Se alguém, algum dia, te disser que completar 18 anos gera uma mudança absurda na sua vida, não acredite. Digo, não de primeira. Porque, sim, com várias pessoas isso deve acontecer, mas comigo, é lógico, tinha que ser diferente. O fato é: eu ainda moro com os meus pais, faço faculdade e não trabalho. A pergunta é: isso era diferente ano passado? Não. A consequência da minha inutilidade é: eu não mando em nada aqui. Meu pai é o chefão, mesmo que ele quase nunca dê as caras. E minha mãe está sempre aqui para ratificar os "comandos" do meu pai. Manja papagaio de pirata? Até imagino meu pai com sua barriga de chopp, seu belo tapa-olho preto e o chapéu super moderno com a minha mãe no ombro. Tá, essa segunda parte ficou meio estranha de se imaginar. Enfim, a consequência vai ser uma redução drástica de custos, já que ele disse que eu gasto tudo e não ganho nada. Poupe-me. A conclusão é: nada de compras no shopping quando bem entendo e, principalmente, levando o cartão de crédito do papai escondido; Nada de noites espalhafatosas, como as festas pagas (e caras) que eu costumava ir; Nada de pegar o carro do papai para, como ele disse, "gastar gasolina à toa"; Arrumar um emprego; E, por último, mas não menos importante: nada de comodidades, como, por exemplo... táxi.
Como assim? Táxi é aquele quebra-galho, entende? Quer ir para casa da tia Josefina lá onde Judas perdeu as botas e não sabe nem se naquele lugar existe mula-móvel? Chame um táxi e seja feliz! Mas não, a pequena não pode mais se dar esse luxo. Luxo ainda maior se o for seu motorista.
Por falar nisso, pensei muito nele hoje. Faz algumas semanas que não o vejo, mas nem é esse o motivo de eu ter pensado nele. Hoje, meu pai me deu um belo certificado de que eu tinha uma entrevista de emprego lá na Cochinchina. Eu sou uma inútil, cara, nem minhas próprias entrevistas eu sei quando são. Enfim, como eu já disse, é bem longe daqui. Meu pai não quer que eu pegue 719 ônibus para chegar lá e mais 843 para voltar, né? Sim, ele quer. Mas, cara, eu não sei nem que ônibus vai para onde, muito menos fazer escalas! Quem me chamar de patricinha morre.
- Ok, primeiro eu pego o 754 e depois o 255.
- Tem certeza de que não quer anotar?
- Eu não sou tão inútil assim, , eu vou lembrar!
- Tudo bem, foi só uma pergunta, fofa! Boa sorte amanhã, então...
- Muito obrigada, eu vou precisar. Beijo.
----x----
Cara, definitivamente, o inferno é aqui. Que minha querida companheira de algumas aulas, Sthephanie, não escute isso, já que ela é completamente louca com essas coisas de inferno, diabo e o mal absoluto da Terra. Então, Deus, por favor, afaste a pobre e indefesa Sthephanie daqui, ela não merece. Eu não mereço, qual é!
Observei várias pessoas no mesmo inferno que eu (até porque acredito que só exista um) enquanto o ônibus tomava seu rumo lento até sabe lá Deus onde. Eu estou bem religiosa nessa parte, já falei de Deus a diabo, mas isso tudo tem um motivo: eu realmente preciso de ajuda nessa hora.
Não sei se alguém lembra, mas eu me recuso a fazer a definição daquele motorista de táxi novamente. É, aquele táxi no qual eu estava antes de encontrar o meu Apolo. Deleta. Volta tudo.
Não sei se alguém lembra, mas eu me recuso a fazer a definição daquele motorista de táxi novamente. É, aquele táxi no qual eu estava antes de encontrar o . Bem melhor.
Pois bem. Eu me lembro muito bem daquele cara. Tão bem que estou vendo um clone dele bem aqui na minha frente. E mais um de pé perto do motorista. E mais um esperando para descer. E mais um sentado ao meu lado, dando um belo sorrisinho com seus dois dentes frontais faltando.
DEUS, EU JURO QUE VOU À IGREJA TODOS OS DOMINGOS SE O SENHOR ME AJUDAR. Eu quero o meu Apolo.
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Vou te dizer, eu sabia que o lugar era longe, mas nem tanto. As pessoas saíam, saíam e eu sobrava. Melhor, porque assim eu consegui sair de perto do colega que estava do meu lado.
- Mas eu nunca te vi nesse ônibus, menina!
- Pois é, eu não pego ele! Mas aí eu estava com pressa e resolvi pegar esse 755 mesmo!
Ouvi duas mulheres que estavam na minha frente conversando. Bom, pelo menos eu tenho certeza que eu estou no 755.
- Ok, primeiro eu pego o 754 e depois o 255.
- Tem certeza de que não quer anotar?
- Eu não sou tão inútil assim, , eu vou lembrar!
Legal, eu consegui misturar os dois números. Bem legal, eu sou mais inútil do que eu imaginava.
- PAAAARA! - Eu pensei em gritar, mas fiquei com medo. Ok, mentira, eu gritei mesmo. Mas a parte do medo é verdade, eu estou com medo desses olhares em mim. Pombas, eu tenho o direito de fazer parar o ônibus, certo? - MOÇO, SERÁ QUE DÁ PARA PARAR?
Legal, bem legal. Quando abri os olhos, eu estava estatelada no chão - nojento - do ônibus, graças à parada brusca bem fofinha que o filho de uma égua prenha do motorista fez. Eu estava a centímetros de um chiclete (que um dia já foi) rosa, completamente pisado por sabe-se lá quantos pés. Cara, me mata. Eu sou um fracasso.
- Ô, colega, faz o favor de levantar logo que eu estou atrasada para o serviço?
- É, vamos logo aí, minha filha! Não me chame de colega. Não me chame de minha filha.
Pelo menos eu me levantei com classe, ok? Regra número um das divas: nunca perca a pose. Isso aí, ignore isso e vamos para o próximo parágrafo.
Depois de sair daquela charrete, fiquei umas três horas esperando alguma outra forma de chegar até o meu destino. Eu estava no meio do nada. Acho que prefiria o inferno.
Para completar, pisei numa poça enorme e entrou água pela minha sandália. Cara, sinceramente, parecia que eu tinha pisado no cocô de um cavalo, como fedia.
Lá ao fundo, pude ver uma caixinha de fósforos se aproximando. Isso te lembra alguma coisa? Pois me lembra de quando eu tinha acabado de sair do táxi do ogro e, lá ao fundo, veio o táxi do para me salvar. Seria romântico se eu já não estivesse puta da vida.
E seria mais romântico ainda se a bosta do carro não tivesse passado voando numa poça e me molhado inteira.
Cara, me queima. Eu sou mais que um fracasso. Deus, obrigada! É o 255! É o 255! Eu só não pulei porque estava no meio da rua deserta. Bem, se era deserta, por que eu não pulei? Pois bem. Eu pulei.
Entrei no ônibus e tentei relaxar. Eu já tinha perdido o horário da entrevista há muito tempo, mas, agora, chegar lá era questão de orgulho.
----x----
- Nova vendedora, certo? - Uma loirinha simpática, creio eu, veio ao meu encontro.
- É, eu vim fazer a entrevista.
- Mas você já está contratada! - Pegadinha do João Kleber? Oi? Sérgio Malandro?
- Oi?
- Seu pai ligou para cá hoje cedo, ele resolveu tudo e disse que você se atrasaria. Parece que você teve alguns imprevistos, não?
- Não, nenhum! Meu pai que me deu muitas recomendações antes de sair de casa, sabe como é... Acabei perdendo a hora!
- Ah, sim... Isso deve justificar o chiclete na sua blusa. - Olhei para mim mesma e lá estava um chiclete azul na minha blusa. Um chiclete azul na minha blusa branca. Será que as pessoas acham que o chão de ônibus é uma amostra de chicletes coloridos, carambolas? - Meu nome é Lyvie, prazer! Acho que você vai querer trocar de roupa...
- , prazer, obrigada, onde é o banheiro? - Sim, eu falei tudo direto, então você pode ignorar até as vírgulas.
- Vou te dar as roupas da loja. - Bem cara, por sinal. Comentário completamente inútil. Combina bem comigo, a propósito. - Vou te dar todas as dicas necessárias assim que você estiver pronta, tudo bem?
Concordei e fui tirar a porcaria da blusa achicletada que eu tinha acabado de comprar. Os dois reais que eu paguei naquela bosta de ônibus me saíram bem caros.
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- Então, é como uma fila. Você atende depois de mim, depois de você é o Chris e assim vai. Aliás, ainda tenho que te apresentar os outros, você vai...
- , atrasado de novo!
- Trânsito horrível! Desculpa, eu vou... - Ouvia a voz se aproximando de onde eu estava, até a Lyvie começar a falar.
- Ah, claro! Também tenho que te apresentar o , ele é ótimo... Em todos os sentidos. - Ela deu uma piscadela e eu ri. Legal, colegas de trabalho (embora eu só saiba de um) "ótimos". Pena que, pelo visto, ele já tem dona. Percebam que eu nunca vi a pessoa e já estou pensando nessas coisas. Vai que o cara é um Luciano Huck da vida? A Lyvie pode ter um mau gosto da porra. A Angélica está com o Huck, certo? Nada impede. Ok, já fugi completamente do assunto. - Mas agora vamos, só falta você assinar sua ficha lá dentro.
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- Fofa, você tem essa calça no tamanho 40? - Fofo, não trabalho aqui, não. Grande força do hábito. Depois que olhei para a roupa super descolada que eu estava usando (lê-se um vestido extremamente curto, todo torto, super colorido, acompanhado de cordões enormes e brilhantes, e brincos maiores que a minha cabeça) é que eu me toquei que o carinha afeminado estava, realmente, falando com uma vendedora. - Você é nova aqui, certo? Eu procurei o gatão, mas parece que ele ainda está lá dentro.
- Sou nova sim. Na verdade, eu nem conheço esse gatão, mas ele deve estar lá dentro sim.
- Não conhece? - Grito histérico maravilhoso. - Menina, a biba é um luxo! - Os olhos dele brilhavam. Legal, o bonitão é gay. Sorte extrema.
- Hã... Eu vou buscar a sua calça.
Encontrei Lyvie no caminho.
- Está atendendo o Dave, né?
- Se ele for um gay com cabelo de porco-espinho... - Ela riu.
- Não esquece de colocá-lo na cabine de parede. - Hã? - Ele é meio chato para essas coisas, se você mandá-lo para aquelas cabines separadas só por cortinas que eu te mostrei, ele dá um ataque.
Legal, estou me sentindo uma babá de biba.
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- Qualquer coisa me chame, sou .
- Obrigadinha, fofa. - "Ele" mandou um beijo no ar e fechou a cortina.
Cara, essas cortinas são completamente loucas. Eu nunca na minha vida poderia ser designer de uma coisa dessas, até porque nunca na minha vida eu imaginaria uma coisa descoordenada assim. Uma cor contrasta com a outra, dá até dor nos olhos.
- Uh! - Ouvi um gritinho lá de dentro e percebi que estava parada olhando para a cortina da cabine dele igual a uma besta. Novidade. Resolvi sair dali.
Estou dizendo, essa cortina hipnotiza. Só faltava meu olho acender e eu dizer "quero alface".
- AAAAAAAAAAAAAAH!
Meu Deus, grito do Darvin. Eu podia ser mais útil de vez em quando e parar de olhar e filosofar sobre cortinas. Cortinas. Cortinas. Cortinas. Cortinas. Cortinas...
- Não esquece de colocá-lo na cabine de parede. Ele é meio chato para essas coisas, se você mandá-lo para aquelas cabines separadas só por cortinas, que eu te mostrei, ele dá um ataque.
Puta que pariu a minha sogra.
- Daaaarvin, você está bem? - Gritei enquanto corria até a ala dos provadores. Chegando lá, vi algo que nunca imaginei ver. Cara, foi a cena da minha vida, mas eu não podia rir porque não queria perder minha vida agora.
- VOCÊ É MALUCA? - Sim, agora eu tenho que descrever essa cena. Tinha um gay no chão com várias cortinas psicodélicas a sua volta (é, ele tentou se segurar nelas durante a queda), com a calça que ele vestia nos joelhos, o celular com capa de cachorro gordo estirado no chão e o fato mais importante: a cueca/calcinha tão descoordenada e contrastante quanto as cortinas. Já comentei que verde-limão ao lado de rosa-cheguei me deixa cega?
Todos os funcionários e clientes já estavam ali. O meu fim. Não consigo nem um dia em um trabalho decente, desisto.
- Ah, meu Deus, desculpe-me! - Por que eu estava pedindo desculpa mesmo? Não foi ele que caiu, ora pombas?
- SUA LOUCA, OLHA QUE GAFE VOCÊ ME FEZ PASSAR! - Ele começou a "chorar". Meu Deus, achei que esses chorinhos de bibas só acontecessem em filmes mesmo. - , me ajuda?
Pelo menos isso, uma oportunidade de finalmente conhecer o tal gatão.
- Hã, com licença. - Droga! Ele estava lá atrás, só deu para ver um resto das costas dele. Você imagina a cara da biba nesse momento? Nem queira.
- VOCÊS SÃO TODOS RIDÍCULOS E SEM CORAÇÃO! - Lyvie começou a rir do meu lado e se retirou. Qual é, eu quero rir também. - E VIREM PARA TRÁS, SEUS DESATAREFADOS, EU QUERO ME VESTIR! SE VOCÊS QUISEREM ISSO - sim, ele "segurou" bem na parte do corpo que vocês estão pensando -, COMPREM!
Todos nós nos viramos e não deu outra, comecei a rir. Olhei para frente e lá estava a Lyvie conversando com um , provavelmente o tal do . Eles estavam próximos e ele parecia ser realmente bonito, apesar de estar de costas para mim. Invejo-a.
Percebi que, de tanto que eu sequei os dois, ela passou a olhar para mim e fez gestos sutis para que eu me aproximasse.
Fui devagar, não queria que o Darvin desse por minha falta porque não estava a fim de mais esporro. Aproximei-me das costas do garoto.
- Eu te disse que era o provador de parede!
- Eu sou completamente desligada, desculpa!
Cara, me mata. ME MATA, ME MATA, ME MATA. Não, melhor, não me mata agora! Estou tendo visões.
Deus, reafirmo minha promessa, igreja toda semana se for verdade!
- Enfim. Ah, esse é o , só faltava te apresentar ele. - CÉUS, é mesmo verdade! Lugar reservado na igreja.
- ?
- !
- Pelo visto, já se conhecem. - Ela fez uma cara estranha, mas eu nem me importei.
- É, a gente se conhece. Que... bom te ver de novo. - Só me diz COMO ele conseguiu ficar mais bonito. Derreto agora ou daqui a pouco?
- Digo o mes...
- !
- Ai, meu Deus, é o Darvin! - Saí correndo dali, sem nem dar chance de resposta.
- , diga a ele que você não sabia das preferências dele. - A chefona disse assim que cheguei, novamente, à ala dos provadores.
- Eu... é que eu...
- Ela não sabia, eu esqueci de avisar. - Lyvie chegou, dando-me um susto considerável.
- NÃO ME INTERESSA, EU VOU EMBORA DAQUI! VOU PARA NUNCA MAIS VOLTAR! E, , mais uma coisinha...
- Sim?
- É DAVE, sua ignorante! - E ele saiu rebolando e bufando seus "hunf" esquisitos. Juro, eu mereço.
- Ele já foi? - A chefe perguntou.
- Espera... 1, 2, 3 e... JÁ FOI!
- Aleluia, irmãos!
- Sinto-me até mais livre!
- Não, espera, espera! O que está acontecendo? Eu estou despedida, certo?
- O QUÊ? - A chefe riu. Cara, odeio chamar as pessoas assim, mas esqueci de perguntar o nome dela. - Você é a salvadora! Eu nunca tive cliente mais chato que ele!
- Ele vinha aqui, vestia trezentas roupas e não levava nada. Ele só queria ficar cantando o . - Lyvie se meteu na conversa e, então, eu lembrei do . A propósito, ele sumiu.
- Enfim, vamos voltar ao trabalho porque essas pessoas ainda estão sem entender nada.
Certo, voltar ao trabalho. Depois dessa acho que fiquei com trauma.
----x----
- Lyvie, você sabe onde está a zebra? - Eu disse com a cabeça enfiada numa caixa gigante.
- Zebra?
- É. - Levantei a cabeça e ela riu. Ora, vamos, meu cabelo não estava tão bagunçado assim. - Cinto de zebra! A mulher gostou desse de onça e está perguntando se tem de zebra, eu disse que não e ela me obrigou a vir procurar porque sabia que tinha! - Pausa para respirar. - Se ela sabia que tinha, por que perguntou?
- É assim mesmo, . Acho que ainda tem zebra no depósito, dá uma olhada.
- É engraçado você falando que tem zebra no depósito.
- Pior você perguntando onde estava a zebra e procurando numa caixa!
Sobe escada, desce escada, eu estava começando a me irritar. Quem a mulher pensa que é, cara? Absurdo. Voz de taquara rachada dos infernos.
Legal, a luz do depósito estava piscando, eu tenho medo. Muito filme de terror, cara, muito.
Mas, tudo bem, concentre-se na zebra. Zebra, zebra, zebra, zebra, zebra. AI, MEU DEUS, ZEBRA, ZEBRA, AAAAAAAH, ESTÁ TUDO ESCURO.
- Cacete, mas é sempre comigo!
Eu vi um vulto. É, eu estava no escuro, mas eu vi um vulto! Eu sei o que eu vi, ok? Aliás, nem quero saber o que era, AAAAHMEUDEUSDOCÉU.
- Medo de escuro? - Era ele. Bem perto. Mais perto ainda. Abraçando-me. Por trás. Beijo no pescoço. Ok, para por aí.
- Nããão, eu só vim pegar a zebra, dá licença.
- Zebra? O depósito virou zoológico e ninguém me falou?
- Não! - Eu bati na minha testa. - Zebra, quer dizer, cinto de zebra!
- Ah, sim, eles estão naquela caixa. - Ele apontou e eu fui. Cara, calma lá, ele estava quase me assediando há poucos segundos e eu falei da zebra igual a uma idiota. Eu sou uma idiota.
Mais uma caixa empoeirada, coitada da minha rinite. Vamos lá, zebra, zebra, zebra, zebra, chegando perto, zebra, zebra, zebra, me agarrando, zebra.
Zebra, vá à merda.
Os beijos e as "respiradas" que ele dá no pescoço te levam à lua, pode escrever o que eu estou dizendo. Eu realmente mandei a zebra e a bosta da mulher-taquara-rachada à merda e não resisti mais. Aliás, eu não tenho por que resistir.
E digo mais: ele estava bem animado. Tanto que as caixas atrás da gente foram todas para o chão. Não só as caixas. Aham, eu fui parar direto naquele chão gelado.
- Ai!
- Bateu a cabeça? - Ele parou de me beijar e me olhou assustado.
- Não, o chão está muito gelado.
- Daqui a pouco esquenta. - Na verdade, esquentou só por ele ter dito isso ao pé do meu ouvido.
Os beijos dele ficaram indecisos entre a minha boca e as regiões afluentes. Parecia ansioso, com pressa, precisando daquilo tudo. Talvez estivesse se segurando tanto quanto eu. Afinal, nada de novela das oito ou filme da Angelina Jolie no meio de uma loja para gays ficarem vendo e aplaudindo (retire isso se o gay em questão for o Dave). Eu falo como se a loja fosse para gays. Acho que estou traumatizada.
Se bem que agora eu não pensava em mais nada disso. Aliás, onde eu estava mesmo? Bem, as coisas esquentaram mesmo. Muito mais quando eu tirei a blusa dele e tudo começou a ficar mais intenso. Ele tinha o dom, cara, vou te contar. Me inveje, Angelina, faça bom proveito do Brad. Isso aqui está melhor que os seus filmes, wow.
Ele também não se decidia se me beijava forte ou mais levemente. Assim, ele preferiu os dois jeitos e, tá, pirei mais ainda. Quando eu queria mais, ele diminuía o ritmo; quando eu ficava completamente sem ar, ele aumentava a proporção de tudo. , você ainda me deixa maluca.
- Bom saber. - Ah, meu Deus, eu disse isso alto? Depois da risadinha safada que ele deu, eu acho que foi até bom eu ter dito. Ui. Olá, arrepios.
As mãos dele buscavam incessantemente algum lugar. Sim, algum lugar, porque, como eu já disse, ele fazia a festa e não decidia o que fazer, queria tudo ao mesmo tempo. Eu também.
Ele arrastou as mãos pela minha coxa, subindo e levantando, assim, o meu vestido psicodélico super descolado/esquisito. Eu estava morrendo de vontade de tirá-lo, olha que ótima forma de fazer isso.
Quando eu lembrei do vestido, parece que me bateu um vento de sanidade. Tipo, eu estava me agarrando com um cara (o , por favor, ele não é digno de ser chamado só de "um cara". Pelo menos "um cara muito gostoso", pronto) no depósito de uma loja que eu estou trabalhando por... um dia. Eu não presto, bem que o papai disse.
- , não, se entrar alguém aqui acabou-se tudo!
- Eu nunca fui muito certinho nos meus trabalhos mesmo...
- Eu nunca... tive um trabalho. - Senti-me inútil por seis segundos, até sentir mais uma mordida no meu pescoço. Meu Deus, não tem como.
Ele continuou me beijando e me levantou um pouco, tentando tirar meu vestido de vez. Assim foi feito, quando eu voltei para minha posição...
- Ai!
- Bateu a cabeça? - Ele riu da pergunta repetida.
- Não! Tem uma coisa aqui. - Passei a mão pelo chão e lá estava a bendita, santa e... inútil. - Zebra dos infernos! - Ele riu.
- A gente aqui, assim... - ele dizia grudado ao meu ouvido - você com esse cinto na mão... Vai me bater?
- Você tem essas taras, é?
- Nunca pensei na hipótese...
- Vou falar para o Dave que você gostaria de tentar...
- ...e nunca vou pensar.
Ouvi uns barulhos, talvez passos. Ah, não!
- Ah, meu Deus, ouviu isso?
- Infelizmente. Rápido, levanta.
Peguei meu vestido e o coloquei mais que depressa. Olhei para o lado e não estava mais lá. Queria ter esse dom de sumir de vez em quando.
Lyvie apareceu enquanto eu tentava arrumar a bagunça que fizemos ali.
- Se perdeu, menina?
- Isso tudo caiu em cima de mim! - Na verdade, foi uma coisa bem melhor que caiu em cima de mim.
- Sempre acontece. Deixa assim mesmo, a da zebra está impaciente lá embaixo.
- A zebra está aqui, esto indo.
Assim andei para a porta junto com ela, ainda naquele escuro.
- Ai!
- Bateu a cabeça?
Pude ouvir risinhos de dentro do depósito quando fechei a porta.
----x----
- Mas que demora, a senhorita se perdeu no caminho? - Me perdi em outro sentido, será que serve? Eu sorri, lutando para não jogar a bosta da zebra na pança enorme dela.
- Aqui está o cinto. Mais alguma coisa?
- Ele é menor que o de onça.
- É só um pouco mais fino.
- Não gostei muito. Bem, obrigada mesmo assim, e eu desculpo a sua demora. Beijinho, Charlotte! - Ela gritou a última frase para a chefona. Pelo menos para uma coisa essa orangotanga serviu, eu sei o nome da chefe, finalmente.
Ela saiu e eu fiquei parada. Eu tenho uma placa piscante em cima de mim dizendo "Irrite-me!"? Bem, eu realmente olhei para cima.
- Respira. - Se ele realmente quiser que eu respire, tem que parar de me dar esses abracinhos repentinos e falar coisas sussurrando no meu ouvindo. - Você vai ter que se acostumar.
- Vou ter que me acostumar com você me agarrando também?
- Essa parte não vai ser tão difícil para você.
- É, não vai. Por que você é tão convencido? - Porque ele pode, que ideia.
- Vai embora comigo hoje? - Eu lembrei do meu pai, lembrei das coisas que ele disse, lembrei que eu tenho que ser útil. Lembrei que eu vou voltar de ônibus.
- Se não for incômodo. - Lembrei que eu ia de ônibus.
- No carro é um pouco incômodo, mas não é ruim. - Diga oi para a risadinha safada de novo, mas não se anime.
- Melhor nem responder. - Ele riu e saiu de perto.
----x----
- Então, é isso, , amanhã à mesma hora, o mesmo esquema. E, graças a você, sem Dave. - Obrigada por lembrar, fofa. Ai, meu Deus, peguei a mania da biba.
- Sem Dave, bom saber. - Na verdade, eu não sabia se ria ou se continuava com vergonha. Já disse que estava traumatizada? - Bem, até amanhã, então.
- Até, bom descanso. - Descanso, uhum. Tadinha.
estava conversando com o Landon e eu fui me despedir da Lyvie enquanto ele não vinha. Ela se parecia muito com a , já quis logo saber o que tinha entre mim e . "Ah, sabe o que é, eu peguei um táxi e ele estava dirigindo, achei ele super divino, fiquei me agarrando com ele e a gente se reencontrou hoje! Me inveje, amiga." Qual é, sai fora.
- Podemos ir? - Ele ficou ao meu lado. Pelo menos respeitou a Lyvie e não a fez passar por momentos constrangedores.
- Claro. Beijo, querida, até amanhã.
- Até. Tchau, .
Ele acenou e saímos da loja - Deus seja louvado. Cara, eu nunca fui tão religiosa assim -, chegando ao estacionamento minutos depois.
Se eu disser que ele não perdeu tempo acho que ninguém duvida. Não deu nem cinco minutos e lá estávamos nós no banco traseiro do carro.
- , você é maluco?
- Por quê? - A voz saiu abafada porque a boca dele estava no meu pescoço. Novidade.
- A gente está no estacionamento do shopping, qualquer um pode ver se quiser!
- Até parece que alguém vai se interessar em olhar para dentro de um táxi. Pare de falar e tire isso logo, por favor?
Ok, só lamento se algum moleque de doze anos resolver assistir filme pornô ao vivo! Ninguém mandou papai e mamãe não ensinarem bons modos. E o que tem a ver? , você ainda me deixa maluca.
- Eu já sei disso. - Pombas, de novo? Desisto.
Aquele táxi estava quente. E é bem esquisito pensar que eu estava fazendo certas coisas em um táxi. Tipo, um táxi! Sabe, imagina quantas vovós já se sentaram onde eu estou? Até um moleque de doze anos pervertido já deve ter se sentado aqui.
Esse banco era inocente até agora.
Ou não.
Tá, ignore que eu fiquei com ciúme.
Mas, enfim! Como eu ia dizendo, estava quente a coisa. Eu tirei o vestido como ele pediu, logo depois ele tirou a blusa dele. Acho que eu esqueci de respirar. Meu Deus, será que nesse tempo que ele parou de trabalhar no táxi (pelo menos eu acho que ele parou) ele andou malhando? Pergunta besta, pelo amor.
Eu só sei que estava ótimo. Agora, as mãos dele pareciam mais coordenadas, já sabiam para onde queriam ir. As minhas tinham gostado de puxar o cabelo dele, dava uma ótima sensação de posse, ainda mais quando eu sentia que ele se arrepiava. Meu Deus, quando ele se arrepiava...
Oops, I did it again, I'm playing with your heaaart!
BRITNEY, MORRE. CELULAR, MORRE.
- Não vou atender.
- Pode ser importante. - Ficou comportadinho agora por quê?
Não, eu não acredito que eu estou atendendo.
- Aliás, você não disse que ia mudar seu toque?
- Eu vou mudar é a cara dessa songa de tanto soco. ALÔ!
- , você não vai acredit...
- FALA LOGO.
- O !
- O que tem o , ? - Eu sei que sou um amor de meiguinha com as minhas melhores amigas.
- Ele está aqui comigo e...
- ÓTIMO, tira o atraso e me liga depois!
- Ai, está com pressa? Eu ia falar sobre o .
- Ia, é?
- Ia! O conhece ele! E você não vai acreditar no que eu descobri!
- Agiliza.
- O trabalha na loja que você está trabalhando! - Agora imagine minha cara típica de desenho japonês. É, aquela da gota na cabeça, uhum.
- Mentira?
- É sério! Eu falei que você não ia acreditar!
- Não acredito mesmo. Não acredito que você interrompeu o que eu estava fazendo para falar isso! Criatura, eu já sei disso. Agora, vá lá brincar de esconde-esconde com o , um beijo.
- Mas eu não... Mas... AH! Acho que entendi! Ele está com você? - Ouvi risinhos no maior estilo "hihihi" das garotinhas da quarta série quando a tia começa a explicar o ciclo menstrual.
- Ligue-me quando você estiver mais sã, acho que o não faz bem para você. - Eu desliguei na cara dela. Bem feito, ela sempre faz comigo mesmo.
- Nossa, que amor.
- Ela ainda me deixa maluca.
- Não mais do que eu te deixo.
- Certo. Mesmo que isso tenha soado bastante convencido, é verdade.
- Foi você que disse, não lembra? Eu posso refrescar a sua memória.
- Deixe para depois, eu tenho que fazer uma coisa agora.
- O quê?
- Igreja.
- QUÊ? Como assim, fofa, já quer marcar o casamento?
- Você pegou a mania do Dave ou é impressão?
- Ok, esquece isso e responde a pergunta. Para onde vamos agora?
- Já disse, igreja!
- Pensei que você não estivesse falando sério.
- Vou agradecer pelo deus Apolo.
- Prefiro ficar sem entender.
FIM!
Nota da Autora:
Eu preferi a primeira parte e achei essa vazia, mas resolvi colocar aqui pra ver a opinião de vocês. Se gostar, let me know. Obrigada por ler :)
Küsse, alê.