MV: Se Ferrou

Finalizada em: 06/02/2021

Capítulo Único

Eu tentava, de novo, não falar com o meu psicólogo sobre a minha ex-namorada. Eu tinha ido ali, pela primeira vez, meses atrás, pra tratar de uma possível depressão que eu podia estar desenvolvendo desde o termino do namoro. Era basicamente disso que eu falava no início, de como tinha ficado magoado, de como eu estava superando, de como minha carreira tinha melhorado depois de começar as sessões e, por fim, de como o termino tinha sido superado. Mas nas últimas cinco sessões, eu não tinha parado de falar nela, acho que porque, talvez, fossemos fazer um ano de namoro dali uma semana se ainda estivéssemos juntos.

- Como você se sente com relação a Mary hoje?

Olhei bem pra cara do psicólogo e sorri. Eu sabia que era necessário falar sobre pra superar, mas às vezes parecia que eles só queriam magoar ainda mais a ferida. Respirei fundo e tentei ser sincero, mesmo não querendo.

- Eu tenho pensado muito em como tudo aconteceu. Em como foi rápido demais e em como eu me deixei levar – vi ele anotando coisas em minha ficha. Detestava quando ele fazia aquilo quando estava concordando com algo com a cabeça que eu não podia sequer imaginar o que era. – Mas eu acho que estou bem, não sinto muito mais raiva dela.

Suspirei mais uma vez. Aquela sessão demoraria uma eternidade a passar se assunto fosse aquele. Então me deixei levar um pouco pelos meus pensamentos.

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Aquela mulher maravilhosa dançando no meio da pista como se não tivesse amanhã, era a coisa mais perfeita que eu já tinha visto. Como se ela já não tivesse chamado a atenção desde que entrara na boate, ela parecia ser a única pessoa que se divertia de verdade ali dentro, tamanha era a empolgação com que ela se mexia. Eu meio que perdi a noção de tempo prestando atenção em seus movimentos, em como o cabelo dela mexia, em como o tecido do vestido que ela usava às vezes subia mais do que devia e ela sempre parava pra ajeitar com um sorriso imenso no rosto.
Dali do bar onde eu bebia a segunda dose do meu uísque, eu senti que eu podia me perder naquela mulher e seria a melhor coisa que eu faria da minha vida. Sabendo que eu não sairia dali sem pelo menos um nome, perguntei pro barman quem era ela, apesar de eu não ter ido ali pra isso, não naquela coite, eu precisava saber mais sobre ela. Como se o universo estivesse ao meu favor, o barman a conhecia, de várias vezes que já tinha visto ela ali. Já tinham até feito um tipo de amizade e isso me fez ficar contente; ela gostava de se divertir.

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- Eu sentia que era pra sempre, sabe? – assumi me sentindo envergonhado. Como eu tinha me iludido tanto em apenas uma noite? – Meus amigos me dizem que eu fui muito emocionado.
- Às vezes os amigos querem ajudar, não quer dizer que eles vão acertar sempre.
- Ah, não – resmunguei pro psicólogo. – Eu fui emocionado demais, de verdade. Quebrei regras que eu não quebrava há tempos.

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Eu dancei o resto da noite com ela, coisa que eu raramente fazia, parecia que ela me fazia querer me soltar mais, me mexer mais... Saímos do bar quase amanhecendo o dia. Aquela mulher era demais. Eu não me senti hesitar por um momento. Dificilmente eu levava mulheres pra minha casa; ou íamos pra casa delas ou para um motel, mas naquela noite eu só queria levar ela pra minha vida de todas as formas. Fomos direto pra minha casa, e dali direto pra cama. Aquela mulher era demais. Gostosa demais e mexia na cama tão perfeitamente como quando dançava.
E, logo quando eu menos esperava, a gente já estava dividindo um balde de pipoca enquanto assistíamos um filme na minha casa. Era maravilho demais passar esse tempo com ela. E era leve, gostoso e calmo o nosso relacionamento. Ainda mais perfeito quando ela resolvia do nada, no meio do filme, que era mais interessante sentar no meu colo com uma perna de cada lado e me beijar, como era gostoso. Parecia que nada mais no mundo importava, quando ela me abraçava e me colocava deitado entre seus braços.


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- Eu acho que eu pirei e tô pirando ainda mais agora que falta uma semana pra fazer um ano que a gente se conheceu – vi o psicólogo anotar mais coisas, queria muito que aquilo não me irritasse, mas parece que fazia parte. – Principalmente porque eu tava crente que tinha ganhado aquela garota sendo gentil depois que o ex idiota dela tinha terminado o noivado sem dar muitas explicações, além de um telefonema dizendo que não dava mais.

Ri um pouco depois de embolar as últimas palavras. Fazia um tempo que eu não mencionava aquilo e naquela hora eu percebi que ainda me machucava, mais do que eu queria que machucasse.

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Era maravilhoso passar o dia nos amando na cama. O cheiro dela, o gosto dela, o toque... parecia que tínhamos sido feitos um pro outro. Vi ela sentada na cama encarando a porta do quarto, Deus sabe que horas eram. Depois de dar um beijo no pescoço dela, decidi descer pra comer alguma coisa, antes de a gente começar uma nova rodada de carinhos. Mas qual não foi a minha surpresa quando, ao voltar pro quarto, não encontrei ela em lugar nenhum. Comecei a ficar desesperado quando ouvi risadas vindas do lado de fora, na frente da casa. Ela estava dentro de um conversível com a capota aberta, o cara do lado dela sorria com o que parecia ser todos os dentes do mundo à mostra. E tudo que eu vi nos rosto dela antes de ela ir embora, foi um sorrisinho sem graça, como quem pede desculpas.

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- Nos últimos dias é tudo em que eu penso – neguei com a cabeça enquanto ele me acompanhou com um olhar resignado. – Eu só queria que tivesse sido diferente, não foi e tá tudo bem, por que eu não supero?




Fim.



Nota da autora: Sem nota.





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