Finalizada em: 17 de agosto de 2024

Minha Lista


Quando me envolvi com , eu sabia que havia algo diferente nele assim que o vi pela primeira vez. Era como se ele sugasse todo o ar da sala só por estar lá, deixando todos os outros em segundo plano. Ele tinha essa aura, esse jeito de dominar o espaço ao seu redor. era o tipo de pessoa que você não consegue tirar da cabeça, mesmo quando tenta desesperadamente. Era como se ele estivesse sempre presente, mesmo quando não estava.
Era como ele sempre foi.
Quando ele colocou os olhos em mim, pela primeira vez, eu tive duas certezas. A primeira, que ele era impossível de ignorar. A segunda, que eu o odiaria por isso. Mas a única coisa que eu não sabia naquela época, a única incerteza que permeava meus pensamentos, era que eu não tinha ideia de que o amaria do jeito que amei.
E assim a nossa história começou a se desenrolar, onde cada capítulo era um motivo para eu me perguntar: como cheguei a esse ponto?
Bem, eu poderia listar alguns motivos.


MOTIVO 1 - A MANEIRA COMO VOCÊ ME OLHA


A faculdade era um microcosmo de grupos sociais bem definidos, cada um com suas próprias características e interesses. Eu, por outro lado, parecia flutuar entre esses grupos, sem realmente pertencer a nenhum deles. Era inteligente o bastante para acompanhar as discussões dos nerds do clube de xadrez, mas não ao ponto de me tornar uma deles. Eu tinha uma aparência agradável, mas não ao ponto de me destacar o suficiente para entrar para o clube de modelos. Eu adorava rock, mas nunca me senti confortável o bastante para adotar o visual todo preto e gótico que era característico da turma dos roqueiros.
No final das contas, percebi que era apenas uma pessoa normal, capaz de transitar por diferentes círculos sociais, mas sem encontrar um grupo onde eu realmente me encaixasse. Isso muitas vezes me deixava sozinha, me fazia sentir como se não pertencesse a lugar nenhum. Apesar disso, eu tinha amigas e colegas com quem me dava bem, e uma relação amigável com os professores. Isso era o suficiente para me ajudar a atravessar os dias na faculdade sem grandes traumas.
Eu com certeza não era a única que não me encaixava bem, ele também não.
Enquanto eu lutava para me encaixar nos diferentes grupos sociais da faculdade, ele simplesmente não se importava. As pessoas pareciam implorar para que ele se encaixasse, oferecendo-lhe oportunidades e aceitação de braços abertos em qualquer grupo que ele quisesse, mas ele nunca se esforçava para isso. Ele não se deixava influenciar pelo desejo de pertencer ou pela necessidade de ser aceito. É realmente intrigante como algumas pessoas parecem ter tudo tão facilmente, enquanto outras têm que lutar por cada conquista. É como se algumas pessoas recebessem tudo de mão beijada, enquanto o resto de nós precisa se esforçar incessantemente para alcançar nossos objetivos.
Eu estava tão perdida em pensamentos e mais pensamentos que nem percebi o quanto meus olhos estavam fixos em . Não consigo apontar o exato momento em que meu pensamento se solidificou, mas de repente, lá estava eu, encarando-o intensamente.
E então aconteceu.
Ele virou o rosto na minha direção e nossos olhares se encontraram. Todo o meu corpo reagiu instantaneamente, como se uma corrente elétrica percorresse minha pele, minha alma e até meus pensamentos. Era como se ele tivesse o poder de penetrar em cada camada de mim, com seus olhos que queimavam com uma intensidade que eu nunca experimentara antes. Meus dedos deslizaram nervosamente pela caneca de café enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo. Meus amigos continuavam conversando, alheios ao que se formava ao nosso redor. Mas para mim, tudo parecia se concentrar naquele momento, naquele olhar.
Cada movimento que eu fazia parecia atrair mais a atenção dele. Cada gesto, cada sorriso nervoso, como se eu estivesse em um palco e ele fosse a única plateia. E apesar de me sentir desconfortável sob a intensidade dos seus olhos, também me senti estranhamente lisonjeada, como se estivesse sendo reconhecida de alguma forma.
Percebi algo que nunca havia notado antes, talvez porque ele nunca me encarava daquela forma. Eu já havia sido olhada muitas vezes antes, mas esta foi a primeira vez que me senti verdadeiramente vista.
Foi aí que percebi.
O motivo número 1 seria sempre a maneira como ele me olhava.


MOTIVO 2 - SEUS CIGARROS


Eu sempre odiei o cheiro de cigarros. Cresci em meio a ele, com meu pai sendo um fumante inveterado, meu avô sucumbindo ao câncer de pulmão e minha mãe lutando contra o vício em nicotina. Como poderia eu, então, gostar do cheiro?
Era irônico como todas as pessoas do meu círculo social pareciam fumar de vez em quando, como se fosse uma parte inevitável da vida universitária. Eu mesma experimentara o cigarro algumas vezes, curiosa para entender o que o tornava tão atraente para tantas pessoas. No entanto, a sensação de queimação na garganta e o gosto amargo que deixava na boca foram o suficiente para me fazer desistir rapidamente. Eu simplesmente não conseguia entender como algo tão repugnante para mim poderia ser tão popular entre meus colegas, quero dizer, existe literalmente um aviso de morte na embalagem. Isso não deveria ser um aviso o suficiente para você que ama a sua vida?
Bom, eu não te conhecia tão bem. Talvez você não amasse sua vida tanto assim.
No entanto, quando se tratava de , havia algo diferente. Ele sempre tinha um cigarro entre os dedos. E, estranhamente, o cheiro que normalmente me repelia parecia envolvê-lo de uma forma quase hipnótica. Era como se a fumaça que saía de seus lábios criasse uma névoa que o tornava ainda mais misterioso, mais intrigante. Eu sabia que estava sendo um pouco hipócrita. Odiava o vício que havia consumido minha família e questionava os hábitos dos meus amigos, mas o dele tinha uma certa beleza.
Não fazia sentido, eu sei, mas nada nele fazia muito sentido. Talvez fosse a maneira como ele segurava o cigarro entre os dedos, com uma elegância quase artística. Ou talvez fosse a maneira como ele soprava a fumaça para o ar, com uma calma que desafiava o mundo ao seu redor. Talvez fosse o contraste entre sua indiferença casual e a intensidade que ele emanava. Talvez fosse a maneira como ele sempre fazia tudo o que queria, como se ele fosse imbatível até mesmo para o vício. Ou talvez fosse apenas o fato de que, mesmo quando eu tentava resistir, não conseguia evitar ser atraída por ele, como uma mariposa que voa em direção à chama.
Seus cigarros eram o número 2.
Eu odiava admitir, mas era a verdade. Apesar de todas as minhas reservas em relação ao tabagismo, algo nele tornava o hábito de fumar quase cativante.
Ele fazia eu me sentir atraída por algo que eu passei minha vida inteira detestando, como eu não poderia me apaixonar por isso?


MOTIVO 3 - VOCÊ ERA ENCRENCA. A MAIS PERFEITA ENCRENCA.


Acho que entre algum momento do segundo semestre e do terceiro, eu acabei enlouquecendo. Não é possível que fosse normal tudo que eu estava fazendo pra me sentir próxima de você, a maneira que eu te avaliava ou a forma que eu te olhava, a forma que eu fazia com que os encontros casuais fossem não tão casuais assim e, o pior, era impossível que você realmente me olhasse de volta, mas você olhou.
O detalhe aqui, que provavelmente eu não deveria estar esquecendo, é que você namorou uma amiga minha. Lembra? Andie, do segundo ano. Faz um ano que não somos mais amigas porque, okay, você estava certo aqui também. Ela era um pouco vadia. Mas mesmo assim, eu não deveria estar desejando o ex-namorado dela, certo?
Convenhamos, você também foi um péssimo namorado. Ela tinha seus problemas, mas você... você beirava a loucura em alguns momentos. Tudo bem, era a versão dela da coisa, mas ela me mostrou algumas conversas de vocês na época em que namoraram. E, se tem uma coisa que a vida me ensinou, é que as pessoas podem distorcer a sua imagem, mas ninguém consegue mudar o que você disse.
O que está dito, está dito. Você realmente falou aquelas coisas pra ela, . Essas conversas que vi me deixaram pensativa. Será que você seria assim comigo também? Será que eu seria capaz de lidar com essa intensidade, com essa escuridão que parecia estar sempre à espreita dentro de você? Acho que, no fundo, nós sempre achamos que sim. Sempre achamos que um cara mau só é mau porque não conheceu bondade ainda. Nunca levamos em consideração que talvez ele seja apenas mau porque goste de ser assim. Talvez seja nossa necessidade de fazer com que as pessoas gostem de nós ou talvez nós queremos tanto ser amadas que nos sujeitamos a qualquer tipo de amor. Bom, de qualquer forma, seria diferente com você, certo?
Faz um ano desde que você ameaçou divulgar vídeos dela, você mudou e amadureceu. Não foi?
Você era encrenca. Você andava como encrenca. Você se vestia como encrenca. Você respirava como encrenca, mas, ainda assim, não importava o quão louco você pudesse ser, não importava o quão turbulenta nossa relação imaginária poderia se tornar, eu ainda queria estar perto de você. Porque, no final das contas, você era como uma tempestade que eu sabia que não podia evitar, mas que mesmo assim me deixava curiosa para ver onde me levaria.
Você não era perfeito e estava longe disso, eu entendo, mas quem é perfeito? Você tinha suas falhas, seus momentos de escuridão, assim como todos nós. E, apesar disso, ou talvez até por causa disso, eu ainda me via desejando estar perto de você, explorando o desconhecido, mesmo que isso significasse enfrentar o caos que parecia sempre te acompanhar.
Céus, . A linha entre o certo e o errado nunca pareceu tão borrada quanto agora.
Eu realmente tinha ficado louca.


MOTIVO 4 - VOCÊ LIDAVA COMIGO DE UMA MANEIRA QUE NUNCA NINGUÉM CONSEGUIU.


Em alguns dos motivos eu mencionei que estava sentindo que estava enlouquecendo, certo? Bem, isso pareceu ainda mais real quando comecei a ter ilusões. Quero dizer, não era uma ilusão de verdade, porque a sombra da árvore e a grama do jardim eram reais demais para ser um sonho. Era um daqueles raros momentos de sossego, em meio ao frenesi e ao caos da vida universitária.
Então, se não era uma ilusão, por que diabos você estava em pé na minha frente, segurando seu celular na mão e com aquele sorriso enigmático que fazia o mundo inteiro parecer prestes a desabar?
— O que é isso? — perguntei, curiosa, enquanto ele se sentava perto de mim.
Ele me mostrou a tela do celular, onde uma foto de uma criança loira e pequena estava em destaque. O menino era lindo e tinha brinquedos de Dinossauros ao seu redor, você estava com ele. Vocês eram lindos juntos e você parecia tão, tão infantil. De um jeito bom, é claro, você parecia um menino e não apenas o homem que sempre era.
— Este é Joan — disse ele, com um brilho nos olhos. — Meu sobrinho. Minha irmã me enviou esta foto hoje de manhã. Ele acabou de completar três anos.
Olhei para a foto, observando o rosto adorável da criança e o sorriso travesso nos lábios.
— Ele é tão fofo. Ele parece com você. — comentei, incapaz de conter um sorriso.
assentiu, havia um leve traço de orgulho em sua expressão.
— Ele é o meu pequeno terremoto. Nunca há um momento de tédio com ele por perto. Ele ama Dinossauros, por isso tem tanto verde e folhas espalhados pela tela.
Balancei a cabeça, sentindo e ouvindo o meu coração. Eu nem sabia que dava para ouvir o próprio coração. Você ficou em silêncio por alguns minutos, olhando o celular sem parar. Como se estivesse pensando. Acho que foi a primeira vez que te vi tão de perto. Você tem uma boca linda, . Seu cabelo é bem cortado e até suas sobrancelhas parecem ter sido desenhadas, mesmo você não parecendo muito o tipo de homem que as faz. Sua barba é pouca, mas o suficiente para te deixar ainda mais bonito e os seus olhos.
Puta.
Que.
Pariu.
Os seus olhos.
Eles me faziam esquecer o motivo de você estar sentado do meu lado me mostrando o seu adorável sobrinho, mas, mesmo assim, eu não conseguia me importar e não queria perguntar o porquê de você estar ali. Não queria que minhas perguntas fossem um motivo para você ir embora.
Não queria que você fosse embora.
— O que você está lendo? — Demorei um pouco para lembrar que tinha um livro em minhas mãos, e quando virei a capa, senti minhas bochechas corarem. Eu estava lendo o livro “Por Lugares Incríveis”, não um Shakespeare. Não um Dostoiévski. Nenhum livro que me tornaria mais inteligente aos seus olhos. Apenas... um romance comum entre duas pessoas perturbadas.
— Você já leu? — Minha pergunta soou um pouco boba diante da sua reação. Você franziu a testa, é claro que nunca tinha lido. Você fazia faculdade de matemática, outra coisa na qual nunca entendi você, então era óbvio que não pegaria um romance para passar o tempo livre.
— Eu odeio ler. — Sua resposta me deixou aliviada, embora eu nunca tenha imaginado namorar alguém que odeia leitura. — Eu gosto de jogos.
— Jogos? — Outra pergunta óbvia, parabéns, .
— Aham. — Você tomou o livro das minhas mãos, como se quisesse minha atenção só para você, mas você já tinha toda a minha atenção quando se sentou aqui. — O Kratos disse bola, bola, triângulo e quadrado para a Peach e ela deu um tapa nele. O que ele disse?
Demorei mais tempo do que gostaria segurando minha risada do quão idiota aquilo era. Eu não fazia ideia, mas queria fazer. Queria saber exatamente a razão da sua piada estúpida para que isso fosse nosso assunto por anos. Queria ter meu celular perto para pesquisar, mas não consegui.
— Não faço a menor ideia.
— Eu quero você.
Aquelas palavras não deveriam ter sido tão impactantes para mim, mas foram. Era apenas uma piada, então por que meu rosto estremeceu e minha boca ficou seca?
— Aqui. — Você me entregou o seu celular, fiquei confusa ao ver todos aqueles números. Acho que perdi o senso crítico de pensamento.
— O que é isso?
Você riu da minha desconfiança.
Que sorriso adorável você tem.
— Meu telefone para que você salve seu número nele. Precisa de ajuda para se lembrar dos números? Vamos lá, 1… 7… 9… — Pisquei o olho um pouco rápido no nove, você pegou o celular de volta e digitou o número. — O que? Você não achou que eu atravessaria metade do campus só pra te contar uma piada idiota, certo?
— Por que você quer o meu número? — Droga, , não pergunte, apenas dê o número para ele.
— Porque ter o seu número vai ser o primeiro passo que eu vou dar para ter você. Eu quero você e isso não foi só uma piada.
Fiquei sem palavras por um momento, meu coração bateu tão alto que eu tinha certeza que você poderia ouvi-lo. Era como se o tempo tivesse parado, e só restasse você e eu naquele pequeno universo ao redor.
Você encarou meus olhos, com sua expressão séria, mas carregada de uma determinação que me deixou sem fôlego. E então, quando eu pensei que não podia ficar mais surpresa, você me entregou seu celular, como se estivesse me dando uma parte de você.
Ninguém nunca tinha lidado comigo daquela forma, mostrando abertamente sua vida, sua família, seus interesses, e expressando suas intenções de maneira tão clara e direta. Sem jogos ou sem nenhum interesse oculto por trás disso.
Você não enrolou, não tentou mascarar suas palavras ou seus sentimentos. Você foi sincero, compartilhando seus desejos de forma honesta e transparente. E isso foi algo que nunca tinha experimentado antes. Com ninguém.
Eu não sabia o que dizer, como reagir a essa confissão tão repentina e sincera. Então, eu fiz o único movimento que parecia certo naquele momento: eu peguei seu celular e salvei meu número nele.


MOTIVO 5 - VOCÊ ERA MEU TIPO. E EU NEM TINHA UM TIPO ATÉ VOCÊ CHEGAR.


Todo mundo tem um tipo. Todas as pessoas do universo gostam de algumas características específicas. Alguns gostam de loiras, outros preferem morenas, algumas amam homens altos, outras se encantam pelos baixinhos... Mas eu nunca tive um tipo. Quero dizer, eu normalmente era atraída pelas pessoas sem que elas tivessem algo específico que me chamasse atenção. Não havia um padrão, pelo menos.
Antes de você, eu pensava que "meu tipo" era apenas uma construção social, uma ideia imposta pela mídia e pelos padrões de beleza. Minha atração pelas pessoas sempre foi baseada em algo mais profundo, menos visível. Um sorriso acolhedor, um olhar que transmitisse bondade, uma risada que me fizesse sentir em casa. Mas nada tão específico que eu pudesse colocar em uma lista.
Então, imagine minha confusão quando você apareceu, . Você bagunçou ainda mais essa ausência de critérios. Porque, pela primeira vez, eu me vi atraída por alguém que não se encaixava em nenhum dos "tipos" que eu sequer tinha. Você não era só diferente, era único. Você trouxe à tona sentimentos e desejos que eu nem sabia que existiam.
Você não se encaixava em nenhuma categoria específica, mas se destacava em todas.
Então, sim, você era meu tipo. O tipo de pessoa que entra na nossa vida e a transforma completamente, porque, até você chegar, eu não sabia que era possível alguém ser tão absolutamente perfeito. Mesmo que eu nunca tivesse um tipo de homem antes, você se tornou o padrão pelo qual todos os outros seriam medidos. E, honestamente, acho que ninguém jamais poderia se comparar.


MOTIVO 6 - EU TINHA UMA QUEDA POR CLICHÊS.


Eu sempre achei clichês um tanto quanto embaraçosos, um espaço reservado apenas para comédias românticas e novelas baratas. Mas a verdade é que, no fundo, eu tinha uma imensa queda por clichês.

Aquela ideia de viver uma história digna de filme, com todos os tropeços e momentos previsíveis, me atraía mais do que eu queria admitir. O que isso tem a ver com você? Nada.
E tudo.
Clichê número um: você sempre foi o mais desejado da faculdade. Todas as meninas te queriam e eu era normal demais para ser olhada por você, mas você me olhou. Quando todos os olhares se voltavam para você, o seu olhar encontrava o meu. Não fazia sentido, mas era real.
— Você está bem? — Eu perguntei e você me olhou um pouco confuso. Apontei para a sala de aula que você não tinha sequer entrado hoje. Você deu de ombros, se encostando nos armários enquanto me olhava.
— Não estava muito a fim de ver aula hoje.
Acenei com a cabeça, abrindo e guardando meu material.
— Esse não é o seu armário.
Você me olhou como se soubesse um segredo, com a sobrancelha erguida. Como uma criança prestes a aprontar.
— Eu paguei trinta dólares por ele. Agora é.
— Você sabe que os armários são gratuitos, certo? — Você riu. Aquele sorriso que tornaria qualquer dia péssimo em um ótimo dia.
— Precisa dizer isso ao Peter então.
Dessa vez fui eu quem sorriu.
— Por que você comprou um armário sendo que já tinha o seu?
— Porque o meu não era perto do seu. Se trinta dólares é o preço que tenho que pagar para falar contigo todos os dias, eu ainda acho um valor absurdamente barato perto do quanto você vale. — Vamos, quero te levar em um lugar.
Clichê número dois: o bad boy com um coração de ouro. Você tinha aquela aura de mistério e perigo, algo que atraía todos, mas ninguém parecia entender o que realmente se passava por trás daqueles olhos profundos. Eu, no entanto, via além das aparências. Percebia a vulnerabilidade escondida, o garoto que se importava profundamente com sua família e com os poucos amigos verdadeiros que tinha. Você me mostrava esse lado, e eu me sentia privilegiada por ver quem você realmente era.
— Se você pudesse escolher cinco pessoas para levar a uma ilha, quem seriam?
Você olhou para o teto, pensando um pouco.
— Joan, com certeza. A minha avó, porque eu a amo. Sofia também. — Você ficou quieto por mais alguns segundos e eu ri. Sofia era a sua cachorrinha de estimação e tinha recebido esse nome graças a Joan, porque um dia ele assistiu a princesa Sofia e ficou fascinado. Você me contou isso também. — E você. Ignorei o arrepio que veio em minha pele quando você me citou.
— Você ainda pode escolher uma pessoa.
— Eu já tenho tudo que é suficiente pra mim nas quatro pessoas que citei.
— Tecnicamente Sofia não conta como uma pessoa.
— Ela vale mais do que muitas pessoas, se quer saber.
Eu ri, porque era exatamente o tipo de resposta que esperava de você. Você me olhou com um sorriso satisfeito, como se soubesse exatamente o que estava fazendo, como se tivesse planejado aquele momento para me fazer sentir especial.
E funcionou.
Clichê número três: você partiu todos os corações que já se apaixonaram por você. Você era bonito e tinha todo aquele ar de confiança, o que combinava com o fato de você ser tão desejado. E você não perdia nenhuma das oportunidades que caiam no seu colo. Você era famoso por já ter ficado com praticamente metade da faculdade. Te conheciam no segundo, no terceiro e no quarto ano. Claro, você não as iludia, mas no fim todas choravam por você. O mais ridículo é que ainda assim eu sabia que você também partiria meu coração em algum momento, eu não me considerava tão especial ao ponto de me tornar uma exceção, mas eu não era nem um pouco racional em relação a você.
— Você prestou atenção em algo do que falei?
— Não. — Te olhei incrédula. — Você é bonita demais. Isso tira minha atenção. Gargalhei de forma fingida, até mesmo com um pouco de desdém.
— Você já deve ter dito isso para várias.
— Sim, mas só agora estou sendo sincero.
Clichê número quatro: você era o moreno sarcástico com um passado sombrio. E só Deus sabe o como esse tipo de homem era o meu favorito.
— Você não citou sua mãe, seu irmão ou o seu pai. — Tentei fazer com que meu comentário curioso ficasse menos invasivo, mas você pareceu não ligar.
— Você perguntou quem eu levaria.
— Por não levaria eles? — Eu sabia a história, você era filho de um bancário e seus pais eram divorciados, mas era só isso. Ninguém parecia te conhecer bem ao ponto de saber mais que isso.
— Minha mãe não teria nenhuma necessidade para que eu suprisse, meu irmão iria me irritar e meu pai… Nós nunca nos damos muito bem quando estamos juntos no mesmo lugar. Tipo água e óleo.
Eu quis perguntar mais, mas tinha aprendido algo sobre você; você só respondia o que queria. Quando queria. Não importava o quanto eu insistisse.
Eu tinha uma queda por clichês, e você, , era a personificação de todos eles. E, estranhamente, isso me fazia feliz.


MOTIVO 7 - O SEU TEMPERAMENTO.


Entramos em um tópico sensível porque, não importa o quão perfeito alguém pareça, sempre há algo intrigante sobre a pessoa que pode fazer você dar muitos passos para trás. E isso ficou evidente aqui. Quando você me disse sobre seu TEI, confesso que não entendi completamente na hora, mas assim que cheguei em casa, mergulhei na internet em busca de tudo o que pudesse sobre o assunto. Eis o que descobri:
Transtorno Explosivo Intermitente (TEI), como descobri, é uma condição marcada por episódios recorrentes de explosões de raiva e comportamento agressivo, muitas vezes desproporcionais à situação. Pode envolver gritos, insultos, ameaças e até mesmo violência física. A pessoa que sofre com o TEI pode parecer calma e controlada na maior parte do tempo, mas é como se houvesse uma tempestade interior pronta para se desencadear a qualquer momento.
Acho que, no começo, não levei a sério. Nunca te vi irritado, você era apenas... indiferente. Não preciso dizer que não demorou mais do que algumas semanas para testemunhar uma explosão sua. E, de repente, tudo começou a fazer sentido. As histórias que ouvi, os rumores que circulavam sobre você, tudo se encaixava. E só Deus sabe o quanto eu não quis ver isso. Era mais fácil ignorar os sinais, acreditar na versão idealizada que eu tinha de você. Mas a realidade sempre encontra uma maneira de se impor, não importa o quanto tentemos evitá-la.
— Peter Hennick. — Acho que foi com esse Peter que você trocou seu armário. Aparentemente seu interesse por mim se espalhou, sendo compartilhado com outros homens da nossa faculdade. Estendi as mãos, cumprimentando o garoto. Ele era bonito, bem bonito.
. — Devolvi. Ele me encarou de cima para baixo, mas não foi desrespeitoso, na verdade ele até se esforçou para disfarçar. Como se apenas esperasse a deixa, ele se aproximou de mim, colocando as mãos na minha cintura e se inclinando para me dar um beijo na bochecha.
Eu não sei de onde você saiu, mas você saiu com muita raiva.
Seus olhos estavam sombrios, seu rosto estava vermelho. Foi a primeira vez que tive medo de você, .
— Não toque nela. — Aparentemente Peter não sabia sobre o seu transtorno, aparentemente ele não tinha medo de você. As mãos dele apenas continuaram em minha cintura, com um sorriso cínico nos lábios. Provavelmente foi a pior decisão da vida dele. — Eu disse para tirar a porra das mãos dela.
Eu não consigo lembrar como aconteceu, mas quando vi, ele estava no chão.
Sangrando.
— Saia de cima dele! Você vai matá-lo! — Eu gritei, te puxando com desespero. Várias pessoas pararam o que estavam fazendo e se amontoaram ao nosso redor. — Merda, ele não fez nada.
— Eu mandei ele não tocar em você.
— Você não é meu dono, . — Eu me ajoelhei no chão, ao lado de Peter.
Eu ajudei o Peter porque estava com muita raiva de você para te olhar. Eu não queria te encarar porque eu própria não sabia lidar com a situação. Você não era assim, você não era violento sem motivo.
Mas e se fosse?
São necessários quatro caras para tirar você de cima de Peter.
Você levantou, me olhou e foi embora. Eu não te disse, mas você deixou o seu caderno naquele dia. Quando cheguei em casa, apesar da raiva que eu estava, fui bisbilhotar. Achei as suas notas e talvez você nunca saiba, mas eu as li.
Sou quebrado.
Defeituoso.
Ela sabe.
Eu avisei.
Ela nunca vai me amar.
Ninguém ama.
Todos vão embora.
Foi a primeira vez que chorei por você. Desesperadamente. E eu nem sabia se chorava pela visão que você tinha de si mesmo ou porque eu soube, naquele maldito momento, que não importava quantos transtornos você tivesse. Eu queria estar ao seu lado em todos eles.
Eu nunca vou embora.
O mais dolorido nisso tudo, é que eu cumpri minha promessa, foi você que foi embora.


MOTIVO 8 - VOCÊ ME TORNAVA IRRACIONAL.


Você tinha esse dom de me fazer sentir coisas que eu nunca achei que sentiria. Era como se sua presença tivesse o poder de desequilibrar todas as minhas certezas. Todos os argumentos racionais que eu construí para ficar longe de você após sua agressividade desmoronam completamente quando você se aproxima de mim, sorrindo.
— Precisamos conversar. — Tento ignorar o seu tom de voz rouco e baixo. Tento ignorar as reações que eu tinha, mas você as sentia, não é?
— Agora não, . — Eu gostava do seu sobrenome, da forma que trazia a realeza com ele, mas nunca tinha te falado um não. Quando eu falo ‘não’ e seu sobrenome na mesma frase, parece que estou me traindo. Te traindo.
— Por favor. — Viro para te olhar, você está com os olhos vermelhos e cheiro de álcool. Suspiro e vou com você, pra onde quer que você precise.
— Por que você fez aquilo? — Eu não quis ser grossa, eu nunca queria ser grossa com você.
— Eu não sei. Às vezes eu só… perco o controle. É como se minhas ações estivessem sob meu domínio em um momento e no outro não estivesse mais. Não queria assustar você. — Você soa tão sincero, tão sensível. Talvez fosse o álcool, talvez fosse você, mas com certeza isso me amolecia.
— Não faça mais isso, por favor. — Você não prometeu que faria, ao invés disso você me puxou e me beijou. Lentamente, apaixonadamente, como se sua boca precisasse da minha tanto quanto eu precisava de você. Queria você.
— Meu pai foi embora quando eu tinha oito anos. — A revelação me pegou um pouco de surpresa, mas você não me soltou. Ao invés disso senti apenas o seu hálito quente com cheiro de cerveja. Você bebia muito pra alguém da sua idade. — Ele brigou com a minha mãe, eu ouvi os gritos e, quando ele disse que ia embora, me escondi no banheiro. Achei que se eu me escondesse, se ele não conseguisse se despedir de mim, ele não iria embora. Eu quis que ele não fosse. Meu irmão tinha seis anos, minha mãe se afundou em depressão, eu tive que lidar com todas as merdas da casa, mas só conseguia pensar que queria o meu pai. — Senti um nó na garganta se formando. Eu odiei o seu pai com tanta força. Te abracei, puxando-o mais pra perto de mim. Acariciando seu cabelo. Tentando, desesperadamente, mostrar que eu estava ali. — Quando te vi ontem com aquele cara, foi a primeira vez que senti tudo aquilo de novo. Achei que fosse te perder.
— Você não vai me perder.
— Você não pode prometer isso.
— Eu posso. Eu não vou embora.
— Me conte algo sobre você. Algo que ninguém sabe. Algo que ninguém tenha.
— Farei melhor, eu vou te dar algo que ninguém nunca teve ou terá.
Pensei um pouco, mas a única coisa que consegui foi buscar a tua boca novamente.
Era frustrante e ao mesmo tempo intoxicante, como se eu estivesse sendo arrastada por uma correnteza que não podia controlar. Você me fazia questionar minhas próprias decisões, meus próprios limites, e isso me assustava. Eu sempre fui uma pessoa que valorizava o controle e a lógica, mas com você, eu me encontrava agindo impulsivamente, seguindo emoções que eu sequer entendia. Você não despertava em mim apenas um lado que eu mal reconhecia, você despertava em mim um lado que eu abominava. E, no fundo, eu sabia que isso me assustava tanto quanto me atraía.


MOTIVO 9 - EU ERA UMA PESSOA DIFERENTE QUANDO ESTAVA COM VOCÊ.


— Sabe o que falta em você? — Você me perguntou, com um sorriso que beirava a insanidade. Eu amava e morria de medo quando você sorria assim. — Adrenalina. Vem.
— Pra onde? — Eu tinha isso, eu tinha esse medo de que tudo fosse dar errado. Eu precisava saber pra onde eu iria, o que iria acontecer, eu precisava ter controle. Você raramente me dava controle.
— Pra o terraço. — A resposta foi simples e antes que eu pudesse raciocinar, você me puxou pra cima de você, me fazendo ficar em pé. Você colocou os lábios sobre minha boca em um beijo rápido, me inebriando com o meu vício e eu te segui.
Quando chegamos, todo o meu corpo estremeceu, minha barriga parecia tremer incansávelmente. Era muito alto.
Suas mãos não soltaram as minhas, seu sorriso não saiu dali. Você se aproximou do parapeito e subiu, me fazendo temer pela sua vida. Você caminhou ali, a centímetros da queda, eu fiquei tão desesperada.
— O que você está fazendo?
— Sobe. — Você não pediu, você não questionou, você meio que mandou. E eu meio que obedeci, mesmo com todo o medo dentro de mim. — A gente vai morrer.
— Eu já estou morto, baby. — Eu odiava esses momentos. Esses momentos sombrios em que você deixava transparecer o quão sem esperança você era. Não só pelos momentos, mas por mim. Eu tentava te deixar feliz, mas você sempre voltava para a sua escuridão em um momento ou outro.
— Isso é loucura. — Resmunguei, descendo de lá de cima. Você pulou, em seguida veio atrás de mim, impaciente.
— Você é muito chata.
— Chata? Se a gente cair, a gente pode morrer.
— Então é só não pisar em falso. — Seu sorriso era sarcástico, vazio, mas ainda conseguia ser lindo. Como você podia ser tudo que eu queria mesmo quando demonstrava tudo que eu não queria? — Anda, não vamos transformar isso em uma briga. Vem aqui.
Você me pegou, dessa vez com mais delicadeza, e me voltou para o parapeito, mas não me fez subir nele. Ao invés disso, você se colocou atrás de mim, suas mãos deslizaram pela parte interna das minhas coxas, sua boca se colou ao meu ouvido, e meu corpo inteiro se arrepiou.
Lá estava você, de novo, controlando o meu corpo.
— Olhe para baixo. Está vendo como tudo é tão pequeno, tão passageiro? Você não é, baby. Você está aqui de cima, olhando pra todos eles, grande como é. Não tenha medo de assumir isso, okay? — Por mais sem sentido que isso soasse, eu acreditei em você. Nas suas palavras. — Olhe para baixo.
Eu olhei. Eu olhei para o mundo lá embaixo, para as pessoas andando como formigas, para os carros que pareciam brinquedos. E, por um momento, eu me senti invencível. Eu me senti maior do que qualquer medo que eu tivesse. Você estava lá, comigo, me segurando, me fazendo sentir como se pudesse conquistar o mundo.
Você era a personificação de tudo que eu temia e de tudo que eu desejava. E eu não conseguia decidir se isso era uma bênção ou uma maldição.
Mas uma coisa era certa: eu não podia imaginar minha vida sem você.
— Sabe o que é mais triste em viver uma vida segura?
— O quê?
— Nunca saber como é realmente viver. Eu sei que você tem muitos medos, todo mundo tem, apenas seja maior que eles. Se veja grandiosa como você é.
— Você é maluco.
— E você adora isso.
Eu não podia negar. Eu adorava. Adorava a forma como você me fazia sentir viva, como você me fazia querer mais da vida.
— Promete que nunca vai parar de me empurrar para fora da minha zona de conforto? — perguntei, olhando para você.
— Prometo. — você disse, antes de me puxar para um beijo.
O beijo foi longo, profundo, cheio de promessas silenciosas e revelador.
Com você, eu sempre seria uma versão melhor de mim mesma. Porque você me fez querer mais. Mais do que eu jamais achei que poderia ter. Mais do que eu jamais achei que poderia ser.
Percebi que, com você, eu sempre seria uma versão melhor de mim mesma. Porque você me fez querer mais. Mais do que eu jamais achei que poderia ter. Mais do que eu jamais achei que poderia ser.
E, por isso, eu te amei. Porque você me fez ver o mundo de uma forma diferente.
E eu não queria voltar a ser quem eu era antes de você.
Não era estar no topo do prédio que me fazia sentir grande, era você.


MOTIVO 10 - VOCÊ ME FEZ ACREDITAR QUE EU PODIA TE CONSERTAR.


Você me fez acreditar que eu podia te consertar. Que, de alguma forma, meu amor poderia curar todas as suas feridas e apagar todas as suas sombras. Talvez fosse ingenuidade, ou talvez fosse a esperança desesperada de uma garota que se apaixonou por um bad boy. Mas, de qualquer forma, eu realmente acreditei.
— Minha mãe foi pra festa. Mais uma delas. — Seu riso era sarcástico, mas dolorido. Estávamos no seu quarto quando você me contou isso. Você estava tão vulnerável que eu sentia como se pudesse quebrar. — Eu cuido de tudo, eu pago as contas dela, eu tento fazer o meu irmão estudar e ela está em festas. Não sei quanto tempo suporto isso.
— Você não precisa ser forte o tempo todo, . — eu sussurrei. — Você pode se permitir ser vulnerável comigo. Eu estou aqui para você.
Você fechou os olhos. E, segurando sua mão, eu senti que poderia realmente te ajudar, te curar. Que meu amor seria suficiente para afastar todos os seus demônios.
— Eu não quero te machucar, Sam. — você disse, sua voz carregada de dor.
— E você não vai.
Mas a realidade, como eu descobriria mais tarde, era bem diferente. Você tinha feridas profundas que nem todo o amor do mundo poderia curar. Havia noites em que seus pesadelos te assombravam, e eu ficava acordada ao seu lado, segurando sua mão, tentando afastar seus medos com minha presença.
— Por que você ainda está aqui? — você perguntou, a voz rouca de cansaço.
— Porque eu te amo. — eu respondi, sem hesitação. Eu te amava, eu realmente te amei tanto que soube o verdadeiro significado da palavra.
Você me puxou para um abraço, e naquele momento, eu senti como se estivéssemos lutando a sua batalha juntos, como um casal.
— Eu não sei se mereço isso. — você sussurrou no meu ouvido.
— Todos merecem ser amados, . — eu disse, segurando seu rosto entre minhas mãos. — Eu queria que você pudesse ver o que eu vejo em você.
Você ficou em silêncio por um longo tempo, apenas segurando minha mão. E eu percebi que, apesar de todo o meu amor, de todos os meus esforços, havia uma parte de você que eu nunca poderia alcançar completamente. Mesmo assim, eu continuei acreditando. Continuava esperando que, um dia, você pudesse ver a luz que eu via em você. Que pudesse acreditar em si mesmo tanto quanto eu acreditava.
Mas a verdade era que eu não podia te consertar. Ninguém podia. Isso era algo que você precisava fazer por si mesmo. Eu podia estar ao seu lado, te apoiar, te amar, mas não podia ser a solução para todos os seus problemas. Por mais que eu quisesse e tentasse.
Houve uma noite em particular, onde tudo ficou mais claro. Você tinha tido um dia ruim, e estava mais distante e sombrio do que o habitual. Eu tentei, desesperadamente, alcançar você. Fiz seu jantar favorito, coloquei a música que você amava, tentei todas as pequenas coisas que costumavam te animar. Mas nada parecia funcionar.
, por favor, fale comigo. — eu implorei, sentindo as lágrimas nos olhos. — O que está acontecendo? Eu estou aqui, eu quero te ajudar.
— Você não pode me ajudar, Sam. — você respondeu, com uma amargura que cortou meu coração. — Algumas coisas são minhas para lidar sozinho, caralho. Para de ser tão sufocante.
— Mas você não precisa fazer isso sozinho! — eu insisti, acho que a dor em minha voz era inegável. — Eu estou aqui, eu quero estar ao seu lado, não importa o que aconteça.
Você me olhou então, com uma intensidade que me fez tremer. Com os olhos sombrios como quando bateu no Peter.
— Isso não é algo que você pode consertar, Sam. Eu sou quebrado, e não importa o quanto você tente, você não pode me consertar. Você acha que é o que? Que é a porra de uma heroína que vai abrir as pernas pra mim e meu dia vai melhorar? Você não é. Acha que é diferente? Que você vai transformar o monstro em príncipe? Pare de ser tão ingênua. Você não pode consertar tudo. Algumas coisas não tem conserto, . Lide com isso.
Aquelas palavras me destruíram. Eu queria tanto ser a cura para sua dor, ser a luz na sua escuridão. Mas ali, naquela noite, eu percebi a dura verdade: você realmente estava muito, muito, quebrado.
— Podemos fazer isso funcionar se nos esforçarmos juntos. — Eu falei, numa tentativa desesperada de fazer você voltar atrás. Mas você, , não cedia. Não recuava um passo sequer.
— Você não entende. Não posso mudar quem sou. Não posso te dar o que você quer se isso não estiver em mim. , eu não quero te machucar. Mas não posso prometer que não vou.
Mas o pior? Eu ainda achava que podia te consertar. Você não era só explosão, só raiva e só impulsividade. Você era bom também, tinha que ter alguma coisa que eu pudesse fazer pra só trazer seu lado bom. Talvez, no final das contas, a verdade era que eu precisava acreditar nisso. Porque aceitar que eu não podia te salvar e que o amor nem sempre é suficiente, era simplesmente insuportável.


MOTIVO 11 - SUA MAIOR PROVA DE AMOR


O spoiler da vida adulta é que você foi, mas eu fiquei. E eu te amo por você ter ido porque, depois de um tempo, tudo desandou muito rápido. Tudo ficou tóxico muito rápido. Eu me vi dependente de você, anestesiada por você. Não é normal, não é natural uma pessoa se sentir anestesiada por outro.
Quando eu estava com você, eu não sentia mais nada que acontecia ao meu redor. Eu não sentia o peso da vida na faculdade, eu não sentia a dor dos problemas familiares, eu me afastei de todos e tudo tornou sobre você. Até hoje não sei se a culpa foi sua, ou minha.
Acho que, no fundo, tenho noção que você não me obrigou a nada. Nunca mentiu pra mim ou escondeu quem você era. Eu quis ficar mesmo assim, eu quis tentar mesmo assim, e esse é o meu maior motivo pra te amar.
Você viu que eu não iria embora, .
Você viu isso, então você foi.
E sua partida ainda dói, porque eu não aprendi a lidar com nada sem você. Eu não queria lidar com a vida sem você, mas eu precisei. Você me mostrou seu amor de várias formas, me protegendo dos boatos que eu tinha traído a Andie, brigando com pessoas para que elas não falassem algo ruim sobre mim, me levando a jantares românticos, me deixando entrar no mais vulnerável espaço da sua mente, me dando experiências únicas, me colocando no mais alto níveis de esperança… Me beijando e tocando da forma que só você conseguia, mas a maior prova de amor que você podia demonstrar por mim foi ter ido embora.
Você foi embora porque eu não iria.
Você me afastou, não para evitar a dor, mas para me poupar do inevitável colapso que nosso amor traria.
No fundo, você sempre soube que não existe anestesia capaz de entorpecer o coração para sempre. Era o que você sempre dizia, a anestesia sempre é temporária, não importa o quanto tentemos fugir, a dor nos encontra. E ela me encontrou. A diferença é que, dessa vez, você não estava aqui para me amparar. Agora, estou sozinha, encarando os demônios que você tentou esconder.
O seu adeus foi o nosso fim, mas o meu começo.
Bom, o seu Adeus é o meu novo Olá.
E, ironicamente, esse adeus abriu meus olhos para uma verdade inescapável: algumas feridas nunca cicatrizam, mas nos transformam
É, o adeus realmente é um novo olá.




Fim



Nota da autora: Essa fic foi dolorida, primeiro pelo tempo que eu não tinha, segundo por ser beseado em fatos reais e, terceiro, por ter motivos inspirados em um dos meus livros favoritos. Esse não é com amor, Charlie, mas é um com amor, . Espero que gostem e comentem bastante porque isso me ajuda a saber o que acharam e me motiva a escrever mais ficstapes e histórias curtinhas assim, já que vocês sabem que sou das longfics!





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