FFOBS - Trap 2 - The in Between, por Lary Camargo

Finalizada em: 25/12/2019

Parte 1

You keep me guessing with things that you do
I hope that they’re true
(Say it first - Sam Smith)



's POV

Setembro, 2014 - Phoenix, Arizona.
Faltava 5h para o voo Phoenix - Los Angeles e eu parecia ser a única naquele quarto preocupada com o tempo. A única mala aberta em cima da cama era a minha e a única pessoa correndo de um lado para o outro era eu.
— Hum… ? Você sabe que o voo é as 3 horas, né? — perguntei para a minha melhor amiga, deitada na cama ao lado da minha e parecendo um poço de tranquilidade. Ela não estava vestida e tampouco tinha feita a mala. Ou tinha? — Você já fez sua mala ontem?
— Eu não vou. — respondeu, categoricamente.
Era o que?
— Não vai para onde?
— Para LA. Não comprei minha passagem. Menti para você. — porque ela estava me dizendo aquilo com tanta calma e sem nem tirar os olhos na TV? Ela devia saber que nós estávamos prestes a brigar e eu precisava da atenção total dela para isso.
— Você está brincando, né? ! Me diz que é brincadeira! — minha voz ficando mais alta e mais fina a cada palavra.
Pela primeira vez, minha melhor amiga resolveu me encarar e, pela sua expressão, percebi que estava falando a mais pura verdade.
… Você sabe que eu odeio aquela cidade… — justificou, fazendo cara de sofrida.
— Eu sei, mas… , como assim você fingiu que comprou a passagem? Como eu vou para lá sozinha? — a ideia me assustava mais do que eu poderia ter imaginado. Talvez porque eu nunca, em nenhum momento nos últimos anos, havia cogitado a possibilidade de fazer o que fazíamos sem ela. Na minha cabeça aquela opção não existia.
— Você só vai, oras! Você não precisa de mim… Está com o , todo mundo da crew te conhece. Tem passe livre na porra toda! — disse. Ela parecia se sentir um pouco culpada, estava encolhida na cama.
—Não. Não é assim… Não é sobre conseguir as coisas, é sobre ter companhia! — falei, me sentando na cama ao lado da mala e já pensando em desfazê-la. Me sentia derrotada. — É por causa do Derek, não é? , a banda dele é o oposto do One Direction, eles jamais estariam lá, nós jamais encontraríamos ele!
não respondeu e voltou a mirar a TV, com a cara fechada. Eu sabia que o assunto “Derek” era proibido, mas achava de verdade que ela estava sofrendo por antecipação por algo que tinha uma chance mínima de acontecer.
— Aquela cidade de merda é um ovo! Todo mundo se conhece, todo mundo circula nos mesmos lugares. — disse finalmente, com uma certa raiva.
Derek era o vocalista de uma banda indie que por algum tempo havia sido nossa favorita. Sair com eles havia sido nosso primeiro sucesso nesse cenário. se envolveu com ele. Colocou o coração todo naquilo só para assistí-lo ser pisado e maltratado. Éramos ingênuas ainda, cometemos erros estúpidos. Achávamos que todo mundo tinha que saber cada passo que dávamos. Quando tudo deu errado entre Derek e , a pobre foi exposta de uma forma humilhante. Para ser honesta, precisava ser alguém muito forte para ter voltado a fazer isso depois de tudo. Eu admirava demais minha melhor amiga, mas acho que ela nunca se recuperou 100%. Estava feliz com Tyler, finalmente. Mas de vez em quando coisas como essa discussão aconteciam e eu sabia que ela ainda carregava esse fantasma consigo.
A lição mais valiosa que aprendemos foi guardar nossa identidade e nossas memórias só para nós mesmas. Manter uma distância segura de tudo e todos.
É claro que eu havia jogado metade das regras pela janela com . E era por isso que às vezes eu pegava tentando me puxar de volta. Mas eu estava enterrada até o pescoço…
De qualquer forma, eu entendia porque ela não queria ir e não podia forçá-la. Suspirei e me levantei.
— Ok então. Mas você vai pagar minha passagem… E explicar ao porque eu não vou estar lá para o show de hoje à noite! — falei, começando a tirar coisas da mala. se levantou e foi até a minha cama.
— Não! , você vai! — disse, devolvendo as coisas na mala. — Você quer ir e você tem que ir. Passou os últimos 10 dias resmungando pelos cantos com saudade do !
Me virei para ela. Dessa vez era eu que fazia cara de sofrida.
— Vai ser tão estranho!
— Não vai… Vai ser natural, você nem vai sentir minha falta!
Fiz um barulhinho de descrença com a boca, fazendo-a rir.
—Claro…
— Além do mais, depois eles vem para Phoenix e eu me junto a vocês. É só uma cidade! Enquanto isso eu fico aqui trabalhando com meu velho e fazendo nossa fita para as passagens continuarem sendo pagas!
O pai da era podre de rico e bancava nossas “aventuras”. Bom, teoricamente nós duas trabalhávamos na empresa dele… Quando não estávamos ocupadas. Normalmente durante o outono e o inverno.
Fiz que sim com a cabeça, aceitando que eu teria que viver a estranheza de fazer aquilo sem ela.
— Tá bom. Mas já aviso que vou te perturbar todas as horas de todos os dias!
Ela sorriu e me abraçou de lado.
— Não quero nada menos que isso!
voltou a se deitar e prestar atenção na TV e eu voltei a colocar roupas na mala. Ela era a irmã que a vida tinha me dado e, em prol do seu bem estar, eu faria qualquer coisa. Até mesmo me aventurar em Los Angeles sozinha. Se ao menos ainda estivesse trabalhando com eles…

Setembro, 2014 - Los Angeles, California.
Los Angeles não era como nenhum outro lugar. Os camarins sempre estavam cheios de todo tipo de gente: Homens, mulheres, crianças, famosos, não-famosos, semi-famosos… Eu geralmente evitava me colocar em situações de exposição e ficava andando com pelo estádio ou em partes do backstage onde os convidados não tinham acesso. Ninguém da produção reclamava porque, bem... Quando eu me protegia, protegia também. E era meio que o que todo mundo ali estava tentando fazer.
Mas naquele dia tudo estava diferente e estranho. Eu não sabia fazer aquilo sozinha! estava ocupado desde a hora em que eu havia chegado e, por isso, nem tínhamos conversado. O que eu devia fazer então?
No momento eu estava sentada no chão e mexendo no celular no corredor onde ficava a cozinha, me sentindo um pouco miserável.
Ouvi passos e me sentei direito, com um pouco de medo de ser vista. Mas então apontou no fim do corredor e eu respirei aliviada. Pelo menos era alguém que sabia que eu podia estar ali.
Ele parou ao me ver e fez menção de virar e voltar por onde veio. Era bom mesmo que estivesse apreensivo, eu ainda não havia o perdoado pelo que tinha feito a .
— Pode continuar seu caminho por aqui. — falei, fazendo-o me olhar. — Não vou te bater, apesar de você merecer…
colocou as mãos nos bolsos e seguiu andando em minha direção. Voltei minha atenção para o celular, mas me assustei quando senti que ele havia se sentado ao meu lado.
— Estou me escondendo também. — contou, antes que eu perguntasse.
— De que? — questionei, de má vontade e sem tirar os olhos da tela. — Ou de quem?
— De todo mundo… — disse e eu levantei a cabeça. Pela primeira vez desde que havia chegado, prestei atenção em seu rosto e ele parecia abatido. Cansado e triste. “Eu acho é pouco!”, pensei.
— Hm…— ele devia saber que eu não iria puxar assunto e ser simpática. O gelo não era novidade. Era só uma continuação do tratamento que eu dirigia a ele desde Chicago.
Ficamos em silêncio por um tempo e eu percebi que havia encostado a cabeça da parede e fechado os olhos.
?
— Oi.
— Como ela está?
— Como você ousa me perguntar sobre ela? — respondi, erguendo minha voz mais do que era aconselhável. — Depois de tudo o que aconteceu! É culpa sua ela não estar aqui! — e eu precisava de ali, droga!
Eu não esperava, porém, que seus olhos fossem se encher de lágrimas. passou a mão pelo rosto aflito, talvez tentando esconder aquilo de mim.
— Eu… Eu fui um idiota, eu sei! Tem me matado pensar nisso. Pensar nela. Eu só queria saber… Saber se ela estava melhor. — explicou exasperado. seria bem melhor naquilo do que eu! Ela seria durona e o mandaria à merda.
Eu era meio pamonha e fiquei com um pouco de pena. Mas não ia aliviar para ele.
— Não. Ela não está melhor não. Teve que mentir para os pais sobre porque voltou, mentir para Louise sobre porque não queria vir para a segunda parte da tour, está sem emprego… Está tudo bem mal para ela!
Ele balançou a cabeça e passou as mãos pelo rosto outra vez.
— Eu preciso fazer alguma coisa. — disse, talvez mais para si mesmo do que para mim.
— Fazer o que? — perguntei, alarmada. — Não vai fazer mais merda, !
— Eu preciso falar com ela… Pedir desculpas, tentar me redimir… De algum jeito…
Ele parecia genuinamente arrependido. O que era bom para ele, mas não fazia muito pela pobre . Eu devia me meter? Ou não? Se ele gostasse mesmo dela, se ele pudesse reverter os erros que cometeu… Eu deveria ajudá-lo?
— Se você deixar a situação pior do que está… Eu juro que te esfolo vivo, garoto! Não vai ter segurança que me tire de cima de você! — falei, mas por algum motivo, soou mais como brincadeira do que como ameaça e ele sorriu.
— Cadê a ? — perguntou, mudando de tópico e eu me odiei por ter dado espaço para que o assunto abrandasse. Eu e meu coração mole!
— Não vem para LA… Estava ocupada com outras coisas… — menti.
se levantou e segurou meu ombro.
— Você não precisa ficar escondida aqui, ok? Pode dizer que é minha prima se alguém perguntar.
sorriu e eu sorri de volta.
— Não vem ser legal comigo, não! Eu não posso gostar de você! — brinquei e ele riu.
— É o mínimo que eu posso fazer…
E ao dizer isso, saiu de novo cabisbaixo e com as mãos nos bolsos.
Reprimi todas as vontades de ligar para na mesma hora. Eu precisava de mais provas de que ele havia se arrependido mesmo!

**



I choose me, and I know that’s selfish, love
You are a dream, and I can’t thank you enough
But I give another piece of me away
Every waking day that I’m with you
(Midnight train - Sam Smith)



— Porque a não veio? — perguntou, com voz de sono.
Nós estávamos deitados no quarto dele, semi adormecidos, e eu descansava minha cabeça em seu peito. Parecia impossível fechar meu sorriso desde a hora em que finalmente ficamos sozinhos. Era cada vez mais difícil negar ou diminuir o que eu sentia por ele.
— Estava meio ocupada em Phoenix… — menti. Eu contaria tudo para ele, mas a história não era minha e não era justo expor minha amiga assim. — Mas ela vai se juntar a nós quando chegarmos lá.
— Obrigado por ter vindo, mesmo sozinha. — ele disse, me abraçando e dando um beijo no topo da minha cabeça.
Levantei o rosto para olhá-lo e apoiei o queixo em seu peito. Eu podia ver seu sorriso mesmo no escuro.
— Eu estava com saudades… — confessei.
— Eu estava morrendo de saudades também! — ele disse, me encarando. — Será que nós podemos conversar sobre a gente? Sobre sermos um casal de verdade?
Pisquei desfazendo nosso contato visual e me deitei, encostando a cabeça no travesseiro ao lado dele.

, isso já está ficando ridículo! Você ter que ficar se escondendo…
— É o único jeito que eu sei fazer as coisas…— respondi. Eu tinha TANTO medo do que podia acontecer se eu não seguisse as regras!
— Nós podemos aprender juntos a fazer diferente.
— Eu não quero fazer diferente. — falei por fim, tentando acabar com o assunto. — Eu gosto de você, , eu não estaria aqui se não gostasse tanto. Mas eu também gosto muito da minha privacidade… E isso não é negociável.
Ele ficou um tempo em silêncio e depois fez que sim com a cabeça.
— Como você quiser… — cedeu, um pouco ressentido. — Mas volta aqui então, você está muito longe. — brincou, abrindo os braços para que eu voltasse a deitar sobre ele e eu o fiz, beijando-o do jeito mais terno que eu sabia.
Para ser sincera, eu não tinha certeza que aquilo era verdade. O que eu havia dito a ele. Não mais. Às vezes eu me pegava sonhando acordada sobre ir visitar os pais dele no Reino Unido; conhecer seus amigos de casa, de quem ele falava tanto. Mas o outro lado da moeda: ser julgada por pessoas que não me conheciam, ter a vida toda vasculhada, nunca mais ter a paz que eu tinha… Isso ainda me amedrontava e me segurava no lugar. Eu acabava preferindo o que já conhecia, ainda que doesse saber que cada dia naquela tour era um dia a menos com ele naquele ano.

**


I've been burning, yes, I've been burning
Such a burden, this flame on my chest
No insurance, to pay for the damage
Yeah, I've been burning up since you left
(Burning - Sam Smith)



No dia seguinte, os meninos passavam o som no palco e eu estava assistindo ao lado de Paddy no chão. Eu já havia feito aquilo uma dezena de vezes, mas dessa vez parecia solitário demais. Como se pudesse ler meus pensamentos, o segurança disse, tentando me animar:
— Abby está chegando… Ela pode te fazer companhia!
Abby? ainda não tinha terminado com ela? Um dia atrás ele estava todo choramingando para mim em um corredor e no outro eu descobria que ele ainda estava namorando? Me senti aliviada por ter deixado fora disso.
— Ah… — respondi, tentando fingir empolgação. — Que bom, né? Ela está voando de Londres para cá?
— Não, mora aqui em LA mesmo… Não sei porque não veio ontem.
— Hum… — voltei meu olhar para o palco.
O que era aquela cara de cachorro que caiu da mudança que exibia então? Teatrinho para eu ir falar com a ?
, e Louis ainda estavam no palco conversando quando a vi chegar.
— Oi! — Abby disse alegre, me cumprimentando e cumprimentando Paddy. — Tudo bem?
Percebi algo que não tinha percebido desde então, porque desde Chicago eu evitava qualquer interação com ela. Abby tinha mesmo sotaque americano. Eu tinha certeza que ela era britânica, por algum motivo.
— Estava falando de você agora pouco! A aqui está precisando de companhia! — o segurança disse.
Ela sorriu para mim.
— Claro! Mas cadê a sua amiga bonitona, não vem? E a prima da Louise? Só a vi uma vez por aqui! — perguntou, olhando ao redor, como se esperasse que e fossem brotar do chão ao nosso lado.
Seria cômico se não fosse trágico. Eu percebi pela minha visão lateral que os três patetas em cima do palco nos observavam como se temessem que eu fosse mordê-la a qualquer momento. Idiotas!
, está com fome? — chamou, meio desesperado. Obviamente tentando me tirar dali. — Quer ir almoçar?
Me virei para eles, mas meus olhos estavam em , que olhava para todos os lados menos para mim.
— Vamos sim, preciso só pegar meu celular…
Sorri para Abby e saí apressada para o camarim. teria que esperar um pouco enquanto eu fofocava com . Isso era urgente!
Meu celular estava carregando na única tomada livre por ali, atrás de um sofá, por isso me sentei no chão meio escondida e comecei a digitar freneticamente.
“Ela está aqui! A Abby!”
“Não acredito! Mas o não estava todo arrependido ontem?”
“Estava! Filho da puta, me enganou direitinho!”
“Ainda bem que você não disse nada para !”
“Eu sei!”
Porque eu estava tão absorta na conversa, nem percebi que duas pessoas se aproximavam do cômodo. Tomei um susto quando a porta se abriu e as vozes de e Abby preencheram o ambiente.
— Você podia pelo menos ter atendido quando eu liguei, né? — ela disse, parecendo brava.
— Eu precisava conversar com você, mas tinha que ser pessoalmente. — o garoto respondeu.
Nessa hora, eu deveria ter me levantado e dito “Opa gente, perdão, vou deixar vocês sozinhos.” e saído. Mas eu não me orgulho de ter feito outra coisa: fui de bunda mesmo totalmente para trás do sofá e puxei meus pés para mais perto do corpo, ficando mais escondida.
e Abby estão aqui e eu estou escondida escutando a conversa!”
“Você vai para o inferno, !”
“Que merda!”
está digitando…
“Mas vai me mandando a conversa em tempo real!”
— Você pode me explicar o que está acontecendo? Você tem andado tão estranho! — ela disse. — Você está no país há 3 dias e nem me ligou, ! Chegou na minha cidade e fingiu que não tinha uma namorada!
— Me desculpa, Abby! Eu estou em uma bola de neve de mancadas com você… E você não merece nada disso!
Um silêncio entre eles. Aproveitei para soltar o dedo do áudio e mandar para .
— O que está acontecendo, ? — Abby perguntou de novo, com um suspiro cansado.
— Voce quer sentar?
Prendi a respiração. Se eles me descobrissem agora seria tão vergonhoso que eu teria que me despedir do e nunca mais ser vista.
— Eu preciso sentar? Fala logo o que está havendo! — ela estava perdendo a paciência. Eu não a culpava.
Ouvi soltar a respiração ruidosamente.
— Abby, eu… Aconteceu na primeira parte da tour. Eu conheci uma garota. Nós… Ficamos juntos…
Caramba! Um silêncio ensurdecedor no camarim.
— Foi aquela menina amiga da ? É por isso que ela não está aqui? — a voz dela estava embargada. Mordi o lábio me sentindo mal por Abby, que era a verdadeira ludibriada da história.
“Eita, não me coloquem na história não!”
não estaria fazendo piada se estivesse ali, como eu. Era meio de partir o coração. E ainda havia o fato de que eu estava extremamente nervosa que pudesse dizer que era e jogar a merda toda no ventilador.
— Não, não. Você não a conheceu. Quem ela é não importa agora, Abby. O que é importante é que eu fiz uma coisa muito errada com pessoas que não merecem. E eu preciso parar de meter os pés pelas mãos e te contar o que aconteceu, te pedir desculpas e deixar você ir…”
Eu não entendi bem porque aquela conversa só estava acontecendo agora, mas eu acompanhava como se estivesse ouvindo uma rádio-novela.
— Você está me dizendo… Você me traiu? Quando?
— Na primeira parte da tour. Não foi só uma vez… Eu me envolvi com ela… Eu… — ele parou de falar. Eu podia ouví-la chorando. Estava um pouco arrependida de estar ali, presenciando algo tão pessoal.
— Porque, , porque?
— Me desculpa, Abby, me desculpa por te fazer sofrer assim!
— Porque? — ela repetiu.
— Aconteceu… Não era para ter sido como foi. E eu… Estou ensaiando para conversar com você há um bom tempo, mas eu tinha que chegar a conclusão que eu só cheguei agora: que eu precisava te contar e me desculpar, mas não posso te pedir outra chance. Não posso pedir para que a gente tente de novo…
“Caraca, ele está mesmo gostando da !”
opinou. Eu achava que sim também, mas ainda tinha um pé atrás.
“Mas faz tudo atrapalhado, né? Nunca vi!” respondi.
— Você está contando que me traiu e terminando comigo, tudo em uma tacada só?
— É o que é justo… Eu precisei colocar a cabeça no lugar primeiro, mas agora é inevitável que a gente termine assim.
— Eu odeio você por isso, !
— Eu mereço mesmo que você me odeie. Que nunca mais olhe na minha cara…
Abby ainda chorava muito. Me lembrei de , de , de tantas outras garotas que tiveram seu coração partido assim.
— Eu preciso sair daqui, eu não aguento mais nem um minuto! Eu aqui preocupada se você estava mal por alguma coisa relacionada à banda, à pressão que vocês tem sofrido, se estava tão distante porque estava sendo consumido pelo trabalho… Mas não. Você só estava sendo um cachorro covarde! Um projeto de homem…
Um senhor esporro da em Chicago e agora um da Abby. Eu me sentia de alma lavada! Sinceramente, era o que ele merecia.
— Você está completamente certa. — era só um fiozinho de voz. — Eu só quero que você saiba que eu te admiro muito. Que nada do que aconteceu foi porque você é desinteressante ou qualquer outra coisa. Nós só não fomos feitos para sermos um casal. Eu encontrei uma pessoa para mim no momento errado e não tomei as decisões certas sobre isso. Acabei te magoando e só posso passar o resto da vida te pedindo desculpas.
— Foda-se você e suas desculpas! — ela vociferou. Eu não a culpava pela impassividade e raiva que carregava na voz. — Chama um táxi, eu quero ir embora!
— Vem, eu peço para alguém te levar em casa.
— Fica longe de mim! Quer saber, eu posso pedir um táxi sozinha. Não quero olhar para sua cara nem mais um segundo!
Então eu ouvi a porta bater e um silêncio desconcertante mais uma vez.
“Caralho…” eu podia enxergar a expressão de choque de .
“Pesado, né? O que eu faço agora? E se ele nunca mais sair daqui?”
“Esqueci que você está escondida!”
“E com câimbra na perna!”
encheu a tela de emojis de risada, me deixando puta. Nem reparei que tinha parado de andar e sentado no sofá.
— Que porra é essa? ?
Eu tinha sido pega. O jeito humilhante que saí de trás do sofá não me ajudava muito. Quando o olhei, percebi que ele parecia 10 vezes mais abatido. Parecia que não dormia há anos!
— Eu posso explicar… — comecei. Mas eu não podia. — Estava carregando o celular quando vocês entraram. Quando me dei conta do que iriam conversar, eu já estava atrás do sofá há muito tempo. Me desculpa por ter ouvido algo tão particular! Eu não…
— Não tem problema… — parecia apático. Estava quase se fundindo ao sofá. Acabei me sentando ao seu lado e colocando a mão em sua perna.
— Se te consola, eu estou orgulhosa de como você lidou com as coisas hoje… — falei. — Assumiu seus erros, não tentou se fazer de vítima…
— Nem tinha como ou porque, né? Eu fui um imbecil. Com as duas…
— É, você foi.
Ele ficou em silêncio por um tempo, de olhos fechados.
… É a que eu quero. e acham que o que a gente teve foi só atração física, que iria passar. Mas não passa! Eu preciso conversar com ela!
Eu sabia que esse momento iria chegar. Mas eu tinha sido instruída muito bem para quando acontecesse.
não quer falar com você, . Eu não posso te ajudar.
— Por favor?!
— Ela ainda está muito abalada. Espera a poeira baixar…
— Merda!
Ele encostou a cabeça no sofá e cobriu os olhos com as mãos. Senti um pouco de pena, mas minha lealdade era 100% da .
— Eu preciso ir achar o , . Você vai ficar bem?
— Não… Mas eu preciso passar por isso, certo?
Não respondi, mas dei um tapinha solidário em seu joelho. Desliguei meu celular da tomada e saí, deixando-o sozinho.
?” “?”
Andei meio sem prestar atenção onde estava indo pelos corredores, contando a o que tinha acontecido no final.
Era hora de tirar do escuro sobre o que estava se passando?

**


All that I am asking is for a little clarity
That’s all that really matters to me
(No peace - Sam Smith)



O término de e Abby havia deixado um clima tenso pelos camarins e corredores, principalmente porque só eu e os meninos sabíamos o real motivo.
Naquela noite, enquanto eu assistia o show de trás do palco (não era a mesma coisa assistir da grade sem sendo a maior cara de pau do mundo), ouvi Eleanor e Louise atrás de mim especularem quem e onde a traição tinha ocorrido. Eu fingia estar entretida no show balançando o corpo no ritmo da música, mas minha cabeça doía tamanha era a concentração em ouví-las.
— Em St. Louis, tinham umas garotas com eles… Talvez tenha sido uma delas… — Lou cogitou.
— Você acha que… — Eleanor começou, mas não terminou a frase e meu coração disparou. Será que ela estava desconfiando de ?
— Não, não! — Louise respondeu, sem hesitar. E então eu entendi que não era de que Eleanor estava desconfiando. — A outra tem um namorado.
realmente estava passando a ideia errada por aí, não era? E eu realmente estava zerando a minha atuação de completamente alheia à presença das duas.
— Hum… Então eu não sei mesmo! Deve ter sido uma dessas garotas que você falou…
Rezei para que elas mudassem de assunto e parassem de pensar nisso. Meu medo de que Louise juntasse os pontos de que havia ido embora em Chicago quando Abby chegara só aumentava a cada segundo que as duas prolongavam a discussão.
— El, querida, vou até o camarim pegar algo para comer. Você quer alguma coisa?
— Não, obrigada! Vou ficar aqui mais um pouquinho, adoro essa música. Te encontro lá!
E então eu finalmente pude voltar a respirar e curtir o show. Eu não aguentaria uma tour toda daquela apreensão!

No dia seguinte, o clima parecia ter voltado ao normal e os ares estavam mais leves. A não ser por , que seguia com uma cara terrível de velório.
Quando e eu entramos no camarim naquela tarde, ele conversava com Julian.
— Vou ver com eles lá, irmão, não sei se tem vaga para estagiário a essa altura do ano… — Julian dizia, digitando algo no celular. — Mas eu mexo uns pauzinhos.
— Obrigado, cara! Só não diz que fui eu que te pedi isso, por favor. Ela não aceitaria… — respondeu, torcendo as mãos sobre a mesa e depois se virou para nós. Seus olhos arregalados se fixaram em mim, como se eu tivesse ouvido algo que não podia.
Bom, depois de escutar Abby acabando com ele, eu não achava que nós tivéssemos mais segredos. Mas ele estava mesmo fazendo o que eu achava que estava fazendo?
— Julian! A pessoa que eu estava procurando! Ouvi a última versão de Girl Almighty! Ficou demais! — interrompeu o assunto, indo cumprimentar o produtor.
— Ficou boa, né? Eu preciso mostrar Stockholm Syndrome para vocês também!
Enquanto eles falavam animadamente sobre isso, me sentei no sofá e observei abaixar os olhos para o celular, se distanciando do papo. Sua expressão ainda era triste e a testa franzida denunciava que seu pensamento estava em algo que causava nele desconforto. Abri e fechei a boca algumas vezes, mas ali não era o lugar para conversar sobre aquilo, de qualquer forma.
Mal tive tempo de concluir meus pensamentos, porém, porque logo senti alguém quase sentando em cima de mim.
! Mas a gente não se livra mais de você, né? — disse, passando os braços por meus ombros e me fazendo rir.
— Boa tarde para você também, !
— Escuta… Cade a ?
Até que tinha demorado para ele me perguntar sobre ela.
— Phoenix. Faltam só 3 dias para você encontrar a , fica calmo! — brinquei.
— E esse namorado dela, hein? É sério? Eu tenho chance?
O encarei achando a vida muito irônica. Havia um estádio lá fora lotado de garotas que dariam qualquer coisa por meia hora que fosse com . Mas ali estava um dos solteiros mais cobiçados do mundo, ansioso para que eu dissesse que minha amiga na verdade estava só esperando que ele tomasse uma atitude.
Mas eu, contrariando a expectativa, balancei a cabeça.
— O namoro é bem firme, meu querido. E Tyler tem a vantagem de ser de Phoenix.— disse, dando de ombros.
— E isso é uma grande vantagem?
Acabei procurando com os olhos, involuntariamente.
— É a maior vantagem de todas!

**


I'm never gonna let you close to me
Even though you mean the most to me
'Cause every time I open up, it hurts
(Too Good at Goodbyes - Sam Smith)



Eu mal podia acreditar em quão preguiçoso aquele dia estava sendo. Nem fazia ideia da hora, mas eu e estávamos rolando pela cama do hotel já fazia um bom tempo.
Era estranho ter esse tipo de intimidade de repente. Compartilhar manhãs. Parecia tão bobo e simples, mas não era algo que cabia no nosso relacionamento até então. Eu estava sempre escapando do hotel com o sol nascendo para não ser vista. Retornava para onde eu e estávamos hospedadas e só voltava a vê-lo no estádio.
Mas aqueles últimos dias tinham sido diferentes, já que eu não precisava ir a lugar nenhum. Dormir juntos até tarde, tomar café da manhã na cama, revezar o banheiro, ter todo o tempo do mundo para conversar sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Era delicioso! E ficava ainda melhor com a promessa de um dia todo de folga para . Não tínhamos horário para nada.
E era por isso que ainda estávamos deitados, mesmo com a claridade indicando que o Sol já estava alto no céu.
Quando comecei a cochilar, meio sem querer no meio de algo que ele dizia, o escutei dar uma risadinha.
— Já se cansou de mim? — perguntou, pousando o queixo no meu ombro.
Abri os olhos e o encarei, tão pertinho de mim.
— Depois de três dias INTEIROS com você? — ironizei. Rimos juntos. — Claro que não, seu ridículo! E você?
— Eu o que?
— Já se cansou de mim? — indaguei, fazendo carinho em seu rosto. Ele deu um sorriso de lado e se aproximou para me dar um selinho.
— Quem me dera fosse possível enjoar de você...
Meu coração chegava a doer e eu não entendia bem porque. Às vezes aquelas três palavrinhas chegavam tão perto de sair da minha boca, que me assustava a ideia de que elas estavam ali por tanto tempo. Mas eu não as dizia. Tinha medo que estragassem o que, para mim, eram momentos perfeitos como esse.
— Vou tomar banho. — ele anunciou, se levantando. — Você vem também?
Por mais tentador que fosse o convite, me embrulhei no edredom fofinho do hotel me preparando para mais uma soneca.
— Vai indo e talvez eu te surpreenda… — brinquei.
me deu outro selinho e entrou no banheiro. Quase na mesma hora, como se tivesse o poder de saber quando não estaria nos atrapalhando, ouvi meu celular tocar no criado mudo.
“Bom dia! O que você e a bandinha tem planejado para hoje à noite?”
“Eles tem uma reunião agora à tarde, mas acho que à noite, nada. Posso perguntar para o . Porque?”
“Vegas?”
Arregalei os olhos para o celular. Essa garota não estava em casa trabalhando?
“OI?”
“Tyler foi chamado para tocar em um lugar MUITO maneiro! Ia ser genial se vocês viessem.”
“Vou ver com eles, mas não sei não.”
“Fala para o Paul que está comigo, está com Deus!”
Soltei uma gargalhada. Eu estava amando passar aqueles dias com o , mas sentia tanta falta da minha primeira e única alma gêmea!
“Aguarde notícias. Mas vai ser um milagre se acontecer!”

Setembro, 2014 - Las Vegas, Nevada.
— É um milagre que isso esteja acontecendo! — exclamou, quando pousamos em Las Vegas.
— Vamos melhorar essa cara aí? — falei, chutando o pé de , que estava do outro lado do corredor, paralelo a mim.
Ele deu um sorriso triste quando foi chamado de volta à Terra. Parecia estar murchando bem diante dos nossos olhos.
Honestamente, eu, e éramos os únicos totalmente animados. tinha sido meio forçado e não parecia nem um pouco feliz de ser um convidado do namorado de . Paul continuava com cara de poucos amigos, mas eu já tinha ficado em paz comigo mesma de que meu lugar na lista negra dele era certo. E Louis não tinha vindo para ficar com Eleanor em Los Angeles, assim como o resto da crew.
Quando chegamos à casa noturna, desci primeiro e me dirigi a um dos seguranças que nos aguardava. Eu não queria ser a única mulher entrando com o One Direction na balada, por isso fui na frente.
A área restrita reservada para nós ficava em volta da cabine do DJ, o que era muito conveniente. Assim que me deixaram passar, a primeira coisa que vi foi um ser humano vir em minha direção e quase me derrubar em um abraço.
— Eu não acredito que você veio e trouxe a maior boyband de todos os tempos com você! — exclamou.
— Nem eu! — respondi, dando de ombros e rindo. — Mas deixa eu olhar para você, primeira dama da porra toda!
Nos separamos e eu pude finalmente olhá-la direito. estava maravilhosa! Seu sorriso e seus olhos competiam em quem deveria demonstrar mais o quanto ela estava radiante. O que ela usava eram meros acessórios para a verdadeira beleza que era sua felicidade.
— Cadê eles? Vem falar com o Tyler! — além disso, tinha a hiperatividade também. Talvez a bateria dela fundisse em meia hora com tanta energia.
— Tyler! — falei ao vê-lo. Ele também parecia muito feliz, mas nervoso. Aquilo era grandioso para sua carreira. — O homem da noite!
! Bom te ver! E graças a Deus você chegou, estava ficando doida! — disse, rindo e abraçando a namorada pela cintura. — Fez boa viagem?
— Fiz sim, nós…
Mas então um burburinho já conhecido tomou conta do lugar. E era engraçado como a excitação podia ser ouvida e sentida mesmo com a música alta. Eu não precisava me virar para saber que o One Direction estava entre nós.
agarrou a mão de Tyler e foi até lá. Fiquei para trás observando quando ela deu um abração em e e os apresentou a Tyler. passou reto por eles e depois por mim e foi direto ao bar. Ele estava mesmo levando aquilo para o pessoal, não estava? vinha fechando a comitiva, todo acanhado, e percebi que disse algo durante o abraço. Eu esperava que ele estivesse pronto para outro sermão.
Depois de vários apertos de mão por ali, os meninos se dispersaram. Fui até o bar pegar algo para beber, pensando na tortura que seria aquela noite sem poder ficar com . Ele e estavam na beirada da área reservada, observando a pista de dança e dando tchau para as pessoas lá embaixo. já tinha sumido. Depois de passar os olhos pelo local, avistei sentado em um sofá meio escondido bem atrás da cabine do DJ. Fui até lá e me sentei com ele.
— Hey, Senhor Ânimo… Tudo certo por aqui? — puxei papo.
— Uhum…
— O que acontece? — perguntei, oferecendo um gole da minha cerveja para ele.
— Não devia ter vindo, não estou no clima.
— Você precisa reagir, . Cada vez que olho para você, está mais para baixo… — disse. E então algo passou pela minha cabeça. — Você… Você se arrependeu? De terminar com a Abby?
Ele se ajeitou no sofá e devolveu minha garrafinha.
— Não, claro que não. Eu me arrependo de não ter falado com ela antes, mas não de ter terminado. Já te falei, . Só consigo pensar na !

— Você tem falado com ela por esses dias?
Fiz que não com a cabeça.
— Fuso horário, conflito de agenda… — expliquei.
— Me ajuda, ! Por favor! — havia tanto desespero em seus olhos que, pela primeira vez, eu acreditei 100% nele. Porém...
— Eu não posso te ajudar se ela não quer ser encontrada, querido. E de qualquer forma, você acha que o melhor jeito de vocês se entenderem é por mensagem? Skype? Se concentra na tour e quando você voltar para o Reino Unido, aí tenta falar com ela. Pessoalmente.
Ele passou as mãos pelo cabelo, impaciente.
— Eu queria que isso passasse…
— Eu sei. Mas você só está se torturando à toa. Não pode resolver nada agora. — dei algumas batidinhas em seu joelho e então me lembrei de algo. — O que te disse quando vocês chegaram?
riu pela primeira vez desde que havia o visto naquele dia.
— Que ela estava civilizada hoje, mas que eu deveria aguardar para ficar sem pau em Phoenix.
Me juntei a ele rindo da ameaça.
— Eu teria medo…
— Nada pode ficar pior do que já está. — deu de ombros e franziu a testa. Foi a vez dele de mudar de assunto. — Posso saber porque você está aqui comigo e não com o ?
Mordi o lábio inferior.
— Não posso ser vista com ele, né?
— Não pode ou não quer?”
Um tempo atrás eu nem saberia distinguir entre não poder e não querer nesse caso. Mas vinha sendo difícil não querer o que eu não podia.
— Um pouco dos dois… — respondi, meio incerta. Ele suspirou e olhou para frente.
— Você tem noção de como tenho inveja de vocês? — falou. — Vocês dois tem tudo…
Olhei para frente também. Não era verdade, mas eu entendia porque estava dizendo aquilo.
— Nós estamos em Vegas sendo as duas pessoas mais perdedoras que eu já vi! — brinquei e nós rimos.
— Tem razão! Quer alguma coisa do bar? — ele perguntou, se levantando, e fiz que não com a cabeça. — Obrigada, !
Dei de ombros e apertei sua mão.
— Vai ficar tudo bem, você só precisa ter paciência.
— Espero que você esteja certa…
Ele sorriu e saiu andando, mas deu dois passos e voltou.
— Você não me perguntou, mas acho que você e merecem ser felizes mais do que três meses por ano… Vai ficar tudo bem, você só precisa ter coragem.
Sorri ao perceber que ele estava copiando o que eu havia dito.
— Obrigada! Espero que você esteja certo… — Devolvi e ele saiu.
Será que o que me faltava era coragem mesmo?

e eu estávamos dançando enquanto Tyler discotecava. Eu havia me esquecido quão bom ele era!
ia passando por nós sem prestar atenção e foi puxado pela camisa por .
— Hey, rapaz!
Ele levantou as sobrancelhas, fingindo surpresa em nos ver.
— Você ia passar a noite toda sem falar comigo? Mesmo?
Ela o puxou para um abraço antes mesmo que respondesse.
— Desculpa, , eu… — mas eu sabia que não havia uma boa explicação para aquilo. Era só dor de cotovelo.
— Está perdoado. Mas nós ainda vamos beber uma tequila juntos hoje! — falou, o soltando. fez que sim com a cabeça e acenou, se distanciando de novo.
— Ele gosta mesmo de você; você sabe, né?
— Gosta nada… Você anda muito mole, ! Tá apaixonadiiiiinha! — zombou, me cutucando. Dei a língua e ignorei a segunda parte do que ela havia dito.
— É sério. Veio me perguntar de você e do Tyler outro dia. Passou o voo todo mais chateado que o !
— Mas essa temporada no acampamento One Direction está uma novela mexicana, hein? — soltou, me fazendo gargalhar. Ela não estava errada. Não me recordava de tantas reviravoltas no ano anterior. — E você e ? Estão brigados?
— Não! Porque?
— Você nem olhou para ele desde que chegaram!
— Estou disfarçando, né? Você queria que eu fizesse o que?
não respondeu. E eu quase insisti na pergunta. Talvez se ela dissesse que eu deveria parar de calcular tanto e seguir meu coração, eu faria.

Tyler já tinha parado de tocar e agora ele e andavam para lá e para cá agradecendo pessoas e ocasionalmente se olhando e comemorando entre eles o sucesso daquela noite.
Eu havia voltado para o sofá onde tinha conversado com , porque meus pés estavam me matando e Paul não conseguia encontrar para irmos embora.
E então, pela primeira vez naquela noite, e eu cruzamos olhares. Ele piscou para mim e começou a se aproximar. Eu queria estar mais alarmada sobre esse ato, mas estava bêbada e com sono, por isso deixei que ele se sentasse ao meu lado e passasse o braço pelas minhas costas.
— Se divertiu? — perguntou.
— Muito! E você?
— Menos do que gostaria! — ele respondeu.
— Não é verdade… Vi você e dançando igual dois doidos! — repliquei e ele riu.
— Mas eu queria ter passado mais tempo com você. — falou, vindo em minha direção e me dando um beijo no ombro e depois um demorado na bochecha. Porém, quando vi que ele me beijaria na boca, me afastei.
! — o repreendi.
… Eu não aguento mais isso!
— Você disse que ia ser como eu queria. — lembrei.
— Eu disse, mas não faz sentido. Nós passamos um dia inteiro juntos e a noite fingimos que não nos conhecemos?
— Você sabia que seria assim. — nós estávamos mesmo discutindo dentro de uma casa noturna em Las Vegas? tinha razão sobre a novela mexicana. — Nós vamos para o hotel e tudo volta ao normal. Só eu e você…
Ele se levantou, soltando o ar impaciente.
— É… Até quando?! — então checou o celular e se voltou para mim. — Vem, Paul achou o . Vamos embora.
Me levantei também e fomos até e Tyler, onde e já estavam, para nos despedir.
— Até Phoenix! — minha amiga dizia animadamente a eles. E então foi a vez de se despedir de . — Cuida bem dela, hein?
— Eu estou tentando… — ele respondeu e arregalou os olhos para mim por cima dos ombros dele, enquanto o abraçava.
Os meninos iam saindo enquanto eu e ainda nos despedíamos.
— Nós ainda vamos conversar sobre esse garoto…
— Você já está com saudade dos meus dramas, não está? — provoquei.
— MORRENDO! — ela falou, me fazendo rir (porque parecia ironia, mas era verdade).
Na volta, dentro da van que nos levava até o hotel, achei que estava um pouco distante. Meu coração apertou ao cogitar perdê-lo, mas talvez fosse melhor que as coisas fossem esfriando até que a tour terminasse.

**


I would do anything to keep you off my mind
I’m gonna have to call my sisters

(Baby, You Make Me Crazy - Sam Smith)



Setembro, 2014 - Phoenix, Arizona.
tinha os braços passados pelo meu ombro e parecia apenas semi acordado. Eles ainda faziam aquelas viagens de uma cidade para a outra de madrugada para evitarem as multidões, o que normalmente significava lidar com membros de boyband zumbis. Eu, por outro lado, tinha meus olhos bem abertos, pois aquela era uma experiência única: estar dentro daquela van na minha própria cidade. No ano anterior, a tour não havia passado por lá e mesmo se tivesse, as coisas nunca tinham chegado àquele patamar. O tratamento “namorada” que recebia agora, mesmo que eu negasse o título, nem passava pela minha cabeça um ano atrás.
O hotel em que eles ficariam, curiosamente, não me era estranho. Eu já tinha vivido algumas das minhas primeiras aventuras ali. Mas, é claro, nenhuma naquela proporção.
— Quero conhecer sua casa… — disse, me pegando de surpresa, porque achei que ainda dormisse.
Me virei para ele.
— Claro! Se vocês forem ficar mais do que 24h na cidade…— zombei.
— Temos dois dias de folga. Você já foi ao Grand Canyon? É aqui perto, não é?
Dei uma risadinha.
— Depende do você considera perto… E sim, eu já conheço o Grand Canyon.
— Então você pode ser nossa guia…
Fiz que sim com a cabeça e ele me puxou para perto e me deu um beijo no topo da cabeça.
— Eu quero ir também! — ouvi dizer do banco de trás.
— Onde? Eu vou também…— Louis colocou a cabeça entre os bancos para perguntar, me fazendo rir.
— Vamos todo mundo. Excursão One Direction ao Grand Canyon. — falei.
— Vocês só inventam moda, puta que pariu… — Preston resmungou do banco da frente, nos fazendo gargalhar.
Eu me sentia tão bem, tão acolhida no meio deles… Seria difícil voltar a realidade em outubro.

Porque eu estava em Phoenix, resolvi aproveitar a tarde para ir até a minha casa, colocar roupas para lavar, trocar algumas peças da minha mala e passar um tempo com .
Duas horas tinham se passado e nós ainda conversávamos sobre os dias que estivemos separadas, como se tivessem sido anos! E como se não tivéssemos fofocado sobre tudo aquilo antes.
— E você acha que ele pediu o estágio para a ? — estávamos recapitulando a conversa que entreouvi entre e Julian.
— Ele com certeza disse ‘ela’ e parou de falar quando cheguei. — contei pela quinta vez.
— Hum… Temos que perguntar para . Se alguém ofereceu algo.
— Estou com vontade de falar com ela, . Dizer que ela devia pensar em perdoá-lo. O moleque está sofrendo de verdade! Arrependido mesmo… — externei o que já vinha pensando desde o dia que o ouvi terminando com Abby em Los Angeles. — Ele me implorou em Vegas.
, que estava sentada de perna de índio na cama, se encolheu um pouco enquanto mantinha a expressão pensativa. Um sinal claro de que ela discordava de mim.
— Você acha que ele gosta mesmo dela? — perguntou.
— Você mesma disse que achava que sim, criatura.
— Eu sei, mas foi no calor do momento. Eu só… Não sei.
— Você acha que é só físico? Que não é real? — perguntei, me lembrando do que tinha me dito. O que e disseram a ele.
ponderou.
— Foi tudo muito rápido… — ela explicou, dando de ombros.
— Foi. Mas ele já estava interessado nela antes de tudo acontecer, né? Vivia cercando a , puxando assunto… — lembrei. — O tempo parece passar de um jeito diferente durante a tour. — completei, com algo que eu mesma tinha reparado.
Dias pareciam semanas e semanas pareciam meses vivendo daquele jeito. Eu não me achava no direito de julgar o sentimento alheio apenas no fato de que tinha acontecido em pouco tempo.
— Tenta falar com ela, então. Se você acha que deve… — se deu por vencida. Checou o celular e se levantou. — Que horas vão nos pegar aqui? Dá tempo de corrermos no Starbucks?
Chequei as horas também e fechei a mala.
— Sempre dá!

Era bom ter comigo de novo. Fazia as horas no estádio em que estava trabalhando suportáveis.
Nós estávamos sentadas nas cadeiras próximas ao final da passarela, eu conversava com Paddy e ela estava distraída no celular. Ouvi então prender o ar fazendo barulho e me virei para ver qual era o problema. Havia uma foto aberta na tela de seu celular e meu coração parou.
Eu e estávamos sentados em um sofá preto, ele tinha os braços ao meu redor e me dava um beijo no ombro.
Alguém tinha nos visto em Vegas.
Não, não, não, não, não!
… — ela começou, mas eu já estava de pé, completamente transtornada.
— Não, não… Eu preciso ir embora.
, senta aí. Isso não é nada…
Muito me surpreendia a calma que demonstrava. Ela devia ser a primeira surtando.
— Está tudo bem? — Paddy perguntou, alarmado.
— Está sim. A gente só está em dúvida se desligou o fogão quando saiu de casa. — minha amiga respondeu/mentiu por mim. Ela se levantou também. — Vamos ver se conseguimos falar com alguém. —disse. Nós duas saímos para a área interna do estádio. Eu ia na frente, quase correndo.
… Fica calma.
Mas aquilo era um pedido impossível. Me virei para ela quando já estávamos sozinhas.
— Eu quero ver o que estão falando. Onde você viu essa foto?
— Twitter. — respondeu. — Não era nada de mais, só falava que o tinha sido visto com uma garota.
— Porque eu sou a única surtando aqui, ? Eles já descobriram que sou eu?
— Acho que não.
Tomei o celular da mão dela e comecei a digitar todo o tipo de coisas no Search. Quanto tempo demoraria para eu ser reconhecida? Para alguém de Phoenix saber que era eu? Será que as meninas que estavam atrás de mim na fila do Starbucks sabiam? Elas estavam mesmo nos olhando estranho.
? O que houve? — chamou do começo do corredor.
Levantei os olhos e devolvi o celular para .
— Vai chamando o taxi. — pedi a ela.
, não tem necessidade disso...
— Eu não vou ficar aqui, todo mundo vai saber que sou eu.
— A foto está borrada, puta qualidade merda. — ela ponderou, passando os dedos pela tela do celular para aumentar a foto. — Não dá pra reconhecer voc...
— Por favor, . Vai chamando o taxi.
Ela fez que sim com a cabeça e saiu, afagando o ombro de ao passar por ele.
— O que houve? — perguntou de novo, ao se aproximar.
— Nos viram em Vegas. — respondi. Eu me sentia estranha e meio fora de mim. Meu cérebro tentando trabalhar nas piores possibilidades e no que eu devia dizer a ele ao mesmo tempo.
— Nos viram?
— Sim. Tem fotos de você dando um beijo no meu ombro. Eu te falei, , falei que isso ia acontecer.
… Nós não estávamos fazendo nada de errado. Isso logo some. — ele tentou, pousando as mãos nos meus ombros. — Olha para mim. Vendo por outro lado, essa é a oportunidade perfeita para tomarmos a decisão que precisamos. Você já foi vista mesmo…
Mexi a cabeça compulsivamente em negação.
— Eu te disse que não quero. Você continua forçando isso em mim! — nem percebi, mas quando vi já estava chorando. — Eu só queria estar com você sem ser vista por ninguém. Eu não quero ser sua namorada. Eu não quero fotos de nós dois em tudo quanto é lugar. E eu já te disse isso mil vezes e você não entende! — minha voz ia ficando mais aguda a cada frase.
— Você torna coisas simples tão mais difíceis, !
— E ser a namoradinha de um One Direction vai ser fácil, né? Super tranquilo! Eu vejo as merdas que a Eleanor precisa aguentar! Com todo mundo fuçando minha vida para saber se eu sou digna? Se eu o suficiente para o principezinho deles? Eu nunca vou ser, ! Nunca! — explodi.
— Você acha que eu me importo? Eu não quero nem saber o que vão dizer sobre você. A minha opinião já está formada. Você sabe disso!
— A pressão em cima de mim ainda vai estar lá. E eu não consigo lidar com isso. Eu não consigo! Não era para ser assim...
— O que você quer fazer então, ? Me ajuda aqui. — tentou segurar minha mão, mas eu me desvencilhei e comecei a andar, procurando a saída.
— Eu vou embora. Eu preciso de um tempo longe disso tudo…
— Não, , por favor! Não vai… Vamos resolver isso.
Fiz que não com a cabeça mais uma vez.
já chamou o taxi. Eu não quero passar por isso na minha cidade. Ser reconhecida aqui.
— Por favor, fica. — ele pediu de novo.
Limpei meus olhos e me virei uma última vez para . O coração tão apertado que doía fisicamente. Eu não podia acreditar que estava acabando. Andei até ele e o abracei. Não conseguiria dizer tudo o que eu queria e tudo o que havia para dizer.
— Muito obrigada por tudo que aconteceu até aqui. Eu nunca vou me esquecer de como você é incrível!
… — ele chamou, tentando me fazer reconsiderar, mas eu já havia decidido.
Saí o mais rápido possível, antes que desmoronasse. estava parada do lado de um carro e acenou quando me viu.
Para minha sorte, minha amiga entendeu que naquele momento eu só queria um ombro para chorar e não disse nada. Me abraçou forte e deu nosso endereço para o taxista.
Me senti grata por estar em casa.

@Gossip1D: A garota que foi vista com o se chama . Ela também já esteve em outros shows dessa turnê.
, me atende por favor! xx
@1DAZ_usa: @Gossip1D Ela é de Phoenix, minha irmã estudou com ela.
“Eu não queria ir embora de Phoenix sem te ver xx
@Garota_do_: @1DAZ_usa @Gossip1D Eles estão namorando?
“Ok, não vou mais insistir. Me liga quando quiser, vou estar esperando. Já estou com saudade xx

Cada vez que meu celular apitava uma das duas coisas acontecia: Ou meu estômago afundava com mais detalhes sobre minha vida sendo difundidos entre os fãs ou meu coração doía com os pedidos de para falar comigo. Não tinha jeito de vencer.
Dois dias se passaram em que eu não havia sido capaz de sair do meu próprio quarto. tentava me animar e me convencer a pensar melhor, mas toda vez era interrompida por mais uma notificação do twitter que me apavorava. Eu repetia para mim mesma que aquilo ia passar logo. Ninguém me veria mais com os meninos, eles deduziriam que tinha sido algo tipo “o que acontece em Vegas, fica em Vegas” e me esqueceriam.
Mas esse plano só daria certo se eu não voltasse mais a ver o nunca mais.
No terceiro dia, eu precisei reagir. Não porque estava mais contente ou conformada, mas porque o One Direction e sua comitiva seguiam para o Texas e eu precisava cancelar voos e reservas de hotéis. Eu tinha insistido com para deixar aquilo comigo. Seria um bom rito de passagem. Também insisti para que ela fosse trabalhar e não se preocupasse. Eu mesma voltaria para o escritório no dia seguinte.
Quando cheguei nas passagens de Atlanta, porém, senti um aperto enorme no coração e uma tristeza que não cabia em mim. Eu estava tentando ser tão forte e sufocar meus sentimentos, mas a cada hotel, a cada cidade que eu riscava no bloquinho ao lado do notebook, mais longe ficava e mais eu caía em mim de que tudo tinha terminado.
Enquanto eu segurava a testa nas mãos e prendia o choro, meu celular notificou uma nova mensagem. Dessa vez não era ou o twitter e eu sorri.
“Hey! Está tudo bem por aí? Não ouço de você e da faz um tempo… xx
Eu precisava conversar com alguém e era perfeita. Corri até onde o iPad estava e a chamei no FaceTime, mas ela não atendeu.
Recebi uma segunda mensagem.
“Onde você está? Porque está me ligando? Tem alguém com você?”
não sabia que eu estava em casa, não tinha noção do que tinha acontecido. Até onde ela sabia, eu estava no Texas, provavelmente chamando-a no FaceTime ao lado de .
“Estou em casa, em Phoenix. Estou sozinha, não se preocupa.”
E aí sim ela me atendeu. Era a primeira vez que nos falávamos por vídeo, era bom vê-la. Ironicamente, o semblante triste que ela tentou disfarçar com um sorriso e uma entonação de voz alegre me lembrou o .
! Como assim você está em Phoenix? Está de folga do ? — brincou.
Abaixei a cabeça antes de responder.
— Eu terminei com o … — comecei. Ouvi um “gasp!” vindo do iPad. — Saíram umas fotos da gente juntos em Vegas e eu surtei.
cobriu a boca com a mão livre.
— Eu não acredito! Mas… Mas… Não tinha outra solução? Você e se gostam tanto!
Fiz que não com a cabeça.
— Começaram a sair coisas sobre mim em várias contas dessas de atualização dos meninos no twitter. Era o único jeito disso parar, ! Eu gosto muito do . Talvez mais do que eu tinha percebido. Mas… Eu não posso, sabe?
— Mas elas estavam mandando coisas ruins para você?
— Não, meu twitter é trancado e camuflado. Não acharam ele ainda. Elas só… Estavam falando de mim. Onde eu estudei, que eu já tinha sido vista em outras cidades com os meninos…
— E colocando na balança não vale a pena ficar com ele e pagar esse preço? Essa exposição?
Eu nunca tinha colocado na balança. Sempre tinha pré-julgado que não valia.
— Eu só não quero ficar mal como a ficou quando tudo deu errado entre ela e o Derek… — confessei. Era sempre o que me vinha na cabeça. O que tinha acontecido com .
— Mas não precisa ser como foi com a e esse cara ridículo! Nem como foi comigo e o . Eu sei que os exemplos ao seu redor não ajudam, . Mas eu realmente acredito que você e são diferentes!
Sorri ao ouvir aquilo, mas mantive minha opinião.
— Eu sei que isso vai passar. Ele logo vai voltar para o Reino Unido e eu vou tocar minha vida. Mas hoje está difícil… Eu estou cancelando as passagens e hotéis e dói, sabe?
— Eu entendo. — disse. E eu sabia que ela entendia. Mais do que ninguém. — Mas não consigo acreditar. Vocês dois são tão perfeitos juntos… Vocês… Tem tudo!
franziu a testa quando eu ri do que ela disse. Eu já tinha escutado aquelas palavras uma vez.
me disse a mesmíssima coisa. — expliquei.
Foi a vez dela abaixar os olhos e suspirar.
— Ah… É?
, eu estava com isso na cabeça para te falar quando tudo aconteceu. Acho que você devia considerar conversar com ele. O garoto está sofrendo de verdade.
Ela deu de ombros.
— Eu também estou, . Por causa dele, de como ele me tratou. De como me enganou.
— Não acho que ele tenha te enganado… Agiu errado, sim, mas foi porque ele não soube lidar com o fato de que estava apaixonado por alguém que não era a namorada dele. Ele terminou com a Abby, aliás, em LA.
— Coitada… — disse. E depois levantou a cabeça, com os olhos arregalados. — Ele falou que… Ele falou de mim?
— Não citou nomes. Só disse que havia se envolvido com alguém. Que precisava pedir desculpas, mas que não podia pedir uma segunda chance, porque estava apaixonado pela garota.
Os olhos de se perderam em algum ponto além do iPad.
— Podemos mudar de assunto? — ela pediu, voltando os olhos para a tela. Me senti um pouco fracassada na missão de ajudar o . Éramos duas teimosas. — Tenho novidades! Consegui um estágio!
Algo apitou na minha memória.
— Ah é? Onde?
— Bom, na verdade foi o Julian que conseguiu para mim, acredita? Melhor pessoa! É um dos estúdios em Londres em que ele às vezes trabalha como produtor. Eu começo na próxima segunda! O que foi?
Eu devia estar com um sorriso muito maior do que esperava.
— Foi o , ! Foi ele quem pediu ao Julian para te conseguir um estágio!
Sua expressão se transformou em um misto de susto e horror. Eu podia vê-la considerando não aceitar a vaga e o que aquilo acarretaria.
— Não, foi o Julian. Ele me ligou… Não…
Eu sorri.
— Eu ouvi pedindo para ele conseguir um estágio para alguém e pedir que Julian não dissesse que tinha vindo dele. Agora tive certeza que era para você. Estava se sentindo mal por você ter perdido o resto da tour.
— Mas ! Eu não posso aceitar se isso veio dele! — disse, desesperada. — O que ele quer em troca?
— Acho que em um plano geral, ele quer você. Falar com você, te ver... Mas não acho que o estágio seja uma moeda de troca, . só está tentando se redimir. Nem era para você saber que veio dele, de qualquer forma.
— Eu não sei…
— Mas eu sei. Você vai aceitar o estágio, porque é algo que quer muito. E, se for algo que você queira também, vai pensar em dar uma chance para ele te achar em Londres quando voltar da tour…
Pronto, agora sim eu havia plantado a sementinha.
— Você vai pensar em dar uma chance ao que você e tem? — ela devolveu de um modo muito injusto e nós duas rimos.
— São coisas diferentes… — tentei e ela riu mais.
— Não são. Se você der uma chance ao , eu dou uma chance ao .
— Maldita hora em que tirei você daquele quarto de hotel, ! — falei, brincando. — Arranjei mais uma para pegar no meu pé!
— Estou com saudade de você e da ! — disse e eu concordei.
— Estamos com saudade de você também!
— Se ao menos você tivesse um namorado britânico que te trouxesse para cá… — zombou, levantando as sobrancelhas e eu gargalhei.
— Vou desligar, hein? Tchaaaau!
— Não, não, não…
e eu ainda ficamos mais um tempo conversando, tentando evitar o assunto One Direction. Era a primeira vez que eu me sentia um pouco como antes e era um alívio saber que eu ainda era capaz de rir e, mesmo que só por alguns minutos, não pensar no .

**


Say I shouldn’t be here but I can’t give up his touch
It is him I love, it is him
(Him - Sam Smith)



Duas semanas haviam se passado e, porque eu não podia passar o resto dos meus dias de luto, a vida tinha voltado ao normal. Era verdade que às vezes eu me pegava indo do instagram de um dos meninos para outro e vendo fotos nos twitters de atualização só para saber como eles estavam e rir de como eram bobos quando interagiam entre si.
havia parado de insistir e eu de certa forma sentia falta de suas mensagens. E morria de saudades dele, claro! Já estava acostumada a passar meses sem vê-lo, mas era a primeira vez desde que começamos algo que não nos falávamos por tanto tempo. Machucava de verdade não tê-lo mais em minha vida.
Porém eu acreditava que estava fazendo um ótimo trabalho em esconder de como me sentia realmente, mas logo descobriria que ela nunca tinha engolido meu teatrinho.
Era sexta feira à tarde no escritório e eu mais uma vez estava deixando de trabalhar para ver vídeos do One Direction em meu computador. Tinha mesmo virado uma dessas pessoas!
Estava tão distraída que não percebi que havia voltado e só ergui a cabeça quando uma música conhecida soou alta pelo cômodo.
… — adverti, quando percebi que era uma música do 1D. — Tira isso!
Minha amiga, entretanto, estava no meio da sala, com um grampeador nas mãos servindo de microfone.
— Não. Você precisa ouvir essa!
E começou a dublar a música:

“People say we shouldn’t be together
Too young to know about forever
But I say they don’t know what they’re talk- talk- talking about (talk- talk- talking about)”

— Você não achava essa música cafona? — perguntei, tentando fazê-la parar, mas estava embalada em um passo de dança de boyband anos 90. Quase desejei que alguém entrasse no escritório, para ter certeza que eu não estava delirando aquela cena.
— Presta atenção na letra, caramba!

'Cause this love is only getting stronger
So I don’t wanna wait any longer
I just wanna tell the world that you're mine girl”

E eu entendi porque estava ouvindo They don’t know about us.

They don’t know about the things we do
They don’t know about the "I love yous"
But I bet you if they only knew
They would just be jealous of us.

seguia dando tudo de si na dublagem com o grampeador.

They don’t know about the up all nights
They don’t know I've waited all my life
Just to find a love that feels this right
Baby they don’t know about
They don’t know about us”

— Ok, ok… — falei. — Já entendi, tira isso.
me obedeceu e desligou a música, guardou o grampeador e veio se sentar sobre a minha mesa.
— Nós precisamos conversar, . — ela começou. — Eu achei que em algum momento você sairia desse torpor e faria a Rachel indo atrás do Ross em Londres, mas a tour acaba esse fim de semana e você entregou os pontos!
— O que você queria que eu fizesse, ? Era isso ou me jogar nesse turbilhão que é namorar um membro da banda mais famosa do mundo no momento!
— Ok. Vamos começar do começo. Porque esse medo todo que você sente é culpa minha e a gente precisa passar por cima disso. — falou, como se estivesse prestes a dar uma palestra. Ela estava sentada sobre a minha mesa, mais alta do que eu, com a perna cruzada uma sobre a outra e eu sentia mesmo que estava diante de um guru que me daria conselhos sobre a felicidade plena. — , não é o Derek. Ele jamais vai te machucar como o Derek me machucou pura e simplesmente porque ele gosta muito muito muito de você e aquele palhaço não estava nem aí para mim.
— Mas… — tentei interromper, mas ela levantou as mãos.
— Eu coloquei todas as minhas inseguranças em você e eu devia ter entendido desde o começo que eram situações diferentes. E agora tudo é mais injusto ainda, porque eu estou aqui felicíssima em um novo relacionamento, superando meus medos, confiando em um cara outra vez e você está presa nas malditas regras que eu inventei quando estava me sentindo mal e frustrada. Eu te devo desculpas por isso, para ser sincera.
Fiz que sim com a cabeça, porque nunca tinha visto por esse lado. Não sentia ressentimento ou nada ruim em relação a por isso, porque sabia que tinha sido involuntário; mas de certa forma, eu estava sim apegada a coisas que ela havia me dito tanto tempo atrás sem perceber que, se eu devia estar me espelhando em alguém, tinha que ser naquela em minha frente e não na do passado.
— Eu entendo. Mas Tyler não é famoso ainda, . E muito menos tem as fãs que o One Direction tem.
— Eu sabia que nós voltaríamos a isso… E só o que eu posso te dizer é: A partir do momento que você não ligar, que não procurar por essas coisas como passou dias fazendo, nada pode te abalar. vai te proteger do que puder, eu vou sempre estar aqui para você e para bater em quem for necessário. — nós duas rimos e ela continuou. — Você não tem o que temer. Não tem nada de errado na sua vida que elas possam descobrir e te expor. E não tem nada sobre você que o já não saiba, eu suponho.
— Não, não tem… — eu tinha contado a todas minhas histórias, minhas paixõezinhas… Elas pareciam tão menores comparado a tudo que eu tinha vivido com ele, que eu contava essas coisas como anedotas, enquanto nós dois gargalhávamos.
— Eu estou tão cansada dessa vida, . Você não está? Ter sempre que colocar uma barreira entre a gente e todo mundo. Muito me admira, na verdade, nós termos sido tão abertas com a . E olha como foi positivo! Que pessoa incrível nós conhecemos! Imagina quanta gente assim nós deixamos passar… — soltou um suspiro. — Sabe qual foi o melhor momento dessa tour para mim? Poder abraçar os meninos sem cerimônias em Vegas, poder demonstrar o quão feliz eu estava em vê-los, tratá-los como eu trato todos os meus amigos. É isso que eu quero para mim daqui para frente. E eu quero que você possa abraçar o quando quiser, possa ir até ele quando quiser, visitá-lo em casa, deixar que ele venha até Phoenix te ver… Me diz honestamente que você não quer isso e eu paro de encher seu saco!
Eu havia me indagado sobre aquilo mil vezes no último mês sem sucesso, sem saber o que eu preferia. Mas ouvir , minha melhor amiga, colocar as coisas daquela forma deixava tudo claro.
Era óbvio que eu queria ficar com o . E eu também queria tratar os outros meninos como meus amigos em qualquer situação e não só quando ninguém estivesse olhando. Eu queria nem me importar se havia alguém olhando ou não.
— Eu preciso falar com o ! — exclamei, em um momento de ‘Eureka!’. — Cadê meu celular?
sorriu satisfeita e desceu da mesa.
— Isso aí, garota!
Abri a gaveta, peguei o aparelho e digitei rápido.
“Oi! Eu fui tão estúpida com você, . Me desculpa! Se você ainda quiser, será que nós podemos conversar? xx
Meu coração batia apressado e nervoso pela possibilidade de que fosse tarde demais. Quase desmaiei quando o celular tocou com a resposta.
“Não tem o que perdoar, meu amor. Só vem para cá. Imediatamente! xx
Levantei a cabeça radiante e observei minha amiga na mesa da frente levantar dois pedaços de papel na altura dos meus olhos. Passagens de avião.
— Miami? — ela disse, me fazendo rir em uma alegria extasiante.

**


Maybe I had one chance and I lost it with you
We fell so hard, with nothing to lose
(Nothing left for you - Sam Smith)



Outubro, 2014 - Miami, Florida.
Se eu soubesse os benefícios que o alívio me traria, teria tomado a decisão de aceitar namorar com o antes.
É claro que não estávamos nos exibindo, mas eu procurava não pensar demais nas coisas que, se ele fosse só um cara normal de Phoenix, eu faria naturalmente. Não entrei escondida no hotel, não saí fugida nas primeiras horas do dias e chegamos juntos e de mãos dadas para o último show da Where We Are tour.
Não li o que falavam de nós ou se falavam algo. Deletei meu twitter e mantive meu instagram fechadinho e com seus 50 followers de sempre… Eu não precisava me importar com aquilo.
O clima naquela tarde era descontraído e com gostinho de despedida. Os meninos estavam cansados, mas animados para o próximo capítulo. Eles tinham muita confiança no sucesso de Four, o próximo álbum.
Entre a passagem de som e os meet and greets, , Louis e tinham ido para uma reunião com Paul e , e jogavam videogame. Eu estava deitada no sofá do camarim assistindo-os e pensando em como tudo parecia até irreal de tão perfeito.
Mas não estava tudo perfeito. Ainda havia algo que eu precisava ajudar a acontecer.
“Eu e estamos namorando oficialmente! =)” enviei para .
A resposta veio quase instantaneamente.
“Aaaah! Que notícia maravilhosa, ! Vocês dois merecem toda a felicidade desse mundo. Estou muito feliz por vocês!”
colocou um pouco de senso na minha cabeça.”
“O que seria de nós sem a sabedoria da ?”
“Sabe quem também merece ser feliz? E talvez precise de um sermão da ? VOCÊ!”
escrevi. E completei antes que ela respondesse: “Você disse que daria uma chance a ele se eu desse uma chance ao !”
“Quando eu disse isso?”
foi a resposta insolente de , me fazendo rir. e me olharam curiosos, mas fingi não perceber, pois não podia dizer com quem estava conversando.
!”
“Eu tenho medo de me encontrar com ele, . De tomar decisões precipitadas só baseadas no que eu sinto quando estou perto dele.”
“Mas se você ainda sente algo e ele também, não tem porque vocês não tentarem.”
“Eu ainda não sei se acredito que ele sente mesmo.”
“Confia em mim. Eu não te diria isso se não estivesse certa do que estou falando.”
“Eu não sei…”
Eu ia fazer um discurso parecido com o que fez para mim, mas fui interrompida por entrando no camarim e se jogando sobre mim.
— Vim ficar com você antes do meet. — disse, me dando um beijo no rosto e eu me aconcheguei em seu colo.
— Mas vocês estão mais melosos que o normal, hein? — reclamou e recebeu uma almofadada de .
— Deixa os dois, seu chato! Não seja insensível!
— Se você quiser, eu posso ser meloso com você, … — ele tentou se aproximando, mas ela já tinha virado o rosto para o videogame.
— Sossega o facho!
Paul então colocou a cabeça para dentro, chamando os garotos.
Eu e também nos levantamos e fomos dar uma volta pelo estádio, a última daquela tour. Os sentimentos de coisas terminando e coisas começando se misturavam, mas eu só conseguia me sentir mais leve do que nunca! E feliz. Muito feliz!
Aquele não seria meu último dia do ano com o .

Naquela noite todos os funcionários e membros da equipe do One Direction confraternizavam o final da tour na sala de convenções do hotel, como havia acontecido em uma das datas no começo da tour.
Os meninos estavam bem no centro da sala, bebendo e puxando coros para celebrar diversas pessoas e como trabalharam duro. Dava um quentinho gostoso no coração assistir.
— Quando você vai para Londres? — perguntou, enchendo meu copo.
— Não sei ainda, mas os meninos tem quase o mês todo de folga. Acho que vou aproveitar. — respondi, me virando para minha amiga, que tinha um sorriso satisfeito no rosto mais uma vez. — O que foi?
— Nada… Só estou orgulhosa de você!
Sorri também.
— Obrigada! Por ter dado o empurrão que faltava.
— Imagina, eu te devia isso!
Nós duas nos abraçamos de lado e logo fomos puxadas mais para perto da bagunça por

Eu, , , e Preston estávamos conversando perto da piscina, do lado de fora do hotel, enquanto fumava. A festa já havia acabado e só sobravam uns poucos gatos pingados aqui e acolá.
Percebi que e Louise estavam sozinhos do outro lado da piscina e o rapaz falava e gesticulava muito. Como não estava totalmente sóbria, demorou para que eu percebesse a gravidade do que aquela cena poderia significar.
A ficha só caiu quando Lou se levantou e foi possível escutar sua voz de onde estávamos.
— Eu não acredito nisso, ! Vocês tem noção do que fizeram? Da imaturidade dos atos de vocês? De como machucaram a Abby? Fazendo tudo escondido, pelas costas de todo mundo! Que vergonha, meu Deus! E eu preocupada com a quando ela foi embora de Chicago!
— Ih, caralho! — para minha surpresa, a primeira pessoa de nós a se manifestar foi Preston.
Eu e nos entreolhamos de olhos arregalados. Tirei o celular do bolso para avisar antes que tudo desabasse em sua cabeça mais uma vez, mas Louise já estava saindo, pisando duro, com o celular na orelha. Devia ser muito cedo no Reino Unido e havia a chance de que ela não atendesse a prima, mas eu duvidava que Lou iria parar de telefonar enquanto elas não conversassem.
Só me restava então ir conversar com , que tinha o rosto escondido nas mãos.
— Pode deixar, eu vou! — falei, antes que os meninos dissessem algo. me acompanhou.

— Você tem merda na cabeça, só pode! — falou para ele, antes que eu pudesse escolher melhor as palavras.
Ele levantou o rosto para nos encarar, estava pálido de pavor.
— Eu não achei que seria tão ruim, achei que ela entenderia!
— Entenderia o que, ? Que a prima dela, que ela trouxe como pessoa de confiança para dentro da equipe, estava dormindo com um dos membros da banda que tinha namorada? — perguntei, me sentando na espreguiçadeira de frente para ele.
bufou. iria apanhar dela, eu tinha certeza.
— Mas eu disse que não tinha sido premeditado! Que tinha acontecido naturalmente…
foi no seu quarto atrás de você, . Você puxou ela sozinha para o estúdio móvel. Ela ficou para trás em St. Louis para vocês dormirem juntos. — Enumerei, não me preocupando muito em esconder o quanto eu sabia do relacionamento deles. — O que você chama de natural, Louise provavelmente chama de imprudência.
— Porque você sentiu a necessidade de falar sobre isso com ela, afinal? Ela te perguntou com quem você traiu a Abby? — perguntou.
Ele balançou a cabeça, cobrindo o rosto de novo.
— Eu só queria falar com ela, só queria falar com ela. — repetiu, a voz abafada.
— Falar com quem? Com a Lou? — franzi a testa.
Ele tirou o rosto das mãos, parecendo exasperado.
— Com a ! — respondeu. — Eu achei que se contasse a Lou, ela me diria como encontrar a em Londres.
— Imbecil… — soltou, baixo, passando a mão na testa.
— Eu não falei que ia te ajudar, seu cabeça de vento? — bradei. — Eu passei o dia tentando convencer a a falar com você e para quê?
— Ela não quer falar comigo.
— Bom, agora a Louise também não… — falou.
E então meu celular vibrou e eu cheguei a sentir um puxão no estômago ao ver que era . Ela estava me ligando.
— Alô? — minha perna tremia.
— VOCÊ ESTÁ COM ELE? — ela berrava. e provavelmente podiam ouví-la. — ME DEIXA FALAR COM ELE!
parecia prestes a desmaiar. Eu sentia uma certa pena dele, tinha metido os pés pelas mãos de um jeito que eu julgava irreparável.
? — Ele falou, a voz fraquinha, quando pegou meu celular.
— NÃO ME CHAMA ASSIM, SEU IDIOTA! VOCÊ SABE O QUE FEZ? LOUISE ACABOU DE ME LIGAR, ACABANDO COMIGO! ELA NÃO QUER OLHAR NA MINHA CARA NUNCA MAIS! PORQUE VOCÊ FEZ ISSO COMIGO?
… Me desculpa, por favor. Vamos conv-
— EU NÃO QUERO CONVERSAR COM VOCÊ, EU NÃO QUERO TE VER. ME DEIXA EM PAZ! — Sua voz então quebrou em um soluço de partir o coração.— Me deixa em paz, . Tudo estava indo bem até nossos caminhos se cruzarem.
desligou o telefone, nos deixando em um silêncio constrangedor. Ouvi os outros meninos e Preston se aproximando.
— Vamos, todos, cada um para o seu quarto. — o segurança sugeriu. — Não quero vocês chamando a atenção aqui embaixo.
e eu nos levantamos e ele parecia o homem mais triste do universo. Me devolveu o celular e fez que não com a cabeça.
— Se você falar com ela, diz que eu pedi desculpas… Por tudo…
Fiz um carinho desajeitado em suas costas enquanto entrávamos no hotel e nos separávamos em nossos caminhos.
Meu lado romântico incurável, que eu nem achava que existia, desejava que e ainda tivessem outra chance. Mas agora ele precisaria criar aquela chance praticamente do nada.
Suspirei, sentindo o abraço de me confortando.
Esse não era o final que eu esperava para aquela tour.


Parte 2


I guess I got lost in the moment
I guess I got lost in the fall
I guess I got lost in your heartbeat
In the thrill of it all
(The thrill of it all - Sam Smith)




's POV

Outubro, 2014 - Londres, Inglaterra.
“Você é um imbecil!”
Um lado do meu cérebro repetia, talvez pela milésima vez só naquele dia.
“Eu sei.”
Respondia o outro lado, resignado, todas as vezes.
Esse diálogo havia se tornado tão comum que agora já me parecia um ruído branco nos meus pensamentos.
Aquele mês de folga não estava indo muito como eu tinha planejado. Eu queria ter descido do avião e ter ido falar com ela. E então, das duas uma: Ou eu a teria de novo comigo e nós poderíamos passar o mês todo nos conhecendo no “mundo real” e descobrindo se tudo o que tínhamos sentido durante a tour ainda estava lá. Porra, eu tinha imaginado lugares para levá-la para sair! Ou ela diria que estava certa de que não me queria, que não aceitava minhas desculpas e eu teria que seguir em frente.
Mas eu tinha que ser um idiota mais uma vez e meter os pés pelas mãos…
Agora não queria me ver, não queria nem ouvir minhas desculpas e, dessa vez, eu tinha um motivo a mais para me arrepender: Louise também não estava falando comigo.
“Você é um imbecil!”
Pela milésima primeira vez.
E eu era.
Ou eu tomava decisões erradas ou tomava decisões atrasadas.
Eu podia ter dito a Abby naquela noite em Chicago que tudo estava errado. Eu podia ter contado a naquela manhã que Abby estava vindo, mas que isso só significava que eu precisava resolver algo antes de poder levar o que estávamos tendo a sério. Porque era isso que eu queria, é claro que era isso que eu queria!
Mas eu a deixei partir, a deixei voltar para a Inglaterra achando que eu só quis transar com ela. Seu rosto chorando naquele quarto de hotel ainda me assombrava.
Depois veio o pequeno recesso na tour e eu achei que precisava pensar melhor sobre tudo. E demorei todo aquele tempo para chegar às mesmíssimas conclusões que já sabia em Chicago. Ou antes, em Houston. Ou talvez tenha sido em Toronto, na primeira vez que eu a vi.
As conclusões eram as seguintes: 1) Abby merecia alguém melhor, que a amasse 100%. Merecia meus pedidos de desculpas e que eu a deixasse ir. 2) era a garota que eu queria. E eu faria qualquer coisa para ser perdoado por ela.
O problema era que cada vez que eu dava um passo à frente, eu fazia algo errado!
E por não querer mais arriscar o fiozinho de esperança que ainda existia, pelo menos na minha cabeça, eu me prometi que não procuraria naquele mês de folga. Eu a daria tempo e espaço, a deixaria em paz como havia pedido. Eu só voltaria a insistir nisso quando tivesse um bom plano. Um plano que outras pessoas me confirmassem que era bom e que não machucaria mais ninguém.
Talvez eu errasse o timing mais uma vez, mas eu não queria mais arriscar e fazer coisas impensadas.
“Você é um imbecil!” soou no meu cérebro como um alarme, o snooze insuportável de um despertador apitando de cinco em cinco minutos.
Mas eu não queria mais ser. Eu queria ser digno das desculpas e da segunda chance de . De abraçá-la de novo.
E levá-la a todos os encontros que eu havia planejado.

Eu já havia lido meus emails e respondido os relevantes, ouvido a versão final do nosso álbum que seria lançado em três semanas, assistido filmes até ficar entediado demais para prestar atenção e tinha até chegado ao cúmulo de arrumar meu guarda roupas.
Eu definitivamente precisava sair daquela casa. Qual dos meninos estava em Londres?
Depois de algumas mensagens, me respondeu. Mas eu sabia que estava no país pela primeira vez e não queria atrapalhar.
“Valeu, cara!” respondi, quando ele falou que eu podia ir até a casa dele para jogarmos videogame. “Mas aproveita seu tempo com a . A gente vai jogar muito videogame esse ano ainda.”
“Ela pediu para perguntar como você está.”
Sorri para a mensagem.
“Ainda pensando em um bom plano.”
“Ela pediu para dizer ‘Isso!’.”
era talvez a única pessoa que tinha acompanhado a história toda desde o início e de todos os ângulos. Na verdade, minha esperança se mantinha basicamente no fato de que ela ainda se importava. Enquanto eu sentisse da parte dela que eu devia tentar com a , eu o faria.

Flashback (nota da autora: Para quem estiver em dúvida, esse flashback acontece alguns shows antes de onde Trap 1 começa)
“Que bom que deu tudo certo! Uma pena que não vamos nos ver até o mês que vem. Espero que esteja se divertindo! xx Abby”
Eu precisava admitir que Abby era a pessoa mais tranquila com quem já tinha me relacionado. Tínhamos nos conhecido em fevereiro daquele ano, em Los Angeles, por amigos em comum. Até abril tinha sido fácil levar o namoro, já que a One Direction estava “de folga”. Mas assim que a tour começou, nós quase não nos víamos mais. Ela tinha um trabalho “normal”, não podia me acompanhar por todos os lugares e eu de certa forma gostava de estar com alguém que não se deslumbrava com a ideia de um namorado famoso. O único problema era que eu sentia que nós tínhamos perdido aquele começo de namoro, aquela parte onde a intimidade cresce, você conhece sua parceira profundamente e aprende mais sobre ela todo dia. Às vezes eu não sentia como se estivesse mesmo namorando, se estivesse sendo bem sincero. Era mais como alguém de quem eu gostava bastante, mas que não via com frequência. Faltava algo que eu não sabia bem o que era....
Eu estava digitando a resposta quando a vi entrar, se dirigindo sem pestanejar para o outro lado do salão. Acabei esquecendo de enviar a mensagem para minha namorada.
Nós tínhamos acabado de tocar nossa terceira noite no Gillette Stadium, em Boston, e toda a equipe se aglomerava na sala de convenções do hotel em que estávamos hospedados para comemorar aquele marco.
Meus olhos, porém, estavam focados apenas na garota nova. A prima de Louise que havia sido contratada para nos ajudar na parte americana da tour.
Eu parecia incapaz de focar em qualquer outra pessoa quando ela estava por perto desde o dia em que fomos apresentados em Toronto. Eu não sabia dizer o que era, mas algo nela me encantava.
Contudo, não tínhamos muito contato. Ela estava sempre na “mesa dos adultos”, como costumávamos brincar. Como em uma ceia de natal, nossa equipe (gigante) normalmente se alimentava em turnos ou separados em “mesa das crianças” (eu, os meninos e normalmente nossos convidados) e “mesa dos adultos” (o resto da equipe)... Ela, seu nome era , nunca se sentava conosco, apesar de ter nossa idade.
Hoje ela estava em uma roda com Lou, Julian e Paddy. Sorri ao perceber que tinha um livro nas mãos e não era o mesmo que já tinha a visto carregando um tempo atrás. Devia ser inteligente.
Seus olhos vagaram pelo salão e acabamos nos encarando, já que eu ainda a observava. Sorri ao sentir seus olhos nos meus e ela fez o mesmo. Algo que parecia brasa queimou de um jeito estranho no meu peito. logo quebrou o contato visual e voltou a prestar atenção na conversa e eu soltei o ar meio derrotado, por não saber bem o que fazer para me aproximar.
— Você está encarando essa garota desde que ela chegou... — comentou, parando ao meu lado com um pratinho de bolo. — Quem é ela mesmo?
— O nome dela é . — respondi, meio sorrindo. Algo coçando em mim para falar sobre ela em voz alta.
— Hm... Faz parte da equipe? Não lembro de a ver ano passado.
— Ela é linda, não é? — murmurei, como um idiota, ignorando completamente o que havia perguntado.
— É sim! — respondeu, dando mais uma garfada no doce. — Mas já já vai secar de tanto que você olha…
Demos uma risadinha juntos.
— Queria falar com ela, mas não sei bem como… está sempre com os “adultos”.
— Porra, ! Quantos anos você tem?— ela zombou, rindo mais alto.
Eu me sentia com 12 anos, para falar a verdade. Dei de ombros.
— Idiota, né? Eu sei. Não é como se eu fosse chamá-la para sair, nem nada. Eu não… Posso ter nada com ela. — dizer aquilo em voz alta me deixou desconfortavelmente decepcionado.
não respondeu, mas eu percebi que ela me encarava. Enquanto estávamos conversando, deu um beijo no rosto de Louise, se despediu dos outros e começou a andar em direção a saída
— Vai lá falar com ela… — sugeriu.
— Eu não…
— Essa paixonite não vai sumir se você ficar fantasiando como ela é de verdade.
Eu nunca saberia ao certo se , àquela altura, realmente achava que eu me decepcionaria quando conhecesse melhor (o que teria sido bom para o meu namoro), ou se tinha certeza de que nós acabaríamos tendo algo. Também não sei dizer se fiz que sim com a cabeça porque acreditava nela ou porque só precisava mesmo de um incentivo para me aproximar, já com as intenções inconscientemente erradas.
Olhei para os lados, me certificando que ninguém prestava atenção em mim, mas todo mundo estava entretido em suas respectivas rodinhas.
— Eu já volto… — achei que precisava me justificar antes de apertar o passo para seguí-la.
apenas comeu mais um pedaço de bolo e fez que sim com cabeça.
Saí da sala de convenções e a encontrei quase no fim do corredor. Respirei fundo uma vez antes de dizer.
— Hey, já vai indo? — falei alto, tentando soar descontraído e se virou. Sua expressão foi de testa franzida a um sorriso de lábios fechados enquanto eu andava até ela.
— Hum… Já. Isso é muito cansativo, né? Não sei como vocês conseguem rodar o país inteiro e ainda viver entre um show e outro. — sua voz era super amigável e seu sorriso me fez sorrir involuntariamente também. Todo mundo trabalhando diretamente com ela parecia a adorar e eu entendia porque. Dois segundos em sua presença e eu já estava rendido.
— Ah, você começou agora. Logo logo se acostuma! — respondi, abanando a mão. — Está gostando?
Me senti meio patético fazendo esse tipo de pergunta de parente chato. Em que eu estava pensando?
Mas não parecia se importar.
— Adorando! Aprendendo bastante, conhecendo lugares novos, pessoas novas… É uma oportunidade e tanto.
— Que bom! — eu queria passar horas falando com ela. Descobrir por mim mesmo suas qualidades, o que a fazia rir, as coisas que mais gostava… Mas também não queria importuná-la, ela estava cansada. Por isso resolvi não prolongar o assunto. — Você... Hum… Está indo na direção dos elevadores? Preciso pegar um negócio no meu quarto. Te acompanho. — menti.
Andamos lado a lado até os elevadores e ela me contou o que tinha achado do Canadá.
— É sua primeira viagem internacional, então? — perguntei, enquanto entrávamos no elevador e cada um apertava seu andar no visor.
— Ah, eu já tinha visitado alguns lugares da Europa, né? O básico… Mas intercontinental assim, primeira vez.
— Você pode vir com a gente para a Europa ano que vem e conhecer o que não conhece ainda… — falei e ela riu.
— Seria incrível!
Foi um milésimo de segundo entre sua última frase e o elevador parando e apitando que estávamos no andar dela. Mas nessa fração mínima de tempo, nós nos olhamos em silêncio e eu me senti desconcertado.
— Meu andar. — disse, voltando os olhos para baixo antes de acenar, tímida. — Boa noite, .
— Boa noite, !
Ela olhou para trás e sorriu ao ser chamada pelo apelido.
As portas se fecharam, me deixando com uma sensação de euforia quase adolescente. Eu estava desesperado para conhecê-la melhor, conhecê-la de todos os jeitos que um pessoa pode conhecer a outra.
Naquela noite, eu esqueci completamente de enviar uma resposta para Abby. As borboletas no estômago que me mantiveram acordados por mais algumas horas não tinham sido provocadas pela minha namorada. Eu devia que ter percebido naquele dia, naquele momento, que aquilo não era o curso normal das coisas.
Que me aproximar não ia curar minha “paixonite”.
Muito pelo contrário.
Fim do Flashback

“Você tem certeza que não quer vir para cá, cara? Não vai atrapalhar nada.”
escreveu. Suspirei e decidi que era melhor segurar vela do que continuar naquela situação miserável.
“Ok! Chego aí em meia hora!”
e eram bons amigos.

**


You held my heart in your fingertips
So now I drown in my bitterness
Oh, I can’t get no sleep
And I sure won’t, I sure won’t find no peace
(No peace - Sam Smith)



Novembro, 2014 - Graz - Austria.
O camarim parecia uma biblioteca de tão silencioso e suspirei alto, mais para produzir qualquer som que fosse. Eu e Louise estávamos sozinhos no cômodo e, como em todas as outras vezes que nos encontramos depois de Miami, ela não dirigia uma palavra a mim. Só arrumava meu cabelo e sua expressão era tão neutra, que chegava a ser intimidante. Como uma esfinge.
— Lou, eu… — tentei, mas fui interrompido.
— Eu não quero conversar, . — ela disse, impassível.
— Eu só queria dizer...
Mas antes que eu conseguisse formular uma frase completa que fosse, Louise ligou o secador e deixou que aquele som abafasse minhas tentativas. Suspirei, já cansado de tudo aquilo. De não conseguir consertar nada. Quanto mais eu tentava, pior a situação ficava. Era como tentar me mexer e acabar me afundando mais em areia movediça.
O problema é que eu simplesmente não conseguia desistir, não conseguia pensar em nada que não fosse Louise e e como poderia me desculpar com as duas.
Não havia nada novo com relação a tampouco. Lou jamais me diria algo; eu podia perguntar a Julian onde ela estava trabalhando, mas coagí-la em seu local de trabalho seria a pior ideia de todas até ali. Eu queria conseguir pensar em um modo para que minhas palavras chegassem até ela da forma menos ofensiva possível. Que ficassem ali, dançando ao alcance de , mas que ela pudesse decidir se queria ouví-las ou não. Depois de errar tanto, porém, eu não via isso acontecendo de jeito nenhum.
De qualquer forma, eu merecia aquilo tudo, o desconforto todo. Já era parte do meu dia a dia rever todas as situações em que eu podia ter agido diferente. Agido corretamente.
A que se repetia mais vezes era a madrugada em Chicago, quando recebi a mensagem de Abby.

Flashback
Eu estava entrando no avião que nos levaria para Chicago, quando percebi alguém andando mais rápido para me alcançar. Era Preston.
— Essa história está passando dos limites, meu amigo... — falou baixo. Não era uma bronca, não era uma ameaça. Seu tom de voz era o de alguém preocupado, dando um conselho.
Engoli em seco, sem saber exatamente o que dizer. Devia pedir desculpas? Me justificar?
— Preston, eu...
— Eu não estou aqui para te julgar ou dizer o que fazer. Mas não tem a menor chance disso terminar sem alguém se machucar. E eu sei que não é o que você quer. — ele explicou, dando tapinhas nas minhas costas. Depois subiu as escadas mais rápido para emparelhar com .
O voo estava silencioso e eu também fingia dormir, apesar de me sentir repentinamente sóbrio e acordado. estava sentada sozinha algumas poltronas para frente e mesmo que quase todo mundo ali soubesse o que estava acontecendo entre nós, achei melhor não ir até lá. Eu queria contar como me sentia, saber se ela sentia o mesmo. Explicar para que eu precisava de um tempo para corrigir meus erros e terminar com Abby, mas que depois disso eu queria muito ficar com ela. Conhecê-la melhor... Longe da loucura que era estar em turnê.
A ideia daquela conversa me dava frio na barriga. Seria furar a bolha em que entrávamos sempre que estávamos juntos, mas tinha que ser feito se eu quisesse levar aquilo adiante.
E eu queria.

Chegamos ao nosso hotel e, assim que entrei no meu quarto, percebi que não queria ficar ali sozinho com os meus pensamentos. Só havia um lugar onde eu queria estar.
Não fazia tanto tempo que havíamos chegado, por isso concluí que ainda não tinha ido dormir. Andei os corredores ensaiando como iria começar, mas ao vê-la parada na porta, de pijama e uma carinha de sono, tudo o que planejei dizer me abandonou.
— Vim dormir com você. — falei, já entrando no quarto. O resto podia esperar, afinal.
Nos deitamos em sua cama abraçados e sorri ao sentí-la contra o meu peito, a pele quentinha e macia. A respiração tranquila de me deixou tão em paz, que em dois segundos eu já estava dormindo também.
O simples fato de estar com ela me acalmava. A certeza do que eu sentia por ela me acalmava.

Tudo tinha acontecido tão rápido, que eu estava dormindo de calça jeans, com o celular dentro do bolso traseiro. Isso não parecia ser um problema, até o aparelho começar a vibrar loucamente em algum momento da madrugada.
Tentando não me mexer muito para não acordar , tirei o celular do bolso e ia colocá-lo na mesa de cabeceira quando o nome na tela fez meu coração parar.
2 mensagens não lidas de Abby.
Me sentei na cama para ler.
“Alou? Tudo bem por aí, popstar? A gente tem se falado tão pouco nos últimos dias, eu estou com saudade! Por isso fiz uma loucura e estou indo te ver em Chicago! Chego 9h da manhã, tá? Não precisa pedir para ninguém me buscar, não. Não quero incomodar. Só me fala em que hotel vocês estão.”
“Você está dormindo? Que horas são aí? Meu Deus, eu sou péssima com fuso horários! Até daqui a pouco xx Abby”
Engoli em seco e me levantei para sentar na poltrona perto da janela. Eu não podia responder pedindo para Abby não vir. Também não poderia falar por telefone tudo o que eu deveria falar para ela.
“Me desculpa pela falta de mensagens nos últimos dias, mas fiquei feliz em saber que você vem me ver! Não se preocupa, vou falar com o Paul e te busco no aeroporto! Estou com saudade também! xx
Me senti enojado comigo mesmo. A realidade do que eu estava fazendo me acertando em cheio. Abby era uma pessoa incrível, uma namorada maravilhosa - que estava tirando um dia de folga só para vir me ver. Comprando passagens caras em cima da hora.
E eu estava no quarto de outra garota. Por quem eu vinha me apaixonando mais e mais, enquanto minha namorada de verdade pensava em jeitos de atravessar o país para me encontrar. Eu não merecia nenhuma das duas, para ser sincero.
— Hey! — ouvi me chamar e me virei mordendo os lábios. — Porque você está vestido? — ela perguntou, sorrindo de lado, brincando com o que eu havia dito a ela no dia anterior.
Tentei sorrir, mas as palavras que eu precisava dizer pareciam me impedir de seguir com o teatro.
— Eu...
Eu estava redondamente enganado quando pensei que “o resto podia esperar”. Aquela era a hora de abrir o jogo e não haveria nenhuma outra depois.
franziu a testa.
— Está tudo bem? — perguntou.
Eu não estava orgulhoso de nada que havia feito naquele mês, mas estava prestes a tomar a decisão mais errada e burra que poderia tomar. Um misto de covardia e auto sabotagem. Tossi, me arrependendo da mentira a cada palavra que saía da minha boca, mas incapaz de voltar atrás.
— Está sim! Acho que aquela cerveja toda ontem não me caiu bem. — falei, já me levantando. A vergonha e a culpa me preenchendo.
ainda perguntou algo que nem escutei direito e só resmunguei um “Uhum” antes de alcançar a porta.
Eu precisava sair dali e pensar com clareza em como ajeitar aquela confusão a tempo, mas meu coração doía como se já soubesse como tudo iria se desenrolar.
Preston tinha razão, não tinha como resolver aquilo sem machucar alguém. E, infelizmente, não havia uma opção em que eu fosse sofrer as consequências da minha desonestidade sozinho. Mas se consolava as outras partes... Saber que eu tinha as feito sofrer também, faria meu coração doer mais. Muito mais.
Fim do Flashback

O secador já estava desligado e eu tomei fôlego mais uma vez para tentar de novo.
— Só queria pedir desculpas, Lou. — disse rápido, antes que ela pedisse para eu me calar outra vez. — Por trair sua confiança. Saber que nossa amizade nunca mais vai ser a mesma me machuca muito, mas ter te magoado me machuca mais. Eu sinto muito. Muito mesmo."
Eu a observava pelo reflexo do espelho e apesar de não ver mudança em sua expressão, nossos olhos se encontraram e eu soube que ter completado aquelas frases era um sinal de progresso.
Na situação em que estava... Quando eu não estava perdendo, já estava ganhando.

**


I know you’re right for me
But I’m waiting for everything in your world
To align with my world
(Say it first - Sam Smith)



Novembro, 2014 - Sydney, Austrália.
Era fim de tarde em Sydney, nós já havíamos cumprido nossa agenda e eu era a única pessoa no terraço do hotel, observando o sol se pôr enquanto bebia uma cerveja. Estava esperando a mensagem de Paul que diria que era hora do nosso voo.
A Austrália era tão longe de tudo, que eu me sentia meio fora da realidade ali. Naquele momento, depois de ter mais um álbum alcançando número 1 e distante de todas as confusões da minha vida pessoal, eu me sentia em paz pela primeira vez em muito tempo. Estar ali sozinho, diante de uma vista tão bonita amplificava aquele sentimento e, por isso, eu estava prolongando a experiência ao máximo.
Ouvi o barulho de alguém se aproximando mas não me virei até perceber que a pessoa havia parado ao meu lado.
— Hey… — Louise me cumprimentou, me pegando desprevenido. Seu tom de voz era amigável; era o tom de voz que eu estava acostumado a ouvir dela nos quatro anos que convivemos, com exceção dos últimos meses.
— Oi Lou. Está tudo bem? Já está na hora de ir embora?
Ela fez que não com a cabeça e também abriu uma cerveja. Pegou o celular no bolso para tirar uma foto da vista antes de se dirigir a mim de novo.
estava conversando com o Julian por skype lá embaixo… — começou. — Ele me contou sobre o estágio da no estúdio. Sobre você ter pedido ajuda a ele...
Me virei para ela com as sobrancelhas arqueadas.
— Lou… — eu nem sabia como me explicaria, ou porque. Mas a ideia de gerar mais conflito entre as duas me aterrorizava. — Eu pedi a ele, mas não sabia de nada… Não é culp-
Ela riu do meu tom de voz e colocou a mão em meu ombro.
— Calma, fica calmo. Eu não vim aqui brigar com você. — disse, e eu me senti soltando a respiração que nem sabia que tinha prendido. — Vim te agradecer, na verdade. A mãe dela me contou uns dias atrás que ela tem adorado trabalhar lá. Que está se dando bem com o pessoal… Está feliz.
Ouvir aquilo me trouxe um alívio sem tamanho. estava feliz!
— Você não sabe como é bom saber que ela está bem! Vocês duas… Hum… Tem se falado? — perguntei, mas quase me arrependi ao ver Louise fechar o sorriso.
— Não. É muito difícil perdoar uma traição, . — contou. O sentimento em sua voz, porém, era mais de tristeza do que raiva. Doía nela também ter se distanciado de .
Fiz que sim com a cabeça.
— Eu… Imagino. Mas a culpa não foi dela, Lou. Eu sei que nós dois erramos em fazer as coisas pelas suas costas, mas o mais errado fui eu. , na verdade, fez de tudo para evitar que você fosse afetada. Mentiu para o Paul, foi embora em Chicago e não quis voltar para o resto da turnê... — enumerei. Louise ouvia com atenção e mexia a cabeça afirmativamente. — Eu sei que não olhar na minha cara foi parte do motivo… Mas ela não queria que ninguém soubesse o que fizemos e viesse te dizer ‘Foi você quem trouxe essa menina aqui’. sempre foi muito grata a você, a sua ajuda.
Louise tomou mais um gole da cerveja. Ficamos um tempo em silêncio e acho que ela estava ponderando o que eu havia dito, porque quando voltar a falar, existia um tom de riso em sua voz:
— Como vocês dois se meteram nessa, afinal?
Dei de ombros.
— Você já olhou para a ?

Flashback
O estúdio móvel era pequeno demais para seis marmanjos, mas Julian parecia sentir uma certa alegria extra em mostrar como as músicas novas estavam ficando para nós cinco ao mesmo tempo. Acho que ele gostava de comparar nossas reações. A de hoje se chamava “Fool’s Gold”, e eu havia gravado os últimos vocais depois do Meet and Greet. Era uma balada meio folk sobre se apaixonar por alguém que não deveria.
Desde aquela tarde, algo no verso “I get lost in your beauty and I can’t see two feet in front of me” fazia meu pensamento viajar para longe. Para .
Eu me pegava sorrindo só de pensar nela. Em como a risada dela soava, em sua expressão concentrada enquanto lia um livro. Talvez eu tivesse passado tempo demais a observando.
Senti uma cotovelada do lado e me virei para .
— O que...
Ele franziu a testa e então ouvi outra voz me chamar.
? Está ouvindo, cara? — Era Julian.
— Hm... Desculpa! O que foi?
— O que você achou? Você anda distraído, moleque!
Ri para disfarçar o nervosismo.
— Desculpa, eu estava compenetrado! — ouvi Louis dizer “Uhum” em tom de deboche. — A música está ficando linda, Julian! Você é um gênio!
Ele riu também e fez uma cara convencida, parecendo aceitar a resposta.
Começamos a discutir horários e a finalização de outra música, mas eu só estava 50% na conversa.
A outra metade fantasiava assistir enquanto ouvia Fool’s Gold. Tentar adivinhar pelo seu rosto se ela tinha entendido aquele verso da mesma maneira que eu... Se sentia a música como um formigamento no estômago como eu sentia. Eu não sabia bem o que fazer para conseguir aquilo, mas agora aquela imagem já havia tomado conta da minha cabeça.

Naquela mesma noite, nós cinco e as meninas fomos explorar o estádio juntos, quando tudo já estava vazio. Depois de nos separarmos e corrermos (ironicamente) em várias direções, estávamos todos agora em cima do palco. Eu ria, assistindo berrar a letra de Midnight memories da ponta do palco B, mas não demorou muito para os meus olhos encontrarem seu foco favorito nas últimas semanas.
era tão linda que me deixava desconcertado.
Eu havia resistido quando ela tinha ido me visitar no meu quarto aquela noite em Detroit. Bom... Talvez “resistido” fosse uma palavra forte, quando eu havia sentido todo tipo de coisas apenas por tocar na pele da mão dela. Nós não havíamos nos beijado na noite anterior em Nashville, de fato, mas um leque de sentimentos que ia de extremo afeto a tesão por uma garota que não era a minha namorada, não era realmente a definição da palavra resistir.
O problema, porém, era que estar na presença de me fazia querer resistir cada vez menos.
A culpa não era de ninguém senão minha, mas eu me sentia como uma criança encantada pela chama de um palito de fósforo aceso. Eu sabia que iria me queimar (e seria logo) caso não o assoprasse e seguisse minha vida... E mesmo assim, continuava olhando o fogo consumir toda a extensão da madeira. Eu desejava que consumisse.
Quando respirei fundo, a chave do estúdio móvel pesou sobre o meu peito (Julian tinha me dado quando foi embora, para que eu entregasse para Paul) e meus pensamentos pareceram se atropelar na ânsia de me dizerem o que fazer. virou o rosto na minha direção e sorriu. O sorriso que fazia meu coração escapar uma batida, que sempre me fazia sorrir de volta.
Era isso. Esse era o momento. Indiquei com a cabeça para que ela fosse até onde eu estava e senti as pernas amolecerem enquanto a observava andar em minha direção. Queria ficar sozinho com , queria que ela ouvisse Fool’s Gold, queria que tudo o que eu havia só imaginado até aqui finalmente acontecesse.
Ofereci minha mão, que ela segurou (causando todas aquelas sensações que já não me eram mais tão estranhas), e a puxei para sairmos do palco até o estacionamento.
— Onde você está me levando? — perguntou, me fazendo rir de um jeito infantil.
— Nárnia! — brinquei, não querendo estragar a surpresa.
Andamos meio correndo até o estúdio móvel e destranquei a porta com as mãos tremendo de ansiedade.
— Bem vinda onde a mágica acontece! — exclamei, mantendo a porta aberta para ela entrar.
Eu sabia que estava interessada em produção musical e sorri ao observar seu queixo cair e seus olhos tentarem absorver tudo ao mesmo tempo. Ela andou até o vocal booth, ainda totalmente encantada, e eu me sentei em frente ao computador para achar a última versão de Fool’s Gold.
se virou quando o primeiro verso começou. Os olhos brilhando de interesse.
— Música nova? — perguntou. Fiz que sim com a cabeça.
— Foi a última que gravamos. — respondi, meu coração acelerando ao perceber que ela andava de volta para onde eu estava. — Você gosta?
Era exatamente o verso que eu queria que ela escutasse. suspirou, me encorajando a tomar uma atitude. Havia algo do meu próprio desespero no modo como ela tentava controlar a respiração.
Nós nos encaramos e eu soube que era o momento certo para ir em frente. Naquela hora, eu não estava pensando em nada (ou ninguém) que estivesse acontecendo além daquele estúdio móvel.
— É linda! — respondeu, dando um sorriso, e eu me levantei e fui até onde ela havia parado.
— Eu… Eu pensei em você enquanto gravávamos. — confessei.
Estávamos a centímetros de distância um do outro agora e minha cabeça parecia um rádio dessintonizado. Havia algumas vozes tentando me lembrar o que estava em jogo se eu seguisse com a minha decisão, mas elas eram soterradas por todas as outras que estavam tão fascinadas por quanto eu.
Ela suspirou outra vez, os olhos passeando pelo meu rosto. Eu gostava de ser olhado assim por ela, parecia tornar o sentimento recíproco. E foi pensando nisso que me aproximei mais e acariciei sua bochecha. fechou os olhos e a ideia de que eu podia desarmá-la com o meu toque foi a gota de coragem que me faltava. Simplesmente porque eu queria ser desarmado por ela também.
Foi como derrubar a primeira peça de uma fileira de dominós. No segundo em que nossos lábios se encontraram, nossos movimentos foram acontecendo em sequência. Quase coreografados. Fool’s Gold ainda ressoava pelo estúdio e, de alguma forma, parecia vir de dentro de nós dois. Era uma sensação maluca de satisfação e... Paixão, eu acho. Não era uma intensidade de movimentos que eu estava acostumado, mas com ela parecia ser perfeito. Era a manifestação de todos o tempo que ansiamos por aquilo.
Eu não queria que acabasse nunca!
Quando abri os olhos e a vi, fui tomado novamente por toda aquele turbilhão de sentimentos.
— Deus, você é tão bonita! — Soltei, não sendo capaz de me expressar em palavras melhores. Ela não era só bonita. Era inteligente, interessada, engraçada... Eu só queria que ela soubesse como eu a admirava desde que nos conhecemos, mas estava atordoado demais para ser coerente.
Coerência, pelo visto, não estava entre minhas Top3 prioridades no momento. Assim como sensatez.
“I’m the first to admit that I’m reckless...”
Fim do Flashback

— E porque você não terminou com a Abby antes, criatura? — Lou perguntou.
— Era o que eu planejava fazer, mas... Não consegui esperar. A atração era muito forte... E… Quando vi, já estava apaixonado por ela. Agindo impulsivamente!
— Vocês são dois idiotas! — ela disse balançando a cabeça, mas estava sorrindo. — Com bom coração, mas dois idiotas.
—Muito idiotas! Mas eu me arrependi de ter magoado a Abby, Lou. E você. E eu tenho certeza que a também está sofrendo. Mais do que eu, na verdade, porque também a magoei! — falei, meio desesperado e atropelando as palavras. Como se a qualquer momento Louise pudesse desistir de me ouvir.
Ela fez que sim com a cabeça.
— Eu sei. Tenho visto como você anda cabisbaixo... Acredito que esteja na mesma. — Lou suspirou. — No fim, a pior sentença somos nós mesmos que ditamos, não é?
— É, eu acho que sim…
Ela soltou outra risadinha.
— Dois idiotas! — repetiu e me puxou para perto, para um abraço de lado. Meu coração bateu tranquilo no peito e eu percebi porque aquela conversa me fazia tão feliz. Não era somente o perdão de Lou, apesar de aquilo significar MUITO.
Era o começo da virada no jogo.

**


I know you don’t want to talk to me, so this is what I will do
Maybe you’re listening, so here’s one last song for you
Here’s one last song for you
(One Last Song - Sam Smith)



Dezembro, 2014 - Londres, Inglaterra.
Wembley Arena.
Era sempre bom estar de volta. Chegava a ser nostálgico se preparar para uma apresentação da final do X Factor! Mas apesar do lugar não ser estranho para nós, havia muito mais pessoas no palco do que era comum e todos vibravam com uma energia completamente diferente naquele ensaio.
Nós estávamos na presença de ninguém mais, ninguém menos que Ronnie Wood.
Um Rolling Stone se apresentaria com a gente no domingo.
Tocando uma música nossa.
Um Rolling Stone!
estava conversando no FaceTime com e eu podia ver se espremendo para caber na tela também. As duas, que tinham estado em Londres até sábado, se lamentavam por terem ido embora antes e não estarem conosco para tietar o motivo da nossa manhã extraordinária.
Houve uma certa revolta quando compartilhamos essa informação com elas, para ser honesto.

Flashback
tinha coberto a boca com a mão, em surpresa, e fechou a cara e cruzou os braços.
— E vocês contam isso para a gente assim!? E agora!? — estreitou os olhos, focando diretamente em . Eu, e estávamos jantando com elas, já que as duas voltariam para o Arizona na noite seguinte. — AGORA!?
— Só nos confirmaram isso hoje de manhã... — ele respondeu, dando de ombros, mas parecendo se sentir culpado.
Não era mentira, porém. Apesar de já sabermos desse plano há algum tempo, ninguém responsável por Ronnie Wood havia confirmado sua presença até aquele dia. Até então éramos só dedos cruzado e devaneios de “Já pensou?”. E “Já está muito em cima da hora, acho que não vai rolar.” também.
— Agora não dá tempo de trocar as passagens! — ela choramingou.
— Nós ligamos para vocês do ensaio. Prometo! — falei, porque podia ver que estava mesmo chateada. Ela baixou a guarda e sorriu para mim.
fez que não com a cabeça, ainda sem saber o que dizer.
— Um Rolling Stone!
Nós três concordamos, também sem entender direito como aquilo havia acontecido.
— Que música vocês vão tocar com ele?
Trocamos um olhar e demos de ombros.
— Ainda não sabemos... — respondeu.
Fim do Flashback

Nosso último single havia sido Night Changes, mas ela era lenta demais para aquela ocasião. Por isso, havia uma certa discussão sobre que música do Four deveríamos apresentar com Ronnie.
Louis queria que fosse No Control, que era realmente uma boa opção, mas nem todo mundo estava convencido. Principalmente a equipe do programa, que parecia não ter achado muita graça na letra.
então levantou os olhos do celular, aquela expressão de “Eureka!” estampada no rosto.
— Where do broken hearts go! — exclamou. — Como não pensei nisso antes!?
— Como é essa mesmo? — Helene, nossa instrutora de canto, perguntou. apertou o play na música e segurou o aparelho para frente.
Todo mundo se aglomerou ao redor do celular e um burburinho de aprovação geral correu entre “os adultos”. Era realmente a música perfeita para aquela performance!
Eu vinha tentando pensar o mínimo possível na minha vida pessoal enquanto estava trabalhando, mas de repente a letra pareceu se materializar na minha frente. Por que eu não havia feito essa associação antes?

“Counted all my mistakes and there’s only one standing up on a list of the things I’ve done. All the rest of my crimes don’t come close to the look on your face when I let you go…”

“Try to find you but I just don't know: Where do broken hearts go?”

“Yeah, it took me some time, but I figured out how to fix up a heart that I let down.”

Fazia tanto sentido, que eu me senti zonzo!
Enquanto as pessoas ao meu redor se organizavam para mostrar a música para Ronnie e agilizarem o primeiro ensaio, meu cérebro parecia trabalhar a mil no que podia fazer com aquilo. O desfecho de todas as ideias, por mais desconexas que fossem, era sempre: “A precisa saber que essa música sou eu falando com ela!”

Flashback
esperou até que o assunto na mesa fosse acalorado o suficiente para se dirigir a mim baixinho.
— E aí? Já pensou no que vai fazer? — perguntou. — Sobre a ?
Fazia um tempo desde a nossa última conversa sobre isso. Eu frequentemente tentava perguntar como ela estava, mas também fazia parte da minha nova política de dar espaço para não importunar as amigas dela toda hora. A resposta, de qualquer forma, era sempre “Está bem...”. Elas nunca me diriam mais do que aquilo.
Fiz que não com a cabeça.
— Pensei em escrever uma carta ou algo assim... Algo que não fosse invasivo e que ela pudesse escolher ler ou não. Mas não sei se sou bom em escrever cartas...
Talvez sentindo pena do meu ar derrotado, voluntariou uma informação.
— Louise voltou a falar com ela... estava super feliz!
Sorri, genuinamente alegre em saber que as duas haviam feito as pazes.
— A essa altura, isso é tudo o que eu poderia desejar. — e então mordi os lábios, antes de desafiar meu limite de informações e perguntar. — Vocês ainda vão vê-la antes de irem embora?
balançou a cabeça, em dúvida sobre para onde aquela conversa iria.
— Diz para ela... — mas o que eu queria dizer para assim, via terceiros? Soltei a respiração. — Diz a ela que eu sinto muito.
deu um sorriso solidário e afagou meu ombro.
— Pode deixar!
Fim do flashback

Mas agora era diferente! Agora eu sabia o que queria dizer e não precisava de uma carta... Eu só precisava da atenção de !
E de uma ajudinha para isso, talvez...

Estávamos os cinco em silêncio, o que por si só já era bastante anormal, mas eu com certeza era o que estava com mais medo. Não bastasse a pressão de se apresentar com um Rolling FUCKING Stone, eu ainda tinha inventado aquele plano para somar ao meu nervosismo!
Eu sabia que não seria minha última tentativa, porque não conseguia pensar em desistir. Porém se aquilo não desse certo, minha criatividade tinha acabado. Era uma das nossas melhores músicas novas, falava tudo o que eu queria que ela ouvisse e eu não fazia ideia se teria outra chance de tocá-la em rede nacional. E no momento, aquele era o único modo de chegar até ela.
— Você acha que vai dar certo? — eu perguntei a , enquanto ajeitava o retorno em meus ouvidos.
Ele deu de ombros.
— Não sei, cara... Eu espero que sim! — respondeu, me dando um tapinha nas costas.
— A falou com ela? — era a terceira vez que eu perguntava a mesma coisa, por isso a resposta de veio no tom mais monótono possível.
— Falou, . Depois de relutar um pouco, ela concordou em passar o recado pra .
Fiz que sim com a cabeça, me sentindo mais confiante, e nós cinco entramos no palco, sob aplausos e gritos ensurdecedores, enquanto um vídeo do nosso novo DVD passava nos telões. Nos posicionamos em frente a nossos pedestais e me lançou um olhar encorajador.
Respirei fundo enquanto as palavras “Scream for One Direction” apareciam na tela.
Era a hora.

Eu esperava que entendesse que cada palavra era para ela.


Epílogo

There is nothing that we've done wrong
that can't be made right
We’re neither saints nor sinners
So leave your history behind
Let’s grab a bottle and take it one day at a time
Take it one day at a time
(One day at a time - Sam Smith)



Dezembro, 2014 - Londres, Inglaterra.
Assim que a performance acabou, e os garotos saíram do palco e pararam um pouco no corredor para agradecer Ronnie Wood pela presença e a honra de tocar uma música do One Direction com eles.
Quando Ronnie sumiu em direção à garagem, seguido de seu segurança, os cinco saíram quase correndo para os camarins, se abraçando e comemorando o sucesso daquela apresentação. Havia sido tudo perfeito, muito mais do que haviam imaginado!
No camarim, a festa só aumentou. Os rapazes da banda de apoio, Julian, John e toda a equipe vieram cumprimentá-los pelo sucesso e o cômodo pareceu ser pequeno demais para toda aquela empolgação.
estava de costas para a porta, conversando com Dan, quando ouviu Julian exclamar:
— Menina sumida! Que saudade de você! O que te traz por essas bandas?
Seu coração soube quem era mesmo sem vê-la e deu um solavanco. Se virou para a porta esperançoso e lá estava ela: envolvida no abraço de urso de Julian. Louise estava ao seu lado, com um braço passado por suas costas. Os olhares da maquiadora e de se cruzaram e ela sorriu.
O que aconteceu daí em diante passou como em câmera lenta para o rapaz. Ele acabou se esquecendo da conversa que estava tendo com Dan e manteve sua atenção nela. Mais pessoas se viraram para observar a porta. John também foi cumprimentá-la, assim como Caroline e as meninas da produção. parecia decidida a não olhar para ele, o que fazia se sentir esquisito. O que significava ela estar ali? Era bom? Era sua chance? Ou a garota só tinha vindo pedir pessoalmente que ele a deixasse em paz?
O rapaz estava desesperado para ir até lá, mas também temia o que iria acontecer, por isso deixou que todos passassem a sua frente. Seus companheiros de banda pareciam tão confusos quanto ele. se aproximou, coçando a nuca.
não me falou que ela viria… — disse, como se pedisse desculpas.
Mas sorriu.
— Ela não diria mesmo se soubesse. Está tudo bem, cara…
— E aí? — perguntou.
riu de nervoso e deu de ombros.
— Acho que agora é o momento que eu desejei esse tempo todo, né?
deu um tapinha em suas costas e aproveitou para empurrá-lo de leve.
— Então vai lá!
As pessoas já voltavam a suas rodas de conversa e se dispersavam ao redor de . respirou fundo e atravessou o camarim em direção a ela e Lou.
— Hey… — chamou, fazendo as duas olharem para ele. Louise soltou-se de e ameaçou sair de perto deles, mas a garota segurou seu braço. Aquilo era um mau sinal, não era?
— Oi, querido! — Lou falou, por fim, para quebrar o gelo. — Eu… Trouxe alguém para ver a apresentação de hoje. Espero que você não se importe…
— Não, claro que não! Muito obrigado, Lou! — ele sorriu para a amiga e seus olhos caíram em . Não era capaz de ler sua expressão. Ela própria não parecia saber se queria estar ali ou não. — Você gostou, ? — perguntou. Ainda que aquela fosse uma pergunta básica, que nada tinha a ver com o histórico dos dois, prendeu a respiração. Seriam as primeiras palavras que trocariam desde aquele telefonema em Miami. Esperava que dessa vez as coisas dessem mais certo para ele.
Mas enfim, sorriu. Timidamente, se encolhendo para perto de Louise. Mas ela sorria.
— Foi incrível! Vocês estavam ótimos e a participação do Ronnie foi muito legal! — falou, um ar de animação em sua voz.
E então se lembrou porque havia se metido naquela situação toda. Ela era linda e doce e ele estava sim completamente apaixonado por ela.
— Foi aterrorizante! Acho que eu nem me lembro direito da apresentação toda! — o garoto respondeu e eles riram juntos.
Seus olhos se encontraram e ele soube que era hora de resolver aquilo. Para seu alívio, se soltou de Louise e abaixou os olhos, segurando um braço com o outro.
… — ela começou, mas o rapaz sabia que, o que quer que fosse acontecer naquela noite, não queria estar em uma sala cheia de gente quando conversasse com ela.
, eu quero muito falar com você… Será que a gente pode ir para outro lugar, por favor? — perguntou apressado, apontando para a porta. A garota fez que sim com a cabeça e se virou para Lou uma última vez. A prima pareceu encorajá-la com um aceno.
Andaram em direção à saída e ouviu Julian soltar um “Ah!”, como se tivesse entendido algo. E então, de repente, os dois estavam sozinhos no corredor silencioso.
O rapaz olhou em volta e decidiu que o melhor lugar para conversarem seria o camarim de Simon (que ainda estava gravando a final do X Factor e, portanto, não voltaria tão cedo). Sem pensar muito, segurou a mão de , conduzindo-a até lá.
não estava preparada para aquele contato físico tão precoce. Pensou em soltar suas mãos, mas pareceu ser incapaz disso porque, voluntaria ou involuntariamente, ele passava o polegar pelas costas de sua mão. Era reconfortante, quase como se transcendesse o contato físico. E ela se lembrou porque havia se metido naquela situação toda, para começo de conversa. transbordava ternura até inconscientemente.
Entraram no cômodo, se desvencilharam e se permitiu vagar pelo lugar, evitando encará-lo.
— Eu não… Sabia que você viria hoje. Não sabia se tinha recebido meu recado. — ele tentou, observando-a morder os lábios antes de responder.
me contou sobre a música, sobre o que você tinha dito. E… Lou me pediu para vir, quando falei com ela... Para decidir aqui se eu queria ou não falar com você.
fez que sim com a cabeça, ficando mais ansioso a cada segundo para descobrir o que tudo isso significava. Mas não a pressionou ou chamou sua atenção. Deixou que continuasse vagando pelo camarim e inevitavelmente voltasse para ficar de frente para ele.
— Fico feliz que está tudo bem entre você e a Lou. — o rapaz falou, sorrindo de lábios fechados.
Ele parecia nervoso também, notou. Mas não conseguia olhá-lo por muito tempo; era dolorido olhar para o rosto de . Se lembrava das muitas vezes que tinha perdido seu olhar nele alguns meses atrás. As vezes em que se sentia errada em fazê-lo, pois ele era tão inalcançável. As vezes em que pode olhar para cada pintinha de seu rosto, tão perto do seu, e decorá-las. A vez em que ele entrou em seu quarto para pedir desculpas por algo que não parecia querer consertar.
— Sim. Nós conversamos e ela entendeu o que houve. Bom… Pelo menos assim espero. — disse. — Ela me contou que vocês conversaram também.
— Eu não podia deixar o relacionamento de vocês ir por água abaixo por minha causa. Eu já tinha dado prejuízo demais na sua vida…
fez que sim com a cabeça. Percebeu que continuava procurando seus olhos e levantou o rosto.
— Também soube que foi você quem pediu ao Julian para me arranjar um estágio no estúdio… Obrigada. Mesmo! — os dois sorriram.
— Imagina. Só estava tentando remendar alguns erros. — ele disse, dando de ombros. — Tornar sua vida um pouco menos difícil depois de tudo o que eu fiz. Como está lá?
Pela primeira vez sentiu que ela dava um sorriso 100% verdadeiro.
— Maravilhoso! Tenho aprendido muito!
sorriu também. Ele tinha as duas mãos para trás, se segurando para não tocá-la, não segurar suas mãos de novo.
— Que bom! Eles tem sorte de ter você como estagiária! — respondeu, de modo terno.
Houve um silêncio talvez um pouco longo demais e suspirou.
… — tentou, pela segunda vez naquela noite.
Mas ele a interrompeu de novo. Não estava pronto para ouvir seu veredito sem dizer tudo o que precisava.
— Não, … Por favor! Posso falar primeiro? Eu preciso te dizer tanta coisa! Eu não sei se você decidiu o que quer ainda, mas me deixa pedir desculpas e te explicar tudo antes.
Ela fez que sim com a cabeça, voltando ao modo calado que exibia quando entraram ali. respirou fundo de novo.
— Em primeiro lugar… Me desculpe por ter sido um imbecil nos últimos meses, . Por ter te colocado numa saia justa tão grande, ter sido o motivo de você desistir da tour e voltar para a Inglaterra, ter confundido os sinais, não ter sido honesto com você. E depois… Por ter te perturbado e ter contado para Louise e criado outra confusão. — ele riu meio sem humor. Ao listar todos seus erros, percebeu que eram muitos. E que não havia porque o perdoar. — São tantos os motivos que eu nem sei se esses são todos. Mas eu quero que você saiba que eu estou arrependido de tudo! Que foi horrível viver todos esses dias sem poder te pedir desculpas pessoalmente e que era por isso que eu estava sempre tentando falar contigo.
, eu já tinha te dito em Chicago. Te perdoar ou não, não faz diferença!
— Para mim faz! — ele retrucou. — Eu preciso saber que, apesar de tudo, as coisas podem ter um ‘daqui para frente’. Que existe uma esperança… E eu não posso te pedir uma segunda chance sem ser perdoado primeiro.
— Eu queria que fosse mais fácil. — respondeu. Ainda se sentia insegura sobre tudo. — Mas você não entende como foi um inferno viver com a culpa e esse sentimento de coisas mal resolvidas por tanto tempo!
— Eu estou aqui para te escutar. Se for fazer você se sentir melhor… Qualquer coisa para a gente se resolver! — ele respondeu, dando um passo para frente. Seus olhos cravados nela, como se nada no mundo pudesse desviar sua atenção naquele momento.
— Nós traímos sua namorada, ! E eu sabia que você tinha alguém. Eu sei que não sou a vítima aqui! O ponto não é esse. Mas vocês nem pareciam um casal em crise, sabe? — estava dizendo tudo o que havia passado aqueles meses todos pensando. Até os detalhes mais ridículos. Se iam se acertar, precisavam passar por aquilo. Se não fosse possível, então não deviam nem tentar, de qualquer forma. — Quando encontrei vocês na cantina… Eu… Eu só conseguia pensar que você estava segurando a mão dela e fazendo carinho como fazia comigo! Que eu não tinha ideia do que era real e o que era só encenação!
— Nada entre eu e você foi encenação, ! Nunca! Eu confesso que vivi grande parte daquele dia em Chicago no piloto automático. Eu nem reparei se eu e Abby estávamos de mãos dadas ou não. Eu só não queria levantar nenhuma suspeita. Os meninos já estavam sendo indiscretos o suficiente! Eu só queria ir falar com você assim que pudesse, porque eu tinha sido covarde demais naquela madrugada. Era a única coisa passando na minha cabeça!
— Ela parece ser uma garota maravilhosa… — falou, mordendo os lábios.
— E ela é. Mas não era para ficarmos juntos. Eu não estava totalmente investido, eu estava com a guarda tão baixa que você passou por cima de tudo sem eu nem perceber. E não era justo com a Abby ter um namorado assim. Não é justo com ninguém. — concluiu, dando de ombros. — Porque é você quem eu quero. E eu fui idiota demais por não ter resolvido isso naquela mesma noite! Eu não devia ter voltado para o quarto com ela. E eu voltei.
— Você voltou. — falou, ressentida.
queria abraçá-la. Não queria fazê-la reviver aquele dia de novo.
— Eu fui um covarde. — ele repetiu. — E talvez eu tenha esperado demais, mas foi porque eu achei que poderia só estar em uma bolha do que achava estar sentindo por você. Me disseram que era só isso. Mas o sentimento não passou! Quando eu contei para Abby o que havia feito, eu tinha certeza que queria pedir desculpas, mas que não queria continuar aquele namoro. Só havia você, .
entendia bem o que ele queria dizer. Também tinha achado que só o que doía era a humilhação do que tinha acontecido. O fracasso da tour. Mas então ela foi chamada para o estágio no estúdio, ela e Lou se acertaram... A vida voltou nos eixos.
E ainda doía. Doía não tê-lo. Doía achar que tudo tinha sido mentira. Estava constantemente sonhando com o sorriso dele, seus olhos e sua voz, com a noite que tinham passado juntos…
Ela suspirou outra vez. Sabia do arrependimento dele. Sabia porque e Louise haviam contado o estado em que tinha estado durante todo o resto da turnê. Sobre o término com a Abby. Tinha visto suas tentativas de “remendar os erros”, como havia dito. Até achava que estava pronta para perdoá-lo, mas ainda havia algo.
Ela tinha medo.
— Eu não posso passar por tudo isso de novo, ! — disse. — Não consigo…
— Não vai ser nada como o que já passou, . Vai ser certo, sem nos esconder pelos cantos, sem meias verdades. Eu te prometo!
Ela mordeu o lábio inferior, desviando o olhar mais uma vez.
— Eu não quero ser hipócrita, mas como eu vou saber se o que aconteceu com a gente não vai acontecer de novo? Se eu não vou ser a Abby da próxima vez? Você não pode me garantir que vai dar certo com tanta certeza!
balançou a cabeça vigorosamente.
— Eu não posso prever o futuro, é verdade. Eu não posso te dizer que vai durar para sempre. Mas uma coisa eu te garanto, : Eu aprendi com os meus erros. Eu magoei pessoas muito especiais sendo estúpido e imprudente e não quero nunca mais causar isso em ninguém. Especialmente em você! Por favor… Me deixa te mostrar que eu aprendi e que eu posso ser o cara que você merece! Que merecia desde o começo!
— Você vai para a Austrália mês que vem… — lembrou e entendeu onde estava o problema. Entrelaçou seus dedos nos dela de novo e distribuiu beijos em suas mãos.
— Não vai acontecer com você o que aconteceu com a Abby, . Não importa em que pedaço do mundo eu esteja. Você pode ir comigo, você pode ficar aqui… Nada vai mudar. Nada do que eu disse hoje. — ele prometeu, fazendo uma das ruguinhas na testa dela sumirem. — O que eu senti por você desde o começo é real. Eu te disse em Chicago e te digo aqui de novo, três meses depois: Eu estou apaixonado por você! De verdade!
— As coisas na tour foram como um furacão, . Nós nem sabemos se funcionamos juntos…
Ela tinha razão, mas também já tinha pensado sobre aquilo. Tinha pensado em tudo que dizia respeito aos dois.
— Então nós testamos se damos certo ou não. Nós saímos, você me conta como sua vida tem sido… Você se lembra de Nashville? Nós dois bebendo e conversando sobre tudo? Pode ser sempre como aquela noite. De preferência sem o Paul me atrapalhando quando eu tentar te beijar...
Ela deu uma risadinha e abaixou os olhos, mas virou o rosto tentando trazê-los de volta. Quando ambos se encararam, ele ergueu as sobrancelhas como se perguntasse silenciosamente se podiam tentar.
— Por favor, ! Nós podemos fazer dar certo. Um dia de cada vez.
Um dia de cada vez.
pensou sobre isso. Não podia negar que queria saber se podiam mesmo ser um casal. Se tudo o que havia sentido naqueles poucos dias em agosto seria capaz de sobreviver à vida real. À rotina e monotonia da vida real.
E mais do que isso. Ela queria fazer funcionar. Porque era incrível o que acontecia dentro dela só em ter segurando suas mãos. Ou ser o foco de sua atenção. Era como tomar um banho quente depois de passar horas na chuva gelada.
E acreditava nisso. No que sentia, no que ele estava dizendo, no futuro deles juntos.
O movimento de cabeça afirmativo que fez foi mínimo, como se ainda tivesse medo, mas estivesse seguindo seu coração de qualquer forma. não precisou de nada mais explícito, de qualquer forma.
Soltou suas mãos e passou os braços pela cintura dela. não relutou e pousou as mãos em seu peito. Ele chegou sua cabeça mais perto, distribuindo beijos no rosto dela lentamente. Tentando fechar cada uma das feridas que ele mesmo tinha feito cada vez que seus lábios tocavam a pele dela. sorria de olhos fechados, fazendo-o sentir um alívio imenso.
parou por um segundo antes de fazer o que estava tão desesperado para fazer. A garota abriu os olhos enquanto suas mãos deslizavam para abraçar o pescoço dele.
— Obrigada por vir. Por me dar essa chance. — ele disse.
— Não me machuca de novo, por favor! — pediu, brincando com o cabelo do rapaz perto da nuca, e sentiu apertar o abraço em torno dela.
— Eu não vou. — ele respondeu sério, encarando-a com aqueles olhos que ela já adorava tanto e tinham feito uma falta imensa. — Eu prometo!
Dessa vez o “sim” com a cabeça de foi mais pronunciado e os dois sorriram um para o outro, antes que ele finalmente abaixasse a cabeça para beijá-la.
Dessa vez poderia beijá-la sem culpa nenhuma. Com o coração ansioso apenas pelo que estava por vir. Dessa vez tinha a pessoa certa no momento certo. E ele faria de tudo para compensá-la pela cilada em que tinha a colocado. Por quanto tempo ela quisesse.


Fim



Nota da autora: *Coros de aleluia* Vocês acreditam que essa continuação saiu? NEM EU! Mas eu prometi Trap 2 quando o Sam Smith lançasse o segundo álbum e eu sou uma mulher de palavra (ele deve estar quase lançando o terceiro já, mas relevem)!
Trap 2 passou por milhares de bloqueios criativos e procrastinações nos últimos... Não sei, dois anos? Mas quando eu recebi o e-mail da equipe do Ffobs me convidando para esse especial All Stars, eu me senti lisonjeada demais e decidi que finalmente terminaria essa novela fanfic. Que só ela seria especial o bastante para participar.
Como eu disse na descrição, eu sei que o que todo mundo queria saber era o que acontecia depois do X Factor. Mas na minha cabeça, desde que Trap 1 acabou, essa era a forma de terminar de contar a história. Além disso, muita coisa mudou desde 2014 (quando escrevi a primeira fic)... Eu mudei muito. Gosto muito de Trap, é um dos meus xodózinhos, mas não sei se hoje em dia eu escreveria uma fanfic onde o casal principal está traindo outra pessoa ao ficar junto. Por isso, para escrever o final de Trap 2, eu precisava antes falar sobre o que se passou no intervalo de tempo que foi escondido na primeira parte. Traição continua sendo errado, mas eu precisava pelo menos tentar redimir o protagonista (e fazer ele sofrer um pouco) antes de dizer se a pp o aceitou de volta ou não. E por isso “The in between”. Sobre como os diferentes POVs da fanfic foram pensandos, eu queria contar sobre o resto da tour de um ponto de vista de dentro, mas que não fosse na voz do protagonista… E aí pensei em ter a amiga groupie como a narradora, o que também me dava oportunidade de aprofundar a história das duas, que eu gosto tanto. Já na segunda parte, eu pensei que seria justo também ver algumas partes de Trap 1 contadas pelo membro do 1D. De alguma forma, eu sentia falta em Trap 1 de falar sobre ele, sobre os sentimentos dele. E aqui foi o lugar para isso.
Espero que esteja bom, que tenha valido esses 5 anos de espera! Por favor, por favoooor, me contem o que vocês acharam (mesmo se for pra esculachar... Eu mereço).
Queria agradecer especialmente à paciência, incentivo e toda a ajuda que a Thatha e a Liih me deram escrevendo essa continuação. Elas foram essenciais para a fic sair! E também à Fla Coelho por essas capas lindas e combinando de Trap 1 e 2!
E, claro, muuuuuuito obrigada a vocês leitoras que sempre demonstraram tanto carinho por Trap! E por todas as minhas outras fanfics também, na verdade (especialmente When you’re ready, que foi indicada como Shortfic do mês e me fez receber o convite para esse Especial)! Vocês são sempre muito gentis e fofas e sempre me fazem sorrir com cada comentário!
Obrigada por nunca terem desistido dessa história e insistirem mesmo quando eu tinha certeza que não escreveria. Espero que tenha valido a pena esperar!
Próxima promessa é a continução de Flicker e o spin off da Angie… Será que sai antes de 2030? Hahahahaha
Até a próxima! ;)





Outras Fanfics:
Trap (1D/Finalizada)
When you’re ready (Atores - Noah Centineo/Finalizada)
08. Flicker (Ficstape Flicker/Finalizada)
On the third floor (1D/Em Andamento)
04. When we were young (Ficstape 25/Finalizada)
Daydreamer (Outros/Finalizada)
Someone like you (Outros/Finalizada)
06. Glasgow (Ficstape Catfish and the Bottlemen/Finalizada)
08. Sound of Reverie (Fictape Lovely Little Lonely/ Finalizada)
09. Then there’s you (Ficstape Nine Track Mind/Finalizada)
10. Here we go again (Ficstape Turn it up/Finalizada)
While my guitar gently weeps (Outros/Finalizada)


Que eu sou uma mega fã de Trap, isso não é segredo para ninguém, mas nunca, em meus sonhos mais doidos, imaginei que eu seria beta do site, e a responsável por betar a continuação dessa história. Obrigada por confiar em mim, Lari. ♥ Obrigada por essa história maravilhosa, que teve um fim lindo e, muito obrigada por deixar eu ser um personagem nessa história que eu sou apaixonada. Já estou ficando repetitiva, mas não tem como não ser. Arrasou como sempre, parabéns! Saudades de você!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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