Finalizada em: 04/06/2021

Capítulo Único

O som alto do karaokê foi o suficiente para despertar o espírito natalino das famílias. Desde muito novas, null e null aprenderam a passar o Natal e Ano Novo juntas, como uma grande família. Fazia um tempo que null estava para baixo por causa do término de seu namoro e null se sentia extremamente egoísta por ter ficado feliz com aquela separação. Nick não era uma boa pessoa para null e todos sabiam. Ele foi o motivo da primeira briga das duas e, de acordo com o bastardo, null era o motivo do término deles.
¿Qué pasa, mija? — Teresa perguntou à filha, que estava cabisbaixa. null estava realmente abatida.
— Nada, mami. — a menina sorriu.
— Ela não está brava com você, mija. — a mulher disse. — Mais com ela do que com você.
— É, eu duvido. — a menina disse baixo.
— Você deveria dizer a verdade para ela, null. — sua mãe lhe deu um beijo na testa.
— Que verdade? — ela perguntou confusa.
— Você sabe, mija. — sua mãe lhe ofereceu um sorriso. — E está tudo bem se sentir assim.
Merry Christmas, Everyone era a música da vez e null se levantou, indo até a melhor amiga. null estava sentada no sofá apenas acompanhada de uma taça de vinho. A jornalista juntou-se à amiga na bebida.
— O quê? — null a olhou feio.
— Quando Jesus transformou a água no vinho, ele não disse que era para acabar com todas as garrafas que temos em casa. — null tentou brincar. — E você sabe, ele é o aniversariante amanhã.
— Você é sem graça. — null resmungou.
— E você está o próprio Grinch com esse humor, null. — o sotaque carregado de null fez com que null sentisse o conforto em sua voz. E aquilo havia se tornado costumeiro, apesar de ela tentar reprimir a todo custo. Ela gostava de homens, certo? — O que foi?
— Seu sotaque faz meu nome ficar bonito.
— Não é meu sotaque, nena. — null riu. — É seu nome.
— Nah, duvido. — ela fez uma careta. Seu nome não ficava bonito saindo da boca do ex-namorado.
— Desculpa ter sido o motivo do seu término, null.
— Você não foi. — null sorriu para a amiga. — Aquele bastardo foi o motivo. Eu não ia parar de falar com você porque ele queria.
— Ele pediu isso? — null arregalou os olhos,.
— Sim. Eu jamais faria isso, só para você saber.
— Eu sei. — null sorriu. — Amo você, nena.
— Também te amo. — null engoliu todo conteúdo da taça de vinho. — Vamos cantar.
null sempre odiou cantar, no entanto, fazia por null. Ela respirava música. null era compositora e ganhava dinheiro em cima de suas lindas composições. null, é claro, sempre dava um jeito de encaixar isso nas colunas que escrevia. A melodia de Last Christmas, do Wham!, surgiu na sala. Oh, isso seria bom.
Last Christmas, I gave you my heart, but the very next day you gave it away…null cantou. — This year, to save me from tears, I’ll give it to someone special!
null acompanhou a amiga na cantoria e as duas fizeram um show. Andrea, a mãe de null, gravou a cena. Sua filha não estava totalmente sóbria, mas estava longe de estar bêbada. Em sua melhor essência era a que tinha null ao seu lado e todos viam isso. As duas sempre cultivaram em si um carinho especial pela outra. O jeito que null olhava para null dizia muito sobre o que ela carregava em seu peito, e estava longe de ser apenas amizade. E… Bem, o jeito que null falava da melhor amiga transbordava carinho e orgulho, como se não houvesse ninguém no mundo que a fizesse sentir assim, o que também não era uma mentira.
A ceia natalina foi extremamente agradável, exceto pelo fato de que null e null encheram a cara. No fim da noite, o pai de null levou as duas para casa. A redatora, então, teve uma ideia.
null? — null chamou a amiga. null encarou a mulher. — Vamos fazer um acordo?
— Gosto de acordos. — a outra deu um sorrisinho.
— Você tem algo que nunca me contou?
— Sim. Você tem?
— Bem, sim, tenho. — null admitiu. — Na virada, o que acha de confessarmos algo uma para a outra? Mesmo que seja bobo.
— Uhhh, eu gosto da ideia! — null deu um pulinho.
— Será que você pode dormir comigo hoje? — null preparou sua melhor feição de cachorro que caiu do caminhão de mudança, mesmo que não precisasse.
— Durmo, mas só se você fizer carinho no meu cabelo até eu dormir.
— Claro que vou, nena. — null a chamou pelo apelido que ela gostava.
As duas, de mãos dadas, foram até o quarto da redatora, que era bem maior. null cantarolava sua música favorita baixinho, uma das que null sempre gostava de ouvi-la cantar, porque quando null o fazia, dava tudo de si. A voz um pouco rouca e calma lhe dava uma sensação de paz enorme, apesar de quase todos os momentos em que null estivesse, null sentia paz. Mas, ao mesmo tempo, encontrava seu caos.
Antes de se deitarem, trocaram de roupa e colocaram seus pijamas. null pegou duas cobertas — porque null sempre roubava a sua no meio da noite — e se enrolou em uma delas. null foi até o quarto da amiga e deitou-se ao seu lado, enroscando seus pés no dela.
— Seu pé está muito gelado! — null reclamou. — E você ainda está de meia. Como isso é possível? Você é a Elsa por dentro? Coração congelado e tal?
null soltou uma gargalhada.
— Claro que não, idiota. Eu só sinto frio.
— Tudo bem, agora fica quietinha que eu vou cantar para a gente dormir. — null disse, passou seu braço pela cintura de null e fechou os olhos.
null começou a cantar Mirrors do Justin Timberlake. Sabia que aquela era uma das músicas favoritas de null, no fim das contas. Conforme a música continuava, a redatora foi sentindo, aos poucos, seu corpo relaxar.



A única luz que iluminava o quarto de null era a da televisão ligada. null e null estavam há quase duas horas para decidir o que iriam assistir. Passaram pelos filmes de heróis, de romance, séries… Nada agradava as duas mutuamente.
null, sim! — null disse, animada. — É claro que a gente vai assistir The Mentalist.
— Por favor, de novo não… — a menina implorou. — Eu assisto até os filmes estranhos que você gosta. A gente só assiste The Mentalist.
— Por favorzinho… — null fez um biquinho.
— Tudo bem, mas só um episódio… — null cedeu.
Até null sabia o que acontecia naquele episódio, uma vez que ela já o tinha visto milhares de vezes com null. Na maioria das vezes, null aceitava assistir qualquer coisa com ela para apenas aproveitar sua companhia. Desde o ano retrasado, a menina havia percebido que seus sentimentos pela melhor amiga não eram apenas de amizade, mas sim de amor. Não que ela não a amasse, é claro, mas null sentia e queria que null fosse algo além de ser sua melhor amiga. Quando se deu conta, null dormia tranquilamente recostada em seu peito, como se tivesse encontrado ali toda tranquilidade do mundo. Aos poucos, seu corpo também relaxou e ela caiu no sono, mais uma vez, abraçada à sua melhor amiga.




Faltavam algumas horas para o Ano Novo e a casa das duas já estava lotada. Alguns amigos de infância, do trabalho de null e compositores amigos de null apareceram, além de, claro, os pais das duas. A festa, é claro, estava animada. null estava conversando com Andy, um de seus parceiros de trabalho.
— É uma pena que Caroline não queira reconhecer aquela composição que você fez, Andy. — null revirou os olhos. — Mas tudo bem…
— Eu só escrevi uma música boba. — ela riu.
— Boba nada, Dress é uma ótima música. E eu sei pra quem ela foi escrita. — assim que o amigo disse aquilo, null passou na frente dos dois e deu um breve olhar para null.
— Foi para Nick. — ela se apressou em dizer.
— Sério? — Andy revirou os olhos. — Você não quer admitir para si mesmo que você está apaixonada pela sua melhor amiga, assim como ela está por você?
— Ela não está apaixonada por mim! — ela cochichou, em tom briguento.
— Ela te olha como se só tivesse você na sala. — ele riu e bebericou um pouco do vinho que bebia. — E olha que tem bastante gente aqui.
null parou e prestou atenção em null.
— Você lembra da sua festa surpresa desse ano?
— A que o Nick fez? — ela franziu a testa. — O que tem ela?
null a fez. — ele riu baixinho. — Mas deixou Nicolas dizer que foi ele porque sabia que você ficaria feliz.
— Não acredito! — ela exclamou. Quer dizer, aquela era uma fala contraditória, porque ela acreditava sim. E muito.
— A garota gosta de você, null. — ele sorriu. — E você deveria aproveitar.
No fundo, os sentimentos dela a apavoravam. null se lembrou do dia que percebeu que seus sentimentos por null não eram apenas de amizade.



Um barulho alto chamou a atenção de null naquela noite. A risada de null, no entanto, a acalmou. null estava chegando em casa da festa da empresa, Nick deveria ter a deixado em casa. A redatora encontrou a amiga sentada no sofá, rindo sozinha. Ótimo, as duas estavam bêbadas.
— Você também teve a noite da bebedeira! — null gritou.
— Sim, tive um dia péssimo. — null confessou.
— O que houve? — em segundos, a preocupação tomou conta de null. — Aquele idiota do Josh! — ela resmungou do editor da revista.
— Espera. Não me conta. Espera um segundinho. — ela disse quando percebeu que nada grave havia acontecido.
null correu até o quarto de null e pegou a garrafa de vinho que sabia que a melhor amiga estava bebendo e a puxou até o banheiro. null riu quando percebeu o que acontecia.
— A gente vai chorar as pitangas na banheira! Com vinho! — null disse, animada. — Continue me contando do seu dia.
— Eu errei o arquivo e ao invés de enviar o corrigido, enviei o original. — ela disse. — A revista saiu hoje com erros e eu levei um esporro gigante! Poxa, ele podia ter me avisado.
— Bastardo. Vou quebrar meu violão na cabeça dele. O que acha? — null se ofereceu. Aquela sugestão arrancou uma risada de sua melhor amiga.
— Obrigada pela sugestão, mas somos antiviolência, lembra?
— Não me importo se for para te defender, null.
— Te amo, nena. — null a abraçou e beijou sua bochecha.
— Te quiero mucho también. — null se esforçou para falar em espanhol. — Mas ainda posso quebrar meu violão na cabeça dele, ele já está velho mesmo.
null gargalhou do comentário de sua amiga novamente. Essa era a verdadeira essência das duas, falando besteiras para ajudar a outra. Ao ouvir a risada de null, null sentiu seu corpo inteiro formigar. Talvez fosse a bebida, mas ela sabia que aqueles momentos com null eram recorrentes. Talvez ela estivesse, de fato, se apaixonando pela melhor amiga.




Andy correu para o karaokê e sorriu. null sentiu o estômago embrulhar. Quando a música parou, todos encararam o homem, que agora carregava um grande sorriso no rosto.
— Atenção, atenção, pessoal… — ele disse. — Como todos sabem, as duas donas deste apartamento tem um jeito incrível com palavras.
Todos riram.
— Minha amiga, null, compôs uma música linda. — Andy riu. — Estava muito ansiosa para mostrar para vocês.
— Andy! — ela ralhou. Todos a encaravam, inclusive null. null percebeu nela a expressão "música nova e você não me mostrou?”. null sempre foi a primeira pessoa a ler as novas composições de null, assim como null era quem aprovava os textos para coluna de null.
— Essa música é, na verdade, um tesouro escondido. — null pegou o microfone. — A compus depois de um dia de bebedeira, é um tanto especial. Espero que gostem, ela se chama Dress.
A mulher dedilhou nas cordas do violão e deu um sorriso leve. Gostava muito de escrever, mas cantar não era sua paixão. Ela tinha pavor. Engoliu em seco antes de começar o primeiro verso.
Our secret moments in your crowded room, they’ve got no idea about me and you… — ela começou. null conseguia sentir o nervosismo em sua voz. Até que sua melhor amiga lhe deu o sorriso mais encorajador do mundo.
— Você consegue. — null disse baixinho, mas null entendeu.
There is an indentation in the shape of you, made your mark on me, a golden tattoo…
A sala inteira estava vidrada na performance de null. Ela era talentosa à beça, isso era notório. O jeito que ela cantava era bonito e as melodias e letras que ela compunha eram incríveis. Era impossível não apreciar aquilo. Quando null chegou em um verso especial, o corpo inteiro de null pareceu receber um choque.
Say my name and everything just stops, I don't want you like a best friend… — ela cantou como se aquela fosse uma necessidade.
E os próximos versos a consumiram. Falavam, em especial, sobre o dia da bebedeira na banheira. Dos momentos em que elas tiveram apenas uma a outra. Não era possível. Aquela música era para null?
— Está gostando? — Andy apareceu ao lado da redatora.
— E-eu? — ela engoliu em seco.
— Ah, não faça esse jogo comigo, null. — ele riu. — Está em todo seu rosto, em toda sala, em todo e qualquer lugar que você vá.
— O quê?
— Um minuto para meia noite! — alguém gritou. Andy nem se deu o trabalho de respondê-la.
null respirou um segundo antes de se dirigir até a varanda, acompanhada de null.
— Gostou da música?
— Sim, é linda. — null engoliu em seco.
— Você já pensou o que vai me dizer em nossa aposta? — null perguntou.
— Sim. — ela engoliu em seco. — E você?
— Também. — null deu um sorrisinho. Aquela era a hora.
— Cinco segundos! — o pai de null gritou animado.
— Cinco… Quatro… Três… Dois… Um! — todos contavam juntos. — Feliz ano novo!
Assim que as cores dos fogos de artifício surgiram no céu, null soltou a sua confissão junto de null.
— Eu amo você, null! — null disse. — E isso vive em mim há anos.
Eu amo você. Foda-se as regras, foda-se a CBI, eu preciso de você.null riu ao citar a frase de um dos personagens favoritos de null em The Mentalist.
— Você gravou a fala do Rigsby? — a mulher arregalou os olhos. Era muita informação. — E você também me ama?
— Eu amo você mais do que esse emprego, mais do que qualquer coisa. — ela repetiu a frase que Wayne Rigsby disse a Grace Van Pelt.
null abraçou a mulher que estava em sua frente e as coisas realmente pareceram se encaixar. null gostava dela também, o que era ótimo.
null… Eu não acredito que você sempre foi o Rigsby da minha Van Pelt e eu não vi! — ela resmungou.
— Bem… Eu prefiro ser a null da sua null dessa vez, pode ser? — a colunista puxou a melhor amiga para si e, finalmente, uniu seus lábios aos dela. Os gritos dos amigos se intensificaram e o céu brilhou com as cores vermelhas novamente.



US Weekly, 1° de janeiro.

“Essa talvez seja a coluna mais estranha que eu fiz em toda minha carreira. Mas ela é uma boa história, eu prometo. É o seguinte, meus caros leitores, eu me apaixonei pela minha melhor amiga. Que além de ser minha pessoa favorita no mundo é a mulher mais linda, amável, querida e inteligente do planeta. Além de talentosa, é claro. Seria injusto se eu não me apaixonasse por alguém que não tem a mesma relação que eu tenho com as palavras. Elas também são minhas melhores amigas, minhas grandes aliadas. Essa é a primeira coluna do ano e ela não poderia ser dedicada a ninguém menos que a mulher que eu amo, feita do melhor jeito que sei fazer: escrevendo. É estranho finalmente encontrar todos os seus desejos em uma só pessoa, quando, na verdade, ela sempre esteve ali. A risada mais gostosa de ouvir, que você facilmente reconheceria em qualquer lugar. Hoje você acorda com a casa cheia de lixo por causa da festa de ano novo, mas não se importa de catar as garrafas largadas pelo chão porque a sua pessoa está ali. As memórias mais incríveis sempre pertenceram a ela. Os piores dias são suportáveis porque no fim deles, eles estarão lá.
Por isso, eu digo, null, eu quero sempre começar o ano falando de você. Talvez essa seja uma nova tradição, falar sobre a minha pessoa favorita no início do ano para ele começar do melhor jeito possível. É sorte. Sorte minha que tenho uma namorada, melhor amiga e companheira de apartamento tão “null”. E que jeito lindo é viver a vida como null. Obrigada por dividir isso comigo.
Com todo carinho do mundo a todos,
null.



Fim!



Nota da autora: Oi, gente! Eu escrevi essa história para minha melhor amiga e achei que deveria compartilhar ela com vocês também! É minha primeira fanfic lgbt, espero que vocês gostem.

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Nota da beta: Nunca vou cansar de dizer o quanto eu amo suas histórias! Que lindas essas duas, meu Deus! Eu sou louca por esse plot na vida, e ver um amor tão lindo como o delas me deixou apaixonada! 💙

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