Capítulo Único
Eu sabia que ele ficaria furioso. Na verdade, eu tinha certeza de que ele iria pagar alguém para me matar enquanto eu dormia. Para minha surpresa, ele não o fez. Eu começava a me perguntar se ele não sabia que o filme era sobre nós. Sobre a nossa história. Eu praticamente coloquei nossos nomes, como ele poderia esquecer tudo o que nós passamos? Eu sabia que era apenas uma aventura de verão para ele ficar longe de toda a atenção, mas, mesmo assim, eu sabia que o que nós sentimos tinha sido forte. Tão forte que a única maneira que eu encontrei para seguir em frente foi colocando tudo no papel, como costumava fazer quando eu era mais nova.
Era um livro de 435 páginas, 115 páginas de um script e duas horas e meia de filme. Meu rosto estava em toda parte, meus livros estavam em todas as lojas e os cartazes eram exatamente como a última foto que eu tinha de nós dois juntos. Como ele poderia não perceber? Ele, provavelmente, tinha visto. Se o fez, estava fazendo um ótimo trabalho em me ignorar e fingir que nunca aconteceu.
Eu não fiz para me vingar dele. Pelo contrário, eu só queria colocar tudo para fora de uma vez para que o sofrimento fosse embora. Eu queria seguir em frente de todos os bens e males que ele me causou.
Eu nunca esperava que a nossa história fosse publicada, mas Hayley tinha que quebrar seu notebook, pedir o meu emprestado e clicar sem querer no arquivo do Word e lê-lo, em vez de fazer o trabalho de Escrita Criativa dela. E o pior disso, ela tinha que gostar e insistir para que eu mostrasse ao professor Thompson, em vez do texto que eu tinha feito antes das férias – que, segundo ela, não tinha nem um pouco de emoção e parecia ter sido criado por um robô. Porém, com a mesma insistência que ela tinha pedido para que eu mostrasse, eu tinha para recusar a ponto de deletar o arquivo na mesma hora, o que fez com que Hayley saísse do dormitório soltando fogo pelas narinas.
Eu sei, eu deveria contar tudo para ela, mas a ferida ainda estava aberta, e eu queria poder não chorar durante todo o processo.
Hayley não apareceu no dormitório naquela noite. Isso fez com que eu sentisse uma pontada de culpa e decidisse contar tudo para ela depois da aula. Entretanto, quando Hayley entrou na aula de Escrita Criativa com um sorriso malicioso no rosto, eu sabia que ela tinha aprontado uma e das grandes. Eu sabia que ela ia fazer algo a respeito; Hayley nunca dava o braço a torcer até que tivesse o que ela queria. Humilhação pública, no entanto, não era exatamente o que eu tinha em mente.
Logo depois que Hayley terminou de ler o texto, o Professor Thompson perguntou:
- Você escreveu isso, senhorita ?
- Em minha defesa, eu não sabia que Hayley ia fazer isso.
- Está terminada?
- Não, mas do que importa? Essa história não era para ser lida, ela...
- Por quê?
- Por que o quê?
- Essa história não era para ser lida.
- Oh, bem, o meu texto era outro. Aquele que eu li antes... Aquele era o certo. Esse, definitivamente, é o errado.
- Certo? Errado? Escrita Criativa não é sobre o certo ou o errado. É sobre sentimento, sobre as emoções que o autor pode passar para os leitores e, se Hayley não tivesse dito, eu nunca iria adivinhar que você tinha escrito.
- Por que não?
- Porque o primeiro parece ter sido ter sido escrito por um robô. Não tem sentimento. – Ele se virou para a classe. – Quem acha que o segundo texto é melhor do que o primeiro, levante a mão. – E, para a minha surpresa, todos da sala levantaram. – Por hoje, é só, classe. Vocês estão liberados. Menos você, , e você também, senhorita Hayley.
Fuzilei Hayley com os olhos, e ela apenas deu de ombros.
- Está feliz agora? – Perguntei, olhando para ela.
- Animadíssima. – Hayley cruzou os braços e riu.
- Você acha que isso é uma brincadeira? Você acabou de pegar algo pessoal, sem a minha autorização, e leu para toda a classe.
- Eu não sei porque você está fazendo um escândalo.
- Não sabe? Você acabou de me humilhar na frente de todo mundo.
- Humilhar? – Professor Thompson disse, interrompendo-nos. – Essa não seria a palavra que eu usaria. – Ele se encostou em sua mesa. – Você já pensou em ser escritora, ?
- Mas é claro. Esse sempre foi o meu sonho.
- Eu percebi. Sua escrita é impecável, umas das melhores que eu já vi.
- Obrigada.
- Porém, falta o principal.
- Você acabou de dizer que a escrita dela é impecável.
- De que adianta ter a técnica adequada quando se falta sentimento? Tudo o que você escreve, , é de encher os olhos, mas não enche o coração. Esse texto que Hayley trouxe deveria ser o texto que você deveria trazer. – Ele se aproximou de mim. – Pela primeira vez, você mostrou que, perdoe o uso da palavra, não é um robô e tem sim um coração. – Abaixei a cabeça. – Qual o nome dele? – Levantei a cabeça. – Dela?
- Como...
- Eu conheço uma decepção amorosa quando vejo uma. Eu não era exatamente o galã do colégio, mas isso não vem ao caso. Eu quero te fazer uma pergunta.
- Se eu quero ser sua monitora? A resposta é sim.
- Não é bem o que eu tenho em mente. – Ele riu. – Você quer publicar um livro?
- O quê?! – Não sei ao certo quem gritou mais alto, mas sei que Thompson precisou tampar os ouvidos. – O senhor não pode estar falando sério.
- Na verdade, eu nunca falei tão sério na minha vida. Eu tenho um ótimo sentimento sobre isso e acredito que você pode ir muito além. Se, é claro, você continuar essa história.
- Eu não sei.
- Imagine sua história sendo publicada e lida por milhares de pessoas. Não é esse o sonho de todo escritor? Você tem a oportunidade em suas mãos e você tem talento. Jogar isso fora só porque está com medo seria pura burrice.
- Imagine isso, . – Hayley falou, fazendo com que eu me virasse para ela. – Não foi isso que você sempre quis?
- Então, o que vai ser?
Olhei para Hayley e, depois, para o professor. Era uma proposta tentadora; mais do que isso, era o meu sonho esperando bem ali para ser realizado. Eu seria muito burra de não aceitar.
- Eu...
- Ah, não, eu conheço essa cara. – Hayley me interrompeu. – Você realmente está pensando no que esse idiota, que fez a maior merda do mundo com você, diria sobre isso? Você vai deixá-lo te impedir de realizar seu sonho?
- Quem foi que te disse que ele fez merda?
- Ninguém vai para o Caribe e volta com essa cara de quem voltou de um velório. Nem você, , a robôzinho da família.
- Eu não sou nenhum robôzinho.
- Há quem pense que sim.
Olhei para o senhor Thompson.
- Oh, não olhe para mim. Eu não sou sua melhor amiga, eu sou seu professor. Porém, se eu fosse falar alguma coisa, eu diria que Hayley está certa.
- Está vendo? – Olhei para ela de novo. – Pela primeira vez na sua vida, você fugiu da sua zona de conforto e algo bom aconteceu com você. Ok, não terminou do jeito que você queria, mas, mesmo assim, você viveu. Eu acho muito egoísta da sua parte não mostrar para o mundo a quão talentosa você é.
Eu detestava com todas as minhas forças quando Hayley me dava uma lição de moral, porque, na maioria das vezes, ela estava absolutamente certa. Olhei para Thompson e, depois, para Hayley. Para o inferno, que mal teria nisso?
- Eu aceito.
Não me arrependia nem um pouco de ter dito sim. Na verdade, eu não estava em posição de dizer não. Eu ainda estava morando com meus pais e não tinha um emprego. Além disso, publicar um livro era o meu sonho. A pior coisa que poderia acontecer era alguém descobrir que a história estava longe de ser ficção e, sim, era sobre eu e aquele cara famoso, daquela banda, que tinha um dos sorrisos mais lindos que eu tinha visto.
Depois que eu aceitei a proposta do professor Thompson, menos de seis meses depois, eu já estava com o livro pronto. Doía ainda um pouco escrever sobre aquilo, porém, toda vez que eu parava e dizia que não dava mais, Hayley me segurava pelos ombros e fazia uma lista de prós e contras. Você já sabe que os prós sempre ganhavam.
Tudo aconteceu tão rápido depois que eu entreguei o manuscrito para a editora. Quando eu percebi, a editora já estava me mandando uma cópia e, no mês seguinte, ele já estava no topo dos mais vendidos. Hayley fez questão de me arrastar para uma festa em minha homenagem e me fez beber e dançar a noite todinha. Hayley era uma boa amiga e era por esse motivo que eu sempre a mantinha por perto; mesmo sendo tão diferentes uma da outra, havia algo nela que me completava e vice-versa. Depois que ela leu o livro, ela entendeu o porquê de eu não contar tudo para ela, até porque, quando ela terminou, seus olhos estavam mais vermelhos do que uma pimenta. Eu até me lembro que ela disse que iria pegar o primeiro voo para encontrá-lo e dar um soco no meio da cara dele. Antes que ela pudesse chegar à porta, o telefone tocou e, a partir daí minha vida mudou mesmo.
Eu devia estar bêbada quando aceitei, porque, na manhã seguinte, eu me arrependi. E se ele visse? E se ele não gostasse das coisas que eu disse? Especialmente as coisas que eu disse sobre ele... Era sim a minha história, mas, principalmente, era a minha história com ele. Ele tinha todo o direito de não gostar das coisas que eu tinha a dizer sobre ele, ainda mais quando tudo havia acabado da pior maneira possível.
Mas não. Nem uma ameaça de morte, nem uma ameaça de processo, nem nada. Por mais que eu não quisesse admitir, eu esperava alguma coisa. Ele sempre tinha algo a dizer, por que ele estava tão quieto sobre isso agora? Provavelmente, porque você não era tão especial, pensei, enquanto colocava mais pipoca na boca.
Passaram-se dois anos desde que minha vida mudou completamente. Eu tinha meu próprio apartamento e, de fato, tinha um monte de dinheiro – mais do que eu esperava, para ser sincera. Eu estava escrevendo meu segundo livro, uma história completamente diferente do primeiro. Terminei a faculdade no topo da minha classe e, até mesmo, recebi uma proposta para dar seminários para jovens escritores. Eu tinha tudo que eu nunca esperava ter e, mesmo assim, eu tinha certeza de que algo estava faltando. Eu entendia o que era, e eu tentei namorar outros caras. Acredite, eu tentei. No entanto, em todas as vezes que tentaram tirar proveito de mim ou, pior, perguntar se o que aconteceu no livro era verdade, eles simplesmente não eram mais atraentes. Essa pergunta despertava alguma coisa dentro de mim. Por isso, mais uma vez, aqui estava eu, comendo meus sentimentos por causa de outro relacionamento que não deu certo. Eu gostava dele, mas ele tinha que fazer a pergunta, aquela que fez com que eu não gostasse mais dele.
E, agora, mais do que nunca, eu estava convencida de que eu definitivamente morreria sozinha, como Jane Austen. “A mulher que amou um homem e um homem apenas e nunca pode tê-lo, por isso começou a escrever livros” não parecia ser um destino horrível, se pensar sobre isso.
A campainha ecoou pelo apartamento, o que era estranho, já que Stan não me avisou que alguém estava subindo. Coloquei a pipoca em cima do sofá e caminhei até a porta, mas, no segundo em que a abri, desejei que eu não o tivesse feito. Parado no corredor, estava o motivo que fez todos os meus relacionamentos falharem.
Ele parecia exatamente como eu me lembrava. Os cabelos estavam mais compridos, mas os olhos continuavam os mesmos, daquele mesmo tom esverdeado. O maxilar marcado indicava que ele estava se segurando para não explodir de raiva. Tudo bem, ele tinha todo o direito de estar chateado, mas eu também tinha. E sabe o que era o pior de tudo? Foi quando aqueles olhos me encararam, e eu podia jurar que ele estava lendo minha mente. Ah, não. Não. Desta vez, eu não deixaria que ele me machucasse novamente.
- Você está dois anos atrasado. – Eu tentei empurrar a porta, mas ele era mais forte. Um segundo depois, ele estava dentro do meu apartamento, fechando a porta atrás dele.
- Você vai me ouvir. – Ele disse, aproximando-se.
- A única coisa que eu vou ouvir será o som de policiais quando eles te prenderem. – Eu tenho que admitir, eu estava com um pouco de medo dele, mas eu não podia perder o que tinha sobrado do meu sarcasmo.
- Você não vai chamar ninguém. – Senti minha bunda encostar na mesa, tendo a certeza de que eu estava encurralada e, por mais que eu quisesse fugir (o que eu não queria), não teria como. – Isto é entre eu e você. Você sabe do que se trata, você sabe porque eu estou aqui.
- Eu acho que eu me perdi nesse espaço de dois anos, porque eu realmente não faço ideia do que você está fazendo aqui.
- O livro.
- Que livro? – Eu não sabia de onde eu estava tirando toda essa coragem e esse cinismo, mas estava funcionando, porque, pela primeira vez em anos, ele não conseguia ler minha mente. Eu via que isso estava deixando-o mais irritado.
- O que você escreveu.
- Está no topo dos best-sellers e ganhou uma adaptação para o cinema.
- É sobre nós?
- É uma história de ficção. – Eu simplesmente não sabia o que eu estava fazendo, mas me fazer de louca parecia a melhor opção.
- É a nossa história. – Saiu mais como uma afirmação do que como uma pergunta.
- Eu não sei do que você está falando.
- Porra, ! – Ele bateu na mesa atrás de mim. – Por favor, não minta para mim. O livro... É sobre nós?
- Sim. – Falei, abaixando a cabeça.
- Por que você fez isso?
- Eu não sei.
- Você fez para se vingar de mim?
- É claro que não. Eu só precisava colocar tudo para fora, sabe? Do mesmo jeito que você escreve músicas, eu escrevo histórias.
- Então você decidiu escrever a nossa história e vender para o mundo?
- Não, eu não esperava que alguém visse. Eu não esperava que as coisas tomassem essas proporções. Eu morava com meus pais, eu não tinha um emprego... Eu vi uma oportunidade e eu a peguei. Eu não me arrependo.
- É claro, você não é o vilão da história.
- Você também não.
- Bem, não é o que todo mundo está dizendo. Até os meus companheiros de banda estão do seu lado. As pessoas estão dizendo que eu pedi muito de você, algumas delas estão me chamando de machista... A única coisa que eu fiz foi pedir que você viesse comigo e ficasse comigo. Era pedir muito?
- Sim. Para você, pode não parecer, mas era sim. Você queria que eu deixasse tudo para trás para ir com você em turnê pelo mundo. Eu devo admitir, eu pensei em fazê-lo; porém, eu percebi que eu só estaria passando a dependência que tinha com meus pais para você e isso não parecia certo. E os meus sonhos? E os meus objetivos? O que eu deveria fazer com eles? Apenas deixá-los de lado até o dia em que nós terminássemos? Para fazer parte do seu mundo, eu tinha que construir o meu. Eu tinha que realizar os meus sonhos. Eu te amo, mas eu me amo mais.
- E você conseguiu realizar tudo que você sonhou?
- Sim, mais do que eu imaginei. Eu sou uma escritora e, devo ressaltar, uma das boas. Eu estou escrevendo meu segundo livro.
- É uma sequência?
- Não, nós não... Você sabe. E eu não quero mexer no que já está quieto. – Eu me afastei dele. – Eu sei que você deve estar chateado e você tem todo o direito de estar. Se você quiser me processar, eu não vou revidar. É o seu direito.
- Você acha que eu vim aqui para dizer que eu vou te processar?
- Não veio?
- Para ser honesto, eu nem sei por que estou aqui.
- Bem... – Eu andei até a porta. – Eu acho que isso é um adeus, então. – Abri a porta e esperei que ele saísse. – Adeus significa que você tem que ir embora.
- Na verdade, eu me lembrei. – Ele resmungou e olhou para mim. – Eu vim aqui para te dizer que é tudo culpa sua. – Ele caminhou na minha direção. – É culpa sua que nenhum dos meus relacionamentos parece funcionar, é culpa sua eu não conseguir dormir à noite e, principalmente, é culpa sua nós não estarmos juntos.
- A culpa é minha? Isso é culpa sua também, ! – Fechei a porta e caminhei em direção a ele. – Nem menos de uma semana depois que terminamos, você estava em um boate com outra garota. Você partiu meu coração e, então, você me deixou sozinha naquele hotel. Não tente colocar a culpa só em mim porque você é tão culpado quanto eu.
- Você quebrou meu coração também.
- Pelo jeito que sua cabeça estava enterrada no cangote daquela garota, não pareceu.
E, então, ele fez algo inesperado. Ele sorriu.
- Você está com ciúmes.
- Você perdeu a cabeça e você precisa sair daqui. – Eu disse, tentando caminhar para a porta novamente, mas ele me agarrou pelo pulso e me puxou para perto de seu corpo. – Me solte!
- Só se você admitir que está com ciúmes.
- Não seja um imbecil, me solte!
- Admita.
- Tudo bem, eu estava com ciúmes. Feliz? Agora me deixe em paz.
Ele se afastou com a cabeça abaixada.
- Me desculpe, eu não queria te machucar.
- Estou acostumada.
Ele me olhou, e eu pude ver aquela pontada de dor em seu olhar.
- Eu sempre soube.
- O quê?
- Que pedi muito de você. Eu sempre soube que o seu lugar não era sendo namorada de músico.
- , por favor, não...
- Então quando?
- Deixe como está. Já faz muito tempo. – Abaixei a cabeça.
- Mas e se eu não quiser deixar como está? – Ele segurou meu queixo, fazendo com que eu olhasse para ele. – E se eu quiser que nós fiquemos juntos? E se eu quiser que você venha nos meus shows não porque eu exigi ou porque você se sente obrigada, mas porque você quer me ver realizando os meus sonhos? E se eu quiser ser o primeiro da fila quando você for publicar seu segundo livro não porque você exigiu e me obrigou, mas porque eu quis? E se eu quiser fazer tudo isso porque é disso que o amor se trata, quando a sua felicidade é a minha felicidade e vice-versa?
- Você não pode chegar aqui depois de dois anos esperando que eu simplesmente caia de amores por você novamente. Você me machucou, e muito. Poxa, eu sei que eu tinha dito não, mas eu expliquei os meus motivos e você simplesmente me deixou naquele hotel como se eu fosse uma qualquer, como se tudo que a gente viveu naquele verão não tivesse significado nada. Como você acha que eu me senti?
- Eu sei. Eu fui um idiota, mas eu simplesmente não sabia como administrar a situação. Eu não estava em posição de te perder, eu não queria te perder. Me perdoe, por favor.
- Eu já te perdoei, mas eu não sei se ainda te quero na minha vida. – Falei, afastando-me dele. Cruzei os braços e me virei para ele novamente. Eu esperava tudo dele, menos que ele estivesse com aquele risinho de lado. – O que é tão engraçado?
- Você. – Ele cruzou os braços. – Tentando disfarçar que não sente o mesmo por mim e que não pensou em mim durante esse tempo que nós ficamos separados. Pelo amor de Deus, ! Eu sei porque você não consegue ter nenhum relacionamento. É pela mesma razão que eu também não consigo.
- Isso não é da sua conta.
- Pode até não ser, mas eu sei que você pensou em mim e eu sei que você ainda me ama.
- Você é muito pretensioso.
- E você gosta.
O pior é que ele estava certo. Eu adorava aquele jeito meio cafajeste que ele tinha, meio sabe tudo, mas que, no fundo, usava o coração na manga e sempre estava tentando agradar os outros. Às vezes, eu gostava de pensar que era o jeito que seu rosto era e isso fazia com que as pessoas pensassem isso dele e até ele também, principalmente quando agia dessa maneira, como se soubesse de tudo.
- Já terminou? – Comecei a andar até a porta, passando por ele. – Eu tenho um grande dia amanhã. – Abri a porta.
- ?
Olhei para a porta e dei de cara com Hayley.
- Hayley? – Perguntei, olhando para ela. Será que todo mundo decidiu me visitar hoje? – O que você está fazendo aqui?
- Eu soube que você terminou com seu namorado e vim te confortar, mas vejo que alguém chegou antes. – Ela entrou no apartamento. – Veio pedir uma cópia antes de todo mundo, bonitão? – Hayley andou até ele. – Ou veio só machucar mais minha amiga?
- Hayley... – Eu comecei.
- Você é mesmo um imbecil. – Ela continuou. – Mesmo depois de tudo que fez, ainda tem coragem de vir aqui perturbar o resto de juízo que minha amiga tem.
- Eu já estou de saída.
- Que bom! Mas antes não se esqueça disso.
- O quê?
Hayley não respondeu, só despejou todo o conteúdo da garrafa de vinho – a qual eu tenho certeza de que ela vinha bebendo no caminho – em cima dele.
Eu tentei ao máximo segurar o riso, mas foi inevitável. Ver tomar um banho de vinho e não mexer um membro para fugir daquilo foi uma das melhores coisas que eu vi Hayley fazer.
- Devo supor que eu mereci isso. – Ele disse, passando a mão pelos cabelos.
- Você sabe que sim. – Hayley falou, seguindo para a cozinha.
Ele olhou para mim, e eu coloquei a mão na boca tentando disfarçar o riso. Foi inevitável. Ele andou até a porta, mas parou à minha frente e disse:
- Isso ainda não acabou.
Eu deveria esperar algo como aquilo, porém, quando seus lábios se chocaram contra os meus, eu não pude esconder o quanto eu estava surpresa. Foi um beijo demorado e, quando se separou de mim, ele se foi do mesmo jeito que veio: tão rápido e sem aviso, mas mexeu com minhas estruturas.
Olhei para Hayley, que tirava algumas coisas da sacola e as colocava em cima do balcão da cozinha.
- Você não vai falar nada?
- O que você quer que eu fale? – Ela olhou para mim.
- Não sei. Que eu não deveria me meter com ele novamente.
- Por que eu faria isso?
- Porque ele me machucou?
- E você também o machucou. – Ela colocou as mãos em cima do balcão. – Olha, , eu não sou sua mãe. Eu não vou começar a te dizer como você tem que viver sua vida, mas eu vou dizer isso: vocês dois erraram? Erraram e para caralho. Tudo isso poderia ter sido resolvido com uma conversa e uma troca de telefones e, quem sabe, uma viagem aqui e acolá. O problema é que vocês queriam ficar vivendo aquela vida de eterna lua de mel que vocês levavam no Caribe, mas só que, quando vocês viram que a realidade estava voltando aos poucos, vocês não souberam como administrar. Ele tinha que voltar para a vida dele e você, para a sua. Com a falta de maturidade, vocês simplesmente se desentenderam. Eu sei que você pensou que ia superar; aliás, que era só uma coisinha de verão e pronto. Porém, quando ele foi embora, você viu que aquilo era amor mesmo. E, pelo o que eu vi hoje, ele também. O amor assusta, ainda mais um amor que nem o de vocês, que veio sem aviso prévio e deixou um buraco do tamanho de uma cratera quando foi embora. – Ela me entregou uma taça e se jogou no sofá, antes de pegar o balde de pipoca.
- Você está dizendo que nós deveríamos tentar de novo? – Perguntei, andando até o sofá e me sentando ao seu lado.
- Você não disse que só não tinha ficado com ele porque queria seguir a sua vida e realizar seus sonhos?
- Disse.
- E você realizou?
- Sim.
- E aí, como é que você se sente? Está feliz? Ou sente que falta alguma coisa?
Eu odiava quando Hayley estava certa. Tudo bem, eu tinha uma carreira e muito mais do que eu imaginei ter algum dia, porém, por mais satisfeita que eu estivesse, eu ainda sentia que faltava algo. Ou melhor, alguém.
- Não estou dizendo que você não fez certo em ter escolhido ser alguém na vida, em vez de ser namorada de músico. Mas, se o motivo para a sua felicidade está batendo na sua porta outra vez, não tem porque ignorar dessa vez. Você já tem tudo que quer profissionalmente. Essa desculpa para fugir do amor já expirou.
- Quem foi que eu disse eu vou fugir?
- E não vai não, lindona?
- Não.
- O que você vai fazer?
- Você escutou o que ele disse. Isso ainda não acabou.
• • • • • •
- Você está nervosa? – Hayley perguntou.
- Um pouco. Não tanto quando eu estava na noite anterior ao livro chegar nas livrarias.
- Todos vão amar o filme.
- Eu sei disso, mas eu não tenho certeza de que eu vou.
- Por quê?
- Faz dois anos que eu não toco nesse assunto, não direito. E, agora, o dito cujo aparece na minha porta e o filme sobre nossa história vai passar na minha frente em menos de quinze minutos. A situação não está favorável para o meu lado.
- Pior do que está não fica.
E, sem mais nem menos, lá estava ele descendo do carro com seus parceiros de bandas. Quando ele disse que não tinha acabado, eu não esperava que ele aparecesse na premiação do filme que contava a nossa história. Eu esperava, no mínimo, outra aparição surpresa na porta do meu apartamento, só que, dessa vez, Hayley não aparecia para atrapalhar.
É isso mesmo que você leu, atrapalhar. Porque, se ela não tivesse chegado, eu teria dado uma de espontânea e o agarraria ali mesmo na sala. E ele não precisaria me desafiar do mesmo jeito que ele fazia naquele verão em que nós conhecemos; porque ele tinha despertado isso em mim, essa alma aventureira que saía pelo mundo sem destino, sem planos e sem hora para voltar, mas estava muito assustada para se libertar.
Like a genie in a bottle.
Sorri ao me lembrar da música da Christina Aguileira, a qual ele passou quase o verão inteiro cantando apenas para me irritar.
- Acho que falei cedo demais. Você está bem? – Hayley me balançou, fazendo com que eu acordasse do transe.
- Hum... Estou sim. – Falei, voltando meu olhar para ela.
- Se você quiser, eu jogo outra garrafa de vinho nele.
- Não precisa. – Balancei a cabeça, sorrindo. – Vamos entrar?
- Pensei que você não fosse pedir.
Entrelacei meu braço no de Hayley, mas, antes que pudesse entrar no cinema, dei uma olhada para o lado. Lá estava, sem falta, o culpado de tudo com aquele sorriso sapeca de lado no rosto.
Nós entramos na sala de cinema, sendo logo recebidas pelo diretor e os atores que fizeram a adaptação do livro. Ficamos conversando com eles enquanto andávamos em direção ao palco. Antes do filme, nós iriamos nos apresentar e falar um pouco com os fãs que estavam presentes. Eles iam falar, porque eu só ia ficar lá, parada, desejando que tudo isso acabasse logo.
Era sim o meu filme, e eu estava muito orgulhosa. Eu só realmente não sabia se estava preparada para viver tudo aquilo de novo, principalmente sabendo que o outro protagonista estava aqui também.
- Na verdade, eu tenho uma surpresa para vocês. – O diretor falou, fazendo com que eu olhasse para ele. – Eu sei que vocês o conhecem. Ele fez questão de vir aqui e cantar uma música escrita especialmente para o filme.
- Gostou da surpresa, esquentadinha?
Olhei para trás, à procura da pessoa que falou, porém, ele já estava na frente do palco segurando um violão. Aconteceu tão rápido; quando eu vi, o palco tinha sido tomado por instrumentos. O diretor me estendeu o braço, e eu segurei, deixando-o me guiar para frente do palco.
As primeiras batidas da música começaram a tocar e, quando ele começou a cantar, seu olhar ficou vidrado em mim. À medida que ele cantava, eu via o filme sobre nós passar diante dos meus olhos. A música tinha sido escrita para o filme, mas tinha sido baseada no que a gente viveu e só eu sabia o que era isso. Tudo bem, eu tinha colocado muito do que eu vivi no livro, mas nada se comparava ao que eu estava sentindo agora.
Senti as primeiras lágrimas descerem por meu rosto, e eu sabia que não ia aguentar ficar para assistir ao filme. Corri para fora da sala de cinema limpando minhas lágrimas do rosto. Achei estranho Hayley não ter vindo atrás de mim, já que ela me viu passando por ela com o rosto molhado. Mas logo não demorou muito para eu entender o porquê.
- , espera!
Eu me virei para ele. Antes que eu pudesse mandar-lhe para o inferno, senti seus lábios entrarem em contato com os meus. Agarrando-me pela cintura e segurando minha nuca enquanto me beijava, estava o motivo pelo qual nenhum dos meus relacionamentos funcionava. Nem mil relacionamentos com os caras mais gatos de Hollywood poderiam fazer com que eu superasse as sensações que esse homem me fazia sentir quando estava com ele. Chegava até a ser ridículo o jeito com o qual seu corpo se encaixava com o meu e que, mesmo sem tentar, ele fazia todos os pelos do meu corpo arrepiarem e meu coração bater mais forte. Eu sempre consegui controlar minhas emoções, especialmente sobre garotos; eu, provavelmente, era a que saía do relacionamento e não derramava uma lágrima porque acabou. Só que, com , isso parecia impossível. Eu não podia me controlar e acabava fazendo coisas que não imaginava que faria nem em um milhão de anos, coisas como chorar durante quase uma semana e escrever um livro ainda tentando superar e, ainda assim, não superando coisa nenhuma.
- Você não pode me agarrar desse jeito. – Falei, separando-me dele.
- Claro que posso. Você é minha agora. – Ele me puxou pela cintura.
- O quê? Não, eu sou minha.
- Se você insiste, eu te divido contigo.
- Eu estou falando sério.
- E você acha que eu estou brincando? , eu estou falando sério. De verdade, eu quero ficar com você e eu sei que você quer ficar comigo. Você já tem tudo que você sempre sonhou e mais, você não acha que está na hora nós deixarmos esse orgulho idiota de lado e finalmente ficarmos juntos? Talvez voltar para o Caribe e agradecer sua avó por te obrigar a sair comigo quando eu te chamei para sair pela primeira vez.
- Você é um imbecil. – Falei, dando um soco em seu braço. – Eu vou quebrar essa sua cara.
- Continua violenta, do jeitinho que eu lembrava. – segurou meu rosto. – Você sabe o quanto eu me segurei para não aparecer no seu apartamento antes?
- Estava me seguindo, ? Olha que eu mando te prender.
- Muito engraçadinha. – Ele riu sem mostrar os dentes, dando-me um selinho depois. – Sabia que eu senti sua falta?
- E demorou dois anos para vir atrás, hein, bonitão?
- Claro, eu não costumo ler romances adolescentes. Quando me falaram do seu livro, eu nem me liguei que era seu. Stormy Eyes não é um nome tão convidativo. – Ele se sentou em um banco e me puxou para sentar em seu colo. – Só depois que eu vi a namorada de um amigo segurando o livro e dizendo que iria virar um filme, eu pude dar uma boa olhada na capa. Depois que eu vi seu nome embaixo, eu sabia do que se tratava. Eu fui na livraria mais próxima, comprei o seu livro e passei a madrugada lendo. Eu quase peguei um avião de volta para o Caribe, a fim de achar sua avó para ver se ela me dava o seu endereço para que eu pudesse te dizer umas poucas e boas. Só que, na mesma semana, eu descobri que você tinha um novo namorado, então eu pensei que você tinha seguido em frente e eu deveria fazer o mesmo.
- Você não foi o único.
- Eu ainda fiquei fuçando sua vida de vez em quando para ver se descobria mais alguma coisa. Eu tentei namorar outras garotas, mas eu só conseguia pensar em você, então eu escrevi a música.
- Posso confessar uma coisa? Eu fiz a mesma coisa. – Eu ri, dando-lhe um selinho. – Você não está achando que eu vou cair nesse papinho não, né?
- Papinho? Eu escrevi uma música para você, isso não é o suficiente? Sabe o quão difícil foi colocar tudo aquilo em uma letra e ainda rimar com o título do seu livro?
- Não. – Respondi, passando a mão por seus cabelos. Ele me abraçou e começou a beijar meu pescoço. – Eu tenho que voltar lá para dentro. O filme já vai começar.
- Como se você já não soubesse o final.
- E o que você propõe que façamos agora?
- A gente começa a escrever aquela sequência. – Ele sorriu e me beijou.
Era um livro de 435 páginas, 115 páginas de um script e duas horas e meia de filme. Meu rosto estava em toda parte, meus livros estavam em todas as lojas e os cartazes eram exatamente como a última foto que eu tinha de nós dois juntos. Como ele poderia não perceber? Ele, provavelmente, tinha visto. Se o fez, estava fazendo um ótimo trabalho em me ignorar e fingir que nunca aconteceu.
Eu não fiz para me vingar dele. Pelo contrário, eu só queria colocar tudo para fora de uma vez para que o sofrimento fosse embora. Eu queria seguir em frente de todos os bens e males que ele me causou.
Eu nunca esperava que a nossa história fosse publicada, mas Hayley tinha que quebrar seu notebook, pedir o meu emprestado e clicar sem querer no arquivo do Word e lê-lo, em vez de fazer o trabalho de Escrita Criativa dela. E o pior disso, ela tinha que gostar e insistir para que eu mostrasse ao professor Thompson, em vez do texto que eu tinha feito antes das férias – que, segundo ela, não tinha nem um pouco de emoção e parecia ter sido criado por um robô. Porém, com a mesma insistência que ela tinha pedido para que eu mostrasse, eu tinha para recusar a ponto de deletar o arquivo na mesma hora, o que fez com que Hayley saísse do dormitório soltando fogo pelas narinas.
Eu sei, eu deveria contar tudo para ela, mas a ferida ainda estava aberta, e eu queria poder não chorar durante todo o processo.
Hayley não apareceu no dormitório naquela noite. Isso fez com que eu sentisse uma pontada de culpa e decidisse contar tudo para ela depois da aula. Entretanto, quando Hayley entrou na aula de Escrita Criativa com um sorriso malicioso no rosto, eu sabia que ela tinha aprontado uma e das grandes. Eu sabia que ela ia fazer algo a respeito; Hayley nunca dava o braço a torcer até que tivesse o que ela queria. Humilhação pública, no entanto, não era exatamente o que eu tinha em mente.
Logo depois que Hayley terminou de ler o texto, o Professor Thompson perguntou:
- Você escreveu isso, senhorita ?
- Em minha defesa, eu não sabia que Hayley ia fazer isso.
- Está terminada?
- Não, mas do que importa? Essa história não era para ser lida, ela...
- Por quê?
- Por que o quê?
- Essa história não era para ser lida.
- Oh, bem, o meu texto era outro. Aquele que eu li antes... Aquele era o certo. Esse, definitivamente, é o errado.
- Certo? Errado? Escrita Criativa não é sobre o certo ou o errado. É sobre sentimento, sobre as emoções que o autor pode passar para os leitores e, se Hayley não tivesse dito, eu nunca iria adivinhar que você tinha escrito.
- Por que não?
- Porque o primeiro parece ter sido ter sido escrito por um robô. Não tem sentimento. – Ele se virou para a classe. – Quem acha que o segundo texto é melhor do que o primeiro, levante a mão. – E, para a minha surpresa, todos da sala levantaram. – Por hoje, é só, classe. Vocês estão liberados. Menos você, , e você também, senhorita Hayley.
Fuzilei Hayley com os olhos, e ela apenas deu de ombros.
- Está feliz agora? – Perguntei, olhando para ela.
- Animadíssima. – Hayley cruzou os braços e riu.
- Você acha que isso é uma brincadeira? Você acabou de pegar algo pessoal, sem a minha autorização, e leu para toda a classe.
- Eu não sei porque você está fazendo um escândalo.
- Não sabe? Você acabou de me humilhar na frente de todo mundo.
- Humilhar? – Professor Thompson disse, interrompendo-nos. – Essa não seria a palavra que eu usaria. – Ele se encostou em sua mesa. – Você já pensou em ser escritora, ?
- Mas é claro. Esse sempre foi o meu sonho.
- Eu percebi. Sua escrita é impecável, umas das melhores que eu já vi.
- Obrigada.
- Porém, falta o principal.
- Você acabou de dizer que a escrita dela é impecável.
- De que adianta ter a técnica adequada quando se falta sentimento? Tudo o que você escreve, , é de encher os olhos, mas não enche o coração. Esse texto que Hayley trouxe deveria ser o texto que você deveria trazer. – Ele se aproximou de mim. – Pela primeira vez, você mostrou que, perdoe o uso da palavra, não é um robô e tem sim um coração. – Abaixei a cabeça. – Qual o nome dele? – Levantei a cabeça. – Dela?
- Como...
- Eu conheço uma decepção amorosa quando vejo uma. Eu não era exatamente o galã do colégio, mas isso não vem ao caso. Eu quero te fazer uma pergunta.
- Se eu quero ser sua monitora? A resposta é sim.
- Não é bem o que eu tenho em mente. – Ele riu. – Você quer publicar um livro?
- O quê?! – Não sei ao certo quem gritou mais alto, mas sei que Thompson precisou tampar os ouvidos. – O senhor não pode estar falando sério.
- Na verdade, eu nunca falei tão sério na minha vida. Eu tenho um ótimo sentimento sobre isso e acredito que você pode ir muito além. Se, é claro, você continuar essa história.
- Eu não sei.
- Imagine sua história sendo publicada e lida por milhares de pessoas. Não é esse o sonho de todo escritor? Você tem a oportunidade em suas mãos e você tem talento. Jogar isso fora só porque está com medo seria pura burrice.
- Imagine isso, . – Hayley falou, fazendo com que eu me virasse para ela. – Não foi isso que você sempre quis?
- Então, o que vai ser?
Olhei para Hayley e, depois, para o professor. Era uma proposta tentadora; mais do que isso, era o meu sonho esperando bem ali para ser realizado. Eu seria muito burra de não aceitar.
- Eu...
- Ah, não, eu conheço essa cara. – Hayley me interrompeu. – Você realmente está pensando no que esse idiota, que fez a maior merda do mundo com você, diria sobre isso? Você vai deixá-lo te impedir de realizar seu sonho?
- Quem foi que te disse que ele fez merda?
- Ninguém vai para o Caribe e volta com essa cara de quem voltou de um velório. Nem você, , a robôzinho da família.
- Eu não sou nenhum robôzinho.
- Há quem pense que sim.
Olhei para o senhor Thompson.
- Oh, não olhe para mim. Eu não sou sua melhor amiga, eu sou seu professor. Porém, se eu fosse falar alguma coisa, eu diria que Hayley está certa.
- Está vendo? – Olhei para ela de novo. – Pela primeira vez na sua vida, você fugiu da sua zona de conforto e algo bom aconteceu com você. Ok, não terminou do jeito que você queria, mas, mesmo assim, você viveu. Eu acho muito egoísta da sua parte não mostrar para o mundo a quão talentosa você é.
Eu detestava com todas as minhas forças quando Hayley me dava uma lição de moral, porque, na maioria das vezes, ela estava absolutamente certa. Olhei para Thompson e, depois, para Hayley. Para o inferno, que mal teria nisso?
- Eu aceito.
Não me arrependia nem um pouco de ter dito sim. Na verdade, eu não estava em posição de dizer não. Eu ainda estava morando com meus pais e não tinha um emprego. Além disso, publicar um livro era o meu sonho. A pior coisa que poderia acontecer era alguém descobrir que a história estava longe de ser ficção e, sim, era sobre eu e aquele cara famoso, daquela banda, que tinha um dos sorrisos mais lindos que eu tinha visto.
Depois que eu aceitei a proposta do professor Thompson, menos de seis meses depois, eu já estava com o livro pronto. Doía ainda um pouco escrever sobre aquilo, porém, toda vez que eu parava e dizia que não dava mais, Hayley me segurava pelos ombros e fazia uma lista de prós e contras. Você já sabe que os prós sempre ganhavam.
Tudo aconteceu tão rápido depois que eu entreguei o manuscrito para a editora. Quando eu percebi, a editora já estava me mandando uma cópia e, no mês seguinte, ele já estava no topo dos mais vendidos. Hayley fez questão de me arrastar para uma festa em minha homenagem e me fez beber e dançar a noite todinha. Hayley era uma boa amiga e era por esse motivo que eu sempre a mantinha por perto; mesmo sendo tão diferentes uma da outra, havia algo nela que me completava e vice-versa. Depois que ela leu o livro, ela entendeu o porquê de eu não contar tudo para ela, até porque, quando ela terminou, seus olhos estavam mais vermelhos do que uma pimenta. Eu até me lembro que ela disse que iria pegar o primeiro voo para encontrá-lo e dar um soco no meio da cara dele. Antes que ela pudesse chegar à porta, o telefone tocou e, a partir daí minha vida mudou mesmo.
Eu devia estar bêbada quando aceitei, porque, na manhã seguinte, eu me arrependi. E se ele visse? E se ele não gostasse das coisas que eu disse? Especialmente as coisas que eu disse sobre ele... Era sim a minha história, mas, principalmente, era a minha história com ele. Ele tinha todo o direito de não gostar das coisas que eu tinha a dizer sobre ele, ainda mais quando tudo havia acabado da pior maneira possível.
Mas não. Nem uma ameaça de morte, nem uma ameaça de processo, nem nada. Por mais que eu não quisesse admitir, eu esperava alguma coisa. Ele sempre tinha algo a dizer, por que ele estava tão quieto sobre isso agora? Provavelmente, porque você não era tão especial, pensei, enquanto colocava mais pipoca na boca.
Passaram-se dois anos desde que minha vida mudou completamente. Eu tinha meu próprio apartamento e, de fato, tinha um monte de dinheiro – mais do que eu esperava, para ser sincera. Eu estava escrevendo meu segundo livro, uma história completamente diferente do primeiro. Terminei a faculdade no topo da minha classe e, até mesmo, recebi uma proposta para dar seminários para jovens escritores. Eu tinha tudo que eu nunca esperava ter e, mesmo assim, eu tinha certeza de que algo estava faltando. Eu entendia o que era, e eu tentei namorar outros caras. Acredite, eu tentei. No entanto, em todas as vezes que tentaram tirar proveito de mim ou, pior, perguntar se o que aconteceu no livro era verdade, eles simplesmente não eram mais atraentes. Essa pergunta despertava alguma coisa dentro de mim. Por isso, mais uma vez, aqui estava eu, comendo meus sentimentos por causa de outro relacionamento que não deu certo. Eu gostava dele, mas ele tinha que fazer a pergunta, aquela que fez com que eu não gostasse mais dele.
E, agora, mais do que nunca, eu estava convencida de que eu definitivamente morreria sozinha, como Jane Austen. “A mulher que amou um homem e um homem apenas e nunca pode tê-lo, por isso começou a escrever livros” não parecia ser um destino horrível, se pensar sobre isso.
A campainha ecoou pelo apartamento, o que era estranho, já que Stan não me avisou que alguém estava subindo. Coloquei a pipoca em cima do sofá e caminhei até a porta, mas, no segundo em que a abri, desejei que eu não o tivesse feito. Parado no corredor, estava o motivo que fez todos os meus relacionamentos falharem.
Ele parecia exatamente como eu me lembrava. Os cabelos estavam mais compridos, mas os olhos continuavam os mesmos, daquele mesmo tom esverdeado. O maxilar marcado indicava que ele estava se segurando para não explodir de raiva. Tudo bem, ele tinha todo o direito de estar chateado, mas eu também tinha. E sabe o que era o pior de tudo? Foi quando aqueles olhos me encararam, e eu podia jurar que ele estava lendo minha mente. Ah, não. Não. Desta vez, eu não deixaria que ele me machucasse novamente.
- Você está dois anos atrasado. – Eu tentei empurrar a porta, mas ele era mais forte. Um segundo depois, ele estava dentro do meu apartamento, fechando a porta atrás dele.
- Você vai me ouvir. – Ele disse, aproximando-se.
- A única coisa que eu vou ouvir será o som de policiais quando eles te prenderem. – Eu tenho que admitir, eu estava com um pouco de medo dele, mas eu não podia perder o que tinha sobrado do meu sarcasmo.
- Você não vai chamar ninguém. – Senti minha bunda encostar na mesa, tendo a certeza de que eu estava encurralada e, por mais que eu quisesse fugir (o que eu não queria), não teria como. – Isto é entre eu e você. Você sabe do que se trata, você sabe porque eu estou aqui.
- Eu acho que eu me perdi nesse espaço de dois anos, porque eu realmente não faço ideia do que você está fazendo aqui.
- O livro.
- Que livro? – Eu não sabia de onde eu estava tirando toda essa coragem e esse cinismo, mas estava funcionando, porque, pela primeira vez em anos, ele não conseguia ler minha mente. Eu via que isso estava deixando-o mais irritado.
- O que você escreveu.
- Está no topo dos best-sellers e ganhou uma adaptação para o cinema.
- É sobre nós?
- É uma história de ficção. – Eu simplesmente não sabia o que eu estava fazendo, mas me fazer de louca parecia a melhor opção.
- É a nossa história. – Saiu mais como uma afirmação do que como uma pergunta.
- Eu não sei do que você está falando.
- Porra, ! – Ele bateu na mesa atrás de mim. – Por favor, não minta para mim. O livro... É sobre nós?
- Sim. – Falei, abaixando a cabeça.
- Por que você fez isso?
- Eu não sei.
- Você fez para se vingar de mim?
- É claro que não. Eu só precisava colocar tudo para fora, sabe? Do mesmo jeito que você escreve músicas, eu escrevo histórias.
- Então você decidiu escrever a nossa história e vender para o mundo?
- Não, eu não esperava que alguém visse. Eu não esperava que as coisas tomassem essas proporções. Eu morava com meus pais, eu não tinha um emprego... Eu vi uma oportunidade e eu a peguei. Eu não me arrependo.
- É claro, você não é o vilão da história.
- Você também não.
- Bem, não é o que todo mundo está dizendo. Até os meus companheiros de banda estão do seu lado. As pessoas estão dizendo que eu pedi muito de você, algumas delas estão me chamando de machista... A única coisa que eu fiz foi pedir que você viesse comigo e ficasse comigo. Era pedir muito?
- Sim. Para você, pode não parecer, mas era sim. Você queria que eu deixasse tudo para trás para ir com você em turnê pelo mundo. Eu devo admitir, eu pensei em fazê-lo; porém, eu percebi que eu só estaria passando a dependência que tinha com meus pais para você e isso não parecia certo. E os meus sonhos? E os meus objetivos? O que eu deveria fazer com eles? Apenas deixá-los de lado até o dia em que nós terminássemos? Para fazer parte do seu mundo, eu tinha que construir o meu. Eu tinha que realizar os meus sonhos. Eu te amo, mas eu me amo mais.
- E você conseguiu realizar tudo que você sonhou?
- Sim, mais do que eu imaginei. Eu sou uma escritora e, devo ressaltar, uma das boas. Eu estou escrevendo meu segundo livro.
- É uma sequência?
- Não, nós não... Você sabe. E eu não quero mexer no que já está quieto. – Eu me afastei dele. – Eu sei que você deve estar chateado e você tem todo o direito de estar. Se você quiser me processar, eu não vou revidar. É o seu direito.
- Você acha que eu vim aqui para dizer que eu vou te processar?
- Não veio?
- Para ser honesto, eu nem sei por que estou aqui.
- Bem... – Eu andei até a porta. – Eu acho que isso é um adeus, então. – Abri a porta e esperei que ele saísse. – Adeus significa que você tem que ir embora.
- Na verdade, eu me lembrei. – Ele resmungou e olhou para mim. – Eu vim aqui para te dizer que é tudo culpa sua. – Ele caminhou na minha direção. – É culpa sua que nenhum dos meus relacionamentos parece funcionar, é culpa sua eu não conseguir dormir à noite e, principalmente, é culpa sua nós não estarmos juntos.
- A culpa é minha? Isso é culpa sua também, ! – Fechei a porta e caminhei em direção a ele. – Nem menos de uma semana depois que terminamos, você estava em um boate com outra garota. Você partiu meu coração e, então, você me deixou sozinha naquele hotel. Não tente colocar a culpa só em mim porque você é tão culpado quanto eu.
- Você quebrou meu coração também.
- Pelo jeito que sua cabeça estava enterrada no cangote daquela garota, não pareceu.
E, então, ele fez algo inesperado. Ele sorriu.
- Você está com ciúmes.
- Você perdeu a cabeça e você precisa sair daqui. – Eu disse, tentando caminhar para a porta novamente, mas ele me agarrou pelo pulso e me puxou para perto de seu corpo. – Me solte!
- Só se você admitir que está com ciúmes.
- Não seja um imbecil, me solte!
- Admita.
- Tudo bem, eu estava com ciúmes. Feliz? Agora me deixe em paz.
Ele se afastou com a cabeça abaixada.
- Me desculpe, eu não queria te machucar.
- Estou acostumada.
Ele me olhou, e eu pude ver aquela pontada de dor em seu olhar.
- Eu sempre soube.
- O quê?
- Que pedi muito de você. Eu sempre soube que o seu lugar não era sendo namorada de músico.
- , por favor, não...
- Então quando?
- Deixe como está. Já faz muito tempo. – Abaixei a cabeça.
- Mas e se eu não quiser deixar como está? – Ele segurou meu queixo, fazendo com que eu olhasse para ele. – E se eu quiser que nós fiquemos juntos? E se eu quiser que você venha nos meus shows não porque eu exigi ou porque você se sente obrigada, mas porque você quer me ver realizando os meus sonhos? E se eu quiser ser o primeiro da fila quando você for publicar seu segundo livro não porque você exigiu e me obrigou, mas porque eu quis? E se eu quiser fazer tudo isso porque é disso que o amor se trata, quando a sua felicidade é a minha felicidade e vice-versa?
- Você não pode chegar aqui depois de dois anos esperando que eu simplesmente caia de amores por você novamente. Você me machucou, e muito. Poxa, eu sei que eu tinha dito não, mas eu expliquei os meus motivos e você simplesmente me deixou naquele hotel como se eu fosse uma qualquer, como se tudo que a gente viveu naquele verão não tivesse significado nada. Como você acha que eu me senti?
- Eu sei. Eu fui um idiota, mas eu simplesmente não sabia como administrar a situação. Eu não estava em posição de te perder, eu não queria te perder. Me perdoe, por favor.
- Eu já te perdoei, mas eu não sei se ainda te quero na minha vida. – Falei, afastando-me dele. Cruzei os braços e me virei para ele novamente. Eu esperava tudo dele, menos que ele estivesse com aquele risinho de lado. – O que é tão engraçado?
- Você. – Ele cruzou os braços. – Tentando disfarçar que não sente o mesmo por mim e que não pensou em mim durante esse tempo que nós ficamos separados. Pelo amor de Deus, ! Eu sei porque você não consegue ter nenhum relacionamento. É pela mesma razão que eu também não consigo.
- Isso não é da sua conta.
- Pode até não ser, mas eu sei que você pensou em mim e eu sei que você ainda me ama.
- Você é muito pretensioso.
- E você gosta.
O pior é que ele estava certo. Eu adorava aquele jeito meio cafajeste que ele tinha, meio sabe tudo, mas que, no fundo, usava o coração na manga e sempre estava tentando agradar os outros. Às vezes, eu gostava de pensar que era o jeito que seu rosto era e isso fazia com que as pessoas pensassem isso dele e até ele também, principalmente quando agia dessa maneira, como se soubesse de tudo.
- Já terminou? – Comecei a andar até a porta, passando por ele. – Eu tenho um grande dia amanhã. – Abri a porta.
- ?
Olhei para a porta e dei de cara com Hayley.
- Hayley? – Perguntei, olhando para ela. Será que todo mundo decidiu me visitar hoje? – O que você está fazendo aqui?
- Eu soube que você terminou com seu namorado e vim te confortar, mas vejo que alguém chegou antes. – Ela entrou no apartamento. – Veio pedir uma cópia antes de todo mundo, bonitão? – Hayley andou até ele. – Ou veio só machucar mais minha amiga?
- Hayley... – Eu comecei.
- Você é mesmo um imbecil. – Ela continuou. – Mesmo depois de tudo que fez, ainda tem coragem de vir aqui perturbar o resto de juízo que minha amiga tem.
- Eu já estou de saída.
- Que bom! Mas antes não se esqueça disso.
- O quê?
Hayley não respondeu, só despejou todo o conteúdo da garrafa de vinho – a qual eu tenho certeza de que ela vinha bebendo no caminho – em cima dele.
Eu tentei ao máximo segurar o riso, mas foi inevitável. Ver tomar um banho de vinho e não mexer um membro para fugir daquilo foi uma das melhores coisas que eu vi Hayley fazer.
- Devo supor que eu mereci isso. – Ele disse, passando a mão pelos cabelos.
- Você sabe que sim. – Hayley falou, seguindo para a cozinha.
Ele olhou para mim, e eu coloquei a mão na boca tentando disfarçar o riso. Foi inevitável. Ele andou até a porta, mas parou à minha frente e disse:
- Isso ainda não acabou.
Eu deveria esperar algo como aquilo, porém, quando seus lábios se chocaram contra os meus, eu não pude esconder o quanto eu estava surpresa. Foi um beijo demorado e, quando se separou de mim, ele se foi do mesmo jeito que veio: tão rápido e sem aviso, mas mexeu com minhas estruturas.
Olhei para Hayley, que tirava algumas coisas da sacola e as colocava em cima do balcão da cozinha.
- Você não vai falar nada?
- O que você quer que eu fale? – Ela olhou para mim.
- Não sei. Que eu não deveria me meter com ele novamente.
- Por que eu faria isso?
- Porque ele me machucou?
- E você também o machucou. – Ela colocou as mãos em cima do balcão. – Olha, , eu não sou sua mãe. Eu não vou começar a te dizer como você tem que viver sua vida, mas eu vou dizer isso: vocês dois erraram? Erraram e para caralho. Tudo isso poderia ter sido resolvido com uma conversa e uma troca de telefones e, quem sabe, uma viagem aqui e acolá. O problema é que vocês queriam ficar vivendo aquela vida de eterna lua de mel que vocês levavam no Caribe, mas só que, quando vocês viram que a realidade estava voltando aos poucos, vocês não souberam como administrar. Ele tinha que voltar para a vida dele e você, para a sua. Com a falta de maturidade, vocês simplesmente se desentenderam. Eu sei que você pensou que ia superar; aliás, que era só uma coisinha de verão e pronto. Porém, quando ele foi embora, você viu que aquilo era amor mesmo. E, pelo o que eu vi hoje, ele também. O amor assusta, ainda mais um amor que nem o de vocês, que veio sem aviso prévio e deixou um buraco do tamanho de uma cratera quando foi embora. – Ela me entregou uma taça e se jogou no sofá, antes de pegar o balde de pipoca.
- Você está dizendo que nós deveríamos tentar de novo? – Perguntei, andando até o sofá e me sentando ao seu lado.
- Você não disse que só não tinha ficado com ele porque queria seguir a sua vida e realizar seus sonhos?
- Disse.
- E você realizou?
- Sim.
- E aí, como é que você se sente? Está feliz? Ou sente que falta alguma coisa?
Eu odiava quando Hayley estava certa. Tudo bem, eu tinha uma carreira e muito mais do que eu imaginei ter algum dia, porém, por mais satisfeita que eu estivesse, eu ainda sentia que faltava algo. Ou melhor, alguém.
- Não estou dizendo que você não fez certo em ter escolhido ser alguém na vida, em vez de ser namorada de músico. Mas, se o motivo para a sua felicidade está batendo na sua porta outra vez, não tem porque ignorar dessa vez. Você já tem tudo que quer profissionalmente. Essa desculpa para fugir do amor já expirou.
- Quem foi que eu disse eu vou fugir?
- E não vai não, lindona?
- Não.
- O que você vai fazer?
- Você escutou o que ele disse. Isso ainda não acabou.
- Você está nervosa? – Hayley perguntou.
- Um pouco. Não tanto quando eu estava na noite anterior ao livro chegar nas livrarias.
- Todos vão amar o filme.
- Eu sei disso, mas eu não tenho certeza de que eu vou.
- Por quê?
- Faz dois anos que eu não toco nesse assunto, não direito. E, agora, o dito cujo aparece na minha porta e o filme sobre nossa história vai passar na minha frente em menos de quinze minutos. A situação não está favorável para o meu lado.
- Pior do que está não fica.
E, sem mais nem menos, lá estava ele descendo do carro com seus parceiros de bandas. Quando ele disse que não tinha acabado, eu não esperava que ele aparecesse na premiação do filme que contava a nossa história. Eu esperava, no mínimo, outra aparição surpresa na porta do meu apartamento, só que, dessa vez, Hayley não aparecia para atrapalhar.
É isso mesmo que você leu, atrapalhar. Porque, se ela não tivesse chegado, eu teria dado uma de espontânea e o agarraria ali mesmo na sala. E ele não precisaria me desafiar do mesmo jeito que ele fazia naquele verão em que nós conhecemos; porque ele tinha despertado isso em mim, essa alma aventureira que saía pelo mundo sem destino, sem planos e sem hora para voltar, mas estava muito assustada para se libertar.
Like a genie in a bottle.
Sorri ao me lembrar da música da Christina Aguileira, a qual ele passou quase o verão inteiro cantando apenas para me irritar.
- Acho que falei cedo demais. Você está bem? – Hayley me balançou, fazendo com que eu acordasse do transe.
- Hum... Estou sim. – Falei, voltando meu olhar para ela.
- Se você quiser, eu jogo outra garrafa de vinho nele.
- Não precisa. – Balancei a cabeça, sorrindo. – Vamos entrar?
- Pensei que você não fosse pedir.
Entrelacei meu braço no de Hayley, mas, antes que pudesse entrar no cinema, dei uma olhada para o lado. Lá estava, sem falta, o culpado de tudo com aquele sorriso sapeca de lado no rosto.
Nós entramos na sala de cinema, sendo logo recebidas pelo diretor e os atores que fizeram a adaptação do livro. Ficamos conversando com eles enquanto andávamos em direção ao palco. Antes do filme, nós iriamos nos apresentar e falar um pouco com os fãs que estavam presentes. Eles iam falar, porque eu só ia ficar lá, parada, desejando que tudo isso acabasse logo.
Era sim o meu filme, e eu estava muito orgulhosa. Eu só realmente não sabia se estava preparada para viver tudo aquilo de novo, principalmente sabendo que o outro protagonista estava aqui também.
- Na verdade, eu tenho uma surpresa para vocês. – O diretor falou, fazendo com que eu olhasse para ele. – Eu sei que vocês o conhecem. Ele fez questão de vir aqui e cantar uma música escrita especialmente para o filme.
- Gostou da surpresa, esquentadinha?
Olhei para trás, à procura da pessoa que falou, porém, ele já estava na frente do palco segurando um violão. Aconteceu tão rápido; quando eu vi, o palco tinha sido tomado por instrumentos. O diretor me estendeu o braço, e eu segurei, deixando-o me guiar para frente do palco.
As primeiras batidas da música começaram a tocar e, quando ele começou a cantar, seu olhar ficou vidrado em mim. À medida que ele cantava, eu via o filme sobre nós passar diante dos meus olhos. A música tinha sido escrita para o filme, mas tinha sido baseada no que a gente viveu e só eu sabia o que era isso. Tudo bem, eu tinha colocado muito do que eu vivi no livro, mas nada se comparava ao que eu estava sentindo agora.
Senti as primeiras lágrimas descerem por meu rosto, e eu sabia que não ia aguentar ficar para assistir ao filme. Corri para fora da sala de cinema limpando minhas lágrimas do rosto. Achei estranho Hayley não ter vindo atrás de mim, já que ela me viu passando por ela com o rosto molhado. Mas logo não demorou muito para eu entender o porquê.
- , espera!
Eu me virei para ele. Antes que eu pudesse mandar-lhe para o inferno, senti seus lábios entrarem em contato com os meus. Agarrando-me pela cintura e segurando minha nuca enquanto me beijava, estava o motivo pelo qual nenhum dos meus relacionamentos funcionava. Nem mil relacionamentos com os caras mais gatos de Hollywood poderiam fazer com que eu superasse as sensações que esse homem me fazia sentir quando estava com ele. Chegava até a ser ridículo o jeito com o qual seu corpo se encaixava com o meu e que, mesmo sem tentar, ele fazia todos os pelos do meu corpo arrepiarem e meu coração bater mais forte. Eu sempre consegui controlar minhas emoções, especialmente sobre garotos; eu, provavelmente, era a que saía do relacionamento e não derramava uma lágrima porque acabou. Só que, com , isso parecia impossível. Eu não podia me controlar e acabava fazendo coisas que não imaginava que faria nem em um milhão de anos, coisas como chorar durante quase uma semana e escrever um livro ainda tentando superar e, ainda assim, não superando coisa nenhuma.
- Você não pode me agarrar desse jeito. – Falei, separando-me dele.
- Claro que posso. Você é minha agora. – Ele me puxou pela cintura.
- O quê? Não, eu sou minha.
- Se você insiste, eu te divido contigo.
- Eu estou falando sério.
- E você acha que eu estou brincando? , eu estou falando sério. De verdade, eu quero ficar com você e eu sei que você quer ficar comigo. Você já tem tudo que você sempre sonhou e mais, você não acha que está na hora nós deixarmos esse orgulho idiota de lado e finalmente ficarmos juntos? Talvez voltar para o Caribe e agradecer sua avó por te obrigar a sair comigo quando eu te chamei para sair pela primeira vez.
- Você é um imbecil. – Falei, dando um soco em seu braço. – Eu vou quebrar essa sua cara.
- Continua violenta, do jeitinho que eu lembrava. – segurou meu rosto. – Você sabe o quanto eu me segurei para não aparecer no seu apartamento antes?
- Estava me seguindo, ? Olha que eu mando te prender.
- Muito engraçadinha. – Ele riu sem mostrar os dentes, dando-me um selinho depois. – Sabia que eu senti sua falta?
- E demorou dois anos para vir atrás, hein, bonitão?
- Claro, eu não costumo ler romances adolescentes. Quando me falaram do seu livro, eu nem me liguei que era seu. Stormy Eyes não é um nome tão convidativo. – Ele se sentou em um banco e me puxou para sentar em seu colo. – Só depois que eu vi a namorada de um amigo segurando o livro e dizendo que iria virar um filme, eu pude dar uma boa olhada na capa. Depois que eu vi seu nome embaixo, eu sabia do que se tratava. Eu fui na livraria mais próxima, comprei o seu livro e passei a madrugada lendo. Eu quase peguei um avião de volta para o Caribe, a fim de achar sua avó para ver se ela me dava o seu endereço para que eu pudesse te dizer umas poucas e boas. Só que, na mesma semana, eu descobri que você tinha um novo namorado, então eu pensei que você tinha seguido em frente e eu deveria fazer o mesmo.
- Você não foi o único.
- Eu ainda fiquei fuçando sua vida de vez em quando para ver se descobria mais alguma coisa. Eu tentei namorar outras garotas, mas eu só conseguia pensar em você, então eu escrevi a música.
- Posso confessar uma coisa? Eu fiz a mesma coisa. – Eu ri, dando-lhe um selinho. – Você não está achando que eu vou cair nesse papinho não, né?
- Papinho? Eu escrevi uma música para você, isso não é o suficiente? Sabe o quão difícil foi colocar tudo aquilo em uma letra e ainda rimar com o título do seu livro?
- Não. – Respondi, passando a mão por seus cabelos. Ele me abraçou e começou a beijar meu pescoço. – Eu tenho que voltar lá para dentro. O filme já vai começar.
- Como se você já não soubesse o final.
- E o que você propõe que façamos agora?
- A gente começa a escrever aquela sequência. – Ele sorriu e me beijou.
Fim.
Nota da autora: Sem nota.
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Reminiscência
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Time Heals Wounds
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Come Away With Me
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Ficstape #011: McFly – Memory Lane
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Ficstape #044: Revival – Selena Gomez
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Ficstape #048: 25 – Adele
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Ficstape #063: The Maine – Forever Halloween
15. Devil in Me
Ficstape 073: Halsey – Hopeless Fountain Kingdom
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Reminiscência
Outros/Em Andamento
Flawless Curse
McFly/Finalizada
Time Heals Wounds
Restritas [Outros]/Finalizada
Come Away With Me
McFly/Finalizada
14. Easy Way Out
Ficstape #011: McFly – Memory Lane
06. The Mighty Fall
Ficstape #042:Save The Rock and Roll – Fall Out Boy
09. Young Volcanoes
Ficstape #042: Save The Rock and Roll – Fall Out Boy
03. Hands To Myself
Ficstape #044: Revival – Selena Gomez
03. Kiss It Better
Ficstape #047: ANTI – Rihanna
Bônus: Why Do You Love Me?
Ficstape #048: 25 – Adele
06. Grown
Ficstape #053: Little Mix – Get Weird
08. Colors
Ficstape #054: Halsey – Badlands
06. Only Angel
Ficstape #059: Harry Styles – Harry Styles
12. Forever Halloween
Ficstape #063: The Maine – Forever Halloween
15. Devil in Me
Ficstape 073: Halsey – Hopeless Fountain Kingdom
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