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Última atualização: Agosto de 2024

Prólogo


Desde pequena, sempre tive um ideal da vida que seria tudo muito perfeito e no momento certo. Na minha mente, eu estaria formada aos 24, casada aos 26, teria filhos aos 30 e depois aproveitaria a vida até o envelhecimento. Porém, quando cresci, percebi que nada do que a gente planeja dá certo, talvez em poucos momentos dê, mas para mim… nunca deu.
Atualmente, eu trabalho como psicóloga em um consultório no centro de Miami, sendo mais especificamente próxima do departamento de polícia de Miami. Ao decorrer dos anos, eu consegui fazer o meu nome quando o assunto era terapia e inclusive, comecei a atender pessoas importantes. Uma delas, era o policial .
Depois que levou um tiro de seu próprio filho, a mando da ex-mulher, o homem havia ficado um pouco traumatizado, com crises de ansiedade e coisas do tipo. Depois de um tempo, ele finalmente estava de alta, pelo menos nesse caso. Mas acabamos virando bons amigos, o que foi um pouco irônico e eu já não podia mais ser sua psicóloga.
Era um dia comum em casa, as cortinas estavam todas fechadas e já eram quase oito da noite. Naquele horário, eu não colocava nem mesmo o rosto para fora da porta. Porém, jurava que tinha ouvido um barulho na porta.
Acabei suspirando um pouco nervosa e comecei a andar de um lado para o outro sem saber o que fazer. O barulho começou a ficar mais alto e fiquei pensando no que deveria fazer. Logo, o barulho cessou e o meu celular começou a tocar. Peguei o celular que estava em cima da mesa e vi o nome de na tela, suspirando aliviada.
“Graças a Deus você me ligou, eu estou com um problemão aqui.”
Eu falei e pude ouvir a risada de pelo telefone.
“Sou eu na porta, . Abre aí.”
Suspirei em puro alívio e caminhei até a porta, abrindo a mesma e vendo o homem negro de cabelos quase raspados e um cavanhaque visivelmente tingido de preto entrar pela porta.
era um homem bonito, o tipo de cara garanhão que fica com qualquer mulher que ele desejar.
, eu vou direto ao ponto. — ele falou, parecendo um pouco agitado.
— O que aconteceu, ? — pergunto, preocupada. Queria saber o que estava deixando o homem daquele jeito.
— Eu sei que é meio ridículo levando em consideração o histórico e minha profissão, mas eu preciso muito que você faça isso por mim. — ele falou novamente e eu já estava nervosa, esperando que ele realmente falasse o que precisava.
— Pelo amor de Deus, . Fala logo! — me exaltei um pouco, um misto de ansiedade e curiosidade tomou conta de mim.
— Eu queria saber se você não poderia abrigar meu filho, , aqui na sua casa por um tempo. Eu sei que é pedir demais e você pode negar se realmente não se sentir confortável, eu pensei em você, a única pessoa que pode realmente me ajudar.
Ele falou e eu fiquei em silêncio por alguns instantes, pensando sobre o que ele tinha pedido. havia descoberto a sua paternidade há pouco tempo, seu filho já era adulto quando soube da existência dele, mas pude perceber que mesmo assim ele tentava ser presente. , era filho dele com uma mulher muito poderosa do México, dona de um cartel e ela ensinou tudo o que sabe para seu filho. Ela queria se vingar de e mandou matá-lo, nesse meio, ambos descobriram e a Isabel acabou morta. Foi uma loucura.
Eu morava distante da cidade para ter proteção, mas não sabia se deveria ter um cara assassino e “príncipe” do cartel mexicano em minha casa.
, eu não sei se é uma boa ideia… — falei com certo receio, querendo negar aquilo que ele tinha me pedido.
— Eu te prometo que ele não vai te fazer mal, muita coisa que aconteceu foi por conta da Isabel, ele não é ruim… — claro que ele defenderia seu filho, mas isso não fazia com que as coisas fossem melhores.
— Não sei se me sentiria segura. — respondi sincera, respirando fundo.
Minha casa não era tão grande, mas tinha lugar e espaço o suficiente para ter duas pessoas morando nela, sem precisarem se encontrar.
— Eu entendo, mas você confia em mim, não confia? Eu te prometo, ele não vai fazer nada para você.
Ele falou novamente e eu respirei fundo mais uma vez, ponderando sobre a decisão um tanto impulsiva que eu tomaria.
— Tudo bem, ele pode ficar. — a minha voz saiu mais baixa, um misto de medo e preocupação tomou conta da minha mente.
Eu viveria com um assassino.
— Muito obrigado, . De verdade, eu nem sei como te agradecer. — ele falou e me abraçou em agradecimento. — Ele está no carro, está ferido porque me ajudou em uma missão, aquela sobre o capitão, ele foi dado como fugitivo e a primeira pessoa que eles vão atrás sou eu, por isso preciso sair logo daqui.
— Tudo bem, . Eu limpo os ferimentos, você pode ir. — falei, estando dentro do abraço do amigo e logo me afasto.
Ele acenou rapidamente e saiu de casa, a porta se fechou sozinha por ter tranca automática e fui até o quarto de hóspedes, se certificando se tudo estava arrumado para receber alguém.
A companhia tocou novamente e caminhei até a porta, tentando não deixar meus receios e preocupações transparecer para o rapaz que agora, infelizmente, precisava de minha ajuda.
Abri a porta e vi pela primeira vez, tinha ficado sem reação por muitos motivos. O primeiro era que ele tinha muito sangue pelo corpo.
Ele vestia uma roupa estilo policial, com um colete. Seu rosto tinha um corte médio e estava com sangue naquela região, o pescoço e também tinha impressão que o ouvido dele havia sangrado, sem contar nas mãos inchadas, com certeza de socar outras pessoas e eu tinha certeza que ele devia ter mais algum ferimento, por conta da expressão de dor que ele tinha nos olhos.
Os olhos de tinham um brilho diferente, eu não sabia ao certo o que era, mas eu nunca tinha visto algo parecido. A sensação de vê-lo daquela forma, doeu meu peito. Aquilo devia estar doendo bastante.
— Você vai me convidar para entrar, ou…? — me tirou do transe, e eu voltei a minha consciência. Sua expressão era fria, parecia não ter sentimento nenhum ali, apenas um saco de ossos ambulantes.
— Claro, entra aí. — me afastei da porta, deixando ele entrar.
O rapaz entrou e eu deixei a porta se fechar sozinha, mas passei uma outra tranca que era de costume. Percebi que ele ficou encarando o que eu fazia, mas agradeci porque ele não perguntou nada.
— Olha, eu não sabia que você vinha… mas você pode ir tomar um banho e depois posso te ajudar com esses ferimentos. Pode ser? — falei, tentando ser um pouco solícita, mas tentando não pisar em cacos ao falar com ele.
— Tudo bem. — ele falou, sem muito ânimo e começou a tirar o colete. A expressão dele era de bastante dor e eu fiquei sem saber o que fazer, afinal, não conhecia ele o bastante.
— Você… Precisa de ajuda? — perguntei um tanto receosa, vendo a dificuldade dele em retirar o colete.
— Por favor… Eu levei uma facada nas costas, não consigo mover meu braço esquerdo. — ele respondeu, sua voz era baixa, porém demonstrava a dor que estava sentindo.
Eu me aproximei dele, um pouco sem jeito. Ele era um pouco mais alto que eu, talvez uns dez centímetros a quinze centímetros a mais. Comecei a soltar o velcro do colete, me colocando ao redor dele para soltar totalmente aquele negócio, em seguida, ajudei ele a tirar um lado e depois o outro.
Deixei o colete em cima do sofá e voltei a olhá-lo. Seu olhar queimava sobre mim, como se tentasse ler meus pensamentos.
— Eu sei que é pedir demais, mas pode me ajudar com a camiseta? — ele perguntou novamente eu tentei não surtar por fora, assim como surtava internamente.
Qual é, já fazia um tempo que eu não tinha contato com muitas pessoas, sem ser no trabalho e ele era desconhecido até então.
— Tá bom. — respondi simplesmente, voltando a me aproximar dele.
Estiquei a camiseta preta que ele vestia e o ajudei a retirar o braço direito para facilitar o outro lado e não doesse tanto.
— Porra… isso dói demais. — ele falou e eu senti um pouco de pena.
Deixei a camiseta dele junto com o colete e suspirei, reparando no corte de faca que tinha próximo ao seu ombro. Não conseguia entender como aquilo tinha parado de sangrar sem ao menos ter recebido pontos. Parte de sua pele negra brilhava e a outra parte era tomada por sangue, eu só tinha visto tanto sangue apenas uma vez em minha vida e não tinha boas lembranças.
— Você precisa tomar um banho para eu poder fazer os curativos, esse das costas está bem feio. — falei sincera.
— Eu vou. — Ele falou e eu sorri fraco, ainda um pouco tímida e estranhando a nova companhia.
Caminhei em direção ao quarto que ele ficaria e ele em silêncio, me seguiu até lá.
— Você pode ficar aqui… O banheiro é ali, nesse guarda roupa tem toalhas e algumas roupas masculinas, mas posso ir buscar algumas para você amanhã se essas não ficarem boas.
Comecei a mostrar as portas do guarda roupa onde haviam as coisas e percebi que ele prestava bastante atenção.
O quarto tinha um tamanho mediano, a parede era branca, com alguns quadros aleatórios e os móveis eram marrons, puxando para uma cor de madeira envernizada. A cama que era de casal tinha um lençol azul claro e as fronhas da mesma cor. O chão tinha carpete, era um lugar aconchegante e talvez fizesse bem para aquele rapaz.
— Obrigado, Amelie. Eu sei que essa situação é bem merda para você, ter que aguentar um cara que nem conhece dentro da sua casa, ainda mais com o meu histórico… — ele falou e levou a mão até a nuca, coçando ali e demonstrando estar um pouco sem jeito.
— Não precisa agradecer. Não vou mentir, é uma coisa que eu nunca imaginei fazer, mas agora eu fiz e está tudo bem. Ninguém me obrigou. — eu fui sincera, por mais que tivesse relutante no começo, eu acabei aceitando. — Bem, eu vou deixar você tomar banho, enquanto isso vou fazer algo para comermos. Depois, se você ainda quiser, eu faço os curativos para você.
Ele assentiu, dando seu primeiro sorriso em minha direção e eu acabei sorrindo junto. Por fim, caminhei para fora do quarto e deixei ele fazer suas coisas.


Capítulo 1


“Shadows of a closing door
No hope even in my dreams
And my heart was a losing war
But you came in peace.”
(Hurricane - Martin Garrix ft Sentinel & Bonn)




Ainda era estranho ter alguém diferente em casa, pensando em todo o “histórico” dele, só piorava a situação, mas eu tentava não ficar pensando muito.
Eu estava na cozinha enquanto ele provavelmente tomava banho, comecei a pensar em qual comida faria. Não sabia qual era o gosto dele, mas tinha decidido fazer uma macarronada. Era simples, rápida e praticamente todo mundo gostava.
Me perdi em meus próprios pensamentos enquanto cantarolava “wherever you will go” do the calling.
— If I could, then I would I'll go wherever you will go… — cantava praticamente em sussurros, enquanto fazia o molho no fogão.
— The calling, é? Você tem bom gosto. — apareceu na cozinha. Ele vestia uma calça de moletom preta, estava descalço, sem camisa e secando os cabelos quando olhei para ele. Seu abdômen, embora machucado e com uma marca recente de tiro, era extremamente definido, mostrando que ele passava bastante tempo se exercitando.
Fiquei paralisada por alguns instantes, o filho da puta sabia que era bonito e devia fazer essas coisas de propósito. Eu respirei fundo e cocei a nuca, desviando o olhar dele e concordei, respondendo a pergunta.
— Sim, é the calling. Você gosta? — perguntei, voltando a mexer o molho.
— Eu ouvia na adolescência. — ele falou, deixando a toalha sobre o ombro que não estava machucado.
— Quem não, né? — acabei dando uma risadinha, desligando o molho da panela e mexendo o macarrão que estava na água.
— É. — ele concordou. — Quantos anos você tem, afinal?
— Tenho vinte e sete. E você? — soltei o garfo que antes usava para mexer o macarrão e deixei em cima da pia, voltando minha atenção ao rapaz que estava no mesmo cômodo que eu.
— Vinte e oito. Você parece mais nova. — ele comentou, encostando as costas no balcão.
— Que nada… Escuta. Você gosta de macarronada? — eu acabei mudando de assunto e nem sei o porquê.
— Eu gosto. — ele concordou e encostou no batente da porta da cozinha.
Eu balancei a cabeça em concordância, não sabia como manter uma conversa com ele e ele provavelmente tinha decidido ficar em silêncio também.
Não tinha muito assunto, afinal, éramos dois desconhecidos.
Depois da janta, que também ocorreu em silêncio. Eu estava sentada no sofá e ele ainda na mesa, mas logo se levantou e foi até a cozinha. Eu pude ouvir barulho da torneira e pelo som, ele estava lavando os pratos.
Eu agradeci mentalmente por ele fazer isso, eu sempre odiei com todas as minhas forças ter que lavar louça. Praticamente prefiro fazer qualquer outra coisa na face da terra do que lavar uma pilha de louças.
? — ele apareceu na sala, secando as mãos com o pano e depois o deixou em cima da mesa.
— Oi? — meus olhos foram praticamente ao rosto dele quando me chamou, desde que o vi entrar por aquela porta, fiquei intrigada com os olhos dele.
— Você pode me ajudar com os curativos? Pelo menos o das costas, vai ser uma merda dormir com esse negócio. — ele falou, se aproximando do sofá e eu logo concordei, batendo no meu lado do sofá para que ele se sentasse.
— Ajudo sim. Senta aqui, e eu vou buscar as coisas. — deixei o controle na mesinha de centro e me levantei, indo até o armário.
Enquanto fui ao armário, pude perceber que ele se sentou onde eu havia mostrado. Ele parecia pensativo, seus olhos estavam fixos em alguma coisa, mas parecia que ele não estava ali.
Me aproximei em silêncio com a caixinha dos primeiros socorros e me sentei no braço do sofá. As costas dele já estavam praticamente viradas para onde eu estava. Ele sequer tinha notado minha aproximação e eu fiquei com dúvida se deveria chamá-lo ou já começar a limpar sem falar nada.
Decidi por fim, colocar um pouco de soro fisiológico na gaze e tocar o machucado nas costas dele com cuidado. Percebi que o corpo do rapaz se estremeceu e ele rapidamente virou para mim, assustado.
— Desculpa, eu… — comecei a falar e ele assentiu.
— De boa, é que eu estava distraído. — ele falou e eu me senti um pouco mal por ele.
Quantas coisas ele teve que passar, ver ou suportar sozinho? Isso não apaga as coisas que ele fez, mas… É complicado.
— Certo, eu… Vou continuar, tudo bem? — pergunto, dessa vez esperando que ele respondesse para poder continuar.
— Pode continuar. — a voz dele havia saído um pouco mais baixa e rouca, ele pigarreou depois disso e pude ouvir um suspiro.
Depois da afirmação dele, passo a gaze com cuidado no machucado para limpar e percebo a reação no corpo dele. Decidi ficar em silêncio e terminar o curativo nas costas dele.
Eu já tinha perdido as contas de quantas vezes precisei de fazer esse tipo de curativo em mim mesma, quantas vezes ao invés de ir ao hospital, eu dei ponto no meu próprio corpo e é por isso que tenho tantas cicatrizes.
Depois de finalizar o curativo, me levantei do sofá e juntei todas as coisas para jogar no lixo. Por sorte, os outros machucados dele não precisariam de um cuidado maior, então era somente aquele.
Pude notar que ele pegou a camiseta e vestiu com um pouco de dificuldade e ficou no sofá, observando a televisão.
E eu, depois de jogar as gazes sujas no lixo, caminhei até o sofá e me sentei ao lado dele em silêncio.
— Obrigado. — ele quebrou o silêncio, porém, mantendo o olhar na televisão.
— Por nada.
Pude ver de canto de olho, um sorriso fraco nos lábios dele.
— O que uma mulher como você veio parar no meio do nada? — ele perguntou e virou para me olhar.
Não vou mentir que aquele olhar dele me intimidou, não sei o porquê, mas seu olhar era estranhamente iluminado, diferente.
— Bem… É uma longa história. — falei baixo, desviando o olhar.
Aquela era uma pergunta um pouco complicada, com a resposta ainda pior. Era algo que eu não gostava de lembrar, um passado que eu não pensava em cavocar.
— Eu tenho tempo. — ele novamente falou e eu ri baixinho, pela insistência dele.
— Tudo bem, mas só se você falar algo interessante sobre você primeiro. — sugeri a troca, já que teria que contar algo que poucas pessoas sabiam. — E tem que ser algo que poucas pessoas sabem.
— Justo. — ele se ajeitou no sofá, virando para mim e eu fiz o mesmo ficando de frente para ele. — Eu vi coisas muito bizarras quando era criança, o tipo de coisa que normalmente crianças não precisam ver… Assassinato, drogas, essas merdas aí.
Eu fiquei surpresa, não é como se eu já não imaginasse. Eu sabia que a mãe dele era uma doida varrida, mas a esse ponto? Isso era bem pior.
— Eu estou sem palavras… E acho que é a minha vez. — cocei a nuca, ajeitando os cabelos ondulados que caiam sobre o ombro. — Eu estou aqui porque estive em um relacionamento abusivo, quase morri depois de um dia que ele se irritou…
Pude perceber que o sorriso no rosto dele, que era mínimo, sumiu totalmente. Sua expressão facial se fechou totalmente e era possível ver o músculo de sua mandíbula mexer, mesmo por cima da barba.
Eu também não sabia muito bem o que dizer, não sabia nem mesmo se deveria ter contado isso para ele.
— É uma merda que tenha passado por isso, . — ele suspirou e levantou do sofá. — Eu vou dormir, boa noite.
— Boa noite. — e assim que respondi ele, o rapaz deu um leve aceno com a cabeça e saiu dali com os punhos cerrados e me deixando com a maior cara de interrogação.


Capítulo 2


“Picture you're the queen of everything
Far as the eye can see under your command
I will be your guardian
When all is crumbling”
(Never say never - The Fray)




Tinha se passado uma semana desde que se mudou para cá. Acho que posso usar este termo, não? Tecnicamente, por mais que tenha sido apenas para se esconder, agora ele mora comigo.
Tem sido bastante estranho lidar com outra pessoa aqui, eu me acostumei a viver sozinha, com a casa silenciosa e chegou fazendo literalmente um rebuliço. Ele costumava ser um pouco barulhento em tudo o que fazia e nós acabamos discutindo algumas vezes, era algo inevitável porque às vezes ele poderia ser irritante.
Depois de atender alguns pacientes naquele dia, eu estava praticamente indo para o meu carro para ir diretamente para a casa, mas quando fui em direção a saída, me surpreendi com ninguém mais, ninguém menos que e seu amigo, Marcus Burnett.
! Quanto tempo. — meus passos foram lentos em direção ao carro, onde eles estavam encostados. Marcus me cumprimentou e eu sorri.
— Faz um tempinho mesmo. — ajeitei a bolsa no ombro e olhei para . — Oi . O que te traz aqui?
— Vim deixar algumas roupas para o . — ele me entregou uma sacola de papelão, era de uma marca chique que eu desconhecia. — Como está sendo?
— Ele é irritante. — fui sincera, segurando a sacola em mãos e dei uma risada.
— Foi mal, Isabel mexeu muito com ele. — ele falou novamente e eu balancei a cabeça em negação.
— Mas essa parte ele puxou de você. — provoquei, sem conseguir poupar um riso, tirando um riso de Marcus também e um revirar de olhos de .
— Engraçadinha. Quer tomar um café? — ele perguntou e eu fiquei com um pouco de dúvida.
— Nós ficarmos muito próximos não pode causar uma dúvida no FBI que está a procura do ? E fazer eles irem em casa? — questionei, sem saber muito bem como funcionava.
— Você tem um ponto. — ele coçou a nuca e suspirou. — Eu nem sei como te agradecer por fazer isso por mim, .
— Você nem precisa, vocês salvaram minha vida… Tenho uma dívida eterna. — sorri, sendo sincera.
Eu devia a minha vida a eles e isso era um fato.
— Nada disso. — ele riu, colocando as mãos no bolso e olhou para Marcus. — Bora, Marcus. Já deu nosso tempo aqui.
— Vamos, . — ele tocou meu ombro. — Até mais, . Boa sorte para lidar com el brujo, você vai precisar.
— Obrigada, vou mesmo. — acabei rindo com o comentário e abracei os dois, voltando a fazer o caminho até o meu carro.
Pude ver de soslaio os dois indo em direção ao Porsche preto de e então, ao chegar no meu carro, pude ver um papel no parabrisa. Quando vi que estava escrito, senti um arrepio percorrendo todo meu corpo e um medo se instalou.
“Você não pode se esconder de mim por muito tempo.”
Entrei em desespero e com dificuldade, abri o carro e logo sai dali, com toda pressa do mundo e o coração a mil.
Quando cheguei em casa, estacionei o carro e olhei ao redor antes de sair. As janelas da casa estavam fechadas e as cortinas também, já que não podíamos correr o risco de alguém ver lá dentro.
Não consegui poupar as lágrimas, eu sabia que seria questão de tempo até ele me encontrar de novo. Eu não queria correr esse risco novamente, não queria apanhar até quase morrer.
Com muito custo, eu desci do carro, peguei a sacola que deu e o bilhete, e corri para dentro, deixando a porta se fechar sozinha com a trava elétrica e depois as trancas normais. Pude ver sentado no sofá, seu olhar totalmente inexpressivo era direcionado para mim, mas quando viu meu rosto avermelhado pelo choro, pude perceber que ele franziu o cenho.
— O que aconteceu? — ele quebrou o gelo e eu suspirei.
Caminhei até ele e entreguei a sacola que tinha dado, eu não fazia ideia do que tinha lá, mas não acho que esconderia de mim se tivesse algo de mais lá dentro.
pediu para te entregar essa sacola com roupas. — eu entreguei a sacola e limpei as lágrimas dos olhos.
— Ok, mas você não me respondeu. — ele insistiu e eu suspirei, entregando o bilhete na mão dele.
O olhar de se transformou novamente, era um olhar irritado, frio, como se pudesse matar alguém a qualquer momento.
— Você não acha melhor parar de andar sozinha? — ele perguntou.
— Alguém tem que comprar comida e eu preciso trabalhar, tenho meus pacientes que precisam de mim. — fui sincera novamente, me sentando no sofá ao lado dele.
— Você não vai ter pacientes se estiver morta. — eu revirei os olhos por conta da forma que ele havia falado, um pouco irritada.
Por mais que eu soubesse que ele estava certo, era difícil aceitar que eu provavelmente teria que mudar totalmente a minha vida de novo por causa desse cara.
— Posso falar com , mas… É complicado. — esfreguei as mãos no rosto em frustração e pude sentir o toque de uma das mãos de em minha perna.
Mas não parecia ser algo com segundas intenções e sim como um apoio.
— Por que você simplesmente não denuncia esse cara? — ele perguntou, eu dei uma risada levemente irônica e ele levantou uma das sobrancelhas.
Bem que eu queria que fosse fácil assim.
— Ele é policial, nada que eu faça vai adiantar… Eu denunciei, tinha provas, áudios, até vestígios da pele dele embaixo das minhas unhas, mas eles simplesmente arquivaram a investigação por provas inconclusivas.
— Puta que pariu. — ele respondeu, expressivo como sempre. — Por isso eu odeio policiais.
— Seu pai é um policial. — complementei.
— Não importa, . Foco no que é importante, precisa denunciar esse filho da puta de novo, porque se ele aparecer aqui para fazer alguma coisa, eu mato ele. — ele falou e eu não sei que tipo de reação eu tive, talvez no início sem acreditar e depois caindo na real, porque eu sabia que ele faria isso.
— Não seria uma coisa tão ruim… Eu não gosto de violência, mas eu acho que só teria paz se ele morresse, sabe? — encosto as costas no sofá e suspiro, preocupada porque eram muitas coisas envolvidas agora.
— Eu sei… Realmente sei do que está falando. — por um momento, pensei que ele poderia estar falando da morte da mãe, mas fiquei em dúvida e decidi não tocar nesse assunto.
— Mas enfim… Vai lá experimentar as roupas que o te deu e vem aqui, quero ver como você se comportaria em um desfile de moda. — sorri, tentando mudar um pouco o clima chato que tinha ficado no ar.
— Nem fodendo, chica. — ele se levantou do sofá e pegou a sacola.
— Ok, não precisa fingir um desfile. Mas pelo menos me mostra, quero ver se ainda tem estilo de mafioso. — ele balançou a cabeça e saiu rindo baixo.
Por mais que estivesse sendo difícil, as coisas estavam se tornando um pouco mais leves entre nós. Às vezes, eu queria esganar ele. Mas momentos como esse fazem eu pensar um pouco diferente a respeito dele.
Quando me dei conta, ele tinha aparecido no início do corredor com uma troca de roupa que era literalmente a cara de . Era uma camiseta de linho preta, de manga três quartos, a gola era v, mas nada muito grande e tinha uns botões falsos até metade do peito. E também uma calça preta, parecia jeans escuro e um tênis branco.
Tinha ficado bem nele, não podia negar que era um cara extremamente bonito.
— Ficou… Ótimo. Eu gostei, combinou. — falei, cruzando as pernas como se fosse um tipo de jurado. — Próximo look, senhor.
— Eu não vou te mostrar mais. — ele falou, entrando no quarto novamente, mas não sei o porquê, eu sabia que ele mostraria outra peça.
Não demorou muito e ele apareceu com outra peça, dessa vez era uma camiseta regata branca lisa e uma calça marrom. Essa era simples, mas de novo era algo que realmente realçava a beleza dele.
— Gostei da combinação de cores. — sorri, vendo ele se afastar de novo.
— Ok, agora chega. — ele gritou lá do quarto e eu dei risada, caminhando até a cozinha.
Já era noite novamente, a casa estava toda trancada e as cortinas perfeitamente ajustadas na janela. Eu estava deitada em um sofá e estava sentado em outro. Era notório que ele estava bastante entediado e eu realmente queria ajudá-lo, só não sabia como.
— Eu não sei como você consegue viver assim, . — ele começou a puxar assunto.
— Não entendi. — perguntei, me ajeitando um pouco no sofá para poder encará-lo com clareza.
— Ficar tanto tempo fechada num lugar, sem nem colocar a cara para fora. Literalmente. — ele falou, me encarando com seus olhos expressivos.
O olhar dele praticamente queimava sobre mim, parecendo que estava tentando me ler como um livro.
— Eu não era assim antes de tudo, sabe? Eu era uma pessoa que sempre amou sair, ir para festas, comer fora, ir para baladas, viajar… Eu não estou presa, mas sinto que minha liberdade foi tomada de mim. — encolhi os ombros, explicando simplesmente.
Ele suspirou e ficou em silêncio, ainda me encarando. Parecia escolher palavras, sua boca se abria minimamente algumas vezes, mas aparentemente, ele preferiu não dizer mais nada.
Ficamos nos encarando em silêncio por alguns instantes, quando começamos a ouvir um barulho no madeiramento na parte de fora. Eu levantei em um pulo, assustada e ele olhou em direção ao barulho.
— Você ouviu? — perguntei, falando baixo.
— Ouvi. — ele respondeu, também falando baixo enquanto se levantava e ficava próximo a mim.
— Vou mandar mensagem para o , para ver se é ele. — ainda sussurrando, peguei meu celular e mandei a mensagem para .

offline

, você está aqui hoje?



Mandei a mensagem e logo foi respondida.

online

, você está aqui hoje?

Não sou eu, . Vá com para aquele cômodo e se fechem nele.



Ao ver a resposta dele, comecei a me desesperar e coloquei o celular no bolso, começando a sentir uma tremedeira percorrendo todo meu corpo.
percebeu e passou um dos seus braços sobre minhas costas, acariciando um dos ombros.
… Vamos fazer o que ele pediu. — ele praticamente me guiou, até o sótão.
Que era um cômodo literalmente preparado para isso, caso houvesse alguma invasão. Aquele cômodo tinha sido ideia de . A entrada dele era imperceptível pela varanda, então, ao subir lá, praticamente não tinha iluminação, era um pouco difícil de enxergar.
Mas pelo menos, era visível um sofá de couro marrom escuro, um tapete de pelúcia e uma cama de casal com um lençol azul marinho. Tinha também um frigobar que normalmente tinha água, refrigerante e alguma coisa de comer, ao lado um armarinho pequeno, também com comidas que não estragavam todos da mesma cor marrom.
Assim que entramos no cômodo, travou a porta e caminhou comigo até o sofá. Assim que ele sentou, ele me puxou para perto, fazendo com que eu me encostasse em seu peito. Eu tremia muito, estava assustada e com medo, embora tivesse alguém aqui que particularmente poderia matar todo mundo, mas isso acabaria com todo plano de esconderijo dele, estragaria a reputação de na polícia e a minha como psicóloga.
— Ele me encontrou… — falei baixo, apoiando a cabeça no peito de , sentindo uma das mãos dele em meus cabelos, como se tentasse me confortar.
… Enquanto eu estiver aqui, ninguém vai encostar um dedo em você. — ele falou firme, mas a voz ainda era baixa.
— Mas eles podem te entregar para a polícia, sua pena seria muito maior se te encontrassem agora. — falei, um pouco mais calma.
— Foda-se. Eu não ligo, você pode dormir tranquila, nada vai acontecer com você. — ele falou novamente, apertando um pouco meu corpo contra o dele no sofá.
Aquela proximidade poderia me deixar afetada em qualquer outro momento, mas hoje, eu só agradecia mentalmente por não estar sozinha. Por ter alguém ali que poderia me defender e que realmente estaria ali por mim se eu precisasse.
— Obrigada. — falei por último e ele respondeu um “uhum” quase inaudível.
O silêncio reinou naquele sótão, mas era possível ouvir alguns barulhos no lado de fora da casa, como se tentassem entrar ali. Ainda dava para ouvir o barulho da porta de entrada sendo forçada, mas sem sucesso.
Depois de algumas tentativas o barulho desapareceu e a única coisa que eu ouvia, era de corujas e o vento que batia nas folhas das árvores ao redor da casa.


Capítulo 3


“Touch me, yeah
I want you to touch me there
Make me feel like I am breathing
Feel like I am human

Dancing through the night
A vodka and a Sprite
A glimpse of their silhouettes
A night that they'd never forget
(The Neighbourhood - A little death)




Tinha passado uma semana desde que tínhamos ouvido o barulho do lado de fora da casa.
As coisas depois daquele dia se tornaram um pouco mais leves, Armando e eu estamos nos dando bem, pelo menos na maior parte do tempo. Depois daquele dia, mais nada de diferente aconteceu, é como se todas as preocupações tivessem ido embora.
Nesse dia em questão, o clima estava mais quente do que o costume. Eu já tinha tomado dois banhos e Armando estava sem camiseta jogado no sofá depois de lavar a louça do almoço. Era engraçado como que depois desse tempo, a companhia dele acabou se tornando uma coisa normal.
— Eu pensei em uma coisa, mas acho que pode ser loucura. — quebrei o silêncio entre nós dois, vendo que a atenção de Armando veio rapidamente para mim.
— O quê? — ele se ajeitou no sofá, levantando a sobrancelha demonstrando certa curiosidade.
— Tem um lago aqui perto, acho que dá uns cinco minutos andando… Poderíamos ir até lá. — sugeri, depois de pensar bastante nesse assunto.
— Sei não, Amelie… Não podemos dar o luxo de nos encontrarem aqui.
Ele falou e eu fiquei em silêncio por alguns instantes, pensando bem sobre aquela ideia. Já fazia tanto tempo que eu não sabia o que era liberdade, o que era diversão sem ter que me preocupar se alguém me encontraria e faria qualquer coisa comigo.
— Eu sei, Armando… Mas pensa bem, pelo menos um dia. Olha como o dia está quente, nós precisamos de uma distração. — argumentei novamente e pude ver que ele respirou fundo.
Dava para perceber que ele estava pensativo, eu não queria que nada de ruim acontecesse com nós dois e tinha tanto receio quanto ele, ou então, até mais… Mas eu não aguentava mais viver a minha vida com medo de fazer as coisas que quero, as mínimas coisas sem morrer de medo.
— Tudo bem. — ele respondeu simplesmente e levantou do sofá.
A expressão no rosto dele era uma incógnita como sempre, mas seus olhos sempre expressivos e era uma das coisas que eu mais gostava — secretamente.
Depois daquela afirmação de Armando, eu caminhei até o quarto e peguei uma cesta que eu tinha. Ela servia praticamente para guardar tralhas, já que eu não saia de casa.
Deixei ela em cima da cama e peguei um biquíni que eu tinha, estava bastante tempo guardado assim como a cesta, mas eu ia arriscar vestir aquela peça. Ele era branco e tinha tons de marrom, era simples, mas acho que ficaria bom. Depois de me vestir, coloquei um vestido e um chinelo.
Não podia negar que estava ansiosa, eu nem lembrava da última vez que tinha entrado numa piscina, então lago e mar muito menos.
Quando fui até a cozinha, Armando não estava ali. Supus que ele estivesse no quarto dele e então fui enchendo a cesta com algumas frutas e o principal, muita bebida. Aproveitei para colocar algumas cervejas e uma garrafa de vodka que também tinha lá. Estava terminando de guardar as coisas e pude ver Armando se aproximando.
Ele tinha uma camiseta cinza jogada em seu ombro e estava vestindo um shorts escuro, eu rapidamente desviei o olhar e voltei a organizar as coisas.
— O que você está levando aí? — ele perguntou, caminhando até ficar do meu lado.
— Algumas frutas e bebidas, acho que é o suficiente. Quer acrescentar alguma coisa? — expliquei, e ele mexeu na cesta com certa curiosidade.
— Acho que alguém está afim de se embebedar. — ele riu baixo, cobrindo a cesta com um pano.
— Óbvio que não, mas acho que poderia me ajudar a relaxar um pouco. — encolhi os ombros e suspirei com certa ansiedade.
Era difícil fazer até um simples ato como sair de casa, principalmente depois daquele susto que tivemos na semana anterior.
— Eu ainda acho que é loucura. — ele comentou e encolheu os ombros.
— Você pode ficar se quiser, mas eu vou. — falei, colocando a cesta em meu antebraço e então, sem olhar para trás, saí pela porta da cozinha.
Ao sentir o sol batendo em meu rosto, meus olhos rapidamente reagiram à claridade e se fecharam instantaneamente. Desci as escadas e segui em direção a pequena trilha que havia até o caminho do lago. Ao olhar para trás, pude perceber que Armando me acompanhava em silêncio, o rapaz tinha uma expressão desconfiada em seu rosto e ele olhava ao redor, como se estivesse examinando cada detalhe, tentando detectar qualquer mínima ameaça para nós dois. Seguimos em silêncio por todo o caminho, que durou mais ou menos os cinco minutos que eu tinha cogitado.
As árvores ao redor tomavam conta da paisagem, formavam sombras pela areia, criando um ambiente propício para relaxar. Era exatamente o que eu estava precisando, mas é claro que só depois de entrar na água. Deixei a cesta sobre uma sombra e virei para Armando com um sorriso nos lábios, já ele estava vidrado no local. Era simples, a água era quase transparente de tão bonita, pequenas montanhas rochosas rodeavam o local, tornando ainda mais diferenciado.
— Certo, você tinha razão. — Armando quebrou o silêncio e eu ri baixinho, querendo dizer um grande “eu avisei”, mas não ia fazer isso, pelo menos não agora.
— Eu sei. — Me abaixei brevemente e peguei uma cerveja, abri a long neck sem dificuldades e caminhei em direção à água, molhando apenas meu pé por enquanto.
Aquela sensação era uma das melhores que eu poderia sentir depois de tanto tempo, tanto tempo que passei escondida e com medo, ter o mínimo tempo de uma liberdade fingida já era bom, mas eu realmente queria saber como seria a minha vida se eu realmente fosse livre. A temperatura da água era praticamente morna, talvez pelo sol que batia naquele local o dia todo, cada pequeno detalhe tornava aquele lugar estranhamente especial.
Quando percebi, Armando estava na água que batia até seu joelho e tinha uma cerveja na mão. Ele tinha um sorriso no rosto como eu nunca tinha visto antes, parecia mais leve e se divertia, por mais simples que tudo aquilo fosse. Eu terminei de beber a minha cerveja, deixei no canto e decidi entrar na água também, tirei o vestido que eu estava e joguei na areia sem pensar duas vezes. Enquanto eu entrava na água, pude perceber que o rapaz me olhava. Não sabia ao certo como reagir e um calafrio percorreu todo o meu corpo.
— A água está muito boa. — ele falou, desviando o olhar do meu e então, entrou com o corpo embaixo da água.
— É… Refrescante. — acabei rindo, jogando meu corpo sobre a água e comecei a nadar, sentindo um misto de emoções por aquele simples ato.
Depois de tanto tempo, eu finalmente estava nadando. Sentindo a água sobre meu corpo, meu corpo boiando sobre a água. Era uma sensação incrível.
— Nem sei quanto tempo faz desde a última vez que eu entrei em algum lugar assim. — Armando voltou a falar, fazendo com que eu direcionasse meu olhar para ele.
— Eu entendo, também não lembro da última vez que fiz isso. — respondi, virando o corpo para boiar na água e pude ver que ele nadou em minha direção, se aproximando.
— É uma merda. — ele falou.
Nós ficamos ali um bom tempo, o silêncio não era constrangedor, na verdade era até reconfortante. Apenas aproveitamos a companhia um do outro, assim como fazemos todos os dias desde que ele chegou.
Depois de algum tempo, estávamos sentados embaixo da árvore enquanto bebíamos as cervejas e misturávamos com a vodka. Eu já me sentia um pouco alegre, não podia negar.
E era possível perceber que ele estava da mesma forma, acho que nós dois precisávamos disso. Como pessoas, ter algo que pudesse trazer uma certa leveza em tudo.
— Amelie… — Armando começou a falar novamente.
— Oi? — perguntei, virando meu rosto para ele antes de virar a garrafa de vodka na boca, dando um gole generoso.
— Você tem uma boca muito bonita. — ele falou e riu, eu acabei rindo junto e balancei a cabeça em negação.
— Você também… E seus olhos são brilhantes. — aquelas palavras surgiram da minha boca sem eu nem perceber, mas praticamente não sentia vergonha. Ele saberia uma hora ou outra. — Vamos entrar na água de novo.
Ele não respondeu, apenas ficou me encarando enquanto eu me colocava em pé e ele logo fez o mesmo, me seguindo para a água. Depois de entrarmos, acabamos ficando mais perto do que deveríamos. Era uma proximidade perigosa para duas pessoas que não estavam sãos. Joguei um pouco de água no rosto e depois no rosto de Armando, que riu baixo e jogou um pouco de água em mim, mas se aproximou quase que de supetão e colocou a mão direita em minha cintura.
— Eu sei que podemos nos arrepender depois, mas eu não quero ficar são e perceber que eu não fiz o que queria fazer desde a primeira vez que eu te vi. — ele falou novamente, colocou a mão esquerda em minha nuca e me puxou para um beijo.
E depois de tanto tempo, era como se eu me sentisse uma pessoa normal novamente.

Continua...



Nota da autora: Oi pessoal, tudo bem? Espero que estejam gostando! Pra ser bem sincera, a ideia surgiu depois que eu assisti os filmes e fiquei um pouco lê-se muito apaixonada pela franquia e pelo personagem . Algumas coisas eu tirei do filme, mas o plot principalmente não vai rodar ao decorrer dele e sim do ponto de início da fic.

Eu acho que é isso, não deixem de comentar porque isso incentiva horrores a escrever. Um beijo!





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