Última atualização: 18/03/2016

[Capítulo Único]

SUSTINLOG é uma empresa multinacional de alimentos, na qual eu trabalho como profissional em Logística. A empresa foca em sustentabilidade na logística, visando reduzir custos e melhorar a vida dos clientes, utilizando tecnologias e recursos naturais.
Estava respondendo a um e-mail importante, quando uma das assessoras anunciou que meu chefe exigia minha presença em sua sala, fui correndo.
Chegando a sua sala, bati de leve na porta.
— Entre logo!
— Com licença.
— Por favor, se sente. – Me acomodei na cadeira. — É o seguinte, estamos com problemas na filial do Egito e a empresa está deixando a desejar na sustentabilidade. – Franzi a testa preocupada — Então, preciso que você, uma das minhas colaboradoras mais competentes e confiáveis, vá para o Egito amanhã mesmo e fique à frente de toda e qualquer decisão a ser tomada, em relação à empresa. – Engoli suas palavras em seco.
— Por quanto tempo você precisa que eu fique lá?
— Acredito que não passará de um mês. – Ele disse indiferente.
— Com todo respeito, chefe, mas o aniversário do meu filho é daqui a duas semanas. Estamos planejando a festa dele há meses.
, eu entendo. De verdade, eu entendo – suspirei forte — Mas, eu não consigo pensar em outra pessoa para resolver esse problema.
— Tudo bem.
— E não se preocupe com nada, já está tudo reservado para sua viagem e estadia na cidade de Cairo. Uma de nossas assessoras irá com você e te auxiliará em tudo, caso precise de algo, não hesite em pedir a ela – assenti. — Espero que tenha um bom desempenho no trabalho e uma ótima viagem.
— Obrigada, chefe. Eu farei o meu melhor.
— Eu sei, e é exatamente por isso que faço questão que sua a família te acompanhe nesta viagem. – Arregalei os olhos, incrédula.
— Mas...
— Fique tranquila, já está tudo reservado.
— Muito obrigada, chefe. – Agradeci, ainda tendo dificuldade em acreditar no que acabara de ouvir.
— Só peço que não deixe os assuntos pessoais interferirem em seu trabalho.
— Prometo que não. – Eu disse com firmeza — Mais uma vez, obrigada. – O chefe assentiu, e logo eu me retirei da sala.
Alguns anos depois que me casei com , planejamos fazer uma viagem para o Egito, era um sonho que tínhamos desde o nosso namoro. Mas, prestes a concluir nosso objetivo, nós descobrimos a minha gravidez, então preferimos deixar a viagem para outra ocasião, pois decidimos que, naquele momento, todo nosso investimento seria no bebê.
E assim, eu deixei esse desejo de lado, mas agora a oportunidade bateu na porta e eu não pude recusar.
Só me sinto mal por , ele estava tão animado para a sua festa.
– Allyson me chamou e eu a olhei, cabisbaixa. — Que rostinho triste é esse, hein?
Allyson é uma das assessoras mais antigas da empresa, e provavelmente será ela que irá comigo.
— Irei para o Egito amanhã e devo ficar lá por um mês.
— E isso é ruim?
— Não... Sim... Talvez... Quero dizer – estava me enrolando em minha resposta — Olha, essa é uma boa oportunidade para mim, será uma nova experiência que irá me acrescentar muito. Posso alavancar a minha carreira a partir daí.
— Mas então, por que você ainda está com esse olhar triste?
— Daqui a duas semanas meu filho faz aniversário e nós planejávamos uma festa para ele – ela abriu a boca e assentiu, como se já tivesse entendido — Ele está tão animado, não queria o decepcionar.
— Eu entendo e também sei o quanto é difícil recusar eventos importantes para nós pelo trabalho, mas precisamos passar por isso. – Concordei — E pense que esta pode ser a sua chance de crescer ainda mais profissionalmente.
— Você tem total razão.
— Sim, e eu irei com você – ela sorriu, animada. — Será divertido!
— Tenho certeza que sim – ela alargou o sorriso. — Porém os homens da minha vida também irão.
— Seu marido e seu filho, eu presumo. – Allyson arregalou os olhos, me fazendo rir.
— Obviamente. – Eu franzi a testa e soltei uma risadinha. Allyson tem um jeito muito inocente, às vezes, apesar de sua idade, o que é engraçado.
— Então seu filho terá o melhor aniversário da vida dele!
— Bem, eu espero que sim – ri um pouco.
— Não se preocupe tanto sem necessidade – arqueei as sobrancelhas — Dê um passeio com ele, crianças adoram isso.
— Sim, talvez passar o dia visitando alguns lugares o deixará bem contente. – Eu pensei um pouco e Allyson assentiu.
— Bem, agora tenho que voltar ao trabalho.
— É, eu também. – Ela sorriu, se afastando e eu voltei à minha sala.

Terminei algumas tarefas do dia rapidamente e o chefe me liberou mais cedo, precisava me preparar para o dia seguinte, a viagem seria longa.
– Allyson me chamou e deu uma corridinha em minha direção. — Vai embora mais cedo também?
— Sim, preciso me preparar.
— Quer carona?
— Se não for incômodo – ela abanou as mãos.
— Claro que não, imagina. – Entramos no carro.

Durante todo o caminho conversamos sobre a nossa expectativa para essa viagem e em quantos problemas nós teríamos que resolver na empresa.
Nos empolgávamos ainda mais a cada minuto, mas sem deixar de pensar em como eu contaria a .
— É aqui – eu disse, fazendo Allyson estacionar em minha rua. — Muito obrigada pela carona e companhia.
— Ah, não foi nada. Disponha – nós sorrimos. — Até amanhã.
— Até – ela seguiu seu caminho.
Abri o portão e logo fui surpreendida pelo meu cachorrinho, que já corria em minha direção. Peguei Bobby no colo, o cariciando.
— Sentiu minha falta, pequeno? – Bobby latiu, me fazendo rir. — Oh, eu também senti sua falta.
Coloquei Bobby no chão e o bichinho foi correndo e latindo pelo quintal.
Adentrei a casa e fui direto para o meu quarto. Pendurei minha bolsa no suporte do armário e tirei minhas sandálias, sentindo o alívio. Ouvi um barulho na porta e me virei.
— Como foi seu dia, linda? – adentrou nosso quarto e me beijou.
— Bem, eu tenho algo a dizer, mas primeiro me conte como foi o seu dia. – Ele me olhou estranho, franzindo a testa enquanto se sentava na cama. — Algum aluno rebelde te enfrentou hoje?
— Meu dia foi tranquilo hoje e não, nenhum aluno quis dar uma de espertinho. Mas, o que você tem a dizer? – Ele continuou me olhando estranho e eu ri — Espera, é o que realmente estou pensando?
— Não, nem de longe isso se passaria pela sua mente – ele arregalou os olhos — No que você está pensando, ?
— Bem, eu achei que você estivesse grávida. – Eu fiquei boquiaberta — Você estava muito estranha por esses dias, e seu o quadril aumentou.
— É o que? – Arqueei uma sobrancelha, o encarando — Eu só fiquei um pouco aflita porque não estava tendo tempo suficiente para organizar a festa do . – Ele parecia surpreso com minha resposta, mas eu só ficava mais confusa — E quanto ao meu quadril, não notei nenhuma diferença.
— Ah, mas ontem à noite eu notei muito bem. – Ele sorriu malicioso e eu cruzei meus braços, rindo um tanto tímida. — Mas na verdade, pode ser que eu esteja com problema de visão.
— Cala a boca – ele riu junto comigo. — Então, o que eu tenho a dizer é que hoje o meu chefe me chamou na sala dele para me mandar a uma viagem, a trabalho, claro – assentiu, estava tranquilo — Mas, eu parto amanhã mesmo para o Egito.
— O quê? Como assim? – Ele parecia não acreditar — Por que você? E por que tão rápido?
— Lembra que há alguns anos eles inauguraram outra empresa da SUSTINLOG na cidade de Cairo? – ficou pensativo.
— Acho que sim – ele pigarreou.
— Então, a empresa está com problemas, por isso o chefe me deixou encarregada de resolver a situação. – bufou, parecia não concordar.
— Você realmente preci...
— Amor – me aproximei dele — Sim, eu preciso ir, esse é o meu trabalho. – Ele assentiu compreensivo, enquanto eu acariciava o seu rosto. — Mas, você e irão comigo.
— O que?
— Encare isso como uma gratificação pelo meu trabalho duro, de anos, naquela empresa.
— Bem, por quanto tempo ficaremos lá?
— Um mês.
— Estou achando tudo muito rápido – confessou, me fazendo respirar fundo —E quanto à festa de ?
— Tenho que conversar com ele – ouvimos o barulho da campainha e sabíamos que era chegando da escola. Olhei para com as sobrancelhas arqueadas e ele deu de ombros, balançando a cabeça.
— Mamãe?! – pulou em meu colo.
— Oi, meu amor. – O apertei em meus braços, beijando sua bochecha — Como foi o último dia de aula?
— Muito legal, mas eu vou sentir falta da tia e dos meus amiguinhos. – Ele disse num tom de tristeza e eu o apertei ainda mais.
— Vai passar rapidinho, filho. – Disse bagunçando o cabelo dele, enquanto o mesmo assentia.
— Bebê, precisamos te contar uma coisa – o coloquei sentado na cama, de frente para mim.
— Boa sorte! – Meu marido já ia saindo do quarto.
?! – Dei um gritinho histérico e ele voltou, rindo. — Palhaço!
— O papai é palhaço? Eu gosto de palhaços. – perguntou, nos arrancando altas gargalhadas.
— Não, filho. Não sou palhaço, mas pensarei no caso. – Ergui as sobrancelhas e deu uma piscadela. — Então, o que eu e a mamãe estamos querendo contar é que...
— Amanhã nós viajaremos – eu disse de uma só vez.
— Que legal! – disse, animado. — Vamos viajar para fazer minha festa?
— Bem, na verdade, a mamãe irá a trabalho – ele parecia confuso — Mas o papai ficará com você o tempo todo.
— E nós iremos nos divertir muito! – disse empolgado, tentando animar nosso filho.
— Então, eu não vou mais ter festa? – Neguei com a cabeça e fez biquinho.
— Me desculpe, bebê – beijei o topo de sua cabeça e o apertei novamente em um abraço. — Prometo que no próximo ano, eu e o papai faremos uma festa incrível para você.
— Tá bom. – Respondeu cabisbaixo.
— Agora você precisa de um banho – pegou em meu colo e o levou para seu quarto.
Meu coração estava apertado por meu filho, queria tanto dar uma festinha a ele. Entretanto, eu precisava fazer essa viagem.

Tomei um banho relaxante e logo segui para a cozinha, começando a preparar o jantar.
estava na sala, assistindo desenho com e eu fiquei os observando com um sorriso discreto, enquanto a comida estava no forno.
Em menos de 15 minutos, preparei a mesa e os chamei para a refeição.
— Amor, hoje você se superou. Está uma delícia! – disse de boca cheia, me fazendo rir.
— Obrigada, porquinho. – Brinquei, fazendo rir. — E você, filho, não gostou?
— Gostei.
— Fico feliz em saber – ele sorriu inocentemente para mim.
— Sairemos amanhã em qual horário? – perguntou interessado.
— Às 08:30h.
— Não acha muito cedo?
— Para um professor que começa a dar aula no turno da manhã, esse horário é muito cedo?
— É diferente. Nós iremos apenas viajar.
— À trabalho. – O lembrei e dei uma golada no suco — E ainda teremos que ir para Londres e de lá para Cairo.
— É verdade. Então, 08:30h é até muito tarde. – Ele disse preocupado e eu ri fraco.
— Tô com sono – disse, coçando seus olhinhos vermelhos e cansados.
— Leve ele para a cama, deixa que eu arrumo tudo por aqui – disse , enquanto se levantava, me fazendo o encarar. — Por que está me olhando assim?
— Sério que você vai limpar a mesa e lavar toda louça?
— Não fale como se eu nunca tivesse feito isso, ok?! – Eu ri de sua indignação. — Sou um exemplo de marido.
— Ok – levantei , que estava sonolento e o coloquei em meu colo. — Mas eu não reclamaria se você fizesse sempre.
— Abusada! – eu ri fraco e fui para o quarto de .
Acendi a luz e levei para escovar os dentes, ele já faz isso tão bem. Meu bebê está crescendo rápido demais.
— Terminei – o ajudei a descer do banquinho e o levei para a cama. Desliguei a luz do abajur. — Fica aqui comigo, mamãe?
— Claro, meu amor – beijei sua testa.
Fiquei acariciando seu cabelo, até ele pegar no sono.
Dei mais um beijinho na testa do meu anjinho e fui para o meu quarto, encontrando já deitado.
— Que folga é essa? – Acendi a luz e ele reclamou. — Pode ir levantando para me ajudar a preparar as malas.
, dá um tempo.
— Não. Pegue as malas, por gentileza – ele levantou, bufando de raiva e eu joguei as peças de roupa na cama. — Escolha as que vai querer usar, eu vou pegar as coisas de .
— Vou levar algumas peças frescas e outras peças quentes, porque lá o frio é de rachar e o quente é de derreter. – Assenti achando graça da forma como falou. — Temos que nos prevenir.
— Com certeza. – Eu disse, voltando ao quarto de .

Viramos a noite aprontando as malas e depois disso, caiu na cama. Aproveitei as horinhas que eu ainda tinha para dormir também.

Acordei no susto, quando ouvi o som do despertador às 07:00h. Levantei-me devagar e dei um pulinho da cama.
— Amor, pode fazer o café da manhã enquanto eu arrumo o ? – Perguntei, enquanto acariciava seu rosto.
— Claro. – me beijou e se levantou preguiçosamente. — Só espere eu tomar um banho, ok?
— Obrigada – o mandei um beijo no ar e fui para o quarto de .
Abri a porta devagar e me aproximei da cama, logo acariciando seu cabelo e ele se virou para mim, resmungando. Certamente, me pediria para ficar mais alguns minutos na cama.
— Eu quero dormir mais.
— Eu sei, meu amor. Mas, precisamos sair cedo hoje. – Ele fez uma carinha de bravo e eu ri fraco. — Agora, se levante e vá para o banho.
— Que saco! – Disse, correndo para o banheiro.
— O que você disse, ?
— Nada.
— Cuidado para não ficar de castigo, hein. – Eu disse em um tom mais firme.
Peguei tudo que ele precisaria e deixei em cima da cama. saiu do banho, e eu o aprontei o mais rápido que pude.
— Vá para a cozinha, seu pai está fazendo o café da manhã. – Ele assentiu, indo até o e eu fui para o meu quarto.
Tomei um banho rápido e saí do banheiro enrolada na toalha. Olhei para o relógio no criado-mudo, 07:35h. Estava procurando minhas roupas, que eu já tinha deixado penduradas no cabide, mas não encontrei.
— O café já... Uau! – entrou no quarto e ficou me observando, dos pés à cabeça. — Que bela visão logo pela manhã.
— Viu alguma roupa que estava no cabide? – Perguntei o ignorando.
— Coloquei na mala. – Parei a minha busca e o olhei, de olhos arregalados e ele abriu a mala, me mostrando a roupa. — Achei que você tinha esquecido.
— Não.
— Então por que as deixou no cabide? – Eu respirei fundo.
— Porque se você não tivesse amassado a roupa inteira, eu iria usar, . – Respondi calmamente.
— Se você não fosse tão engraçada quando está brava, seria bem sexy. – Ele disse, me olhando de forma sedutora.
— Saia daqui! – Dei um gritinho histérico e joguei meu travesseiro nele, logo trancando a porta.
Escolhi outra roupa, um vestido marrom claro, mais simples, porém ainda formal. Me vesti rapidamente e fiz uma maquiagem bem leve e discreta, exagerando apenas no batom cor vinho. Calcei meu sapato de mesma cor e soltei o cabelo, o jogando de um lado para outro, apenas para deixá-lo com um aspecto bagunçado. 07:57h, me olhei no espelho pela última vez, apesar da viagem ser cansativa, eu precisava manter a minha aparência, já que eu carrego o nome e rosto da empresa aonde quer que eu vá.
Destranquei a porta, indo para a cozinha.
, cuidado para não sujar sua roupa! – Ele me olhou e assentiu.
— Tome – me entregou uma caneca — Vou tomar banho.
— Você não...
— Achei melhor preparar o café antes do banho. – Ele deu de ombros — Fica tranquila, serei rápido.

Terminei de me alimentar e limpei a mesa, com bastante cuidado para não me sujar.
— Estou pronto. – Olhei para e fiz que sim com a cabeça. — Pode dizer que estou gato.
— Se isso te fizer pegar todas as malas, meu amor, você está maravilhoso. – Ele fez uma expressão engraçada, enquanto resmungava e eu ri fraco. Olhei para o relógio da cozinha, 08:20h. — , desligue a TV.
Pedi um táxi pelo telefone, enquanto saia de dentro da casa todo atrapalhado com as malas, tranquei a porta principal.
Aparentemente, não estávamos nos esquecendo de nada, até eu me lembrar de Bobby.
— Nossa, quase me esqueci de Bobby.
— O que faremos agora? – perguntou um tanto preocupado.
— Ele pode ir com a gente? – já se animava.
— Não invente moda, filho. – Pensei um pouquinho, pegando o meu celular e ligando para a minha mãe. — Preciso de um favor seu, mãe.
Pode falar, .
— Preciso que você fique com Bobby durante um mês.
Por que? Você vai viajar?
— Sim, mas a trabalho. e estão indo comigo.
Tudo bem. Quando vocês irão?
— Já estamos saindo de casa, mas você pode vir porque a chave está no lugar de sempre.
Ok, filha. Bom trabalho! – Ela disse melancólica enquanto suspirava, parecia estar chorando — Diga ao meu neto que eu mandei um beijo para ele. Amo todos vocês, menos o .
— Mãe, por favor – eu suspirei fraco, não queria me estressar logo pela manhã. — Também te amo.
— Também te amo, vovó – disse, espontaneamente, nos fazendo rir.
Oh, meu amor. A vovó te ama muito. – ela respondeu no mesmo tom. — Tchau.
— Tchau, mãe.
— É muito amor, hein – disse, rindo fraco.
— Bobo – eu dei uma tapinha em seu braço, o fazendo reclamar.
O táxi chegou e nós seguimos para o aeroporto, chegamos pouco antes do avião decolar.
Allyson estava, animada como de costume, num dos acentos à minha frente. estava relaxado ao meu lado e não tirava os olhos da janela.
Foram 12h de voo até chegarmos a Londres.

— Allyson, pegaremos outro avião para o Egito agora ou passaremos esta noite aqui em Londres?
— Acho que nós aguentaríamos mais algumas horas de voo, mas e o seu pequeno? – Olhei para dormindo no colo de e respirei fundo, pensativa.
— Ele está dormindo mesmo, melhor pegarmos logo o avião para Cairo, menos despesas, eu não quero abusar.
— Tem certeza? – Allyson perguntou preocupada e eu assenti — Então, por mim, tudo bem. – Ela sorriu e eu chamei .
— Vamos seguir para outro voo – ele assentiu e ajeitou em seu colo. — Quer que eu segure ele?
— Não precisa, minha preocupação é apenas com vocês dois. Quero que descansem.
— Meu amor, você também precisa descansar. Está exausto, dá para perceber – acariciei seu rosto.
– Allyson me chamou um tanto afobada — Vamos.
Foram mais 5h de voo direto de Londres para Cairo.

Depois de horas dormindo e recuperando nossas energias, em um dos melhores quartos do hotel mais requisitado da cidade, eu e Allyson fomos para a filial da SUSTINLOG.
— Vocês devem ser as colaboradoras que viriam da matriz para nos ajudar com a filial – um homem não tão alto e de bom porte disse.
— Sim, me chamo e sou a responsável pelo setor de sustentabilidade empresarial, apesar de exercer também muitas funções dentro da logística das nossas empresas. – O homem assentiu — E esta é Allyson, a minha assessora.
— Eu sou Rami, diretor geral de recursos humanos e afirmo que é um prazer conhecê-las – ele sorriu.
— O prazer é todo me... Nosso. O prazer é nosso – Allyson se enrolou em suas palavras e eu tive muita dificuldade em segurar a risada.
— Acredito que temos muitas experiências para compartilharmos uns com os outros e eu ajudarei vocês em tudo que precisarem aqui na empresa.
— Gratas desde já – eu disse. — Mas me diga, o que há de mais grave, no momento?
— O problema com a sustentabilidade. Já fizemos reuniões com os colaboradores da empresa para se conscientizarem e adotarem os novos hábitos, que são sustentáveis. Entendemos que é tudo novidade para eles, mas não estamos tendo colaboração para a melhoria da empresa.
— Entendo. – Pensei um pouco.
— Vocês vieram para ver o problema de perto e nos ajudar a selecioná-lo.
— Bem, precisamos de uma nova reunião, ok?
— Convocarei os colaboradores pessoalmente e agora mesmo, mas volto logo. Por favor, sintam-se à vontade.
— Obrigada – dissemos em uma só voz. Rami se afastou, mas Allyson continuava observando o homem de longe. — Já pode parar de babar.
— Que homem charmoso!
— Concordo, mas você precisa se concentrar – ela assentiu. — Aqui na empresa somos apenas colegas de trabalho, fora daqui você pode esperar, porque ele vai pedir o seu número.
— Eu duvido – ergui as sobrancelhas, surpresa com sua resposta — Um homem como ele já deve ter alguém especial em sua vida. – Balancei a cabeça e Allyson fez biquinho.

Esperamos Rami por alguns minutinhos e ele voltou com uma expressão de preocupação.
— Aconteceu algo, Rami? – Perguntei.
— Acabei de saber que os colaboradores não vieram trabalhar – Allyson arregalou seus olhos.
— Isso é muito grave. – Eu disse preocupada. — E seria até o caso de demissão
— Estávamos tentando tomar providências sem chegar a esse ponto, pois nós dependemos deles mais do que imaginam. – Eu engoli cada palavra a seco. — O andamento da empresa está gravemente comprometido, caso essa situação permaneça.
— Precisamos mesmo fazer uma reunião e informá-los sobre as consequências que terão que arcar se continuarem trabalhando dessa forma.
— Eles sabem do risco que estão correndo, mas não temem por isso. Alguns começaram a greve há tempos. – Respirei fundo — Aqui nós não temos muitas pessoas dispostas a trabalhar nessa área e eles sabem disso. Esse é um dos motivos para acharem que podem cometer esse ato de irresponsabilidade.
— Por que não contrata colaboradores estrangeiros? A maior parte dos contratados de outros países sempre se mostram muito interessados e determinados.
— Então preencheríamos o nosso quadro de colaboradores apenas por estrangeiros e isso teria uma imagem prejudicial para o nome da empresa – Rami disse num tom cuidadoso — Não seríamos vistos com bons olhos, ainda mais em nossa unidade e localidade, se é que me entende.
— Perfeitamente.
— A menos que criássemos um programa que ofereça trabalho para estrangeiros, as demandas nas empresas são gigantescas, mas a falta de oportunidade para esse pessoal é imensa. – Rami parecia mais animado.
— Seria proveitoso para ambos os lados. – Eu disse interessada e pensativa.
— Acho que precisamos dar aos colaboradores a liberdade para expor suas opiniões – Allyson se pronunciou, num tom de voz baixo. — Há algo que não está os agradando em suas posições de trabalhadores, então por que não ouvir o que eles têm a dizer?
— É verdade – Rami disse assentindo — Eu gostei da ideia.
— Sim, é boa – eu concordei — Então faremos assim, nos reuniremos quando a maior parte deles retornarem ao trabalho e iremos debater sobre nossas condições de trabalho, ouvindo atentamente à cada uma das reclamações.
— Então faremos desta forma – Rami assentiu. — Mas por enquanto, não querem conhecer a empresa?
— Seria um prazer imenso, mas acho que não conseguiremos conhecer todo o espaço, hoje.
— Não se preocupem, vocês terão um mês para isso. — Allyson me olhou rindo fraco e eu a lancei um olhar significativo.
Passamos a manhã conhecendo grande parte da empresa, mas não o suficiente para dominarmos todo o caminho. Ainda era confuso para memorizar todos as salas e corredores daquele imenso lugar.
Ao fim da tarde, retornamos para o hotel um pouco mais cedo do horário habitual, mas eu e Allyson precisávamos descansar da viagem e do primeiro dia de trabalho.

— Hey, Sleeping Beauty – Ouvi a voz de suavemente ao meu ouvido — Você precisa se alimentar.
— Que horas são? – Perguntei quase em um sussurro.
— 22:21h – espreguicei-me e fui levantando o meu corpo devagar, apoiando as costas na cabeceira da cama. — Sinto que não dormi o suficiente.
— E não dormiu mesmo. – Assenti, passando as mãos pelo rosto — Pela sua respiração ofegante, eu sabia que você estaria esgotada.
— Sim, e os meus ombros estão estranhamente mais rígidos que o normal. – Eu disse, enquanto corrigia a minha postura. — já está dormindo?
— Sim, ele passou a tarde me fazendo perguntas sobre as múmias e disse que quer vê-las de perto. – Eu soltei uma risadinha baixa — Depois ele tomou banho, comeu algumas frutas e voltou a dormir.
— E você? Só descansou quando chegamos? – Ele desviou o olhar, não queria admitir que estava cansado. — Meu amor, você precisa repor suas energias.
— Eu só estou um pouco sonolento, mas a minha preocupação é com você e . – Suspirei, não adiantaria brigar com ele — E relaxe um pouco, te farei uma massagem.
— Meu amor, não se incomode comigo. – Ele se aproximou e eu me virei de costas para ele.
— Shh, deixe eu cuidar um pouquinho mais de você – disse em um sussurro, logo depositando um beijo em meu ombro e eu senti meu corpo inteiro se arrepiar.
Começou a acariciar a minha pele, lentamente, mas eu não sabia se ficava relaxada ao sentir alívio das dores ou se ficava ouriçada ao seu toque.
Ao contrário do que parecia, conseguia controlar o peso de suas mãos, o que para mim era menos uma preocupação. Até que ele começou a apertar demais os meus ombros.
— Amor, muito obrigada pela massagem, já me sinto melhor – eu disse, levantando da cama rapidamente. — Agora você precisa descansar e eu me alimentar.
— Eu já disse, só estou sonolento, mas me sinto bem. – Ele coçou a cabeça e eu via o cansaço em seus olhos.
— Tudo bem, mas eu estou faminta. – Ele sorriu de lado — Vai me acompanhar?
— Desta vez eu passo, já comi bastante hoje e ainda estou cheio. – Eu assenti, indo para a sala.
Liguei para a recepção e pedi o prato Molokhia que não demorou a chegar. Logo eu estava jantando.
Voltei ao quarto e encontrei jogado na cama, dormindo profundamente. Ajeitei a coberta sobre ele e ri fraco lembrando de sua teimosia, sabia que ele estava cansado.
Peguei meu notebook e fiz o relatório do primeiro dia na empresa. Confesso que estava sentindo um pouco de dor de cabeça, devia ser devido ao cansaço, mas aliviou depois da massagem que fez em mim e depois de me alimentar.
Reli todo o relatório e ao meu ver, estava tudo certo, por isso enviei para o chefe sem nenhuma restrição.
Aproveitei o tempo que estava tendo para pesquisar mais sobre o Egito, apesar de já ter informações significantes pois vive contando para mim e histórias sobre a cultura egípcia, o que não é ruim, já que ele expõe os seus conhecimentos como um professor apaixonado que é, e por outro lado ele desperta desejo em nós de querer sempre saber mais sobre o país e suas tradições.
Não demorei muito para abandonar o notebook e tentar dormir mais, afinal, eu merecia o sono da beleza e do descanso.

Havia duas semanas desde que chegamos ao Egito e meu filho estava completando seus 4 anos. Como presente, levamos ao Museu Egípcio de Cairo, o que ele tanto pediu para ir.
— Mamãe, olha só àquela múmia – apontou — Muito feia.
— Então nem queira ver a sua mãe quando ela acorda. – disse me olhando e rindo fraco. Eu apenas o lancei um olhar mortal, mesmo sabendo que ele estava brincando.
— A mamãe é igual àquela múmia?! perguntou assustado.
— Ou pior, dependendo do dia. – Eu fiquei boquiaberta e ergui as sobrancelhas, observando meu marido se divertir com a situação.
?! – Eu dei um gritinho histérico e uma bofetada em seu braço. Não me arrependo, foi mais que merecido. — Você está assustando o menino.
— Imagine então o meu susto, já que sempre estou ao seu lado quando você acorda. – Ele disse rindo alto e eu lhe deu outra tapa, porém mais forte. — Ai, calma, eu só estou brincando. – Reclamou, alisando seu braço.
— Mamãe, o papai tem medo de você. – disse inocentemente, fazendo o pai gargalhar.
— Medo ele não tem, não, mas deveria. – Eu disse firme, ainda olhando para .
— Amor, eu só estou brincando. – Ele tentou se aproximar, mas eu me virei discretamente. — Tudo bem, vou deixar você esfriando a cabeça.
Enquanto se afastava com para olhar as múmias de perto, meu sangue fervia.
Juro que se estivéssemos sós, eu voaria no pescoço dele.

Passamos o resto da tarde no Museu Egípcio.
— Quero ver o Faraó – pediu.
— São vários – disse e ele sorriu, largamente. — Vamos para o Salão das Múmias Reais.
O lugar era abafado demais, porém fascinante.
— Mamãe, tô com sede – pediu com voz manhosa. Peguei a garrafinha de água, mas quando me virei, ele havia desaparecido.
, desapareceu. – Me aproximei do meu marido, sentindo a respiração ficar ofegante.
— Como? Eu achei que ele estivesse com você.
— Ele estava, eu não sei como aconteceu. – Eu respondi nervosa, já sentia as lágrimas querendo escorrer. franziu a testa e me abraçou. — Eu nunca fui tão irresponsável.
— Calma, nós vamos achá-lo. Sabemos que é muito curioso, então ele deve estar vendo alguma outra múmia. Mas não fique tão nervosa agora, pode prejudicar a nossa busca. – Eu respirei fundo, tentando controlar o nervosismo. — Eu procuro na biblioteca e você no jardim. Caso não o encontremos, a gente comunica aos seguranças do local, mas por enquanto, vamos manter a calma. – Assenti, me soltando do seu abraço e nos dividimos.
Fui o mais rápido que pude até o jardim e chamava por a cada dez segundos, não queria ficar incomodando as pessoas, mas eu estava desesperada.
Passei pela estátua de Osíris e Isis, pelo obelisco, pelo mausoléu de Auguste Mariette, mas nem sinal do meu pequeno.
Resolvi ir atrás de na biblioteca e quando estava chegando, ouvi o choro de .
— Filho – o chamei com todas as minhas forças, mas não obtive resposta. Entrei em uma sala antiga e empoeirada, parecia que o som vinha dali — ?
Senti uma mão tapar a minha boca, imediatamente, comecei a me debater.
— Calma, sou eu, . – Fechei os olhos, aliviada por ser ele. — Vou te soltar agora, mas você precisa me prometer que não fará barulho – balancei a cabeça positivamente.
— Pelo amor de Deus, me diga o que está acontecendo. – Pedi chorosa e ele me olhou de forma preocupante.
— Eu sei que vai parecer loucura e entendo se você não acreditar, mas a verdade é que foi levado por uma múmia. – Franzi a testa e comecei a rir. — , estou falando sério.
— Não brinque com essas coisas, .
— Eu juro por tudo, não é brincadeira. – Ele disse com firmeza e eu engoli suas palavras a seco.
— Está me assustando. – Eu disse de olhos arregalados — Você sempre disse que eram apenas histórias fantasiosas.
— Eu também pensava assim, mas parece que as múmias estão revivendo. – Suspirei forte, minha cabeça já estava latejando — Precisamos de ajuda, devem ter mais delas por aí.
Ouvimos um estrondo e me puxou para trás de uma mesa grande. Vimos uma múmia andando em direção às pinturas, na parede de frente para nós.
— Que droga é isso, meu Deus?! – A criatura me ouviu e se virou a procura do dono da voz. Olhei para com os olhos arregalados e ele fez sinal de silêncio.
A criatura saiu da sala, como se estivesse tentando gritar e eu quase desmaiei de nervoso, foi a cena mais apavorante que eu já presenciei em toda a minha vida.
– ele me encarou, também assustado — Não acredito que isso esteja acontecendo. – Eu disse chorosa.
— Quer saber a pior parte? – Ele perguntou com cuidado e eu assenti, já chorando — Agora tenho certeza que há mais dessas criaturas.
— Por que levaram ? – hesitou em responder — O que farão com ele?
— Não pense nisso agora, ok?
— Como não pensar? Estão com nosso filho e nem sabemos o porquê, como poderemos ajuda-lo? – O meu choro se tornou mais alto e novamente tapou a minha boca.
— Amor, eu entendo que você esteja sensibilizada com tudo que está acontecendo, mas por favor, tente manter a calma. – Ele disse em um sussurro e eu tentei conter as lágrimas — precisa da gente, mais do que nunca agora, e nós precisamos manter a cabeça no lugar para ajudá-lo. – destapou a minha boca, logo me confortando com um abraço apertado.
— Me desculpe por estar sendo tão fraca.
— Hey, não diga isso, você só não soube como lidar com a situação, mas estamos juntos nessa. Eu vou te proteger. – Fechei meus olhos, sentindo apenas o conforto dos seus braços — Esse não é o tipo de situação que alguém vá acreditar, então nós estamos literalmente sozinhos.
— Mas nós temos um ao outro – eu me afastei para o olhar. — E independente do que aconteça, você e são as pessoas mais importante da minha vida e eu os amo demais.
— Não diga isso como uma despedida. – Ele suspirou, mordendo o lábio — Você e o nosso filho são a minha vida, eu não deixarei que mal algum aconteça a vocês. Não enquanto eu estiver vivo. – Eu assenti, ainda emocionada — Mesmo que isso custe a minha vida, eu prometo que vocês sairão daqui.
— Eu te amo tanto – o surpreendi com um beijo — Não quero te perder, .
— Então não pense nisso agora, apenas pense em ficar bem para salvarmos . – Eu assenti e ele acariciou meu rosto — Nunca se esqueça o quanto eu te amo. Nunca mesmo.
— Mesmo que eu quisesse, você não me deixa esquecer. – Sorrimos fraco e nos beijamos mais uma vez.
— Eu não queria cortar esse momento, mas não temos tempo a perder. – Assenti — Precisamos sair daqui, imediatamente.
se levantou e foi à minha frente, saímos da sala e corremos pelo corredor, chegando rapidamente à porta de entrada do Museu; estava trancada.
— Só pode ser uma pegadinha! – socou a parede com fúria. — Era para este dia ser divertido, é o aniversário do nosso filho. devia estar aqui com a gente, brincando, tendo um dia alegre...
— Amor, eu sei que isso não é justo, mas... Ai meu Deus! – Duas múmias surgiram à nossa frente e nos avistaram. Tivemos que correr. — Para onde iremos?
— Para atrás da coluna. – Nos encostamos em colunas diferentes e foi quem ficou mais distante.
Senti um incômodo em minha perna, mas tinha a certeza que se eu movesse um dedo, aquelas criaturas viriam em minha direção, então me concentrei apenas em ficar calma.
As múmias ficaram cada vez mais próximas de nós, pois eu ouvia as respirações fundas e estranhas deles, perfeitamente. O incômodo em minha perna continuava, como uma coceira. Tentei bater com o pé no chão, levemente numa tentativa de aliviar, mas meu celular tocou bem na hora.
— Merda! – disse irritado e me puxou rapidamente. — Atenda antes que os outros ouçam e venham atrás de nós.
, onde você está? Eu e Rami estamos te esperando há 40 min...
— Allyson, por favor, me escute – a interrompi — Estou no Museu Egípcio com , não sei por qual razão, mas as múmias estão revivendo e levaram com elas. Preciso de ajuda!
O quê? – ouvi Rami pedindo o telefone a Allyson — , vá para um local com iluminação forte ou ponha a vista delas o fogo. Já estamos indo.
— Precisamos de luz ou fogo para afastar essas criaturas. – Eu disse, já sem fôlego.
retirou uma tocha da parede e corremos até uma sala iluminada por uma luz emergencial, trancamos a porta.
— Acha que ainda estão atrás de nós? – Perguntei num sussurro.
— Com certeza, mas não entrariam aqui – se sentou no chão, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos na cabeça. — Isso é surreal!
— Mas Rami e Allyson estão a caminho. – Me sentei ao seu lado.
— Ótimo, ele deve saber como lidar com múmias melhor que eu. – Deitei minha cabeça em seu ombro.
— Acha que ainda está vivo? – Perguntei inocentemente, não contendo as lágrimas. — Eu não entendo. Você também viu como são àquelas criaturas assustadoras, podem querer sacrificar o nosso filho.
, não pense nisso, não agora. – Eu respirei fundo, ainda não conseguia ficar tranquila. — Nós encontraremos , com vida. – Disse firme e confiante.
— Não suportaria perdê-lo – eu disse, chorosa.
— No dia em que noivamos, tive uma conversa séria com seu pai. Na verdade, eu fiz uma promessa. – O olhei surpresa, não sabia dessa conversa. — Prometi a ele que cuidaria de você, independente do que acontecesse. Então depois nos casamos e passados alguns anos, descobrimos que teríamos em nossas vidas. No dia em que ele nasceu, prometi a mim mesmo que cuidaria não só de você, mas dele também, com todo o meu amor e dedicação – assenti, sorrindo para . — E eu afirmo, farei isso até o fim dos meus dias.
— Eu sei, amor. – Disse sincera e orgulhosa do meu marido.
— Não acha que eu falhei? – Perguntou cabisbaixo.
— Claro que não, meu amor. A culpa não foi sua. – Eu levantei seu rosto, o olhando nos olhos. — Você tem cumprido fielmente às suas promessas, não tenha dúvidas sobre isto.
sorria de lado, enquanto acariciava o meu rosto. Parecia estar memorizando cada detalhe em minha face.
Do you remember the time when we fell in love? Do you remember the time when we first met, girl? – Ele cantarolou baixinho, me trazendo boas memórias. — Quem diria que eu me casaria com aquela menina atrapalhada, que sempre desviava do caminho quando me via passando por ela. – Eu ri fraco, lembrando de como nós éramos no colégio. — Por que você não gostava de mim?
, eu não tinha nada contra você – eu menti e ele me olhou desconfiado — Mas você era um babaca.
— Eu sabia que estava mentindo! – Ele soltou uma gargalhada gostosa e eu o beijei. — Nossa, você está tão ousada – eu ergui uma sobrancelha, mordendo o lábio inferior — Mas eu gosto disso. – Confessou, me beijando de forma mais intensa.
Fomos interrompidos pelo barulho na porta. me olhou preocupado, enquanto se levantava e pegou uma barra de madeira. Caminhou cuidadosamente até a porta e me pediu para fazer silêncio.
— Quem está aí?
— Rami e Allyson, abram depressa! – Suspirei aliviada ao saber que eram eles. abriu a porta imediatamente e eles adentraram um tanto desesperados.
– Allyson veio me abraçar de forma calorosa — Fique tranquila, encontraremos .
— Obrigada.
— Então, Rami... Você sabe como lidar com essas criaturas? – Perguntou preocupado.
— Na verdade, tudo que sei é pelo que ouço.
— O que você sabe? – Perguntei curiosa.
— Quando a noite se aproxima, todas as múmias do museu acordam.
— O que? Isso acontece com frequência? – Allyson perguntou.
— Sempre que a noite chega, trazendo o frio.
— E por que levaram ?
— Eu não faço ideia, talvez ele tenha tocado em alguma múmia ou objeto sagrado. – Rami pensou um pouco — Mas eu não sei, não posso afirmar nada.
— Por que só nós ficamos presos aqui?
— Provavelmente, vocês ultrapassaram o tempo limite. Não se pode ficar aqui quando a noite se aproxima, as portas são trancadas automaticamente.
— Não há guardas noturnos? – perguntou.
— Quem se atreveria a ficar aqui durante a noite? Não quero assustar vocês, mas precisamos nos preparar para tudo. Pelo que sei as múmias Faraós ordenam que seus soldados não deixem os humanos se aproximar deles, e quem se atreve a fazer isso, eles matam com uma espada cravada no peito.
— Corro qualquer risco pelo meu filho. – disse, me olhando e eu assenti.
— Eu também.
— E eu vou com vocês, não posso ficar de braços cruzados sabendo que precisam de minha ajuda – Allyson disse, solidária.
— Obrigada novamente, nem sei como agradecer à altura.
— Faço das palavras de Allyson as minhas – Rami disse.
— Obrigado, irmão – agradeceu com sinceridade.
— Agora, precisamos ir. – Rami nos disse.
Saímos da sala iluminada, caminhando lentamente para não chamar a atenção das múmias e carregando a tocha ainda acesa. Passando pelo corredor, ouvimos alguns gemidos.
— Isso é mais assustador do que eu pensava – Allyson disse alto. No mesmo instante avistamos algumas criaturas correndo, provavelmente procurando pelo dono da voz. — E esses bichos são mais feios do que eu imaginava.
— Allyson, faça silêncio – Rami pediu, mas já era tarde. As múmias tinham nos avistado.
Voltamos correndo para o Salão das Múmias Reais e tivemos uma surpresa, estava pendurado pelos braços e pernas com uma das múmias apontando uma flecha para ele. Meu coração palpitou bem forte quando o vi desta forma.
As múmias nos encurralaram, fazendo um círculo ao nosso redor. Uma das criaturas ordenou que as outras nos atacassem.
— Mamãe – me chamou e eu o olhei, parecia confuso e assustado. Tentei correr até ele, mas me segurou.
— Soltem meu filho!
— Quem você pensa que é para falar assim com o rei do alto e do baixo Egito? – Uma das múmias perguntou num tom superior.
— Não dê atenção a estes estrangeiros, meu soberano. – Outra múmia disse com desdém, enquanto acariciava o rosto do suposto rei.
— Tem razão, minha rainha.
— Com licença – Rami tentou se aproximar do rei, mas foi impedido pelos guardas — Poderíamos saber por que vocês estão com a criança?
— Ele estava com o Amuleto Cruz Ankh e isto é uma afronta aos nossos deuses.
— Mas ele é só uma criança, não merece a morte por algo tão banal – disse, indignado.
— Roubar um dos amuletos do Faraó é algo banal?
— Ah, por favor, você já até morreu. Esse amuleto realmente importa agora? – Allyson disse a verdade que não deveria ser dita.
— Como ousas falar desta forma com o rei, estrangeira? – Faraó ficou possesso de fúria.
— Perdão, senhor. Ela não quis desrespeitar o rei – Rami dizia enquanto se curvava, tentando reverter a situação — Não queremos perturbar os soberanos, só viemos buscar a criança.
— A criança merece ser punida pela afronta aos deuses! – O rei disse com firmeza, não voltaria atrás em sua decisão.
— Não tiro a sua razão, meu senhor. Peço apenas que permita aos pais castigá-lo da maneira que eles julgam necessário.
— O que você me diz sobre o pedido do servo, minha rainha?
— Deixe-o ir. Não queremos que mais desgraças caiam sobre o Egito. – A múmia rainha disse, enquanto nos observava com superioridade.
— Pois bem, podem levá-lo. – As múmias da guarda soltaram , que correu até meus braços. O abracei como se não houvesse um outro amanhã. — Agora, saiam daqui e não ousem em nos incomodar novamente!
— Obrigado, soberano – Rami se curvou e Faraó apenas balançou a mão, indiferente.
Saímos rapidamente do Salão das Múmias Reais e já perto da porta de entrada, algumas criaturas vieram atrás de nós.
Rami nos mandou parar.
— O que desejam?
— O Amado de Ptah mudou de ideia e quer vocês perante ele, imediatamente.
— Pode avisá-lo que não iremos. Ele não manda em mais nada. – Allyson dizia visivelmente irritada.
— Levem-nos! – Uma das criaturas ordenou e os demais nos puxaram pelo braço. Só nos soltaram quando ficamos frente ao Faraó.
— Vocês estão muito inquietos. – O rei disse enquanto soltava uma risada que me fez arrepiar de medo. — Quero que fiquem presos durante um tempo. – Ao ouvi-lo, segurei com toda minha força.
— Mas por que? O que fizemos de errado?
— Por que? Bem, porque eu sou o rei e decidi assim. – Allyson me olhou indignada e eu pedi para que ela manter a calma — Além de trazerem essa pequena e irritante criatura que afrontou aos nossos deuses, e vocês perturbaram seus soberanos.
— Mas você nos deixou ir. – parecia irritadíssimo. — Um rei não pode voltar atrás em suas decisões –
— Eu não sei se devemos levar em conta as palavras de um morto-vivo.
— Allyson, por favor – Rami chamou a atenção dela, mas a mesma o ignorou.
— Por favor digo eu – ela não se controlou — Esta aberração quer abusar de um poder que não possui mais, só porque voltou do além.
— Não diga mais nada, Allyson – pedi — É arriscado.
— Eu vou falar, sim. – Ela continuou provocando o rei — Não irei me sujeitar a isso.
— Querem me ensinar a governar? – O rei se levantou com fúria — Eu sou o Hórus vivo, ordeno o reino mais poderoso da terra, a vida de cada um de vocês está em minhas mãos, e vocês ainda acham que podem me ensinar como eu devo governar o meu reino?
— Se preparem para quando eu contar até três, a gente precisa correr o mais rápido que puder. – Rami sussurrou e pegou no colo. — Um – suspirei forte, olhando para os guardas a nossa volta.
— Não continuará com sua prepotência se eu te der um peteleco e você se tornar pó. – Allyson mantinha seu olhar de desdém para as múmias e isso despertava a raiva da rainha.
— Dois – Rami continuou sua contagem e eu olhei para no colo de , parecia ainda muito confuso.
— Chega, não irei tolerar mais desaforos. – Faraó se enfureceu. — Guardas, matem-nos!
— Três.
Corremos em direção à porta de entrada, mas uma das múmias puxou Allyson, fazendo-a cair. Rami a ajudou e conseguimos chegar à porta, mas lembramos que estava trancada.
me entregou e se jogou contra a porta, sendo acompanhado por Rami, que fez o mesmo. Conseguiram abrir a porta bruscamente e finalmente as múmias pararam de nos seguir.
— Acabou. – Eu disse aliviada e olhei para em meu colo — Filho, está tudo bem? — Sim.
— Como conseguiu àquele amuleto?
— Eu vi o cordão no pescoço de uma múmia.
— Mas por que você pegou? – Perguntei.
— Eu queria ver de perto, mas a múmia se mexeu e me puxou.
— O alarme do museu não tocou? – Perguntou Allyson e eu neguei com a cabeça.
— Geralmente, quem pratica tais coisas despertam a ira dos deuses e são amaldiçoados até a sua descendência. – me olhou ao ouvir Rami. — Mas foi sortudo.
— Bem, nós não temos os mesmos costumes e crenças que você, mas não foi nossa intenção desrespeitar aos seus deuses. – Meu marido usou suas palavras como um pedido de desculpa a Rami.
— Eu sei. – Rami disse, assentindo.
, o que você fez foi muito errado e quase custou a sua vida. – Ele virou a cabeça, mas eu segurei levemente em seu rosto — Nunca mais pegue algo que não pertence a você, novamente. Isso é muito feio e um menino bonito como você não deve fazer coisas feias.
— Eu fiquei curioso. – Ele disse melancólico.
— Eu sei, você é curioso. Mas eu já te disse para não mexer no que não é seu. – me olhou, fazendo biquinho — E também já disse para você não sair de perto da mamãe e do papai, a menos que um de nós autorize.
— Tá bom, mamãe.
— Estamos entendidos? – Eu perguntei firme e ele assentiu.
— Filho, a mamãe está certa, o que você fez foi muito errado. – se aproximou — Mas estamos aliviados por você estar bem e livre das múmias. – Ele disse, enquanto abraçava . — Nossa intenção era te proporcionar um aniversário legal.
— Mas eu gostei – disse sorridente. — Esse foi o meu melhor aniversário. – Ele riu alto, me fazendo o apertar em um abraço.
— O quê? Isso é sério? – Allyson parecia surpresa — Eu estou apavorada até agora com àquelas coisas horríveis e fedorentas.
— Não pareceu, pensei até que assistiria uma luta de MMA entre você e o Faraó – disse, nos fazendo rir.
— Eu o finalizaria nos primeiros segundos. – Ela ergueu as sobrancelhas, confiante.
— Ok, Ronda Rousey. – Rami disse em um tom divertido e Allyson mandou um beijo no ar.
— As múmias são engraçadas, elas andam igual o curupira. – Disse , nos arrancando altas gargalhadas.
— Você é muito corajoso, ! – Rami o elogiou.
— Meu pai também me chama de corajoso.
— Na verdade, eu sempre digo que você é curioso. – se pronunciou — Mas depois de hoje, você é mais corajoso que o papai. – riu alto.
— Ele é muito fofo, vou roubá-lo para mim – Allyson apertou as bochechas de .
— Depois de hoje, nem brinque assim! – Eu disse lembrando de tudo que vivenciamos no museu e ouvindo as altas risadas.
— Vamos para casa? – perguntou para , que assentiu e foi para o colo dele — Muito obrigado, irmão.
— Não precisa agradecer, eu jamais negaria ajuda a vocês. – Rami apertou a mão de .
— Allyson, obrigada mesmo – a abracei forte — Você está sendo uma amiga maravilhosa.
— Conte sempre comigo. – Ela disse animada, como de costume. — Nos vemos amanhã na empresa.
– Rami se aproximou — Se você quiser tirar o dia para descansar, eu entendo.
— De jeito nenhum. – Eu disse convicta — Depois de tudo o que aconteceu, eu só quero deixar o Egito o mais rápido que puder.
— O quê? Não iremos ver a Pirâmide de Djoser? – Allyson me perguntou incrédula — E quanto as Pirâmides de Gizé, o Rio Nilo, Mukhtar Museu, Al-Azhar Park, hein?
— Me desculpe, Allyson. – Pedi — Mas sinceramente, eu não estou mais com tanta vontade de visitar outros lugares.
— Se você quiser, eu te acompanho. – Rami se ofereceu.
— Faria isso?
— Com o maior prazer – Rami sorriu — Agora nós estamos muito cansados, mas eu pego o seu número em um horário melhor. – Allyson sorriu largamente — Preciso ir agora, até mais.
— É impressão minha ou está rolando um clima entre vocês? – Perguntei a Allyson, que permanecia admirando Rami de longe.
— Olha, eu não sei bem, mas espero que não seja apenas impressão sua. – Ela respondeu esperançosa, me fazendo rir.

Pegamos um táxi, que nos deixou rapidamente no hotel.
— Mais uma vez, muito obrigada.
— Não precisa agradecer, . É sempre um prazer poder ajudar vocês. – Sorri ao ouvi-la — Vou aproveitar as horas que ainda tenho para dormir, nos vemos mais tarde.
Allyson seu caminho e nós adentramos o nosso quarto.
colocou na cama, estava roncando no colo do pai.
— Ainda estou muito impressionado com tudo que aconteceu – ele respirou fundo e se aproximou de mim. — Mas que bom que já passou.
— Sim – sorri e ele mirou o seu olhar em mim. — Por que está me olhando assim?
— Não é nada demais, só estou te admirando. – Ergui minhas sobrancelhas e ele continuou me observando. — , você é tão linda.
— Ah, não começa, .
— Eu sei que você fica envergonhada toda vez que eu te elogio de forma mais séria, sempre ficou – assenti, rindo fraco — Mas me deixe olhar para este rosto lindo. – Ele segurou meu rosto, suavemente.
– tentei me afastar, mas ele me puxou e eu comecei a rir mais alto — Meu amor, precisamos ir dormir.
— Eu sei, mas não me canso de te admirar – me observava com intensidade no olhar e acariciava meu rosto delicadamente.
— E eu não me canso de te amar. – Ele sorriu abobalhado, mordendo o lábio inferior. se aproximou ainda mais, acabando com o mínimo espaço entre nossos corpos — Eu te am... – Ele me interrompeu com um beijo intenso e provocante.
— Eu também te amo, muito. – Disse após recuperar seu fôlego e eu selei nossos lábios.
— Não quero ser estraga-prazer, mas ainda tenho que trabalhar hoje – bufou, fazendo uma expressão engraçada com a face. — faz essa mesma carinha de bravo quando fica de castigo.
— Mas é assim que eu me sinto agora, de castigo. – Eu dei uma tapa em seu braço e me afastei. — Vou tomar um banho.
— Não mesmo, eu vou para o banho primeiro.
se jogou na cama se dando por vencido e eu peguei minhas roupas, logo indo para o banheiro.

Algumas horas depois, eu já estava na empresa com Allyson. Os colaboradores resolveram ir trabalhar e nós os convocamos para a reunião.
— Antes de qualquer coisa, quero deixar bem claro que estamos fazendo esta reunião para expor as ideias de todos. Mas, por favor, sem ofensas, constrangimentos ou algo do tipo. – Todos assentiram. — Como vocês sabem, eu e minha assessora somos da empresa matriz. Viemos para tentar solucionar o problema, que já percebemos ser por falta de comunicação entre vocês. Alguém discorda? – Um dos homens levantou a mão. — Está com a palavra agora.
— Esses caras mudaram todo o funcionamento da empresa que trabalhamos há anos, e querem que nos adaptemos de uma hora para outra.
— Tentamos ter um diálogo com vocês, mas o senhor foi o primeiro a se manifestar, dizendo que não aceitaria trabalhar dessa forma. – Foi a vez de Rami falar e o homem ficou balançando a cabeça, em negação. — Nossa tentativa de diálogo não foi apenas uma vez, e o senhor sabe muito bem disso.
— Não estou recebendo para ouvir essas babaquices! – O homem já ia saindo.
— Também não recebe para ficar organizando greves sem motivo justo. – Eu disse num tom mais firme — Vocês quase perderam o emprego.
— Com todo respeito, dona, mas a senhora não estava aqui para saber o motivo da nossa greve. – Outro colaborador se manifestou.
— Na verdade, eu já estava aqui sim. – Ele franziu a testa. — Vocês só não vieram trabalhar porque acham que não podem ser substituídos.
— Quem trabalharia aqui em nosso lugar? Não achariam funcionários como nós nem nos quatro cantos do mundo. – O homem rebateu.
— Conheço muitas pessoas que adorariam vir trabalhar no Egito, só precisam dessa oportunidade que vocês já têm. – Eles se calaram, ainda contrariados — Não estou aqui para criticá-los, mas precisamos esclarecer as coisas.
— Concordo plenamente. – Rami disse — Mudamos nossa forma de trabalho aqui na empresa e vocês precisam se conformar com isso. Sabemos que vocês ainda não se adaptaram, mas toda mudança leva tempo. Não estamos obrigando vocês a ter uma mudança repentina, temos profissionais que os auxiliarão em tudo para o aprendizado de vocês. – Parecia mesmo que eles estavam aceitando bem as palavras de Rami. — Mas vocês precisam colaborar com a gente, assim o trabalho de vocês será menos cansativo e mais produtivo, além de alimentar a sustentabilidade da SUSTINLOG. — Sendo assim, estamos dispostos a colaborar com a empresa – o mais revoltado, disse.
— Mais alguém quer ter a palavra? – Perguntei, mas ninguém respondeu. — Então é isso, espero que vocês tenham muito sucesso nessa nova forma de trabalho e que o relacionamento entre vocês melhore daqui para frente. Reunião encerrada.
, isso foi ótimo! – Allyson disse empolgada e sorrindo abobalhada.
— Anotou tudo? Precisamos mandar o relatório para o chefe.
— Sim, sem tirar uma vírgula. Está tudo exatamente como foi dito.
— Ótimo. – Eu disse aliviada.
— Excelente trabalho, ! – Rami se aproximou
— Devo dizer o mesmo a você, meu caro. – Ele sorriu de lado. — Passarei as duas semanas que me restam aqui em Cairo observando as mudanças e como todos estão se saindo.
— Isso será realmente muito bom. – Eu assenti, já sabendo ao que ele se referia — Allyson, você pode me passar o seu número?
— Vou deixá-los a sós.

Já era a quarta semana desde que chegamos a Cairo e tudo estava indo bem na empresa. Os colaboradores estavam se adaptando às mudanças e o relacionamento deles com seus superiores não poderia estar melhor.
Cumpri meu trabalho, me dedicando ao máximo e foi um desafio enorme para mim, mas era hora de voltar para casa.
, já está pronto?
— Sim – ele saiu do banheiro e pegou algumas malas.
, vamos? – Ele assentiu.
Um colaborador nos ajudou com as malas e saímos do quarto mais aliviados.
Vi Allyson vindo da piscina, tomando sorvete tranquilamente.
— Por que ainda não está arrumada?
— Não retornarei com vocês, .
— Está brincando, não é mesmo?! – Eu ri fraco.
— Não, desta vez eu falo sério. – Ela disse firme e eu franzi a testa.
— Mas por que, Allyson?
— Ficarei aqui com Rami. – Meus olhos quase saltaram do rosto.
— Allyson – ela riu fraco — Você tem certeza que quer isso?
— Sim, eu tenho. – Ela alargou o sorriso — Sei que está preocupada, mas relaxa, eu vou ficar bem. – Eu assenti e ela me abraçou.
— Eu espero que vocês sejam muito felizes, independente do que aconteça. – Sorri para ela — E juízo, hein!
— Mande meu abraço a Rami. – pediu.
— Pode deixar – Allyson disse, dando um beijo na bochecha de . — O que eu faço se encontrar outra múmia?
— Não grite com elas. – disse nos arrancando altas gargalhadas.
Nos despedimos de alguns hóspedes que fizemos uma breve amizade ali e de alguns colaboradores que vimos na entrada do hotel.
Seguimos para o aeroporto e foram 5h de voo direto de Cairo para Londres. Logo após mais 12h de Londres ao nosso destino final.

— Depois dessa viagem, eu aguento qualquer outra. – disse com dormindo em seu colo. — Que menino dorminhoco!
— Seu filho, querido. – Nós rimos fraco.
Eram 2h da manhã, o tempo já estava abafado, suava horrores e nenhum táxi que chamávamos estava disponível.
Liguei para o taxista que minha mãe costuma chamar e ele atendeu ao nosso pedido.
Foram mais 40 minutos do aeroporto até chegarmos a nossa casa.

Home sweet home cantarolou, depois de colocar na cama. — Estou me sentindo tão carente. – Veio me abraçar.
— Você está se sentindo cansado, e eu também. – Me desviei — Preciso de um banho e depois de descanso, eu ainda trabalho hoje. – Ele fez biquinho e eu selei nossos lábios.
Tomei uma ducha rápida, logo dando lugar ao sono.

Acordei às 07:00h, preparei um chocolate bem gelado para eu tomar e liguei para minha mãe.
Alô?
— Mãe, me desculpe ligar a essa hora. Só queria avisar que chegamos hoje pela madrugada.
E como foi sua viagem? Chegaram bem?
— Foi muito interessante e também cansativo, mas depois te conto com detalhes. E sim, chegamos bem.
Ok, mais tarde você vem com e pega o Bobby, ele chorou tanto sentindo falta de vocês. — Coitadinho! – Eu suspirei.
não vai dar aula hoje?
— Não, ele está de férias.
Que vida boa, hein – revirei os olhos, sabia que minha mãe começaria com suas implicâncias. — Quase não trabalha e ainda recebe muito bem para isso. Também quero ser professora.
— Mãe, não comece, por favor.
Estou mentindo?
— Está exagerando – eu disse calmamente — estuda muito para conseguir os bons conhecimentos que tem hoje e você sabe o quanto ele trabalhou duro para chegar onde está. – Eu a lembrei, não estava mentindo. — Recentemente, ele aceitou a proposta que recebeu de lecionar em uma das universidades mais respeitadas da cidade, e isso é fruto dos dias em que ele chegava tarde em casa, depois de trabalhar e ir direto para as aulas da pós-graduação, você deve lembrar.
Eu lembro de sempre ter te alertado para não se casar com um homem que prioriza os estudos e coloca a família em segundo plano.
— Mãe, nunca fez isso. Pelo contrário, por ele mesmo estaria começando a sua pós-graduação agora, ele nunca quis deixar as responsabilidades da casa e do nas minhas costas. Foi eu que insisti para ele não perder a oportunidade naquela época, mas ele nunca deixou de cumprir seus compromissos como marido e pai. – Eu mantive a minha voz suave — sempre participou de tudo e eu não me arrependo mesmo de ter me casado com ele, foi a melhor escolha que fiz.
A melhor escolha seria avançar profissionalmente e depois pensar em casar e ter filho. Mas nunca pensou em você, por isso te pressionou a se casar com ele. – Eu tentava manter a serenidade — Eu amo o meu neto, mas você podia ter esperado mais para ter uma criança.
— Mãe, o nunca me pressionou a nada, eu quis me tornar uma mulher casada, mas até isso acontecer nós nos formamos na faculdade, nós conseguimos o nosso primeiro emprego, conseguimos comprar nosso terreno e construir a nossa casa do jeito que queríamos, nós fizemos cursos de especialização na nossa área e recebemos boas propostas de trabalho. – Pela sua respiração rápida, ela parecia impaciente no outro lado da linha — não foi planejado, mas foi o melhor acontecimento de nossas vidas. E antes de termos ele, viajamos bastante, aproveitamos bastante a nossa vida de casado, não temos o que reclamar. Tudo aconteceu no tempo certo.
, eu sou a sua mãe e sempre vou querer o melhor para você. – Eu suspirei, bebericando o meu chocolate e ela respirou fundo, pigarreando. — Continuo não gostando de , mas ele sendo um bom marido para você e um bom pai para o meu neto, já me basta.
— Se você respeitar como meu marido e pai do meu filho, já conseguiremos conviver melhor.
Eu sonhava com um futuro melhor para você, mas a escolha foi sua.
— E eu não me arrependo de nada.
Me magoa você achar que eu não quero ver o seu bem.
— Mãe, eu sei que você quer o meu bem, e acredite, eu estou ótima. Sou feliz com a vida que tenho, você precisa entender isso.
Ok, . – Ela disse melancólica — Você já é uma mulher adulta, construiu a sua família, já sabe tomar suas próprias decisões, eu que me tornei uma velha chata depois da morte do seu pai.
— Mãe, não pense assim, você só sente falta de uma companhia. – Eu ri fraco — Mas você tem a nós e se quiser, pode vir...
Nem termine a frase, eu lá quero ter que viver na mesma casa que o . – Ri alto com sua indignação — Você e são a minha vida, por mim eu viveria apenas com vocês. Eu doaria todo o meu tempo disponível a vocês, mas pelo seu marido jamais. – Eu suspirava a cada palavra melancólica — E pensar que você me abandonou para viver com ele.
— Mãe, deixe de ser ciumenta, eu vou estar sempre aqui para você. – Ela suspirou — Eu não te abandonei, só decidi formar uma família. E constantemente eu estou indo aí te ver, levo para ficar contigo, não há motivos para tanto ciúme do .
Ah , esta casa aqui é enorme e vazia, eu não aguento mais essa solidão. – Ela começou um choro fraco — Vem ficar aqui comigo, eu até aceitaria o morando com a gente.
— Seria complicado, mãe. Eu preciso pensar e conversar com . – Eu disse sincera. Ter a minha mãe controlando a minha vida não daria certo. — Mas, posso arranjar um namorado para...
, eu lá sou moeda de troca? – Eu soltei uma gargalhada alta.
— Eu não disse isso, mas...
Eu só aceitaria alguém que não queira controlar a minha vida e nem a minha casa, fora isso, eu posso pensar no caso.
— Ok, eu vou te arrumar um coroa bem bacana. – Eu disse imaginando a cara de indignação que a minha mãe deveria estar fazendo — Agora eu preciso trabalhar, mas assim que eu sair da empresa, venho pegar o carro que até mais tarde o deve trazer do mecânico e vou aí buscar Bobby, levando comigo. Então até mais tarde.
Até mais, bom trabalho.
Finalizei a chamada e lavei minha caneca, logo indo para a empresa.
Cumprimentei alguns colaboradores que me receberam mais alegres, porém eu não entendia o porquê estavam agindo assim, mas segui meu caminho até a minha sala normalmente.
Já estava ligando o computador, organizando as planilhas, planejando as atividades do dia, quando fui interrompida por algumas batidas na porta.
— Entre – eu disse num tom alto.
, o chefe quer você na sala dele. – Uma das novas assessoras disse.
— Ok, obrigada – Eu sorri em agradecimento e larguei tudo que estava fazendo para ir à sala do chefe. Bati na porta.
— Entre, . – Ele disse num tom animado, parecia empolgado ao me ver.
— Chefe, me desculpe. Eu só estava reorganizando minha sala e planejando os trabalhos para poder te trazer todas as informações sobre a empresa, pessoalmente e...
— Você fez um ótimo trabalho na SUSTINLOG de Cairo! – Ele me interrompeu alargando o sorriso e eu ergui as sobrancelhas, estranhando. — Troquei alguns e-mails com o diretor Rami e ele disse que está tudo melhor, graças a você.
— Rami me ajudou muito na empresa.
— Seu trabalho foi tão produtivo em Cairo, que pensei em deixar você por lá mesmo. – Arregalei meus olhos, já me desesperando. — Mas não farei isso, precisamos de você aqui. – Eu suspirei aliviada. — E, merecidamente, você recebeu uma promoção. Parabéns pelo seu ótimo desempenho.
— Nossa, muito obrigada, chefe. – Queria pular de alegria, mas eu sacrificaria os meus pés nos saltos desconfortáveis, e seria deselegante. — Eu fico satisfeita em saber que o meu trabalho agradou.
— Sim. – Eu assenti — E Rami me contou que Allyson não quis voltar – fiquei observando a sua reação. — Gostei da iniciativa, ela ainda irá nos ajudar bastante na filial.
— Com toda certeza, chefe. – Fiquei feliz e aliviada em saber que ele não demitiria Allyson.
— Semana que vem estarei indo para o Egito, quero ver de perto como está o andamento da empresa. Mas não estou duvidando de seu trabalho, apenas estou curioso para ver como a nova forma de trabalho está acontecendo – Assenti despreocupada — E também quero visitar alguns pontos turísticos, você tem algum para me indicar?
— Eu não pude visitar muitos lugares, mas um deles...
— Ganhei esse talismã de um amigo egípcio há um tempo, vou fazer dele um cordão. – Ele me mostrou o objeto e era um Amuleto do Olho de Hórus. — Andarei com ele o tempo todo, quem sabe não me protege. – Ele riu fraco e eu engoli as palavras que queria dizer a seco. — Bem , era só isso. Mais uma vez, parabéns pelo seu ótimo desempenho.
— Obrigada, chefe. Com sua licença. – Ele assentiu e eu me levantei, mas parei na porta — Chefe, recomendaria que não fosse com este amuleto para Cairo.
— Por que não? Será apenas um cordão, não me mataram por isso. – Ele abanou uma das mãos e eu assenti, saindo da sala.

Algumas semanas depois, eu estava em minha sala de trabalho, confirmando o uso das novas embalagens nos nossos alimentos e fazendo a verificação quantitativa e qualitativa de alguns produtos, além de autorizar mais algumas distribuições na mesma rota de viagem do dia.
Me assustei quando o chefe invadiu a minha sala, ainda mais pelo seu estado um tanto quanto exótico. Despenteado, com as roupas amaçadas, em algumas partes quase rasgadas, e com expressão de cansaço e medo. O que era estranho, já que sempre foi um homem muito exigente com sua aparência e elegância.
, por favor, me lembre de nunca mais voltar ao Egito com um talismã pendurado no pescoço, ok? – Ele pediu, de olhos arregalados e com voz falha e eu assenti, já entendendo o porquê de ele estar daquela forma. — Obrigado. – Saiu da minha sala imediatamente, parecia desnorteado e eu lembrei de tudo que passei no museu.

Vou dar um conselho e se forem prudentes, deem ouvidos: Nunca levem amuletos aos museus egípcios! Mesmo que não seja da crença egípcia, é amuleto e eles consideram como divindade. Mas, se ainda assim vocês quiserem levar, cuidado. O que vocês acham que será proteção e sorte, poderá se tornar maldição e azar... Estarão dispostos a enfrentar a ira dos deuses?


[Fim]



Nota da autora: Essa fanfic foi muito divertida e ao mesmo tempo muito interessante de escrever, pois me despertou um desejo muito maior em conhecer mais a cultura egípcia e tudo mais...
Esta com certeza é a história mais diferente do que eu costumo escrever, por isso, eu espero que todos vocês se divirtam em sua leitora! ❤
A todos, BJoo 💕




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