Capítulo Único
- AI, PELO AMOR DO UNIVERSO, POR QUE ISSO TEM QUE SER TÃO DIFÍCIL?!
finalmente gritou quando toda a farinha que tinha enfiado na batedeira – genialmente sem nada líquido que desse liga e a segurasse dentro do pote – explodiu por toda a cozinha, envolvendo tudo em uma nuvem branca.
Ele apoiou as mãos sobre a bancada e respirou fundo, fechando os olhos. Por que diabos estava fazendo aquilo mesmo?
E, quando se questionou, o rosto de – com seu sorriso gentil que não ficava somente nos lábios, mas se espelhava em seus olhos – surgiu tão nitidamente quanto a farinha que agora descansava em seus cabelos e avental.
- Ok, , mantenha a calma. É por um motivo maior. – Ele olhou para o teto, falando consigo mesmo. – Você que foi burro de colocar a farinha e ligar a batedeira depois.
Ele estava fazendo aquilo por . Só por causa dela... E pensar naquilo o deixava mais calmo.
Enquanto limpava a bancada com seu pano de prato, conseguia relembrar nitidamente o dia em que se reencontraram – o que fez um meio sorriso inconsciente surgir nos lábios dele.
Um ano e meio antes
estava muito contente com o movimento de clientes no Café.
Há dois anos saíra da faculdade e conseguira montar seu próprio negócio. Teve que enfrentar as dúvidas e incertezas, os comentários sarcásticos e amargos, a insegurança de achar que teria que fechar as portas e as noites mal dormidas no próprio balcão quando colocava tudo na ponta do lápis e a conta não fechava.
Mas, por fim, conseguiu estabelecer uma boa clientela, que fez propaganda boca a boca, publicou nas redes sociais, trouxeram amigos... E lá estava ele, firme e forte com o próprio Café – seu sonho finalmente realizado, estabelecido e gerando renda suficiente para que ele vivesse uma vida confortável.
Ele mal viu a moça que entrou e se acomodou no balcão, apoiando um livro sobre o mesmo e aguardando pacientemente para ser atendida. tentava conhecer todos os clientes e sempre checar se todos estavam bem atendidos, o sorriso como um raio de sol constante em seus lábios.
E, repentinamente, o barulho de uma xícara caindo e se quebrando no chão chamou a atenção de todos, fazendo-o imediatamente olhar para o balcão.
- Ah, meu Deus! – A moça disse, imediatamente levantando o livro da superfície, observando a própria blusa encharcada de café.
- Me desculpe, moça! Foi sem querer, eu sou muito desastrado! – O homem que derrubou a xícara nem sabia o que fazer com as mãos, a xícara e, principalmente, com a moça. – Me desculpe pela sua blusa...!
- A blusa é o que menos me preocupa, meu livro está molhado também... – Ela comentou tristemente enquanto se aproximava. – Mas tudo bem, não foi por querer...
- Deixa eu dar uma olhada, às vezes consigo ajudar. – finalmente alcançou os dois, pegando os livros dos dedos dela e olhando para o cara que tinha derrubado a xícara. – Não se preocupe, eu limpo, pode deixar. A Lisa fará outra xícara para você.
O homem somente agradeceu e foi até onde Lisa, a garçonete, estava. Enquanto isso, analisava o livro com cuidado, limpando o que podia com seu pano de prato que quase sempre estava descansando no próprio ombro. Mal percebia que a moça o observava com uma risada reprimida nos lábios.
- Vai ficar com algumas páginas manchadas, mas posso deixar na cozinha para secar mais rápido. Se quiser, posso ver se consigo tirar a mancha na sua blusa também... – E ele finalmente olhou para ela, ficando imediatamente embasbacado. – O que...?! ?! É você?!
- Oi, ! – Ela respondeu finalmente, começando a rir escandalosamente com a reação dele. E começou a rir da mesma maneira, o sorriso surgindo novamente como o mais brilhante raio de sol. – Você acha que eu não apareceria aqui para visitar o Café do meu melhor amigo da faculdade?!
- Mulher! Você sumiu! – E, dizendo isso, ele largou o livro de volta no balcão, abraçando-a fortemente. enlaçou os braços em volta dele com a mesma força, sem conseguir parar de sorrir. – Dez meses! Faz dez meses que eu não tenho a companhia da maluca que ficava comigo pra cima e pra baixo naquela faculdade! Onde você se enfiou?!
- No meu trabalho, é lá que eu me enfiei! – respondeu com um suspiro e ele podia ver nitidamente como ela estava cansada. – Nem percebi que se passou tanto tempo assim desde a última vez que nos falamos. Outro dia vi uma foto sua no Instagram de um dos seus cafés e me toquei que nunca apareci aqui pra ver o seu maravilhoso estabelecimento! E isso é um pecado, -ssi. Simplesmente um pecado.
- Concordo plenamente com você. Pecado maior é me deixar no limbo sem me falar que você ia se enfiar no buraco dos workaholics e me abandonar por quase um ano. – Ele respondeu de maneira séria, mas logo começou a sorrir novamente, dando a volta no balcão.
- Não foi um ano. Foram dez meses. – Ela comentou de maneira analítica, enquanto observava o que ele ia fazer com o livro.
E o colocou com todo o cuidado do mundo em cima do forno elétrico que ficava ao lado da cafeteira, utensílio que ele utilizava para esquentar muffins e afins – já que normalmente fazia tudo isso na cozinha e nem sempre a vitrine conservava o calor.
- Faltaram dois meses para um ano. – Claramente tinha ganhado a discussão, por mais que não quisesse dar o braço a torcer. – Mas o importante é que você está de volta e eu nunca mais vou te deixar ir.
- Por favor, não deixe! Me amarra na sua cozinha! – Ela disse de maneira dramática, estendendo os pulsos juntos em cima do balcão, fazendo-o rir imediatamente. – Eu senti muitas saudades.
- Também senti, ... – segurou as mãos dela carinhosamente, com o sorriso estampado nos lábios.
E foi nesse momento que ele sentiu algo diferente em seu coração.
Todo aquele tempo sem vê-la fez com que ele percebesse como fazia falta. Os dias não eram tão divertidos sem as brincadeiras dela, os momentos de angústia eram mais penosos de aguentar. Era mais difícil caminhar sem o apoio dela, era mais difícil comemorar sem ela para compartilhar suas alegrias.
Segurar as mãos dela daquela maneira causou uma fagulha no peito de . Algo que ele não esperava e certamente não entendia.
Sem conseguir compreender os próprios sentimentos, ele soltou as mãos de , pegando outro pano de prato para limpar sujeira em cima do balcão.
- Pega mais um, eu vou te ajudar! – A moça comentou, fazendo-o olhar para ela com uma sobrancelha erguida.
- Você não tem que voltar para o trabalho, não?
- Nope. Estou de férias! – Ela deu um sorriso enorme.
- E onde já se viu uma cliente ajudando o dono a limpar acidentes de café?
- Tecnicamente, eu não consumi nada, então ainda não sou cliente. E nunca vou ser, porque sou sua melhor amiga, então tenho privilégios! – Com isso, fez joinhas com as mãos, ainda com seu enorme sorriso estampado nos lábios.
- Você não muda, não é mesmo?! – perguntou com uma boa risada, já jogando o pano de prato para ela.
- Não! E tenho certeza que você não esperava nada menos que isso de mim! – imediatamente pegou o pano de prato e os dois começaram a limpar o balcão.
De volta ao acidente da farinha
É claro que ele não esperava nada menos. Sempre tinha que esperar mais de . Ela era a pessoa mais incrível que ele conhecera, a melhor amiga que tivera. Ficar sem ela fazia os dias menos coloridos. não era bonita somente de aparência, mas também era linda por dentro.
continuou encarando o horizonte, sorrindo que nem um bobo, enquanto segurava a batedeira no lugar e despejava o leite na massa aos poucos. O coração dela era maravilhoso, apesar de que sempre dizia que evitava seus sentimentos a todo custo. Ela podia alardear o quanto quisesse, ele a conhecia e sabia como realmente era.
Aquela distração toda, porém, fez o leite escapar das mãos dele e pintar uma enorme mancha branca no avental preto que usava.
Ele somente suspirou, fechando os olhos. Qual era o problema dele naquele dia?
Um ano e três meses antes
- Eu. Tô. Faminta. – ouviu uma voz agourenta atrás de si, reclamando enquanto se estirava no balcão. – Me alimenta, , por favor.
- Credo, , que drama todo é esse? – Ele perguntou rindo, virando-se para a moça.
Já tinha chegado o fim do dia e ele estava prestes a fechar as portas do Café. A única coisa que tinha de comida disponível era um muffin de banana – que ele sabia que amava e guardara especificamente para ela.
A moça estava literalmente jogada em cima do balcão, sentada em uma das cadeiras altas, com o maior olhar de sofrimento. não sabia se ria ou se levava tudo aquilo a sério.
- Eu não tenho muito dinheiro hoje, esqueci minha carteira em casa... – Ela resmungou, retirando algumas notas do bolso de trás da calça. – Só tenho isso daqui. Deu certinho o preço de um dos seus muffins, então fiquei sem almoçar, porque não consegui passar aqui antes.
- O quê?! Você ficou sem comer até agora?! – E resolveu levar a sério. Imediatamente começou a se mobilizar para resgatar o muffin dela, amaldiçoando-se mentalmente por não ter guardado mais comida. – E não precisa pagar...!
- Ah, de jeito nenhum! Não é só porque sou sua melhor amiga que tenho o direito de comer de graça, por favor, ! Se não o seu negócio não anda! – Dizendo isso, ela colocou o dinheiro sobre o balcão, ao lado do muffin.
só observou enquanto ela pegava o bolinho com os dedos ávidos. Os olhos de praticamente brilhavam e ele podia jurar que viu as mãos dela tremendo levemente.
Imediatamente se virou para as canecas. Sabia que não conseguia tomar café, pois era muito forte e se sentia mal – uma contradição gigante na amizade dos dois. Então, resolveu aquecer a vida dela com um chocolate quente caprichado, por conta dele.
esperava ouvi-la mastigando e fazendo os clássicos comentários de boca cheia de ", você faz o melhor muffin de banana do universo, por favor, casa comigo". Mas nada veio. Franzindo as sobrancelhas enquanto esquentava o leite, olhou por cima do ombro.
E foi aí que viu o olhar distraído de encarando algo além da grande janela do Café.
A moça imediatamente se levantou, o muffin em mãos e saiu do estabelecimento antes mesmo que pudesse segurá-la para perguntar o que havia de errado.
Ela se aproximou de uma criança maltrapilha que estava do outro lado da rua, pedindo dinheiro às pessoas que passavam. conversou por alguns rápidos momentos com o menino e entregou o bolinho, ganhando um enorme sorriso de volta do garoto. A moça retornou ao café com um sorriso satisfeito, sentando-se novamente ao balcão.
- Quer saber...? – finalmente se manifestou. Ver aquela cena fez aquele sentimento estranho surgir novamente em seu peito, mas naquele momento ele não se importava. Não entendia o que era, mas ver os olhos de observando-o com expectativa fez com que a respiração dele falhasse por um segundo. – Pega o seu casaco, a gente vai jantar.
- O quê? , eu não tenho dinheiro... – Ela começou enquanto ele pegava o próprio casaco e começava a desligar tudo para fechar o Café.
- Não tem problema. Eu pago dessa vez... – Ele respondeu e ela abriu a boca para contrariar. nem precisou olhar para para saber que ela iria rebater, continuando a falar mais alto que antes. – E você vai aceitar porque sim e pra largar mão de ser mal educada!
Ela ficou em silêncio e, quando se virou para novamente, encontrou-a de braços cruzados e com as sobrancelhas franzidas.
- Eu não sou mal educada.
- Não. Você é um ser humano maravilhoso com um coração de ouro, ! – Ele respondeu com uma risada e estendeu o braço para ela após apagar as luzes do Café. – Vamos?
- Vamos! – Ela sorriu e entrelaçou o próprio braço no de , repousando a mão livre sobre a dele.
De volta ao leite derramado
Até aquele dia, um ano depois, ainda sentia o formigamento que sentira quando os dedos de tocaram o dorso da mão dele. Era como se ela estivesse lá, naquele momento, tocando-o de maneira tão gentil.
Ele demorou muito tempo para entender aquele sentimento estranho que tinha por ela. achou que podia ser resultado do tempo que passaram sem se ver, mas, conforme voltou a conviver com ela, percebia que não era nada daquilo. Era algo muito mais definitivo, nada parecido com somente saudades.
Teria continuado com a trilha de pensamentos se seu nariz não tivesse sido atingindo repentinamente pelo típico cheiro de algo queimando.
E não era qualquer algo. Era chocolate.
- O quê?! – Ele finalmente acordou de seu transe e desligou a batedeira, voltando o olhar para o fogão. – O que isso tá fazendo aí?!
correu desesperadamente para o fogão, retirando o chocolate que tinha colocado para derreter em banho Maria e agora parecia um pedaço de pedra grudado no fundo da panela, completamente queimado, empesteando a cozinha toda.
Sem pensar duas vezes, ele enfiou a panela na pia e jogou água imediatamente – o que quase fez tudo explodir por conta do choque térmico.
- O que eu tô fazendo...? – apoiou a testa na pia com força, resmungando de maneira agourenta para si mesmo.
Porém, quando finalmente se levantou novamente e fechou a água, tomando coragem para observar a sujeira que tinha feito, quase conseguiu ouvir a risada divertida de , como se ela estivesse lá. E aquilo o fez rir de si mesmo.
Um ano antes
- Nossa, faz muito tempo que a gente não faz uma dessas de dormir na casa do outro... – comentou com seu copo de vinho em mãos, já no último gole. Enquanto isso, observava o apartamento de , exatamente o que ela esperava que seria. Aquilo a fez sorrir inconscientemente.
E ele sentiu aquele calor espalhar por seu peito ao vê-la sorrindo daquela maneira; aquele sentimento cada vez mais recorrente que penava para entender de onde estava surgindo e o que significava. Só sabia que queria observá-la daquela maneira para sempre.
- E de quem é a culpa...? – Ele perguntou claramente com a intenção de provocá-la, enquanto segurava a mão de com o copo, colocando mais vinho branco.
- Para de querer me fazer sentir culpada, homem! – Ela respondeu brava, porém imediatamente começou a rir.
- Estou brincando, ! Não precisa ficar atacadinha! – E teve que praticamente correr de volta à cozinha para não levar o tapa que juntou tanta força para dar no braço dele.
Por pouco não saiu machucado e com a garrafa de vinho estilhaçada no chão.
- Seu pastel. – rolou os olhos, porém o seguia enquanto bebia mais um gole de vinho. – Como vai nosso fondue?
- Bem! Acho que já está pronto... – Ele analisou, segurando a panela pelo cabo e mexendo-a sem tirar do fogo. – Quer experimentar?
Na hora que ele perguntou, somente abriu a boca, esperando um pedaço de pão com o queijo derretido. Mas o que derreteu foi o coração de , que simplesmente queria abraçá-la e não soltar mais.
- Você parece uma daquelas focas do Sea World que pedem comida para os treinadores na beirada da piscina. – Ele comentou com uma risada, passando um pedaço de pão no fondue e estendendo para ela. – Cuidado que tá quente, assopra um pouco.
- Pelo menos focas são fofas! – piscou para ele, deu algumas assopradas no pedaço de pão e finalmente o prendeu entre os dentes, os lábios roçando levemente nos dedos de .
Nem ele entendeu o motivo, mas seu coração começou a bater de maneira completamente descontrolada. teve que se concentrar para não franzir as sobrancelhas, chocado com a própria reação. O que estava acontecendo? Nem ele entendia. Só sabia que os lábios dela simplesmente tiraram todo o ar que tinha nos pulmões.
- Nossa, tá muito bom! – comentou, se deliciando naquele simples pedaço de comida. – , você cozinha muito bem, casa comigo!
- Um dia a gente casa, pastel. – Ele respondeu rindo, mas, pela primeira vez, aquela brincadeira fez o coração dele disparar novamente e arrepiar seus cabelos da nuca. – Precisa de mais vinho?
- Só mais um pouquinho, mas já tá bom, se você não quiser. – Ela analisou com a garrafa em mãos, no que ele estendeu a mão logo em seguida.
- Vinho nunca é demais. – comentou de maneira séria, fazendo-a rir e entregar a garrafa.
Sendo assim, em poucos minutos, lá estavam os dois com a panela de fondue sobre a mesa de centro da sala de , sentados no chão, apreciando o fondue com vinho branco que decidiram preparar naquela noite.
Não demorou muito para que o álcool começasse a subir e as bochechas deles se colorissem de vermelho, as risadas tomando conta de quase todas as conversas de ambos enquanto se atualizavam nas próprias vidas. buscou outra garrafa na cozinha e logo esta já estava quase no final.
- Vamos ter que pegar mais uma? – Ele perguntou, apontando para a dita cuja e imediatamente começou a rir da cara de choque exagerado que fez.
- do céu... Claramente não melhoramos muito depois de sair da faculdade. – Ela comentou seriamente, fazendo-o explodir em risadas logo em seguida.
- Tenho certeza que não melhoramos as danças também! – E nem esperou que ela se manifestasse: já estava ligando o som e colocando uma de suas playlists no aleatório.
Se eles iam dançar de madrugada? Sim. Se iam incomodar os vizinhos? Com certeza. Se estavam se importando? Nem um pouco.
- Ah, meu querido! – imediatamente se levantou quando começou a ouvir os primeiros acordes de guitarra de Lonely Boy, música que ela apresentara para ele e ambos fizeram questão de dançar das maneiras mais ridículas toda vez que tocava em algum lugar público. – Eu sou especializada em dançar mal! Tenho Doutorado nisso, esqueceu?!
- Ah, a Royal Academy of Dance deve estar louca para te ter no corpo de bailarinos! – Ele brincou de volta, já que ela fizera uma prova da RAD enquanto estavam na faculdade. tinha certeza que mantinha o certificado exposto na parede do próprio apartamento, talvez no meio da sala. – Dança comigo, bela dama?
- Claro, meu belo cavalheiro! – respondeu tão dramática quanto ele, os dois rindo imediatamente enquanto ela segurava a mão de .
Aquela foi a primeira música que dançaram na noite. Conforme enchiam os copos com o vinho – que logo virou mais uma garrafa – as danças ficavam cada vez mais estranhas e descoordenadas.
E claro, acharam que aquele era um ótimo momento para fazer um fondue de chocolate.
E tudo teria dado certo, se não estivessem tão perdidos um nos braços do outro, dando risadas como nunca.
O que até fez com que ambos demorassem a perceber o cheiro de queimado que assolava a casa.
- ... Você tá sentindo esse cheiro? – Ele perguntou repentinamente, as sobrancelhas franzidas em confusão.
- Tô sim... – E ela estava tão confusa quanto ele. – Você tá cozinhando alguma coisa, ?
Nesse momento, os olhares deles se encontraram em entendimento, como se tivessem acabado de descobrir a Austrália.
- O CHOCOLATE! – Os dois gritaram ao mesmo tempo e correram para a cozinha. Fizeram uma força tarefa super coordenada para tirar a panela do fogo e enfiar embaixo da água gelada, o que fez muito sentido no momento.
Tanto quanto praticamente estamparam na parede do outro lado da casa com o susto que levaram ao ouvir a panela explodindo em um racho por conta do choque térmico.
Os dois se olharam com um par de olhos assustados e, após alguns segundos, caíram na gargalhada. o abraçou inconscientemente, tentando parar de rir para conseguir respirar normalmente de novo, enquanto somente a recebia carinhosamente, uma das mãos repousando nos cabelos dela, rindo como se não houvesse amanhã.
Ele queria ficar daquela maneira com para sempre... Será que ela sentia o mesmo?
De volta ao chocolate queimado
Lembrando-se daquele acontecimento, começou a rir consigo mesmo – observando a panela que quase rachara por causa do chocolate queimado. De novo.
Foi naquele dia que ele resolveu admitir a si mesmo que havia algo de mais em seus sentimentos por . Não exatamente amor, mas algo diferente. E também foi a primeira vez que começou a se questionar se, talvez, ela estaria sentindo a mesma coisa.
Era muito difícil para ele. Enquanto continuava com a sua missão de terminar aquele bolo que estava mais difícil que um parto, pensava no relacionamento deles. Desde que se encontraram novamente, continuaram se comportando como sempre agiram com o outro... Mas algo nele mudara.
E finalmente começou a se perguntar se algo também mudara nela. Ficava incomodado com o fato de que, talvez, só ele tivesse mudado e nada fosse diferente para . No começo, não sabia o motivo de todo aquele incômodo com um simples fato, mas logo ele começou a entender.
E não sabia se ficava contente ou completamente fora do sério com aquilo.
Virando-se novamente para a bancada, mal percebeu que o saco de açúcar estava mais perto do que ele calculara. Ou seja: o pacote caiu, espalhando os cristais brancos pela bancada e pelo chão.
Ele achava que daqui a pouco ia gritar e fechar o Café. Não era possível.
- Se controla, ! Ou a surpresa vai ir por água abaixo! – Ele brigou consigo mesmo, rolando os olhos e já começando a limpar toda aquela bagunça com o açúcar.
Mesmo assim, aquela visão o fez se lembrar de quando ele finalmente prestou atenção no lado cuidadoso de e percebeu o que havia de diferente em si.
Nove meses antes
- Sabe, você não pode ficar vindo trabalhar aqui toda vez que tirar férias. – comentou por cima dos ombros, concentrado em sua receita de muffins de banana. Só ele sabia o segredo dos muffins e não o revelaria a mais ninguém. – É por isso que eles chamam de férias, para você não trabalhar.
- O seu sarcasmo não me atinge, meu querido! – cantarolou distraidamente. Já fazia mais de uma semana que ela aparecera lá falando que estava de férias novamente e queria ajudar com o Café. Então, naquele dia, a moça diligentemente ajudava a decorar os docinhos e teve que admitir que nunca tivera doces tão belamente decorados em seu Café, Recebera até elogios dos clientes. – E você não está me pagando, então tecnicamente não é trabalho. Só estou aqui para ajudar meu melhor amigo empreendedor!
respondeu com uma breve risada e voltou a focar na massa que batia na mão, com a colher de pau. "Melhor amigo". Antes ele tinha orgulho de ouvir aquelas palavras deixando os lábios de e atingindo-o no peito como uma medalha do Exército. Porém, já fazia um tempo que aquela expressão o deixava desconfortável, como se algo estivesse errado.
Às vezes, ele era o problema – aquele pensamento atingiu como uma epifania. De repente, era somente ele quem mudara e realmente não se importava de ostentar o título de "melhor amiga do " – como ela sempre dizia.
Ele deixou a massa na bancada e se virou para , disposto a conversar sobre aquilo. Eles normalmente conversavam quando havia algo errado nas suas vidas, sendo que um ajudava o outro a resolver, qualquer que fosse a questão. Então, por mais que não quisesse admitir, precisava da ajuda de com aquele sentimento estrangeiro que o consumia a cada dia.
Foi aí que ele viu no que estava se empenhando tanto na última hora. Tortinhas de frutas vermelhas, que ela cuidadosamente encaixava fruta por fruta sobre a massa para criar formatos harmoniosos e belos. As bochechas dele imediatamente começaram a corar.
- Acho que ficaria interessante se você polvilhasse açúcar de confeiteiro em cima das frutas. Vai parecer neve! – Ele mal conseguiu controlar a própria língua. Esse era o problema: perdia o controle quando estava perto de , parecia que não havia filtro entre suas ações e palavras. Aquilo fez com que ela olhasse para ele.
- , você tá bem? Seu rosto tá vermelho! – estava imediatamente preocupada, largando o pacote de açúcar e derrubando tudo na bancada. – Ai, não! , desculpa! Que bagunça, desculpa, vou limpar...!
- Ah, relaxa, acontece... – Ele deu uma risada nervosa, aliviado de ter se livrado do olhar dela.
- Relaxa? Eu venho aqui pra te ajudar e faço besteira derrubando tudo? Não, né? Desculpa...! – A moça resmungava enquanto procurava por algo que a ajudasse a limpar o açúcar esparramado.
- Sério, relaxa, ! – Ele riu de maneira mais descontraída ao ver a preocupação da amiga enquanto ela resmungava para lá e para cá. se aproximou dela, finalmente segurando a mão de e fazendo-a olhar para ele. – Tá tudo bem. Você tá me ajudando, derrubar um pouco de açúcar não é nada de mais.
Foi aí que finalmente teve seu primeiro momento de dúvida. Algo no olhar de titubeou, algo fez com que ele sentisse que ela tinha alguma dúvida guardada em segredo. Ele quase tomou coragem para perguntá-la diretamente – o que acabaria com aquele sofrimento dos dois naquele mesmo momento – mas não conseguiu formular uma frase sequer. Simplesmente sorriu, colocando uma pequena peneira nas mãos de – tão frágeis perto das mãos dele.
- Vem cá, eu te ajudo. – Ele sorriu e assim os dois começaram uma força tarefa para cobrir as tortinhas com a neve doce.
No fim do dia, os dois fecharam o Café juntos e nenhuma das tortinhas sobrou para contar a história.
De volta à nevasca de açúcar
"Será que ela também se sente diferente em relação a mim?"
Aquela frase ecoou durante muito tempo na mente de .
Ele chegara a ficar uma semana sem falar com ela direito, por medo de que notasse que algo estava diferente e que ele estava agindo estranho. colocou toda aquela amizade a perder, simplesmente porque não sabia o que fazer com os próprios sentimentos dentro de seu coração.
Nunca chegou a perguntar se ela notara, para falar a verdade. Enquanto encarava a parede e pensava na própria estupidez, continuou colocando a maisena dentro do creme que faria para rechear o bolo, completamente distraído com o fato de que ele quase colocara a amizade deles em hiato. De novo.
surgiu um belo dia no Café, de braços cruzados e cara amarrada, intimando-o a falar com ela. sumira durante dez dias, respondendo às mensagens dela de maneira vaga e sempre dizendo que tinha compromissos, de modo que não podia se encontrar com ela.
A moça ficara sentada no balcão durante horas, mexendo o próprio chocolate quente de maneira completamente emburrada, sem tomar um gole sequer. Brigou com ele, pois Lisa a atendera, demandando um motivo pelo qual ele a estava evitando. Depois de muito tentar enrolá-la, finalmente inventou a desculpa plausível de que estivera ocupado com fornecedores e assuntos pessoais que precisavam de solução imediata.
Ele tomou as mãos delas nas próprias, sorrindo gentilmente e carregando um pedido sincero de desculpas nos olhos. não conseguiu permanecer brava durante muito tempo, derretendo como o próprio chocolate quente – que ele fez questão de esquentar novamente e acrescentar algumas coisas da maneira que somente sabia fazer.
E o sorriso com o qual ela recebeu a caneca de volta foi completamente impagável, fazendo um sentimento mais aconchegante que o chocolate em si surgir no peito dele.
Sorrindo bobamente para a parede, só notou que havia algo de errado quando começou a sentir dificuldade de mover a colher no recheio do bolo. Olhando para baixo, sentiu que logo ia começar a chorar com a própria asneira.
- É sério isso...?! – Ele perguntou quando percebera que não parara de derramar a maisena na mistura.
Fazendo, assim, com que o recheio virasse uma cola.
- É tão difícil pra você fazer um bolo que ela gosta, ?! – Novamente perguntou para si mesmo, praticamente jogando a panela dentro da pia e tendo que pensar em alguma outra opção que não envolvesse chocolate ou maisena.
Ele só queria ver o sorriso no rosto de da mesma maneira que o mesmo apareceu no dia em que percebeu que aquele sentimento alienígena em seu coração era nada menos que amor.
Seis meses antes
Era a primeira vez que estavam em um Café que não era o de .
- Mas você vê... Eles não usam os grãos moídos na hora que nem eu... – Ele analisava enquanto observava os baristas preparando as levas da demanda quase infinita de café.
- Ei, ! – chamou, segurando o rosto dele com as duas mãos e virando-o de frente para ela. – Eu não te trouxe aqui pra trabalhar. Podemos aproveitar um Café como um casal de amigos normal, não?
- Podemos! – Ele respondeu com um enorme sorriso no rosto, sem entender o porque a palavra "casal" o fizera sentir borboletas no estômago.
- Aqui estão os pedidos de vocês! – A garçonete interrompeu o momento, fazendo com que os dois se recostassem em suas cadeiras, colocando alguma distância entre si.
somente observava enquanto recebia tudo com alegria. Ele mesmo sorriu ao vê-la tão feliz daquela maneira, brilhando como a mais bela das estrelas. Não tinha dúvidas de que ela tinha uma beleza, charme e brilho naturais que fazia com que chamasse atenção em qualquer lugar.
É que não notava, mas vários homens a observavam quando estavam andando juntos pelos lugares – certamente porque ela havia chamado a atenção deles. E não era algo forçado: aquilo vinha de maneira completamente natural para ela. fora feita para brilhar como uma estrela, para ser admirada e amada por aqueles que a conheciam bem o suficiente.
Nesse momento que sentiu uma leve pontada de ciúmes. Enquanto a amiga levava o primeiro pedaço de bolo aos lábios – somente para saboreá-lo lentamente em seguida, de olhos fechados – ele franziu as sobrancelhas, incomodado com o próprio sentimento. Não tinha o menor direito de sentir ciúmes, mas lá estava ele. Completamente incomodado com o fato de que alguém poderia olhar para ela e desejá-la.
Mas, o que provavelmente o incomodava mais, era o fato de que ela podia desejar a pessoa de volta.
Aquilo causou uma série de sentimentos nunca experimentados antes por – ciúme, revolta, injustiça, raiva e uma pontada de amargor, todos misturados em algo que apertou seu coração. E tudo isso culminou com a imaginando nos braços de outro homem.
- O que foi? – perguntou preocupada ao ver a expressão no rosto dele.
- Hã? – E finalmente percebeu que estava tão mal humorado quanto no dia que ela surgiu no Café porque ele ficara dez dias sem falar com direito. – Ah, desculpe. Nada não. Só uns assuntos sem importância, não precisa se preocupar!
- Hmmm... – resmungou, analisando o sorriso que ele tinha nos lábios. Em seguida, sem pensar, pousou uma das mãos sobre a dele, fazendo-o sentir fogos de artifício na base do estômago. – Bom, saiba que o que quer que seja, é só uma besteira. E, sempre que precisar, estarei aqui para você, ! Então não vai ser tão ruim!
E sorriu. Aquele sorriso foi o suficiente para selar os sentimentos de .
Ele estava apaixonado por ela. Perdidamente.
De volta à cola de maisena
Era um bolo como aquele que queria fazer para o aniversário de .
Para ele, aquele bolo tinha gosto de amor – pois o comera no dia em que finalmente entendera seus sentimentos por sua melhor amiga – e nada era mais perfeito do que aquilo para acompanhar o dia em que ele resolvera que falaria a que a amava.
Mas aquilo que ele estava fazendo tinha gosto de tudo, menos de amor.
- Isso aqui tá mais pra desgosto do que amor em si... – resmungou, voltando a atenção para a massa.
Aquela era a última esperança dele. Colocou a massa líquida na forma e a enfiou no forno, sentando-se em uma das cadeiras da cozinha para aguardar pacientemente enquanto o bolo era assado.
Aquele seria o presente dele para : o bolo e a declaração de seus sentimentos.
Esperava que fosse uma surpresa boa, porém tinha seus receios. E se ela não correspondesse? E se ela o rejeitasse? Pior: e se ficasse com medo e decidisse nunca mais falar com ele?
ficou encarando a parede durante alguns momentos em crise existencial. Mas logo aquilo começou a passar: não era aquele tipo de pessoa. O máximo que podia acontecer era ela dizer que não correspondia os sentimentos dele, porém com um sorriso no rosto. Ela jamais seria rude por causa de algo involuntário.
Entretanto, quando começou a pensar melhor, percebeu que talvez poderia ter uma chance. sempre fora extremamente gentil com ele e, mesmo depois que começou a agir estranhamente ao perceber seus sentimentos, ela nunca o distanciou.
E se correspondesse? nunca pensara naquela hipótese. Encarando a parede com um par de olhos arregalados, ele sinceramente não sabia como agiria se ela dissesse que também o amava. sabia o que fazer se o rejeitasse, mas não tinha idéia de como reagir se ela correspondesse.
O choque dele foi tão grande ao pensar naquilo que somente acordou quando sentiu um cheiro insuportável de algo queimando atingindo suas narinas.
- AH, NÃO! – E ele estava mais do que fora do sério.
O bolo queimara.
Três meses antes
- , não.
estava séria de uma maneira que ele nunca vira antes.
- Por que não? , todo mundo comemora...
- Porque eu já disse que não! – Ela bufou, as mãos descansando com força sobre a bancada na qual eles preparavam a cobertura de chocolate. Aparentemente, aquilo chamava brigadeiro e só ela sabia como fazer aquela mágica funcionar. ajudava como podia para entender como fazia. – E não é não! Eu não sou "todo mundo".
Ela daria uma ótima mãe com aquela frase.
- Mas qual é o problema? Aniversários devem ser comemorados! – Ele simplesmente não conseguia entender aquela insistência dela.
Estavam há mais de meia hora discutindo sobre o futuro aniversário de e o fato de que ela não queria comemorar – sendo que achava uma comemoração algo imprescindível.
Enquanto isso, o bolo que resolveram fazer juntos pela primeira vez na vida assava no forno de .
- Eu não gosto de aniversários, simples assim! – Ela respondeu já completamente cheia daquele assunto. Não sabia o motivo de terem se prolongado tanto naquele ponto.
- Não é simples assim coisa nenhuma. – Ele se virou para ela, apontando para a moça com a colher que antes usava para misturar o brigadeiro. – Pra você ter essa ojeriza por aniversários, algo aconteceu. Eu vou descobrir o que é, cedo ou tarde, não adianta você...
- Ok! Você quer saber?! Então vamos lá! – E finalmente se virou para ele, colocando as mãos na cintura. – Ninguém aparece nos meus aniversários! Quando aparece alguém, a pessoa fica reclamando de tudo: o lugar, a comida, até da própria vida! Quando alguém vem me dar parabéns, é porque quer algo em troca! Só existe um bando de interesseiro na minha vida e ninguém tá realmente interessado em mim e na minha amizade! Eu me sinto completamente egoísta e narcisista falando esse tipo de coisa, mas é isso: ninguém me dá atenção na minha data e eu odeio comemorar! Pronto! Satisfeito?!
abriu a boca para responder, apesar de não saber muito bem o que falar. Não esperava que ela fosse se abrir daquela maneira com ele.
- , você...
E teria continuado o discurso que estava prestes a fazer se não fosse o cheiro de queimado.
Os dois farejaram o ar, trocando olhares confusos. Não conseguiam identificar... Até que se lembraram e arregalaram os olhos: o bolo.
- Ah, não! – Gritaram juntos e abriram o forno, sentindo a rajada de bolo queimado adentrar a cozinha.
- Droga! Pega um pano de prato, ? Por favor? – pediu imediatamente e ela obedeceu quase no mesmo segundo.
Ele tirou a forma o mais rápido possível e a jogou em cima da bancada. e ficaram observando o bolo queimado desconsoladamente enquanto pensavam no que fazer.
- Podemos esfarelar o que não está queimado, misturar no brigadeiro e fazer bolinhas. O que você acha? – Ela suspirou, fazendo-o lançá-la um olhar intrigado com um pequeno sorriso nos lábios.
- Genial. Vamos?
Assim que perguntou, os dois começaram a missão de separar o que estava usável. Em poucos minutos, já tinham misturado tudo com o brigadeiro e lá estavam eles, quase de madrugada, enrolando bolinhas de brigadeiro com farelo de bolo que não deu certo.
- . – Ele chamou repentinamente, recebendo um resmungo de volta do lado de . – Você não deve se sentir culpada de querer atenção no seu aniversário. É o mínimo que você deve querer, pra ser bem sincero. As pessoas que são horríveis e não sabem dar amor às outras.
Quando terminou de falar, ficaram ainda alguns longos segundos em silêncio.
- Obrigada, ...
- Podemos comemorar. – Ele falou quase cortando a última frase de . Aquilo chamou a atenção da moça, que já ia refutar, mas não deixou. – Eu e você, marcamos de fazer alguma coisa simples. Mais ninguém, só nós dois. Eu me importo com você e não será o menor esforço te dar atenção e amor. Não acho que você deva passar sua data em branco por causa da estupidez dos outros... O que você acha?
Os olhos de encontraram os olhos cheios de expectativa de . Ela suspirou, sabendo que não conseguiria resistir durante muito tempo.
- Só nós dois...?
- Só nós dois. – Ele assegurou novamente com um sorriso gentil nos lábios, que somente sabia dar.
- Ok. Combinado. – sorriu de volta, secretamente satisfeita com o resultado daquela discussão.
- Ótimo. – E também estava genuinamente feliz, voltando a atenção novamente para as bolinhas de bolo e brigadeiro em suas mãos. – Agora... Se você não se importar com direitos autorais, vou começar a vender isso aqui no meu Café,
- Tenho certeza que vai fazer sucesso! – respondeu alegremente, parecendo que suas energias haviam retornado. – Tudo que você faz é perfeito, então tenho certeza que os clientes vão gostar.
Nesse momento, captou algo estranho: não fez contato visual e ficou com as bochechas parecendo duas maçãs do amor após o próprio comentário. Ele teve, por alguns segundos, o sonho louco de que ela corresponderia os sentimentos dele.
Mas resolveu simplesmente ignorar aquilo, passando o resto da noite conversando animadamente com enquanto comiam as incrivelmente deliciosas bolinhas de bolo e brigadeiro.
De volta ao bolo queimado
E qual foi o resultado de toda aquela aventura?
Uma cozinha coberta de farinha, leite e açúcar, com o chocolate da cobertura queimado, o recheio parecendo uma cola de tão duro e o bolo parecendo um carvão. Não dera nem pra enrolar no brigadeiro como ensinara – receita que mais tarde descobriu que era da avó da moça.
estava com os cotovelos apoiados na mesa, sentado em uma cadeira, usando as mãos para segurar as bochechas com uma expressão completamente desolada.
- E agora? O que eu faço? – Como sempre, lá estava ele conversando consigo mesmo. – Ela chega daqui duas horas e eu não tenho nem meio bolo pronto. Não dá nem pra enrolar... Às vezes é um sinal de que eu não tenho que falar como me sinto pra ...
Mas, nesse exato momento, uma das fruteiras de caiu no chão, fazendo o maior estardalhaço e fazendo-o dar um pulo da própria cadeira. Ele já ia começar a resmungar que nada mais podia dar errado naquele dia, porém, quando pegou as frutas do chão, começou a sorrir.
Bananas. adorava os muffins de banana dele.
Podia não ser um bolo de aniversário, mas era o melhor que podia fazer no momento. E tinha certeza que não ia reclamar.
Girlfriend
- ! Cheguei! – cantarolou alto quando chegou ao Café, chamando a atenção dos clientes e recebendo um aceno animado de Lisa. A moça acenou de volta, pouco se importando com os olhares que recebeu dos outros clientes.
- Eu já vou, ! Não entra aqui! – gritou de volta, esforçando-se para ajeitar os muffins da melhor maneira na bandeja que ele levaria para o salão do Café. Só estava acertando os últimos detalhes. – Lisa, segura essa mulher aí!
- Nossa, quanto drama... – suspirou, sentando-se em seu costumeiro banquinho no balcão, sorrindo para Lisa. – Não precisa me segurar não, amor. Eu espero.
- Eu sei. – A moça riu de volta, colocando dois cafés em sua bandeja e dando a volta pelo balcão para levar aos clientes. – Não vou fazer o seu chocolate, porque sei que você gosta quando ele prepara.
- Obrigada! – sorriu placidamente enquanto Lisa piscava para ela.
- Ah, e feliz aniversário, . – A garçonete comentou antes de praticamente sair correndo com uma risadinha, enquanto ficava parada em choque.
A moça rolou os olhos, virando-se para a porta da cozinha a fim de esperar . Tinha pedido para que ele não contasse a ninguém que era seu aniversário, mas sabia que, do jeito que ele era, o país inteiro devia saber que era o aniversário de .
- Feliz aniversário! – E quando ele surgiu da cozinha cantarolando com a bandeja em mãos e um sorriso enorme estampado no rosto, era óbvio que agora todos os clientes do Café também sabiam.
Mas não tinha nem palavras. estava sujo dos pés à cabeça, o avental preto já branco com o tanto de farinha, leite e açúcar que ele tinha derrubado em si mesmo. Manchas de creme de baunilha aqui e ali, chocolate derretido, canela para todos os lados. O rosto dele tinha ainda algumas manchas de chocolate, farinha e canela, sem contar as nuvens esbranquiçadas nos cabelos dele. As mãos de estavam limpas somente porque ele as lavara antes de encostar na bandeja – mas os muffins e a canela deliberadamente derrubada sobre a bandeja estavam impecáveis. E, nos lábios dele, o sorriso mais sincero do mundo.
- Obrigada, . De verdade. – comentou sorrindo da mesma maneira que ele, enquanto deixava a bandeja sobre o balcão na frente dela. – Você é a melhor pessoa do mundo.
- Ah, não sou, não... – Ele respondeu um tanto envergonhado, olhando para os muffins no balcão. Observava enquanto a mão dela pegava um dos bolinhos cuidadosamente.
Lisa simplesmente queria bater naqueles dois. Era óbvio para ela que se gostavam, mas sempre ficavam naquela dificuldade de se declarar. A moça já tinha decidido que se não o fizesse naquele dia, ela o faria, pelo bem dos dois.
- Agora, de verdade... Eu imagino com deve estar essa cozinha. – disse repentinamente, com um sorriso brincalhão nos lábios.
ficou imediatamente sério.
- Não. , eu não estou brincando. – Ele falava ameaçadoramente, mas o sorriso dela somente aumentava enquanto parecia que a moça ia levantar do banquinho. ficou de prontidão para segurá-la, se fosse necessário. – É sério, mulher. Não se atreva a entrar naquela cozinha... !
Sim. Ela se levantou e saiu correndo imediatamente.
O que resultou nele correndo atrás dela e tentando segurá-la por qualquer lugar que alcançasse.
Mas foi em vão: ela adentrou aquele caos que ele chamava de cozinha.
- ! Que bagunça! – E estava chocada. Ele nunca fazia uma bagunça daquelas, ela o conhecia bem. – O que aconteceu?
- Eu tive alguns probleminhas hoje...
- Você fez tudo isso... Pra mim? – franziu as sobrancelhas, virando-se para ele e imediatamente mordendo seu primeiro muffin. – Nossa, valeu muito à pena. Isso aqui tá maravilhoso.
- Eu falei que você merecia amor no seu aniversário, não? – Ele deu um sorriso alegre por conta do elogio e por saber que estava se sentindo bem naquela data, como todos deveriam se sentir.
- Sim... Eu só não entendo o motivo de você se esforçar tanto pra isso. – Ela respondeu com uma breve risada.
decidiu que aquele era o momento. Respirando fundo, ele fechou os olhos, encarando-a decididamente logo em seguida. não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas sentiu o coração acelerando logo que a sua mente pensou na vaga possibilidade de que ele poderia amá-la.
- Você é meu muffin de banana.
- O quê?
Os dois ficaram se encarando durante alguns segundos até ele finalmente começar a rir de si mesmo.
- Desculpa. Isso soou muito melhor na minha cabeça.
- ... Se for o que eu estou achando que é, foi perfeito. – comentou seriamente, o que os fez se encarar em silêncio novamente.
realmente não sabia o que fazer – simplesmente porque, se ele entendera bem, ela correspondia seus sentimentos. E ele sabia o que fazer se ela o rejeitasse, mas não tinha idéia de como proceder com aquilo.
- Você ama muffins de banana, não...? – perguntou cuidadosamente e ela confirmou vagarosamente com a cabeça. – Então... Você é meu muffin de banana... Porque eu te amo, . Sempre amei e só percebi agora.
Os olhos de se arregalaram. Ela não acreditava no que estava acontecendo.
Sem pensar duas vezes, a moça se aproximou de , envolveu o pescoço dele com os braços e o beijou. Ele teve um segundo para ficar em choque sem saber o que fazer, mas logo em seguida já enlaçou a cintura dela em um abraço forte, fazendo o corpo dela grudar no dele e até tirando alguns centímetros do chão, enquanto correspondia cada sentimento que ela colocara naquele beijo.
Quando a colocou novamente no chão, os dois sorriam, as testas coladas, sem coragem de se distanciar.
- Você é muito melhor que muffins de banana. Sem ofensas. – Ela comentou finalmente, fazendo com que ambos começassem a rir.
- Por quanto tempo você...?
- Desde que você segurou minhas mãos no dia em que nos reencontramos. – E sentia as bochechas queimando em escarlate. – E você?
- Foi no mesmo momento. – Ele sorriu de volta, os dois ainda sem se distanciar.
E tudo que Lisa conseguia fazer era suspirar enquanto os observava com um sorriso contente nos lábios. Já estava na hora.
finalmente gritou quando toda a farinha que tinha enfiado na batedeira – genialmente sem nada líquido que desse liga e a segurasse dentro do pote – explodiu por toda a cozinha, envolvendo tudo em uma nuvem branca.
Ele apoiou as mãos sobre a bancada e respirou fundo, fechando os olhos. Por que diabos estava fazendo aquilo mesmo?
E, quando se questionou, o rosto de – com seu sorriso gentil que não ficava somente nos lábios, mas se espelhava em seus olhos – surgiu tão nitidamente quanto a farinha que agora descansava em seus cabelos e avental.
- Ok, , mantenha a calma. É por um motivo maior. – Ele olhou para o teto, falando consigo mesmo. – Você que foi burro de colocar a farinha e ligar a batedeira depois.
Ele estava fazendo aquilo por . Só por causa dela... E pensar naquilo o deixava mais calmo.
Enquanto limpava a bancada com seu pano de prato, conseguia relembrar nitidamente o dia em que se reencontraram – o que fez um meio sorriso inconsciente surgir nos lábios dele.
estava muito contente com o movimento de clientes no Café.
Há dois anos saíra da faculdade e conseguira montar seu próprio negócio. Teve que enfrentar as dúvidas e incertezas, os comentários sarcásticos e amargos, a insegurança de achar que teria que fechar as portas e as noites mal dormidas no próprio balcão quando colocava tudo na ponta do lápis e a conta não fechava.
Mas, por fim, conseguiu estabelecer uma boa clientela, que fez propaganda boca a boca, publicou nas redes sociais, trouxeram amigos... E lá estava ele, firme e forte com o próprio Café – seu sonho finalmente realizado, estabelecido e gerando renda suficiente para que ele vivesse uma vida confortável.
Ele mal viu a moça que entrou e se acomodou no balcão, apoiando um livro sobre o mesmo e aguardando pacientemente para ser atendida. tentava conhecer todos os clientes e sempre checar se todos estavam bem atendidos, o sorriso como um raio de sol constante em seus lábios.
E, repentinamente, o barulho de uma xícara caindo e se quebrando no chão chamou a atenção de todos, fazendo-o imediatamente olhar para o balcão.
- Ah, meu Deus! – A moça disse, imediatamente levantando o livro da superfície, observando a própria blusa encharcada de café.
- Me desculpe, moça! Foi sem querer, eu sou muito desastrado! – O homem que derrubou a xícara nem sabia o que fazer com as mãos, a xícara e, principalmente, com a moça. – Me desculpe pela sua blusa...!
- A blusa é o que menos me preocupa, meu livro está molhado também... – Ela comentou tristemente enquanto se aproximava. – Mas tudo bem, não foi por querer...
- Deixa eu dar uma olhada, às vezes consigo ajudar. – finalmente alcançou os dois, pegando os livros dos dedos dela e olhando para o cara que tinha derrubado a xícara. – Não se preocupe, eu limpo, pode deixar. A Lisa fará outra xícara para você.
O homem somente agradeceu e foi até onde Lisa, a garçonete, estava. Enquanto isso, analisava o livro com cuidado, limpando o que podia com seu pano de prato que quase sempre estava descansando no próprio ombro. Mal percebia que a moça o observava com uma risada reprimida nos lábios.
- Vai ficar com algumas páginas manchadas, mas posso deixar na cozinha para secar mais rápido. Se quiser, posso ver se consigo tirar a mancha na sua blusa também... – E ele finalmente olhou para ela, ficando imediatamente embasbacado. – O que...?! ?! É você?!
- Oi, ! – Ela respondeu finalmente, começando a rir escandalosamente com a reação dele. E começou a rir da mesma maneira, o sorriso surgindo novamente como o mais brilhante raio de sol. – Você acha que eu não apareceria aqui para visitar o Café do meu melhor amigo da faculdade?!
- Mulher! Você sumiu! – E, dizendo isso, ele largou o livro de volta no balcão, abraçando-a fortemente. enlaçou os braços em volta dele com a mesma força, sem conseguir parar de sorrir. – Dez meses! Faz dez meses que eu não tenho a companhia da maluca que ficava comigo pra cima e pra baixo naquela faculdade! Onde você se enfiou?!
- No meu trabalho, é lá que eu me enfiei! – respondeu com um suspiro e ele podia ver nitidamente como ela estava cansada. – Nem percebi que se passou tanto tempo assim desde a última vez que nos falamos. Outro dia vi uma foto sua no Instagram de um dos seus cafés e me toquei que nunca apareci aqui pra ver o seu maravilhoso estabelecimento! E isso é um pecado, -ssi. Simplesmente um pecado.
- Concordo plenamente com você. Pecado maior é me deixar no limbo sem me falar que você ia se enfiar no buraco dos workaholics e me abandonar por quase um ano. – Ele respondeu de maneira séria, mas logo começou a sorrir novamente, dando a volta no balcão.
- Não foi um ano. Foram dez meses. – Ela comentou de maneira analítica, enquanto observava o que ele ia fazer com o livro.
E o colocou com todo o cuidado do mundo em cima do forno elétrico que ficava ao lado da cafeteira, utensílio que ele utilizava para esquentar muffins e afins – já que normalmente fazia tudo isso na cozinha e nem sempre a vitrine conservava o calor.
- Faltaram dois meses para um ano. – Claramente tinha ganhado a discussão, por mais que não quisesse dar o braço a torcer. – Mas o importante é que você está de volta e eu nunca mais vou te deixar ir.
- Por favor, não deixe! Me amarra na sua cozinha! – Ela disse de maneira dramática, estendendo os pulsos juntos em cima do balcão, fazendo-o rir imediatamente. – Eu senti muitas saudades.
- Também senti, ... – segurou as mãos dela carinhosamente, com o sorriso estampado nos lábios.
E foi nesse momento que ele sentiu algo diferente em seu coração.
Todo aquele tempo sem vê-la fez com que ele percebesse como fazia falta. Os dias não eram tão divertidos sem as brincadeiras dela, os momentos de angústia eram mais penosos de aguentar. Era mais difícil caminhar sem o apoio dela, era mais difícil comemorar sem ela para compartilhar suas alegrias.
Segurar as mãos dela daquela maneira causou uma fagulha no peito de . Algo que ele não esperava e certamente não entendia.
Sem conseguir compreender os próprios sentimentos, ele soltou as mãos de , pegando outro pano de prato para limpar sujeira em cima do balcão.
- Pega mais um, eu vou te ajudar! – A moça comentou, fazendo-o olhar para ela com uma sobrancelha erguida.
- Você não tem que voltar para o trabalho, não?
- Nope. Estou de férias! – Ela deu um sorriso enorme.
- E onde já se viu uma cliente ajudando o dono a limpar acidentes de café?
- Tecnicamente, eu não consumi nada, então ainda não sou cliente. E nunca vou ser, porque sou sua melhor amiga, então tenho privilégios! – Com isso, fez joinhas com as mãos, ainda com seu enorme sorriso estampado nos lábios.
- Você não muda, não é mesmo?! – perguntou com uma boa risada, já jogando o pano de prato para ela.
- Não! E tenho certeza que você não esperava nada menos que isso de mim! – imediatamente pegou o pano de prato e os dois começaram a limpar o balcão.
É claro que ele não esperava nada menos. Sempre tinha que esperar mais de . Ela era a pessoa mais incrível que ele conhecera, a melhor amiga que tivera. Ficar sem ela fazia os dias menos coloridos. não era bonita somente de aparência, mas também era linda por dentro.
continuou encarando o horizonte, sorrindo que nem um bobo, enquanto segurava a batedeira no lugar e despejava o leite na massa aos poucos. O coração dela era maravilhoso, apesar de que sempre dizia que evitava seus sentimentos a todo custo. Ela podia alardear o quanto quisesse, ele a conhecia e sabia como realmente era.
Aquela distração toda, porém, fez o leite escapar das mãos dele e pintar uma enorme mancha branca no avental preto que usava.
Ele somente suspirou, fechando os olhos. Qual era o problema dele naquele dia?
- Eu. Tô. Faminta. – ouviu uma voz agourenta atrás de si, reclamando enquanto se estirava no balcão. – Me alimenta, , por favor.
- Credo, , que drama todo é esse? – Ele perguntou rindo, virando-se para a moça.
Já tinha chegado o fim do dia e ele estava prestes a fechar as portas do Café. A única coisa que tinha de comida disponível era um muffin de banana – que ele sabia que amava e guardara especificamente para ela.
A moça estava literalmente jogada em cima do balcão, sentada em uma das cadeiras altas, com o maior olhar de sofrimento. não sabia se ria ou se levava tudo aquilo a sério.
- Eu não tenho muito dinheiro hoje, esqueci minha carteira em casa... – Ela resmungou, retirando algumas notas do bolso de trás da calça. – Só tenho isso daqui. Deu certinho o preço de um dos seus muffins, então fiquei sem almoçar, porque não consegui passar aqui antes.
- O quê?! Você ficou sem comer até agora?! – E resolveu levar a sério. Imediatamente começou a se mobilizar para resgatar o muffin dela, amaldiçoando-se mentalmente por não ter guardado mais comida. – E não precisa pagar...!
- Ah, de jeito nenhum! Não é só porque sou sua melhor amiga que tenho o direito de comer de graça, por favor, ! Se não o seu negócio não anda! – Dizendo isso, ela colocou o dinheiro sobre o balcão, ao lado do muffin.
só observou enquanto ela pegava o bolinho com os dedos ávidos. Os olhos de praticamente brilhavam e ele podia jurar que viu as mãos dela tremendo levemente.
Imediatamente se virou para as canecas. Sabia que não conseguia tomar café, pois era muito forte e se sentia mal – uma contradição gigante na amizade dos dois. Então, resolveu aquecer a vida dela com um chocolate quente caprichado, por conta dele.
esperava ouvi-la mastigando e fazendo os clássicos comentários de boca cheia de ", você faz o melhor muffin de banana do universo, por favor, casa comigo". Mas nada veio. Franzindo as sobrancelhas enquanto esquentava o leite, olhou por cima do ombro.
E foi aí que viu o olhar distraído de encarando algo além da grande janela do Café.
A moça imediatamente se levantou, o muffin em mãos e saiu do estabelecimento antes mesmo que pudesse segurá-la para perguntar o que havia de errado.
Ela se aproximou de uma criança maltrapilha que estava do outro lado da rua, pedindo dinheiro às pessoas que passavam. conversou por alguns rápidos momentos com o menino e entregou o bolinho, ganhando um enorme sorriso de volta do garoto. A moça retornou ao café com um sorriso satisfeito, sentando-se novamente ao balcão.
- Quer saber...? – finalmente se manifestou. Ver aquela cena fez aquele sentimento estranho surgir novamente em seu peito, mas naquele momento ele não se importava. Não entendia o que era, mas ver os olhos de observando-o com expectativa fez com que a respiração dele falhasse por um segundo. – Pega o seu casaco, a gente vai jantar.
- O quê? , eu não tenho dinheiro... – Ela começou enquanto ele pegava o próprio casaco e começava a desligar tudo para fechar o Café.
- Não tem problema. Eu pago dessa vez... – Ele respondeu e ela abriu a boca para contrariar. nem precisou olhar para para saber que ela iria rebater, continuando a falar mais alto que antes. – E você vai aceitar porque sim e pra largar mão de ser mal educada!
Ela ficou em silêncio e, quando se virou para novamente, encontrou-a de braços cruzados e com as sobrancelhas franzidas.
- Eu não sou mal educada.
- Não. Você é um ser humano maravilhoso com um coração de ouro, ! – Ele respondeu com uma risada e estendeu o braço para ela após apagar as luzes do Café. – Vamos?
- Vamos! – Ela sorriu e entrelaçou o próprio braço no de , repousando a mão livre sobre a dele.
Até aquele dia, um ano depois, ainda sentia o formigamento que sentira quando os dedos de tocaram o dorso da mão dele. Era como se ela estivesse lá, naquele momento, tocando-o de maneira tão gentil.
Ele demorou muito tempo para entender aquele sentimento estranho que tinha por ela. achou que podia ser resultado do tempo que passaram sem se ver, mas, conforme voltou a conviver com ela, percebia que não era nada daquilo. Era algo muito mais definitivo, nada parecido com somente saudades.
Teria continuado com a trilha de pensamentos se seu nariz não tivesse sido atingindo repentinamente pelo típico cheiro de algo queimando.
E não era qualquer algo. Era chocolate.
- O quê?! – Ele finalmente acordou de seu transe e desligou a batedeira, voltando o olhar para o fogão. – O que isso tá fazendo aí?!
correu desesperadamente para o fogão, retirando o chocolate que tinha colocado para derreter em banho Maria e agora parecia um pedaço de pedra grudado no fundo da panela, completamente queimado, empesteando a cozinha toda.
Sem pensar duas vezes, ele enfiou a panela na pia e jogou água imediatamente – o que quase fez tudo explodir por conta do choque térmico.
- O que eu tô fazendo...? – apoiou a testa na pia com força, resmungando de maneira agourenta para si mesmo.
Porém, quando finalmente se levantou novamente e fechou a água, tomando coragem para observar a sujeira que tinha feito, quase conseguiu ouvir a risada divertida de , como se ela estivesse lá. E aquilo o fez rir de si mesmo.
- Nossa, faz muito tempo que a gente não faz uma dessas de dormir na casa do outro... – comentou com seu copo de vinho em mãos, já no último gole. Enquanto isso, observava o apartamento de , exatamente o que ela esperava que seria. Aquilo a fez sorrir inconscientemente.
E ele sentiu aquele calor espalhar por seu peito ao vê-la sorrindo daquela maneira; aquele sentimento cada vez mais recorrente que penava para entender de onde estava surgindo e o que significava. Só sabia que queria observá-la daquela maneira para sempre.
- E de quem é a culpa...? – Ele perguntou claramente com a intenção de provocá-la, enquanto segurava a mão de com o copo, colocando mais vinho branco.
- Para de querer me fazer sentir culpada, homem! – Ela respondeu brava, porém imediatamente começou a rir.
- Estou brincando, ! Não precisa ficar atacadinha! – E teve que praticamente correr de volta à cozinha para não levar o tapa que juntou tanta força para dar no braço dele.
Por pouco não saiu machucado e com a garrafa de vinho estilhaçada no chão.
- Seu pastel. – rolou os olhos, porém o seguia enquanto bebia mais um gole de vinho. – Como vai nosso fondue?
- Bem! Acho que já está pronto... – Ele analisou, segurando a panela pelo cabo e mexendo-a sem tirar do fogo. – Quer experimentar?
Na hora que ele perguntou, somente abriu a boca, esperando um pedaço de pão com o queijo derretido. Mas o que derreteu foi o coração de , que simplesmente queria abraçá-la e não soltar mais.
- Você parece uma daquelas focas do Sea World que pedem comida para os treinadores na beirada da piscina. – Ele comentou com uma risada, passando um pedaço de pão no fondue e estendendo para ela. – Cuidado que tá quente, assopra um pouco.
- Pelo menos focas são fofas! – piscou para ele, deu algumas assopradas no pedaço de pão e finalmente o prendeu entre os dentes, os lábios roçando levemente nos dedos de .
Nem ele entendeu o motivo, mas seu coração começou a bater de maneira completamente descontrolada. teve que se concentrar para não franzir as sobrancelhas, chocado com a própria reação. O que estava acontecendo? Nem ele entendia. Só sabia que os lábios dela simplesmente tiraram todo o ar que tinha nos pulmões.
- Nossa, tá muito bom! – comentou, se deliciando naquele simples pedaço de comida. – , você cozinha muito bem, casa comigo!
- Um dia a gente casa, pastel. – Ele respondeu rindo, mas, pela primeira vez, aquela brincadeira fez o coração dele disparar novamente e arrepiar seus cabelos da nuca. – Precisa de mais vinho?
- Só mais um pouquinho, mas já tá bom, se você não quiser. – Ela analisou com a garrafa em mãos, no que ele estendeu a mão logo em seguida.
- Vinho nunca é demais. – comentou de maneira séria, fazendo-a rir e entregar a garrafa.
Sendo assim, em poucos minutos, lá estavam os dois com a panela de fondue sobre a mesa de centro da sala de , sentados no chão, apreciando o fondue com vinho branco que decidiram preparar naquela noite.
Não demorou muito para que o álcool começasse a subir e as bochechas deles se colorissem de vermelho, as risadas tomando conta de quase todas as conversas de ambos enquanto se atualizavam nas próprias vidas. buscou outra garrafa na cozinha e logo esta já estava quase no final.
- Vamos ter que pegar mais uma? – Ele perguntou, apontando para a dita cuja e imediatamente começou a rir da cara de choque exagerado que fez.
- do céu... Claramente não melhoramos muito depois de sair da faculdade. – Ela comentou seriamente, fazendo-o explodir em risadas logo em seguida.
- Tenho certeza que não melhoramos as danças também! – E nem esperou que ela se manifestasse: já estava ligando o som e colocando uma de suas playlists no aleatório.
Se eles iam dançar de madrugada? Sim. Se iam incomodar os vizinhos? Com certeza. Se estavam se importando? Nem um pouco.
- Ah, meu querido! – imediatamente se levantou quando começou a ouvir os primeiros acordes de guitarra de Lonely Boy, música que ela apresentara para ele e ambos fizeram questão de dançar das maneiras mais ridículas toda vez que tocava em algum lugar público. – Eu sou especializada em dançar mal! Tenho Doutorado nisso, esqueceu?!
- Ah, a Royal Academy of Dance deve estar louca para te ter no corpo de bailarinos! – Ele brincou de volta, já que ela fizera uma prova da RAD enquanto estavam na faculdade. tinha certeza que mantinha o certificado exposto na parede do próprio apartamento, talvez no meio da sala. – Dança comigo, bela dama?
- Claro, meu belo cavalheiro! – respondeu tão dramática quanto ele, os dois rindo imediatamente enquanto ela segurava a mão de .
Aquela foi a primeira música que dançaram na noite. Conforme enchiam os copos com o vinho – que logo virou mais uma garrafa – as danças ficavam cada vez mais estranhas e descoordenadas.
E claro, acharam que aquele era um ótimo momento para fazer um fondue de chocolate.
E tudo teria dado certo, se não estivessem tão perdidos um nos braços do outro, dando risadas como nunca.
O que até fez com que ambos demorassem a perceber o cheiro de queimado que assolava a casa.
- ... Você tá sentindo esse cheiro? – Ele perguntou repentinamente, as sobrancelhas franzidas em confusão.
- Tô sim... – E ela estava tão confusa quanto ele. – Você tá cozinhando alguma coisa, ?
Nesse momento, os olhares deles se encontraram em entendimento, como se tivessem acabado de descobrir a Austrália.
- O CHOCOLATE! – Os dois gritaram ao mesmo tempo e correram para a cozinha. Fizeram uma força tarefa super coordenada para tirar a panela do fogo e enfiar embaixo da água gelada, o que fez muito sentido no momento.
Tanto quanto praticamente estamparam na parede do outro lado da casa com o susto que levaram ao ouvir a panela explodindo em um racho por conta do choque térmico.
Os dois se olharam com um par de olhos assustados e, após alguns segundos, caíram na gargalhada. o abraçou inconscientemente, tentando parar de rir para conseguir respirar normalmente de novo, enquanto somente a recebia carinhosamente, uma das mãos repousando nos cabelos dela, rindo como se não houvesse amanhã.
Ele queria ficar daquela maneira com para sempre... Será que ela sentia o mesmo?
Lembrando-se daquele acontecimento, começou a rir consigo mesmo – observando a panela que quase rachara por causa do chocolate queimado. De novo.
Foi naquele dia que ele resolveu admitir a si mesmo que havia algo de mais em seus sentimentos por . Não exatamente amor, mas algo diferente. E também foi a primeira vez que começou a se questionar se, talvez, ela estaria sentindo a mesma coisa.
Era muito difícil para ele. Enquanto continuava com a sua missão de terminar aquele bolo que estava mais difícil que um parto, pensava no relacionamento deles. Desde que se encontraram novamente, continuaram se comportando como sempre agiram com o outro... Mas algo nele mudara.
E finalmente começou a se perguntar se algo também mudara nela. Ficava incomodado com o fato de que, talvez, só ele tivesse mudado e nada fosse diferente para . No começo, não sabia o motivo de todo aquele incômodo com um simples fato, mas logo ele começou a entender.
E não sabia se ficava contente ou completamente fora do sério com aquilo.
Virando-se novamente para a bancada, mal percebeu que o saco de açúcar estava mais perto do que ele calculara. Ou seja: o pacote caiu, espalhando os cristais brancos pela bancada e pelo chão.
Ele achava que daqui a pouco ia gritar e fechar o Café. Não era possível.
- Se controla, ! Ou a surpresa vai ir por água abaixo! – Ele brigou consigo mesmo, rolando os olhos e já começando a limpar toda aquela bagunça com o açúcar.
Mesmo assim, aquela visão o fez se lembrar de quando ele finalmente prestou atenção no lado cuidadoso de e percebeu o que havia de diferente em si.
- Sabe, você não pode ficar vindo trabalhar aqui toda vez que tirar férias. – comentou por cima dos ombros, concentrado em sua receita de muffins de banana. Só ele sabia o segredo dos muffins e não o revelaria a mais ninguém. – É por isso que eles chamam de férias, para você não trabalhar.
- O seu sarcasmo não me atinge, meu querido! – cantarolou distraidamente. Já fazia mais de uma semana que ela aparecera lá falando que estava de férias novamente e queria ajudar com o Café. Então, naquele dia, a moça diligentemente ajudava a decorar os docinhos e teve que admitir que nunca tivera doces tão belamente decorados em seu Café, Recebera até elogios dos clientes. – E você não está me pagando, então tecnicamente não é trabalho. Só estou aqui para ajudar meu melhor amigo empreendedor!
respondeu com uma breve risada e voltou a focar na massa que batia na mão, com a colher de pau. "Melhor amigo". Antes ele tinha orgulho de ouvir aquelas palavras deixando os lábios de e atingindo-o no peito como uma medalha do Exército. Porém, já fazia um tempo que aquela expressão o deixava desconfortável, como se algo estivesse errado.
Às vezes, ele era o problema – aquele pensamento atingiu como uma epifania. De repente, era somente ele quem mudara e realmente não se importava de ostentar o título de "melhor amiga do " – como ela sempre dizia.
Ele deixou a massa na bancada e se virou para , disposto a conversar sobre aquilo. Eles normalmente conversavam quando havia algo errado nas suas vidas, sendo que um ajudava o outro a resolver, qualquer que fosse a questão. Então, por mais que não quisesse admitir, precisava da ajuda de com aquele sentimento estrangeiro que o consumia a cada dia.
Foi aí que ele viu no que estava se empenhando tanto na última hora. Tortinhas de frutas vermelhas, que ela cuidadosamente encaixava fruta por fruta sobre a massa para criar formatos harmoniosos e belos. As bochechas dele imediatamente começaram a corar.
- Acho que ficaria interessante se você polvilhasse açúcar de confeiteiro em cima das frutas. Vai parecer neve! – Ele mal conseguiu controlar a própria língua. Esse era o problema: perdia o controle quando estava perto de , parecia que não havia filtro entre suas ações e palavras. Aquilo fez com que ela olhasse para ele.
- , você tá bem? Seu rosto tá vermelho! – estava imediatamente preocupada, largando o pacote de açúcar e derrubando tudo na bancada. – Ai, não! , desculpa! Que bagunça, desculpa, vou limpar...!
- Ah, relaxa, acontece... – Ele deu uma risada nervosa, aliviado de ter se livrado do olhar dela.
- Relaxa? Eu venho aqui pra te ajudar e faço besteira derrubando tudo? Não, né? Desculpa...! – A moça resmungava enquanto procurava por algo que a ajudasse a limpar o açúcar esparramado.
- Sério, relaxa, ! – Ele riu de maneira mais descontraída ao ver a preocupação da amiga enquanto ela resmungava para lá e para cá. se aproximou dela, finalmente segurando a mão de e fazendo-a olhar para ele. – Tá tudo bem. Você tá me ajudando, derrubar um pouco de açúcar não é nada de mais.
Foi aí que finalmente teve seu primeiro momento de dúvida. Algo no olhar de titubeou, algo fez com que ele sentisse que ela tinha alguma dúvida guardada em segredo. Ele quase tomou coragem para perguntá-la diretamente – o que acabaria com aquele sofrimento dos dois naquele mesmo momento – mas não conseguiu formular uma frase sequer. Simplesmente sorriu, colocando uma pequena peneira nas mãos de – tão frágeis perto das mãos dele.
- Vem cá, eu te ajudo. – Ele sorriu e assim os dois começaram uma força tarefa para cobrir as tortinhas com a neve doce.
No fim do dia, os dois fecharam o Café juntos e nenhuma das tortinhas sobrou para contar a história.
"Será que ela também se sente diferente em relação a mim?"
Aquela frase ecoou durante muito tempo na mente de .
Ele chegara a ficar uma semana sem falar com ela direito, por medo de que notasse que algo estava diferente e que ele estava agindo estranho. colocou toda aquela amizade a perder, simplesmente porque não sabia o que fazer com os próprios sentimentos dentro de seu coração.
Nunca chegou a perguntar se ela notara, para falar a verdade. Enquanto encarava a parede e pensava na própria estupidez, continuou colocando a maisena dentro do creme que faria para rechear o bolo, completamente distraído com o fato de que ele quase colocara a amizade deles em hiato. De novo.
surgiu um belo dia no Café, de braços cruzados e cara amarrada, intimando-o a falar com ela. sumira durante dez dias, respondendo às mensagens dela de maneira vaga e sempre dizendo que tinha compromissos, de modo que não podia se encontrar com ela.
A moça ficara sentada no balcão durante horas, mexendo o próprio chocolate quente de maneira completamente emburrada, sem tomar um gole sequer. Brigou com ele, pois Lisa a atendera, demandando um motivo pelo qual ele a estava evitando. Depois de muito tentar enrolá-la, finalmente inventou a desculpa plausível de que estivera ocupado com fornecedores e assuntos pessoais que precisavam de solução imediata.
Ele tomou as mãos delas nas próprias, sorrindo gentilmente e carregando um pedido sincero de desculpas nos olhos. não conseguiu permanecer brava durante muito tempo, derretendo como o próprio chocolate quente – que ele fez questão de esquentar novamente e acrescentar algumas coisas da maneira que somente sabia fazer.
E o sorriso com o qual ela recebeu a caneca de volta foi completamente impagável, fazendo um sentimento mais aconchegante que o chocolate em si surgir no peito dele.
Sorrindo bobamente para a parede, só notou que havia algo de errado quando começou a sentir dificuldade de mover a colher no recheio do bolo. Olhando para baixo, sentiu que logo ia começar a chorar com a própria asneira.
- É sério isso...?! – Ele perguntou quando percebera que não parara de derramar a maisena na mistura.
Fazendo, assim, com que o recheio virasse uma cola.
- É tão difícil pra você fazer um bolo que ela gosta, ?! – Novamente perguntou para si mesmo, praticamente jogando a panela dentro da pia e tendo que pensar em alguma outra opção que não envolvesse chocolate ou maisena.
Ele só queria ver o sorriso no rosto de da mesma maneira que o mesmo apareceu no dia em que percebeu que aquele sentimento alienígena em seu coração era nada menos que amor.
Era a primeira vez que estavam em um Café que não era o de .
- Mas você vê... Eles não usam os grãos moídos na hora que nem eu... – Ele analisava enquanto observava os baristas preparando as levas da demanda quase infinita de café.
- Ei, ! – chamou, segurando o rosto dele com as duas mãos e virando-o de frente para ela. – Eu não te trouxe aqui pra trabalhar. Podemos aproveitar um Café como um casal de amigos normal, não?
- Podemos! – Ele respondeu com um enorme sorriso no rosto, sem entender o porque a palavra "casal" o fizera sentir borboletas no estômago.
- Aqui estão os pedidos de vocês! – A garçonete interrompeu o momento, fazendo com que os dois se recostassem em suas cadeiras, colocando alguma distância entre si.
somente observava enquanto recebia tudo com alegria. Ele mesmo sorriu ao vê-la tão feliz daquela maneira, brilhando como a mais bela das estrelas. Não tinha dúvidas de que ela tinha uma beleza, charme e brilho naturais que fazia com que chamasse atenção em qualquer lugar.
É que não notava, mas vários homens a observavam quando estavam andando juntos pelos lugares – certamente porque ela havia chamado a atenção deles. E não era algo forçado: aquilo vinha de maneira completamente natural para ela. fora feita para brilhar como uma estrela, para ser admirada e amada por aqueles que a conheciam bem o suficiente.
Nesse momento que sentiu uma leve pontada de ciúmes. Enquanto a amiga levava o primeiro pedaço de bolo aos lábios – somente para saboreá-lo lentamente em seguida, de olhos fechados – ele franziu as sobrancelhas, incomodado com o próprio sentimento. Não tinha o menor direito de sentir ciúmes, mas lá estava ele. Completamente incomodado com o fato de que alguém poderia olhar para ela e desejá-la.
Mas, o que provavelmente o incomodava mais, era o fato de que ela podia desejar a pessoa de volta.
Aquilo causou uma série de sentimentos nunca experimentados antes por – ciúme, revolta, injustiça, raiva e uma pontada de amargor, todos misturados em algo que apertou seu coração. E tudo isso culminou com a imaginando nos braços de outro homem.
- O que foi? – perguntou preocupada ao ver a expressão no rosto dele.
- Hã? – E finalmente percebeu que estava tão mal humorado quanto no dia que ela surgiu no Café porque ele ficara dez dias sem falar com direito. – Ah, desculpe. Nada não. Só uns assuntos sem importância, não precisa se preocupar!
- Hmmm... – resmungou, analisando o sorriso que ele tinha nos lábios. Em seguida, sem pensar, pousou uma das mãos sobre a dele, fazendo-o sentir fogos de artifício na base do estômago. – Bom, saiba que o que quer que seja, é só uma besteira. E, sempre que precisar, estarei aqui para você, ! Então não vai ser tão ruim!
E sorriu. Aquele sorriso foi o suficiente para selar os sentimentos de .
Ele estava apaixonado por ela. Perdidamente.
Era um bolo como aquele que queria fazer para o aniversário de .
Para ele, aquele bolo tinha gosto de amor – pois o comera no dia em que finalmente entendera seus sentimentos por sua melhor amiga – e nada era mais perfeito do que aquilo para acompanhar o dia em que ele resolvera que falaria a que a amava.
Mas aquilo que ele estava fazendo tinha gosto de tudo, menos de amor.
- Isso aqui tá mais pra desgosto do que amor em si... – resmungou, voltando a atenção para a massa.
Aquela era a última esperança dele. Colocou a massa líquida na forma e a enfiou no forno, sentando-se em uma das cadeiras da cozinha para aguardar pacientemente enquanto o bolo era assado.
Aquele seria o presente dele para : o bolo e a declaração de seus sentimentos.
Esperava que fosse uma surpresa boa, porém tinha seus receios. E se ela não correspondesse? E se ela o rejeitasse? Pior: e se ficasse com medo e decidisse nunca mais falar com ele?
ficou encarando a parede durante alguns momentos em crise existencial. Mas logo aquilo começou a passar: não era aquele tipo de pessoa. O máximo que podia acontecer era ela dizer que não correspondia os sentimentos dele, porém com um sorriso no rosto. Ela jamais seria rude por causa de algo involuntário.
Entretanto, quando começou a pensar melhor, percebeu que talvez poderia ter uma chance. sempre fora extremamente gentil com ele e, mesmo depois que começou a agir estranhamente ao perceber seus sentimentos, ela nunca o distanciou.
E se correspondesse? nunca pensara naquela hipótese. Encarando a parede com um par de olhos arregalados, ele sinceramente não sabia como agiria se ela dissesse que também o amava. sabia o que fazer se o rejeitasse, mas não tinha idéia de como reagir se ela correspondesse.
O choque dele foi tão grande ao pensar naquilo que somente acordou quando sentiu um cheiro insuportável de algo queimando atingindo suas narinas.
- AH, NÃO! – E ele estava mais do que fora do sério.
O bolo queimara.
- , não.
estava séria de uma maneira que ele nunca vira antes.
- Por que não? , todo mundo comemora...
- Porque eu já disse que não! – Ela bufou, as mãos descansando com força sobre a bancada na qual eles preparavam a cobertura de chocolate. Aparentemente, aquilo chamava brigadeiro e só ela sabia como fazer aquela mágica funcionar. ajudava como podia para entender como fazia. – E não é não! Eu não sou "todo mundo".
Ela daria uma ótima mãe com aquela frase.
- Mas qual é o problema? Aniversários devem ser comemorados! – Ele simplesmente não conseguia entender aquela insistência dela.
Estavam há mais de meia hora discutindo sobre o futuro aniversário de e o fato de que ela não queria comemorar – sendo que achava uma comemoração algo imprescindível.
Enquanto isso, o bolo que resolveram fazer juntos pela primeira vez na vida assava no forno de .
- Eu não gosto de aniversários, simples assim! – Ela respondeu já completamente cheia daquele assunto. Não sabia o motivo de terem se prolongado tanto naquele ponto.
- Não é simples assim coisa nenhuma. – Ele se virou para ela, apontando para a moça com a colher que antes usava para misturar o brigadeiro. – Pra você ter essa ojeriza por aniversários, algo aconteceu. Eu vou descobrir o que é, cedo ou tarde, não adianta você...
- Ok! Você quer saber?! Então vamos lá! – E finalmente se virou para ele, colocando as mãos na cintura. – Ninguém aparece nos meus aniversários! Quando aparece alguém, a pessoa fica reclamando de tudo: o lugar, a comida, até da própria vida! Quando alguém vem me dar parabéns, é porque quer algo em troca! Só existe um bando de interesseiro na minha vida e ninguém tá realmente interessado em mim e na minha amizade! Eu me sinto completamente egoísta e narcisista falando esse tipo de coisa, mas é isso: ninguém me dá atenção na minha data e eu odeio comemorar! Pronto! Satisfeito?!
abriu a boca para responder, apesar de não saber muito bem o que falar. Não esperava que ela fosse se abrir daquela maneira com ele.
- , você...
E teria continuado o discurso que estava prestes a fazer se não fosse o cheiro de queimado.
Os dois farejaram o ar, trocando olhares confusos. Não conseguiam identificar... Até que se lembraram e arregalaram os olhos: o bolo.
- Ah, não! – Gritaram juntos e abriram o forno, sentindo a rajada de bolo queimado adentrar a cozinha.
- Droga! Pega um pano de prato, ? Por favor? – pediu imediatamente e ela obedeceu quase no mesmo segundo.
Ele tirou a forma o mais rápido possível e a jogou em cima da bancada. e ficaram observando o bolo queimado desconsoladamente enquanto pensavam no que fazer.
- Podemos esfarelar o que não está queimado, misturar no brigadeiro e fazer bolinhas. O que você acha? – Ela suspirou, fazendo-o lançá-la um olhar intrigado com um pequeno sorriso nos lábios.
- Genial. Vamos?
Assim que perguntou, os dois começaram a missão de separar o que estava usável. Em poucos minutos, já tinham misturado tudo com o brigadeiro e lá estavam eles, quase de madrugada, enrolando bolinhas de brigadeiro com farelo de bolo que não deu certo.
- . – Ele chamou repentinamente, recebendo um resmungo de volta do lado de . – Você não deve se sentir culpada de querer atenção no seu aniversário. É o mínimo que você deve querer, pra ser bem sincero. As pessoas que são horríveis e não sabem dar amor às outras.
Quando terminou de falar, ficaram ainda alguns longos segundos em silêncio.
- Obrigada, ...
- Podemos comemorar. – Ele falou quase cortando a última frase de . Aquilo chamou a atenção da moça, que já ia refutar, mas não deixou. – Eu e você, marcamos de fazer alguma coisa simples. Mais ninguém, só nós dois. Eu me importo com você e não será o menor esforço te dar atenção e amor. Não acho que você deva passar sua data em branco por causa da estupidez dos outros... O que você acha?
Os olhos de encontraram os olhos cheios de expectativa de . Ela suspirou, sabendo que não conseguiria resistir durante muito tempo.
- Só nós dois...?
- Só nós dois. – Ele assegurou novamente com um sorriso gentil nos lábios, que somente sabia dar.
- Ok. Combinado. – sorriu de volta, secretamente satisfeita com o resultado daquela discussão.
- Ótimo. – E também estava genuinamente feliz, voltando a atenção novamente para as bolinhas de bolo e brigadeiro em suas mãos. – Agora... Se você não se importar com direitos autorais, vou começar a vender isso aqui no meu Café,
- Tenho certeza que vai fazer sucesso! – respondeu alegremente, parecendo que suas energias haviam retornado. – Tudo que você faz é perfeito, então tenho certeza que os clientes vão gostar.
Nesse momento, captou algo estranho: não fez contato visual e ficou com as bochechas parecendo duas maçãs do amor após o próprio comentário. Ele teve, por alguns segundos, o sonho louco de que ela corresponderia os sentimentos dele.
Mas resolveu simplesmente ignorar aquilo, passando o resto da noite conversando animadamente com enquanto comiam as incrivelmente deliciosas bolinhas de bolo e brigadeiro.
E qual foi o resultado de toda aquela aventura?
Uma cozinha coberta de farinha, leite e açúcar, com o chocolate da cobertura queimado, o recheio parecendo uma cola de tão duro e o bolo parecendo um carvão. Não dera nem pra enrolar no brigadeiro como ensinara – receita que mais tarde descobriu que era da avó da moça.
estava com os cotovelos apoiados na mesa, sentado em uma cadeira, usando as mãos para segurar as bochechas com uma expressão completamente desolada.
- E agora? O que eu faço? – Como sempre, lá estava ele conversando consigo mesmo. – Ela chega daqui duas horas e eu não tenho nem meio bolo pronto. Não dá nem pra enrolar... Às vezes é um sinal de que eu não tenho que falar como me sinto pra ...
Mas, nesse exato momento, uma das fruteiras de caiu no chão, fazendo o maior estardalhaço e fazendo-o dar um pulo da própria cadeira. Ele já ia começar a resmungar que nada mais podia dar errado naquele dia, porém, quando pegou as frutas do chão, começou a sorrir.
Bananas. adorava os muffins de banana dele.
Podia não ser um bolo de aniversário, mas era o melhor que podia fazer no momento. E tinha certeza que não ia reclamar.
- ! Cheguei! – cantarolou alto quando chegou ao Café, chamando a atenção dos clientes e recebendo um aceno animado de Lisa. A moça acenou de volta, pouco se importando com os olhares que recebeu dos outros clientes.
- Eu já vou, ! Não entra aqui! – gritou de volta, esforçando-se para ajeitar os muffins da melhor maneira na bandeja que ele levaria para o salão do Café. Só estava acertando os últimos detalhes. – Lisa, segura essa mulher aí!
- Nossa, quanto drama... – suspirou, sentando-se em seu costumeiro banquinho no balcão, sorrindo para Lisa. – Não precisa me segurar não, amor. Eu espero.
- Eu sei. – A moça riu de volta, colocando dois cafés em sua bandeja e dando a volta pelo balcão para levar aos clientes. – Não vou fazer o seu chocolate, porque sei que você gosta quando ele prepara.
- Obrigada! – sorriu placidamente enquanto Lisa piscava para ela.
- Ah, e feliz aniversário, . – A garçonete comentou antes de praticamente sair correndo com uma risadinha, enquanto ficava parada em choque.
A moça rolou os olhos, virando-se para a porta da cozinha a fim de esperar . Tinha pedido para que ele não contasse a ninguém que era seu aniversário, mas sabia que, do jeito que ele era, o país inteiro devia saber que era o aniversário de .
- Feliz aniversário! – E quando ele surgiu da cozinha cantarolando com a bandeja em mãos e um sorriso enorme estampado no rosto, era óbvio que agora todos os clientes do Café também sabiam.
Mas não tinha nem palavras. estava sujo dos pés à cabeça, o avental preto já branco com o tanto de farinha, leite e açúcar que ele tinha derrubado em si mesmo. Manchas de creme de baunilha aqui e ali, chocolate derretido, canela para todos os lados. O rosto dele tinha ainda algumas manchas de chocolate, farinha e canela, sem contar as nuvens esbranquiçadas nos cabelos dele. As mãos de estavam limpas somente porque ele as lavara antes de encostar na bandeja – mas os muffins e a canela deliberadamente derrubada sobre a bandeja estavam impecáveis. E, nos lábios dele, o sorriso mais sincero do mundo.
- Obrigada, . De verdade. – comentou sorrindo da mesma maneira que ele, enquanto deixava a bandeja sobre o balcão na frente dela. – Você é a melhor pessoa do mundo.
- Ah, não sou, não... – Ele respondeu um tanto envergonhado, olhando para os muffins no balcão. Observava enquanto a mão dela pegava um dos bolinhos cuidadosamente.
Lisa simplesmente queria bater naqueles dois. Era óbvio para ela que se gostavam, mas sempre ficavam naquela dificuldade de se declarar. A moça já tinha decidido que se não o fizesse naquele dia, ela o faria, pelo bem dos dois.
- Agora, de verdade... Eu imagino com deve estar essa cozinha. – disse repentinamente, com um sorriso brincalhão nos lábios.
ficou imediatamente sério.
- Não. , eu não estou brincando. – Ele falava ameaçadoramente, mas o sorriso dela somente aumentava enquanto parecia que a moça ia levantar do banquinho. ficou de prontidão para segurá-la, se fosse necessário. – É sério, mulher. Não se atreva a entrar naquela cozinha... !
Sim. Ela se levantou e saiu correndo imediatamente.
O que resultou nele correndo atrás dela e tentando segurá-la por qualquer lugar que alcançasse.
Mas foi em vão: ela adentrou aquele caos que ele chamava de cozinha.
- ! Que bagunça! – E estava chocada. Ele nunca fazia uma bagunça daquelas, ela o conhecia bem. – O que aconteceu?
- Eu tive alguns probleminhas hoje...
- Você fez tudo isso... Pra mim? – franziu as sobrancelhas, virando-se para ele e imediatamente mordendo seu primeiro muffin. – Nossa, valeu muito à pena. Isso aqui tá maravilhoso.
- Eu falei que você merecia amor no seu aniversário, não? – Ele deu um sorriso alegre por conta do elogio e por saber que estava se sentindo bem naquela data, como todos deveriam se sentir.
- Sim... Eu só não entendo o motivo de você se esforçar tanto pra isso. – Ela respondeu com uma breve risada.
decidiu que aquele era o momento. Respirando fundo, ele fechou os olhos, encarando-a decididamente logo em seguida. não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas sentiu o coração acelerando logo que a sua mente pensou na vaga possibilidade de que ele poderia amá-la.
- Você é meu muffin de banana.
- O quê?
Os dois ficaram se encarando durante alguns segundos até ele finalmente começar a rir de si mesmo.
- Desculpa. Isso soou muito melhor na minha cabeça.
- ... Se for o que eu estou achando que é, foi perfeito. – comentou seriamente, o que os fez se encarar em silêncio novamente.
realmente não sabia o que fazer – simplesmente porque, se ele entendera bem, ela correspondia seus sentimentos. E ele sabia o que fazer se ela o rejeitasse, mas não tinha idéia de como proceder com aquilo.
- Você ama muffins de banana, não...? – perguntou cuidadosamente e ela confirmou vagarosamente com a cabeça. – Então... Você é meu muffin de banana... Porque eu te amo, . Sempre amei e só percebi agora.
Os olhos de se arregalaram. Ela não acreditava no que estava acontecendo.
Sem pensar duas vezes, a moça se aproximou de , envolveu o pescoço dele com os braços e o beijou. Ele teve um segundo para ficar em choque sem saber o que fazer, mas logo em seguida já enlaçou a cintura dela em um abraço forte, fazendo o corpo dela grudar no dele e até tirando alguns centímetros do chão, enquanto correspondia cada sentimento que ela colocara naquele beijo.
Quando a colocou novamente no chão, os dois sorriam, as testas coladas, sem coragem de se distanciar.
- Você é muito melhor que muffins de banana. Sem ofensas. – Ela comentou finalmente, fazendo com que ambos começassem a rir.
- Por quanto tempo você...?
- Desde que você segurou minhas mãos no dia em que nos reencontramos. – E sentia as bochechas queimando em escarlate. – E você?
- Foi no mesmo momento. – Ele sorriu de volta, os dois ainda sem se distanciar.
E tudo que Lisa conseguia fazer era suspirar enquanto os observava com um sorriso contente nos lábios. Já estava na hora.
Epílogo – A Saga do Bolo
- Você devia estar muito perdido de amor por mim no meu aniversário pra não conseguir fazer isso.
- Fica quieta, sua mala. – rolou os olhos enquanto terminava de colocar a massa na forma.
Meses já haviam se passado. Já estavam tão acostumados a conviver juntos que praticamente moravam no mesmo apartamento – não era estranho passar uma ou duas semanas na casa de e vice versa.
Depois de algumas conversas e relembrando o dia em que eles finalmente resolveram admitir que se amavam, resolveram fazer o bolo que tentara tanto fazer naquele aniversário.
E, sinceramente, era tão simples que não havia motivos para ele ter errado tanto.
- Ah, . Sei que eu sou um mulherão que não dá pra se ignorar. – ficou de costas para a bancada, ao lado de . A moça apoiou os cotovelos na bancada e jogou a cabeça para trás, na tentativa de fazer uma pose sexy. Imediatamente os olhos dele se voltaram para ela. – Sei que é impossível parar de pensar em mim!
- Hoje você tirou o dia pra me zoar, né, coisa linda? – perguntou de volta e, apesar do olhar irritado deu uma breve risada. – Fica aí.
Ela o observou com curiosidade enquanto colocava o bolo no forno. Ele se voltou para ela com um sorriso, beijando-a logo em seguida e segurando as pernas de , a fim de colocá-la em cima da bancada.
- Olha que a gente vai deixar esse bolo queimar de novo. – Ela comentou rindo enquanto alternava beijos e pequenas mordidas nos lábios do namorado.
- Ah, não se preocupe com isso. Não estou tão distraído dessa vez e vou controlar o horário do bolo, querida. – Ele riu, puxando-a para um beijo demorado, deixando-a sem ar quando se separaram. – Acho que cinquenta minutos é suficiente, não?
- Com certeza. – respondeu, puxando-o mais para perto de si e fazendo questão de retribuir o beijo anterior.
Quando se separaram, passaram alguns segundos em silêncio enquanto somente acariciava o rosto de . Ela sorriu imediatamente, fazendo com que o coração dele aumentasse o ritmo. nunca ia deixar de se sentir daquela maneira quando ela sorrisse para ele. Era o sorriso mais lindo do mundo.
- Eu te amo, . – finalmente disse, acordando-o de seus pensamentos.
Aquilo somente fez com que os sentimentos de ficassem mais fortes enquanto ele sorria de volta para ela.
- Eu também te amo, meu muffin de banana.
E o bolo queimou novamente – assim, a madrugada foi aproveitada entre os fatídicos muffins, pois aquela receita e não tinham como errar.
- Fica quieta, sua mala. – rolou os olhos enquanto terminava de colocar a massa na forma.
Meses já haviam se passado. Já estavam tão acostumados a conviver juntos que praticamente moravam no mesmo apartamento – não era estranho passar uma ou duas semanas na casa de e vice versa.
Depois de algumas conversas e relembrando o dia em que eles finalmente resolveram admitir que se amavam, resolveram fazer o bolo que tentara tanto fazer naquele aniversário.
E, sinceramente, era tão simples que não havia motivos para ele ter errado tanto.
- Ah, . Sei que eu sou um mulherão que não dá pra se ignorar. – ficou de costas para a bancada, ao lado de . A moça apoiou os cotovelos na bancada e jogou a cabeça para trás, na tentativa de fazer uma pose sexy. Imediatamente os olhos dele se voltaram para ela. – Sei que é impossível parar de pensar em mim!
- Hoje você tirou o dia pra me zoar, né, coisa linda? – perguntou de volta e, apesar do olhar irritado deu uma breve risada. – Fica aí.
Ela o observou com curiosidade enquanto colocava o bolo no forno. Ele se voltou para ela com um sorriso, beijando-a logo em seguida e segurando as pernas de , a fim de colocá-la em cima da bancada.
- Olha que a gente vai deixar esse bolo queimar de novo. – Ela comentou rindo enquanto alternava beijos e pequenas mordidas nos lábios do namorado.
- Ah, não se preocupe com isso. Não estou tão distraído dessa vez e vou controlar o horário do bolo, querida. – Ele riu, puxando-a para um beijo demorado, deixando-a sem ar quando se separaram. – Acho que cinquenta minutos é suficiente, não?
- Com certeza. – respondeu, puxando-o mais para perto de si e fazendo questão de retribuir o beijo anterior.
Quando se separaram, passaram alguns segundos em silêncio enquanto somente acariciava o rosto de . Ela sorriu imediatamente, fazendo com que o coração dele aumentasse o ritmo. nunca ia deixar de se sentir daquela maneira quando ela sorrisse para ele. Era o sorriso mais lindo do mundo.
- Eu te amo, . – finalmente disse, acordando-o de seus pensamentos.
Aquilo somente fez com que os sentimentos de ficassem mais fortes enquanto ele sorria de volta para ela.
- Eu também te amo, meu muffin de banana.
E o bolo queimou novamente – assim, a madrugada foi aproveitada entre os fatídicos muffins, pois aquela receita e não tinham como errar.
Fim.
Nota da autora: Esses muffins viraram uma entidade nessa história! E tenho que admitir que tudo que conseguia pensar sempre que falava neles era no bolo de banana da padaria Itiriki na Liberdade, São Paulo.
Sério, a padaria toda é um negócio que vale a pena.
Enfim, peguei essa fic por um mero acaso pra ajudar com o ficstape e escrevi em dois dias, por isso que ficou super curtinha. A intenção era escrever em um, fui interrompida pela vida e pelo trabalho... Mas! Aqui está Girlfriend, concluída, bonitinha, sucesso e ambientada em um Café, porque há muito tempo eu tinha pensado em uma fic com ele como dono de um Café e ela como uma pessoa que não pode tomar café (ah, eu amo contradições).
A intenção era algo bem gostoso, leve e rápido de ler. Além da relação de amigos dos dois antes de se amar, porque era exatamente disso que falava a música. Peço desculpas pelas partes românticas bregas, mas não resisti – então aproveitem sem moderação!
Espero que gostem e obrigada pela leitura! Como sempre, respondo aos comentários o mais rápido que posso ^^
Até a próxima!
XX
Disclaimer: Essa história é protegida pela Lei de Direitos Autorais e o Marco Civil da Internet. Postar em outro lugar sem a minha permissão é crime.
Não gosto de falar essas coisas, mas como já tive problemas antes, acho bom deixar avisado. Nem tudo que tá na internet é do mundo, minha gente. Quer postar em outro site? Fala comigo! Eu não mordo! Hahaha a gente vê de me dar o crédito e linkar para o original aqui no FFObs! Só me mandar um e-mail ou pedir aí nos comentários!
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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Sério, a padaria toda é um negócio que vale a pena.
Enfim, peguei essa fic por um mero acaso pra ajudar com o ficstape e escrevi em dois dias, por isso que ficou super curtinha. A intenção era escrever em um, fui interrompida pela vida e pelo trabalho... Mas! Aqui está Girlfriend, concluída, bonitinha, sucesso e ambientada em um Café, porque há muito tempo eu tinha pensado em uma fic com ele como dono de um Café e ela como uma pessoa que não pode tomar café (ah, eu amo contradições).
A intenção era algo bem gostoso, leve e rápido de ler. Além da relação de amigos dos dois antes de se amar, porque era exatamente disso que falava a música. Peço desculpas pelas partes românticas bregas, mas não resisti – então aproveitem sem moderação!
Espero que gostem e obrigada pela leitura! Como sempre, respondo aos comentários o mais rápido que posso ^^
Até a próxima!
XX
Disclaimer: Essa história é protegida pela Lei de Direitos Autorais e o Marco Civil da Internet. Postar em outro lugar sem a minha permissão é crime.
Não gosto de falar essas coisas, mas como já tive problemas antes, acho bom deixar avisado. Nem tudo que tá na internet é do mundo, minha gente. Quer postar em outro site? Fala comigo! Eu não mordo! Hahaha a gente vê de me dar o crédito e linkar para o original aqui no FFObs! Só me mandar um e-mail ou pedir aí nos comentários!
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It's gonna rain
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