Última atualização: 25/06/2019

Prólogo

Nova York, outono de 1961

Guerras e ameaças de novas guerras. Levinsky¹ não se lembrava de alguma vez que tivesse ouvido notícias de genuína paz. Mesmo após o fim da Segunda Guerra Mundial, ainda havia a Guerra Fria e a simples menção dela fazia seu corpo gelar. Os últimos anos haviam sido turbulentos para a família Levinsky, sendo de descendência judaica foram ameaçados quando os ideais de Hitler começaram a ganhar força.
No início dos anos 40 quando a Segunda Guerra Mundial tomou conta do leste europeu, não ficou outra saída além de fugir. era pequena nessa época e não se lembrava com clareza de muitas coisas. Mas definitivamente se lembrava do medo.
O medo era aquela angústia já familiar que se escondia dentro dela, às vezes ela até se esquecia que ele estava lá até sentir o peito apertar e temer perder tudo o que tinha. Sobreviver era difícil e cansativo. E quando se era diferente, o mundo parecia muito mais ameaçador.
Enquanto crescia, Levinsky se tornava consciente de que sempre corria o risco de ser um alvo. Primeiro pela descendência judaica como milhares de outras pessoas que haviam sido friamente dizimadas, segundo por ser mulher, e terceiro por ter uma habilidade extremamente incomum.
Dom era como Richard, pai de , se referia às habilidades da filha. Descobriram muito cedo que não se machucava. Quando ela era pequena, foi atropelada na saída da escola. Mas se levantou e andou como se nada tivesse acontecido.
Susan, sua mãe, havia explicado o acontecimento como um milagre. Com 12 anos, ralou o joelho brincando no jardim. O que era extremamente raro, ela era o tipo de criança que nunca aparecia com um machucado. Seu pai correu para o banheiro em busca de um band-aid e quando voltou para a sala e olhou o joelho da filha, não havia nada lá.
"Já sarou, pai". Ela tinha dito normalmente, foi aí que eles souberam que tinha uma habilidade fora do comum.
Milagre, era o que os pais dela diziam.
Mas ela logo não se sentia especial depois que percebeu que não podia curar outras pessoas. O corpo dela podia se curar, mas nunca livrar os outros. não podia deixar de pensar em como seria muito útil se ela pudesse usar o seu dom em outras pessoas.
Porque o que mais queria era que não sentisse mais medo. Isso sim seria um milagre.
Mas além do medo, havia outra coisa que queimava no peito de . Era uma vontade insaciável de ajudar os outros, já que sua habilidade não o fazia ela encontrou outras maneiras.
Era muito incomum que uma mulher buscasse uma vida que não se limitasse somente ao casamento, logo percebeu que estudar genética em um curso superior era muito mais difícil pra ela do que para seus colegas que eram todos homens. Ao se formar, conseguiu um emprego em um laboratório das Indústrias Trask e mesmo tendo a formação necessária para ser uma das analistas do laboratório, o cargo em que a colocaram foi na recepção.
Susan sua mãe a lembrou:
"Não reclame, sempre sorria. Saiba o seu lugar, pessoas que reclamam nunca conseguem nada. Toque o seu violino, seja delicada e bonita de boca fechada".
Mas não queria viver dominada pelo medo, dar o braço a torcer e viver calada por ser diferente. Ela sabia o seu lugar e não era apenas sendo o rostinho bonito em uma recepção. Os homens poderiam fazer suas guerras, Levinsky tinha um pensamento que ia além.
Viver numa sociedade que oprime tudo o que você é se torna exaustivo, vai drenando tudo o que há de esperançoso até te fazer questionar porque continua tentando. O sentimento de completa impotência a atingiu naquele outono de 1961, quando Richard Levinsky adoeceu e não havia nada que sua filha pudesse fazer. Nenhuma cura, nenhum milagre.
Susan se negou a aceitar a ideia, se virou para filha e com desespero nos olhos disse:
- Já esperei por tempo demais, . Por que não fez nada até agora?
a olhou perdida.
- Do que está falando?
- Use o seu dom! -Susan gritou. - Não quer salvar o seu próprio pai?! Do que serve esse poder! Deus te deu para você curar os outros. Como pode ser tão mesquinha e só curar a si mesma?!
Na verdade, havia tentado inúmeras vezes curar os outros. Na pré-escola quando algum amigo se machucava, todas as noites que passou no hospital com o pai, mas... Nunca funcionou. sabia que não era assim que funcionava.
Sentiu-se péssima. Não poderia curar seu pai, não poderia tirar a dor da mãe.
Richard faleceu dias depois. Susan não dirigiu uma palavra à no dia, mas depois de algumas semanas quando ela se sentou à mesa para jantar, Susan cuspiu as palavras para .
- A culpa é sua. Isso não é um milagre, é uma maldição. - As palavras ecoaram na mente de . - Acho que está mais do que na hora de você casar. Assim pelo menos alguém vai te sustentar.
bateu o punho contra a mesa.
- Eu não vou. - Ela murmurou. - Estou cansada de abaixar a cabeça pra esse mundo onde deixamos que outros nos digam como devemos viver.
- Você não sabe nada sobre a vida, . - Susan sibilou.
Mas ela sabia que não precisava ser daquele jeito, podia ser melhor.
Ela não terminou o jantar, se levantou e recolheu os pertences mais importantes em uma mala. Os artigos de genética de Charles Xavier colocou em uma mochila, havia ouvido de um lugar em que poderia ficar e tentar algo diferente.
Ela saiu de casa debaixo da chuva gelada do fim de setembro. Susan a viu sair, mas nada disse. Talvez achasse que ela fosse voltar.
Mas Levinsky não iria voltar.

Notas: 1 - Levinsky ou Lewinsky: nome original da comunidade judaica da Europa Oriental e também popular no Leste Europeu, significa "filho" ou "procedente" de Levi.


Capítulo 1 - A Violinista


Era uma madrugada de outono quando Charles Xavier estava na cozinha conferindo se a dispensa estava bem abastecida para o café da manhã do dia seguinte. Ele tinha pouquíssimos jovens na escola, mas Tempestade e ele procuravam recrutar um novo a cada mês, e independente de quantos jovens alcançava ele sabia que estavam começando algo grandioso.
Pensava muito naqueles que recusavam o seu convite, muitas vezes as famílias negavam e omitiam a incrível habilidade de suas crianças e nem todos eram sensatos o bastante para entender que Charles estava propondo um caminho na luta contra a opressão.
Foi quando um enorme som de batida ecoou pelo saguão. Com um sobressalto, Charles percebeu que alguém batia na porta. Franziu a testa e se direcionou até a entrada, quando tocou na maçaneta, outra batida ressoou e ele abriu a grande porta de mármore.
Uma jovem estava parada na entrada, Charles acendeu a luz do hall e a observou atentamente. Ela tinha cabelos da cor de folhas secas no outono e estavam presos em um coque mal elaborado. Os olhos estavam vermelhos e úmidos, então ele viu que os braços estavam ensanguentados e as roupas sujas de lama.
- Não tenho para onde ir. - Ela disse simplesmente.
Charles abriu completamente a porta e gentilmente a puxou para perto, só então percebeu que ela tinha deixado uma mala ao chão e carregava outra às costas. Ele retirou a mala do chão e a guiou até a cozinha.
- Sente-se. - Ele disse indicando uma das cadeiras e em seguida correu para um dos armários, pegou um kit de primeiros socorros. - Preciso ver os seus machucados.
Ela recolheu os braços como se tivesse levado um choque.
- Não é nada. - Ela respondeu encarando os olhos azuis indignados de Charles.
- Por favor, preciso ver. - Ele disse puxando uma cadeira para sentar ao lado dela. - Já vi muitas coisas diferentes que as pessoas conseguem fazer. Não tenha medo.
O olhar dela percorreu o rosto de Charles com espanto ao perceber a voz dele em sua mente. Ela o encarou incrédula por alguns segundos.
Está tudo bem. Eu sou diferente, como você.
Então ela respirou fundo e esticou os braços.
Charles tocou os braços da jovem e então percebeu que apesar de haver sangue secando em seus braços, não havia cortes. Ele ergueu os olhos para ela e nem foi preciso telepatia para que ela lesse a questão em seus olhos.
- Eu sai de casa, fui embora. - Os lábios tremeram, mas respirou fundo novamente e continuou. - Eu não pude ficar depois que meu pai faleceu. Eu não tinha pra onde ir, soube do seu trabalho e estudos com a genética e achei que poderia tentar contatá-lo. - Ela começou cautelosa, a voz instável era um sussurro trêmulo. - Eu vim andando, foram alguns quilômetros na chuva e na beira da estrada até aqui eu acabei caindo de um barranco. - Ela estremeceu, as roupas estavam encharcadas. - Estava escuro e eu não conseguia ver direito. Mas meus machucados saram mais rápido do que os das outras pessoas.
Charles desceu os dedos pela pele do braço dela e segurou a mão da jovem.
- Eu sinto muito. - A voz cheia de pesar, o toque protetor. - Pode ficar o tempo que precisar.
Nos olhos dela havia um lampejo de alívio.
- Você aceita instrumentos musicais aqui? - Ela apontou para uma das malas sujas. - Trouxe o meu violino.
Charles sorriu.
- É claro, fique à vontade. - Ele olhou novamente para os braços dela e depois para os seus olhos castanhos. - Esse poder que você possui é muito grande.
- Do que adianta? - Ela suspirou. - Consigo curar as feridas externas, mas o coração continua partido.
Ele afagou as mãos dela e sussurrou de volta:
- Qual é o seu nome?
- . – Ela abaixou a cabeça e enxugou o rosto com a mão livre.
- , o coração é a parte humana que nunca deixa de se regenerar. Não do modo genético, você sabe bem. Mas emocionalmente falando, o coração não fica partido pra sempre.
Pela primeira vez ela olhou nos olhos de Charles.

Dois meses depois, ela já havia se instalado permanentemente no instituto. Charles nunca vira alguém com uma mente tão voraz, lia todos os estudos sobre o gene X. Hank seu jovem pupilo havia encontrado alguém tão interessado quanto ele, o rapaz ficara extremamente entusiasmado quando concordou em fornecer amostras de sangue para que ele pudesse estudar o processo de regeneração do seu corpo.
Eles não sabiam bem até que ponto a regeneração dela ia, qual era o seu limite. Mas Charles não sabia se teriam tempo para descobrir, ele logo percebeu que ela era um espirito livre. Nada poderia lhe prender, os olhos de sempre estavam além. Ele sabia que não poderia se deixar apegar.
Todas as manhãs ela ia até a varanda do seu quarto e tocava o violino enquanto via o nascer do sol. Charles já estava acostumado a acordar com a música dela preenchendo o instituto, cada nota casava perfeitamente com as cores que o céu ia ganhando com a luz do amanhecer.

***


Em uma tarde, encarava a entrada do grande prédio das Indústrias Trask. Naquele horário perto do fim do expediente, era difícil alguém aparecer na recepção, mas os laboratórios estavam passando por reformas e observava os trabalhadores entrar e sair carregando materiais de um lado para o outro.
Para se distrair ela sempre lia o jornal do dia. Todo dia o jornaleiro deixava uma pilha de jornais no balcão para o zelador distribuir pelos andares, e ele sempre deixavam um para no balcão da recepção.
A primeira página tinha foto em preto e branco e borrada do céu, o título da matéria era “meteoros em direção à Terra, será o nosso fim?”. Ela leu a matéria e riu, o título era só pra chamar a atenção. O texto falava sobre um asteroide que estava passando pela órbita da Terra. Um pedaço do asteroide entrou na estratosfera e se desfez em pequenos pedaços que se espelharam por Long Island como meteoritos.
achava as matérias sensacionalistas demais, por isso preferia a biblioteca do professor Xavier. Pensar nele a fez sorrir.
Alguns trabalhadores passavam a encarando sem vergonha, outros mais atrevidos diziam "olá, boneca" e os ignorava o máximo possível.
No fundo ficava bastante chateada por ser submetida àquele tipo de situação quando poderia estar dentro do laboratório. Decidiu que na primeira oportunidade que visse o Dr. Bolivar Trask iria pedir para ele considerar colocá-la no laboratório.
Mas ela ainda tinha medo, afinal ele era um homem. E os homens não queriam mulheres que respondessem à altura, eles queriam um rostinho bonito na recepção.
De repente, pensou na possibilidade dos homens temerem as mulheres.
O relógio marcou 20hrs, era o horário que Bolivar deixava o prédio. arrumou a camisa, alisou a saia e prontamente se posicionou de frente para o elevador. Um grupo de três homens estavam na entrada segurando uma enorme porta de vidro pelo saguão e discutiam como deveriam carregá-la para o outro lado do laboratório.
As portas do elevador se abriram e Bolivar Trask saiu dele seguido de sua assistente loira que nunca deixava de sorrir. o cumprimentou e abaixou a cabeça quando ele passou.
- Olá, Dr. Trask.
- Boa tarde, Senhorita Levinsky. - Ele disse ao passar por ela e andou em direção a porta de entrada.
- Dr. Trask, gostaria de lhe pedir que em um momento mais oportuno você pudesse considerar mudar o meu cargo. - Ela disse rapidamente seguindo ele e a assistente. Felizmente ele não conseguiu sair, porque os homens estavam barrando a saída decidindo como iriam passar o enorme vidro pela porta.
Dr. Trask não teve alternativa, então perguntou:
- Qual cargo você tem em mente, Senhorita Levinsky?
- De Assistente ou Analista. Tenho formação concluída em Genética e Biologia, gostaria de obter mais conhecimento na área e tenho certeza que poderia trabalhar bem na indústria farmacêutica.
Pela primeira vez, Trask realmente parou para olhá-la.
- Vamos erguer a tela e aí vocês podem passar. - Disse um dos homens. Os outros dois equilibraram precariamente o vidro entre as duas mãos, cada um segurou em uma ponta e outro tentou segurar no meio e eles andaram devagar abrindo passagem para o Dr. Trask.
- Certamente irei considerar a possibilidade. - Ele disse e passou pela porta com sua assistente atrás.
sentiu-se tão feliz, mesmo que fosse uma possibilidade ela poderia ter uma chance. Sentiu o coração pulsar num ritmo desgovernado e mal reparou na dificuldade dos três homens tentando manter o enorme vidro em pé.
- Precisamos encostar em algum lugar. - Murmurou um deles.
- Vamos virar para a esquerda. - Disse o outro.
Mas um deles não conseguiu equilibrar o peso e a ponta que ele estava segurando se soltou. Os outros dois não conseguiram sustentar o peso e o vidro tombou sobre .
O impactou primeiro a assustou e depois veio a dor quando ela caiu no chão enquanto vários fragmentos caíam com ela. Alguns cacos machucaram sua pele nas mãos e nas pernas descobertas, mas ela realmente só sentiu isso depois do choque inicial.
Ela ouviu os homens exclamarem ao seu redor.
- Vamos tirá-la daí, senhorita. - Disse um dos homens.
abriu os olhos e a imagem do seu próprio corpo a assustou. Sua camisa branca estava vermelha nos braços e havia um pequeno caco de vidro preso em sua panturrilha direita.
Ao desviar os olhos de si viu que o Dr. Trask já estava mandando a assistente usar o telefone da recepção para chamar por ajuda.
Ela respirou fundo para se recompor, precisava pensar em algo. Se a levassem ao hospital iriam achar estranho que não tivesse machucados quando chegassem lá.
- Eu estou bem. - Ela disse depois de conseguir equilibrar a voz. O machucado em sua panturrilha estava latejando. Um dos homens, o mais alto, se aproximou afastando os cacos do caminho com as botas. Ele se inclinou tentando segurar pela cintura onde não havia se machucado e a ergueu.
- Senhorita Levinsky, nós vamos pedir por ajuda. - Disse o Dr. Trask.
balançou a cabeça de forma negativa e apontou para o balcão na recepção.
- Não é necessário, tem um kit de primeiros socorros atrás do balcão. - Ela olhou para a assistente que parecia confusa entre usar o telefone ou ir atrás do kit. - Já está tarde e eu moro longe, não teria como sair do hospital e voltar para casa. Por favor, me passe o kit.
A assistente tirou uma caixa branca de trás do balcão e correu até .
- Tem certeza? - Ela perguntou ao abrir a caixa e procurar por ataduras.
- Sim, só vou precisar de ajuda com os curativos. - Ela afirmou.
tentou ser o mais prática possível para que os curativos fossem feitos rapidamente, ao menos a assistente estava convencida de que realmente não era tão grave quanto pareceu no primeiro momento.
Mas Bolivar Trask não pareceu tão convencido assim.
- Vamos solicitar que um táxi a deixe em casa. Por favor, consulte um médico amanhã e mande um telegrama se precisar de repouso. - Ele falou quando a assistente terminou o curativo na panturrilha.
No instante em que o curativo estava feito, podia sentir seu corpo trabalhando fazendo a ferida diminuir. Ela se levantou e deu um meio sorriso.
- Obrigada pela gentileza.
Os outros três homens se apressaram para limpar a bagunça. A assistente entregou a bolsa de e a acompanhou até a saída do prédio com o Dr. Trask.
andou devagar mesmo sem precisar. Pararam na calçada e a assistente fez sinal para um táxi parar.
- Sentimos pelo inconveniente. - Disse a assistente. - Passar bem, senhorita Levinsky.
Bolivar curvou a cabeça e se retirou quando entrou no táxi. Deu as instruções para o taxista seguir para a mansão em Westchester.
O percurso até Salem Center era demorado, mas logo nos primeiros instantes já sabia que todos os cortes haviam desaparecido. Respirou aliviada, sabia que em algumas situações ficava encurralada e ia precisar convencer as pessoas de que ainda estava se curando, o que precisaria se lembrar mentalmente a todo momento.
Depois de um pouco mais de uma hora, o táxi parou na entrada da mansão. agradeceu o motorista e desceu do carro devagar, fechou a porta e esperou que ele voltasse para a estrada. Quando ele estava longe, ela se virou e caminhou normalmente pelo jardim.
Naquele horário os poucos alunos já deviam estar em seus respectivos quartos. Era mais comum que as crianças fossem mais difíceis de aceitar o horário de dormir, os adolescentes eram difíceis de tirar do quarto e convencê-los a fazer outras atividades. Como trabalhava a maior parte do dia, ela só conseguia ver os alunos nos fins de semana quando não estava no laboratório com Hank.
destrancou a porta com cuidado e entrou silenciosamente. A maioria das luzes estavam apagadas, somente a da cozinha estava acesa. Ela deixou os sapatos na entrada e seguiu para a cozinha. Encontrou Hank debruçado sobre a geladeira.
- Boa noite, Hank. - Ela sussurrou.
- ! - Ele exclamou sem se virar e aparentemente com a boca cheia enquanto tentava alcançar algo no fundo da geladeira. Hank era alto e desastrado. – Hoje eu estive observando suas amostras de sangue e não consegui bons resultados, parece que a regeneração não ocorre fora do seu corpo e então criar um soro de cura com sua mutação vai ser mais difícil do que pensei. É difícil explicar... é como se... - Ele virou para ela segurando uma garrafa de leite e um pudim e então engasgou arregalando os olhos.
Foi quando ela lembrou de que estava com a roupa suja e alguns curativos.
- Ah não se preocupe. – Ela murmurou. – Me machuquei com vidro no trabalho, mas você sabe... já sarou.
Ele soltou um suspiro audível e por um instante pareceu aliviado, até que seus olhos se direcionaram para a entrada da cozinha.
- Professor. - Hank exclamou ajeitando os óculos.
Charles se aproximou e olhou para os braços de .
- Eu estou bem. – Ela disparou.
Ele piscou seus olhos azuis cansados de sono.
- Vem comigo. – E saiu da cozinha em direção ao outro lado do térreo. Passando pelas escadas do hall havia uma sala no fundo onde ficava o gabinete de Charles. Era um de seus lugares preferidos na mansão.
o seguiu e entrou no gabinete logo atrás dele. A sala era grande, tinha uma varanda que dava vista para o jardim da mansão. Havia uma enorme mesa e uma cadeira igualmente grande e confortável, as paredes eram abarrotadas de livros muito bem organizados. Aquele cômodo era completamente Charles, toda a mente inquietante, os olhos compreensíveis e o coração que amava ciência e conhecimento. Por isso era o lugar mais aconchegante daquela mansão.
Na mesa de Charles havia uma vitrola e era o que mais chamava a atenção dela. A música sempre fora algo que pulsava na alma de assim como o sangue em seu corpo.
Xavier se aproximou dela e pegou os seus braços, ele cuidadosamente tirou os curativos e observou a pele lisa e intacta dela.
- Eles curam rápido. - Ela o lembrou e sorriu quando ele pareceu aliviado.
- Alguém viu?
Ela balançou a cabeça negando.
- Você sabe que depois de um tempo a gente fica bom em esconder esse tipo de coisa. – Ela murmurou se aproximando da vitrola e viu que o disco na mesa era um de seus preferidos.
Ela o olhou como se pedisse permissão para mexer em suas coisas.
Charles deixou uma risada fraca escapar e balançou a cabeça.
colocou o disco no prato da vitrola e quando a agulha tocou o disco, uma melodia baixa e suave começou a tocar. Percorrendo a sala e dando vida ao ambiente como o sangue dava vida ao corpo.

Wise men say only fools rush in
But I can't help falling in love with you


Ela se virou para Charles que estava com as mãos no bolso da calça e em silêncio enquanto os olhos azuis observavam tudo. Ela sabia que ele estava tendo dificuldades para dormir e vivia ansioso cuidado de todos os alunos.
- Você precisa descansar. – Ela sussurrou e estendeu as mãos para ele. Ele as pegou e ela o puxou para perto deixando uma mão sobre o ombro dele e a outra entrelaçando os dedos nos seus.

Shall I stay?
Would it be a sin
If I can't help falling in love with you?


Por um momento Charles teve vontade de estar na mente dela e descobrir todos os seus segredos, suas memórias e seus medos. Queria enxergar cada pedaço dela e entender como ela fazia aquilo. Ele estava sendo embalado pelo corpo dela que balançava, pela melodia refletida em seu sorriso. O cabelo dela havia se soltado do coque e balançava como se pudesse hipnotizá-lo e tudo era uma incrível experiência de sensações. Charles estava tão acostumado a ficar preso dentro de mentes que frequentemente se esquecia de sentir as outras coisas.
Agora ele sentia as meias deslizando pelo tapete enquanto eles dançavam, sentia o perfume dela misturado com a música, sentia o peito descompassado.
- Não sei o que se passa pela sua cabeça. - Ele comentou percebendo que estava focado nas outras sensações presentes. Visão, audição, tato, corpo e coração transbordando.
- Às vezes o que você precisa saber está nos olhos. - Ela respondeu.

Like a river flows surely to the sea
Darling so it goes
Some things are meant to be


conhecia muitas maneiras de curar as pessoas ao seu redor.

***


O ar foi ficando mais gelado conforme o outono saía de cena e dava espaço para o inverno. alternava as vestimentas entre saias redondas e as calças cigarretes. As últimas usava com menos frequência no trabalho, infelizmente ainda era uma peça não muito bem aceita no guarda-roupa de uma mulher. Mas ela em todos os aspectos não se sentia muito bem aceita como mulher no geral.
No trabalho, depois do acidente com a tela de vidro, continuou usando os curativos no braço para não levantar suspeitas. E assim que o Dr. Trask entrou no prédio ela o cumprimentou.
Diferentemente das outras vezes, ele parou para olhá-la.
- Bom saber que está bem, Senhorita Levinsky. - Ele disse e sua assistente cumprimentou . - Poderia, por gentileza, me passar o seu currículo?
piscou por um segundo e então se lembrou do que havia pedido a ele. Ela abriu sua bolsa atrás do balcão e tirou um papel com os seus dados.
A assistente abriu a pasta do Dr. Trask e recolheu o papel de , no processo de tentar fechar a mala deixou algumas folhas cairem.
Bolivar suspirou impaciente.
se abaixou para pegar as folhas que haviam escapado, a barra da saia mediana subiu um pouco até o joelho deixando a panturrilha à mostra.
Bolivar observou notando que a pele estava perfeita. Ele poderia jurar que ela havia machucado a panturrilha há três dias atrás, mas não havia nada ali. Nem mesmo um curativo.
Corte profundos feitos por vidros deveriam no mínimo deixar uma cicatriz. Ele já havia achado estranho a calmaria dela durante o incidente e o fato dela recusar ir a um hospital havia o deixado intrigado.
Bolivar Trask conhecia o bastante deste mundo para saber que as coisas estranhas que acontecem não são por acaso.
ajudou a assistente com os papéis e Bolivar seguiu em direção ao elevador.
- Ruth, por gentileza, reúna todas as informações da Senhorita Levinksy e me entregue até o final da tarde. - Ele solicitou apertando o botão do subsolo.
O elevador parou antes no segundo andar onde Ruth saiu para passar o restante do dia no escritório. Quando as portas se fecharam novamente, o elevador desceu direto para o subsolo, parou lá e permaneceu com as portas fechadas.
O painel exigiu uma chave, Bolivar tirou uma de dentro do seu paletó, encaixou no painel e as portas se abriram. Ele saiu e o elevador fechou atrás de si. Ele andou pelo amplo salão com várias mesas de relatório de pesquisas, havia uma equipe pequena de cinco cientistas analisando dados e células. Era uma parte privada do laboratório que não era dedicada à indústria farmacêutica que servia como fachada para o verdadeiro que trabalho que Trask realizava.
Os estudos do gene x eram mantidos em segredo por enquanto, mas só até Trask conseguir convencer o governo de que os mutantes eram perigosos. Depois poderia até mesmo conseguir contribuições para o seu trabalho, para manter os humanos em segurança.
Pelo menos já tinha a confiança do governo, realizava trabalhos confidenciais e tinha acesso a rede de contatos. Na noite anterior recebera um comunicado de que ele receberia uma peça rara para estudos e deveria realizar a tarefa em segredo. Ele seguiu para a mesa principal do salão, haviam deixado a peça dentro de um cubo de vidro.
Ele se aproximou para ver o fenômeno sobre qual debruçaria sua curiosidade. Era um pedaço de rocha mediano, do tamanho de um sapato infantil. Tinha cor de terra mistura com carvão, mas no centro havia uma cor alaranjada que parecia se mover. Trask percebeu que ao redor do objeto havia poeira cósmica da mesma cor alaranjada da rocha.
Bolivar Trask acreditava que seria um estudo promissor.

***


Ao chegar na mansão depois do dia inteiro no trabalho, cumprimentou alguns alunos que estavam passando pelo saguão e indo em direção aos dormitórios. Passou pela entrada da sala de estar e viu Hank arrumando e tirando as coisas que os alunos haviam esquecido, seguiu para cozinha e encontrou Raven guardando a comida de volta nas geladeiras e nos armários.
Ela estava na forma que considerava normal, mas não era a o normal de Raven. Ela naturalmente tinha a pele azul e os cabelos vermelhos, mas sua mutação permitia que ela pudesse alterar sua forma física como desejasse. Então ela geralmente adotava uma forma de cor branca com os cabelos compridos e loiros. Ela gostava de moda, usava um blazer e uma minissaia de tom amarelo e botas de cano alto, costumava conversar de moda com , mas as duas tinham estilos bastante diferentes. Independentemente dos gostos, nos dois meses que estivera ali foi bom para a as duas ter alguém com quem conversar. Por isso, foi primeiro encontrá-la.
- Boa noite, Raven. - disse se aproximando e tirando os pacotes de cereais de cima do balcão e seguindo ela até a dispensa.
- Pelo modo como está sorrindo até parece que o trabalho foi bom. – Raven disse ao tirar os pacotes de e guardá-los nas prateleiras, fechou a porta da dispensa e olhou para os olhos da outra esperando por informações.
- Foi muito bom, já que meu chefe está cogitando a possibilidade de me incluir na equipe de analistas dos laboratórios. – Ela disse sem conseguir esconder o contentamento.
- Eu acho bom que ele te coloque logo no laboratório. – Raven murmurou também sorrindo. – Esses idiotas precisam reconhecer que você é capaz.
As duas se olharam percebendo que havia um pouco de tristeza naqueles sorrisos.
- Eu vou começar a procurar um lugar pra morar, algum lugar mais perto do trabalho... - murmurou e Raven a abraçou.
- Fico muito feliz por você. – Ela disse e as duas se afastaram. – Eu vou poder te visitar e você me mostra a cidade inteira. - concordou com a cabeça. - Depois conte ao Charles, ele vai ficar feliz em saber. – Ela disse antes de sair da cozinha. – Boa noite, . – Ela acrescentou quando chegou no corredor deixando a voz ecoar pela mansão.
abriu a geladeira e tirou um pudim de chocolate de lá, ultimamente era possível ter o todo tipo de coisa industrializada. Quando era pequena, sua mãe só fazia pudim em ocasiões muito especiais. Mas agora que estava crescida, conseguia encontrar um potinho em qualquer mercearia. Ela pegou uma colher e se serviu, o gosto de chocolate sempre remetia à infância e também aos seus pais. Um aperto surgiu em seu peito e ela não se permitiu demorar muito para terminar o pudim e não focar na saudade.
Quando terminou ela apagou a luz da cozinha e saiu em direção ao saguão, começou a subir as escadas. Todas as luzes estavam apagadas e os alunos já estavam em seus quartos, havia só um abajur na base da escadaria de forma que ele começou a subir e não viu que uma figura estava descendo ao seu encontro.
Na metade da escada ao fazer a curva para subir o último lance, esbarrou nele.
Charles ficou com uma exclamação presa na garganta e precisou segurá-la pelos ombros para que ele não caísse ao se desequilibrar.
- Desculpe, professor. – Ela disse levando uma das mãos ao coração.
- Tudo bem. – Ele soltou uma risada fraca e olhou pra ela se lembrando da última vez que estiveram tão pertos.
- Como foi o seu dia? – Ele indagou.
Era uma forma um pouco estranha de se começar uma conversa no meio de uma escada tarde da noite. Mas ela sorriu e era só isso que ele queria.
- Foi bom, talvez eu realmente consiga um lugar no laboratório. Isso iria me ajudar pra encontrar um lugar pra ficar mais perto do trabalho.
Ele ficava orgulhoso da forma como ela conseguia fazer as coisas por si, mas em certa parte a ideia de tê-la longe foi tão incomoda que chegou a doer.
- Isso é ótimo. – Ele murmurou agora consciente de que suas mãos ainda estavam em seus ombros, os olhos ainda no rosto dela na pouca luz do ambiente e isso o fez perceber que em breve não a teria por perto de novo. - Permita-me ser um tanto egoísta nesse instante, não posso deixar de dizer que não queria que você fosse.
Ela balançou a cabeça e desviou os olhos, estava triste com isso também. Ela suspirou e tirou o lenço do cabelo, sempre usava um que combinava com a cor da saia e também sempre mexia nele quando estava pensativa. Ele precisou segurar o impulso para não bisbilhotar seus pensamentos, em vez disso focou na outra sensação que ela despertou nele: tato.
- Eu sou muito grata por tudo. Aqui realmente tem sido minha casa, mas...
- Eu sei, nada pode te segurar em um lugar. Você está sempre pensando além. - Ele murmurou. Viu algo no canto dos lábios dela e tocou o seu rosto com o polegar, era uma mancha de pudim.
Ela riu envergonhada cobrindo o rosto com lenço por um instante.
- Mas eu não vou embora hoje, ainda temos tempo. – Ela afirmou e para enfatizar ela se virou para depositar um beijo em seu rosto, mas Charles foi rápido e se virou no momento certo. Os lábios se encontraram e permaneceram juntos, o fato dela não se afastar fez com que o peito dele parecesse que fosse explodir. Ela tinha gosto de chocolate, o que fez Charles sorrir ainda com os lábios nos dela.
Ela riu e os dois se afastaram embaraçados.
Charles Xavier não podia acreditar em si mesmo fora da cama roubando beijos de uma mulher, parecia reviver o primeiro amor da sua adolescência. Mas com era diferente, tudo ganhava vida com ela e ele nem mesmo precisava ler a sua mente.
- Eu vou pro meu quarto agora... – Ela sussurrou, ele balançou a cabeça ainda incapaz de dizer alguma coisa. se apressou e subiu as escadas desaparecendo no andar de cima.
Charles não se desculpou, não se arrependia do beijo.

***


Uma hora depois e ele ainda não conseguia dormir, na verdade nem havia tentado. Sabia que não ia dormir, não era capaz enquanto pensava nela do outro lado do corredor. Era muito fácil chegar até ela, estava na sua casa no quarto do outro lado. Poderia levantar da própria cama, abrir a porta do quarto, atravessar o corredor e entrar no quarto dela e ninguém iria perceber. Os poucos alunos ficavam do outro lado do andar, cada um em seu quarto e Charles era o dono da mansão. Poderia explorar o local que quisesse, menos o cômodo dela.
Ela geralmente não permitia que ele entrasse em sua mente, mas Charles precisava tanto senti-la que dessa vez resolveu tentar mais uma vez. Levou a ponta do dedo indicador até sua têmpora e permitiu que sua mente se libertasse e expandisse para fora de seu corpo material, se espalhou pelo cômodo, atravessando as paredes, passando pela cama dela até a alcançar.
Encontrou-a.
Diferentemente das outras vezes, ela o deixou entrar com tanta facilidade que ele se surpreendeu.
- Está dormindo? - Ele perguntou estranhando que a mente dela estivesse tão acessível.
- Não. - Ela respondeu com um sorriso. - Eu estava pensando em você.
Charles não pode evitar um sorriso e se concentrou ainda mais na conexão.
Podia sentir que o ambiente estava quente, havia uma sensação de conforto e algo extremamente sedutor. Por um momento ficou confuso achando que seu desejo estivesse fazendo com que interpretasse errado.
- Charles, sabe que posso sentir o que você está sentindo. - Ela o lembrou e ele soube que sua vontade era claramente forte. - Consegue adivinhar onde estou?
Ela estava tentando jogar com ele?!
- No seu quarto. - Ele disse. Ela riu baixo.
- Onde especificamente?
Charles podia sentir que uma energia quente percorria a mente dela, mas não era a cama. O corpo dela não parecia estar parado, ele agora sabia reconhecer os impulsos enviados pela mente e sabia que não era aquilo.
- Estou relaxando em um banho quente e me perguntando por que você ainda está do outro lado do corredor. - Ela contou.
Ele precisou fazer um esforço para não perder a conexão, se concentrou mais e pode sentir a água quente pelo corpo, o cheiro do sabonete, o sorriso nos lábios dela, ela preenchia toda a sua mente.
Quando Charles deu por si, ele já estava com a mão na maçaneta da porta dela. Entrou tirando os sapatos e caminhou até o banheiro.
Ela havia deixado a porta aberta, o vapor de água quente saía de lá e se misturava ao ar gelado do quarto.
Ele entrou no banheiro, o vapor deixava sua visão turva. Mas ele conseguia ver a silhueta do corpo dela, ainda estava na mente dela e logo estaria em todos os lugares de seu corpo.
Charles tirou a camisa e todo o restante de suas roupas e entrou no box. Ela se virou pra ele e se aproximou, puxou ele para perto. Seu corpo quente, molhado, era eletricidade viva ativando cada super neurônio dele, ele sempre fora tão sensível à presença dela. Uma única faísca o incendiava.
Ela o puxou para debaixo do chuveiro e o beijou, a língua encontrou com a dela e a vontade dela era densa. Ela o queria como ele a queria.
Os dedos que tocaram o corpo dela era tão ferozes e hábeis que ele se lembrou da primeira vez que viu a maneira que ela tocava o instrumento e produzia música, naquele momento Charles era seu violino e ela poderia fazer dele uma harmonia. Ela estava em seu corpo e ele em sua mente, cada centímetro de si era a melodia que ela criava.
Naquele momento, ela foi toda a paz que sua mente turbulenta precisava.

***


e Charles se viam todo o dia antes de ela sair para o trabalho ou quando todos já estavam em seus quartos. Mas se trocavam gestos de afetos eles eram comedidos e longe dos olhos dos outros, o que não era ruim. Era algo particular demais, bom demais. E Eles queriam aproveitar o tempo que ainda tinham juntos, não era necessário fazer juras de amor. Ele estava aprendendo a focar sua mente no aqui e agora.
Os dias passaram e conseguiu um apartamento no centro da cidade mais próximo do local de trabalho, no final do inverno havia recebido o comunicado de que poderia iniciar suas tarefas no laboratório das industrias Stark. Charles estava orgulhoso e tentando se preparar para a despedida.
Haviam sido semanas cheias de uma indescritível satisfação, mas Charles sabia reconhecer quando algo não era pra ser.
Na última manhã em que a viu, Charles levantou de sua cama e seguiu até o quarto dela. A porta estava entreaberta e a música lá soava muito mais forte e profunda. Ele entrou e fechou a porta, seguiu devagar até a varanda. Os dedos dela deslizavam tranquilamente pelo braço do instrumento, a outra mão conduzia o arco com maestria em uma dança lenta e marcante. O sol começava a iluminar o horizonte nas cores amarelo, laranja e um rosa desbotado que foi refletido nos olhos dela quando ela os abriu para ver Charles.
Está indo embora. Ele disse mentalmente, os olhos azuis doces e sábios já haviam visto que as malas dela estavam prontas.
- Estou. - Ela sussurrou abaixando o violino e se aproximando dele.
- Eu sabia, sabia que seria a primeira a ir. - Ele sorriu, um sorriso triste, mas ainda assim orgulhoso.
Mas ela ainda tinha o reflexo do nascer do sol estampado em seu rosto com um ar triste.
Não quero dizer adeus. Ela pensou olhando os olhos dele. Um beijo de despedida seria melhor.
Charles se aproximou, passou a mão pela cintura dela a puxou para perto e a envolveu em um beijo. Os lábios se encontraram quentes no ar frio da manhã. Ela chegara no outono e estava partindo no inverno, mas o beijo era tão quente quanto o verão sendo iluminado pelo sol que nascia e ele já podia sentir a saudade da boca dela, dos olhos castanhos, da música ao acordar e de todos os machucados que ela havia curado não só em si, mas nele também.
Então ela o abraçou forte, eles se olharam nos olhos mais uma vez.
Amo os seus olhos, Charlie. E então ela partiu.
Ele queria ter lhe dito para ficar, mas era uma força independente. Ele não seria o idiota a ficar entre ela e os seus sonhos.
Mas ele sabia que se encontrariam novamente. De fato ele a encontrou algum tempo depois.
Ao lado de Magneto.

Capítulos betados por Carolina Mioto

Capítulo 2 - O sonderkommando2

Nova York, primavera de 1962

Conforme a neve do inverno derretia e transformava as ruas em uma confusão lamacenta, as flores começavam a desabrochar. também sentia que começava uma nova fase na sua vida. Sair da mansão Xavier para viver no centro da cidade, sozinha em um apartamento de um cômodo só, era um salto muito grande. Ainda mais levando em consideração que não era muito comum uma mulher trabalhar e morar sozinha, se Susan, mãe de , soubesse ficaria horrorizada. Mas para aquele único cômodo era muito mais valiosos que qualquer casarão, porque podia chama-lo de seu.
Mas a súbita mudança não foi fácil, não conseguiu visitar Charles mesmo meses depois. O trabalho sempre tomava todo o seu tempo, mulheres ganhavam menos e precisava trabalhar dobrado. No último telegrama que havia recebido, Charles explicava que estava trabalhando com uma divisão do FBI que estava recrutando mutantes para uma espécie de investigação. No fim, estavam tão ocupados com trabalho que as respostas demoraram cada vez mais para chegar ao seu destino.
sentia falta sim, mas estava tão empolgada e cansada com o trabalho que frequentemente esquecia de mandar notícias.
Trask havia a incluído na equipe de pesquisa e gestão farmacêutica, ela coletava dados e fazia os relatórios dos resultados. Era a primeira a chegar e a última a sair, evitava conversas, mas respondia às provocações quando necessário.
-, poderia limpar o laboratório? -Perguntou um outro analista, Jack era o nome dele.
-Sou analista, Jack. Faço o mesmo trabalho que você. -Ela respondeu sem tirar os olhos dos documentos que estava organizando. -Se você não limpa o laboratório, por que eu o faria? Temos a equipe de limpeza para isso, ou você acha mesmo que a única função de uma mulher é limpar?!
Jack nunca mais implicou com ela, apesar de ainda a olhar de cara feia.
Frequentemente, Bolivar Trask passava pelas mesas e falava com . Ele não tinha o tom nem a feição simpática e possuía o costume de aparecer sem avisar. Parecia estar sempre atento e era estranho, algo naquele homem não cheirava bem.
Em uma noite estava terminando relatórios, já era tarde e como de costume ela era a única da equipe que ainda estava no local. Pelo menos acreditava que era a única, até o Dr. Trask entrar no andar.
Ele logo a viu, já que a luz em sua mesa era a única acesa.
-Senhorita Levinsky. -Ele disse ao se aproximar da mesa. -Bom encontrá-la aqui. Preciso de auxílio no subsolo. Me acompanhe, por favor.
sabia que o acesso ao subsolo era restrito, estava curiosa para saber que tipo de trabalho encontraria lá. Deixou os relatórios na mesa e seguiu o Dr. Trask até o elevador.
Ficaram em silêncio enquanto desciam os andares, reparava pela primeira vez em como ele tinha uma postura bruta e inflexível. Era um pouco mais alto e seu maxilar rígido o fazia parecer mal humorado, mas talvez ele fosse mesmo assim o tempo inteiro.
Quando o elevador se abriu no subsolo, Trask e pararam em um grande hall em frente a uma comporta de metal. Ele digitou no painel à esquerda uma sequência numérica e as portas pesadas se abriram devagar. Lá dentro havia uma luz fraca, mas foi possível distinguir fileiras de balcões com equipamentos científicos. Eram dezenas de microscópios, materiais analisados, pilhas de relatórios e livros no canto. No centro havia um cubo de vidro semelhante a um aquário, mas dentro havia um pedaço de rocha que pareceu particularmente inquietante.
-O que é este objeto, Dr. Trask? -Ela perguntou se aproximando do objeto.
-Uma rocha irregular que foi coletada por uma base espacial. Nada na Terra se mostrou ter a mesma composição. -Ele disse preparando uma seringa nas costas de aproveitando o momento de distração. -Tudo nesse andar é raro e espero que as pesquisas tragam resultados que possam mudar o curso da história humana.
Ele se aproximou pelas costas de e injetou a seringa na veia em seu pescoço.
Ela arfou e se afastou com dificuldade, moveu os lábios na tentativa de falar, mas seu corpo caiu ao chão.
Acreditando que o corpo dela era rápido para se recuperar, ele tinha colocado uma quantidade extra de calmante, o bastante para derrubar um elefante. Aquilo deveria imobilizá-la por algumas horas.

Nova York, outono de 1962

Havia uma dor constante que ia do pescoço até a base da coluna de e latejava, queimava e fazia com que ela sentisse a necessidade de se contorcer e coçar e gritar. Mas não conseguia fazer nada, seu corpo estava frágil demais enquanto concentrava toda a energia em restaurar as células e tecidos para que a ferida se curasse. Mas demorava tanto e assim que uma ferida se curava eles abriam outra maior e mais profunda.
Ela respirou com dificuldade e se concentrou na melodia que estava só em sua mente, se imaginava deslizando os dedos pelo braço do violino como costumava fazer antes. Geralmente isso a ajudava a suportar esses momentos. Também lembrou dos olhos de Charles que não via há um tempo, do sorriso de Raven, de Hank e dos alunos do instituto.
Se lembrou do pai e da saudade, lembrou da mãe e do ressentimento. Mas nada fazia a agonia passar.
-Socorroooo. -Ela encheu os pulmões com o máximo de ar que podia. -Alguém…
Não soou como um grito forte e em certa parte ela sabia que ninguém poderia lhe ouvir. Mas precisava de alguma forma gritar, mesmo que fosse pra si mesma.
-Alguém me ajuda. -Ela murmurou já exausta, os olhos se fechavam com a onda de fraqueza que lhe tomou. -Preciso sair daqui.
Ela sabia que ninguém viria, o que era de certa forma desanimador, mas havia um instinto agindo que a fazia procurar por qualquer coisa que a tirasse dali. Em parte frustrada e em outra desesperada, prometeu a si mesma que era a última vez que gritava por ajuda.
Conhecia bem as instalações do laboratório, conseguia já traçar uma rota de fuga eficiente. Mas não tinha forças para se colocar de pé e ultrapassar alguns obstáculos pelo caminho, o que tornava a fuga quase impossível. Por um instante ficou perdida entre a dor e a consciência, desejou que sua mutação fosse diferente. Algo mais eficiente.
Algo ao redor do meteorito vibrou, a poeira dentro do cubo levantou refletindo as cores da rocha. Mas ela sabia que não poderia ficar esperando algo acontecer, precisava pensar em algo por si mesma – ainda que fosse um plano a longo prazo. Conhecia a rotina do laboratório e as saídas, o que precisava mesmo era conseguir se mover. Se pudesse controlar o processo de cura e acelerá-lo seria o ideal e ele estava consciente das suas células trabalhando e formando a camada para cicatrização, mas se concentrar era cada vez mais difícil.
Seus olhos pesavam e às vezes ela apagava, acordava segundos depois percebendo que estivera fora por um tempo - mas não sabia dizer por quanto tempo. Às vezes o cansaço era tanto que sentia que ainda estava sonolenta e começava a sonhar misturando com o que via na realidade.
Bolivar Trask havia recebido vários materiais para avaliar para o governo e os guardava em seu laboratório, bem distribuídos como uma coleção de excentricidades. Mas o que mais chamava a atenção de era uma rocha do tamanho de um peso de papel, tinha uma coloração meio alaranjada no centro que ia gradualmente se tornando marrom e nas extremidades eram escuras como um buraco negro. Havia algo de diferente na peça que estava em uma espécie de cubo de vidro e no ar dentro do cubo havia pequenas partículas de poeira alaranjada que pareciam se mover como se fossem guiados por alguma energia.
achava lindo e perturbador.
Ela perdeu a consciência enquanto as nuvens cósmicas da rocha envolviam o seu corpo.
Quando acordou novamente estava exausta como nunca estivera em sua vida. Seu rosto e as costas estavam encharcados de suor frio, o corte em sua coluna estava se fechando. Por mais que estivesse se curando, a dor era enorme. Ela podia sentir as células em sua coluna se reorganizar e esticar criando novamente o tecido aberto. Era horrível e em alguns momentos ela sentia que ia apagar.
Estava tentando virar o corpo para encontrar uma posição melhor, mas as amarras em seu pulso impediam que ela fizesse qualquer movimento na maca. Tentou virar para a esquerda e gemeu sentindo uma pontada na base da coluna. Então as portas de vidro do laboratório se abriram e o Dr. Trask entrou apressado indo diretamente soltar as amarras. estranhou, achou que deveria ser parte da experiência, mas ele a de fato soltou.
-O quê...? -Ela exclamou confusa, sem força para se sentar.
Trask a encarou com uma expressão que parecia preocupada e então ele cresceu, literalmente ficou mais alto. Os cabelos se tornaram curtos e vermelhos, a pele adquiriu um tom de azul, os olhos eram amarelos.
-Raven. - sussurrou sem força.
Raven a segurou e a levantou dando apoio para que ficasse de pé.
-Nós vamos te tirar daqui. -Ela declarou puxando para as portas de vidro até chegarem na segunda sessão do corredor. Uma enorme porta de metal impedia a passagem delas.
-Nós? -Perguntou sentindo a ferida nas costas fazer suas pernas vacilar.
Por um segundo achou que Raven estava se referindo a Charles Xavier. Então a porta de metal se contorceu e tombou no chão à frente delas. Do outro lado do corredor estava um homem alto, olhos claros que emavam poder.
-Magneto veio comigo. -Ela explicou caminhando na direção do homem que estendeu a mão.
Elas se aproximaram dele e encarou a mão estendida.
-Estamos aqui para ajudá-la. -Ele assegurou. Tinha uma postura segura e um olhar convidativo. -Por favor, Senhorita Levinsky. Precisamos nos apressar.
Então ela pegou a mão de Magneto e ele a puxou para perto colocando uma arma em suas mãos.
-Por precaução. -Ele se virou para a saída sem dizer mais nada e Raven voltou a puxar pelo caminho, mas as dores estavam mais leves naquele momento e ela conseguiu caminhar com uma maior disposição.
Chegaram ao lado de fora do complexo e percebeu subitamente que era inverno. O ar frio parecia acertar suas costelas, a camisola que usava oferecia nenhum conforto e proteção.
-Vamos para casa. -Raven sussurrou ao seu lado. Então, de repente um estalo soou na frente dos três e se materializando no ar surgiu uma criatura com cabelos negros, pele vermelha e um longo rabo. se encolheu com o susto, mas conseguiu reprimir um grito, era mais um mutante.
-Azazel, sabe o que fazer. -Declarou Magneto. E com isso só confirmou a percepção de de que ele era o líder.
Azazel se aproximou de e sem pedir permissão a envolveu em seus braços. Houve outro estalo, a sensação era alarmante como abraçar o diabo, no instante seguinte ela estava em uma sala de estar.
-Espere aqui. -Ordenou Azazel. E sumiu tão rápido quanto veio.
No instante seguinte ele voltou, reaparecendo no local novamente. Dessa vez trouxe Raven consigo e um homem de olhos claros, alto e com uma feição séria e bela como se fosse esculpida em mármore.
-Infelizmente você era a única mutante ainda viva no laboratório. -Raven disse segurando uma das mãos de enquanto a conduzia para o sofá.
Ela não usava mais a aparência humana para disfarçar, deixava sua pele azul e os cabelos vermelhos naturais.
-Que dia é hoje?
-Estamos em outubro. -Respondeu Raven.
-Eu estava lá há mais de três meses.... -Ela sussurrou. -E não tive notícias de você ou até mesmo de Charles por um ano... Ele que mandou vocês ao laboratório?
-... -Raven disse cuidadosamente. -Não vejo Charles há muito tempo. -A ideia de invadir o laboratório foi minha. -Disse o homem. Ele seguiu até a estante e tirou uma garrafa de conhaque de lá. -Sua amiga Raven e eu discordamos dos ideais de Charles e nos separamos dele há algum tempo. Eu luto pela causa dos mutantes e quando soube que Dr. Trask mantinha alguns em seu laboratório, achei que seria devido agir.
Ele ofereceu um copo de conhaque para que recusou com um aceno negativo, álcool nunca surtia efeito nela, suas células o dissolviam rápido demais.
-Tê-la encontrado foi pura sorte, Senhorita....
-Levinsky. -Completou .
-Tire o tempo que precisa para se recuperar, podemos conversar depois. -Ele se dirigiu para fora da sala de estar.
-Como disse que se chamava? -Ela perguntou antes que ele deixasse a sala.
-Magneto. -Ele afirmou.
-Seu nome real. -Ela disse e ele se virou para ela.
-Isso é tudo que precisa saber por agora.
Ele saiu deixando Raven e na sala. Azazel sumiu em algum momento e ela nem mesmo percebeu.

***


No outro dia, Magneto ofereceu uma xícara de café ao invés de conhaque e aceitou. Eles estavam na sala de estar, pela janela era possível ver o dia nublado e ela começou a se perguntar em que área da cidade estavam.
-Soube que você conheceu o Professor Xavier. -Ele disse e ela balançou a cabeça concordando. -Eu trabalhei com Charles por alguns meses, mas nossas ideias se mostraram diferentes.
-Diferentes como? - encheu sua xícara novamente, havia dormido mal e sonhado com vozes e com galáxias. Ia precisar de muito café durante o dia.
-Ele acredita que pode haver paz entre humanos e mutantes e quer cultivar isso com diálogos diplomatas. -Magneto puxou uma cadeira e se sentou próximo à . Os olhos dele eram intensos. -Eu não tenho tanta paciência para ser pacifista.
-E isso significa que...?
-Significa que eu vou atrás das pessoas que perseguem os mutantes. -Magneto ajustou a gola alta de seu casaco. -Se encontrasse o Dr. Trask gostaria de dialogar com ele e esperar que ele solte os mutantes do seu laboratório de boa vontade?
sentiu a raiva arrepiando sua pele.
-Eu invadiria o local. -Ela murmurou.
-Foi o que fiz e continuarei fazendo. -Explicou Magneto. -Se você quiser nos acompanhar... Sei que suas habilidades nos ajudaria.
riu sem humor.
-Não consigo usar minha habilidades em outras pessoas. -Ela colocou a xícara sobre a mesa. - O Professor e eu tentamos.
-Tentaram com os métodos dele. -Ele se levantou e estendeu a mão para ela. -Os meus são diferentes, Senhorita Levinsky.
se levantou e apertou a mão de Magneto.
Aquela aliança durou alguns meses. ficou tempo o bastante para acompanhar Magneto pelo mundo e encontrar outros mutantes. Aprendeu quais eram os gatilhos de sua habilidade e viu Raven partir e deixar.
Mas os sonhos e a voz na mente de continuava cada noite com mais intensidade e terror.

Moscow, inverno de 1963

bateu na porta do quarto com força. Estava furiosa e apreensiva. Pelo chamado que Erik fez ao telefone, ele não estava nada bem. A única coisa que tinha dito ao telefone foi:
-Por favor, preciso de você agora. -Disse em um sussurro. -Me encontre no hotel Dursley no subúrbio de Moscou. Venha sozinha, não avise ninguém.
Então ela soube que algo estava errado, Erik nunca dizia "por favor".
Conseguiu encontrar o hotel vinte minutos depois e agora batia na porta do quarto apreensiva. Erik abriu a porta, a puxou para dentro rápido e bruscamente. Logo em seguida trancou a porta.
-O que aconteceu? -Ela indagou, mas sem respondê-la, Erik tirou a camisa e jogou em cima do sofá enquanto se aproximava dele.
Então ela percebeu as duas enormes feridas, uma na barriga e outra no peito do lado esquerdo.
-Mas que diabos... -Resmungou tocando o peito dele.
-Me distraí, conseguiram me acertar. -Ele murmurou franzindo o rosto com a dor. -Já tirei as balas, preciso que você cure as feridas.
Ela franziu a testa e suspirou.
-São profundas, Erik. -Analisou o ferimento da barriga. -Atingiram um órgão seu. Eu acho que...
Erik segurou o pulso dela.
-Eu sei que consegue. -Ele murmurou com a voz firme, os olhos cintilaram.
-O que estava fazendo? Poderia ter morrido! -Ela disse tirando as luvas e as jogando pela sala, sentia que sua voz ia aumentando com a raiva. -Quantos ainda vamos ver morrer, Erik? Quantos humanos você ainda vai matar? Isso está errado. -Ela colocou as mãos frias no abdômen dele, a pele de Erik arrepiou com o seu toque.
-Você sabe pelo que tenho lutado. -Ele murmurou, a voz mais fria do que antes.
-Eu sei que não tenho visto resultados. -Sibilou se concentrando, podia sentir as células de Erik vibrar com o seu toque, mas a ferida não estava fechando. Então tentou com o machucado no ombro, mas isso a fazia virar o rosto expondo completamente sua expressão ao olhar dele.
-Está tão insatisfeita. Tem pensado em voltar não é? -Ele sussurrou, o hálito soprando no rosto dela.
-E você me deixaria ir embora? -Ela sussurrou de volta. -Ou iria me machucar como os outros? Como fez com Raven?
Não estava funcionando, diferentemente de Erik, a raiva não era o gatilho para aflorar o seu poder. As feridas dele continuavam a sangrar.
-Eu não posso fazer isso! -Ela gritou em resposta a tudo, frustrada as mãos apertando o peito dele.
Erik passou uma mão pela cintura e a outra pela nuca dela.
-Não vou deixar você ir. -Sussurrou a apertando contra o seu corpo. Envolveu os lábios dela em um beijo profundo e urgente, entrelaçando a língua dela com a dele assim que sentiu o hálito quente e convidativo. Apertou as mãos no corpo dela sentindo uma sensação de formigamento pelo seu corpo, as mãos dele acariciaram a sua pele fazendo-o sentir como se estivesse sendo queimado.
Em um tumulto de beijos e sensações eles tombaram na cama e quando Erik se ergueu sobre ela, conseguiu ver que os ferimentos estavam fechando. Estavam se curando.
-Eu... -Ela murmurou sem saber o que falar tocou levemente a pele ao redor do peito dele.
-Você conseguiu. -E um leve sorriso passou rapidamente pelo seu rosto. -Mas ainda não estou curado por completo, preciso de mais uma dose.
Ela sorriu, ergueu o corpo para beijar a boca de Erik e os machucados se fecharam por completo.
-Eu não lhe machucaria. -Erik murmurou. -Eu sou melhor com você. -Ele a olhou nos olhos. -Ainda está brava comigo?
-Estou furiosa com você. -Respondeu e Erik sorriu.
-Somos mais fortes juntos. -Erik sussurrou segurando o corpo dela preso ao seu, ela o beijou.
Todos os metais no quarto vibraram. Ele a beijou e fechou os braços em volta da cintura dela, só conseguiu sussurrar o seu nome enquanto os metais do quarto levitaram e desabaram ao chão assim que ele arfou e suspirou sem soltá-la do abraço.
Mais um toque e ele já não sabia nada do tempo, espaço e controle. Erik sabia que ele era intenso como uma tempestade, sempre tão cheio de ira e vingança. Enquanto que ela era sempre sensata e equilibrada, era a sua calmaria. Ele nunca havia dito a ela, mas não podia evitar que à sua maneira se mostrasse encantado com a mutante.
A energia descarregada foi tanta que ambos levaram longos segundos para recuperar a respiração. Ele ergueu a cabeça e recebeu de bom grado o beijo que ela deu em seus lábios e deitou ao lado dela observando o quarto ao redor.
Apesar do cansaço, ele permaneceu acordado. Dificilmente dormia a noite inteira com alguém, não se permitia. Olhou mais uma vez para ela deitada ao seu lado, lembrou-se de como a expressão furiosa em seu rosto também parecera preocupação. Ela odiava que se machucassem. No início, ele a provocava para intensificar os poderes dela, mas aos poucos passou a compreender porque ela foi tão valiosa para Charles.
Ao se acomodar e mexer-se na cama, ela despertou e encontrou novamente os olhos dele.
-Achei que estava indo embora. -Ela murmurou e em seguida bocejou.
-Não vou a lugar nenhum... -Voltou a prendê-la em seu abraço. -... liebe. -Acrescentou em um sussurro.
Esta noite ele não iria embora.


Capítulo 3 – O professor e a Fênix

Conforme as semanas passavam, os sonhos de ficavam mais intensos. Seu temperamento mudava, todos seus sentimentos pareciam fluir mesmo que ela não quisesse.
Ela aprendeu a estender sua capacidade de cura. Erik continuava mais ousado, matava como um Anjo Vingador e todas as noites ia até ela para que ela o curasse.
começou a perceber que nada daquilo era o que ela queria no início. Uma justiça que mata como mata o crime não é uma justiça limpa. E ela estava cansada de ser usada como back up para fortalecer Erik e deixá-lo voltar a usar sua ira.
Ela estava cansada da raiva e da dor.
Em uma madrugada ela sonhou com chamas no espaço, ondas cósmicas tão brilhantes como estrelas e que a carregavam de uma energia independente.
Você não precisa do sol para brilhar quando você mesma é o incêndio que devora uma galáxia.
Algo sussurrava no fundo de sua mente. Um poder que crescia dentro dela e fazia seu corpo estremecer, a pele arrepiar. Algo invencível, indestrutível.
Os quadros do quarto começaram a cair das paredes, uma energia emanava dela, ondas de calor que acendiam e apagavam conforme envolviam o quarto. O abajur começou a ser corroído, a cama levitou e as chamas envolveram sua base.
Você tem apenas um fragmento dentro de si, mas pode ser muito mais.
Um fragmento de um poder tão antigo quanto o próprio universo.
-! -A voz urgente de Erik a fez abrir os olhos.
Ela se sentou e o olhou. Seus olhos brilhavam.
-, você está bem? -Erik não conseguia se aproximar devido a corrente de energia fantasmagórica que envolvia a cama.
fechou os olhos e tocou a testa suada. Tudo ao redor voltou ao normal.
-Está piorando e eu não consigo controlar. -Ela murmurou. -Tem algo na minha mente.
Erik se aproximou e sentou na beirada da cama. Ele olhou para os olhos dela, estavam azuis como a noite.
-Eu quero ver, Charles. -Ela murmurou. -Talvez ele possa ajudar.

***


Charles desligou o rádio e deslizou as rodas de sua cadeira pela sala, estava tarde e ele precisava descansar. Mas quando passou pela entrada sala a campainha da mansão tocou. Ele não estranhou, já havia acontecido antes de o procurarem tarde da noite.
Ele se dirigiu até a porta e a abriu usando um impulso mental. Na entrada estava uma mulher com longos cabelos negros, os olhos escuros como o céu à noite.
-! -Ele exclamou com a voz baixa. Um homem se aproximou e parou ao lado dela, Charles endureceu a expressão quando o reconheceu. -Erik.
-Olá, Professor. - disse. Seus olhos observaram ele como se ela mesma pudesse ler sua mente e não o contrário. -Faz muito tempo que não nos vemos. Cremos que tomamos caminhos inesperados. -Ela disse e ele não podia negar já que estava na cadeira de rodas enquanto ela estava ao lado do homem que causou aquilo.
-É bom te ver, . -Ele disse e seu olhar encontrou o de Erik. -Mas com ele eu não tenho nada a tratar.
Erik fez menção de responder, porém levantou a mão esquerda com um gesto que indicava que ele não deveria falar.
-Ótimo, porque é comigo que você vai falar. -Ela disse e ele deu passagem para que eles entrassem.
Erik fechou a porta da mansão e os três seguiram para a sala. Charles acendeu um dos abajur e indicou o sofá para os dois.
usava uma calça boca de sino, os cabelos estavam compridos e caíam pelas laterais de seu rosto pálido. Parecia que não dormia bem há dias.
Erik se sentou em silêncio, seu olhar intenso parecia não ter perdido a força desde que Charles o conhecera. Ele parecia rígido e nem era preciso ler a mente dele para saber que ele não queria estar ali.
-No que possa ajudar, ?
Ela olhou ao redor como se estivesse notando as poucas mudança no lugar que um dia ela chamou de casa.
-Eu fiquei presa como cobaia no laboratório das Indústrias Trask. Eu não sei que tipo de estudos fizeram lá, mas algo em mim mudou. -Ela contou e se aproximou de Charles se sentando na beirada do sofá. -É como se uma voz estivesse dentro da minha cabeça, Charles. Ela aumentou meus poderes de uma forma inexplicável.
-Por isso nunca respondeu as cartas? Céus, . Eu sinto muito. -Charles estendeu a mão para ela, eles sempre seguraram a mão um do outro quando falavam de sentimentos duros demais para suportarem.
apertou a mão dele carinhosamente e ele sentiu que ela estava trêmula. Algo se agitou dentro de Charles e o deixou questionando o que seria aquilo que estava abalando Levinsky.
Erik encarou em silêncio as mãos dos dois.
-Você leria a minha mente, Charles? -Ela perguntou e se ajoelhou em frente a cadeira dele.
Ele tocou as têmporas de com os dedos, fechou os olhos e se concentrou. Lembrou da primeira vez que havia lido os pensamentos dela.
Cada pessoa possuía uma identidade, como se fosse uma voz mental. Erik era uma mistura de justiça selvagem, lugares obscuros e um passado doloroso. Raven era família, vergonha e a busca de pertencimento. E quando Charles tocava a mente de via esperança, um sonho de paz e igualdade, cheiro de chá gelado no verão e Beatles tocando ao fundo.
Mas dessa vez havia outra coisa lá. Uma voz diferente de qualquer outra, tão discrepante que mal parecia humana.
-Estou vendo algo. -Charles seguiu a voz, parecia algo primitivo, grande e aterrorizador. Quando tentou tocá-la, Charles viu as estrelas do universo nascendo e morrendo, viu ondas cósmicas impiedosas que destruía galáxias.
-O que está vendo, Charles? -Erik perguntou e sua voz estava mais próxima da orelha direita do professor, como se ele tivesse chegado mais perto.
-É uma coisa... Não humana. -Charles murmurou. Quando tentava enxergar o que era, ele via chamas e destruição. -O que é isso? -Charles murmurou se perdendo em todas as imagens.
-Eu sou a Fênix. -Respondeu em voz alta, mas sua voz soava como mil trovões. Erik se colocou de pé ao lado dela, pela primeira vez parecia alarmado.
-Eu quero ver como isso aconteceu. -Charles sussurrou e logo a mente de jogou para ele as imagens do laboratório Trask. O pedaço de rocha que havia vindo do espaço, as ondas de energia que entraram em e ali fizeram o corpo dela de hospedeiro.
-Eu sou um fragmento de muitos. -Respondeu a Fênix. -Há outras partes pelo universo e eu quero estar inteira.
-Charles, abra os olhos. -Erik murmurou em um tom cuidadoso. E quando o professor abriu os olhos encontrou os de Levinsky viu que eles eram chamas cósmicas.
Ele tentou alcançar a voz de , buscou por toda a consciência dela, mas ela estava fora de contato.
-Erik, uma força primordial tomou o corpo de . Aumentou e modificou a capacidade do gene mutante dela. -Charles explicou ainda tentando se concentrar para puxar de volta.
-E como tiramos isso dela? -Erik se abaixou novamente e tocou o cabelo escuro de .
A Fênix se virou para encarar Erik.
-Vocês não podem me parar.
A pele na nuca de Charles se arrepiou, ele sentiu a energia da Fênix crescer. A voz mental da consciência de estava cada vez mais apagada.
-É como uma infecção. As duas estão atreladas demais para que eu consiga separar as consciências de um mesmo corpo. -Charles acessou as memórias de , eram como fumaça, desaparecendo em meio às chamas.
A Fênix se levantou se livrando das mãos de Charles.
-, siga minha voz! Você precisa voltar agora!
A boca dela se abriu como se ela fosse responder, mas seu corpo estremeceu e caiu ao chão.
Charles e Erik tentaram levantar ainda acreditando que ela estava voltando à consciência. Assim que Charles encostou a mão na pele dela os móveis ao redor levitaram e voaram em direção a eles. Erik levantou as mãos para controlar os metais e impediu que os atingisse.
Charles teve que dividir sua consciência em duas, uma parte para tentar alcançar e a outra para controlar as coisas ao redor que estava atingindo eles.
O corpo de estava ao chão, imóvel e assustadoramente quieto. Após o surto que ela teve, Charles precisou de todo o seu poder telepático para controlá-la, estava exausto. Estava ao chão quase inconsciente.
Erik foi ao encontro do telepata e o ajudou a se colocar novamente na cadeira. Apesar de ainda jovens, eles sentiam que haviam envelhecido mil anos com toda a energia que gastaram para bloqueá-la.
A boca de Erik sangrava, Charles sentia a terrível dor na espinha e lutava para não perder a consciência agora. Por um segundo, acharam que havia terminado.
Mas o corpo de levitou no ar até ela se erguer a vários metros do chão. Ainda de olhos fechados, aparentemente desacordada ela pendia no ar de braços abertos, os cabelos castanhos balançando lentamente ao redor de seu rosto.
-O que há com ela, Charles? -Erik perguntou, uma pontada de desespero passou pelos seus olhos. Ele nunca tinha visto daquela maneira, tampouco Charles.
As luzes começaram a piscar e os móveis ao redor tremeram saindo do lugar, alguns objetos pequenos levantaram lentamente no ar. Cada lâmpada explodiu, uma a uma até a sala escurecer.
-Charles... -Murmurou Erik em tom de aviso.
Então abriu os olhos, eles eram como chamas. Sem órbitas, somente chamas.
-Temos que pará-la. -Sussurrou Charles. -Ela vai nos matar. Vai matar a todos nós.
Chamas começaram a sair dos braços de , mas não eram como o fogo. Eram chamas cósmicas, em formato de grandes asas que iluminavam a sala com fúria.
Charles e Erik viram com assombro o momento em que foi tomada pela Fênix Negra.
Tudo ao redor se tornava pó, aos poucos tudo ia sendo consumido conforme as chamas cósmicas da Fênix cresciam e se erguiam como asas com uma força que envolviam todos em um grande tornado.
Erik controlava todos os metais formando uma enorme barreira móvel ao redor do círculo onde todos se encontravam e ainda movia a cadeira de Charles quando ameaçava acertá-lo.
-Charles! -Gritou Erik. Eles estavam em silêncio há alguns minutos, Charles estava na cabeça de e tudo que Erik podia fazer era tentar controlar precariamente a zona de perigo causada pelos poderes e as forças descomunais que estavam em choque.
Charles. Sussurrou a voz de na mente dos dois. Erik. Me ajudem a acabar com isso.
Ela estava fraca, sua mente estava se perdendo. Como uma ligação de rádio de frequência fraca.
-Consegui um bloqueio. -Gritou Charles de volta. -Vou tentar criar vários bloqueios para inativar os poderes dela. Vou tentar trazê-la de volta à consciência.
Erik não conseguiu responder, nem poderia. Suas forças estavam todas concentradas em manter a barreira e proteger Charles.
-Erik, acho que a única maneira... -Começou Charles, o tom era de pesar. -A única maneira é criar um bloqueio mental para os poderes dela e apagar a sua memória.
-Não! -Erik gritou imediatamente. -Tem que haver outra maneira!
Para um mutante ficar sem os seus poderes e sua memória seria uma perca irreparável.
-Ela vai destruir tudo, Erik. -Lágrimas escorreram pelos olhos de Charles, ele balançou a cabeça. -Eu não posso, , eu não posso!
As chamas tornaram-se um tom de alaranjado mais intenso.
Charles. O único de jeito de parar isso, você sabe... -Ela está pedindo para que a gente acabe com isso. -Murmurou Charles. -Erik não precisou perguntar o que significava, a apreensão apertou em seu coração.
Então de repente tudo parou. As chamas, os metais, o ar e as lágrimas de Charles pareceram estagnados no ar. Mas olhando mais atentamente, Erik percebeu que cada partícula se movia em câmera lenta.
-Erik... -A voz de chamou, em alto e bom som. As chamas de seus olhos ainda bem acesas. Ela estava lutando para usar seu último fôlego.
Magneto se ergueu do chão e voou até ela, se aproximou o bastante para abraçá-la, mas as chamas da Fênix o lembrou de manter uma segura distância.
-Você precisa me ajudar, Erik. -A voz dela ecoou.
-Estou aqui por você. -Ele disse convicto.
-Charles criou um bloqueio, mas este poder é maior. O bloqueio pode se romper rapidamente. -Os cabelos dela balançavam no ar lentamente. -Não posso viver, Erik. Para acabar com isso, preciso que me ajude. -O tom na voz tinha um resquício de tristeza e desespero. -Por nossos irmãos e irmãs mutantes, pelo nosso mundo... Preciso que me ajude a acabar com isso.
Os metais controlados por Erik se aproximaram da barreira de objetos que eles formaram. Um pequeno pedaço de cano afiado como uma adaga se aproximou em uma alta velocidade. Erik sabia que teria que fazer isso rápido antes que vacilasse e o metal atravessou as chamas cósmicas da fênix com um assobio que ecoou quando o metal ficou cravado no peito de .
As chamas se tornaram um vermelho intenso quando o grito dela ecoou. Então no mesmo instante as chamas se transforam em cinzas e tudo ao redor sucumbiu ao chão. O corpo de caiu nos braços de Magneto, ele a segurou e instintivamente segurou o metal preso no coração dela para retirá-lo. Mas as mãos dela se moveram e tocaram o rosto dele.
-Não, deixe ele ali para que eu não possa me regenerar. -Ela sussurrou com dificuldade, os olhos se abriram e eles eram cor de âmbar sem chamas. Na verdade, estavam perdendo a chama da vida. -Nunca fui boa em curar feridas profundas.
Erik tocou o rosto dela.
-Eu sinto muito, eu sinto muito... -Ele sussurrou de volta, os dedos entre os fios de cabelos castanhos dela. Esperava que os olhos não se fechassem, não era justo que ela tivesse aquele fim.
-Você tem que me deixar ir, está bem? -Ela deu um meio sorriso de desculpas, tentou manter os olhos abertos, mas já não conseguia mais focar o olhar. -Ich liebe dich, meine...
E então todas as chamas ao redor apagaram, inclusive a chama da vida de .
Erik nunca sentiu tanto frio na vida.
-Meine liebe. -Ele sussurrou beijando a testa dela. As lágrimas dele escorreram pelo rosto dela, ele pousou no chão segurando-a em seu colo. Todos os metais ao redor foram lançados longe quando ele gritou de dor e ajoelhou no chão abraçando o corpo dela.
Mas o metal alojado no coração dela permaneceu mostrando a todos que Levinsky estava morta.

***


O barulho de vidro quebrando ecoou pela mansão em Westchester. Charles seguiu com a cadeira de rodas até a sala de estar de onde sabia que tinha vindo o barulho. Ao adentrar o local, viu que Erik estava com o a garrafa de wisky nas mãos e havia os restos de um copo de vidro no chão.
-Não posso viver com isso, Charles. -Ele murmurou antes que o telepata pudesse declarar qualquer coisa. -Não posso culpar a ninguém, não posso fugir... Eu simplesmente não consigo viver com isso.
Charles se aproximou dele e o encarou por um longo segundo. Tudo que poderia ter dito para Erik ele já havia dito. Sabia muito bem que palavras não poderiam de fato livrá-lo da angústia, mas Charles não sabia o que poderia fazer.
O peso do pedido pairou no ar enquanto Charles refletia o significado daquilo.
-Sabe quais seriam as consequências? -Perguntou Charles intrigado.
-Sei e estou disposto a isso. -Erik declarou deixando a garrafa em cima da mesa. -Também sei que não é justo deixá-lo carregar o peso de tudo isso sozinho, mas eu nunca fui como você. Por isso te peço isso. Faça-me esquecer.
O telepata encarou o olhar de seu velho amigo e viu nele pura amargura. Sabia que toda mágoa era um combustível para Magneto, ele era uma bomba relógio perigosa. Charles tinha inúmeras razões para não fazer aquilo, mas dessa vez Charles Xavier decidiu fazer a escolha errada.
Ele tocou no rosto dele, adentrou a mente de Erik e buscou por cada lembrança. O sorriso de , os seus olhos brilhantes, a sua morte e o enterro. Apagou a lembrança de Erik segurando seu corpo e posteriormente dele carregando o caixão. Apagou os abraços, os olhares, apagou o beijo e Charles mesmo se lembrou da vez em que vira os olhos dela. Tudo perdido no sacrifício que ela fez.
Uma lágrima escorreu pelo rosto de Erik, a mesma lágrima que escorria pelo rosto de Charles. E estava feito, não havia lembranças. Mas o vazio era palpável dentro dos dois.
Infelizmente para Charles não havia a opção de bloquear ou apagar as próprias lembranças, portanto ele carregava consigo cada segundo. Sabia que o que ocorreu foi necessário, caso contrário ninguém teria sobrevivido. havia sido a destruição de si mesma enquanto salvava o resto do mundo e tudo aconteceu bem nos jardins da mansão em Westchester.
Com a guerra do Vietnã e com o mundo cada vez mais consciente da existência dos mutantes, a escola ficou vazia. Raven seguiu com Erik e coube a Charles lidar sozinho com as ruínas do que um dia foram os seus planos.
Hank desenvolveu um soro com o sangue de que o fazia ter de volta os movimentos das pernas. Porém, o soro tirava as habilidades telepáticas por completo. Mas para Charles que toda noite sonhava com e inúmeras vozes em sua cabeça, o soro era uma benção.
Mal sabia Charles que os sonhos e os gritos de que às vezes ouvia, eram o sinal de que algo estava acontecendo.
A sete palmos debaixo da terra, nos limites dos jardins da mansão Xavier, alguns grãos de terra ao redor da madeira paralisaram alguns segundos no ar. Afinal, a fênix é uma criatura conhecida por ressurgir a partir de suas cinzas. De forma lenta e silenciosa, se regenerava.


Epílogo

Atualmente Os alunos da escola Xavier caminhavam pela mansão carregando seus livros, mochilas, corriam dos corredores até o jardim. Jovens com habilidades de todos os tipos, crianças que se tornaram adolescentes e alguns Charles até acompanhou na vida adulta.
Os amava e queria que eles tivessem um futuro, um propósito no mundo.
Quando uma mulher chegou à porta da mansão e foi levada até o seu escritório por Hank, Charles imaginou que a mulher procurava o lugar para um filho, um familiar ou quem sabe para ela mesma.
Mas a olhando de perto enquanto ela entrava na sala ele percebeu que ela estava atrás de outras respostas.
A mulher tinha cabelos cor de chocolate que desciam em ondas pelas suas costas, usava batom vermelho e uma roupa moderna. Mas algo em sua postura lembrava Charles de outra década, o fazia lembrar da mãe e seus vestidos dos anos 40.
-Professor Xavier, é um grande prazer te conhecer. -Ela disse estendendo a mão.
Charles apertou a mão dela e não pode evitar espiar a mente dela. Era falta de educação, mas algo nela o intrigou logo de cara e ele temia que fosse algo ruim.
Charles Xavier viu memórias de décadas atrás embaladas pela Segunda Guerra, um escudo, uma bandana, dois soldados ao redor dela ligados pelo destino. Ele viu os ideais nazistas que pregaram para ela, viu Ghost, um braço de metal e por fim uma armadura de aço.
-Eu sou Violet Stark. -Ela sorriu, os olhos sábios como se já esperasse que ele tivesse descoberto suas lembranças. -Eu estou investigando casos sobre experimentos feitos em humanos realizados durante a Guerra Fria.
O coração de Charles parou ao perceber do que aquilo se tratava.
-Eu esperava que fosse pudesse me contar mais sobre o caso de Levinsky. -Ela completou.
Charles Xavier indicou a poltrona à sua frente.
-Então acho melhor se sentar, Miss Stark. É uma longa história.
Violet se sentou e Charles Xavier se preparou para revelar a história que guardava consigo durante várias décadas. Fez isso porque a mente de Violet tinha uma identidade que o lembrou de : memórias de uma guerra travada, jazz tocando ao fundo e a esperança de um futuro melhor.


FIM



Nota da autora: Olá! Finalmente completei Scars. Ela foi um compilado de imagines que eu fazia para mandar em um grupo do whatsapp, tentei juntar tudo e construir uma narrativa. Sendo bem sincera, não estou completamente satisfeita com a narrativa na parte final e provavelmente em um futuro eu acabe revisando ela com mais severidade. Essa não foi uma das minhas melhores histórias, eu reconheço. Mas me conte o que você achou, quais pontos você gostaria que fossem diferentes e assim eu posso melhorar nas minhas próximas produções. Muito obrigada por ter lido essa história e sempre lembre que a dor não é a única coisa que nos define, é possível encontrar esperança para um futuro melhor.



Outras Fanfics:
» Colors - [Heróis - DC - Shortfics]
» The Ghost Of You - [Heróis - Capitão América - Finalizada]
» Spiderman: Supernova - [Heróis - Marvel - Andamento]

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