Prólogo
Os dedos entrelaçavam-se com força, sustentados por uma emoção que não cabia no peito das duas mulheres: estavam, finalmente, vivenciando aquele momento.
As gotas de suor escorriam e misturavam-se com as lágrimas, que, por sua vez, transformavam-se em pura expectativa ao percorrer o rosto de . Sentada, com as costas levemente arqueadas, encontrava-se dentro de uma piscina de plástico presente na sala de sua casa. A mulher que, ao lado, agarrava-lhe os dedos era sua mãe, Carmen, que se ajoelhava ao lado da piscina.
Na sala, ainda estavam mais duas mulheres: a médica obstetra, parada em frente à , e a doula que lhe havia acompanhado durante toda a gestação. Não existiu, em toda humanidade, momento mais bonito do que aquele, o pensamento ecoava nas mentes de todas as mulheres presentes - ou, quase todas, visto que estava mais preocupada em inspirar, expirar e empurrar!
— Com força! — pedia-lhe a doutora.
Os gritos arranhavam a garganta da gestante, deixando-a sentindo como se não fosse possível passar por aquilo e sair inteira. As palavras que a mãe proferia a acalmavam, e as mãos da doula a consolavam; entretanto, nada parecia dar-lhe força suficiente.
— Ela está bem aqui — proferiu a médica. — Abra os olhos, ! — insistiu — Abra os olhos!
Fazendo um esforço surreal, abriu os olhos - que arderam por conta do suor -, apenas para vivenciar a cena mais bonita de sua vida inteira; aquela cena que nunca mais lhe sairia da cabeça e do coração. O choro agudo invadiu o ambiente e contracenou com um suspiro pesado de alívio que escapou do peito de . Logo, não era apenas o bebê que chorava; todas as mulheres continham o peito estufado e as gargantas estreitas.
Sentindo o carinho de Carmen, pegou sua filha no colo, ancorando-a em seu peito. O calor do corpo da mãe acalmava a criança recém-nascida, que já encontrava conforto nos braços daquela que a havia carregado por tanto tempo.
Com lágrimas nos olhos e o coração explodindo em felicidade, murmurou:
— Bem vinda ao mundo, .
As gotas de suor escorriam e misturavam-se com as lágrimas, que, por sua vez, transformavam-se em pura expectativa ao percorrer o rosto de . Sentada, com as costas levemente arqueadas, encontrava-se dentro de uma piscina de plástico presente na sala de sua casa. A mulher que, ao lado, agarrava-lhe os dedos era sua mãe, Carmen, que se ajoelhava ao lado da piscina.
Na sala, ainda estavam mais duas mulheres: a médica obstetra, parada em frente à , e a doula que lhe havia acompanhado durante toda a gestação. Não existiu, em toda humanidade, momento mais bonito do que aquele, o pensamento ecoava nas mentes de todas as mulheres presentes - ou, quase todas, visto que estava mais preocupada em inspirar, expirar e empurrar!
— Com força! — pedia-lhe a doutora.
Os gritos arranhavam a garganta da gestante, deixando-a sentindo como se não fosse possível passar por aquilo e sair inteira. As palavras que a mãe proferia a acalmavam, e as mãos da doula a consolavam; entretanto, nada parecia dar-lhe força suficiente.
— Ela está bem aqui — proferiu a médica. — Abra os olhos, ! — insistiu — Abra os olhos!
Fazendo um esforço surreal, abriu os olhos - que arderam por conta do suor -, apenas para vivenciar a cena mais bonita de sua vida inteira; aquela cena que nunca mais lhe sairia da cabeça e do coração. O choro agudo invadiu o ambiente e contracenou com um suspiro pesado de alívio que escapou do peito de . Logo, não era apenas o bebê que chorava; todas as mulheres continham o peito estufado e as gargantas estreitas.
Sentindo o carinho de Carmen, pegou sua filha no colo, ancorando-a em seu peito. O calor do corpo da mãe acalmava a criança recém-nascida, que já encontrava conforto nos braços daquela que a havia carregado por tanto tempo.
Com lágrimas nos olhos e o coração explodindo em felicidade, murmurou:
— Bem vinda ao mundo, .
Capítulo Único
— Você pegou tudo que queria? — perguntou, enquanto passava os olhos pelo quarto da filha, procurando qualquer objeto que pudesse fazer falta naqueles próximos quatro dias.
— Sim, mami — a pequena respondeu, com um sorriso sapeca brotando em seus lábios. Apertava em seus braços Benny, o urso da qual ela nunca se separava, e usava em sua cabeça um pequeno chapéu estilo bucket com tecido jeans.
Mãe e filha caminharam para fora do apartamento e, por conseguinte, para fora do prédio em que moravam, até chegar no estacionamento do edifício. não parava de fazer planos sobre a altura do castelo que montaria com a areia da praia, o que fazia crescer a expectativa no peito da pequena e a segurança no coração da mãe.
— Não esqueça das plantas, Ella — murmurou contra o telefone. Ainda que já dentro do carro, não havia dado partida e aproveitava aqueles minutos para conversar com a melhor amiga.
— Não vou, mulher, desencana disso. Você já deu uma olhada naquela samambaia que tenho lá em casa? Está sinistra de tanta clorofila.
— Essa samambaia não foi a que você comprou semana passada? — perguntou, enquanto ria da amiga. — Não deu nem tempo de você esquecer de regá-la.
— Quanta petulância! Isso não vem ao caso, OK? — Ella respondeu, revirando os olhos. A mulher apertava o telefone com a orelha contra os ombros, ao passo que utilizava as mãos para pintar os dedos dos pés — A questão é: uma vez por dia, regar as plantas da cozinha…
— Sempre à noite — interrompeu .
— Por Deus, , você acha que sou incompetente? Não brinco em serviço, não — Ella fez piada. — Mas só para garantir: regar as plantas à noite, abrir as janelas e colocar os tapetes no sol, é isso?
— Isso. Obrigada, Ella.
suspirou, aliviada por ter com quem contar.
— Imagina, amiga. Agora vai lá, que a deve estar impaciente já, se eu bem conheço a minha afilhada.
soltou uma risada alta, que atraiu a atenção da filha.
— Quer falar com a dinda, filha?
— Sim! — a pequena respondeu animada, levantando os bracinhos em empolgação para receber o telefone da mãe. — Oi dinda… Sim, o Benny vai comigo… A gente vai domingar, dinda! Beijos… Eu também te amo.
Ao receber o telefone em suas mãos novamente, escutou as seguintes palavras:
— Boa domingada, amiga — Ella murmurou, soltando uma risada divertida. — Até quarta! E aproveita para desligar dessa bobeira…
— Deixa comigo — respondeu. — Beijos.
Dito isso, deu partida no carro e ela e começaram a viagem até Tramandaí.
— Mami, pode colocar de novo?
— De novo, meu amor? — a mais velha perguntou, quase que fazendo manha. assentiu animada e começou a bater palmas quando a mãe direcionou seus dedos ao aparelho de som e a trilha sonora de Carrossel ecoou pelo carro mais uma vez.
Em resposta à cantoria e à animação de , um tímido sorriso admirado surgia no rosto de . Um daqueles sorrisos que abria-se minimamente, mas que escondia um sentimento profundo e largo. Infinito, ela dizia para filha, ao se referir ao quanto a amava.
Quanto é infinito, mami? perguntava, forçando seus incipientes neurônios a acostumarem-se com a imensidão.
— Está animada com o mar, filha? — perguntou durante uma das pausas do CD.
— Siiiiim, mãe, muito! Eu até sonhei com Tamandraí!
soltou um pequeno riso ao olhar nos olhos empolgados de sua filha pelo retrovisor.
— Tramandaí, — a corrigiu com gentileza. — É mesmo? Você chegou a sonhar?! Pode me contar tudo que você sonhou um dia para chegar aqui…
— Eu não me lembro direito, mãe, mas envolvia um castelo de areia beeeeem gigante. Tipo infinito de tão grande!
— É sério?! — perguntou, abrindo os olhos e montando uma expressão de espanto em seu rosto — Maior que você mesma, ?
— Maior, mami, maior até que o tio Ícaro!
— Meu Deus! Então vamos precisar chegar bem cedo na praia, para você encontrar toda a areia que precisa — a mãe falou, fazendo graça e soltou uma gargalhada divertida. Aos cinco anos de idade, a pequena divertia-se com basicamente tudo que a mãe lhe falava e sempre acabava por soltar uma de suas risadas agudas e doces.
As duas seguiram cantando as faixas de Carrossel, até um ponto em que a própria enjoou-se e pediu para a mãe colocar na rádio, que tocava a música “Me Adora” da Pitty - lançamento de anos atrás, mas que ainda era um sucesso.
— Mami — murmurou, um pouco confusa —, o que é foda?
quase freou o carro ou engasgou-se com a própria saliva. Estava há cinco anos lidando com o fato de que estava conhecendo o mundo - e isso resultava em uma série de “o que é isso” “por que é dessa forma” “como isso acontece” - e, ainda assim, não acostumara-se a responder.
A mulher trocou os olhos da freeway em sua frente para , que balançava suas pernas curtas e a olhava com os olhos esbugalhados em curiosidade. Pense, , pense, dizia para si mesma.
— Hum… Foda é… Uma palavra um tanto quanto desagradável.
— O que é desagradável, mãe?
— Desagradável é quando a gente, mesmo sem querer, irrita os outros ou deixa eles triste, sabe, filha?
assentiu do banco de trás, enquanto levava seu fino e pequeno indicador ao canto da boca - gesto que deixava clara sua atitude de reflexão.
— Mas por que ela canta essa palavra, então, mami?
— Hã… — começou a elaborar alguma resposta que, mais uma vez, a colocaria na posição de ter que explicar novos termos e situações, quando apenas soltou um suspiro e disse:
— Deixa, mami, não emporta. Eu tenho uma ideia…
— Importa, baby — corrigiu com a voz baixa, sabendo que a filha provavelmente não a estaria ouvindo, uma vez que estava imersa em pensamentos. — Qual a sua ideia?
A viagem seguiu com a música de Pitty ecoando pelo carro, ainda mais depois que havia pedido à mãe que aumentasse o volume. cantava as partes que sabia a todo vapor. Com dedicação e compromisso à música, soltava dos pulmões todo o ar para proferir as seguintes palavras:
— Que você me adora… Que me acha soda!
E o tão habitual sorriso admirado pairava nos lábios de .
Ao chegarem no condomínio, as duas garotas desceram animadas do carro e caminharam, de mãos dadas, rumo ao apartamento. , carregada de sacolas do supermercado, puxando com sua mão livre a mala compartilhada das duas; , por sua vez, saltitando e carregando em seu abraço Benny.
— Mami, podemos ir para a praia hoje? Por favor, por favor, por favor… — perguntava, enquanto corria pela pequena sala do apartamento. A mobília era um tanto quanto antiga, já dos pais de , que haviam comprado aquele apartamento quando engravidaram da menina. Ainda assim, tudo estava severamente conservado e limpo, mesmo que com alguns efeitos da maresia.
— Acho que sim, meu amor, mas primeiro temos que organizar tudo, não é? — perguntou e observou uma serelepe murchar e assentir devagar, sem todo aquele ânimo. — Isso é rápido, , ainda mais se fizermos em conjunto.
— O que é con… Cojuto, mãe?
— Conjunto — a mais velha respondeu —, significa, nesse caso, fazer juntas. Por exemplo, você me ajudar a guardar as compras na geladeira.
— Ah, não! — levou uma das mãos à testa e atuou um pequeno melodrama, simulando um desmaio, apenas para não ter que ajudar sua mãe. Todavia, alguns minutos depois, lá estava ela guardando o suco de pêssego na primeira prateleira da geladeira.
Cerca de uma hora depois, e encontravam-se quase prontas para a praia. A mãe terminava de aplicar protetor nas costas da filha, que estava com muita dificuldade para manter-se quieta.
— Vamos, mami, canta aquela música.
— Qual, meu amor?
— Aquela, mãe… Pegue o seu chapéu.
— Pegue sua esteira e o seu chapéu, vamos para a praia que o sol já vem — cantarolava e ditava o ritmo para o balançar de .
— Lá lá lá lá — a mais nova proferia, ao ritmo das palavras da mãe.
Aquela canção era quase como uma tradição entre as duas. Com aquela trilha sonora, empacotaram em uma bolsa de pano duas toalhas, um protetor solar e um repelente, duas notas de vinte reais, um óculos de mergulho e um de sol e todos os brinquedos de areia de .
Atravessaram a rua em frente ao condomínio e já estavam na beira do calçadão. Mais alguns passos: cruzaram a pequena ponte que as levava diretamente à areia e, de repente, estavam de frente para a imensidão azul, que refletia o dourado do sol e entregava, aos ouvidos das duas admiradas, uma melodia contagiante de ondas quebrando ao pé da costa.
— Mãe? — murmurou, puxando os dedos de e fazendo-a inclinar-se na direção da filha. — Qual o tamanho do mar?
O tamanho do mar… Quando fora a última vez que pensara a respeito? não sabia responder, nem mesmo lembrava quando aprendera que o oceano cobria mais de 70% da superfície do planeta. Mesmo que com a resposta na ponta da língua, perguntou-se a si mesma como transformar aquele dado em algo palpável para a filha, que a encarava, esperando uma resposta.
— Você lembra — iniciou murmurando, mas, então, coçou a garganta e sua voz se encorpou — daquele bolo que pedimos uma vez, de creme com chocolate? No aniversário de sua vó.
— Sim…
— E você lembra que veio muito mais creme do que chocolate?
— Muuuuuuuuito mais, mãe! — brincou, rindo.
— Sim — a mãe sorriu —, é mais ou menos assim com a água e com a terra. Tem muuuuuuito mais água do que terra no planeta.
— Então… Tem tanto mar quanto tinha creme?! — perguntou, assustada com a dimensão que o oceano poderia ter. Em resposta, obteve um aceno de cabeça. — E o que acontece quando chega no fim, mami?
— Hum… Você lembra que, esses dias, conversamos sobre o planeta Terra ser redondo? Igual a uma laranja? — apenas assentiu — A água que a gente vê aqui, em Tramandaí, é a mesma água que as pessoas veem em outros lugares… Ela, hã, faz a volta… Em torno do planeta Terra…
percebera que a conversa estava tomando rumos em que a colocavam sem saber quais palavras utilizar. Seja mais didática, pelo amor de Deus, pensou para si mesma. A confusão estampada nos olhos da filha fazia seu coração descompassar em uma ou duas batidas.
— O fim do mar é em outra praia, , isso que quero dizer.
— Isso é muito louco, mãe! — a pequena gritou e saltitou em direção ao mar. Alguns metros para trás, estava , ainda martirizando-se por não saber como explicar de uma forma infantil. Precisaria de mais alguns daqueles cursos que fizera na internet sobre pedagogia e tato.
já havia montado e desmontado e, então, montado novamente seu super castelo de areia. Decepcionara-se ao descobrir que era difícil fazer com que ele ficasse infinito de tão grande, porque, quanto mais alto, mais facilmente desmoronava. Naquele exato momento, deliciava-se com um milho amanteigado e salgado - merecido para quem trabalhara tão duro. , sentada na cadeira ao lado e embaixo do mesmo guarda-sol, bebia um suco de abacaxi com hortelã.
Uma vez que terminada a “pausa para o lanche”, sentiu seu corpo relaxar e um pequeno cansaço a abateu. , percebendo a reação da filha, estendeu a canga que trouxera amarrada em sua cintura no chão e colocou as toalhas dobradas para servirem como travesseiros. As duas, então, deitaram sobre a canga e sob as nuvens do céu, que escondiam um sol já fraco.
— Mami? — murmurou e sentiu seus músculos contraírem. Pense em uma resposta didática, martirizou.
— Sim, meu amor?
— Do que são feitas as nuvens? Elas são de… Como era o nome daquela coisa?
— Qual coisa, ?
— Aquela que você usou no dia em que me cortei…
— Algodão, meu amor?
— Sim, mami, algodão. As nuvens são feitas de algodão?
Resposta didática, resposta didática, resposta didática…
— As nuvens não são feitas de algodão, filha, elas são feitas de água.
— De água?! Mas como assim, mãe?!
Os olhos saltados de combinavam exatamente com a sua postura: a descoberta a fizera arquear o corpo e, então, encontrava-se não mais deitada, mas sentada com as pernas cruzadas, olhando incrédula para .
— Eu vou te mostrar quando chegarmos em casa, prometo — respondeu, imaginando que, com a água fervendo e formando vapor, seria mais fácil para sua filha entender o que perguntava. — Agora deita aqui comigo de novo! — murmurou, pegando a filha pela barriga e a colocando em seu abraço.
— As nuvens também podem ser feitas de sonho, sabia?
— Sério, mãe?
— Sim… Se olharmos atentamente, poderemos ver que elas nos contam uma história; são cheias de símbolos e de alegria.
As duas direcionaram seus olhares para o céu - e assim ficaram por algum tempo.
— Olhe, mãe, eu estou vendo um coelho ali, você consegue ver?
— Ah! Sim, , e olhe aqui, essa parece uma cenoura, não parece?
— Aquela ali parece um… Um dagrão sem cabeça, usando vestido e com o rabo pegando fogo! — exclamou, abismada.
— Hum… Não consegui localizar essa — murmurou , segurando uma risada e sem coragem de corrigir a palavra “dragão” e interromper o momento mágico da filha.
Novamente, sentara na canga e cruzara suas pernas. Seus olhos a entregavam: mais uma pergunta viria.
— Mas, mami, do que é feito o sol?
— E você quer a explicação científica ou a comum? — perguntou, como sempre fazia quando lhe perguntava aquele tipo de coisa. Ela não vai entender, as pessoas diziam à . Tudo bem, ela não precisa entender. Só quero que se familiarize, era o que ela respondia, calma e ciente de que conhecer e se familiarizar com o mundo não causaria nenhum dano à filha.
— A cien… Científica — exclamou, com certa dificuldade de pronunciar a palavra.
— Bem… O sol é uma estrela…
— Como as que aparecem de noite? — a interrompeu, curiosa.
— Sim, como as que aparecem de noite. Só que ele parece maior, porque está mais perto da gente, do planeta Terra. — media suas palavras e observava as reações de — Para nós, o sol é a estrela mais importante, porque ele fornece calor.
— Mas como ele faz isso, mami?
com as pernas cruzadas, os braços repousando levemente sobre as pernas e a cabeça inclinada para o lado divertia , que sentia-se encurralada pelas perguntas da filha, sem saber até onde ir.
Com um sorriso divertido, fez graça:
— Hoje você está para descomplicar dilemas ancestrais, hein!
— O que são dilemas ancestrais? — perguntou, fazendo com que uma gargalhada escapasse da garganta de e ela olhasse em direção a filha. Em seu cérebro, as sinapses aconteciam rápida e precisamente, enquanto trabalhavam para formular duas novas explicações.
De qualquer maneira - ela conseguindo ou não encontrar as tais palavras didáticas que tanto queria -, era bom estar ali com a filha. Era bom apenas poder sentar e conversar e falar besteira com a pessoa que mais amava no mundo inteiro.
— Mãe? — chamou, enquanto caminhava do quarto para a cozinha. estava terminando de fazer o molho para o cachorro quente que iriam comer de janta. — Você acha que meu pai gosta de praia?
Aquela pergunta era, definitivamente, mais difícil de contornar do que as outras. A resposta era simples, obviamente, mas o rebuliço causado dentro do corpo de dificultava sua cognição. Era para ser um assunto fácil, reprimia a si mesma. Entretanto, ainda que sem deixar desconfiar que aquele tema em específico lhe causava mal estar, aquele tema em específico lhe causava, sim, mal estar.
— Ele ama — murmurou, engolindo todos os seus pensamentos e todas as reações bioquímicas que a acometiam. Largou a colher com a qual mexia o molho e aproximou-se da filha. — E ele vai amar vir aqui com você. Tudo é melhor na tua companhia.
— Quando ele vem, mami?
Queria ter a resposta, filha, desejou a mais velha, sentindo sua garganta arder com a passagem da saliva.
— Ele vem quando… Quando ele conseguir voltar.
— Tomara que seja logo, né?
— Sim, meu amor, tomara que seja logo — respondeu, passando suas mãos pelos cabelos da filha. — Enquanto o esperamos — disse, com o tom de voz mais animado, tentando distrair —, que tal comermos um deliciosíssimo cachorro quente?
— Delio… O quê? — tentou debochar da mãe, que lhe respondeu mostrando a língua, o que fez as duas rirem.
Depois de jantarem, mãe e filha estavam deitadas sobre o colchão, que permanecia no chão da sala do apartamento. As duas estavam olhando um episódio de A mansão Foster para amigos imaginários e comendo sorvete.
— Mami, posso te contar um segredo?
— Claro, meu amor, você sempre pode confiar em mim.
— Você é minha melhor amiga, tipo, de todas, todas, todas.
— Você também é a minha melhor amiga, ! Meu amor maior!
— Eu te amo muito, mami!
— Eu também te amo, minha gatinha! Te amo mais do que qualquer outra coisa nesse universo…
— Infinito.
— Infinito.
parou, então, e olhou para sua mãe com uma feição séria:
— Mãe, e a dinda Ella?
— O que tem, ? — perguntou.
— Ela vai ficar triste se não for nossa melhor amiga…
— Bom — respondeu, pensativa —, ela pode ser nossa segunda melhor amiga, o que acha disso?
permaneceu pensativa por algum tempo.
— Acho que pode ser… Mas daí você não pode contar nada para a Tina, porque ela vai ficar triste se descobrir que é só a minha terceira melhor amiga — explicou, referindo-se à amiga da escola.
— Prometo não contar nada — jurou, estendendo um dedo mínimo para as duas fazerem a promessa. Depois do juramento, segurou os dedos da mãe e voltou sua atenção à televisão novamente, enquanto tomava o tão esperado suco de pêssego em sua mamadeira - outro dos tantos segredos que as duas guardavam.
sorriu, por fim, poderia seguir daquela forma pela vida inteira.
Nessa paz eu vou
Munido de amor…
— Sim, mami — a pequena respondeu, com um sorriso sapeca brotando em seus lábios. Apertava em seus braços Benny, o urso da qual ela nunca se separava, e usava em sua cabeça um pequeno chapéu estilo bucket com tecido jeans.
Mãe e filha caminharam para fora do apartamento e, por conseguinte, para fora do prédio em que moravam, até chegar no estacionamento do edifício. não parava de fazer planos sobre a altura do castelo que montaria com a areia da praia, o que fazia crescer a expectativa no peito da pequena e a segurança no coração da mãe.
— Não esqueça das plantas, Ella — murmurou contra o telefone. Ainda que já dentro do carro, não havia dado partida e aproveitava aqueles minutos para conversar com a melhor amiga.
— Não vou, mulher, desencana disso. Você já deu uma olhada naquela samambaia que tenho lá em casa? Está sinistra de tanta clorofila.
— Essa samambaia não foi a que você comprou semana passada? — perguntou, enquanto ria da amiga. — Não deu nem tempo de você esquecer de regá-la.
— Quanta petulância! Isso não vem ao caso, OK? — Ella respondeu, revirando os olhos. A mulher apertava o telefone com a orelha contra os ombros, ao passo que utilizava as mãos para pintar os dedos dos pés — A questão é: uma vez por dia, regar as plantas da cozinha…
— Sempre à noite — interrompeu .
— Por Deus, , você acha que sou incompetente? Não brinco em serviço, não — Ella fez piada. — Mas só para garantir: regar as plantas à noite, abrir as janelas e colocar os tapetes no sol, é isso?
— Isso. Obrigada, Ella.
suspirou, aliviada por ter com quem contar.
— Imagina, amiga. Agora vai lá, que a deve estar impaciente já, se eu bem conheço a minha afilhada.
soltou uma risada alta, que atraiu a atenção da filha.
— Quer falar com a dinda, filha?
— Sim! — a pequena respondeu animada, levantando os bracinhos em empolgação para receber o telefone da mãe. — Oi dinda… Sim, o Benny vai comigo… A gente vai domingar, dinda! Beijos… Eu também te amo.
Ao receber o telefone em suas mãos novamente, escutou as seguintes palavras:
— Boa domingada, amiga — Ella murmurou, soltando uma risada divertida. — Até quarta! E aproveita para desligar dessa bobeira…
— Deixa comigo — respondeu. — Beijos.
Dito isso, deu partida no carro e ela e começaram a viagem até Tramandaí.
— Mami, pode colocar de novo?
— De novo, meu amor? — a mais velha perguntou, quase que fazendo manha. assentiu animada e começou a bater palmas quando a mãe direcionou seus dedos ao aparelho de som e a trilha sonora de Carrossel ecoou pelo carro mais uma vez.
Em resposta à cantoria e à animação de , um tímido sorriso admirado surgia no rosto de . Um daqueles sorrisos que abria-se minimamente, mas que escondia um sentimento profundo e largo. Infinito, ela dizia para filha, ao se referir ao quanto a amava.
Quanto é infinito, mami? perguntava, forçando seus incipientes neurônios a acostumarem-se com a imensidão.
— Está animada com o mar, filha? — perguntou durante uma das pausas do CD.
— Siiiiim, mãe, muito! Eu até sonhei com Tamandraí!
soltou um pequeno riso ao olhar nos olhos empolgados de sua filha pelo retrovisor.
— Tramandaí, — a corrigiu com gentileza. — É mesmo? Você chegou a sonhar?! Pode me contar tudo que você sonhou um dia para chegar aqui…
— Eu não me lembro direito, mãe, mas envolvia um castelo de areia beeeeem gigante. Tipo infinito de tão grande!
— É sério?! — perguntou, abrindo os olhos e montando uma expressão de espanto em seu rosto — Maior que você mesma, ?
— Maior, mami, maior até que o tio Ícaro!
— Meu Deus! Então vamos precisar chegar bem cedo na praia, para você encontrar toda a areia que precisa — a mãe falou, fazendo graça e soltou uma gargalhada divertida. Aos cinco anos de idade, a pequena divertia-se com basicamente tudo que a mãe lhe falava e sempre acabava por soltar uma de suas risadas agudas e doces.
As duas seguiram cantando as faixas de Carrossel, até um ponto em que a própria enjoou-se e pediu para a mãe colocar na rádio, que tocava a música “Me Adora” da Pitty - lançamento de anos atrás, mas que ainda era um sucesso.
— Mami — murmurou, um pouco confusa —, o que é foda?
quase freou o carro ou engasgou-se com a própria saliva. Estava há cinco anos lidando com o fato de que estava conhecendo o mundo - e isso resultava em uma série de “o que é isso” “por que é dessa forma” “como isso acontece” - e, ainda assim, não acostumara-se a responder.
A mulher trocou os olhos da freeway em sua frente para , que balançava suas pernas curtas e a olhava com os olhos esbugalhados em curiosidade. Pense, , pense, dizia para si mesma.
— Hum… Foda é… Uma palavra um tanto quanto desagradável.
— O que é desagradável, mãe?
— Desagradável é quando a gente, mesmo sem querer, irrita os outros ou deixa eles triste, sabe, filha?
assentiu do banco de trás, enquanto levava seu fino e pequeno indicador ao canto da boca - gesto que deixava clara sua atitude de reflexão.
— Mas por que ela canta essa palavra, então, mami?
— Hã… — começou a elaborar alguma resposta que, mais uma vez, a colocaria na posição de ter que explicar novos termos e situações, quando apenas soltou um suspiro e disse:
— Deixa, mami, não emporta. Eu tenho uma ideia…
— Importa, baby — corrigiu com a voz baixa, sabendo que a filha provavelmente não a estaria ouvindo, uma vez que estava imersa em pensamentos. — Qual a sua ideia?
A viagem seguiu com a música de Pitty ecoando pelo carro, ainda mais depois que havia pedido à mãe que aumentasse o volume. cantava as partes que sabia a todo vapor. Com dedicação e compromisso à música, soltava dos pulmões todo o ar para proferir as seguintes palavras:
— Que você me adora… Que me acha soda!
E o tão habitual sorriso admirado pairava nos lábios de .
Ao chegarem no condomínio, as duas garotas desceram animadas do carro e caminharam, de mãos dadas, rumo ao apartamento. , carregada de sacolas do supermercado, puxando com sua mão livre a mala compartilhada das duas; , por sua vez, saltitando e carregando em seu abraço Benny.
— Mami, podemos ir para a praia hoje? Por favor, por favor, por favor… — perguntava, enquanto corria pela pequena sala do apartamento. A mobília era um tanto quanto antiga, já dos pais de , que haviam comprado aquele apartamento quando engravidaram da menina. Ainda assim, tudo estava severamente conservado e limpo, mesmo que com alguns efeitos da maresia.
— Acho que sim, meu amor, mas primeiro temos que organizar tudo, não é? — perguntou e observou uma serelepe murchar e assentir devagar, sem todo aquele ânimo. — Isso é rápido, , ainda mais se fizermos em conjunto.
— O que é con… Cojuto, mãe?
— Conjunto — a mais velha respondeu —, significa, nesse caso, fazer juntas. Por exemplo, você me ajudar a guardar as compras na geladeira.
— Ah, não! — levou uma das mãos à testa e atuou um pequeno melodrama, simulando um desmaio, apenas para não ter que ajudar sua mãe. Todavia, alguns minutos depois, lá estava ela guardando o suco de pêssego na primeira prateleira da geladeira.
Cerca de uma hora depois, e encontravam-se quase prontas para a praia. A mãe terminava de aplicar protetor nas costas da filha, que estava com muita dificuldade para manter-se quieta.
— Vamos, mami, canta aquela música.
— Qual, meu amor?
— Aquela, mãe… Pegue o seu chapéu.
— Pegue sua esteira e o seu chapéu, vamos para a praia que o sol já vem — cantarolava e ditava o ritmo para o balançar de .
— Lá lá lá lá — a mais nova proferia, ao ritmo das palavras da mãe.
Aquela canção era quase como uma tradição entre as duas. Com aquela trilha sonora, empacotaram em uma bolsa de pano duas toalhas, um protetor solar e um repelente, duas notas de vinte reais, um óculos de mergulho e um de sol e todos os brinquedos de areia de .
Atravessaram a rua em frente ao condomínio e já estavam na beira do calçadão. Mais alguns passos: cruzaram a pequena ponte que as levava diretamente à areia e, de repente, estavam de frente para a imensidão azul, que refletia o dourado do sol e entregava, aos ouvidos das duas admiradas, uma melodia contagiante de ondas quebrando ao pé da costa.
— Mãe? — murmurou, puxando os dedos de e fazendo-a inclinar-se na direção da filha. — Qual o tamanho do mar?
O tamanho do mar… Quando fora a última vez que pensara a respeito? não sabia responder, nem mesmo lembrava quando aprendera que o oceano cobria mais de 70% da superfície do planeta. Mesmo que com a resposta na ponta da língua, perguntou-se a si mesma como transformar aquele dado em algo palpável para a filha, que a encarava, esperando uma resposta.
— Você lembra — iniciou murmurando, mas, então, coçou a garganta e sua voz se encorpou — daquele bolo que pedimos uma vez, de creme com chocolate? No aniversário de sua vó.
— Sim…
— E você lembra que veio muito mais creme do que chocolate?
— Muuuuuuuuito mais, mãe! — brincou, rindo.
— Sim — a mãe sorriu —, é mais ou menos assim com a água e com a terra. Tem muuuuuuito mais água do que terra no planeta.
— Então… Tem tanto mar quanto tinha creme?! — perguntou, assustada com a dimensão que o oceano poderia ter. Em resposta, obteve um aceno de cabeça. — E o que acontece quando chega no fim, mami?
— Hum… Você lembra que, esses dias, conversamos sobre o planeta Terra ser redondo? Igual a uma laranja? — apenas assentiu — A água que a gente vê aqui, em Tramandaí, é a mesma água que as pessoas veem em outros lugares… Ela, hã, faz a volta… Em torno do planeta Terra…
percebera que a conversa estava tomando rumos em que a colocavam sem saber quais palavras utilizar. Seja mais didática, pelo amor de Deus, pensou para si mesma. A confusão estampada nos olhos da filha fazia seu coração descompassar em uma ou duas batidas.
— O fim do mar é em outra praia, , isso que quero dizer.
— Isso é muito louco, mãe! — a pequena gritou e saltitou em direção ao mar. Alguns metros para trás, estava , ainda martirizando-se por não saber como explicar de uma forma infantil. Precisaria de mais alguns daqueles cursos que fizera na internet sobre pedagogia e tato.
já havia montado e desmontado e, então, montado novamente seu super castelo de areia. Decepcionara-se ao descobrir que era difícil fazer com que ele ficasse infinito de tão grande, porque, quanto mais alto, mais facilmente desmoronava. Naquele exato momento, deliciava-se com um milho amanteigado e salgado - merecido para quem trabalhara tão duro. , sentada na cadeira ao lado e embaixo do mesmo guarda-sol, bebia um suco de abacaxi com hortelã.
Uma vez que terminada a “pausa para o lanche”, sentiu seu corpo relaxar e um pequeno cansaço a abateu. , percebendo a reação da filha, estendeu a canga que trouxera amarrada em sua cintura no chão e colocou as toalhas dobradas para servirem como travesseiros. As duas, então, deitaram sobre a canga e sob as nuvens do céu, que escondiam um sol já fraco.
— Mami? — murmurou e sentiu seus músculos contraírem. Pense em uma resposta didática, martirizou.
— Sim, meu amor?
— Do que são feitas as nuvens? Elas são de… Como era o nome daquela coisa?
— Qual coisa, ?
— Aquela que você usou no dia em que me cortei…
— Algodão, meu amor?
— Sim, mami, algodão. As nuvens são feitas de algodão?
Resposta didática, resposta didática, resposta didática…
— As nuvens não são feitas de algodão, filha, elas são feitas de água.
— De água?! Mas como assim, mãe?!
Os olhos saltados de combinavam exatamente com a sua postura: a descoberta a fizera arquear o corpo e, então, encontrava-se não mais deitada, mas sentada com as pernas cruzadas, olhando incrédula para .
— Eu vou te mostrar quando chegarmos em casa, prometo — respondeu, imaginando que, com a água fervendo e formando vapor, seria mais fácil para sua filha entender o que perguntava. — Agora deita aqui comigo de novo! — murmurou, pegando a filha pela barriga e a colocando em seu abraço.
— As nuvens também podem ser feitas de sonho, sabia?
— Sério, mãe?
— Sim… Se olharmos atentamente, poderemos ver que elas nos contam uma história; são cheias de símbolos e de alegria.
As duas direcionaram seus olhares para o céu - e assim ficaram por algum tempo.
— Olhe, mãe, eu estou vendo um coelho ali, você consegue ver?
— Ah! Sim, , e olhe aqui, essa parece uma cenoura, não parece?
— Aquela ali parece um… Um dagrão sem cabeça, usando vestido e com o rabo pegando fogo! — exclamou, abismada.
— Hum… Não consegui localizar essa — murmurou , segurando uma risada e sem coragem de corrigir a palavra “dragão” e interromper o momento mágico da filha.
Novamente, sentara na canga e cruzara suas pernas. Seus olhos a entregavam: mais uma pergunta viria.
— Mas, mami, do que é feito o sol?
— E você quer a explicação científica ou a comum? — perguntou, como sempre fazia quando lhe perguntava aquele tipo de coisa. Ela não vai entender, as pessoas diziam à . Tudo bem, ela não precisa entender. Só quero que se familiarize, era o que ela respondia, calma e ciente de que conhecer e se familiarizar com o mundo não causaria nenhum dano à filha.
— A cien… Científica — exclamou, com certa dificuldade de pronunciar a palavra.
— Bem… O sol é uma estrela…
— Como as que aparecem de noite? — a interrompeu, curiosa.
— Sim, como as que aparecem de noite. Só que ele parece maior, porque está mais perto da gente, do planeta Terra. — media suas palavras e observava as reações de — Para nós, o sol é a estrela mais importante, porque ele fornece calor.
— Mas como ele faz isso, mami?
com as pernas cruzadas, os braços repousando levemente sobre as pernas e a cabeça inclinada para o lado divertia , que sentia-se encurralada pelas perguntas da filha, sem saber até onde ir.
Com um sorriso divertido, fez graça:
— Hoje você está para descomplicar dilemas ancestrais, hein!
— O que são dilemas ancestrais? — perguntou, fazendo com que uma gargalhada escapasse da garganta de e ela olhasse em direção a filha. Em seu cérebro, as sinapses aconteciam rápida e precisamente, enquanto trabalhavam para formular duas novas explicações.
De qualquer maneira - ela conseguindo ou não encontrar as tais palavras didáticas que tanto queria -, era bom estar ali com a filha. Era bom apenas poder sentar e conversar e falar besteira com a pessoa que mais amava no mundo inteiro.
— Mãe? — chamou, enquanto caminhava do quarto para a cozinha. estava terminando de fazer o molho para o cachorro quente que iriam comer de janta. — Você acha que meu pai gosta de praia?
Aquela pergunta era, definitivamente, mais difícil de contornar do que as outras. A resposta era simples, obviamente, mas o rebuliço causado dentro do corpo de dificultava sua cognição. Era para ser um assunto fácil, reprimia a si mesma. Entretanto, ainda que sem deixar desconfiar que aquele tema em específico lhe causava mal estar, aquele tema em específico lhe causava, sim, mal estar.
— Ele ama — murmurou, engolindo todos os seus pensamentos e todas as reações bioquímicas que a acometiam. Largou a colher com a qual mexia o molho e aproximou-se da filha. — E ele vai amar vir aqui com você. Tudo é melhor na tua companhia.
— Quando ele vem, mami?
Queria ter a resposta, filha, desejou a mais velha, sentindo sua garganta arder com a passagem da saliva.
— Ele vem quando… Quando ele conseguir voltar.
— Tomara que seja logo, né?
— Sim, meu amor, tomara que seja logo — respondeu, passando suas mãos pelos cabelos da filha. — Enquanto o esperamos — disse, com o tom de voz mais animado, tentando distrair —, que tal comermos um deliciosíssimo cachorro quente?
— Delio… O quê? — tentou debochar da mãe, que lhe respondeu mostrando a língua, o que fez as duas rirem.
Depois de jantarem, mãe e filha estavam deitadas sobre o colchão, que permanecia no chão da sala do apartamento. As duas estavam olhando um episódio de A mansão Foster para amigos imaginários e comendo sorvete.
— Mami, posso te contar um segredo?
— Claro, meu amor, você sempre pode confiar em mim.
— Você é minha melhor amiga, tipo, de todas, todas, todas.
— Você também é a minha melhor amiga, ! Meu amor maior!
— Eu te amo muito, mami!
— Eu também te amo, minha gatinha! Te amo mais do que qualquer outra coisa nesse universo…
— Infinito.
— Infinito.
parou, então, e olhou para sua mãe com uma feição séria:
— Mãe, e a dinda Ella?
— O que tem, ? — perguntou.
— Ela vai ficar triste se não for nossa melhor amiga…
— Bom — respondeu, pensativa —, ela pode ser nossa segunda melhor amiga, o que acha disso?
permaneceu pensativa por algum tempo.
— Acho que pode ser… Mas daí você não pode contar nada para a Tina, porque ela vai ficar triste se descobrir que é só a minha terceira melhor amiga — explicou, referindo-se à amiga da escola.
— Prometo não contar nada — jurou, estendendo um dedo mínimo para as duas fazerem a promessa. Depois do juramento, segurou os dedos da mãe e voltou sua atenção à televisão novamente, enquanto tomava o tão esperado suco de pêssego em sua mamadeira - outro dos tantos segredos que as duas guardavam.
sorriu, por fim, poderia seguir daquela forma pela vida inteira.
Munido de amor…
Fim!
Nota da autora: Ai, pessoal, espero que vocês gostem da história! Esse foi o primeiro ficstape que participei e confesso que tive um pouco de dificuldade na hora de decidir o que escrever! Mesmo com isso em mente, tentei transpassar por meio desse pequeno conto um pouco do que essa música representou para mim! Por ser um spin-off de Tempo de Saudades, não pude incluir o pai da Hels na história, mas essas palavras todas são dedicadas aos meus pais, que sempre tiveram paciência com as minhas inúmeras dúvidas e sempre foram (e são e vão ser) meus melhores amigos!
Muito obrigada, desde já, pela leitura e pelo apoio! Não tenham vergonha de deixar um comentário - críticas e elogios são sempre bem-vindos!
PS: Caso alguém tenha ficado curioso com o que aconteceu com o pai da Helena, sinta-se à vontade para procurar Tempo de Saudades e deixar uma leitura por lá HAHAA
Nota da beta:
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Outras Fanfics:
Tempo de Saudades
05. Faz
02. Hoje Lembrei do Teu Amor
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