Finalizada em: 31/07/2018

[Capítulo Único]

Estávamos a uns três minutos do nosso destino, constatei ao abrir os olhos. Sinal vermelho.
Joo continuava inquieta, postura que adquiriu assim que entramos no carro e eu não cuidei de abrir as janelas, como de costume. No lugar, me recostei na mais próxima e quis compensar a noite mal dormida. A cada remexida da garota ao meu lado, porém, despertava e me sentia mal por deixá-la pensando que fizera algo de errado.
Ela procurava espaço para se pronunciar, percebi, mas estava sem jeito. Eu também estava. Com o carro parado, o silêncio conseguiu se tornar mais desconfortável. Aquele era o momento de iniciar uma conversa, pensei, mas Joo me mostrou que o fez primeiro.
– Quer saber de uma coisa? – perguntou, procurando me encarar.
Devolvi o olhar, então ela continuou:
– Eu adoraria ser como você – Joo soltou um sorrisinho.
– Estrangeira? – brinquei.
– Destemida! – ela retrucou, demonstrando convicção.
– Você está falando isso para me animar, porque acha que acordei deprimida hoje? – quis saber, achando graça.
– Eu te falo isso todos os dias, não?
– Não.
– Acho que estive pensando em como dizer, então... Mas tenho de me apressar, senão não terei mais oportunidades tão cedo! – ela piscou um dos olhos e voltou a atenção ao trânsito, pensativa. – Você me faz pensar em... "eu posso ser muito mais"! E também em... "barreiras foram feitas para serem quebradas", coisas assim. Isso é tão invejável, sabia?
E o discurso de Joo não terminou. Ela continuou a falar e falar, mas eu havia me perdido no momento em que ela citou que o meu tempo naquela cidade estava acabando.
Mesmo ouvindo a voz da minha melhor amiga num tom carinhoso de um jeito que nunca ouvira antes, consegui voltar a me lamentar pelos meus sentimentos. Tinha em mente que não deveria ignorar aquela declaração de Joo, que esteve me dando suporte durante toda a minha experiência, mas as outras emoções conseguiam ser mais fortes. Queria deixá-la saber que seria eternamente grata por toda a ajuda que me ofereceu, mas disfarçar a minha confusão vinha sendo tão trabalhoso que todos os meus esforços quase não foram suficientes e esgotaram as minhas forças.
Sinal verde. O carro voltou a encurtar a distância entre nós. Meu coração acelerou, como acontecia todos os dias, desde o primeiro dia. Mesmo antes de vê-lo, quando sabia que estava perto, não podia controlar aquela reação.
– Engraçado que parece que você não nota – Joo ainda falava. – Foi tudo tão incrível. Não sabe o quanto fiquei feliz quando soube que viria e sobre a oportunidade que conseguiu. Você é incrível, garota! Seis anos mais nova que eu, tão jovem e arranjando um trabalho desses! Eu nunca vi algo assim: uma garota linda, na faixa de idade dos garotos, estrangeira, charmosa… e com todas essas características que poderiam fazer desconfiarem de você conseguindo um cargo desses. Tudo bem que a participação do Paul foi fundamental para que conseguisse, mas não faz diferença, porque nós sabemos que você preparou tudo sozinha. Sendo muito esforçada e esperta, deu um passo gigantesco na sua carreira! Estou tão orgulhosa, tão orgulhosa! – quase não parou para respirar no meio do seu falatório, me encarando por um segundo quando lhe faltou ar. – Agora que finalmente estou te parabenizando, parar de fazê-lo vai ser tão difícil! Sempre penso em algo mais que quero te falar… E lembro que está prestes a voltar a ficar longe de mim, então estou colocando tudo para fora de uma vez!
De novo, quando estava conseguindo me distrair e me fazer focar nas coisas boas que conquistei, Joo me empurrou de volta para o lado escuro da minha consciência. Outra vez, eu já não a ouvia mais, pois meus pensamentos falavam mais alto.
Todos estavam orgulhosos de mim, acima de tudo. Eu também estava, no início dessa jornada. Agora, não conseguia parar de me perguntar o porquê de isso ter mudado. Sempre tive em mente que alcançar o sucesso era a minha prioridade. Diferente de tantos, eu tive a sorte de conhecer a minha aspiração surpreendentemente cedo e a oportunidade de me aventurar e trilhar o caminho que melhor me aproximasse dela, mas, nos últimos dias, sentia que estava colocando tudo a perder. Nunca compreenderia por quê, principalmente levando em consideração que jamais me deixei levar por bobagens que adolescentes deveriam sentir, mas era como se, a minha vida inteira, toda a maturidade que eu imaginava ter fosse de mentira. Eu vivia iludida. No lugar de resolver esse problema, porém, eu cuidei de me afundar cada vez mais em situações desfavoráveis. Estava cada vez mais iludida.
Dessa forma, eu nunca passei de uma completa idiota.
– Ah, mocinha! – Joo tirou uma das mãos do volante para espalmar a minha perna, me chamando de volta. – Tem outra coisa que você nunca conversou comigo sobre! Eu nunca cheguei tão perto dos meninos como você, mas sempre os achei uns docinhos e fiquei esperando que fosse comentar algo assim comigo! Por acaso você é tão fria a ponto de não ficar encantada por eles? – ela soava indignada, do jeito que eu sempre achava engraçado, mas, naquele momento, não pude sorrir, nem tive vontade. – Pode confessar tudo para mim, sabe? Não vou pensar que você é menos profissional por isso. Longe de mim pensar dessa forma, até porque eu mesma, quando tinha a sua idade… talvez até hoje, me derretia por todas as gracinhas que passam pelo meu corredor – Joo demonstrava toda a sua animação. – Me conta, seus garotos não são apaixonantes?
Apaixonantes. Infelizmente. De fato, uma droga.
Quis responder, mas fiquei sem jeito. Não pensei na melhor forma de concordar com ela sem que demonstrasse que eu tinha passado dos limites. A garota que ela tanto admira, pensa ser destemida, determinada, controlada, responsável e todas as melhores coisas que resultam na melhor profissional, estava perdida. Perdidamente encantada. Completamente desorientada.
Totalmente errada.
– Você está me ouvindo? – Joo perguntou, me lembrando de que eu não havia a respondido. – Esteve me ignorando o caminho inteiro… Está brava comigo?
Não, não estava brava. Estava com vergonha, travada, me sentindo culpada.
– Me desculpe – tentei colocar algumas palavras para fora, mas o nó que se formara em minha garganta fez parecer um sussurro, tão baixinho que ela sequer ouviu.
! – ela chamou meu nome como quem quer dar uma bronca.
Eu precisava levar um bronca.

✩✩✩

O carro parou.
Joo me deixava um beijo na bochecha todos os dias. Então, me dava as costas e saia em busca do seu corredor, onde passava o resto do dia sorrindo para quem passasse. Geralmente, precisava chegar mais cedo, assim poderia sorrir para o maior número de pessoas. Por isso, eu costumava ser quem acendia as luzes da minha sala favorita.
Pude visitar todas as salas de dança do prédio no meu primeiro dia. Em geral, eram idênticas, mas de tamanhos variáveis. Lembro de ter torcido para poder trabalhar em uma não tão pequena, nem tão grande. Estava muito satisfeita com a que havia ficado disponível para nós.
As salas eram simples, mas bonitas. Possuíam sempre um enorme sofá preto encostado em uma das paredes, outra parede repleta de espelhos e uma segunda porta que dava acesso a um pequeno armário. Quase sempre, um pessoal se reunia nos sofás para assistir ou fazer presença nos ensaios. Alguns, eu sequer sabia o porquê de estarem ali, o que me remetia ao que Joo tanto falava sobre estarem sempre de olho em mim, esperando que eu me comportasse de maneira inapropriada.
Eu me sentia mais confortável, por isso, quando me sentava no chão entre a parede e o sofá, naquele espacinho apertado. A desculpa para passar tanto tempo ali era a de o sofá viver ocupado e o meu celular descarregado, mas, no fundo, queria apenas me esconder. Dali, eu podia observar a tudo, olhar para todos, e apenas quem estivesse me procurando devolveria o olhar. Ele o fazia, às vezes.
As luzes da sala estavam acesas, mas, desatenta, não pensei que isso implicava que alguém já fazia presença. Portanto, assim que abri a porta, me assustei ao avistar o homem levantar-se num pulo para me cumprimentar.
– Bom dia a melhor coreó… – Paul começou, mas se calou de repente ao me encarar. – Não entendo! Por que essa cara abatida? O que aconteceu?
Eu suspirei.
Realmente, é sempre mais fácil agir como se estivesse tudo tranquilo. Dessa forma, evitaria ouvir os discursos sobre o futuro brilhante que estava me aguardando. Não que eu pensasse que mentiam para me agradar, mas, esses dias, saber que acreditavam nisso não me animava mais. Eu sentia que estava desapontando a todos. E, pela primeira vez, disfarçar a forma como me sentia estava sendo impossível.
Quando eu respondi que estava apenas cansada, porém, Paul resolveu que deveríamos nos aquecer. Ele me arrastou para o centro da sala e quis que eu acompanhasse seus passos. Ele pulava, balançava os braços, agachava. Eu fiz o que ele pediu. Em questão de um minuto, não conseguia mais conter o riso.
– É isso aí, pessoal! – Paul animava.
O homem convencia quem entrasse na sala a participar da brincadeira. Atrás de nós dois já balançavam o corpo três moças, também sorridentes. Alguém colocou uma música agitada para tocar.
– Certo, galera, agora eu quero que vocês juntem as pernas e soltem os braços – Paul empolgava, sempre se certificando de que eu não estava parada. – Isso mesmo, , desta forma!
Eu podia ouvir o gargalhar das mulheres nas nossas costas enquanto as assistia através dos espelhos. A cena me trouxe uma sensação boa. Paul sempre sabia o que fazer para melhorar o nosso astral. Imaginei, sem querer, que ele me ajudaria a lidar com o que estava me perturbando. Ele não me julgaria, não pensaria mal de mim.
Quando criança, Paul nunca deixava que me faltasse motivação. Como o melhor professor que já tive em toda a minha vida, ele prometeu que, sempre que eu precisasse, estaria presente. Pensava que esse era apenas o tipo de promessa que os adultos faziam para tranquilizar os mais jovens, até que o conheci. Mesmo quando me mudei para longe, ele nunca deixou de querer saber o que se passava comigo. Quando precisei da sua ajuda para ter a chance de estar aqui, no centro dessa sala de dança, ele sequer pensou, gritou que "sim" demonstrando estar tão feliz quanto eu.
Eu já não dançava mais, reparei. Nesse momento, quem brincava junto conosco procurou também voltar ao seu lugar. Observei as moças que estavam sorrindo perderem aquele ar divertido e adotarem uma expressão de vergonha, como se sentissem culpa. Sussurravam algo entre si e apontaram a porta.
Quis saber sobre o que cochichavam, mas logo senti alguém tocar meu ombro.
– Bom dia, todo mundo! – o garoto olhou em volta, sorridente.
Joo me desejava um dia bom com um beijo no rosto, Paul com um elogio sincero e um forte abraço. Os garotos, geralmente, me cumprimentavam com um toque de mãos amigável. havia acabado de fazer diferente.
Logo que ele se afastou em direção ao armário, percebi que a porta continuava aberta. Os outros estavam chegando, o barulho denunciava. Mantive a atenção na entrada da sala.
– Vocês começaram sem a gente? – soou incrédulo, correndo para perto do homem que não havia parado de se movimentar.
O garoto passou a tentar seguir os passos de Paul, ao som da música que ninguém cuidou de desligar. Ouvindo as piadas de sobre a situação, me distraí.
– Então esse é o melhor que você consegue fazer?
Aquela voz me despertou. Automaticamente, olhei para trás, procurando-o.
– Eu sei que sente inveja – provocou, dançando como se ninguém estivesse assistindo.
Os outros riam, mas, por mais que devesse, o dançarino não parecia se sentir constrangido.
– Você não tem vergonha? – , ao perceber que eu estava de olho neles, puxou o amigo pelo braço. – não merece ver isso!
Após os incentivos dos outros, se recompôs. Imediatamente, ele se desculpou através de gestos ainda desajeitados. Achando graça, eu sorri e sabia que todos faziam o mesmo.
Eu não deveria olhar para ele. Não podia olhar.
Falhei.
– Melhor assim – fez questão de falar, empurrando de leve. – Não quer desapontar nossa professora, não é mesmo?
Ele me encarou. Provavelmente, esperando que eu confirmasse com a cabeça. Eu tentei fazê-lo, mas desviei o olhar no mesmo instante. Precisava ser discreta, mas meu coração batia rápido demais para que eu tivesse a certeza de que não estava deixando meu segredo transparecer. Precisei que ele parasse de sorrir, mas ele não parou.
Ele não parava.
Estive trabalhando com um grupo de meninos que viviam sorridentes. Eles me mostravam seus dentes todos os dias, sempre amigáveis e carinhosos. Eu me sentia confortável e admirada. Aquele gesto dos garotos me passava uma energia boa, mas eram apenas dentes. Apenas bons sorrisos com quais eu estava acostumada. Com o dele, porém, eu sentia que nunca aprenderia a lidar.
Então eu estava desapontada, sim, mas comigo mesma e por culpa dele.
E ele não parou.
Realmente, uma droga.
– Tudo bem, pessoal – Paul chamou as atenções, procurando desligar a música. – Agora que nos aquecemos, vamos ao trabalho?
As respostas vieram imediatamente e em uníssono. Eles estavam prontos, como de praxe.
Os vigiei enquanto procuravam por suas posições. Fazendo jus à natureza bagunceira deles, se organizaram. A sala de dança, agora, estava bem ocupada.
Eu me acerquei do aparelho de som, ao lado de Paul. Havia planejado que meu trabalho seria o de fazer a música rolar e estar pronta para repetir o processo sempre que precisasse.
Percebi que o homem próximo a mim estava prestes a se pronunciar. Eu sempre achei engraçado como ele tratava a todos, incluindo a mim, como crianças. Não era ruim. Chamaria de amável. Enquanto eu imaginava que Paul teria sido um ótimo pai, ele, levando-me pelos braços com cuidado, me fez caminhar até a frente dos garotos.
– Agora que estamos todos em nossos lugares… – o homem começou a falar, me olhando com confiança. – Podemos começar!
Os meninos fizeram barulho, como se apoiassem que eu participasse da prática.
– Eles estão prontos para fazer isso sem a minha ajuda – eu expliquei baixinho, para que somente Paul ouvisse.
acabou de dizer que vocês estão precisando melhorar muito – Paul passou a informação errada para os garotos. – Principalmente o .
Chacoalhando a cabeça em negação, eu olhei para trás. me encarou boquiaberto, mas ele sabia que era brincadeira. Mais sorrisos. Aquele sorriso.
– Como a melhor assistente que alguém poderia ter, – Paul continuou, piscando para mim – ela irá repassar tudo com vocês mais algumas vezes.
Ouvi as risadinhas. O grupo sabia que a assistente não era eu. Por algum motivo, aquilo me animou.
– Meninos, digam a ele que vocês estão prontos para… – tentei incentivá-los, mas fui interrompida.
– Eu preciso de ajuda – suplicou.
Claramente, ele não falava sério.
– Aquela parte… – começou balançar os braços, tentando fazer uma demonstração. – Preciso que me ensine algumas técnicas.
– Vamos lá, ! – deu um passo para frente, ficando ao meu lado.
Ele quem tomava a dianteira no início daquela música, visto que era o primeiro a cantar. Todos cantavam. Todos acabariam estando ao meu lado.
Imaginei que fosse congelar.
– Vamos lá!
Paul, vendo graça na reação dos garotos, fez questão de mandar uma contagem. Logo que ele chegou ao três, a música pôde ser ouvida.
Eu precisava me concentrar nos reflexos deles. Sentir o olhar do meu problema sobre mim, porém, dificultava mais. E eu me perdi. Outra vez, havia perdido o senso. Não ouvia mais a música, não via mais os outros. era tudo o que eu percebia. Tinha a coreografia inteira bem ensaiada, mas, no momento, eu o acompanhava. E não disfarcei.
Chegado o refrão, momento em que eles executavam passos diferentes uns dos outros, eu me forcei a manter a atenção no conjunto inteiro. Colocando para funcionar o pingo de profissionalismo que me restava, reconquistei o autocontrole e pude trabalhar.
Infelizmente, um pingo era muito pouco para combater aquela onda gigantesca de sentimentos. Eu não me reconhecia mais por permitir que aquilo acontecesse. No lugar de refletir sobre o que estava se passando comigo, precisei carregar o meu celular.
A bateria não estava acabando.
Era tudo uma droga.

✩✩✩

Não aconteceu de repente.
Se parasse para pensar, pensaria nele. Em sequência, lembraria do quanto estava sendo boba. Depois, voltaria a me perguntar sobre como eu me permiti chegar àquele estado. Então, procuraria por um culpado. Finalmente, assumiria que a culpa era minha.
Mas, no fundo, a culpa não era completamente minha.
Não poderia me esquecer da primeira visita que fiz à empresa. Quando passava pelo corredor onde as salas de dança ficavam, devagar como se não quisesse perder nada, eu ouvi a música. Seguindo o som, eu o encontrei. Observando-o através do vidro que a porta possuía, não consegui desviar o olhar até pensar que ele acabaria percebendo a minha presença, mesmo que distante. No dia seguinte, descobri que ele fazia parte do grupo que iria conviver comigo durantes as próximas semanas. Por isso, decidi que não deveria voltar a procurar aquela sala onde o garoto que tanto havia me encantado treinava. Mas ele sorriu. E sempre que ele o fazia, eu sentia que precisava de mais. Inconscientemente, eu passei a participar sempre que ele ficava até mais tarde em uma das salas de dança, como espectadora secreta. Mas isso não poderia ser considerado minha culpa. Para uma pessoa como eu, seria impossível presenciar aquela cena sem sentir uma mistura dos melhores sentimentos. Por isso, era o culpado.
Não poderia me esquecer de que, quando o meu trabalho começou de verdade, eu não demorei a perceber que os garotos eram muito talentosos. Mas era ele quem acabava se mostrando o mais esperto quando o quesito era dança. Por isso, ele acabava ao meu lado, mostrando aos outros como fazer. Eu achava bonito, achava precioso e, depois, passei a achar perigoso. Não era minha culpa. O jeito dele me atingiu, eu não tive a chance de me defender. era o culpado.
Não poderia me esquecer do horário de intervalo. Conhecendo o prédio, descobri o WOW Cafe. Eu poderia passar o tempo lá, mas estava sem jeito de ocupar uma mesa. Por isso, eu fiquei por perto, pensando se deveria. Logo mais, ele apareceu junto a um dos garotos, querendo saber o motivo de eu estar de pé quando havia tantos lugares para eu escolher. Com sinceridade, por ter visto a placa com os dizeres "WOW Cafe: Espaço de Celebridades", eu respondi que não era alguém importante para estar ali. Ele, justo ele, me disse que eu era, sim, muito importante. E, depois de fazer eu sentir que estava flutuando, me encorajou a sentar ao lado dele. Eu não tive culpa alguma.
era o culpado por tudo.
Chegar a tal conclusão, porém, de nada faria diferença. Eu continuaria pensando nele e na minha confusão. Seguiria a mesma sequência, sem parar, mesmo que fosse dolorosamente desgastante.
Eu queria poder esquecer. Mas, de tão incompetente, eu procurava sempre o caminho mais complicado. Insistir em escolher passar o intervalo ocupando uma daquelas mesas, então, foi a pior das decisões.
– Com licença – a voz de soou.
Levantei a cabeça para encará-lo. Ele não estava sozinho.
– Podemos nos sentar com você? – pediu.
Mesmo tendo consciência do que precisava fazer, também sabia que nunca seria capaz de ir contra a minha vontade inexplicável de tê-lo por perto. Para o meu bem, eu precisava responder que não, mas, perdida no olhar dele daquela forma, seria impossível. Eu gostaria de estar tranquila como ele parecia estar.
Sacudi positivamente com a cabeça, voltando a prestar atenção na mesa de metal que me separava dos garotos, quase que encolhida em meu lugar. Eles, como se estivessem ansiosos para fazê-lo, se sentaram lado a lado, nas cadeiras opostas a minha.
Eu procurava o que dizer para disfarçar a minha falta de jeito com a situação, mas me deixou sem palavras ao colocar uma das bebidas que carregava a minha frente.
– Eu trouxe para você – ele falava com tanta calma, que parecia ter medo de me assustar.
Precisava agradecer, mas, de tanta coisa que se passava pela minha cabeça no momento, hesitei em fazê-lo. Claramente, ele interpretou meu vacilo como se eu estivesse em dúvida entre aceitar ou não, visto que passou a empurrar o copo com a ponta dos dedos, devagar, para cada vez mais perto de mim.
– Café, leite, pouco açúcar… – o garoto continuou, em uma espécie de incentivo. – O seu favorito.
Senti as minhas bochechas esquentarem. Não me lembrava de ter comentado sobre as minhas preferências.
– Não precisava se incomodar – finalmente, agarrei o copo, o trazendo para mim. – Obrigada.
Por mais que eu quisesse evitar, outra vez, estava o encarando. Descaradamente, eu o fazia da maneira mais doce, mas ele não parecia ter estranhado. Na mesma intensidade, ele devolvia o olhar.
– Não é incômodo – ele soltou, baixinho, assentindo com a cabeça em resposta ao meu agradecimento.
– Paul nos contou que está cansada – explicou. – Café pode ajudar um pouco. Nós imaginamos que fosse estar aqui, então.
– Mas você não parece apenas cansada… – observou. – Desanimada também.
Queria responder que não passava do cansaço. No lugar, de cabeça baixa, eu arranhava de leve o plástico do meu copo. Precisava mentir, mas, de novo, fiz o contrário, deixando a minha desorientação ainda mais explícita. Tudo errado.
Completamente errada.
– Seria porque vai embora? – voltou a chamar a atenção. – Vamos sentir a sua falta.
– Eu vou sentir falta de vocês – disse, deixando um sorrisinho escapar.
Naquele momento, mesmo com o coração apertado, eu estava bem.
– Não fique triste – o garoto voltou a falar. – Com certeza, você vai voltar aqui. Se preciso, vamos dar um jeito.
Saber que eles se importavam daquela forma foi significante. Como se uma parte do vazio tivesse sido preenchida, eu me senti confortável. Pela primeira vez em dias, consegui me manter em uma conversa sem ser levada aos piores pensamentos.
– Quando precisarmos de dançarinas, você será a primeira em quem pensaremos – continuava passando suas ideias para me trazer de volta. – Você viria?
– Vocês não vão precisar de dançarinas! – respondi, achando engraçado.
– Como pode saber? Podemos sugerir.
Naturalmente, o assunto se estendia. Cada vez mais criativos eram os planos de , mas ele os explicava com uma naturalidade que chegava a ser cômica. , entre risos e através de gestos, incentivava o amigo a continuar.
Quando eu pensei que, graças aos dois, voltaria ao trabalho revigorada e pronta para terminar meu penúltimo dia sem desabar, resolveu, inocentemente, mudar de assunto.
– Eu quase tinha me esquecido do gosto – ele sacudiu sua bebida, mostrando-a ao amigo. – Isso é muito bom!
– Mandamos bem mesmo! – o outro respondeu.
Com curiosidade, observei os copos que seguravam. Eles bebiam o mesmo.
– Vocês prepararam? – perguntei, soando desentendida.
– É nossa receita – respondeu, fechando os olhos para demonstrar seu orgulho.
– Ela é o especial da primavera – explicou. – O que significa que você chegou no tempo certo.
– Sortuda! – o outro exclamou, desta vez, arregalando os olhos. – Você precisa aproveitar!
Como se estivessem fazendo uma propaganda, enquanto um falava, o outro colocava o canudo na boca e fazia uma espécie de careta com a intenção de mostrar o quanto estava saboreando o conteúdo dentro do seu copo. Eu queria rir, mas, surpresa, acabei adotando uma expressão diferente.
Percebendo a minha reação e presumindo a minha próxima pergunta, se apressou para que eu não interrompesse o comercial:
– Uma mistura de sorvete de baunilha, gotas de chocolate e calda de morango.
– Melhor impossível – o outro aprovou, batendo palminhas. – Choco-nilla nilla!
Com as últimas palavras, levou seu copo para perto dos meus olhos, para que eu pudesse perceber o papel que o envolvia.
– Um ótimo nome – brinquei.
– Não é? Até hoje eu não acredito que chegaram a falar mal dele – indignado, chacoalhava a cabeça em negação.
– Parece ser… muito doce – comentei, observando os dois bastante satisfeitos com o que tinham em mãos.
Terminando aquela frase, assisti retirar o canudo da boca e deixar o copo sobre a mesa. Eu tinha certeza do que viria em seguida.
Instintivamente, pensei em como seria se eu não tivesse feito comentário algum. Eu precisava de mais tempo para chegar a uma conclusão, porém.
– No entanto, você deveria experimentar – ele soltou, passando a empurrar o seu copo, desta vez, para mim.
Mesmo tendo a noção de que seria daquele jeito, me senti atacada por aquelas palavras.
De repente, a sensação de que tudo terminaria bem foi substituída pela euforia. Quando tão convencida de que havia recuperado o autocontrole, por algo tão pequeno e em questão de segundos, a confusão voltou a tomar conta. Senti que estava desmoronando por dentro.
– Por favor, eu preciso que aceite… – o garoto insistiu, baixinho, fingindo não querer que o amigo escutasse. – E que também me ofereça um pouco do seu café, porque faz parte do meu plano. Eu não consegui pensar em um jeito melhor de te pedir.
Ele não deveria querer café, apenas me convencer a provar. E, de fato, ele conseguiu me deixar sem saídas. Se a maior parte de mim implorava que eu ignorasse o pouco de sensatez que me restara e respondesse que sim, já não tinha mais jeito de eu dizer não.
Precisava agir antes que percebessem que a minha reação não fora consequência apenas do constrangimento. Aparentava estar sem jeito, mas minhas pernas tremiam e eu tinha medo de que meus braços fossem afetados da mesma forma, por isso não me movi. Continuei com uma das mãos escondida e a outra segurando firmemente o copo de café.
– É muito doce mesmo – ele, com os dentes cerrados e cobrindo um lado do rosto para escondê-lo de , ressaltou, ainda em sussurro.
Finalmente, enquanto o outro adquiria uma expressão incrédula, eu consegui esboçar um sorriso e assentir discretamente com a cabeça. Incerta sobre como fazê-lo, com a mão que escondia, busquei a bebida que ele deixara a minha frente. Somente quando senti meus dedos alcançarem o plástico gelado, minha atenção se voltou ao copo dele. O canudo vermelho.
Como se tivesse levado um choque, despertei quando ele me encostou. Eu não havia soltado o café e queria tomá-lo de mim. Por ter sido cuidadoso, nossas mãos acabaram se tocando. Um susto. Tornei a encará-lo, mas ele não parecia incomodado, ele sorria.
Assim que conseguiu tirar o copo de mim, o levou até a boca e, simplesmente, bebeu. Eu o assisti fazê-lo atônita, lábios entreabertos, querendo saber o porquê de eu não conseguir agir com aquela naturalidade. Nesse tempo, ele arqueou as sobrancelhas, querendo que eu repetisse os mesmos passos com a bebida dele. Como se em câmera lenta, eu o fiz, sem tirar os olhos do garoto a minha frente.
O sorriso dele se tornou ainda maior.
Eu não queria tirar o canudo da boca.
– Então…? – quis saber.
Quase engasguei ao me lembrar da presença do outro. Sentindo as bochechas queimarem, devolvi o copo à mesa, mas não o soltei. Ele também não soltou o meu.
– É… é menos doce do que eu imaginei – respondi, não tendo muito sucesso em controlar uma tosse.
Ouvi a risada dos dois, a dele mais alta.
– O seu parece ter a quantidade de açúcar ideal, também – ele brincou. – Eu não esperava.
Machucava. Vê-lo animado quando eu estava me esforçando ao máximo para não chorar fora, até então, a pior parte. Não sabia quanto tempo mais suportaria ficar ali, na presença dele.
Definitivamente, eu não estava bem.
– Vamos lá! – alguém falou, distante a ponto de eu mal conseguir ouvir.
Ao procurar, avistei dois dos meninos acenando e gesticulando em busca de atenção no final do corredor. Quando eles perceberam a minha presença, resolveram se aproximar.
Acompanhei o caminhar deles junto aos dois sentados comigo, que se entortavam em suas cadeiras para olhar para trás. Em outro tempo, estaria me sentindo aliviada. Afinal, eu teria outras distrações e não acabaria me perdendo em pensamentos tão facilmente. Naquele momento, porém, era como se não existisse uma maneira de eu conseguir respirar enquanto ele estivesse ali.
– Vocês têm dois minutos – informou quando estava perto o suficiente para tomar o copo das mãos de .
– Cinco minutos! – o garoto que acabara de ser roubado argumentou, irritado.
Não cuidando de se levantar para fazê-lo, ele se esforçava para recuperar sua bebida. , alto o suficiente para não ter trabalho em se livrar das mãos do outro, acenou para mim, sorrindo de maneira carinhosa. Desajeitada, tentei retribuir.
tem cinco – o menino que chegou junto a reforçou, também sorridente. – Nós gravamos após o intervalo, vocês precisam encontrar suas roupas.
Puxando pela camisa ao terminar sua fala, o garoto o fez ficar de pé. fez o mesmo com o estímulo de reconquistar seu copo.
Antes de começarem a se afastar, me olharam como se quisessem se despedir. Eu agitei a cabeça em afirmação.
– Te encontramos logo!
De olho nas costas dos garotos, cada vez mais longe, assisti vencer sua batalha e se apressar para deixar o grupo para trás. Não satisfeito, tentou atacar , logo em sequência. Finalmente, eu percebi que ele havia levado o meu café. E, com um nó na garganta, o vi não permitir que tomassem o copo dele.
Mas eu tinha certeza de que ele não queria café.
Automaticamente, procurei por algo em cima da minha mesa. O canudo vermelho. Eu voltei a levá-lo a minha boca como se estivesse me segurando há muito tempo para não fazê-lo. Voltando a reparar no final do corredor, entretanto, congelei. olhava para trás enquanto seguia os outros, diretamente para mim, me incentivando a continuar. Deixando um sorriso e uma piscada de olhos, ele sumiu da minha vista. Um alívio.
Mesmo tão confusa, estava ciente do que precisava fazer. Pela primeira vez, eu havia chegado ao meu limite. Aquele dia tinha de terminar mais cedo.

✩✩✩

A primeira gota acertou a ponta do meu nariz. Ao deixar o prédio, o céu escuro que encontrei tornara impossível de não prever que uma chuva forte estava prestes a cair. Eu não tinha escolhas além de seguir o meu caminho, de qualquer forma. Sem meios de me proteger, continuei em frente.
Até a casa de Joo, levaria, ao menos, trinta minutos. Pensei que andar fosse ajudar a me acalmar. Como tudo tendia a dar errado, porém, o frio me levava a pensar que, como se não bastasse estar me matando por dentro, eu tinha de me maltratar por fora também.
Antes que os cinco minutos passassem, assim que os garotos me deixaram, corri para encontrar Paul. Eu expliquei ao homem que não me sentia bem. Após convencê-lo de que não havia a necessidade de procurar um médico, ele me incentivou a voltar para casa e descansar. Eu duvidava que fosse me sentir melhor, mas não suportaria mais tempo por ali. Com pressa, eu deixei a sala e, da mesma forma, encontrei a rua.
Definitivamente, eu havia perdido a cabeça. Por mais que tentasse encontrar uma saída, mais envergonhada me sentia. Não tinha jeito de conversar com alguém em pedido de ajuda, porque, se eu julgava minha situação ridícula, qualquer um pensaria pior. Talvez me entendessem, mas estariam desapontados.
A profissional excelente, como Paul chamava, estava irreconhecível. A garota destemida e segura de seus propósitos, como Joo conhecia, foi derrubada. Aquela que nunca imaginei que se deixaria cair por conta de sentimentos estúpidos... Eu. Tudo por um garoto que sequer tinha a noção das reações que causava em mim. Eu estava, inconscientemente, vivendo em esperança de, em algum momento, ouvi-lo dizer que era recíproco. Chegar àquela conclusão me causava enjoo. Por outro lado, eu não via como poderia ter sido diferente. Eu não tive escolha.
No primeiro dia, eu o olhava porque quando o fazia me sentia maravilhada de uma maneira especial. Mas, tão rápida e naturalmente, me dei conta de que procurava por mais. Eu queria que ele me desse estímulos para que eu continuasse nutrindo daquele sentimento. Estava tão necessitada que cada ato minúsculo, fosse um sorriso ou um aceno, era tido por mim como suficiente. Embora soubesse que estava me iludindo, eu sentia que não conseguiria prosseguir de outra forma. Se eu considerava e guardava na memória cada ato pequeno que fosse, caso viesse a precisar de combustível para não desanimar, não seria fácil de esquecer o que acabara de acontecer. A minha língua ainda estava gelada. Apesar de ter abandonado aquele copo, desesperadamente, eu queria aquele canudo de volta.
Suspirei, tentando encontrar um jeito de secar o meu rosto. Com minhas roupas já encharcadas, eu conseguia apenas assistir a chuva piorar e passar a atrapalhar a minha visão. Estava escurecendo e não encontrava mais pessoas na rua, mas também não queria parar. Cruzando os braços, apressei meus passos. Eu estava tremendo.
Um carro que estava para passar por mim foi perdendo a velocidade. Assustada, eu observei o vidro da janela do veículo descer.
– Moça! – a senhora que me encontrou parecia alarmada. – Não seja maluca! Você não pode continu...
E corri, sem esperar para ouvir o que ela tinha a alertar. Eu precisava continuar sozinha. A chuva não incomodava mais. Com a certeza de que finalizaria o meu percurso mais perturbada por pensamentos, não pelo estado em que o banho que havia tomado me deixou, eu segui em frente.

✩✩✩

Eu imaginei que o último dia seria o mais difícil.
, de pé! – me esforcei para soar autoritária, lançando ao garoto largado no chão uma careta brava.
Ele respeitou, me devolvendo um sorriso envergonhado. Quando estavam todos em suas posições, coloquei a música para tocar. Sentada ao lado do aparelho, eu continuei a observá-los.
Pensei que a chuva me faria acordar pior, mas eu me sentia renovada. Como se a água tivesse levado embora toda a desordem, eu podia trabalhar. Mesmo que tivesse demorado, era como se a mulher responsável de sempre estivesse de volta. E eu estava orgulhosa por concluir minha jornada ali no melhor estilo.
Eu não conseguia me lembrar do momento em que caíra no sono no dia anterior, mas nunca tinha acordado cedo com tanta disposição e sem a ajuda de um despertador. Além de fortalecida, estava segura de que, para me livrar da consciência pesada, eu precisaria contar com a minha melhor amiga. Eu estava confiante. Dentro do carro de Joo, então, eu desabafei. Diferente de como eu imaginei que seria, ela tentou explicar que eu não deveria me sentir culpada, pois nós não temos como controlar por quem e o que sentimos. Mesmo arrependida de não ter me aberto antes, estava contente.
Dessa forma, resolvida e alegre, fora eu quem acendeu as luzes da sala de dança. A espera pela chegada dos outros não foi maçante. Pude cumprimentar a todos com energia. Sem muita demora, os garotos também fizeram presença. Percebi que eles se animaram ao me verem espirituosa como nunca.
Eu tinha consciência de que não superaria tão rápido o menino que bagunçou a minha cabeça. Mas, finalmente, eu tive a noção de que era capaz de me conformar e seguir priorizando a minha busca pelo sucesso. foi o primeiro que me despertou interesse, mas ele não seria o último. O desespero vinha da minha falta de conhecimento sobre isto, Joo disse. Eu seria otimista e seguiria os conselhos dela.
Desde que o encontrei aquela manhã, porém, senti o olhar dele sobre mim por mais tempo do que estava acostumada. Um dia atrás, eu estaria eufórica e cheia de expectativas. A minha vontade de deixar de lado aquela ilusão em que estive vivendo, então, era evidente. Eu sorri, satisfeita. Atenta ao reflexo deles, percebi que ele também sustentava um sorriso e, claramente, o direcionava a mim. A reação natural para tanto seria a de empolgação, mas eu me sentia diferente. Eu estava curiosa.
Tão rápido quanto começara, o dia chegou ao fim. Os garotos se despediram de mim com fortes abraços e curtas, porém carinhosas, declarações sobre o tanto que torciam por mim. Eu sentiria muita falta de todos e de tudo, mas eu não deveria considerar aquele um final triste. A experiência que havia vivenciado não tinha preço. Mesmo de maneira conturbada, eu cresci como profissional e como mulher. E eu devia uma grande parte de todas aquelas conquistas àquela sala de dança. Me dei conta de que precisava me despedir dela também.
Todos saíram, mas eu continuei no centro da sala. Com as mãos postas na cintura, eu olhei em volta, buscando guardar cada detalhe comigo. Sem querer, acabei prendendo a atenção no espaço onde eu passei muito tempo, entre a parede e o sofá. Como se me esconder ali fosse uma mania de um passado bem distante, eu achei graça.
– aquela voz me chamou.
Antes que eu pudesse olhar para trás, senti ele tocar o meu braço.
– Você não se esqueceu de mim, certo? – perguntou, sorridente.
Eu respirei profundamente, tentando manter a compostura, mas meu coração já não batia com a tranquilidade de antes.
– Esqueci? – eu perguntei mais a mim mesma do que a ele.
– É que eu… levei a sério o combinado – sem jeito, ele respondeu.
No mesmo instante, as coisas pareceram clarear. Na primeira semana, ele havia comentado sobre o seu costume de ficar até mais tarde, quase todos os dias, treinando sozinho. Ele não deveria ter ideia de que eu tinha conhecimento daquilo antes mesmo de ter sido apresentada a ele. Explodindo de vergonha, eu ainda consegui dizer que admirava o que ele fazia e seria legal acompanhá-lo, qualquer dia. Prontamente, ele sugeriu que me juntasse a ele no meu último dia.
– Sala 2? – quis mostrar a ele que me lembrava.
Ele assentiu com a cabeça, sorrindo, e se encaminhou à porta, imaginando que eu fosse seguí-lo. Eu o fiz, estranhando não ter me lembrado de algo relacionado a ele e que deveria ser tão importante para mim.
Durante o curto percurso que fizemos, ele olhou para trás algumas vezes, querendo se certificar de que eu estava ali. Eu estava, mas não completamente. O nervosismo havia voltado e conseguia prever que eu ficaria sem ação assim que ficássemos a sós naquela sala; a mesma que eu procurava todos os fins de dia, a fim de espiá-lo.
Ele abriu a porta, esperou que eu entrasse, a fechou. Me faltou ar no mesmo instante. Para disfarçar, me dirigi ao sofá, evitando encará-lo.
A sala era bem menor que a em que eu costumava ficar. Sentada, eu o observei se posicionar em frente aos espelhos. Eu estava mesmo prestes a assisti-lo de perto e com clareza. Mal conseguindo acreditar, sequer queria piscar os olhos.
– Você planejava ficar só me olhando? – ele perguntou, virando-se para me encarar com uma expressão descrente no rosto.
Silenciosamente, eu confirmei. Também através de gestos, então, ele me chamou para perto.
Lentamente, como se estivesse me preparando para o que viria, deixei o sofá. Quando perto o bastante, ele me mostrou onde eu deveria ficar: bem ao lado dele.
– Geralmente, sou eu quem segue os seus passos – ele falava com toda a tranquilidade. – Nós podemos fazer o contrário dessa vez?
– Sim – respondi sem muito pensar, transbordando nervosismo.
Sempre que ele soava daquela forma, eu presumia que estava tentando não me assustar. Nunca funcionou. Naquele instante, então, momento em que ele veio em minha direção com um sorriso satisfeito, muito menos. Eu estava paralisada, braços cruzados, uma postura quase que defensiva.
– Você consegue me acompanhar? – ele perguntou, passando por mim para alcançar o aparelho.
Ele queria colocar a música para tocar. Como se um peso tivesse sido retirado de cima de mim, eu relaxei. Quando o som tocou, senti que me olhou como se esperasse por alguma reação.
Era a música que ele esteve treinando na primeira semana em que eu o encontrei ali. Eu não teria dificuldade alguma em acompanhar, visto que assistira tantas vezes. De repente, com confiança, repassei toda a coreografia em mente. Definitivamente, ele se surpreenderia. E, como se tivesse noção disso, ele, passando outra vez por mim, voltou a se posicionar ao meu lado direito.
– Você tem alguma dúvida? – eu o respondi, sentindo toda a tensão desaparecer.
Com segurança, deixei meus braços livres e procurei por meu reflexo. Eu estava muito melhor daquela forma.
A minha resposta agradou o garoto. Dando um passo para frente, ele esperou o momento certo para se unir à música. Quando ele o fez, eu não pude deixar de sorrir. Por alguns segundos, apenas o observei, me lembrando do tempo em que eu ansiava por aquilo. Estava sentindo o impacto de, finalmente, estar ali, como tanto desejava. Ele me chamou de volta apontando para mim com o queixo.
Me juntei no momento perfeito. Eu sabia o que estava fazendo. Acabei me deixando levar. Eu não o olhava mais, queria que ele me visse. Espontaneamente, eu me acerquei dele, denunciando que já não o acompanhava mais. Eu dançava por minha conta, complementando o que havia aprendido com ele. Não perdemos a sincronia.
Tão envolvida, somente percebi que ele estava parado quando a coreografia me mandava dar passos para a direita. Eu acabei por esbarrar nele sem muita delicadeza. O garoto impediu que eu perdesse o equilíbrio, segurando minha cintura com firmeza. Assustada com o gesto dele, o encarei com os olhos arregalados.
– Me des… – eu tentei falar, gaguejando.
– Eu sabia que você não precisaria de mim para saber o que fazer – ele não cuidou de se afastar. – Eu te via.
Não entendi o que ele quis dizer. A minha expressão surpresa foi se transformando em curiosa e o meu coração se acalmando. Involuntariamente, deixei a cabeça pender para o lado. Entendendo minha reação como um pedido para que ele o fizesse, o mesmo continuou continuou:
– Você estava aqui quase todos os dias. Eu acabava sempre te procurando – enquanto ele se explicava, eu sentia as minhas bochechas queimarem. – Queria te contar, mas não encontrei um jeito de não te deixar constrangida ao fazer isso… Então eu sugeri que viesse comigo no seu último dia, porque, se você ficasse desconfortável, ao menos, não precisaria mais me ver depois.
Não tinha ideia do que falar e ele ainda estava perto demais. Eu estava sem ação.
– Me desculpa – consegui soltar, baixinho.
– Por quê? – ele procurou segurar a minha mão. – Eu diria que… ficava feliz quando você vinha.
– Feliz? – minha voz estava trêmula.
Me esforcei para interpretar o comportamento dele da maneira mais sensata, por mais que a minha imaginação estivesse indo muito além. Ele segurava minha mão como se quisesse me reconfortar. Deveria estar me olhando e falando daquela forma, então, pelo mesmo motivo.
– Se você continuava aqui, significa que te agrada – ele respondeu, deixando transparecer que também estava sem jeito. – E você é uma garota especial.
Eu passei a encarar os meus pés. Queria me manter controlada, mas ele estava dificultando demais.
– Eu sempre quis saber o que se passa pela sua cabeça – ele completou e, tocando o meu queixo, me fez erguer o olhar.
– Você – fui rápida em respondê-lo, acabando por soar meio brava, meio determinada.
Ele, certamente, não esperava por aquela resposta. Menos ainda, eu pensei que seria indiscreta àquele ponto.
– Você... também é especial – eu tentei consertar, arrependida, mas o garoto não pareceu ter dado ouvidos.
Eu vou sentir a sua falta – ele se apressou em falar, como se estivesse esperando há muito tempo para ter a chance de fazê-lo.
Queria responder o mesmo, mas não sabia o que pensar. Confusa, me sentia trêmula e que estava prestes a desmanchar. Se quisesse manter a compostura, teria de desviar o olhar do dele. Quando ameacei voltar a baixar a cabeça, porém, provou estar bem atento. Voltando a encostar em meu rosto, ele me chamou de volta. Para, enfim, acabar com qualquer dúvida, o garoto deixou claro o que queria.
Devagar, como se pedisse permissão, ele se aproximou. Meu coração batia mais rápido que nunca, mas eu não via mais motivos para fugir. Tanto quanto ele, aquilo era o que eu desejava. Em resposta, então, fechei os olhos, esperando que ele acabasse com a distância minúscula que ainda nos separava. Quando os nossos lábios se tocaram, uma explosão de sentimentos me envolveu e, embora eu nunca tivesse admitido a mim mesma, eu não podia mais negar que estava apaixonada por ele. O beijo se estendeu, doce e calmo, mas com necessidade.
Antes mesmo que eu pudesse abrir os olhos e constatar que ele sorria, eu pude ouvir um ruído que deveria vir do final do corredor. Alguém estava chegando. Procurei olhar a porta, alarmada.
? – a voz feminina, distante, me chamava.
Senti que estava sendo empurrada. Com delicadeza, me levou até a parede próxima ao aparelho de som. Ele cuidou de desligar a música, mas, entre ele e a parede, eu ainda não conseguia respirar com tranquilidade. Onde estávamos, quem nos procurasse pelo do vidro da porta, não encontraria.
Através de gestos, ele pediu que eu fizesse silêncio, mas não parecia nada nervoso com a situação. Ele riu baixinho quando pudemos ouvi-la outra vez, quase me levando a fazer o mesmo.
– Você está aí? – a mulher estava alcançando a sala.
– Joo – reconheci, em sussurro.
– Você quer sair e falar com ela? – perguntou.
Eu não tinha certeza. Me perguntava o que aconteceria se ela descobrisse.
Pude ouvir batidas na porta.
– Joo estava do lado de fora. – Você não quer causar uma má impressão justo no seu último dia, certo?
Senti que estava sendo chacoalhada e, em função disso, fechei os olhos com toda a força.
E o mundo a minha volta desapareceu.
Chacoalhada, voltei a abrir os olhos.
! – Joo estava em cima das minhas costas. – Você me assustou!
As janelas estavam descobertas. A luz do sol incomodava os meus olhos. Cuidando de cobrir o rosto, senti o peso da outra sumir.
– Você está bem? – Joo quis saber, se aconchegando ao meu lado.
Até então, eu não estava raciocinando direito. Como se estivesse perdida, procurei encará-la. Ela me devolveu um olhar preocupado.
– Se não estiver, me conta. Não esquente com o que eu falei sobre a má impressão…
– Joo – quase que choramingando, eu a chamei, voltando a me esconder debaixo dos lençóis.
– O quê? – ela me descobriu.
Eu estava envergonhada. Mesmo sabendo que ninguém poderia desconfiar do motivo, a menos que eu falasse, eu precisava me esconder.
– Te faço tomar banho com água fria se não abrir a boca agora – ela ameaçou.
Caindo na realidade, me senti desolada. Com os olhos cheios de lágrimas, procurei por palavras que pudessem acalmar a mulher ao meu lado. Mas, no fim, era eu quem precisava ser consolada.
Não tinha certeza do porquê, mas não demorei a desabar em choro. Joo me acolheu em seus braços no mesmo instante.
– Alguém te fez mal? – ela perguntou entre pausas, acariciando o meu cabelo.
– Um sonho – os soluços atrapalhavam a minha fala. – Era um sonho.
– Sonho ruim?
– Um sonho de qual eu não queria ter acordado.
– Por que você chora?
– Agora, eu me sinto estúpida – eu balançava a cabeça em negação. – Como posso encará-los desse jeito?
– Nesse seu sonho, você confiava em mim? – ela insistiu.
– Eu confio.
– Então, me conta – ela se afastou, querendo me encarar. – Qual deles?
Eu arregalei os olhos.
– O quê? – me fiz de desentendida.
– Eu aposto que sei qual – ela esperou que eu desse algum sinal de que estava atenta a sua fala e passou a olhar para o teto. – Ele quem veio me perguntar sobre a sua pessoa. Disse que você não estava se sentindo bem e precisou sair cedo, mas estava preocupado com a chuva… Eu acho que ele viu quando você saiu e percebeu que pretendia voltar caminhando.
Eu estava cuidando de secar o molhado que as lágrimas deixaram em minhas bochechas quando Joo resolveu voltar a falar.
– ela olhou para mim. – Não é ele?
Respirei profundamente.

✩✩✩

Pela primeira vez, cheguei atrasada.
Queria me sentir revigorada, como em meu sonho, mas a única coisa que eu poderia esperar que se repetisse na minha realidade era que o dia passasse depressa. Não aconteceu. Para piorar a situação, a minha cabeça doía e o nariz estava incomodando. A chuva, que, na minha imaginação, tinha servido para me livrar de tudo de ruim que eu carregava comigo, na verdade, havia me deixado resfriada.
Eu sentia pena de mim sempre que olhava para ele e imaginava que ele pensava o mesmo quando olhava para mim. Era como uma tortura.
O único momento em que senti um pouco de tranquilidade foi no horário do intervalo. Todos saíram, eu fiquei sozinha. Queria me levantar e olhar em volta, me despedir do lugar, mas estava cansada demais. Continuei sentada no chão, no meu esconderijo, olhando para cima.
O som da porta se abrindo quebrou o silêncio com que eu havia me acostumado. Eu me virei para descobrir de quem se tratava.
Não sabia como poderia aguentar.
me procurava.
Ele tinha algo em mãos, mas eu não procurei saber o que era. Constrangida demais para ver, apenas ouvi que ele se aproximava.
– Você está bem? – ele perguntou.
– Poderia estar melhor – respondi, passando as mãos pelo rosto e forçando um pequeno sorriso.
– Eu a vi, ontem, quando saiu – sem jeito, ele procurou se sentar por perto. – Quer dizer… Você estava muito distante, senão eu não deixaria que saísse.
– Não foi muito esperto – eu complementei com o que eu imaginava que ele queria dizer.
– Eu deveria ter sido mais rápido – ele riu, me mostrando o que trouxera consigo.
Ele deixou sobre as minhas pernas um moletom branco. O estendi para poder vê-lo melhor. Sorri ao constatar que se tratava do mesmo modelo que os meninos costumavam usar, sempre combinando. Com o nome do grupo na parte da frente, o nome dele atrás. Claramente, era grande demais para mim.
– É um presente? – perguntei, sentindo um aperto no coração.
Ele assentiu com a cabeça, sorridente.
– O seu nariz está vermelho – ele tocou a ponta do meu órgão do olfato. – Eu não sei se significa que está com frio, mas você deveria vestir isso agora.
– Obrigada – sem jeito, eu agradeci.
Enquanto eu vestia o que acabara de ganhar, ele não tirou os olhos de mim. Por algum motivo, eu me sentia mais leve.
Antes que voltássemos a falar, a porta voltou a abrir.
– Nós trouxemos comida! – gritou.
Aquele foi o último e mais animado dos intervalos. Se juntaram todos na sala e, com os salgadinhos e biscoitos que compraram em alguma loja de conveniência, disseram que aquela era a minha reunião de despedida.
Eu não tinha do reclamar. Não pensei que fosse ter algo bom para guardar de lembrança no último dia, mas eu tive uma grande surpresa. Saber que eles gostavam de mim era sempre reconfortante.
Devido ao tempo de duração da reunião, o fim do dia não demorou a chegar.
– Vem! – segurou a minha mão e me fez ficar de pé. – Vamos tirar foto.
– Eu não estou muito bem para aparecer em fotos – reclamei, me deixando levar.
– Você está sempre bem para aparecer nelas – ele retrucou. – E quase não tem fotos com a gente. Dessa forma, vamos pensar que não gostou de estar aqui.
– Essa é a sua forma de me convencer?
– Não funcionou? – ele brincou, chamando os outros para se juntarem.
Paul tiraria a foto. Os meninos não demoraram a se acercar de mim. disse para eu sorrir e todos fizeram igual.
– Ficou muito bom! – o homem comentou, após a foto. – Eu gostei que estavam todos combinando! É como se você fizesse parte do grupo, .
Eu entendi que ele se referia ao moletom. Com um sorriso envergonhado no rosto, eu concordei.
– Ela também faz parte do grupo! – um dos meninos falou.
– Apesar de você ter escolhido outro como seu preferido... – começou, apontando para o nome nas minhas costas. – E me enganado completamente, eu te aceito no grupo.
Ele me abraçou de lado.
– Mas você é o meu favorito – eu contestei.
– Como assim?! – soou indignado.
– Não briguem por ela, por favor – Paul interviu, me puxando para perto dele. – Não há discussão. Vocês sabem que não tem jeito de competir com quem está no moletom. É o jeito mais comum de demonstrar quem é o nosso favorito.
Eu não esperava que ele falasse aquilo. Olhei para o homem incrédula. Os garotos protestaram. era o único que parecia satisfeito.
– Nós temos uma coisa para você, antes que me esqueça – o mais novo do grupo me chamou, após a pequena confusão.
– Soubemos que estava se sentindo mal ontem e ficamos preocupados – o líder completou.
– Quando estávamos assinando algumas dessas, então, resolvemos escrever para você – o garoto tinha várias polaroids em mãos.
– Você tem uma de cada um de nós – explicou.
– Mas você tem de prometer que vai guardar todas, mesmo as que não são do seu favorito – insistiu em tocar no assunto, mas os outros apenas riram e eu os acompanhei.
– Nós vamos sentir a sua falta – disse.
Sorridente, eu observei as polaroids. Além de desenhos minúsculos e engraçados e, a assinatura deles, no verso, os meninos deixaram mensagens especiais.
– Você deve ler quando voltar para casa – avisou. – Então, será mais especial.
Eu assenti, em resposta.
– Eu também sentirei a falta de vocês, muito! – eu falei, olhando para todos. – E agradeço bastante. Vocês foram importantes demais para mim. Estarei sempre olhando por vocês.
Eles se agruparam para me abraçar.
Me despedir deles foi doloroso, mas o sentimento de dever cumprido me consolava.

✩✩✩

As polaroids que havia ganhado estavam sobre a mesinha. Eu queria ler cada uma, mas eu não me sentia pronta para uma delas, em específico.
Lembro-me que, no momento em que deixei o prédio ciente de que não voltaria a passar por lá tão cedo, busquei focar no lado bom: eu tinha dado um grande avanço na minha carreira. Ao me deitar aquela noite, porém, eu não conseguia mais me concentrar no bom, porque, de repente, tanto passou a me parecer bem pouco. Eu havia chegado com o intuito de terminar o trabalho da melhor maneira, mas eu me dei conta de que não era tudo o que eu precisava. A experiência que pude ter foi muito além.
No fim, o meu coração estava em pedaços. Nunca imaginei que fosse pensar de tal forma, mas nada poderia ser pior.
Eu não conseguia dormir. Após muito tentar, desisti. Busquei as mensagens que tinha para ler, então, sem muita convicção de que era o que eu queria. Na ordem em que encontrei, eu procurei atentar em todos os detalhes de cada uma delas.
Logo com a primeira, senti vontade de rir e de chorar ao mesmo tempo.
"Ainda estou à procura do plano perfeito, mas você voltará logo! Fique muito esperta. Beijos, ."
Na foto, ele sorria sem mostrar os dentes, como eu estava acostumada a ver. Ele foi um dos que mais me fizeram companhia e com quem mais conversei. Me faria muita falta.
Passei o para baixo.
", você é a garota mais talentosa que conhecemos! Esperamos que volte para nos encontrar em breve. Enquanto isso, estaremos torcendo por você :D Fighting! ."
A pessoa mais animada que eu havia conhecido. Eu queria, acima de tudo, que ele nunca abandonasse o seu jeito único e espalhafatoso de ser. Observei o sorriso enorme dele na foto, com direito a uma piscada de olhos.
Passei para a próxima.
E o coração partido conseguiu se agitar.
"Eu espero que logo, logo possamos nos encontrar outra vez. Nunca se esqueça de que você é uma garota especial. Eu vou sentir sua falta! Muitos beijos, ."
Senti um nó se formar em minha garganta. Aquele sorriso. E eu não sabia se conseguiria ler qualquer coisa a mais.
Voltei a me deitar, mas me mantive segurando a foto dele.
Eu relembrei cada momento. Os olhares, os sorrisos, as conversas… o sonho. Foi tudo uma grande ilusão? Queria acreditar que não, mas talvez o melhor fosse não pensar em mais nada.
Afinal, era tudo uma droga.
Deixei lágrimas caírem mais uma vez. Depois, eu não conseguia mais parar.
– Você sabe que, quando sonha com alguém, significa que esse alguém estava pensando em você, não sabe? – a voz de Joo soou baixinho.
Consegui esboçar um sorriso. Ela me observava da porta. Com carinho, se aproximou para me deixar um beijo no rosto.
Antes de se retirar, ela completou:
– Respire fundo e aquiete o seu coração, . Acredito que ainda acontecerão muitas coisas boas a você. E, apesar de apenas compreendermos a finalidade de certas situações após cada uma delas acontecer, jamais deixe de sonhar.
Então, eu pude descansar.

"'Cause I'd rather dream about you Than be living life without me and you"


[FIM]


N/A - Adri: Essa história foi inspirada nesse grupo de malucos e nessa sala de dança que nós nunca mais veremos da mesma forma.

N/A - Nicki: Essa é a minha primeira fanfic em parceria com a Adri e eu estou super feliz por isso! Espero muito que todos vocês gostem, galera. Hahahaha
Nos vemos na próxima, BJoo ❤


Nicki:


Fanfics da Nicki:
| 02. Because I'm Stupid | 02. Show Me | 03. Do You Know | 04. Black Or White | 08. MAMA | Fool | Giddy Up |
| Heavy | It's The Things You Do | Learning Together | MV: Jackpot | Numa Noite de Natal | One Month In Egypt |


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