Capítulo Único
Caríssimos leitores, eu apenas gostaria de apresentar uma história que contem muitas outras em seu meio, a qual mudou minha vida para sempre, aquela que foi taxada como a melhor e mais impactante de uma breve vida, a história de como conheci alguém, me apaixonei, mas também como a perdi. E por fim, sobre a amizade, a qual nos faz suportar qualquer dor.
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Aos quinze conheci uma garota, ela dizia ‘’minha casa não é meu lar’’, e por um momento, eu me identifiquei com ela como não o fazia com mais ninguém. Nossa amizade fluía como as conversas um tanto filosóficas, a qual questionávamos o motivo da nossa conturbada vida, sentados no sótão da casa dos Horan, bebendo cervejas roubadas da geladeira, era como se a vida passasse por nós, mas ainda assim estávamos quebrados demais para continuar.
A encontrei numa exposição de rua, de quadros, em Nova Orleans, ela já chorava e eu queria-o fazer. Ainda que a houvesse visto chorar, tempo depois descobri que ela era uma das pessoas mais fortes que havia conhecido, com uma personalidade incrível e uma mente um pouco conturbada. Com problemas na família e um pai violento, ela só queria ir.
Ela era artista e eu queria um dia ser, queria poder expor as letras que demorara alguns dias para fazer, enquanto ela nem queria expor, as enormes telas rabiscadas e assinadas apenas com as suas iniciais lotavam o sótão da sua casa. Mas essa parte, é algo que eu não quero contar, vamos acelerar o tempo, vamos para onde as estrelas brilhavam sobre nossas cabeças e a mochila ainda que pesasse em nossas costas, não nos importávamos.
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Laissez les bons temps rouler. |Deixe os bons tempos rolarem. – Lema, não-oficial de New Orleans, Luisiana.
- Acho que eu vou vomitar. – um dos caras falou ao meu lado, a voz embargada pelo excesso do álcool, mas naquele momento eu também não estava dos melhores.
- Ai, meu Deus, por que não vamos agora viajar? – a garota surgiu gritando e sorrindo amplo ao nosso lado, no mesmo momento que vi o meu amigo vomitar na enorme lixeira em frente ao bar. E então ele se levantou, limpou a boca e riu.
- Eu acho uma ótima ideia! – gritou saindo finalmente de dentro do bar sorrindo como se não houvesse amanhã, e por um momento, eu pensei que talvez não houvesse mesmo naquela cidade.
- Nova Orleans foi um bom lar por um tempo, mas acho que está na hora de mudar. – sorriu breve, terminando de beber o líquido em seu copo vermelho, e então o tacou na lixeira anteriormente vomitada.
- Não posso mais a chamar de lar, há um bom tempo. – a mulher sorriu torto e então me olhou de relance, e por um momento eu compreendi o que ela tinha em mente, afinal amava aquela cidade, com todo seu coração, era onde sua arte nasceu e foi nutrida, onde ela apreciava seu Jazz pelas ruas e bares, e até dentro de casas alheias, afinal, a música nascera ali, mas no final ela já queria partir, ela sempre quisera. Alguns anos antes, em 2005, junto ao furacão Katrina e o terrível alagamento com as águas do rio Pontchartrain, junto aos 89% da cidade alagada, foi perdido não apenas seu portfólio com as obras que a garota havia dedicado sua vida, mas também sua avó, a qual tinha dedicado a vida a ela. E desde que o furacão passou, ela nunca mais cantarolou em Francês como costumava fazer.
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O carro corria pela rodovia enorme na nossa frente, não queríamos ir até o Texas e voltar, na verdade, nós não queríamos voltar, rodaríamos por todos os estados dos Estados Unidos, é claro que alguns acabariam ficando fora de plano, afinal, o Havaí era um pouco longe dali.
Quando o carro estacionou em Dallas, descobrimos um rodeio, e no meio de tudo até nos inscrevemos para ela, no final, estávamos todos lá, juntos como deveríamos estar, ria da cara de um nervoso se preparando para subir em um touro, enquanto apenas observava toda a situação preocupado.
- Caros telespectadores! Hoje temos esse caubói de cabeça branca para vocês! – o apresentador com botinas gritou no meio do que mais parecia um terreiro. – Sem nunca ter montado em qualquer bicho, hoje ele vai tentar levar os quinhentos dólares, se conseguir ficar oito segundos em cima do bicho brabo! – ele continuava gritando completamente animado, e a plateia urrava.
- Meu Deus, vocês sabem que se esse animal do cair desse touro vai dar muito prejuízo para gente, né? – coçava a cabeça se escorando na barra que dividia o público da arena, enquanto isso acenava como um louco do outro lado para nós, já em cima do touro.
- Deixa o garoto se divertir, . – disse dando de ombros, enquanto ria da felicidade do amigo pronto para entrar em ação.
- Contem comigo, 3, 2, 1, soltem a fera! – o homem gritou, pulando no cercado, finalmente deixando a arena livre para e seu touro.
- IRRA! – ele gritou assim que o animal começou pular feito louco ao sair do cercado anterior, meu amigo segurava firme no animal, e hora ou outra parecia sambar em cima do bicho, quase caindo.
- CINCO SEGUNDOS! – o animador da torcida gritava e todos nós que estávamos ali, estávamos grudados na grade, com os olhos extremamente esbugalhados prestando atenção numa hora no telão e na outra no , torcia aos berros pelo amigo, pulava tanto que quase derrubava a grade. - SEIS...
- SETE! CACETE, É SETE! – Ela gritou assim que o número no telão mudou com a contagem, fez uma cara de espanto, provavelmente sentindo que cairia.
- OITO SEGUNDOS! – O homem vibrou, abrindo a cela do animal novamente e então o animal derrubou no chão, porém este estava tão animado com a vitória que ainda que caído no chão de terra ria, e comemorava, logo correndo até nossa grade e abraçando .
- Ainda bem que acabou, porque essa roupa de caubói definitivamente não fica boa em você! – a garota soltou rindo, enquanto todos nós dávamos petelecos no mesmo enquanto comemorávamos. – Parabéns, queridão!
- VOLTE AQUI, CAUBÓI, VAMOS TE DAR SEU PRÉMIO! – o apresentador chegou quase o puxando pela camisa todo animado até o meio novamente da arena, onde ele ergueu as mãos como vencedor, recebendo aplausos e gritos da plateia. – Quinhentos dólares, parceiro, faça um bom proveito! Te vejo no próximo rodeio?
- Estou só de passagem pelo Texas, cara, mas quem sabe futuramente, né? – Ele soltou rindo, recebendo um meio abraço do homem que logo lhe deu o dinheiro.
- Fico feliz em saber que nossa próxima parada é Oklahoma e não o hospital. – comentou batendo no ombro do amigo que ria.
- Podemos até pegar algum hotel para passar a noite, né? Assim eu não vou ter o babando no meu cangote igual quando dormimos no carro. – disse.
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- AI, MEU DEUS! – gritou num estalo no meio da madrugada, enquanto eu dirigia e do meu lado estava cochilando, que merda de co-piloto que eu tinha. – Eu preciso fazer xixi! , para o carro senão eu vou fazer xixi nesses dois lixos que estão o caminho todo dormindo e babando no meu ombro. E então eu parei o carro.
- O QUÊ? ESTAMOS PERDIDOS! ACABOU A GASOLINA? ENTRAMOS NA SELVA! – acordou num sobressalto ao meu lado, me arrancando risos.
- está fazendo xixi. – dei de ombros. A sorte é que estava no auge da madrugada, ninguém mais trafegava pela rodovia e ela estava logo atrás da van, onde ninguém conseguiria vê-la.
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Quando chegamos ao Novo México, nos permitimos nos empanturrar de tacos e frequentar algumas festas cujo teor de tequila no nosso sangue ficou tão alto que por hora não sabíamos voltar para casa, no final descobrimos que jogados na calçada, nós não tínhamos mais uma casa, apenas uns aos outros. Quando chegamos ao Arizona nós começamos cantarolar, uma vez ainda em NOLA, tivemos a ideia de ter uma banda de garagem, esta a qual nunca decolou, mas de alguma forma tinha permanecido a ideia dentro de nós.
- Você ainda lembra da nossa antiga banda? – comentou sorrindo breve, em volta da fogueira que estávamos, já que nos limitamos a um camping nesse estado.
- Tem como esquecer? – soltou rindo breve, e dessa vez começando a tocar os acordes no violão.
- Poderia ter dado certo. – comentei sorrindo de lado e observando cutucar o saco de marshmallows, ela parecia mais bonita com a luz da fogueira em seu rosto.
- Ainda pode, poderíamos tentar tocar em qualquer bar. – comentou dando de ombros.
- Isso não dá muito futuro. – comentou meio a contragosto, enquanto cutucava o chão com uma vareta, fazendo desenhos na terra.
- Qual é?! Vocês deviam mesmo tentar, esqueçam o dinheiro, façam por amor. – ela sorriu dessa vez jogando um marshmallow na cabeça do .
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Quando chegamos à Califórnia, eu e estávamos mais próximos, nós conversávamos durante a madrugada, sobre as estrelas, os átomos e nossa existência, ela guardava uma galáxia no olhar e num único momento eu quis ser astronauta.
Em Nevada, nós torramos todo nosso estoque de dinheiro, as festas, bares e cassinos nos fascinavam e nós nunca queríamos sair de lá.
- APERTA PRA LÁ! – gritou no meio de uma risada, enquanto saiamos do cassino e tentávamos nos enfiar dentro do carro.
- NÃO DÁ. – gritou enquanto ria.
- Vocês que se fodam, eu vou no colo da . – o loiro deu de ombros, sorrindo como se fosse muito esperto e então se sentou no colo da amiga, que logo reclamou que a bunda dele era dura.
- OK, agora que estão acomodados, para onde eu os levo? – o taxista disse rindo sacana, observando os quatro amassados no banco traseiro enquanto eu sentava no banco ao lado dele.
- NÃO TEMOS UM LUGAR PARA IR! – gritou completamente embriagado, rindo em seguida.
- Ah, cara, nos leve para algum desses hotéis baratos que custe apenas alguns dólares. – comentei com o taxista.
- Vou levar vocês para uma espelunca que eu conheço bem “nos cafundó” da cidade. – ele disse dando de ombros. – ele comentou, achando que todos estavam muito bêbados para entender o que ele falava, porém o olhei com um semblante de reprovação e logo ele sorriu amarelo. – Ou para um não tão bom, mas no centro da cidade?
- Pode ser um do centro da cidade. – retruquei ainda com a cara meio fechada, definitivamente eu devia ter bebido mais, ou não, pois se houvesse bebido muito mais acordaria numa espelunca, talvez uma zona no cu de Las Vegas e sem saber voltar.
- MOÇA, UM QUARTO PRA CINCO! – gritou bêbado, assim que entramos no hotel meia boca.
- NÃO, não fala assim, ! Ela vai achar que vamos fazer uma suruba. – o corrigiu, igualmente gritando e bêbada.
- O certo é orgia, crianças. Uma orgia. – eu os observava rindo, enquanto terminava de pagar o taxi.
- Só temos quarto para no máximo três. – a atendente comentou sem se importar com a situação. – Mas podemos arrumar colchões.
- Pode ser, todo mundo dorme no chão, minha senhora. – tentou ser direto, mas suas palavras já embolavam em sua boca.
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- Tenho uma péssima notícia, nossa vida boa em Las Vegas acabou com nossa grana, e isso é muito sério. – disse enquanto coçava a cabeça. – Na verdade ainda temos um pouco suficiente para atravessar o país, mas isso significa sem festa alguma.- e soltou um muxoxo na hora.
- Mas tem a possibilidade de conseguirmos a grana, não temos? – perguntou sorrindo sacana, como se tivesse algum plano em mente, e por um momento eu quis saber qual era, queria saber qualquer coisa que ela tivesse em mente.
- Temos, mas não é tão fácil assim... – comentou enquanto enfiava uma batata frita na boca.
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- Oregon chama Oregon por que é o estado do Oreo? – comentou coçando a cabeça.
- Você realmente tem um cérebro? – questionei-o enquanto ria pelo mercado da careta do meu amigo.
- E você ta gostando da ? – ele soltou na lata.
- Não responda minhas perguntas com outras perguntas. – revirei os olhos enquanto ele ria.
- É que eu sempre vejo vocês conversando de madrugada e parece que rola algo. – ele deu de ombros, tacando algumas comidas rápidas no carrinho, afinal, essas seriam preparadas dentro da van ou em algum local que disponibilizasse o micro-ondas.
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- Consegui! Vendi um dos meus quadros por quatro mil, uma procuradora de arte tinha ouvido falar sobre os meus, mas como eu dificilmente vendo, ela não foi com muita fé, falei com ela pela manhã, e Amélia vai entregar para ela o quadro, mas a parte boa é: o pagamento já esta no meu cartão. – ela sorriu amplo, exibindo seu cartão no ar.
- FINALMENTE! Sem mais as comidas ruins do . – gritou comemorando sentado na beirada da van.
- As minhas comidas não são ruins. – reclamei, jogando uma camiseta que tava ali perto de mim, jogada em uma das cadeiras postas em frente a van.
- Já que estamos em Washington, poderíamos sequestrar o presidente e pedir um valor bem alto, né? – disse coçando o queixo, como se tivesse uma barba ali, mas não tinha.
- Meu amigo... – passei a mão sobre seu ombro, e ele se virou todo esperançoso. – Mantenha sua boquinha calada, por favor!
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- Por que você não vendia seus quadros? – questionei a garota, enquanto estávamos sentados na grama do bar que os garotos ainda enchiam a cara lá dentro.
- É complicado, são como parte de mim. – ela sorriu fraco. – Sinto que vendê-los é também vender sentimentos e eu acho isso tão errado, ou eu achava...
- E o que você sente ou sentia? – ela me olhou nos olhos de uma forma tão profunda que eu a quis abraçar no exato momento.
- Eu sinto confusão. – ela sorriu fraco e soltou um suspiro pesado, apesar de ser uma pessoa desimpedida o pouco que eu sabia, se fazia muito, afinal, ela era uma pessoa completamente fechada, com problemas na família e um psicológico levemente conturbado. - E você, , o que você sente?
- Às vezes eu acho que é amor. – eu ri fraco e levemente embriagado. No final eu não sabia, não tinha respostas e por um momento também não as queria, a conhecia há tanto tempo e me sentia completamente sendo puxado para perto daquela mulher, e quando ela me contou que depois do furacão nunca mais cantou em francês, eu quis ouvi-la cantar, não por curiosidade, ou coisa do tipo, mais porque eu sabia, ali nas entrelinhas estava escrito, ela cantava assim quando estava feliz e por um momento eu desejei que ela fosse, na verdade não só por um momento, mas eu desejava que ela fosse por toda sua vida.
Em Montana nós não tínhamos mais nada, talvez um cajon, um violão e muita força de vontade. Adentramos o outro bar, dessa vez não como os bêbados que havíamos saído do outro, mas sim como profissionais, o local disponibilizaria os instrumentos, e ganharíamos cem pratas pelo show, e foi assim que começávamos a correr atrás do dinheiro.
Em Idaho, entre um papo sobre constelações e probabilidades, eu e nos beijamos, ainda que fosse só um beijo. Na noite seguinte, nós cinco bêbados caminhávamos até a van, debaixo das estrelas, um com os braços nos ombros do outro, nos apoiávamos entre risos e tropeços, no fim, nem entramos na van, nos deitamos ali naquele gramado, e terminamos de passar aquela noite acordados, debaixo das estrelas, com apenas o julgamento de quem estava lá em cima, seja ele quem fosse, não tínhamos para onde ir, tínhamos apenas nossos corações bagunçados e confusos demais, que juntos podiam facilitar a vida, porque ela era dura, nós sabíamos que sim, mas quando estávamos unidos era diferente, era como se eu fosse menos estranho e não interessasse a loucura que eu quisesse fazer, sequestrar o presidente, montar em touros ou até gostar da minha amiga, eles estariam me apoiando, agora e sempre.
Wyoming e Utah passaram como uma brisa, eram risos e mais risos, eu e ficávamos quase que direto, não sabíamos o que tinha, mas eu sabia que eu gostava dela, talvez eu só quisesse abraçar todas as incertezas daquela garota, mas para isso, antes eu precisava abraçar as minhas, e essas eu não tinha tanta certeza se queria abraçar.
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- Você aposta quanto que eu entro naquele bondinho de esqui só de cueca? – disse enquanto gargalhava em meio a um gole e outro da sua cerveja.
- Eu aposto cinco pratas, é tudo que eu tenho. – disse rindo, encostado na parede do lugar que compramos nossas cervejas, não estava frio, nem nevando, mas o parque de esqui funcionava do mesmo jeito.
- Aposto cinco também, mas só se for em um bondinho que tiver gente, não vale se estiver vazio. – fez uma careta, arrancando risos de todos nós, enquanto tirava suas roupas e ficava de cueca, correndo em direção ao bondinho que já tínhamos comprado um dos tickets.
- Olha a cara daquele homem. – Apontei para o bondinho assim que entrou no mesmo, o homem estava com os olhos estatelados, a ponto de jogar para fora do lugar, enquanto nós gargalhávamos observando a cena. Alguns quilômetros mais a frente, onde cantávamos e contávamos piadas dentro da van, parou abruptamente, no meio de uma rua.
- Descendo, todo mundo, um, dois, um dois. – ele dizia como um soldado, enquanto eu e já bêbados riamos de algo. – Vocês estão prestes a entrar no estado do maior milho do mundo! – ele disse com uma enorme empolgação, descendo da van com alguns pulinhos.
- O quê? – ela soltou rindo, observando a avenida deserta. – Vem, , vamos ficar em dois estados ao mesmo tempo comigo.
- Calma, fiquem em estátua, eu vou tirar uma foto disso! – gritou empurrando e para a linha que dividia Colorado de Kansas enquanto ria alto, os dois se deitaram sobre a linha dos dois estados, enquanto eu e fazíamos a pose mais bizarra que podíamos, que logo foi impressa em uma Polaroid.
- Será que se fritarmos esse milho, ele vira a maior pipoca do mundo? – gritou meio alterado pela bebida, voltando para a van. – Acelera logo isso que agora eu tô com fome!
- Eu vou largar vocês dois para fora! – gritou da janela da van nos observando rir de algum comentário que a garota havia feito. Entramos na van. – Seguinte, eu vou levar vocês pra maior plantação de milho do mundo e vamos brincar de esconde-esconde.
- O que você anda bebendo, ? – ela disse num grito enquanto ria e se deitava espaçosamente pelo sofá de trás do carro.
- Infelizmente eu tô bem sóbrio, senhorita . – ela assentiu com a cabeça enquanto o motorista sorria.
- Eu sinto muito. – ela respondeu enquanto mexia em alguma coisa dentro da sua mala.
- Chegamos! – gritou animado, descendo da van.
- Certo, então faz assim, ta com o , ele tem que achar nós, porque é esconde-esconde e vocês sabem como joga, né? Todos aqui tiveram infância, certo? – soltou, fazendo um hi-five com .
- Por que eu? – fez um bico enorme, e então todos nós nos posicionamos na frente do imenso milharal, prontos para correr para dentro.
- Só vai, ! – Eu gritei, dando um tapinha no ombro do meu amigo, e então ele finalmente fechou os olhos e começou a contar em voz alta o que nos permitiu correr para dentro do milharal. O tempo corria, mas no fim eu só ouvia gritando, mas ele nunca parecia estar próximo, as vezes na hora de trocar de milharal, vulgo esconderijo, esbarrava com alguém e ouvia algum cochicho. As horas passavam, mas nunca chegava perto, e aqui estava me incomodando, quando desisti do jogo e comecei a andar a procura do garoto, mas tudo que tinha eram milhos e mais milhos, até que eu esbarrei.
- AH! QUE PORRA! – gritou, assim que minhas costas chocaram com a dela. – Já estava ficando com medo, esse garoto nunca acha ninguém.
- Que escândalo. – eu ri da cara dela que revirou os olhos.
- Vai que era algum alienígena. – ela deu de ombros enquanto eu ria do semblante dela. - Eu acho melhor começarmos achar os outros. - conforme o tempo, começamos a achar um a um, de uma forma demorada e chata, porém ai descobrimos o pior, quando nos reunimos, não conseguíamos sair dali, parecia que estávamos apenas rodando em círculos. Nós não só nos perdemos pela plantação de milho – a qual tivemos que ligar para a policia para nos ajudar a sair de lá, entre gargalhadas. - Como também andamos na viatura, todos nós espremidos até nossa van, enquanto os policiais faziam piadinhas sobre o caso.
This one goes out to my closest friends, the ones who make me feel less alien. |Está é para todos os meus amigos mais próximos, os que me fazem sentir menos alienígena.
Quando chegamos a Dakota do Sul, depois de termos feito vários nadas e frequentado algumas festas de fraternidades no Nebraska e Kansas, fomos direto para um fast food local.
- Meu Deus, eu quero tirar uma foto com essa estátua, olha que maneira! – gritou saindo do fast food e abraçando com uma estátua.
- Eu também quero, posso enfiar o dedo no nariz dela? – questionou, passando o celular para mim.
- Sai fora, eu também quero tirar, e enfia, ué – soltei passando a câmera pro .
- Eca, tem meleca de verdade nesse nariz! – ele reclamou após enfiar o dedo.
- Calma que eu também vou. – gritou correndo até nós e fazendo uma pose bizarra.
- E agora, eu também quero sair nessa foto? – questionou.
- Pede para alguém tirar! Rápido! – gritou, apontando para uma mulher que passava logo atrás.
- Se estátuas falassem, com certeza essa estaria nós xingando. – soltei, rindo observando cada um com uma pose mais ridícula cutucando a estátua.
- Que bom que elas não falam! – soltou sorrindo e dando uma piscadela.
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Em Dakota do Norte nós apenas acampamos, enquanto nos empanturrávamos de salgadinhos e fazíamos alguns shows em bares para conseguir mais dinheiro, já em Minessota eu recebi uma ligação, uma daquelas que nós nunca jurávamos que iríamos receber um dia, eu havia recebido uma herança de um tio que eu nem conhecia, era uma grana boa, e veio a calhar no momento que eu mais precisava, afinal, a van havia quebrado e seria uma boa hora para consertar, caso contrário não conseguiríamos terminar o caminho. No Winsconsin aconteceu algo que deixou todo mundo preocupado, e o que nos fez procurar por Saint Paul inteiro vestígios de onde estava , porque ela não estava lá quando amanheceu, não apareceu quando estava tarde e de noite quando a procuramos e achamos ela não dizia nada, mas era visível que ela estava hiper triste.
I do not think I would be here If not for them, see all the nights in shitty bars, throwing up in taxi cars. | Eu não acho que eu estaria aqui se não fosse por eles, veja todas as noites em bares de merda, se jogando em carros de taxi.
Em Iowa ela sumiu mais uma vez e tivemos que procurá-la, eu não entendia o porquê e ela não dizia, mas cada vez que sumia, ela voltava mais fechada, e por um momento eu torcia para que logo ela voltasse a ser como sempre foi. Illinois, Missouri e Indiana foi tranquilo, nós acampávamos, dávamos boas risadas, e havia dias que eu acreditava por um momento que estava melhor, mas era difícil de acreditar nisso cem por cento. Em Michigan nós entramos num clube de milionários, falando muitas lorotas e mentindo sobrenomes, saímos de lá rindo depois de um dia cheio de piscina. Passamos também por Ohio, Virgínia Ocidental e por um momento eu não sabia que no futuro uma Virginia ou outra mudaria minha vida. Na Pensilvânia, parecia feliz com as novas possibilidades, nossa banda decolava e ganhávamos dinheiro para alguns hotéis e comidas diferentes locais, até visitamos a maior abobora do mundo e a mulher mais velha dos Eua. Nos outros estados, nós saltamos de paraquedas, pulamos em cachoeiras e observamos várias estrelas, por um momento até pensei e fomos confundidos por velhinhos na rua, que nos diziam que éramos um belo casal, e por um momento, eu quis que fôssemos. Nova Iorque, New Hempshire, Maine, Massashussets, Connecticut, Nova Jersey e até Delaware foram estados que passamos sem deixar muitos rastros, nós visitamos locais turísticos, tiramos fotos como estrangeiros e jogamos noites fora em alguns bares das cidades, enquanto cantávamos pelas ruas e bares por ai, sabendo que estarmos juntos bastava.
Or on our backs under the stars, as we sang, as we sing. | Ou em nossas costas, sob as estrelas. Quando cantamos, enquanto cantamos.
Tinha dias que eu sabia que ainda iria acordar na Montana, afinal, havíamos acabado de chegar ao estado, porém eu não sabia de mais nada e enchia minha mente a procura de respostas, mas no final tudo que tinha era interrogações, eu tinha medo que ela sumisse durante a noite como aconteceu Idaho, tinha medo de diversas coisas e inclusive do meu futuro, nunca conseguia parar de me questionar sobre as coisas, sobre o amanhã e talvez até sobre Nova Orleans e como tudo seria quando voltasse, mas, afinal, as perguntas faziam parte da vida, e a busca pelas respostas talvez fosse a única coisa que ainda nos fizesse continuar.
What’s another night on mars? With friends like ours anywhere is home. The earthlings crawl from bar to bar, ignoring shooting stars. | O que há demais em outra noite em Marte? Com amigos como os nossos em qualquer lugar é um lar. Os terráqueos a rastejar de bar em bar, ignorando estrelas cadentes.
E então veio os piores estados, Virginia, o qual ela começou ficar completamente estranha, paranóica, com costumes atípicos e extremamente fechada e explosiva, parecia que algo a incomodava completamente, mas eu não sabia, não havia como saber. E então Carolina do Norte, Tenessee, onde até andamos de cavalo, mas então teve uma crise de choro em meio a mata e ninguém entendeu, mas tentamos dar todo nosso apoio, nós conversávamos com ela, porém ela parecia não assimilar, e então logo antes de chegarmos na Carolina do Sul tudo já estava melhor, seu choro havia cessado, mas ela ainda estava quieta. Ao chegarmos à Georgia nós nos beijamos como nunca antes, ela parecia estar transparente quanto a isso, disse que gostava de mim, mas que era um tempo ruim, eu não entendia, só queria poder acordar outras manhãs com ela ao meu lado, como havia ocorrido nessa. Mas então chegamos à Florida, onde meus pesadelos se tornaram tão reais que eu não conseguia entender o que era real e o que era um sonho, mas no final percebi, tudo ali era verdade, e eu sentia meu coração estourado.
Passamos 250 dias na estrada, uma semana em cada estado dos Estados Unidos, mas em alguma parte desses quase um ano, eu desejei ter parado na Califórnia, onde a brisa era leve, o cheiro do mar era presente e o amor ainda era algo novo, talvez também não tivesse me importado de ter ficado em Montana, onde as coisas eram claras e o amor presente, mas nunca talvez eu quisesse ter passado pela Florida.
And Will remain this way, for years and years. What’s another night on mars? With friends like ours, anywhere is home. |E permanecerá desta forma, durante anos e anos. O que há demais em outra noite em marte? Com amigos como os nossos, qualquer lugar é um lar.
O sol era quente e o céu era bonito e azul, mas não demorou para que eu o enxergasse cinza, e o que aconteceu na Florida, fez com que eu perdesse qualquer gosto por passar nos últimos quatro estados, porque independente de qual eu estava, eu sabia que seria melhor se ela estivesse também. Queria poder dizer que o luto tinha durado quatro estados e vinte dias, mas isso não aconteceu, porque quando cheguei em Nola, o jazz parecia não tocar e por um momento os artistas de rua também pareciam não me importar, afinal a única qual eu apreciava não mais fazia sua arte. E só muito depois dela ir, eu percebi, não bastava ela fazer arte, porque no final isso não importava, ela não era importante porque pintava quadros doloridos e fortes demais, não era levemente prestigiada por escrever poemas impactantes ou por atuar com tanta alma que a tempos eu não via, a arte dela, como ela mesmo havia dito uma vez, não importava. E agora eu sabia, não importava mesmo, porque no final, ela era a arte.
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Flashback’on
Acredito que não preciso narrar os cinquenta estados e o Distrito Federal, afinal, não é todo estado que é só diversão, ainda que com aqueles quatro esta era garantida, então vou pular para os fundamentais, onde o clima era leve e a risada era fácil, porque no final, você vai ver que ainda que tudo tenha corrido perfeitamente, dúvidas nascem entre o caminho e dores encerram a viagem.
era incrível, éramos amigos desde então e ela deu todo o apoio para que nossa banda seguisse carreira, ainda que todos nós estávamos convictos que quatro adolescentes americanos, tocando numa garagem suja, geralmente não levava a lugar algum, mas ainda assim seguíamos com o sonho de um dia ser alguém. Quando entramos na van largando qualquer coisa que tínhamos para trás, ainda que com o planejamento de voltar, levamos uma boa quantia de dinheiro, dava para sobreviver, ainda que nos limitasse a fazer muitas coisas pelo caminho. Quando chegamos a Oklahoma – depois de participarmos de dois rodeios no Texas e dormir numa espelunca no Arkansas. - estacionou a van em um local de acampamento, e enquanto todos se preparavam para arrumar suas barracas e montar uma fogueira, estava sentada na beirada do lago, seu olhar parecia não ter perspectiva alguma, já que ela se perdia em todo o emaranhado de pensamentos.
- Isso poderia dar um ótimo quadro, se eu fosse esse tipo de artista. – ela disse baixo e melancólico assim que me sentei ao seu lado, se referindo à paisagem.
- E que tipo de artista você seria? – questionei a encarando dessa vez, porém seus olhos não se voltavam para mim, ela olhou para baixo e então engoliu em seco.
- Acho que sou aquele tipo. – ela maneou a cabeça no ar. – Schumann, Van Gogh ou até Virginia Wolf, não importa se suas artes são boas, só se importam com o fato de que eles são loucos. Não há coerência na arte, mas tem sentimento, mas os críticos, a mídia e os humanos querem exigir isso.
- Eles eram brilhantes. – conclui a encarando que sorriu breve de lado e deu de ombros.
- Brilhantismo não basta, . – a garota concluiu e eu assenti com a cabeça, ainda pensando que bastava, deveria bastar, ela era boa e nada mais importava.
- O que você espera dessa viagem? – questionei, jogando uma pedrinha no lago.
- Não sei, talvez nada. – ela sorriu, tacando uma pedra no lago logo depois de mim. – Talvez esperança. – eu queria perguntar, mas ela não abriu brecha para isso, e eu não ousei atravessar sua barreira. Ainda que fôssemos próximos tínhamos certo limite de até aonde ir.
Flashback’off
Talvez no final eu houvesse descoberto que a história que eu quis contar, não foi sobre ela, nem sobre sua morte ou todo o nosso romance, a história era sobre amizade, a qual cresceu em meio ao caos e a mesma que eu vou me lembrar para sempre, porque no final era isso que nos restava, algumas boas histórias e lembranças avassaladoras para contar. Eu poderia desejar contar todas elas com ao meu lado, mas a vida não permitiu essa proeza, talvez tivesse algum plano maior para a garota do outro lado, não sabemos, nós nunca saberemos o que a vida espera da gente.
Dois anos depois...
- TRUCO! – gritou em minha frente enquanto uma gargalhada saia da voz do a minha direita.
- , você tem que contar o que descobriu na faculdade de psicologia. – cutucou o outro. Nesse momento tudo estava melhor, mas o buraco não se fechava por completo.
- Bom, cara, eu estou estudando transtorno de bipolaridade e, acho que o que a teve foi uma série de crises, desde aquela primeira vez que ficou estranha. – ele comentou, mexendo nas cartas do baralho. - E como não sabíamos só foi se agravando e...
Eu sei, não tem sentido, não há coerência, e vocês, leitores, devem querer matar ou indagar o escritor – ou seja, eu. – mas eu não posso dar respostas, eu não posso definir um sentido para o livro, porque no final eu não sei qual é o sentido, a coerência ou até o porquê. Como eu havia dito, tem algumas questões que nós não sabemos e buscamos por elas dia após dia, e é o que nos faz continuar, é o que me faz continuar até hoje, porque no final, eu não sei. Eu não sei como seria o hoje se estivesse aqui sorrindo como sempre fazia, e me dando esperança, eu não sei o por que e nem o como, eu só sei que foi o dia que o policial ligou em meu celular e me disse: ela se foi. Sem nenhum sinto muito, porque afinal, ele não sentia, não conhecia e não se importava, a única coisa que eu posso afirmar é que eu continuo aqui, sentindo o buraco em meu peito crescer, esperando que respostas cheguem e a dor diminua, eu continuo aqui, pelo mesmo motivo de vocês, para tentar achar o porquê, a resposta, a fuga ou o caminho para a vida, mas este eu não sei, a única coisa que eu posso afirmar claramente é que junto com aqueles três minha dor é menor, eu sou menos ruim e menos rancoroso de saber que eu poderia ter percebido quando ela sumiu na primeira noite, talvez no décimo quinto estado que passamos, mas no fundo eu sei, eu não poderia mudar, não poderia mudá-la. Nós nunca soubemos o final, mas entre hipóteses eu e os garotos chegamos a considerar que ela cogitava a morte há muito tempo, afinal, quando eu havia a conhecido ela havia comentado algo do tipo, mas o tempo passou e talvez nós só prolongamos a vida dela, talvez tivéssemos adiado sua morte, mas ainda igual ela havia me dito uma vez, certas coisas eram certas e aconteceriam uma hora ou outra, eu só não esperava que quando ela tivesse dito isso fosse uma referência ao que aconteceu na Florida, ou que quase aconteceu no Teneesse, eu só esperava que ela estivesse bem, porque no final talvez ela tivesse um plano maior, ou alguém lá de cima, de algum lugar, qualquer um que fosse, uma divindade, cosmos ou seja lá quem reja o mundo, guardasse todas as constelações para ela, afinal, ela não merecia nada menos que isso. Por fim, eu sabia, eu estava bem aqui, porque no final eu tinha meus amigos, e tendo eles – ainda que não pudesse a ter – era suficiente para uma vida boa.
.
Aos quinze conheci uma garota, ela dizia ‘’minha casa não é meu lar’’, e por um momento, eu me identifiquei com ela como não o fazia com mais ninguém. Nossa amizade fluía como as conversas um tanto filosóficas, a qual questionávamos o motivo da nossa conturbada vida, sentados no sótão da casa dos Horan, bebendo cervejas roubadas da geladeira, era como se a vida passasse por nós, mas ainda assim estávamos quebrados demais para continuar.
A encontrei numa exposição de rua, de quadros, em Nova Orleans, ela já chorava e eu queria-o fazer. Ainda que a houvesse visto chorar, tempo depois descobri que ela era uma das pessoas mais fortes que havia conhecido, com uma personalidade incrível e uma mente um pouco conturbada. Com problemas na família e um pai violento, ela só queria ir.
Ela era artista e eu queria um dia ser, queria poder expor as letras que demorara alguns dias para fazer, enquanto ela nem queria expor, as enormes telas rabiscadas e assinadas apenas com as suas iniciais lotavam o sótão da sua casa. Mas essa parte, é algo que eu não quero contar, vamos acelerar o tempo, vamos para onde as estrelas brilhavam sobre nossas cabeças e a mochila ainda que pesasse em nossas costas, não nos importávamos.
- Acho que eu vou vomitar. – um dos caras falou ao meu lado, a voz embargada pelo excesso do álcool, mas naquele momento eu também não estava dos melhores.
- Ai, meu Deus, por que não vamos agora viajar? – a garota surgiu gritando e sorrindo amplo ao nosso lado, no mesmo momento que vi o meu amigo vomitar na enorme lixeira em frente ao bar. E então ele se levantou, limpou a boca e riu.
- Eu acho uma ótima ideia! – gritou saindo finalmente de dentro do bar sorrindo como se não houvesse amanhã, e por um momento, eu pensei que talvez não houvesse mesmo naquela cidade.
- Nova Orleans foi um bom lar por um tempo, mas acho que está na hora de mudar. – sorriu breve, terminando de beber o líquido em seu copo vermelho, e então o tacou na lixeira anteriormente vomitada.
- Não posso mais a chamar de lar, há um bom tempo. – a mulher sorriu torto e então me olhou de relance, e por um momento eu compreendi o que ela tinha em mente, afinal amava aquela cidade, com todo seu coração, era onde sua arte nasceu e foi nutrida, onde ela apreciava seu Jazz pelas ruas e bares, e até dentro de casas alheias, afinal, a música nascera ali, mas no final ela já queria partir, ela sempre quisera. Alguns anos antes, em 2005, junto ao furacão Katrina e o terrível alagamento com as águas do rio Pontchartrain, junto aos 89% da cidade alagada, foi perdido não apenas seu portfólio com as obras que a garota havia dedicado sua vida, mas também sua avó, a qual tinha dedicado a vida a ela. E desde que o furacão passou, ela nunca mais cantarolou em Francês como costumava fazer.
O carro corria pela rodovia enorme na nossa frente, não queríamos ir até o Texas e voltar, na verdade, nós não queríamos voltar, rodaríamos por todos os estados dos Estados Unidos, é claro que alguns acabariam ficando fora de plano, afinal, o Havaí era um pouco longe dali.
Quando o carro estacionou em Dallas, descobrimos um rodeio, e no meio de tudo até nos inscrevemos para ela, no final, estávamos todos lá, juntos como deveríamos estar, ria da cara de um nervoso se preparando para subir em um touro, enquanto apenas observava toda a situação preocupado.
- Caros telespectadores! Hoje temos esse caubói de cabeça branca para vocês! – o apresentador com botinas gritou no meio do que mais parecia um terreiro. – Sem nunca ter montado em qualquer bicho, hoje ele vai tentar levar os quinhentos dólares, se conseguir ficar oito segundos em cima do bicho brabo! – ele continuava gritando completamente animado, e a plateia urrava.
- Meu Deus, vocês sabem que se esse animal do cair desse touro vai dar muito prejuízo para gente, né? – coçava a cabeça se escorando na barra que dividia o público da arena, enquanto isso acenava como um louco do outro lado para nós, já em cima do touro.
- Deixa o garoto se divertir, . – disse dando de ombros, enquanto ria da felicidade do amigo pronto para entrar em ação.
- Contem comigo, 3, 2, 1, soltem a fera! – o homem gritou, pulando no cercado, finalmente deixando a arena livre para e seu touro.
- IRRA! – ele gritou assim que o animal começou pular feito louco ao sair do cercado anterior, meu amigo segurava firme no animal, e hora ou outra parecia sambar em cima do bicho, quase caindo.
- CINCO SEGUNDOS! – o animador da torcida gritava e todos nós que estávamos ali, estávamos grudados na grade, com os olhos extremamente esbugalhados prestando atenção numa hora no telão e na outra no , torcia aos berros pelo amigo, pulava tanto que quase derrubava a grade. - SEIS...
- SETE! CACETE, É SETE! – Ela gritou assim que o número no telão mudou com a contagem, fez uma cara de espanto, provavelmente sentindo que cairia.
- OITO SEGUNDOS! – O homem vibrou, abrindo a cela do animal novamente e então o animal derrubou no chão, porém este estava tão animado com a vitória que ainda que caído no chão de terra ria, e comemorava, logo correndo até nossa grade e abraçando .
- Ainda bem que acabou, porque essa roupa de caubói definitivamente não fica boa em você! – a garota soltou rindo, enquanto todos nós dávamos petelecos no mesmo enquanto comemorávamos. – Parabéns, queridão!
- VOLTE AQUI, CAUBÓI, VAMOS TE DAR SEU PRÉMIO! – o apresentador chegou quase o puxando pela camisa todo animado até o meio novamente da arena, onde ele ergueu as mãos como vencedor, recebendo aplausos e gritos da plateia. – Quinhentos dólares, parceiro, faça um bom proveito! Te vejo no próximo rodeio?
- Estou só de passagem pelo Texas, cara, mas quem sabe futuramente, né? – Ele soltou rindo, recebendo um meio abraço do homem que logo lhe deu o dinheiro.
- Fico feliz em saber que nossa próxima parada é Oklahoma e não o hospital. – comentou batendo no ombro do amigo que ria.
- Podemos até pegar algum hotel para passar a noite, né? Assim eu não vou ter o babando no meu cangote igual quando dormimos no carro. – disse.
- O QUÊ? ESTAMOS PERDIDOS! ACABOU A GASOLINA? ENTRAMOS NA SELVA! – acordou num sobressalto ao meu lado, me arrancando risos.
- está fazendo xixi. – dei de ombros. A sorte é que estava no auge da madrugada, ninguém mais trafegava pela rodovia e ela estava logo atrás da van, onde ninguém conseguiria vê-la.
Quando chegamos ao Novo México, nos permitimos nos empanturrar de tacos e frequentar algumas festas cujo teor de tequila no nosso sangue ficou tão alto que por hora não sabíamos voltar para casa, no final descobrimos que jogados na calçada, nós não tínhamos mais uma casa, apenas uns aos outros. Quando chegamos ao Arizona nós começamos cantarolar, uma vez ainda em NOLA, tivemos a ideia de ter uma banda de garagem, esta a qual nunca decolou, mas de alguma forma tinha permanecido a ideia dentro de nós.
- Você ainda lembra da nossa antiga banda? – comentou sorrindo breve, em volta da fogueira que estávamos, já que nos limitamos a um camping nesse estado.
- Tem como esquecer? – soltou rindo breve, e dessa vez começando a tocar os acordes no violão.
- Poderia ter dado certo. – comentei sorrindo de lado e observando cutucar o saco de marshmallows, ela parecia mais bonita com a luz da fogueira em seu rosto.
- Ainda pode, poderíamos tentar tocar em qualquer bar. – comentou dando de ombros.
- Isso não dá muito futuro. – comentou meio a contragosto, enquanto cutucava o chão com uma vareta, fazendo desenhos na terra.
- Qual é?! Vocês deviam mesmo tentar, esqueçam o dinheiro, façam por amor. – ela sorriu dessa vez jogando um marshmallow na cabeça do .
Quando chegamos à Califórnia, eu e estávamos mais próximos, nós conversávamos durante a madrugada, sobre as estrelas, os átomos e nossa existência, ela guardava uma galáxia no olhar e num único momento eu quis ser astronauta.
Em Nevada, nós torramos todo nosso estoque de dinheiro, as festas, bares e cassinos nos fascinavam e nós nunca queríamos sair de lá.
- APERTA PRA LÁ! – gritou no meio de uma risada, enquanto saiamos do cassino e tentávamos nos enfiar dentro do carro.
- NÃO DÁ. – gritou enquanto ria.
- Vocês que se fodam, eu vou no colo da . – o loiro deu de ombros, sorrindo como se fosse muito esperto e então se sentou no colo da amiga, que logo reclamou que a bunda dele era dura.
- OK, agora que estão acomodados, para onde eu os levo? – o taxista disse rindo sacana, observando os quatro amassados no banco traseiro enquanto eu sentava no banco ao lado dele.
- NÃO TEMOS UM LUGAR PARA IR! – gritou completamente embriagado, rindo em seguida.
- Ah, cara, nos leve para algum desses hotéis baratos que custe apenas alguns dólares. – comentei com o taxista.
- Vou levar vocês para uma espelunca que eu conheço bem “nos cafundó” da cidade. – ele disse dando de ombros. – ele comentou, achando que todos estavam muito bêbados para entender o que ele falava, porém o olhei com um semblante de reprovação e logo ele sorriu amarelo. – Ou para um não tão bom, mas no centro da cidade?
- Pode ser um do centro da cidade. – retruquei ainda com a cara meio fechada, definitivamente eu devia ter bebido mais, ou não, pois se houvesse bebido muito mais acordaria numa espelunca, talvez uma zona no cu de Las Vegas e sem saber voltar.
- MOÇA, UM QUARTO PRA CINCO! – gritou bêbado, assim que entramos no hotel meia boca.
- NÃO, não fala assim, ! Ela vai achar que vamos fazer uma suruba. – o corrigiu, igualmente gritando e bêbada.
- O certo é orgia, crianças. Uma orgia. – eu os observava rindo, enquanto terminava de pagar o taxi.
- Só temos quarto para no máximo três. – a atendente comentou sem se importar com a situação. – Mas podemos arrumar colchões.
- Pode ser, todo mundo dorme no chão, minha senhora. – tentou ser direto, mas suas palavras já embolavam em sua boca.
- Mas tem a possibilidade de conseguirmos a grana, não temos? – perguntou sorrindo sacana, como se tivesse algum plano em mente, e por um momento eu quis saber qual era, queria saber qualquer coisa que ela tivesse em mente.
- Temos, mas não é tão fácil assim... – comentou enquanto enfiava uma batata frita na boca.
- Você realmente tem um cérebro? – questionei-o enquanto ria pelo mercado da careta do meu amigo.
- E você ta gostando da ? – ele soltou na lata.
- Não responda minhas perguntas com outras perguntas. – revirei os olhos enquanto ele ria.
- É que eu sempre vejo vocês conversando de madrugada e parece que rola algo. – ele deu de ombros, tacando algumas comidas rápidas no carrinho, afinal, essas seriam preparadas dentro da van ou em algum local que disponibilizasse o micro-ondas.
- FINALMENTE! Sem mais as comidas ruins do . – gritou comemorando sentado na beirada da van.
- As minhas comidas não são ruins. – reclamei, jogando uma camiseta que tava ali perto de mim, jogada em uma das cadeiras postas em frente a van.
- Já que estamos em Washington, poderíamos sequestrar o presidente e pedir um valor bem alto, né? – disse coçando o queixo, como se tivesse uma barba ali, mas não tinha.
- Meu amigo... – passei a mão sobre seu ombro, e ele se virou todo esperançoso. – Mantenha sua boquinha calada, por favor!
- É complicado, são como parte de mim. – ela sorriu fraco. – Sinto que vendê-los é também vender sentimentos e eu acho isso tão errado, ou eu achava...
- E o que você sente ou sentia? – ela me olhou nos olhos de uma forma tão profunda que eu a quis abraçar no exato momento.
- Eu sinto confusão. – ela sorriu fraco e soltou um suspiro pesado, apesar de ser uma pessoa desimpedida o pouco que eu sabia, se fazia muito, afinal, ela era uma pessoa completamente fechada, com problemas na família e um psicológico levemente conturbado. - E você, , o que você sente?
- Às vezes eu acho que é amor. – eu ri fraco e levemente embriagado. No final eu não sabia, não tinha respostas e por um momento também não as queria, a conhecia há tanto tempo e me sentia completamente sendo puxado para perto daquela mulher, e quando ela me contou que depois do furacão nunca mais cantou em francês, eu quis ouvi-la cantar, não por curiosidade, ou coisa do tipo, mais porque eu sabia, ali nas entrelinhas estava escrito, ela cantava assim quando estava feliz e por um momento eu desejei que ela fosse, na verdade não só por um momento, mas eu desejava que ela fosse por toda sua vida.
Em Montana nós não tínhamos mais nada, talvez um cajon, um violão e muita força de vontade. Adentramos o outro bar, dessa vez não como os bêbados que havíamos saído do outro, mas sim como profissionais, o local disponibilizaria os instrumentos, e ganharíamos cem pratas pelo show, e foi assim que começávamos a correr atrás do dinheiro.
Em Idaho, entre um papo sobre constelações e probabilidades, eu e nos beijamos, ainda que fosse só um beijo. Na noite seguinte, nós cinco bêbados caminhávamos até a van, debaixo das estrelas, um com os braços nos ombros do outro, nos apoiávamos entre risos e tropeços, no fim, nem entramos na van, nos deitamos ali naquele gramado, e terminamos de passar aquela noite acordados, debaixo das estrelas, com apenas o julgamento de quem estava lá em cima, seja ele quem fosse, não tínhamos para onde ir, tínhamos apenas nossos corações bagunçados e confusos demais, que juntos podiam facilitar a vida, porque ela era dura, nós sabíamos que sim, mas quando estávamos unidos era diferente, era como se eu fosse menos estranho e não interessasse a loucura que eu quisesse fazer, sequestrar o presidente, montar em touros ou até gostar da minha amiga, eles estariam me apoiando, agora e sempre.
Wyoming e Utah passaram como uma brisa, eram risos e mais risos, eu e ficávamos quase que direto, não sabíamos o que tinha, mas eu sabia que eu gostava dela, talvez eu só quisesse abraçar todas as incertezas daquela garota, mas para isso, antes eu precisava abraçar as minhas, e essas eu não tinha tanta certeza se queria abraçar.
- Eu aposto cinco pratas, é tudo que eu tenho. – disse rindo, encostado na parede do lugar que compramos nossas cervejas, não estava frio, nem nevando, mas o parque de esqui funcionava do mesmo jeito.
- Aposto cinco também, mas só se for em um bondinho que tiver gente, não vale se estiver vazio. – fez uma careta, arrancando risos de todos nós, enquanto tirava suas roupas e ficava de cueca, correndo em direção ao bondinho que já tínhamos comprado um dos tickets.
- Olha a cara daquele homem. – Apontei para o bondinho assim que entrou no mesmo, o homem estava com os olhos estatelados, a ponto de jogar para fora do lugar, enquanto nós gargalhávamos observando a cena. Alguns quilômetros mais a frente, onde cantávamos e contávamos piadas dentro da van, parou abruptamente, no meio de uma rua.
- Descendo, todo mundo, um, dois, um dois. – ele dizia como um soldado, enquanto eu e já bêbados riamos de algo. – Vocês estão prestes a entrar no estado do maior milho do mundo! – ele disse com uma enorme empolgação, descendo da van com alguns pulinhos.
- O quê? – ela soltou rindo, observando a avenida deserta. – Vem, , vamos ficar em dois estados ao mesmo tempo comigo.
- Calma, fiquem em estátua, eu vou tirar uma foto disso! – gritou empurrando e para a linha que dividia Colorado de Kansas enquanto ria alto, os dois se deitaram sobre a linha dos dois estados, enquanto eu e fazíamos a pose mais bizarra que podíamos, que logo foi impressa em uma Polaroid.
- Será que se fritarmos esse milho, ele vira a maior pipoca do mundo? – gritou meio alterado pela bebida, voltando para a van. – Acelera logo isso que agora eu tô com fome!
- Eu vou largar vocês dois para fora! – gritou da janela da van nos observando rir de algum comentário que a garota havia feito. Entramos na van. – Seguinte, eu vou levar vocês pra maior plantação de milho do mundo e vamos brincar de esconde-esconde.
- O que você anda bebendo, ? – ela disse num grito enquanto ria e se deitava espaçosamente pelo sofá de trás do carro.
- Infelizmente eu tô bem sóbrio, senhorita . – ela assentiu com a cabeça enquanto o motorista sorria.
- Eu sinto muito. – ela respondeu enquanto mexia em alguma coisa dentro da sua mala.
- Chegamos! – gritou animado, descendo da van.
- Certo, então faz assim, ta com o , ele tem que achar nós, porque é esconde-esconde e vocês sabem como joga, né? Todos aqui tiveram infância, certo? – soltou, fazendo um hi-five com .
- Por que eu? – fez um bico enorme, e então todos nós nos posicionamos na frente do imenso milharal, prontos para correr para dentro.
- Só vai, ! – Eu gritei, dando um tapinha no ombro do meu amigo, e então ele finalmente fechou os olhos e começou a contar em voz alta o que nos permitiu correr para dentro do milharal. O tempo corria, mas no fim eu só ouvia gritando, mas ele nunca parecia estar próximo, as vezes na hora de trocar de milharal, vulgo esconderijo, esbarrava com alguém e ouvia algum cochicho. As horas passavam, mas nunca chegava perto, e aqui estava me incomodando, quando desisti do jogo e comecei a andar a procura do garoto, mas tudo que tinha eram milhos e mais milhos, até que eu esbarrei.
- AH! QUE PORRA! – gritou, assim que minhas costas chocaram com a dela. – Já estava ficando com medo, esse garoto nunca acha ninguém.
- Que escândalo. – eu ri da cara dela que revirou os olhos.
- Vai que era algum alienígena. – ela deu de ombros enquanto eu ria do semblante dela. - Eu acho melhor começarmos achar os outros. - conforme o tempo, começamos a achar um a um, de uma forma demorada e chata, porém ai descobrimos o pior, quando nos reunimos, não conseguíamos sair dali, parecia que estávamos apenas rodando em círculos. Nós não só nos perdemos pela plantação de milho – a qual tivemos que ligar para a policia para nos ajudar a sair de lá, entre gargalhadas. - Como também andamos na viatura, todos nós espremidos até nossa van, enquanto os policiais faziam piadinhas sobre o caso.
- Meu Deus, eu quero tirar uma foto com essa estátua, olha que maneira! – gritou saindo do fast food e abraçando com uma estátua.
- Eu também quero, posso enfiar o dedo no nariz dela? – questionou, passando o celular para mim.
- Sai fora, eu também quero tirar, e enfia, ué – soltei passando a câmera pro .
- Eca, tem meleca de verdade nesse nariz! – ele reclamou após enfiar o dedo.
- Calma que eu também vou. – gritou correndo até nós e fazendo uma pose bizarra.
- E agora, eu também quero sair nessa foto? – questionou.
- Pede para alguém tirar! Rápido! – gritou, apontando para uma mulher que passava logo atrás.
- Se estátuas falassem, com certeza essa estaria nós xingando. – soltei, rindo observando cada um com uma pose mais ridícula cutucando a estátua.
- Que bom que elas não falam! – soltou sorrindo e dando uma piscadela.
Passamos 250 dias na estrada, uma semana em cada estado dos Estados Unidos, mas em alguma parte desses quase um ano, eu desejei ter parado na Califórnia, onde a brisa era leve, o cheiro do mar era presente e o amor ainda era algo novo, talvez também não tivesse me importado de ter ficado em Montana, onde as coisas eram claras e o amor presente, mas nunca talvez eu quisesse ter passado pela Florida.
Acredito que não preciso narrar os cinquenta estados e o Distrito Federal, afinal, não é todo estado que é só diversão, ainda que com aqueles quatro esta era garantida, então vou pular para os fundamentais, onde o clima era leve e a risada era fácil, porque no final, você vai ver que ainda que tudo tenha corrido perfeitamente, dúvidas nascem entre o caminho e dores encerram a viagem.
era incrível, éramos amigos desde então e ela deu todo o apoio para que nossa banda seguisse carreira, ainda que todos nós estávamos convictos que quatro adolescentes americanos, tocando numa garagem suja, geralmente não levava a lugar algum, mas ainda assim seguíamos com o sonho de um dia ser alguém. Quando entramos na van largando qualquer coisa que tínhamos para trás, ainda que com o planejamento de voltar, levamos uma boa quantia de dinheiro, dava para sobreviver, ainda que nos limitasse a fazer muitas coisas pelo caminho. Quando chegamos a Oklahoma – depois de participarmos de dois rodeios no Texas e dormir numa espelunca no Arkansas. - estacionou a van em um local de acampamento, e enquanto todos se preparavam para arrumar suas barracas e montar uma fogueira, estava sentada na beirada do lago, seu olhar parecia não ter perspectiva alguma, já que ela se perdia em todo o emaranhado de pensamentos.
- Isso poderia dar um ótimo quadro, se eu fosse esse tipo de artista. – ela disse baixo e melancólico assim que me sentei ao seu lado, se referindo à paisagem.
- E que tipo de artista você seria? – questionei a encarando dessa vez, porém seus olhos não se voltavam para mim, ela olhou para baixo e então engoliu em seco.
- Acho que sou aquele tipo. – ela maneou a cabeça no ar. – Schumann, Van Gogh ou até Virginia Wolf, não importa se suas artes são boas, só se importam com o fato de que eles são loucos. Não há coerência na arte, mas tem sentimento, mas os críticos, a mídia e os humanos querem exigir isso.
- Eles eram brilhantes. – conclui a encarando que sorriu breve de lado e deu de ombros.
- Brilhantismo não basta, . – a garota concluiu e eu assenti com a cabeça, ainda pensando que bastava, deveria bastar, ela era boa e nada mais importava.
- O que você espera dessa viagem? – questionei, jogando uma pedrinha no lago.
- Não sei, talvez nada. – ela sorriu, tacando uma pedra no lago logo depois de mim. – Talvez esperança. – eu queria perguntar, mas ela não abriu brecha para isso, e eu não ousei atravessar sua barreira. Ainda que fôssemos próximos tínhamos certo limite de até aonde ir.
Flashback’off
Talvez no final eu houvesse descoberto que a história que eu quis contar, não foi sobre ela, nem sobre sua morte ou todo o nosso romance, a história era sobre amizade, a qual cresceu em meio ao caos e a mesma que eu vou me lembrar para sempre, porque no final era isso que nos restava, algumas boas histórias e lembranças avassaladoras para contar. Eu poderia desejar contar todas elas com ao meu lado, mas a vida não permitiu essa proeza, talvez tivesse algum plano maior para a garota do outro lado, não sabemos, nós nunca saberemos o que a vida espera da gente.
Dois anos depois...
- TRUCO! – gritou em minha frente enquanto uma gargalhada saia da voz do a minha direita.
- , você tem que contar o que descobriu na faculdade de psicologia. – cutucou o outro. Nesse momento tudo estava melhor, mas o buraco não se fechava por completo.
- Bom, cara, eu estou estudando transtorno de bipolaridade e, acho que o que a teve foi uma série de crises, desde aquela primeira vez que ficou estranha. – ele comentou, mexendo nas cartas do baralho. - E como não sabíamos só foi se agravando e...
Eu sei, não tem sentido, não há coerência, e vocês, leitores, devem querer matar ou indagar o escritor – ou seja, eu. – mas eu não posso dar respostas, eu não posso definir um sentido para o livro, porque no final eu não sei qual é o sentido, a coerência ou até o porquê. Como eu havia dito, tem algumas questões que nós não sabemos e buscamos por elas dia após dia, e é o que nos faz continuar, é o que me faz continuar até hoje, porque no final, eu não sei. Eu não sei como seria o hoje se estivesse aqui sorrindo como sempre fazia, e me dando esperança, eu não sei o por que e nem o como, eu só sei que foi o dia que o policial ligou em meu celular e me disse: ela se foi. Sem nenhum sinto muito, porque afinal, ele não sentia, não conhecia e não se importava, a única coisa que eu posso afirmar é que eu continuo aqui, sentindo o buraco em meu peito crescer, esperando que respostas cheguem e a dor diminua, eu continuo aqui, pelo mesmo motivo de vocês, para tentar achar o porquê, a resposta, a fuga ou o caminho para a vida, mas este eu não sei, a única coisa que eu posso afirmar claramente é que junto com aqueles três minha dor é menor, eu sou menos ruim e menos rancoroso de saber que eu poderia ter percebido quando ela sumiu na primeira noite, talvez no décimo quinto estado que passamos, mas no fundo eu sei, eu não poderia mudar, não poderia mudá-la. Nós nunca soubemos o final, mas entre hipóteses eu e os garotos chegamos a considerar que ela cogitava a morte há muito tempo, afinal, quando eu havia a conhecido ela havia comentado algo do tipo, mas o tempo passou e talvez nós só prolongamos a vida dela, talvez tivéssemos adiado sua morte, mas ainda igual ela havia me dito uma vez, certas coisas eram certas e aconteceriam uma hora ou outra, eu só não esperava que quando ela tivesse dito isso fosse uma referência ao que aconteceu na Florida, ou que quase aconteceu no Teneesse, eu só esperava que ela estivesse bem, porque no final talvez ela tivesse um plano maior, ou alguém lá de cima, de algum lugar, qualquer um que fosse, uma divindade, cosmos ou seja lá quem reja o mundo, guardasse todas as constelações para ela, afinal, ela não merecia nada menos que isso. Por fim, eu sabia, eu estava bem aqui, porque no final eu tinha meus amigos, e tendo eles – ainda que não pudesse a ter – era suficiente para uma vida boa.
Fim.
Nota da autora: Oi oi girls! Espero que tenham gostado e confesso que foi uma fic MUITO difícil para eu escrever, para começar eu sempre tive o script, mas estava impossível de escrever, não sei o pq, mas estava bem hard, confesso que não curti taaanto quanto eu achei que curtiria ela pronta. Sei que faltou muito detalhe, mas eu achei que sendo só o que o PP conta não teria o porquê detalhar muito, afinal, cada um vê de um ponto de vista e talvez no momento ele não se prendeu a tantos detalhes como em outros. Queria dizer que, QUALQUER problema com o enredo dessa fic podem vir conversar comigo, por favor! Se achou que o problema dela foi romantizado/escrita de uma forma errada, por favor, me avisem! E pra falar a verdade eu me baseei muito nas cenas do Even de Skam, onde na série é citado como ‘’ estava maníaco’’ nas crises dele de bipolaridade, onde ele ia desde muito feliz e muito triste, então eu realmente escrevi bem superficialmente sobre me desculpem mesmo, eu não quis focar muito sobre a morte e sim sobre os bons momentos com amigos e como eles são uma base fundamental para qualquer pessoa. Então muitíssimo obrigado por ter lido, não se esqueçam de comentar e beijocas!!
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