Última atualização: 05/08/2019

Prólogo

Já passava das oito da noite quando Johnson deixou o irmão Michael assistindo televisão, pegou sua bicicleta e saiu do Brooklyn para chegar ao centro de Nova York. Seu pai era zelador em um dos prédios das Indústrias Oscorp e toda segunda-feira ela ia até o trabalho dele e lhe entregava o lanche que havia preparado. Naquele dia não seria diferente.
pedalava o mais rápido possível, passou pela pizzaria do Joe e pela padaria do Sr. Giancarlo, logo as ruas de seu bairro se abriram para avenidas mais largas e ele acelerou a corrida até chegar nas principais vias da cidade.
As noites ainda estavam quentes, era o fim das férias de verão. Nova York nunca dormia, então sempre havia muito movimento e ela optava por ir cortando os bairros por ruas residenciais ao invés de se aventurar nas grandes avenidas.
Ela se aproximou de um quarteirão que era um conglomerado de prédios empresariais. Quando ela estacionou a bicicleta na calçada, subiu os degraus grandes feitos de um granito prateado que cheirava a capitalismo. Passou pela porta giratória e tocou na aba do seu boné da NASA enquanto sorria para o porteiro.
-Olá, ! -Disse o porteiro. -Seu pai está limpando a ala oeste hoje, onde fica o laboratório de genética.
Ela abriu a mochila e tirou um pote de plástico dela e entregou ao porteiro.
-Obrigada, Ronald. Fiz um sanduíche para você também. -Ele pegou o pote e eles trocaram um high-five.
entrou no enorme prédio coorporativo, a catraca foi liberada para ela. Ela correu para o elevador e apertou o botão do último andar. Naquele horário era tranquilo, todos iam embora por volta das 18hrs e os cientistas que ficavam até tarde tinham suas próprias salas isoladas.
O elevador era todo de vidro e permitia que ela pudesse ver toda a empresa em sua grandiosidade. O sonho de era trabalhar em lugar como aquele fazendo pesquisas que pudessem mudar o curso da humanidade.
A porta se abriu e saiu do elevador. A porta de vidro do andar estava aberta e entre as fileiras do laboratório viu o pai usando o uniforme de trabalho. Ele se virou para ela e sorriu.
-…. -Ele disse franzindo a testa como se quisesse parecer sério. -Já está tarde. Não pode ficar atravessando a cidade naquela bicicleta.
Ele caminhou até a filha e ela estendeu a mão com o pote de comida em uma e uma garrafa de suco em outra.
-Mas eu trouxe comida. -Ela murmurou e ele finalmente deixou o sorriso surgir. Ele tirou o boné dela libertando seus cachos escuros e volumosos.
-Tudo bem, eu deixo essa passar. Campeã. -Ele colocou o boné rosa com o símbolo da NASA de volta na cabeça dela e pegou a comida.
As mesas do laboratório estavam vazias e nenhum equipamento estava à vista. Aquilo deixou a menina um pouco desapontada.
Charles Johnson puxou uma das cadeiras e se sentou para comer.
-Como está nosso garoto? -Ele perguntou se referindo ao irmão dela.
-Ele já jantou e fez o dever de casa. Deixei ele assistindo desenho animado. -Ela contou, sempre fazia um resumo da rotina para o pai. Ele trabalhava o dia todo e no fim de semana prestava serviços para vizinhança consertando qualquer coisa que estivesse quebrada. Não tinham a mãe desde que Michael, o mais novo, nascera.
Charles era o seu pai e sua mãe. achava que levar o jantar para ele de vez em quando era um sacrifício que fazia com muito amor. Sem falar que tinha a oportunidade de andar pelas Oscorp e sonhar um pouquinho mais.
-No fim de semana vamos jantar com Caroline. -Contou o pai. suspirou evitando mostrar uma careta.
Caroline Baxton era a nova namorada do pai. Uma mulher de 40 anos que parecia achar que tinha 15. Eles namoravam há dois meses e o pai já falava de um possível casamento.
Não era um problema para ela que o pai estivesse em um relacionamento, o problema era ele achar que ela poderia ser "uma nova mãe".
-Tudo bem. -Ela disse já que não deveria se opor. –Mas à noite você prometeu que iríamos ver a constelação de Orion. Não vamos conseguir uma boa vista até agosto do ano que vem. –Charles balançou a cabeça concordando com a boca cheia demais para responder. -Posso dar uma volta?
-Nada de locais restritos e volte daqui quinze minutos. -Ele resmungou com a boca suja de macarrão com queijo.
ajeitou a aba do boné rosa e saiu para caminhar pelo andar.
Ela andou pelos corredores e colocou o headphone, caminhou descontraidamente espiando pelas paredes de vidro as lousas com anotações, pilhas de papéis e frascos separados sob as mesas. A música emitia ondas em seus ouvidos e vez ou outra ela tentava um passo improvisado enquanto seguia para duas portas principais.
Elas estavam abertas e por isso não hesitou em entrar, geralmente lugares proibidos nunca estavam acessíveis, principalmente depois do horário comercial. Quando ela entrou na área não viu a placa de “Acesso Restrito” à sua direita, estava distraída demais com voz e as batidas de Post Malone.
seguiu observando que a sala oval parecia ligeiramente maior que as outras, havia microscópios na mesa à esquerda e na direita havia frascos com substâncias diferentes, ela se aproximou ajeitando a aba do boné para enxergar melhor. Pareciam soros em cores diversificadas, mas cada um tinha um nome científico diferente: Panthera leo, Canis latrans, Selachimorpha. Na outra fileira de frascos havia outros nomes, dessa vez da classificação de invertebrados: Coleoptera, Anthophila, etc.
Na mesa embaixo dos frascos havia um relatório: Resultados, testes em humanos.
sabia que não deveria mexer, mas não pode deixar de virar a primeira página. Seus olhos percorreram as primeiras linhas do texto e focaram na imagem de um humano amarrado a uma maca.
definitivamente não deveria mexer.
Vozes se aproximaram, ela olhou para a porta da sala e não viu ninguém. Mas as vozes definitivamente estavam chegando perto. A parede da sala oval estremeceu e uma porta oculta se tornou visível ao se abrir. só teve tempo de prender a respiração, ela caiu com o susto, as pernas estavam bambas. O que de certa maneira foi bom, pois ela percebeu que precisava se esconder antes que pudesse encrencar o pai.
O único provável esconderijo no momento eram as mesas e bancadas do laboratório. Ela engatinhou para baixo da mesa com frascos e viu três pares de pernas caminhando pelo corredor à sua frente.
-Não podemos deixar nada, precisamos destruir tudo. –A voz parecia vir do homem que usava jaleco, não conseguia ver o seu rosto. Os outros dois usavam calças pretas e pares de coturnos pretos.
-Vamos fazer rápido. –Garantiu um deles.
-Sejam cuidadosos. Nada neste andar pode ficar de pé. –Disse o que usava jaleco branco. –Preservem o resto do prédio.
-Podemos começar agora? –Disse o outro.
-Sim, já me certifiquei que não tem ninguém no prédio. –Disse o de jaleco branco e saiu pela porta de vidro.
Alguma coisa estava errada, tinha pessoas no prédio. e o pai estavam lá.
Um dos homens abriu uma mala, ele colocou as coisas em cima da bancada. não conseguiu ver o que era, olhou para a saída cogitando em correr, mas eles estavam interceptando seu caminho. De qualquer maneira seria pega.
-Pronto. -Disse um deles. -Vamos para a próxima sala.
Os dois homens saíram pela porta de vidro e a fecharam.
engatinhou para fora e no instante em que estava levantando para correr, uma onda de energia explodiu na sala. Ela voltou a cair no chão sentindo o ouvido doer. Os frascos caíram sobre ela enquanto as chamas se erguiam sobre a porta de vidro.
Ela não sentia cheiro da fumaça, sentia o cheiro de algo amargo. Seu rosto e o boné estavam molhados e quando ela passou as mãos sobre ele sentiu o líquido quente. O frasco ao chão tinha um rótulo, ela olhou para o nome nele e sua visão ficou turva. Ela respirou a substância, sentia ela impregnar em suas narinas e descer pela garganta.
tossiu ficando em pé, a porta à sua frente estava bloqueada pelas chamas. O fogo crescia ainda mais, frascos de substâncias explodiam conforme o calor aumentava. Ela precisava chegar até o pai, aquilo estava errado.
Um pressentimento a fez olhar para o relatório sobre a mesa, ela o pegou dobrando as folhas e guardou no bolso interno da jaqueta jeans. Algo estava errado e era testemunha, iria levar o que podia consigo. Caso saísse de lá.
Ela não conseguia chegar até a porta e a janela não fornecia nenhum apoio para que ela saísse de lá e uma queda livre era apenas uma opção de morrer mais rápido.
A visão dela ficou turva de novo, mas ela pode ouvir a porta de vidro se quebrando e um vulto veio sobre as chamas. Ele se apoiou na parede ao lado dela.
-Vou te tirar daqui. -Ele disse.
Era a voz de um garoto.
A visão de focou no rosto dele.
-Meu pai está nesse andar. -Ela tossiu e ele a tomou em um de seus braços.
-Já vasculhei o andar...
-Não, meu pai está aqui! -Ela insistiu enquanto ele pedia para ela segurar firme. apertou os braços ao redor dele.
-Eu preciso primeiro tirar você daqui. -Disse o Homem-Aranha apontando para as chamas que iam até o teto. -Hoje não é dia de virar churrasco!
E sem esperar por uma resposta ele pulou com ela pela janela.
pensou em gritar, mas sua mente girou, seu rosto inteiro queimava, o cheiro azedo da substância ainda em si. Ela caiu na escuridão enquanto o Homem Aranha a levava para longe da segunda explosão nos laboratórios da Oscorp.
Nova York tremeu.


Capítulo 1

O sol estava bem visível, as flores começavam a secar. O outono parecia que estava envolvendo a primavera com um abraço preguiçoso, tão preguiçoso como Peter acordou naquela manhã. Para o primeiro dia de aula do ano letivo ele não se atrasou, tomou café com tia May ouvindo ela falar que tinham novos vizinhos no prédio, e enquanto isso ele tentava colocar todo o material em ordem.
Ao sair do seu prédio, Peter colocou os fones de ouvido e pegou a bicicleta, no caminho ele ouvia Twenty One Pilots enquanto olhava atento para as ruas do Queens. Havia uma certa expectativa preenchendo sua mente, seria o segundo ano do Ensino Médio e tinha muita coisa que ele queria explorar e conhecer. Também seria mais um ano como o Homem Aranha e Peter queria ser um herói melhor, devia isso aos Johnsons. Depois da aula Peter planejava procurar pela filha de Charles, ele sabia que a menina havia recebido alta naquela semana e ele precisava saber se ela estava bem.
Claro que ele não iria se apresentar pessoalmente, mas vê-la de longe faria o peso em seu peito amenizar, afinal, ele sentia que deveria ajudá-la se pudesse. Mas independente de qualquer coisa, ele havia feito uma última promessa à Charles Johnson: a promessa de que salvaria sua filha.
No dia do acidente no laboratório da Oscorp, ele havia chegado tarde demais. Primeiro ele encontrou Charles na primeira sala, ele estava ao chão e o abdômen sangrava. Era um ferimento à bala, quando ele tentou levantar Charles para o tirar de lá o homem murmurou com dificuldade:
-Não, é o fim da linha pra mim, garoto. -Ele estava com dificuldades para falar, reuniu o último fôlego para um último pedido. -Tire minha filha daqui.
As chamas cresciam e Peter sabia que as chances de conseguir sair de lá eram poucas. Ele não poderia levar o corpo de Charles consigo por conta do peso e dificultaria a saída deles, aquela dura decisão quase o levou ao desespero, mas ele lembrou que precisava ajudar a filha do sujeito.
Então na cabeça de Peter fazia todo sentido de que ele se certificasse de que ela ia ficar bem fora do hospital, só pra ter certeza. Ele respirou fundo e balançou a cabeça enquanto guiava a bicicleta pela entrada da escola, estava convencido que era a coisa certa a se fazer.
Ele estacionou a bicicleta ao lado de tantas outras no estacionamento e seguiu para dentro do prédio. Estava lotado de alunos, todo mundo estava bronzeado e Peter notou que era um dos poucos que não viajava durante as férias e mal havia pegado sol. Seu traje cobria a sua pele o dia todo e não é como se ele fizesse uma pausa pra tomar sol enquanto combatia o crime.
-Pete! -Exclamou Ned assim que se encontraram no corredor. -Como foi as férias?
-Ned, eu te vi todos os dias nas últimas semanas! -Ele parou em frente ao próprio armário e colocou a senha. A tranca abriu e ele começou a separar os livros para guardar.
-A gente tentava, mas você logo saia correndo pra... -Ned olhou ao redor e diminuiu o tom de voz.- ...combater o crime ou tentar ver aquela garota no hospital.
Peter suspirou fechando o armário. Não tinha notícias da garota, o pessoal do hospital não fornecia informações para estranhos. E da janela do quarto dela no hospital, toda vez que Peter olhava ela estava na cama sem se mexer.
-Eu estava... Preocupado. -Peter murmurou enquanto eles seguiam para porta da sala de aula. O primeiro tempo era de Química.
Ned apertou o ombro dele de maneira amigável enquanto escolhiam as mesas para sentar em dupla.
-Não pode se sentir culpado para sempre. Você fez o que podia. -Ned disse enquanto se sentavam um do lado do outro. Todos os alunos ao redor escolhiam seus lugares.
Peter olhou para o lado e viu Michelle Jones sentada sozinha, a cadeira ao seu lado estava vazia.
-Você salvou a garota como o pai pediu. -Ned sussurrou, mas nada daquilo o fazia se sentir melhor.
-Salvei?! -Ele perguntou baixinho para si mesmo.
Toda a turma já estava em seus respectivos lugares quando o Professor Dawson entrou na sala, ele ajeitou o bigode grisalho e colocou sua maleta sobre a mesa.
-É impressão minha ou ele raspou o cabelo? -Ned perguntou.
Peter podia jurar que o Senhor Dawson sempre fora careca. Mas algo chamou sua atenção, algo muito mais intrigante do que a careca do seu professor de Química.
-Aluna nova! -Exclamou Ned.
Peter viu a garota caminhar até o Senhor Dawson e entregar uma folha para ele. Ele leu com atenção e se dirigiu para a frente da classe.
Ela tinha os cachos volumosos e escuros presos em um rabo de cavalo alto, usava argolas douradas nas orelhas e em sua camisa preta estava escrito “May the force be with you”. Havia um boné rosa com o logotipo da NASA pendurado na mochila em suas costas.
-Classe, temos uma nova colega. Por favor deem as boas vindas à.... -Dawson fez uma pausa e se virou para a garota.
- Johnson. -Ela completou e olhou para o restante dos alunos. Um olhar confiante como se ela dissesse “mexam comigo e eu acabo com vocês”.
À primeira vista, Peter achou que era como uma estrela cadente: um espetáculo a ser contemplado, lindo que mudava o céu, porém breve demais. Mas depois percebeu que ela era um cometa em rota de colisão prestes a sacudir o seu planeta.


Capítulo 2

Peter estava feliz em saber que a garota estava bem, parecia bem recuperada. Ela caminhou pelas mesas e chegou até ao lugar vago ao lado de Michelle, também bem ao lado esquerdo de Peter.
-Posso me sentar? -Ela perguntou.
Michelle sorriu ao dizer:
-Só porque sua camiseta é maneira.
Droga, Peter pensou. Ele ia usar a camisa como início de conversa.
se sentou ao lado de Michelle e Peter achava que a aula continuou, apesar de não ter certeza porque em momento algum conseguiu prestar atenção.
-Pete, cara! -Ned murmurou entregando um dos frascos para ele. -Faz um esforço aqui!
Mas ao invés de reparar na equação da fórmula, Peter só reparou que não tocou nas coisas do laboratório. Absolutamente nada.
-Oi! -Ele disse se virando para ela.
-Oi! -Ela respondeu.
Um longo segundo constrangedor se estendeu enquanto Peter percebia que não tinha planejado o que dizer a seguir.
-Esse esquisito número um é o Peter e o outro esquisito número dois é o Ned. -Explicou Michelle. Ned acenou entusiasmado.
-Qual seu filme preferido da saga? -Ned perguntou apontando para a camiseta dela.
Droga, aparentemente todo mundo consegue puxar assunto sobre a camiseta.
-O meu preferido é O Império Contra-Ataca. –Ela tinha um sorriso leve, uma postura educada. Alguns cachos escapavam do rabo de cavalo.
-Legal! É o nosso também! –Ned disse cutucando Peter que balançou a cabeça concordando.
-Significa que eu posso ser a esquisita número três? –O olhar dela tinha uma certa expectativa.
-Eu já sou a número três. –Michelle ponderou e Peter tinha certeza de que nunca tinham estabelecido isso antes. –Mas você é bem-vinda no time.
-Cara, ela quer andar com a gente? –Ned perguntou em um tom não muito baixo.
-Todos nessa escola são meio nerds. – disse e por acaso o olhar dela encontrou o de Peter. Ele sentiu o rosto queimar involuntariamente e desviou os olhos. –É melhor que eu ande com os nerds mais descolados.
O Senhor Dawson continuou a aula e Peter continuou a fingir o interesse na matéria, pelo menos ao olhar para a lousa podia esperar que o rosto corado voltasse ao tom normal. Ned passou a aula inteira fazendo referências aos filmes de Star Wars e as piadas já estavam começando a ficar saturadas, mas não deixou de responder. Ela e Michelle embarcaram em algum assunto que envolvia piadas existencialistas e ele começou a desejar que tivesse prestado a devida atenção à última aula de literatura para buscar uma oportunidade de entrar na conversa.
O fato era que Peter tinha iniciativa em combater o crime, mas não possui a mesma habilidade para começar uma nova amizade.
Na hora do almoço Ned e Peter pegaram suas bandejas com a comida e sentaram na mesma mesa de sempre, agora outros alunos do Declato Acadêmico se uniam a eles. A primeira a chegar foi Michelle. Ela se sentou ao lado de Ned e colocou a bandeja sobre a mesa.
-Ei, Pete. Pode reservar a cadeira ao seu lado para garota nova? –Ela pediu no instante em que Flash se juntou ao grupo.
-A garota nova vai sentar com a gente?
-Ele perguntou se direcionando à cadeira ao lado de Parker que jogou a mochila sobre ela o impedindo de sentar.
-Está reservada. –Ele explicou ignorando a careta que Flash fez.
pegou sua bandeja com comida e olhou para o refeitório à procura de um lugar. Michelle ia levantar a mão para chamá-la, mas Ned levantou o braço tão rápido que derrubou o próprio suco. A garota se aproximou da mesa e Flash tirou a mochila de Parker a jogando para ele.
-Aqui, . Guardamos um lugar para você. A propósito meu nome é Flash. –Ele estendeu a mão para ela, olhou para o gesto um pouco surpresa e apertou a mão dele.
-Suponho que esse seja o esquisito número cinco? –Ela murmurou só para Peter que engasgou um pouco surpreso e despreparado para uma interação.
-Não, esse é o único e número um pé no saco. –Ele sussurrou de volta.
Ela sorriu. E havia algo naquele sorriso fácil que fez Peter se sentir orgulhoso por ter causado aquilo.
-Então, ... –Michelle passou para ele uma caixinha de suco extra que havia pegado no refeitório. -O que te trouxe a Midtown?
-Eu queria uma escola voltada pra ciência e tecnologia. Achei que seria bom para o que quero do meu futuro. -Ela disse e pareceu um pouco sem graça.
-Qual área te interessa? -Ned perguntou e Peter começou a temer que fossem enchê-la de perguntas que ela não queria responder, afinal ela havia perdido o pai há algumas semanas.
-Eu sou apaixonada por física e astronomia. -Ela disse quase sorrindo.
Peter involuntariamente olhou para o boné rosa da NASA pendurado na mochila dela. Era o boné que ela estava usando na Oscorp, parecia que o levava para todo lugar.
-E o que os seus pais fazem? -Perguntou Flash.
hesitou, o restante do grupo esperou pela resposta. Peter se sentiu aflito de repente.
Ele se levantou bruscamente.
-Minha nossa, eu esqueci uma coisa no laboratório de química. precisamos ir lá. -Ele disse acelerado enquanto se levantava da própria cadeira.
-Precisamos? -Ela perguntou confusa.
Peter pegou a mochila com um braço e apressou com a outra mão.
Ela engoliu o último pedaço de sanduíche e se levantou correndo.
-Esqueceram o quê? -Ned questionou, mas eles saíram apressados do refeitório.
-Estranho... -Murmurou Michelle ao seu lado.
Os dois correram pelo corredor de volta à sala da primeira aula. Peter foi na frente, cada passo que dava pensava no que diria sendo que não esqueceu nada.
Eles entraram na sala e seguiu pelas mesas até chegar na que Peter tinha sentado mais cedo.
-O que você esqueceu? -Ela perguntou se inclinando para ver as mesas.
-Na verdade.... Nada. -Ele suspirou e se aproximou dela passando a mão pelo cabelo. -Foi mal te trazer aqui assim, mas eles começaram a fazer tantas perguntas e eu não queria que se sentisse desconfortável no seu primeiro dia de aula.
estava surpresa, seus lábios se abriram e fecharam enquanto ela tentava organizar as palavras.
-Tem sido um dia muito difícil pra mim, Parker. -Ela confessou e olhou nos olhos dele. -Obrigada.
Dessa vez nenhum deles desviou o olhar.
-Bem.. ahn... -Peter se odiou por não conseguir dizer uma palavra que fizesse sentido. -Se quiser voltar agora....
-Não. -Ela acrescentou rapidamente. -Quer dizer, o pessoal é legal. Mas eu não estou muito bem pra perguntas no momento. Podíamos ficar aqui?
-Claro... Claro. -Peter balançou a cabeça mais vezes do que era necessário. -Eu fico com você.
Ela puxou uma cadeira para perto dele e os dois se sentaram.
-Eu tenho sanduíches, você quer um? -Ela perguntou abrindo a bolsa e tirou dela um pote onde guardava o lanche.
Peter recebeu um e ficou com o outro.
-Eu sempre faço mais de um, costumava levar para o meu pai. -Ela comentou enquanto eles mordiam o pão.
-Obrigado. -Peter disse de boca cheia.
Ele percebeu que ela nunca mais entregaria sanduíches para o pai, queria dizer que sentia muito. Mas não podia dizer aquilo ainda.
-Já sentiu vontade de desaparecer? -Ela perguntou de repente esticando as pernas por baixo da mesa. O tênis dela encostou no dele e Peter se perguntou porque estava tão consciente daquilo de repente
-Tipo, ir pra outro planeta? -Ele perguntou e ela sorriu de novo.
-Sim, exatamente.
-É o que vai fazer no futuro? -Ele perguntou.
Ela tirou o boné da bolsa e o colocou sobre os cachos escuros. O boné cobria seu olhar cansado.
-Eu espero que sim.
-Cassandra, a primeira mulher astronauta de Midtown High. -Ele falou com um sorriso, a boca suja de requeijão.
-Na verdade, é apelido de . -Ela disse sorrindo e limpando o rosto dele.
Peter sorriu ainda mais.
- como a constelação. -Ele murmurou. -Você realmente nasceu pra ver as estrelas de perto.
Ele e terminaram os sanduíches e passaram o resto da hora do almoço falando sobre as estrelas, sem saber que poderiam construir um universo inteiro juntos.


Capítulo 3

A primeira semana de aula de havia sido mais fácil que o esperado. Ela não queria dar detalhes de sua vida particular, havia coisas que não poderia em hipótese alguma revelar. De alguma forma Michelle parecia querer ela por perto na escola e elas conseguiam manter conversas que aliviava o aperto em seu coração.
Ned claramente era o alívio cômico.
Flash era o pé no saco.
E Peter, bem... Parker era o mais bonito e mais atencioso. Ele tinha uma sutileza que a impressionava, mas logo que ela percebia estar pensando nele afastava o pensamento para longe.
Ninguém podia se aproximar demais, ninguém poderia saber. faria de tudo.
Era cansativo esconder. Ela acordava mais cedo e preparava o café da manhã dela e do irmão. O arrumava para ir para a escola e esperava o ônibus da escola dele chegar, Michael lhe dava um beijo na bochecha e subia no ônibus. pegava sua velha bicicleta e seguia para Midtown High.
Era uma sorte enorme ela ter se matriculado para começar o ano letivo em uma nova escola. Ninguém saberia do seu pai ou do que aconteceu, ninguém saberia que estava criando o irmão sozinha.
Desde que ela ficara no hospital após o acidente, a justiça havia deixado a guarda provisória com Caroline sua madrasta. A casa em que morava com o pai estava com a hipoteca vencida e foi tirada da família para pagar as dívidas que Charles não conseguiu pagar em vida.
Enquanto se recuperava no hospital, Caroline ajudou na mudança do Brooklyn para o Queens e passou o dia de alta de com eles. Ela achava que poderia contar com Caroline, mas no dia seguinte achou o bilhete dela na geladeira.
“Desculpe, não posso fazer isso”.
entrou em desespero. Eles não tinham ninguém, nenhum familiar. Seu pai havia abandonado a vida em outro país e se mudado para Nova York quando jovem, eles não tinham familiares.
Ela sentiu tanta raiva de Caroline e seu casaco de pelos rosa.
mantinha aqueles pensamentos em sua mente o dia todo. Só percebeu que a aula de Biologia estava quase no fim porque Michelle a cutucou e perguntou se poderia pegar a borracha emprestada.
-Você está meia aérea hoje. –Michelle comentou como sempre fazia, era muito observadora. Mas de uma maneira diferente de Peter.
-Estava pensando no meu irmão, Michael. –Ele confessou. Estava ansiosa com o fato de que precisava de um trabalho de meio período para pagar as contas.
O acidente nas indústrias Oscorp foi considerado apenas um acidente e a empresa ainda achou uma forma de declarar que e o pai estavam no local indevidamente. Segundo a diretoria da empresa, naquele dia foi proibido que os funcionários estivessem no local já que ocorreriam testes. Com esse argumento a Oscorp foi considerada “inocente”,
sabia que não, ela tinha ouvido e foi tudo planejado. A empresa se propôs a pagar para ela um valor mensal do seguro de vida do pai, mas este servia apenas para pagar o aluguel. E a vida de Charles Johnson valia infinitamente mais para ela.
queria a verdade. Se ao menos ainda tivesse o relatório que encontrou no laboratório, ele poderia servir como prova. Mas quando ela acordou no hospital, os papéis haviam sumido.
-O almoço hoje é almondega! –Ned anunciou enquanto eles andavam pelo corredor. Ela nem mesmo tinha percebido que havia guardado o material e acompanhado os amigos para fora da sala.
Ela tentou focar no presente e se envolver na conversa, mas havia algo que sua mente que não deixava.
Além de tudo isso, coisas estranhas estavam acontecendo com ela.
No hospital informaram que seu corpo estava bem, mas que precisaria de alguns dias para se recuperar de todos os componentes químicos e da fumaça que inalou. Já faziam duas semanas e só sentia os sintomas piorando.
A visão ficava muito turva e às vezes ela jurava que nem precisava mais do par de óculos. Outras vezes ela conseguia ouvir a voz dos colegas muito antes de eles chegarem perto dela e na aula de Educação Física ela parecia muito mais ágil, até mesmo recebeu um convite para ser líder de torcida.
Tudo aquilo de uma vez fazia sua cabeça doer e ela só queria que passasse. Estava cansada. Queria que a Oscorp pagasse pelo que fez.
Na saída da escola em meio à multidão de alunos, Michelle perguntou:
-Quer ir com a gente tomar um milk-shake?
Tudo que conseguia pensar era que não tinha um centavo para o milk-shake e se tivesse compraria primeiro um para o seu irmão.
-Fica para outro dia, eu tenho que procurar um trabalho de meio período perto de casa. –Ela disse enquanto ela e Michelle trocavam um cumprimento elaborado, primeiro batiam uma mão na outra aberta e depois uma sequência rápida de três socos.
Ela pegou a velha bicicleta, ajeitou o boné sobre os cachos presos e saiu pelas ruas de Nova York.

***


começou pelo Brooklym que era o bairro que conhecia desde que nasceu e também conhecia os comerciantes por lá. Porém não ajudou nada que pudesse fazer em um horário aceitável. Tinha que ser um trabalho depois do horário de aula e que não a fizesse chegar tarde em casa. Michael não podia ficar muito tempo sozinho.
Se alguém suspeitasse de que as crianças Johnson viviam sozinhas e acionasse a justiça, e o irmão seriam levados para um abrigo e poderiam até ser colocados para adoção. E ela sabia muito bem que raramente adotavam adolescentes e isso poderia os separar.
olhou em volta para as ruas, as mãos apertavam o guidão da bicicleta com força. Tantos carros, prédios, pessoas, uma cidade tão viva. Deveria haver um jeito. não deixaria que a separassem do irmão.
Ela respirou fundo e voltou a pedalar, tinha que continuar procurando! Virou à esquerda e na curva fechada ela sentiu algo, um zumbido na orelha esquerda, seu corpo se arrepiou e ela não precisou pensar.
Foi como um instinto primário tomando conta de seus sentidos, ela sabia exatamente o que fazer sem precisar pensar ou realmente ver o que estava acontecendo.
Ela tomou impulso com o quadril conduzindo a bike para cima, suas pernas arquearam levando os pedais consigo. Os braços que seguravam o guidão deram o impulso da manobra que a levou a jogar a bike e o seu corpo no ar.
Ela podia ver tudo ao seu redor quase que em câmera lenta. Ela rodopiou com a bicicleta há alguns metros do chão no momento exato em que um táxi amarelo passou abaixo dela buzinando. Por pouco não havia sido atropelada.
Seu corpo pousou a dianteira e a roda traseira ao mesmo tempo equilibrando todo o peso. A velha bicicleta não aguentou o baque e desmontou ali mesmo, a única coisa que ficou em pé foi o guidão que ela estava segurando.
O motorista do táxi que havia freado bruscamente colocou a cabeça pra fora do carro e gritou:
-Olha por onde anda, garota!
E acelerou voltando a correr.
olhou para as partes soltas da bicicleta.
-Porcaria.

***


Ela voltou para casa a pé e chegou quando o sol já estava se pondo. Felizmente havia conseguido uma vaga na padaria da esquina, e ainda teria desconto se comprasse comida lá. Só isso já a fez pensar que tudo valeu a pena. Mesmo que tivesse que arrastar pelo Queens sua bicicleta quebrada, mesmo que seu rosto estivesse sujo de graxa e ela nem mesmo tentou limpar, mesmo que estivesse cansada.
Ela chegou na frente do pequeno prédio em que morava, olhou para as degraus em frente à porta de entrada e suspirou erguendo a bike. Começou a subir respirando fundo, seu prédio não era o melhor local do Queens, mas tinha um aluguel acessível que era possível pagar com a “contribuição” da Oscorp.
Ela subiu até o andar do seu apartamento e tirou a chave de casa de dentro da mochila e destrancou a porta e arrastou a bike para dentro. No mesmo instante, Michael saiu correndo do sofá onde estava e abraçou ela passando os braços pela cintura dela. Foi como se toda a energia gasta fosse recarregada naquele abraço.
-E aí, Capitão Mike! -Ela disse passando as mãos pelo cabelo do irmão bagunçando os cachos molhados. -Alguém acabou de sair de banho...
Ele se afastou e ela percebeu o quanto ele estava crescendo rápido, quase chegando a altura dos ombros dela e tudo isso com apenas dez anos. Ele sorriu, os olhos castanhos brilhando pra ela.
- eu fiz a lição de casa já. Estava te esperando pra gente jantar. -Ele puxou ela pelas mãos até a bancada da cozinha.
Ela sorriu deixando a bicicleta no canto da sala, toda a chateação por ela estar quebrada desapareceu. Ela tirou a jaqueta e bolsa deixando sobre uma das cadeiras da mesa de jantar e abriu a geladeira.
-Nós temos almôndegas ou hambúrgueres! -Ela anunciou enquanto Michael pegava os pratos no armário.
-Almondegaaaaas. -Ele comemorou. E o que ele escolhesse ela faria e daria pra ele o quanto quisesse.
tirou o arroz da geladeira e começou a fritar as almôndegas enquanto observava Mike. Ele tinha a pele em um tom de marrom como era o dela, mais claro que o pai e mais escuro que o da mãe pelo que ela se lembrava. Os cachos dele eram mais baixos e definidos como se mostrassem toda a gentileza do garoto, combinavam perfeitamente com seus grandes olhos castanhos.
-Desculpe ter ficado o dia todo longe. -Ela disse. Ele ergueu os olhos para ela e em momentos como aquele ela sentia o peso que era um amor incondicional que acompanhava a responsabilidade.
-Tudo bem. -Ele disse e se sentou. -Eu entendo, mas fico com saudade.
A voz dele começou a ficar trêmula. puxou a cadeira e se sentou ao lado dele.
-Sente falta do papai? -Ela perguntou em um sussurro carinhoso enquanto fazia carinho no rosto dele.
-Sim... -Ele respirou e tomou um tempo, todos os Johnson tentavam ser fortes ao falar. -Mas também de você, .
Ela abraçou Michael segurando todo pedaço dele e jurando para si mesma que iria protegê-lo, deixou que ele descansasse a cabeça em seus braços e o puxou para o seu colo mesmo que ele não coubesse mais.
-Vai ficar tudo bem, Cap Mike. -Ela usou o apelido carinhoso. -As coisas vão melhorar.
-Eu sei que vai, Campeã. -Ele também usou o apelido carinhoso. Os dois riram.
-Te amo ao infinito e além. -Eles disseram juntos.
Durante o jantar sentiu a revolta crescendo dentro de si, sentiu que precisava montar um plano. Queria descobrir e expor a Oscorp.
Ela os faria pagar.


Capítulo 4

Peter estava atrasado, ele precisou parar um carro com fugitivos às 07:30 da manhã. Parece que nunca é cedo para se cometer um crime. Por mais que ele conseguisse se locomover mais rápido com suas teias indo de prédio a prédio, a aula já havia começado. Ned não parava de mandar mensagens para o seu celular.
“O que eu invento dessa vez? Digo que você perdeu a hora?”
“Não, é melhor algo mais criativo. Vou dizer que seu cachorro passou mal”.
“Atividade na primeira aula. Salve o mundo e corre pra salvar sua nota também”.

O mais engraçado era que Karen, o sistema operacional do seu traje, lia as mensagens sem emoção alguma, Ned deveria estar surtando quando as escreveu. Peter aterrissou no terraço do colégio, tinha a vantagem de todos já estarem dentro da escola e assim ninguém o veria.
Ele tirou o traje com pressa e colocou a roupa que havia guardado na mochila. A camisa branca, a blusa xadrez e a calça jeans eram as peças mais fáceis que ele tinha para vestir em tempo recorde, por isso já saía de casa com a roupa pronta na mochila. Depois de guardar o traje, Peter correu para a porta do terraço, desceu as escadas do prédio e correu mais ainda pelo corredor para a sala de literatura.
A porta estava aberta e a Sra. Handersen estava de costas ajudando que outro aluno encontrasse a página correta. Os olhos de Peter automaticamente procuraram por Ned e o encontrou sentado no canto esquerdo com Michelle ao seu lado. Então ele percebeu que a sala havia se dividido em duplas.
Sentiu um momentâneo nervosismo ao pensar que faria atividade sozinho, até que do lado direito da sala ele viu e ela sorriu para ele acenando com a mão. A cadeira ao lado dela estava vazia e ela o chamava acenando a mão direita.
Peter se aproximou e ela tirou a mochila da mesa para lhe dar espaço.
-Guardei seu lugar, Ned avisou que iria chegar atrasado. -Ela disse enquanto ele se sentava, ele olhou para Ned que de longe levantou um dos polegares e sorria como se aquele fosse seu plano desde o princípio.
-Obrigado. -Peter disse se virando para ela. O cabelo de estava preso em um rabo de cavalo alto e seus cachos volumosos estavam no topo da cabeça como uma coroa. Alguns escapavam do penteado e emolduravam o rosto dela e então ele percebeu que deveria estar encarando demais e desviou os olhos. -Achei que fosse fazer a atividade com a Michelle.
Por um breve momento pareceu incerta do que havia feito e prontamente segurou a bolsa como se fosse se levantar.
-Eu posso pedir pra trocar com o Ned, se preferir.
Algo em seu peito quase o fez dar um pulo, ele segurou o braço dela gentilmente de forma impulsiva. era escorregadia, ela sempre estava escapando. Quando parecia estar chegando perto, se afastava. Nunca ficava para os encontros depois das aulas, nunca saía com o pessoal nos fins de semana e nunca falava da sua vida antes de Midtown High. Algo em Peter sabia que ele não podia deixá-la escapar.
-Não foi o que eu quis dizer. -Ele se apressou em dizer. -Na verdade, isso é bom. A gente só conversa na hora do almoço.
-Sim, também acho que devíamos conversar mais. - parecia conter um sorriso e Peter começou a dizer para o seu cérebro que não precisava fazer um alvoroço por conta daquilo.
-Para esse trabalho eu quero que estudem um texto de outros períodos, como o clássico, o barroco ou qualquer outro de sua preferência. Leiam ele, façam uma análise e em até três semanas apresentem para a classe. A razão deles continuarem sendo apreciados até hoje mesmo com todo nosso avanço como sociedade. -A Sra. Henderson falou enquanto escrevia as orientações na lousa.
abriu o caderno para copiar e enquanto ela procurava por uma caneta, Peter observou as folhas do caderno que tinham anotações bem organizadas e ao redor era cheio de desenhos de estrelas e planetas, como se fosse um mapa de constelações.
Ele sorriu se aproximando mais e pensou em puxar o caderno pra si, mas percebeu que talvez fosse algo pessoal de e ela sempre era muito reservada. Quando ele ergueu os olhos para ela viu que ela estava olhando.
-Eu gostei, são incríveis. -Ele disse.
Ela sorriu um pouco incerta.
-São só traços e bolinhas, como um liga pontos. -Ela explicou colocando a ponta do lápis em um pontilhado que representava uma estrela.
-Você conhece bastante as constelações. -Ele murmurou Ela entregou um lápis pra ele, gentilmente e quase hesitante, segurou a mão dele com a sua e conduziu o lápis pelo caderno.
O toque dela era macio, leve e quase carinhoso ou talvez Peter que queria que fosse carinhoso, talvez ele queria que significasse algo. Ela desenhou as linhas formando um “W” de estrelas e ele conhecia aquele padrão.
-Essa é a sua constelação, . -Ele sussurrou e dessa vez ela não segurou o sorriso.
-Você também conhece constelações. -Ela sussurrou de volta.
Peter conhecia algumas, mas o quê ele queria mesmo conhecer eram todas aquelas galáxias nos olhos de Johnson.

*

A manhã havia sido corrida, mas em compensação a tarde estava calma. Peter ficou pelo Queens de bairro em bairro, não houve nenhuma ocorrência. O Homem-Aranha fez algumas coisas para ajudar a vizinhança: resgatou um gato teimoso de uma árvore, ajudou um comerciante a colocar a placa nova de sua loja, ajudou a empurrar um carro até engatar a marcha.
Depois ele se sentou no alto de um prédio e comeu um sanduíche enquanto olhava o sol se pôr. Ficou surpreso quando percebeu que o sanduíche lhe lembrou de e imaginou o que ela estaria fazendo naquele momento. Imaginou se não deveria escolher alguma conto grego para o trabalho de literatura, algo clássico e poético que ela fosse gostar.
Quando terminou o lanche decidiu que era hora de voltar para casa. Ele entrou pela janela do quarto e tirou o uniforme, era melhor manter o hábito. May já havia descoberto, mas mesmo assim ele não podia entrar pela porta da frente vestido de Homem-Aranha, seria estranho.
Ele tirou o traje e colocou uma camisa branca com uma calça moletom preta e se dirigiu para a cozinha que cheirava à comida chinesa e brownies.
May estava na bancada organizando os brownies em uma tigela de vidro. A comida chinesa estava em um prato de plástico fechado. As embalagens da comida estavam na lixeira.
-Peter! -Ela exclamou quando o viu se aproximar. -Que bom que chegou! Eu preparei algumas coisas para dar as boas-vindas aos nossos novos vizinhos.
E com preparar ela queria dizer que havia comprado. Sorte dos novos vizinhos, porque a comida de May era difícil de digerir.
-Temos vizinhos novos? -Ele perguntou roubando um pequeno pedaço de brownie, estava uma delícia. -Não vi ninguém novo. -Ele acrescentou de boca cheia.
-Faz duas semanas já! Tentei três vezes encontrá-los, mas nunca tem alguém em casa. -Ela explicou reunindo os brownies e pegando a tigela. -Mas eu vi alguém chegando agora há pouco. Vamos lá, Peter!
Ele tentou protestar, mas ela o puxou com a mão livre para fora do apartamento. Eles caminharam pelo corredor do prédio e May bateu na porta do apartamento. Peter sabia que aquele local estava vazio há meses e não sabia de ninguém que tivesse mudado recentemente. Por outro lado, ele passava o dia todo fora de casa, então não tinha como ter certeza.
May estava animada e já com o sorriso pronto no rosto. Há anos que ela tenta fazer amizade com os vizinhos, pelo menos dessa vez ela havia comprado comida pronta.
Eles esperaram por um tempo, mas não houve resposta.
May bateu novamente. Dessa vez Peter conseguiu ouvir barulho do outro lado da porta, May tinha o olhar cheio de expectativas.
A porta se abriu e Peter engasgou com o último pedaço de brownie que tentou engolir.

***

havia chegado do trabalho e Mike já a esperava em casa. Ele sempre corria para a abraçar quando ela entrava, ele contava pra ela do seu dia na escola e seguia pela casa falando. Ela pegava suas roupas limpas e ia tomar banho, Mike e ela conversavam o tempo todo. Ele sempre a esperava do lado de fora do banheiro.
Para os irmãos Johnson todo tempo era precioso e eles o aproveitavam juntos. saiu do banheiro e seguiu para a cozinha.
-A lição de matemática foi super fácil! Depois eu vou te mostrar, eu já sabia os exercícios. Eu queria logo ter física igual a você.... -Mike tinha uma energia incrível e até perdia o fôlego de tanto falar.
-Meu Deus! Você queria ter física logo no ensino fundamental?! - riu enquanto abria a geladeira para recolher os ingredientes do jantar.
-É porque já tá tudo meio previsível. Menos literatura, a professora indicou O Senhor do Anéis. A gente podia ver o filme no fim de semana. -Mike se sentou enquanto observava organizar as panelas no fogão. Ele achava o filme um saco, mas assistiria só pela irmã. -Ah, , hoje alguém bateu na nossa porta umas duas vezes antes de você chegar.
se virou para ele um pouco preocupada:
-Você não atendeu a porta, não é? -Ela perguntou e Mike balançou a cabeça sacudindo as trancinhas de um lado para o outro.
-Não, você disse pra não atender quando você não estiver em casa. -Ele disse com as mãos batucando na mesa. -Se fosse a assistente social, estaríamos fritos.
-Bem fritos! -Ela concordou.
-Mas aconteceu na semana passada também. Eu peguei o meu banquinho e subi para olhar no olho mágico e era a mesma mulher da semana passada. -Ele colocou o queixo sobre uma das mãos, seu olhar infantil parecia preocupado.
-Você fez certo, Capitão Mike. - passou os dedos pelas tranças dele para o tranquilizar. Michael sorriu para ela e voltou para o fogão para mexer o arroz.
Foi quando a campainha tocou.
Os Johnson congelaram.
Mike arregalou os olhos para que apertou o cabo da colher apreensiva.
Alguém estava procurando por eles e não era a primeira vez. precisava atender a despistar a pessoa pelo menos uma vez.
Ela fez um sinal de silêncio para Mike e seguiu até a porta. Se aproximou do olho mágico, mas ele estava tão embaçado que não era possível identificar a pessoa.
A campainha soou de novo, Mike se levantou para ir até mas derrubou os potes que estavam na mesa. Ela olhou para o irmão atônita, enquanto Mike fazia um beicinho sussurrando “desculpa”.
Ela contou até três e abriu a porta.
Era uma mulher linda e jovem, parecia muito uma atriz de comédia romântica antiga que o pai de costumava assistir. Ela sorria como se o fato de ter aberto a porta fosse a melhor coisa do dia.
-Oi! Eu sou sua vizinha! -Ela disse estendendo a mão enquanto segurava uma vasilha de brownies de chocolate na outra.
Alguém tossiu e foi então que colocou a cabeça no corredor e viu Peter Parker.
Era Peter.
Tinha que ser o Peter?
E ele estava com o canto da boca suja de chocolate. A mente de ficou extremamente confusa, nada fazia sentido. Tinha uma moça desconhecida na sua porta, Peter Parker estava no corredor do seu prédio e por que diabos a primeira coisa que ela olhou foi a boca dele?
Atrás de , Mike se aproximou e colocou a cabeça pela fresta da porta que a irmã mantinha aberta. Ele olhou bem para a mulher e em seguida para Peter.
-Estamos fritos? -Mike perguntou para que estava surpresa demais para falar.


Capítulo 05

Peter ficou surpreso por um instante e no segundo pareceu se atrapalhar com as palavras como acontecia sempre que começavam a conversar.
-Oi, oi, nossa você por aqui.... Meu Deus, que coincidência, que coisa louca. Oi, garoto. Tudo bem?–Ele disse no mesmo segundo sem respirar.
Mike olhou para Peter:
-Sua boca está suja.
May sorriu para o menino dizendo:
-Oi, que olhos lindos! Qual o seu nome?
-Minha irmã me proibiu de falar com estranhos. -Michael virou a cabeça para como se esperasse que ela confirmasse aquilo. Ela percebeu que os dois estavam se espremendo na fresta aberta e ela finalmente cedeu e abriu a porta por completo.
May riu do que Mike havia dito e se virou para Peter.
-Você a conhece?
Peter balançou a cabeça mais vezes do que o necessário:
-Sim, estudamos juntos! Ela foi transferida no início das aulas. -Ele disse olhando para os olhos de .
-Bem, então você já conhece o Peter. Eu sou a May, tia dele. -E estendeu a mão para .
Finalmente a menina conseguiu se recuperar para falar.
-Eu sou a Johnson e esse é o meu irmão Michael. -Ela apertou a mão de May.
-Michael Johnson e não Jackson. -Frisou Mike. -As pessoas geralmente confundem.
-E aí, Michael. Prazer em te conhecer. -Peter estendeu a mão. Mike deu uma rápida olhada para , ela acenou levemente com a cabeça e o menino apertou a mão de Peter.
-Seus pais estão em casa, ? -May perguntou ainda toda sorrisos. -Trouxemos brownies para vocês!
Peter olhou para May esperando que ela não enchesse a menina de perguntas. Ele sabia que nunca falava sobre a família.
Mike ficou tenso e encostou as costas na irmã buscando apoio, ela o envolveu com o braço direito de forma protetora quase inconscientemente.
tinha a mentira pronta em sua cabeça.
-Nossa madrasta está trabalhando. Às vezes ela fica com o turno da noite. -Ela disse sorrindo. -Os brownies parecem deliciosos, não precisava se dar o trabalho.
-Ah, tão gentil de sua parte. Mas não foi trabalho algum.
Claro, você os comprou prontos, Peter pensou lançando um sorriso secreto à May.
-Nós não queremos atrapalhar vocês, só viemos nos apresentar e dizer que se precisarem de qualquer coisa é só chamar. Estamos aqui na frente de vocês. -May disse entregando a vasilha de brownies à e a puxou para um abraço tão carinhoso e surpresa que a menina ficou sem ar.
Depois May abraçou Mike que sorriu todo bobo por ter ganhado sua sobremesa favorita.
-Muito obrigada, Senhora....
-Ah, não, não. Me chame de May. -Ela interrompeu com um sorriso doce.
Os irmãos Johnson evitavam os vizinhos para não levantar suspeitas de sua situação, mas logo era possível perceber que seria difícil não querer May por perto. E ainda tinha Peter.
o olhou e os olhos dele sorriam.
-Agora vai ser fácil pra gente se encontrar e fazer aquele trabalho de literatura. -Ele lembrou enquanto May se virava para voltar para o apartamento deles.
-Sim, e agora não vamos conversar só na hora do lanche. -Ela disse.
Os dois se olharam por um longo segundo.
Mike olhou de um para outro já impaciente.
-Eu quero saber quando vamos comer esses brownies. -Ele disse tentando tirar a vasilha de .
-Só depois do jantar, Michael Johnson! -A irmã respondeu o puxando para dentro do apartamento. -Boa noite, Peter. Te vejo na aula.
Ela fechou a porta e Peter se virou para o corredor caminhando até sua porta onde May estava parada o esperando.
-Que sorrisinho é esse, Peter? -Ela perguntou com um olhar brincalhão enquanto eles entravam.
Ele nem havia percebido que estava sorrindo abertamente.
-Nada. Nossa, que fome, vamos comer! -Ele acrescentou rapidamente seguindo em direção a cozinha.

**

Depois do jantar, Mike pediu à irmã que assistissem algo na televisão. Eles se sentaram no velho sofá, Michael esticou todo o corpo e deitou a cabeça no colo de . Em menos de meia hora ele já havia pegado no sono.
Ela passava os dedos pelas trancinhas dele e reparava no quanto ele estava crescendo. Logo ela teria que o carregar para o quarto, mas antes queria dar uma olhada no noticiário. Ela pegou o controle da televisão e procurou pelo canal de reportagens.
Como de costume havia várias imagens do Homem-Aranha e dos seus feitos do dia. suspirou frustrada, não sentia muito afinidade por ele. Ver a imagem dele sendo aclamado incomodava ela profundamente, ele era o salvador do bairro, mas seu pai não podia dizer o mesmo. Ela sentiu as lágrimas começando a queimar em seus olhos, até que a reportagem mudou.
Uma mulher de aparência jovem e quase vintage apareceu na tela, ela falava ao microfone frente à uma reunião de um Congresso de Defesa Civil. a reconheceu imediatamente. O cabelo cor de chocolate em ondas, o batom vermelho, a postura de alguém que viveu em outra década e mais ainda a força feminina de cada palavra.
se inclinou na direção da televisão ansiosa para ouvir as palavras da Lady de Aço, sua heroína favorita.
“Não podemos nos calar diante das inúmeras provas e casos encontrados. Precisamos dar continuidade às investigações para acabar com os vestígios das Grandes Guerras, acabar com os estudos e experimentos para transformar humanos em armas assassinas.”
Ela dizia com uma força inspiradora. Afinal, ela era a mulher que sobreviveu a um programa de tortura e controle mental, a Miss Stark era uma lenda viva.
“Nós vamos continuar lutando e desmascarando toda corporação, grupo, entidade e laboratório que colabora com esta prática. Acabar e cortar não só os tentáculos da Hydra, mas também toda essa herança de procedimentos cruéis que matam nossa humanidade.” - ergueu o rosto na imagem, seus olhos encararam a câmera. –“ A justiça prevalecerá. Os culpados devem pagar”
O comitê presente se levantou para aplaudir. sentiu o peito se inundar com a força que precisava há semanas, o primeiro vestígio da esperança que sentia desde o acidente no laboratório da Oscorp.
A justiça prevalecerá. Os culpados devem pagar.
os faria pagar.
Ela precisou chamar Michael para ele ir para o quarto. Ela o ajudou a se arrastar na cama, o cobriu e beijou a sua testa desejando boa noite. Depois voltou para o próprio quarto e abriu o guarda-roupa, retirou todas as reportagens que havia salvado da explosão no laboratório. As organizou, cortou as partes mais importantes e começou a colar uma por uma na parte interior da porta do guarda-roupa.
Havia uma reportagem em particular que ela olhou na dúvida, não sabia se a aguardava ou jogava fora.
“Homem Aranha salva jovem da explosão no Laboratório da Oscorp. A identidade da garota não foi revelada, a Oscorp solicitou que os dados fossem preservados para segurança da vítima”.
E a imagem da matéria era uma gloriosa foto do Homem-Aranha. Que não tinha salvado , mas sim a feito continuar a vida sem o pai. Se Charles fosse salvo ele poderia estar cuidando de Michael agora. não só não podia cuidar do irmão, como vivia com medo de que os separassem.
Ela colocou a imagem do Homem-Aranha junto com as outras matérias para a lembrar de que ninguém poderia salvá-la além dela mesma.
Então ela descobriria o que havia acontecido e descobriria do que era capaz. Era hora de entender o que aquelas substâncias haviam causado nela. Era hora de mostrar ao mundo que havia algo de errado na Oscorp. Era hora de vingar Charles Johnson.

**

Peter acordou um pouco adiantado, se arrumou e tomou o café correndo. Não havia nenhuma ocorrência da polícia ou da emergência pela manhã, então seu plano poderia dar certo.
-Por quê está com pressa? Acordou mais cedo que o normal hoje! -May observou enquanto Peter mastigava seu omelete como um doido e ela calmamente bebia sua xícara de chá de limão.
-Quero chegar mais cedo. -Ele disse simplesmente. Se levantou pegando a bolsa, deu a volta na mesa e beijou a testa da tia. No segundo seguinte ele saiu pela porta. May se perguntava se ele achava mesmo que ela não tinha percebido. Bem, talvez Peter começasse descobrindo só agora que estava agindo diferente.
Toda a energia e entusiasmo que o fez levantar da cama se tornaram receio e ansiedade. Ele parou em frente à porta de e não sabia se batia. Não sabia nem mesmo se ela saía naquele horário, mas deduziu que ela deveria sair mais cedo para esperar o ônibus levar Michael e depois ir para Midtown, o que explicava porque eles nunca se encontravam de manhã.
Isso e o fato de que Peter saía e entrava pela janela do quarto ao invés usar a porta de frente.
Enquanto ele tentava se decidir se batia ou não, a porta do apartamento se abriu e Michael saiu para o corredor. Ele usava um boné sobre as tranças, carregava a mochila em um ombro deixando a outra alça solta.
Ele tinha só dez anos e já era mais legal do que Peter jamais seria na escola.
-Oi, Peter Parker. -Ele disse e abriu um sorriso, aqueles que crianças dão quando querem alguma coisa dos adultos. -Trouxe mais brownies?
-Desculpa, eles acabaram. -Peter deu de ombros olhando para o sorriso divertido de Mike. Ele tinha os mesmo olhos castanhos que . E ela apareceu saindo do apartamento, olhou para Peter no corredor enquanto trancava a porta.
-Oi, Peter. Está indo agora também? -Ela perguntou enquanto eles seguiam Mike em direção às escadas.
-Sim, resolvi ir mais cedo hoje. -Ele tentou dizer em um tom descontraído como se não tivesse se programado para encontrá-la naquele horário. -Você vai de bicicleta, não é?
-Antes sim. -Ela disse enquanto eles desciam o último lance de escada e saíam pela porta do prédio. -Mas a minha quebrou na semana passada, então eu vou caminhando. Você vai de bicicleta hoje?
Peter geralmente ia saltando de prédio em prédio jogando teias.
-Às vezes vou de bicicleta. Mas hoje resolvi ir caminhando também. -Ele respondeu.
O dia estava com a temperatura agradável, o sol já iluminava boa parte da rua. O ônibus amarelo parou na calçada e Michael se virou para dando um abraço na irmã e ela o beijou no rosto desejando boa aula.
Michael segurou a mochila e acenou para Peter enquanto corria em direção ao ônibus:
-Tchau, Peter Parker!
-Tchau, MJ. -Ele acenou para o menino.
Michael entrou no ônibus, escolheu um lugar perto da janela e acenou para até o ônibus se afastar e eles o perder de vista.
Peter sentiu um carinho tão intenso pelos Johnson naquele momento e desejou que Charles estivesse orgulhoso dos filhos aonde quer que estivesse.
Ele e começaram a caminhar pela calçada enquanto o sol ia ganhando mais força no céu. A luz dele ficava mais intensa e os atingia nos olhos com uma luminosidade morna.
-Então você acordou mais cedo hoje? -Ela perguntou segurando as alças das mochilas sobre os ombros.
-Ah sim, queria aproveitar pra ver se a gente podia escolher um conto para o trabalho de literatura. -Ele pensou na primeira desculpa que veio à sua mente. Ela o olhou um pouco descrente.
-A gente podia marcar de procurar algo na biblioteca e analisar o texto depois do jantar. -Ela parecia pensativa e Peter se perguntou se ela estava refletindo se era uma coisa boa deixar alguém se aproximar assim. Eventualmente poderia falar do que aconteceu com o pai.
Peter queria que ela soubesse que ele estava lá naquela noite, mas não podia fazer isso.
-Sim, eu não queria ter que esperar até a hora do almoço para falar com você. -Ele disse e logo percebeu que tinha deixado escapar o pensamento em voz alta.
parou de andar e o olhou avaliando sua expressão.
-É que o trabalho de literatura é importante. -Ele acrescentou.
Ela riu e voltou a caminhar com ele até o prédio da escola, sem questionar.


Capítulo 6

Era horário de almoço e como o sol estava muito convidativo, Peter e seus amigos resolveram comer na parte aberta do pátio. Ele seguiu Ned para fora da sala de mercearia -ainda se perguntava porque tinha escolhido aquela matéria eletiva-, e chegaram na área aberta quando Michelle e já estavam lá.
Enquanto ele e Ned escolheram a matéria de mercearia, Michelle havia escolhido “Análise do existencialismo na literatura contemporânea alemã” e Peter até achou que se juntaria a ela já que as duas viviam citando Sartre e Goëthe. Mas havia optado pelas aulas de Introdução às Artes Marciais.
Ninguém pareceu surpreso com a escolha de , afinal, ela tinha mesmo uma pose de quem defendia e também atacava. Peter gostaria de escolher uma aula como aquela, mas deveria ficar longe de qualquer atividade que pudesse revelar suas habilidades.
Elas escolheram a mesa debaixo de uma árvore, assim tinham uma sombra agradável. Michelle e ela fazia anotações no caderno de história. vestia uma camisa amarela com a frase “written e directed by Quentin Tarantino” e a de Michelle dizia “girl power”.
-Gente, devíamos fazer algo no fim de semana. -Ned disse colocando a bandeja de comida sobre a mesa. -Pensei em montarmos a Millenium Falcom da Lego, são mil peças.
Peter sentou ao lado dele e enquanto tirava a mochila observou a expressão das meninas.
Michelle olhava Ned como se ele fosse a coisa mais peculiar que ela já havia visto e , bem.... estava olhando para ele!
Peter engasgou. Engasgou sem nem ter começado a comer.
-Oi, vizinha. -Ele disse tentando manter sua expressão equilibrada.
Michelle sorriu como se tivesse entendido o comentário, provavelmente tinha contado para ela.
-Na verdade, Ned.... Eu queria ver com o Peter se ele está livre no fim de semana....
O coração de Peter parou.
-Nós temos o trabalho de literatura para começar. - completou e Peter soltou o ar.
Não sabia direito o que esperava que ela dissesse. Mas se sentia tão cheio de expectativa o tempo todo perto dela.
-É verdade, não decidimos o conto ainda. -Ele complementou lançando um olhar de desculpas a Ned.
-Então, você está livre no fim de semana? - perguntou deixando de lado as anotações para comer um pedaço do bolinho em sua bandeja. Ela usava um turbante com estampa africana que deixava o cabelo volumoso preso e imponente, ele ainda não sabia como alguém podia ter tanta força apenas com o olhar.
-Estou. Estou. -Peter disse e Ned o cutucou.
-Mas e o estágio na Stark? -Ned acrescentou naquele tom de “e o lance de ser super herói?”.
o olhou surpresa. Ele percebeu que ela não sabia até o momento, nos últimos meses ele havia evitado falar no estágio. Estava evitando de falar sobre qualquer coisa que pudesse o complicar depois.
-Eu tive um estágio nas Indústrias Stark, mas é uma coisa esporádica agora. Está mais para um freelancer. -Ele explicou tentando não fazer parecer ser grande coisa.
-E eu aqui tentando conseguir uma folga do mercado no fim de semana. - murmurou mais para si do que para os outros. -Deve ser legal, mesmo sendo um freelancer. Deve conhecer gente importante.
-Ah sim! -Acrescentou Ned. -Ele sempre ficava empolgado com o assunto de disfarce de super herói e era difícil de controlar. -Ele conhece o Tony Stark. Conhece pessoalmente.
-Tem outro jeito de conhecer alguém? -Michelle perguntou como se fosse começar uma reflexão filosófica. -Nesse mundo globalizado às vezes a gente acha que conhece alguém só por ver as imagens dessa pessoa...
-Ele também conhece a Lady Stark. -Ned continuou empolgado com o maior sorriso frente à expressão atônita de que deixou o bolinho rolar pela mesa até o chão.
-Mas ele realmente conhece a Lady de Aço ou ele acha que conhece porque leu sobre ela na internet? -Michelle continuou.
engoliu o bolinho mais rápido que podia e parecia a cada segundo mais nervosa.
Em um ato de nervosismo, Peter tentou chutar a perna de Ned para fazê-lo calar a boca. Mas acabou acertando Michelle que se inclinou massageando a perna.
-Qual dos dois foi?
Ela perguntou zangada ao mesmo tempo que exclamava:
-Eu perdi o meu bolinho você conhece a Lady de Aço? Eu engasguei, meu Deus, como a Stark é?
Então todos nas três mesas ao redor olhavam para Peter esperando uma resposta.
tinha os olhos brilhantes de expectativa.
-Ela é incrível. Você olha para ela e é como se ela fosse a encarnação de toda a beleza de uma década passada. -Peter disse o pensamento mais sincero que tinha sobre . Ela vivia lhe mandando mensagens durante a semana para saber como ele estava lidando com todo o lance de ser super herói.
suspirou.
-Eu vi o discurso que ela fez na televisão outra noite. -Ela olhou para Michelle e elas trocaram um olhar de cumplicidade feminina. -Ela é uma grande inspiração.
-Imagina ser uma mulher pioneira na ciência e tecnologia na década de quarenta, sobreviver à uma lavagem cerebral nazista e ainda namorar o Capitão América. -Ned listou todos os itens. -Gente, ela é minha crush.
Michelle e riram.
-Claro que o namorado dela pouco importa, a mulher é mais do que isso. -Ned acrescentou sob o olhar severo de Michelle.
-Eu não sabia, Peter. Isso é bem legal. - falou e toda a atenção de Peter se para ela, às vezes era como se o seu sentido aranha fosse um radar das ações dela. -Você é uma figura Parker!
Ele não pode evitar um sorriso e tomou o restante do seu suco de laranja.
-Estão pensando em estudar que texto para o trabalho de literatura? -Michelle perguntou jogando uma batata frita em Ned para chamar a atenção dele que estava voltada para o celular. -Não me diga que escolheu Shakespeare! Todo mundo escolheu ele.
-Nós não sabemos ainda. - comentou.
-Eu tive uma ideia. -Peter disse para ela. -Eu pensei de escolhermos algum mito grego sobre as constelações.
sorriu e ele podia jurar que os olhos escuros dela tinham tantas estrelas quanto o universo.
-Adorei a ideia. -Ela disse e roubou uma das batatas de Michelle.
Peter era muito grato por aquelas manhãs tranquilas ao lado de seus amigos, apenas como Peter Parker. Porque ele sabia que aquele era seu momento de contemplação, mais tarde ele teria que cumprir o seu dever como Homem-Aranha.


Perto do fim de seu breve expediente na padaria/mercado/pizzaria do Senhor Giancarlo, encarava o pôr do sol sabendo que seu irmão Michael estaria chegando em casa naquela hora. Estava se sentindo um pouco culpada por precisar fazê-lo esperar mais naquele dia, já que mesmo saindo do trabalho cedo ela precisaria colocar em prática o plano em sua mente.
Ter optado por uma matéria eletiva que a ajudasse a ter o conhecimento básico de defesa, ataque e postura foi a melhor coisa que ela poderia ter feito. Tentar sozinha em seu quarto apertado não era a melhor opção e seu joelho roxo era prova disso.
olhou para o relógio de parede e percebeu com entusiasmo que havia dado a hora de ir embora. Ela se levantou e tirou a mochila que guardava debaixo do balcão de atendimento. Nesse instante, o sino da porta soou anunciando a entrada de mais um cliente.
A euforia a deixou por um segundo quando ela percebeu que precisava atendê-lo antes de ir embora. O senhor se aproximou do balcão e deu um sorriso para ela. Ele usava óculos escuros, os cabelos brancos estavam penteados para trás e o bigode também branco emolduravam o seu sorriso.
-Olá, minha jovem. -Ele disse apoiando uma das mãos sobre o balcão.
-No que eu posso ajudar, Senhor... -Ela viu que no casaco dele estava marcado o seu nome. -Senhor Lee?
Giancarlo saiu do corredor de enlatados e viu o senhor no balcão.
-, pode ir pra casa! Pode deixar que eu atendo o Stan. -Ele disse caminhando até o senhor. Eles trocaram um aperto de mãos. -Ele é o dono da doceria aqui na frente.
Ela colocou a mochila sobre os ombros e sorriu o sorriso mais empolgado do dia, a hora de embora era a melhor hora.
-Foi um prazer lhe conhecer, Senhor Lee. Até mais, Senhor Giancarlo. -Ela disse saindo em disparada pela porta.
-Boa folga, . -Ela ouviu a voz de Giancarlo gritar de dentro da loja.
Agora pelas ruas no pôr do sol do Queens, se perguntava qual o melhor lugar para começar. Havia imaginado começar em um prédio comercial abandonado há alguns quarteirões dali.
Ela seguiu até lá correndo, a mochila balançava em suas costas e o céu alaranjado se refletia nos seus olhos escuros como a esperança de justiça que assombrava o seu peito nas últimas semanas.
O prédio ficava em uma rua onde os comércios eram pequenos e pouco produtivos, os prédios eram mais antigo e não muito altos. Ainda tinham aquelas velhas escadas de incêndio. E sabendo que precisaria subir por ela, deu a volta no quarteirão e entrou no beco que dava para a parte de trás do prédio.
Ali havia várias caçambas grandes de lixo, cheirava como o pior banheiro público de Nova York. Ela seguiu até o fim do beco onde estava a parte posterior do velho prédio comercial e olhou para cima observando a escada de metal que se estendia até lá em cima por toda a lateral do edifício.
Um gato preto miou para ela enquanto se aproximava devagar e cautelosamente da sua perna direita.
-Oi, bichano. -Ela sussurrou e estendeu a mão para o gatinho que esfregou a própria cabeça nos dedos dela. sorriu e afagou o gatinho entre as olheiras e ele ronronou. Ela nunca tinha visto um gato se aproximar assim de boa vontade, e parecia até natural que houvesse uma ligação entre eles.
-Desculpa, gatinho. Mas eu não vou conseguir te levar lá para cima. Ela disse se levantando com a mochila. Ela olhou para a caçamba de lixo mais próxima da extremidade da escada e planejou o seu salto.
Em um instante ela parecia estar muito mais consciente do ambiente ao seu redor como se ele operasse em câmera lenta e ela pudesse captar os detalhes que precisava.
tomou distância e correu alguns passos até a caçamba, saltou e com a perna direita atingiu o metal que sustentava o lixo usou ele para dar força e se impulsionou para cima com os braços esticados. Suas mãos se fecharam sobre o metal da base da escada.
O primeiro passo estava feito.
Ela respirou fundo e usou sua força para erguer o seu corpo sobre os degraus até que suas pernas também tivessem apoio na escada.
O segundo passo estava feito.
subiu para o terraço do edifício enquanto o gato lá embaixo miava.
Ela subiu os seis andares e ao chegar lá em cima olhou para baixo satisfeita, havia sido fácil e ela sabia que se fosse há semanas atrás ela não teria conseguido nem uma pequena porcentagem daquele esforço físico. Parecia que tinha uma nova facilidade com saltos, então começaria por eles.
Ela caminhou pelo terraço vazio, era amplo e ela poderia aproveitar sem ser observada. Mas por precaução ela havia preparado uma roupa diferente. abriu a mochila e tirou dela os coturnos presto, a calça e o casacão preto e escuro que seu pai usava para trabalhar. Precisou rabiscar o logo da Oscorp com canetinha preta que encontrou nas coisas de Mike.
Também havia surrupiado do irmão uma touca preta que usaria para cobrir o rosto, cuidadosamente havia cortado o buraco para os seus olhos e por último tinha o óculos preto para completar o disfarce. Ela se trocou rapidamente e lembrou a si mesma de nunca se olhar no espelho daquela forma, deveria estar ridícula.
Mas bem, nem todos podiam ser os Vingadores para ter patrocinadores para trajes especiais. Aquilo teria de servir. Além do mais, não queria ser uma heroína. Não sairia para salvar o mundo, o que ela queria era Vingança. E ninguém deveria saber da existência dela. Somente a Oscorp, eles deveriam temer a sua chegada.
Isso levaria um tempo. Ela sabia disso enquanto rolava naquele terraço. Aprendeu a saltar, rolar e dar uma pirueta. Ralou os joelhos e o cotovelo, rasgou a calça e continuou. Porque para Johnson o aprimoramento seria sua melhor arma.
Ela os faria pagar.


Peter assistia a chegada do anoitecer em seu traje do Homem-Aranha. Havia erguido a máscara para ver melhor o céu do seu bairro Queens. Havia sido um pôr de sol alaranjado e agora era uma noite estrelada. Em sua mochila ele havia levado um binóculos para observar melhor todas as cores da cidade e os detalhes do céu.
Estava se perguntando quantas constelações era possível ver a olho nu. Ele sabia que a cada época do ano, dependendo do grau de rotatividade da Terra, era possível ver algumas. Em algum almanaque astronômico ele descobriu que aquele mês era melhor de conseguir enxergar . E ele estava ansioso para vê-la.
Tanto a constelação quanto a sua amiga. E sendo sincero consigo mesmo, Peter estava considerando ver as duas na mesma noite.
-Seria estranho um encontro desses? Seria estranho se tivéssemos um encontro? -Ele murmurou com os olhos pelas ruas de seu bairro que se estendiam até o horizonte.
Ele colocou o binóculo e viu o Rio que se estendia até Manhattan e refletia o céu. Virando mais o oeste onde ficavam alguns prédios abandonados do Queens, Peter viu um vulto. Uma forma muito disforme se mover entre as sombras dos edifícios.
Era rápido e parecia não fazer nada além de saltar de prédio em prédio. A forma parecia humana, apesar de estar longe demais para ele ter certeza, mas os movimentos eram precisos como o de um predador felino.
Peter se levantou do parapeito e correu até a borda do terraço para ver com mais atenção. O vulto se fora, a única coisa que ele conseguia ver agora era a constelação distante no universo piscando falha como se estivesse lutando para manter sua luz.


Capítulo 7

Era o dia! Peter nunca esteve tão animado para fazer um trabalho no sábado de manhã e isso considerando que ele nunca foi de se queixar das obrigações escolares. Na maior parte ele achava divertido e conhecimento nunca era demais, além disso seria um trabalho de literatura com .
Ele tinha o dia todo planejado: ia passar a manhã com May, fazer uma ronda pela região e no final da tarde ele e fariam a pesquisa. May sugeriu que eles fizessem lá no apartamento mesmo, assim ela e Mike comeriam brownies e assistiriam algo na televisão enquanto Peter e faziam a leitura dos contos para o trabalho.
havia dito que a madrasta não estaria em casa. Peter nunca havia visto a mulher e quase nunca falava dela, então ele presumia que não deveria ser muito ruim para os Johnson morar com ela.
Esses pensamentos passavam pela cabeça de Peter quando ele terminou de escovar os dentes e arrumava o cabelo ao som de Come and get your love. Ele passou os dedos pelos seus fios desgrenhados e cantou em frente ao espelho até a música acabar.
Seria um bom dia.
Ele se trocou e foi até a cozinha onde May preparava o café da manhã.
-Alguém está de bom humor hoje. -Ela disse com um sorrisinho. Seus cabelos escuros e compridos balançaram quando ela começou a cantar enquanto virava as panquecas. -Come and get your looooveee...
-Deus... Você está deixando a música péssima. -Peter disse rindo. May jogou a panqueca por cima do ombro e Peter esticou o prato na direção exata fazendo com que ela pousasse no seu prato e não no chão.
Era um costume que ficou muito mais fácil depois de ele ter adquirido seu sentido aranha.
-Como vão as coisas? Espero que não esteja se sobrecarregando de novo. -May disse levando a jarra de suco para a mesa pequena e se sentou de frente para Peter.
Ela o olhou com aquele olhar de quem estava preocupada. Ela tinha surtado quando descobriu que Peter era o Homem Aranha, depois tentou proibi-lo para o manter seguro e finalmente entendeu que Peter precisava ajudar o mundo de alguma forma. Era a escolha que ele havia feito.
Até que finalmente entraram em um acordo: nada de tentar salvar o mundo depois das 23h, sempre responder as mensagens e ligações, e acima de tudo manter a comunicação. Por isso pelo menos uma vez na semana eles tinham o papo sobre ser herói.
-Eu estou bem. Não precisa se preocupar. -Ele disse enchendo sua panqueca com calda. -Mas eu queria lembrar que vem aqui mais tarde com o irmão dela.
-Hummm. -May murmurou de boca cheia exibindo o mesmo sorriso de antes.
-Eles perderam o pai recentemente, então nada de perguntas constrangedoras sobre família. -Ele disse mastigando o primeiro grande pedaço.
May esticou a mão e limpou o canto da boca de Peter.
-Ah, querido... Deve estar sendo difícil para os dois. Vamos garantir que eles fiquem à vontade quando estiverem aqui. -Ela balançou a cabeça de forma positiva e colocou suco no copo de Peter.
Comunicação. Tia May sempre reforçava que a melhor coisa na relação deles era isso. Peter sabia que mesmo eles sendo a única família um do outro, não havia para ele laço mais precioso do que aquele.

**

As portas do guarda-roupa estavam abertas exibindo todas as colagens que havia organizado dentro delas. Post it de anotações estavam espalhados: amarelo para os fatos de acordo com a mídia, vermelho para questões que ela precisa decifrar e azul para as suas memórias.
Ela encarou uma nota em vermelho que dizia “essa coisa no meu corpo é permanente?” e outra em azul que dizia “lynx felidae” que era o nome que ela lembrava ter lido no frasco quebrado que ela acabou inalando no incêndio. Poderia entender melhor os efeitos daquilo se estivesse com o relatório que havia encontrado naquele disso. E isso a levava para a próxima nota azul “relatório desaparecido, suspeito: spider”.
Ele foi o primeiro a encontrar, então era o seu primeiro suspeito.
Havia outros detalhes como a voz do cientista e dos homens encapuzados, o tamanho da pegada deles, a tatuagem no tornozelo de um deles. Um olho só. nunca esqueceria aquelas imagens, nunca esqueceria das chamas crescendo e nunca esqueceria do último sorriso que Charles Johnson deu a ela.
-eeee. -Mike chamou da sala, ela ouviu os passos dele se aproximando.
fechou as portas do guarda-roupa e se virou para o irmão que entrou em disparada pelo seu quarto.
-, vamos! Vamos! -Ele disse subindo na cama e começou a pular bagunçando os lençóis. Ele tinha um sorriso que a lembrava do pai. -Não está na hora de ir na casa de Peter?!
Mike ficava muito entusiasmado quando a irmã o levava para sair, não importava para qual lugar.

-Sim, eu vou me trocar! -Ela sorriu abrindo os braços para o irmão e ele prontamente se jogou no colo dela.
aguentou o peso de Mike, mas notou que ele estava cada vez mais comprido. Ele já estava na altura dos ombros de , ela não conseguia mais ficar o carregando de uma lado para o outro.
Ele estava crescendo tão rápido.
-Escolhe uma roupa legal, Capitão Mike. -Ele pulou do colo para o chão e saiu correndo do quarto.
-Eu já disse pra não andar só de meia! -Ela gritou para ele que já havia entrado no próprio quarto.

**

Peter havia checado se tudo estava no lugar: a sala, seu quarto, os livros de mitologia e todo o material que poderiam usar. Seus olhos iam da mesa da cozinha até a porta diversas vezes e May fingia não perceber que ele estava ansioso.
Quando a campainha tocou Peter e May se levantaram ao mesmo e hesitaram sem saber quem atenderia a porta.
-Peter, acalme-se! -May sussurrou decidindo por fim que seria ela a abrir a porta.
Ela girou a maçaneta e abriu, e Mike Johnson estavam do outro lado.
-Oi, May. Eu vim comer brownies. -Mike disse com o maior sorriso doce que uma criança poderia dar e apertou a bochecha dele como se fosse um aviso para ser mais educado e ele rapidamente acrescentou: -Tudo bem com a senhora?
E pronto, Mike Johnson já tinha ganhado o coração não só de May, mas o de Peter também.
-Obrigada por nos receber. - disse enquanto ela e o irmão entravam e May trancava a porta e insistia em pegar os casacos deles. Mas a atenção de estava voltada para Peter. -Oi, vizinho.
Peter às vezes sentia que eles tinham esses momentos quando se encontravam, era como se o mundo ao redor tivesse parado ou como se funcionasse em câmera lenta e a única coisa que podiam fazer era prestar atenção um ao outro.
-Oi, vizinha. -Ele disse indicando que ela o seguisse. -Já separei algumas coisas que podemos usar.
Ele seguiu para a cozinha mostrando a ela os materiais na mesa. May segurava Mike pela mão e entrou na cozinha pegando a vasilha de brownies que havia separado só para ele.
-Peter, não é melhor fazerem isso no quarto? Assim o barulho da televisão não vai incomodar. E por favor, comam alguma coisa antes de começar. -Ela colocou uma garrafa de suco e pãezinhos sobre a mesa para eles e chamou Mike para dar uma olhada na estante de livros da sala já que a atenção do menino parecia estar bem dividido entre pegar alguns pãezinhos ou conferir a coleção de May.
-Tudo bem por você? -Peter perguntou enquanto se sentava e enchia um copo de suco para si.
-Claro. -Ela deu um meio sorriso e eles dividiram os pãezinhos entre si. estava com o cabelo dividido em duas longas tranças escuras, ela usava um casaco mostarda e peludo que dava vontade de abraçá-la como se ela fosse de pelúcia.
Peter pigarreou ao se dar conta dos próprios pensamentos.

-Eu tenho alguns livros infantis de quando Peter era pequeno. -May disse do outro lado da sala para Mike e que examinava a estante deles. -Você quer ver algum?
-Tem algum de física quântica? -Mike perguntou com a boca suja de chocolate.
May olhou para Peter como se tivesse sido pega de surpresa.
-Eu tenho dois de física quântica e um de astrofísica na terceira prateleira à direita. -Ele disse apontando e May pegou o livro e entregou para Mike que se sentou no sofá abraçando o livro.
-Ele gosta de assuntos um pouco avançados... - murmurou para ele.
-Nem imagino quem é que influencia ele. -Peter murmurou pegando os livros e se levantando, ela o seguiu e eles foram o quarto.
-Espero que não seja estranho. -Ele deixou os livros sobre a cama e deu graças a Deus por ter lembrado de arrumar a bagunça antes que ela chegasse.
entrou observando os posters na parede de Peter, várias comédias dos anos 80. Na estante tinha miniaturas de carros e heróis e se aproximou mais para olhar de perto a miniatura do Homem de Ferro.
-Parece coisa de criança, eu sei. -Ele disse meio sem graça.
-Eu tenho uma da Lady de Aço e da Espectro. -Ela sorriu e Peter se aproximou pegando a miniatura e colocando na mão dela.
-Espectro?
-Sim, é o alter ego da astronauta Adeline Rudolph que durante uma missão no espaço foi atingida por uma tempestade de radiação. -Ela sorriu para a miniatura do Homem de Ferro e ergueu os olhos para Peter. -Já deve ter ouvido falar dela. A tripulação da missão era o Quarteto Fantástico.
Peter subitamente se lembrou de todas as reportagens e manchetes que estavam pela cidade quando ele era pequeno. A história dos astronautas que se tornaram super heróis sacudiu o mundo inteiro. Ficaram conhecidos como Quarteto Fantástico, mas tinha uma que teve seu dna alterado e não fazia parte do grupo de heróis apesar de ser amiga e até ter casado com um deles.
-A Dra. Rudolph foi a mulher mais jovem do Brooklyn a ir para o espaço. - contou colocando a miniatura de volta na prateleira de Peter.
Ele se lembrou da mulher nas capas de revistas científicas e dos artigos de astrofísica que ele lia quando era mais novo.
-Agora eu me lembro! -Ele exclamou e se lembrou de um detalhe.
Adeline Rudolph tinha longos cabelos negros, olhos de descendência asiática e uma postura de confiança que só alguém que havia tido um vislumbre do universo poderia ter. Adeline usava um boné com o símbolo da NASA, era sua marca registrada.
-, o seu boné! -Peter exclamou encantando percebendo a conexão.
Ela riu se sentando na cama dele. E algo naquilo fez o peito dele dar uma reviravolta pelo simples fato de que Johnson estava no seu quarto sentando em sua cama da maneira mais inocente possível e ainda assim parecia algo tão íntimo e especial.
-Eu ganhei o boné da Espectro em pessoa! -Ela contou enquanto Peter se sentava ao seu lado. -Ela estava voltando de uma de suas missões espaciais e estava nas ruas do Brooklyn falando com as pessoas que a seguiam até o Edifício Baxter.
Ela descrevia com um brilho nos olhos que fazia Peter imaginar a cena com clareza. Adeline Rudolph andando pela aglomeração de pessoas ao lado do noivo Johnny Storm, os cabelo escuro pelo vento e o macacão especial da Espectro. Parou para olhar a garotinha que se erguia sob os ombros de Charles Johnson só para acenar para ela.
-Ela me viu e entregou o boné para mim. Johnny Storm ainda me deu uma piscadinha. - e Peter riram.
Algo naquele momento para os dois foi especial, foi como se olhassem a alma um do outro por um momento e descobrissem que era tão bonito quanto imaginavam ser. Eles se olharam e de novo parecia que tudo ao redor havia sido paralisado e Peter sabia, simples sabia que não podia deixar o momento passar.
Ele se inclinou devagar na direção dela, os olhos conectados nas estrelas que ela refletia. Ele foi sutil para que ela se afastasse caso quisesse. Mas não desviou o olhar e também se inclinou na direção dele ajudando a diminuir o espaço entre os dois. A possibilidade de ser correspondido fez o coração de Peter falhar uma batida e deu a coragem que ele precisava para selar o beijo.
Seus lábios encontraram os de e foi como se uma nova estrela nascesse no céu, uma explosão interna que tinha força própria e que fez Peter tocar o rosto dela enquanto as bocas se conectavam.
Foi um beijo leve e carinhoso, mas que causou uma supernova dentro dos dois.
Quando eles se afastaram devagar, as estrelas nos olhos de estavam sorrindo e Peter sabia que não conseguia esconder o próprio sorriso.
-Então... -Ela disse depois de alguns segundos em que eles tentavam não sorrir ainda mais um olhando para o outro. -Podíamos começar com o conto de Otelo.
Peter nem havia imaginado que um beijo não seria o suficiente.

**

O ar da cidade não estava tão frio o que permitia Peter a ficar mais confortável no traje. Tudo estava bastante tranquilo, parecia que não teria nenhuma ocorrência pela noite. O rádio da polícia estava bem tranquilo e a falta do perigo permitiu que ele se distraísse com a lembrança dos lábios de nos dele.
Era uma sensação engraçada e gostosa de sentir, parecia que o beijo tinha acontecido há um segundo atrás. Isso já o deixava pensando se e quando se beijariam de novo. Queria uma desculpa para continuar vendo, . Se deu conta de que se beijaram e as mãos se tocaram, mas nenhum dos dois falou sobre sentimentos.
Peter se lembrou de May frisando que comunicação era importante. Achou que talvez ele e poderiam trabalhar nisso. Afinal, ele escondia dela um grande segredo. Havia visto o pai da garota morrer e havia prometido salvar ela, não era o tipo de coisa que a consciência de Peter lhe permitiria esconder para sempre.
Um som de alarme soou há alguns quarteirões do prédio onde ele estava. Peter se lançou em direção ao local usando suas teias para movimentar o corpo mais rápido. Era a rua central dos bancos, provavelmente algum assalto ocorria ali.
Quando se aproximou, Peter viu um homem fugir de um caixa eletrônico que havia explodido espalhando várias notas pela calçada. A vizinhança ao redor começava a acender as luzes e correr para as janelas para ver o que havia acontecido.
O assaltante correu para o beco mais próximo e Peter o seguiu. Desceu pela lateral do prédio no beco escuro cheio de pilhas de lixo e se surpreendeu quando viu o assaltante ao chão abraçando a mala de dinheiro que ele havia roubado. Uma silhueta escura com o rosto coberto estava sobre ele com o pé em seu peito o impedindo de levantar.
“Desconhecido” -Disse Karen, seu sistema após tentar avaliar se a segunda pessoa era algum tipo de herói registrado.
A figura puxou a barra da calça do bandido e encarou alguma coisa no tornozelo dele. Peter achou que deveria se aproximar.
Ele desceu da parede e ergueu as mãos quando pousou no chão, em sinal de paz. A figura se virou para ele e o encarou antes de dizer:
-Spider, gostaria de dizer que é um prazer revê-lo, mas eu estaria mentindo. -Ela sussurrou. Era uma garota, mas sua voz estava distorcida como se ela usasse algum dispositivo que fazia com que parecesse que o rádio não estava acertando a frequência.
“Ela parece te conhecer, vou acionar o disfarce de identidade completo” Disse Karen.
Quando Peter falou, sua voz soou como a de Smeagol em Senhor dos Anéis:
-Quem é você?!
A garota inclinou a cabeça como se estivesse muito surpresa pra responder. O ladrão ao chão arregalou os olhos.
“Karen, esse disfarce de voz é péssimo”, ele murmurou para o sistema sem saber como desativar.
-Você tem algo que é meu, Spider. E logo eu vou voltar para buscar. -Ela murmurou se afastando. -Esse já me deu a informação que eu precisava, pode ficar com ele. -Ela indicou o assaltante no chão e correu em direção à rua.
Peter acertou o assaltante com sua teia o mantendo imobilizado no chão e correu em direção à rua, mas não havia mais ninguém lá. Ele caminhou de volta até o assaltante.
-Conhecia ela? -Ele perguntou ainda com a voz do Smeagol.
-Ahn... Não, ela tá procurando um cara com uma tatuagem no tornozelo. -Ele resmungou.
Peter suspirou e se lançou para cima em direção aos prédios, a policia estava a caminho e cuidaria do homem. Ele precisava pensar, nunca tinha visto aquela figura antes e aparentemente estava com algo que ela queria.
Às vezes ele queria se preocupar só com os problemas de um garoto normal, como por exemplo, quando iria ver a garota que ele gosta. Mal sabia ele que o reencontro tinha acabado de acontecer.


Capítulo 8

Era manhã de segunda–feira e estava mais exausta do que nunca. Só de pensar de que a semana mal havia começado já a desanimava. Sentiu que foi uma má ideia decidir estudar, trabalhar e ainda bancar a justiceira tarde da noite. Sabia que uma hora não ia dar conta, então queria acabar com aquilo o mais rápido possível.
Esperava que o Homem Aranha não ficasse em seu caminho. Já planejava naquela noite encontrar um suposto bandido com uma tatuagem de um sol no tornozelo e depois precisava do relatório que supostamente estava com o Aranha. Como faria isso ainda era um detalhe que ela não havia planejado.
O movimento era grande, principalmente no horário de entrada na escola. Nova York nunca dormia e parecia que aquele horário da manhã era quando a cidade estava mais estressada.
Há alguns quarteirões da escola ela caminhava rapidamente, estava em cima da hora. Mike havia acordado tarde demais e tomou o café da manhã com muita preguiça, não tinha muito o que fazer além de apressá–lo –o que não adiantou muito.
E ainda havia o fato de que a escola de Mike havia mandado um bilhete solicitando que seu guardião legal comparecesse na reunião de pais e mestres. não fazia ideia de como iria se livrar daquele problema.
Com a cabeça a mil por hora ela atravessou a rua no momento errado e só se deu conta da falha quando seu ouvido estremeceu com um zumbido alto, como quando o carro quase bateu em sua bicicleta. Pela visão periférica, pode ver o ônibus escolar se aproximar em sua direção. Apesar de saber que o veículo estava rápido, para ela era como se ele estivesse em um ritmo lento.
Ela se preparou para saltar para trás, mas antes que fizesse qualquer movimento algo a pegou, levantando seus pés do chão e a tirou da rota de colisão do ônibus. As pessoas na rua gritaram e aplaudiram enquanto percebia que o Homem Aranha a carregava em um dos braços até o outro lado da rua.
Eles pousaram na calçada em frente ao colégio causando uma grande aglomeração entre os alunos ao redor.
–Você está bem? –Ele perguntou e havia algum tipo de dispositivo que distorcia um pouco a voz dele, mas não o fazia soar como o personagem de um filme. –Nossa, eu me lembro de você. Nos encontramos de novo.
deu um meio sorriso como alguém que sabia de um segredo.
–De novo, spider. –Ela concordou e se afastou dos braços dele que ainda a seguravam. –Provavelmente não vai ser a última.... –Ela murmurou de forma sombria, mas ele não notou a ambiguidade em seu tom.
–Vou estar por perto, . Mas tome cuidado. –Ele disse e atirou suas teias para o poste à frente e ergueu seu corpo desaparecendo entre os prédios da vizinhança.
–É bom que lembre o meu nome, Spider. –Ela murmurou se desvencilhando dos alunos que cercaram o local com os celulares na mão para filmar a cena.
“Você conhece o Aranha?”
“Ai que emoção deve ter sido ter ficado perto dele”.

ignorou todos os comentários e apressou os passos para entrar no prédio desviando dos celulares apontados em sua direção. Ela caminhou apressada até chegar nos corredores e procurar pelo seu armário.
Sua cabeça girava, havia visto o Homem Aranha duas vezes e ainda precisava pensar em como abordá–lo. Estar em seus braços e ser livrada de um atropelamento tinha deixado seus nervos à flor da pele. Em parte se sentia sim grata, no fim das contas voltaria para casa bem e ficaria com Mike. Tinha medo que algo acontecesse com ela e o mais novo ficasse sozinho.
Mas por outro lado, estar com o Aranha, nos braços dele enquanto era livrada do perigo, fez despertar as lembranças da noite que atormentavam .
Ainda podia sentir a sensação de pavor que as chamas traziam quando estava cercada por elas, lembrava do nariz arder e da substância que havia caído sobre ela. Lembrava do pai, a última vez que havia visto o sorriso dele.
O peito de começou a martelar no peito, a garganta fechou e ela piscou várias vezes para afastar as lágrimas. Tudo o que conseguia pensar era na voz do pai, no jeito que ele bagunçava seus cabelos e tirava o seu boné, como ele a chamava de campeã. E ela se sentia tão sozinha e desamparada, sem ninguém para bagunçar seu cabelo agora.
tentava ao máximo segurar o choro quando estava em casa, não queria que Mike visse. Não queria ser fraca. Mas tudo estava acumulando e nada se resolvia. Sentia que não tinha para onde correr.
! –Chamou Michelle ao lado da garota.
Ela não percebeu que a amiga tinha se aproximado, assustada não conseguiu nem mesmo secar as lágrimas.
Michelle a olhou preocupada.
–O que houve?
tentou usar as mangas da blusa em uma tentativa rápida de secar as lágrimas.
–Eu... –Ela murmurou, mas não conseguiu completar a frase. A voz falhou, o aperto na garganta continuava.
O sinal soou e os alunos começaram a entrar nas salas. virou o rosto para o armário para que ninguém visse ou ouvisse o soluço se formando em sua garganta. Seus pés estavam colados no chão não conseguia se mover.
... –Michelle murmurou baixinho, não sabia o que fazer. Nunca era muito boa em contato interpessoal, mas queria fazer algo pela amiga.
O corredor esvaziou. Do outro lado Peter e Ned estavam parados observando as duas.
Peter estava com os dedos inquietos cutucando a alça da mochila.
–Ela deve estar nervosa porque quase foi atropelada... –Ned comentou e Peter balançou a cabeça de forma negativa.
–Acho que tudo deve estar sendo difícil... –Ele murmurou baixinho.
Michelle fez uma coisa que nunca tinha feito antes. Ela largou a mochila no chão e abriu os braços de um jeito desajeitado, mas determinado.
–Olha, eu sou péssima nisso... –Ela avisou e puxou para o abraço.
encostou a cabeça no ombro da amiga, escondeu o rosto ali até que a respiração voltasse ao normal. Sentia os próprios pés de novo e tentou dar um passo para trás enquanto secava o rosto.
–Você é muita boa nisso para alguém que não dá abraços com frequência. – disse conseguindo tirar um sorriso mais descontraído da amiga.
–Podemos praticar mais. –Ela sussurrou como se fosse um segredo terrível. –Vamos, a aula de literatura pode ajudar. Eu escolhi uma poesia de Charles Baudelaire.
Michelle pegou a mochila que havia deixado no chão e a colocou de volta no ombro.
–Então vai ser uma leitura da segunda geração do romantismo com bastante angústia da literatura francesa. –Observou enquanto ela e Michelle entravam na sala. –Parece perfeito.
Elas entraram na sala e do outro lado do corredor, Ned cutucou Peter.
–Precisamos ir agora, tenta conversar com ela no almoço. –Ned disse enquanto ele e Peter seguiam para outra aula. Caminharam até a porta e viram o professor entretido demais no próprio celular para reclamar do atraso. –É bom que vocês podem compartilhar coisas mais profundas e se aproximar mais...
–Nós nos beijamos no fim de semana. –Peter confessou em voz baixa enquanto se sentava na carteira da frente e Ned ao seu lado arregalou os olhos e surpreso demais perdeu o equilíbrio e derrubou a mesa.
A sala inteira olhou para Ned e Peter estendeu a mão para ajudá–lo a se levantar.
–Cara, eu não acredito que meu OTP já teve o primeiro beijo! –Ned murmurou colocando a mão no próprio peito.
–Nem eu. –Peter falou para si mesmo enquanto voltava a se sentar e já começava olhar para o relógio desejando que a hora passasse logo.
Eles tiveram mais duas aulas antes do almoço e Peter se sentiu desligado em cada segundo. Felizmente já dominava os assuntos das aulas, já que em casa ele pesquisava muito de ciência. Antes de ser um super herói em seu tempo livre, ele costumava participar de feiras e concursos onde apresentava suas pesquisas.
Agora que sua atividades extracurriculares precisavam ser mantidas em segredo, ele se contentava em apenas não atrasar o dever de casa.
Na hora do almoço ele e Ned encontraram Michelle e na fila. Peter mal admitia para si mesmo, mas passou o dia pensando em como seria vê–la depois do que aconteceu no fim de semana.
Até aquele momento ele continuava a pensar na textura dos lábios dela. E por mais que não tivesse conseguido a parar de pensar nisso, naquele momento ele se forçaria a esquecer de tudo e focar só em saber se ela estava bem.
Quando ele e Ned se aproximaram, Michelle estava conversando com Betty à sua frente sobre algum mecanismo de espionagem do governo, Ned facilmente entrou no assunto. Mas Peter não queria conversar sobre mecanismos de controle da população, ele só queria olhar para .
Eles trocaram um olhar e Peter lentamente se moveu pela roda dos amigos até estar ao lado dela. As costas da mão dele roçaram na pela dela, os dedos se entrelaçaram ao dela de forma desordenada. Não era perfeito, mas encaixava.
Com o dedo indicador ele desenhou as letras na pele dela.
Y–O–U–O–K?
Ela balançou a cabeça depois de alguns instantes quando percebeu o padrão que ele estava desenhando.
Y–E–S
Ela desenhou na mão de Peter com o polegar fazendo a dele do braço dele se arrepiar.
Os amigos continuaram a conversa animada andando pela fila do almoço. e Peter pegaram suas bandejas e ele gentilmente segurou o braço dela a fazendo ficar parada com ele segurando um pouco a fila para os amigos fossem na frente e ele pudesse conversar com ela sem tocar no assunto delicado na frente de todo mundo.
–Hoje de manhã, você se machucou? –Ele murmurou mal prestando atenção na comida que estava colocando no prato. –Vi que o Homem–Aranha te salvou.
franziu o rosto.
–Salvar é uma palavra muito forte. –Ela disse alternando o olhar entre ele e o seu prato enquanto avançavam com a fila. –Eu estou bem... Só estava meio distraída...
–Muita coisa na cabeça? –Ele perguntou pensando em como ela parecia mais triste no começo do dia.
Mas a conversa tomou um rumo inesperado quando ela respondeu com um meio sorriso:
–Na verdade, só uma pessoa está na minha cabeça.
Peter fingiu que quase não derrubou a própria bandeja. Ele olhou ao redor e viu que os amigos haviam encontrado uma mesa.
–Quer escapar de novo? –Ele perguntou e os dois saíram para fora do refeitório.
Eles teriam corrido para uma sala vazia de novo, mas acharam um bom lugar nas escadas do prédio, como era almoço ninguém estava andando por ali. Eles se sentaram e de novo dividiram a comida.
estava com os cachos volumosos soltos, grandes brincos de argolas e com estrelas dançando em seus olhos mesmo que fosse dia.
–A propósito, também ando distraído. –Ele disse deixando o bolinho de chocolate para na bandeja dela. –E acredite em mim, eu quero falar sobre isso. Mas eu quero que você saiba que podemos falar de outras coisas também. Tipo, coisas que nos deixam mal.
Ela ergueu os olhos castanhos para ele. De novo o momento pareceu congelar, a luz do sol que entrava pelas janelas da escadaria parecia iluminar só os dois como um grande holofote que deixava todo o resto no escuro, porque naqueles momentos nada mais importava.
–É que às vezes eu me lembro do meu pai. – sussurrou. –E em casa eu não posso mostrar que estou triste, porque Michael precisa de mim. Então tem dias que... –Ela suspirou. –Fica difícil e tudo parece acumular.
Peter estendeu a mão para segurar a dela.
–Eu entendo. –Ele murmurou baixinho. –Eu me senti assim quando perdi o tio Ben.
Eles ficaram de mãos dadas como se estivessem segurando o coração um do outro.
–Quando seu tio se foi, você sentia que tudo parecia estar errado? Como se você estivesse vivendo a versão errada da sua própria vida. –Ela perguntou olhando para a mão de Peter e o contraste do tom de pele dos dois.
Ele balançou a cabeça concordando prestando atenção nos olhos dela analisando as mãos dos dois.
–Eu só não consigo deixar de pensar que foi tudo tão injusto. Tinha algo de errado na Oscorp naquele dia e eu nem consigo provar o que era. –Ela confessou em um tom baixo magoado.
Peter esticou o outro braço e a envolveu em um abraço enquanto a outra mão segurava a dela.
, preciso te contar uma coisa. Mas eu não sei como fazer isso. –Ele disse enquanto a mente vagava por aquela noite no prédio da Oscorp.
A primeira vez que havia visto Johnson.
A promessa que havia feito ao pai dela.
Ao arquivo amassado que ele guardou para devolver e não sabia como fazer isso.
Mas ele não teve a chance de continuar, porque o sinal tocou e em um instante a escada estava cheia de estudantes e eles precisaram levantar às pressas para sair do caminho e voltar para a aula.
Caminhando pelo corredor de volta para a sala, os dedos de desenharam nova letras na mão de Peter.
T–H–A–N–K–S

***

Naquela noite Peter entrou no seu quarto e buscou pelo arquivo que encontrou com na noite do incêndio. Os papéis haviam caído da jaqueta dela e se espalharam pelo ar enquanto ele carregava ela até o chão. Não havia dado tempo de recolher as folhas, precisava ser levada ao hospital.
Levou algumas horas até ele conseguir resgatar cada folha. Parecia um relatório, ele havia lido por cima porque imaginou que seria falta de educação bisbilhotar um item pessoal de um desconhecido. Pretendia devolver para ela assim que ela acordasse no hospital, mas ela recebeu alta antes do que ele previra.
Agora com suspeitando que havia algo de errado na morte do pai, Peter considerou analisar os arquivos.
E o que ele encontrou o fez se sentir muito estúpido por não ter suspeitado de algo antes. E agora eles tinham uma prova e ela era por direito de .
Peter olhou pela janela do seu quarto e em seguida para o uniforme dentro do seu guarda–roupa. Havia prometido à May que não sairia muito tarde, mas aquela era uma situação necessária. Ele já havia perdido tempo demais.
Então ele colocou o traje e saiu saltando pelos prédios de Nova York até chegar no arranha céu que ficava de frente para o conglomerado de prédios da Oscorp. Iria retomar todos os acontecimentos daquela noite e se havia algo de errado ele descobriria.
Mas Peter não o era o único fazendo uma investigação naquela noite. No terraço de um dos prédios, uma silhueta se escondia nas sombras observando de longe.
vigiava a rotina de segurança dos prédios há dias e havia montado um plano para possivelmente invadir o local sem ser notada. Estava observando a troca de turno de seguranças quando seu sentido lhe alertou que algo à alguns metros à sua esquerda havia se movido.
No arranha céu ao lado, o Homem Aranha se apoiava encarando a Oscorp.
Naquele momento passou a ter certeza de que ele sabia de algo.
–Eu vou fazer você me contar, Spider. –Ela sussurrou abaixando a máscara preta sobre o rosto. –Eu vou fazer você me contar tudo.


Capítulo 9

O dia começou com Michelle mostrando à a nova matéria do Clarim Diário.
“Figura encapuzada aterroriza moradores do Queens. Será mais um Homem Aranha?”
–Vivemos em uma era onde todo mundo pode fazer justiça desde que o rosto esteja coberto. -Michelle leu a frase para ela. deu a desculpa de que estava atrasada e precisava correr, se misturou em meio a multidão de alunos no corredor e fez o que sabia fazer de melhor: evitar todo mundo.
Na noite anterior havia esbarrado com um bandido em um dos becos do bairro. Ele não era seu foco, não tinha a tatuagem de um olho que procurava e não sabia quem na cidade tinha, então ela o ameaçou e o prendeu para que a polícia o pegasse quando chegasse no local.
Ela não viu que alguém havia registrado o momento. Mas como o local era pouco iluminado, não passava de uma sombra encapuzada na foto.
Sabendo que todos no colégio estariam discutindo sobre o “Shadow Lynx”, como chamava o Clarim, ela decidiu passar boa parte treinando no clube de luta. Achava engraçado que ninguém nem mesmo presumiu que Shadow Lynx fosse uma garota.
Do outro lado dos corredores de Midtown High, Peter estava tirando os livros do armário enquanto Ned lia pelo celular as novas notícias do Clarim Diário.
–Esse Shadow Lynx, você conhece? É amigo dos Vingadores? -Ned perguntou virando a tela do celular para Peter ver.
–Eu vi ela há alguns dias atrás. Eu não a conheço, mas ela veio com um papo estranho sobre eu ter que devolver alguma coisa. -Peter murmurou encarando a foto, a silhueta de Shadow Lynx parecia uma sombra felina.
–Cara e você esqueceu de comentar?! Eu ainda sou o Nerd da Cadeira! -Ned o lembrou sussurrando para que os alunos que passassem por eles não ouvissem.
–Eu estive um pouco distraído, acabei esquecendo. -Peter disse olhando pelo corredor involuntariamente já procurando por .
Ele na verdade achava que a Shadow Lynx estivesse o confundindo com outra pessoa. Ela não parecia uma vilã, afinal ela não deixava os bandidos escaparam. Mas ela também não parecia uma heroína como os Vingadores. E Peter não sabia direito como ele se encaixava nos propósitos dela.

***

O clube de luta era a atividade mais excêntrica e útil que poderia ter escolhido. Estudando, trabalhando meio período e ainda cuidando de Mike, ela nunca iria conseguir tempo ágil para treinar. Era bom que usasse uma parte do tempo que passava na escola para treinar suas aptidões físicas.
O problema era tentar se controlar. O treinador estava começando a notar que ela estava se aprimorando e uma coisa que ela não queria era participar de competições, seria desonesto se ela usasse seus poderes para competir.
Poderes ainda era uma palavra estranha. Ela pensava enquanto acertava o saco de pancadas, suas mãos estavam cobertas com as luvas do treino e ela seguia as instruções do treinador para melhorar seu soco.
Seu cabelo estava preso em duas tranças laterais e ela usava o uniforme da educação física. Mas ela não se sentia como a de sempre, sentia-se como a que estava com raiva do mundo por ser tão injusto. Queria socar alguém.
Queria socar toda a Oscorp, queria socar a madrasta Caroline por ter abandonado eles, queria socar a assistente social do governo que tentou três vezes entrar no apartamento para conversar e não atendeu a porta fingindo que não tinha gente em casa.
Todos os dias ela segurava as mãos de Michael e cantava para ele dormir, olhava para o irmão com medo de que fosse a última noite que eles passariam em casa juntos. Ela tinha medo que no dia seguinte o governo invadisse o apartamento e os levassem para abrigos onde viveriam separados.
sabia que era isso o que aconteceria. Era o que faziam com crianças sem pais. Mike até poderia ser adotado, mas ninguém queria adotar uma adolescente. Eles separariam os irmãos e não queria perder a única família que tinha.
O soco que ela deu no saco foi tão forte que a corda que o segurava arrebentou e ele voou pela quadra de treinamento.
Todos os olhares se viraram para e ela arregalou os olhos tão surpresa quanto os outros.
–A corda já devia estar gasta. -O treinador riu. –Até parece que a pequena teria toda essa força.
fechou as mãos em punhos. Aquele tipo de comentário ocorria com frequência no treino e sempre eram direcionados à ela por ser uma garota. Ela fingia que não ouvia, porque já estava com os nervos à flor da pele e era melhor descontar no saco e aprender algo com isso do que agredir um colega.
Se ela se metesse em encrenca iriam querer chamar os seus pais. E Johnson não tinha mais pais.
O sinal tocou e se apressou em pegar a bolsa e sair correndo para fora da escola. Queria evitar qualquer conversa naquele dia. Por mais maravilhosos que seus amigos eram, ela tinha que evitar distrações.
E céus, os lábios de Peter Parker eram um bela distração e ela só o tinha beijado uma vez.
Ela seguiu para o trabalho e quando entrou no mercado cumprimentou Giancarlo. Ele era muito gentil com ela, sempre separava pãezinhos para e não deixava que ela fizesse trabalho desnecessário.
deixou sua mochila debaixo do balcão e se preparou para atender a sua primeira cliente do período. A menina usava uma camisa da loja de doces do Senhor Lee, a loja ficava do outro lado da rua de frente para o mercado.
–Boa tarde, o Senhor Lee pediu para eu buscasse os pães que ele pediu para o Giancarlo mais cedo. -Disse a menina. Ela usava óculos grandes daqueles que eram sucesso na década de 80. O cabelo crespo estava preso como um afro puff e seu crachá estava escrito Delour.
–O Senhor Giancarlo está no fundo, à esquerda. É onde ficam os pães. - sorriu e a menina agradeceu e seguiu para lá.
Aproveitando que não havia ninguém por perto no momento, espiou o celular.
“Não te vi na aula hoje. Como você está?”
Ela sorriu com as mensagens de Peter.
“Senti sua falta.”
“Quer dizer, espero que não soe grudento ou desesperado. Mas Ned estava falando que Legolas não importante em O Senhor dos Anéis e aí eu pensei... Cara, é a única que me entende?!”

riu, era engraçado como podia ouvir em sua cabeça a voz de Peter dizendo aquelas palavras.
“Legolas é um dos melhores personagens de lotr.”
“Eu também senti a sua falta.”

Ela olhou para o relógio e tentou focar no trabalho, porque ao contrário de seus amigos ela tinha que se preocupar com as contas que precisava pagar, tinha que pensar em Mike e nela. Mas às vezes ela também só queria falar de coisas bobas com os amigos.
As horas sempre pareciam passar devagar, quando deu a hora de ir embora pegou a mochila, gritou uma despedida em italiano para Giancarlo o fazendo rir e correu pelas ruas do Queens à noite.
Ela havia avisado Mike de que chegaria tarde e tinha deixado a janta pronta. Ele provavelmente iria comer e ler o livro de física quântica que tinha pegado emprestado com a tia May.
correu pelas calçadas e virou em uma esquina, entrando no beco do quarteirão ela apertou a alça das bolsas nas costas e saltou pela escada de incêndio do prédio. Lá no fundo os gatos do quarteirão miavam enquanto Johnson subia até o terraço do prédio.
Lá em cima ela olhou para a vista da cidade de Nova York se estender no horizonte, havia um pequeno resquício da luz do sol. A noite já se erguia no céu quando ela cobriu o rosto com a máscara e se misturou nas sombras da cidade seguindo como uma felina para a Oscorp, sedenta por encontrar uma presa.

***

Peter encarava o conjunto de prédios da Oscorp. Seu traje ajudava a aumentar a visão e ele conseguia ter um relatório mais detalhado do que acontecia lá dentro. O andar onde ocorrera o incêndio continuava fechado, mas o curioso é que não pararam as operações nas áreas restantes do prédio. Peter achava que em casos assim deveria ocorrer uma perícia e o local deveria ficar fechado até terem certeza de o que o problema estava resolvido. Mas não parecia ser esse o caso.
Estava monitorando as atividades da Oscorp de longe fazia alguns dias, mas não havia encontrado nada de muito suspeito. Peter suspeitava que teria que entrar no local, mas não conseguiria usar o traje para invadir o sistema de segurança a menos que tivesse certeza de que não sairia do local de mãos vazias.
O terraço do prédio corporativo onde ele estava dava um bom campo de visão para o prédio da Oscorp e para toda a cidade também. Pelo lado direito lá no fundo ele conseguia reconhecer algumas construções do seu próprio bairro.
Lembrou que precisava responder a mensagem de depois com mais calma e também que havia prometido comprar ovos e leite para tia May quando voltasse para casa. Esperava que o mercado do Senhor Giancarlo estivesse aberto e quem sabe... poderia ainda estar no trabalho. Ou melhor não, já havia mandado mensagens, ia ser demais para um dia só.
Peter sentiu algo diferente no ar à sua volta, como se algo tivesse se movido mesmo que ele não estivesse olhando. Um arrepio percorreu seus braços e sua espinha, um aviso do seu sexta sentido o fez olhar para trás.
Nas sombras da noite, uma figura se erguia na ponta do terraço. Se equilibrando na beira da estrutura do prédio, a silhueta se aproximou devagar. Peter se colocou em posição.
–Olá! Eu sou o Homem Aranha, tudo bem? -Ele sempre achava que era uma boa ideia começar se apresentando e tentando estabelecer um diálogo.
Karen, seu sistema do traje avaliou a silhueta na frente deles.
Os padrões e movimentos indicam que são a mesma pessoa que você encontrou algumas semanas atrás, Peter.
Karen mostrou as imagens do encontro anterior em um beco do Queens, a pessoa que havia dito que ele tinha algo que pertencia a ela.
A silhueta se aproximou, devagar, como um guepardo se aproxima antes de agarrar a presa. Ela usava uma máscara que cobria toda a cabeça, roupas pretas e coturnos. Uma roupa improvisada, ele pode perceber, não era o traje de um super herói.
–Eu disse que você tem algo que é meu, Spider. Eu vim para buscar. -Ela sussurrou.
–Ajudaria se você me dissesse o que é, moça. -Ele tentou levantando as mãos tentando adotar uma postura mais amigável.
Ela parou a alguns centímetros de Peter, balançou a cabeça devagar de forma negativa.
–Eu não tenho tempo para fingir que você não sabe do que estamos falando! –Ela murmurou mais irritada. –Você está de olho na Oscorp há dias! Você sabe o que eles andam fazendo lá dentro. Está encobrindo eles?!
O coração de Peter acelerou enquanto ele tentava juntar todas as peças.
–Não estou encobrindo nada. O que você sabe da Oscorp?! -Ele perguntou enquanto seu cérebro buscava ver a imagem completa do quebra-cabeça.
–Engraçado... -Ela resmungou flexionando os joelhos e se preparando. –Eu iria perguntar a mesma coisa.
Ela se jogou contra ele, os corpos se chocaram. O Homem-Aranha segurou o braço direito dela e revidou com o esquerdo. Ela arfou com o impacto, mas não vacilou, prendeu as pernas dele com as dela e usou o peso do próprio corpo contra ela.
Ele caiu no chão com ela por cima dele.
–Eu preciso do relatório que estava comigo na noite do incêndio. Éramos só eu e você. Você o pegou. –Ela murmurou.
Ela prendia o corpo dele contra o chão e ele parou de lutar quando percebeu porque aquela voz lhe soava tão familiar.
Shadow Lynx tirou a máscara. O rosto de Johnson o encarava de volta, as tranças laterais moldavam seu rosto com o olhar urgente.
–Eu sou a garota que você tirou do incêndio, Spider. Eu tinha o relatório que ajudaria a incriminar o assassinato do meu pai! –Ela murmurou.
O coração de Peter se apertou diante do olhar desesperado e cheio de fúria dela. Ele ergueu a mão alguns centímetros e tocou a ponta da própria máscara, devagar ele a tirou.
Peter encarava o olhos de que analisavam cada centímetro de seu rosto como se não pudesse acreditar.
Ele viu quando raiva se transformou em surpresa e então em confusão para depois tristeza. Os olhos de se encheram de lágrimas e ele viu naquele exato momento toda a constelação de morrer naquele olhar.
Ela o soltou e saiu de cima dele. Engatinhou para longe com os olhos lacrimejando, ela piscava sem parar. Não queria chorar, não na frente dele.
–Não, não... -Ela murmurou. –Era você o tempo todo?!
–Desculpa, . Eu ia te contar... -Ele tentou se aproximar, mas ela se afastou de novo. –Eu não sabia que o relatório era importante até alguns dias atrás, por isso passei a observar o que fazem no prédio.
–Era você o tempo todo?! -Ela murmurou. –Você sabia de tudo e...
–Eu sinto muito mesmo, . –Peter sussurrou vendo as lágrimas dela escorrendo pelo seu rosto quando ela não conseguia mais segurá-las.
–Quando eu cheguei em Midtown, na primeira vez que você falou comigo, você já sabia... -Ela disse secando o rosto.
–Eu queria saber se estava bem, eu não te conhecia, mas sabia que seu pai se importava com você... -Ele disse vacilante.
Aquelas palavras fizeram as mãos dela tremer.
–Então você se aproximou só para diminuir a culpa que estava assistindo? –Ela soou magoada, decepcionada.
Peter não tinha como negar por completo. O sentimento de culpa e responsabilidade o impulsionaram a se aproximar, mas a admiração e carinho foi o que fortaleceu a vontade de estar por perto dela.
–Eu não sabia como contar, mas eu estava planejando como fazer e como ajudar com o caso da Oscorp. -Ele disse desesperadamente querendo se aproximar dela, roçar as pontas do dedo na mão dela.
Mas estava magoada, muito distante mesmo estando no mesmo terraço que ele. O chão onde estavam sentados pareciam instável como uma corda bamba e o céu de Nova York não tinha estrelas naquela noite.
–Eu preciso do relatório. -Ela disse se levantando, não conseguia mais olhar no rosto de Peter naquele momento. –Não posso deixar que tratem a morte do meu pai como um acidente.
–Eu quero ajudar. -Peter disse olhando para o rosto dela sem esconder as próprias lágrimas.
Ela balançou a cabeça de forma negativa, devagar.
–Acho que tem coisas que ninguém pode ajudar. -Ela sussurrou de volta, os dedos colados no chão do terraço. –Por mais que eu prove que não foi um acidente e eu e Mike estaremos sem um guardião legal, ainda podem nos separar.
Peter piscou as lágrimas para longe tentando pensar direito.
–O que quer dizer? E sua madrasta?
–Ela foi embora assim que eu saí do hospital. - esticou a mão para alcançar a máscara que tinha deixado de lado. –Eu e Mike estamos sozinhos há meses e ninguém pode saber se não vamos ser separados em abrigos.
Peter balançou a cabeça e se levantou.
–Meu Deus, . Meu Deus... -Ele sussurrou pensando no que poderiam fazer, mas a verdade era que nenhum menor de idade poderia fazer algo com aquilo.
–Peter, eu não tenho muito tempo até a assistência social tirar eu e Mike daqui. Eu preciso do relatório. –Ela disse colocando a máscara de volta. –Esse segredo não era só seu para você manter pra si.
–Eu sei. -Ele disse colocando a máscara de volta. –Eu guardei o arquivo no meu quarto. Quer carona?
–Definitivamente não. -Ela disse voltando para a beirada do terraço. –Eu vou pela sombra.
E Shadow Lynx saltou para as sombras das ruas de Nova York.


Capítulo 10

Quando Peter entrou no quarto, ele foi direto para a gaveta onde tinha guardado o relatório. Tirou a máscara e a jogou sobre a cama enquanto reunia os papéis amassados.
Ouviu um toque em sua janela e quando se virou, viu que estava do lado de fora apoiada na escada de incêndio.
–Peguei o relatório. -Ele disse dando espaço para ela entrar, mas apenas estendeu a mão.
Ele entregou o relatório sentindo uma repentina tristeza ao perceber como ela já estava o evitando.
–O que você vai fazer, ? Eu queria poder ajudar... –Ele murmurou.
–Eu não sei o que fazer... –Disse sincera enquanto os olhos percorriam as folhas do arquivo. –Eu não vou conseguir escapar da assistência social de qualquer jeito. Mas espero ter provas para explicar o que houve com o meu pai.
Toda vez que os olhares se encontravam, desviava rapidamente.
–Eu espero conseguir fazer isso chegar até a Lady de Aço. Ela está liderando um plano de investigação contra experimentos em humanos, queria que ela soubesse da minha história. –Ela sussurrou como se fosse sua última esperança. –Além do relatório, eu posso ser uma outra prova. Meus sentidos e aptidões físicas mudaram depois que entrei em contato com as substâncias depois do incêndio.
–Ah... Então foi assim... -Peter murmurou. –Olha se quiser algumas dicas para treinar seus poderes, eu posso...
–Eu preciso ir agora. Mike ficou a noite sozinho, ele está me esperando. –Ela disse se apressando em sair do parapeito da janela do quarto dele.
Cobriu o rosto com a máscara e se foi com o relatório em mãos.
Peter ainda ficou um tempo parado encarando a janela sentindo-se nada mais além de impotente.
Pensou no quanto era forte e em como estava tentando resolver tudo sozinha. Pensou em como ele errou tentando protegê-la como se ela fosse indefesa, ao invés de confiar no poder de escolha dela.
Foi quando ele lembrou de .
Ele pegou o celular sobre a cama e digitou o segundo número na lista de emergência.
Chamada de vídeo para Vovó Stark.
atendeu. Seus olhos encararam a tela como se estivesse olhando diretamente para Peter.
O que você aprontou? –Ela perguntou logo.
Peter fingiu estar indignado.
–O que te leva a pensar isso, Senhorita Stark? Eu tenho me comportado, Senhorita Stark. Como a Senhorita está?
–Você definitivamente andou aprontando! Disse “senhorita” vezes demais para alguém inocente. –Ela disse com um sorriso doce.
–É, eu preciso de ajuda. Mas é meio complicado. –Ele murmurou sem jeito. –Tenho essa amiga de quem eu gosto muito, mas as coisas não parecem dar certo. Já sentiu como se a gravidade sempre estivesse tentando separar você de alguém.
arqueou as sobrancelhas impressionada com a velocidade com que Peter falava quando estava nervoso e mais ainda chocada com a profundidade daquilo.
Peter se sentou na cama segurando o telefone e vendo o olhar compreensivo de .
Quando ela respondeu estava pensando em Steve e Bucky.
–Sim, já senti isso duas vezes. E ainda estou tentando descobrir como lutar contra a gravidade.
–E como você sabe que está fazendo certo?
Ela pensou por um instante, sua expressão era doce e jovem, mas ela tinha aquela áurea de uma donzela que havia vivido mil anos.
–A gente sabe que é certo, porque quando estamos com essa pessoa nos sentimos em casa. –Ela disse por fim.
Peter balançou a cabeça de forma positiva, havia entendido bem.
–Tem outra coisa, Senhorita Stark. –Ele continuou, coçou a nuca um pouco nervoso. –Essa minha amiga especial descobriu que as Indústrias Oscorp anda fazendo experimentos em humanos. Você consegue checar um caso assim?
arregalou os olhos por um instante e então voltou a expressão serena e acolhedora de sempre.
–Claro que sim, Peter. Me manda o contato da Senhorita Amiga Especial e falarei com ela amanhã. – disse e quando ela balançou a cabeça o cabelo caiu sobre o rosto. –E na próxima a gente pode se encontrar pessoalmente. Chamarei Tony para a gente tomar um chá.
–Obrigado, Senhorita Stark. –Ele desligou rindo sabendo que Tony odiava chá e que provavelmente ele mandaria uma armadura em seu lugar.
Peter se jogou na cama olhando o teto do quarto pensando em como se sentia em casa quando estava por perto.

***

De manhã, quando acessou a mensagem de Peter, não estava esperando que a amiga especial do garoto estivesse em uma situação delicada. A primeira informação que o seu sistema localizou foi que às 8hrs da manhã, Johnson e o irmão Michael haviam sido retirados de sua residência e estavam agora em um abrigo do Brooklyn.
Os irmãos estavam sem um maior de idade responsável e por não ter nenhum familiar próximo, o governo cuidaria da tutela deles.
suspirou pensando nas possibilidades do que poderia acontecer. A Oscorp estava no seu radar há meses e agora parecia que tinha finalmente encontrado uma prova que moveria uma investigação Federal. Mas se e o irmão ficassem sozinhos ou fossem separados, eles correriam riscos.
pegou o celular e telefonou para Alicia Colleman, sua assessora jurídica. Alicia iria querer ter conhecimento sobre o caso.
–Bom dia, Alicia. –Ela disse quando a amiga atendeu. –O que acha de começar o dia derrubando uma corporação?
Como o esperado, Alicia topou e lhe passou o endereço do abrigo.
Ela deixou um recado para Tony informando que passaria parte do dia ocupada e pegou a bolsa para sair.
Infelizmente não podia usar o traje para situações convencionais, então pegou um táxi até o Abbott House no Brooklyn onde e Mike estavam.
Era como uma enorme casa, tinha um pequeno jardim na entrada e era possível ouvir crianças brincando nos fundos. Os abrigos geralmente eram construídos como uma casa comum para dar a sensação de familiaridade para as crianças.
Ela viu Alicia se aproximar pela calçada. Salto alto, óculos escuro, saia lápis, uma postura impecável. A pele negra sob o sol fraco da manhã, segurava a pasta e a bolsa como se fossem armas, era fácil perceber que Alicia era formada em Direito, ela tinha a expressão de alguém que estava sempre pronta para dizer “Eu sei os meus direitos”.
–Bom dia, Senhorita Stark. -Ela cumprimentou tirando os óculos.
–Bom dia, Senhorita Colleman. Conseguiu verificar o relatório que te enviei?
–Sim, consegui checar as informações no caminho. –Ela disse tomando a frente para entrar no jardim enquanto a seguia. –Estou impressionada com o que essa garota tem feito. Cuidar do irmão sozinha e ainda buscar provas de que o incêndio não foi acidente? Podemos esperar uma garota durona.
–Eu amo as duronas. – comentou enquanto subiam as escadas da entrada.
A porta estava aberta e elas entraram. Onde deveria ser o hall de entrada de uma casa foi transformado em uma pequena recepção.
A moça no balcão estava ao telefone, mas desligou assim que as viu.
— Procuramos por Johnson, estamos aqui para oferecer à ela nossa assistência jurídica. —Alicia disse à moça no balcão, apresentou a ela uma carta de identificação da Ordem. —Aqui estão minhas credenciais. Soube que a Senhorita Johnson não possui um guardião legal, então acredito que eu possa oferecer meus serviços e verificar os interesses dela.
A recepcionista averiguou a identificação de Alicia e se levantou fazendo um gesto para que a seguissem.
—Antes preciso que verifiquem com a coordenadora do abrigo, ela pode lhes informar qual a situação dos irmãos Johnson. —Ela disse subindo as escadas, e Alicia a acompanharam.
Na primeira porta à esquerda da escadaria tinha uma sala e a porta estava aberta. A recepcionista tocou uma vez na porta e uma mulher de cabelos cinzas que estava atrás de uma mesa de escritório, ergueu o olhar e fez um sinal para que entrassem.
A mulher ajeitou os óculos no rosto e observou as duas mulheres à sua frente.
—Pois não?
—Eu sou Alicia Colleman, assistente jurídica. —Alicia ergueu a mão para a cumprimentar. Em seguida fez o mesmo.
—Eu sou Stark, viemos visitar Johnson e seu irmão Michael. Achamos que na situação deles iriam querer assistência jurídica.
—Eu sou Margareth, coordenadora do abrigo. —Ela disse ajeitando os óculos e se colocando de pé. —Os irmãos Johnson foram trazidos nesta manhã pela assistência social. Mandamos vários comunicados e nenhum responsável comparecia, queríamos acompanhar como estava o processo da guarda já que eles deveriam estar com a madrasta. Mas descobrimos que a mulher deixou as crianças e os dois tem se virado sozinhos desde então.
Alicia balançou a cabeça afirmativamente como se compreendesse a gravidade legal do caso.
—Neste caso, a tutela delas está sob responsabilidade do governo, nós supomos. —Comentou e Margareth afirmou positivamente. —Há a possibilidade deles serem adotados?
—Sim, os irmãos estão já incluídos no nosso programa para que sejam reintegrados em uma família.
—Mas nós sabemos que é muito mais difícil que um adolescente na idade de seja adotado. As famílias preferem crianças menores como Michael. Existe a possibilidade dos irmãos serem separados? —Alicia perguntou pontualmente fazendo Margareth ajeitar o terno antes de responder.
—Nossa prioridade é manter os irmãos juntos, mas eventualmente isso pode sim ocorrer. —Ela disse por fim.
suspirou e afirmou com a cabeça.
—Cremos que não seja a vontade deles e então gostaríamos de falar diretamente com as crianças para ver as possibilidades. —Afirmou .
—Hum, vocês possuem algum cliente que esteja interessado em adotar os Johnson? —Perguntou Margareth.
Stark olhou para Alicia buscando algo que sua mente persuasiva de advogada poderia responder naquele momento.
—Só posso revelar se for a vontade da minha cliente, . Por isso, primeiro precisamos verificar com ela. —Alicia exibiu um sorriso seguro e imitou o sorriso como se soubesse desde o princípio que Alicia conseguiria.
—Sim, é claro. Eu entendo. —Ela saiu de trás da mesa e andou para fora da sala. —Vou pedir que aguardem na sala de estar lá embaixo, vou avisar e Michael.
e Alicia voltaram a descer as escadas e entraram na sala de estar que era adaptada. Tinha sofás, uma mesinha no centro e várias prateleiras com brinquedos e livros infantis. Na televisão passava algum desenho animado.
Alicia se sentou em uma poltrona com a postura perfeita e se sentou no sofá ao lado. Deixaram as bolsas sobre o sofá e quando pensou em algo para dizer, entrou na sala.
Ela sabia que era por causa do cabelo crespo e volumoso que estava solto moldando seu rosto. Ela mantinha a face erguida quando entrou na sala mostrando que apesar de jovem era corajosa como os adultos nunca esperavam que os mais novos fossem.
segurava a mão de Michael que estava atrás dela espiando pelas mangas do casaco dela.
—Oh não, . Chamaram a Lady de Aço! —Então ele se colocou na frente da irmã e cruzou os braços fazendo as trancinhas balançarem. —Não podem prender a por estar mentindo! Ela estava protegendo a gente!
e Alicia não puderam evitar sorrir, mas continuava impassiva. Ela colocou as mãos sobre os ombros do irmão e como se eles tivessem a própria linguagem particular, Michael entendeu e relaxou a postura.
—Eu sou e este é meu irmão Michael. —Ela disse sem se aproximar. —Me disseram que estavam me procurando.
e Alicia se levantaram.
, recebi uma ligação de Peter Parker. Ele disse que você tinha informações importantes e que queria passá—las para mim.
—Sim, mas tem que ser do meu jeito. —Ela pontuou.
—Então nos conte como seria do seu jeito. —Sugeriu Alicia.
olhou para a .
—Nada de white savior. Eu quero decidir como vamos expor a Oscorp e como eu e o meu irmão vamos viver.
—Isso mesmo! —Michael concordou com veemência. —E isso inclui nada de abrigos! A comida é boa, mas as camas são ruins!
—Parece uma boa forma de começarmos. —Concordou Alicia. —Permita—me apresentar as opções. Eu sou Alicia Colleman e gostaria de representar vocês juridicamente.
—Juridicamente? Estamos fritos, ? —Mike murmurou para a irmã e passou os dedos pelas trancinhas dele.
—Não, está tudo bem. Elas querem conversar e vamos ver se podemos ajudá—las. — disse guiando Mike para o sofá ao lado de .
Elas se sentaram e Alicia abriu a pasta que tinha para rever as anotações.
—Eu acredito que o incêndio na Oscorp não tenha sido um acidente. Acredito que havia coisas das quais eles queriam se livrar, eu não deveria estar lá naquela noite. — começou enquanto acariciava a mão de Michael. —Eu fiquei presa em uma sala com produtos químicos, amostras de componentes alterados. Também encontrei relatórios sobre estudos feitos em humanos, consegui guardar um comigo.
estendeu a mão e colocou sobre as deles. respirou fundo para continuar a contar.
—Naquela noite eu entrei em contato com algum componente das amostras e acho que isso teve efeitos colaterais. Fiquei dias no hospital e achavam que era por conta da quantidade de fumaça inalada. —Ao dizer isso olhou nos olhos delas. —Algo mudou em mim. Eu enxergo melhor na pouca luz, tenho reflexos mais rápidos, consigo correr e saltar bem melhor. Bem melhor mesmo.
—Se aquilo que tinha no laboratório deles mudou seu DNA, seu metabolismo e qualquer coisa no seu corpo, isso faz de você uma prova também. — murmurou pensativa. —Alicia, se a Oscorp descobrir podem querer vir atrás dela. Não podem saber que ela é resultada daquelas coisas terríveis que estavam testando.
Alicia passou as mãos pelos cabelos negros compridos e seus olhos escuros olharam para com firmeza.
, alguém sabe o que você pode fazer?
—Só o Peter e agora vocês. —Michael apertou a mão da irmã. Apesar de ambos serem jovens já haviam conhecido muita dor na vida. —Mas eu... Eu consegui um nome de um dos criminosos naquela noite e para conseguir a informação eu usei essas habilidades...
A voz de falhou, Alicia suspirou e pressionou a têmpora do rosto com os dedos.
—Então você saiu pelas ruas de Nova York ameaçando criminosos até conseguir um nome? — recapitulou. —O que significa que boa parte dos ladrões da cidade sabe que tem uma garota com super habilidades por aí procurando um cara específico.
—Então a Oscorp já pode muito bem saber que tem alguém.
—Se eles vierem, a gente dá um jeito neles. —Garantiu Mike confiante.
—Mas vocês não precisam passar por tudo isso sozinhos. —Assegurou , ela colocou a mão sobre o ombro de . —Há tanta coisa sobre vocês, todo esse peso e preocupações. Não precisam carregar isso sozinhos.
Os olhos de encheram de lágrimas e ela mordeu os lábios para não chorar.
—Tudo bem se estiver mal, . Demonstrar isso não é fraqueza. — sussurrou para ela. —Reconhecer nossa própria dor é coragem, é força. A dor precisa ser sentida.
Então pela primeira vez, Johnson se permitiu chorar livremente na frente de outra pessoa. a abraçou e ela soluçou com o rosto enterrado em seu casaco sem se lembrar bem quando foi a última vez que havia recebido um abraço tão maternal.
—Vamos pensar em formas de deixar vocês em um lugar seguro, a não ser que tenham gostado do abrigo. —Sugeriu Alicia, afinal os abrigos poderiam sim ser locais acolhedores para crianças.
—Aqui é legal, de verdade. Mas não parece com nossa casa. —Mike disse afagando a mão da irmã. —E não quero que os adultos tentem nos adotar.
—Certo, temos algumas outras opções. Mas pode levar alguns dias. —Alicia disse separando alguns papéis e entregando para Michael enquanto afagava as costas de . —Depois que escolherem, vou tentar agilizar tudo.
—Passaram por muita coisa por hoje, acho que deveriam descansar e pensar juntos no que querem fazer. Dá pra notar que vocês tomam as decisões em família. — sorriu para os dois e deu um beijo na testa de cada um. Depois foi a vez de Alicia.
Michael achou que ninguém no mundo tinha uma pele tão linda como a dela, escura como as noites de verão.
—Vamos pedir que vocês fiquem alguns dias sem ir para a escola para organizar as ideias e ter um tempo pra vocês. —Alicia deu uma piscadinha para os dois. —Voltaremos amanhã.
—Obrigada Srta. Colleman. Obrigada Srta. Stark. Até amanhã. —Os Johnson disseram juntos.
E quando elas saíram da sala, Mike murmurou:
—Que droga, eu gosto de ir para a escola.
E isso fez rir e abraçar o irmão rolando com ele pelo sofá.

***

Fazia dias que não ia para a aula e o apartamento dos Johnson estava completamente vazio. A ansiedade e preocupação teriam consumido Peter se Alicia Colleman não tivesse ligado para avisar que e Michael estavam bem.
Ele cogitou em ir visitá—los na Abbott House, mas Alicia havia sido bem firme quando disse que eles precisavam de um tempo e Peter precisava respeitar o espaço deles.
Mas sentia saudade e seus amigos sempre perguntavam se ele tinha notícias dela. Todo mundo também reparava que ele andava um pouco entristecido e nem mesmo Flash estava enchendo o seu saco.
O dia da apresentação chegou e ele estava triste porque havia feito o trabalho com ele e não estava na escola de novo. Ele havia preparado tudo tendo ela como inspiração.
E por mais que olhasse ao redor pela sala de aula procurando por ela, sabia que ela não iria.
–Parker. –Chamou a professora. –Hoje é o seu dia de apresentação, certo?
Peter acenou com a cabeça e seguiu para a frente da sala. Ele segurava o papel com suas anotações mesmo que não precisasse delas, havia repetido as palavras tantas vezes que tinha decorado cada vírgula.
Ele olhou para os seus colegas de classe. Ned fez um sinal de positivo para o encorajar e Michelle disse:
–Quebre a perna, Peter!
O que na verdade significava “bom show ou boa sorte”.
Ele olhou para a cadeira ao lado dele. Ainda vazia.
Fazia quatro dias e nenhum sinal de . Ele estava começando a achar que nunca a veria de novo e se a visse, provavelmente ela não o queria mais como amigo.
Ele gesticulou para a professora apagar as luzes e acionar o projetor que ele havia preparado para a apresentação.
No escuro na sala o projetor iluminou no ar milhares de estrelas, elas se moviam entre os alunos como se estivessem orbitando pela sala.
Suspiros e exclamações escaparam de todo mundo. Peter estava no centro das estrelas e quando ele apontou para a sua direita para começar a apresentação, a porta da sala se abriu e mais uma constelação se juntou a ele.
entrou devagar e fechou a porta no escuro, seguiu de cabeça baixa até o seu lugar e se sentou quando olhou pela sala arquejou impressionada até os seus olhos encontrarem os de Peter.
Fazia dias que ele não tinha notícias e ela finalmente estava lá e parecia bem na medida do possível. E no meio de toda aquela infinita galáxia projetada no escuro da sala, ela ainda era a coisa mais bonita que ele podia ver.
–Aqui à direita podemos ver a constelação Triângulo do Verão. -Ele apontou para as três estrelas que formavam um triângulo. -As duas de baixo são Vega e Altair, a de cima e menos conhecida é Deneb.
Os alunos acompanhavam as estrelas que Peter havia indicado, tudo estava refletindo nos olhos deles e nos olhos de também.
–Na história do Tanabata, Veja é representada por Orihime uma princesa filha do Imperador que tecia as melhores vestes dos deuses. Os deuses acreditavam que deveriam abençoar a princesa Orihime com um bom marido. –Peter contou lembrando de todos os contos que ele e compartilhavam, lembrou de todas as vezes que ela sacudia seu universo.
–Eles escolheram o pescador Hikoboshi que representa a estrela Altair. Hikoboshi um criador de gado que fornecia aos deuses os melhores alimentos e vivia na margem do rio. –Peter contou fazendo Ned colocar a mão no peito. A professora estava sorrindo e até Michelle não parecia entediada.
–Eles se apaixonaram à primeira vista, se casaram e foram felizes para sempre. Mas... Esse não foi o fim da história. –Os colegas de Peter ficaram sobressaltados, mas o que o deixou animado foi o sorriso de escapando pelos seus lábios. –Eles estavam tão felizes juntos que deixaram de tecer as roupas e dar alimento para os deuses, porque não se desgrudavam.
Ned suspirou alto.
Flash Thompson estava de olhos arregalados.
–Os deuses ficaram sem kimono para vestir e o rebanho do céu ficou doente. –Peter disse mais baixo deixando os colegas mais apreensivos. Ele ignorou suas mãos que suavam de nervoso. –Como castigos, decidiram que Orihime e Hikoboshi iriam morar separados. Orihime moraria de um lado do rio e Hikoboshi do outro.
Alguns lamentos foram ouvidos e Peter podia jurar que até Flash parecia decepcionado por mais que tentasse disfarçar.
–Os deuses se arrependeram ao ver a tristeza dos dois, então permitiram que os dois se encontrassem uma vez ao ano. –Peter indicou as estrelas novamente na imagem do projetor e amplificou a imagem. -Aqui, entre as estrelas de Orihime e Hikoboshi está a via láctea, ela é o rio que separa o casal. A terceira estrela do triângulo, Deneb, é a ponte que conecta o casal através do rio que é a nossa galáxia.
Ned começou a bater palmas e a turma o seguiu, riu com a empolgação dele.
–A proposta do trabalho era tentar entender porquê as lendas e contos têm um papel tão importante mesmo com o avanço da ciência e tecnologia. –Completou Peter caminhando devagar pelas mesas dos colegas. –Elas são importante porque nos lembram no que acreditamos. Todos nós somos estrelas e precisamos de algo que nos conecte através do nosso universo. Em uma galáxia tão grande como a nossa, uma estrela pode nos levar de volta pra casa.
Peter parou de frente para a mesa de , eles olharam na galáxia refletida nos olhos um do outro.
–Estou aqui para dizer e sem máscaras para nos esconder dessa vez: todas as estrelas me levam até você.
A sala explodiu em assobios e palmas.
ficou sem graça, mas mesmo assim segurou a mão de Peter e o puxou para a cadeira ao seu lado.
–Desculpa. –Ela sussurrou. –Eu sinto muito.–Mas foi eu quem escondi as coisas de você.
–Mas eu também descontei minha raiva em você. Eu queria alguém para culpar, mas você só estava tentando fazer a coisa certa. –Ela segurou a mão dele e desenhou em sua pele as letras.
S-O-R-R-Y
—Parabéns, Peter! —Disse a professora depois de acender as luzes e se colocar novamente na frente da sala. —E parabéns também a que preparou a parte teórica. Fico muito feliz que tenha conseguido ver a apresentação.
A professora citou outros nomes que deveriam se apresentar logo em seguida, mas Peter não prestou atenção em nenhum deles por quê entrelaçou os dedos nos dele.
—Então, quer escapar na hora do almoço? —Ele sussurrou.
—Quero ver Ned e Michelle, preciso explicar o que aconteceu. —Ela sussurrou de volta e o olhou nos olhos com aquele brilho esplêndido em forma de íris castanha.
Peter suspirou. Como sentiu falta daquilo.
—Mas preciso ir na mercearia do Sr. Giancarlo mais tarde, você quer ir comigo?
—Claro. —Peter disse sem evitar um sorriso.
-S-E-N-T-I-S-U-A-F-A-L-T-A
Ele desenhou cada letra com o seu toque na pele dela e não soltou sua mão até o final da aula.


Capítulo 11

ERA A PRIMEIRA VEZ QUE saía com os amigos para comer depois da aula. Eles sempre iam em uma lanchonete perto da estação de metrô enquanto ela saía correndo para o trabalho. Mas agora não precisava trabalhar, poderia fazer as coisas com calma e ainda passaria todo o resto do dia com Michael.
- Terra para . - Disse Michelle jogando uma batata frita na amiga.
sorriu e tomou um gole do milkshake de morango.
- Então agora você e Mike estão na Abbott House? - Ned perguntou e sinalizou para Michelle limpar a maionese que sujou a bochecha dela.
- Por enquanto sim. Agora Alicia que é minha advogada tem a nossa tutela legal, não vamos ficar a mercê do governo. - respondeu sentindo um alívio a invadir assim que terminou o lanche. - Eu dei a ideia de tentar uma bolsa para um programa especial. Sabem a Fundação Futuro? Vou fazer a avaliação no próximo semestre.
Todos arregalaram os olhos. Alface caiu da boca de Michelle.
- Fundação Futuro é aquele instituto para jovens especiais que querem fazer carreira na ciência. Foi fundado pelos astronautas Reed Richards e Adeline Rudolph? - Ned gaguejou ao citar os nomes.
Peter exibia um sorrisinho orgulhoso.
- Mas se você vai entrar para a Fundação, e o seu irmão? - Michelle franziu a testa.
- Ele recebeu uma carta o convidando a fazer a matrícula. - E foi a vez de sorrir orgulhosa. - Meu irmão Mike é um gênio. Ele ganhou a feira de ciências do fundamental por três anos consecutivos. Agora eu preciso estudar para o alcançar e conseguir passar na avaliação.
Ned assobiou impressionado.
- Sério, cara. O menino é um mini gênio, bonito e já é mais descolado do que nós jamais seremos. - Acrescentou Peter fazendo Michelle rir.
A sensação de leveza era uma novidade para que frequentemente se sentia sufocada e presa. Sempre se preocupava com as contas para pagar, com a comida que não podia faltar, com Mike para proteger. E naquele momento em que ela só precisava ser uma garota comendo com os seus amigos, ela se sentia até estranha.
Bem, mas estranha. Como se tivesse esquecido de alguma coisa quando na verdade só tinha sido privada de viver a vida como uma adolescente deveria.
- Vamos pedir mais batata, vocês querem alguma coisa? - Michelle disse se levantando e pegando a bandeja.
Quando negou, ela se levantou indo até o balcão fazer um novo pedido e Ned foi encher os refis de refrigerante.
- ... - Peter chamou em um tom de voz mais baixo. - Como ficou o lance com a Oscorp?
- Alicia disse que começaram uma investigação federal. A Oscorp não quer que venha ao público, mas não vão conseguir manter em segredo por muito tempo. - sussurrou se inclinando na direção dele. Ela usava longas tranças que iam até a cintura. - Por enquanto minha identidade está em segredo, mas se o caso for ao tribunal, bem... Nem tudo se pode fazer mascarado.
Peter assentiu pensativo.
- Estava pensando... Quer treinar comigo?
o olhou curiosa.
- Tipo, num esquema super herói?

Ele balançou a cabeça afirmativamente.
- Acho que sim... - Ela disse com um meio sorriso. - Mas eu não vou ser a ajudante do herói.
Ele sorriu e por baixo da mesa da lanchonete, os dedos se entrelaçaram. Encaixavam perfeitamente bem.


Cena Pós-créditos

6 MESES DEPOIS

O ÔNIBUS ESCOLAR ESTAVA completamente imóvel há pelo menos quinze minutos. Johnson estranhou que houvesse algum tipo de congestionamento a caminho da escola, mas Nova York era cheia de surpresas.
O semestre estava chegando ao fim e ela ainda aguardava a carta com a resposta da Fundação Futuro. A possibilidade de mudar de escola agora lhe parecia bem dolorosa. Ali naquele ônibus ouvindo as teorias de Ned, os comentários sobre filósofos alemães que Michelle gostava de citar, e principalmente o meio sorriso de Peter; lhe faziam não querer crescer nunca.
- NOSSA, OLHA AQUILO. - Alguém berrou do assento na frente.
Todos os alunos correram para a janela do veículo. Longe, perto da ponte do Brooklyn havia algum objeto pairando sobre a cidade. Maior que um prédio, tinha o formato de um anel e não era difícil perceber que aquilo não era uma máquina feita por humanos.
- Ned! Preciso de cobertura. - Sussurrou Peter e então ele olhou para . - Volto a tempo do nosso encontro à noite.
Ela piscou um dos olhos para ele e eles trocaram um rápido beijo.
- OLHA O HOMEM DE FERRO! -Berrou Ned mantendo a atenção de todos na janela à direita.
Peter saiu pela janela do lado oposto e foi em direção ao objeto voador gigante. Ele colocou a máscara no caminho enquanto observava de dentro do ônibus.
O celular de tocou e ela atendeu sem olhar qual era o contato. Michael também estava a caminho da escola e ela temia que o irmão estivesse na zona de perigo.
- , você está na região?
Era a voz de uma mulher, lhe pareceu familiar. Mas havia sons de pancadas no fundo e ela não conseguia identificar quem era.
- Quem está falando?
- Ora essa, . Aqui é Stark! -Ela disse em um tom impaciente. - Aqui é a Lady de Aço, garota. Você está na região?
- Sim! Estou na quinta avenida que cruza com a bourbon! Dentro de um ônibus escolar. -Ela respondeu olhando em direção ao grande anel à distância.
- Alicia já está atrás de Michael, não se preocupe. Mas precisamos de ajuda. - Murmurou e ela sibilou como se estivesse fazendo um grande esforço físico. - Fique no teto do ônibus, eu e Tony mandaremos o seu equipamento.
E simples assim, desligou.
O coração de acelerou e ela se levantou passando pelos bancos até chegar a Ned.
Os alunos já pareciam perder o interesse no grande objeto alienígena lá fora.
- Preciso de uma distração. -Ela disse em tom apressado.
- Mas o Peter já está voltando?! - Ele perguntou confuso.
o pegou pelo colarinho da camisa.
- Eu preciso de uma distração AGORA.
- GALERA, AQUILO NO CÉU É O THOR?! -Ele berrou fazendo todo mundo imediatamente correr de volta para a janela.
Menos Michelle que segurava um livro do Foucault e observou enquanto subia em um dos bancos e saía pela abertura do teto solar do veículo.

Ela se colocou em pé sobre o teto do ônibus sentindo o sol fraco de Nova York iluminar as fileiras de carros parados. Um drone se aproximou pelo céu e deixou na frente de uma mala.
Ela agarrou a bolsa e desceu do veículo, correu pelos carros parados no congestionamento e alcançou o beco mais próximo.
se escondeu atrás de uma caçamba de lixo e abriu a mala. Ela ofegou surpresa ao ver um traje completamente novo.
Ele era todo preto, com finas linhas roxas nos braços e pernas. Na bolsa também havia um fone comunicador, ela o colocou e começou a trocar de roupa.
- Senhorita Stark? Pra onde eu devo ir? -Ela disse enquanto fechava o macacão e encarava impressionada sua máscara com orelhas felinas.
- Oi, pentelha! Aqui é o Tony Stark. - Disse uma voz mais grave.O grande anel emitiu um raio de luz que literalmente sugou o orc para dentro da nave. Bem, presumia que era uma nave. O raio era forte, arremessou ela, Lady de Aço e a deusa alguns metros.
bateu as costas contra a lateral de um carro. Sentiu os pulmões arderem com a batida.
—Tony! O moleque aranha está na nave! - disse para Tony pelo comunicador.
—Eu estou entrando, já mandei o Peter descer. — Tony disse abrindo seu comunicador para todos. —Vou me atrasar para o jantar, Vi. Reúna todos e se prepare caso a gente não consiga pará-lo...
A máscara de se desfez tomando o formato de uma tiara dourada que ficou sobre o seu cabelo. Ela ergueu o olhar para o céu e viu com enquanto a nave saía da atmosfera terrestre.
Não havia nenhum sinal de Peter.
—Ele não saiu também. — disse se levantando sentindo dor nas costas.
—O localizador informa que Peter continuou na nave com Tony. — murmurou frustrada. Ela fechou os olhos e massageou a têmpora. —Esses dois inconsequentes.
—Acho que nosso encontro vai ter que ser remarcado pela décima vez, Peter. — murmurou para o céu.
Ela se virou e viu a deusa se aproximar pela avenida. Ela carregava o escudo e a espada e seus olhos estavam pintados de preto como as guerreiras vikings faziam durante uma batalha.
Ela se aproximou de e a cumprimentou com aceno de cabeça e em seguida olhou para a figura que se aproximava pelas costas delas.
também se virou e encontrou a figura de Bruce Banner se aproximando com a testa franzida e uma expressão confusa.
—Nada do verdão?! —Perguntou Freya.
—O Hulk simplesmente não quer ajudar! —Ele reclamou.
Então ele parou e cerrou os punho enquanto fechava os olhos. Ele parecia estar fazendo força, as veias do rosto ficaram sobressaltadas, a pele tomou uma coloração esverdeada e então voltou ao normal.
—Talvez precise de terapia. — comentou. —Me ajudou muito.
não disse nada do tipo “nossa, você é o cientista renomado”, porque não parecia um bom momento para apresentações.
, a partir de agora as coisas podem ficar terrivelmente perigosas. Não posso garantir sua total segurança, mas toda ajuda seria bem-vinda. — se virou para e tirou a máscara para a olhar nos olhos.
—Ajudarei no que for preciso. —Ela disse prontamente. —Só preciso saber Michael está bem.
sorriu percebendo a preocupação dela com o irmão mais novo.
—Vou pedir para Alicia seguir com ele até o complexo e você pode o encontrar lá.
—Precisamos do seu exército, . —Disse Freya. —Onde reuniremos os guerreiros?
olhou para Freya com um misto de determinação e divertimento.
—Vamos nos preparar para enfrentar esse tal de Thanos. —Ela disse e foi até Bruce para tirar do bolso do casaco dele um velho celular.
Tão velho que nem tinha tela touch, observou .
discou um número e quando a outra pessoa atendeu, ela disse:
—— Olá, Capitão! Senti saudade.


Fim



Nota da autora: ★ Agradecimentos
Se você leu esta fic do começo ao fim, receba todo meu carinho e gratidão. Obrigada por ter tirado uma parte do seu tempo para ler, comentar, votar e permitir que eu fizesse parte da sua vida nem que fosse por um instante. Isso é muito especial e eu me sinto honrada.
Não acredito que acabou. Faz tanto tempo que essa história vive na minha mente e eu nem acredito que consegui finalizá-la. Cassiopeia Johnson é uma personagem que representa muita coisa para mim, ela foi a forma que encontrei de expressar coisas muito importantes que tenho vivido nos últimos anos.
Depois de começar um processo de redescobrir minha identidade como mulher negra, percebi que minhas personagens seguiam um padrão de beleza branco que não me representa e que também não representava muitas leitoras. Uma personagem jovem, forte e negra era o que eu queria para esta fic.
Após vivenciar o luto, também queria uma história onde eu pudesse falar sobre sofrimento e o quanto pode ser difícil enfrentar a dor sem se isolar. Mesmo quando não queremos estar sozinhos, o sofrimento pode ser solitário. Tratar desse aspecto da perda em uma personagem que está se tornando uma adulta foi desafiador.
Toda essa força e beleza da Cassie foi inspirada pela minha irmã mais nova, Juliana Araújo. Ela é dedicada, determinada e encantadora. Eu estou muito orgulhosa de você, Jujubinha.
Para dar motivação e carinho à Cassie, criei o Michael que como irmãozinho dá um suporte emocional, alívio cômico e também senso de responsabilidade para a protagonista. Ele foi inspirado no meu irmão caçula, "MJ" Marcelo Júnior. Engraçado, foi ele que me sugeriu a escrever uma fic do Homem Aranha.
Essa história é sobre aprender a continuar vivendo mesmo quando as dores parecem insuportáveis, mesmo quando nada parece dar certo. É sobre se deixar ser amado, se deixar ser ajudado. É sobre família.
Por isso dedico essa história aos meus irmãos, eu daria todas as constelações para vocês. Quando eu olho o céu antes de dormir é o nome de vocês que gravo nas minhas estrelas, junto com o nome da mamãe.
Amo vocês, ao infinito e além.



Outras Fanfics:
Colors (Superman - Finalizada)

Série heroínas
The Gost of You (Capitão América - Finalizada)
Scars (X-men - Em Andamento)


Qualquer erro no layout dessa fanfic, notifique-me somente por e-mail.


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