Finalizada em: 05/10/2020

Capítulo Único

O que eu posso dizer sobre mim? Bom, todo mundo me conhece, já faz muitos anos da minha vida que eu não sei mais o que é privacidade e toda vez que eu fico de coração partido, é um prato cheio para as manchetes das revistas. Mas, calma, isso não é uma coisa necessariamente ruim, só faz parte do meu trabalho.
Eu sou , meus pais são brasileiros e eu nasci no Brasil, mas me mudei para os Estados Unidos quando tinha dois anos. Eu sou atriz, comecei a fazer capas de revistas e comerciais ainda criança, mas foi aos dezessete anos que ganhei meu primeiro papel importante em um filme de Hollywood. E foi um sucesso, ganhei vários prêmios como atriz jovem mais promissora e não parei mais.
Aos vinte e seis anos, alcancei o auge que qualquer ator espera: ganhei o Globo de Ouro e o Oscar de Melhor Atriz pelo meu papel em um filme de drama e romance sobre a Primeira Guerra Mundial — eu interpretava uma enfermeira que vivia os horrores da guerra, ao mesmo tempo que se apaixonava por um soldado.
Agora, aos trinta anos, já tenho uma longa carreira, muitos filmes no currículo e sou a atual queridinha de Hollywood. Eu moro em Los Angeles, em uma cobertura com a minha empresária e melhor amiga, .
Apesar da vida corrida, a gente se divertia muito juntas e a conheceu o namorado dela graças a mim — eu gosto de jogar isso na cara dela sempre que posso. Ela namora o ator dinamarquês Alex Hogh Andersen, mais conhecido por seu papel na série Vikings. Ele fez um filme comigo alguns anos atrás e quando a colocou os olhos no bonitão, ela não desistiu até levar ele pra cama. Deu certo, eles estão juntos até hoje!
Quanto a mim, a gostava de dizer que cada vez que eu tinha meu coração partido, eu partia uns cinco pra compensar. Ela exagerava um pouco, mas a verdade era que eu aproveitava minha vida de atriz... de que adiantava conhecer e contracenar com um monte de homens bonitos, se eu não posso me divertir com alguns deles?
— Acorda bela, adormecida! — disse, entrando no meu quarto e abrindo as cortinas, deixando o sol entrar.
— Mano, por que tu ‘tá me acordando? Hoje é sábado e que eu saiba, não tenho trabalho nenhum agendado. — Falei, colocando o travesseiro na minha cara.
— Não tem, mas acho que em breve você volta pra sua rotina de gravações.
Eu joguei o travesseiro de lado e sentei na cama.
— Tem alguma coisa pra mim?
— Sim, , tenho um roteiro aqui pra você ler durante o final de semana. Se te interessar, vamos ao estúdio na segunda.
— Me fale sobre o filme pra ver se vale a leitura.
— Tem tudo que você gosta: romance, aventura e um pouco de drama. Ah, é, é um filme de época, que sei que você ama também.
— Amo mesmo, principalmente pelos figurinos, são sempre incríveis. Conte-me mais.
— Se passa no século dezenove, você é uma caçadora de vampiros e lobisomens.
— Peraí, tipo uma Buffy?
— Não exatamente, o roteiro é bem diferente. Enfim, você caça essas criaturas e daí tem um caçador de vampiros muito famoso, que é chamado pra trabalhar com você e vocês se estranham no começo, porque um quer ser melhor que o outro, mas depois, vocês, claro, se apaixonam.
— Uh, interessante, gosto de fazer casais com essa coisa de amor e ódio. Tá, me convenceu, vou ler o roteiro. — Falei, pegando da mão de o calhamaço de folhas.
— Que bom, porque o diretor quer você de qualquer jeito pra ser a protagonista.
— Eu não vou nem fazer teste?
— Claro que vai, tem que fazer, né, é de praxe. Mas digamos que você não tem nenhuma concorrência no momento, porque como ele quer você, vão te testar antes de chamar qualquer outra atriz.
— Legal, vou pegar esse papel com certeza.
— Sei que vai, acredito no seu potencial. Segunda de manhã temos que estar no estúdio cedo pro teste de câmera e também pra você fazer um teste de química com o ator que deve ser seu par romântico.
— Você sabe quem vai ser o ator?
— Não sei, o diretor me disse que ele tem uns três nomes em mente e são esses que vão fazer o teste segunda, mas ele não me disse quem são.
— Ok, então, vou mergulhar no roteiro.
Eu devorei o roteiro em pouco tempo e gostei muito do que li, então falei pra que com certeza queria fazer o teste na segunda.

•••

Quando a segunda chegou, e eu nos arrumamos e fomos bem cedo pro estúdio. Chegando lá, fomos recebidas pelo diretor, Anthony Smith, um dos grandes nomes da direção em Hollywood atualmente.
— Ah, olha aí a minha estrela!
— Anthony, que bom te ver novamente! — Falei, dando um forte abraço no senhor grisalho e robusto que abria os braços para mim.
Eu havia trabalhado com Anthony em um filme há uns dois anos, então ele conhecia bem meu trabalho. Ele também cumprimentou com um aperto de mão.
— E então, gostou do roteiro?
— Adorei, quero muito esse papel.
— Você sabe que por mim já é seu.
— Bom, estou aqui para os testes e pra provar que posso fazer o papel.
— Então vamos lá!
Eu fiz o teste de câmera primeiro, Anthony juntamente com o roteirista do filme acompanharam e aprovaram.
— Esse papel foi feito pra você, minha querida! — Anthony disse, empolgado.
— Agora só precisamos encontrar o par perfeito pra você. — O roteirista completou.

Eu tive meia hora de descanso e então comecei a fazer o teste de química com os possíveis candidatos para ser meu par. O que eu podia dizer sobre os dois primeiros? Não deram nem um pouco certo. O primeiro parecia não combinar com o papel e o segundo eu não conseguia sentir a mínima química entre nós dois.
Eu já estava um pouco preocupada que eles quisessem abrir testes para outras atrizes, caso nenhum dos três atores dessem certo comigo em cena, mas quando o terceiro ator veio fazer o teste comigo, essa preocupação ficou pra trás. Era um ator bem mais maduro do que os últimos que eu havia trabalhado, Sam Riley o nome dele, ele tinha alguns papéis notáveis em sua carreira, mas provavelmente as pessoas iam se lembrar mais dele pelo papel de Diaval no filme da Disney, Malévola. Ele era bom, falou o texto com firmeza, combinava perfeitamente com a personagem, mas, principalmente, tivemos uma química muito boa, boa até demais, eu diria.
Quando os testes acabaram, Anthony informou ao Sam que o papel era dele e veio nos apresentar oficialmente.
— Sam, essa é a , mas claro que você já deve conhecê-la.
— Claro que sim, atriz premiada pela academia, quem não conhece?!
, esse é o Sam...
— O corvo da Malévola! — Falei sem pensar e na mesma hora corei.
Sam deu uma risada discreta.
— Desculpa, é que eu assisti Malévola 2 recentemente e eu me lembro do seu rosto de lá. Mas eu também lembro de você em Orgulho e Preconceito e Zumbis, gosto bastante desse filme, você foi um ótimo Mr. Darcy.
— Ah, muito obrigado.
— De nada, é um prazer conhecê-lo.
Sam me estendeu a mão, mas eu dispensei a mão dele e dei um abraço nele e um beijo na bochecha. Ele pareceu completamente chocado e ficou paralisado me olhando.
— Você ‘tá bem?
— Ai, meu Deus, desculpe, senhor Riley. — disse, surgindo atrás de mim. — É que a é brasileira, mesmo tendo sido criada aqui desde os dois anos de idade, acho que isso vem no DNA de todo brasileiro, sabe, essa coisa de ser tão expansivo. A propósito, eu sou , a empresária dessa senhorita.
— Ai, caramba, me desculpa! Eu me esqueço que as pessoas da parte de cima do mapa-múndi são mais formais. É só o meu brazilian way. — Falei, sorrindo sem graça.
— Então você é brasileira?
— Sou sim! Oficialmente, nasci no Brasil e meus pais são brasileiros. Como eu moro aqui desde pequena, acabei por ter cidadania americana, mas fui criada em uma família brasileira, então...
— Nossa estrela fala português fluentemente. — Anthony disse como um pai orgulhoso. — E eu já bem me acostumei com esse jeito espontâneo dela, não é, minha querida?
— É sim.
— Logo você se acostuma também.
— Tenho certeza que sim, vou me acostumar.
— Bom, eu sempre digo pra quem vai trabalhar comigo: acostumem-se a me ver entrando animada todo dia de manhã no estúdio, abraçando e beijando toda a equipe. Eu sou assim, espero que não se importe.
— Não, imagine, agora que já sei, não vou mais me surpreender.
Nós conversamos mais um pouco e acertamos detalhes sobre contrato. Anthony informou que as gravações começavam no mês seguinte, isso porque nós precisaríamos ter aulas de artes marciais e também lutas com espadas e armas de fogo utilizadas no século dezenove para os personagens.
Quando terminamos de resolver tudo, e eu voltamos para casa.
— Bom, eu tenho um mês para me preparar e virar uma guerreira bad ass.
— Já agendei suas aulas enquanto vínhamos no caminho, você começa amanhã. Não temos tempo a perder.
— Ótimo, tô bem empolgada pra começar a gravar esse filme.
— Espero que você esteja empolgada só com o filme.
— O que você quer dizer, ?
— Quer mesmo que eu explique?
— Não, pera, você ‘tá falando do tal Sam Riley que vai fazer meu par romântico? Fala sério!
— Amiga, você estando solteira é um perigo, sabe?
— Mas, gente, quem vê pensa que eu passo o rodo em toda Hollywood. Eu só tive dois namorados desde fiquei famosa, que eu conheci em filmes que fiz e um namorado na adolescência, que nem conta e nem era famoso.
— Sim, realmente, namorado sério, que você foi pra cama e tudo, você só teve dois famosos. Mas todo mundo sabe que cada filme seu é um crush diferente.
— Mas foram só uns pegas, uns beijos e amassos! De que adianta ser famosa, se eu não puder aproveitar a vida?
— Eu concordo totalmente com você, , eu só fico preocupada que qualquer hora dessas, isso pode dar muito errado.
, relaxa, ok? Além disso, ele nem faz o meu tipo. Veja bem, pra começar, ele é velho.
— Ele tem quarenta anos, quatro anos a mais que eu, tu ‘tá me chamando de velha, cachorra?
— Não, cacete, não tô te chamando de velha! Eu quis dizer que ele é velho pros meus padrões de homem, puxa pela memória a média de idade dos meus últimos rolos.
— Não passavam dos vinte e cinco. Aliás, teve uma época que eu estava seriamente preocupada que você seria acusada de pedofilia, porque tu só queria frequentar a creche.
— Falou aquela que namora um cara dez anos mais novo.
Xiu, não sou eu que estou sendo julgada no momento.
— Enfim, ele não está dentro do meu padrão de idade. Segundo, ele não tem nenhum item da minha lista de interesses, ele não é nenhum galã super gato de Hollywood, nem é super sarado e gostoso, ele não tem um sorriso perfeito daqueles que ilumina uma cidade, a voz dele é rouca, mas é um rouco esquisito. E ele nem tem olhos azuis ou verdes!
— Certo, realmente ele não atende nenhum desses requisitos. Mas ele é britânico e você tem uma tara inexplicável por britânicos.
— Ele é britânico, é?
— É sim, todo mundo sabe disso.
— Eu não sabia! Mas isso explica por que às vezes ele parece que tem uma batata na boca quando ‘tá falando.
— Isso se chama sotaque britânico e nem vem, que eu sei que você se derrete inteira com um sotaque britânico.
— Claro que sim, é gostoso escutar um sotaque britânico no pé do ouvido.
— ‘Tá vendo? Então ele tem pelo menos um item dessa sua lista.
— Mesmo assim, não tem motivos pra você se preocupar. Ele não tinha uma mulher?
— Tinha, num passado distante, agora ele é totalmente solteiro. E você também estando solteira...
, você ‘tá me fazendo parecer uma devoradora de homens.
respirou fundo e depois virou de frente pra mim, segurando minhas mãos.
— Desculpa, , é só que, como sua empresária, eu preciso cuidar da sua imagem. E como sua melhor amiga, eu me preocupo com esse seu coração que tem uma certa tendência a romantizar tudo. As pessoas acham que você passa o rodo em geral, mas a verdade é que você se apaixona muito fácil.
— Eu sei, eu sei que sou uma romântica incurável, aliás, por que você acha que escolhi ser atriz? Eu sempre adorei ver histórias de amor na tela do cinema e queria fazer parte disso, eu queria fazer as pessoas suspirarem e se apaixonarem pelas minhas personagens. Mas também não é como se eu fosse me apaixonar por todos os caras com quem eu contracenei. Olha, só eu já fiz mais de vinte filmes na minha carreira toda, me diz, em quantos peguei meu par romântico?
— Pelo menos uns quinze.
— Sério?! Tudo isso?
revirou os olhos.
— Tá, eu sei que é uma média alta, mas pense que em mais de cinco filmes que eu fiz, eu fui uma menina comportada.
— Sim, porque eram os períodos em que você estava namorando sério.
— Você não ‘tá me ajudando, sabe, !
— Pelo contrário, eu tô tentando te ajudar.
— Ok, se isso te deixa mais sossegada, eu prometo me concentrar no trabalho e me controlar. Embora eu ache que não tem motivos pra você se preocupar.
— A gente conversa depois que vocês começarem a filmar juntos e colocar na frente das câmeras toda aquela química que vocês demonstraram no teste. Agora eu vou na cozinha ver o que tem pra fazer pro almoço, porque essa conversa me deu fome.
Eu sei o quanto minha amiga se preocupava comigo e eu não podia julgá-la, eu dava mesmo um pouco de trabalho quando se tratava de relacionamentos. Mas, como eu disse, ele não se encaixava nos meus padrões de homens que me atraiam, exceto pela nacionalidade dele. E eu estava focada nesse projeto, decidida a me dedicar às aulas de luta pra chegar arrasando no set e quando as gravações começassem, só o roteiro me importava. ‘Tava tudo bem definido na minha mente, o que podia dar errado?

•••

Durante o mês seguinte, eu estive ocupada demais para pensar nas preocupações da . Todos os dias, durante a semana de manhã, eu tinha treinamento de artes marciais e a tarde eu aprendia a lutar com espadas e a atirar com armas do século dezenove. Quando o mês acabou, eu já estava me sentindo a própria caçadora de vampiros.

•••

Passei o final de semana descansando, pois na segunda iria começar toda aquela rotina louca de gravações. E na segunda de manhã, e eu acordamos bem cedo, arrumamo-nos e seguimos pro estúdio. Antes, passamos no Starbucks para pegar frappuccinos e também muffins, muitos muffins, aliás, eu havia encomendado tudo no final de semana. Eu sempre gostava de levar um agrado para o elenco e equipe do filme no primeiro dia de filmagens, e dessa vez eu escolhi levar muffins.
— Por que você não escolheu algo mais fácil de carregar? Tipo pacotes de balas ou bombons? — disse, xingando até minha sétima geração, enquanto colocava as caixas de muffins no porta-malas do carro.
— Porque balas e bombons não são tão legais quanto muffins.
— Eu é que sou legal demais por embarcar nas suas loucuras.
Nós chegamos no estúdio e fomos recebidas por Anthony.
— Bom dia, minha estrela!
— Bom dia, Anthony! Trouxe muffins pra alegrar o primeiro dia de trabalho da equipe.
— Ah, que amor você. — Anthony disse, pegando um muffin.
Anthony me apresentou para o resto do elenco, a atriz que iria fazer minha melhor amiga no filme, os atores que fariam meus pais e todo o núcleo principal, aproveitei pra distribuir muffins e abraços para todos. Depois eu fui com a me instalar no meu trailer, antes de começar a caracterização da personagem.

estava me ajudando a arrumar minhas coisas na minha bancada, quando alguém bateu na porta do trailer.
— Com licença.
— Oi, Sam! Bom dia! — Falei, indo até ele, mas hesitei antes de cumprimentá-lo. — Eu posso te dar “bom dia” do meu jeito?
— Claro que pode.
Dei um abraço e um beijo na bochecha de Sam, ele ainda parecia que estava tentando se acostumar ao meu jeito.
— Bom dia, .
— Bom dia, Sam, mas você pode me chamar de , ok?! Nós vamos conviver muito durante os próximos três meses.
— A tem razão, isso vale pra mim também, pode me chamar de .
— Tudo bem. Mas, então, ‘tá animada pra começar a gravar?
— Muito! Espere até me ver lutando, me dediquei muito às aulas no último mês.
— Tenho certeza que você irá arrasar. Bom, eu já me instalei no meu trailer, vou indo para o figurino e maquiagem. A gente se vê daqui a pouco?
— Claro que sim. Ah, espera! Tem um muffin de boas-vindas pra você também. — Falei indo até a caixa de muffins e entregando um muffin para Sam em seguida. — Eu gosto de trazer alguma coisa pra equipe no primeiro dia de gravação, é de chocolate com gotas de avelã, espero que goste.
— Obrigado, eu adorei. Te espero no estúdio, então.
Sam saiu em seguida e já estava lá me olhando com aquela cara julgadora.
— Tô vendo que não é só com você que eu tenho que me preocupar.
— Como assim?
— Você não viu a cara dele quando você deu o muffin pra ele? Ficou todo bobo.
— Ai, , para com isso, você ‘tá começando a ficar paranoica, sabe.
— Paranoica, é? Você se lembra do que o Chris Evans disse sobre você, quando vocês fizeram um filme juntos?
— Ele disse que eu era perigosamente encantadora. Não sei por que ele disse isso, eu nunca o peguei.
— Me refresca a memória, por que mesmo que você nunca pegou o Evans?
— Porque eu namorava na época que fiz filme com ele. E também nós viramos melhores amigos, não fazia mais sentido.
— Pois é, mas a definição dele sobre você foi perfeita. Você fica aí com esse seu jeitinho brasileiro, os caras ficam tudo doidos.
— Qual o problema com meu jeito brasileiro? Tu é chinesa por acaso? Você é tão brasileira quanto eu, aliás, meus pais só vieram morar aqui, porque seus pais vieram um ano antes e tudo deu certo pra eles.
— Eu sei disso, mas acho que eu aderi mais ao jeito americano de ser do que você.
— É nada, você gosta é de implicar comigo mesmo.
— Obviamente, desde que você é um bebê eu implico com você e será assim pra todo sempre. — disse rindo e eu mostrei a língua pra ela.

Depois que eu terminei de me instalar, foi embora resolver alguns assuntos e ficou de voltar no final do dia. Eu segui para o figurino e depois fui fazer cabelo e maquiagem. Depois segui para o estúdio onde a equipe já estava pronta para gravar.
Sam estava sentado em uma cadeira perto de Anthony, eu iria gravar uma cena sozinha antes que ele entrasse em cena.
, já estamos prontos, podemos rodar? — Anthony me perguntou.
— Pode sim, estou pronta.
— Vamos lá, então... câmeras a postos. E ação!
Gravamos a cena de primeira, não foi necessário parar a gravação nenhuma vez.
— Corta! Ficou ótimo, . Equipe, preparar para a próxima cena.
Eu me aproximei de onde Sam estava sentado, percebi que ele havia acompanhado a cena pelo monitor do diretor.
— Você estava me assistindo, é?
— Estava sim, você devia ver como ficou a cena.
— Não, eu não gosto de ficar me vendo no monitor, sou crítica demais pra isso. Eu só gosto de ver o resultado final já na tela do cinema.
— Ah, mas você devia ser ver, você é incrível atuando.
— Eu faço o meu melhor, mas, como eu disse, sou crítica demais comigo mesma.
— Bom, eu só estou falando o que eu vi, você é muito boa no que faz e sabe disso.
Antes que eu pudesse responder e antes que minhas bochechas começassem a esquentar de vergonha, Anthony nos chamou para a próxima cena.

O restante do dia correu normal e quando acabamos de gravar, a passou no estúdio pra me encontrar. Nós seguimos para um restaurante, o Alex estava nos esperando para jantar.
— E aí, ! — Alex disse, cumprimentando-me com um high five depois de beijar .
— Fala, best, saudades de você.
— Saudades também. Aliás, de você e da minha namorada, porque você estando sempre ocupada, a também ‘tá.
— Pois é, amor, eu vendi minha alma pra essa criatura aí, agora não tem volta.
— Olha aqui, vocês dois me respeitem, viu. — Falei, enquanto meus amigos riam.
— E aí, como foi o primeiro dia de gravação? — perguntou.
— Tudo certo, me enturmando com o elenco, gravando as primeiras cenas, nada demais.
— Já se enturmou com seu par romântico, ? — Alex falou, malicioso.
— Ah, não, Alex, até você! Aposto que isso é influência direta da sua querida namorada.
— Eu não preciso influenciar o Alex não, ele sabe das coisas. Aliás, se eu não tivesse sido mais rápida, aposto que a teria tentado te pegar Alex.
— Vocês dois são insuportáveis, sabia?!
Nós continuamos nosso jantar em meio a risadas e piadas sobre a minha pessoa, porque se a sozinha já me perturbava, quando o Alex se juntava a ela, então, coitada de mim.

Quando voltamos pra casa, eu tomei um banho e fui pra cama dar uma última lida nas cenas do dia seguinte. Eu ‘tava tão cansada, que acabei dormindo com o texto na mão e tive uns sonhos bem estranhos. Sim, porque sonhar com um cara que eu tinha acabei de conhecer, no caso, o Sam, era no mínimo estranho. A culpa era toda da e do Alex, também ficaram falando tanto no meu ouvido, que eu acabei sonhando com o cara.
Só Deus, viu, pra me ajudar a me manter sã e focada no meu trabalho.

•••

Nos dias que se seguiram de gravação, tudo parecia entrar em uma normalidade rotineira. O elenco estava cada vez mais entrosado, as cenas eram gravadas sem maiores atrasos e meu costar parecia se acostumar cada vez mais com meu jeito de ser.
Em mais um desses dias de gravação, eu estava com o figurino da personagem e meu fiel roupão branco por cima, sentada na cadeira, enquanto a equipe cuidava do meu cabelo e maquiagem, comendo uma salada de frutas de café da manhã, quando Sam chegou.
— Bom dia, ! — Sam disse, aparecendo atrás da minha cadeira e dando um beijo estalado na minha bochecha.
— Bom dia, Sam! ‘Tá servido? — Apontei para ele o garfo que eu segurava com um morango espetado.
— Não sei, dizem que você não gosta que mexam com a sua comida.
— Estão totalmente certos, mas como eu estou te oferecendo, você não corre maiores riscos.
Sam riu, depois segurou minha mão e mordeu o morango que estava na ponta do garfo.
— Morangos, hein?
— Sim, minha fruta favorita.
— E aí, me diz, ‘tá preparada pra grande cena de luta que temos hoje?
— Totalmente, na verdade, eu estou empolgadíssima!
— Bom, eu já estou pronto, só esperando a donzela em perigo para gravarmos a cena.
— Eu não sou uma donzela em perigo, ok?! Eu sou uma caçadora de vampiros bad ass, me respeita! — Falei, dando um tapinha no braço de Sam.
O pessoal do cabelo e maquiagem terminaram seus trabalhos e eu pude seguir para o estúdio.
A cena era basicamente eu e o Sam enfrentando e matando um bando de vampiros e lobisomens que nos encurralavam em um beco. Ao final da cena, depois que eu matasse o último lobisomem com uma bala de prata, eu deveria escorregar e ser segurada pelo Sam, gerando aquele momento constrangedor, quando dois personagens que estão se apaixonando ficam próximos demais.
Nós primeiro coreografamos toda a cena de luta, sim, porque obviamente que a luta deveria ser totalmente calculada para que ninguém se machucasse.
Quando já estávamos seguros, o diretor gravou a primeira parte da cena, que envolvia toda a luta contra as criaturas do mal.
— E corta! Perfeito! — Anthony exclamou ao final da cena.
— É isso aí, somos demais! — Falei, dando um high five em Sam.
— Agora vamos para o final da cena. , você atira no lobisomem que está atrás do Sam e logo depois você escorrega. Atenção, Sam, não vai deixar nossa estrela cair.
— Imagine se eu faria isso.
Nós nos preparamos em nossas marcas, quando Anthony gritou “ação”. Eu mirei atrás de Sam e atirei, em seguida, fiz o movimento para escorregar. Foi tudo muito rápido e Sam foi mais rápido ainda, segurando-me antes que eu atingisse o chão, exatamente como estava no roteiro. O roteiro também dizia que eu deveria ficar ofegante, o coração batendo a mil devido à proximidade dos nossos rostos. Bem, eu fiz exatamente como o roteiro pedia, o problema era que o meu coração realmente estava batendo absurdamente forte.
Quando Anthony gritou “corta” e Sam me ajudou a me levantar, eu tentei recuperar meu fôlego e mais do que isso, eu tentava entender por que raios eu fiquei tão nervosa quando Sam ficou próximo de mim daquela forma.
— ‘Tá tudo bem com você? — Sam perguntou, enquanto eu tentava, em vão, não corar.
— ‘Tá sim, foi só a adrenalina da cena.
— Você foi ótima, aliás, você é maravilhosa. — Sam disse sorrindo e me dando um beijo carinhoso na bochecha em seguida.
— Obrigada.

À noite, quando cheguei em casa depois de mais um dia de gravação, eu só conseguia pensar naquela cena.
— Boa noite, !
— Boa noite, .
— E aí, tudo certo nas gravações hoje?
— Foi tudo ótimo, fizemos uma cena de luta incrível.
— Espero que você tenha mostrado que aprendeu direitinho nas aulas.
— Claro que sim, eu arrasei. O Sam disse que eu sou maravilhosa.
— Ele disse, é?
— Que foi? Agora o cara não pode nem elogiar meu trabalho?
— Pode, claro que pode, se ficar só nisso.
, você vai acabar me deixando paranoica que nem você, daqui a pouco eu vou começar a achar que ele ‘tá dando em cima de mim e coisas desse tipo. Se é que eu já não estou maluca!
— Sinto um certo nervosismo na sua voz, tem alguma coisa que você não ‘tá me contando.
— Quer saber do que eu preciso? Sair, espairecer, curtir. No fim de semana a gente vai no karaokê, pode avisar o Alex.
— Embora você esteja fugindo do assunto, eu nunca me nego a uma boa dose de diversão. Quem mais vai?
— Como assim?
— Não vai chamar seus amigos do filme?
— Eu deveria?
— Por que não?!
— Bem, talvez eu chame algumas pessoas, vamos ver.
No fim, eu chamei uma galera do elenco principal, mas eu não tive coragem de chamar o Sam, pelo menos não até sexta-feira no final do dia.

•••

Eu estava no meu trailer, tirando minha maquiagem antes de ir embora, com meus fones de ouvido na orelha tocando em alto e bom som My, Oh, My da Camila Cabello. Eu levantei procurando minha bolsa pelo trailer ainda ouvindo a música e comecei a dançar junto. Eu estava tão distraída, que nem percebi quando alguém entrou no trailer.
I swear on my life that I've been a good girl. Tonight, I don't wanna be her. They say he likes a good time. My, oh, my. He comes alive at midnight. Every night. My mama doesn't trust him. My, oh, my. He's only here for one thing, let's go. But so am I…
Eu parei de cantar e dançar quando me virei e vi Sam parado perto da entrada do trailer. Eu fiquei completamente vermelha, não tinha um pedaço do meu rosto que não estava vermelho, eu tinha certeza disso e minhas bochechas queimavam.
— Meu Deus do céu! Me diz que você não ‘tá aí há muito tempo. — Falei, tirando os fones de ouvido e parando a música no celular.
— Tempo suficiente pra ver seu show.
— Pai eterno, que vergonha, eu quero me enfiar num buraco!
— Relaxa, , afinal, fui eu que entrei sem bater.
— Isso não vai amenizar a vergonha que eu tô sentindo.
— Vergonha por quê? Você canta muito bem, sabia? E dança muito bem também.
— Bom, eu fiz aulas de canto pra um filme musical que eu fiz e eu faço dança desde criança. Sabe como é, não é fácil vencer em Hollywood, então eu queria ser uma artista completa.
— Tem alguma coisa na vida que você não faça bem? — Sam disse, ficando em uma proximidade perigosa.
— Pra dizer a verdade, eu não cozinho muito bem, eu sei fazer o básico pra não morrer de fome. — Falei e Sam explodiu em uma gargalhada gostosa.
— Você é mesmo uma figura.
— Mas, então, o que você queria comigo que veio até meu trailer?
— Nada demais, só vim dar “tchau” e desejar um bom final de semana.
Foi aí que eu decidi que talvez seria uma boa ideia chamá-lo para ir ao karaokê.
— Sam, você vai fazer alguma coisa amanhã à noite?
— Não tenho nada programado, por quê?
— Eu vou a um karaokê próximo da Rodeo Drive com a e o Alex, namorado dela, e eu chamei algumas pessoas aqui do elenco. A galera topou, você não gostaria de ir também?
— Olha, se você prometer que vai cantar e dançar igual hoje, eu vou sim.
— É um karaokê, então com certeza eu vou cantar. Agora, dançar depende da quantidade de álcool que tiver no meu sangue.
— Tudo bem, eu vou pagar pra ver, então. Que horas vocês vão?
— Às nove, te mando o endereço por mensagem.
— Combinado, então. Nos vemos amanhã.
Sam e eu nos despedimos e ele saiu em seguida. Eu terminei de arrumar minhas coisas e logo segui pra casa também.
Eu não sei se tinha feito bem em chamá-lo, mas, afinal, nós éramos colegas de trabalho e ele estava se tornando um ótimo amigo. O fato dele me deixar um pouco nervosa quando chegava perto demais não podia me fazer querer afastá-lo, seria bobagem. Ele era um cara muito legal, tinha um ótimo papo e todo mundo no estúdio gostava da companhia dele, por que comigo seria diferente? Era só eu manter uma distância segura dele que ficaria tudo certo.

•••

No sábado, eu acordei lembrando da vergonha do dia anterior e por um segundo me arrependi de ter chamado o Sam pra ir no karaokê, mas foi só por um segundo mesmo. Passei o dia de boa em casa descansando e quando a noite chegou, comecei com aquele pânico básico de não saber o que vestir.
— Tanta roupa nesse closet e quando eu preciso de algo não acho nada! — Falei, andando de um lado pro outro dentro do closet, enquanto me olhava.
— Depende do tipo de roupa que você ‘tá procurando, né.
— Eu quero algo legal, que valorize meu corpo, que me deixe bonita, oras.
— Tá querendo ficar sexy, né? — falou rindo e eu taquei uma bola de meia nela.
— Tô querendo que você pare de me perturbar e me ajude a escolher uma roupa!
— Certo, mas você tem roupas pra encher um estádio e sapatos pra uma centopeia usar, então sem chances de a gente revirar esse closet todinho. Vamos direto no que você costumar usar mais.
No fim, como a noite estava fria, escolhi uma blusa cinza de manga cumprida e gola boba, uma saia curta preta rodada e uma bota preta over the knee. Fiz uma maquiagem bem marcada com batom rouge e delineado ao estilo Ariana Grande, e deixei meu cabelo solto com ondas perfeitas. Quando já estava pronta, peguei minha bolsa e fui encontrar a na sala, ela já me esperava.
— Tô pronta.
— Até que enfim, né, tu é pior que noiva.
— E aí, como estou?
— Vestida pra matar.
— Ridícula você.
— Vamos logo, vai, o Alex já está aí embaixo nos esperando.
Encontramos com Alex em frente ao nosso prédio e seguimos para o karaokê. Quando chegamos no local, o pessoal do elenco já estava nos esperando na mesa que reservamos, mas Sam ainda não havia chegado.
— Tá procurando alguém, é? — perguntou, irônica.
— Eu? Claro que não, eu lá sou mulher de ficar procurando por alguém no rolê?
— Aham, sei. De qualquer forma, a pessoa que você não está procurando acabou de chegar.
Olhei para porta e vi Sam entrando, ele vestia uma calça jeans preta, sapatos pretos e uma camisa branca, os botões de cima estavam abertos, por cima da camisa ele usava uma jaqueta preta, o cabelo liso estava jogado de lado como de costume.
Eu olhei pra ele e de repente eu o achei muito sexy. É sério isso, , você ‘tá achando Sam Riley sexy? Meu cérebro só podia estar entrando em curto circuito, só pode.
Ele avistou a nossa mesa e seguiu até nós.
— Boa noite, ! — Sam disse, aproximando-se de mim e me dando um beijo na bochecha.
— Hei, Sam, boa noite! Achei que você tivesse desistido.
— Imagine se eu ia negar um convite seu. Aliás, você está linda. — Sam falou, medindo-me da cabeça aos pés.
— Ah, obrigada, eu coloquei a primeira roupa que achei no armário. — Falei e quase se engasgou tentando segurar a risada atrás de mim.
— Tudo bem, ?
— Tudo ótimo, Sam. Ah, deixa eu te apresentar meu namorado, Alex.
Feitas as devidas apresentações, nós abrimos os trabalhos, pedimos uma rodada de bebidas e o pessoal se animou a cantar. Quando eu e a já estávamos com uma boa quantidade de álcool no sangue, decidimos que já era hora de subir no palco e soltar a voz também.
— Então tá, vamos lá, viada, mostrar pra esse povo o que é um verdadeiro espetáculo. — falou, puxando-me pela mão.
— Se prepara pro show. — Alex disse rindo para Sam, enquanto saíamos da mesa.
Nós escolhemos a música Alejandro da Lady Gaga pra cantar, então já dava pra imaginar o nível de loucura que estávamos. Quando chegou no refrão, e eu cantávamos em alto e bom som, dançando que nem duas doidas.

(...)

Don't call my name;
Don't call my name, Alejandro;
I'm not your babe;
I'm not your babe, Fernando;
Don't wanna kiss, don't wanna touch;
Just smoke my cigarette and hush;
Don't call my name;
Don't call my name, Roberto.

Alejandro;
Alejandro;
Ale-ale-jandro;
Ale-ale-jandro...

A gente cantava e ria uma da cara da outra. Lá de cima do palco, eu vi Sam me olhando, ele não desviou o olhar de mim um momento sequer.
Quando a música terminou, Alex veio resgatar do palco sua amada , que estava um pouco pior do que eu.
— Alex, meu público ‘tá pedindo bis, não me tira do palco no melhor do show.
— Seu público pode esperar, amor, você ‘tá precisando tomar uma água pra hidratar suas cordas vocais.
— Ela vai ficar bem? — Sam me perguntou, enquanto me ajudava a descer do palco.
— Vai sim, é sempre assim.
— E você, ‘tá bem?
— Eu tô, amanhã devo acordar com um pouco de dor de cabeça, mas eu ainda tô lúcida.
— Tenho que dizer que você estava muito sensual em cima daquele palco. — Sam sussurrou no meu ouvido.
Caramba, eu conseguia ouvir meu coração batendo, parecia que ia saltar pela boca. Descobri que álcool misturado com adrenalina podia deixar a gente mais tonta que o normal, eu ‘tava a ponto de desmaiar, quando alguém o elenco esbarrou em nós e quase derrubou bebida.
— Bom, eu acho que ‘tá na hora de ir pra casa.
— Mas já? Não ‘tá cedo não?
— Cedo? Já é de madrugada e é melhor eu ir antes que a dê perda total.
Eu me despedi do pessoal, enquanto Alex já carregava a para fora.
— A gente se vê na segunda, então. — Sam disse.
— Sim, até segunda.
Dei um beijo na bochecha de Sam antes de sair e encontrar meus amigos. Nós seguimos para casa, Alex era o melhor de nós três, afinal, ele foi e voltou dirigindo.
— Vai dormir aqui hoje, best?
— Vou sim, alguém precisa cuidar da sua amiga.
— Bom, eu vou pro meu quarto, então, preciso de um banho e cama.
Eu tomei um belo banho frio e me enfiei na minha cama king size cheia de travesseiros. Não demorou muito e eu peguei no sono, eu até tentei não pensar no Sam, mas foi inevitável, sonhei com ele a noite toda.

•••

Acordei no dia seguinte com uma dor de cabeça terrível, levantei, tomei um remédio e fui até a sala ver se tinha alguém vivo. estava deitada no sofá com uma bolsa de água na cabeça.
— Ai, que bom saber que você está pior que eu. — Falei e me mostrou o dedo do meio. — Tão delicada. Cadê o Alex?
— Na cozinha fazendo o café da manhã, ele é o único que tem condições, aparentemente.
— Do que você ‘tá falando? Eu tô ótima.
— Você se lembra do que aconteceu na noite passada?
— Claro que lembro.
— Até da parte que a gente praticamente desceu até o chão ao som de Alejandro?
— Se você se lembra, pode ter certeza que eu lembro.
— Todo aquele espetáculo e você nem pegou o patinho feio.
— Não fala assim dele! — Falei, tacando uma almofada em . — E eu não pretendia pegar ele mesmo.
, você é uma ótima atriz, mas quando se trata da sua vida pessoal, você é péssima pra esconder sentimentos.
— Tem alguém com fome aí? — Alex apareceu na sala ainda vestindo o avental.
Eu e a fizemos uma bela cara de enjoadas.
— Ah, vamos lá, vocês duas têm que colocar algo no estômago. Todo mundo já tomou remédio pra cabeça, certo? Agora vamos comer, tem um bule fresquinho de café pra vocês curarem essa ressaca.
Alex nos arrastou pra sala de jantar, onde a mesa do café estava posta.
Decidimos que o domingo seria única e exclusivamente pra curar nossa ressaca, afinal, no dia seguinte eu tinha que gravar. Apesar da dor de cabeça, a noite anterior tinha sido incrível, divertida e eu ‘tava começando a achar que talvez eu estivesse totalmente perdida em relação ao meu costar.

•••

Levantei na segunda curada da ressaca e totalmente disposta pra ir gravar. Cheguei no estúdio animada como de costume e segui pro meu trailer.
— Bom dia, ! — Sam disse, aparecendo na porta do meu trailer.
— Oi, Sam, bom dia! — Eu disse, indo até ele cumprimentá-lo.
— E aí, como foi seu domingo?
— Bem preguiçoso e digamos que precisei de um comprimido pra dor de cabeça, mas, fora isso, tô inteira.
— E a ?
— Ela ‘tava um pouco pior do que eu, mas hoje já acordou recuperada.
— Pronta pra mais uma semana de gravações, então?
— Claro que sim, eu sempre tô pronta pra fazer meu trabalho.
Nós gravamos intensamente durante toda a manhã e só paramos pra descansar na hora do almoço.
— Posso te chamar pra almoçar hoje? — Sam falou, enquanto nos encaminhávamos para a área dos trailers para almoçar.
— Como assim?
— Tô te chamando pra ir almoçar no meu trailer, ué.
— Ah, tá, entendi. Certo, eu aceito e eu levo a sobremesa.
Na noite anterior, e eu havíamos feito brigadeiro de panela, nós comemos uma panela pra repor o nível de açúcar no nosso sangue, Alex também comeu e ainda levou pra casa, mas havia sobrado um pote que eu levei pro estúdio.
Quando Sam e eu terminamos de almoçar, eu peguei o pote de brigadeiro pra gente comer.
— Agora adivinha o que é isso?
— Ganache?
Beh, resposta errada! — Falei, dando um tapinha na testa de Sam. — Isso é um doce brasileiro chamado brigadeiro, aposto que você nunca comeu nada tão gostoso quanto isso.
— Olha só, agora tô curioso.
— Bom, então o que estamos esperando? — Falei, entregando uma colher para Sam.
Nós enchemos nossas colheres e comemos.
— Meu Deus, isso é muito, muito bom!
— Eu te disse, é a oitava maravilha do mundo.
— Eu pensei que você tinha dito que não sabia cozinhar.
— Ah, brigadeiro não é assim tão difícil de fazer, só tem que saber dar o ponto. Minha mãe costumava fazer pra mim, mas quando eu fui morar sozinha, tive que aprender a fazer, porque eu não posso viver sem esse doce.
— E agora eu também não vou mais poder viver sem brigadeiro, você criou um monstro, sabia?
— Não se preocupe, prometo trazer brigadeiro pra você sempre que possível.
— Isso enquanto estivermos gravando, mas e depois?
— Depois também, eu tenho um histórico de sempre fazer amizades duradouras com as pessoas que trabalham comigo.
— Isso é bom, quero que você continue por perto quando o trabalho acabar.
— Sério? Por quê?
— Por causa do brigadeiro, já falei não dá mais pra viver sem. — Sam disse, gargalhando.
— Mas é muito bobo mesmo, viu.
— Não, falando sério agora, é por você também, sei lá, eu só gosto muito de ficar perto de você.
Eu não sei se Sam ia dizer mais alguma coisa, mas fomos interrompidos por alguém da produção que passou avisando que o horário de almoço estava terminando. Eu voltei para o meu trailer para guardar minhas coisas e escovar meus dentes, antes de seguir para o segundo tempo de gravações.

•••

A semana passou voando e foi muito intenso, com cenas bem complexas de serem feitas. Na quinta à noite, eu estava aliviada, porque a sexta estava chegando, mas à noite, quando fui repassar minhas cenas do dia seguinte, quase tive uma síncope. A principal cena que nós tínhamos para filmar no dia seguinte era simplesmente a primeira cena de beijo entre os personagens principais. Eu não sei por que, mas aquilo me deixou extremamente ansiosa e nervosa, eu mal consegui dormir a noite toda.

•••

No dia seguinte, eu segui para o estúdio muito tensa, passei o dia sem conseguir me concentrar em nada. A cena do beijo seria a última, pouco antes de seguir para o estúdio para fazer a bendita cena, eu fiquei alguns minutos no meu trailer sentada em frente à minha bancada me olhando no espelho, tentando me acalmar. Eu já havia feitos dezenas de cenas de amor, com beijo e até cenas de sexo no cinema, então por que dessa vez eu estava suando frio e com o estômago revirado?
Eu respirei fundo, tomei um copo de água e segui pro estúdio, não dava mais pra adiar. Quando entrei no estúdio, Sam já estava lá esperando.
— Bom, gente, vamos então fazer a marcação pra cena. — Anthony dizia, enquanto eu entregava meu roupão para a assistente. — Sam, você fica do lado esquerdo do vídeo e do lado direito. Na hora que vocês se beijarem, quero que você Sam incline a cabeça também para o lado esquerdo e para o lado direito, a câmera tem que pegar o rosto da em meio ao beijo.
Eu nunca havia parado para pensar o quanto era esquisito ter alguém te dizendo para qual direção virar a cabeça quando você beijasse alguém, mas, naquele instante, aquele pensamento me passou pela cabeça.
— Estão prontos?
— Claro. — Sam disse.
?
— Tô pronta.
Assim que Anthony posicionou as câmeras e gritou “ação”, tudo pareceu acontecer muito rápido. Nós começamos a falar nosso texto, que inicialmente era uma briga entre nossos personagens e que depois evoluía pra uma atração irresistível, até finalmente terminar no beijo.
— Você quer saber qual a verdade? — Sam disse na pele de seu personagem.
— Qual a verdade? Que você é um perfeito idiota? — Respondi com a minha fala.
— Não, a verdade é que eu não consigo mais esconder que estou apaixonado por você.
E então Sam me puxou para o beijo, ele me agarrou pela cintura e eu passei os braços ao redor do seu pescoço, enquanto nos beijávamos e a câmera dava zoom em nossos rostos.

Eu sempre digo que um beijo técnico é técnico por dois motivos: o primeiro é que não tem língua, esteticamente falando, um beijo de língua não fica bonito na câmera e nós precisamos fazer as pessoas acreditarem no beijo, mas também precisamos deixar a cena bonita. E o segundo motivo que faz do beijo em cena um beijo técnico, é que não tem sentimentos, ali são apenas os sentimentos das personagens, não os nossos. E, naquele momento, eu tive certeza que o beijo que Sam me deu não foi técnico, porque desrespeitou uma dessas duas regras. O beijo que ele me deu não tinha língua, mas definitivamente tinha sentimentos.
Quando Anthony gritou “corta”, eu levei alguns segundos pra recuperar meu fôlego e me recompor.
— Ficou ótimo, gente, nem vamos precisar repetir. — Anthony disse. — Bom, vocês estão dispensados por hoje, bom final de semana!
, ‘tá tudo bem? — Sam falou comigo, mas eu não conseguia encará-lo.
— ‘Tá tudo bem, eu só estou cansada. A gente se vê na segunda, então.
Eu saí do estúdio quase que correndo, fui direto pro meu trailer e tranquei a porta. Minhas bochechas queimavam, eu estava mais vermelha que um pimentão e só a lembrança daquele beijo fazia cada pelo do meu corpo se arrepiar.
Eu peguei meu celular e liguei para , porque eu não tinha condições de sair daquele estúdio sozinha.
Fala, viada.
, você pode vir me buscar no estúdio?
Que aconteceu com seu carro?
— ‘Tá aqui, eu só não estou em condições de dirigi-lo.
Mas como assim?
— Para de fazer perguntas e vem logo!
’Tá bom, ‘tá bom, aguenta aí que eu já tô chegando.

Uns quinze minutos depois, chegou até o estúdio de táxi. Assim que eu a vi, peguei minhas coisas e saí correndo até ela como se ela fosse minha tábua de salvação. Eu entreguei a chave do meu carro pra ela e nós seguimos até o estacionamento. Só quando já estávamos dentro do carro e fora do estúdio, eu voltei a respirar normalmente.
— Ok, agora será que você pode me dizer o que aconteceu?
— É que hoje, no final do dia, nós filmamos a primeira cena de beijo dos personagens.
— E daí? Você já filmou tantas cenas de beijo na vida, que já até perdeu as contas.
— Eu sei, mas é que...
— O quê? O que foi que aconteceu, criatura?
— O Sam me beijou de verdade.
OI??? gritou e freou o carro com tudo, eu quase bati meu rosto no para-brisa.
— Hei, cuidado! Eu trabalho com meu rosto, sabia? Não posso ter um hematoma bem no meio da cara!
— Me desculpe, mas foi mais forte que eu. — disse, colocando o carro em movimento novamente. — Agora me explica essa história direito, como assim ele te beijou “de verdade”, de língua, você diz?
— Não, não teve língua, mas teve sentimentos. O jeito que ele me agarrou, a vontade com que ele me beijou, aquilo não era só interpretação e olha que como você mesma disse, que já fiz muita cena de beijo.
— E você, o que sentiu?
— Eu não sei, eu tô tão confusa!
— Mas você gostou?
— Ai, , não, pelo amor, você não vai começar agora com lição de moral, né?
— Que mané lição de moral, eu só tô fazendo uma pergunta simples, você gostou? Porque se você não gostou, a gente pode reclamar, afinal, isso é antiético. Agora, se você gostou, a atitude tem que ser outra.
Eu suspirei fundo antes de responder.
— Eu acho que eu gostei.
— Mas gostou tipo muito?
— Gostei tipo a ponto de eu esquecer que estava numa gravação e meu corpo ficar completamente mole, totalmente entregue àquele beijo.
— Cacete, então é pior do que eu pensava. Você está naquele estágio, que se acender uma faísca perto de você, você pega fogo.
, era pra você me ajudar, não piorar as coisas.
— Mas eu tô tentando de ajudar, ! Você ‘tá afim do cara e se ele te pegar de jeito, você não vai resistir, eu tô te avisando isso antes que você caia de vez nos braços dele.
— Oh, céus, por que mesmo que eu escolhi ser atriz? Eu faço tudo errado, eu não consigo me controlar!
— Tá, também não precisa começar a chorar, vai, isso não é o fim do mundo. Vamos pra casa, você vai ter um fim de semana todo pra se recuperar.
— Tem chocolate em casa? E pipoca?
— Tem, vamos fazer um grande balde de pipoca, pegar umas barras de chocolate e assistir desenhos a noite toda.
— Obrigada, amiga!
Quando chegamos em casa, eu tomei um banho e pus meu pijama mais confortável. Depois do jantar, e eu nos preparamos para nossa maratona de desenhos. Mas a verdade é que eu não conseguia parar de lembrar do beijo, a tinha razão, eu ‘tava afim do Sam e faltava muito pouco pra eu parar de resistir e cair nos braços dele. Eu queria voltar atrás, mas eu temia que fosse tarde demais pra isso.

•••

Acordei no dia seguinte ainda lembrando daquela cena, pelo visto, o final de semana seria longo. Levantei e fui tomar café, encontrei a já de pé, comendo e arrumada para sair.
— Bom dia! — Falei, sentando e começando a comer.
— Bom dia, senhorita.
— Aonde você vai pleno sábado logo de manhã?
— Então, eu vou ter que ir pra Santa Mônica.
— Por quê?
— Você esqueceu que meus pais moram lá?! Aliás, os seus também moram.
— Eu sei disso, mas você sempre me avisa antes quando vai pra lá.
— Sim, mas é que foi uma emergência. Parece que meu pai foi tentar arrumar um negócio em casa e acabou caindo e quebrando a perna.
— Ai, meu Deus, ele ‘tá bem?
— ‘Tá sim, não foi nada grave, ele só vai ter que ficar umas semanas de molho. Mas eu achei melhor ir lá fazer uma visita pra ele.
— Vai ficar muito tempo por lá?
— Não, tô indo agora e volto amanhã à noite.
— E o Alex vai com você?
— Vai sim, já falei com ele e ele ‘tá vindo me pegar.
— Que ótimo, vou passar o final de semana sozinha.
— Ai, quanto drama! Mas você pode vir com a gente se quiser.
— Acho melhor não, eu não estou a melhor das companhias no momento. Mas manda um beijo enorme pro seu pai e diz que desejo melhoras.
— ‘Tá certo, aproveita então sua solidão pra refletir e pensar o que você quer da vida. — disse, quando o celular dela apitou. — É o Alex, ele chegou. Deixa eu escovar meus dentes e pegar minha mochila.
Despedi-me da minha amiga e fui terminar de tomar meu café. Eu não tinha nada pra fazer e não queria sair, então resolvi arrumar meu closet.
Tirei as roupas que iriam para doação, organizei as gavetas, limpei todos meus pares de sapatos e arrumei os acessórios. Como dizia a : eu tinha muita roupa e muito sapato, então aquela tarefa me ocupou o dia todo e no final do dia eu estava exausta.

Depois de tanto trabalho, eu preparei um banho de espumas pra mim, mergulhei na banheira e fiquei lá por um bom tempo, relaxando e ouvindo música. Quando saí, coloquei uma legging e uma cacharrel quentinha e fui para sala ver televisão.
Eu estava lá, pensando no que eu iria pedir para jantar, quando a campainha tocou.
— Quem pode ser essa hora?
Eu segui até a porta e quase caí pra trás quando abri. Sam estava ali, parado bem diante de mim.
— Sam?
— E aí, tudo bem?
— Tudo sim e você?
— Bem também. Será que eu posso entrar?
— Ah, sim, claro, me desculpe, entre.
Abri a porta para que Sam entrasse, minha cabeça confusa com aquela visita.
— Como você descobriu onde eu moro?
— Você me disse um dia desses.
— Eu disse, é? Caraca, nem lembrava. Mas a que devo a visita?
— Ah, nada demais, só queria conversar. Você está sozinha?
— Tô sim, a foi para Santa Mônica visitar os pais junto com o Alex, o pai dela teve um pequeno acidente doméstico e quebrou a perna.
— Nossa, espero que ele esteja bem.
— Ele ‘tá sim, o pai dela é um pouco teimoso, sabe, daí às vezes a teimosia dele dá nisso.
Um breve silêncio constrangedor tomou conta do ambiente.
— Você já jantou?
— Ainda não, mas, sinceramente, eu não estou muito afim de sair pra jantar.
— Tudo bem, na verdade, eu estava pensando que a gente podia jantar aqui mesmo, na sua casa.
— Eu ‘tava aqui mesmo pensando em pedir algo pra comer.
— Bom, eu posso cozinhar pra você, se você quiser.
— Você cozinhar? — Falei e explodi numa gargalhada.
— Que foi? Eu sei me virar, tá, sei fazer o básico pra não morrer de fome. — Sam disse, também rindo.
— E o que você vai cozinhar?
— Eu vou fazer uma maravilhosa macarronada ao molho sugo.
— Ai, Sam, até eu sei fazer macarrão, né!
— Mas você nunca comeu o meu macarrão, você vai ver, é o melhor de todos!
— Tudo bem então, vamos lá. — Falei, seguindo para a cozinha junto com Sam. — Eis aqui a minha cozinha, pode pôr a mão na massa.
— Ótimo, se prepare para provar a minha incrível macarronada.
— Eu vou ficar aqui, só assistindo. — Falei, sentando em um dos banquinhos da bancada da cozinha.
Sam levantou as mangas da sua camisa e começou a preparar a comida, enquanto eu ia dizendo para ele onde encontrar as coisas. Quando a macarronada estava pronta, nós colocamos a mesa na sala de jantar e eu peguei um vinho tinto suave para acompanhar a comida. Nós nos servimos e Sam ficou esperando que eu provasse primeiro.
— E aí?
— Olha, não é que ‘tá bom mesmo? O tempero tem até manjericão, parabéns.
— Eu te disse que eu sabia cozinhar.
Nós terminamos de comer e depois fomos para sala tomar o restante do vinho.
— Bom, agora que nós já jantamos, você já me provou que sabe cozinhar, será que você pode me dizer por que veio aqui?
— Eu queria saber se está tudo bem com você. Eu te achei um pouco estranha ontem no final do dia, você nem se despediu.
— Eu só estava muito cansada, queria vir logo pra casa.
— Essa desculpa não me convenceu.
Eu suspirei fundo antes de responder.
— Ok, já que você está aqui, acho melhor a gente conversar mesmo. — Falei, colocando minha taça em cima da mesinha da sala. — Eu acho que nós precisamos falar sobre aquele beijo, Sam.
— Você diz a cena de beijo que fizemos ontem? — Sam disse, também deixando sua taça de lado.
— Exatamente. Eu já fiz muitas cenas de beijo na minha carreira e eu sei reconhecer quando um beijo não foi totalmente técnico.
— E você acha que o beijo que eu te dei não foi técnico? Não foi um beijo de língua.
— Eu sei disso, Sam, eu sei muito bem. — Falei nervosa, levantando do sofá e indo até a janela da sala. — Mas teve sentimentos.
Eu estava de costas e quando me virei, Sam já estava bem atrás de mim, assustando-me, ele estava muito próximo.
— Você acha que teve sentimentos? Que tipo de sentimentos?
— Eu não sei, talvez você devesse me dizer isso. Talvez eu esteja imaginando coisas também, mas ou você é realmente muito bom interpretando ou tinha sim alguma coisa naquele beijo que não estava normal.
— O que eu quero saber é se você gostou da cena. — Sam disse, aproximando-se ainda mais, encurralando-me na parede.
— O quê? Por que você quer saber isso? O que interessa se eu gostei ou não?
— Interessa e muito.
— Não me faz pergunta difícil, eu tô confusa, ok?!
— Então tá, eu vou tentar ajudar você a desfazer essa confusão.
Minha respiração começou a ficar cada vez mais ofegante, eu podia sentir o hálito de Sam batendo no meu rosto.
— Me ajudar como?
— Você tem razão, , eu te beijei de verdade mesmo. Eu fiz algo que eu já venho querendo fazer há muito tempo, eu não sei explicar o que está acontecendo comigo, eu só sei que não consigo parar de pensar em você.
— Que coincidência, porque eu também não paro de pensar em você.
— Sério mesmo?
— Sério. E agora, o que a gente faz com isso que a gente ‘tá sentimento?
— Acho que a única coisa possível de se fazer no momento é se entregar.
Então, sem dizer mais nenhuma palavra, Sam terminou com o pouco espaço que ainda existia entre nós e me beijou, dessa vez, um beijo de língua e bem real. Ele me agarrou pela cintura e eu entrelacei meus braços ao redor do seu pescoço, deixando meus dedos deslizarem por seus cabelos.
Eu não conseguia respirar tamanha a intensidade com que ele me beijou. Eu nem sei como a gente foi da sala até o quarto, porque a única coisa da qual eu conseguia ter consciência, era das mãos de Sam percorrendo meu corpo.
Sam tirou minha cacharrel e beijou meu pescoço, descendo até meu colo e depois até minha barriga. Nós fomos nos livrando de cada peça de roupa uma a uma até não restar mais nada entre nós.
Eu conseguia ouvir o barulho do meu coração nos meus ouvidos, eu podia sentir meu sangue bombeando nas minhas veias, parecia que eu estava queimando de dentro pra fora. Sam apertou a parte interna da minha coxa e eu gemi alto.
Quando nós finalmente atingimos o clímax, eu fiquei alguns minutos tentando recuperar o ar. Então eu senti Sam me abraçando apertado, eu me aninhei nos braços dele até que o sono chegasse e eu caísse num sono calmo e profundo.

•••

No dia seguinte, eu despertei com os raios de sol entrando pela janela. Eu abri os olhos devagar e só então minha cabeça começou a processar o que havia acontecido na noite passada. Eu olhei para baixo e vi o braço de Sam agarrado na minha cintura, então olhei para trás e Sam dormia pesado, sua respiração batendo no meu pescoço.
— Puta que pariu, o que foi que eu fiz?!
Eu tirei o braço de Sam de cima de mim delicadamente e me levantei devagar, tentando não fazer barulho para não o acordar. Eu vesti meu robe e peguei meu celular no criado mudo, em seguida, saí do quarto um instante.
Eu parei na porta do quarto e liguei para a única pessoa que eu poderia ligar naquele momento.
Alô? atendeu com voz de sono.
— Oi, viada, bom dia!
Bom dia pra quem? Que inferno, , são nove da manhã, por que você ‘tá me ligando a essa hora em um domingo? Você deveria estar dormindo e eu também!
— É que eu fiz uma besteira.
pareceu ficar totalmente desperta de repente.
Ah, , pelo amor, eu te deixou sozinha por dois dias e você consegue fazer besteira! Vai, me diz o que você fez, foi uma besteira muito grande?
— Vejamos... um metrô e oitenta e cinco, cabelos pretos e uma bunda bem bonita pra quem já tem quarenta anos.
CACETE! , não me diz que você dormiu com o Sam?!
— Ok, se você quiser eu não digo, mas o fato dele estar dormindo pelado na minha cama acho que já diz tudo.
, eu falei que era pra você ficar sozinha e pensar no que fazer, não que era pra você levar o cara pra cama.
— Eu não levei ele pra cama, tecnicamente, foi ele que me levou pra cama. Ele que apareceu aqui com essa conversa de me visitar, daí veio com essa história de cozinhar e quando eu vi, a gente já ‘tava no meu quarto sem roupas.
Mas que história mais confusa é essa, menina?
— Ai, é uma longa história, quando você chegar eu te conto. Mas, e agora, o que eu faço?
Como assim, o que você faz? Agora que tu já fez a besteira aproveita, né, volta pra cama e aproveita o homem pelado que ‘tá lá. Eu só espero que tenha sido bom, viu.
— Bom? Amiga, você não ‘tá entendendo, o cara tem uma pegada que, meu senhor amado, eu tô tonta até agora. Eu acho até que deve ter ficado umas marcas pelo meu corpo, tamanha a vontade que ele me pegou.
Poupe-me dos detalhes sórdidos. Enfim, me deixa dormir com meu boy magia aqui e vai lá aproveitar o teu domingo.
— Tá bom, então, a gente se fala depois.
Eu desliguei o celular e voltei para o quarto. Sentei na beirada da cama e fiquei pensando sobre tudo, até que senti um beijo estalado no pescoço.
— Que susto, meu, quer me matar do coração? — Falei olhando para Sam.
— Seu coração pareceu bem resistente na noite passada.
— Engraçadinho.
— Onde você foi?
— Fui só fazer uma ligação.
— Ah, ‘tá, pensei que você estava fugindo de mim.
— E por que eu fugiria?
— É exatamente o que eu quero saber. Eu sinto que você ainda está com um certo medo.
— Ai, Sam, é só que eu não sei se o que estamos fazendo é certo. Nós trabalhamos juntos, isso pode dar uma encrenca tão grande.
— Encrenca por quê?
— Sei lá, e se não der certo?
— Nós mal começamos a ter alguma coisa e você já ‘tá pensando se não der certo?
— Desculpa, é que eu já quebrei tanto a cara.
, vamos deixar rolar, ok? Para de tentar prever o futuro. Além disso, eu tenho um motivo muito maior pra gente ficar juntos.
— É mesmo e qual é?
— Eu quero, você quer, então nada mais importa.
Sam então me beijou, enquanto tirava meu robe. Talvez ele estivesse certo, talvez eu devesse deixar rolar e ver no que ia dar. De qualquer forma, eu não ia pensar nisso naquele momento, porque quando ele me beijava, meu cérebro simplesmente parava de funcionar.

Sam e eu passamos o dia juntos e ele foi embora algumas horas antes da chegar em casa.
, chegamos, você está descente ou ainda tem alguém pelado no seu quarto?
— Tão engraçada você, né. — Falei, abrindo a porta do quarto e dando de cara com e sua cara irônica. — Não se preocupe que eu estou sozinha. Ah, oi, Alex!
— Oi, , teve um ótimo domingo, hein?! — Alex disse rindo.
— Você contou pra ele, ?!
— Ué, ele não seu best? Qual o problema?
— Relaxa, , tem mais é que se divertir, dou o maior apoio.
— Obrigada, Alex. Agora você, , vem, precisamos conversar.
— Certo, vamos lá, que tô mesmo querendo entender essa história.
entrou comigo no meu quarto e eu fechei a porta, sentando-me na minha cama em seguida.
— Vai, senta aí, vou te contar tudo.
— Eu não quero sentar na sua cama não.
, não seja ridícula!
— Ridícula nada, apenas cautelosa.
— Se fosse assim, eu nem respiraria o mesmo ar do seu quarto fofíssima.
— É, pensando por esse lado. — falou, finalmente se sentando. — Vai, agora me conta direitinho como foi que você e o patinho feio acabaram se enrolando nos lençóis.
— Para de chamar ele de patinho feio!
— Você sabe que eu não vou parar, né?
— Não sei como eu te aguento.
— Porque ‘tá no contrato. Agora vai, desembucha.
Eu contei toda a história para e ela ouviu atentamente.
— Então quer dizer que ele usou essa jogada de cozinhar pra você? Mas que golpe baixo!
— Pois é, e daí a gente acabou entrando no assunto da cena de beijo, daí pra gente começar a se beijar de verdade foi um pulo.
— E quer dizer que o cara é bom de cama?
— Bom? Ele é ótimo, excelente! Eu ouso dizer que ninguém nunca me pegou tão de jeito como ele.
— Então, pronto, descobrimos o que torna esse patinho feio um cisne, ele sabe como pegar uma mulher.
— Sabe, amiga, sabe muito, viu. E ao mesmo tempo ele também sabe ser carinhoso.
— Ih, pronto, combinação perfeita pra fazer você se apaixonar.
— Ai, , eu tô tão confusa, sabe, eu não sei o que fazer.
— Você já fez o que eu falei pra você não fazer. Já que não dá mais pra voltar atrás, eu acho que você deveria fazer o que ele disse, deixa rolar.
Foi bom ouvir os conselhos da minha amiga, embora eu ainda estivesse meio incerta sobre o assunto. A única certeza que eu tinha, era que no dia seguinte eu teria que ir para o estúdio gravar e, claro, encontraria com Sam.

•••

Quando levantei na manhã seguinte, eu parecia uma adolescente se preparando para ir para escola encontrar o menino que gostava. Eu me arrumei e segui para o estúdio, fui uma das primeiras a chegar e logo segui para o meu trailer.
Eu estava sentada na minha bancada, mexendo no celular, quando Sam chegou.
— Bom dia, ! — Sam disse, dando-me um beijo no pescoço.
— Caramba, Sam, não faz isso, beijo no pescoço é sacanagem. E bom dia pra você também. — Falei e voltei a atenção para o celular novamente.
— É isso, então?
— Isso o quê?
Sam então tirou o celular na minha mão.
— Hei! — Falei, finalmente encarando ele.
— Quer dizer que a gente teve um final de semana maravilhoso juntos e agora você vai agir como se nada tivesse acontecido?
— Eu não estou agindo como se nada tivesse acontecido.
— Está sim ou pior, você está agindo como se o que aconteceu não fosse nada, fosse só uma transa qualquer.
Eu me levantei e fiquei de frente para Sam, encarando-o.
— Eu não disse que não foi nada, não disse que não significou algo pra mim.
— Então por que você ‘tá agindo assim?
— É que eu não quero que as pessoas falem de nós, eu sei o que elas vão dizer, que mais uma vez eu me envolvi com meu costar.
— E desde quando nossas vidas são da conta de alguém?
— Eu sei que ninguém tem nada a ver com as nossas vidas, mas...
— Mas nada, . — Sam se aproximou de mim e segurou meu rosto. — Você gosta de mim? Você quer ficar comigo?
— Eu gosto e eu quero muito ficar com você.
— Então é só isso que importa, o resto, o mundo lá fora, que fale o que quiser.
Sam então me puxou para um beijo que eu logo correspondi.
— Sam, nós estamos no estúdio. — Falei quando quebramos o beijo.
— E daí? Eu não pretendo esconder de ninguém aqui o quanto eu gosto de você.
Eu sorri, enquanto Sam voltava a me beijar.
— Certo, não precisa esconder nada, mas nós ainda precisamos trabalhar. Eu tenho que ir pro figurino e maquiagem.
— Tudo bem, eu vou deixar você se arrumar. Te vejo no estúdio, então.
Sam me deu um último beijo antes de sair do trailer. Eu acho que foi naquele momento que eu comecei a tomar consciência de que meu coração estava se perdendo pra sempre.
Decidi então que ia deixar rolar, assim como todos estavam dizendo que eu deveria fazer. Até porque, ficar longe do Sam não era mais uma opção viável para mim, todo dia, quando eu o via no estúdio, eu só conseguia pensar em beijá-lo.

•••

— Tá cansada? — Sam disse, abraçando-me pela cintura em um final de dia no meu trailer.
— Um pouco, a semana foi puxada.
— Eu pensei que a gente podia sair para jantar.
— Claro, seria ótimo. Mas com uma condição.
— Qual?
— Você ir lá pra casa depois. — Falei, virando-me de frente para ele. — É sexta à noite, a saiu com o Alex, então eu vou ficar sozinha.
— Não precisa pedir duas vezes.
Sam e eu saímos para jantar e depois seguimos para minha casa.
— Você quer beber alguma coisa? — Falei, tirando meus sapatos e pisando no tapete felpudo da sala.
— Não, eu tô de boa. — Sam disse, sentando-se no sofá.
Eu me joguei no sofá ao lado dele.
— Que foi que você ‘tá me olhando?
— Eu ‘tava me lembrando daquele dia no karaokê.
— ‘Tava lembrando do meu mico e da cantando que nem duas loucas?
— Na verdade, eu ‘tava pensando em você dançando em cima do palco super sexy.
Sexy? Só você mesmo, Sam. — Falei rindo.
— Você me deixa louco quando dança.
— Tô achando que eu te deixo louco até quando eu respiro.
— É, talvez, mas dançando é ainda melhor. Você podia dançar pra mim.
— Como assim, aqui, agora?
— Por que não? Só estamos nós dois.
— Qual é a sua tara em me ver dançando?
— Não sei explicar, mas, sabe, eu me lembro de um filme que você fez, era de dança e você dançava várias danças de salão de uma forma muito sensual. E teve um também que você fez uma dançarina de cabaré, nem preciso dizer que você estava incrível.
— Caramba, tô começando a achar que você era meu fã, você conhece bem os filmes que eu fiz.
— Eu sou um grande admirador do seu trabalho, confesso. Mas não foge do assunto, ainda tô esperando você dançar pra mim.
— É sério mesmo isso?
— Muito sério.
— Ok, então tá!
Eu levantei, peguei meu celular e coloquei para tocar Señorita da Camila Cabello e do Shawn Mendes. Então eu comecei a dançar e cantar a música ao mesmo tempo que tirava algumas peças de roupa.
Antes que a música chegasse ao final, Sam levantou, puxou-me para um beijo e terminou de tirar minhas roupas, enquanto eu também me livrava das dele. Nós seguimos depois para o meu quarto e ficamos lá a noite toda, juntos, nos amando.

•••

No dia seguinte, eu acordei com meu celular apitando, era SMS da :

» : Eu pensei em entrar no seu quarto, mas daí eu lembrei que você com certeza está com o Sam e eu não quero ter essa visão. Poderia sair aqui fora?

Eu me levantei devagar para não acordar o Sam, coloquei minha camisola que estava jogada no chão e fui até a porta.
— Bom dia! — Falei, encontrando minha amiga parada na porta.
— Bom dia, flor do dia. Eita sorrisão, hein, já vi que a noite foi boa.
— Foi mesmo, maravilhosa!
— Tô vendo, até a pele ‘tá linda.
— Tá, , mas você não me tirou da cama pra falar da minha noite, né?
— Claro que não, só queria avisar que o Alex ‘tá preparando o café da manhã e a gente ‘tá esperando vocês pra tomar café. Acorda seu belo adormecido aí e vamos descer pra comer.
— Beleza, a gente se encontra na sala de jantar daqui a pouco então.
então empurrou de leve a porta do meu quarto.
— Que isso, menina, ‘tá doida?
— ‘Tava só checando, você tinha razão sobre a bunda dele. — disse rindo.
— Ah, , vai cuidar da bunda do seu namorado vai!
Eu voltei pra dentro do quarto e fui acordar o Sam.
— Acorda, dorminhoco. — Falei, beijando as costas dele.
— Bom dia, linda.
— A veio chamar a gente pra tomar café, vamos?
— Vamos sim.
Nós levantamos e tomamos um banho, depois descemos para a sala de jantar, e Alex já estavam na mesa.
— Olha só quem nos deu o ar de sua presença, o casal vinte. — disse, divertida.
— Bom dia, , Alex. — Sam disse, sentando-se.
— Bom dia, cara, fica à vontade aí.
— Bom dia, Sam, te dou as boas-vindas oficialmente à nossa humilde residência.
— Desculpa invadir a casa de vocês, .
— Que isso, imagina. Pode invadir a casa, o quarto da , aliás, tu já invadiu ela todinha que eu sei.
! — Falei, engasgando com o leite.
— Que foi? Só falo verdades.
— Não liga não, Sam, minha amiga é assim, nada discreta, tem a língua maior que a boca.
— Você é muito engraçada, .
— Esse foi um dos motivos que fizeram eu me apaixonar por ela. — Alex disse, orgulhoso.
— Eu sou divertidíssima, tá, deixo a vida das pessoas muito mais alegre.
— Acho que você vai ter que se acostumar com isso, se quiser frequentar nossa casa. — Eu falei olhando para Sam.
— Sem problemas, por você vale a pena. — Sam disse, segurando minha mão.
— Eita, que eu senti o nível de açúcar subindo um pouco aqui, traz a insulina, minha gente.
— Precisa não, , você é a própria insulina pra acabar com momentos fofos.
— Sou mesmo, obrigada.
Continuamos tomando nosso café e conversando em meio a risadas, fazia um bom tempo que eu não tinha alguém assim que convivesse com meus amigos, frequentasse minha casa. Pelo visto, eu teria que me acostumar novamente com isso, mas tenho que confessar que eu estava gostando e muito!

•••

Eu tentei manter o máximo possível a normalidade no estúdio, mas aos poucos as pessoas foram percebendo que as coisas haviam mudado entre mim e o Sam. Os sinais eram claros, as várias vezes que ele sussurrava no meu ouvido entre uma cena e outra, o modo como nós nos olhávamos mesmo com a câmera desligada, o fato de que ele vivia mais no meu trailer do que no dele, nós dois de mãos dadas andando pelo set de filmagem e o fato de que ele passava os finais de semana na minha casa, então na segunda nós chegávamos juntos.
Assim como cada membro do elenco e da equipe percebeu o que estava acontecendo, nosso diretor acabou percebendo também. Nós estávamos em uma horário de intervalo entre uma cena e outra, sentados na escada do meu trailer, Sam estava sentado no topo da escada e eu um degrau abaixo entre as pernas dele, Sam me abraçava por trás e descansava a cabeça em meu ombro enquanto, eu revisava o texto da próxima cena.
— Essa fala aqui, acho que posso falar ela como bastante intensidade, pra deixar a cena mais dramática. O que você acha, Sam?
— Acho que do jeito que você fizer vai ficar incrível.
— Sam, fala sério, eu tô pedindo sua opinião.
— Ah, , você sabe que não precisa disso, você é muito boa no que faz.
— E você é muito meu puxa-saco, sabia?
— Pode ser, mas não sou só eu que diz que você é excelente atriz, a mídia e a crítica também. A diferença é que eu tenho o privilégio de saber que você também é ótima em outras coisas. — Sam disse malicioso, beijando meu pescoço.
— Meu Deus, você só pensa nisso, é? — Falei rindo.
— Desculpa, mas é que você é linda demais, não consigo evitar.
Eu ainda estava rindo e aproveitando os carinhos de Sam, quando uma pessoa da equipe passou e me chamou.
, o Anthony está te chamando para se preparar para a próxima cena. — Disse Liz, a assistente de direção.
— Ok, Liz, já estou indo, obrigada.
Saí dos braços de Sam relutante e segui para o estúdio.
— Hei, estrela, onde você estava? — Anthony perguntou.
— Apenas descansando pra próxima cena.
— Ótimo, então vamos nos preparar para filmar. E o Sam?
— Deve estar vindo.
— Vocês não estavam juntos?
— Estávamos sim, por quê?
— Nada, só curiosidade. Você e ele, então é verdade o que todos têm dito?
— O que é que todos têm dito?
— Que vocês estão saindo, que vivem pelo set juntos com cara de apaixonados.
— É, nós estamos juntos sim, ainda não sei no que vai dar, mas nós estamos nos curtindo.
— Ele é mesmo um cara de sorte.
— Imagine, eu também sou uma garota de sorte, ele é um homem incrível.
— Ah, falando nele, chegou para gravarmos.
— Estavam falando de mim? — Sam disse, aparecendo atrás de mim.
— Estávamos aqui, falando o quanto você e eu temos sorte.
— Exatamente, e que casal vocês fazem, hein. — Anthony disse, piscando para nós.
Casal, Anthony havia se referido a nós como a costumava fazer e, afinal, era o que nós éramos, certo?
Eu ainda tentava entender qual era o patamar que nossa relação estava e se referir a nós como casal ainda era novo para mim.

•••

No sábado, nós resolvemos fazer um programa bem típico de casais, saímos para jantar eu, Sam, e Alex, em um restaurante em Beverly Hills. Nós estávamos comendo, quando o assunto de ser um casal veio à tona.
— Então, assim, eu não quero parecer a mãe chata, mas como empresária dessa senhorita, eu preciso realmente saber que tipo de relação vocês têm.
— Como assim “que tipo”, ? O tipo de relação que um homem e uma mulher têm, qual a dúvida?
, você me entendeu, ok?! Vocês são famosos e as notícias correm, já andam circulando por aí notícias sobre um possível affair entre vocês dois e algumas fotos também já vazaram. Esse jantar de hoje mesmo, amanhã vai estar em todos os sites de fofocas.
— Como você sabe?
— Por causa daquele paparazzo que está plantado na porta do restaurante desde a hora que a gente chegou. Inclusive, ele está tentando tirar fotos através da janela do restaurante. — disse, apontando para a janela atrás de nós e automaticamente todos nós viramos para olhar.
— Caramba, você é boa mesmo, . — Sam disse.
— São muitos anos nessa indústria cuidando da carreira da , já aprendi alguma coisa.
— A é capaz de identificar um paparazzi a quilômetros de distância. — Disse Alex.
— Certo, e o que você quer de nós, então? Saber se nós somos um casal de fato?
— Exatamente, nada demais.
— Bom, eu não fui oficialmente pedida em namoro. — Falei um pouco constrangida.
— Se é por falta de pedido, a gente pode resolver isso agora mesmo. — Sam disse, olhando-me. — Nós estamos juntos e eu realmente quero ficar com você. Eu adoraria que você fosse minha namorada.
— Gosto disso, um homem de atitude. — disse.
— Amor não estraga o momento deles. — Alex disse, divertido.
— E aí, ? — Sam perguntou ainda me olhando.
— Bem, eu também adoraria ser sua namorada.
— Ai, que ótimo, temos um casal oficial, finalmente! — disse, empolgada.
— Mas tem uma coisa. — Falei com cautela. — Vamos manter esse namoro entre nós, entre as pessoas mais próximas, eu digo. , você só vai soltar a nota oficial confirmando nosso namoro quando as gravações do filme acabarem.
— E por que isso agora, viada?
— Por sim, ué, quero manter um pouco da minha privacidade pelo menos até ter todo mundo querendo invadir nossa vida. Você se importa, Sam?
— Claro que não, pra mim tanto faz, desde que estejamos juntos.
Sam sorriu para mim e eu sorri de volta, ele chegou mais perto, fazendo menção de me beijar, mas fomos interrompidos por .
— Hei, vocês dois, se querem que eu segure a nota oficial para quando as gravações do filme acabarem e se querem manter o mínimo de privacidade, é melhor se controlarem e guardarem os beijos e amassos para quando estiverem longe de fotógrafos.
— Verdade, o paparazzo ali está só esperando pra tirar uma foto exclusiva da gente se beijando.
— Poxa, acabei de ganhar oficialmente uma namorada e nem posso beijá-la. — Sam disse, olhando-me fazendo cara de pena, ele ainda mantinha seu braço ao redor do meu ombro.
— Não se preocupe, quando o jantar acabar, a gente vai pra casa, você vai ter a noite toda pra me beijar. — Falei maliciosa.
— Jesus amado, vocês estão precisando de um extintor pra apagar esse fogo, é tanto hormônio saltando que chega a ser palpável. — disse e nós caímos na risada.
— Quanto mais você age assim, mais louco e apaixonado por você eu fico. — Sam sussurrou no meu ouvido.
— Essa é exatamente a intenção, senhor Riley.
Então agora eu realmente tinha um namorado, embora a mídia ainda fosse continuar na incerteza, eu sabia o que ele era meu. E assim como Sam disse sobre mim, eu também ficava cada vez mais louca e apaixonada por ele.

•••

Conforme nós combinamos, apenas as pessoas próximas sabiam realmente que eu e o Sam estávamos namorando. A gente sempre saía junto, mas tentávamos manter a descrição, os beijos e amassos ficavam mesmo pra quando estávamos em locais fechados livres de paparazzi e pessoas curiosas.
Nós estávamos na minha casa, descansando depois de mais uma longa semana de trabalho, eu ‘tava deitada no sofá da sala com os pés no colo do Sam, uma almofada embaixo para aparar. Nós estávamos assistindo televisão, enquanto o Sam fazia uma massagem gostosa nos meus pés.
— Chegamos, família! — disse, entrando na sala com Alex. — Espero que não tenha ninguém pelado aí, porque eu não sou obrigada.
— Qual é, , você ‘tá achando que nós somos o que, dois coelhos?
— É exatamente o que eu penso sobre vocês. Aliás, Sam, meu filho, dá uma segurada, pelo amor, haja maquiagem pra esconder a quantidade de chupões que você ‘tá deixando no pescoço da .
— Não posso fazer nada se sua amiga é gostosa, . — Sam disse, divertido. — Além disso, alguém também anda deixando várias marcas de unha nas minhas costas.
— Ah, mas minhas marcas de unha nas suas costas são bem mais fáceis de esconder do que as marcas no meu pescoço.
— Não seja por isso, eu posso parar de deixar marcas.
— Eu não disse isso, não se preocupe, que tem muita maquiagem nessa casa.
— Bom que seu próximo patrocinador vai ser alguma marca de maquiagem, , de tanta base que você ‘tá usando. — disse, irônica. — Eu não entendo, sabe, tanto lugar pra deixar marca que não é visível e vocês têm que escolher bem o pescoço.
— E quem disse que eu não tenho marcas em outros lugares do corpo?! — Falei rindo.
— Ai, não, senhor, por que é que eu pergunto certas coisas? Eu quero tirar essa imagem da minha cabeça!
— Amor, você pediu por essa, vai. — Alex disse, também rindo.
— Enfim, chega desse assunto. Vamos falar do que realmente importa na vida, ou seja, comida. Eu e o Alex pensamos em pedir pizza.
— Ah, pizza, eu quero! — Falei animada, sentando-me no sofá.
— Ótimo, eu vou ligar pra pizzaria então.
— Tá, enquanto isso, a gente arruma as coisas aqui na sala mesmo. Eu vou na cozinha pegar os pratos e copos.
— Eu te ajudo, amor.
— É só pra pegar os pratos e copos vocês dois, tá! — gritou.

Quando as pizzas chegaram, nós nos sentamos no chão e devoramos, enquanto conversávamos coisas aleatórias.
— Ah, , deixa eu te falar, no próximo final de semana eu e o Alex vamos para Santa Mônica, vou visitar meus pais.
— Seu pai melhorou, aliás, ? — Sam perguntou.
— Melhorou sim, já ‘tá ótimo, inclusive, já ‘tá caçando outras coisas pra fazer e se machucar de novo dentro de casa, aquele coroa me deixa doida, viu.
, acho que dessa vez eu vou com vocês, tô precisando visitar meus pais também.
— Ótimo, vamos todos, então.
— Amor, você não quer vir com a gente? — Falei e todos os olhares se viraram pra mim.
— Eu? Você diz, tipo, conhecer seus pais?
— É, acho que seria legal, se você quiser, claro.
— Bom, eu acho que ia ser ótimo.
— Decidido então, vamos os quatro.
— Parabéns, Sam, você acabou de ser promovido a um novo patamar, o mais alto dos degraus, vai ser apresentado pros pais. Só prepara que é tudo doido, viu, e isso inclui meus pais também.
, você poderia, por favor, não assustar meu namorado?
— Estou apenas prevenindo ele.
— Não liga, amor, se você sobreviveu à , o resto da minha família é fichinha.
— Eu sobrevivi à família da com louvor. Ainda lembro da nossa primeira viagem até Santa Mônica, todo mundo querendo saber como que a tinha conseguido me fisgar. — Alex disse e nós caímos na risada.
— Minha família põe uma fé tão grande em mim, chega a ser comovente. Toda vez que eu falo com a minha mãe, ela diz: ainda ‘tá com o Alex, né? Segura ele, porque outro desse você não arruma não.
, acho que eu tô com mais medo de conhecer os seus pais do que os pais da .
— Ah, relaxa, você é namorado da , então com você eles vão pegar leve.
— Nosso fim de semana vai ser ótimo, gente, é sempre bom voltar pra casa de vez em quando e Santa Mônica é a minha casa e da .
— É bom você ligar pros seus pais avisando que vamos, porque sua mãe com certeza vai querer preparar um daqueles banquetes pra receber o Sam.
— Verdade, eu avisá-la.
Confesso que fiquei empolgada e ansiosa com a ideia de apresentar o Sam para minha família. Fazia um bom tempo que eu não levava nenhum namorado em casa, que eu não sentia vontade de fazer isso, mas o Sam havia despertado em mim novamente aquele sentimento de querer ficar com alguém pra sempre e isso incluía o pacote completo, família e amigos. Eu queria que ele conhecesse todas as pessoas que eu amava, que ele conhecesse o lugar onde eu cresci, que visse todas as coisas que eu via na minha infância e adolescência. Eu queria que ele fizesse parte totalmente do meu mundo.

•••

Eu passei a semana toda ansiosa pelo próximo final de semana. Quando liguei para minha mãe avisando que íamos, ela ficou super empolgada e já começou a planejar tudo que ia cozinhar para nós. Nós decidimos ir para Santa Mônica na sexta à noite, logo depois que encerrássemos as gravações do dia. Sam e eu saímos do estúdio direto para a estrada, e Alex vinham no carro logo atrás.
Quando chegamos na casa do meus pais, achei que minha mãe ia me sufocar de tanto que me apertou.
— A filha ingrata finalmente lembra que tem família.
— Mãe, sem drama, a atriz aqui sou eu. E quem vê parece que eu moro do outro lado do mundo, eu moro em Hollywood Hills, fica a meia hora de carro daqui, tá.
— Então esse é seu namorado?
— Sim, esse é o Sam, mãe.
— Prazer, senhora .
— Muito prazer, bem-vindo à nossa casa. — Minha mãe me puxou de lado. — Ele é bonitão, filha.
— Ah, que bom que alguém além de mim acha, porque a chama ele de patinho feio.
— Ai, que absurdo! Vou dar uma bronca na .
— Como se adiantasse. Mas, hein, cadê o papai?
— Lá dentro, na cozinha.
Levei Sam até meu pai para apresentá-los e os dois se deram bem de cara.
— Achou seu pai?
— Achei e sinto que perdi meu namorado para o papai.

Depois que nos instalamos no meu antigo quarto, chegou com Alex e trazendo seus pais da casa ao lado, sim, nossos pais eram vizinhos. Minha mãe fez um jantar daqueles que a comida dava pro bairro inteiro e aquela era só a primeira refeição do final de semana.
— Mãe, eu não posso engordar, eu tô gravando um filme, sabe, preciso entrar no figurino.
— Você nunca foi de engordar, filha.
— Pois é, mas agora eu cheguei na faixa dos trinta anos, daí já viu.
— Tia, ela ‘tá só querendo fazer graça, porque se tem uma coisa que a não se importa, é com o peso. Nunca vi essa criatura fazer regime uma vez sequer na vida e ela continua comendo que nem uma capivara descontrolada.
, era pra você dizer pra minha mãe que na nossa casa só existe comida saudável.
— Como se a tia fosse acreditar, ela te pariu, te conhece muito bem.
— E você, Sam, ‘tá gostando da comida? — Minha mãe perguntou.
— Está tudo excelente.
— Boa resposta, Sam, se tu falasse mal da comida da tia, o relacionamento entre você e a acabava agora mesmo.
— Mas alguém não gosta da comida da mãe da ? Eu nem sou genro dela e amo. — Alex disse, divertido.
— Tá falando que minha comida não é boa, Alex? — A mãe de se manifestou.
— Não foi isso que eu disse, sogrinha.
— Eu só não vou brigar com você, porque não quero que a perca um bom partido como você, capaz dela nunca mais arrumar outro assim.
— Viu só o que eu disse, Sam, de como minha família põe fé em mim?
Nós terminamos o jantar e depois fomos dormir, Sam e eu estávamos cansados do dia de trabalho, só queríamos cama.
Era estranho ter alguém novamente no meu antigo quarto, fazia um bom tempo que ninguém ia comigo ali.
Sam observava os ursinhos de pelúcia que ficavam em uma prateleira do quarto.
— Um pouco infantil, né? Eu sei, mas minha mãe deixou exatamente do jeito que estava quando eu saí de casa. E eu gosto deles, não consigo dar.
— Não tem nada de infantil, tem a ver com seu lado menina. E eu gosto disso, o quanto você tem um lado menina e um lado mulher ao mesmo tempo.
— Você é só o terceiro namorado que eu trago pra casa depois que eu fui morar sozinha.
— Eu não me importo de não ser o primeiro, mas eu espero que eu seja o último.
Sam então me puxou para um beijo apaixonado.
— Acabei de lembrar que estamos na casa do seus pais. — Sam falou, quebrando o beijo.
— A porta ‘tá trancada e o quarto dos meus pais é no final do corredor, além disso, as paredes dessa casa são bem grossas. — Falei sorrindo maliciosa, antes que Sam voltasse a me beijar.

•••

No dia seguinte, acordamos, tomamos café e logo saímos para passar. , Alex, Sam e eu fomos andar de bicicleta na beira da praia, como eu e a costumávamos fazer quando éramos crianças.
Nós paramos para tomar sorvete na nossa sorveteria favorita.
— Sabe que eu dei meu primeiro beijo aqui nessa praia? Foi num luau com a galera da escola. — falou saudosista.
— Nossa, a gente fazia luau aqui na praia sempre que dava, era tão legal.
— Você também deu seu primeiro beijo aqui na praia, ? — Sam perguntou.
— Não, na verdade foi na casa da árvore de um amigo nosso da escola, numa dessas brincadeiras de verdade ou desafio.
— E o garoto acabou se tornando o primeiro namorado da , porque é bem a cara dela.
— Ué, eu gostava dele e você armou pra eu conseguir beijá-lo na brincadeira.
— Claro, porque eu sou uma ótima amiga.
— Sua mãe deixava mesmo você andando por aí com a ? — Sam perguntou, divertido.
— Fazer o que, ela confiava a ela, confia até hoje. Ou você acha que se ela não confiasse, ela deixaria a filhinha dela de apenas dezessete anos ir morar em Hollywood com essa doida.
— A tia me ama, ela não precisa saber o quão louca eu sou.

Depois do passeio, nós seguimos pra casa, nossas famílias já estavam reunidas pro almoço. Quando terminamos de comer, meu pai e o pai da arrastaram o Sam e o Alex para jogar cartas, enquanto nós mulheres dávamos um jeito na cozinha e aproveitávamos para fofocar.
, eu soube que você apelidou meu genro de patinho feio, muita maldade, viu. Ele é um cara de presença.
— Tia, me desculpe, mas a já pegou tanto galã, que meus padrões de comparação ficaram um pouco altos. E, além disso, a própria sempre disse que a senhora nunca teve muito bom gosto, então sua opinião é suspeita.
— Bom, mas alguma coisa de muito bom ele deve ter pra minha filha estar tão apaixonada.
— Quem disse que eu tô apaixonada?
— Sua cara de bocó, . E sim, tia, ele tem algo de muito bom, mas em respeito à senhora, eu não vou dizer o que é.
, fica quieta! — Falei, tacando o guardanapo em .
— Como se eu não soubesse do que vocês estão falando, acha que eu não vi os roxos no seu pescoço, minha filha? Fico feliz de saber que ele tem pegada.
— Misericórdia, eu me recuso a ter esse tipo de conversa com você, mãe.

À noite, nós quatro decidimos comer hambúrguer e passear no píer de Santa Mônica, porque ir à Santa Mônica e não ir até o píer, não era uma viagem completa.
Depois de comer, nós continuamos nosso passeio até que a teve a brilhante ideia de irmos na roda gigante.
, você sabe que eu tenho medo de altura!
— Ah, qual é, , faz tanto tempo que a gente não vem aqui. A gente adorava essa roda gigante quando éramos crianças.
— Correção, você adorava, eu só ia obrigada quando você me ameaçava.
— Mas a vista de lá de cima à noite é tão linda. — Alex disse, juntando-se ao coro da .
— Alex, não começa você também.
— E se eu pedir, você vai? — Sam falou, olhando-me.
— Sam, isso é golpe baixo.
— Por favor, vai, eu vou estar lá com você.
Os três me olhavam com cara de crianças.
— Tá bom, já vi que sou voto vencido.
Nós compramos os tickets e embarcamos na roda gigante. Quando nós estávamos lá no alto, eu lembrei o porquê eu evitava aquela roda gigante, era muito alta, dava pra ver a praia todinha.
— Por que foi que eu concordei com isso? Eu detesto altura, , eu te odeio! — Falei gritando para , que estava com Alex logo acima de nós.
— Odeia nada, tu me ama! — gritou de volta.
— Amor, não dá pra negar que a vista é linda, vai? — Sam disse, fazendo-me olhar para praia e o píer todo iluminado.
— É lindo mesmo, mas eu sempre fico apavorada.
— Não precisa, eu tô aqui. Além disso, toda essa altura tem um lado bom.
— E qual é?
— Não tem paparazzi aqui em cima e nem pessoas curiosas com celular.
Eu sorri para Sam e ele me beijou.
— Sam, eu não sei quando foi que eu me apaixonei por você, a única coisa que eu sei, é que, nesse momento, mais do que nunca, eu tenho certeza que te amo.
— Pois eu sei exatamente quando eu me apaixonei por você, foi na primeira vez que você entrou naquele estúdio com seu jeitinho brasileiro, com esse sorriso que ilumina o mundo. Eu também te amo, muito mesmo.
Sam então voltou a me beijar, a praia de Santa Mônica aos nossos pés, nossos corações batendo na mesma sintonia e a certeza de que ele era o cara certo tomando conta de mim cada vez mais.

•••

Para fechar aquele final de semana perfeito, no domingo, meu pai colocou a mesa no jardim e minha mãe preparou um almoço como há muito tempo não tínhamos.
— Almoço de domingo com as meninas, já faz tanto tempo da última vez que conseguimos nos reunir. — Minha mãe disse, sentimental.
— Nossas meninas são muito ocupadas, temos que entender. — Meu pai disse.
— Sim, mas nós, como mães, sentimos muita falta. — A mãe de falou, completando o coro da saudade.
— Não vamos reclamar, elas estão ganhando dinheiro, muito por sinal. — O pai da disse. — É ótimo saber que a está ganhando o próprio dinheiro e agora ela tem seu próprio cartão de crédito, não precisa mais pegar o meu sem pedir e o cartão dela é ilimitado, coisa que o meu nunca foi, mas ela achava que era.
— Ah, pai, tão sutil o senhor, né, depois as pessoas não sabem de quem puxei meu lado ogra.

Depois do almoço, nós nos reunimos na sala.
— Esse piano aqui é muito bonito. — Sam disse, referindo-se ao piano de calda preto que ficava na sala do meus pais. — Alguém toca?
— A toca. — Meu pai falou.
— Pai, não faz propaganda enganosa!
— Que foi? Você toca sim.
— Ah, não me diga que você tem mais esse talento, .
— Meu pai ‘tá exagerando, eu só arranho um pouco. Eu fiz aulas de pianos na época do filme musical, a personagem tocava piano e eu queria pelo menos parecer profissional nas telas.
— Ah, filha, mas você até que aprendeu alguma coisa.
— Vou perguntar pra pessoa super sincera dessa sala. — Sam disse, divertido. — E aí, , o que você diz sobre a tocando piano?
— Ela toca um pouco sim e até que toca bem.
— Então você vai ter que tocar pra mim.
— Não, Sam, não faz isso, eu só sei tocar algumas músicas.
— Toca uma dos seus ídolos, filha.
— Ídolos? Não sei do que você está falando, mãe.
— Poxa, tia, o Sam não tinha descoberto até agora que a é fã de Backstreet Boys.
— Isso é uma completa calúnia, .
— Como calúnia, filha? Se eu não tivesse tirado aqueles pôsteres do seu quarto, estariam lá até hoje.
caiu na risada ao me ver vermelha.
, se você continuar rindo, eu começo a contar as histórias de todas as vezes que nós fomos nos shows deles.
— Ok, já parei.
— Olha, eu não me importo com seu gosto musical, eu só quero saber se você vai tocar ou não? — Sam perguntou.
— Ai, tá bom, gente, que coisa.
Eu sentei no piano e abri a tampa, Sam sentou do meu lado. Depois eu estralei os dedos, respirei fundo e comecei a tocar e cantar No One Else Comes Close, que foi regravada pelos Backstreet Boys.

When we turn out the lights;
The two of us, alone, together;
Something's just not right;
But, boy, you know that I would never;
Ever let another's touch, come between;
The two of us.

'Cause no one else will ever take your place.

No one else comes close to you;
No one makes me feel the way you do;
You're so special, boy, to me;
And you'll always be eternally;
Every time I hold you near;
You always say the words I love to hear;
Boy, with just a touch, you can do so much;
No one else comes close...

Quando eu terminei de tocar, meus pais estavam lá, com cara de orgulhosos e a me zoando como sempre, mas eu só conseguia olhar pra cara de bobo do Sam.

Nós aproveitamos o resto do dia e no final da tarde fomos embora, afinal, no dia seguinte começava mais uma semana de gravações.
Despedimo-nos dos nossos pais, nossas mães nos fazendo prometer que voltaríamos com mais frequência.

Chegamos em casa todos cansados, pedimos qualquer coisa pra comer e fomos descansar.
— E aí, o que você achou dos meus pais? — Perguntei quando Sam e eu já estávamos deitados na cama.
— Eu gostei muito deles, espero que eles tenham gostado de mim.
— Meu pai te adorou, achei até que tinha perdido você pra ele. E minha mãe, ela é do tipo mãe leoa, ela gosta de quem gosta de mim, desde que você me trate bem e não me faça sofrer, ela vai sempre gostar de você.
— Bom, então ‘tá tudo certo, porque a única coisa que eu quero é continuar te fazendo bem e feliz.

•••

Nós voltamos a nossa rotina de gravações e foi passando tudo tão rápido, que quando percebemos, já estávamos na última semana de gravações do filme. Foi sem dúvidas a semana mais puxada, com as cenas finais e algumas refilmagens que precisavam ser feitas.
Quando chegou na sexta, todos estávamos acabados, mas muito felizes com o resultado.
— Eu quero agradecer muito a todos pelo esforço e dedicação durante esses últimos meses. — Anthony disse ao final do nosso último dia de gravação. — Vocês foram incríveis e o resultado final vai ficar lindo na tela do cinema. Parabéns a todos e nos vemos na divulgação e estreia do filme!
Todos bateram palmas para saudar nosso diretor e toda a equipe.
— Ah, elenco principal, não se esqueçam que segunda ainda preciso de vocês para tirarmos as fotos promocionais e também as fotos que vão para os pôsteres do filme.
— Não se preocupe, Anthony, segunda estaremos aqui. — Falei, dando um abraço nele. — Obrigada por mais esse trabalho.
— Eu que agradeço, estrela, você brilhou como sempre. E você, Sam, vê se cuida da nossa estrela.
— Deixa comigo.
Eu fui até meu trailer pegar todas minhas coisas para colocar no carro, Sam me ajudou com tudo.
Quando terminei de retirar tudo, fechei a porta do trailer e olhei uma última vez pra ele.
— O que foi? — Sam disse, abraçando-me por trás.
— Nada não, é que eu sempre fico meio sentimental quando acabo um projeto.
— Na verdade, a gente terminou a parte mais difícil que são as gravações, daqui alguns meses nós vamos pra segunda parte, que é a divulgação e estreia.
— Verdade, gosto bastante também disso, dar várias entrevistas, a pré-conferência e finalmente a première. Mas mesmo assim vou sentir falta da rotina.
— Eu também vou, ainda mais desse filme que foi tão especial pra mim.
— É mesmo? Por quê? — Falei, virando-me de frente para Sam.
— Porque ele me trouxe você, de todas as coisas que esse trabalho me trouxe, você sem dúvidas foi a melhor delas.
— Saiba que a recíproca é verdadeira, nada poderia ter sido melhor do que encontrar você.
Sam me beijou, um último beijo naquele set que havia nos unido.
Eu já vivia aquela vida de atriz há tanto tempo, mas eu nunca me acostumava com algo assim, encontrar um amor no set de filmagens ainda me surpreendia e dessa vez mais do que as outras vezes, havia algo diferente, o Sam fazia eu me sentir de uma maneira que ninguém nunca fez.

•••

Na segunda, nós voltamos ao estúdio para fazermos as fotos promocionais e os pôsteres, essa era outra parte do meu trabalho que eu gostava bastante: fotografar e fazer ensaios. Colocamos os figurinos dos personagens mais uma vez e fomos aos cenários fotografar.
— Gente, vamos fazer as fotos em grupo e os pôsteres individuais. Por último, faremos as fotos do casal protagonista. — Anthony disse.
Nós fizemos todas as fotos com o elenco principal utilizando alguns cenários externos e também no cromaqui do estúdio. Quando terminamos, Sam e eu fizemos as fotos de casal.
— Eu sei que é muito difícil pra vocês, mas, por favor, quero um olhar de ódio um para o outro. — Anthony disse, divertido.
— Como fazer um olhar de ódio pra você, hein? — Sam sussurrou no meu ouvido.
— Pois eu posso fazer um olhar assassino pra você rapidinho, quer ver? — Falei, fazendo uma cara de má para Sam, que riu.

Quando finalmente terminamos todas as fotos, trocamo-nos e nos preparamos para ir embora, estava definitivamente encerrada a fase de produção do filme.
— Agora que nós terminamos de vez a produção do filme, eu queria te levar pra jantar, pra comemorarmos. — Sam disse, quando já estávamos no carro.
— Hoje?
— Sim, hoje à noite, já fiz até a reserva em um ótimo restaurante. O que você acha?
— Eu acho ótimo, que horas você me pega?
— Às oito.
Fui para casa descansar e à noite me arrumei para sair com Sam. Escolhi um vestido tubinho salmão, as alças eram um delicado laço, coloquei um scarpin meia pata da mesma cor do vestido, fiz uma maquiagem caprichada e prendi o cabelo em um topete alto.
— E aí, como estou? — Perguntei para , aparecendo na sala.
— Tá gata, amiga.
— E você vai sair também?
— Vou sim, o Alex ‘tá vindo me pegar e eu só volto amanhã. Então aproveite que a casa é toda sua.
— Então tá, né.
Meu celular apitou, era o Sam avisando que havia chegado.
— É o Sam. Boa noite pra você, então.
— Pra você também, bom jantar e aproveita a sobremesa. — disse, divertida.
— Pode deixar. — Falei, jogando um beijo pra ela.

Sam me levou para jantar em um dos melhores restaurantes da cidade.
— E então, o que a gente ‘tá comemorando, mesmo? — Perguntei assim que o garçom anotou nossos pedidos.
— Estamos comemorando o fim da produção do filme. Mas, principalmente, estamos comemorando dois meses juntos.
— Olha só, ele lembrou.
— Claro que sim, sou muito bom com datas. E agora que o filme já terminou de ser gravado, já não precisamos mais nos esconder.
— Verdade, vou pedir pra redigir a nota e enviar ainda essa semana para a mídia. ‘Tá bem preocupado em me assumir você, hein?
— Tô querendo poder te beijar em qualquer lugar sem me preocupar com câmeras.
Nós tivemos um ótimo jantar e depois fomos para minha casa. Eu mal havia aberto a porta de casa e Sam já estava me agarrando.
— Mas, gente, o que é isso, amor, tudo isso é vontade de mim? — Perguntei, enquanto Sam beijava meu pescoço.
— Sempre, amor, sempre. Quanto mais eu tenho você, mas eu te quero, só fica melhor.
— Nisso você tem razão, só melhora. Vou te contar um segredo.
— O que é?
— As pessoas pensam que eu já peguei metade de Hollywood, mas isso não é verdade. Eu já fiquei com vários caras, mas namoro sério mesmo, de ir pra cama, você é só o terceiro. E eu tenho que confessar que você é o melhor nesse quesito.
— É mesmo?
— É sim, quem olha pra você, nem imagina o quanto você é bom.
— Eu posso dizer o mesmo de você.
Sam então voltou a me beijar e automaticamente meu cérebro desligou de qualquer outro pensamento que não fosse as mãos dele pelo meu corpo. Eu não sei explicar o que ele fazia comigo, era uma sensação única, a melhor que eu já havia sentido, eu só queria que fosse sempre assim.

•••

Tudo estava tão perfeito, que nada poderia estragar minha felicidade — pelo menos era isso que eu pensava. Eu estava saindo de casa em mais um dia, tinha combinado de encontrar com o Sam.
— Alô? Amor, onde você ‘tá?
Tô naquele café próximo da sua casa que você gosta, estou te esperando.
— Tá bom, já tô saindo de casa, daqui a pouco tô aí.
Ok, te espero.
Saí de casa e segui até o café, ansiosa para encontrar com Sam. Quando cheguei no local, vi Sam sentado em uma mesa no balcão tomando um café, ele estava de costas para a entrada. Eu ia chegar perto dele e colocar a mão nos olhos dele, como eu costumava fazer, mas antes que eu chegasse até ele, recuei e vi um homem se aproximar.
— Sam? E aí, cara!
— Oi, caramba, quanto tempo!
Deduzi que o homem fosse algum amigo do Sam e por algum motivo eu congelei no local que eu estava, fiquei observando a cena. Eu não estava tão próxima, mas estava perto o suficiente pra ouvir a conversa deles.
— Bom te ver de novo, Sam.
— Digo o mesmo, como está a vida?
— Ah, tudo tranquilo, muito trabalho. E você, fiquei sabendo que você está namorando a devoradora de homens.
— Não fala assim dela, ela é minha namorada.
— Me desculpe, só estou falando o que dizem por aí.
— As pessoas falam demais, mas ninguém além da família e amigos conhece a realmente.
— Vai me dizer que as notícias que saem na mídia são mentiras? Toda vez que essa garota faz um filme, ela se envolve com o par romântico dela.
— Que eu saiba ela só teve dois namorados famosos antes de mim.
— Sim, oficialmente falando sim, mas todo mundo sabe que ela pega geral.
— Bom, ela sendo solteira e as pessoas com quem ela saiu também, qual o problema?
— Ah, cara, você não entende, você esteve em um relacionamento sólido por anos, que, aliás, não sei até hoje por que acabou, mas parece que você desaprendeu como funcionam essas coisas.
— Eu fiquei muitos anos com uma pessoa, porque nós estávamos bem juntos até chegar num certo ponto que não havia mais amor. Agora, se a não se firmou com alguém ainda, deve ser porque ainda não havia encontrado a pessoa certa.
— E você é a pessoa certa?
— Por que não?
— Ai, meu Deus, você está apaixonado, enfeitiçado por essa garota.
— E se eu estiver, qual o problema?
— O problema, meu amigo, é o seguinte, eu sei que ela é muito gata, mas ela é instável, assim como ela se apaixona fácil, ela também se desencanta com a mesma velocidade. Você é novidade no momento, daqui a pouco ela começa a fazer outro filme, conhece outra pessoa e você dança.
— Bem, como você mesmo disse, ela é muito gata, se isso acontecer, pelo menos eu terei aproveitado, não?!
— Nisso você tem razão.
Os dois riram juntos e naquele momento meu coração se partiu em mil pedaços.
— Então é isso que você pensa da nossa relação, Sam?
Sam olhou para trás, os olhos quase saltando de tanto espanto.
, não é nada disso que você está pensando.
— Pra um ator, você está usando uma frase muito clichê. E eu não estou pensando, eu ouvi tudo.
— Você entendeu errado, , deixa eu te explicar.
— Eu não quero ouvir explicação nenhuma. — Falei e saí quase que correndo do café, as lágrimas já descendo pelo meu rosto.
, espera! — Sam disse, alcançando-me e me agarrando pelo braço.
— Tira as suas mãos de mim!
— Para com isso, me escuta, por favor! Aquilo que você ouviu, eu não queria dizer aquilo.
— Então por que disse? Por que você desdenhou do que eu sinto? Por que você não me defendeu diante daquele seu amigo idiota?
— Mas eu defendi!
— Não, você o deixou lá falando várias coisas sobre mim, sobre como eu uso os homens e depois jogo fora! — Falei alto, já praticamente gritando.
— Ele só estava repetindo as bobagens que a mídia publica sobre você.
— Porque ele não me conhece assim como a mídia não sabe nada sobre mim. Mas você, você me conhece, eu deixei você fazer parte da minha vida, você acha mesmo que eu teria te apresentado pros meus pais se não fosse sério? Eu me apaixonei por você e ninguém tem o direito de pôr em dúvidas meus sentimentos.
— Eu sei disso, eu devia ter feito ele parar.
— Devia, mas não fez. Mas o pior que alguém como ele falar de mim, é você, o cara que disse que me amava, ouvir e não ter a capacidade de fazer nada e ainda dizer que se for trocado por outro, pelo menos terá aproveitado. O que você pensa que eu sou, um pedaço de carne?
— Lógico que não, , eu te amo e você sabe disso!
— Eu pensei que soubesse, como eu pensei que te conhecesse, mas eu vejo que eu estava enganada. De qualquer forma, não importa mais, acabou, Sam, você está livre da vergonha de ser trocado por outro.
, por favor, não faz isso, vamos conversar, me dá uma chance. — Sam disse, segurando meus braços.
— Me larga! Eu não quero nunca mais que você coloque suas mãos em mim!
E então eu fui embora, Sam continuou chamando meu nome até que eu estivesse longe demais para ouvir. Eu corri para casa chorando incontrolavelmente por todo o caminho.
Quando cheguei em casa, entrei correndo pela sala e corri escada acima para o meu quarto.
, o que houve? — Ouvi chamar, mas eu não parei para ouvir.
Entrei no meu quarto e fechei a porta, minha amiga veio atrás de mim logo em seguida.
, abre essa porta agora, você sabe que eu não vou sair daqui até você abrir.
Eu fui até a porta e abri, depois voltei para minha cama e agarrei meu travesseiro, enquanto chorava cada vez mais.
— Pelo visto o estrago foi grande. — disse, entrando e sentando na cama.
, me diz que você ainda não enviou a nota sobre o namoro para a mídia.
— Eu acabei de redigir a nota, eu estava preparando para mandar o e-mail quando você chegou.
— Ótimo, então pode cancelar, não precisa mandar nada.
— Mas por quê?
— Porque não tem mais namoro, eu terminei com o Sam.
— Você o quê?
Eu suspirei e contei toda a história para .
— Cacete, o patinho feio pisou na bola e não foi pouco não.
— Eu nunca esperava uma coisa assim dele.
— Mas, , será que não tem nenhuma chance de vocês se entenderem?
— Não, nenhuma, o que ele fez não tem perdão.
— Mas você o ama, eu sei disso.
— Pois eu vou deixar de amar.
— Você sabe, né, que daqui a uns seis meses você vai ser obrigada a encontrá-lo de novo?! Tem toda a divulgação do filme e a estreia.
— Eu sei, mas eu vou deixar pra pensar nisso quando a hora chegar. No momento, a única coisa que eu quero fazer é chorar.
Eu deitei no colo da e desatei a chorar.
— Ai, , quando eu digo pra você não se envolver com alguém com quem você está trabalhando, é exatamente esse meu medo, que você se machuque.
— E eu nunca escuto, nunca aprendo.
— Você e esse seu coração romântico com tendências a se apaixonar. Mas não se preocupe, você sempre supera, você vai sobreviver dessa vez também.
— Eu não sei, dessa vez é diferente, está doendo muito mais do que das outras vezes.
me olhou com um olhar solidário e preocupado. Eu sei que minha amiga só queria me ver bem, mas o que eu disse para ela foi a mais pura verdade, eu já tive muitas decepções amorosas na vida, mas dessa vez estava doendo de uma forma que nunca havia doído antes, havia um vazio dentro de mim que parecia que não ia se fechar tão cedo.

•••

Nos dias que se seguiram, o Sam me ligou diversas vezes e também mandou milhões de mensagens, eu ignorei tudo. Ele também foi até minha casa algumas vezes, mas eu não atendi e proibi a de abrir a porta para ele.
Eu estava sozinha em casa da última vez em que ele apareceu na minha porta. A campainha tocou e eu olhei pelo olho mágico e vi ele parado na porta.
, abre essa porta, por favor, eu sei que você está aí, eu estou ouvindo você chorar.
Eu encostei a cabeça na porta, enquanto as lágrimas desciam pelo meu rosto.
— Abre, por favor! Vamos acabar com isso logo, me deixa falar com você, me perdoa, eu tô te pedindo.
Eu não abri, mesmo que minha vontade fosse abrir a porta e pular no colo dele, eu não cedi.
— Você não vai abrir, né? Tudo bem, eu vou embora, eu não vou mais insistir. Mas eu quero que você saiba que eu te amo de verdade e eu vou continuar amando pra sempre.
Eu continuei encostada na porta até ouvir o barulho do elevador descendo. Depois eu voltei para o sofá, enfiei-me no meio das almofadas e chorei por muito tempo.

Quando a chegou em casa, eu estava no sofá, afogando-me em um pote de sorvete, assistindo o filme Um Amor Para Recordar, eu já nem sabia mais de que sabor era o sorvete, porque ele ‘tava com mais gosto de lágrimas do que qualquer outra coisa.
— Ai, não, pelo amor de Deus, , o que é isso?
— Eu adoro esse filme, mas ele é tão triste. — Falei, assoando o nariz.
— Amiga, quando você vai parar com isso? — disse, sentando do meu lado.
— Eu... eu... é que eu não consigo e... — comecei a falar, mas logo embolei as palavras em meio ao choro.
— Ou você chora ou você fala, os dois junto não dá, não tô entendendo nada do que você ‘tá falando.
— Não quero mais falar. — Falei, enfiando uma colher cheia de sorvete na boca.
— Fala sério, , o que é que esse cara tem no meio das pernas? É de ouro? Porque só isso explica, ele deve ser realmente inacreditável na cama, eu nunca te vi assim!
— Ele é muito bom, mas não é só isso.
— Tá, eu sei, você o ama. Mas se você não está disposta a perdoá-lo, não tem muito o que fazer se não seguir em frente. O que você acha de trabalhar pra ocupar a cabeça?
, eu acabei de ganhar quarenta milhões de dólares pelo meu último filme, só isso já me permitiria ficar no sofá deprimida pro resto da vida se eu quisesse.
— Mas eu não vou deixar isso acontecer, chega! — disse desligando a televisão e arrancando o pote de sorvete da minha mão.
— Hei, me devolve isso! E eu ‘tava terminando de ver o filme.
— Não, chega, agora acabou. Você vai subir pro seu quarto, tomar um banho e ficar apresentável, porque nós vamos sair agora à tarde.
— E eu posso saber pra onde a gente vai?
— Trabalhar, eu marquei um ensaio fotográfico pra você. A Vogue quer lançar uma edição com você na capa por causa do filme, a revista vai ser lançada próxima à estreia nos cinemas.
— E você me fala isso assim, do nada?
— Do jeito que você ‘tá, tem que ser no susto mesmo. Vamos, você tem menos de uma hora pra ficar pronta.
Eu suspirei pesado, contrariada, arrastei-me pra fora do sofá e fui pro meu quarto me arrumar. Quando eu fiquei pronta, desci e encontrei a com a chave do carro na mão me esperando. Quando já estávamos no carro, ligou o rádio e começou a tocar a música Cry, da Mandy Moore, que pertencia à trilha sonora do filme que eu estava assistindo. Não deu outra, comecei a chorar dentro do carro.
— Ah, meu, o que foi agora?
— O universo só pode ‘tá de brincadeira com a minha cara, é a música de Um Amor Para Recordar.
— Ai, caramba, que não se pode mais nem ouvir música. — falou, desligando o rádio.

Seguimos para a redação da Vogue, onde uma equipe já me esperava. Eu dei uma entrevista falando sobre o filme e a proibiu que fosse feita qualquer pergunta pessoal. Depois, eu segui para o ensaio fotográfico, foi preciso muita maquiagem pra esconder meus olhos inchados.
— Agora você só precisa fazer caras e bocas pra câmera. — disse, enquanto eu me ajeitava em frente ao espelho.
Eu iria fotografar vestindo somente uma lingerie e uma camisa branca de manga cumprida por cima.
— O problema é que eu não tô com vontade nenhuma de sorrir.
— Não sorria, faça cara de sexy que ‘tá tudo certo, eles vão gostar até mais do que um sorriso.
Eu fiz minhas melhores caras e fiquei aliviada quando o ensaio acabou. Quando saímos da redação, fomos encontrar o Alex, ele estava nos esperando para comer.
— Oi, amor, demoramos muito? — disse, quando chegamos ao restaurante.
— Não, eu acabei de chegar também. E como está minha best?
— Sobrevivendo.
— Literalmente sobrevivendo mesmo, uma planta tem mais atividade que a ultimamente.
— Eu daria risada da sua piadinha, , mas como meu humor também se perdeu, eu vou só suspirar.
— Vamos pedir a comida, quem sabe isso anima nossa amiga. — Alex disse, chamando o garçom.
Nós fizemos os pedidos, mas eu mal toquei na comida. A verdade era que eu não conseguia seguir em frente, como a dizia que eu deveria fazer, eu só esperava que eu pudesse ao menos colar os pedaços do meu coração para o dia em que eu fatalmente teria que reencontrar o Sam.

•••

Seis meses se passaram, até que eu tivesse que encontrar com Sam novamente. E nesse tempo, nada havia mudado, eu continuava amando-o com todo meu coração e me odiando por não conseguir esquecê-lo.
Eu me arrumei para a série de entrevistas que teríamos naquele dia, coloquei uma camisa de cetim amarela de manga cumprida, deixando os ombros a mostra, uma calça jeans skinny branca, um scarpin de bico fino branco, arrumei meu cabelo e me maquiei o melhor que eu pude.
— Tô pronta, , vamos? — Falei, descendo e encontrando a na sala.
— Olha só, batom vermelho.
— Preciso me sentir poderosa de alguma forma.
— E você conseguiu, viu, ‘tá arrasando.
— Vamos logo com isso, quanto antes começar, logo termina.
E nós seguimos para um hotel em Beverly Hills, onde seriam feitas as entrevistas.

Quando chegamos no local, o restante do elenco principal já estava reunido, Sam estava lá e eu achei que meu coração ia saltar pela boca quando o vi. Eu cumprimentei o pessoal do elenco, mas não cheguei perto dele, enquanto isso, foi checar se estava tudo pronto para as entrevistas.
, eu fiz o melhor que eu pude. — disse, voltando até mim. — Alguns canais farão entrevistas individuais, outros vão entrevistar todo o elenco principal e daí eu consegui colocar você pra dar entrevista com alguma outra pessoa do elenco, mas alguns canais vão entrevistar somente os protagonistas e aí não vai ter jeito, você vai ter que dar a entrevista com ele.
— Tudo bem, , sei que você fez o que foi possível, obrigada.
Nós fizemos primeiro as entrevistas individuais e depois as entrevistas com todo o elenco, eu dei entrevista junto com a atriz que fazia o papel da minha melhor amiga no filme. Por último, ficaram as entrevistas com os protagonistas, a hora que eu tive que encarar ficar em uma mesma sala com o Sam.
Eu entrei primeiro e me sentei na cadeira, minhas mãos estavam frias de tanto nervoso. Então Sam entrou e se sentou na cadeira ao meu lado.
— Oi, tudo bem com você? — Sam disse, mas eu não respondi. — Eu estou falando com você.
— Será que você poderia, por favor, não me dirigir a palavra. — Falei sem olhar para ele.
— Só estou sendo educado.
— Não precisa, fale comigo somente quando for extremamente necessário, sobre algo relacionado ao filme e quando as câmeras estiverem ligadas.
Logo em seguida, o primeiro repórter entrou para começar a entrevista. Eu tentei me concentrar ao máximo nas perguntas de cada entrevista, mas foi uma missão muito difícil. Eu não olhei um momento sequer para Sam, porém, toda vez que eu estava respondendo alguma pergunta, eu podia sentir os olhos dele sobre mim.
Quando finalmente a última entrevista acabou e o repórter saiu da sala, eu me preparei para sair, mas Sam me segurou pelo braço.
— Você pretende me ignorar durante toda a turnê de divulgação do filme?
— É exatamente o que eu pretendo fazer. — Falei, soltando-me do seu aperto e saindo da sala.
Eu tive que respirar fundo ao sair da sala, o simples toque dele em mim fez meu sangue pulsar como a muitos meses eu não sentia.
— Você ‘tá bem? — perguntou, aparecendo do meu lado. — Você ‘tá branca feito um papel.
— Eu tô bem, eu só quero ir embora daqui.
— Vamos sim, já acabamos por hoje.
Eu segui com a para casa ainda sem conseguir tirar o Sam dos meus pensamentos.
— Tem carta para você. — disse, quando chegamos em casa com os envelopes na mão que ela havia pegado na portaria. — É da Vogue, deve ser sua capa da revista.
— Nossa, tinha até esquecido que a revista saia agora. — Falei, sentando no sofá.
— Posso abrir?
— Pode sim.
abriu o envelope e retirou de lá a revista comigo na capa.
— Olha só, ficou linda! — disse, entregando-me a revista.
— É, até que ficou boa mesmo, nem parece que eu havia chorado um monte nesse dia.
— Hoje deve ter sido difícil pra você, né?
— Demais, e só de pensar que foi só o começo.
— Você ainda sente falta dele?
— Sinto, todos os dias e ter ele tão perto chega a ser uma tortura.
— E eu nem posso fazer mais do que já estou fazendo, porque são compromissos profissionais.
— Eu sei e nem tô pedindo isso, além disso, eu nunca deixei nada interferir na minha carreira, não é agora que eu vou começar.
— Isso mesmo, garota, vai dar tudo certo.

•••

Depois desse dia, ainda tive que encontrar com Sam mais duas vezes para uma nova rodada de entrevistas e também aqueles quiz e jogos que os canais gostavam de fazer com os atores dos filmes. Foram dias sofridos e difíceis de vencer, e depois de tudo isso, ainda faltava a pré-conferência e as premières de Los Angeles e Londres. Eu sentia que ia precisar de uma terapia depois de tudo isso, porque meu psicológico já estava mais do que abalado.

•••

Ponto de vista do Sam:

Eu sabia que não havia esquecido ela, mas vê-la depois de tantos meses, só me fez ter certeza disso. E agora eu estava parado na calçada, decidindo se deveria ou não ir onde eu havia planejado ir.
Eu havia combinado de encontrar minha ex-mulher em um café para conversarmos, ela soube que eu estava em Los Angeles para a turnê promocional do filme e pediu se poderíamos nos ver. Ela sempre fazia isso, desde que nos separamos, ela vinha tentando uma reconciliação, mas eu nunca cedia, porque achava que não havia mais sentido.
Quando a terminou comigo, ela começou novamente a me mandar mensagens e se aproximar, e pela primeira vez, eu achei que talvez fosse uma boa ideia tentar novamente, mas a verdade era que eu estava apenas querendo me consolar e fechar o buraco que a ausência da havia deixado.
Eu atravessei a rua rumo ao café que havíamos combinado, mas então me deparei com um outdoor da próxima capa da Vogue. estava absolutamente linda, vestindo apenas uma camisa branca de manga comprida, o cabelo charmosamente bagunçado, o olhar profundo. Fiquei uns bons minutos ali, encarando seu lindo rosto, até que meu celular tocou.
— Alô?
Sam, onde você está? Estou no café te esperando.
Eu suspirei fundo e olhei mais uma vez para o outdoor.
— Desculpe, mas eu não posso ir.
Como assim?
— Sabe, eu preciso que você entenda de uma vez por todas que nossa relação acabou.
O quê? Mas você tinha concordado em conversarmos.
— Eu me precipitei. Sinto muito, mas acabou de verdade e é melhor a gente não se ver mais, você precisa superar.
Olha quem está falando de superar, você não superou aquela garota ainda, pelo visto.
— Não superei e nem vou superar. Só tem uma mulher no meu coração e ela é a .
Mas ela deu um chute em você!
— Isso não é da sua conta, ok?! Segue a sua vida, que eu vou seguir a minha.
E falando isso, eu desliguei o celular.
Olhei para o papel de parede da tela de início do meu celular, era a mesma foto de seis meses atrás, eu e a abraçados na praia de Santa Mônica, o cabelo dela voando contra o vento, ela com aquele sorriso aberto que iluminava o mundo. Eu não sabia mais o que eu poderia fazer para tê-la de volta, mas, naquele momento, eu decidi que não iria desistir, eu não podia, eu precisava ter a de novo do meu lado, tanto quanto eu precisava de ar para respirar.

Fim do ponto de vista do Sam.

•••

O dia da pré-conferência chegou e a teve quase que me arrancar da cama, mas, no fim, eu levantei e fui me arrumar. Escolhi um vestido sem mangas, o corpete dourado com pedrarias, a saia do vestido era vermelha e rodada, um pouco acima do joelho. Coloquei uma sandália dourada de salto alto, prendi o cabelo em um coque bagunçado, deixando alguns fios soltos na frente, e me maquiei finalizando com um batom rouge.
— Tô pronta, . — Falei, saindo do quarto e encontrando minha amiga, que já estava pronta.
— Tá linda. Respira fundo, que vai dar tudo certo.
Nós seguimos para o local da pré-conferência e quando chegamos o auditório, já estava lotado de fãs.
, eu tentei ao máximo mudar a disposição dos lugares, mas não teve jeito, eles querem vocês sentados na ordem de importância dos personagens, então você vai ter que sentar do lado dele. — disse, quando estávamos na coxia esperando o apresentador chamar o elenco ao palco. — Mas eu pelo menos deixei aquele aviso de que não é permitido perguntas pessoais, somente sobre o filme.
— Tudo bem, obrigada de qualquer forma.

O apresentador então fez toda introdução falando sobre o filme e em seguida chamou o Anthony e o produtor do filme. Em seguida, ele chamou o elenco principal, eu me sentei ao lado de Anthony e Sam ao meu lado.
O apresentador começou a fazer as perguntas sobre o filme, as mesmas coisas de sempre, como era a história, os personagens, se tínhamos gostado de fazer o filme, o que o público podia esperar dessa história e por aí vai. Eu respondia tudo que me era perguntado da melhor forma, tentando ao máximo não olhar e nem interagir com Sam, embora eu soubesse que ele me olhava o tempo todo.
Depois, o apresentador abriu as perguntas para o público, que era a parte final da conferência. Eu já estava começando a me sentir aliviada com o fim do evento, quando a última pergunta foi feita.
— Você, garota, por favor, diga seu nome e faça sua pergunta. — O apresentador disse.
— Olá, meu nome é Agatha e minha pergunta é para . Primeiramente, eu gostaria de te parabenizar pelo filme e dizer que sou muito sua fã.
— Obrigada pelo carinho.
— Bom, minha pergunta é sobre o casal que você e o Sam fazem no filme, a química de vocês é muito boa, vocês foram muito convincentes. Eu queria saber o que você pode dizer sobre isso.
Eu senti minha bochecha esquentar, mas respirei fundo e respondi.
— Acho que isso significa que nós somos ótimos atores. Quando a gente consegue fazer o público acreditar no que estamos tentando passar, significa que fizemos um bom trabalho e a química entre os atores faz parte disso.
— Sim, mas todo mundo andou dizendo que vocês estavam juntos na época das filmagens. Isso é verdade?
Meu estômago revirou de tanto nervoso com aquela pergunta.
— Ah, eu disse que não responderia perguntas pessoais.
— Sim, verdade, me desculpe. — O apresentador disse. — Nada de perguntas pessoais, galera!
— Eu posso responder à pergunta? — Sam disse e eu tinha certeza que toda a cor do meu rosto sumiu naquele momento.
— Você quer responder? — O apresentador perguntou.
— Quero sim.
— Não faz isso. — Eu sussurrei entredentes para Sam.
— Você pode, por favor, refazer a pergunta, garota? — Sam continuou me ignorando.
— Bem, eu perguntei se é verdade que você e a estavam juntos na época das filmagens.
— É verdade sim. — Sam disse e um espanto geral passou por todo auditório.
Eu não conseguia acreditar que ele estava fazendo aquilo, eu queria sumir dali.
— Nós nos conhecemos durante as filmagens e acabamos nos envolvendo. Mas era mais do que isso, o que nós tínhamos era único, especial e verdadeiro. Eu me apaixonei pela garota mais linda de Hollywood e sabe-se lá por que ela também se apaixonou por mim.
Eu senti meus olhos molhados, percebi que lágrimas começavam a descer pelo meu rosto.
— Nós estávamos felizes e quando as gravações acabaram, nós estávamos prontos para assumir nosso relacionamento para mídia. Mas aí eu agi feito um idiota, eu não quis parecer um bobo apaixonado diante de uma pessoa que eu pensei que fosse meu amigo e com isso eu acabei perdendo a mulher da minha vida. E depois de todos esses meses separados, nada mudou, eu ainda a amo e eu só queria que ela pudesse me dar uma nova chance. — Sam então me olhou. — Eu só quero ter você de volta, .
Eu tentava conter as lágrimas que insistiam em cair e eu mal conseguia olhar para as pessoas no auditório, um silêncio absoluto tomava conta do lugar, esperando que eu falasse alguma coisa. Então eu fiz a única coisa que me ocorreu naquele momento: larguei o microfone que estava na minha mão, levantei-me e saí correndo do palco.
Já na coxia do palco, eu desabei no choro e veio falar comigo.
— Ai, , caramba eu queria poder ter evitado isso, mas eu nunca podia imaginar que ele faria algo assim!
— Eu tô com tanta vergonha, .
— Fica calma, agora você precisa se acalmar e você vai ter que conversar com ele.
— Eu não sei se quero falar com ele.
— Eu acho bom você se decidir logo. — disse, apontando atrás de mim.
Eu me virei e Sam estava lá, parado diante de mim.
— Bom, eu vou deixar vocês a sós.
Eu queria pedir pra ficar, mas eu sabia que precisava ter aquela conversa.
— Por que você fez isso? — Falei, ainda sem encarar Sam.
— Porque foi a única forma que eu encontrei de te fazer me ouvir. Eu estava desesperado, , eu não sabia mais o que fazer.
— E aí você resolveu expor nosso relacionamento diante de todos.
— Não, eu resolvi expor o meu amor por você diante de todos, expor que eu errei, mas estou arrependido. Expor que eu estou aqui depois de todos esses meses implorando seu perdão.
— Você me magoou muito, Sam.
eu sei que eu errei, mas, poxa, todo mundo comete erros! Eu posso ter agido como um idiota, mas se tem uma coisa que sempre foi verdade, é o meu amor por você. A gente pode recomeçar, a gente pode ser feliz juntos, porque eu não estou feliz sem você e acho que você também não está. A não ser que você não me ame mais, se você disser que não me ama, eu vou aceitar o fim.
Sam pôs a mão no meu queixo e levantou meu rosto, fazendo-me finalmente encará-lo.
— Me diz, olhando nos meus olhos, você ainda me ama?
— Eu... amo, eu te amo tanto que até dói.
— Então não tem por que nós ficarmos sofrendo separados. Me perdoa, por favor?
— Eu perdoo.
Então Sam não deixou que eu dissesse mais nada, ele me puxou e me beijou, um beijo tão cheio de saudades de ambas as partes.
— Nós precisamos voltar para o palco, estão nos esperando para tirarmos a foto oficial junto com o elenco. — Sam disse, quebrando o beijo.
— Eu não posso, olha só pra mim, eu devo estar horrível de tanto chorar.
Sam enxugou minhas lágrimas e beijou a ponta do meu nariz.
— Você está linda, não existe no mundo mulher mais linda que você. Basta você colocar um sorriso nesse rosto agora, esse sorriso que ilumina o mundo, que ilumina o meu mundo, na verdade.
Eu sorri, um sorriso verdadeiramente feliz em meses.
— Isso, agora está perfeita! E então, vamos voltar comigo pro palco?
Sam me estendeu a mão e eu entrelacei nossos dedos, indo com ele de volta para o palco. Quando entramos no palco de mãos dadas, o público foi ao delírio e nossos colegas de elenco, juntamente com o apresentador, fizeram cara de surpresa.
— Chegamos a tempo de participar da foto? — Sam disse.
— Claro que sim, vamos lá. — O apresentador disse, empolgado.
Nós nos juntamos no centro do palco e tiramos a foto. Depois, o apresentador encerrou oficialmente a pré-conferência e saímos do palco sob uma chuva de aplausos.
— Até que enfim vocês se entenderam! — disse, encontrando-nos na coxia.
— Sua amiga é jogo duro, viu?!
— Ah, mas você acertou demais no pedido de perdão, bem diabético, o coração romântico dela se derrete.
— Hei, vocês dois, eu tô aqui, ok.
— Bom, agora que você já ‘tá com seu boy magia de novo, eu vou passar a noite com o Alex, a casa é toda de vocês.
— Pensei que o Alex fosse lá pra casa hoje.
— Mudança de planos, já liguei pra ele. Vocês precisam ficar sozinhos e eu quero ficar bem longe de vocês essa noite, imagine a quantidade de hormônios acumulados nesses últimos meses, Deus me livre! — disse e nós caímos na risada.
Depois de nos despedirmos de todos, eu segui com Sam para minha casa.

Quando chegamos, subimos direto para o meu quarto, mas ao contrário da primeira vez que dormimos juntos, dessa vez foi tudo com mais calma, como se nós quiséssemos curtir cada pedacinho um do outro.
Sam tirou meu vestido delicadamente, depois beijou meu pescoço e foi descendo uma trilha de beijos pelos meus seios e minha barriga, antes de voltar a beijar a minha boca. Eu tirei a sua camisa e toquei seu peitoral para ter certeza de que ele era real, de que estávamos juntos novamente.
Quando todas nossas peças de roupas já estavam no chão, nós nos amamos da forma mais intensa e apaixonada possível.
Depois de tudo, deitamo-nos de frente um para o outro, Sam envolvia minha cintura, enquanto eu fazia carinho em seu rosto.
— Não houve um dia nesses seis meses em que eu não sentisse sua falta. — Sam disse.
— Eu também, pensei em você o tempo todo.
— Eu te amo, minha garota, e eu nunca mais vou deixar ninguém dizer que você namora todo mundo em Hollywood.
— Eu também te amo e ninguém terá mais nada a dizer, porque não haverá outro além de você. Você não foi o primeiro, mas certamente é o último.
Sam sorriu e me beijou. Eu mal consiga acreditar que tudo havia se acertado, agora sim meu coração iria voltar a ficar inteiro!

•••

Eu acordei no dia seguinte plenamente feliz. Rolei pela cama e Sam não estava mais lá, então me levantei, coloquei minha camiseta favorita do Mickey por cima da lingerie, prendi meu cabelo e fui até o banheiro escovar meus dentes e lavar meu rosto. Depois, desci passando pela sala de jantar, a mesa estava posta para o café da manhã e um cheiro bom vinha da cozinha.
Segui para cozinha e Sam estava lá, tirando o café da cafeteira, só de cueca boxer preta. Eu fui até ele e o abracei apertado por trás.
— Bom dia, meu amor. — Sam disse.
— Bom dia, amor da minha vida. É tão bom ter você aqui de volta.
Sam se virou de frente pra mim e me deu um beijo.
— Promete que você nunca mais vai embora?
— Bom, eu só fui embora, porque você me mandou, né.
— Eu sei, eu sou uma pessoa difícil.
— Tudo bem, se você resolver me mandar embora de novo qualquer dia desses, eu não vou. Eu vou ser tão teimoso quanto você.
— Eu teimosa? Mas que calúnia! — Falei e nós rimos.
— Vem, vamos tomar café.

Nós passamos o dia todo juntos matando a saudade um do outro. À noite, quando a chegou com o Alex, Sam e eu estávamos deitados no sofá, abraçados, assistindo um filme.
— E aí, casal! — disse, entrando na sala. — Gente, eles continuam mais grudados que carrapato.
— Ih, amor, pra desgrudar esses dois aí acho que nem com água quente.
— Boa noite pra vocês também. — Falei, enquanto e Alex se sentavam no outro sofá. — Bom te ver, best.
— Bom te ver também, , e agora finalmente feliz de novo.
— Nem me fale, que quem aguentou essa criatura arrastando correntes pela casa fui eu, sabe, eu ficava me perguntando da onde ela tirava tantas lágrimas.
— Ah, cala a boca! — Falei, jogando uma almofada em .
— A gente passou no mercado e compramos umas coisas pra fazer o jantar. — Alex disse. — Sam, você me ajuda? Fiquei sabendo que você manda bem na cozinha.
— Opa, só se for agora.
Alex seguiu para cozinha com Sam, enquanto eu e a ficamos na sala.
— Olha essa carinha, hein, o sorriso chega não cabe no rosto.
— Ai, amiga, se tem uma coisa melhor que sexo de reconciliação, nem sei o que é, viu.
— Nisso eu tenho que concordar com você.
— Aliás, eu espero que tenha muita maquiagem, estou com marcas onde você nem pode imaginar. — Falei rindo.
— Misericórdia, eu não precisava ouvir isso, eu quero apagar essa imagem da minha cabeça!
— Isso porque eu nem falei os detalhes sórdidos.
— E não é pra falar mesmo. Vamos lá colocar a mesa e ver se aqueles dois não vão pôr fogo na cozinha, que a gente ganha mais.

•••

Na semana seguinte, foi a vez da première de Los Angeles, mas, dessa vez, eu estava super animada.
Escolhi uma roupa digna de tapete vermelho: uma blusa preta sem alça com decote profundo na frente, uma saia longa de cintura alta com muito brilho prata e uma fenda enorme do lado direito. Coloquei um scarpin de bico fino prata, fiz um penteado lateral e uma maquiagem bem marcada com direito a cílios postiços e batom vinho.
Sam passou em casa para me pegar, a já havia ido na frente com o Alex. Ele estava me esperando encostado no carro, vestindo de terno e gravata. Eu tinha sérios problemas com homem de terno e gravata, fiquei até sem ar quando vi o Sam.
— Caramba! — Sam disse, medindo-me dos pés à cabeça.
— Digo o mesmo sobre você.
— Será que a gente tem mesmo que ir nessa première?! Não podemos simplesmente ficar aqui na sua casa?
— Acho que não, meu amor, é um compromisso profissional. — Falei, ajeitando a gravata de Sam. — Mas se você se comportar direitinho, quando a gente voltar, eu deixo você tirar esse look maravilhoso que eu fiquei horas preparando.
— Bom, então vamos logo, né, que daí a gente volta logo também.
Seguimos para o local da première, que já estava lotado de fãs.
Quando chegamos, saímos do carro juntos e caminhamos pelo red carpet de mãos dadas, os fãs entraram em polvorosa. Nós paramos para atender os fãs e dar entrevistas, depois seguimos para a área de fotos. Milhares de flashes disparavam para registrar eu e o Sam abraçados.
— Você está muito gostosa nessa roupa. — Sam sussurrou no meu ouvido.
— Você também está muito gostoso. — Falei, enquanto sorria para as câmeras.
, Sam! — Um dos fotógrafos falou. — Olhem pra cá pra fazermos uma foto bem bonita do casal.
Sam e eu nos olhamos e eu sorri, ele então se aproximou e me deu um selinho bem longo, enquanto os fotógrafos registravam o momento empolgados. Depois de mais uma sessão de fotos, dessa vez com o elenco, seguimos para a exibição do filme. E tenho que dizer que o filme ficou maravilhoso e minha química e do Sam na tela era inegável, assim como na vida também.

Quando o evento acabou, voltamos pra casa e meu lindo look foi desfeito em questão de minutos.
— O que você achou do filme? — Perguntei para Sam, quando estávamos na cama.
— Achei incrível, mais uma atuação impecável sua.
— Você também estava ótimo, amor.
— Sabe que você era a mulher mais bonita daquele evento?
— Se você diz, eu acredito. E aquele beijo vai estar estampado amanhã em todas as capas de revistas e com certeza já deve estar nos sites de fofoca.
— Eu nem me importo, eu não resisti. Porque embora o evento estivesse ótimo, tudo que eu queria era voltar pra casa e ficar com você.
Puxei Sam para perto de mim e ele me beijou, eu poderia ficar beijando-o a vida toda, porque ninguém me tocava como ele fazia, ninguém fazia eu me sentir tão viva, Sam me trazia as melhores sensações do mundo.

•••

Nos dias que se seguiram, nós tivemos a première de Londres, mais uma vez o casal do momento, no caso eu e o Sam, fizemos sucesso no tapete vermelho. Depois disso, os compromissos profissionais do filme terminaram e eu pude ter alguns dias de descanso antes de começar a pensar em trabalho novamente.
? — chegou em casa chamando por mim.
— Oi, , tô aqui na sala.
— Ai, que ótimo que você ‘tá aí, quero conversar com você.
— Pode falar. — Falei, sentando-me no sofá e dando espaço para minha amiga se sentar ao meu lado.
— Eu quero te contar uma coisa importante.
— O que é?
— É que o Alex comprou uma casa aqui em Hollywood Hills.
— Jura? Isso é ótimo, assim ele fica mais próximo de você.
— Então, na verdade, ele me chamou pra morar com ele e eu aceitei.
— Peraí, deixa eu ver se eu entendi, você vai casar? — Falei empolgada.
— Casar? Não, Deus me livre, isso já é muito radical pra mim. A gente vai só morar juntos, não vai ter nada de assinar papéis e nem cerimônia com festa, essas breguices eu deixo pra você.
— Ah, que seja, pra uma pessoa como você morar com o namorado já é uma grande evolução.
— Isso é verdade, tô até surpresa comigo mesma.
— Tudo bem que vocês não vão casar, mas a gente pode dar uma big festa pra inaugurar a casa de vocês, né?
— Mas óbvio que sim, né! Já viu eu negar uma festa?
— E onde é a casa de vocês? Muito longe daqui?
— Um prédio na rua de trás, você pode, inclusive, sair ali na sua sacada e me gritar. — disse, rindo.
— Sério? Ai, que bom, pelo menos vocês vão ficar perto, já que eu vou ficar sozinha e abandonada nessa casa enorme.
— Ai, pronto, ‘tava demorando pra começar o drama.
— Só tô falando a verdade.
— Olha, você só vai ficar aqui sozinha se quiser.
— O que você quer dizer com isso?
— Qual é, , você é romântica, eu sei que mais cedo ou mais tarde você e o Sam vão se casar. Então por que você não o chama pra morar com você de uma vez?
— Chamar ele pra morar comigo já? Será?
— Por que não? Isso facilitaria as coisas pra vocês também, afinal, não é como se ele morasse aqui do lado, né. Ele mora na Europa e tem que ficar vindo pra cá o tempo todo.
— Pensando por esse lado, você tem razão. É, eu vou falar com ele.

•••

A começou os preparativos pra mudança dela e eu me preparei para falar com o Sam. No final de semana ele veio me ver e achei que seria a oportunidade perfeita.
— Amor, eu queria muito falar com você sobre um assunto.
— Pode falar amor.
— Então, a vai se mudar aqui de casa, vai morar com o Alex.
— Caramba, que legal! Eles vão casar?
— Casar, a ? É ruim, hein. Ela não quer saber de casamento, eles vão só juntar as escovas e ‘tá tudo certo.
— E onde eles vão morar?
— Em um prédio na rua de trás. Porque, né, a não é nem doida de ir pra longe de mim.
— Mas é muito carente essa minha namorada mesmo.
— Sou mesmo. E isso nos leva ao segundo ponto dessa conversa.
— Que seria?
— Bom, eu vou ficar sozinha aqui nessa casa enorme e daí eu pensei que você poderia vir morar comigo.
— ‘Tá me chamando pra morar aqui, é?
— Tô sim, acho que vai ser melhor pra nós, você mora tão longe, Sam.
— Realmente seria uma ótima solução.
— Então quer dizer que você aceita?
— Aceito, mas com uma condição.
— E qual é?
— Que você case comigo.
— Você ‘tá me pedindo em casamento?
— Parece que sim, né.
— Mas, gente, cadê aquela coisa dos filmes, que o cara se ajoelha e faz um pedido todo romântico?
— Desculpe, amor, mas o seu convite me pegou de surpresa, então eu não tive tempo de preparar meu pedido.
— Tá bom, eu vou deixar essa passar, até porque, sua declaração de amor em um auditório lotado já valeu pela cota de romantismo de uma vida toda.
— A diria que já valeu pela cota de romantismo de várias vidas.
— Com certeza. — Falei rindo. — Mas eu não abro mão de um anel de compromisso bem lindo no meu dedo.
— Isso significa que você aceita se casar comigo?
— E eu sou doida de não aceitar?
Sam então me beijou, selando assim nosso compromisso.

•••

No dia seguinte, nós fizemos um jantar lá em casa pra contar pros nossos amigos. Quando eu mostrei o anel de compromisso que Sam havia providenciado mais do que depressa, ficou eufórica.
— Eu falo pra você chamar o Sam pra morar com você e ele te pede em casamento, mas vocês são muito ligeiros mesmo.
— Foi a minha condição, eu venho morar com a assim que você sair de casa, mas a gente se casa.
— Mas não se preocupe, , que nós não vamos nos casar amanhã também. O Sam vai se mudar pra cá e nós vamos nos casar daqui alguns meses.
— Seus pais vão pirar de felicidade.
— E os seus não piraram ao saber que você e o Alex vão morar juntos?
— Minha mãe disse que finalmente todas as preces dela foram atendidas e meu pai disse: “não é um casamento, mas é melhor que nada.” — disse e nós rimos.
— Tô muito feliz por vocês, best. — Alex disse.
— Façamos um brinde, então! — Sam propôs e nós brindamos a nova fase das nossas vidas, que estava começando.
Eu estava muito empolgada com todas essas mudanças, minha amiga ia morar com o boy magia dela e eu ia começar uma vida com o homem que eu amava.

•••

As semanas passaram e eu estava ajudando a a terminar de embalar as coisas dela para a mudança, quando comecei a me sentir mal.
, que foi? — disse, correndo até mim, quando eu deixei uma caixa cair no chão e quase desmaiei.
— Não sei, uma tontura muito forte.
— Vem cá, senta um pouco. ‘Tá melhor?
— Não, ainda tô muito tonta.
— É a primeira vez que você sente isso?
— Na verdade, eu tenho sentido essas tonturas a semana toda e eu também ando muito enjoada, principalmente de manhã.
, sua menstruação ‘tá em dia?
— O quê? Por que você ‘tá perguntando isso?
me olhou com uma cara como se eu fosse retardada.
— Ah, não, pera, você não ‘tá achando que eu tô...
— Sua menstruação ‘tá em dia ou não?
Eu comecei a fazer as contas mentalmente e arregalei os olhos.
— ‘Tá atrasada, eu nem tinha me tocado. Não pode ser, gente, não pode!
— E se for, qual o problema? O Sam ‘tá vindo morar com você e vocês vão casar.
— Gente, se for verdade, nós vamos ficar conhecidos como o casal apressado, em menos de um ano nós nos conhecemos, namoramos, vamos casar e talvez ser pais! E contando também que nós ficamos seis meses separados e só reatamos há três semanas.
, só é preciso uma noite pra fazer um filho.
— Filho, gente, eu que sempre sonhei ter filho, mas não assim no susto.
— Ok, vamos tirar a dúvida. Eu vou na farmácia comprar um teste pra você.
— Tá, mas compra daqueles bem modernos que aparece a palavra grávida e também o tempo de gravidez.
— Mais alguma exigência, provável futura mamãe?
— Vai logo, peste!

foi e voltou da farmácia em menos de quinze minutos. Eu fui até o banheiro fazer xixi naquele negócio que mais parecia um termômetro, depois coloquei em cima da pia e abri a porta pra entrar.
— E aí?
— Tô esperando, ué, diz que precisa esperar dois minutos...

Aqueles foram os dois minutos mais longos da minha vida.
— Já passou dois minutos, , olha lá.
— Tô sem coragem!
— Ai, puta que pariu, viu, deixa que eu faço isso.
pegou o teste e olhou séria.
— O que deu? Fala logo!
— ‘Tá escrito grávida, três semanas!
— Ai, cacete!
— Sabe qual o nome disso? Sexo de reconciliação.
— Eu sempre ouvi falar que sexo de reconciliação era perigoso, não imaginava o quanto.
— É, parece que o patinho feio vai ter um patinho filho.
— Olha aqui, sua viada, se tu apelidar meu bebê de patinho filho, eu afogo sua cabeça na privada!
— Eita, que já ‘tá agindo que nem mãe leoa. Foi só uma piada, até porque, essa cria aí vai ser meu afilhado, é o mínimo que eu espero.
— Claro que vai, né, seu e do Alex. Mano, como é que eu vou contar isso pro Sam?
— Com a boca. — disse e eu a fuzilei com os olhos. — Ai, manom cadê seu senso de humor? Além disso, não tem motivos para preocupação, ele vai ficar muito feliz, tenho certeza disso.

•••

Mesmo com toda aquela certeza que tentava me passar, eu fiquei um pouco apreensiva ao contar para Sam.
— A já está com tudo pronto para mudar.
— Ótimo, eu também já estou com a minha mudança pronta.
— Que bom, daí eu pensei que a gente podia se casar daqui uns dois meses. Que você acha?
— Por mim eu me casava com você amanhã. Mas eu pensei que você quisesse mais tempo pra planejar tudo, a festa, ver vestido, essas coisas que vocês mulheres fazem questão.
— É, eu quero tudo isso mesmo, mas eu acho que não temos muito tempo, afinal, eu quero entrar em um vestido bem lindo, se esperarmos mais tempo, isso não vai ser possível.
— Como assim?
Eu respirei fundo e falei de uma vez.
— Sam, eu... eu estou grávida.
— O quê?
— Eu fiz o teste e deu positivo.
— Nós vamos ter um bebê?
— É o que parece, né.
— Isso é... maravilhoso!
— Sério? Você não ‘tá bravo?
— Bravo? , pelo amor de Deus, eu amo você e quero passar o resto da minha vida do seu lado, ter um filho com você só torna tudo mais perfeito!
— Que bom, eu fiquei com receio do que você poderia pensar.
— Você acabou de me fazer o cara mais feliz do mundo. Mas e você, está feliz?
— Claro que sim, tudo que eu sempre quis foi casar e ser mãe.
Sam me puxou para perto e beijou minha barriga.
— Nosso bebê, mal posso esperar pra ver a carinha dele. Eu te amo tanto, !
— Também te amo, Sam!

•••

Nós decidimos que iríamos para Santa Mônica no próximo final de semana, os quatro, afinal, tínhamos que comemorar o fato da ir morar com o Alex e eu tinha que comunicar minha família que ia me casar e ser mãe. Era tão louco como de uma hora pra outra nossa vida mudava completamente, mas, nesse caso, tudo mudou para melhor e eu estava extremamente feliz.

Conforme combinamos, fomos para Santa Mônica no final de semana. Meus pais ficaram em choque com tantas novidades, mas, no fim, eram só felicidade de saber que iam casar a única filha e ainda serem avós.
Aproveitamos a deixa do final de semana em família e publicamos uma foto de casal no meu Instagram com meu anel de noivado à mostra para que o mundo soubesse que íamos nos casar. Minha gravidez, por ora, era um assunto que ficaria somente entre os mais íntimos, porque estava no começo.

•••

Quando voltamos de Santa Mônica, a finalmente foi morar com o Alex e o Sam se mudou para minha casa. Então, nós planejamos uma super festa para inaugurar a casa nova da e do Alex, decidimos fazer uma festa temática dos anos sessenta. Eu e a organizamos tudo para a festa e convidamos nossos amigos mais íntimos.

•••

Quando o dia da festa chegou, eu preparei meu melhor look, enquanto eu ainda tinha cintura e as roupas ainda me serviam. Coloquei um vestido frente única rodado vermelho com bolinhas brancas, uma faixa branca marcando a cintura, sapatos boneca vermelho e luvas brancas. Peguei um tutorial na internet e fiz uma maquiagem estilo anos sessenta, deixei o cabelo solto e coloquei um laço de fita vermelho e finalizei com óculos gatinha.
Desci para encontrar o Sam, que estava totalmente maravilhoso em uma calça jeans com a barra dobrada, camiseta branca e jaqueta de couro preta. Pra completar, ele ainda fez um topete naquele cabelo liso que ficou incrível.
— Mas, gente, hoje sou eu quem digo: temos mesmo que ir na festa? Você ‘tá muito delícia, amor, tô querendo te levar pro quarto.
— Acho que se você não for na festa, a te mata. Você também está linda e não se preocupe, que quando voltarmos, deixo você desmanchar meu topete.
— Ai, gente, bem que falam que os hormônios na gravidez ficam muito piores, só consigo pensar em tirar sua roupa.
— Se segura um pouco e vamos pra festa, vai.
— Droga, nem vou poder beber.
Nós seguimos para o apartamento da e do Alex, nossos amigos já estavam nos esperando também vestidos a caráter.

Logo os convidados começar a chegar e a casa ficou cheia de gente se divertindo com muita música, comida e bebida, também tinha alugado um karaokê pra festa. Como eu não podia beber, a bebeu por mim e por ela, então ela me puxou e fomos cantar Twist and Shout dos Beatles. Curtindo A Vida Adoidado era o filme favorito da e nós adorávamos reproduzir a cena em que o Ferris cantava essa música, sempre que tínhamos a oportunidade fazíamos isso.
Nós demos nosso show de sempre e quando acabamos de cantar a música, Alex e Sam tiraram os microfones de nós.
— O que é isso, vocês dois? Interrompendo nosso show, que absurdo! — disse.
— Vocês já monopolizaram demais esse karaokê, vamos dar a chance pra outras pessoas ok? — Alex disse.
— E quem é que está querendo roubar nosso lugar de cantoras? — Eu perguntei.
Alex então entregou um dos microfones para Sam e eu e ficamos olhando sem entender.
— Atenção, senhoras e senhores, eu só gostaria de um minuto da atenção de vocês. — Sam começou a dizer. — Como vocês sabem, essa linda garota aqui presente, aceitou ser minha esposa e como se não bastasse, ela vai me dar o melhor presente que eu poderia ganhar: um filho. Então eu só queria aproveitar o momento para declarar todo meu amor por ela.
— Precisa não, Sam, tu já fez isso naquele auditório lotado, lembra? Já foi suficiente. — disse divertida.
— Amor, para de estragar o momento deles, pelo amor. — Alex disse.
— Verdade, , deixa meu futuro marido ser romântico. — Falei com os olhos brilhando.
Sam então começou a cantar Love Me Tender do Elvis Presley e eu sendo uma pessoa já sensível, e agora grávida, já comecei a ficar com os olhos cheios de água nas primeiras estrofes da música.

Love me tender, love me sweet;
Never let me go;
You have made my life complete;
And I love you so.

Love me tender, love me true;
All my dreams fulfill;
For my darling, I love you;
And I always will...

Quando Sam terminou de cantar a música, eu fui até ele e me joguei em seus braços, enquanto todo mundo aplaudia.
— Mas, gente, não é que você canta bem, Sam. — disse.
— É, eu fui vocalista de uma banda aí por um tempo, até que eu dou pro gasto.
— Foi maravilhoso, amor!
— Assim você acaba com o coração da grávida.
— Você também quer que eu cante algo pra você, ?
— Não, Alex, pelo amor, eu prefiro que você faça um drink daqueles que só você sabe fazer e quando a festa acabar, teremos uma noite tórrida de amor.
— Tão romântica essa minha namorada.
— Esse é meu jeitinho e é por isso que você me ama. Vamos aos drinks e deixar o casal diabete namorando um pouco.
e Alex foram para a cozinha, enquanto eu continuava agarrada no pescoço de Sam.
— Você gostou mesmo?
— Eu amei, foi muito lindo! Eu tô tão feliz, amor, não tem mais nada que eu queira na vida, minha carreira vai bem e agora eu finalmente encontrei o cara certo. Eu vou me casar e ser mãe como eu sempre sonhei.
— Eu também não posso reclamar, sinto que finalmente minha vida está completa.
— Eu te amo, Sam, mais do que eu poderia expressar em palavras.
— Também te amo, , você é o amor da minha vida. Vocês dois! — Sam disse, colocando a mão na minha barriga.
Então ele me beijou daquele jeito maravilhoso que só ele sabia fazer.

•••

Dois meses depois, nós nos casamos, foi uma cerimônia linda com toda nossa família e amigos, e até a deixou escapar algumas lágrimas. Eu, obviamente, chorei litros, mas a maquiagem resistiu e eu subi plena e linda no altar.
Logo depois de me tornar a senhora Riley, nós fizemos um ultrassom e descobrimos que íamos ter um menino, o que deixou a muito feliz, porque ela ganhou a aposta contra o Alex. Aproveitamos também para comunicar ao mundo sobre a minha gravidez, já que os três meses de risco já haviam passado.
Eu, que antes era conhecida como a namoradeira de Hollywood, agora era uma mulher casada e prestes a ser mãe, porque agora eu havia realmente encontrado a pessoa certa para dividir minha vida. Sam era tudo que eu sempre quis e meu coração estava plenamente feliz!



Fim!



Nota da autora: Sem nota.

Outras Fanfics:
Don't Forget to Like it;
Dance With Me;
Hungry Eyes;
She's Like the Wind;
Ready to Run.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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