Capítulo único
Era um daqueles dias em que tudo parecia dar errado e a única coisa que eu queria fazer era chegar em casa e dormir. E agradeço todos os dias por ter feito isso, pois essa foi a primeira vez que ela apareceu em meus sonhos. Seu rosto ainda estava embaçado, mas a sensação que ela me causou marcou minha vida a partir daquela noite. Não teve um dia em que eu não procurasse aquela mulher em todas as mulheres da cidade, cheguei até a pensar que estava começando a ficar paranoico. Até que um dia, assim do nada, ela apareceu em meu bar.
Era sexta à noite e o bar estava quase lotado. Janet estava atendendo os bêbados no bar enquanto eu estava sentado encarando minha cerveja, tentando não encarar a mulher à minha frente.
- Você vai ter que me encarar mais ou cedo ou mais tarde. – Melanie Carmaichon, minha namorada há exatamente oito anos, quase nove, disse. Eu estava fugindo de Melanie desde que os sonhos começaram, não era que eu não quisesse vê-la ou coisa do tipo, era apenas que eu não sabia explicar o que eu estava sentindo. No caso, o que eu não sentia já algum tempo.
Mel era uma garota incrível, eu sabia disso, mas qual era a razão de continuar um relacionamento quando eu já não sentia o mesmo? Não era que não fosse mais amor, mas era outro tipo de amor, aquele de amigos.
- Eu não sou burra, eu sei o que está acontecendo. Eu só preciso que você me diga. – Foi a primeira vez que eu a olhei nos olhos. – Você não me ama mais, certo?
- Não é que eu não te amo mais, é só que não é mais aquele amor de antes, entende? Faz um tempo que não é.
- Então você preferiu me ignorar em vez de dizer o que estava acontecendo?
- Eu precisava de um tempo pra pensar, colocar as ideias no lugar e fazer isso do melhor jeito para que nenhum de nós saíssemos machucados.
- Acho que é um pouco tarde para isso. – Ela cruzou os braços.
- Eu sinto muito, Mel, sinto mesmo. Gostaria que as coisas fossem diferentes, mas não se manda no coração.
- Então é isso, você se apaixonou por outra? Simples assim! Vai jogar fora oito anos de relacionamento por uma vadia que você praticamente não conhece?
- Mel, por favor!
- Por favor coisa nenhuma! Oito anos, ! Oito anos! E você está jogando tudo fora.
- Você queria que eu ficasse com você mesmo não a amando?
- Sim! Lembra quando você me fez juras de amor e disse que nós íamos nos casar? Aquilo foi tudo conversinha para me seduzir?
- Mel, eu realmente te amei, mas às vezes, na vida as coisas acontecem. Você acha que não dói em mim saber que eu estou te machucando? Claro que dói! Mas eu prefiro terminar com isso logo a te magoar mais ainda.
- Isso? Agora nosso relacionamento virou isso?
- Mel, não foi isso que eu quis dizer. Eu só...
Foi uma questão de segundo como tudo aconteceu. Eu desviei a atenção de Mel para a entrada do bar e foi aí que ela apareceu. Sabe aquela parte clichê de todos os filmes quando o mundo para alguém? Foi exatamente isso que aconteceu. Usava uma jaqueta de couro por cima do vestido que mais parecia um blusão e meias sete oitavos. Foi em direção a Janet e ele apontou para um senhor deitando no balcão. Eu conhecia aquele senhor, era o velho Gary que sempre estava no bar de domingo a domingo, eram raras as vezes em que ele não saia daqui bêbado, muitas das vezes Jannet era quem o levava para casa em forma de favor a uma amiga. Espere um segundo, Jannet e a garota dos meus sonhos eram amigas?
- ! – Ela estalou os dedos na minha frente fazendo com que eu olhasse para ela – Está me ouvido?
- Oi. – Olhei para ela – Estou, claro que estou.
- A nossa conversa...
- Eu já falei tudo que eu tinha que falar, Mel, se você não gosta da minha decisão, paciência.
- Mas, Harry...
- Desculpa, Melanie, mas acabou! – Me levantei ignorando os gritos da minha agora ex-namorada.
A garota passou o braço do senhor em seus ombros, o arrastando para fora do bar.
- Ei, quer ajuda? – Falei, me aproximando dela.
- Não precisa. – Ela disse, sem olhar para trás. Um cara entrou no bar e segurou a porta esperando que ela passasse. Ah, ela não iria me escapar dessa vez.
Sai do bar a tempo de vê-la fazer sinal para um táxi.
- Eu posso te dar uma carona, se você quiser.
- Não preciso de ajuda, sei me virar sozinha. – Ela respondeu, colocando o senhor dentro do taxi. Virou-se para mim e quando seus olhos pairaram sobre mim, olhou-me surpresa.
- Ainda dá tempo de aceitar minha ajuda. – Sorri de lado. Qual garota resistia a um sorriso de lado de ?
- Acho que você já fez o suficiente providenciando toda a bebida. – Ela cruzou os braços.
- Desculpe.
- Não precisa, sei que você precisa fazer dinheiro nessa economia fodida, . – Ela disse abrindo a porta do passageiro.
- Com você sabe meu nome?
- Se você se esforçar um pouquinho, aposto que você consegue se lembrar, bonitão. – Ela entrou no táxi e desapareceu, tão rápido como apareceu, mas eu sabia que aquela não seria a última vez a veria.
Entrei no bar novamente, indo em direção ao balcão. Jannet olhou para mim com cara de poucos amigos.
- O que você quer? – Ela perguntou, impaciente.
- Quem era aquela garota, Jannet? Você a conhece?
- Sim, ela é minha amiga.
- E você nem pra me falar?
- Não sabia que era minha obrigação. – Ela apoiou as mãos no balcão – Você não lembra dela?
- Lembrar dela? Ela já veio aqui antes?
- Ela estudou com a gente.
- O que? Você só pode estar brincando. Impossível, eu não lembro dela.
- Claro, você vivia com a cara enterrada nos peitos da sua namorada. – Ela riu antes de continuar: – Ela estudou uns 4 anos com a gente, ficava sempre na dela e não gostava de chamar atenção. Ela é da Austrália, sua mãe é de lá, mas veio morar aqui logo depois que sua irmã nasceu. Perdeu um bocado do sotaque por conta de ter vindo para as Américas cedo. Foi embora logo quando se formou e, claro, voltou depois que sua mãe morreu. Alguém tinha de cuidar da pirralha.
- A mãe dela morreu?
- Sim. Deixou um velho bêbado e uma irmã pequena para trás, se formou meses antes porque queria vir cuidar da irmã. Você conhece o velho, vem fornecendo a bebida dele por um bom tempo.
- Então é por isso que eu consegui ver seu rosto, eu já o tinha visto antes. – Falei para mim mesmo.
- O que você está murmurando ai? Odeio quando você faz isso.
- , esse é seu nome? – Ela assentiu – Está bem. – Eu estava prestes a sair do bar quando Jannet me chamou outra vez:
- , espere um segundo. O que você quer tanto com ela?
- Nada. – Respondi, me sentando no banco.
- Ah, tá certo, conta outra. Diz logo.
- Se eu te contasse, você não ia acreditar.
- Então me conta porque eu não vejo a hora de ficar desacreditada.
- Você lembra que eu disse que tenho sonhado com uma garota há alguns meses quase todas as noites?
- A que você disse que abandonaria tudo se a encontrasse?
- Essa mesmo. – Ela me olhou esperando que eu continuasse – É ela.
-, vai atrás da sua namorada que é o melhor que você faz.
Eu tinha esquecido completamente de Melanie. Olhei para mesa onde estávamos, e Melanie já não se encontrava mais lá.
- Ela foi embora pela outra porta e estava bem puta. – Jannet se virou para as prateleiras de bebida.
- Eu entendo, Mel e eu terminamos. – Ela me olhou assustada, quase derrubando umas garrafas de uísque.
- O que? Você terminou com sua namorada por uma garota que você nem ao menos conhece só porque sonhou com ela?
- Nós estudamos juntos, você mesmo disse.
- Você nem lembra dela, . Você não pode decidir sua vida porque sonhou com ela por algumas noites.
- Por que não? Por que eu não posso fazer uma coisa espontânea? Porque eu não posso ir atrás dessa garota e chamá-la para sair comigo? Por que não posso conhecê-la melhor?
- Porque você é , sua vida já está toda decidida.
- É mesmo? Não por mim.
- , a única coisa que a precisa na vida é mais problema e você é problema. Tipo nível hardcore.
- Por quê?
- Você sabe porquê. Sua mãe é uma psicopata, quando ela descobrir que você terminou com a queridinha dela para ficar com uma garota que você mal conhece, pode apostar que ela vem aqui te forçar a voltar.
- Minha mãe não pode decidir minha vida por mim ou me forçar a nada.
- Se isso te faz dormir à noite, então continue dizendo isso a si mesmo. – ela parou – , isso é só fogo de palha. Você sonhou com ela, acha que ela pode mudar sua vida, mas na verdade isso aí é só uma maneira de você sair dessa sua vida medíocre de filhinho da mamãe.
- Eu não sou filhinho da mamãe.
- Claro que é, . Você faz tudo que sua mãe manda, ela até te obrigou a fazer faculdade de direito e você fez o que? "Claro, mamãe, vou trabalhar com você! " – Ela imitou minha voz – A única vez que você fez uma coisa contra a vontade da sua mãe foi quando decidiu dar continuidade a esse bar e parece que você gastou o pote inteiro com isso.
- Você não conhece minha mãe, Jannet.
- Pior que eu conheço, , minha mãe trabalhava pra ela e eu devo ressaltar, ela tinha muito a dizer, coisas que você não iria gostar. – Jannet olhou para mim – Desculpa, eu não queria falar isso da sua mãe.
- Está bem, não é nada que eu não tivesse escutado antes. – Minha mãe não era exatamente uma pessoa adorada pelas pessoas. A maioria delas tinha medo dela por conta do poder que ela exercia nessa cidade.
- Você deveria ir para casa, amanhã é seu dia de abrir o escritório. – Jannet não era apenas minha sócia no bar, também trabalhava como uma das advogadas da firma que eu abri em parceria com a dos meus pais. Jannet cuidava mais da parte ambientalista, eu da parte empresarial.
O bar era do meu avô, quando criança ele sempre me trazia aqui para jogarmos na sua antiga sala de jogos que ficava na parte de cima. Minha mãe odiava a ideia, mas não podia ir contra seu próprio pai.
Quando meu avô morreu, deixou o bar em meu nome para caso um dia eu quisesse continuar seu legado. É claro esse sempre foi meu sonho, porém minha mãe tinha outros planos, e eu, claro, os segui.
- Está bem. – Peguei a chave de dentro do bolso – Jannet. – a chamei fazendo-a olhar de novo para mim – Eu não vou desistir da , não sem antes conhecê-la melhor.
Não teve um dia que eu não oferecesse uma bebida a mais para o velho Gary na esperança de que ela aparece para buscá-lo outra vez. Às vezes eu fazia uma ou duas perguntas para saber um pouco mais sobre a sua família, mas o velho Gary as respondia diretamente sem nem ao menos citar o nome da filha.
E o que falar da garota que parecia ter desaparecido da face terra?
Ela ainda aparecia em meus sonhos todas as noites, só que agora mais nítida e com um pouco mais de detalhes. Por exemplo, eu lembro dela me carregando. Não sei ao certo de onde ou para onde, mas ela me carregava e depois desaparecia outra vez.
Às vezes eu até achava que a garota dos meus sonhos estava me evitando de todos as maneiras conhecidas pelo ser humano. Pelo o que Jannet disse, ela vinha no bar nas vezes em que eu não estava e muita das vezes mandava um cara vir buscar seu pai. Claro que eu pensei que o cara poderia ser algum tipo de namorado, mas Jannet disse que era apenas um de seus funcionários que era duas vezes mais forte que ela para carregar um cara bêbado para fora do bar.
Foram quase dois meses tentando esbarrar nela sem querer, ou de algum modo descobrir onde ela vivia ou trabalhava já que Jannet se recusava a me ajudar. Eu entendia perfeitamente que Jannet queria proteger a amiga, não exatamente de mim, mas do que minha mãe podia fazer com ela caso descobrisse que ela era o principal de eu ter mudado tanto. Eu nem conhecia a garota e ela já fazia com que eu sentisse uma enorme vontade de acampar no meio do mato cheio de bichos nojentos ou escalar uma montanha. Não sei ao certo por que, mas ela me passava essa ideia de que tudo na vida era possível, o importante era querer e isso me assustava. Poxa, eu nem ao menos a conhecia, mas ela não saia da minha cabeça. Tinha uma razão pela qual ela tinha aparecido em minha vida depois de tanto tempo e eu estava disposto a descobrir por que.
E parecia que a sorte estava a meu favor.
Era um domingo e quase todo mundo tinham ido embora e passava das onze, o velho Gary estava dormindo no balcão e a qualquer momento o brutamonte que deveria pegá-lo estaria chegado. Você pode imaginar minha surpresa quando uma garota em seus dezesseis anos entrou no bar desacompanhada e foi em direção ao velho.
Ela o sacudiu, puxou sua blusa e até o beliscou, mas o velho Gary nem ao menos se mexia.
- Ei, você não acha que é muito nova pra estar aqui? – Falei me aproximando dela.
- Raul não pode pegá-lo, e como está doente, de cama, eu decidi vir.
- Sozinha?
- É, pra ver se eu consigo fazê-lo andar até em casa.
- Na situação que ele se encontra, acho difícil. – Olhei para ela – Que tal nós fazermos assim: eu já terminei tudo por aqui, então eu poderia te ajudar a levá-lo para casa.
- Você faria isso?
- Claro, é o mínimo que eu posso fazer.
- Muito obrigada, .
- De nada. Você sabe meu nome? – Perguntei e pegando a chave do carro do bolso – Você segura a chave enquanto eu carrego seu pai?
- Tudo bem. – Ela pegou as chaves da minha mão – Minha irmã costumava ter uma quedinha por você. – Olhei para ela colocando o braço de Gary em meus ombros.
- A o que?
- No anuário antigo dela tem um coração na sua foto. – Ela disse indo em direção à saída. Ela segurou a porta com um sorriso nos lábios.
- Verdade? E como você sabe disso? – Perguntei, arrastando seu pai quase inconsciente para fora do bar. O velho Gary ainda resmungava alguma coisa que eu não conseguia entender.
- Um dia, quando ela me mostrava o anuário dela, eu vi sua foto. Ela disse que você era o cara mais popular do colégio, o mais gato e nunca olhou para ela. – ela esperou que eu passasse para soltar a porta – Aí eu disse: claro, , você não gosta de chamar atenção, claro que ele não iria te olhar.
- Ela ficaria assustada em como as coisas mudaram. – Falei parando em frente ao meu carro. A garota abriu o carro e depois a porta de trás. Coloquei Gary no banco de trás e logo que eu o soltei, ele caiu para o lado – Espere aqui que eu vou fechar o bar. – Abri a porta do passageiro para que ela entrasse e ela pulou no banco, colocando o cinto em seguida. – Mais cuidado, é novo.
- Presentinho da mamãe, foi?
- Na verdade, não. Comprei com meu dinheiro.
- Pelo menos um está fazendo progresso.
- Eu já volto.
Voltei para o bar fechando a porta e colocando o cadeado. Entrei no banco do motorista e ela me entregou a chave.
- Eu moro a quatro quarteirões, perto do parque florestal.
- Sério? Pensei que ninguém morava naquelas casas.
- Meu pai era um guarda florestal antes da minha mãe morrer, ela decidiu se mudar pra uma das casas porque sempre foi o sonho dele. Irônico, talvez, já que a casa é a única coisa que ele não pode vender para comprar bebida.
- Seu pai vende tudo pra comprar bebida?
- Praticamente.
- Desculpe.
- Por que você está pedindo desculpa?
- Porque sou eu que forneço a bebida pro seu pai.
- Você é dono de um bar, é isso que você faz. Já pensou se você fosse perguntar o porquê de cada cliente seu estar bebendo? Nossa, você ia à falência.
- É verdade, mas mesmo assim, eu me sinto mal. Nunca pensei pelo lado que eu poderia estar arruinando a vida de alguém enquanto realizava meu sonho.
- Você não está arruinando a vida de ninguém. A culpa não é sua que tem gente que bebe como uma maneira de resolver problemas.
- Sei bem como é.
- Fazia isso também, ? Para fugir da vidinha de filhinho da mamãe?
- Filhinho da mamãe? – Olhei para ela – Sua irmã disse isso?
- Ela não precisou dizer, todo mundo sabe. – Ela riu – Está bem, ela comentou por alto.
- Essa é a imagem que eu passo para as pessoas? Filhinho da mamãe que não sabe fazer nada sozinho?
- Infelizmente, meu caro, sim. Melhorou bastante quando você abriu aquele bar, piorou um pouco quando você abriu a firma em parceria com as dos seus pais, mas melhorou de novo quando Jannet virou sua sócia.
- Não sabia que a vida da minha família era uma novela mexicana.
- Nessa cidade pequena tudo vira novela, e o que seria de nós se não fosse os , eternos filhinhos da mamãe?
- Você conhece o Eric? – Perguntei, olhando para ela. Eric era meu irmão mais novo, tinha seus dezesseis anos e jogava no time de futebol. Tudo bem, ele era capitão do time e o cara mais popular, do mesmo jeito que eu era. Exceto que Eric não namorava a garota mais popular do colégio, na verdade, ele sempre dizia que estava atrás de outra garota que não dava nem um pingo de bola para ele. Isso o matava por dentro, Eric era aquele tipo de pessoa que por mínimo que fosse, demostrava sentimentos em grande escala e pelo o que ele falou dessa garota, ele realmente gostava muito dela.
- Nós estudamos juntos, somos... amigos. – Ela deu uma pausa antes de amigos e eu bem sabia que alguma coisa tinha – É aquela azul. Parei o carro em frente à casa azul e olhei para ela.
- vai me matar!
- Por quê? – Ela me olhou com aquela cara – Espere! Sua irmã não sabe que você foi buscar seu pai?
- Agora ela sabe, Raul já deve ter falado com ela. – Ela desceu do carro e eu a acompanhei – Ela vai vir com todo aquele discurso insuportável de que eu sou irresponsável e blá blá blá.
- Katie , sua irresponsável! – Lá estava ela na ponta da escada coberta dos pés à cabeça apesar de que a noite não estivesse tão fria assim. – Decidiu dar uma de surda e não escutar a porcaria do seu celular tocar? – Ela agora estava de braços cruzados olhando para irmã com raiva – Você perdeu a noção? Inventar de ir buscar o Gary sozinha?
- Ah, , corta essa!
- Corto nada, sua pirralha! Você não deveria ter feito isso, você sabe disso. Sua preocupação é com os estudos o resto pode deixar comigo.
- Pensei que éramos uma família.
- E nós somos!
- Então por que você pode buscá-lo sozinha, e eu não?
- Porque eu sou maior de idade e pago minhas próprias contas. – Ela balançou a cabeça, furiosa – Você não deveria... ? – Ela parou de falar no meio quando percebeu que eu estava encostado no carro vendo a briga – O que você está fazendo aqui?
- Ele me trouxe. – Katie disse – Eu não vim sozinha.
- Isso não importa, Katie. Você não deveria ter feito isso, ainda mais ter colocado o nisso.
- E o que eu deveria ter feito, então? Te ligado?
- Claro.
- , você está doente e de cama, o máximo que você faria era fazer o carregar duas pessoas pra cá. – Katie cruzou os braços e ficou calada. – Adoro quando eu tenho razão.
- Cala a boca.
- Isso não faz com que eu esteja bem um menos certa. – Katie fez pouco fazendo com que borbulhasse de ódio – Raul que te ligou, foi?
- Não, foi o...
- Katie, pelo amor de Deus, onde você estava? – Eric apareceu atrás de . – Desaparecer no meio da fogueira? E ainda deixar um recado: vou pegar o velho, já volto.
- Eric? – perguntei assustado vendo meu irmão sair da casa de . Se eu não me engano, hoje era noite da fogueira pra comemoração da vitória do campeonato e Eric deveria estar lá. – O que você está fazendo aqui?
- Eu lhe faço a mesma pergunta, . – Ele cruzou os braços.
- Eu vim ajudar Katie. – respondi, cruzando os braços.
- Eu vim ajudar .
- Parece que os tem esse instinto de ajudar as cunhadinhas! – Katie falou abrindo a porta do carro.
- Katie! – estava vermelha, não sei ao certo se de ódio ou de vergonha. Talvez um pouco dos dois. – Você deveria ficar agradecida que Eric se preocupa tanto com você, ele veio aqui porque você decidiu dar uma de mulher maravilha.
- Acho que esse é o mal das , então. Mania chata de achar que pode salvar todo mundo. – Katie se virou pra mim – , vai ficar só olhando ou vai ficar aí parado? Leva o velho lá para dentro!
- Mais respeito, ele ainda é seu pai. – falou com um tom de que se dava por vencida – Eric, tem como você ajudar seu irmão?
- Claro. – Eric desceu as escadas e veio em direção ao carro. Peguei Gary de um lado e Eric do outro, abriu a porta e nos guiou até o quarto de Gary.
- Vocês mudaram o quarto dele de lugar? – Eric perguntou, quando abriu a porta de um quarto nos fundos da casa.
- Não dava pra ficar subindo as escadas com ele.
- Essa não é a sua primeira vez ajudando com o velho Gary? – Eric e eu colocamos o velho na cama.
- Não.
- Então Katie é a garota que não te dá bola?
- É. – ele se virou pra mim – Na verdade, ela só não quer que os outros saibam que nós somos – ele deu uma pausa – amigos. Falando nisso, eu tenho que conversar com ela. Com licença. – E ele simplesmente desapareceu. pareceu tão assustada quanto eu com a rapidez com que Eric sumiu.
- Uhm... Obrigada por trazer Gary e não deixar Katie vir sozinha, ela tem esse complexo de que pode fazer tudo sozinha.
- É a genética não erra mesmo. – Falei com um sorriso sapeca nos lábios e pelo jeito que ela sorriu, ela também lembrou da vez que eu ofereci ajuda e ela recusou.
- Mas eu sou mais velha e pago minhas contas.
- E isso faz de você o Hulk por que, mesmo?
- Você está certo. – Ela olhou para os pés – Você quer alguma coisa? Água? Café? Um suco? – , mesmo com uma aparência de mulher, tinha o poder de parecer como uma adolescente.
- Não, obrigado. Acho que vou levar meu irmão para casa.
- Tudo bem, você deve está cansando, eu entendo. – Ela saiu do quarto e eu a segui – Muito obrigada mesmo, Katie pode ser bem irresponsável, às vezes. E desculpe colocar seu irmão no meio disso.
- Ela só estava tentando ajudar, ela não fez por mal. – respondi, andando ao seu lado – Não se preocupe, Eric sabe o que faz.
- Eu sei que não, mas mesmo assim, algo poderia ter acontecido. – Ela olhou pra mim – Se tiver algo que eu possa fazer pra retribuir, eu ficaria feliz em ajudar.
- Na verdade, – parei de andar fazendo com que ela olhasse para mim – eu queria falar com você sobre uma coisa.
- Pode falar.
- É que... Eu preciso de você. – Ela me olhou confusa. Muito bom, , já começou a conversar soando como um psicopata. Ela com certeza vai cair de amores com isso.
- De mim? – Ela perguntou.
- É, você, só você pode me ajudar. – Abaixei a cabeça. Parecia que as palavras que passavam por minha cabeça não seriam suficientes para fazê-la entender o que passava em minha mente.
- Ajudar? – Ela me olhou confusa – Oh, você está falando do bar?
- Do bar? – Perguntei, confuso.
- É, Jannet falou que você queria fazer umas melhorias no ambiente, alguma coisa sobre um salão de jogos.
- O velho salão de jogos do meu avô.
- Exatamente. – Ela cruzou os braços – Eu não posso fazer nada por você agora, mas se você passar onde eu trabalho, nós podemos conversar.
- Claro, o salão de jogos. – Respondi e ela assentiu – Claro que eu quero ajuda com o salão de jogos.
- Se não fosse pedir muito, tem como você ir daqui a uns dois dias, eu estou de licença por conta da virose. Se você for lá amanhã, bem capaz de outra pessoa pegar o projeto, e eu quero te ajudar com isso. Quero dizer, Jannet e você. Fica como forma de agradecimento por ter trazido meu pai para casa e Katie também.
- Ou eu poderia aparecer por lá e falar com a dona dizendo que quero você. – Ela franziu o cenho – Pro projeto. Ela é amiga da minha mãe, você sabe.
- E como sei. – Ela colocou as mãos no bolso de trás – Era só isso? Se você não se importa, eu preciso descansar.
- Claro. – Ela passou por mim indo em direção à porta. – Obrigada outra vez.
- Sempre que precisar, pode ligar. – Ela abriu a porta e esperou que eu saísse.
Não sei o quão surpreso eu fiquei, mas foi o suficiente para que me desse um empurrão e depois pigarreasse. Eric e Katie estavam se beijando, e devo ressaltar, um beijo bem caloroso.
- Você não sabia? – Ela me olhou.
- Eric só falou de uma garota que não dava para ele, acho que ele esqueceu o pequeno detalhe de que ela já deu bola e como deu.
- Então sua mãe não sabe?
- Não.
- Eu deveria ficar surpresa, mas não estou. Acho que é para o melhor.
- Amigos, hein? – Gritei para os dois que se separaram assustados. – Mamãe sabe disso, ?
- Não. E o meu irmãozão querido do meu coração não vai contar nadica de nada, certo? – Eric falou dando aquele famoso riso de lado conhecido pelos os s.
- Claro que não, mas o que eu ganho com isso?
- Meu Xbox.
- Eu já tenho um Xbox.
- Dinheiro?
- Eu tenho dinheiro, você sabe.
- A , então. – Katia falou com um sorriso sapeca não lábios – Você pode ficar com ela.
- Katie! – a repreendeu batendo o pé no chão – Já pra dentro e nada de beijo de despedida.
- Fale por você. – Katie agarrou Eric pelo pescoço e deu um beijo desentupidor de pia.
- Ai, meu Deus! – abaixou a cabeça – Desculpe, eles dois parecem não se desgrudarem.
- Tudo bem, eu sei como é. – sorri para ela – Você quer que eles parem? Eu posso ir lá e separá-los.
- Normalmente eu deixaria, mas amanhã eles têm escola. Já está tarde, sua mãe pode ficar preocupada.
- Está certo. – Virei-me para os dois - Eric, vamos para casa, senão eu conto pra mamãe. – Eric se separou de Katie e me olhou furioso.
- Jogando baixo, hein, ?
- Sempre.
- Imagine quando mamãe descobrir que você terminou com a Mel, o que falarão sobre isso?
- Você e Mel terminaram? – Ela pareceu surpresa – Não precisa responder, não é do meu interesse.
- Terminamos, não que seja do seu interesse. – Sorri vendo-a ficar vermelha.
- Tchau, . – Ela estendeu a mão e eu a apertei.
- Tchau, .
- Tchau, Eric. – Ela disse olhando por cima do meu ombro. Virei-me para meu irmão e Katie que estavam abraçados. Quem diria que Eric estaria apaixonado pela irmã de , a única garota que provavelmente não dava bola para ele.
- Vamos, Eric. – Falei descendo a escada indo em direção ao meu carro. Eric soltou-se de Katie e foi em direção ao meu carro.
- Tchau, . – Eric gritou antes de entrar no carro. apenas acenou.
- Tchau, cunhadinho. – Katie falou antes que eu arrancasse com o carro.
- Katie , hein? Quem diria!
- Pois é, quem diria, meu caro irmão, que eu estaria apaixonado por uma nerd apaixonada por Química e Breaking Bad. Eu só posso ter perdido a cabeça.
- Ou achado. Katie tem cara de que é uma garota incrível.
- E ela é.
- Como, e eu pergunto com todo o respeito, vocês dois chegaram a ficar juntos? Você é capitão do time, deveria estar com o rosto enfiado nos peitos da prima de Melanie, como é o nome dela mesmo?
- Joanna. – Ele parou – Eu até tentei, mas Joanna não me atrai, sabe? Katie me intriga, me desafia e sempre me encoraja que eu posso fazer melhor entende? Eu gosto nisso nela porque ela não faz de propósito, ela me deixa fazer as minhas próprias escolhas e não fica no meu pé do ouvido falando o que eu devo ou não fazer.
- É, acho que é de família.
- No começo, foi difícil, eu odiava Katie com todas as forças e ela também. O senhor Milkovich nos obrigou a ser parceiros de laboratório porque minhas notas estavam baixas, claro que Katie recusou e eu também, mas o professor estava determinado de que nós éramos a solução para o problema um do outro. Katie era péssima em educação física, foi uma troca de favores. – Ele parou – Foi quase impossível não me apaixonar por ela, ela tem frescuras como todas as garotas, tpm, filmes melosos e essas coisas, mas mesmo assim ela é, de alguma forma...
- Excepcional. – Completei – Eu sei como é.
- Presumo que não esteja falando de Melanie, certo? Sem querer ofender, mas ela é só mais uma Barbie. – ele deu um soco em meu braço – Já tem outra gata na parada, hein, ?
- É mais complicado do que imagina, Eric.
- Por causa de mamãe?
- Não, Eric, é que... É que você não entende.
- O que eu entendo é que está mais do que na hora de você fazer as coisas do seu jeito, esse seu namoro com a Mel já não estava dando certo há algum tempo.
- Eu sei, mas mamãe não sabe. Ela sempre sonhou que eu e Melanie casaríamos.
- Exatamente isso. Esse é o sonho da mamãe, , não o seu. O seu está naquele bar.
- E aparentemente na residência dos também. – Saiu de querer, era mais como um pensamento. Eric me olhou desconfiado e depois arregalou os olhos.
- O que? Não vai me dizer que você está interessado no velho Gary? – Ele disse fazendo com que nós caíssemos na gargalhada.
- Não, seu imbecil, na .
- Na ? Você e a ? A , irmã da Katie? Eu acho que não.
- Você e Katie? Eu acho que não.
- Tudo bem, mas a , Harry, por que ela? Por que agora?
- Você lembra que eu estava tendo uns sonhos com uma garota há um tempo, tipo um dia atrás do outro por meses?
- A famosa garota dos seus sonhos?
- É, essa mesma.
- Espera aí! Você não está me dizendo que é a ? – Olhei para ele.
- Surpreendentemente, sim.
- Uau! Você já disse para ela?
- Claro, Eric, até porque ninguém nunca usou essa cantada na vida. Acorda, cara! Se eu chegar pra dizendo que eu tenho sonhado com ela, ela vai pirar e provavelmente mandar eu arrumar cantada melhor porque essa já foi usada por todos os homens do mundo.
- Mas ela é a garota dos seus sonhos, literalmente.
- Mas ela não precisa saber disso, não agora.
- Então foi por isso que você terminou com a Mel? Por causa dela?
- Foi e não foi. Como você mesmo disse, esse meu namoro com a Mel já não dava mais certo há algum tempo, foi apenas um empurrão a mais nisso. Acho que é esse o efeito em você, sempre te empurrando a fazer melhor.
- Isso não quer dizer que mamãe não vai ficar muito puta.
- Como você mesmo disse, eu tenho de tomar as rédeas da minha própria vida, certo?
- Quem te viu, quem te vê, , deixando de ser um filhinho da mamãe.
- Eric, eu ainda posso quebrar sua cara. E você fala como se não fosse um também.
- , meu caro, não tanto quanto você.
Minha mãe ficou muito puta. Muito puta mesmo. Quando a notícia de que meu namoro com Melanie tinha acabado correu pela cidade, muita gente da cidade cochichava toda vez que eu passava. Jannet engasgou quando a mãe de Melanie entrou no meu escritório e despejou toda a sua raiva em meu rosto num tapa, bem forte, devo ressaltar.
- Nove anos, ! – Ela gritou – Nove anos você fez a minha filha de trouxa!
- Senhora Carmaichon, também não é assim. Eu amei Melanie por muitos anos, mas às vezes coisas acontecem, às vezes o amor acaba. Eu sinto um carinho enorme por sua filha, mas eu não posso continuar namorando com ela porque a senhora ou minha mãe quer. A vida é minha e eu faço dela o que eu quiser.
- Carinho não traz de volta os anos que minha filha desperdiçou com você. Os pretendentes que ela perdeu por sua causa, ela poderia estar casada nesse exato minuto.
- Veja pelo lado bom, ela pode namorá-los agora. – Ela abriu a boca incrédula – Agora dá para a senhora sair do meu escritório ou eu vou ter que ameaçá-la com um processo de agressão?
- Estou decepcionada com você.
- Se você não está incomodando os outros, você não está crescendo. – Senhora Carmaichon saiu do nosso escritório soltando fogos pelas narinas. Jannet começou a me aplaudir.
- Puta merda, ! Se você não fosse como meu irmão, eu poderia pedi-lo em casamento agora.
- Posso recusar o pedido e pedir pra você fechar tudo e abrir o bar? – falei pegando minha pasta.
- Vai para onde?
- Vou no escritório onde trabalha.
- Está dando uma de stalker, agora?
- Não, ela pediu que eu fosse lá para que ela me ajudasse com a reforma do salão de jogos.
- Hum... Usando seu avô para conseguir a garota.
- Que coisa horrível de se dizer, Jannet, principalmente porque foi você quem sugeriu que ela me ajudasse.
- Mas foi antes de você vir com essa história de que a é a garota dos seus sonhos que vai mudar sua vida.
- Parece que você estava adivinhando, essa é a chance que eu tenho pra conhecê-la melhor.
- Pois vai lá, garanhão.
O escritório onde trabalhava ficava no centro da cidade, a dona era uma velha amiga da minha mãe, Eleanor. Ela era dona de uma empresa de publicidade e sua filha da parte de design de interiores, seus irmãos da parte de design gráfico e sua neta da parte de design de moda. Era um prédio grande, e quase toda a família de Eleanor trabalhava nele. Isso era uma coisa muito comum na nossa cidade, amigos ou familiares se juntarem para montar um negócio.
Estacionei o carro em uma das vagas da parte coberta e fui em direção ao elevador. Minhas mãos suavam e, para minha surpresa, eu estava mais nervoso do que eu esperava. Não tinha um segundo que não pensasse nela, pior ainda era quando eu fechava os olhos e a encontrava em meus sonhos.
tinha tomado conta da minha vida e não tinha feito nenhum esforço para isso, as vezes eu até me pegava repetindo a mesma pergunta na minha cabeça: como eu nunca prestei atenção nela antes?
A porta de elevador se abriu e quando eu olhei para cima, estava segurando uma caixa com as mãos e a apoiando com o joelho.
- Oh, olá, . – Ela disse, empurrando a caixa com o joelho para cima.
- Você quer ajuda? – Perguntei, entrando no elevador.
- Por favor! – Peguei a caixa de suas mais e parei ao seu lado.
- O que você está fazendo com uma caixa tão pesada?
- São as coisas que a ex-estagiária pegou emprestado de mim. Acredita que ela ia levar minhas coisas junto com ela?
- Acredito. As pessoas dessa cidade não têm limites.
- Eu estava até acostumada a não ter ninguém falando sobre a minha vida, sabe?
- Lá fora ninguém liga, né?
- Não.
- Deve ser bom, não ter ninguém falando da sua vida como se fosse uma novela das nove.
- É, mas eu às vezes até senti saudade sabe? Pegue como exemplo o Gary, às vezes ele sai do bar e se perde por aí, mas sempre tem alguém que liga para avisar onde ele está. Em uma cidade grande era bem provável que ele se perdesse e demorasse sabe-se lá Deus quanto tempo para achá-lo. – A porta do elevador se abriu e nós saímos.
- Senhor , fazendo o que por aqui? – Emily, uma das amigas de Melanie, trabalhava como secretária para o escritório de Eleanor.
- Ele está comigo, Emily, o senhor é o meu próximo cliente. – Emily olhou para ela confusa – Ele e Jannet são meus clientes, eles são os donos do bar.
- Oh, claro.
- Por aqui, senhor . – Ela disse abrindo a porta de sua sala.
- Você pode me chamar de . – Respondi tomando a liberdade de sentar na cadeira em frente à sua mesa.
- Se eu te chamar pelo nome, elas podem levar isso pelo lado errado. – ela se sentou em sua cadeira – E você sabe como as pessoas dessa cidade gostam de falar da vida dos outros, principalmente de envolve os filhos da ma... Os .
- Pode falar filhinhos da mamãe, não é como se Katie já não tivesse falado a mesma coisa.
- Ai, meu Deus! Katie, Katie, o que eu faço com aquela garota?
- Ele é meio impossível, deu pra notar.
- Meio? Impossível e meio, você quer dizer. – Ela colocou os cotovelos na mesa – Então, você tem alguma ideia? Alguma cosia especifica que quer fazer com o lugar?
- Na verdade, eu não faço ideia, pensei que você ia me ajudar com isso.
- Mas você também tem que me dizer o que você quer, é o seu bar, o seu espaço, não tem que deixar ninguém escolher por você. – Ela olhou para mim – Desculpa.
- Você tem razão. Eu queria conservar as coisas do meu avô sabe? O lugar que ele tinha me traz muitas memórias então eu queria que você fizesse parecido com isso. – Mostrei uma foto antiga minha e do meu avô.
- Você quer as coisas desse jeito?
- Não exatamente, mas bem parecido.
- Tudo bem então. Eu tomei a liberdade, quando você Jannet me falou do projeto de pensar em algumas coisas, mas eu teria que ir lá para ver com a trena para medir tudo. Não é exatamente igual, mas eu posso mudar.
- Claro, só aparecer por lá que eu te mostro o lugar.
- Deixa eu te mostrar o projeto que eu já pensei, baseado no que a Jannet disse. – Ela virou o notebook para mim – Eu não sei se você vai gostar, mas eu fiz uma espécie e "man cave", tem um tocador de vinil, alguns fliperamas. Eric disse que você gosta muito dos clássicos, né? Ele também disse que você ainda tem os LPs do seu avô, certo?
- Tenho sim, os adoram um clássico. – Puxei o notebook para perto – Isso é incrível! – Olhei para ela – Parece muito com o canto em que meu avô tinha. Os fliperamas, a vitrola, você até colocou a prateleiras de livros e também de vinis.
- Eu também tomei a liberdade de colocar outras coisas como televisão, vídeo games e essas coisas no projeto. É tipo como se fosse um encontro entre a época do seu avô com a sua.
- , eu poderia te beijar agora! – e ataca mais uma vez em forma de um psicopata – Desculpe, é que...
- Não precisa se explicar. – ela se levantou – Se você quiser, nós podemos ir lá agora, eu não tenho mais nada pra fazer aqui mesmo.
- Claro. – Me levantei também.
Acompanhei em direção ao estacionamento recebendo um piscadela de sua secretária. Claro, agora que eu estava solteiro, dava carta branca para as solteiras da cidade darem em cima de mim. Mal sabiam elas que eu já tinha olhos em outra, que tinha um belo corpo e ficava mil vezes mais sexy usando salto. Claro que eu insisti para que fôssemos no mesmo carro, mas ela se recusou. Segundo ela, aproveitaria para logo carregar Gary para casa um pouco mais cedo.
Jannet engasgou quando eu entrei no bar e logo depois entrou atrás de mim, o velho Gary agarrou mais a sua bebida quando viu a filha se aproximar.
- Não se preocupe, não vim aqui pra te buscar. – Ela disse parando ao seu lado – Ainda não.
- O que vocês dois estão aprontando? – Jannet perguntou.
- Viemos dar uma olhada no lugar lá em cima pra ver se o projeto que fez condiz com o espaço.
- é a melhor design de interiores que eu conheço.
- Eu sou a única que você conhece.
- Mas não quer dizer que você não seja talentosa. – Jannet pegou a chave do chaveiro – Você quer que eu vá com ela?
- Eu posso ir.
- Eu vou também, só pra garantir. Jason, toma conta do bar para o velho Gary não tomar nada de graça? – Jason apenas assentiu e foi para trás do bar.
- Você fala como se eu fosse pegar alguma coisa sem pedir permissão, minha querida Jannet.
- Você fala como seu eu não te conhecesse, Gary. – Jannet parou em nossa frente – Vamos, meu lindinhos.
- Odeio quando você fala assim. – começou a segui Jannet.
- Pensei que todos esses anos você já tinha se acostumado, querida.
- Não me chama de querida.
- Posso chamar de amorzinho? – Jannet e começaram a subir as escadas e eu fui logo atrás.
Eu estava um pouco nervoso, não por conta da presença de , mas por ir ao lugar onde meu avô se fazia presente tão vividamente. Nesses anos desde que eu reabri o bar, eu subi umas duas vezes para o salão de jogos, mas não consegui nem ao menos abrir a porta. Simplesmente não parecia algo que eu poderia fazer sem meu avô.
- Você está bem, ? – Jannet falou olhando para mim.
- Claro que estou.
- Pois não parece, você está aí todo calado. -Você está passando mal? – perguntou, parando em frente à porta do salão de jogos – Se você quiser nós podemos fazer isso outro dia.
- Não é isso. É que ele não vem aqui com muita frequência, por conta de que lembra muito seu avô. – Jannet explicou.
- Se você quiser eu posso fazer tudo com a Jannet.
- Uma hora ou outra eu vou ter que entrar mesmo, então é melhor fazer logo de uma vez.
- É, , está mais do que na hora do deixar de frescura.
- Que coisa horrível de se dizer, Jannet, tem gente que lida com a dor de modos diferentes. Às vezes é bem mais difícil do que se seguir em frente, pega o Gary por exemplo, enche a cara para tentar superar a morte de minha mãe.
- Você tem razão, monstrinha, desculpa. Continue de frescura, . – Jannet abriu a porta e deu para sentir a poeira sair – Está meio empoeirado, como vocês podem ver.
O salão ainda tinha as cosias do meu avô, cheio de poeira e com alguns lençóis por cima, mas ainda era do mesmo jeito que ele havia deixado. Voltar pro lugar me trouxe várias lembranças e fez com que a saudade apertasse dentro do peito.
- Acho que o piso pode ficar, – começou – mas o resto teria que ser tudo novo. Provavelmente os cupins já fizeram a festa junto com o mofo. Qual foi a última vez que vocês limparam aqui?
- A última vez que eu vim foi há dois anos, o bar eu consegui tocar pra frente, mas aqui, no nosso canto, eu não conseguia.
- Eu que pedia pros caras só darem uma geral, mas vejo que foi o mesmo que nada. – Jannet falou olhando em volta.
- Acho que tem muita coisa que você gostaria de ficar, certo? – olhou para mim.
- É, mas pra ver o que eu quero ou não quero, vai demorar pelo menos um mês.
- Se você quiser, eu ajudo. – Olhei para ela – Ou não.
- Não, claro que você pode ajudar.
- Eu também posso ajudar. – Jannet disse.
- E o Eric e a Katie também.
Demorou umas duas semanas para que nós conseguimos separar tudo que deveria ou não deveria ficar. Jannet, Eric, Katie e, claro, ajudaram com tudo se alternando em times. Jannet vinha pela manhã, à tarde Eric e Katie e à noite vinha. Se tornou quase uma tradição Eric e eu carregarmos o velho Gary para o carro e deixar as meninas em casa.
Nesse meio tempo quase não tive nenhum tempo a sós com , ela trabalhava o dia todo e quando vinha pro bar todos já estava ajudando. Claro que Katie às vezes saía com Eric, e Jannet inventava de ir checar as coisas no andar de baixo para que eu pudesse chamá-la para sair, porém nem com todas as tentativas eu consegui. As palavras simplesmente não saiam, e , não parava de tagarelar sobre o projeto. Um tempo depois, Katie disse que quando gostava de um cara, ela tinha a tendência de falar pelos cotovelos então, por via das dúvidas, aquela quedinha que ela tinha por mim ainda estava existia.
A reforma do bar começou na semana seguinte, às vezes passava lá para ver como as coisas andavam, mas como ela tinha outro projeto em mãos, não podia ficar muito. Pelo menos agora nós conversávamos enquanto eu levava Gary para casa e também quando Eric e Katie terminavam de se despedir, o que demorava pelo menos umas três horas. Essa história demorou uns dois meses e eu sempre procurava a oportunidade perfeita pra chamar para sair, porém toda as vezes que eu fazia ela voltava a atenção para o projeto e eu me pegava em lojas de departamento escolhendo móveis e quadros. Não contava como encontro, mas era uma maneira de ficar um pouco mais perto dela. E, garoto, não tinha se transformado apenas na garota dos meus sonhos, ela também virou a garota da minha realidade e não tinha um dia que eu não quisesse agarra-la e pedi-la que fosse minha.
Era quarta à tarde quando eu escutei o barulho de salto ecoar pelo bar, Jannet olhou para mim e sorriu. O bar ainda estava fechado e para a nossa infelicidade o ar condicionado estava quebrado, Jannet como péssima sócia ainda me fez carregar todas as caixas das novas bebidas para o inventário.
- Cadê meu filhinho da... Ai, meu Deus, ! – Ela disso logo quando eu saí de trás do balcão – Cadê sua camisa?
- Está quente, decidi tirar.
- Amém! – Ela resmungou, mas eu consegui escutar.
- O que?
- Nada. – Ela cruzou os braços – Está pronto?
- Pronto pra que?
- Hoje é o dia que vamos naquela loja de fliperamas na cidade vizinha.
- Pensei que eu ia com Raul.
- Raul não vai poder ir, então como eu já entreguei o outro projeto, decidi te ajudar.
- Não precisa, eu posso ir sozinho.
- Oh, mas é claro. – Ela pareceu decepcionada – Tudo bem. Era isso, tchau então. – Ela se virou para ir embora – Tchau, Jannet.
- Tchau, monstrinha. – Jannet jogou um pano em minha cabeça fazendo com que eu olhasse para ela – Vai atrás dela, idiota. – Jannet resmungou e eu corri para a saída do bar. estava em frente ao seu carro quando eu a segurei pela mão, fazendo-a parar.
- Ai que susto, garoto! – Ela se afastou – Que foi?
- Vamos no meu carro. – Ela abriu um sorriso – Você espera eu só colocar a camisa?
- Ou você pode ir sem, aposto que ninguém vai reclamar.
- Você ia gostar?
- Não só eu.
- Sempre soube que você tinha uma quedinha pelo jogador aqui.
- Se toca, , você é advogado agora.
- Não vai dizer que não gosta do novo aqui?
- Nada mal, eu até... – ela parou de falar e olhou para mim – O que? Está olhando o que?
- Você e essa sua eterna queda por mim. – Me aproximei dela. estava com as bochechas rosadas indicando que ela estava envergonhada.
- Eterna queda? Sai daqui! Vai logo, . Estou te esperando no carro. – Ela me empurrou e se virou de costas. Eram momentos como esse que aumentavam minhas esperanças com ela, eu sabia que ela também se sentia atraída por mim.
- E aí, ela foi embora? – Jannet perguntou, apoiando-se no bar.
- Não, vamos juntos. Joga aí minha camisa. – Jannet pegou minha camisa atrás do bar e jogou em minha cara.
- Tomem cuidado, parece que vai chover.
- Com o calor que está fazendo? Acho bem difícil. – Vesti minha blusa. – É hoje, Jannet!
- Finalmente! – Ela jogou as mãos para o céu – Você está nesse vai ou não vai há meses.
- Dessa vez sua amiga não vai me escapar Jannet, ela vai ser minha.
- Prevejo até o grude, fiquei um pouco enjoada, porém muito feliz.
foi o caminho todo calada. Tentei até puxar um assunto com ela, porem ela apenas monossilabicamente, dava para perceber que ela não estava para muito papo. Provavelmente algo tinha acontecido e ela não queria me contar, ela era o tipo de pessoa que guardava todos os problemas para si mesma. Aquele velho complexo de mulher maravilha que não precisava de ninguém.
A cidade vizinha ficava apenas há trinta minutos, então não demorou muito para que chegássemos, desceu do carro e entrou logo na loja. Desci do mesmo e a segui.
- Ei! – Segurei em seu braço fazendo com que ela se virasse para mim – O que você tem?
- É Katie. – Ela disse olhando para os pés – Uma das garotas do colégio descobriu sobre ela e Eric e ela simplesmente socou a garota.
- O que? Quando isso?
- Antes de eu passar no bar pra te pegar. – Ela olhou para mim – Foi por isso que eu vim em vez do Raul, eu precisava me distrair um pouco.
- Vamos! – A peguei pelo braço e fui em direção a saída da loja.
- , pra onde você está me levando? Não, não, nós temos que escolher os jogos. – Parei em frente ao balcão e disse:
- O senhor aceita encomendas por telefone? – o senhor assentiu – Então tudo resolvido. – Peguei um cartão em cima do balcão e sai pela porta.
- , você está louco?
- Nós vamos fazer alguma coisa pra tirar sua cabeça da Katie.
- Mas e os jogos?
- Olha, aquele bar ali está lotado, o que será que está tendo lá? – Já era noite e parecia que a noite dessa cidade era bem mais animada que nosso bar em dia da independência.
- , espera! – Ela puxou meu braço fazendo com que eu parasse – Você perdeu o juízo? Escuta, nós temos que resolver esse negócio dos jogos, a reforma está quase pronta.
- Eu resolvo isso depois, agora vamos nos concentrar em fazer você se distrair.
- , não precisa.
- Claro que precisa, você vem me ajudando todos esses meses com o bar, já está na hora de eu retribuir.
- É pra isso que você me paga.
- Não estou falando de dinheiro, estou falando de algo sentimental. Você fez com que eu transformasse toda essa dor que eu sentia com a perda do meu avô em algo bom, está na hora de eu transformar essa sua preocupação com Katie em algo bom. – Ela olhou para mim e mordeu o lábio. então soltou um grito e pulou em meu pescoço.
- Vamos, parece que é cover do Snow Patrol. – ela me puxou pelo braço em direção ao bar.
O lugar estava lotado praticamente impossível de se mover fazendo com que eu me agarrasse mais em . Estávamos no bar esperando que os caras virem com a nos atender quando tirou o casaco e abaixou um pouco mais o decote.
- O que você pensa que você está fazendo?
- Se nós vamos querer que eles nos atendam tenho que chamar atenção.
- Tem que ser com esse decote?
- Claro. – ela me olhou desconfiada – Por que você se importa, hein, ?
- Não me importo.
- O que você vai querer, gatinha? – o barman se virou para . Algo dentro de mim queimou por dentro, principalmente o jeito que ele olhava para ela, eu conhecia aquele olhar.
- Duas tequilas e duas cervejas. – Ela respondeu com o seu melhor sorriso. O barman trouxe as bebidas e ela pagou, empurrou a bebida para mim e arrumou seu decote. Pegou a tequila e apontou para mim – Tem que beber e não pode fazer careta.
- Parece até que você não sabe que isso aqui é fichinha pra mim.
- E como sei. – Ela bateu nossos copos e tomou a tequila de uma vez e, para minha surpresa, não fez uma careta.
- Meus parabéns, , não sabia que você tinha isso em você. – Respondi tomando a dose.
- Eu fui pra faculdade em um lugar onde ninguém me conhecia, o que você acha que eu fiz por lá? – Ela começou a beber sua cerveja
- Fiquei um pouco assustado.
- Não se preocupe, não foi nada diferente do que você fez.
- Aposto que foi.
O cover do Snow Patrol fez simplesmente perder o controle, segundo ela, Snow Patrol era sua banda preferida e em todos os shows que eles fizeram na época que ela estava na faculdade. Ela pulava e cantava junto com os caras, até se arrumou com umas garotas que pareciam ser tão viciadas na banda quanto ela. Quando ela voltou para o bar, eu já estava na quarta cerveja, ela estava suada e tomou a cerveja de minhas mãos tomando tudo de uma vez.
- Essa banda não é Snow Patrol, mas eles são muito bons.
- Vejo que você gostou, estava dançando que nem uma louca.
- E você está aqui, parecendo um velho.
- Um pouco mais de respeito, por favor.
– Olha, eles vão tocar minha música favorita. Vem, ! – ela me puxou pelo braço – Vem, , por favor.
- Acho melhor você ir, porque tem uma porrada de marmanjo querendo pegar sua garota para dançar.
- Tudo bem, mas eu não vou dançar. – Ela colocou a caneca no bar e me puxou pela mão pro meio da multidão. Os acordes da música eram conhecidos, era It's Beginning To Get To Me e eu devo admitir não tinha como ficar parado quando essa música tocava. A banda local quando decidia tocar essa música, fazia a galera toda ir à loucura o que não era muito diferente dos presentes naquele bar. Decidi então entrar na onda da Celind e cantar junto, o que pareceu agrada-la já que ela abriu um sorriso.
Foi um impulso, mas meus braços passaram por sua cintura e ela não pareceu se incomodar, na verdade, ela apenas colocou a mão por cima da minha. Ali, naquele momento, tudo simplesmente parecia certo, e eu, juntos daquela maneira parecia que ninguém poderia dizer ao contrário. Como a música mesmo dizia, ela parecia a única coisa que fazia sentido. Pode parecer precipitado, mas foi ali que eu tive certeza que eu a queria mais que tudo.
A música parou e virou-se para mim, meus braços ainda estavam em sua cintura e ela levou suas mãos aos redor dos meus ombros. Levei uma de minhas mãos para seu rosto e me aproximei mais um pouco, fechou os olhos e eu levei isso como um sinal. Nossos lábios se tocaram por um momento e eu senti todo o meu corpo arrepiar, eu estava preste a aprofundar o beijo quando o barulho de trovão fez pular assustada e todas as luzes se apagarem.
- O bar está fechando, aconselho a todos irem embora. – Um dos bartenders subiu ao palco e gritou em alto e bom som. Segurei pela mão em direção à saída do bar, a chuva lá fora estava forte e as pessoas corriam para seus carros.
- Ai, meu Deus, que chuva é essa? – disse, segurando em meu braço – A gente vai ter que correr até o carro.
- Ou a gente pode ir andando mesmo, correr não vai adiantar muita coisa.
- Só se você me levar nas suas costas. – olhei para ela que tinha um sorriso nos lábios – Por favor, meu favorito.
- Sobe aí! – pulou em minhas costas, passando os braços por meu pescoço enquanto eu segurava pelas pernas. O caminho do carro não foi tão longo e não era tão pesada. Quando chegamos no carro, pulou para o banco do passageiro e eu fui para o lado do motorista.
- Nós deveríamos arrumar um lugar pra dormir, não dá pra você dirigir nessa chuva. – Ela disse quando eu dei a partida.
- Tem uma pousada aqui perto, nós podemos ficar por lá.
- Tudo bem pra mim. – pegou o celular e ligou para Jannet avisando que não iríamos voltar para casa hoje, ligou para Katie dizendo que ela deveria ir dormir com Jannet para não dormir sozinha com Gary porem Katie apenas respondeu que Eric dormiria com ela o que fez com que ficasse indignada.
- Você acredita na audácia dessa pirralha? – disse enquanto esperávamos o senhor voltar com a chave dos nossos quartos – Eu peço pro Eric dormir aqui, simples assim.
- Não sei porque você está reagindo assim, não é como você não soubesse que eles dois estão... – olhou assustada pra mim – Você não sabe?
- É que jogar na minha cara não é a melhor opção, sabe? Katie para mim ainda é uma menina, desde que mamãe morreu eu que venho cuidando dela.
- Nós temos um problema. – O gerente falou – A maioria dos nossos aquecedores quebraram com o apagão e só tem um quarto sobrando.
- Sem problema, nós podemos dividir. – pegou as chaves da mão do homem e saiu em direção aos quartos. Engoli o seco enquanto traçava o caminho atrás dela em direção ao quarto.
- Eu posso ficar com o chão. – Disse logo que entrei no quarto.
- Não seja estúpido, , nós podemos dividir uma cama. – Ela disse se sentando na mesma – Não vou deixar você dormir em um chão duro, principalmente que a culpa não é sua.
- Na verdade, é sim. – Sentei ao seu lado – Jannet me avisou sobre a tempestade, eu simplesmente ignorei por conta do calor.
- Percebi pela falta de roupa.
- Vai me dizer que você não gostava de ver o aqui sem camisa pelo colégio?
- Não vou mentir, , meu caro, você era um pitelzinho. – Ela riu – Mas você está bem mais gostoso agora.
- Vou levar isso como um elogio.
- E foi. – Ela parou – Às vezes eu sinto falta do colégio, as coisas pareciam sempre mais fáceis.
- Eu também, a única coisa que eu tinha que me preocupar era com o futebol. – Virei-me para ela – Mas sabe de uma coisa? Nada supera o presente que eu estou vivendo agora. – Ela olhou para mim.
- Claro, você está formado, com seu próprio negócio e sua própria firma.
- Também, mas principalmente porque agora tenho você na minha vida. – Abaixou o olhar. – Como eu nunca prestei atenção em você antes? Como eu nunca vi o quão incrível você é?
- Os silicones da Melanie são bem grandes. – Nós rimos – Talvez você estivesse olhando, só não prestando atenção.
- Mas graças a Deus, eu presto atenção agora. – falei, levantando seu rosto.
- ... – ela disse enquanto eu passava o polegar por seu rosto.
- , tem algo que me atrai pra você, eu não sei exato o que é, mas eu posso ver que você sente também.
- Nós não podemos, , você, a sua mãe...
- , esquece todo mundo, eu quero você de verdade, será que é tão difícil de ver?
- Não, porque eu sinto também.
- Então vamos parar de negar isso. – É assim sem mais nem menos eu a beijei. Beijá-la era como se eu estivesse em casa: completamente à vontade e inexplicavelmente trazia uma felicidade dentro do peito. Eu até cogitei a ideia de talvez eu já houvesse beijado seus lábios antes, mas logo percebi que não, porque se tivesse era bem capaz de eu não querer beijar mais ninguém.
Talvez o destino a tenha colocado em meus sonhos por uma razão, talvez fosse uma forma dele dizer que amor era uma forma de liberdade e não uma prisão. E com ela eu nunca me senti tão livre.
- Oh, garoto, você é problema na certa.
- Se você soubesse o quanto eu esperei por isso.
- Não tanto quanto eu.
- Kate me contou a sua quedinha por mim. – arregalou os olhos.
- Eu vou matar a Kate! – Ela disse escondendo o rosto entre suas mãos.
- Talvez amanhã, mas será que hoje nós podemos aproveitar o momento? – Me aproximei dela outra vez.
- Seu pedido é uma ordem. – passou uma perna de cada lado do meu colo enquanto segurava o meu rosto, passei minhas mãos por sua cintura, começando a beijá-la. Ela tirou meu casaco e o jogou para longe, e eu fiz o mesmo com sua blusa. Separamos nossos lábios apenas para que ela jogasse minha blusa em algum lugar, e logo depois ela estava beijando meu pescoço.
Segurei-a pela cintura e a coloquei na cama, nos livramos das últimas peças de roupa que faltavam. Sabem toda aquela baboseira de que você se sente por completo quando está com alguém que está apaixonado? Pois é, meu caro, eu senti me completo naquela noite.
Quando eu acordei, ainda estava dormindo. Decidi então tomar um banho antes que ela acordasse, nós teríamos de pegar a estrada logo para que ela não levasse uma bronca da sua patroa. Decidi então, sai para o café e pedi para o cara da recepção uma bandeja e ele entendeu que eu estava tentando agradar a garota que estava comigo. Imagine minha surpresa quando ele me aparece com uma bandeja de café pronta para dois, claro que eu agradeci, eu provavelmente faria a pior bandeja de café da manhã para dois. Aproveitei logo para pagar a diária já que teríamos que voltar às pressas para nossa cidade.
Quando voltei para o quarto, estava saindo do banheiro já toda vestida, ela olhou para a bandeja em minhas mãos e sorriu.
- Que garçom bonito, esse! – Ela disse se aproximando e me dando um selinho.
- Nem bom dia eu recebo? – Perguntei colocando a bandeja na mesa e sentando-me.
- Bom dia! – Ela se sentou em meu colo e pegando uma torrada da bandeja, deu uma mordida e depois ofereceu a mim.
- Nós temos que voltar, eu tenho que ir pro escritório e você tem que trabalhar também. – Ela fez uma careta tomando um pouco de café.
- Mas já? Não dá para ficar aqui mais um pouquinho? – Ela perguntou colocando os braços ao redor dos meus ombros.
- Já. – A abracei pela cintura – Mas se você quiser, nós podemos nos ver essa noite, você pode dormir lá em casa.
- Um convite de , eu estou honrada.
- Continua brincando.
- Eu adoraria. – Ela disse me dando um selinho – E tem que ter pizza, muita pizza.
Eu passei o dia todo com o sorriso no rosto, Jannet até chegou a falar que nunca em sua vida me viu tão feliz, nem quando eu consegui reabrir o bar. Talvez fosse o efeito . Ah, essa garota não saiu um segundo de minha mente durante o dia inteiro, cheguei até a pensar que eu estava ficando louco. Talvez eu estivesse, ou talvez esse era o efeito especial que as s faziam nos s, vinte quatro horas por dia zanzando em nossas mentes.
Nós havíamos combinado de que eu a pegaria no trabalho e de lá nós iríamos para minha casa, ambos não queríamos ninguém falando da nossa vida, então ficar em casa comendo pizza e assistindo filme pareceu como uma ideia sensacional.
- , vai atender, deve ser a pizza. – estava sentada no meu balcão usando apenas a minha camisa. Ela desceu do balcão e foi em direção aos pratos.
- Vai buscar a pizza, eu estou verde de fome.
- Pode dizer, o aqui te deu um canseira.
- Mas que papo de pedreiro é esse? Pelo amor de Deus, onde foi que eu fui amarrar meu burro!
- Não sei, mas com O grande não tem problema, ele está bem seguro.
- A gente vai ter que dar uma melhorada nesse seu jeito pedreiro de dar em cima das mulheres.
- Tudo que você quiser, minha flor.
- Sai daqui! – Ela jogou um pano de prato na minha cabeça antes de eu sair da cozinha. Andei até a porta, abrindo-a, porém quase em um impulso a fechei novamente.
Parada ao lado do cara da pizza estava a única pessoa que eu tinha evitado há meses: minha mãe.
- , querido...
- Mãe? O que você está fazendo aqui?
- Eu vim ver como você está. – Ela passou por mim entrando em minha casa. Paguei o cara da pizza e peguei as caixas de suas mãos. – Não vejo você desde que terminou com Melanie e Eleanor disse que você estava reformando o bar, certo?
- É, o velho salão de jogos do vovô. – Respondi, seguindo-a.
- Você deveria ter falado alguma, querido, eu poderia pedir pra Eleanor pegar o projeto.
- Não precisa, eu já tenho uma pessoa pra fazer o projeto.
- Eu sei, Eleanor disse que ela é a melhor. , certo? A filha do velho bêbado Gary e da vedete.
- É dançarina, na verdade. – estava parada atrás de minha mãe. Ela usava minha blusa e segurava os pratos em mãos – E, se eu me lembro bem, você compartilhava desse sonho também. – Ela andou até meu lado e colocou os pratos em cima da mesa.
- É, mas eu me tornei alguém na vida, já sua mãe...
- Se tornou uma dançarina e professora, como a senhora deve saber. – ela olhou para as pernas de e depois para mim.
- Vocês dois... , por que ela está usando sua camisa? – olhou para mim e cruzou os braços.
- Nós estamos juntos. – olhou para mim tão assustada quando minha mãe.
- Mas e Melanie? Vocês dois...
- Já não dava certo há algum tempo e você sabe, eu só botei um fim no inadiável.
- Hum... tudo bem, se isso te faz feliz. – Ela disse fazendo com que até eu ficasse assustado – Eu vou deixá-los a sós, tenho muito o que fazer. Prazer em revê-la, . Tchau, meu filho.
E assim, do nada, apenas desapareceu batendo a porta.
- Foi muito fácil. – disse, sentando-se no sofá.
- Vai ver ela finalmente percebeu que não pode mais controlar minha vida. – Sentei ao seu lado.
- Ah, claro, porque sua mãe aceita tudo muito bem.
- Não precisa se preocupar com nada, ela não vai fazer nada. – Passei um braço por sua cintura – Se você quiser eu converso com ela depois porque agora tem uma pizza enorme de mozarela esperando nós dois.
Sabe quando você acorda com um sentimento ruim dentro do peito? Foi desse jeito que eu acordei no dia seguinte, sentindo um aperto dentro do peito dizendo que algo estava preste a acontecer, algo ruim. Poupei disso, ela já tinha muito na sua cabeça. Jannet percebeu, mas eu nada disse, ela provavelmente contaria para e ela então ficaria preocupada.
Saí do escritório a tempo de pegar no trabalho, ainda faltava uma parte do projeto e eu estava cheio de ideias.
Passei por Emily que abaixou o olhar logo quando eu passei, bati duas vezes antes de entrar no escritório dela. Ela estava de costas colocando algumas coisas dentro de uma caixa.
- Você não sabe a quantidade de ideias que eu tive hoje de manhã.
- Eu não sou mais sua design, Eleanor vai cuidar de tudo a partir de agora.
- O que? Mas por quê?
- Eu fui despedida.
- Por quê?
- Vai dizer que você não sabe?
- Ela não faria isso.
- Claro que faria, . – Ela jogou o grampeador na caixa – Mas foi bom, porque nós dois, sei lá o que isso seja, acaba aqui. – Ela pegou a caixa e saiu da sala.
- , espera! – Falei seguindo em direção a saída. passou direto pelo elevador e foi em direção a escada.
- Eu não vou esperar porcaria nenhuma. – Ela disse indo em direção ao estacionamento – Eu sabia que eu não deveria ter me metido com você.
- Também não é assim, você está com raiva.
- Mas é claro que eu estou com raiva! Eu acabei de perder meu emprego, a única fonte de renda que eu tinha para sustentar um bêbado e uma garota que quer ir cursar Química na Universidade de Cambridge. Deus, como é que eu vou pagar por isso?
- Eu posso te ajudar!
- Eu não quero sua ajuda, você já fez o suficiente.
- ...
- Porra, ! Que saco! – ela se virou para mim – O que tanto você quer comigo, ? Por que, em nome de todos os santos, você insiste tanto em aparecer em minha vida?
- Eu posso até explicar, mas você não vai entender.
- Eu quero que você pelo menos tente.
- ...
- Fala logo, , antes que eu perca a minha paciência.
- Eu sei que vai parecer brega e cantada de bêbado em bar, mas eu juro, você é a garota dos meus sonhos.
- Era só o que me faltava.
- Eu não estou mentindo, . É verdade. – Dei uma pausa – No sonho, seu rosto estava embaçado, mas era você, você vinha na minha direção e me ajudava a levantar. Não sei bem ao certo de onde, mas depois você me carregava para algum lugar enquanto eu dizia que você era a garota mais linda que eu já tinha visto. Claro que como você é você, extremamente sarcástica, respondeu que eu falava isso para todas então eu dizia que não, que você era excepcional. Aí você me olhava, perdendo o riso e dizia: Larga de ser previsível, Marhewson, com aquele cenho franzido e tom debochado. – Ela olhou para mim – Depois disso eu não lembro de mais nada, mas o que eu lembro foi a sensação que você me causou e eu juro, eu nunca me senti daquela maneira. Era algo novo, sem planos, sem frescura e eu gostei daquilo. – Olhei para ela que estava parada em minha frente.
- Não foi sonho.
- O que?
- Não foi sonho, isso realmente aconteceu.
- Mas não pode ser, nós nunca ao menos fomos apresentados.
- Na verdade, você não sabia meu nome é, mas eu sabia o seu. Todo mundo do colégio sabia. – Ela cruzou os braços – Foi há uns dois anos, eu vim passar uma semana com minha família, foi logo quando minha mãe descobriu que estava doente. Jannet me levou para uma festa de uma fraternidade da faculdade de vocês, na época eu não sabia que vocês eram tão amigos, até ela me contar que vocês cursavam o mesmo curso. Você bebeu muito e eu te achei jogado na varanda.
Flashback ( narrando):
Jannet fazia questão de me irritar em todos os níveis possíveis. Não era que eu não gostasse das festas de fraternidade, na verdade, eram uma das coisas que eu mais gostava sobre a faculdade, mas sabe quando você simplesmente está no clima?
- Eu vou ao banheiro, quero retocar minha maquiagem.
- Nenhum desses caras vão ligar pra sua maquiagem.
- Mas eu ligo.
- Volta logo a não ser que você se perca em algum desses gatinhos.
- Seu humor hoje está dos deuses.
- E se eu me perder em um desses deuses gregos, não me salve. – Jannet se jogou nos braços de um cara que estava passando. Subi as escadas e logo que cheguei no banheiro, ou melhor dizendo, na fila quilométrica que tinha na porta.
Avistei uma porta que dava para uma varanda que serviria de espelho, andei até a mesma e tirei o batom da bolsa.
Foi aí que eu o vi, como nunca antes. Eu posso jurar que meu coração deu uma cambalhota dentro do peito. Fazia um tempo que eu não o via, desde que o colegial terminou, mas eu sabia que era ele, nenhuma garota esquece o cara mais popular do colégio, principalmente quando ele era o cara dos seus sonhos.
Tudo bem, era um filhinho da mamãe, mas eu acreditava que um dia ele poderia melhorar, ser mais independente e um pouco menos mesquinho. Talvez com um certo incentivo, ele poderia fazer algo de sua vida em vez de sair por aí fazendo o que quiser porque sua mãe é a juíza e prefeita da cidade.
Abri a porta e me abaixei em sua direção. Os poucos anos fizeram muito bem a , ele tinha conseguido ficar mais bonito, mesmo bêbado e jogado no chão.
- ! – falei, passando a mão por seu rosto – , acorda! – tentei balançá-lo, mas ele não se mexia – , que droga! – Comecei dando tapas de leve em seu rosto – Está bem, você pediu. – Dei um último tapa mais forte fazendo-o acordar.
- O que? – Ele levantou de uma vez fazendo com que eu me afastasse.
- Ai, meu Deus, ! Você está bem?
- Que isso? – Ele olhou para mim – Agressão é crime, eu vou te processar, a minha mãe, ela é uma juíza.
- Você não muda, , sempre o mesmo filhinho da mamãe. Vem, deixa eu te ajudar! – O puxei para cima.
- Eu não sou filhinho da mamãe.
- Claro que é, . Nunca na sua vida você fez algo por conta própria, todo mundo sabe disso.
- Eu queria fazer, sabe? Fazer algo que eu venho pensando há muito tempo.
- É mesmo? Pensando em abrir sua própria escola de mauricinhos filhinhos de mamãe?
- Não. Abrir um bar.
- Você, , quer abrir um bar?
- O que há de errado nisso?
- Não há nada de errado, eu sou não esperaria algo assim vindo de você.
- Por quê?
- Porque você é , por Deus, sua vida já está toda planejada.
- Meu quarto é o do final do corredor. – Ele parou – Me diga.
- Te dizer o que?
- Como minha vida será já que ela já está toda planejada. – abri a porta do seu dormitório, não demorou muito para que se soltasse de mim e se jogasse na cama – Não vai falar? – Ele tirou os sapatos e os jogou para longe. Me atrevi a fechar a porta e andar até o lado da sua cama – Pode sentar, eu não mordo.
- Não, mas é bem gostoso. – Era apenas para ser pensamento, mas parecia que todos os santos estavam contra mim essa noite. Ele apenas sorriu e continuou olhando para mim – Você vai casar com Melanie Carmaichon, você provavelmente vai seguir os passos da sua mãe e virar um juiz e vai ser igual a ela: uma quase ditadora que faz todos os desinformados dessa cidade sentirem medo dela por conta da posição com tanto poder. Vocês vão ter vários filhos, e como todo casamento dessa cidade onde tudo é por aparências, você provavelmente vai ter uma amante. Não é que você não ame Melanie, mas acho que vocês dois não combinam, sabe? Vocês são do mesmo mundo, mas completamente diferentes.
- Eu sou tão previsível a esse ponto?
- Não é questão de ser previsível, é questão de que você não toma as rédeas da sua vida. Você faz uma faculdade que nem ao menos gosta porque sua mãe te obrigou e você em vez de bater o pé e dizer que não queria, apenas se conformou. Se você quisesse mesmo abrir um bar, você iria contra tudo e todos pra seguir o seu sonho porque, , a única pessoa entre sua felicidade e você é você mesmo. Quer mudar seu destino? Comece a agir para que ele esteja ao seu favor, não fique por aí soltando "minha mãe é juíza", tente conquistar as pessoas pela pessoa que você é.
- Você é linda, alguém já disse isso?
- Você diz isso para todas, larga de ser previsível.
- Não, você é excepcional. Simples, mas extraordinária, entende? – Ele se sentou na cama – Se eu abrisse um bar, você sairia comigo?
- Se você fosse solteiro e abrisse um bar pode apostar que ficaria dez vezes mais atraente. Tenta crescer uma barba também.
- Por uma garota como você, eu mudaria até de aparência. – Ele estava se aproximando, cada vez mais perto, até que caiu com tudo em meu colo.
Estava muito bom pra ser verdade.
Final do flashback
- Você me contou sobre o bar.
- E você me encorajou para abri-lo.
- Você estava bêbado.
- Mas eu lembro.
- Você pensava que era sonho até meia hora atrás.
- Não importa! Foi por causa de você, o que disse naquela noite. Por causa de você eu coloquei a história do bar para a frente.
- De mim? , você nem lembrava da minha existência até ter esses sonhos malucos comigo.
- , você não vê? Nós dois...
- Não existe nós dois, nunca vai existir. Isso aqui foi só uma paixãozinha de colegial, já acabou.
- ...
- , me deixa em paz! Volta lá para sua vida de antes, não finge que não tem saudades. – Ela jogou a caixa no banco do passageiro e arrancou com o carro.
E eu fiquei lá, com cara de imbecil, vendo a garota dos meus sonhos escapar outra vez.
Passaram duas semanas desde que me deixou com cara de idiota vendo-a partir, claro que eu tentei falar com ela, mas ela fez um trabalho maravilhoso em me evitar. Katie não olhava nem em minha cara, Jannet falava comigo apenas o necessário. Tentei explicar tudo, mas tudo que Jannet falou foi:
- Você quis realizar o seu sonho de ficar com a garota dos seus sonhos, mas não pensou nos sonhos dela porque é isso que você é, um egoísta.
E saiu batendo a porta com raiva. E por mais que eu odiasse, Jannet estava certa, eu não esperava que as coisas tomassem rumo, porém eu sabia que minha mãe faria alguma coisa para prejudicar de algum jeito, ela sempre fazia algo em nome de proteger os filhos mesmo que isso significasse destruir a vida de alguém no caminho.
Era sexta à noite e o bar estava perto de fechar quando Jannet passou por mim como uma bala xingando no celular.
- O que foi Jannet?
- Não é da sua conta.
- Está bem. – falei indo em direção a saída
- A irmã da , ela desapareceu. – Parei me virando para ela – Parece que o pai dela brigou com Katie e ela fugiu. – Jannet foi em direção a saída do bar – Ela pediu que eu falasse com meu pai porque ele disse que não podia fazer nada.
- Nada? Seu pai às vezes é um imbecil.
- E eu não sei disso?
- Vamos no meu carro. – Jannet entrou no banco do passageiro enquanto eu ia para o lado do motorista. Arranquei com o carro pegando um atalho até a casa do pai de – Será que Eric já sabe disso?
- Aposto que não, acho que não o preocuparia. Você conhece Eric, ele não consegue se controlar, bem capaz dele fazer alguma coisa contra o pai delas.
- Você tem razão.
- Você sabe por que meu pai fez isso, certo?
- O que?
- Se recusou a colocar até a NASA atrás da irmã da ?
- Por que ele é um imbecil e precisa de pelo menos 24 horas pra poder dar como desaparecida?
- Não, porque sua mãe não deixou.
- Ela não faria isso.
- Hoje é festa em comemoração ao fundador da cidade na mansão da sua casa, você realmente acha que sua mãe vai deixar os policiais saírem de lá pra procurar a irmã da , a mesma garota que balançou com seu mundo e fez você fazer coisas que nunca imaginou que faria?
- Não, Jannet! Eu sei que minha mãe não é lá exatamente a pessoa mais amável do mundo, mas estamos falando de uma pessoa perdida no meio da floresta, pelo amor de Deus, ela não iria impedir a polícia de procurá-la.
- , você ainda não percebeu? Sua mãe faz a Cruella Devill parecer palhaço em festa de criancinha, ela mesma disse que Katie era só uma arruaceira e provavelmente estava por aí com um daqueles amigos problemáticos dela.
- Como você sabe que ela disse isso?
- Meu pai, eu liguei pra ele. Ele disse que não poderia fazer nada sobre o assunto, não até que as 24 horas estivessem completas. Ele nunca falaria algo como arruaceira, especialmente sobre a irmã da , a pessoa que ele mais admira nessa cidade.
- Eu não acredito.
- Eu pensei que você era o egoísta, mas porra, sua mãe passa dos limites.
Parei o carro em frente à minha casa sentindo o sangue borbulhando, minha mãe tinha passado dos limites. Primeiro tinha feito perder o emprego e agora deixaria Katie para se virar sozinha por conta de um capricho bobo.
Desci do carro acompanhado por Jannet, passei direto pelos seguranças, quando eu cheguei no salão principal, aí que eu tive mais raiva. Parada ao lado da minha mãe, estava Melanie e sua prima descerebrada.
- Harry, cara, você está bem? – Eric apareceu ao meu lado.
- Não, e nem vou vai ficar com o que eu tenho pra te dizer. – Respirei fundo – A Katie desapareceu na floresta.
- O que? Mas como?
- Ela teve uma briga com o velho Gary...
- Eu vou matar aquele velho.
- Eric, espera! – O segurei pelos ombros – Eu preciso que você reúna todos os caras do futebol para procurar por Katie, a polícia não vai fazer nada.
- Não me diga que é por causa de mamãe, porque se for eu juro...
- Vai logo, Katie precisa de você. – Eric saiu correndo de casa e pelo barulho de pneu saiu pelas ruas que nem um louco.
- , o que está acontecendo?
- Você sabe o que está acontecendo. – Falei, indo em direção a saída.
- Eu não acredito que é sobre aquela arruaceira e a irmã dela.
- Primeiro: Katie não é nenhuma arruaceira e nem , elas são garotas incríveis que querem algo mais na vida do que ser um dona de casa e barbie de plástico. – Respirei fundo – Eu tenho vergonha de você.
- ! O que você pensa que está fazendo?
- Você colocou a cidade inteira contra por um capricho.
- Capricho? Querer o melhor para você é capricho?
- Se você quisesse minha felicidade do jeito que diz, já tinha se tocado que Direito não é meu forte, que meu sonho, na verdade, era ter meu próprio bar e isso bastaria.
- O bar é só um passatempo.
- Aí é que está, mãe, não é. Esse sempre foi meu sonho, desde que vovô morreu e você é a única que não viu isso ainda. Você vive tirando as coisas das pessoas como desculpa para nos proteger, mas você não percebe que você só machuca os outros? Eu perdi a garota dos meus sonhos por sua culpa.
- Você não pode falar assim comigo, eu sou sua mãe.
- Mas às vezes eu gostaria que não fosse. Vamos, Jannet!
Eu juro que nunca dirigi tão rápido em minha vida, a casa de ficava longe da minha, lados opostos para ser mais sincero. Parei o carro em frente à casa de e pude vê-la abraçada a Eric do outro lado da rua enquanto um dos outros caras seguravam Gary pelo braço.
Ela se soltou de Eric no momento em que me viu, ela limpou as lagrimas e me abraçou forte pela cintura.
- Ah, , me desculpe. – Ela disse entre lágrimas.
- Ei, não precisa pedir desculpa, eu entendo.
- Ele estava bêbado e pediu para Katie comprar bebida. – ela parou e respirou fundo – Ela se recusou, então eles começaram a brigar e...
- Calma. – Puxei-a para um abraço – Vai ficar tudo bem, nós vamos achá-la. Eu vou te ajudar.
- Ah, , – ela começou a chorar – e se ela se machucou? E se algum bicho a picou? Harry, pode ter cobras!
- Se acalma! – Falei, passando as mãos por suas costas – Katie é durona, ela vai sair dessa, nós vamos achá-la. Eu prometo.
- Eu e os caras vamos nos dividir em time pra ir procurar por ela. – Eric falou apontando para o seu time.
- Eu vou com vocês. – eu disse passando as mãos pelas costas de .
- Não, cara, fica com a , tenta acalma-la deixa que nós vamos. – Eric se virou junto com os caras e foi em direção a floresta.
- Acho melhor nós sentarmos, - olhei para ela – você quer sentar? – Ela apenas assentiu. Jannet acenou para nós sentarmos em um banco onde ela estava.
- Quem diria que os se apaixonariam por duas garotas e fariam tudo por elas. Eric, dando uma de herói e encarando a mãe pela primeira vez na vida.
- Você brigou com sua mãe?
- Ela não pode fazer tudo isso e sair impune.
- Não quero que você brigue com ela por minha causa, ela é sua mãe.
- Eu sei, mas tudo tem limite. Fazer você perder o emprego e agora isso com a Katie? Isso não se faz, , nem com seu pior inimigo.
- É, sua mãe é uma cobra. – Ela disse limpando as lágrimas – Mas meu pai não está nada longe.
- O que é aquele roxo na cara dele?
- Eric deu um soco nele.
- Te disse pra não chamar teu irmão.
- Mas ele mereceu, admite.
- Tudo bem, se fosse eu, faria o mesmo. Oh, oh! – Jannet apontou para cabeça para a frente. O pai de Jannet estava junto com todos os policiais da delegacia e de bônus minha mãe.
- Qual é o status da situação?
- Não acredito que você tem a cara de pau de perguntar isso. – se levantou.
- ...
- De todas as pessoas dessa cidade, eu esperava mais de você. Eu sei que todo mundo aqui é só capacho da senhora juíza, mas é de minha irmã que estamos falando e ela não é nenhuma arruaceira. – Ela deu dois passos pra frente – Você pode tirar seus policiais daqui, acho que vocês já fizeram o suficiente.
- Me desculpe, , de verdade. Nós estávamos todos na festa e...
- Não precisa explicar, eu sei. – olhou para o lado e quando ela estava a ponto de andar em direção a minha mãe, nós escutamos um grito ecoar chamando seu nome.
Katie vinha acenando de mão dadas com Eric antes de correr em direção a irmã e quase esmaga-la em um abraço.
- Ai, meu Deus, Katie! – a abraçou forte – Você está bem? Está machucada? Se feriu?
- Eu estou bem, eu me escondi em uma das casas dos guardas.
- Ai, graças a Deus! – Ela a abraçou novamente – Dessa vez as coisas vão mudar e muito. – Ela se virou para Eric – Muito obrigada, Eric, você é o melhor cunhado do mundo.
- Eu sei. – Ele disse abraçando Katie pelos ombros.
- E você também, Jannet,
- ela abraçou Jannet - e você . – Ela me abraçou pela cintura.
- Era o mínimo que eu deveria fazer, desculpe pelos policiais. – Disse beijando sua testa.
- Eu sei que não foi sua culpa, eu sei bem de quem foi. – se afastou de mim e foi em direção a minha mãe – A senhora merecia que eu partisse sua cara no meio.
- Me desculpe. O que você disse?
- Você me escutou muito bem. Eu respeitava a senhora, cheguei até a admirá-la por ser uma mulher tão segura tão forte, mas vejo que você só é mais uma ditadora que deixou o poder subir à cabeça.
- Você é muito nova, não entende.
- Pode até ser, mas eu entendo o seguinte: a senhora é uma cobra e da pior espécie! Usa seu poder como forma de controlar as pessoas dessa cidade para que façam suas vontades e quando elas não fazem, você sai por aí espalhando mentiras do mesmo jeito que fez comigo. Me fez perder o emprego e por quê? Porque eu e seu filho nos apaixonamos, e ele não está casando com aquela sem noção da Melanie do jeito que você queria que fosse? Você tem que parar de tratá-los como se fossem criança, já é um homem e Eric também.
- Não diga como eu devo criar meus filhos.
- Não estou aqui pra ensinar ninguém, Deus sabe que não consigo controlar minha irmã, mas a senhora acha que o jeito que vem tratando-os está adiantando? Está fazendo bem? – Minha mãe olhou para nós e ficou calado – Acho que quem cala consente, não é verdade? – se aproximou dela – Eu só vou falar uma vez, e quero que você escute bem, senhora juíza: se você se meter comigo ou com minha família outra vez, eu juro que parto a sua cara no meio. Você pode ter feito eu perder meu emprego, quase ter feito minha irmã se machucar ou sabe lá Deus coisa pior, mas não pense por um segundo que você pode me controlar do jeito que você fez com todos nessa cidade porque eu não tenho um pingo de medo de você. – apontou o dedo para minha mãe que estava horrorizada – E se é pra ir pra cadeia por conta de quebrar sua cara no meio, eu faço isso com o maior prazer. Agora você pega toda esse seu ar de superioridade e sai daqui.
- Você é muito atrevida.
- Acho que a genética a gente não nega, mesmo. – Ela foi em direção à sua casa – Pode levá-lo para o xadrez, senhor Evans, ele precisa de uma noite pra pensar e não vai ser na minha casa. – cruzou os braços e olhou para o pai – Vem, Katie. – Katie e Eric começaram a andar em direção a .
- Eric , não dê mais um passo. – Os dois pararam de andar, Eric se virou para ela.
- E se eu der, a senhora vai fazer o que? Me obrigar a ficar com aquela sem cérebro da prima da Melanie? Ah, não, eu não vou deixar você controlar minha vida do mesmo jeito que fez com . Eu amo a Katie e é com ela que eu vou ficar. – Eric passou o braço pelos ombros de Katie e foi para o lado de . Minha mãe virou-se para mim e disse:
- , querido?
- Você passou dos limites dessa vez. A Katie poderia ter se machucado e isso tudo por quê? Porque eu não fiz exatamente o que você me mandou fazer? Porque eu não me casei com Melanie? Você tem que aprender que a vida é minha e eu faço as minhas escolhas e se você não gosta delas, bem, paciência. Eu ainda vou fazê-las.
- ...
- Eu vou ficar com a . – Falei andando em direção a ela. estava surpresa.
- , você não precisa fazer isso.
- Claro que preciso. – segurei pela mão e a levei para dentro de casa. Eric e Katie também entraram atrás ignorando os gritos de nossa mãe.
- Nós vamos subir.
- Não tão rápido, primeiro, abraço outra vez. – Roberta puxou Katie para um abraço forte – Pronto, agora pode ir. Boa noite. – Os dois responderam e foram em direção a escada. Ela se virou para mim com uma expressão aliviada.
- Agora nós dois. – Ela olhou para mim – Olha...
- Primeiro eu. – eu falei interrompendo – Eu sei que essa história de garota dos meus sonhos é meio estranha, parece até cantada de bar, mas, , você mudou minha vida sem nem ao menos mover um dedo para isso. Você foi o ponta pé inicial para um novo , e eu agradeço todo dia você aparecer em meus sonhos e causar a sensação de que eu podia fazer melhor. E eu entendo se você não quiser ficar comigo, eu entendo. Eu estou mesmo parecendo um louco. Ela mordeu o lábio e fez o inesperado: pulou em meus braços e me beijou.
- Dizem que os loucos fazem os melhores amantes, quer ir provar essa teoria?
- Você não está chateada?
- Jannet me explicou, e Eric também e até Katie. Eu sei que você não fez por mal, e claro essa história é um pouco louca, mas se você for pensar, , eu não fiz nada, foi tudo você. A minha participação foi pequena, isso estava dentro de você eu só ajudei a liberar esse leão.
- E agora esse leão está cheio de amor pra dar. – soltou uma gargalhada.
- , você tem que melhorar essas cantadas de pedreiro, pelo amor de Deus!
- Eu sei que você gosta. – Falei, pegando-a em meu colo e a levando-a para cima.
Foi mais do que difícil deixar naquela manhã, mas Jannet insistiu que eu carregasse as caixas para o inventário outra vez. Demoraria apenas a parte da manhã, e como era sábado, nós podíamos aproveitar o resto do dia como um casal bem meloso que acaba de se reconciliar.
Porém, o dia estava era longe de terminar bem, Jannet apareceu no inventário segurando um celular na mão e a pior cara que pode se imaginar.
- O que?
- Sua mãe, , ela está no hospital! Foi tudo que foi preciso para que eu pegasse o carro e praticamente voasse em direção ao hospital. Entrei nos corredores perguntando por minha mãe até chegar na sala de espera e encontrar Eric, Katie, e Melanie.
- , o que você está fazendo aqui?
- Ela tentou matar sua mãe! – Melanie disse e rolou os olhos.
- Primeiramente, Melanie, cala essa boca que você nem estava lá pra começar a conversar. E o que você está fazendo aqui, mesmo?
- Eu sou amiga da família.
- Não, você está aqui na oportunidade de se acertar com o , mas eu vou logo dizendo que você não vai conseguir. Acorda para vida, Melanie, segue em frente, porque eu posso garantir que ele já seguiu.
Melanie não era a única que estava de queixo, todos na sala estavam. não era o tipo de pessoa que jogava esse tipo de coisa na cara dos outros, na verdade ela era aquele tipo de pessoa que deixava pra lá por conta de não gosta de brigar.
- Você não pode falar comigo desse jeito, eu sou Melanie Carmaichon, o meu pai...
- Foda-se o seu pai. Que saco! Ninguém nessa cidade sabe se defender sozinho? Porra, deveria ter curso para desapegar dessa vida que é de correr para o papai ou pra mamãe toda vez que algo der errado.
- Senhorita, por favor. Isso aqui é um hospital, tenha modos. – a enfermeira falou – Ela está pedindo que chame , algum de vocês é ele?
- Sou eu.
- Vamos, então. – Segui a enfermeira pelo corredor em direção ao quarto de minha mãe. Estava tudo silencioso e minha mãe olhava atenta para a televisão. O barulho da porta fez com que ela olhasse para mim.
- Oh, , querido! – Ela começou a chorar.
- Mãe, não precisa chorar. – Falei, me aproximando dela – Está tudo bem, agora.
- Não está, não. Tudo que eu fiz foi para protegê-los, mas tudo que eu fiz foi magoá-los e também a essas meninas, principalmente .
- Não precisa...
- Eu fui oferecer dinheiro para que ela lhe deixasse em paz e sabe o que foi que ela me disse? Que ela preferia morrer a aceitar qualquer dinheiro meu, especialmente se isso significaria que ela tivesse que ficar longe de você. – ela segurou minha mão – , essa garota é de ouro igual a mãe então eu quero que você fique com ela até o amor de vocês permita.
- Mas eu pensei que você não quisesse que nós ficássemos juntos.
- Tem uma hora que os pais tem que aprender que os filhos tem que tomar suas próprias decisões, considere isso como o primeiro passo para isso. – Ela beijou minha mão – Agora vai lá ficar com sua garota e convença-a a ir jantar um dia lá em casa.
- Com muito prazer. – beijei sua testa.
Saí do quarto em direção a sala de espera, cheguei a tempo de ver indo em direção a saída. Olhei para Eric e Katie que me mandaram atrás dela.
-, aonde você está indo? – perguntei.
- Ai, ...
- , o que foi? – Tentei procurar seu olhar – Me diz o que foi, por favor.
- Desculpa se meter na sua vida desse jeito e bagunçar tudo, eu juro que não foi minha intenção.
- , você entendeu tudo errado, você não bagunçou nada, pelo contrário, você colocou tudo no lugar.
- Mas, , você deveria melhorar por conta própria não por minha conta.
- Mas quem foi que disse que eu ainda não preciso melhorar? Eu tenho muito o que melhorar, eu só espero que você esteja lá, do meu lado, vendo meu progresso. Eu não estou fazendo isso só por você, na verdade, eu estou fazendo por mim. Devo admitir que você foi um grande empurrão, me atormentando em meus sonhos, mas isso tudo, no final das contas, é por mim. – a segurei pela cintura.
- Você sabe né, que eu posso ser a garota dos seus sonhos, mas eu não sou perfeita.
- Eu não preciso de perfeição, eu só preciso de algo que faça sentido. E com você, minha garota dos sonhos, tudo faz sentido agora.
- a beijei antes mesmo que ela pudesse responder – Mamãe quer que você vá jantar na casa dela.
- Verdade? Isso é algum tipo de piada?
- Não, ela quer te conhecer melhor.
- Tudo bem, mas ela tem que provar a comida primeiro só pra testar se não tem veneno.
- Tudo bem. Agora cala a boca e me beija.
- Com muito prazer, senhor .
E então ela pulou em meus braços, me beijando do jeito que eu sabia que ela faria e que ela não sabia que eu adorava.
Fim
Nota da autora:Grupo: Fanfics da Rô
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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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