Capítulo Único
Mal as portas do carro se fecharam, e Zoey encheu de perguntas quando saíram da mansão onde rolou a tal troca de casais. Perguntou pelo nome de , como havia sido, se ele havia gostado, e não reprimiu o comentário de “pelo seu sorriso de pateta ao falar dela, parece que gostou”, arrancando uma risada divertida do melhor amigo. Se antes havia topado a aventura apenas para agradar Zoey, agora quase podia concordar que foi uma boa ideia. Ao menos pela boa lembrança que teria, já que a incerteza se veria novamente lhe dava um aperto esquisito no peito.
━ Mas e você, se divertiu? ━ Ele perguntou quando a ouviu ligar o carro. ━ Porque eu só topei essa ideia maluca para você pegar o tal do Austin.
━ Ele estava com outra, você não viu?
━ Vi, mas aí você agarrou o Brian pelo braço… ━ Ergueu os ombros, lembrando do momento em que Zoey escolheu Brian, namorado de , e que também foi o mesmo momento em que a viu pela primeira vez.
━ Ah, ele era um babaca. ━ Reclamou, fazendo um arquejo de desgosto ao se lembrar.
Zoey contou sobre como Brian não fazia jus a sua aparência, que o que ele tinha de lindo e gostoso, tinha de babaca, sem pegada e ruim de cama. Palavras dela. Que simplesmente deitou na cama de um dos quartos que eles entraram, esperando que ela fizesse todo o trabalho, sem se preocupar com o prazer dela. Queria que ela o cavalgasse e ele só ficaria sentado admirando a vista? Não mesmo! Zoey não deixou barato, e eles não fizeram nada além de alguns beijos, já que a garota se negou a fazer qualquer coisa, se ele não fosse fazer também.
Entre risadas pela forma divertida como Zoey contava, e porque gostou de saber que Brian havia se fodido e teve uma noite péssima, também respondia às perguntas sobre . Porque falar dela era a única forma possível de mantê-la por perto, de sentir que ela estava ali, de manter viva a lembrança daquela noite. Por um lado, ele queria seguir em frente, porque tinha medo de que ela nunca fosse ter coragem de terminar o namoro e ele apenas estenderia o tempo de sofrimento por uma garota que não o queria. Mas era difícil superar o que havia vivido, o que havia sentido. Só se apaixonou uma vez na vida, e depois do término há alguns anos, teve medo de que nunca mais conseguisse sentir aquilo. Até conhecer .
Zoey dormiu na casa de , que era mais perto e também o dia estava amanhecendo. No dia seguinte, o assunto havia morrido. Zoey acreditava que foi apenas uma noite divertida, e não havia entendido o quanto o melhor amigo ainda precisava encontrar aquela garota que mexeu tanto com ele. Passaram o resto da semana sem tocar no assunto, embora ele mal conseguisse se concentrar nas coisas por só pensar nela. Até que exatamente uma semana depois do dia em que se conheceram, estava em um bar com Zoey e outros amigos, e deixou escapar quando ficaram sozinhos por alguns minutos.
━ Zo, eu preciso ver ela de novo. Eu… Preciso… ━ Sussurrou, num lamento.
━ Ver quem, garoto? ━ Ela perguntou, de cenho franzido.
━ … ━ Continuou sussurrando em seu ouvido, não queria dar explicações para mais ninguém. ━ Mas eu não sei onde encontrá-la. A gente conversou tantas coisas, eu nem sei onde ela mora, ou o nome da escola que ela dá aula… ━ A voz arrastada de quem estava embriagado foi interrompida por uma Zoey muito debochada.
━ Alô? Você está nesse século? ━ pareceu não entender. ━ Existe rede social, meu amor. Joga o nome dela e procura.
━ Mas… E se eu encontrar e ver fotos dela com o Brian? E se os dois tiverem se acertado? Eles podem estar vivendo super felizes e isso… Ah, sei lá. ━ Ele nem conseguiu completar, mas Zoey fez questão.
━ Isso vai partir o seu coração, eu sei. Mas é melhor fazer isso logo, do que ficar adiando. Aquela história de arrancar o band-aid de uma vez, sabe? Aí pelo menos você vai saber se tem chance ou não. ━ Ela deu de ombros, tomando um grande gole de sua cerveja e o deixando em silêncio para pensar.
Bem na hora, os amigos voltaram para a mesa, e Zoey os distraiu com conversa para que não perguntassem o motivo da cara de paisagem de . Então, rendendo-se ao desejo de vê-la, mesmo que fosse por foto, ele pegou o celular e levou algum tempo procurando diversas ’s, até encontrar a sua. Com um sorriso idiota vendo a foto pequena do ícone da conta bloqueada, ele pediu para seguir a conta dela no Instagram, e as pernas começaram a balançar em ansiedade.
˛ ⠀ * ⠀ 𓂅
não usava muito o celular, e a notificação chegou enquanto ela já dormia. Acordou atrasada, jogou o aparelho na bolsa sem nem olhar as várias mensagens, e foi direto para a escola. Foi recebida por seus pequenos alunos com o mesmo carinho de sempre, embora ela se sentisse estranha desde o dia em que conheceu . Sempre esteve totalmente presente quando lecionava, atenciosa e observadora, mas seus pensamentos viviam longe desde que se encontraram a primeira e única vez.
Professora exemplar, ela nunca pegava o celular no trabalho, mas saiu de casa às pressas e esqueceu o relógio. Ao olhar as horas, viu a notificação da solicitação para seguir, que arregalou seus olhos e disparou seu coração. O sinal tocou bem na hora, e um tanto atordoada, ela liberou as crianças para o pátio. Pediu que McKenna e June olhassem as crianças um momento, e as amigas preocuparam-se com a sua reação. Sem dizer nada, ela mostrou o celular desbloqueado na página de solicitações para seguir sua conta, e as duas suavizaram as faces apreensivas e deram uma risada, entendendo o motivo do nervosismo.
A mulher foi ao banheiro e se trancou ali, encarando a notificação por alguns segundos, até ir ao seu perfil. Passou todos os vinte minutos do intervalo vendo as fotos e sorrindo como boba, mordendo o próprio lábio, como uma adolescente. Sempre com muita cautela, é claro, para não curtir alguma foto. O sinal do fim do recreio lhe deu um susto, e ela guardou o celular na pressa, esquecendo-se de aceitar a solicitação, e deixando o pobre ficar ansioso o restante do dia sem uma resposta.
˛ ⠀ * ⠀ 𓂅 ⠀
Brian estava sentado no sofá, como de costume, parecendo muito focado no que assistia na televisão. Mal colocou os dois pés em casa, e notou que havia algo de diferente. Com um sorriso pouco sutil no rosto, o namorado virou a cabeça para lhe cumprimentar; era sempre ela quem cumprimentava e ele respondia um “oi, amor” frio, seco, sem nem se dar o trabalho de desviar o olhar da televisão. De cenho franzido, ela apoiou a bolsa na mesa da cozinha e foi até ele, retribuindo o sorriso dele e quase se animando junto. Ela deveria prever que viria bomba.
━ Tudo bem, meu amor? ━ Ele perguntou quando a viu no sofá.
━ O que houve? ━ Ela foi direta.
━ Só saber como você está, como foi seu dia. ━ Ele tentou, ela fez uma careta. Brian riu, sacudindo a cabeça. Sabia que era péssimo em disfarçar, mas também devia saber que ela desconfiaria do seu bom humor repentino. ━ Queria falar sobre aquela noite.
━ Brian... Por que? ━ Já havia se passado uma semana, e eles não tinham trocado uma palavra sobre o que aconteceu. O clima entre eles continuou quase o mesmo, se não fosse pelo homem, vez ou outra, lhe surpreender com um beijo ou quando a abraçou durante a noite para dormir de conchinha.
━ Você sabe que a minha noite foi péssima naquele dia, não sabe?
━ Não sei, e não quero saber. Acho que você também não quer saber da minha. ━ Arriscou. também era péssima mentirosa, e se ela tentasse mentir sobre ter sido péssimo, ele logo perceberia o quanto ela havia amado aquela noite com .
━ Foi bom para você? ━ Ele decidiu que queria saber.
━ Brian… ━ Ela pediu, uma última vez, que ele não insistisse.
━ Você não quer um relacionamento aberto? ━ Pega de surpresa, ela ficou alguns segundos sem dizer nada.
━ Por… Por que você está me perguntando isso?
━ Ora, porque… Eu vi como vocês estavam, pensei que você talvez quisesse vê-lo de novo, e… ━ Brian tentou, mas ela não acreditou, e cortou sua fala.
━ Brian, fala a verdade. ━ Ela exigiu, cruzando os braços. Há algum tempo, talvez, mas hoje em dia, não conseguia cair naquele papo. Suspirando fundo, ele admitiu.
━ Eu não acho justo que você tenha tido uma noite legal e eu só me fodi.
ficou sem palavras. Seria natural se ela surtasse e começasse a jogar tudo longe, mas aquilo não parecia nem um pouco com algo que ela faria. Ao contrário disso, ficou estática por alguns minutos, com a boca entreaberta, sem conseguir dizer nada, muito menos organizar os milhares de pensamentos que rodeavam sua cabeça naquele momento. Se ele queria ter uma experiência como a dela, por que não sugerir que ele ficasse com outra apenas uma noite, ao invés de abrir a relação para dar chance a ela repetir? Era estranho que ela estivesse querendo aceitar a proposta? Era estranho que ela parecesse tão ansiosa para dizer sim, como se, no fundo, ela quisesse que ele sugerisse algo parecido, já que ela não teria coragem de sugerir?
━ Tudo bem. ━ Ela deixou escapar, sendo tarde demais para voltar atrás.
Com um sorriso de surpresa e rosto iluminado, Brian se levantou e sentou ao lado dela. Puxou-a pela cintura e encheu de beijos, dizendo o quão maravilhosa ela era. sabia que aquilo era tudo da boca para fora, mas a falsidade e egoísmo de Brian era a última coisa que a incomodava agora. Tudo o que ela queria era que ele a soltasse logo, para que ela buscasse o celular e fizesse o que ela queria quando aceitou essa proposta: falar com sem peso na consciência. E se a sua razão para topar aquilo fosse egoísta, sem se preocupar com Brian, bom, ele também não estava pensando nela quando sugeriu abrir a relação, não é?
˛ ⠀ * ⠀ 𓂅 ⠀
conversou por algumas semanas com , e ele parecia mais o seu namorado do que Brian. Começaram a se conhecer mais, falaram sobre família, amizade, música, filmes e até política. Os dois falavam sobre seus dias, o que haviam feito, mandavam foto do que estavam comendo ou fazendo, ela mandou foto da pilha de cadernos para corrigir e também dos alunos com o rosto pintado em uma brincadeira que fizeram, ele enviou fotos de algumas tatuagens que acabava de fazer e do tênis novo que comprou. Em pouco tempo, ela sabia mais sobre a vida e cotidiano de do que Brian, e estranhamente isso não a chateava mais. Embora ainda houvesse algo ali, algum incômodo que ela ainda não sabia definir o que era. Talvez fosse a sensação de estar traindo, embora tivesse o consentimento de Brian para fazer o que quisesse, e ele possivelmente estava fazendo pior.
Mesmo sem saber a que pé andava o namoro dela, arriscou perguntar depois de algumas semanas, e descobriu que estavam em um relacionamento aberto. tratou de explicar que isso não significava que ela tenha saído por aí beijando outros caras, e confessou que era a única pessoa com quem ela estava conversando. Com um sorriso bobo do outro lado da tela, ele a chamou para um encontro, e certamente teria ficado duplamente feliz se pudesse ouvir o gritinho animado que ela deu ao ler a mensagem. “Eu topo, claro” foi a mensagem que fez o dia do tatuador, e o deixou trabalhar bem mais feliz pelo resto da semana, ansioso pelo sábado em que ia vê-la.
˛ ⠀ * ⠀ 𓂅
Como quem tenta segurar a ansiedade de aparecer na escola dela de surpresa, ele enviou presentinhos naqueles três dias. Queria se fazer presente sem assustá-la, já que descobriu que ela tinha um certo receio com alguns tipos de surpresa. Além do mais, poderia ser estranho, já que todos na escola sabiam que ela namorava Brian, um cara de pele alva, olhos azuis, corpo sarado e carinha de antipático, e, de repente, aparecesse um outro cara, moreno, olhos escuros, tatuado, simpático e carismático, procurando por ela.
Na quarta-feira, a aula de foi interrompida por um homem que lhe entregou um buquê de margaridas coloridas. Com o rosto enrubescido de timidez, ela ouviu as crianças darem gritinhos de comemoração e um corinho de “tá namorando, tá namorando”. Era estranho que as crianças nem soubessem que ela realmente namorava, já que ela não usava aliança - apesar de estarem juntos há dez anos - Brian nunca havia feito algo parecido, sequer aparecido em sua escola. era discreta, e não falava muito de sua vida pessoal, embora os alunos vivessem perguntando. Nem precisava ver o cartãozinho para saber quem enviou, mas sorriu ainda mais quando o leu.
“Margaridas, favoritas suas e da sua avó. Coloridas, para alegrar o seu dia.”
Não tinha um nome assinado, mas ela sabia que Brian jamais se lembraria caso ela tivesse comentado sobre plantar flores com a avó no quintal, quando ela ainda era viva. Além do mais, reconheceu a letra tortinha e quase tão ilegível quanto a de um adolescente. Riu com o comentário mental que fez consigo mesma, e logo pediu silêncio aos alunos que, empolvorosos, queriam saber quem havia mandado.
Na quinta-feira, bem na hora do recreio, um dos alunos mais velhos disse que a tia da secretaria recebeu uma caixa de bombons que “um moço todo tatuado” pediu que entregassem à tia . O bilhete, dessa vez, dizia com a mesma letra sinuosa: “Os meus favoritos, para a tia mais linda da Redwood experimentar e dizer se tenho bom gosto”, ao lado de uma carinha de olhos fechados e língua para fora. Digitou uma mensagem aprovando os doces, logo após experimentar o primeiro, recebendo de volta um gif pensativo, acima de uma mensagem dizendo “já sei onde te levar no sábado, então”.
━ Hummm… que sorriso animado! ━ Uma das crianças, Phoebe, comentou, ao se aproximar. A professora continuou sorrindo, sacudiu a cabeça enquanto guardava o celular.
━ Pode terminar de responder o seu namorado, tia. ━ Outra aluna, Ava, falou.
━ A tia não está namorando. ━ explicou.
━ Mas vai, não é? ━ Ava perguntou.
━ Vai sim. ━ McKenna, outra professora e amiga de , se intrometeu. As duas crianças batem palminhas animadas.
━ A tia sorri toda hora vendo os presentes dele. ━ Ava era esperta, observadora, possivelmente a mais madura da turma.
━ Se ele te faz feliz, a gente gosta dele. ━ Phoebe, doce e romântica, abraçou a professora ao falar.
Para crianças de nove anos, as duas falavam como duas moças crescidas. E se odiou por, em nenhum minuto, pensar em Brian, apenas aproveitar o que estava vivendo. A frase de Phoebe pareceu ser aprovada por McKenna e June, que encararam a amiga com aquele olhar que dizia “a pequena está certa”.
Na sexta-feira, um dia antes do encontro, os dois estavam completamente ansiosos. recebeu um último presente antes do grande dia: uma caixa com o salto alto que ela tinha dito que queria. Mas ela não disse aquilo para ele. Com a expressão confusa, ela ergueu o olhar e viu McKenna sorrindo, denunciando que ela havia sido a responsável por dar a dica à .
━ Foi ele quem me procurou. ━ Ela explicou, tornando a situação ainda mais especial.
“Se o número estiver errado, a culpa é da McKenna. Espero que combine com o que você está pretendendo usar amanhã.”
Dizia o cartão, com a mesma letra de sempre. Não satisfeito em conhecer tanto dela, ainda procurou por uma das amigas para surpreendê-la no último presente. O restante do dia passou rápido, mas ainda teria o sábado inteiro para sofrer com a ansiedade até a hora de se encontrarem. Ao menos mantiveram conversa por mensagens para sanar um pouco da saudade, ao contrário de Brian, que estava no mesmo ambiente, mas não trocava uma palavra com a namorada.
˛ ⠀ * ⠀ 𓂅 ⠀
━ Como foi o dia hoje na Redlight? ━ Sem tirar os olhos do celular, Brian puxou assunto quando entrou no quarto. Nem reparou que usava um belo vestido preto, com as costas à mostra e passava hidratante nas pernas quando ele chegou.
━ Redlight? ━ Ela perguntou, confusa, começando a calçar os saltos altos que havia ganhado de .
━ Sua escola. ━ Ainda trocava mensagens com alguém, possivelmente outra mulher. não podia reclamar, embora aquilo fosse completamente estranho para ela.
━ Eu trabalho na Redwood. Não conheço nenhuma Redlight. ━ Ela respondeu, magoada pela confusão. Ficou na dúvida se ele estava conversando com alguma mulher que trabalhava em algum lugar chamado Redlight, ou ele simplesmente não fazia ideia do nome do lugar onde ela trabalhava nos últimos quatro anos.
━ Desculpa, confundi. ━ Ele disse, rindo, mas a risada era pela mensagem que acabara de ler.
abriu a boca para dizer algo, mas nada saiu. Nem sabia o que dizer. Era decepcionante estar naquela situação, mas pior ainda era não conseguir sair, e sequer saber o motivo. Por que parecia tão difícil ir embora e deixá-lo ir? Ele não queria estar ali, e ela muito menos. Antes de , ela nunca havia se questionado sobre isso, parecia feliz - ou conformada - sua mente e seu coração pareciam de acordo com o fato de que ficaria com Brian para sempre. E que tudo bem o relacionamento deles não ser como nos filmes, porque nenhum era, certo? Isso até aparecer e mostrar que homens que fazem atos românticos e apaixonados existem, só não era o caso de Brian. E talvez nunca fosse ser.
━ Uau! Você… está linda! ━ Brian interrompeu os pensamentos de , pegando-a de surpresa pelo comentário, e a reação. ━ Muito linda! ━ Ele largou o celular. sorriu, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. ━ Puta que pariu, , por que nunca usou esse vestido?
━ Acho que nunca tive oportunidade. ━ Ela confessou, entristecida pelo fato de ter aquele vestido lindo guardado para um momento especial com Brian, que nunca aconteceu.
━ Eu não sabia que você queria sair hoje, amor. Eu nem me arrumei. Mas, olha, eu me troco rapidinho… ━ Ele se levantou, mas ela o interrompeu.
━ Ah, não, eu… Vou sair com outra pessoa. Quer dizer, se estiver tudo bem por você.
Brian ficou em silêncio por alguns segundos, a boca entreaberta e os olhos vidrados nela, sem saber o que dizer. Queria negar e dizer que “mulher minha não pode sair bonita assim com outra cara”, mas não foi ele mesmo que sugeriu relacionamento aberto? Não era ele que estava há um minuto ignorando a existência da própria namorada para marcar um encontro com uma gostosa do Instagram? Por mais babaca que fosse, ele não queria arrumar essa briga. Não agora, sem argumentos.
━ Brian? Posso ir? ━ Ela o chamou, quando ele nem reparou que ela estava no celular, respondendo , que a esperava na porta.
━ Pode. Claro. Te vejo mais tarde?
━ Talvez. ━ Ela disse, incerta de como acabaria aquela noite. Acenou para se despedir, mas voltou ao quarto. ━ Brian, eu sei que não acertamos detalhes sobre esse relacionamento aberto, mas se você quiser que eu fique… ━ Ela tentou, mas ele a interrompeu.
━ Pode ir, . Tudo bem. Divirta-se. ━ Ele soava indiferente, e ela ficou confusa se ele só estava disfarçando o ciúme ou realmente não se importava.
Não importava qual fosse a resposta, tudo o que ela queria era que ele a implorasse para ficar, dissesse que a ama e que não queria mais saber de relacionamento aberto, que só queria ela e estava disposto a ser o homem que ela sempre quis. Mais uma vez com as expectativas frustradas, ela saiu do quarto, desceu as escadas para encontrar .
˛ ⠀ * ⠀ 𓂅
A expressão cabisbaixa de havia mudado completamente ao ver a reação de . Se Brian pareceu animado ao ver o quão bonita ela estava, a forma como o outro reagiu foi muito mais parecido com o que ela esperava do namorado. Ele desligou o motor e saiu do carro no mesmo momento em que a viu. Com o queixo caído, ele caminhou na direção dela, segurou sua mão e se afastou, como quem tenta vê-la por inteiro. Seus olhos brilhavam enquanto desciam por todo o corpo dela, e se sentiu igualmente envergonhada, lisonjeada e com a autoestima explodindo.
━ O sapato ficou perfeito! E esse vestido… ━ Girou-a, vendo as costas de fora e arregalando ainda mais os olhos, com um sorriso pateta no rosto, como diria a melhor amiga Zoey. ━ Meu Deus! Desenharam especialmente para você? Porque porra… É a mulher mais linda que eu já vi.
━ Para de exagero, . ━ Ela disse, sem graça, abaixando a cabeça. Ele segurou em seu queixo, levantando seu rosto.
━ Eu falo sério. ━ Ele passeava com os olhos por ela enquanto falava. ━ Você é toda linda! Seu cabelo, seus olhos, seu corpo, essa boca vermelha… ━ Ele se aproximou um pouco para sussurrar. ━ Eu vou ter que esperar a noite inteira para te beijar?
━ Vai. ━ Ela respondeu, sorrindo.
━ Ahh… ━ Ele lamentou, brincando. ━ Então, vamos?
De mãos dadas, ele a levou até o carro. Conversaram o caminho inteiro até o restaurante, com o mesmo clima de intimidade que adquiriram tão rapidamente. Não só nas mensagens, mas quando se conheceram, apesar do estranhamento inicial, a sintonia teve uma crescente rápida e natural. Enquanto ele aproveitava cada parada no semáforo para olhar um pouco mais para , ela esperava quando ele estava focado em olhar o caminho para notar o quão lindo ele também estava. Como era possível que ele ficasse elegante e despojado ao mesmo tempo? Como se ele tivesse escolhido a primeira roupa que viu, mas mal sabe ela que levou dias para decidir, além de precisar de Zoey repetindo várias vezes que ele estava bonito.
O restaurante tinha um ar sofisticado, que combinava com as roupas que eles escolheram, mas não o suficiente para que ficassem constrangidos por não saber usar os talheres corretos; porque, vamos combinar, nenhum dos dois saberia. Era a céu aberto, a mesa estava reservada em uma parte estratégica para aproveitarem a vista do alto. parecia maravilhada, e embora soubesse para onde iriam, também ficou surpreso com a beleza do lugar.
O garçom se aproximou e os cumprimentou, deixando o cardápio. Embora ambos quisessem pedir um belo bife com batatas fritas, concordaram em agir como adultos refinados e escolher um prato diferente do que costumavam comer. Afinal, ambos estavam em uma cena totalmente fora do habitual.
━ Vamos escolher o que tem o nome mais difícil. ━ disse, sério, assim que o garçom saiu. riu. ━ É sério.
━ Nome difícil não quer dizer que a comida é boa. ━ Ela sussurrou, como ele.
━ Mas é chique de falar. Olha só… ━ Olhou o cardápio e repetiu um dos nomes que viu. ━ Por favor, um bife glaceado com balsâmico.
━ De onde vem o sotaque? ━ Ela perguntou, ainda rindo da bobeira.
━ Sei lá. Mas foi chique, não foi? ━ riu junto dela. ━ Eu nem sei o que é balsâmico. Nem glaceado.
━ Por que me trouxe em um lugar que nem sabe o que servem? ━ Ela baixou o cardápio para olhar para ele, que ergueu os ombros.
━ Zoey me ajudou a escolher. Queria um lugar legal, com uma vista bonita.
━ Bom, nisso você acertou. ━ Ela apontou com a cabeça para a vista ao lado deles. Ele sorriu ao notar o sorriso dela.
━ E também, eu não iria levar a garota que eu gosto para comer um podrão e sentar no meio-fio. Não no primeiro encontro.
riu com a forma engraçada que ele falava, tentando não se apegar a parte “a garota que eu gosto”, ou iria surtar ali mesmo. Fosse surto de felicidade ou ansiedade, não parecia um bom momento. Não quando ele falou aquilo com tanta naturalidade, como se estivessem em um encontro comum, numa situação comum de “garoto conhece garota e a chama para um encontro”. Como se não tivesse um namorado a esperando em casa. Como se aquilo ali pudesse evoluir para algo além de encontros casuais.
━ Vai escolher esse bife mesmo? ━ Ela mudou de assunto, voltando a olhar o cardápio. Ele fez o mesmo.
━ Ainda não sei. E você?
━ Acho que vou pedir costeletas de cordeiro, que eu já comi e sei que é bom. Não gosto de arriscar.
━ Eu sei… ━ Ele não resistiu ao comentário, sabendo o quão apegada ela era. Talvez um dos principais motivos pelo qual ela não deixava Brian.
━ Boa noite! Já posso anotar os seus pedidos?
O garçom apareceu no momento perfeito para não começarem o assunto Brian e a dificuldade de em lidar com mudanças.
━ O que é confit de canard? ━ perguntou, forçando um sotaque que arrancou risadas de e do garçom.
━ É pato. ━ O homem informou.
━ Pode ser isso para mim, então. E costeletas de cordeiro para minha dama. ━ E lá estava aquele sorriso encantado dela quando o ouvia falar.
Então voltaram a conversar enquanto esperavam a comida, e quando a comida chegou também, e enquanto tomavam alguma bebida, e mais outra, e o assunto nunca acabava. Não havia silêncio constrangedor entre eles, e se entre uma garfada e outra eles ouviam apenas o som das pessoas falando e da música ao fundo, não era nem de perto uma sensação aflitiva. Eles se olhavam com carinho e devoção, como dois amantes devem ser, como ele nunca havia enxergado alguém, como ela nunca havia sido admirada.
Repetiram alguns assuntos que trataram por mensagens, aprofundando mais os conhecimentos sobre os gostos e desgostos do outro. Indicaram filmes e músicas, mostraram alguma coisa engraçada no celular, falaram sobre notícias recentes que viram no jornal ou na internet, e sobre um ator que foi cancelado por um comentário infeliz. Decidiram experimentar uma bebida juntos pela primeira vez: piña colada. Os dois adoraram e pediram mais uma algum tempo depois.
Começaram a contar histórias engraçadas. contou de quando foi convidado para uma festa por um colega de faculdade, que chegou com as bebidas na mão, mas chegando lá, se tratava de uma roda de leitura de poesia, e recebeu muitos olhares tortos quando foi o único bêbado do lugar. contou de quando, na adolescência, desobedeceu o pai, usando as palavras dele contra o próprio. O homem deixou que ela saísse com as amigas e disse “volte às dez”, e ela voltou às dez… dez para as duas da manhã. Na época, ela não tinha celular, e os pais quase acionaram a polícia por não ter notícias dela. Surpreso com a rebeldia, ele riu e descobriu que aquela foi a primeira e única vez que ela fez algo parecido.
contou que tinha uma moto, e ela pediu que um dia ele a levasse em um passeio. Lembrou de agradecer pelos sapatos, disse que adorou os presentes e comentou sobre a letra dele, e sobre os corações coloridos desenhados nos cartões. O tatuador explicou que a letra sempre foi assim, mas que estranhamente conseguia fazer bons desenhos e que as tatuagens sempre saíam boas, até as linhas mais finas, por conta da mão firme. O encontro nem havia terminado e eles já falavam de se ver um outro dia. Dessa vez, iriam comer lanche de rua sentados no meio-fio, como ele havia dito. Tentaram decidir qual filme iriam assistir na casa dele depois do segundo encontro, e demoraram a entrar em um consenso, até que ousou perguntar.
━ Por que não vai lá para casa hoje? ━ ficou em silêncio alguns segundos, tentando pensar num bom motivo.
━ O Brian… ━ Ela foi interrompida.
━ Está te esperando em casa? ━ Perguntou, já se arrependendo quando a viu balançar a cabeça que sim. suspirou, frustrado. ━ Essa coisa de relacionamento aberto está funcionando para você? ━ Perguntou no singular, porque não estava nem aí para como Brian se sentia, queria saber apenas dela. O silêncio de pareceu uma boa resposta.
━ A gente não conversou muito sobre isso. ━ Ela admitiu, depois de algum tempo.
━ Ele sabe que você está aqui comigo?
━ Sabe que estou em um encontro, mas não com você.
━ Por que escondeu? Ele se chatearia por ser eu, já que viu a gente naquela noite?
━ Não escondi, só acho que ele não se importaria. ━ Ela ergueu os ombros para cima. ━ Não falamos sobre aquela noite.
━ Por que você acha isso? ━ nunca perguntava sobre a relação dos dois, por medo do que iria ouvir. Talvez fosse egoísta de sua parte, mas saber que os dois não eram um casal ideal como ele pensava lhe dava alguma esperança. ━ Tudo bem se não quiser falar. ━ Ele disse, compreensivo, ao notar o silêncio dela.
━ Por isso. ━ apontou para ele. ━ Você entende até o meu silêncio. O Brian nunca repara ou nunca se importa com o que eu sinto. Ele não pergunta, parece nunca ver na minha expressão quando estou incomodada ou chateada, e todos dizem que eu sou muito transparente. ━ Ela desabafou, e ele concordou sobre ela ser quase um livro aberto. No primeiro dia em que se conheceram, bastou observar um pouco e acertou tudo o que julgou pela aparência dela.
━ Então ele nunca reparou que você estava insatisfeita com aquela ideia. ━ Ele falou, como se constatasse, sobre a noite da troca de casais. apenas confirmou com a cabeça. ━ Bom, se serve de consolo, a Zoey disse que ele teve uma noite péssima. ━ Ele riu, esticando a mão na mesa para segurar a dela.
━ Eu sei. ━ Ela confessou, rindo junto dele. ━ Foi o motivo para ele sugerir esse relacionamento aberto. Disse que não achava justo que eu tivesse tido uma noite legal e ele só se fodeu. ━ Repetiu as palavras que o namorado disse.
Era a quinta piña colada falando mais alto, ou ela simplesmente já se sentia tão à vontade com para falar sobre tudo? Porque em dez anos de relacionamento com Brian, ela não se sentia assim com ele. ficou igualmente surpreso e furioso por saber disso, mas continuou segurando a mão dela com delicadeza.
━ Eu só topei porque… Bom, porque eu queria ver você. ━ Ela admitiu, sentindo as bochechas corarem e se detestando por ter falado demais. Maldito álcool! Teria se sentido pior se não fosse o sorriso iluminado de .
━ Ok, primeiro: o Brian é um babaca. Segundo: você acha mesmo que ele vai se importar de você dormir fora hoje? ━ Perguntou, ainda incerto sobre a resposta, mas julgando pelo que ela falou, o outro parecia despreocupado com a relação aberta. ━ Ele não te disse onde estava?
━ Ele estava trocando mensagem com alguém quando eu saí… ━ a interrompeu.
━ Espera aí… Ele estava em casa quando você saiu? ━ Ela confirmou com a cabeça. ━ Ele te viu assim, toda linda, saindo para um encontro com outro cara? ━ Ela confirmou com a cabeça de novo, e ele riu. ━ E ele não disse nada para te impedir ou pareceu chateado?
━ Ele me elogiou, disse que eu estava linda e perguntou porque nunca usei esse vestido antes. Achou que eu estava me arrumando para sair com ele, mas eu expliquei e ele disse que tudo bem. Eu até voltei para perguntar se ele queria que eu ficasse, mas ele disse que tudo bem eu ir. ━ Ela ergueu os ombros, como se a indiferença e descaso dele não a magoasse, mas ainda doía. Não sabia se porque ainda sentia algo por ele, ou por orgulho ferido.
━ Então ele é mais idiota do que eu pensava. ━ disse, rindo. ━ Se fosse eu, primeiramente, nunca iria sugerir um relacionamento aberto e dar oportunidade de você se apaixonar por outro cara. Mas, se fosse o caso, eu iria me jogar aos seus pés, te agarrar pelas pernas e implorar para você ficar. ━ A cada palavra, ria, sacudindo a cabeça.
━ Que exagero…
━ Eu falo sério. Nunca que eu veria você linda desse jeito para sair com outro cara. E sendo minha namorada!
━ E ele ainda disse “divirta-se!”. ━ Ela informou, ainda rindo. conseguia deixar aquele assunto delicado com um tom divertido e leve, ao ponto dela quase fazer piada com o que ouviu. Até porque, honestamente, Brian era uma piada ali.
━ Então, se ele disse… Você deveria se divertir. ━ O tom dele mudou para um mais baixo, deslizando os dedos pelo braço dela.
━ Que tipo de diversão você sugere? ━ Ela mordeu o próprio lábio inferior, chegando o corpo para frente, os seios quase apoiados na mesa. De novo: era a bebida falando mais alto ou aquela má intencionada sempre existiu?
━ Vamos lá para minha casa. Da última vez, você disse que a noite comigo foi agradável, e eu acho que você merece mais do que isso. ━ relembrou da noite em que se conheceram, quando ela, em tom de brincadeira, usou a palavra agradável para definir a noite incrível que tiveram. Dizer isso com aquele sorriso encantador no rosto não convenceu , mas ele não deixaria passar a oportunidade de revidar.
O álcool certamente deixou os corpos de ambos mais quentes, mas a voz baixa e rouca de e o tom naturalmente sexy que ele usava, com certeza foram ótimos incentivadores para virar o último gole de piña colada e dizer que ele pedisse a conta. Como dois adolescentes excitados e ansiosos, eles ficaram se encarando, aqueles olhares e sorrisos cheios de má intenção. Ele pagou a conta, e foram de mãos dadas até o carro, a caminho da casa dele.
˛ ⠀ * ⠀ 𓂅
Para garantir que não seriam perturbados com ligações que o fariam se lembrar do mundo lá fora, desligaram os celulares assim que desceram do carro. O barulhinho da chave abrindo a porta foi como o gatilho que eles precisavam para se agarrarem ainda no corredor. se virou, uma mão na maçaneta e a outra puxando-a pela cintura. entrelaçou os braços ao redor do pescoço dele, sendo levada para dentro da casa, assim que a porta se abriu.
Com pouca habilidade, eles separavam o beijo algumas vezes para rir, quando tropeçavam em alguma coisa. Ele retirou os saltos dela, dando beijos em seus pés e subindo pelas pernas, até a coxa, onde subiu uma parte do vestido. Ela retirou o blazer do rapaz, depois abriu botão por botão, voltando a trocar olhares cheios de malícia, não resistindo a puxar o lábio dele para uma mordidinha. a pegou no colo, levando-a até o quarto e acendendo apenas um abajur, para manter o clima de penumbra.
foi para as costas dela, descendo o zíper e lhe enchendo de beijos pelo ombro. Ela sentiu o tecido deslizar por seu corpo, até cair no chão, e o afastou para longe com o pé, virando o corpo para beijá-lo. Entrelaçou as pernas na cintura dele, que a segurou pelas coxas para ajudá-la, e a carregou para a cama. Deitando-se sobre ela, apertava os seios dela entre seus dedos, descendo os beijos por seu tronco, até alcançar sua intimidade. Diferente da primeira vez, ela não levou tanto tempo para se sentir confortável, e os gemidos tão intensos e verdadeiros que ela só dava quando ele lhe chupava ou lhe tocava. Nenhum outro homem a fazia sentir daquele jeito, nem mesmo Brian.
Dessa vez, o sexo não foi apenas por desejo, embora houvesse muito envolvido, mas havia carinho, paixão, uma intensidade diferente do que só prazer carnal. Cada toque na pele suada arrepiava os pelos dos braços, porque ambos entendiam o sentimento um do outro, mesmo sem nunca terem dito muito claramente. sentia que ela pertencia a ele, e se recusava a acreditar que estava se iludindo sozinho. Aquele sorriso, aqueles olhares… ele não conseguia imaginar ela sendo assim com Brian, pela forma como ela falava do homem, até mesmo as fotos nas redes sociais não pareciam ser esse tipo de casal.
Foi muito mais confortável dessa vez, porque conheciam melhor o corpo do outro, havia uma conexão muito além do físico, o que só tornava as carícias mais verdadeiras e cheias de significado. Ainda mais porque estavam em uma cama, diferente da primeira vez que precisaram se virar em uma poltrona e depois um sofá não tão confortável assim.
Dividiram uma ducha quando terminaram, entre conversas e risadas, muitos beijos e carinhos. Aquele jeito que ele tinha de fazer com que ela se esquecesse de todas as amarras que a impediam de viver aquele amor, e o jeito que ela conseguia fazê-lo se apaixonar ainda mais só com uma risada.
Com uma camiseta dele, os dois deitaram e conversaram um pouco mais, abraçados, até caírem no sono. Ele foi primeiro, dando oportunidade para que ela tirasse alguns minutos passeando com os dedos no rosto dele, como quem tenta decorar cada traço do rosto tão bonito. Sentia um aperto no peito horrível quando pensava que poderia ser a última vez, e nem sabia dizer se isso seria por decisão dela ou de Brian. O namorado poderia não querer mais a relação aberta, ou ela mesma poderia não se sentir mais confortável com isso. Havia ainda a terceira opção: deixar o namorado e dar uma chance a , mas teria coragem de tal?
A resposta veio na manhã seguinte, quando após cair no sono mesmo com aquele turbilhão de pensamentos, ela foi acordada aos beijos por , que trazia o café da manhã na cama. Dez anos de namoro, seis morando juntos, e Brian só havia feito aquilo uma única vez, no primeiro ano em que passaram a dividir o apartamento. Apenas porque era aniversário dela, e teve de dar muitas indiretas para que ele entendesse o recado. Pequenos gestos que a conquistavam, como aquilo, ou segurar sua mão enquanto andava na rua, levá-la a um restaurante diferente… Coisas que ela precisava pedir a Brian, e nunca sequer mencionou a , mas ele fazia mesmo assim.
━ Bom dia, gostosa. ━ cumprimentou, por não saber se podia lhe dar um apelido carinhoso. Ela sorriu, parecendo gostar e lhe deu um beijo.
━ Bom dia. ━ Respondeu, com a vozinha baixa de quem acaba de despertar.
contava o que aconteceu na padaria quando foi comprar as coisas para o café da manhã, quando ela se lembrou que precisava ligar o celular. Tinham mensagens de June e McKenna no grupo que as três dividiam, de sua mãe, seu irmão, notificações do Instagram, mas a ausência de mensagens de Brian foi o que a preocupou e chateou na mesma proporção. Ao mesmo tempo, ouvia narrar ideias de lugares e passeios para os dois passarem a tarde juntos.
━ Eu acho que essa ideia de relacionamento aberto não vai funcionar para mim. ━ Ela falou, sem pensar muito, interrompendo o outro.
━ Você… É sério? ━ Perguntou, com um sorriso quase esperançoso. Pensava que ela terminaria com Brian, e ele finalmente teria oportunidade de conquistar ela de verdade, e a pedir em namoro, mas a resposta dela foi pior do que um balde de água fria em pleno inverno.
━ Eu preciso ir para casa. Conversar com o Brian.
━ Terminar com ele? ━ A pergunta soava como um último suspiro de esperança, e o silêncio dela foi a pior resposta que podia ter.
━ Me desculpa… ━ Ela sussurrou, levantando-se. Começou a procurar por sua roupa, e vestia-se enquanto andava pelo quarto e desabafava. ━ Eu nunca me senti confortável com essa situação, mas eu queria tanto te ver. Você me faz sentir tão bem, é como viver um romance que eu sempre quis, mas não é certo. Não é você o meu namorado, é o Brian.
━ Ele sabe te amar como você merece? ━ Perguntou, quase retoricamente, levantando-se da cama e procurando encará-la, enquanto ela desviava o olhar, suspirando pesadamente. ━ Nem precisa responder, eu sei que não. Mas eu estou aqui. ━ Ele caminhou na direção dela, segurando-a pelo queixo para forçá-la a olhar para ele. ━ Tudo que eu quero é te amar como você sempre quis, como você merece, eu só preciso que você…
━ Por favor, , não faz isso comigo… ━ Ela pediu, ele lhe deu um beijo no canto dos lábios.
━ Fica comigo, . ━ Ele sussurrou, e o coração dela estava completamente descompassado.
━ Você… … Eu achei que você estava levando isso como uma aventura.
━ Não é possível que você acredite mesmo nisso. Você não vê o jeito que eu te olho? O jeito que você me deixa quando você me toca?
De olhos fechados, querendo aproveitar todas aquelas sensações que ele lhe causava apenas com a sua voz e o toque sutil da ponta de seus dedos em sua cintura pela abertura do vestido. Buscando uma força mental que ela não sabia que tinha, empurrou-o para se afastar e foi atrás de seus saltos, que estavam na sala. Ele foi atrás.
━ Quando você me beija, eu sinto que você é minha. Eu não posso estar louco e só eu sentir isso.
━ … ━ Ela tentou, ele a interrompeu.
━ Você vai embora e eu vou ficar do mesmo jeito de quando te conheci. Eu só penso em você, só quero estar com você… ━ Dessa vez, ele é quem foi interrompido.
━ Por favor, não pare a sua vida por mim. Eu vou me sentir péssima.
━ Você quer que eu saia com outras garotas? ━ Não, ela não queria. O seu silêncio soava como uma resposta, e a expressão que misturava ciúmes e pesar divergiam do que ela respondeu.
━ Eu prefiro que você siga a sua vida sem me esperar. ━ Palavras duras que ele não estava pronto para ouvir, e nem ela pronta para dizer, mas era necessário. Não poderia pedir que ele a esperasse se nem ela sabia o que queria ainda.
━ O que você sente por mim? ━ Ele arriscou perguntar, ela se virou para ele quando terminou de abotoar os saltos, com aquela expressão de “por favor, não me faça falar sobre isso”.
não conseguiu responder e, sem dizer nada, foi até a porta. Tocou a maçaneta e, assim como da primeira vez em que ficaram juntos, ela sentiu a mão dele em sua cintura, dessa vez segurando-a com mais firmeza. Aproximou os lábios de seu ouvido, a respiração tão ofegante quanto a dela. Segurou-a com as duas mãos, tentando virá-la para si, mas ela estava resistente. Ele não desistiu, e sussurrou em seu ouvido.
━ Eu quero você, . Fica comigo. ━ Bom, não era como se jogar aos pés dela, segurá-la pelas pernas e implorar que ela ficasse, mas era quase isso. E já era muito mais do que Brian havia feito.
Não sabia se por impulso ou porque no fundo de seu coração queria mesmo fazer aquilo, ela se virou e o encarou nos olhos por longos segundos, até puxá-lo pela nuca e lhe dar um beijo. Já haviam trocado beijos quentes, carinhosos, rápidos, longos, cheios de desejo, mas aquele era diferente. Aquele beijo era como uma resposta silenciosa para o que ele havia dito: ela era dele. pertencia a , ela só precisava ter coragem de admitir isso para si mesma.
Afastou-se mesmo querendo ficar mais, a respiração ofegante e a ausência de um “adeus” fez com que pensasse que ela voltaria.
˛ ⠀ * ⠀ 𓂅 ⠀
Naquela tarde, apesar de muito querer falar com ela, respeitou o seu espaço e não enviou mensagem alguma para . Pediu que Zoey fosse vê-lo, e saíram para tomar um milkshake enquanto falavam do acontecido e dos sentimentos dele. Contou tudo o que ela havia dito e a melhor amiga concordou que ele deveria seguir com sua vida. parecia muito parada e apaixonada por Brian, e que talvez o amigo estivesse errado e não passasse de uma experiência para ela.
━ Ela disse que achava que você encarava isso como uma aventura, não é? Talvez ela enxergue assim, e queira mesmo ficar com o Brian.
━ Não sei… ━ Ele não parecia convencido.
━ Por que ela não largou tudo e ficou com você quando pediu, então?
━ tem problemas com mudanças. Ela é teimosa, inflexível.
━ Mais um motivo para você superar. Ela está há dez anos com o cara, se nem você todo apaixonado e romântico conseguiu tirar ela do Brian… ━ Zoey ergueu os ombros e pressionou os lábios, dando um gole em seu milkshake depois.
━ O que a gente tem é especial, Zoey.
━ O que vocês tinham, no passado. Ela te deu um pé na bunda, . Aceita.
━ Eu não consigo aceitar.
━ Desculpa a honestidade, mas eu acho que ela está certa. Você precisa sair com outras garotas.
━ Não acho que ela queira isso de verdade.
━ Ela não pode se chatear se você fizer.
━ O problema não é o que ela vai sentir, é que eu não quero.
Zoey o encarou em silêncio por alguns segundos, o olhar perdido do melhor amigo quase lhe arrancou uma risada. Num ímpeto que ela sabia que ele não teria, virou-se para a garçonete e a chamou.
━ Ei, menina, você. Como é seu nome?
━ Willa. ━ Respondeu, confusa.
━ Você é solteira? ━ Zoey perguntou, e já sabia o que ela ia fazer, mas não teve tempo de impedir.
━ Sou sim. ━ Ela disse, um pouco sem graça.
━ O meu amigo aqui queria te chamar para sair, mas não tem coragem. ━ arregalou os olhos e cerrou os punhos. ━ Você sai que horas?
━ Saio às dez. ━ O sorriso dela para demonstrava ter gostado do convite.
━ Ótimo. Ele te busca. ━ Zoey disse, e forçou-se a retribuir o sorriso de Willa.
━ Eu vou te matar. ━ Ele disse para a amiga, quando a outra se afastou
Zoey começou a rir da reação do amigo, de cabeça baixa e sugando o milkshake do canudo com rapidez. Ela repetiu que aquilo era uma boa ideia para ele distrair a cabeça, e de repente Willa conquistava o coração dele e o faria esquecer . Ainda tinha a chance da professora perceber que escolheu errado e pedir para ficar com ela. De qualquer forma, ele tinha mais chance de ser feliz se seguisse em frente, ao invés de só ficar esperando por uma atitude de .
Então os dois foram embora da lanchonete, e o tatuador voltou mais tarde para buscar a garçonete. O encontro não foi ruim, e certamente teria sido incrível se ele já não estivesse com o coração e a cabeça em outra pessoa.
Não teve notícias de durante uma semana e uns dias, e nesse tempo, Zoey já tinha arrumado mais uns dois encontros para ele, e todos terminaram do mesmo jeito. Não importa quantas garotas ele conhecesse, quantas bocas beijasse, nada tirava a lembrança de e do quanto queria que ela aparecesse.
˛ ⠀ * ⠀ 𓂅 ⠀
No domingo, quando chegou em casa, Brian estava lá. Dessa vez, foi ela quem teve de vê-lo se arrumando para um encontro, mas ela não se incomodou tanto quanto gostaria. Era uma situação chata, é claro, mas era como ver a traição de outra pessoa, que lhe incomoda, mas não afeta como se fosse com você. Por um lado, se chateou por não ser recebida como queria e nem ter a oportunidade de conversar, por outro lado, foi um alívio que ele não lhe encheu de perguntas e ela teria um tempo sozinha.
Teimosa, insistente, inflexível, ela sabia de tudo isso sobre si, mas não era fácil mudar quem você é. Realista até demais e acostumada com monotonia, nunca se incomodou com isso e sempre achou que seria o suficiente. Diferente das amigas, que sempre faziam planos para viajar e conhecer o mundo, , desde a adolescência, se contentava com a ideia de que um dia se casaria, teria filhos e viveria para sempre na mesma casa, com vários filhos, um grande quintal e um jardim cheio de margaridas. Para ela, o relacionamento morno, estável e seguro com Brian era o que estava destinada a viver, e estava bem com isso. Por que tinha que aparecer e lhe confundir tanto, fazendo ansiar por muito mais do que ela tinha? Fazendo-a descobrir sonhos dentro dela que ela nem sabia que existiam?
O domingo passou rápido, ela preferiu não pensar no que faria e acalmar os seus sentimentos para tomar a decisão correta. Ou o mais próximo disso, já que toda vez que começava a pensar no assunto, todas as opções pareciam arriscadas, e ela odiava se arriscar. Mas foi no dia seguinte, depois de passar o domingo com as amigas e sem nem saber onde ou com quem Brian estava, que foi surpreendida numa noite de segunda-feira. Brian chegou em casa após o trabalho, cheiroso, bem vestido e com um buquê de rosas vermelhas. paralisou, com o cenho franzido, vendo-o se aproximar com um sorriso de orelha a orelha, lhe entregar o buquê e lhe encher de beijos e sorrisos.
━ O que deu em você? ━ Ela perguntou, rindo quando ele lhe fazia cócegas.
━ Quis agradar a minha namorada. Não posso?
━ Claro que pode. É só que… Você nunca fez isso.
━ Já fiz no seu aniversário. ━ Ele retrucou, ela revirou os olhos, divertida.
━ Não é meu aniversário.
━ Mas é um dia especial. Tenho um pedido para te fazer. ━ Ah, pronto!, ela pensou. Vai me convidar para uma troca de casais de novo, ou sugerir um ménage.
━ Que pedido? ━ Perguntou, com muito receio.
━ , ━ Começou pelo apelido, e já não parecia um bom sinal. Ele nunca a chamava assim. ━ A gente já está junto há dez anos, e eu sinto muito ter levado tanto tempo para perceber e tomar uma atitude, mas… Eu acho que está na hora de termos uma família.
Ela não conseguiu responder. A boca ficou entreaberta por alguns segundos, e o seu cérebro precisou lembrá-la de piscar para não parecer tão estranhamente imóvel.
━ Você quer casar comigo? ━ Ele pediu. Sem se ajoelhar, sem mostrar uma aliança, no meio da cozinha com o som da panela de pressão ao fundo, nada como ela sempre quis.
━ Brian… Eu não quero um casamento aberto.
━ Não, meu amor. Só nós. E nosso filho ou filha.
━ A gente nem tem espaço para uma criança aqui. ━ Ela começou a colocar empecilhos, como se tentasse convencer a si mesma a recusar aquela ideia, ou talvez quisesse ouvir a sua resposta.
━ Temos sim, o quarto de hóspedes. ━ Bipe! Resposta errada.
━ O quarto é pequeno, o apartamento é pequeno. Não dá para criar uma criança aqui.
━ A gente procura outra casa, então. ━ Ele sugeriu, mas ainda não parecia a resposta certa. Ela o encarou com os olhos semicerrados, como se pensasse no que dizer.
━ Que tipo de casa?
━ Sei lá, um apartamento maior? Com um playground para crianças? ━ Bipe! Resposta errada de novo. Mesmo que ele sorrisse empolgado ao sugerir.
De novo, ela o encarou com a mesma expressão. Tentou dizer algo, mas pensou melhor. Era como se ela estivesse percebendo algo pela primeira vez, e começou uma série de perguntas que soou completamente confuso e fora de contexto para Brian, mas para ela significava muito.
━ Brian, qual o nome da escola que eu trabalho? ━ Ele pensou um pouco.
━ Red… Calma, eu confundo. Redhood? ━ Bipe! Resposta errada. Ao menos chegou mais perto dessa vez.
━ Redwood. ━ Ela corrigiu. ━ Onde eu sempre sonhei em morar?
━ Amor, o que isso tem a ver? ━ Bipe! Resposta errada. Ela já havia dito, tinha certeza, ele apenas não se lembrava, como sempre.
━ Qual a minha flor favorita?
━ Rosas. Por isso comprei um buquê delas. ━ Bipe! Resposta errada.
Um sorriso começou a surgir no rosto dela, em câmera lenta, se abrindo e se transformando em uma risada. Brian não entendeu nada, mas acabou rindo junto, por nervosismo.
━ Amor, o que houve? ━ Ele segurou a mão dela, e controlou o riso e o encarou.
━ Brian, nós precisamos terminar.
━ O que? ━ Ele pareceu exasperado. ━ Eu acabei de te pedir em casamento. Não é isso o que você sempre quis?
━ Sim, mas você tinha que querer também. ━ Ela afastou a mão dele e desligou o fogão. ━ Não casar comigo só porque eu quero.
━ Mas eu quero me casar com você. ━ Ele foi até ela. ━ Sair com essas mulheres só me fez perceber que eu não quero mais ninguém. Só quero você, meu amor.
largou tudo e o encarou e riu mais ainda. Brian se chateou. Diferente dele, que nunca notava as reações dela, a mulher era sensível e reparou.
━ Desculpa. Não estou rindo de você. ━ Ela disse, ele continuou em silêncio, como quem espera uma resposta. ━ Eu sempre quis ouvir isso de você, e agora que finalmente disse… Eu não senti nada.
Ela constatou, deixando-o confuso, mas para ela estava bem claro. Idealizou por tantos anos que ele a pedisse em casamento, e achou que essa história de relacionamento aberto serviria para ele perceber o quanto a amava e queria ficar apenas com ela. Bem, havia dado certo, mas já era tarde demais. Estava se sentindo sufocada e não entendia o motivo, achava que era o fato de estar com dois homens e dividida entre eles, quando na verdade estava longe disso. Seus sentimentos por eram muito claros, só precisava entender o que sentia por Brian, e conseguir admitir para si mesma que era puro comodismo e costume de estar com alguém que, de alguma forma, lhe passava segurança, foi fundamental para dar aquela risada de alívio.
━ , espera! ━ Ele gritou quando a viu sair da cozinha e ir até o quarto. Começou a separar algumas roupas em uma mala.
━ Vou passar uns dias na casa da McKenna, nem falei com ela, mas ela não deve se importar.
━ , não! ━ Ele tentou impedir, segurando seus braços e obrigando-a a olhar em seus olhos.
━ Brian… Acabou. A gente acabou faz tempo, eu só demorei a perceber e aceitar. ━ Ela se desvencilhou dele, fechando a mala e indo em direção a porta.
━ , por favor! ━ Ele foi atrás dela, ajoelhou-se e segurou em suas pernas. A voz parecia trêmula, como se quisesse chorar. ━ Não me deixa, . Eu te amo. Fica comigo.
Como lhe doeu ouvir isso quando foi que disse. Doeu não ter seguido o seu coração e ficado com ele, porque estava confusa sobre o próprio destino e se aquilo era a decisão certa. Mas agora que tinha Brian como sempre quis, ajoelhado aos seus pés e lhe implorando para ficar, ela não conseguia sentir nem um por cento do que sentiu quando o outro lhe sussurrou o mesmo no ouvido. Ela não pensou em Brian quando pediu que ficasse, mas quando Brian fez o mesmo, ela não conseguia pensar em outra coisa que não fosse o quanto queria estar nos braços de seu tatuador naquele momento.
Voltou a rir ao pensar nisso. O que parecia tão óbvio e ela levou tanto tempo para perceber. A risada não era por deboche ou escárnio, ela simplesmente estava feliz por finalmente entender o que sentia, o que queria e, acima de tudo, aceitar que merecia muito mais do que estava recebendo. Era como sentir liberdade pela primeira vez.
˛ ⠀ * ⠀ 𓂅 ⠀
Saiu do apartamento sem olhar para trás, sentindo-se como Nicole Kidman nas fotos pós-divórcio. Se estivesse em um musical, certamente seria o momento em que cantaria uma música de empoderamento e sairia dançando pela rua; bem no fundo, ela queria mesmo fazer isso. Foi recebida com alegria por McKenna, que sempre foi a primeira a se posicionar e ser a favor da amiga dar um pé na bunda de Brian. Ligaram para June para contar a novidade, e as três se reuniram naquela mesma noite e passaram parte da madrugada em claro, conversando. Seria difícil trabalhar no dia seguinte, mas aquele era um dia quase histórico.
━ E você vai ligar para o quando? ━ June trouxe o assunto à tona, sempre com seu tom ameno.
━ Não sei. Eu preciso de um tempo.
━ Nesse tempo, ele pode conhecer outra. ━ McKenna, direta e fatalista.
Mas não estava errada. Foi nessa semana que foi nos encontros arranjados por Zoey, mas não conseguiu se conectar com ninguém, não importava o quanto se esforçasse. No entanto, estava certa e precisava de um tempo para se reorganizar, antes de procurá-lo. Não era justo lhe pedir qualquer coisa quando nem ela sabia o que queria.
Depois de mais de sete dias sem notícias um do outro, ela decidiu procurá-lo no estúdio de tatuagem dele. Era um sábado chuvoso, o céu já escuro mesmo tão cedo, ela caminhava debaixo do guarda-chuva e murmurando o que iria dizer. Sabia o que queria, mas começar o assunto era difícil e o seu pequeno ensaio não saía do “Oi, tudo bem? Quanto tempo!”. Como iria cumprimentá-lo como um velho amigo depois do que viveram? Não poderia ser tão impessoal assim.
Ambos foram pegos de surpresa quando, literalmente, se esbarraram na porta do estúdio. A porta se abriu dando um susto na mulher, que fez o guarda-chuva voar. Um gritinho de surpresa, quando eles finalmente se olharam. A chuva começava a molhar os dois, mas eles pareciam estáticos, sem conseguir se mexer ou dizer nada.
━ ? ━ Ele perguntou, como quem tenta confirmar se não estava sonhando.
━ Qual o nome da escola que eu trabalho? ━ Nervosa, ela pulou toda a parte que ensaio e fez uma pergunta que parecia aleatória.
━ Redwood. Por que essa pergunta… ━ Ele não terminou, ela o interrompeu.
━ Qual a minha flor favorita?
━ Você não quer entrar? Está chovendo… ━ Foi interrompido de novo.
━ , qual a minha flor favorita?
━ Margaridas. , vamos…
━ Onde eu sempre quis morar?
━ Tipo cidade? Acho que você nunca me disse.
━ Não, digo… Casa, que tipo de casa eu sempre quis morar?
━ Você nunca me disse, mas… ━ Ele ergueu os ombros, começando a deduzir baseado no que conhecia dela. ━ Bom, na verdade, você disse que queria ter muitos filhos, então acho que uma casa grande, com um quintal para plantar flores, como fazia com sua avó. De repente um balanço? Picnic aos domingos, acampar com as crianças…
E lá estava ele, conhecendo-a tão bem, até melhor do que ela. O balanço, o picnic, acampamento no quintal… Nem ela sabia o quanto queria aquilo. Sem dizer nada, ela sorriu. Finalmente alguém respondeu certo às suas perguntas. Agarrou-o pelo pescoço e lhe deu um beijo. Com a mão em suas costas, ele a puxou para ainda mais perto. Um beijo na chuva, tão romântico e clichê como ela adorava, se não tivessem sido interrompidos pela porta do estúdio que abriu, empurrando os dois. Separaram o beijo e começaram a rir.
━ Vamos entrar agora? ━ Ele ofereceu, e segurou em sua mão, trazendo-a para dentro.
━ Por Deus, menina . De onde você surgiu? ━ Zoey perguntou, vendo os dois molhados. ━ Vou arrumar uma toalha para vocês. ━ Ela se levantou, virou de costas, mas voltou. ━ Quer dizer, antes… ━ Foi até os dois. ━ Você veio aqui para dar outro pé na bunda do meu amigo? Porque se foi, vou te deixar molhada e torcer para pegar um resfriado brabo.
━ Zoey! ━ Ele reclamou, mas riu.
━ Eu não vim aqui para isso.
━ Muito bem! Então vou buscar as toalhas. ━ Zoey se retirou, e voltou a olhar , tirando os fios molhados do rosto dela.
━ Não veio aqui para me dar outro pé na bunda, huh? ━ Ele provocou, e ela prendeu o riso. suspirou, alguns segundos de silêncio, antes de começar.
━ Você apareceu na minha vida só para me confundir, sabia? Você me fez perceber que eu tinha sonhos e anseios que eu desconhecia. Me fez perceber que eu merecia muito mais do que recebia, que meu namoro me sufocava e tirava a paz que eu queria.
━ Me desculpa? ━ Ele brincou.
━ Eu terminei com o Brian. ━ O rosto dele se iluminou, daquele jeito que sempre fazia quando começava a criar esperanças de que ficariam juntos.
━ Eu tentei sair com outras garotas, como você disse. Não consegui te esquecer. A gente não manda no coração, né?
━ Na verdade, eu vim te agradecer por ter sido essa pessoa na minha vida. Que me fez abrir os olhos, e…
━ Ah, não! Você não está se despedindo de mim de novo, né?
━ Calma. ━ Ela pediu, rindo da reação dele, que suspirou aliviado. ━ Eu terminei com ele no dia seguinte que estava com você. Demorei a te procurar porque eu precisava pensar no que eu queria.
━ … Eu estou apaixonado por você. ━ Ele arriscou, como sempre. Tudo o que ela queria era ser ousada como ele, mas o seu tempo era diferente.
━ Eu também estou apaixonada por você, . Mas eu preciso me apaixonar por mim, também. Apesar dos momentos incríveis que passei com você, eu nunca me senti tão aliviada e livre como quando eu estava sozinha.
━ … Eu quero te entender e te respeitar, eu juro. Mas não me tira da sua vida, por favor.
━ Nunca. ━ Ela sussurrou, aproximando-se dele e beijando seus lábios. ━ Mas não acho que estou pronta para um relacionamento sério agora. Eu só preciso que você seja paciente.
━ Uma vez, a Zoey me disse que amar uma garota que nunca foi amada da maneira correta, requer muita paciência. Eu posso não ser um cara muito paciente, eu sou bem intenso.
━ Jura? Nem notei. ━ Ela brincou, repetindo o que ele havia dito quando se conheceram.
━ Mas eu sou um cara apaixonado, que está disposto a te amar do jeito que você merece. Quando você estiver pronta.
Algumas lágrimas escorreram pelo rosto feminino, se misturando com as gotas de chuva que ainda estavam ali. sentia-se fraco longe dela, e se segurar um pouco da sua emoção para respeitar a liberdade dela fosse a chave para tê-la por perto, ele iria se esforçar como nunca. Só não podia perdê-la mais uma vez.
━ As toalhas! ━ Zoey anunciou, jogando-as na direção dos dois. Pelo cabelo bagunçado, a boca avermelhada e a pressa em voltar para onde estava, sabia que ela já estava pegando um dos tatuadores.
━ Enquanto te espero, minha missão vai ser fazer a Zoey sossegar com uma pessoa só.
━ Se ela gostar de meninas, tenho uma amiga para apresentar.
━ McKenna?
━ Aham.
━ Zoey já viu uma foto dela e elogiou. ━ Disse, sugestivo e os dois riram, voltando a se beijar e ignorando as toalhas.
Nunca ele havia ficado tão feliz por não ter clientes em seu estúdio.
˛ ⠀ * ⠀ 𓂅
Refletindo sobre o relacionamento com Brian, entendeu que precisava perdê-lo para se encontrar, viver sua vida ao invés de só deixar acontecer, se transformar, se reconhecer, se amar. Mas percebeu que precisava de um tempo dos dois, para conseguir viver a liberdade que queria. No entanto, não conseguiu ficar muito tempo longe de , e sempre o procurava. Os dois tinham uma relação linda de amizade, ele se tornou o seu melhor amigo e, é claro, o seu amor. E embora tentassem ficar longe e deixar a relação no âmbito platônico, ela sempre o procurava e acabavam dormindo juntos ou se beijando em um passeio que era para ser dois amigos passando um tempo juntos.
seguia respeitando o tempo dela, e segurando o desejo de procurá-la, mas ficava sorrindo como um pateta - como diz Zoey - toda vez que ela lhe mandava uma mensagem ou o chamava para sair. Ah, inclusive, a melhor amiga de infância de havia finalmente o motivo de nunca sossegar com uma pessoa só: não havia conhecido McKenna antes. As duas se apaixonaram e, em poucos meses, já estavam de casamento marcado. Os padrinhos, é claro, e .
Enquanto o casamento não chegava, os dois continuavam com o mesmo relacionamento, enquanto sentia-se cada vez mais completa com tudo o que descobria sobre si. Pintou as pontas dos cabelos de rosa, ingressou em uma pós-graduação, começou a aprender um idioma novo e passou a fazer ioga e corridas matinais. Fazia passeios e pequenas viagens uma vez por mês com as amigas, e até sozinha. Fez sua primeira tatuagem com : uma margarida branca, pequena e delicada, em seu calcanhar. Ele também descobriu um novo talento e começou uma banda com dois amigos que reencontrou da época de escola. Sua musa para escrever canções? , é claro.
Ela começou a escrever, focada em ter seu livro publicado um dia. transformou um de seus poemas em música, que foi o primeiro sucesso de sua banda. Ela começou um curso de fotografia, ele sempre ia ao teatro com ela - que sempre insistiu para que Brian fosse, ele nunca quis - e até realizou um sonho bobo dela de recriar a cena do filme Ghost e fizeram uma aula de cerâmica juntos; com a diferença de que desistiram na primeira aula por saírem todos sujos e com o vaso destruído.
A segunda tatuagem foi feita juntos, quando estavam bêbados: um copo de piña colada, no pulso. Comemoravam as conquistas um do outro, celebravam aniversários, conheceram as famílias, e até tiveram brigas por ciúmes. Os dois já viviam, praticamente, como namorados, e todos enxergavam isso - família, amigos, clientes do estúdio e alunos da Redwood. tinha medo de estragar a relação assumindo um namoro. Tinha medo de não ter a liberdade que tinha de ficar sozinha ou viajar quando bem queria, mesmo que no fundo soubesse que não era assim. Quando desabafou sobre isso com as amigas, Zoey estava por perto e, é claro, correu para contar para o amigo na intenção de ajudar o casal que, ainda, não era casal.
━ Eu sei que ela está bem melhor, mas a bichinha é paradinha, coitada. Se você não tomar uma atitude… ━ Ela o alertou.
Não queria estragar o casamento da melhor amiga jamais, porém no fim da cerimônia, aproveitaria o momento para finalmente pedi-la em namoro. Coincidência ou não, a data do casório calhou de ser o mesmo dia que se completava um ano do dia em que se conheceram. No fim da festa, levou-a para o jardim e segurou a sua mão, puxando o ar e soltando devagar, com a boca aberta pronta para falar, quando foi interrompido.
━ Vamos namorar? ━ Ela perguntou, pegando-o totalmente de surpresa. ━ Não quero mais ficar fingindo que a gente não é namorado. Nos últimos meses a gente foi tudo menos “só amigos que se beijam de vez em quando”.
━ Achei que você ia me enrolar por dez anos que nem o Brian fez contigo. ━ Ele não resistiu a alfinetar, e recebeu alguns tapas dela. ━ Agora eu posso?
━ O que?
━ Amar você como você merece. ━ Ele lhe fez um carinho na bochecha, e ela sorriu.
━ Só fiquei com medo de me sentir sufocada, como me senti com o Brian.
━ Nunca vou fazer isso com você.
━ Eu sei. ━ Ela sorriu, e se encararam em silêncio por algum tempo. ━ Até porque agora que eu faço terapia e aprendi a me colocar em primeiro lugar, eu te dou um pé na bunda se você me der menos do que eu mereço. ━ Apesar do tom leve e das risadas, ela falava muito sério. E ele sabia bem disso.
━ Hum… gostosa, inteligente e empoderada. Meu tipo de mulher.
segurou-a pela cintura e lhe deu um beijo. O primeiro beijo de oficialmente namorados. Agora que ela havia superado o relacionamento horroroso que teve no passado, ela podia finalmente se entregar e descobriu-se tão intensa quanto ele. Embora não tivesse pressa para os muitos filhos, a casa com o balanço no quintal, o jardim de margaridas e os picnics aos domingos, ela gostava de saber que tinha a segurança de que teria tudo isso com ele.
E isso era tudo o que ela queria: um amor que não precisava perdê-lo para se encontrar. Porque, agora que se encontrou e aprendeu a se amar, ela nunca deixaria isso acontecer.
˛ ⠀ * ⠀ 𓂅
━ Mas e você, se divertiu? ━ Ele perguntou quando a ouviu ligar o carro. ━ Porque eu só topei essa ideia maluca para você pegar o tal do Austin.
━ Ele estava com outra, você não viu?
━ Vi, mas aí você agarrou o Brian pelo braço… ━ Ergueu os ombros, lembrando do momento em que Zoey escolheu Brian, namorado de , e que também foi o mesmo momento em que a viu pela primeira vez.
━ Ah, ele era um babaca. ━ Reclamou, fazendo um arquejo de desgosto ao se lembrar.
Zoey contou sobre como Brian não fazia jus a sua aparência, que o que ele tinha de lindo e gostoso, tinha de babaca, sem pegada e ruim de cama. Palavras dela. Que simplesmente deitou na cama de um dos quartos que eles entraram, esperando que ela fizesse todo o trabalho, sem se preocupar com o prazer dela. Queria que ela o cavalgasse e ele só ficaria sentado admirando a vista? Não mesmo! Zoey não deixou barato, e eles não fizeram nada além de alguns beijos, já que a garota se negou a fazer qualquer coisa, se ele não fosse fazer também.
Entre risadas pela forma divertida como Zoey contava, e porque gostou de saber que Brian havia se fodido e teve uma noite péssima, também respondia às perguntas sobre . Porque falar dela era a única forma possível de mantê-la por perto, de sentir que ela estava ali, de manter viva a lembrança daquela noite. Por um lado, ele queria seguir em frente, porque tinha medo de que ela nunca fosse ter coragem de terminar o namoro e ele apenas estenderia o tempo de sofrimento por uma garota que não o queria. Mas era difícil superar o que havia vivido, o que havia sentido. Só se apaixonou uma vez na vida, e depois do término há alguns anos, teve medo de que nunca mais conseguisse sentir aquilo. Até conhecer .
Zoey dormiu na casa de , que era mais perto e também o dia estava amanhecendo. No dia seguinte, o assunto havia morrido. Zoey acreditava que foi apenas uma noite divertida, e não havia entendido o quanto o melhor amigo ainda precisava encontrar aquela garota que mexeu tanto com ele. Passaram o resto da semana sem tocar no assunto, embora ele mal conseguisse se concentrar nas coisas por só pensar nela. Até que exatamente uma semana depois do dia em que se conheceram, estava em um bar com Zoey e outros amigos, e deixou escapar quando ficaram sozinhos por alguns minutos.
━ Zo, eu preciso ver ela de novo. Eu… Preciso… ━ Sussurrou, num lamento.
━ Ver quem, garoto? ━ Ela perguntou, de cenho franzido.
━ … ━ Continuou sussurrando em seu ouvido, não queria dar explicações para mais ninguém. ━ Mas eu não sei onde encontrá-la. A gente conversou tantas coisas, eu nem sei onde ela mora, ou o nome da escola que ela dá aula… ━ A voz arrastada de quem estava embriagado foi interrompida por uma Zoey muito debochada.
━ Alô? Você está nesse século? ━ pareceu não entender. ━ Existe rede social, meu amor. Joga o nome dela e procura.
━ Mas… E se eu encontrar e ver fotos dela com o Brian? E se os dois tiverem se acertado? Eles podem estar vivendo super felizes e isso… Ah, sei lá. ━ Ele nem conseguiu completar, mas Zoey fez questão.
━ Isso vai partir o seu coração, eu sei. Mas é melhor fazer isso logo, do que ficar adiando. Aquela história de arrancar o band-aid de uma vez, sabe? Aí pelo menos você vai saber se tem chance ou não. ━ Ela deu de ombros, tomando um grande gole de sua cerveja e o deixando em silêncio para pensar.
Bem na hora, os amigos voltaram para a mesa, e Zoey os distraiu com conversa para que não perguntassem o motivo da cara de paisagem de . Então, rendendo-se ao desejo de vê-la, mesmo que fosse por foto, ele pegou o celular e levou algum tempo procurando diversas ’s, até encontrar a sua. Com um sorriso idiota vendo a foto pequena do ícone da conta bloqueada, ele pediu para seguir a conta dela no Instagram, e as pernas começaram a balançar em ansiedade.
não usava muito o celular, e a notificação chegou enquanto ela já dormia. Acordou atrasada, jogou o aparelho na bolsa sem nem olhar as várias mensagens, e foi direto para a escola. Foi recebida por seus pequenos alunos com o mesmo carinho de sempre, embora ela se sentisse estranha desde o dia em que conheceu . Sempre esteve totalmente presente quando lecionava, atenciosa e observadora, mas seus pensamentos viviam longe desde que se encontraram a primeira e única vez.
Professora exemplar, ela nunca pegava o celular no trabalho, mas saiu de casa às pressas e esqueceu o relógio. Ao olhar as horas, viu a notificação da solicitação para seguir, que arregalou seus olhos e disparou seu coração. O sinal tocou bem na hora, e um tanto atordoada, ela liberou as crianças para o pátio. Pediu que McKenna e June olhassem as crianças um momento, e as amigas preocuparam-se com a sua reação. Sem dizer nada, ela mostrou o celular desbloqueado na página de solicitações para seguir sua conta, e as duas suavizaram as faces apreensivas e deram uma risada, entendendo o motivo do nervosismo.
A mulher foi ao banheiro e se trancou ali, encarando a notificação por alguns segundos, até ir ao seu perfil. Passou todos os vinte minutos do intervalo vendo as fotos e sorrindo como boba, mordendo o próprio lábio, como uma adolescente. Sempre com muita cautela, é claro, para não curtir alguma foto. O sinal do fim do recreio lhe deu um susto, e ela guardou o celular na pressa, esquecendo-se de aceitar a solicitação, e deixando o pobre ficar ansioso o restante do dia sem uma resposta.
Brian estava sentado no sofá, como de costume, parecendo muito focado no que assistia na televisão. Mal colocou os dois pés em casa, e notou que havia algo de diferente. Com um sorriso pouco sutil no rosto, o namorado virou a cabeça para lhe cumprimentar; era sempre ela quem cumprimentava e ele respondia um “oi, amor” frio, seco, sem nem se dar o trabalho de desviar o olhar da televisão. De cenho franzido, ela apoiou a bolsa na mesa da cozinha e foi até ele, retribuindo o sorriso dele e quase se animando junto. Ela deveria prever que viria bomba.
━ Tudo bem, meu amor? ━ Ele perguntou quando a viu no sofá.
━ O que houve? ━ Ela foi direta.
━ Só saber como você está, como foi seu dia. ━ Ele tentou, ela fez uma careta. Brian riu, sacudindo a cabeça. Sabia que era péssimo em disfarçar, mas também devia saber que ela desconfiaria do seu bom humor repentino. ━ Queria falar sobre aquela noite.
━ Brian... Por que? ━ Já havia se passado uma semana, e eles não tinham trocado uma palavra sobre o que aconteceu. O clima entre eles continuou quase o mesmo, se não fosse pelo homem, vez ou outra, lhe surpreender com um beijo ou quando a abraçou durante a noite para dormir de conchinha.
━ Você sabe que a minha noite foi péssima naquele dia, não sabe?
━ Não sei, e não quero saber. Acho que você também não quer saber da minha. ━ Arriscou. também era péssima mentirosa, e se ela tentasse mentir sobre ter sido péssimo, ele logo perceberia o quanto ela havia amado aquela noite com .
━ Foi bom para você? ━ Ele decidiu que queria saber.
━ Brian… ━ Ela pediu, uma última vez, que ele não insistisse.
━ Você não quer um relacionamento aberto? ━ Pega de surpresa, ela ficou alguns segundos sem dizer nada.
━ Por… Por que você está me perguntando isso?
━ Ora, porque… Eu vi como vocês estavam, pensei que você talvez quisesse vê-lo de novo, e… ━ Brian tentou, mas ela não acreditou, e cortou sua fala.
━ Brian, fala a verdade. ━ Ela exigiu, cruzando os braços. Há algum tempo, talvez, mas hoje em dia, não conseguia cair naquele papo. Suspirando fundo, ele admitiu.
━ Eu não acho justo que você tenha tido uma noite legal e eu só me fodi.
ficou sem palavras. Seria natural se ela surtasse e começasse a jogar tudo longe, mas aquilo não parecia nem um pouco com algo que ela faria. Ao contrário disso, ficou estática por alguns minutos, com a boca entreaberta, sem conseguir dizer nada, muito menos organizar os milhares de pensamentos que rodeavam sua cabeça naquele momento. Se ele queria ter uma experiência como a dela, por que não sugerir que ele ficasse com outra apenas uma noite, ao invés de abrir a relação para dar chance a ela repetir? Era estranho que ela estivesse querendo aceitar a proposta? Era estranho que ela parecesse tão ansiosa para dizer sim, como se, no fundo, ela quisesse que ele sugerisse algo parecido, já que ela não teria coragem de sugerir?
━ Tudo bem. ━ Ela deixou escapar, sendo tarde demais para voltar atrás.
Com um sorriso de surpresa e rosto iluminado, Brian se levantou e sentou ao lado dela. Puxou-a pela cintura e encheu de beijos, dizendo o quão maravilhosa ela era. sabia que aquilo era tudo da boca para fora, mas a falsidade e egoísmo de Brian era a última coisa que a incomodava agora. Tudo o que ela queria era que ele a soltasse logo, para que ela buscasse o celular e fizesse o que ela queria quando aceitou essa proposta: falar com sem peso na consciência. E se a sua razão para topar aquilo fosse egoísta, sem se preocupar com Brian, bom, ele também não estava pensando nela quando sugeriu abrir a relação, não é?
conversou por algumas semanas com , e ele parecia mais o seu namorado do que Brian. Começaram a se conhecer mais, falaram sobre família, amizade, música, filmes e até política. Os dois falavam sobre seus dias, o que haviam feito, mandavam foto do que estavam comendo ou fazendo, ela mandou foto da pilha de cadernos para corrigir e também dos alunos com o rosto pintado em uma brincadeira que fizeram, ele enviou fotos de algumas tatuagens que acabava de fazer e do tênis novo que comprou. Em pouco tempo, ela sabia mais sobre a vida e cotidiano de do que Brian, e estranhamente isso não a chateava mais. Embora ainda houvesse algo ali, algum incômodo que ela ainda não sabia definir o que era. Talvez fosse a sensação de estar traindo, embora tivesse o consentimento de Brian para fazer o que quisesse, e ele possivelmente estava fazendo pior.
Mesmo sem saber a que pé andava o namoro dela, arriscou perguntar depois de algumas semanas, e descobriu que estavam em um relacionamento aberto. tratou de explicar que isso não significava que ela tenha saído por aí beijando outros caras, e confessou que era a única pessoa com quem ela estava conversando. Com um sorriso bobo do outro lado da tela, ele a chamou para um encontro, e certamente teria ficado duplamente feliz se pudesse ouvir o gritinho animado que ela deu ao ler a mensagem. “Eu topo, claro” foi a mensagem que fez o dia do tatuador, e o deixou trabalhar bem mais feliz pelo resto da semana, ansioso pelo sábado em que ia vê-la.
Como quem tenta segurar a ansiedade de aparecer na escola dela de surpresa, ele enviou presentinhos naqueles três dias. Queria se fazer presente sem assustá-la, já que descobriu que ela tinha um certo receio com alguns tipos de surpresa. Além do mais, poderia ser estranho, já que todos na escola sabiam que ela namorava Brian, um cara de pele alva, olhos azuis, corpo sarado e carinha de antipático, e, de repente, aparecesse um outro cara, moreno, olhos escuros, tatuado, simpático e carismático, procurando por ela.
Na quarta-feira, a aula de foi interrompida por um homem que lhe entregou um buquê de margaridas coloridas. Com o rosto enrubescido de timidez, ela ouviu as crianças darem gritinhos de comemoração e um corinho de “tá namorando, tá namorando”. Era estranho que as crianças nem soubessem que ela realmente namorava, já que ela não usava aliança - apesar de estarem juntos há dez anos - Brian nunca havia feito algo parecido, sequer aparecido em sua escola. era discreta, e não falava muito de sua vida pessoal, embora os alunos vivessem perguntando. Nem precisava ver o cartãozinho para saber quem enviou, mas sorriu ainda mais quando o leu.
“Margaridas, favoritas suas e da sua avó. Coloridas, para alegrar o seu dia.”
Não tinha um nome assinado, mas ela sabia que Brian jamais se lembraria caso ela tivesse comentado sobre plantar flores com a avó no quintal, quando ela ainda era viva. Além do mais, reconheceu a letra tortinha e quase tão ilegível quanto a de um adolescente. Riu com o comentário mental que fez consigo mesma, e logo pediu silêncio aos alunos que, empolvorosos, queriam saber quem havia mandado.
Na quinta-feira, bem na hora do recreio, um dos alunos mais velhos disse que a tia da secretaria recebeu uma caixa de bombons que “um moço todo tatuado” pediu que entregassem à tia . O bilhete, dessa vez, dizia com a mesma letra sinuosa: “Os meus favoritos, para a tia mais linda da Redwood experimentar e dizer se tenho bom gosto”, ao lado de uma carinha de olhos fechados e língua para fora. Digitou uma mensagem aprovando os doces, logo após experimentar o primeiro, recebendo de volta um gif pensativo, acima de uma mensagem dizendo “já sei onde te levar no sábado, então”.
━ Hummm… que sorriso animado! ━ Uma das crianças, Phoebe, comentou, ao se aproximar. A professora continuou sorrindo, sacudiu a cabeça enquanto guardava o celular.
━ Pode terminar de responder o seu namorado, tia. ━ Outra aluna, Ava, falou.
━ A tia não está namorando. ━ explicou.
━ Mas vai, não é? ━ Ava perguntou.
━ Vai sim. ━ McKenna, outra professora e amiga de , se intrometeu. As duas crianças batem palminhas animadas.
━ A tia sorri toda hora vendo os presentes dele. ━ Ava era esperta, observadora, possivelmente a mais madura da turma.
━ Se ele te faz feliz, a gente gosta dele. ━ Phoebe, doce e romântica, abraçou a professora ao falar.
Para crianças de nove anos, as duas falavam como duas moças crescidas. E se odiou por, em nenhum minuto, pensar em Brian, apenas aproveitar o que estava vivendo. A frase de Phoebe pareceu ser aprovada por McKenna e June, que encararam a amiga com aquele olhar que dizia “a pequena está certa”.
Na sexta-feira, um dia antes do encontro, os dois estavam completamente ansiosos. recebeu um último presente antes do grande dia: uma caixa com o salto alto que ela tinha dito que queria. Mas ela não disse aquilo para ele. Com a expressão confusa, ela ergueu o olhar e viu McKenna sorrindo, denunciando que ela havia sido a responsável por dar a dica à .
━ Foi ele quem me procurou. ━ Ela explicou, tornando a situação ainda mais especial.
“Se o número estiver errado, a culpa é da McKenna. Espero que combine com o que você está pretendendo usar amanhã.”
Dizia o cartão, com a mesma letra de sempre. Não satisfeito em conhecer tanto dela, ainda procurou por uma das amigas para surpreendê-la no último presente. O restante do dia passou rápido, mas ainda teria o sábado inteiro para sofrer com a ansiedade até a hora de se encontrarem. Ao menos mantiveram conversa por mensagens para sanar um pouco da saudade, ao contrário de Brian, que estava no mesmo ambiente, mas não trocava uma palavra com a namorada.
━ Como foi o dia hoje na Redlight? ━ Sem tirar os olhos do celular, Brian puxou assunto quando entrou no quarto. Nem reparou que usava um belo vestido preto, com as costas à mostra e passava hidratante nas pernas quando ele chegou.
━ Redlight? ━ Ela perguntou, confusa, começando a calçar os saltos altos que havia ganhado de .
━ Sua escola. ━ Ainda trocava mensagens com alguém, possivelmente outra mulher. não podia reclamar, embora aquilo fosse completamente estranho para ela.
━ Eu trabalho na Redwood. Não conheço nenhuma Redlight. ━ Ela respondeu, magoada pela confusão. Ficou na dúvida se ele estava conversando com alguma mulher que trabalhava em algum lugar chamado Redlight, ou ele simplesmente não fazia ideia do nome do lugar onde ela trabalhava nos últimos quatro anos.
━ Desculpa, confundi. ━ Ele disse, rindo, mas a risada era pela mensagem que acabara de ler.
abriu a boca para dizer algo, mas nada saiu. Nem sabia o que dizer. Era decepcionante estar naquela situação, mas pior ainda era não conseguir sair, e sequer saber o motivo. Por que parecia tão difícil ir embora e deixá-lo ir? Ele não queria estar ali, e ela muito menos. Antes de , ela nunca havia se questionado sobre isso, parecia feliz - ou conformada - sua mente e seu coração pareciam de acordo com o fato de que ficaria com Brian para sempre. E que tudo bem o relacionamento deles não ser como nos filmes, porque nenhum era, certo? Isso até aparecer e mostrar que homens que fazem atos românticos e apaixonados existem, só não era o caso de Brian. E talvez nunca fosse ser.
━ Uau! Você… está linda! ━ Brian interrompeu os pensamentos de , pegando-a de surpresa pelo comentário, e a reação. ━ Muito linda! ━ Ele largou o celular. sorriu, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. ━ Puta que pariu, , por que nunca usou esse vestido?
━ Acho que nunca tive oportunidade. ━ Ela confessou, entristecida pelo fato de ter aquele vestido lindo guardado para um momento especial com Brian, que nunca aconteceu.
━ Eu não sabia que você queria sair hoje, amor. Eu nem me arrumei. Mas, olha, eu me troco rapidinho… ━ Ele se levantou, mas ela o interrompeu.
━ Ah, não, eu… Vou sair com outra pessoa. Quer dizer, se estiver tudo bem por você.
Brian ficou em silêncio por alguns segundos, a boca entreaberta e os olhos vidrados nela, sem saber o que dizer. Queria negar e dizer que “mulher minha não pode sair bonita assim com outra cara”, mas não foi ele mesmo que sugeriu relacionamento aberto? Não era ele que estava há um minuto ignorando a existência da própria namorada para marcar um encontro com uma gostosa do Instagram? Por mais babaca que fosse, ele não queria arrumar essa briga. Não agora, sem argumentos.
━ Brian? Posso ir? ━ Ela o chamou, quando ele nem reparou que ela estava no celular, respondendo , que a esperava na porta.
━ Pode. Claro. Te vejo mais tarde?
━ Talvez. ━ Ela disse, incerta de como acabaria aquela noite. Acenou para se despedir, mas voltou ao quarto. ━ Brian, eu sei que não acertamos detalhes sobre esse relacionamento aberto, mas se você quiser que eu fique… ━ Ela tentou, mas ele a interrompeu.
━ Pode ir, . Tudo bem. Divirta-se. ━ Ele soava indiferente, e ela ficou confusa se ele só estava disfarçando o ciúme ou realmente não se importava.
Não importava qual fosse a resposta, tudo o que ela queria era que ele a implorasse para ficar, dissesse que a ama e que não queria mais saber de relacionamento aberto, que só queria ela e estava disposto a ser o homem que ela sempre quis. Mais uma vez com as expectativas frustradas, ela saiu do quarto, desceu as escadas para encontrar .
A expressão cabisbaixa de havia mudado completamente ao ver a reação de . Se Brian pareceu animado ao ver o quão bonita ela estava, a forma como o outro reagiu foi muito mais parecido com o que ela esperava do namorado. Ele desligou o motor e saiu do carro no mesmo momento em que a viu. Com o queixo caído, ele caminhou na direção dela, segurou sua mão e se afastou, como quem tenta vê-la por inteiro. Seus olhos brilhavam enquanto desciam por todo o corpo dela, e se sentiu igualmente envergonhada, lisonjeada e com a autoestima explodindo.
━ O sapato ficou perfeito! E esse vestido… ━ Girou-a, vendo as costas de fora e arregalando ainda mais os olhos, com um sorriso pateta no rosto, como diria a melhor amiga Zoey. ━ Meu Deus! Desenharam especialmente para você? Porque porra… É a mulher mais linda que eu já vi.
━ Para de exagero, . ━ Ela disse, sem graça, abaixando a cabeça. Ele segurou em seu queixo, levantando seu rosto.
━ Eu falo sério. ━ Ele passeava com os olhos por ela enquanto falava. ━ Você é toda linda! Seu cabelo, seus olhos, seu corpo, essa boca vermelha… ━ Ele se aproximou um pouco para sussurrar. ━ Eu vou ter que esperar a noite inteira para te beijar?
━ Vai. ━ Ela respondeu, sorrindo.
━ Ahh… ━ Ele lamentou, brincando. ━ Então, vamos?
De mãos dadas, ele a levou até o carro. Conversaram o caminho inteiro até o restaurante, com o mesmo clima de intimidade que adquiriram tão rapidamente. Não só nas mensagens, mas quando se conheceram, apesar do estranhamento inicial, a sintonia teve uma crescente rápida e natural. Enquanto ele aproveitava cada parada no semáforo para olhar um pouco mais para , ela esperava quando ele estava focado em olhar o caminho para notar o quão lindo ele também estava. Como era possível que ele ficasse elegante e despojado ao mesmo tempo? Como se ele tivesse escolhido a primeira roupa que viu, mas mal sabe ela que levou dias para decidir, além de precisar de Zoey repetindo várias vezes que ele estava bonito.
O restaurante tinha um ar sofisticado, que combinava com as roupas que eles escolheram, mas não o suficiente para que ficassem constrangidos por não saber usar os talheres corretos; porque, vamos combinar, nenhum dos dois saberia. Era a céu aberto, a mesa estava reservada em uma parte estratégica para aproveitarem a vista do alto. parecia maravilhada, e embora soubesse para onde iriam, também ficou surpreso com a beleza do lugar.
O garçom se aproximou e os cumprimentou, deixando o cardápio. Embora ambos quisessem pedir um belo bife com batatas fritas, concordaram em agir como adultos refinados e escolher um prato diferente do que costumavam comer. Afinal, ambos estavam em uma cena totalmente fora do habitual.
━ Vamos escolher o que tem o nome mais difícil. ━ disse, sério, assim que o garçom saiu. riu. ━ É sério.
━ Nome difícil não quer dizer que a comida é boa. ━ Ela sussurrou, como ele.
━ Mas é chique de falar. Olha só… ━ Olhou o cardápio e repetiu um dos nomes que viu. ━ Por favor, um bife glaceado com balsâmico.
━ De onde vem o sotaque? ━ Ela perguntou, ainda rindo da bobeira.
━ Sei lá. Mas foi chique, não foi? ━ riu junto dela. ━ Eu nem sei o que é balsâmico. Nem glaceado.
━ Por que me trouxe em um lugar que nem sabe o que servem? ━ Ela baixou o cardápio para olhar para ele, que ergueu os ombros.
━ Zoey me ajudou a escolher. Queria um lugar legal, com uma vista bonita.
━ Bom, nisso você acertou. ━ Ela apontou com a cabeça para a vista ao lado deles. Ele sorriu ao notar o sorriso dela.
━ E também, eu não iria levar a garota que eu gosto para comer um podrão e sentar no meio-fio. Não no primeiro encontro.
riu com a forma engraçada que ele falava, tentando não se apegar a parte “a garota que eu gosto”, ou iria surtar ali mesmo. Fosse surto de felicidade ou ansiedade, não parecia um bom momento. Não quando ele falou aquilo com tanta naturalidade, como se estivessem em um encontro comum, numa situação comum de “garoto conhece garota e a chama para um encontro”. Como se não tivesse um namorado a esperando em casa. Como se aquilo ali pudesse evoluir para algo além de encontros casuais.
━ Vai escolher esse bife mesmo? ━ Ela mudou de assunto, voltando a olhar o cardápio. Ele fez o mesmo.
━ Ainda não sei. E você?
━ Acho que vou pedir costeletas de cordeiro, que eu já comi e sei que é bom. Não gosto de arriscar.
━ Eu sei… ━ Ele não resistiu ao comentário, sabendo o quão apegada ela era. Talvez um dos principais motivos pelo qual ela não deixava Brian.
━ Boa noite! Já posso anotar os seus pedidos?
O garçom apareceu no momento perfeito para não começarem o assunto Brian e a dificuldade de em lidar com mudanças.
━ O que é confit de canard? ━ perguntou, forçando um sotaque que arrancou risadas de e do garçom.
━ É pato. ━ O homem informou.
━ Pode ser isso para mim, então. E costeletas de cordeiro para minha dama. ━ E lá estava aquele sorriso encantado dela quando o ouvia falar.
Então voltaram a conversar enquanto esperavam a comida, e quando a comida chegou também, e enquanto tomavam alguma bebida, e mais outra, e o assunto nunca acabava. Não havia silêncio constrangedor entre eles, e se entre uma garfada e outra eles ouviam apenas o som das pessoas falando e da música ao fundo, não era nem de perto uma sensação aflitiva. Eles se olhavam com carinho e devoção, como dois amantes devem ser, como ele nunca havia enxergado alguém, como ela nunca havia sido admirada.
Repetiram alguns assuntos que trataram por mensagens, aprofundando mais os conhecimentos sobre os gostos e desgostos do outro. Indicaram filmes e músicas, mostraram alguma coisa engraçada no celular, falaram sobre notícias recentes que viram no jornal ou na internet, e sobre um ator que foi cancelado por um comentário infeliz. Decidiram experimentar uma bebida juntos pela primeira vez: piña colada. Os dois adoraram e pediram mais uma algum tempo depois.
Começaram a contar histórias engraçadas. contou de quando foi convidado para uma festa por um colega de faculdade, que chegou com as bebidas na mão, mas chegando lá, se tratava de uma roda de leitura de poesia, e recebeu muitos olhares tortos quando foi o único bêbado do lugar. contou de quando, na adolescência, desobedeceu o pai, usando as palavras dele contra o próprio. O homem deixou que ela saísse com as amigas e disse “volte às dez”, e ela voltou às dez… dez para as duas da manhã. Na época, ela não tinha celular, e os pais quase acionaram a polícia por não ter notícias dela. Surpreso com a rebeldia, ele riu e descobriu que aquela foi a primeira e única vez que ela fez algo parecido.
contou que tinha uma moto, e ela pediu que um dia ele a levasse em um passeio. Lembrou de agradecer pelos sapatos, disse que adorou os presentes e comentou sobre a letra dele, e sobre os corações coloridos desenhados nos cartões. O tatuador explicou que a letra sempre foi assim, mas que estranhamente conseguia fazer bons desenhos e que as tatuagens sempre saíam boas, até as linhas mais finas, por conta da mão firme. O encontro nem havia terminado e eles já falavam de se ver um outro dia. Dessa vez, iriam comer lanche de rua sentados no meio-fio, como ele havia dito. Tentaram decidir qual filme iriam assistir na casa dele depois do segundo encontro, e demoraram a entrar em um consenso, até que ousou perguntar.
━ Por que não vai lá para casa hoje? ━ ficou em silêncio alguns segundos, tentando pensar num bom motivo.
━ O Brian… ━ Ela foi interrompida.
━ Está te esperando em casa? ━ Perguntou, já se arrependendo quando a viu balançar a cabeça que sim. suspirou, frustrado. ━ Essa coisa de relacionamento aberto está funcionando para você? ━ Perguntou no singular, porque não estava nem aí para como Brian se sentia, queria saber apenas dela. O silêncio de pareceu uma boa resposta.
━ A gente não conversou muito sobre isso. ━ Ela admitiu, depois de algum tempo.
━ Ele sabe que você está aqui comigo?
━ Sabe que estou em um encontro, mas não com você.
━ Por que escondeu? Ele se chatearia por ser eu, já que viu a gente naquela noite?
━ Não escondi, só acho que ele não se importaria. ━ Ela ergueu os ombros para cima. ━ Não falamos sobre aquela noite.
━ Por que você acha isso? ━ nunca perguntava sobre a relação dos dois, por medo do que iria ouvir. Talvez fosse egoísta de sua parte, mas saber que os dois não eram um casal ideal como ele pensava lhe dava alguma esperança. ━ Tudo bem se não quiser falar. ━ Ele disse, compreensivo, ao notar o silêncio dela.
━ Por isso. ━ apontou para ele. ━ Você entende até o meu silêncio. O Brian nunca repara ou nunca se importa com o que eu sinto. Ele não pergunta, parece nunca ver na minha expressão quando estou incomodada ou chateada, e todos dizem que eu sou muito transparente. ━ Ela desabafou, e ele concordou sobre ela ser quase um livro aberto. No primeiro dia em que se conheceram, bastou observar um pouco e acertou tudo o que julgou pela aparência dela.
━ Então ele nunca reparou que você estava insatisfeita com aquela ideia. ━ Ele falou, como se constatasse, sobre a noite da troca de casais. apenas confirmou com a cabeça. ━ Bom, se serve de consolo, a Zoey disse que ele teve uma noite péssima. ━ Ele riu, esticando a mão na mesa para segurar a dela.
━ Eu sei. ━ Ela confessou, rindo junto dele. ━ Foi o motivo para ele sugerir esse relacionamento aberto. Disse que não achava justo que eu tivesse tido uma noite legal e ele só se fodeu. ━ Repetiu as palavras que o namorado disse.
Era a quinta piña colada falando mais alto, ou ela simplesmente já se sentia tão à vontade com para falar sobre tudo? Porque em dez anos de relacionamento com Brian, ela não se sentia assim com ele. ficou igualmente surpreso e furioso por saber disso, mas continuou segurando a mão dela com delicadeza.
━ Eu só topei porque… Bom, porque eu queria ver você. ━ Ela admitiu, sentindo as bochechas corarem e se detestando por ter falado demais. Maldito álcool! Teria se sentido pior se não fosse o sorriso iluminado de .
━ Ok, primeiro: o Brian é um babaca. Segundo: você acha mesmo que ele vai se importar de você dormir fora hoje? ━ Perguntou, ainda incerto sobre a resposta, mas julgando pelo que ela falou, o outro parecia despreocupado com a relação aberta. ━ Ele não te disse onde estava?
━ Ele estava trocando mensagem com alguém quando eu saí… ━ a interrompeu.
━ Espera aí… Ele estava em casa quando você saiu? ━ Ela confirmou com a cabeça. ━ Ele te viu assim, toda linda, saindo para um encontro com outro cara? ━ Ela confirmou com a cabeça de novo, e ele riu. ━ E ele não disse nada para te impedir ou pareceu chateado?
━ Ele me elogiou, disse que eu estava linda e perguntou porque nunca usei esse vestido antes. Achou que eu estava me arrumando para sair com ele, mas eu expliquei e ele disse que tudo bem. Eu até voltei para perguntar se ele queria que eu ficasse, mas ele disse que tudo bem eu ir. ━ Ela ergueu os ombros, como se a indiferença e descaso dele não a magoasse, mas ainda doía. Não sabia se porque ainda sentia algo por ele, ou por orgulho ferido.
━ Então ele é mais idiota do que eu pensava. ━ disse, rindo. ━ Se fosse eu, primeiramente, nunca iria sugerir um relacionamento aberto e dar oportunidade de você se apaixonar por outro cara. Mas, se fosse o caso, eu iria me jogar aos seus pés, te agarrar pelas pernas e implorar para você ficar. ━ A cada palavra, ria, sacudindo a cabeça.
━ Que exagero…
━ Eu falo sério. Nunca que eu veria você linda desse jeito para sair com outro cara. E sendo minha namorada!
━ E ele ainda disse “divirta-se!”. ━ Ela informou, ainda rindo. conseguia deixar aquele assunto delicado com um tom divertido e leve, ao ponto dela quase fazer piada com o que ouviu. Até porque, honestamente, Brian era uma piada ali.
━ Então, se ele disse… Você deveria se divertir. ━ O tom dele mudou para um mais baixo, deslizando os dedos pelo braço dela.
━ Que tipo de diversão você sugere? ━ Ela mordeu o próprio lábio inferior, chegando o corpo para frente, os seios quase apoiados na mesa. De novo: era a bebida falando mais alto ou aquela má intencionada sempre existiu?
━ Vamos lá para minha casa. Da última vez, você disse que a noite comigo foi agradável, e eu acho que você merece mais do que isso. ━ relembrou da noite em que se conheceram, quando ela, em tom de brincadeira, usou a palavra agradável para definir a noite incrível que tiveram. Dizer isso com aquele sorriso encantador no rosto não convenceu , mas ele não deixaria passar a oportunidade de revidar.
O álcool certamente deixou os corpos de ambos mais quentes, mas a voz baixa e rouca de e o tom naturalmente sexy que ele usava, com certeza foram ótimos incentivadores para virar o último gole de piña colada e dizer que ele pedisse a conta. Como dois adolescentes excitados e ansiosos, eles ficaram se encarando, aqueles olhares e sorrisos cheios de má intenção. Ele pagou a conta, e foram de mãos dadas até o carro, a caminho da casa dele.
Para garantir que não seriam perturbados com ligações que o fariam se lembrar do mundo lá fora, desligaram os celulares assim que desceram do carro. O barulhinho da chave abrindo a porta foi como o gatilho que eles precisavam para se agarrarem ainda no corredor. se virou, uma mão na maçaneta e a outra puxando-a pela cintura. entrelaçou os braços ao redor do pescoço dele, sendo levada para dentro da casa, assim que a porta se abriu.
Com pouca habilidade, eles separavam o beijo algumas vezes para rir, quando tropeçavam em alguma coisa. Ele retirou os saltos dela, dando beijos em seus pés e subindo pelas pernas, até a coxa, onde subiu uma parte do vestido. Ela retirou o blazer do rapaz, depois abriu botão por botão, voltando a trocar olhares cheios de malícia, não resistindo a puxar o lábio dele para uma mordidinha. a pegou no colo, levando-a até o quarto e acendendo apenas um abajur, para manter o clima de penumbra.
foi para as costas dela, descendo o zíper e lhe enchendo de beijos pelo ombro. Ela sentiu o tecido deslizar por seu corpo, até cair no chão, e o afastou para longe com o pé, virando o corpo para beijá-lo. Entrelaçou as pernas na cintura dele, que a segurou pelas coxas para ajudá-la, e a carregou para a cama. Deitando-se sobre ela, apertava os seios dela entre seus dedos, descendo os beijos por seu tronco, até alcançar sua intimidade. Diferente da primeira vez, ela não levou tanto tempo para se sentir confortável, e os gemidos tão intensos e verdadeiros que ela só dava quando ele lhe chupava ou lhe tocava. Nenhum outro homem a fazia sentir daquele jeito, nem mesmo Brian.
Dessa vez, o sexo não foi apenas por desejo, embora houvesse muito envolvido, mas havia carinho, paixão, uma intensidade diferente do que só prazer carnal. Cada toque na pele suada arrepiava os pelos dos braços, porque ambos entendiam o sentimento um do outro, mesmo sem nunca terem dito muito claramente. sentia que ela pertencia a ele, e se recusava a acreditar que estava se iludindo sozinho. Aquele sorriso, aqueles olhares… ele não conseguia imaginar ela sendo assim com Brian, pela forma como ela falava do homem, até mesmo as fotos nas redes sociais não pareciam ser esse tipo de casal.
Foi muito mais confortável dessa vez, porque conheciam melhor o corpo do outro, havia uma conexão muito além do físico, o que só tornava as carícias mais verdadeiras e cheias de significado. Ainda mais porque estavam em uma cama, diferente da primeira vez que precisaram se virar em uma poltrona e depois um sofá não tão confortável assim.
Dividiram uma ducha quando terminaram, entre conversas e risadas, muitos beijos e carinhos. Aquele jeito que ele tinha de fazer com que ela se esquecesse de todas as amarras que a impediam de viver aquele amor, e o jeito que ela conseguia fazê-lo se apaixonar ainda mais só com uma risada.
Com uma camiseta dele, os dois deitaram e conversaram um pouco mais, abraçados, até caírem no sono. Ele foi primeiro, dando oportunidade para que ela tirasse alguns minutos passeando com os dedos no rosto dele, como quem tenta decorar cada traço do rosto tão bonito. Sentia um aperto no peito horrível quando pensava que poderia ser a última vez, e nem sabia dizer se isso seria por decisão dela ou de Brian. O namorado poderia não querer mais a relação aberta, ou ela mesma poderia não se sentir mais confortável com isso. Havia ainda a terceira opção: deixar o namorado e dar uma chance a , mas teria coragem de tal?
A resposta veio na manhã seguinte, quando após cair no sono mesmo com aquele turbilhão de pensamentos, ela foi acordada aos beijos por , que trazia o café da manhã na cama. Dez anos de namoro, seis morando juntos, e Brian só havia feito aquilo uma única vez, no primeiro ano em que passaram a dividir o apartamento. Apenas porque era aniversário dela, e teve de dar muitas indiretas para que ele entendesse o recado. Pequenos gestos que a conquistavam, como aquilo, ou segurar sua mão enquanto andava na rua, levá-la a um restaurante diferente… Coisas que ela precisava pedir a Brian, e nunca sequer mencionou a , mas ele fazia mesmo assim.
━ Bom dia, gostosa. ━ cumprimentou, por não saber se podia lhe dar um apelido carinhoso. Ela sorriu, parecendo gostar e lhe deu um beijo.
━ Bom dia. ━ Respondeu, com a vozinha baixa de quem acaba de despertar.
contava o que aconteceu na padaria quando foi comprar as coisas para o café da manhã, quando ela se lembrou que precisava ligar o celular. Tinham mensagens de June e McKenna no grupo que as três dividiam, de sua mãe, seu irmão, notificações do Instagram, mas a ausência de mensagens de Brian foi o que a preocupou e chateou na mesma proporção. Ao mesmo tempo, ouvia narrar ideias de lugares e passeios para os dois passarem a tarde juntos.
━ Eu acho que essa ideia de relacionamento aberto não vai funcionar para mim. ━ Ela falou, sem pensar muito, interrompendo o outro.
━ Você… É sério? ━ Perguntou, com um sorriso quase esperançoso. Pensava que ela terminaria com Brian, e ele finalmente teria oportunidade de conquistar ela de verdade, e a pedir em namoro, mas a resposta dela foi pior do que um balde de água fria em pleno inverno.
━ Eu preciso ir para casa. Conversar com o Brian.
━ Terminar com ele? ━ A pergunta soava como um último suspiro de esperança, e o silêncio dela foi a pior resposta que podia ter.
━ Me desculpa… ━ Ela sussurrou, levantando-se. Começou a procurar por sua roupa, e vestia-se enquanto andava pelo quarto e desabafava. ━ Eu nunca me senti confortável com essa situação, mas eu queria tanto te ver. Você me faz sentir tão bem, é como viver um romance que eu sempre quis, mas não é certo. Não é você o meu namorado, é o Brian.
━ Ele sabe te amar como você merece? ━ Perguntou, quase retoricamente, levantando-se da cama e procurando encará-la, enquanto ela desviava o olhar, suspirando pesadamente. ━ Nem precisa responder, eu sei que não. Mas eu estou aqui. ━ Ele caminhou na direção dela, segurando-a pelo queixo para forçá-la a olhar para ele. ━ Tudo que eu quero é te amar como você sempre quis, como você merece, eu só preciso que você…
━ Por favor, , não faz isso comigo… ━ Ela pediu, ele lhe deu um beijo no canto dos lábios.
━ Fica comigo, . ━ Ele sussurrou, e o coração dela estava completamente descompassado.
━ Você… … Eu achei que você estava levando isso como uma aventura.
━ Não é possível que você acredite mesmo nisso. Você não vê o jeito que eu te olho? O jeito que você me deixa quando você me toca?
De olhos fechados, querendo aproveitar todas aquelas sensações que ele lhe causava apenas com a sua voz e o toque sutil da ponta de seus dedos em sua cintura pela abertura do vestido. Buscando uma força mental que ela não sabia que tinha, empurrou-o para se afastar e foi atrás de seus saltos, que estavam na sala. Ele foi atrás.
━ Quando você me beija, eu sinto que você é minha. Eu não posso estar louco e só eu sentir isso.
━ … ━ Ela tentou, ele a interrompeu.
━ Você vai embora e eu vou ficar do mesmo jeito de quando te conheci. Eu só penso em você, só quero estar com você… ━ Dessa vez, ele é quem foi interrompido.
━ Por favor, não pare a sua vida por mim. Eu vou me sentir péssima.
━ Você quer que eu saia com outras garotas? ━ Não, ela não queria. O seu silêncio soava como uma resposta, e a expressão que misturava ciúmes e pesar divergiam do que ela respondeu.
━ Eu prefiro que você siga a sua vida sem me esperar. ━ Palavras duras que ele não estava pronto para ouvir, e nem ela pronta para dizer, mas era necessário. Não poderia pedir que ele a esperasse se nem ela sabia o que queria ainda.
━ O que você sente por mim? ━ Ele arriscou perguntar, ela se virou para ele quando terminou de abotoar os saltos, com aquela expressão de “por favor, não me faça falar sobre isso”.
não conseguiu responder e, sem dizer nada, foi até a porta. Tocou a maçaneta e, assim como da primeira vez em que ficaram juntos, ela sentiu a mão dele em sua cintura, dessa vez segurando-a com mais firmeza. Aproximou os lábios de seu ouvido, a respiração tão ofegante quanto a dela. Segurou-a com as duas mãos, tentando virá-la para si, mas ela estava resistente. Ele não desistiu, e sussurrou em seu ouvido.
━ Eu quero você, . Fica comigo. ━ Bom, não era como se jogar aos pés dela, segurá-la pelas pernas e implorar que ela ficasse, mas era quase isso. E já era muito mais do que Brian havia feito.
Não sabia se por impulso ou porque no fundo de seu coração queria mesmo fazer aquilo, ela se virou e o encarou nos olhos por longos segundos, até puxá-lo pela nuca e lhe dar um beijo. Já haviam trocado beijos quentes, carinhosos, rápidos, longos, cheios de desejo, mas aquele era diferente. Aquele beijo era como uma resposta silenciosa para o que ele havia dito: ela era dele. pertencia a , ela só precisava ter coragem de admitir isso para si mesma.
Afastou-se mesmo querendo ficar mais, a respiração ofegante e a ausência de um “adeus” fez com que pensasse que ela voltaria.
Naquela tarde, apesar de muito querer falar com ela, respeitou o seu espaço e não enviou mensagem alguma para . Pediu que Zoey fosse vê-lo, e saíram para tomar um milkshake enquanto falavam do acontecido e dos sentimentos dele. Contou tudo o que ela havia dito e a melhor amiga concordou que ele deveria seguir com sua vida. parecia muito parada e apaixonada por Brian, e que talvez o amigo estivesse errado e não passasse de uma experiência para ela.
━ Ela disse que achava que você encarava isso como uma aventura, não é? Talvez ela enxergue assim, e queira mesmo ficar com o Brian.
━ Não sei… ━ Ele não parecia convencido.
━ Por que ela não largou tudo e ficou com você quando pediu, então?
━ tem problemas com mudanças. Ela é teimosa, inflexível.
━ Mais um motivo para você superar. Ela está há dez anos com o cara, se nem você todo apaixonado e romântico conseguiu tirar ela do Brian… ━ Zoey ergueu os ombros e pressionou os lábios, dando um gole em seu milkshake depois.
━ O que a gente tem é especial, Zoey.
━ O que vocês tinham, no passado. Ela te deu um pé na bunda, . Aceita.
━ Eu não consigo aceitar.
━ Desculpa a honestidade, mas eu acho que ela está certa. Você precisa sair com outras garotas.
━ Não acho que ela queira isso de verdade.
━ Ela não pode se chatear se você fizer.
━ O problema não é o que ela vai sentir, é que eu não quero.
Zoey o encarou em silêncio por alguns segundos, o olhar perdido do melhor amigo quase lhe arrancou uma risada. Num ímpeto que ela sabia que ele não teria, virou-se para a garçonete e a chamou.
━ Ei, menina, você. Como é seu nome?
━ Willa. ━ Respondeu, confusa.
━ Você é solteira? ━ Zoey perguntou, e já sabia o que ela ia fazer, mas não teve tempo de impedir.
━ Sou sim. ━ Ela disse, um pouco sem graça.
━ O meu amigo aqui queria te chamar para sair, mas não tem coragem. ━ arregalou os olhos e cerrou os punhos. ━ Você sai que horas?
━ Saio às dez. ━ O sorriso dela para demonstrava ter gostado do convite.
━ Ótimo. Ele te busca. ━ Zoey disse, e forçou-se a retribuir o sorriso de Willa.
━ Eu vou te matar. ━ Ele disse para a amiga, quando a outra se afastou
Zoey começou a rir da reação do amigo, de cabeça baixa e sugando o milkshake do canudo com rapidez. Ela repetiu que aquilo era uma boa ideia para ele distrair a cabeça, e de repente Willa conquistava o coração dele e o faria esquecer . Ainda tinha a chance da professora perceber que escolheu errado e pedir para ficar com ela. De qualquer forma, ele tinha mais chance de ser feliz se seguisse em frente, ao invés de só ficar esperando por uma atitude de .
Então os dois foram embora da lanchonete, e o tatuador voltou mais tarde para buscar a garçonete. O encontro não foi ruim, e certamente teria sido incrível se ele já não estivesse com o coração e a cabeça em outra pessoa.
Não teve notícias de durante uma semana e uns dias, e nesse tempo, Zoey já tinha arrumado mais uns dois encontros para ele, e todos terminaram do mesmo jeito. Não importa quantas garotas ele conhecesse, quantas bocas beijasse, nada tirava a lembrança de e do quanto queria que ela aparecesse.
No domingo, quando chegou em casa, Brian estava lá. Dessa vez, foi ela quem teve de vê-lo se arrumando para um encontro, mas ela não se incomodou tanto quanto gostaria. Era uma situação chata, é claro, mas era como ver a traição de outra pessoa, que lhe incomoda, mas não afeta como se fosse com você. Por um lado, se chateou por não ser recebida como queria e nem ter a oportunidade de conversar, por outro lado, foi um alívio que ele não lhe encheu de perguntas e ela teria um tempo sozinha.
Teimosa, insistente, inflexível, ela sabia de tudo isso sobre si, mas não era fácil mudar quem você é. Realista até demais e acostumada com monotonia, nunca se incomodou com isso e sempre achou que seria o suficiente. Diferente das amigas, que sempre faziam planos para viajar e conhecer o mundo, , desde a adolescência, se contentava com a ideia de que um dia se casaria, teria filhos e viveria para sempre na mesma casa, com vários filhos, um grande quintal e um jardim cheio de margaridas. Para ela, o relacionamento morno, estável e seguro com Brian era o que estava destinada a viver, e estava bem com isso. Por que tinha que aparecer e lhe confundir tanto, fazendo ansiar por muito mais do que ela tinha? Fazendo-a descobrir sonhos dentro dela que ela nem sabia que existiam?
O domingo passou rápido, ela preferiu não pensar no que faria e acalmar os seus sentimentos para tomar a decisão correta. Ou o mais próximo disso, já que toda vez que começava a pensar no assunto, todas as opções pareciam arriscadas, e ela odiava se arriscar. Mas foi no dia seguinte, depois de passar o domingo com as amigas e sem nem saber onde ou com quem Brian estava, que foi surpreendida numa noite de segunda-feira. Brian chegou em casa após o trabalho, cheiroso, bem vestido e com um buquê de rosas vermelhas. paralisou, com o cenho franzido, vendo-o se aproximar com um sorriso de orelha a orelha, lhe entregar o buquê e lhe encher de beijos e sorrisos.
━ O que deu em você? ━ Ela perguntou, rindo quando ele lhe fazia cócegas.
━ Quis agradar a minha namorada. Não posso?
━ Claro que pode. É só que… Você nunca fez isso.
━ Já fiz no seu aniversário. ━ Ele retrucou, ela revirou os olhos, divertida.
━ Não é meu aniversário.
━ Mas é um dia especial. Tenho um pedido para te fazer. ━ Ah, pronto!, ela pensou. Vai me convidar para uma troca de casais de novo, ou sugerir um ménage.
━ Que pedido? ━ Perguntou, com muito receio.
━ , ━ Começou pelo apelido, e já não parecia um bom sinal. Ele nunca a chamava assim. ━ A gente já está junto há dez anos, e eu sinto muito ter levado tanto tempo para perceber e tomar uma atitude, mas… Eu acho que está na hora de termos uma família.
Ela não conseguiu responder. A boca ficou entreaberta por alguns segundos, e o seu cérebro precisou lembrá-la de piscar para não parecer tão estranhamente imóvel.
━ Você quer casar comigo? ━ Ele pediu. Sem se ajoelhar, sem mostrar uma aliança, no meio da cozinha com o som da panela de pressão ao fundo, nada como ela sempre quis.
━ Brian… Eu não quero um casamento aberto.
━ Não, meu amor. Só nós. E nosso filho ou filha.
━ A gente nem tem espaço para uma criança aqui. ━ Ela começou a colocar empecilhos, como se tentasse convencer a si mesma a recusar aquela ideia, ou talvez quisesse ouvir a sua resposta.
━ Temos sim, o quarto de hóspedes. ━ Bipe! Resposta errada.
━ O quarto é pequeno, o apartamento é pequeno. Não dá para criar uma criança aqui.
━ A gente procura outra casa, então. ━ Ele sugeriu, mas ainda não parecia a resposta certa. Ela o encarou com os olhos semicerrados, como se pensasse no que dizer.
━ Que tipo de casa?
━ Sei lá, um apartamento maior? Com um playground para crianças? ━ Bipe! Resposta errada de novo. Mesmo que ele sorrisse empolgado ao sugerir.
De novo, ela o encarou com a mesma expressão. Tentou dizer algo, mas pensou melhor. Era como se ela estivesse percebendo algo pela primeira vez, e começou uma série de perguntas que soou completamente confuso e fora de contexto para Brian, mas para ela significava muito.
━ Brian, qual o nome da escola que eu trabalho? ━ Ele pensou um pouco.
━ Red… Calma, eu confundo. Redhood? ━ Bipe! Resposta errada. Ao menos chegou mais perto dessa vez.
━ Redwood. ━ Ela corrigiu. ━ Onde eu sempre sonhei em morar?
━ Amor, o que isso tem a ver? ━ Bipe! Resposta errada. Ela já havia dito, tinha certeza, ele apenas não se lembrava, como sempre.
━ Qual a minha flor favorita?
━ Rosas. Por isso comprei um buquê delas. ━ Bipe! Resposta errada.
Um sorriso começou a surgir no rosto dela, em câmera lenta, se abrindo e se transformando em uma risada. Brian não entendeu nada, mas acabou rindo junto, por nervosismo.
━ Amor, o que houve? ━ Ele segurou a mão dela, e controlou o riso e o encarou.
━ Brian, nós precisamos terminar.
━ O que? ━ Ele pareceu exasperado. ━ Eu acabei de te pedir em casamento. Não é isso o que você sempre quis?
━ Sim, mas você tinha que querer também. ━ Ela afastou a mão dele e desligou o fogão. ━ Não casar comigo só porque eu quero.
━ Mas eu quero me casar com você. ━ Ele foi até ela. ━ Sair com essas mulheres só me fez perceber que eu não quero mais ninguém. Só quero você, meu amor.
largou tudo e o encarou e riu mais ainda. Brian se chateou. Diferente dele, que nunca notava as reações dela, a mulher era sensível e reparou.
━ Desculpa. Não estou rindo de você. ━ Ela disse, ele continuou em silêncio, como quem espera uma resposta. ━ Eu sempre quis ouvir isso de você, e agora que finalmente disse… Eu não senti nada.
Ela constatou, deixando-o confuso, mas para ela estava bem claro. Idealizou por tantos anos que ele a pedisse em casamento, e achou que essa história de relacionamento aberto serviria para ele perceber o quanto a amava e queria ficar apenas com ela. Bem, havia dado certo, mas já era tarde demais. Estava se sentindo sufocada e não entendia o motivo, achava que era o fato de estar com dois homens e dividida entre eles, quando na verdade estava longe disso. Seus sentimentos por eram muito claros, só precisava entender o que sentia por Brian, e conseguir admitir para si mesma que era puro comodismo e costume de estar com alguém que, de alguma forma, lhe passava segurança, foi fundamental para dar aquela risada de alívio.
━ , espera! ━ Ele gritou quando a viu sair da cozinha e ir até o quarto. Começou a separar algumas roupas em uma mala.
━ Vou passar uns dias na casa da McKenna, nem falei com ela, mas ela não deve se importar.
━ , não! ━ Ele tentou impedir, segurando seus braços e obrigando-a a olhar em seus olhos.
━ Brian… Acabou. A gente acabou faz tempo, eu só demorei a perceber e aceitar. ━ Ela se desvencilhou dele, fechando a mala e indo em direção a porta.
━ , por favor! ━ Ele foi atrás dela, ajoelhou-se e segurou em suas pernas. A voz parecia trêmula, como se quisesse chorar. ━ Não me deixa, . Eu te amo. Fica comigo.
Como lhe doeu ouvir isso quando foi que disse. Doeu não ter seguido o seu coração e ficado com ele, porque estava confusa sobre o próprio destino e se aquilo era a decisão certa. Mas agora que tinha Brian como sempre quis, ajoelhado aos seus pés e lhe implorando para ficar, ela não conseguia sentir nem um por cento do que sentiu quando o outro lhe sussurrou o mesmo no ouvido. Ela não pensou em Brian quando pediu que ficasse, mas quando Brian fez o mesmo, ela não conseguia pensar em outra coisa que não fosse o quanto queria estar nos braços de seu tatuador naquele momento.
Voltou a rir ao pensar nisso. O que parecia tão óbvio e ela levou tanto tempo para perceber. A risada não era por deboche ou escárnio, ela simplesmente estava feliz por finalmente entender o que sentia, o que queria e, acima de tudo, aceitar que merecia muito mais do que estava recebendo. Era como sentir liberdade pela primeira vez.
Saiu do apartamento sem olhar para trás, sentindo-se como Nicole Kidman nas fotos pós-divórcio. Se estivesse em um musical, certamente seria o momento em que cantaria uma música de empoderamento e sairia dançando pela rua; bem no fundo, ela queria mesmo fazer isso. Foi recebida com alegria por McKenna, que sempre foi a primeira a se posicionar e ser a favor da amiga dar um pé na bunda de Brian. Ligaram para June para contar a novidade, e as três se reuniram naquela mesma noite e passaram parte da madrugada em claro, conversando. Seria difícil trabalhar no dia seguinte, mas aquele era um dia quase histórico.
━ E você vai ligar para o quando? ━ June trouxe o assunto à tona, sempre com seu tom ameno.
━ Não sei. Eu preciso de um tempo.
━ Nesse tempo, ele pode conhecer outra. ━ McKenna, direta e fatalista.
Mas não estava errada. Foi nessa semana que foi nos encontros arranjados por Zoey, mas não conseguiu se conectar com ninguém, não importava o quanto se esforçasse. No entanto, estava certa e precisava de um tempo para se reorganizar, antes de procurá-lo. Não era justo lhe pedir qualquer coisa quando nem ela sabia o que queria.
Depois de mais de sete dias sem notícias um do outro, ela decidiu procurá-lo no estúdio de tatuagem dele. Era um sábado chuvoso, o céu já escuro mesmo tão cedo, ela caminhava debaixo do guarda-chuva e murmurando o que iria dizer. Sabia o que queria, mas começar o assunto era difícil e o seu pequeno ensaio não saía do “Oi, tudo bem? Quanto tempo!”. Como iria cumprimentá-lo como um velho amigo depois do que viveram? Não poderia ser tão impessoal assim.
Ambos foram pegos de surpresa quando, literalmente, se esbarraram na porta do estúdio. A porta se abriu dando um susto na mulher, que fez o guarda-chuva voar. Um gritinho de surpresa, quando eles finalmente se olharam. A chuva começava a molhar os dois, mas eles pareciam estáticos, sem conseguir se mexer ou dizer nada.
━ ? ━ Ele perguntou, como quem tenta confirmar se não estava sonhando.
━ Qual o nome da escola que eu trabalho? ━ Nervosa, ela pulou toda a parte que ensaio e fez uma pergunta que parecia aleatória.
━ Redwood. Por que essa pergunta… ━ Ele não terminou, ela o interrompeu.
━ Qual a minha flor favorita?
━ Você não quer entrar? Está chovendo… ━ Foi interrompido de novo.
━ , qual a minha flor favorita?
━ Margaridas. , vamos…
━ Onde eu sempre quis morar?
━ Tipo cidade? Acho que você nunca me disse.
━ Não, digo… Casa, que tipo de casa eu sempre quis morar?
━ Você nunca me disse, mas… ━ Ele ergueu os ombros, começando a deduzir baseado no que conhecia dela. ━ Bom, na verdade, você disse que queria ter muitos filhos, então acho que uma casa grande, com um quintal para plantar flores, como fazia com sua avó. De repente um balanço? Picnic aos domingos, acampar com as crianças…
E lá estava ele, conhecendo-a tão bem, até melhor do que ela. O balanço, o picnic, acampamento no quintal… Nem ela sabia o quanto queria aquilo. Sem dizer nada, ela sorriu. Finalmente alguém respondeu certo às suas perguntas. Agarrou-o pelo pescoço e lhe deu um beijo. Com a mão em suas costas, ele a puxou para ainda mais perto. Um beijo na chuva, tão romântico e clichê como ela adorava, se não tivessem sido interrompidos pela porta do estúdio que abriu, empurrando os dois. Separaram o beijo e começaram a rir.
━ Vamos entrar agora? ━ Ele ofereceu, e segurou em sua mão, trazendo-a para dentro.
━ Por Deus, menina . De onde você surgiu? ━ Zoey perguntou, vendo os dois molhados. ━ Vou arrumar uma toalha para vocês. ━ Ela se levantou, virou de costas, mas voltou. ━ Quer dizer, antes… ━ Foi até os dois. ━ Você veio aqui para dar outro pé na bunda do meu amigo? Porque se foi, vou te deixar molhada e torcer para pegar um resfriado brabo.
━ Zoey! ━ Ele reclamou, mas riu.
━ Eu não vim aqui para isso.
━ Muito bem! Então vou buscar as toalhas. ━ Zoey se retirou, e voltou a olhar , tirando os fios molhados do rosto dela.
━ Não veio aqui para me dar outro pé na bunda, huh? ━ Ele provocou, e ela prendeu o riso. suspirou, alguns segundos de silêncio, antes de começar.
━ Você apareceu na minha vida só para me confundir, sabia? Você me fez perceber que eu tinha sonhos e anseios que eu desconhecia. Me fez perceber que eu merecia muito mais do que recebia, que meu namoro me sufocava e tirava a paz que eu queria.
━ Me desculpa? ━ Ele brincou.
━ Eu terminei com o Brian. ━ O rosto dele se iluminou, daquele jeito que sempre fazia quando começava a criar esperanças de que ficariam juntos.
━ Eu tentei sair com outras garotas, como você disse. Não consegui te esquecer. A gente não manda no coração, né?
━ Na verdade, eu vim te agradecer por ter sido essa pessoa na minha vida. Que me fez abrir os olhos, e…
━ Ah, não! Você não está se despedindo de mim de novo, né?
━ Calma. ━ Ela pediu, rindo da reação dele, que suspirou aliviado. ━ Eu terminei com ele no dia seguinte que estava com você. Demorei a te procurar porque eu precisava pensar no que eu queria.
━ … Eu estou apaixonado por você. ━ Ele arriscou, como sempre. Tudo o que ela queria era ser ousada como ele, mas o seu tempo era diferente.
━ Eu também estou apaixonada por você, . Mas eu preciso me apaixonar por mim, também. Apesar dos momentos incríveis que passei com você, eu nunca me senti tão aliviada e livre como quando eu estava sozinha.
━ … Eu quero te entender e te respeitar, eu juro. Mas não me tira da sua vida, por favor.
━ Nunca. ━ Ela sussurrou, aproximando-se dele e beijando seus lábios. ━ Mas não acho que estou pronta para um relacionamento sério agora. Eu só preciso que você seja paciente.
━ Uma vez, a Zoey me disse que amar uma garota que nunca foi amada da maneira correta, requer muita paciência. Eu posso não ser um cara muito paciente, eu sou bem intenso.
━ Jura? Nem notei. ━ Ela brincou, repetindo o que ele havia dito quando se conheceram.
━ Mas eu sou um cara apaixonado, que está disposto a te amar do jeito que você merece. Quando você estiver pronta.
Algumas lágrimas escorreram pelo rosto feminino, se misturando com as gotas de chuva que ainda estavam ali. sentia-se fraco longe dela, e se segurar um pouco da sua emoção para respeitar a liberdade dela fosse a chave para tê-la por perto, ele iria se esforçar como nunca. Só não podia perdê-la mais uma vez.
━ As toalhas! ━ Zoey anunciou, jogando-as na direção dos dois. Pelo cabelo bagunçado, a boca avermelhada e a pressa em voltar para onde estava, sabia que ela já estava pegando um dos tatuadores.
━ Enquanto te espero, minha missão vai ser fazer a Zoey sossegar com uma pessoa só.
━ Se ela gostar de meninas, tenho uma amiga para apresentar.
━ McKenna?
━ Aham.
━ Zoey já viu uma foto dela e elogiou. ━ Disse, sugestivo e os dois riram, voltando a se beijar e ignorando as toalhas.
Nunca ele havia ficado tão feliz por não ter clientes em seu estúdio.
Refletindo sobre o relacionamento com Brian, entendeu que precisava perdê-lo para se encontrar, viver sua vida ao invés de só deixar acontecer, se transformar, se reconhecer, se amar. Mas percebeu que precisava de um tempo dos dois, para conseguir viver a liberdade que queria. No entanto, não conseguiu ficar muito tempo longe de , e sempre o procurava. Os dois tinham uma relação linda de amizade, ele se tornou o seu melhor amigo e, é claro, o seu amor. E embora tentassem ficar longe e deixar a relação no âmbito platônico, ela sempre o procurava e acabavam dormindo juntos ou se beijando em um passeio que era para ser dois amigos passando um tempo juntos.
seguia respeitando o tempo dela, e segurando o desejo de procurá-la, mas ficava sorrindo como um pateta - como diz Zoey - toda vez que ela lhe mandava uma mensagem ou o chamava para sair. Ah, inclusive, a melhor amiga de infância de havia finalmente o motivo de nunca sossegar com uma pessoa só: não havia conhecido McKenna antes. As duas se apaixonaram e, em poucos meses, já estavam de casamento marcado. Os padrinhos, é claro, e .
Enquanto o casamento não chegava, os dois continuavam com o mesmo relacionamento, enquanto sentia-se cada vez mais completa com tudo o que descobria sobre si. Pintou as pontas dos cabelos de rosa, ingressou em uma pós-graduação, começou a aprender um idioma novo e passou a fazer ioga e corridas matinais. Fazia passeios e pequenas viagens uma vez por mês com as amigas, e até sozinha. Fez sua primeira tatuagem com : uma margarida branca, pequena e delicada, em seu calcanhar. Ele também descobriu um novo talento e começou uma banda com dois amigos que reencontrou da época de escola. Sua musa para escrever canções? , é claro.
Ela começou a escrever, focada em ter seu livro publicado um dia. transformou um de seus poemas em música, que foi o primeiro sucesso de sua banda. Ela começou um curso de fotografia, ele sempre ia ao teatro com ela - que sempre insistiu para que Brian fosse, ele nunca quis - e até realizou um sonho bobo dela de recriar a cena do filme Ghost e fizeram uma aula de cerâmica juntos; com a diferença de que desistiram na primeira aula por saírem todos sujos e com o vaso destruído.
A segunda tatuagem foi feita juntos, quando estavam bêbados: um copo de piña colada, no pulso. Comemoravam as conquistas um do outro, celebravam aniversários, conheceram as famílias, e até tiveram brigas por ciúmes. Os dois já viviam, praticamente, como namorados, e todos enxergavam isso - família, amigos, clientes do estúdio e alunos da Redwood. tinha medo de estragar a relação assumindo um namoro. Tinha medo de não ter a liberdade que tinha de ficar sozinha ou viajar quando bem queria, mesmo que no fundo soubesse que não era assim. Quando desabafou sobre isso com as amigas, Zoey estava por perto e, é claro, correu para contar para o amigo na intenção de ajudar o casal que, ainda, não era casal.
━ Eu sei que ela está bem melhor, mas a bichinha é paradinha, coitada. Se você não tomar uma atitude… ━ Ela o alertou.
Não queria estragar o casamento da melhor amiga jamais, porém no fim da cerimônia, aproveitaria o momento para finalmente pedi-la em namoro. Coincidência ou não, a data do casório calhou de ser o mesmo dia que se completava um ano do dia em que se conheceram. No fim da festa, levou-a para o jardim e segurou a sua mão, puxando o ar e soltando devagar, com a boca aberta pronta para falar, quando foi interrompido.
━ Vamos namorar? ━ Ela perguntou, pegando-o totalmente de surpresa. ━ Não quero mais ficar fingindo que a gente não é namorado. Nos últimos meses a gente foi tudo menos “só amigos que se beijam de vez em quando”.
━ Achei que você ia me enrolar por dez anos que nem o Brian fez contigo. ━ Ele não resistiu a alfinetar, e recebeu alguns tapas dela. ━ Agora eu posso?
━ O que?
━ Amar você como você merece. ━ Ele lhe fez um carinho na bochecha, e ela sorriu.
━ Só fiquei com medo de me sentir sufocada, como me senti com o Brian.
━ Nunca vou fazer isso com você.
━ Eu sei. ━ Ela sorriu, e se encararam em silêncio por algum tempo. ━ Até porque agora que eu faço terapia e aprendi a me colocar em primeiro lugar, eu te dou um pé na bunda se você me der menos do que eu mereço. ━ Apesar do tom leve e das risadas, ela falava muito sério. E ele sabia bem disso.
━ Hum… gostosa, inteligente e empoderada. Meu tipo de mulher.
segurou-a pela cintura e lhe deu um beijo. O primeiro beijo de oficialmente namorados. Agora que ela havia superado o relacionamento horroroso que teve no passado, ela podia finalmente se entregar e descobriu-se tão intensa quanto ele. Embora não tivesse pressa para os muitos filhos, a casa com o balanço no quintal, o jardim de margaridas e os picnics aos domingos, ela gostava de saber que tinha a segurança de que teria tudo isso com ele.
E isso era tudo o que ela queria: um amor que não precisava perdê-lo para se encontrar. Porque, agora que se encontrou e aprendeu a se amar, ela nunca deixaria isso acontecer.
Fim.
Outras fics:
15. Enrosca (Ficstape : Sandy & Júnior - Nossa História)
Crônicas de Ochadia: A Sereia e o Pirata (Especial Vida de Princesa / Em Andamento)
MV: Touch My Body (Finalizada / Especial Music Video da Mariah Carey)
08. End Up Here (Ficstape #030: 5 Seconds Of Summer)
Nota da autora: Eu escrevi essa história em dois dias, e nunca escrevi tão rápido na vida! A história da Rosalee é um pouco parecida com a minha em alguns pontos, e pode parecer loucura levar tanto tempo para perceber o óbvio, mas ela foi bem rápida que eu. Enquanto Rosielevou semanas para descobrir que não amava mais o Brian e terminar de vez, eu fiquei quase um ano em um relacionamento que não me apetecia mais. Só não tive a sorte de conhecer um tatuador gostoso e romântico no meio do caminho, mas a sensação de liberdade é muito boa! Enfim, um pequeno desabafo, espero que tenham curtido a leitura e considerem deixar um comentário para me fazer feliz. E se tiver interesse em ler mais histórias minhas, vou listar os nomes aqui abaixo.
Nota da Scripter: HELLO!! Clique AQUI para deixar uma mensagem de amor!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.