07. Fall
Finalizada em: 08/06/2018
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Prólogo

- Eu não quero que você vá embora – falou para o garoto – e a gente pode fazer dar certo mesmo assim, por favor! – ela insistia enquanto lágrimas rolavam livremente por seu rosto.
- Eu não posso fazer isso com você, meu amor! Eu nem mesmo sei se volto, ou quando volto, me desculpa por te fazer passar por isso – ele falou com olhos se enchendo de lágrimas, tentando segura-las para parecer forte para a, até então, namorada. Ela sabia que não estava sendo fácil para ele também, mas não podia acreditar que mais alguém estava a deixando, ela estava cansada.
- Me promete que não vai me esquecer?
- Eu prometo, , nem teria como! A gente pode se falar ainda! – a garota balançou a cabeça, em negação, e o namorado não entendeu.
- Pelo menos por enquanto, não. Eu preciso me adaptar a ficar sem você, quem sabe um dia – ela sorriu entre lágrimas e o garoto acariciou sua bochecha delicadamente, sorrindo para ela e deixando com que suas próprias lágrimas finalmente caíssem. Ele não reclamaria, ela teria o tempo dela, mas queria poder nunca perder a garota. Ele a amava, mas não podia perder aquela chance. Eles sobreviveriam.


1

- Não faz isso! – falava enquanto eu corria atrás dela, fazendo com que ela tivesse que pedalar mais rápido para não ser alcançada – eu tô cansada, !
- Eu não ligo – gritei, passando rapidamente por ela e chegando no combinado ponto de chegada – perdeu de novo – mostrei a língua quando ela parou próxima a mim, freando com toda força.
- Você não é nada cavalheiro – ela parecia emburrada.
- Eu sou competitivo, só isso – dei de ombros e desci da bicicleta indo até ela – casa? – beijei sua bochecha e ela sorriu, afirmando – eu te acompanho.
- Ah, não precisa! – ela falou, rindo.
- Claro que precisa, em algo tenho que ser cavalheiro, não? – peguei sua mão e estendi, a reverenciando e dando um beijo ali.
- Você é um idiota.
- E você me ama.
Voltamos do parque para casa pedalando mais tranquilamente, sem apostas, ou competição, não sabíamos quem estava mais morto. estacionou sua bicicleta em frente o prédio onde morava e acenou para mim enquanto passava pelo portão cumprimentando o porteiro.
Atravessei a pequena rua depois de seu prédio, que ficava na esquina, e então cumprimentei o porteiro, entrando em meu prédio. Eu sempre a acompanhava até em casa, mesmo que ela não quisesse. Sorri sozinho por sempre fazer aquela piada e toda vez a garota rir.
Conheci aos 12 anos, mesma época em que conheci , que havia acabado de se mudar para o meu prédio. Ficamos muito amigos e estávamos sempre juntos, escola, passeios, passamos por diversas situações, inclusive a perda dos pais de , pouco antes dela fazer 16, quando ela se dividia entre minha casa e de para não surtar ou fazer alguma besteira. Nessa época ela e começaram a namorar, os dois eram um casal incrível e mesmo que algumas vezes eu ficasse de lado, eu não me importava, pois ver os dois juntos era algo bom, sabia que isso deixava melhor. Até ser aceito para um intercâmbio na Alemanha, e nos deixar. surtou novamente como quando os pais se foram, ela chorou por meses até se adaptar a tudo, e eu não deixei de ficar ao seu lado em nenhum momento. Eu amava aquela garota de uma forma incondicional e inconsciente, talvez nem ela pudesse entender quanto. Talvez ninguém entendesse como aquela garota significava o mundo pra mim.
Amanhã seria o aniversário de Lea, minha namorada, e coincidentemente, o aniversário de morte dos pais de . Eu estava perdido. Eu tinha plena consciência de que estava acabada. Ela tentava não parecer, mas ela estava a cada dia mais distante. Há seis anos eu passava aquela data com a garota, procurávamos algo pra fazer juntos e se distrair, depois que visitássemos o cemitério e levássemos algumas flores, ela se deitava em meu colo e chorava tudo que precisava. Eu só não sabia muito bem como falaria pra ela que teria uma festa para ir naquele dia, já que levá-la não era uma opção, ela nunca gostaria de sair.
- ? Você pode vir me ajudar a arrumar as coisas? – Lea me perguntou no telefone.
- Claro.
- Estou te esperando então.



2

- Alô? – me afastei de todo o barulho dali para atender o telefone.
- ? – uma voz desconhecida falou.
- Sou eu, quem fala?
- Aqui é do Hospital Central, o senhor conhece ?
- Ai meu Deus, o que houve? – entrei rapidamente na festa e peguei minhas coisas que estavam no quarto de Lea enquanto a pessoa me respondia mais lentamente do que eu podia esperar naquele minuto.
- O senhor estava como contato de emergência da garota, ela passou por uma situação um tanto quanto estranha e está em observação, o senhor poderia comparecer até o hospital?
- Já estou a caminho – entrei no carro e dei partida antes que pudesse pensar em qualquer coisa, ligaria para Lea depois.

- , meu Deus do céu, o que aconteceu? – perguntei quando a encontrei com o olhar perdido enrolada em diversas cobertas – , me responde – falei, me agachando de frente para ela e a vendo apenas negar com a cabeça, como se não quisesse falar. Algumas lágrimas rolaram por seu rosto e enquanto eu a abraçava, uma enfermeira apareceu.
- Senhor ? Sou Diane, falei com o senhor por telefone – a mulher que aparentava ter quase 50 anos se aproximou e apertou minha mão como cumprimento. Ela olhou para com um misto de compaixão e pena, mas também parecia confusa.
- Você sabe me dizer o que houve? – chorava baixinho encostada em meu peito.
- Ela não disse nada, desde quando chegou. Ela foi encontrada no cemitério, há alguns quilômetros daqui. Me relataram que ela estava sozinha, sentada no frio, encostada a uma lápide. Ela chegou aqui com hipotermia, mas em nenhum momento quis conversar.
- , eu tô aqui agora, tudo bem? Eu não devia ter deixado você sozinha – falei a embalando como um bebê. Poderiam achar exagero, e poderiam pensar que muitos anos tinham se passado, ela não deveria precisar de babá, mas só quem sabe a dor de perder alguém, entenderia esse sentimento – ela pode ir embora comigo?
- Ela deve ficar em observação, então acredito que o modo de vocês ficarem juntos, seria o senhor ficar.
- Eu vou.
- Vou levar vocês até algum leito, então, espere um minuto.
A enfermeira voltou, nos chamando para acompanhá-la e se preparou para levantar, mas não permiti, pegando-a no colo e a soltando apenas quando alcançamos a maca, que de companhia tinha um sofá que até me parecia confortável. A enfermeira nos deixou e eu apenas fiquei acariciando os cabelos de enquanto ela pegava no sono para descansar, não era necessária nenhuma conversa no momento, ela apenas precisava de mim, assim como sempre precisei dela.

Um enfermeiro estava saindo do quarto quando acordei assustado, olhando a hora em meu celular, eram 5h e eu tinha quatro chamadas perdidas e diversas mensagens de pessoas preocupadas com meu sumiço, a maior parte de Lea. Droga.
- , onde você tá? Tá tudo bem? – ela perguntou, preocupada.
- Amor, me desculpa, por favor! Eu estou no hospital...
- Como assim você tá no hospital? O que aconteceu?
- Tá tudo bem! A foi encontrada no cemitério com hipotermia, Lea.
- Meu Deus, ! Como ela tá? Por que você não avisou? Custava?
- Eu me esqueci, desculpa, na hora que ligaram do hospital eu só saí correndo, ela estava péssima – falei, me lembrando do estado que minha amiga se encontrava quando cheguei ali.
- Você quer que eu vá pra aí? Pra você voltar pra casa e descansar um pouco?
- Não precisa, acho que agora pela manhã já liberam ela, o corpo dela parece já ter voltado ao normal, os lábios voltaram a ficar corados... Me desculpa não ter avisado, me desculpa mesmo, Lea.
- Depois a gente conversa sobre isso, . Só espero que a fique bem.
- Eu também.

Lea as vezes não entendia nossa relação, mas sabia que ela tinha um carinho por minha amiga e nunca desejaria seu mal, talvez toda a falha naquilo, fosse minha. Eu sumia sem avisar diversas vezes e nunca abandonava um compromisso com , sei que isso é amizade, mas algumas vezes priorizava tanto em minha vida, que minha própria mãe falava que nunca conseguiria seguir em frente com ninguém. Ela sempre dizia que ou eu lutava pela , e ficava com ela, ou um dia ela seguiria em frente, e eu ficaria para trás, arrependido. Uma pena que era tão difícil lutar por alguém que já havia desistido e nem mesmo conseguia reparar no amor que vivia ao seu lado.
Não sei quando me apaixonei por ela, não sei quando foi a primeira vez em que senti vontade de gritar pro mundo que amava aquela garota, e que a queria para mim. Sabia que não era um sentimento novo, quantas vezes não tentei ao menos entender se conseguia sentir por alguém o que sentia por ela. Não que eu não amasse as garotas com quem namorei, afinal nunca peguei alguém e descartei no outro dia, mas nenhuma me trazia a alegria que me proporcionava, ao seu lado eu não sentia mais nada além disso. Me sinto horrível quando, toda vez, chego no ponto em que não dá pra seguir em frente, porque sempre crio esperanças de que a pessoa com quem estou é a certa, mas então, sorri para mim e eu sei que nada vai mudar.


3

- Ei – passei a mão em seus cabelos quando vi que ela abria os olhos, já em casa.
Havíamos voltado por volta das 9h da manhã, sem nenhuma palavra trocada, havia ajudado ela a se trocar, comer algo simples e deitar novamente. Aproveitei e me aconcheguei ao seu lado para poder descansar, então dormimos até que acordei por volta da uma da tarde e fiquei a observando até que acordasse. Estávamos acostumados a passar noites juntos, e em todas essas noites, eu sempre a observava. Isso é algo que pode ser extremamente clichê, mas ela parecia um anjo, só talvez se esquecera como era voar.
- Oi – ela sorriu de lado, escondendo a cabeça no travesseiro – odeio quando você me observa dormir.
- Mas você sabe que sempre faço isso – dei de ombros e ela riu.
- Eu sei... , me desculpa – ela começou a falar, mas neguei com a cabeça. Não queria ouvir um pedido de desculpas, ela sabia que eu sempre estaria ali para ela, independente do que fosse, do dia, ou da hora.
- , pode parar – vi lágrimas chegarem em seus olhos e então me encostei a ela, para que ela deitasse em meu colo – eu só queria saber porquê.
- Eu não sei – ela falou entre soluços enquanto o choro apenas aumentava – quando eu me vi já estava lá, eu não lembro de muito. Eu não tô bem, , não tô.
Fiquei mexendo nos fios de seus cabelos até que ela se acalmasse. Eu já não tinha mais o que fazer, era acompanhada por terapeutas há anos, não havia largado ou desistido, mas nessa época do ano, era tudo terrivelmente pior.
- Meu turno é às seis hoje, mas eu volto pra dormir com você, tudo bem? - ela assentiu, e eu sabia que ela estava agradecendo.
- Eu não quero ficar sozinha – a garota limpou as lágrimas e se levantou, ficando mais próxima para me abraçar.
- Eu não vou pra lugar nenhum, , você não vai ficar sozinha – beijei o topo de sua cabeça e me levantei para preparar algo para comermos enquanto ela tomava um banho.

"Estou meio nervosa e acredito que você vai ficar também. Cuidado pra não assustar quando chegar."
Quando peguei meu celular e pude ler a mensagem já estava em frente a porta, pronto para abri-la. Ouvi vozes, e uma risada masculina ecoar de dentro do apartamento, não era possível.
- ? - perguntei, olhando pro homem sentado ao lado de no sofá. Quando ele virou para me encarar, ela olhou desesperada em minha direção e imaginei que reviver seu passado não era o que ela queria naquele momento. E vou ser sincero, eu queria menos ainda imaginar ali e a aproximação dos dois novamente.
- , cara, que saudade! - ele andou em largos passos até onde eu estava e me deu um abraço forte, que foi retribuído com empolgação, já que apesar de toda minha confusão interna, era meu melhor amigo ali.
- O que você está fazendo aqui? Você nem ao menos avisou! Vai ficar bastante dessa vez? Precisamos de tempo!
- Dessa vez eu vim para ficar, – ele disse orgulhoso e pude ver arregalar os olhos enquanto ele ainda estava de costas para ela – eu vou me casar!
Em coisa de segundos, minha boca se abriu em um perfeito "O", e pude ao mesmo tempo ver levantar e sair correndo em direção ao banheiro. olhou assustado e fez menção de correr atrás dela, mas entrei em sua frente, me adiantando e fechando a porta quando passei.
- , tá tudo bem? - perguntei sussurrando enquanto segurava seu cabelo e ela colocava a pizza que eu vira em cima da mesa, para fora.
- Gente, o que aconteceu? Tá tudo okay? - bateu na porta, desesperado.
- Tá tudo bem, mas faz uns dias que a não tá muito normal - protegi minha amiga que se levantou e foi direto para a pia, escovar os dentes, e me olhou agradecida, afirmando que eu poderia abrir a porta.
- Desculpa, – ela saiu do banheiro e o abraçou - meus parabéns - quando ela o soltou, também me aproximei para cumprimentá-lo.
- Como você chega aqui de surpresa e joga essa bomba? - ele deu de ombros, rindo.
- Eu tô feliz, vocês não têm ideia, ela me faz ser um homem incrível - pude ver sorrir amarelo.
- Você merece... , não quer se deitar? - perguntei, percebendo que ela não estava nada confortável ali e precisaria digerir aquela história.
- Eu acho melhor... Tudo bem, ?
- Claro, ! A gente vai se encontrar muito agora! - ele beijou sua bochecha e lhe deu um abraço de lado – vamos lá, eu te acompanho até em casa, vou ficar no meu apartamento – falou sorridente para mim.
- Vou ficar por aqui, cuidando dela – falei, andando até a porta para abrir para ele.
- Tá rolando algo que eu não sei?
- Bom, eu não cheguei aqui de outro país com uma super notícia de que vou casar, certo? Por aqui está tudo na mesma, como sempre, somos eu e com nossos problemas de sempre...
- Eu lembrei ontem, da data – ele fingiu não notar minha singela falta de educação - sinto saudade deles também, nada comparado a ela, mas gostava muito deles.
- Eu também. A situação ontem foi um pouco fora do comum, ela surtou, mas vai ficar tudo bem.
- Eu voltei pra ficar, . Vamos sobreviver como sempre, nós três - ele sorria até mesmo para as paredes, era algo absurdo. Como ele voltava depois de anos achando que estava tudo certo? - até mais – nos cumprimentamos com um toque de mão e ele saiu pelo elevador.

Peguei minha roupa na gaveta dela e fui rapidamente até o banheiro para me trocar. Quando voltei para o quarto ela estava com a cabeça no travesseiro e parecia já estar dormindo, me encostei ao lado dela e beijei o topo de sua cabeça, fazendo com que ela se mexesse.
- Não tô dormindo – ela sorriu, se ajeitando ao meu lado, entrelacei minha mão na sua e retribui seu sorriso – como ele chega aqui e joga isso como se a gente nunca tivesse namorado?
- Não sei, , mas também não achei isso nada legal. Ele brotou aqui, fico imaginando como foi pra você, desculpa não estar aqui – a abracei forte.
- Tá tudo bem, você tá aqui agora. E aí? Algo de muito diferente hoje, senhor enfermeiro?
- Muito vômito.
- E ainda tem que me ver vomitar, você merece um prêmio! – ela falou rindo alto.
- Também acho! E ainda ri disso! Cara de pau! - peguei o travesseiro e lhe bati com ele, sendo empurrado para o chão em resposta. Quando tentei me levantar, se jogou em cima de mim, me prensando entre seu corpo e o piso gelado, me apertando com força.
- Você é o melhor amigo do mundo, sabia? - sorri com ela olhando em meus olhos e desejei com todo meu coração que um dia ela acordasse e percebesse que eu podia ser muito mais. Queria saber quem faria aquela garota se apaixonar, depois da parede que ela construiu em volta do próprio coração.
- E você é a garota mais linda do mundo, sabia? - mexi em seu cabelo e ela sorriu, tímida. Ela nunca aceitou elogios, chegava a ser engraçada sua reação a qualquer um.
- Vem, vamos dormir – ela levantou, distraída, e estendeu a mão para que eu levantasse também - canta pra mim? - ouvi ela pedindo depois que se aninhou em meu peito.
- Mas eu não canto bem, .
- Mas não é pra cantar bem, só quero ouvir sua voz até dormir – falou inocente e logo em seguida bocejou, cansada.
Dei um beijo em sua testa e comecei a cantar baixinho She Will Be Loved, no meu tom bagunçado e desafinado, mas estava a fazendo feliz e sabia disso. Sabia que ela adormeceria sorrindo, e eu estava ali para isso.


4

- , eu não quero conhecer ninguém – rolou os olhos quando estacionei em frente ao restaurante onde marcara. Ele nunca havia gostado muito de encontros em restaurantes, como o mesmo me disse por telefone, mas era um que adorávamos desde sempre e ele queria mostrar para a futura esposa. Era absurdamente estranho pensar nisso.
- , você aguenta vai!
- Mas , eu não sei como me sinto em relação a ele... – a abracei, pensando se um dia ela não deixaria isso para trás e perceberia que tinha alguém ali do seu lado. Às vezes eu me cansava do tanto que pensava naquilo, sabendo que nada nunca mudaria, porque mesmo que ela magicamente acordasse e percebesse o que sinto por ela, e sentisse o mesmo, seu medo de perder a faria não seguir em frente...
- Antes de vocês namorarem, vocês eram melhores amigos, assim como você e eu. Lembra disso, tenta ignorar o resto, porque , ele tentou fazer dar certo de longe, e...
- Eu recusei, eu sei – segurei a mão dela e levei para mais perto do meu corpo – é que é só estranho, não sei. Se você me falasse que ia casar talvez parecesse mais normal, porque você tá sempre aqui comigo.
- Quando eu for casar, você pode ter certeza que vai ser a primeira a saber.
- Espero mesmo! – ela falou rindo, mas não entendeu o que eu estava querendo dizer. Me lembrei da música do Magic e ri sozinho, “I'm gonna marry that girl, marry her anyway”.

- ! ! – se levantou animado em nos cumprimentar. Sua noiva se levantou logo atrás dele, sorrindo tímida. Era uma moça bonita, e esperava que esse não fosse seu único atributo, afinal, o garoto merecia alguém incrível. Para alguém como ele, que já namorou , não aceitaria nada menos que perfeição. Sim, eu sou louco por ela a ponto de pensar em tudo relacionado a ela a qualquer momento.
- Oi, ! – falou tentando parecer animada enquanto eu trocava um toque de mãos com ele.
- Essa é a Hillary, Hill, essa é a e o !
- É um prazer, o fala muito de vocês, desde sempre! - ela nos cumprimentou com um aperto de mão e um enorme sorriso no rosto.
- O de sempre? - perguntou quando nos sentamos e eu e concordamos, rindo.

- Foi extremamente engraçado quando nos encontramos, o brinca até de que foi amor a primeira vista – Hill falava olhando com carinho para o noivo.
- Mas foi, impossível que não tenha sido! – ele riu e eu olhei para , que apesar de tudo, parecia se divertir desde que chegamos.
- Eu tenho algo mais engraçado que isso pra contar pra vocês! Como a gente se conheceu qualquer um pode falar e vocês poderão ouvir no casamento de mil formas diferentes – ela se mexeu na cadeira, sentando-se reta – no nosso primeiro encontro, a gente nem ao menos se conhecia direito, e o falou que se um dia a gente casasse, eu deveria saber que ele já tinha duas pessoas que teriam que estar no altar ou ele não casava – ela sorriu para nós – é sério, eu achei ele maluco por falar em casamento ali, mas foi a coisa mais linda que já vi.
- Não acredito que você fez isso – falei, rindo dele.
- Eu fiz! E agora vocês podem fazer o favor de responder esse belo pedido que ensaiamos!
- Isso é sério? – perguntou, olhando indignada entre eles e eu.
- É claro, ! – falou, assustado.
- Eu aceito! Vou me sentir honrado de estar lá por você, dude! – me levantei para abraça-lo.
- Você sabe que você é o cara, né? Vai ter que me ajudar em tudo! – ele estava deixando claro que eu seria seu “Best Man” e eu não poderia ficar mais honrado. passara anos fora, e ainda me queria ali no lugar mais importante de seu casamento.
- E você, ? – ele perguntou ansioso.
- Vou adorar, , obrigada – ele deu a volta na mesa em poucos passos e abraçou , a levantando do chão. Imaginei que ela estivesse se sentindo meio perdida, mas ela era uma pessoa maravilhosa, e ela nunca negaria aquele pedido.
Eu e abraçamos Hillary, agradecendo pelo convite deles, e desejando diversas palavras resumidas em felicidades para os dois. Quando voltamos a nos sentar, percebi que as mãos de tremiam e imaginei como deveria estar sendo difícil passar por tudo aquilo, mas que no fundo, ela se adequaria daqui um tempo. era um idiota, e eu ainda brigaria com ele por isso, mas ele sempre fora a pessoa mais inocente que conheci, então sabia que no fundo, ele só estava todo acelerado em voltar e nos contar tudo, por conta de sua felicidade em pico.


5

- Dá pra acreditar que o vai casar? – perguntou enquanto entrávamos em uma loja para que ela pudesse olhar vestidos – já acostumei com a ideia, sabe? Demorei um mês, mas fazer o quê, e ela pelo menos é legal, só fico imaginando se um dia vou ter essa chance – percebi seu sorriso sonhador.
- Tenho certeza que tem um mundo de caras por aí, louco pra casar com alguém como você – segurei sua mão e a girei entrando na loja, fazendo com que todos em volta rissem.
- Se todos fossem como você, , o mundo estava ótimo – ela sorriu e me abraçou, antes de se perder por entre as araras.

“- Alô?
- , onde você tá?
- Eu vim ver vestidos com a , pro casamento do , tá tudo bem amor?
- Tá tudo bem, mas precisamos conversar, você pode vir pra cá depois?
- Claro!”

- Era a Lea? – perguntou e eu assenti – ela tá bem? Faz tempo que não a vejo – seus olhos estavam parados em um vestido rosa, cor que Hillary tinha escolhido para suas madrinhas.
- Tá sim, faz uns dias que não vejo ela também. E a senhorita? Está melhor? – fazia algum tempo que não ficávamos juntos, as coisas estavam corridas no hospital e nós não havíamos conseguido ter contato maior que mensagens pelo celular.
- Estou bem, – a garota sorriu sincera e apontou para o vestido – eu deveria provar?
- Você vai ficar linda nele, mas olha esse – apontei para um com um pouco mais de brilho, num modelo completamente diferente – não torce o nariz, só prova – entreguei para ela, que correu para o provador com uma vendedora já em seu encalço.
- O senhor verá um smoking para combinar com a garota? – um garoto jovem se aproximou de mim, questionando e eu assenti, aproveitando que já estava ali.
- , já falei que você é o melhor? – ouvi a voz de soando um pouco mais alta, vindo de dentro do provador.
- Tô ficando convencido já – falei, me aproximando para vê-la.
- O que eu escolhi ficou horrível, mas olha esse! Ele vestiu perfeitamente, eu não preciso olhar mais nada – ela me abraçou, animada. Ela estava linda, ela era linda, mas aquele vestido a fazia se destacar de todas as formas possíveis. Ele era de um tom de rosa mais escuro, e se estendia até seus pés, sem o ajuste que seria feito, ele estava até mesmo um pouco longo demais. A parte de cima do vestido era simples, em um tecido leve como seda e um decote em V, mas discreto. Um pouco abaixo dos joelhos começavam as pedrarias, bolinhas pequenas e brilhantes que se estendiam até a barra e faziam com que um vestido tão simples, se tornasse o perfeito. Eu não entendia muito de roupas, ou de qualquer coisa que não fosse corpo humano, veias, sangue, ou vômito, mas sabia que todos a achariam tão linda quanto eu.
- Você tá maravilhosa, – fiquei olhando para ela enquanto se admirava no espelho, reparando em cada detalhe do próprio corpo, em como o vestido ficara de costas ou de frente, se as laterais estavam perfeitas ou se alguma bolinha não estava fora do lugar.
- Tira uma foto – puxei meu celular do bolso e a fotografei diversas vezes, em diversas poses.
- Vamos provar? – o garoto apareceu novamente ao meu lado, enquanto eu guardava o celular.
- Claro – me levantei e entrei no provador ao lado do de .
- Acho que você devia casar comigo, como você tá lindo! – ela falou quando saí do provador para mostrar para ela.
- Não fala duas vezes que eu aceito – falei sério e ela riu, apertando minha bochecha.
- Só alguns ajustes e vai ficar ótimo, tenho certeza!

- Lea?
- Tô aqui no fundo! – ouvi sua voz, vindo do quintal da casa onde ela morava com os pais.
- Oi! – falei a abraçando e sentindo seu cheiro, na verdade em maior parte, o cheiro de seu perfume adocicado que eu tanto adorava – a mandou um beijo.
- Depois preciso falar com ela – ela sorriu, logo ficando séria – antes preciso falar com você – sua mão alcançou meus cabelos, deixando ali um carinho.
- Tá tudo bem?
- Ah, , bem mesmo não está... Eu queria que estivesse, queria mesmo, mas eu não sei se dá – sua voz soava triste e meu coração se partia ao meio, pois eu sabia o que aconteceria em seguida, e eu sabia que eu não poderia me defender, ou falar qualquer coisa. Mais uma vez.
- Lea, espera – coloquei a mão em seu ombro, tentando abraça-la.
- Não deixa mais difícil, por favor – seus olhos estavam cheios de lágrimas e eu sabia que ela não gostaria de falar sobre, pois ela sempre guardava seus problemas para si, sempre – não dá mesmo, e eu não sei rodear, eu precisava falar, minha mente tá cansada, eu preciso de alguém que cuide de mim – me mantive em silêncio, porque sabia que era impossível rebater o que ela dizia, eu não brigaria com ela, eu não a faria sofrer - eu te amo, , e eu sei que você também me ama muito, mas nós dois sabemos que não existe só esse amor em você, e nada vai ser capaz de competir, nunca – suas lágrimas começaram a escorrer por seu rosto e em minha tentativa de limpa-las, ela apenas sorriu – é lindo sabe, mas eu conversei com a sua mãe, e todo mundo à sua volta vê a mesma coisa, só não vê quem deveria – eu assenti para ela, com os olhos também marejados – eu não tenho raiva de você, nenhuma. Muito menos dela, eu me afeiçoei a ela, mesmo com alguns problemas em relação a minha insegurança, e eu acredito muito que um dia ela vai acordar, basta você tentar.
- E agora? – perguntei, com a voz um pouco embargada.
- Agora cada um segue seu caminho, e de preferência, lute pelo seu. Eu vou viajar por alguns meses, vou relaxar e me cuidar um pouco. Estou indo de cabeça livre, e sem problema algum com ninguém. Vai ficar tudo bem. Só espero que fique pra você também... Que você possa seguir e resolver tudo sabe? Não me importo se será agora ou em anos, mas corre atrás.
Abracei Lea e beijei o topo de sua cabeça, nos deixando ali abraçados durante algum tempo, apenas aproveitando a presença um do outro pelos últimos minutos.


6

- Como assim, ? – perguntou quando cheguei até ela uma semana depois, com os olhos marejados em pensar em contar o que havia acontecido.
- Assim – dei de ombros e entrei em seu apartamento, me sentando no sofá e vendo que ela ia para cozinha, provavelmente preparar um chá, já que acreditava que um chá ajudasse em tudo – não quero chá, só fica aqui comigo – ela sorriu de lado e se sentou no sofá, me abraçando.
- Não estou acostumada a ser seu ombro pra chorar – ela falou enquanto eu fungava, escorado em seu corpo.
- Normalmente essa é minha função, né?
- Acho que a gente não dá muito certo no amor – ela riu, mas falou sério.
- E se a gente desse? – falei sem nem pensar e ela ficou me encarando, sem entender – ué, já que nunca dá com outras pessoas – dei de ombros e esperei por qualquer reação sua.
- Ia ser engraçado, né? – ela limpou minhas últimas lágrimas e se encostou em meu peito, rindo – já imaginou? – quem estivesse no vigésimo andar do outro prédio poderia ouvir a gargalhada da garota, mas aquilo não me incomodou.
- Me deixa te conquistar – passei a mão por seu cabelo e sussurrei em seu ouvido, vendo que mesmo contra a vontade seus pelos da nuca se eriçaram.
- , como assim? – ela me olhou assustada, entendendo que eu falava sério.
- Você sabe que não seria tão estranho assim, . Todo mundo sabe. É uma tentativa, fica entre nós dois, e se não der certo, nossa amizade é forte o suficiente pra voltar atrás. Você não confia em nós?
- Eu confio, , mas é estranho...
- Não é como se a gente nunca tivesse se beijado, por exemplo – ri e coloquei uma mecha de seu cabelo, que caía insistentemente em seu rosto, para trás.
- Não acredito que você vai usar esse argumento – ela riu, também se lembrando – aquele foi nosso primeiro beijo, um selinho, não durou nem 02 segundos!
Sorri e me aproximei dela aos poucos, para não assusta-la, juntando nossos lábios em um selinho como o qual ela havia dito.
- Esse durou! – falei sorrindo ansioso por sua reação.
- Você está muito abusado! De onde saiu essa ideia? – ela ria descontroladamente e eu aguardava por um tapa em meu ombro, como ela sempre fazia.
- Daqui – apontei para o meu peito e ela parecia finalmente entender que em meio a tantas brincadeiras, aquilo era sério – eu quero realmente tentar, se você deixar. Eu queria tentar sem que você percebesse, mas sem te contar, você nunca tentaria me ver com outros olhos, bateu o desespero – segurei suas mãos e as apoiei meu colo – eu sei que é do nada, , mas a gente pode tentar tudo aos poucos, eu sempre estive aqui por você, porque não posso de outra forma? Eu já tentei desistir disso, tirar essa ideia da minha cabeça, mas como você pode ver, eu não fico com outra pessoa, todo mundo à minha volta sabe que não tem jeito...
- , eu não sei o que te falar – ela parecia assustada, tentando digerir – isso consegue superar o vir aqui e falar que vai casar, supera mesmo. Isso é sério? Mesmo, mesmo? – assenti.
- Se tiver alguma chance, eu quero muito saber. Não precisa ser agora, nem tão cedo, eu só não podia guardar por mais tempo – sorri, incerto se aquilo que havia decidido era o melhor.
- Vem cá – ela me puxou pelo queixo para me dar outro selinho – talvez não seja tão louco assim.


7

- Mas e se você me fizer chorar? Você sempre foi meu ombro nos momentos de desespero, e se você me machucar? – essa foi a primeira coisa que ouvi quando atendi meu celular, às 2h50 da manhã.
- Eu mesmo vou ter que me bater, . Mas não acredito que você realmente tenha pensado nessa possibilidade – falei, rindo.
- E se eu te perder, ? Eu não quero perder mais ninguém – ela falou com a voz embargada.
- Você não vai me perder, eu nunca vou te deixar, essa é uma promessa que fiz há muitos anos, e não é porque algumas coisas têm a chance de mudar, que minha promessa deixará de ser cumprida. Se algum dia algo de ruim acontecer, nós vamos saber resolver, confia em mim.
- Me conquiste – imaginei que ela estivesse sorrindo, e então desligou o telefone antes que eu pudesse falar qualquer coisa.


- , mas e se der errado? – olhei para o relógio e dessa vez eram 4h36.
- , se eu soubesse que você não ia dormir, eu nunca teria te falado isso – dei a risada mais sonolenta que poderia na minha vida e pude ouvir sua risada nasalada, mas ainda preocupada – não precisa ter medo, você nunca vai voar, se não se deixar cair. Eu não passei anos esperando por isso, me perguntando o que faria você se apaixonar, pra desistir antes de tentar.
- Tá inspirado pra quem foi acordado duas vezes na madrugada, hein? – ela brincou.
- Posso passar a noite toda aqui falando disso, sério.
- Disso o quê?
- De nós dois, do quanto esperei, do quanto não quero mais ser seu ombro pra chorar, porque não quero mais que você chore, quero ser quem vai mudar isso. Quero parar de sentir meu coração em pedaços quando alguém te magoa, ou simplesmente te faz chorar de raiva.
- Você não precisa falar tanto assim pra me convencer, eu já estou convencida – ela riu.
- Posso ficar feliz, senhorita? Posso ficar ansioso?
- Claro que pode, senhor. Desculpa atrapalhar seu sono, tá?

- Não desculpo não, só vou aceitar as desculpas pessoalmente.
Desliguei o telefone e me levantei em um pulo, colocando uma calça de moletom e uma blusa qualquer que me aquecesse para atravessar a rua. Quando toquei a campainha de seu apartamento, fui atendido prontamente e a envolvi em meus braços, sentindo o cheiro que vinha de seu cabelo e era uma de minhas maiores paixões.
- Eu não acredito que você veio aqui! – ela falou ainda abraçada a mim.
- Pra você ver como sempre vou estar aqui, independente da hora – sorri e passei a mão em sua bochecha, deixando um carinho.
- Acho que não é tão difícil ser conquistada dessa forma, você é demais, – ela me abraçou novamente e em seguida puxou minha mão para ir até seu quarto – vem, vamos dormir enquanto você pode.
- Nã-não! – soltei minha mão da sua e me virei para o guarda-roupa, puxando uma coberta – estamos começando, eu vou te conquistar e fazer tudo direito! Nada de dormir na mesma cama - pisquei para ela.
- Não acredito! Você não existe, !
- Vou te colocar pra dormir, só! – a empurrei para que se deitasse, joguei seu cobertor por cima de seu corpo e beijei sua testa – boa noite, .
- Boa noite, .


8

- Hoje, às sete eu tô passando aí pra te pegar – falei quando ouvi a voz de dizendo um oi incrivelmente animado. Já havia se passado por volta de um mês desde que eu terminara com Lea, e decidira em meio a uma brincadeira, contar a verdade para . Não a verdade, pois não me declarei ou qualquer coisa assim, mas eu havia finalmente tomado alguma atitude, sendo surpreendido de forma positiva.
Passamos todo esse mês juntos, como sempre foi, apenas nos aproximando cada vez mais, se isso fosse possível. Eu havia conversado com Lea, quando recebi uma mensagem dela dizendo “Finalmente, . Ela havia mandado mensagem para , pois se eu não tinha coragem de falar, ela passaria por cima de mim e contaria ela mesma. Era a revolta da ex-maluca, mas maluca no melhor sentido possível, pois ela era simplesmente incrível e eu deveria agradecer imensamente a ela por ter me incentivado.
Ela disse que havia sido uma surpresa quando começou a falar com e ela ficou vermelha de tanta vergonha, então ela percebeu que algo já tinha acontecido. não comentou isso comigo até agora, e duvidaria que comentaria em algum momento. As coisas estavam tão normais entre nós que pensei se ela não havia esquecido, ou acreditado que era coisa da cabeça dela. e sua síndrome que nunca seria amada, que perderia todo mundo, que não merecia ser feliz... Era de se compreender.

- , você está incrível – desci do carro e beijei sua mão, fazendo-a rir enquanto sussurrava um “” envergonhada por estarmos em meio as tantas pessoas que passavam pela calçada naquele minuto.
- Obrigada – ela falou com um sorriso estampado no rosto quando me aproximei para abrir a porta para que ela entrasse – para onde vamos? – ela perguntou depois que dei a volta e me sentei ao seu lado.
- Eu lá sei? – falei, rindo.
- Eu não acredito que você não programou nosso primeiro encontro! – eu dei de ombros e ela apoiou sua mão em sua testa, fingindo inconformidade.
- É claro que eu programei, linguaruda – mostrei a língua pra ela e recebi um tapa em minha perna enquanto ligava o carro para sairmos dali.
- Posso ligar o rádio? – ela perguntou, inquieta.
- Desde quando você tem que perguntar pra isso? – arqueei as sobrancelhas.
- Sei lá – ela olhou para janela, tentando esconder o rosto.
- Você está nervosa? – perguntei, um tanto quanto feliz e vi ela assentir enquanto mexia e remexia no bordado delicado que tinha no final de sua blusa – que bom!
- Bom? Por que seria bom?
- Porque eu também estou, e nós dois estarmos me faz sentir o quanto isso finalmente é real – apoiei minha mão em sua perna e senti ela colocar sua mão sobre a minha.
- Você ainda vai me explicar como isso aconteceu? – ela perguntou.
- Você acha que existe alguma explicação? – ri e vi ela rolar os olhos – um dia, quem sabe eu tente. Tem que dar tudo certo primeiro – ela ponderou minha resposta e concordou, começando a encarar a janela novamente.
Estacionei em frente a um restaurante, nada diferente, o que era minha intenção. pareceu se animar quando me viu parando ali, sabia que ela gostava do lugar, e aquilo era o aconchegante em minha ideia.
- Por um momento pensei que você fosse querer inventar moda, fazer qualquer coisa muito diferente – ela riu quando nos encontramos lado a lado e estendi minha mão para entrelaçar na sua.
- Minha intenção é outra, – puxei sua mão para que ela parasse ali onde estávamos e olhasse para mim – eu quero te mostrar que nada vai mudar entre nós, é só mais amor, visto com outros olhos, ainda somos os mesmos – beijei sua testa e notei seu sorriso se abrir cada vez mais.

- Bela hora pra ligar, – falei quando percebi que meu celular tocava e ria da minha expressão.
- Atende – ela falou enquanto víamos nosso prato principal chegando e eu rolei os olhos.
- E aí, , tá fazendo o quê?
- Tô em um encontro, dude – percebi que ria enquanto mexia a cabeça freneticamente de um lado para o outro, como se implorasse para que eu não falasse que estávamos ali juntos.
- Porra, não precisava atender então!
- Tá tudo bem, relaxa! Ela foi... hm... no banheiro!
- Cuidado pra ela não pular a janela, hein – ele soltou uma gargalhada.
- Pode ter certeza que essa não fugiria – pisquei para que concordou um pouco corada – o que você queria?
- Só queria saber se você tava em casa, ia te chamar pra ir na casa da , comer uma pizza, não sei, mas vou lá só então.
- Não! – falei um pouco alto, assustando que me perguntava o que tinha acontecido apenas movimentando seus lábios. - A , ela não tá muito bem... – falei pausadamente.
- Aconteceu alguma coisa? Vou ver ela então!
- É que... ela foi visitar a Lea!
- Por que ela visitaria sua ex, cara?
- Elas ainda são muito amigas, é complicado – ri nervoso. Por mim, eu já estaria declarando ao mundo inteiro que aquela mulher estava me dando uma chance, mas sabia que queria ir aos poucos ao invés de mergulhar de cabeça em qualquer coisa, como sempre foi.
- Bom, vou ligar pra ela então, só pra saber como ela tá. Depois me conta como foi, beleza? Quero saber quem é a azarada – ele gargalhou, e antes que eu pudesse responder sua provocação, o telefone ficou mudo.

- Azarada – falei rindo e colocando aspas no ar, pra que ela entendesse que dissera aquilo no telefone, algo que acredito que ela já esperava – ele vai te ligar;
- Tudo bem – ela disse, tirando o celular do bolso e aguardando a ligação de .

- Ele tinha que fazer a gente perder tempo, né? – falei rolando os olhos enquanto saíamos do restaurante.
- Você vai ser o tipo de cara que vai comentar o encontro? – ela riu e apertou minha bochecha, debochada.
- E se eu for? – impliquei e ela me abraçou de lado, entrelaçando seu braço no meu.
- Vai ser simplesmente mais incrível ainda.

- Quer ir pra casa ver um filme? – ela perguntou.
- Você acha que acabou? – perguntei, olhando-a pelo canto do olho e ela me encarou – topa passar a noite fora? – ela fez uma cara maliciosa, provavelmente para me irritar, pois sabia que eu não tinha essas intenções, não ainda, ao menos.
- Você não vai me sequestrar ou qualquer coisa assim?
- Prometo que não!
- Então, você quem manda.

- A gente vai dormir na sua casa? – ela perguntou quando estacionei o carro no subsolo do meu prédio.
- Não – sorri para ela e descemos do carro. Quando entramos no elevador, ao invés de apertar o número de meu andar, apertei o 15º, que seria o último. me olhou de olhos semicerrados, tentando entender.
Abri o apartamento 154 e entrou atrás de mim, desconfiada. Segurei sua mão e a puxei para dentro, fechando a porta.
- Bem-vinda – a abracei e percebi que ela parecia encantada com o lugar. Eu havia o ajeitado de forma aconchegante. Não existiam muitos móveis ali, pois o apartamento estava sendo vendido, mas os que eu havia conseguido, faziam o trabalho por si só.
- De quem é isso? – ela perguntou enquanto andava de um lado para o outro, olhando cada detalhe.
- O sr. Gary está vendendo ele – falei meio cabisbaixo.
- O sr. Gary vai embora? – ela perguntou assustada e eu confirmei.
- Também estou um pouco sentido, mas estávamos conversando e ele disse que se algum dia eu quisesse subir e olhar a vista, poderia ficar à vontade. Então ele foi viajar com a filha e eu aproveitei, achei que seria legal, vem cá – passei pelo primeiro corredor e puxei comigo, até o local que eu tinha arrumado da melhor forma possível.
O prédio possuía diversas vistas, já que eram 4 apartamentos por andar. O dali, ficava com vista para um pequeno parque onde crianças brincavam e era repleto de árvores. Mas a vista dali era especial por conta da enorme janela que se estendia de ponta a ponta, onde eu havia posicionado uma cama, para que pudéssemos aproveitar juntos. Mas além disso, estávamos chegando ao fim de novembro, e a época preferida de se aproximava, por mais dolorosa que também fosse. Para comemorar o início daquele período que a garota era tão apaixonada, havia posicionado ao lado da cama uma pequena árvore de natal e algumas luzes amareladas, que deixavam o ambiente romântico, aconchegante e incrivelmente lindo.
A reação de não podia ser mais linda, ela me abraçava em meio a pulinhos como se estivesse animada em ver aquela decoração, parecia uma criança ao perceber que a época de presentes estava chegando. Ela pulou em meu colo e beijou minha bochecha diversas vezes, me fazendo rir.
- Não poderia existir um encontro melhor que esse! Ai! – ela estava completamente eufórica e era algo tão lindo de se observar que eu poderia parar o tempo ali para ficar ao seu lado.
- Vem – a puxei para próximo da cama e me deitei, rolando para o lado e puxando uma sacola repleta de besteiras que havia separado para comermos até o outro dia, fazendo com que ela batesse palmas.

- Obrigada – ela disse encostada em meu peito após diversos minutos de silêncio que vieram depois de horas conversando e comendo.
- Por? – perguntei passando a mão em seus cabelos.
- Estar tentando me consertar, não sei – ela deu de ombros.
- Isso eu sempre tentei, uma pena nunca ter conseguido. Mas tenho algo muito sério para falar agora... – ela semicerrou os olhos, curiosa – me promete que não está fazendo isso por mim? Ou por dó, ou por qualquer coisa assim?
- Como assim, ? – ela se levantou, se sentando com as pernas dobradas em minha frente.
- Não sei, ... Só queria que você estivesse feliz com tudo isso da mesma forma que eu estou. Talvez eu já nem esteja mais fazendo sentido.
- Não está mesmo – ela se aproximou novamente, acariciando meu rosto – é algo novo, e uma grande surpresa pensar em desenvolver sentimentos por você, mas eu não podia estar mais apaixonada por esse sentimento.
- Está se apaixonando por mim, ou pelo sentimento? – falei rindo.
- Pelos dois, bobo – ela beijou a ponta de meu nariz como sinal de carinho e se jogou na cama ao meu lado.


9

- Eu precisava mesmo vir com você? – perguntei a enquanto ele se trocava no provador do final do corredor.
- Claro que precisava, você é meu melhor amigo, meu padrinho.
- Que coisa mais de noiva, – dei risada e imaginei que ele estivesse se segurando para levar aquilo a sério também.
- Eu só precisava de um tempo com você, quero saber se você tem um +1 nesse casamento meu querido – ele me encarou quando saiu do provador, com a roupa escolhida para subir ao altar em uma semana.
- Eu não acredito que você tá me enrolando pra saber do meu encontro! Que fofoqueiro! – gargalhei e até mesmo as pessoas que estavam ali em volta se permitiram rir discretamente.
- Você não fala nada! Tá cheio de mistérios!
- Vai encher o saco da com essas coisas, não o meu.
- Fala aí, +1? – ele insistiu de dentro do provador enquanto já tirava a roupa que havia sido ajeitada para suas medidas novamente.
- Meu +1 é a , dude – falei pensando logo que estava dizendo a verdade, mas ele não entenderia, o que me fez rir de mim mesmo – somos padrinhos, não? – ele abriu a cortina e rolou os olhos em minha direção.
- Pior melhor amigo do século, nem pra convidar a garota nova!
- E se ela não for nova? – falei sem pensar.
- Eu conheço? É pior ainda! Espero que você apareça lá com ela, ou eu te quebro, .
- Vamos ver, , vamos ver.

- ! Oi! – a cumprimentou com um abraço apertado quando entramos em seu apartamento para jantar naquela noite. não queria uma festa de despedida ou qualquer baboseira assim, ele dissera que não tinha do que se despedir, estava feliz assim, então apenas decidiu que faria uma noite comendo pizza até vomitar como quando nos conhecemos. Apenas eu, ele e , “como nos velhos tempos” em suas palavras idosas – preparada para vomitar tudo?
- Sem dúvidas! – a garota falou animada enquanto beijava minha bochecha e dizia um “oi” em meu ouvido.
- Cadê o telefone? – parecia que não comia há anos com tanta animação que tinha em si, eu e apenas rimos de seu comportamento selvagem. lhe entregou o telefone e ele saiu animado em direção a cozinha para pegar o cardápio e pedir os mais variados tipos de pizza.

- Senhorita falou com a boca cheia enquanto tentava mastigar seu, sei lá, sétimo pedaço de pizza.
- Lá vem – ela falou esticando as pernas em meu colo e dando mais uma mordida em seu pedaço.
- Eu já sei o que você vai perguntar – me direcionei a e apesar dela tentar disfarçar, sabia que ele tinha me visto rolar os olhos.
- Você sabe quem é a +1 do ? – ele perguntou, direto.
- O tem um +1? – ela falou, fazendo sua melhor expressão de desentendida. Eu adorava aquela garota!
- Você sabe que ele tem! Eu tenho certeza, eles tiveram até mesmo um encontro!
- Mas por que eu saberia? Ele pode fazer suspense para mim também.
- Viu? Você sabe! E ele disse que eu conheço, você com certeza conhece também! Me conta, ! – ele saiu de seu lugar e se jogou no colo dela tentando parecer um coitado com olhinhos piscantes. Ela negou com a cabeça, como se realmente não soubesse de nada – queria saber também, senhor ! Você tem um +1? – ela me encarou brava, e eu entrei em seu jogo.
- Vocês dois estão de brincadeira com a minha cara! Tudo isso porque passei alguns anos fora? Precisam me excluir? – pegou outro pedaço de pizza, como se fosse descontar seu drama na comida.
- Se ela deixar, prometo que no casamento vocês a conhecerão. Bom, formalmente, não? Já que vocês a conhecem – falei sorrindo e olhando diretamente para ela, que pareceu surpresa com minha resposta.
- Eu odeio vocês – rolou os olhos e se rendeu a garrafa de dois litros de refrigerante que estava em sua frente.

- Quero saber, de verdade mesmo, você tá preparado pra casar, ? – ouvi perguntando com a voz abafada, quase caindo de sono, deitada no colo de , que se encontrava num estado de realmente quase vomitar a cada mínima palavra que falava.
- Acho que se ele for te responder, sai vômito – dei uma risada leve, pois não me encontrava na situação de , porém definitivamente algo semelhante.
- Já passei da fase de surtar, estou certo do que estou fazendo – ele falava delicadamente – o que sinto pela Hill é ótimo e nada se compara.
- Dói um pouquinho ouvir isso – falou com um sorriso de lado e vi quase colocar tudo para fora por conta da rapidez em que virou sua atenção para ela.
- ...
- Tá tudo bem, – ela segurou sua mão.
- Não me leve a mal, por favor.
- , você percebeu que você me deixou aqui por anos e voltou com a bomba de que ia se casar? Como se a gente nunca tivesse sido algo? – soltou o que pensara desde o momento em que chegou, e por um momento eu senti que estava sobrando por ali, era algo entre os dois. Tentei me levantar, mas colocou seu pé em minha frente para que eu ficasse ali.
- , você não quis que tentássemos mais nada, eu achei que estava tudo bem.
- Eu estava errada em não querer algo a distância? Eu já estava sofrendo o suficiente. Eu não tenho problemas com isso, seu casamento e tudo mais, estou muito feliz, mas não quero morrer guardando para mim que achei uma tremenda falta de respeito.
abaixou a cabeça naquele momento e ficou em silêncio. Passaram-se minutos e mais minutos num silêncio extremamente constrangedor e incômodo. Abri a boca algumas vezes para puxar assunto, mas apenas saía ar, não era a hora.
- Me desculpa, – ele sussurrou, se aconchegando ao lado dela – me desculpa por tudo.
- Está tudo bem, , eu juro! Eu só acredito que não seria justo comigo, morrer guardando isso. Não se sinta mal ou qualquer coisa, eu também segui minha vida. Talvez tenha demorado um pouco a perceber que podia fazer isso – ela virou seu olhar para mim e abriu um singelo sorriso – mas sei que posso. Mesmo que eu tenha muito medo.
- Não tem porque, pequena, sei que você vai encontrar alguém que vai te amar imensamente, da forma que você merece – olhou para mim por alguns segundos e desviou seu olhar para o chão com a mesma rapidez.


10

- Hoje é o dia de ter que acreditar que meu bebezão tá casando? É isso mesmo? – perguntei a quando o encontrei encostado ao espelho na sala em que ele estava se vestindo.
- Cara, que adrenalina louca, meu Deus! Eu vou arrancar meus cabelos – ele se posicionou em frente ao espelho e se olhou diversas vezes em diversas poses. Fiquei um pouco atrás, apenas me mantendo ali para caso ele precisasse.
- Tô orgulhoso dude, você merece ser muito feliz – ele se virou e me apertou em um abraço cheio de tapas, bem típico de homens emocionados.
- Fico tão feliz que você esteja aqui! Só estaria mais feliz se estivesse com uma acompanhante... – eu rolei os olhos e ele riu – cadê ela?
- Não tem acompanhante, !
- Cadê ela, dude, a !
- Ah, a ! Ela tá lá com a Hillary! Cara, ela tá linda! Sou um padrinho de sorte – falei sincero.
- , por que você não se declara pra ela logo?
- Como assim? – me fiz de desentendido, mas sabia que não tinha mais a opção de esconder ou deixar isso pra lá com .
- Você baba por ela, ! Qualquer um percebe isso. E olha, a única coisa que posso dizer, ela é excelente, cá entre nós – dei um murro em seu ombro, que deve ter doído muito, mesmo sabendo que ele não falava sério, se tinha algo que tinha por desde sempre, era respeito, e eu sabia, por isso, o que viria a seguir – mas assim, espero que você saiba que se você for um eu na vida dela, você não vai sobreviver pra contar a história.
- Engraçadão você, né?
- Então você confirma? – ele perguntou, esperançoso e eu ouvi duas batidas na porta e ela sendo aberta em seguida. passou como um tiro, mesmo de salto, indo para os braços de .
- Você vai casar! – ela falou ainda agarrada a ele.
- Vou! De roupa amassada pelo jeito! – ele falou como se estivesse sendo esmagado.
- Você já foi melhor, chato!
- Eu não ganho um abraço? – perguntei fazendo bico - mal voltou, vai casar, e ainda sou trocado por ele!
- Meu Deus, onde vou parar com esses dois – esse era um bordão que tinha desde que nos conhecíamos, já que dizia que sempre infernizávamos sua vida – já vou subir no altar com você, fica quieto – ela olhou para mim e mostrou a língua.
- Pela primeira vez, certo? Estou ansioso pela próxima – olhou para ele com uma pura expressão de interrogação e em seguida para mim – não sei como demorei tanto pra perceber isso! Cara, foram anos da mesma coisa, eu me enfiei no meio, eu não acredito nisso – bateu com a mão em sua testa e começou a andar de um lado para o outro.
- , querido, tá tudo bem? Tá na hora de você casar – deu risada e cortou o assunto, o puxando para fora da sala para irmos em direção ao altar.
- Me prometam que não vão me deixar de lado por conta disso? – ele perguntou nos olhando quando o deixamos em frente a todos da fila que estavam ali, pronto para fazer seu caminho até onde o padre esperava.
- Prometo – falou e saiu rapidamente do lado dele, me puxando para nosso lugar, algumas pessoas depois. abriu a boca, desacreditado e então pude ver ele sorrir em nossa direção e acenar enquanto enroscava seu braço ao meu, encostando a cabeça em meu ombro.
- Pronto pra casar nosso melhor amigo “barra” meu ex-namorado que me trocou por outro país? – dei risada e pude ver que ela ria também.
- E o melhor... Com o seu futuro namorado ao seu lado – virei seu corpo em minha direção e a encarei nos olhos, encontrando seu rosto corado.
- Atual, talvez? – olhei para ela animado, mas antes que pudesse falar qualquer coisa em resposta, chegava nossa vez de entrar pelas grandes portas da igreja e caminhar até nossos respectivos lugares.

Enquanto o padre dizia as suas palavras e todos ali se comoviam, eu a encarava. Mil pensamentos rondavam minha mente, era estranho como tudo acontecera tão rápido e como eu havia conseguido desenrolar minha língua e ter colocado tudo pra fora. Era um daqueles grandes “finalmente!”. Se estivéssemos em um filme, sem dúvida alguma, nesse momento onde eu decidi parar de sofrer, os espectadores estariam vibrando. E eu sabia que qualquer um à nossa volta também. Ainda tínhamos um longo caminho pela frente, e eu sabia que namorar não seria tão fácil assim, afinal, ainda tinha seus problemas e eu sabia que ela teria que se adaptar. Não correríamos com nada, apesar de eu estar ali em frente a um altar pensando num futuro momento que nem sabia se aconteceria.
- É sério? - perguntei a ela do meu lugar ao lado de , sem emitir som algum, claro.
deu de ombros e sorriu de lado, como se confirmasse. Eu deveria agradecer ao por ser tão insistente, quando saíssemos daqui.

- Você jura, , que a gente vai tentar de tudo pra nunca deixarmos de ser o que somos? - ouvi ela sussurrar enquanto entrelaçávamos nossos braços novamente, para sair da igreja.
- E você acha que tem alguma chance disso? Medrosa – abracei ela antes que nos separássemos para fazer um túnel para que os noivos passassem. Ela negou com a cabeça e percebi que ainda tínhamos um longo caminho para percorrer, mas eu havia a convencido.

- Vai dançar comigo? – puxou da mesa e Hillary vinha logo atrás animada, me puxando também – deixem de melação!
Hillary se movimentava animada em minha frente, girei ela algumas vezes, mas era o máximo que eu sabia fazer em uma dança, não era bem um pé de nada, então ainda bem que aquilo não era valsa. jogava de um lado para o outro enquanto o cabelo da garota se soltava aos poucos, caindo por suas costas de forma que eu sabia que ficariam embaraçados do jeito como ela não gostava. Era engraçado pensar que ali era meu primeiro dia de namoro, e na verdade, eu já conhecia aquela pessoa mais do que a mim mesmo. Essa frase pode ser comum, ou clichê, mas no nosso caso não existia verdade mais absoluta.
- Tá na hora dos micos! – apontei para quando vi o DJ pausar a música e o organizador do casamento chamar os dois para se sentar na mesa em frente ao palco.
As amigas de Hillary subiram ao palco para falar belas palavras, contar algumas histórias de sua infância e até mesmo contar de quantas noites passaram ouvindo sobre , como ele era lindo, perfeito, o homem dos sonhos, no começo do relacionamento, afinal, depois de um ano elas relataram ter que ouvir por uma semana sobre a primeira vez em que ele arrotou brócolis.
- Som, som – bati no microfone para fazer graça – eu odeio minha voz nisso aqui, desnecessário isso, dude – rolei os olhos e ele me mostrou o dedo do meio, algo que provavelmente ficaria registrado nos vídeos.
“Então, tô aqui pra falar sobre esse cara, esse casal. Acredito que do casal, ouvimos bastante não? Até acredito que não era necessário me lembrarem dos arrotos nojentos do , eca! Eu vou ser o cara mala, o amigo puxa-saco, decidi isso nesse momento, já que não preparei nada em casa, porque não sou assim. Até hoje lembro como eu e nos conhecemos, não somente eu e , pois sempre tivemos uma peste no meio, pra nos atazanar – mandei um beijo para e todos riram – mas lembro bem daquela amizade que surgiu por conta de uma bicicleta. ganhara uma bicicleta e foi o primeiro garoto que conheci que sabia andar em uma, então eu e ficávamos o observando andar, até o dia em que ele decidiu nos ensinar aos poucos, com o bom coração que tem. Ele nos acompanhou passo a passo, durante diversas semanas, enquanto protestávamos para nossos pais que merecíamos uma também.
Essa parte de acompanhar passo a passo foi importante pra nós, não só para bicicleta, porque a partir dali, passamos a acompanhar a vida um do outro. Crescemos juntos, passamos pela puberdade juntos, loucuras da escola, diretoria por motivos idiotas como sorvete. Fizemos a crescer sendo chamada de louca por ficar entre dois meninos, ou até mesmo de aproveitadora, afinal, as garotas tinham inveja dela, não que seja pra menos né! Eu e somos demais! Mas o principalmente, ele é uma das melhores pessoas que já conheci nessa vida, qualquer um que fica perto dele sabe disso. Ele é generoso, bonitão, honesto, engraçado, belo, tem um coração maravilhoso, é lindo, gostoso, já falei lindo? Dá pra ver o que a Hill viu nele, não? Só gostaria de pedir um brinde aos dois, pois eles merecem toda a felicidade do mundo nessa vida que passarão juntos. Vocês merecem tudo de melhor na vida de vocês, e saibam que o que for possível fazer para os ajudar nisso, eu farei.”
Levantei a taça de champanhe que estava preparada para o momento e a levantei, brindando com todos que levantaram também suas taças em resposta. Enquanto descia dali, vi se levantando. Fizemos um toque de mão ao nos encontrarmos no caminho e logo eu já estava sentado em nossa mesa, pronto para vê-la falar.
- Oi – ela acenou, um pouco envergonhada – foi meio difícil estar aqui, não é nada fácil escrever um discurso, sabiam? Vou começar a falar logo porque não quero atrapalhar a comemoração de ninguém – ouvi diversas risadas e pequenos aplausos que a deixaram ainda mais envergonhada – então, eu conversei com o antes de estar aqui, eu perguntei o que eu poderia falar ou deixar de falar, e a primeira coisa que ouvi foi “vai na fé que tá tudo bem”, o que significa a incrível pessoa que ele é, como o falou aqui antes. O me chamou para estar aqui, na maior alegria do mundo, o que me chocou a princípio, não posso negar. Como já foi contado, sofri muito em meio a esses dois, e diversas coisas aconteceram, crescemos juntos e passamos por muita coisa, como, por exemplo, nosso primeiro namoro. Apesar das pessoas brincarem muito, chegou um momento em que e eu decidimos namorar, e mesmo que na época eu tenha achado um absurdo ele me trocar por outro país – todos riram de seu comentário – eu entendo agora, como cada um tem um caminho iluminado pra seguir. Quando foi embora, ele conheceu a Hill, e ele me contou tudo isso nesses últimos dias com o maior sorriso no rosto, eu juro, nunca vi alguém tão apaixonado assim na minha vida, foi assim que eu notei como quando Deus tem algo montado pra alguém, não existe um modo de fugir. Eu achei horrível meu melhor amigo e namorado me largar aqui depois que perdi meus pais, largar , seu melhor amigo também, pra estudar em outro país. Mas juro, acredito que teria pensado diferente se eu soubesse que você encontraria a mulher dos seus sonhos em meio a tudo isso. A Hill é tudo que você merece e muito mais, e em pouco tempo, sei que ela te merece da mesma forma. Vocês foram feitos um pro outro – os olhos de estavam cheios de lágrimas enquanto ela apontava para os dois, Hillary chorava copiosamente apesar de tentar se controlar, enquanto puxava o ar tentando segurar o choro – eu me orgulho tanto de ser sua amiga , e agora eu sou ainda mais feliz por saber que tenho a Hill como uma amiga, que sabia da minha importância pra você e me deixou compor esse belo grupo de madrinhas dela, e por saber que vocês dois vão ser imensamente felizes e eu estarei aqui acompanhando. E queria adicionar que Deus mexe mesmo seus pauzinhos quando é pra ser – ela deu de ombros e sorriu para mim, deixando uma piscada para que cutucou Hillary e apontou para mim. A garota abriu a boca e a cobriu com as mãos. Ela riu em seguida, como se estivesse feliz demais com o que havia entendido.
já havia brindado com todos os convidados e enquanto e Hill subiam ao palco para agradecer os votos antes da valsa que decidiram que ficaria para metade da festa após os votos, ela vinha em minha direção de cabeça baixa. Olhei para ela e aplaudi, fazendo ela corar. Antes de se sentar, a garota se aproximou de minha cadeira e ficando na mesma altura que eu, juntou nossos lábios em um rápido selinho. Ela me olhou sorrindo pelo pequeno susto que eu havia tomado e deu a volta em minha cadeira, indo se sentar na sua.
- Madrinhas e padrinhos, por favor, se juntar em volta do casal para a primeira dança – ouvimos o organizador falar ao microfone e então nos posicionamos de braços entrelaçados à direita dos noivos.
A Thousand Years soou pelos alto-falantes e eu ri, pois sabia que não gostava daquela música, pois havia sido viciada em Crepúsculo e nos fizera ficar ouvindo diversas vezes, provavelmente ele não pudera dizer não para a, agora, esposa. Os dois dançavam em meio aos casais com enormes sorrisos nos rostos, olhares fixos e passos lentos, conduzia Hill de forma delicada, e a mulher parecia estar absorta por entre aquela imagem. Os dois se completavam, e isso era aparente até mesmo em uma dança no meio de tantas pessoas. Quão raro é um amor assim.
O organizador se aproximou de nós e disse que deveríamos nos juntar a eles também dançando, parecia animada, mas quando viu meu rosto desesperado começou a rir. Neguei com a cabeça para ela e ela segurou minha mão, me puxando para perto.
- Vem – ela nos levou para mais perto dos dois e enquanto os outros casais já dançavam, a garota estava colocando uma mão minha em sua cintura e a outra bem segura junto a dela. Sua outra mão grudou em meu ombro e então ela começou a se mover de um lado para o outro devagar. Perdi meu olhar no chão, hipnotizado pelo balanço do seu vestido e pensando insistentemente em maneiras de não pisar em seu pé.
- Olha pra mim, – ela puxou meu rosto para cima – é uma valsa.
- Desculpa – sorri para ela e tentei me concentrar em meus pés com os olhos focados nos seus – é meio difícil me concentrar em qualquer coisa olhando pra você, e não to querendo ser romântico ou qualquer coisa assim, é muito sério.
- Você não existe – ela aproximou o corpo do meu para se encostar em meu peito – obrigada por ser o melhor amigo do mundo, . E o melhor de tudo, por esperar tanto tempo por mim – ela se escondeu em meu peito e eu percebi pelo movimentar de seus ombros que ela chorava.
- , por que você tá chorando? Ei – tentei tirar ela daquela posição e ela apenas negava com a cabeça, que não queria sair.
Quando a música acabou ela ainda estava recostada em meu corpo, vi Hillary vindo em nossa direção e tentei fazer com que ela se mexesse.
- Vocês ficam tão lindos juntos! Eu sabia que tinha alguma coisa rolando! – Hill nos abraçou em conjunto quando se aproximou de nós. então se desvencilhou do abraço e saiu andando a passos largos em direção a porta que levava para a área externa do salão – , tá tudo bem? Eu fiz alguma coisa? – percebi que ela ficara assustada, mas coloquei a mão sobre seu ombro a tranquilizando de que estava tudo bem, e corri na mesma direção que tinha ido.
- ? – falei um pouco mais alto, esperando alguma resposta. Ela não me respondeu, mas a encontrei sentada em um canteiro do jardim – ei, o que aconteceu? – me sentei ao lado dela jogando meu braço por seu ombro.
- Desculpa, – ela encostou a cabeça em meu ombro – eu não sei o que tá acontecendo, não sei mesmo, tô um pouco perdida, sei lá. É tudo tão surreal.
- Mas, , surreal de ruim? – me assustei.
- Não! Por favor, não pense isso! Foi tudo tão rápido, foi muita coisa acontecendo de uma vez, não sei. Você é tão incrível e talvez eu esteja me sentindo mal por não acreditar que mereço ou por ter medo de te perder duas vezes mais agora ou por só estar completamente assustada.
- Posso fazer uma pergunta séria? – ela assentiu – você tá feliz? Eu quero a verdade.
- Muito. É esquisito, te beijar ainda parece algo absurdo, mas dá uma sensação tão louca e tantas borboletas no estômago que não tem como não perceber que é a coisa mais certa do mundo – ela saiu da posição que estava e olhou para mim com um sorriso no rosto.
- Você nunca percebeu? – perguntei.
- O quê?
- Que eu gosto de você, há sabe Deus quanto tempo – ela negou com a cabeça, rindo – como você é estranha, acho que até o Papa sabia disso – bati com a mão em minha testa, fazendo com que ela desse uma gargalhada.
- Eu nunca podia imaginar, , sério mesmo. Você teve tantas namoradas, é tão bom comigo, cuida de mim. Eu nunca imaginaria que seria logo minha pessoa preferida do mundo a se apaixonar por mim, é como se eu não merecesse tanto. Você me viu namorar nosso melhor amigo, e ainda assim sempre foi meu ombro pra chorar. Por que demorou tanto tempo?
- Medo, talvez, de ser rejeitado – dei de ombros, sendo sincero – mas eu não poderia mais ficar assistindo você se machucar, , eu quero ser a pessoa a te fazer feliz, que é a explicação pra esse sorriso no seu rosto, assim como você sempre foi o meu.
- Tenho medo de enlouquecer do nada e as coisas darem errado, parece tudo bom demais pra ser verdade.
- Eu falei, a gente vai conseguir, ! Se as coisas começarem a dar errado, a gente acerta, se você quiser desistir, a gente desiste. Mas lembra sempre que se você cair, eu vou estar aqui pra te segurar, como sempre foi, só precisamos ser os mesmos e de sempre – a abracei e beijei o topo de sua cabeça – a Hill ficou um pouco sentida que você saiu correndo dela – falei, rindo.
- Ai meu Deus, eu não presto! – ela falou rindo e se levantou, me puxando pela mão – sabe uma coisa que tô ansiosa? – a olhei de olhos semicerrados – contar pra sua mãe! Ela vai surtar, certeza!
- , até minha mãe já sabia! – eu ri e ela me olhou indignada – ela sempre me chamou de idiota por não tentar, ela que conversou com a Lea sobre isso e elas chegaram ao consenso de que ninguém nunca teria o espaço que você tem na minha vida, o que nunca vai deixar de ser verdade – ela abriu a boca em um “O”, digerindo a informação.
- Vocês todos são inacreditáveis – ela rolou os olhos e me deu um selinho demorado antes de me puxar de volta para dentro do salão.


11

- Ela sabe? Que você tomou coragem? – me perguntou quando estacionei o carro em frente a grande casa dos meus pais.
- Não! Eu não quis contar pra ela, achei que seria mais legal ela ver. Minha intenção a princípio era no casamento, mas como ela não pode ir, só avisei que viria aqui algum dia desse mês.
Meus pais haviam se mudado para uma cidade do interior, e apesar de visitá-los semanalmente, algumas vezes com os horários do hospital, era difícil conciliar as coisas. Fazia um mês que e eu namorávamos, um mês do casamento de , estávamos bem e a garota parecia estar radiante todos os dias, o que me fazia ainda mais feliz do que já poderia ser. Era inacreditável que eu havia conseguido, e eu sabia que aos poucos, ela passaria a se sentir ainda melhor com tudo. Os beijos já não eram mais estranhos, apesar de no início ela parecer evitar um pouco e até eu mesmo me convencer que amava mas, não deixava de ser estranho por isso.
- Será que ela vai ficar feliz?
- Sem dúvida nenhuma! – toquei a campainha da casa e logo minha mãe estava ali desesperada de felicidade nos abraçando. sempre a visitava comigo, ela era como uma mãe para minha namorada, principalmente desde que os pais haviam morrido.
- Ai, , que felicidade te ver aqui! Não imaginei que vinha, estava morrendo de saudades – minha mãe parecia não querer soltar a garota, então a foi puxando para dentro ainda em meio a um abraço.
- Filho! ! Que bom que chegaram! – meu pai andou rápido da cozinha até nós, abraçando primeiro e depois a mim.
- Às vezes sinto que vocês preferem mais ela do que eu! – falei fazendo drama e revirando os olhos, riu e então todos se entreolharam e andaram em minha direção para um abraço em grupo. Talvez eu tivesse pais muito amorosos, só talvez. O amor dos dois era o que me fazia sonhar em viver o mesmo, eles eram meus exemplos na vida.
- Venham, a comida já está esperando vocês! , fiz batatas do jeito que você gosta! E olha que eu nem imaginava que você estaria aqui! – minha mãe a puxou pela mão e eu me aproximei dela sussurrando em seu ouvido um “ela nem imagina que agora você nem vai ter mais opção além de vir” a fazendo rir.
- Nossa! Antes de vocês sentarem, eu esqueci uma coisa! Não acredito – falei, colocando minhas mãos na cabeça como se estivesse desesperado.
- Tá tudo bem, filho? – meu pai perguntou e me olhou curiosa.
- Eu tenho que apresentar uma pessoa pra vocês! – caminhei até e coloquei a mão sobre os ombros dela. A garota ria e meus pais tentavam entender a cena – essa é acenou para os dois, que estavam tentando entender a brincadeira – minha namorada.
- O quê? – minha mãe gritou já com lágrimas em seus olhos, assim como eu imaginava da maior torcedora para que aquilo acontecesse.
- ! Eu não acredito! Finalmente! – meu pai falou já eufórico. Os dois correram em nossa direção e nos abraçaram, minha mãe derrubando lágrimas entre nós e meu pai rindo de felicidade. parecia estar segurando suas lágrimas também, sentindo o carinho por ela que vinha dos dois. Provavelmente estava pensando nos pais, e em como eles reagiriam, assim como os meus. Eu tinha certeza que eles estariam tão felizes quanto os meus, onde quer que estivessem, a mãe de era como uma mãe pra mim, e sempre me orientara a cuidar dela, esperava que ela estivesse vendo que eu o estava fazendo, e era a pessoa mais feliz do mundo por isso.
- Eu achei que vocês não iam acreditar – falou quando eles nos soltaram e minha mãe limpava o rosto.
- Olha esse garoto, ele está radiante! – meu pai falou, me envergonhando.
- E você está linda , parece muito melhor do que o normal, só o amor faz isso com uma pessoa. Eu estou tão feliz, acho que nem tenho mais fome!
- Eu tenho – falei.
- Você sempre tem – rolou os olhos e me abraçou de lado, fazendo com que o casal em nossa frente sorrisse.
- Eu só desejo tudo de melhor no mundo para os dois, e espero que vocês sejam tão felizes quanto nós dois, vocês merecem – meu pai falou, abraçando minha mãe.
- Vamos tirar uma foto pra registrar essa cena! – minha mãe correu para a sala pra pegar sua câmera e seu tripé, como a boa fotógrafa que era – se juntem ali!
Ela arrumou a câmera na posição desejada e provavelmente mexeu em iluminação e tudo mais que deixasse a foto perfeita como só ela sabia. Eu abracei por trás, encostando minha cabeça na sua, e quando minha mãe ligou o temporizador e correu para nossa direção, meu pai fez o mesmo com ela e se aproximou de nós.
O flash foi disparado e eu não consigo nem imaginar como aquela foto ficara, mas eu sabia que ela pararia na parede de minha mãe, e provavelmente na minha e na de também.




Fim.



Nota da autora: Oi gente! E aí, o que acharam? Essa música é o amor da minha vida, uma das minhas preferidas sem dúvida alguma! Espero que eu tenha feito ela da forma como vocês imaginavam e vocês tenham gostado! Me contem tudo hein? Quero sinceridade hahaha beijos e até a próxima. 💙



Outras fics:
Two Worlds Collide (Em Andamento/Harry Potter e Percy Jackson)
04. She Will Be Loved [Ficstape/Shortfic]
14. Maneira Errada (continuação de She Will Be Loved) [Ficstape/Shortfic]
06. Uma Criança Com Seu Olhar [Mixtape/Shortfic]
08. Two Worlds Collide [Ficstape/Shortfic]



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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