Capítulo Único
Sentada, de pernas esticadas sobre o piso liso e com o tronco inclinado para frente, os dedos de tentavam alcançar as pontas do tênis branco desgastado. Faltava um pouco mais de meia hora para o início da oficina de dança, mas ela sempre gostava de estar adiantada.
Meia dúzia a acompanhava na sala rodeada por paredes de espelhos quando as amigas se aproximaram eufóricas. Do grupo, Eveline era a que parecia mais fora de si. lançou um olhar reprovador ao vê-la se jogar de joelhos diante de si para contar as novidades. Dançarinos não deveriam negligenciar as pernas desse jeito.
- Garota... Os seus joelhos... – mas foi ignorada.
- Agora é para valer! O Stubby vai reabrir e nós pre-ci-sa-mos – enfatizou – estar lá!
arqueou as sobrancelhas, passando os olhos por todo o grupo, esperando que falassem mais a respeito.
Stubby era o lugar favorito de todos os alunos da região que procuravam por uma boa diversão, com um quê especial para os aspirantes à artista. O lugar funcionava como uma balada enorme que dava chance para qualquer iniciante se expressar.
A amante da dança clássica quase suspirou com as lembranças.
De todos os momentos que só o Stubby era capaz de proporcionar, os favoritos dela seriam sempre as batalhas de dança. Definitivamente, não havia nada mais High School Musical em seus conceitos do que aquele lugar. Um bando de jovens descontrolados e reunidos, que poderiam tomar os microfones para assumir as melodias a qualquer instante. Mais do que isso: eles podiam dançar. Não importava o estilo ou as habilidades, quando se tratava da arte de se expressar de cada um, todos se tornavam iguais.
Na entrada, pulseiras e adesivos de duas cores diferentes eram disponibilizados a cada cliente, podendo ele escolher a verde, que indicava o status de disponível, ou a vermelha de indisposição. Eram esses acessórios que determinariam quem estava lá dentro para dar um show.
O verde, que era o favorito de , denunciava aos funcionários e organizadores da Casa que ela estava disposta a participar das atividades da noite. Quando o holofote brilhasse sobre si, independente do ritmo, seria a hora de se tornar estrela e brilhar. Durante uma música, era comum que várias luzes se iluminassem sobre várias pessoas, alternando-se entre eles em poucos segundos para dar a chance de todos mostrarem o porquê de estarem ali, por isso o apelido “Batalha de Dança”.
- Só temos um problema... – Eveline continuou, despertando a bailarina dos devaneios, que nem se recordava mais do aquecimento que fazia antes – Teremos que fugir da escola.
🎉
Senhor Roggers, o professor de Física na Academia Floriana de Artes (AFA), ficaria indignado se descobrisse que todos os esforços de iam para os planos de fuga noturnos ao invés dos conteúdos da disciplina que ministrava. O que era uma média ruim a mais no histórico comparado com o drama de ficar de fora da uma noitada no Stubby? O que para uns era falta de responsabilidade, preferia apelidar de prioridade.
A dança era tudo que tinha e ela a abraçaria até o fim.
Quando todas conseguiram se colocar para dentro da casa de shows, todas riram aliviadas, buscando diretamente o bar para uma rodada de bebidas em comemoração. Apesar de não serem as músicas que estavam habituadas a ensaiar na AFA, o ritmo latino das faixas que estouravam nas caixas de som eram contagiantes. acreditava que também tinha muito disso na arte de se mover: intuição e deixar o corpo se levar. Seus quadris balançavam de um lado para o outro, alternando com os ombros ao mesmo tempo em que mantinha uma das mãos em movimentos mais contidos por causa do copo que carregava.
A bailarina deu um gole generoso no drink e com o copo plástico ainda em boca, usou o dedo como um convite para as amigas para se juntarem à dança. Entre uma balançada e outra, foi puxando as garotas, sem parar de se mexer em momento algum, para avançarem até o centro do lugar, próximo ao palco montado, onde as apresentações e batalhas aconteciam.
Mesmo dando passadas de pinguim, Eveline ainda perdeu o equilíbrio ao entortar o pé pelo bico fino dos saltos que calçava. O grupo riu enquanto a segurava pelos antebraços até conseguir se reestruturar.
- Eu não acredito que você veio de salto! – aproximou o rosto das outras para se fazer ser ouvida – E ainda escolheu o adesivo vermelho! – acusou, forçando um pouco mais a garganta para ganhar do volume da música.
- Eu só queria uns beijos hoje. – Eveline justificou com uma cara chorosa, massageando o tornozelo enquanto a sustentavam de um lado – Depois que fechou, nunca mais fiquei com nenhum cara decente. Podemos não gostar das dondocas do EWS, mas os homens de lá são outro nível. – passou a língua nos lábios, fantasiosa – Dançarei outro dia.
- Esses saltos têm poder de matar. – Jena interferiu em defesa da ferida – Acho melhor não pegarmos no pé dela... Ou ela fura o nosso olho.
Outra risada coletiva. O grupo estava inteiro de preto, mas apenas Eveline havia investido em uma produção mais pomposa, com direito a salto alto finíssimo, saia de couro e olhos bem marcados. trajava uma saia de pregas e a usual blusa sem mangas e de gola alta. As demais integrantes vestiam peças parecidas. No caminho, elas até haviam sido comparadas com os aqueles grupos femininos de K-pop pelo motorista de aplicativo pela semelhança.
- Falando sério... – pegou no braço da outra, adotando uma carranca que não combinava nada com o clima do local – Cuide-se, por favor! Preciso do grupo inteiro para as apresentações regionais. Não quero perder o troféu para aquelas chatas do EWS nunca mais. – lançou um olhar feio para o grupo ao qual se referia no lado oposto do palco.
- Sim, mamãe!
As rivais das competições eram boas, por isso não ousava piscar quando estavam no mesmo ambiente. Ela não era burra de subestimá-las.
Stubby recebia gente de todos os lados, inclusive de escolas que nem estavam tão próxima dos radar. Todos queriam uma chance de aparecer e é claro que não seriam só elas que teriam a ideia de escapar a noite para aproveitar.
- Nem que eu precise arrancar essa droga dos seus pés, eu não vou perder nenhuma das minhas, entendeu, Line?
- , a gente vai se cuidar! – Jena garantiu, ganhando um acenar de cabeça das outras – Podemos dançar agora?
Os relógios marcavam quase meia-noite e só conseguia pensar em quando começaria o evento principal da noite. Entre uma música e outra, as amigas foram se separando, cada um para um canto, resolvendo seus interesses. Os fios de cabelo que nasciam começavam a grudar na testa pela fina camada de suor. Uma noite despreocupada, para dar uns passos desengonçados e sem compromisso era um momento que ela precisava e nem sabia. Ao som de Rihanna, pulava como se fosse a primeira vez que ouvia os hits da década, enquanto se deslocava entre as pessoas da pista de dança.
Primeiro foram algumas gotas em seu rosto. A mente embaçada pelas bebidas a levou a pensar que poderia estar chovendo. Contudo, como que estaria chovendo ali dentro? A constatação absurda foi logo deletada. Então, veio um baque nas costas e mais um pouco do líquido do próprio copo respingou. O ar dos pulmões foi puxado de si. Rapidamente, virou-se para se desculpar.
Era óbvio o que havia acontecido ali.
Ela batera em alguém.
- Meu deus, mil desculp...
Ela não acreditou no que viu.
Aquele era um momento para festejar. Então, por que estava só encontrando gente que não queria nem pintada de ouro?
- Ah, não, você aqui? – os dois disseram em uníssono.
- Para de me copiar! – reclamou.
- Para você, fui eu quem falou primeiro.
- Está me perseguindo, garoto? Não bastava ter que te aturar no Clube de Dança, ou em qualquer outro canto da Academia... Agora aqui também?
- Onde? – olhou para os lados freneticamente.
- Onde o quê?
- Onde está a placa que indica que o Stubby é exclusivamente seu. – fechou a cara com o corte.
Sem uma resposta boa, a garota se limitou a mostrar a língua, recebendo uma careta feia em troca. Para eles, sustentar discussões desse nível já era costume.
- Não deveria estar na cama, tentando fazer o seu sono da beleza, garota metida?
- Tentando? – soltou uma risada nasalada, fazendo uma jogada dos cabelos embaraçados para fazer charme – Você não deveria estar cuidando da sua vida, ?
- E eu estava! Até uma cavala me atingir, como se fosse um coice.
Os lábios da dançarina se abriram em choque. Os dedos que envolviam o copo, agora um pouco menos cheio, tremeram. Um, dois, três, contou mentalmente. Não faria nenhuma cena para correr o risco de ser colocada para fora justo na reinauguração.
- É um idiota, . Quer saber? – ela balançou as mãos freneticamente em frente ao peito – Fica longe de mim. Esse lugar é muito grande, espero que não voltemos a nos cruzar. Péssima noite para você.
- Como sempre, foi um desprazer te ver também, . – deu um sorriso irônico.
O casal se encarou por alguns segundos sem dizer nada. Nenhum dos dois se moveu para se afastar. Atento, assistiu as linhas de expressão no rosto da conhecida se suavizarem. A mente traidora o levou mais uma vez para os pensamentos sobre como era linda. Sempre muito bonita. podia jurar que nunca a presenciara em um momento feio. A bailarina era do tipo daqueles atores de novelas que dormiam maquiados e acordavam montados, sem mal hálito ou cabelos arrepiados.
Sem querer, em um ato de desespero, levou as próprias mãos para esfregar o rosto com força, inúmeras vezes. Ele tinha que parar de ser tão rendido por alguém que jamais o olharia diferente de um bicho pulguento.
Pronto. Só faltava ele ter uma crise existencial no meio da pista de uma balada. Era por motivos assim que a distância entre e ele sempre seria lembrada.
- Ótimo! – exasperou, irritado, para si mesmo.
- Então, ‘tá! – retrucou, em mesmo tom.
Ambos se encararam uma última vez antes de darem as costas um para o outro e seguirem em direções opostas, como uma cena de dois cowboys em um duelo no faroeste. não soube o motivo, mas sentiu vontade de virar para trás para checar para onde o estava seguindo. No fim, conseguiu se conter.
Suspirou.
- Noite agitada? – Ohana puxou conversa assim que viu retornar para seu lado, girando uma latinha de cerveja e ao mesmo tempo em que se girava na banqueta próxima ao bar.
- Você nem imagina. – respondeu enfezado, escutando uma gargalhada estrondosa da amiga – Qual a graça?
- Qual é, ! – proferiu um tapão no braço dele coberto pelas mangas do moletom cinza – Você tem uma carinha de santo demais para ficar sustentando essas mentiras.
não entendeu aonde a outra queria chegar. Limitou-se a roubar um gole da bebida dela.
- Eu vi você se chocando de propósito com a Barbie fresca ali. – tomou a lata de volta.
- Não fala merda, Ohana. – desconversou – Acho que chega de álcool para você essa noite. – puxou o cilindro de metal outra vez.
- Tudo bem. – a garota se deu por vencida, escorando-se no balcão atrás com a ajuda dos cotovelos – Essa aí já estava quente mesmo. Mais uma, por favor, senhor garçom! – berrou, deslizando um cartão que representava a comanda pelo tampo de pedra nobre e logo se voltou para o colega – Você gosta dela.
- Não gosto.
- Não, senhor. Quem não gosta sou eu. Você arrasta montanhas por essa daí. Somos amigos, . Nada escapa desses meus olhinhos. – indicou a si própria – Eu vi você a encontrando de longe e depois fingindo um esbarrão. – rolou os olhos – Daquela ali eu não espero nada, mas você poderia ao menos ter atitude.
- Você não sabe de nada. – balançou a cabeça.
- e eu não somos melhores amigas. – deu um olhar de tédio para a constatação que todos da AFA já estavam saturados de saber – Mas você sabe que não precisa levar isso em consideração, né? A última coisa que eu quero é ser uma Empata-Foda entre vocês.
- Não tem nada a ver com você, Ohana, ou com a inimizade de vocês. – o garoto voltou a encarar a pista de dança, mais exatamente para o ponto onde estava instante atrás com a outra – Tem coisa que não é para ser. é areia demais para mim.
Ohana rolou os olhos. Não se lembrava de apresentar tendências para ficar triste quando bebia. De repente, sentiu um calor subir.
- Ela te disse isso agora? - fechou as mãos em punhos, preparada para desgrudar a bunda da cadeira e dar uma lição na rival.
- Não! E para de querer bater nela por qualquer motivo! Achei que vocês tivessem virado amigas depois da parceria e sucesso no Festival de Dança de Outono. – franziu o cenho.
- “Amigas” é um termo muito forte. A gente se suporta.
As pessoas nascem diferentes umas das outras. e Ohana eram como água e óleo, não se misturavam por forças naturais. Se Ohana estivesse de um lado, estaria no outro. Era assim que elas eram desde que viraram colegas de turma na Academia Floriana de Artes. A criação do Clube de Dança apenas acirrou o instinto competitivo que nutriam entre si. Uma sempre queria entregar mais performance que a outra e por mais errado que fosse, concluía que a rivalidade as fortalecia, uma para sempre puxaria a outra para melhorar e mostrar as melhores versões de si.
Ohana era o motivo para treinar sempre mais. era o motivo para Ohana acreditar que a dança poderia ser levada como uma profissão séria a qual poderia investir. No fim, elas eram como Tom e Jerry: uma não teria um papel tão eficiente sem a outra.
- Vocês dançaram juntos. Você até deu aulas de Física para ela, escondido de mim. – reiterou, Ohana – No mínimo, uma química existe.
Então, as luzes se apagaram em um timing perfeito para ele não precisasse lidar com aquelas afirmações. Para melhorar, o público começou a gritar e bater em palmas de excitação, rompendo com qualquer chance deles retomarem o assunto.
Os holofotes começaram a piscar. Os selecionados para abrir a noite foram dois casais que misturaram um pouco de canto e dança. As figuras masculinas fizeram um pequeno teatro enquanto recitavam os versos de One Less Lonely Girl do Justin Bieber para as amadas. Elas foram o contraponto perfeito, ajustando pequenos versos da letra para transformar em uma versão feminina. Ao fim da apresentação, o quarteto deixou o palco sob muita admiração, aplausos e ovações.
Depois dos casais, sentiu uma impaciência lhe tomar ao presenciar uma das garotas de EWS sendo selecionadas para o centro ao invés dela. A música logo começou e o coração dela acelerou de ansiedade. O estilo e os movimentos da garota que dançava se assemelhavam muito com o que ela adotava para si, como zona de conforto. Aquele momento teria que ser dela também. Corajosa, e incitada pelo mínimo que álcool que corria pelo sangue, se fez ser notada no meio da multidão, pedindo com as mãos abanando no ar por um pouco de luz também.
Tratada como princesa, o desejo foi como uma ordem. Um holofote pairou sobre a figura dela, criando um clima de animosidade. Assobios se fizeram presentes, competindo com as notas da música lenta, mas de batidas marcantes, de 2Pac e Gwen Stefani, Let Me Blow Ya Love.
sorriu largamente, sentindo que finalmente sairia das sombras para fazer o que sabia de melhor.
Ainda sentada na banqueta, os olhos de Ohana adquiriram um aspecto nublado. Ela estava tramando e geralmente, quando isso acontecia, as ideias não tendiam a ficar somente perdidas na cabeça. Ao presenciar pedindo para entrar na apresentação, Ohana soube que não poderia ficar para trás. Não bastasse o foco que precisava manter sobre as duas garotas na batalha, ainda precisava reservar um pouco de atenção ao amigo. Provocativa, arrancou um guardanapo da caixinha de acrílico e esticou até acertar o peito de .
- Para você. – sibilou com um sorriso maldoso.
- ‘Tá. – ele prontamente aceitou, desfazendo os braços cruzados – Mas para quê?
- Para limpar a baba que está começando a escorrer.
- Er... – revirou os olhos – Besta! – arremessou a folha, que por ser leve demais, mais voltou para si no ar do que foi para Ohana. Acabou se obrigando a pegar o item ainda flutuando a contragosto, antes que fosse ao chão e se transformasse em lixo.
Amaldiçoou-se por estar tão distraído, perdendo os detalhes do show que estava dando. Estacado no mesmo canto, se pôs a admirá-la. Os movimentos precisos coincidiam com as batidas. parecia voar sobre a estrutura montada, pela facilidade com qual deslizava sedutoramente pelo piso. acompanhou, atento, a bailarina escorregar, ficando de joelhos, para em seguida afastar as pernas e sentar, movendo o tronco como estivesse desenhando ondas com ele.
Tão sexy.
As luzes, então, alternaram para a garota da outra academia. Nesse instante, Ohana passou diante dele feito um raio, fazendo-o semicerrar os orbes, em suspeita. Conhecia a amiga que tinha e ela jamais dava um ponto sem nó. se viu preso em um impasse entre ficar e assistir, ou ir atrás de Ohana para conferir o que estava acontecendo. Os olhos se fecharam com força ao compreender que, pela amizada, teria que seguir a segunda opção.
Foi bufando, mas foi.
- O que está armando? – fitou a colega com toda a hesitação do mundo.
Ele estava só há alguns passos atrás dela e isso foi suficiente para que ela arranjasse tempo para sussurrar algo nos ouvidos de um dos funcionários do Stubby.
- Não pensou mesmo que deixaríamos toda a diversão para a nossa amiga fresca ali, pensou? – sustentava uma expressão divertida – Você sabe que jamais ficaria atrás da . Aproveite! – Ohana depositou as mãos pesadas sobre os ombros dele – Vai ser a chance de ouro que vai ter para atrair a atenção dela.
- O que você fez?
A resposta veio em uma piscadela.
De súbito, a música que dançavam foi cortada e as luzes se apagaram, levando alguns a crer que poderia se tratar de uma queda de energia. Antes que pudessem tomar providências, tudo voltou, entretanto a música da vez era o tema principal do primeiro filme da sequência de Step Up, Show Me the Money, um clássico para quem amava clichês e que misturava o contemporâneo das batidas eletrônicas com o clássico dos instrumentais ao fundo.
- Vamos lá! – Ohana cantarolou empolgada, puxando-o pela mão.
arregalou os olhos, sentindo o pânico.
- Não temos uma coreografia! – exasperou de volta.
- Segue as batidas! – instruiu com a mesma simplicidade de quem comentava sobre o tempo da semana – Aquela sequência de passos que armamos para aquecimento do nosso grupo também serve. Os movimentos casam bem.
Suando frio, se deu conta de que as mulheres com quem cruzava no caminho da vida acabariam por ser também o seu fim.
De cima do palco, tanto a estudante de EWS quanto a representante da AFA estavam sem entender a motivação do corte repentino. Da mesma maneira que fizera, Ohana exigiu um holofote para si. Quando a dupla entrou no campo de visão das dançarinas, sentiu a situação ficar mais explícita. Era exaustivo. estava cansada de encontrar o grupo rival em seu encalço por todos os cantos.
Ohana e se moviam em sincronia, entre passos fortes e de muita personalidade, intimidando e a desconhecida a recuarem até o canto limite do palco. Se dependesse de Ohana, não haveria espaço para a EWS enquanto os melhores da AFA ainda estivessem sobre o palco. Mesmo que aquele não fosse o último show da noite, as crias da AFA se encarregariam de fazer todos sentirem como se fosse.
Contudo, ainda não havia conseguido pescar a ideia. De braços cruzados, assistiu a garota da academia rival desistir, retirando-se dos holofotes. Deixou uma risada nasalada escapar. Não aconteceria o mesmo com ela. Assistiu os colegas atentamente e buscou uma brecha para se introduzir na dança e anunciar a força que ela ainda teria o próprio turno.
Mesmo com toda a vontade, ainda eram dois contra uma e eles revidaram a sequência de passos dela com todo o vigor. não sabia das outras amigas, apenas viu Eveline entrando em cena outra vez, subindo o palco desengonçadamente enquanto atirava os saltos pontiagudos para qualquer canto do Stubby para poder se juntar à ela.
Gritos de incentivo foram dados.
Dois contra dois.
Os quatro trocaram olhares analíticos, decidindo em silêncio o que viria a seguir. No fim, foi Ohana foi quem puxou os movimentos. Os três que continuavam parados tiveram um reconhecimento mútuo da coreografia. Um filme se passou na cabeça de cada um e novamente, trocaram olhares significativos entre si, deixando o público alheio dos planos.
Se seguissem pelo ritmo de Ohana, eles reencenariam a coreografia principal que apresentaram no Festival de Outono da Academia. O show mostraria dois grupos opostos lutando pela atenção do público por meio da dança, misturando o clássico com o contemporâneo para repassar a ideia de que havia lugar para todos os estilos. A narrativa que se desenrolaria se assemelhava muito com o momento atual. Parecia até a arte imitando a vida. O conceito havia sido de , que pensou que aquele seria um bom jeito de exaltar a importância dos opostos.
Naquele momento, o quarteto faria os papéis deles mesmos em uma versão exagerada. Acompanhando os acordes, as duas iam se cruzando e trocando os lados no palco, como se estivessem brigando de verdade por meio da dança. E embora tivessem que exibir semblantes sérios para sustentarem seus papéis, não conseguiu manter a pose até o fim. Independente do esforço anormal que estivesse depositando nos pulmões, o ar escapou, transformando-se em risada. A bailarina caiu na graça entre um passo e outro, arrancando sorrisos dos colegas. A cena era divertida, porém não menos a cara dos plots de filmes adolescentes. O teatro era real, mas muito engraçado. A leveza com qual lidavam com a situação representava muito da relação que mantinha com Ohana e .
Eram birras que não deveriam ser levadas para o fundo do coração.
No fundo, bem fundo, eles se gostavam.
Logo após a última nota, as atenções de toda a casa foram reivindicadas para as caixas de som.
- Bo-Bo-Bo-Boa noite, Stubbers! – um timbre empolgado soou nos autofalantes – É um prazer estar a serviço de vocês outra vez. Eu serei o DJ da noite e espero que a única obsessão para hoje seja festejar! Levantem as mãos para o alto, aqueles que querem curtir! – atiçou para obter retorno do público – Agora, levantem as mãos aqueles que querem voar! – mais uma onda de braços no ar foi vista – Agora, vamos voltar para programação normal. Relaxem, mas não muito, porque as surpresas estão só começando!
🎉
Suada, com as roupas grudando contra o corpo e o rabo de cavalo improvisado se desfazendo, carregava Eveline pelas costas conforme avançavam os portões da AFA no maior sigilo possível. Durante a última batalha contra Ohana e , Line acabou se descuidando dos sapatos e ao piscarem, algum indivíduo de má fé sumiu com o par. Fora roubada e agora se recusava a pisar com os pés nus no concreto externo. Sabe-se lá a sujeira que as chuvas poderiam ter arrastado, os cocôs de rato que poderiam não estar visíveis... Eveline é quem não arriscaria.
- Você... – disparava entredentes – Vai me dever pelo resto da vida! – alegou, tomando uma pausa para içar o corpo da amiga para cima – E vou cobrar levando a sua alma, cretina maldita! Avisamos que... – arfou, encurvada para tentar puxar um pouco mais de ar – Não era bom ir com salto.
- Tem certeza que não quer que eu a carregue, ?
Por um momento, elas se esqueceram de que o grupo de Ohana também as acompanhava na volta para os dormitórios. Não havia um dali que estava com a imagem intacta. Todos aparentavam ter passado no centro do um furacão.
- Absoluta, . – negou o auxílio, com o maxilar contraído – Aqui somos garotas independentes que conseguem se virar.
O garoto rolou os olhos.
- Se me deixar ajudar, vai continuar sendo uma garota independente. – garantiu, – A única mudança é que vai ser uma garota independente carregando menos peso.
não de deixou levar pela oferta, fazendo ver que ainda teria um longo caminho se quisesse alcança-la.
Meia dúzia a acompanhava na sala rodeada por paredes de espelhos quando as amigas se aproximaram eufóricas. Do grupo, Eveline era a que parecia mais fora de si. lançou um olhar reprovador ao vê-la se jogar de joelhos diante de si para contar as novidades. Dançarinos não deveriam negligenciar as pernas desse jeito.
- Garota... Os seus joelhos... – mas foi ignorada.
- Agora é para valer! O Stubby vai reabrir e nós pre-ci-sa-mos – enfatizou – estar lá!
arqueou as sobrancelhas, passando os olhos por todo o grupo, esperando que falassem mais a respeito.
Stubby era o lugar favorito de todos os alunos da região que procuravam por uma boa diversão, com um quê especial para os aspirantes à artista. O lugar funcionava como uma balada enorme que dava chance para qualquer iniciante se expressar.
A amante da dança clássica quase suspirou com as lembranças.
De todos os momentos que só o Stubby era capaz de proporcionar, os favoritos dela seriam sempre as batalhas de dança. Definitivamente, não havia nada mais High School Musical em seus conceitos do que aquele lugar. Um bando de jovens descontrolados e reunidos, que poderiam tomar os microfones para assumir as melodias a qualquer instante. Mais do que isso: eles podiam dançar. Não importava o estilo ou as habilidades, quando se tratava da arte de se expressar de cada um, todos se tornavam iguais.
Na entrada, pulseiras e adesivos de duas cores diferentes eram disponibilizados a cada cliente, podendo ele escolher a verde, que indicava o status de disponível, ou a vermelha de indisposição. Eram esses acessórios que determinariam quem estava lá dentro para dar um show.
O verde, que era o favorito de , denunciava aos funcionários e organizadores da Casa que ela estava disposta a participar das atividades da noite. Quando o holofote brilhasse sobre si, independente do ritmo, seria a hora de se tornar estrela e brilhar. Durante uma música, era comum que várias luzes se iluminassem sobre várias pessoas, alternando-se entre eles em poucos segundos para dar a chance de todos mostrarem o porquê de estarem ali, por isso o apelido “Batalha de Dança”.
- Só temos um problema... – Eveline continuou, despertando a bailarina dos devaneios, que nem se recordava mais do aquecimento que fazia antes – Teremos que fugir da escola.
Senhor Roggers, o professor de Física na Academia Floriana de Artes (AFA), ficaria indignado se descobrisse que todos os esforços de iam para os planos de fuga noturnos ao invés dos conteúdos da disciplina que ministrava. O que era uma média ruim a mais no histórico comparado com o drama de ficar de fora da uma noitada no Stubby? O que para uns era falta de responsabilidade, preferia apelidar de prioridade.
A dança era tudo que tinha e ela a abraçaria até o fim.
Quando todas conseguiram se colocar para dentro da casa de shows, todas riram aliviadas, buscando diretamente o bar para uma rodada de bebidas em comemoração. Apesar de não serem as músicas que estavam habituadas a ensaiar na AFA, o ritmo latino das faixas que estouravam nas caixas de som eram contagiantes. acreditava que também tinha muito disso na arte de se mover: intuição e deixar o corpo se levar. Seus quadris balançavam de um lado para o outro, alternando com os ombros ao mesmo tempo em que mantinha uma das mãos em movimentos mais contidos por causa do copo que carregava.
A bailarina deu um gole generoso no drink e com o copo plástico ainda em boca, usou o dedo como um convite para as amigas para se juntarem à dança. Entre uma balançada e outra, foi puxando as garotas, sem parar de se mexer em momento algum, para avançarem até o centro do lugar, próximo ao palco montado, onde as apresentações e batalhas aconteciam.
Mesmo dando passadas de pinguim, Eveline ainda perdeu o equilíbrio ao entortar o pé pelo bico fino dos saltos que calçava. O grupo riu enquanto a segurava pelos antebraços até conseguir se reestruturar.
- Eu não acredito que você veio de salto! – aproximou o rosto das outras para se fazer ser ouvida – E ainda escolheu o adesivo vermelho! – acusou, forçando um pouco mais a garganta para ganhar do volume da música.
- Eu só queria uns beijos hoje. – Eveline justificou com uma cara chorosa, massageando o tornozelo enquanto a sustentavam de um lado – Depois que fechou, nunca mais fiquei com nenhum cara decente. Podemos não gostar das dondocas do EWS, mas os homens de lá são outro nível. – passou a língua nos lábios, fantasiosa – Dançarei outro dia.
- Esses saltos têm poder de matar. – Jena interferiu em defesa da ferida – Acho melhor não pegarmos no pé dela... Ou ela fura o nosso olho.
Outra risada coletiva. O grupo estava inteiro de preto, mas apenas Eveline havia investido em uma produção mais pomposa, com direito a salto alto finíssimo, saia de couro e olhos bem marcados. trajava uma saia de pregas e a usual blusa sem mangas e de gola alta. As demais integrantes vestiam peças parecidas. No caminho, elas até haviam sido comparadas com os aqueles grupos femininos de K-pop pelo motorista de aplicativo pela semelhança.
- Falando sério... – pegou no braço da outra, adotando uma carranca que não combinava nada com o clima do local – Cuide-se, por favor! Preciso do grupo inteiro para as apresentações regionais. Não quero perder o troféu para aquelas chatas do EWS nunca mais. – lançou um olhar feio para o grupo ao qual se referia no lado oposto do palco.
- Sim, mamãe!
As rivais das competições eram boas, por isso não ousava piscar quando estavam no mesmo ambiente. Ela não era burra de subestimá-las.
Stubby recebia gente de todos os lados, inclusive de escolas que nem estavam tão próxima dos radar. Todos queriam uma chance de aparecer e é claro que não seriam só elas que teriam a ideia de escapar a noite para aproveitar.
- Nem que eu precise arrancar essa droga dos seus pés, eu não vou perder nenhuma das minhas, entendeu, Line?
- , a gente vai se cuidar! – Jena garantiu, ganhando um acenar de cabeça das outras – Podemos dançar agora?
Os relógios marcavam quase meia-noite e só conseguia pensar em quando começaria o evento principal da noite. Entre uma música e outra, as amigas foram se separando, cada um para um canto, resolvendo seus interesses. Os fios de cabelo que nasciam começavam a grudar na testa pela fina camada de suor. Uma noite despreocupada, para dar uns passos desengonçados e sem compromisso era um momento que ela precisava e nem sabia. Ao som de Rihanna, pulava como se fosse a primeira vez que ouvia os hits da década, enquanto se deslocava entre as pessoas da pista de dança.
Primeiro foram algumas gotas em seu rosto. A mente embaçada pelas bebidas a levou a pensar que poderia estar chovendo. Contudo, como que estaria chovendo ali dentro? A constatação absurda foi logo deletada. Então, veio um baque nas costas e mais um pouco do líquido do próprio copo respingou. O ar dos pulmões foi puxado de si. Rapidamente, virou-se para se desculpar.
Era óbvio o que havia acontecido ali.
Ela batera em alguém.
- Meu deus, mil desculp...
Ela não acreditou no que viu.
Aquele era um momento para festejar. Então, por que estava só encontrando gente que não queria nem pintada de ouro?
- Ah, não, você aqui? – os dois disseram em uníssono.
- Para de me copiar! – reclamou.
- Para você, fui eu quem falou primeiro.
- Está me perseguindo, garoto? Não bastava ter que te aturar no Clube de Dança, ou em qualquer outro canto da Academia... Agora aqui também?
- Onde? – olhou para os lados freneticamente.
- Onde o quê?
- Onde está a placa que indica que o Stubby é exclusivamente seu. – fechou a cara com o corte.
Sem uma resposta boa, a garota se limitou a mostrar a língua, recebendo uma careta feia em troca. Para eles, sustentar discussões desse nível já era costume.
- Não deveria estar na cama, tentando fazer o seu sono da beleza, garota metida?
- Tentando? – soltou uma risada nasalada, fazendo uma jogada dos cabelos embaraçados para fazer charme – Você não deveria estar cuidando da sua vida, ?
- E eu estava! Até uma cavala me atingir, como se fosse um coice.
Os lábios da dançarina se abriram em choque. Os dedos que envolviam o copo, agora um pouco menos cheio, tremeram. Um, dois, três, contou mentalmente. Não faria nenhuma cena para correr o risco de ser colocada para fora justo na reinauguração.
- É um idiota, . Quer saber? – ela balançou as mãos freneticamente em frente ao peito – Fica longe de mim. Esse lugar é muito grande, espero que não voltemos a nos cruzar. Péssima noite para você.
- Como sempre, foi um desprazer te ver também, . – deu um sorriso irônico.
O casal se encarou por alguns segundos sem dizer nada. Nenhum dos dois se moveu para se afastar. Atento, assistiu as linhas de expressão no rosto da conhecida se suavizarem. A mente traidora o levou mais uma vez para os pensamentos sobre como era linda. Sempre muito bonita. podia jurar que nunca a presenciara em um momento feio. A bailarina era do tipo daqueles atores de novelas que dormiam maquiados e acordavam montados, sem mal hálito ou cabelos arrepiados.
Sem querer, em um ato de desespero, levou as próprias mãos para esfregar o rosto com força, inúmeras vezes. Ele tinha que parar de ser tão rendido por alguém que jamais o olharia diferente de um bicho pulguento.
Pronto. Só faltava ele ter uma crise existencial no meio da pista de uma balada. Era por motivos assim que a distância entre e ele sempre seria lembrada.
- Ótimo! – exasperou, irritado, para si mesmo.
- Então, ‘tá! – retrucou, em mesmo tom.
Ambos se encararam uma última vez antes de darem as costas um para o outro e seguirem em direções opostas, como uma cena de dois cowboys em um duelo no faroeste. não soube o motivo, mas sentiu vontade de virar para trás para checar para onde o estava seguindo. No fim, conseguiu se conter.
Suspirou.
- Noite agitada? – Ohana puxou conversa assim que viu retornar para seu lado, girando uma latinha de cerveja e ao mesmo tempo em que se girava na banqueta próxima ao bar.
- Você nem imagina. – respondeu enfezado, escutando uma gargalhada estrondosa da amiga – Qual a graça?
- Qual é, ! – proferiu um tapão no braço dele coberto pelas mangas do moletom cinza – Você tem uma carinha de santo demais para ficar sustentando essas mentiras.
não entendeu aonde a outra queria chegar. Limitou-se a roubar um gole da bebida dela.
- Eu vi você se chocando de propósito com a Barbie fresca ali. – tomou a lata de volta.
- Não fala merda, Ohana. – desconversou – Acho que chega de álcool para você essa noite. – puxou o cilindro de metal outra vez.
- Tudo bem. – a garota se deu por vencida, escorando-se no balcão atrás com a ajuda dos cotovelos – Essa aí já estava quente mesmo. Mais uma, por favor, senhor garçom! – berrou, deslizando um cartão que representava a comanda pelo tampo de pedra nobre e logo se voltou para o colega – Você gosta dela.
- Não gosto.
- Não, senhor. Quem não gosta sou eu. Você arrasta montanhas por essa daí. Somos amigos, . Nada escapa desses meus olhinhos. – indicou a si própria – Eu vi você a encontrando de longe e depois fingindo um esbarrão. – rolou os olhos – Daquela ali eu não espero nada, mas você poderia ao menos ter atitude.
- Você não sabe de nada. – balançou a cabeça.
- e eu não somos melhores amigas. – deu um olhar de tédio para a constatação que todos da AFA já estavam saturados de saber – Mas você sabe que não precisa levar isso em consideração, né? A última coisa que eu quero é ser uma Empata-Foda entre vocês.
- Não tem nada a ver com você, Ohana, ou com a inimizade de vocês. – o garoto voltou a encarar a pista de dança, mais exatamente para o ponto onde estava instante atrás com a outra – Tem coisa que não é para ser. é areia demais para mim.
Ohana rolou os olhos. Não se lembrava de apresentar tendências para ficar triste quando bebia. De repente, sentiu um calor subir.
- Ela te disse isso agora? - fechou as mãos em punhos, preparada para desgrudar a bunda da cadeira e dar uma lição na rival.
- Não! E para de querer bater nela por qualquer motivo! Achei que vocês tivessem virado amigas depois da parceria e sucesso no Festival de Dança de Outono. – franziu o cenho.
- “Amigas” é um termo muito forte. A gente se suporta.
As pessoas nascem diferentes umas das outras. e Ohana eram como água e óleo, não se misturavam por forças naturais. Se Ohana estivesse de um lado, estaria no outro. Era assim que elas eram desde que viraram colegas de turma na Academia Floriana de Artes. A criação do Clube de Dança apenas acirrou o instinto competitivo que nutriam entre si. Uma sempre queria entregar mais performance que a outra e por mais errado que fosse, concluía que a rivalidade as fortalecia, uma para sempre puxaria a outra para melhorar e mostrar as melhores versões de si.
Ohana era o motivo para treinar sempre mais. era o motivo para Ohana acreditar que a dança poderia ser levada como uma profissão séria a qual poderia investir. No fim, elas eram como Tom e Jerry: uma não teria um papel tão eficiente sem a outra.
- Vocês dançaram juntos. Você até deu aulas de Física para ela, escondido de mim. – reiterou, Ohana – No mínimo, uma química existe.
Então, as luzes se apagaram em um timing perfeito para ele não precisasse lidar com aquelas afirmações. Para melhorar, o público começou a gritar e bater em palmas de excitação, rompendo com qualquer chance deles retomarem o assunto.
Os holofotes começaram a piscar. Os selecionados para abrir a noite foram dois casais que misturaram um pouco de canto e dança. As figuras masculinas fizeram um pequeno teatro enquanto recitavam os versos de One Less Lonely Girl do Justin Bieber para as amadas. Elas foram o contraponto perfeito, ajustando pequenos versos da letra para transformar em uma versão feminina. Ao fim da apresentação, o quarteto deixou o palco sob muita admiração, aplausos e ovações.
Depois dos casais, sentiu uma impaciência lhe tomar ao presenciar uma das garotas de EWS sendo selecionadas para o centro ao invés dela. A música logo começou e o coração dela acelerou de ansiedade. O estilo e os movimentos da garota que dançava se assemelhavam muito com o que ela adotava para si, como zona de conforto. Aquele momento teria que ser dela também. Corajosa, e incitada pelo mínimo que álcool que corria pelo sangue, se fez ser notada no meio da multidão, pedindo com as mãos abanando no ar por um pouco de luz também.
Tratada como princesa, o desejo foi como uma ordem. Um holofote pairou sobre a figura dela, criando um clima de animosidade. Assobios se fizeram presentes, competindo com as notas da música lenta, mas de batidas marcantes, de 2Pac e Gwen Stefani, Let Me Blow Ya Love.
sorriu largamente, sentindo que finalmente sairia das sombras para fazer o que sabia de melhor.
Ainda sentada na banqueta, os olhos de Ohana adquiriram um aspecto nublado. Ela estava tramando e geralmente, quando isso acontecia, as ideias não tendiam a ficar somente perdidas na cabeça. Ao presenciar pedindo para entrar na apresentação, Ohana soube que não poderia ficar para trás. Não bastasse o foco que precisava manter sobre as duas garotas na batalha, ainda precisava reservar um pouco de atenção ao amigo. Provocativa, arrancou um guardanapo da caixinha de acrílico e esticou até acertar o peito de .
- Para você. – sibilou com um sorriso maldoso.
- ‘Tá. – ele prontamente aceitou, desfazendo os braços cruzados – Mas para quê?
- Para limpar a baba que está começando a escorrer.
- Er... – revirou os olhos – Besta! – arremessou a folha, que por ser leve demais, mais voltou para si no ar do que foi para Ohana. Acabou se obrigando a pegar o item ainda flutuando a contragosto, antes que fosse ao chão e se transformasse em lixo.
Amaldiçoou-se por estar tão distraído, perdendo os detalhes do show que estava dando. Estacado no mesmo canto, se pôs a admirá-la. Os movimentos precisos coincidiam com as batidas. parecia voar sobre a estrutura montada, pela facilidade com qual deslizava sedutoramente pelo piso. acompanhou, atento, a bailarina escorregar, ficando de joelhos, para em seguida afastar as pernas e sentar, movendo o tronco como estivesse desenhando ondas com ele.
Tão sexy.
As luzes, então, alternaram para a garota da outra academia. Nesse instante, Ohana passou diante dele feito um raio, fazendo-o semicerrar os orbes, em suspeita. Conhecia a amiga que tinha e ela jamais dava um ponto sem nó. se viu preso em um impasse entre ficar e assistir, ou ir atrás de Ohana para conferir o que estava acontecendo. Os olhos se fecharam com força ao compreender que, pela amizada, teria que seguir a segunda opção.
Foi bufando, mas foi.
- O que está armando? – fitou a colega com toda a hesitação do mundo.
Ele estava só há alguns passos atrás dela e isso foi suficiente para que ela arranjasse tempo para sussurrar algo nos ouvidos de um dos funcionários do Stubby.
- Não pensou mesmo que deixaríamos toda a diversão para a nossa amiga fresca ali, pensou? – sustentava uma expressão divertida – Você sabe que jamais ficaria atrás da . Aproveite! – Ohana depositou as mãos pesadas sobre os ombros dele – Vai ser a chance de ouro que vai ter para atrair a atenção dela.
- O que você fez?
A resposta veio em uma piscadela.
De súbito, a música que dançavam foi cortada e as luzes se apagaram, levando alguns a crer que poderia se tratar de uma queda de energia. Antes que pudessem tomar providências, tudo voltou, entretanto a música da vez era o tema principal do primeiro filme da sequência de Step Up, Show Me the Money, um clássico para quem amava clichês e que misturava o contemporâneo das batidas eletrônicas com o clássico dos instrumentais ao fundo.
- Vamos lá! – Ohana cantarolou empolgada, puxando-o pela mão.
arregalou os olhos, sentindo o pânico.
- Não temos uma coreografia! – exasperou de volta.
- Segue as batidas! – instruiu com a mesma simplicidade de quem comentava sobre o tempo da semana – Aquela sequência de passos que armamos para aquecimento do nosso grupo também serve. Os movimentos casam bem.
Suando frio, se deu conta de que as mulheres com quem cruzava no caminho da vida acabariam por ser também o seu fim.
De cima do palco, tanto a estudante de EWS quanto a representante da AFA estavam sem entender a motivação do corte repentino. Da mesma maneira que fizera, Ohana exigiu um holofote para si. Quando a dupla entrou no campo de visão das dançarinas, sentiu a situação ficar mais explícita. Era exaustivo. estava cansada de encontrar o grupo rival em seu encalço por todos os cantos.
Ohana e se moviam em sincronia, entre passos fortes e de muita personalidade, intimidando e a desconhecida a recuarem até o canto limite do palco. Se dependesse de Ohana, não haveria espaço para a EWS enquanto os melhores da AFA ainda estivessem sobre o palco. Mesmo que aquele não fosse o último show da noite, as crias da AFA se encarregariam de fazer todos sentirem como se fosse.
Contudo, ainda não havia conseguido pescar a ideia. De braços cruzados, assistiu a garota da academia rival desistir, retirando-se dos holofotes. Deixou uma risada nasalada escapar. Não aconteceria o mesmo com ela. Assistiu os colegas atentamente e buscou uma brecha para se introduzir na dança e anunciar a força que ela ainda teria o próprio turno.
Mesmo com toda a vontade, ainda eram dois contra uma e eles revidaram a sequência de passos dela com todo o vigor. não sabia das outras amigas, apenas viu Eveline entrando em cena outra vez, subindo o palco desengonçadamente enquanto atirava os saltos pontiagudos para qualquer canto do Stubby para poder se juntar à ela.
Gritos de incentivo foram dados.
Dois contra dois.
Os quatro trocaram olhares analíticos, decidindo em silêncio o que viria a seguir. No fim, foi Ohana foi quem puxou os movimentos. Os três que continuavam parados tiveram um reconhecimento mútuo da coreografia. Um filme se passou na cabeça de cada um e novamente, trocaram olhares significativos entre si, deixando o público alheio dos planos.
Se seguissem pelo ritmo de Ohana, eles reencenariam a coreografia principal que apresentaram no Festival de Outono da Academia. O show mostraria dois grupos opostos lutando pela atenção do público por meio da dança, misturando o clássico com o contemporâneo para repassar a ideia de que havia lugar para todos os estilos. A narrativa que se desenrolaria se assemelhava muito com o momento atual. Parecia até a arte imitando a vida. O conceito havia sido de , que pensou que aquele seria um bom jeito de exaltar a importância dos opostos.
Naquele momento, o quarteto faria os papéis deles mesmos em uma versão exagerada. Acompanhando os acordes, as duas iam se cruzando e trocando os lados no palco, como se estivessem brigando de verdade por meio da dança. E embora tivessem que exibir semblantes sérios para sustentarem seus papéis, não conseguiu manter a pose até o fim. Independente do esforço anormal que estivesse depositando nos pulmões, o ar escapou, transformando-se em risada. A bailarina caiu na graça entre um passo e outro, arrancando sorrisos dos colegas. A cena era divertida, porém não menos a cara dos plots de filmes adolescentes. O teatro era real, mas muito engraçado. A leveza com qual lidavam com a situação representava muito da relação que mantinha com Ohana e .
Eram birras que não deveriam ser levadas para o fundo do coração.
No fundo, bem fundo, eles se gostavam.
Logo após a última nota, as atenções de toda a casa foram reivindicadas para as caixas de som.
- Bo-Bo-Bo-Boa noite, Stubbers! – um timbre empolgado soou nos autofalantes – É um prazer estar a serviço de vocês outra vez. Eu serei o DJ da noite e espero que a única obsessão para hoje seja festejar! Levantem as mãos para o alto, aqueles que querem curtir! – atiçou para obter retorno do público – Agora, levantem as mãos aqueles que querem voar! – mais uma onda de braços no ar foi vista – Agora, vamos voltar para programação normal. Relaxem, mas não muito, porque as surpresas estão só começando!
Suada, com as roupas grudando contra o corpo e o rabo de cavalo improvisado se desfazendo, carregava Eveline pelas costas conforme avançavam os portões da AFA no maior sigilo possível. Durante a última batalha contra Ohana e , Line acabou se descuidando dos sapatos e ao piscarem, algum indivíduo de má fé sumiu com o par. Fora roubada e agora se recusava a pisar com os pés nus no concreto externo. Sabe-se lá a sujeira que as chuvas poderiam ter arrastado, os cocôs de rato que poderiam não estar visíveis... Eveline é quem não arriscaria.
- Você... – disparava entredentes – Vai me dever pelo resto da vida! – alegou, tomando uma pausa para içar o corpo da amiga para cima – E vou cobrar levando a sua alma, cretina maldita! Avisamos que... – arfou, encurvada para tentar puxar um pouco mais de ar – Não era bom ir com salto.
- Tem certeza que não quer que eu a carregue, ?
Por um momento, elas se esqueceram de que o grupo de Ohana também as acompanhava na volta para os dormitórios. Não havia um dali que estava com a imagem intacta. Todos aparentavam ter passado no centro do um furacão.
- Absoluta, . – negou o auxílio, com o maxilar contraído – Aqui somos garotas independentes que conseguem se virar.
O garoto rolou os olhos.
- Se me deixar ajudar, vai continuar sendo uma garota independente. – garantiu, – A única mudança é que vai ser uma garota independente carregando menos peso.
não de deixou levar pela oferta, fazendo ver que ainda teria um longo caminho se quisesse alcança-la.
Fim
Nota da autora: Puts, armei o clichê dos clichês hahahaha <3 Nada como reviver um pouco da infância com Starstruck e com as referências fortíssimas à novela Rebelde (mexicano). Espero que tenham gostado! Esse é um spin-off de 09. I Don’t Have to Try [Ficstapes Perdidos #07]. Então, se quiser acompanhar um pouco mais deles na AFA, sugiro que corra para ler hihihi
Muito honrada por fazer parte desse álbum ícone que marca forte as fanfiqueiras de uma geração toda. O que acharam?
Beijos,
Ale
Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Outras Fanfics:
Felicitatem Momentaneum [Harry Potter/Shortfic] – principais interativos.
Finally Champion [Harry Potter/Shortfic] – Olívio Wood é o principal.
Finally the Refreshments [Harry Potter/Shortfic – Restrita] – Sequência de Finally Champion.
10. Fuego [Ficstape Rebelde/Restrita]
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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10. Fuego [Ficstape Rebelde/Restrita]