Capítulo único
Eu deveria ter ouvido minhas amigas.
Cada uma delas.
Desde o começo, todas tentaram me avisar que elle não valia a pena, que eu estava me entregando demais, que um cara como você nunca levaria nada a sério. Mas eu sempre fui péssima em ouvir.
Agora estou aqui, sentada na cama, com uma camiseta dele que ainda tem o seu cheiro — porque eu sou ridícula o bastante para pensar que isso me traria algum tipo de conforto.
Fecho os olhos e, sem querer, me lembro de todas as vezes que engoli meu orgulho por ee. De quando fiquei na plateia do seu show, gritando o seu nome como uma adolescente apaixonada. Eu via ele sorrindo para o público, aquele maldito sorriso de quem sabe que tem o mundo nas mãos. Eu jurei que era para mim. Que ridículo.
Lembro do dia em que ele me disse que não estava pronto para algo sério. Uma semana depois, vi ele de mãos dadas com ela. Me disseram para não olhar, mas eu olhei. E a pior parte? Ele parecia feliz.
Queria dizer que chorei naquele momento, que caí em prantos e me permiti sentir a dor, mas a verdade é que eu ri. Um riso curto, amargo, daqueles que saem quando a raiva e a humilhação se misturam. Porque como é possível ser tão burra? Tão cega?
Eu deveria ter saído antes. Eu deveria ter percebido que cada mensagem ignorada, cada desculpa esfarrapada, cada "agora não posso falar" eram sinais. Mas eu fiquei.
E agora? Agora sou só a garota que se iludiu. Que caiu na armadilha do próprio coração.
Jogo a camiseta no canto do quarto. A cada segundo que passa, percebo que não gosto tanto assim do cheiro dele.
Levanto da cama. Abro o armário. Pego a minha jaqueta favorita — aquela que ele disse que era muito dramática para o seu gosto.
Saio.
O ar frio da noite me acerta em cheio, mas pela primeira vez em meses, sinto que posso respirar.
Eu posso fazer melhor que ele.
E simplesmente vou.
O bar não era meu lugar preferido no mundo, mas hoje ele parecia a escolha certa.
O neon piscava com promessas vazias e a música alta fazia o peito vibrar. Não importava. Tudo que eu queria era esquecer. Afundar o passado em um copo de qualquer coisa forte o suficiente para dissolver sua lembrança.
— Você veio sozinha? — uma voz masculina se fez presente ao meu lado, e eu virei para encarar o dono da pergunta.
Ele.
Ele, com aquele sorriso que nunca me pareceu grande coisa antes, mas que agora parecia me estudar com um interesse que ia além da mera curiosidade.
null.
Nós nunca fomos próximos, mas sempre nos cruzamos por aí. Ele era amigo de amigos, alguém que sempre estava nos lugares certos, mas nunca no meu radar. Até agora.
— Sim — respondi, virando meu drink com um gole apressado. Ele ergueu as sobrancelhas, divertido.
— E você está bem ou fingindo que está bem?
Suspirei, batendo o copo na mesa.
— Estou ótima. Maravilhosa. Nunca estive melhor.
— Você é uma péssima mentirosa — ele sorriu de lado, apoiando os cotovelos no balcão. — Mas não se preocupe, eu não vou te expor.
Eu soltei um riso curto. Algo no jeito que ele falava, na leveza da sua presença, me fez relaxar um pouco.
— E você? Veio sozinho?
— Meu amigo me arrastou para cá, mas sumiu com uma garota faz uns dez minutos. Ou seja, agora estou por conta própria.
— Que pena — brinquei, fingindo dramatizar.
— Pois é, uma tragédia — ele rebateu, erguendo o copo como se brindasse à própria solidão.
Por um momento, fiquei apenas observando-o. null era bonito. Não de um jeito avassalador, mas de um jeito confortável. O tipo de pessoa que você não percebe no primeiro instante, mas que, quando percebe, não consegue mais ignorar.
— Quer dançar? — ele perguntou de repente.
— O quê? — franzi o cenho.
— Você está em um bar, com música alta e bebidas ruins. Nada grita “superando um ex” mais do que uma dança totalmente sem compromisso com um cara legal.
Não sei se foi a espontaneidade dele ou a sensação de liberdade que começava a nascer dentro de mim, mas aceitei.
A pista de dança estava cheia, e nos enfiamos no meio da multidão. No começo, ainda existia uma hesitação no meu corpo, mas null me puxou pela mão e girou de um jeito tão desajeitadamente charmoso que eu ri.
E então eu deixei ir.
Dançamos sem pressa, sem peso, sem aquele fantasma pairando sobre mim. Pela primeira vez em muito tempo, eu não estava me preocupando com mensagens não respondidas, com quem ele estava, com o que eu fiz de errado.
null encostou a testa na minha, como se fosse um gesto natural, e eu senti o cheiro da menta do seu drink.
— Viu? — ele disse baixinho. — Amor pode ser embaraçoso, mas liberdade é incrível.
Ele estava certo.
Talvez eu ainda me lembrasse de você algumas vezes. Talvez ainda sentisse aquele aperto no peito quando visse seu nome em algum lugar. Mas, pela primeira vez, eu sabia que isso ia passar.
Fim.
Nota da autora: Oi, pessoal! Espero que gostem.

Outras Fanfics:
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