Enviada em: 12/10/2021

Capítulo Único

Sempre que jornalistas, funcionários e fãs viam andando pelos bastidores de um Grand Prix, local mais conhecido como paddock, eles o viam com o semblante sério, compenetrado. O piloto parecia apenas focado no trabalho que teria durante o fim de semana e nada mais.
Podia ser com, Angela, sua fisioterapeuta, melhor amiga e braço direito ou com, Roscoe, seu buldogue inglês e companheiro de todas as horas, sua expressão parecia nunca mudar. Porém, o que quase ninguém notava era o pequeno sorriso que ele mantinha sempre que fazia os diversos caminhos pelos autódromos da Europa, a caminho do centro médico. A caminho de .

Eram raras as vezes que seus passos não eram acompanhados, por isso sempre tentava ao máximo ser discreto. Ele não queria que soubessem o motivo de tanto ir ao local. Mais ainda, não queria estragar algo que nem ele sabia se existia ou se estava completamente em sua cabeça.

, apelidada carinhosamente por ele de , era uma das médicas que viajavam com a equipe da FIA. Mas para seu azar, ou sorte, ela apenas acompanhava o calendário da F1 pela Europa.

não se lembrava mais qual circuito, mas recordava perfeitamente quando a viu pela primeira vez, quase dois anos atrás, em um dos muitos paddocks que frequentava desde 2007. A mulher conversava com Alan van der Merwe e Ian Roberts, motorista e médico responsáveis pelo safety car , e foi a risada dela que chamou sua atenção de primeira. Divertida, contagiante, foi impossível não se virar para o som que tomou conta de toda sua concentração. Mas o que o piloto não esperava era o rosto, corpo e personalidade que viriam acompanhados daquele som.
Eloisa era apenas… .
Impossível de descrever em palavras, mesmo que depois de tanto tempo, pudesse detalhar com uma precisão vergonhosa cada pedacinho de seu corpo e personalidade.

Seus cabelos, que invariavelmente estavam lisos com escova, embora ele os preferisse cacheados naturalmente. A forma que seu cenho franzia ao vê-lo entrar no centro médico e como ela relaxava os ombros ao ver que ele estava ali somente para conversar com ela.
A cicatriz em sua perna que havia demorado tempo demais para que ele a descobrisse e mais ainda para que ela contasse o motivo a ele.
Não porque era um segredo, tinha apenas caído quando adolescente, mas porque desde o dia que se conheceram, era sua maior fraqueza e seu maior enigma. Ela adorava colocá-lo em seu lugar e ele não se importava nem um pouco com aquilo.
Se dependesse de já teriam dividido a cama uma, duas, milhões de vezes, mas infelizmente para ele, os dois nunca passavam dos flertes nos fins de semana de corrida.

Embora tivesse o seu telefone, eles não se falavam tanto quanto ele gostaria e por mais que, por vezes, tivesse absoluta certeza que ela também tinha interesse nele, sempre que seus flertes avançavam um pouco além do limite da amizade, se retraia e ele perdia toda confiança e certeza se realmente havia algo ali.

Nem por isso se frustrava, era refrescante e bem vinda como uma chuva de verão e além de Angela, era a única pessoa que realmente gostava e queria ver em seus dias de corrida. Toda a tensão em seu corpo e mente se dissipavam e era aquela gostosa sensação que buscava mais uma vez, ao entrar no centro médico naquela manhã.

— Vai me dizer que se arranhou de novo e precisa de um band-aid? — A mulher perguntou debochada assim que o viu e precisou de um segundo para se lembrar de como sua memória nunca fazia justiça à realidade. era ainda mais linda ao vivo. — Já falei que se um dia o Toto vier aqui brigar comigo por te tratar sem autorização, eu te processo e peço o Roscoe como indenização.

Os primeiros segundos que a via eram sempre iguais, seu cheiro preenchia sua alma e sua energia aquecia o seu coração. Era preciso apenas alguns segundos em sua presença para que ele se sentisse bem, em paz.
Fora aquela mesma sensação, dois anos antes, que o havia feito se intrometer na conversa dela com os médicos do safety car.

Era claro que tinha dado uma desculpa qualquer para descobrir mais sobre a mulher. Alan, notando seu interesse, havia lhe dado algumas informações além das profissionais, mas não o suficiente para que matasse sua curiosidade por completo. E era por isso que ele tinha fingido uma dor na mão inexistente, que até os dias atuais ela insistia ser falsa e ele jurava, entre risadas e de pés juntos, que não tinha mentido.
A amizade com era fácil, desde a primeira conversa ele conseguiu ser surpreendentemente apenas ele. E aquilo para alguém como era valioso. Tão valioso que se viu já no dia seguinte com um café em mãos e Coco e Roscoe ao seu lado, indo a caminho dela. Cachorros eram sempre uma boa desculpa para se iniciar uma conversa com alguém e não havia sido diferente com eles.
Assim que viu seus cães, abriu um sorriso bonito e sincero e se agachou para brincar com eles. A tinha avisado, antes mesmo que seus joelhos tocassem o chão, que Coco e Roscoe babavam em tudo e todos, e mesmo assim ela não se importou. Mesmo com sua roupa de trabalho coberta com a saliva de seus cachorros… não se importou.

Naquele dia o piloto já poderia se dizer encantado, intrigado, mas foram as pequenas atitudes que passou a notar ao longo daquele final de semana e dos que vieram a seguir, que o fizeram perceber que as coisas com ela não seriam nada passageiras. Aquilo ia muito além de um simples desejo sexual.
Adorava os flertes, as brincadeiras cheias de segundas intenções e a forma como seus olhares sempre se encontravam, mesmo que estivessem no meio das centenas de pessoas que frequentavam os paddocks todos os finais de semana. Mas com o passar dos dias, passou a adorar ainda mais quem era por dentro, além de sua personalidade invejável, admirava a profissional que ela era e como ela colocava cuidado e carinho em tudo que fazia e com todos que conversava. parecia saber o nome de todo mundo, funcionários, jornalistas, até mesmo de membros de sua equipe que ele vergonhosamente não se lembrava sempre.

Teve certeza que ela mexia com ele pra valer, quando num certo dia, depois de meses insistindo, ela finalmente aceitou sua carona para o autódromo. a buscou no hotel com Coco e Roscoe e sugeriu um passeio com os cães antes de seguirem para o local. Como imaginara, prontamente aceitou, sem nem perceber que aquele era exatamente o seu plano. Porém, numa brincadeira um pouco mais bruta com seus cães, Roscoe acabou mordendo seu antebraço um pouco mais forte que o normal, o fazendo sangrar.
Os danos foram mínimos, apenas alguns pontinhos dos dentes do animal em seu braço, mas mesmo que jurasse estar bem e acostumado com aquilo, o obrigou a segui-la até o seu quarto de hotel e com todo o cuidado do mundo limpou seu machucado. Mas foi quando ela colocou um band aid do tom negro de sua pele na parte mais funda da ferida, que ele se viu definitivamente intrigado. Levantou uma sobrancelha para ela, que não percebeu que aquilo, que deveria ser uma ato tão normal, havia surpreendido .
Ele tinha passado por tanto até chegar ali, ainda passava por tanto, que pequenos gestos como aquele faziam a diferença e com que ele tivesse a certeza que lutar por igualdade nunca seria em vão.

? — estava parada à sua frente com um olhar de interrogação — Tá tudo bem? - perguntou com um leve tom de preocupação em sua voz, o que o fez dar uma risadinha.
— Sim! — respondeu saindo de seu transe — Só vim te dar oi, não queria que você morresse de saudade.
— Eu te vi não faz nem cinco dias! — exclamou rindo, voltando ao trabalho ao ter certeza que ele não precisava de nada dela como profissional.
— Bem, talvez eu tenha sentido falta de te ver. — soltou no ar, já esperando uma de suas respostas, cortando suas tentativas.
— Mas disso eu tenho certeza, desde aquela sua "mão machucada" que eu sei que você só aparece aqui pra apreciar a minha beleza. — piscou para ele. — E cadê o Roscoe? Eu estou com saudade das babas dele estragando todas as minhas roupas.
— Com a Angela, ele não pode entrar aqui e não sabia se você poderia sair.
— Certo. - viu o sorriso de murchar, a mulher amava passar horas brincando com seus buldogues. Ainda se lembrava com carinho das palavras, do abraço e do quadro que recebeu da médica quando Coco faleceu repentinamente.
— Eu posso trazer ele mais tarde. — sugeriu, jogando as palavras no ar.
— Sério?! — se virou pra ele animada e aquilo fez o coração de se preencher — Eu fiz uns biscoitos pra ele…..naturais e veganos. - achou importante ressaltar e sem perceber abriu o sorriso que mais amava ver.

Um sorriso tranquilo, verdadeiro.
O que ele raramente dava, fosse em público ou longe dos holofotes.
Sorrindo, rendido, assentiu.

— Quer que eu arrume pra você? — perguntou recebendo um olhar confuso do piloto. — Sua trança, você não para de mexer nela, está doendo?
— Eu refiz essa semana, essa está doendo mais que o normal.
— Eu posso refazer.
— E você sabe como? — retrucou de imediato, surpreso com a oferta.
— Senta aqui — disse autoritária e ele sequer ousou argumentar. sorriu vencedora e , rindo, balançou a cabeça de um lado para o outro, aceitando que quando se tratava deles, ele nunca venceria.

Enquanto desfazia sua trança com uma habilidade impressionante, contava sobre uma das peripécias que seu sobrinho tinha aprontado durante a semana, alheia ao olhar que tinha sob ela, impressionado e surpreso com o que ela fazia, porém perdido mais uma vez. Eram raras as vezes em que eles ficavam tão próximos por tanto tempo.
Às vezes, achava que o que sentia por ela era apenas amizade e que era sua carência, por estar há tanto tempo solteiro, que o fazia crer que queria algo a mais, mas eram em momentos como aquele, sentindo o toque delicado de seus dedos em seu cabelo, ouvindo uma de suas muitas histórias que sempre o deixavam com um sorriso enorme no rosto, que fazia com que a eterna dúvida voltasse a sua mente. A cada vez que se encontravam ele tinha mais certeza que o que sentia por ela era além, além de uma noite, além da amizade.
E estar tão próximo dela, o fazia sonhar com a liberdade de envolvê-la em seus braços sem ter que pedir permissão, beijar seus lábios sem medo de ser rejeitado.

fechou os olhos, querendo memorizar cada detalhe daquele momento.
Se perguntando se um dia teriam a chance de ser algo a mais.
Se perguntando se deveriam ser algo a mais.

Embora quisesse muito descobrir como seriam juntos, o medo de perder o que haviam conquistado era maior. não estava disposto a pagar para ver, caso se tornassem algo a mais e não desse certo.
Só de pensar no assunto, sentia seu coração murchar e tentava mais uma vez, ajustar suas expectativas, que no final das contas, e juntos, deveria existir apenas em sua cabeça, pois perdê-la por completo não era algo que ele sequer conseguia cogitar.

— Terminei — disse o tirando de seus devaneios e pegou o pequeno espelho que ela lhe ofereceu, não conseguindo esconder a surpresa no olhar ao ver sua trança tradicional tão bem feita como as outras, mas com o bônus de não mais sentir sua cabeça latejando naquela parte.
— Wow, não é que ficou bom mesmo! — comentou tirando uma risada de , que sacou o celular de seu bolso, procurando por alguma coisa.
— Minha família — Ela lhe entregou seu celular com o Instagram aberto na tela e o piloto ergueu a sobrancelha confuso. — Não me lembro do meu pai biológico — explicou com indiferença na voz. Aquilo parecia responder muitas de suas perguntas nunca verbalizadas — Esses são o meu pai e meus irmãos. — apontou para um senhor que ela abraçava e mais dois homens e uma mulher, todos negros — Minha mãe se casou com ele quando eu tinha cinco anos, ele me adotou oficialmente quando fiz quinze. — acrescentou com os olhos cheios de amor e carinho para a foto. desejou internamente que um dia ela lhe olhasse daquela forma também.
— Eu não… Imaginava. Mas faz todo o sentido agora — disse com o olhar ainda preso na foto.
— Você acha que agora já consegue relaxar os ombros? — perguntou direta, o fazendo rir, não percebeu o quanto estava tenso. Mesmo aceitando que ela o ajudasse com sua trança, porque ele sabia que jamais conseguia negar algo a ela, internamente se perguntava se conseguiria achar alguém para arrumar seu cabelo ainda naquele dia.
— Desculpe — riu, abaixando a cabeça novamente, se deliciando com a massagem leve que ela fazia em seus ombros. — Eu achei que era só uma desculpa para chegar perto de mim, eu já disse que não precisa pedir. — sugeriu dando uma piscadinha, tirando uma gargalhada contagiante de .
— Isso quem faz é você — ela retrucou de imediato e a acompanhou na risada — São muitos anos "trabalhando" como assistente de cabeleireiro da família, minha irmã tem seu próprio salão em North London . Passei a adolescência toda ajudando eles com as tranças e penteados.
— Eu não acredito que demorou dois anos pra você me mostrar sua família — reclamou, fingindo indignação — Você até já conheceu meu pai e eu continuo aqui, esperando ser aceito. — riu, indo sem permissão até a parte do aplicativo onde viu o seu pedido para segui-la ainda pendente e aceitou sem o menor pudor.
— Ei! — reclamou, mas riu ao dizer — Eu não tenho problemas com você me seguir, só gostava de te ver implorar para ser aceito — deu de ombros, com um sorriso que sempre tirava do eixo. — Só cuidado para não curtir nenhuma foto minha de anos atrás quando estiver me stalkeando, você pode acabar revelando essa paixonite secreta que tem por mim.
— E quem disse que é secreta?

— X —

De volta à Europa, mais especificamente em Nürburgring na Alemanha, em um dos circuitos mais famosos da Fórmula 1, tinha apenas dois objetivos em mente: ganhar seu 91° Grand Prix e por tabela, equalizar o número de vitórias de Michael Schumacher e ver .
Após uma tumultuada corrida na Rússia, onde mesmo tendo que cumprir duas penalidades e cair para a 11a posição, conseguiu com experiência e maestria, além de um ótimo carro, terminar no pódio, ainda que fosse em 3° lugar, ele estava confiante para aquela nova etapa.
Ao sair do motorhome da Mercedes para cumprir suas obrigações com a mídia, o piloto deu de cara com conversando com Angela e a antiga sensação que surgiu na boca do seu estômago o assustou.
Eram raras as vezes que saia do centro médico e ainda mais raras as vezes que eram para vê-lo, por isso sua primeira reação foi de confusão, com certeza não era nada demais, apenas o susto de vê-la num lugar diferente do que estava acostumado. Há anos que não sentia nada parecido e não achava que validava aquela sensação, mas bastou ela perceber sua presença e abrir um enorme sorriso para ele, para que o embrulho lhe parecesse mais como um soco no estômago. Era oficial, estava se apaixonando por .
Com um sorriso discreto no rosto, o piloto se aproximou devagar, tentando manter a pose relaxada que ele demonstrava por onde passava, mesmo que sua mente e coração estivessem vivenciando um turbilhão.
Angela, que apesar de ter iniciado sua carreira com como sua fisioterapeuta, ao longo dos anos tinha se tornado também sua melhor amiga, braço direito e alguém que ele fazia questão de ter ao seu lado em todos os momentos de sua vida, riu ao ver ele congelar no lugar por alguns segundos. Se tinha alguém que o conhecia bem era ela.
Antes mesmo dele sequer verbalizar, já tinha percebido sua paixonite por e sempre o incentivava a chamá-la para sair.

— Estávamos conversando sobre o GP da Rússia e os segundos que você teve que servir — Angela comentou quando ele nada disse.
— Você assistiu? — perguntou, tentando controlar seus pensamentos, precisaria de tempo para assimilar sua nova descoberta.
— Mas é claro que sim, mesmo que eu não quisesse, você sabe como meu pai não perde um GP e sempre que eu estou lá, ou assisto e providencio os comentários ou aguento ele emburrado pelo resto do dia. Ainda não acredito que você chegou ao pódio, aliás, acredito, se fosse outro piloto não sei se teria conseguido o mesmo.
— Tem vários pilotos que conseguiriam, o Perez mesmo é um deles.
— Sempre humilde e chato, não deixa nem a gente te elogiar — rolou os olhos, rindo com Angela. Ele gostava de como as duas se davam bem.
! — o piloto se virou para a voz que o chamava e encontrou Sally, sua publicista, apontando para o relógio um pouco impaciente.
— Eu vou segurar a Sally pra dar uma chance de vocês matarem a saudade — Angela deu uma piscada para e foi de encontro a mulher para deixar os dois um pouco a sós.
— Sally é a publicista que te acompanha nas corridas, né? — perguntou um pouco sem graça, ainda surpresa com as palavras de Angela e continuou quando assentiu — É melhor eu ir então, não quero te atrapalhar.
— Você queria falar comigo? — perguntou curioso, mas logo se viu preocupado — Tá tudo bem? Pra te ver longe do centro médico deve ter algo muito errado acontecendo.
— Não é nada demais — riu com o jeito de — Vai trabalhar e nos falamos depois.
— Eu sempre tenho tempo pra você, — afirmou sem tirar os olhos do dela e desviou o olhar envergonhada. Ponto para ele. — … Pode confessar, você realmente veio matar as saudades.
— Mas é claro que sim, você sabe que só trabalho aqui pra te ver.
— Você nunca me contou porque só viaja pela Europa.
— Ah é fácil, dinheiro. A FIA acha mais barato contratar médicos locais fora daqui, só os mais importantes acabam viajando em todas as etapas, mas pra mim funciona bem. — além de atender a F1, trabalhava para outras categorias e esportes de alto risco.
— Pra mim não — disse pensando alto — Você poderia vir trabalhar na Mercedes.
— Jamais, eu não consigo fazer uma coisa só, rotina pra mim não funciona. Enfim, isso é assunto pra outra hora, eu só queria te desejar boa sorte pra hoje, sei que é um dia especial. Sei que você não precisa que te desejem sorte alguma, muito menos a minha, mas sei lá… Que você tenha uma corrida segura e vitoriosa — soltou se embolando nas palavras. nunca a tinha visto daquela forma.
— Você vai torcer por mim?
— Você sabe que sim — respondeu se aproximando incerta, mas mesmo assim o convidou para um abraço que o pegou de surpresa.

Aquele era o primeiro abraço de verdade deles. Um abraço que, mesmo estando no meio de uma multidão, fez com que sentisse que só havia eles dois no local. Sem querer perder a oportunidade, ele apertou ainda mais seus braços envolta dela, a segurando contra si como se nunca quisesse largar, memorizando sua forma e o seu perfume, que agora ficaria preso em suas roupas e mente por um bom tempo.

E com aquele abraço sabia que vencendo ou não aquela corrida, o dia dele já estava ganho.

— X —

Noventa e uma vitórias.
tinha conseguido um dos maiores feitos de sua carreira, se igualar a Michael Schumacher no maior número de vitórias na história da F1.
Apesar de muito real, ainda parecia um sonho estar ali, no topo, igualando recordes, que o impulsionavam a querer buscar mais um título para que com sorte, na próxima corrida se tornasse o piloto com o maior número de vitórias de todos os tempos.
Sabia que era o seu esforço e determinação que o tinha levado até ali, mas não podia deixar de pensar em todos que passaram por seu caminho ao longo dos anos, que de certa forma o ajudaram a seguir os passos corretos até ali, aquele momento.
Ainda com seu corpo funcionando carregado de adrenalina e seus pensamentos tomados por memórias, o piloto caminhava com Roscoe e Angela ao seu lado, mas a ligação em seu celular o fez parar onde estava. Era .

— Isso é um milagre ou alucinação? - atendeu a chamada rindo e sem parar pra pensar, entregou Roscoe para Angela e seguiu em direção ao centro médico. Queria mais que tudo celebrar, nem que fosse por alguns segundos, sua vitória com .
— Eu achei que um dia como hoje merecia parabéns ao vivo, mas eu só consegui parar agora e você já deve ter ido embora, então vai ter que ser por ligação mesmo. — explicou e sorriu ao vê-la de longe parada num canto do autódromo, com o telefone no ouvido.
— Jamais — desligou na cara dela, rindo ao ver seu rosto mudar de alegre para indignação, que só piorou ao vê-lo se aproximar.
— Grosso! — não hesitou em dizer assim que ele estava há poucos metros de distância. — Eu vim cobrar esse parabéns pessoalmente.
— Você tem sorte que eu sou uma alma elevada e que a corrida foi tão incrível que vou relevar a desligada na cara. — soltou ainda zangada, antes de abrir um de seus maiores sorrisos — Parabéns, , você merece igualar e ultrapassar todos os recordes possíveis, talvez você não compreenda a importância de quem você é, e o que tem feito com o poder da sua voz e com o seu talento, mas meu pai me mandou um áudio enorme aqui feliz e emocionado por tudo que você representa pra ele, pros meus irmãos e pra milhares de jovens negros pelo mundo todo. Eu também nem tenho palavras suficientes pra te elogiar, por tudo que você faz dentro e fora das pistas, só fico feliz de ver parte da história da Fórmula 1 sendo feita aqui… Bem na minha frente — admitiu emocionada e sentiu um nó se formar em sua garganta — Droga, não era pra chorar na sua frente, pelo menos não até o título de Campeão Mundial.

Assim como ela havia feito horas antes, se aproximou, tocado com suas palavras de uma forma que nunca compreenderia e a abraçou antes mesmo que ela pudesse protestar.

— Você pode chorar na minha frente quantas vezes quiser, — disse próximo ao seu ouvido, notando como o corpo dela parecia se moldar perfeitamente ao seu. O piloto respirou fundo, sentindo na própria pele o significado de tão perto, mas tão longe.
— Eu não quero que você fique se achando — brincou se soltando parcialmente de seu abraço — Mas eu precisava te dizer isso, mesmo que todo mundo te fale as mesmas coisas, me arrependeria se não fosse mais uma.
— Significa muito pra mim, pode ter certeza, suas palavras antes da corrida, as de agora... Eu posso ouvir muita coisa de várias pessoas e todas importam, mas algumas são mais especiais e você já deveria saber que é especial pra mim. Muito. Suas palavras importam, você importa — confessou ainda com seus braços em volta de .
— Eu acho que posso dizer o mesmo — correspondeu, se aconchegando em seus braços por um segundo, para sua surpresa.
... — respirou fundo, encontrando uma coragem que na maioria das vezes que estava com ela era inexistente — Eu… Se eu te convidasse pra comemorar comigo essa vitória, você aceitaria?
— Comemorar? — perguntou curiosa, se soltando do abraço dele para poder encará-lo melhor.
— Sim, se você topar, queria te levar pra jantar. Tem um restaurante que o Vettel me indicou e não consigo pensar em mais ninguém que eu queira levar, a não ser você.
— Eu… Só nós dois? — ele assentiu e parou pra pensar, mas algo em seu olhar fez com que tivesse certeza que ela iria aceitar.

Naquele momento ele soube que se ela realmente dissesse sim, ele nunca mais pensaria e se e faria de tudo para que de alguma forma dessem certo.

— Tu… — abriu a boca para lhe responder, mas antes que ela sequer conseguisse completar sua frase, três funcionários do circuito se aproximaram e pediram para tirar fotos com o piloto, que embora ansioso para saber a resposta, os atendeu de prontidão.
— E então? — perguntou assim que se viram sozinhos novamente.
— Eu tenho um vôo pra pegar de madrugada e você deve querer comemorar com a Angela e sua equipe, não precisa se preocupar comigo.
— Se eu quisesse comemorar com minha equipe teria convidado a eles e não você — retrucou de imediato, sabendo que aquela interrupção havia feito com que ele tivesse perdido a oportunidade.
— Eu… Acho melhor não, mas obrigada .

Naquela noite, já de volta a Mônaco, passou horas acordado, imaginando o que teria acontecido se não os tivessem interrompido.

— X —

— Mas é claro que não. De forma alguma — estava possessa com .
— Mas não é você quem tem que decidir, você pode ligar e perguntar pro seu pai? — pediu impaciente, já estavam naquela discussão há bons minutos.
, eu não posso aceitar.
— Se você me der um bom motivo, eu paro de insistir.
— É caro, ele vai te dar trabalho, não quero incomodar. Pronto, foram três bons motivos — dizia pontuando com os dedos.

Quando se recusou a sair com ele, ficou com medo de ter criado um clima estranho entre eles, pensou por diversas vezes em ligar para ela, mas não saberia muito o que dizer, não era algo que eles faziam. Toda relação deles era ao vivo e de certa forma ele preferia assim, a ansiedade gostosa que sentia sabendo que ia vê-la, ouvir sua voz, ver seu rosto, sentir seu cheiro… Era diferente de tudo que já tinha tido antes e talvez por isso que fosse tão excitante. Tudo com era sempre uma surpresa e não havia sido diferente daquela vez.
Com o espaço entre as corridas maior que os últimos, já havia se conformado que só a veria no Grand Prix de Portugal em duas semanas, por isso se surpreendeu quando no final da primeira semana, recebeu algumas DM's dela, comentando seus últimos três posts com Roscoe. Uma conversa levou a outra e ele tomou a coragem de sair das mensagens do aplicativo para as diretamente do seu celular. não só não estava nada estranha com ele, como parecia ainda mais próxima, afetiva.
E foi por conta daquela DM que tinham chegado ali, naquela discussão absurda. a havia convencido a enviar o áudio de seu pai comemorando sua vitória na última corrida e dali partiu o convite para que Robert fosse seu convidado para o Grand Prix de Emilia Romagna.
O que ele não esperava era o quão difícil seria passar por para realizar o sonho do mais velho.

— Se você não ligar pra ele, eu vou pedir pra Angela seguir ele no Instagram e resolver isso pra mim. De uma forma ou de outra ele vem, você só precisa decidir se vai me falar qual é o seu voo para vocês virem juntos ou separados.
— Argh, como você é teimoso! — resmungou irritada.
Eu?! Já se olhou no espelho hoje, ? — perguntou de sua forma mais divertida e debochada.
— Tudo bem — disse por fim, suspirando derrotada e levantou uma sobrancelha, desconfiado com a mudança brusca de suas palavras — Ele vai amar.
— É a mesma pessoa aí dentro? — brincou tocando o dedo na testa de , que acabou rindo e suspirou fundo antes de dizer:
— Eu não sei onde vou estar ano que vem, se vão renovar o meu contrato. Talvez seja a primeira e única oportunidade que ele vai ter de estar tão perto de tudo, de você, não quero tirar essa oportunidade dele por um capricho meu.
— Finalmente!! — levantou os braços como se agradecesse aos céus e viu vir ao seu encontro fingindo que ia lhe fazer cócegas para que ele baixassse os braços, mas o que ela fez em seguida o surpreendeu.
— Obrigada, — disse, depositando um beijo demorado em seu rosto. — De verdade.

Aquilo era novo, pensou.
Será que seu convite havia feito algo mudar dentro dela?
Por um segundo se viu quieto, sem saber como agir. E se a mudança estivesse apenas em sua cabeça?
Agora que tinha certeza de seus sentimentos, ele parecia ter ainda mais dúvidas sobre os dela e aquilo não o agradava nem um pouco. Talvez fosse o tempo dizendo a ele que os dias escondendo seus sentimentos estavam contados. Ou ele encontrava a coragem necessária para lhe dizer como se sentia, ou deveria seguir em frente.
A única certeza que ele tinha era que mais um ano naquela dúvida o sufocaria.

Logo a temporada iria acabar e não se veriam até o ano seguinte. Antes, não se incomodava tanto, pensava nela, mas com a vida sempre tão cheia de compromissos acabava a colocando num cantinho de sua mente e só deixava que ela tomasse conta de grande parte de si quando sabia que teriam meses juntos pela frente. Mas esse ano tinha sido diferente e mesmo que ainda mais distantes do que ele gostaria, a mudança nas últimas semanas o fizeram querer estar ainda mais próximo.

— Você não tá ouvindo nada do que eu tô falando, né? — estava na sua frente, o encarando com as duas mãos na cintura.
— Desculpa, eu… — se sentia como um garotinho sendo pego pela professora usando o celular.
— Não se preocupe, você está com a cabeça cheia, tem uma corrida a ganhar e um recorde a quebrar e eu estou aqui te enchendo com minhas bobeiras — disse, gestionando com as mãos como se não tivesse problema.
tomou a liberdade de testar segurar em suas mãos e ficou feliz ao ver que ela não recuou — Eu só não quero que você pense que não me importo com o que você diz.
— Eu não penso isso, , eu sei que você se importa, você não ia aparecer aqui toda semana se não gostasse da minha companhia.
— Isso é verdade — concordou olhando no relógio, estava começando a ficar atrasado — Consigo te ver no fim do dia?

Era oficial, nem ele sabia de onde estavam saindo todas aquelas novas mudanças no comportamento deles. Antes era tão casual e com flertes que mais pareciam brincadeira, mas em questão de apenas alguns dias, as coisas haviam mudado como nunca antes e parecia estar escalando ainda mais, agora que estavam frente a frente.

— Me manda uma mensagem, meu voo é hoje a noite já, mas dependendo da hora que você tiver livre eu ainda vou estar aqui. E , obrigada de novo, você está fazendo o ano do meu pai e eu ainda ganho todos os créditos porque vou falar que é meu presente de natal pra ele.
— Espertinha! Mas espero que dê tudo certo, posso te ligar durante a semana pra combinarmos como vai ser?
— Você nunca precisou de autorização pra me ligar, , é só ligar.
— Bom saber — disse, dando uma piscadinha para ela – Não vejo a hora de conhecer o seu pai.
— Acho que quem tem que dizer isso é ele, não?
— Não, eu que estou curioso pra conhecer o homem que te criou. Linda por fora, mas mais ainda por dentro — arriscou dizer, lhe dando um último beijo no rosto, ainda mais demorado do que o dela, deixando uma sem palavras para trás.

— X —

— Ela está aqui — Angela o acalmou, mas tinha o semblante sério, o que só deixou mais preocupado — Mas ela não vai poder vir aqui, pediu pra que se você puder, ir até ela.
— Mas o que aconteceu? Está tudo bem?
— Vai lá, eu seguro as pontas aqui e vou te buscar quando precisar — aconselhou, o fazendo franzir o cenho.

Agoniado, curioso, não demorou para que encontrasse um tempo para ir até o centro médico. Tinha ligado para logo na segunda para combinar os detalhes do voo e do passe VIP para o paddock para seu pai, mas ela não havia atendido. Quando ela retornou a ligação foi a vez dele não ver e até riu ao ouvir o áudio que ela lhe deixou, brincando que ele não a estava atendendo de propósito, arrependido da oferta, mas depois daquilo silêncio. ligou, mandou mensagem perguntando se estava tudo bem, mas ainda assim, nada. Sem saber o que fazer, só lhe restou esperar os próximos dias passarem para vê-la ao vivo, isso é, se ela aparecesse.
Algumas pessoas ofereceram ajuda assim que o piloto entrou no centro médico, mas logo seus olhos bateram nos cabelos soltos da médica e ele foi em direção a ela. estava de costas para ele e parecia fazer alguma coisa no próprio corpo.

— Tá fugindo de mim? — perguntou brincalhão, mas se arrependeu no mesmo segundo, pois tomou um susto tão grande, que deixou uma bandeja de coisas caírem no chão.
, que susto! — ela disse em pânico, com a mão no coração e logo se abaixou para pegar o que tinha deixado cair, não sem antes resmungar de dor.

E ali estava o motivo, fosse lá o que tivesse acontecido. O rosto de estava machucado e inchado como se tivesse tido uma queda ou pior, levado um soco.

, o que aconteceu? — se aproximou rapidamente, tomando as coisas da mão dela, a fazendo se levantar e recolheu tudo do chão para ela. — Você está bem?! Eu estava preocupado com você, te liguei várias vezes.
— Eu estou sem meu celular e não sei seu número de cor, me desculpe. Meu irmão me emprestou um antigo dele pra eu conseguir vir, mas não baixei nenhuma rede social ainda. Eu espero que você não tenha tido muito trabalho com as coisas do meu pai, mas se você comprou o vôo eu te reembolso, não t... — falava rápido, visivelmente agitada e nervosa, podia ver como o susto a tinha tirado do eixo.
— Ei, , calma! — colocou as coisas em cima da maca ao lado deles e a segurou com delicadeza pelos ombros, para que ela olhasse para ele — Eu não estou preocupado com nada disso, eu vi no seu rosto o susto que te dei, me desculpa, não era minha intenção. Se quiser me contar o que aconteceu, tudo bem, se não quiser também. Como você está?
— Pior do que eu imaginava pelo visto — divagou sozinha, encarando o chão derrotada — Mas não precisa se desculpar, , a culpa não é sua. Assaltaram o salão da minha irmã quando eu estava lá.
— Ah, , sinto muito, você está muito machucada? Eu não acredito que bateram em vocês, a sua irmã tá bem?
— Não é tão ruim quanto parece, é mais o hematoma mesmo — contou, tocando devagar no próprio rosto — Minha irmã está bem também, só um pouco abalada. Foi como eu contei pra Angela, nós fomos pintar o salão na terça, minha irmã queria dar uma renovada e eu prometi ajudar. Até por isso perdi sua ligação, tava com ela na loja comprando tinta. Passamos parte da noite lá e quando terminamos, eles estavam esperando a gente abrir a porta. Eu tentei fechar pra que eles não entrassem e na luta acabei levando essa cotovelada no rosto, então eles me puxaram para sair da frente da porta e eu caí e machuquei minha costela aqui também — explicou, levantando boa parte da blusa, para mostrar a marca que estava começando a ficar roxa.
— Eu não acredito, eu sempre achei que quando fosse te ver sem blusa, fosse ser num quarto de hotel — não sabia se estava pondo tudo a perder, mas sem saber o que fazer para ajudar a tirar a cara de pânico do rosto, achou melhor falar algo que fosse… Eles.

o encarou tão rápido, que teve a certeza que tinha dito a coisa errada, mas foi questão de segundos para que ela desse uma gargalhada, ainda que comedida, por conta de suas dores, que o deixou feliz em saber que tinha obtido sucesso.

— Eu tava precisando disso, obrigada! — agradeceu sincera, se sentando na maca — Uau, nunca achei que fosse do tipo de pessoa que ia sofrer com algo assim.
— Não existe "tipo de pessoa", . O que você passou, ainda mais sendo mulher, deve ter sido assustador. Você provavelmente não sabia se eles queriam só roubar vocês ou algo pior.
— É bem isso mesmo, eu estava com muito medo que eles tentassem algo com a minha irmã.
— Você é a mais velha, né? — perguntou e sorriu ao vê-la assentir — Eu faria o mesmo pela minha irmã, meus sobrinhos… É uma reação natural. Eles roubaram muita coisa?
— Nem tinha muito o que levar, a maior perda foi o caixa do final de semana que geralmente é o mais alto. Mas eram meninos, queriam mais fazer bagunça mesmo, quebraram tudo. Meu pai acabou ficando pra ajudar a arrumar o salão, lidar com a polícia, seguro, essas coisas. Temos câmeras, mas não sei muito o que pode ser feito.
— Vem cá! — se sentou ao lado de e abriu os braços a convidando para um abraço e para sua surpresa, a médica aceitou de imediato, pousando o rosto em seu pescoço.

nunca teve tanta certeza de onde pertencia.
Num Grande Prêmio.
Com .

— X —

Assim que entrou no centro médico, arregalou os olhos:

— Sai, , se você não parar de me trazer doces e sobremesas eu vou sair dessa corrida com vários quilos a mais. — disse rindo para o piloto. Aquela era a quinta vez em dois dias que ele aparecia com algum chocolate, docinho ou sobremesa para ela.
— Não tem problema, , a gente pode fazer um cardio mais tarde. — respondeu com uma piscadinha sacana para ela.
— Olha que eu aceito, hein? — rebateu tão rápido, que arregalou os olhos, a fazendo gargalhar.

Desde quinta pela manhã, quando ficou sabendo o que tinha acontecido com , que ele tinha feito sua missão tornar os próximos dias os mais leves possíveis para ela. Solicitou que fosse enviado um café da manhã todos os dias para seu quarto no hotel em que estava hospedada, deixou que Roscoe passasse uma noite com ela e morreu de ciúmes do cão ao receber uma foto dele dividindo o mesmo travesseiro que ela.
Ver sorrir, sabendo que ele era o causador de cada um daqueles sorrisos, o fazia se sentir tão realizado quanto vencer uma corrida.

— Eu posso parar se você quiser. — disse maroto, encarando o doce a sua frente — Posso começar jogando fora esse cheesecake aqui.
— Não!! — respondeu rápido demais para seu próprio gosto — Não vamos jogar comida fora, né? Só não me traga mais nada… hmmm a não ser que seja mais um desse aqui. — disse sorrindo, ainda se deliciando com o que era sua sobremesa favorita.
— Cheesecake! — riu, deixando intrigada — Então essa é a sua sobremesa favorita. — falou animado, já que a médica se recusava a responder.
— Droga! Eu realmente não consigo disfarçar quando encontro um bom cheesecake e esse é maravilhoso.
— Eu posso te levar mais um pedaço hoje a noite se você quiser.
— Hoje à noite? Vai levar o Roscoe pra dormir comigo de novo?! — perguntou com uma certa ponta de esperança, embora soubesse que a noite que passara com o peludo jamais aconteceria novamente.
— Não, vou levar o dono dele. — respondeu, não aguentando mais em como as brincadeiras deles pareciam avançar, mas ao mesmo tempo, não saíam do lugar. — , eu queria te fazer um convite, mas queria que você me ouvisse até o fim antes de me dizer não.
— Como você tem tanta certeza que eu vou falar não?
— E quando você já me disse sim?

Mesmo morando em Mônaco, não ia à Itália tanto quanto gostaria. Durante a temporada se dividia sempre entre Londres, onde ficava a matriz de sua equipe, e sua casa. Já na maioria de suas férias, acabava passando nos Estados Unidos, por isso sempre que tinha uma chance, gostava de tentar aproveitar um pouco do país que tanto gostava.
E mesmo não tendo feito nenhum plano para aquele final de semana em especial, não conseguia parar de pensar em como gostaria de sair com , mesmo que fosse apenas como amigos, afinal, era apenas o que eram. Mas daquela vez seu interesse era puramente em ajudá-la a se distrair, após tudo que tinha passado. Seu rosto ficava ainda mais machucado com o passar dos dias e sempre que a olhava tinha vontade de poder protegê-la para sempre, no conforto do seus braços.

— Ok.
— Eu s… OK? — perguntou incrédulo.
— Fecha essa boca que senão entra mosca. — cutucou , rindo da forma como ele a encarava como se fosse um alienígena. — Você tem sido absolutamente incrível comigo esses dias, sempre foi, mas quando eu mais precisei de alguém sem nem saber que precisava você estava aqui, me enchendo de doces e me fazendo rir. E eu amo a Itália, como poderia negar um passeio com você, aqui.
— Uau, certo… Eu não estava esperando por um sim. Não sei nem o que fazer agora. — brincou, rindo, sendo acompanhado por — Deixa comigo! Eu não sei o que vamos fazer, mas vai ser o melhor passeio de todos.
— Claro que vai, você vai estar comigo, não?

— X —

Sete vezes Campeão Mundial.
era campeão mundial de Fórmula 1 pela sétima vez.
Feito que até então tinha apenas um detentor, Michael Schumacher e agora… Ele.
Nem em seus maiores sonhos de menino, imaginou que um dia teria a chance de chegar àquela categoria do esporte, quanto mais estar no topo sete vezes. Se orgulhava de ser o primeiro piloto negro a competir na categoria, na mesma intensidade que se decepcionava com a estatística.
Ele esperava que aquele título fosse só o começo e que em breve houvesse mais diversidade no esporte.

Após comemorar com toda sua equipe, família, com Angela e até mesmo com Roscoe, resolveu procurar e seu pai, Robert.
O passeio que fizeram juntos quando ainda estavam na Itália, havia apenas cementado o que ele já tinha descoberto nas semanas anteriores, não conseguiria e nem queria mais ser apenas amigo de .
Aquele Grand Prix era o último que ela trabalharia naquele ano e ou ele tomava alguma atitude, ou não a veria talvez até pelo menos março do ano seguinte. E era por isso que a havia convidado para assistí-lo no GP da Turquia com seu pai.

De início, como sempre, ela havia lhe dito um sonoro não, que "jamais aceitaria que ele tivesse gastos com ela", mas bastou que listasse inúmeras razões pelas quais ela não deveria fazer uma desfeita para o pai, para que não visse outra alternativa, a não ser aceitar. E ele podia ver nos olhos de , a cada vez que se encontravam, que ela não se arrependia nem um segundo de ter lhe dito mais um sim. Provavelmente não por ele, mas pela felicidade que via a todo momento nos olhos de Robert. Não que se importasse, fosse por qual motivo, ao menos ela estava ali com ele.
Havia conhecido o mais velho logo no começo da semana, quando ele e a médica chegaram na Turquia e não demorou para que seu próprio pai engatasse uma conversa com o pai de e sempre que se encontravam, os dois pareciam conversar como se fossem velhos amigos. Fato que estava secretamente adorando, sabia o quão família era.
O piloto já tinha recebido um abraço e os parabéns da médica e de seu pai mais cedo, logo ao fim da corrida, mas ainda não tinham comemorado juntos, a sós, como ele gostaria. Angela, sabendo de sua vontade, resolveu ajudá-lo a ter um tempo com .
Não demorou para que a encontrasse no restaurante da Mercedes, comia um cheesecake e seu pai tomava café.

— Você realmente gostou dele, não? — perguntou assim que se aproximou da mesa, pedindo um café para a garçonete do local.
— Bastante, preciso aproveitar enquanto eu posso.
— Poderia aproveitar mais se aceitasse o novo contrato da FIA.
— Que contrato? — perguntou curioso e riu ao ver a cara de brava que a filha fez para o pai.
— Bocudo! — resmungou com o mais velho que apenas deu de ombros, rindo. o encarou brevemente, se perguntando se tinha em Robert um aliado. — Me chamaram pra viajar todo o calendário do ano que vem. — comentou parecendo não muito feliz com a notícia — Mas não sei, passaria muito mais tempo fora de casa e teria que desistir de outros trabalhos.
— Mas isso é ótimo, , uma oportunidade incrível. Eu peço pro Jean fazer cheesecake toda corrida se você aceitar.
— Olha a chantagem! — brincou, porém o sorriso não lhe atingia os olhos. já conhecia o suficiente para saber que tinha algo ali.
— Eu vou indo. Posso te deixar com um dos meus bens mais preciosos? — Robert se virou para e piscou para o piloto de forma que a filha não visse.
— Que brega, pai! E posso saber onde o senhor vai?
— A Angela vai me apresentar o Toto. — o mais velho respondeu todo animado, fazendo com que e caíssem na risada.
— Cuidado pra não babar nele. — a filha disse divertida e o mais velho lhe deu um beijo no rosto, antes de partir. — Desculpa pelo meu pai, ele é realmente muito fã de Fórmula 1.
— Não precisa pedir desculpas, ele parece estar se divertindo e ele e meu pai se deram bem. Podemos dar uma volta?
— Podemos levar o Roscoe? — retrucou sem o menor pudor, fazendo rir, antes de assentir.
— Às vezes parece que você só fala comigo por causa do meu cachorro.
— E só agora você percebeu?

andava ao lado de segurando a coleira do buldogue, Roscoe chamava a atenção por onde passava e por consequência ela também. observava a cena intrigado, mesmo com roupas normais, várias pessoas reconheceram a médica e pararam para conversar com ela, até perceberem sua presença logo atrás. Antes aquilo incomodaria , mas ela parecia não estar ligando nem um pouco em ser vista com ele.
sempre entendeu a reticência da médica, até mesmo porque compartilhava do mesmo sentimento, não só não se sentia confortável em expor a algo a qual ela não havia pedido para fazer parte, mas também porque não queria criar nenhuma especulação que pudesse colocar a reputação da médica em questão. Estava mais do que acostumado com as consequências de ser quem era, por isso que, enquanto não soubesse como definir o que tinham, dera preferências em manter aquilo só para ele.
E não se importar em ser vista ao seu lado, era a confirmação que precisava que tudo que vinha acontecendo não estava somente em sua cabeça.

— Caramba, o Roscoe faz muito sucesso. — comentou ao finalmente estarem num lugar mais vazio do paddock, restavam poucas pessoas no local.
— Ele? Todo mundo parou pra falar com você.
— Até parece.
— Você é querida por muitas pessoas, deveria pensar mais em aceitar esse contrato para o ano todo.

E estava ali de novo, um olhar que não conhecia, mas que deixava bem claro que algo estava errado. E o pior, algo que era culpa dele. ficou quieta novamente e aquilo para o piloto era quase como tortura.

, o que foi? Eu fiz alguma coisa? — resolveu ser direto, sabia como ela apreciava isso nele.
— Você tem alguma coisa a ver com o convite da FIA? — perguntou também sem rodeios, fazendo com que parasse de andar.
— Por que você acha que eu tenho? — aquilo o incomodou mais do que ele imaginou.
— Eu não sei se tem, por isso estou perguntando. — disse sincera — No começo eu só fazia Silverstone, depois me pediram para acompanhar o calendário da Europa, mas quando fui assinar o contrato deixaram bem claro que não teria chances de fazer todo o resto e agora que… E agora, sem eu esperar, me ofereceram ele todo.
— Agora o quê? Não fui eu, . Eu prometo.
— Agora, depois de você brincar que eu deveria ir trabalhar na Mercedes. Agora que estamos mais próximos, não sei… Eu só preciso saber se esse convite tem dedo seu no meio. — o encarou visivelmente chateada.
— Nem mesmo esse aqui. — respondeu tranquilamente, levantando apenas seu mindinho — Eu acho que te conheço o suficiente pra saber que se eu fizesse isso, você não ficaria feliz comigo e pela sua reação, acho que estou certo.
— Você jura?
— Eu juro. Pela nossa amizade, pelo Roscoe até, se te fizer acreditar mais em mim.
— Eu…Acredito. Me desculpa, eu não queria te acusar de algo, eu só… Não quero que me dêem oportunidades por causa de quem eu conheço.
— Eu não vou negar que se você me pedisse eu não teria o menor problema em fazer acontecer, mas eu juro que não tenho nada a ver com isso.
— OK. Isso me deixa mais aliviada.
— Isso quer dizer que você vai aceitar? — lançou seu melhor sorriso, amaria poder tê-la próxima pelas vinte e tantas corridas que teriam no ano seguinte.
— Isso quer dizer que eu vou pensar no assunto, com carinho — acrescentou ao ver a cara que fez pra ela — Eu realmente gosto de estar em um local diferente a cada semana, Fórmula 1, MotoGP, Campeonatos de Hipismo.
— Você pode buscar adrenalina em outros lugares. Se você aceitar o novo contrato, eu posso te mostrar diversas formas — riu sozinho ao perceber as palavras que usou. — Ok, isso soou mais pervertido do que eu pretendia.
— Isso é uma chantagem, isso sim. — brincou, finalmente sorrindo, para a alegria de .
— Eu não disse que seria justo.
— Eu prometo que vou pensar. — garantiu e os dois voltaram a andar, agora com Roscoe livre da coleira, andando um pouco mais a frente deles. — , eu... Te trouxe uma coisa. — disse repentinamente tímida, chamando sua atenção.
— O quê?
— Talvez seja um pouco idiota… — comentou, fazendo um gesto com as mãos para que ele esquecesse do assunto.
— Agora eu quero saber.
— Não é nada demais, é só que às vezes eu esqueço que você é famoso e milionário e… Bem, eu comprei isso pra caso você ganhasse o campeonato hoje. Na hora pareceu uma boa ideia, mas agora só parece idiota.
— Eu tenho certeza que não é idiota, ainda mais vindo de você.

Sem poder voltar atrás, tirou do bolso uma pequena bolsinha de veludo e entregou a incerta. O piloto a abriu, vendo a pulseira em prata com os números sete e quarenta e quatro em algarismos romanos.

— Eu adorei. — afirmou colocando-a prontamente, junto com as outras que adornavam o seu braço, observando encantado o presente.
— De verdade? — o encarava duvidosa, com a sobrancelha erguida em desconfiança.
— De verdade — assentiu sorrindo e sem sentir necessidade de parar para pensar se era o certo, lhe deu um abraço e um beijo em agradecimento. — A equipe vai comemorar a vitória agora a noite no hotel. O Toto tinha deixado a possibilidade de adiar a volta de todos à Inglaterra caso eu conseguisse vencer hoje e eu prometi que se acontecesse, eu faria uma aparição na festa.
— E eu estou te segurando.
— Claro que não. É que eu não sabia se você viria e a minha intenção era comemorar a minha vitória com você, ia te chamar pra jantar. Como não vai dar, quero saber se você não quer ir a festa e assim que eu conseguir, fazemos alguma coisa. Seu pai também está convidado, eu…
— Tudo bem.
— Tudo bem?
— Sim, — riu da cara de desacreditado que ele fazia — Estou no mesmo hotel, não é como se eu tivesse que atravessar Istambul. E também não vou negar ir a uma festa no primeiro Grand Prix que não preciso trabalhar.
— Então você só está aceitando para aproveitar a festa? — perguntou fingindo estar chateado. — Há muitas maneiras de se aproveitar uma festa.

— X —

O bar no terraço do hotel estava mais vazio do que nas noites anteriores, consequência da festa que acontecia no andar térreo do local, tomava um coquetel, enquanto esperava por . Tinha aproveitado a festa com seu pai, a família do piloto, Angela e até mesmo alguns funcionários da Mercedes por quase duas horas, quando decidiu acompanhar Robert até seu quarto, quando o mais velho resolveu ir dormir.

Após uma breve parada em seu próprio quarto, para retocar sua maquiagem e borrifar mais um pouco de seu perfume favorito, ela seguiu para o último andar do local. Tinha ido até o bar logo no primeiro dia de sua estadia e gostado tanto da vista e do ambiente que acabou voltando todas as noites, ora com seu pai, com algum funcionário da Mercedes, ou sozinha. Era sua primeira vez em Istambul e queria aproveitar ao máximo a cidade, até por isso tinha pedido a que marcasse sua passagem de volta para terça-feira, assim ela e seu pai ainda poderiam fazer alguns programas turísticos após o fim de semana.

— Ei. — a voz de a tirou de seus pensamentos e se virou para ele agradecida por ter usado um tom de voz mais suave que o normal, para que ela não se assustasse como tinha acontecido semanas antes. — Wow. Eu… Uau, ok. Eu ainda não me acostumei.

Desde que fora buscar em seu quarto para irem a festa juntos e ela atendeu a porta maquiada, usando um vestido preto que acentuava todas as curvas de seu corpo e com o cabelo preso em um rabo de cavalo alto que a deixava sexy como ele nunca tinha visto antes, que ele havia perdido as palavras. Agradeceu por ter batido na porta dela primeiro, pois sabia que não conseguiria esconder de Robert os pensamentos impuros que inundaram sua mente ao vê-la vestida daquela forma pela primeira vez.

— Larga mão de ser bobo, . É só um vestido. Que você já viu desde o começo da noite.
— Pra você talvez, pra mim definitivamente não é só um vestido. Eu sei que já te elogiei algumas vezes, mas você está realmente linda. Preto cai muito bem em você.
— É...É a minha cor favorita.

não demorou a entender o que ela quis dizer com aquilo, seu olhar estava fixo no dele e se perguntassem a ele como estava o tempo, quantas pessoas tinham no local ou apenas qual era o seu nome, ele não saberia responder. O piloto só conseguiu sair do transe em que se encontrava, por conta do garçom que acabou por colocar uma taça à sua frente, dizendo ser por conta da casa, em comemoração ao seu título. Agradecido, ele tomou apenas um gole e se voltou novamente para a única coisa que o interessava naquele momento.

— Como combinado, agora sou todo seu.
— Todo mesmo?! — perguntou com um sorriso sedutor no rosto o olhando de cima abaixo, o que fez com que chacoalhasse a cabeça de um lado para o outro, abrindo um sorriso de lado.
— Eu nunca sei quando essas brincadeiras acabam e a verdade começa.
— Quando a gente quiser, . A festa já acabou?
— Não, mas eu cumpri a minha parte… Agora eu estou onde eu realmente gostaria de estar desde o começo da noite.
— No terraço de um hotel? — perguntou divertida e , motivado por sua resposta, decidiu encerrar as brincadeiras. Dando um passo à frente, ele segurou de forma delicada na mão da médica.
Nesse terraço de hotel. — respondeu com o olhar preso no fundo dos olhos de , que em nenhum momento desviou dos dele.
— É um terraço lindo.
Eu diria… Maravilhoso . — brincou com as palavras, deixando que seus olhos mais uma vez passeassem por todo corpo de , dessa vez, sem precisar ser discreto — A vista daqui sempre me tira o fôlego. Desde que eu coloquei os olhos nela, não consigo olhar pra outro lugar.
— É bonita mesmo, mas imagino que você tenha ido a lugares mais bonitos, famosos…
— Eu já viajei o mundo todo , realmente há diversos lugares lindos, mas nenhum deles me tira do eixo como a vista daqui.
De Istambul? — perguntou duvidosa
— De Istambul. E eu acho que você sabe muito bem disso.
— Sei agora, há pouco tempo. — assumiu para surpresa de . Ele sempre achou que era impossível não saber do caminhão que arrastava por ela. — Não faz essa cara, eu também me perdi há bastante tempo no que era brincadeira ou verdade.
— Talvez se eu tivesse sido mais claro desde o começo… — confessou, se perguntando o que teria acontecido se ele tivesse se aberto há mais tempo. Teriam sido algo passageiro? Ou estariam juntos até hoje? — Podemos sair daqui? Não está muito cheio, mas...
— Eu também me sinto vigiada. — completou sua frase, tomando um último gole de seu drink — O Roscoe está no seu quarto?
— Ele vai dormir com a Angela essa noite.
— Certo. — ela riu de leve, pensando em como estavam na mesma página, finalmente. — Podemos.

podia ouvir seu coração bater em seus ouvidos. Tanto tempo querendo estar com e o momento em que tudo mudava havia finalmente chegado. Ali. Agora.
caminhou em direção ao elevador e seguiu logo atrás sem se importar em ser discreto. Assim que a porta do elevador abriu, ele apoiou sua mão de leve na base das costas de e notou como sua pele estava quente.

. — proferiu assim que a porta começou a fechar.
. — Ele respondeu por reflexo.

Não foi preciso mais palavras, jogos ou brincadeiras. Bastou que se virasse por completo para ele, para que soubesse que era ali, naquele momento, que a beijaria pela primeira vez.
Anos antes, sua gargalhada havia lhe chamado atenção para a mulher que agora estava a sua frente, com os lábios semi abertos, o convidando para experimentá-los. Cada detalhe, cada conversa e risada o havia levado até ali, até .
Apenas dois passos e ela seria dele.
deu o primeiro, sorrindo, o desmontando.
E então, ele deu o segundo e seus passos se encontraram, assim como seus lábios, no meio do caminho.
tinha absoluta certeza que não esqueceria daquele beijo tão fácil, simplesmente porque sabia que iria repeti-lo centenas de vezes ainda naquela noite e milhões de outras dali em diante.
parecia tão entregue quanto ele, seu corpo colado ao seu, suas mãos presas em sua nuca. Seus dedos, que ora passeavam por suas tranças, ora por seu rosto, o trazendo para mais perto, para mais um beijo.

O elevador finalmente, tanto quanto infelizmente, abriu no andar do quarto de e ele lhe estendeu a mão estranhamente nervoso, mesmo com a aceitando prontamente e o seguindo até a porta de seu quarto, ele se viu em dúvida.
sempre conseguia ler as reações de , mas ali, naquele momento, ele não sabia exatamente se o que via era o que ele gostaria, por isso que antes mesmo que pudesse se permitir sonhar, ele decidiu ter a certeza.

, eu não quero que isso acabe aqui. — disse, ainda em frente a porta de seu quarto.
— Pode ter certeza que não vai, .
— Não — se afastou um pouco — Eu não quero que isso, nós , comece e termine aqui, em Istambul. Não te quero só por essa noite. Eu quero Bahrain, Abu Dhabi, Londres, Mônaco… Onde for. Eu quero você, .
… Você não sabe isso, não ainda. Não aqui. — desabafou, apontando para eles ainda do lado de fora da porta.

O piloto balançou a cabeça em negação, sorrindo. não fazia ideia do tanto que ele tinha dela em sua mente, em seu coração. Tantos meses e grandes prêmios que ele passou memorizando e se apaixonando por cada detalhe seu. E agora queria muito poder ter novos meses, fins de semana e chances de descobrir outros detalhes, criar novas memórias.

— Eu sei, . — disse com toda certeza do mundo — Mas eu sei que você ainda não. Eu só não quero que pra você seja só essa noite, porque eu quero acordar amanhã sabendo que podemos repetir isso por ainda muitas noites, dias, cidades…. Você vem comigo? — perguntou ansioso, entusiasmado, com a porta de seu quarto e seu coração completamente abertos.

— X —


estava deitado com a cabeça no peito de , pensando em como não queria sair dali tão cedo. Do som de seu coração batendo e da calma que sentia em estar com ela, envolto em seu cheiro, sentindo seus dedos brincando com seu cabelo, sua pele. sorria de olhos fechados, tantas vitórias e conquistas em um único ano e era tão importante quanto cada uma delas. Se antes de tê-la, já se sentia apaixonado por ela, agora ele tinha certeza que era completamente. A ele só restava esperar que a noite tivesse sido tão incrível para ela, quanto havia sido para ele e que ela estivesse disposta a conhecê-lo não mais como apenas um piloto e amigo que a procurava em todos os grandes prêmios, mas como um possível futuro namorado.

— Bom dia, . — o piloto ouviu a voz dela sair um pouco mais rouca que o normal e logo notou que aquele era mais um detalhe que conhecia naquele dia.
— Bom dia, . — sorriu de olhos fechados.
, você tem certeza? — perguntou depois de um tempo em silêncio, tempo esse que ele sabia que ela estava se preparando para lhe dar uma resposta.
— Absoluta.
— Desde quando?
— Desde sempre acho.
— No começo eu tinha certeza que você só queria me levar pra cama. — assumiu.
— E queria mesmo. — desceu a mão pelo corpo de , até parar na sua coxa, a apertando de leve. — Mas não demorou para que eu visse que se fosse só isso, perderia a chance de ter uma pessoa como você na minha vida.
— E então as brincadeiras e os flertes começaram e como você nunca tomou nenhuma iniciativa, acho que só acabei entrando na onda.

e jogavam com as palavras como se fossem uma única pessoa expondo seus sentimentos. Aquilo para eles era tão assustador quanto esclarecedor, durante todo aquele tempo e eles pensavam as mesmas coisas, sentiam as mesmas coisas.

— Eu tinha medo de levar um fora, não é como se você tivesse me dado muita abertura. — rebateu e sabia que ele estava certo.
— É, você continuou aparecendo, se abrindo cada vez mais e eu tive que lutar muito pra não me iludir. Pensei muitas vezes em deixar rolar, mas...
— E então ficamos amigos e eu não queria perder o que a gente tinha. Ainda não quero perder o que a gente tem .
— Eu odiaria não te ter mais em minha vida, até por isso sempre deixei guardado o que sentia por você. E também eu sempre me prometi não me envolver com ninguém do trabalho.
— Você ainda pensa assim?
— Claro que penso, ainda mais alguém como você. Seu nome tem peso, fama, viaja longe. Deve ser muito difícil estar com alguém assim, mas… Eu gosto de você.
— … — tentou responder, mas o interrompeu antes mesmo que ele pudesse emitir algum som.
— Muito.

E ali estavam as quatro palavras que precisava ouvir.
Eu gosto de você. Muito.

— Não é esquisito? — finalmente se moveu na cama, ficando frente a frente com , ela era ainda mais linda ao acordar.
— Estarmos na mesma página?
— Esse tempo todo. — ele completou, vendo ela assentir.
— O que mudou pra você? No começo achei que você pudesse estar carente, querendo algo de uma noite, mas você sempre me tratou com tanto… Cuidado, carinho, ainda mais depois do assalto. Foi difícil não deixar que sentimentos antigos voltassem e então você me chamou pra sair e eu queria mais que tudo te dizer sim.
— Na Alemanha? — a interrompeu, precisava saber se aquele dia tinha existido apenas em sua cabeça.
— Isso, mas aquelas pessoas apareceram e me deram um choque de realidade. Tenho medo da sua fama, do seu alcance, é bastante assustador pensar em sair com você pra qualquer lugar, mas eu me arrependi em te dizer não, até por isso acabei criando coragem de puxar assunto por mensagem. Sair da nossa bolha dos finais de semana.
— E eu fico feliz que tenha. — admitiu — Eu sempre pensei em você, mas de uns tempos pra cá intensificou e a vontade de ter algo além da nossa amizade cresceu… E acho que percebi que se não tentasse algo agora, poderia perder algo incrível pra sempre. Me ver apaixonado por você foi o impulso que me faltava.

fechou os olhos em arrependimento, sabia que tinha se declarado cedo demais. Pretendia ainda conquistá-la por inteiro, mostrar que estar com ele poderia ser fácil, sem o peso de ser quem era. Que estar com ele valia a pena. Mas agora as palavras já estavam soltas no ar e ele não podia fazer mais nada.

. — sussurou, deslizando as costas dos dedos por seu rosto, o fazendo abrir os olhos e sorrir. Era impossível olhar para e não se sentir preenchido de alegria.
— Hm. — murmurou, ansioso pelo quer que fosse que ela ia lhe dizer, em resposta a sua confissão espontânea.
— Eu sabia que a sua mão era só uma desculpa pra vir falar comigo.

riu com todo seu corpo e nenhuma resposta era tão reveladora quanto aquela reação, o que fez com que também gargalhasse, o levando para anos antes, quando a vira pela primeira vez.

— Desde que eu ouvi essa sua gargalhada no dia que te conheci, eu soube que quebraria minha mão se me desse um motivo pra falar com você.
, eu tenho medo, mas — ela respirou fundo, olhando no fundo de seus olhos — Eu também não quero.
— Como assim? — segurou a respiração, incerto de sua frase – Não quer o quê?
— Que isso acabe aqui.
— Pode ter certeza que não vai, .

Minha .


FIM


Nota da autora: Ahhh! Eu nem acredito que terminei essa fic, depois de UM ANO sem escrever nada.
A autora que vos fala sumiu por motivos de gravidez de não só uma, mas duas bebês lindas, que me impedem de dormir e ter tempo pra fazer QUALQUER COISA.
Por isso aqui estou eu, as duas da manhã, escrevendo essa nota, enquanto elas dormem

Esse projeto já começou e terminou e eu consegui ser a mais atrasada de todas, mas é com muuuuuito orgulho que trago essa história, que começou com um sorteio em que fui agraciada em poder escrever com o melhor piloto de Fórmula 1 da história ( Desculpa, Senna, você mora no meu coração). Espero que gostem, gostaria de poder ter desenvolvido mais algumas cenas e diálogos, mas além de ser uma short, não queria atrasar ainda mais ela. E se gostarem (ou não hahah), por favor, comentem e ajudem uma autora enferrujada a sempre continuar.

O Disqus está um pouco instável ultimamente por isso, se a caixinha de comentários não aparecer, comentem AQUI nesse link.

E aqui coloco uma outra fic de F1 que escrevi com o Max, mas que pode ser lida com qualquer piloto - 03. Deitada Nessa Cama




Outras Fanfics da Autora:
[Longfic]
7 da Sorte
Dele
Cooper Inc.
Nobody Matters Like You

[Shortfic]
01. Mark My Words
03. Beautiful to me
04. Elena
04. Losing My Mind
06. My Gospel |continuação de 04. Losing My Mind
06. He Won't Go
08. Walls
09.Coconut tree
10. Life is Worth Living
12.Truth
09. Hearts Don't Break Around Here | cont. 1 de 12.Truth
03. The Woman I Love | cont. 2 de 12.Truth



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