Capítulo Quinze
Eu estava encarando pelo que me parecia uma hora, mas eu sabia que não tinha se passado nem um minuto. Respirei fundo e abaixei o rosto, nervosa com seu olhar tão intenso em mim. Quando achei que ele não falaria nada e ficaria imóvel por mais tempo, senti sua mão em meu queixo, me obrigando a encará-lo. Assim que meus olhos encontraram os seus, fiquei sem ar.
me olhava com tanta força e paixão que seus olhos pareciam brilhar e sair faíscas. Eu não sabia o que ele me diria a seguir, mas a resposta sobre seus sentimentos eu já enxergava, porque estava ali. Ele também gostava de mim, na verdade, parecia até algo muito maior e mais profundo.
Vi , então, passar a língua nos lábios e segurar meu rosto com as duas mãos, antes de se curvar e falar em meus ouvidos:
— — disse tão baixinho e tão próximo que meu corpo inteiro arrepiou.
Depois disso, puxou-me para perto e me beijou com tanta intensidade que senti como se fosse capaz de voar.
Então era assim que a gente se sentia quando gostava verdadeiramente de alguém? Era disso que Jane tanto falava ao argumentar que eu não podia falar de amor porque nunca havia sentido de verdade? Eu podia discordar da minha irmã muitas vezes, mas ali, com minha boca colada na de , eu precisava assumir que naquele ponto ela tinha razão.
Eu me sentia capaz de voar, era como se eu fosse explodir e me tornar um milhão de estrelas a cada vez que sentia seus lábios nos meus. E o beijo, delicado e calmo, estava ótimo, mas eu precisava de mais aquilo. Então, coloquei minha língua em seus lábios e uma nova onda de emoções me arrebataram.
Aparentemente as emoções que me inundavam também tomavam conta de , porque senti seu corpo inteiro arrepiar assim que deixei que sua língua encontrasse a minha. Segundos depois senti suas mãos, que antes me tocavam com uma ternura quase angelical, se tornarem mais fortes e irem para os meus cabelos.
— Eu esperei tanto por este momento, . Tanto que não consigo te explicar — ele falou enquanto me encarava e me puxava para outro beijo, dessa vez, muito mais firme.
— Pode não ter parecido, mas eu também — comentei, rindo com os lábios encostados no seu.
No fundo eu sempre soube que sentia algo por , mas nunca tinha dimensionado como seria beijá-lo daquela forma. Sem receios, meias palavras ou interferência de terceiros.
Ter assumido aquilo também fez rir. Mas além disso, minhas palavras pareceram deixá-lo em chamas. Uma de suas mãos partiu para minha cintura e em segundos me vi encostada na parede, mas com o corpo tão junto do dele que não eu conseguia saber a separação entre nós.
Eram os toques mais lindos e puros que alguém poderia querer. me queria ali, colada nela, mas ao mesmo tempo era carinhoso e cuidadoso. Ele não me tocava apenas como um príncipe, mas como se eu fosse sua princesa.
Desci as mãos para o seu corpo e só então lembrei que ele estava sem camisa. Senti os gominhos da sua barriga, nada muito elevado, mas ainda assim eu estava maravilhada. Sentir sua pele era algo magnífico.
Ele aprovou meu toque, mas no segundo seguinte disse:
— Eu acredito que seja melhor pararmos um pouco — falou com a voz sofrida e eu apenas concordei, incapaz de falar.
Ele caminhou para uma das poltronas presentes no seu enorme quarto e se sentou. Só então me permiti olhar como era aquele ambiente.
O quarto de era muito maior do que eu imaginava. Eu já achava o que eu tinha ali gigante, mas vi que nada naquele palácio era impossível.
— Caramba, aqui é enorme. E eu achando que o quarto que tenho aqui era o maior do mundo.
riu um pouco sem jeito.
— E para falar a verdade, os dos meus pais são ainda maiores.
Fiquei um pouco surpresa até lembrar que já sabia que ali o rei e a rainha tinham quartos separados, mas que possuíam uma passagem.
— Nunca concordei com dois quartos separados — comentei, e já estava me arrependendo quando ele respondeu.
— Também não. Mas depois de um tempo, compreendi ao menos a necessidade de que os criados de ambos não ajudassem na troca de roupas no mesmo quarto.
Ele tinha um ponto.
— Mas tirando este momento, não tenho justificativa — ele emendou.
— E nada que uma boa logística não possa dar conta — brinquei.
— Também há outros quartos assim, para o caso de meu irmão e eu casarmos e continuarmos aqui, mas sendo franco, nunca foi minha ideia de casamento perfeito. Sonho em ter minha esposa todas as noites ao meu lado, um casamento comum de um casal comum e muito apaixonado.
Sorri com seu sonho. Era bonito e diferente do que eu esperava da realeza, mas não diferente do que eu esperava dele.
— Cresci vendo meus pais apaixonados e sempre juntos, acho que não me acostumaria com algo diferente. Meu sonho é um dia amar alguém como os dois se amam.
— Já eu não posso dizer o mesmo — ele comentou um pouco mais baixo, e só então percebi a besteira que eu tinha feito.
— Me desculpe, . Não pretendia te chatear — me aproximei dele enquanto me desculpava.
acabou sorrindo e, como se soubesse que seu sorriso tinha feito das minhas pernas gelatinas, puxou-me para sentar em seu colo na poltrona.
— Não precisa se desculpar. É sempre bom saber de casais que se amam, me mostra que não quero algo utópico. E, além disso, devo confessar que esse assunto não importa tanto agora.
— E o que importa? — indaguei um pouco sem ar quando seu olhar cravou no meu.
— Saber o que te trouxe até aqui — ele disse, com a voz séria e o olhar profundo.
— As meninas que trabalham comigo — tentei brincar, mas não caiu.
— Você me entendeu.
— Eu não sei se quero falar sobre isso — confessei enquanto sentia toda raiva que escolhi ignorar, desde que saí do quarto de Olívia, vir à tona.
— Eu acho que você está nervosa — ele constatou, passando os braços por meus joelhos e me puxando para mais perto dele.
Era melhor eu contar, não era? Ele precisava saber o quanto aquela Seleção mexia comigo.
— Briguei com e parte disso tinha a ver com meus sentimentos por você.
me olhou confuso e talvez um pouco dolorido.
— E isso te fez ficar com raiva e vir até aqui?
Não tinha acusação em sua voz. Ele só parecia querer ter certeza do que me levara a falar que gostava dele.
— Não! — me apressei em dizer. — Como eu disse, apenas parte disso tinha a ver com meus sentimentos por você. E o que me fez vir aqui foi entender meu lugar dentro da Seleção.
— Como assim? — perguntou, interessado, e eu sorri.
tinha um dom recém-descoberto por mim. Ele se interessava verdadeiramente pelo que eu falava e sentia. E isso me dava uma calma e segurança jamais alcançada desde que minha vida mudou.
— Sendo muito franca com você, em boa parte do tempo eu odeio isso tudo. As normas, pessoas, jogos, mentiras e meias verdades. Mas isso não é o que mais me incomoda.
Fiz uma pausa, e os olhos de , tão sinceros e interessados, me incentivaram a continuar. Tive medo do que ele poderia falar quando coloquei para fora a verdade, mas não havia julgamento, apenas um homem completamente disposto a escutar a mulher que gostava.
— O que mais me incomoda aqui são meus próprios sentimentos. Eu não sei como administrar a amizade que tenho com as meninas quando no meio disso elas podem ir embora e ainda temos que competir. Agora mesmo, estou amando estar aqui, mas sei que minhas amigas, se soubessem, estariam tristes por si próprias. Olivia era uma das garotas mais bem preparadas para ganhar esta competição, mas se eu gosto de você, precisava que ela não ganhasse. Ao mesmo tempo, meu coração se encontra em pedaços por ter que me despedir, porque no fundo eu queria que ela ficasse. Que todas ficassem.
— Você se sente traindo-as — ele constatou e me deu um abraço apertado. — Eu sinto muito, . Se serve de consolo, tudo que eu mais queria era ter te encontrado em outras circunstâncias.
Suas palavras eram lindas e sinceras, mas ouvi-las também me deixou com o coração menor. Nós dois sabíamos que havia chance de nos desencontrarmos naquele jogo.
— Eu não quero ter que deixar você, mas também não quero competir por você, entende? Nessa parte de competição, o que mais me acalma é saber que não é exatamente por você.
franziu o cenho, parecendo confuso.
— Não?
— Você sabe que não — respondi, sincera. — Você é mais que apenas , e nós, para você, somos mais do que simples garotas. Nós somos o elo que havia se quebrado entre a coroa e o povo. E quem ganhar, será para sempre esse elo. Vocês precisam desta garota.
Percebi que queria, mas não conseguia discordar. Ele ainda abriu a boca algumas vezes antes de apenas dizer:
— Continue.
— Você é a coroa. É o príncipe que boa parte do país sonhou ao escutar contos de fadas. É a chance que muitas garotas nunca tiveram. É a oportunidade de dar a essas garotas uma razão para mudar o mundo. É também, infelizmente, o poder que o só um trono pode tornar real.
— Sendo sincero, isso não me consola. Isso me deixa nervoso.
— Compreendo, mas a mim serve de algum consolo. Porque percebo que tá tudo bem querer ganhar, que não se trata de lutar apenas por algo que não controlamos.
— E foi essa mistura de sentimentos que te fez brigar com a senhorita ? — ele retomou o assunto inicial, e eu me encolhi.
Era difícil acreditar que alguém que você conhecia há uma vida inteira podia te machucar de forma tão proposital. Não havia apenas raiva no olhar de quando ela me disse aquelas coisas – porque se fosse só isso, eu poderia deixar passar. Mas eu vi cálculo, intenção, e para minha tristeza ainda maior, só não encontrei arrependimento.
— me conhece há mais tempo do que sou capaz de lembrar. É a pessoa que mais me conhece no mundo, eu acho. Mas ela não titubeou ao trazer assuntos de fora para me machucar.
— Não conheço a senhorita como conheço você, mas o que posso dizer é que isso tudo será resolvido, e é pra isso que torço. Ela não é uma moça ruim, na verdade, é uma pessoa muito boa.
Encarei-o, curiosa. Não esperava que ele fosse defendê-la.
— O que te faz pensar isso? — fui incapaz de conter a pergunta. Não me enciumava ele pensar aquilo, mas me deixava curiosa quanto à proximidade deles.
— A primeira vez que de fato conversei com ela foi quando te beijei, na noite do baile para os italianos. A senhorita viu tudo, e quando eu estava indo embora, a encontrei. E foi a primeira vez que vi, de fato, o que a Seleção era capaz de fazer com as garotas que receberiam meu “não”. Mas ainda que machucada, ela foi capaz de me escutar e me compreender. Foi a primeira vez que não me senti julgado desde que tudo começou.
Fiquei sem palavras. Eu sabia o quanto nós dois tínhamos nos magoado naquela noite, e, ao mesmo tempo que ficava feliz por alguém tê-lo escutado, meu coração apertava porque fui eu quem havia causado o problema.
— Não duvido que as coisas consigam se resolver, mas acredito que este não é o momento para falarmos das minhas amigas.
sorriu travesso, e minha barriga fez um loop.
— De fato. Acredito que temos outras prioridades.
Sem dizer mais nada, me virou para si e voltou a me beijar.
Conforme os beijos avançavam, minha vontade era me encaixar ainda melhor naquela cadeira, mas eu sabia que não seria uma decisão esperta. Eu estava amando aquele momento, mas não poderia perder o controle.
Depois de mais beijos ofegantes, abraços apertados e muitos sorrisos incrédulos por estarmos ali, bem e felizes, achei que era a hora de me despedir.
— Acredito que seja melhor eu ir embora agora.
fez menção de protestar, mas não falou nada. No fundo, eu não queria ir embora, por isso o incentivei a falar.
— Você ia dizer alguma coisa? — perguntei, querendo que ele conseguisse me convencer a ficar.
Eu podia não gostar das regras daquele lugar, mas isso não significava que eu não procurasse conhecê-las. Naquela altura da competição, chegava a ser impossível não saber a maioria delas. E uma das principais era que não tínhamos autorização para dormir nos mesmos aposentos do príncipe.
Eu não pretendia fazer nada mais que dormir abraçada com ele, mas ainda assim, sabia que não poderia. Porém, tinha esperanças de que ele me pedisse e me garantisse que daria um jeito em tudo. Só que, sendo um príncipe, isso não aconteceu.
— Eu... — “Quase lá, é só você falar”, pensei, mas em vez disso, bufou. — Eu também acho que já está na hora.
Acabei sorrindo, sem esconder minha frustração.
— O que houve? — ele perguntou, confuso.
— Seria mentira se eu não falasse que esperava que você tentasse me convencer a ficar um pouco mais.
aproximou-se de mim e me deu um beijo carinhoso na testa que conseguiu mexer com todo meu corpo e coração. Mais até que nossos beijos mais intensos daquela noite.
— Sei que você não gosta muito das regras, mas elas precisam ser seguidas. Eu sou um homem que segue as regras.
riu quando falou isso, mas em mim aquilo não foi capaz de produzir risos. Também não me tirou da bolha de felicidade e amor, mas foi um lembrete indesejado de que uma vida ao seu lado era muito diferente daquela que eu desejava antes de entrar na Seleção.
👑👑👑
Não consegui ver o príncipe no dia seguinte à noite em que nos declaramos um para o outro, mas isso não significava que ele não tinha sido presente. Além de dominar quase todos os meus pensamentos, recebi um bilhete seu ao acordar e outro ao dormir. O da noite me fez suspirar como uma adolescente bobinha.
“Eu só queria te desejar um boa noite e lhe dizer que estou pensando em você. Inclusive, isso quase me trouxe problemas em uma das reuniões, mas acho que não posso controlar.
Do seu ”
No dia seguinte a este, fomos surpreendidas com a presença da família real em nosso café da manhã. Já fazia alguns dias que eles não comiam conosco.
— Devo me desculpar por estarmos tão ausentes nos últimos dias, senhoritas. Infelizmente estamos com alguns assuntos pendentes que não podemos esperar. Mas fico feliz em dizer que o príncipe estará mais presente esses dias — o rei disse, parecendo se esforçar para parecer sincero.
Eu sabia que ele não sentia muito. Algo no jeito que ele nos olhava entregava o quanto ele não se importava de fato conosco. Mas obviamente seu objetivo havia sido alcançado com a maioria de nós, porque vi muitas garotas ficarem muito agradecidas pelas palavras.
— Você já convidou alguma dessas senhoritas para sair hoje à tarde, ? — o príncipe George perguntou de súbito e deixou um sorriso debochado escapar quando lhe encarou, parecendo controlar o incômodo.
— Ainda não, George.
— Posso escolher? — príncipe George indagou provocativo, e quando o olhei, logo entendi que eu também estava envolvida naquilo.
Ele me olhou e sorriu de um jeito tão íntimo que suspeitei ter perdido alguma parte do assunto, visto que ele me encarava como se compartilhássemos algum segredo que eu desconhecia.
— Não seja bobo, George — a rainha Daisy falou e sorriu carinhosamente para o filho.
— Eu acho uma boa ideia. O está mais devagar do que deveria — o rei deixou escapar, e todos a mesa baixaram o olhar.
— Bom, eu acredito que isso é um sim — o príncipe George falou em tom brincalhão.
Não sei até que ponto aquilo era felicidade por irritar o irmão e quanto era apenas para esquecermos o comentário do pai.
— Bom, senhoritas, acho que quem tem irmão consegue me entender. Não é uma vida fácil — brincou, mas eu via que ele estava nervoso.
Eu também estava.
— Seu encontro hoje à tarde será com a senhorita .
Não era o que o rei esperava. Seu maxilar trincado ao escutar meu nome e olhar para o filho mais velho deixava isso claro, mas rapidamente ele se recompôs e colocou um sorriso no rosto.
— Desejo uma ótima tarde para vocês. Infelizmente não terá câmeras, porque está muito em cima, mas a senhorita não se importa, não é?
Eu de fato não me importava, até preferia. Mas eu sabia por que ele estava falando aquilo – era só uma forma de não me dar tempo de tela no programa.
— Claro que não, Majestade. O importante é aproveitarmos juntos este momento — falei, e me encarou perplexa.
— , se controle — falou baixinho.
Sobre nós duas, as coisas ainda não estavam normais, mas isso não impedia Melissa de nos juntar como se nada tivesse acontecido. “Vocês não podem deixar uma besteira dessas acabar com tudo”, Melissa me disse, e tenho certeza de que disse a também.
Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, o rei disse:
— Concordo, senhorita .
A verdade era que eu não havia dito aquilo para provocá-lo ou desafiá-lo. Assumir para que gostava dele fez com que muitas coisas mudassem, e uma delas era não ter mais problema em assumir que gostaria de ter um tempo a sós com ele. Eu apenas deixei que a felicidade que me invadia por estarmos tão bem escapasse no momento errado.
Eu já estava pronta quando o príncipe chegou em meu quarto.
— Vou logo avisando que não garanto ter coragem para subir em um cavalo — falei assim que saí do quarto.
riu.
— Sei disso, então iremos até eles e, por hora, nos contentamos em conhecê-los e visitar o estábulo, tá bem? Se você se sentir confiante, subimos. É só que amo cavalos e eu queria que você conhecesse essa parte de mim.
— E o que é isso em seu pescoço?
— Uma câmera fotográfica. Quero registrar esses momentos.
— Ai de você se tirar uma foto minha caindo do cavalo, Alteza — brinquei e, ao mesmo tempo, sentenciei.
Assim que cheguei ao estábulo, fiquei encantada pela quantidade de cavalos que moravam ali. Todos, sem exceção, eram lindos e grandes, assim como nos contos de fadas que lemos quando crianças. Mas isso não significava que eu tinha coragem de montar neles.
— Posso te garantir que eles são muito calmos — disse e eu rolei os olhos.
— Isso não anula o fato de que não sei montar.
Em resposta, ele tirou uma foto minha e sorriu.
— Ei, você não pode fazer isso, não — protestei e vi o príncipe dar de ombros. Estanquei no lugar sem acreditar. — Você fez mesmo o que acabei de ver? — perguntei, perplexa, e ele sorriu.
— Do que você está falando?
— Você deu de ombros? Tipo, você deu de ombros assim como qualquer pessoa normal faz? Você está doente ou algo do tipo?
caiu na gargalhada, uma risada tão gostosa que até o cavalo ao meu lado pareceu gostar, fazendo um barulho que também era engraçado.
— Se isto te choca tanto, posso parar.
— Jamais! Acho que nunca te vi tão humano desde que nos conhecemos.
— Você deveria parar de julgar, . Não há apenas uma forma de viver a vida, e eu não deixo de ser humano porque não dou de ombros — falou isso evitando meu olhar, entregando assim que aquilo de fato havia o incomodado. Me aproximei dele e segurei seu braço antes de me desculpar.
— Me desculpe, sei que preciso me expressar melhor — confessei.
Recebi um sorriso preguiçoso que entregava que eu havia sido desculpada. Sem pensar muito, sorri de volta e enrolei meus braços em seu pescoço antes de lhe dar um beijo.
não esperava pelo beijo, e eu sabia disso porque primeiro ele riu e só depois me beijou de verdade. Beijá-lo deixou meu corpo inteiro com a sensação de que eu estava flutuando. E foi bom saber que embora o sentimento fosse de estar vivendo um sonho, nosso beijo era real, tão real quanto o que eu sentia por ele.
— É tão bom te ter aqui, . Te ter em meus braços é maravilhoso.
Depois de dizer isso, correu para a porteira de um dos estábulos e apoiou a câmera lá.
— O que você tá fazendo? — perguntei, intrigada.
— Só quero registrar você em meus braços. Assim, durante a noite, posso olhá-la e lembrar que não foi um sonho qualquer.
Sorri e senti meu rosto ficar quente. Um constrangimento bom e que vinha da sensação desconhecida por mim até então: estar apaixonada.
Assim que ele ficou ao meu lado, passou um dos braços pela minha cintura e me puxou para um beijo profundo e urgente, que em nada parecia ser apenas para uma foto, mas sim um beijo de um homem que precisava me ter ali, perto dele para sempre.
👑👑👑
Tinha acabado mais um Jornal Oficial com nossa presença e tinha eliminado mais quatro garotas. O número não era pequeno, mas por ele seria ainda maior. Ele tentou argumentar com o pai de diminuir ainda mais, mas o rei não aceitou. E, ainda que e eu não tivéssemos conversado sobre o motivo, eu sabia qual era, nós dois sabíamos.
A Seleção estava crescendo e sua força estava ficando tão grande que o príncipe George fora recebido com flores em um evento em Clermont, onde nunca havia sido amado. Os jornais, sabiamente, atribuíam isto ao programa. E os cartazes pedindo o príncipe em namoro comprovam que, quanto mais tempo de seleção, mais esperança surgia na população. Não era inteligente mandar tanta gente para casa de uma vez só, justo quando o povo parecia acreditar que qualquer garota poderia se tornar rainha.
— Não sei se gosto da ideia de estar em um evento tão grande e público como o que vamos semana que vem — comentei com minhas amigas.
— Nós somos adoradas, . Eu acho que vai ser o máximo — Melissa falou, rindo, e Elllie acabou rindo também.
— Seremos verdadeiras celebridades.
Depois de tantas tentativas de Melissa, e eu acabamos com o clima ruim que havia entre nós e éramos as mesmas de antes. Não havíamos conversado sobre aquela briga, apenas nos desculpamos uma com a outra e seguimos. Era mais fácil assim; voltar para aquelas palavras poderia complicar tudo.
— Aí é que está. O povo está adorando este programa, e agora somos mais a cara da realeza do que a própria família real. E se um dia a coroa fizer algo que eles não concordam? Tudo virá contra nós.
— Algo tão ruim que os faça esquecer da magia da Seleção? Acho difícil — ponderou sobre a situação. — Se um dia o povo ficar com tanta raiva da coroa, tenho certeza de que a Seleção já estará finalizada, então, apenas uma de nós terá que se preocupar com isto. Ou seja, não haverá problema algum no evento. E, se querem saber, eu não tenho problemas em ter que lidar com o futuro — falou, risonha.
e eu estarmos vivendo um romance não tirava sua obrigação de marcar encontros e ser educado com todas. Ele, indiretamente, já havia me dito que o programa acabaria quando eu quisesse, mas estávamos naquela situação havia apenas quinze dias e eu ainda não tinha certeza se estava pronta para o pacote que vinha com ele.
As meninas e eu não falávamos tanto sobre nossos encontros. Isto tinha sido decidido sem que nenhuma precisasse falar, mas eu acreditava que era realmente o melhor. Assim a gente não se machucava. Mas, pelas poucas informações que tinha, eu sabia que e eram próximos o suficiente para que ele a achasse confiável e para que ela continuasse acreditando que a Seleção não tinha seus dias contados.
— De certa forma, ela tem razão — Melissa falou com seu tom enfadado de sempre, e acabei rindo.
É, pensando por este lado, eu nem tinha certeza se precisava me preocupar.
Depois de conversar mais um pouco com as garotas, tomei o rumo que já tinha decorado: o do quarto de . Nós achávamos que ele vir com tanta frequência ao meu quarto poderia deixar as meninas incomodadas, então pedi que as meninas que trabalhavam me levassem mais vezes ao quarto dele até ter decorado o caminho.
Eu não dormia em seu quarto, tampouco fazia algo mais que lhe beijar e ficar abraçada a ele enquanto ríamos baixinho de alguma piada interna com medo de sermos pegos. É que aquelas poucas horas que passávamos sozinhos eram suficientes para que pudéssemos recarregar as energias.
— Já estava pensando que você não viria — falou assim que entrei em seu quarto sem nem bater.
— Te falei que depois do jornal nós temos um ritual de ficarmos juntas. É nossa maneira de digerir as eliminações.
— É... Eu também tenho meu modo de digerir.
Sorri para ele na tentativa de confortá-lo. Eu sabia que embora fizesse parte do jogo, não gostava das eliminações. Eu percebia que ele acabava carregando sobre si o peso do sonho de todas nós. E não importava se eu argumentasse que ele não precisava levar tudo aquilo sozinho, era esse o jeito dele. Amava o seu povo e nós éramos parte dele, uma parte que tinha contato direto com ele. E verdade seja dita, éramos uma parte que ele acabaria machucando.
— Vou me trocar e já volto — lhe avisei enquanto seguia para o seu banheiro.
Esse era outro segredo nosso – e de Stephany e Abigail, é bem verdade. Se eu me trocasse e fosse pega rondando pelo palácio àquelas horas, eu não teria desculpas. Então, sempre ia ao seu quarto com a roupa que estava, pronta para argumentar que estava tomando um ar para digerir o dia.
Foi ideia de levar uma roupa minha para lá, para quando eu estivesse com vestido de gala, como estava aquele dia. E foi ele quem levou a muda de roupas. Eu achava fofo, cuidadoso e amoroso, mas esta última parte eu tentava justificar de outra forma.
Assim que saí do banheiro, fui até sua cama e ele logo falou:
— Você viu as eliminadas antes de elas irem embora?
— Só a Courteney. Hope, Nina e America preferiram sair sem se despedir.
— Eu odeio ver a frustração e a raiva nos olhos delas — confessou, também frustrado.
Fiquei em silêncio porque achava que era mais reconfortante para ele. Depois de alguns minutos, ele voltou a falar:
— Mas falando de coisa boa, tenho algo para te mostrar — pulou da cama e correu sorridente para abrir uma das gavetas da cômoda. Tirou de lá o que parecia um envelope. — Eu pretendia guardá-las só para mim, mas você está tão linda nelas que precisava te mostrar.
Abri um envelope e lá tinha algumas fotos minhas, nossas e dos cavalos. Eram fotos do nosso último passeio.
— As fotos estão lindas, — arfei. Porque de fato estavam lindas, tão lindas que pareciam terem sido tiradas por um profissional. — Eu não sabia que fotografava tão bem assim. Onde aprendeu?
Ele sorriu sem jeito, um sorriso que eu havia descoberto que amava.
— Meu avô gostava disso e me ensinou antes de morrer. Falou que aprendeu com o avô também, o rei Maxon. Me contou que seu avô tinha um álbum para cada ocasião importante de sua vida, inclusive, tinha um com todas as garotas selecionadas para sua seleção. Mas a verdade era que quem dominava suas lentes era a rainha America. Ele tinha um milhão de álbuns sobre ela.
— Que história linda. Você também está fazendo um álbum das selecionadas?
— Meu pai sempre odiou que eu fotografasse, então não mostro isso a muita gente. O que significa que você foi a única selecionada que foi fotografada por mim.
Dei de ombros e discordei do seu ponto.
— Seu pai não sabe do que está falando. Você deveria fotografar na frente de quem você quiser, afinal, tem muito talento. E isso te liga ao seu avô, e também ao rei Maxon. Tem muita importância.
correu novamente para a gaveta e tirou a câmera de lá, antes de falar enquanto ria:
— Acontece, senhorita , que a única garota que quero fotografar é você — e, então, tirou uma foto minha sem que eu tivesse tempo para impedi-lo.
Eu queria pular em cima dele e roubar sua câmera, mas não podíamos fazer barulho, então apenas me cobri depois disso, em protesto.
Segundos depois percebi, pelo balançar do colchão, que vinha ao meu encontro.
— Você ficou linda — e me mostrou o visor da câmera.
— Se você diz — falei, fingindo não olhar a foto.
— Não sou eu quem digo, é a câmera. E você também tem que dizer.
— Dizer o quê? Que fiquei linda?
— Sim — ele disse categoricamente. — Adoraria te ver assumindo o óbvio. Na verdade, queria que você me dissesse tantas coisas, .
Nós não estávamos mais falando das fotos, eu sabia.
— ... — falei, ainda mais baixo do que já falávamos naquele quarto que virou nosso esconderijo.
— Uma frase, . Um “eu estou pronta” e o mundo saberá tudo que sinto por você.
Eu não gostava do rumo daquela conversa, mas sabia que ele tinha o direito de tê-la.
— Você sabe que é complicado, lembra do último baile? Eu não aguentei nem a pressão do seu pai. Fora que tem outro baile chegando, temos mais três dias e então veremos como me sairei neste.
— Só lembra que confio em você e te acho mais que pronta, tá? E você não precisa se comportar exatamente como meu pai quer, sequer serei rei. As coisas serão mais fáceis.
Eu também vinha me agarrando àquele argumento usado por . As coisas não seriam tão ruins assim.
Como resposta a seu argumento, me aninhei em seu corpo e suspirei. Eu iria pensar mais naquele assunto.
Porém, cerca de trinta minutos depois, quando eu já estava pronta para me despedir de , porque estava prestes a cair no sono ali mesmo. Vi a porta de seu quarto abrir de súbito e pulei da cama como se ela estivesse em chamas.
— Mas o que está acontecendo? — indagou, assustado, enquanto encarava o irmão que tinha acabado de entrar.
— Me desculpem por interromper, mas eu preciso falar de assunto que é do interesse de vocês dois — ele disse enquanto nos encarava, parecendo assustado.
Isso era incomum. Eu nunca havia visto o príncipe George assustado. E ele estava. Muito.
— Vocês? — foi tudo que consegui dizer.
— Não acharam que eu não havia percebido suas escapadas, né? Achei que aquela minha sugestão de passeio tivesse deixado isso claro. Eu sempre soube e vocês têm minha benção, cunhadinha.
— Você invadiu meu quarto sem autorização e faz joguinho conosco. Não estou com paciência, George. Vá direto ao ponto.
E eu poderia esperar qualquer coisa, mas jamais contaria com a possibilidade de escutar as palavras que estavam por vir.
— Conversei com nosso pai e preciso te contar. Eu vou abdicar do trono.
— O quê?! — praticamente gritei.
— Vou abdicar do trono, minha futura Majestade.
E foi aí que tudo desabou.
me olhava com tanta força e paixão que seus olhos pareciam brilhar e sair faíscas. Eu não sabia o que ele me diria a seguir, mas a resposta sobre seus sentimentos eu já enxergava, porque estava ali. Ele também gostava de mim, na verdade, parecia até algo muito maior e mais profundo.
Vi , então, passar a língua nos lábios e segurar meu rosto com as duas mãos, antes de se curvar e falar em meus ouvidos:
— — disse tão baixinho e tão próximo que meu corpo inteiro arrepiou.
Depois disso, puxou-me para perto e me beijou com tanta intensidade que senti como se fosse capaz de voar.
Então era assim que a gente se sentia quando gostava verdadeiramente de alguém? Era disso que Jane tanto falava ao argumentar que eu não podia falar de amor porque nunca havia sentido de verdade? Eu podia discordar da minha irmã muitas vezes, mas ali, com minha boca colada na de , eu precisava assumir que naquele ponto ela tinha razão.
Eu me sentia capaz de voar, era como se eu fosse explodir e me tornar um milhão de estrelas a cada vez que sentia seus lábios nos meus. E o beijo, delicado e calmo, estava ótimo, mas eu precisava de mais aquilo. Então, coloquei minha língua em seus lábios e uma nova onda de emoções me arrebataram.
Aparentemente as emoções que me inundavam também tomavam conta de , porque senti seu corpo inteiro arrepiar assim que deixei que sua língua encontrasse a minha. Segundos depois senti suas mãos, que antes me tocavam com uma ternura quase angelical, se tornarem mais fortes e irem para os meus cabelos.
— Eu esperei tanto por este momento, . Tanto que não consigo te explicar — ele falou enquanto me encarava e me puxava para outro beijo, dessa vez, muito mais firme.
— Pode não ter parecido, mas eu também — comentei, rindo com os lábios encostados no seu.
No fundo eu sempre soube que sentia algo por , mas nunca tinha dimensionado como seria beijá-lo daquela forma. Sem receios, meias palavras ou interferência de terceiros.
Ter assumido aquilo também fez rir. Mas além disso, minhas palavras pareceram deixá-lo em chamas. Uma de suas mãos partiu para minha cintura e em segundos me vi encostada na parede, mas com o corpo tão junto do dele que não eu conseguia saber a separação entre nós.
Eram os toques mais lindos e puros que alguém poderia querer. me queria ali, colada nela, mas ao mesmo tempo era carinhoso e cuidadoso. Ele não me tocava apenas como um príncipe, mas como se eu fosse sua princesa.
Desci as mãos para o seu corpo e só então lembrei que ele estava sem camisa. Senti os gominhos da sua barriga, nada muito elevado, mas ainda assim eu estava maravilhada. Sentir sua pele era algo magnífico.
Ele aprovou meu toque, mas no segundo seguinte disse:
— Eu acredito que seja melhor pararmos um pouco — falou com a voz sofrida e eu apenas concordei, incapaz de falar.
Ele caminhou para uma das poltronas presentes no seu enorme quarto e se sentou. Só então me permiti olhar como era aquele ambiente.
O quarto de era muito maior do que eu imaginava. Eu já achava o que eu tinha ali gigante, mas vi que nada naquele palácio era impossível.
— Caramba, aqui é enorme. E eu achando que o quarto que tenho aqui era o maior do mundo.
riu um pouco sem jeito.
— E para falar a verdade, os dos meus pais são ainda maiores.
Fiquei um pouco surpresa até lembrar que já sabia que ali o rei e a rainha tinham quartos separados, mas que possuíam uma passagem.
— Nunca concordei com dois quartos separados — comentei, e já estava me arrependendo quando ele respondeu.
— Também não. Mas depois de um tempo, compreendi ao menos a necessidade de que os criados de ambos não ajudassem na troca de roupas no mesmo quarto.
Ele tinha um ponto.
— Mas tirando este momento, não tenho justificativa — ele emendou.
— E nada que uma boa logística não possa dar conta — brinquei.
— Também há outros quartos assim, para o caso de meu irmão e eu casarmos e continuarmos aqui, mas sendo franco, nunca foi minha ideia de casamento perfeito. Sonho em ter minha esposa todas as noites ao meu lado, um casamento comum de um casal comum e muito apaixonado.
Sorri com seu sonho. Era bonito e diferente do que eu esperava da realeza, mas não diferente do que eu esperava dele.
— Cresci vendo meus pais apaixonados e sempre juntos, acho que não me acostumaria com algo diferente. Meu sonho é um dia amar alguém como os dois se amam.
— Já eu não posso dizer o mesmo — ele comentou um pouco mais baixo, e só então percebi a besteira que eu tinha feito.
— Me desculpe, . Não pretendia te chatear — me aproximei dele enquanto me desculpava.
acabou sorrindo e, como se soubesse que seu sorriso tinha feito das minhas pernas gelatinas, puxou-me para sentar em seu colo na poltrona.
— Não precisa se desculpar. É sempre bom saber de casais que se amam, me mostra que não quero algo utópico. E, além disso, devo confessar que esse assunto não importa tanto agora.
— E o que importa? — indaguei um pouco sem ar quando seu olhar cravou no meu.
— Saber o que te trouxe até aqui — ele disse, com a voz séria e o olhar profundo.
— As meninas que trabalham comigo — tentei brincar, mas não caiu.
— Você me entendeu.
— Eu não sei se quero falar sobre isso — confessei enquanto sentia toda raiva que escolhi ignorar, desde que saí do quarto de Olívia, vir à tona.
— Eu acho que você está nervosa — ele constatou, passando os braços por meus joelhos e me puxando para mais perto dele.
Era melhor eu contar, não era? Ele precisava saber o quanto aquela Seleção mexia comigo.
— Briguei com e parte disso tinha a ver com meus sentimentos por você.
me olhou confuso e talvez um pouco dolorido.
— E isso te fez ficar com raiva e vir até aqui?
Não tinha acusação em sua voz. Ele só parecia querer ter certeza do que me levara a falar que gostava dele.
— Não! — me apressei em dizer. — Como eu disse, apenas parte disso tinha a ver com meus sentimentos por você. E o que me fez vir aqui foi entender meu lugar dentro da Seleção.
— Como assim? — perguntou, interessado, e eu sorri.
tinha um dom recém-descoberto por mim. Ele se interessava verdadeiramente pelo que eu falava e sentia. E isso me dava uma calma e segurança jamais alcançada desde que minha vida mudou.
— Sendo muito franca com você, em boa parte do tempo eu odeio isso tudo. As normas, pessoas, jogos, mentiras e meias verdades. Mas isso não é o que mais me incomoda.
Fiz uma pausa, e os olhos de , tão sinceros e interessados, me incentivaram a continuar. Tive medo do que ele poderia falar quando coloquei para fora a verdade, mas não havia julgamento, apenas um homem completamente disposto a escutar a mulher que gostava.
— O que mais me incomoda aqui são meus próprios sentimentos. Eu não sei como administrar a amizade que tenho com as meninas quando no meio disso elas podem ir embora e ainda temos que competir. Agora mesmo, estou amando estar aqui, mas sei que minhas amigas, se soubessem, estariam tristes por si próprias. Olivia era uma das garotas mais bem preparadas para ganhar esta competição, mas se eu gosto de você, precisava que ela não ganhasse. Ao mesmo tempo, meu coração se encontra em pedaços por ter que me despedir, porque no fundo eu queria que ela ficasse. Que todas ficassem.
— Você se sente traindo-as — ele constatou e me deu um abraço apertado. — Eu sinto muito, . Se serve de consolo, tudo que eu mais queria era ter te encontrado em outras circunstâncias.
Suas palavras eram lindas e sinceras, mas ouvi-las também me deixou com o coração menor. Nós dois sabíamos que havia chance de nos desencontrarmos naquele jogo.
— Eu não quero ter que deixar você, mas também não quero competir por você, entende? Nessa parte de competição, o que mais me acalma é saber que não é exatamente por você.
franziu o cenho, parecendo confuso.
— Não?
— Você sabe que não — respondi, sincera. — Você é mais que apenas , e nós, para você, somos mais do que simples garotas. Nós somos o elo que havia se quebrado entre a coroa e o povo. E quem ganhar, será para sempre esse elo. Vocês precisam desta garota.
Percebi que queria, mas não conseguia discordar. Ele ainda abriu a boca algumas vezes antes de apenas dizer:
— Continue.
— Você é a coroa. É o príncipe que boa parte do país sonhou ao escutar contos de fadas. É a chance que muitas garotas nunca tiveram. É a oportunidade de dar a essas garotas uma razão para mudar o mundo. É também, infelizmente, o poder que o só um trono pode tornar real.
— Sendo sincero, isso não me consola. Isso me deixa nervoso.
— Compreendo, mas a mim serve de algum consolo. Porque percebo que tá tudo bem querer ganhar, que não se trata de lutar apenas por algo que não controlamos.
— E foi essa mistura de sentimentos que te fez brigar com a senhorita ? — ele retomou o assunto inicial, e eu me encolhi.
Era difícil acreditar que alguém que você conhecia há uma vida inteira podia te machucar de forma tão proposital. Não havia apenas raiva no olhar de quando ela me disse aquelas coisas – porque se fosse só isso, eu poderia deixar passar. Mas eu vi cálculo, intenção, e para minha tristeza ainda maior, só não encontrei arrependimento.
— me conhece há mais tempo do que sou capaz de lembrar. É a pessoa que mais me conhece no mundo, eu acho. Mas ela não titubeou ao trazer assuntos de fora para me machucar.
— Não conheço a senhorita como conheço você, mas o que posso dizer é que isso tudo será resolvido, e é pra isso que torço. Ela não é uma moça ruim, na verdade, é uma pessoa muito boa.
Encarei-o, curiosa. Não esperava que ele fosse defendê-la.
— O que te faz pensar isso? — fui incapaz de conter a pergunta. Não me enciumava ele pensar aquilo, mas me deixava curiosa quanto à proximidade deles.
— A primeira vez que de fato conversei com ela foi quando te beijei, na noite do baile para os italianos. A senhorita viu tudo, e quando eu estava indo embora, a encontrei. E foi a primeira vez que vi, de fato, o que a Seleção era capaz de fazer com as garotas que receberiam meu “não”. Mas ainda que machucada, ela foi capaz de me escutar e me compreender. Foi a primeira vez que não me senti julgado desde que tudo começou.
Fiquei sem palavras. Eu sabia o quanto nós dois tínhamos nos magoado naquela noite, e, ao mesmo tempo que ficava feliz por alguém tê-lo escutado, meu coração apertava porque fui eu quem havia causado o problema.
— Não duvido que as coisas consigam se resolver, mas acredito que este não é o momento para falarmos das minhas amigas.
sorriu travesso, e minha barriga fez um loop.
— De fato. Acredito que temos outras prioridades.
Sem dizer mais nada, me virou para si e voltou a me beijar.
Conforme os beijos avançavam, minha vontade era me encaixar ainda melhor naquela cadeira, mas eu sabia que não seria uma decisão esperta. Eu estava amando aquele momento, mas não poderia perder o controle.
Depois de mais beijos ofegantes, abraços apertados e muitos sorrisos incrédulos por estarmos ali, bem e felizes, achei que era a hora de me despedir.
— Acredito que seja melhor eu ir embora agora.
fez menção de protestar, mas não falou nada. No fundo, eu não queria ir embora, por isso o incentivei a falar.
— Você ia dizer alguma coisa? — perguntei, querendo que ele conseguisse me convencer a ficar.
Eu podia não gostar das regras daquele lugar, mas isso não significava que eu não procurasse conhecê-las. Naquela altura da competição, chegava a ser impossível não saber a maioria delas. E uma das principais era que não tínhamos autorização para dormir nos mesmos aposentos do príncipe.
Eu não pretendia fazer nada mais que dormir abraçada com ele, mas ainda assim, sabia que não poderia. Porém, tinha esperanças de que ele me pedisse e me garantisse que daria um jeito em tudo. Só que, sendo um príncipe, isso não aconteceu.
— Eu... — “Quase lá, é só você falar”, pensei, mas em vez disso, bufou. — Eu também acho que já está na hora.
Acabei sorrindo, sem esconder minha frustração.
— O que houve? — ele perguntou, confuso.
— Seria mentira se eu não falasse que esperava que você tentasse me convencer a ficar um pouco mais.
aproximou-se de mim e me deu um beijo carinhoso na testa que conseguiu mexer com todo meu corpo e coração. Mais até que nossos beijos mais intensos daquela noite.
— Sei que você não gosta muito das regras, mas elas precisam ser seguidas. Eu sou um homem que segue as regras.
riu quando falou isso, mas em mim aquilo não foi capaz de produzir risos. Também não me tirou da bolha de felicidade e amor, mas foi um lembrete indesejado de que uma vida ao seu lado era muito diferente daquela que eu desejava antes de entrar na Seleção.
Não consegui ver o príncipe no dia seguinte à noite em que nos declaramos um para o outro, mas isso não significava que ele não tinha sido presente. Além de dominar quase todos os meus pensamentos, recebi um bilhete seu ao acordar e outro ao dormir. O da noite me fez suspirar como uma adolescente bobinha.
“Eu só queria te desejar um boa noite e lhe dizer que estou pensando em você. Inclusive, isso quase me trouxe problemas em uma das reuniões, mas acho que não posso controlar.
Do seu ”
No dia seguinte a este, fomos surpreendidas com a presença da família real em nosso café da manhã. Já fazia alguns dias que eles não comiam conosco.
— Devo me desculpar por estarmos tão ausentes nos últimos dias, senhoritas. Infelizmente estamos com alguns assuntos pendentes que não podemos esperar. Mas fico feliz em dizer que o príncipe estará mais presente esses dias — o rei disse, parecendo se esforçar para parecer sincero.
Eu sabia que ele não sentia muito. Algo no jeito que ele nos olhava entregava o quanto ele não se importava de fato conosco. Mas obviamente seu objetivo havia sido alcançado com a maioria de nós, porque vi muitas garotas ficarem muito agradecidas pelas palavras.
— Você já convidou alguma dessas senhoritas para sair hoje à tarde, ? — o príncipe George perguntou de súbito e deixou um sorriso debochado escapar quando lhe encarou, parecendo controlar o incômodo.
— Ainda não, George.
— Posso escolher? — príncipe George indagou provocativo, e quando o olhei, logo entendi que eu também estava envolvida naquilo.
Ele me olhou e sorriu de um jeito tão íntimo que suspeitei ter perdido alguma parte do assunto, visto que ele me encarava como se compartilhássemos algum segredo que eu desconhecia.
— Não seja bobo, George — a rainha Daisy falou e sorriu carinhosamente para o filho.
— Eu acho uma boa ideia. O está mais devagar do que deveria — o rei deixou escapar, e todos a mesa baixaram o olhar.
— Bom, eu acredito que isso é um sim — o príncipe George falou em tom brincalhão.
Não sei até que ponto aquilo era felicidade por irritar o irmão e quanto era apenas para esquecermos o comentário do pai.
— Bom, senhoritas, acho que quem tem irmão consegue me entender. Não é uma vida fácil — brincou, mas eu via que ele estava nervoso.
Eu também estava.
— Seu encontro hoje à tarde será com a senhorita .
Não era o que o rei esperava. Seu maxilar trincado ao escutar meu nome e olhar para o filho mais velho deixava isso claro, mas rapidamente ele se recompôs e colocou um sorriso no rosto.
— Desejo uma ótima tarde para vocês. Infelizmente não terá câmeras, porque está muito em cima, mas a senhorita não se importa, não é?
Eu de fato não me importava, até preferia. Mas eu sabia por que ele estava falando aquilo – era só uma forma de não me dar tempo de tela no programa.
— Claro que não, Majestade. O importante é aproveitarmos juntos este momento — falei, e me encarou perplexa.
— , se controle — falou baixinho.
Sobre nós duas, as coisas ainda não estavam normais, mas isso não impedia Melissa de nos juntar como se nada tivesse acontecido. “Vocês não podem deixar uma besteira dessas acabar com tudo”, Melissa me disse, e tenho certeza de que disse a também.
Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, o rei disse:
— Concordo, senhorita .
A verdade era que eu não havia dito aquilo para provocá-lo ou desafiá-lo. Assumir para que gostava dele fez com que muitas coisas mudassem, e uma delas era não ter mais problema em assumir que gostaria de ter um tempo a sós com ele. Eu apenas deixei que a felicidade que me invadia por estarmos tão bem escapasse no momento errado.
Eu já estava pronta quando o príncipe chegou em meu quarto.
— Vou logo avisando que não garanto ter coragem para subir em um cavalo — falei assim que saí do quarto.
riu.
— Sei disso, então iremos até eles e, por hora, nos contentamos em conhecê-los e visitar o estábulo, tá bem? Se você se sentir confiante, subimos. É só que amo cavalos e eu queria que você conhecesse essa parte de mim.
— E o que é isso em seu pescoço?
— Uma câmera fotográfica. Quero registrar esses momentos.
— Ai de você se tirar uma foto minha caindo do cavalo, Alteza — brinquei e, ao mesmo tempo, sentenciei.
Assim que cheguei ao estábulo, fiquei encantada pela quantidade de cavalos que moravam ali. Todos, sem exceção, eram lindos e grandes, assim como nos contos de fadas que lemos quando crianças. Mas isso não significava que eu tinha coragem de montar neles.
— Posso te garantir que eles são muito calmos — disse e eu rolei os olhos.
— Isso não anula o fato de que não sei montar.
Em resposta, ele tirou uma foto minha e sorriu.
— Ei, você não pode fazer isso, não — protestei e vi o príncipe dar de ombros. Estanquei no lugar sem acreditar. — Você fez mesmo o que acabei de ver? — perguntei, perplexa, e ele sorriu.
— Do que você está falando?
— Você deu de ombros? Tipo, você deu de ombros assim como qualquer pessoa normal faz? Você está doente ou algo do tipo?
caiu na gargalhada, uma risada tão gostosa que até o cavalo ao meu lado pareceu gostar, fazendo um barulho que também era engraçado.
— Se isto te choca tanto, posso parar.
— Jamais! Acho que nunca te vi tão humano desde que nos conhecemos.
— Você deveria parar de julgar, . Não há apenas uma forma de viver a vida, e eu não deixo de ser humano porque não dou de ombros — falou isso evitando meu olhar, entregando assim que aquilo de fato havia o incomodado. Me aproximei dele e segurei seu braço antes de me desculpar.
— Me desculpe, sei que preciso me expressar melhor — confessei.
Recebi um sorriso preguiçoso que entregava que eu havia sido desculpada. Sem pensar muito, sorri de volta e enrolei meus braços em seu pescoço antes de lhe dar um beijo.
não esperava pelo beijo, e eu sabia disso porque primeiro ele riu e só depois me beijou de verdade. Beijá-lo deixou meu corpo inteiro com a sensação de que eu estava flutuando. E foi bom saber que embora o sentimento fosse de estar vivendo um sonho, nosso beijo era real, tão real quanto o que eu sentia por ele.
— É tão bom te ter aqui, . Te ter em meus braços é maravilhoso.
Depois de dizer isso, correu para a porteira de um dos estábulos e apoiou a câmera lá.
— O que você tá fazendo? — perguntei, intrigada.
— Só quero registrar você em meus braços. Assim, durante a noite, posso olhá-la e lembrar que não foi um sonho qualquer.
Sorri e senti meu rosto ficar quente. Um constrangimento bom e que vinha da sensação desconhecida por mim até então: estar apaixonada.
Assim que ele ficou ao meu lado, passou um dos braços pela minha cintura e me puxou para um beijo profundo e urgente, que em nada parecia ser apenas para uma foto, mas sim um beijo de um homem que precisava me ter ali, perto dele para sempre.
Tinha acabado mais um Jornal Oficial com nossa presença e tinha eliminado mais quatro garotas. O número não era pequeno, mas por ele seria ainda maior. Ele tentou argumentar com o pai de diminuir ainda mais, mas o rei não aceitou. E, ainda que e eu não tivéssemos conversado sobre o motivo, eu sabia qual era, nós dois sabíamos.
A Seleção estava crescendo e sua força estava ficando tão grande que o príncipe George fora recebido com flores em um evento em Clermont, onde nunca havia sido amado. Os jornais, sabiamente, atribuíam isto ao programa. E os cartazes pedindo o príncipe em namoro comprovam que, quanto mais tempo de seleção, mais esperança surgia na população. Não era inteligente mandar tanta gente para casa de uma vez só, justo quando o povo parecia acreditar que qualquer garota poderia se tornar rainha.
— Não sei se gosto da ideia de estar em um evento tão grande e público como o que vamos semana que vem — comentei com minhas amigas.
— Nós somos adoradas, . Eu acho que vai ser o máximo — Melissa falou, rindo, e Elllie acabou rindo também.
— Seremos verdadeiras celebridades.
Depois de tantas tentativas de Melissa, e eu acabamos com o clima ruim que havia entre nós e éramos as mesmas de antes. Não havíamos conversado sobre aquela briga, apenas nos desculpamos uma com a outra e seguimos. Era mais fácil assim; voltar para aquelas palavras poderia complicar tudo.
— Aí é que está. O povo está adorando este programa, e agora somos mais a cara da realeza do que a própria família real. E se um dia a coroa fizer algo que eles não concordam? Tudo virá contra nós.
— Algo tão ruim que os faça esquecer da magia da Seleção? Acho difícil — ponderou sobre a situação. — Se um dia o povo ficar com tanta raiva da coroa, tenho certeza de que a Seleção já estará finalizada, então, apenas uma de nós terá que se preocupar com isto. Ou seja, não haverá problema algum no evento. E, se querem saber, eu não tenho problemas em ter que lidar com o futuro — falou, risonha.
e eu estarmos vivendo um romance não tirava sua obrigação de marcar encontros e ser educado com todas. Ele, indiretamente, já havia me dito que o programa acabaria quando eu quisesse, mas estávamos naquela situação havia apenas quinze dias e eu ainda não tinha certeza se estava pronta para o pacote que vinha com ele.
As meninas e eu não falávamos tanto sobre nossos encontros. Isto tinha sido decidido sem que nenhuma precisasse falar, mas eu acreditava que era realmente o melhor. Assim a gente não se machucava. Mas, pelas poucas informações que tinha, eu sabia que e eram próximos o suficiente para que ele a achasse confiável e para que ela continuasse acreditando que a Seleção não tinha seus dias contados.
— De certa forma, ela tem razão — Melissa falou com seu tom enfadado de sempre, e acabei rindo.
É, pensando por este lado, eu nem tinha certeza se precisava me preocupar.
Depois de conversar mais um pouco com as garotas, tomei o rumo que já tinha decorado: o do quarto de . Nós achávamos que ele vir com tanta frequência ao meu quarto poderia deixar as meninas incomodadas, então pedi que as meninas que trabalhavam me levassem mais vezes ao quarto dele até ter decorado o caminho.
Eu não dormia em seu quarto, tampouco fazia algo mais que lhe beijar e ficar abraçada a ele enquanto ríamos baixinho de alguma piada interna com medo de sermos pegos. É que aquelas poucas horas que passávamos sozinhos eram suficientes para que pudéssemos recarregar as energias.
— Já estava pensando que você não viria — falou assim que entrei em seu quarto sem nem bater.
— Te falei que depois do jornal nós temos um ritual de ficarmos juntas. É nossa maneira de digerir as eliminações.
— É... Eu também tenho meu modo de digerir.
Sorri para ele na tentativa de confortá-lo. Eu sabia que embora fizesse parte do jogo, não gostava das eliminações. Eu percebia que ele acabava carregando sobre si o peso do sonho de todas nós. E não importava se eu argumentasse que ele não precisava levar tudo aquilo sozinho, era esse o jeito dele. Amava o seu povo e nós éramos parte dele, uma parte que tinha contato direto com ele. E verdade seja dita, éramos uma parte que ele acabaria machucando.
— Vou me trocar e já volto — lhe avisei enquanto seguia para o seu banheiro.
Esse era outro segredo nosso – e de Stephany e Abigail, é bem verdade. Se eu me trocasse e fosse pega rondando pelo palácio àquelas horas, eu não teria desculpas. Então, sempre ia ao seu quarto com a roupa que estava, pronta para argumentar que estava tomando um ar para digerir o dia.
Foi ideia de levar uma roupa minha para lá, para quando eu estivesse com vestido de gala, como estava aquele dia. E foi ele quem levou a muda de roupas. Eu achava fofo, cuidadoso e amoroso, mas esta última parte eu tentava justificar de outra forma.
Assim que saí do banheiro, fui até sua cama e ele logo falou:
— Você viu as eliminadas antes de elas irem embora?
— Só a Courteney. Hope, Nina e America preferiram sair sem se despedir.
— Eu odeio ver a frustração e a raiva nos olhos delas — confessou, também frustrado.
Fiquei em silêncio porque achava que era mais reconfortante para ele. Depois de alguns minutos, ele voltou a falar:
— Mas falando de coisa boa, tenho algo para te mostrar — pulou da cama e correu sorridente para abrir uma das gavetas da cômoda. Tirou de lá o que parecia um envelope. — Eu pretendia guardá-las só para mim, mas você está tão linda nelas que precisava te mostrar.
Abri um envelope e lá tinha algumas fotos minhas, nossas e dos cavalos. Eram fotos do nosso último passeio.
— As fotos estão lindas, — arfei. Porque de fato estavam lindas, tão lindas que pareciam terem sido tiradas por um profissional. — Eu não sabia que fotografava tão bem assim. Onde aprendeu?
Ele sorriu sem jeito, um sorriso que eu havia descoberto que amava.
— Meu avô gostava disso e me ensinou antes de morrer. Falou que aprendeu com o avô também, o rei Maxon. Me contou que seu avô tinha um álbum para cada ocasião importante de sua vida, inclusive, tinha um com todas as garotas selecionadas para sua seleção. Mas a verdade era que quem dominava suas lentes era a rainha America. Ele tinha um milhão de álbuns sobre ela.
— Que história linda. Você também está fazendo um álbum das selecionadas?
— Meu pai sempre odiou que eu fotografasse, então não mostro isso a muita gente. O que significa que você foi a única selecionada que foi fotografada por mim.
Dei de ombros e discordei do seu ponto.
— Seu pai não sabe do que está falando. Você deveria fotografar na frente de quem você quiser, afinal, tem muito talento. E isso te liga ao seu avô, e também ao rei Maxon. Tem muita importância.
correu novamente para a gaveta e tirou a câmera de lá, antes de falar enquanto ria:
— Acontece, senhorita , que a única garota que quero fotografar é você — e, então, tirou uma foto minha sem que eu tivesse tempo para impedi-lo.
Eu queria pular em cima dele e roubar sua câmera, mas não podíamos fazer barulho, então apenas me cobri depois disso, em protesto.
Segundos depois percebi, pelo balançar do colchão, que vinha ao meu encontro.
— Você ficou linda — e me mostrou o visor da câmera.
— Se você diz — falei, fingindo não olhar a foto.
— Não sou eu quem digo, é a câmera. E você também tem que dizer.
— Dizer o quê? Que fiquei linda?
— Sim — ele disse categoricamente. — Adoraria te ver assumindo o óbvio. Na verdade, queria que você me dissesse tantas coisas, .
Nós não estávamos mais falando das fotos, eu sabia.
— ... — falei, ainda mais baixo do que já falávamos naquele quarto que virou nosso esconderijo.
— Uma frase, . Um “eu estou pronta” e o mundo saberá tudo que sinto por você.
Eu não gostava do rumo daquela conversa, mas sabia que ele tinha o direito de tê-la.
— Você sabe que é complicado, lembra do último baile? Eu não aguentei nem a pressão do seu pai. Fora que tem outro baile chegando, temos mais três dias e então veremos como me sairei neste.
— Só lembra que confio em você e te acho mais que pronta, tá? E você não precisa se comportar exatamente como meu pai quer, sequer serei rei. As coisas serão mais fáceis.
Eu também vinha me agarrando àquele argumento usado por . As coisas não seriam tão ruins assim.
Como resposta a seu argumento, me aninhei em seu corpo e suspirei. Eu iria pensar mais naquele assunto.
Porém, cerca de trinta minutos depois, quando eu já estava pronta para me despedir de , porque estava prestes a cair no sono ali mesmo. Vi a porta de seu quarto abrir de súbito e pulei da cama como se ela estivesse em chamas.
— Mas o que está acontecendo? — indagou, assustado, enquanto encarava o irmão que tinha acabado de entrar.
— Me desculpem por interromper, mas eu preciso falar de assunto que é do interesse de vocês dois — ele disse enquanto nos encarava, parecendo assustado.
Isso era incomum. Eu nunca havia visto o príncipe George assustado. E ele estava. Muito.
— Vocês? — foi tudo que consegui dizer.
— Não acharam que eu não havia percebido suas escapadas, né? Achei que aquela minha sugestão de passeio tivesse deixado isso claro. Eu sempre soube e vocês têm minha benção, cunhadinha.
— Você invadiu meu quarto sem autorização e faz joguinho conosco. Não estou com paciência, George. Vá direto ao ponto.
E eu poderia esperar qualquer coisa, mas jamais contaria com a possibilidade de escutar as palavras que estavam por vir.
— Conversei com nosso pai e preciso te contar. Eu vou abdicar do trono.
— O quê?! — praticamente gritei.
— Vou abdicar do trono, minha futura Majestade.
E foi aí que tudo desabou.
Capítulo Dezesseis
sabia que deveria perguntar o que George tinha na cabeça quando disse aquelas palavras, mas a primeira coisa que fez foi procurar os olhos de . Ele sabia que na pior das hipóteses, havia aprendido a comandar um país, e ainda que não desejasse, poderia comandar o povo. Mas perder ? Ele não tinha se preparado para aquilo.
Assim que olhou para ela, percebeu que não conseguiria respostas em seus olhos, porque eles estavam fixados em suas fotos distribuídas na beirada da cama. E a julgar pelo dor em seu rosto, uma vida juntos havia se tornado algo ainda mais distante.
— ... — chamou, e isso fez com que ela levantasse o olhar.
Assim que ela levantou os olhos, a feição de dor sumiu, como quem veste uma capa. Havia lágrimas em seus olhos, mas nada mais que isso. Os sentimentos sempre tão expostos estavam longe, e o olhar era um vazio sem fim.
“Acho que a ensinei muito bem”, pensou, e agora entendia quando ela criticava esta atitude. Era doloroso demais estar no escuro sobre os sentimentos dela.
Caminhou até ela, segurou delicadamente suas mãos e falou baixinho:
— Vou dar um jeito nisso, tá bem?
Ela balançou a cabeça negativamente e riu enquanto uma lágrima solitária escorria em seu rosto.
— Sejamos sinceros, você não vai.
— Eu vou, sim. Eu prometo.
apenas balançou a cabeça em um “sim” desconfiado.
— Acho melhor eu ir embora e deixar você a sós.
Mas antes que ela pudesse lhe dar as costas, a puxou e lhe deu um selinho demorado.
— Eu prometo — voltou a dizer.
Mas a verdade era que aquela seria a primeira de algumas promessas involuntariamente quebradas.
Assim que ficou a sós com o irmão, conseguiu tirar a capa do autocontrole e indagar, irritado:
— O que você pensa que está fazendo? Como pode chegar em meu quarto numa hora dessas e acabar com tudo dessa forma? E quem te disse que você tem o direito de jogar em mim uma responsabilidade que sempre foi sua?
George pensou em usar seu sarcasmo de sempre, mas o irmão não merecia aquilo. Ele sabia disto.
— Eu não acredito que vou fazer isto sem avisar ao — confessou mais cedo para a pessoa à sua frente naquele mesmo dia.
— Eu sinto muito. Mas você mesmo disse que não havia outro jeito.
Ele odiou escutar aquela verdade, mas não tinha como refutar.
— Sim. Não há outro jeito.
E foi isso que o levou até ali, no quarto de em plena madrugada.
— George, você está me escutando? — voltou a falar, lhe tirando de seus devaneios.
— Me desculpa, irmão. Eu... eu já conversei com nossos pais, amanhã falarei com o conselho. Eu não vou voltar atrás.
queria brigar, dar um soco tão forte em George que lhe fizesse voltar atrás, mas ele conhecia aquele jeito do irmão. George estava nervoso, culpado. Não estava sendo fácil pra ele também.
— Como você pode só pensar em você sempre? — perguntou, e George sorriu sem humor.
— Sejamos francos, independente dos meus motivos, essa é a melhor coisa que eu posso fazer pelo país. Eles me odeiam.
— Sua popularidade vem crescendo desde que a Seleção começou a ganhar força, você sabe disso.
— E ela também tornou você o grande queridinho do povo.
começou a andar em círculos pelo quarto na tentativa de conter a raiva.
— Você é um idiota, mimado e sem responsabilidade alguma. A vida inteira tive que te cobrir em tudo. Reuniões, estudos, passeios. Você me meteu no maior pesadelo da minha vida, me fez ser a cara desse jogo maluco. Tudo por sua causa.
— Se não fosse a Seleção, você jamais teria conhecido a senhorita — George retrucou, e a vontade de partir pra cima dele tomou ainda mais conta de .
— Mas você acabou com isto também — esbravejou. — Mais uma vez você se comporta como o babaca que é, e sou eu quem perderá com isto.
— Se ele te ama, ela vai ficar.
Aquilo era demais. A raiva de transbordou, então ele acertou o rosto do irmão com um soco. George, diferente de como fazia quando os dois eram mais novos, não revidou.
— Se ela me amar, George? Eu não tenho como saber se ela me ama, porque você provavelmente acabou com as chances de descobrir isto. Estamos bem há quinze dias e você quer certeza se ela me ama?
— Você já ama, . Faz os mesmos quinze dias pra você.
— Você sabe muito bem que é diferente.
E era. sabia que amar era muito mais fácil do que ela amá-lo. Ele não deixaria de ser da realeza para amá-la, mas ela teria que deixar seu posto de plebeia. Seria ela a pessoa que passaria por grandes mudanças e por isto, nunca confessou seu amor para a garota. Não queria de maneira alguma pressioná-la, porque por mais que doesse, entenderia se ela não quisesse nada com ele.
— Diferente porque ela se sente acima do bem e do mal e te julga?
balançou a cabeça negativamente.
— Você jura que não entende ela ou qualquer outra pessoa ter essa imagem da gente? Me diz o que você plantou para esse povo, o que eu plantei? Melhor, me diz o que nossa família plantou? A gente tá fazendo uma Seleção porque nossa imagem está suja. Eu posso discordar de algumas coisas que fala, mas não posso negar que ela tem razão. Nós passamos a vida inteira sendo educados que NÓS estamos acima do bem e do mal. Dói tanto assim ver o contrário acontecer?
George bufou, se vendo encurralado. Seu irmão e sua quase cunhada tinham razão. Mas não deveria o amor dos dois ser maior que isto?
— Olha, eu escolhi contar a vocês juntos porque vi desde o primeiro dia que ela veio pro seu quarto. Eu achei que vocês já tivessem se acertado, pensei que fosse o momento certo.
— Não minta dizendo que fez isso pensando em mim — falou com nojo.
— Eu realmente não fiz — ele confessou. — Essa decisão foi tomada independentemente de você. Mas o momento? Eu realmente levei vocês em consideração.
— E olha só, não é mesmo? — perguntou com sarcasmo.
George mordeu os lábios sem saber muito o que falar, mas , ao contrário, sabia exatamente o que dizer ao irmão. Sua raiva estava tomando conta de si a tal ponto que sentia as mãos tremerem e a boca ficar seca. Amava o irmão, mas não conseguia acreditar que ele era tão egoísta a esse ponto.
— Você é exatamente o que todos dizem de você. Um homem mimado, desprovido de qualquer qualidade, inconsequente, inútil e que só faz merda. Realmente, o nosso povo ganha muito com você abrindo mão desse trono. Não consigo pensar em alguém mais egoísta e sem qualquer talento do que você para ocupá-lo. O reino entraria em colapso e você terminaria em uma forca — acabou cuspindo inúmeras palavras que sabia que magoaria o irmão, ainda que ele não concordasse com tudo que acabara de falar.
— Isto só me faz ter mais certeza de que tomei a decisão certa. Afinal, você se mostrou pronto para ocupar o lugar do rei. Veja só você, bastou saber que herdaria o trono e já começou a falar exatamente como ele.
A raiva finalmente transbordou de , e como se tivessem voltado à adolescência, onde os dois partiam pra cima um do outro no menor sinal de desentendimento, perdeu a compostura e deu um outro soco no rosto de George.
George levou a mão até a boca e limpou um fio de sangue que escorria do canto da boca. Riu de maneira sarcástica e completou:
— E assim como ele, termina o seu sermão com uma bela agressão. Já posso ver nosso pai em você.
👑👑👑
No dia seguinte, o rei convocou uma reunião com os dois príncipes e o conselho. tinha esperanças de que o pai fizesse George desistir, por isso tentou manter acesa a pequena chama de otimismo que ainda existia em seu coração. Porém, ao ver um dos conselheiros abraçar George como se fossem velhos amigos – e nenhum conselheiro gostava de George, ainda que ele fosse ser rei um dia –, percebeu que sua esperança não valia de nada.
— Precisamos decidir como será esse anúncio — viu o pai falar depois de uma breve conversa.
— Eu não posso acreditar que vocês todos aceitaram que George abra mão de seu dever tão facilmente.
— Acredite em mim, filho. Eu não estou feliz, mas não esperava nada mais desse garoto senão esta atitude tão pequena.
viu George baixar o olhar e ele sabia o que aquele gesto significava. O irmão sempre cultivou uma imagem de inconsequente, mas isto não significava que ele de fato não ligasse para as coisas, apenas que reconhecia que nunca seria quem o pai esperava.
— E apenas por causa disto eu terei que assumir um papel que não deveria ser o meu?
Ele não sairia dali sem brigar pelo que acreditava.
— Quem você acha que o povo vai gostar mais de ver naquele trono? O controverso príncipe George, ou o popular príncipe ? — um dos conselheiros falou, e nem olhou para o seu rosto.
— Quem diria que manter um relacionamento com mais de uma garota ao mesmo tempo seria algo que o povo amaria? Eu deveria ter pensado em televisionar os meus, assim me tornaria você — George disse amargo, e escolheu ignorar. Não entraria numa briga de ego ali, tinha outras coisas pelo que lutar.
— Se vamos falar de seleção, devo lembrá-los que as pessoas não se darão por satisfeitas com um namoro de seis meses. Elas vão pressionar cada vez mais. E vocês me prometeram que seria um namoro, prometeram o mesmo a essas garotas. E o principal, ninguém lhes avisou que uma delas terá que se tornar rainha no final disto tudo.
O rei o encarou confuso.
— Mas qual garota acharia isso ruim? Elas serão gratas por esta mudança!
tentou esconder a resposta de seu pai, mas percebeu, na mudança de feição do monarca, que algo havia lhe entregado.
— A garota! Aquela maldita garota é sua preocupação? — indagou com ira.
Antes que pudesse lhe responder qualquer coisa, George falou antes.
— Pai, não chame de maldita uma das garotas mais populares do programa. Ainda que você tente inúmeras vezes boicotá-la, lhe tirando de cena no programa, ela é um dos principais nomes. E eu aposto que o povo ficaria feliz de tê-la como rainha.
O rei suspirou, incapaz de refutar os fatos apresentados pelo filho. era tudo que ele mais abominava. Insubordinada, com maus modos, introspectiva e inconveniente, mas ele tinha que admitir que apesar disto tudo, ela era popular entre a nação de Illéa.
— E teremos que adiantar as coisas na Seleção. Não podemos ter tantas garotas ainda no programa. Preciso que você mande embora amanhã mesmo umas garotas, para mostrar que está cada vez mais próximo do resultado. O pronunciamento sobre a abdicação será sábado, no dia seguinte às eliminações. Obviamente a senhorita está fora de cogitação, e odeio admitir, mas a maldita garota também, assim como sua outra amiga. Vamos mantê-las juntas até quando for conveniente. De resto, não me importo quem irá sair, são todas igualmente inúteis. A melhor delas você fez questão de mandar para casa.
— A senhorita Olivia não estava feliz de estar aqui.
— Você podia tê-la convencido. Mas infelizmente estou cercado de filhos inúteis.
O resto da reunião pouco importou para . Estava feliz por saber que seu pai se via de mãos atadas sobre nesta transição de futuro trono, mas sentia-se derrotado por saber que o voto do pai pouco importava se a garota que ele tanto queria perto escolhesse ir embora. E ela iria, não iria? A lógica dizia que sim, mas algo em seu coração, provavelmente aquele amor que lhe queimava o peito, tentava lhe dizer o contrário.
Assim que saiu da reunião, se adiantou em chegar ao quarto de . Não podia e nem queria adiar aquela conversa. Bateu na porta e, como se a garota pudesse prever que era ele, foi ela mesma quem abriu.
— Acho que precisamos conversar — ela falou, antes mesmo de ele abrir a boca.
entrou no quarto e percebeu que estava sozinha. Não era surpresa, já que ela não pedia que as criadas fizessem tantas tarefas como as outras pessoas.
— Eu acabei de sair de uma reunião com o rei e o conselho.
Ela sorriu sem vontade.
— Não precisa dizer, posso ver em seus olhos que você não conseguiu mudar nada.
— Ei! — se apressou em chegar perto dela e segurar seus braços. — Mas isso não muda nada do que sinto por você, nem do que você sente por mim. Nós estamos bem, não estamos? Não vamos deixar isso abalar o que estamos construindo.
— Você não vê?! — soltou-se dele. — Isso muda tudo! Nós dois havíamos conversado sobre como nossa chance era justamente porque seríamos peças meramente ilustrativas para a coroa. Mas agora não, nós somos a coroa! Eu não consigo, . Eu não acho que eu consiga.
, então, sentou-se na poltrona e cobriu o rosto com as mãos.
Era o fim. sentia que era o fim. Mas ele não podia, não conseguia aceitar. Sem se dar conta, começou a chorar. Não eram muitas lágrimas, mas algumas solitárias, daquelas que você tenta, mas a dor é tão grande que não consegue conter.
Ser da família real sempre lhe deu uma vida regada a privilégios, mas vez ou outra ele parava para pensar que também havia perdido algo. A liberdade, a vida de um adolescente comum, uma família feliz, um pai presente, uma mãe que pudesse só sair do casamento, uma escola comum. Mas ela estava lhe tirando também a única mulher que ele amava de verdade. Porque era amor, sempre fora amor, ele sabia disto.
Mas por mais doloroso que fosse, aquela era a vida e a obrigação dele, seu trabalho, afinal de contas. E ele não podia fugir disso, mas entendia querer fugir. E ele a amava demais para prendê-la ali.
foi até e sentou-se no chão ao lado da poltrona, então falou:
— Meu pai quer que eu elimine mais garotas amanhã. Na saída, um dos conselheiros disse que o futuro rei precisa montar A Elite. Vou eliminar seis garotas, as que ficarem serão oficialmente a Elite. E, por mais que eu saiba que você saindo por aquela porta leva meu coração junto, eu preciso te dizer que se esse for o seu desejo, você pode ir embora amanhã, .
acabou forçando um sorriso.
— É realmente lindo saber que você me quer bem a este ponto, mas também é doloroso ver o quanto você coloca a coroa na frente da sua felicidade.
limpou uma lágrima que agora escorria dos olhos dela, depois encarou-a para dizer:
— Eu sei que talvez possa parecer loucura, mas servir a Illéa é mais do que minha obrigação. É minha paixão. Eu amo meu povo e não seria feliz sabendo que o deixei sem rei. Sem você, eu seria um homem que perdeu a mulher que ele... — pausou, inseguro se deveria ou não, falar o que tinha em seu coração. — … Estima — improvisou, mas seu coração queimava com essa quase mentira. Afinal, era muito mais que isso. — A mulher por quem sou apaixonado. E isso me doerá talvez pelo resto da minha vida, mas se eu desisto de Illéa, perderei meu propósito e também o povo que amo, além de reconhecer que falhei com centenas de milhares de pessoas que, além de me amarem, precisam de mim. Você entende? É algo que ultrapassa minha vontade. E, se quer saber, eu não me sentiria digno de uma mulher como você se fosse tão covarde ao deixar meu povo na mão. Esse não é o tipo de homem que você merece.
Ao escutar falar, sentia algo novo queimando dentro de si. Ela tinha orgulho dele. Um orgulho tão grande que quase não conteve as lágrimas. Desde que chegara ali, no fundo, sempre havia algo que lhe fazia duvidar de . Sua família, seu sorriso e fala ensaiada, a formalidade, a riqueza que lhe cercava... Eram tantas coisas ao redor dele que ela sempre julgou que, mesmo dando motivos para que ela acreditasse de verdade nas intenções dele, algo sempre lhe fazia duvidar. Mas agora ela não tinha dúvidas. era muito mais que a coroa – ele era amor, zelo, compromisso, alguém capaz de desistir de si mesmo em nome do povo que amava. E isso a deixava mais orgulhosa do que ela esperava.
Puxou para um abraço e riu, riu de verdade, como se o orgulho dele lhe trouxesse uma dose extra de dopamina.
— Eu não sei do nosso futuro, . Não posso te dizer se conseguirei chegar até o fim disto, mas eu quero ser parte da Elite. Caso eu saia antes disso, você seguirá comigo em meu coração. Mas não seria justo eu pedir pra sair justo quando vejo em você o homem que sempre quis, mas achei que não existia — falou baixinho no ouvido dele.
O corpo inteiro de se arrepiou. E o motivo ia além da respiração dela em seu pescoço e orelha; ele estava arrepiado de felicidade.
Se soltou do abraço dela apenas para colocar as duas mãos ao redor de seu rosto e lhe dar um selinho antes de dizer:
— Então bem-vinda a Elite, . É uma honra saber que você escolheu continuar aqui ao meu lado — terminou de falar e puxou a garota para um beijo apaixonado e cheio de desejo misturado a alívio e felicidade.
O futuro deles era incerto, tortuoso e podendo terminar de forma dolorosa. Mas estavam ali, agora, e era isso que importava. Tinham um ao outro, ainda que não soubesse se seria para sempre.
Assim que olhou para ela, percebeu que não conseguiria respostas em seus olhos, porque eles estavam fixados em suas fotos distribuídas na beirada da cama. E a julgar pelo dor em seu rosto, uma vida juntos havia se tornado algo ainda mais distante.
— ... — chamou, e isso fez com que ela levantasse o olhar.
Assim que ela levantou os olhos, a feição de dor sumiu, como quem veste uma capa. Havia lágrimas em seus olhos, mas nada mais que isso. Os sentimentos sempre tão expostos estavam longe, e o olhar era um vazio sem fim.
“Acho que a ensinei muito bem”, pensou, e agora entendia quando ela criticava esta atitude. Era doloroso demais estar no escuro sobre os sentimentos dela.
Caminhou até ela, segurou delicadamente suas mãos e falou baixinho:
— Vou dar um jeito nisso, tá bem?
Ela balançou a cabeça negativamente e riu enquanto uma lágrima solitária escorria em seu rosto.
— Sejamos sinceros, você não vai.
— Eu vou, sim. Eu prometo.
apenas balançou a cabeça em um “sim” desconfiado.
— Acho melhor eu ir embora e deixar você a sós.
Mas antes que ela pudesse lhe dar as costas, a puxou e lhe deu um selinho demorado.
— Eu prometo — voltou a dizer.
Mas a verdade era que aquela seria a primeira de algumas promessas involuntariamente quebradas.
Assim que ficou a sós com o irmão, conseguiu tirar a capa do autocontrole e indagar, irritado:
— O que você pensa que está fazendo? Como pode chegar em meu quarto numa hora dessas e acabar com tudo dessa forma? E quem te disse que você tem o direito de jogar em mim uma responsabilidade que sempre foi sua?
George pensou em usar seu sarcasmo de sempre, mas o irmão não merecia aquilo. Ele sabia disto.
— Eu não acredito que vou fazer isto sem avisar ao — confessou mais cedo para a pessoa à sua frente naquele mesmo dia.
— Eu sinto muito. Mas você mesmo disse que não havia outro jeito.
Ele odiou escutar aquela verdade, mas não tinha como refutar.
— Sim. Não há outro jeito.
E foi isso que o levou até ali, no quarto de em plena madrugada.
— George, você está me escutando? — voltou a falar, lhe tirando de seus devaneios.
— Me desculpa, irmão. Eu... eu já conversei com nossos pais, amanhã falarei com o conselho. Eu não vou voltar atrás.
queria brigar, dar um soco tão forte em George que lhe fizesse voltar atrás, mas ele conhecia aquele jeito do irmão. George estava nervoso, culpado. Não estava sendo fácil pra ele também.
— Como você pode só pensar em você sempre? — perguntou, e George sorriu sem humor.
— Sejamos francos, independente dos meus motivos, essa é a melhor coisa que eu posso fazer pelo país. Eles me odeiam.
— Sua popularidade vem crescendo desde que a Seleção começou a ganhar força, você sabe disso.
— E ela também tornou você o grande queridinho do povo.
começou a andar em círculos pelo quarto na tentativa de conter a raiva.
— Você é um idiota, mimado e sem responsabilidade alguma. A vida inteira tive que te cobrir em tudo. Reuniões, estudos, passeios. Você me meteu no maior pesadelo da minha vida, me fez ser a cara desse jogo maluco. Tudo por sua causa.
— Se não fosse a Seleção, você jamais teria conhecido a senhorita — George retrucou, e a vontade de partir pra cima dele tomou ainda mais conta de .
— Mas você acabou com isto também — esbravejou. — Mais uma vez você se comporta como o babaca que é, e sou eu quem perderá com isto.
— Se ele te ama, ela vai ficar.
Aquilo era demais. A raiva de transbordou, então ele acertou o rosto do irmão com um soco. George, diferente de como fazia quando os dois eram mais novos, não revidou.
— Se ela me amar, George? Eu não tenho como saber se ela me ama, porque você provavelmente acabou com as chances de descobrir isto. Estamos bem há quinze dias e você quer certeza se ela me ama?
— Você já ama, . Faz os mesmos quinze dias pra você.
— Você sabe muito bem que é diferente.
E era. sabia que amar era muito mais fácil do que ela amá-lo. Ele não deixaria de ser da realeza para amá-la, mas ela teria que deixar seu posto de plebeia. Seria ela a pessoa que passaria por grandes mudanças e por isto, nunca confessou seu amor para a garota. Não queria de maneira alguma pressioná-la, porque por mais que doesse, entenderia se ela não quisesse nada com ele.
— Diferente porque ela se sente acima do bem e do mal e te julga?
balançou a cabeça negativamente.
— Você jura que não entende ela ou qualquer outra pessoa ter essa imagem da gente? Me diz o que você plantou para esse povo, o que eu plantei? Melhor, me diz o que nossa família plantou? A gente tá fazendo uma Seleção porque nossa imagem está suja. Eu posso discordar de algumas coisas que fala, mas não posso negar que ela tem razão. Nós passamos a vida inteira sendo educados que NÓS estamos acima do bem e do mal. Dói tanto assim ver o contrário acontecer?
George bufou, se vendo encurralado. Seu irmão e sua quase cunhada tinham razão. Mas não deveria o amor dos dois ser maior que isto?
— Olha, eu escolhi contar a vocês juntos porque vi desde o primeiro dia que ela veio pro seu quarto. Eu achei que vocês já tivessem se acertado, pensei que fosse o momento certo.
— Não minta dizendo que fez isso pensando em mim — falou com nojo.
— Eu realmente não fiz — ele confessou. — Essa decisão foi tomada independentemente de você. Mas o momento? Eu realmente levei vocês em consideração.
— E olha só, não é mesmo? — perguntou com sarcasmo.
George mordeu os lábios sem saber muito o que falar, mas , ao contrário, sabia exatamente o que dizer ao irmão. Sua raiva estava tomando conta de si a tal ponto que sentia as mãos tremerem e a boca ficar seca. Amava o irmão, mas não conseguia acreditar que ele era tão egoísta a esse ponto.
— Você é exatamente o que todos dizem de você. Um homem mimado, desprovido de qualquer qualidade, inconsequente, inútil e que só faz merda. Realmente, o nosso povo ganha muito com você abrindo mão desse trono. Não consigo pensar em alguém mais egoísta e sem qualquer talento do que você para ocupá-lo. O reino entraria em colapso e você terminaria em uma forca — acabou cuspindo inúmeras palavras que sabia que magoaria o irmão, ainda que ele não concordasse com tudo que acabara de falar.
— Isto só me faz ter mais certeza de que tomei a decisão certa. Afinal, você se mostrou pronto para ocupar o lugar do rei. Veja só você, bastou saber que herdaria o trono e já começou a falar exatamente como ele.
A raiva finalmente transbordou de , e como se tivessem voltado à adolescência, onde os dois partiam pra cima um do outro no menor sinal de desentendimento, perdeu a compostura e deu um outro soco no rosto de George.
George levou a mão até a boca e limpou um fio de sangue que escorria do canto da boca. Riu de maneira sarcástica e completou:
— E assim como ele, termina o seu sermão com uma bela agressão. Já posso ver nosso pai em você.
No dia seguinte, o rei convocou uma reunião com os dois príncipes e o conselho. tinha esperanças de que o pai fizesse George desistir, por isso tentou manter acesa a pequena chama de otimismo que ainda existia em seu coração. Porém, ao ver um dos conselheiros abraçar George como se fossem velhos amigos – e nenhum conselheiro gostava de George, ainda que ele fosse ser rei um dia –, percebeu que sua esperança não valia de nada.
— Precisamos decidir como será esse anúncio — viu o pai falar depois de uma breve conversa.
— Eu não posso acreditar que vocês todos aceitaram que George abra mão de seu dever tão facilmente.
— Acredite em mim, filho. Eu não estou feliz, mas não esperava nada mais desse garoto senão esta atitude tão pequena.
viu George baixar o olhar e ele sabia o que aquele gesto significava. O irmão sempre cultivou uma imagem de inconsequente, mas isto não significava que ele de fato não ligasse para as coisas, apenas que reconhecia que nunca seria quem o pai esperava.
— E apenas por causa disto eu terei que assumir um papel que não deveria ser o meu?
Ele não sairia dali sem brigar pelo que acreditava.
— Quem você acha que o povo vai gostar mais de ver naquele trono? O controverso príncipe George, ou o popular príncipe ? — um dos conselheiros falou, e nem olhou para o seu rosto.
— Quem diria que manter um relacionamento com mais de uma garota ao mesmo tempo seria algo que o povo amaria? Eu deveria ter pensado em televisionar os meus, assim me tornaria você — George disse amargo, e escolheu ignorar. Não entraria numa briga de ego ali, tinha outras coisas pelo que lutar.
— Se vamos falar de seleção, devo lembrá-los que as pessoas não se darão por satisfeitas com um namoro de seis meses. Elas vão pressionar cada vez mais. E vocês me prometeram que seria um namoro, prometeram o mesmo a essas garotas. E o principal, ninguém lhes avisou que uma delas terá que se tornar rainha no final disto tudo.
O rei o encarou confuso.
— Mas qual garota acharia isso ruim? Elas serão gratas por esta mudança!
tentou esconder a resposta de seu pai, mas percebeu, na mudança de feição do monarca, que algo havia lhe entregado.
— A garota! Aquela maldita garota é sua preocupação? — indagou com ira.
Antes que pudesse lhe responder qualquer coisa, George falou antes.
— Pai, não chame de maldita uma das garotas mais populares do programa. Ainda que você tente inúmeras vezes boicotá-la, lhe tirando de cena no programa, ela é um dos principais nomes. E eu aposto que o povo ficaria feliz de tê-la como rainha.
O rei suspirou, incapaz de refutar os fatos apresentados pelo filho. era tudo que ele mais abominava. Insubordinada, com maus modos, introspectiva e inconveniente, mas ele tinha que admitir que apesar disto tudo, ela era popular entre a nação de Illéa.
— E teremos que adiantar as coisas na Seleção. Não podemos ter tantas garotas ainda no programa. Preciso que você mande embora amanhã mesmo umas garotas, para mostrar que está cada vez mais próximo do resultado. O pronunciamento sobre a abdicação será sábado, no dia seguinte às eliminações. Obviamente a senhorita está fora de cogitação, e odeio admitir, mas a maldita garota também, assim como sua outra amiga. Vamos mantê-las juntas até quando for conveniente. De resto, não me importo quem irá sair, são todas igualmente inúteis. A melhor delas você fez questão de mandar para casa.
— A senhorita Olivia não estava feliz de estar aqui.
— Você podia tê-la convencido. Mas infelizmente estou cercado de filhos inúteis.
O resto da reunião pouco importou para . Estava feliz por saber que seu pai se via de mãos atadas sobre nesta transição de futuro trono, mas sentia-se derrotado por saber que o voto do pai pouco importava se a garota que ele tanto queria perto escolhesse ir embora. E ela iria, não iria? A lógica dizia que sim, mas algo em seu coração, provavelmente aquele amor que lhe queimava o peito, tentava lhe dizer o contrário.
Assim que saiu da reunião, se adiantou em chegar ao quarto de . Não podia e nem queria adiar aquela conversa. Bateu na porta e, como se a garota pudesse prever que era ele, foi ela mesma quem abriu.
— Acho que precisamos conversar — ela falou, antes mesmo de ele abrir a boca.
entrou no quarto e percebeu que estava sozinha. Não era surpresa, já que ela não pedia que as criadas fizessem tantas tarefas como as outras pessoas.
— Eu acabei de sair de uma reunião com o rei e o conselho.
Ela sorriu sem vontade.
— Não precisa dizer, posso ver em seus olhos que você não conseguiu mudar nada.
— Ei! — se apressou em chegar perto dela e segurar seus braços. — Mas isso não muda nada do que sinto por você, nem do que você sente por mim. Nós estamos bem, não estamos? Não vamos deixar isso abalar o que estamos construindo.
— Você não vê?! — soltou-se dele. — Isso muda tudo! Nós dois havíamos conversado sobre como nossa chance era justamente porque seríamos peças meramente ilustrativas para a coroa. Mas agora não, nós somos a coroa! Eu não consigo, . Eu não acho que eu consiga.
, então, sentou-se na poltrona e cobriu o rosto com as mãos.
Era o fim. sentia que era o fim. Mas ele não podia, não conseguia aceitar. Sem se dar conta, começou a chorar. Não eram muitas lágrimas, mas algumas solitárias, daquelas que você tenta, mas a dor é tão grande que não consegue conter.
Ser da família real sempre lhe deu uma vida regada a privilégios, mas vez ou outra ele parava para pensar que também havia perdido algo. A liberdade, a vida de um adolescente comum, uma família feliz, um pai presente, uma mãe que pudesse só sair do casamento, uma escola comum. Mas ela estava lhe tirando também a única mulher que ele amava de verdade. Porque era amor, sempre fora amor, ele sabia disto.
Mas por mais doloroso que fosse, aquela era a vida e a obrigação dele, seu trabalho, afinal de contas. E ele não podia fugir disso, mas entendia querer fugir. E ele a amava demais para prendê-la ali.
foi até e sentou-se no chão ao lado da poltrona, então falou:
— Meu pai quer que eu elimine mais garotas amanhã. Na saída, um dos conselheiros disse que o futuro rei precisa montar A Elite. Vou eliminar seis garotas, as que ficarem serão oficialmente a Elite. E, por mais que eu saiba que você saindo por aquela porta leva meu coração junto, eu preciso te dizer que se esse for o seu desejo, você pode ir embora amanhã, .
acabou forçando um sorriso.
— É realmente lindo saber que você me quer bem a este ponto, mas também é doloroso ver o quanto você coloca a coroa na frente da sua felicidade.
limpou uma lágrima que agora escorria dos olhos dela, depois encarou-a para dizer:
— Eu sei que talvez possa parecer loucura, mas servir a Illéa é mais do que minha obrigação. É minha paixão. Eu amo meu povo e não seria feliz sabendo que o deixei sem rei. Sem você, eu seria um homem que perdeu a mulher que ele... — pausou, inseguro se deveria ou não, falar o que tinha em seu coração. — … Estima — improvisou, mas seu coração queimava com essa quase mentira. Afinal, era muito mais que isso. — A mulher por quem sou apaixonado. E isso me doerá talvez pelo resto da minha vida, mas se eu desisto de Illéa, perderei meu propósito e também o povo que amo, além de reconhecer que falhei com centenas de milhares de pessoas que, além de me amarem, precisam de mim. Você entende? É algo que ultrapassa minha vontade. E, se quer saber, eu não me sentiria digno de uma mulher como você se fosse tão covarde ao deixar meu povo na mão. Esse não é o tipo de homem que você merece.
Ao escutar falar, sentia algo novo queimando dentro de si. Ela tinha orgulho dele. Um orgulho tão grande que quase não conteve as lágrimas. Desde que chegara ali, no fundo, sempre havia algo que lhe fazia duvidar de . Sua família, seu sorriso e fala ensaiada, a formalidade, a riqueza que lhe cercava... Eram tantas coisas ao redor dele que ela sempre julgou que, mesmo dando motivos para que ela acreditasse de verdade nas intenções dele, algo sempre lhe fazia duvidar. Mas agora ela não tinha dúvidas. era muito mais que a coroa – ele era amor, zelo, compromisso, alguém capaz de desistir de si mesmo em nome do povo que amava. E isso a deixava mais orgulhosa do que ela esperava.
Puxou para um abraço e riu, riu de verdade, como se o orgulho dele lhe trouxesse uma dose extra de dopamina.
— Eu não sei do nosso futuro, . Não posso te dizer se conseguirei chegar até o fim disto, mas eu quero ser parte da Elite. Caso eu saia antes disso, você seguirá comigo em meu coração. Mas não seria justo eu pedir pra sair justo quando vejo em você o homem que sempre quis, mas achei que não existia — falou baixinho no ouvido dele.
O corpo inteiro de se arrepiou. E o motivo ia além da respiração dela em seu pescoço e orelha; ele estava arrepiado de felicidade.
Se soltou do abraço dela apenas para colocar as duas mãos ao redor de seu rosto e lhe dar um selinho antes de dizer:
— Então bem-vinda a Elite, . É uma honra saber que você escolheu continuar aqui ao meu lado — terminou de falar e puxou a garota para um beijo apaixonado e cheio de desejo misturado a alívio e felicidade.
O futuro deles era incerto, tortuoso e podendo terminar de forma dolorosa. Mas estavam ali, agora, e era isso que importava. Tinham um ao outro, ainda que não soubesse se seria para sempre.
Capítulo Dezessete
A vinda dos italianos havia sido cancelada e isso fez com que Hope ficasse mais frustrada. Todas as selecionadas especulavam o que havia acontecido para que os italianos desistissem de vir, mas eu sabia que na verdade o motivo era Illéa.
não havia aparecido para o café da manhã e nem para o jantar, o que fez com que os rumores aumentassem ainda mais. Eu estava com vontade de contar para Melissa e o que certamente ocorreria naquele dia, mas sabia que aquilo seria mais do que quebrar as regras – era quebrar a confiança de . Por isso, deixei que elas criassem suas ideias mirabolantes para aquele enigma enquanto caminhávamos para o meu quarto.
— Será que o príncipe se arrependeu de convidar a Hope e agora não sabe como agir perto dela? — indagou, e Melissa não conteve o riso.
— Pelo amor de Deus, . Quantos anos você acha que o príncipe tem? Cinco?
Acabei rindo também. Aquela era uma resposta muito engraçada.
— E você por acaso tem alguma resposta melhor?
Melissa rolou os olhos teatralmente e deu de ombros.
— Sim. Ele estava ocupado com essas coisas de rei, e também deve ter tido algum imprevisto com a família da Itália.
— Essa é sua melhor resposta? — indagou, incomodada com algo tão prático como o que Melissa falou. — Primeiro que ele nem é rei, e segundo, não acho que seja de bom tom uma família real desmarcar as coisas assim.
— Bom — Melissa disse, voltando a sorrir —, seja o que for, eu tenho certeza que o príncipe não está fugindo da Hope como um garotinho assustado.
Quando Melissa terminou de falar, nós já estávamos dentro do meu quarto. Eu ainda olhava para o chão, tentando não rir da resposta de ou concordar – em partes, é claro – com a de Melissa. Mas olhei para frente assim que ouvi minhas amigas soltarem um “oh”.
estava em meu quarto. Sozinho. E as meninas tinham acabado de vê-lo.
Um desespero misturado a constrangimento tomou conta de mim, e parecia ter tomado conta de também, mas isso pareceu ter sido percebido apenas por mim.
— Boa noite, senhoritas — ele saudou, todo cavalheiro. Mas eu, acostumada a conversar muito com ele nas últimas semanas, pude ver seu nervosismo.
— Boa noite, Alteza — nós três dissemos.
Achei que as garotas dariam uma desculpa para sair de meu quarto, mas vi sentar-se calmamente em minha cama e indagar:
— Como vai, Alteza?
— Bem, senhorita .
— Estávamos preocupadas com Vossa Alteza.
Melissa olhou pra parecendo perplexa, e eu me esforçava para não fazer o mesmo.
— Peço perdão por não termos nos vistos hoje, eu estive bastante ocupado — falou calmamente, sendo o rapaz educado que sempre fora.
— , pode vir comigo olhar meu vestido para o jornal de amanhã? Quero muito sua opinião — Melissa disse enquanto encarava minha amiga com um olhar sugestivo.
não pareceu gostar de sua intervenção e respondeu:
— Eu confio muito nas suas criadas, Melissa.
— Mas eu realmente quero sua opinião — ela insistiu, mas não se mexeu.
Quando achei que precisaria intervir, sorriu para .
— Acredito que a senhorita Melissa leva sua opinião muito a sério, senhorita . E, de qualquer forma, preciso conversar um assunto do interesse da senhorita .
Eu não esperava por aquela intervenção, e o claro desconforto de entregava que ela também não.
— Claro, Alteza. Vamos, Melissa.
Assim que minhas amigas saíram, falei:
— Desculpe e obrigada.
— Não precisa fazer nenhuma das duas coisas. Eu quem tenho que me desculpar, é graças a essa seleção que coisas assim acontecem.
Concordei com a cabeça.
— Mas está tudo bem? Você sumiu e agora aparece aqui, do nada.
— George anunciaria hoje sua abdicação, mas acharam melhor que tudo isso seja dito amanhã.
— Vai ser uma noite agitada — tentei brincar. — A notícia, as eliminações e a formação da Elite.
Até então, parecia calmo e sereno, mas assim que terminei de falar, ele me olhou desesperado.
— Eu não sei se consigo, . Não sei se estou pronto. Isso não era para estar acontecendo, ainda mais tendo a Seleção no meio disto tudo.
Encurtei a distância que havia entre nós e segurei suas mãos enquanto lhe encarava.
— Eu sei que tudo está uma confusão, mas sabe qual a minha única certeza? – lhe indaguei com um sorriso no rosto.
— Qual? — ele perguntou, ainda parecendo desamparado.
— Illéa terá um rei maravilhoso. Você está mais que pronto para isto, . Eu confio em você.
Ele soltou minhas mãos e levou-as até o rosto enquanto sorria.
— Estou apavorado, mas tudo fica tão mais fácil quando tenho você aqui.
Sem que desse tempo para pensar direito no poder daquelas palavras, me puxou para um beijo que não tive como negar. Beijá-lo não só acalmava nossos medos, eles pareciam ficar pequenos demais, porque a sensação era de que éramos só nós dois ali. E, dentro do nosso mundo, nada mais importava.
No dia seguinte, embora soubesse o que iria acontecer, eu estava uma pilha de nervos. Acho que parte disso se devia ao fato de que não tinha dormido direito durante a noite. As palavras que falou antes de nos beijarmos ainda ressoava em minha mente e coração.
Aquilo não era certo. Embora eu amasse estar com , não podíamos continuar fingindo que tudo não havia mudado. Ele deixou claro o quanto eu era seu porto seguro, mas nenhum de nós dois sabíamos qual seria o nosso fim. Eu não podia deixá-lo acreditar que as coisas terminariam bem quando eu mesma não sabia disso.
— , por favor, você pode ficar quieta? — Stephanny pediu, parecendo impaciente.
Ela dava uns ajustes finais em meu vestido que tinha ficado mais folgado do que o previsto. E embora eu não tivesse contado, isso poderia ser devido ao fato de que não comia direito desde que soube da abdicação do príncipe George.
— Desculpe, só estou um pouco ansiosa.
Abigail me encarou preocupada e tentei respirar fundo.
— O que está acontecendo? — ela perguntou cuidadosa.
Sabia que não era certo contar, mas de qualquer forma, a notícia seria dada naquela noite, por isto coloquei para fora.
— O príncipe George vai abdicar do trono — disse de uma vez, e Stephanny acabou espetando o próprio dedo.
— Oh, meu Deus — Abigail falou, mas não era sobre o dedo da amiga.
— O será hoje nomeado o primeiro na linha de sucessão e eu estou apavorada. Metade das garotas irão...
— Eu acho que você não pode nos contar coisas assim, — Abigail lembrou, embora a curiosidade tomasse conta do seu olhar.
— Isto vai acontecer hoje? — Stephanny perguntou.
— Sim.
— Stephanny, esse assunto não nos interessa.
— Pelo amor de Deus, Abigail! Isso tudo será dito daqui a pouco, que diferença faz? Olhe o estado da , ela precisa conversar.
Abigail ponderou e depois suspirou, dando-se por vencida.
— Pode falar, .
— O príncipe nos contou alguns dias atrás.
— Contou a você? — Stephanny perguntou, confusa.
— Sim. Ele foi até o quarto do de madrugada e nos contou.
— Ele sabe dos encontros de vocês, ? Por Deus, as coisas só pioram!
— Calma, Abigail — pedi. — Ele não vai contar nada, disse que já sabia das minhas visitas desde o primeiro dia e escolheu contar naquele dia justamente por nós dois estarmos lá. Na cabeça dele, isso era um cuidado. Ele diz que torce por nós.
— Que o rei não me ouça, mas não acho que o príncipe tenha feito isso pensando em vocês. Ele virou as costas para Illéa — Abigail acabou soltando e tentei esconder meu choque.
Ela sempre fora muito reservada e resoluta, mas principalmente muito fiel à coroa. E vê-la falando daquela maneira me levava a crer que o país inteiro teria essa impressão do príncipe George.
Eu não podia discordar tanto de todos; de fato o príncipe não tinha priorizado o país. Mas até que ponto eu poderia afirmar que faria diferente dele? Eu mesma estava quase pedindo a que fizesse o mesmo para que pudéssemos ficar juntos sem mais empecilhos.
— Eu não sei se ele foi tão ruim assim. O príncipe sempre me pareceu mais correto para o cargo. A única coisa que o colocava longe do trono era a ordem de nascimento. De certa forma, acho que príncipe George fez o melhor pela nação — Stephanny disse, e senti meu coração palpitar.
— É.. — Abigail concordou. — E, por tudo que venho vendo do príncipe , sei que ele jamais nos deixaria. E ele é nossa chance de um novo caminho.
Em algum momento durante a fala de Abigail, senti que meu coração estava sendo apertado por uma mão pesada. O país contava com mais do que eu esperava, e ele, de fato, era a chance de um novo caminho.
Eu não podia ficar no meio disso. Não tinha direito de pedir para ser priorizada. E aquele povo merecia um rei inteiro. Todos meus medos pareceram criar vida com aquelas palavras.
— Está tudo bem, ? — Stephanny indagou, preocupada.
— Vocês só — iniciei, com a voz embargada — me mostraram que Illéa precisa do , ainda que eu não me veja ao lado de um rei no futuro. E essa é sua maior missão, eu não posso ficar no meio disso.
— E por que você não ficaria? Eu tenho certeza que ele irá te escolher — Stephanny falou, confusa.
— Ela não quer ser escolhida como rainha — Abigail constatou.
Eu não conseguia encarar minhas criadas. Seus olhares iam da compreensão para a decepção em segundos.
— Não acredito que eu seja a melhor escolha. Isso será o melhor para todos.
— Eu confio muito no julgamento do príncipe. Se ele escolher você, é porque ele sabe que você consegue — Abigail incentivou-me, mas ela não entendia.
— Mas eu não quero! — deixei sair toda minha frustração. — Eu não quero ter que esquecer do meu casamento, dos meus filhos, da minha vida. Não quero ser o rosto de uma grande farsa!
— Mas que farsa?
“Que farsa?” Será que elas não viam?
— Olhe para este lugar. Estamos rodeadas de ouro enquanto pessoas ainda são discriminadas por um sistema que já foi abolido. E eu sei, não é culpa apenas da coroa, as pessoas escolhem viver neste preconceito. Mas me digam, como saímos disto se até hoje famílias que vieram das castas mais baixas ainda não possuem moradias dignas, renda mínima garantida, boas escolas? O rei Maxon fez muito, eu sei. Mas é um trabalho contínuo. Se parar, tudo acaba. E foi o que aconteceu. Uns conseguiram sair, outros continuam lá, sofrendo como antigamente.
— Então faça a diferença, . Em vez de desistir, que tal fazer algo útil? — Abigail indagou, parecendo irritada comigo.
— Nós todos sabemos que o rei continuará nos bastidores, ele nunca olhou para a maior parte deste país. Ele não deixará que governe como quiser.
— Você não conhece o rapaz que diz gostar. Meus pais trabalhavam aqui e cresci perambulando por este palácio. Ainda que distantes um do outro, nós dois crescemos juntos e eu vi o príncipe criança, adolescente e adulto. Ele amadureceu demais e consegue ser duro quando quer. E, se quer saber, ele nunca esteve tão firme e maduro como quando conheceu você. É uma pena que você não entenda como usar o poder dos dois juntos por um bem maior.
Fiquei sem ar. Não conseguia acreditar em tudo que tinha escutado, mas sabia que era exatamente o que eu merecia. Passei a minha vida toda tendo a vontade de lutar por um país melhor, mas quando finalmente tinha a chance, me via congelada.
E eu não sabia se tinha forças para tirar os meus pés do gelo. Talvez eu não fosse alguém à altura daquela obrigação.
A noite chegou e eu seguia com as meninas para o local de gravação do jornal sentindo como se tivesse saído do meu próprio corpo. Cada vez que me aproximava do local, meu coração acelerava ainda mais.
— Está tudo bem, ? — perguntou, percebendo meu nervosismo.
— Tá, sim — tentei mentir.
Melissa se aproximou mais de mim e segurou minha mão. Numa ajuda silenciosa. Percebi que, embora por motivos diferentes, todas estavam um pouco nervosas. A mão de Melissa estava gelada. Mas de qualquer forma, foi reconfortante.
— Obrigada — sussurrei. Ela apenas sorriu em retribuição às minhas palavras.
Assim que chegamos ao set de gravação, procuramos nos acomodar. Embora fôssemos apenas doze garotas, ainda ficávamos divididas em dois lados. Agora com seis cadeiras, todas na primeira fila, então não tinha como me esconder das câmeras.
— Só eu estou percebendo um clima estranho? — Luna cochichou ao meu lado, e tentei não entregar nada.
— Acho que todas estamos nervosas pelo cancelamento da vinda dos italianos.
— Garotas, prestem bem atenção! — um dos produtores apareceu no meio do palco e gritou para que o ouvíssemos. — Hoje o jornal terá grandes notícias, e peço que todas mantenham a compostura. Vocês são apenas doze agora, o que me leva a crer que todas que chegaram aqui têm o mínimo de inteligência emocional.
Eu entendia que o que estava para acontecer precisava que todos os envolvidos mantivessem a calma, mas aquele homem não tinha o direito de falar conosco daquela forma.
— Deixem o choro para depois do programa, e lembrem-se que vocês são uma espécie de extensão da coroa, então, procurem passar calma e confiança. Dito isto, começamos em um minuto.
Luna apertou meu braço e me encarou de forma assustada.
— Tá tudo bem — tentei lhe passar confiança e sorri.
— O que está acontecendo, ? Você é próxima do príncipe. Me diga, por favor, se está acontecendo alguma coisa. O palácio foi invadido?
Angelina parecia prestes a chorar, e fiquei mais nervosa do que já estava. Não sabia como acalmá-la.
— Não estaríamos aqui se tivessem feito algo do tipo. Fique calma, o programa vai começar e vamos descobrir o que houve, mas não é nada de ruim.
Bastou eu terminar de falar para que o jornal começasse.
Eu não entendia o que eles pretendiam com aquilo, mas o jornal estava sendo longo e redundante como eu nunca tinha visto. Luna ainda segurava minha mão, e todas as meninas, sem exceção, não pareciam confortáveis em estarem ali.
Quando eu já cogitava contar tudo de uma vez para Luna, o rei entrou em cena e disse que faria um comunicado importante. Suspirei, num misto de alívio pelo fim do segredo e pela sensação de estar entrando em uma nova batalha.
— Acredito que todos saibam da entrega de toda minha família pelo bem de Illéa. E falo isso não apenas citando minha família presente aqui hoje, mas todos os meus primos, irmãos e também dos nossos antepassados. Uma monarquia como a nossa é a junção de amor e trabalho contínuo. Pensando nisso, hoje quero anunciar algo que certamente vai mudar o curso das coisas, mas eu queria dizer a todo povo que o amor e a obrigação continuam conosco. O meu filho mais velho e primeiro na linha de sucessão, George II, vem há meses conversando comigo, com seu irmão e nossos conselheiros sobre seu papel nesta monarquia — o rei mentiu, mas ninguém pareceu suspeitar, ou apenas não acharam de bom tom deixar transparecer. — Foi depois de muita conversa e busca, entre o nosso próprio povo, que ele teve a honrosa decisão de abdicar do trono e deixar que seu irmão, o príncipe , assuma a nação após mim.
Tudo que foi dito para não fazermos, nós fizemos. As meninas não conseguiram esconder o choque e uma conversa começou a surgir. Mas isso ainda não era o pior – os câmeras e parte da produção não haviam sido avisados, então vi uma câmera cair no chão, um produtor quase gritar de choque, e a rainha, a própria rainha, baixar a cabeça e se negar a olhar aquilo tudo.
Tudo virou um caos.
Percebendo que as coisas haviam saído de controle, o rei melhorou a postura e falou:
— Nos próximos jornais conversaremos mais sobre isto, mas agora quero chamar ao nosso palco nosso maravilhoso mestre de cerimônia, Cail. Afinal, agora que o príncipe será nosso rei, acompanhar a Seleção ficou ainda mais interessante.
O efeito de usar nossa seleção como pão e circo foi rápido e eficaz. Mesmo chocadas, as meninas também arrumaram suas posturas e ficaram silenciosas. O palco mudou a iluminação e em segundos estavam todos maravilhados pela desenvoltura de Cail ao entrar em cena.
— Que noite emocionante, Illéa! — ele começou. — E é nessa onda de emoções que quero saudar todos vocês e dizer que me sinto ainda mais honrado de estar a frente deste programa. Estamos vivendo algo histórico!
Eu não conseguia julgar Cail. Dava para ver em seu sorriso que ele tentava mudar o clima do ambiente e, de qualquer forma, ele estava ali para fazer justamente aquilo: transformar tudo em um show gostoso de assistir.
— Devo confessar que já estava a par das últimas notícias e essas não são as únicas que vão chocar a todos. Nosso querido príncipe e agora futuro rei, Alteza Schreave, tem outras revelações importantes. Alteza, poderia se juntar a mim aqui no centro do palco?
levantou-se e caminhou calmamente até o local. Ele parecia calmo demais para tudo o que tinha ocorrido, o que me levou a crer que aquela cena tinha sido muito ensaiada em sua cabeça. Me peguei agradecendo por isto; aguentar aquilo podendo ler todas as suas emoções seria ainda mais difícil. Mas sentir isso automaticamente me deixou um pouco culpada, afinal, entrei ali criticando justamente aquele comportamento distante e calculado, mas agora estava sendo grata a ele.
“Esse dilema vai ser sua vida, caso você aceite”, foi o que pensei e quis chorar. Eu não estava preparada para aquilo.
Enquanto divagava sobre minhas próprias emoções, perdi um pouco da atenção e só voltei a olhar de fato para o palco quando ouvi a risada de antes de dizer:
— Você não acha essa pergunta capciosa demais?
Cail fingiu ter se ofendido antes de soltar também uma risada.
— Juro que não, Alteza. Eu realmente só estou trazendo perguntas que o povo quer saber.
— Todas as garotas são apaixonantes, Cail — desconversou enquanto dava um sorriso metido a besta.
— O que ele perguntou? — indaguei , perdida no assunto.
— Se o príncipe sentia que estava apaixonado por alguma de nós — ela cochichou sem tirar os olhos do palco.
— Vossa Alteza sabe que não foi bem isso que perguntei.
Sem perceber, eu estava respirando fundo e olhando fixamente – de um jeito que com certeza não estava bem na tela – para o .
— Todas essas senhoritas me encantam de diferentes formas. E quando eu tiver certeza que encontrei a mulher certa, esta seleção acabará no segundo depois.
Cail sorriu.
— Acho que isso quer dizer que a resposta é “não”, meus queridos.
— Isso é você que está dizendo — disse, também sorrindo.
Cail levou a mão ao coração e brincou.
— Estou ficando confuso. Você já se apaixonou ou não por alguma delas?
— Eu já disse, Cail. Todas são apaixonantes — disse sorrindo.
— Alteza, você se apaixonou por todas? Que levado!
— O que é isto, Cail? Eu sou um príncipe! — disse enquanto levava a mão ao peito, fingindo estar ofendido.
Cail respirou fundo e fingiu pensar em uma solução.
— Já que Vossa Alteza não responde, que tal perguntarmos às nossas selecionadas?
Eu queria que ele tivesse dito que sim, ainda que não usando necessariamente o termo “paixão”, mas eu queria que ele tivesse deixado claro que havia algo entre nós, diferente do que havia com as demais garotas. Vê-lo colocando nossa história junto com a que tinha com as meninas me machucou e me fez indagar se ele não dizia algo parecido para elas.
— Alguma de vocês tem um palpite, senhoritas?
Ficamos em silêncio, algumas apenas dando alguns risinhos. Cail, como sempre, soube o que fazer e chamou Summer para opinar.
— Senhorita Summer Gonzalez, você acha que nosso príncipe já se apaixonou?
Summer se encolheu um pouco na cadeira, meio tímida, mas depois respondeu:
— Não sei se “paixão” é a palavra certa, Cail. Mas acho que há elos mais fortes aqui dentro.
— Alteza, acho que nossas garotas são mais dispostas a falar do que você — Cail brincou e arrancou uma risada de .
— Senhorita , já ouvimos aqui neste palco que você poderia ser a escolhida do príncipe. Me diga você, acha que ele já se apaixonou?
Meu coração estava magoado e eu só queria sair daquele lugar, mas sabia que não tinha como fugir. Procurei manter minha melhor voz e postura para esconder meus sentimentos antes de falar:
— Pergunta bastante difícil, Cail — comecei, deixando uma risada mentirosa escapar, afinal, eu também sabia jogar aquele jogo se quisesse. — Mas eu acho que o príncipe é muito sincero com suas palavras aqui no palco. E, se ele diz que todas nós somos apaixonantes a seu modo, eu acredito nele.
— Você ainda não respondeu, mocinha.
Eu sabia que ele iria querer mais resposta, essa foi minha intenção ao falar aquilo.
Dei um sorriso e continuei.
— Acho que se o príncipe tivesse se apaixonado por alguém, ainda que no início ou agora, ele não conseguiria esconder. Se ele diz que não, eu também acredito que não. Afinal, paixão a gente entrega até no olhar, não é mesmo?
— Que resposta sincera e profunda, senhorita. Alguma resposta às duas selecionadas, Alteza?
me encarava antes de virar para Cail, parecendo, pela primeira vez na noite, levemente desconcertado.
— Não exatamente, Cail. Mas acredito que o que vou anunciar agora diga um pouco mais sobre meus sentimentos em relação a cada uma.
— E qual o seu anúncio?
— Hoje metade das garotas serão eliminadas. Nesta noite formarei minha Elite.
Estávamos no fim da gravação do Jornal Oficial. Hope, Mary Kudrow, Monica Hamilton, Constance Miller, Sandra Buffay e Maggie Rudd haviam sido eliminadas. E, ainda que a noite tenha sido regada a muito choque, as eliminadas se saíram muito bem, com exceção de Hope. Mas todas nós conseguíamos entender seu choque. Até antes daquele programa, ela seria o par de em um jantar para os italianos, isso lhe dava segurança no jogo. Mas aparentemente tudo ali era volátil, assim como os sentimentos de .
As mudanças no jogo abalaram a todas e principalmente Melissa. Nunca tinha lhe visto tão nervosa.
— Meninas, podemos nos reunir amanhã? Estou com a cabeça estourando — pediu assim que levantamos.
— Tem certeza? Podemos conversar — sugeri. A verdade é que eu tinha passado o programa inteiro almejando o momento que estaríamos a sós. Era o meu ponto de equilíbrio.
— Tenho. Não consigo pensar em mais nada que não seja minha cama e uma boa massagem. Que tal uma massagem amanhã antes do café da manhã?
, que parecia desnorteada, concordou.
— Acho ótimo, também preciso da minha cama.
Percebendo que eu era voto vencido, apenas as acompanhei na saída do estúdio. Foi quando ouvi uma voz familiar me chamar.
— Senhorita !
O príncipe George estava ao lado de e me chamava enquanto dava um sorriso convencido. Minhas amigas pareceram tão surpresas quanto eu.
— Podem me esperar? Não demoro — pedi e as meninas apenas balançaram as cabeças em um sim. Me aproximei dos príncipes e fiz uma reverência claramente forçada, na intenção de mostrar que eu não queria conversar. — Altezas — falei enquanto ia praticamente até o chão.
— Não precisa di... — começou a falar, mas fora interrompido por George.
— Eu sei que essa seleção não se trata de mim, mas queria lhe pedir um pedido pessoal.
— Pode falar.
— , eu acho melhor você fingir que não está vendo meu irmão — disse.
Dei um sorriso forçado e falei:
— Por que eu faria isso, alteza? — indaguei formalmente. — Pode falar, príncipe George.
O príncipe mais velho, tão cara de pau como sempre parecera ser, falou calmamente:
— Meu irmão e eu gostamos de jogar alguns jogos de tabuleiro quando as coisas ficam difíceis, e queríamos saber se você não poderia nos acompanhar.
Pisquei os olhos com força, tentando manter longe do meu gosto a incredulidade daquela cena. O príncipe George sempre fora patético, mas tinha acabado de extrapolar seus próprios limites.
— Oferta tentadora, Alteza — me forcei a responder —, mas terei que negar.
— Eu falei que você se encontrava com suas amigas depois do jornal — disse constrangido.
— Não vou encontrá-las — confessei enquanto sentia meu coração acelerar pelas palavras seguintes. — Mas estou muito cansada e precisando me deitar. Sugiro que procurem outra companhia, Altezas.
pareceu ainda mais desconfortável e fez um sinal com a cabeça para o irmão, que rapidamente saiu de cena.
— Daqui a pouco vou ao seu quarto e conversamos melhor, pode ser? — ele perguntou de forma direta, e senti a raiva tomar conta.
Quem pensava que era para dizer aquilo tudo – ou melhor, não dizer – ao vivo e ainda agir como se tivesse qualquer autoridade ou poder sobre o que tínhamos? Ele não me perguntou se eu o queria lá, apenas informou, e sua pergunta no final era retórica. Só que ele podia ser o príncipe e agora futuro rei, mas no meu quarto ele ainda era , e se eu tinha um pouco de dignidade, faria o que quisesse nele.
— Não mesmo — respondi enquanto sentia minha respiração ficar pesada.
me olhou confuso e depois respirou fundo, tentando agir como um adulto que conversa com uma criança mimada.
— Você parece chatea...
— Você não é ninguém para supor coisas sobre mim, se convidar para ir ao meu quarto, agir como se fosse o único adulto aqui ou me meter nos joguinhos malucos do seu irmão. Estou cansada e não quero você lá, assim como não quero fazer papel de palhaça para o seu irmão rir — eu falava muito baixo, ainda que agora de selecionadas só restassem minhas duas melhores amigas.
— George não queria fazer graça com você, ele apenas colocou na cabeça que será nosso cupido.
— Nós não precisamos disto. Já que ainda é tempo, eu sugiro que ele escolha outra garota como alvo, quem sabe assim você finalmente se apaixone por alguém.
ficou sem reação e tentou segurar minha mão, mas a tirei a tempo e depois disse:
— Passar bem, Alteza — e repeti uma reverência exagerada.
Ele podia ser o dono do mundo, mas eu ainda era dona da minha própria vida e não deixaria ninguém brincar com meu coração.
não havia aparecido para o café da manhã e nem para o jantar, o que fez com que os rumores aumentassem ainda mais. Eu estava com vontade de contar para Melissa e o que certamente ocorreria naquele dia, mas sabia que aquilo seria mais do que quebrar as regras – era quebrar a confiança de . Por isso, deixei que elas criassem suas ideias mirabolantes para aquele enigma enquanto caminhávamos para o meu quarto.
— Será que o príncipe se arrependeu de convidar a Hope e agora não sabe como agir perto dela? — indagou, e Melissa não conteve o riso.
— Pelo amor de Deus, . Quantos anos você acha que o príncipe tem? Cinco?
Acabei rindo também. Aquela era uma resposta muito engraçada.
— E você por acaso tem alguma resposta melhor?
Melissa rolou os olhos teatralmente e deu de ombros.
— Sim. Ele estava ocupado com essas coisas de rei, e também deve ter tido algum imprevisto com a família da Itália.
— Essa é sua melhor resposta? — indagou, incomodada com algo tão prático como o que Melissa falou. — Primeiro que ele nem é rei, e segundo, não acho que seja de bom tom uma família real desmarcar as coisas assim.
— Bom — Melissa disse, voltando a sorrir —, seja o que for, eu tenho certeza que o príncipe não está fugindo da Hope como um garotinho assustado.
Quando Melissa terminou de falar, nós já estávamos dentro do meu quarto. Eu ainda olhava para o chão, tentando não rir da resposta de ou concordar – em partes, é claro – com a de Melissa. Mas olhei para frente assim que ouvi minhas amigas soltarem um “oh”.
estava em meu quarto. Sozinho. E as meninas tinham acabado de vê-lo.
Um desespero misturado a constrangimento tomou conta de mim, e parecia ter tomado conta de também, mas isso pareceu ter sido percebido apenas por mim.
— Boa noite, senhoritas — ele saudou, todo cavalheiro. Mas eu, acostumada a conversar muito com ele nas últimas semanas, pude ver seu nervosismo.
— Boa noite, Alteza — nós três dissemos.
Achei que as garotas dariam uma desculpa para sair de meu quarto, mas vi sentar-se calmamente em minha cama e indagar:
— Como vai, Alteza?
— Bem, senhorita .
— Estávamos preocupadas com Vossa Alteza.
Melissa olhou pra parecendo perplexa, e eu me esforçava para não fazer o mesmo.
— Peço perdão por não termos nos vistos hoje, eu estive bastante ocupado — falou calmamente, sendo o rapaz educado que sempre fora.
— , pode vir comigo olhar meu vestido para o jornal de amanhã? Quero muito sua opinião — Melissa disse enquanto encarava minha amiga com um olhar sugestivo.
não pareceu gostar de sua intervenção e respondeu:
— Eu confio muito nas suas criadas, Melissa.
— Mas eu realmente quero sua opinião — ela insistiu, mas não se mexeu.
Quando achei que precisaria intervir, sorriu para .
— Acredito que a senhorita Melissa leva sua opinião muito a sério, senhorita . E, de qualquer forma, preciso conversar um assunto do interesse da senhorita .
Eu não esperava por aquela intervenção, e o claro desconforto de entregava que ela também não.
— Claro, Alteza. Vamos, Melissa.
Assim que minhas amigas saíram, falei:
— Desculpe e obrigada.
— Não precisa fazer nenhuma das duas coisas. Eu quem tenho que me desculpar, é graças a essa seleção que coisas assim acontecem.
Concordei com a cabeça.
— Mas está tudo bem? Você sumiu e agora aparece aqui, do nada.
— George anunciaria hoje sua abdicação, mas acharam melhor que tudo isso seja dito amanhã.
— Vai ser uma noite agitada — tentei brincar. — A notícia, as eliminações e a formação da Elite.
Até então, parecia calmo e sereno, mas assim que terminei de falar, ele me olhou desesperado.
— Eu não sei se consigo, . Não sei se estou pronto. Isso não era para estar acontecendo, ainda mais tendo a Seleção no meio disto tudo.
Encurtei a distância que havia entre nós e segurei suas mãos enquanto lhe encarava.
— Eu sei que tudo está uma confusão, mas sabe qual a minha única certeza? – lhe indaguei com um sorriso no rosto.
— Qual? — ele perguntou, ainda parecendo desamparado.
— Illéa terá um rei maravilhoso. Você está mais que pronto para isto, . Eu confio em você.
Ele soltou minhas mãos e levou-as até o rosto enquanto sorria.
— Estou apavorado, mas tudo fica tão mais fácil quando tenho você aqui.
Sem que desse tempo para pensar direito no poder daquelas palavras, me puxou para um beijo que não tive como negar. Beijá-lo não só acalmava nossos medos, eles pareciam ficar pequenos demais, porque a sensação era de que éramos só nós dois ali. E, dentro do nosso mundo, nada mais importava.
No dia seguinte, embora soubesse o que iria acontecer, eu estava uma pilha de nervos. Acho que parte disso se devia ao fato de que não tinha dormido direito durante a noite. As palavras que falou antes de nos beijarmos ainda ressoava em minha mente e coração.
Aquilo não era certo. Embora eu amasse estar com , não podíamos continuar fingindo que tudo não havia mudado. Ele deixou claro o quanto eu era seu porto seguro, mas nenhum de nós dois sabíamos qual seria o nosso fim. Eu não podia deixá-lo acreditar que as coisas terminariam bem quando eu mesma não sabia disso.
— , por favor, você pode ficar quieta? — Stephanny pediu, parecendo impaciente.
Ela dava uns ajustes finais em meu vestido que tinha ficado mais folgado do que o previsto. E embora eu não tivesse contado, isso poderia ser devido ao fato de que não comia direito desde que soube da abdicação do príncipe George.
— Desculpe, só estou um pouco ansiosa.
Abigail me encarou preocupada e tentei respirar fundo.
— O que está acontecendo? — ela perguntou cuidadosa.
Sabia que não era certo contar, mas de qualquer forma, a notícia seria dada naquela noite, por isto coloquei para fora.
— O príncipe George vai abdicar do trono — disse de uma vez, e Stephanny acabou espetando o próprio dedo.
— Oh, meu Deus — Abigail falou, mas não era sobre o dedo da amiga.
— O será hoje nomeado o primeiro na linha de sucessão e eu estou apavorada. Metade das garotas irão...
— Eu acho que você não pode nos contar coisas assim, — Abigail lembrou, embora a curiosidade tomasse conta do seu olhar.
— Isto vai acontecer hoje? — Stephanny perguntou.
— Sim.
— Stephanny, esse assunto não nos interessa.
— Pelo amor de Deus, Abigail! Isso tudo será dito daqui a pouco, que diferença faz? Olhe o estado da , ela precisa conversar.
Abigail ponderou e depois suspirou, dando-se por vencida.
— Pode falar, .
— O príncipe nos contou alguns dias atrás.
— Contou a você? — Stephanny perguntou, confusa.
— Sim. Ele foi até o quarto do de madrugada e nos contou.
— Ele sabe dos encontros de vocês, ? Por Deus, as coisas só pioram!
— Calma, Abigail — pedi. — Ele não vai contar nada, disse que já sabia das minhas visitas desde o primeiro dia e escolheu contar naquele dia justamente por nós dois estarmos lá. Na cabeça dele, isso era um cuidado. Ele diz que torce por nós.
— Que o rei não me ouça, mas não acho que o príncipe tenha feito isso pensando em vocês. Ele virou as costas para Illéa — Abigail acabou soltando e tentei esconder meu choque.
Ela sempre fora muito reservada e resoluta, mas principalmente muito fiel à coroa. E vê-la falando daquela maneira me levava a crer que o país inteiro teria essa impressão do príncipe George.
Eu não podia discordar tanto de todos; de fato o príncipe não tinha priorizado o país. Mas até que ponto eu poderia afirmar que faria diferente dele? Eu mesma estava quase pedindo a que fizesse o mesmo para que pudéssemos ficar juntos sem mais empecilhos.
— Eu não sei se ele foi tão ruim assim. O príncipe sempre me pareceu mais correto para o cargo. A única coisa que o colocava longe do trono era a ordem de nascimento. De certa forma, acho que príncipe George fez o melhor pela nação — Stephanny disse, e senti meu coração palpitar.
— É.. — Abigail concordou. — E, por tudo que venho vendo do príncipe , sei que ele jamais nos deixaria. E ele é nossa chance de um novo caminho.
Em algum momento durante a fala de Abigail, senti que meu coração estava sendo apertado por uma mão pesada. O país contava com mais do que eu esperava, e ele, de fato, era a chance de um novo caminho.
Eu não podia ficar no meio disso. Não tinha direito de pedir para ser priorizada. E aquele povo merecia um rei inteiro. Todos meus medos pareceram criar vida com aquelas palavras.
— Está tudo bem, ? — Stephanny indagou, preocupada.
— Vocês só — iniciei, com a voz embargada — me mostraram que Illéa precisa do , ainda que eu não me veja ao lado de um rei no futuro. E essa é sua maior missão, eu não posso ficar no meio disso.
— E por que você não ficaria? Eu tenho certeza que ele irá te escolher — Stephanny falou, confusa.
— Ela não quer ser escolhida como rainha — Abigail constatou.
Eu não conseguia encarar minhas criadas. Seus olhares iam da compreensão para a decepção em segundos.
— Não acredito que eu seja a melhor escolha. Isso será o melhor para todos.
— Eu confio muito no julgamento do príncipe. Se ele escolher você, é porque ele sabe que você consegue — Abigail incentivou-me, mas ela não entendia.
— Mas eu não quero! — deixei sair toda minha frustração. — Eu não quero ter que esquecer do meu casamento, dos meus filhos, da minha vida. Não quero ser o rosto de uma grande farsa!
— Mas que farsa?
“Que farsa?” Será que elas não viam?
— Olhe para este lugar. Estamos rodeadas de ouro enquanto pessoas ainda são discriminadas por um sistema que já foi abolido. E eu sei, não é culpa apenas da coroa, as pessoas escolhem viver neste preconceito. Mas me digam, como saímos disto se até hoje famílias que vieram das castas mais baixas ainda não possuem moradias dignas, renda mínima garantida, boas escolas? O rei Maxon fez muito, eu sei. Mas é um trabalho contínuo. Se parar, tudo acaba. E foi o que aconteceu. Uns conseguiram sair, outros continuam lá, sofrendo como antigamente.
— Então faça a diferença, . Em vez de desistir, que tal fazer algo útil? — Abigail indagou, parecendo irritada comigo.
— Nós todos sabemos que o rei continuará nos bastidores, ele nunca olhou para a maior parte deste país. Ele não deixará que governe como quiser.
— Você não conhece o rapaz que diz gostar. Meus pais trabalhavam aqui e cresci perambulando por este palácio. Ainda que distantes um do outro, nós dois crescemos juntos e eu vi o príncipe criança, adolescente e adulto. Ele amadureceu demais e consegue ser duro quando quer. E, se quer saber, ele nunca esteve tão firme e maduro como quando conheceu você. É uma pena que você não entenda como usar o poder dos dois juntos por um bem maior.
Fiquei sem ar. Não conseguia acreditar em tudo que tinha escutado, mas sabia que era exatamente o que eu merecia. Passei a minha vida toda tendo a vontade de lutar por um país melhor, mas quando finalmente tinha a chance, me via congelada.
E eu não sabia se tinha forças para tirar os meus pés do gelo. Talvez eu não fosse alguém à altura daquela obrigação.
A noite chegou e eu seguia com as meninas para o local de gravação do jornal sentindo como se tivesse saído do meu próprio corpo. Cada vez que me aproximava do local, meu coração acelerava ainda mais.
— Está tudo bem, ? — perguntou, percebendo meu nervosismo.
— Tá, sim — tentei mentir.
Melissa se aproximou mais de mim e segurou minha mão. Numa ajuda silenciosa. Percebi que, embora por motivos diferentes, todas estavam um pouco nervosas. A mão de Melissa estava gelada. Mas de qualquer forma, foi reconfortante.
— Obrigada — sussurrei. Ela apenas sorriu em retribuição às minhas palavras.
Assim que chegamos ao set de gravação, procuramos nos acomodar. Embora fôssemos apenas doze garotas, ainda ficávamos divididas em dois lados. Agora com seis cadeiras, todas na primeira fila, então não tinha como me esconder das câmeras.
— Só eu estou percebendo um clima estranho? — Luna cochichou ao meu lado, e tentei não entregar nada.
— Acho que todas estamos nervosas pelo cancelamento da vinda dos italianos.
— Garotas, prestem bem atenção! — um dos produtores apareceu no meio do palco e gritou para que o ouvíssemos. — Hoje o jornal terá grandes notícias, e peço que todas mantenham a compostura. Vocês são apenas doze agora, o que me leva a crer que todas que chegaram aqui têm o mínimo de inteligência emocional.
Eu entendia que o que estava para acontecer precisava que todos os envolvidos mantivessem a calma, mas aquele homem não tinha o direito de falar conosco daquela forma.
— Deixem o choro para depois do programa, e lembrem-se que vocês são uma espécie de extensão da coroa, então, procurem passar calma e confiança. Dito isto, começamos em um minuto.
Luna apertou meu braço e me encarou de forma assustada.
— Tá tudo bem — tentei lhe passar confiança e sorri.
— O que está acontecendo, ? Você é próxima do príncipe. Me diga, por favor, se está acontecendo alguma coisa. O palácio foi invadido?
Angelina parecia prestes a chorar, e fiquei mais nervosa do que já estava. Não sabia como acalmá-la.
— Não estaríamos aqui se tivessem feito algo do tipo. Fique calma, o programa vai começar e vamos descobrir o que houve, mas não é nada de ruim.
Bastou eu terminar de falar para que o jornal começasse.
Eu não entendia o que eles pretendiam com aquilo, mas o jornal estava sendo longo e redundante como eu nunca tinha visto. Luna ainda segurava minha mão, e todas as meninas, sem exceção, não pareciam confortáveis em estarem ali.
Quando eu já cogitava contar tudo de uma vez para Luna, o rei entrou em cena e disse que faria um comunicado importante. Suspirei, num misto de alívio pelo fim do segredo e pela sensação de estar entrando em uma nova batalha.
— Acredito que todos saibam da entrega de toda minha família pelo bem de Illéa. E falo isso não apenas citando minha família presente aqui hoje, mas todos os meus primos, irmãos e também dos nossos antepassados. Uma monarquia como a nossa é a junção de amor e trabalho contínuo. Pensando nisso, hoje quero anunciar algo que certamente vai mudar o curso das coisas, mas eu queria dizer a todo povo que o amor e a obrigação continuam conosco. O meu filho mais velho e primeiro na linha de sucessão, George II, vem há meses conversando comigo, com seu irmão e nossos conselheiros sobre seu papel nesta monarquia — o rei mentiu, mas ninguém pareceu suspeitar, ou apenas não acharam de bom tom deixar transparecer. — Foi depois de muita conversa e busca, entre o nosso próprio povo, que ele teve a honrosa decisão de abdicar do trono e deixar que seu irmão, o príncipe , assuma a nação após mim.
Tudo que foi dito para não fazermos, nós fizemos. As meninas não conseguiram esconder o choque e uma conversa começou a surgir. Mas isso ainda não era o pior – os câmeras e parte da produção não haviam sido avisados, então vi uma câmera cair no chão, um produtor quase gritar de choque, e a rainha, a própria rainha, baixar a cabeça e se negar a olhar aquilo tudo.
Tudo virou um caos.
Percebendo que as coisas haviam saído de controle, o rei melhorou a postura e falou:
— Nos próximos jornais conversaremos mais sobre isto, mas agora quero chamar ao nosso palco nosso maravilhoso mestre de cerimônia, Cail. Afinal, agora que o príncipe será nosso rei, acompanhar a Seleção ficou ainda mais interessante.
O efeito de usar nossa seleção como pão e circo foi rápido e eficaz. Mesmo chocadas, as meninas também arrumaram suas posturas e ficaram silenciosas. O palco mudou a iluminação e em segundos estavam todos maravilhados pela desenvoltura de Cail ao entrar em cena.
— Que noite emocionante, Illéa! — ele começou. — E é nessa onda de emoções que quero saudar todos vocês e dizer que me sinto ainda mais honrado de estar a frente deste programa. Estamos vivendo algo histórico!
Eu não conseguia julgar Cail. Dava para ver em seu sorriso que ele tentava mudar o clima do ambiente e, de qualquer forma, ele estava ali para fazer justamente aquilo: transformar tudo em um show gostoso de assistir.
— Devo confessar que já estava a par das últimas notícias e essas não são as únicas que vão chocar a todos. Nosso querido príncipe e agora futuro rei, Alteza Schreave, tem outras revelações importantes. Alteza, poderia se juntar a mim aqui no centro do palco?
levantou-se e caminhou calmamente até o local. Ele parecia calmo demais para tudo o que tinha ocorrido, o que me levou a crer que aquela cena tinha sido muito ensaiada em sua cabeça. Me peguei agradecendo por isto; aguentar aquilo podendo ler todas as suas emoções seria ainda mais difícil. Mas sentir isso automaticamente me deixou um pouco culpada, afinal, entrei ali criticando justamente aquele comportamento distante e calculado, mas agora estava sendo grata a ele.
“Esse dilema vai ser sua vida, caso você aceite”, foi o que pensei e quis chorar. Eu não estava preparada para aquilo.
Enquanto divagava sobre minhas próprias emoções, perdi um pouco da atenção e só voltei a olhar de fato para o palco quando ouvi a risada de antes de dizer:
— Você não acha essa pergunta capciosa demais?
Cail fingiu ter se ofendido antes de soltar também uma risada.
— Juro que não, Alteza. Eu realmente só estou trazendo perguntas que o povo quer saber.
— Todas as garotas são apaixonantes, Cail — desconversou enquanto dava um sorriso metido a besta.
— O que ele perguntou? — indaguei , perdida no assunto.
— Se o príncipe sentia que estava apaixonado por alguma de nós — ela cochichou sem tirar os olhos do palco.
— Vossa Alteza sabe que não foi bem isso que perguntei.
Sem perceber, eu estava respirando fundo e olhando fixamente – de um jeito que com certeza não estava bem na tela – para o .
— Todas essas senhoritas me encantam de diferentes formas. E quando eu tiver certeza que encontrei a mulher certa, esta seleção acabará no segundo depois.
Cail sorriu.
— Acho que isso quer dizer que a resposta é “não”, meus queridos.
— Isso é você que está dizendo — disse, também sorrindo.
Cail levou a mão ao coração e brincou.
— Estou ficando confuso. Você já se apaixonou ou não por alguma delas?
— Eu já disse, Cail. Todas são apaixonantes — disse sorrindo.
— Alteza, você se apaixonou por todas? Que levado!
— O que é isto, Cail? Eu sou um príncipe! — disse enquanto levava a mão ao peito, fingindo estar ofendido.
Cail respirou fundo e fingiu pensar em uma solução.
— Já que Vossa Alteza não responde, que tal perguntarmos às nossas selecionadas?
Eu queria que ele tivesse dito que sim, ainda que não usando necessariamente o termo “paixão”, mas eu queria que ele tivesse deixado claro que havia algo entre nós, diferente do que havia com as demais garotas. Vê-lo colocando nossa história junto com a que tinha com as meninas me machucou e me fez indagar se ele não dizia algo parecido para elas.
— Alguma de vocês tem um palpite, senhoritas?
Ficamos em silêncio, algumas apenas dando alguns risinhos. Cail, como sempre, soube o que fazer e chamou Summer para opinar.
— Senhorita Summer Gonzalez, você acha que nosso príncipe já se apaixonou?
Summer se encolheu um pouco na cadeira, meio tímida, mas depois respondeu:
— Não sei se “paixão” é a palavra certa, Cail. Mas acho que há elos mais fortes aqui dentro.
— Alteza, acho que nossas garotas são mais dispostas a falar do que você — Cail brincou e arrancou uma risada de .
— Senhorita , já ouvimos aqui neste palco que você poderia ser a escolhida do príncipe. Me diga você, acha que ele já se apaixonou?
Meu coração estava magoado e eu só queria sair daquele lugar, mas sabia que não tinha como fugir. Procurei manter minha melhor voz e postura para esconder meus sentimentos antes de falar:
— Pergunta bastante difícil, Cail — comecei, deixando uma risada mentirosa escapar, afinal, eu também sabia jogar aquele jogo se quisesse. — Mas eu acho que o príncipe é muito sincero com suas palavras aqui no palco. E, se ele diz que todas nós somos apaixonantes a seu modo, eu acredito nele.
— Você ainda não respondeu, mocinha.
Eu sabia que ele iria querer mais resposta, essa foi minha intenção ao falar aquilo.
Dei um sorriso e continuei.
— Acho que se o príncipe tivesse se apaixonado por alguém, ainda que no início ou agora, ele não conseguiria esconder. Se ele diz que não, eu também acredito que não. Afinal, paixão a gente entrega até no olhar, não é mesmo?
— Que resposta sincera e profunda, senhorita. Alguma resposta às duas selecionadas, Alteza?
me encarava antes de virar para Cail, parecendo, pela primeira vez na noite, levemente desconcertado.
— Não exatamente, Cail. Mas acredito que o que vou anunciar agora diga um pouco mais sobre meus sentimentos em relação a cada uma.
— E qual o seu anúncio?
— Hoje metade das garotas serão eliminadas. Nesta noite formarei minha Elite.
Estávamos no fim da gravação do Jornal Oficial. Hope, Mary Kudrow, Monica Hamilton, Constance Miller, Sandra Buffay e Maggie Rudd haviam sido eliminadas. E, ainda que a noite tenha sido regada a muito choque, as eliminadas se saíram muito bem, com exceção de Hope. Mas todas nós conseguíamos entender seu choque. Até antes daquele programa, ela seria o par de em um jantar para os italianos, isso lhe dava segurança no jogo. Mas aparentemente tudo ali era volátil, assim como os sentimentos de .
As mudanças no jogo abalaram a todas e principalmente Melissa. Nunca tinha lhe visto tão nervosa.
— Meninas, podemos nos reunir amanhã? Estou com a cabeça estourando — pediu assim que levantamos.
— Tem certeza? Podemos conversar — sugeri. A verdade é que eu tinha passado o programa inteiro almejando o momento que estaríamos a sós. Era o meu ponto de equilíbrio.
— Tenho. Não consigo pensar em mais nada que não seja minha cama e uma boa massagem. Que tal uma massagem amanhã antes do café da manhã?
, que parecia desnorteada, concordou.
— Acho ótimo, também preciso da minha cama.
Percebendo que eu era voto vencido, apenas as acompanhei na saída do estúdio. Foi quando ouvi uma voz familiar me chamar.
— Senhorita !
O príncipe George estava ao lado de e me chamava enquanto dava um sorriso convencido. Minhas amigas pareceram tão surpresas quanto eu.
— Podem me esperar? Não demoro — pedi e as meninas apenas balançaram as cabeças em um sim. Me aproximei dos príncipes e fiz uma reverência claramente forçada, na intenção de mostrar que eu não queria conversar. — Altezas — falei enquanto ia praticamente até o chão.
— Não precisa di... — começou a falar, mas fora interrompido por George.
— Eu sei que essa seleção não se trata de mim, mas queria lhe pedir um pedido pessoal.
— Pode falar.
— , eu acho melhor você fingir que não está vendo meu irmão — disse.
Dei um sorriso forçado e falei:
— Por que eu faria isso, alteza? — indaguei formalmente. — Pode falar, príncipe George.
O príncipe mais velho, tão cara de pau como sempre parecera ser, falou calmamente:
— Meu irmão e eu gostamos de jogar alguns jogos de tabuleiro quando as coisas ficam difíceis, e queríamos saber se você não poderia nos acompanhar.
Pisquei os olhos com força, tentando manter longe do meu gosto a incredulidade daquela cena. O príncipe George sempre fora patético, mas tinha acabado de extrapolar seus próprios limites.
— Oferta tentadora, Alteza — me forcei a responder —, mas terei que negar.
— Eu falei que você se encontrava com suas amigas depois do jornal — disse constrangido.
— Não vou encontrá-las — confessei enquanto sentia meu coração acelerar pelas palavras seguintes. — Mas estou muito cansada e precisando me deitar. Sugiro que procurem outra companhia, Altezas.
pareceu ainda mais desconfortável e fez um sinal com a cabeça para o irmão, que rapidamente saiu de cena.
— Daqui a pouco vou ao seu quarto e conversamos melhor, pode ser? — ele perguntou de forma direta, e senti a raiva tomar conta.
Quem pensava que era para dizer aquilo tudo – ou melhor, não dizer – ao vivo e ainda agir como se tivesse qualquer autoridade ou poder sobre o que tínhamos? Ele não me perguntou se eu o queria lá, apenas informou, e sua pergunta no final era retórica. Só que ele podia ser o príncipe e agora futuro rei, mas no meu quarto ele ainda era , e se eu tinha um pouco de dignidade, faria o que quisesse nele.
— Não mesmo — respondi enquanto sentia minha respiração ficar pesada.
me olhou confuso e depois respirou fundo, tentando agir como um adulto que conversa com uma criança mimada.
— Você parece chatea...
— Você não é ninguém para supor coisas sobre mim, se convidar para ir ao meu quarto, agir como se fosse o único adulto aqui ou me meter nos joguinhos malucos do seu irmão. Estou cansada e não quero você lá, assim como não quero fazer papel de palhaça para o seu irmão rir — eu falava muito baixo, ainda que agora de selecionadas só restassem minhas duas melhores amigas.
— George não queria fazer graça com você, ele apenas colocou na cabeça que será nosso cupido.
— Nós não precisamos disto. Já que ainda é tempo, eu sugiro que ele escolha outra garota como alvo, quem sabe assim você finalmente se apaixone por alguém.
ficou sem reação e tentou segurar minha mão, mas a tirei a tempo e depois disse:
— Passar bem, Alteza — e repeti uma reverência exagerada.
Ele podia ser o dono do mundo, mas eu ainda era dona da minha própria vida e não deixaria ninguém brincar com meu coração.
Capítulo Dezoito
Na noite anterior, meu spa com as meninas havia ficado em aberto, de modo que sequer me programei para acordar mais cedo. Mas assim que os primeiros raios de sol apareceram, e Melissa estavam em meu quarto puxando as cortinas e me chacoalhando.
— Parece que estou em casa e quer me atormentar. Isso só pode ser um pesadelo — falei enquanto colocava minha cabeça embaixo do travesseiro.
As meninas riram.
— Você vive falando que está com saudades de casa, achei que fosse legal lembrar disso.
— Você tirou a graça de uma das maiores vantagens de viver aqui — brinquei.
Levantei e comecei a me arrumar sozinha, de modo que, quando Abigail e Stephanny chegaram, eu já estava com tudo pronto para sair com as meninas.
— Vocês pretendem demorar? — Abigail perguntou.
— Não, por quê? — quis saber.
— Nos falaram que vocês têm uma tarefa importante às dez da manhã.
— São cinco e meia. Podem ficar tranquilas que chegaremos sãs e salvas — Melissa disse enquanto nos arrastava para fora do quarto.
olhou para trás, parecendo incerta:
— Vocês têm certeza que é boa ideia?
— Vocês me arrastaram para fora da cama ainda de madrugada, não ousem desistir — adverti.
Não sei como, mas Melissa havia conseguido agendar nossas massagens e, assim que chegamos ao spa, já estava tudo pronto. Assim que começamos, me arrependi de nunca ter visitado aquele lugar antes.
A verdade é que entre minha saudade de casa, revolta e problemas amorosos, eu havia perdido muito tempo que poderia ter sido melhor aproveitado. Fiz uma nota mental de ser mais feliz agora com a Elite.
— Essa massagem só pode ser obra divina — Melissa disse, e nós meio que concordamos com um gemido indecifrável.
Quando a massagem acabou, fomos levadas para a hidromassagem e pudemos conversar a sós. Melissa começou:
— Eu sei que o clima está muito bom para falarmos da Seleção, mas eu queria agradecer a vocês duas.
Melissa agradecendo do nada? Aquela não era ela. e eu nos olhamos confusas.
— Eu também sei que não sou a pessoa mais fácil de lidar, mas agora estamos na Elite e eu tenho plena consciência de que só cheguei até aqui graças a vocês. Se a gente não tivesse se encontrado, eu acho que teria pedido para sair.
Eu não sabia o que falar e parecia igualmente chocada. Percebendo nosso choque, Melissa riu.
— Vocês poderiam ao menos fingir que me acham educada — brincou.
— Na verdade, eu te acho bem educada — falei. — Mas não com a gente.
As meninas riram.
— Realmente, você com certeza é mais mal educada que eu perante o mundo — Melissa me disse.
— Acho que só a é educada com todo mundo — apontei e nós três rimos.
— Mas é sério, meninas. Encontrar vocês, Olivia e Sarah foi um respiro neste jogo. Eu me inscrevi nisto à procura de fama, não amor. E eu achei que por vir com essa cabeça, as coisas seriam mais fáceis. Não me abalaria fácil. Só que esse jogo nos reserva cada surpresa. E a melhor delas foi vocês.
Quando me dei conta, já estava chorando.
— Droga, Melissa. Eu não estava preparada para isto.
, embora tentasse se segurar, também tinha os olhos lacrimejados.
— Eu odeio o que esse jogo faz com a gente às vezes. Ele revela nossa pior e melhor face. Obrigada por continuarem comigo nas duas — agradeceu.
— Obrigada também, meninas — falei com a voz embargada. Eu havia entrado no jogo acreditando que acabaria perdendo a única amiga que eu tinha, mas que sorte a minha foi, além dela, ter ganhado outras amigas tão preciosas. — Eu amo vocês — confessei, antes de mergulhar de vergonha.
Pude escutar as risadas das meninas em resposta.
Voltamos para o quarto pouco tempo depois, e assim que entrei no meu, encontrei Abigail e Stephany nervosas à minha espera.
— O que está acontecendo? Ainda temos mais duas horas.
— Estamos fazendo a sua mala — Abigail disse nervosa.
Meu mundo caiu.
— Eu fui eliminada? Como assim? — indaguei, já sentindo os olhos pinicarem.
Stephany me olhou nervosa e correu ao meu encontro.
— Me desculpe, . Acho que nos expressamos mal. Todas vocês terão que estar de malas feitas. Vocês voltarão para suas casas ainda hoje. Vão ter compromissos em suas províncias e depois farão uma turnê juntas em todas as províncias do país. Eu não sei se será uma coisa seguida da outra. Mas o que sabemos é que devemos fazer sua mala e te aprontarmos para um encontro com a rainha que acontecerá às dez.
Eu pouco entendi depois da parte de que veria minha família. Meu Deus, agora, escutando falar sobre eles, eu conseguia sentir a saudade me sufocar.
— Eu vou ver minha família.
Abigail sorriu.
— Vai sim, . E você voltará com a força que precisa para ir até o fim.
E provando que Abigail estava certa, pude já sentir mais força dentro de mim.
Eu estava tão feliz em saber que veria minha família que pouco me atentei ao fato de que iria encontrar a rainha para um café. Ela solicitou que esse café fosse feito no jardim do palácio, e por isso as meninas me vestiram com um vestido leve e muito bonito. Assim que cheguei lá, acompanhada de e Melissa, eu quis voltar.
Luna estava ao lado da rainha e tinha um olhar de pânico que assustava e fazia graça na mesma medida.
— Eu definitivamente não queria passar por isto logo após a manhã que tivemos — falei baixinho.
deixou um sorriso escapar enquanto falava:
— Agora é hora de sorrir e acenar. A gente dá conta disso.
Chegamos perto da rainha e as outras três selecionadas da Elite já estavam lá.
— Vocês estão atrasadas — a rainha disse calmamente.
Não estávamos atrasadas. Apenas chegamos na hora, não antes. Mas não falamos nada.
— Bom dia, Majestade — falamos enquanto nos curvávamos. — Bom dia, meninas.
— Bom dia, senhoritas — a rainha falou enquanto sorria, como se não tivesse nos repreendido anteriormente. — Agora que todas chegaram, vamos tomar nosso café da manhã. Quando todas estiverem satisfeitas, nós poderemos conversar.
Eu queria perguntar se isso não atrasaria nossa viagem para casa, mas não ousei fazer isto.
— Programei para que nossas melhores criadas venham fazer nossas unhas, assim, vocês viajarão lindas para suas casas amanhã.
— Amanhã? — alguém murmurou a pergunta, mas não consegui saber quem era.
— Sim. Suas viagens não podem ser hoje, visto que temos nosso compromisso. Preciso lembrá-las da importância que é fazer parte da Elite?
— Não, Majestade — falamos juntas.
Nenhuma das garotas parecia estar com fome, mas acho que, assim como eu, estavam apenas nervosas com aquele encontro. A rainha parecia ciente do nosso nervosismo pelos olhares que nos direcionava, mas ainda assim, ela seguiu comendo calmamente.
— Estão com saudade das meninas que foram embora? — ela perguntou amigavelmente.
Encarei a rainha Daisy, me perguntando como ela conseguia fazer aquilo. Se manter calma ainda que todos ao seu redor exalassem ansiedade. Era como se os sentimentos alheios não a afetassem.
Se eu estivesse em uma mesa onde todas as pessoas terminaram suas refeições, não conseguiria continuar comendo, por exemplo. Mas ela não apenas continuava, como não se apressava em falar o que tanto estávamos curiosas para ouvir. Era como se o mundo ao redor não penetrasse sua mente, e mais que isso, ela estava ciente que o mundo teria que esperá-la.
— Sempre fica um pouco de saudade — falei, sabendo que não poderíamos deixá-la sem resposta.
— Acredito que vocês poderão rever suas amigas quando passarem pelas províncias delas. Meu filho me informou que elas também participarão dos encontros em suas respectivas províncias nesta turnê da Elite.
— Vai ser bom poder revê-las — Melissa falou educadamente.
— Por um tempo, procurei não me aproximar muito de vocês — a rainha voltou a falar enquanto pousava sua xícara no pires. — Devo confessar que nunca levei essa Seleção tão a sério, e não contava com a chance de conviver mais do que alguns meses com uma de vocês.
Rainha Daisy, então, fez uma pausa e encarou todas nós, como quem espera alguma reação. Mas acontece que todas nós estávamos chocadas demais para falarmos qualquer coisa.
— Mas como sabem, meu filho mais novo agora será o futuro rei de Illéa, e acho que isso muda um pouco a condição referente à presença de vocês. E, vocês devem me perdoar, mas quando criei meu filho, não imaginei que ele se casaria com alguma de vocês.
Ela falava tudo com muita calma e parecia não se dar conta da dureza que tinham aquelas palavras. Olhei para o lado e vi que tinha os olhos marejados, já Angelina parecia prestes a chorar. Melissa, por outro lado, parecia firme como uma rocha. As outras duas pareciam divididas entre as lágrimas e a raiva. Eu estava dividida entre me manter firme ou perder a cabeça.
— é um menino de ouro e não merecia ter que encontrar sua futura esposa num show como este. Vocês, em sua maioria, nunca estiveram em algo parecido com o palácio, e seus modos não são dos melhores. Mas quero dizer que, no que precisarem, estarei aqui. Vou intensificar seus ensinos e marcaremos mais encontros como este. Eu não confio e não tenho apreço algum por nenhuma de vocês, mas me esforçarei para estreitarmos os laços.
— A senhora tem certeza que quer estreitar os laços conosco? — perguntei.
Como ela iria querer se tornar mais íntima de pessoas que ela julgava por tão pouco?
— Uma de vocês será minha nora, não é mesmo? Então, ao menos uma terá que aprender a ser uma rainha.
Ela não queria criar carinho por nenhuma de nós, apenas transformar uma de nós em alguém minimamente “digna”.
— Será um prazer ter ensinamentos com a senhora, Majestade.
Foi quem falou, e não pude deixar de encará-la. Como ela conseguia ceder àqueles tipos de palavras?
— Não precisa ficar tão surpresa, senhorita — a rainha disse enquanto deixava um pequeno riso escapar. — A senhorita está começando a entender este jogo. E devo confessar que, se tratando de inteligência, você é quem está mais atrás.
Senti meu rosto queimar de vergonha. A humilhação tomando conta.
— Era mais isto mesmo, senhoritas. O senhor Peter irá procurá-las depois para as primeiras aulas intensivas.
Nos levantamos e fizemos uma reverência. Quando já estava saindo, escutei a rainha me chamar:
— Senhorita , pode ficar mais um minuto?
Melissa e me encararam preocupadas, mas fiz sinal para que elas seguissem. Se eu estivesse em problemas, não queria metê-las nisso.
— Qual o seu problema em se encaixar aqui? — a rainha perguntou assim que cheguei mais perto dela.
— Perdão. Creio que não entendi.
Sempre que meus problemas para socializar no palácio vinham à tona, eu sentia um medo crescente que descobrissem o que eu já tinha escrito.
— Você não consegue se encaixar de verdade. Suas criadas são as melhores, eu acho, principalmente se vermos suas roupas e cabelo. Mas ainda assim sempre te falta um quê de nobreza que, sendo sincera, não a vejo procurando.
A rainha Daisy era mestre em falar coisas duras como se estivesse sendo apenas cuidadosa. Aquilo me deixava nervosa. Me fazia pensar que talvez nem mesmo ela percebesse algumas das coisas cruéis que ela falava.
— Peço perdão se meus modos não lhe agradam, Majestade. Procurarei...
— Eu não me agrado de nenhuma de vocês, senhorita . Este não é o ponto da questão. O que me incomoda é que, de todas, você deveria ser aquela que mais se dedica a aprender sobre esta realidade, mas em vez disso, continua transparente como um copo de água e burra como uma porta.
— O que a senhora quer dizer? — indaguei, tentando ignorar suas ofensas.
— Eu não gosto de nenhuma de vocês de verdade porque este jogo não me agrada, meu filho não merecia estar no meio disso. Mas a senhorita, pessoalmente, é a que mais me irrita. De todos os males que eu poderia desejar para o meu filho, deixar dominar-se por amor é um dos piores, mas casar por amor? Este sim é o pior de todos. E cada vez que vejo os dois juntos, eu sinto que ele está à beira das duas coisas.
Comecei a respirar forte, incapaz de dizer qualquer coisa. A rainha, por outro lado, parecia se manter calada de propósito, esperando uma resposta minha.
— E lhe incomoda tanto que seu filho encontre o amor? — consegui finalmente falar.
— Me incomoda que meu filho ame uma garota que não se importa com o mundo do qual ele faz parte. não tem como fugir de suas obrigações. Ainda que pudesse, sei que não o faria.
— Eu sei muito bem disso, Majestade. E nunca pedi que fosse algo diferente.
— Não diretamente, . Mas seus modos entregam o quanto você almeja por isto. A esta altura do campeonato você já sabe como o rei é rígido com os filhos. Não vou permitir que você transforme meu filho em um inimigo do rei, não vou permitir que seu egoísmo o coloque nesta posição. Ele é o meu filho!
Assim que começou a falar do rei, a rainha pareceu perder o controle e terminou a sua fala com um grito contido, mas ainda assim, cortante. Acredito que sua intenção tenha sido me amedrontar, mas em vez disso, me senti furiosa. Minha raiva não era por ela estar gritando ou tentando me machucar, mas por achar que sabia alguma coisa sobre meu relacionamento com , porque ela não sabia.
— Eu nunca, repito, nunca quis prejudicar seu filho em nada com seu esposo. Muito pelo contrário, eu queria que ele tivesse mais pessoas o defendendo das tiranias do rei — falei, deixando claro que não a via como defensora do filho. — Nunca quis que precisasse estar na Seleção, e acredite em mim, sou tão crítica desta posição quanto a senhora. Mas se a senhora tem medo que seu filho ame alguém que não se adapta a este local por completo, aviso que se fosse uma boa mãe, deveria temer mais que eu não o amasse. E, por mais que suas falas tenham me deixado ainda com mais raiva, se um dia ele falar que me ama, certamente esse sentimento será recíproco.
Terminei minha fala chorando e tremendo. Eu não tinha acabado de dizer que amava , mas tinha assumido que estava percebendo este amor crescer dentro de mim, e diferente do que eu pensava que faria ao me dar conta disso, eu não queria fugir, eu queria ficar ao lado dele. Eu, Benette, estava dizendo que queria pular daquele precipício.
— Se o que diz é verdade, senhorita , em uma semana os italianos estarão aqui novamente. Meu filho vai escolher não levar nenhuma de vocês como acompanhante, mas isso não muda o fato de que vocês serão avaliadas. Se quer mesmo conquistar meu filho, sugiro que dentro de uma semana me convença primeiro. Caso contrário, eu mesma me encarregarei de enxotar você deste palácio pelos cabelos.
Eu tentei pensar em uma resposta, mas antes disso, a rainha levantou a mão e balançou enquanto falava:
— Está dispensada.
Ela não olhou enquanto falava, sequer virou o rosto para mim. Apenas balançou a mão como se eu fosse um cão insignificante.
Sem muitas forças para me levantar, mas sabendo que precisava, forcei minhas pernas a ficarem eretas e me arrastei para longe, tendo a certeza que nenhum par de olhos me olhava sair – eu não importava tanto a este ponto. Quando cheguei dentro do palácio, encontrei perto da porta me olhando com preocupação.
— ! — exclamei e me joguei em seus braços sentindo que minha vida dependia daquele abraço.
— ? Está tudo...
Mas antes que minha amiga terminasse, lhe puxei para mais perto e comecei a chorar desesperadamente.
— , minha querida, você não pode chorar assim aqui no corredor. Quer que a gente volte...
— Não me coloquei lá novamente, por favor — pedi em meio às lágrimas.
pareceu entender as coisas e me arrastou para dentro de uma sala desconhecida.
— O que aconteceu, ?
era minha melhor amiga, e, apesar de toda loucura da Seleção, eu sabia que nossa amizade continuava ali, em algum lugar. Horas mais na superfície, horas mais no fundo, mas ela continuava ali. Eu podia contar com ela.
— A rainha Daisy. Ela, ela... — eu não conseguia falar direito em meio às lágrimas. — Eu me sinto tão pequena, tão impotente.
— Ela te machucou? — perguntou, alarmada.
— Apenas com palavras — contei. — Eu não posso acreditar que me deixei ser levada por este programa, pelo . Este não é o meu lugar, ele nunca será.
Não sei o que deixou tão chocada, mas minha amiga se afastou apenas um pouco enquanto me olhava curiosa. Mas ela rapidamente jogou qualquer pergunta para longe da conversa e apenas me abraçou.
— Eu sinto muito, . Queria poder fazer algo.
continuou me abraçando enquanto eu chorava, um pouco mais calma. A sala onde estávamos estava escura, clara apenas perto da porta que deixamos entreaberta, e embora eu tivesse medo de escuro, aquele não me assustava. Afinal, ele significava algo parecido com privacidade, algo difícil ali.
Mas acontece que não estávamos sozinhas. Alguns minutos depois, escutamos um barulho de algo caindo e pulamos juntas, assustadas com o que poderia ser.
— Quem está aí? — indaguei, sentindo minha pulsação acelerada.
Ninguém respondeu.
— Quem. Está. Aí? — voltei a perguntar, dessa vez pausadamente e tentando parecer forte.
— Fala logo, cacete — esbravejou, tão assustada que abandonou seus bons modos. Ela estava perto de acender a lâmpada quando alguém se pronunciou.
— É o príncipe George, senhoritas — uma voz masculina falou.
Minha amiga, assim como eu, não estava bem certa disso e acendeu a lâmpada. Era realmente ele.
— Desculpe, Alteza. Mas o que você faz aqui? — perguntou curiosa.
— Você nos ouviu?
O príncipe nos encarou e resolveu ignorar minha pergunta.
— Esta é uma sala pouco visitada no palácio, e isso significa que é o único lugar onde posso ter privacidade para respirar um pouco durante um dia difícil. Era isso que eu estava fazendo.
— Claro, Alteza. Nem deveríamos ter lhe cobrado qualquer explicação — disse, voltando ao seu normal.
— Você nos ouviu? — tornei a perguntar.
— Sim, senhorita . E sei que não somos tão amigos assim, mas quero lhe dar um conselho: não deixe que meus pais vejam suas fraquezas. Se lhe baterem, continue inabalável, ainda que vá desmoronar assim que estiver sozinha. Seja uma rocha. Mas para uma pessoa você nunca vai precisar ser, e essa pessoa é o meu irmão. Se tem alguém com quem você deveria conversar sobre isso, essa pessoa é ele.
— , eu não acho que você deveria levar esse tipo de problema para o príncipe — falou mais baixo, perto de mim, porém o príncipe ouviu.
— Você escolhe, minha querida . Ou conta você, ou conto eu. Não vou permitir que a superproteção da minha mãe faça mais uma vítima.
— Mas... — e eu tentamos protestar ao mesmo tempo.
— E podem desligar a lâmpada e fechar a porta quando saírem, continuo precisando de um tempo sozinho.
Não era um simples pedido, era uma imposição para que o deixasse sozinho.
— Claro, Alteza — respondeu baixinho.
Enquanto subia junto com para o quarto, o silêncio pairou sobre nós. E, ainda que não trocássemos palavras, eu sabia o que minha amiga estava pensando. Ela era contra eu contar para o príncipe.
— Chegamos — falei assim que alcancei a porta do meu quarto.
— Tchau, — ela disse enquanto me abraçava.
— Tchau.
Porém, assim que alcancei a maçaneta, ouvi falar:
— Você não vai contar, ou vai? — indagou, quase como se exigisse uma resposta. Balancei a cabeça em completo abandono.
— Eu não sei, . Acho que o príncipe George vai contar de toda forma — dei de ombros. — Eu só não sei se quero passar por este estresse antes de ver minha família.
— Ele parece gostar da ideia de tê-la como cunhada — falou baixinho e eu neguei com a cabeça. Não aguentaria uma conversa como aquela agora. De tantas coisas que passavam em minha cabeça, uma possível discussão sobre algo como aquilo me soava ridícula.
— Eu não vou falar disto agora, . Desculpe.
— É só que... ele parece saber a escolha do príncipe.
Voltei a negar com a cabeça, perdendo um pouco a paciência.
— , eu tenho o rei e a rainha contra mim. Não sei se quero continuar aqui. Acabei de discutir com a mãe do príncipe . Acha mesmo que conversar sobre o príncipe que abdicou do trono é uma boa ideia? — indaguei sem conseguir esconder a pitada de sarcasmo na voz. — Além disso, sendo bem franca, eu não vou conversar sobre isso agora. A última coisa que quero e preciso é de ter que me preocupar com algo que sempre julguei tão sólido quanto nossa amizade. Outro dia, quem sabe, podemos continuar esse assunto.
Talvez pela leve irritação contida na minha voz, ou talvez apenas por ter recobrado o bom senso, escolheu não insistir mais.
— Claro. Até mais, .
— Até.
Então, entrei e tranquei minha porta. Eu veria minha família no dia seguinte e não podia desabar mais uma vez.
Fiquei o restante do dia no quarto até ser informada que deveríamos todas jantar com a família real. Era uma espécie de jantar comemorativo por causa da Elite. Eu não estava em clima de comemoração, mas ainda assim, deixei que as meninas me arrumassem para ir.
— Você está uma verdadeira princesa, — Stephany disse, satisfeita em me ver pronta.
— Graças a vocês — falei, tentando me animar para ir ao jantar.
— Está tudo bem, ? — Abigail perguntou, preocupada.
— Apenas alguns pensamentos e saudade de casa.
— Seja o que for, se anime. Você vai ver sua família amanhã, está na Elite e é a clara preferida do príncipe, ainda que o mundo todo não saiba disso ainda.
— E se quer nossa humilde opinião — Stephany continuou com a mesma felicidade que Abigail —, você será a princesa e futura rainha de Illéa.
Eu não sabia o que dizer, então me forcei a dar um sorriso sem dizer nada. Elas entenderiam que eu preferia ficar sozinha com meu silêncio.
Assim que cheguei para o jantar, ainda faltavam chegar Melissa e Luna, seguidas pelo príncipe George, que foi o último a se sentar à mesa.
— Boa noite, senhoritas — o rei falou com entusiasmo.
— Boa noite, Majestade — falamos juntas.
— Fico feliz de poder jantar com as seis melhores garotas entre todas de Illéa. Espero que aproveitem o jantar. Estão ansiosas para verem seus familiares e amigos?
— Contando as horas, Majestade — Summer falou e sorriu.
— Eu imagino.
— Vai ser bom vê-los. Acredito que nos dará mais energia para seguirmos aqui — falei, tentando participar um pouco da conversa.
O rei pareceu surpreso ao ouvir minha voz, ao ponto que a rainha apenas me olhou, avaliando-me.
— Com certeza — Angelina concordou timidamente comigo.
O príncipe sorriu e falou:
— Fico feliz por vocês poderem ter este momento. Eu também acho que vai fazer muito bem.
— Sem esquecer, claro, que este é um momento de turnê com fins profissionais para além do pessoal. Não se esqueçam disto, tudo é levado em conta — a rainha falou e todo o clima amigável, que até mesmo o rei estava conseguindo imprimir à conversa, foi desfeito.
Pude ver a mão de Angelina tremendo. Não ousei pegar no garfo por suspeitar que a minha mão ficaria da mesma forma. Afinal, eu sabia que aquele aviso era principalmente dirigido a mim.
— Dê um desconto a elas, rainha. Não vamos esquecer que queremos minha futura cunhada lúcida quando for escolhida — o príncipe George brincou, tentando quebrar o clima ruim.
— Tenho que concordar com os dois — o rei sorriu. — É óbvio que esta viagem tem efeitos profissionais, mas usem-na para relaxar também. É sempre bom estar perto da família.
— Obrigada, Majestade — Melissa disse educadamente.
O restante do jantar seguiu sem a leveza inicial, mas também sem o peso que a rainha colocou no meio da conversa. Comemos calados, com pequenas falas simples, apenas por educação.
Quando o jantar acabou, eu já estava de saída quando ouvi a voz do príncipe George me chamar:
— Senhorita , pode ficar um minuto? Acredito que encontrei algo em um dos corredores que certamente lhe pertence.
Encarei minhas amigas, confusa, ao passo que Melissa me encorajou, empurrando-me de leve.
já não estava mais na sala de jantar.
— Claro — respondi, incerta.
Segui o príncipe George por um corredor sem ninguém e depois o vi abrir a porta de uma das salas. Ainda em dúvida sobre a veracidade da sua história, entrei junto com ele e estava pronta para questioná-lo quando encontrei em pé do outro lado.
— Eu te disse que contaria a ele — o príncipe George me falou antes de sair da sala.
— O que está... — comecei, mas me interrompeu, já explicando.
— George me falou o que viu e ouviu hoje. Queria conversar com você, mas não queria chamá-la na frente de todos, isso só deixaria minha mãe com mais ciúmes. Ele só me ajudou a te trazer aqui para conversarmos. Vai ficar nos esperando do lado de fora.
— Você deveria ter pensado melhor nisso, eu quase não vim — tentei brincar, porque não queria falar da rainha.
suspirou, o que era incomum para ele, e depois se aproximou de mim, segurando minha mão.
— Me desculpe por ela. Sei que ela quem deveria te pedir desculpa pelo que quer que ela tenha dito, mas se isto não ocorreu, peço desculpas.
Foi a minha vez de suspirar.
— Se você for se desculpar por tudo que sua família faz ou fala, temo que não terá tempo para ser rei.
balançou a cabeça em um sim, parecendo rendido.
— Merecíamos essa — ele falou baixo.
Acabei rendendo-me também. Ele não merecia escutar grosserias por ser filho de quem era. Não havia sido ele a me machucar.
— Me desculpe, é só que... eu não quero falar sobre isto, não pretendia lhe contar. E não há nada que possamos conversar que vai mudar quem sou e quem seus pais são, eu apenas não queria me desgastar.
calmamente se aproximou mais de mim e segurou meu rosto com as duas mãos, encarando-me enquanto deixava um sorriso preguiçoso escapar de seus lábios.
Senti minha barriga dar um loop.
— A gente não precisa se desgastar, — ele falou enquanto aproximava seu rosto ainda mais do meu.
Eu sabia que ele iria me beijar, e embora eu não tivesse certeza se esse era o melhor jeito de resolver as coisas, eu queria que ele o fizesse.
Mas não me deu um beijo avassalador para embaralhar meus pensamentos e me deixar esquecer, ainda que por pouco tempo, nossos problemas. Em vez disso, ele me deu um selinho demorado e deixou um outro sorriso escapar ainda com os lábios colados nos meus.
Meu corpo inteiro se arrepiou e senti cada uma das minhas rótulas ficarem mais fracas. Não era o desejo que estava me deixando assim, era um sentimento diferente, que gritava e latejava dentro do meu coração e me amolecia completamente. Algo como voltar para casa depois de meses de saudade. Algo como a certeza do por vir. Algo como...
— Não é justo que as pessoas possam decidir nosso futuro, você não acha? — ele me perguntou, mas eu ainda estava sem ar para poder responder.
Em vez disso puxei-o para um abraço apertado. pareceu surpreso por alguns segundos, mas depois senti uma de suas mãos ficar firme em minha lombar e outra fazer carinho em meus cabelos enquanto eu enterrava meu rosto em seu pescoço.
Demoramos alguns minutos assim até que, como costumava acontecer quase sempre comigo naquele palácio, me vi chorando.
— Eu quero acabar com esta Seleção, . Quero acabar agora. Ainda que não pra todos, acabar entre nós dois.
Me afastei um pouco, confusa.
— Como assim?
— Minha mãe é muito melhor que meu pai, na maioria das vezes — ele disse com um risinho engraçado. — Mas ela é extremamente ciumenta comigo e com meu irmão, além de ter uma noção problemática sobre relacionamentos, por motivos óbvios, você sabe. Eu não sei o que ela falou pra você, mas sabendo que eu estou nesta equação, sei que ela deve ter sido muito irracional, para dizer o mínimo.
Balancei a cabeça em um sim.
— Mas eu sei o que quero, . Eu sei que embora eu odeie estar neste circo, ele me trouxe você. E eu quero você. Eu iria te querer com ou sem Seleção, bastava eu ter uma chance de te conhecer.
Aquele frio na barriga voltou a aparecer.
— E certamente esse deve ser o motivo que mais preocupa minha mãe — ele voltou a sorrir. — Mas acontece que da mesma forma que eu não quero meu pai decidindo minha vida, eu não quero que ela também faça isso. E , pode parecer loucura, mas há tempos eu já decidi. Eu quero você. Eu quero nós dois. Eu quero o fim da Seleção e você nos meus braços.
— E o que vamos fazer se seus pais me odeiam?
— Eles odeiam todo mundo! — ele abriu os braços para mostrar a realidade. — Eles se odeiam e jogam esse ódio pra cima de qualquer pessoa que tenha o que eles nunca tiveram: felicidade. Mas eu serei o próximo rei de Illéa, quer eles queiram, ou não. E eu quero você ao meu lado. E , eles podem tentar o que for, mas eu sei quem você é, eu sei o que sinto por você...
— O que você sente? — indaguei, cortando-o.
— Como? — me encarou.
— O que você sente por mim?
Era confuso vê-lo falar tão firmemente sobre um sentimento que nunca nomeamos. E agora ele queria passar por cima dos pais e daquele jogo em nome desse sentimento. Fosse o que fosse, eu precisava saber do que se tratava. Entender se era real.
Mas de todas as respostas, talvez eu não esperasse por uma tão crua e tão forte como a que recebi.
— Amor, . Eu amo você, Benett.
— Parece que estou em casa e quer me atormentar. Isso só pode ser um pesadelo — falei enquanto colocava minha cabeça embaixo do travesseiro.
As meninas riram.
— Você vive falando que está com saudades de casa, achei que fosse legal lembrar disso.
— Você tirou a graça de uma das maiores vantagens de viver aqui — brinquei.
Levantei e comecei a me arrumar sozinha, de modo que, quando Abigail e Stephanny chegaram, eu já estava com tudo pronto para sair com as meninas.
— Vocês pretendem demorar? — Abigail perguntou.
— Não, por quê? — quis saber.
— Nos falaram que vocês têm uma tarefa importante às dez da manhã.
— São cinco e meia. Podem ficar tranquilas que chegaremos sãs e salvas — Melissa disse enquanto nos arrastava para fora do quarto.
olhou para trás, parecendo incerta:
— Vocês têm certeza que é boa ideia?
— Vocês me arrastaram para fora da cama ainda de madrugada, não ousem desistir — adverti.
Não sei como, mas Melissa havia conseguido agendar nossas massagens e, assim que chegamos ao spa, já estava tudo pronto. Assim que começamos, me arrependi de nunca ter visitado aquele lugar antes.
A verdade é que entre minha saudade de casa, revolta e problemas amorosos, eu havia perdido muito tempo que poderia ter sido melhor aproveitado. Fiz uma nota mental de ser mais feliz agora com a Elite.
— Essa massagem só pode ser obra divina — Melissa disse, e nós meio que concordamos com um gemido indecifrável.
Quando a massagem acabou, fomos levadas para a hidromassagem e pudemos conversar a sós. Melissa começou:
— Eu sei que o clima está muito bom para falarmos da Seleção, mas eu queria agradecer a vocês duas.
Melissa agradecendo do nada? Aquela não era ela. e eu nos olhamos confusas.
— Eu também sei que não sou a pessoa mais fácil de lidar, mas agora estamos na Elite e eu tenho plena consciência de que só cheguei até aqui graças a vocês. Se a gente não tivesse se encontrado, eu acho que teria pedido para sair.
Eu não sabia o que falar e parecia igualmente chocada. Percebendo nosso choque, Melissa riu.
— Vocês poderiam ao menos fingir que me acham educada — brincou.
— Na verdade, eu te acho bem educada — falei. — Mas não com a gente.
As meninas riram.
— Realmente, você com certeza é mais mal educada que eu perante o mundo — Melissa me disse.
— Acho que só a é educada com todo mundo — apontei e nós três rimos.
— Mas é sério, meninas. Encontrar vocês, Olivia e Sarah foi um respiro neste jogo. Eu me inscrevi nisto à procura de fama, não amor. E eu achei que por vir com essa cabeça, as coisas seriam mais fáceis. Não me abalaria fácil. Só que esse jogo nos reserva cada surpresa. E a melhor delas foi vocês.
Quando me dei conta, já estava chorando.
— Droga, Melissa. Eu não estava preparada para isto.
, embora tentasse se segurar, também tinha os olhos lacrimejados.
— Eu odeio o que esse jogo faz com a gente às vezes. Ele revela nossa pior e melhor face. Obrigada por continuarem comigo nas duas — agradeceu.
— Obrigada também, meninas — falei com a voz embargada. Eu havia entrado no jogo acreditando que acabaria perdendo a única amiga que eu tinha, mas que sorte a minha foi, além dela, ter ganhado outras amigas tão preciosas. — Eu amo vocês — confessei, antes de mergulhar de vergonha.
Pude escutar as risadas das meninas em resposta.
Voltamos para o quarto pouco tempo depois, e assim que entrei no meu, encontrei Abigail e Stephany nervosas à minha espera.
— O que está acontecendo? Ainda temos mais duas horas.
— Estamos fazendo a sua mala — Abigail disse nervosa.
Meu mundo caiu.
— Eu fui eliminada? Como assim? — indaguei, já sentindo os olhos pinicarem.
Stephany me olhou nervosa e correu ao meu encontro.
— Me desculpe, . Acho que nos expressamos mal. Todas vocês terão que estar de malas feitas. Vocês voltarão para suas casas ainda hoje. Vão ter compromissos em suas províncias e depois farão uma turnê juntas em todas as províncias do país. Eu não sei se será uma coisa seguida da outra. Mas o que sabemos é que devemos fazer sua mala e te aprontarmos para um encontro com a rainha que acontecerá às dez.
Eu pouco entendi depois da parte de que veria minha família. Meu Deus, agora, escutando falar sobre eles, eu conseguia sentir a saudade me sufocar.
— Eu vou ver minha família.
Abigail sorriu.
— Vai sim, . E você voltará com a força que precisa para ir até o fim.
E provando que Abigail estava certa, pude já sentir mais força dentro de mim.
Eu estava tão feliz em saber que veria minha família que pouco me atentei ao fato de que iria encontrar a rainha para um café. Ela solicitou que esse café fosse feito no jardim do palácio, e por isso as meninas me vestiram com um vestido leve e muito bonito. Assim que cheguei lá, acompanhada de e Melissa, eu quis voltar.
Luna estava ao lado da rainha e tinha um olhar de pânico que assustava e fazia graça na mesma medida.
— Eu definitivamente não queria passar por isto logo após a manhã que tivemos — falei baixinho.
deixou um sorriso escapar enquanto falava:
— Agora é hora de sorrir e acenar. A gente dá conta disso.
Chegamos perto da rainha e as outras três selecionadas da Elite já estavam lá.
— Vocês estão atrasadas — a rainha disse calmamente.
Não estávamos atrasadas. Apenas chegamos na hora, não antes. Mas não falamos nada.
— Bom dia, Majestade — falamos enquanto nos curvávamos. — Bom dia, meninas.
— Bom dia, senhoritas — a rainha falou enquanto sorria, como se não tivesse nos repreendido anteriormente. — Agora que todas chegaram, vamos tomar nosso café da manhã. Quando todas estiverem satisfeitas, nós poderemos conversar.
Eu queria perguntar se isso não atrasaria nossa viagem para casa, mas não ousei fazer isto.
— Programei para que nossas melhores criadas venham fazer nossas unhas, assim, vocês viajarão lindas para suas casas amanhã.
— Amanhã? — alguém murmurou a pergunta, mas não consegui saber quem era.
— Sim. Suas viagens não podem ser hoje, visto que temos nosso compromisso. Preciso lembrá-las da importância que é fazer parte da Elite?
— Não, Majestade — falamos juntas.
Nenhuma das garotas parecia estar com fome, mas acho que, assim como eu, estavam apenas nervosas com aquele encontro. A rainha parecia ciente do nosso nervosismo pelos olhares que nos direcionava, mas ainda assim, ela seguiu comendo calmamente.
— Estão com saudade das meninas que foram embora? — ela perguntou amigavelmente.
Encarei a rainha Daisy, me perguntando como ela conseguia fazer aquilo. Se manter calma ainda que todos ao seu redor exalassem ansiedade. Era como se os sentimentos alheios não a afetassem.
Se eu estivesse em uma mesa onde todas as pessoas terminaram suas refeições, não conseguiria continuar comendo, por exemplo. Mas ela não apenas continuava, como não se apressava em falar o que tanto estávamos curiosas para ouvir. Era como se o mundo ao redor não penetrasse sua mente, e mais que isso, ela estava ciente que o mundo teria que esperá-la.
— Sempre fica um pouco de saudade — falei, sabendo que não poderíamos deixá-la sem resposta.
— Acredito que vocês poderão rever suas amigas quando passarem pelas províncias delas. Meu filho me informou que elas também participarão dos encontros em suas respectivas províncias nesta turnê da Elite.
— Vai ser bom poder revê-las — Melissa falou educadamente.
— Por um tempo, procurei não me aproximar muito de vocês — a rainha voltou a falar enquanto pousava sua xícara no pires. — Devo confessar que nunca levei essa Seleção tão a sério, e não contava com a chance de conviver mais do que alguns meses com uma de vocês.
Rainha Daisy, então, fez uma pausa e encarou todas nós, como quem espera alguma reação. Mas acontece que todas nós estávamos chocadas demais para falarmos qualquer coisa.
— Mas como sabem, meu filho mais novo agora será o futuro rei de Illéa, e acho que isso muda um pouco a condição referente à presença de vocês. E, vocês devem me perdoar, mas quando criei meu filho, não imaginei que ele se casaria com alguma de vocês.
Ela falava tudo com muita calma e parecia não se dar conta da dureza que tinham aquelas palavras. Olhei para o lado e vi que tinha os olhos marejados, já Angelina parecia prestes a chorar. Melissa, por outro lado, parecia firme como uma rocha. As outras duas pareciam divididas entre as lágrimas e a raiva. Eu estava dividida entre me manter firme ou perder a cabeça.
— é um menino de ouro e não merecia ter que encontrar sua futura esposa num show como este. Vocês, em sua maioria, nunca estiveram em algo parecido com o palácio, e seus modos não são dos melhores. Mas quero dizer que, no que precisarem, estarei aqui. Vou intensificar seus ensinos e marcaremos mais encontros como este. Eu não confio e não tenho apreço algum por nenhuma de vocês, mas me esforçarei para estreitarmos os laços.
— A senhora tem certeza que quer estreitar os laços conosco? — perguntei.
Como ela iria querer se tornar mais íntima de pessoas que ela julgava por tão pouco?
— Uma de vocês será minha nora, não é mesmo? Então, ao menos uma terá que aprender a ser uma rainha.
Ela não queria criar carinho por nenhuma de nós, apenas transformar uma de nós em alguém minimamente “digna”.
— Será um prazer ter ensinamentos com a senhora, Majestade.
Foi quem falou, e não pude deixar de encará-la. Como ela conseguia ceder àqueles tipos de palavras?
— Não precisa ficar tão surpresa, senhorita — a rainha disse enquanto deixava um pequeno riso escapar. — A senhorita está começando a entender este jogo. E devo confessar que, se tratando de inteligência, você é quem está mais atrás.
Senti meu rosto queimar de vergonha. A humilhação tomando conta.
— Era mais isto mesmo, senhoritas. O senhor Peter irá procurá-las depois para as primeiras aulas intensivas.
Nos levantamos e fizemos uma reverência. Quando já estava saindo, escutei a rainha me chamar:
— Senhorita , pode ficar mais um minuto?
Melissa e me encararam preocupadas, mas fiz sinal para que elas seguissem. Se eu estivesse em problemas, não queria metê-las nisso.
— Qual o seu problema em se encaixar aqui? — a rainha perguntou assim que cheguei mais perto dela.
— Perdão. Creio que não entendi.
Sempre que meus problemas para socializar no palácio vinham à tona, eu sentia um medo crescente que descobrissem o que eu já tinha escrito.
— Você não consegue se encaixar de verdade. Suas criadas são as melhores, eu acho, principalmente se vermos suas roupas e cabelo. Mas ainda assim sempre te falta um quê de nobreza que, sendo sincera, não a vejo procurando.
A rainha Daisy era mestre em falar coisas duras como se estivesse sendo apenas cuidadosa. Aquilo me deixava nervosa. Me fazia pensar que talvez nem mesmo ela percebesse algumas das coisas cruéis que ela falava.
— Peço perdão se meus modos não lhe agradam, Majestade. Procurarei...
— Eu não me agrado de nenhuma de vocês, senhorita . Este não é o ponto da questão. O que me incomoda é que, de todas, você deveria ser aquela que mais se dedica a aprender sobre esta realidade, mas em vez disso, continua transparente como um copo de água e burra como uma porta.
— O que a senhora quer dizer? — indaguei, tentando ignorar suas ofensas.
— Eu não gosto de nenhuma de vocês de verdade porque este jogo não me agrada, meu filho não merecia estar no meio disso. Mas a senhorita, pessoalmente, é a que mais me irrita. De todos os males que eu poderia desejar para o meu filho, deixar dominar-se por amor é um dos piores, mas casar por amor? Este sim é o pior de todos. E cada vez que vejo os dois juntos, eu sinto que ele está à beira das duas coisas.
Comecei a respirar forte, incapaz de dizer qualquer coisa. A rainha, por outro lado, parecia se manter calada de propósito, esperando uma resposta minha.
— E lhe incomoda tanto que seu filho encontre o amor? — consegui finalmente falar.
— Me incomoda que meu filho ame uma garota que não se importa com o mundo do qual ele faz parte. não tem como fugir de suas obrigações. Ainda que pudesse, sei que não o faria.
— Eu sei muito bem disso, Majestade. E nunca pedi que fosse algo diferente.
— Não diretamente, . Mas seus modos entregam o quanto você almeja por isto. A esta altura do campeonato você já sabe como o rei é rígido com os filhos. Não vou permitir que você transforme meu filho em um inimigo do rei, não vou permitir que seu egoísmo o coloque nesta posição. Ele é o meu filho!
Assim que começou a falar do rei, a rainha pareceu perder o controle e terminou a sua fala com um grito contido, mas ainda assim, cortante. Acredito que sua intenção tenha sido me amedrontar, mas em vez disso, me senti furiosa. Minha raiva não era por ela estar gritando ou tentando me machucar, mas por achar que sabia alguma coisa sobre meu relacionamento com , porque ela não sabia.
— Eu nunca, repito, nunca quis prejudicar seu filho em nada com seu esposo. Muito pelo contrário, eu queria que ele tivesse mais pessoas o defendendo das tiranias do rei — falei, deixando claro que não a via como defensora do filho. — Nunca quis que precisasse estar na Seleção, e acredite em mim, sou tão crítica desta posição quanto a senhora. Mas se a senhora tem medo que seu filho ame alguém que não se adapta a este local por completo, aviso que se fosse uma boa mãe, deveria temer mais que eu não o amasse. E, por mais que suas falas tenham me deixado ainda com mais raiva, se um dia ele falar que me ama, certamente esse sentimento será recíproco.
Terminei minha fala chorando e tremendo. Eu não tinha acabado de dizer que amava , mas tinha assumido que estava percebendo este amor crescer dentro de mim, e diferente do que eu pensava que faria ao me dar conta disso, eu não queria fugir, eu queria ficar ao lado dele. Eu, Benette, estava dizendo que queria pular daquele precipício.
— Se o que diz é verdade, senhorita , em uma semana os italianos estarão aqui novamente. Meu filho vai escolher não levar nenhuma de vocês como acompanhante, mas isso não muda o fato de que vocês serão avaliadas. Se quer mesmo conquistar meu filho, sugiro que dentro de uma semana me convença primeiro. Caso contrário, eu mesma me encarregarei de enxotar você deste palácio pelos cabelos.
Eu tentei pensar em uma resposta, mas antes disso, a rainha levantou a mão e balançou enquanto falava:
— Está dispensada.
Ela não olhou enquanto falava, sequer virou o rosto para mim. Apenas balançou a mão como se eu fosse um cão insignificante.
Sem muitas forças para me levantar, mas sabendo que precisava, forcei minhas pernas a ficarem eretas e me arrastei para longe, tendo a certeza que nenhum par de olhos me olhava sair – eu não importava tanto a este ponto. Quando cheguei dentro do palácio, encontrei perto da porta me olhando com preocupação.
— ! — exclamei e me joguei em seus braços sentindo que minha vida dependia daquele abraço.
— ? Está tudo...
Mas antes que minha amiga terminasse, lhe puxei para mais perto e comecei a chorar desesperadamente.
— , minha querida, você não pode chorar assim aqui no corredor. Quer que a gente volte...
— Não me coloquei lá novamente, por favor — pedi em meio às lágrimas.
pareceu entender as coisas e me arrastou para dentro de uma sala desconhecida.
— O que aconteceu, ?
era minha melhor amiga, e, apesar de toda loucura da Seleção, eu sabia que nossa amizade continuava ali, em algum lugar. Horas mais na superfície, horas mais no fundo, mas ela continuava ali. Eu podia contar com ela.
— A rainha Daisy. Ela, ela... — eu não conseguia falar direito em meio às lágrimas. — Eu me sinto tão pequena, tão impotente.
— Ela te machucou? — perguntou, alarmada.
— Apenas com palavras — contei. — Eu não posso acreditar que me deixei ser levada por este programa, pelo . Este não é o meu lugar, ele nunca será.
Não sei o que deixou tão chocada, mas minha amiga se afastou apenas um pouco enquanto me olhava curiosa. Mas ela rapidamente jogou qualquer pergunta para longe da conversa e apenas me abraçou.
— Eu sinto muito, . Queria poder fazer algo.
continuou me abraçando enquanto eu chorava, um pouco mais calma. A sala onde estávamos estava escura, clara apenas perto da porta que deixamos entreaberta, e embora eu tivesse medo de escuro, aquele não me assustava. Afinal, ele significava algo parecido com privacidade, algo difícil ali.
Mas acontece que não estávamos sozinhas. Alguns minutos depois, escutamos um barulho de algo caindo e pulamos juntas, assustadas com o que poderia ser.
— Quem está aí? — indaguei, sentindo minha pulsação acelerada.
Ninguém respondeu.
— Quem. Está. Aí? — voltei a perguntar, dessa vez pausadamente e tentando parecer forte.
— Fala logo, cacete — esbravejou, tão assustada que abandonou seus bons modos. Ela estava perto de acender a lâmpada quando alguém se pronunciou.
— É o príncipe George, senhoritas — uma voz masculina falou.
Minha amiga, assim como eu, não estava bem certa disso e acendeu a lâmpada. Era realmente ele.
— Desculpe, Alteza. Mas o que você faz aqui? — perguntou curiosa.
— Você nos ouviu?
O príncipe nos encarou e resolveu ignorar minha pergunta.
— Esta é uma sala pouco visitada no palácio, e isso significa que é o único lugar onde posso ter privacidade para respirar um pouco durante um dia difícil. Era isso que eu estava fazendo.
— Claro, Alteza. Nem deveríamos ter lhe cobrado qualquer explicação — disse, voltando ao seu normal.
— Você nos ouviu? — tornei a perguntar.
— Sim, senhorita . E sei que não somos tão amigos assim, mas quero lhe dar um conselho: não deixe que meus pais vejam suas fraquezas. Se lhe baterem, continue inabalável, ainda que vá desmoronar assim que estiver sozinha. Seja uma rocha. Mas para uma pessoa você nunca vai precisar ser, e essa pessoa é o meu irmão. Se tem alguém com quem você deveria conversar sobre isso, essa pessoa é ele.
— , eu não acho que você deveria levar esse tipo de problema para o príncipe — falou mais baixo, perto de mim, porém o príncipe ouviu.
— Você escolhe, minha querida . Ou conta você, ou conto eu. Não vou permitir que a superproteção da minha mãe faça mais uma vítima.
— Mas... — e eu tentamos protestar ao mesmo tempo.
— E podem desligar a lâmpada e fechar a porta quando saírem, continuo precisando de um tempo sozinho.
Não era um simples pedido, era uma imposição para que o deixasse sozinho.
— Claro, Alteza — respondeu baixinho.
Enquanto subia junto com para o quarto, o silêncio pairou sobre nós. E, ainda que não trocássemos palavras, eu sabia o que minha amiga estava pensando. Ela era contra eu contar para o príncipe.
— Chegamos — falei assim que alcancei a porta do meu quarto.
— Tchau, — ela disse enquanto me abraçava.
— Tchau.
Porém, assim que alcancei a maçaneta, ouvi falar:
— Você não vai contar, ou vai? — indagou, quase como se exigisse uma resposta. Balancei a cabeça em completo abandono.
— Eu não sei, . Acho que o príncipe George vai contar de toda forma — dei de ombros. — Eu só não sei se quero passar por este estresse antes de ver minha família.
— Ele parece gostar da ideia de tê-la como cunhada — falou baixinho e eu neguei com a cabeça. Não aguentaria uma conversa como aquela agora. De tantas coisas que passavam em minha cabeça, uma possível discussão sobre algo como aquilo me soava ridícula.
— Eu não vou falar disto agora, . Desculpe.
— É só que... ele parece saber a escolha do príncipe.
Voltei a negar com a cabeça, perdendo um pouco a paciência.
— , eu tenho o rei e a rainha contra mim. Não sei se quero continuar aqui. Acabei de discutir com a mãe do príncipe . Acha mesmo que conversar sobre o príncipe que abdicou do trono é uma boa ideia? — indaguei sem conseguir esconder a pitada de sarcasmo na voz. — Além disso, sendo bem franca, eu não vou conversar sobre isso agora. A última coisa que quero e preciso é de ter que me preocupar com algo que sempre julguei tão sólido quanto nossa amizade. Outro dia, quem sabe, podemos continuar esse assunto.
Talvez pela leve irritação contida na minha voz, ou talvez apenas por ter recobrado o bom senso, escolheu não insistir mais.
— Claro. Até mais, .
— Até.
Então, entrei e tranquei minha porta. Eu veria minha família no dia seguinte e não podia desabar mais uma vez.
Fiquei o restante do dia no quarto até ser informada que deveríamos todas jantar com a família real. Era uma espécie de jantar comemorativo por causa da Elite. Eu não estava em clima de comemoração, mas ainda assim, deixei que as meninas me arrumassem para ir.
— Você está uma verdadeira princesa, — Stephany disse, satisfeita em me ver pronta.
— Graças a vocês — falei, tentando me animar para ir ao jantar.
— Está tudo bem, ? — Abigail perguntou, preocupada.
— Apenas alguns pensamentos e saudade de casa.
— Seja o que for, se anime. Você vai ver sua família amanhã, está na Elite e é a clara preferida do príncipe, ainda que o mundo todo não saiba disso ainda.
— E se quer nossa humilde opinião — Stephany continuou com a mesma felicidade que Abigail —, você será a princesa e futura rainha de Illéa.
Eu não sabia o que dizer, então me forcei a dar um sorriso sem dizer nada. Elas entenderiam que eu preferia ficar sozinha com meu silêncio.
Assim que cheguei para o jantar, ainda faltavam chegar Melissa e Luna, seguidas pelo príncipe George, que foi o último a se sentar à mesa.
— Boa noite, senhoritas — o rei falou com entusiasmo.
— Boa noite, Majestade — falamos juntas.
— Fico feliz de poder jantar com as seis melhores garotas entre todas de Illéa. Espero que aproveitem o jantar. Estão ansiosas para verem seus familiares e amigos?
— Contando as horas, Majestade — Summer falou e sorriu.
— Eu imagino.
— Vai ser bom vê-los. Acredito que nos dará mais energia para seguirmos aqui — falei, tentando participar um pouco da conversa.
O rei pareceu surpreso ao ouvir minha voz, ao ponto que a rainha apenas me olhou, avaliando-me.
— Com certeza — Angelina concordou timidamente comigo.
O príncipe sorriu e falou:
— Fico feliz por vocês poderem ter este momento. Eu também acho que vai fazer muito bem.
— Sem esquecer, claro, que este é um momento de turnê com fins profissionais para além do pessoal. Não se esqueçam disto, tudo é levado em conta — a rainha falou e todo o clima amigável, que até mesmo o rei estava conseguindo imprimir à conversa, foi desfeito.
Pude ver a mão de Angelina tremendo. Não ousei pegar no garfo por suspeitar que a minha mão ficaria da mesma forma. Afinal, eu sabia que aquele aviso era principalmente dirigido a mim.
— Dê um desconto a elas, rainha. Não vamos esquecer que queremos minha futura cunhada lúcida quando for escolhida — o príncipe George brincou, tentando quebrar o clima ruim.
— Tenho que concordar com os dois — o rei sorriu. — É óbvio que esta viagem tem efeitos profissionais, mas usem-na para relaxar também. É sempre bom estar perto da família.
— Obrigada, Majestade — Melissa disse educadamente.
O restante do jantar seguiu sem a leveza inicial, mas também sem o peso que a rainha colocou no meio da conversa. Comemos calados, com pequenas falas simples, apenas por educação.
Quando o jantar acabou, eu já estava de saída quando ouvi a voz do príncipe George me chamar:
— Senhorita , pode ficar um minuto? Acredito que encontrei algo em um dos corredores que certamente lhe pertence.
Encarei minhas amigas, confusa, ao passo que Melissa me encorajou, empurrando-me de leve.
já não estava mais na sala de jantar.
— Claro — respondi, incerta.
Segui o príncipe George por um corredor sem ninguém e depois o vi abrir a porta de uma das salas. Ainda em dúvida sobre a veracidade da sua história, entrei junto com ele e estava pronta para questioná-lo quando encontrei em pé do outro lado.
— Eu te disse que contaria a ele — o príncipe George me falou antes de sair da sala.
— O que está... — comecei, mas me interrompeu, já explicando.
— George me falou o que viu e ouviu hoje. Queria conversar com você, mas não queria chamá-la na frente de todos, isso só deixaria minha mãe com mais ciúmes. Ele só me ajudou a te trazer aqui para conversarmos. Vai ficar nos esperando do lado de fora.
— Você deveria ter pensado melhor nisso, eu quase não vim — tentei brincar, porque não queria falar da rainha.
suspirou, o que era incomum para ele, e depois se aproximou de mim, segurando minha mão.
— Me desculpe por ela. Sei que ela quem deveria te pedir desculpa pelo que quer que ela tenha dito, mas se isto não ocorreu, peço desculpas.
Foi a minha vez de suspirar.
— Se você for se desculpar por tudo que sua família faz ou fala, temo que não terá tempo para ser rei.
balançou a cabeça em um sim, parecendo rendido.
— Merecíamos essa — ele falou baixo.
Acabei rendendo-me também. Ele não merecia escutar grosserias por ser filho de quem era. Não havia sido ele a me machucar.
— Me desculpe, é só que... eu não quero falar sobre isto, não pretendia lhe contar. E não há nada que possamos conversar que vai mudar quem sou e quem seus pais são, eu apenas não queria me desgastar.
calmamente se aproximou mais de mim e segurou meu rosto com as duas mãos, encarando-me enquanto deixava um sorriso preguiçoso escapar de seus lábios.
Senti minha barriga dar um loop.
— A gente não precisa se desgastar, — ele falou enquanto aproximava seu rosto ainda mais do meu.
Eu sabia que ele iria me beijar, e embora eu não tivesse certeza se esse era o melhor jeito de resolver as coisas, eu queria que ele o fizesse.
Mas não me deu um beijo avassalador para embaralhar meus pensamentos e me deixar esquecer, ainda que por pouco tempo, nossos problemas. Em vez disso, ele me deu um selinho demorado e deixou um outro sorriso escapar ainda com os lábios colados nos meus.
Meu corpo inteiro se arrepiou e senti cada uma das minhas rótulas ficarem mais fracas. Não era o desejo que estava me deixando assim, era um sentimento diferente, que gritava e latejava dentro do meu coração e me amolecia completamente. Algo como voltar para casa depois de meses de saudade. Algo como a certeza do por vir. Algo como...
— Não é justo que as pessoas possam decidir nosso futuro, você não acha? — ele me perguntou, mas eu ainda estava sem ar para poder responder.
Em vez disso puxei-o para um abraço apertado. pareceu surpreso por alguns segundos, mas depois senti uma de suas mãos ficar firme em minha lombar e outra fazer carinho em meus cabelos enquanto eu enterrava meu rosto em seu pescoço.
Demoramos alguns minutos assim até que, como costumava acontecer quase sempre comigo naquele palácio, me vi chorando.
— Eu quero acabar com esta Seleção, . Quero acabar agora. Ainda que não pra todos, acabar entre nós dois.
Me afastei um pouco, confusa.
— Como assim?
— Minha mãe é muito melhor que meu pai, na maioria das vezes — ele disse com um risinho engraçado. — Mas ela é extremamente ciumenta comigo e com meu irmão, além de ter uma noção problemática sobre relacionamentos, por motivos óbvios, você sabe. Eu não sei o que ela falou pra você, mas sabendo que eu estou nesta equação, sei que ela deve ter sido muito irracional, para dizer o mínimo.
Balancei a cabeça em um sim.
— Mas eu sei o que quero, . Eu sei que embora eu odeie estar neste circo, ele me trouxe você. E eu quero você. Eu iria te querer com ou sem Seleção, bastava eu ter uma chance de te conhecer.
Aquele frio na barriga voltou a aparecer.
— E certamente esse deve ser o motivo que mais preocupa minha mãe — ele voltou a sorrir. — Mas acontece que da mesma forma que eu não quero meu pai decidindo minha vida, eu não quero que ela também faça isso. E , pode parecer loucura, mas há tempos eu já decidi. Eu quero você. Eu quero nós dois. Eu quero o fim da Seleção e você nos meus braços.
— E o que vamos fazer se seus pais me odeiam?
— Eles odeiam todo mundo! — ele abriu os braços para mostrar a realidade. — Eles se odeiam e jogam esse ódio pra cima de qualquer pessoa que tenha o que eles nunca tiveram: felicidade. Mas eu serei o próximo rei de Illéa, quer eles queiram, ou não. E eu quero você ao meu lado. E , eles podem tentar o que for, mas eu sei quem você é, eu sei o que sinto por você...
— O que você sente? — indaguei, cortando-o.
— Como? — me encarou.
— O que você sente por mim?
Era confuso vê-lo falar tão firmemente sobre um sentimento que nunca nomeamos. E agora ele queria passar por cima dos pais e daquele jogo em nome desse sentimento. Fosse o que fosse, eu precisava saber do que se tratava. Entender se era real.
Mas de todas as respostas, talvez eu não esperasse por uma tão crua e tão forte como a que recebi.
— Amor, . Eu amo você, Benett.
Continua...
Nota da autora: ELE DISSEEEEEEE! Que nosso pp já amava nossa pp a gente já sabia, mas agora ELA TAMBÉM SABEEEE. E não é nas entrelinhas, não tem chances de mal entendidos, ela sabe que ele a ama. Como estou feliz com isso.
Eu espero que vocês gostem desse capítulo e fiquem por aqui, estamos entrando na reta final da história, mas ainda tem MUITA coisa pra acontecer. Me contem o que acharam de tudo, não só dessa cena final. Estou ansiosa para ler vocês.
ão e até a próxima.
Outras Fanfics:
12. I Want it All [Ficstape High School Musical]
02. Me voy [Ficstape RBR]
Meu Anjo [Challenges]
Our Love is Not a Lie
Quem Matou Ashley
Secret
The Better Part of Me
Todos os lados do Dia dos Namorados
You Happened
07. Laços [Ficstape Tiago Iorc – RECONSTRUÇÃO]
06. Coisa Linda [Ficstape Tiago Iorc – TROCO LIKES]
Nota da beta: O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
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