Postada em: 30/10/2020

Capítulo Único

Meus olhos deslizavam vagarosamente pela figura à minha frente em uma análise minuciosa. Os olhos me fitavam com um olhar penetrante. Era apenas um jogo, algo divertido, a arte da conquista. No entanto, quando o sorriso permeou, senti minha súbita atração ser substituída por um banho de água fria.
Me levantei, deixando sobre o balcão o suficiente para pagar o que havia consumido e a gorjeta. Trent ficaria feliz pelo valor deixado. No entanto, só conseguia pensar em me afastar o mais rápido daquele lugar. Lembranças que estavam enterradas profundamente, não o suficiente, em minha mente foram sendo relembradas. Eu conhecia aqueles lábios tão bem quanto o significado daquele sorriso.
Sabia tudo sobre ele! Oh, sim! Não havia nada sobre que eu não conhecesse. Aqueles olhos eram únicos! Bastou o álcool ser absorvido pelo meu organismo para que o sinal de alerta fosse ignorado. Devia ter prestado mais atenção ao aviso que minha mente tolamente tentara me alertar. Assim, estava novamente no radar de um . Não precisava reviver a montanha russa de emoções que apenas um poderia causar.
— Fiquei me perguntando quanto tempo levaria para me reconhecer. — A voz de soou atrás de mim, grave, profunda e repleta de sentimentos.
— Você sabe bem onde isso vai nos levar. — Parei de andar e permaneci de costas para ele. Estava tentando ignorar as palavras não ditas que ficaram implícitas em seu tom de voz.
— Eu não me lembro de ter fugido quando as coisas ficaram sérias. — Ouvi os passos de . Ele tocou com cuidado meu antebraço antes de me virar para ele. Fechei os olhos, tentando ignorar o efeito que ele causava sobre o meu corpo. — Abra os olhos, . — Senti as pontas de seus dedos segurarem minha face com delicadeza.
— Por que você tinha que me achar? — O questionei, abrindo os olhos, irritada, ainda assim sentindo aquele olhar penetrante tirar meu fôlego. Sua proximidade era impressionante. Meus lábios quase tocavam os deles, estavam separados apenas por alguns centímetros.
— Aí está minha professora favorita. — soltou a sentença num tom misto de seriedade e divertimento. Seus olhos curvaram-se levemente, espelhando o movimento de sua boca, que parecia mais tentadora a cada instante.
— Qual o objetivo de ficar como um cachorrinho atrás de mim? — Me soltei de suas mãos, colocando uma distância segura, algo com a qual conseguia lidar.
— Isso está ficando repetitivo, . — A voz de demonstrava sua irritação diante ao meu questionamento.
Ele sabia a resposta. Eu já a tinha ouvido centenas de vezes de seus lábios quando estava em sua cama após horas nos amando. Eu havia fugido, renegado o sentimento incômodo que começava a tomar-me enquanto o observava. Parecia uma adolescente bobamente encantada com o bad boy da faculdade. O fator incômodo se devia ao fato de ser sua professora. Durante os dois últimos anos da faculdade de , havíamos nos envolvido ao ponto de nossa relação casual passar a ser algo sério, perigoso para minha carreira, hediondo perante a sociedade, embora constantemente me falasse que a idade era apenas um número. De fato, era!
Amarrei meu cabelo num coque, evitando o olhar inquisitivo de . Havia-o deixado sem respostas na noite de formatura. Covardemente, o deixei esperando no estaleiro de seus pais, o local em que nos encontrávamos. Isso fora há cinco anos, mas ainda doía como se fosse ontem. O homem à minha frente provava que o tempo poderia, sim, nos fazer bem. estava ainda mais belo do que antes. Sua face havia perdido o ar jovial, adolescente, sendo substituído pela maturidade. Não que ele parecesse velho ou algo do tipo!
Aquele homem, de fato, um homem, não lembrava o jovem pelo qual havia me apaixonado. era alguém difícil de se superar. Nunca havia o esquecido, meu corpo e coração lembravam perfeitamente de cada parte dele.
— Não posso lhe dar o que deseja. — Era mentira, eu sabia disso tão bem quanto precisava de oxigênio para sobreviver.
— Mentira! — Ele se apoiou no muro, tirando de seu bolso um maço de cigarro e o acendendo de modo despreocupado. A jaqueta de couro era semelhante à que ele usava para me levar aos passeios noturnos pela cidade desacordada. — É um porre lutar contra sua teimosia, ! — Ele soltou a fumaça de modo despretensioso enquanto me olhava de cima a baixo. O leve curvar no canto direito de sua boca indicava seus reais pensamentos, o que me deixou furiosa.
— Pare de me imaginar nua, ! — Revirei os olhos e voltei meu olhar para as mãos dele, não encontrando qualquer aliança.
— Não vai encontrar aliança ou qualquer prova de compromisso em meus dedos, só existe uma mulher por quem sou louco. — sustentou meu olhar após me pegar observando suas mãos.
— Não estou atrás de desculpas, . — Me recostei sobre um carro qualquer estacionado. — Se quero algo, eu não poupo esforços em tê-lo. — Após proferir as palavras, soltou um riso amargo.
— Claro, sua fuga há cinco anos é um claro exemplo de como luta pelo o que quer. — Ele largou o cigarro e pisou em cima, apagando.
— Eu tinha uma imagem a zelar! — Exclamei, frustrada em provar meu ponto de vista.
— Essa imagem não parecia tão importante enquanto me pedia por mais estando abaixo de mim em meus lençóis. — Sua boca levantou-se num sorriso sarcástico.
Ele mal havia terminado de falar quando estalei um tapa em sua face, gravando a marca de meus dedos em sua pele. Me virei e o deixei para trás seguindo para o próximo quarteirão, onde poderia encontrar táxis. Estava apenas alguns minutos de distância de vê-lo nunca mais quando senti duas mãos envolverem minha cintura, a abraçando. A boca de estava no meu pescoço, os lábios dele depositavam beijos leves, porém causavam uma onda de calor por todo meu corpo.
— Me perdoe! — Ele sussurrou, desesperado. — Eu passei do limite.
— Me deixe ir! — O respondi, tombando minha cabeça em seus ombros e suspirando ao sentir seus lábios sobre minha pele novamente.
— Me deixe amá-la como merece. Me deixe te provar que sou o homem para você. — Ele dizia as palavras com seriedade enquanto trilhava um rastro quente de beijos até minha orelha. — Seja minha, . Toda e completamente minha.
Com dificuldades, me desvencilhei de seus braços, sentindo a falta de seu corpo junto ao meu no mesmo instante. Ergui minhas mãos até sua face, a tocando com leveza e carinho. Segurei sua outra mão, entrelaçando nossos dedos.
— Por uma noite. — O respondi, vendo seus olhos perderem o brilho.
Bruscamente, ele se afastou, como se tivesse levado um choque. Suas mãos estavam em punhos cerrados, seus lábios numa linha tensa.
— Que droga! A única mulher que entreguei a porra do meu coração me quer por uma noite! — passou suas mãos frustrado pelos seus cabelos, andando de um lado pela calçada.
— É tudo o que terá de mim. — O respondi, escondendo meus reais sentimentos.
— Pare de mentir! — Ele implorou de modo frágil, exibindo em seus olhos o quanto eu havia o quebrado. — Pare de esconder o que sente! Você me ama! Eu a amo! Por que não me deixa amá-la, caramba?!
— Porque tenho medo! — Admiti, sentindo o peso sair de meus ombros. — Eu tenho medo, satisfeito?
— Não! Eu só quero que confie em mim, me deixe provar a você que não te deixarei. — Ele se aproximou novamente, parando em minha frente.
— Eu não confio nem em mim mesma, . — Deixei que ele me abraçasse enquanto admitia o que sentia.
— Me deixe ensiná-la, então. Sou paciente e um bom professor. — Ele falou num tom suave enquanto me mantinha em seus braços. Acabei rindo quando citou “bom professor”.
— Seja meu professor, e eu serei sua melhor aluna. — E, então, o beijei, sentindo a intensidade de cinco anos refletirem naquele simples contato, que, de simples, passou a ser caloroso.
As mãos de desceram lentamente pelo meu corpo, parando junto às minhas coxas. Ele deu um impulso, e eu obedeci, rapidamente envolvendo sua cintura com elas. Sua boca era ávida, feroz, porém o interrompi quando o senti se animar abaixo de mim. Estávamos próximos a uma área movimentada.
— Terminaremos isso na minha casa! — Interrompi sua queixa, colocando meu indicador sobre seus lábios.
— Minha moto está do outro lado da rua. — Ele murmurou com um sorriso divertido, indicando a moto.
— Eu dirijo! — Desci de seu colo com um sorriso tranquilo em meus lábios.
— Nada feito! Minha moto, minhas regras. — Ele entrelaçou nossas mãos enquanto seguíamos em direção à sua moto.
— Então, terá de lidar com o seu problema sozinho. Posso passar a noite muito bem sozinha e ir embora de táxi. — O ameacei com um olhar provocante.
— Eu odeio quando usa isso a seu favor. — Ele tirou os capacetes de debaixo do banco e, então, me entregou as chaves. Antes ele prender o capacete em minha cabeça, completou: — Eu te amo pra caramba. — Ele depositou um rápido beijo em meus lábios antes de colocar o dele.
— Eu sei! — Pisquei para ele antes de subir na moto, o ouvindo gargalhar.
— Farei você pagar por isso na cama, . — Ele sussurrou num tom baixo em meu ouvido assim que subiu na moto, segurando firmemente minha cintura.
— Eu mal posso esperar! — Falei antes de dar a partida.
Afinal, a idade era apenas um número, e eu o amava demais para deixá-lo novamente.


Fim



Nota da autora: Quero agradecer à toda equipe do especial que me recebeu tão bem e ofereceu tantas ideias de plots para enriquecer esse especial com tantas histórias diferenciadas.
Quero agradecer à minha irmã que nunca me deixa desistir de continuar a escrever.
E por fim a cada leitora, sou grata por todas vocês que chegaram até aqui.



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