os olhos de Liza marejam, ela tinha perdido completamente o controle emocional. Ele por sua vez engole em seco. chorando era seu maior ponto fraco.
- Eu queria você por perto. Gomigo. Mas não posso. – ela confessa aos murmúrios, que por pouco o monegasco não escuta devido à altura da música. – E você disse que não queria nem ser meu abigo. Me chamou de mentirosa... – ela suspira, tomando fôlego, e lágrimas grossas rolam por sua face – Eu não menti, não. Pelo menos sobre o que eu sinto por você...
O rapaz havia se arrependido daqueles dizeres instantes depois de tê-los pronunciado, agora então desejava com todas as forças bater em si mesmo.
- Eu não quis dizer aquilo, mesmo. – ele diz sincero, secando suas lágrimas com os dedos delicadamente. – Falo merda de cabeça quente, você sabe. Me perdoa.
Ela respira fundo e assente vagarosamente, controlando-se.
- Queria te ligar hoje, – ela desabafa com a voz rouca – Max quase me convenceu, mas fui uma covarde e desliguei no terceiro togue. – Liza soluça – Não achei que fosse apropriado, porque eu já estava muito bêbada... É que – ela suspira sofrida – hoje está sendo difícil.
O monegasco confere o estado deplorável da amada e sente uma pontada acertá-lo no estômago. Quantas e quantas vezes ele havia se perguntado se ela estaria tão miserável quanto ele, assumia que até chegara a desejar isso. Mas vê-la daquele jeito partia o pouco daquilo que ainda restava em seu peito.
- Por isso que veio beber. – ele afirma.
Ela assente.
- O que me lembra que preciso de outra bebida. – ela comenta de súbito, chacoalhando a cabeça e olha na direção do bar.
O rapaz se surpreende com a repentina transição de um assunto sério à outro, mas ainda assim, sugere: - Acho que já é o suficiente por hoje, não é?!
Ela nega veemente.
- Quero uma Piña colada. Por favooor. – ela sorri em súplica e suspira. – Eu preciso.
- Tudo bem, fique aqui que eu pego para você. – ele diz e a entrega à Carlos, que a sustenta com a mão em suas costas.
- Ele é um amor. – Liza diz quando o monegasco dá as costas. Ela segue o trajeto do rapaz com os olhos – Sinto tanta a falta dele. – admite em um tom tristonho.
franze a testa e olha de Carlos à Max.
- O que eu perdi?
- Hoje faz um ano que eles se conheceram. – o holandês diz com naturalidade e dá uma bicada no resto de bebida que sobrara em seu copo. e Carlos o encaram atônitos.
- E como é que você sabe disso? – questiona.
- me contou. – ele dá de ombros. – E mais um monte de coisa, não sei como vocês aguentam. Por Deus, como essa garota fala.
Carlos e ainda estão perplexos quando volta com a bebida, pedida secretamente para ser feita sem álcool. O monegasco dá uma bicada no canudo e faz uma careta, como se estivesse forte, e entrega à que sorri encantada.
- Obrigada. – ela agradece e começa a beber feliz.
- Vamos embora, sim? – a questiona cuidadosamente.
- Droga! – ela deixa os ombros caírem – Deve ter um monte daqueles abutres lá fora. E agora você está agui e vão nos fotografar juntos de novo... Jean vai ferrar ainda mais com a minha vida.
franze o cenho confuso e olha aos demais, pedindo silenciosamente por explicações. e Carlos dão de ombros, também perdidos. Max, que havia ido há algum lugar e retornara com mais um copo de bebida na mão, tem a expressão neutra completamente alheio à conversa.
- Quem é Jean, ? – indaga.
- O maldito presidente. – ela resmunga, os olhos se fechando involuntariamente – Aquele gara têm me feito de... – e a frase é interrompida pelo jato de vômito que sai pela boca da brasileira.
- Ah, não!
- Merda, ! – esbraveja com uma careta desgostosa, mas a pilota continua a colocar tudo para fora em cima dos tênis novos do parceiro.
e Carlos a amparam pelos ombros.
Aquele definitivamente não tinha sido o jeito que eles planejaram finalizar a noite.
(...)
O relógio corria e eles tinham que agir o mais rápido e minuciosamente possível, carreiras dependiam daquilo.
Não era incomum que pilotos saíssem para se divertir na noite no final de semana das corridas, mas as comemorações eram feitas depois da corrida e não na noite antecedente à ela.
Antes de cada prova, a FIA realizava exames específicos em pilotos aleatórios, incluindo bafômetro e antidoping para ter absoluta certeza que nada iria interferir na direção segura para a prova. Então eles tinham menos de 11 horas para fazer com que as consequências daquela noite desaparecessem.
Depois de o trio conseguir convencer os bêbados que era hora de ir para a casa, pedido ao proprietário da boate que os providenciasse uma saída discreta pelos fundos, os cinco estavam dentro do carro com os tênis de cheirando à comida azeda, Max reclamando sobre a velocidade que Carlos conduzia e desmaiada no ombro de .
- Não podemos ir para o hotel. – o monegasco fala. – Lá é o lugar com mais fotógrafos. Eles não podem chegar assim lá.
- E para onde iríamos? – questiona.
- Tenho um apartamento à algumas quadras daqui, era do meu pai. – Max diz com a voz amena - Podemos continuar a festa por lá.
revira os olhos, sem paciência, e diz a Carlos: - Ao apartamento do Max, então.
Quando eles chegam ao conjunto de prédios luxuosos e de grande requinte, precisa acordar a jovem delicadamente para auxiliá-lo na caminhada até os elevadores, seu peso triplicava quando estava apagada.
Liza acorda meio desnorteada, mas segue os seus comandos. Com um braço no ombro de e o outro no de eles seguem pelo saguão, elevador e corredores até a porta que Max identifica como a sua.
O holandês se abaixa cambaleante até o tapete em frente à porta e procura por algo debaixo dele. Liza estica uma de suas pernas, ainda apoiada, e empurra o traseiro do rapaz lentamente, fazendo com que ele desequilibrasse e batesse o rosto contra a porta.
Max reclama e ela ri.
- Admitam, todos queriam fazer isso. – ela diz enquanto ele se levantava e tentava acertar o buraco no trinco da porta com a chave que resgatara.
Carlos toma a chave da mão do rapaz e abre a porta sem dificuldades.
- Sejam bem-vindos e tal... – Max balança a mão com descaso – Deve ter comida na geladeira, bebida no armário e uma TV de 90 polegadas para jogarmos videogame. – ele indica a tela gigantesca no meio da sala bem mobiliada.
Eles estavam na cobertura do prédio e as janelas gigantescas de vidro permitia que eles vissem toda a cidade iluminada abaixo deles. O apartamento de Max era de uma organização palpável, tudo metricamente colocado em seu devido lugar. As paredes internas eram decoradas com os capacetes do piloto, assim como troféus expostos em prateleiras de vidro. Não havia fotos, mas um único pôster que tomava uma parede inteira de seu próprio pai. O grande piloto Verstappen-pai.
Liza parece readquirir as suas energias automaticamente ao ver a TV ser ligada e as cores saltarem da tela.
- Quais jogos você tem? – ela pergunta soltando-se dos rapazes e caminhando na direção do holandês com os olhos brilhando.
- Nada de jogos, você vai é tomar um banho. – diz e olha para os próprios pés – Talvez eu precise mais do que você.
Liza ri envergonhada.
- Max, você também deveria tomar um banho, Carlos vai preparar alguma coisa para vocês comerem e depois devem ir direto para a cama. Quero que vocês dois bebam muita água. – diz firme, e olha em seu relógio de pulso – Já é meia-noite e vinte e em poucas horas nós temos uma corrida importante para estar. Todos nós. E o álcool tem que sair do corpo de vocês antes disso.
Max suspira desapontado, mas assente, desliga a televisão e se direciona até o corredor que levava aos quartos.
- Estes são os quartos de hóspedes. – ele diz apontando para as duas portas consecutivas ao lado direito. – Tem toalha nos armários e sabonete nas gavetas do banheiro. Fiquem à vontade.
O grupo se espalha pelo apartamento.
Enquanto aguardava ao lado de fora do quarto Liza terminar o seu banho, passa por ele secando os cabelos com uma toalha.
- Norris. – o monegasco chama sua atenção, e ele se aproxima. – Você ouviu o que a disse sobre o presidente Jean?
- Como esquecer os minutos antes de eu levar um jato quente nos pés? – o rapaz diz sarcástico – Claro que eu lembro.
- Eu nem sabia que ela o conhecia, e, se eles se conhecem, porque ele estaria ferrando com ela, como ela disse? – questiona ao piloto, que se põe à pensar.
Depois de alguns instantes, arqueia as sobrancelhas com os olhos arregalados.
- E se ele souber de vocês? – o britânico sugere.
suspira, é claro.
- Por isso ela terminou. – ele deduz e assente. – Ela disse sobre sermos fotografados juntos de novo, talvez alguma coisa deva ter escapado na mídia e ele soube. – o monegasco põe a mão sobre a boca, chocado – Ele deve tê-la procurado. Meu Deus do céu.
- Dizem que ele é um chantageador e faz um monte de trapaças para comandar os campeonatos. – declara – Eu morro de medo dele. Lembra daquele acidente do Marcus em 2018?
assente, claro que se recordava. Marcus Ericsson era o seu parceiro na Alfa Romeo e aquele ano era a sua temporada de estreia. Ele se lembrava de como havia ficado assustado com o seu primeiro acidente ao vivo. Se recordava de como as pessoas falavam que o parceiro teve sorte ao sair de um acidente de tamanha proporção sem uma lesão sequer.
- Carlos disse que não foi acidente. – revela – Há rumores de que Jean frauda alguns motores e chantageia pilotos para fazerem o que ele quer. Dizem até que o Alonso era o capacho dele, e por isso ele tirou um ano sabático, para desviar dos rumores.
- Caralho. – sopra incrédulo.
- Mas... – engole em seco – Tudo isso não passam de rumores, né?! – o rapaz tenta afirmar, mas o tom sai duvidoso – Isso são mais lendas da Fórmula 1, que realidade, certo?!
- Espero que sim. – diz com os olhos perdidos em um ponto qualquer da parede e respira fundo, voltando-se a porta do quarto de . – Ela está demorando demais lá.
- É melhor você ir dar uma olhada, ela pode estar vomitando de novo. – Dito isso continua seu caminho e entra no quarto com cuidado, batendo levemente na porta.
- ? – ele a chama, mas o quarto está vazio.
Ele continua, seguindo a luz que vinha do banheiro e escuta alguns gemidos de dor atrás da porta.
- , você está bem? – ele fala contra a porta e ouve mais gemidos em resposta.
tenta abrir a maçaneta, mas está trancada.
- , você precisa destrancar a porta para eu te ajudar.
- Eu... Eu estou bem. – ela diz com a voz rouca. – Saio em um minuto.
O monegasco escuta a descarga do vaso ser acionada, depois de alguns instantes a água da pia é ligada e o som da escova passando pelos dentes da pilota soa. Ele aguarda até que ela termine de escovar os dentes e então ela abre a porta.
Liza está apenas envolta pela toalha branca, com os cabelos molhados caídos pelos ombros e costas, pele úmida e um semblante adoentado na face.
- Você está bem? – ele questiona pegando-a pela mão e a levando até a cama.
- Nunca mais eu vou beber. – ela resmunga e novamente a ânsia soa pela sua garganta. Ela tapa a boca com a mão livre e espera a vontade passar. – Não aguento mais vomitar. Não tem mais nada no meu estômago para sair.
a conduz até a cama e a senta no colchão, em seguida vai até os armários e procura por uma camisa qualquer, encontrando uma azul escura com símbolo da Red Bull estampada em sua frente.
Ele volta à Liza e ela estica os braços para o alto, para que ele a vestisse. Quando a camisa já está no seu corpo, cobrindo até o meio de suas coxas, ela se livra da toalha e se deita sob os lençóis pretos.
- Você não quer comer alguma coisa? – pergunta – Ao menos precisa continuar bebendo a sua água. – ele indica a garrafa em cima da cômoda de cabeceira.
- Não conseguiria nem se quisesse. – ela diz se encolhendo e se acomodando por debaixo do edredom. Sua cabeça girava e o estômago doía pelo esforço.
assente, estica o edredom até cobri-la por inteiro e visto que ela já havia fechado os olhos ele segue até o interruptor para apagar a luz.
- ? – ela o chama em meio à escuridão.
- Sim?
- Obrigada. – ela sopra.
- Não foi nada. – ele sorri fraco e caminha na direção da porta. – Boa noite.
Quando está para fechá-la por completo, por meio de uma fresta aberta ele consegue ouvi-la dizer baixinho: - Eu te amo, espero que não tenha se esquecido disso.
(...)
Antes mesmo de abrir os olhos, a dor de cabeça a acerta em cheio, deixando-a desconcertada imediatamente. Ela grunhe de dor e leva a mão à cabeça dormente.
A jovem massageia suas têmporas por um tempo antes de abrir os olhos cuidadosamente.
O ambiente não está totalmente claro, alguns raios de claridade transcendiam das cortinas cor de pêssego e pouco iluminava o quarto completamente desconhecido.
Sua cabeça gira quando ela se senta na cama macia e Liza volta a massagear as suas têmporas de olhos fechados. Que enxaqueca do inferno.
Aos poucos a tontura vai passando e ela se permite abrir os olhos novamente.
Imediatamente ele nota deitado desconfortavelmente em uma poltrona ao lado da cama e com um balde de ferro em seu colo.
Droga.
Algumas imagens da noite passada a atingem com força, no entanto todas estavam embaralhadas e desconexas.
Ela tenta recapitular a noite, parte por parte.
Lembrava-se de ter ido à boate com Max e de aproveitar a promoção de shot duplo de tequila pelo preço de um que se encerrava à meia-noite, no entanto eles ficaram bêbados muito antes disso. Ela sente seu estômago regurgitar com a lembrança dela virando os primeiros dez shots da bebida já que os demais apareciam apenas em borrões.
Liza se recordava de ter dançado, de ter conversado e ter sido convidada para ir até a cabine do DJ. Depois disso ela se lembra de vultos de , Carlos e... Seria possível, ?!
Puta merda, ela pensa.
Ela se descobre do edredom e joga as pernas para fora da cama, no mesmo instante pula da poltrona assustado e segura o balde em sua direção.
- Está passando mal de novo? – ele questiona os bocejos, os olhos cansados e sonolentos.
- Não. – ela nega – Eu acho.
- Que bom, muito bom. – ele sopra e volta a se acomodar na poltrona, com o balde no colo, e fecha os olhos. Em poucos instantes está dormindo.
Liza olha para a cômoda de cabeceira e constata o horário no relógio, 7 A.M.
Ela respira fundo e se levanta, caminhando na direção do parceiro, e percebe estar vestida com uma camiseta que obviamente não era sua. Red Bull Racing?! Que merda era aquela?!
Ignorando os seus pensamentos que traçavam um mar de possibilidades, ela chama cuidadosamente para levá-lo até a cama. O rapaz, com a exaustão expressa no rosto, obedece aos seus comandos sem reclamar. Ele a entrega o balde vazio e se deita onde ela estava há alguns minutos.
Enquanto observava carinhosamente, sentindo-se grata por ele ter cuidado de seu porre, a porta do banheiro do quarto se abre e revela Leclerc vestindo apenas um calção e secando os cabelos úmidos com a toalha. Claramente ele havia acabado de sair do banho.
Ela se desconcerta imediatamente. Não esperava encontrá-lo tão cedo, apesar das vagas lembranças da sua presença na noite passada.
- Você acordou. – ele nota, com um sorriso fraco e olhos cansados.
- E você parece não ter dormido. – ela comenta.
- Acho que dormi coisa de uma hora. – ele dá de ombros – Vinte minutos depois que você se deitou reclamou de fome e o nosso erro foi achar que precisava colocar alguma coisa sustentável no seu estômago. Logo eu vi que não foi uma boa ideia, você passou mal a noite toda.
- Eu vomitei em você? – ela questiona alarmada, notando as roupas jogadas no chão do quarto.
- Não se preocupe, eu não guardo rancor. – ele diz e joga a toalha sobre a cômoda do quarto. – Já o ... – ri – Digamos que você vai ter que fazer alguns favores para se redimir com ele.
Ela volta a mirar o parceiro respirar pesadamente no sono profundo.
- Coitado. – ela sopra envergonhada – Vocês estão exaustos, não precisavam ter feito isso.
- Eu disse para ele ir dormir que eu dava conta sozinho. – dá de ombros. – Mas ele estava preocupado. Eu também. Nunca tinha visto você passar tão mal com bebida.
Ela suspira frustrada e olha em sua direção.
- Obrigada.
Ele abana a mão ao dizer: - Não foi nada.
Liza sorri atenciosa e olha ao seu redor.
- Onde estamos?
- Na casa do seu mais novo amigo, Max. – zomba e ela ri fraco.
- Isso explica a camiseta. – ela diz olhando para o próprio corpo.
- Então é verdade, - ele fala procurando por outra camiseta nos armários – vocês agora são amigos? – ri – O que ele teve que fazer, vender a alma dele para o diabo?
Liza gargalha.
- Quase isso. – ela diz brincalhona, para em seguida confessar: - Acho que vale a pena dar uma chance para ele. – dá de ombros – Nós começamos com o pé esquerdo, dois esquentadinhos... Podemos ter uma convivência agradável se nos esforçarmos para isso e colocarmos as diferenças de lado.
O monegasco assente e retorna ao quarto, já vestido com uma camisa preta gola V.
- Então todo o resto que você disse ontem à noite também é verdade? – ele indaga mais sério.
Liza engole em seco.
- O que mais eu disse? – ela questiona, já apreensiva.
Deus, ela perdia o filtro e senso quando ficava bêbada.
- Que Jean Todt está te chantageando.
Seu estômago gela e ela sente um suor escorrer metaforicamente pela sua testa. Sua pressão caí e Liza sente suas pernas fraquejarem.
A jovem não se recordava de ter feito tal revelação – não se recordava de uma boa parte da noite também – portanto não sabia até que ponto tinha contado ao rapaz. O medo foi subindo em um arrepio pela sua espinha e ela já via tudo estar perdido.
No entanto, com uma súbita calma e racionalidade, ela respira fundo – tenta recuperar a pose – e questiona, fazendo-se de desentendida: - O quê? – ela ri fraco – Eu disse isso? Que ridículo.
sorri convencido, ele sabia o que ela estava tentando fazer.
- Não exatamente nestas palavras, mas a sua reação diz que foi exatamente o que aconteceu.
Liza solta o ar frustrada, completamente desarmada: - Merda, !
Estava vulnerável e sem máscaras. Como queria não ser tão transparente, principalmente na frente dele.
- Oh, meu Deus, isso realmente está acontecendo! – exaspera, incrédulo. – Puta que o pariu, !
- Fala baixo. – ela diz se aproximando dele com os olhos em , que continuava a dormir um sono pesado. Ela indica a porta e eles saem para o corredor vazio.
Quando ela fecha a porta vagarosamente para que não fizesse barulho, vira-se para ele.
- Eu sabia que alguma coisa nessa história não se encaixava. – ele diz com sua mente agora iluminada. – Eu estive me martirizando todo esse tempo sobre nós dois, o que eu possa ter feito de errado e criticando suas atitudes... Por que não me disse nada?
- Porque eu não podia e sinto muito por isso! – ela impetuosa. – Sinto muito, sério. Te ver desolado... – ela engole em seco – Acabou comigo. Mas eu não podia fazer nada e ainda continuo não podendo! – Liza passa as mãos pelo rosto e suspira pesadamente para choramingar para si mesma – Merda, ele já deve estar sabendo sobre ontem.
- O quê? – questiona. – O que ele está fazendo com você? O que é que está acontecendo?
- Fiz um pacto com o próprio diabo em pessoa. – ela se vira para ele – Então o quanto menos você souber, melhor.
– Isso é um absurdo. – ele passa a mão no rosto, inquieto – Só para nos manter em um campeonato? – seu semblante era abismado – Se eu soubesse que estava se submetendo à algum abuso de poder desses, teria saído de livre e espontânea vontade dessa sujeira.
- Queria que fosse tão fácil. – ela ri sem humor e olha fundo em seus olhos – , você não tem ideia do que aquele homem é capaz. Não é só sobre uma suspensão na temporada. É bem mais grave que isso.
Liza se abraça e seu corpo fica trêmula inconscientemente.
O rapaz a observa atentamente.
- Você está com medo. – ele sopra, concluindo.
- Eu estou apavorada! – ela corrige, seus olhos marejados. – Morro de medo de que ele vire a casaca e decida te machucar só para me punir. Ele sabe que você é meu ponto fraco, droga, e eu só quero te proteger.
engole em seco.
- Por Deus, . – ele se aproxima dela, tomando seu corpo em seus braços.
- Eu descobri coisas horríveis sobre ele e o que ele fez. – ela diz com a voz rouca – Ele... É um monstro.
a aperta contra seu corpo e ela passa os braços pelos ombros dele, envolvendo o pescoço delicadamente e com calma aproveitando-se naquele momento do toque na pele conhecida e a flagrância masculina que emanava do seu ser.
O monegasco afunda o rosto por entre seus cabelos e o cheiro de xampu preenche suas narinas enquanto ela passa os dedos por entre os cabelos macios da nuca dele. Como haviam sentido falta daquele contato, daquele abraço.
- Me desculpe. – ele enuncia sentido. – Disse coisas horríveis à você quando você só estava...
- Você não tinha como saber. – ela o interrompe com a voz amena.
Ele se afasta minimamente e prende o rosto dela entre suas mãos para olhar em seus olhos avelã, que naquela manhã estavam mais claros.
- Me deixe te ajudar. – ele sopra.
Liza automaticamente se retrai, saindo de seu aperto e seus braços, afastando-se instintivamente.
- Você não pode. – ela diz num murmúrio.
- Isso não pode continuar assim! – declara.
balança a cabeça negativamente, os olhos vidrados nas reações do monegasco.
- Não. – ela diz firme. – Você tem que me prometer que não vai fazer nada.
- Mas, ...
- Tem que me prometer! – ela exaspera.
Ele umedece os lábios vagarosamente, as mãos vão à cabeça.
- Você está se colocando em perigo e eu não vou aceitar isso.
- Eu não me importo! – ela grita, mas respira fundo para se recompor – Você não está entendendo o grau de seriedade aqui.
De repente duas portas do corredor se abrem e um sonolento Carlos e um confuso Max surgem com os rostos amassados pelo sono pesado do qual haviam sido despertados.
- Está tudo bem, pessoal? – Carlos pergunta, o semblante preocupado ao constatar o casal de frente um para o outro com rostos transcendendo emoções.
- Não sei. – Liza dá de ombros e se vira à – Está, ?
O rapaz passa a mão pelos cabelos e suspira pesadamente.
- Não. – ele responde com os ombros caídos – Mas que outra opção eu tenho além de deixar isso nas suas mãos?
Nos termômetros nas ruas indicavam cinco graus e já podiam ver pessoas bem agasalhadas, usando galochas para manter os pés quentes, toucas na cabeça e, até mesmo, luvas para resguardar os seus dedos.
Durante o caminho percorrido por , Carlos e no táxi eles viram nas ruas as pessoas confortáveis e aquecidas em suas vestimentas enquanto eles tremiam de frio devido à falta de trajes equipados para o clima em virtude à aflita e apressada saído do hotel.
Chegando ao clube noturno, eles agradeceram aos céus por evitar enfrentar a fila gigantesca na entrada, privilégios de suas posições sociais e, assim que adentraram no ambiente repleto de luzes coloridas, que refletiam em diversas direções, suspiraram aliviados pelo calor transmitido pelos corpos dançantes, por mais que consigo trouxesse aquele odor de suor e umidade ao seu redor.
Com um próximo ao outro, os três percorreram a lateral da boate começando a procurar pelo bar lotado. Eram diversos corpos se esfregando conforme o ritmo da música atrapalhando a sua movimentação.
Jatos de fumaça eram disparados e buzinas estridentes soadas ao intervalo de cada melodia. Aquilo era uma repleta confusão e perturbação à indivíduos mais sensíveis.
pisca algumas vezes para focar a visão e pensa ver uma mulher parecida com a ex-namorada na mesa do DJ, ao alto, em frente à um telão colorido dançando como se não houvesse amanhã.
Ele coça os olhos e olha em sua direção novamente, vendo com clareza o rosto de Liza com um sorriso radiante jogar os cabelos para trás com as mãos, tirando-os do rosto suado enquanto se movimentava alegremente.
- Ali! – diz aos amigos, apontando para o final do salão.
- Merda! – xinga ao identificá-la e eles tentaram caminhar o mais rápido possível.
Depois de passar pelos seguranças, que conferem as suas pulseiras, eles chegam à cabine e ficam boquiabertos com a cena, que seria hilária se não fosse trágica.
estava em pé na mesa do DJ dançando em movimentos descontraídos, pouco cambaleante devido à embriaguez, e estava próxima ao beiral sem barreiras de segurança, que a levaria à uma queda livre de uns bons dois metros até a pista principal de dança.
Max Verstappen tentava convencê-la a descer, porém igualmente embriagado, ria da tentativa dos seguranças em puxá-la de volta à cabine enquanto o DJ parecia desesperado com o fato.
- ! - esbraveja caminhando rapidamente até a direção da pilota, que tem a atenção atraída pela voz do parceiro.
No momento em que ela para de se movimentar os seguranças a pegam pelas pernas e a colocam de volta no chão, em frente ao britânico, com agilidade. Carlos e assistem a cena pouco afastados, estupendos pelo estado da jovem.
- ! – ela comemora abraçando-o empolgada. – O que você está fazendo agui?
Sua voz embolada e o cheiro de álcool que saía de sua boa denunciavam os bons goles que ela já havia ingerido.
- Você me ligou. – o rapaz diz em tom alto, devido a música estrondosa.
- Liguei? – ela questiona olhando-o com a testa franzida, mas logo alivia a expressão. – Verdade, liguei! – Liza ri com humor – É que é a oportunidade perfeita para te ensinar a beber outra coisa além de leite. Max... – ela procura pelo holandês ao seu redor e ao encontrá-lo ela diz. – Olha só, é o . Ele adora leite, sabia? Parece um neném. - ela aperta as bochechas do parceiro – Ah! – suspira, como se tivesse acabado de ter uma ideia brilhante – Podemos te arrumar uma namorada hoje. Você precisa desencalhar.
Max gargalha bem-humorado.
olha de um ao outro com estranheza.
- O que está acontecendo aqui? – o britânico pergunta. – Você e o Max de repente viraram amiguinhos?
- Eu sei o que parece. – ela diz apoiada no ombro do parceiro, mal aguentando se equilibrar sozinha – Mas nós não nos tornamos abigos. – diz desconcertada.
- Ei! – Max solta ofendido.
- Ainda! – ela atenua na direção do holandês. – Não apresse as coisas, bonitão. Amizades não se constroem da noite para o dia. – Quando volta a mirar , explica – Eu só estou tendo um dia desgraçado, Max também. Então viemos agui – ela soluça – encher a cara.
Pouco o rapaz entendia, seja pelas palavras atropeladas da parceira ou pela razão de todos estarem ali.
- Eu adoro essa música! – Liza diz sorridente e puxa Max pelo braço, fazendo-o cambalear antes de fazer uma dança engraçada com as mãos. O copo na mão do holandês quase cai e eles riem pelo líquido que é derramado em suas roupas, pouco se importando com o próprio estado. Naquela altura, sequer deviam se lembrar dos próprios princípios.
- Liza. – a toca pelo braço, seu movimento é delicado, mas pela falta de equilíbrio ela quase cai em cima do rapaz, agarrando em seus ombros para se manter em pé. – Como assim, o que aconteceu para você ficar ruim desse jeito? Quanto você bebeu?
- Um montão de álcool. – ela diz rindo.
não se controla e acaba rindo junto, a cena definitivamente era engraçada.
- O que é que eu vou fazer com você? - o britânico indaga ainda risonho.
e Carlos finalmente se aproximam, ao perceberem a dificuldade do rapaz. Quando Liza percebe a aproximação, precisa espremer os olhos para focar a visão e enxergar.
- Você trouxe o Carlos! – ela comemora, as mãos ao alto. – Carlota, estávamos bebendo sangria até agora pougo. Não é como a da Espanha, mas você vai adorar.
Carlos ri fraco.
- Num outro dia, talvez .
Liza sorri e corre os olhos lentos até a terceira pessoa.
Quando identifica seu sorriso varia de feliz para tristonho em instantes. Todos os muros que ela tinha construído ao redor de si e que já estavam vacilantes terminam de desmoronar por completo quando ela vê aqueles olhos sem o mesmo brilho.
O silêncio entre o grupo se torna constrangedor.
- Eu não devia ter vindo. – o monegasco diz e se vira para sair do lugar.
- Não! – Liza esbraveja e dá alguns passos na direção do rapaz, que precisa segurá-la pela cintura para que ela não caísse. – Me desculpe. – ela diz ao notar que pisara no pé do rapaz.
- Você está bem? – ele questiona preocupado.
- Sim... – ela sorri sem humor, mas logo em seguida solta o ar pesadamente – Ah, a quem quero enganar, você sabe que não. – ela admite sem filtro algum. – E não é porque você está agui, na verdade é bom que esteja agui. É muito bom. – ela sorri – Eu só...
Os olhos de Liza marejam, ela tinha perdido completamente o controle emocional. Ele por sua vez engole em seco. chorando era seu maior ponto fraco.
- Eu queria você por perto. Gomigo. Mas não posso. – ela confessa aos murmúrios, que por pouco o monegasco não escuta devido à altura da música. – E você disse que não queria nem ser meu abigo. Me chamou de mentirosa... – ela suspira, tomando fôlego, e lágrimas grossas rolam por sua face – Eu não menti, não. Pelo menos sobre o que eu sinto por você...
O rapaz havia se arrependido daqueles dizeres instantes depois de tê-los pronunciado, agora então desejava com todas as forças bater em si mesmo.
- Eu não quis dizer aquilo, mesmo. – ele diz sincero, secando suas lágrimas com os dedos delicadamente. – Falo merda de cabeça quente, você sabe. Me perdoa.
Ela respira fundo e assente vagarosamente, controlando-se.
- Queria te ligar hoje, – ela desabafa com a voz rouca – Max quase me convenceu, mas fui uma covarde e desliguei no terceiro togue. – Liza soluça – Não achei que fosse apropriado, porque eu já estava muito bêbada... É que – ela suspira sofrida – hoje está sendo difícil.
O monegasco confere o estado deplorável da amada e sente uma pontada acertá-lo no estômago. Quantas e quantas vezes ele havia se perguntado se ela estaria tão miserável quanto ele, assumia que até chegara a desejar isso. Mas vê-la daquele jeito partia o pouco daquilo que ainda restava em seu peito.
- Por isso que veio beber. – ele afirma.
Ela assente.
- O que me lembra que preciso de outra bebida. – ela comenta de súbito, chacoalhando a cabeça e olha na direção do bar.
O rapaz se surpreende com a repentina transição de um assunto sério à outro, mas ainda assim, sugere: - Acho que já é o suficiente por hoje, não é?!
Ela nega veemente.
- Quero uma Piña colada. Por favooor. – ela sorri em súplica e suspira. – Eu preciso.
- Tudo bem, fique aqui que eu pego para você. – ele diz e a entrega à Carlos, que a sustenta com a mão em suas costas.
- Ele é um amor. – Liza diz quando o monegasco dá as costas. Ela segue o trajeto do rapaz com os olhos – Sinto tanta a falta dele. – admite em um tom tristonho.
franze a testa e olha de Carlos à Max.
- O que eu perdi?
- Hoje faz um ano que eles se conheceram. – o holandês diz com naturalidade e dá uma bicada no resto de bebida que sobrara em seu copo. e Carlos o encaram atônitos.
- E como é que você sabe disso? – questiona.
- me contou. – ele dá de ombros. – E mais um monte de coisa, não sei como vocês aguentam. Por Deus, como essa garota fala.
Carlos e ainda estão perplexos quando volta com a bebida, pedida secretamente para ser feita sem álcool. O monegasco dá uma bicada no canudo e faz uma careta, como se estivesse forte, e entrega à que sorri encantada.
- Obrigada. – ela agradece e começa a beber feliz.
- Vamos embora, sim? – a questiona cuidadosamente.
- Droga! – ela deixa os ombros caírem – Deve ter um monte daqueles abutres lá fora. E agora você está agui e vão nos fotografar juntos de novo... Jean vai ferrar ainda mais com a minha vida.
franze o cenho confuso e olha aos demais, pedindo silenciosamente por explicações. e Carlos dão de ombros, também perdidos. Max, que havia ido há algum lugar e retornara com mais um copo de bebida na mão, tem a expressão neutra completamente alheio à conversa.
- Quem é Jean, ? – indaga.
- O maldito presidente. – ela resmunga, os olhos se fechando involuntariamente – Aquele gara têm me feito de... – e a frase é interrompida pelo jato de vômito que sai pela boca da brasileira.
- Ah, não!
- Merda, ! – esbraveja com uma careta desgostosa, mas a pilota continua a colocar tudo para fora em cima dos tênis novos do parceiro.
e Carlos a amparam pelos ombros.
Aquele definitivamente não tinha sido o jeito que eles planejaram finalizar a noite.
O relógio corria e eles tinham que agir o mais rápido e minuciosamente possível, carreiras dependiam daquilo.
Não era incomum que pilotos saíssem para se divertir na noite no final de semana das corridas, mas as comemorações eram feitas depois da corrida e não na noite antecedente à ela.
Antes de cada prova, a FIA realizava exames específicos em pilotos aleatórios, incluindo bafômetro e antidoping para ter absoluta certeza que nada iria interferir na direção segura para a prova. Então eles tinham menos de 11 horas para fazer com que as consequências daquela noite desaparecessem.
Depois de o trio conseguir convencer os bêbados que era hora de ir para a casa, pedido ao proprietário da boate que os providenciasse uma saída discreta pelos fundos, os cinco estavam dentro do carro com os tênis de cheirando à comida azeda, Max reclamando sobre a velocidade que Carlos conduzia e desmaiada no ombro de .
- Não podemos ir para o hotel. – o monegasco fala. – Lá é o lugar com mais fotógrafos. Eles não podem chegar assim lá.
- E para onde iríamos? – questiona.
- Tenho um apartamento à algumas quadras daqui, era do meu pai. – Max diz com a voz amena - Podemos continuar a festa por lá.
revira os olhos, sem paciência, e diz a Carlos: - Ao apartamento do Max, então.
Quando eles chegam ao conjunto de prédios luxuosos e de grande requinte, precisa acordar a jovem delicadamente para auxiliá-lo na caminhada até os elevadores, seu peso triplicava quando estava apagada.
Liza acorda meio desnorteada, mas segue os seus comandos. Com um braço no ombro de e o outro no de eles seguem pelo saguão, elevador e corredores até a porta que Max identifica como a sua.
O holandês se abaixa cambaleante até o tapete em frente à porta e procura por algo debaixo dele. Liza estica uma de suas pernas, ainda apoiada, e empurra o traseiro do rapaz lentamente, fazendo com que ele desequilibrasse e batesse o rosto contra a porta.
Max reclama e ela ri.
- Admitam, todos queriam fazer isso. – ela diz enquanto ele se levantava e tentava acertar o buraco no trinco da porta com a chave que resgatara.
Carlos toma a chave da mão do rapaz e abre a porta sem dificuldades.
- Sejam bem-vindos e tal... – Max balança a mão com descaso – Deve ter comida na geladeira, bebida no armário e uma TV de 90 polegadas para jogarmos videogame. – ele indica a tela gigantesca no meio da sala bem mobiliada.
Eles estavam na cobertura do prédio e as janelas gigantescas de vidro permitia que eles vissem toda a cidade iluminada abaixo deles. O apartamento de Max era de uma organização palpável, tudo metricamente colocado em seu devido lugar. As paredes internas eram decoradas com os capacetes do piloto, assim como troféus expostos em prateleiras de vidro. Não havia fotos, mas um único pôster que tomava uma parede inteira de seu próprio pai. O grande piloto Verstappen-pai.
Liza parece readquirir as suas energias automaticamente ao ver a TV ser ligada e as cores saltarem da tela.
- Quais jogos você tem? – ela pergunta soltando-se dos rapazes e caminhando na direção do holandês com os olhos brilhando.
- Nada de jogos, você vai é tomar um banho. – diz e olha para os próprios pés – Talvez eu precise mais do que você.
Liza ri envergonhada.
- Max, você também deveria tomar um banho, Carlos vai preparar alguma coisa para vocês comerem e depois devem ir direto para a cama. Quero que vocês dois bebam muita água. – diz firme, e olha em seu relógio de pulso – Já é meia-noite e vinte e em poucas horas nós temos uma corrida importante para estar. Todos nós. E o álcool tem que sair do corpo de vocês antes disso.
Max suspira desapontado, mas assente, desliga a televisão e se direciona até o corredor que levava aos quartos.
- Estes são os quartos de hóspedes. – ele diz apontando para as duas portas consecutivas ao lado direito. – Tem toalha nos armários e sabonete nas gavetas do banheiro. Fiquem à vontade.
O grupo se espalha pelo apartamento.
Enquanto aguardava ao lado de fora do quarto Liza terminar o seu banho, passa por ele secando os cabelos com uma toalha.
- Norris. – o monegasco chama sua atenção, e ele se aproxima. – Você ouviu o que a disse sobre o presidente Jean?
- Como esquecer os minutos antes de eu levar um jato quente nos pés? – o rapaz diz sarcástico – Claro que eu lembro.
- Eu nem sabia que ela o conhecia, e, se eles se conhecem, porque ele estaria ferrando com ela, como ela disse? – questiona ao piloto, que se põe à pensar.
Depois de alguns instantes, arqueia as sobrancelhas com os olhos arregalados.
- E se ele souber de vocês? – o britânico sugere.
suspira, é claro.
- Por isso ela terminou. – ele deduz e assente. – Ela disse sobre sermos fotografados juntos de novo, talvez alguma coisa deva ter escapado na mídia e ele soube. – o monegasco põe a mão sobre a boca, chocado – Ele deve tê-la procurado. Meu Deus do céu.
- Dizem que ele é um chantageador e faz um monte de trapaças para comandar os campeonatos. – declara – Eu morro de medo dele. Lembra daquele acidente do Marcus em 2018?
assente, claro que se recordava. Marcus Ericsson era o seu parceiro na Alfa Romeo e aquele ano era a sua temporada de estreia. Ele se lembrava de como havia ficado assustado com o seu primeiro acidente ao vivo. Se recordava de como as pessoas falavam que o parceiro teve sorte ao sair de um acidente de tamanha proporção sem uma lesão sequer.
- Carlos disse que não foi acidente. – revela – Há rumores de que Jean frauda alguns motores e chantageia pilotos para fazerem o que ele quer. Dizem até que o Alonso era o capacho dele, e por isso ele tirou um ano sabático, para desviar dos rumores.
- Caralho. – sopra incrédulo.
- Mas... – engole em seco – Tudo isso não passam de rumores, né?! – o rapaz tenta afirmar, mas o tom sai duvidoso – Isso são mais lendas da Fórmula 1, que realidade, certo?!
- Espero que sim. – diz com os olhos perdidos em um ponto qualquer da parede e respira fundo, voltando-se a porta do quarto de . – Ela está demorando demais lá.
- É melhor você ir dar uma olhada, ela pode estar vomitando de novo. – Dito isso continua seu caminho e entra no quarto com cuidado, batendo levemente na porta.
- ? – ele a chama, mas o quarto está vazio.
Ele continua, seguindo a luz que vinha do banheiro e escuta alguns gemidos de dor atrás da porta.
- , você está bem? – ele fala contra a porta e ouve mais gemidos em resposta.
tenta abrir a maçaneta, mas está trancada.
- , você precisa destrancar a porta para eu te ajudar.
- Eu... Eu estou bem. – ela diz com a voz rouca. – Saio em um minuto.
O monegasco escuta a descarga do vaso ser acionada, depois de alguns instantes a água da pia é ligada e o som da escova passando pelos dentes da pilota soa. Ele aguarda até que ela termine de escovar os dentes e então ela abre a porta.
Liza está apenas envolta pela toalha branca, com os cabelos molhados caídos pelos ombros e costas, pele úmida e um semblante adoentado na face.
- Você está bem? – ele questiona pegando-a pela mão e a levando até a cama.
- Nunca mais eu vou beber. – ela resmunga e novamente a ânsia soa pela sua garganta. Ela tapa a boca com a mão livre e espera a vontade passar. – Não aguento mais vomitar. Não tem mais nada no meu estômago para sair.
a conduz até a cama e a senta no colchão, em seguida vai até os armários e procura por uma camisa qualquer, encontrando uma azul escura com símbolo da Red Bull estampada em sua frente.
Ele volta à Liza e ela estica os braços para o alto, para que ele a vestisse. Quando a camisa já está no seu corpo, cobrindo até o meio de suas coxas, ela se livra da toalha e se deita sob os lençóis pretos.
- Você não quer comer alguma coisa? – pergunta – Ao menos precisa continuar bebendo a sua água. – ele indica a garrafa em cima da cômoda de cabeceira.
- Não conseguiria nem se quisesse. – ela diz se encolhendo e se acomodando por debaixo do edredom. Sua cabeça girava e o estômago doía pelo esforço.
assente, estica o edredom até cobri-la por inteiro e visto que ela já havia fechado os olhos ele segue até o interruptor para apagar a luz.
- ? – ela o chama em meio à escuridão.
- Sim?
- Obrigada. – ela sopra.
- Não foi nada. – ele sorri fraco e caminha na direção da porta. – Boa noite.
Quando está para fechá-la por completo, por meio de uma fresta aberta ele consegue ouvi-la dizer baixinho: - Eu te amo, espero que não tenha se esquecido disso.
Antes mesmo de abrir os olhos, a dor de cabeça a acerta em cheio, deixando-a desconcertada imediatamente. Ela grunhe de dor e leva a mão à cabeça dormente.
A jovem massageia suas têmporas por um tempo antes de abrir os olhos cuidadosamente.
O ambiente não está totalmente claro, alguns raios de claridade transcendiam das cortinas cor de pêssego e pouco iluminava o quarto completamente desconhecido.
Sua cabeça gira quando ela se senta na cama macia e Liza volta a massagear as suas têmporas de olhos fechados. Que enxaqueca do inferno.
Aos poucos a tontura vai passando e ela se permite abrir os olhos novamente.
Imediatamente ele nota deitado desconfortavelmente em uma poltrona ao lado da cama e com um balde de ferro em seu colo.
Droga.
Algumas imagens da noite passada a atingem com força, no entanto todas estavam embaralhadas e desconexas.
Ela tenta recapitular a noite, parte por parte.
Lembrava-se de ter ido à boate com Max e de aproveitar a promoção de shot duplo de tequila pelo preço de um que se encerrava à meia-noite, no entanto eles ficaram bêbados muito antes disso. Ela sente seu estômago regurgitar com a lembrança dela virando os primeiros dez shots da bebida já que os demais apareciam apenas em borrões.
Liza se recordava de ter dançado, de ter conversado e ter sido convidada para ir até a cabine do DJ. Depois disso ela se lembra de vultos de , Carlos e... Seria possível, ?!
Puta merda, ela pensa.
Ela se descobre do edredom e joga as pernas para fora da cama, no mesmo instante pula da poltrona assustado e segura o balde em sua direção.
- Está passando mal de novo? – ele questiona os bocejos, os olhos cansados e sonolentos.
- Não. – ela nega – Eu acho.
- Que bom, muito bom. – ele sopra e volta a se acomodar na poltrona, com o balde no colo, e fecha os olhos. Em poucos instantes está dormindo.
Liza olha para a cômoda de cabeceira e constata o horário no relógio, 7 A.M.
Ela respira fundo e se levanta, caminhando na direção do parceiro, e percebe estar vestida com uma camiseta que obviamente não era sua. Red Bull Racing?! Que merda era aquela?!
Ignorando os seus pensamentos que traçavam um mar de possibilidades, ela chama cuidadosamente para levá-lo até a cama. O rapaz, com a exaustão expressa no rosto, obedece aos seus comandos sem reclamar. Ele a entrega o balde vazio e se deita onde ela estava há alguns minutos.
Enquanto observava carinhosamente, sentindo-se grata por ele ter cuidado de seu porre, a porta do banheiro do quarto se abre e revela Leclerc vestindo apenas um calção e secando os cabelos úmidos com a toalha. Claramente ele havia acabado de sair do banho.
Ela se desconcerta imediatamente. Não esperava encontrá-lo tão cedo, apesar das vagas lembranças da sua presença na noite passada.
- Você acordou. – ele nota, com um sorriso fraco e olhos cansados.
- E você parece não ter dormido. – ela comenta.
- Acho que dormi coisa de uma hora. – ele dá de ombros – Vinte minutos depois que você se deitou reclamou de fome e o nosso erro foi achar que precisava colocar alguma coisa sustentável no seu estômago. Logo eu vi que não foi uma boa ideia, você passou mal a noite toda.
- Eu vomitei em você? – ela questiona alarmada, notando as roupas jogadas no chão do quarto.
- Não se preocupe, eu não guardo rancor. – ele diz e joga a toalha sobre a cômoda do quarto. – Já o ... – ri – Digamos que você vai ter que fazer alguns favores para se redimir com ele.
Ela volta a mirar o parceiro respirar pesadamente no sono profundo.
- Coitado. – ela sopra envergonhada – Vocês estão exaustos, não precisavam ter feito isso.
- Eu disse para ele ir dormir que eu dava conta sozinho. – dá de ombros. – Mas ele estava preocupado. Eu também. Nunca tinha visto você passar tão mal com bebida.
Ela suspira frustrada e olha em sua direção.
- Obrigada.
Ele abana a mão ao dizer: - Não foi nada.
Liza sorri atenciosa e olha ao seu redor.
- Onde estamos?
- Na casa do seu mais novo amigo, Max. – zomba e ela ri fraco.
- Isso explica a camiseta. – ela diz olhando para o próprio corpo.
- Então é verdade, - ele fala procurando por outra camiseta nos armários – vocês agora são amigos? – ri – O que ele teve que fazer, vender a alma dele para o diabo?
Liza gargalha.
- Quase isso. – ela diz brincalhona, para em seguida confessar: - Acho que vale a pena dar uma chance para ele. – dá de ombros – Nós começamos com o pé esquerdo, dois esquentadinhos... Podemos ter uma convivência agradável se nos esforçarmos para isso e colocarmos as diferenças de lado.
O monegasco assente e retorna ao quarto, já vestido com uma camisa preta gola V.
- Então todo o resto que você disse ontem à noite também é verdade? – ele indaga mais sério.
Liza engole em seco.
- O que mais eu disse? – ela questiona, já apreensiva.
Deus, ela perdia o filtro e senso quando ficava bêbada.
- Que Jean Todt está te chantageando.
Seu estômago gela e ela sente um suor escorrer metaforicamente pela sua testa. Sua pressão caí e Liza sente suas pernas fraquejarem.
A jovem não se recordava de ter feito tal revelação – não se recordava de uma boa parte da noite também – portanto não sabia até que ponto tinha contado ao rapaz. O medo foi subindo em um arrepio pela sua espinha e ela já via tudo estar perdido.
No entanto, com uma súbita calma e racionalidade, ela respira fundo – tenta recuperar a pose – e questiona, fazendo-se de desentendida: - O quê? – ela ri fraco – Eu disse isso? Que ridículo.
sorri convencido, ele sabia o que ela estava tentando fazer.
- Não exatamente nestas palavras, mas a sua reação diz que foi exatamente o que aconteceu.
Liza solta o ar frustrada, completamente desarmada: - Merda, !
Estava vulnerável e sem máscaras. Como queria não ser tão transparente, principalmente na frente dele.
- Oh, meu Deus, isso realmente está acontecendo! – exaspera, incrédulo. – Puta que o pariu, !
- Fala baixo. – ela diz se aproximando dele com os olhos em , que continuava a dormir um sono pesado. Ela indica a porta e eles saem para o corredor vazio.
Quando ela fecha a porta vagarosamente para que não fizesse barulho, vira-se para ele.
- Eu sabia que alguma coisa nessa história não se encaixava. – ele diz com sua mente agora iluminada. – Eu estive me martirizando todo esse tempo sobre nós dois, o que eu possa ter feito de errado e criticando suas atitudes... Por que não me disse nada?
- Porque eu não podia e sinto muito por isso! – ela impetuosa. – Sinto muito, sério. Te ver desolado... – ela engole em seco – Acabou comigo. Mas eu não podia fazer nada e ainda continuo não podendo! – Liza passa as mãos pelo rosto e suspira pesadamente para choramingar para si mesma – Merda, ele já deve estar sabendo sobre ontem.
- O quê? – questiona. – O que ele está fazendo com você? O que é que está acontecendo?
- Fiz um pacto com o próprio diabo em pessoa. – ela se vira para ele – Então o quanto menos você souber, melhor.
– Isso é um absurdo. – ele passa a mão no rosto, inquieto – Só para nos manter em um campeonato? – seu semblante era abismado – Se eu soubesse que estava se submetendo à algum abuso de poder desses, teria saído de livre e espontânea vontade dessa sujeira.
- Queria que fosse tão fácil. – ela ri sem humor e olha fundo em seus olhos – , você não tem ideia do que aquele homem é capaz. Não é só sobre uma suspensão na temporada. É bem mais grave que isso.
Liza se abraça e seu corpo fica trêmula inconscientemente.
O rapaz a observa atentamente.
- Você está com medo. – ele sopra, concluindo.
- Eu estou apavorada! – ela corrige, seus olhos marejados. – Morro de medo de que ele vire a casaca e decida te machucar só para me punir. Ele sabe que você é meu ponto fraco, droga, e eu só quero te proteger.
engole em seco.
- Por Deus, . – ele se aproxima dela, tomando seu corpo em seus braços.
- Eu descobri coisas horríveis sobre ele e o que ele fez. – ela diz com a voz rouca – Ele... É um monstro.
a aperta contra seu corpo e ela passa os braços pelos ombros dele, envolvendo o pescoço delicadamente e com calma aproveitando-se naquele momento do toque na pele conhecida e a flagrância masculina que emanava do seu ser.
O monegasco afunda o rosto por entre seus cabelos e o cheiro de xampu preenche suas narinas enquanto ela passa os dedos por entre os cabelos macios da nuca dele. Como haviam sentido falta daquele contato, daquele abraço.
- Me desculpe. – ele enuncia sentido. – Disse coisas horríveis à você quando você só estava...
- Você não tinha como saber. – ela o interrompe com a voz amena.
Ele se afasta minimamente e prende o rosto dela entre suas mãos para olhar em seus olhos avelã, que naquela manhã estavam mais claros.
- Me deixe te ajudar. – ele sopra.
Liza automaticamente se retrai, saindo de seu aperto e seus braços, afastando-se instintivamente.
- Você não pode. – ela diz num murmúrio.
- Isso não pode continuar assim! – declara.
balança a cabeça negativamente, os olhos vidrados nas reações do monegasco.
- Não. – ela diz firme. – Você tem que me prometer que não vai fazer nada.
- Mas, ...
- Tem que me prometer! – ela exaspera.
Ele umedece os lábios vagarosamente, as mãos vão à cabeça.
- Você está se colocando em perigo e eu não vou aceitar isso.
- Eu não me importo! – ela grita, mas respira fundo para se recompor – Você não está entendendo o grau de seriedade aqui.
De repente duas portas do corredor se abrem e um sonolento Carlos e um confuso Max surgem com os rostos amassados pelo sono pesado do qual haviam sido despertados.
- Está tudo bem, pessoal? – Carlos pergunta, o semblante preocupado ao constatar o casal de frente um para o outro com rostos transcendendo emoções.
- Não sei. – Liza dá de ombros e se vira à – Está, ?
O rapaz passa a mão pelos cabelos e suspira pesadamente.
- Não. – ele responde com os ombros caídos – Mas que outra opção eu tenho além de deixar isso nas suas mãos?
Capítulo 24
Circuito de Marina Bay – Singapura
Quando chega o mês de outubro de todo ano, os residentes da espetacular cidade situada no sul da Malásia já estão a ansiar por um evento em específico, aquele que além de causar mais visibilidade ao local, traz diversos turistas de inúmeros lugares, provocando um aumento na economia do país. Todos são imersos em um clima completamente arrojado e perigosamente sedutor.
O Grande Prêmio de Fórmula 1 é um espetáculo de circuito de rua de cinco quilômetros completamente excitante, desafiador e técnico. São 23 curvas em uma volta, mais do que qualquer corrida no calendário, 1.771 projetores de luz que garantiam que os pilotos enxergassem onde estão indo à noite e pelo lugar ficar na Linha do Equador é muito quente e úmida – cerca de 85 por cento ou mais.
No cockpit dos pilotos fazia até 60 graus durante a corrida e era uma das mais longas, por volta de duas horas no mesmo trajeto. O que exigia muito da equipe toda e afetava especialmente os pilotos. Fisicamente era a mais desgastante do ano e eles tinham que estar em sua melhor forma para aquele evento especial, e trabalhavam o ano inteiro para isto.
Enquanto tomava o seu banho de gelo após o segundo treino, ainda está maravilhada com todas aquelas técnicas passadas pela equipe na reunião, muito diferente das que eram traçadas quando correu pela Fórmula 2 naquele mesmo lugar.
Por um segundo ela quase se esqueceu da sua situação e que teria que agir de maneira oposta à maioria das instruções de seu engenheiro e técnicos, mais uma vez coordenada à eliminar um de seus colegas da pista.
Aquela situação já estava desgastante, exaustiva. Principalmente agora que sabia.
Ela agora tinha que refletir sobre mais possíveis soluções para o seu caso, além das que já havia considerado anteriormente, porque, conhecendo o monegasco como ela conhecia, sabia que ele não suportaria muito tempo calado sem intrometer-se a modo de ajudá-la. E o que ela mais receava era ele se colocar em perigo por uma consequência causada pela impaciência. Não poderia permitir isso.
Enquanto se encaminhava ao ponto de encontro no deque privado do Marina Bay Sands, o prédio mais alto e luxuoso da cidade-estado, ela está pensativa e calculista.
O prédio de arquitetura impressionante era um completo de cassinos, hotéis, shopping e restaurantes, geralmente frequentado por turistas, empresários, funcionários, comerciantes, magnatas ou, como aquela noite, por criminosos corruptos como Jean Todt.
Ela mal se senta na mesa em frente à parede de vidro, com vista à marina repleta de barcos luxuosos e iluminados abaixo de si, e o envelope amarelo é passado à ela.
respira fundo e pega o pacote, abrindo-o sem cerimônias. No entanto, quando puxa a foto do seu alvo daquele final de semana, seu peito congela e o estômago revira dentro do corpo.
- Você não acha que já fodeu a McLaren demais? – ela questiona com a boca amarga.
- Dessa vez não é somente por apostas. – Jean revela – Um investidor de altíssimo consagro dobrou o valor do patrocínio para que a sua escuderia caísse nas classificações porque, mesmo com as suas saídas, vocês estão em quarto lugar. O que é bem impressionante, na verdade.
Jean não havia tido exageradas reações ao deslize de na balada com os demais colegas pilotos.
Pelo menos até aquele momento.
Ela sabia que a discrição era um dos pontos chaves para a postura de um piloto e ter vídeos de um deles completamente bêbado em uma balada, dançando de forma desengonçada e sendo o centro das atenções uma noite antecedente à uma corrida fugia completamente disto.
Apesar de terem completado a corrida perfeitamente e não houver cogitações sobre a direção dos envolvidos, desconfiava que não houvesse investidor algum e que, na realidade, este fosse o troco pelo episódio e, principalmente, por ter sido vista com na saída do apartamento de Max.
Tinha sido apenas uma rápida e singela aparição, nada muito incriminador, até porque os rapazes haviam tomado todo cuidado possível para que não acontecesse. Depois daquele dia, ela e não haviam voltado a se falar ou sequer se aproximar, mas tinha certeza de que chegara ao conhecimento do homem.
- Eu não vou tirar o da corrida. – ela diz firme, jogando o envelope na mesa e derrubando uma taça de água. O líquido escorre ao chão. – Me recuso. Encontre outro ceifador para fazer o seu trabalho imundo. – dito isso, ela se levanta, recolhe a sua bolsa e dá dois passos para longe da mesa.
Contudo, antes que tivesse a chance de se afastar mais, um dos seguranças de Todt entra em seu caminho interrompendo a sua saída dramática.
O homem corpulento e incrivelmente alto a mira com olhos ferozes e impacientes, indicando que ela retornasse à mesa. Porém ela se mantém firme no lugar, chegando a cruzar os braços a frente do peito. Estava determinada.
- Nossa conversa ainda não acabou. – Jean diz às suas costas, ainda sentado na mesa e provando uma das porções servidas de entrada.
- Não. – ela se vira na direção do homem. – Eu não vou fazer isso com o , ele... – ela suspira – É como um irmão para mim. Eu não conseguiria nem mesmo se quisesse!
- Me poupe de todo esse sentimentalismo, mulher! – Jean vocifera, batendo na mesa e se levanta de súbito. estremece.
O homem de olhos azuis amedrontadores pega o envelope e se aproxima dela lentamente.
- Você vai fazer o que eu lhe peço. – ele afirma esticando o pacote em sua direção. – Porque senão o meu outro ceifador, como você mesma diz, vai cumprir com a missão dele. E ele não será tão cuidadoso com o alvo dele como você é com os seus.
engole em seco.
- Você não ousaria.
- Você sabe que sim. – ele sorri indicando-a o envelope.
Ela mira o pacote à sua frente e sua visão começa a ficar vermelha, seu sangue aquece e ela sente que poderia explodir ali mesmo.
- Essa é uma das pistas mais perigosas do calendário. Se algum deles se ferir, - ela pronuncia, as palavras saindo cortantes entre dentes – ou , eu juro que vou te caçar e da mesma forma que elimino os seus alvos da corrida, eu vou te eliminar. Só que da maneira mais brutal possível. Nem que apodreça na prisão por isso.
Jean sorri desafiador.
- Admito que estava ansioso para vê-la mostrar as suas garras, minha cara. Estou impressionado.
- Você não sabe do que eu sou capaz pelas pessoas com que eu me importo. – ela arqueia uma sobrancelha. – Eu juro que acabo com você.
O homem assente lentamente, fingindo teatralmente ponderar as suas palavras.
- Basta você fazer o seu trabalho conforme combinamos, com o seu extremo cuidado, que as minhas medidas secundárias não serão necessárias. – ele declara. – A decisão está em suas mãos, Benedetti.
4 de outubro
“Boa noite, caros amigos, estamos para dar início a décima sétima etapa do campeonato mundial de Fórmula 1 aqui em Singapura, circuito urbano de Marina Bay” – o comentarista pronúncia – “E está na hora da gente conferir o grid de largada para este grande prêmio. Mais uma vez a primeira fila é da Mercedes, em 11 corridas das 17 do ano, temos Lewis e Bottas largando na frente. A seguir, na segunda fileira, Max Verstappen e Alexander Albon. Logo depois temos Sérgio Perez e Daniel Ricciardo que, pela décima terceira corrida seguida está largando à frente do companheiro de equipe, Alonso. Na quarta fila temos Norris acompanhado de Pierre Gasly. E, na sequência, temos Benedetti e Leclerc fechando as dez primeiras posições!”
A pista que está congestionada pelas equipes técnicas rodeando os 20 carros na reta da largada de repente é esvaziada ao aviso do início da abertura da volta de apresentação.
guia o carro em modo automático pela pista, sua cabeça estava longe e cheia de conflitos pelas ações as quais deveria tomar. Se seguisse pelas instruções de Jean, ela causaria a saída de da corrida, o que, além de poder causar danos ao carro e ferir seu amigo, também acarretaria em um desconforto com a sua própria equipe pelo atrito de parceiros. Caso ela não o fizesse, sabe-se lá o que Jean faria com , o que fazia seu corpo se arrepiar por inteiro.
A pilota estava coagida, não poderia simplesmente escolher por um ou outro.
Dada à largada ela segue os comandos de seu engenheiro através do rádio e decide por empurrar o enigma durante a corrida até onde conseguisse. Não precisava fazer nada por enquanto.
Suas mãos ardiam, seu corpo estava em chamas de tão quente e, já na metade da prova, ela se sentia como um frango assado dentro do forno. Seu corpo suava e a água que bebia pelo cano conectado ao capacete não parecia ser o suficiente para hidratá-la. jurava que já tinha perdido ao menos uns dois quilos desde que havia começado a prova.
Alguns competidores já haviam abandonado a corrida, Ricciardo por uma colisão com Albon; Gasly por problemas no motor e Raikkonen por um pneu estourado. As posições estavam completamente diferentes das do início da corrida, a trindade da frente acabara perdendo posições e foram jogados para trás. Mas isso não significava que a prova ficara mais fácil, muito pelo contrário, a cada milésimo de segundo dentro daquele carro sentia seu tempo se esvair dolorosamente.
Ela se sentia observada de forma incômoda, não pelas trilhões de pessoas que a assistiam, mas como se houvesse alguém na sua cola esperando a todo instante por suas ações. Literalmente cafungando em seu cangote.
- “, está 2.5 à frente. Ele está te dando vácuo para você forçar o Hamilton logo afrente”. – Andreas diz pelo rádio e choraminga em silêncio.
Se ela aproveitasse a deixa e o ultrapassasse, perderia a chance de ter qualquer toque com ele que pudesse encerrar a sua corrida. Desta forma teria tomado a sua decisão jogando os leões à , que vinha à dois carros atrás.
Não, não, não, não. Ela pensa. Ainda não estava preparada para aquela decisão.
Nunca estaria preparada para tomar aquela decisão.
A própria definição de tortura.
- “, vácuo aberto. Área livre para DRS. É agora.” – o engenheiro a avisa e a pilota respira fundo.
Ela quase fecha os olhos e os dedos apertam comandos involuntariamente.
Quando ela torna os abrir percebe a McLaren laranja à sua esquerda, quase rente à própria.
Essa era a hora, ela tinha que jogá-lo contra o guard rail.
O coração de acelera consideravelmente, mais do que o considerado normal mesmo para uma corrida tão intensa.
Ela olha mais uma vez para o lado e vê o capacete de .
Era um completamente colorido, com respingos de tinta e grafite metalizado. A viseira era espelhada e em cores quentes, vermelha e laranja. Não havia um significado conceitual em como as suas cores se chocavam ou o porquê das linhas se encontrarem em certos pontos, porém era bonito e expressivo.
Aquele era ironicamente o capacete que havia feito para , em uma atividade de customização de capacetes para um vídeo que o marketing os fez gravar ainda em Woking.
havia gostado tanto que guardara para usar em seu circuito preferido, justo aquele em Marina Bay.
Ela não poderia fazer isso com ele.
E assim ela aperta o botão de DRS, terminando a ultrapassagem em cima do colega.
- “Muito bom, . Lewis está logo à frente, 4.8 segundos à frente. Você está na P4. Parabéns!” – Andreas comemora, mas as lágrimas que escorriam pelo rosto da pilota não eram de felicidade. – “Vamos forçar uma passagem?”
- Estou perdendo potência. – ela diz reduzindo as marchas, a voz rouca.
- “Então vamos manter por enquanto, próxima volta direto para o boxe!” – ele instrui.
continua guiando pelo corredor infinito que era o circuito, constantemente mirando seus espelhos e atentando-se aos carros de trás.
Que ele tenha piedade, ela rezava para que o homem deixasse passar daquela vez.
No entanto, em um milésimo de segundo quando ela desvia os olhos da traseira para se atentar à curva que viria a seguir, tudo acontece.
“Tem batida forte!” – o comentarista declara assustado – “Tem batida forte e incêndio na pista!”.
Imediatamente ela vê a bandeira vermelha se acender em seu painel e pelos espelhos atrás, as chamas tomando conta da lateral direita da pista e crescendo ao alto no céu.
A sessão está paralisada e os carros à frente de reduzem, fazendo-a reduzir também por consequência. À medida que seu pé pisava no freio seu coração acelerava na mesma intensidade.
- Eu vi fogo, Andreas. Tem fogo, Porra! – ela exclama ao rádio desesperada.
- “Estamos vendo, ” – o engenheiro diz. – “Vem para o boxe agora.”.
- O piloto... – ela engasga – Ele está bem?
- “Eu vou checar e já volto com você.”
- Ah, meu Deus! – as mãos da mulher começam a tremer, dificultando a sua direção. – Porra!
- “Não temos informações ainda”.
- Não, por favor. Por favor. Por favor. – ela pede sem voz, os olhos já transbordos por água. – Quem é, você sabe?
- “Não pudemos ver direito, mas acho que tem uma Ferrari envolvida. Eles cortaram a transmissão. Foi bem grave”.
- Não! – ela esbraveja, seu peito já afundado em agonia.
Ao sair do carro na reta dos boxes, está trêmula e as lágrimas transbordam como correnteza pelos seus olhos. Sua equipe está ao seu redor e tenta a amparar. Os técnicos colocam o carro em suspensão para revisões rápidas.
Pelos telões acima de suas cabeças é reprisado o momento do acidente. vê de relance a traseira vermelha do carro característico e suas pernas fraquejam ao mesmo tempo em que suas vistas escurecem. Ao seu redor ela não vê nada mais que borrões azuis dos macacões de sua equipe.
- Não, não, não, não, não. – ela repete, afastando-se cambaleante das mãos que a empurravam garrafas de água, toalhas e um ventilador portátil.
- ! – ela escuta a voz de seu tio chamá-la, mas a ignora.
olha além ao redor, constatando os carros parados atrás de si em fila indiana e começa a caminhar na mesma direção em passadas apressadas.
Ela confere sair sã e salvo da McLaren atrás da sua própria, passa por três carros até encontrar a Ferrari vermelha e seu peito se alivia automaticamente.
Puta merda, que susto!
Suas pernas seguem ao seu rumo como se dependessem da visão de para sobreviver. Nunca ficara tão ansiosa para ver seu rosto.
Porém quando o piloto sai do carro, tira o capacete e a touca, e vê a face do espanhol ao invés da do monegasco, sua pressão caí por completo. Ela mira o número na dianteira do carro e constata que realmente não era o 16 de , e sim o 55 de Carlos.
- Carlos?! – ela sopra e chama a sua atenção aproximando-se vagarosamente, o piloto a ampara antes que ela caísse no chão.
- ? – ele diz confuso, os integrantes da equipe da Ferrari ao seu redor espantados com a reação da jovem. – Você está bem?
- Ele... – ela já chorava culposamente, o nó em sua garganta impedindo-a de pronunciar muito mais – Ele...
- Leclerc? – o rapaz questiona, olhando-a nos olhos e procurando entender a sua angústia.
assente freneticamente, o rosto completamente molhado.
Carlos estica o pescoço ainda com a pilota nos braços e olha ao seu redor atentamente.
- . – ele gira os ombros dela para o final da fila. – Ele está ali.
Quando identifica o homem de macacão vermelho, caminhando tranquilamente na direção do boxe da Ferrari enquanto tirava o próprio capacete e touca, um sopro de amenidade esfria a aflição do seu coração.
Seu carro estava estacionado pouco mais atrás e sem um arranhão sequer.
Ela nunca agradeceu tanto aos céus por vê-lo, era engraçado como as pequenas coisas pareciam tão importantes diante de situações extremas.
Tomando cuidado para estar fora do alcance das câmeras, que estavam voltadas à reprise do acidente, Carlos se põe atrás do companheiro guiando a pilota com cuidado.
- Vamos, aqui.
Ele segue Leclerc quando ele entra para os corredores internos, os que levavam aos banheiros, e é quando o chama: - !
O monegasco se vira na sua direção com os olhos brandos até ver o estado da pilota. No entanto, antes mesmo que ele pudesse se aproximar, ela caminha rapidamente em sua direção e o abraça pelo pescoço, apertando-o com sagacidade.
É quando ela chora ainda mais. Desta vez, porém, de alívio completo.
- Você! – ela o funga – Está bem, você está bem! – diz conferindo cada parte de seu corpo, passando as mãos pelos ombros, braços, rosto e peito rapidamente antes de voltar a abraçar seu corpo saudável e sem lesões.
- Eu estou. – ele diz abraçando-a de volta, mesmo que estivesse perdido.
- Pensei que fosse você lá. – ela puxa o ar para o pulmão com o nariz nos cabelos do rapaz, agraciando-se pelo quase imperceptível toque do perfume, que ainda ficara ali depois de hora suando. Mas ela não se importava. – Pensei que tinha te perdido para sempre.
- Calma, eu estou aqui. – ele a tranquiliza, acariciando as suas costas. – Está tudo bem.
controla o seu choro, mordendo o lábio inferior enquanto acariciava os cabelos da nuca do rapaz.
- O que aconteceu? – ela questiona com a voz fanha.
- Eu não sei, foi tudo muito rápido. – ele diz. – Só vi a coisa toda quando já estava em chamas pelos meus retrovisores.
se afasta vagarosamente, a cabeça trabalhando em análises e cogitações da razão do acontecido. Se não havia sido ele nem , quem fora?
- Estão mostrando na televisão. – Carlos se pronuncia, chamando a atenção dos dois. Eles fazem o caminho de volta pelo corredor e conferem a tela que transmitia o episódio, na mesa de transmissão da garagem da Ferrari.
O carro da Haas de Mazepin estava para tocar a roda de quando em milésimos de segundo a máquina azul da Red Bull se lança na frente e colidi forte com o guard rail. Em pouco tempo o fogo acende e transcende por todo lugar.
- Max! – esbraveja ao ver o carro entre as chamas desesperadoras. – Não!
- Se essas imagens estão sendo liberadas, está tudo bem. Não se preocupe. – Carlos garante. – A assessoria tem todo um cuidado de confirmar que está tudo bem para não transmitir imagens mais fortes e dramáticas.
volta os olhos preocupados à tela.
- “Max Verstappen já está dentro do carro médico da FIA. Que bom.” – o comentarista diz quando imagens do rapaz sendo amparado pelos socorristas são mostradas. – “As imagens com fogo são assustadoras, mas vale lembrar que o macacão do piloto é feito de um material chamado Nomex, que aguentam pelo menos 20 segundos no fogo, além do capacete que é super-resistente. Provavelmente ele não desacordou com a pancada, foi um resgate rápido e ele está bem.”
Os três respiram aliviados ao vê-lo ser transferido à uma ambulância e ir até ela caminhando.
As imagens do acidente são reprisadas, com o momento da batida em lentidão. Percebe-se que o carro do rapaz fica fora do fogo mais alto e que logo que ele se solta dos cintos, é resgatado pelo socorrista que se põe em meio ao fogo para tirá-lo de lá.
Uma salva de palmas é ressoada por todas as garagens, aplaudindo o trabalho dos socorristas que agiram de forma admirável. Os três aplaudem na mesma sintonia.
- Estranho uma explosão assim. – comenta. – Vazamento de gasolina?
- Provavelmente. – Carlos assente. – O líquido pegou nas partes quentes no carro e inflamou de vez quando teve o choque.
- “Max Verstappen já está chegando no centro médico, vocês podem conferir as imagens aqui.” – uma repórter fala – “Ele está bem, foi caminhando lá para dentro.”
- Ufa.
- O estranho mesmo foi aquela fechada do Mazepin em você. – Carlos comenta. – Vocês estavam na reta, não tinha por que ele te jogar contra o guard rail daquele jeito. Se bem que, parando para pensar, mais estranho ainda foi o Max ter entrado na sua frente como se ele tivesse te protegendo. A situação toda é loca.
tira as luvas uma de cada vez e passa uma mão livre pelo rosto.
- Meu Deus do céu. – ela sopra.
suspira a fitando.
- Você acha que Mazepin...? – ele indica, se interrompendo.
Ela se vira para o monegasco.
- Muito provável. – ela assente.
Carlos olha de um ao outro.
- Mazepin o quê? – ele questiona confuso.
respira fundo e engole em seco, não conseguia se focar em um do turbilhão de pensamentos que rodavam a sua cabeça.
- Preciso ir ver o Max. – ela diz decidida. – Preciso ver se ele está bem.
assente e juntos os dois partem na direção da saída das garagens.
- Mas e a corrida? – Carlos esbraveja, ainda parado no lugar.
- Provavelmente vai ser adiada. – dá de ombros, sem parar de andar. Em seguida ele pede ao amigo: – Me dá uma cobertura. Logo retornamos.
Depois de terem invadido o centro de atendimento e implorado aos médicos que os deixassem ver o piloto antes que fosse transferido para o hospital, levando um audível não como resposta, o casal, a muito custo, convence a enfermeira a lhes dar cinco minutos na sala com Max.
Quando eles entram, o rapaz ainda estava sozinho. Seus engenheiros, chefe de equipe e demais funcionários ainda estavam cuidando da burocracia da finalização da corrida antes de irem até lá. se aproxima da maca com os olhos nos curativos provisórios nas mãos e pés do rapaz.
Seu macacão havia sido removido do tronco e braços, e erguido nas pernas. A pele exposta do peitoral, braços e pernas estava com a aparência normal. Mas as partes com contato indireto com o fogo estavam pouco avermelhadas, o que intensificava a aparência debilitada.
- Max. – ela lhe chama a atenção e ele se espanta com a entrada surdina dos dois.
- Benedetti, Leclerc. – ele fala confuso – O que estão fazendo aqui?
- Viemos ver se você está bem, claro. – Leclerc diz dando de ombros, com as mãos nos bolsos.
- Me ver... Mas e a corrida? – ele questiona desorientado.
- Foda-se a corrida, cacete. – diz dura, mas ri para descontrair a sua tensão. – Como você está?
Max dá de ombros, modesto.
- Tive algumas queimaduras leves nas mãos e nos pés. – ele indica os curativos – Só. Não foi nada demais, já fiz queimaduras mais sérias tentando cozinhar sozinho. O macacão me protegeu bem, só as luvas e sapatilhas que falharam um pouco, mas tudo bem. – ele sorri satisfeito – Estarei na pole na próxima corrida, para a infelicidade de vocês.
e riem.
- Por que você fez aquilo? – pergunta, o olhar doce fez Max engolir em seco e desviar de seus olhos.
- Naquela noite, na Holanda, você me contou sobre as ameaças que vem sofrendo nas corridas. – ele revela, deixando-a boquiaberta. Uma das partes da noite que ela ainda não voltara a se lembrar. – Você disse que tinha medo deles ferirem e, por eu ter causado todo esse alvoroço, achei que nada mais justo que eu o vigiasse. Sabe, para que nada acontecesse.
- Você... – suspira surpreso – O quê?
Max abaixa os olhos, envergonhado.
- Fui eu quem disse à Federação que vocês estavam juntos. – revela ao rapaz. – Pensei que eles só lhes dariam uma advertência, mesmo uma suspensão da temporada, não que agissem de forma tão injusta. Esse comportamento da parte deles é completamente inaceitável.
pousa a mão no ombro do rapaz.
- Você não tinha como saber.
- Ainda assim, eu fui egoísta. – ele morde a bochecha por dentro – Ainda não tive a chance de me desculpar você, , por isso então... – ele suspira – Eu realmente sinto muito, cara.
mira o monegasco, que fica um tempo relativamente longo em silêncio. Ele engole em seco, passa as mãos pela cabeça, mas quando volta a mirar Max, sorri por fim.
- Então... – ele incita à Max, aproximando-se da cama – Você me salvou, cara.
- Se contar isso a alguém, eu falo que é mentira. – Max diz e encara , eles riem cúmplices relembrando da fala da brasileira há algum tempo.
- Obrigado, Max. – diz verdadeiramente. – Eu te devo uma.
A pilota se aproxima do holandês e, com cuidado para não encostar em seus ferimentos, o abraça. Max franze a testa, mas depois de um tempo a seu modo desengonçado, retribui o abraço.
- Obrigada. – ela sopra. – Isso foi mais que gentil, foi heroico.
Max sorri quando eles se separam.
- Você é um grande amigo, Maximilliano. – ela diz risonha e ele joga a cabeça para trás, aos risos.
- Não pode perder a oportunidade de me zoar, não é?!
- Você sabe que não. – ela diz aos risos.
Logo a enfermeira entra no recinto, alegando que teria que levá-lo naquele momento e eles se despedem.
- Nos avise quando tiver alta. – diz ao rapaz.
- Para quê? – ele questiona confuso.
- Para sabermos que está tudo O.K., seu avoado. – explica e Max ri fraco.
- Está bom.
- E obrigado de novo, Max. – diz pouco antes dele desaparecer pelas portas duplas.
Eles ficam observando as portas balançarem até ficarem novamente inertes. se aproxima do monegasco vagarosamente.
- Levei um grande susto hoje. – ela diz passando os braços ao redor da cintura dele, encostando a cabeça em seu peito.
- Foi realmente assustador. – ele concorda, acariciando suas costas.
- Mas isso me ajudou a perceber que nada mais importa. – ela diz firme – Eu não me importo com merda de acordos, com caralhos de campeonato ou prêmio. Foda-se essa taça! É um jogo sujo do qual eu não tenho mais tanta certeza de que quero fazer parte. – ela se afasta minimamente e vislumbra o rosto dele, focando-se nos olhos – Eu pensei que tinha te perdido de verdade e não quero mais ficar longe de você... Foda-se as consequências, eu só não quero voltar a sentir isso nunca mais.
a encara nos olhos avelã por algum tempo, buscando toda a sua franqueza e determinação ao pronunciar aquelas palavras.
Por fim ele sorri satisfeito.
- Eu estava esperando você dizer isso.
Ela suspira conformada.
- Nunca pensei que teria que me aposentar no meu primeiro ano na Fórmula 1. – ela dá de ombros – É uma pena, porque eu teria feito tanta coisa.
- E quem disse que você precisa se aposentar? – o monegasco questiona arqueando uma sobrancelha esperto.
Ela franze o cenho, no rosto um vislumbre de sorriso.
- O que você quer dizer com isso?
- Quero dizer que, obviamente, eu não pude ficar sem fazer nada, quando a mulher da minha vida está em uma situação que iria de mal a pior. – ele diz. – Não seria eu se não bancasse uma de Dona Pascale e não metesse o bedelho no assunto.
controla o sorriso.
- O que foi que você fez? – ela cruza os braços, mirando-o desconfiada.
- Fiz o que geralmente os homens fazem quando precisam resolver um problema. Conversei com uns amigos. – ele sorri satisfeito enquanto o semblante dela se torna confuso – E mais alguns contatos importantes que, em troca de alguns anos de favores extracontratuais prestados por mim, concordaram à se juntar pela causa. Não se preocupe, não é nada mais que posar para uma linha de ternos, óculos ou o que eles pedirem. – ele dá de ombros.
- Meu Deus, . – ela diz temerosa. – Está arriscando a sua vaga do mesmo jeito.
- Eu não me importo. – ele diz sorrindo – Não quero competir em um campeonato que é comandado por um velho machista que tanto torturou a minha namorada. – balança a cabeça em negativa veemente – Não mesmo.
ri fraco.
- E o que acontece agora, então? – ela questiona
- Como eu confio que você é uma pessoa tão esperta quando prevenida, e não teria ficado quieta sem ter pensado em nada para contra-atacar o cara, acredito que já tenhamos tudo para acabar com aquele filho da puta na próxima semana mesmo. – ele diz convicto.
- E do que você precisa?
- De gravações, da lábia do seu tio, argumentos da Sandy e que marque um encontro.
Capítulo 25
Suzuka, Mie – Japão
Suzuka é uma cidade japonesa que fica na província de Mie, cujo destino é relativamente conhecido entre turistas, mas que geralmente é desconsiderada em vista de lugares mais aclamados como Tóquio, Kyoto e até mesmo Osaka.
Sua importância para a população local e visitantes dava-se por, além de situar o santuário Tsubaki que é um dos mais antigos do Japão, também abrigar um dos autódromos mais conhecidos e importantes do mundo. O famoso circuito de Suzuka.
Em final de semana de corrida a singela cidade é tomada pelo público apaixonado pelo esporte e, consequentemente, dos que viviam por meio daquele espetáculo; equipes, montadores, mecânicos, engenheiros, entre muitos outros.
A pista se fazia muito especial, para os brasileiros em particularidade, uma vez que fora aonde Senna teve vitórias e provas espetaculares além de ser o palco de onde o piloto consolidou os três títulos de sua carreira.
Por este fato, pode-se encontrar diversos adereços em homenagem ao piloto espalhados pela cidade, tanto no museu do autódromo, quanto na loja de souvenires ou mesmo nas ruas, com bandeiras brasileiras e pôsteres erguidos durante todo o final de semana.
Os fãs do esporte locais exaltavam os brasileiros e para – como sua primeira vez ali – o ambiente se fez por acolhedor, com toda essa dedicação e excitação que só os japoneses sabiam fazer.
No dia do reconhecimento de pista, os fãs a seguiram por fora de todo o circuito, segurando cartazes espalhafatosos e coloridos com dizeres amorosos. Eles ficavam radiantes quando conseguiam fotos e a agradeceram fervorosamente quando ela cedeu autógrafos. Também a presentearam com diversos adereços, dentre eles comidas, vestuário e acessórios típicos do lugar.
nunca fora tão aclamada, o que fazia seu peito se aquecer como há tempos não sentia. Ela passou a amar o Japão e toda a sua cultura fascinante.
No entanto, mesmo com todo esse alvoroço, não se fazia por despercebido o fato de o circuito ser grandiosamente desafiador. O trajeto podia ser usado em três configurações; Suzuka Completo, Suzuka Leste e Suzuka Oeste, e aquele ano eles teriam o mais árduo com as curvas mais rápidas e intensas, que chegavam a 300 km/h, e sem grandes áreas de escape. O que era uma das maiores ameaças de uma corrida.
Vários acidentes históricos já ocorreram naquele circuito, até trágicos. Fora justamente naquela pista que Jules tivera o seu acidente em 2014, o que deixava a parte técnica, segurança, além dos pilotos mais apreensivos, mas principalmente Sandy.
Da última vez que a empresária havia estado ali, fora junto de seu melhor amigo e cliente, e tinha sido o palco da tragédia que mais havia a marcado na vida.
Por aquela razão, determinara que executaria o plano de o quanto antes, a tempo de evitar o risco ou ameaças a qualquer um do grupo que pudesse transformar um clima tão cativante em um traumático.
Enquanto gravava um vídeo promocional, provando comidas japonesas com para o canal da McLaren, tentava ser o mais descontraída possível, o que o parceiro notara e se animara pela espontaneidade que há algum tempo não vira – fora o episódio do Holanda, claro.
- Não acredito que você não gosta de sushi. – ela diz segurando o enroladinho de peixe cru entre os palitinhos e direcionando à um já com o rosto verde devido ao enjoo. – Você até me indicou um restaurante uma vez.
- Só porque a textura da comida é nojenta não quer dizer que não a acho bonita. – ele diz com a mão na boca – Por favor, tira isso de perto de mim. Esse cheiro de peixe...
Ela ri e direciona o sushi a própria boca.
- Maravilhoso. – ela elogia depois de engolir.
- Qual a graça de comer comida crua, sendo que existem os fornos e fogões para assá-los? – questiona. – Até na época das pedras o homem fez o fogo para assar essas coisas, eu não sou obrigado à gostar dessa regressão.
- Você come peixe assado? – ela questiona.
- Não. – ele diz sorrindo.
ri.
- Então esse argumento não funciona para você. – a jovem debate – Por que você não gosta de peixe?
- Só não gosto. – ele dá de ombros.
- Mas já provou?
- Não.
- Então precisa provar. – ela direciona outra peça na direção de , que tapa a boca no mesmo instante pela sonora ânsia que sobe pela sua garganta.
- Pelo amor de Deus. – o rapaz pede aos grunhidos. – Tragam outra coisa, os japoneses não comem só sushi. Eu sei disso.
abocanha a peça novamente aos risos.
- Isso, tragam um rolinho primavera de porco ou um Cup Noodles para o bebezão. – ela diz e eles rirem abertamente.
Terminada a gravação, a tensão de se restabelece por todo o seu corpo. Dali a poucos minutos ela estaria na presença da figura amedrontadora de Jean e o desafiaria.
Só de pensar o seu estômago cheio de comida revirava e por pouco ela não estava igual à .
estava determinada sim, decidida a acabar com aquela situação de uma vez por todas. E apesar de pensar que o plano realmente poderia dar certo, os arrepios causados pelas possíveis ameaças implícitas do homem eram inevitáveis.
Quando chegou ao restaurante, suas pernas estavam tremendo e o coração palpitando freneticamente. Ela precisava se acalmar.
Urgentemente.
Não demonstrar medo era um ponto forte da sua estratégia e ela tinha que controlar o seu emocional.
Por isso, logo que entrara no restaurante de decoração típica – com paredes de madeira, aberturas laterais grandes que deixava o ambiente arejado e iluminado, além de ser agraciado com paisagens no seu exterior de plantios verdes – antes mesmo de retirar os sapatos na entrada devido a tradição, ela já pede um suco de maracujá para a gentil garçonete.
Enquanto a atendente a levava até a mesa reclusa onde Jean estava, apreciava o tatame de tecido bordado em bege e preto que revestia o chão abaixo de seus pés, já com o copo pela metade em mãos.
As mesas eram separadas por shōji, que nada mais são do que as portas deslizantes feitas com um papel translúcido emoldurado em uma armação de madeira, que davam mais privacidade aos clientes. A pilota só conseguia ver a sombra dos corpos das pessoas refletida no papel, indicando que o local estava cheio.
Chegando à sua mesa de pernas curtas, ela se direciona às almofadas bem aconchegantes e finas ao chão, sentando-se em frente ao homem que sorriu em sua direção.
sequer fizera questão de corresponder à falsa simpatia, ela simplesmente termina de beber o seu suco e bate o copo na mesa antes de declarar:
- Eu vou declarar a mídia que eu estou namorando com Leclerc e que a FIA permitiu isso.
- Como é que é? – Jean questiona com o cenho franzido ao ser pego de surpresa.
Ela toma ar para declarar de uma vez:
- Segundo o que prevê no artigo 5º, inciso X da Constituição Federal Esportiva que rege judicialmente as fundações, incluindo a FIA, a instituição empregatícia não pode proibir relacionamentos amorosos entre funcionários uma vez que são invioláveis a intimidade e a vida privada das pessoas. – ela sorri de lado – Ou seja, a empresa não pode impedir o relacionamento mesmo que seja uma regra institucional.
Jean ri fraco.
- Quanto ao regimento interno e código de ética da empresa? – ele arqueia uma sobrancelha – Mesmo que vocês sejam empregados por diferentes construtoras elas seguem o nosso regulamento porque convenientemente elas são nossas colaboradoras.
umedece os lábios antes de continuar:
- Não há lei que proíba um relacionamento entre funcionários da mesma empresa, ainda mais de diferentes escuderias, pois a Constituição prevê o direito à intimidade, à honra e à vida privada. Portanto não havendo excessos nas condutas impróprias no ambiente de trabalho, não há previsão de justa causa ou punições. – ela suspira – Isto é, a empresa não pode proibir o relacionamento, somente limitar as condutas em ambiente de trabalho.
Jean fica um tempo refletindo naquele discurso, assentindo com a cabeça vagarosamente com olhos perdidos.
respira fundo, controlando a sua ansiedade e apreensão esperando por uma reação do homem.
- Essa sua fala se assemelha muito à de uma advogada, - ele a encara nos olhos – Ou de uma empresária que está à tempos procurando por uma cláusula no contrato para safar a sua cliente.
Ela engole em seco.
- Ela só não poderia prever que estaria lidando com um homem que pode usar de seus muitos meios para queimar aqueles que se opõe à sua vontade. – Jean pronuncia entre dentes, já irritado – Você se esqueceu disso? E de que havíamos falado sobre restringir o nosso acordo somente a nós dois para dar com a língua nos dentes para a italiana?
- A partir do momento em que você ameaça meus amigos e quase causa um acidente contra o meu namorado, eu tenho que repensar sobre esse acordo, o qual eu nunca concordei por livre e espontânea vontade.
- Ir por esse lado, da justiça, não vai te beneficiar. Você não aprende com os erros do passado, Benedetti? – ele indaga aos risos – Eu posso comprar qualquer júri de qualquer ação que queira mover contra mim. Eu faço as regras do meu jogo.
Inesperadamente abre um sorriso confiante, aumentando a irritabilidade do homem.
- Exatamente. – ela declara. – Pretendo jogar conforme o seu jogo. Mas quem vai ditar as regras agora sou eu.
enfia a mão na gola da camiseta que usava e de dentro do sutiã tira um pequeno aparelho. Quando coloca-o na mesa Jean nota ser um iPod.
- O que vai fazer, colocar uma música para aliviar a tensão? – ele debocha.
- Sim, - ela sorri enquanto clica na tela do aparelho – e você vai adorar essa sinfonia. Eu particularmente adoro.
Quando ela dá play não demora-se muito à ouvir-se a voz do próprio homem dizer: - “O dinheiro pode comprar uma boca calada, informações privilegiadas, o melhor advogado, uma decisão do júri ou qualquer coisa que eu precisar.”
No final da gravação o homem arqueia suas sobrancelhas, estupendo, e ergue a mão rapidamente até o iPod, mas o recolhe primeiro.
- Nã, nã, ni, nã, não. – ela cantarola e os olhos do homem se tornam furiosos – Você e seus homens são completamente cautelosos sim ao pegar o meu celular durante as nossas conversas e fiscalizar as minhas ligações ou mensagens, mas quem diria que seriam abatidos por um simples e inofensivo iPod?
ri.
Jean direciona o olhar aos seus seguranças e indica a mulher à sua frente, no mesmo instante os homens grandes se aproximam dela. Mas se adianta em dizer: - De onde veio essa tem muitas outras, especificamente de todas as nossas conversas, com cópias espalhadas em diversos dispositivos com pessoas de confiança. Se eles não tiverem notícias minhas daqui 20 minutos, vão soltar na mídia o monstro que você é.
Mesmo contrariado, com um aceno de mão Jean pede que os homens voltem a se afastar.
sorri satisfeita.
- Eu sou uma mulher precavida Jean e, por mais que na época eu não tivesse os meios certos de usá-los porque saberia que você colocaria essas gravações contra mim, hoje eu tenho apoio das pessoas certas porque simplesmente deixei de ser teimosa em querer segurar a bronca só comigo. Eles me lembraram de que somos os melhores em trabalho em equipe e que juntos podemos fazer alguma coisa.
- Com quem você falou? Zak, Leclerc, Cassandra, seu tio? – o homem questiona com ar gozador – Os meus contatos são infinitamente mais respeitáveis e influenciadores que eles.
contém o seu riso e Jean suspira pesadamente.
- Independente dos meios, os métodos, as conversas ou artimanhas que tenham feito, deve ser insignificante já que não chegou ao meu conhecimento. – ele declara – Se prosseguir por esse caminho, isso pode te levar a prisão por causar acidentes intencionais. Isso sim é crime. Minha coerção é o de menos. – Jean ri – E mesmo que não for, não há como me manter em uma prisão por muito tempo. Meus advogados são os melhores.
- Oh, não, eu não quero te jogar na prisão. – nega com a cabeça lentamente – Homens como você não tendem a ficar muito tempo lá. Fianças, privilégios e entre outros, eu não sou idiota. – ela sorri – Mas com certeza esse tipo de atitude pode fazer a Constituição te destituir desse cargo.
- A Constituição só pode me destituir se os chefes de equipe das dez escuderias me denunciarem e fizerem uma votação unanime para a minha substituição.
alarga o seu sorrido.
- Exatamente.
E então, no mesmo instante, o shōji é aberto pela garçonete. No entanto ela não estava ali para trazer a sua comida e sim para indicar à sala ao grupo de homens que estavam à aguardar ansiosamente e separadamente pelas demais salas do restaurante de forma discreta.
Os dez homens tomam a sala e Jean automaticamente se levanta com a expressão aturdida.
- Senhores... – ele começa – A que devo a honra?
- Acho que você já sabe a razão, Todt. – Toto Wolf, o obstinado comandante da Mercedes, fala com a voz dura. Sua estatura alta já impunha respeito, somado à seu semblante sério era quase assustador. No entanto, era um dos chefes mais admirados do grid.
- Pois bem, Benedetti, se nos permitir, gostaríamos de assumir às negociações. – Christian Horner declara gentilmente à mulher, que assente e se levanta da mesa, dando espaço para que eles tomassem os lugares próximo à mesa.
fica no canto da sala assistindo a troca de fala no debate e por vezes até se perdia entre um e outro que assumia o direito da fala. Mas nada era melhor do que ver Jean Todt ser colocado contra a parede.
Os homens disseram que haviam tido ciência das ameaças tanto à quando Mazepin e diversos outros funcionários do meio e que não tinham motivos para não fazer a delação à Constituição.
- Vocês me tiram e eles colocarão outro igual, se não, pior do que eu. – Jean rebate – Depois de tudo o que eu já fiz por esse esporte, vocês estão sendo muito ingratos. Já financiei as custas de montagem de todos vocês...
- Por livre e espontânea pressão. – Toto o interrompe.
Jean respira fundo.
- Entendam, esse esporte sempre vai ser desta forma. – Todt argumenta, o grave da voz crescendo à cada sílaba dita – O dinheiro sempre vai ditar às nossas regras, os magnatas sempre serão os controladores de tudo.
- Por isso que ao invés de te delatar, nós vamos propor a você um único acordo. – Horner é quem declara. – Cancele o envolvimento destes magnatas com o nosso campeonato e a Federação. Essa parceria é suja e, de certo, não deve ser burocrática para ser desfeita.
- Iremos à falência. – Jean informa – O capital do patrimônio destes homens é o que mantêm estes eventos vivos. Precisamos deles.
- Não precisamos que homens tradicionais, machistas, com pensamentos retrógrados nos digam o que fazer. – Zak diz, olhando significantemente para sua pilota. – Queremos uma competição justa, sem intromissão qualquer ou trapaças. E por isso nós é quem vamos investir, de nosso próprio patrimônio pessoal na Fórmula 1.
arqueia as sobrancelhas em surpresa.
Quando junto a Fabio haviam conseguido convencer um à um dos chefes à estarem presentes no restaurante naquele dia para colocar o presidente contra a parede, ele não havia revelado à que, além de safar o seu problema com Jean, o que os 10 homens tinham concordado em fazer para tornar o campeonato justo.
Esta era a razão pela qual se submeteu à acordos bilionários com eles.
Até então, o sonho de tornar o campeonato limpo e justo parecia ser algo impossível. Só que não mais.
- Vocês vão investir? – Jean questiona aos risos.
- A sua falta de confiança na nossa capacidade patrimonial é ofensiva, Todt. – diz Lawrence Stroll, pai de Lance e um dos homens mais ricos do mundo. – Garanto que, como eu, os demais têm ciência do que teremos que abrir mão aqui. Mas tudo vale a pena pela clareza e honestidade diante dos resultados para todos terem chances iguais.
- Quanta hipocrisia, Stroll. – Jean ri – Logo você quem mais quis comprar vitórias para seu filho.
- O “abrir mão” faz parte disso. – Lawrence contrapõe – E eu acredito na capacidade do meu garoto, que com certeza vai subir diante de índices igualitários.
- Isso é uma piada. – Jean exaspera – Vocês realmente acham que somente impor o seu dinheiro resolve tudo?
- Claro que não. - Frédéric Vasseur, CEO e diretor da Alfa Romeo, diz. – Teremos o retorno de 8,9 por cento cada sobre todos os lucros e 4 por cento destes vão ser investidos diretamente nos nossos próprios carros. Como investidores legais, abstendo todos os demais capitais que entrem ilegalmente.
- Mas isso me deixa com 2,1 da porcentagem. – Todt diz abismado, seu rosto tão vermelho que faziam seus olhos parecerem a própria lava.
- É melhor do que não ter nada, se for destituído. Não é? – Zak diz cruzando os braços. – Mas não sinta que isso vai ser uma gratificação, vai ser a pior coisa que poderia acontecer. Vamos ficar na sua cola, supervisionando você, se sair um dedinho da linha, no mesmo instante a Constituição ficará sabendo das suas negociações. E vai ser automaticamente jogado aos tubarões.
Jean abaixa a cabeça e tem vontade de sair saltitando de felicidade.
Estava acabado.
- Podemos fazer o acordo. Como queiram. – o presidente diz por fim, ele não tinha outra opção.
- Não. Você está?
e estavam na porta do anfiteatro do autódromo de Suzuka, onde acontecia uma reunião entre a diretoria da FIA, seu comitê e as equipes das escuderias. O encontro tinha o intuito de reestabelecer algumas regulamentações de seu código ético interno à meio de votos de todos os que faziam parte da Federação, membros e colaboradores.
Depois que a reunião com Jean fora finalizada e um acordo selado pelos chefes das escuderias, a primeira exigência de Zak foi abolir a regulamentação que proibia vínculos extracontratuais. Ela abrangia à liberdade na representação de marcas de roupas, tênis, apoiar esportes, causas, entre outras vertentes fora do contrato com a sua construtora, além de vínculos românticos, claro.
Por já terem declarado oficialmente ao regimento interno da federação sobre o seu relacionamento, ambos não tinham direito de fazer parte da votação. A sua permanência no restante da temporada se daria à decisão dos demais pilotos, engenheiros e chefes de equipe, e eles aguardavam pelo veredicto ansiosamente.
- Ma belle, - toma as suas mãos trêmulas e as acaricia delicadamente – mesmo que eles não concordem e sejamos suspensos por essa temporada, você vai ter as próximas para disputar. – ele a conforta – Não se preocupe. Vamos ficar bem.
- É verdade, mon cherri. – Sandy se pronuncia – Agora você já está livre daquele monstro, não tem mais o que temer.
A italiana, a quem havia sido contida quando fora revelado pelo que a sua cliente estava passando, ainda continuava com a opinião de que deveriam fazer justiça com as próprias mãos e, com o apoio de Fábio, queria descer o cacete em Jean.
- Quem tem o que temer é ele. – Fábio diz. – Basta uma piscada duvidosa que eu enfio uma tora do tamanho do Titanic no cu daquele chantageador.
Os quatro não conseguem evitar os risos.
Os dois tinham acabado por aceitar que as coisas fossem resolvidas de forma mais branda, mas a qualquer oportunidade voltaria atrás. E, sim, eles falavam sério.
O ódio era real e os entendia completamente.
No entanto, sua preocupação agora era outra. Devidos aos tais acordos que teria que cumprir, ele poderia não ser mais o piloto titular da escuderia vermelha nos próximos anos. E se sentia completamente culpada por isso.
- Se não for escolhida a opção que precisamos, você vai ser piloto reserva e isso não é justo.
- Eu não estou preocupado. – ele a interrompe – Você também não deveria.
Ela franze a testa.
- Como não?
- Porque, mesmo que eu não possa disputar por um tempo, vai valer a pena. – ele sorri – Um campeonato sem o controle e sem resultados esquematizados. Finalmente tudo vai ser justo. Até soa bem.
suspira pesadamente.
- Não é justo. – ela repete – Fez isso para me livrar do Jean e agora quem não poderá competir vai ser você. Eu...
- Não tem culpa nenhuma disso. – ele a interrompe novamente – Eu quem tomei partido disso, eu quem decidi. E somente eu devo arcar com as minhas decisões. Sejam as consequências que for.
As palavras do monegasco são recebidas com encanto.
- Porra, moleque. – Fabio declara – Você dificulta a minha árdua missão como tio em odiar o namorado da sobrinha.
ri e o puxa para um abraço.
- Só me prometa que independente de qualquer coisa, seremos um time. – o monegasco pede, a voz abafada em meio aos cabelos dela – Que iremos resolver as coisas juntos, sem essa de nos separar nunca mais.
sabia que ela tinha feito o que fez para protegê-lo, tinha um coração bondoso e muito emotivo. Ela agia conforme seus instintos, mas havia tomado uma decisão sobre eles sozinha e se tivesse confiado nele eles poderiam ter chegado a essa solução anteriormente, evitando muita dor e sofrimento.
Mas tudo aquilo fora mais um aprendizado e, vê-la admitir e aceitá-lo como parceiro, não só de cama, como para a vida, era recompensador. Estavam em sintonia novamente.
- Eu prometo. – ela diz sem hesitações.
Quando a reunião é dada por encerrada, o casal assiste os integrantes saírem pelas portas do anfiteatro casualmente, colegas conversavam entre si, uns corriam para cumprirem com seus compromissos enquanto outros, como Daniel Ricciardo, seguiram em suas direções com um sorriso acolhedor.
- Porra, nunca pensei que um dia veria todos naquela sala votarem por uma questão e ter concordância unânime. – ele diz. – Tantas são as diferenças que temos.
- Unânime? – repete com o coração acelerado. – E qual foi a decisão?
Danny olha de à , prolongando dolorosamente a revelação.
- Que droga, Danny. – lhe dá um tapa no braço – Fala logo.
- É, porra, a gente tá morrendo aqui. – Fabio complementa atônito.
- Vocês foram absolvidos! – a voz de exclama logo atrás de Daniel, pulado em cima dos amigos.
ri alegremente e pula junto a enquanto ela ainda assimilava aquela notícia.
- A galera realmente gosta de vocês, sabe, além de toda essa coisa de poder fechar parcerias fora. O que pesou mais na decisão não foi isso. – Daniel diz á – Até o Max voltou à favor. – ele dá de ombros, para em seguida se tocar – Ah, é verdade, tinha esquecido que vocês também são amiguinhos agora.
sorri feliz.
- Brincadeiras à parte, estou muito feliz por vocês. – o australiano diz.
- Isso aí! – Fabio comemora e bate na mão erguida de .
O monegasco puxa em emoção e sela um beijo rápido em sua boca.
Agora eles não tinham mais o que esconder.
- Mas isso também não quer dizer que agora podem ficar grudados feito chiclete por aí. – Sandy diz firme, os separando de repente. Eles olham em sua direção assustados, mas ela acaba por sorrir afetuosa. – Mas um beijinho ou outro não faz mal, não é? Estou feliz por vocês.
Eles se abraçam e é festejada a decisão por toda à tarde.
Pelo menos até terem que retornar aos compromissos usuais.
- Estamos aqui na margem das garagens aguardando pelos vencedores da corrida. – a jornalista fala em frente à câmera ligada – Eles acabaram de deixar o palco e passaram por... Olhem, é Leclerc. – a mulher dos olhos puxados e inglês secamente pronunciado se alegra e chama a atenção do monegasco.
O rapaz, ensopado por champanhe, seca o rosto com a toalha que sua assessora lhe oferece antes de se aproximar da repórter com um sorriso gratificante no rosto.
- Oi, ! – ela salda. – Parabéns pelo segundo lugar, foi uma corrida realmente cheia de emoções.
- E se foi! – ele concorda alegremente – Muito obrigado, estou muito orgulhoso de toda a equipe por este resultado. Nós trabalhamos duro e nada mais justo que dois de seus pilotos no pódio, hein?! Estou realmente feliz. Muito feliz.
- Para quem chegou agora e não acompanhou a corrida, Hamilton teve a vitória do Grande Prêmio, enquanto ficou em segundo e Carlos Sainz em terceiro. Um pódio diferenciado. – a mulher informa aos espectadores através da câmera. Depois ela se volta ao piloto – Hoje é seu aniversário, não é?
- É sim.
- E que forma mais maravilhosa de celebrá-lo, não?! – ela sorri.
- Realmente, da forma mais espetacular possível. – ele concorda.
- Meus parabéns! – ela deseja – Aproveitando essa deixa sobre tanta felicidade, ontem finalmente saiu um comunicado oficial de que você e a Benedetti estão juntos. E, aliás, ela ficou em P5 nesta corrida, que casal, meus amigos! – a mulher relembra. – Devo dizer que a notícia deixou muitas de suas admiradoras tristes, mas outros complemente satisfeitos pelo casal que já era mais que evidente.
- Obrigado! – ele sorri verdadeiramente – Tentamos esconder por um tempo sim, mas chegamos à um ponto em que não achamos que seria justo guardar para nós. – ele declara – Estamos felizes e queremos compartilhar com quem nos apoia. Claro que isso não vai afetar a nossa relação profissional dentro das pistas, como nunca afetou, e por isso que a FIA foi condescendente e deu cartão verde para divulgarmos.
- Isso é maravilhoso, parabéns pelo casal! – ela diz – Eu sou uma das que shippa vocês totalmente, tenho que admitir.
- Obrigado, obrigado.
- Só mais uma pergunta, porque estou vendo que já estão te chamando ali. – a mulher diz ao ver a assessora do rapaz apontar para o relógio – Nesse aniversário pelo que estará celebrando, a vitória ou por mais um ano de vida?
se põe a pensar, mas a resposta já estava explicitamente gritante em sua cabeça.
- O presente da .
- O presente dela? – a mulher questiona com a testa franzida – E o que foi que ela te deu?
- Não. – ele ri – Não foi isso que eu quiser dizer.
- Mas ela te deu um presente, sim? – ele assente – Podemos saber o que um piloto de Fórmula 1 ganha de presente hoje em dia?
- Ela me deu um piano novo. – sorri. – Eu costumo tocar para relaxar e ela gosta de me assistir tocar. No entanto, quis dizer é que estarei celebrando por tê-la comigo, o que é um presente na minha vida. A vitória, mais um ano de vida, essas coisas não passariam de conquistas sem ter alguém que amplifique o significado de tudo. Alguém com quem você possa compartilhar a sua vida.
Epílogo
Circuito de Interlagos – Brasil.
- “Dia de chuva na cidade de São Paulo e temos uma grande chance de deslizadas e escapadas na corrida de hoje. Esse autódromo histórico é um dos preferidos de nós, brasileiros, mas também de um grande público ao redor do mundo” – o comentarista narra. – “Eu sou Luciano Burti e estou acompanhado do meu colega, Reginaldo Leme. Qual a expectativa de hoje, Regi?”
- “Vitória da brasileira Benedetti, claro. Essa grande pilota estreante que vem dando um show de pilotagem nessa temporada, quebrou inúmeros preconceitos, bateu recordes e está fazendo história. Ela teve alguns momentos ruins em algumas corridas passadas, mas isso acontece e agora está à todo vapor, mostrando que está pronta para lutar pelo primeiro lugar”.
- “Já tem um tempo que nós não ouvimos o hino brasileiro em um pódio aqui em Interlagos, sério muito bom. Não seria?” – Luciano questiona.
- “Seria, com toda certeza!” – Reginaldo afirme veemente – “Ainda assim, quem larga na pole position hoje é o Lance Stroll, que já não ganhava uma pole position há alguns bons meses e ela está em P8 hoje.”.
- “Ambos em boas posições. O Lance Stroll fez uma bela volta ontem. Os treinos classificatórios foram feitos debaixo do sol escaldante do meio-dia e as condições eram completamente diferentes das de hoje.” – Luciano declara – “Hoje eles terão que usar pneus de chuva e torcer para não rodar muito.”.
estava montada em seu cockpit já na pista, Thomas segurava um guarda-chuva sobre sua cabeça enquanto o mecânico Nick afivelava os cintos sobre o seu corpo. Outros membros da equipe faziam verificações aos ajustes feitos devido ao mal tempo, cobertos com capas de chuva e a antecipação era altamente sonora em todos os lados.
As máquinas de encaixe de pneus soavam, o vento que soprava dos resfriadores portáteis grunhia, mas nada se comparava com o grito da torcida da sua nação.
estava emocionada, suas mãos tremiam no ritmo do coro de OLE OLE OLE e sua cabeça vibrava junto àquelas vozes que a impulsionavam. Nada podia ser comparado, nem mesmo ao Japão.
O Brasil era sua casa e correr pela primeira vez naquela pista, pelo campeonato dos sonhos, com verídicas condições de uma vitória por ser uma ótima pilota em pista molhada... A sensação, era simplesmente indescritível.
Automaticamente ela se recorda da primeira vez que guiara naquele trajeto, há quase uma vida. Estava num carro histórico, aquele que uma vez fora de seu ídolo, usando a réplica de seu capacete e estava insegura.
Como soava bobo agora aquele medo que tinha de voltar a pilotar, quão idiota ela foi por ficar anos impedindo a si de se entregar à sua grande paixão.
Tanta coisa havia acontecido de lá para cá.
Caralho, quanta coisa.
Se lembra, então, do incentivo da melhor amiga, da força de vontade com que seu tio lutou para recolocá-la no mapa, do apoio de Fael, de seu pai e depois de sua mãe, coisa que ela pensara que nunca teria – mesmo que tenha sido em slow motion.
Suas lembranças trazem todos aqueles que conheceu por meio do esporte, Mick, Sandy, René, aquele que se tornara o melhor amigo , Zak, Andreas, Carlos, Danny, Max e o grande amor da sua vida, . Quem havia a feito amadurecer, criar laços fortes e finalmente sentir o verdadeiro sentido do amor.
Com os últimos anos passando diante de seus olhos, ela não consegue evitar lembrar-se dos maus tratos, as críticas, o preconceito, as chantagens e as pessoas que disseram na sua cara que ela não conseguiria.
aperta os dedos em volta do volante. Os motores roncam.
Ela estava ali e já era vitoriosa por isso.
Eles estavam na antepenúltima corrida do campeonato e sua pontuação estava oito casas abaixo do líder, Hamilton, e nem se vencesse as três corridas finais ela conseguiria alcançá-lo. Mas como ela queria, como ela sentia que podia vencer aquela corrida.
Naquela pista.
A sua pista.
Os técnicos saem da reta de largada e Thomas se retira com o guarda-chuva, permitindo que os finos pingos de água tocassem o seu capacete e macacão, molhando de leve a sua viseira e as luvas em suas mãos.
Aquele tempo era a sua melhor estatística, o melhor clima possível para se fazer em uma manhã de domingo na sua cidade de São Paulo.
Tudo estava casando, as coisas estavam propensas há um só resultado.
E ela se agarraria nessas possibilidades com todas as forças.
- “Agora é hora de acender a luz vermelha, elas se apagam e vai começar a corrida.”.
- “Olha como eles saem deslizando, o Lance Stroll consegue segurar a posição e QUE LARGADA DA BENEDETTI!” – o comentarista esbraveja de emoção – “Benedetti jogou por fora e saiu da oitava posição para a sexta. Ela já vai brigar pela quarta, terceira, não, não. Ela já está disputando a segunda posição com os carros da Renault.”.
- “Roda o carro da Renault na primeira curva, roda a Alpha Tauri do Gasly e o Bottas. Ótima notícia para o Hamilton que também fez uma bela largada. Ele saiu da sexta posição e disputou pela quarta, passou o Leclerc e agora está na terceira posição.”.
- “É era claro que todo mundo ia largar patinando, escapando traseira, mas esses dois acharam um espaço ali e foram ganhando posição. A corrida de hoje tem tudo para ser uma das melhores da temporada, pista molhada sempre tem emoções e já de início isso foi comprovado aqui.”
- “, voltou a chover na curva oito” – Andreas diz através do rádio.
A corrida estava a duas voltas para o final e continuava em segunda posição. Na metade do trajeto, quando ela conseguira alcançar Lance, Hamilton abriu por fora e ultrapassou os dois, ganhando a primeira posição.
Desde que ele assumira a liderança, ainda não havia conseguido encontrar brechas para passá-lo.
- “Como estão os seus pneus?” – o engenheiro pergunta.
- Estão bons, e mesmo se não estivessem, eu evitaria o box. A entrada estava mega escorregadia na última parada. Meu problema mesmo é a potência. O motor fica mais lento a cada curva. – ela fiz apertando o botão de contenção de energia freneticamente. – O Verstappen tá colado em mim. Daqui a pouco eu perco posição.
- “Acabamos de saber que os pneus do Hamilton estão por um fio.” – ele informa – “Faltando duas voltas ele não vai arriscar uma parada e deixar que você passe.”.
- Não, ele vai até o final. Ela vai evitar o box também. – ela diz desacelerando para fazer a curva para em seguida aumentar as marchas novamente e acelerar na sua saída.
- “Exatamente. Acho que os pneus dele não aguentam. Segura a última volta na cola dele, guarda potência.”
- Já entendi. – sorri e aproxima da traseira do adversário, com cuidado para não deixar espaço ao outro que já vinha atrás.
segue o comando de Andy por alguns metros, no entanto, de súbito o pneu do seu colega da frente estoura e o carro roda na pista descontroladamente justo na entrada da curva.
A pilota tem que ser rápida e reduzir o carro com cuidado, para não ser atingida pela máquina da frente e nem pela de trás, que se aproximava em alta velocidade.
Era a sua hora.
trava os pneus traseiros e faz o drift na parte seca da pista. A água escoa para os lados e o carro desliza com elegância. Ela desvia da pantera negra e meio segundo depois gira o volante para a direção contrária, estabilizando o carro na saída da curva.
A pilota acelera na reta e grita de emoção.
- AAAAAAAAAAH!
- “É ISSO AÍ, LIZZIE! ISSO FOI ESPETACULAR, GAROTA” – Andreas esbraveja alegremente pelo rádio. – “Não que eu precise lembrar, mas isso é um P1!”.
ri alegremente.
- “O que foi isso que a Benedetti acabou de fazer, Reginaldo do céu?!” – o comentarista questiona impressionado.
- “Ela mostrou pleno controle dos pneus NA CHUVA!”.
- “Essa manobra me lembrou muito de Ayrton Senna, Regi.” – Luciano afirma convicto – “Todos esses anos os brasileiros se perguntaram qual seria o piloto que chegaria ao nível do nosso querido ídolo brasileiro. Colocaram pressão sobre o Rubinho, Felipe Massa, depositaram fé no Nelson Piquet e no Emerson Fittipaldi, que quero deixar claro, são ótimos pilotos. Cada um com sua essência. Maravilhosos, sou fã de cada um deles. Mas, vou te falar, é a primeira vez que eu vejo algo que pode ser comparado a ele.”
O sorriso no rosto da pilota está cada vez maior e radiante ela segue em primeira posição pelos últimos metros do trajeto.
- “Quem diria que o próximo Senna da nossa geração seria uma mulher. Não que alguém vai substituir ele, ninguém substitui ninguém. Mas o que queremos dizer é que agora, nós brasileiros que tanto acompanhávamos a Fórmula 1 com engajamento e vibrávamos de emoção todo domingo de manhã juntos, como se fosse jogo de copa, finalmente teremos o motivo de voltar a vibrar como naquela época. Porque temos uma jovem brasileira sensacional nas pistas que nos representa fortemente nesse esporte.” – Reginaldo pronuncia.
- “Ela tem um futuro promissor à sua frente. Nova, talentosa e vai se encaminhando para a sua primeira vitória na sua temporada de estreia.” – o comentarista vibra, nas imagens a McLaren laranja voava na pista e transcendia energia – “Num resumo de uma corrida que teve o Stroll na ponta, que teve o Hamilton e Verstappen como sérios candidatos à vitória, mas se chocaram faltando duas voltas para o final, que teve a Mercedes pela primeira vez fora da pole position, teve os dois carros da Ferrari muito bem, teve o Albon sendo estrela, Norris com quinto lugar e... Uma corrida história para colocar o primeiro ponto dourado na história dessa pilota.”
- “O primeiro de muitos que virão.”.
- “Com certeza, de muitos que virão.” – Luciano afirma veemente – “ Benedetti, a pilota do olhar atento, que pensa se a entrada do box vai estar escorregadia, que olha para o céu e percebe se tem nuvem negra, se tem nuvem escura e se vai chover ou não vai, que usa as partes secas da pista e sabe se aproveitar das molhadas. A mulher que fora das pistas luta, batalha, é símbolo de diversidade, é símbolo de posicionamento, de cidadania, de feminismo. É Benedetti!”.
cruza a faixa quadriculada com a bandeira balançando à sua frente em lágrimas.
- “O que você acabou de fazer, ?! Me diz o que você acabou de fazer.” – Andreas esbraveja pelo rádio contente.
- Ganhamos a corrida. – ela diz em meio aos soluços.
Sua visão estava embaçada, os olhos ardiam e a garganta fechada pelo bolo de sentimentos.
- “Ganhamos a porra da corrida!” – ele grita em vibração – “E no Brasil!”.
- No Brasil. – ela repete com as mãos sob o volante guiando automaticamente enquanto escutava as explosões dos fogos de artifício, o público gritando pelo seu nome e toda a algazarra feita.
Ela tinha conseguido.
E agora ninguém poderia impedi-la de receber aquilo que era de seu mérito.
A emoção era tanta que ela demora para descer do carro, a tempo de tentar controlar o choro que há muito tempo estava contido dentro de si.
Ela é parabenizada pelas pessoas que passam pelo seu carro parado na placa de número 1 e, quando finalmente recobra as forças, salta do carro diretamente para os braços da sua equipe, que a erguem no ar, cantando um OLE OLE OLE gringatizado.
mal se atenta quando é levada de um lugar a outro, até quando as pessoas secam o seu rosto, tiram o seu capacete, ajeitam o seu cabelo e colocam o seu boné de campeã em sua cabeça, de tão extasiada que estava por aquele conjunto de emoções.
Quando o seu nome é finalmente falado no palco ela sobe os degraus e é ovacionada pela multidão feroz e alegre, vibrando pelo seu triunfo. Ela sequer se preocupava em secar as lágrimas mais, de tantas que escorriam.
Os seus colegas ao seu lado, Sérgio Perez em segunda posição e Alex Albon como terceira, a aplaudem fortemente. E quando o hino do Brasil começa a tocar ela, junto das milhões de vozes ao redor do país, cantam a plenos pulmões.
Uma nação que tem em sua letra a adoração pela pátria, pela sua cultura e pela admiração à beleza dessa mistura genética.
O Brasil pode não ser um país de primeiro mundo com exemplo de política e economia, mas o seu povo era o mais saudoso e feliz que alguém poderia conhecer.
Ela recebe o seu troféu e ergue ao alto, dedicando à seu povo e à todos aqueles que acreditaram nela.
E na hora da chuva de champanhe?
Ela faz questão de jogar na plateia, que há muito esperava por uma vitória como aquela.
- Sério que depois de tudo isso você ainda vai ter energia para ir para a balada? – indaga quando finalmente chegam à casa do pai de , que vinha acomodando cinco pilotos fora e o próprio pai, depois de uma desgastante sessão de entrevistas, fotos e autógrafos.
- O quê? Eu estou mais elétrica que nunca. A partir da meia noite é o seu aniversário e você está no melhor lugar para se comemorar um aniversário. – ela diz colocando o troféu na espaçosa bancada de mármore na cozinha enquanto o grupo de pessoas se espalhavam pela casa. – Vai ter uma festa chamada “Carnaval fora de época” e você vai adorar!
- Por favor, evitem sair em sites de fofoca descontroladamente bêbados e dançando em cima de mesas. – Sandy choraminga sentando-se na banqueta de frente à . – Eu sei que vocês têm muito o que comemorar hoje e não quero ser chata, mas não faz a titia ter que subornar paparazzi de novo.
- É, não suporto cuidar de gente bêbada. – Carlos declara assentindo.
ri.
- Eles vão estar comigo desta vez. - Danny se pronuncia.
- Não sei o que tem de bom nessa frase. – Fabio provoca e o australiano lhe mostra o dedo do meio.
- Da última vez que isso aconteceu, ela estava com o Verstappen e, vamos combinar, ele não é muito forte com bebidas, como a nossa mascote aqui. – Daniel abraça pelo ombro, que lhe dá um tapa na cabeça e faz com que seu boné voe ao chão. – Eu não vou ser o pai do rolê, mas sei maneirar as coisas. – ele diz recolhendo seu boné de volta.
- Ele vai encontrar com a gente lá. – diz jogando alguns amendoins que encontrou no pote da cozinha a boca. – O Verstappen.
- A e o Fael também, eles só foram em casa para tomar um banho. – informa.
- Então, eu não tenho como prometer nada. – Daniel dá de ombros.
- Como se eu realmente fosse confiar em você, señor tequila. – Sandy acentua e Daniel se retira de forma discreta em movimentos teatrais do lugar, causando risada em todos.
- Pai, vem com a gente também. – se direciona ao patriarca – A minha mãe já fugiu no meio das entrevistas, usando a desculpa que tinha que fazer não sei o que, não sei onde, o que é bem típico dela, mas eu sei que você gosta de uma farra.
- Na verdade, querida, - o pai diz dando passadas até a parede. E ao alcançar o interruptor que iluminaria a sala ao lado, ele finaliza: - ela trouxe alguém especial para te parabenizar.
Quando a luz se acende sente seu peito gelar, mas de uma forma maravilhosamente boa.
Ao lado de sua própria mãe estava ninguém mais ninguém menos que Emília Benedetti, sua querida e fodástica avó. Ela estava tão deslumbrante quanto podia se lembrar, com os músculos torneados mesmo para a idade, os cabelos grisalhos escovados em ondas perfeitas, batom vermelho nos lábios e roupas modernas.
- Você vai ficar aí só me olhando ou vai vir dar um abraço na avó que você não vê há anos? – a mulher ralha com a voz grave.
- Vovó! – esbraveja e corre de forma animada aos braços abertos da mulher. Elas se abraçam significantemente.
- Como eu senti saudade dessa completa falta de tato. – Fábio sopra ao fundo, suspirando de alegria.
- Quando acabar aqui, eu também vou puxar a sua orelha, senhor Fábio. – a mulher diz sobre o ombro da neta – Semanas sem ligar para a mãe, que tipo de filho é você?
- Dona Emília, não ouse me culpar. Quando estive pelo Reino Unido, te convidei umas três vezes por semana para me visitar na sede da McLaren. – diz separando-se minimamente – Mas disse que tinha clientes no paraquedismo toda semana.
- Eu não gosto de me intrometer no trabalho das pessoas, como não gosto quando se intrometem no meu. – a mulher explica.
- Acho que isso foi para mim. – Patrícia murmura de canto.
- Ela me tirou de lá na temporada em que se têm mais turistas na cidade. – Emília encara a filha com os olhos em fendas, mas sorri em seguida ao voltar os olhos para a neta. – Contudo, é completamente relevante, porque vê-la novamente é muito recompensador. Minha pequena campeã.
sorri agraciada.
- Como você cresceu e está mais linda que nunca. – Emília diz, girando-a pela mão para que desse uma volta em sua frente – Quase não me faz sentir falta da época que trocava suas fraldas. – a mulher ri – A quem quero enganar? Eu nunca gostei de trocar fraldas.
Elas riem.
- Temos tanta coisa para colocar em dia. Tantas novidades. – diz entusiasmada. – Quero saber de tudo sobre a Fazenda Benedetti que você tanto me fala, parece ser um lugar esplêndido. Podemos combinar de ir lá nessas férias, depois que a temporada acabar e...
- Sim, sim, calma, minha querida. – a mulher a interrompe sorrindo carinhosamente – Respire um pouco.
ri.
- Desculpe, é que estou tão feliz que esteja aqui. – a jovem diz e volta a abraçar a avó.
Emília olha para a própria filha por cima dos ombros da neta, que está com os olhos marejados de emoção.
A família Benedetti realmente nunca havia sido tão unida, tantos traumas, limitações, repreensões, problemas e separações haviam os distanciado. No entanto, eram uma família, e como toda família que briga, eles também faziam as pazes e, eventualmente voltariam a ser unidos. Mesmo que demorassem mais anos que o usual para perceber, eles sabiam que a família era a chave para tudo. Como também a amizade, todos eram laços verdadeiros e reais.
- Vamos ter todo o tempo do mundo para nos atualizarmos das novidades e nos divertirmos juntas. – a mais velha diz, afastando-se para olhar nos olhos avelã marcantes da neta – Mas, agora, você vai comemorar com os seus amigos como já tinha combinado.
- O quê? – questiona com a testa franzida – Não, eu não sabia que iria vir ao Brasil. Nós podemos combinar para depois, se não tiver problema, ... – ela se vira para o rapaz que sorri e balança a cabeça em concordância.
- Querida, querida. – a mulher a interrompe, chamando a atenção da neta de volta para si. – Não se preocupe, eu não vou fugir. Depois que sua mãe veio com todo aquele papo falando sobre o quanto devíamos ser mais próximos, como uma família, e que você havia a mostrado a importância do estar junto, eu entendi que estava na hora de eu retornar para onde sempre pertenci. Mesmo que o meu companheiro não está mais aqui, tenho um pedacinho dele em todos vocês. E não quero perder mais nenhum instante de suas vidas.
olha da avó à mãe, estudando as suas expressões calmas e amorosas, e sorri por final.
- Não se importa mesmo que eu vá farrear? – ela questiona duvidosa.
- Claro que não, só não te acompanho porque não tenho mais a mesma energia que tinha na sua idade. Acabei de passar por um voo de quinze horas, estou moída. – Emília ri – Vá farrear, dançar, se divertir, beber e soltar a franga. Do jeitinho que eu e seu avô fazíamos quando éramos jovens.
sorri verdadeiramente e volta a abraçar a avó.
- Pelo o que ouvi falar, você herdou nosso gênio de boêmios. – a mulher comenta com uma sobrancelha arqueada quando elas se separam.
- Com muito orgulho.
Londres – Reino Unido.
A temporada havia sido finalmente dada como encerrada, tendo Lewis Hamilton e Mercedes como grandes campeões novamente, Red Bull em segundo lugar no prêmio das construtoras e a McLaren em terceiro.
As comemorações naquela última corrida celebravam, além das conquistas, uma temporada histórica, conturbada e, para , apenas o começo de um sonho.
Ah, sim, porque muito mais viria pelo caminho e ela já ansiava por isso.
No entanto, eles haviam oficialmente entrado no período de férias das pistas e aquele era o último compromisso do ano como pilota.
Ela estava a desfilar pelo tapete vermelho do Prêmio Imprensa Automotiva promovida pela Autosport e nunca se sentiu tanto como uma celebridade.
Trajada com um belo vestido longo laranja, para representar a sua construtora, com um farto decote em V e uma fenda de abertura na perna direita, ela sorria e posava para fotos, vezes ao lado do parceiro de equipe e outras ao lado do namorado.
Concedeu algumas entrevistas breve nas margens da entrada do evento, mas logo se juntou à família, que era encaminhada à mesa reservada a eles.
Durante as apresentações, ela vagava da mesa ao bar e encontrava um representante ou outro que a parabenizava pelo campeonato, alguns até se comprometeram a ligar a sua empresária para novos patrocínios, o que era muito animador.
Tudo era uma base para negócios, mas passada da metade da noite, ela já estava sentada em outras mesas, batendo papo com seus amigos e bebericando uma bebida ou outra enquanto riam ao relembrar alguns momentos nos bastidores.
- Aquela competição de flexão nos boxes do Barein não teve cabimento algum. – George reclama após dar uma golada na bebida em seu copo. – estava com nas contas e eu com o Alex, que tem o triplo do peso dela. Foi roubada.
O grupo ri.
- Só não foi pior que aquela corrida solidária de kart no Canadá. – Danny relembra – Max fechou a na curva e ela dá-lhe com uma pesada no braço dele. – os pilotos rirem – O moleque rodou que nem beyblade.
gargalha e empurra o ombro da parceira de leve.
- Como que cabe tanta raiva numa pessoa com menos de 1,65? – ele indaga. – Você nem tem tamanho e já peitou todo mundo do grid.
- Parece um pinscher. – concorda, cutucando as costelas da namorada carinhosamente – 50 por cento tremedeira e 50 por cento raiva.
- Calem a boca. – a pilota diz aos risos, desviando das mãos do rapaz. Ele sabia que ela sentia cócegas nessa região.
- Apesar de tudo, e olha que teve muita coisa nessa temporada, acho que o melhor momento foi a festa no Brasil, comemorando o aniversário do . – Carlos destaca risonho – O Daniel tentou aprender os passos daquela dança lá...
- Samba. – o interrompe para declarar.
- Isso, samba. E ele acabou arrastando o , que já estava louco na cachaça. – o espanhol completa. – A cena foi hilária.
- Aquela noite ele me deu o troco pelo meu vômito nos tênis dele em Holanda. – a pilota diz balançando a cabeça em decepção e dá uma bicada na taça de cerveja que o namorado a oferece – Vomitou na minha roupa todinha. Tive que me virar com um abadá que o comprou de um cara lá no meio da festa.
- Ele era grande, pelo menos ficou parecendo um vestido. – o monegasco ri, passando o braço por cima dos ombros da mulher. – Se não fosse isso, não tínhamos virado a noite na festa. A gente foi embora e o sol já estava à pino.
- E só fomos embora porque o estava sem condições. – Carlos ri – Ele estava apoiado em mim e no Daniel, dormindo em pé no meio daquela bagunça. Típico de .
O grupo volta a rir em coro.
- Definitivamente foi uma das melhores festas que eu já fui. – declara.
- A festa foi ótima, sim, mas eu nunca mais bebo aquela bebida maldita. – diz com a voz engunhada ao se lembrar do gosto do líquido – Caipirinha é gostosa e por isso te mata lentamente. Quando você se dá conta já está bêbado, tentando conversar com as pessoas em outra língua e entrando no banheiro feminino. – gargalha e o rapaz se vira em sua direção – Se você não tivesse me encontrado, elas teriam me surrado.
- Pelo menos você não foi esquecido para trás. – Mick se pronuncia – Depois de meia hora sozinho, essas pessoas que se dizem minhas amigas se deram conta de que faltava alguém e voltaram para me buscar.
- E você estava bem mal, não é?! Comendo um belo de um pastel e tomando caldo de cana na feira. – diz sarcástica. – Como disse que foi parar lá mesmo?
- Segui uns caras, eu estava muito bêbado. Acho que eles pensaram que eu era alguém do grupo deles e eu que eles eram vocês. – o alemão sorri alegre com a lembrança. – Aquela é uma comida maravilhosa, você tem que fazer qualquer dia para nós, .
Eles continuam a rir com as lembranças. Isso, pelo menos, até ser chamado para apresentar uma categoria em que , Mick, Tsunoda e Mazepin concorriam.
O prêmio de novato do ano.
- Meu Deus, que cara mais guapo é aquele subindo no palco. – diz espremendo os olhos e se abanando teatralmente – Ah, é. Aquele é o meu namorado.
Os rapazes riem.
- Por que o Fernando Alonso não está nos indicados como novato do ano? – Daniel questiona sugestivamente.
- O cara é bicampeão mundial. – Mick diz aos risos – Só porque retornou de um ano sabático, não faz dele um novato.
- Fora que ele já ganhou esse prêmio quando realmente foi um novato. Mas seria engraçado se indicassem ele. – diz se levantando. Ele se direciona à – Vamos, temos que retornar aos lugares porque eles filmam as reações.
ri.
- Então eu acho que vou ficar por aqui, não quero que filmem a minha cara de perdedora quando o Mick levar o prêmio. – ela diz, mas se levanta junto ao ex-parceiro e sua namorada.
- E eu quero que eles me filmem mostrando o dedo para você quando você levar o prêmio. – o alemão diz e eles riem enquanto caminhavam lado a lado.
- Não, aposto que você leva essa. É o queridinho dos fãs, Schumacher. – ela para quando chega a própria mesa, Mick a encara com a sobrancelha arqueada.
- Então você quer apostar? Tudo bem. – ele dá de ombros e ergue a mão na direção dela – Se você não levar o prêmio, fico com a sua nova McLaren 765LT por uma semana. Aquela máquina é animal.
- O carro da empresa? – ri. – Boa sorte.
- Tudo bem. – ela aperta a mão do alemão – Se eu não levar o prêmio, fico com aquele Porsche.
- Fechado. – ele diz e eles balançam as mãos.
olha significantemente ao amigo.
- Mick, eu tenho que te agradecer. – ela sorri enquanto ele franze o cenho.
- Por que, exatamente?
Mirian, parceira do rapaz, percebe o clima de momento íntimo e se afasta gentilmente para dar-lhes privacidade, gesticulando disfarçadamente a , que faz o mesmo.
A jovem francesa, de 24 anos, era educada, simpática e adorou conhecer a famosa amiga de quem tanto o parceiro falava – surpreendendo que achara que ela se incomodaria pelo fato dos dois serem tão próximos.
- Por você ter me acolhido de verdade na minha estreia. Isso me ajudou muito a crescer dentro da categoria. – revela. – Você acreditou no meu potencial e me tratou de igual para igual.
- Por quê? Você é diferente de nós? – o rapaz se faz de desentendido por um momento, mas acaba sorrindo gentilmente. – , você é tão decente quanto talentosa, seria impossível não gostar de você ou não me sentir ameaçado por você. – eles riem. – Apesar de duas coisas distintas, elas meio que se interligam. Traz admiração e carinho.
- Você é o irmão mais velho que eu nunca tive. – sorri e o abraça rapidamente.
- E você é parecida com minha irmã, um pouco. Pelo menos na chatice. – eles tornam a rir. – Tô brincando, claro. Vou torcer por você.
- E eu por você.
Eles se afastam e se acomodam em suas mesas. se senta ao lado de e Fábio.
Todo aquele clima de celebração, agradecimentos, emoção, ou apenas pelo fato dela estar na TPM, deixava-a mais sentimental. E como ela ficava sentimental na TPM.
Mas independente do quanto seus hormônios influenciassem isso, ela sempre seria eternamente grata àqueles dois e não poderia deixar de expressar isso.
- Eu... – ela limpa a garganta, chamando a atenção dos dois ao pegar em suas mãos. – Eu não sei se já deixei claro o quanto eu sou agradecida por vocês. De verdade.
põe a mão livre sobre o peito com a face amável enquanto Fábio fechava o semblante, se fazendo de durão quando, na verdade, todos sabiam que era o mais emotivo dali.
- Vocês foram os primeiros. Que, desde o início, acreditaram em mim e lutaram pelo meu sonho quando eu estava em uma fase... Bom, completamente perdida na vida. – ela umedece os lábios, para ganhar tempo e o bolo descer pela garganta – Eu não sei o que faria da minha vida sem vocês dois, tiveram papéis muito importantes na minha história e na minha carreira, e eu não poderia estar mais grata por ter vocês na minha vida. Amo vocês demais e... Bom, - ela suspira – só queria dizer obrigada por estarem comigo sempre.
Ela olha de um ao outro e o trio se abraça carinhosamente.
O silêncio entre eles sendo acobertado pelo burburinho de conversas pelo salão.
Não era preciso dizer mais nada.
As luzes refletem e o título da categoria brilha no telão gigantesco do palco atrás de , trajado com um belo terno, com direito à gravata desenhada, sapatos requintados e um sozinho maravilhoso no rosto.
havia perdido toda a introdução ao fazer seu pedido ao garçom para que trouxesse mais um copo do vinho depois do momento fofura com Fabio e . No entanto, sua atenção é chamada por Sandy quando o rapaz se reaproxima do microfone depois que passado os vídeos de cada indicado para revelar quem levaria a estatueta aclamada do esporte.
- Sobre o vencedor do prêmio como novato do ano, eu tenho muito o que falar. – o monegasco diz – Tenho a honra de dizer que o conheço muito bem e que é maravilhoso poder não só competir... Como viver ao lado dela. – ele sorri significantemente na direção de , todas as cabeças se voltam à ela – Para quem não a conhece, eu vou dar leve uma ideia de como ela é. – o rapaz suspira apaixonado – Ela é aquela pessoa que conversa sobre tudo, que sempre tem um papo bom e os melhores conselhos, mesmo que não seja muito boa em segui-los. – a plateia ri – Às vezes ela solta uma piada boba, faz uma gracinha nos momentos mais inapropriados para descontrair, e isso é uma das pequenas coisas que a torna tão cômica.
sorri abertamente, o coração batendo à mil.
- A energia que ela transmite é tão boa e tão forte, que chega ao ambiente antes mesmo da própria chegar. – continua a declarar – Ela ama essa coisa de ser intensa, de ser humana, gente como a gente, de se preocupar com o próximo e mergulha de cabeça em tudo o que faz. Ela tem um coração lindo, aquele que é capaz de perdoar, além de ser um dos mais gentis e generosos que eu já vi. E ela o coloca em tudo o que faz. – sente a mão de Fábio pousar sobre a sua por cima da mesa, ela entrelaça os seus dedos e sorri em sua direção – Infelizmente, já tentaram se aproveitar desse coração, ela apanhou para cacete e já conheceu as partes mais sombrias da vida. – a pilota seca os olhos delicadamente com um guardanapo que Sandy compartilha, não percebera quando ela mesma ou todos ao seu redor começaram a chorar – Caiu 370 mil vezes e poderia ter se tornado uma pessoa amarga sim, mas ainda assim prefere ser doce. Ela é doce, sabe? – ele questiona retoricamente para a mesa à sua frente, coincidentemente onde Max estava, a quem concordava com a cabeça vagarosamente à cada palavra – Ela prefere ser a luz. – volta à olhar – Ela é a minha luz. Senhoras e senhores, a vencedora do prêmio de novata do ano, é o grande amor da minha vida, Benedetti.
Uma salva de palmas rompe por todo o salão, estrondosa e comovente.
se levanta. Ela abraça o pai, Fabio, , Fael, a mãe, e Zak rapidamente, e se depara com Mick aplaudindo saudosamente a sua nomeação.
Ela sorri verdadeiramente e se encaminha até o palco, apertando a mão de quem a parabenizava pelo caminho.
Suas mãos estavam meio trêmulas e seu coração faltava saltar pela boca.
Meu Deus, que momento!
sobe ao palco segurando a barra do vestido longo para não tropeçar – o que seria a sua cara – e abraça com vontade.
- Filho da mãe, precisava me fazer chorar? – ela sopra em seu ouvido.
- Agora o público sabe quem você é de verdade, se já não soubessem. – ele diz e se afasta para entregá-la o prêmio dourado em suas mãos.
A luz dos refletores que apontavam para o palco fazia-o brilhar e resplendecer. Era realmente bonito e significante.
se aproxima do microfone e todos se calam e se sentam, dando a ela abertura para começar o seu discurso.
- Toma essa, Fernando Alonso. – ela solta descontraída e todos riem. – Tô brincando. – ela se adianta em esclarecer – Deus, como superar esse discurso maravilhoso agora? – ela sorri e seca as lágrimas nos cantos dos olhos.
encara a plateia à sua frente e respira fundo.
- Caraca, sorte que minha maquiagem é à prova d’água.
O público ri.
- Eu não sei o que dizer, tinha todo um roteiro preparado na minha cabeça caso isso realmente acontecesse, mas ele simplesmente... – ela joga a mão ao ar, expressiva. A plateia ri novamente. – Bom, vamos começar com os agradecimentos então. – suspira – Eu gostaria de agradecer à academia pelo prêmio maravilhoso, aos meus fãs que tanto me apoiam e especialmente à minha equipe. Cada um deles tem a sua dose significativa de energia que me impulsionou a estar onde estou hoje e quero agradecer principalmente à Cassandra Ricci e Zak Brown, que acreditaram em mim quando eu mesma não estava a acreditar. Assim como Angelo e René também, vocês me deram oportunidades, me protegeram e eu nunca, jamais, vou me esquecer disso. – ela olha diretamente para a mesa em que a empresária e o atual chefe estavam, mas não enxerga muito diante das luzes. – Quero agradecer também a meus amigos do Brasil, que estão aqui hoje, o meu amor, – ela olha sugestiva á – meu pai, meu tio, minha mãe e minha avó. Eles são minha base incondicional e linda. – ela respira fundo e percebe algumas pessoas nas margens do palco mostrá-la o relógio – Eles ali estão avisando que meu tempo está acabando, meu Deus. – ela abana as mãos rapidamente – Calma galera. – o sonoro som de risadas volta a soar – Ainda tenho que agradecer aos meus colegas de trabalho, os meus parceiros, rivais, adversários, como queiram chamar. Eles me mostraram que a Fórmula 1 pode ser maior que esse conceito de competição porque acabaram se tornando a minha família fora de casa. Eles cuidaram de mim, me apoiaram, me ensinaram, me aconselharam e eu só tenho a agradecer por ter tido esse privilégio de conhecer vocês. Fiz amizades realmente verdadeiras aqui dentro e... Bom, e eu adoro vocês, meninos. – ela sorri aos pilotos. Voltando-se a maior plateia, ela continua: – Sei que ainda existem os preconceitos de gênero nessa categoria, que as pessoas ainda vão levar tempo para se acostumar com esse novo modo, da mesma forma como sempre vai haver o dinheiro sujo que compra a alma dos bons e que o esporte ainda vai ser influenciado por isso, eu sei. – suspira – Mas eu estou completamente satisfeita de poder mostrar o meu lugar, abrir esse espaço para que outras mulheres tenham oportunidade de vir também, e que juntas nós consigamos impor o respeito que merecemos. Muito obrigada. – ela finaliza erguendo o troféu e a plateia estronda em aplausos e assobios animados, levantando-se de seus assentos mais uma vez.
Quando está para sair do palco com , é lembrada pela assessora que tem que apresentar um prêmio com Daniel, que caminha até ela em passadas animadas.
- Eu quase me esqueci. – ela confessa entregando o troféu a e encaminha ao lado do australiano sorridente de volta ao centro do palco.
As luzes miram os seus rostos e lado a lado eles leem a introdução da categoria na tela abaixo da câmera à sua frente.
- Estamos aqui para honrar o piloto que deu de tudo e fez um trabalho excepcional em pista. – Danny começa.
- Mas depois cometeu um erro que colocou tudo a perder. – faz uma cara sofrida.
- Este é a Anta de Ouro. – Daniel revela risonho e a plateia ri.
- Sabemos que nenhum de nós quer receber um prêmio como este. – diz depois que as risadas cessam.
- Assim como assumir que nós fodemos tudo em um milésimo de segundo.
- Mas como a imprensa adora tirar um sarro de nós.
- Cá estamos com as piores manobras da temporada votadas pelo público da Fórmula 1. – Daniel diz e pega o cartão com a lista que a assistente de palco o entrega - Graças a Deus eu não estou nesta lista.
- Mas esteve no ano passado. – relembra. O público volta a rir.
A organização da premiação escolhera exatamente a dupla para apresentar o prêmio, pois eram considerados uns dos pilotos mais engraçados do grid, e Daniel já foram protagonistas de inúmeras brincadeiras nos bastidores e momentos divertidos que agradavam aos fãs do esporte.
- Não se prenda ao passado, . Ano novo, vida nova. – ele diz – Vamos aos indicados.
O telão às suas costas mostrava imagens dos pilotos específicos.
- Max Verstappen, pelo GP da Turquia. – o australiano diz.
- Leclerc, também pelo GP da Turquia. – a brasileira anuncia risonha.
- Essa corrida realmente foi uma droga para todos. – Daniel comenta – Exceto eu, claro. Que acabei no pódio. – ele sorri, fazendo a plateia rir.
- Alex Albon, pelo GP de Mônaco.
- Norris, pelo GP do Japão.
Daniel passa o envelope para a pilota que sorri para a plateia.
- E o prêmio Anta de Ouro vai para... – abre o cartão e ri, em seguida mostra a Daniel que também ri.
- Norris. – eles dizem juntos e o público aplaude enquanto o rapaz ria e se encaminhava até o palco.
e Danny aplaudiam enquanto aguardavam a sua chegada, quando a jovem torce o nariz e o tapa disfarçadamente.
- Meu Deus, está sentindo esse cheiro? – ela pergunta na direção do australiano, já afastados do microfone e longe dos holofotes.
- Sim, eu peidei. – Daniel admite com repleta naturalidade e arqueia as sobrancelhas, arregalando seus olhos, antes de cair na risada.
põe a mão na frente da boca para não roubar a atenção que a caminhada de recebia.
- Caralho, Danny. – ela diz contida, ainda entre risos, enquanto se abanava com o cartão. – Seu podre.
O australiano ri contido e logo se adianta em receber , que finalmente chega ao palco, entregando-lhe o prêmio que a assistente havia o passado.
abraça o parceiro ainda aos risos e se afasta para que ele discursasse.
O rapaz para de frente ao microfone e suspira olhando para a estatueta em suas mãos.
- Eu tive todo o trabalho de ir às compras de um terno elegante para vir até aqui hoje, porque a diz que me visto como uma criança casual e eu queria parecer um inteligente casual para levar para casa um prêmio como o piloto do ano e... Isto acontece. – ele ri, indicando o prêmio em mãos. A plateia gargalha – A corrida correu bem, mas joguei tudo fora na última curva. Cometi um erro e reagi através do rádio, todo mundo pôde ouvir o quão frustrado eu fiquei. Mas essas coisas acontecem, é um momento de aprendizagem e um ponto de partida para crescer e voltar mais forte. Obrigado, Autosport, vou colocar esse prêmio entre meus troféus preferidos.
Os espectadores aplaudem enquanto eles são levados aos bastidores, onde diversas pessoas corriam de um lado ao outro para fazerem o evento continuar.
- Droga, esse queijo de búfalo que eles serviram não me fez bem. – Danny diz com a mão na barriga antes de disparar corredores adentro procurando pelos banheiros.
- Bem que senti um odor estranho no palco. – o britânico comenta. – Ele não...?
- Ele sim. Como sempre. – afirma. – Ainda não superei a bomba que ele soltou em plena conferência de imprensa no México.
- Aquela foi de alastrar, acho que aquele cheiro nunca mais vai sair de lá.
e riem juntos.
- Colar novo, hein? O que é isso? – ele aponta a corrente nova e notória em volta o pescoço da amiga, que não havia reparado antes.
- É meio que presente de aniversário que o me deu. – ela diz passando a mão sob o colar – A história é longa.
- Com diamantes e tudo, ele gosta de se exibir. – ri, notando as pedras brilharem intensamente. No final, um pingente incomum – O que a chave quer dizer?
suspira, mas sorri radiante.
- Essa é a cópia da chave da casa que nós compramos juntos.
arqueia as sobrancelhas e seus olhos azuis triplicam de tamanho.
- Compraram uma casa juntos? – questiona chocado – O quê? Como isso aconteceu, quando aconteceu?
- Foi no final de semana do meu aniversário, fomos comemorar em Paris e percebemos que a França fica exatamente a duas horas daqui como da Itália. – ela conta sem tirar o sorriso do rosto – Pensamos ser uma ótima ideia e acabamos comprando uma casa em Limoges. Aí ele me deu esse colar para representar nossa primeira conquista juntos.
O britânico sorri, apesar de seu peito esmorecer.
Limoges ficava distante de Woking, apesar de não tanto quanto os voos com escala até Dublin. Mas isso significava que ele ficaria sozinho mais uma vez.
Claro que o rapaz não a culpava, afinal tinha a vida dela com o namorado e ela e eram bons parceiros de equipe, como grandes amigos, mas isso não interferiria na decisão dela.
Só que, poxa, ele já estava contando com os passeios que eles tanto haviam programado, as partidas de videogame na madrugada, as conversas divertidas, as competições infantis e as garotas que a amiga empurraria para ele, insistindo no quanto ele precisava de uma namorada.
- Eu fico feliz por vocês. Sério. É um grande passo. – ele diz. – Como é a casa?
- Tem um quintal grande, piscina, lareira, até campo de futebol e tênis, um espaço para golfe e uma cozinha com muitos eletrodomésticos modernos. – ela ri, recordando-se das definições impostas por ela e para os requisitos cumprirem com as metas de seus sonhos. – Exatamente do jeito que queríamos. Tem muito espaço.
- Isso é ótimo. – vibra, realmente feliz pela parceira – Por acaso vou ser convidado à ir, já que você nem me contou sobre essa novidade e está me abandonando aqui?
tinha que controlar a sua boca, ele se repreende mentalmente no mesmo instante.
sorri.
- Claro que vai. – ela assente – Na verdade, você tem até um quarto lá.
As sobrancelhas de entortam, a testa franze e ele está completamente perdido.
- Um quarto na sua casa nova?
- Sim. – puxa o telefone da bolsa de mão que ele sequer notara que ela segurava, aperta em alguns lugares da tela e na galeria seleciona as fotos de um cômodo. Era um quarto espaçoso de paredes brancas, tinha uma varanda com portas de vidro que davam vista à uma paisagem cheia de arvoredos verdes, chão de madeira envernizada com algumas latas de tinta azuis nos cantos – Não te contei por que estamos decorando e eu queria mostrar pronto. Vamos colocar um simulador de corrida aqui no canto, - ela indica a parede lateral – e uma mesa espaçosa para você colocar o seu videogame e gravar as suas Twitches quando precisar.
O rapaz mira o lugar no celular com os olhos vidrados.
- Realmente fez um quarto para mim? – ele questiona aos murmúrios.
- Claro, . – ela afirma veemente, mirando seu rosto – Você acha que meu irmãozinho não teria um quarto na minha casa?
O britânico fica sem fala. Seus olhos azuis se tornam mais brilhantes.
- Nós combinamos que seríamos como Harry e Hermione. – ela pronuncia com um sorriso terno no rosto – Não achou que eu tinha me esquecido disso, achou?
Ele respira fundo, controlando o bolo crescente em sua garganta e aperta o nariz rapidamente, para negar com a cabeça.
- Sempre que ficar para baixo, se sentir sozinho ou estiver de bobeira, você pode ir lá para casa. – ela declara bloqueando a tela do celular e o guardando de volta na bolsa minúscula – Sabe, somos uma família. E cuidamos um do outro. Adoro a sua companhia, assim como , e queremos você por perto sempre.
Ele assente de cabeça baixa e é quando ela o escuta fungar com o nariz.
- Oh, ! – Ela exclama, surpresa e o puxa para um abraço – Você está chorando?
- Eu não estou chorando, você está. – ele diz com a voz falha e limpando os olhos. Eles riem, a frase já era quase um bordão dos dois. Os olhos de marejam automaticamente. – Obrigado, . É realmente significativo para mim.
Eles ficam abraçados por alguns instantes.
- Claro que algumas vezes vai ter que dividi-lo com a , com o Mick, o Arthur, Danny, Carlos... Até o Max. – ela se interrompe – Acho que teremos que decorar os demais quartos. É muita gente.
Eles riem bem-humorados.
- Que família grande a nossa.
automaticamente se recorda da Benedetti de dois anos atrás. Com um grupo seleto de amigos, infeliz com a sua vida, afastada da família, com um romance sem muitas expectativas, apenas sobrevivendo para pagar as contas para, quem sabe, fazer alguma coisa memorável.
Hoje ela era memorável, ela era a própria história.
E tinha finalmente entendido que para isso ela teve que se aceitar e aceitar aos demais, cada qual sendo do jeito que é. Teve que impor, mas também respeitar, ter empatia e ser acessível, ao mesmo tempo em que se protegia e se resguardava.
Não tinha sido fácil, mas ela aprendeu que ninguém se torna alguém sozinho e tinha em mente que só estava naquela posição hoje devido aqueles que estiveram do seu lado, nos piores e melhores momentos.
Sim, ela se mostrou ser uma pessoa completamente apegada e sentimental. Mas, que se dane, ela não considerava aquilo como um defeito. Destes ela tinha inúmeros outros, e tudo bem também.
Não é só de qualidades que se monta o caráter de alguém.
Somos humanos. Falhos e emotivos.
E, talvez, essa é a sua maior virtude.
Ela havia amadurecido, havia se tornado uma mulher.
E como mulher madura sempre instigaria por mais.
“Quando tudo nos parece dar errado, acontecem coisas boas que não teriam acontecido se tudo tivesse dado certo.” [Autor desconhecido].
Fim.
Nota da autora: Sem nota.
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