tentava se lembrar das aulas que teria naquele dia. Era uma quinta-feira. As quintas-feiras eram sempre as piores. as odiava. Porém não conseguia lembrar suas aulas, só se lembrava que eram insuportáveis. Eram duas de física, duas de matemática, uma de geografia, mas qual era última?
A menina parou em frente ao seu armário e encostou sua cabeça na porta. O corredor estava barulhento, com alunos apressados passando de um lado para o outro. Quem sabe se ela se concentrasse, poderia se lembrar da aula que faltava. O problema era que a única coisa que conseguia pensar era em como gostaria de sair daquele lugar. Também não queria ir para casa. Ela não sabia onde se sentiria bem, mas tinha certeza que não era ali que se sentiria.
“Biologia!”
Ela finalmente lembrou-se.
Pegou sua chave na mochila e abriu o cadeado. Tentou abrir a porta, mas estava emperrada. Deveriam estar brincando com ela. Seu armário não poderia quebrar mais de uma vez em apenas uma semana! Alguns dias antes a porta do armário simplesmente saíra na sua mão quando ela a abriu. Obviamente, ninguém acreditou que ela não tinha nada a ver com o caso. levara uma advertência por vandalismo.
Ela forçou um pouco mais, mas não teve nenhum sucesso. Ela tinha que começar a se exercitar. Tinha tanta força quanto um beija-flor. O sinal tocou e a menina se viu ali atrasada e cada vez mais nervosa. Será que nenhuma alma caridosa ajudaria ela?
Claro que não, ninguém ali dava a mínima para ela. A culpa era dela mesma. Tinha evitado tudo e todos no último ano e era rude de propósito. Não queria ninguém por perto. Pouco a pouco seus amigos se afastaram e agora não passavam de estranhos. Porém esse era o menor de seus problemas.
- Mas que bosta de armário! – Ela gritou chutando o armário. – Me fala, o que eu fiz para você me odiar tanto? – já não via nada a sua frente, apenas sua raiva e seus sentimentos sendo botados para fora. – Imbecil! Imbecil!
A porta que já estava torta, despencou em sua frente, fazendo-a voltar a realidade. Um corredor inteiro de alunos da Hampstead School a encarava sem nem piscar.
sentiu suas bochechas corarem.
- Srta. ! – Ela viu a Sra. Dickens, a inspetora daquela ala do colégio aproximar-se dela. – Faça o favor de me acompanhar! – A mulher falou com uma expressão de colocar medo em agentes da SWAT.
seguiu a mulher que abria caminho entre os alunos curiosos.
Era tudo o que ela precisava. Mais uma advertência por causa de um armário estúpido. Pelo menos com seus pais ela não precisava se preocupar, eles nem ficariam sabendo das advertências.
- Agata, a Srta. estava vandalizando um armário novamente. – A Sra. Dickens falou a secretária
do diretor Armstrong assim que as duas chegaram ao escritório do diretor.
- Na verdade não foi bem assim, Sra. Dickens. – tentou se explicar a inspetora.
- Você não deve explicações a mim, Srta. , você deve ao diretor.
- Pode entrar, Sra. Dickens. – Agata falou após falar com o diretor através do telefone
- Obrigada, Agata. E você, , espere ai, vou informar ao diretor o que você fez.
Sra. Dickens entrou na sala do diretor Armstrong fechando a porta atrás de si.
sentou-se no sofá estilo vitoriano forrado de couro vermelho em frente a mesa de Agata. A garota apoiou a cabeça nas mãos e fechou os olhos. Sabia que não tinha razão nenhuma. Ela tinha chutado o armário, ela o tinha quebrado. Ela teria que pagar por aquilo.
Ela ouviu a porta se abrindo e levantou a cabeça. Sra. Dickens saiu da sala do diretor silenciosamente e se perdeu no corredor.
- Srta. , você pode se juntar a mim por alguns minutos, por favor. – O diretor falou aparecendo em sua porta. Ele era um senhor gordinho com as bochechas rosadas. simpatizava com ele. Se bem que, naquele exato momento, ele não era sua pessoa
favorita no mundo.
A menina se levantou e entrou na imensa sala do diretor. As paredes tinham papel de parede bordô, os móveis eram de madeira escura e forrados com couro preto. Uma imensa lareira estava acesa no fundo da sala.
- Sente-se, por favor. – Ele apontou a poltrona em frente a sua mesa. sentou-se e sentiu-se um ser minúsculo perdido naquela imensa poltrona. – Essa é a segunda vez que a senhorita é mandada à minha sala essa semana, Srta. .
- Eu sei. – Ela falou olhando para as próprias mãos. Aquela situação a irritava.
- A Sra. Dickens me informou que você quebrou outro armário hoje. – Ele falou esperando por uma explicação.
- É verdade, mas ainda quero me explicar sobre o que aconteceu outro dia, foi um acidente. – Ela falou finalmente encarando-o nos olhos.
- O incidente de outro dia não vem ao caso, a Srta. já foi punida com aquela advertência. Aliás, ainda estou esperando pela assinatura de seus pais.
- Meus pais estão viajando. – Ele a olhou com uma cara de piedade, até parecia que sabia o que estava acontecendo.
- Certo, vou tentar entrar em contato com eles por telefone então.
- Tanto faz. – ela respondeu mal humorada. Se ela não conseguia achar seus pais, ele também não conseguiria. Ele a olhou sério.
- Sobre hoje, Srta. , você receberá mais uma advertência. – concordou com a cabeça sonhando com uma aula de física. Qualquer coisa era melhor do que aquele velhinho impossível de se odiar. – E eu gostaria que você conversasse com o psicólogo da escola.
- O quê? Não! Não posso, não tenho tempo e não preciso disso. O Dr. Thompson já me deu alta! – Ela respondeu já levantando o tom de voz. Quanto menos tempo passasse naquela escola, melhor era seu dia. Fora que ela não agüentaria mais uma das chatíssimas sessões de terapia do Dr. Thompson.
- ... – Ele falou duma maneira carinhosa e ela desejou que ele fosse seu avô. – Nós dois sabemos que os últimos meses foram duros para você. – A garota virou os olhos. Essa era a frase que ela mais ouvia. – Vou marcar um horário para você logo após o final da aula, certo?
- Fazer o quê...É você quem manda. – Ela levantou-se pegando sua mochila do chão.
- Você está liberada. – Ela o ouviu falando, mas já estava chegando ao corredor.
“Impossível de se odiar”. Ela já não pensava mais aquilo. Iria perder horas preciosas de sua tarde com o mongol do Dr. Thompson. tinha certeza que ele tinha comprado o próprio diploma. Ele só a fazia desenhar seus sentimentos, o que ela considerava uma total perda de tempo, já que para irritá-lo, ela desenhava casinhas e árvores. Além do mais, ele a tinha definido como “irremediavelmente teimosa e desequilibrada”.
Como será que ele a definiria dessa vez? “Vândala e suicida em potencial”? Talvez “vândala e homicida em potencial”?
entrou no banheiro daquele corredor. Ela agradeceu por estar vazio. Ver sua imagem refletida no espelho a irritou mias ainda. Ela estava mais pálida do que nunca. Se sua mãe estivesse ali, iria aparecer com algum creme auto-bronzeante que a deixaria parecendo uma modelo de férias no Hawai. Mas sua mãe não estava ali.
Sua maquiagem ficava mais forte a cada dia, mas ela não sabia o porquê. Provavelmente queria refletir seu mau humor em camadas e mais camadas de sombra e delineador pretos.
Sua maquiagem era sua marca registrada.
Seus cabelos estavam implorando por um corte, mas ela preferia deixa-los ali mesmo, no meio de suas costas.
Ela tinha emagrecido e suas calça só parava no lugar por causa de seu cinto listrado de preto e branco.
tinha vontade de sumir.
Capítulo 2 – The Story
Após uma sessão de tortura, mais conhecida como aula de matemática, juntou seu material e o colocou dentro da mochila. Ela amaldiçoava Newton e todos seus parentes por aquele infeliz ter inventado os malditos binômios. Qual era a utilidade daquilo? Se ela fosse atropelada e precisasse de ajuda médica só a atenderiam se ela soubesse resolver um problema envolvendo binômios de Newton, por um acaso? Claro que não, era totalmente inútil.
andou devagar até o outro lado do campus da escola, onde ficava a sala do Dr.
Thompson. Ela chegou meia hora atrasada intencionalmente. A porta
estava
aberta
e ela pôde ver o confortável sofá verde escuro onde os pacientes se sentavam.
Se havia uma coisa que ela gostava nas suas sessões de terapia, o sofá era ela.
Ela
se sentia abraçada por ele, o que era na verdade um problema, pois ela não conseguia
evitar de cochilar enquanto Dr. Thompson falava suas baboseiras chatas.
Ela entrou na sala sem nem mesmo bater na porta ou olhar para a mesa do psicólogo e se jogou no seu querido sofá após depositar sua mochila no chão.
- Vamos acabar logo com isso, Dr. Thompson. – Ela falou com os olhos fechados já sofrendo pelo tédio com antecedência.
- Você é , certo? – Uma voz que não era a do Dr. Thompson perguntou, fazendo-a levantar-se rapidamente. Na mesa do Dr. Thompson estava um garoto que aparentava ser pouco mais velho que ela. Parecia um aluno. Ele usava uma camisa polo preta, tinha um cabelo diferente, parecido com o cabelo dos caras das bandas que ela tanto gostava. Seja lá quem ele fosse, era bonito.
- Sou, mas quem é você? Onde está o Dr. Thompson?
- O Dr. Thompson acabou de se aposentar, foi morar na Escócia pelo que eu soube.
- Já era hora. – falou arrancando uma risada dele.
- Eu sou o Dr. . – Ele não era o novo psicólogo. Não seria possível. Não. Não. Ele se levantou mostrando uma calça jeans larga demais, e um tênis de skatista. – Eu vou substituir o Dr. Thompson. – Dr. aproximou-se e estendeu a mão a .
A garota começou a rir.
- O que foi? – Ele perguntou com a cara preocupada.
- Okay, muito engraçado! Zoar a menina problemática que destrói armários! – pegou sua mochila e foi até a porta já imaginando encontrar lá os amiguinhos daquele idiota rindo da cara dela.
Antes que pudesse abri-la, o garoto colocou seu braço na porta, impedindo-a de sair e ficando perto demais dela. sentiu sua respiração falha.
- O que você está fazendo? Ficou louca? – Ele perguntou sem se mexer.
- Acho que sim, se não, não estaria aqui, estaria? – Ele olhava dentro de seus olhos, deixando-a desconfortável. – Para que essa brincadeira idiota?
- Não é brincadeira. – Ele falou num tom totalmente calmo. Por que ele não saía dali? Aquela proximidade toda estava causando sensações estranhas em . – Eu sou o novo psicólogo. Quer ver meu diploma?
sentiu sua boca cair e sua bochecha quente. Já podia imaginar sua cara tão rosa quanto à Super Pig.
- Você é mesmo psicólogo? - Ele mordeu o lábio inferior e fez que sim com a cabeça. – Ai, que vergonha! – colocou as mãos no rosto. Tentando além de se esconder, parar de sentir a proximidade de seu novo psicólogo.
Ele finalmente afastou-se e sentou-se na poltrona verde que combinava com o sofá.
- Não se preocupe com isso. – Ele falou sorrindo. – Você não foi a primeira a estranhar a minha idade. – sentou-se na frente dele, em seu querido sofá. – Mas para ser sincero, sua reação foi a mais engraçada! – Ele segurava a risada.
- Desculpe. – Ela falou encarando todos os cantos da sala, menos ele. – Estava esperando o Dr. Thompson, gravata borboleta, careca e gordo. Não você! Tênis de skatista, cabelo impecável e gostoso!
Dr. arregalou os olhos e sorriu, corando um pouco. colocou a mão na própria boca sem acreditar no que tinha acabado de falar. Era sempre assim! Ela ficava nervosa e tinha diarréia verbal. Sempre falava demais.
“Ótimo, agora ele sabe que você acha ele gostoso.”
pensou.
- Por favor, deleta o que eu falei, certo? – Ela perguntou sem conseguir encará-lo.
- Certo, na verdade, vamos recomeçar! O que você acha? – Ele perguntou sorrindo e tentando deixá-la menos desconfortável.
- Boa idéia!
- Meu nome é , eu sou o novo psicólogo da Hampstead School! Acabei de me formar, esse é o meu primeiro emprego.
- Meu nome é , estou no último ano da Hampstead School e fui mandada aqui porque “vandalizei” ...– faz o sinal de aspas com os dedos. – dois armários essa semana.
- Foi isso que o diretor Armstrong me falou. Eu dei uma olhada na sua ficha... – Ele
pegou uma pasta na mesinha ao seu lado e a abriu. – Ótimos desenhos, aliás. – ele
falou sorrindo tirando os olhos da pasta e olhando para a menina. – Você passou
por uma situação meio traumática oito meses atrás, certo?
- Pode-se dizer que sim. –
não queria falar sobre aquilo. – Você já chegou na parte que ele me chama de “irremediavelmente teimosa e desequilibrada”? – Ela perguntou rindo.
- Já sim! – riu também. – Mas não concordo com ele. Você só está passando por um período difícil. – “Período difícil” era bem mais simpático que “irremediavelmente teimosa e desequilibrada”. – Aconteceu mais alguma coisa desde que você parou de se consultar com o Dr. Thompson?
- Hum...vamos pensar... – Ela ironizou. – Tirando o fato de que meu pai começou a dormir com a melhor amiga da minha mãe, resolveu morar com ela e nunca mais mandar notícias, não, nada aconteceu. – Dr. a olhava sério. – Ah sim! Também tem o episódio em que minha mãe resolve viajar pela Grécia para tentar superar o divórcio.
sentiu os olhos marejarem. Nunca tinha falado sobre isso com ninguém.
- Faz quanto tempo que seu pai deixou sua mãe?
- Três meses.
- Você teve algum contato com ele?
- Não, acho que quando ele a abandonou, ele resolveu abandonar a mim também. Sei que ele está morando em Kensington com a nova mulher dele, mas ele nunca tentou falar comigo. Eu não tive interesse nenhum em falar com ele também.
- E a sua mãe? Viajou quando?
- Hum...- teve que pensar um pouco. – Dois meses atrás.
- Você fala com ela?
- Ela me manda postais toda semana, falando sobre as maravilhosas técnicas gregas
de
massagem. –
sentiu as lágrimas caírem quando começou a falar sobre sua mãe. Sentia tanto a sua falta. Dr. fazia anotações.
- Você tem irmãos?
- Não.
- Você mora sozinha então?
- Não, moro com os cinco criados lá de casa. – respondeu, sentindo-se mais patética e sozinha do que nunca. Ela já não controlava mais seu choro. estendeu uma caixa de lenço a ela.
- Você tem namorado? Amigos?- fez que não com a cabeça às duas perguntas. - E a sua amiga? A Brittany?
soluçou.
- Continua na mesma.
e Brittany eram melhores amigas desde sempre. Suas famílias eram amigas e elas cresceram juntas. As duas sempre estudaram nas mesmas escolas e não se desgrudavam. Se consideravam as irmãs que nenhuma das duas tinha.
Oito meses atrás, e Brittany voltavam de uma festa de madrugada. Brittany dirigia e ultrapassou um sinal vermelho. Um caminhão que vinha na outra pista bateu violentamente no carro das meninas. tinha quebrado um braço, o motorista do caminhão sofreu arranhões e Brittany estava em coma desde então.
Dr. sentou-se ao lado de no sofá e a abraçou. Dr. Thompson nunca tinha sido tão solidário. A menina nunca tinha ouvido falar num psicólogo que consolasse assim.
Mas estava contente por tê-lo ali. Ele lhe passava segurança e fazia meses que ela não recebia um abraço.
parou de chorar quando algo lhe veio a cabeça.
- Ai meu Deus! Que horas são? – Ela perguntou olhando para .
- 16:55.
- Estou atrasada! – Ela levantou-se limpando o rosto e pegando a mochila. – Preciso ir, mas obrigada por tudo. – Ela saiu da sala correndo.
correu o mais rápido que pôde. Estava muito atrasada. Quando atingiu os jardins do colégio, olhou para cima em direção à sala do psicólogo. Viu sua sombra na janela observando-a.
Ele tinha mexido tanto com ela.
Tirando aqueles pensamentos da cabeça, ela correu até a estação de metrô do outro lado da rua.
Capítulo 3 – Dead To The World
- Oi Brit! – falou sentando-se ao lado da cama de Brittany. – Desculpe pelo atraso.
Brittany estava em uma cama de hospital, lotada de tubos e sondas. Sua pele não brilhava mais e parecia amarelada. Seus cabelos que antes era sedosos e cheios de vida agora pareciam uma palha. Ao seu redor um quarto inteiro branco, uma janela imensa com uma bonita vista para o centro de Londres e dezenas de arranjos de flores que sua mãe mandava colocar lá.
- Acredita que me mandaram de novo para o psicólogo do colégio? – falava olhando para a amiga e segurando em sua mão. – Só por causa de um pequeno mal entendido com o meu armário. Mas você não sabe da maior novidade! – falava animada, fingindo que sua amiga a escutava. – Dr. Thompson finalmente se aposentou! Você precisa conhecer o novo psicólogo, ele é muito, muito gato. É um dez em nossa escala, com certeza. – e Brittany costumavam dar uma nota de 1 a 10 aos caras que conheciam. – Quando você voltar para lá, precisa fingir ser um pouco doida para mandarem você conversar com ele também!
Desde o acidente, visitava Brittany diariamente no hospital.
Ela saiu do lado da amiga e foi até a janela, totalmente hipnotizada pela vista do por do sol no centro de Londres.
- A nossa cidade é bonita mesmo, não é?
Ela sentiu um vazio ao olhar para a amiga desacordada. E se ela nunca mais visse um por do sol? E se ela nunca mais visse ?
- Esqueci de te contar! Beckham está nos abandonando! Eu sei, é uma tragédia, mas ele vai jogar em um time de Los Angeles agora.
- ? – A enfermeira que cuidava de Brit entrou no quarto. – Já são seis horas, acabou o horário de visitas.
- Ah, tudo bem, Fiona. Só estava atualizando a Brit mesmo. – tentou sorrir apesar de ter um choro intalado na garganta desde que saíra da sala do Dr. .
voltou para o lado da amiga e lhe beijou a testa.
- Tchau, Brit! Até amanhã!
A menina acompanhou Fiona para fora do quarto. ia tanto lá que todos do hospital já a conheciam.
- Como foram os exames dela hoje, Fiona?
- Não tão bons, . – Fiona falou com uma expressão triste no rosto.
- Já faz uma semana que eles não se estabilizam, mas vão se estabilizar, né Fiona? – perguntou preocupada.
- Eu não sei te responder, . Casos de coma variam muito. Você sabe que ela pode tanto acordar amanhã quanto morrer amanhã.
sentiu um nó no estômago ao ouvir a palavra “morrer”.
- Obrigada, Fiona. Cuide bem dela, tá? – Fiona fez que sim com a cabeça. – Até amanhã!
- Até!
seguiu até o elevador proibindo-se de chorar. Já tinha chorado demais para um dia só.
Aquele elevador, aquele prédio, aquelas pessoas, já eram algo tão comum para ela. Ela pensou que um hospital não deveria ser o lugar para ninguém sentir-se familiarizado.
Sua caminhada até a estação de metrô era curta, porém o percurso feito pelo vagão era mais longo. O hospital de Brit ficava no centro de Londres, mas morava no mesmo bairro de sua escola, nos subúrbios
da cidade.
É nos subúrbios que os endinheirados constróem suas mansões, já que no centro não há terrenos grandes o suficiente.
, Brittany e os demais alunos da Hampstead School faziam parte da elite econômica e social do país. Não que isso fizesse muita diferença para no momento. Tudo o que ela queria era sua melhor amiga e sua família de volta.
Ela sentia falta de sentar com seus pais para jantar. Seu pai contaria sobre os últimos negócios que a empresa tinha feito, sua mãe contaria todos os planos para a próxima festa beneficente e ela contaria algo de legal que ela e Brittany teriam feito naquele dia. Seu pai faria piadinhas e ela e sua mãe ririam.
Tudo estava tão diferente agora.
nunca se imaginara numa situação como aquela. Simplesmente abandonada por tudo e todos.
Já era quase sete horas quando a menina finalmente chegou em casa, sentindo-se exausta e esgotada. A casa estava silenciosa como sempre. Era tão grande que ela nunca ouvia a conversa dos criados.
foi até a cozinha atrás de algo para beber. Ela sentia desejo por café. A cafeteira estava vazia, no entanto e ela não tinha vontade de fazer ou mandar alguém fazer para ela.
Abriu a geladeira. Estava lotada de comida. Ela não sabia o que faziam com tanta comida. A geladeira estava sempre lotada de produtos frescos, mas ela nunca comia nada.
Ela pegou um copo de suco de pêssego e subiu as escadarias até seu quarto. Sua
janela estava aberta, deixando um vento gelado entrar lá. Ela correu para fechá-la,
lembrando-se de que sua mãe costumava fechá-la todas as noites.
Ligou seu som e escolheu seu cd do Papa Roach para escutar. Nada como Papa Roach para acompanhar uma fossa.
Apagou as luzes e deitou-se em sua cama, prestando atenção nas sombras que as luzes e as árvores do jardim faziam em seu teto ao som da voz de Jacoby. Seus olhos ficaram cada vez mais pesados até ela começar a delirar de sono. Por que ela pensava em seu novo psicólogo?
acordou alguns minutos depois quando Abby, a mais antiga das criadas da família, bateu em sua porta.
- Quer que eu peça para a cozinheira preparar alguma coisa para você comer, ?
- Não, Abby, obrigada. Não estou com muita fome. Estou me sentindo um pouco enjoada, para falar a verdade.
Abby entrou no quarto e sentou-se no pé da cama de .
- Você precisa comer, . Você está cada dia mais magra, daqui a pouco cai doente.
Abby conhecia desde seus cinco anos e era a única pessoa com quem contava desde que seus pais a abandonaram. Abby sempre fora como sua segunda mãe, mas agora era a única.
- Eu sei, Abby! Não se preocupe, estou me alimentando bem. – mentiu. Fazia tempo que comer para ela era uma obrigação que ela fazia de tudo para evitar. Não que quisesse emagrecer, como outras garotas, ela simplesmente não sentia mais prazer algum em comer. – Só hoje mesmo que só vou jantar alguma fruta ou coisa parecida porque meu estômago está embrulhado. – Completou.
- Bem... – Abby se deu por convencida. – Qualquer coisa me chame. E não durma tarde, você tem aula amanhã! – Abby beijou a testa de .
- Pode deixar, só vou tomar banho e fazer a lição de matemática.
Abby saiu do quarto, deixando uma consumida pela preguiça largada na cama.
“Maldita matemática.”
levantou-se da cama aumentado o som para que pudesse escutar do banho.
O banho só a deixou mais mole e cansada.
A lição de matemática ficaria para hora do intervalo ou o meio da aula de espanhol.
Capítulo 4 – Heels Over Head
rabiscava seu caderno de inglês, sem prestar atenção em uma palavra da aula quando ouviu alguém batendo na porta da sala. A classe inteira prestou atenção na Sra. Dickens entrando na sala e levando um envelope até a mesa da Sra. Waterhouse. A inspetora cochichou qualquer coisa na orelha da professora e olhou para .
Oh Deus, que ela tinha feito agora?
A professora olhou para também e concordou com o que a inspetora falava.
A Sra. Dickens se retirou rapidamente da sala e viu a Sra. Waterhouse aproximar-se de sua mesa. Ela virou rapidamente a folha do caderno, para que ninguém visse seus rabiscos.
- O diretor Armstrong mandou para você, Srta. . – A professora falou entregando-lhe o envelope e mexendo suas sobrancelhas tatuadas. Sim, a Sra. Waterhouse não tinha sobrancelhas, por isso tinta tatuado duas linhas finas e marrons acima dos olhos. Era bizarro.
- Obrigada.
abriu o envelope curiosa para saber do que se tratava. Tirou lá de dentro um papel timbrado da escola com a caligrafia do diretor.
“Cara Srta. ,
Gostaria de informá-la que você tem uma sessão agendada com o Dr. as 15:45 dessa sexta-feira. Espero que a senhorita compareça.
Atenciosamente,
Diretor Armstrong.”
Tudo bem que ela tinha gostado do tal do Dr. , mas sessões todos os dias era um pouco de exagero, não? Pelo menos a de hoje seria mais cedo, ela não precisaria correr como uma doida para não perder o horário de visitas do hospital.
olhou em volta e viu toda a sala prestando atenção nela e em seu envelope. Que gente curiosa!
- É a minha carta de expulsão! – Ela falou para a garota sentada ao seu lado. não sabia o nome dela, só sabia que era o ser mais burro daquela escola. Dava até pena.
A garota fez cara de pânico e colocou as pequenas mãozinhas na boca.
Aquilo era tão divertido! Em pouco tempo a escola inteira teria certeza que ela tinha sido expulsa. riu sozinha imaginando a decepção de todos quando ela aparecesse na aula segunda-feira.
O dia se arrastou. dormiu durante toda a aula de espanhol e rabiscou letras de músicas durante as outras. Na hora do almoço, comeu sua refeição de sempre: café e skitles. Ela não tinha culpa se a comida do refeitório do colégio era absolutamente intragável, tinha?
Ela teria apenas uma aula após o almoço, matemática.
É óbvio que ela não lembrou de sua crise de sono no dia anterior, ou seja, esqueceu de fazer a lição de matemática. E só se lembrou desse detalhe quando seu professor estava em frente à sua mesa.
- Sua lição, Srta. ?
- Hum... – fingiu procurar folhas no fichário e na mochila. O Sr. Sarakai a olhava impaciente. – Eu não fiz, na verdade.
- Você sabe a minha política, não Srta. ?
- Sei sim.
O Sr. Sarakai não aceitava a falta de lições. Quem não as fazia ficava para fora da aula.
levantou-se arrumando seu material e deixou a classe.
Quem disse que ela queria ter aula?
Não queria mesmo.
Atravessou novamente o campus em direção ao prédio onde ficava a sala do psicólogo. Andou mais devagar do que no dia anterior, se é que aquilo era possível. Mas ela estava mais de uma hora adiantada.
Ficou reparando na arquitetura da escola. Muita gente falava que os produtores dos filmes do Harry Potter tinham se inspirado nos prédios da Hampstead School para criar o Castelo de Hogwarts. Até que lembrava um pouco.
Toda a grandiosidade daqueles prédios a assustavam um pouco. Tanta coisa já tinha acontecido ali, tantas pessoas já tinham passado... Ela sentia-se mais insignificante ali do que em qualquer outro lugar.
Os jardins estavam secos e as árvores com poucas folhas, devido ao outono, mas eram bonitos de qualquer jeito.
chegou apenas 20 minutos adiantada a sala do Dr. . A porta estava aberta e ela pôde ver o garoto deitado confortavelmente no fofo sofá verde.
Era estranho pensar em seu psicólogo como um garoto.
Ela entrou e ele nem notou sua presença, pois usava os fones do ipod nos ouvidos e cantarolava Boys Like Girls fazendo movimentos engraçados. As vezes parecia tocar guitarra ou baixo, as vezes batucava como se tivesse uma bateria a sua frente.
“Throw it away
Forget yesterday
We’ll make the great escape
We won’t hear a word they say
They don’t know us anyway
Watch it burn
Let it die
‘Cause we are finally free tonight”
sentou-se na poltrona dele e ficou observando-o e rindo. Ele era realmente bonito. Ela não se lembrava da última vez que tinha se sentido daquele jeito. Desde o acidente ela não ficava com um garoto, nem mesmo pensava neles. Sua cabeça estava sempre cheia demais.
Cof cof!
fingiu uma tosse finalmente chamando a atenção de , que deu um pulo de susto parando sentado no sofá. Ele estava com o rosto e o pescoço rosados.
- Faz quanto tempo que você está ai?
- Tempo o suficiente para perceber que você gosta de Boys Like Girls!
sorriu.
- Não estava te esperando antes das quatro!
- Mas meu horário era as 15:45! Eu só cheguei um pouco adiantada.
- Eu sei, é que como você se atrasou meia hora ontem...
Ele ainda não encarava nos olhos.
- Não se preocupe, eu já me humilhei bastante na sua frente ontem, digamos que estamos quites agora.
Dr. sorriu e a olhou nos olhos. pensou que sua combinação de café e skitles finalmente estava lhe fazendo mal. Abby sempre falava que eles corroeriam seu estômago.
- Certo!
- Se bem, que sinceramente, a minha humilhação foi bem mais humilhante que a sua!
- Você acha? - concordou sentindo a bochecha arder com a lembrança dela chamando seu psicólogo de gostoso.
- Mas mudando de assunto... – considerava que seus foras já tinham sido amplamente discutidos. – Tem certeza que você é um psicólogo? Você tem bem mais cara de rockstar!
- Eu tenho uma banda na verdade! – Ele falou feliz.
- Sabia! Então você só está aqui até sua banda dar certo?
pareceu pensar por alguns segundos.
- Acho que sim, mas gosto muito de psicologia também!
- Hum... Digamos que a psicologia é o hobbie que te sustenta!
- Ninguém nunca definiu tão bem quanto você.
sorriu.
- O que você toca?
- Toco ! – Ele respondeu com os olhos brilhando. – Você deveria ver a minha banda tocar qualquer dia!
balançou a cabeça afirmativamente. Porém, ela não iria, não gostava de sair de casa para se divertir. Em um show teria muitas pessoas felizes e falsas.
- Hei, me dá um gole? – Ela perguntou apontando para a mesinha ao seu lado, onde havia uma lata de Red Bull.
- Claro! – deu um longo gole no Red Bull. – Tem certeza que você deveria tomar isso? – Qual era dele? O negócio nem era alcoólico nem nada... reparou a confusão dela. – Quer dizer, você já me parece bem... bem... – Ele não achava a palavra, fazendo encará-lo desafiadoramente enquanto esperava pela resposta. – Elétrica!
- Elétrica?
- É!
- É, talvez eu esteja mesmo. – largou a latinha. – É culpa do meu almoço.
- Seu almoço?
- Sim, café e skitles.
- Saudável, ! – Dr. hironizou.
pegou novamente a latinha de Red Bull ignorando o comentário do psicólogo.
- Sabe o que é? – Ela falou olhando para a latinha. – Isso é tão melhor do que aqueles chás verdes que o Dr. Thompson me oferecia!
Dr. fez uma careta com a menção das palavras “chá verde”.
- Também não gosto de chá verde! - ele falou enrolando os fios de seu ipod. – Cheguei a pensar que você não viesse hoje.
- Por quê?
- Você saiu correndo ontem.
- Ah é, mas eu tinha um compromisso. Aliás, tenho hoje também, mas hoje dá tempo.
- Posso te perguntar qual compromisso? – Dr. estava sério agora.
- Fui encontrar uma amiga. – Ela respondeu olhando para o lado. não gostava de dar detalhes sobre suas visitas à Brittany. A maioria das pessoas a considerava louca por visitar alguém inconsciente todos os dias.
- Eu te vi saindo do Hospital Saint James ontem.
Pronto, agora ele falaria que ela tinha que se desapegar ao passado e pensar no futuro.
- Você anda me seguindo?
- Não. – Dr. olhava diretamente nos seus olhos e por mais que ela tentasse evitar não olhar para ele, não conseguia. – Passo em frente a ele para chegar em casa, moro lá perto.
- Eu visito a Brit todos os dias.
- O que você faz lá? Pelo que eu sei, a Brittany está desacordada.
- Eu converso com ela. – Ótimo, agora constaria em seu relatório algo como “Fala sozinha.” – Conto sobre o meu dia, sobre acontecimentos em geral...
- Acho bom que você a visite. – surpreendeu-se. – Mas visitas diárias são um pouco demais, você não acha?
- Não.
- ... – Ele sentou-se na ponta do sofá e pegou na mão da menina. – Ela não pode te ouvir, nem te ver. Ela não sabe que você vai lá.
sentiu as lágrimas voltarem a cair. Que inferno era aquele cara! Ele abria a boca e ela começava a chorar!
- Eu sei que ela não sabe que eu vou lá! Mas não consigo ficar pensando nela sozinha naquele lugar horroroso enquanto eu estou aqui saudável e vivendo normalmente!
- Você não está vivendo normalmente, .
o olhou com raiva.
- Claro que estou.
- Não está não. Você afastou todos que gostavam de você. Você mesma me contou isso ontem. – Ele acrescentou antes que ela pudesse falar qualquer coisa. – Suas notas caíram, você não sai de casa.
- Acabou o sermão?
- Não é sermão, .
Ele estava certo, tudo o que ele dizia era verdade.
- Eu não tenho vontade de conviver com pessoas, pelo menos não essas daqui do colégio. Todos eles me lembram a Brit.
- Eu entendo, por isso que você deve sair mais, para conhecer pessoas que não tenham nada a ver com a Brit.
se manteve em silêncio. Não queria conhecer ninguém. Só queria sua antiga vida de volta. Sua melhor amiga e seus pais. Ela sentiu um soluço e depois um mar de lágrimas saírem dela.
Dr. sentou-se no braço da poltrona que ela estava sentada e a abraçou.
- Nossa sessão acabou. – Ele falou quando ela se acalmou. – Mas se você precisar conversar mais, não tem problema. O próximo paciente só chega em 20 minutos.
- Não preciso, obrigada. Tenho que ir para o hospital. – Ela respondeu colocando sua mochila nas costas e se levantando.
- Certo. – Ele falou parecendo decepcionado pela garota insistir em ir ao hospital. – Bem, se você quiser esperar, eu te dou carona.
- Não precisa, Dr. , obrigada. – Ela respondeu achando gentil da parte dele oferecer carona. – O horário de visitas é só até as seis. Tenho que chegar lá antes disso.
- Tudo bem então. Só uma coisa...
- O quê?
- Não me chame de Dr. , faz eu pensar que meu pai está por perto.
riu, era bom rir depois de tanto choro. Aliás, ela agradeceria eternamente a quem inventou maquiagem a prova d’água.
- Como eu te chamo? ?
- Não, assim você vai fazer eu me lembrar da minha mãe brava! – Ele colocou as mãos no bolso.
- Como eu te chamo então?
- ! – Ele respondeu sorrindo e parecendo mais novo do que nunca.
- Está bem, ! – Ela sorriu parando em frente a porta. Ela não queria ir embora.
- Você volta aqui segunda, né? – Ele perguntou, e poderia jurar que ele estava tão ansioso quanto ela para vê-la.
- Sim, mesmo horário?
- Sim.
abriu a porta sentindo-se estúpida por ter aqueles pensamentos sobre seu psicólogo gostoso.
- Tchau, ! – Era legal chamá-lo daquele jeito.
- É... ? – Ele a chamou.
virou-se em direção a porta.
- Sim?
aproximou-se e lhe entregou um cartão.
- É o meu cartão. Anotei meu celular e o telefone da minha casa também.
- Obrigada. – respondeu guardando-o no bolso da mochila.
- Pode ligar quando precisar, não importa a hora.
sorriu e num impulso abraçou apertado, sentindo seu corpo esquentar-se e o dele se arrepiar.
Capítulo 5 - Joyride
O final de semana de foi como qualquer outro: ela dormia até as duas da tarde, tomava seu café da manhã (que consistia em uma maçã e uma latinha de Red Bull, é claro que Abby imaginava que ela havia comido frutas e panquecas) e depois passava o resto do dia no hospital com Brit. Aos sábados e domingos as visitas se estendiam até as oito da noite.
A única diferença desse final de semana para os demais era que não conseguia parar de pensar em . Aquilo a atormentava e ela fazia de tudo para distanciar seus pensamentos dele.
Ao mesmo tempo que, quando ela estava se consultando, ele era profissional e ela nem pensava nele dessa maneira, havia outros momentos, quando os dois conversavam, em que ela só conseguia pensar no quanto ela gostava dele.
A segunda-feira se arrastou para . Ela estava ansiosa para sua sessão com . Ela sentia-se ridícula e tentava enganar-se fingindo que não dava a mínima para o que aconteceria após a última aula.
Quando o sinal da última aula tocou, a menina já tinha todo seu material dentro da mochila e corria para fora do prédio.
Pela primeira vez, ela não andou tão devagar quanto uma senhora idosa e aleijada. Ela sentia o vento frio bater em suas bochechas enquanto ela corria pelos jardins da escola.
A sala dele poderia ser mais próxima e pela primeira vez ela odiou aquele imenso jardim que sempre fora o que mais gostara na escola.
chegou ofegante a sala de . Dessa vez a porta estava fechada. A menina abaixou-se e apoiou as mãos em seus joelhos, tentando recuperar o fôlego.
Ela bateu na porta e ouviu a movimentação lá dentro.
abriu a porta com um sorriso tão grande quanto o dela. Dessa vez ele vestia uma camisa rosa clara, com as mangas arregaçadas, uma calça marrom tão larga quanto a de outro dia e o mesmo tênis preto de skatista. sentiu os olhos dele a analisarem de cima a baixo, parando em sua boca.
Ó Deus, o que estava acontecendo?
- Oi, ! – Ela falou esperando que ele parasse de encarar sua boca.
Como que se saísse de um transe, piscou rapidamente e olhou para o corredor nas costas de .
- Oi, ! Entra!
entrou e largou seu corpo no sofá.
- Estava com saudades dele. – Ela falou mais para si mesma do que para .
- De quem? – Ele perguntou curioso sentando-se em sua poltrona.
- Do sofá. Você que sentou aqui da última vez. Eu sou apegada a ele, sabe?
riu olhando-a daquele jeito que parecia hipnotizá-la. Ela queria encarar qualquer outro canto da sala, mas não conseguia.
- Ele é muito confortável mesmo! Estou pensando em perguntar onde eles compraram ele, para encomendar um igual.
- Reparei que você gostou dele mesmo. – olhou significativamente para que sorriu envergonhado. – Mas acho que você não vai conseguir um igual. Esse sofá deve ser mais velho que você!
- Hei! Não sou tão velho assim! – Ele tentou parecer indignado.
riu.
-Claro que não! Só estou falando que tudo aqui nessa escola tem séculos de história e vida útil!
riu. Ele sempre ria das piadas idiotas dela.
- Vamos começar? – perguntou.
concordou com a cabeça.
Uma caixa de lenço, alguns soluços e litros de lágrimas depois, declarou que a sessão tinha acabado.
Ele aconselhara a tentar falar com sua mãe de uma maneira mais direta, como por telefone e tentar entrar em contato com seu pai, para resolver as coisas de uma vez por todas.
concordou em falar com sua mãe. Estava chateada pela falta de interesse que ela mostrara ultimamente, mas suas saudades eram maiores que sua teimosia e seu orgulho. Além do que, sua mãe também estava sofrendo demais com o fim do casamento.
Porém, não concordara de jeito nenhum em falar com seu pai. Ela sentia raiva dele agora. Parecia que ele era uma pessoa totalmente diferente. Ela amava aquele homem inteligente e brincalhão, que passava horas ouvindo Beatles com ela. Mas ele não era mais esse homem. Agora ela o via apenas como mais um desses riquíssimos homens de negócios sem alma alguma que tinha trocado a esposa e a família por uma mulher com peitos grandes.
- Eu já vou embora, você quer carona? – Ele perguntou tirando de seus pensamentos.
- Oi? Desculpe, não ouvi. Estava aqui pensando. – sorriu.
- É um bom sinal você estar pensando! Você quer carona? Estou indo para o centro.
- Você vai agora?
- Sim!
- Quero sim! Obrigada!
- Vamos então. – parecia elétrico.
foi até sua mesa e pegou uma mochila debaixo dela, colocando-a nas costas.
Os dois caminharam em silêncio pelos jardins do colégio até o portão principal. Tudo estava deserto. Todos já estavam em casa, provavelmente. agradeceu por aquilo, se alguém a visse entrando no carro de , poderia pensar coisa erradas.
Por mais que ela se sentisse atraída por ele e às vezes tivesse a impressão que ele sentisse o mesmo, sabia que aquilo era impossível. Um cara mais velho nunca se interessaria por uma garota mais nova, deprimida e problemática como ela. Sem contar toda a questão de ética que isso com certeza envolveria.
tirou as chaves do bolso, abrindo o carro de longe. Um carro prateado, minúsculo e conversível apitou e acendeu as lanternas. Era um belo carro.
abriu a porta do passageiro para ela e depois sentou-se em frente ao volante.
- Tem certeza que sua banda ainda não deu certo? – perguntou enquanto vestia o cinto. Ela não entendia muito de carros, mas tinha noção de que um psicólogo recém formado não poderia comprar um carro como aquele.
- Quê? – Ele pareceu não entender de primeira. – Ah...sim! – Ele ficou sem graça. – Digamos que meus pais deram certo, entende?
- Perfeitamente. Mas esse é um carro muito legal mesmo.
- Obrigado.
O carro parou em um farol e debruçou-se em cima de fazendo a garota parar de respirar por um segundo. Ele abriu o porta luvas e tirou um porta cds de lá de dentro, entregando-o para ela.
- Escolhe algum.
olhou o porta cds do começo ao fim, assustando-se com a similaridade de seus gostos musicais. Ela escolheu o cd do Boys Like Girls. Por algum motivo, não parava de escutá-lo nos últimos dias.
- Exatamente o que eu queria ouvir! – falou assim que a primeira música começou.
- Que bom que eu acertei!
- Eu ia gostar de qualquer coisa que você escolhesse! – pareceu arrepender-se do que tinha falado e ficou sério. – Mas eu estava pensando em Boys Like Girls mesmo. – Ele tentou consertar.
forçou um sorriso, que infelizmente saiu nervoso e olhou para a janela.
O clima melhorou rapidamente, assim que os dois viram um cara vestido com uma daquelas fantasias de pelúcia do Barney ser perseguido por um cara alto e fortão com uma cara muito brava. Os dois começaram a gargalhar e a inventar teorias do porque o Barney estava sendo perseguido.
O tempo passou rápido e quando os dois se deram conta, estavam em frente ao hospital Saint James. parou no meio fio e os dois ficaram em silêncio por alguns segundos. não tinha vontade de despedir-se.
- Bem... – Ela falou tirando o sinto e colocando a mochila nas costas. – Obrigada, . Espero não ter te atrapalhado.
- De nada, . É claro que não atrapalhou, foi divertido! – Ele sorria encarando o volante.
Os dois se olharam. Parecia haver faíscas. não sabia como despedir-se. Deveria lhe estender a mão? Beijar-lhe a bochecha? Ou então simplesmente acenar?
poupo-a da preocupação e aproximou-se de seu rosto. O problema é que cada um virou o rosto para um lado e os dois acabaram trocando um selinho desajeitado.
Os dois riram envergonhados e saiu do carro. Ela respirou fundo, deu alguns passos, mas parou no meio do caminho e voltou até o carro.
a observava.
Ele abriu o vidro e ela colocou sua cabeça dentro do carro.
- Tive uma idéia. - Ela falou sem muita certeza do que estava fazendo. Ela não costumava agir assim por impulso. – Você quer conhecer a Brit?
pareceu pensar por alguns instantes.
- Quero.
Ele desligou o carro, saiu e o fechou, acompanhando até a porta do hospital.
- Oi Brit! – cumprimentou a amiga como de costume. a observava calado. – Trouxe uma visita para você! – Ela apontou . – Fala “oi”, ! – Ela o cutucou como se Brit estivesse mesmo ali.
- Ah, desculpe. – Ele a olhou confuso. – Oi Brittany!
- Não chama ela de Brittany, ela odeia. – falou como se fosse óbvio.
- Certo. Oi Brit!
- Brit, esse é o , ele é o novo psicólogo da escola. Lembra que eu comentei sobre ele? – mordeu o lábio como que se tivesse medo de que Brit falasse tudo o que tinha lhe contado sobre .
- Ela é linda, .
- Você não viu ela acordada... – falou lembrando-se da amiga e acariciando sua testa. – Ela era a favorita dos meninos. – falou tentando esconder aquela pontinha de inveja que ela sempre sentira da amiga, mas que sempre evitara encarar. – Eu era a esquisita. Bem, ainda sou...
riu.
- O que foi?
- A gente tem que trabalhar com a sua auto-estima, !
- Do que você está falando? – não entendia o rumo daquela conversa.
- Olha para você, ! – a olhou de cima a baixo e ela fez o mesmo. – Você é gostosa!
começou a rir de que estava pálido e colocava as mãos na cabeça com a cara desesperada. tinha a impressão de que ele se esconderia debaixo da cama de Brit. Ela não conseguia deixar de sentir-se feliz.
- Eu quis dizer linda, não gostosa! – Ele tentou consertar.
- Não se preocupe, , agora nós estamos quites!
- Agora nós estamos quites. – Ele falou movimentando a cabeça e com as bochechas ainda rosadas. Estava tão fofo.
- Vamos tomar um café ou coisa do tipo. – concordou. – A Brit já deve estar rindo das nossas caras.
- Da minha você quer dizer, né? – perguntou enquanto se despedia de Brit.
-É. Falei das nossas só para você não se sentir tão mal!
sorriu e os dois saíram do quarto, rumando para a Starbucks que ficava em uma rua paralela. De lá, foram até um daqueles bancos de frente para o Tâmisa.
Os dois sentaram-se lado a lado observando o sol sumir no horizonte enquanto tomavam capuccinos.
- ? – o chamou olhando para o perfil dele, que olhava para a paisagem a frente dos dois.
- O quê? – Ele continuava olhando para frente.
- Você sabe basicamente tudo sobre mim, e eu não sei nada sobre você. – virou-se para ela curioso. – Isso não é justo.
- Claro que é! – Ele falou em tom de brincadeira e ela o olhou “brava”. – Essa é uma das vantagens de ser psicólogo. – virou-se para frente reparando na imensa quantidade de cores no céu. – O que você quer saber?
Ela sorriu vitoriosa voltando-se para ele.
- O que você quiser me contar!
- Bem, você já sabe da minha banda, já sabe que toco , já sabe que acabei de me formar...
- Onde você se formou?
- Oxford.
- Ui! Inteligente!
- Lógico! – Ele falou todo convencido. – O que mais tem para você saber... – Ele olhou para cima pensando. – Meus três melhores amigos no mundo são meus companheiros de banda. – Involuntariamente, fechou a cara, lembrando-se de Brit. reparou na reação dela e colocou sua mão ao lado da dela no banco. Elas estavam apenas se encostando lado a lado, mas o sentia mais presente do que nunca. – Eu não sei o que eu faria se alguma coisa grave acontecesse a qualquer um deles. – olhou nos olhos dele, que brilhavam alucinadamente mesmo com a pouca claridade. – Eu não namoro... – sorriu, mas tentou disfarçar rapidamente. – Não tenho filhos e não pretendo tê-los tão cedo e obviamente não sou gay, já que já até te chamei de gostosa! – Ele falou rindo e arrancando uma risada de .
- Você é uma comédia, ! As vezes até me esqueço que você é meu psicólogo.
- Também esqueço que você é minha paciente!
notou o quanto os dois estavam próximos. A mão de já não estava apenas ao lado da sua, estava em cima. Ela sentia o perfume dele, mas não conseguia tirar os olhos de sua boca. Lentamente, aproximou seu rosto do dela, até ela sentir o nariz dele roçar sua bochecha e seu estômago fazer piruetas.
- Sabe duma coisa? – falou levantando depressa com uma expressão preocupada no rosto e deixando paralisada. – Está tarde.
- Está mesmo – levantou esticando a roupa.
- Eu te levo para casa.
- Não! Não precisa, eu pego o metrô.
- Já está escuro, não vou deixar você pegar o metrô sozinha.
- Eu pego o metrô no escuro todos os dias. Sabia que eles têm luzes lá dentro? – tentou uma “piadinha” para aliviar o clima.
Aparentemente funcionou, já que sorriu.
- Tem certeza?
- Tenho. – parecia em parte aliviado. Ele provavelmente estava tão confuso quanto ela sobre o que tinha quase acontecido. – Tchau, ! – Ela acenou e virou as costas. Quanto menos contato físico naquele momento, melhor.
- ? – Ele a chamou pelo apelido e ela gostou da maneira como a voz dele soava.
- Oi? – respondeu virando-se para .
- É...Sabe como é, né? – Ele olhava para o chão, chutando pedrinhas.
- Não, não sei, .
Ele a encarou com um sorriso nervoso.
- Me liga quando chegar, só para eu ter certeza que você chegou bem!
- Claro! – Ela falou já seguindo seu caminho.
Capítulo 6 - Feeling This
A semana passou sem mais novidades para e . Eles se tratavam apenas como psicólogo e paciente, fazendo apenas algumas de suas brincadeirinhas um com o outro de vez em quando.
tinha se preocupado após o “quase beijo”. Imaginou que ela e não conseguiriam mais conversar normalmente ou nem mesmo continuar a terapia normalmente. Para a felicidade dela tudo estava normal.
É claro que ela ainda se pegava sonhando acordada com em vários momentos, mas ela tratava de pensar logo em outro assunto.
Segundo , era uma ótima paciente, ela progredia rápido. Naquela semana, ela já tinha começado a falar com sua mãe (elas se conversavam por telefone diariamente agora) e começado a visitar Brit apenas um dia sim e outro não.
falava que sentia orgulho em tê-la como paciente!
- ? – Ele a chamou enquanto ela pegava uma lata de Red Bull no frigobar da sala dele após a sessão de sexta-feira. Eles sempre tomavam Red Bull juntos após as sessões.
- Quê? – Ela perguntou concentrada em abrir a lata.
- Minha banda vai se apresentar hoje em um pub para poucas pessoas, você quer ir assistir?
tirou seus olhos da lata e olhou para . Ele parecia ansioso.
- Claro! – Ela sabia que tinha resolvido não ir ao show dele alguns há dias atrás, mas agora ela era uma nova , que não se isolava mais do mundo. Certo, a quem ela estava enganado? Ela só não queria se isolar dele, o mundo que se explodisse. – Me passa o endereço que eu vou!
anotou o endereço em um papel e entregou para ela.
- É às nove. Se você quiser carona, eu vou sair daqui às cinco. Talvez nós pudéssemos fazer alguma coisa antes ou sei lá... – falou levemente corado encarando o quadro que ficava a cima do sofá verde.
- Não precisa, . – Por mais que ela se sentisse tentada com a proposta, era melhor não. – Peço para o meu motorista me levar.
- Ah sim... – Ele balançou a cabeça como que se lembrando que estava no bairro mais rico da cidade. achou ele meio desapontado, mas com certeza era só impressão. – Te espero à noite então!
- Estarei lá! – terminou sua latinha de energético e a jogou no cesto de lixo próximo a escrivaninha. – Tchau, Dr. ! – Ela falou só para irritá-lo e pegou sua mochila.
Apesar daquele ser o dia que deveria visitar Brit, a última vez que tinha ido fora quarta-feira, a menina resolveu ir direto para sua casa. Fazia muito tempo que ela não tinha um compromisso social, e ela queria estar preparada.
Passou o resto de sua tarde tirando todas as roupas de seu armário tentando achar uma que fosse adequada. Ela precisava fazer compras. Seu armário estava cheio de peças horrorosas e inúteis. Fora que a roupa que ela vestisse passaria uma mensagem para quem a visse.
Ela não queria passar a mensagem errada.
Ela queria algo sexy e sedutor, mas também não poderia ser algo que gritasse “quero dar!”. Afinal, seu psicólogo estaria lá. Por mais que ele fosse , e não parecesse em nada com um psicólogo, ele era o seu. Ela tinha que aprender a lidar com aquilo. Ele não era um cara, ele era um profissional.
Após várias crises existenciais e ímpetos de criar uma nova religião, onde todos seriam obrigados a andar apenas de toalhas por ai, finalmente encontrou algo para usar. Não era a roupa perfeita, mas foi o mais próximo disso que ela conseguiu chegar com um armário onde metade das roupas tinham ficado grandes demais para ela.
Separadas em cima da cama, estava uma calça jeans justa de lavagem escura e uma blusa preta simples na frente, mas com um decote que ia até o meio das costas. Ela não se lembrava da última vez que tinha usado aquelas peças. Para completar o seu “modelito”, ela calçaria seus altíssimos scarpins pretos e carregaria uma pequena bolsa de couro roxo.
colocou o último cd do New Found Glory para tocar e mergulhou em sua banheira lotada de espuma. Toda a ansiedade que ela sentia para aquela noite sumiu, ela teve até vontade de cancelar tudo e ficar ali se transformando em uma uva passa humana.
Mas ela não perderia aquele show por nada.
Pouco depois das nove, o volvo azul escuro que seu motorista dirigia parou em frente a esse pub em Knightsbridge. Uma pequena e charmosa placa dizia: “Whits”. Era ali mesmo.
despediu-se de Francis, seu motorista, avisando-o que ligaria quando precisasse dele.
Suas mãos suavam e ela não sabia exatamente o porquê. Ela abriu a porta, deparando-se não com um pub antigo e empoeirado como ela imaginava, mas sim com um ambiente de decoração moderna em tons de roxo, vermelho e preto. No fundo havia um palco. Na bateria se lia “McFly”.
Entre a porta e o palco, estavam pequenas mesas rodiadas por pufes, ou então mesas altas acompanhadas por bancos também altos. O lugar estava lotado.
- ! – A menina ouviu gritar de uma mesa alta próxima ao palco. Ele acenou para ela e a menina sentiu coisas estranhas em seu estômago novamente. Ela se dirigiu até a mesa. Lá estavam mais três garotos tão bonitos quanto . Certo, era o mais bonito, mas os outros não eram feios.
Ela aproximou-se da mesa, sentindo o olhar dos quatro nela, principalmente o de . Ela estava morrendo de vergonha. levantou-se para cumprimentá-la. Ele vestia uma calça jeans larga (para variar), uma camisa preta e por cima um blazer xadrez bege. Ele estava tão bonito quanto nunca. Ele a olhava de uma maneira diferente, mas que ela gostava. Provavelmente estava estranhando as roupas mais sofisticadas
- Oi! – Ele falou com uma expressão um tanto boba no rosto e lhe beijou a bochecha.
- Oi, desculpe o atraso.
- Quinze minutos não são considerados atraso!
- Que bom!
olhou para trás lembrando-se de seus amigos.
- , esses são , e . – Os três garotos acenaram e sorriram para ela. – Pessoal, essa é a ! Senta ai! – Ele puxou um banco ao lado do dele.
- Obrigada. – Ela se sentou.
- O que você quer beber, ? – perguntou, deixando sem resposta. Será que ela poderia beber algo alcóolico na frente de ? Ele era da escola, afinal. E ela era menor.
Como que se lesse seus pensamentos, falou:
- Eu não sou o psicólogo da Hampstead School agora, sou apenas o !
era tão legal!
- Quero vodca com tônica e gelo, por favor !
chamou o garçom e fez o pedido.
- Que horas vocês vão tocar? – perguntou notando que observava cada movimento seu.
- A qualquer momento! – respondeu parecendo nervoso.
- Nós só temos que esperar a hostess nos anunciar. – falou olhando em volta como procurando por ela.
- Vocês ainda ficam nervosos antes de tocar?
- Eu não fico. – respondeu bebendo um gole de sua cerveja. – O também não, né ? – concordou. – Mas o e o ficam!
- Nós não temos sangue de barata como vocês dois! – falou fazendo pouco caso dos amigos.
- Hei, gente! Acho que está na hora! – apontou para o palco. Uma bela moça subia no palco iluminado.
- Boa noite a todos! Estou aqui para introduzir a nossa performance ao vivo da semana! – Ela olhou para os meninos. – Com vocês, McFly!
Todos do pub aplaudiram.
- Boa sorte, meninos! – ela falou antes que eles subissem ao palco.
se impressionou com o talento deles. Nunca imaginou que eles seriam tão bons! A música era contagiante e ela tinha vontade de cantar junto com eles. Porém, sua parte favorita do show tinha sido reparar no jeito que a olhava mesmo enquanto tocava.
Ela teve certeza de que queria ele e teve certeza de que a queria também. Ela não faria nada para impedir que aquilo acontecesse.
Os meninos tocaram apenas umas cinco músicas e voltaram para a mesa, logo , e arrumaram garotas para conversar (lê-se agarrar), deixando e sozinhos. Os dois conversaram e riram como sempre, dessa vez um tanto mais espirituosos por causa do álcool.
Na maior parte do tempo, só conseguia pensar em como queria que tirasse as roupas.
- , seu celular está tocando! – a avisou interrompendo o que conversavam.
- Quê? – Ela estava tão hipnotizada por que nem reparara no celular.
- O celular. – apontou para a bolsa dela, que tocava e vibrava.
- Oh, claro! – Ela abriu a bolsa sem graça, tirando celular lá de dentro.
Era Francis, seu motorista, avisando que sua filha tinha pego catapora e ele teria que levá-la no hospital, por isso não poderia buscá-la. falou que pegaria um táxi ou então o metrô de volta para casa.
- Você não vai voltar sozinha a essa hora. – falou assim que ela desligou o telefone.
- Não tem outro jeito, mas é tranqüilo de táxi. – respondeu bebendo um golinho de seu whisky com club soda. Ela já tinha perdido a conta de quantos drinks bebera.
- Eu te levo.
- Claro que não, . Você está do lado da sua casa, não tem sentido sair daqui e ir até a zona 3!
- Você pode passar a noite comigo então. – Ele falou naturalmente e engasgou com o drink. – Digo, eu durmo no sofá e você na cama. – Ele explicou-se.
- Não vai atrapalhar?
- Claro que não! Vai ser divertido! – Ele falou sorrindo com uma expressão fofa e infantil.
- Está bem então! – Ela sorriu imaginando todas as novas possibilidades que se abriam ao se passar a noite na casa de . Sim, ela estava tendo pensamentos totalmente impuros com seu psicólogo e nem ligava para isso!
- Vamos? Acho que meus amigos nem vão reparar nossa ausência. – apontou , e , cada um em um canto do pub se agarrando com uma garota.
- Eles nem lembram da nossa existência agora! – levantou-se e pegou sua carteira.
- Não! – colocou a mão na dela, impedindo-a de pegar o dinheiro. – Eu pago!
- Vamos dividir? – tentou.
- Nem que você implore. – sorriu tirando algumas notas de sua carteira e colocando-as na mesa.
- Obrigada, .
- De nada, ! – Ele colocou a mão em seus ombros e os dois andaram até a porta do pub.
- Onde está seu carro? – perguntou quando os dois saíram e ela não avistou o carro prateado. ficou calado com um sorriso um tanto psicopata no rosto. – ? – estava curiosa.
- Nós vamos a pé, não vim de carro!
- Ah não! É longe? – perguntou preocupada. Não é fácil equilibrar-se em saltos finos após alguns drinks.
fez uma cara de sofrimento.
- É um pouco longe, .
Que idéia era aquela de andar a pé por ai sendo que ele tinha aquele carro super duper na garagem? pensou que deveria ter começado a beber bem antes de chegar no pub. Não que ele parecesse bêbado. Estava normal, apenas mais “solto”.
parou em frente a uma casa branca, fina e alta com janelas e porta pretas.
- O que você está fazendo ai, ? - tirou umas chaves do bolso e colocou-as na fechadura. – Você me enganou! – Ela falou dando um tapinha no braço dele. – Falou que era longe!
riu.
- Eu sei! - Ele falou vitorioso. – Foi engraçado ver a sua preguiça aflorar.
- Não foi preguiça! – Ela falou enquanto abria espaço para que ela entrasse. À sua esquerda estava uma cozinha que até parecia profissional, à direita uma longa escada e à frente, um corredor escuro. – Você só fala isso porque está usando esses tênis super confortáveis!
- É verdade! Mas não te matou andar meio quarteirão, matou? – Ele tinha aquele brilho no olhar de novo.
- Não mesmo! – entrou na cozinha, abrindo a geladeira e tirando Red Bulls de lá. – Sua casa é tão legal quanto seu carro!
- Obrigado! Minha mãe contratou esse decorador chique para arrumar ela. Ela disse que não queria o filho dela morando numa possilga. – Ele riu e entregou uma lata para .
- Obrigada. – acendeu a luz do corredor, que descobriu terminar em uma grande sala de televisão. – Desconfio que nós estamos viciados. – Ela apontou para a lata.
- Desconfio que você esteja certa! – sentou-se em um sofá vermelho de aparência muito confortável e bateu no assento ao seu lado para que se sentasse.
Ela se sentou, sentindo seu corpo afundar em um “buraco” junto com . Aquele era o melhor sofá da historia.
- Cara! Esse sofá é ainda melhor do que o da escola!
- Ele é a minha parte favorita da decoração que minha mãe fez. Pode tirar o sapato, se você quiser. Sei que seu pé está doendo.
tinha se esquecido totalmente de seu pé.
- Ah sim. – Ela a baixou-se para tirar os sapatos. Era tão bom sentir o dedinho do pé novamente!
Ela subiu a cabeça subitamente, encontrando-se a poucos centímetros de . Ele a olhou profundamente nos olhos e a garota estremeceu, criando um sorriso malicioso em . Ele deslizou as mãos por sua cintura, aproximando seus corpos. sentiu a rápida respiração dele. Seus lábios se tocaram e sentiu uma sensação quente em todo seu corpo.
Só agora, que estava acontecendo, ela se deu conta do quanto realmente queria aquilo.
abriu mais sua boca intensificando o beijo. deslizou sua mão por debaixo da camisa dele sentindo o garoto estremecer com seu toque. Ele sorriu no meio do beijo e tirou seu blazer, jogando-o no chão. puxou-o para mais perto sentindo as mãos dele em suas pernas. Ela separou o beijo, dando pequenos beijinhos no pescoço dele enquanto desabotoava a camisa dele. A cada botão a boca dela descia mais e sentia mais arrepios. Sua camisa finalmente se foi, revelando uma barriga definida.
Ele puxou para mais um beijo, passando suas mãos por dentro da blusa dela. já não respirava direito, porém respirar se torna algo secundário quando se tem alguém como nos braços. Ele puxou a blusa para cima e ela levantou os braços para que ele a tirasse. soltou a blusa no chão dando mordidinhas no pescoço dela. As mãos dele passaram sobre a barriga dela, chegando no cós de seus jeans. Ele abriu o botão delicadamente, mas parou subidamente ao chegar no ziper, afastando-se e indo para o outro lado do sofá.
- O que foi, ? – perguntou ofegante e surpresa.
tinha as mãos no rosto e batia com as pernas ansiosamente no chão.
- Isso é loucura, não posso fazer isso! – A expressão dele era indescritível. Parecia até desespero.
- Claro que pode, você estava fazendo! Ninguém precisa saber.– Ela respondeu aproximando-se e passando os lábios vagarosamente pelo pescoço dele.
Ele deu um pulo e levantou-se, assustando .
- Eu não posso! - Ele falava alto e rude. Ela nunca o tinha visto daquele jeito. - É totalmente errado, é antiético, eu posso perder meu emprego, você pode ser expulsa e eu posso até ser preso! – evitava olhá-la e abaixou-se pegando a blusa dela do chão. – Veste. – Ele lhe estendeu a blusa encarando o chão.
não sabia o que falar. Ela pensava que ele queria aquilo tanto quanto ela, e que, assim como ela, estava disposto a alguns sacrifícios para que nenhum dos dois se prejudicasse e para que seja lá o que estivesse acontecendo valesse a pena. Ela estava errada.
vestiu a blusa e os sapatos e fechou a calça, sentindo-se envergonhada, frustrada e irada.
- Você entende a situação, ? – concordou com a cabeça fazendo força para não chorar. – Simplesmente não vale a pena! – Ele falou finalmente olhando nos olhos dela. Ele também parecia atormentado.
- É , não vale a pena. – Ela pegou sua bolsa e saiu rapidamente da sala antes que o socasse ou coisa parecida.
- Aonde você vai? – Ele perguntou correndo atrás dela e pegando em seu braço. Ela se movimentou bruscamente, fazendo-o tirar a mão dali assustado.
- Para casa.
- Eu te levo.
- Nem fodendo, ! – Ela abriu a porta saindo para a rua movimentada e acenando para um táxi.
- Você não vai voltar sozinha! São três da manhã! – Ele falou pegando de novo no braço dela e impedindo-a de entrar no táxi.
- Tira a mão de mim, . – Ela falou mal reconhecendo a própria voz. Ela estava realmente irada. Ele tirou sua mão rapidamente, cruzando os braços. – Eu poderia estar dentro da sua casa, você que escolheu dessa maneira!
não respondeu, apenas mordeu o lábio nervoso sem olhá-la nos olhos. Ela entrou no táxi sonhando com uma morte muito lenta e dolorosa para .
“Não valia a pena”.
Ela faria qualquer coisa para tê-lo, era lamentável que ele não pensasse da mesma maneira.
Capítulo 7 – Conspiracy
passou o final de semana inteiro odiando a e principalmente a ela mesma. Como os dois tinham se metido naquela confusão? Estava tão bom antes! Aquela relação estranha que misturava um psicólogo legal e um melhor amigo que há tempos ela não tinha. Mas não, ela tinha que estragar tudo e deixar aqueles hormônios idiotas falarem mais alto. Sério, qual a utilidade dos hormônios? Eles que nos causam a tpm, além de tirarem a razão de nossas cabeças.
Certo, sabia que os hormônios eram importantes para várias coisas e que ninguém viveria sem eles, mas no momento, ela também os odiava. Aliás, ela voltou a sua velha forma, ela odiava o mundo.
Após sua última aula na segunda-feira, ao invés dela rumar para o prédio onde ficava a sala de como já estava acostumada, ela foi direto para o portão. Até parece que ela agüentaria olhar apara a cara dele novamente. Seria totalmente humilhante, além do que, ela ainda não garantia que não o agrediria.
Ela estava a poucos passos do portão, quando ouviu uma voz chamá-la. Ela fingiu não ouvir e continuou andando. Para o azar dela, a pessoa era rápida. Maldição. O que ele queria agora?
- Srta. ?! – O diretor Armstrong falou pegando em seu ombro e impedindo-a de correr.
- Quê? – Ela simplesmente não conseguia ser legal com ninguém.
- Se eu não me engano, a senhorita tem um horário com o Dr. agora mesmo, não tem?
olhou em volta tentando imaginar uma desculpa. Não conseguiu nada.
- Tenho, mas tenho um compromisso hoje. – Essa foi a melhor desculpa que ela conseguiu. Medíocre.
- Cancele! Você não pode perder uma sessão de terapia de jeito nenhum!
Ele a pegou pelo braço e praticamente a arrastou. não fazia idéia de que aquele velhinho gordinho e frágil pudesse ter tanta força.
- Não, diretor Armstrong! Esse compromisso é inadiável! – Ela tentou desvencilhar-se dele, mas não conseguiu.
- Não existe compromisso inadiável! - Ele falou bem humorado. – Me passe o telefone da onde é o seu compromisso que eu peço para a Agata cancelar! – Ele completou já entrando no prédio de .
- Você não está entendendo, diretor! – Ela tentou ser enfática enquanto pensava no que era melhor: falar que tinha pego gripe aviária ou falar que tinha sido convocada pelo exército.
- O Dr. conversou comigo semana passada e falou que você estava tendo ótimos resultados! Não podemos interromper isso, Srta. !
foi se desesperando ao ver a porta de se aproximar e suas chances de escapar acabarem.
O diretor bateu na porta e segundos depois em com uma cara um tanto abatida e agora surpresa a abriu. sentiu o chão se abrir aos seus pés ao ver ele novamente. Ela sentiu o gosto dele em sua boca e uma vontade imensa de agarrá-lo.
- Olha quem eu peguei tentando fugir da sessão, ! – O diretor falou sorrindo e se parecendo com o papai noel.
sorriu nervoso.
-Olha aqui... – falou já sem paciência. Ela não agüentaria ficar na mesma sala que ele novamente. – Eu realmente não posso ficar hoje!
Ela tentou sair, mas o diretor segurava seu ombro.
-É só uma horinha, Srta. ! Comece contando como foi seu final de semana! – O diretor falou virando-se e fechando a porta atrás de si.
Ali estava ela de novo, sozinha com . Ela queria sair correndo de lá.
- O que eu posso falar sobre o meu final de semana? – Ela falou irônica e grossa. – Eu aprendi a lidar com a rejeição. – Ela falou a última palavra pausadamente, para que realmente entendesse aonde ela queria chegar. – Acho que, como meu psicólogo, isso te interessa, não?
sentou-se em sua poltrona e olhou para o chão enquanto mexia nas próprias mãos. Ele realmente estava atordoado.
- Certo. – Ele finalmente falou e olhou para ela. – Obviamente isso não pode continuar. Não posso mais te tratar.
- Jura? – Ela perguntou irônica.
- Eu vou pedir para um amigo meu de faculdade te atender daqui para frente.
- É melhor. Espero que ele não me rejeite. – suspirou. – E para você, boa sorte com alguma nova paciente! Espero que você não tenha crises de ética e consiga levar ela para a cama.
Ela estava pegando pesado.
- Eu não queria te levar para cama! – Ele tinha algo nos olhos que nunca tinha visto. Ele estava realmente bravo.
- Percebi quando você praticamente me expulsou da sua casa.
fechou os olhos como que se acalmando.
- Você não tem noção do que está acontecendo aqui, tem ? - Do que ele estava falando? - Eu não queria só... – Ele falou a última palavra mais alto. – te levar para a cama! – sentou-se no sofá. – Desde o dia que você colocou os pés aqui eu senti todas essas coisas idiotas que eu pensei nunca sentir! – parecia prestes a infartar. Ele gesticulava e falava alto. – As minhas mãos tremiam e suavam, eu estava sempre arrepiado, mesmo com todas as janelas fechadas... – Ele apontou para a janela. – Parecia que eu tinha monstros morando no meu estômago e eu só conseguia pensar em como eu queria te beijar e ter você por perto! - Os dois ficaram em silêncio. tentava assimilar todas essas novas informações, arrependendo-se por ter sido tão grossa com ele. – Então, não, eu não queria apenas dormir com você. Eu queria mais. – Ele falou baixo, aproximando-se dela e olhando em seus olhos. – Mas eu não posso querer mais! – Ele falou mais para si mesmo do que para ela, mas sentiu o pânico tomar conta de seu corpo.
- Não?
- Acho melhor nós não nos vermos mais. Eu preciso te esquecer.
- Não! Não quero que você me esqueça! Não quero esquecer você! Eu preciso de você, droga! – sentiu as lágrimas quentes caírem. Ela estava segurando esse choro desde sexta-feira.
acariciou seu rosto, limpando as lágrimas e lhe beijando os lábios delicadamente. pensou que tudo ficaria bem.
Porém, levantou-se e foi até a janela encarar aquele céu cinzento.
- É melhor você ir. – ele falou com a voz embargada, de costas para ela.
- , eu me formo daqui a oito meses. Eu espero esse tempo, você espera? – Ela perguntou com suas últimas esperanças. Em oito meses ela não teria mais relação nenhuma com aquela escola e nada impediria ela e .
- Não. – Ele ainda estava de costas, mas ela tinha certeza que ele chorava.
Ela tinha certeza que ele esperaria.
levantou-se e andou devagar até a porta, imaginando que ele pudesse mudar de idéia.
Ele não mudou.
passou o resto da semana trancada em sua casa, em seu quarto mais especificamente. Nem na cozinha ia, Abby lhe levava comida até lá. Ela também parara de visitar Brit no hospital. Ela não tinha vontade de sair da cama e nunca tinha dormido tanto em toda a sua vida.
Abby estava preocupada, já tinha até ligado para Sra. , mas ela estava em um spa no sul da Itália onde celulares não pegavam.
havia lhe implorado para que ela não chamasse seu pai.
Ao invés disso, Abby chamou o médico da família, o Dr. Parker. Abby tinha colocado na cabeça que tinha anemia e por isso estava de cama. Pois é, uma anemia chamada , só se fosse.
acompanhava a forte luz que passava por debaixo das cortinas, que ficavam fechadas o tempo todo agora, quando ouviu uma batida na porta.
Abby não desistia.
- Estou dormindo, Abgail! – Ela falou o nome inteiro de Abby para ter alguma “autoridade”. Até parece que funcionaria... Abby abriu a porta deixando uma luz cegante entrar. cobriu os olhos com os tapa olhos que estavam em sua testa. – Estou dormindo, Abby. Que macumba, nem dormir posso... – Ela começou a resmungar tão rápido que nem ela mesmo entendia o que falava.
- Boa tarde, . – Abby pagaria por aquilo. Ela realmente tinha chamado o Dr. Parker.
- Eu estou ótima, Dr Parker. Não preciso ser examinada.
- Por que faz 8 dias que você não sai da cama então?
O problema desses médicos que cuidam da família inteira e te viram saindo da barriga da sua mãe é que eles são extremamente folgados. Acham que podem te tratar como uma criança.
- Sei lá, cara... preguiça, talvez? – Ela falou cobrindo a própria cabeça com o lençol e sendo o mais bruta que conseguia.
- Sabe, você poderia deixar um pouco de luz entrar. A luz do Sol é que nos faz sintetizar vitaminas. – ouviu movimentação no quarto e depois um clarão tomar conta de seus olhos, mesmo protegidos pelo tapa olho.
- Obrigada pela aula de biologia, mas se você for me cegar a síntese de proteínas não vai servir para nada, já que eu nunca mais vou sair de casa mesmo.
- Sempre dramática, né ? – Ela não respondeu nada. Só procurava algo pesado para arremessar nele. Ela só tinha travesseiros e almofadas a seu alcance.
Ela pegou sua almofada em forma de morango e a arremessou, sem nem se importar com a direção.
- Ahhh! – Abby gritou. queria acertar Dr. Parker, mas acertar Abby também era bem útil, já que ela era a culpada do homem estar ali.
- Eu lembro de quando você pegou catapora e não deixava ninguém encostar em você além da sua mãe. – Dr. Parker falou mais próximo agora. Provavelmente estava sentado na poltrona ao lado da cama.
Ela se lembrava. Também se lembrava que depois de se curar da catapora, não queria mais voltar par a escola e passou a fazer pintinhas vermelhas com canetinha pelo seu corpo.
Desde sempre ela evitava a escola.
- Minha mãe não está aqui, então ninguém chegará perto de mim.
- Vamos, . Deixa eu te examinar. Prometo que vai ser rápido, não vai doer e não envolverá agulhas.
tirou o lençol da cara e depois o tapa olhos. Aquele quarto estava tão claro que ela mal o reconhecia.
Ela levantou-se vagarosamente da cama sem nem sentir-se envergonhada por estar usando boxers listradas e uma antiga camiseta do Simple Plan. Ela geralmente sentiria. Mas agora simplesmente não ligava.
Dr. Parker escutou seu pulmão e seu coração com o estetoscópio. Olhou seu ouvido com aquele instrumento estranhíssimo, a fez botar a língua para fora para ver sua garganta, além de medir sua temperatura com um termômetro super hightech, que ele colocava em seu ouvido e na mesma hora dava a temperatura.
- Cara, isso é legal! Deixa eu ver? – O médico entregou o termômetro para que ficou tirando sua temperatura compulsivamente. Aquilo era genial.
- Você está ótima, . Pelo menos, fisicamente.
o fulminou com os olhos.
- Eu falei que estava ótima. Vocês que não me escutaram. – Ela falou em tom superior.
- Eu só acho que você deveria tentar se alimentar melhor, a Abby me contou que você se alimenta basicamente de sorvete, Red Bull e skitles. Você está muito magra, .
- Que mentira! – Ela olhou incrédula para Abby. – Eu também como nutella de colher.
Abby a repreendeu com o olhar.
- Mais cedo ou mais tarde você vai ficar doente comendo assim. – Dr. Parker falou cruzando os braços.
- Eu sempre me alimentei assim, não vai ser agora que vou mudar.
- Quando você pretende voltar à escola?
- Algum dia.
O médico suspirou.
- Eu soube que você também não está mais fazendo terapia.
tinha recebido o endereço do amigo de dias atrás, mas não estava nem um pouco disposta a discutir seus problemas amorosos com um amigo do causador deles.
- Não mesmo.
- A Abby me falou que você trocou de psicólogo. Você teve algum problema com o anterior?
Aquilo estava indo longe demais.
- Não. – Ela não agüentava mais aquela “inquisição”. Ela voltou para a cama, vestiu o tapa olhos novamente e se cobriu. – Obrigada por ter vindo sem ter sido convidado, Dr. Parker. Vocês podem fechar as cortinas quando saírem, fazendo o favor?
ouviu a movimentação de alguém fechando as cortinas e depois de passos, até se encontrar no total silêncio novamente. Certo, não era total silêncio, já que ela ouvia Papa Roach. Ela só conseguia ouvir Papa Roach ultimamente.
Now I'm full of guilt and shame
I can't point a finger cause theres no one to blame
So I say you'll never do it again
But when the sun goes down, you are my only friend
I think that I am starting to see
I have become everything I never wanted to be
I'm really getting sick of myself
Cause when I look into the mirror,
I see somebody else
Ela sentia-se culpada e envergonhada por ter iniciado toda aquela história com , mas sabia que também não poderia culpá-lo por nada. Ele não poderia arriscar o emprego, a carreira...
lembrou-se de todos os momentos que passou com , não apenas os de contato físico, se você me entende, mas principalmente os que eles conversavam e riam juntos.
Ele foi seu único amigo desde que Brit sofrera o acidente, mas aquela amizade tinha durado apenas pouco mais de duas semanas.
Agora, ela estava ali, na cama novamente sem nem ver a cara do mundo. Ela não poderia se transformar naquele vegetal de novo. Ela já nem se reconhecia quando se olhava no espelho. Parecia outra pessoa.
Ela estava com uma aparência péssima. Uma garota branca demais, magra demais com o cabelo comprido demais.
Era hora de reagir.
Capítulo 8 – First Day of The Rest Of Our Lifes
pulou da cama sentindo-se levemente fraca e tonta. Ela ainda não tinha comido nada naquele dia. Nem mesmo skitles.
Abriu a porta do quarto sorrindo sem nem saber o porquê e viu seu claro mezanino. Estava exatamente do jeito que ela se lembrava. Pelo menos isso não tinha mudado.
Desceu as escadas chamando a atenção dos empregados que não a viam há tanto tempo.
Chegou a gigantesca cozinha encontrando sua gorda, simpática e adorável cozinheira
picando alguns vegetais.
- ? – Ela perguntou surpresa e feliz. – Finalmente você saiu da toca! Estava ficando
preocupada qualquer hora ia lá ter uma conversa com você! – Ela a olhou com um
olhar maternal.
- Não se preocupe, não pretendo voltar para aquela cama tão cedo!
- Bem, já sei porque você está aqui então! O que você quer que eu prepare para você?
fingiu pensar por um segundo, mas já sabia exatamente o que queria.
- Salmão com purê de batata e brócolis! – Ela salivava.
- Essa é a minha ! – A cozinheira passou a mão no cabelo da menina. – Não agüentava mais ver a Abby subindo com aquelas coisas horrorosas que você estava comendo!
O estômago dela se enjoava ao pensar em skitles ou sorvete, mas ela tomaria um Red Bull com todo o prazer. Era um vício mesmo. Menos de meia hora depois, se esbaldava com seu prato favorito. Não se lembrava da última vez que o tinha comido. Estava tão bom quanto nunca.
Ela voltou para seu quarto e finalmente parou de ouvir Papa Roach. Ela precisava de algo alegre. A garota passou os olhos por toda a sua coleção de cds, até parar em um cd do Allister.
I've been sitting here for hours
Burned an image of you in my mind
Finding comfort in the words you say
But it's not the same
I know you're worth the wait
And I can't explain
What I'm going through inside
But I would turn away the world
Just to have you here with me tonight
Se uma banda poderia ser considerada feliz, seria Allister. Certo, se você for prestar atenção nas letras, o cara é bem deprimido porque a garota deu o fora nele e tal, mas as melodias são totalmente contagiantes e alegres! Não tem como ficar triste ouvindo Allister!
We can take our time
Making sure that everything feels right
It won't be easy but I'm not afraid
You're so far away
We made our start from scratch
It's now or never but we can't look back
I need you with me for another day
You're so far away
Yeah far away
Ela tentava ignorar o lado romântico da música e a cantarolava enquanto tomava um banho dos pés a cabeça. Sabe aqueles banhos que nem deveriam ser considerados banhos? Deveriam ser considerados faxinas? incluiu até uma esfoliação em todo o corpo e banho de creme no cabelo.
Falando em cabelo, aquilo não estava mais funcionando. Não mesmo.
Após a “faxina”, a menina ligou o computador, digitou o nome “Hayley Williams” na
pesquisa de imagem do Google e imprimiu uma foto da vocalista do Paramore.
Uma hora depois, ela estava sentada na cadeira do cabeleireiro do shopping perto de sua casa, vendo seu antes longuíssimo cabelo no chão. Sim, cortar o cabelo seria um eufemismo. Ela tinha picado seu cabelo!
Ela estava como Hayley. Certo, não totalmente igual, já que seu cabelo continuava com sua cor natural, não estava ruivo alaranjado. Porém, estava na altura do ombro, repicado e com a franja para o lado.
Ela tinha amado aquilo. sentia-se mais leve e adorou ficar mexendo nas pontas que agora estavam tão curtas. Sentia-se nova em folha.
Saiu de lá recebendo elogios do cabeleireiro mais gay que Elton John e das recepcionistas puxa saco.
Bem, ela já tinha um cabelo novo... Faltavam as roupas!
Olhou para o lado oposto do shopping e reparou em uma loja moderna, com roupas legais na vitrine. Era lá mesmo que ela ia.
entrou na loja já amando metade das coisas lá de dentro e pegando-as para experimentar. Ela sentia-se elétrica.
- ? – O vendedor perguntou a ela. Ele era bonito. Um cara da idade dela, aproximadamente, loiro com os olhos azuis escuros. Seus cabelos eram propositalmente bagunçados e caíam em sua testa. Ele usava roupas estilosas, provavelmente compradas naquela loja mesmo. Mas como ele sabia seu nome? Ela tinha que prestar mais atenção na fisionomia das pessoas que conhecia!
- Sim. – Ela respondeu desconfiada. – Desculpe, mas você é?
Ele sorriu.
- Alex Pettyfer. – Ele lhe estendeu a mão. – Eu também estudo na Hampstead! Nós temos algumas aulas juntos.
- Ah sim! – Ela sentiu-se envergonhada por nunca ter reparado nele. – Desculpe, é que eu não presto muita atenção na aula, sabe?
Ele acentiu com a cabeça.
- Já reparei, você está sempre quieta, escutando ipod, lendo, desenhando... qualquer
coisa menos prestar atenção a sua volta, né? – Ele falou bem humorado. Era tudo
verdade. Ele realmente tinha gastado tempo reparando nela.
- É, essa sou eu, basicamente.
- Você estava viajando? Você faltou bastante esses dias.
não sabia o que responder. Que desculpa daria?
- Hum...Estava meio doente, na verdade. - Alex fez uma cara preocupada. – Mas não se preocupe, já estou ótima!
- Ainda bem! Gostei do seu cabelo desse jeito, aliás.
- Ah... – ficou envergonhada e colocou o cabelo atrás da orelha. – Obrigada! Acabei de cortar.
Quer dizer que alguém naquela escola sabia que ela existia? Esse alguém era um cara incrivelmente bonito e legal que tinha reparado em seu cabelo?
Okay, ela já tinha concluído que era mais bonito. Mas ela não poderia pensar em ! A nova não pensava em casos perdidos.
Sua vida já estava mudando.
- Você quer experimentar? – Ele perguntou apontando para as peças de roupas na mão dela.
Ela tentava entender como não lembrava-se dele, ele não era do tipo “esquecível”.
- Ah... – Ela saiu de seus próprios pensamentos. – Quero sim!
Alex a levou até a cabine de prova. experimentava as roupas enquanto o espírito de uma pessoa falante baixava nela.
- Você gosta de trabalhar aqui, Alex? – Ela perguntou falando um pouco alto já que
a porta os separava.
- Gosto bastante sim! É um trabalho legal, e eu ganho desconto nas roupas, além de ficar um pouco independente dos meus pais! – Mas olha, alguém daquela escola metida a besta lotada de riquinhos e mesadas tinha consciência. Bem, ela não poderia falar de ninguém, era uma riquinha que vivia de mesada. – Já provou?
- Já.
saiu da cabine vestindo uma calça jeans justa e acizentada com rasgos ao longo da perna e uma regata cinza. Estava básico, mas ao mesmo tempo lotado de estilo.
Alex a olhou de cima a baixo, deixando-a corada.
- Está linda.
- Obrigada.
Ela voltou à cabine, mais para se esconder do que para qualquer outra coisa. Ela realmente ainda não estava preparada para aquilo. Mas é claro que massagens para o ego eram bem vindas. Ainda mais vindas de um cara ridiculamente bonito como Alex.
- Há quanto tempo você trabalha aqui?
- Quatro meses. – saiu vestindo outra roupa e Alex fez uma cara de aprovação. – Sabia que eu sempre pensei que você me odiasse?
- Por quê? – ela perguntou surpresa já de volta à cabine.
- Nem sei, você nunca me olhava nos olhos e sempre parecia aborrecida. – Certo ela tinha ultrapassado todos os limites do “anti-socialismo”.
- Não era anda pessoal, Alex. A maior parte do tempo em que estou na escola, é como se só meu corpo estivesse lá. Minha mente estava sempre longe. E por enquanto, estou achando você um cara bem legal!
- Obrigado, você é bem mais legal do que eu imaginava! – saiu do provador com uma saia curta. – Wow.
Ela riu com a reação dele e ele também riu envergonhado.
- Hum... Acho que isso foi outro elogio, não?
- Foi sim, com certeza.
- Você é realmente um cara legal, Alex! Só me elogia.
- É apenas a verdade!
continuou experimentando roupas e conversando com Alex. Ele realmente era um cara agradável de se ter por perto. Não só por ser doce e gentil, era também agradável aos olhos.
pagou as roupas com o cartão de crédito que o palerma de seu pai pagava. Ele tinha que servir para alguma coisa, né?
- Você vai à aula amanhã? – Alex perguntou enquanto entregava as sacolas
a
.
- Com certeza. – A nova também seria uma boa aluna. Bem, tentaria pelo menos.
- Nós nos vemos amanhã então. – Ela falou sorrindo, mas com uma cara pensativa. – Só se... – ele
parecia não ter certeza. – Hum... Meu turno aqui na loja acaba em uma hora. Se
você esperar, nós podemos tomar um sorvete, ou coisa parecida. – Ele aprecia
extremamente nervoso e envergonhado. – O que você acha?
Era um tanto excêntrico alguém querer tomar sorvete no meio do outono londrino. O garoto era no mínimo original. Certo, ela se alimentava de sorvete o ano inteiro, mas sempre pensara ser a única. sentiu-se tentada a aceitar o convite. Combinaria perfeitamente com a nova .
Porém, tudo estava indo rápido demais.
- Eu tenho um compromisso agora. – Isso não era mentira, ela tinha que ir visitar Brit. Sentia saudades da amiga. Sim, a nova encorporaria Brit às novidades. Ela não pretendia deixar de visitá-la. Alex pareceu desapontado. – Nós temos alguma aula juntos amanhã?
- Acho que todas.
- Certo, vou me sentar do seu lado! – Ela sentiu-se uma garotinha da terceira série após falar aquilo. Ele sorriu. Aquele era um sorriso bonito. – Combinado?
Ele concordou com a cabeça e beijou-lhe levemente a bochecha.
- Tchau, ! – Ele falou enquanto ela já se afastava, andando de costas, de frente para ele e lhe acenando.
- Alex?
- Quê?
- Me chama de , ok?
- Está bem, ! – Ela sentiu o prazer com que ele falou a última palavra.
se deu conta que tinha achado um cara especial.
A relação entre os dois só cresceu a partir dali. No começo, Alex era apenas um amigo. Os dois não se desgrudavam na aula, e saiam quase todas as noites após o trabalho dele, sempre se divertindo muito. Porém, Alex sempre deixou bem claro através de suas indiretas bem diretas, que queria mais.
Um dia, enquanto tomavam sorvete em pleno inverno londrino (era um tipo de tradição para os dois), ambos desistiram de seus sorvetes para ocupar suas bocas com outra atividade. O primeiro beijo deles tinha sido intenso e, talvez apaixonado (com certeza apaixonado da parte dele), e ao mesmo tempo gelado! Beijar após tomar sorvete é um tanto refrescante! Desde então, tinha um namorado. Seu primeiro namorado e ela não poderia pensar em ninguém mais perfeito do que Alex Pettyfer! Bem, ela até poderia pensar em outra pessoa, mas evitava ao máximo que isso acontecesse.
Quanto a , aquele colégio era tão gigante que nunca mais o vira. Isso não a impedia de pensar nele diariamente. Alguns dias mais, outros menos. Cada vez menos, na verdade. Alex a mantinha entretida. Além do que ela achava injusto estar com ele pensando em outro. esforçava-se ao máximo para não pensar em .
Ela pensou ter visto um dia. Ela e Alex aproveitavam um raro dia de sol para passear pelos jardins da escola de mãos dadas. Quando a menina se deu conta, estava em frente ao prédio onde a sala dele ficava. Não conseguiu resistir e olhou para aquela janela, parecia que o vulto dele a observava lá de cima, assim como no dia em que tinham se conhecido e ela saíra correndo atrasada. Mas provavelmente tinha sido apenas impressão, já que no segundo seguinte, quando ela forçou a vista para ter certeza do que via, a janela estava vazia.
Capítulo 9 – Up Against The Wall/Back To The Disaster
No meio da aula de geografia, recebeu mais um envelope da Sra. Dickens. Fazia tempo que ela não recebia envelopes. Ela estava se comportando, suas notas davam invejas aos matletas e ela era a nova queridinha dos professores, o que a incomodava um pouco, na verdade.
Assim como o último, esse envelope também vinha do diretor Armstrong e ela estava curiosa com o que poderia ter ocorrido de errado para que ele quisesse conversar com ela.
O bilhete dizia para que ela o encontrasse imediatamente após a aula.
sentiu a mão de Alex em seu braço. Ele sentava-se atrás dela e aproximou seu rosto de sua orelha.
- Algum problema? – Ele sussurrou em seu ouvido tomando cuidado para que o Sr. Gibbs não os ouvisse.
- Não sei, vou saber depois da aula quando for conversar com o diretor.
Alex acariciou seu braço. Ele era sempre muito carinhoso e a cada dia que passava ela gostava mais dele.
- Tenho certeza que não é nada sério. – Ele deu um apertãozinho em seu braço e voltou sua atenção para a aula.
resolveu prestar atenção na aula também. Geografia era a segunda melhor matéria, só perdia para história. Ela não ia desperdiçar uma aula de geografia preocupando-se com aquele pseudo papai noel que contrataram como diretor.
Ela ficou com dor nas mãos de tantas anotações que tomou e agradeceu pela aula de geografia ter acabado. Além disso, era hora do almoço e ela estava com fome.
Agora ela estava sempre com fome e já tinha o aspecto de uma pessoa saudável, não de uma fugitiva da África.
- Cara, acho que vou ter que engessar a mão! – Ela falou para Alex acariciando a própria mão. Ela não deixara de ser uma drama queen.
Ele riu juntando o próprio material.
- Logo passa, . Prometo. Arruma logo o seu material. – Ele a apressou, ajudando-a a colocar as coisas de qualquer jeito na mochila.
- Calma! Para que tanta pressa, Alex? – Ela perguntou enquanto ele a puxava corredor a fora.
Alex andava rápido.
- Hei, devagar! Minha perna é curta! – ela reclamou.
Alex virava em vários corredores que nem sabia que existiam. Quanto mais andavam mais deserto e escuro aquilo ficava.
- Calma, , está chegando!
- Onde nós estamos indo?
- Não sei. – Ele olhava em volta procurando sabe se lá o quê.
- Alex, querido, você tomou muito sol na cabeça quando veio para a aula hoje?
- Não. – Ele sorriu.
Já fazia uns cinco minutos que não via ninguém. Aquele colégio tinha realmente muito espaço de sobra. Mas o que estava dando em Alex? Aquilo era no mínimo estranho.
Ele virou em outro corredor e parou subitamente, pegando pela cintura e a prensando contra a parede. A garota nem teve tempo de perguntar nada, pois Alex a beijou como se não a visse há meses. Suas línguas mexiam-se rapidamente. sentia o calor das mãos dele andando por suas costas, por baixo de sua blusa. Ela tinha as mãos na nuca dele e quanto mais o beijo se intensificava, mais ela bagunçava seus cabelos.
Ele sempre ficava super fofo, com os cabelos bagunçados, após uma sessão de amassos.
Isso que ela gostava em seu namorado. Ele sempre a surpreendia de uma maneira boa. Fosse com uma mensagem pelo celular, uma visita surpresa ou então uns pegas no corredor da escola. Certo, aquela era a primeira vez que aquilo acontecia na escola, mas ela tinha a impressão de que Alex nunca a quis tanto e ela nunca o quis tanto como naquele momento.
Alex quebrou o beijo, provavelmente por falta de fôlego. Ele a abraçou, encostando sua cabeça no ombro dela.
estava ofegante.
- O que foi isso?
- Estava com saudades. – Ele falou dando uma pequena mordidinha em sua orelha e fazendo-a arrepiar-se inteira.
Alex deslizou suas mãos até as pernas dela e as puxou para que ele ficasse entre elas enquanto dava pequenos chupões no pescoço de que começava a perder qualquer noção que pudesse ter da realidade.
se perguntava como ele podia ser tão doce e intenso ao mesmo tempo.
Ela também tinha perdido a noção do tempo que estava ali beijando Alex quando ouviu distantemente o barulho do sinal.
Eles pararam de se beijar recuperando a respiração, mas continuaram na mesma posição. sentia a respiração rápida e irregular de Alex enquanto ele acariciava suas pernas que o estavam prendendo.
- Acho que a gente precisa voltar. – Ele falou soltando-a delicadamente no chão.
- É... – não conseguia formar frases. – É melhor mesmo. – Os dois entrelaçaram suas mãos e aproximou-se novamente para lhe dar um último beijinho no pescoço. – Você pode ter saudades sempre, viu? – Ela perguntou enquanto os dois já andavam pelos corredores.
Alex riu e passou a mão pela cintura dela.
- Acho que vou ter saudades diariamente. – Ele falou num sorriso malicioso e apertou um pouco mais sua mão.
Eles ouviram o segundo sinal e começaram a correr atrasados, quando chegaram na porta da sala o professor ainda não tinha entrado.
sentiu uma dor na bexiga. Ela precisava fazer xixi urgentemente.
- Alex, preciso ir no banheiro. Se o professor chegar, avisa que eu sai, tá?
- Está bem. – Alex lhe deu um selinho e entrou na sala de aula.
se dirigiu até o banheiro do outro lado do corredor ainda com o coração acelerado. Parte devido a correria para não se atrasar e parte por sua “aventura” com Alex. Ela não conseguia parar de sorrir.
Estava lavando a mão quando encarou-se no espelho e reparou em um imenso chupão do lado esquerdo de seu pescoço. Claro que bem naquele dia ela não tinha nenhum tipo de base ou corretivo com ela. Ela teria que esconder aquilo com o cabelo mesmo.
Pela primeira vez, sentiu falta de seu cabelo longo.
Assim que as aulas do dia acabaram, despediu-se de Alex, que tinha que ir trabalhar, e rumou para a sala do diretor Armstrong. Ela estava morrendo de fome. Não teve tempo de almoçar. Não que ela preferisse ter almoçado ao invés de ter feito o que ela fez, mas ela tinha fome. A última coisa que tinha comido fora uma barrinha de cereais no intervalo há pelo menos seis horas atrás.
Seu estômago roncava e chegava até a doer.
- Oi Agata, acho que o diretor está me esperando. – Ela falou assim que chegou a mesa da secretária.
- Oi ! Está sim, só me deixe avisá-lo que você está entrando. – fez que sim com a cabeça enquanto a outra telefonava para o diretor. – Pode entrar.
andou até a grande porta de carvalho, voltando a se preocupar com o assunto que a trazia ali.
Ela bateu na porta e a abriu.
- Com licença, diretor.
- Pode entrar, Srta. ! – Ele falou sentado em sua cadeira e escondendo o que para parecia ser uma embalagem de Kit Kat.
- O senhor queria falar comigo. – Ela aproximou-se da mesa.
A lareira estava acesa, formando sombras na sala, apesar do dia não estar tão frio assim.
- Queria sim, pode se sentar. – Ele apontou a poltrona já conhecida por . Assim como da última vez, ela se afundou e sentiu-se uma criança sentada ali. – Hoje você não vai ganhar sermão, !
Isso era bom, ela não estava encrencada. sorriu.
- Que bom! Por que o senhor me chamou então?
- Para te parabenizar! – sorriu, sentindo-se orgulhosa de si mesma. – Em um período curto, de menos de dois meses, você passou de uma aluna problema... – fechou a cara. Ela não era tão ruim assim! – Para uma das melhores alunas da sua série!
Ela sorriu sem graça.
- Obrigada.
- Queria falar que estou muito orgulhoso de você. Você amadureceu a olhos vistos.
- Obrigada mesmo. – Ela respondeu já sem graça e querendo sair de lá rapidamente.
- Bem, é só isso. – O velhinho sorriu com as bochechas rosas e teve vontade de abraçá-lo. – Você está liberada! - levantou-se e foi em direção a porta acenando para o diretor. – Ah! ! – Ele falou antes que ela pudesse sair.
- Sim?
- Você está indo para o prédio Burlington, não?
Cada prédio da Hampstead School tinha um nome. No prédio Burlington ficava a sala da orientadora vocacional de . a encontrava uma vez a cada quinze dias para que a mulher pudesse lhe dar uma luz quanto à escolha de sua carreira. Até agora elas não tinham tido muitos resultados.
- Estou sim, por quê?
- Você pode me fazer um favor e entregar esses documentos... – Ele pegou um envelope grande e com aparência pesada. – ao Dr. ?
Sim, a sala do psicólogo da escola, ou seja , também era no prédio Burlington.
sentiu um leve pânico ao ouvir aquele nome. Fazia tempo que não o ouvia. Fazia tempo que ela se policiava para não pensar nele. Ela estava indo tão bem.
- Hum... Me desculpe diretor, mas acho que estou atrasada.
- Não se preocupe, eu ligo para a Sra. Shaw e falo que você se atrasará por minha culpa.
- Está bem. – Ela falou andando de má vontade até o homem e pegando o envelope da mão dele. A antiga mandaria ele à merda. Novamente ela teve saudades da antiga .
Se o estômago da menina já doía, agora então ela pensava que teria que ir a um hospital par ser examinada.
tinha a sensação de que tinham congelado seu estômago, ele criara vida e agora ficava tentando se mexer.
Ela não estava preparada para ver novamente, seus sentimentos ainda estavam muito confusos. Apesar de seu relacionamento com Alex estar indo as mil maravilhas, ela ainda pensava em ocasionalmente. Era algo mais forte que ela, mas estava totalmente controlado ultimamente.
Bem, isso era o que ela imaginava, já que claramente, a expectativa de vê-lo tinha mexido e muito com ela.
Sua cabeça estava tão cheia e ela tinha tanta vontade de fugir dali que quando
se deu conta, estava em frente àquela porta tão conhecida por ela.
a encarou por alguns instantes enquanto criava coragem para bater.
Com o coração acelerado e as mãos trêmulas, ela bateu na porta.
Por que ela estava daquele jeito? Ela tinha um namorado maravilhoso por quem ela pensava estar apaixonada e não a queria.
A porta abriu-se rapidamente e pensou que fosse desmaiar. Ali estava , ainda mais bonito do que ela se lembrava. Ele usava uma calça caqui larga (é claro), um suéter azul marinho justo por cima de uma camisa xadrez que ficava com a gola e a barra aparecendo por fora dele.
A expressão dele era de total confusão.
- ? – Aquela voz... Ela achou que não estava mais respirando e concentrou-se para
não falar ou fazer besteiras.
- Oi ! – Ela tentou sorrir.
- O que você está fazendo aqui?
Ela indicou o envelope e lhe entregou-o.
- O diretor Armstrong pediu para eu te trazer isso.
pegou o envelope e
pensou ter percebido um certo desapontamento nele.
- Obrigado.
- De nada. - Os dois ficaram apenas se encarando sem dizer uma palavra. Ao mesmo tempo que ela estava totalmente desconfortável, ela também sentia-se segura. Ela realmente estava enlouquecendo, pensou. – Bom, acho melhor eu ir. – Ela apontou o corredor atrás dela.
parecia acordar para a realidade.
- É melhor mesmo. – virou as costas sentindo-se mal pelas coisas terem ficado tão estranhas entre eles. – ? – Ela o ouviu chamando e seu coração
praticamente saiu por sua boca. Ela virou-se em direção a
. Ele estava tão nervoso quanto ela. – Você quer entrar um pouquinho?
Ela concordou e entrou na sala, lembrando-se de todo o tempo que eles passaram juntos ali.
sentou-se em silêncio no sofá verde e
na poltrona.
- Como você está? – Os dois perguntaram juntos, gerando sorrisos nervosos.
- Você primeiro. – falou.
- Eu estou bem. A banda está bem, acho que vamos conseguir um contrato logo!
- Ah que bom! Vocês são muito bons, sabia que era só uma questão de tempo até vocês darem sorte!
sacudiu a cabeça nervoso.
- E você? – Ele perguntou. – Você está diferente. – Ela apontou para o cabelo.
- É, cortei! – Ela tentava manter uma conversa normal, por mais que quisesse chorar e agarrá-lo. – Eu estou bem sim, estou melhor.
- E a Britt?
- Continua lá. – fez uma cara preocupada.
- Hum... – Ele passava a mão na cabeça e mexia as pernas. – Você...você...quer dizer... – o olhava atenta tentando entender o que ele queria. – Eu vi você outro dia.
- Sério? Onde?
- Aqui no jardim da escola, vi da janela mesmo. – Suas pernas continuavam inquietas. – Você estava com... com...
gostaria de abrir um buraco no chão e enterrar-se.
- Era o meu namorado.
parecia ter levado um soco no estômago, mas para
estava sendo tão ruim quanto para ele. Ele se levantou e ficou de costas para ela.
- Isso explica o chupão no seu pescoço. – Ele falou virando-se com uma expressão de ciúme misturado com raiva e talvez desespero. – Eu tinha esperanças que fosse uma picada de inseto ou o resultado de um tombo. - Ela colocou a mão no pescoço rapidamente tentando esconder o chupão. Ele não podia ter visto aquilo. – Mas eu também tenho uma namorada! – Ele falou aparentando total felicidade.
Foi quem sentiu o soco no estômago dessa vez.
- Hum...isso é bom, nós dois estarmos namorando. – Ela mentiu roendo-se de ciúmes por qualquer garota que pudesse aproximar-se de .
- É! Na verdade eu estou com ela há seis meses! – Ele estava radiante, mas estava cada vez mais confusa.
Se ele namorava há seis meses, ele era comprometido quando os dois ficaram.
- Quer dizer que quando nós ficamos e você falou na minha cara que era solteiro, você na verdade tinha uma namorada? – Ela tinha raiva, muita raiva e sentia uma crise de choro se aproximar.
- Nós estávamos no meio de uma crise essa época, mas oficialmente, eu tinha uma namorada. – Ele gaguejava e parecia mais nervoso ainda.
- Aquelas coisas que você me falou... Que gostava de mim de verdade... Era tudo
mentira?
Por alguma razão, ele estava ainda mais nervoso do que ela e ficava andando para lá e para cá como uma barata tonta. Ela queria dar uma chinelada nele, como se faz com as baratas.
- Era... Não – Ele suspirou. – Eu...
não o deixou terminar.
- Você é um cachorro, ! Não sei como pude pensar que te amava... – Ela parou assustada com o que estava dizendo. Nunca se deixou admitir, mas ela o amava. estava visivelmente perturbado.
saiu de lá o mais rápido que pôde.
- ? ? – Ele a chamava e corria atrás dela, mas parou assim que começou a chamar atenção
das pessoas do corredor.
corria o mais rápido que podia com a visão embaçada por causa das lágrimas. Ela amava um canalha.
Capítulo 10 – Pretty Girl (The Way)
Ela não sabia para onde ir. Obviamente não voltaria para a escola. Ela queria que a Sra. Shaw e seus testes vocacionais se explodissem, assim como todos daquele lugar.
Certo, nem todos. Ela não queria que Alex se explodisse. Ela sentiu um aperto no coração ao se lembrar dele.
Também não suportava a idéia de ir para casa. Ela já tinha atingido sua cota vitalícia e crises de choro trancada no quarto.
pensou em ir ver Brit. A presença da amiga sempre a acalmava, por mais que ela estivesse inconsciente. Porém, ela também não queria se humilhar publicamente chorando suas mágoas para uma pessoa que nem ao menos a abraçaria. Além do que ela não tinha vontade de pegar metrô ou pedir para que Francis a levasse lá.
Seu celular tocava insistentemente. Era . Ela não atendeu.
se deparou em frente ao Richmond Park. Ela nunca tinha entrado ali, apesar de morar a poucas quadras do lugar. O lugar praticamente deserto. Poucas pessoas têm disposição para praticar cooper a uma temperatura de menos de 10 ºC.
O parque tinha uma densa vegetação que o deixava quase escuro. O chão era úmido.
A menina se sentou em uma pequena clareira que achou um pouco afastada do caminho principal, lá era silencioso e calmo.
já não chorava mais. Ela não entendia como pode enganá-la tão bem. Antes ela tinha certeza de que os dois só não estavam juntos por cauda da profissão dele.
Quer dizer que ela tinha sido a outra? Apenas mais uma aventura para que ele pudesse esquecer dos problemas com a namorada?
Ela arrancou violentamente a folha de um arbusto ao seu lado, mas depois sentiu-se culpada. O pobre arbusto não tinha nada com os problemas dela.
Todos os momentos que ela e tiveram juntos tinham parecido tão reais... A reação dele quando lhe falou que
não poderiam mais se ver. Aquilo não tinha sido atuação!
Mas pelo jeito, tinha sido. Se a banda não desse certo, ele também poderia tentar a sorte como ator.
Ela sentiu sua mochila vibrar e uma vontade imensa de jogar o celular no meio de algum matagal. tinha que parar com aquilo. Pegou o aparelho, mas viu o nome de Alex no visor. Ela bateu na testa com a mão. Ela deveria encontrá-lo no shopping.
- Oi Alex! – Ela se esforçou para manter a voz normal.
- Oi linda! Você se esqueceu de mim? – Ele perguntou e ela podia imaginá-lo esperando por ela em frente a sorveteria.
- Na verdade sim, me desculpe. Estou aqui fazendo testes vocacionais. – Ela mentiu se sentindo desprezível.
- Ah sim. Achei que fosse acabar mais cedo. – A voz dele estava desapontada. – Mas tudo bem, me liga quando chegar em casa?
- Ligo sim. – Mas ela não queria falar com ninguém, nem mesmo Alex. – Hum...quer dizer, acho que não vai dar... – ela falava com os olhos fechados e já se odiando. – Ainda devo demorar aqui, depois vou ver a Britt e depois vou jantar com os pais dela.
Era impressionante a capacidade que ela tinha para mentir.
- Certo então... – Ele soava preocupado. – Te vejo na aula amanhã.
- Isso. Beijos Alex.
Ela desligou o telefone sem nem mesmo ouvir o “Eu te amo” que Alex tinha falado.
Agora, além de tudo, era ela a pior namorada do mundo. Era oficial. Ela já era uma das piores antes, mas agora ela realmente era a pior. Antes ela apenas estava com um cara maravilhoso enquanto inconscientemente amava outro. Agora, ela continuava com o cara maravilhoso, mais amava um cachorro conscientemente e ainda por cima, mentia descaradamente para o cara maravilhoso.
Muito bom.
As vezes se perguntava do porque sua vida tinha tanto drama. A vida das outras pessoas eram bem mais simples. Sua vida era bem mais simples até menos de um ano atrás, antes de sua melhor amiga entrar em coma, seus pais sumirem de sua vida e dela se apaixonar por um cara não disponível e ainda por cima que não prestava.
Ela não agüentava mais chorar. Ela chorava demais. Qualquer dia, seus dutos lacrimais fariam uma greve por estarem sendo usado demais. Seria totalmente compreensível.
Decidiu que aquilo não poderia continuar. Alex não poderia sofrer.
Ela achou melhor voltar para casa quando começou a escurecer. Todos sabem que o último lugar para se estar sozinha à noite é um parque londrino.
Ela caminhou até sua casa não se sentindo triste nem com raiva. Ela estava simplesmente exausta e esgotada. Só queria dormir para fugir de tudo.
Sua casa ficava praticamente no meio de um bosque, deixando-a bem isolada das casas vizinhas.
seus dutos lacrimais fariam uma greve por estarem sendo usado demais. Seria totalmente compreensível. andava de cabeça baixa e só reparou que estava sentado na escadaria de entrada quando estava a poucos metros dali. Ela suspirou irritada e sem o mínimo de vontade de encará-lo.
Ele não podia simplesmente a deixar em paz? Já tinha jogado na cara dela que ela não significava nada.
Ela virou-se de costas, voltando pelo caminho de onde tinha vindo imaginando aonde iria, já que nem em sua casa poderia ficar mais.
- ? – a chamou alcançando-a e pegando em seu cotovelo. O toque dele a arrepiou.
- O que você está fazendo aqui, ? – perguntou tirando seu braço da mão dele.
- Eu vim me desculpar e me explicar. – Ela virou os olhos. – Você precisa me ouvir. – Ele suplicou.
- Por que eu deveria?
- Porque eu menti para você e preciso te falar a verdade.
- Você mentiu para mim, ? – Ela perguntou sarcasticamente. – Isso é algo novo.
- , por favor, me escuta... – começou a falar, mas foi interrompido.
- Está tudo bem, Srta. ? – Um dos seguranças da casa que ela nem mesmo sabia o nome perguntou. fez que sim com a cabeça ainda olhando para um mais preocupado agora. O segurança era umas quatro vezes maior que ele. – Ele está te incomodando? – arregalou os olhos.
- Não, está tudo bem, ele já está de saída. – Ela olhou significamente para , esperando que ele facilitasse as coisas e se retirasse.
- Qualquer coisa, eu estou por perto. – O segurança falou se afastando vagarosamente enquanto continuava mudo.
- Bem, acho que é isso, certo? – Ela falou andando até as escadas da entrada sonhando em nunca tê-lo conhecido.
- Não, ! – Ele falou alto e segurou o braço dela com força, fazendo o segurança aparecer novamente fingindo uma tosse para ser notado. olhou para ele, mas pareceu não se importar dessa vez. – Você precisa me ouvir,
por mais magoada que você esteja, eu te devo explicações e você vai ouvi-las!
Ela nunca o tinha visto tão obstinado e aquilo chegou a assustá-la um pouco.
- Você tem cinco minutos. – já abria a boca para falar, porém ela o interrompeu. – Não aqui! – Ela apontou o segurança com a cabeça. A última coisa que ela queria era mais um motivo para os empregados fofocarem sobre a sua patética vida. – Anda! – Ela falou num tom tão rude que até ela estranhou.
abriu a grande porta branca de folhas duplas da casa, dando de cara com o hall de piso de mármore com telas de artistas famosos nas paredes e um lustre tão grande quanto um carro.
- Wow. – exclamou com a boca semi aberta.
- É, grande bosta. Anda logo, . – Ela apontou as escadas sem nem mesmo deixá-lo espiar a sala. Ela já estava acostumada com a reação das pessoas em relação a sua casa. As pessoas não estavam acostumadas com obras de artes que valiam mais do que tudo o que elas possuíam. Se bem que para , nada daquilo importava. O único cômodo de sua casa que ela utilizava era sua suíte. Ela não precisava de nada além daquilo e achava ridículo o desperdício de dinheiro de seus pais com coisas fúteis.
abriu a porta de seu quarto, esperou entrar e depois a fechou rapidamente atrás deles. O quarto estava impecavelmente arrumado e limpo e uma luz muito fraca entrava pela janela. Ela mal conseguia enxergar .
A menina acendeu a luz, jogou seu material no chão e cruzou os braços olhando para o relógio. Ele realmente só teria cinco minutos.
- Seu tempo está passando. – Ela falou após sentir que não agüentaria por muito tempo se continuasse encarando-a com aqueles olhos que pareciam hipnotizá-la.
- Certo. – Ele respirou fundo, ainda olhando nos olhos dela. – Eu menti para você hoje no colégio. – escutava atentamente. – Eu não tenho namorada e nem tinha quando nós ficamos. – Ela tremia, porém não sabia exatamente o porquê. – Eu queria que você me desculpasse.
- Por que você inventou essa história? – sentia seu rosto queimar e não era de vergonha, era de raiva.
- Porque... porque. – não tinha palavras e olhava assustado para ela. – Eu não sei, mas acho que porque não queria que você pensasse que eu estivesse na pior enquanto você tinha seu namorado Sr. Perfeito. – ele falou numa careta.
- , eu não acredito que você fez isso! – Ela mal tinha noção de quanto alta estava sua voz. – Eu passei a tarde toda chorando por uma mentira? – O olhar dele implorava por compreensão. – Sabe, , você não me quis porque eu era bem mais nova que você, era sua paciente e era uma aluna... Eu até entendi na época, mas agora eu realmente vejo o quanto ridículo isso foi, já que está bem claro quem é a pessoa mais madura aqui. Eu não inventei nada! Eu não menti em nenhum momento! Você se achava superior só porque é menos de quatro anos mais velho que eu e é um psicólogo! Aliás, você deveria pensar em se consultar com algum, porque é óbvio que você precisa lidar com essa sua imaturidade! Você é uma criança, . – Ela terminou de falar e fechou os olhos respirando fundo. Não queria olhar para . Deitou-se na cama e cobriu o rosto com uma almofada. Sentia-se exausta.
esperava ouvir a porta batendo após falar tudo aquilo. Elas eram verdade, em parte, mas ela não deveria ter exagerado tanto. No entanto, sentiu o corpo de deitando-se ao lado do seu e por um segundo, ela só queria um abraço.
- Você está certa. – Ele falou após um momento de silêncio. – Tudo o que você disse é verdade. – Ela não falou nada. – Por favor, me perdoa. – ele pegou sua mão e ela sentiu o corpo estremecer e arrepiar. A mão dele deslizou devagar por seu braço, chegando em seu ombro e na almofada que cobria seu rosto. Ainda com os olhos fechados e lutando para que aquelas palpitações no coração parassem, ela sentiu a claridade em seus olhos, apesar de estarem fechados. tinha tirado a almofada dali e ela o sentia cada vez mais próximo. – Eu quero você para mim, , porque eu amo você. – Ele sussurrou em seu ouvido. – Quero que você seja minha namorada e quero que todos saibam disso.
Ela finalmente abriu os olhos mal acreditando no que ouvia, encarou sentindo seu coração na boca.
Ele estava a alguns centímetros dela, mais bonito do que nunca.
- Mas, mas... – As frases pareciam difíceis de serem completadas. – Mas e a escola?
- Eu vou pedir demissão. – Ele falou despreocupado como quem fala que vai beber água.
- Você achou outro emprego?
- Não. – Ele falou como se fosse óbvio.
- A banda assinou contrato?
- Não.
- Você vai pedir demissão só por minha causa? – Ele fez que sim com a cabeça mordendo o lábio inferior. abriu a boca, mas não sabia o que falar. – Mas você é mais velho.
Ele riu.
- Como você disse agora há pouco, menos de quatro anos mais velho. Além disso, isso nunca impediu ninguém de ficar junto.
- Mas... mas... – passou os dedos pelo rosto dela.
- Mas nada, . – Ele aproximou-se, ainda acariciando seu rosto, era tão bom sentir o toque dele novamente. Toda a raiva, frustração e tristeza que ela tinha sentido pareciam ter evaporado. Ela só podia sentir a respiração de em sua bochecha. Ele estava cada vez mais perto e seu perfume a deixava zonza de uma maneira boa.
- Não! – Ela se levantou rapidamente quase dando uma cabeçada em . – Espera! Não sai daqui, ! – Ele parecia confuso e não estava entendendo nada. Mas ela não tinha tempo para explicar. – Não sai!
Ela saiu de seu quarto o mais rápido que pode e correu para a garagem. Ela odiava dirigir, mas não tinha tempo para andar a pé ou chamar o motorista.
Capítulo 11 – She Left Me
Fazia meses que ela não dirigia. Desde o acidente, na verdade. Era Brit quem dirigia, mas desde então ela evitava carros. Quando precisava usá-los, não dirigia.
Mas pelo jeito, carro é como bicicleta. Quando se aprende, não se esquece. girou a chave e deu partida no carro. Ele morreu, mas depois pegou. Saiu rapidamente da garagem e rumou pelo caminho que a tiraria da propriedade e a levaria até a rua.
sentia-se elétrica e batia os dedos no volante enquanto dirigia. Ela tinha calor e frio ao mesmo tempo e não sabia exatamente o que estava prestes a fazer. Ligou o ar condicionado, mas segundos depois o desligou não sabendo bem o porquê. O barulho a irritava. Teve calor de novo e abriu as janelas.
Um vento gelado cortava suas bochechas. Passou por um termômetro de rua que marcava 6ºC. Como ela poderia ter calor? Usava apenas uma camiseta. Esquecera completamente de pegar um casaco ao sair de casa.
O carro entrou naquela rua lotada de casas imensas e muros maiores ainda. No final da rua, a única casa sem muros e rodiada apenas por árvores estava toda iluminada. Era uma casa linda, grande e tinha a arquitetura moderna. Era redonda e toda envidraçada. Ela chegava a se sentir um pouco mal ali dentro. Sentia-se numa vitrine.
Estacionou o carro em frente a porta sentindo suas mãos suarem e uma tremedeira em todo o corpo. Cada passo até a campainha a faziam pensar no que estava fazendo.
Um segundo após tocar a campainha, a porta se abriu.
- ? Não sabia que você vinha! – A Sra. Pettyfer falou simpática como sempre, abrindo espaço para que ela passasse. – Ai meu Deus! Você não está com frio? – Ela passou a mão nos braços de . – Você está gelada! - A garota não sentia um pingo de frio.
- Não, estou bem, obrigada. O Alex está?
- Está. – rumou até a escada no final da sala. Se ele estava em casa, ele estaria em seu quarto. – Você quer um casaco? – A Sra. Pettyfer perguntou preocupada e estranhando o comportamento um tanto estranho da garota.
- Não, muito obrigada! – Ela gritou já do andar de cima.
Encarou a porta de Alex por alguns segundos. Olhou para os lados e viu a vista de todo o bairro pelas paredes envidraçadas. Sentia os olhos arderem e sabia que era só uma questão de tempo para que começasse a chorar.
Ela bateu na porta esperando por uma resposta.
- Estou estudando, mãe! – ouviu a voz dele e sentiu o estômago fazer um movimento horrível.
- Alex, sou eu. – Sua voz estava tremida.
Ela ouviu movimentação no quarto e Alex abriu a porta, vestindo suas boxers listradas e uma antiga camiseta do Sugarcult.
- Que surpresa! – Ele falou sorrindo, mas fechou a cara ao perceber que ela não estava bem. - Você está bem, ? – Ele se aproximou e ela entrou no quarto. Estava bagunçado e quente. Quente demais. Ele fechou a porta olhando-a preocupado. Em um impulso ela o abraçou apertado, como se fosse a última vez. Ele retribuiu o abraço, mas sentia o corpo dele rígido, provavelmente devido a preocupação. – Você está gelada. – Ele falou passando as mãos rapidamente pelos braços dela quando os dois se soltaram. – Você está doente? Quer que eu te leve no hospital? – A voz dele era preocupada de verdade.
- Não, eu estou bem mesmo, mas eu preciso conversar com você. – Ele deu alguns passos para trás. Sua testa estava franzida.
- Okay. – Ele se sentou na cama encarando o nada. fez o mesmo.
- Isso é horrível! – Ela falou colocando as mãos no rosto e apoiando os cotovelos nos joelhos. Sentiu as mãos molhadas por causa das lágrimas que agora saiam sem parar de seus olhos. Como ela faria aquilo? Ela se odiava.
Sentiu a mão de Alex em seu joelho e apoiou a sua em cima da dele, acariciando-o. Finalmente o encarou, mas preferia nunca ter feito aquilo. A expressão em seu rosto era de desespero e preocupação.
fechou os olhos e respirou fundo, com a esperança de se acalmar. Abriu os olhos, mas continuava chorando.
- Eu preciso terminar com você, Alex. – Ela não conseguia olhar para ele, por isso encarava o aquário em cima da escrivaninha. Um único peixinho azul nadava ali dentro. As pedrinhas brancas do fundo faziam Tim (o peixe) parecer ainda mais azul. Ela lembrou-se de quando Alex viajou e ela ficara cuidando de Tim por dois dias.
Ele não podia sofrer. Seria difícil demais para ela se ele sofresse.
- O quê? – Ela virou-se para ele que a encarava incrédulo.
- Nós não podemos mais ficar juntos.
Alex balançava a cabeça negativamente.
- Por quê? – Agora ela encarava a luz que vinha do corredor e passava por baixo da porta.
não sabia o que responder. Se falasse sobre , o magoaria, se não falasse, o que ela inventaria? Não queria mentir para Alex de jeito nenhum. Ele já sairia machucado demais daquela história.
Respirou fundo, criou coragem e falou:
- É outra pessoa. – Olhou rapidamente para o namorado. Parecia que ele tinha levado um soco no estômago. – Mas eu não te trai! Nunca te trai! – Ela se esclareceu. – Eu estava com ele antes de conhecer você e não acho justo estar com você enquanto penso em outro.
Se alguém falasse aquilo para ela, ela provavelmente passaria os próximos meses trancafiada em seu quarto lamentando pela sua vida. Claro, que antes ela mataria quem falasse isso a ela.
Os dois ficaram em silêncio tempo o suficiente para que a garota controlasse seu choro.
- Eu pensei que estivesse tudo tão bom entre nós. – Ele finalmente falou, num tom de voz calmo, devagar e amargo que ela ainda não conhecia. – Quer dizer, hoje no colégio...Foram os melhores momentos que nós passamos juntos. Eu nunca quis tanto alguém como eu quis você, e você pareceu corresponder.
- Eu correspondi. – Ela ainda não podia olhá-lo nos olhos.
- Mas a tarde... – Alex parecia falar mais para si mesmo. – Eu sabia que tinha alguma coisa errada. Quando você sumiu, depois você foi estranha ao telefone. No fundo eu tinha certeza que alguma coisa tinha mudado.
finalmente virou-se e ficou de frente para Alex. Ele a encarou como quem pergunta com os olhos se aquilo estava mesmo acontecendo.
se levantou da cama não agüentando aquela tensão no ar.
- Desculpe. – Ela falou com as mãos no bolso encarando seus tênis. – Sei que essa é a última coisa que você quer ouvir agora, ainda mais vindo de mim. Mas você foi o melhor primeiro namorado que eu podia ter e eu realmente me apaixonei por você em algum momento. – Ela não sabia mais o que falava. Só ouvia sua boca matracando. – Você vai ficar bem, bem melhor, na verdade. Você não precisa de mim! Acredite, você merece alguém bem melhor do que eu. – Recebeu um olhar fulminante de Alex e achou melhor calar a sua imensa boca.
Ele apenas concordou com a cabeça e também se levantou.
- Então é isso? – Ele perguntou.
- Acho que sim, mas você continua sendo meu melhor amigo, certo?
Ele olhou para o lado e coçou o próprio pescoço.
- Acho melhor não. – Ela nunca imaginara essa resposta, mas compreendia. – Eu preciso te esquecer agora. Vai ser impossível te esquecer sendo seu melhor amigo. Acho melhor nós voltarmos a ser o que éramos antes de tudo. – Ele queria dizer a época em que estudavam juntos, mas não se olhavam na cara.
- Você está certo. Você vai ficar bem? – Essa tinha sido uma pergunta bem cretina e ela poderia bater sua cabeça na quina da mesa para se castigar.
- Não por enquanto, mas um dia eu vou.
Alex se aproximou e a abraçou apertado, acariciando o cabelo dela e respirando fundo, como se quisesse sentir seu perfume pela última vez e gravá-lo na memória. Eles ficaram um bom tempo ali, aproveitando a presença um do outro pela última vez. Ele se afastou e passou a mão pelo rosto de , aproximando seus lábios. Ele a beijou levemente e depois deu alguns passos para trás.
- Tchau, Alex. – Ela falou enquanto fechava a porta delicadamente sentindo-se um lixo. Ela nunca tinha feito nada tão difícil em toda sua vida.
Para sua sorte, não encontrou nem a Sra. Pettyfer nem nenhum outro membro da família no seu caminho até a porta. Nem imaginava como poderia encará-los.
Capítulo 12 – Don´t Know Why
Quanto mais perto ficava de sua casa, melhor se sentia. Isso pode soar insensível e egoísta, mas o que ela sentia por era algo tão forte que a fazia esquecer de todo o resto. Até Alex.
Estacionou o carro em frente à porta de entrada, mal podendo esperar para ver . Abriu-a, mas estaca trancada. Estranho, ela não se lembrava de tê-la trancado ao sair. Remexeu os bolsos já sabendo que não havia chave nenhuma ali. Ela tinha saído com tanta pressa que pegar as chaves nunca passou por sua cabeça.
Tocou a campainha sentindo um forte arrepio e os pêlos dos braços se arrepiarem.
Sua menopausa fora de hora finalmente passara e
pensava que congelaria se passasse mais um minuto ali.
Estava ansiosa para ver .
Pelos pequenos vidros ao lado da porta ela viu a luz do hall se acender e a sombra de Abby andar até a porta.
- Pô Abby! Por que você trancou a por... – Ela não conseguiu completar a frase. Não era Abby. A garota não conseguia acreditar no que estava vendo. Será que ela começava a ter alucinações? O dia tinha sido longo, com muitas emoções e ela não tinha comido direito. Piscou, mas ele continuava ali. Calado e olhando-a, esperando por uma reação.
- O que você está fazendo aqui? – Ela perguntou ao seu pai enquanto entrava na casa se esforçando para ficar o mais longe possível dele.
- Eu vim te visitar! – Ele falou com aquele sorriso familiar, que fez o coração da garota se aquecer. Ele não prestava, mas não deixava de ser o pai dela. Ele fechou a porta enquanto ela o analisava. Estava diferente. O cabelo estava mais comprido e brilhava por causa do gel. Tinha uma barba curta e bem aparada. Ele nunca tinha usado barba. Sua mãe não gostava e ele costumava fazer tudo o que ela queria. Os ternos continuavam os mesmos, sempre impecáveis.
Ele se virou e encarou a filha.
- Você some por quase seis meses e depois vem visitar? – Apenas fisicamente ele lembrava o pai que ela conhecia. Tinha algo de muito diferente que simplesmente exalava dele, fazia-o parecer outra pessoa.
- Eu sei que eu não agi certo, mas eu estava passando por uma fase difícil. – Ele fez cara de vítima. Quem não soubesse a história poderia ter vontade de abraçá-lo, tamanha era a cara de coitadinho que ele fazia.
- É claro. – Ela falou irônica fazendo biquinho. – Ainda bem que você tinha a Franchesca para te consolar, né?
Franchesca, ou Fran, como costumava chamá-la era a melhor amiga de sua mãe e agora, era a nova esposa de seu pai. A garota ainda não havia digerido essas mudanças.
- Você sabe que ela é uma boa pessoa. Você se dava tão bem com ela antes! – Ele falava em um tom calmo e devagar, como se explicasse algo a uma criança. se lembrou de quando ela, sua mãe e Fran – era tão difícil pensar naquela mulher agora – passavam tardes inteiras juntas apenas conversando e curtindo a companhia uma da outra. sempre a tinha considerado uma tia, e ela pensava que Fran também a considerava como uma sobrinha. Franchesca havia prometido que quando chegasse a maioridade, a levaria para Las Vegas para que elas se divertissem nos cassinos.
Esses planos pareciam mais distantes do que nunca.
As vezes ela pensava que a traição de Franchesca era a que mais tinha abalado a ela e a sua mãe.
- Exatamente! Antes! Antes dela dormir com o meu pai, destruir o casamento da minha mãe e arrasar a nossa família! – Ela falava alto, sentindo a raiva tomar conta dela. Ele não derramava uma lágrima, por incrível que pareça.
- Ela quer muito manter contato com você e eu também. – Ele continuava com aquele tom irritante.
- Sério, fala logo o que você quer e vai embora. Você arrumou uma doença bem grave e vai morrer daqui a dois meses e agora quer recuperar o tempo perdido? Precisa dum transplante de fígado? – Ele a encarava sério parecendo surpreso com o que ela dizia. – Sangue? Medula?
Por quê? Por que ele tinha que aparecer bem naquela hora? Ela lembrou-se de . Ele provavelmente ainda estava em seu quarto estranhando sua demora. Teve vontade de subir as escadas correndo e esquecer do mundo.
- Não gosto desse tom, mocinha.
- Você vai mesmo me dar sermão? Você não tem direito algum de me dar sermão! Você não reparou no que você fez comigo, pai? – Era estranho chamá-lo daquele jeito. – Se você tivesse largado só minha mãe já teria sido horrível, mas você largou a mim também! – Ele a olhava nos olhos. – Por que você fez isso? Eu realmente não significava nada para você? Eu era uma filha tão horrível assim?
- Eu já falei, filha... – Ela se irritou ao ouvi-lo chamá-la daquele jeito. Ela o fulminou com os olhos. – Eu realmente precisava de um tempo.
-Precisava de um tempo? Pais não podem tirar “tempos”... – Ela fez sinais de aspas violentamente com as mãos. – Namorados precisam de tempo, amigos precisam de tempo. Pais não! Você me largou quando eu mais precisava de você! – Ele apenas a escutava e ela não conseguia parar de falar tudo o que estava entalado há tanto tempo. – Minha melhor amiga, aquela garota que era quase minha irmã e que praticamente morava nessa casa, estava em coma e você ainda piorou as coisas! Naquela época eu achava que nada poderia piorar, mas você me provou o contrário!
-O que você quer que eu diga? – Ela estranhou o tom bravo que ele usou após tanta calma. – Eu já pedi desculpas! Eu sei que é difícil para você, mas é o máximo que eu posso fazer! Sei que as coisas nunca mais vão ser as mesmas, mas talvez você possa pelo menos me encarar nos olhos!
nem tinha reparado, mas ainda não tinha olhado nos olhos do pai. Ao finalmente reparar neles, soube o porque os estava evitando. Doía demais olhar lá dentro. Eram os mesmos olhos que a tinham colocado para dormir todos os dias de sua infância, os mesmos olhos que davam-lhe broncas quando ela aprontava e os mesmos olhos que ela tinha assistido sair de casa com uma mala nas mãos para nunca mais voltar.
Ela lembrava cada detalhe daquele dia. O acidente ainda era um fato recente e ela tinha parado de ir para escola.
Ela tentara ir a aula uma semana após o acidente, mas teve que ir embora pois não agüentava encarar a carteira vazia a sua frente. Dr. Thompson falou que ela deveria tirar uma “licença”.
Assim, era dez horas da manhã de uma terça-feira e ela estava em casa. Naquela época,
tomava remédios para dormir a maior parte do dia e seu sono era mais pesado do que o de uma rinoceronte grávida, o que não impediu que ela fosse acordada pela gritaria que vinha do quarto do outro lado do corredor.
Ela já havia reparado que seus pais estavam discutindo mais e quase não passavam
tempo juntos. Seu pai culpava o trabalho e sua mãe culpava todos os eventos sociais
em que ela se metia. Porém, a garota estava tão preocupada com seus próprios
problemas que não reparou no quanto a coisa estava séria.
não ouvia bem o que eles gritavam. Aqueles remédios a deixavam mais lenta e mole. Seu cérebro não processava bem as coisas.
saiu da cama e caminhou até a porta, com medo de abri-la. Sua visão estava embaçada. Colocou o ouvido na porta para tentar entender o que estava acontecendo.
Sua mãe chorava e gritava. O pai apenas gritava. Ela não sabia quanto tempo passou ali prestando atenção em cada ruído. Até que uma hora eles pararam.
A menina saiu de seu quarto lentamente, fechando os olhos por causa da forte claridade que vinha de todos os lados. Caminhou silenciosamente, para que não fosse notada, até o quarto dos pais. Sua mãe estava sentada na poltrona ao lado da janela, com a cabeça baixa e chorando baixinho.
Ela quis abraçá-la, mas estava assustada demais. Sua mãe nunca chorava. Nunca mesmo.
Ainda tomando cuidado para não fazer barulho, se afastou do quarto e saiu pela casa procurando seu pai. Não estava no escritório nem na sala. Na cozinha estavam apenas os criados.
Ela passou pelo hall imaginando que ele pudesse estar na sala de televisão, mas seus olhos foram guiados para fora da casa. Pelas pequenas janelas de vidro ao lado da porta de entrada ela viu seu pai colocando uma grande mala no porta-malas de seu carro.
A garota não se deu conta do que aquilo significava em um primeiro momento. Imaginou que fosse apenas mais uma viagem repentina de negócios.
Porém, segundos mais tarde tudo ficou claro. Ele tinha ido embora.
-Vai embora, por favor. – Ela falou baixo encarando o chão.
-Essa é minha casa, eu não vou embora!
-Não, sua casa é em Kensington, junto com a Franchesca. – Apesar de estar sendo corroída pela raiva e pelo desprezo, ela mantinha a voz calma e ainda olhava o piso de mármore aos seus pés. – Eu nunca mais quero te ver.
Ela ouviu seu pai suspirar, mas não conseguia se mexer. Finalmente as coisas estavam tendo um final, uma explicação. Por pior que fosse esse final, era um final. Ela já quase sentia o peso sair de suas costas.
-Bem... – Ele falou meio gaguejando. – Eu sou seu pai e sempre que você precisar eu vou estar aqui.
-Eu não vou precisar de você. – Ela falou e andou com passos rápidos até a escada. respirou fundo e tentou fazer com que seu corpo parasse de tremer quando chegou
no último degrau da escada ouviu a porta da frente bater.
Ele tinha isso embora, agora com explicações e ela sentia-se libertada. Nunca mais queria pensar nele.
Caminhou automaticamente até seu quarto, sem prestar atenção em nada, tentava assimilar tudo o que tinha acontecido naquele dia tão longo.
Entrou no quarto, fechou a porta e encostou-se nela, sem coragem de dar mais nenhum passo.
-Hei. – Alguém falou, tirando-a daquela espécie de coma. andava em direção a ela que sorriu sem nem perceber. – Tudo bem? – Ele perguntou preocupado quando parou a sua frente.
-Huhum – Ela fez que sim com a cabeça, sentindo-se meio fraca e eternamente grata por ter ali. o abraçou apertado. Tão apertado que parecia que ela estava em pé só por causa
dele.
beijou sua testa quando ela soltou um pouco o abraço, já que ambos pareciam prestes a parar de respirar.
-Tudo vai ficar bem, .
-Passa a noite aqui comigo? – Ela perguntou. – Não quero ficar sozinha.
-Claro. – Ele respondeu beijando levemente seus lábios e acariciando o rosto de .
Capítulo 13 – Oh, It Is Love.
acordou assustada. Por um segundo não sabia onde estava e nem se o que tinha sonhado era real ou não. A garota transpirava e sentia muito calor.
Saiu debaixo dos edredons com a sensação de que se passasse mais um segundo ali entraria em combustão.
Caminhou silenciosamente até o banheiro, onde lavou o rosto com água gelada, sentindo todo seu corpo refrescar-se e sua respiração ficar mais devagar.
Sentou-se na privada com o olhar perdido e sentindo-se aliviada por tudo ter sido apenas um pesadelo.
Ela não suportaria se algo como aquilo acontecesse. Ter Brit em coma já era ruim o bastante. Ela nunca agüentaria a morte da amiga.
Em seu sonho, chegava no hospital e encontrava o quarto de Brit vazio. Ela começava a chorar e tremer, mas não havia mais ninguém ali no hospital. Ela só enxergava vultos que passavam rapidamente por ela, sem nem ao menos notá-la. Ela largava-se no chão entregando-se ao choro e ao desespero enquanto seu pai aproximava-se e lhe falava que Brittany tinha morrido.
sentiu um aperto no coração e uma saudade imensa da amiga.
Voltou para o quarto, avistando dormindo serenamente em sua cama. Ele usava boxers azuis e a mesma camisa xadrez de mais cedo. Ela sorriu e acalmou-se instantaneamente apenas por vê-lo ali. Lembrou-se da noite passada quando tudo tinha ficado melhor quando ele a abraçou e confortou até que os dois pegassem no sono.
Voltou para debaixo das cobertas sentindo os braços de passarem por cima de sua cintura aproximando os dois. Ela sentia a respiração calma dele em seu pescoço, além do perfume que a fazia delirar.
Ela estava segura.
Tudo ia ficar bem agora que ela tinha ao lado dela.
O barulho insistente e irritante do despertador acordou a garota na manhã seguinte. Ela tentava ignorar aquela bugiganga infame. Tinha se esquecido totalmente daquele detalhe: escola.
Alguns segundos depois o barulho estridente parou. provavelmente tinha se dado conta de que ela não tomaria uma atitude tão cedo e o desligou.
beijava suas costas e seu pescoço delicadamente.
- Bom dia! – Ele falou baixinho no pé de sua orelha.
se espreguiçou sentindo um sorriso imenso em seu rosto. Desde quando ela era bem humorada na hora que acordava? Bem, desde quando ela era bem humorada a qualquer hora?
- Bom dia! – Ela falou virando-se e encarando-o enquanto acariciava seu rosto. sorriu.
- Sabe, eu estava pensando... – Ele falou olhando em seus olhos.
- O quê?
- Você ainda não me respondeu... – não entendia o que falava.
- O quê?
Ele sorriu e depois mordeu o lábio inferior.
- Se você aceita ser minha namorada.
Ele era oficialmente adorável.
- Hum... – Ela levantou a sobrancelha como se pensasse. – Não sei. – Ela terminou a frase num biquinho.
- Não? – Ele perguntou entrando na brincadeira. fez que não com a cabeça. – Acho que talvez eu deva te convencer então... – Ele fez a mesma cara maliciosa que ela tinha visto meses antes no sofá da casa dele.
- Não! – Ela pulou da cama e a olhou preocupado enquanto se sentava. – Calma, nós precisamos escovar os dentes.
- O quê? – perguntou rindo.
- É claro! – Ela respondeu já andando até o banheiro. – O primeiro beijo do nosso namoro não pode ser com bafo!
- Você não tem bafo! – Ele respondeu seguindo-a.
- Claro que tenho. – Ela pegou a escova e colocou a pasta enquanto a abraçava por trás e beijava seu pescoço delicadamente. – Todo mundo têm! Nós somos humanos!
- Eu tenho? – Ele perguntou parecendo uma criança.
respondeu algo parecido com “provavelmente”, já que escovava os dentes, e ele fingiu uma cara triste.
Ela abriu o armário embaixo da pia e entregou uma escova de dente rosa a .
- Rosa? Não tem outra cor? – Ele perguntou e ela riu depois de cuspir a pasta de dente.
- Não, desculpe. Depois a gente acha uma escova de dente bem máscula para você, !
Ela voltou para a cama deixando e sua escova de dente gay no banheiro. Segundos depois o garoto deitou-se em frente a ela, como estava antes.
- Onde nós tínhamos parado? – Ele perguntou com as mãos na cintura dela.
- Na parte que você me convence a ser sua namorada.
- Ah sim! Aliás, só para constar, você cortou totalmente o clima! – Ele falou brincando.
- Que mentira! – Ela deu um tapinha no peito dele.
- Bem, eu devo te convencer a ser minha namorada, certo? – balançou a cabeça. – O quanto em dúvida você está? – Ele a olhava sério.
- Muito em dúvida. – enfatizou o “muito”.
aproximou mais ainda os dois, percorrendo a barriga de com a mãos enquanto dava leves chupões em seu pescoço e fazia a menina gemer.
- Isso é um sim? – Ele perguntou após ouvir o gemido.
- É. – Os dois se encararam com sorrisos na cara e depois sentiu os lábios de em seus. Estavam macios como antes, e frescos por causa da pasta de dente. Ela passou sua língua devagar pela boca dele que se abriu deixando que suas línguas se encontrassem. O gosto da boca dele continuava o mesmo e ela lembrava-se de tê-lo sentido por dias depois dos beijos que eles trocaram. O que na época só a deixava brava (pois estava brigada com ele), agora era algo mágico que ela queria que nunca mais acabasse.
Os dois se soltaram em busca de ar. pegou a mão de e a beijou.
- Eu amo você, . – Era a primeira vez que ela falava aquilo para alguém e ao contrário do que sempre imaginou, não estava nervosa ou apreensiva. Estava simplesmente certa.
- Eu também te amo. – Ele beijou seus lábios e não saberia falar quanto tempo ficaram se encarando, analisando e babando um no outro.
- Nós não deveríamos ter demorado tanto. – falou abraçando sua namorada e se referindo a todo o tempo que perderam por medo de conseqüências.
- Não mesmo. – Ela acaricio seus cabelos e passou os lábios levemente pelo pescoço de .
já quase adormecia novamente nos braços de quando ele a despertou.
- Acho melhor nós nos apressarmos. – Ele beijou sua testa.
- Não! Vamos ficar aqui! Não quero ir para a aula! – Ela fez manha.
- Nada disso, vamos! – Ele levantou-se e a puxou.
- Pô, ! Você é responsável demais! – Ela brincou se espreguiçando e assistindo vestir suas roupas.
- Eu tenho uma coisa importante para fazer hoje. – Ele respondeu enquanto, em vão, tentava desamarrotar sua camisa e por pura preguiça, se sentava na cama fofa.
- O quê?
- Pedir demissão! – já sabia daquilo, mas ouvir repetir aquela promessa tão determinado a assustou um pouco. Ela não poderia exigir que ele fizesse uma coisa como aquelas. Era muito sério. – O que foi? – Ele perguntou notando a preocupação de .
- Você tem certeza disso?
- Claro! – Ele se agachou a sua frente e envolveu suas mãos nas dela. – Já não te falei? Eu quero que todos saibam que nós estamos comprometidos! Estou pensando em colocar no jornal. O que você acha? – Ele sorriu e afastou-se procurando as próprias meias. – Não, vamos globalizar! Vou colocar na internet!
não pode deixar de rir e de sentir-se a garota mais sortuda do mundo, mas ela sentia que deveria insistir.
- ... – Ela falou num tom tão sério e adulto que mal se reconheceu. a olhava atento. – Não é o que er quero, não é o que você quer, mas talvez nós devêssemos deixar isso em segredo. – A testa dele se enrugou. – Não quero que você prejudique sua carreira por minha culpa. – Ele sentou-se ao seu lado e entrelaçou suas mãos. – Talvez eu deva trocar de colégio.
- Não, . Não quero que você faça isso. Eu tenho certeza do que eu vou fazer! – Ele passou os dedos pela bochecha de . – Além do mais, está na hora de eu me concentrar na banda!
A garota sorriu. Seu medo era que estivesse tomando decisões precipitadas das quais pudesse se arrepender depois, mas ele tinha certeza.
- Tá bem então! – Ela deu um selinho no namorado. – Vou me arrumar!
- Tá! – estava em frente ao seu armário procurando por roupas. – Acho que vou buscar café para nós na lanchonete aqui perto!
- Tem café aqui em casa, ! – falou não entendendo porque queria ir até a lanchonete.
- Dá para parar de tentar arruinar a surpresa que eu vou te fazer! – Ele respondeu abraçando-a pelas costas e fazendo praticamente flutuar de felicidade. Ela amava surpresas, ainda mais de !
- Ui! Desculpe! O que é? – Ela perguntou curiosa.
- Nada demais! – Ele afastou-se e chegou à porta.
- Conta, por favor!!! – Ela juntou as mãos implorando.
Ele a ignorou.
- Te encontro no carro?
- Sim!
fechou a porta deixando uma radiante no quarto. Certo, radiante é um eufemismo. Ela pulava e dava gritinhos de felicidade. Quem a visse, mandariam que a internassem.
Ela cantarolava alguma “musiquinha” que a letra era parecida com:
“O é meu! O é meu! ! ! Eu tenho um namoradooooo!”
O amor deixa as pessoas retardadas. Fato.
não tinha talento nenhum para a música. Fato.
Além de tudo ela fazia uma coreografia ridícula que lembrava a macarena.
- ?
- Ahhhhhhh! – Ela assustou-se e colocou a mão no peito sentindo seu coração disparado e que se aquilo acontecesse mais uma vez ela provavelmente precisaria de uma ponte de safena.
- Desculpe, não queria te assustar. – Abby falou segurando a risada.
- Tudo bem.
- Você sabe que tem um rapaz de tirar o fôlego... – Abby abanou-se e virou os olhos. – perambulando pela casa? – Abby fez uma cara do tipo: “Sua safadinha!”
sorriu sentindo as bochechas corarem.
- Sei sim. – Ela cruzou os braços nas costas e olhou para o chão. Estava envergonhada, orgulhosa e feliz. Tudo ao mesmo tempo. Não sabia muito bem como lidar com todos aqueles sentimentos juntos.
- Depois você me conta tudo, hein? - Abby piscou e saiu do quarto.
respirou fundo e ficou alguns segundos sonhando acordada até que olhou para o relógio concluindo que estava atrasadíssima! Ela se arrumou rapidamente, desceu as escadas e saiu da casa.
O carro de estava em frente a porta da frente. Ele estava encostado no carro, segurava dois copos de café e a olhava com os olhos um pouco fechados para se protegerem do sol. não se conformava em como cada vez que o via o achava mais bonito.
- Pronta? – Ele lhe entregou um dos copos e abriu a porta para que ela entrasse no carro.
- Sim! - deu a volta e sentou-se no banco do motorista, apoiando o copo de café no porta copos e ligando o motor. – Você não está esquecendo de nada? – Ela perguntou morrendo de curiosidade por causa daquela surpresa.
Ele sorriu de lado.
- Só estava esperando você perguntar! – Ele estacionou o carro próximo ao portão e procurou algo no banco de trás. – Já vou te avisando, não é nada muito especial.
- Tudo bem, mas mostra logo! – Ela estava impaciente.
esticou o braço e pegou uma sacolinha. Lá de dentro, tirou um muffin em forma de coração e entregou-o a .
- Ah! Que lindo, ! Obrigada.
Era algo simples e poderia parecer tolo para qualquer outra pessoa, mas não para os dois.
Eles estavam oficialmente apaixonados.
Capítulo 14 – It’s Not Your Falt/ Dirty Little Secret
chegou a sua sala “por osmose”. Sabe quando você anda automaticamente? Sem nem ao menos reparar no que se passa em volta? Ela estava assim.
Ela sorria como se tivesse dormido com um cabide na boca, mas fechou a cara quando caiu na real e olhou para a pessoa sentada uma carteira atrás da sua. Alex.
no sabia onde enfiar a cara e parou de andar subitamente. Eles tinham acabado de terminar ela deveria pelo menos fingir que aquele não era o dia mais feliz de sua vida.
Alex olhava para a própria mesa e ainda não tinha reparado na presença dela. Ele parecia mal. Ela não sabia se falava “oi”, se o abraçava, se o ignorava... ela nunca tinha terminado um namoro.
andou até sua carteira nervosa pela reação dele. Certo, ele não era o amor da sua vida, mas tinha sido um ótimo amigo e namorado por mais de dois meses. Ela não queria que Alex sofresse mais do que já tinha.
- Hei. – Ela falou sentando-se e colocando a mochila no chão. Alex levantou a cabeça e a encarou. Aquilo parecia ser extremamente difícil para ele.
- Hei. – Ele respondeu baixo e com uma voz entranha voltando seus olhos para a carteira.
abriu a boca para perguntar algo como: “Tudo bem?”, mas o professor de história a interrompeu.
- Em nossa última aula nós discutíamos como Mark Twain se opunha ao imperialismo... – Ele falou alto assim que botou os pés na classe e o agradeceu mentalmente.
Se ela perguntasse “Tudo bem?” a Alex iria se sentir uma grande filha da puta. O que ela achava? Era óbvio que ele não estava bem! não sabia mais como agir perto dele. Aquilo a incomodava.
Olhou em volta e sentia que todos sabiam o que ela tinha feito e agora a encaravam como se ela fosse uma serial killer ou coisa do tipo.
Obviamente, era tudo impressão e paranóia. Ninguém sabia de nada. Alex não tinha comentado nada com ninguém.
A culpa tomou conta de . Ela não sentia-se culpada por estar com , mas culpava-se por ter tido um fim tão estranho com Alex.
Deus, não fazia nem 24 horas que eles tinham terminado e ela já estava com outro. Isso não faz bem para a reputação de garota nenhuma. Nem garoto...Pensariam que ela estava traindo Alex.
Mas o que ela poderia fazer? Não podia parar sua vida por causa de Alex...
Seus pensamentos vagaram para a sala do diretor.
A essa hora, estaria pedindo demissão. Ela sorriu e estremeceu apenas pela lembrança dele.
As aulas passaram rápido, mas não prestava atenção apesar de ser sua matéria favorita. O sinal tocou e como sempre o Sr. Jackson reclamou que precisava de uma aula que tivesse o dobro da duração daquela, isso que ele já tinha tido uma dobradinha.
Professores de história sempre querem mais tempo de aula!
Era o intervalo e a menina já tinha decidido o que faria em relação a Alex. Tentaria agir normalmente. Bem, não normalmente, já que normalmente para eles seria se agarrar no corredor da escola ou no mínimo, andar de mãos dadas.
Ela tentava se lembrar de quando eram apenas amigos e como agiam. Eles conversavam. Sim, conversar seria a saída! Comunicação é a chave de tudo! Tinha que dar certo.
lembrou-se que na noite passada ele tinha pedido para que ela se afastasse dele, mas talvez ele estivesse apenas com a raiva do momento.
“Vamos nos comunicar!” – pensou
- Então, gostou da aula? – Ela perguntou “normalmente” virando-se para trás.
- Não prestei atenção para falar a verdade. – Alex respondeu secamente.
Okay, talvez essa história de comunicação não fosse uma idéia tão boa assim.
- Hum... – Ela tentava achar um assunto, mas seria mais fácil achar um cabeleireiro que não fosse gay do que um assunto. Ela vasculhava a sala em busca de inspiração, até que viu uma das cheerleaders. Elas finalmente serviram para alguma coisa. – Você tem jogo amanhã, né?
Alex era do time de futebol do colégio.
- Tenho sim. – Ele continuava seco e levantou-se pegando o i-pod da mochila.
- Contra quem mesmo? – Ela levantou-se junto com ele e o seguiu até a porta.
- Cornwel High.
- Ah, vocês vão ganhar. – Os dois deram de cara com um corredor vazio, já que o sinal tinha batido há alguns minutos e os alunos já estava na cafeteria ou nos pátios e jardins da escola.
- Huhum.
Alex acelerou o passo, tornando difícil para que o acompanhasse.
- O que você está ouvindo? – Ela perguntou puxando um dos fones de Alex.
O garoto se virou bruscamente e colocou as mãos nos ombros de que se assustou.
- . – Pela primeira vez ele olhou nos olhos dela, mas os desviou rapidamente. – O que você está fazendo?
Ela sabia o que estava acontecendo, mas preferia não saber.
- Como assim?
Ele a soltou, suspirou e colocou as mãos na cabeça. Era péssimo vê-lo daquele jeito.
- Você terminou comigo ontem e hoje você não sai do meu pé e não cala a boca! – Ele estava certo. Oh Deus, o que ela tinha feito agora? Ela só estava confundindo mais ainda a cabeça dele. Ela podia ser tão estúpida de vez em quando.
- Eu falei que queria continuar sua amiga. – Ela respondeu com a voz sumindo.
- E eu falei que não queria! – Alex gritou. Ele nunca tinha gritado com ela.
- Eu sei, mas... – Ela gaguejou. – Achei que você pudesse ter mudado de idéia.
- Eu não mudei. – Ele falou num tom rude, mas pelo menos não estava gritando. – Eu ainda nem me dei conta que está acabado, . – Ele falou calmo e triste enquanto encostava-se na parede e deslizava até o chão. – Eu preciso de tempo! Quando eu acordei essa manhã, a primeira imagem que me veio na cabeça foi a sua e por menos de um segundo era como se tudo estivesse bem de novo e eu fiquei tão feliz... – sentou-se ao lado dele sentindo o coração apertado. – Até que eu lembrei e foi como se alguém me desse um murro no estômago ou coisa parecida. – Ele tinha os olhos vermelhos. – Eu preciso te esquecer, . – A menina encarava o corredor a sua frente com o olhar perdido. – Eu não posso te esquecer se você está sempre aqui.
- Você está certo. – Ela se levantou enxugando rapidamente uma lágrima. – Desculpe, Alex. – Ele movimentou a cabeça afirmativamente e nada mais. – Bem, quando você estiver pronto para conversar ou... – Ela virou os olhos e não achava as palavras. – Bem, eu vou estar aqui.
saiu de lá o mais rápido possível desejando nunca ter envolvido Alex nessa história toda.
Comunicação é totalmente superavaliada.
Após o final do intervalo, voltou para a sala e mudou seu material de lugar. Ela não dificultaria as coisas para Alex. Sentou-se do outro lado da sala, na única carteira vaga da sala. Era a última carteira da fileira encostada na janela. De lá ela podia ver parte do campus e o movimento de carros da rua ao longe.
Enquanto a Srta. Orwell explicava polímeros e observava atentamente o modo que o vento batia nas árvores e derrubava dezenas de folhas, Sra. Dickens entrou na sala chamando a atenção de todos.
A mulher fingiu que não era observada por quase trinta estudantes, entregou um envelope à professora e cochichou algo em seu ouvido antes de sair da classe batendo a porta.
Srta. Orwell, a professora de química, sorriu amarelo e continuou sua explicação enquanto colocava o envelope no bolso do jaleco.
saía da sala rumo à biblioteca após o final da aula quando a professora a chamou.
- Srta. ?
- Sim? – falou ficando em frente à mesa da professora.
- Já ia me esquecendo... – Ela falou com uma voz meiga e colocou a mão no bolso. não agüentava mais aqueles envelopes. Ela teve certeza que era para ela quando a Sra. Dickens entrou na sala. A professora estendeu-lhe o envelope.
- Obrigada. – sorriu falsamente enfiando o envelope no próprio bolso.
Ela correu para a biblioteca imaginando o que o diretor papai noel poderia querer com ela dessa vez. Foi quando ela sentiu as pernas falharem e o estômago gelado. Será que ele sabia sobre ele e ?
Ela não agüentou chegar até a biblioteca e entrou no primeira banheiro feminino que achou. O lugar estava lutado de cheerleaders que praticamente se afogavam no meio de tantos pompons e fulminavam com o olhar.
Era fato, cheerleaders a odiavam. Afinal, fora ela, uma garota estranha, com roupas e maquiagens estranhas que tinha ficado com o capitão do time de futebol. Elas não se conformavam.
imaginou se agora elas a odiariam ou amariam. Odiariam por estar fazendo Alex infeliz ou amariam por terem o caminho livre.
Ela ultrapassou aquele pequeno corredor que elas formavam quase ficando intoxicada com todo aquele cheiro de gloss de melancia e entrou na última cabine.
Ela fechou a tampa da privada e sentou-se lá. Mal podia ouvir os próprios pensamentos devido à barulheira que aquelas garotas faziam. Colocou a mão no bolso e de lá tirou o envelope que se encontrava um tanto quanto amassado agora.
Ela reconheceu o papel timbrado e a caligrafia do diretor:
“Cara Srta. ,
O Dr. pediu para que eu te recordasse de sua consulta hoje logo após as aulas.
Atenciosamente,
Diretor Armstrong.”
estanhou aquele bilhete. A essa hora, deveria estar no centro, já ensaiando com a banda ou coisa do tipo. Não deveria estar na escola, muito menos marcando uma sessão.
Alguma coisa tinha dado errado, porém tudo parecia estar sob controle.
Ela não se agüentava de curiosidade e ao invés de passar sua última aula que era livre fingindo que estudava números complexos, ela correu até o prédio Burlington e só pensou que poderia estar fazendo uma burrada quando já tinha batido na porta.
Ele poderia estar com outro paciente, mas para sorte de , não estava.
Ele abriu a porta sorrindo e parecendo engraçado com aquela roupa toda amassada.
- Sabia que era você! – Ele fechou a porta e prendeu a namorada com seu corpo enquanto trocavam um beijo tão intenso que parecia que não fazia apenas oito horas que eles tinham se visto. – Nós temos um probleminha... – Ele falou depois que os dois se soltaram.
- O quê? – perguntou com medo da resposta. Se bem, que não parecia muito preocupado.
- Eles não deixaram eu me demitir. – Ele sorriu nervoso.
- Como assim? – quase ria imaginando que era uma piada.
- É isso ai! – Ele sentou no sofá com as mãos no joelho. – Segundo um contrato que eu assinei, eu só posso me demitir ou ser demitido no final de cada semestre.
Ela nunca tinha ouvido falar num contrato desses.
- Como você assina um negócio desses ? – Ela ralhou brincando e ele riu. – Aposto que você nem leu! – Ela deu um soquinho em seu braço.
- Não mesmo! – fez cara de culpado.
- Então, nós ainda não podemos colocar a nossa história na internet? – Ela perguntou meio frustrada e fez que não com a cabeça.
- Por enquanto vai ser o nosso segredinho! – Ele sorriu maliciosamente e aproximou-se dela, fazendo com que deitasse no sofá verde com ele entre suas pernas.
- Vai ser no mínimo interessante ter um segredinho com você! – Ela respondeu antes de sentir os lábios de nos seus.
- Sabia que eu sempre sonhei em fazer isso? – Ele perguntou com um sorriso bobo depois que eles cortaram o beijo.
- Você já me beijou antes, .
- Já, mas não aqui! – Ele brincava com os cabelos de .
- Seu safado! – Ela brincou e se fingiu de chocada. – Quer dizer que você tem um fetiche pelo sofá verde?
riu.
- Não, eu tenho um fetiche por você. – Ele deu um beijinho no canto da boca da menina e ela corou. Para sua sorte, não percebeu. – Mas é que sempre que nós estávamos em sessão, eu me pegava imaginando nós dois juntos nesse sofá! – Ele que corou dessa vez e ela reparou.
- Você é um péssimo profissional. Sabia, ? - Ela perguntou para irritá-lo.
- Sou mesmo. – Ele se aconchegou no sofá fazendo com que os dois ficassem como conchinhas até que alguém bateu na porta e os dois pularam dali como dois cangurus assustados.
abriu a porta e viu um garoto do primeiro ano entrar.
- Boa Tarde, John! – falou sério enquanto o garoto encarava . – Até a próxima sessão, Srta. ! – Ele completou com um olhar malicioso que só ela poderia entender enquanto ela chegava à porta.
-Até, Dr. !
Capítulo 15 – All Of This
- Oi Brit! – falou calmamente após sentar-se ao lado da amiga. Era um alívio ver Brittany após aquele sonho terrível. – Tenho que te contar tanta coisa. – mal sabia por onde começar. As coisas tinham mudado tanto desde a última vez que tinha visitado Brit. – Bem, lembra do ? Aquele que veio aqui aquele dia, o psicólogo que tinha me dispensado... Pois é, nós estamos namorando! – Ela sorriu empolgada. – Certo, já até sei o que você vai me perguntar: “Mas você não estava com aquele loiro gostosão até outro dia?” – imitou a voz da amiga e riu de si mesma. – Então, até ontem eu namorava o Alex, mas você sabe que o é... – Ela pensou algo para falar sobre ele, mas não conseguiu. – Bem, o é o !
levantou-se para pegar algumas folhas secas que tinham caído das flores em cima da bancada próxima à janela e encarou a paisagem a sua frente. Ela poderia passar horas e horas ali. Também gostava de observar as pessoas correndo para lá e para cá. Costumava imaginar suas vidas, se teria alguém esperando por elas quando chegassem em suas casas, se eram felizes, se preferiam cachorros ou gatos e etc.
A menina sentou-se na bancada ao lado de um vaso de tulipas vermelhas e encarou um jovem pai que carregava uma mochila, dois sorvetes e segurava a mão de uma garotinha. Estava totalmente estabanado e perdido, mas era fofo.
- Meu pai apareceu ontem. Eu deveria estar perturbada, certo? – Ela perguntou
a Brit. – Mas não estou. Eu não entendo. Sempre pensei que quando o visse, iria
esquecer tudo e perdoá-lo ou então iria discutir com ele, odiá-lo para sempre
e odiar a mim mesma para sempre. Nada disso aconteceu. Eu senti muita raiva dele
na hora e nós discutimos, mas depois que tudo passou eu me senti tão bem! Parece
que eu tirei um bonde das costas, sabe? – Ela riu sozinha e perdeu o pai atrapalhado
com a filhinha de vista. – É como se um problema tivesse sido resolvido. – Eu
não odeio ele, mas ele está fora da minha vida e pronto!
se perdeu na paisagem e nas pessoas, até ouvir uma batida na porta.
- ? – Ela surpreendeu-se ao vê-lo na porta e pulou da bancada indo ao encontro do namorado.
- Hei! Imaginei que você estaria aqui! – Ele respondeu dando um selinho em .
- Que surpresa! – Ela amava surpresas.
- Passei aqui para perguntar se você quer fazer alguma coisa. – Ele colocou as mãos nos bolsos e olhou para o chão fingindo ser tímido.
- Claro, mas eu não posso voltar muito tarde! – Aula idiota, escola idiota.
- Não se preocupe, eu te levo para casa na hora que você pedir! – Ele colocou uma mexa de cabelo atrás das orelhas de e olhou para o quarto nas costas de . – Hei Brit, tudo bem?
Ela adorava o jeito que ele se preocupava com Brittany.
- O que você quer fazer? – Ela perguntou.
- Estava pensando em ir para minha casa mesmo. O que você acha? – concordou com a cabeça. – Nós podemos pedir pizza e assistir tv ou eu posso simplesmente ficar te encarando e babando em você! – Ele beijou delicadamente a garota e ela riu.
- Eu concordo, mas só se eu também puder ficar babando em você!
- Nós temos um trato então! – estendeu a mão como que se fechasse um negócio ou coisa parecida.
- Sim, nós temos. – apertou a mão de . – Espera um segundo que eu vou me despedir da Brit, okay?
- Okay.
afastou-se e encostou no batente da porta enquanto ia até a cama da amiga e a abraçava apertado, para ter certeza de que ela estava ali e aquele pesadelo era simplesmente um pesadelo. Aquilo era um tanto difícil, contando com o fato que havia milhares de fios e tubos e tinha medo de desconectar alguma coisa e causar uma tragédia.
Abraçando Brittany daquele jeito a fazia ter a impressão de que a amiga estava realmente ali. Aquilo a confortava, já que havia vezes que chegava a sentir-se uma estranha perto de Brit.
- Vamos? – Ela estendeu sua mão a que a pegou. A mão deles estava quentinha e aconchegante. amava ficar de mãos dadas com .
- Vamos! – Ele falou saindo do quarto.
- Sua mão está quentinha.
a olhou com o sorriso desconfiado.
- Hum, obrigado! Isso é bom, né?
- Claro que é! Duhhh! – O casal entrou no elevador com fazendo cara de retardada e arrancando olhares atravessados dos outros passageiros do elevador. riu de sua cara. – Pô, ! Apoia pelo menos, né?
Ele continuou rindo e depois fez uma cara muito séria que não durou nem dois
segundos já que os dois começaram
a rir gerando ainda mais olhares atravessados. Essas pessoas sem humor, viu?
- Não acredito que você me fez andar até aqui, ! – reclamou quando sentou-se (lê-se esparramou-se) no confortável sofá de .
O hospital ficava a poucas, que para pareceram muitas, quadras da casa de e ele não tinha levado carro. Segundo ele, estava preocupado com a própria saúde e com o meio ambiente. A caminhada faria bem para sua saúde e um carro poluidor estaria fora das ruas de Londres.
Ele era um cara consciente.
- Eu estou fazendo de você uma pessoa saudável e ecologicamente consciente, ! – Ele falou levantando o dedo indicador.
- Bla, bla, bla... Eu não sou saudável, mas eu meio que me preocupo com o meio ambiente, sabe?
sentou-se (novamente, lê-se esparramou-se) ao seu lado e acariciou sua mão.
- Que orgulho, ! – Ele ironizou. – Agora só falta eu fazer de você uma pessoa saudável.
soltou uma gargalhada alta e forçada.
- , o máximo de exercício que meu corpo agüenta é subir as escadas de casa e caminhar até o metrô ou a escola. – Pior que era verdade.
- Você é uma “Garfield”, sabia? – Ele perguntou enquanto brincava com sua mão.
- Huhum! – Ela sorriu e por um segundo sentiu-se uma criança. – Mas eu sou bem mais pizza do que lasanha. Falando em lasanha... – sentiu seu estômago vazio. – Vamos pedir a pizza?
- Vamos! – se levantou e pegou o telefone. – Qual pizza você quer, gordinha?
- Gordinha? – levantou apenas uma sobrancelha. Gordinha é um tanto quanto broxante.
- É! Porque você só come e é preguiçosa. – a abraçou por trás e beijou embaixo de sua orelha. Ele meio que tinha razão, afinal ela comia o dia inteiro (só porcarias, mas e daí?).
- Sei, sei. – Ela ainda não era grande fã daquele apelido. – Eu quero de catupiry, gordão! – Ela falou para irritá-lo.
fez uma careta.
- Pô, eu sou gostoso, ! – Ele se fingiu magoado.
- Gostoso e humilde, né?
- Ah, mas então você admite que eu sou gostoso!? – Ele a abraçou pela cintura e encarou seus lábios.
- Claro que sim! Você sabe disso desde o dia que eu te conheci! – passou a mão pela macia nunca do rapaz.
- Ah sim! – parecia felicíssimo em lembrar do episódio. – Já tinha esquecido! – Ele a beijou,
a fazendo esquecer totalmente da fome, mas apenas por alguns segundos!
- Então, vamos pedir a pizza? – perguntou assim que os dois se afastaram.
- Vamos, Garfiled! – discou os números da pizzaria.
- Garfield? Você tá me tirando, né ?
mostrou-lhe a língua e começou a falar no telefone.
comia sua pizza sentada no chão (ela tinha medo de sujar o sofá, já que era normal que ela se sujasse e sujasse tudo em volta em quanto comia. Ela era tão estabanada.) enquanto prestava atenção no comercial de xampu que passava na televisão e se convencia de que precisava trocar de xampu. estava no sofá e as pernas dele estavam ao lado de .
- ?
- Oi. – Ela respondeu após mastigar um pedaço de pizza enquanto ainda pensava em seu cabelo.
- Eu acabei esqueci de te perguntar...
virou-se para encará-lo. parecia nervoso.
- O quê? – Ela estava curiosa.
- O que você foi fazer ontem quando saiu correndo? – já desconfiava o que ela tinha feito.
- Ah sim... – Ela sabia que ele perguntaria mais cedo ou mais tarde. – Fui terminar com o Alex.
- Alex?
- É, meu namora... – não terminou a frase vendo a cagada que tinha feito. levantou as sobrancelhas. – Ex-namorado! – Ela bateu a mão na testa. – Desculpe, não sei de onde saiu isso! É que é tudo muito recente, sabe?
sorriu e ela sentiu um alívio imenso. Estava com medo que ele encanasse com algo tosco como aquilo.
- Tudo bem, ! – Ele curvou-se no sofá e beijou sua testa. – Então, como ele reagiu? – Cara, por que tanta curiosidade?
- Hum...Não muito bem, na verdade, mas logo ele supera.
- Coitado. Se você terminasse comigo eu provavelmente não sairia da cama.
- Que mentira, ! Até parece... – Ela riu pensando em como era exagerado.
- Como você conheceu ele? – Sério, por que tantas perguntas? Aquilo a perturbava.
- Por que tanta curiosidade, ?
- Nada! – Ele fingiu estar despreocupado. – Só estou mantendo um diálogo aqui!
- Certo.
- Então, como foi?
- O quê? – Ela evitava falar sobre Alex com . Não parecia certo.
- Que você conheceu ele. – ficava impaciente, mas tentava esconder.
- Você quer mesmo saber dessas coisas? – Ele concordou com a cabeça. – Foi algumas semanas depois que você falou que não queria ficar comigo. – Era estranho falar sobre aquilo, era estranho lembrar aquilo agora que eles estavam juntos. – Ele era vendedor duma loja que eu entrei, além de ser lá da escola. Ai nós viramos amigos e depois... – fez uma pausa. – Bem, você já sabe.
- Sei. Ele foi um bom namorado? – Aquilo realmente estava incomodando.
- Foi, mas dá para mudar de assunto, ? – Ela usou uma voz mais firme. – Esse assunto é estranho.
pareceu se dar conta do que fazia.
- Claro! Desculpe, eu realmente não deveria ter perguntado essas coisas. – Ele acariciou a cabeça de . – Foi aquele bicho horroroso que tomou conta de mim! – sorriu envergonhado.
não entendeu o que ele falava.
- Bicho?
- Ciúmes.
- Ahh... – ficou com a boca aberta meio em choque por alguém sentir ciúmes dela. Era tão legal!
Após uma pequena sessão de amassos, sentiu seu celular vibrar no bolso de trás de sua calça jeans.
Era Francis, o motorista, que a esperava na porta de .
- Aonde você pensa que vai? – perguntou enquanto ela se levantava do sofá e procurava por seus tênis.
- Para casa! Está tarde, . – Ela passou a mão pela bochecha dele.
- Mas eu ia te levar! – Ele parecia triste e frustrado o que era muito fofo para .
- Não ! Ia dar muito trabalho! - Ele fazia bico como uma criança mimada. – Eu liguei para o Francis, é o trabalho dele mesmo. Ele já estava se sentindo triste por eu não usar os serviços dele! – Ela soltou mais uma de suas piadas. – Os outros motoristas já estavam falando mal dele, sabe? – Ela deu uma piscadinha enquanto ria.
- Mas eu queria te levar! – esqueceu da “piada”. – Ainda queria a sessão de amassos no carro! – Ele falou como se fosse óbvio e normal.
- ! Você é muito safado, cara!
Ele sorriu aproximando-se dela e lhe dando um desses beijos que te deixa sem fôlego.
- Te vejo amanhã na escola? – perguntou já na porta de saída.
- Acho que não! – surpreendeu-se. – Amanhã tenho uma reunião com um empresário que está interessado na banda! – Ele ficava radiante quando falava do McFly. – Já até avisei o diretor que não vou trabalhar amanhã.
- Isso é demais, ! – o abraçou.
- Eu acho que vai dar certo dessa vez, ! – Ele falou esperançoso e a menina
não conseguia parar de sorrir. – Esse cara é bom e está muito interessado. Ele é o empresário do Busted, sabe?
“Sabe?”
Óbvio que sim! Ela amava Busted.
- Ahh! – Ela gritou um pouquinho histérica. – Claro que sei! O Fletch!
- Sim, é o Matthew Fletcher! – Ele falou com ar de superioridade. – E você é uma fã de Busted! Quem diria...
o beijou levemente nos lábios e andou até o carro enquanto respondia:
- É, talvez!
Capítulo 16 – No News Is Good News
Duas semanas tinham se passado desde que Dougie, Danny, Harry e Tom tinham se reunido com Fletch, mas os meninos ainda não tinham recebido uma resposta.
estava mais ansioso do que nunca, assim como .
Alex ignorava totalmente a menina e não deixava que seus olhos se encontrassem. Ela tinha ouvido falar que ele estava saindo com uma das cheerleaders, mas não sabia falar qual pois todas pareciam iguais para ela.
Quanto ao relacionamento de e , este estava aquela coisa que se você vê de fora, tem vontade de vomitar e matar o maldito cara que inventou o amor. Não que muita gente visse de fora, afinal eles viviam um “romance proibido” e as únicas pessoas que sabiam disso eram os amigos de , Abby e o resto dos empregados, a mãe de (que é claro, não sabia do detalhe de ser o ex-psicólogo da filha) e Brit que eles tinham certeza, não contaria a ninguém.
e passavam todo o tempo livre que tinham juntos e pareciam não enjoar um do outro, mas apenas se viciarem mais.
A professora de espanhol tagarelava qualquer coisa que a garota não entendia e não queria entender quando ela sentiu seu estojo vibrar.
O celular estava ali dentro e ela agradeceu por ter lembrado de colocá-lo no silencioso quando saiu de casa.
Era uma mensagem de e na mesma hora, perdeu todo o sono que sentia e abriu um sorrisão.
Ela se empolgava normalmente com mensagens, porém as de eram as que mais a alegravam.
Essa falava assim:
“Tenho novidades! Me encontre na minha sala na hora do seu almoço. Você é o meu trampolim beijado pelo sol e eu te amo mais do que tudo!”
“Trampolim beijado pelo sol”?
estranhou e riu sozinha. Ela imaginava que aquilo era algo bom, apesar de ser um tanto estranho.
era um ser muito criativo.
Será que ele finalmente tinha recebido a resposta de Fletch?
só sabia que o namorado parecia feliz e que a notícia deveria ser boa, portanto. Ela teve certeza que a aula de espanhol se arrastaria até que ela fosse liberada para o almoço.
Ao invés de rumar para o refeitório e comer as intragáveis iscas de peixe que eles teimavam em chamar de “almoço”, ali correu para o prédio Burlington.
Ela estava sempre correndo até lá e sempre chegava ofegante. Bem, ela também saia ofegante, mas por outros motivos.
A porta estava aberta e ela entrou fechando-a atrás de si.
- Hei! Qual a novidade? – Ela perguntou a que estava sentado em sua mesa olhando para alguns papéis, mas parecia radiante. Ele se levantou e abraçou. – Pára de mistério, ! Conta logo!
- A banda assinou contrato!
- Ahhhhh! – gritou enquanto pulava no colo do namorado e o abraçava apertado. – Parabéns, ! – Ela o beijou na bochecha. – Eu estou tão orgulhosa do meu namorado! – Agora ela o beijou na boca.
a soltou e os dois sentaram-se no sofá verde. estava tão feliz por ele que finalmente estava realizando seu sonho.
- Só tem um problema... – falou sério, deixando a namorada preocupada. – Nós vamos começar a gravar o álbum.
“Eita, endoidou!” – pensou.
Gravar o álbum geralmente é algo bom, não?
- Isso é um problema por quê, ?
- A gravadora só está com um estúdio vago agora... – Ela prestava atenção com medo do que sairia daquela conversa. - E é em Dublin. – Ele falou e pegou na mão de que já previa as malditas conseqüências. Ela odiava conseqüências mais do que tudo.
- Dublin? – Ele fez que sim com a cabeça. – Tipo, Dublin na Irlanda?
- É. – passou uma das mãos pela cintura da garota e a aconchegou em seu peito.
- Naquela outra ilha a milhares de quilômetros?
- Isso, mas eu acho que são apenas centenas de quilômetros.
- Mas vão parecer milhares. – Ele não poderia se afastar agora que tudo estava tão certo. – Por quanto tempo? – Ela suspirou com medo do que ia ouvir.
- Então... – afastou-se e apoiou os cotovelos nos joelhos enquanto brincava com suas mãos. – Não está bem definido ainda... – Ele falava com cautela. – Mas devem ser uns seis meses.
- Seis meses? – levantou-se, tamanho era a adrenalina que corria por seu corpo.
- É, mas isso não muda nada, ! – o fuzilou com os olhos. – Quer dizer, nós não vamos nos ver tanto quanto agora, mas nós temos telefone, internet e tudo mais! – sentou-se novamente, agora com a cara amarrada. – Eu volto para cá sempre que puder e você também pode ir quando você quiser.
- , eu estou no último ano do colégio, não posso ficar faltando nas aulas. – Ela estava com raiva e precisava descontar em alguém, mas desde quando ela trocaria pelos estudos? – Além do que, eu sou menor e preciso de autorização dos meus pais para sair do país. Isso é meio que impossível para mim no momento.
afundou a cabeça numa almofada inconformada com seu azar.
- ? – Ela sentiu a sua frente, mas não tirou a cabeça da almofada. – Vem cá, amor. – Ele falava acariciando os cabelos dela e ela finalmente levantou-se enquanto tentava conter as lágrimas. – Você sabe que eu te amo, não sabe? – Ela concordou. – Você sabe que por você eu enfrentaria qualquer coisa e qualquer obstáculo, não sabe? – Ela concordou de novo, agora sentindo que não poderia segurar mais as lágrimas. Ela sentiria tanto a falta de . – Não precisa chorar. – Ele limpou as lágrimas que já caiam. – Vai ser horrível,
eu vou morrer de saudades, mas depois que eu voltar tudo vai voltar ao normal
e as coisas vão ficar até melhores! – Ele falava com um ar esperançoso.
- Melhores?
- Sim, nós vamos poder globalizar nossa história! – Ele conseguiu fazê-la rir mesmo naquela situação. – Eu não vou mais estar trabalhando aqui!
- Ah sim! E como você vai para Dublin se você não pode pedir demissão? – Por um segundo o egoísmo tomou conta dela e ela imaginou um obstáculo para que ele não partisse.
- Os advogados do Fletch já tomaram conta disso e propuseram um acordo para que a escola, que já aceitou.
- Ah que bom! – Ela ficou com medo que soasse falsa, mas pelo jeito, conseguiu enganá-lo.
Onde ela estava coma cabeça? Aquilo era ótimo, ela não poderia ficar pensando em coisas que impedissem de fazer o que ele sempre quisera.
Até que ela lembrou de um detalhe crucial.
- Ai meu Deus!
- Que foi? – a olhou curioso e espantado.
- Groupies! – Sua voz saiu aguda. Ela abanou-se e depois colocou a mão na boca odiando cada vez mais aquela idéia.
- Groupies? – não a entendia.
- É! Groupies!
- O que tem elas?
o olhou não acreditando que ele ainda não tinha entendido o porque de seu desespero.
- Elas vão te atacar, te perseguir, te estuprar... – riu. – Deus sabe lá mais o que e ai, você vai esquecer de mim!
Drama queen para sempre.
- ... – Ele falou pausadamente. – Eu tenho você, para que eu preciso de uma groupie?
- Você fala isso agora, mas você não conhece as groupies.
- Não, e você? Conhece? – Ele estava achando tudo aquilo muito engraçado, mas
ela não.
- Conheço! Quer dizer... – Ela virou os olhos. – Eu não conheço mas eu sei do que elas são capazes!
- Você não tem com o que se preocupar, as groupies só aparecem depois que as bandas são famosas e ricas! McFly não é nada disso por enquanto!
- Você que pensa! – encarava a parede a sua frente enquanto suas mãos esmagavam o sofá. – Essas desocupadas correm atrás de qualquer palheta ou baqueta que passe na frente delas!
- Sério, não precisa se preocupar. – Ele olhava tão penetrantemente dentro dos olhos dela que ela quase sentiu-se zonza.
- Jura?
- Juro. – a beijou na testa.
- Quando vocês vão? – Ela teve medo da resposta novamente.
- Sábado.
- Que dia é hoje? – Ela sabia que dia era, mas queria uma confirmação, já que se fosse o dia que ela estava pensando, as coisas estavam piores do que ela imaginava.
- Quarta. – Ela estava certa.
olhou para o relógio e concluiu que se não saísse de lá logo, ficaria sem almoço. Além do que, aquela sala parecia sufocá-la naquele momento.
- Eu tenho que ir almoçar, ! – Ela se levantou do sofá e tentou limpar as lágrimas e o rosto inchado. Até parece que conseguiria...
- Quer almoçar comigo? – Ele perguntou com a certeza de que ela aceitaria. – Eu só tenho Red Bull e pacotes de salgadinho, mas eu sei que esse é um de seus pratos favoritos!
Era mesmo.
- Não , obrigada! – Ele fez uma cara estranha.
- Hum, de nada.
Ele também se levantou, mas estava sem jeito e desconfortável.
- Sabe o que é... – sentiu que devia uma “explicação” e falou a primeira coisa que lhe veio na cabeça. – Hoje tem iscas de peixe! – Ela fingiu estar super animada com o fato.
- Pensei que você não gostasse de iscas de peixe. – Ele a conhecia bem demais.
- Eu não gostava, mas agora eu gosto! – ainda a olhava desconfiado. – Sabe, toda aquela história que você falou em ser saudável, consciente e tal...
- O que tem?
- Então, eu sou saudável e consciente agora!
Mentira!
- Sei, e comer pobres animaizinhos fritos em um óleo quente, nojento e lotado de gorduras trans é saudável e consciente?
beijou o canto da boca de e correu para a porta sentindo que não poderia mais se controlar se passasse mais um segundo ali.
- Eu ainda estou no começo, né ? – Ela deu um sorriso nervoso e saiu de lá sem nem ao menos esperar por uma resposta do namorado.
passou em sua sala, pegou seu material e o mais discretamente possível, saiu da escola. Ninguém a notou e em alguns minutos ela estava no Richmond Park.
Ela se sentou na mesma clareira que sentara da última vez e começou a arrancar dezenas de folhinhas dos arbustos ao seu lado.
Uma atitude bem coerente com a de uma pessoa que se diz consciente.
Capítulo 17 – I Caught Fire
já não foi mais ao trabalho no dia seguinte. Estava ocupado arrumando suas malas e tomando todas as providências para que seu apartamento não desmoronasse ou coisa parecida enquanto ele estivesse fora.
tinha se oferecido para ajudar, mas ele tinha rejeitado a ajuda alegando que não queria que ela se preocupasse com esse tipo de coisa. Ela só deveria se preocupar com a escola, em se divertir e em ter saudades dele, segundo .
já tinha absorvido melhor a notícia e por mais que estivesse com o coração apertado e uma sensação de vazio que parecia sugar toda sua energia, ela já encarava tudo de uma maneira melhor.
Seis meses não era uma eternidade e ela já tinha ouvido falar de relacionamentos que só ficavam mais fortes após um tempo separados por grandes distâncias.
havia prometido visitá-la quando pudesse e ela tinha certeza que ele cumpriria.
arrumava suas gavetas para que pudesse adiar o máximo possível o fato de que tinha que estudar biologia quando o telefone tocou.
- Alô? – Ela atendeu após tropeçar em um saco plástico que estava no chão e praticamente aterrissar na mesinha de cabeceira.
- ? – A voz de perguntou.
- Hei !
- E ai, tudo bem? – soava apreensivo.
- Tudo sim, e você?
- Também...Hum, estava preocupado com você. Você está bem mesmo? – sentou-se na cama vendo que aquela conversa poderia demorar.
- Estou mesmo! Mas por que você estava preocupado? – Pergunta cretina, contando-se com o fato que ela havia agido como uma desequilibrada nos últimos dias.
- Não te vi desde aquele dia no colégio, que você me pareceu bem perturbada com toda a história de Dublin, depois toda vez que eu te ligava você estava esquisita.
sentia que tinha medo da reação dela.
- Eu sei, . Queria me desculpar, aliás. Eu agi como uma maluca...
- Claro que não, . – Ele a interrompeu.
- Agi sim, mas é que eu ainda estava assimilando a notícia, sabe?
- Sei, eu também demorei algum tempo para assimilar tudo.
- Então, mas agora já está tudo assimilado! – Mentira, ela nunca assimilaria aquilo, mas aceitava. – Você pode vir aqui à noite?
Um dia sem ele e ela já estava com crise de abstinência de . Não queria nem imaginar como seriam seis meses.
- Posso, mas você não tem aula amanhã?
- Não, é feriado, cabeção!
A sexta seria feriado por ser o aniversário da rainha.
- Ah sim! Tinha até esquecido!
- Como você esquece do aniversário da rainha, !? Que absurdo! – Ela brincou.
- Eu sei, eu sou um cidadão horrível.
- Isso é óbvio, , mas você vem ou não?
- Claro que vou, ! Eu já estou com crise de abstinência de ! – riu impressionada com a similaridade que eles tinham na hora de pensar.
- Certo, trás a sua malinha para você poder dormir aqui, está bem?
- Claro! – Ele falou com uma voz diferente e ela desconfiava o que estava pensando.
- Beijos, .
- Beijos, . Amo você.
- Também te amo.
deitou-se em sua cama imaginando se aquilo realmente aconteceria. Ela sabia que queria que acontecesse . A menina não tinha certeza se queria ou não. Certo, ela tinha e também queria aquilo.
É claro que quando ela o tinha convidado para passar a noite ali, não tinha aquela idéia na cabeça, porém, agora tudo parecia se encaixar e o momento não poderia ser melhor.
Oficialmente, estavam juntos há pouco mais de três semanas, mas ela sentia que o conhecia desde sempre. Ele partiria em dois dias e ele não teriam outra oportunidade.
e já tinham chegado perto, mas sempre paravam por alguma razão. Ela e Alex também, mas ela sempre desistia na última hora.
Será que aquele seria o dia que ela perderia sua virgindade com ?
Ela sorriu e mordeu o lábio com uma pontinha de nervoso.
terminou de arrumar seu quarto e mandou a biologia aos infernos quando ouviu bater em sua porta.
- Entra! – Ela gritou de sua cama, onde se recuperava da maratona de arrumação de gavetas e assistia The OC.
abriu a porta carregando um buquê de delicadas florzinhas roxas que não sabia o nome mas amou no segundo que as viu.
- Ah! É pra mim!? – Ela perguntou enquanto o namorado fechava a porta.
- Não, é para a Abby! – fez um bico por causa da brincadeira e recebeu um beijo nos lábios de , que parecia mais bonito do que nunca. Apesar do frio, ele usava uma bermuda cinza, com um casaco de moleton preto com cara de macio e o famoso tênis de skatista. – Brincadeirinha! É para você!
Ele entregou as flores a , que por falta de um vaso as ajeitou em seu porta canetas. Não era muito comum ser presenteada com flores.
- Obrigada, . – Ela agradeceu e voltou-se para a cama onde já estava acomodado.
- De nada. Hoje à tarde que me dei conta de que nunca tinha te dado flores e achei um absurdo.
- Eu amei! – Ela aconchegou-se no peito do namorado sentindo aquele perfume hipnotizante que a fazia perder todos os outros sentidos. Parecia que ele tinha acabado de sair do banho. – Você está cheiroso.
- Você também. – Ele levantou o queixo de para que suas bocas se encontrassem num beijo que fez ter certeza de que seus planos estavam confirmados.
Os dois ficaram curtindo a presença um do outro por um bom tempo, sem nem ao menos prestar atenção na televisão que estava ligada ou no céu que escurecera de uma hora para outra.
- . – falou quando a televisão desligou sozinha devido ao sleep e ela reparou na escuridão que tomava conta do quarto.
- . – Ele sussurrava em seus ouvidos por estar abraçando-a pelas costas.
- Eu tenho planos para essa noite. – Ela falou com toda a coragem que tinha juntado. estremeceu.
- Eu também tenho planos.
- Eu desconfio que nós temos os mesmos planos. – Ela falou virando-se de forma que o encarasse de frente.
- Você tem certeza desses planos? – Ele perguntou atencioso.
- Tenho, mas tem um detalhe...
- Sim? – a olhava de maneira desconfiada e fofa ao mesmo tempo.
- Eu nunca pus em prática planos como esse antes, entende? – fez que sim com a cabeça e deu um pequeno sorriso enquanto passava os dedos pelo pescoço de .
- Nós só vamos fazer o que você quiser, está bem?
- Está.
deu pequenos beijinhos em seu pescoço, fazendo-a fechar os olhos para aproveitar o máximo possível daquela sensação. Devagar as mãos dele passaram de sua cintura para o seu quadril e depois para dentro da camiseta da menina, onde as mãos dele pareciam elétricas, tamanho eram os arrepios que ela sentia.
- Você quer colocar o plano em prática agora? – perguntou parando de beijá-la.
- Quero, só espera um segundo. – Ela levantou-se, foi até a porta e a trancou. – Prontinho! – Ela voltou para onde estava. Não estava nervosa. Não estava com medo. Só queria que tirasse as roupas. – Não queremos interrupções, certo?
- Não. – sorriu maliciosamente voltando sua atenção para a boca de . Ele aproximou seus lábios e passou sua língua nos dela, fazendo-a abrir a boca e puxá-lo para mais perto.
desceu suas mãos para a barra do casaco dele e o puxou para cima, fazendo com que seu namorado levantasse os braços para que ele saísse logo. tirou a camisa pólo listrada de azul e vermelho, jogando-a no chão e fazendo morder os lábios.
- Já mencionei que você é gostoso? – A garota perguntou enquanto não conseguia impedir suas mãos de passearem pela barriga nua dele. mantinha os olhos fechados e se arrepiava conforme as mãos da namorada iam mais para baixo.
- Acho que já!
Sem que ou percebessem, em pouco tempo estavam apenas de calcinha, sutiã e boxers.
abriu o próprio sutiã, que foi tirado por segundos depois, enquanto ele beijava cada centímetro da pele da namorada que gemia com aquela sensação. As mãos dela estavam no cós das boxers xadrez de e as puxou para baixo, jogando-as do outro lado da cama.
Vagarosamente, tirou a calcinha de e depois tateou a cama até achar sua bermuda, de onde tirou um pacote de preservativo. Ele o colocou com a respiração tão ofegante quanto a de .
Ele se aproximou novamente, se posicionando entre as pernas da garota. passou seus braços pelo pescoço dele acabando com qualquer espaço que pudesse haver entre os dois. Ela não conseguia respirar, mas aquilo parecia não fazer diferença. Sua cabeça estava apoiada no ombro de , que beijava delicadamente embaixo de sua orelha e causava-lhe sensações totalmente novas e que a faziam esquecer tudo e todos que não fossem ela e ele.
Naquele momento reparou que não era nada sem . Ela era uma bagunça sem ele e só agora tudo parecia fazer sentido.
não sabia, mas pensava no mesmo enquanto não imaginava mais sua vida sem aquela garota.
Seus corpos movimentavam-se juntos e pareciam realmente seguir um plano, apesar de não haver nenhum. Como sempre, estavam em sintonia, mas dessa vez a sintonia era completa e os fazia esquecer que eram dois, e não apenas um.
saiu ofegante de cima de e deitou-se ao seu lado. Ela pegou na mão do namorado enquanto tentava retomar a respiração e olhava seu teto. Ele também olhava para lá.
A sombra das árvores se mexia de acordo com o vento, mas nenhum dos dois realmente prestava atenção naquilo.
sentiu frio após uma rajada de vento e puxou o edredon para cobrir a si e . Ela deitou-se no peito dele, que a aconchegou e acariciou seus cabelos.
- Quer colocar o plano em prática de novo? – Ela perguntou sem acreditar na própria audácia.
nem respondeu, apenas “colocou o plano em prática” novamente e novamente momentos depois.
Eles queriam ficar ali juntos para sempre e só sairiam daquela cama quando o sol os acordasse no dia seguinte.
Capítulo 18 – Crescer e Aceitar
acordou mal humorada naquele sábado. Olhou para a janela e viu uma garoa fina e com aparência gelada caindo. O céu estava cinza claro. Olhou para a cama e viu adormecido. Seu coração doeu. Ele literalmente doeu. Ela não achava que aquilo era possível. Seu estômago se embrulhou e ela andou rapidamente até o banheiro, seu corpo nu sentia frio fora dos edredons.
Digamos que e tinham incorporado a expressão: “Quem está na chuva é para se molhar.” E vinham “colocando o plano em prática” como coelhos.
Ela não conseguiria ficar perto dele naquele momento. Não quando ela não parava de pensar que ele não estaria mais lá dali a poucas horas.
estava ali desde a noite de quinta. Na sexta, os dois foram até a casa dele arrumar os últimos detalhes da partida, mas depois voltaram.
A partida. Ela pensara estar mais conformada com aquilo, mas não estava.
Ela prendeu o cabelo num coque mal feito e lavou os rosto. Sentia-se abafada e sem ar. Precisava sair dali.
Tomando cuidado para não fazer barulho, foi até seu armário e pegou uma calça jeans, uma camiseta, um imenso casaco desses para se usar em dias de nevasca (apenas chovia, mas ela estava morrendo de frio) e um all star.
Ainda era cedo. Antes das oito. só precisaria sair depois das onze, deixando-a com um bom tempo para pensar. Ainda mais que ele não acordaria tão cedo.
Ela saiu de casa sem que ninguém a notasse e foi parar num lugar que agora já lhe era bem familiar: Richmond Park. No mesmo cantinho escondido de sempre, só que hoje mais molhado e com alguns arbustos sem folha alguma. Por que será?
Ela sentou-se ali e colocou o imenso capuz na cabeça pois a chuva aumentava a cada minuto.
não agüentava estar na própria pele. Tinha raiva de tudo e todos. O que mais queria era ficar escondida naquele lugar para sempre.
Mas ela não ficou. Quando sentiu que seus ossos poderiam congelar e se quebrar se tomassem mais um pingo de chuva, ela olhou no relógio e assustou-se. Eram quase onze horas.
Ela andou o mais rápido que pôde. Ela ainda teria que tomar um banho e se arrumar para poder levar ao aeroporto, onde ele encontraria com o resto da banda, Fletch e toda uma equipe que cuidaria do “bem estar da banda”.
Sim, McFly realmente estava importante!
Ela estava importante, mas sua parte egoísta e egocêntrica não deixava que essa felicidade escapasse.
- Onde você estava? – perguntou num tom inquisidor assim que ela abriu a porta do quarto. já esperava por aquilo, mas não teve a capacidade de inventar uma desculpa.
Acabou falando a primeira coisa que lhe veio a cabeça, que é claro, não enganaria nem uma criança.
- Cooper!
- Hum? – Ele fez uma cara adorável de quem não entendia nada.
- É! Fui correr! - Ela pegou suas roupas no armário. – Sou saudável, lembra?
- Você foi correr nessa chuva, de calça jeans, all star e um casaco que parece pesar mais do que nós dois juntos? – perguntou apontando a janela. A chuva tinha aumentado e agora também ventava.
- É! O que tem demais? – Ela fez-se de desentendida e entrou no banheiro rapidamente trancando a porta. encostou-se ali e se odiou por sempre acabar piorando as coisas.
- Não demora muito, tá ? – Ela ouviu e suspirou. – Nós precisamos sair daqui a pouco. – A garota não conseguiu responder nada.
Depois de um banho que poderia entrar para o Guiness Book como o banho mais rápido já visto, vestiu-se e fez sua maquiagem que teimava em não ficar boa.
Ela fazia aquilo todos os dias há anos. Desde quando ficava tão ruim?
Um olho parecia maior do que o outro por que o delineador e o lápis tinham ficado tortos.
Ela quase desistiu de tudo quando segundos após passar três grossas camadas de rímel ela espirrou, o que a fez fechar os olhos e consequentemente, ganhar borrões embaixo de seu olho.
- ? – bateu na porta.
Ela já estava bem infeliz antes de todo o incidente com a maquiagem, agora estava simplesmente furiosa.
Ela sempre fora muito sensível em relação à maquiagem.
- Espera, ! Que inferno, eu não tenho nem um segundo. Não sei para que tanta pressa, a merda do avião só sai daqui a umas três horas!
Ela nem percebera, mas tinha gritado num tom de voz que ainda não conhecia. Nem mesmo de suas brigas anteriores.
Após toda a maratona da maquiagem, ela desceu as escadas já encontrando a porta da frente aberta. Tinha parado de chover, mas o frio que entrava era forte. fechou o zíper da jaqueta de couro e apertou seu cachecol contra seu pescoço.
Um táxi estava parado bem em frente as escadarias de entrada enquanto e o motorista carregavam as malas. as tinha trazido para ali no dia anterior para que não precisassem passar em sua casa a caminho do aeroporto.
Abby estava parada ao lado do carro e abraçou assim que a menina se aproximou. Era como se alguém tivesse morrido ou coisa do tipo. Odiava aquilo. Odiava muito aquilo.
Assim que Abby a soltou, a menina se arrastou até o banco de trás. O motorista também já estava a postos, mas abraçava e conversava com Abby.
Os dois tinham se dado bem no pouco tempo que conviveram.
ajeitava o cabelo insistentemente por falta de outra coisa para fazer. Eles estavam molhados e ela sentia suas orelhas como duas pedras de gelo.
- Dá para ligar o aquecedor? – Ela perguntou ao motorista. Era um homem dos seus quarenta anos, mas já tinha cabelos brancos, o que constratava com o brinco que ele usava na orelha direita. Era um ser bizarro.
- Claro! – Ele respondeu bem humorado e apertou alguns botões que fizeram agradecer eternamente às invenções tecnológicas.
O homem começou a tagarelar qualquer coisa que ela não escutava quando finalmente sentou-se ao lado de sua namorada.
Ela odiava pessoas que falavam muito. Ainda mais as que ela mal conhecia. Ela as odiava profundamente. Às vezes pensava em fazer um voto de silêncio ou fingir que era muda só para evitar esses tipos de conversas cretinas.
- Heathrow, certo? – O motorista perguntou a se referindo ao aeroporto.
- Isso.
A maior parte do caminho foi tomada pelo silêncio o que só deixava mais nervosa, mais brava, mais desconfortável. não parava de balançar as pernas e roer as unhas enquanto olhava para a janela.
- Você está sendo injusta, . – Ele falou do nada a tomando de surpresa.
- Desculpe? – não acreditava no que ouvia.
- Foi o que você ouviu! Eu também não estou feliz de estar indo para a Irlanda, mas fazer o quê? Eu preciso ir e eu quero ir! – Ele estava praticamente gritando com ela que tremia de raiva, já que o carro estava bem quentinho. – Não é por isso que eu estou agindo como um desequilibrado! – Ele lhe deu um olhar que parecia perfurar.
- É claro que você não está agindo como um desequilibrado, , não é você que vai ficar sozinho no mundo! De novo!
Ele se mexeu aparentando desconforto e mudou de posição, mas ainda tinha aquele olhar horrível nos olhos.
- Eu sei que você passou por muita coisa ruim, mas você já parou para pensar que você faz tempestades em copos d’água? - Agora ela estava muito, muito, muito brava. Quem ele pensava que era? – É isso mesmo, ! Se você se ajudasse, você estaria bem melhor! Parece que você gosta de sofrer!
Gosta de sofrer?
- Você é realmente um psicólogo, ? – Ele a olhou com nojo, mas ela tinha o mesmo olhar no rosto. – Você melhor do que ninguém deveria saber que não existe isso de gostar de sofrer.
- Vocês querem que eu pare? – O motorista perguntou baixinho, com medo dos dois.
- Não. – respondeu num tom parecido com o que ela estava usando com .
- Existe sim, você é uma prova viva disso! Você é totalmente imatura, ! Você precisa aceitar e conviver com as coisas que acontecem!
- Imatura? – Não bate nele. Não bate nele. – “Eu tenho uma namorada há seis meses e você foi só um caso!” – Ela o imitou fazendo uma voz bem retardada e nem teve forças para discutir sobre “aceitar e conviver”.
- Olha aqui... – Ele apontou o dedo para ela. – Eu já me desculpei por isso! E esse seu comportamento é só mais uma prova do quanto imatura você é! – parou de encará-lo e virou-se para a janela. Não que estivesse conseguindo prestar atenção em nada ali. – Você quer que tudo saia do seu jeito e se isso não acontece você sai por ai tratando todos como lixo e se achando a maior sofredora do universo!
- Querem que eu pare agora? – O motorista perguntou novamente.
- Não! – respondeu rispidamente.
- Me desculpe, . – Ela falou com sarcasmo. – Me perdoe se os meus problemas te atrapalham, me perdoe se eu sou uma maluca depressiva.
- Está vendo? Esse sarcasmo! Eu não agüento você e o seu sarcasmo de vez em quando! Você se esconde atrás dele e acha que pode sair por ai falando esses absurdos que você fala!
- Vocês tem certeza que não querem que eu pare? – O motorista perguntou de novo.
- Não! – e gritaram ao mesmo tempo e o motorista deu um pulo. Ela queria arrancar a cabeça daquele motorista. Bem, não só dele.
- Eu não me escondo atrás de nada, . E sabe duma coisa? Espero que você seja bem feliz na Irlanda! Nem precisa voltar. Eu vou ficar perfeitamente bem sozinha. Bem melhor do que com você. Espero que você se afogue na cerveja junto com uma irlandesa com obesidade mórbida!
virou os olhos.
- Quatro anos fazem muita diferença.
Foi a gota d’água.
- Pára! – gritou para o motorista que olhava confuso dela para .
Ele não passaria nem mais um segundo ao lado daquilo.
- O que você está fazendo, ? – perguntou sem paciência.
Ela o ignorou e gritou novamente com o motorista:
- Você vai parar ou eu vou ter que sair do carro em movimento? - Ele andou mais poucos metros e parou no meio fio daquela avenida movimentada. – Vá à merda, !
Ela falou sem nem mesmo olhar para quando saiu do carro.
- ! Volta aqui! Onde você vai? – Ele gritava, mas sua voz ficava cada vez mais distante, já que praticamente corria. – !
aproveitou que estava ao lado de uma estação de metrô e foi para um dos poucos lugares onde ela sentia-se confortável. Segurava o choro, ela não admitia que chorasse mais uma lágrima que fosse por , ainda mais depois de todas aquelas coisas horríveis que ele tinha falado.
Ao ver Brittany, não suportou mais e deixou que as lágrimas caíssem. Ela chorou compulsivamente no pé da cama da amiga, tendo o cuidado de ter fechado a porta do quarto ao entrar. Escândalos públicos não eram muito o que ela precisava no momento. Chorava por raiva, por tristeza...enfim, por tudo.
- Hei, . – Fiona, a enfermeira, falou de um jeito carinhoso, mas surpreendendo a menina que imaginava estar sozinha. A moça colocou uma mão nos ombros de . – Eu sei que é difícil, mas você tem que ter esperanças, A Brittany pode acordar mais cedo do que você imagina! – Ela tentava confortá-la, mas pelo motivo errado.
não teve condições de corrigi-la. Agora chorava mais ainda devido à culpa. Sentiu-se egoísta em estar chorando por homem enquanto sua amiga estava ali como um vegetal. sentiu-se desprezível.
Capítulo 19 – The Best Of Me
- ? - Ela ouviu assim que colocou os pés em casa. Era a voz de Abby, mas não a via.
passou o dia todo com Britt, só foi embora pouco antes do escurecer.
Ela ignorou a empregada e subiu as escadas fingindo que não ouvia. Não tinha vontade de conversar qualquer assunto inútil com ela no momento.
- ? É você?
Claro que era ela. Quem mais seria? era a única moradora que continuava na casa.
- Não, é o Abominável Homem das Neves! – Ela respondeu sarcasticamente assim que Abby a viu.
“Sarcasticamente”. Ela pensou naquilo um segundo, mas logo voltou-se para Abby que já a alcançava no meio da escada.
- O te ligou umas cinco vezes. Falou que não conseguia falar com você no celular! Eu já estava me preocupando. – tinha desligado o celular para não ser incomodada. Abby realmente parecia aflita e a abraçou apertado. Aquela demonstração de carinho foi o suficiente para que começasse a chorar novamente. – Ah, querida, eu sei que vai ser difícil, mas eu te prometo que seis meses passam rapidinho!
Ela era consolada pela razão errada de novo. Por que as coisas mudavam tanto? Ela não conseguia acompanhar o ritmo das mudanças o que a fazia se sentir impotente.
- Não é isso, Abby. – Ela falou entre soluços enquanto era acompanhada até seu quarto.
- O que aconteceu? – Abby perguntou preocupada assim que entraram no quarto e caiu em sua cama.
- Eu acho... Eu acho... – Além da dificuldade de falar quando se está chorando, ela também tinha medo de falar aquilo em voz alta. – Eu acho que acabou.
Abby arregalou os olhos mas depois sorriu como se tudo estivesse perfeito.
Será que ela andava cheirando material de limpeza? Aquela reação era totalmente inconveniente.
- Já entendi porque ele está desesperado atrás de você, vocês brigaram!
- Não, não foi só uma briga! Foi tipo assim, a briga do século!
- Como você faz drama, !
- Não faço drama! – Ela falou rispidamente. Não era bom ouvir aquilo duas vezes em poucas horas.
- Eu sei o quanto é ruim uma decepção amorosa. – Abby colocou a mão em cima da de . – Mas relacionamentos são difíceis mesmo. Brigas fazem parte.
Era bom ter Abby ali.
- Não brigas como essa, Abby. – Ela já tinha conseguido parar de chorar, mas ainda tinha soluços.
- Liga para ele, . Tenho certeza que em cinco minutos você vai estar sorrindo de novo! – Abby era a pessoa mais otimista que ela conhecia. Aquilo geralmente a irritava, mas naquele dia estava realmente fazendo bem.
- Ele falou coisas horríveis.
- Ele estava de cabeça quente. Essa é uma grande mudança para ele! O deve estar super confuso! – nunca tinha realmente parado para pensar na situação de . – Você já imaginou? – A voz de Abby era tão calma e serena. Como ela conseguia? – Mudar de país, desistir de emprego, deixar a namorada, por quem ele está apaixonado,... – Ela olhou significativamente para e balançou a cabeça. – Deixar a família, além do que a gravação desse CD é o começo de uma vida totalmente nova para ele! Ele não sabe o que esperar, deve ter medo de quebrar a cara...
Certo, a situação não era das melhores para ele também, mas não justificava tudo o que ele tinha falado.
- Você não sabe o que ele falou, Abby.
- ... – Abby falou num tom sem paciência que não deixava de ser carinhoso. – Pelo que eu vi você também não foi muito legal com ele. – fez cara de protesto, mas Abby não a deixou interromper. – Você entrou como um furacão no carro hoje cedo, com uma cara que dava até medo! Sem contar no fato de você ter sumido a manhã inteira sem ter dado nenhuma explicação para o menino! Ele ficou aqui como uma barata tonta!
quase riu imaginando como uma barata tonta.
- Eu não vou ligar para ele.
Sim, ela era orgulhosa e não daria o braço a torcer tão cedo. Ela poderia ter errado, mas ele tinha errado muito mais.
- Espero que você atenda quando ele ligar então... – Abby levantou-se, pegou o telefone da mesinha e colocou-o nas mãos da menina. – Quer que eu peça para que te preparem alguma coisa para comer?
- Não, obrigada. – Ela não tinha fome e tinha muito sono para comer.
- Você comeu direito hoje, ? – Abby lançou-lhe um olhar digno de detetive que descobre que a testemunha está mentindo.
- Comi!
Era mentira. Ela tinha comido apenas um pacote de salgadinhos que uma criancinha tinha esquecido nas cadeiras da recepção. Aquilo tinha sido uma coisa bem “sem-teto” de se fazer, mas era seu salgadinho favorito! Não deixaria o pacote inteirinho ali para ser desperdiçado!
- !
- Que inferno Abby! Já até jantei! Me dá um pouco de paz, por favor? – Ela apontou para a porta já se arrependendo por ter sido grossa. Abby não merecia aquilo. Bem, talvez um pouco. ainda não a tinha perdoado por ter chamado o Dr. Parker naquele dia. – Desculpe.
- Tudo bem. – Ela beijou a testa de e alcançou a porta. – Qualquer coisa me chama, está bem? – concordou com a cabeça. – Liga para ele. – Ela falou antes de fechar a porta.
ficou ali encarando o telefone decidida que não ligaria para ele até assustar-se com o aparelho tocando.
Tocou uma vez, tocou outra. Ela só atendeu na terceira vez, após respirar fundo.
- Alô.
- ? – Ela estremeceu ao ouvir a voz dele. Parecia que estava ali ao lado dela.
- Oi.
- Me desculpa! – Ele falou como se realmente estivesse esperando horas para falar aquilo. – Eu fui um cretino, insensível e vou me arrepender para o resto da minha vida por ter feito você ouvir aqueles absurdos! Eu não queria ter falado nada daquilo, eu não sinto aquelas coisas de verdade... – mantinha-se em silêncio. Apenas ouvia. – , você está ai? – estava nervoso. Ela podia notar pela voz.
- Estou.
- Eu amo o seu sarcasmo. – Ele falou num suspiro e ela sorriu. – É uma das coisas que eu mais gosto em você.
- Verdade?
- É! – Ele aprecia aliviado com a abertura que ela lhe tinha dado. – Você sempre me faz rir com ele e com os seus dramas, as suas comparações exageradas...
- Desculpe, . – Ela falou lembrando-se das palavras de Abby, de seu mau humor e das coisas que ela também tinha falado.
- Você não precisa se desculpar, .
- Preciso sim. Eu queria colocar a culpa em alguém por estar sozinha de novo e você foi o escolhido. – Ela riu.
- Você não está sozinha, eu estou longe, mas eu penso em você 90% do meu tempo!
Ela estava tão feliz por estar tudo bem de novo! Ela realmente tinha ficado com medo de que aquela briga não tivesse mais volta.
- No que você pensa nos outros 10% do tempo, ? – Bem vindo de volta, bom humor.
riu e teve saudades dele ali ao seu lado.
- Eu penso em colocar planos em prática com você. – Ela podia imaginar ele com aquele sorriso que conseguia ser malicioso e doce ao mesmo tempo.
- ! Seu pervertido!
- Eu estou com saudades. – Ele falou sério.
- Eu também e só fazem umas dez horas que nós não nos vemos.
- Eu vou te ligar várias vezes por dia.
- Eu também.
- Eu achei o que você guardou na minha mala!
- Achou?!
Ela lembrou-se da “escova de dente máscula” que tinha colocado na mala dele sem que ele reparasse. Era preta e prateada e por algum motivo desconhecido, fazia a garota lembrar-se do Batman.
- Obrigado! Agora eu me sinto mais homem, sabe? – Ele brincou.
- Isso foi muito gay, ! – Os dois riram.
- Eu sei, é que eu estou há muito tempo com essas bichas que eu chamo de amigos! – Ele vivia zoando os amigos, assim como era zoado. se divertia com eles.
- Pô, além das groupies também vou ter que me preocupar com , e , ?
- Você não tem que se preocupar com ninguém! Nunca! – sentiu-se reconfortada por dentro. Tinha certeza que ele era sincero.
- Você também não.
- Eu sei, mas eu estou quase desenvolvendo úlceras e gastrites aqui imaginando qualquer cara do seu lado!
- E eu sou a exagerada, né?
- É verdade, eu não suportaria. – Ela não conseguia identificar se ele falava sério ou não.
- Mas eu amo você, . Não preciso de outro cara!
- Eu também te amo, . Demais.
- Me conta de Dublin, . – Ela falou aconhegando-se nos travesseiros.
- A cidade é linda, mas ainda não vi bem. Só vi do caminho do aeroporto até o hotel.
- Vocês não vão sair hoje?
- Os meninos saíram, mas eu preferi ficar.
- Por que você não foi?
- Eu não estava conseguindo fazer nada antes de falar com você.
- Ah ! – Ela soltou com uma voz ridiculamente apaixonada e chegou a sentir vergonha.
- Além do que, eles iam num pub e depois em alguma balada só para encontrar mulher. - fez uma careta. – Ainda bem que já tenho a minha mulher! – A careta transformou-se num sorriso babaca.
Sabia que ele não ficaria em casa todas as noites, mas estava mais do que aliviada em saber que naquela ele estava ali.
- O que vocês vão fazer amanhã?
- Sair para conhecer a cidade, os pontos turísticos, essas coisas...E você?
- Estudar, sentir saudades.
- Ah é, esqueci de citar esse compromisso. – Eles riram, mas ambos estavam com seus corações apertados.
- Não vai ver a Brit?
- Não, passei o dia todo com ela hoje. – bocejou enquanto sentia todo o cansaço e sono do dia se acumularem.
- Está com sono? – Ele falou num bocejo como se o negócio fosse contagioso.
- Estou, e você também, pelo o que eu vejo.
- Estou, mas não quero desligar.
- Nem eu. – Ela tirou os tênis e entrou debaixo das cobertas. – Essa cama parece gigante sem você. – Ela falou ao reparar como aquele lugar estava vazio.
- Está me chamando de gordo?
- Eu quero você aqui, ! – Ela não tinha ânimo para mais brincadeiras. Seus olhos estavam cada vez mais pesados.
- Eu queria estar ai, ou melhor ainda, queria que você estivesse aqui! Seria perfeito. imaginou ela e juntos em Dublin. Estava tão real, imaginação se misturava com sonho. E ela poderia ter ficado ali por horas, se seu namorado não a chamasse – ?
- Oi. – Ela já não tinha consciência do que falava ou fazia.
- Desliga o telefone, amor. Você está dormindo.
- Não, eu estou conversando com você!
- Me liga quando acordar amanhã, okay?
- Sim.
- Amo você.
- Também te amo.
- Desliga o telefone, , antes que você durma pesado.
desligou o telefone e praticamente caiu demaiada. Ela não se lembraria do fim dessa conversa no dia seguinte e se não fosse por Abby, dormiria com as luzes acesas.
Capítulo 20 – Always And Forever
havia partido há quase três meses.
Nesse meio tempo, tentava se manter ocupada para não ter uma crise de saudades, surtar e ser encontrada morta duas semanas após seu suicídio (só notariam sua ausência quando começasse a feder ou coisa parecida).
Ela estava estudando mais do que nunca.
A contra gosto tinha entrado para o jornal do colégio. O diretor Armstrong praticamente a obrigou, falando que lhe faltavam atividades extracurriculares e que ela não se formaria se não encontrasse uma. Como opções ele lhe deu: atletismo (realmente daria certo junto com sua dieta baseda em café e junkie food), xadrez (ela já era um desastre social, o clube de xadrez não teria serventia alguma), culinária (ela tinha a capacidade de queimar pipoca de microondas, culinária não seria uma boa opção) e finalmente jornalismo!
Ela tinha sido bem resistente a idéia no início, mas agora estava até animada em escrever sobre todas as notícias toscas e inúteis que aconteciam naquele colégio. Era até engraçado escrever sobre o cardápio desprezível do refeitório uma vez por semana ou então acompanhar os resultados do time de futebol da Hampstead School enquanto assistia às cheerleaders terem chiliques de felicidade cada vez que Alex as olhava.
Falando em olhar, Alex já conseguia olhar para ela e os dois já conseguiam mandar “tchauzinhos” um para o outro quando ia cobrir os jogos. Eram “tchauzinhos” nervosos e desconfortáveis, mas era um começo.
se comunicava com várias vezes por dia nos primeiros meses. Com o tempo, as ligações tiveram que ser reduzidas a apenas uma por dia, já que eles andavam gastando fortunas com telefone além daquelas ligações estarem começando a atrapalhar seus compromissos.
No entanto, havia três dias que não ouvia notícias de . Ela já tinha tentado ligar para ele centenas de vezes, mas o celular estava sempre fora de área e ele nunca estava no hotel.
Aquilo a preocupava. E se eles tivesse sofrido um acidente? E se tivessem sido seqüestrados?
Porém o que mais a preocupava era a possibilidade dele estar começando a esquecê-la.
Ela lutava para tirar aqueles pensamentos da cabeça, sempre se convencendo de que ele estava ocupado demais. Simples assim.
Um barulho insistente e irritante a acordou, mas não poderia ser o despertador. Era sábado e ela tinha certeza de ter desprogramado o aparelho na noite anterior.
demorou alguns segundos para se dar conta que era o telefone que tocava, mas assim que percebeu, acordou na hora e pulou até a mesinha onde estava o telefone.
Ela queria que fosse com todas as suas forças.
- Alô?
- ! – Era ! Ela suspirou aliviada e sentou-se de novo na cama sorrindo e imaginando a cara de , o cabelo de , a roupa de . Como ela sentia saudades.
- ! Você quer me matar?
- Desculpe, . Nós tivemos que viajar para umas cidadezinhas do interior para promover a banda onde meu celular não pegava e eu só tinha tempo para ligar para você quando já passava das três da manhã!
Ela teve a impressão da voz dele estar diferente. Mas era só impressão. Ela tinha certeza.
- Você devia ter ligado! Eu já estava imaginando todo tipo de tragédia aqui!
- Eu queria. Eu sinto tanto a sua falta, . – A voz dele era triste e cansada.
- Você sabe que eu sinto a sua também . – Sua voz parecia não sair e quando saia era fininha. – Quando você vai poder vir?
ainda não tinha tido nenhuma folga para visitá-la.
- Eu não sei. Acho que não tão cedo. – Ele bufou. - às vezes eu penso em desistir de tudo, .
- Não! Você não pode desistir agora, ! Vocês estão tão perto! – Ela tentou animá-lo, apesar de no fundo querer gritar algo como: “Corre para o aeroporto!”.
Porém, ela nunca o deixaria desistir.
- Eu sei, mas apesar de eu estar aqui com os meus melhores amigos, que são praticamente irmãos para mim, eu me sinto muito sozinho às vezes. Eu não agüento mais ficar sem você, ! Eu sinto saudade de tudo ai em Londres! – estava desesperado. não sabia como agir. Era sempre ela a desesperada, não ele.
- Só faltam mais três meses, . – Ela pensou bem antes de falar. – Eu vou falar com o meu pai. Ele me dá uma autorização e eu vou te ver ai todo final de semana!
Ter que recorrer ao pai não era o que ela queria. Preferia escorregar num escorregador de lâmina e cair numa piscina de álcool, mas não tinha outra escolha. Sua mãe havia ligado no dia anterior falando que iria para Espanha. Ou era Portugal? Ela não se lembrava. Sua mãe falava tanto que ela não tinha a capacidade de armazenar todas as informações. Enfim, ela não teria condições de lhe dar uma autorização.
- Não, . Não quero que você fale com ele se você não estiver preparada.
- , não precisa agir como meu psicólogo. – Ela falou carinhosamente para que ele não se ofendesse.
- Mas é verdade, . Sei que você não quer vê-lo.
- Não quero mesmo, mas seria por uma boa causa.
ficou em silêncio, como se pensasse.
- Não faz nada ainda, está bem? Eu vou conversar sério com o Fletch e falar que preciso de folga de qualquer jeito.
- Você que sabe, , mas você não vai ter problemas? – Ela não queria que ele prejudicasse as coisas com a banda.
- Espero que não. Mas como você disse, é por uma boa causa, né? – Ele continuava com aquela voz deprimida, o que matava .
- Não faz besteira, hein ?
- Não se preocupe, . – Ela ouviu barulho do outro lado da linha e a voz estridente de . – Peraí. – falou enquanto ela ouvia fragmentos da conversa dos dois. Ela não estava entendendo nada, mas ria, porque eles pareciam discutir por algum motivo bobo.
Ela ouviu mais vozes, eram e . Os quatro eram tão barulhentos.
- ! – Ela reconheceu a voz de .
- Oi ! – Dos amigos de , era de que ela mais gostava. Apesar de todos serem adoráveis, era o mais engraçado e gentil.
- Tudo bem, linda?
- Saudades do traste do ! – gargalhou.
- Você não sabe o que eu tenho que agüentar aqui! Ele fica o dia todo com cara de merda e falando que está com saudades! – riu e ficou feliz por sentir sua falta. Não que ela gostasse de vê-lo daquele jeito, mas ela gostava de saber que era importante para ele. Depois, ela ouviu um barulho e falando algo como: “Puta que pariu, ! Devolve o telefone!” – Pára, ! – gritou e riu imaginando a cena. – Desculpe, . O está aqui enchendo o saco porque quer o telefone de volta. – Ela ouviu mais uma barulheira e as vozes dos dois gritando asneiras.
- Desculpe a interrupção, . – voltou ofegante ao telefone. No mínimo, teve que “lutar” com pelo telefone.
“Pô, ! Eu queria terminar de falar com a !” – Ela ouviu ao fundo.
- Tudo bem, ! Manda um beijo para o e fala que um dia eu vou ligar só para falar com ele!
- Não vou falar isso se não ele vai ficar convencido! – Os dois riram e escutou alguém bater em sua porta. Alguém... Só poderia ser Abby.
- Entra! – Ela gritou.
- Quê? – não entendeu, achando que era para ele.
- Bolinha!!!!! – não acreditou quando olhou para a porta e viu sua mãe.
Sim, a mãe de a chamava de “Bolinha”. Ela não gostava muito daquele apelido infame, mas nunca ficara tão feliz em ouvi-lo.
levantou-se da cama ainda com o telefone na orelha e correu até a mãe.
- Ai meu Deus! – Ela falou mais para si mesma, mas os dois ouviram. – Peraí, ! Mãe!!!!
Ela soltou o telefone em qualquer lugar e abraçou a mãe apertado. Seu coração batia rápido e lembranças de sua infância era despertados por sentir o cheiro do perfume da mãe. O cheiro de Tresór já era parte da personalidade de Bridget e toda vez que o identificava em outra pessoa ficava morrendo de saudades.
Bridget era da alta sociedade londrina. Era uma mulher alta, magra e elegante. Só usava as melhores marcas e era preocupadíssima com sua aparência.
Descrevendo-a assim você pode imaginar uma pessoa fútil, mas ela não era. considerava sua mãe a pessoa mais inteligente que ela já tinha conhecido. Ela era socióloga e seus hobbies eram poesia francesa e russa. Além do que, ela se aproveitava de sua posição de destaque na sociedade para ajudar causas sociais.
- Que saudades eu senti de você, filha! – Ela falou com as duas ainda abraçadas.
não queria soltá-la nunca mais.
- Por que você não contou que vinha? Você não deveria estar na Suíça ou algum lugar do tipo?
A mãe riu e sentiu-se como uma criança de novo só por estar perto dela. Era tão bom.
- Eu quis te fazer uma surpresa! – As duas se soltaram e se analisaram. – Você está tão crescida, Bolinha! Está uma moça! Adorei esse novo corte de cabelo! – Ela passou as mãos no cabelo da filha.
- Obrigada mãe! E você está linda! Parece uns dez anos mais nova! – mentiu, mas sabia que sai mãe ficaria radiante. Ela estava muito bem conservada para sua idade e realmente parecia mais nova, mas nem tanto.
Ela olhou bem para a mãe. Estava bronzeada. Diferente dela, que parecia um fantasma em tom branco polar. Seus cabelos estavam mais longos e ondulados. Suas roupas estavam elegantes e chiques como sempre.
Da última vez que vira sua mãe, meses atrás, ela estava deprimida e com a aparência péssima, mas pelo jeito, aqueles meses fora tinham feito milagres. Ela estava feliz de novo.
- Você viu, filha? Nós podemos marcar de ir juntas para a Grécia algum dia. Você precisa experimentar aquelas massagens que eles fazem... – Sua mãe fez cara de deslumbre. ria dela. – E os gregos são tão bonitos!
- Claro, mãe! – Ela não tinha a mínima vontade de passar seu tempo fazendo massagens com sua mãe, mas naquele momento, concordaria com tudo que Bridget quisesse.
- Você não vai desligar o telefone, querida? – Ela apontou para o aparelho que estava caído próximo do pé da cama.
tinha se esquecido totalmente de .
- Ai Deus! – Ela o pegou rapidamente torcendo para que ainda estivesse ali. Ele precisava saber das novidades! – ? Você ainda está ai?
- Hei ! Estou sim e não quero saber da minha namorada sendo massageada por algum grego fortão! – Ele riu e arrancou uma risada dela também.
- Você ouviu tudo então?
- Ouvi sim! Estou feliz por você, ! Vai ser bom para você ter a sua mãe por perto!
- Eu ainda nem estou acreditando, ! – Sua mãe assistia a conversa interessada e corou. Odiava que ouvissem suas conversas, por mais que fossem conversas sem importância. – Posso te ligar mais tarde, ?
- Acho que hoje não vai mais dar, . Mas eu te ligo amanhã de novo, nesse mesmo horário, tudo bem?
- Claro! Amo você, ! – viu a mãe fazer uma cara engraçada do tipo de quem está achando tudo muito fofo.
- Eu também te amo. Muito.
- Beijos.
Ela tirou o telefone do ouvido e apertou o botão finalizando a ligação. Aquilo era tão difícil para ela. Todas às vezes, não melhorava.
- Esse é o rapaz que foi para Dublin, filha?
“Sim, esse mesmo. Ele também era meu psicólogo e é alguns anos mais velho. Ah sim, nós adoramos colocar planos em prática!” – Ela teve vontade de falar só para ver a expressão de horror que apareceria no rosto de sua mãe. Seria engraçado.
- Ele mesmo, mãe. – ainda pensava nele, mas sua mãe nunca saberia da parte de como eles se conheceram.
- Dói tanto quando a gente lembra deles, não? – A mãe falava e sentiu-se patética. O que a mãe tinha passado nem se comparava com a simples e comum saudade que ela sentia.
- Na verdade, enquanto eu respiro dói.
Sua mãe soltou sua típica gargalhada. Era alta e escandalosa, mas não do tipo que a fazia passar vergonha. Era do tipo que cativava as pessoas. Ela abraçou a filha e lhe beijou a testa.
- Que tal se nós passássemos o final de semana que vem em Dublin? – A mãe dela era a melhor. Bem, tirando o fato dela tê-la abandonado por alguns meses, ela era a melhor.
- Sério, mãe? – A menina sentia-se elétrica apenas com a possibilidade de ver .
- Claro! Eu preciso visitar algumas associações para ver se todo o dinheiro arrecadado nas festas do ano passado foi bem empregado! Enquanto isso, você tem tempo para o seu namorado!
Ela fazia tudo parecer tão simples. Tão fácil.
- Ia ser demais, mãe!
- Falando em festa... – Hum... já conhecia aquele discurso. Ela não gostava dele. – Os Boltons estarão oferecendo um coquetel essa noite em prol de alguma ong que ajuda os macacos brancos da Mongólia, ou qualquer coisa parecida... – Sua mãe rolou os olhos. – Não estou bem informada, mas gostaria que você me acompanhasse, Bolinha!
Ela tinha certeza que aquilo aconteceria. Só não imaginava que seria tão cedo.
- Ah, mãe! – Ela falou com a voz mais sofrida que possuía. – Qualquer coisa menos isso!
odiava aqueles coquetéis lotados de pessoas entediantes onde ela tinha que se vestir como Marissa Cooper.
- Por favor, filha! Não quero ir sozinha.
bufou. Aquilo era golpe baixo. Ela tinha tantas saudades da mãe que iria até num lugar daqueles para passar o tempo com ela.
- Você vai mesmo me obrigar a fazer isso, Bridget? – Ela chamava a mãe pelo nome quando estava “brava”.
- Vou sim.
- Está bem. – Mas ela levaria seu ipod e tentaria desenterrar seu Game Boy de quando tinha 10 anos para que pudesse se distrair.
- Ótimo! Se veste, o Francis já está nos esperando lá fora! – Ela levantou num pulo e antes que pudesse perguntar qualquer coisa, ela já estava fora do quarto.
- Nós vamos aonde, mãe? – perguntou tentando segui-la. Que mulher rápida.
- Compras, . – Ela falou como se fosse óbvio. – Tenho certeza que você não tem um vestido que preste para usar hoje a noite! Ela não tinha mesmo. Assim como não tinha vontade de sair para fazer comprar. – Vamos! Nós ainda temos horário no cabeleireiro mais tarde!
- Cabeleireiro, mãe? – protestou. Ela já via tudo. Sua mãe a vestiria como uma debutante ou coisa do tipo e depois a faria usar uma pavorosa sombra rosa que seria a última novidade da Chanel.
- É ! Vamos logo!
Ela desceu as escadas rapidamente deixando a filha meio em estado de choque e sofrendo por antecipação.
A mulher tinha chegado há poucas horas! Como ela já tinha arrumado um compromisso? Era um recorde provavelmente.
Mas não conseguia sentir-se mal humorada. Estava feliz demais por ter sua mãe ali novamente.
Capítulo 21 – Champagne/ The Season
fazia dobraduras de guardanapo para se distrair. Ela já tinha feito dois barquinhos, três chapéus e incontáveis aviõezinhos. Estava morrendo de vontade de jogá-los na mulher da mesa ao lado que tinha um cabelo que mais parecia um capacete.
estava metida num vestido de festa preto e relativamente curto da Calvin Klein, sua mãe praticamente a obrigou a usá-lo, falando que tinha visto alguma pessoa, que segundo ela era muito importante e elegante, usando um parecido. Portanto, a filha precisava usá-lo.
Quando a menina não agüentava mais ouvir a mãe tagarelar compulsivamente, ela concordou em usar o vestido (que na verdade não era feio e a deixava com mais curvas), assim como as sandálias altíssimas Manolo Blahnick. Seu cabelo estava preso em um coque. Ela não sabia como a cabeleireira tinha conseguido aquela proeza. O cabelo de era repicado e geralmente ficava com várias mechas caindo quando era preso. Porém, ela já estava naquela tortura há algumas horas e seu cabelo continuava perfeito. O maquiador tinha feito uma maquiagem clara e com tons de lilás, que ela arrumou no segundo que encontrou sua sombra preta e seu delineador. Apesar de ela ter insistido com o cara de que queria algo pesado, ele a obrigou a usar a sombra lilás, pois era um lançamento da L’ancome. A vida é tão óbvia.
Mas tudo bem, agora ela estava com a sua maquiagem escura e forte demais. Assim ela estava feliz.
Sua mãe a tinha deixado sozinha há algum tempo. Segundo ela, tinha que circular e falar com todos.
As únicas companhias de eram os guardanapos (Dobraduras são super divertidas quando não há outra opção), as taças de champagne (ela meio que já tinha perdido a conta de quantas tinham sido, mas aquilo era bom demais!) e os olhares indiscretos de todos aqueles mauricinhos engravatados.
Quando ela viu um deles caminhar decidido até sua mesa, ela mais que rapidamente saiu dali e se escondeu na varanda da casa. O coquetel estava acontecendo na mansão dos Boltons. A varanda era tão grande quanto uma quadra de tênis. Era iluminada apenas pelas luzes que vinham de dentro da casa e pelas luzes dos jardins a sua frente.
sentiu um pinguinho de frio quando encostou-se no balaústre para apreciar a vista. Onde já se viu? Era primavera! Uma pessoa deveria ter o direito de usar um vestido curto e de alça na primavera! Aquele clima a irritava de vez em quando.
Os jardins eram imensos e bem cuidados. Ela podia ver flores de todas as cores misturadas com imponentes fontes. Era tudo clássico demais para ela, mas era um lugar bonito.
Ela teve vontade de mandar uma mensagem para , mas seu celular tinha ficado em sua bolsa que estava na chapelaria que os Boltons tinham organizado no hall da casa para a comodidade dos convidados.
- Não sabia que você se preocupava com os macacos brancos da Mongólia! – Ela se assustou ao ouvir uma voz masculina atrás dela. Ela conhecia aquela voz.
- Alex! – Ela virou-se dando de cara com Alex vestindo um elegante terno preto, com camisa e gravata também pretos. Essa combinação realmente caia bem nele. Seu cabelo estava penteado e não cuidadosamente bagunçado como de costume. Ele estava lindo.
Ela era comprometida mas não cega.
- Oi ! – Ele se aproximou, colocou a mão de leve em sua cintura e beijou sua bochecha. Ele cheirava tão bem.
- O que você está fazendo aqui, Alex?
- Minha mãe me obrigou. – Ele bufou fazendo com que sua franja levantasse um pouco e depois voltasse a cair em sua testa.
riu.
- É, eu também. – cruzou os braços para se proteger dos arrepios de frio.
- Eu imaginei quando descobri que a mulher que tanto falava com a minha mãe sobre a filha era sua mãe! – Ele falou com as mãos no bolso.
Alex continuava com aquele jeito doce que fazia dele alguém impossível de não gostar.
- Sério? Quer dizer que elas são amigas então? – Ela se divertia com a coincidência. Já devia ter imaginado. A mãe de Alex vivia falando sobre essas festas quando eles namoravam.
- São sim! – Alex andou alguns passos e ficou ao lado de , apoiado no balaustre olhando para o jardim.
Ela virou-se também e o silêncio tomou conta dos dois. Ela sentia-se estranha com ele por perto. Lembrava-se de todos os momentos bons que tiveram juntos e sentia uma tentação que não podia sentir. Não quando se namora com o homem da sua vida. O que havia de errado com ela?
. . Ela obrigava-se a pensar em , mas ele simplesmente sumia de sua cabeça quando ela sentia o perfume de Alex.
Oh Deus.
Mas quem disse que Alex estava interessado também? Ele a odiava. Só estava sendo educado. Além do que ele também namorava. Era o que ela tinha ouvido, pelo menos.
- Quer dizer que você fala comigo agora? – Ela perguntou olhando-o com o canto do olho.
Alex balançou a cabeça afirmativamente.
- Já estava na hora, você não acha?
- Mais do que na hora, eu sinto a sua falta.
Era verdade, ela sentia falta da companhia dele, de tomar sorvete com ele e tudo mais. Quando estava ali ela nem se lembrava de Alex, mas ultimamente ela estava tão sozinha que se pegava pensando no garoto.
- Você sabe que eu sinto a sua também. – Ele falou virando-se e encarando-a de frente. não sabia o que responder. Aquela situação era constrangedora demais, contando-se com os fatos de que ela tinha terminado com ele, estava namorando e agora sentia essas coisas estranhas.
Ela não podia sentir coisas estranhas. Ela não se permitia. Não. Não. Não.
Alex passou os dedos levemente pelo braço dela, mas afastou-se rapidamente como se tivesse medo de sua reação. também tinha medo de sua reação.
- Essa festa está um porre. – Ela tentou iniciar uma conversa.
- Nem fala, eu estava jogando o jogo da cobrinha no celular, sabe?
Os dois riram.
- Eu estava fazendo dobraduras com guardanapos!
- Elas devem ter ficado bem bonitas com toda essa habilidade artística que você tem! – Ele a zoou e recebeu um tapinha. Alex sabia que mal conseguia desenhar um coraçãozinho que prestasse.
- Pô, elas ficaram super bonitinhas, tá? – Ela virou a cara de brincadeira.
- Eu tive uma idéia! – Ele falou animado e sério ao mesmo tempo pegando em seu braço.
- O quê? – Ela perguntou curiosa e sem querer apoiando sua mão no peito de Alex. Ela a tirou rapidamente dali. Ela precisava se controlar. Precisava.
- Fala que você concorda antes!
- Concorda com o quê? – Ela tinha bebido champagne, seus pensamentos não estavam muito rápidos.
Ela ficou feliz ao lembrar-se do champagne! Talvez fosse ele que estivesse causando tudo aquilo!
Isso! Ela tinha certeza era aquele maldito champagne francês!
Franceses idiotas! Inventaram o champagne só para confundir a cabeça dela!
- Com a idéia que eu vou propor! – Ele falou fingindo impaciência.
- Não!
- Vai! Juro que você vai gostar! – Ela o olhou desconfiada. – Vai, ! Qualquer coisa é melhor que isso! – Ele apontou para a porta que dava para a festa e mordeu o lábio inferior indecisa. Qualquer coisa era melhor do que aquela festa, ele tinha razão. Porém ela estava preocupada com todos esses novos sentimentos que estavam aparecendo. Não que fossem exatamente sentimentos. Era uma coisa mais física, na realidade. Tudo culpa do champagne! – Você confia em mim, não? - Ele perguntou encarando-a nos olhos e ela não teve outra escolha a não ser confirmar. – Então diz que sim!
- Sim! – Alex sorriu vitorioso. – Conta logo, Alex!
Ele não respondeu, apenas pegou pela mão e a puxou até a porta. Ela estava confusa.
- Sabia que você ia aceitar!
- Alex! O que você está fazendo? Nós deveríamos fugir da festa, não voltar para ela! – Ela falou meio irritada.
- Calma, !
Aquela situação estava lembrando-a do dia em que ele a levou para aquele corredor deserto do colégio.
Céus! Aquilo não poderia acontecer! Alex nunca faria algo como aquilo agora que eles não namoravam mais. Ela tinha certeza. Bem, quase. Ela já não tinha certeza de quase nada.
Os dois desviavam das pessoas e quase derrubaram um garçom por estarem andando rápido demais.
Alex parou de supetão, fazendo com que trombasse nele. Eles estavam em frente a uma mesa onde a Sra. Pettyfer e a Sra. conversavam.
- Jovem Pettyfer! – A mãe de exclamou. Por que ela tinha que falar essas coisas esquisitas? – Vejo que você achou a minha filha!
- Sim, Sra. ! – Ele falou todo educado. – A senhora se incomodaria se eu roubasse a até o fim da festa?
olhava de Alex para as duas mulheres totalmente perdida.
- Claro que não, querido! – Ela falou tomando um gole de seu Cosmo e lançando um olhar que só poderia entender. Era algo como: “Eu sei que ele é lindo, charmoso e educado, mas até onde eu sei, você tem um namorado, !”
Ela ignorou o olhar da mãe. Não faria nenhuma besteira.
- Você se importa, mãe? – Alex perguntou a mãe que estava ocupada tentando acender seu cigarro.
- Não, Alex, pode ir! Sabia que você não agüentaria muito tempo aqui! – Sra. Pettyfer respondeu meio debochada.
- Obrigado. – Ele respondeu as duas. – Eu levo ela para casa mais tarde, Sra. .
- Certo. Cuide bem da Bolinha, Alex! – Ele segurou a risada olhando para .
As duas mulheres voltaram para uma conversa animada enquanto era novamente conduzida por Alex pelo meio da multidão.
A garota se viu na porta da casa segundos depois esperando que o manobrista trouxesse o carro de Alex.
-“Bolinha”? – Ele perguntou implorando uma explicação.
-É! – Mas ela não estava afim de contar a história de como sua mãe tinha começado a chamá-la de “Bolinha”. Ela nem sabia, na realidade.- Para onde nós vamos, Alex? – mudou de assunto.
- Para casa.
- Fazer o quê? – Ela gostava cada vez menos e cada vez mais daquela história. Era bem coerente.
- Eu quero revanche! – Alex respondeu sorrindo e se preocupou. Não sabia do que ele estava falando. – Eu tenho que te vencer no vídeo game para recuperar a minha honra, ! – Ele respondeu notando a confusão da garota.
- Ah!
Quando eles ainda namoravam, os dois resolveram jogar video game juntos e Alex acabou levando uma surra de .
- O que você achou que fosse?
- Sei lá! – O que ela responderia? “Achei que você fosse dar uma de doido e me matar por eu ter te dado um pé na bunda.”? Não. – Esqueci minha bolsa, peraí!
voltou para o interior da casa pegando sua bolsa na chapelaria. Ela teve receio em sair novamente. Mas decidiu-se que era apenas uma questão de auto controle. Nada que ela não quisesse aconteceria.
Ela não queria trair , portanto isso não aconteceria.
Agora mais confiante, saiu e encontrou Alex entrando na BMW conversível de seu pai.
- Wow! Seu pai está deixando você dirigir o carro dele, agora!? – Ela perguntou enquanto entrava no carro e o manobrista fechava a porta para ela.
O Sr. Pettyfer era super ciumento com sua BMW, só a usava para passear. Segundo ele, não queira estragá-la levando-a ao trabalho.
- Está! Ele já me considera um “rapaz responsável”! – imaginou o pai de Alex falando aquilo.
Minutos mais tarde, Alex imbicou o carro na garagem dos Pettyfer. Estava vazia, a não ser por algumas bicicletas. Os carros da família não estavam ali.
- Seu pai não está em casa? – perguntou, temendo ficar sozinha com ele.
- Não, ele foi acampar com a Jenna. – Jenna era a irmã mais nova de Alex. sorriu amarelo. Preferia ter companhia. – Por quê? – Ele perguntou acendendo a luz e abrindo a porta.
- Nada não! Apenas curiosidade! – Ela mentiu entrando na casa. O lugar estava escuro. Não que aquela casa conseguisse ficar muito escura. Por ser toda de vidro, a luz da rua e das outras casas a invadiam. Ela parecia a mesma, apesar de todo o tempo que não ia ali.
Alex fechou a porta, tirou seu paletó e afrouxou a gravata, abrindo os primeiros botões da camisa. Parecia aliviado.
- Vai indo para a sala de tv, , eu vou lá na cozinha pegar alguma coisa para nós bebermos!
- Okay. – viu o garoto rumando para a cozinha e entrou em uma porta a sua direita. A sala de tv tinha dois grandes e confortáveis sofás beges e as janelas, ao contrário do resto da casa, eram cobertas por grossas cortinas vinhos, que deixavam o lugar tão escuro quanto um cinema.
- ? – Alex gritou.
- Quê?
- O que você quer beber? Tem vinho dos meus pais aqui, acho que eles nem vão perceber se nós tomarmos um pouco!
já se encontrava incapacitada o suficiente por causa do álcool.
- Não tem refrigerante?
- Sprite, serve?
- Serve!
sentou-se no sofá tirando suas sandálias, que a essa altura já a matavam, mas sua preocupação era outra.
Por que Alex estava mexendo tanto com ela?
Aquilo não fazia sentido nenhum.
Será que ela deveria ir para casa para impedir que alguma coisa horrível acontecesse?
foi tirada de seus pensamentos confusos quando Alex entrou na sala equilibrando uma latinha de Sprite, a tal da garrafa de vinho e um pacote imenso de Nachos. O pacote media uns 50 cm e tinha sido comprado pelo Sr. Pettyfer na última semana, quando ele tinha ido aos Estados Unidos. Tudo que é comestível vem em tamanhos absurdos lá.
- Vai beber sozinho, Alex? – Ela perguntou para irritá-lo. – Que alcoólatra!
Aquilo realmente não era algo que Alex costumava fazer. Pelo menos não quando os dois namoravam.
- Deixa de ser careta, ! É Só um pouquinho! Tem certeza que você não quer? – Ele esticou-lhe a garrafa tomando cuidado para não derrubar tudo no chão.
olhou para o vinho, o vinho olhou para ela e a garota simplesmente não resistiu. Não faria mal algum.
pegou a garrafa das mãos de seu ex e deu um longo gole, sentindo o álcool descer por sua garganta. Aquele vinho era bom!
Alex colocou o resto das bebidas e comidas na mesinha de centro e ligou a televisão e o vídeo game. Ele entregou um dos controle para e sentou-se no chão. Ela simplesmente deslizou do sofá para o lado dele.
Eles começaram a jogar qualquer jogo que não sabia o nome. Ela tinha ganho dele apenas por apertar todos os botões ao mesmo tempo da última vez. Era totalmente ignorante no que se tratava de vídeo games, exceto por seu antigo game boy. Os dois riam e se divertiam cada vez mais, conforme a garrafa ficava mais vazia.
- . – Ele falou pausando o jogo e encarando a televisão com o olhar perdido.
- Alex? – Ela perguntou estranhando seu comportamento.
- É verdade? - Ele encarava a televisão com o olhar perdido. Algo o incomodava.
- O que, Alex? - não estava entendendo.
- O que estão falando na escola... – Ele continuava encarando a tela da televisão com o vídeo game pausado.
- O que estão falando na escola, Alex? – Ela não sabia nada do que se passava na escola. Prestava atenção em todas as aulas e passava os intervalos com o ipod no ouvido e um livro na mão. Era totalmente alienada e agora estava curiosa.
- Eu ouvi que você tinha ficado com aquele psicólogo, o Dr. ... - engasgou com o vinho que estava em sua boca. Por aquela ela não esperava. Isso significava que todos sabiam sobre ela e ? - É verdade? – Alex perguntou finalmente esquecendo a tv e olhando para a garota.
- É.
Alex balançou a cabeça parecendo impassível.
- Ele que era o cara...? – Ele fez um gesto estranho com as mãos sem terminar a frase.
- Era.
- Hum... – Ele balançou a cabeça e ficou alguns instantes em silêncio. – E vocês... Vocês... – Ele gaguejava. – Continuam...? – Ele tossiu nervoso.
- Sim, ele é meu namorado. – achou melhor acabar logo com aquela conversa.
- Não acredito que você está pegando o Dr. , ! – Ele falou zoando-a e parecendo mudar totalmente de humor.
Ela riu agradecendo mentalmente pela situação não ter ficado esquisita.
- Alex! – Ela entrou na brincadeira. – Nem é assim, tá? Ele é praticamente da nossa idade!
Quatro anos não é tanto tempo assim, certo?
- Sei, sei... – Ele virou os olhos e recebeu tapinhas no braço. – E sabe o que mais eu ouvi? – Ele perguntou parecendo se divertir.
- O quê?
- Que ele tinha sido demitido porque tinham encontrado vocês transando no banheiro!
- Sério que falam isso? É mentira! – Ela estava chocada e meio assustada.
- É. Também já ouvi que você estava grávida, já ouvi que seus pais tinham processado ele... – A boca de estava aperta de espanto.
- Sério que as pessoas naquele lugar ficam falando da minha vida?
- Eles falam de todo mundo, mas você tem que concordar, uma aluna tendo um caso com um funcionário do colégio é uma boa fofoca.
Okay, aquilo era verdade, mas ela não queria aquela gente falando dela!
- Que vergonha. – cobriu o rosto com uma das mãos.
- Não se preocupe. Alguém do segundo ano levou um bolo de maconha para o colégio e todos esqueceram de você!
- Bolo de maconha?
- É! Parecia um bolo de chocolate comum, mas tinha maconha na massa! Boa parte dos alunos e alguns dos professores ficaram locões! – Alex riu.
- Não creio que perdi isso! Deve ter sido muito engraçado!
- E foi! – Alex voltou a ficar sério. – Mas qual é a verdade, ? Quer dizer, porque ele não está mais trabalhando na Hampstead?
- A banda dele assinou contrato com uma gravadora e eles estão gravando o disco em Dublin. Por isso que ele teve que pedir demissão. Não foi porque pegaram a gente transando! – achou bom deixar aquilo bem claro.
- Ele está em Dublin, então?
- Isso. – Ela queria mudar o foco daquela conversa. - E você que está namorando com aquela cheerleader? – tentava lembrar o nome da garota.
- Eu não estou namorando com ninguém!
- É bom você avisar isso para a sua namorada então, por que ela estava toda feliz no banheiro comentando sobre o namorado dela! – Alex corou. tinha ouvido a conversa da garota no banheiro feminino no outro dia. Ela parecia estra bem certa de estar namorando. - Qual o nome dela, mesmo? Rory, Tory, Holly? – Ela tentava se lembrar daquelas garotas, mas todas eram um pompom só em sua cabeça.
- Lory!
- Ahaaa! Falei que você estava namorando! – Ela sentiu-se vitoriosa.
- Mas nós não estamos namorando, só saímos algumas vezes. – Ele explicou-se mais sério pegando a garrafa ao seu lado. – Ah, acabou! – Alex falou frustrado olhando dentro da garrafa de vinho vazia.
- Já? Nem reparei que nós tínhamos bebido tanto!
Agora que a garota tinha começado a reparar como tudo estava mais fácil, com menos preocupações e como ela estava mais leve. Toda aquela “tensão sexual” que ela estava sentindo por Alex tinha desaparecido. Ela não pensava em nada: nem nele, nem em nem em ninguém. A única coisa que sabia era que estava se divertindo como nunca.
- Vamos à cozinha procurar mais alguma coisa! – Alex levantou-se meio mole e lhe estendeu a mão para que o acompanhasse.
Os dois chegaram aos tropeços cozinha e Alex abriu a grande e prateada geladeira dos Pettyfer. Os olhos de ambos brilharam ao encontrar uma convidativa e gelada garrafa de champagne lá.
Alex a pegou já abrindo-a.
- Tem certeza que seus pais não se importam? – perguntou. Se os pais de Alex fossem como a maioria dos pais da Hampsted School, eles não se importariam. A maioria daquelas famílias não se importava com o comportamento de seus filhos em relação a álcool, drogas e sexo. Contanto que não fossem pegos em algum escândalo ou situação que ferisse a imagem da família tudo estaria bem.
- Tenho, mas em todo o caso... – Alex largou a champagne no balcão e foi até a dispensa. De longe, o viu pegando uma garrafa idêntica àquela de uma caixa lotada de outras garrafas. Seus pais eram liberais, mas preocupavam-se com seus filho e certamente não ficariam felizes se soubessem que ele e uma garota haviam bebido uma garrafa de vinho e outra de champagne sozinhos.
- Nossa, seus pais são meio alcoólatras! – Ela brincou.
- Elas sobraram da festa que eles deram na semana passada. – Ele colocou a nova garrafa no mesmo lugar da antiga na geladeira.
Enquanto isso, foi até a janela constatando que o céu estava simplesmente maravilhoso. A lua estava cheia e as estrelas brilhavam ao seu lado. Ela teve a impressão de lá fora estava calor.
-AEEE! – Alex comemorou quando finalmente conseguiu abrir a champagne.
Só para constar, placar: Alex 1 x Garrafa 4.
- Vamos lá fora! – Ela pegou o garoto pela mão e abriu a porta de vidro que dava para a piscina da casa.
Uma piscina grande e redonda ficava no meio de algumas largas espreguiçadeiras de madeira e confortáveis almofadas brancas.
Como imaginava, aquele frio que fazia algumas horas atrás tinha passado. O ar estava quente, mas agradável. A garota respirou fundo, deixando o ar entrar em seus pulmões.
Ela ignorou o fato de estar respirando gases tóxicos e poluentes que estão no ar londrino e fingiu que respirava um ar puro e limpo.
Aquilo era bom.
Ela pisou na grama com os pés descalços e sentiu a umidade neles. Abriu os braços para sentir a brisa fresca que batia ali.
O álcool faz maravilhas.
- Já comentei que esse vestido caiu muito bem em você? – saiu de seu momento “carpe-diem” ao ouvir o comentário de Alex. Se estivesse sóbria iria corar e se enervar, mas para sua sorte, estava bêbada e nem ligou para aquilo.
Tudo que ela ouvia, passava por um ouvido e saía pelo outro. Nada era absorvido, assim como nada que ela falava era muito pensado ou planejado.
-Obrigada! – Ela sorriu e saltitou (sim, saltitou) até o garoto e deu-lhe um beijo na bochecha. – Sua bunda ficou boa nesse terno!
Alex deu um longo gole na garrafa e estendeu-a para .
Para a sorte de ambos, apenas um deles lembraria daquela conversa no dia seguinte.
Os dois riram e começaram a girar, dançar e vagar de um jeito que só se faz quando se está bem alcoolizado.
só parou quando sentiu-se exausta e mais tonta do que nunca. Ela deitou-se em uma das espreguiçadeiras e fechou os olhos. Desde a partida de ela não se divertia. Tinha saudades de se divertir.
Alex deitou ao seu lado e a abraçou pela cintura. A espreguiçadeira era tão grande que cabia os dois com folga. A garota abriu os olhos e começou a fitar o céu. As estrelas pareciam mais brilhantes do que nunca. Nem pareciam algo natural. Ela tinha a impressão que alguém havia colocado holofotes lá. Alex passou sua mão pelas pontas dos cabelos dela e depois acariciou seu pescoço.
- “All I can taste is champagne” - (Tudo o que posso provar é champagne). O garoto cantarolou e reconheceu a música do Sugarcult.
- “When it hits the brain like cocaine” – (Quando atinge o cérebro como cocaína). Ela completou virando-se para encará-lo.
- “Spining around and round” – (Girando e girando). O menino passou os dedos levemente no queixo e na bochecha dela e não conseguiu mais cantar. Ela sabia o que estava prestes a acontecer. – “I can’t get up without your help, I've fallen down” – (Eu não consigo me levantar sem a sua ajuda. Eu caí.)
Alex parou de cantar e a encarou compenetrado.
Ela sorriu e fez sua mão deslizar do peito dele para o pescoço, enquanto Alex apertava mais sua cintura aproximando-os. Suas pernas ficaram entre as dele e um arrepio passou por ela ao sentir uma das mãos do garoto subir a barra de seu vestido enquanto ele acariciava suas coxas.
Quando sentiu os lábios de Alex encostarem no seu, uma onda de sobriedade tomou conta dela. A garota afastou-se rapidamente. Não podia fazer aquilo. Não mesmo!
Ela sentou-se de costas para ele pensando na besteira que acabara de ser evitada.
- ! – Ele continuava deitado e passou suas mãos no quadril dela. – Volta aqui! Eu quero tanto você. – Agora que ela estava sóbria, ela notava o quanto bêbado Alex realmente estava. Sua voz estava embolada.
- Não, Alex! – Ela se levantou e andou alguns passos, sentindo ele atrás dela poucos segundos depois. Por trás, Alex pegou suas mãos e as entrelaçou as dele, enquanto dava leves beijos e chupões no pescoço de .
Ela não estava conseguindo resistir, estava carente. Ela queria aquilo. Ela precisava daquilo. Ela não conseguia explicar. Ela tinha que lutar, mas não conseguia.
- Eu não vou contar para o seu namorado. – Ele sussurrou em sua orelha e o juízo voltou a garota com a menção da palavra “namorado”.
- Não, Alex! – Ela fez um movimento brusco empurrando o garoto para longe dela. – Você está confundindo tudo! Você está me confundindo!
andou rapidamente até a casa para procurar por sua bolsa e seu celular para que pudesse ligar para uma companhia de táxi.
Alex não tinha condições de dirigir e ela nem queria vê-lo no momento.
Com as mãos trêmulas ela tentava acessar à agenda do aparelho. Estava nervosa.
- ! – Alex apareceu na sala. – Me desculpe. - Uma de suas mãos estava encostada na porta e ele parecia sóbrio e realmente arrependido. sabia que ele nunca tentaria aquilo se não estivesse bêbado. – Eu nunca deveria ter insistido! Não sei o que deu em mim! Você tem namorado, droga! – Ele falou a última frase mais irritado, porém parecia falar para ele mesmo. – É claro que você nunca faria uma coisa dessas e por mais que eu te ame e queira você para mim, eu não poderia ter insistido! Desculpe.
começou a tremer mais ainda ao ouvir a palavra ”ame”. Ele ainda não a tinha esquecido. Aquilo não era bom. Não era nada bom.
- Tudo bem, Alex.
Ela o abraçou e lembrou-se do abraço que tinham trocado no dia em que ela tinha terminado o namoro. Alex parecia fazer a mesma coisa que naquele dia. Aproveitava a presença da garota o máximo que podia.
- Desculpe, mas eu não posso te levar para casa. Seria perigoso. – Ele falou quando os dois se largaram.
- Tudo bem, eu chamo um táxi. Você não pode dirigir mesmo.
- Pode deixar, eu chamo.
Alex sumiu da sala e voltou alguns minutos depois avisando que o táxi já estava chegando.
Os dois sentaram-se em silêncio. Cada um em um canto da sala. Estavam abalados demais e o efeito de todo o álcool que tinham ingerido os fazia passar mal.
O que pareceu uma eternidade depois, uma buzina tocou do lado de fora. Era o táxi.
- Tchau, Alex. – Ela deu um beijo em sua bochecha mais por educação e foi em direção a porta.
- Eu vou com você até a porta.
- Obrigada.
O menino destrancou a porta e saiu da casa. A noite parecia fria e feia agora. Seu estômago doía e sua cabeça girava. Ela entrou no carro vendo Alex parado na porta observando-a.
suspirou fundo por não ter traído do . Ele nunca a perdoaria. Ela nunca se perdoaria.
Capítulo 22 – Jude Law And A Semester Abroad
acordou sentindo que a cama girava. Sentiu-se em uma dessas atrações de parques de diversões. Sua cabeça doía e ela tinha a impressão de que alguém a apertava.
“Alguém”, só se esse alguém se chamasse champagne.
A noite anterior lhe veio à cabeça, mas nada estava muito claro. Ela lembrava de Alex, lembrava de ter bebido muito, mas depois disso sua cabeça estava bloqueada. A próxima coisa que ela se recordava era estar resistindo a Alex e depois ter voltado para casa.
Como ela conseguia se meter em tantos problemas? Esse era seu talento e o que ela fazia melhor. Arrumar problemas. Pelo menos daquele ela tinha conseguido resolver antes mesmo que ele começasse.
Abriu os olhos devagar, com medo de que eles pudessem explodir ou sair de órbita. Ela nunca mais beberia. Uma claridade muito forte passava pelas cortinas fazendo com que seus olhos ardessem.
Levantou-se da cama aos tropeços, pois suas sandálias tinham sido deixadas bem no caminho na noite anterior. Bem feito, isso que dá largar as coisas jogadas por pura preguiça. Certo não tinha sido exatamente preguiça, já que se alguém a perguntasse seu nome na noite passada ela não conseguiria responder.
A cada movimento ela sentia uma dor a mais. Seu estômago doía e parecia fazer movimentos suicidas dentro dela. Além de não beber, ela provavelmente nunca mais conseguiria comer também.
A forte luz do sol invadia todo o banheiro. Como aquilo ardia! Ela jurou que estava ficando cega por um segundo. A garota fechou os olhos, tateando seu caminho. Ela colocaria uma cortina na janela do banheiro assim que tivesse forças. E daí que não era uma coisa muito comum? Seu banheiro teria cortinas e ela não queria nem saber.
Após lavar o rosto e conseguir a proeza de borrar mais ainda sua maquiagem do dia anterior, ela desceu as escadas sentindo-se como Alice Cooper, o vocalista do Alice Cooper. Ela sempre se perguntava o que levava um cara a mudar seu nome para o nome de sua antiga banda, ainda mais, quando esse nome era feminino. Mas naquele momento ela não se perguntou nada. Andar e ao mesmo tempo respirar já sugava toda a sua energia.
Sua garganta estava seca e sentia-se fraca.
Na cozinha, Berta, sua cozinheira andava de um lado para o outro atrás de abóbrinhas e sementes de páprica e nem notou sua presença.
pegou um copo do armário e o encheu de água gelada. Ela sentia o líquido refrescar todo seu corpo. Se alguém a convidasse, ela entraria para o fã clube da água. Bem, se isso existisse.
- Santa Maria! – Berta exclamou fazendo com que o cérebro de se desfizesse. Certo, ele não tinha se desfeito, mas ela imaginava que se um dia ele se desfizesse, doeria daquele jeito.
- Shiuuu! Mais baixo, Berta, por favor. – Até sua própria voz a incomodava.
- O que aconteceu com você? Você está parecendo uma prostituta bêbada! – Por que pessoas que te conhecem desde as fraudas perdem totalmente o respeito por você?
apenas a encarou com o melhor olhar de “Foda-se” que ela conseguiu na hora, que era muito bom, aliás. Não que ela quisesse isso para Berta. Ela gostava muito dela, mas seu comentário tinha sido um tanto quanto maldoso, sem falar que tinha sido na pior hora possível.
- Eu só esqueci de tirar a maquiagem ontem a noite.
Ela compraria um galão de água para que nunca mais tivesse que sair de seu quarto. Na verdade, um frigobar seria bem útil. Ela iria conversar com sua mãe sobre o assunto.
- Só isso, sei... – Berta falou cínica e andou até um dos armários, pegando alguma coisa. – Toma... – Ela estendeu uma cartela de comprimidos para . – Prometo que a dor de cabeça passa. – A menina sorriu agradecida. – Quer que eu faça café?
- Não, obrigada. – Nada além de água passaria por seu estômago. Ele estava se vingando por todo o álcool que teve que tomar no dia anterior. Estômagos vingativos são sempre cruéis. – Você é legal, Berta. Apesar de ter me chamado de prostituta bêbada. – Ela agradeceu sentindo-se realmente grata. Nunca teria lembrado dessa nova invenção chamada “analgésico” sozinha.
Ela entrou em seu quarto já tomando o comprimido e carregando o copo cheio de água. A garota levou um choque ao olhar para seu rádio relógio e descobrir que já se passava da uma da tarde. Ela imaginava que fosse apenas umas dez da manhã.
Ela nunca mais beberia. Nunca. Nunca. Aquilo era uma promessa.
lembrou-se de . Ele havia prometido ligar de manhã. Será que ele tinha ligado e ela estava dormindo? Ela queria tanto falar com ele! Ainda mais depois do que quase tinha ocorrido na noite anterior. Tudo o que ela queria, além da abolição da venda de champagne, era falar com seu namorado.
Não que ela fosse contar alguma coisa para ele. Isso seria totalmente desnecessário. Ou será que ela deveria?
Não, aquilo só o deixaria nervoso e não havia motivo algum para ele ficar nervoso. Ela não o deixaria nervoso. Não. Não mesmo. Nada tinha acontecido, certo?
Ela discou o número do celular de rapidamente, como sempre fazia, já sabia de cor e poderia até discar com os olhos fechados. O telefone tocou algumas vezes e uma voz de mulher atendeu.
Ótimo. Ela estava tão bêbada que estava discando números errados. falou que era engano e desligou o telefone.
Ela nunca, nunca, nunca mais botaria um pingo de álcool na boca.
Maldita ressaca.
Agora com cuidado e prestando atenção, ela discou os números.
- Alô? – A mesma voz feminina atendeu e a garota ficou sem reação.
- Hum... é... – Ela gaguejou. Seu cérebro estava trabalhando devagar e eram muitas informações novas. – O está?
- Ele está dormindo. – Ela respondeu com um forte sotaque irlandês. Que seria ela? Alguma secretária? Namorada de algum dos meninos? – Ah, espere! Ele está acordando! – Ela completou. ouviu um som abafado. Ela provavelmente tinha as mãos no microfone. – Quem é?
Ela tinha um pressentimento ruim, mas preferia não pensar em coisas ruins. Se não fosse nada do que ela estava pensando, ela iria sentir-se patética.
- É a namorada dele.
- O quê? – Ela perguntou numa voz histérica. – Você tem namorada, seu cachorro?
A garota do outro lado da linha estava descontrolada, assim como a que estava desse lado da linha. queria desligar mas não conseguia. Ela não conseguia se mexer. Ela não conseguia respirar. Todas as dores que ela sentia antes tinham passado, no entanto aquilo doía mais do que todas aquelas juntas.
A irlandesa continuava gritando, pelo que tinha entendido, ela não sabia de sua existência, mas foi outra voz que fez que o coração da garota quase parasse.
- ? Você ainda está ai? Não é o que você está pensando! – Ele falou com um tom desesperado e com os gritos da outra ao fundo.
- . – Ela nem saberia contar como sua voz tinha saído. Não estava alta nem escandalosa, mas estava lotada de sentimentos. – Por que você fez isso? – Seu coração estava apertado e nada mais parecia fazer sentido. Em um segundo tudo estava bem, no outro algo como aquilo tinha acontecido.
- Eu não... Eu não... Você precisa me perdoar, . – falava alto e parecia angustiado. – Eu nem sei o que aconteceu.
- Eu também não sei, , mas eu não quero ouvir nenhuma explicação. Some da minha vida!
fechou o celular com força enquanto chorava e sentia vontade de sumir. Ela sentia tristeza, raiva, revolta, angústia e qualquer outro sentimento que traga sofrimento. Ela abraçou seu travesseiro encharcando-o com as lágrimas. Seu celular tocava insistentemente. não desistiria.
Ela pegou o aparelho, deu alguns passos até ficar próxima a janela e arremessou o aparelho.
Sanidade e equilíbrio não eram as palavras do dia.
No mesmo segundo, o silêncio tomou conta de seu quarto. Porém, foi apenas o tempo dela voltar para sua cama para que o telefone da casa começasse a tocar.
Ela não estava mais triste, estava apenas irada. Não suportava nem imaginar a cara de .
Até cinco minutos atrás ela sentia-se o último dos seres por ter quase traído ele, mas esse tempo todo ele a estava enganado.
Parecia que ela explodiria de raiva. Se ela explodisse, ela queria que pedaços dela voassem até Dublin e ferissem mortalmente.
O telefone não parava de tocar.
- Você pode me dar paz para que eu aproveite os chifres que você me deu, ? – Ela falou com raiva pegando o telefone.
- , pelo amor de Deus, deixa eu te explicar! Você precisa me ouvir.
- Qual parte do “some da minha vida” você não entendeu, ? Espero que você e sua irlandesa morram gordos, carecas e com micose! - “Gordos, carecas e com micose.”? Ela não tinha nada mais infantil para ter falado? Ela nem teve tempo de se arrepender. – Pára de me ligar, .
- , eu te amo, não faz isso comigo.
Cínico. Ela o odiava, o odiava mais do que tudo. Só não o odiava mais do que o amava. Por isso, ela odiava a si mesma.
- Vai se foder, .
desligou o telefone e ele não tocou mais.
Ela adormeceu horas e horas depois, vencida pela exaustão de tanto chorar.
Capítulo 23 – Círculos
Já tinha escurecido quando ela abriu os olhos novamente. O quarto estava iluminado apenas pela luz que vinha do lado de fora da casa.
assustou-se e pulou da cama ao sentir a presença de outra pessoa no quarto. Como o tinham deixado entrar ali? 77 seguranças e câmeras para nada.
estava sentado ao lado do lugar onde ela estava deitada anteriormente. Ela não podia ver sua expressão, devido a escuridão, mas ela sentia o desespero no namorado. Bem, ex-namorado.
Com o coração acelerado por causa do susto e por vê-lo ela andou até a porta e a abriu.
- Sai. – apontou o corredor.
A luz da casa deixava o quarto mais claro e ela confirmou o desespero de . Sua aparência estava péssima. Bem feito. Ela espera que ele ficasse bem feio para que nunca mais conseguisse outra mulher.
- Não, não enquanto você não me ouvir. – Ele falou decidido e cruzou os braços encostando-se no peitoril da janela. Ela queria empurrá-lo dali de cima para que ele caísse de cabeça em algum arbusto espinhento.
bufou e apertou as mãos. Ela bateu a porta.
- Já vou te avisando, não importa o que você fale ou explique, não vai mudar nada, . Nós acabamos. – Ela acendeu a luz do quarto.
vestia uma camiseta marrom da Hurley e uma bermuda cinza. Seu cabelo estava irritantemente impecável e lindo. Aquilo a enervava. Ela não suportava encará-lo.
- A garota do telefone... – parecia medir cada palavra cuidadosamente. – Eu dormi com ela. – Não cuidadosamente o suficiente, pois sentiu uma espécie de pontada ao ouvir aquilo. – Mas foi só uma noite e não significou nada, além do que, eu estava pensando em você...
“Pensando em você”?
Aquilo era nojento e perturbador.
- Sério, , eu não quero ouvir. Vai embora, por favor! – Ela implorou achando que iria chorar. também parecia prestes a chorar. Aquilo a incomodava mais ainda. Ele não tinha o direito de chorar, ele que tinha causado tudo aquilo.
- Eu estava bêbado, deprimido, carente! Eu nem sei como isso aconteceu! – Ele a ignorou e continuou falando.
- Só você... – Ela ironizou. não entendeu, mas não deu importância.
- Os meninos praticamente me obrigaram a ir nesse pub e quando vi, estava na cama com aquela garota e ela estava falando com você no telefone! Você pode imaginar o quanto eu estava confuso naquela hora?
- Você está realmente tentando se tornar a vítima da história, ? Você já parou para imaginar o quanto eu estava confusa!? – Ela falava alto e gesticulava. – Eu ligo para o meu namorado e uma biscate irlandesa atende! – Como você acha que eu me senti?
- Eu imagino como você deve ter se sentindo, ! É por isso que estou aqui, porque é insuportável imaginar que eu estou te fazendo sofrer!
- Não precisa imaginar, tenha certeza, . – olhou em seus olhos, mas não agüentou encará-los. Se ela os encarasse provavelmente iria agredir . ela não queria se rebaixar a esse ponto.
- , desculpe. – Ele caminhou até ela e pegou em suas mãos. Ela não sentiu nenhum tremor, nenhum arrepio. A única coisa que sentiu foi nojo e desprezo. Ela tirou suas mãos das dele rapidamente e cruzou os braços.
- Não, . Sai, por favor. – apontou a porta. Sua presença fazia mal para ela. Muito mal.
- Não! A gente não pode terminar assim! Simplesmente não pode! Eu amo você!
- Não, , se você me amasse você não teria dormido com aquela piranha bêbada! Se você estivesse “carente” e se você me “amasse” – Ela fez sinal de aspas com as mãos. – Você teria pego um avião para vir me ver!
- Eu sei! Eu errei! Que droga, ! – não estava mais desesperado, estava bravo também. Como se tivesse algum motivo... Ele estava aos berros. A garota simplesmente abriu a boca pasma. – Desculpe, não queria gritar, mas você está me desesperando! Você precisa me perdoar! Eu te amo tanto e sei que você também me ama!
- Isso é verdade, mas meu único objetivo daqui para frente vai ser esquecer de você.
Ela deve ter falado isso com tanta certeza e convicção que nem respondeu nada. Ele simplesmente baixou a cabeça parecendo arrasado e ficou em silêncio. sentia o sangue quente passando por suas veias rapidamente e seu coração batia tão forte que ela tinha a impressão de ouvi-lo.
- Acabou mesmo? – Ele perguntou praticamente num sussurro.
- Acabou.
abriu a porta para que passasse. Eles não tinham mais assunto algum.
levantou a cabeça com os olhos vermelhos e as mãos no bolso. virou a cara para o outro lado. A imagem dele realmente fazia muito mal a ela. Sentiu ele aproximar-se e na mesma hora a menina deu alguns passos para o lado.
- Talvez o que você precise é só um tempo, é isso o que você precisa, não é? – apelou.
- Não, . Acabou de verdade. Para sempre. – suspirou. Tinha vontade de sumir. – Depois de tudo o que minha mãe sofreu com o meu pai, eu prometi a mim mesma que nunca ficaria naquela situação. Bem, isso não funcionou muito, já que você já me traiu e eu já estou nessa situação, mas eu não vou deixar que isso aconteça nunca mais.
- Não vai acontecer! Nunca mais!
- Eu não confio mais em você, .
Para a sorte (ou azar) de , quando saiu de seu quarto ela encarava o piso de madeira aos seus pés. Se tivesse visto a expressão no rosto dele, provavelmente teria esquecido tudo e lhe abraçado forte, para que ele nunca mais se distanciasse. Mas ela não viu. Estava ocupada demais fingindo para si mesma que estava contando quantos tacos de madeira havia do ponto onde estava até a parede.
Assim que teve certeza de que estava longe, ela fechou a porta, apagou a luz e deslizou até o chão. Porém, não ficou mito tempo ali. Sua mãe lhe deu uma portada segundos depois. Desgraça pouca é bobagem. Agora ela também tinha uma tremenda dor nas costas, ou na bunda, como preferir.
Sua mãe fechou a porta novamente e sentou-se ao lado dela abraçando-a e correndo as mãos por seus cabelos. A simples presença de sua mãe fez com que ela finalmente cedesse ao choro que estava preso desde que vira .
queria se beliscar, acordar e descobrir que tudo aquilo tinha sido um sonho muito ruim. O seu estaria ali ao lado dela, nunca teria ido a Dublin e nunca a teria traído.
No entanto, aquilo não era sonho, era apenas a realidade sendo mais uma vez cruel com ela.
Ela não tinha mais . Ela nem sabia mais quem era . Parecia que tudo o que tinham vivido tinha sido uma mentira, ou então, uma realidade paralela.
estava de volta a sua verdadeira realidade.
Capítulo 24 - Crying
estava deitada em sua confortável cama encarando suas pantufas. Elas tinham a forma de um pingüim e ele vestia um cachecol e um gorro xadrez. Aquelas eram suas pantufas favoritas. Ela tinha até as batizado. A do pé esquerdo chamava-se Olive e a do pé direito, Napkin. Os nomes não faziam sentido nenhum, mas ela achava que combinava com a cara dos pingüins.
A televisão estava ligada na BBC News, onde alguma notícia sobre o Iraque passava. Ela nem prestava mais atenção nesse tipo de notícia. Eram iguais, não importava o dia ou o noticiário.
Havia três dias que ela não saía de casa e para sua sorte, sua mãe estava sendo bem compreensiva, pois a estava deixando faltar às aulas.
Seu rosto estava constantemente inchado e seus olhos ardiam o tempo todo de tanto chorar.
ouviu vozes no corredor e na mesma hora desligou a televisão, arrancou as pantufa e cobriu-se com o edredom, fingindo estar dormindo. Não tinha a mínima vontade de dialogar com ninguém ou então receber aqueles olhares de pena que sua mãe e Abby lhe davam.
Ela ouviu a batida na porta e praticamente parou de respirar para não fazer nenhum tipo de barulho.
- Acho que ela está dormindo, querido. – A voz de sua mãe sussurrou ao entrar no quarto. – Você quer esperar aqui ou lá na sala?
- Vou esperar aqui mesmo, Sra. . – A voz de Alex respondeu também num sussurro.
- Estou tão preocupada com ela, Alex. – Sua mãe respirou fundo e virou os olhos, apesar deles estarem fechados. Odiava que as pessoas se preocupassem com ela, ainda mais quando ela estava bem. Sim, ela estava bem. O anormal seria se ela estivesse saltitando de alegria poucos dias após uma decepção amorosa. – Tente alegrar a Bolinha, está bem?
- Não se preocupe, só saio daqui quando eu ver um sorriso!
Ótimo, Alex mudaria para a casa então. Ainda bem que havia quartos vazios.
- Hei, ! – Ela sentiu-o sentando-se na cama. – Eu sei que você está acordada! Você não está usando o seu tapa olhos e eu sei muito bem que você só consegue dormir com eles! O que aconteceu? Não deu tempo de colocar ele quando eu e sua mãe entramos?
Maldito, por que ele tinha que conhecê-la tão bem?
abriu os olhos e virou-se para Alex. Seu cabelo estava cuidadosamente bagunçado de novo e ele usava uma camiseta branca e lisa.
A menina resmungou qualquer coisa não identificada enquanto sentava-se abraçando os próprios joelhos.
- Sua mãe me contou o que aconteceu. Eu sinto muito. – Alex passou os dedos carinhosamente pelos cabelos embaraçados da menina. – Se eu encontrasse aquele cara na rua ele se arrependeria até de ter te conhecido.
imaginou levando uma surra de Alex e não pode deixar de sorrir. Sua revolta ainda não tinha passado e ela passava todo o tempo livre que tinha, já que não saía de casa, imaginando castigos bem cruéis para ele.
- Obrigada, Alex. – Era bom ter alguém por perto.
Ele colocou uma mecha da franja de atrás de sua orelha e pegou na mão da garota.
- Estava preocupado, sabia? Você não apareceu na aula, eu ligava no seu celular e ninguém atendia, depois ele estava desligado. – lembrou-se de seu celular. Provavelmente estava no meio da lama no jardim. - Por isso resolvi passar aqui! Ainda bem que eu vim! – Ele falava de um jeito animado, tentando animá-la de uma maneira contagiante. Não estava dando certo, apesar de estar “feliz” por Alex estar ali.
- Hum... – Ela não sabia o que falar. Odiava ter que falar alguma coisa quando alguém estava prestando tanta atenção assim nela. Alex analisava todos os seus movimentos para poder concluir o quanto deprimida ela estava ou qualquer coisa assim. – Eu perdi meu celular...Eu acho.
“Perder” lê-se: “Arremessei da minha janela pois não queria falar com o cachorro do meu ex.”
Alex levantou-se e abriu as cortinas. Por já ser quase final de tarde, os olhos de não se incomodaram com a luz.
- Assim é melhor! Faz quanto tempo que você não vê claridade?
- Na verdade, não faz tanto assim, vi algumas horas atrás quando fui tomar banho. – apontou o banheiro com a cabeça. Ela ainda não tinha instalado ou nem mesmo comprado cortinas para o seu banheiro. Mas aquilo era o item número um em sua lista de “Coisas a fazer quando conseguir levantar da cama”.
Alex riu e balançou a cabeça negativamente.
- Sabe o que eu estava lembrando? – Ele perguntou voltando para o seu lado.
- O quê?
- Quando nós brincávamos de Joken Tapa!
não conseguiu não sorrir. Uma sensação boa veio quando ela lembrou-se de como os dois praticamente se espancavam brincando dessa “modalidade”. No Joken Tapa, o perdedor levava um pequeno tapinha do vencedor.
Uma vez, na época que ainda namoravam, Alex inventou uma nova modalidade: “Joken Kiss”. Nessa modalidade, qualquer coisa era desculpa para que os dois se beijassem.
- Aeee! Eu te fiz sorrir! – Alex comemorou dum jeito bobo e adorável.
- Você é um bobo, Alex!
Ele sorriu se fingindo de malandro.
- Quer jogar?
- Não, Alex! – Ela não tinha muito humor para Joken Tapa.
- Ah, vai, ! Por favor! Eu deixo você bater bem forte em mim!
mordeu o lábio inferior. Queria jogar ao mesmo tempo que não queria , pois não tinha ânimo ou forças.
- Tá bom! – Ela cedeu fingindo estar fazendo um tremendo sacrifício.
- Jokennnnn Po! – Os dois “cantaram” juntos.
colocou tesoura e ele papel. Ela riu enquanto Alex fazia uma careta.
- Nem vou bater forte! – Ela mentiu antes de dar um daqueles tapas “ardidos”, sabe? Daqueles que fazem barulho e a pessoa que o recebeu fica com a marca de seus dedos na pele.
- !!! – Alex protestou passando a mão no braço que agora estava vermelho. Ela sentiu-se culpada. – Você falou que não ia bater forte!
- Eu menti! – Ela tentou fazer cara de menina sapeca e depois riu. Sim, ela estava realmente rindo e talvez, quem sabe, se divertindo.
Alex fez cara de vingativo.
- Jokennn Po!
Ele colocou papel e ela pedra. Alex deu uma risada maléfica e levantou a mão para bater no braço de .
- Ahh! Você não vai me bater não! – Ela falou antes de levantar-se e correr para o outro lado do quarto.
- Bonito pijama, ! – Alex falou olhando para a bunda dela. Ela parou de correr e teve que olhar para lá também para lembrar-se que pijama estava usando. A calça era preta e havia um alvo do estilo de desenho animado bem na bunda. Ela riu. – Eu não conhecia esse, é novo?
- É sim, mas quer fazer o favor de parar de encarar minha bunda! – Alex corou. – Eu sou uma garota com... – Ela ia falar “comprometida”. Força do hábito. se calou. Por um minuto tinha conseguido esquecer-se de tudo, mas apenas por um minuto. Aquela sensação que parecia esmagar seu peito e arrancar o ar de seus pulmões tinha voltado.
- ! – Alex aproximou-se carinhoso e a abraçou apertado. Apesar de não querer chorar na frente de Alex, ela não agüentou. Quando deu por si, estava aos prantos com o garoto a consolando.
Ela estava fora de si, obviamente. Por mais que Alex fosse um doce, não era a pessoa indicada para consolá-la por causa de . Afinal, ele era seu ex, que por um acaso tinha lhe falado que ainda a amava alguns dias atrás. Ela sentiu-se pior ainda.
- Desculpe, Alex. Você não precisa fazer isso. – Ela afastou-se limpando as lágrimas.
- , acima de tudo, eu sou seu amigo e não vou te deixar sozinha agora! – Ele falou pegando em seu queixo e a abraçando novamente. Ela sentiu-se protegida e como se enquanto estivesse ali, nada poderia lhe fazer mal.
- Vamos! – Ele falou quando finalmente conseguiu fazer com que seu choro parasse.
- Vamos aonde?
- Show do Sugarcult! – Alex acendeu a luz sorrindo para uma estarrecida.
- Como assim? Show do Sugarcult?
- É!
- Mas hoje é quarta, Alex! Amanhã tem aula! Eu não posso sair!
O porquê dela estar resistindo daquela maneira nem ela mesma sabia. Talvez fosse o medo de superar. Quando ela superasse, tudo o que ela e tiveram não passaria de passado e história. Na cabeça de , se ela saísse de casa, significaria que tinha superado. Era bem óbvio para todos, exceto para ela, que saindo de casa ela não teria superado nada.
- Até parece que você já não faltou na escola a semana inteira! Vai! – Alex a empurrou até seu armário. – Pega uma roupa que não tenha um alvo na bunda e uma blusa que não seja transparente... – olhou para a própria blusa. Uma regata branca de malha canelada que de tão velha e surrada que estava realmente deixava seu sutiã roxo aparecer. – Não que esse seu sutiã não seja o meu favorito! – Alex falou dando uma piscadinha e abriu a boca sem reação. Se outro cara falasse aquilo, provavelmente seria espancado, mas Alex não. Ele não tinha malícia ou segundas intenções ao falar aquilo.
Bem, ter ele tinha. Mas aquela não era a hora de manifestá-las abertamente. Não que aquilo não tivesse sido abertamente. Fora, mas de um jeito que um amigo fala e nada mais.
- Mas minha mãe não vai deixar, Alex! – falou depois de receber uma “blusada” na cara. Aparentemente, Alex estava escolhendo suas roupas.
- Já falei com a sua mãe. Ela concorda. – Ele respondeu com a voz abafada pois estava praticamente mergulhado no armário.
temeu que ele se perdesse em meio de tanta roupa.
- Mas nós não temos ingresso!
- Já ouviu falar em “bilheteria”, ? – Uma calça voou das mãos de Alex e uma das pernas dela atingiu a cara de . – Deixa eu te explicar como funciona: é um lugar bem pequenininho, onde colocam um carinha para vender ingressos! – Alex finalmente saiu do armário. – Você sabe o que é ingresso, certo?
- Eu nem gosto tanto de Sugarcult.
- Não? – Ele perguntou impaciente.
- Não.
- O que é aquilo? – Alex apontou para o pôster preto e branco do Sugarcult na parede atrás dela.
- Hum. – Foi só o que saiu da boca dela. Suas desculpas tinham acabado.
- Vamos, você vai poder ver o seu tão amado Tim! – Alex se referiu a Tim Pagnotta, vocalista do Sugarcult e sonho de consumo de .
Ela mordeu o a boca imaginando que um show não faria mal a ninguém. Ainda mais se Tim estivesse lá!
- Tá bom!!!
- Isso! Veste isso! – Alex lhe entregou uma calça jeans preta, uma camiseta polo azul, um cinto também preto e um de seus tênis favoritos, um DC branco, azul e preto. Ela se surpreendeu por nunca ter pensado em usar aquelas peças juntas. Aquela roupa era legal!
- Você virou gay ou coisa do tipo nos últimos três dias? – Ela o zoou.
- Não! Por quê? – Ele perguntou desconfiado.
- Um homem não consegue escolher uma roupa legal assim! E você nem pegou uma blusa decotada nem nada!
- Esqueceu que eu trabalho numa loja de roupas, ? – Ele lhe deu um pequeno pedala, que de tão delicado, parecia mais um carinho.
- Ah é, né? – Ele sorriu concordando e balançando a cabeça. – Bem, vou me trocar então, vê se arruma essa bagunça que você aprontou, Alexander! – Ela apontou para todas as roupas espalhadas e o chamou pelo nome inteiro.
arrumou-se rapidamente e os dois correram para o centro da cidade, mais precisamente até Kensington, onde ficava o Royal Albert Hall. Lá que seria o show.
Alex e chegaram em cima da hora e ao entrar no local, já ouviram o publico aplaudindo a banda que entrava no palco. O lugar não era muito grande e qualquer um que estivesse ali teria uma vista privilegiada do palco.
Kenny foi o primeiro a entrar e foi direto para a bateria. Depois, viu Marko e Airin serem muito aplaudidos ao se posicionarem com seus instrumentos. Por último, mas não menos importante, Tim entrou no palco. Ele estava com um novo penteado, seus cabelos estavam bem mais curtos e pintados de loiro. Aquela não tinha sido a melhor das decisões de Tim, mas ele ficaria bonito até careca, diferentemente de Britney Spears.
Alex pegou em sua mão e a conduziu pelo meio da multidão até que ficassem a centímetros do palco. Sugarcult era a banda favorita dos dois, que cantavam a todo pulmão todas as músicas.
No entanto, uma delas tocou de uma maneira incomparável. Ela já havia ouvido essa música centenas de vezes, mas só ali, naquele momento ela se deu conta do quanto se identificava com ela.
“Picking up the pieces of a life you’ve broken
Stitching it together with the seams wide open”
(Juntando os pedaços de uma vida que você quebrou
Costurando isso junto com os pontos bem abertos)
Tim cantou a primeira estrofe de Crying.
“You keep crying, crying, crying
Till you cannot see at all
You keep crying, crying, crying
Till you cannot breathe at all
What do you do when you’re alone?
What do you do when no one’s home?
What do you do when you’re alone?
Out of control, Now on your own”
(Você continua chorando, chorando, chorando
Até você não conseguir ver mais nada
Você continua chorando, chorando, chorando
Até você não conseguir mais respirar
O que você faz quando está sozinho?
O que você faz quando ninguém está em casa?
O que você faz quando está sozinho?
Fora de controle, agora sozinho)
Foi nesse momento que se deu conta de que nada adiantaria se isolar do mundo ou colocar uma cortina em seu banheiro para nunca mais ver a luz solar. As coisas só melhorariam se ela se esforçasse. Ela tinha que seguir em frente. Por mais que sentisse que seu coração estava quebrado em milhares de pedacinhos e que cada segundo que respirava era uma tortura, ela tinha que voltar a viver sua vida.
“You can’t break away what you cannot change
You can’t break away
You can’t break away what you cannot change
You can’t break away “
(Você não pode fugir do que você não pode mudar
Você não pode fugir
Você não pode fugir do que você não pode mudar
Você não pode fugir)
Ela não queria aquilo para ela. Não mesmo. Ela queria ser feliz e se recusava a passar sua vida lamentando-se por um relacionamento que não deu certo.
Naquele segundo, jurou para si mesma que não pensaria mais em . Ela nunca quebrava juramentos, muito menos aqueles que ela fazia a ela mesma.
Capítulo 25 – If I Fail
“Hampstead Vence Saint Patrick Graças a Pettyfer!
Por
O jogo de futebol da última quarta-feira surpreendeu a todos. Alunos e professores
da Hampstead School estavam confiantes que o jogo contra a Saint Patrick seria
fácil. No entanto, o time adversário estava bem preparado e chegou assustando
nossos garotos. No início do segundo tempo, perdíamos de 2 a 0. Os ânimos estavam
exaltados e todos ouvimos as palavras nada cristãs que o treinador Hinton gritou
para seus jogadores.
Foi ai que o herói do dia agiu! Nos últimos vinte minutos de jogo, Alex Pettyfer, capitão da Hampstead e dono da melhor bunda da cidade, marcou três belíssimos gols, garantindo a vitória de nossa escola, além de uma vaga para as semifinais!
Pettyfer estará assinando pompons para todas as cheerleaders interessadas após as aula de sexta-feira.
As camisetas de seu fã-clube, que estavam em falta até ontem, estão de volta.
Um carregamento de 574 camisetas chegou hoje na Harrods.
Corram antes que acabem!”
- Você não tem mais nada para fazer mesmo, né ? – Alex perguntou rindo após ler a “matéria”.
também riu.
- Não!
Os dois estavam na casa dos Pettyfer e descansavam após uma tarde de estudos. Alex explicara física para , enquanto ela explicara história para ele.
não se conformava como alguém tão bonito sabia tanto de física.
Você pode ser bonito, você pode saber física, mas os dois juntos é humanamente impossível! Bem, não impossível, já que Alex conseguia quebrar essa regra.
Alex estava deitado em sua cama com o papel da matéria de na mão. Ela estava sentada ao lado dele, com as costas encostadas na parede.
Alex usava uma camiseta preta por cima de uma camiseta de manga comprida azul escura. Aquelas duas cores juntas pareciam deixá-lo com os olhos mais azuis ainda.
Quase três meses já tinham se passado desde que fora no show do Sugarcult com Alex. Ela não sabia o que teria feito sem ele. Tinha certeza de que só tinha superado a história com por causa dele. Alex estava com ela o tempo todo, sempre a fazendo rir e a animado, sem nunca deixar de ser o cara mais doce do mundo.
- Gostei da parte que você fala do treinador Hinton! – Alex comentou colocando o pedaço de papel em seu criado mudo.
- Eu tinha que falar sobre ele! Eu era uma garota inocente antes de ouvir todas aquelas coisas horríveis que ele falou para vocês! – lembrou-se da cara vermelha de nervoso que o treinador fazia enquanto berrava os palavrões mais cabeludos. Alguns ela nunca nem tinha ouvido.
- Você não ouviu o que ele falou no vestiário durante o intervalo... – nem podia imaginar, mas deu risada. - Espero que você não tenha escrito nada ridículo sobre mim na versão que você vai colocar no jornal. – Alex falou meio com medo. Ele tinha medo que extrapolasse em suas brincadeiras.
Apenas para torturá-lo, fez uma cara maldosa e misteriosa e não respondeu nada. Ele fez uma cara preocupada. Era impressionante como ele sempre acreditava nas coisas que ela falava!
- Alex, seu bobinho! – Ela aproximou-se e apertou as bochechas do rapaz como se ele fosse uma criancinha. – Não se preocupe, não publicarei nada revelador! – Ela fez pose ao falar a última palavra. Fazia sentir-se importante.
O que no começo era um sacrifício, tornou-se um prazer. As reuniões de pauta do jornal eram suas aulas preferidas do dia e agora que ela já tinha alguns meses “de casa”, ganhava matérias melhores. Não que isso significasse que ela não era mais obrigada a escrever sobre os jogos de futebol. No entanto, até deles ela aprendera a gostar, ela podia ver Alex jogando.
- Entendeu tudo de física? – Alex perguntou mudando de assunto.
- Sim senhor! – bateu continência. Ela sempre ficava daquele jeito, totalmente abobada, após muitas horas de estudo. Parecia que seu cérebro se desgastava tanto que quando finalmente tinha folga preferia simplesmente não funcionar. – Se o vetor bate e volta, a gente faz conta de adição. Se o vetor vai sempre na mesma direção, a gente faz conta de subtração e se eles formam um ângulo de 90º a gente tem que fazer Pit! – deu uma explicação resumida sobre o cálculo da variação de vetores. Alex passara horas fazendo-a decorar e entender tudo aquilo.
- Adoro como você se acha íntima do Pitágoras!
- Eu sou íntima do Pit! – Ela respondeu “indignada”. – Ele me persegue! Está na matemática, na física...Além do mais o teorema do Pit é o mais fácil!
Comparando Pitágoras a Newton, Hess, Coulomb e outros caras detestáveis com teorias pavorosas, ela chegava até a sentir uma certa simpatia por Pit!
- Acho que sou um bom professor! Até você está sabendo física! – Ele a zoou e levou uma almofadada na cara.
- Muito engraçado, Alexander Richard. – Ela virou os olhos e a cara. – Agora me fale quem eram os mujiks.
- Isso é muito fácil. – Ele falou numa superioridade fingida que fazia ter vontade de rir. Alex também parecia segurar-se para não rir. – Mujiks eram os camponeses pobres da Rússia pré-revolucionária!
- Bem, pelo menos já sabemos, que se nada der certo, sempre podemos ser professores! – Ela falou sentindo as costas doerem após tanto tempo encostada na parede. deitou-se ao lado de Alex ouvindo suas costas fazerem um barulho estranho ao encontrar o colchão.
- Sua podre! – Alex passou o braço por de trás de e a abraçou.
- Não ria da desgraça alheia, Alex! – aconchegou-se no peito do garoto.
Ela não sabia bem o que acontecia entre eles. Bem, ela tinha uma idéia. Até onde sabia, Alex a amava, mas nunca mais tentara qualquer aproximação e ela agradecia por aquilo.
Desde que descobrira a traição de , tudo o que mais queria era distância de relacionamentos. Alex estava sendo compreensivo o bastante para dar esse tempo a ela.
Ela pensara em virar freira, celibatária ou então criar uma nova seita religiosa onde relacionamentos seriam totalmente proibidos.
Ela gostava de Alex. Gostava muito, mas não o amava e qualquer que fosse o sentimento que tinha por ele, não era nem comparável ao que ela sentiu por um dia.
Sim, um dia. Ela não o amava mais e cada dia que se passava, ele parecia mais e mais com uma lembrança profunda e dolorida. Nada mais do que isso, no entanto.
As primeiras semanas tinham sido duras e ela lutava para manter seus pensamentos longe dele, afinal, ela tinha jurado a si mesma. Foi assim, um dia após o outro que ela voltou a sorrir e a se divertir.
As grandes janelas do quarto de Alex estavam com as persianas abertas naquela tarde e o sol aquecia todo o quarto. sentia-se numa estufa, mas aquilo não estava ruim. Pelo contrário, ela se sentia bem confortável abraçada em Alex enquanto aquele “solzinho” morno agia como um sonífero nela.
só não adormeceu pois lembrou-se que tinha que visitar Brit no hospital. Não via a amiga há alguns dias e já começava a sentir saudades. Ela levantou-se, apoiando-se em seus cotovelos.
- Tenho que ir, Alex.
- Ah, fica mais! – Ele passou os dedos no braço da menina.
Ela queria ficar mais. Não sabia o porquê, mas só o que ela queria era
ficar perto
de Alex.
- Não posso. – Ela falou triste. – Faz tempo que não visito a Brit. Quer vir comigo?
- Hoje não dá, prometi sair com a minha mãe e a Jenna para comprar o presente de aniversário do meu pai. – Alex parecia desapontado. – Queria poder passar o resto do dia com você.
- Eu também.
deu um beijo na testa do garoto e deslizou até o pé da cama, onde encontrou seus tênis e os calçou.
Que besteira. Ela o veria no dia seguinte, na aula! Por que estava sendo tão ruim deixá-lo? Aquilo não fazia sentido.
- Quer carona até o metrô?
- Não precisa não. – respondeu pegando seu material que estava na escrivaninha. – Prefiro andar, a tarde está bonita. – Ela olhou pela janela, sentindo uma vontade imensa de tomar aquele sol e sentir aquela brisa. – Tchau, Alex!
abriu a porta e mandou um beijinho.
- Tchau, ! Até amanhã!
- Até!
Ela descia as escadas quando parou para pensar.
Ela estava com uma vontade que não tinha há algum tempo. Levou as unhas na boca enquanto pensava. queria beijar Alex com todas as suas forças, mas não acreditava estar tendo aquela vontade. Pensou que nunca mais sentiria aquilo.
A imagem de Alex lhe veio a cabeça. Ele era tão absurdamente bonito. Ela sentiu-se agoniada. Tinha que fazer alguma coisa e rápido!
parou de roer as unhas e subiu correndo os degraus que tinha acabado de descer.
estava agindo por impulso, coisa que raramente fazia. Ela geralmente passava dias e dias pensando em alguma coisa antes de tomar alguma iniciativa. Mas não dessa vez. Em questão de segundos, ela abriu a porta do quarto sem nem bater e caminhou até Alex, que parecia nem ter se mexido desde que ela deixara o quarto.
Ele a olhou confuso, estreitando os olhos, como se ela fosse uma miragem ou coisa parecida enquanto jogava suas coisas no chão.
Ela caminhou até Alex com certeza do que estava fazendo. Ela queria muito aquilo. Muito. Nenhum dos dois falou uma palavra, envolveu o rosto de Alex com suas mãos, enquanto sentia as mãos dele em seu quadril. Ela o viu sorrir antes que suas bocas se encontrassem.
Sentir o gosto dele, o toque dele, a fez lembrar de como gostava de ser sua namorada.
acomodou-se em cima de Alex enquanto suas línguas se acariciavam. Fazia tento tempo que ela não fazia aquilo. Beijar. Tinha esquecido o quanto era bom.
Ela passou sua mão por baixo da camiseta dele, sentindo a barriga do garoto se contrair e o beijo intensificar-se. Alex colocou suas mãos no passador de cintos da calça dela e os puxou, aproximando seus corpos. De lá as mãos dele deslizaram para dentro da blusa de . Ela sentiu arrepios.
Quando não conseguia mais respirar, quebrou o beijo, sorriu para Alex e afastou-se um pouco. Ele sorria também, e mantinha suas mãos nas calças dela, que estava sentada em cima dele.
sentiu-se corar e mordeu o lábio inferior. Ela levantou-se, tomando cuidado para não machucá-lo, pegou seu material do chão e saiu novamente pela porta.
Ela estava feliz e seu coração batia rápido quando ela chegou até a rua. O clima estava tão agradável quanto ela imaginava. Estava quente, mas nada quente demais, que te faz sentir-se como um bacon cozido.
- ?! – Ela ouviu a voz de Alex atrás dela e virou-se. Ele corria, tentando alcançá-la.
- Que foi?
Alex chegou ofegante, devido a corrida e aos beijos, e com uma cara confusa. Ele apoiou as mãos no joelho para recuperar-se.
- O que foi isso?
- O quê? – Ela fez-se de desentendida, enquanto recomeçava sua caminhada.
Alex a seguiu.
- O beijo! Os beijos, aliás! – Ele falou dum jeito inocente.
- Ah! Não sei, deu vontade! – respondeu sem parar sua caminhada. Ela sentiu as bochechas queimarem. Por que ela tinha que envergonhar-se com tanta facilidade?
Alex segurou em seu braço para que ela parasse de andar e o encarasse. Ele tinha um sorrido fofo no rosto. Alex colocou a mão em sua nuca e os aproximou. ficou na pontinha do pé para alcançá-lo e passou os braços por seu pescoço. O beijo foi intenso e doce ao mesmo tempo. Idêntico a Alex. Intenso e doce.
- O que foi isso? – Ela perguntou de brincadeira quando os dois se soltaram.
- Ah, não sei, deu vontade! - Alex deu a mesma resposta que ela dera, lhe deu um selinho e voltou para sua casa, caminhando dum jeito meio estranho e as mãos nos bolsos. o observava, parecia mais leve e totalmente radiante.
Porém, Alex não era o único radiante. estava bem próxima disso.
Capítulo 26 – Not Coming Down
De acordo com sua mãe, Alex era o “sex buddy” de .
A menina estava indignada.
Para começar, desde quando sua mãe sabia o que era um “sex buddy”? Mães não podem saber o que é esse tipo de coisa! É simplesmente perturbador!
Depois, aquilo era uma grande e gorda mentira! Era mesmo! Ela e Alex simplesmente haviam resolvido não oficializar nada. Nenhum dos dois (lê-se “”) queria um relacionamento sério ou compromisso. Tudo estava dando certo daquele jeito.
Havia dias em que os dois não conseguiam afastar suas bocas ou suas mãos do corpo do outro, mas também havia dias em que eles simplesmente conversavam e davam risada juntos.
Apenas amigos.
“Amigos com benefícios”, segundo Abby. também não gostava muito daquela definição, mas era melhor do que “sex buddy”.
Quando Francis opinou falando que eles tinham uma “amizade colorida”, teve um chilique por sentir que as pessoas sabiam demais de sua vida e trancou-se em seu quarto. Saiu de lá 15 minutos depois pois queria ouvir uma história que Berta estava contando sobre um frango que sobrevivera anos e anos após ter tido sua cabeça cortada.
Alex sentou-se ao lado de no sofá e apertou o “play”. Eles assistiriam a “Cara, cadê meu carro?” pelo que parecia a 28ª vez.
aconchegou sua cabeça no colo de Alex, apesar daquele dia estar sendo um dia estritamente amigos, mas quem disse que amigos não podem deitar no colo de amigos?
Certo?
O filme começou, mas sentiu que alguma coisa faltava.
- Alex?
- Hum?
- Não tem pipoca?
- Não, . Desculpe, acabou. – Ele respondeu acariciando seus cabelos, mas sem nem tirar os olhos da televisão.
Ela sentia necessidade de pipoca.
- Não tem mesmo?
- Não, a Jenna fez a última ontem, quando as amigas dela vieram aqui. – Quando Alex assistia televisão, ele realmente prestava atenção.
Inconformada, foi até a despensa dos Pettyfer procurar por pipoca, ou até um pacote velho e embolorado de milho.
Ela aceitaria qualquer coisa naquele momento.
No entanto, não achou nada. Achou apenas milho enlatado. Ela pegou a lata na mão, imaginando se teria algum jeito de transformar aquilo em pipoca. Talvez se tirasse toda a água, colocasse eles num pote...
- Nem pense nisso, ! – Alex falou atrás dela rindo de seu desespero.
- Mas eu preciso de pipoca! Meu filho vai nascer com cara de pipoca!
O pânico tomou conta da cara de Alex, que pareceu parar de respirar.
- Filho?
se deu conta da confusão que quase armara.
- Não!!! Eu não estou...Não! Foi só força de expressão! – Ela nem conseguia falar direito também.
- Ah! – Ele suspirou aliviado e sorriu. – Não me mate de susto, .
Ela riu também sentindo-se aliviada. Apenas a menção de algo como “gravidez precoce” a fazia perder o controle.
- Desculpe. – Ela encarou o chão.
- Tudo bem! Vamos? – Alex pegou a chave do carro em cima do balcão da cozinha.
- Aonde? – perguntou confusa seguindo-o até a porta.
- Supermercado! Sei que você não vai me deixar em paz se não comer pipoca!
sorriu, toda feliz.
- É, não vou mesmo!
Os dois entraram no carro do Sr. Pettyfer, sim, a BMW conversível, e dirigiram até um grande Wall Mart enquanto cantarolavam Fall Out Boy junto com o rádio.
“This ain't a scene, it's an goddamn arms race
I'm not a shoulder to cry on
But, I digress”
Simplesmente impossível de não se cantar junto.
entrou naquele prédio imenso, encarando aquela infinidade de prateleiras que pareciam todas iguais. Ela demoraria séculos para achar a pipoca.
Por que um supermercado tinha que ser grande daquele jeito? Tinha tanta coisa assim para vender?
- Você sabe onde fica a pipoca, Alex? – Ela perguntou e o encarou. Ele parecia pensar no mesmo que ela, pois sua cara estava desanimada.
- Não, vai procurando que eu vou perguntar para algum vendedor, ok? – Ele falou já se afastando.
- Está bem.
passou rapidamente pelos corredores, mas só o que via eram produtos de limpeza e sabonetes. A possibilidade de ter que vasculhar aquele lugar inteiro a desanimou. No entanto, após apenas mais uns cinco corredores ela avistou prateleiras e mais prateleiras de pipoca!
- Yes! – Ela comemorou sozinha e por sua sorte não tinha ninguém por perto.
não sabia que haviam tantos tipos diferentes de pipoca: com sal, sem sal, light com sal, light sem sal, sabor bacon, sabor queijo, sabor chocolate, apimentada...
Qual ela levaria?
Além de todas essas variações de sabores, ainda havia milhares de marcas para se escolher.
Ela não conseguia lembrar-se qual era a marca que compravam na sua casa.
Qual pipoca ela escolheria?
Oh dúvida cruel!
Ela precisava da ajuda de Alex. Ele não era tão desligado quanto ela e provavelmente saberia qual era a melhor pipoca.
Mas Alex estava sumido.
Ela teria que resolver aquilo sozinha, por isso, começou a pegar os pacotes e a analisá-los. Não podia ser nada muito desafiador, certo? Era apenas pipoca, afinal!
- ?!!? – A menina distraiu-se de sua “análise” ao ouvir essa voz. Ela a conhecia, era estridente. Mas não conseguia reconhecê-la. Virou a cabeça e viu caminhando até ela!
- ! – Ele a abraçou. – Tudo bem?
- Tudo bem! E você, linda?
- Enfrentando um dilema com as pipocas! – Ela levantou as mãos que seguravam as embalagens e mostrou a .
Ele riu.
- Essa é ruim! – Ele tirou uma da mão dela. – Essa é salgada demais. – Tirou outra. – Essa fede! – fez uma careta ao colocar a pipoca de queijo na prateleira. queria perguntar algo a ele. Nada relacionado a pipocas. Seu estômago fez um movimento estranho quando ela se lembrou de alguém em quem ela não pensava fazia muito tempo. – Essa aqui é a melhor! – apontou para uma embalagem de pipoca tradicional, apenas com sal.
- Obrigada, ! Não sei o que teria feito sem você! – O pior é que aquilo era verdade.
- De nada!
- Mas então, você não devia estar na Irlanda? – Ela rezava para que entendesse sua dica e mencionasse . Ela não queria perguntar sobre ele.
- Não! Nós voltamos uns dois meses atrás!
- Ah! – Ela balançou sua cabeça já tentando pensar na próxima pergunta que faria. Será que não desembucharia? – E o cd? Deu certo?
- Deu! Claro que deu! – Ele sorriu todo orgulhoso e fez lembrar-se de como era apaixonado por aquela banda. – Você ainda não ouviu? Five Colours está tocando nas rádios e o clipe está passando na televisão!
- Não! verdade? – não imaginava que a banda estivesse dando tão certo assim, mas sentiu-se feliz por eles. confirmou com a cabeça. – Não vi nada ainda! Mas quando assisto tv é para ver filme e quando escuto música é de cd!
- Isso não será um problema! – Ele apontou o indicador para cima. era uma comédia. Só de olhá-lo ela tinha vontade de rir – Tem um monte de cds no carro! Eu te dou quantos você quiser!
- Obrigada, , vou... – foi interrompida.
- , dude, você já pegou cerveja? – aproximava-se carregado de caixas de cereais. Tinha tantas nas mãos que seu rosto estava coberto e ele não vira .
O que, foi muito bom, na verdade. Levando-se em conta que ela mal conseguia respirar, sentia dores no peito e teve que apoiar-se na prateleira para que não caísse.
- Ainda não, !
despejou todas as caixas no carrinho e finalmente olhou para a pessoa com quem conversava.
estava tão chocado quanto ela. Seus olhos estavam arregalados e sua boca entreaberta.
- ?
- . – Ela respondeu sem graça tentando encarar o chão, a prateleira, a pipoca, ou qualquer outra coisa que não fosse ele, mas seus olhos não conseguiam sair dos dele.
- Estava aqui ajudando ela a escolher pipoca, ela quase comprou aquela de queijo – contou a todo alegre no meio de uma gargalhada, sem nem se dar conta do quanto constrangedora estava a situação.
- A de queijo realmente não é uma boa idéia. A casa do ficou fedendo por dias depois que a gente fez essa pipoca lá. – a olhava de cima a baixo e parecia prestar mais atenção nela do que nas coisas que falava.
O coração de estava disparado e seus joelhos tremiam tanto que ela tinha medo deles saírem pulando por ai. Por que ela estava daquele jeito? Por quê? Por quê?? Ela tinha certeza absoluta que já o tinha esquecido e superado!
Além do mais, ela o odiava, certo?
Ele estava mais bonito do que ela se lembrava. Seu cabelo estava diferente, mas ela não sabia falar exatamente o que tinha mudado. Vestia uma bermuda preta e um moleton cinza da Atticus.
- É! Ainda bem que o estava aqui para me ajudar! – As palavras saltaram de sua boca, afinal ela tinha que falar alguma coisa. Não podia simplesmente ficar encarando o lindo cabelo de para descobrir o que estava diferente.
- Ai! – exclamou dando um tapa na própria testa. e o olharam curiosos. – Esqueci de uma coisa! - “Uma coisa”? podia ser tão misterioso... – Vou buscar! – abraçou rapidamente. – Tchau, ! Adorei ver você!
- Também gostei de te ver, !
O garoto sorriu já andando até o fim do corredor.
- Ai! Seu cd! – demorou alguns segundos para se lembrar do que ele estava falando. Sua cabeça parara de funcionar momentaneamente por culpa de . – Toma, ! – tirou as chaves do carro do bolso e as jogou para o amigo. – Leva ela até o carro e pega um cd para ela!
sumiu impressionantemente rápido para quem empurrava um carrinho lotado, deixando e sozinhos. Um mais sem graça e envergonhado que o outro.
- Hum... – coçou a própria sobrancelha. – Vamos lá?
- Er...Vamos. – colocou a pipoca escolhida de volta no lugar e seguiu .
Eles andavam rapidamente, perturbados com aquele silêncio. sentia que tinha tanta coisa para falar, para perguntar, mas não conseguia pensar nada mais além de: “Ele está aqui.”
Por que o maldito estacionamento tinha que ser tão longe?
a olhava pelo canto do olho e ela fazia o mesmo quando ele olhava para o outro lado. Fazia tanto tempo que não o via que ela tinha a impressão de querer checar se tudo estava igual.
- Então, como vai a escola? – perguntou enquanto eles passavam pela porta do supermercado. agradeceu pelo fim do silêncio.
- Bem! Estou participando do jornal agora!
- Ah sim, eu me lembro! Você já tinha começado lá quando...
“Quando nós estávamos juntos.”
Era o que ele provavelmente queria dizer, mas não conseguiu.
- Hum, é verdade.
- Logo você se forma, né? – Ele perguntou parando em frente a um grande jipe preto.
- Em dois meses. – colocou as mãos no bolso. Não sabia exatamente o que fazer com elas. O bolso era o melhor lugar.
- Você se candidatou para alguma universidade? – abriu o carro e sentou no banco de motorista, procurando o tal do cd.
encostou no carro, ainda com o coração batendo rápido.
Por insistência do diretor Armstrong, que tinha certeza que ela seria aceita, e de sua mãe, ela tinha se candidatado a Oxford.
- Oxford, mas não vou para lá.
- Por quê? – perguntou com a voz abafada pois estava se contorcendo para abrir o porta luvas. – Duvido que você não tenha sido aceita.
- É eu fui. – Sua carta de aceitação tinha chego naquela semana, mas ela não a mostrou a ninguém, nem mesmo a Alex. – Mas não é isso que eu quero. Aliás, nem sei o que eu quero.
voltou-se para ela segurando um cd na mão.
queria tanto conversar com ele. Sabia que lhe daria o conselho ideal.
- Muita gente espera um ou dois anos antes de começar na faculdade! Assim, você tem tempo de pensar no que realmente quer!
- É, vou fazer isso.
saiu do carro e bateu a porta. Ele apoiou-se ao lado de sua ex-namorada.
- Já tem idéia do que vai fazer? Digo, depois que terminar o colégio. – Ele gaguejava um pouco.
- Viajar. Austrália, provavelmente.
- Hum... Austrália. Isso é longe!
- Eu sei, mas ainda não tem nada certo. – Ela sorriu e recebeu um sorriso de volta. Aquele sorriso que a fazia esquecer de todos os problemas.
- Aqui, o cd! – lhe estendeu o cd.
- Room On The Third Floor! – falou analisando o cd. Os meninos faziam poses engraçadas em cima do que pareciam uns bancos estranhos. No fundo, um céu muito azul. – Gostei do nome, apesar de não saber o que significa!
riu.
A risada dele. Por que a risada dele a fazia tremer?
- É o nome de uma das músicas. Acho que a gente nunca tocou ela para você.
- É, eu não me lembro dela.
- Espero que você goste!
- Eu vou, tenho certeza. – Ela tinha mesmo.
- Hum... – passou a mão pelo próprio cabelo. – Você... Você está saindo com alguém?
- Não! Quer dizer... – pensou em Alex. – Eu não sei, na verdade. E você?
- Não! Não! Não tem ninguém.
balançou a cabeça, sem saber onde enfiar a cara.
- Acho que nós devemos voltar, né? – apontou para o supermercado.
- Acho que sim!
trancou o carro e os dois voltaram em silêncio.
As coisas estavam tão estranhas.
- ! – A garota ouviu assim que entrou no supermercado. Era Alex. Agora as coisas ficariam realmente estranhas. Ele fez uma cara estranha ao ver , que também fez uma cara estranha ao vê-lo.
queria jogar-se naquela pilha de latas de azeite ao seu lado.
- Hei Alex! – Ela falou, tentando se manter calma.
- Ow, esse é o Alex! – falou baixinho numa voz desdenhosa, apenas para , enquanto o outro garoto se aproximava.
- Alex, esse é o . , esse é o Alex. – Ela os apresentou nervosa.
- Eu já conheço o Dr. ! – Alex falou e teve vontade de bater no garoto. Por que Alex não estava colaborando?
corou um pouco. não sabia falar se era por constrangimento, raiva ou os dois juntos.
- Bem, acho que já vou indo, . – falou ignorando Alex. – O já deve estar me procurando.
- Ah sim, claro! – Ela o abraço e sentiu suas pernas fraquejarem novamente. Ela poderia desmaiar ali mesmo. – Tchau, .
Eles se afastaram e virou as costas. Ela não conseguia desviar o olhar. Ele virou-se para ela e deu um tchauzinho enquanto mordia os lábios. virou-se novamente e o acompanhou com os olhos até perdê-lo de vista.
Ela não conseguia respirar, não conseguia ficar em pé e sentia dores em todo o corpo. Ela sentou-se ali mesmo, no meio do chão do supermercado e lá ficou até retomar sua consciência. Ela não ligava para Alex, não ligava para as pessoas que a encaravam e nem para o segurança que veio pedir-lhe que saísse do caminho.
Capítulo 27 – 3am
acompanhava as árvores molhadas com os olhos. Nem tinha reparado que tinha chovido. O carro andava rápido. As janelas estavam abertas e um vento frio bagunçava seu cabelo, mas ela nem ligava.
- ? ??? – Ela ouviu a voz de Alex e saiu de seu próprio mundo.
- Oi!
- Estou falando com você há horas e você não está ouvindo nada! – Ele estava meio bravo.
- Desculpe, Alex. Estava distraída.
- Certo, mas você está bem?
- Estou sim, obrigada.
- A tontura passou?
- Hum? – Sério, ela precisava de um novo cérebro. Este estava totalmente inutilizável. – Ah sim! Estou melhor!
Ela tinha inventado que estava com tontura para justificar o fato de ter se sentado no chão do supermercado.
O que ela deveria falar?
“Desculpe, Alex, eu sei que você me ama, mas eu tenho que me sentar no imundo chão do Wall Mart pois o meu ex me deixa com as pernas tremendo.”?
Sem condições.
Além do que, ela não estava exatamente mentindo. realmente sentia tontura. Tudo culpa de .
Ela sabia que Alex não tinha acreditado, tinha apenas fingido acreditar. Consequentemente, ela fingia acreditar que ele acreditava...
Ela estava confusa. Isso era fato.
- Quer que eu te acompanhe até a porta? – Ele perguntou e ela reparou que já deviam estar em frente a sua casa há alguns minutos e ela ainda não tinha tido a capacidade de sair do carro.
- Não precisa, Alex, obrigada. – Ela lhe deu um rápido beijo na bochecha e saiu do carro.
subiu as escadas da frente da casa o mais rápido que podia. O que mais queria era chegar em seu quarto. Lá ela poderia acalmar-se e colocar os pensamentos em ordem.
A sala estava silenciosa e iluminada apenas pelas luminárias. Sua mãe tinha ido passar o final de semana em Brighton e só voltaria na segunda-feira. O número de empregados da casa diminuía nos finais de semana, ainda mais naquela hora. Já passava das onze.
A garota finalmente chegou a seu quarto, mas ao contrário do que imaginava, só ficou mais nervosa. Sua cabeça estava a mil.
Aquele lugar trazia muitas lembranças a ela. Não apenas lembranças, eram lembranças relacionadas a . O dia em que os dois resolveram ficar juntos, o dia em que ele a pediu em namoro, a primeira vez deles, segunda, terceira, quarta... A quinta fora na casa dele, pelo que ela se lembrava.
sorriu sentindo um misto de vergonha e saudade.
Com todas as suas forças, ela tentava lembrar das coisas ruins. O dia em que ele a rejeitou (não que ele estivesse errado, afinal, tudo era muito arriscado, mas aquilo a tinha deixado arrasada), quando ele inventou a falsa namorada, quando ela descobriu sua infidelidade...
Apesar de todo o esforço, esses acontecimentos simplesmente desapareciam de sua cabeça.
andava de um lado para o outro do quarto e poderia abrir um buraco no chão. Todas as luzes estavam acesas. A garota tinha a falsa esperança de que a claridade lhe traria sanidade.
Decidiu tomar um banho. Oito em cada dez pessoas alegam que banhos são calmante. Bem, ela tinha acabado de inventar aquela estimativa, por novamente ter esperanças de conseguir relaxar.
tomou um longo banho de espuma, que só a fez irritar-se mais ainda. Todo aquele sabão chegava a dar-lhe coceiras. Ela saiu do banheiro e vestiu seu pijama. Quem sabe se usasse uma roupa confortável não se sentiria melhor?
Não havia música tocando e aquilo era inédito. Durante toda sua vida (certo, não toda, mas desde que ela começara a se interessar por música) ela ligava o rádio no segundo que pisava no quarto. No entanto, ela não estava conseguindo ouvir nada naquele momento. Busted era feliz demais. Papa Roach deprimente demais (ela não estava deprimida, apenas histérica). The Thrills calmo demais... Ela simplesmente não tinha humor para nada.
Foi nesse momento que ela lembrou-se do que havia em sua bolsa.
vasculhou sua imensa bolsa roxa lotada de tralhas inúteis até achar o cd do McFly. Ela tinha necessidade de ouvi-lo, mas não sabia exatamente o porquê.
Ela sentou-se em pose de índio em sua cama, prestando atenção nas músicas e em seus pensamentos ao mesmo tempo, se é que aquilo era possível. Já conhecia a maioria delas desde a época em que ela e ainda estavam juntos e ela assistia a ensaios e apresentações da banda.
escutou o cd até a faixa 7.
Por que ela não escutou o resto?
Ela simplesmente não conseguia parar de escutar àquela música. Tinha até apertado o botão “repeat” de seu cd player.
Algo a prendia. Ela se identificava.
Segundo o encarte do cd, Met This Girl tinha sido escrita pelos quatro garotos, mas algo lhe falava que era o maior responsável pela música.
“Well I met this girl
Just the other day,
I hope I don't regret the things that I said now”
lembrou-se do dia em que ele deixara escapar que a achava gostosa. ficara roxo, verde e mais uma dezena de cores de tanta vergonha. Ela riu sozinha.
“When we're laughing and joking with each other now”
“Rir e brincar”. Isso era o que eles mais faziam juntos. Teve saudades de tomar Red Bull e falar besteiras com .
“I’m glad I met this girl
She didn't walk away”
A situação de era delicada. Ele estava interessado por uma paciente. Uma paciente menor de idade. Era muito arriscado, ela poderia ter fugido e se assustado, apesar de todo o interesse que tinha por ele.
Mas é claro que ela não tinha fugido. Como poderia se não parava de pensar no “Dr. ”?
“I think she was impressed
And was having a good time
When we're laughing joking with each other
Spending all our time together”
Obviamente, sabia do interesse da menina desde o primeiro minuto que passaram juntos, afinal, ela mesma o tinha informado que o considerava “gostoso”. Meses depois, ela ainda sentia o bochecha arder.
“When she walks in the room
My heart goes boom”
Ela se lembrava como se fosse hoje o dia em que confessou que sentia todos os sintomas de um apaixonado, inclusive coração disparado. Seu próprio coração disparou.
“I tried to take her home but she said
You're no good for me”
A garota lembrou-se da primeira briga deles. Ela estava uma fera e com o orgulho ferido por causa da rejeição e não deixou levá-la em casa.
“Nem fodendo, !”
Essas tinham sido suas palavras.
“She's got a pretty face
And such a lovely name
I don't want my friends to see
They might take her away from me”
Ela lembrou-se da “briga” que ouvira entre e pois o primeiro tinha roubado o telefone e interrompido a ligação do casal.
“She's one I won't forget
For a long long long time
Now I really want the world to see
That she is the one for me”
queria “globalizar” o romance deles, como ele mesmo falava. Segundo ele, colocaria a notícia na internet e todos ficariam sabendo.
“The first time I saw her she had stole my heart
And if we were together, nothing could tear us apart”
também tinha confessado que tinha se apaixonado por ela no mesmo dia em que a conheceu.
respirou fundo. Ela ainda tremia. Talvez, até mais agora do que antes.
tinha escrito aquela música na época em que eles ainda namoravam e tinha certeza absoluta que era sobre ela.
Não conseguindo mais ficar sentada, ela levantou-se e voltou a andar de um lado para o outro.
Estava perturbada, estava elétrica, estava nervosa e tinha medo de ter um piripaque ali mesmo. Recentemente ela ouvira um caso sobre um garoto de 17 anos que tinha tido um enfarto e morrido. Ela não estava longe daquilo. Não mesmo.
Suas mãos não paravam quietas. Estavam molhadas de suor, além de trêmulas.
Tudo estava tão bem até ontem. Aliás, até aquela tarde tudo estava perfeito.
Na verdade, ela nem ligava para e parecia que nada mudaria sua opinião. Nada. estava feliz em vê-lo longe.
Estava feliz por estar sozinha e nem pensava mais nele à noite, que eram as piores horas logo após o rompimento, mas aquilo fora ontem.
A sensação que sentia não era mais suportável e ela precisava fazer alguma coisa.
Sem pensar duas vezes, aliás, sem nem pensar, pegou a chave de um dos carros da família e rumou para o centro da cidade.
O que ela estava fazendo?
Será que deveria voltar?
Será que se arrependeria?
Ela estava perdendo o controle, mas apesar de tudo, ela sabia exatamente qual caminho deveria tomar.
Ela tentava planejar o que falaria para ele, mas sua cabeça não conseguia finalizar pensamentos. Quando ela se concentrava em algo, outra coisa surgia e ela passava a preocupar-se nessa outra coisa, até que uma terceira aparecesse e assim por diante.
As palavras simplesmente fugiam.
Mas o que eram palavras, afinal?
Naquele momento, palavras não significavam nada.
As ruas estavam vazias. Ela ultrapassava os sinais vermelhos em cruzamentos sem movimento porque tinha necessidade de chegar o mais rápido possível.
estacionou o carro naquela rua que geralmente era tão movimentada, mas parecia abandonada àquela hora da noite. Ela desceu do carro e observou a casa branca, alta e fina, de janelas e porta preta. Respirou fundo. Talvez devesse ligar primeiro.
Tirou o celular do bolso e discou o número que ela ainda sabia mais do que de cor.
Ninguém atendeu.
Ela tentou de novo, mas agora era informada por uma voz antipática que aquele número não existia.
É claro que existia.
tentou lembrar-se do telefone da casa dele. Ela nunca ligava na casa de , era sempre no celular e ela nem sabia o porquê. Se pelo menos tivesse seu celular antigo ali, o número estaria na agenda. Mas seu celular tinha virado brinquedo do cão do vizinho e ela não quis gravar o número de em seu novo aparelho.
Andou até a porta, encarando a brilhante tinta preta que a cobria. Ela teria que tocar a campainha, não teria outro jeito. Seu coração não agüentava mais aquilo. Ela tinha medo de só se machucar mais, mas tinha que tentar.
queria que as coisas fossem do jeito que eram antes. Seu coração realmente não agüentava mais.
Seu dedo trêmulo encostou na campainha e ela ouviu o barulho estridente. O pânico tomou conta da garota. O que ela falaria? Onde ela enfiaria a própria cara?
Virou as costas rapidamente e já chegava na porta do carro quando ouviu a porta se abrindo. Seu corpo se paralisou.
- ? – A voz dele a arrepiou.
- Hei, ! – Ela falou com os olhos fechados, como se aquilo a fizesse desaparecer ou coisa do tipo, e virou-se.
Ele estava descabelado e usava apenas boxers com alguma estampa que ela não conseguia identificar. O fato dele estar tão pouco vestido não a ajudava em nada em matéria de concentração.
Se ela o conhecia, estava surpreso, confuso e sonado. Ela sabia tudo apenas olhando em seu rosto.
- O que você está fazendo aqui?
- Eu? – Ela implorava para que se cérebro inventasse alguma desculpa. – Nada de importante! Só queria checar se você ainda morava no mesmo lugar! – Ela terminou a frase já se arrependendo e fazendo uma careta.
Ótimo, diarréia verbal. Tudo o que ela precisava.
- Você sabe que são três da manhã, né? – aproximou-se dela, enquanto a garota cobria o próprio rosto com as mãos. Estava tão fora de controle que nem pensara em coisas como o horário.
- Ai Deus! Tudo isso?
passou uma das mãos em seu braço e ela sentiu as pernas mais bambas do que já estavam.
- Vamos entrar, . – falou calmamente enquanto a acompanhava para dentro da casa.
Tudo estava escuro, a casa parecia iluminada apenas pela luz da escada.
É claro que estava escuro, ele estava dormindo. queria se bater. Só não fazia isso pois sentia-se fraca demais. Isso, sem falar na vergonha. Ela nunca deveria ter ido até lá.
acendeu a luz do corredor e os dois andaram até a sala. Tudo parecia igual. Pela janela, ela conseguia ver as luzes da cidade. Olhando por ali, nem parecia ser tão tarde.
Ela sempre achara que Londres deveria chamar-se “A Cidade Luz” e não Paris.
sentou-se no sofá vermelho e confortável. sentou ao seu lado, apoiou os cotovelos no joelho e entrelaçou as próprias mãos. Ela tinha a impressão de que ele sabia que ela tinha algo a falar.
A garota teve medo.
- Você está bem, ? – quebrou o silêncio para a sorte dos dois. Se dependesse dela, ficariam mudos para sempre.
Ela era assim, de extremos. Em um minuto, diarréia verbal, no outro paralisia verbal.
- Claro! Por quê? – Ela tentava agir normalmente e de uma maneira feliz e equilibrada. Tudo em vão, é claro. Ela podia perceber pela cara de que não o enganava. Ela respirou fundo, tentando juntar toda a coragem que tinha. A menina olhou nos olhos dele e sentiu seu coração bater mais rápido. Ela o amava tanto que chegava a doer. As palavras começaram a se jogar de sua boca. – Eu não quero isso, . – Ele a encarava atento. – Eu não quero te encontrar no supermercado e começar a agir como uma psicótica com disfunções hormonais! – Ela falava rápido, mal parando para respirar. – Eu não quero que minhas mãos tremam tanto quanto as do antigo papa e não quero que minhas pernas pareçam gelatinas! – gesticulava apontando para as mãos e os pés. Se alguém prendesse suas mãos, ela provavelmente ficaria muda. Suas mãos eram uma parte importantíssima de sua comunicação. – Eu não quero estar com um cara só por comodidade, só porque ele é bonito, fofo e me ensina física! Eu quero estar com alguém que faz meu coração disparar e minha pele se arrepiar só de lembrar dele! Só você tem esse efeito em mim! Por isso, eu não quero nem saber se você me traiu, se você dormiu com a Irlanda inteira ou não, eu só quero você de volta! – finalmente parou de falar, respirou fundo para recuperar todo o ar que as palavras a impediram de respirar e afundou-se no sofá, relaxando o corpo.
a olhava sem expressão alguma, que ela pudesse notar, no rosto. Ela tinha medo da reação dele. E se ele não a quisesse mais?
- Isso se você concordar, é claro. – Ela completou num tom de voz mais calmo.
Ele não respondeu nada e ela teve vontade de socá-lo e de chorar. levantou-se e foi até a estante. O que ele estava fazendo? Aquilo estava deixando-a tão nervosa que ela precisaria de uma semana num daqueles spas que sua mãe ia para se recuperar. Ele procurou por algum cd e depois o colocou em seu cd player.
Um barulho de cornetas invadiu a sala e logo depois as palavras:
“Love, love, love”
riu e mordeu o próprio lábio. Não sabia exatamente o que aquilo significava. A única coisa que sabia era que All You Need Is Love dos Beatles tocava baixinho.
aproximou-se e estendeu a mão à garota:
- Quer dançar? – Ele perguntou sorrindo tímido. pensou que explodiria de felicidade.
A menina pegou na mão dele, que a puxou para a parte com menos móveis da sala, bem em frente à janela. apagou as luzes e abraçou pela cintura. A única luz que iluminava o cômodo era a vinda do lado de fora. Ela respirou aliviada sentindo tão próximo e envolveu seu pescoço com seus braços enquanto seus pés tentavam acompanhar a música.
A respiração do garoto em seu pescoço a fazia flutuar e ela sentiu-se grata por ele não ter trocado de perfume. Ele continuava com aquele cheiro que ela tanto gostava.
Nenhum dos dois conseguia falar nada e palavras provavelmente estragariam aquele momento. queria aproveitar cada segundo da presença de sem distrações. Ela sentia que toda a saudade que ela tinha reprimido por todos aqueles meses estava aparecendo naquele momento. Ela cessou ainda mais a distância entre os dois e sentiu as mãos de pressionarem sua cintura com mais força.
- Não sei como fiquei tanto tempo sem você. – sussurrou.
- Nem eu.
- Desculpe. – Ele olhou diretamente nos olhos dela e teve a impressão de que ele lia sua mente.
- Esquece isso, . – Ela queria enterrar aquele acontecimento trágico. Nunca mais queria se lembrar daquilo.
- Não, eu ainda quero te explicar! – Parecia que queria falar aquilo desde o dia em que eles terminaram. – Aquilo só aconteceu uma vez e eu nem me lembro bem, eu realmente estava muito bêbado. Nunca faria nada sóbrio.
- Não precisa explicar, , eu realmente não quero saber, já esqueci isso. – acariciou sua bochecha.
- Nunca, nunca, nunca mais vai acontecer qualquer coisa parecida.
- Promete? – Ela não agüentaria passar por aquilo novamente.
- Juro. – lhe deu um selinho, mas ela não o deixou afastar-se. passou seus lábios pelos dele devagar enquanto acariciava sua nuca. fechou os olhos e ela fez o mesmo enquanto sentia o garoto passar a língua em sua boca. a abriu mais e sentiu aquelas famosas borboletas no estômago enquanto sua língua brincava com a de .
Apesar de não estar mais conseguindo respirar, ela não conseguia se afastar. Aquilo era bom demais. Ele era bom demais.
Os dois afastaram suas bocas mas continuaram dançando. não reconhecia a música agora, mas também não estava prestando muita atenção. Toda a sua atenção era para .
- Acho que nós nunca dançamos antes. – comentou antes de dar um beijinho no pescoço de .
- Acho que não.
- Nós devíamos dançar sempre. – Ele lhe deu outro beijinho.
- Concordo. Apesar de sempre ter odiado dançar, você está me fazendo mudar de idéia. – Eles falavam baixo e num tom calmo.
- Também não era grande fã de dança, mas eu gosto de qualquer coisa que envolva estar perto de você. - pensou em outra coisa que envolvia muita proximidade e segurou uma risadinha maliciosa. – O que foi? – perguntou reparando na risadinha.
- Sabe, eu sei de outra atividade que envolve muita proximidade. – Ela tentou se manter séria, mesmo após ver o sorriso malicioso de .
- Hum...Acho que sei sobre o que você está falando, mas refresque a minha memória, é algo que envolve colocar planos em prática? – mordeu seu lábio inferior e pensou que fosse desmaiar.
- Huhum. Isso mesmo. – Ela tentou fazer cara de inocente, apesar de seus pensamentos devassos.
Os dois demoraram alguns minutos para chegar ao quarto de , pois tinham que parar de metro em metro para se beijarem ardentemente.
No quarto de havia apenas uma cama grande coberta por uma colcha azul, mesinhas de cabeceira com luminárias em cima e os instrumentos dele.
a deitou na cama e se encaixou entre suas pernas. Os dois de beijavam intensamente. Ele dava pequenas mordidas nos lábios de e a fazia querer tirar as roupas o mais rápido possível.
- Comentei que você fica muito bem com essa roupa? – perguntou com as mãos na barra da camiseta dela.
riu numa mistura de vergonha e vontade de dar risada mesmo. Ela vestia sua camiseta branca transparente de tão velha e sua calça de pijama xadrez e larga demais.
- Ah! Eu estou de pijama!!
Ela tinha saído de casa de pijama. tinha certeza que isso aconteceria algum dia. É o tipo de coisa que acontece com ela.
ria e passava as mãos pelas pernas dela.
- Gostei do sutiã! É novo, né?
olhou para o próprio colo. Estava usando seu sutiã preto com a alça preta com estrelinhas azuis. Ela concordou com a cabeça.
voltou a beijá-la e começou a tirar o pijama da garota. não teve muito trabalho, já que usava apenas boxers, que eram do Bob Esponja. Ela finalmente conseguira se acalmar a ponto de concluir aquilo.
O casal “colocou o plano em prática” com a sensação de que nunca tinham sentido algo tão bom e mágico. Era algo surreal e nem imaginava que poderia sentir qualquer coisa parecida.
Capítulo 28 – Good Friend
sentia-se confortável. Ela acordou mas nem abriu os olhos. O travesseiro estava fofo e as cobertas quentinhas. Seu corpo parecia moldado a cama e ela sentia-se cansada de tanto dormir. Ela abriu apenas um dos olhos primeiro, imaginando que abrir os dois seria um esforço grande demais. Olhou ao seu redor, mas não viu . O quarto estava claro demais. Já devia ser tarde.
abriu o armário de e de lá tirou uma camiseta azul que parecia grande demais até para ele. Ela a vestiu e desceu as escadas, ouvindo barulho na cozinha. O chão estava frio, mas ela tinha um sorriso ridículo de tão grande no rosto.
- Bom dia, Bela Adormecida! – exclamou sorrindo ao vê-la ao pé da escada. Ele continuava com as boxers do Bob Esponja e se servia de café, mas largou a xícara para ir até a garota.
- Bom dia, ! – Ela deu um selinho nele. Era tão bom tê-lo novamente.
- Fui até o quarto umas duas vezes para checar se você estava respirando! – Ele brincou fazendo-a rir.
- Você me deixou cansada ontem, ! – Ela falou mal acreditando na própria audácia e corando no mesmo segundo.
passou a mão por sua cintura e a abraçou enquanto ria.
- É, você também me deixou bem cansado! – Ele dava beijinhos em todo o rosto de . – Amo você, .
- Também te amo, .
Os dois se beijaram e pode sentir o gosto de café na boca de . Aquilo era bom. É claro que os odiadores de café só vão achar isso nojento mas ela não sabia se tinha vontade de tomar café ou beijá-lo.
Não, na verdade ela sabia, ela preferia beijá-lo.
Ela com certeza preferia beijá-lo.
- Acho que seu celular está tocando. – falou quebrando o beijo e deixando uma meio zonza e confusa.
- O quê? – Ela não saberia responder o próprio nome naquela hora. Era impressionante o efeito que tinha sobre ela.
- Seu celular. – Ele mordeu sua orelha delicadamente e ela precisou de autocontrole e concentração para ouvir o próprio telefone berrar da sala.
- Ah tá! Nem tinha ouvido. – respondeu num sorriso envergonhado e andou até a sala.
Seu celular estava em cima do sofá, onde ela tinha deixado na noite anterior.
“Alex”
Lia-se no visor. não sabia se deveria atender ou não. poderia não gostar muito daquilo, mas ao mesmo tempo, ela sentia-se mal em ignorar Alex. Ele era seu melhor amigo e alguém que nunca tinha feito nada de mal a ela. Ela o adorava.
- Alô?
- Hei .
- Hei Alex, tudo bem?
- Tudo sim, você está melhor? – Ah sim, a falsa não tão falsa tontura.
- Estou, obrigada.
- É... – Ele fez uma pequena pausa. – Eu precisava falar com você.
Alex estava sério. não sabia como agir, Alex nunca ficava sério.
- Hum...claro. Eu também queria falar com você, na verdade.
Ela teria que terminar com ele, por mais que não tivessem nada oficialmente.
- Eu estou com um pouco de pressa, . Você poderia vir aqui agora?
estranhou o comportamento do garoto.
- Claro, só me dá uma hora, ok? – Ela pensou, olhando para o próprio corpo que vestia apenas a camiseta de , que nela virava um vestido curto demais e largo demais. Ela precisaria voltar para casa para colocar alguma roupa.
- Certo, beijo, .
Alex desligou sem nem ouvir a resposta da garota.
- Beijo.
Ela olhou para o celular enquanto tentava imaginar o que estava acontecendo.
- Quem era? – perguntou atrás dela, surpreendendo-a.
- O Alex. – Ela não poderia mentir. Não agora que eles estava recomeçando tudo.
franziu a testa.
- O que ele queria?
- Ele quer falar comigo, quer que eu passe lá na casa dele daqui a pouco.
cruzou os braços, não parecendo muito feliz.
- Você vai?
- Se você não se importar... quer dizer, eu tenho que terminar com ele, não que nós estivéssemos juntos, mas eu devo explicações a ele.
balançou a cabeça.
- Certo. – Ele fez um bico engraçado. – É que eu queria passar o dia com você!
respirou aliviada em saber que ele não estava bravo ou enciumado.
- É rápido, assim que falar com ele eu volto para cá, está bem? – Ela deu um passo a frente e beijou os lábios dele.
- Está. – acariciou suas costas e beijou seus lábios novamente. – Hei! Conheço essa camiseta! – Ele falou com a mão na barra da roupa e consequentemente, nas coxas dela.
Ela riu.
- Peguei emprestada, mas já vou devolver.
- Você fica sexy nela. – Ele balançou a cabeça para trás, tirando o cabelo da testa e mordeu o lábio inferior.
- Pára se não eu fico envergonhada, ! – não sabia lidar com elogios. Sempre sentia-se constrangida.
- Você está vermelhinha! – se divertiu apertando a bochecha da menina levemente.
- Culpa sua, . – Ela olhou para o lado “emburrada”.
- Hum, desculpe, mas só estava falando a verdade.
deu um beijo estalado nele e depois o abraçou. Não conseguia ficar sem tocá-lo.
- É melhor eu ir logo. Quanto mais cedo eu for, mais cedo eu volto. – Ela já foi saindo da sala, rumo ao corredor.
- É verdade. – a seguiu pelo corredor e depois pela escada. – Você não quer comer nada?
- Não, obrigada. – respondeu já no quarto enquanto procurava por seu sutiã debaixo da cama. – Você viu meu sutiã?
- Não. – olhou em volta enquanto já vestia suas calcinhas e sua calça. foi olhar atrás da mesinha de cabeceira. – Ahá! – Ele comemorou como se tivesse achado ouro e tirou o sutiã lá de trás. – Aqui está.
- Obrigada. – pegou a peça da mão dele.
- Sabe, nós devíamos tomar mais cuidado... – Ele falava com uma cara boba enquanto a assistia se trocar. – Demorei uns dez minutos para achar as minhas boxers do Bob Esponja!
- Sério? – riu. – Onde estavam?
- Atrás do cesto de lixo. – apontou o objeto que ficava no banheiro. abriu a boca incrédula.
- Nossa, como eu consegui jogar elas lá?
- Também não sei. – sorriu maliciosamente e sentou-se na cama.
- Já vou indo. – o beijou nos lábios, abaixando-se e mantendo-se entre suas pernas.
- Hei! Você não vai ver ele assim! – apontou para a roupa transparente dela.
- Claro que não, dur! – bateu na testa de e depois deu outro beijo nele. Os dois riram. – Vou passar em casa para tomar um banho e consequentemente me trocar! – Outro beijo.
“Consequentemente”.
Ela gostava daquela palavra. Odiava conseqüências, mas mesmo assim, gostava daquela palavra.
- Bom mesmo. – Outro beijo. passava sua mão no cós da calça xadrez dela, brincando com o elástico. – Mas mesmo assim! Não quero você andando por ai assim! – Outro beijo. riu da cara de ciumento que ele tinha.
- Por quê? – Sim, outro beijo.
- Vai que o carro quebra e você precisa sair dele! – Adivinhe. É, mais um beijo. – Não quero nenhum desocupado olhando para você! – Beijo.
- O carro não vai quebrar, . – Ela lhe deu outro beijo, enquanto ele parecia extremamente interessado pelo elástico da calça.
fez uma cara engraçada e levantou-se, indo até o armário.
- Aqui. – Ele lhe entregou um moleton preto de zíper, onde se lia “Nixon” em branco com o tracejado vermelho.
- !
- Verdade, ! Além do mais, está meio frio, você sentiria frio lá fora só com essa regata.
- Tá bom, vai! – vestiu o casaco. Era cheiroso. Tinha o cheiro dele. Não era o cheiro de seu perfume. Era o cheiro dele. Só dele e era melhor do que qualquer perfume no mundo.
a acompanhou até a porta e após um longo beijo de despedida, entrou no carro e dirigiu até sua casa.
Pouco mais de uma hora depois, ela tocava a campainha da casa de Alex. Agora, ela vestia uma calça preta com um cinto também preto (a calça estava larga, se não usasse cinto ficaria nua na rua) e seu moleton DC marrom. Aquele dia realmente tinha amanhecido mais frio.
- Oi ! – Jenna, a irmã de doze anos de Alex, atendeu animada. Podia se dizer que ela era uma versão feminina e mais nova dele. Era linda.
- Oi, Jenna, tudo bem? – a cumprimentou e viu Alex descendo as escadas com as bochechas vermelhas.
- Tudo bem! – Ela respondeu e olhou para trás notando a presença do irmão. – Hum...Preciso ir fazer lição. – Ela falou e saiu dali rápido. desconfiava que era apenas uma desculpa.
- Olá, Alex. – falou fechando a porta e andando até a escada. Ela deu um beijo na bochecha do garoto e o acompanhou pela escada.
- Oi, . – Ele subiu as escadas rapidamente, dando trabalho a para acompanha-lo.
Em segundos estavam no quarto dele. Alex fechou a porta e reparou como tudo estava arrumado e limpo. Não que antes o quarto dele fosse bagunçado ou sujo, mas antes havia objetos ali.
Apenas os móveis continuavam no lugar. Ela não via os cds ou livros dele, muito menos os pôsteres de bandas e times de futebol que coloriam as paredes. Num canto perto do armário ela viu várias malas e caixas.
- Você vai viajar? – perguntou confusa.
- Então... – Alex passou a mão pelo cabelo nervoso. – Isso mesmo que queria falar com você. – Ele sentou-se na cama que nem colcha mais tinha.
sentou-se ao lado dele sem gostar daquela situação.
- O que está acontecendo, Alex?
- Eu não te contei, mas eu me inscrevi para treinar no Manchester...
- Manchester? – Ela o interrompeu. – Tipo, o time de futebol?
- Isso mesmo. – Alex estava triste. Ela sabia daquilo. – Então, eu fiz mais por fazer, nem tinha esperanças de conseguir uma vaga, mas eles me ligaram uns dias atrás falando que era para eu ir para lá!
- Isso é ótimo, Alex! – Ela mentiu. Bem, ela sabia que era uma ótima oportunidade, mas não queria ver Alex longe. Sim, ela tinha , mas Alex era seu melhor amigo.
- É, não é? – Ele também parecia animado. – Eu fiquei em dúvida se aceitaria ou não, mas ontem decidir aceitar!
- Wow. – Foi só o que saiu da boca de . Aquilo era bom, certo? Mas ela desconfiava que Alex estava partindo por outros motivos. – Bem, Manchester é meio longe, mas nada que algumas horas de trem não resolvam, certo?
- Claro, eu vou vir todos os finais de semana em que não tiver jogos. – Ele sorriu e olhou para o chão.
- Que orgulho! Quer dizer que você está no time juvenil do Manchester? – falou após alguns segundos de um incômodo silêncio.
- Estou sim! – Ele balançou a cabeça e sorriu.
- Quando você vai?
- Hoje à noite. Meus pais e a Jenna vão me levar até lá e ficar uns dois dias, só até eu me instalar e tal.
sentia um aperto no coração.
- Você já arrumou tudo, né? – Ela perguntou olhando em volta. – Ia me oferecer para ajudar.
- Não precisa, já está tudo pronto mesmo.
Os dois se encararam em silêncio. pegou na mão de Alex e a acariciou. Ela sentiria tanta saudade.
- Vou sentir sua falta, Alex.
- Também vou sentir a sua, . – Os dois estavam sentadas com pernas de índio, apenas se olhando. O quarto começava a ficar escuro. realmente tinha acordado tarde. – Mas é o melhor, não é? – Ele perguntou apreensivo.
- Claro que é, Alex! Já imaginou? Você pode estar no time principal em pouco tempo!
- É. – Ele sorriu desanimado.
- Você vai jogar na próxima copa! Quer apostar? – Ela tentava alegrá-lo.
Alex riu.
- E é o melhor para nós dois também, não é? – não respondeu nada. Não existia “nós dois”, mas como ela falaria algo como aquilo? – Quer dizer... - Alex desviou o olhar para a janela. – Você ama ele, né? – Ele voltou seus olhos para a menina. Como aquilo era horrível e difícil. concordou com a cabeça, voltando-se para seus próprios joelhos. Parecia mais fácil sem olhá-lo no rosto. – Ele te ama. Eu pude perceber só de ver o jeito que ele olha para você. – mordia a boca e parecia sentir no ar o quanto era ruim para Alex dizer aquilo. – Vocês devem ficar juntos e eu tenho que seguir a minha vida, certo? – levantou a cabeça sentindo lágrimas pesadas em seus olhos. Elas ainda não tinham caído, mas era só uma questão de tempo.
- Você não precisa mudar de cidade para seguir com a sua vida. – Pronto, elas caíam e sua voz estava mais aguda do que o normal. – Amigos acima de tudo, você se lembra? Você me falou isso uma vez.
- Eu sei, mas eu não consigo ser só seu amigo, .
Ela começou a chorar mais intensamente e Alex a abraçou.
- Eu te amo, Alex. – Ela falou com o rosto no ombro dele. Já tinha molhado a camiseta do garoto. – Não amo do jeito que você gostaria, mas eu te amo.
- Eu sei, . – Os dois se soltaram e Alex passou as costas da mão na bochecha da menina. – Mas eu preciso me afasta, você entende? – Ela concordou no meio dum soluço. – É o melhor em todos os aspectos.
- Eu sei. Promete me mandar notícias para eu saber se você está vivo, pelo menos?
Alex riu fazendo-a soltar uma risada misturada com choro.
- Claro! E eu tenho certeza que nós vamos voltar a ser amigos muito em breve! – Ele limpou algumas lágrimas que teimavam em cair dos olhos de . Ela sentiu os olhos de Alex atentos nela – Acho que nunca te contei isso...
- O quê?
- Eu sou apaixonado por você desde meu primeiro dia no colégio. – não se recordava do primeiro dia de aula de Alex. Para ela, era como se tivessem se conhecido na loja em que ele trabalhava. – Eu entrei um pouco antes do acidente da Brit, e desde aquele dia... – Ele suspirou. – Bem... – Ele não conseguia terminar a frase. sorriu quando o que mais queria era chorar. Ela fazia muito mal para ele e aquilo a torturava. – Preciso te pedir um favor! – Alex levantou-se fingindo estar bem.
- Qualquer coisa! – Ela tentou fingir estar bem também.
- O Tim. – Alex pegou o pequeno aquário do peixe na mão. – Cuida dele?
- Cuido, é claro! – Ela estava feliz. Não que amasse tanto assim Tim, mas o fato de Alex confiar nela para cuidar do peixinho a agradava. Alex amava aquele peixe e tinha até dado o nome dele igual ao do vocalista de sua banda favorita, Sugarcult.
- Eu até ia dar ele para a Jenna, mas do jeito que ela é, ela o venderia em troca de um pôster da Avril Lavigne ou coisa parecida.
Os dois riram.
- Não se preocupe, eu vou cuidar muito bem do Tim! – Alex lhe entregou o aquário e ela observou o animalzinho nadar de um lado para o outro, no meio das pedrinhas brancas. Será que ele sentiria saudades do dono?
- Eu sei que vai.
Alex arrumou todas as coisas de Tim numa caixinha e encaixou o aquário com o peixe ali. Eles depositaram a caixa no chão do carro de , tomando os cuidados necessários para que o peixe não caísse.
Alex fechou a porta do carro, colocou a mão nos bolsos do agasalho e olhou para que se apoiava na traseira do automóvel.
- É melhor você ir, daqui a pouco eu já vou também. – Alex apontou com a cabeça para o carro de seus pais, onde o Sr. Pettyfer tentava fazer milagres para que todas as malas e caixas de Alex coubessem no porta malas.
- É verdade. – deu um braço apertado em Alex. Dessa vez, não era só ele quem queria gravar o toque e o cheiro do outro, ela também queria aquilo. Ela fechou os olhos convencendo-se de que tudo estava bem.
Mas tudo estava bem, de verdade.
Ela estava com , com quem ela queria e deveria estar. Alex estava superando-a e além de tudo tento uma ótima oportunidade. Sua mãe estava de volta. Seu pai era alguém que significava tanto para ela quanto um galho seco.
Só faltava uma coisa para ela ser plenamente feliz, no entanto, aquilo não estava em suas mãos.
Capítulo 29 – Hey Brittany!
- Você se confronta com o que deve ser eliminado ou modificado totalmente. – lia em voz alta. Estava sentada ao lado da cama de Brit, um dos braços apoiado no colchão enquanto o outro segurava o jornal. - Já percebeu, pela intuição e pelas emoções o que está lhe inquietando. – fez uma pequena pausa, hipnotizada pela garoa fina que caia do lado de fora. Ela amava os dias de garoa londrinos. A menina lia mais não prestava muita atenção. - Pode ser necessária uma revisão de suas prioridades pessoais e profissionais, geminiano. – Ela voltou a ler para a amiga que sempre fora uma viciada em horóscopos.
não acreditava muito naquelas coisas e sempre criticara Brittany por perder tempo com aquilo, mas desde o acidente, ela lia o horóscopo para ela pelo menos uma vez por semana.
- Isso ai, Brit. Com o que você está se confrontando? Okaaay! Eu paro de zoar! Eu sei que você gosta dessas coisas e tal.
levantou-se para esticar as pernas. Devia estar sentada ali fazia horas. Ela já tinha lido todo o The Sun para Brittany e quase caiu dura ao ver uma matéria sobre o McFly.
A banda tinha atingido um grau de popularidade que ninguém imaginava ser possível. A agenda dos meninos era lotada. Toda vez que alguém ligava a televisão ou o rádio, lá estavam eles. As pessoas os paravam na rua para tirar fotos, pedir autógrafos, gritar, chorar e desmaiar. Toneladas de cartas chegavam à sede da gravadora diariamente e tinha certeza de ser uma das pessoas mais odiadas do Reino Unido. Ela era a namorada do integrante mais bonito e simpático do McFly, na opinião dela e de mais milhares de garotas, esse é um motivo mais do que justo para que crianças, pré-adolescentes, adolescentes e groupies biscates sonhassem com sua morte.
Ela andou até a janela e lá ficou. A garota simplesmente não se cansava daquela vista. Aquela era a melhor cidade do mundo. A chuva leve parecia deixar tudo mais fantasioso. Ela sentia-se num filme ou então num livro, qualquer coisa que parecesse mágica demais para ser real. Ela sempre ficava pensando quando chovia. Se não pensava, apenas observava tudo com mais detalhes. Era incrível como tudo mudava quando chovia. Não apenas a paisagem, mas as pessoas também.
- Quer saber do meu dia de ontem? – É difícil manter a conversa quando você á a única que fala e cria assuntos. – Bem, eu tive que acordar extra cedo para chegar na aula porque dormi na casa do . Eu sei, essas “dormidas” na casa dele estão ficando cada vez mais freqüentes, mas sei lá, eu nunca consigo ir embora de lá. Eu já sei o que você deve estar se perguntando... "Mas e sua mãe? Como assim ela deixa você praticamente morar na casa do seu namorado?" – imitou a voz de Brit. – Eu não sei o que aconteceu com a minha mãe. Acho que o sol grego fritou essa parte do cérebro dela. Ela está totalmente liberal, saca? Além de estar apaixonada pelo . Cara, não sei o que ele faz... Todo mundo ama ele! Você ama ele, né? Eu sei que ama, palhaça! – Ela riu e lembrou-se de como ela chamava Brit de “Palhaça” e Brit a chamava de “Demente”. – Mas continuando, dormi na casa dele, que fica meio que longe do colégio, né? E ele não podia me dar carona ontem porque tinha uma entrevista, reunião ou qualquer coisa do gênero logo cedo. Ai tive que pegar o metrô, mas eu me atrasei porque não consegui achar meu sutiã de novo. Resumindo, perdi a primeira aula, mas era espanhol! Não tem muito problema perder aula de espanhol, né? Ainda mais com o Sr. Sanchez!
voltou para a cama e sentou-se perto dos pés de Brittany. No mesmo segundo um barulho ensurdecedor invadiu o quarto. Alguma coisa piscava na tela acima da cama.
Ela se desesperou vendo um bando de enfermeiros e médicos correndo de um lado para o outro dentro do quarto.
Alguma coisa estava errada.
- , querida, você tem que sair! – Fiona, a enfermeira, falou empurrando-a quarto afora.
A garota viu-se encarando a porta branca, no meio de um corredor branco, onde a maioria das pessoas vestia branco.
Seu coração estava a mil e a possibilidade de algo ruim estar acontecendo fazia todo seu corpo tremer, seu coração parecer ser esmagado e seus olhos ficarem cada vez mais molhados e irritados.
Ela ficou ali por apenas alguns minutos, que para ela passaram como uma eternidade. A porta do quarto se abriu novamente e todas aquelas pessoas saíram de lá mais apressadas do que entraram. A diferença é que agora carregavam uma maca.
Lá estava Brit. Pelo pouco que o nervoso, a correria e os olhos embaçados permitiram ela de ver, a amiga estava usando uma daquelas pavorosas máscaras de oxigênio.
A menina tentou acompanhar a equipe mas alguém a impediu de ultrapassar a porta da Unidade de Tratamento Intensivo. Ela nem tinha conseguido ver a cara da pessoa.
- , você não pode passar daqui. – Agora ela reconhecia Fiona falando.
- O que está acontecendo? Você precisa me falar! – Ela gritou, sentindo o pouco de controle que possuía se esvair.
- Calma, querida. – A moça repousou a mão no ombro de . – Está tudo bem. A Brittany acabou de acordar. – Ela falou aquilo como se fosse algo normal, do tipo “Lindsay Lohan sai de casa sem calcinha” e não algo fantástico.
- O quê? – não podia acreditar. Estava confusa. Se ela tinha acordado, por que toda aquela correria?
- Sim! Ela está na UTI agora porque precisa de reestabilizar, e lá é o melhor lugar para isso. Se tudo correr bem, você poderá vê-la e talvez até conversar com ela daqui a algumas horas!
- A Brit acordou? – Ela realmente chorava agora, mas era de felicidade. – Ah!!! – Ela abraçou a enfermeira e depois deu pulinhos pelo corredor. – A Brit acordou! – Ela abraçou uma faxineira que passava por lá, depois um velhinho que de tão velhinho quase caiu.
Fiona riu.
- Vou cuidar da sua amiga, fique aqui que vou te chamar o mais cedo possível.
- Tá!
Fiona desapareceu na porta da UTI e continuou a pular e a abraçar desconhecidos, mas agora enquanto falava no celular.
- ! A Brit, !
- ?
- ABritacordou. – Ela falou rápido demais, numa voz feliz e alta demais.
- O quê? Não entendi, linda.
soltou o ar de seus pulmões, parou de pular (já estava recebendo olhares agressivos) e depois respirou fundo.
- A Brittany acordou.
- O quê? – Ele perguntou sem acreditar.
- Ela acordou, ! Ela acordou! – Ela pulava sem sair do lugar agora, e tentava não berrar, não que estivesse conseguindo.
- Isso é demais, ! Vou tentar ir para ai o mais rápido possível, tá?
- Tá! Amo você, ! – Ela desligou rapidamente. Não conseguia falar no telefone. Estava agitada demais. Ela sentou-se mas suas pernas estavam inquietas, assim como suas mãos. Ela não sabia o que fazer com nenhuma das quatro.
Os minutos pareciam não passar e a vontade de abraçar a amiga e ser correspondida só crescia.
- Quando você estiver pronta, . – Fiona falou, deixando-a em frente ao novo quarto de Brittany algumas horas mais tarde.
Os pais de Britanny já estavam ali dentro fazia alguns minutos. olhou para a porta ansiosa e com um certo medo, ela não sabia exatamente do quê. No entanto, a felicidade ultrapassava tudo aquilo. A porta não parecia mais tão branca e sem vida.
Ela respirou fundo e colocou a mão na maçaneta. Estava tão perto. Respirou fundo novamente e a abriu. Bateu levemente na porta antes de abri-la por completo, chamando a atenção das pessoas no cômodo.
A mãe de Brittany estava sentada ao lado da cama, com os olhos inchados e um sorriso no rosto. O pai dela, só sorria. Ela nunca tinha visto nenhum dos dois sorrir tanto. Ambos faziam carinho na filha.
Na cama estava Brit. Ela não estava deitada ou com os olhos fechados como geralmente a via. Estava relativamente sentada e seus olhos, apesar de aparentarem cansaço estavam abertos.
Brittany sorriu ao ver a amiga que por sua vez só conseguia chorar. Como se outras pessoas controlassem suas pernas, chegou até a cama e abraçou Brit. sentiu as mãos da amiga em seu pescoço. Aquela sensação não tinha preço. Ela soluçava e mal conseguia respirar, mas estava mais feliz do que nunca.
Ela tinha Brit de volta, sua melhor amiga, praticamente sua irmã.
- ! – Foi só o que ela falou, mas só fez a amiga chorar mais, agora por ouvir a voz dela.
A senhora Clark afastou de de Brit e a abraçou, também chorando.
obrigou-se a se acalmar. Não queria assustar Brit, que já devia estar mais do que confusa.
- Hei! – Ela chegou no pé da cama apenas com a respiração ofegante.
- Hei! – Brit pegou na mão da amiga.
- Eu... Eu... – Ela gaguejava. – Eu nem sei o que falar. Tenho tanta coisa para falar, mas eu mal consigo terminar uma frase agora.
Brit riu e apertou mais sua mão.
- Nós temos todo o tempo do mundo para conversarmos, . Além do mais, estou contando com você para me informar sobre tudo o que perdi. – Brit falava devagar e com a voz meio rouca.
- É óbvio!
O Sr. e a Sra. Clark se envolveram na conversa, que corria como se fosse um sonho. já tinha perdido as esperanças e se conformado com o antigo estado da amiga. Tê-la ali era surreal.
Foram interrompidos cerca de uma hora depois, quando ouviram uma batida na porta.
- Boa noite! – Um simpático médico os cumprimentou. – Desculpe atrapalhar, sei que o que vocês mais querem é colocar o assunto em dia com a Brittany, mas acho melhor que vocês a deixem descansar agora.
- Já? – reclamou.
- Vocês podem voltar amanhã assim que ela acordar! – Por mais que quisesse esganar o médico, sabia que ele tinha razão. – A mãe pode passar a noite com ela. – Ele olhou para a Sra. Clark, que ficou toda feliz e metida.
- Certo. – O pai de Brittany a beijou na testa e a abraçou por um bom tempo. – Vamos, ?
- Vamos. – Ela fez um bico e fez o mesmo que o Sr. Clark.
- Amo você, Demente. – Brit falou no abraço e riu.
- Também te amo, Palhaça.
Os dois enrolaram o máximo que conseguiram para sair do quarto, até que o médico realmente perdeu a paciência e quase os expulsou.
saiu do quarto sem nem se importar por ter sido expulsa. Ela estava feliz demais. Amanhã voltaria ali para passar o dia todo com uma Brittany viva. Realmente viva. E em poucos dias, provavelmente nunca mais voltaria para aquele hospital.
Ela rumava para o elevador quando viu sentado na sala de espera.
- ! – correu até ele e o abraçou apertado. – Você chegou faz tempo?
- Deve estar fazendo uma hora, mais ou menos. – Ele falou sorrindo e depois beijando-a nos lábios.
- Por que você não foi até o quarto?
- Não queria atrapalhar. – fez uma careta. – Sei lá, a Brit já deve estar bem confusa, não queria que ela visse um desconhecido e tal.
Aquilo era tão fofo. Ele preocupado com Brit. Ela tinha vontade de colocar num potinho, fazer do potinho um chaveiro e sair por ai carregando-o. Ele era o máximo.
- Amanhã você conhece ela, ok?
- Com certeza! Vamos para casa?
- Vamos! Estou exausta e totalmente elétrica ao mesmo tempo!
riu e passou os braços pela cintura dela enquanto caminhavam até o elevador.
Era engraçado e ao mesmo tempo muito certo ele falar: “Vamos para casa?”. Ela passava mais tempo ali do que em sua própria. Já tinha roupas, livros, cds e tudo mais lá.
parou de andar e abraçou o namorado.
- Eu amo tanto você, .
Ele sorriu meio surpreso.
- Eu amo tanto você, .
Capítulo 30 – Fireworks
É costume dos londrinos correr para seus parques assim que percebem a presença de sol e calor.
havia insistido que eles fossem ao Richmond Park naquela tarde. Dessa vez, não sentou-se numa pequena clareira úmida e ficou vandalizando um arbusto, ela e deitaram-se no meio do gramado principal.
O sol estava realmente forte e por trás de seus óculos de sol, admirava como o namorado ficava ainda mais bonito com aqueles óculos estilosos que ele usava.
Ela estava deitada no colo dele e enquanto não babava, lia o “Guia do Estudante de Westminster”. Há uma semana atrás ela havia tomado a decisão. Não tinha mais porque ir para Austrália agora que tinha e Brittany. Também não queria ir para Oxford, que por mais perto que fosse, ficava a duas horas de trem de Londres.
Assim, graças a um convênio entre as duas universidades, Oxford e Westminster, poderia fazer faculdade ali mesmo, em Londres e a poucos quarteirões da casa de (apenas para constar). Suas aulas começariam dali a um mês e ela estava de férias já havia dois, desde que se formara.
Brit não tinha se formado, afinal, ela tinha perdido mais de um ano de aulas. havia se preocupado com a adaptação da amiga ao “mundo real”, mas ela estava se dando muito bem. Ela imaginou que se estivesse no lugar dela, provavelmente teria pirado.
As pernas de estavam inquietas e ele as agitava ansiosamente, fazendo com que a cabeça da menina balançasse como se estivesse numa batedeira. Ele olhava em volta.
- ... – Ela apontou para a perna dele. – Hum...por favor.
Ele a olhou com a cara distraída, de quem pensava em outra coisa e só depois entendeu.
- Ah sim, desculpe. – Ele parou por alguns minutos, mas logo voltou a se mexer como uma criança que senta no formigueiro.
desistiu do “aconchego” do colo do namorado e sentou-se ao lado dele enquanto ficava felicíssima em descobrir que havia três refeitórios na área do campus de Westminster que ela teria aula. Ela podia não comer nada que prestasse, mas ela comia, certo?
- Sabe o que queria te perguntar e sempre esqueço? – Ela resolveu conversar para ver se voltava ao normal.
- O quê? – Apesar dos óculos, a olhava semicerrando os olhos por causa da luz.
- Você descobriu o que era aquela coisa misteriosa que o teve que pegar no supermercado aquele dia?
riu. Estava sentado com as pernas dobradas e os braços para trás, servindo de apoio. Ele vestia uma bermuda cinza de risca de giz, que na opinião de era chique demais para uma tarde no parque, e uma camiseta que ela não conseguia definir bem a cor. Ela algo como vermelho acinzentada. Seu cabelo estava um pouco mais comprido do que na época em que eles se conheceram.
- Camisinhas! A sex buddy dele ia visitar ele àquela noite.
- Camisinhas? Por que tanto mistério então? – Ela perguntou rindo, sem entender o que passava na cabeça de .
- Vai saber! Ele é o !
achava demais o jeito que falava dos amigos, sempre com muito carinho, apesar de sempre fingir que os achava estúpidos e os odiava. Ele os amava e faria qualquer coisa por seus amigos. Fazia lembrar-se dela e de Brit.
- Olha, , um balão! – apontou o céu atrás dela.
virou-se, colocando a mão na testa para tapar a forte claridade. Um balão branco e grande, com alguma coisa escrita voava bem alto. Ele chamava a atenção de todos no parque.
Ela estreitou os olhos para tentar ler o que estava escrito.
Maldito sol.
Eram apenas duas palavras e um ponto de exclamação. Ou seria interrogação?
Com dificuldade, ela leu:
“CASA COMIGO?”
- Ai, que fofo! – Ela falou com aquela voz de quem acabou de ver um filhotinho de cachorro. – Alguém está pedindo alguém em casamento!
Apesar de sempre falar que coisas como aquela eram cafonas, ela pegava-se suspirando e achando tudo muito lindo.
Ela voltou-se para que a olhava de um jeito estranho e meio sério. Ele mordia o lábio inferior.
- Que foi? – Ela perguntou curiosa com o comportamento dele.
fez um movimento com a cabeça apontando o balão. não estava entendendo nada. Ela já tinha visto o balão! Que mais queria que ela visse?
Ela encarou o balão e aquelas palavras de novo e só reparou o que estava acontecendo quando olhou nos olhos.
Ele não precisou falar nada. ela já tinha entendido tudo.
Sua boca se abriu e não fechou mais. A garota tinha dificuldade para respirar e nenhum tipo de som conseguia ultrapassar sua boca, apesar dela ter milhares de perguntas.
- ... – A palavra saiu apesar de todo o choque. – Não...Foi? – Ela começou a se abanar pois agora um calor muito forte tomava conta de seu corpo. Parecia queimar. – Foi? Foi você? – Seu dedo apontou para trás, na direção daquelas duas palavras flutuantes. Ele balançou a cabeça afirmativamente, fazendo pegar seu guia do estudante para abanar-se. – Mas, mas...
- Calma, . – Ele posicionou-se a sua frente e pegou em suas mãos. Como que por mágica, ela já sentiu-se mais calma. – Eu sei que é cedo, você nem começou a faculdade ainda... – falava devagar e todo aquele nervosismo de antes tinha dado lugar a uma invejante serenidade. – Mas nós podemos esperar o tempo que for, o tempo que você precisar... – Ele falava sorrindo e fazia tudo parecer simples. - É eu me dei conta, quer dizer... – Ele fez uma cara fofa. - Eu sempre soube disso, mas só agora que eu realmente me dei conta de que você é a escolhida, você é a única... – Ele falava animado.
riu encantada com tudo aquilo.
- Estou me sentindo o Neo. – riu meio envergonhado. Péssima hora para piadinha, . – Desculpe. – fez cara de que aquilo não importava.
- Sabe, eu quero estar com você até, sei lá, até quando eu tiver 92 anos e andar por ai com a minha bolsinha da colostomia. – riu sentindo os olhos encherem-se de água. – Eu quero passar cada segundo da minha vida com você do meu lado, quero passar todas as noites com você, enquanto eu olho para os seus olhos e sinto como se eu me perdesse neles! – Ele falava de uma maneira emocionada. Quem o ouvisse acharia tudo aquilo confuso e sem sentido, no entanto, sentia que ele tirava as palavras de sua boca. - Quero escutar o seu coração bater e ficar cada vez mais perto de você até nós dois pegarmos no sono! – sorriu sentindo o coração disparado e o rosto encharcado pelas lágrimas. fez uma pausa, mudou de posição e depois depositou seus olhos no dela novamente. Ela sentia–se hipnotizada. Ele passou os dedos delicadamente de baixo dos olhos dela, enxugando as lágrimas. – , quer casar comigo?
A menina tentava recuperar um ritmo saudável de respiração, já que por mais que inspirasse não conseguia sentir o ar em seus pulmões.
- Quero! – Ela não falou, ela berrou e depois abraçou o mais forte que podia.
Falam que segundos antes da sua morte, você vê os momentos mais importantes de sua vida num flash.
não estava morrendo, mas via tudo o que já tinha acontecido de importante passar por sua cabeça.
Ela só via imagens de .
Ela lembrou-se da menina infeliz, deprimida e mal humorada que ela era há um ano atrás. Desde que conheceu , aquela garota parecia uma estranha, uma desconhecida.
Nada em sua vida tinha parecido tão certo quanto aquele momento.
respirou fundo e sentiu o perfume de , assim como seu toque em cada parte de seu corpo.
Tudo estava certo.
Tudo estava perfeito.
Eles veriam fogos de artifício naquela noite.
FIM
Acabou. Eu estou aqui em crise. Não é que eu me apeguei a essa fic? Pois é, o coração tá apertado e já até estou com saudades de escrevê-la.
Bem, vamos aos agradecimentos (serão longos)...
Quero agradecer a mim mesma e a minha parte retardada do cérebro, já que tropecei no fio do Speedy e acabei desconectando a internet daqui de casa. Como não tinha mais nada para fazer e estava morrendo de tédio, tive a brilhante idéia de começar a escrever essa fic onde o McGuy é um psicólogo.
Falando nisso, quero agradecer ao meu amigo que no fundo é o responsável por tudo isso, já que falou: “Pô, a psicóloga do colégio é gostosa!”
Quero agradecer ao simpático técnico do Speedy, que veio aqui em casa só para conectar um fio e me olhar com pena.
Obrigada ao meu muso, Dougie Poynter.
Obrigada ao muso número 2, Alex Pettyfer.
Quero agradecer a todas essas bandas que de um jeito ou de outro me inspiraram e a única coisa que ganharam foi um nome de música plagiado.
Quero agradecer a Mimi, que é a melhor beta que qualquer autora pode sonhar, sem contar que ela também é uma amiga maravilhosa.
Quero agradecer a Isa-bola por...hum, por ser a Isa-bola! Huaha =p
Quero agradecer a Nat, seus comentários monstrengos e a comunidade que ela fez para mim.
Agora, o principal agradecimento: Obrigada a você. Se você está aqui, é porque você já leu a fic inteira e além de tudo isso, já leu todas as abobrinhas que eu falei. Obrigada. Vocês são as leitoras mais legais, sempre estavam por aqui, comentando e me incentivando a escrever mais. Se não fosse por vocês, não haveria fic. Vocês são totalmente fundamentais. <3
Estou aqui quase chorando e no mínimo, abalada psicologicamente, então vamos acabar logo com isso antes que eu borre a maquiagem. =p
Vamos a lista completa de músicas que deram nome aos capítulos:
° Grey Skies Turn Blue – MxPx
1. My So Called Life – Jamison Parker
2. The Story – 30 Seconds To Mars
3. Dead To The World – Jamison Parker
4. Heels Over Head – Boys Like Girls
5. Joyride – Rooster
6. Feeling This – Blink 182
7. Conspiracy – Paramore
8. First Day Of The Rest Of Our Lifes – MxPx
9. Up Against The Wall – Boys Like Girls
Back To The Disaster – Na verdade, é This Disaster, do New Found Glory. (y)
10. Pretty Girl (The Way) – Sugarcult
11. She Left Me – McFly
12. Don’t Know Why – McFly
13. Oh, It Is Love - Hellogoodbye
14. It’s Not Your Falt – New Found Glory
Dirty Little Secret – The All American Rejects
15. All Of This – Shaimus
16. No News Is Good News – New Found Glory
17. I Caught Fire – The Used
18. Crescer e Aceitar – Nx Zero
19. The Best Of Me – The Starting Line
20. Always And Forever – Good Charlotte
21. Champagne – Sugarcult
The Season – Quietdrive
22. Jude Law And A Semester Abroad – Brand New
23. Círculos – Nx Zero
24. Crying – Sugarcult
25. If I Fail – Cartel
26. Not Coming Down – Bettie Serveert
27. 3am – Busted
28. Good Friend – Nine Days
29. Hey Brittany! – Forever The Sickest Kids
30. Fireworks – Plain White T’s