Postado: 05/10/2017

Capítulo Único

— Oi, . Como prometido, encontrei as duas melhores candidatas para a vaga.
— Obrigado, Ade. Você já fez suas anotações de sempre?
— Fiz sim, estão todas aqui. — agradeci com um aceno, pegando os dois currículos das mãos da minha Diretora de Arte para analisá-los.
Trabalhava com Audrey desde o meu primeiro dia como Diretor de Criação da Adam and Eve DDB há quase dois anos, e agora estávamos em busca de um redator para ocupar o cargo deixado por Pacey, que havia decidido tirar um sabático para mochilar pelo mundo.
— O que é isso? — perguntei, franzindo minha sobrancelha ao que eu achava estar escrito.
— Ah, foi só uma forma de me lembrar das candidatas. — Ade fez um gesto com as mãos, como se não fosse nada importante.
— A forma de se lembrar dos candidatos são pelas suas qualificações, não por sua aparência física.
— Claro, , foi só…
— Qual das duas é a melhor? — a interrompi, já sem muita paciência.
— Eu não lembro o nome, me desculpe, entrevistei quinze pessoas só hoje, mas… a gordinha. — comentou com um sorriso duro no rosto ao ver a cara que eu fiz.
? — questionei, relendo aquele nome mais de uma vez. Não podia ser.
— Ela mesmo.
— E o que você gostou dela que difere da outra candidata, que, assumo eu, não é “gordinha”?
— Ah, ela é super inteligente e criativa, o portfólio dela já está em seu e-mail. Acho que alguns clientes podem querer vir com ela se decidirmos por contratá-la.
— Isso é ótimo, vou dar uma analisada nos portfólios e te aviso se quiser algum candidato extra.
— Ok, estarei em minha mesa.
Vi Audrey voltar para o seu lugar e senti meus ombros caírem. Depois de tanto tempo, não imaginei que me sentiria assim ao ver, ou ler, esse nome novamente. Quando meus olhos caíram sob o nome da dona daquele currículo, acreditei ser um engano, uma coincidência qualquer, mas não. Rapidamente olhei para a escola em que a candidata havia se formado e ali tive certeza: era , a garota por quem fui apaixonado durante todo o meu último ano da escola e que nunca sequer olhou para mim de outra forma que não fosse apenas como amigo.

(...)


tinha começado a trabalhar conosco há uma semana. Desde quando vira seu portfólio naquele dia, quase um mês atrás, percebi que o sorriso não saíra de meu rosto. Podia vê-la em cada um daqueles textos e slogans e fiquei feliz em saber que, sem querer, tínhamos nos formado na mesma profissão.
Eu ainda estava enrolando para me apresentar. Tive que ficar fora por três dias para conhecer um cliente e isso me ajudou a tomar coragem o suficiente para chamá-la na minha sala para me apresentar devidamente. O pior era que não, eu não era o nerd da escola nem nada do tipo, eu até que me incluía no que chamavam de “populares” e era apenas a “gordinha” da escola, mas, para mim, ela era a garota mais linda de todas, a que fazia com que eu me sentisse o garoto mais inexperiente do mundo.
Durante esses primeiros dias, a observei de longe e pude ver como ela tinha amadurecido e o quanto ainda me afetava. Seus cabelos estavam longos, um pouco mais claros do que eu me lembrava, mas o corpo... O corpo parecia ter somente melhorado com o tempo, ela parecia mais encorpada… Mais gostosa, para ser mais exato. Daria tudo para saber o que estava escondido embaixo daquele vestido.
— Com licença, . — pediu e entrou em minha sala, completamente tímida — ?! — Seu olhar era de total surpresa e o meu, de total encanto.
— Eu mesmo, acho que foi mais ou menos essa cara que eu fiz quando vi o seu nome entre os candidatos. — sorri nervoso, secando as palmas das minhas mãos na calça antes de cumprimentá-la.
— Que coincidência, faz tanto tempo que não vejo ninguém da St. Michael. Nunca imaginei que você fosse se tornar um publicitário, quanto mais ser o Diretor de Arte da A&E.
— Também, você nunca aparece nas reuniões da escola. — falei, sincero. No fundo, bem lá no fundo, eu sabia que ia pela esperança de que um dia aparecesse em uma delas — Foi durante meu gap year que decidi o que queria cursar na verdade.
— Minhas lembranças daquela escola são bem diferentes da sua. Vou em algumas da faculdade quando posso, mas só.
— Entendi. Bom, achei que seria legal me apresentar oficialmente, já que vamos trabalhar juntos a partir de agora. Espero que a Audrey e toda a equipe tenha te dado boas vindas e explicado como tudo funciona aqui na Adam and Eve?
— Explicaram sim. Ainda estou me adaptando ao novo escritório, tentando memorizar o nome de todo mundo, mas a cafeteria já consigo chegar de olhos fechados. — sorriu de uma forma doce, do jeitinho que eu me lembrava.
— Fico feliz. Fiquei sabendo que um dos seus antigos clientes entrou em contato com você?
— Sim, acredita? — disse, contente — Foi o VP do Cowell’s Bank, querem marcar uma reunião comigo e com você para conhecer a agência e ver como as coisas funcionam por aqui.
— Isso é demais, ! — disse, animado por saber que um dos maiores bancos do país se mostrou interessado em nossa redatora — Sabia que tínhamos feito a escolha certa.
— Eu não consegui esse emprego porque estudamos juntos, certo? — perguntou um tanto quanto desconfiada.
— Jamais, eu nem imaginei que você tinha todo esse talento para propaganda e textos. Claro que sempre te via lendo algum livro, mas, realmente, quando vi seu portfólio, não tive dúvidas. Sabia que tinha que ser você.
— Ainda estou bastante confusa como nunca ouvimos falar um do outro. Claro que eu morava do outro lado do país, mas mesmo assim. Seu nome nem está no site da agência.
— Eu tive uns problemas na minha última agência. Eles meio que me forçaram a não divulgar meu nome por dois anos após minha saída. Foi um contrato filho da puta que eu assinei porque na época achei que nunca fosse sair de lá, mas foi aqui que eu me encontrei. O Arthur, nosso CEO, me contratou mesmo sabendo que tinha esse impedimento todo. Em dois meses acaba essa palhaçada e já posso dizer ao mundo onde passei esses últimos anos. Ele disse que eu valia o investimento.
— Ah, que bom, fico feliz. Bom, eu vou indo, a Audrey já me deu um trabalho que tem tomado bastante do meu tempo. Foi bom te rever, . — se levantou, indo em direção à porta.
— Você não imagina o quanto. — confessei em um murmúrio.
— O quê?
— Nada não — sorri, tentando disfarçar o que tinha deixado escapar sem querer.
Eu não saberia dizer quando foi que eu comecei a me interessar por mulheres fora do padrão que a sociedade diz ser o “perfeito”. Quando tinha treze anos, dei meu primeiro beijo em uma garota gordinha. No dia, eu amei, mas no dia seguinte, quando meus coleguinhas de escola ficaram sabendo, eu neguei para todos e nunca mais olhei no rosto dela. Idiota, eu sei. A partir dali, passei minha adolescência e recém-chegada dos hormônios ficando com todas as garotas “gostosas” que eu queria, mas a verdade era que, apesar de gostar, sentia que algo não encaixava, que tinha alguma coisa faltando, e eu não sabia bem o que era.
Certo dia, de férias com a minha família na praia, vi uma garota maravilhosa. Seu corpo não era em nada parecido com os das garotas que eu ficava. Ela tinha muitas curvas, que, para mim, eram perfeitas, por mais imperfeitas que fossem. Uma suavidade na forma de andar que me causava arrepios e o biquíni que usava a fazia ser a garota mais gostosa daquela praia para mim.
Rose, sem saber, acabou me ensinando que eu não tinha que ter vergonha de gostar de uma garota por ela ser gorda. Se eram elas que me atraíam, qual o problema? Ficamos a semana toda juntos e até hoje penso nela com carinho.
Na volta para casa, cansado de minha própria hipocrisia, pedi aos meus pais para trocar de colégio no terceiro ano, e, mesmo sem entender muito bem o motivo, aceitaram o meu pedido. Foi assim que entrei na St. Michaels. Não que eu tivesse vergonha do passado, mas tinha tentado conversar com um ou dois amigos sobre a minha preferência para mulheres e os dois acabaram fazendo gracinhas o resto do semestre, e, se era aquilo que eu chamava de amigos, era porque tinha feito escolhas erradas, então decidi começar do zero em um lugar novo.
Foi lá que eu conheci a . Não a vi na primeira semana, nem na segunda – foi um dia sem querer que fui à biblioteca e lá estava ela com uma pilha enorme de livros para devolver. Coloquei-me na fila atrás dela e a ouvi conversando com a bibliotecária sobre o que tinha achado de alguns deles e que não pretendia pegar mais nenhum, pois agora era vez de dar um pouco de atenção a suas músicas e séries. Ao sair, ela me olhou tímida, e acho que foi nesse dia que eu percebi que estava bastante ferrado.
Passei um tempo a observando e infelizmente percebi o quanto ela era insegura em relação ao próprio corpo. Na época, eu tinha problemas pessoais em casa, e, a cada dia que passava, odiava ainda mais como via tentar se encaixar no meio daquela multidão de gente “normal”. O pior era que ela não era única. Havia mais garotas gordas, gordinhas e até magras comendo salada de almoço para se manterem em forma.
Foi só a partir do meu gap year que aprendi que não se deve chamar uma garota de gordinha ou fofinha. Eu até achava que era um apelido carinhoso e fofo, mas quando você leva um fora por ter usado tais palavras, acaba se adequando ao que é politicamente correto.

No passado



She ties her hair up tight
Puts her armour on
When she steps outside
She lives in black and white
And the colours gone,
But it's in her eyes


— Ei, , você vai na festa do Alex hoje? — perguntei, esperançoso, mesmo sabendo qual seria sua resposta.
— Você não desiste nunca, ? — ela respondeu, rindo de mim — Eu nem conheço ele e não sei o que faria numa festa de populares.
— Mas você acha que metade das pessoas que vão aparecer lá o conhecem? Não vai me dizer que também tem um compromisso hoje, como em todas as outras vinte vezes que te fiz essa mesma pergunta? — disse, lhe fazendo uma careta feia, e a vi dar uma risadinha fofa.
— Na verdade, hoje não, mas amanhã tenho uma prova de equitação.
— Você anda a cavalo? — perguntei, surpreso, e ri de mim mesmo pela empolgação que saiu em minha voz.
— Sim, desde pequena — comentou com um brilho no olhar.
— Nossa, nunca imaginaria. — confessei, impressionado.
— Por quê? Gorda não pode fazer um esporte e continuar sendo gorda?
— Claro que não! — respondi rápido, chocado por ela achar que eu seria capaz de algo do tipo — Eu só fiquei surpreso porque hipismo não é um esporte qualquer.
— Ah, qual é, — falou, irritada — Você só anda com os populares e passa mais tempo treinando pros seus jogos de lacrosse do que estudando, você acha mesmo que eu vou cair nessa de que você só quer ser meu amigo?
— Wow! Não precisa me ofender também, nunca te tratei mal — respondi, chateado pelo que tinha acabado de ouvir — Por que eu falaria com você e te chamaria para todas as festas?
— Por dó ou pra tirar sarro de mim quando eu chegasse lá. Quer saber, me deixa em paz.
. — Stacey se aproximou com a sobrancelha erguida — ‘Tá tudo bem por aqui? — questionou, olhando de mim para enquanto entrelaçava seu braço ao meu.
— Tava demorando... — disse por fim, fechando seu armário com mais força que o normal — Minha deixa. — E se virou para ir embora sem que eu pudesse dizer mais nada.
— Vem, , já fez caridade suficiente por hoje. — olhei arregalado para o que Stacey tinha dito e me virei para ver se tinha ouvido, mas acreditei que não, já que ela estava a uma considerável distância — Ai, ai, não sei porque você sempre tenta se enturmar com ela. Não perca seu tempo, bobinho, você sabe que ela é uma bomba relógio, e não digo apenas por sua forma arredondada.
— Eu gosto dela, Stace, tenta me entender — falei sincero e fui respondido com uma risada.
— Você realmente é uma gracinha. — finalizou apertando minha bochecha, me tirando uma careta.
Depois daquele dia, parecia ir à escola com uma nova armadura, uma que muitos me disseram que ela usava, mas que eu nunca tinha visto antes. Ela me evitava a todo momento e, nas raras ocasiões que conseguia fazer com que nossos olhares se cruzassem, ela desviava antes que eu pudesse sequer ter uma reação. Acabei conhecendo um lado seu que eu não esperava, um mundo sem cor, apenas no preto e branco, porém o que mais me doía era que eu podia enxergar em seus olhos a quantidade de cores que existiam em torno dela, se ela ao menos visse o que eu via.

(...)


Dizem que quando crescemos, nos tornamos mais confiantes em nós mesmos, confiamos “no nosso taco”. No entanto, dois meses depois e ainda continuava ouvindo “não” quando perguntava se ela queria almoçar comigo, ou se a chamava para ir em um dos muitos happy hours com a equipe. Eu a havia deixado livre para trabalhar com total autonomia, para testar como ela funcionava sem que fosse supervisionada, mas nosso maior cliente tinha pedido uma nova campanha para o Natal, e agora se fazia necessário que nós dois, junto com a Audrey e o resto de nossa equipe, se reuníssemos para uma reunião de brainstorming para ver por qual caminho poderíamos seguir.
— Pensei de usarmos um boneco de neve animado — Audrey sugeriu, e a olhei com a sobrancelha erguida, esperando que ela continuasse sua teoria — O sonho dele é conhecer a praia e ele passa o tempo todo tentando criar formas de como ele pode chegar lá sem derreter…
— Hm — disse, um pouco desanimado com a ideia — Não tem um filme assim já, infantil?
Frozen — Margareth, nossa designer júnior, respondeu, e a encarei divertido — Qual é, , nunca viu? É tão lindo! E nem vem falar que não enjoou de ouvir “Let it go”, porque eu bem que te ouvia cantando por aí.
— Ah, é daí que saiu essa música? — falei, interessado — Ouvia na rádio, mas nunca fiz a ligação.
— Meu Deus, , em que mundo você vive? — disse, divertida -— Nunca pensei que fosse conhecer alguém que não assistiu Frozen.
? — Audrey interferiu com uma careta — Ninguém chama o assim. — disse, rude, e a encarei, confuso.
— Nossa, não sabia que era proibido, nunca o conheci por , apenas , mas estou aqui há três meses e nem ele, nem ninguém, nunca me corrigiu. Se tiver algum problema, é só me falar, .
— Não é proibido — respondi, encarando Audrey — Para quem não sabe, eu e estudamos juntos no colegial. Naquela época, eu só era conhecido como , e não tem problema mesmo, acho que até prefiro que você me chame assim. Ficaria estranho se mudasse agora. Mas pra vocês ainda é — disse com minha voz de chefe, que eles sabiam muito bem o que significava, e pude ver Audrey desviar o olhar.

(...)

Time and time again we're going back to the start
And I try and try again to bring some light to the dark
You know every day's a battle and it tears her apart
And I don't know why


O trabalho na Adam and Eve continuava a todo vapor. Agora que já não tinha mais que esconder meu nome da concorrência, algumas empresas com quem trabalhei no passado vieram conversar comigo, e, quando lhes apresentei minha dupla dinâmica, Audrey e , eles pareciam ainda mais interessados em trocar de agência e voltarem a ser meus clientes.
As duas, apesar de não serem amigas, ou sequer colegas no dia a dia, quando estavam trabalhando, eram como se fizessem nado sincronizado. Enquanto uma vinha com o visual, a outra já tinha os textos e fontes, e eu apenas as encarava com orgulho. Eu finalmente tinha um time do qual eu tinha prazer em fazer parte.
Todas as segundas eu fazia uma reunião com a equipe toda para sabermos como estavam indo as campanhas e o que seria feito durante a semana. Porém, enquanto esperava todos chegarem, observei de longe se aproximar, e o que eu vi me doeu. Ela estava com sua armadura novamente. Tentei perguntar se tinha algo errado, mas levei uma cortada que me colocou em meu lugar.
Uma semana depois e ainda não parecia bem, e nada do que eu havia feito a fez sequer dar um sorriso.
— Ade. — chamei sua atenção quando a encontrei na cafeteria — Você sabe que nunca pergunto essas coisas, mas… ‘Tá tudo bem com a ? Ela anda meio para baixo e já perguntei duas vezes e não fui bem recebido.
— Ah, , eu não contei pra ninguém, mas acho que ela me odeia no momento — a encarei ainda mais curioso — Eu saí com meu namorado esses dias, fomos no Brasserie, sabe? E eu a vi no bar, estava toda maquiada, de vestido, claramente esperando alguém.
— Hm — soltei um som qualquer, sentindo uma pontada esquisita tomar conta de mim — E o que tem isso? Por que te envolve?
— É que eu acho que ela levou um cano. Quarenta e cinco minutos depois, ela ainda estava lá… sozinha. Eu fiquei com dó e perguntei se ela queria se juntar a nós, mas ela ficou surpresa por me ver ali e logo pediu a conta e foi embora. Ela mal tem falado comigo, digo, ainda menos do que antes.
— Acho que vou falar com ela.
— Falar o quê, ? — Audrey me questionou, em dúvida — É meio óbvio o que aconteceu. Ela provavelmente conheceu alguém pela internet e talvez tenha mostrado uma foto alterada, capaz do rapaz ter chegado lá e visto, bem… Que ela é gorda, né?
— Audrey — tentei soar o mais calmo que eu conseguia naquele momento, mas a raiva que me assolou estava bem difícil de controlar — Eu sinceramente nunca imaginei que você pudesse ser tão má, eu gostaria de dizer vaca… Vadia mesmo, mas, na onda do feminismo, eu acredito que mulheres não devam falar mal de outras mulheres, e homens devem achar outras palavras ao descrever mulheres como você. Saiba que eu acho a maravilhosa, e o corpo dela, para mim, dá de 10 a 0 no seu e no de qualquer outra mulher dessa agência. Você vive me perguntando por que nunca dou uma chance às suas amigas. Bem, ‘tá aí minha resposta: eu gosto de mulher gorda, como você mesma disse, e é por causa de mulheres como você que vi minha irmã, a e muitas outras sofrerem em prol da beleza… Nunca achei que você fosse tão vazia por dentro — finalizei, vendo seus olhos lacrimejarem, mas não estava com a menor paciência para seus dramas.
Eu sabia que tinha que tomar uma atitude urgente. Não sabia se realmente tinha planejado um encontro que dera errado, ou o que quer que fosse, mas se ela estava em busca de alguém, estava mais do que na hora de eu me mostrar sendo esse alguém. Mesmo que eu levasse um fora, mesmo que ela risse da minha cara, ao menos eu teria a certeza, e não a dúvida.

(...)

And I'm picking up the pieces when they fall to her feet
She's been fighting all the demons so she'll never be free
She's been hiding in the shadows, yeah, it's hard to believe,
But I don't know why


, vem comigo. — falei apressado, sem nem deixar que ela parasse pra pensar.
— Aonde vamos? — disse com sua bolsa na mão, me alcançando no meio do corredor — Você ‘tá bem?
— Por que a pergunta?
— Quando você fica nervoso, fica apertando a mão, como você está fazendo agora — disse, calma, e encarei minha própria mão.
— Desde quando? — a encarei divertido, curioso por ela saber algo de mim que nem eu sabia.
— Desde sempre. Quando você jogava e errava o passe, ou quando perdia um ponto… Você sempre fez isso.
— Você… via meus jogos? — questionei, completamente surpreso, enquanto apertava o botão do térreo.
— Alguns, não todos. Você sempre falava de lacrosse como se fosse a coisa mais legal do mundo, fiquei curiosa.
— Eu preciso confessar uma coisa também.
— O quê?
— No dia que você brigou comigo quando te chamei pra festa do Alex, eu fui à sua competição de hipismo.
— O QUÊ?! — me encarou com espanto no rosto, e eu acabei rindo, sentindo toda minha raiva sumir.
— Eu fui — disse, dando de ombros — Eu realmente acho bonito hipismo e quando você disse que fazia, fiquei curioso para te ver…
— Eu não fui muito bem naquele dia.
— Eu achei que foi, a culpa não é sua que o cavalo refugou, acontece. O que você gosta de comer?
— Hm, são onze da manhã, não estou com muita fome.
— Mas eu estou, conheço um lugar que serve um brunch ótimo.
devia me achar um maluco, mas nada falou, apenas me seguiu e entrou no carro sem dizer mais nada. Sentia meu coração palpitar e bater nervoso no volante. Quando chegamos ao restaurante que eu sempre ia aos finais de semana, pedi tudo que tive vontade e a observei pensar no que pedir. Quando o garçom anotou nosso pedido, entramos num silêncio confortável.
? — a chamei, tirando-a de seus devaneios.
— Eu. — ela respondeu, incerta, olhando nos meus olhos.
— Por que você só usa preto?
— Pfff. — riu, mas sem humor.
— Qual a graça?
— Você me perguntando isso quando a resposta é mais do que óbvia.
— Para mim não é, sou homem e publicitário, uso jeans e camisa todos os dias.
— Porque eu sou gorda e não acho nada do que eu goste no meu tamanho, então assim fica mais fácil.
— Eu não te acho gorda.
— Mas eu sou.
— Não é não.
— Eu sou o quê, então? — perguntou firme, mas eu pude ver seus olhos cheios d'água, claramente desconfortável com o rumo da conversa.
— Gostosa. — respondi, confiante, e sorri ao notar sua reação totalmente descrente.
— Ah, por favor, gostosa era aquela sua namorada cheerleader.
— Quem?
— Como quem? A Stacey!
— Eu nunca namorei a Stacey. — afirmei, completamente confuso.
— Namorou sim. — sua fala era tão confiante, que quase acreditei que talvez tivesse um gêmeo meu por aí, que realmente a tinha namorado.
— Er, desculpa, mas eu acho que me lembraria disso.
— Ela dizia pra todo mundo que vocês namoravam. — complementou, me olhando tão confusa quanto eu devia estar.
— Jamais, eu… Eu gostava de outra pessoa na época.
— De quem?
— Não está meio óbvio? — perguntei, olhando em seus olhos.
— Não! — me olhou como se eu fosse completamente doido, e acho que realmente estava para estar falando todas essas coisas.
— De você. — disse um pouco nervoso — Ou você acha que eu realmente gostava de andar a cavalo?
— Mas… você foi fazer aquela caminhada comigo, , e não foi uma qualquer. Durou quatro horas.
— Claro, eu queria que você me notasse, mas passou o dia todo quieta.
— Eu estava com um pouco de vergonha de como tinha te tratado na escola e tudo mais. É que quando estávamos conversando, a Stacey e a Megan ficavam apontando e rindo, e eu achei que você estivesse falando comigo a pedido delas.
— Eu nunca faria isso, não era a primeira vez que falava com você também, e nunca te tratei mal.
— Eu sei, mas é difícil ser o “projeto de caridade de ”.
— Você ouviu? — perguntei, chateado.
— Não se preocupe, não era a primeira vez que ouvia isso de alguém. Eu estava num mal dia, tanto que te pedi desculpas depois, você realmente nunca me tratou mal.
— Então por que nunca me deu uma chance?
— Porque eu nem sabia que você queria uma.
— E se eu te chamasse para sair comigo, agora que você sabe que eu quero, você aceitaria?

— O quê?
— Você faz academia todo dia, eu te vejo chegar com a mochila e, bem, só olhar para você. Seu corpo é todo forte. — disse, gesticulando com os braços na minha direção.
— E o que tem a ver isso com sair comigo? — questionei, encarando meu próprio corpo e tentando entender o que ela queria dizer.
— As meninas lá são todas gostosas, magras… e eu, bem, sou eu.
— Mas eu não tô lá para ver ninguém, , eu vou por mim e por como me sinto quando saio de lá. Não apenas pelas mudanças no meu corpo, como na minha saúde e mente, me ajudam a pensar nas campanhas. Fora que eu sempre quis ter a chance de dizer isso para você: gostosa e magra, para mim, não são sinônimos. Eu nunca me senti atraído por mulheres magras, sempre por mulheres como você.
— Mulheres gordas, você quer dizer?
— Eu não sei ainda como me sinto em relação a usar essa palavra por diversos motivos, mas, sim, se é a que você quer que eu use, eu gosto de mulheres gordas. Eu adoro um corpo voluptuoso, o gingado ao andar, um vestido justo… e eu acho você linda, achava nove anos atrás e ainda mais agora. Passei aquele ano todo tentando criar coragem de falar como realmente me sentia, não quero deixar a chance escapar de novo.
— Isso é tão… surreal.
— Não é… Você quer sair comigo, , em um encontro?
— Eu não sei…
— Não sabe por quê? Você não me acha bonito? Não… gosta de mim?
— Por favor, , acho que até lésbica te acha lindo, você faz o tipo de todas as mulheres. Mas você é bonito demais pra querer ficar comigo, entende? A Audrey, a Stacey, elas têm muito mais a sua cara.
— Então você acha que merece um homem feio? E eu devo ser muito lindo mesmo, porque, para mim, você é a minha cara.
— Não, eu sou realista, é diferente. Acho que um dia vai aparecer alguém que goste de mim como eu sou.
— Mas já apareceu, eu! — disse, inconformado — Você ‘tá entendendo o que eu estou falando? Eu gosto de você como você é. A Audrey, a Stacey, nenhuma delas me atrai. Por favor, me dá uma chance, um encontro? — pedi, fazendo um com meu dedo — Se eu for horrível, se eu beijar mal, eu juro que te deixo em paz.
— Você gosta mesmo de mim?
— Gosto. Se você quiser, pode escolher o lugar. Até andar a cavalo eu vou, mesmo sem conseguir sentar depois por uma semana.
! — ouvi dar uma gargalhada gostosa e consegui, finalmente, relaxar — Tudo bem, eu aceito.
— Yes! — disse, animado, finalmente acreditando que tudo poderia dar certo.

(...)

Love, don't ever change the way you are,
You light the sky just like a star
I don't care what you say you're
Beautiful to me, oh


Na sexta-feira, sem que ninguém visse, deixei uma caixa na mesa de e fui embora. Era um vestido, que, quando fui à loja escolher algo com cor para lhe dar de presente, sabia que tinha que ser aquele. Ele era de um tecido leve com as mangas longas, mas com um leve decote e acima do joelho.
— Eu achei que você fosse ficar linda nesse vestido, mas não imaginei o quanto. — disse quando ela saiu pela porta de seu prédio e se aproximou de mim.
— Obrigada. — sorriu tímida, me dando um beijo no rosto — Eu nunca usei essa cor antes, mas gostei bastante.
— Fico feliz. Se bem que eu acho que esse presente foi mais pra mim do que pra você.
— Bobo — ela sorriu, me dando um tapinha no ombro, e abri a porta do carro para que ela entrasse — Aonde vamos?
— Você gosta de frutos do mar? — perguntei, incerto. Nem me havia atentado ao fato de que ela poderia ser alérgica.
— Não todos, mas gosto sim.
— Ótimo, nós vamos no Oceane.
— Ai, eu adoro lá — comentou, sorrindo, e fiquei feliz por ter acertado na escolha.
Quando chegamos no restaurante e fizemos nosso pedidos, começamos a relembrar diversos momentos de nosso ano juntos no colégio. Eu olhava para ela, ali na minha frente, e não conseguia acreditar que o meu sonho de adolescência estava comigo num encontro.
— Quem pede peixe grelhado, salada e batatas fritas, ? — disse, bem-humorado.
— Eu, ué. Eu adoro peixe com salada, mas quem resiste a batata frita? A gordinha aqui que não. — falou, dando de ombros.
— Sabe, você pode se colocar quantas vezes para baixo quiser, eu vou continuar falando que você é linda, porque quando te olho, é a única coisa que consigo ver. Às vezes queria que você tivesse os meus olhos.
— Por quê?
— Por que o quê?
— Por que você gosta de mulheres gordas?
— Eu não acho que isso tenha motivo. Tem homem que gosta de morena, outros de loiras, alguns só saem com modelos, e eu gosto de volume… Curvas. Não me importo com celulite, barriguinha, nada disso. Não foi algo que eu decidi: “Ok, , a partir de hoje você não vai se sentir atraído por garotas magras”... Só aconteceu.
Depois da pergunta, pareceu acalmar, e a noite foi ótima. Ela me fazia rir de tanto que era divertida e alegre, exatamente como era quando éramos adolescentes. Com ela, eu não tinha medo de parecer infantil ou bobo. Ela me conhecia e sabia quem eu era de verdade.
Há tempos não me sentia tão em paz com alguém.
Ao fim do encontro, acompanhei-a até a entrada do prédio.
— Obrigada, , foi ótimo. Foi muito bom poder conversar com você sem a barreira chefe/funcionária, matei a saudades de um amigo que nem percebi que sentia falta.
— Amigo? — senti como se um balde de água fria caísse sobre mim.
— Amigo. — ela disse, suspirando forte — Desculpa, , eu não consigo, não dá. Hoje todas as mulheres estavam me olhando se perguntando o que um homem como você está fazendo comigo. Eu tenho espelho, ok? Eu sei quando estou sonhando alto demais.
, por favor… Como faço pra você acreditar em mim?
— Boa noite, , espero que tenha um bom final de semana. — E assim ela se foi, me deixando completamente vazio do lado de fora.

(...)

She, she never gets it right
And it feels like rain on a perfect night
And I'll, I'll be a hand to hold
You can push me hard, but I won't let go


— Me chamou? — entrou na minha sala na segunda de manhã e pude ver que ela estava com receio de me encarar.
— Senta, por favor. — disse, sem pestanejar.
, eu não quero que fique um clima estranho entre nós, por favor, me entenda.
— Não, , eu quero que você me entenda, aqui — disse, jogando diversas fotos na sua frente.
— O que é isso?
— Minhas ex-namoradas, casos, enfim, todas as mulheres que eu me relacionei ao longo dos anos.
— Por que você quer que eu veja isso?
— Não é óbvio? Não consegue ver que todas elas têm algo em comum?
— Sim — a ouvi dizer baixinho.
— Essa daqui — disse, sentindo as lágrimas querendo aparecer — Eu nunca mostrei para ninguém, essa é minha irmã.
— MEU DEUS! — ela disse, me encarando, assustada — O que ela tem?
— Tinha. Minha irmã teve anorexia nervosa por muitos anos. Toda minha adolescência a vi tomar remédios escondida, comer seis ervilhas no jantar, tomar água de café da manhã, até que ela quase morreu. Ficou internada quase um ano.
— Ela… Ela está bem agora?
— Na medida do possível — disse, dando de ombros e encarando a foto — Ela está saudável, casou, mas descobriu recentemente que não pode ter filhos. Eu morro de medo de tudo voltar. O marido dela é um homem bom, porém não consigo não me preocupar, por isso moro aqui. Me mudei quando ela se casou, assim posso visitá-la toda semana.
— Eu sinto muito, eu nunca soube.
— Eu nunca contei para ninguém na escola. Resolvi te mostrar minhas ex-namoradas, minha irmã, para ver se você entende finalmente que eu sou assim desde… sempre. Ver minha irmã lutando para ser o que a sociedade impunha me causou ódio do poder da mídia, viver dia após dia tudo que vivi só me fez dar valor às pessoas que não se privam de nada para serem felizes. Não consigo achar bonita uma menina na minha academia, por exemplo. Ela tem o corpo lindo, mas come frango com arroz sete vezes por dia. Você acha que ela consegue ser feliz assim? Porque eu não consigo. Eu não gosto de mulher magra, entende? Não estou dizendo isso para você porque quero te levar para cama, quer dizer, eu quero, muito, mas eu não acho que você se candidatar para ser a redatora da Adam and Eve tenha sido por acaso. Eu nunca me esqueci de você, , essa foto aqui… — disse, tirando a última foto da minha gaveta e dando a volta em minha mesa para me sentar no braço da cadeira em que ela estava — Eu nunca joguei fora.
— Não acredito! — ela sorriu, olhando a foto que a convenci tirar comigo em nossa formatura — Eu nunca tinha visto essa foto antes. Como eu era desengonçada.
— Adorável, eu diria. — sorri, a encarando — Você acredita em mim agora? Porque eu realmente estou ficando sem ideias…
— Acho que acredito. — ela encarou a foto novamente — É óbvio que eu, secretamente, tive uma queda por você.
— Teve? — perguntei, sentindo meu coração aumentar seus batimentos.
— Eu ainda tenho. — ela finalmente olhou para cima, me encarando, e pude ver que suas bochechas estavam rosadas — Fica difícil não ter depois de tudo isso que você vem me falando nesses últimos tempos. Acho que minha única solução é acreditar em você.
— Finalmente! — disse contido, mas, por dentro, podia ouvir os fogos de artifício.
Eu não podia e nem iria deixar esse momento passar. Estava pouco me importando que estávamos no escritório e que a qualquer momento alguém poderia entrar na minha sala, não quando eu finalmente estava tendo a chance de beijar a mulher que mais mexeu comigo em toda minha vida.
Levei minha mão ao queixo de e a trouxe para perto de mim. Ela fechou os olhos, e eu a vi ali, entregue a mim, sem armadura, sem medos. Era como se finalmente ela acreditasse que eu era completamente maluco por ela.
Beijei-a com calma, apreciando todos os anos de espera que me levaram àquele momento. O menino de dezessete anos estava realizando um sonho que ele nunca achou ser possível. Beijar a era reencontrar em mim mesmo algo que eu nunca achei que fosse sentir, mas que sempre esteve ali, pronto para aparecer. Beijá-la era como estar em casa, onde eu pertencia, de onde eu nunca mais queria sair.
— Eu acho que estou sonhando — disse, bem brega, a ouvindo dar uma risadinha fofa, e não me aguentei e lhe roubei mais um selinho.
— Chega, , alguém pode entrar.
— Eu realmente estou pouco me lixando no momento — falei, ainda fazendo um carinho em seus cabelos macios.
— Mas eu estou. Sou uma funcionária nova beijando o chefe.
— Você promete que não foge mais de mim?
— Prometo. — ela sorriu tímida.
— Posso então jogar todas as latinhas de cerveja vazias do meu apartamento que colecionei durante o final de semana depois do fora que você me deu?
— Você não fez isso?
— Fiz. — confessei, derrotado.
— Tudo bem. — ela sorriu, se levantando e fazendo uma pose confiante engraçada — , você aceita sair em um encontro, comigo? — disse, rindo da minha cara — Quer dizer, ir até a minha casa. Eu faço uma massa artesanal e molho caseiro que, sinceramente e modéstia à parte, é divino.
, se eu aceitei ficar estéril nove anos atrás naquele cavalo maldito, acha que vou falar não para a minha atividade favorita? — a ouvi gargalhar, e meu coração se aqueceu.
— Quarta-feira?
— Eu estarei lá. — sorri, lhe dando um beijo no rosto antes dela sair de vez de minha sala. — YES! — repeti, animado, e eu tinha certeza de que ela tinha ouvido, mas eu não estava nem aí.

(...)

Time and time again we're going back to the start
And I try and try again to bring some light to the dark
I know everyday's a battle and it tears her apart
Don't you cry my
Love, open your arms and let it go,
You're so amazing, don't you know,
I don't care what you say, you're
Beautiful to me, oh


O prato que tinha feito era a massa mais maravilhosa que eu tinha provado em toda minha vida. Além de inteligente e uma redatora como há muito tempo eu não encontrava, ela ainda sabia cozinhar comida italiana com perfeição.
— Italiana não, só massa — disse, divertida, quando a elogiei — E um pouco de comida francesa. Eu fiquei três meses na Europa e acabei fazendo aulas de culinária para passar o tempo.
— Já é bem mais do que eu consigo. Eu gosto de café da manhã, então sempre invento um prato novo. Se você for boazinha, posso cozinhar algo pra você. — respondi, dando uma piscadinha enquanto colocava os pratos na pia.
— Você sabe que isso soou totalmente pervertido, né? — disse, dando risada.
— Eu acho que foi essa a minha intenção — me aproximei de onde ela estava e a abracei sem pedir permissão, lhe dando um beijo na curvatura de seu pescoço.

— Eu não vou forçar nada, prometo — falei, sincero, mas ainda distribuindo diversos beijos em seu pescoço. Sorri vencedor quando ela relaxou um pouco, tombando a cabeça para o lado e me dando ainda mais acesso ao seu corpo. — Só estou tentando recuperar o tempo perdido.
— Você é muito bobo mesmo — falou, rindo, mas ofegante.
— Você não achou que poderia usar esse vestido com essa fenda — comentei, olhando em seus olhos, porém meus dedos passavam suavemente na coxa, que estava parcialmente à mostra — E esse decote... — Eu tinha total noção de que parecia um tarado olhando seus seios tão em evidência, mas era difícil me controlar com aquele vestido — E que eu não fosse tentar tirar proveito nem um pouquinho, né?
— Tudo bem, talvez eu tenha feito isso para ver se conseguia finalmente ver o que tem por baixo dessa camisa, que você sempre usa um número menor para deixar todos esses músculos à mostra.
— Não precisa repetir. — sussurrei, tomando com meus dentes seu lábio inferior, enquanto me livrava o mais rápido possível de minha camisa. — Não faz essa cara assustada, eu sei que esse é nosso primeiro encontro, vou te deixar completamente vestida… Por mais que doa em mim, algumas partes mais do que as outras. — ri, pressionando meu corpo ao dela.
— Uau! — ela mordeu o lábio inferior ao me ver sem camisa, me deixando ainda mais excitado — Acho que é a minha vez de aproveitar. — finalizou, deslizando suas mãos por meu peito e abdômen.
— Sou todo seu — respondi, rouco, lhe dando livre acesso ao que ela quisesse fazer.
Naquele dia, fui embora com um sorriso ridículo no rosto e uma dor no meio das pernas. Voltei para casa cantando bem alto no carro e, nos outros dias, que fui trabalhar, todos notaram que havia algo de diferente em mim. Audrey tentou vir conversar comigo, entender por que eu estava assim, mas me mantive ocupado e firme o suficiente para ignorá-la. Ela nem tinha sequer tentado pedir desculpas.
Como eu era um dos diretores da agência, não pegava muito bem estar de rolo com uma funcionária, então conversamos e decidimos que levaríamos seja lá o que tivéssemos começado com calma, sem rótulos. Quando nos sentíssemos prontos para algo mais, voltaríamos a conversar sobre o assunto.
Na terceira semana, chamei para finalmente conhecer meu apartamento, obviamente com segundas intenções. Tinha até trocado o lençol, mas se ela me dissesse não, já estaria satisfeito com tudo que vínhamos fazendo ao longo dos dias em que nos encontrávamos.
Quando ela chegou, lhe mostrei toda a casa, ainda hipnotizado pela roupa que ela usava. Seu quadril rebolava na minha frente, e eu mal conseguia lembrar como falar. Quando já estávamos voltando para a sala, perdi todo meu controle e segurei em sua mão, fazendo com que ela me encarasse curiosa. Dei meu maior sorriso safado e a pressionei contra a parede, encarando novamente seus seios, naquele maldito decote que ela sempre usava quando estávamos juntos, e mordi meu lábio inferior, levantando meu olhar, pronto para encarar o seu. Com cuidado, deslizei uma das mangas de seu vestido para o lado e me permiti beijar toda a extensão de seu colo. Ouvi murmurar o meu nome e repeti o gesto do outro lado, só que dessa vez abaixei ainda mais a outra manga, deixando à mostra o sutiã de renda que ela usava, da mesma cor do vestido.
— Às vezes acho que estou sonhando — disse ainda num sussurro, pegando-na no colo e cruzando suas pernas em minha cintura.
— O que você está fazendo? — perguntou, ofegante, apoiando as mãos em meus ombros.
— Te beijando… aqui — respondi sem pudor, beijando por entre seus seios, agora na altura dos meus olhos.
— Mas você está me segurando — disse, incomodada — Eu sou pesada.
— Você sabe que faço academia todo dia, não? E que quando estou lá, levanto peso pesado?
— Sei, mas…
— Mas nada, , pra mim você não é nada pesada, consigo ficar assim por mais um tempo facilmente. Será que a gente pode parar de perder tempo e voltar ao que realmente importa?
— E o que é?
— Você me beijando, me deixando te beijar. — comentei, já voltando a beijá-la.
.
— Hm — resmunguei, sem parar — Você é maravilhosa, sabia?
— Para! — resmungou, tentando se soltar.
— Não, hoje não, amanhã, se você quiser, podemos passar o dia todo falando de tudo que você odeia em si mesma. Eu até escrevo enquanto você fala. Porém, hoje, agora, eu só quero te mostrar o quanto você é linda e o quanto eu estou me segurando para não te ter nesse exato segundo. Me deixa te elogiar, falar como seu corpo é lindo, o seu cheiro, viciante, e o seu beijo, a única coisa que eu consigo pensar do momento que eu acordo até a hora que vou dormir. Me deixa te fazer bem… Amanhã a gente pensa no resto.
Acordar cedo no domingo nunca fora tão prazeroso – trocar os lençóis tinha sido realmente a escolha certa a se fazer. Depois de todo o drama que fez quando eu a estava segurando, acho que consegui finalmente fazê-la se esquecer de seus medos. Tê-la em minha cama, só minha, foi um sonho realizado, um sonho onde a realidade era mil vezes melhor.
Levantei-me com cuidado e fui usar meus famosos dotes culinários para fazer um café da manhã enorme para . Ela ainda dormia e não quis incomodá-la. Quando estava terminando de pôr a mesa, ela apareceu, tímida, usando o vestido da noite anterior.
— Ei, bom dia! — disse, indo ao seu encontro beijá-la.
— Bom dia — ela sorriu fechado, retribuindo com menos vontade do que eu imaginei, mas pensei que era coisa da minha cabeça.
— ‘Tá tudo bem? Você viu que deixei uma escova de dente e umas camisetas minhas se você quisesse usar agora de manhã para não usar esse vestido logo cedo? Não que eu esteja reclamando… — sorri, me lembrando de como ela tinha amolecido ao meu toque horas atrás.
— Vi sim, mas não precisava, obrigada. Uau, quantas pessoas você quer alimentar? — encarou a mesa, impressionada.
— Acho que me deixei levar, eu disse que adorava café da manhã, e não sabia muito o que você gostava, então fiz um pouco de tudo.
— A mesa está linda, vou experimentar um pouco de cada coisa.
— Sente-se, mademoiselle — brinquei, arrastando a cadeira para que ela se sentasse.
— Eu não posso ficar muito, ‘tá? — parecia com vergonha, e a encarei com a sobrancelha erguida.
— Achei que fôssemos passar o domingo juntos?
— Como a gente não tinha combinado nada, e eu certamente não achei que fosse estar aqui até agora, acabei combinando de sair com uma amiga, me desculpa. Eu te ligo quando chegar em casa e combinamos alguma coisa, pode ser?
— Pode — disse, dando de ombros, decepcionado — Eu te deixo em casa.

(...)

Light breaks through your hair and
They all stop and stare and
I'd go anywhere, oh, why can't you just see that
I'm crazy about you
I can't live without you
You don't see it but you're
Beautiful to me


Eu ouvia Audrey e fazerem sua apresentação da campanha de Natal da Josh Newman, mas minha mente estava ocupada demais vendo como o reflexo do Sol deixavam os cabelos de ainda mais claros e bonitos. Elas estavam comandando a apresentação com o maior profissionalismo, e eu, apesar de saber da competência da Audrey, via todos os executivos da loja de departamentos completamente vidrados em , que, além de estar incrivelmente sexy naquele vestido formal, que a deixava ainda mais elegante e gostosa, exalava conhecimento, criatividade e o principal, que conhecia a empresa e toda sua filosofia. Ouvi Piers, o principal acionista, pedir outras opções de frases para a propaganda impressa e, apesar de não ter nenhuma já pronta, se sentou ao seu lado e escreveu quatro opções ali, na hora.
— Sinceramente, , onde você estava com a cabeça de não ter contratado a Srta. anos atrás?
— Imagina — a vi corar — É que eu realmente adoro a sua loja, não são muitas as lojas de departamento que vendem roupas de qualidade para mulheres como eu igual a Josh Newman vende, então fica fácil ter ideias.
— Nós começamos com o segmento de plus size há cinco anos mais ou menos, infelizmente não começamos antes por puro preconceito — disse, olhando nos olhos, e eu me ajeitei em minha cadeira, curioso com o rumo da conversa — Mas então minha filha teve um problema de saúde e engordou bastante. Eu via em primeira mão como é difícil encontrar roupas de qualidade para garotas maiores, foi então que decidi que ela merecia continuar se vestindo da forma que queria.
— Fico feliz em ouvir isso e espero que sua filha esteja bem, Sr. Newman.
— Me chame de Piers, por favor. E sim, ela está ótima.
me encarou tímida, mas empolgada, e apenas dei uma piscada divertida em resposta.

(...)


— Ei, , você vai lá em casa hoje? — perguntei baixinho por estarmos no escritório.
— Ãhn? — fez uma cara surpresa — Ai, , me desculpa, esquec…
— Não, de novo não. Vem aqui. — falei firme, segurando em seu braço, sem usar força, e entrei na primeira sala vazia que encontrei — ‘Tá, qual o problema? Por que você está me evitando?
— M… o quê? Claro que não estou, nós passamos o final de semana todo juntos.
— Na rua! Desde que ficamos juntos, você parou de me convidar para ir na sua casa e quando te chamo para vir na minha, sempre tem uma desculpa. Eu fui… ruim? Porque se foi isso, eu posso melhorar, eu s…
, não! — fez um gesto com a mão cansada, pedindo que eu parasse de falar — Não é nada disso… Foi bom, na verdade, foi ótimo, você foi… maravilhoso.
— E o que há de errado então?
— A mesma razão de sempre, eu, sempre eu. — sentou-se em uma das cadeiras e colocou as mãos na cabeça, cansada — Naquele dia, quando eu vi as blusas na cama, achei tão fofo e cuidadoso de sua parte. Imaginei que fossemos ficar o dia todo juntos, aproveitando um ao outro, mas nenhuma me serviu e me senti ridícula. Não ia ficar o dia todo naquele vestido, e, quando saio do quarto, vejo você só de short, perfeito.
, não. — supliquei, me aproximando dela — Achei que tivéssemos passado disso já.
— E tínhamos, mas me trouxe algumas memórias do passado, e eu não consegui simplesmente deixar para lá.
— Que memórias? Foi algo que eu fiz?
— Claro que não, colocou sua mão em meu rosto e sorri triste para ela, lhe dando um beijo na mão — Você não teria como ser mais perfeito.
— Será que a gente não pode se encontrar hoje? Não precisa ser na casa de ninguém, podemos dar uma volta de carro, se você quiser?
— Eu adoraria, . Acho que você merece saber tudo que eu passei para entender todos os meus medos e inseguranças.
— Então está combinado. Eu passo na sua casa às nove, tudo bem?
— Perfeito.
— Hm. — olhei a porta, estranhando — Jurava que tinha fechado essa porta. — disse, dando de ombros.

(...)


Eram 21:45 e não atendia o telefone ou o interfone. Eu não tinha ideia do que poderia ter acontecido, mas estava começando a ficar bastante preocupado. Talvez a insegurança a tivesse pego de novo e ela perdera a coragem de me encontrar. Já sem mais ideias do que fazer, decidi ir para casa e esperar que o dia seguinte me trouxesse respostas.
Cheguei ao escritório cedo para esperar , porém eram quase dez horas e nada dela aparecer. Cansado de falar com a caixa postal, peguei minhas chaves do carro, pronto para derrubar a sua porta se fosse necessário, mas Audrey me interrompeu.
— Ei, , só para te avisar que a pediu três dias pessoais e como não conseguiu te contatar, pediu para mim, que concordei. Ela realmente parecia precisar.
— Como assim? Tentou me contatar onde? Aconteceu alguma coisa?
— Não saberia te dizer. Se precisar de mim, estarei em minha mesa. — e saiu com o que eu achei ser um sorrisinho vencedor.
Estava acabado de cansado, tive dificuldade para dormir todos os dias, mal consegui focar no trabalho e, sem energia, acabei não indo a academia. Sentia-me um idiota, nove anos depois ainda sofrendo pela mesma mulher. O que me deixava mais puto era não saber o motivo. Como eu queria saber o que tinha acontecido no passado que impedia de ser feliz como ela merecia.
No sábado, já sem vontade de tomar cerveja e comer pizza, aceitei o convite para jantar com uns amigos num sports bar. Até que estava divertido vê-los resmungando de suas vidas amorosas, ao menos eu sabia que não estava sozinho nessa. Um deles, Joey, tinha feito faculdade comigo, e ele sempre soube da minha tara por mulheres maiores e, sempre que conhecia alguma que fazia meu estilo, já ia tratando de querer me apresentar.
— Ei, , tem uma mulher “plus size” — disse, debochado — No estilo que você curte ali do outro lado, só que ela já está acompanhada de um “plus size”.
— Deixe-a lá sendo feliz en… — meu sorriso morreu assim que eu vi quem era a mulher que ele estava falando.
? — o ouvi me chamar, mas eu não conseguia sentir nada a não ser a vontade de vomitar.
— Bro, não me fala que ela é… — Scott perguntou com receio.
— É — foi a única coisa que consegui falar antes de pegar minha bebida e me levantar.
, cara, deixa para lá. — ouvi um deles me pedir, no entanto não conseguia me controlar. Era como se meu corpo tivesse vida própria.

(...)


! — se levantou assustada assim que me viu, não me deixando se aproximar de sua mesa.
— Espero que seus dias estejam indo bem. Como pode ver, o meu está ótimo — disse, sarcástico, dando um gole muito maior do que o planejado, resultando em uma cara feia.
— O q… o que você está fazendo aqui?
— Não se preocupe, não estou te seguindo. Vim com alguns amigos, já que não tenho notícias suas desde terça-feira, quando combinei de passar na sua casa às nove. De todas as situações, você estar saindo com alguém além de mim não passou pela minha cabeça.
— Nós não tínhamos nada, . Ainda mais depois de tudo.
— Tudo o quê? Como você se sentiria se me visse com uma menina da academia, magrinha, gostosa, como você adora jogar na minha cara?
— É diferente… Você estaria fazendo um upgrade — falou baixinho para que ninguém ouvisse.
— Diferente por quê? — perguntei, cruzando os braços e pedindo mais uma bebida qualquer para o garçom, que passou ao meu lado — A dor aqui, para mim, é a mesma. Não dá, . Todas as vezes que você me chutou, eu fui atrás de você que nem cachorro vira-lata. Eu já disse tudo, tudo nesse mundo para que você acreditasse que eu sou apaixonado por você, mas não, você fica presa nesse preconceito que você tem com você mesma, que um cara como eu não pode gostar de uma garota como você. Mas o que eu claramente não consigo te fazer entender é que não tem uma mulher nesse bar, nessa cidade ou nesse mundo que mexe comigo como você, e por isso que dói aqui dentro ver você se menosprezando e ficando com um cara só porque você acha que não merece coisa melhor. — falei, já sem a menor vergonha de quem estivesse nos ouvindo — Eu passei os últimos cinco meses, dois deles juntos, te tratando como você merece para receber isso em troca. Me desculpa, mas eu não posso mais. Agora quem está se menosprezando sou eu, dando valor a uma mulher que claramente não me quer. Eu vou te esquecer, nem que demore outros nove anos, eu vou, porém saiba que, ainda assim, vou continuar procurando amor em mulheres gordas, porque você pode até achar que não me merece, mas eu sei que vou encontrar alguém que vai me querer e me deixar amá-la como você nunca deixou.
… — quando finalmente desabafei tudo que tinha dentro de mim desde a última vez que a vi, percebi que seus olhos estavam cheios de lágrimas.
— Não se preocupe, eu sou profissional o suficiente para não deixar que isso que tivemos atrapalhe o nosso relacionamento profissional. Eu espero que você encontre o que está procurando com esse idiota aí. — finalizei, levantando meu copo, como se estivesse fazendo um brinde, e dei as costas para ir embora.
Eu havia oficialmente desistido da – não ia mais dar o melhor de mim para ser tratado dessa forma. Meus amigos foram para minha casa, e não posso dizer que me lembro muito do que aconteceu, só que acordei com cinco caras espalhados por todos os cômodos e com uma única coisa em minha mente: esquecer.
Há tempos que o RH da A&E me implorava para tirar férias, e eu fiz o que há muito prometia: peguei minha irmã, Ava, e fomos passar quinze dias no Tibet. Ela havia se tornado budista quando saiu do hospital e seu maior sonho era conhecer o Dalai Lama. Isso eu não sabia se ia conseguir realizar, mas só de poder tirá-la de todo o drama de descobrir que foi por causa de algo que ela causou a si própria o motivo pelo qual ela jamais poderia ser mãe biológica já me deixava imediatamente mais feliz.
Se não me queria, eu iria deixá-la para lá. Acreditei que tinha ganhado uma segunda chance, mas acho que ganhei uma lição: de que nem sempre as coisas são para ser.

(...)

You're so amazing, don't you know
I don't care what you say, you're
Beautiful to me


Em plena segunda-feira aguardava minha equipe chegar, com uma paz dentro de mim que há muito não sentia. Estava, sim, nervoso, afinal, queria saber como seria encontrar depois de nossa última conversa, mas confiante de que as coisas poderiam seguir seu rumo. A viagem, apesar de ter sido mais para Ava do que para mim, acabou sendo exatamente o que eu estava precisando.
estava linda como sempre, simples, apenas de jeans e uma blusa com os ombros de fora, mas o suficiente para fazer meu coração acelerar. Ali eu soube que tudo ficaria bem, de uma forma ou de outra.
Os dias seguiram normais, já não me sentia machucado pelo que tinha acontecido, porém confesso que tinha muita vontade de entender o que havia levado àquela decisão. Por respeitá-la, decidi que esperaria o momento certo para perguntar seus motivos.
Certo dia, fui à cafeteria pegar um chá e descansar um pouco de uma reunião de duas horas que tinha acabado de ter por telefone com uma cliente insuportável, quando encontrei Audrey e duas meninas do setor financeiro dando risada.
— Ei, , você que é um homem que obviamente frequenta academia, nos dê uma opinião. — uma delas chamou minha atenção.
— Sim? — perguntei, pouco interessado, colocando a água para ferver.
— Você não acha que a e a Bebel ficariam lindas se emagrecessem? Nossa, acho o rosto delas tão bonito, e a tão estilosa. Só precisam perder uns quilinhos. — fechei os olhos, sentindo minha cabeça latejar e imediatamente encarei Audrey, que desviou rapidamente o olhar do meu, mas tinha um sorriso vencedor, que eu já tinha tido o desprazer de presenciar.
— Olha… Qual o seu nome mesmo?
— Dalia. — a mulher à minha frente me respondeu.
— Então, Dalia, eu particularmente acho que a cafeteria é um lugar para descansar a cabeça, não para fazer fofoca e falar merda. Acredito que qualquer homem seria feliz em poder sair com duas mulheres incríveis como a e a Bebel, inclusive, acho elas duas lindas, elegantes e muito inteligentes. Claro que se caso elas tenham o desejo de serem magras, por estética ou por saúde, eu entenderia, mas não mudaria minha opinião, já que o interior delas é muito mais bonito do que o de vocês. Eu teria sorte se qualquer uma delas me desse uma chance. — falei, cansado, me virando para voltar para minha sala em busca de paz e silêncio.
Eu não conseguia entender qual a necessidade de se pedir elogio rebaixando outras pessoas. Por tudo que eu vivi com a minha irmã, passei a ser um defensor da aceitação de sermos quem nascemos para ser. Confesso que às vezes até me achava chato, mas se eu não fosse a semente que implanta a mudança, quem seria? Eu sabia que não estava sozinho, pois fazia parte de sites de encontro para mulheres gordas à procura de homens “magros”, então só me bastava continuar acreditando que, aos poucos, podia mudar a opinião de uma única pessoa que fosse.
— Ei, , posso falar com você? — apareceu em minha sala e estranhei, já que desde que voltara de férias, fizera questão de sempre ir à sua mesa para que ela não se sentisse desconfortável sozinha comigo, em um local fechado.
— Claro, entre. — fiz um aceno com a mão — Algum problema com a Bang & Olufsen? — questionei, me lembrando que esse era o cliente que ela estava trabalhando no momento.
— Sim, é só uma dúvida. — finalizou, se sentando à minha frente — Na verdade, não é nada disso, . Eu vim dizer obrigada!
— Pelo quê? — a encarei, completamente perdido.
— Por hoje. Eu ouvi o que você disse para a Ade, a Dalia e a Jessy. Você não precisava, sabe…
— Eu não sabia que você estava lá, . Eu daria, aliás, dou essa mesma resposta para quem quer que seja, estando você ou qualquer outra pessoa, gorda ou magra ao meu lado.
— Eu sei, mas queria agradecer de qualquer forma. Você realmente gosta de bancar o super-herói dos fracos e oprimidos.
, para com isso. — pedi, cansado — O que aconteceu com você? Que você ia me contar naquele dia que nunca aconteceu? Eu juro que não vou te importunar sobre qualquer outro assunto, eu só queria…
— Hm, tudo bem. — disse, puxando sua cadeira para mais perto de minha mesa. — Acho que te devo isso… Quando eu estava na faculdade, eu tive duas “paixões”. Uma foi passageira, mas a outra foi bem platônica, o Colin. Fui apaixonada por ele por três anos. De longe, claro, jamais que eu teria coragem de sequer olhar para ele por muito tempo. Ele tinha o seu tipo, alto, cabelo meio bagunçado, mas que sem fazer muito esforço fica perfeito, e um corpo, um corpo que atraía toda a população feminina daquela universidade. No início do meu quarto ano, cheguei das férias e ele veio falar comigo. Estranhei, até fui me pesar, mas não, não tinha perdido nenhum quilo. Ele começou a falar comigo todos os dias, fazer gracinhas e eu, claro, completamente arredia, não dava a menor margem para ele se aproximar.
— Acho que estou vendo um padrão aí.
— Sim. — ela concordou, suspirando fundo — Eu não sei o que deu nele, só sei que quanto mais eu tentava me afastar, mais o Colin chegava perto, até que eu comecei a acreditar nele, que ele queria me conhecer melhor e tal, e passamos a estudar juntos, ver filmes, tudo. Ele realmente foi entrando em minha vida, e eu nem percebi o quão envolvida eu estava até que ele me beijou. Nos primeiros dias, ele foi paciente, esperou eu me sentir confortável em ter coragem de usar menos do que as calças e blusas que eu usava, até que um bom tempo depois acabamos ficando juntos. Eu pedi que ele deixasse a luz apagada, já me bastava saber que ele sentiria tudo aquilo, não estava completamente confortável, mas deixei me levar, pois acreditei que ele gostava de verdade de mim.
— E não gostava? — perguntei, preocupado.
— Óbvio que não. — deu um riso debochado — Depois que ficamos, ele arranjou uma desculpa qualquer e foi embora. No dia, eu acreditei e entendi, mas no dia seguinte, ele não apareceu, não mandou mensagens, nada. Eu estava ficando louca, até que fui no dormitório dele e ele se viu obrigado a falar comigo, já que todos estavam olhando. Ele disse que só se aproximou de mim porque precisava garantir aquele semestre e sempre soube que eu era apaixonada por ele, então resolveu juntar o útil ao agradável, me oferecia ter o “prazer” de sua companhia e, em troca, eu o ajudaria a estudar. No entanto, o pior estava por vir, quando questionei por que ele não disse logo de primeira. Colin me disse que um amigo dele tinha dito que as gordinhas são muito melhores na cama e ele queria provar se era verdade. — eu podia ver que durante toda a história, estava se segurando para não chorar, mas, no final, acabou não conseguindo.
— Oh, eu sinto muito, — minha vontade era de me levantar e abraçá-la, mas não queria tomar uma liberdade que já não tinha mais. — Homens e mulheres assim existem em todo o mundo. Eu já fui assim quando era mais novo e tenho vergonha disso.
— Eu sei, você é diferente mesmo, tanto que quando a Audrey veio conversar comigo aquele dia, eu fiquei muito brava, magoada de verdade, mas aí vi que você é assim mesmo, não faz as coisas por mal. Você quis fazer com que eu me sentisse bem comigo mesma e funcionou, você me ensinou muitas coisas valiosas sobre mim mesma, e, no final das contas, só tenho a agradecer.
— Desculpa, o quê? — perguntei, ainda processando as palavras que tinha acabado de ouvir.
, não precisa mais esconder, eu não estou mais chateada e te entendo. Desde o colegial você é assim.
— Não, , você não entende, porque nem eu entendo. Eu não faço a minima ideia do que você está falando. — disse, firme e sincero, e acho que só então a ficha caiu para ela.
— A Audrey… No dia que era para eu ter te contado essa história, eu estava indo para casa e ela me encontrou no elevador e perguntou como nós estávamos. Eu fiquei um pouco chocada e fingi que não sabia do que ela estava falando, foi aí que ela me disse que você mesmo tinha contado tudo para ela.
— Claro que não, eu nunca contei para ninguém. Você sabe como eles não são muito fãs de relacionamentos aqui dentro, pelo menos não no mesmo departamento. Fora que você é minha subordinada, as portas que se abrem para processos não está escrito. Ninguém aqui jamais saberia, muito menos a Audrey, que se mostrou muito preconceituosa desde a sua entrada.
— Mas… eu não entendo, ela agiu como se soubesse de tudo? Aliás, foi aí que ela disse que tinha te contado que me viu no restaurante levando um cano e que você era assim mesmo, não podia ver os “fracos e oprimidos” sofrendo, que já precisava bancar o super-herói. Eu perguntei quando foi que ela tinha te contado isso e, fazendo as contas, foi no dia que você me chamou para sair e confessou que sempre gostou de mim, que queria uma chance e blá blá blá. Na hora, entendi que você tinha feito tudo aquilo para que eu não ficasse tão triste por ter levado um fora. No começo, como disse, me senti usada, igual foi com o Colin, tanto que não te atendi. Eu até vi você lá fora me esperando, mas não queria te ver, nunca mais, por isso pedi os dias de folga, para pensar no que fazer. Quando liguei para Ade, ela me ajudou a ver esse seu outro lado. Você sempre foi meu amigo, desde o colégio, e sempre fazia de tudo pelas pessoas que gostava. Ela me disse que quando você chegou na agência, ela estava com algum problema com um ex e que você fingiu ser namorado dela para ajudar.
— …
? Você ‘tá fazendo aquilo de novo com suas mãos — as segurou e percebi que as estava segurando em punhos fechados, praticamente cravando minhas unhas na palma da minha mão.
… Eu… Não, se eu não tivesse ouvido isso de você, teria certeza de que estava participando de uma pegadinha muito sem graça. Isso é a maior fantasia que já ouvi em toda minha vida.
— Como assim? — ela se ajeitou na cadeira, soltando minhas mãos, e agradeci mentalmente, pois já não tinha forças para me segurar.
— É TUDO MENTIRA! — disse, já sem me controlar e socando a mesa com força, fazendo com que se assustasse.
… Calma…
— Não, , não dá para me acalmar, quando tudo isso que você ‘tá me dizendo não faz o menor sentido. A Audrey te disse isso, com todas as letras? — perguntei, me levantando e andando de um lado para o outro, tentando me lembrar de todos os ensinamentos que aprendi na minha viagem.
— Disse, por quê?
, eu nunca menti para você — supliquei, me ajoelhando à sua frente — Eu realmente sou completamente apaixonado por você, fui no passado e sou agora de novo. Se isso não é um sinal de que você é a mulher da minha vida, eu não sei o que é. Você acha que se eu estivesse fazendo tudo isso por conta de um fora que um idiota te deu, eu não teria parado naquele almoço? Para que eu teria te mostrado fotos das minhas ex-namoradas? Ou melhor, a ressaca que eu me dei quando te vi naquele bar dando uma chance para um cara só pelo peso dele, mas eu, que passei dois meses te amando, estava sendo chutado de lado.
— O Scott. Ele frequenta a mesma cafeteria que eu compro meu café antes de vir para o trabalho. Vivia me chamando para sair, mas eu sempre disse não. Ele me encontrou na quarta, e eu não estava nos meus melhores dias, acabei aceitando seu convite.
— E não achou por um segundo que isso fosse acabar comigo? Achou que eu fosse um sem coração igual esse Colin, que eu estava ficando com você por dó e piedade?
— Mais ou menos isso — disse baixinho, encarando o chão — Mas no dia do bar… As coisas que você disse pareciam tão verdadeiras, eu fiquei perdida e sem saber o que pensar. Tentei ir atrás de você, mas o porteiro disse que você tinha ido viajar e, na segunda, quando cheguei, a Audrey disse que você ficaria fora por duas semanas. Eu te escrevi vários e-mails, mas acabei não mandando nenhum. Pensei que se tudo que havíamos vivido tivesse sido verdade, você teria razão, eu realmente não teria te tratado bem ao sair com outro homem. Minha insegurança me fez acreditar que eu merecia passar por isso, fosse por um motivo ou por outro.
— Você nunca mereceu e nem merece se sentir mal pelo que todo o seu passado te fez acreditar. Aquelas coisas que eu disse, elas não pareciam verdadeiras, elas eram e continuam sendo, . Eu estou tentando te esquecer, porém não é fácil, porque você é uma mulher fantástica, uma que muitos homens perderam a chance de ter por puro preconceito social, mas que eu sinceramente fico feliz que tenham feito isso, porque foram todos esses idiotas que te trouxeram até mim. Se eu sequer imaginasse que uma pessoa que eu confiei tanto nos últimos dois anos me apunhalaria pelas costas, como Audrey fez, eu teria arrombado aquela porta seis semanas atrás e hoje ainda estaríamos juntos, não separados.
— Eu sinto muito, . — finalmente me olhou nos olhos — Por tudo que eu fiz para você, não sei como você tem toda essa paciência comigo.
— Eu tenho porque eu sou louco por você — falei, sentindo meus olhos encherem de lágrimas — Eu espero que, a partir de hoje, eu não precise mais provar as palavras que saem da minha boca, porque se você aceitar ser minha namorada e esquecer essas últimas seis semanas, eu prometo que vou dedicar minha vida a te fazer feliz.
— Você não existe, sabia? Eu amaria ser a sua namorada e prometo tentar deixar minha insegurança de lado quando estou com você, só peço um pouquinho mais de paciência — deixou um soluço escapar e acabamos dando risada, mas entre soluços, lágrimas e risadas, beijei a mulher que havia nascido para ser minha.

(...)


— Oi, Arthur. Você me chamou? — ouvi Audrey entrar na sala do nosso CEO e olhei seu sorriso falso sumir quando me viu num canto da sala.
— Chamei sim, o pediu demissão hoje, você sabia? — a observei fazer uma cara chocada.
— Com… Mas por quê, ? Temos feito um trabalho maravilhoso e até conversei com o Arthur para incluir a propaganda que estamos trabalhando no D&AD Awards. Realmente acho que o trabalho vai ficar excepcional.
— Por que você achou que tinha o direito de se envolver na minha vida particular?
— O quê… Eu não sei do que você está falando? — até vi seu olhar de medo aparecer por um segundo, mas logo sua pose reapareceu.
— Audrey, nós éramos grandes amigos, não só aqui na A&E, mas frequentamos a casa um do outro. Eu até te ajudei a se livrar do seu ex que estava te roubando. Você sabia que eu estava há quatro anos solteiro, procurando uma namorada, e, apesar de te dizer que era apaixonado pela desde a época do colégio, você ainda assim interferiu no meu relacionamento com ela. Eu só queria entender o porquê?
— Éramos uma dupla, , eu e você, não se lembra? A dupla de ouro da Adam & Eve, mas parece que ninguém mais se lembra disso desde que a chegou e trouxe o Cowell Bank. O próprio Piers da Josh Newman, meu cliente, da época em que eu só fazia atendimento, agora quando liga, só quer falar com ela. Eu estou aqui há seis anos, você foi o primeiro a acreditar no meu potencial e me promoveu a Diretora de Arte, mas agora com a aqui, já fui esquecida de novo.
— É isso que você acha? — perguntei, incrédulo.
— Você estava completamente errada — Arthur respondeu calmo, e eu o invejei — Mas agora está certíssima. A é uma redatora, e, durante a minha entrevista com ela, me deixou claro que não tem o menor interesse em design, ao que eu disse que ficava feliz em saber, pois tínhamos uma diretora magnífica.
— Eu inclusive tenho elogiado vocês duas igualmente para o Arthur, dizendo que finalmente encontramos a dupla perfeita e que poderia finalmente me organizar para criarmos a nova vertente da Adam & Eve, a Cain & Abel, junto com o Jon. O plano desde o início era você assumir minha posição e a continuar sendo a redatora principal.
— Mas… por que você não me disse isso?
— Porque é um assunto da diretoria, que não te cabe, Audrey — respondi, decepcionado — Você só precisava ter feito o seu trabalho, da mesma forma de sempre.
— Eu estou sendo demitida?
— Claro que não — Arthur respondeu por mim — O que você fez ao foi completamente pessoal, mas infelizmente afeta toda empresa quando o meu funcionário mais importante pede demissão. Eu não posso simplesmente aceitar.
— O que vai acontecer?
— Quando a foi contratada — Arthur me olhou, pedindo calma —, o veio conversar comigo, me explicou que haviam sido colegas de escola, mas que queria me provar que ela merecia ser contratada por seu talento e não porque ele a conhecia. Vi o portfólio de cinco candidatos e acredito que depois de todos esses meses da Srta. McConnel na agência, sabemos que fizemos a contratação correta.
— Mas eles ficaram juntos, escondidos.
— Você está querendo se meter demais nas decisões que não lhe cabem, Audrey. O parece sério sobre sua namorada.
— Namorada? — ela me encarou, confusa.
— Sim, namorada. Você não conseguiu seja lá o que você tenha tentado.
— Como ele está de mudança para a C&A, estarão em duas agências diferentes. Não vejo nada de errado nesse relacionamento.
— E eu vou assumir o cargo dele?
— Não tão cedo — Arthur riu, mas uma risada triste — Infelizmente, não acho que esteja preparada para liderar uma equipe de cinquenta pessoas, não depois disso tudo. Estou trazendo o Ethan Pearson da Colure de Nova Iorque, ele vai assumir o lugar do e trabalhar com você e a , se você ainda estiver interessada, claro. No futuro, se eu sentir que você melhorou, quando surgir a oportunidade, a vaga estará aberta para você.
— Eu prometo que vou fazer de tudo para ganhar sua confiança novamente, senhor.
— Eu espero que sim — Arthur se levantou, sorrindo — Mas você irá pedir desculpas a pessoalmente. Valorizo o trabalho dela tanto quanto o seu e preciso que essa relação seja reconstruída, custe o que custar.
— Pode deixar, muito obrigada. , eu sinto muito, eu espero que um dia você me perdoe — a vi sair pela porta e suspirei, aliviado.
— Não te falei — Arthur se levantou e me deu um tapa nas costas com um aperto de mão — Para tudo se tem uma solução. Eu que não vou perder o melhor Diretor de Criação que a Adam & Eve já teve.
— Obrigado pela confiança.

No futuro

Beautiful to me


— Ah! Você engordou depois de ter engravidado? — ouvi uma mulher, que parou para brincar com meu filho, perguntar à minha esposa.
— Não, eu sempre fui assim mesmo.
— Mas você não faz hipismo? Tenho certeza de que te vi competir agorinha mesmo.
— Faço sim, mas o que tem a ver? — sorri, orgulhoso demais de minha mulher.
— Não sei, achei que você fosse ser...
— Mais magra? Acredite, quando eu era mais nova, tentei de tudo, mas nasci assim e sou assim. Não tem o que fazer. Fui infeliz por muito tempo e levou um homem maravilhoso e com muita paciência para me ajudar a entender que eu sou feliz e amada como sou e que não preciso ser magra para realizar todos os meus sonhos. Eu já pesei mais que isso e não era saudável, mas assim eu sou feliz e tenho saúde suficiente para cuidar do meu filho e da minha família. Vamos, amor? — a ouvi me chamar e terminei de pôr a senha no cartão para pagar o nosso almoço, após ver participar de mais uma de suas competições.
— Nossa! Esse é seu marido? Que sortuda você. — ouvi a cidadã sussurrar para , achando que eu não a escutaria.
— Na verdade, o sortudo sou eu por ela sequer ter me dado uma chance, que dirá casar comigo e realizar o meu maior sonho: o de ser pai.


Fim



Nota da autora: Olá meninas, espero que tenham gostado e que eu tenha conseguido passar um pouco do que senti ao escrever essa história com um tema ainda pouco visto por aqui, né? Me digam o que acharam!
Tive a ajuda de uma amiga maravilhosa Mia — e aproveito pra dedicar essa história a ela.
Caso alguém tenha curiosidade, baseei a pp na @chelsea_millerxoxo, eu acho ela lindíssima, inclusive “roubei” os looks todos dela enquanto escrevia sobre a pp.





Outras fanfics minhas:
7 da Sorte
12. Truth
01. Mark My Words
10. Life Is Worth Living

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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