Capítulo Único
se encontrava dentro do elevador do prédio mais alto da Califórnia, o US Bank Tower. Quando finalmente parou no 71º andar, ela respirou fundo e desceu, tendo acesso ao restaurante 71Above - uma das sensações da cidade dos anjos. Mesmo desmotivada com o trabalho e sem vontade alguma de estar ali, ela caminhou junto ao chefe de fila que lhe guiou até a mesa onde seu chefe e dois clientes aguardavam-na. Agradeceu o homem assim que se sentou e cumprimentou os demais com um boa noite acompanhado de um sorriso fraco.
— Vamos pedir um vinho caro, a menos que estejam economizando. — O homem de cabelos claros na casa dos cinquenta anos sentado ao seu lado foi o primeiro a falar.
— Desde a crise em 2008 todos estão economizando, mas não nós da indústria farmacêutica. Nós estamos em alta. — Disparou Coby, seu chefe, sorrindo em vantagem.
— Nada como um monte de gente triste para nos ajudar, não é mesmo? — Ela se pronunciou e ouviu risadas.
— , você conhece os detalhes do remédio. Conte a eles por que vale a pena o investimento.
— Senhores, os efeitos colaterais diminuíram 14% em relação aos antidepressivos disponíveis atualmente no mercado. Estamos falando dos principais sintomas como perda e ganho de peso, insônia, perda da libido… — Ela deu um gole no copo de água enquanto aguardava os médicos assimilarem suas informações.
— Meus pacientes sempre querem o genérico por ser mais barato. — Foi a vez do homem à sua frente falar, em um claro tom de julgamento e zombaria.
Antes que pudesse medir ou conter suas palavras, elas já haviam escapado de sua boca.
— Mas é uma questão de poder pagar o medicamento ou ficar sem o remédio? — Observou a feição dos médicos e então continuou. — É, acho que você deveria prescrever o genérico. Ou você poderia dizer ao seu cliente para caminhar e melhorar a alimentação antes de começar o tratamento com remédios. — Os três homens presentes a encaravam incrédulos sem saber como reagir, abrindo e fechando a boca sem emitir som algum. Por fim, emitiram algumas risadas fracas e ela soube naquele momento que não haveria mais volta, estava acabada.
— Você tem um coração grande e bondoso, isso não é comum na indústria farmacêutica. — O loiro voltou a falar. — Conte-me mais sobre você. — Dito isso, ele colocou sua mão sobre a dela. Viu Coby a encarando de canto de olho. Ambos sabiam que aquilo que já estava ruim estava prestes a piorar.
— Posso te dizer que não gosto de ser tocada sem permissão.
Ela iria continuar falando sobre como poderia espetar a mão dele com a faca que usaria para cortar os alimentos, mas foi interrompida pelo garçom que serviu o jantar, degustado em silêncio.
— Meu escritório vai enviar as amostras amanhã de manhã. Nos falaremos em breve! — Coby quase gritava enquanto os médicos arrancavam com o carro em frente ao prédio. Quando se virou para encarar sua feição não era nada amigável.
— Que merda foi aquela lá dentro? — Ele questionou, irritado.
— Ah, Coby. Você sabe que eles vão comprar. — A mulher rolou os olhos.
— Mas como representantes comerciais nós precisamos construir relacionamentos, . — Ele disse como se ela fosse idiota.
— Nós vendemos antidepressivos, não o meu corpo. — Ela foi direta e reta.
— Você sequer gosta desse trabalho? Porque não parece.
— A verdade é que eu aceitei esse emprego pensando que ajudaria as pessoas a conseguirem os medicamentos que precisam, mas no fim essa é só uma história que eu contava repetidamente para mim mesma. Você me perguntou se eu gosto desse trabalho e a verdade é que eu odeio, Coby. Essa não sou eu.
— Então o que você está tentando me dizer?
— Eu me demito. — Ambos se encararam por longos segundos em silêncio. Coby caminhou até seu carro recém trazido pelo vallet e balançou a cabeça antes de entrar no veículo.
— O que foi? — Ela questionou.
— Nunca vi alguém tocar fogo na sua própria vida dessa maneira. — Ele deu partida e ela ficou congelada no mesmo lugar durante bons minutos antes de rumar para casa.
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Sentia o olhar da conselheira sobre si enquanto preenchia o teste de aptidão. Finalizou e entregou para a mulher sentada do outro lado da sala.
— Então, que tipo de trabalho devo ter? — questionou ansiosa.
Viu a mulher analisar as folhas a sua frente e rasgá-las assim que ela fez a pergunta.
— Foi tão ruim assim?
— O teste só funciona se você responder honestamente. — Stacey pronunciou com toda a calma do mundo.
— Eu fui honesta. — disparou.
— Não pareceu. Parece que todas as suas respostas foram para mim, como se marcasse e escrevesse coisas que achava que deveria dizer, que seriam as coisas certas para me agradar.
balançou a cabeça em um sorriso triste e soltou uma risadinha.
— Parece que esse sempre foi o meu problema. Todos os empregos que tive nunca eram o que eu queria, mas sempre o que eu achava que deveria fazer naquele momento. — Ela confidenciou.
— Vamos inverter um pouco a maneira de conduzir isso. O que você mais odeia? O que te deixa puta?
— Valentões.
— Valentões?
— Sim, eles pegam as pessoas em um momento de vulnerabilidade e atacam. Nos momentos em que as pessoas precisam de uma mão, os valentões oferecem um soco. Como isso é possível? Sabe… como podem? — Sua expressão facial denunciava sofrimento.
— Então você tem um desejo de proteger os vulneráveis.
— Como uma guarda ou algo do tipo?
— Pode ser.... Mas você não precisa de um teste para descobrir o que deve fazer. É algo natural do seu ser, você só precisa libertar essa chama interna. — Dito isso, Stacey se levantou de sua cadeira de maneira abrupta e caminhou até o bebedouro.
— Você está bem?
— Dormi mal na noite passada e estou sentindo dores o dia todo hoje. — Comentou como se não fosse nada. — Continuando… você tem um fogo, uma paixão, um propósito. Sei que é provável que você revire os olhos por achar isso clichê e bobo, mas vou dizer mesmo assim. Existe uma voz dentro de nós que quando ficamos quietas e a escutamos, ela nos diz que tudo ficará bem. Tudo será revelado… — prestava atenção a cada palavra que saia da boca de sua conselheira, mas em questão de segundos ela viu a mulher que estava em pé bem na sua frente desabar desmaiada no chão.
Checou os sinais vitais que mal existiam e aproximou o ouvido da boca da mulher, constatando que ela não respirava.
— Stacey, não! Não! Não! Não!
Puxou o celular da bolsa e discou para o serviço de emergência, informando o atendente do outro lado da linha que achava que sua conselheira havia tido um enfarte. Passou o endereço, implorou para que eles viessem logo e começou a massagem cardíaca que havia aprendido em um curso de primeiros socorros.
Felizmente, os paramédicos chegaram rapidamente e assumiram o controle da situação, estabilizando Stacey que recobrou a consciência e antes de ser retirada de seu escritório agradeceu com um aperto de mão, já que a máscara de oxigênio a impedia de falar. Enquanto um paramédico a levava para fora, outro recolhia alguns equipamentos.
— Ela vai ficar bem?
— Vai sim, graças a você.
— A mim? — A surpresa era nítida em sua voz.
— A massagem cardíaca que você fez ajudou muito, provavelmente salvou a vida dela. — Ele respondeu sorrindo.
— Nunca pensei que fosse colocar em prática o que aprendi num curso há muitos anos. — confessou.
— Você foi muito bem. Em algumas situações até pessoas treinadas entram em pânico… Bom trabalho. — A mulher não teve tempo de responder, pois ele deixou a sala e ela permaneceu em choque. Não sabia se mais pela situação ou pelas palavras dele.
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Athena escutava atentamente a história que sua melhor amiga narrava enquanto elas almoçavam em um pequeno restaurante no bairro em que viviam. estava repassando o episódio do jantar que resultou nela pedindo demissão e depois o que aconteceu no escritório de sua conselheira.
— E você acha que isso foi um sinal? — Athena questionou.
— Não, amiga. O sinal veio quando eu tinha 16 anos, fui baleada e sobrevivi graças a rápida ação dos paramédicos. O que aconteceu na sala da Stacey foi um lembrete, sabe? Como se minha vida tivesse voltado a ter foco. Parece que eu finalmente achei a paixão e o propósito do qual a Stacey tanto falava. — Sorriu.
— Falando com essa determinação e brilho nos olhos eu não tenho dúvidas de que você realmente encontrou. — Athena declarou e levantou da cadeira em que estava sentada. Foi até a amiga, abraçou-a pelo ombro e exclamou: — Estou tão feliz por você!
— Muito obrigada, de verdade! — retribuiu o abraço e não pode controlar as lágrimas que se formavam em seus olhos. Ela havia passado por tanta coisa nos tantos empregos que teve e passou a vida inteira pensando que nunca se sentiria totalmente completa, mas esse sentimento estava pouco a pouco se esvaindo e abria espaço para que a mulher lutasse pela sua paixão recém vinda à tona. nunca havia desejado tanto algo como desejava entrar no Corpo de Bombeiros de Los Angeles e faria o impossível para conseguir sua aprovação.
— E agora, quais são os próximos passos? — A amiga questionou.
— Bom, como eu não sou a versão feminina do Cristiano Ronaldo, vou me inscrever em um programa gratuito que eles oferecem para ajudar os candidatos a entrarem em forma antes de passar pelos rigorosos testes na academia de treinamento e que também te dá uma noção de combate a incêndios.
— Nossa, não fazia ideia de que isso existia!
— Nem eu! E no site deles tem vários guias de alimentação, exercícios e até como se preparar para as entrevistas… é demais! ‘Tô bem feliz, isso com certeza vai aumentar minhas chances na academia depois.
— Não que você precise de ajuda nessa última parte, mas não faz mal usar e abusar de todo o material, ainda mais sendo de graça.
— Como é aquele ditado que a sua mãe adora?
— De graça até injeção na testa. — Ambas riram.
— Com licença, senhoritas. — O garçom disse ao se aproximar da mesa delas, que pararam de falar na hora, pois estavam ansiosas e famintas por suas refeições.
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Os olhos atentos e emocionados de não deixavam de revistar nada daquele prédio. Ela havia feito sua inscrição online e agora estava no escritório central para entregar alguns documentos. Parou em frente a um mural com distintivos de bombeiros e paramédicos que haviam dado suas vidas para salvar a de tantos outros e sentiu seu peito ser preenchido por emoções agridoces: orgulho e gratidão por aqueles que haviam partido e tristeza por aqueles que perderam seus entes queridos.
— Perdida? — Levou um susto quando ouviu uma voz masculina questionar ao seu lado.
— Não… Oh, é você! — Ela exclamou surpresa quando reconheceu um dos paramédicos que atendeu Stacey. — Estou admirando cada detalhe que compõe este prédio. São tantas histórias… — Deixou a frase no ar, absorta em pensamentos.
— Você nem imagina.
— Espero em breve fazer parte delas. — A mulher disse sorrindo e se virando para encará-lo.
— Wow! — O sorriso dele alargou quando a ficha caiu. Ele sempre ficava feliz quando alguém escolhia se juntar ao CBLA. — Sério mesmo?
— Sim… Suas palavras mexeram mesmo comigo naquele dia. Foi como se uma luz tivesse se acendido aqui, sabe? — Ela apontou para a cabeça e fez um barulho de “click” com os dedos.
— Nossa, que responsabilidade a minha! — O homem manteve uma expressão preocupada durante alguns segundos, mas logo riu, levando a mulher consigo. — Acabei de perceber que não sei o seu nome…
— . — Estendeu a mão para cumprimentá-lo.
— , muito prazer. — Ele apertou a mão dela, mas depois depositou um beijo casto no dorso. Ouviu alguém chamar por e ele se despediu dizendo que esperava encontrá-la novamente em breve, dessa vez uniformizada. Mesmo que ele não pudesse mais vê-la, a mulher sorriu e seguiu seu caminho.
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O longo período em que passou se dedicando aos cursos e treinamentos para ser uma paramédica do CBLA foi longe de ser considerado o mais fácil de sua vida. Como a maioria das aulas aconteciam nos turnos da manhã ou da tarde, ela teve de procurar um emprego noturno. Para ficar próxima do público, aceitou o emprego em um restaurante em que o salário era bom, mas as gorjetas por seu ótimo atendimento eram ainda melhores. Para poupar ainda mais, convidou Athena para ocupar o quarto vago em seu apartamento e além de melhores amigas elas se tornaram roomies. Ela não era uma pessoa de esbanjar, a menos que o assunto fosse sua alimentação, mas como teve de cortar os lanches devido ao condicionamento físico exigido pela corporação, os gastos acabaram reduzindo ainda mais.
No entanto, esse período foi o mais feliz de sua vida, até então.
A mudança de 360º em sua vida não foi compartilhada com todos, sendo reservado apenas para um grupo seleto de pessoas que incluíam seus pais, seu irmão (e consequentemente sua cunhada) e Athena, as pessoas em quem mais confiava no mundo.
Dentro de instantes, porém, tudo mudaria e aquilo deixaria de ser um “segredo”, pois ela havia chegado lá. Terminou de ajeitar sua roupa, olhou-se no espelho e sorriu. Tinha vontade de gritar, chorar e rir, tudo ao mesmo tempo. Fez uso de todo o autocontrole que encontrou dentro de si e rumou para onde alguns de seus colegas formandos aguardavam o início da cerimônia.
— Vocês veem isso? — Boscorelli, comandante-geral do CBLA, segurava um emblema dos paramédicos dos bombeiros da cidade de Los Angeles. — Vocês chegaram até aqui porque queriam usar um desses, e, através dos testes físicos e mentais aos quais foram submetidos, fizeram por merecer e agora usarão um estampado no lado esquerdo de seus uniformes. Vocês conquistaram a entrada para a elite mundial de salvamento e não há nada mais que eu possa dizer além de: parabéns! — Ele encerrou seu pequeno discurso e deu lugar para outro homem. Quando reconheceu quem estava ali em cima do pequeno palco, seu coração passou a pulsar ainda mais forte.
— Olá a todos! Eu sou e queria dizer algumas coisinhas... — O nervosismo em seu tom de voz era palpável, mas estava achando adorável. — Não é todos os dias em que convidam um paramédico para proferir algumas palavras em uma formatura, então me perdoem por qualquer coisa… — Ele riu e os presentes entraram na onda, trazendo uma sensação de conforto ao ambiente. — Dizem que os paramédicos nascem duas vezes: a primeira vez quando vêm ao mundo e a segunda no dia em que escolhem passar suas vidas correndo em direção ao perigo para arriscar tudo e garantir que vocês — apontou para a plateia formada por amigos e familiares — cheguem em casa em segurança para ficar junto das pessoas que amam. Este não é um trabalho difícil apenas na parte física, mas principalmente no emocional: trata-se de vida ou morte. Trata-se de saber que fazemos o impossível para salvar a todos, mas sabemos que isso é humanamente inexecutável. Trata-se de saber que podemos perder companheiros ao longo da jornada, e, sobretudo, trata-se de saber que nós podemos ser aqueles que entram em uma chamada, mas que não saem dela. — respirou fundo e ficou alguns segundos em silêncio antes de continuar. — Enfim, desejo que vocês encontrem o equilíbrio na balança dessa profissão e que nunca se acomodem. Parabéns! — Ele não pode deixar de sorrir enquanto descia do palco sendo ovacionado.
— , você agora é uma paramédica do Corpo de Bombeiros de Los Angeles. — o comandante Boscorelli declarou, apertando a mão da mulher. A vontade de rir, gritar e chorar novamente invadiu o corpo de , mas ela se limitou a sorrir brandamente. Agarrou seu diploma como se sua vida dependesse disso e aguardou até que todos seus colegas fossem chamados enquanto se sentia a pessoa mais feliz do mundo.
— Eu disse que a próxima vez que nos encontrássemos você estaria uniformizada. — reconheceu a voz mesmo antes de girar o corpo para encarar .
— Você não trabalha com previsões da loteria? — Ambos riram ao que ele sussurrou “infelizmente não”.
— Parabéns pela formatura, paramédica. — Havia uma pitada de orgulho no olhar dele, embora mal se conhecessem.
— Obrigada, paramédico. — Ela sorriu largamente.
— Você já sabe para qual batalhão vai ser designada?
— Para o 118. Você tem alguma informação privilegiada sobre lá? — Arqueou uma sobrancelha.
— Você vai gostar, o pessoal é muito legal. — soltou um “ufa” e ele continuou. — Se tiver a oportunidade apareça no 51 algum dia, eu posso te dar um tour. — Disse sorrindo.
— Anotado! Ah, , eu queria te agradecer. — Não podia deixar de se sentir um pouco envergonhada, mas precisava fazer aquilo. — Obrigada por ter me incentivado mesmo sem saber e pelo discurso, me mostrou mais uma vez que fiz o certo.
— Você conseguiu me deixar sem palavras e isso é meio difícil de acontecer. — Ele coçou a nuca. — Mas isso tudo é mérito seu. — Ambos sorriam e era uma cena fofa de se apreciar. No entanto, foram interrompidos pelo furacão Athena.
— Vocês podem terminar a cena do novo filme romântico da Netflix depois? Nós precisamos tirar as fotos! — já estava acostumada com o jeito espalhafatoso da amiga, mas queria se esconder por ela ter feito isso na frente do homem.
— Athena, pelo amor de Deus! — realmente não sabia onde enfiar a cara tamanha era sua vergonha.
— Estou falando sério, vamos.
— Desculpe por isso. — sussurrou para o homem.
— Queria muito ficar para acompanhar o restante da celebração, mas ainda estou de plantão.
— Ah. — Havia um certo tom de decepção na voz da mulher. — É uma pena, você vai perder a melhor parte… a comida.
— Isso a gente resolve no nosso próximo esbarrão. — Antes que ela pudesse assimilar e responder o que havia escutado, já havia virado as costas e ido embora.
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As gotículas de suor que se formavam nas palmas de suas mãos eram a prova física de que ela estava extremamente nervosa com seu primeiro dia de trabalho como paramédica. Admirou o batalhão por fora mais uma vez, secou as mãos nas calças e finalmente saiu de seu carro.
— Olá… — Ela falou para o além, já que não havia ninguém onde se encontrava. Em poucos segundos, no entanto, a situação mudou.
— Pessoal, a novata chegou! — Um dos bombeiros gritou e logo ela estava rodeada de rostos curiosos.
— Dizem que não se pode entrar em um batalhão de mãos vazias… — Ela sorriu tímida e ofereceu as duas caixas de donuts que carregava.
— Você está certíssima! — Um homem de meia idade falou, prontamente pegando as embalagens das mãos dela, fazendo todos rirem.
— Finalmente você chegou! — Uma mulher saiu do fundo e a abraçou. — Eu sou a , sua parceira na ambulância! — Ela estava visivelmente animada e agradeceu por isso. Tinha medo de ser rejeitada ou ser colocada para trabalhar com alguém desagradável.
— Prazer, ! — Retribuiu o abraço.
— Seja bem-vinda, . Eu sou o tenente Nash. — Eles apertaram as mãos. — Venha comigo até a sala do Chefe do Batalhão e depois você terá tempo para conhecer todo o pessoal.
O som da sirene e a voz da despachante preencheram todos os espaços do batalhão e fizeram o coração de acelerar.
“Ambulância 61. Mulher caída na Avenida Beverly, número 8500, loja 34.”
Era real.
Era agora.
Seu primeiro chamado como paramédica do Corpo de Bombeiros de Los Angeles.
— Vambora, . — passou por ela como um tornado indo em direção a ambulância 61. embarcou no lado carona e prestava a atenção em todas as instruções que a colega mais experiente lhe passava.
— Mas o mais importante é manter o foco. Nunca perca o foco. — Ela frisou e apenas concordou com a cabeça antes de descer do veículo e pegar seu equipamento.
— Com licença, pessoal. — dizia enquanto tentava afastar a “plateia” formada por clientes e funcionários do shopping Beverly Center. — Paramédicas passando, com licença.
Antes que pudessem sequer falar qualquer coisa, a paciente a frente delas urrou de dor.
— Quantas semanas? — questionou a mulher enquanto utilizava o estetoscópio para medir os batimentos cardíacos.
— Trinta. — A mulher gemeu de dor novamente. — E cinco.
— Qual é seu nome, querida? — perguntou. Lembrou das instruções de sempre conversar e tentar acalmar a vítima.
— Connie.
— Prazer, Connie. Eu sou a e esta é minha colega . Vamos cuidar de você e do bebê, tudo bem? Continue respirando com calma. — A paramédica sorriu e estendeu a mão para que a gestante pudesse segurá-la (ou apertá-la, como ocorria naquele momento). — Alguém pode nos trazer uma toalha ou um pano limpo, por favor? E rápido.
— Eu tenho uma toalha de banho limpa na mochila da academia, vou buscar. — Uma mulher que parecia ser a gerente do estabelecimento se pronunciou e logo depois voltou com a peça, entregando-a para .
— Connie, preciso que você mantenha as pernas afastadas e os joelhos elevados, ok? Vamos te cobrir com a toalha para podermos fazer um exame rápido. — O fato da mulher estar de vestido ajudou muito, já que apenas teve que abrir a toalha sobre os dois joelhos e desceu a cabeça para poder examiná-la. Subiu novamente alguns segundos depois com um olhar apreensivo, porém tentando manter o foco, como havia lhe instruído antes.
— , a dilatação parece estar completa e o bebê está coroando.
— Não vai dar tempo de chegarmos ao St. Thomas. — A paramédica mais experiente declarou séria, encarando . — Preciso de mais uma toalha ou pano. — Olhou para a mesma mulher que havia trazido a toalha antes, que saiu correndo para os fundos da loja sem pronunciar nada.
— Connie, você sabe o sexo do bebê? — questionou e foi respondida entre um gemido e outro.
— Sim, uma menina… — Disse com dificuldade por causa das fortes dores que sentia.
— Sabemos que ela deveria ficar no forninho por no mínimo mais quatro semanas, mas ela quer muito te conhecer, então isso vai acontecer aqui e agora. Por isso, eu preciso que você respire fundo e faça força durante as contrações. Consegue fazer isso para mim? — sorriu e a mulher concordou com a cabeça. Dava para perceber em seu olhar que Connie estava desesperada, mas não havia nada diferente a ser feito. A bebê nasceria ali e agora. posicionou o pano no chão entre as pernas de Connie e voltou ao seu lado para que ela pudesse usar sua mão como apoio. A mulher que havia providenciado ajuda com a toalha e o pano se posicionou do outro lado, também oferecendo sua mão para que Connie pudesse apertá-la.
— Vamos lá, Connie. Respire e faça força… — sabia que a mulher deveria querer matá-la tamanha era sua dor, mas repetia as frases no tom mais amigável possível, tentando deixá-la confortável naquela situação que certamente nunca foi sequer cogitada pela mulher durante os longos meses de gravidez. Poucos minutos depois, uma nova contração atingiu Connie e repetiu novamente “respire e faça força”, como se fosse um mantra.
— Só mais um empurrão bem forte, Connie. Vamos lá, você consegue. — A mulher reuniu toda a força que tinha, gritou e empurrou uma última vez, até que segurasse uma menininha em suas mãos.
— Venha cá, . Faça as honras.
se aproximou e cortou o cordão umbilical. Ajudou a enrolar a bebê em uma manta e com uma gaze limpou o muco da boca e do nariz.
— Conheça sua apressadinha. — posicionou a pequena sobre o colo da mãe, enquanto ela e colocavam Connie na maca. — , avise o St. Thomas que temos uma prematura chegando. — Ela disse antes de fechar a porta da ambulância e se dirigir ao banco do motorista.
— Ótimo trabalho, . — A outra paramédica declarou assim que elas voltaram ao batalhão.
— Posso dizer que ainda estou em choque?
— Pode. — riu. — É uma adrenalina sem tamanho, não é mesmo?
— Sim. Sei que fomos treinadas para todos os tipos de situações, mas eu sempre pensei em salvar vidas, não trazê-las ao mundo, principalmente no meu primeiro chamado. Minha nossa, isso foi demais! — Exclamou. Sua mente estava petrificada na situação e seu coração ardia em felicidade. Estava realmente na profissão correta para si.
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— Um pouco mais de sal. — disse a si mesma após provar o molho branco que estava cozinhando.
— Falando sozinha novamente? — Athena entrou na cozinha rindo da amiga.
— Como se você não fizesse isso também. — Retrucou e a outra apenas continuou rindo.
— Agora mais descansada, será que pode me contar sobre seu primeiro turno?
— Foi simplesmente o máximo!
— Ei, cuidado com isso aí! — Athena chamou a atenção da amiga que na empolgação havia erguido e continuava fazendo gestos segurando a faca que até poucos segundos usava para cortar a calabresa em quadradinhos. se desculpou e continuou.
— Pelo que o pessoal me disse foi um turno tranquilo, nos termos deles. Teve a chamada da ambulância e depois fomos até um endereço com um suposto incêndio, mas era alarme falso. O cara mandou dedetizar a casa e esqueceu de avisar os vizinhos. — Rolou os olhos. — Mas eu ajudei em um parto! Você tem noção disso, Athena? Eu ajudei a trazer uma vida ao mundo! — A emoção e orgulho que ela carregava na voz era perceptível e Athena lhe brindou com um sorriso verdadeiro, sentindo-se realmente feliz pela realização da outra.
— Só de pensar eu já sinto dores no corpo todo. — Balançou a cabeça e os ombros, tentando livrar-se dos pensamentos, — Mas que momento deve ter sido. E logo no seu primeiro chamado! Caramba.
— Pois é… Quando a gente chegou na cena e eu vi do que se tratava, quase surtei como se o ser humano fosse sair do meu corpo. — Confidenciou, rindo. — Mas lembrei das palavras da outra paramédica, a , e consegui manter o foco.
— Ainda bem… Mas e o pessoal do batalhão?
— Eu obviamente só conheci o pessoal do meu turno, mas são todos muito legais! Isso diminuiu muito minha ansiedade e nervosismo.
— Ah, que ótimo! E você tem algum registro do seu primeiro dia? — Sorriu de forma maliciosa.
— Esse era o seu interesse real por trás dessa conversa, não é mesmo? Sua tarada por fardas! — riu.
— Nós tiramos algumas fotos, o pessoal disse que é bom eternizar o início. Termina de fritar as calabresas para mim que vou buscar o celular e te mostro. — Saiu da cozinha, mas em questão de segundos já estava de volta. Entregou o celular desbloqueado para a amiga e voltou a cuidar do jantar.
— Wow! Você tem uns colegas bem gatinhos, hein.
— Toma jeito, Athena. Você sabe que não se come a carne onde se ganha o pão.
— Esse é seu lema, não o meu. — Riram. — Mas você abriria uma exceção para aquele paramédico, né? Como é mesmo o nome dele? ? — Perguntou como quem não quer nada.
— O não é do mesmo batalhão, ele é meu colega de profissão e… quer saber? Por que diabos eu estou me explicando? — Bufou irritada enquanto escorria a água do macarrão.
— Porque você gosta dele! — Athena acusou.
— Não viaja!
— Se negar vai fazer você se sentir melhor, ok.
— Quer ficar sem jantar? — ameaçou.
— Ok, ok. Não está mais aqui quem falou. — A mulher levou as duas mãos ao alto em um sinal de rendição.
sorriu e serviu o jantar, mesmo sabendo que estava apenas tentando não admitir em voz alta e tornar real o fato de ela achar atraente.
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olhou o relógio em seu pulso e sorriu. Já estava com o uniforme e ainda haviam vinte minutos sobrando, o que lhe daria tempo suficiente para adiantar boa parte do café da manhã para os colegas — tanto para os de seu turno quanto para os do turno anterior, que ela tinha certeza de que ficariam um pouco mais no batalhão para uma boquinha. Optou por fazer uma versão simples de ovos mexidos de hotel e panquecas com calda.
— Você voltou!
— Por que eu não voltaria? — devolveu o questionamento, sem entender muito.
— Acredite, já vi várias pessoas não voltarem depois do primeiro turno. — Riu fraco. — Tá querendo nos fisgar pelo bucho, né. — comentou enquanto roubava uma das massas prontas, mesmo sob os protestos da colega.
— Estou apenas fazendo uma gentileza… já que eu iria parar nessa escala de qualquer forma. — Deu de ombros, rindo.
— Isso é verdade. Mas você ainda pode colocar os meninos para lavar a louça, não é mesmo, Tenente? — Ela gritou para tenente Nash, que entrava na cozinha naquele instante.
— É o quê, ? — Questionou desconfiado, mantendo um tom de voz divertido.
— As garotas fazem o café da manhã e os garotos lavam a louça.
— Eu só estou vendo a trabalhando. — Ele riu. — Mas sim. Divisão de tarefas.
— Viu? — disparou para a amiga com um olhar convencido.
Dentro de poucos minutos toda a equipe do primeiro turno estava a postos e finalizou os preparativos do café da manhã, chamando todos para se servirem.
— Agora que o terror do primeiro dia já passou, é hora de me contar mais sobre você. Nome e idade eu já sei. — Rolou os olhos. — O que você fazia antes?
terminou de engolir os ovos mexidos antes de começar a respondê-la. Elas estavam sentadas mais para o fundo da mesa, tentando conseguir um pouco mais de sossego para conversarem.
— Meu último trabalho foi como representante comercial de uma indústria farmacêutica. Até eu surtar porque meu querido colega estava mais interessado em vender a minha pessoa do que os remédios… — Era uma das primeiras vezes que contava isso para alguém “de fora”.
— Caramba, ! Que barra! E como você decidiu ser paramédica? — Então, um fato está interligado ao outro. Depois que pedi demissão, fui ver minha conselheira profissional para tentar achar um rumo na vida. No meio da sessão ela desmaiou… Eu tinha feito um curso de primeiros socorros há muito tempo atrás, mas que foi muito útil. Percebi que ela não respirava, então liguei para a emergência e fiz RCP até os paramédicos chegarem.
— E ela sobreviveu?
— Sim. Um dos paramédicos que a socorreu disse que a massagem cardíaca salvou a vida dela. E foi assim que eu me tornei uma paramédica.
— , você tem uma das melhores histórias que eu já ouvi! Sério! — estava realmente maravilhada com a narração da colega. — E parabéns pela coragem de mudar!
— Obrigada! — Sorriu. — Não foi fácil, mas aqui estou. E você?
— Minha mãe era paramédica e eu sempre a admirei muito, então… — Sorriu.
Não puderam continuar nem a conversa, nem a refeição, pois a sirene tocou pela primeira vez naquele dia, chamando tanto pelas paramédicas, quanto pelos bombeiros.
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— Chegamos. — O motorista do aplicativo informou ao estacionar em frente ao Hotel Westin Bonaventure. A mulher agradeceu e se dirigiu até o lobby. Não precisou solicitar informações, pois uma placa bem grande anunciava em qual andar e sala o evento beneficente do CBLA estava ocorrendo.
A decoração do espaço era simples, mas muito bonita. O que realmente importava ali não era o dinheiro investido na organização, mas o dinheiro que conseguiriam arrecadar em doações para as famílias atingidas pelos incêndios e que acabaram por perder tudo ou quase tudo o que possuíam quando as chamas se alastram em seus tetos.
— De que reino saiu essa princesa? — surgiu do nada, parando ao seu lado. usava um vestido preto. A peça era básica até dois dedos acima de seu joelho, quando começava uma saia de renda até os pés.
— Mas olha quem falando! Fiu fiu! — Devolveu o elogio a colega e elas se abraçaram de lado.
— Vamos beber! Assim quando o leilão começar a gente pode colocar a culpa na bebida por comprar algo que não precisamos por um preço que jamais pagaríamos.
— Parece que alguém tem muita experiência nisso… — comentou e apenas deu de ombros, fazendo-se de desentendida.
Quando estavam em posses de seus drinks, as mulheres juntaram-se a roda de conversas entre os companheiros do 118. Caso lhe questionassem, ela jamais negaria que pensou que seu início naquela profissão seria no mínimo… estranho ou um pouco desconfortável. No entanto, assim que pisou no batalhão, ela se sentiu completamente acolhida e seria eternamente grata a cada um deles. Sabia que nem todos os batalhões eram assim, mas ela havia sido sortuda o suficiente para ser designada a um cujo seus membros tinham o senso comum de se considerarem família e não meros colegas de trabalho.
— Opa. — Riu sozinha e se apoiou no balcão do bar improvisado. Entrar na onda de de beber de estômago vazio não havia sido uma boa ideia. Ela estava visivelmente tonta e ainda faltavam mais de quinze minutos para o jantar ser servido. Pode parecer pouco, mas para uma faminta e um pouco zonza pela bebida parecia mais uma eternidade.
— Tudo bem por aí? — Virou-se para o lado e deu de cara com a pessoa que ela estava secretamente torcendo para encontrar naquele evento.
— . — Ela pronunciou o nome dele em um tom doce, que soou como uma suave melodia para os ouvidos dele.
— . — posicionou um beijo no dorso da mão dela. — Você está linda. — Sorriu.
— Muito obrigada… — Analisou o homem de terno e gravata por alguns segundos e voltou a falar. — Posso dizer o mesmo sobre você.
— Tem certeza que não é a bebida falando?
— Certamente não. — Ela respondeu de supetão. — Digo, só estou um pouco tonta porque ainda não comi, mas… ah, enfim. — Desistiu de tentar remendar sua fala quando viu que ele a olhava de uma maneira divertida.
se aproximou do ouvido dela e sussurrou. — É bom saber disso.
Ela certamente não estava preparada para aquilo. Ele a pegou desprevenida e a única coisa que ela conseguiu fazer foi encará-lo sem dizer uma sílaba sequer. Deu um gole na água que tomava para amenizar a tontura e novamente escutou o homem dirigir-lhe a palavra.
— Mas então, como está a vida de paramédica?
— São tantos adjetivos que não sei nem por qual começar. A vida de paramédica é louca, intensa, emocionante, agoniante… mas tem me feito muito feliz. Na verdade, eu nunca fui tão feliz desde que decidi por essa profissão, mesmo não sendo fácil. — Sorriu.
— Fico feliz em ter guiado o caminho. E acho que deveríamos sair qualquer dia desses para que você possa me contar tudo… — Ele soltou como se fosse a coisa mais natural do mundo e o coração de disparou, bem como alargou o sorriso que ela já mantinha em seus lábios.
— Claro. Bom… eu preciso voltar antes que minha colega me anuncie no microfone. Eu ‘tô rindo, mas juro que fico preocupada que ela realmente faça isso… — Confidenciou.
— Tudo bem, depois eu te encontro novamente. — plantou um beijo no canto da boca da mulher e caminhou até a mesa onde seus colegas de batalhão estavam sentados. levou cerca de vinte segundos para assimilar o que havia acontecido e tratou de disfarçar a expressão surpresa que tomava conta de seu rosto assim que se aproximou de sua turma.
A pista de dança parecia pequena diante da animação daqueles que mexiam seus corpos ao som de alguma música pop qualquer. amava dançar, sendo essa uma de suas “terapias” favoritas. Ela era adepta da filosofia “dance it out” e tinha muito mais desenvoltura que Cristina Yang e Meredith Grey, isso era óbvio. Estava rindo e dançando tanto que ficou extremamente agradecida quando viu se aproximando dela com duas taças.
— Para você, bailarina.
— Obrigada, engraçadinha.
se afastou um pouco das pessoas que dançavam animadamente para poder bebericar seu drink e descansar um pouco.
— Te achei. — Ouviu sussurrar em seu ouvido e acabou derrubando uma pequena quantidade de sua bebida no chão. — Não precisa ficar nervosa, eu não mordo. — Piscou para ela.
— Não é nada disso, é que... você…. me assustou. — Tentou não demonstrar o nervosismo que sentia perto dele, mas a voz falha e trêmula lhe denunciou.
— Desculpe-me por isso, então. — Sorriu ladino. — Ouvi dizer que a vista do terraço aqui é maravilhosa, quer subir até lá?
sentiu-se como uma adolescente prestes a dar seu primeiro beijo tamanha era sua ansiedade, mas conseguiu se recompor para aceitar o convite.
— O que é mais bonita: esse espaço ou a vista daqui? — Ela questionou maravilhada.
— Nenhuma das opções. — girou o corpo ficando de frente para , olhando-o de maneira curiosa e esperando por uma explicação. — Você é muito mais bonita que esse espaço ou essa vista. — Ela nunca esperou que os clichês de filmes românticos fossem acontecer em sua vida, mas ali estava ela vivendo um. colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha dela e aproveitou para aproximar os corpos. — Eu te achei linda desde o momento em que te vi desesperada naquele consultório. Te achei mais linda ainda quando nos encontramos na sede e depois na sua formatura… — Os olhos da mulher brilhavam e ela simplesmente não conseguia conter o sorriso que se desprendia de seus lábios. — E hoje… eu não tenho palavras para hoje.
— Eu… — Observando que a mulher estava surpresa a ponto de não encontrar as palavras, ele decidiu fazer a única coisa possível naquele momento: colou os lábios. As mãos de circundaram o pescoço do homem, enquanto ele tinha as mãos em sua cintura. Beijaram-se com calma, aproveitando ao máximo aquele momento que demorou tempo demais para acontecer e que só tinha (secretamente) acontecido nos sonhos da paramédica. No entanto, absolutamente nada se comparava a sensação real de beijá-lo.
— Você é uma caixinha de surpresas. — Ela sussurrou quando eles separaram as bocas.
— Vou tomar isso como um elogio. — disse e ela concordou com a cabeça. — No dia em que nos conhecemos seria antiético tentar me aproximar e eu decidi deixar para lá. Mas depois começamos a nos esbarrar por aí e não pude mais ignorar. — Confessou.
— Já que estamos sendo sinceros… Eu estava negando para mim mesma que pudesse ter interesse em você já que achei que jamais seria recíproco.
— Mas é… — Dessa vez quem tomou a iniciativa do beijo foi ela, o que fez com que o homem sorrisse com a boca pressionada a sua.
Alegando ainda não estar totalmente acostumada a sua nova rotina de trabalhar 24 por dia mesmo folgando pelas próximas 48h, conseguiu deixar o evento sem levantar suspeitas e caminhou apressadamente até o carro dele estacionado do outro lado da rua. Ao contrário do que já havia acontecido em vários de seus outros encontros, o trajeto até a casa dela não foi nada desconfortável e ela até arriscaria dizer que passou mais rápido do que gostaria.
— Eu sei onde você trabalha, onde mora… posso saber seu telefone? — questionou assim que estacionou em frente à casa dela, fazendo-a rir.
— Preciso de uma foto. — declarou assim que terminou de anotar os dados de contato dele em seu celular. sorriu e ela capturou a imagem, abaixando a cabeça para salvar os últimos ajustes. Sorriu no ato e sentiu um flash sendo disparado em sua direção.
— Linda e espontânea. — Ao escutar o elogio, o sorriso dela se alargou e ela o beijou demoradamente antes de despedir-se.
— Espero que a gente se esbarre novamente em breve. — disse e ela apenas riu e assentiu enquanto deixava o veículo.
🔥
Alguns dias já haviam passado desde o evento e não tinha dado nenhum sinal de vida. Por mais que fosse orgulhosa e jamais admitiria em voz alta para si mesma ou para Athena, estava chateada com tal fato. Perdida em sua própria chateação, ela apenas retornou para o mundo real quando escutou seu nome ser pronunciado em meio a recepção do hospital St. Thomas. Aguardava pegar suprimentos médicos e virou-se já sabendo exatamente quem iria encontrar.
— Oi, . — Sorriu fraco, ato que não passou despercebido pelo homem. Ele adorava o sorriso largo que ela sempre mantinha nos seus lábios macios que ele já havia tido o prazer de provar.
— … me desculpe. — Coçou a nuca. — Eu fiquei com vergonha de te chamar logo de cara, pensei que talvez depois que o efeito do álcool passasse você não fosse mais querer.
— Que ideia idiota, . — Ela riu e o peito do homem voltou a ficar aliviado. — Eu já te disse que só estava um pouco tonta, mas nada que afetasse meu discernimento… — Ergueu as sobrancelhas, encarando-o e deixando bem claro o quanto ela queria estar com ele. O homem molhou os lábios com a língua antes de falar.
— Sendo assim, eu passo na sua casa amanhã às 19h.
— Combinado, paramédico. — Ela piscou para ele, assistindo o homem distanciar-se de si até estar fora do hospital.
— Quem era o bonitão? — a questionou enquanto dirigiam de volta até o batalhão. — Não adianta fazer essa cara de desentendida, eu vi com meus próprios olhos. — bufou antes de responder.
— Lembra do paramédico do chamado da minha conselheira? É ele.
— O cara muda sua vida e você ainda o pega? Minha meta é ser você quando eu crescer. — não conseguiu segurar a gargalhada que se desprendeu de sua garganta.
— Não foi nada planejado, mas foi muita coincidência sim. Primeiro no chamado, depois na sede do CBLA, na minha formatura, no evento beneficente… — enumerava as “coincidências” da vida, mas foi interrompida pela colega.
— Espera! Ele estava no evento? Foi por isso que você sumiu e foi embora antes que todo mundo! — Exclamou como se tivesse descoberto um segredo de Estado. sentiu o coração pesar por alguns segundos.
— Mais alguém percebeu? — O tom de voz denunciava o quão assustada ela estava se sentindo.
— Até parece, pegadora! Os caras são muito lentos… mas nada passa despercebido por !
— Que medo disso… — riu.
— Fica tranquila, . Seu segredo está a salvo. — Piscou. — Mas você precisa me apresentar algum amigo dele.
Cabisbaixa, pegou o celular para digitar a mensagem que não queria ter de escrever, mas seu dever estava acima de tudo.
“, vou ter que dobrar o turno hoje. Sinto muito :( e espero que possamos remarcar!”
“Que coincidência! Meu capitão me pediu a mesma coisa, estava para te mandar mensagem agora… É claro que vamos remarcar!”
A mulher sorriu fraco para a tela do celular antes de colocar o aparelho no modo silencioso para que pudesse tentar tirar uma soneca antes de enfrentar mais 24h de trabalho.
🔥
— Você só pode estar de brincadeira. — A mulher tinha os braços cruzados na frente do peito, mas sua expressão era de divertimento.
— Eu não acredito! De novo?!?! — O tom de voz era de indignação, mas ele sorria.
— Não tenho sossego nem na minha folga e nem no mercado, oh vida cruel! — Ambos riram.
— Sabe a frase “quando a vida te der limões, faça uma limonada?” — Viu fazer um gesto positivo com a cabeça. — Vamos aproveitar e almoçar no restaurante que tem aqui dentro?
— Com esses ingredientes eu normalmente faço um Lemon Drop Martini, mas um almoço não é nada ruim.
Deixaram os carrinhos de compra na área destinada e adentraram o restaurante italiano. Optaram por pedir uma massa carbonara para cada um e se contorceu em uma careta de dor ao ouvi-lo dizer que ela melhor eles pularem o vinho àquela hora do dia.
— A gente pode tomar vinho à noite. — Ele sugeriu.
— Eu acho ótimo…, você já percebeu que a gente tá sempre se esbarrando?
— É meio bizarro, mas eu juro que não sou nenhum stalker.
— Até porque stalkers sempre assumem quem são, né? — Riu e o ouviu rebater.
— Mas eu não sou mesmo!
— Por enquanto eu acredito em você.
— Me sinto bem melhor agora. — Ele suspirou, aliviado.
— Eu preciso te alertar sobre uma coisa. A , que é minha parceira na ambulância, sabe sobre nós. Não é como se eu tivesse contado, mas ela nos viu aquele dia no hospital e eu não resisti a pressão… Além de ela ter ligado os pontos sobre os acontecimentos naquela noite do evento. — Sentia-se um pouco envergonhada, mas preferia que ele ficasse sabendo por ela.
— Sem problemas, . Meu colega Howard também sabe sobre nós… — Ele admitiu e a mulher não pode controlar o quentinho que tomou conta de seu coração.
— Só te contei porque ela é meio maluquinha e caso a gente se esbarre num chamado ou no St. Thomas ela pode fazer alguma piada e eu não queria que você fosse pego de surpresa. Além disso, ela também quer que você apresente algum amigo a ela. — Os dois riram da última frase.
— A gente vai ter que fazer um encontro duplo para juntar o Howard e ela. Eles vão se dar muito bem… Pelo que você me diz a é o Howard, só que com peitos.
— Vamos fazer isso acontecer! Mas só depois que estivermos bem alimentados.
— Concordo… Mas é engraçado pensar que a gente nem teve nosso primeiro encontro oficial e já estamos agindo como cupidos. Aliás, que tal aproveitarmos nossa folga e reagendarmos para hoje à noite?
— Perfeito! Mas pelo atraso eu não espero nada menos do que duas garrafas de um bom vinho. — Nesse momento, o garçom posicionava o pedido deles na mesa e nem ele conseguiu disfarçar a risadinha por conta do comentário da mulher.
Às 19h em ponto tocou o interfone do apartamento que dividia com Athena.
— É bom saber que você é pontual. — Ela comentou assim que o viu parado no portão. Sabia que seria difícil o clima entre os dois ficar estranho, mas pensou que quebrar o gelo não faria mal algum.
— Por mim eu teria vindo direto do almoço… — Riu.
— Eu teria adorado. — Ela confidenciou.
Sem se importar com o fato de estarem na calçada pública, puxou a mulher para si. Encararam-se sorrindo por alguns segundos antes de se entregarem em um beijo num misto estranho de desejo, descoberta e saudade.
Entraram no carro e antes de ligá-lo, ele se pronunciou.
— Gosto de ser sincero num primeiro encontro, então vou admitir que não acreditava em destino, mas você chegou e mudou minha percepção… Depois de tantos encontros marcados pelo destino, acho que já está na hora de assumirmos o controle da nossa situação… O que você acha?
sorriu e entrelaçou os dedos de sua mão na dele, num claro “sim.”.
*Cenas iniciais e discurso do paramédico baseados no nono episódio da segunda temporada do seriado 9-1-1, intitulado “Hen Begins”.
— Vamos pedir um vinho caro, a menos que estejam economizando. — O homem de cabelos claros na casa dos cinquenta anos sentado ao seu lado foi o primeiro a falar.
— Desde a crise em 2008 todos estão economizando, mas não nós da indústria farmacêutica. Nós estamos em alta. — Disparou Coby, seu chefe, sorrindo em vantagem.
— Nada como um monte de gente triste para nos ajudar, não é mesmo? — Ela se pronunciou e ouviu risadas.
— , você conhece os detalhes do remédio. Conte a eles por que vale a pena o investimento.
— Senhores, os efeitos colaterais diminuíram 14% em relação aos antidepressivos disponíveis atualmente no mercado. Estamos falando dos principais sintomas como perda e ganho de peso, insônia, perda da libido… — Ela deu um gole no copo de água enquanto aguardava os médicos assimilarem suas informações.
— Meus pacientes sempre querem o genérico por ser mais barato. — Foi a vez do homem à sua frente falar, em um claro tom de julgamento e zombaria.
Antes que pudesse medir ou conter suas palavras, elas já haviam escapado de sua boca.
— Mas é uma questão de poder pagar o medicamento ou ficar sem o remédio? — Observou a feição dos médicos e então continuou. — É, acho que você deveria prescrever o genérico. Ou você poderia dizer ao seu cliente para caminhar e melhorar a alimentação antes de começar o tratamento com remédios. — Os três homens presentes a encaravam incrédulos sem saber como reagir, abrindo e fechando a boca sem emitir som algum. Por fim, emitiram algumas risadas fracas e ela soube naquele momento que não haveria mais volta, estava acabada.
— Você tem um coração grande e bondoso, isso não é comum na indústria farmacêutica. — O loiro voltou a falar. — Conte-me mais sobre você. — Dito isso, ele colocou sua mão sobre a dela. Viu Coby a encarando de canto de olho. Ambos sabiam que aquilo que já estava ruim estava prestes a piorar.
— Posso te dizer que não gosto de ser tocada sem permissão.
Ela iria continuar falando sobre como poderia espetar a mão dele com a faca que usaria para cortar os alimentos, mas foi interrompida pelo garçom que serviu o jantar, degustado em silêncio.
— Meu escritório vai enviar as amostras amanhã de manhã. Nos falaremos em breve! — Coby quase gritava enquanto os médicos arrancavam com o carro em frente ao prédio. Quando se virou para encarar sua feição não era nada amigável.
— Que merda foi aquela lá dentro? — Ele questionou, irritado.
— Ah, Coby. Você sabe que eles vão comprar. — A mulher rolou os olhos.
— Mas como representantes comerciais nós precisamos construir relacionamentos, . — Ele disse como se ela fosse idiota.
— Nós vendemos antidepressivos, não o meu corpo. — Ela foi direta e reta.
— Você sequer gosta desse trabalho? Porque não parece.
— A verdade é que eu aceitei esse emprego pensando que ajudaria as pessoas a conseguirem os medicamentos que precisam, mas no fim essa é só uma história que eu contava repetidamente para mim mesma. Você me perguntou se eu gosto desse trabalho e a verdade é que eu odeio, Coby. Essa não sou eu.
— Então o que você está tentando me dizer?
— Eu me demito. — Ambos se encararam por longos segundos em silêncio. Coby caminhou até seu carro recém trazido pelo vallet e balançou a cabeça antes de entrar no veículo.
— O que foi? — Ela questionou.
— Nunca vi alguém tocar fogo na sua própria vida dessa maneira. — Ele deu partida e ela ficou congelada no mesmo lugar durante bons minutos antes de rumar para casa.
Sentia o olhar da conselheira sobre si enquanto preenchia o teste de aptidão. Finalizou e entregou para a mulher sentada do outro lado da sala.
— Então, que tipo de trabalho devo ter? — questionou ansiosa.
Viu a mulher analisar as folhas a sua frente e rasgá-las assim que ela fez a pergunta.
— Foi tão ruim assim?
— O teste só funciona se você responder honestamente. — Stacey pronunciou com toda a calma do mundo.
— Eu fui honesta. — disparou.
— Não pareceu. Parece que todas as suas respostas foram para mim, como se marcasse e escrevesse coisas que achava que deveria dizer, que seriam as coisas certas para me agradar.
balançou a cabeça em um sorriso triste e soltou uma risadinha.
— Parece que esse sempre foi o meu problema. Todos os empregos que tive nunca eram o que eu queria, mas sempre o que eu achava que deveria fazer naquele momento. — Ela confidenciou.
— Vamos inverter um pouco a maneira de conduzir isso. O que você mais odeia? O que te deixa puta?
— Valentões.
— Valentões?
— Sim, eles pegam as pessoas em um momento de vulnerabilidade e atacam. Nos momentos em que as pessoas precisam de uma mão, os valentões oferecem um soco. Como isso é possível? Sabe… como podem? — Sua expressão facial denunciava sofrimento.
— Então você tem um desejo de proteger os vulneráveis.
— Como uma guarda ou algo do tipo?
— Pode ser.... Mas você não precisa de um teste para descobrir o que deve fazer. É algo natural do seu ser, você só precisa libertar essa chama interna. — Dito isso, Stacey se levantou de sua cadeira de maneira abrupta e caminhou até o bebedouro.
— Você está bem?
— Dormi mal na noite passada e estou sentindo dores o dia todo hoje. — Comentou como se não fosse nada. — Continuando… você tem um fogo, uma paixão, um propósito. Sei que é provável que você revire os olhos por achar isso clichê e bobo, mas vou dizer mesmo assim. Existe uma voz dentro de nós que quando ficamos quietas e a escutamos, ela nos diz que tudo ficará bem. Tudo será revelado… — prestava atenção a cada palavra que saia da boca de sua conselheira, mas em questão de segundos ela viu a mulher que estava em pé bem na sua frente desabar desmaiada no chão.
Checou os sinais vitais que mal existiam e aproximou o ouvido da boca da mulher, constatando que ela não respirava.
— Stacey, não! Não! Não! Não!
Puxou o celular da bolsa e discou para o serviço de emergência, informando o atendente do outro lado da linha que achava que sua conselheira havia tido um enfarte. Passou o endereço, implorou para que eles viessem logo e começou a massagem cardíaca que havia aprendido em um curso de primeiros socorros.
Felizmente, os paramédicos chegaram rapidamente e assumiram o controle da situação, estabilizando Stacey que recobrou a consciência e antes de ser retirada de seu escritório agradeceu com um aperto de mão, já que a máscara de oxigênio a impedia de falar. Enquanto um paramédico a levava para fora, outro recolhia alguns equipamentos.
— Ela vai ficar bem?
— Vai sim, graças a você.
— A mim? — A surpresa era nítida em sua voz.
— A massagem cardíaca que você fez ajudou muito, provavelmente salvou a vida dela. — Ele respondeu sorrindo.
— Nunca pensei que fosse colocar em prática o que aprendi num curso há muitos anos. — confessou.
— Você foi muito bem. Em algumas situações até pessoas treinadas entram em pânico… Bom trabalho. — A mulher não teve tempo de responder, pois ele deixou a sala e ela permaneceu em choque. Não sabia se mais pela situação ou pelas palavras dele.
Athena escutava atentamente a história que sua melhor amiga narrava enquanto elas almoçavam em um pequeno restaurante no bairro em que viviam. estava repassando o episódio do jantar que resultou nela pedindo demissão e depois o que aconteceu no escritório de sua conselheira.
— E você acha que isso foi um sinal? — Athena questionou.
— Não, amiga. O sinal veio quando eu tinha 16 anos, fui baleada e sobrevivi graças a rápida ação dos paramédicos. O que aconteceu na sala da Stacey foi um lembrete, sabe? Como se minha vida tivesse voltado a ter foco. Parece que eu finalmente achei a paixão e o propósito do qual a Stacey tanto falava. — Sorriu.
— Falando com essa determinação e brilho nos olhos eu não tenho dúvidas de que você realmente encontrou. — Athena declarou e levantou da cadeira em que estava sentada. Foi até a amiga, abraçou-a pelo ombro e exclamou: — Estou tão feliz por você!
— Muito obrigada, de verdade! — retribuiu o abraço e não pode controlar as lágrimas que se formavam em seus olhos. Ela havia passado por tanta coisa nos tantos empregos que teve e passou a vida inteira pensando que nunca se sentiria totalmente completa, mas esse sentimento estava pouco a pouco se esvaindo e abria espaço para que a mulher lutasse pela sua paixão recém vinda à tona. nunca havia desejado tanto algo como desejava entrar no Corpo de Bombeiros de Los Angeles e faria o impossível para conseguir sua aprovação.
— E agora, quais são os próximos passos? — A amiga questionou.
— Bom, como eu não sou a versão feminina do Cristiano Ronaldo, vou me inscrever em um programa gratuito que eles oferecem para ajudar os candidatos a entrarem em forma antes de passar pelos rigorosos testes na academia de treinamento e que também te dá uma noção de combate a incêndios.
— Nossa, não fazia ideia de que isso existia!
— Nem eu! E no site deles tem vários guias de alimentação, exercícios e até como se preparar para as entrevistas… é demais! ‘Tô bem feliz, isso com certeza vai aumentar minhas chances na academia depois.
— Não que você precise de ajuda nessa última parte, mas não faz mal usar e abusar de todo o material, ainda mais sendo de graça.
— Como é aquele ditado que a sua mãe adora?
— De graça até injeção na testa. — Ambas riram.
— Com licença, senhoritas. — O garçom disse ao se aproximar da mesa delas, que pararam de falar na hora, pois estavam ansiosas e famintas por suas refeições.
Os olhos atentos e emocionados de não deixavam de revistar nada daquele prédio. Ela havia feito sua inscrição online e agora estava no escritório central para entregar alguns documentos. Parou em frente a um mural com distintivos de bombeiros e paramédicos que haviam dado suas vidas para salvar a de tantos outros e sentiu seu peito ser preenchido por emoções agridoces: orgulho e gratidão por aqueles que haviam partido e tristeza por aqueles que perderam seus entes queridos.
— Perdida? — Levou um susto quando ouviu uma voz masculina questionar ao seu lado.
— Não… Oh, é você! — Ela exclamou surpresa quando reconheceu um dos paramédicos que atendeu Stacey. — Estou admirando cada detalhe que compõe este prédio. São tantas histórias… — Deixou a frase no ar, absorta em pensamentos.
— Você nem imagina.
— Espero em breve fazer parte delas. — A mulher disse sorrindo e se virando para encará-lo.
— Wow! — O sorriso dele alargou quando a ficha caiu. Ele sempre ficava feliz quando alguém escolhia se juntar ao CBLA. — Sério mesmo?
— Sim… Suas palavras mexeram mesmo comigo naquele dia. Foi como se uma luz tivesse se acendido aqui, sabe? — Ela apontou para a cabeça e fez um barulho de “click” com os dedos.
— Nossa, que responsabilidade a minha! — O homem manteve uma expressão preocupada durante alguns segundos, mas logo riu, levando a mulher consigo. — Acabei de perceber que não sei o seu nome…
— . — Estendeu a mão para cumprimentá-lo.
— , muito prazer. — Ele apertou a mão dela, mas depois depositou um beijo casto no dorso. Ouviu alguém chamar por e ele se despediu dizendo que esperava encontrá-la novamente em breve, dessa vez uniformizada. Mesmo que ele não pudesse mais vê-la, a mulher sorriu e seguiu seu caminho.
O longo período em que passou se dedicando aos cursos e treinamentos para ser uma paramédica do CBLA foi longe de ser considerado o mais fácil de sua vida. Como a maioria das aulas aconteciam nos turnos da manhã ou da tarde, ela teve de procurar um emprego noturno. Para ficar próxima do público, aceitou o emprego em um restaurante em que o salário era bom, mas as gorjetas por seu ótimo atendimento eram ainda melhores. Para poupar ainda mais, convidou Athena para ocupar o quarto vago em seu apartamento e além de melhores amigas elas se tornaram roomies. Ela não era uma pessoa de esbanjar, a menos que o assunto fosse sua alimentação, mas como teve de cortar os lanches devido ao condicionamento físico exigido pela corporação, os gastos acabaram reduzindo ainda mais.
No entanto, esse período foi o mais feliz de sua vida, até então.
A mudança de 360º em sua vida não foi compartilhada com todos, sendo reservado apenas para um grupo seleto de pessoas que incluíam seus pais, seu irmão (e consequentemente sua cunhada) e Athena, as pessoas em quem mais confiava no mundo.
Dentro de instantes, porém, tudo mudaria e aquilo deixaria de ser um “segredo”, pois ela havia chegado lá. Terminou de ajeitar sua roupa, olhou-se no espelho e sorriu. Tinha vontade de gritar, chorar e rir, tudo ao mesmo tempo. Fez uso de todo o autocontrole que encontrou dentro de si e rumou para onde alguns de seus colegas formandos aguardavam o início da cerimônia.
— Vocês veem isso? — Boscorelli, comandante-geral do CBLA, segurava um emblema dos paramédicos dos bombeiros da cidade de Los Angeles. — Vocês chegaram até aqui porque queriam usar um desses, e, através dos testes físicos e mentais aos quais foram submetidos, fizeram por merecer e agora usarão um estampado no lado esquerdo de seus uniformes. Vocês conquistaram a entrada para a elite mundial de salvamento e não há nada mais que eu possa dizer além de: parabéns! — Ele encerrou seu pequeno discurso e deu lugar para outro homem. Quando reconheceu quem estava ali em cima do pequeno palco, seu coração passou a pulsar ainda mais forte.
— Olá a todos! Eu sou e queria dizer algumas coisinhas... — O nervosismo em seu tom de voz era palpável, mas estava achando adorável. — Não é todos os dias em que convidam um paramédico para proferir algumas palavras em uma formatura, então me perdoem por qualquer coisa… — Ele riu e os presentes entraram na onda, trazendo uma sensação de conforto ao ambiente. — Dizem que os paramédicos nascem duas vezes: a primeira vez quando vêm ao mundo e a segunda no dia em que escolhem passar suas vidas correndo em direção ao perigo para arriscar tudo e garantir que vocês — apontou para a plateia formada por amigos e familiares — cheguem em casa em segurança para ficar junto das pessoas que amam. Este não é um trabalho difícil apenas na parte física, mas principalmente no emocional: trata-se de vida ou morte. Trata-se de saber que fazemos o impossível para salvar a todos, mas sabemos que isso é humanamente inexecutável. Trata-se de saber que podemos perder companheiros ao longo da jornada, e, sobretudo, trata-se de saber que nós podemos ser aqueles que entram em uma chamada, mas que não saem dela. — respirou fundo e ficou alguns segundos em silêncio antes de continuar. — Enfim, desejo que vocês encontrem o equilíbrio na balança dessa profissão e que nunca se acomodem. Parabéns! — Ele não pode deixar de sorrir enquanto descia do palco sendo ovacionado.
— , você agora é uma paramédica do Corpo de Bombeiros de Los Angeles. — o comandante Boscorelli declarou, apertando a mão da mulher. A vontade de rir, gritar e chorar novamente invadiu o corpo de , mas ela se limitou a sorrir brandamente. Agarrou seu diploma como se sua vida dependesse disso e aguardou até que todos seus colegas fossem chamados enquanto se sentia a pessoa mais feliz do mundo.
— Eu disse que a próxima vez que nos encontrássemos você estaria uniformizada. — reconheceu a voz mesmo antes de girar o corpo para encarar .
— Você não trabalha com previsões da loteria? — Ambos riram ao que ele sussurrou “infelizmente não”.
— Parabéns pela formatura, paramédica. — Havia uma pitada de orgulho no olhar dele, embora mal se conhecessem.
— Obrigada, paramédico. — Ela sorriu largamente.
— Você já sabe para qual batalhão vai ser designada?
— Para o 118. Você tem alguma informação privilegiada sobre lá? — Arqueou uma sobrancelha.
— Você vai gostar, o pessoal é muito legal. — soltou um “ufa” e ele continuou. — Se tiver a oportunidade apareça no 51 algum dia, eu posso te dar um tour. — Disse sorrindo.
— Anotado! Ah, , eu queria te agradecer. — Não podia deixar de se sentir um pouco envergonhada, mas precisava fazer aquilo. — Obrigada por ter me incentivado mesmo sem saber e pelo discurso, me mostrou mais uma vez que fiz o certo.
— Você conseguiu me deixar sem palavras e isso é meio difícil de acontecer. — Ele coçou a nuca. — Mas isso tudo é mérito seu. — Ambos sorriam e era uma cena fofa de se apreciar. No entanto, foram interrompidos pelo furacão Athena.
— Vocês podem terminar a cena do novo filme romântico da Netflix depois? Nós precisamos tirar as fotos! — já estava acostumada com o jeito espalhafatoso da amiga, mas queria se esconder por ela ter feito isso na frente do homem.
— Athena, pelo amor de Deus! — realmente não sabia onde enfiar a cara tamanha era sua vergonha.
— Estou falando sério, vamos.
— Desculpe por isso. — sussurrou para o homem.
— Queria muito ficar para acompanhar o restante da celebração, mas ainda estou de plantão.
— Ah. — Havia um certo tom de decepção na voz da mulher. — É uma pena, você vai perder a melhor parte… a comida.
— Isso a gente resolve no nosso próximo esbarrão. — Antes que ela pudesse assimilar e responder o que havia escutado, já havia virado as costas e ido embora.
As gotículas de suor que se formavam nas palmas de suas mãos eram a prova física de que ela estava extremamente nervosa com seu primeiro dia de trabalho como paramédica. Admirou o batalhão por fora mais uma vez, secou as mãos nas calças e finalmente saiu de seu carro.
— Olá… — Ela falou para o além, já que não havia ninguém onde se encontrava. Em poucos segundos, no entanto, a situação mudou.
— Pessoal, a novata chegou! — Um dos bombeiros gritou e logo ela estava rodeada de rostos curiosos.
— Dizem que não se pode entrar em um batalhão de mãos vazias… — Ela sorriu tímida e ofereceu as duas caixas de donuts que carregava.
— Você está certíssima! — Um homem de meia idade falou, prontamente pegando as embalagens das mãos dela, fazendo todos rirem.
— Finalmente você chegou! — Uma mulher saiu do fundo e a abraçou. — Eu sou a , sua parceira na ambulância! — Ela estava visivelmente animada e agradeceu por isso. Tinha medo de ser rejeitada ou ser colocada para trabalhar com alguém desagradável.
— Prazer, ! — Retribuiu o abraço.
— Seja bem-vinda, . Eu sou o tenente Nash. — Eles apertaram as mãos. — Venha comigo até a sala do Chefe do Batalhão e depois você terá tempo para conhecer todo o pessoal.
O som da sirene e a voz da despachante preencheram todos os espaços do batalhão e fizeram o coração de acelerar.
“Ambulância 61. Mulher caída na Avenida Beverly, número 8500, loja 34.”
Era real.
Era agora.
Seu primeiro chamado como paramédica do Corpo de Bombeiros de Los Angeles.
— Vambora, . — passou por ela como um tornado indo em direção a ambulância 61. embarcou no lado carona e prestava a atenção em todas as instruções que a colega mais experiente lhe passava.
— Mas o mais importante é manter o foco. Nunca perca o foco. — Ela frisou e apenas concordou com a cabeça antes de descer do veículo e pegar seu equipamento.
— Com licença, pessoal. — dizia enquanto tentava afastar a “plateia” formada por clientes e funcionários do shopping Beverly Center. — Paramédicas passando, com licença.
Antes que pudessem sequer falar qualquer coisa, a paciente a frente delas urrou de dor.
— Quantas semanas? — questionou a mulher enquanto utilizava o estetoscópio para medir os batimentos cardíacos.
— Trinta. — A mulher gemeu de dor novamente. — E cinco.
— Qual é seu nome, querida? — perguntou. Lembrou das instruções de sempre conversar e tentar acalmar a vítima.
— Connie.
— Prazer, Connie. Eu sou a e esta é minha colega . Vamos cuidar de você e do bebê, tudo bem? Continue respirando com calma. — A paramédica sorriu e estendeu a mão para que a gestante pudesse segurá-la (ou apertá-la, como ocorria naquele momento). — Alguém pode nos trazer uma toalha ou um pano limpo, por favor? E rápido.
— Eu tenho uma toalha de banho limpa na mochila da academia, vou buscar. — Uma mulher que parecia ser a gerente do estabelecimento se pronunciou e logo depois voltou com a peça, entregando-a para .
— Connie, preciso que você mantenha as pernas afastadas e os joelhos elevados, ok? Vamos te cobrir com a toalha para podermos fazer um exame rápido. — O fato da mulher estar de vestido ajudou muito, já que apenas teve que abrir a toalha sobre os dois joelhos e desceu a cabeça para poder examiná-la. Subiu novamente alguns segundos depois com um olhar apreensivo, porém tentando manter o foco, como havia lhe instruído antes.
— , a dilatação parece estar completa e o bebê está coroando.
— Não vai dar tempo de chegarmos ao St. Thomas. — A paramédica mais experiente declarou séria, encarando . — Preciso de mais uma toalha ou pano. — Olhou para a mesma mulher que havia trazido a toalha antes, que saiu correndo para os fundos da loja sem pronunciar nada.
— Connie, você sabe o sexo do bebê? — questionou e foi respondida entre um gemido e outro.
— Sim, uma menina… — Disse com dificuldade por causa das fortes dores que sentia.
— Sabemos que ela deveria ficar no forninho por no mínimo mais quatro semanas, mas ela quer muito te conhecer, então isso vai acontecer aqui e agora. Por isso, eu preciso que você respire fundo e faça força durante as contrações. Consegue fazer isso para mim? — sorriu e a mulher concordou com a cabeça. Dava para perceber em seu olhar que Connie estava desesperada, mas não havia nada diferente a ser feito. A bebê nasceria ali e agora. posicionou o pano no chão entre as pernas de Connie e voltou ao seu lado para que ela pudesse usar sua mão como apoio. A mulher que havia providenciado ajuda com a toalha e o pano se posicionou do outro lado, também oferecendo sua mão para que Connie pudesse apertá-la.
— Vamos lá, Connie. Respire e faça força… — sabia que a mulher deveria querer matá-la tamanha era sua dor, mas repetia as frases no tom mais amigável possível, tentando deixá-la confortável naquela situação que certamente nunca foi sequer cogitada pela mulher durante os longos meses de gravidez. Poucos minutos depois, uma nova contração atingiu Connie e repetiu novamente “respire e faça força”, como se fosse um mantra.
— Só mais um empurrão bem forte, Connie. Vamos lá, você consegue. — A mulher reuniu toda a força que tinha, gritou e empurrou uma última vez, até que segurasse uma menininha em suas mãos.
— Venha cá, . Faça as honras.
se aproximou e cortou o cordão umbilical. Ajudou a enrolar a bebê em uma manta e com uma gaze limpou o muco da boca e do nariz.
— Conheça sua apressadinha. — posicionou a pequena sobre o colo da mãe, enquanto ela e colocavam Connie na maca. — , avise o St. Thomas que temos uma prematura chegando. — Ela disse antes de fechar a porta da ambulância e se dirigir ao banco do motorista.
— Ótimo trabalho, . — A outra paramédica declarou assim que elas voltaram ao batalhão.
— Posso dizer que ainda estou em choque?
— Pode. — riu. — É uma adrenalina sem tamanho, não é mesmo?
— Sim. Sei que fomos treinadas para todos os tipos de situações, mas eu sempre pensei em salvar vidas, não trazê-las ao mundo, principalmente no meu primeiro chamado. Minha nossa, isso foi demais! — Exclamou. Sua mente estava petrificada na situação e seu coração ardia em felicidade. Estava realmente na profissão correta para si.
— Um pouco mais de sal. — disse a si mesma após provar o molho branco que estava cozinhando.
— Falando sozinha novamente? — Athena entrou na cozinha rindo da amiga.
— Como se você não fizesse isso também. — Retrucou e a outra apenas continuou rindo.
— Agora mais descansada, será que pode me contar sobre seu primeiro turno?
— Foi simplesmente o máximo!
— Ei, cuidado com isso aí! — Athena chamou a atenção da amiga que na empolgação havia erguido e continuava fazendo gestos segurando a faca que até poucos segundos usava para cortar a calabresa em quadradinhos. se desculpou e continuou.
— Pelo que o pessoal me disse foi um turno tranquilo, nos termos deles. Teve a chamada da ambulância e depois fomos até um endereço com um suposto incêndio, mas era alarme falso. O cara mandou dedetizar a casa e esqueceu de avisar os vizinhos. — Rolou os olhos. — Mas eu ajudei em um parto! Você tem noção disso, Athena? Eu ajudei a trazer uma vida ao mundo! — A emoção e orgulho que ela carregava na voz era perceptível e Athena lhe brindou com um sorriso verdadeiro, sentindo-se realmente feliz pela realização da outra.
— Só de pensar eu já sinto dores no corpo todo. — Balançou a cabeça e os ombros, tentando livrar-se dos pensamentos, — Mas que momento deve ter sido. E logo no seu primeiro chamado! Caramba.
— Pois é… Quando a gente chegou na cena e eu vi do que se tratava, quase surtei como se o ser humano fosse sair do meu corpo. — Confidenciou, rindo. — Mas lembrei das palavras da outra paramédica, a , e consegui manter o foco.
— Ainda bem… Mas e o pessoal do batalhão?
— Eu obviamente só conheci o pessoal do meu turno, mas são todos muito legais! Isso diminuiu muito minha ansiedade e nervosismo.
— Ah, que ótimo! E você tem algum registro do seu primeiro dia? — Sorriu de forma maliciosa.
— Esse era o seu interesse real por trás dessa conversa, não é mesmo? Sua tarada por fardas! — riu.
— Nós tiramos algumas fotos, o pessoal disse que é bom eternizar o início. Termina de fritar as calabresas para mim que vou buscar o celular e te mostro. — Saiu da cozinha, mas em questão de segundos já estava de volta. Entregou o celular desbloqueado para a amiga e voltou a cuidar do jantar.
— Wow! Você tem uns colegas bem gatinhos, hein.
— Toma jeito, Athena. Você sabe que não se come a carne onde se ganha o pão.
— Esse é seu lema, não o meu. — Riram. — Mas você abriria uma exceção para aquele paramédico, né? Como é mesmo o nome dele? ? — Perguntou como quem não quer nada.
— O não é do mesmo batalhão, ele é meu colega de profissão e… quer saber? Por que diabos eu estou me explicando? — Bufou irritada enquanto escorria a água do macarrão.
— Porque você gosta dele! — Athena acusou.
— Não viaja!
— Se negar vai fazer você se sentir melhor, ok.
— Quer ficar sem jantar? — ameaçou.
— Ok, ok. Não está mais aqui quem falou. — A mulher levou as duas mãos ao alto em um sinal de rendição.
sorriu e serviu o jantar, mesmo sabendo que estava apenas tentando não admitir em voz alta e tornar real o fato de ela achar atraente.
olhou o relógio em seu pulso e sorriu. Já estava com o uniforme e ainda haviam vinte minutos sobrando, o que lhe daria tempo suficiente para adiantar boa parte do café da manhã para os colegas — tanto para os de seu turno quanto para os do turno anterior, que ela tinha certeza de que ficariam um pouco mais no batalhão para uma boquinha. Optou por fazer uma versão simples de ovos mexidos de hotel e panquecas com calda.
— Você voltou!
— Por que eu não voltaria? — devolveu o questionamento, sem entender muito.
— Acredite, já vi várias pessoas não voltarem depois do primeiro turno. — Riu fraco. — Tá querendo nos fisgar pelo bucho, né. — comentou enquanto roubava uma das massas prontas, mesmo sob os protestos da colega.
— Estou apenas fazendo uma gentileza… já que eu iria parar nessa escala de qualquer forma. — Deu de ombros, rindo.
— Isso é verdade. Mas você ainda pode colocar os meninos para lavar a louça, não é mesmo, Tenente? — Ela gritou para tenente Nash, que entrava na cozinha naquele instante.
— É o quê, ? — Questionou desconfiado, mantendo um tom de voz divertido.
— As garotas fazem o café da manhã e os garotos lavam a louça.
— Eu só estou vendo a trabalhando. — Ele riu. — Mas sim. Divisão de tarefas.
— Viu? — disparou para a amiga com um olhar convencido.
Dentro de poucos minutos toda a equipe do primeiro turno estava a postos e finalizou os preparativos do café da manhã, chamando todos para se servirem.
— Agora que o terror do primeiro dia já passou, é hora de me contar mais sobre você. Nome e idade eu já sei. — Rolou os olhos. — O que você fazia antes?
terminou de engolir os ovos mexidos antes de começar a respondê-la. Elas estavam sentadas mais para o fundo da mesa, tentando conseguir um pouco mais de sossego para conversarem.
— Meu último trabalho foi como representante comercial de uma indústria farmacêutica. Até eu surtar porque meu querido colega estava mais interessado em vender a minha pessoa do que os remédios… — Era uma das primeiras vezes que contava isso para alguém “de fora”.
— Caramba, ! Que barra! E como você decidiu ser paramédica? — Então, um fato está interligado ao outro. Depois que pedi demissão, fui ver minha conselheira profissional para tentar achar um rumo na vida. No meio da sessão ela desmaiou… Eu tinha feito um curso de primeiros socorros há muito tempo atrás, mas que foi muito útil. Percebi que ela não respirava, então liguei para a emergência e fiz RCP até os paramédicos chegarem.
— E ela sobreviveu?
— Sim. Um dos paramédicos que a socorreu disse que a massagem cardíaca salvou a vida dela. E foi assim que eu me tornei uma paramédica.
— , você tem uma das melhores histórias que eu já ouvi! Sério! — estava realmente maravilhada com a narração da colega. — E parabéns pela coragem de mudar!
— Obrigada! — Sorriu. — Não foi fácil, mas aqui estou. E você?
— Minha mãe era paramédica e eu sempre a admirei muito, então… — Sorriu.
Não puderam continuar nem a conversa, nem a refeição, pois a sirene tocou pela primeira vez naquele dia, chamando tanto pelas paramédicas, quanto pelos bombeiros.
— Chegamos. — O motorista do aplicativo informou ao estacionar em frente ao Hotel Westin Bonaventure. A mulher agradeceu e se dirigiu até o lobby. Não precisou solicitar informações, pois uma placa bem grande anunciava em qual andar e sala o evento beneficente do CBLA estava ocorrendo.
A decoração do espaço era simples, mas muito bonita. O que realmente importava ali não era o dinheiro investido na organização, mas o dinheiro que conseguiriam arrecadar em doações para as famílias atingidas pelos incêndios e que acabaram por perder tudo ou quase tudo o que possuíam quando as chamas se alastram em seus tetos.
— De que reino saiu essa princesa? — surgiu do nada, parando ao seu lado. usava um vestido preto. A peça era básica até dois dedos acima de seu joelho, quando começava uma saia de renda até os pés.
— Mas olha quem falando! Fiu fiu! — Devolveu o elogio a colega e elas se abraçaram de lado.
— Vamos beber! Assim quando o leilão começar a gente pode colocar a culpa na bebida por comprar algo que não precisamos por um preço que jamais pagaríamos.
— Parece que alguém tem muita experiência nisso… — comentou e apenas deu de ombros, fazendo-se de desentendida.
Quando estavam em posses de seus drinks, as mulheres juntaram-se a roda de conversas entre os companheiros do 118. Caso lhe questionassem, ela jamais negaria que pensou que seu início naquela profissão seria no mínimo… estranho ou um pouco desconfortável. No entanto, assim que pisou no batalhão, ela se sentiu completamente acolhida e seria eternamente grata a cada um deles. Sabia que nem todos os batalhões eram assim, mas ela havia sido sortuda o suficiente para ser designada a um cujo seus membros tinham o senso comum de se considerarem família e não meros colegas de trabalho.
— Opa. — Riu sozinha e se apoiou no balcão do bar improvisado. Entrar na onda de de beber de estômago vazio não havia sido uma boa ideia. Ela estava visivelmente tonta e ainda faltavam mais de quinze minutos para o jantar ser servido. Pode parecer pouco, mas para uma faminta e um pouco zonza pela bebida parecia mais uma eternidade.
— Tudo bem por aí? — Virou-se para o lado e deu de cara com a pessoa que ela estava secretamente torcendo para encontrar naquele evento.
— . — Ela pronunciou o nome dele em um tom doce, que soou como uma suave melodia para os ouvidos dele.
— . — posicionou um beijo no dorso da mão dela. — Você está linda. — Sorriu.
— Muito obrigada… — Analisou o homem de terno e gravata por alguns segundos e voltou a falar. — Posso dizer o mesmo sobre você.
— Tem certeza que não é a bebida falando?
— Certamente não. — Ela respondeu de supetão. — Digo, só estou um pouco tonta porque ainda não comi, mas… ah, enfim. — Desistiu de tentar remendar sua fala quando viu que ele a olhava de uma maneira divertida.
se aproximou do ouvido dela e sussurrou. — É bom saber disso.
Ela certamente não estava preparada para aquilo. Ele a pegou desprevenida e a única coisa que ela conseguiu fazer foi encará-lo sem dizer uma sílaba sequer. Deu um gole na água que tomava para amenizar a tontura e novamente escutou o homem dirigir-lhe a palavra.
— Mas então, como está a vida de paramédica?
— São tantos adjetivos que não sei nem por qual começar. A vida de paramédica é louca, intensa, emocionante, agoniante… mas tem me feito muito feliz. Na verdade, eu nunca fui tão feliz desde que decidi por essa profissão, mesmo não sendo fácil. — Sorriu.
— Fico feliz em ter guiado o caminho. E acho que deveríamos sair qualquer dia desses para que você possa me contar tudo… — Ele soltou como se fosse a coisa mais natural do mundo e o coração de disparou, bem como alargou o sorriso que ela já mantinha em seus lábios.
— Claro. Bom… eu preciso voltar antes que minha colega me anuncie no microfone. Eu ‘tô rindo, mas juro que fico preocupada que ela realmente faça isso… — Confidenciou.
— Tudo bem, depois eu te encontro novamente. — plantou um beijo no canto da boca da mulher e caminhou até a mesa onde seus colegas de batalhão estavam sentados. levou cerca de vinte segundos para assimilar o que havia acontecido e tratou de disfarçar a expressão surpresa que tomava conta de seu rosto assim que se aproximou de sua turma.
A pista de dança parecia pequena diante da animação daqueles que mexiam seus corpos ao som de alguma música pop qualquer. amava dançar, sendo essa uma de suas “terapias” favoritas. Ela era adepta da filosofia “dance it out” e tinha muito mais desenvoltura que Cristina Yang e Meredith Grey, isso era óbvio. Estava rindo e dançando tanto que ficou extremamente agradecida quando viu se aproximando dela com duas taças.
— Para você, bailarina.
— Obrigada, engraçadinha.
se afastou um pouco das pessoas que dançavam animadamente para poder bebericar seu drink e descansar um pouco.
— Te achei. — Ouviu sussurrar em seu ouvido e acabou derrubando uma pequena quantidade de sua bebida no chão. — Não precisa ficar nervosa, eu não mordo. — Piscou para ela.
— Não é nada disso, é que... você…. me assustou. — Tentou não demonstrar o nervosismo que sentia perto dele, mas a voz falha e trêmula lhe denunciou.
— Desculpe-me por isso, então. — Sorriu ladino. — Ouvi dizer que a vista do terraço aqui é maravilhosa, quer subir até lá?
sentiu-se como uma adolescente prestes a dar seu primeiro beijo tamanha era sua ansiedade, mas conseguiu se recompor para aceitar o convite.
— O que é mais bonita: esse espaço ou a vista daqui? — Ela questionou maravilhada.
— Nenhuma das opções. — girou o corpo ficando de frente para , olhando-o de maneira curiosa e esperando por uma explicação. — Você é muito mais bonita que esse espaço ou essa vista. — Ela nunca esperou que os clichês de filmes românticos fossem acontecer em sua vida, mas ali estava ela vivendo um. colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha dela e aproveitou para aproximar os corpos. — Eu te achei linda desde o momento em que te vi desesperada naquele consultório. Te achei mais linda ainda quando nos encontramos na sede e depois na sua formatura… — Os olhos da mulher brilhavam e ela simplesmente não conseguia conter o sorriso que se desprendia de seus lábios. — E hoje… eu não tenho palavras para hoje.
— Eu… — Observando que a mulher estava surpresa a ponto de não encontrar as palavras, ele decidiu fazer a única coisa possível naquele momento: colou os lábios. As mãos de circundaram o pescoço do homem, enquanto ele tinha as mãos em sua cintura. Beijaram-se com calma, aproveitando ao máximo aquele momento que demorou tempo demais para acontecer e que só tinha (secretamente) acontecido nos sonhos da paramédica. No entanto, absolutamente nada se comparava a sensação real de beijá-lo.
— Você é uma caixinha de surpresas. — Ela sussurrou quando eles separaram as bocas.
— Vou tomar isso como um elogio. — disse e ela concordou com a cabeça. — No dia em que nos conhecemos seria antiético tentar me aproximar e eu decidi deixar para lá. Mas depois começamos a nos esbarrar por aí e não pude mais ignorar. — Confessou.
— Já que estamos sendo sinceros… Eu estava negando para mim mesma que pudesse ter interesse em você já que achei que jamais seria recíproco.
— Mas é… — Dessa vez quem tomou a iniciativa do beijo foi ela, o que fez com que o homem sorrisse com a boca pressionada a sua.
Alegando ainda não estar totalmente acostumada a sua nova rotina de trabalhar 24 por dia mesmo folgando pelas próximas 48h, conseguiu deixar o evento sem levantar suspeitas e caminhou apressadamente até o carro dele estacionado do outro lado da rua. Ao contrário do que já havia acontecido em vários de seus outros encontros, o trajeto até a casa dela não foi nada desconfortável e ela até arriscaria dizer que passou mais rápido do que gostaria.
— Eu sei onde você trabalha, onde mora… posso saber seu telefone? — questionou assim que estacionou em frente à casa dela, fazendo-a rir.
— Preciso de uma foto. — declarou assim que terminou de anotar os dados de contato dele em seu celular. sorriu e ela capturou a imagem, abaixando a cabeça para salvar os últimos ajustes. Sorriu no ato e sentiu um flash sendo disparado em sua direção.
— Linda e espontânea. — Ao escutar o elogio, o sorriso dela se alargou e ela o beijou demoradamente antes de despedir-se.
— Espero que a gente se esbarre novamente em breve. — disse e ela apenas riu e assentiu enquanto deixava o veículo.
Alguns dias já haviam passado desde o evento e não tinha dado nenhum sinal de vida. Por mais que fosse orgulhosa e jamais admitiria em voz alta para si mesma ou para Athena, estava chateada com tal fato. Perdida em sua própria chateação, ela apenas retornou para o mundo real quando escutou seu nome ser pronunciado em meio a recepção do hospital St. Thomas. Aguardava pegar suprimentos médicos e virou-se já sabendo exatamente quem iria encontrar.
— Oi, . — Sorriu fraco, ato que não passou despercebido pelo homem. Ele adorava o sorriso largo que ela sempre mantinha nos seus lábios macios que ele já havia tido o prazer de provar.
— … me desculpe. — Coçou a nuca. — Eu fiquei com vergonha de te chamar logo de cara, pensei que talvez depois que o efeito do álcool passasse você não fosse mais querer.
— Que ideia idiota, . — Ela riu e o peito do homem voltou a ficar aliviado. — Eu já te disse que só estava um pouco tonta, mas nada que afetasse meu discernimento… — Ergueu as sobrancelhas, encarando-o e deixando bem claro o quanto ela queria estar com ele. O homem molhou os lábios com a língua antes de falar.
— Sendo assim, eu passo na sua casa amanhã às 19h.
— Combinado, paramédico. — Ela piscou para ele, assistindo o homem distanciar-se de si até estar fora do hospital.
— Quem era o bonitão? — a questionou enquanto dirigiam de volta até o batalhão. — Não adianta fazer essa cara de desentendida, eu vi com meus próprios olhos. — bufou antes de responder.
— Lembra do paramédico do chamado da minha conselheira? É ele.
— O cara muda sua vida e você ainda o pega? Minha meta é ser você quando eu crescer. — não conseguiu segurar a gargalhada que se desprendeu de sua garganta.
— Não foi nada planejado, mas foi muita coincidência sim. Primeiro no chamado, depois na sede do CBLA, na minha formatura, no evento beneficente… — enumerava as “coincidências” da vida, mas foi interrompida pela colega.
— Espera! Ele estava no evento? Foi por isso que você sumiu e foi embora antes que todo mundo! — Exclamou como se tivesse descoberto um segredo de Estado. sentiu o coração pesar por alguns segundos.
— Mais alguém percebeu? — O tom de voz denunciava o quão assustada ela estava se sentindo.
— Até parece, pegadora! Os caras são muito lentos… mas nada passa despercebido por !
— Que medo disso… — riu.
— Fica tranquila, . Seu segredo está a salvo. — Piscou. — Mas você precisa me apresentar algum amigo dele.
Cabisbaixa, pegou o celular para digitar a mensagem que não queria ter de escrever, mas seu dever estava acima de tudo.
“, vou ter que dobrar o turno hoje. Sinto muito :( e espero que possamos remarcar!”
“Que coincidência! Meu capitão me pediu a mesma coisa, estava para te mandar mensagem agora… É claro que vamos remarcar!”
A mulher sorriu fraco para a tela do celular antes de colocar o aparelho no modo silencioso para que pudesse tentar tirar uma soneca antes de enfrentar mais 24h de trabalho.
— Você só pode estar de brincadeira. — A mulher tinha os braços cruzados na frente do peito, mas sua expressão era de divertimento.
— Eu não acredito! De novo?!?! — O tom de voz era de indignação, mas ele sorria.
— Não tenho sossego nem na minha folga e nem no mercado, oh vida cruel! — Ambos riram.
— Sabe a frase “quando a vida te der limões, faça uma limonada?” — Viu fazer um gesto positivo com a cabeça. — Vamos aproveitar e almoçar no restaurante que tem aqui dentro?
— Com esses ingredientes eu normalmente faço um Lemon Drop Martini, mas um almoço não é nada ruim.
Deixaram os carrinhos de compra na área destinada e adentraram o restaurante italiano. Optaram por pedir uma massa carbonara para cada um e se contorceu em uma careta de dor ao ouvi-lo dizer que ela melhor eles pularem o vinho àquela hora do dia.
— A gente pode tomar vinho à noite. — Ele sugeriu.
— Eu acho ótimo…, você já percebeu que a gente tá sempre se esbarrando?
— É meio bizarro, mas eu juro que não sou nenhum stalker.
— Até porque stalkers sempre assumem quem são, né? — Riu e o ouviu rebater.
— Mas eu não sou mesmo!
— Por enquanto eu acredito em você.
— Me sinto bem melhor agora. — Ele suspirou, aliviado.
— Eu preciso te alertar sobre uma coisa. A , que é minha parceira na ambulância, sabe sobre nós. Não é como se eu tivesse contado, mas ela nos viu aquele dia no hospital e eu não resisti a pressão… Além de ela ter ligado os pontos sobre os acontecimentos naquela noite do evento. — Sentia-se um pouco envergonhada, mas preferia que ele ficasse sabendo por ela.
— Sem problemas, . Meu colega Howard também sabe sobre nós… — Ele admitiu e a mulher não pode controlar o quentinho que tomou conta de seu coração.
— Só te contei porque ela é meio maluquinha e caso a gente se esbarre num chamado ou no St. Thomas ela pode fazer alguma piada e eu não queria que você fosse pego de surpresa. Além disso, ela também quer que você apresente algum amigo a ela. — Os dois riram da última frase.
— A gente vai ter que fazer um encontro duplo para juntar o Howard e ela. Eles vão se dar muito bem… Pelo que você me diz a é o Howard, só que com peitos.
— Vamos fazer isso acontecer! Mas só depois que estivermos bem alimentados.
— Concordo… Mas é engraçado pensar que a gente nem teve nosso primeiro encontro oficial e já estamos agindo como cupidos. Aliás, que tal aproveitarmos nossa folga e reagendarmos para hoje à noite?
— Perfeito! Mas pelo atraso eu não espero nada menos do que duas garrafas de um bom vinho. — Nesse momento, o garçom posicionava o pedido deles na mesa e nem ele conseguiu disfarçar a risadinha por conta do comentário da mulher.
Às 19h em ponto tocou o interfone do apartamento que dividia com Athena.
— É bom saber que você é pontual. — Ela comentou assim que o viu parado no portão. Sabia que seria difícil o clima entre os dois ficar estranho, mas pensou que quebrar o gelo não faria mal algum.
— Por mim eu teria vindo direto do almoço… — Riu.
— Eu teria adorado. — Ela confidenciou.
Sem se importar com o fato de estarem na calçada pública, puxou a mulher para si. Encararam-se sorrindo por alguns segundos antes de se entregarem em um beijo num misto estranho de desejo, descoberta e saudade.
Entraram no carro e antes de ligá-lo, ele se pronunciou.
— Gosto de ser sincero num primeiro encontro, então vou admitir que não acreditava em destino, mas você chegou e mudou minha percepção… Depois de tantos encontros marcados pelo destino, acho que já está na hora de assumirmos o controle da nossa situação… O que você acha?
sorriu e entrelaçou os dedos de sua mão na dele, num claro “sim.”.
*Cenas iniciais e discurso do paramédico baseados no nono episódio da segunda temporada do seriado 9-1-1, intitulado “Hen Begins”.
Fim.
Nota da autora: Tem alguma fã de 9-1-1 aqui? Em caso positivo, espero que deixem eu me explicar antes. Eu tive o gatilho para essa fanfic enquanto assistia um dos melhores episódios desse seriado, mas tive que adaptar a ideia, pois não me sentia apta a retratar toda a luta pela qual a Hen passou quando entrou no LAFD. O importante é que ela foi a musa inspiradora dessa história. Girl Power é pouco para ela, né? :)
E sim, eu fiz um mix entre personagens de 9-1-1 e Chicago Fire... Ai ai, ‘tô rindo de mim mesma. Eu tinha planejado uma história bem curtinha, mas como sempre a Lala foi me dando ideias e chegamos nesse resultado, que eu amei e espero que vocês sintam o mesmo ♥
Outras fanfics:
● 02. Can’t Keep My Hands Off You ● 02. My Best Habit ● 03. Daylight ● 10. Superstar ● 11. Doin Dirt ● 14. Easier Said ● Around Here ● Taça do Amor ● Turma de 2003 ● Turma de 2003: Após o Reencontro
Nota da beta: Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
E sim, eu fiz um mix entre personagens de 9-1-1 e Chicago Fire... Ai ai, ‘tô rindo de mim mesma. Eu tinha planejado uma história bem curtinha, mas como sempre a Lala foi me dando ideias e chegamos nesse resultado, que eu amei e espero que vocês sintam o mesmo ♥
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