Postada em: 17/07/2018

TREVO

“Tu que tem esse abraço-casa
Se decidir bater asa, me leva contigo pra passar
Te juro, afeto e paz
Não vão te faltar”
(Anavitória)

Se precisasse escolher um lugar no mundo para passar o resto de seus dias, não pensaria duas vezes antes ao dizer que seu paraíso nesse grande planeta azul era bem ali. Naquela manhã silenciosa, esse era o pensamento da jovem enquanto observava a vista privilegiada que tinha das grandes janelas do quarto: o Sol nascia no horizonte, lançando uma aquarela luminosa sobre todo o jardim e fazendo um trabalho especialmente magnífico ao iluminar as laranjeiras carregadas de flores. Um sorriso singelo escapou de seus lábios e se intensificou quando, virando-se para o lado oposto da cama, deparou-se com a figura que dormia placidamente, compondo perfeitamente o quadro do despertar.
flagrou-se admirando cada detalhe do rosto dele – o olhar de arquiteta matematicamente treinado para avaliar a perfeição – lamentando apenas o fato de estar de olhos fechados: ainda não havia algo em Nacho que ela fosse capaz de admirar mais do que aqueles grandes olhos azuis. Talvez não se tratasse tanto das íris cor de mar, mas sim da forma como a encaravam com tanta sinceridade e carinho que ainda eram, depois de cinco anos, capazes de lhe tirarem o ar.
Buenos días, mi amor... – sussurrou como um sopro, tocando os lábios do rapaz com a ponta dos dedos com tanta suavidade que arrancou dele nada mais que um franzir do nariz, o que lhe pareceu simplesmente adorável.
Graças ao azul celeste que se abria entre as nuvens do lado de fora – convidando o mundo a sorrir – e às borboletas que dançavam em seu estômago pela expectativa frente ao dia que lhe aguardava, a morena não conseguiu mais se manter na cama, ou acabaria por acordar o rapaz ao seu lado. O que não seria má ideia, considerando que era simplesmente apaixonada pela carinha sonolenta dele pelas manhãs.
Caminhando na ponta dos pés, saiu do quarto sem fazer qualquer barulho, desceu as escadas do sobrado sentindo o odor rústico da madeira do piso, que era tão familiar e reconfortante quanto o cheiro de comida de vó ou colo de mãe. Porque era exatamente assim – segura, abrigada, abraçada – que se sentia naquela casa que era tão deles.
Escondido no meio de árvores, com o cheiro de orvalho e o céu rosado pela manhã, aquela era a sua definição de paraíso: não conseguia imaginar nada melhor do que acordar cedo e, nos dias frios, encolher-se à lareira dentro do abraço de Nacho, enquanto compartilhavam de sorrisos e longos silêncios repletos de amor; ou, no calor, sair de bicicleta madrugada adentro, a fim de ver o sol nascer na praia. Sorriu de canto ao pensar em tantos momentos memoráveis que vivera dentro daqueles metros quadrados de terra que, em breve, seriam palco de tanta emoção. Para ela, contudo, já o eram desde que pisara ali pela primeira vez, há dois anos.


— Nacho, se você tá me sequestrando, esse seria um bom momento de dizer. – disse, solenemente, encarando o namorado com uma sombra de sorriso no rosto – Eu posso ser bastante cooperativa.
— Eu agradeço a cooperação, mas já estamos chegando. – o rapaz sorriu, acariciando de leve os joelhos da garota no banco do carona – Você vai gostar, ... – ele mordeu o lábio inferior em expectativa, e os olhos claros demonstravam ao olhar treinado de que ele estava nervoso.
— Eu tenho certeza que sim. – a garota relaxou, deitando no ombro dele – Mesmo que seja o meu cativeiro. – sorriu, travessa, fazendo o corpo de Nacho estremecer em uma risada. O jogador tomou a mão dela entre a sua, entrelaçando-as para então beijar os nós dos dedos da garota. Ela era, com o perdão do clichê, a melhor coisa que já havia acontecido em sua vida: um verdadeiro furacão, mas que ao invés de tirar sua vida dos eixos, colocou-a exatamente onde deveria estar.
Sempre fora assim: era da gargalhada solta, da língua afiada e do sorriso arteiro. Nacho era seriedade e carinho, devoção e cuidado, sorriso contido e felicidade introspectiva. Eram opostos complementares, e talvez por isso o relacionamento tenha sido, para ambos, um campo de crescimento pessoal tão grande. costumava dizer que não “eram um só”, como costumavam dizer as novelas e os romances de banca de jornal: eram dois, que juntos tornavam-se as melhores versões de si mesmos.
— Chegamos... – Nacho murmurou para a mulher que cochilava, enquanto subiam uma encosta cercada de árvores que tinha, ao seu pé, uma praia virgem.
— Nacho... – franziu o cenho, observando encantada a imensa clareira que se formava entre as árvores – Onde nós estamos?
Ele desceu do carro e a garota fez o mesmo, andando pelo terreno com os olhos brilhando: era apaixonada pelo rústico, pela natureza e pelo inóspito: aquele lugar era, na ideia de , a definição de sonho.
— Na nossa casa. Digo, quando estiver finalmente construída... E não seria realmente nossa casa, e sim mais como uma casa de verão – disse, respirando fundo para controlar os nervos, notando que já começava a tagarelar como sempre que ficava nervoso – É meu presente de formatura, eu quero que o projeto seja todo seu. – Nacho disse, corando levemente. Era tímido e só Deus estava ciente do quanto queria que tudo desse certo naquele momento. o encarava com a boca levemente aberta, as sobrancelhas erguidas em surpresa, e um brilho no olhar que ele não se recordava de já ter visto: foi o que precisava para tomar coragem de continuar, tirando do bolso do jeans uma caixinha preta de veludo – Se... Se você aceitar ser minha esposa, ...
o encarou por segundos – que para Nacho se pareceram mais do que longos e demorados anos – esperando que aquelas palavras fizessem sentido em algum lugar nas profundezas da sua mente. Então, quando a verdade finalmente a atingiu, um sorriso sem igual se delineou em seu rosto enquanto mergulhava no abraço de Nacho, os olhos verdes turvados pelas lágrimas e a voz falhando ao murmurar tantas vezes que perdeu a conta: ‘sim’.



A lembrança do pedido de casamento fez com que um sorriso bobo preenchesse os lábios de . Aquele dia marcava, antes de mais nada, o início da vida a dois e de sua vida profissional: foi seu primeiro projeto, cada cantinho da propriedade planejado com todo o cuidado, dando ao sobrado uma aura de aconchego e bem-estar semelhante àquele em que Nacho a envolvia. Ele faria de qualquer lugar seu lar, e ela sabia disso, mas aquela casa era o espelho do relacionamento construído, tijolo a tijolo, com muita cumplicidade e amor.
Enquanto aguardava que a água de seu café fervesse, escorada à mesa de mogno da cozinha, fixou os olhos na paisagem além da janela e sentindo o vazio: gostava daqueles momentos de quietude e contemplação. Não que fosse uma solitária por natureza, muito pelo contrário, mas acreditava que breves momentos de solidão eram necessários para que avaliasse regularmente e com clareza o quão feliz era por ter pessoas tão especiais ao seu redor. Ali, observando como o Sol se debruçava preguiçosamente sobre o horizonte colorindo o novo dia e aquecendo timidamente seu rosto – e seu coração – sentia a alma se encher de gratidão.
Sorrindo com a constatação e despertada do silêncio pelo chiado baixo da água fervendo, começou a passar o café. Colocou o líquido fervente em uma xícara e assoprou de leve antes de tocá-lo com os lábios.
A mesa estava repleta de ‘tsurus’, pequenos origamis de pássaros que simbolizavam a sorte e a felicidade, e por isso a jovem se sentou na janela com o café e um pote de biscoitos de nata, os cabelos balançando com a brisa suave com cheiro de laranja que vinha do quintal. Se Nacho a visse ali, as pernas pendendo do lado de fora do beiral da janela, certamente riria de sua "molecagem". No início, a arquiteta buscava não agir assim perto dele. Logo, contudo, tornou-se inevitável: o contato fora intenso desde o princípio – quando se conheceram em um evento do escritório de Arquitetura da irmã de Nacho, onde estagiava – e a espontaneidade tão gigante.
A garota soltou uma risadinha anasalada ao se lembrar daquele primeiro encontro: estava tão nervosa que a primeira coisa que sua mente perturbada pela beleza do irmão de sua chefe conseguiu pensar em dizer foi: “por que ‘Nacho’? Já tinham escolhido ‘Guacamole’?”. Obviamente, assim que as palavras saíram de sua boca e Nacho a encarou confuso, a garota quis enfiar sua cabeça na jarra mais próxima de sangria. Antes que pudesse pedir licença e se afogar em vinho tinto, contudo, o ângulo dos lábios dele se elevou discretamente, e ouviu-o dizer, fingindo sinceridade: “Sim! Meu amigo Guaca foi mais rápido que eu... Como ‘Burrito’ é bastante ofensivo, só me restou ‘Nacho’”. O sorriso aliviado de logo se transformou em uma gargalhada e, em retrospecto, o jogador poderia dizer que foi bem ali que ela o ganhou. Era mulher em alma de criança: sempre forte, mas eternamente doce.
Nacho. Hoje, a mera sonoridade do apelido fazia com a mulher sentisse borboletas no estômago. Não era superlativo dizer que viveria o resto da vida aguardando por ele, se fosse preciso: ele fora seu primeiro relacionamento, e fez toda a espera por um ‘amor verdadeiro’ – tal qual lera nos livros – valer a pena. Tinham a sorte de um amor tranquilo, puro e sincero. Eram calmaria em um mundo de desassossego.
Pelo rastro do sol, provavelmente já eram quase sete da manhã, e Nacho deveria despertar em breve. agradeceu mentalmente por ter tido aqueles minutos de reflexão antes do dia que a aguardava, pois contemplar uma vida de alegrias era tudo o que precisava para acalmar seu coração. A mente vagava distraída, mas o toque dele era tão conhecido que, quando Nacho a abraçou pela cintura, a jovem nem mesmo se assustou.
— Bom dia, ángel. – Nacho sorria, os olhos sonolentos como mais adorava.
— Bom dia, mi amor... – pousou um beijo sobre os lábios dele, sorrindo.
— Meu reino pelos seus pensamentos... – brincou, colocando uma mecha dos cabelos dela detrás da orelha, admirando as bochechas naturalmente coradas da jovem e a forma como a luz fazia seus olhos parecerem ainda mais verdes. Era tão linda. Tão amada.
— Eu estava pensando nessa casa, na verdade. – sorriu, olhando novamente pela janela, para as laranjeiras que os dois haviam plantado juntos, cada muda – E em toda a nossa história que tá marcada aqui... – sorriu.
— Acho que não podíamos ter feito escolha melhor pra hoje, não é? – Nacho sorriu, compreendendo – Esse é o nosso lugar.
— Você é o meu lugar. – sorriu, segurando o rosto dele entre as mãos – Mas não vou falar mais, ou vou começar a chorar com horas de antecedência. – completou, saltando da janela com uma risada – Café, querido?
— Por favor. – Nacho agradeceu, escorando-se na mesa para esperar que ela coasse café fresco – Eu não consigo nem imaginar o trabalho pra fazer todos esses bichinhos... – franziu o cenho, pegando um dos ‘tsurus’ e admirando a dobradura.
— Ficaram lindos, né? Vão estar espalhados por todo o jardim... – sorriu de canto, espiando sobre os ombros – De quem é esse? – questionou.
— Hum... – o rapaz observou o origami com mais cuidado, encontrando uma mensagem na letra conhecida do amigo, Asensio – “Parabéns, casal! Seremos os próximos, quer a queira, quer não! HAHA Amamos vocês. Seus padrinhos preferidos, Marco e .”
— Isso é tão a cara dele! – ria, revirando os olhos. Marco era uma criança em tamanho de adulto, e só dava conta de toda aquela energia por ser tão moleca quanto ele. Eram um casal adorável, e amigos muito especiais – Aqui. – sorriu, entregando a xícara com café fumegante para o rapaz.
— Obrigado, . – Nacho sorriu de canto, tomando um gole depois de assoprar – Que horas chegam todos? Decoradores, fotógrafos?
— Às 8h. – informou, checando as horas – O que significa que preciso ir me arrumar... – suspirou, respirando fundo sentindo novamente as borboletas dançarinas começarem um show em seu estômago. Estava começando. – Vou tomar um banho, ok? Quando sair quero que o senhor já tenha dado o fora daqui, pra que comecem as coisas de mocinha! – brincou, beijando os lábios dele com um estalo divertido.
— Pode deixar. – Nacho sorriu, os olhos claros brilhando com a mais pura alegria – Só vai me ver de novo quando atravessar esse jardim de braço dado com seu pai. – piscou, fazendo o coração de disparar dentro do peito. Casados. Era isso que seriam ao fim daquele dia.
— Qualquer dúvida, eu serei a moça de branco.


Fim.



Nota da autora: Olá olá! Se essa é sua primeira vez lendo Galácticos, queria te contar que essa é uma série de contos com os jogadores do Real Madrid! Os links estarão aqui embaixo! <3
Ai, eu fico só suspirando com esse casal que é meu sonho de consumo. Nacho é um amor, e eu não consegui pensar em nada que não fosse extremamente doce pra ele. Espero que tenha sido uma escolha acertada...
Te vejo no próximo conto!
Beijinhos!





Outras Fanfics:
Galácticos – Gareth Bale
Galácticos – Sergio Ramos
Galácticos – Marco Asensio


Nota da beta: “Por que ‘Nacho’? Já tinham escolhido ‘Guacamole’?” gente hahahaha Muito boa essa piada, meu Deus!!!
Ai que amorzão esses dois, é realmente o sonho de consumo de qualquer uma, ai ai... Obrigada pela bad gratuita, Belle, manda mais que aguento! xx

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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