Finalizada em: 24/12/2021

Capítulo Único

achava com convicção que nunca mais ia amar alguém e a negra tinha poucas certezas na vida. A outra certeza era que amava com todo o seu coração e nunca tinha sentido daquele jeito por ninguém.
Talvez fosse por aquele motivo que as coisas estavam cada vez mais difíceis para . Além da recém separação fazer seu peito e corpo inteiro doer tanto, parecia que todo dia ela descobria alguma coisa do seu relacionamento que tinha acabado e isso a machucava cada vez mais. Não bastava ter terminado tudo repentinamente, mas agora as suspeitas dele estar com outra pessoa parecia cada vez mais real. E se perguntava como ele poderia amar alguém depois de tudo o que falou? Depois de todos os planos, músicas escritas e memórias criadas? Nada era verdade, pensou ao entrar em seu mais novo carro.
estava em cada parte da memória e cotidiano de e ela detestava se permitir sofrer tanto. Até aquele carro a lembrava dele, porque era nele que o rapaz a ensinava a dirigir aos fins de semana. Era ali que eles faziam planos para quando , enfim, conseguisse a carteira de motorista e tudo ficar mais fácil para os dois, já que ela morava do outro lado da cidade e ele nos subúrbios próximo ao centro.
respirou fundo e entrou em seu carro, acelerando rumo a faculdade de Medicina, no centro da cidade. era caloura e tinha recebido a notícia no mesmo dia em que terminou o relacionamento. Ele nem a tinha deixado começar a falar.



acordou com o sol invadindo a janela que tinha deixado aberta na noite anterior. Ela praguejou mentalmente enquanto coçava os olhos, a negra só queria dormir. Dormir para sempre, se pudesse.
A noite anterior tinha sido terrível. A menina tinha tido uma discussão com o namorado, que a deixou acordada a madrugada inteira esperando uma resposta no WhatsApp, mas ele simplesmente tinha resolvido sumir. Sumir só para ela, porque o On-line continuava.
odiava quando agia daquela maneira e ela sabia que aquilo estava se tornando mais comum que o normal. As brigas, os sumiços, as histórias que pareciam sem pé e nem cabeça. estava sendo um tremendo babaca, estragando tudo o que eles já estavam construindo juntos, mas ela tinha em seu coração a certeza que era só uma fase que eles iam atravessar juntos, sem desistir um do outro. mesmo tinha tido que eles eram para sempre.
Ele não iria mentir sobre aquilo. Não sobre o que ele sentia. Não sobre o futuro deles.
Mesmo os amigos da negra achando que já estava mais do que na hora dela tomar a iniciativa e terminar tudo. Eles estavam cansados de toda vez verem a amiga sofrer pelo namorado, que parecia não dar a mínima. Só não enxergava que a luz que ela tinha estava cada vez mais apagada por causa de . Por causa de um relacionamento que só ela enxergava que era saudável. Todos os amigos já tinham testemunhado pelo menos uma vez que sofreu por conta das pequenas brigas dos dois. Eles não podiam sair juntos, que sempre dava um jeito de acabar com a noite da menina, e o ciclo dela se culpar e acabar se desculpando com o namorado se repetia mais vezes dos que eles esperavam.
Para os amigos da negra, não conseguia enxergar o que estava bem na sua frente. E não tinha como aquilo acabar bem.
Mas para , era só uma fase.
E por aquele motivo, sorriu ao ver uma mensagem do namorado brilhar na tela do telefone. Mesmo entristecida pelo sumiço do dia anterior, lá estava ele. Pedindo que os dois se encontrassem para que conversassem sobre o que tinha acontecido.
respondeu mandando o endereço de uma cafeteria que queria muito conhecer no centro da cidade e disse que o encontraria as 16H.
Pulou da cama e correu para o banheiro, ela estava feliz porque sabia que as coisas iriam se resolver. A negra lavou o enorme cabelo cacheado, até à tarde ele já estaria seco e perfeitamente modelado. Voltou para a cama ao escutar o barulho de ligação, mas ao contrário de quem esperava que fosse, era sua melhor amiga, Marilia.

— Você conseguiu dormir? — Mari perguntou de supetão e escutou a amiga respirar fundo do outro lado.
— Um pouco. Você tá bem?
— Sim! Liguei para avisar que já saiu o listão do vestibular.
—O que? A segunda fase? Sai hoje?
— Em que mundo você está, hein? Sai hoje!

bateu na própria testa, como pôde ter esquecido da segunda fase do vestibular que prestou para Medicina? Era o sonho da sua vida. Quando foi que aquilo tinha virado segundo plano e não prioridade?

— Eu vou ver! Te ligo se eu passar.
— Amiga! Claro que você vai. Eu tenho certeza.
— Você já viu o resultado, né? - perguntou, com os olhos cheios d’água. — Eu quero ver com meus próprios olhos.
— Vou esperar na linha.

pegou o notebook da escrivaninha e entrou no site que já estava em seus favoritos. Não demorou nem três minutos e o listão já estava em sua tela, colocou CTRL-F e digitou seu nome e sobrenome.
não conseguia nem falar. O choro da negra foi a única coisa audível.

— Eu… eu passei amiga. Eu vou ser médica.
— Você vai! — Marilia respondeu, também chorando.

Ela tinha acompanhado toda a luta da melhor amiga para ser aprovada durante os três anos. E finalmente ela conseguiu.

— A gente se encontra mais tarde para comemorar?
— Mais tarde! No BECO. Vou encontrar com antes e de lá, vamos.
— Ele vai também? — Mari perguntou, receosa.

Mais do que ninguém, ela sabia que era um estraga prazeres.

— Vai! Mas relaxa, hoje é só comemoração! — respondeu e a ligação encerrou.

Ela mal podia esperar para contar a novidade para seus pais quando eles chegassem do trabalho ao final da tarde e também para o namorado. Aquele era o tipo de notícia que não se dava por telefone de jeito nenhum. Seu sonho de ser médica tinha começado a se realizar.
Mas naquele dia, estragou o que nem sabia. Chegava a parecer que uma parte dela sempre tinha que perder.
chegou no restaurante no horário exato que ela tinha marcado. A negra estava se sentindo mais bonita que o normal, e abriu o maior sorriso quando viu que o namorado já estava ali, a esperando. Sentou-se à mesa e antes mesmo que pudesse fazer o primeiro pedido no lugar, que era incrivelmente bonito e arborizado, começou a falar.
A cada frase do homem, ele quebrava a melhor coisa que tinha: a capacidade de perdoar e amar alguém da forma que ela o amava.
No final das contas, deixou sem fala. A negra naquele momento reuniu forças sem saber que as tinha, não deixou cair uma lágrima sequer e o encarou.

— Você tem certeza disso? Porque se você disser que não eu esqueço tudo e a gente começa aqui e agora. De novo. Mas começa de verdade. Mas se você disser que tem certeza que quer acabar tudo, eu vou embora e você não me vê nunca mais.

ficou calado, era como se ele estivesse jogando toda a responsabilidade para as costas da mulher e se isentando de tudo.

— Teu silêncio sempre falou muito, . Só que agora, eu consigo escutar ele. Você nem coragem para terminar a merda desse relacionamento tem, sempre foi assim, covarde. — abriu a carteira e puxou uma nota de cinquenta reais. — Aqui, pra pagar a conta. Como sempre fiz.

E saiu da mesa deixando o dinheiro e um homem claramente desprevenido porque não esperava a sua atitude.



O inverno tinha chegado na cidade e a prova viva da mudança climática na cidade eram as nuvens cinzas que se formavam cada vez mais rápido, junto do chuvisco que caia, fazendo com que ligasse os limpadores do para-brisa. Era a primeira vez que dirigia na chuva, mas também pudera, ela tinha conseguido tirar a carteira de motorista na semana passada.
Exatamente uma semana depois do maldito término.
aumentou o volume do som e riu sozinha, ao se dar conta que o aleatório do Spotify estava sacaneando com a sua cara.
Eu amo você, versão do Terno Rei, saia pelos alto falantes e foi impossível não direcionar seus pensamentos a .

Aquela era só uma das diversas músicas que os dois cantavam juntos nas noites de sábado em que passavam na varanda da casa de , com ele tocando violão e ela o acompanhando, cantando.
“Toda vez que eu olho, toda vez que eu chamo, toda vez que eu penso em lhe dar o meu amor, meu coração pensa que não vai ser possível”

— Eu amo você, menino… — cantou baixinho e agradeceu por ter um sinal vermelho a sua frente.

A chuva ficou mais forte e enquanto esperava naquela semáforo do centro da cidade, se deu conta de onde estava.
tinha parado na esquina da cafeteria onde sempre quis ir, mas acabou saindo de lá com um término nas costas e uma porção de traumas.
Realmente a vida estava de sacanagem.
riu e decidiu estacionar na próxima rua. Ela iria tomar aquele maldito café e comer o quiche de alho-poró com bacon que tantas pessoas falavam que era delicioso. não iria tirar aquilo dela. Ela estava cansada de perder as coisas por causa do garoto.

˖


A negra saiu da cafeteria com um sorriso no rosto, mesmo com a chuva forte que caia. Correu o mais rápido que podia para seu carro, que por sorte, não estava longe, tinha conseguido estacionar a poucos metros do lugar.
Antes que pudesse sair da vaga, seus olhos castanhos escuros foram certeiros em um casal que andava em direção ao local em que ela tinha acabado de sair. apertou os olhos para ter certeza do que estava vendo e quando sentiu seu rosto molhar, se deu conta de quem era o casal que andava junto, debaixo de uma sombrinha azul.
Era . e sua nova garota.
A garota loira do curso de Engenharia Mecânica, da sala dele, que sempre estava nos treinos de basquete. Não bastava ser loira, também era alta, muito alta. sempre duvidava das intenções da menina desde quando a viu no treino do time da faculdade de pela primeira vez e que ele sempre dizia que não era nada, que tudo levava para o lado ruim.
Mas ela não estava louca. Nunca esteve.
estava ali, com sua nova garota, bem mais velha que , a mesma que a deixava insegura.

— Filho da puta, mentiroso. — gritou dentro do carro, batendo no volante enquanto o choro parecia vir cada vez mais forte.
Como ele poderia estar tão bem depois de tudo o que aconteceu? Depois de ter dito que os dois seriam para sempre?

— Mentiroso…. Eu te amo tanto, merda. Eu te amo pra caralho. E você me destruiu.

não conseguiu sair com o carro. Sua crise de ansiedade tinha começado como um furacão e ela se deixou desabar. Ela não gostava de deixar transparecer o quanto estava ruim por toda a situação, mas ali, sozinha em seu carro, com a playlist favorita no aleatório e tendo presenciado feliz com sua nova namorada, não teve outra escolha senão desabar.
Ainda com as mãos trêmulas, não conseguiu dirigir. Olhou para o relógio e se deu conta que já estava muito atrasada para a recepção dos calouros na faculdade.
Bateu novamente no volante, xingando a si mesma e até sua quinta geração por ter deixado estragar mais uma coisa em sua vida. Tudo aquilo parecia um grande filme de romance ruim em que ela era a personagem que só servia para se dar mal e que nunca ficaria bem.
Por debaixo de chuva, saiu do carro e entrou no lugar em que tinha estacionado bem na frente. Era uma pequena padaria, daquelas clássicas que tem em todo bairro onde o dono era algum velhinho português gentil. Foi atendida com um sorriso gentil por uma senhorinha atrás do balcão. Antes que pudesse fazer seu pedido, a mulher indicou para o banheiro do local.
agradeceu e praticamente correu para o lugar, antes que pudesse ser vista por naquele estado. Ver ela aos prantos por causa dele era a última coisa que ela queria que ele presenciasse.
Ela já tinha prometido a si mesma que nunca a veria derrubando uma lágrima sequer por ele. E aquela promessa ele não iria tirar dela. Não mesmo. entrou no pequeno banheiro, se olhou no espelho e percebeu que seu rímel estava completamente borrado. Ela parecia mais um urso panda do que uma caloura de Medicina.
Seu celular vibrou antes que ela pudesse limpar seu rosto. Assim que o desbloqueou, viu as mensagens no grupo de calouros da faculdade.
Era sua veterana, Vitória, avisando que a recepção iria atrasar, mas que iriam esperar por conta da chuva e que tinha um veterano também atrasado, junto de mais dois calouros. agradeceu pelo atraso alheio e antes de guardar o telefone, recebeu mais uma mensagem, mas no seu individual, da veterana.

“Oii! Você vai atrasar? Se sim, não se preocupa, vamos começar somente quando você chegar. Um veterano atrasou tb e outros dois calouros. Mas dê notícias, tua presença é importante 😉”

sorriu verdadeiramente e respondeu que já estava a caminho.
Ao ler as mensagens no grupo e a da veterana, percebeu que as coisas iam dar certo mesmo sem na sua vida. Ela tinha feito uma longa jornada para chegar até a faculdade de Medicina e ela não iria estragar mais nenhum momento daquela conquista por causa de um ex-namorado que nunca a mereceu.
A negra limpou os olhos com um pedaço de papel higiênico e saiu do banheiro, indo em direção ao balcão da padaria.

— Boa tarde, querida, está melhor?
— Sim! E obrigada. — Deu um sorriso — Vocês têm chá?
— Sim! Temos vários, qual você prefere?
— Um de erva doce com canela, tem?
— Vou preparar um pra você agora.
— Para viagem, por favor! — Respondeu para a mesma senhora que a indicou onde ficava o banheiro.

se sentou na cadeira de madeira para esperar seu chá e distraída com o celular, não percebeu minutos depois o rapaz que saia de trás do balcão com um copo de café na mão e na outra, com o chá que havia pedido. Se estivesse atenta, perceberia o quanto o homem era bonito. Ele era alto, tinha tatuagens no braço direito, seus olhos eram azuis e possuía cabelo castanho claro.

— Henrique! Entregue logo o pedido e vá para a faculdade, os calouros estão esperando! — A senhora ralhou com o homem, fazendo sair do celular.
— Vó, são calouros. Eles esperam mesmo. — O rapaz respondeu e recebeu um olhar fuzilante da senhora atrás do balcão. — É para você o chá, não é? — Perguntou, de frente para a negra.
— Sim, obrigada! E hum, você não gosta de calouros, é? — Perguntou assim que pegou o copo da mão do rapaz.
— Eles dão trabalho, você sabe como é. Ainda mais na faculdade de Medicina. Juro, tem uns que são doidos de pedra.
— Espero que eu não seja uma das doidas de pedra. — brincou fazendo com que o homem a encarasse, surpreso.
— Medicina na Federal? Recepção que já era para ter começado?
— Exatamente. — respondeu, dando um gole em seu chá, que estava uma delícia.
— Você não deveria estar lá, hein?
— Você não deveria estar lá também, hein? — Devolveu a pergunta para o veterano, que soltou uma risada.
— Eu estava esperando a chuva passar, ninguém merece andar de ônibus enquanto cai um pé d’água, não é?
— Lhe dou uma carona, então.
— Tá vendo, vó? — Henrique disse mais alto, atraindo a atenção da senhorinha atrás do balcão. — Deus ajuda quem ajuda calouro. Vou de carona para a faculdade!
— A moça bonita faz medicina também? — Perguntou com um sorriso.
! — respondeu. — Sou caloura do seu neto.
— Paciência, minha filha! Paciência! — A senhora brincou e riu, levantando-se, indo em direção ao caixa.
— Ei, não precisa pagar pelo chá, caloura. Cortesia de veterano.

sorriu e indicou com a cabeça para Henrique onde o carro estava. Nem percebeu, mas teve sorte da chuva já tinha passado e os dois não tiveram que correr para entrar no veículo. A negra, ao sair da padaria junto do rapaz, também não percebeu que estava esperando no sinal, junto de sua nova garota, para atravessar a rua e viu os dois entrando no carro juntos.
Mas no momento em que ligou o carro e acelerou, percebeu que ela não precisava de e nem de sua presença para ficar bem. O amor frágil que sentia por ela tinha acabado e destruído tudo. Aquele amor já tinha saído pela porta afora muito antes do término na cafeteria, enquanto a vida continuava acontecendo.
Mas iria se reerguer, pacientemente e aproveitando cada coisa nova que a vida iria lhe apresentar. A começar pela faculdade de Medicina na Federal.
E ela não ia deixar nunca mais estragar nada a sua volta. Daquilo ela tinha certeza.

— Por que você estava atrasada, hein? — Henrique perguntou e sorriu.
Por nada que valesse a pena. — Respondeu, aumentando o som do carro.





Fim!



Nota da autora: Sem nota.





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