06. Apple Pie a la Mode

Finalizada em: 18/03/2019

Primeiro Ato

urrou nervosa, derrubando alguns papéis de sua mesa, ao jogar sua frustração nela por meio de um tapa. Não aguentava mais aquele caso. Amava seu trabalho, amava investigar, se atentar aos detalhes, cada mísero detalhe, mas o caso do Criminoso das 10 Horas estava corroendo sua sanidade pouco a pouco.
Alguns de seus colegas até cogitaram a hipótese de se tratar de alguma força sobrenatural, pois era praticamente impossível alguém fazer o que esse assassino fazia. Ele não deixava um rastro sequer, não havia uma testemunha, uma pegada, muito menos uma digital, mas isso não é a pior parte ao ver da Detetive . Pra mulher, a pior a parte é que mesmo que sem pistas diretas, ela conseguiu traçar todo um perfil, conseguiu chegar a conclusão de que era um homem com aproximadamente 1,80m, conseguiu definir toda a psique do indivíduo, mas ela nunca conseguia chegar à um rosto, nem ao nome.
- ? - a cabeça de Jane apareceu na porta - Vai fazer hora extra hoje?
- Provavelmente. - a detetive deu de ombros, fazendo pouco caso pra morte de sua vida social - Quer me acompanhar na empreitada?
- Na verdade… - sua amiga murmurou entrando na sala - Você que vai me acompanhar hoje.
nada disse, apenas seguiu encarando sua amiga, como quem queria ver até onde a audácia da mulher ia. Jane conhecia melhor que ninguém, então mesmo que a sobrancelha da detetive estivesse arqueada, resolveu continuar seu convite no modo imperativo, se garantindo no mínimo, e quase imperceptível, sorriso que prendia no lábio.
- Posso saber onde você ACHA que irei te acompanhar?
- Qual é, ! - Jane falou meio emburrada - Não venha com esse seu sarcasmo pra cima de mim não.
- E você não me venha com manha, Jane, desembucha logo!
- abriu uma boate nova. - a secretária mordeu o lábio esperando um parecer e uma conclusão de .
- Que bom pra ele. - a detetive deu de ombros enquanto sorria irônica - Nais um negócio suspeito para investigarmos.
- Ainda nessa de cismar que o cara é um mafioso ou sei lá o que, ? Deixa de ser turrona, é incrível, você deveria conhecê-lo.
- Ah, Jane. - revirou os olhos - Admita que é suspeito… O cara com 27 anos já construiu aquele império todo.
- E você com 25 já é a melhor detetive da unidade. Sabe que também desconfiam dos seus métodos pra conseguir o cargo de chefe em tão pouco tempo. Você melhor que ninguém deveria saber como é chato batalhar pra algo e ver gente achando que sua conquista não veio por mérito.
- Jane, você é muito chata. - fechou os olhos esfregando as têmporas - Se eu aceitar ir, você cala a boca logo?
- Ah eu também te amo, Detetive . - Jane sorriu feliz - Às 22 horas em ponto passo de Uber na sua casa, assim não corro o risco de você me deixar plantada lá sozinha.
Sua amiga jogou um beijinho no ar antes de sair com pressa da sala.
aproveitou que estava sozinha e digitou o nome de na ferramenta de busca do Google, e quando os resultados começaram a aparecer, foi logo no segmento que trazia só notícias a respeito do rapaz.
“O jovem empreendedor (27) ganha prêmio de Melhor Tatuador do País”
“Império investe no ramo tecnológico”
“Apple Pie a La Mode, nova boate de abre hoje suas portas”
“Solteiro mais cobiçado do pedaço, , rebate as acusações de seu envolvimento no sistema de corrupção do Governador Sheldon, e ainda diz que nenhum de seus estabelecimentos será usado para lavagem de dinheiro enquanto for vivo”
“Kendall Jenner nega envolvimento com o empresário , mas solta gracejo de que se ele quiser, a modelo está disponível”
não pode reprimir uma risada sarcástica ao ler a última notícia. O cara era tudo isso mesmo? era experiente o suficiente pra saber que perfeição demais era sinal de podridão escondida.


Segundo Ato

Já estava ficando chato pra assistir sua melhor amiga flertando com o barman. Tendo isso em mente, optou por procurar alguma diversão, quem sabe um caso de uma noite.
Seus olhos não puderam acreditar na visão que estavam tendo.
Encarou embasbacada o homem que chegara na boate, com as mangas da camisa social preta dobradas até os cotovelos, permitindo que a mulher vislumbrasse os mais diversos desenhos tatuados. A barba rala esperando ser feita, trouxe um formigamento entre as coxas da mulher, querendo saber como seria tê-las roçando na região enquanto os lábios bem desenhados a beijavam intimamente.
o encarava a mais tempo do que as regras sociais haviam estabelecido como normal e isso não passou despercebido.
não pode conter o sorriso ladino ao perceber a famosa detetive praticamente babando por ele. Não que o seu estado fosse muito diferente, já que ver aquela mulher que era a personificação da palavra charme, encarando-o daquela maneira, tinha a capacidade de despertar seus desejos mais selvagens.
conhecia aquele sorriso sagaz que lhe era oferecido. Sabia que também tinha chamado a atenção do homem e que se tudo saísse como o planejado, hoje ele seria o causador de seus orgasmos.
A parte mais ética da mente de a acusava de estar indo contra seus princípios ao flertar com , uma pessoa nada confiável. Felizmente ou não, naquela noite quem ganhou a discussão foi o incômodo que a calcinha já estava lhe causando.
- Espero que estejam gostando do lugar. - o empresário sorriu cortês se aproximando - . - apresentou-se estendendo a mão em sua direção.
- . - a detetive lhe estendeu a mão de volta e teve sua mão beijada suavemente. O modo como lhe encarava ao realizar aquele simples gesto, levou a mulher imaginar que se dependesse dele, naquela noite ele beijaria outras partes de seu corpo. - Um prazer finalmente conhecê-lo pessoalmente, sr. .
- Pra que tanta formalidade, ? - parou ao lado dela se apoiando no balcão do bar - Caso queira saber, - deu seu sorriso mais malicioso - minha intuição diz que essa noite ficaremos mais íntimos.
- Eu realmente estava curiosa pra te conhecer, . - bebeu mais um pouco de seu drink enquanto esperava pedir o dele - Acho que essa noite será interessante.
- Será que suas tentativas de abrir uma investigação contra mim eram baseadas nessa sua curiosidade? - a sagacidade de suas palavras quase pegaram de surpresa. Quase. - Espero não estar sendo indelicado ao tocar no assunto.
- Acredito eu, - a detetive disse se aproximando - que a noite renderia muito mais. - ficou perigosamente perto - Se o nosso foco aqui fosse outro e não negócios. - mordeu o lóbulo da orelha do rapaz, e teve instantaneamente os braços dele envolvendo sua cintura - Apesar de saber que você é um dos melhores na arte de fazer negócios.
- Se me permite dizer… Todo tipo de negócio.
- Que tal uma aposta? - sugeriu maliciosa com a sobrancelha erguida.
- Faça sua proposta, .
- Quem virar quatro doses de vodca primeiro tem direito a um pedido.
- Já se prepara pra conceder meu desejo, .
O barman serviu as oito doses pelo balcão do bar e ficou assistindo o desafio pelo canto dos olhos. não gostava de ser, mas às vezes acabava sendo prepotente. Aquele foi um desses momentos. Em sua cabeça, aquela aposta já era sua.
Grande ilusão.
era praticamente um carro velho, bebia excessivamente.
estava na metade do terceiro shot quando a detetive colocou, risonha, seu quarto copinho vazio sob a bancada.
- Acho que temos uma vencedora. - cantarolou - E já sei o que eu quero, .
- Pois bem, - o homem a encarou curioso - faça seu pedido.


Terceiro Ato

- Ainda não entendi qual a sua fazendo isso, . - destrancou a porta de seu estúdio de tatuagem e deixou que a moça entrasse primeiro - O salário de detetive não banca uma tatuagem? - perguntou irônico.
- E quem disse que eu que vou sair daqui com uma tatuagem nova? - o sorriso que lhe deu escorria malícia - Mas como sou boazinha, deixarei você escolher em qual parte do corpo vai ser.
ainda lhe encarava embasbacado. Ela era doida. Melhor, ela era definitivamente louca.
- Não vai se acovardar, né, ? - perguntou provocativa.
- , você nem sabe fazer tatuagem e depois eu que vou ter que andar com seja lá o que você fizer.
- Larga de ser um bebê chorão - revirou os olhos, mesmo que ainda risse - Faço algo pequeno, se você quiser pode cobrir depois.
murmurou frustrado. Não era daquele jeito que ele havia imaginado a noite terminando.
Mas não era idiota, com certeza tiraria algum proveito da situação.
o encarou desconfiada quando ele lhe ofereceu um sorriso de lado.
Porém ela logo entendeu.
iria lhe provocar.
A detetive teve essa certeza quando ele, ainda sorrindo, começou a desabotoar sua camisa com uma lentidão torturante. Conforme o botão saia do lugar e uma parte de sua pele aparecia, mais desejava ver.
O corpo repleto de tatuagens fascinou a mulher completamente. Seus dedos formigavam querendo passear pela pele que parecia tão convidativa, querendo contornar cada músculo e cada desenho.
- Eu deixo você tirar uma casquinha enquanto tatua. - deu uma piscadinha - Já pense no desenho que fará, porquê o lugar já tem.
tentou fingir indiferença quando ele mostrou onde queria a tatuagem, mas foi uma tarefa difícil já que a mulher tinha um fraco por entradinhas, justo o que escolheu.
Depois de explicar o funcionamento da máquina bem resumidamente, sentou na cadeira inclinada e acendeu seu cigarro enquanto esperava a mulher começar.
começou a ponderar sobre o funcionamento de seu plano. A ideia era conseguir conhecer o estúdio e investigar o local de forma discreta, mas naquele momento seu interior estava em estado de alerta pela proximidade com o corpo absurdamente sedutor de .
- Meio erótico, não? - o sorriso malicioso de não escondia o apreço pela situação.
- Se você ficar de pau duro, eu te corto.
apenas riu enquanto soltava a fumaça.
em compensação ficou pensando que tipo de homem era aquele, capaz de lhe deixar esfregando as pernas pra aliviar um pouco a excitação.
Apesar de agir de maneira descontraída, não se aguentava de curiosidade querendo saber o que a maluca estava aprontando.
- Prontinho - ela soltou a máquina em seu apoio e sorriu orgulhosa olhando seu trabalho - terminei.
levantou-se e andou até uma parede de espelho que havia ali.
- Nada mal, .
A mulher parou ao seu lado, e através do reflexo do espelho, trocaram olhares repletos de luxúria.
- Vá direto ao ponto, .
Não foi preciso dizer mais nada. No instante seguinte a detetive já estava prensada no espelho, com os lábios do empresário grudados ao seu.
O beijo trocado parecia mais uma dança sensual entre ambos. Uma dança calorosa que só fez com que a chama crescesse.
Buscando maior atrito, envolveu a cintura de com suas pernas, enquanto o homem lhe dava maior estabilidade segurando em sua bunda.
aproveitou a deixa para apertar a bunda da detetive e alisar suas coxas.
aproveitava pra deixar sua mão explorar cada pedaço de pele exposta. Já havia levado sua mão à braguilha da calça de , quando seu telefone tocou.
No fim, a noite não acabou do jeito que nenhum dos dois imaginava.
Além de não achar provas contra o homem, por pouco não chegou ao finalmente com , já que na hora que o clima esquentou, o trabalho chamou.


Quarto Ato

Estresse.
Significado de Estresse.
Substantivo masculino.
Exaustão física ou emocional provocada por várias e distintas razões, por sofrimento, doença, cansaço, pressão, trauma, sendo definida pela perturbação da homeostasia, do equilíbrio, que leva o organismo a se adaptar através do aumento da secreção de adrenalina.
Etimologia (origem da palavra estresse): do inglês stress.

Estresse era o que melhor definia os últimos dias da Detetive . Parecia errado e frio de sua parte ficar questionando como sua vida andava complicada, isso enquanto analisava o corpo morto encontrado recentemente, mas a mulher não conseguia deixar de lado a sensação que tinha de que o estresse em pessoa estava lhe abraçando.
- Hora da morte foi às 10 em ponto. - murmurou- surpreendente como ele nunca se atrasa.
- , - Jane entrou esbaforida no necrotério da delegacia - visita pra você - ela cantarolou em tom malicioso.
Por um instante, ela realmente foi pega de surpresa, mas pela expressão que Jane trazia, já imaginou de quem se tratava.
Ao entrar em seu escritório encontrou em traje social preto, apoiado em sua mesa de braços cruzados, com aquele sorrisinho sedutor de lado.
- A que devo a honra, ? - perguntou o olhando desconfiada.
- , você está, - a analisou com uma expressão confusa - com cheiro de gente morta. Linda, porém com cheiro de gente morta.
- Ossos do ofício. - deu de ombros e se jogou em sua cadeira - Então, , o que você quer?
- Isso é jeito de tratar um amigo que veio lhe visitar?
- Somos amigos?
- Claro, detetive! Ou a senhorita acha que deixo qualquer pessoa me tatuar?
- Desembucha logo, .
- Eu vim contribuir com o caso do assassino das 10, só que, por mais que eu seja um ótimo cidadão, quero que ninguém além de você saiba dessa minha…- ponderou a respeito - Ajudinha.
- E como VOCÊ pode ajudar? - questionou risonha.
- Com imagens que a polícia não teve acesso.
O sorriso da detetive se desfez e deu lugar pra mais pura expressão de curiosidade.


Quinto Ato

tinha um grave problema. Ela não conseguia conciliar sua vida amorosa, familiar e etc com a vida profissional. Se ela tinha problemas na área profissional, abria mão de qualquer preocupação que pudesse vir a ter em outras esferas sociais de sua vida.
Por isso, com o passar das semanas e o aumento de sua proximidade com , a detetive não percebeu que a falta que sentia quando não falava com ele, não era normal. Não percebeu que a vontade crescente que tinha de estar com ele, não era normal. Muito menos o modo como seu coração batia ao abraçá-lo, ou então como sorria só de sentir o perfume dele. estava tão focada em sua vida profissional, que não percebeu que estava gradativamente se apaixonando.
- Prestou atenção em alguma coisa que eu disse, ? - questionou enquanto olhava pela terceira vez as mesmas imagens da câmera de segurança de sua boate.
- Não é coincidência ele ter escolhido esse exato lugar pra largar os corpos. - ela murmurou pra si mesma - Quais motivos ele teria pra deixar ali?
- Talvez o fato dele achar que ali não tem nenhuma câmera ativada. - o homem deu de ombros.
- Se fosse isso, ele não teria porque se preocupar tanto em esconder o rosto só pra jogar o corpo pra fora do carro.
não respondeu nada, apenas encarou a mulher pensativa.
- Tenho uma reunião agora, . - ele ficou de pé e deu um beijo na testa dela - Preciso ir, mas pode ficar à vontade no meu escritório. Qualquer coisa pode chamar minha secretária que ela te ajuda com o que precisar.
apenas assentiu e o assistiu sair da própria sala.
Enquanto pensava, seu olhar vagava pela sala sem prestar atenção em algo específico, isso até encarar o relógio.
09:00 horas
No último mês, ela e o empresário passaram muito tempo juntos. Quase sempre no período da tarde, e quando se encontravam de manhã, sempre precisava sair às 8:30 ou às 09:00.
“Tempo suficiente pra ir matar alguém as 10 em ponto” uma voz chatinha falou em sua mente, mas não era possível, era?
Nos últimos tempos eles andavam tão próximos, que parecia uma heresia suspeitar dele, mas uma vez que a pulga se instala, o estrago está feito.
- Janaína. - a detetive chamou a secretária do - Será que você pode me arrumar uma cópia da agenda de compromissos do ? Assim fica mais fácil de marcar com ele em dias que não tenha tanta coisa pra ele fazer. Sabe como é né?
- Claro, senhorita. Um instante, por favor.
Em menos de cinco minutos já tinha o papel em mãos.
Todos os dias estavam com o horário das 9 às 11 preenchido por uma reunião com um tal de Mr. W, alguém que nem Janaína conhecia.
Álibi verdadeiro ou desculpa esfarrapada?
9:40
tentou ligar no celular do empresário, mas dava fora de área.
Disfarce ou coincidência?
9:55
ainda estava incomunicável.
Empresário ou culpado?
10:00
Os nervos de estavam a mil.
Neurose ou instinto?
A detetive começou a imaginar os possíveis desfechos dessa história.
10:05
culpado e ela se sentindo idiota por ter confiado nele.
10:10
inocente e tudo acabando com eles rindo desse mal entendido
10:15
inocente e puto pela desconfiança da detetive.
10:30
Quanto tempo um assassino demora pra se recompor depois de matar alguém?
11:00
Fim? Bingo? Eureca?
resolveu que agora mais do que nunca, precisava mergulhar de cabeça nas investigações. Já estava ao ponto de desconfiar até de sua sombra.


Sexto Ato

sempre adorou carros. Quando criança, brincava com arminhas, Barbies e carrinhos com o mesmo entusiasmo.
Por adorar os automóveis, os conhecia muito bem.
Bem o suficiente pra reconhecer uma Hillux só pelo para-choques do carro.
Graças a isso, enquanto analisava a imagem de segurança do último dia em que um corpo foi achado, soube qual era o carro que o assassino usava para transportar os corpos.
Um vislumbre rápido, pequeno e de uma imagem escura com a definição péssima, foi o suficiente para colocá-la cada vez mais perto do assassino.
Mesmo que a sensação de proximidade com ele persistisse.
O próximo passo depois de saber o veículo usado, era rastreá-lo. A detetive poderia ter ficado desapontada ao descobrir que o filho da puta nunca usava o mesmo carro, e que a Hillux já estava esmagada em um ferro velho.
Mesmo assim, não desanimou nenhum pouco. O carro não iria parar ali sozinho certo?
Afonso Smitt começou a trabalhar no ferro velho quando tinha 17 anos. Ainda lembrava a primeira vez que a polícia apareceu por lá durante uma investigação. O medo e nervoso que sentiu da primeira vez nem se manifestavam agora que já tinha 57 anos e havia passado por isso por mais vezes do que poderia contar.
Por mais clichê que possa parecer, o ferro velho era famoso entre os criminosos. Já havia sido usado pra esconder drogas, pra fazer lavagem de dinheiro, e agora para se desfazer da prova de um crime.
A investigadora nunca teve paciência para gente conformada, para gente que se submetia a coisas pequenas, gente que não almejava avançar. Mas Afonso Smitt era diferente e ela sabia. Ele não estava ali por não querer mudar.
- Quanto tempo, Seu Afonso. - tentou soar educada - Poderia falar meu discurso e explicar o que está acontecendo, mas você já sabe o procedimento e deve imaginar a razão de eu estar aqui.
- . - o senhor sorriu cordial - A primeira vez que você apareceu por aqui, eu sabia que não seria a última e que você ainda ia crescer muito. - tirou o sorriso do rosto - Mas sei que não veio conversar. - entregou um envelope pardo pra garota - Não sei em qual carro você está de olho, então ai tem o registro dos últimos três dias.
- O senhor é o melhor! - sorriu e se despediu rápido do funcionário, querendo ir logo averiguar tudo.
Smitt não gostava do seu trabalho.
Ele amava e vivia por ele.
entendia isso.


Sétimo Ato

- Você anda estranha comigo.
parou de apertar compulsivamente o botão de sua caneta e encarou apoiado no batente da porta.
Tem coisas que são estranhas de se ver, um gato sendo amigo de um cachorro, desviando o olhar, um gato andando de coleira e um cachorro andando em carrinho de bebê. Todas essas coisas são raras de acontecer, mas acontecem.
A detetive desviou o olhar do homem e engoliu em seco.
- Sério, . - entrou na sala e sentou de frente pra ela - Qual o problema?
- Que problema?
- Não sei, mas acho que pra você mudar da água pro vinho comigo tem algum motivo.
- Bom… - tentou elaborar uma resposta rápida - Ando ocupada com as investigações.
- Investigações? - fingiu uma expressão de surpresa - Essa é uma pauta interessante pra conversar, detetive . - sorriu irônico - Imagine minha surpresa ao ter dois policiais que nunca havia visto, chegando em minha boate e pedindo as imagens da última noite. Coisa que era pra VOCÊ ter feito, sem a parte ríspida, claro.
- Estava ocupada demais pra te ajudar a brincar de policial, .
- Outch. - forçou uma careta de dor e pousou a mão no coração - Assim você me magoa, .
- Era só isso que você tinha pra falar?
- Sai pra jantar comigo.
quase caiu da cadeira.
- Tipo um encontro?
- É. - o homem deu de ombros - Tipo um encontro.
- O que você está aprontando, ?
- , - o empresário assumiu uma postura mais séria - parece que estamos regredindo aqui. Eu não quero isso, principalmente depois de ter te conhecido melhor.
A investigadora nada disse, apenas analisou a postura que ele havia assumido. Confiava que não queria magoá-la, mas confiava que ele não era o assassino?
- Eu topo. - sorriu de lado - Almoço amanhãs às 11 horas, mas você me pega em casa às 10.
- Tenho compromisso esse horário, não pode ser um jantar?
- Pegar ou largar, .
- Ah, sem dúvidas é pegar. - sorriu maliciosamente.
- Pronto, agora me deixe trabalhar.
- Estou te desconcentrando, detetive? - se levantou e ficou de pé atrás dela - E se eu me comportar, - beijou o pescoço da mulher - se eu ficar quietinho aqui, - mordiscou sua orelha - você me deixa ficar?
fechou os olhos e se concentrou pra não murmurar nada.
- Apesar de que um escritório com uma mesa dessas... Não te traz umas ideias também?
continuou falando ao pé do ouvido, enquanto suas mãos percorriam os braços detetive lhe causando arrepios.
- O gato comeu sua língua?
Antes que a tortura se prolongasse, três batidas na porta fizeram com que o rapaz se afastasse arrumando suas vestes sociais.
- Pode entrar. - a voz de saiu meio rouca, o que a fez olhar feio para .
Jane entrou e se surpreendeu ao ver lá dentro.
- Desculpa, não queria atrapalhar nada.
- Não está, - revirou os olhos impaciente - já está de saída.
- Realmente, - fingiu conferir o relógio - se as madames me dão licença. - fez uma reverência forçando galanteio.
- Vai logo, .
- Até amanhã, .
Jane esperou o homem sair da sala pra olhar sua amiga com a expressão mais curiosa possível.
- Nem comece, Jane. - suspirou cansada - depois conto tudo detalhe por detalhe, mas agora trabalho, por favor.
- Certo. - a amiga revirou os olhos - Sei que não é minha função, mas quis dar uma olhada nas imagens, e eu acho que descobri algo que pode ajudar... Abre o vídeo no seu computador.
obedeceu e esperou Jane explicar onde queria chegar.
- Não conseguimos ver o rosto dele, certo?
- É.
- E se olhássemos de outro ponto?
- Seria ótimo, mas não tem câmeras em outros ângulos.
- Você não está focada, . Olha ao redor dele.
- O vidro!!
- Isso. - Jane sorriu orgulhosa - Acho que se conseguirmos tratar a imagem e aproximar do reflexo, conseguiremos ver o rosto do desgraçado.
Após deixar tudo encaminhado no escritório, foi pra casa. Apesar de o dia seguinte ser sábado, o dia seria bem agitado.


Penúltimo Ato

Às 10 em ponto, já se encontrava em frente a porta de .
- Você é pontual demais pra ser americano. - a mulher disse abrindo a porta enquanto colocava os brincos.
- Tempo é fundamental, . - ele sorriu - E o nosso hoje será bem gasto.
***

Durante todo o almoço, se mostrou ser um cara incrível. Agora conseguia entender como ele havia conquistado tanta coisa. Ele a tratava como o ser mais preciso existente, conversaram sobre sonhos e aspirações e a detetive se pegava cada vez mais envolta pelo jeito imprevisível do homem. No fim das contas, ela o entendia, eles eram parecidos de certa forma.
Entre uma taça de vinho e outra, entre um riso e outro, decidiu se entregar.
tinha cara de quem fode bem.
queria experimentar.
E no que dependesse dele, ela iria provar e viciar.
Como um morango coberto com chocolate, uma torta de maçã, ele era um doce delicioso de experimentar.
era uma torta de maçã.
O símbolo americano, algo que todos queriam, algo bom.
Ela teve essa certeza quando após o encontro, a beijou na porta de seu apartamento.
Sua boca ainda tinha gosto de chantilly e sua língua fazia um carinho inebriante na da moça. Diferente do primeiro beijo que eles trocaram tempos atrás, esse tinha interesse, intensidade e a capacidade de inebriar.
Dizem que quando você fica muito tempo sem comer doce, quando vai saciar esse desejo, sente o gosto melhor do que de fato está. não sabia dizer se isso se aplicava ao momento, achava que se provasse o beijo de 10 pessoas maravilhosas e posteriormente o dele, o beijo de continuaria sendo o melhor.
Por isso, ela já sabia onde aquele beijo iria dar quando o puxou para dentro de casa sem descolar seus lábios um instante sequer.
fez com que se deitasse no tapete felpudo da sala e sentou em seu colo. O vestido que usava subiu até a altura de sua calcinha ao fazer isso, o que proporcionou uma visão fantástica à .
Voltaram a se beijar enquanto mexia o quadril de maneira tentadora fazendo seus sexos roçarem.
Sem aguentar aquela tortura, girou no tapete fazendo a mulher ficar por baixo. A encarou com desejo explícito no olhar antes de começar algo que lhes renderia muitas horas de gemidos.


Gran Finale - Último Ato

acordou com seu telefone tocando sem parar. Antes de finalmente atender, olhou o corpo adormecido do homem ao seu lado e soltou um suspiro bobo.
- ! - Jane chamou desesperada do outro lado da linha - Finalmente me atendeu, onde você está?
- Cruzes, Jane! - reclamou ainda um pouco sonolenta - o que houve?
- , você precisa vir pra cá agora, já temos um rosto e você não vai acreditar.
- O que? Já sabem quem é? Tão esperando o que pra ir prender esse capeta?
- ...
- Na verdade, fez bem em me esperar, quero estar junto quando forem trancar o filho da puta em uma cela.
- ...
- Eu quero ser a responsável por jogar a chave fora.
- É O ROSTO DO TRENTON, MARIANA!
- ... O quê? Jane, isso não tem a menor graça.
- , - Jane suspirou - já procuramos na casa dele e na boate, não está em lugar algum, sabe onde ele se meteu?
- Não pode ser. - murnurou atordoada e olhou o homem ainda adormecido ao seu lado - Jane, me diz que não por favor. – levantou da cama e choramingou.
- A não ser que ele tenha um irmão gêmeo, é ele, .
fechou os olhos e tentou se concentrar em pensamentos profissionais, onde estava sua algema?
Abriu os olhos ao ouvir um baque. não estava mais deitado ao seu lado. Olhou em volta procurando o homem e seu coração saiu pela boca.
- ? - Jane chamou do outro lado da linha, mas teve como resposta o celular dizendo que a ligação havia sido encerrada.
olhou seu celular espatifado no chão e depois olhou o rosto de . ?
A detetive era observadora, e ela podia jurar de pé junto que o seu tinha mais tatuagens, ela inclusive conhecia todas.
Aquele não era .
Isso era bom ou ruim?
Onde o verdadeiro estava?
Onde seu revólver estava?
sabia que aquele homem não estava ali pra brigar, estava pra matar.
17:00
Ele só mata as 10 horas, a mulher tentou pensar positivo.
Ele não vai me matar.
Vai?
Não se eu matá-lo.
Vou?
não pagou pra ver, chutou com toda sua força o saco daquele homem e saiu correndo.
1. Achar minha arma;
2. Achar ;
3. Agir.
Enquanto corria tentando chegar do outro lado do apartamento, onde tinha sua sala de armas, ouviu um disparo.
“Não olhe pra trás”
Outro disparo. Sentiu seu ombro ser rasgado.
“Continua correndo, você precisa chegar lá”
Ouviu um disparo diferente.
”.
A detetive se forçou a olhar pra trás e seu coração bateu ainda mais rápido com a cena que encontrou.
tinha jogado no chão a arma que havia achado na cômoda da moça e agora estava com os braços levantados em rendição.
- Travis, não faz isso. – tentou soar calmo – Eu sou seu irmão, abaixa essa arma.
- Você só se importa consigo mesmo! – o irmão gêmeo de tremia apontando o revólver – Você nem se preocupou quando recebeu o telefonema dizendo que eu tinha fugido da clínica, você nem se preocupa de verdade comigo!
- Travis, é claro que eu me preocupo, eu só não sabia o que fazer.
- A mídia nem sabe que você tem um irmão! Acham que você é um pobre coitado sem família... Nem imaginam seu passado, não é, ?
- Travis, vamos conversar na boa. Não precisa dessa arma.
- Nós vamos conversar sim, irmãozinho. – sorriu maquiavélico – Mas antes preciso matar mais uma vadiazinha.
“Essa é a hora que eu corro”
tentou fugir na maior velocidade que seu corpo era capaz de alcançar.
“Corre. Corre. Corre”
Ouviu os passos de Travis atrás dela. Ele ainda disparava em sua direção, mas como ela corria em zigue zaggue, ele não conseguia acerta-la.
1. tem um gêmeo;
2. Esse gêmeo é louco;
3. Louco e assassino;
4. Por que meu apartamento parece não ter fim?
“Falta pouco, continua correndo”
1. Por que ele mata?
2. Por que e como ele está aqui?
3. Qual a história por trás disso?
finalmente chegou na sala de armas.
Enquanto digitava a senha, ouviu o barulho da arma que tinha pego.
Mais disparos e o barulho de um corpo caindo.
O único defeito da torta de maçã, é que ela acaba.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.



Outras Fanfics:
14. Facedown (The 1975) - RESTRITA
17. Undo (The 1975)
04. Void (The Neighborhood)


Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus