Prólogo
"O que é preciso para se sentir em casa?"
ERA NO QUE estava pensando quando entrou no seu apartamento e se dirigiu para a varanda enquanto olhava o céu noturno. Seu telescópio estava posicionado na direção de sua constelação preferida: cassiopeia.
Ela adorava o desenho que esse conglomerado formava e a história por trás daquelas estrelas. Se alguém estivesse ali com ela, ouviria ela recitar uma de suas mais apaixonantes explicações. Mas não havia ninguém, era sempre e o telescópio.
Ela saiu da varanda e voltou para sua sala, caminhou até a bancada que separava a sala da cozinha e apertou o botão da secretária eletrônica do seu telefone. Ela sempre aguardava por uma mensagem da NASA, sempre aguardaria. Mas seu último programa de exploração espacial havia sido há dois anos e eles não a chamariam tão cedo.
"Dra. Rudolph, aqui é Edward Taylor, da revista científica New World. Lemos o seu último artigo sobre o futuro da civilização humana e gostaríamos de marcar uma entrevista e apresentar a matéria em uma próxima edição. Por favor, retorne o contato para mais detalhes.”
E havia outras quatro mensagens de revistas e fóruns científicos. Apenas uma mensagem pessoal para , que, como sempre, era de Chloe:
" Hwan Rudolph! Eu juro que se não me responder dentro de 24 horas, eu vou reportar o seu desaparecimento para a polícia! Faz seis semanas que você não me responde. " — Houve uma pausa, como se Chloe estivesse tentando dizer algo. — "Quero te contar tanta coisa, ." — E desligou.
Rudolph estava prestes a fazer uma ligação para Chloe, mas antes que apertasse o botão do telefone uma nova mensagem inesperada soou:
"Bom dia, Dra. Rudolph. Aqui é um velho amigo, Reed Richards. Espero que ainda se lembre do seu orientador de doutorado. Comecei uma nova pesquisa e preciso de uma boa equipe para realizar a coleta de dados. Ninguém conhece o Espaço com tanto entusiasmo como você. Mandei todas as informações junto com o plano de pesquisa para o seu e-mail. Aguardo seu retorno.”
No mesmo instante, esqueceu que deveria telefonar para Chloe. Ela tirou seu notebook da mesa da sala e sentou no sofá, acessou o e-mail e abriu os arquivos de Reed.
— Radiação espacial e seu papel na genética humana... — Ela leu em voz alta enquanto se atentava para o objetivo e o método do trabalho. — Arriscado e ousado, Reed Richards. — Ela murmurou, tomando um gole de café da sua xícara. Iria precisar ficar acordada naquela noite.
pegou o telefone e ligou para Reed. Foram três toques até ele atender.
— Estou lendo o plano de pesquisa agora e fazendo algumas alterações. — Ela disparou quando ele atendeu. — Quero que me explique a quem vai recorrer já que sua proposta foi recusada pela NASA.
— Meu Deus, ! Quanto tempo! — Ele exclamou do outro lado da linha com a voz carregada de sono. — Espera! Isso quer dizer que você está dentro?!
— Claro, se eu não estivesse não teria me dado o trabalho de ler o material. — Ela disse com um sorriso para si. — Estou arriscando minha carreira, mas as descobertas que mudaram o rumo da sociedade nunca foram seguras. Uma vez você me disse que vale a pena correr alguns riscos.
Reed suspirou orgulhoso da ex-aluna.
— Certo, Rudolph. Agora vem a parte desagradável. — Ele murmurou e ela esperou que ele continuasse a falar. — Como a NASA recusou custear o trabalho, tive que recorrer a um patrocinador um pouco inusitado….
— E com um senso moral um tanto deturpado, eu presumo... — Alguém que aceitasse cobrir as despesas de um trabalho considerado perigoso pela NASA, deveria ser alguém que desse conta de todas as críticas e suposições negativas da mídia.
— Victor Voon Dom aceitou financiar nossa pesquisa. — Reed falou no tom desapontado, mas tentando soar otimista.
— De todos os ricos babacas, só tinha esse? — Ela murmurou e Reed deu uma risada baixa. — Olha, eu entendo. Vamos trabalhar com o que temos. Como posso te encontrar?
— Teremos a primeira reunião de equipe amanhã no prédio corporativo da empresa. Você pode ir? — Reed perguntou em meio a um bocejo.
— Estarei lá, professor. — Ela confirmou e, quando ele encerrou a ligação, ela se voltou para os arquivos. Agora sim se sentia em casa, tinha um trabalho cientifico pra desenvolver.
Droga! Ela pensou depois de algumas horas revisando os cálculos de Reed. Eu devia ter ligado para a Chloe!
Capítulo 1
"Se você acertasse depois de mil vezes errando e soubesse que iria conseguir, desistiria por conta de todas as vezes que errou?”
A SALA DE REUNIÕES era grande, mas o clima nela parecia um tanto sufocante. Victor estava sentado na ponta da mesa, sua cadeira sendo a maior de todas. Ele estava com as mãos cruzadas e um sorriso convencido que, deixava claro que ele só havia concordado com a pesquisa de Reed, porque se sentia com o ego satisfeito ao ver o antigo colega se rebaixar e pedir ajuda para ele.
Ben estava ao lado de Reed, o que de certa era reconfortante, estar ao lado do melhor amigo que acreditava em suas ideias o deixava mais confiante para liderar a proposta. Depois de tanto ser rejeitado pela comunidade científica, aquele momento era importante para ele. Ainda mais na frente de Sue, sua ex-namorada.
Ela estava linda e o tratava com uma postura educada e distante, a tensão entre eles era palpável. Não esperava vê-la como Diretora de Pesquisa em Genética e muito menos como a namorada de Victor. Mas Von Doom tinha que ter tudo. Para Reed, era ótimo ver Sue feliz e realizada, mesmo que não fosse com ele.
Victor olhou no relógio como se estivesse entediado, mas Reed sabia que ainda faltava cinco minutos para o horário marcado. Sue parecia estar contendo uma certa apreensão que ele não sabia identificar o que era.
A porta da sala se abriu e a Dra. Rudolph entrou. Ela estava com o cabelo preso, calça e camisa social. Usava um casaco longo e os óculos escuros apoiados na cabeça. No braço, ela trazia vários papéis, provavelmente ela já havia começado o trabalho na noite anterior. Pelo menos alguém ali estava tão empolgado quanto Reed.
Ela se virou para Sue e estendeu a mão livre:
— Sue Storm, é um prazer! — Ela disse e Sue apertou sua mão. — Eu sou a Dra. Rudolph.
A expressão de Sue foi de surpresa para contentamento.
— É um prazer conhecê-la…. — Sue olhou para Victor como se esperasse pela reação dele. Mas o momento foi interrompido quando a porta da sala foi aberta novamente.
Um jovem rapaz entrou, seu cabelo era loiro e curto. Ele usava uma jaqueta, jeans folgados e coturnos. A camiseta era de alguma banda que Reed não conhecia. Seus óculos escuros pareciam caros e quando ele os tirou para olhar bem todos na sala, Reed percebeu com pavor que conhecia ele.
— Ah, creio que já conhecem o meu irmão, Johnny. — Sue disse enquanto Johnny se aproximava na direção de Rudolph. A apreensão em Sue suavizou, então ela estava com receio de que o irmão chegasse atrasado.
— Eu não a conheço. — Johnny disse, estendendo a mão para . — Eu teria me lembrado.
— Prazer, Senhor Storm. — disse com uma frieza calculada depois de observar a expressão de Johnny e se afastou dele sem apertar a sua mão.
Johnny pareceu surpreso e depois riu consigo mesmo, pelo visto não estava acostumado a ser rejeitado daquela maneira.
Ben não escondeu sua risada de contentamento. Ela se virou para ele e eles trocaram um aperto de mãos.
— Ben! É um prazer revê-lo! — Ela disse enquanto Ben afagava-lhe o ombro carinhosamente. Reed olhou ao redor e percebeu que Victor tinha uma expressão sombria, enquanto Johnny parecia ter encontrado algo muito interessante em Rudolph.
Ela então viu Reed e ele abriu os braços para ela, que caminhou energicamente em sua direção e o abraçou.
— ! Quanto tempo, até me esqueci que você continua jovem. — Ele disse brincando. Ela era a garota prodígio de sua sala de alunos, na época havia acabado de atingir a maioridade e já era uma das mentes mais ativas nas pesquisas da NASA.
Sue observou por um longo segundo, afinal aquele havia sido o momento mais caloroso da reunião.
Reed e se olharam e ele percebeu que de certa forma ela havia crescido, amadurecido - não era mais uma adolescente - e se sentiu orgulhoso da antiga pupila.
Então, olhou para Victor; só olhou, sem mover um músculo em sua direção.
— Victor. — Ela cumprimentou, mas soou mais como nojo, e se sentou.
— Podemos começar, Reed? — Victor disse, olhando o relógio novamente. Ele sempre parecia muito mais impaciente em seu terno caro.
Ben e Sue escolheram seu lugar, Johnny sentou na cadeira em frente a com a intensão de lhe direcionar alguns olhares furtivos. Ela não olhou na direção dele, nem por um instante.
As luzes da sala diminuíram e um holograma foi exibido sobre a mesa. A imagem tridimensional mostrava o planeta e a rota da nave que utilizariam. A imagem se movia devagar conforme Reed explicava seus elementos.
— De acordo com os meus cálculos, uma tempestade próxima das coordenadas irá gerar ondas de radiação cósmicas. O objetivo é estudar os efeitos da radiação sem entrar em contato direto com a tempestade. — Reed caminhou ao redor da mesa e o holograma o acompanhou, mostrando imagens ilustrativas da radiação. — Colocaremos nossas amostras em campo antes da tempestade e colheremos os dados depois para estudos dos resultados. Durante a tempestade, ficaremos na nave que possui escudos de proteção.
— Então você está interessado nos meus brinquedos caros? — Victor parecia não conseguir evitar um sorriso de contentamento.
O holograma apagou e as luzes voltaram a ficar acesas. Victor se levantou e caminhou até Reed dizendo:
— Eu fico com 75% dos lucros, quero a patente dos resultados. — Ele disse com segurança, sabia que o trabalho de Reed tinha um grande potencial, mas que ninguém se arriscaria tanto por aquela pesquisa.
Reed ia ceder, afinal não tinham escolha. Então, se levantou e caminhou na direção dos dois.
— Você tem a grana, Victor. Mas não o cérebro. Os cientistas à frente da pesquisa que levam a patente, mas não se preocupe, os livros de história vão citar o nome da sua empresa para explicar que fundo de garantia utilizamos. — Ela disse encarando Victor nos olhos. A expressão dele se alterou com impaciência.
— Fundo de garantia? Estou disponibilizando 1 bilhão para vocês!
— Para uma pesquisa desse porte deveria ser bem mais. Mas tudo bem, você não deve ter peito para encarar o conselho e os investidores da companhia para desembolsar mais. — Ela murmurou enquanto Victor parecia prestes a explodir. — Então faça o seu trabalho, que é liberar o dinheiro e lidar com a mídia, enquanto a gente cuida do resto.
— O que ela quis dizer, Victor.... — Reed falou chamando a atenção dos dois. — É que esperamos trabalhar de igual para igual.
— Reed, uma pequena porcentagem de um bilhão já dá para pagar a hipoteca do Edifício Baxter. — Victor jogou sua última carta, a expressão de Reed era de vergonha. Ben e compartilhavam uma raiva contida enquanto Johnny assistia a tudo como se visse sua novela mexicana favorita.
— Quanto a você, Senhorita Ruldolph... — Começou Victor, os olhos eram como os de uma cobra pronta para dar o bote. — Espero que nossas desavenças do passado não interfiram no nosso trabalho.
Aquilo era uma provocação mal educada muito bem disfarçada. Até Sue se virou para ele, pedindo para que encerrassem ali.
— Felizmente, eu sou uma pessoa profissional, tanto que eu nem ia citar nosso triste desentendimento. — Ela deu ênfase na — Conversei com o meu advogado, terei cláusulas especificas nesse contrato para que nenhuma injustiça se repita. Mas isso vai ser bom pra aliviar sua imagem.
— Eu não esperaria menos de você, Rudolph. — Ele sorriu educadamente. — Talvez isso ajude a imagem de Tom também.
— Eu nunca ajudaria Tom. — disse em voz baixa, ela e Victor trocaram um longo olhar até ele ceder e caminhar para fora da sala.
— Acertem os detalhes com Susan. — Ele disse ao sair.
— Eu os acompanho até a saída. — Ela disse se virando e os outros a seguiram até o elevador.
Susan apertou o botão do térreo e entregou um cartão para , Ben e Reed.
— Este é o meu telefone, entrem em contato quando precisar.
— Eu tenho o número. — Disse Reed.
— Eu mudei de número. — Susan disse, entregando o cartão.
Johnny tentou não rir da situação de constrangimento entre os dois.
— Podemos começar o treinamento na semana que vem. — Disse Susan, conforme o elevador ia descendo os andares.
Ben olhou para Reed o lembrando de um detalhe.
— Ah, estava contando que Ben fosse o nosso piloto. — Reed disse a Susan.
— Na verdade, Johnny vai ser o nosso piloto. Mas você é bem-vindo para o cargo de co-piloto, Ben. — Susan sorriu como se desculpasse em minar as expectativas dele.
Todos olharam para Johnny, que exibiu um meio sorriso convencido.
— Espero que a gente não exploda no espaço. — Rudolph disse quando o elevador chegou no térreo. — Até mais. — Ela disse a caminho da saída sem esperar pelos outros.
— Foi um prazer te conhecer também, . — Johnny gritou, acenando.
Ela gritou de volta, mas sem se virar para olhar:
— Pra você é Dra. Rudolph.
Ben sorriu, percebendo que, pelo menos, alguém iria colocar Johnny em seu devido lugar.
Capítulo 2
A CAFETERIA ERA UM dos lugares favoritos de , um dos poucos que ela frequentava. Era muito difícil ela sair de casa quando estava em Nova York, mais ainda difícil quando ela estava no Texas em algum programa de estudo da NASA. Mas ela precisava abrir uma exceção e finalmente encontrar Chloe.
Ela enxergou a amiga assim que entrou no local, elas sempre escolhiam a mesma mesa. Chloe tinha o cabelo loiro dourado, olhos claros e lábios rosas como o casaco que estava usando. se aproximou e se sentou na cadeira de frente para a amiga.
— Quem é vivo sempre aparece! — Ela murmurou, a expressão dizia que estava bastante zangada. já conhecia aquele padrão: iria levar um sermão, elas iriam rir e chorar e se abraçar pra matar a saudade. Mas, antes, ela teria que enfrentar a fúria de Chloe.
— Eu diria que sinto muito, mas na verdade não sinto. — disse e imediatamente Chloe chutou sua perna por debaixo da mesa. Rudolph se inclinou, sibilando com dor, mas as duas riram em seguida. — Não precisa ficar preocupada, eu sempre faço isso.
— Eu só acho que você se isola demais. — Chloe entregou para ela um prato com os croissants que ela havia pedido antes da amiga chegar. — Deveria conhecer gente nova, sair, viver.
— Viver uma vida comum?! Parece muito banal. — murmurou de boca cheia. — Eu quero mais, o universo tem milhões de possibilidades.
— E você não está aproveitando nenhuma delas. — Chloe murmurou.
Aquilo foi um tapa para .
— Por que está dizendo isso?
— Eu só quero ter certeza de que está bem. Ter certeza de que você superou.... — A loira murmurou de um jeito carinhoso e muito cuidadoso, mas, ainda assim, contorceu o rosto em irritação.
— Eu estou ótima. E eu não preciso estar saindo com alguém pra mostrar que eu superei, Chloe! — Rudolph afastou o prato com croissants.
— Eu só quero ter certeza de que está tudo bem se o Tom seguir em frente…
suspirou.
— Eu sinceramente não me importo com o Tom. Não tem como eu me importar depois do que ele fez. — tentou ser paciente com a amiga. — Já faz um ano, não nos falamos e eu prefiro assim. Não quero sair e curtir, quero continuar o meu trabalho. E eu tenho amigos, eu tenho você e o Reed.
— Reed é tão doido quanto você, ele não conta! — Chloe brincou.
— Falando nisso, preciso te contar uma coisa. — tomou um gole do café. — Estou saindo em missão dentro de algumas semanas.
Chloe arregalou os olhos.
— A NASA te chamou de novo ?
— Não, é um trabalho com Reed Richards e….
limpou a garganta, Chloe arregalou ainda mais os olhos.
— Com Victor Von Doom. — Ela completou.
Chloe soltou um palavrão. As pessoas ao redor encararam.
— Só tinha esse rico babaca pra financiar?!
— Eu disse a mesma coisa! — exclamou.
— Você vai precisar encontrar o Tom? — Chloe perguntou e pareceu ter ficado sem graça e desviou o olhar.
— Ele não está na equipe principal, então acho que não. — observou os olhos apreensivos de Chloe, mas não parecia que era uma preocupação direcionada a ela. — Você disse que tinha algo a me dizer. O que foi?
— O quê?! — Ela perguntou, sobressaltada.
— Você deixou uma mensagem na minha secretária eletrônica, disse que tinha algo a me dizer.
— Ah.... Coisas do cotidiano. — Chloe sorriu e pegou a mão de . — Senti falta de conversar com você.
— Eu também.
As semanas de preparação foram intensas. Horas na academia, horas de cálculos, horas em simuladores de vôo, horas de planejamento. Era difícil equilibrar toda a rotina e ainda ter as horas de sono indicadas para manutenção da saúde. O relógio biológico precisava estar intacto.
já havia passado por aquele processo três vezes e, mesmo quando não era chamada para alguma missão, ela procurava manter o corpo e a mente em forma. Assim sempre estaria preparada para se dedicar um pouco mais e alcançar os resultados necessários.
Sua área de especialidade era a neurociência e o comportamento humano, ela sabia muito bem o que uma viagem ao espaço poderia causar na mente humana. Também sabia de cor como as células e os neurônios poderiam ser afetados a longo prazo. Agora saberia quais segredos o universo tinha guardado sobre a formação das primeiras células e só aquele pensamento arrepiava seu corpo.
Ela era uma boa observadora, mas péssima para se aproximar. Percebeu que Sue olhava Reed com frequência, ele parecia alheio, mas frequentemente perdia a concentração perto dela. Ben era amigável e às vezes parecia ser o paizão do grupo, também era muito fiel à esposa Debbie. Falava dela sempre que podia.
E havia Johnny, jovem, bonito e insuportável. Felizmente as horas de prática com ele eram raras, porque Johnny sempre se atrasava. A cada semana, ele estava com uma garota nova e olhava para de um jeito que a deixava irritada.
Johnny respirava e pronto, ela queria socar a cara dele.
— Ele foi expulso do programa da NASA, porque levou duas modelos de lingerie para o simulador de vôo. — Ben uma vez lhe confidenciou. — Eles se chocaram contra a parede.
— Ele vai ser nosso piloto?! — Ela disse, incrédula, mas logo descobriu que Johnny era bom.
Ele vivia saindo com várias garotas, era estúpido o bastante pra ter sido expulso do programa da NASA, mas conseguia ter os melhores resultados na preparação. o detestava.
Em uma tarde, Sue verificou o resultado das avaliações de cada um.
— e Johnny, o desempenho de vocês é incrível. — Ela disse, depois que eles terminaram a corrida na esteira.
Johnny parou ao lado de e ofereceu para ela uma garrafa de água.
— Mas nós dois sabemos quem é o melhor. — Ele deu uma piscadinha e tomou a garrafa da mão dele.
— Claramente sou eu. — Ela declarou.
Ele surpreendentemente respondeu:
— Estou de acordo, você é a melhor.
Ela não respondeu, ele geralmente respondia com uma outra provocação irritante. Aquilo era um elogio? só sabia que um dia acertaria a cara dele.
Susan entregou a cada um um traje especial, o material do tecido se adaptava muito bem ao corpo. Era uma espécie de macacão azul. passou o dedo pelo tecido, era um uniforme diferente do que estava acostumada a usar.
— O que achou, space girl ? — Johnny perguntou ao seu lado.
— Para você é Dra. Rudolph. — Ela murmurou, jogando o traje para Johnny e se afastou.
Ele sorriu, segurando o próprio traje. Ela era tão chata e centrada o tempo todo que lhe dava nos nervos. Irritá-la havia sido o melhor passatempo que ele encontrara durante horas de treinamento.
Ao lado dele, Ben grunhiu com uma risada.
— Não se encanta, garoto. Ela não é como essas garotas que você fica por aí. — Ele disse com um sorriso satisfeito. — Ela detesta você.
— Ótimo. Eu também odeio ela. — Johnny disse em um tom que não convenceu nem a ele mesmo.
Os dois seguiram para fora da sala de treinamento, andaram pelo corredor até chegar à sala de reunião. Tudo naquele lugar era tão grande quanto o ego de Victor Von Doom. A sala de reuniões tinha o conceito de espaço aberto, todas as paredes eram de vidro e a luz do dia inundava o local.
A mesa oval tinha aproximadamente dez cadeiras. Susan estava em pé, distribuindo papéis. Johnny se sentou com Ben e encarou as cinco outras pessoas na mesa, ele não conhecia nenhuma. A não ser um rapaz que lhe pareceu vagamente familiar, talvez fosse a maneira que ele ajeitou o relógio no pulso ou como ele ergueu o rosto quando e Reed entraram na sala.
Algo nas postura de Sue não pareceu tão mais confiante, ele olhou para como se esperasse algo. O rapaz na sala também parecia ter certa expectativa, mas foi por um breve momento.
— Qual é a dessa galera nova? — Johnny perguntou para Ben.
— O bonitão ali é o Tom Von Doom, irmão mais novo do Victor. — Ben explicou. — Ex-noivo da . Não é flor que se cheire.
— Caramba, alguém já quis casar com a ?! — Ele murmurou de volta, forçando uma expressão de choque.
caminhou na direção de Johnny e sentou ao lado dele. Por um momento, ele achou que tinha avançado um passo e que, de alguma forma, ela tinha escolhido ficar perto dele. Mas depois de observar que só havia dois lugares vagos e a outra opção era próxima de Tom, ele se sentiu irritado.
— Montamos uma equipe de apoio que também poderá ser usada em uma emergência ou situação de resgate. – Sue disse após todos receberem o relatório. — Tom Von Doom irá liderar a equipe de apoio…
Sue continuou a apresentação. Tom observava a todos, os traços de seu rosto e o cabelo escuros eram prefeitos e ele parecia mais carismático que Victor. Mas era difícil dizer se algum dos irmãos Von Doom poderia pior, parecia desgostar dos dois.
A reunião prosseguiu e Johnny percebeu que Rudolph não olhou para Tom nenhuma vez. Não era como se ela estivesse de cara fechada, como uma criança fazendo birra, parecia natural. Era um distanciamento mais frio e seguro, como se Tom não significasse nada. Era diferente de como ela ignorava Johnny.
Era diferente. O que significava que Johnny Storm não era tão ruim assim.
Ela enxergou a amiga assim que entrou no local, elas sempre escolhiam a mesma mesa. Chloe tinha o cabelo loiro dourado, olhos claros e lábios rosas como o casaco que estava usando. se aproximou e se sentou na cadeira de frente para a amiga.
— Quem é vivo sempre aparece! — Ela murmurou, a expressão dizia que estava bastante zangada. já conhecia aquele padrão: iria levar um sermão, elas iriam rir e chorar e se abraçar pra matar a saudade. Mas, antes, ela teria que enfrentar a fúria de Chloe.
— Eu diria que sinto muito, mas na verdade não sinto. — disse e imediatamente Chloe chutou sua perna por debaixo da mesa. Rudolph se inclinou, sibilando com dor, mas as duas riram em seguida. — Não precisa ficar preocupada, eu sempre faço isso.
— Eu só acho que você se isola demais. — Chloe entregou para ela um prato com os croissants que ela havia pedido antes da amiga chegar. — Deveria conhecer gente nova, sair, viver.
— Viver uma vida comum?! Parece muito banal. — murmurou de boca cheia. — Eu quero mais, o universo tem milhões de possibilidades.
— E você não está aproveitando nenhuma delas. — Chloe murmurou.
Aquilo foi um tapa para .
— Por que está dizendo isso?
— Eu só quero ter certeza de que está bem. Ter certeza de que você superou.... — A loira murmurou de um jeito carinhoso e muito cuidadoso, mas, ainda assim, contorceu o rosto em irritação.
— Eu estou ótima. E eu não preciso estar saindo com alguém pra mostrar que eu superei, Chloe! — Rudolph afastou o prato com croissants.
— Eu só quero ter certeza de que está tudo bem se o Tom seguir em frente…
suspirou.
— Eu sinceramente não me importo com o Tom. Não tem como eu me importar depois do que ele fez. — tentou ser paciente com a amiga. — Já faz um ano, não nos falamos e eu prefiro assim. Não quero sair e curtir, quero continuar o meu trabalho. E eu tenho amigos, eu tenho você e o Reed.
— Reed é tão doido quanto você, ele não conta! — Chloe brincou.
— Falando nisso, preciso te contar uma coisa. — tomou um gole do café. — Estou saindo em missão dentro de algumas semanas.
Chloe arregalou os olhos.
— A NASA te chamou de novo ?
— Não, é um trabalho com Reed Richards e….
limpou a garganta, Chloe arregalou ainda mais os olhos.
— Com Victor Von Doom. — Ela completou.
Chloe soltou um palavrão. As pessoas ao redor encararam.
— Só tinha esse rico babaca pra financiar?!
— Eu disse a mesma coisa! — exclamou.
— Você vai precisar encontrar o Tom? — Chloe perguntou e pareceu ter ficado sem graça e desviou o olhar.
— Ele não está na equipe principal, então acho que não. — observou os olhos apreensivos de Chloe, mas não parecia que era uma preocupação direcionada a ela. — Você disse que tinha algo a me dizer. O que foi?
— O quê?! — Ela perguntou, sobressaltada.
— Você deixou uma mensagem na minha secretária eletrônica, disse que tinha algo a me dizer.
— Ah.... Coisas do cotidiano. — Chloe sorriu e pegou a mão de . — Senti falta de conversar com você.
— Eu também.
As semanas de preparação foram intensas. Horas na academia, horas de cálculos, horas em simuladores de vôo, horas de planejamento. Era difícil equilibrar toda a rotina e ainda ter as horas de sono indicadas para manutenção da saúde. O relógio biológico precisava estar intacto.
já havia passado por aquele processo três vezes e, mesmo quando não era chamada para alguma missão, ela procurava manter o corpo e a mente em forma. Assim sempre estaria preparada para se dedicar um pouco mais e alcançar os resultados necessários.
Sua área de especialidade era a neurociência e o comportamento humano, ela sabia muito bem o que uma viagem ao espaço poderia causar na mente humana. Também sabia de cor como as células e os neurônios poderiam ser afetados a longo prazo. Agora saberia quais segredos o universo tinha guardado sobre a formação das primeiras células e só aquele pensamento arrepiava seu corpo.
Ela era uma boa observadora, mas péssima para se aproximar. Percebeu que Sue olhava Reed com frequência, ele parecia alheio, mas frequentemente perdia a concentração perto dela. Ben era amigável e às vezes parecia ser o paizão do grupo, também era muito fiel à esposa Debbie. Falava dela sempre que podia.
E havia Johnny, jovem, bonito e insuportável. Felizmente as horas de prática com ele eram raras, porque Johnny sempre se atrasava. A cada semana, ele estava com uma garota nova e olhava para de um jeito que a deixava irritada.
Johnny respirava e pronto, ela queria socar a cara dele.
— Ele foi expulso do programa da NASA, porque levou duas modelos de lingerie para o simulador de vôo. — Ben uma vez lhe confidenciou. — Eles se chocaram contra a parede.
— Ele vai ser nosso piloto?! — Ela disse, incrédula, mas logo descobriu que Johnny era bom.
Ele vivia saindo com várias garotas, era estúpido o bastante pra ter sido expulso do programa da NASA, mas conseguia ter os melhores resultados na preparação. o detestava.
Em uma tarde, Sue verificou o resultado das avaliações de cada um.
— e Johnny, o desempenho de vocês é incrível. — Ela disse, depois que eles terminaram a corrida na esteira.
Johnny parou ao lado de e ofereceu para ela uma garrafa de água.
— Mas nós dois sabemos quem é o melhor. — Ele deu uma piscadinha e tomou a garrafa da mão dele.
— Claramente sou eu. — Ela declarou.
Ele surpreendentemente respondeu:
— Estou de acordo, você é a melhor.
Ela não respondeu, ele geralmente respondia com uma outra provocação irritante. Aquilo era um elogio? só sabia que um dia acertaria a cara dele.
Susan entregou a cada um um traje especial, o material do tecido se adaptava muito bem ao corpo. Era uma espécie de macacão azul. passou o dedo pelo tecido, era um uniforme diferente do que estava acostumada a usar.
— O que achou, space girl ? — Johnny perguntou ao seu lado.
— Para você é Dra. Rudolph. — Ela murmurou, jogando o traje para Johnny e se afastou.
Ele sorriu, segurando o próprio traje. Ela era tão chata e centrada o tempo todo que lhe dava nos nervos. Irritá-la havia sido o melhor passatempo que ele encontrara durante horas de treinamento.
Ao lado dele, Ben grunhiu com uma risada.
— Não se encanta, garoto. Ela não é como essas garotas que você fica por aí. — Ele disse com um sorriso satisfeito. — Ela detesta você.
— Ótimo. Eu também odeio ela. — Johnny disse em um tom que não convenceu nem a ele mesmo.
Os dois seguiram para fora da sala de treinamento, andaram pelo corredor até chegar à sala de reunião. Tudo naquele lugar era tão grande quanto o ego de Victor Von Doom. A sala de reuniões tinha o conceito de espaço aberto, todas as paredes eram de vidro e a luz do dia inundava o local.
A mesa oval tinha aproximadamente dez cadeiras. Susan estava em pé, distribuindo papéis. Johnny se sentou com Ben e encarou as cinco outras pessoas na mesa, ele não conhecia nenhuma. A não ser um rapaz que lhe pareceu vagamente familiar, talvez fosse a maneira que ele ajeitou o relógio no pulso ou como ele ergueu o rosto quando e Reed entraram na sala.
Algo nas postura de Sue não pareceu tão mais confiante, ele olhou para como se esperasse algo. O rapaz na sala também parecia ter certa expectativa, mas foi por um breve momento.
— Qual é a dessa galera nova? — Johnny perguntou para Ben.
— O bonitão ali é o Tom Von Doom, irmão mais novo do Victor. — Ben explicou. — Ex-noivo da . Não é flor que se cheire.
— Caramba, alguém já quis casar com a ?! — Ele murmurou de volta, forçando uma expressão de choque.
caminhou na direção de Johnny e sentou ao lado dele. Por um momento, ele achou que tinha avançado um passo e que, de alguma forma, ela tinha escolhido ficar perto dele. Mas depois de observar que só havia dois lugares vagos e a outra opção era próxima de Tom, ele se sentiu irritado.
— Montamos uma equipe de apoio que também poderá ser usada em uma emergência ou situação de resgate. – Sue disse após todos receberem o relatório. — Tom Von Doom irá liderar a equipe de apoio…
Sue continuou a apresentação. Tom observava a todos, os traços de seu rosto e o cabelo escuros eram prefeitos e ele parecia mais carismático que Victor. Mas era difícil dizer se algum dos irmãos Von Doom poderia pior, parecia desgostar dos dois.
A reunião prosseguiu e Johnny percebeu que Rudolph não olhou para Tom nenhuma vez. Não era como se ela estivesse de cara fechada, como uma criança fazendo birra, parecia natural. Era um distanciamento mais frio e seguro, como se Tom não significasse nada. Era diferente de como ela ignorava Johnny.
Era diferente. O que significava que Johnny Storm não era tão ruim assim.
Capítulo 3
"A realização de um sonho é a prova de que precisamos para acreditar que a vida pode ser melhor e assim começar um sonho novo”.
ERA O GRANDE DIA. Johnny mal podia acreditar, seu sangue estava fervendo de excitação, o que significava que ele estava mais irritante e é claro, mais lindo. Mal podia esperar para pilotar a nave que os levaria direto para o espaço e, melhor ainda, mal podia esperar para ser lindo no espaço. Johnny sabia bem que não era todo homem que conseguia um feito daquele.
Eles fariam história e Johnny sabia que nascera para viver aquilo. Dane-se a NASA e seu simulador de vôo, ele pensou enquanto se vestia. O traje era azul escuro, se adaptava bem à forma do corpo e, ao se olhar no espelho, Johnny sabia que beijaria a si mesmo se pudesse. precisava ver ele assim.
Ele arrumou a bagagem que seria despachada para dentro da nave, lá tinha um traje a mais e um macacão. Ainda tinha um traje espacial para ficar no vácuo do imenso espaço caso fosse necessário. Senhoras e Senhores, Johnny Storm era oficialmente um astronauta.
Ele saiu do vestiário, colocou seu óculos escuros e pendurou a jaqueta sobre um dos ombros. Andou pelo corredor à procura de algum dos seus companheiros de equipe.
Havia alguns funcionários da base de pesquisa caminhando pelo local. O complexo era como um grande campo de futebol coberto, as paredes eram todas de vidro e não importava onde você estava no complexo, iria ter uma maravilhosa vista da plataforma de lançamento.
Ele e os outros membros da sua tripulação — Johnny gostava de pensar assim, já que ele era o piloto — , tinham uma sala para se preparar e esperar até a hora de embarcarem. Ele seguiu até lá e entrou, encontrando todos os outros já vestidos.
Sua irmã, Sue, conversava com Ben e mantinha aquela postura reta e educada para não se aproximar muito de Reed, que relia suas anotações sem parar. Eles haviam terminado o relacionamento há anos, mas ainda parecia que tinham acabado de brigar.
Johnny riu consigo mesmo, era por isso que ele não se apegava.
Ele viu entrar na sala. Os cabelos escuros estavam perfeitamente presos em um rabo de cavalo, os fios tão organizados que dava vontade de soltá-los. O traje azul também caiu bem nela, ela segurava a jaqueta em um braço e a mochila na outra. Estava mais séria que o comum.
Então Johnny fez o que sabia fazer de melhor: se aproximou para irritá-la.
— Olha lá aqueles dois. — Ele disse, indicando Sue e Reed, e encostou na parede ao lado dela. nem ergueu os olhos para ele. — Nunca vão se acertar.
— Isso é ruim. — Ela disse, olhando para o cadarço dos coturnos que estavam calculadamente bem amarrados. — O protocolo dessa missão tem muitos furos.
Johnny revirou os olhos fingindo tédio, mas, no fundo, a maneira como ela falava era quase agradável de ouvir.
— Quais procedimentos deixamos de seguir, princesinha da NASA?
Ela respirou fundo, como se se recusasse a perder a paciência com ele naquele momento:
— Os procedimentos das agências para missões espaciais existem para nossa segurança, Storm. — Ela disse, arrumando as mangas da jaqueta. A maneira que ela não o olhava diretamente o fazia ter vontade de fazer com que ela olhasse. A qualquer custo. — Não selecionamos parentes de primeiro grau para sair para o espaço juntos, ou pessoas com histórico de relações amorosas com os colegas, ou pilotos que foram expulsos de programas de outras agências… — ela acrescentou e dessa vez o olhou nos olhos.
Johnny levou a mão ao peito e cambaleou levemente para trás.
— Nossa, space girl. Essa doeu. — Ele fingiu uma cara de magoado. E então se aproximou dela, o bastante para sua boca sussurrar em seu ouvido: — Não se preocupe, eu cuido da gente lá em cima.
se virou para sair de perto dele e, ao ajeitar a mochila, bateu ela em Johnny de propósito. Ele sorriu, divertindo-se, sua primeira missão do dia já fora cumprida, faltava mais uma. Ele olhou para Ben e caminhou em direção à sua próxima vítima.
Só com a sua aproximação, Ben já fez cara feia.
— E aí, co-piloto ?! — Johnny piscou um dos olhos para ele. Ben não precisou se dar o trabalho de responder, porque naquele momento Victor Von Doom entrou na sala e estava com o mesmo traje que o restante. Ao lado dele estava Tom, o irmão mais novo que ele havia visto em uma das reuniões.
— O momento se aproxima. — Disse Victor, observando cada um. — Vejo que estão todos prontos. A sala ao lado está reservada para se despedirem de seus familiares ou de amigos, eles poderão assistir ao lançamento.
Victor então se virou para :
— Todos já viram seus familiares, Dra. Rudolph. Falta só você. — Ele disse e algo naquilo fez Johnny sentir que era outra frase cruel disfarçada. Tom olhou para o irmão com a expressão de surpresa contida.
Ben balançou a cabeça de forma negativa e murmurou algo para Reed, que pareceu levemente revoltado.
Sue desviou os olhos de forma apreensiva. Naquele momento, Johnny se arrependeu de não ter lido toda a ficha dos colegas, mas isso foi antes de ele saber quem era Rudolph. Pensou em talvez pedir para Susan passar os arquivos de novo, assim ele entenderia melhor o que acontecia com os irmãos Von Doom e Rudolph.
Enquanto todos menos Johnny pareciam desconfortáveis, olhou para Victor com a expressão mais plena que ele já havia visto.
— Já me despedi de quem precisava. Agora não vamos perder mais tempo. — Ela disse, ajeitando a jaqueta, e se aproximou de Victor com aquela postura imponente e com o olhar superior que irritava Johnny e ao mesmo tempo era muito atraente. — Você pode estar indo conosco por que tem o dinheiro para isso, mas o restante de nós são cientistas que precisam seguir os cálculos à risca, não temos tempo a perder.
E, então, ela direcionou o olhar para Tom. Ele encarou de volta, mas não conseguiu disfarçar que tinha um efeito sobre ele.
— Sua gravata está torta. — Ela disse simplesmente e se virou em direção à porta.
Ao passar por Johnny, ela murmurou só para que ele pudesse ouvir:
— Rico babaca metendo o nariz na nossa pesquisa é o maior dos furos.
E ele riu, a seguindo para fora da sala.
Tom Von Doom ajeitou a gravata e se retirou da sala, ele passou pela porta e seguiu e Johnny pelo corredor.
— , espera. — Ele disse, se aproximando dos dois. A princípio, pensou que ela o ignoraria, mas ela parou e se virou na direção dele.
Johnny parou ao lado dela, com a expressão de quem estava se divertindo ao ver a raiva de Rudolph ser direcionada à outra pessoa.
— Eu sinto muito pelo que Victor disse. — Ele se aproximou mais um passo e ela cruzou os braços, um sinal de que ele não deveria se aproximar mais.
— Você sempre sente muito pelo que Victor diz e faz, mas nunca pelos seus erros. — Ela se virou para continuar pelo corredor. — Estou cansada das suas desculpas.
Tom respirou frustrado. Depois da separação, ele nunca conseguia ter um diálogo decente com ela.
— Nada nunca é bom o bastante pra você, ! — Ele disparou, alto o bastante para ela e Johnny ouvirem.
suspirou como se estivesse perdendo tempo com tudo aquilo e se virou uma última vez:
— Você era, Tom. — Ela disse sem o sarcasmo, sem a irritação. Era sincero. — O problema era que você não se achava bom o bastante para o seu irmão.
Tom pareceu que ia continuar a discussão e aquilo estava começando irritar até Johnny.
— Olha, cara, estamos prestes a ir para o espaço! — Ele disse com o seu melhor olhar. — Então não corta o nosso barato.
E ele se virou, acompanhando até a plataforma de lançamento, e pelo canto do olho viu que ela segurava um sorriso.
Em meia hora eles já estavam dentro da nave. Johnny e Ben ocupavam os assentos na frente como pilotos, realizando o check up dos painéis de controle. Atrás de si, estava Reed, à sua direita estava e por último estavam Sue e Victor.
— Todos os comandos estão operando. — Johnny disse, pressionando o comunicador em seu ouvido. — Prontos para iniciar.
O foguete na base da nave pareceu despertar e inundar o corpo de Johnny. Ao seu lado, Ben estava atento aos comandos. Todos seguraram em seus cintos ou nos suportes de seus assentos. A ansiedade do momento fazia todo o seu corpo arrepiar.
— Vamos nessa, galera! — Johnny gritou.
Ele respirou fundo. Reed fechou os olhos.
contava junto com a operação.
Sue e Victor pareciam que estavam prestes a embarcar em uma montanha russa.
Ben segurou o próprio cinto de segurança.
Tudo tremeu como se um enorme vulcão em erupção estivesse acordando abaixo deles. Johnny quase sentiu os dentes baterem um nos outros.
O barulho era enorme, parecia que estavam sendo sugados para trás enquanto iam em direção ao céu. Johnny não pode evitar gritar de contentamento. Eles subiam cada vez mais alto, mais rápido e livres. Johnny vivia buscando adrenalina, mas nunca tinha encontrado nada daquele nível antes.
Passaram a atmosfera, finalmente alcançaram o espaço. A parte de frente e a traseira se desconectaram da nave e caíram em direção à Terra, liberando eles para orbitar pelo planeta. Aquele momento foi um dos mais impactantes da sua vida. Em um segundo eles estavam voando e no outro a microgravidade os atingira.
Johnny e os outros levitaram nos assentos, estavam presos pelos cintos, mas era possível ver que ao redor tudo mudara. Era como ser livre pela primeira vez, como pular de paraquedas e descer uma montanha russa sem fim. O frio na barriga, a pele arrepiada e a sensação física de completa liberdade.
O Espaço os abraçou, já apresentando sua vasta imensidão. A Terra agora ficava distante e parecia até insignificante vista daquela perspectiva. Pela primeira vez, Johnny se sentiu inebriado com a própria existência. Ele olhou para Ben, que arregalava os olhos ao seu lado.
Reed observava toda a visão à sua frente como se avaliasse uma obra de arte, com um meio sorriso convencido, como se ele já pressentisse que aquele momento chegaria. Victor tinha a feição de quem havia acabado de gastar bilhões e estava satisfeito.
Sue parecia hipnotizada. E então Johnny viu .
deu o primeiro sorriso verdadeiro que ele havia visto desde que a conhecera. Ela sorria como se tivesse acabado de voltar para casa.
Capítulo 4
AQUI VAI UMA CURIOSIDADE: depois de três dias se alimentando de coisas pastosas, reciclando urina para beber como água e tendo o relógio biológico bagunçado depois de ver o sol quinze vezes, ser astronauta parecia bem menos glamoroso.
O que Johnny fazia era checar a estabilidade e os recursos da estação espacial, ouvir Rudolph e Reed debaterem sobre termos que só os dois entendiam, aturar a cara feia e rica de Victor e, por fim, irritar um pouco Ben.
Mas o começo havia sido sensacional. Ele pilotava a pequena nave deles até a estação espacial melhor do que já pilotou qualquer carro ou moto na vida. Ele acrescentaria os jatos de vôo nessa lista, mas teve um acidente com a aeronáutica uma vez... Não vem ao caso.
O momento mais emocionante foi quando chegaram na estação e sua pequena comitiva foi acoplada à Estação Von Doom. Era como fazer uma baliza no espaço, estacionar e acertar cada milímetro para que pudessem passar da nave para a estação. Até havia sorrido para Johny.
havia sorrido para ele. Praticamente um milagre.
Mas ele sabia que não ia demorar muito até ele impressioná-la de alguma forma. Afinal, ele era Johnny Storm.
Uma coisa que ele achou incrível era o recurso de gravidade da estação. Era um mecanismo inovador, já que as estações espaciais não contavam com um sistema de ajustar a microgravidade para uma gravidade próxima do planeta Terra. Por isso, os astronautas ficavam no ar dando piruetas no espaço.
Mas não na Estação Von Doom, lá eles caminhavam como caminhavam na Terra. Johnny queria um pouco mais de emoção e até planejou girar Ben no ar até que ele vomitasse, mas, pensando bem, era melhor assim.
No terceiro dia, eles estavam no compartimento principal da estação, Johnny encarava o próprio prato, que continha uma pasta verde que supostamente deveria ser espinafre.
— Depois de um tempo você começa a achar gostoso, Storm. — disse depois de ter comido a pasta de batata dela.
Johnny revirou os olhos:
— Ah, mas é claro que você adora a ração de astronauta. Esse cardápio da NASA é uma bela porcaria. — Ele disse e depois engoliu o alimento segurando a cara feia, não queria dar aquele luxo à Rudolph.
Ninguém havia levantado ainda, Johnny e sempre dormiam um pouco depois ou acordavam antes dos outros. Eles checavam os relatórios de pesquisa para serem enviados à base. Depois da primeira refeição do dia, Victor os encontrou no compartimento central.
Ele olhou para Johnny como se não contasse com o fato de que ele estivesse ali também e então se virou para dizendo:
— Dra. Rudolph, como você deve saber há um compartimento fechado abaixo deste andar. Gostaria que fosse dar uma olhada na estrutura do local. — Ele disse enquanto o observava atentamente. — Se for do seu agrado, peço que notifique seu advogado sobre a parte cumprida do acordo.
Ela apenas acenou positivamente a cabeça e Victor se retirou.
— O que ele quis dizer com isso? — Johnny perguntou, engoliu em seco na tentativa de se livrar do gosto de espinafre preso na garganta.
— Vou descobrir agora. Vou verificar o compartimento. — Ela disse, se levantando.
— Eu vou com você. Ele pode estar tramando alguma coisa. — Ele resmungou, seguindo Rudolph pelas estreitas passagens para fora do compartimento central. — Ele pode ter colocado o Alien naquele compartimento.
— Esse filme é terrível. — Ela disse, indo na frente.
Eles seguiram para o corredor de intersecção de compartimentos da estação. No corredor, ao chão, havia uma escotilha com uma placa de metal.
Ele e Rudolph se aproximaram para ler o que estava escrito e abaixaram a cabeça.
Johnny leu em voz alta e acrescentou:
— Caramba, Rudolph. Vamos entrar, eu quero ver. — Ele disse, colocando a mão na porta da escotilha enquanto se agachava, mas lhe deu um leve tapa no braço o fazendo se afastar.
Ela se agachou ao seu lado e abriu a porta da escotilha.
— Tudo bem, pode ir primeiro! — Ele resmungou em tom sarcástico enquanto ela descia pela escada do tubo ao qual a escotilha dava acesso. Ele a seguiu pela escada e fechou a portinhola de aço. Desceu os poucos degraus e chegou ao chão do compartimento ao lado dela.
Era uma sala oval toda de aço e vazia. No centro havia uma pequena mesa de vidro com outra placa de aço dizendo “Olho de Zeus” e havia um botão metalizado logo abaixo.
Johnny estava doido para apertar o botão, mas esperou que o fizesse. Era a primeira vez que ele via os olhos dela tão cheios de expectativa.
E então ela apertou o botão e toda a estrutura de metal se abriu, revelando paredes de vidro. Era como se a estrutura de metal fosse só uma embalagem, que se abriu mostrando pela camada de vidro todo o espaço ao redor deles.
As paredes, o chão e até uma parte do teto os inundou com a via láctea, milhares de estrelas se estendiam sob seus pés. À direita deles estava a Terra flutuando. Era como se eles estivessem voando sobre toda a imensidão.
Era lindo e assustador.
Johnny podia ver o quanto ele era pequeno diante de tudo aquilo. Ele se aproximou de e os dois, deslumbrados, observaram a grandeza daquilo. Ela parecia não conseguir respirar e quando Johnny a olhou, viu as estrelas refletidas em seus olhos.
— Victor te deu esse compartimento? — Ele perguntou e percebeu que estava sussurrando, como se qualquer som alto ou movimento brusco pudesse lhe fazer acordar. Aquilo era bonito demais para ser real.
— Eu projetei esse compartimento. Projetei toda essa estrutura e o controle de microgravidade. — Ela sussurrou de volta olhando para a Terra. — Tom roubou o meu projeto e o deu para Victor.
— Tom fez isso?! — Johnny arquejou surpreso ao perceber que era bom ter um motivo pra socar aquele cara, não gostou dele desde o primeiro instante.
— Então nós terminamos, cancelamos o casamento e eu processei ele. — Ela disse e suspirou profundamente, como se estivesse cansada daquilo e agora pudesse renovar as energias ali. — Tom foi obrigado a ressarcir um bilhão de dólares para mim e dar os créditos na estação.
— Que babaca. — Johnny murmurou com um suspiro. — Você parece feliz agora.
— Ficou lindo, não ficou? — Ela perguntou, abrindo um sorriso.
E, ali, observando a galáxia como deuses com as constelações sob seus pés, Johnny pensou: Merda, ela é linda. Então ele se aproximou mais dela, o rosto se inclinando para vendo o reflexo do planeta em seus olhos.
E ela olhou de volta para ele.
— Eu nunca senti isso antes, só sinto quando estou aqui. — Ela sussurrou e parecia como se eles estivessem trocando segredos em meio às estrelas. — É aqui no espaço, a milhões de quilômetros da Terra, que eu me sinto em casa.
Johnny sentiu algo dentro de si, como se aquele não fosse qualquer momento. Como se pressentisse que ia sonhar com aquela imagem por anos. sobre o universo e ao alcance de seus lábios. Mas ela bem que poderia estar em seus braços. E Johnny, como não se apaixonava, achou que era desejo. E Johnny, como não passava vontade, deslizou uma das mãos pela cintura dela e a apertou gentilmente contra o seu abraço.
— Então, quer dar uns amassos no espaço? — Ele perguntou, encarou os olhos dele enquanto a mão direita dela o abraçava de volta.
O coração de Johnny acelerou como nunca antes, mais um aviso de que não era qualquer momento. Ele inclinou o rosto para ela, os lábios se aproximavam. Até que o conector ao seu ouvido chiou.
“Storm, Rudolph. Retornem ao compartimento central. As ondas de radiação cósmica aumentaram consideravelmente, houve alterações. A tempestade está prevista para daqui duas horas”. Era a voz de Tom. Johnny não teria deixado isso o parar, mas abriu os olhos e se afastou se virando para a escada.
Ele segurou em sua mão e a puxou para perto de novo.
— Se deixar o momento passar, vai se arrepender depois. — Ele direcionou o seu melhor olhar Johnny Storm, mas não funcionou. O momento já havia passado.
Rudolph soltou sua mão e ajeitou o rabo de cavalo.
— Não seja tão convencido, Storm. — Ela disse, subindo a escada e abrindo a escotilha para saltar para fora. — Isso não foi nada.
Ele suspirou, lamentando que não tivesse sido daquela vez. Seria uma boa recordação. Já havia beijado várias garotas, mas nunca uma no espaço.
Ele apertou o botão abaixo da placa de metal e toda a estrutura voltou a cobrir o vidro. Quando ele se virou para subir a escada, reparou na pequena câmera no canto superior do compartimento e então lembrou que eles estavam sendo monitorados pela base o tempo todo. O que o levou a perceber que Tom Von Doom estava observando e podia tê-los interrompido de propósito.
Agora Johnny tinha dois motivos para socar o cara.
Ele murmurou enquanto saía do compartimento:
— Filho da…
Capítulo 5
QUANDO ELE CHEGOU no compartimento central, Reed, Sue e Victor já estavam checando os dados de pesquisa. Sue separava as amostras de plantas a serem colocadas do lado de fora da estação para entrar em contato com a nuvem da tempestade.
— Tivemos algumas alterações, mas nada que não tenha sido previsto. — Reed explicava à base pelo conector. — É uma singularidade, é comum que não tenhamos os dados exatos. É para isso que estamos aqui, para observar….
Johnny passou por eles e seguiu até a câmara onde Ben se preparava para sair da nave. Ele estava com um macacão especial leve e colado ao corpo enquanto checava o traje espacial que ele iria vestir.
Johnny se aproximou dela e começou ajudá-la a abrir todos os fechos. O traje era pesado e levava vários minutos até ser colocado no astronauta.
— Quero ver quando Reed vai perceber que não tem a menor chance com a minha irmã. — Ele comentou com Ben e quis ver se respondia também, nem parecia que um instante atrás eles estavam falando de beijo sob as estrelas.
— Entre ele e Victor, ela deveria escolher Reed. — Ben disse enquanto Johnny e subiam a parte de baixo do traje pelas suas pernas.
Rudolph checava os fechos dos tornozelos e das panturrilhas, enquanto ele checava o da cintura.
— Victor é rico, famoso, tem o carro do ano e está caidinho por ela. — Johnny enumerou os fatos. — Reed é um cientista falido.
e ele pegaram a parte superior do traje e o colocaram sobre o tronco de Ben, fechando todos os lacres e botões elaborados. Ela parecia muito concentrada, como se Johnny nem mesmo estivesse ali.
— Aquele cara não presta. — Ben argumentou, franzindo a testa quando sentiu o peso do traje sobre si. — E, Johnny, talvez não sejam só os sentimentos do Reed. Talvez ela queira algo também.
— Posso garantir que todo luxo dos Von Doom não passa de lixo. — falou, se afastando alguns passos para observar melhor o traje de Ben. E então olhou para Johnny. — Sua irmã só faria bem a si mesma se deixasse aquele idiota.
— Como foi com o Tom? — Johnny chegou no ponto em que queria. Ben olhou para ele como se estivesse o alertando para não perguntar demais, porém sorriu. — Começamos bem. Temos a mesma idade, a mesma paixão por descobertas. Ele parecia só um garoto rico e mimado, ficava com todas as garotas. — Ela disse e se aproximou de Ben para ajustar a parte do colarinho onde encaixavam o capacete. — Então me fez acreditar que tínhamos algo de especial. Namoramos e noivamos. Ele precisava apresentar um novo projeto para o irmão e ajudar na empresa, já que as ações estavam caindo. — Ela pegou o capacete transparente da bancada ao lado e se virou para Johnny. — Achou que poderia pegar o meu projeto e vendê-lo sem me consultar. Quando eu descobri, achou que “estava tudo bem, porque eu faria aquele sacrifício pelo meu noivo”.
— Babaca. — Disse Ben, recebendo o capacete de .
— Tirou um bilhão dele e o acertou nas bolas, eu espero. — Johnny deu um sorriso brincalhão e até Ben se surpreendeu quando retribuiu.
— Infelizmente, eu não havia pensado na segunda parte. — Eles seguraram Ben pelos braços e o ajudaram a se posicionar em frente à abertura da nave. — Quem sabe na próxima.
Johnny riu ao pensar em Tom os interrompendo pelo comunicador:
— Talvez na próxima seja eu quem vai chutá-lo.
Sue se aproximou, segurando as amostras em frascos que colocaram em uma mala aberta e adaptada para ser encaixada no traje de Ben. Ela a entregou para , que, com cuidado, prendeu a maleta transparente na parte frontal do traje de Ben e verificou se as amarras estavam firmes.
Sue observou a colega, notando a atenção e o cuidado com que ela executava a ação, repassando os passos para ter certeza de que não ocorreriam falhas.
Johnny sabia que os filmes nunca mostravam como era realmente a manutenção e a preparação para vestir um traje espacial. Na realidade, levava até quarenta e cinco minutos para o astronauta estar completamente pronto e vestido. Cada detalhe precisava de cuidado, qualquer falha no espaço era mortal.
E Rudolph, experiente como era, sabia muito bem que se houvesse qualquer erro na colocação, por menor que fosse, Ben iria para o espaço. Literalmente.
Johnny quase riu com seu próprio pensamento.
— Para de graça, Storm, e me ajuda com o SAFER. — Rudolph disse, o fazendo perceber que ele realmente havia deixado uma risada baixa escapar.
Ele e checaram o SAFER, que era o cabo e o controle ligados ao traje que permitiam que o astronauta não ficasse muito longe da nave e pudesse retornar em caso de algum incidente.
Por último, eles checaram os níveis de oxigênio, hidrogênio e água armazenados na mochila do traje. Tinha o bastante para manter Ben por sete horas fora da nave, mesmo que não fosse necessário todo esse tempo.
— Tudo certo, grandão. Agora é só não se perder lá fora. — Johnny disse, dando um tapinha no ombro de Ben, que nem sentiu o gesto, já que sua roupa tinha quatorze camadas super finas de fibras especiais.
Reed entrou na câmara para dar uma olhada.
— Tudo certo, Ben? — Ele perguntou pelo comunicador para testá-lo.
— Sim, estou pronto. Rudolph já checou todos os instrumentos.
Ele sorriu para , que seguiu para o lado de Reed. Ele, carinhosamente, lhe afagou as costas e Johnny percebeu que ele era a única pessoa que a tocava assim. Às vezes, Ben bagunçava o cabelo dela de um jeito carinhoso também, mas só de vez em quando. Johnny não soube o porquê reparara logo naquilo.
Johnny e os outros saíram da câmara e passaram para o compartimento central, onde tinha uma enorme tela de vidro pela qual era possível ver Ben. Ele fechou o capacete e, com o comando em sua mão direita, ajustou o visor. Sue e Reed seguiram para o computador central onde Victor estava guiando a comunicação com a base.
e Johnny ficaram na intersecção da câmara com o compartimento, onde havia o controle de fechamento das comportas, eram duas: uma que separava a câmara do compartimento central e outra que separava a câmara do espaço sideral.
— Vamos começar a contagem. — Reed anunciou e Johnny pôde ouvi-lo também pelo comunicador em seu ouvido.
— Vai ser rápido, duas horinhas... — Bem respondeu brincando. Pelo comunicador, Rudolph reconheceu os sinais de excitação de quem estava prestes a flutuar no vácuo da existência. Era aterrorizador e magnífico. Ela queria que tivesse sido ela.
— Não se engane, Ben. — Ela disse, o observando com Johnny ao lado dela. — A gente sente o tempo diferente no espaço. Se atente à sua lista de tarefas no braço esquerdo.
— Começando a contagem. — Reed anunciou. — 5, 4, 3…
Johnny apertou o botão de controle e a comporta entre a câmara e o compartimento central foi fechada.
— 2, 1... — Continuou Reed. Johnny acionou o outro botão e a comporta de aço entre a câmara e o Espaço foi aberta.
Ben tomou impulso e flutuou para fora da nave.
— Astronauta Benjamin Grimm está fora da nave. — Confirmou Reed para a base.
De onde Johnny e estavam era possível ver Ben e seu traje branco caindo na imensidão enquanto o cabo SAFER se esticava aos poucos.
Johnny olhou para ela até ela perceber que estava sendo observada.
— O que foi, Storm? — Rudolph se virou para ele, vendo os olhos azuis sugestivos dele e aquele meio sorriso debochado.
— A oferta dos amassos ainda está de pé. — Ele disse e mordeu os lábios.
— Não, obrigada. — Ela disse, se virando novamente para observar Ben que era um ponto branco distribuindo amostras genéticas pela estrutura exterior da nave.
— Tudo bem, estou à disposição quando precisar. — Ele piscou para ela. Era um idiota e ele bem sabia disso, mas pelo menos era um idiota bonito.
— Vou precisar que você execute bem a sua função. Não quero ter que pedir ao meu ex-namorado para nos resgatar caso você exploda essa nave. — Ela murmurou.
— Mas eu bem poderia explodir todo o resto e deixar só nós dois sob as estrelas. Prejuízo de bilhões para os Von Doom e um pouco de romance no espaço para você. — Ele sugeriu com aquele olhar brincalhão que podia muito bem ser sério.
— Cala a boca, Storm! – Rudolph acertou um soco no ombro dele, era a primeira vez que ela o batia diretamente sem disfarçar sua impaciência com ele. O que significava que ela estava muito irritada.
— Humm, então é disso que você gosta... — Ele murmurou, voltando seus olhos para a silhueta distante de Ben. — Romance no espaço.
Rudolph revirou os olhos e o ignorou pelos trinta minutos seguintes. Reed fazia o monitoramento de dados, Sue preparava as próximas amostras e Victor mantinha o contato com a base descrevendo o andamento em tempo real.
e Johnny observavam Ben e dialogavam com ele para manter os níveis de ansiedade e de estresse baixos. era quem monitorava os dados do metabolismo dele, como respiração e batimentos cardíacos, enquanto Johnny checava os dados do traje, como exposição à radiação, temperatura, oxigênio e etc.
Rudolph e Johnny alinhavam os seus dados para garantir a segurança de Ben. Por um momento, até ficaram lado a lado com os braços se tocando. Ela notara que o nível de ansiedade aumentara um pouco e Johnny precisou fazer alguma piada ridícula para Ben rir.
Até que um som alto soou pela mesa de controle de Reed. Os radares e medidores de radiação apitaram, Johnny sentiu Rudolph ficar tensa ao seu lado.
— O que é isso, Reed? — Ela olhou para trás na direção da mesa de controle onde Reed encarava as telas com uma expressão alarmada.
— Tem algo errado, a tempestade de radiação cósmica se aproxima. — Ele disse, checando os dados na tela novamente.
— Mas os cálculos indicavam que isso ocorreria só daqui a nove horas. — Victor murmurou e, em seguida, tocou o comunicador em seus ouvido. — Aqui é da estação Von Doom, permissão para emitir chamado de auxílio às outras estações espaciais, tempestade de radiação se aproximando em...
— Quanto tempo, Reed? — Sue perguntou, o seguindo para olhar os telões.
— Cinco minutos! — Gritou Reed.
e Johnny olharam para o ponto distante que era Ben. Mais distante ainda no vácuo escuro do espaço, algo começava a tomar a forma de uma névoa cheia de energia. Era como se uma nuvem de fragmentos do universo começasse a se formar anunciando uma tempestade.
— A singularidade se desloca vários metros por segundo, ele não vai conseguir. — sussurrou e ativou o comunicador em seu ouvido, levantando o indicador para que os outros fizessem silêncio.
Ela estava no comando agora. B
— Ainda não terminei de colocar todas as amostras. — Ben disse pelo comunicador.
— Precisamos que retorne agora. Isso é uma ordem. — Ela disse com a seriedade um pouco mais autoritária. — Preciso que chegue aqui em cinco minutos contando a partir de agora.
Ben se movimentou ao longe, já virando seu corpo em direção à nave. Atrás dele, ao longe, a tempestade crescia tomando cores aterrorizantes, como se um pequeno sol tivesse se misturado a um pequeno planeta e dançasse em forma de uma nuvem linda e mortal.
— Você está indo muito bem. — Ela continuou a dizer pelo comunicador e sinalizou para que Johnny abrisse a comporta de metal para a câmara. — Mas eu preciso que use o SAFER para ter mais impulso.
Ben estava mais próximo da nave, apenas alguns metros. Mas a nuvem atrás dele era claramente mais rápida.
Johnny viu uma gota de suor escorrer pela têmpora de , mas ela não demonstrava nervosismo em sua voz. Era porque precisava passar segurança a Ben e não aterrorizá-lo sobre a possível morte nos próximos três minutos.
Ela olhou para o traje espacial na câmara e Johnny soube o que ela estava pensando.
— , não dá tempo de você ir lá fora. — Johnny disse e surpreendeu a si mesmo com o tom firme e confiante. — Precisamos de você aqui para guiar Ben.
Johnny ativou o botão para abrir a comporta de metal. A entrada estava livre, aguardando Ben. Todos encaravam pelo vidro enquanto ele ativava o jato de nitrogênio do traje e avançava mais rápido.
— Aqui é a estação Von Doom para a base de operações. Risco de contato com radiação cósmica... Repito. — Victor continuava no controle central. Se virou para outros furioso e gritou: — Deixem-o lá! Fechem as portas e ativem o escudo da nave.
— Isso mesmo, continue Ben! — incentivou e Johnny deixou a mão sobre o comando pronto para fechar a porta.
Só mais alguns centímetros e ele conseguiria entrar. Mas no mesmo instante em que Ben alcançou a nave, a tempestade também alcançou.
Ben entrou e no mesmo instante Johnny acionou o fechamento das portas. Mas um microssegundo e a falta dos escudos de proteção não impediu a nuvem de radiação cósmica os atingisse.
Ben foi arremessado contra o vidro e mesmo estando fora da câmara, Johnny e os outros foram atingidos. A nuvem de radiação cósmica invadiu a nave como uma grande massa de energia, sacudiu as estruturas de metal, sacudiu as células de seu corpo. Ele sentiu como se tudo fosse uma enorme fogueira.
, que estava ao seu lado, foi arremessada para trás, Reed caiu ao chão e Sue, de alguma maneira, se manteve em pé, mas seu corpo estranhamente parecia estar desaparecendo.
A sensação de ser queimado vivo consumiu Johnny até que ele perdesse o controle e a consciência.
Capítulo 6
>JOHNNY ACORDOU SENTINDO A CABEÇA LEVE DEMAIS. Já fazia uma semana que ele acordava sem ressaca, algo inédito de acontecer quando ele estava em terra firme. Nada de noitadas, bebedeira e principalmente nada de garotas, porque ele estava em quarentena.
Ele achava que devia ser considerado um crime federal impedir o mundo de sua ilustre presença. Mas depois do fiasco que havia sido a missão espacial, ele fora obrigado a ficar em constante monitoramento até que a equipe médica tivesse a certeza de que estava tudo bem.
Então, ele e os outros ficavam em uma base que mais parecia um resort. Claro que Victor estava bancando tudo aquilo. Cada um tinha seu próprio quarto, havia uma sala de jogos e uma vista maravilhosa para as montanhas cobertas de neve. Johnny estava louco para dar uma escapada e ir esquiar.
Sua rotina consistia em tomar café da manhã (bem melhor que a comida da nave, pelo menos), passear pelo resort, pensar em formas de escapar daquela prisão e ainda adormecer jogando o videogame que havia em seu quarto particular.
Como os exames e a observação eram individuais, ele só ouviu os médicos assegurando que todos estavam bem e que logo poderiam se ver. Foi depois de uma semana que ele encontrou Reed no almoço e ficou até aliviado por finalmente ver algum conhecido.
Ele passou pelas mesas até chegar na de Reed, que ergueu o olhar para ele, claramente aliviado também.
– Cara, eu achei que iriam me fazer de cobaia. Estava começando a ficar preocupado. – Johnny disse, puxando uma cadeira para ele se sentar ao lado de Reed, e pegou uma batata frita do prato dele.
– Eles precisavam ter certeza de que seria seguro. – Reed disse e Johnny fez um gesto para ele parar, havia escutado aquela porcaria todo dia. – Como está se sentindo?!
– Péssimo, sem liberdade. Quero ir esquiar.
– Não, Johnny! Depois do acidente…
– Ah, nunca estive melhor! – Ele disse, piscando um dos olhos para Reed. – Mas esse lugar é terrivelmente quente, estou morrendo de calor. Um passeio nessas montanhas iria me refrescar! Quer ir comigo?!
Reed suspirou naquela pose de adulto responsável.
– Não podemos sair, Johnny!
– Acha que sairia para esquiar?!
– ?! Claro que não…
– Claro que não. Ela é um pé no saco igual a você. – Johnny quase ficou constrangido consigo mesmo por ter pensado nela como primeira opção para uma companhia, mas a expressão de Reed o deixou curioso.
– Ela não iria, porque não acordou ainda. – Reed completou.
– Faz uma semana desde que voltamos e ela ainda não acordou?! – Johnny murmurou, um dos raros momentos em que deixou o tom brincalhão.
– Todos acordamos. Sue demorou um pouco mais. Mas estamos bem, nada fora do esperado… Mas, … Johnny, eu acho que tem alguma coisa. – Ele murmurou, estalando os dedos. Era possível ver a culpa corroendo o cientista. – E se ela não se recuperar?! E se permanecer sequelas?! A NASA não aceitaria ela assim e esse trabalho é tudo para ela.
– Reed…
– Eu pedi acesso aos registros médicos, mas Victor está furioso e não permitiu que eu soubesse…
– Meu Deus, Reed! Não foi culpa sua. – Johnny passou a mão pelo cabelo curto, nunca foi bom em consolar outras pessoas. – sabia muito bem dos riscos e, pelo que eu saiba, ela é a mais experiente de nós. Ela é tão forte como é chata, então ela vai aguentar. Vai acordar e fazer o que faz de melhor: encher o meu saco.
Reed o olhou meio boquiaberto e Johnny se levantou, roubando a última batata.
– Agora, se me dá licença, eu vou planejar minha fuga para fora deste lugar.
E ele saiu antes que pudesse vacilar e demonstrar sua preocupação.
**
A manhã e boa parte da tarde já haviam passado e Johnny deixou o plano de escapar de lado e focou em outra coisa que ajudaria a acalmar a sua mente. Primeiro, precisou convencer uma enfermeira bonita a lhe deixar espiar os registros de Rudolph.
“– Somos melhores amigos de infância e eu estou muito preocupado. Ela tem meio que uma quedinha por mim e eu vivo dizendo que nada vai rolar, mas ela é minha amiga e quero saber se ela está bem.” – Johnny havia dito naquele tom de voz que dizia algo doce, mas com olhos intensos demais, e ele sabia que iria dar certo.
A enfermeira havia deixado ele olhar a pasta por alguns segundos. Johnny achava engraçado como as pessoas não esperavam que ele também fosse um gênio. Suspeitava de que seus olhos eram tão lindos que faziam as pessoas esquecerem que ele era um garoto prodígio. Tinha sido expulso do programa da NASA? Sim, maaas… Havia sido aceito e havia sido convocado para ser o piloto do projeto de Reed.
Johnny tinha suas habilidades e uma delas era a memória fotográfica. Graças a isso, ele tinha as melhores notas sem precisar estudar e assim usava o resto do seu tempo para curtir. Coisa que deixava sua irmã, Susan, abismada, já que ela sempre fora a gêmea nerd.
Ao olhar os registros de Rudolph, Johnny captou algumas informações breves como tipo sanguíneo, nenhuma doença crônica, alergia a castanhas e p fato de seu estado de inconsciência não ter apresentado melhoras.
– Ouvi o médico dizer que vão liberar as visitas esta noite para a Dra. Rudolph. – Disse a enfermeira, se aproximando demais de Johnny. A informação o deixou tão atônito que ele nem mesmo se importou em continuar o flerte.
Johnny passou os olhos brevemente pelo histórico familiar para ter uma pista de quem iria visitá-la. O campo de “nomes dos pais” estava vazio, as únicas informações eram “ascendência coreana e alemã comprovada por exames de DNA, pais desconhecidos”. Mais abaixo, havia o contato de pessoas mais próximas para casos de emergências: uma delas era Reed, a outra era o ex nojento do Tom Van Doom e, por último, estava o contato de Chloe.
Jhonny não entendeu porque somente essas pessoas estavam listadas. Rudolph podia ser irritante, mas mesmo assim ele esperava que ela tivesse outros amigos e quem sabe uma família. Ele se sentiu incomodado com a sensação de preocupação crescendo em seu peito, afinal Johnny Storm só se preocupava em curtir. E aquela situação estava longe de ser uma curtição.
– Obrigado, boneca. – Ele disse, devolvendo a ficha para enfermeira, e novamente se afastou para buscar algo que pudesse ajudar sua mente no momento.
E por que diabos estava tão calor?!
Ele murmurava para si enquanto andava pelo corredor da enfermaria. Aquele local deveria estar com o ar condicionado ligado para que evitasse a proliferação de bactérias (sim, ele entendia dessas coisas também, e estava orgulhoso disso).
Entrou no quarto de Reed e o encontrou debruçado sobre uma pilha de anotações.
– Quais as flores preferidas da Rudolph? – Ele perguntou, sabendo que Reed daria a resposta sem olhar para ele, sempre ficava distraído com o trabalho.
– Não sei, mas eu e Ben demos a ela violetas quando ela foi aprovada no programa da NASA. – Ele murmurou, revirando a pilha e, antes que ele pudesse perguntar o motivo, Johnny se apressou em sair do quarto.
Violetas, fazia sentido, pensou Jhonny. não ia gostar de algo extravagante.
Ele não podia sair daquela prisão disfarçada de prédio/resort, mas ainda conseguia fazer encomendas.
O pequeno vaso de Violetas chegou logo no horário das visitas noturnas. A enfermeira que havia dado a ficha para Johnny mais cedo bateu na porta do seu quarto e entregou o vaso com violetas. Ele tinha um laço prateado e um cartão para Johnny assinar. As violetas eram roxas e o faziam lembrar de toda a imensidão do universo e suas nuvens nebulosas.
Ele escreveu no cartão uma coisa que Rudolph entenderia e, orgulhoso de sua audácia, saiu em direção ao quarto dela. Era no mesmo andar, porém a ala era grande e ele precisou atravessar o corredor.
Quando chegou no quarto, encontrou uma equipe de três enfermeiras. Uma estava ajeitando a cortina, outra estava arrumando os cobertores de e a última estava organizando sobre a mesa do quarto três vasos de flores. Ao redor do quarto, havia vários vasos de flores. Orquídeas, rosas de todas as cores, lírios, margaridas… Todas espalhadas pelo local.
Johnny se aproximou da cama de e olhou para ela. Fazia mais de uma semana desde que a vira pela última vez. Ela estava pálida, a respiração era tão fraca que seu peito mal parecia estar se movendo. Ele colocou as violetas sobre a mesinha ao lado da cama e sentou na cadeira mais próxima de .
– Quem trouxe todas essas flores? – Ele perguntou para a enfermeira, que colocava mais um cobertor sobre Rudolph.
– Tom Von Doom enviou todas elas. – Respondeu a enfermeira. Ela tocou o braço de para ajeitar o corpo dela sobre a cama e paralisou assim que encostou na pele dela.
A enfermeira tremeu e subitamente desmaiou, Johnny se levantou para ajudar, mas as outras duas já haviam se aproximado e a seguraram.
– Está tudo bem? – Johnny perguntou, surpreso.
– Sim, vamos levá-la para fora. A pressão deve ter caído. – Disse uma delas enquanto dava apoio para a outra caminhar para fora da sala. A enfermeira que estava sendo guiada parecia atordoada, prestes a desmaiar de novo.
Como as enfermeiras pareciam ter resolvido a situação, Johnny se permitiu voltar a sentar na cadeira e cruzou os braços sobre o peito encarando todas aquelas flores.
– Espero que você coloque fogo nelas. – Ele murmurou, lembrando da cara de Tom.
Seus olhos azuis se voltaram para . Agora que não havia mais ninguém no quarto, ele não precisava esconder a ruga de preocupação que se formava em sua testa toda vez que pensava nela.
Johnny observou seu rosto, parecia mais suave e corado do que alguns minutos atrás quando tinha entrado no quarto. A cor estava voltando aos seus lábios e até a respiração estava se tornando mais firme e ritmada.
Johnny encarou e se inclinou na direção dela. A pele estava deixando o tom pálido, ela mexeu os dedos da mão sobre o cobertor. Ele se levantou subitamente animado, nervoso e desacreditado.
Por um instante não soube o que fazer, deveria sacudi–la?! Deveria dar um tapa pra ver se ela responderia?! Ela acordaria furiosa, seria engraçado. Mas o correto – e menos divertido – seria chamar o médico. Então, ele se virou na direção da porta e antes que conseguisse alcançar a maçaneta, a voz de soou pelo quarto:
– Para que todas essas flores? – Ela estava rouca e cansada. – Parece um funeral.
Ele se virou novamente para ela, que agora estava com os olhos piscando. A cientista passou a mão pelo cabelo escuro e liso.
– Estou muito cansada. Devo estar horrível. – Ela murmurou com a voz quase sumindo.
– Está mesmo. – Johnny mentiu. Ele de fato gostava de como o cabelo dela deslizava pelo seu rosto e destacava seus olhos.
Ela o encarou com aquele ar severo.
– O que você está aprontando? Por que está no meu quarto, Storm?
– Eu estava entediado e faz uma semana que você está assim. – Ele voltou a se sentar na cadeira com o sorriso brincalhão no rosto, escondendo seu alívio.
– Uma semana?! – repetiu com um suspiro cansado. – Minha nossa, eu me sinto horrível.
Ela virou o rosto para ele e seus olhos viram o vaso de violetas na mesinha.
– Eu gostei dessas. – Ela disse e levantou a mão em direção ao vaso, mas o movimento era fraco e descoordenado. Johnny segurou o vaso, orgulhoso, e o colocou no colo dela.
pegou o cartão com dificuldade e leu a mensagem nele.
“Espero que você melhore para lembrar para sempre que deveríamos ter dado uns amassos no espaço”.
Rudolph bufou.
– Cai fora do meu quarto, Storm! – Ela murmurou.
Ele riu, satisfeito.
– Você vai me obrigar?! Não consegue nem falar, Rudolph.
– Você é insuportável. – Ela murmurou, irritada, mas as mãos continuavam a segurar o vaso mesmo assim. – É um calor terrível! Você é muito quente!
Johnny a olhou surpreso.
– Eu não esperava que você fosse admitir tão cedo que eu sou quente.
– Não, seu idiota! Você realmente está quente, como se fosse uma nuvem de calor ambulante. Eu consigo sentir.
Johnny revirou os olhos, lembrando que havia desistido de esquiar só para estar ali.
– É esse lugar horroroso, parece uma sauna. – Ele reclamou e observou esticar a mão até ele.
– Acho que você está mal, com febre ou algo assim…
A mão dela alcançou a dele e algo no interior de Johnny sacudiu. Como se o cronômetro de uma bomba tivesse chegado no zero e tudo fosse sair pelos ares.
Ele olhou nos olhos e foi ali que as chamas surgiram.
O quarto pegou fogo.
E não no sentido que Johnny usava para descrever suas noitadas. Era um incêndio real saindo de todo o corpo de Johnny, passando por como um imenso catalisador e atingindo as paredes do quarto.
Ele achava que devia ser considerado um crime federal impedir o mundo de sua ilustre presença. Mas depois do fiasco que havia sido a missão espacial, ele fora obrigado a ficar em constante monitoramento até que a equipe médica tivesse a certeza de que estava tudo bem.
Então, ele e os outros ficavam em uma base que mais parecia um resort. Claro que Victor estava bancando tudo aquilo. Cada um tinha seu próprio quarto, havia uma sala de jogos e uma vista maravilhosa para as montanhas cobertas de neve. Johnny estava louco para dar uma escapada e ir esquiar.
Sua rotina consistia em tomar café da manhã (bem melhor que a comida da nave, pelo menos), passear pelo resort, pensar em formas de escapar daquela prisão e ainda adormecer jogando o videogame que havia em seu quarto particular.
Como os exames e a observação eram individuais, ele só ouviu os médicos assegurando que todos estavam bem e que logo poderiam se ver. Foi depois de uma semana que ele encontrou Reed no almoço e ficou até aliviado por finalmente ver algum conhecido.
Ele passou pelas mesas até chegar na de Reed, que ergueu o olhar para ele, claramente aliviado também.
– Cara, eu achei que iriam me fazer de cobaia. Estava começando a ficar preocupado. – Johnny disse, puxando uma cadeira para ele se sentar ao lado de Reed, e pegou uma batata frita do prato dele.
– Eles precisavam ter certeza de que seria seguro. – Reed disse e Johnny fez um gesto para ele parar, havia escutado aquela porcaria todo dia. – Como está se sentindo?!
– Péssimo, sem liberdade. Quero ir esquiar.
– Não, Johnny! Depois do acidente…
– Ah, nunca estive melhor! – Ele disse, piscando um dos olhos para Reed. – Mas esse lugar é terrivelmente quente, estou morrendo de calor. Um passeio nessas montanhas iria me refrescar! Quer ir comigo?!
Reed suspirou naquela pose de adulto responsável.
– Não podemos sair, Johnny!
– Acha que sairia para esquiar?!
– ?! Claro que não…
– Claro que não. Ela é um pé no saco igual a você. – Johnny quase ficou constrangido consigo mesmo por ter pensado nela como primeira opção para uma companhia, mas a expressão de Reed o deixou curioso.
– Ela não iria, porque não acordou ainda. – Reed completou.
– Faz uma semana desde que voltamos e ela ainda não acordou?! – Johnny murmurou, um dos raros momentos em que deixou o tom brincalhão.
– Todos acordamos. Sue demorou um pouco mais. Mas estamos bem, nada fora do esperado… Mas, … Johnny, eu acho que tem alguma coisa. – Ele murmurou, estalando os dedos. Era possível ver a culpa corroendo o cientista. – E se ela não se recuperar?! E se permanecer sequelas?! A NASA não aceitaria ela assim e esse trabalho é tudo para ela.
– Reed…
– Eu pedi acesso aos registros médicos, mas Victor está furioso e não permitiu que eu soubesse…
– Meu Deus, Reed! Não foi culpa sua. – Johnny passou a mão pelo cabelo curto, nunca foi bom em consolar outras pessoas. – sabia muito bem dos riscos e, pelo que eu saiba, ela é a mais experiente de nós. Ela é tão forte como é chata, então ela vai aguentar. Vai acordar e fazer o que faz de melhor: encher o meu saco.
Reed o olhou meio boquiaberto e Johnny se levantou, roubando a última batata.
– Agora, se me dá licença, eu vou planejar minha fuga para fora deste lugar.
E ele saiu antes que pudesse vacilar e demonstrar sua preocupação.
A manhã e boa parte da tarde já haviam passado e Johnny deixou o plano de escapar de lado e focou em outra coisa que ajudaria a acalmar a sua mente. Primeiro, precisou convencer uma enfermeira bonita a lhe deixar espiar os registros de Rudolph.
“– Somos melhores amigos de infância e eu estou muito preocupado. Ela tem meio que uma quedinha por mim e eu vivo dizendo que nada vai rolar, mas ela é minha amiga e quero saber se ela está bem.” – Johnny havia dito naquele tom de voz que dizia algo doce, mas com olhos intensos demais, e ele sabia que iria dar certo.
A enfermeira havia deixado ele olhar a pasta por alguns segundos. Johnny achava engraçado como as pessoas não esperavam que ele também fosse um gênio. Suspeitava de que seus olhos eram tão lindos que faziam as pessoas esquecerem que ele era um garoto prodígio. Tinha sido expulso do programa da NASA? Sim, maaas… Havia sido aceito e havia sido convocado para ser o piloto do projeto de Reed.
Johnny tinha suas habilidades e uma delas era a memória fotográfica. Graças a isso, ele tinha as melhores notas sem precisar estudar e assim usava o resto do seu tempo para curtir. Coisa que deixava sua irmã, Susan, abismada, já que ela sempre fora a gêmea nerd.
Ao olhar os registros de Rudolph, Johnny captou algumas informações breves como tipo sanguíneo, nenhuma doença crônica, alergia a castanhas e p fato de seu estado de inconsciência não ter apresentado melhoras.
– Ouvi o médico dizer que vão liberar as visitas esta noite para a Dra. Rudolph. – Disse a enfermeira, se aproximando demais de Johnny. A informação o deixou tão atônito que ele nem mesmo se importou em continuar o flerte.
Johnny passou os olhos brevemente pelo histórico familiar para ter uma pista de quem iria visitá-la. O campo de “nomes dos pais” estava vazio, as únicas informações eram “ascendência coreana e alemã comprovada por exames de DNA, pais desconhecidos”. Mais abaixo, havia o contato de pessoas mais próximas para casos de emergências: uma delas era Reed, a outra era o ex nojento do Tom Van Doom e, por último, estava o contato de Chloe.
Jhonny não entendeu porque somente essas pessoas estavam listadas. Rudolph podia ser irritante, mas mesmo assim ele esperava que ela tivesse outros amigos e quem sabe uma família. Ele se sentiu incomodado com a sensação de preocupação crescendo em seu peito, afinal Johnny Storm só se preocupava em curtir. E aquela situação estava longe de ser uma curtição.
– Obrigado, boneca. – Ele disse, devolvendo a ficha para enfermeira, e novamente se afastou para buscar algo que pudesse ajudar sua mente no momento.
E por que diabos estava tão calor?!
Ele murmurava para si enquanto andava pelo corredor da enfermaria. Aquele local deveria estar com o ar condicionado ligado para que evitasse a proliferação de bactérias (sim, ele entendia dessas coisas também, e estava orgulhoso disso).
Entrou no quarto de Reed e o encontrou debruçado sobre uma pilha de anotações.
– Quais as flores preferidas da Rudolph? – Ele perguntou, sabendo que Reed daria a resposta sem olhar para ele, sempre ficava distraído com o trabalho.
– Não sei, mas eu e Ben demos a ela violetas quando ela foi aprovada no programa da NASA. – Ele murmurou, revirando a pilha e, antes que ele pudesse perguntar o motivo, Johnny se apressou em sair do quarto.
Violetas, fazia sentido, pensou Jhonny. não ia gostar de algo extravagante.
Ele não podia sair daquela prisão disfarçada de prédio/resort, mas ainda conseguia fazer encomendas.
O pequeno vaso de Violetas chegou logo no horário das visitas noturnas. A enfermeira que havia dado a ficha para Johnny mais cedo bateu na porta do seu quarto e entregou o vaso com violetas. Ele tinha um laço prateado e um cartão para Johnny assinar. As violetas eram roxas e o faziam lembrar de toda a imensidão do universo e suas nuvens nebulosas.
Ele escreveu no cartão uma coisa que Rudolph entenderia e, orgulhoso de sua audácia, saiu em direção ao quarto dela. Era no mesmo andar, porém a ala era grande e ele precisou atravessar o corredor.
Quando chegou no quarto, encontrou uma equipe de três enfermeiras. Uma estava ajeitando a cortina, outra estava arrumando os cobertores de e a última estava organizando sobre a mesa do quarto três vasos de flores. Ao redor do quarto, havia vários vasos de flores. Orquídeas, rosas de todas as cores, lírios, margaridas… Todas espalhadas pelo local.
Johnny se aproximou da cama de e olhou para ela. Fazia mais de uma semana desde que a vira pela última vez. Ela estava pálida, a respiração era tão fraca que seu peito mal parecia estar se movendo. Ele colocou as violetas sobre a mesinha ao lado da cama e sentou na cadeira mais próxima de .
– Quem trouxe todas essas flores? – Ele perguntou para a enfermeira, que colocava mais um cobertor sobre Rudolph.
– Tom Von Doom enviou todas elas. – Respondeu a enfermeira. Ela tocou o braço de para ajeitar o corpo dela sobre a cama e paralisou assim que encostou na pele dela.
A enfermeira tremeu e subitamente desmaiou, Johnny se levantou para ajudar, mas as outras duas já haviam se aproximado e a seguraram.
– Está tudo bem? – Johnny perguntou, surpreso.
– Sim, vamos levá-la para fora. A pressão deve ter caído. – Disse uma delas enquanto dava apoio para a outra caminhar para fora da sala. A enfermeira que estava sendo guiada parecia atordoada, prestes a desmaiar de novo.
Como as enfermeiras pareciam ter resolvido a situação, Johnny se permitiu voltar a sentar na cadeira e cruzou os braços sobre o peito encarando todas aquelas flores.
– Espero que você coloque fogo nelas. – Ele murmurou, lembrando da cara de Tom.
Seus olhos azuis se voltaram para . Agora que não havia mais ninguém no quarto, ele não precisava esconder a ruga de preocupação que se formava em sua testa toda vez que pensava nela.
Johnny observou seu rosto, parecia mais suave e corado do que alguns minutos atrás quando tinha entrado no quarto. A cor estava voltando aos seus lábios e até a respiração estava se tornando mais firme e ritmada.
Johnny encarou e se inclinou na direção dela. A pele estava deixando o tom pálido, ela mexeu os dedos da mão sobre o cobertor. Ele se levantou subitamente animado, nervoso e desacreditado.
Por um instante não soube o que fazer, deveria sacudi–la?! Deveria dar um tapa pra ver se ela responderia?! Ela acordaria furiosa, seria engraçado. Mas o correto – e menos divertido – seria chamar o médico. Então, ele se virou na direção da porta e antes que conseguisse alcançar a maçaneta, a voz de soou pelo quarto:
– Para que todas essas flores? – Ela estava rouca e cansada. – Parece um funeral.
Ele se virou novamente para ela, que agora estava com os olhos piscando. A cientista passou a mão pelo cabelo escuro e liso.
– Estou muito cansada. Devo estar horrível. – Ela murmurou com a voz quase sumindo.
– Está mesmo. – Johnny mentiu. Ele de fato gostava de como o cabelo dela deslizava pelo seu rosto e destacava seus olhos.
Ela o encarou com aquele ar severo.
– O que você está aprontando? Por que está no meu quarto, Storm?
– Eu estava entediado e faz uma semana que você está assim. – Ele voltou a se sentar na cadeira com o sorriso brincalhão no rosto, escondendo seu alívio.
– Uma semana?! – repetiu com um suspiro cansado. – Minha nossa, eu me sinto horrível.
Ela virou o rosto para ele e seus olhos viram o vaso de violetas na mesinha.
– Eu gostei dessas. – Ela disse e levantou a mão em direção ao vaso, mas o movimento era fraco e descoordenado. Johnny segurou o vaso, orgulhoso, e o colocou no colo dela.
pegou o cartão com dificuldade e leu a mensagem nele.
Rudolph bufou.
– Cai fora do meu quarto, Storm! – Ela murmurou.
Ele riu, satisfeito.
– Você vai me obrigar?! Não consegue nem falar, Rudolph.
– Você é insuportável. – Ela murmurou, irritada, mas as mãos continuavam a segurar o vaso mesmo assim. – É um calor terrível! Você é muito quente!
Johnny a olhou surpreso.
– Eu não esperava que você fosse admitir tão cedo que eu sou quente.
– Não, seu idiota! Você realmente está quente, como se fosse uma nuvem de calor ambulante. Eu consigo sentir.
Johnny revirou os olhos, lembrando que havia desistido de esquiar só para estar ali.
– É esse lugar horroroso, parece uma sauna. – Ele reclamou e observou esticar a mão até ele.
– Acho que você está mal, com febre ou algo assim…
A mão dela alcançou a dele e algo no interior de Johnny sacudiu. Como se o cronômetro de uma bomba tivesse chegado no zero e tudo fosse sair pelos ares.
Ele olhou nos olhos e foi ali que as chamas surgiram.
O quarto pegou fogo.
E não no sentido que Johnny usava para descrever suas noitadas. Era um incêndio real saindo de todo o corpo de Johnny, passando por como um imenso catalisador e atingindo as paredes do quarto.
Capítulo 7
AS CHAMAS COMEÇARAM A TOMAR conta da cama de . Ela se levantou, segurando o vaso de violetas, e correu em direção à porta. As chamas começavam a envolver as paredes como uma grande fornalha e o mais assustador era que Johnny estava completamente coberto delas.
Não queimava, apesar de ser muito quente. Era como se ele estivesse aliviando a pressão que estava presa dentro de si durante o dia todo. pegou o pequeno extintor da parede da porta e se virou para ele. Johnny jurava que ela iria sair do quarto, mas ao invés disso, ela ligou o extintor contra seu peito.
Tudo que ele podia sentir era uma incrível sensação refrescante enquanto olhava para o seu corpo, incrédulo; as chamas haviam ido embora e ele continuava intacto. direcionou o jato do extintor para as paredes do quarto, tentando conter as chamas. O sensor de incêndio estava apitando insistentemente e ela extinguiu até a última chama.
Ele não sabia o que dizer. Não conseguiu conceber o que tinha acontecido, sua roupa inteira havia se desfeito em fiapos que caíram do seu corpo. Ele encarou o próprio corpo nu e olhou para .
Ela estava com aquela costumeira expressão de preocupação, franzia a testa e seu olhar vidrado estava no corpo de Johnny. Ela jogou o extintor para um canto qualquer, deixou o vaso de violetas sobre a cama, que soltava fumaça do colchão queimado.
Ela se aproximou de Johnny e tocou seus braços, tocou seu peito e por fim seu rosto, olhando finalmente nos olhos dele.
O toque dela era quente, quente de um jeito diferente do incêndio de instantes atrás.
— O que foi isso, Johnny? Você está bem?
— Estou ótimo! — Ele disse, olhando para os próprios braços mais uma vez. — Eu estava completamente...
— Em chamas. — Ela completou em voz baixa. As mãos dela ainda seguravam a pele dele, o toque quente estava ficando mais gelado agora.
Johnny sentiu a energia se esvair rapidamente pela sua pele, estava com frio e de repente muito sonolento.
— , tem algo errado... — Ele murmurou, tentando manter os olhos abertos, sentindo a pele doer onde ela estava tocando.
Ela olhou para ele, confusa, e depois para as próprias mãos que o tocavam. Ela imediatamente o soltou e Johnny cambaleou à procura de algo para se apoiar.
Reed e Sue entraram no quarto, atônitos. Havia um grupo de enfermeiros atrás deles.
— Vocês estão bem? — Reed se aproximou, olhando ao redor todo o quarto, que agora tinha manchas pretas nas paredes, cheiro de queimado e fumaça, que o fez tossir.
— Johnny, você está bem? — Sue se aproximou do irmão e ele deixou que ela sustentasse o peso do seu corpo.
— Eu estava pegando fogo, completamente em fogo. — Ele murmurou.
Reed se aproximou de com a mão estendida, mas ela se encolheu contra a parede.
— Não me toca, Reed! Não me toca! — A voz dela soou com um desespero contido.
— , o quê…?
Mas a pergunta parou no ar quando Johnny perdeu a consciência e caiu sobre Sue, que tentou segurá-lo da melhor maneira possível. Dois dos enfermeiros se aproximaram para pegar Johnny. Ele estava pálido e seus lábios haviam perdido a cor.
Sue, desesperada, tentou segurar a mão do irmão enquanto o levavam para fora do quarto. Mas, assim que alcançou os dedos frios de Johnny, sua mão clareou até desaparecer por completo. Em um primeiro instante, ela pensou que o problema fosse seus olhos, mas quando ela se virou para Reed, viu que ele também estava confuso.
Os dois se viraram para , que estava no canto da parede com os braços cruzados sobre o próprio corpo. Ela olhava para a porta por onde os enfermeiros haviam levado Johnny.
Reed tinha uma teoria e, para testá-la, ele se aproximou de devagar.
Ela balançou a cabeça de forma negativa para ele.
Reed parou na frente dela e estendeu a mão:
— Só um toque. Eu quero ver.
Ela ergueu a mão trêmula e hesitante, só com o indicador ela tocou levemente na palma da mão de Reed. O toque durou um segundo e no começo era apenas uma sensação de formigamento, como se a mão de Reed estivesse coçando. Até que o incômodo começou a se estender pelo braço todo.
Reed sentiu o braço cansado, como se ele tivesse acabado de fazer uma série de exercícios; tão cansado a ponto de não conseguir controlar os próprios músculos. Seu braço direito esticou como uma borracha derretida até chegar ao chão.
Sue sufocou um grito.
se encolheu ainda mais, como se fosse fazer um buraco na parede e se prender dentro dela.
— Reed, você está bem? — Sue disse, hesitando em tocá-lo.
— Eu estou bem, eu estou bem. — Ele se virou para com uma calma que só Reed Richards teria no momento. — Está tudo bem. Precisamos contar ao Victor.
Como se Reed tivesse invocado o diabo, Tom Von Doom entrou no quarto.
Seus passos eram calmos, seus olhos esquadrinharam cada canto do local e repousaram em .
— O que houve?
— Estamos apresentando os efeitos colaterais por ter entrado em contato com a radiação cósmica. — Reed disse enquanto seu braço voltava ao normal em um ritmo lento.
nunca tinha visto Tom com o olhar alarmante desde o fim do noivado.
— Meu irmão está se sentindo indisposto, mas eu tomarei as providências necessárias. — Ele disse, observando as manchas escuras nas paredes e nos vasos de flores queimadas.
— Victor também apresentou algum sintoma? Precisamos examiná-lo também. — Reed disse, preocupado, mas Tom dispensou seu comentário com um gesto rápido com a mão.
— Ele está recebendo o melhor atendimento da nossa equipe. Precisamos nos preocupar com outra coisa agora. — Ele colocou as mãos no bolso da calça social. O cabelo estava um pouco comprido, chegando à orelha. sabia que Tom sempre esquecia que precisava cortar o cabelo.
— Seu amigo, Ben, fugiu. Precisamos encontrá-lo, não sabemos o que pode acontecer com ele. —Tom continuou, deixando Reed tão alarmado a ponto de se calar.
— Alguém sabe para onde ele pode ter ido? — Sue perguntou.
— Ele foi ver a esposa dele. —Reed disse, passando a mão pelo cabelo, bastante apreensivo. — Eu preciso recriar a tempestade com os mesmos padrões para possivelmente reverter...
— Reed. —Tom o interrompeu, colocando a mão sobre o seu ombro. — Não podemos recriar a tempestade cósmica. Se der errado, a cidade de Nova York ou até mesmo o planeta poderiam ser engolidos por ela. Não faremos isso.
— O que faremos, então? — Questionou Sue, irritada. — Estamos sob a jurisdição da Von Doom e agora estamos doentes ou sei lá e está me dizendo que não temos como reverter?
— Estou dizendo que encontraremos outra maneira. —Tom tentou amenizar. — Olha, com o fiasco da missão, perdemos bilhões e os investidores deixaram de nos apoiar. Não temos condições de bancar o risco que é recriar um fenômeno astronômico dentro da cidade de Nova York!
— Então, eu vou fazer essa merda sozinho. — Reed disse, se retirando, e Sue o seguiu.
se moveu até a porta, sentindo o olhar de Tom sobre ela. E pela primeira vez em muito tempo, ela parou e o olhou nos olhos.
Foi tão inesperado que Tom esqueceu como reagir por um momento.
— Onde deixaram o Johnny?
Era a primeira vez que ela lhe dirigia a palavra em um ano. A primeira vez que não brigavam e que estavam sozinhos e ela não estava o evitando. Tudo para perguntar por outra pessoa.
Tom suspirou, olhando para as flores queimadas.
— Ele está no quarto dele, não pareceu grave. A enfermeira disse que ele só tem uma febre insistente e que não passa. — Ele murmurou.
se virou para sair, mas Tom limpou a garganta.
— Chloe está preocupada. Deveria falar com ela. — Ele acrescentou.
se virou para ele.
— E como é que você sabe disso?
— Ela ligou algumas milhões de vezes para nosso centro de estudos. — Ele disse sem a olhar nos olhos.
conhecia Tom bem demais para saber que ele estava mentindo. Mas já havia passado da fase de tentar entendê-lo para a fase de não se importar mais. Então, ela saiu e fechou a porta, deixando Tom Von Doom com as cinzas de suas flores.
**
Quando Johnny abriu os olhos, se viu dentro do seu quarto novamente. Havia uma bolsa de soro ligada ao seu braço e Sue estava no pé de sua cama. Ela não estava mais com o pijama do hospital, havia trocado para um blazer e uma calça social.
Ela se aproximou no instante em que o viu se mexer.
— Johnny, você está...
— Estou bem, maninha. — Ele disse antes que ela terminasse de perguntar.
Ele se sentou na cama, lembrando-se da sensação de ser sugado para fora do seu corpo e olhar nos olhos confusos e assustados de . Ele nunca a tinha visto assustada antes, ela era sempre muito segura de si para mostrar esse tipo de reação.
— está bem? — Johnny olhou para a irmã.
— Na medida do possível, sim. — Sue disse, pegando a mão dele. — Todos nós estamos confusos agora.
— O que houve?
— Todos nós estamos apresentando algum tipo de alteração no nosso DNA. Reed está disposto a descobrir o que fazer para reverter a situação, mas não vamos ter o apoio de Victor. — A irmã explicou, se sentando mais perto de Johnny.
— Eu sabia que ele era um cuzão, mas não esperava tudo isso.
— Reed acha melhor ficarmos no Edifício Baxter. Ele tem seu laboratório particular e podemos descobrir juntos o que tem acontecido. — Sue tentava tranquilizá-lo, mas, na verdade, Johnny não se sentia tão nervoso assim. — Quem sabe até reverter?
— Por que reverter? Eu estava em chamas e não me machuquei. — Ele franziu a testa. — Ganhamos um dom.
— Olha, Johnny, não sabemos nada sobre isso ainda. te tocou e sugou boa parte da sua energia. Reed descobriu que mais cedo uma enfermeira tocou nela e continua fraca e desacordada até agora. — Sue diminuiu o tom de voz preocupado. — Graças a Deus você está bem.
— não me machucou porque quis. — Ele disse imediatamente.
— Não foi isso o que eu quis dizer. Estou dizendo que não sabemos mais o que somos capazes de fazer. E agora Ben fugiu e precisamos saber se ele está bem.
— Ele fugiu? Esse lugar está cheio de câmeras e seguranças. — Por um instante, Johnny queria ter pensado no plano quando queria esquiar lá fora.
— De alguma forma, ele quebrou a parede do quarto dele e desapareceu. — Sue suspirou. — Reed sugeriu que o procurássemos e em seguida ficássemos no Baxter até entender o que está acontecendo.
— Eu tenho outra opção? — Johnny arqueou uma das sobrancelhas.
Sue revirou os olhos.
—Você está a fim de sair daqui ou não?
Johnny suspirou como se estivesse fazendo um grande esforço.
— Vamos, então.
— Consegue levantar?
Às vezes, Sue conseguia ser muito superprotetora e Johnny detestava isso, porque eventualmente decepcionava a irmã.
— Estou bem, sério.
Ele retirou a agulha que levava soro até sua veia e levantou da cama do hospital. Já que o bando de cientistas chatos queria descobrir o que estava acontecendo, Johnny os ajudaria e ainda garantiria que iria se divertir.
Sempre disseram que quem brinca com fogo pode se queimar. Mas Johnny Storm estava começando a achar que ele era uma exceção.
**
Johnny não entendeu muito bem como eles eram resultado de um terrível acidente espacial, estavam em dívida com a Von Doom Enterprises e ainda assim saíram pela porta da frente normalmente.
Mais estranho era Victor não ter aparecido para humilhá-los e jogar na cara de todo mundo quantos bilhões havia perdido investindo naquilo. Reed havia comentado que ele estava "indisposto" e que Tom, o babaca mais novo, havia sido mais compreensível.
Johnny apostava que a cara de Victor havia derretido no espaço e que era quem havia deixado Tom "mais flexível".
Mas qual fosse a razão que os levou à entrada do grande resort Von Doom, lá estavam eles brigando para ver como iriam atrás de Ben.
— Um táxi só é o suficiente. — Reed disse, contrariando Sue.
Ela estava com uma expressão extremamente mal humorada. Johnny sabia que Victor não tinha nem ligado para saber como ela estava.
Mas também, como ele faria isso se estava com a cara derretida?
—Eu vou na frente e os três vão atrás! —Insistiu Reed. —Um táxi é o suficiente.
Eles eram dois cientistas, uma astronauta e um bonitão, e nenhum deles tinha um carro disponível. A situação toda era ridícula. Sem falar no piloto que quebrou a parede do próprio quarto e fugiu.
Será que Ben tinha um carro? Pelo menos não teriam que suportar a mesma briga na volta.
— Na verdade, Reed... — se pronunciou pela primeira vez no que parecia anos. — Eu prefiro que a gente se divida, para ter mais espaço, não quero acidentalmente tocar em alguém.
havia os encontrado na entrada do prédio e assistira a discussão até o momento. Ela olhou nos olhos de Johnny por um breve momento, com suas mãos estavam escondidas dentro do casaco.
— Tudo bem. Dois táxis então. — Reed finalmente cedeu e foi até a calçada dar o sinal para o carro amarelo que passava.
— Eu disse. — Sue murmurou, cruzando os braços.
— Eu e vamos no próximo. — Johnny informou quando o táxi parou no meio fio.
Reed abriu a porta e Sue pareceu meio relutante em ter que ir o caminho todo com ele.
Mas Johnny não estava a fim de ouvir todas as teorias que Reed tinha e não estava a fim de ouvir todas as reclamações de Sue. Sua melhor opção era .
Ele esticou a mão para puxar para perto e dar ênfase no que havia dito, mas ela rapidamente desviou do quase contato e foi até o meio fio para dar sinal ao próximo táxi.
Sue e Reed entraram no primeiro carro, e Johnny seguiram para o segundo.
**
— Brooklyn. — disse ao motorista e lhe deu os detalhes do endereço.
Johnny percebeu que ela havia tirado as mãos do bolso do casaco, mas elas estavam cobertas por um par de luvas pretas. A única parte de que não estava coberto era seu rosto.
— É o endereço do Ben?
— Sim, dele e da noiva, Debbie. — olhou pela janela, deixando claro que dificilmente olharia para Johnny durante o caminho. — Seria um bom local para começar. Tentamos ligar para ela, mas ela não atende.
Johnny se pegou imaginando o que havia acontecido com Ben. Ele realmente esperava que se alguém estivesse com o rosto derretido, que fosse Victor.
O motorista felizmente não era do tipo que tentava puxar assunto. O carro deixava para trás a área de árvores e seguia pelas ruas, que pareciam abrir caminho entre residências. Pela janela do carro, já era possível ver os grandes prédios do centro aguardando por eles.
Nova York era grande, bagunçada e imponente, mas depois que se vivia na cidade, parecia ser impossível pensar em qualquer outro lugar como casa. Entretanto, com tanta coisa ao mesmo tempo, ela também parecia solitária.
Pensar nisso deixou Johnny inquieto. O clima no carro estava pesado, não havia dito mais nada e nem mesmo olhado em sua direção. Pelo menos, era o que Johnny pensava, já que não havia percebido os olhares dela.
Ela estava sentada o mais longe possível dele. Ela sempre havia sido reservada, mas algo estava diferente. Johnny estava convencido de que estava apenas estressado e não incomodado com o distanciamento dela.
— Você está bem? — Ela finalmente disse quando o carro chegou em uma grande avenida, que logo daria acesso à ponte do Brooklyn.
— Sim, melhor impossível. — Ele disse, tentando parecer descontraído, mas seus dedos não paravam de tamborilar o encosto do banco à sua frente.
— Me desculpe por mais cedo. Eu não queria te machucar. — Ela murmurou.
Então, Johnny percebeu que todo o afastamento era culpa dele. E estava imóvel do seu lado do carro para não tocá-lo acidentalmente de novo.
Os olhos dele encararam as luvas que cobriam as mãos dela.
— Está tudo bem. — Ele disse. — Sei que não me odeia tanto assim.
Ela deu um meio sorriso, mas Johnny queria poder fazer mais por ela. E em um momento, sem pensar duas vezes, ele esticou o braço e alcançou as mãos dela.
Ele nunca tinha feito isso antes, um ato de afeto sem segundas intenções. Mas já que havia lhe mostrado como estava se sentindo, então talvez ele pudesse fazer o mesmo por um instante.
não evitou o toque e respirou fundo.
O carro parou e o motorista se virou para trás:
— Está tudo parado. Tem algo acontecendo, um acidente talvez.
olhou pela janela e viu as pessoas ao redor saindo dos carros e correndo para a frente. Johnny soltou a mão dela e saiu do carro.
Alguns veículos à frente, ele viu Sue sair do táxi com Reed.
Reed estava com a testa franzida e começou a caminhar na mesma direção que as outras pessoas.
Rudolph saiu do carro, olhando para eles se deslocando à frente.
— Onde esses malucos estão indo? — Johnny resmungou, fechando a porta do táxi e passando pelas pessoas apressadas, na tentativa de alcançar a irmã.
Rudolph seguia atrás dele.
Havia uma barreira formada por carros da polícia. Uma parte dos policiais tentava conter o grupo de pessoas, pedindo para elas se afastarem, e o restante havia cercado um dos caminhões parados. Eles tinham sacado as armas e era possível ver que estavam apontando para uma figura perto do caminhão.
O caminhão tinha avisos de possuir produtos químicos e tanques de gás em sua carga. O motorista descia do caminhão e parecia estar sendo auxiliado por outra pessoa.
Bem, achava que era outra pessoa. Mas havia algo de diferente.
Ele era grande e todo o seu corpo parecia ser um aglomerado de rochas que se moviam de forma brusca. Seu rosto era como uma montanha íngreme, que curiosamente parecia se mover em uma expressão de dor ao ver os policiais apontando as armas contra ele.
Ao lado de , Reed sussurrou o nome dele. E ao olhar nos olhos da coisa, percebeu.
— Ben.
Ela e Reed disseram juntos.
— Abaixem as armas. — Reed gritou para os policiais.
tentou avançar.
Sue tentava conversar com um dos policiais. E Johnny fazia alguma pergunta idiota como:
— Cadê as orelhas dele?
— Senhora, por favor, se afaste. — O policial na frente de segurou nos pulsos dela, bem onde a manga do casaco havia descido e deixado uma parte da pele exposta.
Ela se afastou com rapidez quando sentiu sua pele sugar uma energia incomum. O policial cambaleou para o lado, para cima de outro colega. Depois de checar que ele não havia a tocado tempo o bastante para perder a consciência, ela aproveitou para caminhar até Ben.
Ele baixou a cabeça quando ela se aproximou e olhou para o chão.
— Eu fui até a Debbie. — Ele murmurou encarando o chão. — Eu achei que ela era a única que poderia entender, mas... Ela me mandou embora.
seguiu o olhar de Bem e viu no asfalto a aliança de noivado.
Ele abriu a mão direita para e ela viu somente quatro dedos grandes e rochosos que dariam duas ou três de sua mão.
— Eu não consigo pegar.
se agachou e pegou a aliança com seus dedos cobertos pela luva escura e deixou a joia na palma da mão de Ben.
— Ei, cara... — Disse o motorista do caminhão, tentando falhamente não encarar muito Ben. — Obrigado.
Ben balançou a cabeça e olhou para os policiais.
— Eu não queria causar confusão, eu só ajudei parando o caminhão antes que ele batesse.
Reed passou pelos policiais e os alcançou, olhando para Ben com a culpa marcada em seus olhos.
— Ben, eu sinto muito. Mas eu posso reverter. — Ele murmurou. — Eu vou dar um jeito nisso, sem parar até conseguirmos.
— Reed, a responsabilidade não é só sua. — teria lhe afagado no braço, mas não podia mais. — Vamos começar a trabalhar.
Eles se viraram para voltar para perto de Johnny e Sue. Os dois irmãos eram o oposto em suas expressões, Johnny parecia alarmado e animado enquanto Sue parecia preocupada.
— Cara... — Começou Johnny, provavelmente pronto para alguma piadinha.
— Cala a boca, Storm! — e Ben disseram juntos.
Quando ela ergueu o olhar e viu todas as pessoas e os policiais os encarando de volta, desejou que pudesse ter segurado a mão de Johnny naquela hora.
Não queimava, apesar de ser muito quente. Era como se ele estivesse aliviando a pressão que estava presa dentro de si durante o dia todo. pegou o pequeno extintor da parede da porta e se virou para ele. Johnny jurava que ela iria sair do quarto, mas ao invés disso, ela ligou o extintor contra seu peito.
Tudo que ele podia sentir era uma incrível sensação refrescante enquanto olhava para o seu corpo, incrédulo; as chamas haviam ido embora e ele continuava intacto. direcionou o jato do extintor para as paredes do quarto, tentando conter as chamas. O sensor de incêndio estava apitando insistentemente e ela extinguiu até a última chama.
Ele não sabia o que dizer. Não conseguiu conceber o que tinha acontecido, sua roupa inteira havia se desfeito em fiapos que caíram do seu corpo. Ele encarou o próprio corpo nu e olhou para .
Ela estava com aquela costumeira expressão de preocupação, franzia a testa e seu olhar vidrado estava no corpo de Johnny. Ela jogou o extintor para um canto qualquer, deixou o vaso de violetas sobre a cama, que soltava fumaça do colchão queimado.
Ela se aproximou de Johnny e tocou seus braços, tocou seu peito e por fim seu rosto, olhando finalmente nos olhos dele.
O toque dela era quente, quente de um jeito diferente do incêndio de instantes atrás.
— O que foi isso, Johnny? Você está bem?
— Estou ótimo! — Ele disse, olhando para os próprios braços mais uma vez. — Eu estava completamente...
— Em chamas. — Ela completou em voz baixa. As mãos dela ainda seguravam a pele dele, o toque quente estava ficando mais gelado agora.
Johnny sentiu a energia se esvair rapidamente pela sua pele, estava com frio e de repente muito sonolento.
— , tem algo errado... — Ele murmurou, tentando manter os olhos abertos, sentindo a pele doer onde ela estava tocando.
Ela olhou para ele, confusa, e depois para as próprias mãos que o tocavam. Ela imediatamente o soltou e Johnny cambaleou à procura de algo para se apoiar.
Reed e Sue entraram no quarto, atônitos. Havia um grupo de enfermeiros atrás deles.
— Vocês estão bem? — Reed se aproximou, olhando ao redor todo o quarto, que agora tinha manchas pretas nas paredes, cheiro de queimado e fumaça, que o fez tossir.
— Johnny, você está bem? — Sue se aproximou do irmão e ele deixou que ela sustentasse o peso do seu corpo.
— Eu estava pegando fogo, completamente em fogo. — Ele murmurou.
Reed se aproximou de com a mão estendida, mas ela se encolheu contra a parede.
— Não me toca, Reed! Não me toca! — A voz dela soou com um desespero contido.
— , o quê…?
Mas a pergunta parou no ar quando Johnny perdeu a consciência e caiu sobre Sue, que tentou segurá-lo da melhor maneira possível. Dois dos enfermeiros se aproximaram para pegar Johnny. Ele estava pálido e seus lábios haviam perdido a cor.
Sue, desesperada, tentou segurar a mão do irmão enquanto o levavam para fora do quarto. Mas, assim que alcançou os dedos frios de Johnny, sua mão clareou até desaparecer por completo. Em um primeiro instante, ela pensou que o problema fosse seus olhos, mas quando ela se virou para Reed, viu que ele também estava confuso.
Os dois se viraram para , que estava no canto da parede com os braços cruzados sobre o próprio corpo. Ela olhava para a porta por onde os enfermeiros haviam levado Johnny.
Reed tinha uma teoria e, para testá-la, ele se aproximou de devagar.
Ela balançou a cabeça de forma negativa para ele.
Reed parou na frente dela e estendeu a mão:
— Só um toque. Eu quero ver.
Ela ergueu a mão trêmula e hesitante, só com o indicador ela tocou levemente na palma da mão de Reed. O toque durou um segundo e no começo era apenas uma sensação de formigamento, como se a mão de Reed estivesse coçando. Até que o incômodo começou a se estender pelo braço todo.
Reed sentiu o braço cansado, como se ele tivesse acabado de fazer uma série de exercícios; tão cansado a ponto de não conseguir controlar os próprios músculos. Seu braço direito esticou como uma borracha derretida até chegar ao chão.
Sue sufocou um grito.
se encolheu ainda mais, como se fosse fazer um buraco na parede e se prender dentro dela.
— Reed, você está bem? — Sue disse, hesitando em tocá-lo.
— Eu estou bem, eu estou bem. — Ele se virou para com uma calma que só Reed Richards teria no momento. — Está tudo bem. Precisamos contar ao Victor.
Como se Reed tivesse invocado o diabo, Tom Von Doom entrou no quarto.
Seus passos eram calmos, seus olhos esquadrinharam cada canto do local e repousaram em .
— O que houve?
— Estamos apresentando os efeitos colaterais por ter entrado em contato com a radiação cósmica. — Reed disse enquanto seu braço voltava ao normal em um ritmo lento.
nunca tinha visto Tom com o olhar alarmante desde o fim do noivado.
— Meu irmão está se sentindo indisposto, mas eu tomarei as providências necessárias. — Ele disse, observando as manchas escuras nas paredes e nos vasos de flores queimadas.
— Victor também apresentou algum sintoma? Precisamos examiná-lo também. — Reed disse, preocupado, mas Tom dispensou seu comentário com um gesto rápido com a mão.
— Seu amigo, Ben, fugiu. Precisamos encontrá-lo, não sabemos o que pode acontecer com ele. —Tom continuou, deixando Reed tão alarmado a ponto de se calar.
— Alguém sabe para onde ele pode ter ido? — Sue perguntou.
— Ele foi ver a esposa dele. —Reed disse, passando a mão pelo cabelo, bastante apreensivo. — Eu preciso recriar a tempestade com os mesmos padrões para possivelmente reverter...
— Reed. —Tom o interrompeu, colocando a mão sobre o seu ombro. — Não podemos recriar a tempestade cósmica. Se der errado, a cidade de Nova York ou até mesmo o planeta poderiam ser engolidos por ela. Não faremos isso.
— O que faremos, então? — Questionou Sue, irritada. — Estamos sob a jurisdição da Von Doom e agora estamos doentes ou sei lá e está me dizendo que não temos como reverter?
— Estou dizendo que encontraremos outra maneira. —Tom tentou amenizar. — Olha, com o fiasco da missão, perdemos bilhões e os investidores deixaram de nos apoiar. Não temos condições de bancar o risco que é recriar um fenômeno astronômico dentro da cidade de Nova York!
— Então, eu vou fazer essa merda sozinho. — Reed disse, se retirando, e Sue o seguiu.
se moveu até a porta, sentindo o olhar de Tom sobre ela. E pela primeira vez em muito tempo, ela parou e o olhou nos olhos.
Foi tão inesperado que Tom esqueceu como reagir por um momento.
— Onde deixaram o Johnny?
Era a primeira vez que ela lhe dirigia a palavra em um ano. A primeira vez que não brigavam e que estavam sozinhos e ela não estava o evitando. Tudo para perguntar por outra pessoa.
Tom suspirou, olhando para as flores queimadas.
— Ele está no quarto dele, não pareceu grave. A enfermeira disse que ele só tem uma febre insistente e que não passa. — Ele murmurou.
se virou para sair, mas Tom limpou a garganta.
— Chloe está preocupada. Deveria falar com ela. — Ele acrescentou.
se virou para ele.
— E como é que você sabe disso?
— Ela ligou algumas milhões de vezes para nosso centro de estudos. — Ele disse sem a olhar nos olhos.
conhecia Tom bem demais para saber que ele estava mentindo. Mas já havia passado da fase de tentar entendê-lo para a fase de não se importar mais. Então, ela saiu e fechou a porta, deixando Tom Von Doom com as cinzas de suas flores.
Quando Johnny abriu os olhos, se viu dentro do seu quarto novamente. Havia uma bolsa de soro ligada ao seu braço e Sue estava no pé de sua cama. Ela não estava mais com o pijama do hospital, havia trocado para um blazer e uma calça social.
Ela se aproximou no instante em que o viu se mexer.
— Johnny, você está...
— Estou bem, maninha. — Ele disse antes que ela terminasse de perguntar.
Ele se sentou na cama, lembrando-se da sensação de ser sugado para fora do seu corpo e olhar nos olhos confusos e assustados de . Ele nunca a tinha visto assustada antes, ela era sempre muito segura de si para mostrar esse tipo de reação.
— está bem? — Johnny olhou para a irmã.
— Na medida do possível, sim. — Sue disse, pegando a mão dele. — Todos nós estamos confusos agora.
— O que houve?
— Todos nós estamos apresentando algum tipo de alteração no nosso DNA. Reed está disposto a descobrir o que fazer para reverter a situação, mas não vamos ter o apoio de Victor. — A irmã explicou, se sentando mais perto de Johnny.
— Eu sabia que ele era um cuzão, mas não esperava tudo isso.
— Reed acha melhor ficarmos no Edifício Baxter. Ele tem seu laboratório particular e podemos descobrir juntos o que tem acontecido. — Sue tentava tranquilizá-lo, mas, na verdade, Johnny não se sentia tão nervoso assim. — Quem sabe até reverter?
— Por que reverter? Eu estava em chamas e não me machuquei. — Ele franziu a testa. — Ganhamos um dom.
— Olha, Johnny, não sabemos nada sobre isso ainda. te tocou e sugou boa parte da sua energia. Reed descobriu que mais cedo uma enfermeira tocou nela e continua fraca e desacordada até agora. — Sue diminuiu o tom de voz preocupado. — Graças a Deus você está bem.
— não me machucou porque quis. — Ele disse imediatamente.
— Não foi isso o que eu quis dizer. Estou dizendo que não sabemos mais o que somos capazes de fazer. E agora Ben fugiu e precisamos saber se ele está bem.
— Ele fugiu? Esse lugar está cheio de câmeras e seguranças. — Por um instante, Johnny queria ter pensado no plano quando queria esquiar lá fora.
— De alguma forma, ele quebrou a parede do quarto dele e desapareceu. — Sue suspirou. — Reed sugeriu que o procurássemos e em seguida ficássemos no Baxter até entender o que está acontecendo.
— Eu tenho outra opção? — Johnny arqueou uma das sobrancelhas.
Sue revirou os olhos.
—Você está a fim de sair daqui ou não?
Johnny suspirou como se estivesse fazendo um grande esforço.
— Vamos, então.
— Consegue levantar?
Às vezes, Sue conseguia ser muito superprotetora e Johnny detestava isso, porque eventualmente decepcionava a irmã.
— Estou bem, sério.
Ele retirou a agulha que levava soro até sua veia e levantou da cama do hospital. Já que o bando de cientistas chatos queria descobrir o que estava acontecendo, Johnny os ajudaria e ainda garantiria que iria se divertir.
Sempre disseram que quem brinca com fogo pode se queimar. Mas Johnny Storm estava começando a achar que ele era uma exceção.
Johnny não entendeu muito bem como eles eram resultado de um terrível acidente espacial, estavam em dívida com a Von Doom Enterprises e ainda assim saíram pela porta da frente normalmente.
Mais estranho era Victor não ter aparecido para humilhá-los e jogar na cara de todo mundo quantos bilhões havia perdido investindo naquilo. Reed havia comentado que ele estava "indisposto" e que Tom, o babaca mais novo, havia sido mais compreensível.
Johnny apostava que a cara de Victor havia derretido no espaço e que era quem havia deixado Tom "mais flexível".
Mas qual fosse a razão que os levou à entrada do grande resort Von Doom, lá estavam eles brigando para ver como iriam atrás de Ben.
— Um táxi só é o suficiente. — Reed disse, contrariando Sue.
Ela estava com uma expressão extremamente mal humorada. Johnny sabia que Victor não tinha nem ligado para saber como ela estava.
Mas também, como ele faria isso se estava com a cara derretida?
—Eu vou na frente e os três vão atrás! —Insistiu Reed. —Um táxi é o suficiente.
Eles eram dois cientistas, uma astronauta e um bonitão, e nenhum deles tinha um carro disponível. A situação toda era ridícula. Sem falar no piloto que quebrou a parede do próprio quarto e fugiu.
Será que Ben tinha um carro? Pelo menos não teriam que suportar a mesma briga na volta.
— Na verdade, Reed... — se pronunciou pela primeira vez no que parecia anos. — Eu prefiro que a gente se divida, para ter mais espaço, não quero acidentalmente tocar em alguém.
havia os encontrado na entrada do prédio e assistira a discussão até o momento. Ela olhou nos olhos de Johnny por um breve momento, com suas mãos estavam escondidas dentro do casaco.
— Tudo bem. Dois táxis então. — Reed finalmente cedeu e foi até a calçada dar o sinal para o carro amarelo que passava.
— Eu disse. — Sue murmurou, cruzando os braços.
— Eu e vamos no próximo. — Johnny informou quando o táxi parou no meio fio.
Reed abriu a porta e Sue pareceu meio relutante em ter que ir o caminho todo com ele.
Mas Johnny não estava a fim de ouvir todas as teorias que Reed tinha e não estava a fim de ouvir todas as reclamações de Sue. Sua melhor opção era .
Ele esticou a mão para puxar para perto e dar ênfase no que havia dito, mas ela rapidamente desviou do quase contato e foi até o meio fio para dar sinal ao próximo táxi.
Sue e Reed entraram no primeiro carro, e Johnny seguiram para o segundo.
— Brooklyn. — disse ao motorista e lhe deu os detalhes do endereço.
Johnny percebeu que ela havia tirado as mãos do bolso do casaco, mas elas estavam cobertas por um par de luvas pretas. A única parte de que não estava coberto era seu rosto.
— É o endereço do Ben?
— Sim, dele e da noiva, Debbie. — olhou pela janela, deixando claro que dificilmente olharia para Johnny durante o caminho. — Seria um bom local para começar. Tentamos ligar para ela, mas ela não atende.
Johnny se pegou imaginando o que havia acontecido com Ben. Ele realmente esperava que se alguém estivesse com o rosto derretido, que fosse Victor.
O motorista felizmente não era do tipo que tentava puxar assunto. O carro deixava para trás a área de árvores e seguia pelas ruas, que pareciam abrir caminho entre residências. Pela janela do carro, já era possível ver os grandes prédios do centro aguardando por eles.
Nova York era grande, bagunçada e imponente, mas depois que se vivia na cidade, parecia ser impossível pensar em qualquer outro lugar como casa. Entretanto, com tanta coisa ao mesmo tempo, ela também parecia solitária.
Pensar nisso deixou Johnny inquieto. O clima no carro estava pesado, não havia dito mais nada e nem mesmo olhado em sua direção. Pelo menos, era o que Johnny pensava, já que não havia percebido os olhares dela.
Ela estava sentada o mais longe possível dele. Ela sempre havia sido reservada, mas algo estava diferente. Johnny estava convencido de que estava apenas estressado e não incomodado com o distanciamento dela.
— Você está bem? — Ela finalmente disse quando o carro chegou em uma grande avenida, que logo daria acesso à ponte do Brooklyn.
— Sim, melhor impossível. — Ele disse, tentando parecer descontraído, mas seus dedos não paravam de tamborilar o encosto do banco à sua frente.
— Me desculpe por mais cedo. Eu não queria te machucar. — Ela murmurou.
Então, Johnny percebeu que todo o afastamento era culpa dele. E estava imóvel do seu lado do carro para não tocá-lo acidentalmente de novo.
Os olhos dele encararam as luvas que cobriam as mãos dela.
— Está tudo bem. — Ele disse. — Sei que não me odeia tanto assim.
Ela deu um meio sorriso, mas Johnny queria poder fazer mais por ela. E em um momento, sem pensar duas vezes, ele esticou o braço e alcançou as mãos dela.
Ele nunca tinha feito isso antes, um ato de afeto sem segundas intenções. Mas já que havia lhe mostrado como estava se sentindo, então talvez ele pudesse fazer o mesmo por um instante.
não evitou o toque e respirou fundo.
O carro parou e o motorista se virou para trás:
— Está tudo parado. Tem algo acontecendo, um acidente talvez.
olhou pela janela e viu as pessoas ao redor saindo dos carros e correndo para a frente. Johnny soltou a mão dela e saiu do carro.
Alguns veículos à frente, ele viu Sue sair do táxi com Reed.
Reed estava com a testa franzida e começou a caminhar na mesma direção que as outras pessoas.
Rudolph saiu do carro, olhando para eles se deslocando à frente.
— Onde esses malucos estão indo? — Johnny resmungou, fechando a porta do táxi e passando pelas pessoas apressadas, na tentativa de alcançar a irmã.
Rudolph seguia atrás dele.
Havia uma barreira formada por carros da polícia. Uma parte dos policiais tentava conter o grupo de pessoas, pedindo para elas se afastarem, e o restante havia cercado um dos caminhões parados. Eles tinham sacado as armas e era possível ver que estavam apontando para uma figura perto do caminhão.
O caminhão tinha avisos de possuir produtos químicos e tanques de gás em sua carga. O motorista descia do caminhão e parecia estar sendo auxiliado por outra pessoa.
Bem, achava que era outra pessoa. Mas havia algo de diferente.
Ele era grande e todo o seu corpo parecia ser um aglomerado de rochas que se moviam de forma brusca. Seu rosto era como uma montanha íngreme, que curiosamente parecia se mover em uma expressão de dor ao ver os policiais apontando as armas contra ele.
Ao lado de , Reed sussurrou o nome dele. E ao olhar nos olhos da coisa, percebeu.
— Ben.
Ela e Reed disseram juntos.
— Abaixem as armas. — Reed gritou para os policiais.
tentou avançar.
Sue tentava conversar com um dos policiais. E Johnny fazia alguma pergunta idiota como:
— Cadê as orelhas dele?
— Senhora, por favor, se afaste. — O policial na frente de segurou nos pulsos dela, bem onde a manga do casaco havia descido e deixado uma parte da pele exposta.
Ela se afastou com rapidez quando sentiu sua pele sugar uma energia incomum. O policial cambaleou para o lado, para cima de outro colega. Depois de checar que ele não havia a tocado tempo o bastante para perder a consciência, ela aproveitou para caminhar até Ben.
Ele baixou a cabeça quando ela se aproximou e olhou para o chão.
— Eu fui até a Debbie. — Ele murmurou encarando o chão. — Eu achei que ela era a única que poderia entender, mas... Ela me mandou embora.
seguiu o olhar de Bem e viu no asfalto a aliança de noivado.
Ele abriu a mão direita para e ela viu somente quatro dedos grandes e rochosos que dariam duas ou três de sua mão.
— Eu não consigo pegar.
se agachou e pegou a aliança com seus dedos cobertos pela luva escura e deixou a joia na palma da mão de Ben.
— Ei, cara... — Disse o motorista do caminhão, tentando falhamente não encarar muito Ben. — Obrigado.
Ben balançou a cabeça e olhou para os policiais.
— Eu não queria causar confusão, eu só ajudei parando o caminhão antes que ele batesse.
Reed passou pelos policiais e os alcançou, olhando para Ben com a culpa marcada em seus olhos.
— Ben, eu sinto muito. Mas eu posso reverter. — Ele murmurou. — Eu vou dar um jeito nisso, sem parar até conseguirmos.
— Reed, a responsabilidade não é só sua. — teria lhe afagado no braço, mas não podia mais. — Vamos começar a trabalhar.
Eles se viraram para voltar para perto de Johnny e Sue. Os dois irmãos eram o oposto em suas expressões, Johnny parecia alarmado e animado enquanto Sue parecia preocupada.
— Cara... — Começou Johnny, provavelmente pronto para alguma piadinha.
— Cala a boca, Storm! — e Ben disseram juntos.
Quando ela ergueu o olhar e viu todas as pessoas e os policiais os encarando de volta, desejou que pudesse ter segurado a mão de Johnny naquela hora.
Capítulo 8
SENTIU ALGO MUITO incomum. Sua mente estava tão agitada que ela não conseguia se concentrar. Ao mesmo tempo em que levantava hipóteses sobre os efeitos da radiação sobre em relação ao DNA de cada um, ela tentava desesperadamente não tocar em alguém.
Toda vez que um deles se aproximava, ela dava um passo para longe. Todo o clima estava tenso, começando por Ben que não cabia em nenhum táxi e precisou de uma carona do caminhão de bombeiros. Reed continuava com o olhar perdido e a cabeça entre as hipóteses e a culpa.
Sue chegou a tentar fazê-lo falar sobre o que estava pensando, mas no fim das contas só o irritou ainda mais. Ela continuava constantemente ligando para Victor, mas não obtinha nenhuma resposta.
O caminho até o Edifício Baxter não poderia ter parecido mais longo. Quando o grupo finalmente passou pela porta giratória e colocou os pés no hall de entrada, foi como se finalmente tivessem chegado em casa.
De fato, havia passado mais tempo lá do que em sua própria casa. O prédio era grande e luxuoso, nem ela lembrava quantos andares eram no total. Reed era proprietário dos três últimos andares e ele havia os adaptado para servir como uma espécie de oficina/laboratório/apartamento. Era uma bagunça científica adorável.
— Boa tarde, Sr. Richards. — Disse Rodney, acenando de trás do balcão da recepção, ele tocou a aba do chapéu. — E Senhorita Rudolph, que bom revê-la!
acenou com um sorriso enquanto esperavam pelo elevador.
— Olá, Rodney. — Sue cumprimentou, mas ele não respondeu.
Rodney havia acabado de notar Ben que passara pela porta giratória com bastante dificuldade e estava respirando forte demais, o que fazia parecer que ele estava prestes a esmagar alguma coisa.
E um cara grande feito de pedra realmente podia esmagar qualquer coisa.
O elevador chegou ao térreo e as portas se abriram. Felizmente, o elevador era grande: cabia Ben e ainda permitia que tivesse espaço para evitar contato físico com todos eles.
Ela reparou que Ben parecia ter crescido um metro a mais. Johnny não parava de o encarar, como se estivesse disposto a entender onde as orelhas de Ben tinham ido parar. estava pronta para socá-lo se ele fizesse algum comentário maldoso e estava considerando não usar sua luva para isso.
O elevador fechou as portas e apitou um alarme de aviso. No painel eletrônico apareceu a mensagem de "peso acima do recomendado“. Todos involuntariamente olharam para Ben Grimmes.
— Acho que é você, grandão. — Johnny disse num tom casual. — Vai ter que ir de escada.
— São mais de vinte andares. — protestou, perdendo a paciência com toda a situação incômoda. — Deve haver um jeito.
— Só se contratarmos um guindaste para o erguer pelo lado de fora e ele entra pela janela. — Sugeriu Johnny em tom sarcástico.
A sorte dele era que no elevador não tinha nenhum objeto que pudesse usar para jogar na cara dele.
— Eu vou de escada. — Ben murmurou entre o desânimo e a irritação.
— Não. — disse em um tom imperativo, sobressaltando a todos. — Você sobe sozinho, Ben. O resto de nós vai esperar o próximo elevador.
Ela apertou o botão para abrir as portas.
Johnny bufou revirando os olhos.
— O elevador não vai aguentar o peso dele. — Ele resmungou enquanto seguia os outros de volta para o hall de entrada.
Assim que eles saíram a porta do elevador fechou e ele subiu, carregando Ben.
Johnny ficou calado ao ver que tinha razão.
— Não é possível que Ben tenha tanta massa a ponto de o elevador não conseguir carregá-lo. Se fosse assim, ele iria se mover em uma velocidade extremamente baixa se considerarmos a força da gravidade. — recitou enquanto eles entravam no outro elevador.
— É só uma questão de física. — Murmurou Reed.
— Nerds. — Johnny murmurou enquanto fingia um espirro.
Reed suspirou em resposta enquanto Johnny sorria para si mesmo como se fosse muito engraçado.
O Edifício tinha tantas dezenas de andares que nem mesmo tentava contá-los ou memorizar a quantidade exata. Até chegar na cobertura, foram longos segundos desconfortantes com Sue e Reed evitando qualquer tipo de contato.
Ao contrário deles, Johnny parecia bem determinado a estar pronto para prender os olhos de caso ela olhasse em sua direção, coisa que aconteceu por um instante e ele aproveitou para piscar um dos olhos. Ela fingiu que não viu e olhou para seu relógio de pulso, como se tivesse acabado de perder um segundo e nunca mais pudesse recuperá-lo na vida.
Quando a porta do elevador se abriu, Reed tomou a frente e o grupo o seguiu pelo grande hall de entrada. Pelas paredes havia certificados e capas de revistas emolduradas, todas as conquistas científicas e acadêmicas estavam lá. Também havia uma mesa de vidro e, sobre ela, um jarro e vários envelopes.
Quando passou por ela, pôde ler o aviso vermelho que estavam nas cartas: "hipoteca". Percebeu o que a falha do projeto poderia significar financeiramente para Reed. Se ele já estava com problemas antes, então corria o risco de perder o prédio se não tivesse financiamento para suas pesquisas.
Ela se perdeu nesse pensamento por um instante enquanto eles seguiam para a sala.
Era bem maior que uma sala normal. Era como um enorme saguão de um laboratório e uma oficina espacial. Cheio de equipamentos, mesas, computadores atuais e avançados, que dificilmente estariam disponíveis no mercado para um público comum. Muitos papéis, relatórios, peças, máquinas inacabadas.
Céus! No meio, havia uma grande câmara fechada, que só Reed sabia para que seria útil. Aos olhos de todos, parecia uma grande bagunça de bugigangas científicas, mas todos sabiam que Reed seguia uma ordem que fazia sentido para ele.
Reed indicou a passagem à esquerda, que levava para a sala de jantar e para os quartos.
— Posso mostrar onde vocês podem ficar. Eu tenho toalhas e roupas... — Ele disse enquanto Sue e Johnny o seguiam. Então, ele parou e olhou para , que permanecera na entrada.
— Eu vou depois, quero ver o que temos disponível por aqui. — Ela disse se aproximando de uma das mesas.
Reed conduziu Sue e Johnny pelo corredor.
tirou o casaco e o pendurou sobre a cadeira e se sentou. Ela começou a reunir os papéis e separá-los por categoria. Separou o que era teoria, resultados de testes e o que eram os gastos que tiveram no decorrer do projeto.
Enquanto ela mexia nos papéis, Ben entrou no saguão de cara fechada e com os punhos cerrados.
— Aquele maldito elevador demorou mil anos. Todo mundo que entrava e me via saía correndo. — Ele resmungou, olhando ao redor. — Esse lugar é enorme, tem todo tipo de máquina. Mas não tem uma porcaria de cadeira onde eu possa sentar.
olhou ao redor e realmente todas as cadeiras eram pequenas demais para comportar o novo corpo grande e rochoso de Ben.
— Vou colocar isso na lista de prioridades, Ben. — retirou um papel e começou a anotar. — Você vai ser nossa prioridade.
Com o que ela disse, ele respirou fundo e abriu as mãos.
— Mas pode algo por mim, Ben? — Ela o olhou nos olhos, a única parte que a radiação espacial não havia alterado. — Descanse por hoje. Se alimente e tente se manter saudável. Quero que a primeira rotina de testes e coleta de dados seja com você, vou organizar tudo para começarmos amanhã de manhã.
— , você precisa descansar também... — Ele disse com a voz rouca.
Reed entrou no saguão parecendo já ter ouvido o que foi dito antes.
— Eu e podemos esperar. Você não. — Reed disse e indicou o corredor para Ben. — Vem, você pode ficar com o sofá na sala de jogos.
Ele guiou Ben enquanto arregaçava as mangas da camisa social e começava e estabelecer as necessidades mais urgentes do grupo.
Alguns instantes depois, Reed se juntou à e começou a separar os dados coletados para montar as hipóteses.
— Precisamos criar um ambiente seguro para a análise de Johnny. Talvez aquela câmara possa ajudar, vamos precisar revesti-la... — murmurou, acrescentando anotações em seu computador.
Reed estava com a camisa amarrotada, tinha uma caneta atrás de cada orelha e encarava a lousa branca onde estavam seus cálculos.
Depois de um tempo, nenhum dos dois sabia dizer há quantas horas estavam ali. pensou em ter ouvido Ben gritar com Johnny, mas continuou calculando o que ainda lhes restava de fundo.
— Eu vou tomar um café e já volto. — Disse Reed.
— Você deveria dormir. — mal ergueu os olhos dos papéis. Seu olhar só desviava deles para ver a tela do computador. — Amanhã vai ser pior, precisa estar descansado.
— Certo... — Ele disse relutante. — Se precisar de algo, pode chamar.
— Não vou chamar.
Ele soltou uma risada fraca e cansada e seguiu em direção ao quarto.
Ela não queria dizer a ele que estavam com o fundo extremamente comprometido. Dificilmente, Victor iria colaborar, tendo em vista que a missão fora considerada um fracasso. Pensando na correspondência sobre a hipoteca que ela havia visto mais cedo, estava considerando se eles teriam que recorrer ao investimento do próprio bolso.
Não seria problema para ela ajudar. O problema era o orgulho de Reed, mas uma hora ele cederia. Ben e todos eles precisavam de uma resposta.
Ela, pela primeira vez, olhou no relógio e percebeu que já passava da meia-noite. bocejou e viu Sue e Johnny entrarem no salão.
Sue estava com roupas largas e o cabelo preso; segurava uma bandeja com um prato de comida e um copo de suco. Johnny estava de camisa, calça moletom e o cabelo loiro molhado do banho.
— Reed já foi deitar? — Sue disse, estranhando a ausência dele, sabendo que ele sempre virava a noite trabalhando.
— Eu o mandei ir. — disse, escondendo outro bocejo.
Sue deixou a bandeja sobre sua mesa e ela a encarou surpresa.
— Você devia comer alguma coisa e descansar também. — Sue disse com uma voz doce, que quase deixou sem jeito.
Mesmo suspeitando que a comida era, na verdade, para Reed, ela agradeceu.
Johnny tirou a mão do bolso e mexeu na pilha de papéis, afastou a mão dele.
— Eu vou dormir agora. — Sue disse depois de ver os dois trocando faíscas de irritação pelo olhar.
Ela saiu para o quarto e Johnny puxou uma cadeira para ficar de frente para .
— Você sempre foi assim? — Ele perguntou.
— Assim como?
— Nerd.
olhou séria para ele:
— Sim. E você?
— Se eu sempre fui lindo? Sim.
— Na verdade, eu ia dizer "idiota". — Ela riu.
— Meu Deus. Você acabou de rir. — Johnny sorriu e pegou o copo de suco dela e levou até a boca, mas o tirou de sua mão antes que conseguisse beber o líquido.
— É que eu estou cansada e com fome. Meu cérebro não está processando mais como antes. — Ela começou a comer.
Sue tinha preparado tacos, fazendo o que podia com os poucos ingredientes que tinha na cozinha. Johnny havia insistido que ela levasse algo para , que não havia parado para comer o dia todo.
tinha tirado o casaco e dobrado as mangas da camisa até o cotovelo. Seu cabelo longo e escuro estava preso em um coque, como se ela não quisesse que algo tão banal quanto seus fios atrapalhassem sua concentração.
— Você já avisou sua família? Devem estar preocupados com o que aconteceu.
Ele se lembrava de que a ficha dela não indicava o contato de parentes. Então, jogou verde para ver se ela falaria sobre aquilo.
— Não. Eu não tenho família. — Ela disse com uma naturalidade que Johnny não estava esperando. — Eu cresci em orfanatos, passei de um lar adotivo para outro, nunca fiquei em um lugar só. Tenho uma amiga chamada Chloe, ela é quem se preocupa em situações assim.
— Ah, eu... Não fazia ideia. — Ele disse em voz baixa, passando a mão pelo cabelo loiro.
Era a primeira vez que Johnny Storm parecia sem graça na frente de alguém.
— Mas, no fim, isso acabou me fazendo ser quem eu sou. Nunca senti que alguém me quisesse aqui na Terra, então gosto de explorar o espaço. — Ela murmurou, colocando um fio solto atrás da orelha, então o encarou com seus olhos de traços asiáticos, que pareciam marcar o peito de Johnny com uma martelada.
— Eu nunca pensei muito sobre isso, sobre o porquê eu gosto de voar.
— Você e pensamento parecem ser duas coisas que não combinam.
Johnny sorriu.
— Não mesmo. Não gosto de complicar as coisas, talvez por isso eu goste de ver tudo lá de cima. — Ele sussurrou, pela primeira vez admitindo algo tão pessoal. — Quando você vê de longe, parece mais fácil.
olhou para todos os dados e papéis que precisavam lidar e compreender até a última vírgula.
— Sempre é mais complicado do que parece.
— Tipo o que aconteceu com a gente. Não é estranho que cada um tenha um poder diferente? — Ele pareceu subitamente mais animado a falar disso do que das motivações pessoais.
— Poder? Não sei se podemos chamar assim. — bocejou e apoiou o rosto sobre a mão. — Mas cada corpo vai reagir de maneira diferente à reação.
— O que exatamente você faz? Eu estava pensando, antes de você acordar, uma enfermeira encostou em você e logo depois desmaiou. — Johnny franziu a testa, os olhos azuis estavam escuros com a luz do saguão.
Ele cheirava a banho fresco e sabonete.
— Você estava no meu quarto há quanto tempo antes de eu acordar?
Johnny ignorou a pergunta e continuou:
— Logo depois, eu te toquei e explodi! Era como se eu tivesse levado uma sobrecarga. Ao contrário da enfermeira. Será que você sugou a energia dela e depois me recarregou?
— Suguei a energia? Eu sei lá, Johnny. Não sei se sou uma espécie de Dementador. — Ela resmungou, olhando para o rosto dele e se perguntando se ele ainda pareceria tão bonito depois de levar um soco.
Johnny riu e seus olhos azuis brilharam.
— É um bom codinome.
— Cala a boca. Você não vai me chamar de Dementador, caso contrário, você vai ser o Cabeça de Fósforo.
— Prefiro Vulcão. É mais poderoso. — Ele piscou um dos olhos para ela.
— É ridículo.
— E Espectro? Soa como uma energia misteriosa, algo sobrenatural. — Ele sugeriu, encostando um dos dedos no lábio inferior.
Tão lindo e irritante. queria socá-lo.
— Esse é menos pior. Mas esquece. Nada de codinomes, Cabeça de Fósforo.
Ele deu uma risada baixa e decidiu parar por ali, era o bastante para implicar com ela por uma noite.
Depois de comer, acabou cedendo ao cansaço e foi com Johnny até o corredor.
— Até amanhã... — Ele disse parando na porta do quarto. Fez uma pausa dramática como se estivesse pensando em como chamá-la agora.
— Eu juro que se me der um apelido, eu quebro a sua cara, Storm.
— Como você fica selvagem com sono. Eu a convidaria para o meu quarto... — Johnny abriu a porta, os olhos azuis brincando como estrelas no escuro.
— Vai sonhando, Vulcão. — o empurrou para dentro do quarto e ela mesma fechou a porta, deixando Johnny sozinho dentro do cômodo.
Resmungando, ela seguiu até a sala de jogos.
Ben estava no sofá que quase parecia confortável, mas ainda assim ele parecia dormir bem. Havia uma poltrona reclinável na outra extremidade do quarto, e foi onde ela decidiu que passaria aquela noite. tirou os sapatos e se jogou na poltrona, deixando todo o seu corpo mergulhar nas estrelas em seus sonhos.
Toda vez que um deles se aproximava, ela dava um passo para longe. Todo o clima estava tenso, começando por Ben que não cabia em nenhum táxi e precisou de uma carona do caminhão de bombeiros. Reed continuava com o olhar perdido e a cabeça entre as hipóteses e a culpa.
Sue chegou a tentar fazê-lo falar sobre o que estava pensando, mas no fim das contas só o irritou ainda mais. Ela continuava constantemente ligando para Victor, mas não obtinha nenhuma resposta.
O caminho até o Edifício Baxter não poderia ter parecido mais longo. Quando o grupo finalmente passou pela porta giratória e colocou os pés no hall de entrada, foi como se finalmente tivessem chegado em casa.
De fato, havia passado mais tempo lá do que em sua própria casa. O prédio era grande e luxuoso, nem ela lembrava quantos andares eram no total. Reed era proprietário dos três últimos andares e ele havia os adaptado para servir como uma espécie de oficina/laboratório/apartamento. Era uma bagunça científica adorável.
— Boa tarde, Sr. Richards. — Disse Rodney, acenando de trás do balcão da recepção, ele tocou a aba do chapéu. — E Senhorita Rudolph, que bom revê-la!
acenou com um sorriso enquanto esperavam pelo elevador.
— Olá, Rodney. — Sue cumprimentou, mas ele não respondeu.
Rodney havia acabado de notar Ben que passara pela porta giratória com bastante dificuldade e estava respirando forte demais, o que fazia parecer que ele estava prestes a esmagar alguma coisa.
E um cara grande feito de pedra realmente podia esmagar qualquer coisa.
O elevador chegou ao térreo e as portas se abriram. Felizmente, o elevador era grande: cabia Ben e ainda permitia que tivesse espaço para evitar contato físico com todos eles.
Ela reparou que Ben parecia ter crescido um metro a mais. Johnny não parava de o encarar, como se estivesse disposto a entender onde as orelhas de Ben tinham ido parar. estava pronta para socá-lo se ele fizesse algum comentário maldoso e estava considerando não usar sua luva para isso.
O elevador fechou as portas e apitou um alarme de aviso. No painel eletrônico apareceu a mensagem de "peso acima do recomendado“. Todos involuntariamente olharam para Ben Grimmes.
— Acho que é você, grandão. — Johnny disse num tom casual. — Vai ter que ir de escada.
— São mais de vinte andares. — protestou, perdendo a paciência com toda a situação incômoda. — Deve haver um jeito.
— Só se contratarmos um guindaste para o erguer pelo lado de fora e ele entra pela janela. — Sugeriu Johnny em tom sarcástico.
A sorte dele era que no elevador não tinha nenhum objeto que pudesse usar para jogar na cara dele.
— Eu vou de escada. — Ben murmurou entre o desânimo e a irritação.
— Não. — disse em um tom imperativo, sobressaltando a todos. — Você sobe sozinho, Ben. O resto de nós vai esperar o próximo elevador.
Ela apertou o botão para abrir as portas.
Johnny bufou revirando os olhos.
— O elevador não vai aguentar o peso dele. — Ele resmungou enquanto seguia os outros de volta para o hall de entrada.
Assim que eles saíram a porta do elevador fechou e ele subiu, carregando Ben.
Johnny ficou calado ao ver que tinha razão.
— Não é possível que Ben tenha tanta massa a ponto de o elevador não conseguir carregá-lo. Se fosse assim, ele iria se mover em uma velocidade extremamente baixa se considerarmos a força da gravidade. — recitou enquanto eles entravam no outro elevador.
— É só uma questão de física. — Murmurou Reed.
— Nerds. — Johnny murmurou enquanto fingia um espirro.
Reed suspirou em resposta enquanto Johnny sorria para si mesmo como se fosse muito engraçado.
O Edifício tinha tantas dezenas de andares que nem mesmo tentava contá-los ou memorizar a quantidade exata. Até chegar na cobertura, foram longos segundos desconfortantes com Sue e Reed evitando qualquer tipo de contato.
Ao contrário deles, Johnny parecia bem determinado a estar pronto para prender os olhos de caso ela olhasse em sua direção, coisa que aconteceu por um instante e ele aproveitou para piscar um dos olhos. Ela fingiu que não viu e olhou para seu relógio de pulso, como se tivesse acabado de perder um segundo e nunca mais pudesse recuperá-lo na vida.
Quando a porta do elevador se abriu, Reed tomou a frente e o grupo o seguiu pelo grande hall de entrada. Pelas paredes havia certificados e capas de revistas emolduradas, todas as conquistas científicas e acadêmicas estavam lá. Também havia uma mesa de vidro e, sobre ela, um jarro e vários envelopes.
Quando passou por ela, pôde ler o aviso vermelho que estavam nas cartas: "hipoteca". Percebeu o que a falha do projeto poderia significar financeiramente para Reed. Se ele já estava com problemas antes, então corria o risco de perder o prédio se não tivesse financiamento para suas pesquisas.
Ela se perdeu nesse pensamento por um instante enquanto eles seguiam para a sala.
Era bem maior que uma sala normal. Era como um enorme saguão de um laboratório e uma oficina espacial. Cheio de equipamentos, mesas, computadores atuais e avançados, que dificilmente estariam disponíveis no mercado para um público comum. Muitos papéis, relatórios, peças, máquinas inacabadas.
Céus! No meio, havia uma grande câmara fechada, que só Reed sabia para que seria útil. Aos olhos de todos, parecia uma grande bagunça de bugigangas científicas, mas todos sabiam que Reed seguia uma ordem que fazia sentido para ele.
Reed indicou a passagem à esquerda, que levava para a sala de jantar e para os quartos.
— Posso mostrar onde vocês podem ficar. Eu tenho toalhas e roupas... — Ele disse enquanto Sue e Johnny o seguiam. Então, ele parou e olhou para , que permanecera na entrada.
— Eu vou depois, quero ver o que temos disponível por aqui. — Ela disse se aproximando de uma das mesas.
Reed conduziu Sue e Johnny pelo corredor.
tirou o casaco e o pendurou sobre a cadeira e se sentou. Ela começou a reunir os papéis e separá-los por categoria. Separou o que era teoria, resultados de testes e o que eram os gastos que tiveram no decorrer do projeto.
Enquanto ela mexia nos papéis, Ben entrou no saguão de cara fechada e com os punhos cerrados.
— Aquele maldito elevador demorou mil anos. Todo mundo que entrava e me via saía correndo. — Ele resmungou, olhando ao redor. — Esse lugar é enorme, tem todo tipo de máquina. Mas não tem uma porcaria de cadeira onde eu possa sentar.
olhou ao redor e realmente todas as cadeiras eram pequenas demais para comportar o novo corpo grande e rochoso de Ben.
— Vou colocar isso na lista de prioridades, Ben. — retirou um papel e começou a anotar. — Você vai ser nossa prioridade.
Com o que ela disse, ele respirou fundo e abriu as mãos.
— Mas pode algo por mim, Ben? — Ela o olhou nos olhos, a única parte que a radiação espacial não havia alterado. — Descanse por hoje. Se alimente e tente se manter saudável. Quero que a primeira rotina de testes e coleta de dados seja com você, vou organizar tudo para começarmos amanhã de manhã.
— , você precisa descansar também... — Ele disse com a voz rouca.
Reed entrou no saguão parecendo já ter ouvido o que foi dito antes.
— Eu e podemos esperar. Você não. — Reed disse e indicou o corredor para Ben. — Vem, você pode ficar com o sofá na sala de jogos.
Ele guiou Ben enquanto arregaçava as mangas da camisa social e começava e estabelecer as necessidades mais urgentes do grupo.
Alguns instantes depois, Reed se juntou à e começou a separar os dados coletados para montar as hipóteses.
— Precisamos criar um ambiente seguro para a análise de Johnny. Talvez aquela câmara possa ajudar, vamos precisar revesti-la... — murmurou, acrescentando anotações em seu computador.
Reed estava com a camisa amarrotada, tinha uma caneta atrás de cada orelha e encarava a lousa branca onde estavam seus cálculos.
Depois de um tempo, nenhum dos dois sabia dizer há quantas horas estavam ali. pensou em ter ouvido Ben gritar com Johnny, mas continuou calculando o que ainda lhes restava de fundo.
— Eu vou tomar um café e já volto. — Disse Reed.
— Você deveria dormir. — mal ergueu os olhos dos papéis. Seu olhar só desviava deles para ver a tela do computador. — Amanhã vai ser pior, precisa estar descansado.
— Certo... — Ele disse relutante. — Se precisar de algo, pode chamar.
— Não vou chamar.
Ele soltou uma risada fraca e cansada e seguiu em direção ao quarto.
Ela não queria dizer a ele que estavam com o fundo extremamente comprometido. Dificilmente, Victor iria colaborar, tendo em vista que a missão fora considerada um fracasso. Pensando na correspondência sobre a hipoteca que ela havia visto mais cedo, estava considerando se eles teriam que recorrer ao investimento do próprio bolso.
Não seria problema para ela ajudar. O problema era o orgulho de Reed, mas uma hora ele cederia. Ben e todos eles precisavam de uma resposta.
Ela, pela primeira vez, olhou no relógio e percebeu que já passava da meia-noite. bocejou e viu Sue e Johnny entrarem no salão.
Sue estava com roupas largas e o cabelo preso; segurava uma bandeja com um prato de comida e um copo de suco. Johnny estava de camisa, calça moletom e o cabelo loiro molhado do banho.
— Reed já foi deitar? — Sue disse, estranhando a ausência dele, sabendo que ele sempre virava a noite trabalhando.
— Eu o mandei ir. — disse, escondendo outro bocejo.
Sue deixou a bandeja sobre sua mesa e ela a encarou surpresa.
Mesmo suspeitando que a comida era, na verdade, para Reed, ela agradeceu.
Johnny tirou a mão do bolso e mexeu na pilha de papéis, afastou a mão dele.
— Eu vou dormir agora. — Sue disse depois de ver os dois trocando faíscas de irritação pelo olhar.
Ela saiu para o quarto e Johnny puxou uma cadeira para ficar de frente para .
— Você sempre foi assim? — Ele perguntou.
— Assim como?
— Nerd.
olhou séria para ele:
— Sim. E você?
— Se eu sempre fui lindo? Sim.
— Na verdade, eu ia dizer "idiota". — Ela riu.
— Meu Deus. Você acabou de rir. — Johnny sorriu e pegou o copo de suco dela e levou até a boca, mas o tirou de sua mão antes que conseguisse beber o líquido.
— É que eu estou cansada e com fome. Meu cérebro não está processando mais como antes. — Ela começou a comer.
Sue tinha preparado tacos, fazendo o que podia com os poucos ingredientes que tinha na cozinha. Johnny havia insistido que ela levasse algo para , que não havia parado para comer o dia todo.
tinha tirado o casaco e dobrado as mangas da camisa até o cotovelo. Seu cabelo longo e escuro estava preso em um coque, como se ela não quisesse que algo tão banal quanto seus fios atrapalhassem sua concentração.
— Você já avisou sua família? Devem estar preocupados com o que aconteceu.
Ele se lembrava de que a ficha dela não indicava o contato de parentes. Então, jogou verde para ver se ela falaria sobre aquilo.
— Não. Eu não tenho família. — Ela disse com uma naturalidade que Johnny não estava esperando. — Eu cresci em orfanatos, passei de um lar adotivo para outro, nunca fiquei em um lugar só. Tenho uma amiga chamada Chloe, ela é quem se preocupa em situações assim.
— Ah, eu... Não fazia ideia. — Ele disse em voz baixa, passando a mão pelo cabelo loiro.
Era a primeira vez que Johnny Storm parecia sem graça na frente de alguém.
— Mas, no fim, isso acabou me fazendo ser quem eu sou. Nunca senti que alguém me quisesse aqui na Terra, então gosto de explorar o espaço. — Ela murmurou, colocando um fio solto atrás da orelha, então o encarou com seus olhos de traços asiáticos, que pareciam marcar o peito de Johnny com uma martelada.
— Eu nunca pensei muito sobre isso, sobre o porquê eu gosto de voar.
— Você e pensamento parecem ser duas coisas que não combinam.
Johnny sorriu.
— Não mesmo. Não gosto de complicar as coisas, talvez por isso eu goste de ver tudo lá de cima. — Ele sussurrou, pela primeira vez admitindo algo tão pessoal. — Quando você vê de longe, parece mais fácil.
olhou para todos os dados e papéis que precisavam lidar e compreender até a última vírgula.
— Sempre é mais complicado do que parece.
— Tipo o que aconteceu com a gente. Não é estranho que cada um tenha um poder diferente? — Ele pareceu subitamente mais animado a falar disso do que das motivações pessoais.
— Poder? Não sei se podemos chamar assim. — bocejou e apoiou o rosto sobre a mão. — Mas cada corpo vai reagir de maneira diferente à reação.
— O que exatamente você faz? Eu estava pensando, antes de você acordar, uma enfermeira encostou em você e logo depois desmaiou. — Johnny franziu a testa, os olhos azuis estavam escuros com a luz do saguão.
Ele cheirava a banho fresco e sabonete.
— Você estava no meu quarto há quanto tempo antes de eu acordar?
Johnny ignorou a pergunta e continuou:
— Logo depois, eu te toquei e explodi! Era como se eu tivesse levado uma sobrecarga. Ao contrário da enfermeira. Será que você sugou a energia dela e depois me recarregou?
— Suguei a energia? Eu sei lá, Johnny. Não sei se sou uma espécie de Dementador. — Ela resmungou, olhando para o rosto dele e se perguntando se ele ainda pareceria tão bonito depois de levar um soco.
Johnny riu e seus olhos azuis brilharam.
— É um bom codinome.
— Cala a boca. Você não vai me chamar de Dementador, caso contrário, você vai ser o Cabeça de Fósforo.
— Prefiro Vulcão. É mais poderoso. — Ele piscou um dos olhos para ela.
— É ridículo.
— E Espectro? Soa como uma energia misteriosa, algo sobrenatural. — Ele sugeriu, encostando um dos dedos no lábio inferior.
Tão lindo e irritante. queria socá-lo.
— Esse é menos pior. Mas esquece. Nada de codinomes, Cabeça de Fósforo.
Ele deu uma risada baixa e decidiu parar por ali, era o bastante para implicar com ela por uma noite.
Depois de comer, acabou cedendo ao cansaço e foi com Johnny até o corredor.
— Até amanhã... — Ele disse parando na porta do quarto. Fez uma pausa dramática como se estivesse pensando em como chamá-la agora.
— Eu juro que se me der um apelido, eu quebro a sua cara, Storm.
— Como você fica selvagem com sono. Eu a convidaria para o meu quarto... — Johnny abriu a porta, os olhos azuis brincando como estrelas no escuro.
— Vai sonhando, Vulcão. — o empurrou para dentro do quarto e ela mesma fechou a porta, deixando Johnny sozinho dentro do cômodo.
Resmungando, ela seguiu até a sala de jogos.
Ben estava no sofá que quase parecia confortável, mas ainda assim ele parecia dormir bem. Havia uma poltrona reclinável na outra extremidade do quarto, e foi onde ela decidiu que passaria aquela noite. tirou os sapatos e se jogou na poltrona, deixando todo o seu corpo mergulhar nas estrelas em seus sonhos.
Capítulo 9
ALGUMAS SITUAÇÕES E CONFLITOS surgiram com os cinco dentro do loft de Reed sem poder sair. Serem obrigados a olhar um para a cara do outro constantemente era desafiador e entediante em alguns momentos. Reed e pareciam alheios a tudo, tudo o que falavam desde o café da manhã até a hora de dormir era sobre dados, a pesquisa, margem de erro e alterações de DNA.
Mais equipamentos chegaram no decorrer dos dias, grandes peças de metais, um robô para ajudar nas montagens das peças e acessórios de segurança. se encarregou da montagem, ela era boa com engenharia também. Johnny começava a se perguntar se havia algo no mundo em que conseguisse não ser irritantemente boa. Ela coordenou a montagem das peças pedindo para que Reed se esticasse onde ela não conseguia alcançar; Ben ficou responsável de carregar e mover as partes mais pesadas; e Johnny fez a soldagem dos metais, fazendo questão de usar uma regata branca e deixar seu calor transparecer.
Quando tudo ficou pronto a coisa revelou-se ser uma câmara de metal maciço. Reed e Sue ficaram com a parte elétrica e digital, Sue era boa com dados e ficou na frente do computador cuidando das configurações.
- Está funcionando. - Anunciou Sue. - Estou iniciando as configurações, quem vai primeiro?
empurrou Johnny para dentro da câmara e o trancou lá dentro. E foi assim que ele passou os dias seguintes, quando não estava dentro da câmara estava esperando o seu horário de estar na câmara. Precisavam testar seus poderes, mas Johnny nunca podia esquentar demais sem atingir o nível de uma supernova e queimar o planeta inteiro. Quando ele esquentava demais, todos gritavam horrorizados com medo de que fosse trazer o apocalipse.
Em um dia no café da manhã, Ben esmagou um saco com um quilo de laranjas e deixou o suco sobre uma jarra de vidro que era a única coisa que cabia em sua grande boca rochosa. Johnny tentou fazer um omelete, mas acidentalmente queimou tudo em que tocava, incluindo o pano de prato. Toda aquela situação estava o deixando nervoso, fazia mais de uma semana que não saía daquele lugar.
Johnny Storm odiava se sentir preso, odiava o peso das responsabilidades e odiava que todos estivessem agindo como se não estivessem estressados também.
- Eu estudei nossos trajes e parece que eles se adaptam às mudanças do nosso corpo. - Sue comentou apontando para uma caixa que estava no canto da mesa. - Talvez porquê eles também foram atingidos pela radiação.
se levantou com uma expressão indignada.
- Por quê nossos uniformes estão aqui em uma caixa qualquer? Eles deviam estar em um ambiente controlado, em um laboratório. Isso contém radiação solar! - Ela reclamou e só então Reed pareceu ter acodado desde que levantou da cama.
- Victor mandou entregar assim junto com outros pertences nossos que deixamos no completo da Van Doom. - Ben disse amargurado.
O modo como Victor estava os tratando com total descaso deixava todos ainda mais nervosos.
- Ok, já chega! - Reclamou Johnny jogando o pano de prato queimado no lixo. - Se vocês querem ficar aqui presos até enlouquecer com todos esses dados científicos, o problema é de vocês!
Sue revirou os olhos, Reed bocejou.
Ben quebrou o garfo sem querer, cruzou os braços.
- Hasta la vista, baby. - Johnny pegou a caixa com os uniformes e saiu da cozinha.
- Johhny, volta aqui! O que você vai fazer com isso? - Sue gritou, mas não se levantou. Ninguém parecia ter energia para lidar com Johnny no momento.
Eles ouviram Johnny bater a porta da frente. Ben socou a mesa resmungando:
- Não tem um talher que eu possa usar nessa casa?!
-------------------- II --------------------
O dia passou rápido para que ficou a maior parte do tempo analisando dados com Reed. Já passava da hora do jantar quando ele pediu para que ela permitisse que ele fizesse sua avaliação. Ela se sentou sobre a cadeira e ela mesma coletou uma amostra de sangue para evitar que Reed a tocasse. Do outro lado da sala Sue encarava o televisor ao canto, ela observou a tela parecendo surpresa ao ver o noticiário.
- Johnny está na televisão! - Ela exclamou colocando as mãos na cintura.
Ela aumentou o volume do aparelho e até Ben que havia acabado de entrar parou para ver a matéria.
Johnny estava no que parecia ser um festival de motocross usando o uniforme que Sue havia separado antes. A televisão mostrava um vídeo em replay de Johnny fazendo uma manobra com a moto no ar enquanto seu corpo estava completamente coberto pelo fogo.
O vídeo cortou para mostrar Johnny na tela ao lado de uma repórter que parecia perto demais dele. O rapaz deixou a mão na cintura da repórter e exibia seu sorriso convencido para a câmera.
- Então, Johnny Storm, o mundo está curioso para saber o que aconteceu com você e o restante da tripulação Van Doom. - A repórter dizia enquanto sorria abobalhada para ele. - Vocês tem super poderes agora?
- Pode-se dizer que sim. - Johnny sorriu. - Acho que devemos aceitar essas alterações em nosso corpo como uma dádiva e usá-las para ajudar outras pessoas. - Ele deu um piscadinha para a câmera.
- Esse moleque...! - Ben murmurou com raiva.
A cada segundo Sue ficava mais vermelha.
- Nos fale mais sobre os outros, Johnny. - Pediu a repórter se inclinando mais para encostar nos braços dele.
O televisor mostrou a foto de cada um deles.
- O Reed é o Senhor Elástico, vocês viram que ele consegue alonga toda parte do corpo? Aposto que as garotas iriam adorar. - Brincou Johnny.
Reed passou a mão pelo cabelo envergonhado e se levantou em busca do casaco já planejando ir atrás do rapaz e tirá-lo de lá antes que falasse mais porcaria.
- A Sue é a Mulher Invisível. A não decidimos ainda, mas estamos pensando algo entre Espectro ou Dementador. - Johnny continuou fazendo a apresentadora rir. - é mais reservada e é o cérebro da equipe. Ela tem uma quedinha por mim, mas é meio trágico...
- Por quê? - Perguntou a repórter.
Ben, Sue e Reed se viraram para ver a reação de que encarava a televisão sem desviar os olhos.
- Não podemos nos tocar por causa dos poderes dela. - Johnny disse em um tom mais triste que convenciaria qualquer um que não o conhecesse bem.
- Uma história de amor em meio a toda a tragédia da missão! - Exclamou a repórter. - Mas aquele outro do grupo? Como chamam aquela coisa?
- Assim mesmo, de "Coisa"! - Johnny Storm disse sorrindo fazendo a repórter rir.
- Eu vou matar esse cara! - Ben gritou saindo da sala em direção a entrada.
Sue desligou a televisão e pegou as chaves do carro e seguiu Ben compartilhando a mesma fúria.
- Você vem, Addy? - Perguntou Reed.
voltou a se sentar e pegou novamente os dados do seu sangue para continuar a pesquisa.
- Não vou perder o meu tempo com ele. - Ela murmurou. Reed assentiu e saiu do loft deixando sem perceber o suspiro irritado que ela deixou escapar.
-------------------- II --------------------
Reed e Sue estavam esperando por Johnny na entrada do autódromo quando ele saiu. Reed parecia mais descabelado que o normal, Sue estava rígida como pedra e os dois conversavam exasperados. Sue balançou a cabeça concordando com algo que Reed havia acabado de falar, era a primeira vez em anos que Johnny os via concordando em algo. Talvez tivesse chegado à conclusão que deviam matá-lo.
- Antes que todo mundo comece a gritar... - Johnny disse se aproximando. - Quero deixar claro que fiz um favor a todos nós.
- Um favor? Expondo a todos nós dessa maneira? - Sue estava a um ponto de gritar. - Não pensou por um segundo em como nós nos sentiríamos com isso?
- Ficar nos escondendo não vai ajudar! - Retomou Johnny ignorando o fato de que não tinha pensado muito sobre suas ações. - Eu pelo menos não tenho vergonha do que me tornei!
Reed que estava calado até então, tomou um passo à frente.
- Fácil para você dizer. Você não se olha no espelho sem reconhecer o próprio reflexo como Ben. Você não precisa se preocupar em tocar as pessoas que ama e machucá-las por acidente, como . - Reed murmurou em voz baixa só para ele ouvir. - Então, nos perdoe se para alguns de nós é mais difícil do que para você.
Johnny abriu a boca para responder, mas deixou as palavras morrerem porque nenhuma delas poderia responder aquilo.
Susan tocou no braço de Reed dizendo:
- Vamos para casa.
Johnny suspirou e caminhou em direção à calçada, parou ao perceber a faixa de estacionamento vazia.
- Onde está o meu carro? - Ele murmurou.
Nesse momento uma grande bola de metal vermelha e preta rolou pelo asfalto em direção a ele. Do outro lado da rua estava Ben Grimmes furioso.
- Um pequeno presente pelo favor que você nos fez hoje! - Ben rosnou.
Johnny sentiu a raiva crescer dentro de si ao olhar o conversível destruído. Seu braço imediatamente se transformou em chamas enquanto ele se preparava para acertar Ben.
- Chega! - Dessa vez Sue gritou se colocando entre ele e Ben. Reed já estava ao lado de Ben para segurá-lo se fosse preciso. - Parem os dois! Estão sendo idiotas!
Ela puxou Johnny pelo braço e o conduziu para o seu carro. Colocaram ele no carona ao lado de Sue para não precisar ir ao lado de Ben e continuar a discussão. Eles seguiram até o Edifício Baxter em um silêncio descontável e tenso.
No elevador, Reed e Ben subiram primeiro em um elevador. Sue e Johnny foram depois no segundo. Quando chegaram na entrada do loft, sua irmã abriu a porta e avisou:
- Estou exausta, vou descansar.
Ele fechou a porta atrás de si olhando para as luzes apagadas, a única luz do local vinha da sacada. Ele presumiu que todos já estivessem em seus quartos, ninguém com paciência para encarar Johnny Storm depois do show que dera naquela noite.
Ele seguiu em direção à sacada, passou pela porta de vidro e olhou para a vista da cidade de Nova York que se estendia na frente do Edifício. Era uma grande sacada, Reed tinha escolhido bem o loft da cobertura e não era novidade para ninguém que ele estava prestes a perder a hipoteca. No muro ornamentado da sacada havia uma figura debruçada encarando o céu noturno.
estava com o cabelo escuro preso em um rabo de cavalo e sua cabeça encarava o pequeno brilho no céu, uma estrela. Ele se aproximou colocando as mãos no bolso da jaqueta e se apoiou na mureta ao lado dela encarando a mesma estrela.
- Qual o nome dessa estrela? - Ele perguntou enquanto sentia uma súbita vontade de voar para longe de novo.
- Na verdade, é um planeta. - deu um meio sorriso. - É muito comum confundir Vênus com uma estrela.
O silêncio da noite ficou alguns segundos sobre os dois, até ele ter a coragem de dizer:
- Eu sei que está brava como os outros.
- Estou. - Ela disse simplesmente enquanto passava o indicador pelas pontas do cabelo.
- Não vai gritar comigo? - Johnny não estava acostumado com aquele tipo de reação, o deixava desconfortável. o deixava todo desconcertado.
- Adiantaria? Além do mais, Susan já deve ter gritado bastante. - Ela murmurou ainda sem olhar para ele, seus olhos percorriam o céu de Nova York.
- Achei que ia gostar ou pelo menos achar engraçado. Você riu quando falamos de apelidos na outra noite. - Ele lembrou sem conseguir tirar os olhos dela. Nem mesmo o céu estrelado sobre aquela cidade poderia desviar a atenção dele.
- Foi engraçado quando era nós dois. Dois amigos dando suporte um para o outro e não se expondo na mídia, Johnny. - Ela disse e se virou para o olhar nos olhos.
Ela não alterou o tom de voz. Mas Johnny percebeu que a conhecia o bastante para notar a leve nota de decepção em suas feições.
- Não me olha assim. - Johnny murmurou. - Não você.
franziu a testa como se não tivesse entendido a última frase. Ele deu uma risada baixa e sem graça para quebrar a tensão.
- Eu não sou idiota. Bem, não completamente. - Ele falou virando o rosto para as luzes da cidade encarando os arranha-céus. - Reed está prestes a perder o Edifício, Victor não vai gastar mais com nossas operações, você está bancando boa parte e parece travar uma batalha com Reed só pelo olhar. Ele não quer ajuda, quer dar conta dos gastos sozinho. E por mais que você ajude, Addy...
Ele percebeu que era a primeira vez que dizia seu apelido de um jeito carinhoso. Ele limpou a garganta e continuou:
- Por mais que ajude, não sabemos até quando isso tudo vai durar. Dinheiro acaba rápido, se jogarmos isso na mídia e despertar o interesse das pessoas, podemos conseguir certo patrocínio. - Ele umedeceu os lábios secos com a ponta da língua e deu um sorriso discreto. - Eu não tenho o cérebro de vocês, mas com esse rostinho bonito eu entendo bem sobre vender a própria imagem.
o olhava surpresa, Johnny se permitiu sentir mais um pouco de orgulho e virou de costas para a cidade se apoiando no muro com as costas. Os olhos cravados em .
- Nada vende melhor do que uma trágica história de amor. - Ele concluiu.
- Johnny Storm... - Ela murmurou semicerrando os olhos. - Eu não sei se te amo ou te odeio.
Ele riu baixo subitamente sem graça com o que ela havia dito.
- Pode decidir depois que recebermos os contatos e doações.
Ela balançou a cabeça, a brisa deixou alguns fios escuros soltarem do penteado e Johnny quase ergueu a mão para colocar os fios no lugar. Ele se lembrou de quando eles estavam no espaço, quando estavam no Olho de Zeus que havia projetado e era como estivessem em pé sobre as estrelas. Ele se lembrava do olhar dela e se lembraria do olhar que ela lhe deu aquela noite e no sorriso que ela tentava esconder naquele momento. Se fosse qualquer garota, Johnny Storm não teria passado vontade. Ele era veterano nesse jogo e só ganhava, nunca perdia. Os flertes, os olhares e os beijos eram naturais, era uma brincadeira de todo dia. Mas havia algo ali que tornava aquilo muito diferente dos seus jogos rotineiros, a vontade estava lá, mas tudo parecia perfeito demais.
parecia perfeita demais com seus olhos de traços asiáticos e cabelos escuros, o céu parecia perfeito demais, os olhares perfeitos demais e tudo isso sob a luz de Vênus que piscava distante no céu. De repente, não parecia um jogo e pela primeira vez Johnny Storm não pensava apenas no desejo.
- Vamos sair. - Ele disse simplesmente sem entender se queria levá-la a um encontro ou embarcar em uma nave com ela e beijá-la no espaço por mais alguns anos luz.
Ela piscou como se a ideia fosse absurda demais até para Johnny.
- Agora?! Você acabou de voltar e arranjou a maior confusão. - Ela exclamou. - Devia estar de castigo!
Ele riu e a puxou para perto com um braço envolvendo sua cintura.
- Qual o seu lugar favorito na cidade?
- O observatório. - Ela respondeu em um sussurro, os rostos pareciam se aproximar em um ritmo lento e natural como nuvens passeando pelo céu. - Mas deve estar fechado agora.
- Algum outro lugar? - Ele arqueou a sobrancelha enquanto ela mordia os lábios pensativa. Johnny precisou desviar os olhos da boca dela por um instante.
- Tem um café coreano perto da estação Hudson. Eu sempre vou lá pra relaxar e ouvir música pop coreana. - Ela murmurou devagar.
Johnny riu baixo.
- Café e música pop coreana? - Ele refletiu por um instante, os olhos azuis escuros como o céu noturno. - Vamos nessa!
Ele seguiu deslizando sua mão pelo braço dela uma vontade tão natural que ele só notou o que estava fazendo quando ela recuou antes que ele alcançasse as mãos dela. Então ele notou que havia tocado em seus braços que estavam cobertos com as mangas da blusa, mas as mãos estavam nuas.
- Eu vou pegar as luvas e as chaves do carro. - Ela disse se afastando e entrando de volta na grande sala do loft.
Antes de entrar Johnny se virou e encarou de novo a estrela de Vênus se perguntando se seria o planeta regente do amor jogando um jogo com Johnny Storm. Depois de tantos jogos insignificativos, Johnny havia encontrado alguém que queria desesperadamente beijar e era incapaz de simplesmente segurar sua mão.
Mais equipamentos chegaram no decorrer dos dias, grandes peças de metais, um robô para ajudar nas montagens das peças e acessórios de segurança. se encarregou da montagem, ela era boa com engenharia também. Johnny começava a se perguntar se havia algo no mundo em que conseguisse não ser irritantemente boa. Ela coordenou a montagem das peças pedindo para que Reed se esticasse onde ela não conseguia alcançar; Ben ficou responsável de carregar e mover as partes mais pesadas; e Johnny fez a soldagem dos metais, fazendo questão de usar uma regata branca e deixar seu calor transparecer.
Quando tudo ficou pronto a coisa revelou-se ser uma câmara de metal maciço. Reed e Sue ficaram com a parte elétrica e digital, Sue era boa com dados e ficou na frente do computador cuidando das configurações.
- Está funcionando. - Anunciou Sue. - Estou iniciando as configurações, quem vai primeiro?
empurrou Johnny para dentro da câmara e o trancou lá dentro. E foi assim que ele passou os dias seguintes, quando não estava dentro da câmara estava esperando o seu horário de estar na câmara. Precisavam testar seus poderes, mas Johnny nunca podia esquentar demais sem atingir o nível de uma supernova e queimar o planeta inteiro. Quando ele esquentava demais, todos gritavam horrorizados com medo de que fosse trazer o apocalipse.
Em um dia no café da manhã, Ben esmagou um saco com um quilo de laranjas e deixou o suco sobre uma jarra de vidro que era a única coisa que cabia em sua grande boca rochosa. Johnny tentou fazer um omelete, mas acidentalmente queimou tudo em que tocava, incluindo o pano de prato. Toda aquela situação estava o deixando nervoso, fazia mais de uma semana que não saía daquele lugar.
Johnny Storm odiava se sentir preso, odiava o peso das responsabilidades e odiava que todos estivessem agindo como se não estivessem estressados também.
- Eu estudei nossos trajes e parece que eles se adaptam às mudanças do nosso corpo. - Sue comentou apontando para uma caixa que estava no canto da mesa. - Talvez porquê eles também foram atingidos pela radiação.
se levantou com uma expressão indignada.
- Por quê nossos uniformes estão aqui em uma caixa qualquer? Eles deviam estar em um ambiente controlado, em um laboratório. Isso contém radiação solar! - Ela reclamou e só então Reed pareceu ter acodado desde que levantou da cama.
- Victor mandou entregar assim junto com outros pertences nossos que deixamos no completo da Van Doom. - Ben disse amargurado.
O modo como Victor estava os tratando com total descaso deixava todos ainda mais nervosos.
- Ok, já chega! - Reclamou Johnny jogando o pano de prato queimado no lixo. - Se vocês querem ficar aqui presos até enlouquecer com todos esses dados científicos, o problema é de vocês!
Sue revirou os olhos, Reed bocejou.
Ben quebrou o garfo sem querer, cruzou os braços.
- Hasta la vista, baby. - Johnny pegou a caixa com os uniformes e saiu da cozinha.
- Johhny, volta aqui! O que você vai fazer com isso? - Sue gritou, mas não se levantou. Ninguém parecia ter energia para lidar com Johnny no momento.
Eles ouviram Johnny bater a porta da frente. Ben socou a mesa resmungando:
- Não tem um talher que eu possa usar nessa casa?!
O dia passou rápido para que ficou a maior parte do tempo analisando dados com Reed. Já passava da hora do jantar quando ele pediu para que ela permitisse que ele fizesse sua avaliação. Ela se sentou sobre a cadeira e ela mesma coletou uma amostra de sangue para evitar que Reed a tocasse. Do outro lado da sala Sue encarava o televisor ao canto, ela observou a tela parecendo surpresa ao ver o noticiário.
- Johnny está na televisão! - Ela exclamou colocando as mãos na cintura.
Ela aumentou o volume do aparelho e até Ben que havia acabado de entrar parou para ver a matéria.
Johnny estava no que parecia ser um festival de motocross usando o uniforme que Sue havia separado antes. A televisão mostrava um vídeo em replay de Johnny fazendo uma manobra com a moto no ar enquanto seu corpo estava completamente coberto pelo fogo.
O vídeo cortou para mostrar Johnny na tela ao lado de uma repórter que parecia perto demais dele. O rapaz deixou a mão na cintura da repórter e exibia seu sorriso convencido para a câmera.
- Então, Johnny Storm, o mundo está curioso para saber o que aconteceu com você e o restante da tripulação Van Doom. - A repórter dizia enquanto sorria abobalhada para ele. - Vocês tem super poderes agora?
- Pode-se dizer que sim. - Johnny sorriu. - Acho que devemos aceitar essas alterações em nosso corpo como uma dádiva e usá-las para ajudar outras pessoas. - Ele deu um piscadinha para a câmera.
- Esse moleque...! - Ben murmurou com raiva.
A cada segundo Sue ficava mais vermelha.
- Nos fale mais sobre os outros, Johnny. - Pediu a repórter se inclinando mais para encostar nos braços dele.
O televisor mostrou a foto de cada um deles.
- O Reed é o Senhor Elástico, vocês viram que ele consegue alonga toda parte do corpo? Aposto que as garotas iriam adorar. - Brincou Johnny.
Reed passou a mão pelo cabelo envergonhado e se levantou em busca do casaco já planejando ir atrás do rapaz e tirá-lo de lá antes que falasse mais porcaria.
- A Sue é a Mulher Invisível. A não decidimos ainda, mas estamos pensando algo entre Espectro ou Dementador. - Johnny continuou fazendo a apresentadora rir. - é mais reservada e é o cérebro da equipe. Ela tem uma quedinha por mim, mas é meio trágico...
- Por quê? - Perguntou a repórter.
Ben, Sue e Reed se viraram para ver a reação de que encarava a televisão sem desviar os olhos.
- Não podemos nos tocar por causa dos poderes dela. - Johnny disse em um tom mais triste que convenciaria qualquer um que não o conhecesse bem.
- Uma história de amor em meio a toda a tragédia da missão! - Exclamou a repórter. - Mas aquele outro do grupo? Como chamam aquela coisa?
- Assim mesmo, de "Coisa"! - Johnny Storm disse sorrindo fazendo a repórter rir.
- Eu vou matar esse cara! - Ben gritou saindo da sala em direção a entrada.
Sue desligou a televisão e pegou as chaves do carro e seguiu Ben compartilhando a mesma fúria.
- Você vem, Addy? - Perguntou Reed.
voltou a se sentar e pegou novamente os dados do seu sangue para continuar a pesquisa.
- Não vou perder o meu tempo com ele. - Ela murmurou. Reed assentiu e saiu do loft deixando sem perceber o suspiro irritado que ela deixou escapar.
Reed e Sue estavam esperando por Johnny na entrada do autódromo quando ele saiu. Reed parecia mais descabelado que o normal, Sue estava rígida como pedra e os dois conversavam exasperados. Sue balançou a cabeça concordando com algo que Reed havia acabado de falar, era a primeira vez em anos que Johnny os via concordando em algo. Talvez tivesse chegado à conclusão que deviam matá-lo.
- Antes que todo mundo comece a gritar... - Johnny disse se aproximando. - Quero deixar claro que fiz um favor a todos nós.
- Um favor? Expondo a todos nós dessa maneira? - Sue estava a um ponto de gritar. - Não pensou por um segundo em como nós nos sentiríamos com isso?
- Ficar nos escondendo não vai ajudar! - Retomou Johnny ignorando o fato de que não tinha pensado muito sobre suas ações. - Eu pelo menos não tenho vergonha do que me tornei!
Reed que estava calado até então, tomou um passo à frente.
- Fácil para você dizer. Você não se olha no espelho sem reconhecer o próprio reflexo como Ben. Você não precisa se preocupar em tocar as pessoas que ama e machucá-las por acidente, como . - Reed murmurou em voz baixa só para ele ouvir. - Então, nos perdoe se para alguns de nós é mais difícil do que para você.
Johnny abriu a boca para responder, mas deixou as palavras morrerem porque nenhuma delas poderia responder aquilo.
Susan tocou no braço de Reed dizendo:
- Vamos para casa.
Johnny suspirou e caminhou em direção à calçada, parou ao perceber a faixa de estacionamento vazia.
- Onde está o meu carro? - Ele murmurou.
Nesse momento uma grande bola de metal vermelha e preta rolou pelo asfalto em direção a ele. Do outro lado da rua estava Ben Grimmes furioso.
- Um pequeno presente pelo favor que você nos fez hoje! - Ben rosnou.
Johnny sentiu a raiva crescer dentro de si ao olhar o conversível destruído. Seu braço imediatamente se transformou em chamas enquanto ele se preparava para acertar Ben.
- Chega! - Dessa vez Sue gritou se colocando entre ele e Ben. Reed já estava ao lado de Ben para segurá-lo se fosse preciso. - Parem os dois! Estão sendo idiotas!
Ela puxou Johnny pelo braço e o conduziu para o seu carro. Colocaram ele no carona ao lado de Sue para não precisar ir ao lado de Ben e continuar a discussão. Eles seguiram até o Edifício Baxter em um silêncio descontável e tenso.
No elevador, Reed e Ben subiram primeiro em um elevador. Sue e Johnny foram depois no segundo. Quando chegaram na entrada do loft, sua irmã abriu a porta e avisou:
- Estou exausta, vou descansar.
Ele fechou a porta atrás de si olhando para as luzes apagadas, a única luz do local vinha da sacada. Ele presumiu que todos já estivessem em seus quartos, ninguém com paciência para encarar Johnny Storm depois do show que dera naquela noite.
Ele seguiu em direção à sacada, passou pela porta de vidro e olhou para a vista da cidade de Nova York que se estendia na frente do Edifício. Era uma grande sacada, Reed tinha escolhido bem o loft da cobertura e não era novidade para ninguém que ele estava prestes a perder a hipoteca. No muro ornamentado da sacada havia uma figura debruçada encarando o céu noturno.
estava com o cabelo escuro preso em um rabo de cavalo e sua cabeça encarava o pequeno brilho no céu, uma estrela. Ele se aproximou colocando as mãos no bolso da jaqueta e se apoiou na mureta ao lado dela encarando a mesma estrela.
- Qual o nome dessa estrela? - Ele perguntou enquanto sentia uma súbita vontade de voar para longe de novo.
- Na verdade, é um planeta. - deu um meio sorriso. - É muito comum confundir Vênus com uma estrela.
O silêncio da noite ficou alguns segundos sobre os dois, até ele ter a coragem de dizer:
- Eu sei que está brava como os outros.
- Estou. - Ela disse simplesmente enquanto passava o indicador pelas pontas do cabelo.
- Não vai gritar comigo? - Johnny não estava acostumado com aquele tipo de reação, o deixava desconfortável. o deixava todo desconcertado.
- Adiantaria? Além do mais, Susan já deve ter gritado bastante. - Ela murmurou ainda sem olhar para ele, seus olhos percorriam o céu de Nova York.
- Achei que ia gostar ou pelo menos achar engraçado. Você riu quando falamos de apelidos na outra noite. - Ele lembrou sem conseguir tirar os olhos dela. Nem mesmo o céu estrelado sobre aquela cidade poderia desviar a atenção dele.
- Foi engraçado quando era nós dois. Dois amigos dando suporte um para o outro e não se expondo na mídia, Johnny. - Ela disse e se virou para o olhar nos olhos.
Ela não alterou o tom de voz. Mas Johnny percebeu que a conhecia o bastante para notar a leve nota de decepção em suas feições.
- Não me olha assim. - Johnny murmurou. - Não você.
franziu a testa como se não tivesse entendido a última frase. Ele deu uma risada baixa e sem graça para quebrar a tensão.
- Eu não sou idiota. Bem, não completamente. - Ele falou virando o rosto para as luzes da cidade encarando os arranha-céus. - Reed está prestes a perder o Edifício, Victor não vai gastar mais com nossas operações, você está bancando boa parte e parece travar uma batalha com Reed só pelo olhar. Ele não quer ajuda, quer dar conta dos gastos sozinho. E por mais que você ajude, Addy...
Ele percebeu que era a primeira vez que dizia seu apelido de um jeito carinhoso. Ele limpou a garganta e continuou:
- Por mais que ajude, não sabemos até quando isso tudo vai durar. Dinheiro acaba rápido, se jogarmos isso na mídia e despertar o interesse das pessoas, podemos conseguir certo patrocínio. - Ele umedeceu os lábios secos com a ponta da língua e deu um sorriso discreto. - Eu não tenho o cérebro de vocês, mas com esse rostinho bonito eu entendo bem sobre vender a própria imagem.
o olhava surpresa, Johnny se permitiu sentir mais um pouco de orgulho e virou de costas para a cidade se apoiando no muro com as costas. Os olhos cravados em .
- Nada vende melhor do que uma trágica história de amor. - Ele concluiu.
- Johnny Storm... - Ela murmurou semicerrando os olhos. - Eu não sei se te amo ou te odeio.
Ele riu baixo subitamente sem graça com o que ela havia dito.
- Pode decidir depois que recebermos os contatos e doações.
Ela balançou a cabeça, a brisa deixou alguns fios escuros soltarem do penteado e Johnny quase ergueu a mão para colocar os fios no lugar. Ele se lembrou de quando eles estavam no espaço, quando estavam no Olho de Zeus que havia projetado e era como estivessem em pé sobre as estrelas. Ele se lembrava do olhar dela e se lembraria do olhar que ela lhe deu aquela noite e no sorriso que ela tentava esconder naquele momento. Se fosse qualquer garota, Johnny Storm não teria passado vontade. Ele era veterano nesse jogo e só ganhava, nunca perdia. Os flertes, os olhares e os beijos eram naturais, era uma brincadeira de todo dia. Mas havia algo ali que tornava aquilo muito diferente dos seus jogos rotineiros, a vontade estava lá, mas tudo parecia perfeito demais.
parecia perfeita demais com seus olhos de traços asiáticos e cabelos escuros, o céu parecia perfeito demais, os olhares perfeitos demais e tudo isso sob a luz de Vênus que piscava distante no céu. De repente, não parecia um jogo e pela primeira vez Johnny Storm não pensava apenas no desejo.
- Vamos sair. - Ele disse simplesmente sem entender se queria levá-la a um encontro ou embarcar em uma nave com ela e beijá-la no espaço por mais alguns anos luz.
Ela piscou como se a ideia fosse absurda demais até para Johnny.
- Agora?! Você acabou de voltar e arranjou a maior confusão. - Ela exclamou. - Devia estar de castigo!
Ele riu e a puxou para perto com um braço envolvendo sua cintura.
- Qual o seu lugar favorito na cidade?
- O observatório. - Ela respondeu em um sussurro, os rostos pareciam se aproximar em um ritmo lento e natural como nuvens passeando pelo céu. - Mas deve estar fechado agora.
- Algum outro lugar? - Ele arqueou a sobrancelha enquanto ela mordia os lábios pensativa. Johnny precisou desviar os olhos da boca dela por um instante.
- Tem um café coreano perto da estação Hudson. Eu sempre vou lá pra relaxar e ouvir música pop coreana. - Ela murmurou devagar.
Johnny riu baixo.
- Café e música pop coreana? - Ele refletiu por um instante, os olhos azuis escuros como o céu noturno. - Vamos nessa!
Ele seguiu deslizando sua mão pelo braço dela uma vontade tão natural que ele só notou o que estava fazendo quando ela recuou antes que ele alcançasse as mãos dela. Então ele notou que havia tocado em seus braços que estavam cobertos com as mangas da blusa, mas as mãos estavam nuas.
- Eu vou pegar as luvas e as chaves do carro. - Ela disse se afastando e entrando de volta na grande sala do loft.
Antes de entrar Johnny se virou e encarou de novo a estrela de Vênus se perguntando se seria o planeta regente do amor jogando um jogo com Johnny Storm. Depois de tantos jogos insignificativos, Johnny havia encontrado alguém que queria desesperadamente beijar e era incapaz de simplesmente segurar sua mão.
Capítulo 10
O CONVERSÍVEL VERMELHO DE Johnny havia sido esmagado por Ben Grimmes, o que significava que ele estava sem seu carro preferido - e mais caro. A outra opção que ele tinha na garagem do Edifício Baxter era sua moto e deixou bem claro que não andaria de moto com Johnny.
- Ter certeza que vai perder a oportunidade de ficar agarrada à minha cintura? - Ele brincou enquanto ela encarava a moto com uma expressão de desgosto.
- Como se isso fosse grande coisa. - Ela resmungou se virando e continuou a andar pelo estacionamento. - Nós vamos no meu carro.
Ela parou em frente a um jeep preto. Era um modelo novo e Johnny sabia bem que não era barato. Ela desativou o alarme e Johnny seguiu para o banco do carona.
- Sempre te imaginei com um sedan preto e não um carro esportivo. - Ele disse quando entrou, colocou o cinto e deu partida.
- Na verdade, eu tinha também um sedan preto. - Ela comentou manobrando para sair da garagem. - Mas concluí que era desnecessário tê-los como brinquedinhos, preferi manter um sustentável.
Era claro que seguiria métodos sustentáveis, Johnny pensou, ela era uma pessoa muito consciente dos problemas do planeta e dos desafios do universo em que habitava. Olhando para ela dirigindo, Johnny percebeu que talvez conseguisse adivinhar quais filmes ela gostava de assistir, que música faria seu coração relaxar e que comida ela iria apreciar. Ele não tinha percebido que a observava tão atentamente nas últimas semanas.
- Você está calado por muito tempo, Storm. - Ela notou quando pararam em um farol. Ela se virou para ele com um sorriso. - É impressão minha ou você anda pensando demais?
- É, eu tenho que adimitir que tenho usado mais a cabeça. - Ele comentou, as luzes da cidade refleriam os olhos dos dois dentro do jeep. - É bom sair por um momento. Não acha sufocante conviver com Reed super focado, Sue sendo mandona e Ben sempre irritado?
Ela pareceu pensar por um instante enquanto virava o volante para fazer a curva, as luvas tocavam o volante com precisão e calma.
- Na verdade, eu acho acolhedor. Por mais estressante que seja, nos últimos dias eu me senti em casa. - Ela murmurou enquanto Johnny franzia a testa pensativo. - Sabe, eu nunca tive uma família de verdade. Mesmo quando me adotavam, era sempre silencioso e vazio. Mas não com vocês.
Johnny limpou a garganta antes de perguntar:
- Foi adotada... mais de uma vez?
- Duas vezes. - Ela murmurou naturalmente. era sempre reservada, mas aquela conversa com Johnny parecia fluir de forma tão leve que ela não sentia mais a necessidade de ter um muro de proteção em volta de si. - Na primeira vez eu tinha oito, fiquei três meses com meus novos pais e estava tudo indo bem. Sabe, toda criança sonha com a família perfeita, mas nem todo mundo qie adota quer cuidar da criança em si. Alguns adotam só pra satisfazer sua vontade de ser pais e não pensam nas necessidades da criança em si. Faz sentido?
- Sim, faz, eu acho.
- Esse casal queria adotar porquê não haviam conseguido ter filhos. Mas depois de eu estar com ele por três meses, a mulher engravidou e acho que isso resolveu o "problema" deles e não precisavam mais de mim. - trocou a marcha, mas parecia a Johnny que ela estava tentando controlar o coração além do carro. - Fui devolvida, disseram que a gente não tinha se dado bem. Foi como se eu não fosse boa o bastante, acho que isso me fez estudar o tempo todo e me controlar para ter tudo sempre em ordem.
De repente Johnny pensou em todas as vezes que o cabelo de estava preso em um rabo de cavalo sem deixar nenhum fio escapar, em como suas roupas estavam sempre organizadas e nunca amarrotadas, em como sua mesa era uma perfeita organização. Pensou em como ela sempre sentava com a postura ereta, em como até seus sorrisos eram medidos e suas palavras equilibradas. E pensou na criança que se esforçava para ser perfeita na esperança de ser boa o bastante para ser amada. E aquilo gerou algo dentro de si uma mistura de raiva e indignação.
- Filhos da...
fez um gesto com a mão indicando que aquilo não fazia mais diferença.
- Eles pelo menos me devolveram, a segunda família me usou. Eu fiquei muito boa em competições acadêmicas, cheguei a ganhar bolsas de estudos e recompensas em dinheiro com isso. - Ela disse diminuindo a velocidade para estacionar no meio fio e era como se eles estivessem chegando a um ponto em que conheceriam o passado um do outro.
Johnny Storm sabia que quando chegava naquela parte, um limite estava sendo ultrapassado. sabia consigo que estava entregando a ele sua confiança. Se fosse qualquer outra pessoa, Johnny teria pulado para fora do carro e evitado qualquer coisa relacionada à intimidade. Se fosse qualquer outra pessoa, nunca contaria sobre sua vida.
Mas ainda assim os dois continuaram no carro se escutando e conversando, como se a linha do limite estivesse enfraquecendo. Como se ambos estivessem cansados de sempre ter que tomar cuidado para não deixar alguém se aproximar demais.
- Eles me usavam para conseguir prêmios, visibilidade. Eram donos de um instituto educacional, eu era a propaganda. Só me elogiavam se eu estivesse com a nota em cima da média e nunca demonstravam interesse em outra coisa além disso. - Ela suspirou relaxando os ombros como se falar daquilo tirasse um peso de si. - Eu achava que era querida e amada, afinal que criança não quer uma família? Mas a assistente social que me acompanhava suspeitou do que estava acontecendo e os denunciou. Quando eu voltei para orfanato fiquei muito magoada, achei que tinham tirado minha família de mim.
- Você achava que aquilo era amor. - Johnny observou e por um momento os olhos dele encontraram os dela.
- Sim, eu entendi mais tarde. Por isso Reed, Ben e agora Susan e você são como uma família. - Ela murmurou abrindo um sorriso sincero e nada tímido como se pudesse ser ela mesma na presença dele e aquilo era inebriante para os dois.
Johnny estava sorrindo quando disse:
- Reed é o pai atrapalhado, Sue a mãe brava e Ben o tio chato.
- Isso faz de nós os filhos? - pensou em dúvida.
- Não, nós somos os primos distantes ricos. - Johnny decidiu.
riu e abriu a porta do carro, Johnny a seguiu para fora e olhou para a fachada do café. Por fora ele era decorado com madeira em cores terrosas e por dentro havia várias lâmpadas penduradas em finos fios de aço. Quando eles entraram, ele pode ver no teto a pintura de constelações e nas paredes haviam pinturas de planetas distantes. Era aconchegante como se estivessem tomando chocolate quente em meio às estrelas, bem óbvio porquê aquele era o preferido de Addy.
- Achei a cara da queridinha da NASA. - Ele brincou com um meio sorriso enquanto eles se sentavam na mesa do canto. Na parede atrás de Addy havia vários post-it com recadinhos deixados pelos clientes.
- Eu tenho bom gosto, eu sei. - Ela disse tirando o cardápio da mesa e entregando para ele.
Na televisão ao canto passava vídeos musicais asiáticos e a música era calma. Além deles, haviam no máximo outros quatro clientes pelo que Johnny conseguiu notar.
- Você sugere algo? - Ele perguntou.
- Eu gosto do chocolate quente com a foto de um gatinho em cima. - Ela apontou para a imagem no cardápio e ele arregalou os olhos surpresos.
- Eles conseguem colocar a imagem do gatinho no café e você bebe? Estou impressionado em quanta tecnologia avançada é necessário para juntar café e gatos. - Ele murmurou.
- Eu sei! - concordou como se aquilo fosse tão brilhante quanto estar no espaço. - Vou fazer nosso pedido. Quer alguma torta?
- De maçã. Tem fotos dr cachorros nas tortas?
- Não, idiota. Já volto. - Ela disse se levantando da mesa e indo até o balcão para olhar as tortas. Estava sorrindo mais frequentemente, conseguia sentir os músculos do rosto de tanto que estava os usando.
não se permitia admitir, mas estava cansada nos últimos dias. Estar ali com Johnny e deixá-lo saber quem ela era, era de certa forma aliviador. Não se lembrava da última vez que havia contado um segredo a um amigo ou até mesmo qial fora a última vez que fizera um amigo novo. Reed estava mais presente para os assuntos da pesquisa, Ben estava tirando um tempo pra aceitar a si mesmo, Chloe não atendia suas ligações. De todas as pessoas, sempre achou que Johnny seria o mais improvável a se aproximar já que eles eram bem diferentes.
Mas agora, até que o jeito irritante de Johnny era também um conforto. Ele estava se mostrando um bom amigo.
fez o pedido e quando se virou para a mesa viu Johnny colar um post-it na parede e voltar rápido para seu lugar como se nada tivesse acontecido. Ela caminhou até mesa fingindo não ter notado e se sentou.
- Esse lugar é peculiar, mas é aconchegante. Você vem muito aqui? - Johnny estava olhando para os vídeos na televisão com um olhar divertido.
- Sim, eu queria encontrar algo que me conectava com minhas raízes, minha história e origem. - Ela explicou. - É difícil desenvolver identidade em orfanatos, eu precisava sentir que pertencia a algo.
- Eu sinto muito, não faço ideia de como é enfrentar tudo isso. - Ele disse em um tom sério e compreensivo, era tão raro vê-lo com aquela expressão que não sabia como reagir. - Minha mãe faleceu quando eu e Sue éramos pequenos, nosso pai nos criou sozinho. Ele fez tudo o que podia para ser um bom pai, era presente, atencioso e dedicado. Mas eu o ouvia chorar na cozinha de madrugada em todos os dias dos namorados, em toda véspera de natal e no aniversário de casamento.
Johnny deu de ombros.
- Meu pai nunca casou ou namorou de novo. E ele merecia, merecia seguir em frente só que não conseguia. - Ele balançou a cabeça e suspirou. - Por mais que se amassem, ele nunca mais voltou a ser ele mesmo. Não sei se é o tipo de sofrimento que eu quero para mim.
- Então.... Você não se apega a nada?
- Eu sei que é meio idiota. Mas da mesma forma que meu pai não conseguia seguir em frente, eu não consigo ver isso como algo bom.
Um atendente deixou as bebidas e as fatias de torta sobre a mesa deles.
- 감사합니다! - disse sorrindo para o atendente, ele curvou a cabeça levemente em resposta e se retirou.
Johnny sentiu uma súbita vontade estúpida de pedir que ela falasse coreano pelo resto da noite.
- Bem, faz todo sentido. - disse partindo um pedaço da torta com seu garfo. - Confiar em alguém é como dar permissão para a pessoa te machucar se ela quiser. Talvez amar seja também aceitar que pode doer. Todos nós temos medo de se apegar.
As luvas estavam atrapalhando seus dedos de segurar o talher firmemente, Johnny percebeu e estendeu a mão para segurar o pulso dela sobre o tecido do casaco e com cuidado ele puxou a luva de sua mão. Depois fez o mesmo com a outra e deixou o par de luvas no canto da mesa.
- É tão irritante como você sempre sabe a coisa certa a dizer. - Ele murmurou antes de encher a boca de torta.
riu baixo observando Johnny encarar o chocolate quente com a foto de um gato em cima.
- Acho que devíamos investir nisso, poderíamos fazer café e colocar nossas fotos neles. O público iria adorar...
- Pelo amor de Deus, cale a boca Storm! - Adyy disse, mas estava rindo.
A campainha da porta apitou anunciando que um novo cliente estava no local. estava sorrindo quando por acaso olhou para a entrada e viu Chloe entrar. A princípio ela piscou como se achasse que tivesse confundindo com alguém, mas era realmente Chloe. Os cabelos dourados da amiga caíam sobre os ombros, ela vestia um casaco longo sobre um vestido formal e salto alto. Os olhos verdes brilhavam na luz.
Ela viu e primeiro arregalou os olhos, foi quando uma figura se aproximou por trás de Chloe. Johnny se virou para olhar e eles viram o homem passar a mão pela cintura de Chloe. Ela estava olhando para e então sussurrou algo no ouvido dele. Quando ele se virou para olhá-los, reconheceu imediatamente os olhos cor de avelã, o cabelo escuro ondulado e a barba rala.
- Filho da puta. - Johnny Murmurou.
Tom Von Doom se aproximou da mesa junto com Chloe, ele estava com um terno caro que havia encomendado para ele um ano atrás, sapatos italianos que ele haviam comprado quando tonha viajado para Veneza com Addy. Ele e Chloe pararam diante dela e de Johnny, ele abriu um meio sorriso inseguro.
- É bom ver que está bem, .
Ela não respondeu e nem o olhou de relance, seus olhos estavam focados em Chloe que parecia bem desconfortável.
- Addy, eu... eu fico feliz que esteja bem. - Chloe disse parando para limpar a garganta.
- Você não atendeu minhas ligações. - Constatou deixando o copo sobre a mesa e avaliando a amiga com os olhos. - Mas vejo que tem tempo para tomar um café.
- Han... nós achamos que seria bom relembrar de quando vínhamos aqui, sempre nos encontrávamos aqui. Você que nos mostrou, lembra? Você sempre teve um bom gosto para restaurantes e cafés. - Chloe estava visivelmente nervosa, o ritmo de suas palavras estava acelerado e seu sorriso trêmulo. Ela estava se esforçando para manter um diálogo casual.
- Ah, acabamos de sair do fried's chicken, aquele restaurante coreano. Eles ainda fazem um molho apimentado maravilhoso, devíamos voltar lá... - Tom comentou obviamente dando força à tentativa de Chloe.
- Eu sei muito bem do restaurante, Tom. Todos nossos encontros eram lá. - se levantou e lançou a Tom um simples olhar de incômodo como se fosse muito cara de pau dele sequer olhar para ela.
Johnny não pode evitar sorrir ao vê-lo recuar um passo para trás. encarou Chloe de um jeito frio que fez a outra respirar fundo como se estivesse esperando um tapa.
- Se explique Chloe. Passou as últimas semanas dizendo que precisávamos conversar e tudo o que fez foi fugir. - levantou levemente o queixo.
- Eu queria contar que eu e Tom estamos saindo faz um tempo e queria que.... - Chloe limpou a garganta e tocou no braço dela por cima do casaco. - Queria que ficasse feliz por nós.
moveu o ombro se livrando do contato e andou um passo calmo e devagar para cima de Chloe.
- Todo aquele papo de "você precisa sair com alguém, precisa conhecer alguém novo", só para checar que eu seguisse em frente e não ficasse em seu caminho. - murmurou, Chloe tinha dificuldade de olhá-la nos olhos. - Você quer que eu fique feliz por vocês, Chloe? Que tipo de chantagem emocional é essa.
Tom se moveu para ficar entre elas enquanto dizia:
- , você entendeu errado. Não é sobre você!
Johnny se levantou da mesa, os punhos esquentaram a ponto de soltar fumaça. Estava pronto para socar o imbecil até lhe quebrar todos os dentes.
- Fala sério! Vocês marcaram o encontro de vocês nos lugares preferidos dela e esperavam não ser vistos? Você enviou uma centena de flores para quando ela estava no quarto do hospital e durante toda a nossa missão no espaço ficou no nosso pé! - Johnny disse cerrando as mãos.
- Como se eu me importasse com o que você faz, Thomas. - Ela murmurou. - Mas você Chloe é a maior idiota, não só porquê era minha amiga e viu o que Tom fez comigo e com o meu trabalho, mas também porquê escolheu um idiota desses pra você.
Chloe abriu a boca para tentar responder, mas não conseguiu.
- Agora saía da minha frente, você está no meu caminho. - a empurrou com o ombro e passou.
Johnny a seguiu, mas quando passou por Tom ouviu ele murmurar:
- Aberração.
E aquilo era justamente a fagulha que Johnny Storm precisava. Ele se virou já com o punho fechado, mas Tom estava atento e desviou da investida.
Tom segurou Johnny pelo colarinho e no instante que ele tentava o dominar, Storm o acertou no estômago.
Chloe gritou para os dois pararem, sentia um certo prazer em ver Tom apanhando e só pararia Johnny se fosse para ela continuar a socar Tom. Mas ela percebeu o vapor quente saindo dos braços dele, a coloração de sua pele mudou como se estivesse aumentando a temperatura. Os olhos azuis de Johnny pareciam se acender como uma fornalha.
- Johnny! - disse em um tom de aviso. No outro segundo Johnny entrou em combustão, as roupas pegaram fogo, as solas do sapato derreteram e a gravata de Tom ficou em chamas.
Tom gritou tentando se afastar, Chloe berrou transformando o grito em choro. instintivamente tocou Johnny, o puxando pelos pulsos em chamas. Foi como a primeira vez que o tocou depois do acidente, ela não se queimou. A pele de Johnny era como um fim de tarde no verão, morno e animador. Ele piscou encarando o rosto dela, as chamas dele diminuíram em direção ao sei pulso e corriam pelos braços de como se seguissem sua corrente sanguínea.
- Addy! Addy, me solta! - Ele murmurou preocupado que a estivesse machucando. O alaranjado das chamas subiram como linhas pelo pescoço dela como se queimassem por baixo da pele e não sobre ela. Pararam na íria de acendendo como o sol, como uma supernova.
- Tudo bem. - Ela murmurou para Johnny e então o soltou. As chamas em seus olhos sumiram como uma densa nebulosa. - Eu te machuquei?
- Não, eu só... me sinto um pouco relaxado. - Johnny olhou para baixo e ficou grato por estar usando o uniforme por baixo da roupa, caso contrário estaria nu agora.
Chloe ajudou a apagar o fogo na gravata de Tom com os olhos cheios de lágrimas ela olhou para como se a acusasse de tudo aquilo.
- Da próxima vez eu queimo a sua cara. - Johnny murmurou para Tom e o puxou pelo braço para fora do café.
Eles saíram para a calçada enquanto buscava pelas chaves do carro.
- Olha, Johnny. - Ela murmurou nervosa tateando o bolso da jaqueta. - Da próxima vez não entre em uma briga por mim, eu sei me cuidar.
- Eu sei, eu sei... - Johnny murmurou sabendo que era uma besteira machista homens acharem no direito que podem brigar por mulheres como se elas fossem objetos para possuir. - Mas aquele merda estava pedindo pra ser socado...
tirou a chave do bolso, mas não conseguia encaixá-la na porta. Estava tremendo.
- Então por quê não socou ele? Sabe, você não precisa se ficar fazendo de forte e equilibrada o tempo todo. - Ele reclamou vendo ela derrubar a chave no chão.
- PORQUÊ EU NÃO QUERO SENTIR!
Ela gritou de repente, sua voz ecoou pela rua vazia. Eles se encararam e os olhos de encheram de lágrimas.
- Porquê machuca. E eu estou tão cansada de nunca ser boa o bastante. - Ela murmurou e escondeu o rosto nas mãos abafando o começo de um choro.
Johnny desceu da calçada e passou pela frente do carro até alcançá-la, ele a puxou para perto e prendeu em um abraço.
- Você não pode me tocar. - Ela disse entre soluços.
- Foda-se. - Ele murmurou a apertando ainda mais e então inclinou a cabeça e beijou a testa dela duas vezes para que ela soubesse que estava tudo bem e que não estava sozinha.
E Johnny Storm sabia que os dois precisavam se permitir sentir.
Ele deixou seus lábios colados na testa dela, a sensação de tocar a sua pele era aliviador. Ele respirou fundo sentindo o cheiro do cabelo de enquanto ela apertava os braços em volta da cintura dele.
Johnny respirou fundo e sentiu a visão escurecer, não conseguia mais mover o corpo e a última coisa que ouviu antes de apagar por completo foi:
- Seu idiota, eu disse para não fazer isso!
REGISTROS DO EDIFÍCIO BAXTER !
Vídeos dos estudos feitos pela equipe de Reed Richards !
Dra. Kwang Rudolph
Especialista em Neurologia e comportamento humano
Há semanas estamos estudando as alterações genéticas causadas pelo alto índice de radiação pela qual fomos expostos. As consequências continuam graves e inalteráveis. Como profissional, encontro-me em uma posição de conflito onde preciso aguardar a companhia Von Doom nos enviar recursos. Mas o descaso com nossa situação é claro, a missão não foi o esperado e Victor Von Doom não fez nenhum pronunciamento no momento.
O correto seríamos estar em um ambiente isolado, uma quarentena para diminuir os riscos de uma situação dessas. Percebemos que minhas alterações fisiológicas ocorrem em situações de contato físico com outro ser vivo, e tais alterações podem ser intensificadas com meu estado psicológico. Então, pode ser que eu literalmente consiga matar alguém 'na força do ódio'. Minha primeira vítima seria definitivamente o Johnny.
Uma hora ele vai matar a todos nós quebrando as recomendações desse jeito. O idiota foi para um evento de motocross ao vivo e teve a brilhante ideia de saltar em chamas de uma moto. Mas tenho que admitir, o idiota é um gênio. Conseguiu alguns 'patrocinadores' e está pensando em um nome para vender 'nossa marca'. Com isso conseguimos custear o restante de nossa pesquisa e focar na nossa recuperação. Ei, Victor Von Doom, seu merda, está ouvindo isso? Johnny Storm está fazendo o seu trabalho, imbecil!
Piloto
Jonathan Lowell Spencer Storm
Por quê essa porcaria tem que ter meu nome completo? Reed edita essa parte do vídeo, por favor! Então, há algumas semanas que tentaram me obrigar a ficar tranacado aqui. Obviamente, um bando de esquisitões presos em um Edifício que está com a hipoteca vencida, não poderia ser boa coisa. Mas estamos tentando, eu me distraio enchendo o saco do Ben. E ainda consegui fazer escapar comigo por uma noite.
Não edita essa parte, Reed! Vou até repetir: quebrou uma regra comigo! E ainda desceu o***
* no ex namorado. Hum, talvez seja preciso cortar essa parte do vídeo também já que Tom é um dos analistas, digo cadela, da Von Doom. Bem, talvez eu deva acrescentar que eu e nos tocamos e foi incrível?!?!
Não do tipo brega. Tipo, eu acho que somos compatíveis?! Acho que ela poderia me fazer explodir. Ai, droga! Isso tá soando do jeito errado! Esquece! Reed, deleta essa porcaria, eu vou começar tudo de novo!
Pelo menos eu estou de roupão na minha cama fingindo estar me recuperando e ganhando toda a atenção. É tão bom ser eu.
Dra. Susan Storm
Especialista em genética e biomedicina
Iniciamos agora nossa quarta semana no Edifício Baxter. Temos feitos coletas diárias de sangue para acompanhar nossa mutação. Estou comparando os resultados obtidos e percebo que o organismo reagiram de forma bastante singular à radiação.
Minha mutação e a de parece estar muito mais ligada ao emocional, mas isso pode ser um viés precipitado, já que mulheres se expressam emocionalmente melhor do que os homens. Eles simplesmente se recusam a falar de sentimentos. Johnny e Reed são os piores. Nesse ponto não posso deixar de notar e levantar algumas questões pessoais. Foi por isso que eu e Reed terminamos anos atrás.
Mas essa parte de comportamento eu já direcionei para , já que é a especialidade dela. O que me chama atenção é o fato de que eu, Reed e Johnny temos crises onde as mutações se manifestam. Mas elas não são constante, é como se tivessem um 'botão de desligar'. Mas Ben e Addy não são assim.
Benjamin Grimm
Copiloto e Engenheiro Aeronáutico
Reed? A imagem não está aparecendo mais! Acho que eu quebrei a lente da câmera!
Porcaria de filmadora minúscula!
- Ter certeza que vai perder a oportunidade de ficar agarrada à minha cintura? - Ele brincou enquanto ela encarava a moto com uma expressão de desgosto.
- Como se isso fosse grande coisa. - Ela resmungou se virando e continuou a andar pelo estacionamento. - Nós vamos no meu carro.
Ela parou em frente a um jeep preto. Era um modelo novo e Johnny sabia bem que não era barato. Ela desativou o alarme e Johnny seguiu para o banco do carona.
- Sempre te imaginei com um sedan preto e não um carro esportivo. - Ele disse quando entrou, colocou o cinto e deu partida.
- Na verdade, eu tinha também um sedan preto. - Ela comentou manobrando para sair da garagem. - Mas concluí que era desnecessário tê-los como brinquedinhos, preferi manter um sustentável.
Era claro que seguiria métodos sustentáveis, Johnny pensou, ela era uma pessoa muito consciente dos problemas do planeta e dos desafios do universo em que habitava. Olhando para ela dirigindo, Johnny percebeu que talvez conseguisse adivinhar quais filmes ela gostava de assistir, que música faria seu coração relaxar e que comida ela iria apreciar. Ele não tinha percebido que a observava tão atentamente nas últimas semanas.
- Você está calado por muito tempo, Storm. - Ela notou quando pararam em um farol. Ela se virou para ele com um sorriso. - É impressão minha ou você anda pensando demais?
- É, eu tenho que adimitir que tenho usado mais a cabeça. - Ele comentou, as luzes da cidade refleriam os olhos dos dois dentro do jeep. - É bom sair por um momento. Não acha sufocante conviver com Reed super focado, Sue sendo mandona e Ben sempre irritado?
Ela pareceu pensar por um instante enquanto virava o volante para fazer a curva, as luvas tocavam o volante com precisão e calma.
- Na verdade, eu acho acolhedor. Por mais estressante que seja, nos últimos dias eu me senti em casa. - Ela murmurou enquanto Johnny franzia a testa pensativo. - Sabe, eu nunca tive uma família de verdade. Mesmo quando me adotavam, era sempre silencioso e vazio. Mas não com vocês.
Johnny limpou a garganta antes de perguntar:
- Foi adotada... mais de uma vez?
- Duas vezes. - Ela murmurou naturalmente. era sempre reservada, mas aquela conversa com Johnny parecia fluir de forma tão leve que ela não sentia mais a necessidade de ter um muro de proteção em volta de si. - Na primeira vez eu tinha oito, fiquei três meses com meus novos pais e estava tudo indo bem. Sabe, toda criança sonha com a família perfeita, mas nem todo mundo qie adota quer cuidar da criança em si. Alguns adotam só pra satisfazer sua vontade de ser pais e não pensam nas necessidades da criança em si. Faz sentido?
- Sim, faz, eu acho.
- Esse casal queria adotar porquê não haviam conseguido ter filhos. Mas depois de eu estar com ele por três meses, a mulher engravidou e acho que isso resolveu o "problema" deles e não precisavam mais de mim. - trocou a marcha, mas parecia a Johnny que ela estava tentando controlar o coração além do carro. - Fui devolvida, disseram que a gente não tinha se dado bem. Foi como se eu não fosse boa o bastante, acho que isso me fez estudar o tempo todo e me controlar para ter tudo sempre em ordem.
De repente Johnny pensou em todas as vezes que o cabelo de estava preso em um rabo de cavalo sem deixar nenhum fio escapar, em como suas roupas estavam sempre organizadas e nunca amarrotadas, em como sua mesa era uma perfeita organização. Pensou em como ela sempre sentava com a postura ereta, em como até seus sorrisos eram medidos e suas palavras equilibradas. E pensou na criança que se esforçava para ser perfeita na esperança de ser boa o bastante para ser amada. E aquilo gerou algo dentro de si uma mistura de raiva e indignação.
- Filhos da...
fez um gesto com a mão indicando que aquilo não fazia mais diferença.
- Eles pelo menos me devolveram, a segunda família me usou. Eu fiquei muito boa em competições acadêmicas, cheguei a ganhar bolsas de estudos e recompensas em dinheiro com isso. - Ela disse diminuindo a velocidade para estacionar no meio fio e era como se eles estivessem chegando a um ponto em que conheceriam o passado um do outro.
Johnny Storm sabia que quando chegava naquela parte, um limite estava sendo ultrapassado. sabia consigo que estava entregando a ele sua confiança. Se fosse qualquer outra pessoa, Johnny teria pulado para fora do carro e evitado qualquer coisa relacionada à intimidade. Se fosse qualquer outra pessoa, nunca contaria sobre sua vida.
Mas ainda assim os dois continuaram no carro se escutando e conversando, como se a linha do limite estivesse enfraquecendo. Como se ambos estivessem cansados de sempre ter que tomar cuidado para não deixar alguém se aproximar demais.
- Eles me usavam para conseguir prêmios, visibilidade. Eram donos de um instituto educacional, eu era a propaganda. Só me elogiavam se eu estivesse com a nota em cima da média e nunca demonstravam interesse em outra coisa além disso. - Ela suspirou relaxando os ombros como se falar daquilo tirasse um peso de si. - Eu achava que era querida e amada, afinal que criança não quer uma família? Mas a assistente social que me acompanhava suspeitou do que estava acontecendo e os denunciou. Quando eu voltei para orfanato fiquei muito magoada, achei que tinham tirado minha família de mim.
- Você achava que aquilo era amor. - Johnny observou e por um momento os olhos dele encontraram os dela.
- Sim, eu entendi mais tarde. Por isso Reed, Ben e agora Susan e você são como uma família. - Ela murmurou abrindo um sorriso sincero e nada tímido como se pudesse ser ela mesma na presença dele e aquilo era inebriante para os dois.
Johnny estava sorrindo quando disse:
- Reed é o pai atrapalhado, Sue a mãe brava e Ben o tio chato.
- Isso faz de nós os filhos? - pensou em dúvida.
- Não, nós somos os primos distantes ricos. - Johnny decidiu.
riu e abriu a porta do carro, Johnny a seguiu para fora e olhou para a fachada do café. Por fora ele era decorado com madeira em cores terrosas e por dentro havia várias lâmpadas penduradas em finos fios de aço. Quando eles entraram, ele pode ver no teto a pintura de constelações e nas paredes haviam pinturas de planetas distantes. Era aconchegante como se estivessem tomando chocolate quente em meio às estrelas, bem óbvio porquê aquele era o preferido de Addy.
- Achei a cara da queridinha da NASA. - Ele brincou com um meio sorriso enquanto eles se sentavam na mesa do canto. Na parede atrás de Addy havia vários post-it com recadinhos deixados pelos clientes.
- Eu tenho bom gosto, eu sei. - Ela disse tirando o cardápio da mesa e entregando para ele.
Na televisão ao canto passava vídeos musicais asiáticos e a música era calma. Além deles, haviam no máximo outros quatro clientes pelo que Johnny conseguiu notar.
- Você sugere algo? - Ele perguntou.
- Eu gosto do chocolate quente com a foto de um gatinho em cima. - Ela apontou para a imagem no cardápio e ele arregalou os olhos surpresos.
- Eles conseguem colocar a imagem do gatinho no café e você bebe? Estou impressionado em quanta tecnologia avançada é necessário para juntar café e gatos. - Ele murmurou.
- Eu sei! - concordou como se aquilo fosse tão brilhante quanto estar no espaço. - Vou fazer nosso pedido. Quer alguma torta?
- De maçã. Tem fotos dr cachorros nas tortas?
- Não, idiota. Já volto. - Ela disse se levantando da mesa e indo até o balcão para olhar as tortas. Estava sorrindo mais frequentemente, conseguia sentir os músculos do rosto de tanto que estava os usando.
não se permitia admitir, mas estava cansada nos últimos dias. Estar ali com Johnny e deixá-lo saber quem ela era, era de certa forma aliviador. Não se lembrava da última vez que havia contado um segredo a um amigo ou até mesmo qial fora a última vez que fizera um amigo novo. Reed estava mais presente para os assuntos da pesquisa, Ben estava tirando um tempo pra aceitar a si mesmo, Chloe não atendia suas ligações. De todas as pessoas, sempre achou que Johnny seria o mais improvável a se aproximar já que eles eram bem diferentes.
Mas agora, até que o jeito irritante de Johnny era também um conforto. Ele estava se mostrando um bom amigo.
fez o pedido e quando se virou para a mesa viu Johnny colar um post-it na parede e voltar rápido para seu lugar como se nada tivesse acontecido. Ela caminhou até mesa fingindo não ter notado e se sentou.
- Esse lugar é peculiar, mas é aconchegante. Você vem muito aqui? - Johnny estava olhando para os vídeos na televisão com um olhar divertido.
- Sim, eu queria encontrar algo que me conectava com minhas raízes, minha história e origem. - Ela explicou. - É difícil desenvolver identidade em orfanatos, eu precisava sentir que pertencia a algo.
- Eu sinto muito, não faço ideia de como é enfrentar tudo isso. - Ele disse em um tom sério e compreensivo, era tão raro vê-lo com aquela expressão que não sabia como reagir. - Minha mãe faleceu quando eu e Sue éramos pequenos, nosso pai nos criou sozinho. Ele fez tudo o que podia para ser um bom pai, era presente, atencioso e dedicado. Mas eu o ouvia chorar na cozinha de madrugada em todos os dias dos namorados, em toda véspera de natal e no aniversário de casamento.
Johnny deu de ombros.
- Meu pai nunca casou ou namorou de novo. E ele merecia, merecia seguir em frente só que não conseguia. - Ele balançou a cabeça e suspirou. - Por mais que se amassem, ele nunca mais voltou a ser ele mesmo. Não sei se é o tipo de sofrimento que eu quero para mim.
- Então.... Você não se apega a nada?
- Eu sei que é meio idiota. Mas da mesma forma que meu pai não conseguia seguir em frente, eu não consigo ver isso como algo bom.
Um atendente deixou as bebidas e as fatias de torta sobre a mesa deles.
- 감사합니다! - disse sorrindo para o atendente, ele curvou a cabeça levemente em resposta e se retirou.
Johnny sentiu uma súbita vontade estúpida de pedir que ela falasse coreano pelo resto da noite.
- Bem, faz todo sentido. - disse partindo um pedaço da torta com seu garfo. - Confiar em alguém é como dar permissão para a pessoa te machucar se ela quiser. Talvez amar seja também aceitar que pode doer. Todos nós temos medo de se apegar.
As luvas estavam atrapalhando seus dedos de segurar o talher firmemente, Johnny percebeu e estendeu a mão para segurar o pulso dela sobre o tecido do casaco e com cuidado ele puxou a luva de sua mão. Depois fez o mesmo com a outra e deixou o par de luvas no canto da mesa.
- É tão irritante como você sempre sabe a coisa certa a dizer. - Ele murmurou antes de encher a boca de torta.
riu baixo observando Johnny encarar o chocolate quente com a foto de um gato em cima.
- Acho que devíamos investir nisso, poderíamos fazer café e colocar nossas fotos neles. O público iria adorar...
- Pelo amor de Deus, cale a boca Storm! - Adyy disse, mas estava rindo.
A campainha da porta apitou anunciando que um novo cliente estava no local. estava sorrindo quando por acaso olhou para a entrada e viu Chloe entrar. A princípio ela piscou como se achasse que tivesse confundindo com alguém, mas era realmente Chloe. Os cabelos dourados da amiga caíam sobre os ombros, ela vestia um casaco longo sobre um vestido formal e salto alto. Os olhos verdes brilhavam na luz.
Ela viu e primeiro arregalou os olhos, foi quando uma figura se aproximou por trás de Chloe. Johnny se virou para olhar e eles viram o homem passar a mão pela cintura de Chloe. Ela estava olhando para e então sussurrou algo no ouvido dele. Quando ele se virou para olhá-los, reconheceu imediatamente os olhos cor de avelã, o cabelo escuro ondulado e a barba rala.
- Filho da puta. - Johnny Murmurou.
Tom Von Doom se aproximou da mesa junto com Chloe, ele estava com um terno caro que havia encomendado para ele um ano atrás, sapatos italianos que ele haviam comprado quando tonha viajado para Veneza com Addy. Ele e Chloe pararam diante dela e de Johnny, ele abriu um meio sorriso inseguro.
- É bom ver que está bem, .
Ela não respondeu e nem o olhou de relance, seus olhos estavam focados em Chloe que parecia bem desconfortável.
- Addy, eu... eu fico feliz que esteja bem. - Chloe disse parando para limpar a garganta.
- Você não atendeu minhas ligações. - Constatou deixando o copo sobre a mesa e avaliando a amiga com os olhos. - Mas vejo que tem tempo para tomar um café.
- Han... nós achamos que seria bom relembrar de quando vínhamos aqui, sempre nos encontrávamos aqui. Você que nos mostrou, lembra? Você sempre teve um bom gosto para restaurantes e cafés. - Chloe estava visivelmente nervosa, o ritmo de suas palavras estava acelerado e seu sorriso trêmulo. Ela estava se esforçando para manter um diálogo casual.
- Ah, acabamos de sair do fried's chicken, aquele restaurante coreano. Eles ainda fazem um molho apimentado maravilhoso, devíamos voltar lá... - Tom comentou obviamente dando força à tentativa de Chloe.
- Eu sei muito bem do restaurante, Tom. Todos nossos encontros eram lá. - se levantou e lançou a Tom um simples olhar de incômodo como se fosse muito cara de pau dele sequer olhar para ela.
Johnny não pode evitar sorrir ao vê-lo recuar um passo para trás. encarou Chloe de um jeito frio que fez a outra respirar fundo como se estivesse esperando um tapa.
- Se explique Chloe. Passou as últimas semanas dizendo que precisávamos conversar e tudo o que fez foi fugir. - levantou levemente o queixo.
- Eu queria contar que eu e Tom estamos saindo faz um tempo e queria que.... - Chloe limpou a garganta e tocou no braço dela por cima do casaco. - Queria que ficasse feliz por nós.
moveu o ombro se livrando do contato e andou um passo calmo e devagar para cima de Chloe.
- Todo aquele papo de "você precisa sair com alguém, precisa conhecer alguém novo", só para checar que eu seguisse em frente e não ficasse em seu caminho. - murmurou, Chloe tinha dificuldade de olhá-la nos olhos. - Você quer que eu fique feliz por vocês, Chloe? Que tipo de chantagem emocional é essa.
Tom se moveu para ficar entre elas enquanto dizia:
- , você entendeu errado. Não é sobre você!
Johnny se levantou da mesa, os punhos esquentaram a ponto de soltar fumaça. Estava pronto para socar o imbecil até lhe quebrar todos os dentes.
- Fala sério! Vocês marcaram o encontro de vocês nos lugares preferidos dela e esperavam não ser vistos? Você enviou uma centena de flores para quando ela estava no quarto do hospital e durante toda a nossa missão no espaço ficou no nosso pé! - Johnny disse cerrando as mãos.
- Como se eu me importasse com o que você faz, Thomas. - Ela murmurou. - Mas você Chloe é a maior idiota, não só porquê era minha amiga e viu o que Tom fez comigo e com o meu trabalho, mas também porquê escolheu um idiota desses pra você.
Chloe abriu a boca para tentar responder, mas não conseguiu.
- Agora saía da minha frente, você está no meu caminho. - a empurrou com o ombro e passou.
Johnny a seguiu, mas quando passou por Tom ouviu ele murmurar:
- Aberração.
E aquilo era justamente a fagulha que Johnny Storm precisava. Ele se virou já com o punho fechado, mas Tom estava atento e desviou da investida.
Tom segurou Johnny pelo colarinho e no instante que ele tentava o dominar, Storm o acertou no estômago.
Chloe gritou para os dois pararem, sentia um certo prazer em ver Tom apanhando e só pararia Johnny se fosse para ela continuar a socar Tom. Mas ela percebeu o vapor quente saindo dos braços dele, a coloração de sua pele mudou como se estivesse aumentando a temperatura. Os olhos azuis de Johnny pareciam se acender como uma fornalha.
- Johnny! - disse em um tom de aviso. No outro segundo Johnny entrou em combustão, as roupas pegaram fogo, as solas do sapato derreteram e a gravata de Tom ficou em chamas.
Tom gritou tentando se afastar, Chloe berrou transformando o grito em choro. instintivamente tocou Johnny, o puxando pelos pulsos em chamas. Foi como a primeira vez que o tocou depois do acidente, ela não se queimou. A pele de Johnny era como um fim de tarde no verão, morno e animador. Ele piscou encarando o rosto dela, as chamas dele diminuíram em direção ao sei pulso e corriam pelos braços de como se seguissem sua corrente sanguínea.
- Addy! Addy, me solta! - Ele murmurou preocupado que a estivesse machucando. O alaranjado das chamas subiram como linhas pelo pescoço dela como se queimassem por baixo da pele e não sobre ela. Pararam na íria de acendendo como o sol, como uma supernova.
- Tudo bem. - Ela murmurou para Johnny e então o soltou. As chamas em seus olhos sumiram como uma densa nebulosa. - Eu te machuquei?
- Não, eu só... me sinto um pouco relaxado. - Johnny olhou para baixo e ficou grato por estar usando o uniforme por baixo da roupa, caso contrário estaria nu agora.
Chloe ajudou a apagar o fogo na gravata de Tom com os olhos cheios de lágrimas ela olhou para como se a acusasse de tudo aquilo.
- Da próxima vez eu queimo a sua cara. - Johnny murmurou para Tom e o puxou pelo braço para fora do café.
Eles saíram para a calçada enquanto buscava pelas chaves do carro.
- Olha, Johnny. - Ela murmurou nervosa tateando o bolso da jaqueta. - Da próxima vez não entre em uma briga por mim, eu sei me cuidar.
- Eu sei, eu sei... - Johnny murmurou sabendo que era uma besteira machista homens acharem no direito que podem brigar por mulheres como se elas fossem objetos para possuir. - Mas aquele merda estava pedindo pra ser socado...
tirou a chave do bolso, mas não conseguia encaixá-la na porta. Estava tremendo.
- Então por quê não socou ele? Sabe, você não precisa se ficar fazendo de forte e equilibrada o tempo todo. - Ele reclamou vendo ela derrubar a chave no chão.
- PORQUÊ EU NÃO QUERO SENTIR!
Ela gritou de repente, sua voz ecoou pela rua vazia. Eles se encararam e os olhos de encheram de lágrimas.
- Porquê machuca. E eu estou tão cansada de nunca ser boa o bastante. - Ela murmurou e escondeu o rosto nas mãos abafando o começo de um choro.
Johnny desceu da calçada e passou pela frente do carro até alcançá-la, ele a puxou para perto e prendeu em um abraço.
- Você não pode me tocar. - Ela disse entre soluços.
- Foda-se. - Ele murmurou a apertando ainda mais e então inclinou a cabeça e beijou a testa dela duas vezes para que ela soubesse que estava tudo bem e que não estava sozinha.
E Johnny Storm sabia que os dois precisavam se permitir sentir.
Ele deixou seus lábios colados na testa dela, a sensação de tocar a sua pele era aliviador. Ele respirou fundo sentindo o cheiro do cabelo de enquanto ela apertava os braços em volta da cintura dele.
Johnny respirou fundo e sentiu a visão escurecer, não conseguia mais mover o corpo e a última coisa que ouviu antes de apagar por completo foi:
- Seu idiota, eu disse para não fazer isso!
REGISTROS DO EDIFÍCIO BAXTER !
Vídeos dos estudos feitos pela equipe de Reed Richards !
Dra. Kwang Rudolph
Especialista em Neurologia e comportamento humano
Há semanas estamos estudando as alterações genéticas causadas pelo alto índice de radiação pela qual fomos expostos. As consequências continuam graves e inalteráveis. Como profissional, encontro-me em uma posição de conflito onde preciso aguardar a companhia Von Doom nos enviar recursos. Mas o descaso com nossa situação é claro, a missão não foi o esperado e Victor Von Doom não fez nenhum pronunciamento no momento.
O correto seríamos estar em um ambiente isolado, uma quarentena para diminuir os riscos de uma situação dessas. Percebemos que minhas alterações fisiológicas ocorrem em situações de contato físico com outro ser vivo, e tais alterações podem ser intensificadas com meu estado psicológico. Então, pode ser que eu literalmente consiga matar alguém 'na força do ódio'. Minha primeira vítima seria definitivamente o Johnny.
Uma hora ele vai matar a todos nós quebrando as recomendações desse jeito. O idiota foi para um evento de motocross ao vivo e teve a brilhante ideia de saltar em chamas de uma moto. Mas tenho que admitir, o idiota é um gênio. Conseguiu alguns 'patrocinadores' e está pensando em um nome para vender 'nossa marca'. Com isso conseguimos custear o restante de nossa pesquisa e focar na nossa recuperação. Ei, Victor Von Doom, seu merda, está ouvindo isso? Johnny Storm está fazendo o seu trabalho, imbecil!
Piloto
Jonathan Lowell Spencer Storm
Por quê essa porcaria tem que ter meu nome completo? Reed edita essa parte do vídeo, por favor! Então, há algumas semanas que tentaram me obrigar a ficar tranacado aqui. Obviamente, um bando de esquisitões presos em um Edifício que está com a hipoteca vencida, não poderia ser boa coisa. Mas estamos tentando, eu me distraio enchendo o saco do Ben. E ainda consegui fazer escapar comigo por uma noite.
Não edita essa parte, Reed! Vou até repetir: quebrou uma regra comigo! E ainda desceu o
* no ex namorado. Hum, talvez seja preciso cortar essa parte do vídeo também já que Tom é um dos analistas, digo cadela, da Von Doom. Bem, talvez eu deva acrescentar que eu e nos tocamos e foi incrível?!?!
Não do tipo brega. Tipo, eu acho que somos compatíveis?! Acho que ela poderia me fazer explodir. Ai, droga! Isso tá soando do jeito errado! Esquece! Reed, deleta essa porcaria, eu vou começar tudo de novo!
Pelo menos eu estou de roupão na minha cama fingindo estar me recuperando e ganhando toda a atenção. É tão bom ser eu.
Dra. Susan Storm
Especialista em genética e biomedicina
Iniciamos agora nossa quarta semana no Edifício Baxter. Temos feitos coletas diárias de sangue para acompanhar nossa mutação. Estou comparando os resultados obtidos e percebo que o organismo reagiram de forma bastante singular à radiação.
Minha mutação e a de parece estar muito mais ligada ao emocional, mas isso pode ser um viés precipitado, já que mulheres se expressam emocionalmente melhor do que os homens. Eles simplesmente se recusam a falar de sentimentos. Johnny e Reed são os piores. Nesse ponto não posso deixar de notar e levantar algumas questões pessoais. Foi por isso que eu e Reed terminamos anos atrás.
Mas essa parte de comportamento eu já direcionei para , já que é a especialidade dela. O que me chama atenção é o fato de que eu, Reed e Johnny temos crises onde as mutações se manifestam. Mas elas não são constante, é como se tivessem um 'botão de desligar'. Mas Ben e Addy não são assim.
Benjamin Grimm
Copiloto e Engenheiro Aeronáutico
Reed? A imagem não está aparecendo mais! Acho que eu quebrei a lente da câmera!
Porcaria de filmadora minúscula!
Capítulo 11
" , de nós você é a mais inteligente. Tente enxergar de maneira mais racional, precisamos testar as hipóteses. "
Era o que Reed Richards havia dito a ela no momento em que Addy estava sentada ao lado da cama de Johnny Storm, ela o encarava preocupada. Ele havia perdido a consciência depois de tê-la abraçado.
Sue estava ao lado de Reed com uma expressão de preocupação no rosto, mas não era só com Johnny. Ela se preocupava com Addy e a estaria abraçando se pudesse.
— Eu prometo que vou ter o maior cuidado possível. — Reed murmurou ao lado dela. — Ninguém vai se machucar.
encarou as paredes do quarto de Johnny, observou os posters de banda de rock, as imagens de constelações que ele pendurava em seu mural e a revista da playboy que provavelmente não deveria estar à vista no chão perto da cômoda.
Esse idiota. Ela pensou de uma maneira estranhamente carinhosa.
— Está bem. — Ela concordou por fim.
Johnny havia desmaiado, mas estava bem. Precisaria apenas de algumas horas de repouso. havia o colocado no carro e dirigido em alta velocidade até chegar no Edifício Baxter, ela havia telefonado para Reed no caminho e ele a esperou na entrada do prédio. Eles subiram Johnny até o andar e mediram seus sinais vitais.
Tudo indicava que quanto mais tempo tocassem em , maior o perigo seria. A questão era, poderia ela levar alguém à morte só tocando a pessoa?
Estava aí a hipótese que ela não queria chegar ao resultado. Mas era necessário se aproximar da questão. Era necessário que ela conhecesse seus limites para não ferir os outros.
Ela se levantou seguindo Reed e Susan e fechou a porta do quarto de Johnny. Addy seguiu pelo corredor até parar no centro onde Sue e Reed preparavam os equipamentos. Sue ligou o computador para registrar os dados enquanto Reed preparava os elétrodos que ela iria colocar.
tirou as luvas, o casaco e ficou de regata. Ela mesmo colocou os elétrodos em suas têmporas, coração e pulso. Se colocou no centro da sala de frente ao computador de Sue e relembrou de todos os exames que sempre fazia antes de alguma missão com a Nasa. A preparação e os testes eram sempre o período que a deixava mais apreensiva, qualquer dado fora do inesperado seria desclassificatório. Agora com todos os efeitos colaterais de sua última missão a faziam pensar que nunca mais tocaria em alguém novamente, nunca mais tocaria as estrelas. E estar condenada a viver para sempre com os pés sem deixar aquele planeta, deixava a angústia presa na garganta de .
Reed ligou a câmera sobre o tripé ao lado da mesa de Sue e então se aproximou de com a mão estendida.
Ela olhou nos olhos de Reed e viu neles a confiança, o olhar de um tutor, de um professor e de um mestre que a acolheu durante toda sua jornada acadêmica e acabou se tornando a figura paterna que sempre sentiu falta. Mas não era hora de confiar em Reed, era hora de confiar em si mesma.
Addy estendeu a mão e tocou em Reed.
Por um instante nada aconteceu e até Sue olhava para os dois sem entender. Foi então que Reed abriu um sorriso.
— Me sinto ótimo! — Ele exclamou. tentou soltar a mão, mas ele a apertou carinhosamente.
— Ótimo como? — Sue perguntou olhando dele para o monitor. — Seus níveis de dopamina e adrenalina estão aumentando, Reed!
— Me sinto cheio de energia. Como se eu tivesse acabado de tomar café com energético e pronto para correr uma maratona! — Ele sorriu tanto que as extremidades de seus lábios pareciam ultrapassar os limites do seu rosto.
notou que o rosto de Reed começou a esticar como borracha derretida e imediatamente soltou sua mão. Ele se virou para Susan que soltou um grito surpreso e olhou para a tela do computador.
— Reed, você parece ter recebido a energia de uma bomba! — Ela exclamou.
— Você está bem? — Rudolph perguntou mantendo suas mãos longe de Reed, mas ele continuava sorrindo sem conseguir controlar os músculos faciais que eram completamente elásticos.
— Estou sim! Acho que você funciona como catalisa.... — Reed não conseguiu terminar a frase de forma coerente, a área motora de sua capacidade verbal estava temporariamente afetada com seu rosto elástico.
Mas conseguia acompanhar o raciocínio.
— Também pensei nas propreidades de um catalisador. Mas Reed, essa nem sempre é a reação. Eu notei que em alguns momentos era como se eu estivesse sugando a energia de alguém. — Addy se virou para Susan notando que ela estava registrando as observações que ela estava fazendo. — Johnny disse que a enfermeira que me tocou desmaiou, logo em seguida quando ele me tocou explodiu em chamas.
— E como foi hoje? — Perguntou Reed alongando a boca enquanto seubrosto voltava ao normal.
— Hoje Johnny ficou nervoso e você sabe, entrou em combustão! Mas quando eu toquei, eu pude sentir que a energia dele passoupara mim. Como se estivesse me alimentando, eu pude sentir as chamas em minhas veias... — Ela murmurou.
— E agora com Reed é como se você tivesse passado parte dessa energia que guardou em você. — Observou Susan se aproximando dos dois e mordendo a tampa da caneta enquanto pensava. — De alguma forma você absorve energia e em seguida a exterioriza, como um espectro do poder inicial que te alimentou.
Os três balançaram a cabeça em conjunto, todos pensativos.
— Então, doutora... — murmurou para Susan com um leve sorriso. — É grave? Tem cura?
Susan e Reed riram enquanto ela tirava os elétrodos do corpo. Sue respirou fundo e tocou o ombro de Addy por cima da regata e sentiu ela estremecer sobre o seu toque, temerosa e ao mesmo tempo grata.
— Descanse, Addy. — Sue disse de maneira acolhedora. — Amanhã testaremos essa hipótese melhor, mas você precisa estar bem.
— Obrigada. — Ela murmurou e olhou para Reed como se estivesse se certificando de que ele estava realmente bem. — Vejo vocês amanhã.
Ela saiu pelo corredor e Reed se sentou de frente para o computador observando os dados e os comparando com os de Johnny.
— Não acha estranho? — Reed perguntou pensativo.
— Sim! quebrou a regra com Johnny e ainda deixou que ele a tocasse. — Sue murmurou empilhando algumas folhas sobre a mesa. — Eu tenho achado o Johnny meio estranho. Ele gosta dela! Não acha?
— O quê? — Ele perguntou confuso tirando os olhos do monitor para olhar para Susan. — Eu estava falando dos níveis de neurotransmissores e a configuração de energia cinética nas amostras!
Sue suspirou balançando a cabeça de forma negativa.
— Há mais para ver além dos dados científicos, Reed! — Ela murmurou mais cansada do que irritada.
— Eu nunca fui bom nisso de compreender sentimentos. — Ele disse se levantando devagar e caminhando até ela. — Você sabe disso melhor do que ninguém. Mas até alguém como eu é capaz de notar algumas coisas. Sue, Victor falou com você desde o incidente?
Ela respirou fundo antes de responder e então balançou a cabeça de forma negativa.
— Tudo o que eu recebi foi um e-mail. Os representantes da empresa virão aqui amanhã para checar nossos resultados. — Ela sussurrou, a decepção era evidente no seu olhar. — Acho que como Victor não pode ainda descontar o fracasso da missão na minha carreira, ele escolheu descontar no nosso relacionamento.
Reed afastou o olhar tentando esconder a súbita raiva que havia tomado conta de sua mente.
— Victor tem se portado de maneira tão... — Reed não conseguia nem mesmo finalizar a frase. — Estou com raiva dele, mas acho que pior sou eu por ter confiado algo assim nas mãos dele.
Sue passou as mãos pelas costas de Reed para o confortar, ele instintivamente fechou os olhos e suspirou. Fazia tanto tempo que ele não sentia mais ela por perto que pensou ter esquecido qual era a sensação, mas ali naquele momento ele percebeu que nunca seria capaz de esquecer Susan Storm.
— Não fique se culpando, Reed. Todos nós fizemos o que podíamos. — Ela disse e depositou um beijo de boa noite em seu rosto.
**
Rudolph convivia tempo demais com a ansiedade, o bastante para saber que por mais que estivesse cansada não conseguiria dormir naquela madrugada. Conhecendo bem o calendário astronômico, ela sabia que era provável que conseguisse ver a chuva de meteoros da estação. Perseidas e Leônidas eram as mais comuns e intensas, seria mais fácil vê-las na cobertura do Edifício Baxter ao nascer do sol.
Reed sempre deixava um telescópio simples na cobertura, então ela só precisou pegar um cobertor em seu quarto e subir até a área da cobertura que felizmente era uma das propriedades de Reed. Ela estendeu o cobertor e se sentou para ajustar o telescópio.
Era um modelo equatorial com lente convexa menisco frontal para corrigir distorções esféricas, e o suporte em tripé ajudava a movimentá-lo na direção desejada. ajustou as lentes e foi quando ouviu passos se aproximando pela sacada. Ela tirou os olhos do telescópio e se virou vendo Johnny se aproximar.
Seu cabelo loiro estava bagunçado como sle ele tivesse acabado de acordar, debaixo dos braços ele carregava dois travesseiros e nas mãos trazia consigo duas canecas.
se levantou imediatamente o observando.
— Parece que viu um fantasma. — Ele deu um meio sorriso deixando os travesseiros sobre o cobertor que ela havia estendido e então entregou a ela uma das canecas.
Ela teve o cuidado de segurar o objeto sem encostar em Johnny.
— Como não terminamos nosso café como esperavámos, eu vi você passando pelo corredor e tive essa ideia. — Ele tomou um gole do líquido que havia na xícara e olhou por um instante no horizonte.
Bem distante havia um risco rosado no céu indicando que o sol logo iria nascer. tomou um gole do chocolate quente enquanto obaervava o reflexo do horizonte nos olhos de Johnny.
— O que você está observando? — Ele perguntou a tirando de seu turpor e então ela percebeu que ele estava se referindo ao telescópio.
— Chuva de meteoros. — Ela disse o observando tirar os sapatos e se sentar sobre o cobertor colocando os olhos no telescópio.
Ela se sentou na extremidade do cobertor tentando manter uma distância segura tanto pra ele quanto para ela.
— Qual chuva é mais provável de ser visível nesta época do ano? — Ele perguntou ainda distraído com os olhos ansiosos no telescópio.
— Perseidas. — Ela respondeu surpresa por ele saber um pouco. — Agora no nascer do sol, deve aparecer.
— Ah! — Johnny exclamou. — Acabei de ver o primeiro!
Ele se afastou para que pudesse se aproximar. No instante em que ela se inclinou e olhou o céu através do telescópio, toda tensão em seu corpo se dissolveu. Ela abriu um sorriso enquanto observava os primeiros meteoros atravessarem a atmosfera daquele pequeno planeta onde habitavam.
se virou para ele sorrindo sem se preocupar no quanto estavam fisicamente e emocionalmente próximos agora. Johnny quase não foi capaz de desviar o olhar do sorriso dela para observar os meteoros riscando a atmosfera, foram vários seguidos caindo como uma chuva de estrelas cadentes. Um fenômeno lindo de se ver, arrepiava a nuca de Johnny e quando ele desviou os olhos para ver a garota mais linda do mundo ao seu lado, não ficou decepcionado. O nascer do sol e a chuva de estrelas cadentes refletidas nos olhos e no sorriso de Addy, faziam a garota ser um fenômeno astronômico que invadiu a atsmofera de Johnny Storm rasgando sua proteção, adentrando seu planeta e fazendo isso da maneira mais bela possível.
— Johnny! — sussurrou ainda sorrindo observando o rosto dele. — Você está quente como uma lareira!
— Deve ser porque estou feliz. — Ele sussurrou franzindo a testa como se tivesse acabado de se dar conta de uma coisa.
riu, uma risada deliciosa que parexia ecoar dentro dos dois. Ele se virou para ela.
Pequenos meteoros colidindo na pupila dos dois, sorrisos iluminados pelo sol que se preparava para acordar a cidade e ele sabia que se não a beijasse sob a chuva de meteoros iria se arrepender da mesma forma quando perdeu a chance quando estavam no espaço.
Ele se aproximou mais gentil que um meteoro, mas tão certo quanto a luz do sol pela manhã.
não recuou, mas sussurrou:
— Eu não quero te machucar.
— Iria doer se eu não te beijasse agora. — Ele murmurou e os lábios se encontraram.
O hálito era quente e doce com os resquícios do sabor de chocolate, o toque era suave, carinhoso e quase grato pelo momento. Até que língua dele encontrou a dele e foi ali que ele percebeu não era possível matar a vontade, eles sempre iriam querer mais. A mão de Johnny puxou pela cintura colando seu corpo ao dela, porque era como se eles finalmente fossem duas peças que se encaixavam. As mãos dela passearam pela nuca de Johnny e ele nunca havia se sentido tão quente antes.
Ela passou as mãos pelos músculos dos ombros dele, pelos braços, prendeu os dedos em seu cabelo enquanto as bocas se afastavam para buscar ar e então colidiam de novo. Um universo inteiro surgindo em um beijo, a respiração de Johnny em uníssono com a sua e o sorriso que ela podia sentir ele dando enquanto seus dentes roçavam pelos lábios dela a faziam perceber que Johnny era mais fantástico do que a Terra quando observada de longe. Agora olhando os olhos azuis dele tão de perto, percebia que a nebulosa nuvem de sentimentos se dissipavam e ela podia enxergar a constelação que Johnny era em sua vida.
— Você está bem? — Ela perguntou sentindo o próprio coração acelerado.
Ele passou os dedos pelo cabelo dela.
— Melhor impossível! — Ele disse voltando a beijá-la.
E a sensação era impossível de controlar. Johnny Storm deixou de ser uma nebulosa para se tornar uma supernova em combustão. Com em seus braços ele a beijou até seus corpos levitarem até o céu sobre o Edifício Baxter, se tornando mais raro e belo que qualquer outro fenômeno astronômico.
Era o que Reed Richards havia dito a ela no momento em que Addy estava sentada ao lado da cama de Johnny Storm, ela o encarava preocupada. Ele havia perdido a consciência depois de tê-la abraçado.
Sue estava ao lado de Reed com uma expressão de preocupação no rosto, mas não era só com Johnny. Ela se preocupava com Addy e a estaria abraçando se pudesse.
— Eu prometo que vou ter o maior cuidado possível. — Reed murmurou ao lado dela. — Ninguém vai se machucar.
encarou as paredes do quarto de Johnny, observou os posters de banda de rock, as imagens de constelações que ele pendurava em seu mural e a revista da playboy que provavelmente não deveria estar à vista no chão perto da cômoda.
Esse idiota. Ela pensou de uma maneira estranhamente carinhosa.
— Está bem. — Ela concordou por fim.
Johnny havia desmaiado, mas estava bem. Precisaria apenas de algumas horas de repouso. havia o colocado no carro e dirigido em alta velocidade até chegar no Edifício Baxter, ela havia telefonado para Reed no caminho e ele a esperou na entrada do prédio. Eles subiram Johnny até o andar e mediram seus sinais vitais.
Tudo indicava que quanto mais tempo tocassem em , maior o perigo seria. A questão era, poderia ela levar alguém à morte só tocando a pessoa?
Estava aí a hipótese que ela não queria chegar ao resultado. Mas era necessário se aproximar da questão. Era necessário que ela conhecesse seus limites para não ferir os outros.
Ela se levantou seguindo Reed e Susan e fechou a porta do quarto de Johnny. Addy seguiu pelo corredor até parar no centro onde Sue e Reed preparavam os equipamentos. Sue ligou o computador para registrar os dados enquanto Reed preparava os elétrodos que ela iria colocar.
tirou as luvas, o casaco e ficou de regata. Ela mesmo colocou os elétrodos em suas têmporas, coração e pulso. Se colocou no centro da sala de frente ao computador de Sue e relembrou de todos os exames que sempre fazia antes de alguma missão com a Nasa. A preparação e os testes eram sempre o período que a deixava mais apreensiva, qualquer dado fora do inesperado seria desclassificatório. Agora com todos os efeitos colaterais de sua última missão a faziam pensar que nunca mais tocaria em alguém novamente, nunca mais tocaria as estrelas. E estar condenada a viver para sempre com os pés sem deixar aquele planeta, deixava a angústia presa na garganta de .
Reed ligou a câmera sobre o tripé ao lado da mesa de Sue e então se aproximou de com a mão estendida.
Ela olhou nos olhos de Reed e viu neles a confiança, o olhar de um tutor, de um professor e de um mestre que a acolheu durante toda sua jornada acadêmica e acabou se tornando a figura paterna que sempre sentiu falta. Mas não era hora de confiar em Reed, era hora de confiar em si mesma.
Addy estendeu a mão e tocou em Reed.
Por um instante nada aconteceu e até Sue olhava para os dois sem entender. Foi então que Reed abriu um sorriso.
— Me sinto ótimo! — Ele exclamou. tentou soltar a mão, mas ele a apertou carinhosamente.
— Ótimo como? — Sue perguntou olhando dele para o monitor. — Seus níveis de dopamina e adrenalina estão aumentando, Reed!
— Me sinto cheio de energia. Como se eu tivesse acabado de tomar café com energético e pronto para correr uma maratona! — Ele sorriu tanto que as extremidades de seus lábios pareciam ultrapassar os limites do seu rosto.
notou que o rosto de Reed começou a esticar como borracha derretida e imediatamente soltou sua mão. Ele se virou para Susan que soltou um grito surpreso e olhou para a tela do computador.
— Reed, você parece ter recebido a energia de uma bomba! — Ela exclamou.
— Você está bem? — Rudolph perguntou mantendo suas mãos longe de Reed, mas ele continuava sorrindo sem conseguir controlar os músculos faciais que eram completamente elásticos.
— Estou sim! Acho que você funciona como catalisa.... — Reed não conseguiu terminar a frase de forma coerente, a área motora de sua capacidade verbal estava temporariamente afetada com seu rosto elástico.
Mas conseguia acompanhar o raciocínio.
— Também pensei nas propreidades de um catalisador. Mas Reed, essa nem sempre é a reação. Eu notei que em alguns momentos era como se eu estivesse sugando a energia de alguém. — Addy se virou para Susan notando que ela estava registrando as observações que ela estava fazendo. — Johnny disse que a enfermeira que me tocou desmaiou, logo em seguida quando ele me tocou explodiu em chamas.
— E como foi hoje? — Perguntou Reed alongando a boca enquanto seubrosto voltava ao normal.
— Hoje Johnny ficou nervoso e você sabe, entrou em combustão! Mas quando eu toquei, eu pude sentir que a energia dele passoupara mim. Como se estivesse me alimentando, eu pude sentir as chamas em minhas veias... — Ela murmurou.
— E agora com Reed é como se você tivesse passado parte dessa energia que guardou em você. — Observou Susan se aproximando dos dois e mordendo a tampa da caneta enquanto pensava. — De alguma forma você absorve energia e em seguida a exterioriza, como um espectro do poder inicial que te alimentou.
Os três balançaram a cabeça em conjunto, todos pensativos.
— Então, doutora... — murmurou para Susan com um leve sorriso. — É grave? Tem cura?
Susan e Reed riram enquanto ela tirava os elétrodos do corpo. Sue respirou fundo e tocou o ombro de Addy por cima da regata e sentiu ela estremecer sobre o seu toque, temerosa e ao mesmo tempo grata.
— Descanse, Addy. — Sue disse de maneira acolhedora. — Amanhã testaremos essa hipótese melhor, mas você precisa estar bem.
— Obrigada. — Ela murmurou e olhou para Reed como se estivesse se certificando de que ele estava realmente bem. — Vejo vocês amanhã.
Ela saiu pelo corredor e Reed se sentou de frente para o computador observando os dados e os comparando com os de Johnny.
— Não acha estranho? — Reed perguntou pensativo.
— Sim! quebrou a regra com Johnny e ainda deixou que ele a tocasse. — Sue murmurou empilhando algumas folhas sobre a mesa. — Eu tenho achado o Johnny meio estranho. Ele gosta dela! Não acha?
— O quê? — Ele perguntou confuso tirando os olhos do monitor para olhar para Susan. — Eu estava falando dos níveis de neurotransmissores e a configuração de energia cinética nas amostras!
Sue suspirou balançando a cabeça de forma negativa.
— Há mais para ver além dos dados científicos, Reed! — Ela murmurou mais cansada do que irritada.
— Eu nunca fui bom nisso de compreender sentimentos. — Ele disse se levantando devagar e caminhando até ela. — Você sabe disso melhor do que ninguém. Mas até alguém como eu é capaz de notar algumas coisas. Sue, Victor falou com você desde o incidente?
Ela respirou fundo antes de responder e então balançou a cabeça de forma negativa.
— Tudo o que eu recebi foi um e-mail. Os representantes da empresa virão aqui amanhã para checar nossos resultados. — Ela sussurrou, a decepção era evidente no seu olhar. — Acho que como Victor não pode ainda descontar o fracasso da missão na minha carreira, ele escolheu descontar no nosso relacionamento.
Reed afastou o olhar tentando esconder a súbita raiva que havia tomado conta de sua mente.
— Victor tem se portado de maneira tão... — Reed não conseguia nem mesmo finalizar a frase. — Estou com raiva dele, mas acho que pior sou eu por ter confiado algo assim nas mãos dele.
Sue passou as mãos pelas costas de Reed para o confortar, ele instintivamente fechou os olhos e suspirou. Fazia tanto tempo que ele não sentia mais ela por perto que pensou ter esquecido qual era a sensação, mas ali naquele momento ele percebeu que nunca seria capaz de esquecer Susan Storm.
— Não fique se culpando, Reed. Todos nós fizemos o que podíamos. — Ela disse e depositou um beijo de boa noite em seu rosto.
**
Rudolph convivia tempo demais com a ansiedade, o bastante para saber que por mais que estivesse cansada não conseguiria dormir naquela madrugada. Conhecendo bem o calendário astronômico, ela sabia que era provável que conseguisse ver a chuva de meteoros da estação. Perseidas e Leônidas eram as mais comuns e intensas, seria mais fácil vê-las na cobertura do Edifício Baxter ao nascer do sol.
Reed sempre deixava um telescópio simples na cobertura, então ela só precisou pegar um cobertor em seu quarto e subir até a área da cobertura que felizmente era uma das propriedades de Reed. Ela estendeu o cobertor e se sentou para ajustar o telescópio.
Era um modelo equatorial com lente convexa menisco frontal para corrigir distorções esféricas, e o suporte em tripé ajudava a movimentá-lo na direção desejada. ajustou as lentes e foi quando ouviu passos se aproximando pela sacada. Ela tirou os olhos do telescópio e se virou vendo Johnny se aproximar.
Seu cabelo loiro estava bagunçado como sle ele tivesse acabado de acordar, debaixo dos braços ele carregava dois travesseiros e nas mãos trazia consigo duas canecas.
se levantou imediatamente o observando.
— Parece que viu um fantasma. — Ele deu um meio sorriso deixando os travesseiros sobre o cobertor que ela havia estendido e então entregou a ela uma das canecas.
Ela teve o cuidado de segurar o objeto sem encostar em Johnny.
— Como não terminamos nosso café como esperavámos, eu vi você passando pelo corredor e tive essa ideia. — Ele tomou um gole do líquido que havia na xícara e olhou por um instante no horizonte.
Bem distante havia um risco rosado no céu indicando que o sol logo iria nascer. tomou um gole do chocolate quente enquanto obaervava o reflexo do horizonte nos olhos de Johnny.
— O que você está observando? — Ele perguntou a tirando de seu turpor e então ela percebeu que ele estava se referindo ao telescópio.
— Chuva de meteoros. — Ela disse o observando tirar os sapatos e se sentar sobre o cobertor colocando os olhos no telescópio.
Ela se sentou na extremidade do cobertor tentando manter uma distância segura tanto pra ele quanto para ela.
— Qual chuva é mais provável de ser visível nesta época do ano? — Ele perguntou ainda distraído com os olhos ansiosos no telescópio.
— Perseidas. — Ela respondeu surpresa por ele saber um pouco. — Agora no nascer do sol, deve aparecer.
— Ah! — Johnny exclamou. — Acabei de ver o primeiro!
Ele se afastou para que pudesse se aproximar. No instante em que ela se inclinou e olhou o céu através do telescópio, toda tensão em seu corpo se dissolveu. Ela abriu um sorriso enquanto observava os primeiros meteoros atravessarem a atmosfera daquele pequeno planeta onde habitavam.
se virou para ele sorrindo sem se preocupar no quanto estavam fisicamente e emocionalmente próximos agora. Johnny quase não foi capaz de desviar o olhar do sorriso dela para observar os meteoros riscando a atmosfera, foram vários seguidos caindo como uma chuva de estrelas cadentes. Um fenômeno lindo de se ver, arrepiava a nuca de Johnny e quando ele desviou os olhos para ver a garota mais linda do mundo ao seu lado, não ficou decepcionado. O nascer do sol e a chuva de estrelas cadentes refletidas nos olhos e no sorriso de Addy, faziam a garota ser um fenômeno astronômico que invadiu a atsmofera de Johnny Storm rasgando sua proteção, adentrando seu planeta e fazendo isso da maneira mais bela possível.
— Johnny! — sussurrou ainda sorrindo observando o rosto dele. — Você está quente como uma lareira!
— Deve ser porque estou feliz. — Ele sussurrou franzindo a testa como se tivesse acabado de se dar conta de uma coisa.
riu, uma risada deliciosa que parexia ecoar dentro dos dois. Ele se virou para ela.
Pequenos meteoros colidindo na pupila dos dois, sorrisos iluminados pelo sol que se preparava para acordar a cidade e ele sabia que se não a beijasse sob a chuva de meteoros iria se arrepender da mesma forma quando perdeu a chance quando estavam no espaço.
Ele se aproximou mais gentil que um meteoro, mas tão certo quanto a luz do sol pela manhã.
não recuou, mas sussurrou:
— Eu não quero te machucar.
— Iria doer se eu não te beijasse agora. — Ele murmurou e os lábios se encontraram.
O hálito era quente e doce com os resquícios do sabor de chocolate, o toque era suave, carinhoso e quase grato pelo momento. Até que língua dele encontrou a dele e foi ali que ele percebeu não era possível matar a vontade, eles sempre iriam querer mais. A mão de Johnny puxou pela cintura colando seu corpo ao dela, porque era como se eles finalmente fossem duas peças que se encaixavam. As mãos dela passearam pela nuca de Johnny e ele nunca havia se sentido tão quente antes.
Ela passou as mãos pelos músculos dos ombros dele, pelos braços, prendeu os dedos em seu cabelo enquanto as bocas se afastavam para buscar ar e então colidiam de novo. Um universo inteiro surgindo em um beijo, a respiração de Johnny em uníssono com a sua e o sorriso que ela podia sentir ele dando enquanto seus dentes roçavam pelos lábios dela a faziam perceber que Johnny era mais fantástico do que a Terra quando observada de longe. Agora olhando os olhos azuis dele tão de perto, percebia que a nebulosa nuvem de sentimentos se dissipavam e ela podia enxergar a constelação que Johnny era em sua vida.
— Você está bem? — Ela perguntou sentindo o próprio coração acelerado.
Ele passou os dedos pelo cabelo dela.
— Melhor impossível! — Ele disse voltando a beijá-la.
E a sensação era impossível de controlar. Johnny Storm deixou de ser uma nebulosa para se tornar uma supernova em combustão. Com em seus braços ele a beijou até seus corpos levitarem até o céu sobre o Edifício Baxter, se tornando mais raro e belo que qualquer outro fenômeno astronômico.
Capítulo 12
REED ACORDOU COM BEM reclamando de Johnny e dizendo algo como: "o terraço está pegando fogo".
Ele se levantou sonolento e seguiu a voz de Ben até o terraço onde geralmente ficava uma área coberta, uma mesa e um tapete onde ele deixava especialmente um telescópio. Quando chegou no terraço o sol da manhã iluminou o deck de madeira completamente carbonizado, o telescópio meio derretido, um cobertor chamuscado no chão e em alguns pontos ainda havia chamas.
Ben segurava um extintor de incêndio em cada braço e ao ver o olhar confuso e temeroso de Reed, gesticulou para o céu com o queixo. Quando reed ergueu a cabeç apara olhar para cima, viu um rastro luminoso fazia um desenho como um cometa passeando pelas nuvens.
— Johnny... — Reed e Ben murmuraram juntos.
Ben não demorou para apagar as chamas que restaram, e usando a vantagem de ter um corpo grande e resistente, ele mesmo juntou os trapos queimados e os jogou na caçamba de lixo, permitindo que Reed se preocupasse em começar a preparar os tópicos que apresentaria para os representantes da Von Doom.
Ao entrar na sala buscando pelos dados e arquivos que precisaria apresentar, ele encontrou Susan perfeitamente arrumada organizando os arquivos.
— Não precisava. — Ele murmurou se aproximando. — Eu ia fazer isso.
— Você precisa arrumar outras coisas. — Ela disse apontando para o cabelo e a barba dele. — Há dias que você está afundado nisso, Reed. Tire um tempo para você e para coisas meramente humanas.
Reed suspirou tendo que concordar mesmo que não quisesse e se sentindo grato por aquele gesto de Sue. Ele balançou a cabeça em um agradecimento sem jeito e se virou para ir até o quarto se arrumar.
Susan organizou as pastas na mesa e estava separando a correspondência quando ouviu a voz grave de Ben se aproximando:
— Johnny, você precisa aprender a controlar! Você derreteu o telescópio do Reed e acabou com a área do lado de fora!
Ben entrou na sala seguido de Johnny que estava com o uniforme do Quarteto Fantástico e com um sorriso mais quente e luminoso que o próprio sol.
— Eu vou me desculpar com Reed! Mas eu não fiz isso sozinho, sabe. — Johnny disse com os olhos distraídos e um sorriso que parecia que ia demorar muito para sumir.
— O que você fez com a Addy? — Ben perguntou com um tom protetor.
— O que tem a ? — Susan perguntou segurando as correspondências e olhando para os dois.
— Ela está brilhando! — Ben disse em um tom indignado enquanto apontava seu enorme dedo de pedra na direção de Johnny. — Ele tacou fogo nela!
Johnny riu.
Susan ficou horrorizada.
— Você queimou nossa melhor astronauta? — Susan colocou a mão no peito como se temesse o futuro deles.
— Nós pegamos fogo em todos os sentidos. — Ele deu uma piscadinha para Sue. — Mas ela está bem. Ela foi se trocar.
— Olha, vocês dois por favor, não quebrem nem derretam nada. — Sue pegou algumas correspondências que estava organizando e saiu em direção ao corredor. — Finalmente teremos uma reunião com a empresa e eu quero que tudo esteja perfeito.
Susan saiu em direção aos dormitórios e então Ben se virou para encarar Johnny.
— Você não vai se arrumar? — Ele disse observando enquanto Johnny se dirigia para o sofá.
O mais novo esticou as pernas sobre a mesa no centro e descansou a cabeça nos braços.
— Eu não preciso, estou sempre lindo! — Johnny sorria com o rosto ficando alaranjado e as pupilas douradas assim que lembrou dos lábios de .
Ele percebeu que sua aparência deveria estar diferente, porque Ben o encarava mais preocupado do que irritado.
— E você, não tem que polir suas rochas ou algo assim? — Ele provocou.
Ben urrou e jogou o travesseiro na cara de Johnny. Ele teria jogado o sofá inteiro, mas Susan havia pedido para que não destruíssem a casa.
***
Susan bateu na porta do quarto de e entrou. O cômodo deveria ser o mais bem organizado de todo o Edifício Baxter. Havia post-its sobre a escrivaninha, na porta do guarda-roupa e na mesa de trabalho. A cama estava perfeitamente arrumada, nas paredes havia um quadro com mapa astrônomico, revistas científicas e fotos polaroids deles.
Sue não pode evitar sorrir ao ver as fotos e se aproximar do quadro. Reed, Addy e Ben na formatura do Mestrado de dela, a outra foto era Sue e Johnny se abraçando. Parecia um espaço especial, sagrado, como um mural de uma família — e Sue se sentiu muito tocada ao perceber que fazia parte daquilo.
saiu do banheiro e encontrou Sue.
As duas trocaram um longo olhar e Addy se aproximou percebendo que ela estava olhando para as fotos antes.
— Você está aqui. Eu gosto dessa foto. — Ela comentou enquanto os dedos trançavam seu longo cabelo escuro em uma trança única. — Foi Reed quem pegou a câmera e tirou a foto quando vocês não estavam olhando.
Susan sorriu e se aproximou de Addy enquanto observava os objetos dela pelo quarto.
— Hoje temos uma reunião com Victor. — Susan odiava ter que admitir que estava nervosa. — Precisamos de algum progresso nisso.
— Quer que eu ajude a fazer com que aceitem nosso plano ou quer que eu ajude a matá-los e jogar os corpos no espaço? — brincou enquanto se sentava na beirada da cama.
Susan riu e sentou-se ao lado dela.
— De preferência a opção que não nos leve para a prisão.
balançou a cabeça com um sorriso ao dizer:
— De fato seria a decisão mais sensata. — E então respirou fundo esticando as costas e tocando a ponta de sua trança enquanto pensava. — Acho que devíamos pressioná-los.
— Eu acho que eles já pretendem fazer isso com a gente… — Sue disse apoiando o queixo sobre a mão com um ar pensativo.
— Mas pensa bem, Sue… a Von Doom está tomando uma posição completamente desumana diante da situação, deveriam estar cuidando de nós e assumindo as consequências. — olhou para as fotos penduradas em seu mural, especificamente para um espaço vazio nele, havia uma foto faltando. — Deixe essa parte comigo, eu sei como lidar com os Von Doom.
Susan suspirou aliviada, essa era uma parte que ela não queria ter que enfrentar. Victor claramente estava a evitando e além de precisar tratar dos assuntos relacionados a trabalho, também precisava colocar um fim naquilo.
— Como o Tom era quando estavam juntos? — Sue perguntou fazendo se virar para ela surpresa, não estava esperando essa pergunta.
Mas Addy não se incomodou, percebeu que para Sue deveria estar sendo difícil. Parecia que Victor não dava a mínima para ela desde o desastre que foi a missão.
— Ele era incrível, maravilhoso… e genial. — disse em um sussurro carinhoso e respeitoso que fez Sue arregalar os olhos e endireitar a coluna surpresa. — Eu sei que isso surpreende muita gente, todo mundo sempre espera que ele seja o maior babaca. Mas não era assim quando estávamos juntos.
— Então… por que terminaram? Estavam noivos, certo?
— Sim e acredite em mim, eu tinha certeza que ele era o cara certo pra mim. Sue, eu sou uma pessoa pragmática, eu não estaria em um relacionamento com essas convicções sem antes analisar muito a situação… — se virou para Sue cruzando as perna em cima da cama, ela observou a colega e sabia que estava confortável o bastante para falar com ela sobre aquilo. — Ele foi meu primeiro namorado, a primeira pessoa com que me relacionei. Eu sempre fiquei focada demais nos estudos, nunca dei abertura para outra coisa na minha vida. Eu não conhecia nada além disso e você sabe, nós idealizamos relações românticas como a melhor coisa na nossa vida.
— Como se encontrar o grande amor da sua vida fosse o propósito de tudo. — Sue concordou murmurando incentivando Addy a continuar.
— Sim e colocamos na pessoa o sentido da nossa existência. Eu cresci sem pais, sem família, Tom foi a primeira pessoa que me ofereceu um amor pra vida toda… eu passei a depender emocionalmente dele, achar que seríamos o bastante um para o outro e que o resto do mundo não importava. — Ela murmurou esticando a mão até alcançar a escrivaninha ao lado da cama, ela puxou a gaveta e de lá de dentro tirou uma foto e a entregou para Sue.
Susan segurou a foto observando uma e um Tom mais jovens na imagem sorrindo e se abraçando na frente da entrada do Centro Espacial Houston.
— Passamos juntos no nosso primeiro programa espacial, ele sempre me motivou muito e não achava ruim que eu fosse melhor do que ele na maioria das coisas. — Addy continuou contando fazendo Sue sorrir ao perceber o quanto aquela conexão deles havia sido especial. — Ele também tem uma relação familiar conturbada, fomos a família um do outro. Mas chegou em um ponto em que deixamos de viver outras coisas achando que só nós bastávamos. Não tínhamos amigos fora do relacionamento, tudo que planejamos era juntos e a gente não sabia mais quem éramos individualmente e isso é perigoso.
— Caramba, Addy… parece ter sido uma decisão madura e dolorida.
— Chegou ao ponto de eu ter projetado a estação espacial e ele levar isso para o Victor esperando ter o reconhecimento que nunca teve do irmão, e achou que eu iria compreender. Como se eu pudesse ceder por isso por amor, mas era a minha conquista, Sue. Minha, ele não tinha o direito de tirá-la. Então eu percebi… que isso poderia continuar até a gente se perder. — Ela respirou fundo para tentar manter a voz estável afastando as lembranças. — Tudo bem ceder de vez em quando, quando ambas as partes fazem isso sem ferir a identidade do outro. Porque abrir mão de sua identidade não é amor, é desespero.
Susan esticou a mão e tocou a de , olhando-a nos olhos disse com uma expressão carinhosa:
— Obrigada por compartilhar isso comigo, Addy. Eu precisava ouvir, me fez me dar conta de uma coisa…
— Anda cedendo demais, anulando seus sentimentos e fingindo não estar chateada só para que tudo fique bem?
— Sim… mas você tem razão, nunca devemos abrir mão de nós mesmas. — Susan a puxou para um abraço apertado, surpreendendo Addy mais uma vez com uma sensação de afeto e paz que ela sempre guardava no lugar mais seguro do seu coração.
As duas deixaram o abraço perdurar por alguns longos segundos confortáveis, até que Sue se afastou lembrando de algo. Ela pegou a correspondência que tinha deixado sobre a cama e entregou um dos envelopes para :
— Isso chegou pra você e eu suponho que seja importante.
segurou o envelope e observou o símbolo da NASA no canto do envelope, seu coração parou por um instante e em seguida deu uma lenta e dolorosa batida. Com certeza a notícia havia chegado até a agência espacial e o estado de sua saúde afetava seu futuro como astronauta, era possível que fosse um comunicado que decidisse o fim de sua carreira como astronauta. Ela apertou o envelope tentando respirar e manter uma expressão neutra diante de Sue, não podia pensar na possibilidade de nunca mais ver o espaço de novo.
Alguém bateu na porta interrompendo os pensamentos.
— Pode entrar! — se virou para a porta e Sue se levantou da cama para ver quem era.
Era Reed com os cabelos bagunçados, o nó da gravata todo e os dedos agitados tamborilando na maçaneta. Parecia a ansiedade em pessoa.
— Eles chegaram, vamos iniciar a reunião.
— Eu vou me trocar e já encontro vocês. — se levantou e tocou no ombro de Susan. — Sue, ajude o reed a receber a equipe e aproveite para ter um momento com Victor. Reed, prepare os documentos e os dados que iremos mostrar, é importante que todos tenham acesso aos relatórios durante a reunião.
Reed pareceu um pouco perdido, mas concordou.
— Eu vou conduzir a reunião. — Addy o tranquilizou. — Não comecem sem mim.
Os dois saíram do quarto apressado e Rudolph se levantou para trocar de roupa, deu uma última olhada na foto dela e de Tom e a guardou de volta na gaveta decidida a não deixar a Von Doom apagar a identidade de nenhum deles.
Ele se levantou sonolento e seguiu a voz de Ben até o terraço onde geralmente ficava uma área coberta, uma mesa e um tapete onde ele deixava especialmente um telescópio. Quando chegou no terraço o sol da manhã iluminou o deck de madeira completamente carbonizado, o telescópio meio derretido, um cobertor chamuscado no chão e em alguns pontos ainda havia chamas.
Ben segurava um extintor de incêndio em cada braço e ao ver o olhar confuso e temeroso de Reed, gesticulou para o céu com o queixo. Quando reed ergueu a cabeç apara olhar para cima, viu um rastro luminoso fazia um desenho como um cometa passeando pelas nuvens.
— Johnny... — Reed e Ben murmuraram juntos.
Ben não demorou para apagar as chamas que restaram, e usando a vantagem de ter um corpo grande e resistente, ele mesmo juntou os trapos queimados e os jogou na caçamba de lixo, permitindo que Reed se preocupasse em começar a preparar os tópicos que apresentaria para os representantes da Von Doom.
Ao entrar na sala buscando pelos dados e arquivos que precisaria apresentar, ele encontrou Susan perfeitamente arrumada organizando os arquivos.
— Não precisava. — Ele murmurou se aproximando. — Eu ia fazer isso.
— Você precisa arrumar outras coisas. — Ela disse apontando para o cabelo e a barba dele. — Há dias que você está afundado nisso, Reed. Tire um tempo para você e para coisas meramente humanas.
Reed suspirou tendo que concordar mesmo que não quisesse e se sentindo grato por aquele gesto de Sue. Ele balançou a cabeça em um agradecimento sem jeito e se virou para ir até o quarto se arrumar.
Susan organizou as pastas na mesa e estava separando a correspondência quando ouviu a voz grave de Ben se aproximando:
— Johnny, você precisa aprender a controlar! Você derreteu o telescópio do Reed e acabou com a área do lado de fora!
Ben entrou na sala seguido de Johnny que estava com o uniforme do Quarteto Fantástico e com um sorriso mais quente e luminoso que o próprio sol.
— Eu vou me desculpar com Reed! Mas eu não fiz isso sozinho, sabe. — Johnny disse com os olhos distraídos e um sorriso que parecia que ia demorar muito para sumir.
— O que você fez com a Addy? — Ben perguntou com um tom protetor.
— O que tem a ? — Susan perguntou segurando as correspondências e olhando para os dois.
— Ela está brilhando! — Ben disse em um tom indignado enquanto apontava seu enorme dedo de pedra na direção de Johnny. — Ele tacou fogo nela!
Johnny riu.
Susan ficou horrorizada.
— Você queimou nossa melhor astronauta? — Susan colocou a mão no peito como se temesse o futuro deles.
— Nós pegamos fogo em todos os sentidos. — Ele deu uma piscadinha para Sue. — Mas ela está bem. Ela foi se trocar.
— Olha, vocês dois por favor, não quebrem nem derretam nada. — Sue pegou algumas correspondências que estava organizando e saiu em direção ao corredor. — Finalmente teremos uma reunião com a empresa e eu quero que tudo esteja perfeito.
Susan saiu em direção aos dormitórios e então Ben se virou para encarar Johnny.
— Você não vai se arrumar? — Ele disse observando enquanto Johnny se dirigia para o sofá.
O mais novo esticou as pernas sobre a mesa no centro e descansou a cabeça nos braços.
— Eu não preciso, estou sempre lindo! — Johnny sorria com o rosto ficando alaranjado e as pupilas douradas assim que lembrou dos lábios de .
Ele percebeu que sua aparência deveria estar diferente, porque Ben o encarava mais preocupado do que irritado.
— E você, não tem que polir suas rochas ou algo assim? — Ele provocou.
Ben urrou e jogou o travesseiro na cara de Johnny. Ele teria jogado o sofá inteiro, mas Susan havia pedido para que não destruíssem a casa.
Susan bateu na porta do quarto de e entrou. O cômodo deveria ser o mais bem organizado de todo o Edifício Baxter. Havia post-its sobre a escrivaninha, na porta do guarda-roupa e na mesa de trabalho. A cama estava perfeitamente arrumada, nas paredes havia um quadro com mapa astrônomico, revistas científicas e fotos polaroids deles.
Sue não pode evitar sorrir ao ver as fotos e se aproximar do quadro. Reed, Addy e Ben na formatura do Mestrado de dela, a outra foto era Sue e Johnny se abraçando. Parecia um espaço especial, sagrado, como um mural de uma família — e Sue se sentiu muito tocada ao perceber que fazia parte daquilo.
saiu do banheiro e encontrou Sue.
As duas trocaram um longo olhar e Addy se aproximou percebendo que ela estava olhando para as fotos antes.
— Você está aqui. Eu gosto dessa foto. — Ela comentou enquanto os dedos trançavam seu longo cabelo escuro em uma trança única. — Foi Reed quem pegou a câmera e tirou a foto quando vocês não estavam olhando.
Susan sorriu e se aproximou de Addy enquanto observava os objetos dela pelo quarto.
— Hoje temos uma reunião com Victor. — Susan odiava ter que admitir que estava nervosa. — Precisamos de algum progresso nisso.
— Quer que eu ajude a fazer com que aceitem nosso plano ou quer que eu ajude a matá-los e jogar os corpos no espaço? — brincou enquanto se sentava na beirada da cama.
Susan riu e sentou-se ao lado dela.
— De preferência a opção que não nos leve para a prisão.
balançou a cabeça com um sorriso ao dizer:
— De fato seria a decisão mais sensata. — E então respirou fundo esticando as costas e tocando a ponta de sua trança enquanto pensava. — Acho que devíamos pressioná-los.
— Eu acho que eles já pretendem fazer isso com a gente… — Sue disse apoiando o queixo sobre a mão com um ar pensativo.
— Mas pensa bem, Sue… a Von Doom está tomando uma posição completamente desumana diante da situação, deveriam estar cuidando de nós e assumindo as consequências. — olhou para as fotos penduradas em seu mural, especificamente para um espaço vazio nele, havia uma foto faltando. — Deixe essa parte comigo, eu sei como lidar com os Von Doom.
Susan suspirou aliviada, essa era uma parte que ela não queria ter que enfrentar. Victor claramente estava a evitando e além de precisar tratar dos assuntos relacionados a trabalho, também precisava colocar um fim naquilo.
— Como o Tom era quando estavam juntos? — Sue perguntou fazendo se virar para ela surpresa, não estava esperando essa pergunta.
Mas Addy não se incomodou, percebeu que para Sue deveria estar sendo difícil. Parecia que Victor não dava a mínima para ela desde o desastre que foi a missão.
— Ele era incrível, maravilhoso… e genial. — disse em um sussurro carinhoso e respeitoso que fez Sue arregalar os olhos e endireitar a coluna surpresa. — Eu sei que isso surpreende muita gente, todo mundo sempre espera que ele seja o maior babaca. Mas não era assim quando estávamos juntos.
— Então… por que terminaram? Estavam noivos, certo?
— Sim e acredite em mim, eu tinha certeza que ele era o cara certo pra mim. Sue, eu sou uma pessoa pragmática, eu não estaria em um relacionamento com essas convicções sem antes analisar muito a situação… — se virou para Sue cruzando as perna em cima da cama, ela observou a colega e sabia que estava confortável o bastante para falar com ela sobre aquilo. — Ele foi meu primeiro namorado, a primeira pessoa com que me relacionei. Eu sempre fiquei focada demais nos estudos, nunca dei abertura para outra coisa na minha vida. Eu não conhecia nada além disso e você sabe, nós idealizamos relações românticas como a melhor coisa na nossa vida.
— Como se encontrar o grande amor da sua vida fosse o propósito de tudo. — Sue concordou murmurando incentivando Addy a continuar.
— Sim e colocamos na pessoa o sentido da nossa existência. Eu cresci sem pais, sem família, Tom foi a primeira pessoa que me ofereceu um amor pra vida toda… eu passei a depender emocionalmente dele, achar que seríamos o bastante um para o outro e que o resto do mundo não importava. — Ela murmurou esticando a mão até alcançar a escrivaninha ao lado da cama, ela puxou a gaveta e de lá de dentro tirou uma foto e a entregou para Sue.
Susan segurou a foto observando uma e um Tom mais jovens na imagem sorrindo e se abraçando na frente da entrada do Centro Espacial Houston.
— Passamos juntos no nosso primeiro programa espacial, ele sempre me motivou muito e não achava ruim que eu fosse melhor do que ele na maioria das coisas. — Addy continuou contando fazendo Sue sorrir ao perceber o quanto aquela conexão deles havia sido especial. — Ele também tem uma relação familiar conturbada, fomos a família um do outro. Mas chegou em um ponto em que deixamos de viver outras coisas achando que só nós bastávamos. Não tínhamos amigos fora do relacionamento, tudo que planejamos era juntos e a gente não sabia mais quem éramos individualmente e isso é perigoso.
— Caramba, Addy… parece ter sido uma decisão madura e dolorida.
— Chegou ao ponto de eu ter projetado a estação espacial e ele levar isso para o Victor esperando ter o reconhecimento que nunca teve do irmão, e achou que eu iria compreender. Como se eu pudesse ceder por isso por amor, mas era a minha conquista, Sue. Minha, ele não tinha o direito de tirá-la. Então eu percebi… que isso poderia continuar até a gente se perder. — Ela respirou fundo para tentar manter a voz estável afastando as lembranças. — Tudo bem ceder de vez em quando, quando ambas as partes fazem isso sem ferir a identidade do outro. Porque abrir mão de sua identidade não é amor, é desespero.
Susan esticou a mão e tocou a de , olhando-a nos olhos disse com uma expressão carinhosa:
— Obrigada por compartilhar isso comigo, Addy. Eu precisava ouvir, me fez me dar conta de uma coisa…
— Anda cedendo demais, anulando seus sentimentos e fingindo não estar chateada só para que tudo fique bem?
— Sim… mas você tem razão, nunca devemos abrir mão de nós mesmas. — Susan a puxou para um abraço apertado, surpreendendo Addy mais uma vez com uma sensação de afeto e paz que ela sempre guardava no lugar mais seguro do seu coração.
As duas deixaram o abraço perdurar por alguns longos segundos confortáveis, até que Sue se afastou lembrando de algo. Ela pegou a correspondência que tinha deixado sobre a cama e entregou um dos envelopes para :
— Isso chegou pra você e eu suponho que seja importante.
segurou o envelope e observou o símbolo da NASA no canto do envelope, seu coração parou por um instante e em seguida deu uma lenta e dolorosa batida. Com certeza a notícia havia chegado até a agência espacial e o estado de sua saúde afetava seu futuro como astronauta, era possível que fosse um comunicado que decidisse o fim de sua carreira como astronauta. Ela apertou o envelope tentando respirar e manter uma expressão neutra diante de Sue, não podia pensar na possibilidade de nunca mais ver o espaço de novo.
Alguém bateu na porta interrompendo os pensamentos.
— Pode entrar! — se virou para a porta e Sue se levantou da cama para ver quem era.
Era Reed com os cabelos bagunçados, o nó da gravata todo e os dedos agitados tamborilando na maçaneta. Parecia a ansiedade em pessoa.
— Eles chegaram, vamos iniciar a reunião.
— Eu vou me trocar e já encontro vocês. — se levantou e tocou no ombro de Susan. — Sue, ajude o reed a receber a equipe e aproveite para ter um momento com Victor. Reed, prepare os documentos e os dados que iremos mostrar, é importante que todos tenham acesso aos relatórios durante a reunião.
Reed pareceu um pouco perdido, mas concordou.
— Eu vou conduzir a reunião. — Addy o tranquilizou. — Não comecem sem mim.
Os dois saíram do quarto apressado e Rudolph se levantou para trocar de roupa, deu uma última olhada na foto dela e de Tom e a guardou de volta na gaveta decidida a não deixar a Von Doom apagar a identidade de nenhum deles.
Capítulo 13
ERA INVERNO E A NEVE PINTAVA TODA A PAISAGEM DE BRANCO, pela janela do apartamento conseguia ver a neve cobrindo a rua como um cobertor. Ela sabia que não podia ficar olhando a paisagem por muito tempo, não poderia mais esconder suas lágrimas e teria que encarar Tom. Ele estava sentado no sofá, em um silêncio absoluto desde que ela havia dito que deveriam se separar. Ele estava calmo por fora, mas ela sabia que ele era como uma panela de pressão acumulando tudo dentro de si sem dar vasão, e uma hora poderia explodir.
Ele estava usando uma camiseta e uma calça de moletom, o casaco dele estava nela como sempre faziam - ela roubava todos os casacos dele, era mais confortável. Mas naquele dia, ela sabia que ia perder o casaco, o conforto e a presença dele. Era um vazio estranho de se sentir, a aproximação inevitável do fim.
— Por quê? — Ele perguntou por fim. — Por causa da estação espacial?! Eu já admiti para a empresa e para o mundo que foi seu trabalho, Addy. Eu não tive a intenção, eu pedi perdão…
— Eu sei, Tom! — Ela disse se virando para ele e colocou a mão na boca impedindo seus lábios de tremerem ao falar quando viu os olhos cheios de lágrimas dele. — Mas o que isso representou para nós, o que isso me fez ver em nós é maior do que isso. Vivemos um para o outro, não temos nada fora do nosso relacionamento… eu não sei quem eu sou se eu não estiver sendo sua, eu não sei o que eu quero se você não quiser também.
— Não entendo, Addy… Nós temos um ao outro. Não é assim que tem que ser? — Ele perguntou sinceramente confuso, tentando entender. Uma lágrima escorreu pelo rosto de Tom e ele abaixou a cabeça.
Nesse momento, Laika a beagle que eles tinham juntos caminhou até o sofá abanando o rabo e lambendo a mão de Tom. Ele acabou a cabeça dela e então olhou para .
— Você é minha família, minha casa, minha vida. — Ele murmurou. — Como isso pode não ser o bastante?
— Tom, crescemos acreditando que só o amor vai nos preencher. Mas eu não tenho sido o bastante pra mim a minha vida inteira, sempre esperei que outra pessoa fosse me amar… — Ela se aproximou e sentou no sofá ao lado dele. — Mas isso é errado, não devemos colocar o sentido de nossa existência em outra pessoa sem estarmos completos primeiro.
Ela segurou a mão dele, ele deixou por um instante e então a soltou.
— Está bem, . — A voz rouca soou dolorida com o peso da mágoa. — Eu vou embora.
Ele se levantou para fazer as malas e Laika se aproximou de colocando o focinho no colo dela como se perguntasse o que fariam agora.
***
Com a mente de volta ao presente e focada no momento, saiu do quarto e desceu até o andar onde ficava o amplo salão do apartamento de Reed. Se aproximou da mesa onde todos estavam sentados aguardando por ela. Ela viu Ben, Reed e Susan sentados próximos de Victor que claramente havia escolhido o assento da extremidade da mesa onde poderia observar bem todos. Curiosamente não havia mais ninguém representando a Von Doom no recinto, somente eles e Victor.
E a primeira coisa que ela reparou foi que havia algo de errado na postura de Victor, não era a aura impaciente e investidora de antes. Parecia algo mais agressivo, uma expressão faminta e dolorida. Era possível ver que a cicatriz dele havia aumentado de tamanho, cobria todo o lado esquerdo do rosto e não parecia estar cicatrizando como deveria.
A mão direita de Victor estava coberta por uma luva escura da mesma cor de seu terno, mas a mão esquerda não estava coberta, ele a deixou sobre a mesa com os dedos curvados como se segurassem alguma emoção dentro de si. Uma parte de percebeu que nem mesmo Tom estava ali, o que significava que Victor tentaria a todo custo manter somente os seus interesses.
— Onde estão os outros? — perguntou jogando uma pasta sobre a mesa e se dirigindo a Victor.
Ele ergue as mãos em sinal de impotência que era pouco característico dele e disse calmamente:
— Somos só nós. Ninguém se importa com os danos colaterais, só com o valor perdido. — Victor suspirou olhando para cada um como se os desafiasse a contrariá-lo. — Nós somos prejuízo, o conselho não pode mais lucrar conosco então nos deixaram à própria sorte.
— Nós? — Pontuou Ben em um tom que indicava que dificilmente acreditaria que Victor estava tão ferrado quanto eles.
— Estou prestes a perder o cargo da presidência, minha carreira está por um fio. — Ele murmurou claramente a contragosto. — Tom está nesse momento estudando as possibilidades da Von Doom continuar nos eixos e nos auxiliar na recuperação. Mas devemos ter em mente que não haverá nenhum grande auxílio…
— Mas e quanto a responsabilidade da empresa? — Ben disse ameaçando bater na mesa fazendo com que Sue tocasse em seu braço e o impedisse de reagir daquela forma.
Johnny estava estranhamente quieto e de braços cruzados e nunca tinha esperado que ele tivesse a capacidade de ficar tão sério.
— Responsabilidade? Nós assinamos um termo de responsabilidade, sabemos dos riscos de uma missão espacial e nada do que aconteceu lá foi culpa da empresa. — Victor levantou a voz e o abajur ao lado de piscou.
Ela se virou para encarar a luz falha da lâmpada, mas logo voltou sua atenção novamente para o grupo ao redor da mesa. Reed massageou a têmpora enquanto dizia:
— Isso vai complicar o desenvolvimento do nosso trabalho, até descobrirmos uma forma de reversão…
Victor se levantou e ajeitou o paletó balançando a cabeça.
— Mas a mídia adora vocês, devem conseguir tirar algum proveito disso… — Ele disse em um tom que imediatamente fez perceber que havia ressentimento naquilo.
Nesse instante Johnny pareceu a ponto de dizer algo, mas seus olhos encontraram Addy e ele desviou o olhar em silêncio.
— Vamos precisar de tempo e de muita energia para reconstruir a cápsula e retomar a nuvem cósmica. — Reed olhou para os dados nos arquivos da pasta à sua frente.
— Eu confio em você, Reed. — Victor disse se aproximando do cientista e em uma frase que poderia ser algo sobre a relação de longa data soou mais como um peso e uma obscura ameaça.
Então ele se virou para para falar sobre algo que só eles compreenderiam bem:
— Tom está tentando, por você principalmente. Estou fora das reuniões até o Conselho escolher um novo presidente, não tenho mais acesso a alguns recursos. Ligue para ele, Rudolph, ele pode ser mais útil nesse quesito agora.
E então ele olhou para Susan, um chamado silencioso para ela o acompanhar. Victor Von Doom caminhou para a saída e Susan o acompanhou saindo do apartamento.
Um silêncio pesaroso recaiu sobre todos ali.
— Só eu estou sentindo o cheiro do cadáver que é a carreira do Victor agora?! — Johnny finalmente falou e por mais inconveniente que fosse o comentário, uma leveza tomou conta do ambiente e até se sentiu grata por ele ter voltado ao seu modo normal.
Mas aquilo não pareceu aliviar as coisas para Ben que saiu do cômodo com uma expressão ainda mais fechada e aquilo fazia o coração de todos doer, para Ben era infinitamente mais difícil viver naquela condição. Reed se levantou juntando todas as pasta em uma pilha, o cabelo já estava mais bagunçado do que no minuto anterior e ele correu em direção a mesa do laboratório murmurando outras possibilidades, indicando que seria mais uma noite sem dormir e muito trabalho.
— Eu ajudo o professor chato hoje. — Johnny disse se levantando e por um instante achou que era alguma piada ou flerte que ela não tinha entendido. — Você deveria descansar.
Era a segunda vez no dia que ele parecia sério sobre alguma coisa, ela se perguntou se deveria se preocupar. Mas ele foi até a mesa de Reed para ver o que podia ser feito. Aquilo fez com que Addy sentisse uma espécie de gratidão silenciosa, ela se levantou e foi até o quarto. Mais tarde não se lembrou muito bem de ter feito o caminho até a cama, mas deitou e dormiu quase que imediatamente.
***
Quando ela abriu os olhos já era de noite e o quarto estava escuro, a única luz que tinha era da janela aberta. A lua cheia brilhava no céu lá fora e Addy se levantou e esticou os braços despertando, ela caminhou até a janela e deu uma boa olhada no céu reconhecendo algumas constelações naquela noite. Pensou no espaço e em sua imensidão, na adrenalina correndo pelo seu corpo toda vez que olhava para a terra pelo outro lado. E então sua mente se lembrou da correspondência da NASA sobre a sua escrivaninha.
Ela não queria abri-lo agora, não queria saber o que estava nele e o que a impediria de ter a chance de ir para o espaço novamente. A carreira de Victor não era a única ameaçada e aquilo doía nela, a ideia de não ser mais uma astronauta era a ideia de viver uma vida sem propósito.
só queria sair logo dali, do quarto, de perto da carta, e fazer qualquer coisa que tirasse sua mente daquilo. Talvez Reed tivesse alguns cálculos para lhe passar e com essa ideia em mente, Addy saiu do quarto e ao passar pelo quarto de Johnny encontrou a porta aberta e ele sentado na beirada da cama com seu violão no colo. Ela parou ao perceber que ele estava cantando baixo, dedilhando as cordas de uma forma delicada fazendo com que a melodia parecesse estar ecoando dentro dela e não fora.
There's no one in town I know
You gave us some place to go
Addy sempre pensou em Johnny como as baladas de rocks que sacudiam estádios, falavam sobre um amor rebelde e um solo de guitarra emocionado. Ver uma melodia serena como aquela, bem calculada e profunda fez ela esquecer do que estava fazendo e simplesmente ficar ali o ouvindo.
I never said thank you for that
I thought I might get one more chance
Ele ergueu a cabeça e a viu ali na porta, ele não pareceu envergonhado e nem mesmo parou de tocar. Continuou a melodia como um convite suave para ela compartilhar aquele momento com ele. entrou no quarto se aproximando devagar sem deixar de notar os detalhes no rosto de Johnny enquanto ele cantava o verso. Ela se sentou na cama na outra ponta com o olhar dividido entre os olhos azuis dele e as mãos conduzindo o violão.
May angels lead you in
Hear you me, my friends
On sleepless roads, the sleepless go
May angels lead you in
A voz de Johnny era aveludada, era como deitar na cama depois de um longo dia de trabalho, ou sentar em frente à lareira depois de passar frio, era simples e sentimento de uma forma pura. E então ele terminou o verso estendendo as notas no violão, diminuindo o tempo até o último acorde ecoar e finalizar. Ele então ergueu os olhos para ela com um meio sorriso como se temesse que ela não tivesse gostado da performance.
— Já passou da meia-noite, então hoje é o aniversário de morte da minha mãe… — Ele murmurou, sem sorrisos brincalhões, sem piscadinha, era apenas ele sendo sincero. — Eu sempre tiro uma música para lembrar dela. Sei que ela não pode me ouvir, mas eu não disse para ela tudo o que eu queria dizer quando ela estava aqui, então vou fazer isso pra sempre desejando que ela possa ouvir.
— Eu sinto muito, Johnny… — Addy esticou a mão para tocar a dele e então se lembrou de que não podia e recolheu o braço, aquele pequeno detalhe doeu nela e doeu em Johnny também.
— Tudo bem se quiser me tocar… — Ele disse deixando a mão deslizar do violão em direção a ela, devagar, dando-a a chance de se afastar quando ela quisesse. — Eu vou correr o risco.
— Como o incêndio astronômico que causamos da última vez?! — Ela o lembrou recolhendo o braço com esforço.
— Foi maneiro, tem que admitir! — Ele sorriu voltando a focar no violão como se estivesse pensando na próxima música. — Você conseguiu descansar?
— Sim, obrigada por ter ajudado na minha parte hoje. — Ela disse sorrindo para ele e colocou as pernas sobre a cama procurando uma posição mais confortável. — Mas não quero voltar a dormir agora…. Eu recebi uma carta de Houston e isso pode acabar com minha perspectiva de vida, não quero abrir aquilo agora.
Johnny balançou a cabeça pensativo e a observou o rosto dela, era quase como um carinho preocupado e cuidadoso. Ela nunca imaginara uma expressão daquela nele antes.
— Não abrir a carta quer dizer que não foi recusada ainda. Entendi, é como o paradoxo do Gato de Schrödinger, se não observar o fenômeno as duas realidades aconteceriam simultaneamente, assim nesse momento você continua sendo astronauta e não sendo. Você abrir a carta agora acabaria com essa dualidade.
— Johnny Storm, usando um exemplo de mecânica quântica?! — disse surpresa e rindo. — É exatamente isso.
Ele revirou os olhos a fazendo rir mais ainda.
— Se contar pra alguém que eu disse uma coisa nerd como essa, vou negar pra sempre.
Ela deixou uma gargalhada escapar e ele começou a tocar uma nova música no violão.
— Fica aqui comigo hoje e prometo que não vamos colocar fogo no violão. — Ele pediu suavemente, ela balançou a cabeça e Johnny voltou a cantar.
Eles passaram a noite falando sobre música, prometendo trocar discos e rindo do gosto musical bizarro de Reed. Descobriram bandas em comum e imaginaram como iriam nos próximos shows. Eventualmente, Johnny deixou o violão de lado e se deitou na cama ao lado de , estavam um de frente para o outro, perto o bastante para sussurrarem enquanto conversavam e sentir a respiração um do outro no rosto. perto o bastante para as mãos se alcançarem, as pernas se entrelaçarem e ambos os corpos se encontrar em um abraço. Mas não fizeram isso e de alguma forma ainda assim se sentiam abraçados.
Ele estava usando uma camiseta e uma calça de moletom, o casaco dele estava nela como sempre faziam - ela roubava todos os casacos dele, era mais confortável. Mas naquele dia, ela sabia que ia perder o casaco, o conforto e a presença dele. Era um vazio estranho de se sentir, a aproximação inevitável do fim.
— Por quê? — Ele perguntou por fim. — Por causa da estação espacial?! Eu já admiti para a empresa e para o mundo que foi seu trabalho, Addy. Eu não tive a intenção, eu pedi perdão…
— Eu sei, Tom! — Ela disse se virando para ele e colocou a mão na boca impedindo seus lábios de tremerem ao falar quando viu os olhos cheios de lágrimas dele. — Mas o que isso representou para nós, o que isso me fez ver em nós é maior do que isso. Vivemos um para o outro, não temos nada fora do nosso relacionamento… eu não sei quem eu sou se eu não estiver sendo sua, eu não sei o que eu quero se você não quiser também.
— Não entendo, Addy… Nós temos um ao outro. Não é assim que tem que ser? — Ele perguntou sinceramente confuso, tentando entender. Uma lágrima escorreu pelo rosto de Tom e ele abaixou a cabeça.
Nesse momento, Laika a beagle que eles tinham juntos caminhou até o sofá abanando o rabo e lambendo a mão de Tom. Ele acabou a cabeça dela e então olhou para .
— Você é minha família, minha casa, minha vida. — Ele murmurou. — Como isso pode não ser o bastante?
— Tom, crescemos acreditando que só o amor vai nos preencher. Mas eu não tenho sido o bastante pra mim a minha vida inteira, sempre esperei que outra pessoa fosse me amar… — Ela se aproximou e sentou no sofá ao lado dele. — Mas isso é errado, não devemos colocar o sentido de nossa existência em outra pessoa sem estarmos completos primeiro.
Ela segurou a mão dele, ele deixou por um instante e então a soltou.
— Está bem, . — A voz rouca soou dolorida com o peso da mágoa. — Eu vou embora.
Ele se levantou para fazer as malas e Laika se aproximou de colocando o focinho no colo dela como se perguntasse o que fariam agora.
Com a mente de volta ao presente e focada no momento, saiu do quarto e desceu até o andar onde ficava o amplo salão do apartamento de Reed. Se aproximou da mesa onde todos estavam sentados aguardando por ela. Ela viu Ben, Reed e Susan sentados próximos de Victor que claramente havia escolhido o assento da extremidade da mesa onde poderia observar bem todos. Curiosamente não havia mais ninguém representando a Von Doom no recinto, somente eles e Victor.
E a primeira coisa que ela reparou foi que havia algo de errado na postura de Victor, não era a aura impaciente e investidora de antes. Parecia algo mais agressivo, uma expressão faminta e dolorida. Era possível ver que a cicatriz dele havia aumentado de tamanho, cobria todo o lado esquerdo do rosto e não parecia estar cicatrizando como deveria.
A mão direita de Victor estava coberta por uma luva escura da mesma cor de seu terno, mas a mão esquerda não estava coberta, ele a deixou sobre a mesa com os dedos curvados como se segurassem alguma emoção dentro de si. Uma parte de percebeu que nem mesmo Tom estava ali, o que significava que Victor tentaria a todo custo manter somente os seus interesses.
— Onde estão os outros? — perguntou jogando uma pasta sobre a mesa e se dirigindo a Victor.
Ele ergue as mãos em sinal de impotência que era pouco característico dele e disse calmamente:
— Somos só nós. Ninguém se importa com os danos colaterais, só com o valor perdido. — Victor suspirou olhando para cada um como se os desafiasse a contrariá-lo. — Nós somos prejuízo, o conselho não pode mais lucrar conosco então nos deixaram à própria sorte.
— Nós? — Pontuou Ben em um tom que indicava que dificilmente acreditaria que Victor estava tão ferrado quanto eles.
— Estou prestes a perder o cargo da presidência, minha carreira está por um fio. — Ele murmurou claramente a contragosto. — Tom está nesse momento estudando as possibilidades da Von Doom continuar nos eixos e nos auxiliar na recuperação. Mas devemos ter em mente que não haverá nenhum grande auxílio…
— Mas e quanto a responsabilidade da empresa? — Ben disse ameaçando bater na mesa fazendo com que Sue tocasse em seu braço e o impedisse de reagir daquela forma.
Johnny estava estranhamente quieto e de braços cruzados e nunca tinha esperado que ele tivesse a capacidade de ficar tão sério.
— Responsabilidade? Nós assinamos um termo de responsabilidade, sabemos dos riscos de uma missão espacial e nada do que aconteceu lá foi culpa da empresa. — Victor levantou a voz e o abajur ao lado de piscou.
Ela se virou para encarar a luz falha da lâmpada, mas logo voltou sua atenção novamente para o grupo ao redor da mesa. Reed massageou a têmpora enquanto dizia:
— Isso vai complicar o desenvolvimento do nosso trabalho, até descobrirmos uma forma de reversão…
Victor se levantou e ajeitou o paletó balançando a cabeça.
— Mas a mídia adora vocês, devem conseguir tirar algum proveito disso… — Ele disse em um tom que imediatamente fez perceber que havia ressentimento naquilo.
Nesse instante Johnny pareceu a ponto de dizer algo, mas seus olhos encontraram Addy e ele desviou o olhar em silêncio.
— Vamos precisar de tempo e de muita energia para reconstruir a cápsula e retomar a nuvem cósmica. — Reed olhou para os dados nos arquivos da pasta à sua frente.
— Eu confio em você, Reed. — Victor disse se aproximando do cientista e em uma frase que poderia ser algo sobre a relação de longa data soou mais como um peso e uma obscura ameaça.
Então ele se virou para para falar sobre algo que só eles compreenderiam bem:
— Tom está tentando, por você principalmente. Estou fora das reuniões até o Conselho escolher um novo presidente, não tenho mais acesso a alguns recursos. Ligue para ele, Rudolph, ele pode ser mais útil nesse quesito agora.
E então ele olhou para Susan, um chamado silencioso para ela o acompanhar. Victor Von Doom caminhou para a saída e Susan o acompanhou saindo do apartamento.
Um silêncio pesaroso recaiu sobre todos ali.
— Só eu estou sentindo o cheiro do cadáver que é a carreira do Victor agora?! — Johnny finalmente falou e por mais inconveniente que fosse o comentário, uma leveza tomou conta do ambiente e até se sentiu grata por ele ter voltado ao seu modo normal.
Mas aquilo não pareceu aliviar as coisas para Ben que saiu do cômodo com uma expressão ainda mais fechada e aquilo fazia o coração de todos doer, para Ben era infinitamente mais difícil viver naquela condição. Reed se levantou juntando todas as pasta em uma pilha, o cabelo já estava mais bagunçado do que no minuto anterior e ele correu em direção a mesa do laboratório murmurando outras possibilidades, indicando que seria mais uma noite sem dormir e muito trabalho.
— Eu ajudo o professor chato hoje. — Johnny disse se levantando e por um instante achou que era alguma piada ou flerte que ela não tinha entendido. — Você deveria descansar.
Era a segunda vez no dia que ele parecia sério sobre alguma coisa, ela se perguntou se deveria se preocupar. Mas ele foi até a mesa de Reed para ver o que podia ser feito. Aquilo fez com que Addy sentisse uma espécie de gratidão silenciosa, ela se levantou e foi até o quarto. Mais tarde não se lembrou muito bem de ter feito o caminho até a cama, mas deitou e dormiu quase que imediatamente.
Quando ela abriu os olhos já era de noite e o quarto estava escuro, a única luz que tinha era da janela aberta. A lua cheia brilhava no céu lá fora e Addy se levantou e esticou os braços despertando, ela caminhou até a janela e deu uma boa olhada no céu reconhecendo algumas constelações naquela noite. Pensou no espaço e em sua imensidão, na adrenalina correndo pelo seu corpo toda vez que olhava para a terra pelo outro lado. E então sua mente se lembrou da correspondência da NASA sobre a sua escrivaninha.
Ela não queria abri-lo agora, não queria saber o que estava nele e o que a impediria de ter a chance de ir para o espaço novamente. A carreira de Victor não era a única ameaçada e aquilo doía nela, a ideia de não ser mais uma astronauta era a ideia de viver uma vida sem propósito.
só queria sair logo dali, do quarto, de perto da carta, e fazer qualquer coisa que tirasse sua mente daquilo. Talvez Reed tivesse alguns cálculos para lhe passar e com essa ideia em mente, Addy saiu do quarto e ao passar pelo quarto de Johnny encontrou a porta aberta e ele sentado na beirada da cama com seu violão no colo. Ela parou ao perceber que ele estava cantando baixo, dedilhando as cordas de uma forma delicada fazendo com que a melodia parecesse estar ecoando dentro dela e não fora.
There's no one in town I know
You gave us some place to go
Addy sempre pensou em Johnny como as baladas de rocks que sacudiam estádios, falavam sobre um amor rebelde e um solo de guitarra emocionado. Ver uma melodia serena como aquela, bem calculada e profunda fez ela esquecer do que estava fazendo e simplesmente ficar ali o ouvindo.
I never said thank you for that
I thought I might get one more chance
Ele ergueu a cabeça e a viu ali na porta, ele não pareceu envergonhado e nem mesmo parou de tocar. Continuou a melodia como um convite suave para ela compartilhar aquele momento com ele. entrou no quarto se aproximando devagar sem deixar de notar os detalhes no rosto de Johnny enquanto ele cantava o verso. Ela se sentou na cama na outra ponta com o olhar dividido entre os olhos azuis dele e as mãos conduzindo o violão.
May angels lead you in
Hear you me, my friends
On sleepless roads, the sleepless go
May angels lead you in
A voz de Johnny era aveludada, era como deitar na cama depois de um longo dia de trabalho, ou sentar em frente à lareira depois de passar frio, era simples e sentimento de uma forma pura. E então ele terminou o verso estendendo as notas no violão, diminuindo o tempo até o último acorde ecoar e finalizar. Ele então ergueu os olhos para ela com um meio sorriso como se temesse que ela não tivesse gostado da performance.
— Já passou da meia-noite, então hoje é o aniversário de morte da minha mãe… — Ele murmurou, sem sorrisos brincalhões, sem piscadinha, era apenas ele sendo sincero. — Eu sempre tiro uma música para lembrar dela. Sei que ela não pode me ouvir, mas eu não disse para ela tudo o que eu queria dizer quando ela estava aqui, então vou fazer isso pra sempre desejando que ela possa ouvir.
— Eu sinto muito, Johnny… — Addy esticou a mão para tocar a dele e então se lembrou de que não podia e recolheu o braço, aquele pequeno detalhe doeu nela e doeu em Johnny também.
— Tudo bem se quiser me tocar… — Ele disse deixando a mão deslizar do violão em direção a ela, devagar, dando-a a chance de se afastar quando ela quisesse. — Eu vou correr o risco.
— Como o incêndio astronômico que causamos da última vez?! — Ela o lembrou recolhendo o braço com esforço.
— Foi maneiro, tem que admitir! — Ele sorriu voltando a focar no violão como se estivesse pensando na próxima música. — Você conseguiu descansar?
— Sim, obrigada por ter ajudado na minha parte hoje. — Ela disse sorrindo para ele e colocou as pernas sobre a cama procurando uma posição mais confortável. — Mas não quero voltar a dormir agora…. Eu recebi uma carta de Houston e isso pode acabar com minha perspectiva de vida, não quero abrir aquilo agora.
Johnny balançou a cabeça pensativo e a observou o rosto dela, era quase como um carinho preocupado e cuidadoso. Ela nunca imaginara uma expressão daquela nele antes.
— Não abrir a carta quer dizer que não foi recusada ainda. Entendi, é como o paradoxo do Gato de Schrödinger, se não observar o fenômeno as duas realidades aconteceriam simultaneamente, assim nesse momento você continua sendo astronauta e não sendo. Você abrir a carta agora acabaria com essa dualidade.
— Johnny Storm, usando um exemplo de mecânica quântica?! — disse surpresa e rindo. — É exatamente isso.
Ele revirou os olhos a fazendo rir mais ainda.
— Se contar pra alguém que eu disse uma coisa nerd como essa, vou negar pra sempre.
Ela deixou uma gargalhada escapar e ele começou a tocar uma nova música no violão.
— Fica aqui comigo hoje e prometo que não vamos colocar fogo no violão. — Ele pediu suavemente, ela balançou a cabeça e Johnny voltou a cantar.
Eles passaram a noite falando sobre música, prometendo trocar discos e rindo do gosto musical bizarro de Reed. Descobriram bandas em comum e imaginaram como iriam nos próximos shows. Eventualmente, Johnny deixou o violão de lado e se deitou na cama ao lado de , estavam um de frente para o outro, perto o bastante para sussurrarem enquanto conversavam e sentir a respiração um do outro no rosto. perto o bastante para as mãos se alcançarem, as pernas se entrelaçarem e ambos os corpos se encontrar em um abraço. Mas não fizeram isso e de alguma forma ainda assim se sentiam abraçados.
Capítulo 14
A LUZ DO DIA ENTROU pela janela despertando Johnny aos poucos, ele respirou fundo esticando as pernas e os braços e abrindo os olhos. ainda estava lá, olhos fechados e respiração tranquila embalada pelo sono. Ele observou por um momento mal acreditando que uma garota atraente dormira na sua cama e ele nem mesmo a tocara. Ele riu consigo mesmo e olhou cada traço do rosto dela como se quisesse memorizar os detalhes, ela estava tão tranquila que dificilmente parecia que ia lhe fazer mal encostar nela.
Ele esticou a mão devagar e deslizou o dedo pela mecha de cabelo dela que estava sobre a testa, afastando-a dos olhos de Addy. Ela suspirou, os lábios entreabertos em um sussurro inconsciente:
— Johnny…
E antes que ele pudesse pensar, sua mão deslizou para o rosto dela. A princípio tudo o que ele sentiu era ela, sua pele quente, a respiração em sua pele e então ele sentiu um formigamento que foi ficando mais intenso até seus braço inteiro parecer dormente e a temperatura do seu corpo aumentar. Johnny sentiu-se sugado, energia se esvaindo como se a pele de Addy comandasse todas as suas células. Ele retirou a mão antes que não conseguisse, antes que algo mais forte acontecesse.
Ela se moveu abrindo os olhos, respirou fundo olhando ao redor como se lembrasse onde estava e então o olhou com um ar suspeito e sonolento.
— Ficamos juntos por muito tempo e não explodimos nada? Nem brigamos? — Ela perguntou em um tom de brincadeira.
Ele deu uma risada para disfarçar e encolheu o braço que ainda não estava sentindo.
— Não somos um completo desastre. — Ele disse se levantando ainda com receio de ela perceber algo. Uma leve vertigem lhe atingiu, mas passou conforme ele se afastava da cama. — Vamos tomar café e continuar o trabalho?!
Uma batida na porta impediu de responder. Johnny abriu a porta e encontrou Sue esgueirando a cabeça para dentro do quarto, ela olhou ao redor e falou:
— Vocês não queimaram nada?! E os dois ainda estão vivos?! Hum, temos um progresso aqui!
Johnny revirou os olhos exageradamente.
— Addy… — Continuou Susan. — Tom Von Doom está no telefone e perguntou se poderia falar com você.
Johnny revirou os olhos mais uma vez e se levantou para acompanhar Sue até a sala.
As duas saíram do quarto de Johnny e desceram as escadas até o andar de baixo. O telefone estava sobre a mesa bagunçada de Reed e ele estava atrás da tela do computador com uma xícara de café na mão, obviamente ele não havia dormido naquela noite.
— Bom dia, Reed. — Addy o cumprimentou e ele bocejou em resposta.
Ela pegou o telefone que estava em cima da mesa e o levou até a orelha.
— Alô, Tom?
Um segundo de hesitação se passou até que ele respondeu:
— Oi, … Podemos conversar? Sinto que não estamos fazendo nenhum progresso, mas há algo que você deveria ver.
Addy considerou por um instante e então respondeu:
— Está bem, pode vir no final da tarde. Tenho alguns testes para realizar com o Reed.
Tom concordou e sem prolongar a conversa, se despediu e desligou. olhou para Reed debruçado sobre a mesa como sempre, alheio a tudo que acontecia ao seu redor.
— Como estão indo os testes com o Ben? — Ela perguntou se sentando na cadeira ao lado dele.
— As células de Ben não tem reagido bem a nenhum dos estímulos que estamos tentando. — Havia um leve tom de frustração e cansaço na voz dele.
ligou a tela do próprio computador para verificar os dados e acompanhar Reed quando ele resmungou algo ininteligível. Ela o observou vendo o lado esquerdo do rosto dele mudar de forma como se fosse borracha derretendo.
— Reed, você está bem? — Ela se levantou para pronta para o segurar, mas ele se ajeitou na cadeira e fez um sinal com a mão para acalmá-la. Addy percebeu que o movimento da mão dele foi vacilante, como se a mão fosse borracha mole.
— Acontece em picos de estresse. — Ele murmurou com um leve tom de frustração por estar cansado demais, para Reed era essencial ser produtivo.
Como se tivesse pressentido a situação, Sue veio do andar de cima resmungando como era importante o tempo de descanso. Reed tentou rebater, mas a boca amoleceu e ele perdeu a capacidade de conseguir articular palavras.
e Susan seguraram Reed e o ajudaram a se erguer da cadeira.
— Vamos tirar um momento para respirar um pouco e dar uma volta. — O tom na voz de Susan deixava bem claro que Reed não poderia protestar.
— Eu vou ficar por aqui mais um pouco, depois vou encontrar o Tom e atualizar as informações com ele. — avisou enquanto os dois passavam pela porta.
Reed balbuciou alguma coisa impossível de entender com a boca esticada feito borracha, Susan o guiou para fora.
***
terminou a pesquisa de dados e registrou o relatório no final da tarde. A pesquisa tinha avançado no aspecto genético, mas ainda estavam longe de encontrar uma forma de recriar a tempestade e reverter toda a situação. Sem recursos e sem auxílio, eles poderiam levar anos. Aquela perspectiva a deixou desanimada e a primeira coisa que quis era encontrar Johnny, ele provavelmente faria algum comentário sarcástico que primeiro a deixaria irritada e depois a faria rir.
Ela pegou a bolsa e o casaco e saiu do Edifício Baxter para o ponto de encontro que marcou com Tom. Como era em um café próximo, ela decidiu caminhar.
Observava as pessoas passando pela rua e algumas até se viravam para a cumprimentar, esquecia que seu rosto estava estampado em todos os locais. Estratégia de Johnny, e graças a isso eles poderiam continuar a pesquisa. sempre pensou em como a pesquisa espacial era tratada como o maior feito científico da humanidade, mas quando dava errado todo mundo virava as costas para as consequências.
Após três quarteirões caminhando, atravessou a rua e viu Tom parado em frente a um café. Ele estava com uma jaqueta de couro marrom, o cabelo havia crescido um pouco e a barba estava por fazer. Conforme se aproximava, percebeu que Tom segurava uma coleira e ao seu lado Laika se agitou assim que percebeu que ela se aproximava.
— Hey, Laika… — murmurou enquanto a beagle se lançava contra suas pernas.
precisou se controlar para não tirar as mãos do bolso e tocá-la.
— Achei que gostaria de vê-la. — Tom disse em um tom incerto, pela expressão em seus olhos ele estava arrependido por ter sido um babaca. — Olha, eu fui um idiota e sei que você vai me odiar para o resto da sua vida. Mas eu trouxe uma coisa que talvez você esteja precisando.
Tom entregou a ela uma caixa simples e mediana, abriu e tirou dela um par de luvas de couro acinzentado.
— Vai te ajudar a canalizar a energia por um tempo. Estive estudando os dados que me passou e pelo visto você retém energia e depois a libera, ainda não dá pra saber a proporção… mas considerando o nível de radiação a que foi exposta… , a capacidade mínima pressuposta é de 15 quilotons. — Ele explicou.
olhou para ele perplexa.
— Isso é a capacidade de uma bomba atômica?!
— Não dá pra fazer testes precisos no Edifício Baxter. Mas tem um pesquisador interessado, PhD em energia e radiação, mandei os dados para o centro de pesquisa dele na NASA… pode ser que entrem em contato. — Tom gesticulou para as luvas. — Isso pode te ajudar até lá.
lembrou da carta que chegou e que ela estava com medo de abrir, poderia ser sobre o que Tom estava falando. Ele estava realmente tentando ajudar.
Ela colocou as luvas e se abaixou para afagar as orelhas de Laika.
— Para ser sincera, eu estava muito decepcionada com tudo, Tom. Você foi a única pessoa na minha vida por tanto tempo… Eu respeito você, entende? — Ela se levantou para o olhar nos olhos. — Obrigada.
— É o mínimo que eu posso fazer. — Ele desviou os olhos marejados. — Preciso ir, ainda tenho que lidar com o meu irmão narcisista e todo o caos da companhia.
balançou a cabeça em um gesto compreensivo, eles se olharam por um instante e Tom se afastou levando Laila consigo. os observou até que virassem a esquina, como símbolos de uma outra fase de sua vida. Apertou os dedos cobertos pelas luvas. Precisava ajudar na pesquisa e descobrir do que era capaz de verdade.
***
Tom Von Doom chegou no seu apartamento ainda com a voz de ecoando em sua mente.
"Eu respeito você, entende?"
Ele sabia muito bem que estragara tudo e que não merecia respeito algum, mas sempre fora muito sensata ao mesmo tempo que era capaz de amar puramente as pessoas. Perdido em pensamentos, ele tirou a coleira de Laika e quando caminhou até a sala, ela começou a rosnar baixinho na direção da poltrona.
A poltrona girou devagar revelando Victor sentado no escuro.
— Mas o que diabos está fazendo, Victor? — Tom perguntou com um sentimento entre a irritação e a surpresa.
— Tomando um gole de conhaque enquanto eu vejo tudo ruir. — Ele disse em um tom baixo carregado de frustração.
Tom sabia que a frustração do irmão era sempre perigosa.
— Estamos fazendo o melhor.
— Não é o bastante. — Victor rebateu. — Você nunca foi o bastante. Sempre medíocre. Deixei você na companhia pra não decepcionar ainda mais nossos pais que sabiam que você não chegaria nem perto de conquistar o que conquistei.
Tom não tentou rebater, era fato de que os pais tinham um filho preferido e não era Tom.
— Até te deixou, era nítido que ela notaria sua incompetência também. O que pode fazer por ela durante esse tempo? — Victor balançou levemente o copo de conhaque com a elegância de alguém que sabe como usar a vulnerabilidade do outro.
— Estou fazendo o que eu posso, merda! Não ajuda o fato de você se abster de toda a burocracia. Você faz a merda e eu que tenho que limpar depois! Nada do que eu faço é útil para você!
— Talvez você tenha sido útil pra mim. — Ponderou Victor. — Entregou aquele par de luvas para ?
Victor ficou confuso com a súbita mudança no assunto. E então um segundo depois ele percebeu, Victor estava tramando algo.
Sem se preocupar em responder o irmão, Tom se virou para a porta, pronto para correr até o Edifício Baxter. Mas Victor estava mais rápido e mais cruel do que antes, um raio de eletricidade atravessou o apartamento atingindo Tom nas costas e abrindo um buraco no peito.
Tom largou o copo de conhaque e observou a leve fumaça que saía dos seus dedos. Laika lambia o rosto de Tom e chorava baixinho tentando reanimar o dono.
— Isso é o que acontece com os fracos. — Victor disse ao passar pelo animal.
Ele pegou o paletó e o vestiu calmamente, saiu do apartamento assobiando e arrumando a gravata. Precisava resolver aquilo no Edifício Baxter.
Ele esticou a mão devagar e deslizou o dedo pela mecha de cabelo dela que estava sobre a testa, afastando-a dos olhos de Addy. Ela suspirou, os lábios entreabertos em um sussurro inconsciente:
— Johnny…
E antes que ele pudesse pensar, sua mão deslizou para o rosto dela. A princípio tudo o que ele sentiu era ela, sua pele quente, a respiração em sua pele e então ele sentiu um formigamento que foi ficando mais intenso até seus braço inteiro parecer dormente e a temperatura do seu corpo aumentar. Johnny sentiu-se sugado, energia se esvaindo como se a pele de Addy comandasse todas as suas células. Ele retirou a mão antes que não conseguisse, antes que algo mais forte acontecesse.
Ela se moveu abrindo os olhos, respirou fundo olhando ao redor como se lembrasse onde estava e então o olhou com um ar suspeito e sonolento.
— Ficamos juntos por muito tempo e não explodimos nada? Nem brigamos? — Ela perguntou em um tom de brincadeira.
Ele deu uma risada para disfarçar e encolheu o braço que ainda não estava sentindo.
— Não somos um completo desastre. — Ele disse se levantando ainda com receio de ela perceber algo. Uma leve vertigem lhe atingiu, mas passou conforme ele se afastava da cama. — Vamos tomar café e continuar o trabalho?!
Uma batida na porta impediu de responder. Johnny abriu a porta e encontrou Sue esgueirando a cabeça para dentro do quarto, ela olhou ao redor e falou:
— Vocês não queimaram nada?! E os dois ainda estão vivos?! Hum, temos um progresso aqui!
Johnny revirou os olhos exageradamente.
— Addy… — Continuou Susan. — Tom Von Doom está no telefone e perguntou se poderia falar com você.
Johnny revirou os olhos mais uma vez e se levantou para acompanhar Sue até a sala.
As duas saíram do quarto de Johnny e desceram as escadas até o andar de baixo. O telefone estava sobre a mesa bagunçada de Reed e ele estava atrás da tela do computador com uma xícara de café na mão, obviamente ele não havia dormido naquela noite.
— Bom dia, Reed. — Addy o cumprimentou e ele bocejou em resposta.
Ela pegou o telefone que estava em cima da mesa e o levou até a orelha.
— Alô, Tom?
Um segundo de hesitação se passou até que ele respondeu:
— Oi, … Podemos conversar? Sinto que não estamos fazendo nenhum progresso, mas há algo que você deveria ver.
Addy considerou por um instante e então respondeu:
— Está bem, pode vir no final da tarde. Tenho alguns testes para realizar com o Reed.
Tom concordou e sem prolongar a conversa, se despediu e desligou. olhou para Reed debruçado sobre a mesa como sempre, alheio a tudo que acontecia ao seu redor.
— Como estão indo os testes com o Ben? — Ela perguntou se sentando na cadeira ao lado dele.
— As células de Ben não tem reagido bem a nenhum dos estímulos que estamos tentando. — Havia um leve tom de frustração e cansaço na voz dele.
ligou a tela do próprio computador para verificar os dados e acompanhar Reed quando ele resmungou algo ininteligível. Ela o observou vendo o lado esquerdo do rosto dele mudar de forma como se fosse borracha derretendo.
— Reed, você está bem? — Ela se levantou para pronta para o segurar, mas ele se ajeitou na cadeira e fez um sinal com a mão para acalmá-la. Addy percebeu que o movimento da mão dele foi vacilante, como se a mão fosse borracha mole.
— Acontece em picos de estresse. — Ele murmurou com um leve tom de frustração por estar cansado demais, para Reed era essencial ser produtivo.
Como se tivesse pressentido a situação, Sue veio do andar de cima resmungando como era importante o tempo de descanso. Reed tentou rebater, mas a boca amoleceu e ele perdeu a capacidade de conseguir articular palavras.
e Susan seguraram Reed e o ajudaram a se erguer da cadeira.
— Vamos tirar um momento para respirar um pouco e dar uma volta. — O tom na voz de Susan deixava bem claro que Reed não poderia protestar.
— Eu vou ficar por aqui mais um pouco, depois vou encontrar o Tom e atualizar as informações com ele. — avisou enquanto os dois passavam pela porta.
Reed balbuciou alguma coisa impossível de entender com a boca esticada feito borracha, Susan o guiou para fora.
terminou a pesquisa de dados e registrou o relatório no final da tarde. A pesquisa tinha avançado no aspecto genético, mas ainda estavam longe de encontrar uma forma de recriar a tempestade e reverter toda a situação. Sem recursos e sem auxílio, eles poderiam levar anos. Aquela perspectiva a deixou desanimada e a primeira coisa que quis era encontrar Johnny, ele provavelmente faria algum comentário sarcástico que primeiro a deixaria irritada e depois a faria rir.
Ela pegou a bolsa e o casaco e saiu do Edifício Baxter para o ponto de encontro que marcou com Tom. Como era em um café próximo, ela decidiu caminhar.
Observava as pessoas passando pela rua e algumas até se viravam para a cumprimentar, esquecia que seu rosto estava estampado em todos os locais. Estratégia de Johnny, e graças a isso eles poderiam continuar a pesquisa. sempre pensou em como a pesquisa espacial era tratada como o maior feito científico da humanidade, mas quando dava errado todo mundo virava as costas para as consequências.
Após três quarteirões caminhando, atravessou a rua e viu Tom parado em frente a um café. Ele estava com uma jaqueta de couro marrom, o cabelo havia crescido um pouco e a barba estava por fazer. Conforme se aproximava, percebeu que Tom segurava uma coleira e ao seu lado Laika se agitou assim que percebeu que ela se aproximava.
— Hey, Laika… — murmurou enquanto a beagle se lançava contra suas pernas.
precisou se controlar para não tirar as mãos do bolso e tocá-la.
— Achei que gostaria de vê-la. — Tom disse em um tom incerto, pela expressão em seus olhos ele estava arrependido por ter sido um babaca. — Olha, eu fui um idiota e sei que você vai me odiar para o resto da sua vida. Mas eu trouxe uma coisa que talvez você esteja precisando.
Tom entregou a ela uma caixa simples e mediana, abriu e tirou dela um par de luvas de couro acinzentado.
— Vai te ajudar a canalizar a energia por um tempo. Estive estudando os dados que me passou e pelo visto você retém energia e depois a libera, ainda não dá pra saber a proporção… mas considerando o nível de radiação a que foi exposta… , a capacidade mínima pressuposta é de 15 quilotons. — Ele explicou.
olhou para ele perplexa.
— Isso é a capacidade de uma bomba atômica?!
— Não dá pra fazer testes precisos no Edifício Baxter. Mas tem um pesquisador interessado, PhD em energia e radiação, mandei os dados para o centro de pesquisa dele na NASA… pode ser que entrem em contato. — Tom gesticulou para as luvas. — Isso pode te ajudar até lá.
lembrou da carta que chegou e que ela estava com medo de abrir, poderia ser sobre o que Tom estava falando. Ele estava realmente tentando ajudar.
Ela colocou as luvas e se abaixou para afagar as orelhas de Laika.
— Para ser sincera, eu estava muito decepcionada com tudo, Tom. Você foi a única pessoa na minha vida por tanto tempo… Eu respeito você, entende? — Ela se levantou para o olhar nos olhos. — Obrigada.
— É o mínimo que eu posso fazer. — Ele desviou os olhos marejados. — Preciso ir, ainda tenho que lidar com o meu irmão narcisista e todo o caos da companhia.
balançou a cabeça em um gesto compreensivo, eles se olharam por um instante e Tom se afastou levando Laila consigo. os observou até que virassem a esquina, como símbolos de uma outra fase de sua vida. Apertou os dedos cobertos pelas luvas. Precisava ajudar na pesquisa e descobrir do que era capaz de verdade.
Tom Von Doom chegou no seu apartamento ainda com a voz de ecoando em sua mente.
"Eu respeito você, entende?"
Ele sabia muito bem que estragara tudo e que não merecia respeito algum, mas sempre fora muito sensata ao mesmo tempo que era capaz de amar puramente as pessoas. Perdido em pensamentos, ele tirou a coleira de Laika e quando caminhou até a sala, ela começou a rosnar baixinho na direção da poltrona.
A poltrona girou devagar revelando Victor sentado no escuro.
— Mas o que diabos está fazendo, Victor? — Tom perguntou com um sentimento entre a irritação e a surpresa.
— Tomando um gole de conhaque enquanto eu vejo tudo ruir. — Ele disse em um tom baixo carregado de frustração.
Tom sabia que a frustração do irmão era sempre perigosa.
— Estamos fazendo o melhor.
— Não é o bastante. — Victor rebateu. — Você nunca foi o bastante. Sempre medíocre. Deixei você na companhia pra não decepcionar ainda mais nossos pais que sabiam que você não chegaria nem perto de conquistar o que conquistei.
Tom não tentou rebater, era fato de que os pais tinham um filho preferido e não era Tom.
— Até te deixou, era nítido que ela notaria sua incompetência também. O que pode fazer por ela durante esse tempo? — Victor balançou levemente o copo de conhaque com a elegância de alguém que sabe como usar a vulnerabilidade do outro.
— Estou fazendo o que eu posso, merda! Não ajuda o fato de você se abster de toda a burocracia. Você faz a merda e eu que tenho que limpar depois! Nada do que eu faço é útil para você!
— Talvez você tenha sido útil pra mim. — Ponderou Victor. — Entregou aquele par de luvas para ?
Victor ficou confuso com a súbita mudança no assunto. E então um segundo depois ele percebeu, Victor estava tramando algo.
Sem se preocupar em responder o irmão, Tom se virou para a porta, pronto para correr até o Edifício Baxter. Mas Victor estava mais rápido e mais cruel do que antes, um raio de eletricidade atravessou o apartamento atingindo Tom nas costas e abrindo um buraco no peito.
Tom largou o copo de conhaque e observou a leve fumaça que saía dos seus dedos. Laika lambia o rosto de Tom e chorava baixinho tentando reanimar o dono.
— Isso é o que acontece com os fracos. — Victor disse ao passar pelo animal.
Ele pegou o paletó e o vestiu calmamente, saiu do apartamento assobiando e arrumando a gravata. Precisava resolver aquilo no Edifício Baxter.
Capítulo 15
A SENSAÇÃO ERA CONFORTÁVEL, a luva servia perfeitamente bem e o tecido era de uma fibra ajustável e flexível. se sentia mais segura e à vontade sabendo que não iria encostar na pele de alguém por engano, pelo menos até aprender a dominar aquela nova função do seu corpo.
Depois do encontro com Tom, ela havia voltado para o Edifício Baxter. Susan havia deixado uma mensagem avisando que ela e Reed iriam demorar, Johnny havia percebido que os alimentos não apareciam na cozinha sozinho e se predispôs a ir ao mercado, enquanto que Ben permaneceu no quarto o dia todo.
estudava os resultados que tinham até o momento, revisava sem parar a ficha de cada e o resultado das amostras. Estava com a teoria de que poderiam ter sido afetados em diferentes graus, porque estavam em posições diferentes em relação à onda de radiação. Prova disso foi que Ben teve a mutação mais significativa.
Porém, não haviam dados sobre Victor. Afinal, ele também estava lá. Ele também foi afetado.
Seria muito importante acompanhar os efeitos colaterais, poderia ter alguma informação importante que ajudaria os demais. Ela pegou o telefone e digitou o número de Tom, sabia que poderia convencê-lo a compartilhar o que fosse necessário. Depois de ter recebido as luvas dele, percebeu que devido à mágoa havia esquecido que outrora haviam confiado um no outro. Talvez pudessem manter aquilo novamente.
Mas ele não atendeu.
O telefone chamou por diversas vezes até que caiu na caixa postal.
estava deixando uma mensagem gravada quando ouviu um estrondo vindo do elevador. Um grito ecoou pelo hall de entrada. Ela estava na mesa no canto da sala aberta, não conseguia ver o que estava acontecendo, mas podia ouvir o som de metal se retorcendo e a porta do elevador atravessou o corredor.
Logo em seguida algo foi jogado atravessando a sala aberta, houve o baque seco de algo caindo ao chão bem ao lado da mesa de . Ainda com o telefone no ouvido e paralisada pela surpresa, ela observou o que acabara de cair ao seu lado.
O corpo de Rodney, o porteiro do Edifício Baxter, estava no chão, seus olhos bem vidrados e aberto mesmo já não estando mais vivo.
tremeu e deixou o telefone cair, as luzes do apartamento começaram a piscar, era possível ouvir o som da eletricidade passando pelas paredes, passos calmos começaram a soar pelo hall de entrada. A luz se apagou por completo e com cuidado engatinhou para baixo da mesa.
Victor Von Doom entrou assobiando e observando a própria mão que liberava uma fumaça sutil, havia nele um certo fascínio e obsessão pelo próprio poder.
— Reed?! — Ele chamou. — Precisamos conversar e acertar algumas coisas.
permaneceu embaixo da mesa, repassando em sua cabeça todos os detalhes que havia percebido em Victor desde o desastre da missão. Não podia encará-lo sem saber o que ele conseguiria fazer.
Ela percebeu algo se mover devagar nas sombras do corredor atrás de Victor, com certeza era Ben.
— Reed não está no momento, Victor. Mas eu posso deixar um recado. — Ben com sua voz grave e em um tom sério.
Victor riu baixo se virando na direção de Ben. As luzes piscaram novamente oscilando conforme o humor dele.
— Cansei de ficar na espera, Ben. Você não? — Victor murmurou, com passos lentos se aproximou de Ben. — Não está cansado de perder tudo enquanto Reed está por aí passeando e as pessoas não conseguem nem mesmo olhar pra você? Todos aqui estão bem depois de tudo, são vistos como heróis, celebridades… mas você, Ben… não passa de uma aberração para eles, não é? Se Reed se importasse de verdade, ele já teria dado um jeito.
imaginava o que aquelas palavras estavam causando em Ben. Uma das habilidades de Victor era mexer com a vulnerabilidade dos outros e pelo silêncio de Ben, ele havia conseguido atingi-lo onde precisava, no emocional. Ela saiu devagar debaixo da mesa, arrancou uma das luvas e esticou a mão para Victor.
Mas ele a pegou, sua mão fria se fechou no pescoço dela e as luzes acenderam.
viu o rosto retorcido de Victor, a pele descamação e caia revelando uma segunda pele acinzentada e endurecida por baixo, metade da boca já havia se desfeito expondo a arcada dentária dando a impressão de um sorriso cruel e constante.
— Posso te sentir com essas luvas, . — Ele murmurou e com a outra mão segurou a dela enluvada. — Elas tem pequenas fibras metálicas que transmitem energia pra mim.
Foi como se o tecido retraísse apertando seus ossos.
— Nós somos parecidos, . — Victor soltou a mão dela e tocou a sua têmpora.
— Victor, está nos ajudando, não machuque ela. — Ben pediu.
— Eu só vou dar a ela um pequeno vislumbre do que podemos fazer. — Ele apertou as mãos nas têmporas de .
Ela pode sentir seu corpo ser preenchido por uma avalanche que fez todos os seus sentidos explodirem. Sua visão se tornou turva e branca, sua audição um zumbido constante, mas ela podia sentir a energia vital que pulsava ao redor através dos corpos naquela sala, através das paredes. Ela podia sentir a cidade pulsar como um batimento cardíaco que podia alimentá-la.
Ela podia sentir as moléculas, células e átomos vibrando e a energia entre eles, o que constituía cada coisa presente no universo e que foi passado para ela. Energia vital que saía dela, esvaziava seu corpo e passava para Victor.
Os olhos de começaram a embranquecer, uma névoa tomava conta de sua íris e pupila, as mechas do cabelo começaram a perder a cor gradativamente.
Ben reagiu, não podia vê-lo com os mesmo olhos de antes, mas podia senti-lo se mover na direção de Victor que em resposta o acertou com uma onda de energia cheia de força.
Força e intensidade que ele estava tomando de .
— Reed é tão burro, todo esse tempo procurando uma fonte de energia para recriar a tempestade cósmica, sendo que a bomba sempre esteve embaixo do nariz dele. — A voz de Victor ecoava, vibrava como ondas pela mente de .
Ela flexionou os dedos devagar tentando retornar o controle do próprio corpo, retirou a luva e tocou nos pulsos de Victor, resistindo. Sentindo aquele fluxo de energia e o condicionando para ela, sentiu cada parte dele se agitando para convergir para ela.
As luzes da cidade oscilaram, uma rachadura começou a surgir no teto conforme e Victor brigavam pelo poder. Ela chegou ao limite, ainda não conseguia canalizar o que precisava e controlar isso da forma devida.
"15 quilotons", havia dito Tom. Se não se controlasse, explodiria a cidade inteira.
Em meio à porta amassada do elevador, corpos arremessados e rastros dos destroços da loucura de Victor. Johnny Storm entrou segurando as sacolas de mercado.
— Mas que porra é essa?
vacilou e Victor desestabilizou, a energia entre eles ricocheteou e o lançou contra a parede de vidro do edifício. A parede se partiu em cacos e Victor Von Doom foi lançado para fora. Ela cambaleou, mas conseguiu se manter de pé. Apertou as mãos sentindo-se cheia, desperta e furiosa.
No chão ao canto da sala, Ben praguejou tentando se levantar:
— Aquele filho da…
— Aquele era o Victor?! — Johnny exclamou desviando do corpo de Rodney e largando as sacolas.
— Precisamos de Seu e Reed. — falou para Johnny. — Vai atrás do Victor, eu vou chamar os outros.
Johnny Storm não questionou, prontamente se lançou pela abertura formada na parede de vidro e enquanto caía em queda livre, gritou:
— EM CHAMAS!
— Você não pode ficar com toda a diversão sozinho, Johnny! — Bem disse pulando logo em seguida.
correu para a beirada e observou os dois irem em direção a avenida abaixo.
— Que merda, eu não posso pular!
Ela pegou o celular e começou a ligar para Reed enquanto corria para as escadas do Edifício. Não queria arriscar o elevador.
Na avenida principal, um comércio teve o teto destruído após a queda de algo não identificado e pesado como metal e com a forma humana. Um carro com duas civis freou bruscamente antes de acertar uma pedra enorme que caíra do céu deixando um buraco no asfalto e um cara em chamas destruiu o forno à lenha de uma pizzaria na esquina.
Enquanto isso descia as escadas do edifício pensando no quanto não havia nada de legal ou heróico naquilo.
Ben se levantou no meio da confusão que havia se tornado o trânsito, os carros pararam às pressas freando bruscamente enquanto do outro lado do quarteirão Victor saia de um mercado disparando fluxos de energia acertando carros para os tirar de seu caminho.
Ben pegou um carro vazio estacionado no meio fio e o lançou na direção de Victor. Ele lançou um raio de energia que partiu o veículo no meio, juntou as duas mãos e canalizou a energia para atingir Ben. A eletricidade o acertou em cheio no peito o fazendo rolar pelo asfalto.
Ao redor as pessoas gritavam e tentavam ao máximo se afastar do confronto.
Victor pegou um pedaço de barra de metal que estava entre os destroços do mercado e caminhou até Ben, mirando em seu peito ele se preparou para o golpear.
— Não vou deixar você fazer isso, Victor.
Reed Richards surgiu na avenida caminhando na direção dele, acompanhado de Sue e .
— Não existe mais Victor, agora percebo que a única coisa que importa é esse poder. A missão não foi um fiasco, Reed. Vocês que são a falha… Agora eu, eu sou o Destino. — Um jato de fogo atingiu Victor interrompendo seu discurso.
— Olha, não dá mais pra levar seu discurso narcisista à sério. — Johnny se juntou aos outros.
Claramente irritado, Victor ergueu as mãos para canalizar energia, mas Reed se lançou sobre ele, esticando o próprio corpo de borracha como um cobertor para cobri-lo. já previra o próximo passo dele e assim que Reed saiu de cima de Victor, causando a distração necessária, o tocou no rosto que era onde a pele dele estava exposta e sugou o máximo de energia dele que podia nos poucos segundos que tinha.
— Johnny, precisamos de uma supernova! — Reed gritou.
Victor cambaleou para trás com a falta de força que retirou.
— Eu achei que tínhamos combinado que uma supernova seria ruim!
— Precisamos agora Johnny! — Sue disse em um tom de urgência.
estendeu a mão para ele.
— Tem certeza? — Johnny perguntou.
— Sim, vamos queimar!
Ele segurou a mão dela e explodiu com a força de uma nova estrela surgindo no espaço, nunca se sentiu tão viva.
Sue criou um campo de força para conter as chamas ao redor de Victor. e John eram como o nascimento de um universo inteiro juntos, canalizando toda aquela força e magnitude até Victor Von Doom.
Depois de liberar a grandeza de um sol, Johnny soltou a mão de , e a pegou no colo quando as pernas dela fraquejaram devido ao esforço. Se afastou de Victor que mal conseguia se mover e apertou contra o seu peito.
— É tudo o que pode fazer, Reed? — Victor sibilou com dificuldade. — Um pouquinho de calor?
— Sabe o que acontece quando se resfria metal quente? — Reed perguntou e olhou para Ben que chutou o hidratante na calçada e com o pé direcionou o jato de água gelada em Victor.
Ben manteve o jato de água por alguns segundos até Reed indicar que podia parar. Ele amassou o hidratante com as mãos até o fechar por completo.
A fumaça ao redor de Victor começou a se dissipar, todos observaram apreensivos pelo resultado. Como os cientistas que eram, essa era a parte mais difícil. O corpo foi resfriado causando uma contração térmica, Victor estava preso dentro do próprio corpo.
Reed suspirou de alívio e trocou um olhar afetuoso com Sue.
— Esse cara foi um pé no saco. — Ben resmungou.
Johnny tocou o rosto de que estava aninhada em seu peito, com os olhos cansados ela sorriu.
— Mudou o visual, space girl? — Ele tocou as mechas de cabelo que haviam perdido a cor. — Meio ultrapassado, mas eu gostei.
— Cala a boca, vulcão.
Ela riu enquanto Johnny a abraçava.
— Te impressionei tanto que suas pernas ficaram bambas? — Ele continuava a implicar conforme aguardavam a polícia e a segurança nacional chegar para arrumar a bagunça.
— Você é insuportável, Storm. — murmurou sentindo todos os seus membros cansados.
Johnny beijou sua testa e deixou que ela descansasse em seu abraço.
Depois do encontro com Tom, ela havia voltado para o Edifício Baxter. Susan havia deixado uma mensagem avisando que ela e Reed iriam demorar, Johnny havia percebido que os alimentos não apareciam na cozinha sozinho e se predispôs a ir ao mercado, enquanto que Ben permaneceu no quarto o dia todo.
estudava os resultados que tinham até o momento, revisava sem parar a ficha de cada e o resultado das amostras. Estava com a teoria de que poderiam ter sido afetados em diferentes graus, porque estavam em posições diferentes em relação à onda de radiação. Prova disso foi que Ben teve a mutação mais significativa.
Porém, não haviam dados sobre Victor. Afinal, ele também estava lá. Ele também foi afetado.
Seria muito importante acompanhar os efeitos colaterais, poderia ter alguma informação importante que ajudaria os demais. Ela pegou o telefone e digitou o número de Tom, sabia que poderia convencê-lo a compartilhar o que fosse necessário. Depois de ter recebido as luvas dele, percebeu que devido à mágoa havia esquecido que outrora haviam confiado um no outro. Talvez pudessem manter aquilo novamente.
Mas ele não atendeu.
O telefone chamou por diversas vezes até que caiu na caixa postal.
estava deixando uma mensagem gravada quando ouviu um estrondo vindo do elevador. Um grito ecoou pelo hall de entrada. Ela estava na mesa no canto da sala aberta, não conseguia ver o que estava acontecendo, mas podia ouvir o som de metal se retorcendo e a porta do elevador atravessou o corredor.
Logo em seguida algo foi jogado atravessando a sala aberta, houve o baque seco de algo caindo ao chão bem ao lado da mesa de . Ainda com o telefone no ouvido e paralisada pela surpresa, ela observou o que acabara de cair ao seu lado.
O corpo de Rodney, o porteiro do Edifício Baxter, estava no chão, seus olhos bem vidrados e aberto mesmo já não estando mais vivo.
tremeu e deixou o telefone cair, as luzes do apartamento começaram a piscar, era possível ouvir o som da eletricidade passando pelas paredes, passos calmos começaram a soar pelo hall de entrada. A luz se apagou por completo e com cuidado engatinhou para baixo da mesa.
Victor Von Doom entrou assobiando e observando a própria mão que liberava uma fumaça sutil, havia nele um certo fascínio e obsessão pelo próprio poder.
— Reed?! — Ele chamou. — Precisamos conversar e acertar algumas coisas.
permaneceu embaixo da mesa, repassando em sua cabeça todos os detalhes que havia percebido em Victor desde o desastre da missão. Não podia encará-lo sem saber o que ele conseguiria fazer.
Ela percebeu algo se mover devagar nas sombras do corredor atrás de Victor, com certeza era Ben.
— Reed não está no momento, Victor. Mas eu posso deixar um recado. — Ben com sua voz grave e em um tom sério.
Victor riu baixo se virando na direção de Ben. As luzes piscaram novamente oscilando conforme o humor dele.
— Cansei de ficar na espera, Ben. Você não? — Victor murmurou, com passos lentos se aproximou de Ben. — Não está cansado de perder tudo enquanto Reed está por aí passeando e as pessoas não conseguem nem mesmo olhar pra você? Todos aqui estão bem depois de tudo, são vistos como heróis, celebridades… mas você, Ben… não passa de uma aberração para eles, não é? Se Reed se importasse de verdade, ele já teria dado um jeito.
imaginava o que aquelas palavras estavam causando em Ben. Uma das habilidades de Victor era mexer com a vulnerabilidade dos outros e pelo silêncio de Ben, ele havia conseguido atingi-lo onde precisava, no emocional. Ela saiu devagar debaixo da mesa, arrancou uma das luvas e esticou a mão para Victor.
Mas ele a pegou, sua mão fria se fechou no pescoço dela e as luzes acenderam.
viu o rosto retorcido de Victor, a pele descamação e caia revelando uma segunda pele acinzentada e endurecida por baixo, metade da boca já havia se desfeito expondo a arcada dentária dando a impressão de um sorriso cruel e constante.
— Posso te sentir com essas luvas, . — Ele murmurou e com a outra mão segurou a dela enluvada. — Elas tem pequenas fibras metálicas que transmitem energia pra mim.
Foi como se o tecido retraísse apertando seus ossos.
— Nós somos parecidos, . — Victor soltou a mão dela e tocou a sua têmpora.
— Victor, está nos ajudando, não machuque ela. — Ben pediu.
— Eu só vou dar a ela um pequeno vislumbre do que podemos fazer. — Ele apertou as mãos nas têmporas de .
Ela pode sentir seu corpo ser preenchido por uma avalanche que fez todos os seus sentidos explodirem. Sua visão se tornou turva e branca, sua audição um zumbido constante, mas ela podia sentir a energia vital que pulsava ao redor através dos corpos naquela sala, através das paredes. Ela podia sentir a cidade pulsar como um batimento cardíaco que podia alimentá-la.
Ela podia sentir as moléculas, células e átomos vibrando e a energia entre eles, o que constituía cada coisa presente no universo e que foi passado para ela. Energia vital que saía dela, esvaziava seu corpo e passava para Victor.
Os olhos de começaram a embranquecer, uma névoa tomava conta de sua íris e pupila, as mechas do cabelo começaram a perder a cor gradativamente.
Ben reagiu, não podia vê-lo com os mesmo olhos de antes, mas podia senti-lo se mover na direção de Victor que em resposta o acertou com uma onda de energia cheia de força.
Força e intensidade que ele estava tomando de .
— Reed é tão burro, todo esse tempo procurando uma fonte de energia para recriar a tempestade cósmica, sendo que a bomba sempre esteve embaixo do nariz dele. — A voz de Victor ecoava, vibrava como ondas pela mente de .
Ela flexionou os dedos devagar tentando retornar o controle do próprio corpo, retirou a luva e tocou nos pulsos de Victor, resistindo. Sentindo aquele fluxo de energia e o condicionando para ela, sentiu cada parte dele se agitando para convergir para ela.
As luzes da cidade oscilaram, uma rachadura começou a surgir no teto conforme e Victor brigavam pelo poder. Ela chegou ao limite, ainda não conseguia canalizar o que precisava e controlar isso da forma devida.
"15 quilotons", havia dito Tom. Se não se controlasse, explodiria a cidade inteira.
Em meio à porta amassada do elevador, corpos arremessados e rastros dos destroços da loucura de Victor. Johnny Storm entrou segurando as sacolas de mercado.
— Mas que porra é essa?
vacilou e Victor desestabilizou, a energia entre eles ricocheteou e o lançou contra a parede de vidro do edifício. A parede se partiu em cacos e Victor Von Doom foi lançado para fora. Ela cambaleou, mas conseguiu se manter de pé. Apertou as mãos sentindo-se cheia, desperta e furiosa.
No chão ao canto da sala, Ben praguejou tentando se levantar:
— Aquele filho da…
— Aquele era o Victor?! — Johnny exclamou desviando do corpo de Rodney e largando as sacolas.
— Precisamos de Seu e Reed. — falou para Johnny. — Vai atrás do Victor, eu vou chamar os outros.
Johnny Storm não questionou, prontamente se lançou pela abertura formada na parede de vidro e enquanto caía em queda livre, gritou:
— EM CHAMAS!
— Você não pode ficar com toda a diversão sozinho, Johnny! — Bem disse pulando logo em seguida.
correu para a beirada e observou os dois irem em direção a avenida abaixo.
— Que merda, eu não posso pular!
Ela pegou o celular e começou a ligar para Reed enquanto corria para as escadas do Edifício. Não queria arriscar o elevador.
Na avenida principal, um comércio teve o teto destruído após a queda de algo não identificado e pesado como metal e com a forma humana. Um carro com duas civis freou bruscamente antes de acertar uma pedra enorme que caíra do céu deixando um buraco no asfalto e um cara em chamas destruiu o forno à lenha de uma pizzaria na esquina.
Enquanto isso descia as escadas do edifício pensando no quanto não havia nada de legal ou heróico naquilo.
Ben se levantou no meio da confusão que havia se tornado o trânsito, os carros pararam às pressas freando bruscamente enquanto do outro lado do quarteirão Victor saia de um mercado disparando fluxos de energia acertando carros para os tirar de seu caminho.
Ben pegou um carro vazio estacionado no meio fio e o lançou na direção de Victor. Ele lançou um raio de energia que partiu o veículo no meio, juntou as duas mãos e canalizou a energia para atingir Ben. A eletricidade o acertou em cheio no peito o fazendo rolar pelo asfalto.
Ao redor as pessoas gritavam e tentavam ao máximo se afastar do confronto.
Victor pegou um pedaço de barra de metal que estava entre os destroços do mercado e caminhou até Ben, mirando em seu peito ele se preparou para o golpear.
— Não vou deixar você fazer isso, Victor.
Reed Richards surgiu na avenida caminhando na direção dele, acompanhado de Sue e .
— Não existe mais Victor, agora percebo que a única coisa que importa é esse poder. A missão não foi um fiasco, Reed. Vocês que são a falha… Agora eu, eu sou o Destino. — Um jato de fogo atingiu Victor interrompendo seu discurso.
— Olha, não dá mais pra levar seu discurso narcisista à sério. — Johnny se juntou aos outros.
Claramente irritado, Victor ergueu as mãos para canalizar energia, mas Reed se lançou sobre ele, esticando o próprio corpo de borracha como um cobertor para cobri-lo. já previra o próximo passo dele e assim que Reed saiu de cima de Victor, causando a distração necessária, o tocou no rosto que era onde a pele dele estava exposta e sugou o máximo de energia dele que podia nos poucos segundos que tinha.
— Johnny, precisamos de uma supernova! — Reed gritou.
Victor cambaleou para trás com a falta de força que retirou.
— Eu achei que tínhamos combinado que uma supernova seria ruim!
— Precisamos agora Johnny! — Sue disse em um tom de urgência.
estendeu a mão para ele.
— Tem certeza? — Johnny perguntou.
— Sim, vamos queimar!
Ele segurou a mão dela e explodiu com a força de uma nova estrela surgindo no espaço, nunca se sentiu tão viva.
Sue criou um campo de força para conter as chamas ao redor de Victor. e John eram como o nascimento de um universo inteiro juntos, canalizando toda aquela força e magnitude até Victor Von Doom.
Depois de liberar a grandeza de um sol, Johnny soltou a mão de , e a pegou no colo quando as pernas dela fraquejaram devido ao esforço. Se afastou de Victor que mal conseguia se mover e apertou contra o seu peito.
— É tudo o que pode fazer, Reed? — Victor sibilou com dificuldade. — Um pouquinho de calor?
— Sabe o que acontece quando se resfria metal quente? — Reed perguntou e olhou para Ben que chutou o hidratante na calçada e com o pé direcionou o jato de água gelada em Victor.
Ben manteve o jato de água por alguns segundos até Reed indicar que podia parar. Ele amassou o hidratante com as mãos até o fechar por completo.
A fumaça ao redor de Victor começou a se dissipar, todos observaram apreensivos pelo resultado. Como os cientistas que eram, essa era a parte mais difícil. O corpo foi resfriado causando uma contração térmica, Victor estava preso dentro do próprio corpo.
Reed suspirou de alívio e trocou um olhar afetuoso com Sue.
— Esse cara foi um pé no saco. — Ben resmungou.
Johnny tocou o rosto de que estava aninhada em seu peito, com os olhos cansados ela sorriu.
— Mudou o visual, space girl? — Ele tocou as mechas de cabelo que haviam perdido a cor. — Meio ultrapassado, mas eu gostei.
— Cala a boca, vulcão.
Ela riu enquanto Johnny a abraçava.
— Te impressionei tanto que suas pernas ficaram bambas? — Ele continuava a implicar conforme aguardavam a polícia e a segurança nacional chegar para arrumar a bagunça.
— Você é insuportável, Storm. — murmurou sentindo todos os seus membros cansados.
Johnny beijou sua testa e deixou que ela descansasse em seu abraço.
Capítulo 16
HAVIA SIDO UM FIM DE SEMANA DIFÍCIL. Depois de enfrentarem Victor Von Doom, Reed e os outros precisaram responder a vários protocolos burocráticos sobre segurança pública e colaborar com a investigação. Ainda na mesma noite deram a notícia da morte de Tom e entrou em silêncio reflexivo que durou até o final do enterro e deixou Johnny mais agoniado e ansioso, lutando contra toda a própria energia para respeitar o luto de . Ocorreu dele colocar fogo em uma calça e em outra gravata enquanto se preparavam, mas não deixou que aquilo chegasse à de forma alguma. Ele queria poder demonstrar que ele estava ali por ela e que compreendia o seu momento.
O enterro e o velório foram discretos, havia um burburinho entre os parentes distantes sobre o que seria da empresa, Johnny achou um desrespeito muito grande. Não era o maior fã de Tom Von Doom, mas sabia reconhecer quando alguém merecia o mínimo de respeito. não fingiu sorrisos ou simpatia para nenhum conhecido, ela apenas se despediu no velório, olhou uma última vez para Tom no caixão e chorou silenciosamente. Laika os acompanhou durante todo o dia chorando baixinho de vez em quando e com um olhar tristonho que só os cachorros podem ter.
No caminho de volta ao Edifício Baxter, segurou a mão de Johnny no carro. Ela estava com as luvas de couro, por algum motivo pessoal escolheu mantê-las. E o gesto tranquilizou o coração dele, algo íntimo e difícil que precisava naquele momento e estava fazendo um esforço para demonstrar: segurar a mão dele.
— Quer parar para comer algo? — Johnny perguntou sabendo que voltar para a casa agora implicaria em Ben, Reed e Sue cercando para ajudá-la ao invés de deixá-la respirar por um momento.
concordou e eles desceram do táxi, caminharam com Laika até um café pequeno na esquina de um quarteirão e se acomodaram em uma das mesas do lado da vitrine do espaço.
Johnny fez os pedidos enquanto Laika se aninhava aos seus pés. encarava a rua lá fora.
— Eu o odiei por tanto tempo… — Ela murmurou ainda com os olhos na rua. — Ele tentou ajudar do jeito que podia.
— Não se sinta culpada por ter ficado com raiva dele, . Foi consequência do que vocês viveram.
— Mas será que eu não poderia ter sido melhor pra ele? Quer dizer, o término, o processo da patente, o fiasco da missão, a companhia afundando… Imagina ver tudo isso ruir, tentar consertar as coisas e… e…
começou a chorar. Um choro quieto e doloroso, aquele choro preso na garganta que corta todas as palavras que poderiam ser ditas.
Johnny levantou do seu lugar e se sentou ao lado dela, a abraçou deixando que ela escondesse o rosto em seu peito. soluçou enquanto Johnny afagava suas costas e deixava o abraço apertado de um jeito seguro e confortável. Os dois imaginaram que poderiam estar tão vulneráveis e seguros na companhia de outra pessoa, mas entre eles funcionava muito bem.
— Eu não pude dizer a ele que eu não o odiava. Eu não o odiava de verdade… — Ela sussurrou.
— Acredite em mim, . Ele sabia. — Johnny sussurrou para ela. — E ele te amava também.
Johnny nunca tivera um relacionamento significativo, vivia fugindo do compromisso e se convencia que daquela forma era bom. Mas ele respeitava a ideia de amar e construir uma vida com alguém. Para ele era muito fácil entender porque Tom havia desejado isso com ela, mas por ser humano, errou no meio do caminho e além de perdê-la havia a machucado no processo.
Johnny tinha encontrado com algo que nunca pensou que fosse desejar ter com alguém um dia, mas ele morria de medo de ser como Tom. Medo de falhar, pisar na bola, parecia que todo mundo esperava isso dele - Johnny Storm um moleque irresponsável.
— Tem outra coisa. — se afastou um pouco e enxugou as lágrimas. — Ele me disse que mandou os meus dados para um grupo de pesquisa no Centro Espacial John F. Kennedy.
— Então, a carta que você recebeu é sobre isso? — Johnny viu a expectativa nos olhos dela e o receio também.
— Não sei, não tive coragem de abrir ainda. — Ela tocou o bolso do sobretudo e tirou o envelope endereçado em seu nome.
— Quer fazer isso agora?
Em resposta ela rasgou a ponta do envelope.
— Ok, vamos fazer isso agora. — Johnny começou a balançar a perna ansiosamente, observou a expressão de enquanto ela lia em silêncio. — Podia ler em voz alta, não é?
— Shhh… — Ela resmungou enquanto os olhos percorriam o papel.
Um minuto se passou e Johnny começava a sentir o coração palpitando quase pegando fogo - literalmente.
— Fui convidada para ser sujeito de pesquisa, querem me incluir em um novo programa para astronautas enquanto estudam "minha condição atual". — Ela respirou fundo aliviada. — Quer dizer que minha carreira não está acabada.
Johnny continuou apreensivo. Eles se olharam enquanto digeriam a informação com mais cuidado.
— Esse tipo de coisa leva tempo… — Ele murmurou.
— No mínimo dois anos. — Ela disse olhando a carta novamente. — Mas ainda tem muita coisa pra resolver, estudar e descobrir sobre nós e os outros.
— Honestamente, Dra. Rudolph, você deve fazer o que for melhor pra você. — Johnny disse voltando ao seu tom implicante para a tranquilizar. — Não se pode recusar ofertas da NASA. Nem todo mundo é como eu que simplesmente pode sair do programa de treinamento…
— Você explodiu o simulador de vôo, Johnny! — revirou os olhos e os dois riram
Ele riu fingindo que não tinha um aperto em seu peito.
— Johnny, e nós? — Ela perguntou se virando pra ele. — Eu sei que mal começamos e não quero que se sinta preso.
— Eu nunca fui de compromisso. — Ele fingiu um sorriso convencido. — E eu quero que você possa focar em você, .
Johnny tinha um medo e era se comprometer e decepcionar alguém. Preferia lidar com a dor de não tê-la do que um dia machucá-la de alguma forma. Ele estava disposto a amá-la e apoiá-la de longe, mas nunca seria o cara a desapontá-la.
Os dois se olharam em silêncio, Johnny desfez o sorriso convencido, não conseguia fingir pra ela. Eles se abraçaram e encararam a rua lá fora até que a coragem de voltar para casa os levou a encarar que tudo iria mudar de novo.
O enterro e o velório foram discretos, havia um burburinho entre os parentes distantes sobre o que seria da empresa, Johnny achou um desrespeito muito grande. Não era o maior fã de Tom Von Doom, mas sabia reconhecer quando alguém merecia o mínimo de respeito. não fingiu sorrisos ou simpatia para nenhum conhecido, ela apenas se despediu no velório, olhou uma última vez para Tom no caixão e chorou silenciosamente. Laika os acompanhou durante todo o dia chorando baixinho de vez em quando e com um olhar tristonho que só os cachorros podem ter.
No caminho de volta ao Edifício Baxter, segurou a mão de Johnny no carro. Ela estava com as luvas de couro, por algum motivo pessoal escolheu mantê-las. E o gesto tranquilizou o coração dele, algo íntimo e difícil que precisava naquele momento e estava fazendo um esforço para demonstrar: segurar a mão dele.
— Quer parar para comer algo? — Johnny perguntou sabendo que voltar para a casa agora implicaria em Ben, Reed e Sue cercando para ajudá-la ao invés de deixá-la respirar por um momento.
concordou e eles desceram do táxi, caminharam com Laika até um café pequeno na esquina de um quarteirão e se acomodaram em uma das mesas do lado da vitrine do espaço.
Johnny fez os pedidos enquanto Laika se aninhava aos seus pés. encarava a rua lá fora.
— Eu o odiei por tanto tempo… — Ela murmurou ainda com os olhos na rua. — Ele tentou ajudar do jeito que podia.
— Não se sinta culpada por ter ficado com raiva dele, . Foi consequência do que vocês viveram.
— Mas será que eu não poderia ter sido melhor pra ele? Quer dizer, o término, o processo da patente, o fiasco da missão, a companhia afundando… Imagina ver tudo isso ruir, tentar consertar as coisas e… e…
começou a chorar. Um choro quieto e doloroso, aquele choro preso na garganta que corta todas as palavras que poderiam ser ditas.
Johnny levantou do seu lugar e se sentou ao lado dela, a abraçou deixando que ela escondesse o rosto em seu peito. soluçou enquanto Johnny afagava suas costas e deixava o abraço apertado de um jeito seguro e confortável. Os dois imaginaram que poderiam estar tão vulneráveis e seguros na companhia de outra pessoa, mas entre eles funcionava muito bem.
— Eu não pude dizer a ele que eu não o odiava. Eu não o odiava de verdade… — Ela sussurrou.
— Acredite em mim, . Ele sabia. — Johnny sussurrou para ela. — E ele te amava também.
Johnny nunca tivera um relacionamento significativo, vivia fugindo do compromisso e se convencia que daquela forma era bom. Mas ele respeitava a ideia de amar e construir uma vida com alguém. Para ele era muito fácil entender porque Tom havia desejado isso com ela, mas por ser humano, errou no meio do caminho e além de perdê-la havia a machucado no processo.
Johnny tinha encontrado com algo que nunca pensou que fosse desejar ter com alguém um dia, mas ele morria de medo de ser como Tom. Medo de falhar, pisar na bola, parecia que todo mundo esperava isso dele - Johnny Storm um moleque irresponsável.
— Tem outra coisa. — se afastou um pouco e enxugou as lágrimas. — Ele me disse que mandou os meus dados para um grupo de pesquisa no Centro Espacial John F. Kennedy.
— Então, a carta que você recebeu é sobre isso? — Johnny viu a expectativa nos olhos dela e o receio também.
— Não sei, não tive coragem de abrir ainda. — Ela tocou o bolso do sobretudo e tirou o envelope endereçado em seu nome.
— Quer fazer isso agora?
Em resposta ela rasgou a ponta do envelope.
— Ok, vamos fazer isso agora. — Johnny começou a balançar a perna ansiosamente, observou a expressão de enquanto ela lia em silêncio. — Podia ler em voz alta, não é?
— Shhh… — Ela resmungou enquanto os olhos percorriam o papel.
Um minuto se passou e Johnny começava a sentir o coração palpitando quase pegando fogo - literalmente.
— Fui convidada para ser sujeito de pesquisa, querem me incluir em um novo programa para astronautas enquanto estudam "minha condição atual". — Ela respirou fundo aliviada. — Quer dizer que minha carreira não está acabada.
Johnny continuou apreensivo. Eles se olharam enquanto digeriam a informação com mais cuidado.
— Esse tipo de coisa leva tempo… — Ele murmurou.
— No mínimo dois anos. — Ela disse olhando a carta novamente. — Mas ainda tem muita coisa pra resolver, estudar e descobrir sobre nós e os outros.
— Honestamente, Dra. Rudolph, você deve fazer o que for melhor pra você. — Johnny disse voltando ao seu tom implicante para a tranquilizar. — Não se pode recusar ofertas da NASA. Nem todo mundo é como eu que simplesmente pode sair do programa de treinamento…
— Você explodiu o simulador de vôo, Johnny! — revirou os olhos e os dois riram
Ele riu fingindo que não tinha um aperto em seu peito.
— Johnny, e nós? — Ela perguntou se virando pra ele. — Eu sei que mal começamos e não quero que se sinta preso.
— Eu nunca fui de compromisso. — Ele fingiu um sorriso convencido. — E eu quero que você possa focar em você, .
Johnny tinha um medo e era se comprometer e decepcionar alguém. Preferia lidar com a dor de não tê-la do que um dia machucá-la de alguma forma. Ele estava disposto a amá-la e apoiá-la de longe, mas nunca seria o cara a desapontá-la.
Os dois se olharam em silêncio, Johnny desfez o sorriso convencido, não conseguia fingir pra ela. Eles se abraçaram e encararam a rua lá fora até que a coragem de voltar para casa os levou a encarar que tudo iria mudar de novo.
Capítulo 17
JOHNNY STORM ODIAVA A FLÓRIDA, A NASA, E O QUE MAIS FOSSE. Nos dois primeiros meses achou que estava lidando bem até com a mudança de . Ela fazia chamadas de vídeo com ele com frequência, falava com os outros e compartilhava os avanços de seu treinamento e pesquisa. Mas a rotina era sempre corrida. Ela precisava investir na ciência e o restante do grupo continuava trabalhando com a Secretaria de Segurança Pública.
O governo e a mídia ajudaram nos custos da pesquisa de Reed e de repente eles tinham um trabalho novo: cuidar de ameaças incomuns. Felizmente a hipoteca do Edifício Baxter foi paga e houve um memorial para o porteiro Rodney. O governo também se assegurou de manter o corpo de Victor em observação em uma unidade de segurança máxima.
Com o crescente reconhecimento, começaram a perguntar como o grupo se chamava. Claro que a parte criativa tinha que ser com o Johnny e ele escolheu chamar o grupo de o "Quarteto Fantástico", mas sempre deixava claro que a família possuía cinco membros.
A publicidade cresceu e além de heróis eles se tornaram celebridades. Até Ben estava mais confortável na sua forma e outras mulheres se mostraram interessadas. As fotos deles estampavam todas as capas de revistas. E ainda haviam manchetes que questionavam:
"O romance entre o Tocha Humana e a Espectro acabou?"
Pela primeira vez, Johnny passou a evitar todas as perguntas pessoais.
A sensação que Johnny tinha era de que a vida estava seguindo em alta velocidade e ele não podia parar e esperar por . Ele descobriu o quanto era doloroso aquela perspectiva e sem que percebesse foi se afastando dos outros. Quando não estava em alguma missão ou trabalho publicitário do Quarteto, ele evitava ficar no Edifício Baxter.
Passava as noites em festas, bebia e fazia sua popularidade crescer nos clubes da cidade. Fingia que sua vida era a mesma de antes.
E então um ano havia se passado.
AS NOTÍCIAS ESTAVAM POR TODA A PARTE. Capas de revistas se espalhavam pelas bancas da esquina anunciando, revistas científicas e programas de jornais passaram a fazer a contagem regressiva para a mais nova missão espacial tripulada pela NASA.
O início da construção da nova base espacial na lua contava com nomes renomados. Johnny viu de relance as revistas, mas nada que prendesse sua atenção naquela manhã, era uma segunda-feira e ele estava com ressaca. Ressaca da bebida e das reclamações de Susan.
Ele passou o dia visitando concessionárias esportivas, estava precisando de um novo carro para a coleção. Susan dizia que ele estava sendo infantil tentando preencher o vazio com consumismo.
Ele riu e revirou os olhos. Que vazio?! Johnny Storm se sentia ótimo!
Nada podia o abalar com sua nova Ferrari, nem mesmo Ben iria encostar naquela. Depois de tanto se convencendo de que nada faltava, Johnny realmente estava acreditando que tudo ia bem.
Foi se sentindo dessa forma que chegou ao Edifício Baxter depois do almoço e encontrou Susan, Reed e Ben reunidos na sala. Suspirou frustrado já prevendo uma outra reunião de "intervenção" - foram muitas no último ano. Mas ao se aproximar da sala, percebeu que estavam todos concentrados na televisão.
— Outro problema sinistro pra gente resolver? — Ele perguntou indo até a cozinha, abriu a geladeira e pegou uma lata de coca. Voltou para a sala e se sentou ao lado de Ben.
Os dois se encararam por um tempo, como se estivessem esperando quem iria começar as implicâncias primeiro.
— Estamos acompanhando a nova missão tripulada da NASA. — Reed disse empolgado aumentando o volume da televisão. — A construção dessa estação espacial vai acelerar o desenvolvimento da ciência ainda mais, melhor ainda, vai facilitar viagens interplanetárias e facilitar o acesso à Marte…
Reed continuou falando perdido na sua própria hiperfixação por ciência. Susan encarou Bem e Johnny como uma mãe alertando os filhos de que não iria tolerar brigas naquele dia.
— Está todo mundo tão empolgado com isso. — Johnny comentou. — Até parece que o homem ainda não pisou na lua.
A imagem na televisão mostrou fotos da tripulação, o jornalista falava um pouco de cada membro, até que a imagem dela apareceu na tela acertando a mente de Johnny como um tiro.
As mechas brancas do cabelo contornavam o rosto enquanto que o restante do cabelo preto se estendiam pelas suas costas. Rudolph exibia um sorriso delicado e contido, vestia o uniforme da NASA e era apresentada como a co-capitã da tripulação.
Johnny flexionou os dedos para impedir as mãos de tremerem. Queria tocá-la, sempre quis. Mas nunca podia.
" Rudolph é co-capitã da missão, especializada em neurociência e comportamento pela Universidade de Harvard, foi a escolha certeira para observar e orientar o desenvolvimento humano do trabalho na nova estação espacial lunar. Conhecida por muitos como a "Espectro", escolheu usar as sequelas do que sofreu com sua missão anterior para prevenir e auxiliar outros astronautas através da ciência, tendo contribuindo para a melhoria dos protocolos de gestão e segurança no espaço".
Reed gritou como se estivesse assistindo seu time fazer um gol. Ben se juntou a ele sacudindo o sofá de forma um tanto perigosa. Susan enxugou uma lágrima enquanto as imagens mostravam a contagem para o lançamento.
Johnny lembrou de quando eles se conheceram, quando embarcaram juntos para a primeira missão. Nada podia parar . Ele sempre soube daquilo.
“Contagem regressiva para lançamento”.
O foguete na base da nave pareceu despertar. A ansiedade do momento fazia todo o seu corpo arrepiar.
“Dez segundos para o lançamento”.
Ele lembrou que fazia a contagem regressiva movendo somente os lábios.
“Cinco segundos. Foguete ativado”.
A imagem na televisão tremeu como se um enorme vulcão em erupção estivesse acordando debaixo do ônibus espacial.
“Três, dois, um. Lançamento iniciado. O foguete deixou o chão e segue em direção à atmosfera”.
Johnny se lembrava da sensação de contentamento que era sair da atmosfera terrestre. Na imagem transmitida pela televisão, o ônibus espacial subia cada vez mais alto, mais rápido e livres. Ele só podia imaginar o sorriso de . No espaço ela sorria como se estivesse em casa.
Enquanto Reed, Susan e Ben comemoravam, Johnny se levantou tentando ser discreto e foi para o terraço olhar o céu. Apertou a lata de refrigerante e contemplou a lua por um instante, sabendo que em momentos como aquele não adiantava ignorar o buraco em seu peito.
— Você sente falta dela. — Susan afirmou enquanto entrava no terraço. Ela passou as mãos pelas costas de Johnny e imediatamente ele relaxou. — Está descontando na latinha?
Johnny olhou para a latinha que derretia em sua mão, ele não tinha reparado antes.
— Estou orgulhoso dela. — Ele afirmou fazendo Susan lhe entregar um sorriso compreensível.
Ela abraçou o irmão e os dois olharam a lua, sempre distante, mas grande e bela o bastante para sempre parecer que você podia tocá-la se esticasse a mão. Assim era no coração de Johnny.
O governo e a mídia ajudaram nos custos da pesquisa de Reed e de repente eles tinham um trabalho novo: cuidar de ameaças incomuns. Felizmente a hipoteca do Edifício Baxter foi paga e houve um memorial para o porteiro Rodney. O governo também se assegurou de manter o corpo de Victor em observação em uma unidade de segurança máxima.
Com o crescente reconhecimento, começaram a perguntar como o grupo se chamava. Claro que a parte criativa tinha que ser com o Johnny e ele escolheu chamar o grupo de o "Quarteto Fantástico", mas sempre deixava claro que a família possuía cinco membros.
A publicidade cresceu e além de heróis eles se tornaram celebridades. Até Ben estava mais confortável na sua forma e outras mulheres se mostraram interessadas. As fotos deles estampavam todas as capas de revistas. E ainda haviam manchetes que questionavam:
"O romance entre o Tocha Humana e a Espectro acabou?"
Pela primeira vez, Johnny passou a evitar todas as perguntas pessoais.
A sensação que Johnny tinha era de que a vida estava seguindo em alta velocidade e ele não podia parar e esperar por . Ele descobriu o quanto era doloroso aquela perspectiva e sem que percebesse foi se afastando dos outros. Quando não estava em alguma missão ou trabalho publicitário do Quarteto, ele evitava ficar no Edifício Baxter.
Passava as noites em festas, bebia e fazia sua popularidade crescer nos clubes da cidade. Fingia que sua vida era a mesma de antes.
E então um ano havia se passado.
AS NOTÍCIAS ESTAVAM POR TODA A PARTE. Capas de revistas se espalhavam pelas bancas da esquina anunciando, revistas científicas e programas de jornais passaram a fazer a contagem regressiva para a mais nova missão espacial tripulada pela NASA.
O início da construção da nova base espacial na lua contava com nomes renomados. Johnny viu de relance as revistas, mas nada que prendesse sua atenção naquela manhã, era uma segunda-feira e ele estava com ressaca. Ressaca da bebida e das reclamações de Susan.
Ele passou o dia visitando concessionárias esportivas, estava precisando de um novo carro para a coleção. Susan dizia que ele estava sendo infantil tentando preencher o vazio com consumismo.
Ele riu e revirou os olhos. Que vazio?! Johnny Storm se sentia ótimo!
Nada podia o abalar com sua nova Ferrari, nem mesmo Ben iria encostar naquela. Depois de tanto se convencendo de que nada faltava, Johnny realmente estava acreditando que tudo ia bem.
Foi se sentindo dessa forma que chegou ao Edifício Baxter depois do almoço e encontrou Susan, Reed e Ben reunidos na sala. Suspirou frustrado já prevendo uma outra reunião de "intervenção" - foram muitas no último ano. Mas ao se aproximar da sala, percebeu que estavam todos concentrados na televisão.
— Outro problema sinistro pra gente resolver? — Ele perguntou indo até a cozinha, abriu a geladeira e pegou uma lata de coca. Voltou para a sala e se sentou ao lado de Ben.
Os dois se encararam por um tempo, como se estivessem esperando quem iria começar as implicâncias primeiro.
— Estamos acompanhando a nova missão tripulada da NASA. — Reed disse empolgado aumentando o volume da televisão. — A construção dessa estação espacial vai acelerar o desenvolvimento da ciência ainda mais, melhor ainda, vai facilitar viagens interplanetárias e facilitar o acesso à Marte…
Reed continuou falando perdido na sua própria hiperfixação por ciência. Susan encarou Bem e Johnny como uma mãe alertando os filhos de que não iria tolerar brigas naquele dia.
— Está todo mundo tão empolgado com isso. — Johnny comentou. — Até parece que o homem ainda não pisou na lua.
A imagem na televisão mostrou fotos da tripulação, o jornalista falava um pouco de cada membro, até que a imagem dela apareceu na tela acertando a mente de Johnny como um tiro.
As mechas brancas do cabelo contornavam o rosto enquanto que o restante do cabelo preto se estendiam pelas suas costas. Rudolph exibia um sorriso delicado e contido, vestia o uniforme da NASA e era apresentada como a co-capitã da tripulação.
Johnny flexionou os dedos para impedir as mãos de tremerem. Queria tocá-la, sempre quis. Mas nunca podia.
Reed gritou como se estivesse assistindo seu time fazer um gol. Ben se juntou a ele sacudindo o sofá de forma um tanto perigosa. Susan enxugou uma lágrima enquanto as imagens mostravam a contagem para o lançamento.
Johnny lembrou de quando eles se conheceram, quando embarcaram juntos para a primeira missão. Nada podia parar . Ele sempre soube daquilo.
“Contagem regressiva para lançamento”.
O foguete na base da nave pareceu despertar. A ansiedade do momento fazia todo o seu corpo arrepiar.
“Dez segundos para o lançamento”.
Ele lembrou que fazia a contagem regressiva movendo somente os lábios.
“Cinco segundos. Foguete ativado”.
A imagem na televisão tremeu como se um enorme vulcão em erupção estivesse acordando debaixo do ônibus espacial.
“Três, dois, um. Lançamento iniciado. O foguete deixou o chão e segue em direção à atmosfera”.
Johnny se lembrava da sensação de contentamento que era sair da atmosfera terrestre. Na imagem transmitida pela televisão, o ônibus espacial subia cada vez mais alto, mais rápido e livres. Ele só podia imaginar o sorriso de . No espaço ela sorria como se estivesse em casa.
Enquanto Reed, Susan e Ben comemoravam, Johnny se levantou tentando ser discreto e foi para o terraço olhar o céu. Apertou a lata de refrigerante e contemplou a lua por um instante, sabendo que em momentos como aquele não adiantava ignorar o buraco em seu peito.
— Você sente falta dela. — Susan afirmou enquanto entrava no terraço. Ela passou as mãos pelas costas de Johnny e imediatamente ele relaxou. — Está descontando na latinha?
Johnny olhou para a latinha que derretia em sua mão, ele não tinha reparado antes.
— Estou orgulhoso dela. — Ele afirmou fazendo Susan lhe entregar um sorriso compreensível.
Ela abraçou o irmão e os dois olharam a lua, sempre distante, mas grande e bela o bastante para sempre parecer que você podia tocá-la se esticasse a mão. Assim era no coração de Johnny.
Capítulo 18
MAIS DOIS ANOS DEPOIS
ERA UM DIA ENSOLARADO, uma manhã de sábado que parecia prometer que tudo iria correr bem. E Susan precisava desesperadamente que tudo corresse bem. Era a terceira vez que ela e Reed tentavam se casar, mas na primeira um príncipe de um reino aquático tentou dominar a terra. Na segunda vez, um alienígena em uma prancha prateada havia tentado servir o planeta para alimentar outra criatura intergaláctica. Então o dever falava mais alto e a cerimônia era sempre adiada.
Mas Susan acreditava que daria certo. Sua intuição dizia que seria um dia especial.
Acabaram por escolher a cobertura do Edifício Baxter, afinal era a casa delas. Havia um amplo terraço no Edifício que decoraram com flores e rendas, e a festa seria em um salão especial do hotel. A mídia estava fazendo a cobertura, tinha um helicóptero pronto para garantir a segurança.
Johnny estava atento ao que Susan precisava, qualquer dúvida ou receio, ele prontamente falava com a organização para ser resolvido. Usava um smoking Dolce & Gabbana exclusivo, o cabelo estava um pouco maior — tinha cansado de deixar quase raspado, e havia adquirido o hábito de sempre usar o uniforme do Quarteto por baixo.
— Johnny, vou colocar o vestido. — Susan avisou, haviam fechado um lobby do hotel para a noiva se preparar. — Pode checar se está tudo bem na recepção com os convidados? Não quero nenhuma ameaça arruinando esse dia.
— A equipe de segurança deve estar dando conta, mas eu vou checar.
— E Johnny, por favor, não coloque fogo em nada!
— Quer mesmo acabar com toda a diversão, não é? — Ele resmungou brincando, mas podia ver a ansiedade nos olhos da irmã. Então ele beijou a testa de Susan e saiu do lobby para ir até a recepção verificar as coisas.
Havia seguranças pelo corredores, nos elevadores e funcionários para dar informações caso alguém precisasse de direção. Tudo parecia em ordem para ele, até chegar na recepção e encontrar um senhor brigando com um funcionário.
— Como assim não está encontrando o meu nome na lista? Procure direito, é Stan Lee!
O funcionário acalmou o senhor e começou a conferir a lista, tudo parecia sob controle. Os convidados estavam sendo direcionados para o terraço e aparentemente não havia nada fora do lugar. Mas ele ainda precisava conferir se Reed estava bem.
Reed provavelmente estava surtando, nunca era bom em lidar com emoções. E Johnny precisava se certificar de que ele não derretesse feito borracha.
Começou a atravessar a recepção do hotel na intenção de chegar no lobby que separaram para o noivo, sorriu para os convidados, cumprimentou outros. Distribuiu suas famosas piscadinhas até que ele se viu de frente para ela.
Ela.
Depois de anos.
De repente.
Rudolph estava ali.
O cabelo estava solto no formato de ondas, as mechas brancas se estendiam pelos longos cachos, o rosto dela continuava perfeito - exatamente como ele se lembrava. Ela usava um vestido longo, as alças delineavam seus ombros, a saia tinha uma renda e florida. Ela parecia estar vestindo a primavera.
Ela sorriu hesitante, Johnny esqueceu de respirar.
— Você veio. — Ele murmurou piscando rápido notando que deveria desviar os olhos por um instante.
— Sim, eu não consegui nas outras vezes…
— Imagino que ainda não haja um transporte rápido entre a Terra e a Lua. — Johnny brincou colocando as mãos no bolso.
— Mas existem e-mails, e você não respondeu aos meus. — Ela murmurou.
Johnny sabia que ela estava chateada. Mas ele também havia estado e depois de toda a distância, acreditou que era o melhor.
— Eu estava tentando seguir em frente, . Mas acima de tudo, estava tentando aceitar que você seguiu em frente e eu não fazia parte daquilo. — Ele encolheu os ombros. Passou tanto tipo reprimindo aquelas emoções que não se sentia pronto para falar daquilo naquele momento.
baixou o olhar e balançou a cabeça compreensiva, ela não olhou para ele de novo. Era como se estivesse evitando o olhar de Johnny.
— Eu entendo, me desculpe. — Ela se virou para o corredor. — Vou parabenizar o Reed.
Ele viu ela sair da recepção e seguir pelo corredor, não era a primeira vez que a via partir. E nunca lhe pareceu que eles haviam de fato colocado um ponto final, algo tão belo e inacabado que ele tentou desesperadamente fingir que nunca havia acontecido.
E vê-la se afastar de novo simplesmente não lhe pareceu justo.
Johnny a seguiu pelo corredor.
— No começo eu fiquei com raiva, eu sei que não deveria… — Ele falou enquanto a alcançava. parou para o ouvir. — Eu sei que era o que você queria, era o que você precisava. E de verdade, eu estava feliz por você, mas não significa que foi fácil.
Ela se virou para o olhar.
— Não foi fácil pra mim também. Ninguém me aceitava no começo, se achavam melhores e caçoavam de mim por ter que viver sendo diferente. — suspirou desistindo de manter a compostura. — Vocês eram os únicos que entendiam. Você mais do que os outros… eu queria tanto ter te contado tanta coisa, mas eu não podia porque você foi se afastando e eu comecei a sentir que estava te incomodando.
Johnny sentiu a urgência de abraçá-la, mas tudo o que pode fazer foi se aproximar um passo a mais.
— Desculpe, . Eu achei que quisesse isso, que fosse mais fácil se eu só me afastasse.
— Isso foi bem estúpido. — Ela resmungou cruzando os braços e desviando o olhar.
— Bem, você sabe como eu sou… Mas não fui eu quem fugiu para a lua quando as coisas estavam ficando sérias.
arregalou os olhos e se moveu na direção dele erguendo a bolsa para bater nele.
— Ora, seu insuportável…
— Opa! — Ben exclamou surgindo pelo corredor e puxando Johnny pelo colarinho para longe de . — acabou de chegar, Johnny, por favor! Não podemos deixar nada de errado acontecer nesse casamento, o que significa que os dois não podem colocar nada em combustão. Então o tio Ben aqui vai garantir que as crianças fiquem bem longe uma da outra.
Johnny ajeitou o paletó e desviou o olhar.
— Está bem. Conversamos depois, space girl. — Ele falou se virando para o corredor. — Preciso levar a noiva até o altar.
Enquanto Johnny seguia para o lobby da noiva, Ben lançou um olhar afetuoso à .
— Vocês dois não mudaram nadinha. — Ele brincou.
sorriu para o amigo e o abraçou.
A MARCHA NUPCIAL COMEÇOU E JOHNNY ACOMPANHOU SUSAN. Ela segurava em seu braço e ele podia sentir um leve tremor percorrendo a irmã, mas ela estava sorrindo. Era um misto de nervosismo e felicidade estampados no rosto dela, Johnny desejou que os pais estivessem ali para vê-la.
Reed aguardava no altar com os olhos vidrados na noiva, havia um certo fascínio no olhar dele que nem mesmo suas pesquisas científicas despertavam. Os dois se olharam durante toda a caminhada de Susan até o altar.
Johnny passou por que aguardava ao lado das outras madrinhas e entregou Susan a Reed, deu um tapa amistoso no ombro do cunhado e ocupou seu lugar ao lado de Ben e dos padrinhos.
— Estamos aqui reunidos para celebrar o amor… — O reverendo começou a recitar o discurso.
e Johnny se olharam no mesmo instante. Ele não desviou o olhar.
O celular de Reed começou a apitar. Susan sussurrou algo para ele, então os dois se viraram para o reverendo.
— Pode pular pro final? — Susan perguntou para o reverendo.
Ele balançou a cabeça e continuou:
— As alianças, por favor.
Ben entregou a Reed as alianças e os dois as colocaram com pressa. Até o reverendo parecia um pouco surpreso, Johnny fez uma nota mental de depois pesquisar qual havia sido o casamento mais rápido da história.
— Muito bem, pode beijar a noiva! — o reverendo anunciou enquanto os convidados aplaudiam.
Susan e Reed se beijaram por um instante e apesar de todas as dificuldades e tentativas anteriores terem sido frustradas, era possível ver que eles estavam felizes.
— É hora do Quarteto agir. Nosso radar identificou uma atividade cósmica na costa, vamos averiguar. — Reed falou chamando Ben e Johnny. — Johnny você vai na frente!
Johnny fez uma careta tocando o paletó.
— Mas é Dolce & Gabbana.
— Vai, Johnny! — Reed insistiu.
Johnny suspirou e passou por dando uma piscadinha em sua direção.
— Eu já volto, space girl. Precisamos conversar, me espera.
E se jogou da beirada do terraço causando uma comoção entre os convidados.
— EM CHAMAS! — Jhonny gritou se tornando uma tocha rasgando o céu de Nova York.
Quando se virou para procurar por Sue, Reed e Ben, eles já haviam se retirado.
— Será que ainda vai ter festa? — Um senhor de cabelos brancos e óculos escuros indagou ao lado de .
Ela não poderia prever, mas decidiu que o mínimo que poderia fazer era esperar. Não queria ir embora de novo sem finalizar as coisas com Johnny.
JÁ PASSAVA DA HORA DO JANTAR quando Johnny chegou em casa. Susan e Reed foram ágeis em deixar tudo o que precisavam no carro, partiram assim que o trabalho havia terminado. Ansiosos a cada segundo para pular logo para a lua de mel, Johnny não podia culpá-los, iria se sentir da mesma forma no lugar deles. E Ben tinha um encontro com a nova namorada, ele também parecia estar feliz - todos sabiam que Ben merecia.
Johnny pousou na varanda do apartamento no Edifício que era o lar do Quarteto Fantástico. Não havia sinais de que a festa ainda estivesse acontecendo, a equipe deveria ter cuidado daquilo. Ele teria que verificar, mas a coisa mais urgente que passava pela sua cabeça era que havia deixado logo no final da cerimônia e prometera voltar.
Precisava ligar pra ela, mas antes precisava descobrir o número dela. Ele demorou muito, estava começando a ficar arrependido e irritado por ter demorado tanto. Entrou na sala do apartamento tirando a parte de cima do macacão do Quarteto. Caminhou pela grande sala que parecia vazia sem toda a bagunça das pesquisas de Reed, e percebeu que a luz da cozinha estava acesa.
A mente de Johnny estava longe, queria primeiro correr para o telefone e pedir para Susan lhe passar o número de , mas antes precisava comer. Então começou a torcer para que alguém tivesse lembrado de guardar um pedaço de bolo de casamento.
Ele entrou na cozinha e pela segunda vez no dia trombou em .
Ela assustou e gritou, Johnny pegou fogo involuntariamente com o susto e notou que ela tirou a luva de uma das mãos.
— Mas que inferno, Johnny! Como entrou sem fazer barulho nenhum?!
— O que você tá fazendo aqui?! — Ele perguntou confuso, forçando o corpo a voltar para o estado normal.
— Você me pediu para esperar. — Ela suspirou como se mesmo tendo todo o conhecimento sobre astrofísica e neurodesenvolvimento ainda ficasse impossível de entender ele.
— Como eu demorei muito, não achei que fosse esperar de verdade. — Ele explicou e por um instante a observou.
Ela estava com uma camiseta e uma calça de moletom cinza, estava só de meias e o cabelo preso em um coque.
— Susan guardou algumas de minhas roupas. — Ela disse, percebendo que ele notara. — Achei muito gentil da parte dela…
Johnny se aproximou devagar, estava ouvindo o que ela dizia, mas sua mente insistia que era preciso retomar a conversa anterior.
— Você… você pensou sobre o que eu disse? Não deu tempo de esclarecer tudo, mas eu sei que pode ficar estranho depois de tanto tempo. — Ele sabia que estava falando tudo de uma vez, mas achava melhor assim do que reprimir tudo de novo. — Não estou dizendo para tomarmos uma decisão agora, mas se por acaso quiser reconsiderar, eu acho que sou o melhor partido que você vai encontrar nessa cidade.
o olhou com surpresa e segurou uma risada no final.
— Sempre convencido, Storm. — Ela olhou para ele e em seguida para o seu descoberto.
Johnny soube a resposta. E não podia esperar mais. Apesar de saber muito bem os efeitos colaterais de encostar nela, ele a queria muito. Acabou com o espaço entre os dois e a puxou para o seu abraço.
pode sentir as mãos firmes de Johnny pela sua cintura, subindo pelas suas costas até chegar na nuca onde ele puxou devagar enquanto envolvia a boca dela. Era ainda melhor do que ela se lembrava, a textura da boca, o gosto dos lábios. Quando os dois se beijavam era como se uma estrela estivesse explodindo.
O toque dele era quente, mas não a machucava. Era firme e desejava percorrer cada parte dela. tirou a outra luva e suas mãos subiram pelo peito de Johnny, tocando e apreciando a sensação pela primeira vez. Ele sentiu e suspirou com os lábios contra os dela.
Ele desceu uma das mãos pelo quadril dela enquanto os lábios desciam pelo seu pescoço, até que ele parou com dificuldade e sussurrou:
— Pelo que eu me lembre, não chegamos a essa parte sem explodir nada antes.
sorriu pra ele.
— Aprendi alguns truques. Agora posso conter, não só a mim, mas a você também.
Ele sorriu e distribuiu beijos do pescoço até a boca dela.
— Devo parar? — Ele pegou as pernas dela e puxou para o seu colo.
— Não, vamos queimar. — Ela sussurrou.
Ele a beijou de novo e de novo, a beijou por todas as vezes que desejou e não pode e por todos os anos distantes. A beijou, a tocou e a sentiu e percebeu que permitiu que ela fizesse o mesmo. Não como as diversões e relações anteriores que tiveram na vida como se interpretasse um personagem, mas como ele mesmo. Porque o tinha de verdade.
E Johnny Storm percebeu que com ela não precisava temer o amor.
ERA UM DIA ENSOLARADO, uma manhã de sábado que parecia prometer que tudo iria correr bem. E Susan precisava desesperadamente que tudo corresse bem. Era a terceira vez que ela e Reed tentavam se casar, mas na primeira um príncipe de um reino aquático tentou dominar a terra. Na segunda vez, um alienígena em uma prancha prateada havia tentado servir o planeta para alimentar outra criatura intergaláctica. Então o dever falava mais alto e a cerimônia era sempre adiada.
Mas Susan acreditava que daria certo. Sua intuição dizia que seria um dia especial.
Acabaram por escolher a cobertura do Edifício Baxter, afinal era a casa delas. Havia um amplo terraço no Edifício que decoraram com flores e rendas, e a festa seria em um salão especial do hotel. A mídia estava fazendo a cobertura, tinha um helicóptero pronto para garantir a segurança.
Johnny estava atento ao que Susan precisava, qualquer dúvida ou receio, ele prontamente falava com a organização para ser resolvido. Usava um smoking Dolce & Gabbana exclusivo, o cabelo estava um pouco maior — tinha cansado de deixar quase raspado, e havia adquirido o hábito de sempre usar o uniforme do Quarteto por baixo.
— Johnny, vou colocar o vestido. — Susan avisou, haviam fechado um lobby do hotel para a noiva se preparar. — Pode checar se está tudo bem na recepção com os convidados? Não quero nenhuma ameaça arruinando esse dia.
— A equipe de segurança deve estar dando conta, mas eu vou checar.
— E Johnny, por favor, não coloque fogo em nada!
— Quer mesmo acabar com toda a diversão, não é? — Ele resmungou brincando, mas podia ver a ansiedade nos olhos da irmã. Então ele beijou a testa de Susan e saiu do lobby para ir até a recepção verificar as coisas.
Havia seguranças pelo corredores, nos elevadores e funcionários para dar informações caso alguém precisasse de direção. Tudo parecia em ordem para ele, até chegar na recepção e encontrar um senhor brigando com um funcionário.
— Como assim não está encontrando o meu nome na lista? Procure direito, é Stan Lee!
O funcionário acalmou o senhor e começou a conferir a lista, tudo parecia sob controle. Os convidados estavam sendo direcionados para o terraço e aparentemente não havia nada fora do lugar. Mas ele ainda precisava conferir se Reed estava bem.
Reed provavelmente estava surtando, nunca era bom em lidar com emoções. E Johnny precisava se certificar de que ele não derretesse feito borracha.
Começou a atravessar a recepção do hotel na intenção de chegar no lobby que separaram para o noivo, sorriu para os convidados, cumprimentou outros. Distribuiu suas famosas piscadinhas até que ele se viu de frente para ela.
Ela.
Depois de anos.
De repente.
Rudolph estava ali.
O cabelo estava solto no formato de ondas, as mechas brancas se estendiam pelos longos cachos, o rosto dela continuava perfeito - exatamente como ele se lembrava. Ela usava um vestido longo, as alças delineavam seus ombros, a saia tinha uma renda e florida. Ela parecia estar vestindo a primavera.
Ela sorriu hesitante, Johnny esqueceu de respirar.
— Você veio. — Ele murmurou piscando rápido notando que deveria desviar os olhos por um instante.
— Sim, eu não consegui nas outras vezes…
— Imagino que ainda não haja um transporte rápido entre a Terra e a Lua. — Johnny brincou colocando as mãos no bolso.
— Mas existem e-mails, e você não respondeu aos meus. — Ela murmurou.
Johnny sabia que ela estava chateada. Mas ele também havia estado e depois de toda a distância, acreditou que era o melhor.
— Eu estava tentando seguir em frente, . Mas acima de tudo, estava tentando aceitar que você seguiu em frente e eu não fazia parte daquilo. — Ele encolheu os ombros. Passou tanto tipo reprimindo aquelas emoções que não se sentia pronto para falar daquilo naquele momento.
baixou o olhar e balançou a cabeça compreensiva, ela não olhou para ele de novo. Era como se estivesse evitando o olhar de Johnny.
— Eu entendo, me desculpe. — Ela se virou para o corredor. — Vou parabenizar o Reed.
Ele viu ela sair da recepção e seguir pelo corredor, não era a primeira vez que a via partir. E nunca lhe pareceu que eles haviam de fato colocado um ponto final, algo tão belo e inacabado que ele tentou desesperadamente fingir que nunca havia acontecido.
E vê-la se afastar de novo simplesmente não lhe pareceu justo.
Johnny a seguiu pelo corredor.
— No começo eu fiquei com raiva, eu sei que não deveria… — Ele falou enquanto a alcançava. parou para o ouvir. — Eu sei que era o que você queria, era o que você precisava. E de verdade, eu estava feliz por você, mas não significa que foi fácil.
Ela se virou para o olhar.
— Não foi fácil pra mim também. Ninguém me aceitava no começo, se achavam melhores e caçoavam de mim por ter que viver sendo diferente. — suspirou desistindo de manter a compostura. — Vocês eram os únicos que entendiam. Você mais do que os outros… eu queria tanto ter te contado tanta coisa, mas eu não podia porque você foi se afastando e eu comecei a sentir que estava te incomodando.
Johnny sentiu a urgência de abraçá-la, mas tudo o que pode fazer foi se aproximar um passo a mais.
— Desculpe, . Eu achei que quisesse isso, que fosse mais fácil se eu só me afastasse.
— Isso foi bem estúpido. — Ela resmungou cruzando os braços e desviando o olhar.
— Bem, você sabe como eu sou… Mas não fui eu quem fugiu para a lua quando as coisas estavam ficando sérias.
arregalou os olhos e se moveu na direção dele erguendo a bolsa para bater nele.
— Ora, seu insuportável…
— Opa! — Ben exclamou surgindo pelo corredor e puxando Johnny pelo colarinho para longe de . — acabou de chegar, Johnny, por favor! Não podemos deixar nada de errado acontecer nesse casamento, o que significa que os dois não podem colocar nada em combustão. Então o tio Ben aqui vai garantir que as crianças fiquem bem longe uma da outra.
Johnny ajeitou o paletó e desviou o olhar.
— Está bem. Conversamos depois, space girl. — Ele falou se virando para o corredor. — Preciso levar a noiva até o altar.
Enquanto Johnny seguia para o lobby da noiva, Ben lançou um olhar afetuoso à .
— Vocês dois não mudaram nadinha. — Ele brincou.
sorriu para o amigo e o abraçou.
A MARCHA NUPCIAL COMEÇOU E JOHNNY ACOMPANHOU SUSAN. Ela segurava em seu braço e ele podia sentir um leve tremor percorrendo a irmã, mas ela estava sorrindo. Era um misto de nervosismo e felicidade estampados no rosto dela, Johnny desejou que os pais estivessem ali para vê-la.
Reed aguardava no altar com os olhos vidrados na noiva, havia um certo fascínio no olhar dele que nem mesmo suas pesquisas científicas despertavam. Os dois se olharam durante toda a caminhada de Susan até o altar.
Johnny passou por que aguardava ao lado das outras madrinhas e entregou Susan a Reed, deu um tapa amistoso no ombro do cunhado e ocupou seu lugar ao lado de Ben e dos padrinhos.
— Estamos aqui reunidos para celebrar o amor… — O reverendo começou a recitar o discurso.
e Johnny se olharam no mesmo instante. Ele não desviou o olhar.
O celular de Reed começou a apitar. Susan sussurrou algo para ele, então os dois se viraram para o reverendo.
— Pode pular pro final? — Susan perguntou para o reverendo.
Ele balançou a cabeça e continuou:
— As alianças, por favor.
Ben entregou a Reed as alianças e os dois as colocaram com pressa. Até o reverendo parecia um pouco surpreso, Johnny fez uma nota mental de depois pesquisar qual havia sido o casamento mais rápido da história.
— Muito bem, pode beijar a noiva! — o reverendo anunciou enquanto os convidados aplaudiam.
Susan e Reed se beijaram por um instante e apesar de todas as dificuldades e tentativas anteriores terem sido frustradas, era possível ver que eles estavam felizes.
— É hora do Quarteto agir. Nosso radar identificou uma atividade cósmica na costa, vamos averiguar. — Reed falou chamando Ben e Johnny. — Johnny você vai na frente!
Johnny fez uma careta tocando o paletó.
— Mas é Dolce & Gabbana.
— Vai, Johnny! — Reed insistiu.
Johnny suspirou e passou por dando uma piscadinha em sua direção.
— Eu já volto, space girl. Precisamos conversar, me espera.
E se jogou da beirada do terraço causando uma comoção entre os convidados.
— EM CHAMAS! — Jhonny gritou se tornando uma tocha rasgando o céu de Nova York.
Quando se virou para procurar por Sue, Reed e Ben, eles já haviam se retirado.
— Será que ainda vai ter festa? — Um senhor de cabelos brancos e óculos escuros indagou ao lado de .
Ela não poderia prever, mas decidiu que o mínimo que poderia fazer era esperar. Não queria ir embora de novo sem finalizar as coisas com Johnny.
JÁ PASSAVA DA HORA DO JANTAR quando Johnny chegou em casa. Susan e Reed foram ágeis em deixar tudo o que precisavam no carro, partiram assim que o trabalho havia terminado. Ansiosos a cada segundo para pular logo para a lua de mel, Johnny não podia culpá-los, iria se sentir da mesma forma no lugar deles. E Ben tinha um encontro com a nova namorada, ele também parecia estar feliz - todos sabiam que Ben merecia.
Johnny pousou na varanda do apartamento no Edifício que era o lar do Quarteto Fantástico. Não havia sinais de que a festa ainda estivesse acontecendo, a equipe deveria ter cuidado daquilo. Ele teria que verificar, mas a coisa mais urgente que passava pela sua cabeça era que havia deixado logo no final da cerimônia e prometera voltar.
Precisava ligar pra ela, mas antes precisava descobrir o número dela. Ele demorou muito, estava começando a ficar arrependido e irritado por ter demorado tanto. Entrou na sala do apartamento tirando a parte de cima do macacão do Quarteto. Caminhou pela grande sala que parecia vazia sem toda a bagunça das pesquisas de Reed, e percebeu que a luz da cozinha estava acesa.
A mente de Johnny estava longe, queria primeiro correr para o telefone e pedir para Susan lhe passar o número de , mas antes precisava comer. Então começou a torcer para que alguém tivesse lembrado de guardar um pedaço de bolo de casamento.
Ele entrou na cozinha e pela segunda vez no dia trombou em .
Ela assustou e gritou, Johnny pegou fogo involuntariamente com o susto e notou que ela tirou a luva de uma das mãos.
— Mas que inferno, Johnny! Como entrou sem fazer barulho nenhum?!
— O que você tá fazendo aqui?! — Ele perguntou confuso, forçando o corpo a voltar para o estado normal.
— Você me pediu para esperar. — Ela suspirou como se mesmo tendo todo o conhecimento sobre astrofísica e neurodesenvolvimento ainda ficasse impossível de entender ele.
— Como eu demorei muito, não achei que fosse esperar de verdade. — Ele explicou e por um instante a observou.
Ela estava com uma camiseta e uma calça de moletom cinza, estava só de meias e o cabelo preso em um coque.
— Susan guardou algumas de minhas roupas. — Ela disse, percebendo que ele notara. — Achei muito gentil da parte dela…
Johnny se aproximou devagar, estava ouvindo o que ela dizia, mas sua mente insistia que era preciso retomar a conversa anterior.
— Você… você pensou sobre o que eu disse? Não deu tempo de esclarecer tudo, mas eu sei que pode ficar estranho depois de tanto tempo. — Ele sabia que estava falando tudo de uma vez, mas achava melhor assim do que reprimir tudo de novo. — Não estou dizendo para tomarmos uma decisão agora, mas se por acaso quiser reconsiderar, eu acho que sou o melhor partido que você vai encontrar nessa cidade.
o olhou com surpresa e segurou uma risada no final.
— Sempre convencido, Storm. — Ela olhou para ele e em seguida para o seu descoberto.
Johnny soube a resposta. E não podia esperar mais. Apesar de saber muito bem os efeitos colaterais de encostar nela, ele a queria muito. Acabou com o espaço entre os dois e a puxou para o seu abraço.
pode sentir as mãos firmes de Johnny pela sua cintura, subindo pelas suas costas até chegar na nuca onde ele puxou devagar enquanto envolvia a boca dela. Era ainda melhor do que ela se lembrava, a textura da boca, o gosto dos lábios. Quando os dois se beijavam era como se uma estrela estivesse explodindo.
O toque dele era quente, mas não a machucava. Era firme e desejava percorrer cada parte dela. tirou a outra luva e suas mãos subiram pelo peito de Johnny, tocando e apreciando a sensação pela primeira vez. Ele sentiu e suspirou com os lábios contra os dela.
Ele desceu uma das mãos pelo quadril dela enquanto os lábios desciam pelo seu pescoço, até que ele parou com dificuldade e sussurrou:
— Pelo que eu me lembre, não chegamos a essa parte sem explodir nada antes.
sorriu pra ele.
— Aprendi alguns truques. Agora posso conter, não só a mim, mas a você também.
Ele sorriu e distribuiu beijos do pescoço até a boca dela.
— Devo parar? — Ele pegou as pernas dela e puxou para o seu colo.
— Não, vamos queimar. — Ela sussurrou.
Ele a beijou de novo e de novo, a beijou por todas as vezes que desejou e não pode e por todos os anos distantes. A beijou, a tocou e a sentiu e percebeu que permitiu que ela fizesse o mesmo. Não como as diversões e relações anteriores que tiveram na vida como se interpretasse um personagem, mas como ele mesmo. Porque o tinha de verdade.
E Johnny Storm percebeu que com ela não precisava temer o amor.
CENA PÓS CRÉDITOS
A CIDADE ESTAVA AGITADA EM UMA TARDE DE SÁBADO. As ruas na proximidade do Edifício Baxter estavam bem movimentadas e um grande grupo de pessoas se amontoavam pela calçada esperando por eles. Rudolph havia acabado de voltar de uma missão espacial para monitorar a estação que estava sendo construída na lua, representando a NASA e seu país em uma vasta equipe com membros do mundo inteiro, havia se tornado a mulher que mais viajou para o espaço na história.
Anos atrás quando embarcou em um programa de pesquisa espacial, ela e a tripulação foram atingidos por uma tempestade cósmica e a radiação gerou consequências no organismo de cada um. havia se tornado mais resistente à radiação e aos efeitos colaterais das viagens espaciais, isso deu a ela a vantagem de desenvolver várias pesquisas e missões, usando isso para o desenvolvimento da ciência e da humanidade. Enquanto que Susan, Reed, Ben e Johnny usaram para ajudar as pessoas na segurança e enfrentando ameaças de grande complexidade.
Além do crescente sucesso no desenvolvimento da estação lunar, naquela manhã Rudolph e Johnny Storm haviam anunciado o seu noivado.
Alguns repórteres e paparazzis estavam misturados ao grupo de fãs que se reuniram na entrada do Edifício Baxter, esperando pelo momento em que e Johnny iriam aparecer.
As pessoas começaram a se agitar quando um carro preto parou na entrada e um grupo de seguranças saiu do prédio escoltando o casal.
Rudolph estava com o cabelo solto, com as mechas brancas presas em um penteado casual. Ela usava luvas brancas e um boné com o símbolo da NASA, segurava a mão de Johnny que sorria para as câmeras como se estivesse amando a atenção - pronto para oferecer o seu melhor ângulo para as fotos.
— Johnny, !! Quando vai ser o casamento?
— Onde vai ser?
— A cidade está louca para saber os detalhes!
Os repórteres falavam todos ao mesmo tempo, apontavam os microfones na direção dos dois. Os seguranças tentavam os conter para abrir passagem até o carro.
acenou para as pessoas e viu uma garota subir nos ombros do pai enquanto gritava o seu nome. A menina tinha o cabelo volumoso e cacheado preso em um rabo de cavalo e abriu o sorriso quando andou na direção dela.
— Olá! Qual o seu nome? — perguntou.
— Cassiopeia, igual a constelação. Quero um dia ser uma heroína como você. — A menina falou animada e o pai da garota riu se mostrando orgulhoso.
tirou uma caneta do bolso e o próprio boné.
— Tenho certeza que você vai fazer coisas incríveis, Cassie. — autografou a parte interna da aba do boné e o colocou na cabeça de Cassie. — Nunca desista dos seus sonhos.
Cassie ficou com os olhos brilhando, tocou o boné como se acabasse de entregar algo mágico e agradeceu com empolgação.
voltou para o lado de Johnny e eles caminharam até o carro estacionado no meio fio. Antes de entrar no veículo, Johnny falou para um dos repórteres:
— Não vamos abrir nosso casamento pra mídia, entendam. Será uma cerimônia íntima… no espaço.
A última parte criou o maior tumulto e Johnny fechou a porta do carro satisfeito, deixando as milhares de perguntas e flashs para trás. O carro seguiu pelas ruas de Nova York, enquanto pousava a mão sobre a perna dele.
— Você estava louco para contar que a cerimônia vai ser no espaço, não é, Storm? — Ela o olhou nos olhos indignada.
Ele me deu um meio sorriso.
— Se bem me lembro, você ainda me deve uns amassos lá.
Anos atrás quando embarcou em um programa de pesquisa espacial, ela e a tripulação foram atingidos por uma tempestade cósmica e a radiação gerou consequências no organismo de cada um. havia se tornado mais resistente à radiação e aos efeitos colaterais das viagens espaciais, isso deu a ela a vantagem de desenvolver várias pesquisas e missões, usando isso para o desenvolvimento da ciência e da humanidade. Enquanto que Susan, Reed, Ben e Johnny usaram para ajudar as pessoas na segurança e enfrentando ameaças de grande complexidade.
Além do crescente sucesso no desenvolvimento da estação lunar, naquela manhã Rudolph e Johnny Storm haviam anunciado o seu noivado.
Alguns repórteres e paparazzis estavam misturados ao grupo de fãs que se reuniram na entrada do Edifício Baxter, esperando pelo momento em que e Johnny iriam aparecer.
As pessoas começaram a se agitar quando um carro preto parou na entrada e um grupo de seguranças saiu do prédio escoltando o casal.
Rudolph estava com o cabelo solto, com as mechas brancas presas em um penteado casual. Ela usava luvas brancas e um boné com o símbolo da NASA, segurava a mão de Johnny que sorria para as câmeras como se estivesse amando a atenção - pronto para oferecer o seu melhor ângulo para as fotos.
— Johnny, !! Quando vai ser o casamento?
— Onde vai ser?
— A cidade está louca para saber os detalhes!
Os repórteres falavam todos ao mesmo tempo, apontavam os microfones na direção dos dois. Os seguranças tentavam os conter para abrir passagem até o carro.
acenou para as pessoas e viu uma garota subir nos ombros do pai enquanto gritava o seu nome. A menina tinha o cabelo volumoso e cacheado preso em um rabo de cavalo e abriu o sorriso quando andou na direção dela.
— Olá! Qual o seu nome? — perguntou.
— Cassiopeia, igual a constelação. Quero um dia ser uma heroína como você. — A menina falou animada e o pai da garota riu se mostrando orgulhoso.
tirou uma caneta do bolso e o próprio boné.
— Tenho certeza que você vai fazer coisas incríveis, Cassie. — autografou a parte interna da aba do boné e o colocou na cabeça de Cassie. — Nunca desista dos seus sonhos.
Cassie ficou com os olhos brilhando, tocou o boné como se acabasse de entregar algo mágico e agradeceu com empolgação.
voltou para o lado de Johnny e eles caminharam até o carro estacionado no meio fio. Antes de entrar no veículo, Johnny falou para um dos repórteres:
— Não vamos abrir nosso casamento pra mídia, entendam. Será uma cerimônia íntima… no espaço.
A última parte criou o maior tumulto e Johnny fechou a porta do carro satisfeito, deixando as milhares de perguntas e flashs para trás. O carro seguiu pelas ruas de Nova York, enquanto pousava a mão sobre a perna dele.
— Você estava louco para contar que a cerimônia vai ser no espaço, não é, Storm? — Ela o olhou nos olhos indignada.
Ele me deu um meio sorriso.
— Se bem me lembro, você ainda me deve uns amassos lá.
FIM!!
Nota da autora: Sem nota.
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